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Universidade Federal do Rio de Janeiro
ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES
BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO
SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”
por
Daniely Cassimiro de Oliveira Santos
2010
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ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES
BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO
SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”
Daniely Cassimiro de Oliveira Santos
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos para obtenção do Título de
Mestre em Letras Vernáculas (Língua
Portuguesa).
Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues
Vieira
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
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ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES
BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO
SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”
Daniely Cassimiro de Oliveira Santos
Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ , como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas
(Língua Portuguesa).
Aprovada por:
______________________________________________________________________
Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira UFRJ
______________________________________________________________________
Professora Doutora Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva UFRJ
______________________________________________________________________
Professora Doutora Silvia Figueiredo Brandão UFRJ
______________________________________________________________________
Professor Doutor Afranio Gonçalves Barbosa UFRJ, suplente (Presidente)
______________________________________________________________________
Professora Doutora Christina Abreu Gomes UFRJ, suplente
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
4
SANTOS, Daniely Cassimiro de Oliveira.
Análise diacrônica da colocação pronominal nas variedades brasileira e
européia do Português Literário: um estudo segundo o conjugado “Variação-
Mudança & Cliticização”/ Daniely Cassimiro de Oliveira Santos. – Rio de
Janeiro: UFRJ/ FL, 2010.
xxiv, 280f.: il.; 31 cm.
Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira
Dissertação (Mestrado) UFRJ / FL / Programa de Pós-graduação em
Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2010.
Referências Bibliográficas: f. 250-257.
1. Sociolingüística. 2. Variação. 3. Cliticização. 4. Morfossintaxe. 5.
Ordenação dos pronomes I. VIEIRA, Silvia Rodrigues. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação
em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Título.
5
Dedico esta obra ao Cristo Eucarístico, cuja grandeza infinitamente me excede, bem
como aos meus pais, Sebastião e Fátima, e a minha irmã, Thamiris, pela razão de,
muitas vezes, terem confundido suas vidas a minha, quando, em inúmeras renúncias,
optaram por mim em primeiro lugar.
6
AGRADECIMENTOS
Eis o momento em que me sinto à vontade para expressar, em primeira pessoa,
os meus mais profundos e eternos agradecimentos àqueles que me auxiliaram a tornar
realidade o estudo que nas próximas páginas se expõe.
Registro, de modo primeiro, a minha gratidão imensurável à Santíssima
Trindade, revelada a mim por meio da docilidade do Pai Eterno, do Cristo
misericordioso e do Espírito Santo, meu inspirador. Agradeço, pois, a Deus por me ser
sempre propício, por ser responsável por minha vida, trajetória e conquistas, por
transformar em certeza o meu talvez, em coragem e força as minhas aflições e medos.
Remeto, também, os meus humildes agradecimentos à Santíssima Virgem Maria
especialmente sob os tulos de Aparecida, de Fátima e de Guadalupe pelas
intercessões poderosas, assim como a todos os anjos e santos de Deus.
No desejo de demonstrar minha gratidão aos meus amados e queridos pais,
Sebastião e Fátima, razão da minha existência, presto minha singela homenagem
àqueles que me formam no amor, carinho, ternura, zelo, cumplicidade, dedicação e em
tantos outros substantivos abstratos os quais, na prática dos meus dias, se fazem
concretos. Nesse ensejo, dedico meus agradecimentos a minha querida irmã, Thamiris,
meu exemplo de coragem e de força. Que todos os meus familiares, principalmente
minha avó Isaura, minha Madrinha Verônica, meu Padrinho Paulo e meu primo Paulo
Henrique, se sintam contemplados em minhas expressões de gratidão e afeto.
Agradeço, neste momento, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pelo incentivo à permanência nas atividades de
pesquisa, com as bolsas de Iniciação Científica (do Programa PIBIC/UFRJ) e de
Mestrado (agosto de 2008 a janeiro de 2009), bem como à Fundação Carlos Chagas
Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelos
financiamentos concernentes ao Programa Bolsa Nota 10 (fevereiro de 2009 a fevereiro
de 2010).
De modo particular, apresento minha gratidão à Professora Silvia Figueiredo
Brandão, responsável por me introduzir no fascinante mundo da investigação científica
e por me ser sempre solícita.
Destino, também, “o meu muito obrigado” aos Professores Afranio Gonçalves
Barbosa (quem me concedeu diversas orientações e conselhos ao longo do Curso de
7
Mestrado), a Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva, e Christina Abreu Gomes, pela
prontidão no aceite em integrar a banca examinadora de meu trabalho.
Aos Professores Antônio Carlos Secchin, Mônica Figueiredo e Luci Ruas,
dedico meus agradecimentos em virtude da ajuda que me facultaram para a constituição
dos corpora literários que servem à presente pesquisa.
Agradeço, ainda, a todos os professores que passaram por minha vida,
apresentando a mim palavras de amizade, incentivo e motivação.
Expresso, agora, todo meu carinho aos meus amigos e colegas principalmente
a Maria de Fátima Vieira, Adriana Lopes, Cristina Márcia, Giselle Esteves, Carla Nunes
e Rodrigo Ribeiro , pelo companheirismo na jornada acadêmica.
A todos aqueles que passaram pela minha vida, cujos nomes foram mencionados
ou omitidos, expresso minha gratidão sincera.
8
Especiais agradecimentos
Julgo mais do que oportuno sublinhar o quanto sou grata a minha orientadora, Silvia
Rodrigues Vieira, a quem chamo de amiga, por todas as orientações valiosas (desde a
época de Iniciação Científica) que extrapolaram o âmbito acadêmico e se revelaram
como verdadeiros conselhos de vida. Agradeço-lhe por todas as palavras, carinho,
generosidade, paciência e compreensão. Que meus agradecimentos sejam acolhidos por
aquela que acredita em mim e que, de modo direto, me auxiliou (e certamente me
auxiliará em vários outros estudos) a concretizar este trabalho que, antes, era somente
um projeto.
9
Ad majorem Dei gloriam.
10
Parte desta investigação foi fomentada pelo
apoio financeiro do CNPq (agosto de 2008
a janeiro de 2009) bem como pelo
Programa Bolsa Nota 10 FAPERJ
(fevereiro de 2009 a fevereiro de 2010).
11
SINOPSE
Investigação da ordem dos clíticos
pronominais em domínios de lexias verbais
simples e complexas coletadas de romances
representativos do Português do Brasil e do
Português Europeu dos séculos XIX e XX.
Estudo da variação e mudança relacionadas
ao segundo parâmetro de cliticização
proposto por Klavans (1985), à luz dos
fundamentos teórico-metodológicos da
Sociolingüística Laboviana.
12
RESUMO
ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES
BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO
SEGUNDO O CONJUGADO “VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO”
Daniely Cassimiro de Oliveira Santos
Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação
em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras
Vernáculas (Língua Portuguesa).
O trabalho dissertativo presente concorre por investigar o fenômeno variável da
ordenação dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português
atestado no percurso diacrônico dos séculos XIX e XX, a partir de corpora
criteriosamente constituídos de romances compostos por escritores representativos da
Literatura de “aquém e além-mar”.
Promove-se, pois, o exame da colocação discriminando-se contextos de lexias
verbais simples em face dos fatores (i) próclise (aqui se investiga), (ii) mesóclise
(investigar-se) e (iii) ênclise (investiga-se) , bem como de complexos verbais
segundo as posições (i) pré-LVC (aqui se pode investigar), (ii) intra-LVC com hífen
(pode-se investigar), (iii) intra-LVC sem hífen (pode se investigar) e (iv) pós-LVC
(pode investigar-se).
De natureza variacionista, o estudo ampara-se nos princípios preconizados pela
Sociolingüística Laboviana (cf. WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, por ex.) e nos
pressupostos de cliticização avalizados por Klavans (1985), no que respeita,
especificamente, ao Parâmetro 2, de caráter morfossintático. A propósito do tratamento
estatístico dos dados, adota-se o instrumental Goldvarb X, o qual concede, dentre outras
informações, os índices absolutos, percentuais e relativos de cada fator controlado, além
de sinalizar os grupos relevantes no condicionamento do fenômeno. Os resultados
permitem vislumbrar, além de algumas semelhanças, diferenças que sugerem conceber
PB e PE como normas distintas de aplicação do evento variável.
Pelos esclarecimentos prestados, este trabalho empreende uma apresentação
consistente da colocação dos clíticos pronominais no domínio literário do Português,
concedendo novos subsídios ao conhecimento do fenômeno de colocação, cujo estudo a
gramática contemporânea pede seja pormenorizado.
Palavras-chave: Sociolingüística, cliticização, morfossintaxe, ordem dos pronomes.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
13
ABSTRACT
DIACRONIC ANALYSIS OF PRONOMINAL COLLOCATION IN THE
BRAZILIAN AND EUROPEAN VARIETIES OF LITERARY PORTUGUESE: A
STUDY ACCORDING TO SUBJECT “VARIATION-CHANGE AND
CLITICIZATION”
Daniely Cassimiro de Oliveira Santos
Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação
em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras
Vernáculas (Língua Portuguesa).
This dissertative work concerns about the phenomenon of pronominal
collocation in Brazilian and European varieties of Portuguese, attested in the diacronic
route of the 19th and 20th centuries, using corpora composed by novel written by
representative authors of both Brazilian and Portuguese Literature.
Examination of clitic order in simple verbal context according to proclitic,
mesoclitic and enclitic positions and in complex verbal structures through the
variants: clitic before verbal complex structure, clitic inside verbal complex stucture and
clitic after verbal complex structure is performed.
This study, conceived as a variacionist approach, is based on the principles of
Labovian Sociolinguistics (WEINREICH, LABOV and HERZOG, 1968, for example) and
on the postulates of cliticization proposed by Klavans (1985), considering, especially,
the morphosyntactic Parameter 2. Goldvarb X instrumental is adopted in order to
perform statistic treatment of data, that provides several pieces of information like these
ones: absolute numbers, percentages and relative values concerning controlled factors,
showing, besides other aspects, relevant restrictions for the variable phenomenum. The
results show, besides some similarities, differences that suggest that Brazilian and
European Portuguese apply distinct norms of pronominal collocation.
It is convenient to emphasize that this analysis undertakes a consistent study of
pronominal order in Literary Portuguese, providing new information about the
phenomenon whose study modern grammar requests to be revised.
Key words: Sociolinguistics, cliticization, Morphosyntax, pronominal order.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2010
14
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................
25
1.1 Justificativas e problemas...........................................................................................................
25
1.2 Objetivos.......................................................................................................................................
27
1.2.1 Gerais.........................................................................................................................................
27
1.2.2 Específicos.................................................................................................................................
28
1.3 Hipóteses da investigação...........................................................................................................
28
1.4 As partes integrantes de um todo...............................................................................................
29
2. REVISÃO DA LITERATURA CONCERNENTE AO TEMA DA COLOCAÇÃO..............
31
2.1 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama tradicional........................
32
2.2 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama não-tradicional.................
34
2.2.1 A ordem mediante dois compêndios gramaticais descritivos.........................................
34
2.2.2 A ordem mediante diversas investigações científicas....................................................
36
3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS.............................................................................................
54
3.1 As diretrizes do tratamento da cliticização........................................................................
54
3.2 O aporte sociolingüístico...................................................................................................
59
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................................
68
4.1 As etapas percorridas para o desenvolvimento da análise variacionista...........................
68
4.2 Descrição dos corpora................................................................................................................
68
4.3 Delimitação da variável dependente.........................................................................................
74
4.3.1 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Simples..................
74
4.3.2 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Complexas.............
75
4.3.2.1 A concepção de Lexias Verbais Complexas pelo confronto entre algumas
perspectivas..............................................................................................................................
77
4.4 Descrição das variáveis independentes: as pressões sociais e estruturais motivadoras do
fenômeno em variância......................................................................................................................
84
4.4.1 Grupos de fatores de natureza extralingüística...............................................................
85
4.4.2 Grupos de fatores de natureza lingüística.......................................................................
87
4.5 Medidas concernentes ao tratamento quantitativo efetuado..............................................
108
5. EXPOSIÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS: OS RESULTADOS ALCANÇADOS
MEDIANTE EXAME DOS CORPORA............................................................................................
114
5.1 A ordem em ambientes de Lexias Verbais Simples: a realidade dos corpora..................
114
5.1.1 A colocação pronominal em domínio de Lexias Verbais Simples.................................
117
15
5.1.1.1 Grupos de fatores relevantes no condicionamento da próclise em LVS, no âmbito
do PB e do PE dos séculos XIX e XX.....................................................................................
135
5.1.1.1.1 Variável de cunho extralingüístico...........................................................................
136
5.1.1.1.2 Variáveis de cunho lingüístico..................................................................................
139
5.2 A ordem em ambientes de Lexias Verbais Complexas: a realidade dos corpora.............
151
5.2.1 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no
gerúndio...............................................................................................................................................
154
5.2.1.1 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis extralingüísticas..
159
5.2.1.2 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis lingüísticas..........
160
5.2.2 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no
particípio..............................................................................................................................................
166
5.2.2.1 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis
extralingüísticas.......................................................................................................................
171
5.2.2.2 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis lingüísticas........
172
5.2.3 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no
infinitivo..............................................................................................................................................
178
5.2.3.1 A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis
extralingüísticas..................................................................................................................................
197
5.2.3.2 A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis lingüísticas........
210
5.3 O fenômeno da interpolação.....................................................................................................
225
6. SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS E REFLEXÕES FINAIS.....................................
229
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................................
250
ANEXOS..............................................................................................................................................
258
16
ÍNDICE DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
QUADROS
Quadro 1: Apresentação dos autores com suas respectivas obras contempladas nos corpora brasileiro e
europeu dos séculos XIX e XX.............................................................................................................................
71
Quadro 2: Distribuição geral do número de dados colhidos nas variedades brasileira e européia do
Português dos séculos XIX e XX pelos contextos sob análise.............................................................................
74
Quadro 3: Sistematização dos critérios de auxiliaridade propostas por Barroso (1994) apud Vieira (2002:
243) ......................................................................................................................................................................
79
Quadro 4: Continuum de auxiliaridade proposto por Machado Vieira (2004) ...................................................
82
Quadro 5: Variáveis selecionadas quanto ao evento da ordem em LVS no PB e no PE dos séculos XIX e
XX.........................................................................................................................................................................
136
TABELAS
Tabela 1: Distribuição geral das variantes no PB dos séculos XIX e XX, em todos os contextos de
LVS.......................................................................................................................................................................
116
Tabela 2: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir
de dados do PB dos séculos XIX e XX.................................................................................................................
116
Tabela 3: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-
canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX...................................................................................
116
Tabela 4: Distribuição geral das variantes no PE dos séculos XIX e XX, em todos os contextos de
LVS.......................................................................................................................................................................
117
Tabela 5: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir
de dados do PE dos séculos XIX e XX.................................................................................................................
117
Tabela 6: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e o-
canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX...................................................................................
117
Tabela 7: Distribuição do número total de dados no âmbito das LVS, no PB e no PE dos séculos XIX e XX,
em todos os contextos............................................................................................................................................
118
Tabela 8: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir
de dados do PB dos séculos XIX e XX.................................................................................................................
122
Tabela 9: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-
canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX...................................................................................
125
Tabela 10: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir
de dados do PE dos séculos XIX e XX.................................................................................................................
126
Tabela 11: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-
canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX...................................................................................
128
Tabela 12: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo o grupo de fatores época/fase de publicação das obras adotadas, em referência ao PB e
ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples....................................................................
137
Tabela 13: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável presença de um possível elemento proclisador: PB e
PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples........................................................................
140
Tabela 14: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos
XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples.................................................................................................
143
Tabela 15: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo fatores amalgamados da variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos
XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples.................................................................................................
145
17
Tabela 16: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo o grupo de fatores tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX, no âmbito
das lexias verbais simples.....................................................................................................................................
148
Tabela 17: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo fatores amalgamados da variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no
âmbito das lexias verbais simples.........................................................................................................................
150
Tabela 18: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com gerúndio,
referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX...................................................................................................
155
Tabela 19: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de estrutura (semi-)auxiliar +
gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX e XX..................................................................................................
157
Tabela 20: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico
pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas
com gerúndio........................................................................................................................................................
162
Tabela 21: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da
oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com
gerúndio................................................................................................................................................................
163
Tabela 22: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência
de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das
lexias verbais complexas com gerúndio...............................................................................................................
164
Tabela 23: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo dos
verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com gerúndio......................................................................................................................................
165
Tabela 24: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com particípio,
referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX...................................................................................................
167
Tabela 25: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de haver + particípio e ter +
particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX.................................................................................................
169
Tabela 26: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico
pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas
com particípio.......................................................................................................................................................
174
Tabela 27: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da
oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com
particípio...............................................................................................................................................................
175
Tabela 28: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência
de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das
lexias verbais complexas com particípio..............................................................................................................
176
Tabela 29: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo das
formas auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com particípio.....................................................................................................................................
177
Tabela 30: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo
referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX...................................................................................................
178
Tabela 31: Distribuição geral das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo referente
ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX...................................................................................................................
182
Tabela 32: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC
com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX ...........................................................................
183
Tabela 33: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das
LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX...................................................................
185
Tabela 34: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no
âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX................................................
187
Tabela 35: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores fase/época dos
romances eleitos em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo.....................................................................................................................................
195
18
Tabela 36: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores culos investigados
em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com
infinitivo................................................................................................................................................................
197
Tabela 37: Produtividade percentual e absoluta das variantes amalgamadas em face do grupo de fatores
vozes do romance no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo......................................................................................................................................
198
Tabela 38: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores
contemplados em referência ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com
infinitivo................................................................................................................................................................
200
Tabela 39: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores
contemplados em referência ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com
infinitivo................................................................................................................................................................
204
Tabela 40: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores gênero/sexo dos
autores contemplados em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo.....................................................................................................................................
209
Tabela 41: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença /
ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos
XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com infinitivo...............................................................................
211
Tabela 42: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais
Complexas com infinitivo.....................................................................................................................................
212
Tabela 43: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
presença de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no
âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo.........................................................................................
213
Tabela 44: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e complexo verbal em
referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo.....
218
Tabela 45: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
tempo e modo das formas (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito
das lexias verbais complexas com infinitivo.....................................................................................................
220
Tabela 46: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo.....................................................................................................................................
222
Tabela 47: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
tipo de lexia verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos
verbais com infinitivo...........................................................................................................................................
223
ANEXOS
Anexo 3
265
Tabela 48: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores vozes do romance no que concerne ao PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
simples..................................................................................................................................................................
Tabela 49: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores autores contemplados no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
simples..................................................................................................................................................................
265
Tabela 50: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores autores contemplados no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
simples..................................................................................................................................................................
266
Tabela 51: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores gênero/sexo dos autores contemplados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no
âmbito das lexias verbais simples.........................................................................................................................
267
19
Tabela 52: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores séculos investigados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples......................................................................................................................................................
268
Tabela 53: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores distância entre possível elemento proclisador e segmento constituído por clítico e item verbal no que
concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples.......................................
268
Tabela 54: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores natureza da oração no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
simples..................................................................................................................................................................
269
Tabela 55: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores tonicidade dos itens verbais no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples......................................................................................................................................................
269
Anexo 4
Tabela 56: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo a variável presença de possível elemento proclisador: PB e PE dos séculos XIX e XX,
no âmbito das lexias verbais simples....................................................................................................................
270
Tabela 57: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo a variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das
lexias verbais simples...........................................................................................................................................
272
Tabela 58: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo a variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito
das lexias verbais simples.....................................................................................................................................
272
Tabela 59: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, segundo a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
simples..................................................................................................................................................................
273
Anexo 5
Tabela 60: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da
oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com
infinitivo................................................................................................................................................................
274
Tabela 61: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de presença de possível
elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo.....................................................................................................................................
275
Tabela 62: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores distância entre um
possível elemento proclisador e complexo verbal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no
âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo.........................................................................................
277
Tabela 63: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo dos
verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo.....................................................................................................................................
278
Tabela 64: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico
pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas
com infinitivo........................................................................................................................................................
279
Tabela 65: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de lexia
verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com
infinitivo................................................................................................................................................................
280
FIGURAS
Figura 1: A variante proclítica mediante verbos em posição inicial, com base no gráfico extraído de Martins
(2009: 181) ...........................................................................................................................................................
124
Figura 2: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PB dos séculos
XIX e XX..............................................................................................................................................................
124
Figura 3: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PE dos séculos
20
XIX e XX..............................................................................................................................................................
127
Figura 4: Concretização das variantes em todos os contextos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX...................................
129
Figura 5: Concretização das variantes em todos os contextos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX.....................................
130
Figura 6: Concretização das variantes em início absoluto, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX............................................
130
Figura 7: Concretização das variantes em início absoluto, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX..............................................
131
Figura 8: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das lexias verbais
simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX...........
131
Figura 9: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das lexias verbais
simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX.............
132
Figura 10: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das lexias
verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e
XX.........................................................................................................................................................................
132
Figura 11: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das lexias
verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX
133
Figura 12: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito
das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos
XIX e XX..............................................................................................................................................................
133
Figura 13: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito
das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos
XIX e XX..............................................................................................................................................................
134
Figura 14: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PB dos séculos XIX e XX.......
138
Figura 15: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PE dos séculos XIX e XX.......
139
Figura 16: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PB dos séculos XIX e XX......
141
Figura 17: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PE dos séculos XIX e XX......
142
Figura 18: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,
mediante a variável tipo de clítico pronominal: PB dos séculos XIX e XX.........................................................
144
Figura 19: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,
mediante a variável tipo de clítico pronominal: PE dos séculos XIX e XX.........................................................
144
Figura 20: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,
mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PB dos séculos XIX e XX............................................
146
Figura 21: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,
mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PE dos séculos XIX e XX.............................................
147
Figura 22: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,
mediante a variável tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX.....................................................
148
Figura 23: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,
mediante a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX...................................................................
151
Figura 24: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PB dos séculos XIX e
XX.........................................................................................................................................................................
157
Figura 25: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PE dos séculos XIX e
XX.........................................................................................................................................................................
157
Figura 26: Freqüência percentual das estruturas (semi-)auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX
21
e XX......................................................................................................................................................................
158
Figura 27: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PB dos séculos XIX e XX.............
168
Figura 28: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PE dos séculos XIX e XX..............
168
Figura 29: Freqüência percentual das estruturas ter + particípio e haver + particípio no PB e no PE dos
séculos XIX e XX.................................................................................................................................................
170
Figura 30: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos
séculos XIX e XX.................................................................................................................................................
179
Figura 31: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos
séculos XIX e XX.................................................................................................................................................
179
Figura 32: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos
séculos XIX e XX.................................................................................................................................................
183
Figura 33: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos
séculos XIX e XX.................................................................................................................................................
183
Figura 34: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX...............................................................................................................
185
Figura 35: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX...............................................................................................................
185
Figura 36: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX...............................................................................................................
187
Figura 37: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX...............................................................................................................
187
Figura 38: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito
das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX........................................................................................
188
Figura 39: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito
das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX........................................................................................
188
Figura 40: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da publicação
dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX..................................................................................................
189
Figura 41: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da publicação
dos romances portugueses dos séculos XIX e XX................................................................................................
190
Figura 42: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação dos
romances brasileiros dos séculos XIX e XX.........................................................................................................
190
Figura 43: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação dos
romances portugueses dos séculos XIX e XX......................................................................................................
191
Figura 44: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX............................................
192
Figura 45: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX..............................................
192
Figura 46: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases estipuladas a
partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX.................................................................
193
Figura 47: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases estipuladas a
partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX...............................................................
194
Figura 48: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX............................................
195
Figura 49: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX.........................................
196
22
ABREVIATURA E CONVENÇÕES
Sintagmas:
SAdv
Sintagma Adverbial
SN
Sintagma Nominal
SPrep
Sintagma Preposicional
Categorias/Classes de palavras:
Adv.
Advérbio
V
Verbo
Cl
Clítico
Conj.
Conjunção
Conj. coord.
Conjunção coordenativa
Loc.
Locução
Loc. conj.
Locução conjuntiva
Prep.
Preposição
Pron.
Pronome
Pron. indef.
Pronome indefinido
Tempo verbal:
Pres.
Presente
Pret.
Pretérito
Perf.
Perfeito
Imp.
Imperfeito
Natureza de oração:
Or. coord.
Oração coordenada
Or. sub.
Oração subordinada
Or. sub. red.
Oração subordinada reduzida
Variedades do Português:
PB
Português do Brasil
PE
Português Europeu
Banco de dados
NURC
Projeto Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta do Rio de Janeiro
VARPORT
Projeto Análise Contrastiva de Variedades do Português
Outras categorias:
Pal.
Palavra
Suj.
Sujeito
Domínios examinados:
LVS
Lexia Verbal Simples
LVC
Lexia Verbal Complexa
23
Variantes:
Cl-LVC
Clítico-lexia verbal complexa
Pré- LVC
Pré-lexia verbal complexa
Intra- LVC
Intra-lexia verbal complexa
Pós- LVC
Pós-lexia verbal complexa
ABREVIATURAS ONOMÁSTICAS DOS AUTORES CONTEMPLADOS
Autores concernentes ao Português do Brasil
Século XIX
AAz
Aluísio Azevedo
BG
Bernardo Guimarães
JAl
José de Alencar
JL
Júlia Lopes
JMM
Joaquim Manuel de Macedo
MA
Machado de Assis
MAA
Manuel Antônio de Almeida
RP
Raul Pompéia
Século XX
AAr
Afonso Arinos
DSQ
Dinah Silveira de Queiroz
EC
Euclides da Cunha
EV
Érico Veríssimo
GR
Guimarães Rosa
GrR
Graciliano Ramos
JAm
Jorge Amado
JLR
José Lins do Rego
LB
Lima Barreto
LFT
Lygia Fagundes Telles
NP
Nélida Piñon
RQ
Rachel de Queiroz
Autores concernentes ao Português Europeu
Século XIX
AG
Almeida Garrett
AH
Alexandre Herculano
ArG
Arnaldo Gama
CCB
Camilo Castelo Branco
EQ
Eça de Queiroz
FA
Fialho de Almeida
JD
Júlio Dinis
TC
Trindade Coelho
Século XX
AAb
Augusto Abelaira
AB
Abel Botelho
24
ABL
Augustina Bessa Luís
AlR
Alves Redol
AqR
Aquilino Ribeiro
CM
Campos Monteiro
FN
Fernando Namora
JCP
José Cardoso Pires
JS
José Saramago
RB
Raul Brandão
VF
Vergílio Ferreira
VN
Vitorino Nemésio
25
1. INTRODUÇÃO
É objetivo do trabalho dissertativo, que ora se apresenta, investigar, à luz de
critérios científicos, o fenômeno da colocação dos átonos pronominais nas variedades
brasileira (PB) e européia (PE) do Português Literário averiguado no decurso dos
séculos XIX e XX. Pretende-se, a partir do cotejo de textos concernentes à literatura de
“aquém e além-mar”, estabelecer as regras que efetivamente presidem o evento da
ordem em contextos com lexias verbais simples
1
isto é, manifestação do clítico
mediante uma única forma verbal e com complexos verbais
2
comportamento do
pronome átono em face de uma estrutura perifrástica.
Quanto à fundamentação teórico-metodológica, o presente exame, de caráter
variacionista, concebe-se sob a égide dos postulados da Sociolingüística Laboviana (cf.
WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1994, por ex.), ancorando-
se, também, nos preceitos estabelecidos por Klavans (1985), no que tange aos
parâmetros de cliticização, dentre os quais se discrimina, principalmente, o Parâmetro 2,
de caráter morfossintático. A conjugação dessas orientações investigativas favorece a
adequação descritiva e explicativa que se pretende alcançar no desenvolvimento da
pesquisa.
Com base nas discrepâncias existentes entre o PB e o PE e na forma como as
gramáticas brasileiras abordam o tema da colocação pronominal, tendo supostamente
como paradigma a realização lusitana, a pesquisa visa a contribuir, a partir de descrições
e análises criteriosas, por apresentar a efetiva identidade lingüística do padrão culto
escrito literário característico das normas brasileira e européia do idioma.
Para que esta investigação assuma um caráter empírico, recorre-se a corpora
criteriosamente constituídos de romances produzidos na diacronia dos séculos XIX e
XX por autores representativos da Literatura de ambas as variedades.
1.1 Justificativas e problemas
1
A respeito das lexias verbais simples, tomem-se os seguintes exemplos: (i) “Aqui se promove o estudo
da ordem.” [posição pré-verbal / próclise], (ii) Promover-se-á o estudo da ordem.” [posição intraverbal /
mesóclise], (iii) “Promove-se o estudo da ordem.” [posição pós-verbal / ênclise].
2
No que tange aos complexos verbais construções constituídas de mais de uma forma verbal, sendo a
última uma forma não-finita, com algum grau de integração sintático-semântica , eis as ilustrações: (i)
“Sempre se deve promover o estudo da ordem pronominal.” [Colocação pré-LVC], (ii) Deve-se
promover o estudo da ordem pronominal.” [Colocação intra-LVC com hífen], (iii) Deve se promover o
estudo da ordem pronominal. [Colocação intra-LVC sem hífen], (iv) Deve promover-se o estudo da
ordem pronominal.” [Colocação pós-LVC].
26
A pesquisa pleiteia respostas e a atestagem de hipóteses acerca do fenômeno de
cliticização de modo a acrescentar informações atualizadas ao conhecimento sobre o
evento da ordem, que se julga ainda insuficiente para traçar o que se concebe como
norma(s) de uso do PB e do PE. Assim, observem-se as palavras de Perini (2001: 230) a
respeito da variedade brasileira:
A análise [do evento de colocação elucidada nos compêndios gramaticais brasileiros]
cobre uma forma muito conservadora da língua [...]. É necessário atualizá-la, mas isso
deverá ser precedido de um levantamento do uso dos clíticos no padrão brasileiro
moderno [...].
De fato, os manuais gramaticais utilizados no Brasil carecem de descrições
precisas e consistentes a propósito da colocação, fator que motiva e justifica a
relevância da presente investigação. Ademais, os referidos compêndios prescrevem um
ideal de ngua inspirado nos parâmetros literários e lusitanos em detrimento da
realidade lingüística praticada no Brasil, o que se denuncia em Bechara (2003: 591):
certas tendências brasileiras que nem sempre a Gramática agasalha como dignas de
imitação, presa que está a um critério de autoridade que a lingüística moderna pede seja
revisto.
A respeito da língua preconizada nos compêndios gramaticais, registrem-se,
ainda, as ponderações de Rocha Lima (2005: 7), na seqüência, apresentadas:
Fundamentam-se as regras da gramática normativa nas obras dos grandes escritores, em
cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se
espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou.
Corrobore-se, pois, que as gramáticas e, aqui em especial, os compêndios
brasileiros, se inspiram nas regras do bem escrever dos escritores mais ilustres da
língua. Ocorre que, como bem se avalia na citação, as regras prescritas nos manuais
normativos advêm de uma língua idealizada e estilizada, própria de um domínio
artístico, como é o da Literatura.
Justifique-se, pois, a relevância deste estudo, haja vista que, aqui, se pretende
tratar do evento da ordem no âmbito literário, pouco explorado dentre os trabalhos
desenvolvidos acerca da colocação (dentre eles, destaque-se o de Schei, 2003), no que
concerne às lexias verbais simples e, mais especificamente, aos complexos verbais. A
propósito dessas últimas construções, pontuem-se as palavras de Pagotto (1992: 30),
agora transcritas: “Os trabalhos que lidam com a questão da posição dos clíticos
normalmente negligenciam os casos em que eles aparecem em construções com dois
verbos”. É oportuno considerar que, embora o autor tenha realizado tal consideração em
27
1992, se advoga que, até ao que se conhece, a comunidade lingüística, mesmo com
avanços científicos testemunhados ao longo do tempo, ainda carece de análises que se
somem às feitas que abordam o tema a partir da observação do uso dos clíticos em
construções verbais complexas.
Com base nas justificativas apresentadas até aqui, arrolam-se, a seguir, os
principais problemas relacionados ao assunto deste estudo, que, uma vez respondidos,
atendem a alguns dos objetivos propostos:
(i) Qual é o padrão que efetivamente constitui a norma vigente da ordem dos
clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português Literário,
no que tange aos domínios de lexias verbais simples e complexas?
(ii) Qual é a variante da ordem dos clíticos pronominais mais produtiva em cada
fase investigada de ambas as variedades?
(iii) Dentre as variáveis lingüísticas, quais se constituem relevantes à ocorrência
do fenômeno? Em que medida o contexto morfossintático opera na colocação
dos clíticos nos domínios de lexias verbais simples e de complexos verbais?
(iv) No que concerne às variáveis de cunho extralingüístico, quais se apresentam
significativas ao condicionamento da ordem?
As respostas aos questionamentos acima servirão para que se tracem reflexões a
respeito de três grandes questões científicas usualmente relacionadas ao tema da ordem
dos clíticos pronominais: (1) a norma de uso atestada nos dados literários condiz com a
norma idealizada em manuais prescritivos?; (2) os resultados indiciam normas
diferenciadas no PB e no PE?; e (3) no que se refere ao percurso diacrônico, os registros
de colocação sugerem situação de mudança no PB e /ou no PE? Espera-se que, em
alguma medida, os resultados do presente trabalho contribuam com o debate dessas
questões.
1.2 Objetivos
Conhecidas as justificativas e os problemas a serem abordados no estudo da
ordem, propõem-se os seguintes objetivos para o tratamento do tema:
1.2.1 Gerais
28
(i) Concorrer para o maior conhecimento acerca do fenômeno de cliticização nas
duas variedades contempladas.
(ii) Contribuir por descrever a identidade lingüística do PB e do PE, no que
tange ao evento da colocação dos pronomes.
1.2.2 Específicos
(i) Atestar a norma de ordenação dos clíticos pronominais no PB e no PE,
elegendo-se, para tanto, testemunhos literários produzidos por autores
representativos da Literatura de ambas as variedades.
(ii) Identificar as variáveis lingüísticas e extralingüísticas relevantes ao
fenômeno da cliticização pronominal em ambientes de lexias verbais simples e
complexas.
(iii) Averiguar o estatuto da ordem mediante a transição das fases de publicação
dos romances adotados na diacronia dos séculos XIX e XX.
1.3 Hipóteses da investigação
No que concerne às hipóteses gerais que nortearam a execução do presente
trabalho, tomem-se os seguintes itens:
(i) Postula-se que, no que toca ao fenômeno da ordem, PB e PE apresentariam
freqüência distribucional das variantes de modo semelhante no âmbito das lexias
verbais simples. A propósito dos domínios de complexos verbais, a variedade
brasileira tenderia a denotar maiores índices de manifestação da ordem intra-
LVC sem hífen em oposição aos verificados na escrita literária européia.
(ii) No que tange às variáveis de cunho lingüístico condicionadoras da ordem em
ambas as variedades, acredita-se que os grupos de fatores possível elemento
proclisador e tipo de clítico pronominal seriam decisivos à ordenação dos
pronomes átonos de modo geral.
(iii) Acerca das variáveis extralingüísticas, o grupo de fatores época/fase de
publicação das obras adotadas constituiria ponto crucial para a compreensão da
ordem em termos diacrônicos.
Informa-se que, consoante o desenvolvimento do trabalho, serão apresentadas
hipóteses específicas para as demais questões aludidas nesta introdução e para cada
contexto e grupo de fatores controlados na pesquisa.
Para maiores esclarecimentos a propósito da configuração estrutural pela qual a
presente dissertação se delineia, considere-se a subseção agora introduzida.
29
1.4 As partes integrantes de um todo
Constate-se que este trabalho se constitui, além deste segmento introdutório, de
mais cinco capítulos, os quais, neste momento, passam a ser apresentados.
No capítulo 2, promove-se a apresentação panorâmica de parte dos estudos que
tratam do tema da colocação pronominal na Língua Portuguesa, especialmente em suas
variedades brasileira e européia, discriminando-se aqueles cujo domínio temporal
examinado coincide, em alguma medida, com as fases aqui contempladas. Lança-se
mão, ainda, de alguns compêndios gramaticais de cunho tradicional e não-tradicional
relevantes para a compreensão do tema proposto, empreendendo, em seguida, a
descrição dos principais resultados obtidos nos diversos trabalhos resenhados.
No que respeita ao capítulo 3, expõem-se os fundamentos teóricos nos quais esta
análise se ancora acerca dos princípios preconizados pela Sociolingüística de orientação
Laboviana bem como sobre os pressupostos da cliticização, destacando-se,
principalmente, o Parâmetro 2, de natureza morfossintática, proposto por Klavans
(1985).
A propósito das diretrizes metodológicas, elucidam-se, no quarto capítulo, os
pontos cruciais pelos quais se delineia esta investigação, prestando esclarecimentos
acerca das etapas cumpridas para o desenvolvimento da análise, no que toca,
especificamente, à constituição dos corpora investigados, ao tratamento estatístico dos
dados codificados em face das variáveis de caráter lingüístico e extralingüístico, assim
como às diversas opções metodológicas adotadas.
O quinto dos capítulos promove a apresentação dos resultados alcançados neste
exame variacionista, discriminando-se, separadamente, as constatações evidenciadas
acerca da ordem em domínios de lexias verbais simples e complexas, e considerando-se,
ainda, o fenômeno de interpolação.
O sexto capítulo, de caráter sistemático e conclusivo, empreende a exposição
sumarizada dos resultados quanto à colocação no Português Literário, nos contextos de
lexias verbais simples e de lexias verbais complexas, seguida de breves reflexões acerca
das contribuições desta pesquisa às questões lingüísticas gerais concernentes ao
tratamento do Português do Brasil e do Português Europeu, já mencionadas nesta
introdução.
30
Procede-se, ao fim do trabalho, à apresentação das referências bibliográficas que
nortearam as considerações efetuadas. Destaque-se, na seqüência, um segmento de
anexos no qual se introduzem informações paralelas, julgando-se relevante concedê-las.
Por todas as considerações proporcionadas, saliente-se, em linhas gerais, que a
investigação presente, ao buscar desenvolver uma análise consistente acerca da
colocação dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português
Literário, testemunhado no decurso dos séculos XIX e XX, acrescenta novas
informações ao conhecimento de que se dispõe acerca do fenômeno. Espera-se que as
ponderações aqui estabelecidas suscitem novos debates que encorajem o sempre
saudável prosseguimento e aprofundamento das pesquisas científicas no âmbito dos
estudos que tomam a língua como seu objeto primordial.
31
2. REVISÃO DA LITERATURA CONCERNENTE AO TEMA DA
COLOCAÇÃO
Cumpre-se, aqui, o objetivo de apresentar os principais trabalhos
3
que tratam do
tema da ordem pronominal, os quais, de modo indubitável, suscitam diversos debates no
panorama descritivo e prescritivo.
Destaque-se que diversos estudos de cunho teórico-descritivo, especialmente os
de orientação formalista, se interessam pelo fenômeno de colocação, uma vez que a
ordem dos pronomes átonos vem sendo concebida como parâmetro essencial para a
identificação de características que permitem delinear gramáticas consideradas opções
estruturais prototípicas e adquiridas nos primeiros anos de aprendizagem das línguas
ou variedades lingüísticas existentes. Sublinhem-se, assim, dentre as diversas pesquisas
que concedem possíveis explicações sintáticas para o estabelecimento dos parâmetros
de ordenação do clítico, embora não necessariamente estabeleçam descrições a partir do
exame de dados, as investigações de Duarte (1983), Galves (1993), Duarte & Matos
(1994), Duarte et alii (2001), dentre outras. No âmbito fonológico, as propostas de
Carvalho (1989), Nunes (1996), Galves & Abaurre (1996), Frota & Vigário (1999), por
exemplo, objetivam relacionar a colocação ao condicionamento rítmico e acentual.
4
Aos estudos supracitados, acrescentem-se as investigações que se valem de
corpus representativo para análise empírica da ordem segundo a perspectiva sincrônica
e diacrônica do fenômeno no Português do Brasil e no Português Europeu, dentre as
quais se verificam aquelas que se ocupam ora de ambas as variedades, ora
exclusivamente de uma delas.
No âmbito do Português Europeu, arrolam-se, por exemplo, as análises de Lobo
(1991)
5
, Martins (1994), Ribeiro (1995) e Magro (2004). A propósito do Português do
Brasil
6
, ressaltem-se, dentre vários trabalhos, as contribuições de Pereira (1981),
3
Convém registrar que o capítulo presente contempla parte dos trabalhos que possuem como objeto
central de debate a ordenação dos clíticos pronominais, não estabelecendo um levantamento exaustivo
dos estudos que integram a vasta literatura acerca da questão. Priorizaram-se aqueles que buscam
apresentar normas subjetivas ou objetivas acerca do fenômeno, bem como aqueles que se ocuparam do
percurso diacrônico com base no tratamento empírico de dados.
4
Para maior conhecimento do teor dos trabalhos citados, sugere-se consultar, além das próprias obras em
questão, a tese de doutorado de Vieira (2002).
5
Certifique-se de que Lobo (1991) estabelece um estudo sincrônico a partir de textos do século XV,
cotejando seus resultados com dados das variedades européia e brasileira obtidos em outras investigações.
6
Grande parte das investigações arroladas no domínio do Português do Brasil ocupa-se, também, de
outras variedades, como Vieira (2002), que efetua o exame não somente contemplando o Português do
Brasil e o Português Europeu, como também a variedade moçambicana da língua.
32
Pagotto (1992), Lobo (1991), Monteiro (1994), Vieira (2002), Schei (2003), Machado
Morito (2007), Martins (2009) e Nunes (2009).
Mediante o panorama geral das obras ora apresentado, promove-se, doravante, a
apresentação sintética dos estudos selecionados, contemplando-se, ainda, as
considerações tecidas sobre a ordem em determinados compêndios gramaticais.
2.1 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama tradicional
A fim de ilustrar parte das constatações dignas de nota acerca do evento da
ordem no âmbito do tratamento tradicional, promove-se, na seqüência, a apresentação
de algumas ponderações que se julgam relevantes.
No que se refere a dois estudos do início do século XX a respeito do
estabelecimento de uma norma brasileira e de uma norma européia acerca da colocação
pronominal, considerem-se, por exemplo, os trabalhos de Figueiredo (1917 [1909]) e de
Said Ali (1966 [1908]), apresentados de modo sintético.
O europeu Cândido de Figueiredo, em O problema da colocação de pronomes,
datado de 1909, apesar do extremo conservadorismo purista em considerar que algumas
estruturas observadas no Português do Brasil não poderiam ser avalizadas como
“portuguesas”, salienta que, segundo a intenção e a entoação de quem fala, a ordenação
dos elementos de uma frase ou de um período pode sofrer variação.
No que concerne ao estudioso brasileiro Said Ali, em Dificuldades da língua
portuguesa, de 1908, o autor tece importantes considerações sobre o que seria a norma
de colocação dos pronomes átonos nas variedades brasileira e européia do Português,
dentre as quais se destacam as de caráter fonético no que se refere, especificamente, ao
conceito de atração. O teórico postula que qualquer vocábulo pode exercer influência na
atração fonética do pronome átono desde que anteposto ao verbo, destituído de
entonação e pausa. Acerca da tonicidade das palavras, salienta a tendência do Português
em evitar criação de segmentos proparoxítonos.
Conforme se constata pelos estudos supracitados, perceba-se que, apesar de
trabalhos do início do século XX salientarem que as regras de colocação brasileira se
revelam divergentes das portuguesas, os compêndios gramaticais prescritivos atuais
determinam regras que se aplicariam, igualmente, tanto à variedade brasileira quanto à
variedade européia do idioma. Isso dito, ressalte-se que tais gramáticas, embora
reconheçam disparidades entre PB e PE quanto ao fenômeno da ordem, recomendam,
33
por exemplo, a colocação enclítica como regra geral, considerando, de modo especial, o
que se idealiza para a escrita literária (cf. Cunha & Cintra, 2001: 300).
No que tange aos contextos em que a variante pré-verbal se faz obrigatória
devido à “atração” exercida por alguns itens, discriminem-se os seguintes domínios
arrolados pela tradição gramatical, em contextos com formas verbais finitas:
(i) Sentenças negativas (Nunca se viu tal atitude
7
);
(ii) Orações exclamativas (Quanto sangue se derramou inutilmente!);
(iii) Orações interrogativas (Quem o obrigou a sair?);
(iv) Orações subordinadas (Espero que me atendas sem demora);
(v) Construções com alguns elementos adverbiais [, aqui, bem, entre outros] (Aqui se
aprende a defender a pátria);
(vi) Pronomes indefinidos e numeral ambos (Tudo se fez como você sugeriu; Todos os
barcos se perdem, entre o passado e o futuro).
Considere-se que a pausa identificada nos manuais pela vírgula entre um
elemento “atrator” e o verbo é sinalizada como fator que tende a favorecer a ênclise,
mesmo estando o pronome antecedido por um item proclisador.
Ademais, propõe-se a ênclise como regra geral com formas verbais no infinitivo
e no gerúndio. Entretanto, no que respeita ao infinitivo, admite-se, ainda, a possibilidade
de colocação proclítica ou enclítica uma vez que o verbo se encontre antecedido de
preposição ou de vocábulo negativo. Sugere-se a ênclise como opção preferencial
quando o elemento verbal no infinitivo se exibe regido de preposição a associado ao
pronome o/a (Se soubesse, não continuaria a lê-lo). Recomenda-se a próclise
obrigatória nos casos em que o gerúndio se encontra precedido pela preposição em (Em
se tratando de minorar o sofrimento alheio, podemos contar com a sua colaboração.),
bem como por advérbios responsáveis por modificar o pronome sem pausa entre si (Não
nos provando essa grave denúncia, a testemunha será processada.).
No que tange ao evento da ordem em locuções verbais, grosso modo, os manuais
prescritivos admitem três possibilidades, quais sejam: (i) ênclise ao verbo auxiliar (O
presidente quer lhe falar ainda hoje.), (ii) próclise ao verbo auxiliar (O presidente lhe
quer falar ainda hoje.) e (iii) ênclise ao verbo principal (O presidente quer falar-lhe
ainda hoje.) sendo esta última possibilidade não aplicada às estruturas participiais.
7
As ilustrações indicadas correspondem, por vezes, a adaptações dos exemplos observados nos manuais
analisados.
34
Ressalte-se que as gramáticas, como em uma espécie de reconhecimento das
particularidades da norma brasileira, admitem que é “sintaxe brasileira a interposição do
pronome átono nas locuções verbais, sem se ligar por hífen ao auxiliar” (ROCHA
LIMA, 2005: 455).
Pontue-se, ainda, que alguns manuais, em referência às locuções como vem ver-
me, sinalizam que o Português do Brasil possui por opção a ligação do pronome ao
verbo que o rege.
Uma vez contempladas as principais prescrições concernentes ao fenômeno de
ordenação dos clíticos pronominais, ponderem-se, na seqüência, algumas das propostas
apresentadas em manuais que assumem realizar uma abordagem gramatical descritiva.
2.2 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama não-tradicional
Pontuem-se, aqui, os vários estudos que desenvolvem o exame da ordenação dos
átonos pronominais, sem o compromisso prescritivo adotado pela abordagem
tradicional.
2.2.1 A ordem mediante dois compêndios gramaticais descritivos
Promove-se, nesta subseção, uma apreciação sintética das propostas
apresentadas pelas gramáticas de Perini (2001 [1995]) e de Mateus et alii (2003), no
propósito de se contemplar o evento da ordem segundo uma abordagem diferenciada.
Perini (2001), em Gramática descritiva do português, intenta conceder a
professores e alunos um material atualizado que descreva a norma culta verificável na
escrita jornalística e acadêmica e não apresente três principais problemas averiguados
nas gramáticas tradicionais: falta de coerência teórica, falta de adequação à realidade da
língua e normativismo sem controle.
Considerando, especificamente, o fenômeno de colocação dos clíticos
pronominais, o estudioso pontua que os princípios atuantes no evento são simples e que
o verdadeiro problema se deposita nas incertezas de julgamento a propósito da posição
dos pronomes em determinados casos. Salienta que tais incertezas decorrem da
diferença significativa entre as variedades brasileira e européia.
Para o teórico, a variante enclítica não seria observada com grande freqüência no
Português do Brasil, sobretudo na modalidade falada, tendência tal que, possivelmente,
35
teria deixado profundas marcas no padrão escrito. Sugere a simplificação das regras
apresentadas pelos manuais normativos em favor da proposta de que, no PB, os clíticos
se colocariam sempre antepostos ao núcleo do predicado.
Ao ressaltar a próclise e a ênclise como duas posições dos pronomes clíticos,
Perini (2001) estabelece as restrições que, segundo ele, cobririam a maior parte dos
casos de colocação do padrão culto escrito, a saber:
Restrição à próclise: É mal formada toda oração que contenha proclítico no início de
estrutura oracional não-subordinada ou logo após elemento topicalizado.
Restrição à ênclise: É mal formada toda oração que contenha enclítico quando: o
elemento verbal (Aux ou NdP) é gerúndio, precedido de em; ou o Aux/NdP é particípio;
ou a oração se inicie com item marcado [+Atração]. Em todos os outros casos, usa-se
próclise ou ênclise , indiferentemente. (PERINI, 2001: 229-230)
O autor pontua que, no que se refere aos compêndios gramaticais, apesar da
indicação recorrente de alguns vocábulos (relativos; interrogativos; os elementos não,
nunca, só, até, mesmo, também, tudo, nada, alguém, ninguém; o complementizador
que), não existe, quanto aos elementos que atuariam de modo efetivo como “atratores”,
grande consenso. Salienta, ainda, que, em contextos nos quais não se verificam fatores
de próclise tradicionais, se pode optar, de certa forma, pelas variantes proclítica ou
enclítica.
A propósito da colocação dos pronomes em estruturas verbais complexas, o
autor observa que o átono se posiciona nos limites da mesma oração. Sublinha, no
entanto, a hipótese de que (i) construções com o verbo saber admitiriam a posição
proclítica ao verbo auxiliar (Ela me sabe agradar) e (ii) estruturas com item auxiliar
acompanhado de preposição (Ela se deixou de maquiar) poderiam aceitar a próclise na
modalidade escrita do Português do Brasil.
No que respeita às considerações feitas por Mateus et alii (2003), certifique-se
de que as autoras, ao pontuarem o que seria a norma-padrão verificada no Português
Europeu moderno, praticado em Lisboa, apresentam uma descrição que se aproxima das
propostas observadas nos compêndios gramaticais brasileiros considerados.
Estabelecem que os clíticos pronominais dependem de um hospedeiro verbal
forma finita ou não-finita , ao qual se acomodam em adjacência. No que respeita ao
contexto de posição inicial absoluta de frase, indicam, como regra geral, que os
pronomes átonos europeus se pospõem ao verbo.
Tal como considerado pelas autoras (MATEUS et alii, 2003: 853-857),
destaquem-se os seguintes contextos nos quais se pode observar a colocação proclítica
36
no Português Europeu: operadores de negação e sintagmas negativos, sintagmas-Q,
complementadores, advérbios de focalização, de referência predicativa, confirmativos,
de atitude proposicional e aspectuais, subtipos de quantificadores e conectores de
coordenação (correlativas com um elemento de polaridade negativa e correlativas
disjuntivas), além de constituintes ligados discursivamente em construções
apresentativas (de inversão locativa).
A propósito das construções verbais complexas, as autoras destacam os
domínios em que se verifica o fenômeno de subida de clítico
8
, o qual consiste na
selecção de um verbo do qual o pronome clítico não é dependente para hospedeiro
verbal” (MATEUS et alii, 2003: 857), como na exemplificação: O João não a vai
provavelmente convidar.
Embora as estudiosas tratem do tema da colocação com maior rigor teórico, o
que se reflete na própria terminologia utilizada, verifica-se, em termos descritivos, a
proximidade existente entre a descrição da variedade européia proposta e a determinada
em compêndios tradicionais brasileiros.
2.2.2 A ordem mediante diversas investigações científicas
Sumarizam-se, nesta subseção, as constatações advindas de estudos
apresentados em ordem cronológica de publicação que promovem o exame de dados
coletados nos períodos que, de certo modo, sincrônica ou diacronicamente, coincidem
com o intervalo de tempo investigado no presente trabalho.
De modo a versar sobre o evento da colocação pronominal no âmbito do
Português do Brasil, Pereira (1981) vale-se de corpora que contemplam dados das
modalidades oral e escrita.
Mediante a análise desenvolvida, a autora constata, no que concerne à
modalidade oral averiguada segundo dados produzidos por falantes masculinos e
femininos de distintas idades e escolaridades naturais dos estados do Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Alagoas , que o PB não cumpre as recomendações prescritas pela
tradição gramatical. Ainda no que tange a tal modalidade, ressalte-se que, consoante as
constatações da pesquisadora, peculiaridades como (i) predomínio da variante
8
O termo pressupõe que, na estrutura formal arbórea, o clítico ultrapassa o nó relacionado ao verbo que
lhe dá existência e se localiza acima, antes do verbo auxiliar.
37
proclítica, (ii) ocorrência de ênclise restrita a determinados clíticos pronominais, (iii)
ausência de registros de mesóclise, bem como (iv) apagamento e/ou substituição do
átono pronominal por sua forma reta correspondente caracterizam o Português
vernacular atestado no Brasil.
A propósito do PB escrito, examinado segundo uma amostra constituída de
textos jornalísticos modernos assim como de manuscritos dos séculos XVII, XVIII e
XIX além de crônicas do século XX, Pereira pontua a existência de variação quanto ao
evento da ordem nos manuscritos examinados, variação essa que se estende ao
momento contemporâneo contemplado por ela. No que respeita à colocação mesoclítica,
afirma a pesquisadora que tal variante se constitui como a única posição a revelar
extinção na diacronia considerada.
A respeito da ênclise, salienta que a opção pela ordem pós-verbal se manifesta
com predomínio nos contextos integrados pelos pronomes se e me, sendo sobrepujada,
na maior parte dos ambientes investigados, pela colocação pré-verbal, contrariando, por
vezes, os postulados preconizados pela tradição gramatical. Ainda no que toca à posição
proclítica, Pereira verifica a potencialidade dos chamados fatores de próclise
concebidos no presente trabalho como proclisadores (canônicos e não-canônicos)
como decisivos, na maior parte dos casos, para o fenômeno da ordenação pronominal.
Pontua, também, que, em textos de registros informais, o evento da ordem se procede
mediante a condição de manter ou configurar vocábulos paroxítonos.
No que concerne ao peso das variáveis relacionadas aos operadores de próclise e
à manutenção ou formação de palavras com pauta acentual paroxítona, postula Pereira
que a ordem dos clíticos pronominais apresenta maior eficácia explicativa caso se
considere a influência dos fatores de próclise, apesar de a hipótese dos vocábulos
paroxítonos ser mais adequada em determinadas situações.
Lobo (1991), ao investigar o evento da ordem na variedade culta do Português
averiguado nos períodos quinhentista e atual, comparando o PB e o PE contemporâneos,
lança mão de amostra constituída de documentos da corte de Dom João III para o exame
da colocação no Português quinhentista bem como de corpus que compila quinze
inquéritos disponibilizados pelo Projeto NURC.
Ancorada no arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Laboviana, a
autora apresenta as prováveis motivações sociolingüísticas para as variantes atestadas.
38
A propósito dos grupos de fatores de natureza social, Lobo pontua que as
variáveis extralingüísticas controladas não se revelam decisivas para o fenômeno de
colocação, postulando que o evento da ordem se faz sensível fundamentalmente aos
fatores de cunho estrutural.
De suas constatações, destaque-se que o modelo de ordenação pronominal no PB
oral culto, em registro formal, é caracterizado pela variação averiguada em quase todos
os contextos sintáticos por ela examinados com opção primeira pela ordem proclítica,
principalmente em enunciados cujo verbo é antecedido por SN sujeito pronome pessoal
e por elementos de negação, ambientes nos quais a variante pré-verbal se manifesta de
modo categórico.
A respeito dos demais fatores favorecedores da posição proclítica, arrolam-se as
orações subordinadas desenvolvidas, SN sujeito nominal bem como sintagmas
adverbiais e preposicionais, mormente quando esses não se separam do hospedeiro
verbal do clítico por meio de vírgula.
Saliente-se, também, que a estudiosa atesta a generalização da variante pré-
verbal em todos os contextos, salvo nos domínios de pronome acusativo de terceira
pessoa e de ambiente de infinitivo verbal, em que impera a colocação enclítica. A
propósito da posição pós-verbal, favorecem, ainda, a ênclise o domínio de orações
subordinadas reduzidas de gerúndio, assim como de sentenças de sujeito
semanticamente indeterminado.
No que tange às variedades brasileira e européia contemporâneas e à época da
publicação, Lobo, em sentenças integradas por verbos finitos, constata que PB e PE
elegem, consideravelmente, a colocação pré-verbal em cláusulas subordinadas
desenvolvidas. Nas orações principais/absolutas, computam-se registros de clítico em
primeira posição de oração no PB, fato não constatado no PE. Estando o verbo
precedido por elementos de negação, o pronome manifesta-se evidentemente em
próclise nas duas variedades, ocorrendo proclítico, também, em domínios de verbos
antecedidos por SN sujeito nominal e pronominal no PB e em posição de ênclise no PE.
Em orações coordenadas, a colocação enclítica faz-se marcante no Português Europeu,
ao passo que, na variedade brasileira, a variação posicional tende, em primeira instância,
para a ordem proclítica.
Ao examinar a ordem mediante formas não-finitas, Lobo atesta que, nas
cláusulas subordinadas reduzidas de infinitivo, quando não regidas por preposição, a
colocação enclítica ocorre soberana, competindo com as outras posições quando se
39
observa a presença de elementos preposicionais. A respeito da variedade brasileira, a
opção majoritária por próclise independe da presença ou ausência de itens
preposicionais nas sentenças reduzidas de infinitivo. Os contextos de sentenças
subordinadas reduzidas de gerúndio não introduzidas por preposição revelam-se como
favorecedoras da ordem pós-verbal nas duas variedades contempladas.
Com fundamentos nos resultados alcançados, Lobo admite que o Português
Europeu atual, ainda que se detectem algumas distinções no modelo de colocação
pronominal, apresenta um condicionamento sintático semelhante ao verificado no
Português quinhentista. No que toca ao Português do Brasil contemporâneo,
contabilizam-se ocorrências consideráveis de próclise, fato que evidencia o
desaparecimento de certas motivações sintáticas.
Mediante acurada análise dos corpora contemplados, defende a pesquisadora,
por meio de vários argumentos, que o Português do Brasil revela um quadro de processo
de mudança lingüística quanto ao posicionamento dos átonos pronominais.
Com o propósito de investigar o trajeto diacrônico dos átonos pronominais no
Português atestado no decurso dos anos compreendidos entre os séculos XVI e XX,
Pagotto (1992) valendo-se dos preceitos preconizados pela linha investigativa
proposta por Tarallo & Kato (1989), que ficou conhecida como Sociolingüística
Paramétrica visa a esclarecer o fenômeno da mudança por meio de distinções
interlingüísticas verificadas segundo a ordenação dos pronomes átonos em contextos de
verbos simples finitos, grupos verbais (identificados, neste trabalho, como lexias verbais
complexas) e, ainda, sentenças infinitivas e gerundivas.
Ao efetuar o exame da ordem em textos literários e em documentos notariais,
todos produzidos no Brasil embora os testemunhos escritos até o século XVIII sejam
de portugueses ou de autores cuja nacionalidade é desconhecida , o pesquisador
confere ao componente sintático maior prioridade para a análise da ordem que se efetua
a partir da observação de 1436 registros de pronomes átonos em diferentes contextos,
nos quais se verificam distintos padrões de ordenação pronominal. Os dados de clíticos
obtidos distribuem-se por quatro variáveis dependentes, quais sejam: (a) cláusulas
constituídas de um único verbo; (b) cláusulas constituídas de grupos verbais; (c)
cláusulas integradas por um só verbo antecedido por elemento de negação ou por
advérbios configurando um caso de interpolação ; (d) cláusulas integradas por grupos
verbais antecedidos por elemento de negação ou por advérbios. Uma vez consideradas
40
as especificidades estruturais das sentenças observadas, o autor, por vezes, procede ao
tratamento da ordem em frases infinitivas e gerundivas em separado.
No que tange aos resultados alcançados, Pagotto (1992), a propósito da
colocação em sentenças com formas verbais simples finitas, pontua certa estabilidade
quanto à ordem dos pronomes átonos na gramática do PB, no decorrer dos séculos XVI
ao XX, salientando maior ocorrência de próclise no Português do Brasil clássico em
comparação ao PB atual, mormente a partir do século XIX.
Postula o autor que a mudança atestada (operada também no PE) rumo a um
padrão enclítico atuou socialmente sobre o PB escrito, motivando os falantes brasileiros
a optarem pela ênclise, caráter que contraria as tendências da língua falada. Pondera,
ainda, que a próclise, tida como a norma até o século XVIII, passa a ser estigmatizada
no Português do Brasil em virtude da mudança ocorrida no PE.
Acerca da ordenação dos clíticos em grupos verbais, salienta o pesquisador que
a próclise a v1, independentemente do tipo de pronome átono e da presença dos
chamados fatores de próclise os quais, ao que parece, contribuíam, apenas, por
aumentar a concretização dessa variante , constitui o padrão de ordenação até a
primeira metade do século XVIII.
Destaca o autor que, na segunda metade do mesmo século, a ordem cl v1 v2
passa a ser sobrepujada pelo padrão v1 cl v2, ocorrendo, assim, a mudança de colocação
implementada, principalmente, pelos grupos integrados por verbos no infinitivo
acompanhados de pronomes reflexivos. No que se refere à ocorrência de ênclise a v2, o
estudo pontua maiores registros de tal posição em domínio de clítico acusativo de
terceira pessoa.
No que concerne à ordem em contexto de formas verbais simples acompanhadas
de elementos de negação e de advérbios, o trabalho de Pagotto sublinha que, no curso
dos séculos XVI ao XVIII, o fenômeno de interpolação, isto é, a freqüência de cl-NEG
v, é mais evidente do que a variante NEG cl-v, apresentando esta, após o período
referido, índice de ocorrência quase categórico. Em referência aos advérbios, a análise
evidencia que o padrão ADV cl-v é a opção primeira em todo o período. Tendo em vista
que o não interpolado ocorre quase unanimemente no século XVI, o estudo supõe que a
anteposição do pronome aos itens adverbiais tenha sido produtiva no Português da
época medieval.
Quanto ao fenômeno da ordem em grupos verbais precedidos de elementos de
negação bem como de advérbios, a análise de Pagotto destaca que somente a negação
41
admite o evento de interpolação (cl-NEG v v), que os advérbios influenciam, com
maior freqüência, o padrão ADV cl v v, além de outras posições. À luz dessas
evidências, o estudioso advoga que a opção primeira pela próclise ao elemento de
negação, observada nos anos dos séculos XVI ao XVIII, sofreu uma mudança
considerável a fim de impedir esse tipo de ordenação no PB de épocas ulteriores.
No tocante ao posicionamento dos clíticos em sentenças gerundivas e infinitivas,
Pagotto elucida o caráter nitidamente distinto da ordenação dos pronomes em contextos
de formas verbais finitas e infinitas, principalmente nos séculos XVI, XVII e XVIII. O
lingüista verifica a grande produtividade da ênclise em ambientes de formas gerundivas
e infinitivas, enquanto a variante proclítica se restringe a contextos nos quais o verbo se
encontra precedido de um possível fator de próclise.
De seu exame, Pagotto postula que a perda do movimento do verbo assim como
da longa mobilidade do clítico corresponderia às causas das mudanças no padrão de
colocação em direção aos altos índices de freqüência da próclise generalizada e na
alteração da natureza categorial dos clíticos no PB. Advoga, ainda, que a mudança no
Português do Brasil, no que concerne à ordem pronominal, estaria concluída: os átonos
pronominais seriam concebidos como partículas em desaparecimento, assumindo
radicalmente a ordem pré-verbal em contextos que, porventura, sobrevivessem.
Em cotejo entre PB e PE, diz Pagotto, em defesa do Português como uma língua
que passa a percorrer dois caminhos distintos, que o fato de a variedade européia
exercer forte pressão sobre o Português do Brasil estaria fortemente relacionado ao fato
de a modalidade escrita do PB acolher estruturas que não condizem com sua realidade
vernacular.
Monteiro (1994), em seu trabalho intitulado Pronomes pessoais: subsídios para
uma gramática do português do Brasil, promove, em seção especial de “sínclise”
pronominal, considerações acerca da ordenação dos clíticos no PB oral culto observada
em cinco cidades brasileiras por meio de inquéritos fornecidos pelo Projeto NURC.
A análise quantitativa desenvolvida pelo pesquisador contabiliza, apenas, 15%
de manifestação da variante enclítica. Postula o autor que os baixos registros de ênclise
se relacionam, dentre outros fatores, ao tipo de clítico pronominal e ao fenômeno de
apagamento do objeto sintático.
No intuito de elucidar a natureza do fenômeno de colocação, Monteiro expõe as
três explicações comumente utilizadas para sua apreciação, a saber: (i) a atração lexical,
42
por meio da qual determinados vocábulos, mediante o sentido que expressam, exigiriam
a adjacência do pronome a si; (ii) o reflexo da função expressiva, visto que a ordem
estaria diretamente relacionada a fatores de natureza estilística, e (iii) a ação dos fatores
rítmico-prosódicos.
A respeito do postulado da atração lexical, Monteiro trava severas críticas
quanto a tal explicação, ressaltando que “se de fato determinadas palavras tivessem o
poder de atrair o pronome oblíquo, este mudaria de posição toda vez que elas também se
deslocassem ou fossem retiradas da frase” (MONTEIRO, 1994: 188).
Quanto à função expressiva, considera o estudioso que alguns autores
argumentam que, para justificar o fenômeno da colocação, se torna necessária a análise
das relações entre os componentes sintático, prosódico e informacional do enunciado.
No que respeita ao caráter rítmico-prosódico, ancorado em estudos anteriores ao
dele, Monteiro atesta que uma possível explicação acerca da ordenação pronominal em
Português se alicerça no postulado de que as sentenças do PB se constituem com um
padrão de ritmo binário relacionado a uma pauta acentual de natureza paroxítona.
Em consideração ao posicionamento dos pronomes em face de duas formas
verbais, o pesquisador propõe, mediante suas intuições na audição dos inquéritos
examinados, que o clítico ora se revela como segmento silábico postônico em relação ao
verbo auxiliar, ora como sílaba pretônica ao verbo principal, sendo essa opção mais
freqüente.
Realizadas todas as constatações, Monteiro (1994) reitera que a ordem dos
clíticos no PB se revela diretamente relacionada ao preenchimento do objeto anafórico,
compreendendo que o apagamento do objeto, possivelmente, constituiria um modo de
se evitar a realização da variante enclítica.
Martins (1994a), em sua tese de doutoramento intitulada Clíticos na história do
Português, promove a análise da ordenação dos clíticos discriminando dois estágios
temporais, quais sejam: (i) século XIII ao XVI período examinado segundo
testemunhos notariais (não-literários) e (ii) século XVI aos dias atuais intervalo de
tempo investigado por meio de documentos de natureza literária
9
.
9
Conjugando a descrição dos dados ao que propõe a teoria de princípios e parâmetros em seu caráter
minimalista, postula que a ordenação dos pronomes clíticos nas línguas românicas esteja relacionada à
natureza da categoria funcional Sigma.
43
No que respeita à ordenação dos clíticos em estruturas verbais simples, a
estudiosa verifica a preferência pela ênclise no século XIII, ocorrendo, gradualmente e
de modo lento, no século XVI, a opção pela próclise, principalmente em orações
subordinadas tal como se verifica no Português Europeu atual. A variante proclítica,
freqüente no século XVI, conforme já se pontuou, sofre forte decréscimo em seus
índices de ocorrência e, em conseqüência, maiores registros de ênclise são
contabilizados entre os séculos XVII e XIX. A autora constata, assim, o fenômeno de
mudança sintática no que respeita à ordem pronominal a partir do século XVII.
A propósito do fenômeno de interpolação, Martins pontua que, no decurso dos
séculos XIII ao XVI, contabilizam-se ocorrências de elementos interpolados entre o
pronome e o verbo. Todavia, a partir do século XVII, o fenômeno passa a apresentar
escassez de manifestação, sendo, apenas, verificado por meio da interposição da
partícula não. Em cotejo entre esse período e o momento atual do Português Europeu, a
pesquisadora atesta que, no PE contemporâneo, os clíticos pronominais ocorrem,
predominantemente, adjacentes ao seu hospedeiro verbal, computando-se, ainda, alguns
registros de não interpolado, os quais se revelam restritos a determinados contextos.
No que tange às estruturas verbais complexas integradas por verbo no infinitivo
no decorrer dos séculos XIII ao XVI (visto que a referida pesquisa não apresenta
constatações sobre as formas complexas participiais e gerundivas), Martins verifica que,
na maior parte dos casos, os clíticos se adjungem ao verbo auxiliar, não estando
diretamente ligados à forma principal no infinitivo. Saliente-se, entretanto, que, somente
em contextos de elipse do verbo auxiliar, o pronome, necessariamente, se associa ao
item no infinitivo.
De modo geral, o evento da colocação entre clítico e verbo auxiliar exibe-se com
características muito semelhantes à ordem em estruturas verbais simples, isto é, a
precedência do pronome ao verbo ocorre em cláusulas subordinadas com item verbal
finito, em orações negativas, em estruturas subordinadas finitas introduzidas por
determinadas preposições e em orações principais afirmativas encetadas pela forma
adverbial asy. Assim como o constatado por Martins (1994) em construções verbais
simples, os átonos pronominais observados em lexias complexas em contexto de
orações não-dependentes ora se antepõem, ora se pospõem ao verbo auxiliar.
A pesquisadora sistematiza, então, que, no século XIII, se atesta o predomínio da
ordem enclítica ao hospedeiro verbal auxiliar, havendo, no século XIV, um equilíbrio
44
distribucional entre as colocações proclítica e enclítica. No que respeita aos séculos XV
e XVI, a próclise, nesse período, faz-se majoritária.
Contabilizam-se 16 registros da variante enclítica ao verbo auxiliar em domínios
nos quais os verbos do complexo apresentam preposições e advérbios intervenientes ou
a contração entre os clíticos acusativos o(s), a(s) e um item verbal finalizado por s ou
por vogal nasal, gerando uma “cliticização fonologicamente visível ao auxiliar”
(MARTINS, 1994: 152).
A respeito do posicionamento do clítico à esquerda dos verbos das construções
complexas, Martins verifica tal colocação em situações nas quais o verbo principal
antecede seu auxiliar (ex.: se fazer
Vp
. poder
Vaux
.).
Quanto à ordenação do pronome em ênclise ao infinitivo, estando esse item
verbal após seu auxiliar, a estudiosa salienta que a cliticização v1 v2-cl constitui apenas
5 registros dentre as 106 ocorrências examinadas.
Pelas constatações efetuadas por Martins (1994), pontue-se que seu estudo
demonstra, no que respeita aos complexos verbais observados no decurso dos séculos
XIII e XVI, a opção preferencial pela adjacência do clítico a v1 em detrimento de v2.
No que concerne ao período de tempo compreendido entre os séculos XVI e XX,
não se observam considerações de Martins (1994) acerca das mudanças posteriores ao
século XIX, fato que leva a crer que a autora, provavelmente, não procedeu ao
tratamento analítico das construções complexas no intervalo temporal discriminado.
Com o propósito de efetuar o exame da ordenação dos átonos pronominais em
estruturas verbais complexas bem como em contextos de objeto nulo averiguados no
Português do Brasil, Cyrino (1996) promove a observação de textos dramáticos
produzidos no decurso dos séculos XVIII, XIX e XX, a fim de atestar a suposta
colocação pronominal vernacular de cada fase contemplada.
Considere-se que, de modo a atender às especificidades resguardadas ao tema do
presente trabalho, priorizam-se, da abrangência da pesquisa de Cyrino (1996), as
constatações acerca da colocação em domínio de complexos verbais.
No que respeita ao fenômeno de mudança da ordem dos clíticos no PB, Cyrino
salienta a não-ocorrência progressiva da variante enclítica bem como da colocação
proclítica a v1 no culo XX. De outro lado, pontua, para o PB contemporâneo, a
freqüência de colocação do clítico à esquerda do “verbo mais baixo” – tratamento
45
consoante o quadro formalista de que se vale ou ao item verbal que não revela
concordância, isto é, o verbo principal (v1 cl v2).
Ressalte-se que a estudiosa atesta que manifestações da variante proclítica a v2
se verificam no século XIX, intensificando-se no período posterior de cem anos
mesmo em face de elementos proclisadores.
A propósito do século XX, Cyrino atesta a redução de ocorrências da variante
enclítica a v1 (v1-cl v2) assim como a queda de ênclise a v2 (v1 v2-cl), além de índices
reduzidos de próclise ao auxiliar (cl-v1 v2). Paralelamente ao declínio e/ou à
improdutividade dessas variantes, verifica os registros cada vez maiores da ordem v1 cl
v2, considerada próclise a v2, posição essa que, consoante a pesquisadora, tende a se
fixar ao verbo principal no século XX, em conseqüência da imobilidade do clítico nesse
período. Certifique-se, ainda, de que a autora chega a contabilizar contextos categóricos
da variante v1 cl v2 no decurso do século XX em oposição aos índices nulos dessa
posição no século XVIII.
Em especial comparação entre os séculos XIX e XX, Cyrino salienta que
realizações como “João me vai dar um livro” (e Tinham-lhe escrito cartas”) não são
evidentes no PB atual. Em contrapartida, verifica certa mobilidade do clítico ao se
deslocar para a esquerda de v1 ou permanecer à direita de v2 em contextos de sentença
imperativa afirmativa, construções gerundivas ou com infinitivo pessoal, no PB do
século XIX. É na primeira metade desse século que ocorrências como “João vai me
dar um livro” passam a ser observadas nas peças teatrais examinadas.
Como constatações gerais licenciadas pelo estudo realizado, Cyrino apura que,
no século XVIII, as características sintáticas do item verbal auxiliar se debilitam. No
que concerne à primeira metade do século XIX, a variante enclítica passa a ser
reanalisada como próclise ao verbo principal, sendo esta última posição freqüente no
século XX.
A tese de doutoramento intitulada A colocação pronominal na língua literária
contemporânea do português brasileiro
10
, de autoria de Schei (2003), promove a análise
de considerável número de ocorrências do fenômeno de colocação pronominal extraídas
de seis romances representativos da Literatura brasileira de fins do século XX, de modo
10
Torna-se oportuno esclarecer que a resenha concernente ao trabalho, agora exposto, se efetua a partir da
obra A colocação pronominal do português brasileiro: a língua literária contemporânea, a qual
corresponde, originalmente, à tese de doutorado defendida por Schei, em 2000, na Universidade de
Estocolmo.
46
a atestar as discrepâncias existentes entre aquilo que se recomenda no âmbito da
prescrição gramatical (norma idealizada ou subjetiva) e a realidade lingüística que,
efetivamente, se constata empiricamente (norma objetiva).
De modo a investigar a hipótese de que os compêndios gramaticais brasileiros
contemplam, quanto ao fenômeno da ordem, os padrões de colocação lusitanos, Schei
(2003) lança mão de três romances europeus, em análise paralela à da ordenação dos
clíticos na variedade brasileira. Desse modo, os materiais contemplados em conjunto
fornecem mais de 8000 dados da manifestação da regra variável.
A pesquisadora, embora saliente que não se possam estabelecer conclusões
definitivas, corrobora, por meio dos resultados obtidos, que a ordenação dos clíticos
pronominais na escrita literária do Português do Brasil difere do padrão proposto nos
manuais normativos. Entretanto, dado que os seis romances brasileiros contemplados
apresentam determinadas particularidades, sublinha a autora a impossibilidade de se
considerar um modelo único de colocação da língua literária brasileira contemporânea.
Considerando as sentenças com apenas um item verbal e os contextos integrados
por mais de uma forma verbal (identificados como locuções), Schei pondera, a partir do
cotejo entre os dados das amostras examinadas e as regras prescritas pela tradição
gramatical, a existência de disparidades entre aquilo que se concebe como norma
idealizada e o que de fato se concretiza.
No que tange às formas finitas simples, destaca a autora que tais diferenças se
revelam, mormente, nos contextos para os quais o padrão normativo sugere a ênclise.
Em ambientes avaliados por Schei como neutros como domínios de oração principal
declarativa, coordenada integrada por conjunção e, e sentença desprovida de operadores
de próclise , os seis escritores das obras examinadas diferem, haja vista que alguns
deles atendem aos preceitos gramaticais, realizando, quase sempre, a variante enclítica,
enquanto outros optam por próclise, à semelhança da modalidade oral da variedade
brasileira.
A propósito da compreensão do fenômeno da ordem no âmbito das locuções
verbais, Schei destaca as seguintes construções: (i) auxiliar + particípio, (ii) auxiliar +
gerúndio, (iii) auxiliar + infinitivo e (iv) auxiliar com preposição + infinitivo.
Dentre as evidências verificadas, ressalta a pesquisadora que o pronome se
indeterminador, com freqüência, figura em posição proclítica ou enclítica em face do
verbo auxiliar, em oposição aos demais pronominais átonos, os quais se colocam, na
47
maior parte das vezes, em próclise ao verbo principal, havendo ou não elemento
proclisador.
Acerca dos registros do pronome se na variedade européia, verifica-se que a
ordem proclítica ao auxiliar se manifesta quando da presença de um elemento
proclisador nas estruturas integradas por verbos flexionados no particípio e gerúndio,
caráter esse também observado, em certa medida, com os demais átonos. No que
concerne às construções verbais complexas constituídas de infinitivo, os dados advindos
dos três romances portugueses concedem constatar que, nem sempre, a variante
proclítica ao auxiliar se manifesta mesmo em presença de possível elemento
proclisador.
De modo a apresentar alguns dos pormenores da ordem em perífrases
participiais (auxiliar + particípio), pontua Schei que os literatos observados produzem
com freqüência a ordem proclítica ao verbo auxiliar de modo mais evidente do que o
verificado em construções constituídas de gerúndio e de infinitivo. Destaca, entretanto,
a particularidade de colocação dos acusativos o(s)/a(s), os quais não se posicionam em
próclise ao verbo principal.
Em contexto de locuções com item verbal no gerúndio, sinaliza a autora a
tendência ao favorecimento geral da posição proclítica ao verbo de segunda posição.
Nos domínios verbais de auxiliar + infinitivo, o posicionamento do clítico pode
ser comumente atestado ora em ordem proclítica ora em colocação enclítica ao verbo
principal, com especial preferência pela próclise.
As estruturas complexas do tipo auxiliar com preposição + infinitivo
constituem-se como ambientes de favorecimento, em primeira instância, de próclise a
v2, seguida da variante enclítica ao verbo principal, principalmente quando se trata da
ordenação do clítico acusativo.
Pelas descrições estabelecidas, perceba-se que Schei (2003) ressalta, tendo como
base a colocação de maior produtividade nos romances brasileiros examinados, que a
ordem proclítica ao verbo principal tende a sobrepujar a freqüência de realização das
demais colocações. Isso posto, advoga a autora que o fenômeno de posicionamento dos
átonos pronominais em estruturas verbais complexas se assemelha, em alguma medida,
à suposta ordem verificada na modalidade oral do Português do Brasil.
Em seu trabalho investigativo intitulado Colocação pronominal nas variedades
européia, brasileira e moçambicana: para a definição da natureza do clítico em
48
português, Vieira (2002) busca aferir o padrão de ordenação dos átonos pronominais
mediante os condicionamentos de natureza lingüística e social nas três variedades
discriminadas, no que respeita às modalidades oral e escrita do Português, além de
realizar o exame da ordem com base prosódica.
Uma vez que a análise aqui desenvolvida empreende o exame da colocação no
Português do Brasil bem como no Português Europeu dos séculos XIX e XX, busca-se
sublinhar as constatações de Vieira (2002), no que respeita, especificamente, às
variedades destacadas. Saliente-se, apenas a título de curiosidade, que o Português
Moçambicano, no âmbito das lexias verbais simples, tende a realizar a ênclise de modo
generalizado, e, em construções verbais complexas, denota preferência pela colocação
intra-LVC.
No que tange às variedades brasileira e européia do Português oral, a
investigação de Vieira (2002) considera a fala de informantes de distintos níveis de
escolaridade e de faixas etárias diversificadas. A propósito da modalidade escrita, os
dados colhidos advêm de textos publicados em revistas e jornais brasileiros e
portugueses.
Com base no arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista,
a análise efetuada dispõe de um total de 5196 ocorrências de pronomes átonos,
distribuídas entre construções denominadas de lexias verbais simples e de lexias verbais
complexas, as quais são examinadas em momentos distintos.
Dentre as diversas constatações observadas pela pesquisadora, destaque-se que o
Português do Brasil apresenta um comportamento particular em cada modalidade
contemplada. Nas sentenças constituídas de lexias verbais simples na modalidade oral,
os dados corroboram que, grosso modo, a ordem pré-verbal, condicionada
fundamentalmente pela variável tipo de clítico/valor do se assim como pelo grupo de
fatores extralingüístico faixa etária, é concebida como não-marcada. A propósito do
corpus escrito, saliente-se a motivação considerável do grupo presença de operador de
próclise na oração especialmente na oposição início absoluto versus demais contextos
além das variáveis tipo de oração e distância entre o operador e o grupo clítico-verbo
para a instauração de um modelo lusitano na imprensa brasileira.
No tocante ao fenômeno em ambientes de construções verbais complexas, no
Português do Brasil oral, a ordem intra-LVC faz-se majoritária em 90 pontos
percentuais, não dependendo de motivação de proclisadores para se manifestar. A
respeito da modalidade escrita, embora o estudo disponha de escassos números de dados
49
de estruturas verbais complexas, os resultados verificados pela estudiosa evidenciam a
produtividade da ordem intra-LVC. Ademais, atestam que os chamados proclisadores
não denotam influência significativa para a anteposição do clítico à esquerda do
complexo verbal. A posição enclítica ao complexo ocorreria em domínios específicos,
como, por exemplo, em construções nas quais se vislumbra a colocação dos clíticos
acusativos em face de conglomerados verbais com infinitivo.
No que tange à variedade européia, a colocação assume um condicionamento, de
caráter estrutural, sistemático em ambas as modalidades observadas. Embora se constate
a distribuição equilibrada dos dados segundo as variantes pré-verbal e pósverbal, os
resultados alcançados por Vieira (2002) permitem verificar que tal distribuição pode ser
justificada, sobretudo, pelos números consideráveis de contextos de subordinação, nos
quais figuram os elementos proclisadores.
Em referência às constatações realizadas no âmbito dos complexos verbais, o PE
oral admite, na maior parte das vezes, ênclise a V1. A ordem pré-LVC, igualmente
produtiva, apresenta-se condicionada, principalmente, pela presença de operador de
próclise no contexto anterior ao complexo verbal, tendendo a se manifestar, ainda, nos
ambientes influenciados pela atuação dos grupos de fatores tipo de clítico e forma do
verbo não-flexionado. Acerca da modalidade escrita, o estudo sinaliza que, em domínio
constituído de elementos proclisadores, a variante pré-LVC constitui a opção
preferencial de colocação.
Nunes (2009), com o propósito de examinar a ordem pronominal em estruturas
verbais complexas na modalidade escrita do PB e do PE no decorrer dos séculos XIX e
XX, promove a análise de dados a partir de corpora constituídos de textos de natureza
jornalística. Para tanto, alicerça a análise no arcabouço teórico-metodológico da
Sociolingüística Laboviana bem como nos parâmetros de cliticização propostos por
Klavans (1985).
Na análise proposta, a autora adota o procedimento metodológico de avaliar o
evento da ordem em contextos de início absoluto de oração bem como em domínios
integrados por proclisadores canônicos e não-canônicos.
Verifica, então, que, nas amostras de ambas as variedades, não foram
contabilizados casos de pronomes átonos em posição inicial absoluta, o que implica
atestar a ausência de manifestação da variante pré-LVC. Salienta a pesquisadora que a
ordem pós-LVC se procede em maiores registros em relação às demais no que respeita
50
às duas variedades contempladas nos séculos XIX e XX, salvo no PB do século XIX,
em que a ordem intra-LVC se revelou mais produtiva. A autora justifica tal tendência
brasileira do século XIX pela variável gênero textual, uma vez que a maioria dos dados
colhidos advém de anúncios, que favorecem as expressões cristalizadas próprias do
nero associadas à partícula se apassivadora / indeterminadora (ex.: Precisa-se
alugar). Além disso, o particípio como verbo principal, presente em diversas
construções, impossibilita a colocação pós-LVC e, uma vez que se considerem
contextos isentos de elementos proclisadores, não se teria outra opção a não ser a
variante intra-LVC.
No que concerne à distribuição geral nos contextos desprovidos de início
absoluto, postula Nunes (2009) que não se vislumbram diferenças significativas entre
PB e PE, principalmente no que respeita às variantes pré-LVC e pós-LVC. Os dados
examinados evidenciaram que, em ambas as variedades, nos dois séculos observados, a
próclise a v1 ocorre com mais freqüência, seguida da variante pós-LVC, nos contextos
com possíveis elementos proclisadores.
A propósito da colocação intra-LVC, a autora sublinha o caráter inovador do PB
em realizar alguns dados de próclise ao verbo principal já no século XIX.
No que respeita à atuação das variáveis controladas, a estudiosa constata que o
PB se revela sensível tanto aos condicionamentos de cunho externo como de caráter
estrutural. Em referência ao PE, atesta Nunes que a variedade européia demonstra forte
estabilidade no condicionamento do fenômeno nos dois séculos, atrelado,
especialmente, à influência dos grupos de fatores de caráter lingüístico.
Isso posto, no que toca à atuação dos elementos proclisadores, o estudo avaliza
que os fatores de próclise operam de modo particular nas variedades examinadas: a
distribuição da variante pré-LVC, por exemplo, em face de partículas de negação,
apresenta-se mais produtiva no PE dos séculos XIX e XX. No PB, tais partículas
revelam influência somente nas produções escritas do século XIX. Em contrapartida, os
elementos subordinativos constituem-se como os condicionadores mais potenciais de
próclise a v1 em todos os casos.
Quanto à natureza do verbo principal, o trabalho permite vislumbrar que a forma
participial assume um comportamento mais seletivo em relação à ordem, ao passo que
os infinitivos concedem maior flexibilidade. O particípio, tanto no PB quanto no PE dos
séculos XIX e XX, denota forte incidência da ordem pré-LVC. Em consideração ao
gerúndio, pontue-se que, em seus domínios, se verifica um equilíbrio distribucional das
51
variantes pré-LVC e intra-LVC em ambas as variedades, especialmente no século XX.
Os contextos integrados por infinitivo evidenciam, no século XIX, que a ordem dos
pronomes se associa à presença de elemento proclisador. No século posterior,
contabilizam-se maiores registros de ênclise a v2.
Ponderações acerca do tipo de clítico pronominal são, também, estabelecidas por
Nunes (2009). Assim, salienta a autora que o clítico “se” denota comportamento
diferenciado a depender da estrutura em que ocorre nas duas variedades examinadas. A
propósito dos clíticos acusativos, salvo nos casos advindos da amostra brasileira do
século XX, esses se posicionam, predominantemente, em posição pré-LVC, motivados,
também, pela presença de um elemento proclisador. Em contrapartida, os registros
verificados no corpus do PB do século XX sinalizam a preferência pela variante pós-
LVC, mormente quando o pronome “se” se adjunge ao verbo no infinitivo configurando
uma espécie de estrutura cristalizada.
Em referência ao exame desenvolvido por Martins (2009), acerca dos padrões de
ordenação dos clíticos pronominais na escrita catarinense, a partir de corpus em que se
compilam vinte e quatro peças teatrais escritas por brasileiros nascidos no litoral de
Santa Catarina, no decurso dos séculos XIX e XX, saliente-se que o autor visa a lançar
luz sobre o postulado de que a escrita catarinense refletiria um processo de mudança
sintática concebida, possivelmente, como um processo gradual que se empreende via
competição de gramáticas, no sentido utilizado por Anthony Kroch.
A partir da análise de dados de orações finitas não-dependentes com verbos
simples e construções verbais complexas, o autor apresenta, ao longo de seu trabalho, as
evidências empíricas quanto à colocação dos clíticos pronominais, municiando-se,
também, de uma amostra de vinte e uma peças teatrais escritas por portugueses
lisboetas, todos coetâneos dos séculos XIX e XX.
A hipótese de que os dados da pesquisa de Martins (2009) refletiriam a chamada
competição de gramáticas ancora-se na proposta apresentada no trabalho de Galves,
Brito & Paixão de Sousa (2005). As autoras, em vasto estudo diacrônico, propõem que
os autores nascidos em meados do século XVIII seriam os primeiros a utilizar as
estruturas da ordem que se concebem como pertencentes às gramáticas do Português
Europeu e do Português Brasileiro, deixando de concretizar as estruturas típicas da
gramática anterior, identificada como a gramática do Português Clássico.
52
Em linhas gerais, propõe-se que a gramática do PE adotaria a ênclise como
opção preferencial não só em início absoluto, mas também após contextos sem fatores
de próclise, enquanto a gramática do PB adotaria a próclise como opção preferencial
geral. Nas construções com mais de uma forma verbal, o PB também inovaria ao adotar
a próclise ao verbo principal.
Os resultados obtidos na investigação proposta por Martins (2009), tratados
estatisticamente à luz da Sociolingüística Laboviana, confirmam as tendências
apontadas em Galves, Brito & Paixão de Sousa (2005). No que tange às construções
brasileiras nas quais a variação entre próclise (clV) e ênclise (Vcl) é observada em
cláusulas finitas não-dependentes, o pesquisador registra um aumento progressivo nos
índices da ordem proclítica em contextos V1 assim como em domínios X(X)V, sendo X
antecedido por um sujeito, um advérbio modal ou um sintagma preposicional sem
focalização.
Evidencia o estudioso que a colocação proclítica em escritos do PB do século
XIX se revela de modo mais recorrente em cláusulas com sujeitos pré-verbais do tipo
pronome pessoal, em oposição ao que se constata em sentenças com sujeitos DPs
simples. Quanto à manifestação de próclise no século XX, pontua o autor a ocorrência
categórica de tal ordenação mediante sujeitos pré-verbais.
No que concerne ao posicionamento do átono pronominal em conglomerados
verbais, verifica um progressivo acréscimo da ordem pré-verbal na adjacência do verbo
não-finito, o que também seria evidência da gramática do PB. Ainda assim, advoga o
pesquisador que o Português do Brasil do século XIX, no que respeita aos dados
analisados, apresenta construções DPclV e estruturas XclV assim como o fenômeno de
interpolação do elemento não e/ou do pronome pessoal eu, estruturas que seriam
interpretadas como resquícios dos padrões supostamente instanciados pela gramática do
Português Clássico.
Ressalta Martins (2009) que, assim como os padrões instanciados pela gramática
do Português do Brasil em textos do século XIX podem ser observados, uma vez que se
constata a realização de próclise a V1 e ao verbo não-finito em construções verbais
complexas, se percebe, do mesmo modo, o padrão enclítico, bastante produtivo no
corpus brasileiro, que seria instanciado pela gramática do Português Europeu.
Pontua, assim, o pesquisador, de modo geral, que os resultados alcançados
permitem vislumbrar um complexo fenômeno entre as gramáticas do Português
Clássico, do Português do Brasil, assim como do Português Europeu.
53
Por todas as considerações, aqui efetuadas, certifique-se de que o conhecimento
dos principais trabalhos que se ocupam do tema contemplado na presente investigação é
de fundamental importância não para o estabelecimento das hipóteses investigativas
que se apresentam na seção referente à descrição das variáveis, mas também para a
interpretação dos resultados obtidos.
54
3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
A investigação presente instaura-se no conjugado dos preceitos basilares de duas
orientações teóricas, quais sejam: (i) as premissas formalistas de cliticização (ZWICKY
& PULLUM, 1983; ZWICKY, 1985; KLAVANS, 1985) das quais advêm os
fundamentos e os parâmetros para a abordagem do fenômeno , bem como (ii) os
postulados da Sociolingüística Laboviana conjunto de princípios que subsidiam a
análise dos dados no que concerne à variação e mudança.
Julga-se que a interface das duas orientações mencionadas se faz pertinente, uma
vez que tal procedimento promove o exame da regra variável aplicado à ordem dos
pronomes átonos. Desse modo, cumpre-se o propósito de se efetuar a descrição e a
interpretação dos resultados quanto ao evento da ordem de forma consistente, sem que
os fundamentos teóricos empregados transgridam suas fronteiras ou violem suas
identidades ao responderem determinadas questões que, porventura, (não) sejam
alcançadas em seu domínio teórico.
Considere-se, pois, que, no tratamento da cliticização pronominal, a perspectiva
dos estudos sociolingüísticos ancorada na Teoria da Variação e Mudança permite a
abordagem da ordem como fenômeno variável, sendo este motivado pela interinfluência
de fatores de cunho lingüístico e social. A fundamentação teórica relacionada ao
conceito de cliticização, com base na perspectiva adotada pelos autores considerados,
possibilita associar a variação da ordem dos clíticos não aos outros níveis
gramaticais, o que configura um nítido quadro de interface, mas também à proposta de
estabelecer parâmetros de cliticização, que aproximam ou distanciam as línguas ou
variedades lingüísticas, justificando-se, assim, a eficácia da adoção conjunta das
abordagens contempladas para o exame da colocação, cujos pormenores agora se
apresentam.
3.1 As diretrizes do tratamento da cliticização
Preliminarmente, convém tratar do conceito de cliticização usualmente
empregado, tendo em vista que a presente pesquisa se vale da ordem de elementos
considerados clíticos na Língua Portuguesa, ou seja, os pronomes átonos.
O vocábulo clítico, de origem grega, significa, em dicionários gerais do
Português (cf. Aurélio, 1986: 418), “qualquer monossílabo átono subordinado, por meio
de elemento prosódico, ao vocábulo que o precede, ou que o segue, ou no qual se acha
inserido”.
55
Em dicionários especializados em Lingüística, o termo cliticização também é
definido considerando-se sua natureza fonética. A esse respeito, observe-se a definição
de clítico proposta por Crystal (2000), em seu Dicionário de Lingüística e Fonética:
Termo usado na gramática com referência a uma forma que se assemelha a uma
palavra, mas não pode aparecer sozinha em um enunciado normal, sendo
estruturalmente dependente da palavra vizinha na construção. (CRYSTAL, 2000: 49)
Conforme se observou na revisão da literatura acerca da colocação, diversos
estudos priorizam a natureza átona dos clíticos para postular hipóteses interpretativas
acerca do comportamento da ordem dos pronomes átonos, bem como acerca das
diferenças entre variedades do Português. Ressalte-se, a esse respeito, a consideração
hipotética de que a pauta acentual produtiva da Língua Portuguesa, a paroxítona,
constituiria motivação para a próclise, que a ênclise daria origem a um vocábulo
proparoxítono.
Em seu Dicionário de Lingüística e Gramática, Câmara Jr. (1997) considera
próclise o fato de uma forma dependente unir-se ao vocábulo que o segue, configurando
um caso de “inclinação para frente”. Contemplando-se graus de tonicidade, postula que
a forma átona, que constitui sílaba que inicia o vocábulo fonológico, apresenta
atonicidade mínima (grau 1), enquanto a forma átona que se liga ao fim do vocábulo,
em ênclise, assume atonicidade máxima (grau 0).
Embora as definições pautadas no comportamento fonético-fonológico sejam
assumidas como verdadeiras em diversas abordagens do fenômeno, os clíticos de
natureza pronominal costumam ser classificados como proclíticos, enclíticos ou
mesoclíticos, em função unicamente da posição em relação à palavra de que dependem
sintaticamente, ou seja, a forma verbal.
Em consideração às características definidoras dos clíticos ora apresentadas,
pode-se perceber que essa categoria se constitui a partir da interface dos níveis
gramaticais. Definido foneticamente como partícula átona, o clítico insere-se numa
categoria morfológica formal entre o afixo e a palavra do tipo “forma dependente”
que depende de outro constituinte no nível sintático.
Em função desse caráter de interface gramatical que abarca os componentes
fonético, morfológico e sintático , é oportuno sublinhar que a Lingüística moderna, no
que concerne, especificamente, à orientação investigativa de cunho formalista, vem
56
deliberando acerca da natureza dos pronomes átonos com o intuito de estabelecer uma
possível tipologia de clíticos nas línguas do mundo.
Aronoff (1994:12), ao tratar dessa interface no tratamento do fenômeno,
considera que, sendo o clítico um elemento constitutivo de uma instância sintática no
que respeita à ordem de palavras, é também um item morfológico, visto que se revela
como categoria pronominal que exibe, em determinados casos, características
semelhantes às de um afixo, por ser concebido como uma forma dependente.
A propósito do âmbito fonológico, Vieira (2002: 382), com base em bibliografia
especializada, também salienta que os pronomes átonos não apresentam força acentual
própria e, por essa razão, tornam-se dependentes de outro vocábulo, o que os torna
deficientes no que toca ao aspecto prosódico. Desse modo, possuiriam os clíticos a
natureza sintática das palavras e as características fonológicas dos afixos.
Estudos realizados acerca dos átonos pronominais das línguas românicas
advogam que os clíticos apresentam comportamento que os aproxima de um afixo (cf.
KLAVANS, 1985). Em contrapartida, buscando caracterizar especificamente os
pronomes átonos do Português Europeu, determinados trabalhos, tais como o de Vigário
(1999), defendem que eles se inserem na estrutura gramatical, após o componente
lexical, e que seu caráter de mobilidade no enunciado constitui evidência suficiente para
que eles não sejam tidos como afixos (Cf. DUARTE, I. et alii, 2001).
Spencer (1991) postula que clíticos e afixos, por apresentarem determinadas
propriedades, se aproximam e se distanciam por vezes. Sublinha o autor que a principal
semelhança entre ambos os elementos pode ser observada pelo fato de serem
concebidos como “morfemas dependentes”. Ademais, ressalta o estudioso a importância
do posicionamento do hospedeiro do clítico na sentença, o que lhe confere estatuto
próprio em termos sintáticos.
Nesse sentido, alguns estudos priorizam o exame do tema dos átonos
pronominais, buscando postular tendências sintáticas, como, por exemplo, as
relacionadas à posição do hospedeiro verbal na frase. Assim, postula-se, como
fenômeno geral, o pressuposto identificado como “fenômeno de segunda posição”
compreendido como a Lei de Wackernagel , segundo o qual os clíticos não iniciam
sentenças, figurando, mais comumente, após o primeiro constituinte da oração.
Ainda no que tange à ordem do pronome átono em segunda posição, tomem-se
antigas referências, como as de Tobler (1875) e Mussafia (1886, 1898), que confirmam,
em certa medida, tal tendência, propondo, entretanto, que não se determine a segunda
57
posição como lugar exato de ocorrência do clítico, mas que se recuse a posição do
clítico como primeiro elemento da oração (Lei de Tobler-Mussafia). Corrobora-se,
assim, a premissa de que “pronomes objetos átonos não figuram em posição inicial
absoluta na sentença” (FONTANA, 1993: 28).
No que concerne à natureza dos clíticos em geral, destaque-se o trabalho de
Zwicky & Pullum (1983) no qual os autores apresentam alguns critérios pelos quais,
possivelmente, se podem distinguir as categorias de clíticos e afixos bem como o de
Zwicky (1985) em que se discute a separação entre clíticos e palavras.
A propósito das observações efetuadas por Zwicky & Pullum (1983), estipulam-
se seis critérios de modo a evidenciar as características particulares de clíticos e afixos:
(i) grau de seleção do morfema dependente em relação ao seu hospedeiro; (ii) lacunas
lexicais arbitrárias; (iii) idiossincrasias fonológicas; (iv) idiossincrasias semânticas; (v)
operações sintáticas que afetam possíveis combinações; (vi) restrições na combinação
de clíticos e afixos.
Com base em tais critérios, Vieira (2002) apresenta reflexões acerca da natureza
dos clíticos em Português. A autora postula, então, duas propriedades dos pronomes
portugueses que os aproximam da categoria de afixos: (i) eles posicionam-se adjacentes
ao verbo, assim como um afixo se encontra adjacente à raiz que o hospeda; e (ii)
semelhantemente aos afixos flexionais, os pronomes átonos integram um inventário
relativamente pequeno e fechado, contrapondo-se às classes abertas, como nome,
adjetivo e verbo. Duas outras propriedades dos clíticos pronominais do Português,
apresentadas pela autora, impossibilitam, entretanto, o tratamento desses elementos
como afixos, no sentido estrito da palavra: (i) eles ligam-se a uma instância sintática, e
não a raízes vocabulares; e (ii) apresentam relativa mobilidade, podendo figurar antes
ou depois do verbo, já que não se comportam como formas presas.
Em face das proposta de Zwicky (1985), Vieira elucida as características
sintáticas que favorecem a consideração dos pronomes átonos na categoria de palavras.
Sistematizando os testes sintáticos para a diferenciação de clíticos e palavras propostos
pelo autor, a autora tece as seguintes considerações:
(i) o pronome do Português está sujeito ao apagamento quando idêntico (p. ex.: <eu o
i
vi
e
Ø
i
admirei>); (ii) sendo o próprio clítico uma proforma de um referente representável
por um SN, pode vir retomado, por ele próprio, numa espécie de proforma por
substituição repetitiva (cf. KOCH, 1990), como em <eu o vi e o admirei>; e (iii) está
sujeito à regra de movimento, podendo antepor-se ou pospor-se ao verbo. (VIEIRA, 2002:
392)
58
De modo genérico, por toda a interface dos níveis gramaticais revelada na
delimitação dos clíticos, em função de eles apresentarem algumas propriedades mais
afixais e outras mais de palavra, essa categoria chega a ser tratada como um “afixo
sintagmático”. Fontana (1993: 24 apud VIEIRA, 2002) afirma:
Clíticos são definidos como elementos que, ao mesmo tempo em que se ligam
fonologicamente a palavras, se ligam sintaticamente a sintagmas. Para Klavans, a
ligação sintagmática é uma propriedade inerente dos clíticos, e, conseqüentemente, uma
característica que os define universalmente: ela define clíticos especificamente como
afixos sintagmáticos.
A presente investigação, considerando a interface dos níveis gramaticais na
caracterização do fenômeno da colocação pronominal, lança mão de parte da proposta
de Klavans (1985), que objetiva caracterizar as línguas do mundo em função de
parâmetros de cliticização. A autora advoga que a sintaxe e a fonologia podem atuar de
forma independente no tocante ao evento da cliticização, postulando que os clíticos
podem estar ligados, a um tempo, sintaticamente a um hospedeiro e fonologicamente
a outro.
Partindo do pressuposto de que as formas clíticas ocorrem ligadas a um
elemento sintático específico (seu hospedeiro), a estudiosa propõe que as nguas do
mundo podem ser caracterizadas quanto à posição dos clíticos antes ou depois em
relação a esse elemento sintático. Em termos fonéticos, eles podem figurar apoiados em
qualquer forma precedente ou subseqüente a ele. A fim de observar a formulação desses
parâmetros, apresentam-se as definições a seguir, preconizadas pela autora:
(i) Parâmetro 1, o da dominância (inicial/ final): exprime a possibilidade de que
o clítico esteja ligado ao constituinte inicial ou final dominado por um
sintagma específico.
(ii) Parâmetro 2, o da precedência (antes/ depois): examina-se se o clítico se
posiciona antes ou depois do hospedeiro sintático escolhido no primeiro
parâmetro.
(iii) Parâmetro 3, o da ligação fonológica (enclítico/proclítico): exibe a ligação
do clítico ao seu hospedeiro fonológico
O exame aqui efetuado, no que se refere aos três parâmetros, parte da proposta
da independência entre eles para propor uma pesquisa específica do parâmetro 2, ou
seja, o da precedência. Investiga-se, especificamente, se o clítico elege, em relação às
lexias verbais simples, a posição pré-verbal / proclítica (cl v) ou pós-verbal / enclítica (v
cl); e, no que tange às lexias verbais complexas, a posição anterior (cl v1 v2), posterior
59
(v1 v2-cl), interveniente com hífen (v1-cl v2), ou sem hífen (vl cl v2) na modalidade
escrita literária brasileira e européia. Uma vez os pronomes átonos do Português
apresentando o verbo como hospedeiro sintático (determinação específica do âmbito do
primeiro parâmetro), postula-se, então, a precedência (P2) do clítico a essa forma
verbal, selecionada em P1.
No que concerne ao terceiro parâmetro, acredita-se que apenas uma investigação
de natureza fonético-fonológica com dados da modalidade oral tornaria viáveis
conclusões cientificamente fundamentadas. Pontue-se que, neste trabalho, o
componente rítmico-acentual especialmente no que se refere ao padrão de tonicidade
do vocábulo fonológico que se constitui com a adjunção do clítico às formas verbais
simples é considerado apenas na qualidade de variável independente como possível
condicionamento estrutural da ordem.
Feitas as considerações acerca do fenômeno que integra a base da regra variável
em estudo, ou seja, a cliticização, passa-se a expor a fundamentação relacionada ao
aporte que permitirá o tratamento específico das questões concernentes à variação e à
mudança lingüísticas.
3.2 O aporte sociolingüístico
A Teoria da Variação e Mudança, muitas vezes designada de Sociolingüística
Variacionista, Quantitativa ou Laboviana, possui por escopo o estudo dos padrões
lingüísticos verificados em uma determinada comunidade de fala, por meio do exame
dos possíveis fatores internos ou externos à língua que motivam a manifestação de um
fenômeno lingüisticamente variável.
Constate-se que o modelo teórico-metodológico da Sociolingüística
Variacionista compreende o conceito de comunidade de fala não como um conjunto de
indivíduos que falam exatamente da mesma forma, mas que, de algum modo,
compartilham traços lingüísticos que diferenciam o grupo ao qual pertencem dos
demais. A partir de tal compreensão, asseguram os postulados sociolingüísticos que os
falantes de uma mesma comunidade tendem a estabelecer a comunicação entre si, de um
modo mais freqüente, do que com outros indivíduos oriundos de grupos distintos,
apresentando normas e atitudes comuns em face do uso da língua (cf. LABOV, 1972).
Ao inscrever-se na premissa de que a língua é, por excelência, concebida como
sistema dotado de variação intrínseca e não-arbitrária, haja vista que pressões de
60
natureza estrutural (lingüística) e social (extralingüística) presidem a sistematicidade do
evento em variância (cf. WEINREICH; LABOV & HERZOG, 1968), a Sociolingüística
de orientação laboviana refuta a máxima estruturalista de que a variação lingüística é
um fato assistemático e irregular, outorgando, desse modo, legitimidade ao princípio da
heterogeneidade ordenada, em detrimento da correlação funcionalidade-
homogeneidade.
Em acréscimo às considerações acima determinadas no que respeita ao caráter
heterogêneo e estruturado da ngua, tomem-se as palavras de Weinreich, Labov &
Herzog (2006 [1968]: 105), abaixo, transcritas:
Para dar conta da [...] variação íntima, é necessário introduzir outro conceito no modelo
de heterogeneidade ordenada que estamos desenvolvendo aqui: a variável lingüística um
elemento variável dentro do sistema controlado por uma única regra.
11
Sob a égide dos postulados variacionistas, a variação, no âmbito lingüístico,
constitui um fenômeno universal, o qual pressupõe a existência de formas lingüísticas
alternativas designadas variantes, as quais pertencem ao domínio da variável
dependente.
Isso posto, certifique-se de que a análise presente comunga com o construto
teórico básico do aporte sociolingüístico no que concerne à noção de regra variável,
sendo essa considerada como um conjunto de duas ou mais maneiras distintas de se
dizer algo, transmitindo o mesmo significado referencial em um mesmo contexto
lingüístico (cf. LABOV, 1972: 271). Eis, aí, a definição clássica de variantes
lingüísticas.
É digna de nota a discussão aventada por alguns estudiosos, tais como
Lavandera (1984) e Romaine (1981), a respeito da extensão da aplicabilidade da teoria
variacionista aos níveis morfológico, sintático e semântico, uma vez que, somente no
âmbito fonológico, o fenômeno de variação propriamente dito ocorreria de modo
inequívoco, obedecendo à exigência de que, para o estudo do evento variável, as
supostas formas em análise teriam de ser, de fato, variantes em um mesmo contexto,
com idêntico valor de verdade. Como conseqüência desses debates, figuraram com
predominância na fase inicial do desenvolvimento da Sociolingüística Laboviana
11
Convém pontuar que, no excerto em destaque, o conceito de variável lingüística abrange o fenômeno
em variação, isto é, a variável dependente constituída das formas variantes, cujos detalhes serão mais bem
apreciados no capítulo referente à metodologia. Por ora, cumpre esclarecer que a mesma designação
variável lingüística abarca, em determinados momentos, o conjunto de fatores internos à língua
motivadores da regra em variância, ou seja, as variáveis independentes de caráter lingüístico também
apresentadas em minúcias no capítulo de metodologia.
61
trabalhos variacionistas de natureza fonético-fonológica. Saliente-se que a restrição da
análise de formas variantes a tal nível não se sustentou por muito tempo, visto que o
avanço dos estudos permitiu que pesquisadores afeitos aos princípios teórico-
metodológicos da Teoria da Variação e Mudança estendessem a análise da regra
variável aos domínios morfológico, sintático e semântico sem que o aporte
sociolingüístico fosse tomado por mero instrumental técnico-metodológico , sob a
prerrogativa de que os fenômenos examinados possuíssem ao menos o mesmo valor
básico referencial dentre as formas variantes em um mesmo contexto de ocorrência.
Desse modo, muitos estudos, ao ampliarem a noção de regra variável, passam a
considerar, acima de tudo, a exigência de comparabilidade funcional entre as estruturas
em variância.
Em face da problematização supracitada, é oportuno pontuar que os preceitos
sociolingüísticos referentes à regra variável não sofrem transgressões na análise
presente; isso porque o evento da ordem pronominal aqui investigado, ao apresentar os
clíticos em domínios de lexias verbais simples e complexas mediante as diversas
posições que, por vezes, podem assumir, se constitui de variantes de mesmo valor
referencial.
A propósito dos contextos integrados pelos complexos verbais
12
, a adoção do
arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista subsidiou de modo
profícuo o desenvolvimento da análise efetuada, de modo que o julgamento do
fenômeno como evento variável se revelou pertinente.
Não se pode deixar de mencionar que, no que toca ao tratamento de dados
lingüísticos, os estudos variacionistas consideram, com primazia, a modalidade oral
pelo fato de a mesma permitir a reprodução autêntica da realidade vernacular de
determinada comunidade de fala, constituindo-se, por assim dizer, um material
confiável para o estudo da mudança. Cumpre ressaltar que Labov (1972), na seção
introdutória de Sociolinguistic Patterns, concebe a ngua vernacular objeto da
investigação sociolingüística como a língua falada cotidianamente, ou seja, como o
veículo de comunicação utilizado pelos membros de uma mesma comunidade de fala.
Em face da predileção por dados da oralidade, Labov (1994) adverte para o
indispensável cuidado que o analista da língua deve apresentar quando da utilização do
12
Para maiores detalhes das estruturas verbais complexas investigadas e das formas alternantes em
questão, confira a seção referente à metodologia.
62
conceito de regra variável a outros fenômenos não-orais, mormente se esses
corresponderem a dados de natureza histórica.
Registre-se que, dos não poucos desafios metodológicos deflagrados por
exigências particulares da Sociolingüística Histórica, se destaca a dificuldade de
controlar dados de sincronias passadas com procedimentos paralelos aos adotados para
corpora atuais (cf. BARBOSA, no prelo). De modo a ilustrar uma das
incompatibilidades metodológicas para análise de amostras antigas, em comparação ao
tratamento destinado ao exame de dados provenientes de corpus recente, saliente-se o
árduo trabalho de colher testemunhos escritos que evidenciam a língua vernacular de
uma dada comunidade de fala não-contemporânea à invenção de equipamentos de
gravação de áudio. Mediante tal circunstância, cabe ao pesquisador tão somente o
recurso da modalidade escrita para o estudo histórico que se pretende efetuar. Todavia,
conforme acautela Labov (1994), dados de sincronias passadas não asseguram uma
avaliação exata da realidade de uma língua; a adoção desses registros lingüísticos acaba,
pois, sendo um mal necessário correspondendo àquilo que o estudioso (1994: 11)
acredita ser a arte de fazer o melhor uso de dados precários.
No intuito de amenizar os efeitos de imprecisão da realidade lingüística de tais
momentos sincrônicos, aventa a Sociolingüística Variacionista, mediante o Princípio do
Uniformitarismo (cf. LABOV, 1975), a prática do reconhecimento e da comparação dos
fenômenos lingüísticos antigos mediante a observação dos processos presentes. A
respeito de possíveis pressões sociais, o referido princípio encontra limitações para
qualquer tipo de inferência acerca da organização social de comunidades de tempos
passados, as quais se configuravam de modo bem distinto do das atuais.
Compreenda-se, então, a importância do princípio supracitado à medida que ele
se delineia como condição preliminar fundamental para a reconstrução histórica bem
como para o uso do presente de modo a estabelecer uma possível explicação do passado
(cf. LABOV, 1994: 24).
Conforme a dinâmica do sistema lingüístico, de se constatar que o fenômeno
de mudança corresponde a uma conseqüência inevitável das línguas naturais verificada
no presente de um processo de variação contínua que inicia sua implementação no
passado. É lícito, assim, pontuar outra premissa matriz do arcabouço teórico-
metodológico variacionista, a qual preconiza que toda mudança pressupõe variação
embora nem toda variação concorra, necessariamente, em mudança lingüística.
63
A respeito da variação estável e da mudança em progresso, cumpre salientar
alguns aspectos que as distinguem e evidenciam. Concebe-se dado fenômeno como
legítimo processo de variação estável quando a tendência de predomínio de uma
variante lingüística sobre a(s) outra(s) não se encontra instaurada, permanecendo como
tal por um longo período de tempo. Para o diagnóstico de mudança em progresso,
convém observar em que medida o processo de variação avança para sua resolução em
favor de uma das variantes envolvidas, a qual tende a se generalizar, assumindo o
caráter categórico de uso na comunidade de fala, em face do possível desaparecimento
da(s) outra(s) forma(s) concorrente(s).
No que tange ao estudo da mudança lingüística, certifique-se de que tal análise
pode ser empreendida de acordo com a perspectiva de tempo aparente segundo a qual
as diferenças no comportamento lingüístico de gerações distintas de falantes em um
determinado momento refletiriam diferentes estágios do desenvolvimento histórico da
língua ou de tempo real.
A possibilidade de fazer inferências acerca do desenvolvimento diacrônico da
língua mediante análises sincrônicas adquire grande relevo com os estudos efetuados
por Labov na década de 1960, a respeito do inglês da ilha de Martha‟s Vineyard, em
1963, bem como da cidade de Nova York, em 1966. Tal como sustentara o estudioso
(LABOV, 1972), compreendendo o evento da variação lingüística como fenômeno
sistemático e não aleatório, a barreira erigida por Hockett (1958), a propósito da
concepção de que a mudança lingüística não poderia ser contemplada em seu processo
de implementação, mas somente em seus estágios finais, poderia ser superada. Postula-
se, pois, que, fundamentalmente, a variação analisada sincronicamente em um dado
ponto da estrutura da gramática de uma comunidade de fala pode denunciar um
processo de mudança em curso na língua, no que respeita à diacronia. Busca-se, desse
modo, apreender o tempo real em que se observa o desenvolvimento diacrônico da
língua a partir do chamado tempo aparente, concebido como uma espécie de projeção.
É pertinente registrar que, tal como ressaltam Chambers & Trudgill (1980: 165), a
relação entre tempo aparente e tempo real pode parecer mais complexa do que a simples
equiparação dessas duas instâncias. Isso porque a projeção do que se verifica no tempo
aparente de modo a inferir aquilo que teria ocorrido no tempo real encontra amparo no
pressuposto de uma possível estabilidade do sistema, sugerindo, por exemplo, que o
padrão lingüístico fixado por um indivíduo na fase de sua adolescência se conserva de
certo modo intacto ao longo de toda a sua vida.
64
Os preceitos variacionistas validam, ainda, que não como assegurar que um
indício de mudança, identificado pelo lingüista em um dado momento, não será
revertido em um futuro próximo em decorrência de novos fatos que não se encontravam
presentes nas circunstâncias em que o analista da língua fez seu diagnóstico. Por conta
da contingência dos processos históricos, qualquer afirmação acerca da mudança em
progresso é, de fato, uma inferência (cf. LABOV, 1981: 177).
Por se inscrever legitimamente nas bases da Teoria da Variação e Mudança, o
estudo descrito julga os cinco problemas ou questionamentos do aporte variacionista
como diretrizes de inquestionável relevância para a análise dos dados que aqui se
promove.
Sob essas considerações, introduz-se, muito a propósito, mediante uma
apresentação sintetizada de seus principais aspectos, o elenco das cinco
problematizações acerca da mudança, a saber: (i) o problema dos fatores condicionantes
(ou seja, das restrições), (ii) o problema da transição, (iii) o problema do encaixamento,
(iv) o problema da avaliação, bem como (v) o problema da implementação.
No que concerne aos fatores condicionantes, proposição central da primeira das
questões consideradas, saliente-se que, para o tratamento de uma regra variável, se faz
imprescindível o diagnóstico das pressões lingüísticas e sociais, também designadas
como variáveis independentes, responsáveis por condicionar de modo direto ou indireto
a manifestação de duas ou mais variantes constituintes de dada variável dependente.
Nos domínios de tal questionamento, interroga-se sobre as possíveis condições
que motivariam ou restringiriam as mudanças lingüísticas de modo a predizer o
conjunto das possibilidades de sua ocorrência.
Postula-se que a premissa essencial que assegura o estabelecimento da presente
questão concebe a mudança como fenômeno orientado por princípios gerais, ou mesmo
universais, conduzindo à simplificação e à generalização de regras da gramática (cf.
LABOV, 1982: 26-27), sem que haja a desvinculação dos aspectos sociais. Aventa-se,
desse modo, que o problema das restrições seja conjugado ao problema do
encaixamento, a ser, ainda, elucidado.
O segundo questionamento apresentado diz respeito ao problema da transição,
por meio do qual se discute o fato de os processos de mudança constituírem estágios
discretos ou a fixação de um continuum. Reitere-se que o aspecto dinâmico do sistema
lingüístico não admite a concepção estruturalista da mudança tampouco compreende a
65
língua como um todo homogêneo e unitário caracterizado por períodos de instabilidade,
conforme divulgava a perspectiva saussuriana.
Consoante o proposto pela Sociolingüística Variacionista, considere-se a questão
em destaque como uma sugestão de se estabelecer o percurso da mudança lingüística
sem que, para isso, se deixe de levar em conta a estrutura social que exerce forte
influência sobre a língua.
Uma sucessão de estudos variacionistas tende a corroborar a evidência de que o
fenômeno de mudança lingüística se opera de modo lento e gradual, percorrendo um
continuum ininterrupto de variação e passando, em determinados momentos, por
estágios intermediários, nos quais formas conservadoras e inovadoras alternantes
coexistem.
De modo a compreender o terceiro dos questionamentos para o estudo da
mudança lingüística, cumpre atestar que o problema do encaixamento tem por
fundamento a máxima do estruturalismo diacrônico o qual adverte que um possível
fenômeno de mudança poderá ser bem depreendido caso seja considerada sua
inserção no sistema lingüístico que ele afeta. Em face dessas colocações, Weinreich,
Labov & Herzog (2006: 122) ressaltam que
Haverá pouca discordância entre os lingüistas de que as mudanças lingüísticas sob
investigação devem ser vistas como encaixadas no sistema lingüístico como um todo. O
problema de oferecer fundamentos empíricos sólidos para a teoria da mudança traz à tona
diversas questões sobre a natureza e a extensão deste encaixamento.
Não se deve perder de vista que o encaixamento deve estar em uma relação
direta não com os aspectos internos das línguas, mas também com o conjugado
“sistema e estrutura social” de uma determinada comunidade de fala. A propósito da
conjugação mencionada, desmembre-se tal problema em duas vertentes, quais sejam: (i)
encaixamento na estrutura lingüística e (ii) encaixamento na estrutura social, tal como,
na seqüência, se procede sob a inspiração do tratamento sociolingüístico.
Mediante o encaixamento no âmbito da estrutura lingüística, a mudança é
concebida como um processo que ocorre em conjunto, tendo a comunidade de fala
como o domínio em que se desenvolve, não se limitando, portanto, ao nível individual,
o do idioleto. Concebe-se que a língua revela variáveis intrínsecas a um sistema
heterogeneamente estruturado associadas a fatores de natureza lingüística e
extralingüística que orientam os possíveis processos de mudança, os quais consistem em
um lento movimento de um conjunto limitado de variáveis inerentes a um dado sistema
que, gradualmente, se altera de um extremo ao outro. Compreenda-se, pois, o fenômeno
66
de variação como evento inerente à competência lingüística de indivíduos de uma
comunidade de fala, considerando-se o grupo em detrimento de um indivíduo
isoladamente. Nesses termos, tomem-se, abaixo, as considerações acerca do
encaixamento no âmbito social.
É digno de reconhecimento o avanço instaurado pela proposta variacionista ao
integrar à análise lingüística ponderações de caráter social, visto que um exame
essencialmente lingüístico seria insuficiente para o tratamento do processo de mudança,
bem como para uma apreciação adequada da constituição de uma língua quanto a seu
aspecto histórico.
Por meio dos pressupostos ora desenvolvidos, note-se que a interinfluência entre
o processo de estruturação da língua e as relações sócio-históricas presentes em uma
comunidade de fala caracteriza o problema do encaixamento como uma das áreas mais
produtivas e desafiadoras das investigações em Sociolingüística.
Não menos importante para a depreensão do fenômeno de mudança, perceba-se
o problema da avaliação como o responsável por trazer luz ao debate entre o caráter
ativo de avaliação subjetiva dos indivíduos, consoante o apregoado pela visão
sociolingüística, e o posicionamento passivo dos falantes, defendido pelo estruturalismo
de Saussure, mediante as mudanças do processo de estruturação da língua.
Cabe pontuar que tal avaliação subjetiva dos indivíduos percorre uma escala
intimamente relacionada aos estágios por que caminha a mudança. Assim dito, postula-
se que a primeira etapa de avaliação se posiciona abaixo do nível de consciência social,
momento em que a descoberta da mudança pela comunidade de fala não se processa de
modo simples e evidente. A respeito dos estágios intermediários, trata-se da fase em que
alguns desvios de estilo aparecem de forma mais notória. Nos períodos finais da
mudança, a não rara tendência à fixação de estereótipos se revela como resultado de
uma ampla percepção social do fenômeno instaurado, criando-se pólos extremos entre a
norma dita conservadora e os padrões julgados sob uma forte depreciação social.
A problematização apresentada sugere, pois, que o grau de avaliação subjetiva
dos indivíduos pode sensivelmente influenciar o processo de mudança lingüística.
É escopo do último dos problemas da mudança contemplados pela Teoria da
Variação e Mudança o problema da implementação a investigação das pressões de
caráter lingüístico e social que motivam o processo global da mudança, a fim de que se
possa desvendar o motivo por que o fenômeno de mudança não se implementou em um
dado momento e lugar.
67
Na expectativa de aclarar um pouco a obscuridade de tal questão, Weinreich,
Labov & Herzog (2006: 124) advertem que a dificuldade natural em se predizer
hipóteses consistentes acerca de tal questionamento ocorre devido à circunstância de
que a mudança lingüística representa, também, uma mudança no comportamento de
uma sociedade.
Por todas as considerações efetuadas, certifique-se de que a presente
investigação, ao lançar mão do aporte teórico-metodológico da Sociolingüística
Laboviana conjugado aos postulados do conceito de cliticização, pretende, à luz dos
questionamentos pouco apresentados, contribuir por examinar de forma especial o
problema dos fatores condicionantes relativo à colocação pronominal. Pela observação
do percurso diacrônico do fenômeno ao longo dos séculos XIX e XX, serão feitas,
quando possível, considerações atinentes, em maior ou menor medida, aos problemas da
transição, do encaixamento, da avaliação e da implementação.
68
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Elucidam-se, no capítulo que agora se inicia, as questões precípuas concernentes
aos empreendimentos metodológicos que se fazem necessários para o desenvolvimento
do exame da ordem aqui efetuado.
Prestam-se, doravante, diversos esclarecimentos no que respeita às etapas
estabelecidas para a execução deste trabalho; aos corpora investigados sobretudo às
particularidades envolvidas em sua composição ; à delimitação do fenômeno de
colocação à luz da variável dependente bem como dos grupos de fatores independentes
de natureza lingüística e extralingüística; assim como ao tratamento variacionista, que
contempla as atividades de coleta e tratamento de dados, análise-técnico computacional
e sistematização interpretativa dos resultados alcançados.
Sob essas colocações, acompanhem-se, pois, as seções subseqüentes.
4.1 As etapas percorridas para o desenvolvimento da análise variacionista
Convém registrar que o exame aqui efetuado desempenha todos os estágios
peculiares de uma investigação sociolingüística, quais sejam: (i) estabelecimento do
fenômeno a ser averiguado por meio da determinação da variável dependente; (ii)
composição de corpora criteriosamente constituídos de romances brasileiros e europeus
publicados no decurso dos séculos XIX e XX; (iii) obtenção de dados concernentes às
variantes esperadas no âmbito das lexias verbais simples e complexas por meio de
atividade de coleta; (iv) estipulação das variáveis de cunho lingüístico e extralingüístico
com seus respectivos fatores, os quais, possivelmente, podem motivar o evento em
variância; (v) codificação dos registros colhidos nas amostras examinadas mediante os
grupos de fatores internos e externos; (vi) tratamento técnico-computacional dos dados
submetidos à codificação segundo o pacote de Programas Goldvarb X; (vii)
interpretação analítica e sistematização dos resultados alcançados.
4.2 Descrição dos corpora
De modo a conferir credibilidade e confiabilidade às constatações que aqui se
promovem, faz-se imprescindível, para o exame empírico da ordem desenvolvido, a
análise de números consideráveis de registros que permitam testemunhar os casos de
colocação nas variedades brasileira e européia do Português dos séculos XIX e XX.
69
Nesta investigação, elegem-se textos literários inscritos, exclusivamente, nas
características do gênero textual romance. No que respeita às particularidades desse
gênero, cumpre esclarecer que, por não corresponder às especificidades e às intenções
que aqui se pleiteiam estabelecer, não se realiza o debate acerca dos aspectos
controversos que se travam em estudos de cunho literário de feição crítica e
historiográfica a propósito da definição de romance.
Isso considerado, ressalte-se que o trabalho dissertativo aqui efetuado, mediante
o que se tem por consenso, concebe o romance literário como um gênero no qual impera
a longa narração descritiva de ações e peripécias exercidas por personagens fictícios.
Uma vez compreendido o romance segundo a definição mencionada, procedeu-se à
eleição de obras com feições narrativas cuja autoria correspondesse a brasileiros e
europeus.
Para a constituição dos corpora, consideraram-se, primeiramente, os anseios que
se pleiteavam atender, quais sejam: (i) estabelecimento exato do número de autores e
autoras a fim de que o controle da variável gênero/sexo dos escritores contemplados”
pudesse ser tratado de modo comparável; (ii) os autores eleitos deveriam ser naturais
das cidades do Rio de Janeiro (Português do Brasil) e de Lisboa (Português Europeu) e
nelas residissem a maior parte de suas vidas; (iii) a publicação dos romances compostos
pelos escritores considerados deveria corresponder às seguinte fases: (a) século XIX
fase 1 (1801-1833), fase 2 (1834-1866), fase 3 (1867-1900) ; (b) século XX fase 4
(1901-1933), fase 5 (1934-1966), fase 6 (1967-2000)
13
.
Verifique-se, pois, que os parâmetros supracitados gênero/sexo, variedade,
fase geram um total de 24 células sociolingüísticas (12 para a amostra brasileira e 12
para o corpus europeu) a serem preenchidas, como se desejava, com 4 escritores
representativos das literaturas brasileira e portuguesa, totalizando, assim, o número de
96 escritores.
Após longo investimento na tentativa de construção do corpus consoante os
critérios inicialmente planejados, foi absolutamente necessário redimensionar os
propósitos da investigação. O grande número de autores bem como as dificuldades em
contemplar romancistas representativos de cada época revelaram-se um impasse para
que a proposta inicial de composição das amostras se tornasse possível.
13
Cabe informar que a segmentação dos séculos nas fases discriminadas se baseou inicialmente nos
critérios de constituição do banco de dados VARPORT (cf. www.letras.ufrj.br/varport).
70
Ressalte-se que, no Brasil, a autoria de romances passa a ganhar vulto a partir do
período correspondente à fase 2 apresentada, fato que impossibilitava a consideração do
primeiro intervalo de tempo do século XIX. Ademais, a produção feminina de romances
consagrados não é verificada com grande intensidade nas primeiras fases determinadas
de ambas as literaturas (em Portugal, por exemplo, a publicação de obras de autoria
feminina passa a revelar expressividade no século XX, principalmente após a ditadura
salazarista, cujo rmino data de 1974 com a Revolução dos Cravos), motivo pelo qual
não se pôde contemplar, em números precisos, a distribuição equiparada entre homens e
mulheres.
No que respeita às cidades concernentes ao nascimento dos literatos, não foi
possível, também, devido ao número necessário para o preenchimento das células
geradas, encontrar autores representativos exclusivamente do Rio de Janeiro e de
Lisboa, especialmente em função do curto prazo de tempo para a pesquisa efetuada.
Ademais, postulou-se que o propósito inicial não constituía condição essencial para o
cumprimento do objetivo central da presente investigação, que implica constatar a
colocação pronominal mediante a norma objetiva dos escritores citados na tradição
gramatical e indicados nos meios escolares como modelo de norma culta idealizada, e
não o de propor generalizações sobre a norma vernacular. Isso posto, justifica-se que o
exame desenvolvido não controle sistematicamente, na amostra estratificada, a região de
onde os autores o naturais (nem a respectiva data de seu nascimento). Desse modo, o
procedimento metodológico adotado passa a desconsiderar a exclusividade de autores
nascidos no Rio de Janeiro e em Lisboa
14
.
Em face desses esclarecimentos, dada a defasagem no número de autores que
atendiam estritamente aos requisitos sociolingüísticos estipulados, a constituição final
dos corpora pauta-se nas seguintes condições expostas: (i) autores (homens ou
mulheres) representativos das literaturas brasileira e portuguesa, citados em sua maioria
em manuais gramaticais utilizados como modelo de norma; (ii) romancistas que tenham
por país de origem, respectivamente, Brasil e Portugal (nascidos em diferentes
localidades/estados das federações consideradas); (iii) a época/fase de publicação das
obras selecionadas deve datar entre os anos dos períodos redefinidos: (a) século XIX:
14
Reitere-se, uma vez mais, que, para a composição das amostras, não bastava o fato de os autores serem
naturais do Rio de Janeiro ou de Lisboa, mas os mesmos deveriam passar toda a sua vida ou, então,
grande parte dela em suas federações de origem.
71
fase 1 (1834-1866), fase 2 (1867-1900); (b) século XX fase 3 (1901-1933), fase 4
(1934-1966), fase 5 (1967-2000)
15
.
Os parâmetros assim definidos têm por resultado 10 células (5 para o corpus
brasileiro e 5 para o europeu) que, uma vez atendidas, estabelecem o número de 40
escritores (4 autores por célula), desse modo distribuídos com suas respectivas obras:
Autores e obras contemplados em corpora brasileiro e europeu dos séculos XIX e XX
16
Português do Brasil
Português Europeu
Século XIX
Fase 1 (1834-1866)
Joaquim Manuel de Macedo A moreninha
José de Alencar Diva
Manuel Antônio de Almeida Memórias de um
sargento de milícias
Bernardo Guimarães O ermitão de Muquém
Século XIX
Fase 1 (1834-1866)
Camilo Castelo Branco Coração, Cabeça e
Estômago
Arnaldo Gama Honra ou loucura
Almeida Garrett O arco de Sant’Ana
Alexandre Herculano O Bobo
Século XIX
Fase 2 (1867-1900)
Júlia Lopes A viúva Simões
Raul Pompéia As jóias da coroa
Aluísio Azevedo O cortiço
Machado de Assis Quincas Borba
Século XIX
Fase 2 (1867-1900)
Júlio Dinis As pupilas do Senhor Reitor
Fialho de Almeida “O ninho de águia”
Eça de Queiroz O primo Basílio
Trindade Coelho “Sultão”
Século XX
Fase 3 (1901-1933)
Afonso Arinos O mestre de campo
Rachel de Queiroz O quinze
Lima Barreto O triste fim de Policarpo Quaresma
Euclides da Cunha Os sertões
Século XX
Fase 3 (1901-1933)
Aquilino Ribeiro A batalha sem fim
Campos Monteiro Camilo alcoforado
Raul Brandão Húmus
Abel Botelho Os Lázaros
Século XX
Fase 4 (1934-1966)
Dinah Silveira de Queiroz A muralha
José Lins do Rego Fogo morto
Guimarães Rosa Grande Sertão: Veredas
Graciliano Ramos Vidas Secas
Século XX
Fase 4 (1934-1966)
Augustina Bessa Luís A Sibila
Alves Redol Gaibéus
Vitorino Nemésio Mau tempo no canal
José Cardoso Pires O anjo Ancorado
15
Note-se que o estudo, por conta das justificativas prestadas, efetivamente contempla 5 fases em vez de
6, haja vista as dificuldades encontradas para a seleção de escritores no período de 1801-1833, primeira
proposta de fase 1 do século XIX. Ateste-se, assim, a determinação de dois períodos temporais para tal
século bem como de 3 fases para o século XX. Acrescente-se, ainda, a essas informações que a
segmentação dos séculos respeita o número aproximado de 32 anos para cada intervalo temporal,
intervalo que, consoante os preceitos sociolingüísticos, se mostra oportuno para se começar a vislumbrar
um possível fenômeno de mudança.
16
As edições adotadas assim como a primeira data de publicação das obras encontram-se pormenorizadas
no Anexo 1.
72
Século XX
Fase 5 (1967-2000)
Nélida Piñon A doce canção de Caetana
Lygia Fagundes Telles As meninas
Érico Veríssimo O prisioneiro
Jorge Amado Tenda dos milagres
Século XX
Fase 5 (1967-2000)
José Saramago O ano da morte de Ricardo Reis
Augusto Abelaira O Bosque Harmonioso
Fernando Namora O rio triste
Vergílio Ferreira Para sempre
Quadro 1: Apresentação dos autores com suas respectivas obras contempladas nos corpora brasileiro e
europeu dos séculos XIX e XX
Constate-se que todas as obras arroladas correspondem a romances literários
(alguns publicados, primeiramente, em forma folhetinesca), conforme critério
anteriormente informado, salvo os escritos de Fialho de Almeida (“O ninho de águia”) e
de Trindade Coelho (“Sultão”), concebidos como contos. Todavia, julgou-se que a
adoção de tais textos não comprometeria a homogeneidade dos corpora, visto que os
contos comungam com o romance uma característica peculiar no que concerne a seu
caráter narrativo. A propósito da aproximação entre esses gêneros textuais, verifica-se
que, no Dicionário de Literatura: Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa,
Literatura Galega, Estilística Literária (1987), dirigido por Jacinto do Prado Coelho, o
romance, no conceito mais generalizado, se distingue do conto e novela apenas em
extensão.
Para a eleição dos escritores adotados, diversos manuais foram consultados, tais
como: gramáticas, biobibliografias, artigos específicos de literatura, além das valiosas
sugestões concedidas por professores conceituados na área de estudos literários
17
. No
propósito de averiguar a representatividade dos autores a serem contemplados,
analisaram-se, especificamente, as gramáticas de Rocha Lima (2005 [1972]), Cunha &
Cintra (2001 [1985]), bem como a de Bechara (2003 [1999]) a fim de observar quais
literatos eram citados como modelo de escrita em tais compêndios gramaticais.
Procedeu-se, na seqüência, à consulta de biobibliografias assim como de artigos
especializados em literatura com o propósito de identificar a naturalidade de mais de
cem autores
18
que poderiam, a princípio, figurar dentre os nomes dos escritores
selecionados. Após a prática de todos esses procedimentos, definiram-se, então, os
17
O auxílio concedido pelos professores Antônio Carlos Secchin (UFRJ), nica Figueiredo (UFRJ) e
Luci Ruas (UFRJ) foram fundamentais para a constituição dos corpora examinados.
18
O caráter cosmopolita de vários escritores tornou-se outro impedimento para a composição dos
corpora. Alguns, apesar de nascerem no Brasil e em Portugal, foram residir em outros países ainda
crianças. De outro lado, parte dos autores tidos como representativos da literatura do PB e do PE não
nasceu nas unidades federativas destacadas; por esse motivo, não compõe as amostras concernentes às
variedades brasileira e européia do Português.
73
autores arrolados acima juntamente com suas obras de grande expressão , os quais
são, efetivamente, brasileiros e portugueses que passaram (alguns ainda passam) a
maior parte de suas vidas em seu país de origem.
Com a finalidade de tornar os corpora ainda mais comparáveis para a
observação distribucional dos dados pelas variedades examinadas, estabeleceu-se que o
evento da colocação seria atestado em um domínio aproximado de 2000 palavras
19
por
romance, considerando-se 1000 palavras iniciais bem como 1000 palavras finais de cada
obra. Note-se, pois, que esse controle resulta na investigação da ordem em contexto
constituído de mais de 80.000 vocábulos formais.
No que concerne às edições utilizadas, faz-se saber que se buscou acessar as
publicações princeps (ou seja, as primeiras edições das obras com aprovação dos
autores), consultadas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e no Real Gabinete
Português de Leitura. Quando da impossibilidade de examinar as publicações primárias,
adotaram-se edições críticas que se julgaram confiáveis.
A título de esclarecimento, convém pontuar que, em alguns casos, a coleta dos
dados foi realizada em publicações modernas
20
. Resguarde-se, pois, o motivo de vários
registros do século XIX, por exemplo, serem, ao longo deste trabalho, citados com o
padrão ortográfico da Reforma de 1971 com vigência a partir de 1972. Entretanto, tais
edições foram comparadas com suas respectivas edições primárias quando possível.
No que toca, especificamente, à obtenção dos dados, colheram-se registros de
clíticos pronominais em domínios de narrador personagem (1ª pessoa) romances com
foco narrativo em primeira pessoa bem como de narrador observador obras
narrativas em pessoa e em falas de personagens, não se considerando epístolas,
cartas ou quaisquer outros contextos que interrompessem o fluxo da narração. Cada
domínio, pouco discriminado, mostra-se controlado por meio da variável vozes do
romance, conforme se elucida na seção em que se arrolam as variáveis independentes
extralingüísticas examinadas.
19
Certifique-se de que, aqui, se compreende “palavra” sob sua acepção sinonímica de vocábulo formal,
considerando, assim, todo item que se delimita pelos espaços e/ou pontuações existentes nos domínios
textuais observados.
20
Informa-se que alguns romances de domínio público (ou seja, obras que integram uma determinada
herança cultural, cujos direitos econômicos não são mais de exclusividade de quaisquer indivíduos e
entidades; fazem parte, também, desse rol, obras com publicação licenciada por parte dos titulares de seus
direitos autorais) foram consultados via on-line, como, por exemplo, no endereço eletrônico do Governo
Federal do Brasil: <www.dominiopublico.gov.br> (Acessado em 2008 / 2009), sendo posteriormente
cotejados com suas edições primárias.
74
Por intermédio de todas as elucidações postas, contemple-se, no quadro a seguir,
a realidade dos corpora investigados. A delimitação dos contextos apresentados na
tabela e os valores indicados serão tratados nas próximas seções e no capítulo referente
à análise dos resultados.
Quadro 2: Distribuição geral do número de dados colhidos nas variedades brasileira e européia do
Português dos séculos XIX e XX pelos contextos sob análise
4.3 Delimitação da variável dependente
Consoante as ponderações realizadas na seção 3.2 a propósito do conceito de
variável dependente, promove-se, agora, a elucidação de seus fatores constituintes,
discriminando-se as variantes concernentes ao fenômeno da ordem em ambientes de
uma forma verbal lexias verbais simples bem como nos contextos de lexias
verbais complexas mais de uma forma verbal.
4.3.1 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Simples
Em domínios integrados por uma única forma verbal, o evento da colocação
pode ser desmembrado nas posições pré-verbal / proclítica (clítico precedente ao
verbo), intraverbal / mesoclítica (clítico na intermitência da forma verbal) e pós-
verbal / enclítica (clítico posposto ao item verbal) consoante as possibilidades abaixo
ilustradas:
21
As estruturas com verbos sensitivos e causativos foram coletadas em separado para uma futura análise
específica, devido às particularidades da colocação em tais contextos. Em função dos limites de execução
deste trabalho, tais construções não foram analisadas.
Total de dados: 3478 casos de colocação pronominal
Português do Brasil
Português Europeu
1663 dados
1815 dados
Lexias Verbais
Simples
Lexias Verbais
Complexas
Estruturas com
verbos
causativos e
sensitivos
21
Lexias Verbais
Simples
Lexias Verbais
Complexas
Estruturas com
verbos
causativos e
sensitivos
1427
dados
194
dados
42
dados
1538
dados
237
dados
40
dados
75
(i)
Ordem pré-verbal / próclise: Agora se elucidam as particularidades da ordem pronominal.
(ii)
Ordem intraverbal / mesóclise: Elucidar-se-ão as particularidades da ordem pronominal.
(iii)
Ordem pós-verbal / ênclise: Elucidam-se as particularidades da ordem pronominal.
Ateste-se que as minúcias relativas às variantes destacadas se encontram
contempladas no segmento em que se promove a análise dos resultados obtidos.
4.3.2 Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Complexas
No que tange ao fenômeno variável no âmbito das estruturas com mais de uma
forma verbal, é oportuno esclarecer, de antemão, que, para o exame da ordem, se
procede à constituição de inventários nos quais se agrupam as construções complexas
segundo a forma do verbo principal que apresentam. A análise da cliticização em
conglomerados verbais considera, assim, o posicionamento dos clíticos em complexos
integrados por verbo principal no gerúndio, no particípio, ou no infinitivo.
Feitos tais esclarecimentos, verifique-se que as lexias verbais complexas
gerundivas concedem ao clítico quatro principais
22
possibilidades de posicionamento, a
saber: colocação pré-LVC (pronome proclítico a v1), intra-LVC com hífen (pronome
enclítico a v1), intra-LVC sem hífen (pronome, potencialmente, proclítico a v2
23
) bem
como pós-LVC (pronome enclítico a v2), todas, a seguir, exemplificadas:
22
Diz-se quatro possibilidades principais, não exclusivas somente de complexos com gerúndio, mas
também com infinitivo (e, em certa medida, com particípio, conforme se verá), visto que não se apresenta,
por ora, a variante concernente à mesóclise morfologicamente marcada no verbo principal como em
Estar-se-á exemplificando a colocação dos pronomes átonos”.
23
Por razão da escassez de dados com elementos intervenientes entre os verbos do complexo, não se
estabelece, na presente análise, a separação de casos do tipo “Está agora se exemplificando a colocação
do registro Está se exemplificando a colocação”, casos esses representados em Martins (2009) como
v1(X)clv2 e v1clv2, respectivamente. Interpretam-se, aqui, essas colocações como exemplos da variante
intra-LVC sem hífen (v1 cl v2) e faz-se o controle de elementos intervenientes como variável
independente.
A propósito das várias possibilidades de colocação, pontue-se, segundo os preceitos da cliticização
preconizadas por Klavans (1985) principalmente no que respeita ao Parâmetro 3 de cliticização
fonológica que o clítico pode, fonologicamente, estar ligado não necessariamente ao seu hospedeiro
verbal, fato que também pode ser examinado no âmbito das lexias verbais simples. Isso dito, compreenda-
se, assim, que outras possibilidades de variantes podem ser elencadas:
(i)
Aqui se está exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item aqui.)
(ii)
Está se agora exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao verbo está.)
(iii)
Está se agora exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item agora.)
(iv)
Está agora se exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item agora.)
(v)
Está agora se exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao verbo exemplificando.)
(vi)
Está agora exemplificando-se a colocação. (Clítico ligado ao verbo exemplificando.)
76
(i)
cl v1 v2: Aqui se está exemplificando a colocação dos pronomes átonos.
(ii)
v1-cl v2: Está-se exemplificando a colocação dos pronomes átonos.
(iii)
v1 cl v2: Está se exemplificando a colocação dos pronomes átonos.
(iv)
v1 v2-cl: Está exemplificando-se a colocação dos pronomes átonos
24
.
No domínio das estruturas verbais complexas com particípio, percebam-se três
maneiras de o clítico se adjungir aos itens verbais, tendo em vista a não-ocorrência da
variante v1 v2-cl:
(i)
cl v1 v2: Aqui se tem avaliado o evento da ordem.
(ii)
v1-cl v2: Tem-se avaliado o evento da ordem.
(iii)
v1 cl v2: Tem se avaliado o evento da ordem.
Saliente-se, consoante o prescrito nos compêndios gramaticais, a não
procedência da colocação enclítica ao verbo auxiliar no particípio.
No que tange aos fatores da variável dependente em complexos constituídos de
verbo principal no infinitivo, considerem-se as mesmas posições atestadas para as
formas gerundivas:
(i)
cl v1 v2: Agora se podem atestar os pormenores da cliticização.
(ii)
v1-cl v2: Podem-se atestar os pormenores da cliticização.
(iii)
v1 cl v2: Podem se atestar os pormenores da cliticização.
(iv)
v1 v2-cl: Podem atestar-se os pormenores da cliticização.
As particularidades relevantes acerca da ordem nas construções gerundivas,
participiais e infinitivas encontram-se detalhadas na seção analítica da ordenação dos
clíticos (capítulo 5).
(vii)
Está agora exemplificando-se a colocação. (Clítico ligado ao item a.)
Dado que o exame presente se fundamenta no Parâmetro 2 postulado por Klavans (1985) acerca da
natureza morfossintática da colocação, não se consideram aqui as possibilidades de ligação fonético-
fonológica.
24
Apesar de determinadas variantes soarem possivelmente estranhas entre os brasileiros, sublinhe-se sua
possibilidade em termos potenciais na Língua Portuguesa.
77
Considere-se, por ora, que, quando se trata do tratamento da regra variável em
lexias verbais complexas, duas questões costumam ser trazidas ao debate: (i) o fato de
determinadas variantes soarem estranhas em dada variedade do Português; e (ii) a
hipótese de que nem sempre o valor referencial entre as formas controladas se
mantenha.
Quanto à primeira questão, acredita-se que ela não constitua impedimento para o
tratamento do fenômeno como variável, tendo em vista que, levando em conta o
conjunto de possibilidades de concretização na Língua Portuguesa, todas as formas
alternantes devam ser examinadas e podem ser registradas com maior ou menor
produtividade, em função não da variedade lingüística, mas também do contexto. Se
houver de fato impedimento de o clítico aparecer nas três posições, como o que ocorre
nas construções causativas/sensitivas (mandei-o sair; o mandei sair, mas não mandei
saí-lo, por exemplo), os dados não devem ser considerados na análise geral.
No que se refere à manutenção do valor de verdade, admite-se que, em certas
estruturas complexas, o sentido original da sentença pode ficar comprometido ao ser
alterada a posição do clítico. A título de ilustração, cite-se o caso da interpretação
indeterminadora em pode-se dirigir a (= é permitido/ é possível dirigir), que, embora
não seja impossível, não parece ser a primeira leitura evocada em pode dirigir-se a. Esta
estrutura parece candidata a receber, em primeiro lugar, ao menos no Português do
Brasil, uma interpretação como a de um se reflexivo ou inerente (= alguém pode
encaminhar-se a). Apesar de hipoteticamente haver as referidas tendências
interpretativas, não se pode negar que as quatro posições são virtualmente possíveis em
ambas as interpretações, razão pela qual se devem considerar tais estruturas na análise
do fenômeno, buscando depreender o padrão de comportamento em cada variedade
lingüística.
Em face da apresentação dos fatores constituintes da variável dependente no
âmbito de estruturas verbais complexas, tomem-se, a seguir, as particularidades e
problematizações concernentes às construções que, aqui, se concebem como complexos
verbais.
4.3.2.1 A concepção de Lexias Verbais Complexas pelo confronto entre algumas
perspectivas
Devido ao anseio de se discorrer acerca das categorias a que determinados
verbos da Língua Portuguesa pertencem, a comunidade lingüística vem testemunhando
78
o desenvolvimento de trabalhos que contemplam, como proposta central de
investigação, o tema referente ao conceito de complexo verbal
25
, compreendido, neste
trabalho dissertativo, como uma construção integrada por duas ou mais formas verbais
que estabelecem entre si uma unidade sintagmática com algum grau de integração
sintático-semântica.
De modo a apresentar algumas das problematizações que a noção de lexias
verbais complexas enseja, constatem-se as seguintes estruturas
26
: (i)“Ana quer
alimentar seu filho”; (ii) “Ela tentou alimentar seu filho”; (iii) “Ela pode alimentar seu
filho”; (iv) Uma mãe tem de alimentar seu filho”; (v) “A mulher de alimentar seu
filho”; (vi) “Maria deve alimentar seu filho”.
Os enunciados supracitados possivelmente suscitam um confronto de posições
no que respeita à consideração das sentenças ilustradas como um período simples ou
como um período composto. Isso porque, caso se concebam as formas destacadas como
verbo principal, admite-se que seu argumento interno é preenchido por um sintagma
oracional com predicador
27
verbal no infinitivo. De outro lado, avaliando-se tais
elementos como verbo auxiliar, reconhece-se que esses operam sobre um predicador
verbal no infinitivo constituindo com ele uma unidade verbal complexa (Vauxiliar +
Vauxiliado), ou seja, uma perífrase verbal.
Nos termos de Perini (2001), um item verbal é tido como auxiliar
28
quando não
apresenta traços próprios de transitividade. Assim, o caráter transitivo observado em um
predicado simples é comparável àquele verificado em um predicado complexo no qual o
auxiliar figura. A título de ilustração, o enunciado “está escrevendo”, em O jornalista
está escrevendo os artigos”, possibilita atestar (i) a transitividade do verbo escrever, que
25
Informa-se que, neste trabalho, as denominações “complexo verbal”, “conglomerado verbal”,
construções/estruturas verbais complexas”, “lexias verbais complexas”, “locuções verbais” ou, ainda,
“perífrases verbais” são tomadas como sinonímicas não se considerando, por isso, as particularidades que
cada termo, possivelmente, pode sugerir.
26
Os exemplos arrolados são inspirados em Machado Vieira (2004).
27
O termo predicador é, aqui, utilizado para expressar uma forma verbal capaz de projetar os argumentos
necessários que completem sua predicação. A título de exemplificação, tome-se a seguinte sentença: “Os
avós entregaram presentes aos netos.”. Perceba-se, por este enunciado, que os espaços sintáticos da
oração são constituídos pelos itens projetados pelo verbo entregaram/entregar, responsável por predicar
o argumento externo (sujeito) “os avós” e os argumentos internos “presentes” (objeto direto) e “aos
netos” (objeto indireto).
28
Os compêndios tradicionais, como, por exemplo, o de Cunha & Cintra (2001: 394-398), compreendem
como auxiliares os verbos indicados nas estruturas agora arroladas: (i) construções observadas com maior
freqüência: ter/ haver + particípio ou infinitivo, ser + particípio e estar + particípio, estar + gerúndio ou
estar + (“para” ou “por”) + infinitivo; (ii) outros auxiliares: ir + gerúndio, ir + infinitivo, vir + gerúndio,
vir + (“a” ou “de”) + infinitivo, andar (semelhante a estar) + gerúndio ou andar + (a) + infinitivo, ficar +
particípio (estrutura de voz passiva), ficar + gerúndio, ficar + (“a” ou “por”) + infinitivo, acabar + de +
infinitivo.
79
projeta os espaços sintáticos de sujeito (o jornalista) e de objeto direto (os artigos), bem
como (ii) a natureza o-transitiva da forma está/estar, que confere à ação o caráter
aspectual.
As ponderações de Perini (2001) vão ao encontro, em certa medida, dos critérios
estabelecidos por Barroso (1994) para a delimitação de um verbo quanto ao seu aspecto
auxiliar, critérios esses, abaixo discriminados, no quadro adaptado de Vieira (2002:
243):
Critérios de auxiliaridade
Características do verbo auxiliar
Perda sêmica do auxiliar
(critério semântico)
O elemento modificador não possui significado léxico, mas apenas
instrumental (Ex.:„Voltei a ler O nome da Rosa‟, em que voltei/voltar perdeu
o sema „movimento no espaço‟).
Unidade significativa
A estrutura em auxiliação possui unidade significativa: o primeiro elemento
desempenha a função gramatical e o segundo a função lexical (Ex.: „Desatou a
rir à gargalhada‟, em que desatou/desatar expressa a face inceptiva, e rir à
gargalhada, a significação lexical ou objetiva).
Sujeito do verbo
Os verbos da construção exibem o mesmo sujeito (Ex.: Começou a
trabalhar‟, em que o infinitivo expressa a ação praticada pelo sujeito e o verbo
que o precede representa a modalidade de aspecto da ação expressa pelo
infinitivo).
Ordem dos termos na
oração
O verbo flexionado é seguido de uma forma no particípio, no infinitivo ou no
gerúndio (Ex.: „Estava estudando‟.)
Restrição ao critério: Não é de rendimento funcional elevado: construções
como „fala dormindo‟ se apresentam na mesma ordem e não contêm um
auxiliar.
Restrição paradigmática
O verbo auxiliar é defectivo.
Restrição ao critério: Não afeta todas as classes de auxiliares. As formas que
costumam faltar são o imperativo e o particípio passado. Este é próprio da
conjugação central; o primeiro concretiza-se, por exemplo, em „começa a
estudar a lição‟.
Separabilidade na
identificação dos auxiliares
Um grupo verbal constituindo uma unidade semântica, tal como uma lexia,
seria inseparável.
Restrição ao critério: Nem sempre tal critério é aplicável, pois pode haver
dissociação, como ocorre em „estava eu a dormir, quando tocou o telefoneou
o pai continua, todavia, a ralhar com o filho‟.
Comportamento em bloco
em face das transformações
passiva e interrogativa
A „apassivação‟ e a „interrogação‟ não afetam cada um dos verbos
individualmente, mas os dois como se de um se tratasse (Ex.: Estou a
escrever este trabalho.‟; “O trabalho está a ser escrito por mim.‟;O que estás
a escrever?‟).
Restrição ao critério: Trata-se de um critério “essencial, mas não absoluto”.
80
Freqüência de ocorrência
Usualmente, o verbo auxiliar vem acompanhado de infinitivo, gerúndio ou
particípio.
Restrição ao critério: Não se trata de um critério essencial na delimitação do
auxiliar, uma vez que verbos auxiliares que aparecem com freqüência e
outros que só aparecem em certos tempos e modos.
Quadro 3: Sistematização dos critérios de auxiliaridade propostas por Barroso (1994) apud Vieira
(2002: 243)
Dos critérios arrolados, Barroso avalia os três primeiros como primordiais para a
caracterização do verbo auxiliar pertencente a uma perífrase verbal.
Ainda no que toca à delimitação de uma possível forma auxiliar, Mateus et alii
(2003) advogam que construções do tipo ter + particípio e ser + particípio possuem
verbos tipicamente auxiliares (ter e haver). A respeito, especificamente, dos itens
querer, ir, haver de e poder, propõem, por meio da discussão acerca da integração das
formas verbais em um complexo ou da manutenção de unidades predicativas distintas,
as propriedades subseqüentes:
(i) Em uma construção verbal complexa, os elementos auxiliares não
demonstram caráter de seleção semântica e temática, sendo o segundo item do
complexo a forma responsável pela seleção dos argumentos, dentre eles o sujeito;
(ii) Em orações simples integradas por um verbo auxiliar, -se, na maioria das
vezes, a impossibilidade de substituição da segunda parte da cláusula pelo
complementizador que (Ex.: O pesquisador tinha ido à conferência, donde *O
pesquisador tinha que ia à conferência);
(iii) Em estruturas constituídas por auxiliar, uma vez que se concebem tais
estruturas como uma única oração, não se faz possível o emprego de dois advérbios de
tempo de mesma circunstância (Ex.: *Ontem o pesquisador tinha ido à conferência
hoje). Pontue-se que, a depender do caráter semântico do contexto, o referido
procedimento pode ser aceitável em períodos que apresentem duas orações (Ex.: Ontem
o pesquisador queria ir à conferência hoje. Dessa construção não se pode interpretar,
precisamente, se o pesquisador tem, ainda, o desejo de ir à conferência);
(iv) No domínio de uma única oração, postula-se que, à esquerda do primeiro
verbo, se admite um advérbio de negação frásica, o qual modifica toda a sentença
81
(Ex.: Os turistas não tinham visitado o museu. Essa ilustração adaptada em Os turistas
tinham não visitado o museu torna-se agramatical, corroborando a existência de uma
cláusula de predicação simples). Em períodos com duas orações, pode-se aferir a
possibilidade de existência de advérbio de negação em ambas as cláusulas: Os turistas
não quiseram não visitar o museu;
(v) O segundo verbo de uma estrutura em auxiliação bem como seus
complementos não permitem ser substituídos pelo pronome demonstrativo “isso” ou
pelo clítico “o” (Ex.: *O pesquisador tinha ido à conferência, mas os turistas não o
tinham). Em contrapartida, em estruturas de complementação, percebe-se a
possibilidade de o segundo domínio da predicação ser substituído, por exemplo, pelo
pronome “o” com valor demonstrativo ou por “isso” (Ex.: O pesquisador quis ir à
conferência, mas os turistas não o quiseram (quiseram isso));
(vi) Em conglomerados verbais, a admissão de ocorrência de pronome átono na
adjacência do primeiro verbo indicaria seu caráter de auxiliaridade. Estruturas bi-
oracionais costumam apresentar a alocação de pronomes ao segundo verbo, embora os
clíticos possam ocupar ora a adjacência de v1 ora a de v2 (Ex.: O pesquisador não tinha
feito-os a agramaticalidade dessa sentença não se procede em: O pesquisador quis
fazê-lo).
Mateus et alii (2003), à luz das propriedades apresentadas, pontuam que algumas
construções são de complementação verbal, ou seja, a categoria selecionada é de caráter
frásico apesar do item verbal no infinitivo, assim como em sentenças constituídas pelo
verbo querer.
As estudiosas classificam verbos que ora atendem e ora não atendem às
particularidades supracitadas como semi-auxiliares, tais como: os aspectuais estar,
chegar, começar, acabar, continuar e as formas temporais ir / haver de + infinitivo.
Quanto aos itens dever, poder e ter de/que, as autoras, pela razão de essas
formas verbais apresentarem características que as aproximam de verbos principais e, ao
mesmo tempo, revelarem certo grau de defectividade, consideram tais verbos como
elementos de natureza híbrida.
82
Machado Vieira (2004), também em referência ao caráter de auxiliaridade
verbal, postula que algumas unidades (como ter e haver + particípio em estrutura de
tempo composto) são concebidas como membros prototípicos do inventário de
auxiliares. Consoante a pesquisadora, os elementos verbais são tidos como auxiliares,
uma vez que atendam os seguintes parâmetros listados:
(i) As construções em que se verificam esses verbos são instâncias de períodos
simples, ou interpretadas como tal;
(ii) Quanto mais dependente do constituinte adjacente responsável pela
projeção de espaços sintáticos, isto é, da predicação em um enunciado , tanto mais um
verbo se afasta de seu caráter lexical e assume função gramatical;
(iii) Quanto menos colabora para impor restrições de seleção semântica e/ou
atribuir papel temático ao constituinte que tenha relação gramatical de Sujeito com o
núcleo da predicação, maior o caráter auxiliar da forma verbal;
(iv) Quanto maior a extensão de seu domínio de atuação ou seja, a
possibilidade de se combinar com elementos auxiliados que apresentem qualquer
configuração semântica
29
e/ou sintática , maior seu caráter instrumental;
(v) Os constituintes verbais com certo grau de auxiliaridade passam a possuir
distribuição lexical, em certa medida, limitada, visto que pertencem a um conjunto de
itens de comportamento restrito.
É, sob a observação desses critérios, que Machado Vieira (2004) propõe, além
das estruturas com ter / haver + particípio, uma escala que contempla cinco subclasses
de verbos (semi-)auxiliares, como se exibem no quadro que se segue:
Graus de afastamento do pólo de auxiliaridade
1º grau de afastamento
Ser seguido de particípio (em estruturas de voz passiva analítica).
29
Um verbo auxiliar prototípico não limitaria a seleção do elemento auxiliado a uma determinada classe
semântica.
83
2º grau de afastamento
Estar, vir, ir, ficar, andar em construções com Vpredicador no gerúndio.
Ir, vir, haver (de) em construções com Vpredicador no infinitivo.
3º grau de afastamento
Poder, dever modais em construções com Vpredicador no infinitivo.
Estar, costumar, começar, chegar seguidos da preposição a em construções com Vpredicador
no infinitivo.
4º grau de afastamento
Ter (de/que) modal em construções com Vpredicador no infinitivo.
Acabar (de/por) em construções com Vpredicador no infinitivo.
5º grau de afastamento
Tentar, querer, conseguir, ousar, pretender seguidos de Vpredicador no infinitivo.
Mandar, fazer, deixar causativos em construções com Vpredicador no infinitivo.
Ver perceptivo/sensitivo em construções com Vpredicador no infinitivo.
Quadro 4: Continuum de auxiliaridade proposto por Machado Vieira (2004)
Com base nas propostas de tratamento da auxiliaridade verbal ora sintetizadas,
esta pesquisa, uma vez considerada a pluralidade de estruturas que podem ser
concebidas como complexos verbais, contempla qualquer construção constituída por
mais de um item verbal com algum grau sintático-semântico de integração, na qual se
observa a possibilidade de alternância dos clíticos em qualquer das posições
discriminadas em 4.3.2. Isso posto, certifique-se de que os dados desta investigação
abarcam, além dos auxiliares prototípicos (como ter e haver + particípio), itens verbais
considerados semi-auxiliares bem como verbos que atendem a restritas propriedades de
auxiliaridade (como querer + infinitivo, construção mais próxima do eixo de
lexicalidade).
Conforme se salienta mais adiante (seção 4.4.2), controlam-se os vários tipos de
complexos verbais mediante a variável tipo de lexia verbal complexa, contemplando-se,
pormenorizadamente, cada construção averiguada nas amostras a partir de fatores
distintos. Pela razão dos parcos números de dados das estruturas colhidas bem como
pelas semelhanças que alguns complexos apresentam entre si, congregam-se,
posteriormente ao exame individual de cada lexia, as construções nas mesmas
categorias apresentadas por Vieira (2002), a saber: (i) tempos compostos (juntamente
84
com algumas construções aspectuais como estar / ir + gerúndio, lexias essas avaliadas
em vários estudos de auxiliaridade como domínios de alta integração entre os verbos
auxiliar e principal), (ii) complexos modais e aspectuais e (iii) complexos bi-oracionais
(constituídos de verbos volitivos/optativos ou declarativos) com mesmo referente
sujeito.
Haja vista que esta análise se inscreve nos princípios preconizados pela
Sociolingüística de orientação Laboviana, faz-se imprescindível à investigação de
domínios verbais em que a posição dos pronomes esteja em variação segundo os fatores
apresentados na seção relativa à variável dependente. Isso considerado, ateste-se que
não se contabilizam, entre os casos de colocação em estruturas complexas, os registros
de clíticos em sentenças constituídas de verbos causativos/sensitivos (como mandar /
ver + infinitivo), visto que essas construções não admitem as quatro posições esperadas
no âmbito das lexias verbais complexas como sinônimas mediante as várias
combinações que realizam com os pronomes (Ex.: Mandei-o ler na sentença Mandei-o
ler o livro não apresenta, por exemplo, uma relação de equivalência semântica com
Mandei lê-lo).
Feitas todas essas considerações, visa-se a corroborar o postulado de que a
ordem dos pronomes átonos, especialmente em conglomerados verbais, se revela com
comportamento diferenciado entre as variedades brasileira e européia do Português no
decorrer das fases observadas. No que respeita especificamente às variantes complexas
v1-cl v2 e v1 cl v2, advoga-se que esta última ocorra em maior número no Português do
Brasil, sendo a ordem intra-LVC com hífen (v1-cl v2) a predominante no Português
Europeu.
À luz de tudo o que foi exposto, verifiquem-se, na seqüência, os grupos de
fatores lingüísticos e extralingüísticos controlados no tratamento da ordem aqui
promovido.
4.4 Descrição das variáveis independentes: as pressões sociais e estruturais
motivadoras do fenômeno em variância
No propósito de pormenorizar os grupos de fatores de cunho lingüístico e
extralingüístico intimamente relacionáveis ao fenômeno variável da ordem no PB e no
PE variedades cujos dados são examinados em separado por serem concebidas como
normas de uso distintas , arrolam-se, na presente subseção, as variáveis independentes,
aqui eleitas, para o estudo descritivo da colocação, tendo por amparo a concepção de
85
que uma investigação sociolingüística possui por um de seus escopos a aferição do grau
de estabilidade da variação ou de sua evolução para mudança lingüística, por meio do
diagnóstico dos possíveis fatores relevantes ou irrelevantes ao comportamento
sistemático das variantes sob análise.
De modo a avalizar a importância da conjugação das variáveis lingüísticas e
extralingüísticas para o tratamento de um fenômeno em variabilidade ou em mudança,
considerem-se os termos subscritos:
A contribuição das forças estruturais, internas para a difusão efetiva da mudança
lingüística, como formalizado por Martinet (1955), deve ser naturalmente a primeira
preocupação para qualquer lingüista que esteja investigando esses processos de
propagação e regularização. Contudo, uma explicação das pressões estruturais
dificilmente pode contar toda a história. Nem todas as mudanças são altamente
estruturadas, e nenhuma mudança acontece num vácuo social. Mesmo a mais sistemática
mudança em cadeia ocorre com uma especificidade de tempo e lugar que demanda uma
explicação. (LABOV, 1972 [1963]: 2).
Em face do exposto acerca das variáveis independentes que subjazem a
manifestação de usos lingüísticos alternativos, cumpre declarar que, para a constituição
do rol dos grupos de fatores estruturais e sociais contemplados no estudo presente, se
fez imprescindível um exame preliminar dos contextos constituídos de dados de clíticos
pronominais considerando a natureza dos corpora utilizados.
Apresentam-se, a seguir, as variáveis lingüísticas e extralingüísticas adotadas
nesta investigação, reiterando a advertência de que, em conseqüência da especificidade
da colocação em domínios de lexias verbais simples e de estruturas verbais complexas,
não se procedeu, por vezes, à atribuição dos mesmos grupos de fatores estruturais para a
observação da ordem nos dois ambientes referidos.
4.4.1 Grupos de fatores de natureza extralingüística
Para o controle de possíveis interferências sociais no fenômeno analisado,
propõem-se, como prováveis condicionadores da colocação, as variáveis
extralingüísticas:
“Vozes do romance” trata-se das instâncias concernentes ao aspecto narrativo das
obras adotadas, conforme pontuado na seção 4.2, agora reiteradas: (a) narrador
personagem (1ª pessoa) [Ex
1
.: Ao retirar-me, o olhar da menina [...] acompanhou-me até que
desapareci na porta. [JAl-PB-LVS-19]
30
]; (b) narrador observador (3ª pessoa) [Ex
2
.: Assim o
30
Os dados investigados, respeitados os parâmetros de constituição dos corpora, conforme o descrito na seção 4.2,
identificam-se por meio de uma notação que discrimina, respectivamente, (i) a abreviatura onomástica do escritor
que produziu tal registro elucidada no índice de abreviaturas contido na parte pré-textual do presente trabalho
86
entendera José das Dornas, que foi amestrando o seu primogênito e foi preparando-o [...][JD-PE-LVC-29]];
(c) personagem [Ex
3
.: Foi ela que me recomendou aqueles dois quadrinhos, quando andávamos, os
três, a ver coisas para comprar. [MA-PB-LVS-29]]. A análise da presente variável justifica-se pelo
anseio de constatar, em que medida, os domínios narrativos podem interferir na ordem
pronominal.
Autores contemplados saliente-se que o rol de autores selecionados se expõe à
seção 4.2, referente à descrição dos corpora. Pretende-se, por meio desse grupo de
fatores, atestar se o caráter subjetivo da escrita individual, que implica o estilo próprio
de cada escritor, opera de modo significativo no fenômeno variável.
Gênero/sexo dos autores eleitos como se esclareceu à seção 4.2, apesar da não
equivalência no número de escritores e escritoras, promove-se, em certa medida, o
controle dessa variável pelos fatores (i) masculino e (ii) feminino, a fim de observar se
homens e mulheres apresentam ou não diversidade na realização da ordem dos clíticos
pronominais.
Época/fase de publicação das obras adotadas considere-se, uma vez mais, a
investigação da ordem por cinco fases, quais sejam: fase 1 (1834-1866) e fase 2 (1867-
1900) para o culo XIX assim como fase 3 (1901-1933), fase 4 (1934-1966) e fase
5 (1967-2000) para o século XIX. Postula-se que o fenômeno da ordem,
principalmente no que toca às lexias verbais complexas, se revelaria de modo distinto
no PB e no PE ao longo das fases averiguadas, conforme se propõe em trabalhos
diacrônicos sobre o fenômeno (cf. capítulo 2).
Séculos investigados O exame diacrônico controla, ainda, as unidades temporais
por século (i) XIX e (ii) XX , no propósito de compactar as fases discriminadas e
observar com maior clareza a colocação nessas duas grandes instâncias.
Aos grupos de fatores elencados, associem-se as variáveis lingüísticas abaixo
discriminadas.
[Ex.: MA = Machado de Assis / EQ = Eça de Queiroz], (ii) a variedade do português [Ex.: PB = Português do
Brasil / PE = Português Europeu], (iii) o domínio em que a colocação se manifesta [Ex.: LVS = Lexia Verbal
Simples / LVC = Lexia Verbal Complexa / C = Estrutura com verbo Causativo / S = Estrutura com verbo Sensitivo],
(iv) a fase em que tal dado foi realizado [Ex.: 1, 2, 3, 4, 5 = Fases 1, 2, 3, 4, 5 respectivamente], (v) bem como o
século correspondente à ocorrência exemplificada [Ex.: 9 = século XIX e 2 = século XX]. Registre-se, também,
que as exemplificações dos casos de colocação obtidos nos corpora analisados são numeradas de acordo com cada
capítulo, não sendo, assim, os exemplos indicados a partir de uma numeração corrida por todo o trabalho.
87
4.4.2 Grupos de fatores de natureza lingüística
De forma a pontuar as variáveis estruturais comuns e restritas ao tratamento da
colocação no âmbito das lexias verbais simples e dos complexos verbais, recorre-se, a
seguir, a um esboço esquemático dos grupos de fatores abordados.
À luz da representação estabelecida, relacionam-se os fatores constitutivos de
cada variável lingüística observada com suas respectivas hipóteses e exemplificações.
Natureza da oração
A fim de que a manifestação da ordem fosse verificada mediante os contextos
oracionais em que os clíticos se fizeram presentes, estabeleceu-se um paralelo entre os
modelos tradicionais de oração
33
, considerando-se sua qualidade de (i) independente
34
31
Por meio desta variável, no que concerne ao domínio dos complexos verbais, tem-se por consideração o
verbo auxiliar da estrutura complexa.
32
Saliente-se que os supostos grupos de fatores referentes ao número de formas verbais auxiliares e à
forma do verbo principal foram contemplados inicialmente como variáveis independentes, norteadoras da
codificação dos dados. Com o avanço da análise, verificou-se que tais variáveis seriam fundamentais para
conhecer os tipos de complexos e seu comportamento. Desse modo, esses dois grupos de fatores serviram
para, a partir da codificação inicial, isolar os poucos dados de complexos com mais de uma forma auxiliar
e separar o banco de dados de LVC em três amostras, a dos complexos com particípio, com gerúndio e
com infinitivo.
33
Nesta análise, agregam-se aos padrões tradicionais de oração as estruturas optativas por meio das
quais se exprime um desejo (Ex.:Deus o proteja.) bem como as sentenças clivadas, que, segundo Braga
(1991) apud Vieira (2002), admitem seis subtipos de clivagem, a depender dos critérios de distribuição
dos constituintes, do padrão entonacional, da localização do acento primário e da função do elemento
focalizado. Eis, então, os possíveis modelos de clivagem: (a) sentença clivada stricto sensu (Ex.: É isso
Natureza da oração
Presença/ausência de possível
elemento proclisador
Distância entre possível elemento
proclisador e sequência
constituída de clítico e
verbo/complexo verbal
Tempo e modo das formas
verbais
31
Tipo de clítico pronominal
Tonicidade dos itens verbais
Número de itens (semi-)auxiliares
do complexo verbal
Forma do verbo principal (não-
flexionado)
32
Presença / ausência de elementos
intervenientes na estrutura verbal
complexa
Tipo de lexia verbal complexa
Variáveis Lingüísticas
Lexias Verbais Complexas
Lexias Verbais Simples
88
versus dependente; (ii) coordenada versus subordinada; (iii) desenvolvida versus
reduzida, no intuito de corroborar a hipótese de que a colocação proclítica/pré-complexo
verbal se daria mais freqüentemente em contextos de maior dependência sintática,
principalmente naqueles em que os elementos subordinativos se fazem presentes, ao
passo que a ordem enclítica/ pós-complexo verbal ocorreria em número superior nos
domínios de maior independência sintática entre orações relacionadas sem elos formais.
Quanto às formas gerúndio e infinitivo, notar-se-ia, de modo particular, nas sentenças
reduzidas por elas integradas, uma motivação à ocorrência da ênclise e da variante pós-
complexo verbal.
Mediante os dados colhidos na amostra investigada, expõem-se, na seqüência, os
fatores considerados para essa variável:
Oração “independente” [Oração absoluta, coordenada assindética ou principal]
Oração coordenada sindética
Oração subordinada desenvolvida
que eu leio.); (b) construção é que (Ex.: O motorista é que conhece o caminho.); (c) sentença pseudo-
clivada (Ex.: Quem ordena é o dono.); (d) foco ser (Ex.: As crianças estão é contentes.); (e) Que foco
(Ex.: Os mais velhos que decidem a educação dos filhos na família.); (f) duplo foco (Ex.: É a refeição é a
que está saborosa.).
34
Atribui-se, aqui, a classificação de “oração independente àquelas estruturas caracterizadas pela
ausência de elementos formais que desencadeiam os processos de coordenação e de subordinação.
Convém esclarecer que não se presume uma independência (sintática/semântica) efetiva entre orações.
Nesses termos, compreenda-se que “(in)dependência” salienta, exclusivamente, a (não-)ocorrência
explícita de conectores entre orações. Desse modo, explica-se a decisão de inserir, no fator das “orações
independentes”, as tradicionais sentenças absolutas, coordenadas assindéticas e principais.
Ex
4[LVS]
:
Ricardo Reis levanta-se, põe a gravata, vai sair, mas ao passar a mão pela cara sente
a barba crescida [...]. [JS-PE-LVS-52]
Ex
5[LVC]
:
Tenho em S. José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril.
[RQ-PB-LVC-32]
Ex
6[LVS]
:
A bondade do major inspirava [...] muita confiança, e lembraram-se por isso de
recorrer a ele de novo. [BG-PB-LVS-19]
Ex
7[LVC]
:
Instantes depois Guida recuava um passo e ia sentar-se no chão, quebrada, numa
grande fadiga. [JCP-PE-LVC-29]
89
Oração subordinada reduzida de infinitivo
Oração subordinada reduzida de gerúndio
Estrutura optativa
Sentença clivada
Presença/ausência de possível elemento proclisador
Ancorada na hipótese da existência de determinados itens gramaticais que
possivelmente desencadeiam o processo de colocação, esta investigação efetua o
controle do contexto anterior imediato ou não à seqüência clítico/verbo ou
clítico/complexo verbal por meio da presente variável, que congrega fatores concebidos
como “atratores” tradicionais e não-tradicionais. A opção por se ponderar até mesmo a
atuação de elementos não considerados pela tradição gramatical como “atratores”
Ex
8[LVS]
:
Os terríveis pensamentos que o agitavam produziam nele uma desusada energia.
[AH-PE-LVS-19]
Ex
9[LVC]
:
Tiago havia dito que teria de levá-la novamente para a “sujeira”. [DSQ-PB-LVC-32]
Ex
10[LVS]
:
Aqueles livros uns cem, no máximo eram velhos companheiros que ela escolhia
ao acaso, para lhes saborear um pedaço aqui, outro além, no decorrer da noite. [RQ-
PB-LVS-32]
Ex
11[LVC]
:
[...] creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão [...]. [JS-PE-LVC-52]
Ex
12[LVS]
:
Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto [...].
[AAz-PB-LVS-29]
Ex
13[LVC]
:
A senhora aprumou-se, sacudiu a cabeleira para trás estando se equilibrando na
listra até chegar ao toca-discos. [LFT-PB-LVC-52]
Ex
14[LVS]
:
O pai do Céu o acolhesse no misericordioso seio que por aquela corda de praias, de
Nazaré a Matozinhos, estava para nascer [...]. [RP-PB-LVS-29]
Ex
15[LVC]
:
[...] Antes a peste me tivesse levado. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
16[LVS]
:
Chegara até a se arriscar em leituras socialistas, e justamente dessas leituras é que
lhe saíam as piores das tais idéias, estranhas e absurdas à avó. [RQ-PB-LVS-32]
Ex
17[LVC]
:
O cego é que venha buscá-la aqui, se for capaz!... desafiou o vendeiro de si para
si. [AAz-PB-LVC-29]
90
como, por exemplo, conjunções coordenativas, preposições e SN sujeito deve-se à
hipótese de que diversos itens, ainda que não-canônicos, possam motivar, em certa
medida, com pesos distintos, a ocorrência das posições proclítica e pré-LVC.
A fim de tornar criteriosa a codificação, algumas medidas se fizeram necessárias
nos contextos em que havia mais de um elemento candidato a atuar como proclisador.
Nos casos em que, dos possíveis elementos desencadeadores de próclise, um fosse tido
como “atrator” tradicional, e outro não, considerou-se, na codificação, o elemento
tradicional; nos casos em que figurassem dois elementos tradicionais ou dois elementos
não-tradicionais, considerou-se o elemento mais próximo ao clítico.
Sob essas palavras, verifiquem-se os seguintes fatores controlados:
Verbo/complexo verbal não antecedido por possível elemento proclisador
35
Verbo/complexo verbal antecedido por SN sujeito nominal
36
Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome pessoal
Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome indefinido
37
35
Controlam-se, a partir deste fator, os contextos integrados pelo verbo/complexo verbal em posição
inicial absoluta de período ou de oração, ainda que esta esteja antecedida por outra oração.
36
Por conta do reduzido número de SNs sujeito nominal integrados por constituintes adjuntos na amostra
analisada (Ex.: Os joelhos d’Egas curvaram-se debaixo dele. [AH-PE-LVS-19]. Ex.: A cachorra Baleia
foi enroscar-se junto dele. [GrR-PB-LVC-42]), decidiu-se agrupá-los juntamente com os SNs simples.
37
Embora os termos ninguém, nada e nenhum pertençam à classe dos pronomes indefinidos, optou-se por
considerá-los no fator “elementos de negação”.
Ex
18[LVS]
:
Causar-lhe-ia riso a façanha desse camponês da Suíça [...].[BG-PB-LVS-19]
Ex
19[LVC]
:
Venho salvar-te, homem! replicou o bobo. [AH-PE-LVC-19]
Ex
20[LVS]
:
O sol encontrava-o sempre de pé, e em pé o deixava ao esconder-se. [JD-PE-LVS-29]
Ex
21[LVC]
:
As mulheres foram se levantando da mesa. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
22[LVS]
:
Num domingo de junho de 1891 ela sentou-se na sua sala, muito fresca e perfumada
[...].[JL-PB-LVS-29]
Ex
23[LVC]
:
Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. [VF-PE-LVC-52]
91
Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome demonstrativo
Verbo/complexo verbal antecedido por complemento preposicionado anteposto
Verbo/complexo verbal antecedido por predicativo do sujeito
Verbo/complexo verbal antecedido por elemento de negação
Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio (um só vocábulo) canônico
39
38
Conforme se verá mais adiante, devido aos escassos números de dados, esta variante não se submete ao
tratamento variacionista aqui desenvolvido.
39
Trata-se, neste caso, das formas adverbiais mais citadas nas listas tradicionais de “atratores”, conforme
se apresentou na revisão da literatura acerca do tema da colocação.
Ex
24[LVS]
:
Tudo me repele aqui! [DSQ-PB-LVS-42]
Ex
25[LVC]
:
Mas isso fora há umas três noites, alguém lhe teria dito? [VF-PE-LVC-52]
Ex
26[LVS]
:
[...] este lhes serve para desdenhar os pobres países, aa chuva natural [...].[JS-PE-
LVS-52]
Ex
27[LVC]
:
Tropas do exército regular do Sul, ajudadas pelos seus aliados brancos de além-mar,
tinham sido levadas em helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o
inimigo, mas este se havia sumido por completo. [EV-PB-LVC-52]
Ex
28[LVS]
:
Dos grandes pecadores fazem-se os grandes santos, como da imundícia e podridão
brotam por vezes as mais lindas e viçosas plantas. [BG-PB-LVS-19]
Ex
29[LVC]
:
Da rapidez dessa réplica poder-se-ia calcular o humor do director, ou antes, do
"patrão".
38
[FN-PE-LVC-52]
Ex
30[LVS]
:
[...] um pouco trêmulo abriu-a defronte dos olhos e leu-a demoradamente. [AAz-PB-
LVS-29]
Ex
31[LVC]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
Ex
32[LVS]
:
Nunca mais cairia noutra. Que se o papá soubesse, não lhe daria mais brinquedos
bonitos. [AlR-PE-LVS-42]
Ex
33[LVC]
:
E prestes voltava a cara para a outra banda, para se rir à vontade... não fosse vê-lo
[...] Sultão... [TC-PE-LVC-29]
Ex
34[LVS]
:
se sabe que houve nesse dia função [...].[MAA-PB-LVS-19]
Ex
35[LVC]
:
vou soltá-lo. [MA-PB-LVC-29]
92
Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio (um só vocábulo) não-canônico
Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio com sufixo mente
Verbo/complexo verbal antecedido por locução adverbial
Verbo/complexo verbal antecedido por “operadores de foco” do tipo , apenas, até,
mesmo, ainda, também
Verbo/complexo verbal antecedido por preposição para
Verbo/complexo verbal antecedido por preposição a [ao]
Ex
36[LVS]
:
Depois sentiu-se uma grande chilreada, o frêmito de várias asas, e uma nuvenzinha
de melros, precedida do par que guerreava, perdeu-se para os lados do pico. [VN-PE-
LVS-42]
Ex
37[LVC]
:
Agora Guida se podia levantar um pouco mais senhora de si. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
38[LVS]
:
E aflitivamente admirava-se de que a multidão se não espantasse, ao ver aquela
abominável ruína ambulante [...]. [AB-PE-LVS-32]
Ex
39[LVC]
:
Encostou-se à porta, dobrando-se, aniquilado... mas ansiadamente teve que
endireitar-se [...].[BG-PB-LVC-19]
Ex
40[LVS]
:
Em seguida ajoelhou-se na pele de onça, estendida como um tapete aos pés da cama,
pousou os cotovelos no chão, cruzou as mãos e sobre elas deitou as barbas. [RO-PB-
LVS-29]
Ex
41[LVC]
:
Os anjos [...] sorriam; e a cada oração do mancebo se iam atenuando e descontando,
um a um, no livro da vida que diante do Eterno está aberto, os crimes enormes do
velho pecador. [AG-PE-LVC-19]
Ex
42[LVS]
:
A notoriedade, o reconhecimento público, o aplauso, a admiração dos eruditos, a
glória, o sucesso - inclusive mundano, [...] Pedro Archanjo os teve post-mortem..
[JAm-PB-LVS-52]
Ex
43[LVC]
:
Jisé Simpilício e Aristides mesmo estão se engordando [...].[GR-PB-LVC-42]
Ex
44[LVS]
:
E prestes voltava a cara para a outra banda, para se rir à vontade... [TC-PE-LVS-29]
Ex
45[LVC]
:
Quando menos se contava, estacou por falta de largueza e Guida saiu com o
perdigoto na mão para o ir deixar no meio dumas moitas. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
46[LVS]
:
Todo ele estremecia como se houvesse lavas a ferverem-lhe no íntimo. [RP-PB-LVS-
29]
Ex
47[LVC]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
93
Verbo/complexo verbal antecedido por preposição de
Verbo/complexo verbal antecedido por preposição por
Verbo/complexo verbal antecedido por preposição sem
Verbo/complexo verbal antecedido por preposição em
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa aditiva
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa alternativa
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa adversativa
Ex
48[LVS]
:
Conheço-te, fito-te ainda um pouco na hesitação de te ver aqui, estás . [VF-PE-
LVS-52]
Ex
49[LVC]
:
É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me
dele depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52]
Ex
50[LVS]
:
O universo ainda não parou por lhe faltarem alguns poemas mortos em flor na
cabeça de um varão ilustre ou obscuro [...]. [MA-PB-LVS-29]
Ex
51[LVC]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
Ex
52[LVS]
:
Subiu as escadas, disposto a pôr de parte todas as cautelas, e a dar a novidade sem
lhe importar as conseqüências. [JD-PE-LVS-29]
Ex
53[LVC]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
Ex
54[LVS]
:
Foi aceita a idéia, ainda que houvesse dificuldade em se encontrarem pares. [MAA-
PB-LVS-19]
Ex
55[LVC]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
Ex
56[LVS]
:
Calculou que estaria em casa das pupilas, e dirigiu-se para lá. [JD-PE-LVS-29]
Ex
57[LVC]
:
Explicou-lhe, como pôde [...] e acabou perguntando-lhe [...].[MA-PB-LVC-29]
Ex
58[LVS]
:
Alguém transporta ao colo uma criança, que pelo silêncio portuguesa deve ser, não
se lembrou de perguntar onde está, ou avisaram-na antes [...]. [JS-PB-LVS-52]
Ex
59[LVC]
:
Podes conservá-la ou podes destruí-la [...]. [JAl-PB-LVC-19]
94
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa conclusiva
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa explicativa
40
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção subordinativa
Verbo/complexo verbal antecedido por que em locução conjuntiva
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção integrante que
40
Convém registrar a tênue distinção entre as orações coordenadas explicativas e as orações subordinadas
causais, uma vez que, segundo Vieira (2002), em ambas, se encontra presente a causa de um elemento em
relação a outro. Enquanto nas explicativas a causa do dito é verificada, nas causais é observada a causa do
fato em si.
Ex
60[LVS]
:
Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio nome; mas, explicava-o
por dois motivos, um doutrinário, outro particular. [MA-PB-LVS-29]
Ex
61[LVC]
:
Sua pobre cabeça não se comprazia em especulações sutis: homem de ação,
raciocinava apenas para deliberar, e logo; hesitava um instante na escolha do
caminho, mas acabava sempre por tomá-lo, e não retrocedia. [AAr-PB-LVC-32]
Ex
62[LVS]
:
Não houve registro de dado em ambas as amostras.
Ex
63[LVC]
:
Não houve registro de dado em ambas as amostras.
Ex
64[LVS]
:
Se a mulher tivesse concordado, Fabiano arrefeceria, pois lhe faltava convicção;
como sinhá Vitória tinha dúvidas, Fabiano exaltava-se, procurava incuti-lhe
coragem. [GrR-PB-LVS-42]
Ex
65[LVC]
:
Demora-te, pois, João, demora, que me hás de acompanhar, e mais ao José das
Dornas, em uma saúde aos noivos. [JD-PE-LVC-29]
Ex
66[LVS]
:
A mãe encontrava-se à porta de casa, agachada à maneira dos mouros. Estava de
guarda à única rua do casal por onde haviam de passar os dois viajantes quando se
dirigissem para a estrada. [JCP-PE-LVS-42]
Ex
67[LVC]
:
Quando acabaram de acender-se as luzes também o movimento cessou.
Principiaram-se os serões. [RP-PB-LVC-29]
Ex
68[LVS]
:
[...] o Tomé punha-se a fazer de interesseiro consigo mesmo, resmungando alto para
que o ouvisse [...]. [TC-PE-LVS-29]
Ex
69[LVC]
:
Antes que viessem surpreender-me corri a vestir-me, e resoluto, os olhos cheios de
lágrimas e a corda à cintura, voltei a buscar depois a aguiazinha. [FA-PE-LVC-29]
95
Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção integrante se
Verbo/complexo verbal antecedido por pronome relativo que
Verbo/complexo verbal antecedido por outros pronomes/advérbios relativos, tais
como: cujo, o qual, onde, quem
Verbo/complexo verbal antecedido por que em sentenças clivadas
Verbo/complexo verbal antecedido por palavra QU- interrogativa do tipo
pronominal, tais como: (o) que, quem, qual
Ex
70[LVS]
:
A princípio o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e propôs que se
dançasse o minueto da corte. [MAA-PB-LVS-19]
Ex
71[LVC]
:
[...] conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida
pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente. [GrR-PB-LVC-
42]
Ex
72[LVS]
:
Digam vocês se no palácio mexe-se mais no negócio dos ladrões... [RP-PB-LVS-
29]
Ex
73[LVC]
:
Não houve registro de dado em ambas as amostras.
Ex
74[LVS]
:
Enquanto ele sobe as escadas, direi ao leitor o motivo do desassossego, em que nos
aparece o velho clínico. [JD-PE-LVS-29]
Ex
75[LVC]
:
Baleia [...] vigiava, aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do
bicho e talvez o couro. [GrR-PB-LVC-42]
Ex
76[LVS]
:
O automóvel estacou à porta do hospital onde se via um grande movimento de
veículos e soldados. [EV-PB-LVS-52]
Ex
77[LVC]
:
Metia entre dentes um pedacito de queijo, logo uma côdea de pão, e fazendo
umas grandes rugas na testa, de quem começa a zangar-se, voltava-se então
muito sério [...].[TC-PE-LVC-29]
Ex
78[LVS]
:
[...] muito depois disso é que me contaram em segredo que as ias tinham sido
achadas no quintal [...]. [RP-PB-LVS-29]
Ex
79[LVC]
:
Estou com pena do compadre José Amaro. Como é que vai ele se arrumar
naquela casa abandonada. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
80[LVS]
:
Quem poderia rir, quem a acharia grotesca, ou quem encontraria motivo de
escândalo? [ABL-PE-LVS-42]
Ex
81[LVC]
:
E quem me poderá obrigar? [JMM-PB-LVC-19]
96
Verbo/complexo verbal antecedido por palavra QU- interrogativa do tipo adverbial,
tais como: quando, como, onde, por que
Verbo/complexo verbal antecedido por outro pronome átono
Verbo/complexo verbal antecedido por elementos discursivos/fáticos
41
Verbo/complexo verbal antecedido por hesitações [eh, ah, ora] e interjeições
Contexto constituído de partícula eis
Distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída por clítico e
item/complexo verbal
O controle do grupo de fatores agora descrito é motivado pela hipótese de que a
influência dos operadores de próclise não se daria de modo idêntico nos contextos em
que houvesse itens interpostos entre o proclisador e a seqüência constituída por clítico e
determinado verbo/complexo verbal.
41
Cabe informar que, neste fator, foram consideradas as ocorrências de vocativo no contexto em que os
clíticos se fizeram presentes.
Ex
82[LVS]
:
Como se chama? [JMM-PB-LVS-19]
Ex
83[LVC]
:
Como queres igualar-te ao imenso e imperscrutável? [VF-PE-LVC-52]
Ex
84[LVS]
:
Quando chegamos e me reconheceu, toda a boca se lhe contorceu num sorriso, fez-
me um sinal para eu me aproximar. [VF-PE-LVS-52]
Ex
85[LVC]
:
Eram onze e meia quando saiu de casa.[...] Ela lho [lhe + o] tinha dito, Ah, sim
senhor doutor, tenho um irmão que é marinheiro no Afonso de Albuquerque [...]. [JS-
PE-LVC-52]
Ex
86[LVS]
:
A comida, essa sim, arranjava-lhe mediante quatrocentos réis por dia [...]. [AB-PE-
LVS-32]
Ex
87[LVC]
:
Bem, vai-te deitar, epilogou o conde, de manso, tomando à escada. [AH-PE-LVC-
19]
Ex
88[LVS]
:
Então é só isso? Ora valha-te Deus! É verdade. [JD-PE-LVS-29]
Ex
89[LVC]
:
Ora... a tudo a gente se acostuma! Adeus, ver-me de vez em quando. [JL-PB-
LVC-19]
Ex
90[LVS]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
Ex
91[LVC]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
97
Acredita-se que o comprometimento da atuação dos elementos proclisadores
nesses contextos, quanto à distância, esteja intimamente ligado a razões de ordem
cognitiva e/ou rítmica. No que respeita à circunstância cognitiva, aventa-se que,
mediante Vieira (2002), quanto mais “presente”/próximo se encontrar o operador de
próclise no momento em que se enuncia o clítico pronominal, maior atenção do usuário
da ngua é dada à atuação do proclisador. Em termos prosódicos, pressupondo-se que
tais proclisadores podem possuir por função certa influência de natureza rítmica, esta
estaria comprometida pela distância que dificultaria ou mesmo impediria a subida do
clítico.
Para que tal intervalo entre o operador de próclise e a cadeia segmental clítico e
verbo/complexo verbal passe por uma mensuração, procede-se à contagem do número
de sílabas canônicas (cf. CRYSTAL, 1988: 43) pertencentes a tal distância. É oportuno
ressaltar que, embora o referido procedimento não seja o mais adequado para o controle
exato da distância, uma vez que as estruturas silábicas mesmo idênticas podem ser
produzidas com durações distintas, avalia-se que a opção pelo controle silábico ainda
seja o modo preferível de aferição comparado a outras unidades
42
.
Pelo que anteriormente foi dito, estabelecem-se, abaixo, os fatores para a
variável em destaque:
Zero sílaba
Uma sílaba
Duas sílabas
42
A esse propósito, considera Naro & Scherre apud Vieira (2002: 115) que cada sílaba ocupa
aproximadamente a mesma quantidade de tempo, enquanto outras unidades m dimensões diversas e
diferenciadas”.
Ex
92[LVS]
:
Aquela relíquia, que se dizia milagrosa, era sua última esperança [...]. [JMM-PB-LVS-
19]
Ex
93[LVC]
:
A de fora está se dissipando e aqui começa outra [...]. [LFT-PB-LVC-52]
Ex
94[LVS]
:
O único problema que lhe apareceu claro e palpável era o que se lhe referia à própria
posição naquele momento [...]. [AAr-PB-LVS-32]
Ex
95[LVC]
:
Duma virtude não sujeita à tentação, nem Deus pode chamá-la virtude. [AAb-PE-
LVC-19]
98
Três sílabas
Quatro sílabas
Cinco sílabas
Seis sílabas
Sete a dez sílabas
Onze sílabas em diante
Ex
96[LVS]
:
Fez que não, com um gesto, ao frasco de bolso que ele lhe pôs à frente [...]. [JCP-PE-
LVS-42]
Ex
97[LVC]
:
[...] receei as interpretações que delas se poderiam tirar. [AAb-PE-LVC-52]
Ex
98[LVS]
:
Gonçalo, se é lícito comparar uma frágil criatura humana com a divindade, estava
então como o Cristo [...], em que no monte das Oliveiras junto à torrente do Cedron,
[...] suou sangue e sentiu sua alma desfalecer e vacilar ao receber o cálice do
martírio, que um anjo lhe apresentava. [BG-PB-LVS-19]
Ex
99[LVC]
:
meu amo tinha-me dito: << Vais ó Garnel e perguntas o sr. Roberto se quer que
o ajudes a tirar a mala da loja [...]>>. [VN-PE-LVC-42]
Ex
100[LVS]
:
No dia em que a Câmara se lembrasse de trazer eletricidade para ali, uma boa
esplanada havia de chamar muitos banhistas a São Romão. [JCP-PE-LVS-42]
Ex
101[LVC]
:
Nunca seu marido pudera acostumar-se à idéia da cegueira irremediável. [CM-PE-
LVC-32]
Ex
102[LVS]
:
Assim, em vez de disfarçar os soldados e espalhá-los para não chamarem a atenção
do povo, ele, ao contrário, entendia que a tropa real se humilharia em querer
encobrir essa qualidade [...]. [AAr-PB-LVS-32]
Ex
103[LVC]
:
Dir-se-ia que a natureza acabava de cobrir-se de lutuosos merinós, se não fosse o
cetim azulado do firmamento, e se não chovesse o riso das estrelas. [RP-PB-LVC-29]
Ex
104[LVS]
:
em algumas eiras se expunham ao sol, para a secagem [...]. [CM-PE-LVS-32]
Ex
105[LVC]
:
Será que amanhã sua mãe podia me emprestar o carro? [LFT-PB-LVC-52]
Ex
106[LVS]
:
Entretanto, parece que um renascimento de vida se operara nele. [AAr-PB-LVS-32]
Ex
107[LVC]
:
[...] e súbito se inundava a rua de rapazes, rotos, descalços, alguns quase nus [...]
gritando-lhe, acenando-lhe, espantando-o como se o mesmo vento de folia os
houvesse varrido a todos, varrendo a própria rua... [TC-PE-LVC-29]
99
Tempo e modo das formas verbais/(semi-)auxiliares
Julga-se relevante a observação da influência exercida pelos tempos e modos
verbais para a manifestação da regra variável, tendo em vista o postulado de que, nos
domínios integrados por verbos flexionados nos tempos do subjuntivo, a colocação
proclítica/pré-complexo verbal seria mais produtiva, pela circunstância de esse modo
figurar, muitas vezes, em sentenças subordinadas providas dos chamados fatores de
próclise. No que concerne ao indicativo, seus tempos apresentariam uma neutra atuação
no fenômeno da ordem. Por seu turno, as formas nominais do verbo bem como o modo
imperativo constituiriam os contextos de maior proeminência de ênclise e da variante
intra-complexo verbal com hífen.
Sob essas declarações, eis a configuração da variável pelos fatores subscritos:
Presente do indicativo
Pretérito imperfeito do indicativo
Pretérito perfeito do indicativo
Ex
108[LVS]
:
A moça percebia confusamente que aquele trôpego ancião, talvez enfermo, de
enxovalhado paletó, calças com remendo, buracos nos sapatos, roto coração, era-
lhe próximo, um parente quem sabe? [JAm-PB-LVS-52]
Ex
109[LVC]
:
Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o
cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto
dele uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! [RB-PE-LVC-
32]
Ex
110[LVS]
:
O tempo estava morno, impregnado dessa quietude de natureza exaurida que se
encontra num baque ondulante de folha [...]. [ABL-PE-LVS-42]
Ex
111[LVC]
:
Confesso que dou o cavaco por elas, mas as moças me têm posto velho. [JMM-PB-
LVC-19]
Ex
112[LVS]
:
Os meirinhos desse belo tempo não, não se confundiam com ninguém [...]. [MAA-
PB-LVS-19]
Ex
113[LVC]
:
Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29]
Ex
114[LVS]
:
[...] o mosteiro edificou-se, e a povoação nasceu. [AH-PE-LVS-19]
Ex
115[LVC]
:
Pôs-se a fazer movimentos para se aquecer. [JCP-PE-LVC-42]
100
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo
Futuro do presente do indicativo
Futuro do pretérito do indicativo
Presente do subjuntivo
Pretérito imperfeito do subjuntivo
Futuro do subjuntivo
Imperativo
Ex
116[LVS]
:
Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta de seu pai, na qual o
chamava para fazer-lhe entrega do que lhe deixara seu padrinho, que se achava
religiosamente intacto. [MAA-PB-LVS-19]
Ex
117[LVC]
:
E depois do almoço, como o céu abrisse e estendesse um grande lençol de luz sobre
a varanda, viera sentar-se ali, a cabeça abrigada na sombra do alpendre e as pernas
estendidas ao banho caricioso do sol. [RB-PE-LVC-32]
Ex
118[LVS]
:
Realmente, nenhuma figura intelectual gozou de tamanha evidência [...] com as
costumeiras e honrosas exceções das quais logo se dará notícia. [AAb-PB-LVS-52]
Ex
119[LVC]
:
Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que de vir. [AH-PE-LVC-
19]
Ex
120[LVS]
:
Dir-se-ia que, no fundo da sua memória, a lembrança adormecida daquele nome
despertara subitamente... [TC-PE-LVS-29]
Ex
121[LVC]
:
Um dia haveria de reencontrá-los, em algum lugar, de alguma maneira. [EV-PB-
LVC-52]
Ex
122[LVS]
:
São outras gentes; gozam a paz da fortuna e das famílias, bebem vinho tinto nos
bares do Guincho ou de Cascais sem que alguém lhes leve a mal. [AB-PE-LVS-32]
Ex
123[LVC]
:
[...] É bem capaz que eu a tenha de levar de novo para... a sujeira... [...].[DSQ-PB-
LVC-42]
Ex
124[LVS]
:
Rubião quis que se agasalhasse, e trouxe-lhe um fraque, um colete, um chambre,
um capote, à escolha. [MA-PB-LVS-29]
Ex
125[LVC]
:
Isso é que seria bom se se pudesse dispensar... [AAz-PB-LVC-29]
Ex
126[LVS]
:
Ouvirei vossa confissão quando vos aprouver, meu irmão. [AH-PE-LVS-19]
Ex
127[LVC]
:
Se não quiser me ouvir que se retire. [JLR-PB-LVC-42]
101
Infinitivo
Gerúndio
Tipo de clítico pronominal
A opção pelo controle da variável agora descrita procede do intuito de verificar
em que medida a ordem dos clíticos pronominais é motivada pela forma pronominal ou
pela função sintática que os pronomes exercem frente aos elementos verbais com os
quais se associam.
Alega-se por hipótese que os clíticos de primeira e segunda pessoas, por motivo
de focalização, apresentariam maior tendência a ocorrer em posição de destaque, uma
vez que eles, no discurso, identificam as vozes do locutor bem como do interlocutor,
função não exercida pelos demais pronomes.
As formas pronominais o, a (s) também podem assumir comportamento
particular na ordem dos pronomes, especialmente em virtude da debilidade fônica de
sua constituição silábica (uma vogal), que faz com que elas se constituam, em certos
enunciados, como lo/la (s), por exemplo. No contexto de complexos verbais, presume-
se que tais formas tornariam inviáveis determinadas posições como, por exemplo, a
ordem intra-complexo verbal. Desse modo, possivelmente, esses pronomes se
aglutinariam a outros elementos sonoros da lexia verbal complexa, como postula Rocha
Lima (2005 [1972]: 455]:
Ex
128[LVS]
:
A cruz! lembro. Ponho na sua janela, no lado de fora, não se esqueça de pegar!
[LFT-PB-LVS-52]
Ex
129[LVC]
:
-se deitar! [VN-PE-LVC-42]
Ex
130[LVS]
:
Compreendia que estava num beco cego e falso e não seria o amigo quem lhe ia
estender a mão para a tirar de lá. [JCP-PE-LVS-42]
Ex
131[LVC]
:
Sentia não poder atendê-lo. [NP-PB-LVC-52]
Ex
132[LVS]
:
O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-
apessoado [...]. [MAA-PB-LVS-19]
Ex
133[LVC]
:
Um ano, fins de Outubro, havendo-se abalançado com tempo incerto até o extremo
das cordas, foi caso que ele, como arrais responsara o lanço [...]. [AqR-PE-LVC-
32]
102
[A] construção [verbal complexa, integrada por clítico interposto,] não tem agasalho com
o pronome o (a, os, as), em razão, decerto, do volume fonético dele, mais reduzido do que
o das demais partículas pronominais. De fato, não se usa „estou o esperando‟, etc.
O pronome se, conforme atestam outros estudos sobre o fenômeno (cf. capítulo
2), parece ter seu padrão de ordem influenciado pela função que exerce. No que tange
ao domínio dos complexos verbais, por exemplo, supõe-se que o clítico “se” de caráter
reflexivo/inerente esteja mais propenso, no Português Brasileiro, a se cliticizar ao verbo
principal por esse lhe conferir função sintático-semântica de objeto/tema verbal. O se
indeterminador/apassivador tenderia a ficar na posição adjacente ao primeiro verbo da
lexia verbal complexa.
Após essas declarações, considerem-se as seguintes ocorrências:
Me
Te
Se do tipo reflexivo/inerente
Se como índice de indeterminação do sujeito
Se apassivador
Ex
134[LVS]
:
Obrigado pela parte que me toca, respondeu-lhe o homem. [JCP-PE-LVS-42]
Ex
135[LVC]
:
A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado! [AlR-PE-LVC-42]
Ex
136[LVS]
:
E acrescentava com força: É o que te digo: vou e vou, porque devo, porque quero,
porque é do meu direito. [LB-PB-LVS-32]
Ex
137[LVC]
:
Sim, vou deixar-te, vou esperar por ele. [AAb-PE-LVC-52]
Ex
138[LVS]
:
E parando à porta de casa, ainda a mulher se benzia do alto da escada, mexendo e
remexendo o alguidar de barro [...]. [TC-PE-LVS-29]
Ex
139[LVC]
:
O mestre José Amaro, arrastando a perna torta, foi se chegando para mesa posta,
uma pobre mesa de pinho sem toalha. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
140[LVS]
:
Era raro e alarmante, em março, ainda se tratar de gado. [RQ-PB-LVS-32]
Ex
141[LVC]
:
Voavam sempre, não se podia saber donde vinha tanto urubu. [GrR-PB-LVC-42]
103
O(s)/a(s)
Nos
Vos
Lhe(s)
Formas contraídas
Ex
142[LVS]
:
Ela move-se ritmicamente [...] naquela sala onde se recolhem em pilhas as maçãs
[...]. [ABL-PE-LVS-42]
Ex
143[LVC]
:
[...] e ele vai misturando, no alvoroçado pensamento, conquistas bélicas e amorosas
[...] e mais que tudo, as histórias que sobre isso se hão de contar à noite no
refeitório dos Grilos hoje, oh impiedade! [AG-PE-LVC-19]
Ex
144[LVS]
:
A terra sobranceia o oceano, dominante, do fastígio das escarpas; e quem a alcança,
como quem vinga a rampa de um majestoso palco, justifica todos os exageros
descritivos [...]. [EC-PB-LVS-32]
Ex
145[LVC]
:
[...] no dia em que a houveres penetrado inteiramente, [...] terás o maior prazer da
vida [...]. [MA-PB-LVC-29]
Ex
146[LVS]
:
E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa,
porque o menino de quem falamos é o herói desta história. [MAA-PB-LVS-19]
Ex
147[LVC]
:
Tinham-nos avisado do asilo [...]. [VF-PE-LVC-52]
Ex
148[LVS]
:
Pelo contrário. É porque a vossa beleza me exalta que eu encontro nela a força de
que antes carecia. E por isso vos peço ajuda nesta circunstância. [AAb-PE-LVS-52]
Ex
149[LVC]
:
Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE-LVC-53]
Ex
150[LVS]
:
Então lhe aparece em sonho a Virgem Mãe de Deus tal qual se achava esculpida na
medalha, porém rodeada de todo o esplendor de sua celeste glória [...]. [BG-PB-LVS-
19]
Ex
151[LVC]
:
Eu avancei para Emília; e meu passo hirto, e meu olhar abrasado deviam incutir-
lhe terror. [JAl-PB-LVC-19]
Ex
152[LVS]
:
Guida puxou-o pela mão. Apertou-lha [lhe + a] muito com uns dedos úmidos e
nervosos. [JCP-PE-LVS-42]
Ex
153[LVC]
:
Eram onze e meia quando saiu de casa.[...] Ela lho [lhe + o] tinha dito, Ah, sim
senhor doutor, tenho um irmão que é marinheiro no Afonso de Albuquerque [...].
[JS-PE-LVC-52]
104
Tonicidade dos itens verbais (somente para as lexias verbais simples
43
)
De modo a corroborar a hipótese de que a colocação enclítica seria menos
proeminente com elementos verbais paroxítonos e proparoxítonos dado o fato de a
Língua Portuguesa evitar formações de palavras com acentuação tônica em segmentos
silábicos anteriores à penúltima sílaba, isto é, vocábulos proparoxítonos / esdrúxulos ,
achou-se conveniente a constituição da variável cujos fatores abaixo se ilustram.
Vocábulo proparoxítono
Vocábulo paroxítono
Vocábulo oxítono
Número de itens (semi-)auxiliares do complexo verbal
Com o propósito de observar se a presença de mais de um verbo (semi-)auxiliar
afetaria o número de posições em que o clítico, possivelmente, poderia ocupar no
domínio das lexias verbais complexas, estipulou-se o presente grupo de fatores.
Conforme já se observou, tendo em vista o número de formas (semi-)auxiliares, a ordem
dos pronomes átonos assume mais possibilidades de posicionamento, o que fez isolar,
na análise, as ocorrências de construções com mais de uma forma auxiliar.
Isso declarado, expõem-se, na seqüência, os fatores inicialmente previstos:
Presença de um verbo (semi-)auxiliar
Ex
157[LVC]
:
Luciano tinha-se afastado do quarto e passeava no jardim, fugindo aos olhos de
todos e à bulha atormentadora das vozes. [JL-PB-LVC-29]
Presença de dois verbos (semi-)auxiliares
43
O controle dessa variável não foi aplicado ao contexto de complexos verbais, em virtude da dificuldade
de delimitação dos possíveis vocábulos fonológicos que poderiam ser formados, a depender da ligação do
clítico com as formas verbais ou com outros elementos do enunciado.
Ex
154[LVS]
:
Tivemos a sorte duma alma boa nos socorrer. E onde menos o esperávamos!
[AqR-PE-LVS-32]
Ex
155[LVS]
:
Qualquer das propriedades a acolheria com o fogão de lenha aceso e o feijão
cozido. [NP-PB-LVS-52]
Ex
156[LVS]
:
O professor disse que sim, conclamou o líder capaz de fazê-lo [...]. [JAm-PB-LVS-
52]
105
Ex
158[LVC]
:
[...] ninguém estranhará que saber, interessar-se, Coitada da rapariga, o que lhe
havia de ter acontecido, há pessoas que nascem sem sorte. [JS-PE-LVC-52]
Presença de três ou mais verbos (semi-)auxiliares
Ex
159[LVC]
:
Não houve dado em ambas as amostras.
Forma do verbo principal (não-flexionado)
Mediante tal variável, objetivou-se avaliar a existência de possíveis padrões de
ordem motivados pela natureza da forma do verbo principal da lexia verbal complexa.
Como já se salientou, por meio do tratamento dessa variável, foi possível analisar
separadamente os complexos constituídos por gerúndio, por particípio e por infinitivo.
A hipótese que sustenta a pertinência do controle do verbo principal sugere, para
o Português como um todo, que determinadas formas nominais permitiriam maior opção
de posicionamento dos clíticos do que outras. Aventa-se, por exemplo, que a forma de
infinitivo se constituiria como contexto profícuo à ocorrência da variante pós-complexo
verbal. No que respeita ao particípio, conforme preconizado pelos compêndios
gramaticais e diversos estudos sobre a ordem, tal forma não favoreceria essa variante.
Pagotto (1992), por meio da relevância dessa variável, sustenta que a mudança
ocorrida no padrão cl-VV para a ordem Vcl-V, verificada no Português Brasileiro, na
segunda metade do século XVIII, foi deflagrada, em primeira instância, pelos
complexos verbais integrados por infinitivo seguidos por estruturas constituídas de
verbo principal no particípio.
Apontadas tais considerações, tomem-se os exemplos subseqüentes:
Verbo principal no gerúndio
Ex
160[LVC]
:
Mas a mão ia-se demorando, chegava a parar [...]. [JCP-PE-LVC-42]
Verbo principal do particípio
Ex
161[LVC]
:
As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto
entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como
cascos, gretavam-se e sangravam. [GrR-PB-LVC-42]
Verbo principal do infinitivo
Ex
162[LVC]
:
Quem examinasse vagarosamente aquela grande coleção de livros havia de
espantar-se ao perceber o espírito que presidia a sua reunião. [LB-PB-LVC-32]
106
Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa
(apenas para as lexias verbais complexas)
Postula-se que a presença de elementos intervenientes no complexo verbal
como sintagma, preposição e outros conectores , atuaria, em alguma medida, na
manifestação de determinadas variantes da ordem pronominal, em comparação à
ausência de qualquer elemento.
Acredita-se que, tais como os possíveis elementos proclisadores, os itens em
destaque, especialmente as preposições, uma vez na posição entre verbos, apresentariam
certo potencial de atração do clítico, consoante pontua Perini (2001: 232) pelos termos
abaixo:
O clítico antes do [auxiliar] tem aceitabilidade mais ou menos reduzida quando o
[auxiliar] vem acompanhado de preposição como em
??
Ela se deixou de maquiar [/]
*
Ela
se continuou a maquiar [/]
??
Ela se tem de maquiar.
Para exemplificação dos fatores desta variável, verifiquem-se os casos a seguir:
Presença da preposição a
Presença da preposição de
Presença da preposição para
Presença do conector que
Presença de sintagma
Ex
163[LVC]
:
Quincas Borba procurou com os pés as chinelas; [...] calçou-as e pôs-se a andar
para esticar as pernas. [MA-PB-LVC-29]
Ex
164[LVC]
:
Selavisa não merece descrição; porém como o leitor o há-de achar algumas vezes
n'esta minha história, direi, por cumprimento, que era de figura grossa, barriguda e
baixa [...]. [ArG-PE-LVC-19]
Ex
165[LVC]
:
[...] parecendo-lhe quase impossível que João Semana não soubesse já alguma
coisa, deu-lhe para tomar o silêncio [...].[JD-PE-LVC-29]
Ex
166[LVC]
:
Havia que se prevenir, sobretudo quando faltavam escassas horas para o dia
terminar. [NP-PB-LVC-52]
Ex
167[LVC]
:
[...] sendo assim vai Ricardo Reis barbear-se [...]. [JS-PE-LVC-52]
107
Ausência de elementos intervenientes
Tipo de lexia verbal complexa
Justifique-se a relevância do grupo de fatores em destaque, tendo em vista que
diversos estudos sobre o tema atribuem à composição do complexo verbal a qualidade
de variável diretamente motivadora dos padrões de colocação nos domínios das lexias
verbais complexas.
Por esses termos, registre-se que Mateus et alii (2003), com base em dados do
Português Europeu, postulam que, em construções de tempos compostos integradas pela
forma verbal ter assim como em estruturas passivas com o verbo cópula ser, a ordem
enclítica a tais auxiliares seria registrada com maior proeminência quando da ausência
dos elementos proclisadores. Esses elementos, uma vez presentes nos contextos de
ocorrência dos clíticos, motivariam a subida do pronome para a posição de próclise ao
primeiro verbo. A respeito das estruturas constituídas de formas (semi-)auxiliares
modais e aspectuais, propõem por hipótese que as partículas átonas se ligariam ora ao
verbo auxiliar ora ao principal.
No que concerne ao Português Brasileiro, Perini (2001) advoga que a ordem dos
átonos pronominais se restringe aos limites da mesma oração, exceto nos domínios de
duas construções, quais sejam: uma integrada pelo verbo saber e a outra constituída de
auxiliar seguido de preposição, as quais admitiriam a colocação proclítica ao auxiliar na
modalidade escrita da língua, embora as chances de manifestação de tal ordem sejam
reduzidas.
Presume-se que, no PB, a variante proclítica ao verbo principal (v1 cl v2)
poderia ser mais facilmente aceita nos vários complexos, principalmente, na ausência
dos operadores de próclise em comparação à variedade européia da língua. Quanto a
certas lexias auxiliadas por formas modais, especialmente aquelas integradas pela
expressão “pode-se”, a ênclise ao verbo auxiliar ocorreria em posição de ênclise a v1,
constituindo uma estrutura que parece, por vezes, cristalizada para a expressão de
indeterminação.
Ex
168[LVC]
:
Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar...
[GR-PB-LVC-42]
108
Em face das hipóteses acima sugeridas, investigam-se as construções, na
seqüência, arroladas
44
:
Tempos compostos (ter/haver + particípio) e estruturas aspectuais (ir/vir + infinitivo;
estar + a + infinitivo; ir/vir/estar + gerúndio), cujo auxiliar se apresenta no segundo
nível de afastamento da categoria de auxiliaridade.
“Perífrases verbais” modais e aspectuais de natureza diversa, cujo auxiliar revela
certo grau de esvaziamento semântico e o verbo principal possui o mesmo referente-
sujeito (haver/ter + de/que + infinitivo; poder/dever/costumar + infinitivo; acabar +
de/por + infinitivo; chegar/começar/voltar/pôr-se/tornar-se/continuar + a + infinitivo;
acabar/ficar/continuar/andar + gerúndio).
Complexos bi-oracionais com mesmo referente-sujeito, cujo auxiliar se revela mais
próximo do nível de lexicalidade
45
(estruturas com verbos volitivos/optativos ou
declarativos, tais como: querer / desejar / tentar / procurar / conseguir / saber / evitar /
prometer / resolver / decidir/ pretender / preferir + infinitivo).
Arrolados os grupos de fatores com suas respectivas justificativas, ressaltem-se,
na seção seguinte, os procedimentos adotados no tratamento técnico-computacional dos
dados colhidos.
4.5 Medidas concernentes ao tratamento quantitativo efetuado
44
Não foram constatados dados de ordem pronominal em domínio de estrutura verbal complexa do tipo
passiva de ser (ser + particípio) nos corpora examinados. Cabe informar, ainda, que, na codificação
inicial, cada estrutura coletada recebeu um código especifico, sendo tratada em separado.
45
Embora as estruturas compiladas no presente fator ofereçam maior margem de dúvidas acerca do
caráter variável da regra de colocação, decidiu-se contemplá-las nesta investigação, uma vez que, na
amostra analisada concernente às variedades européia e brasileira dos séculos XIX e XX, tais construções
se revelaram como ocorrências variáveis a respeito da ordem.
Ex
169[LVC]
:
O gosto moderno tem-se modificado, ao que parece, exigindo nos seus tipos de
adoção o que quer que seja de franzino e delicado [...]. [JD-PE-LVC-29]
Ex
170[LVC]
:
Era também agilíssimo no jogo da faca; com os pés atados bem juntos e com uma
faca em punho desafiava a qualquer, e com tal destreza se defendia que nem assim o
podiam tocar. [BG-PB-LVC-19]
Ex
171[LVC]
:
Quando desço, Lião a enlaça como se fossem sair dançando as duas, o braço
estendido para a frente procurando agarrar-lhe a mão. [LFT-PB-LVC-52]
109
Realizada a atividade de coleta dos dados, procedeu-se, conforme se pontuou
na subseção referente às etapas da análise variacionista, à codificação dos registros de
clíticos pronominais mediante cada fator constituinte das variáveis independentes de
natureza lingüística e extralingüística determinadas.
Os dados, uma vez codificados, foram submetidos ao tratamento técnico-
computacional auxiliado pelo Pacote de Programas Goldvarb X, instrumental que
fornece, dentre outras informações: (a) o índice de aplicabilidade geral dos fatores
constituintes da variável dependente; (b) as freqüências absolutas e percentuais, além de
pesos relativos
46
para cada variante examinada; (c) os grupos de fatores lingüísticos e
extralingüísticos relevantes e não-relevantes à manifestação do fenômeno em análise;
bem como (d) o influxo, isto é, o cruzamento entre as variáveis examinadas.
A análise estatística inicia-se, pois, por meio da constituição do arquivo de
células, o qual concede os valores de freqüência percentual e absoluta das variantes em
face dos fatores integrantes das variáveis independentes. É por meio dessa etapa inicial
que se constatam em quais contextos o evento sob análise se revela variável ou
categórico (ausência absoluta (0%) ou manifestação exclusiva (100%) de certa variante
em determinado contexto; índice identificado como knockout).
De modo a obter valores capazes de informar a real influência dos fatores
controlados em conjunto, promove-se o tratamento dos dados segundo os pesos
relativos. Para que tais pesos possam ser gerados, torna-se imprescindível nova
constituição do arquivo de células sem os contextos categóricos. Assim, realiza-se a
recodificação dos fatores da variável independente para a eliminação dos domínios de
Knockouts, segundo alguns procedimentos, tais como: desconsideração dos fatores
categóricos na leitura da próxima rodada (“não se aplica”), exclusão dos dados
categóricos do arquivo de dados (“exclude”), ou amalgamação de fatores, de modo a
eliminar os knockouts.
A respeito do processo de amalgamação, salienta-se que tal recurso pode ser
efetuado não para dar fim aos dados categóricos como se afirmou, mas também
para compactar fatores que apresentam características semelhantes por meio de
combinações entre si. Essa medida colabora para que as percentagens do novo arquivo
de células se tornem mais consistentes para a obtenção dos pesos relativos.
46
O peso relativo constitui o valor de aplicação da variante analisada em relação a determinado fator em
função da ponderação conjunta de todos os fatores sob análise. Em outras palavras, projeta-se a
probabilidade de ocorrência da variante em um dado contexto, no confronto com todos os demais.
110
Guy & Zilles (2007), a propósito dos princípios que fundamentam a junção de
elementos, ressaltam que a decisão de amalgamar itens deve estar diretamente embasada
em justificativas de cunho teórico e quantitativo. No que tange ao caráter teórico, os
autores salientam que os fatores a serem amalgamados devem apresentar, entre si,
equivalências lingüísticas ou sociais. A propósito da justificativa quantitativa, os itens
amalgamados precisam revelar semelhanças quanto à quantidade percentual,
considerando, para tanto, a distribuição dos dados e as diferenças percentuais, por
exemplo.
Como forma de ilustrar o que os referidos autores pontuam, verifique-se que a
presente análise, preliminarmente, observa a freqüência percentual e absoluta de todos
os fatores das variáveis independentes, como, por exemplo, o grupo possível elemento
proclisador, que apresenta, dentre vários outros constituintes, as conjunções
coordenativas. Atestadas as semelhanças morfossintáticas de tais conjunções, o
processo de amalgamação entre elas torna-se justificado. Ademais, no que toca à
amalgamação de caráter quantitativo, promove-se, por vezes, a combinação entre os
fatores da variável distância entre um elemento proclisador e seqüência clítico
verbo/complexo verbal, que exibem raras ocorrências em alguns fatores inicialmente
planejados.
Tomadas as devidas decisões quanto ao procedimento de eliminação ou
amalgamação de dados, gera-se, então, o arquivo de células a partir do qual se
possibilita a análise multivariacional, ou seja, etapa na qual se obtêm os valores
referentes aos pesos relativos por meio da ponderação de todas as possíveis influências
sobre a variável dependente. Nesse momento, o programa computacional utilizado
promove a seleção dos grupos de fatores relevantes estatisticamente, com conseqüente
eliminação das variáveis não-significativas.
É oportuno salientar que, para a realização das rodadas multivariacionais, os
pesos relativos obtidos e apresentados na seção concernente aos resultados da análise
possuem como valor de aplicação a variante proclítica versus a posição enclítica, no que
respeita à ordem no âmbito das lexias verbais simples.
No domínio das estruturas verbais complexas, em razão dos exíguos números de
dados de colocação em complexos verbais com gerúndio e particípio conforme se verá
na apresentação dos resultados , não se efetua a análise multivariacional para a
obtenção dos pesos relativos. No caso das construções com infinitivo, embora haja um
número mais expressivo de dados, a opção de segmentar o conjunto de dados em
111
subamostras (início absoluto de oração; contextos com proclisadores canônicos e não-
canônicos, em conjunto ou separadamente) também gerou números de dados baixos por
fator controlado. Aliada ao fato de se tratar de uma variável dependente do tipo eneária,
que teria de ser transformada em binária (pré-LVC versus outras variantes), essa
distribuição rarefeita dos dados fez com que também se tomasse por opção
metodológica a análise exclusiva dos valores percentuais no caso das construções com
infinitivo.
A relevância das medidas adotadas justifica-se uma vez que se pretende, aqui,
averiguar as possíveis formas de seleção dos grupos de fatores proeminentes ao
fenômeno da ordem no PB e no PE dos séculos XIX e XX sem que se dê maior
privilégio a uma determinada variante em prejuízo das demais.
Diversos padrões de rodadas foram empreendidos durante a etapa referente ao
tratamento estatístico dos dados. A fim de fazer conhecer algumas dessas rodadas,
expõem-se, em anexo (Anexo 2), quadros que contemplam aquelas que se apresentaram
como as mais significativas para a compreensão da ordem em lexias verbais simples nas
duas variedades do Português dos séculos XIX e XX.
Convém registrar que, nas primeiras análises experimentadas, se procedeu à
investigação dos dados do PB e do PE, separando-se as amostras por culos tanto em
contextos de lexias verbais simples quanto em domínio de complexos verbais, tal como
se esquematiza: (i) PB século XIX; (ii) PB século XX; PE século XIX; PE
século XX. Devido à semelhança do evento da colocação em ambos os séculos de cada
variedade bem como a evidências observadas em estudo recente (Nunes, 2009), advoga-
se que o tratamento conjunto dos dois séculos se revela mais produtivo do que o
tratamento em separado. Assim, as análises procedentes daquelas preliminares
configuram-se do seguinte modo: (i) PB culos XIX e XX; (ii) PE séculos XIX e
XX.
Julgou-se necessário, ainda, quanto aos contextos estruturais em que figura o
pronome átono, o tratamento, em separado, de dados de início absoluto
47
e de registros
de proclisadores canônicos e/ou não-canônicos (nomeados, aqui, como demais
contextos) em lexias verbais simples e complexas. A constituição de subamostras ao
47
No que concerne aos contextos de início absoluto, constate-se que se considera, nesses domínios, a
posição do verbo em início absoluto de período (Ex.: Analisa-se o fenômeno variável.) assim como em
início de oração não coincidindo, necessariamente, com o locus inicial do período (Ex.: Ao promover o
estudo da ordem, espera-se contribuir com novas informações sobre o tema.)
112
longo do tratamento dos dados permitiu aferir o caráter categórico/semi-categórico de
alguns contextos e observar com mais precisão os efeitos dos fatores controlados.
No que toca especificamente ao tratamento da colocação em dados de estruturas
verbais complexas, destaque-se que a análise das perífrases considera a forma do verbo
principal como critério para o exame da ordem em três etapas, quais sejam: (i)
cliticização em lexias verbais complexas com gerúndio; (ii) cliticização em lexias
verbais complexas com particípio; (iii) cliticização em lexias verbais complexas com
infinitivo.
Mediante todas as rodadas realizadas, discriminam-se, na seqüência, as variáveis
cujos fatores, por vezes, foram amalgamados do modo que se avaliou como o mais
produtivo para o tratamento comparativo dos resultados alcançados:
Âmbito das Lexias Verbais Simples e Complexas
Grupo de fatores extralingüístico:
(a) Vozes do romance: por vezes se amalgamam dados de narradores de 1ª e
pessoas em face dos personagens.
Grupos de fatores lingüísticos:
(b) Natureza da oração: combinam-se orações subordinadas desenvolvidas e
estruturas clivadas, permanecendo as demais cláusulas sem amalgamação.
(c) Possível elemento proclisador do clítico: congregam-se (i) todos os domínios
de SN sujeito (nominal, pronome pessoal, pronome indefinido e pronome demonstrativo
em certas situações, separam-se os nominais dos pronominais); (ii) os advérbios
canônicos; (iii) os advérbios não-canônicos e com sufixo mente; (iv) as preposições (a,
em, de, para, por, sem por vezes, cria-se um grupo com os itens a, de, para; e outro
com em, por, sem); (v) as conjunções coordenativas (aditiva, alternativa, adversativa,
conclusiva, explicativa); (vi) os “elementos subordinativos” (conjunções subordinativas,
pronome relativo que, outros pronomes/advérbios relativos; conjunções integrantes que
e se, que em locução conjuntiva e em estruturas clivadas, palavra QU- interrogativa do
tipo pronominal e adverbial).
(d) Distância entre proclisador e seqüência clítico verbo/complexo verbal:
reúnem-se as distâncias (i) de zero a três sílabas; (ii) de quatro a dez sílabas; (iii) de oito
sílabas em diante.
113
(e) Tempo e modo das formas verbais/(semi-)verbais: agregam-se (i) os tempos
de presente e pretéritos (perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) do indicativo; (ii) os
futuros (do presente e do pretérito) do indicativo; (iii) todos os tempos do subjuntivo.
(f) Tipo de clítico pronominal: amalgamam-se (i) os pronomes referentes às
primeiras e segundas pessoas do singular e do plural (me, te, nos, vos); (ii) o pronome se
do tipo apassivador e indeterminador.
(g) Tonicidade das formas verbais (no âmbito das lexias verbais simples):
procede-se à junção quando se verificam dados de vocábulos proparoxítonos das
formas verbais paroxítonas e proparoxítonas.
(h) Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal
complexa (no âmbito das lexias verbais complexas): reúnem-se, por vezes, os
conectores de e que.
(i) Tipo de lexia verbal complexa (no âmbito das lexias verbais complexas):
congregam-se, em certos momentos, (i) locuções concebidas como temporais-
aspectuais, (ii) perífrases modais; (iii) estruturas com verbos de controle (volitivos ou
declarativos) de mesmo referente-sujeito.
Com o amparo de todos os esclarecimentos, aqui concedidos, contemplem-se os
resultados expostos na seqüência concernentes à análise dos dados da observação das
freqüências absolutas e percentuais para cada fator constituinte das variáveis
controladas até as rodadas multivariacionais (pesos relativos para as lexias verbais
simples) empreendidas.
114
5. EXPOSIÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS: OS RESULTADOS ALCANÇADOS
MEDIANTE EXAME DOS CORPORA
Por intermédio de todas as ponderações, até o momento, efetuadas, apresentam-
se, doravante, os efeitos da colocação pronominal no PB e no PE dos séculos XIX e XX
segundo os moldes da investigação sociolingüística.
É oportuno registrar que, neste capítulo, se promove, preliminarmente, a
apresentação da realidade dos corpora, discriminando-se o número total de casos de
ordenação dos clíticos em domínios de lexias verbais simples e complexas, a fim de
informar quais dos dados, efetivamente, são submetidos ao tratamento variacionista.
Em busca do conjugado “adequação descritiva e explicativa”, empreende-se a
apresentação dos resultados pela exibição, primeiramente, dos pormenores da ordem no
âmbito de sentenças integradas por uma única forma verbal, tecendo-se,
subseqüentemente, as particularidades da colocação no domínio de estruturas verbais
complexas. Reitere-se que o estudo do posicionamento dos átonos pronominais em
ambientes de lexias verbais complexas se instaura haja vista a consideração da forma
do verbo principal em três instâncias analíticas, quais sejam: posicionamento do
pronome em ambientes de complexos (i) gerundivos, (ii) participiais e (iii) com verbo
principal no infinitivo.
Conforme já salientado ao capítulo 4, buscando observar se PB e PE apresentam
padrões de normas distintas, opta-se pelo exame, em separado, dos dados provenientes
das variedades brasileira e européia, comparando-os sempre quando possível. No que
concerne ao tratamento diacrônico da ordem, consideram-se os valores absolutos,
percentuais e relativos das variantes atestadas nos séculos XIX e XX a um tempo,
visto que, tal como o pontuado na seção 4.5, a análise, ao contemplar ambos os séculos
em conjunto, se revela mais produtiva. Ademais, para maiores detalhes acerca da
influência do percurso temporal, controlam-se os grupos de fatores época/fase de
publicação dos romances eleitos e séculos investigados.
Além da análise interpretativa dos valores obtidos para o evento examinado nos
domínios de lexias verbais simples e complexas mediante as variáveis lingüísticas e
extralingüísticas, estabelecem-se, ainda, considerações sobre os casos de interpolação
constatados.
5.1 A ordem em ambientes de lexias verbais simples: a realidade dos corpora
115
No conjunto de 3478 dados de colocação pronominal distribuídos pelos
domínios em exame (cf. quadro 2 da seção 4.2), 2965 casos (1427 para PB e 1538 para
PE) correspondem à ordenação de clíticos em ambientes nos quais os clíticos se
apresentam na adjacência de um único hospedeiro verbal, conforme o esquematizado:
Contemple-se, a seguir, a distribuição dos dados pelos fatores da variável
dependente no domínio de lexias verbais simples.
Tome-se, primeiramente, a exposição das freqüências absolutas e percentuais
das variantes observadas na amostra do Português do Brasil:
48
A totalidade dos dados de LVS contabilizados tanto no PB quanto no PE representa o número de
registros de colocação em todos os contextos, isto é, em domínios nos quais se considera a ordem
pronominal em ambientes de início absoluto de oração/período bem como de proclisadores canônicos e
não-canônicos. Contabilizam-se, no mputo dos valores dessa esquematização, os casos de mesóclise,
variante essa que, conforme se esclarecerá, não se contempla no tratamento quantitativo.
Número total de dados: 3478
Número total de LVS: 2965
Total
48
de LVS no PB: 1427 dados
[Século XIX: 587 Século XX: 840]
Total de LVS no PE: 1538 dados
[Século XIX: 559 Século XX: 979]
Dados em Início Absoluto: 335;
Dados nos demais contextos (somente com
proclisadores canônicos e não-canônicos sem os
chamados inícios absolutos de período e oração):
1092:
em domínio de proclisadores
canônicos: 514;
em domínio de proclisadores não-
canônicos: 578.
Dados em Início Absoluto: 424;
Dados nos demais contextos (somente com
proclisadores canônicos e não-canônicos sem os
chamados inícios absolutos de período e oração):
1114:
em domínio de proclisadores
canônicos: 576;
em domínio de proclisadores não-
canônicos: 538.
116
Tabela 1: Distribuição geral das variantes no PB dos séculos XIX e XX em todos os contextos de LVS
Tabela 2: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais
contextos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX
Tabela 3: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores
canônicos e não-canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX
Cumpre esclarecer que os índices expostos na seqüência de tabelas apresentadas
serão pormenorizados na seção em que, efetivamente, se analisam os resultados da
ordem em lexias verbais simples. Por ora, pontue-se que, pelos escassos números de
casos da mesóclise no PB dos séculos XIX e XX, tal variante não é contemplada na
análise quantitativa multivariacional. Entretanto, exibem-se suas particularidades na
próxima subseção.
No que concerne à realidade distribucional das variantes no âmbito do Português
Europeu, acompanhem-se os quadros:
Todos os contextos
[Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos]
1427 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
704 dados
49%
8 dados
1%
715 dados
50%
Distribuição detalhada dos 1427 dados do PB pelos contextos investigados
Início Absoluto
Demais contextos
[Proclisadores Canônicos / Proclisadores Não-
canônicos]
335 dados
1092 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
6%
21 dados
3%
8 dados
91%
306 dados
63%
683 dados
0%
0 dado
37%
409 dados
Demais contextos
Proclisadores Canônicos
Proclisadores Não-canônicos
514 dados
578 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
485 dados
94%
0 dado
0%
29 dados
6%
198 dados
34%
0 dado
0%
380 dados
66%
117
Tabela 4: Distribuição geral das variantes no PE dos séculos XIX e XX em todos os contextos de LVS
Tabela 5: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a
partir de dados do PE dos séculos XIX e XX
Tabela 6: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-
canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX
Tal como se procede com os dados do PB, elucidam-se os valores concernentes
ao PE na próxima seção, salientando-se, igualmente, que os ínfimos registros da
variante mesoclítica não são submetidos ao tratamento quantitativo.
5.1.1 A colocação pronominal em domínio de Lexias Verbais Simples
49
As percentagens que, por vezes, se apresentarem com casas decimais representam uma necessidade de
expor valores que, quando somados, resultem na totalidade de 100 pontos percentuais.
Todos os contextos
[Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos]
1538 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
723 dados
47%
7 dados
1%
808 dados
52%
Distribuição detalhada dos 1538 dados do PE pelos contextos investigados
Início Absoluto
Demais contextos
[Proclisadores Canônicos / Proclisadores Não-
canônicos]
424 dados
1114 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
1 dado
0,5%
49
6 dados
1,5%
417 dados
98%
721 dados
64,9%
1dado
0,1%
392 dados
35%
Demais contextos
Proclisadores Canônicos
Proclisadores Não-canônicos
576 dados
538 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
572 dados
99%
0 dado
0%
4 dados
1%
149 dados
27,8%
1 dado
0,2%
388 dados
72%
118
Empreende-se, nesta seção, a exposição dos resultados obtidos a partir da análise
variacionista de 2965 dados (1427 casos para o PB e 1538 ocorrências para o PE) de
colocação pronominal no âmbito das Lexias Verbais Simples.
Com base em outros estudos do fenômeno, propõe-se que o tratamento destinado
à ordem dos pronomes átonos em domínio de um único item verbal deva ser realizado
mediante a observação dos seguintes contextos: (i) início absoluto de oração; (ii)
ambientes constituídos de operadores de próclise denominados, aqui, de proclisadores
concebidos pela tradição gramatical como fatores inequívocos de atração do clítico; e
(iii) ambientes constituídos de proclisadores não-canônicos, aqueles que não se arrolam
usualmente entre os índices de próclise considerados nos compêndios normativos.
Julga-se que a análise em separado dos ambientes citados lance luz às constatações que
se pretendem apresentar, especialmente quanto ao estabelecimento das normas de uso
literárias em comparação às normas idealizadas como padrão culto na tradição
gramatical.
Com a finalidade de garantir maiores esclarecimentos quanto à distribuição dos
dados pelos contextos investigados, leia-se a tabela que se segue:
Tabela 7: Distribuição do número total de dados no âmbito das LVS, no PB e no PE dos séculos XIX e
XX, em todos os contextos
Conforme se verifica pela disposição dos fatores da variável dependente os
quais, anteriormente, foram discriminados na seção 4.3.1 (próclise: aqui se investiga a
ordem pronominal; mesóclise: Investigar-se a ordem pronominal; e ênclise: Investiga-se a
ordem pronominal) , os casos de colocação observados em todos os contextos revelam
uma distribuição similar no que respeita a ambas as variedades, nas quais se aponta um
registro levemente superior para a ordem enclítica (50% e 52%, respectivamente para
PB e PE) seguida da proclítica (49% e 47%, de modo respectivo). A propósito da
colocação intraverbal, ateste-se a não expressividade de sua manifestação em 8 casos no
PB e em 7 dados no PE, todos a seguir apresentados:
Todos os contextos
[Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos]
Português do Brasil
Português Europeu
1427 dados
1538 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
49%
704 dados
1%
8 dados
50%
715 dados
47%
723 dados
1%
7 dados
52%
808 dados
119
Dados de mesóclise verificados no PB dos séculos XIX e XX
Ex
1
.:
- Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria: "Perdoai-me, perdoai-me,
senhora, eu não posso ser vosso esposo! Tomai a prenda que me deste..." [JMM-PB-
LVS-19]
Ex
2
.:
- Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria: "Perdoai-me, perdoai-me,
senhora, eu não posso ser vosso esposo! Tomai a prenda que me deste..." [JMM-PB-
LVS-19]
Ex
3
.:
Causar-lhe-ia riso a façanha desse camponês da Suíça, do qual se conta que por ordem
de um tirano teve de atravessar com uma flecha uma maçã colocada sobre a cabeça de seu
filho; Gonçalo teria atravessado um anel. [BG-PB-LVS-19]
Ex
4
.:
- Se é este o seu receio, eu o tranqüilizo... Assino, se você quiser, um papel de dívida,
comprometendo-me a dar a mesma recompensa, seja qual for o resultado no negócio...
Ora, imagine que nos venha daí um bolo de 600 contos... Dar-lhe-ia boa porção. [RP-PB-
LVS-29]
Ex
5
.:
Dir-se-ia que a natureza acabava de cobrir-se de lutuosos merinós, se não fosse o cetim
azulado do firmamento, e se não chovesse o riso das estrelas. [RP-PB-LVS-29]
Ex
6
.:
Fixar-se-iam muito longe, adotariam costumes diferentes. [GrR-PB-LVS-42]
Ex
7
.:
Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no
mato. [GrR-PB-LVS-42]
Ex
8
.:
Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos freqüentariam escolas, seriam
diferentes deles. [GrR-PB-LVS-42]
Dados de mesóclise verificados no PE dos séculos XIX e XX
Ex
9
.:
- Não digas mais! Tens razão, o vingar-se é o prazer supremo de um réprobo! Não
aceitei dela a liberdade: aceitá-la-ei de ti... Depois... depois, Deus se compadeça de
mim. [AH-PE-LVS-19]
Ex
10
.:
Pensas tu que, se a cabeça me corresse algum risco, eu a exporia por te salvar? Oh que
não! Também tenho a minha vingança, e quero folgar depois de a ver satisfeita. Deixar-
me-ão aqui; porque o Conde de Trava não voltará esta noite; e amanhã... oh, amanhã...
Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que há de vir. [AH-PE-LVS-19]
Ex
11
.:
Dir-se-ia que, no fundo da sua memória, a lembrança adormecida daquele nome
despertara subitamente... [TC-PE-LVS-29]
Ex
12
.:
- Dominá-los-emos pela ignorância. [RB-PE-LVS-32]
Ex
13
.:
O povo julgava-os noivos, porque a espécie de esotérico entendimento que havia entre
ambos parecer-lhe-ia, de outro modo, uma pantomina. [ABL-PE-LVS-42]
Ex
14
.:
[...] se ela jamais tivesse pretendido explorar o paralelo entre a sua força estuante e
poderosa e a incapacidade, ou aquém, de todos os outros, ter-se-ia verdadeiramente
ultrapassagem, seria como um meteoro que, liberto das leis que o encadeiam numa
120
restrição de espaço e de tempo, se lança na aventura eterna do infinito. [ABL-PE-LVS-42]
Ex
15
.:
Penso: comigo já morto, desaparecido, reconquistado o teu amor, morto também o
rival, estas estrelas e esta flor obrigar-te-ão a pensar em mim? [AAb-PE-LVS-52]
Consoante os exemplos arrolados, certifique-se de que, dos contextos em que a
mesóclise é constatada, 11 casos
50
ocorrem com itens verbais no futuro do pretérito do
indicativo, enquanto 4 ocorrências, todas verificadas no PE, se encontram em verbos
flexionados no futuro do presente do indicativo, tempos verbais aos quais a
manifestação da variante mesoclítica se restringe.
Considere-se, ainda, que a maioria dos registros de mesóclise, salvo os exemplos
2, do PB no qual o verbo inicia uma oração antecedida de outra em período composto
por coordenação , 13 e 15, do PE nos quais os verbos se encontram precedidos de SN
Sujeito , se apresenta em início absoluto de oração (embora não necessariamente em
início absoluto de período, como em Ex
14
).
No que respeita ao padrão normativo-gramatical, cumpre sinalizar que os
escritores responsáveis por tais realizações não possuíam outra opção de ordem, haja
vista que o uso da ênclise infringiria as limitações morfológicas referentes ao tempo
verbal e a realização de próclise não corresponderia às prescrições quanto à
manifestação dessa variante em face de um proclisador não-canônico.
No caso do PB, é oportuno observar que praticamente todos os registros se
exibem em início absoluto de período, ambiente concebido como inibidor potencial da
ordem proclítica. No que concerne ao PE, verifica-se, em 3 dos 7 casos, que ocorre a
mesóclise tanto em contexto inicial de período quanto em posição inicial de oração,
além do contexto antecedido de sujeito. Embora os parcos casos da variante intraverbal
não permitam generalizações, a diferença detectada entre PB e PE sugere que a variante
mesoclítica apareça em maior variedade de contextos no PE, sendo uma opção mais
natural na escrita literária européia do que na brasileira. No Brasil, tem-se por hipótese
que a manifestação do pronome interposto à forma verbal iniciando períodos se procede
em virtude de um suposto cumprimento a uma tradição discursiva ou de um
atendimento aos postulados preconizados pela Lei de Tobler-Mussafia, conforme o
salientado na seção referente à Fundamentação Teórica.
50
Tomem-se, dentre os escritores em cujas obras se atestam dados de colocação intraverbal, os autores
brasileiros Joaquim Manuel de Macedo (fase 1 2 dados), Bernardo Guimarães (fase 1 1 dado), Raul
Pompéia (fase 2 2 dados), Graciliano Ramos (fase 4 3 dados), bem como os europeus Alexandre
Herculano(fase 1 2 dados), Trindade Coelho (fase 2 1 dado), Raul Brandão (fase 3 1 dado),
Augustina Bessa Luís (fase 4 2 dados) e Augusto Abelaira (fase 5 1 dado).
121
Ainda em relação à mesóclise, costuma-se postular que a escassez dessa variante
estaria relacionada à baixa produtividade de contextos com as formas do futuro simples,
dada a suposta preferência pelas construções de futuro perifrástico do tipo ir +
infinitivo. Tendo sido levantados os dados de futuro simples do indicativo nos corpora
investigados, contabilizam-se, no PB, 21 ocorrências que apresentam contexto indicado
para a colocação intraverbal domínio de futuros do indicativo em que não se observam
proclisadores canônicos ; desses 21 casos, a próclise se registra em 16 ocorrências,
traduzidas em 76 pontos percentuais. A fim de exemplificar um registro de próclise em
ambiente que, possivelmente, potencializaria a ordem intraverbal, examine-se o seguinte
contexto de início de oração:
Ex
16
.:
Se eu fosse pedir o que pagam na cidade, me chamariam de ladrão. [JLR-PB-LVS-42]
No que concerne ao PE, dos 10 contextos potenciais para a manifestação da
variante mesoclítica, 7 acusam a realização de mesóclise, o que corresponde a 70%.
Como ilustração de um dos contextos propícios tradicionalmente à mesóclise (presença
de proclisador não-canônico), mas em que, no entanto, se opta pela próclise, eis o dado:
Ex
17
.:
- Maria, adeus disse ele em voz abafada e surda Em breve nos veremos na
eternidade; lá saberei a verdade. [ArG-PE-LVS-19]
Considerados exclusivamente os contextos restritos à manifestação da posição
intraverbal, verifica-se que a colocação mesoclítica ainda se constitui como primeira
opção de ordem pronominal na escrita literária européia do período investigado. Embora
os dados sejam exíguos, cabe observar que se registrou um número maior de casos no
PB do século XIX (5/8 registros) e no PE do século XX (4/7 ocorrências).
Cumpre esclarecer que somente uma investigação específica acerca da variante
mesoclítica em corpora diversificados conjugando, possivelmente, preceitos teóricos
que abarquem as noções de gênero textual bem como de tradição discursiva e
procedendo ao levantamento de toda a expressão temporal do futuro permitirá atestar
a produtividade de tal colocação em ambas as variedades do Português no decurso do
tempo.
Estabelecidas as considerações acerca da variante intraverbal, prossegue-se ao
detalhamento da distribuição total dos dados pelos demais contextos examinados, a
começar pelo PB:
122
Tabela 8: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a
partir de dados do PB dos séculos XIX e XX
Note-se, pela tabela indicada, que os domínios integrados por proclisadores
canônicos e não-canônicos demais contextos excedem, em número considerável, os
ambientes de início absoluto, no PB.
Verifique-se que, em posição inicial de período/oração, a variante enclítica se
revela de modo expressivo (91%), conforme o recomendado pelas prescrições da
tradição gramatical de não se encetar cláusula com pronome oblíquo átono. O que
denota curiosidade, a fortiori, são as ocorrências de próclise em tais contextos (6%), que
se exemplificam a seguir:
Ex
18
.:
- Me disseram; eu não quis avistar. [GR-PB-LVS-42]
Ex
19
.:
- Me concebo. O senhor não é como eu? [GR-PB-LVS-42]
Ex
20
.:
- Ouço um motor pesado passando próximo. Se afasta. [LFT-PB-LVS-52]
Ex
21
.:
E se uma voz meio velada me chamar no telefone, voz de homem que prefere não deixar
o nome. Me vejo de perfil no espelho esfumaçado. [LFT-PB-LVS-52]
Ex
22
.:
- Se escondeu atrás da igreja, olhe! [RQ-PB-LVS-32]
Ex
23
.:
- Me declare tudo, franco é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso
por estúrdio que me vejam é de minha certa importância. [GR-PB-LVS-42]
Ex
24
.:
- Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. [GR-PB-LVS-42]
Ex
25
.:
- Nunca se sabe quem bate à nossa porta. Quando se é o homem mais rico das
redondezas, mais vale se prevenir. [NP-PB-LVS-52]
51
É oportuno salientar que os autores brasileiros realizadores da variante proclítica
em contexto de início de período/oração são os seguintes: Rachel de Queiroz (fase 3 1
dado), Dinah Silveira de Queiroz (fase 4 2 dados), José Lins do Rego (fase 4 3
51
Este exemplo destoa dos demais em função da não-coincidência entre início de oração e início de
período.
Distribuição detalhada dos 1427 dados do PB pelos contextos investigados
Início Absoluto
Demais contextos
[Proclisadores canônicos / Proclisadores não-
canônicos]
335 dados
1092 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
6%
21 dados
3%
8 dados
91%
306 dados
63%
683 dados
0%
0 dado
37%
409 dados
123
dados), Guimarães Rosa (fase 4 10 dados), Nélida Piñon (fase 5 1 dado) e Lygia
Fagundes Telles (Fase 5 4 dados). A lista desses autores permite constatar que tais
dados ocorrem em textos de escritores do século XX, especialmente na obra de
Guimarães Rosa, em que imperam falas de personagem.
A propósito dos registros de próclise em posição inicial absoluta, leiam-se as
seguintes palavras de Martins (2009: 168), em sua tese de doutoramento:
Um aspecto interessante da variação Vcl/clV [...], revelador da gramática do PB, como já
evidenciado em muitos estudos (cf. PAGOTTO, 1992; LOBO, 1992; ABAURRE;
GALVES, 1996; GALVES, 2001; CARNEIRO, 2005), é a próclise em orações com o
verbo em primeira posição absoluta (contextos V1).
O autor, ao determinar o caráter de ocorrência categórica de ênclise na história
do Português em contexto de “primeira posição absoluta”, julga que a variante proclítica
em tal ambiente fortemente indicia uma característica particular do PB. A respeito da
colocação clV em tais contextos, lança mão de alguns estudos, tais como o de Galves,
Brito, Paixão de Sousa (2005) [GBPS, em Martins (2009)] bem como o de Carneiro
(2005)
52
, no propósito de examinar a evolução dos índices de freqüência de próclise em
orações integradas por formas verbais em primeira posição no decurso dos séculos XVI
a XX.
A fim de se promover um cotejo entre os números obtidos por GBPS (2005),
Carneiro (2005), Martins (2009) e os valores da presente investigação a respeito da
ordem proclítica em ambiente de início absoluto, observem-se as representações
gráficas que se seguem:
52
É oportuno pontuar que as investigações de GBPS (2005), Carneiro (2005) e Martins (2009)
promoveram, respectivamente, a observação de (i) textos escritos por portugueses nascidos entre 1542 e
1836, disponibilizados no banco de dados Tycho Brahe Parsed Corpus of Historical Portuguese; (ii)
Cartas Brasileiras mediante textos do século XIX, bem como (iii) peças teatrais compostas por autores
catarinenses e lisboetas nascidos entre os séculos XIX e XX. Faz-se saber que Martins (2009), para a
construção do gráfico que se expõe, contabilizou, somente, a realização de clV em textos da variedade
brasileira do Português. Convém informar que os percentuais de próclise na figura extraída de Martins
(2009) se distribuem pelos anos de nascimento dos autores analisados. No presente estudo, a variável
extralingüística responsável pelo controle do período temporal ancora-se na época de publicação das
obras contempladas.
124
O gráfico exposto, averiguado em Martins (2009: 181), permite ao autor
esclarecer que, no decorrer dos séculos analisados, a variante proclítica, em face de
verbos em posição inicial, não se constitui como um fenômeno constante nos textos
observados pelos estudiosos destacados na esquematização, manifestando-se, a partir do
século XIX, em algumas ocorrências, e alcançando maior expressividade apenas no
século XX.
Com base nos valores indicados, comparem-se, a seguir, os números de próclise
constatados em início absoluto de oração na análise aqui desenvolvida:
Figura 2: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PB dos
séculos XIX e XX
A linha gráfica representada testemunha índices nulos de próclise em início de
período/oração no decurso das fases do século XIX, tal como na análise de GBPS
Figura 1: A variante proclítica mediante verbos em posição inicial, com base no gráfico extraído de
Martins (2009: 181)
125
(2005). Verifique-se, pois, que as primeiras ocorrências da variante pré-verbal ocorrem
a partir da fase 3, isto é, início do século XX, atingindo 19% de manifestação no ínterim
de 1934 e 1966, com um decréscimo na fase 5, em que se registram 7% de tal
colocação.
O cotejo de todos os valores de próclise em contexto de verbo inicial observados
nos estudos confrontados permite postular que, até o século XIX, a variante proclítica
em início absoluto se faz ausente, assumindo, mesmo que sutilmente, alguns índices de
realização a partir do século XX.
Estabelecidas as considerações acerca da distribuição de próclise, mesóclise e
ênclise em ambiente de início absoluto de período/oração, retome-se a tabela 8, de
modo a reiterar as freqüências percentuais e absolutas das variantes em domínio dos
demais contextos no âmbito do PB.
Perceba-se que a colocação pronominal em face dos proclisadores canônicos e
não-canônicos apresenta maiores índices de produtividade para a ordem pré-verbal
(63%) comparados à ausência categórica (0%) do fator mesoclítico bem com aos baixos
percentuais de ênclise (37%). Os números permitem constatar que, de fato, os
proclisadores exercem, nos dados de lexias verbais simples do PB, potencialidade de
atração.
De modo a observar a manifestação dos fatores da variável dependente
discriminando-se, separadamente, os casos integrados por operadores de próclise
tradicionais dos registros que apresentam fatores de próclise não tradicionais,
acompanhe-se o quadro a seguir:
Tabela 9: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-
canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX
Os números exibidos permitem constatar que, consideravelmente, os
proclisadores concebidos pela prescrição gramatical como tradicionais motivam a
ocorrência do clítico à esquerda de seu hospedeiro verbal em 94% contra a marca de
34% da mesma variante em contexto de proclisadores não-canônicos. Torna-se, assim,
Demais contextos
Proclisadores Canônicos
Proclisadores Não-canônicos
514 dados
578 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
485 dados
94%
0 dado
0%
29 dados
6%
198 dados
34%
0 dado
0%
380 dados
66%
126
oportuno salientar a influência decisiva que os proclisadores tradicionais exercem na
manifestação da ordem pré-verbal.
Todavia, cumpre registrar que, mesmo em face dos fatores de próclise
canônicos, a ordem enclítica se procede em 6% (29/514 dados) dos casos, como no
contexto que, abaixo, se ilustra:
Ex
26
.:
Sua tia, D. Leocádia, que fazia-lhe agora as vezes de mãe, estava sentada à cabeceira.
[RP-PB-LVS-29]
Observe-se, também, que a próclise, mesmo diante de operadores não-
tradicionais, se revela em 34% (198/578 dados), tal como na exemplificação:
Ex
27
.:
Ao ouvir isto, o sorriso se transformou em desassombrada gargalhada. [DSQ-PB-LVS-42]
No que toca ao Português Europeu, compreenda-se a distribuição de 1538 dados
de ordem averiguados em todos os contextos (conforme se indica na tabela 7) pelos
domínios exibidos na seqüência:
Tabela 10: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a
partir de dados do PE dos séculos XIX e XX
Examinando, primeiramente, o caráter distribucional das variantes mediante os
inícios absolutos de período/oração, saliente-se o índice quase categórico de 98% de
ordem enclítica tal como o recomendado pela tradição gramatical. No entanto, convém
mencionar o único suposto caso de manifestação da próclise em posição inicial, agora
apresentado:
Ex
28
.:
Se sabe o que aconteceu [...] creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão na
Marinha, Morreu, Morreu. [JS-PE-LVS-52]
Primeiramente, ressalte-se o caráter excepcional da próclise no dado acima.
Quanto a essa ocorrência, resguarde-se o caráter dúbio do elemento se, uma vez que não
se tem total certeza quanto a sua classificação morfológica como possível conjunção
Distribuição detalhada dos 1538 dados do PE pelos seguintes contextos investigados
Início Absoluto
Demais contextos
[Proclisadores canônicos / Proclisadores não-
canônicos]
424 dados
1114 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
1 dado
0,5%
6 dados
1,5%
417 dados
98%
721 dados
64,9%
1dado
0,1%
392 dados
35%
127
condicional ou pronome átono. Na interpretação como pronome átono, compreende-se
tal item como partícula apassivadora pela razão de se considerar a oração “Se sabe o
que aconteceu” como coordenada assindética (seguida de uma sentença coordenada
explicativa sem a concretização da conjunção pois ou porque, por exemplo) em
construção passiva sintética equivalente à estrutura analítica “algo é sabido por
alguém”. Por esse motivo, a presente análise aponta a possibilidade de o Ex
28
ser
considerado como um caso em que se testemunha a presença de um clítico pronominal
em início de período.
Deve-se considerar, ainda, que a presença desse dado, o qual, além de único, é
duvidoso, não descaracteriza a proposta de que a manifestação da próclise em posição
inicial não é compatível com a variedade européia do Português. Vieira (2002), por
exemplo, não constata, também, casos da ordem proclítica em início de oração/período
em dados de domínio jornalístico. A título de descrição, a ocorrência ora observada
(Ex
28
) corresponde à realização proclítica em instância de fala de personagem tal
como o verificado nos dados do PB no que respeita aos registros colhidos do romance
de Guimarães Rosa averiguada nos escritos de José Saramago (fase 5).
Compare-se a figura abaixo com o padrão gráfico 2, referente à distribuição de
próclise no PB em posição inicial absoluta:
Figura 3: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PE dos
séculos XIX e XX
A visualização gráfica deixa evidente que os valores encontrados na amostra
brasileira, ainda que parcos (21 dados), são relevantes se comparados à única e duvidosa
ocorrência de clítico em início absoluto no PE.
A respeito da produtividade das variantes da ordem em lexias verbais simples do
PE pelos demais contextos, cujos valores se indicam na tabela 10, ateste-se que, assim
128
como no PB, a variedade européia permite verificar a atuação dos proclisadores
canônicos e não-canônicos, tomados em conjunto, de modo efetivo para a produtividade
da ordem pré-verbal (64,9%) em comparação aos números de ênclise (35%).
A fim de ponderar a potencialidade de atração em dados exclusivos de
proclisadores tradicionais bem como em casos de proclisadores não-tradicionais,
observem-se as freqüências:
Tabela 11: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-
canônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX
O Português Europeu demonstra a produtividade quase categórica de próclise
(99%) em contexto de operadores canônicos, tal como as prescrições gramaticais
recomendam. Em contrapartida, os índices de ênclise fazem-se majoritários mediante os
proclisadores não-canônicos. As constatações estabelecidas para o PE vão ao encontro
do que se observa para o PB nos mesmos domínios destacados: freqüência considerável
da ordenação pré-verbal em face de proclisadores tradicionais e maiores valores de
ênclise à vista dos o-tradicionais. A diferença entre as variedades reside na
intensidade da tendência verificada: no PE, o efeito proclisador de elementos canônicos
chega a quase 100% dos casos e o efeito dos elementos não canônicos é menor (27,8%)
do que no PB (34%).
Os dois exemplos destacados abaixo ilustram, todavia, a marca de 4 dados de
ênclise, mesmo em ambientes nos quais se espera a próclise, assim como o valor
absoluto de 149 dados de próclise em domínio de proclisadores não apontados pelos
padrões normativos como “atratores”, de modo respectivo:
Ex
29
.:
Porque o certo era que [...] o conde reconhecia-se um espectro... [AB-PE-LVS-32]
Ex
30
.:
Quase perdeu o equilíbrio ao saltar para o passeio, junto da paragem uma velhota refilou
de o ver esbaforido e desastrado. [FN-PE-LVS-52]
Observe-se que, no primeiro caso (Ex
29
), é provável que o efeito da distância
entre o elemento que e a estrutura clítico mais verbo tenha agido no sentido de atenuar o
efeito proclisador.
Demais contextos
Proclisadores Canônicos
Proclisadores Não-canônicos
576 dados
538 dados
Próclise
Mesóclise
Ênclise
Próclise
Mesóclise
Ênclise
572 dados
99%
0 dado
0%
4 dados
1%
149 dados
27,8%
1 dado
0,2%
388 dados
72%
129
No que respeita à próclise em contexto de elemento não-canônico, observe-se
que se trata de uma preposição, que, como se verá adiante, exerce efeito proclisador na
variedade européia.
No que tange ao caráter distribucional das variantes pela diacronia das fases
examinadas, contemplem-se, abaixo, as linhas gráficas que denotam a freqüência de
próclise, mesóclise e ênclise em todos os contextos, em domínio de início absoluto,
assim como em ambientes exclusivos de proclisadores canônicos e de proclisadores
não-canônicos, além dos demais contextos (proclisadores tradicionais e não-tradicionais
sem início absoluto).
Todos os contextos no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
Figura 4: Concretização das variantes em todos os contextos no âmbito das lexias verbais simples pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX
Perceba-se a nítida variação entre próclise e ênclise por todas as fases
contempladas, salientando-se a instabilidade de freqüência dessas variantes, uma vez
que as ordens pré-verbal e pós-verbal se alternam, quanto à produtividade de
manifestação, em cada fase controlada.
No que respeita ao PE, contemple-se o padrão gráfico:
130
Figura 5: Concretização das variantes em todos os contextos no âmbito das lexias verbais simples pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX
De modo parecido ao PB, registre-se a evidente competição entre as variantes
proclítica e enclítica, atentando-se para o fato de que, no PE, os índices não são tão
instáveis como o observado no PB, uma vez que nas fases 2, 3 e 4 os valores de próclise
e ênclise apresentam certa constância. Verifique-se que, somente no início do século
XIX (fase 1) e no fim do século XX (fase 5), os percentuais de próclise assumem
valores levemente superiores aos da ordem pós-verbal.
Acredita-se que os registros verificados no domínio de todos os dados tomados
em conjunto não podem ser seguramente avaliados, tendo em vista as possíveis
influências das estruturas constantes de cada fase, podendo tais construções possuir ou
não um elemento proclisador. Por essa razão, passa-se a observar a evolução do
comportamento da ordem em função das subamostras delimitadas segundo os contextos
estruturais.
Início absoluto no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
Figura 6: Concretização das variantes em início absoluto no âmbito das lexias verbais simples pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX
Contabilizem-se, em contexto de início absoluto, os índices consideráveis de
ênclise em todas as fases do PB, os quais alcançam quase a marca de 100%,
131
salientando-se que, na fase 4, os valores da ordem enclítica sofrem decréscimo
assumindo a freqüência de 80 pontos percentuais, à proporção em que se a elevação
da variante pré-verbal (20%), improdutiva em todos as outras fases. A mesóclise
mantém-se com baixíssimos índices em todo o período investigado.
Pelas observações estabelecidas, observe-se que o Português literário brasileiro
em contexto de verbo inicial atende, via de regra, às prescrições gramaticais.
A respeito do PE, contemple-se o padrão gráfico exposto:
Figura 7: Concretização das variantes em início absoluto no âmbito das lexias verbais simples pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX
Tal como o Português do Brasil, ressaltem-se os elevados registros de ênclise,
considerando que, no PE, tal variante se de modo extremamente produtivo em todas
as fases, enquanto a próclise demonstra ausência quase categórica, abaixo dos registros
de mesóclise.
Proclisadores canônicos
Figura 8: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos no âmbito das lexias
verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX
e XX
A variedade brasileira do Português apresenta altas freqüências de próclise
acima de 80%, sendo os valores quase categóricos nas fases 3 e 4. Na presença de
132
proclisadores canônicos, os discretos números de ênclise destacam-se um pouco mais no
intervalo de tempo entre 1867 e 1900 (fase 2).
No que se refere ao Português Europeu, acompanhe-se a evolução das linhas
gráficas:
Figura 9: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos no âmbito das lexias
verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e
XX
O presente gráfico da variedade européia reflete a evolução da próclise e da
ênclise de modo inversamente proporcional ao verificado nas linhas gráficas que
representavam o contexto de início absoluto de período/oração. Ressalte-se que, em
contextos de proclisadores canônicos, são os índices de próclise que ocorrem com quase
exclusividade (ora 99%, ora 100%), em vez dos registros quase categóricos da ordem
enclítica em contexto de início absoluto do PE.
Proclisadores não-canônicos
Figura 10: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos no âmbito das
lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos
XIX e XX
No domínio agora considerado, no âmbito da variedade brasileira, a variante
enclítica, com maior freqüência de manifestação, sobrepuja os valores das demais
133
colocações, ocorrendo de forma mais intensa na fase 2 (fim do século XIX). No entanto,
na segunda metade da fase 4, os índices de próclise são, levemente, superiores aos
registros da ordem pós-verbal.
No que tange ao PE, eis a ilustração:
Figura 11: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das
lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos
XIX e XX
Os índices de próclise e ênclise permanecem distantes ao longo das fases
examinadas, aproximando-se um pouco mais no início do século XIX (fase 1) e no fins
do século XX (fase 5).
Contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos
Figura 12: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no
âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros
dos séculos XIX e XX
Considerando-se os dados de colocação em contextos de proclisadores canônicos
e não-canônicos do PB em conjunto, constata-se que a variante proclítica se faz,
também, em maiores números do que as demais posições. Entretanto, tal colocação
sofre um declínio na segunda metade da fase 2, sendo levemente sobrepujada pela
ordem enclítica.
134
De modo a considerar a distribuição dos fatores da variável dependente na
amostra européia em ambiente dos possíveis operadores de próclise, tome-se,
preliminarmente, a esquematização que se segue:
Figura 13: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no
âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus
dos séculos XIX e XX
A ordenação proclítica, em todas as fases, mantém-se, em termos de freqüência,
mais produtiva do que as outras variantes, assumindo índices ainda maiores no início do
século XIX (fase 1) assim como no fim do século XX (fase 5).
Tomando-se por base todos os padrões gráficos acima representados segundo os
contextos em destaque, pontuem-se as seguintes constatações:
(i) Em grande parte dos domínios analisados, a variante mesoclítica permanece,
efetivamente, na marca categórica de 0%. Nos poucos momentos em que tal colocação
se deixa contabilizar, observe-se que sua manifestação não ultrapassa as marcas de 5% e
3% no PB e no PE, respectivamente, em ambiente de início absoluto, contexto em que
atinge seus maiores números de realização.
(ii) No que tange aos domínios de possíveis proclisadores, ressalte-se que a ordem
proclítica se manifesta quase exclusivamente, em ambas as variedades contempladas no
decurso dos séculos XIX e XX, diante de operadores de próclise concebidos como tais
pelo padrão gramatical. Esse fato sinaliza que os contextos de proclisadores tradicionais
atuam como inibidores do fenômeno variável dada a quase categoricidade de registro da
colocação pré-verbal, especialmente no PE.
(iii) Os contextos de início absoluto também se constituem como ambiente em que não
se pode vislumbrar o fenômeno variável, haja vista que a ordem enclítica sobrepuja os
índices das demais variantes, que permanecem próximas de zero ponto percentual no
135
PB e no PE dos séculos XIX e XX. Exceção a essa tendência se observa na fase 4 do
PB, em que a realização da próclise demonstra um certo aumento.
(iv) No que respeita aos domínios de todos os contextos, considerem-nos como
ambientes mais expressivos de manifestação da regra variável em todo o período
considerado.
(v) O condicionamento do evento de colocação em termos diacrônicos pode ser
sugerido pelo comportamento diferenciado do fenômeno em algumas fases controladas.
O debate acerca desse possível condicionamento é enriquecido pelo fato de a variável
época/fase de publicação das obras adotadas ter sido selecionada em ambas as
variedades, como se verá na próxima seção.
Uma vez estabelecidas as tendências brasileiras e européias gerais acerca da
ordem em lexias verbais simples nos diversos contextos, procede-se, na seqüência, à
apresentação dos efeitos dos grupos de fatores apontados pelo tratamento estatístico dos
dados como relevantes, considerando-se, somente, registros da ordem em ambientes em
que se contempla a interferência dos operadores canônicos e não-canônicos. Excetuam-
se, pois, os dados de início absoluto de período e/ou oração. Pontue-se, ainda, que,
conforme o constatado, a variante mesoclítica, pela razão dos escassos números de
dados e pelo fato de não ser concebida como fator que efetivamente compete com as
demais posições de modo variável, não se encontra contabilizada nos valores que, na
seção 5.1.1.1, se apresentam.
5.1.1.1 Grupos de fatores relevantes no condicionamento da próclise em LVS, no
âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX
Descrita a distribuição geral das variantes pelos contextos discriminados, bem
como pela diacronia das fases estipuladas nos séculos XIX e XX, pormenorizam-se, na
seqüência, os grupos de fatores apontados pela seleção do tratamento técnico-
computacional como variáveis relevantes à compreensão do fenômeno que, nesta
investigação, se pondera.
Por intermédio do quadro exposto, apresentam-se os grupos salientes à
ocorrência do evento variável em ordem de seleção para o condicionamento da próclise.
136
Variáveis relevantes no âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX
53
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Próclise como valor de aplicação
Significância: 0.01
Input: 0.783
Próclise como valor de aplicação
Significância: 0.03
Input: 0.826
-
Possível elemento proclisador
-
Possível elemento proclisador
-
Época/fase de publicação das obras adotadas
-
Época/fase de publicação das obras adotadas
-
Tipo de clítico pronominal
-
Natureza da oração
-
Tempo e modo das formas verbais
-
Tipo de clítico pronominal
-
Tonicidade dos itens verbais
-
Tempo e modo das formas verbais
Quadro 5: Variáveis selecionadas quanto ao evento da ordem em LVS no PB e no PE dos séculos XIX e
XX
O quadro acima permite observar que PB e PE demonstram, quase sempre, as
mesmas variáveis relevantes (apresentadas, por vezes, na mesma ordem de seleção ou
em posição distinta), salvo os grupos tonicidade das formas verbais (para o Português
do Brasil) e natureza da oração (para o Português Europeu).
Foram descartadas, nas duas variedades lingüísticas, as seguintes variáveis: de
caráter extralingüístico, vozes do romance, autores contemplados, gênero/sexo dos
autores, séculos investigados; e no âmbito lingüístico, distância entre possível elemento
proclisador e seqüência constituída de clítico e verbo.
54
Feitos tais esclarecimentos, acompanhem-se, na seqüência, os efeitos das
variáveis no condicionamento da próclise verificados.
5.1.1.1.1 Variável de cunho extralingüístico
Reitere-se que ambas as variedades do Português sinalizam, em segundo lugar
na ordem de seleção, o grupo época/fase de publicação das obras adotadas como
variável independente de natureza extralingüística decisiva à instauração da regra
variável.
Haja vista que as devidas considerações acerca do caráter diacrônico da
distribuição percentual das variantes foram anteriormente estabelecidas em face dos
contextos discriminados, compreendam-se, a seguir, os percentuais associados aos pesos
53
A listagem das variáveis relevantes ora apresentada foi construída a partir da sistematização das
diversas rodadas executadas. Para observação da seleção das variáveis em cada análise multivariacional,
reitere-se que se expõe, no Anexo 2, o quadro relativo à seleção de grupos de fatores nas rodadas mais
importantes do PB e do PE dos séculos XIX e XX.
54
Para o conhecimento da distribuição de dados da variável dependente pelos fatores dos grupos
descartados, consultar o Anexo 3.
137
relativos observados para cada variedade examinada em domínio de proclisadores
canônicos e não-canônicos.
Constatem-se, na tabela abaixo, os valores que se seguem:
Época/fase de publicação das obras adotadas em dados de Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Fase 1
[1834 1866]
70%
171/245
30%
74/245
73%
163/222
27%
59/222
Fase 2
[1867 1900]
47%
104/222
53%
118/222
54%
100/186
46%
86/186
Fase 3
[1901 1933]
60%
126/209
40%
83/209
60%
111/186
40%
75/186
Fase 4
[1934 1966]
77%
161/210
23%
49/210
58%
134/233
42%
99/233
Fase 5
[1967 2000]
59%
121/206
41%
85/206
75%
213/286
25%
73/286
Tabela 12: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo o grupo de fatores época/fase de publicação das obras adotadas, em referência
ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples
Os números discriminados permitem observar que, em ambas as variedades, os
índices de próclise se manifestam com expressividade em comparação às freqüências
percentuais e absolutas da variante enclítica.
No que concerne, particularmente, ao PB, a ocorrência da ordem pré-verbal
realiza-se majoritariamente a partir de 59%, em todas as fases investigadas, salvo no
segundo intervalo de tempo referente ao século XIX, cujos valores de próclise (47%) se
exibem em números inferiores à colocação enclítica (53%). A propósito da fase 4,
contabilize-se a maior produtividade da ordem pré-verbal com a marca de 77 pontos
percentuais. No que tange à variedade européia do idioma, assim como no PB, as
percentagens de ocorrência do pronome à esquerda de seu hospedeiro verbal
sobrepujam os registros de ênclise. Note-se que a próclise se constitui como primeira
opção de ordem em todos os períodos destacados a partir de 54%, alcançando sua maior
produtividade (75%) no fim do século XX (fase 5).
138
A fim de se estabelecer um cotejo contemplando a freqüência da variante
proclítica por cada época examinada, em ambas as variedades, pontue-se que o
Português Europeu denota ser o padrão em que os registros de próclise se manifestam
com mais freqüência na presença de possíveis proclisadores em comparação ao
Português do Brasil. Em todas as fases observadas, os valores absolutos e percentuais
dessa variante no corpus europeu se dão em maiores números do que na amostra
brasileira, com exceção da fase 4, a qual, conforme já se pontuou, registra maior
realização de próclise (77%) no PB. Saliente-se, também, que PB (60%) e PE (60%) se
equiparam em termos de realização da variante pré-verbal no decurso dos primeiros
anos do século XX (fase 3 1901 a 1933).
À vista de tais ponderações estabelecidas mediante as porcentagens,
contemplem-se os valores relativos advindos do exame multivariacional, observando-se,
primeiramente, o padrão gráfico concernente ao PB e, posteriormente, a representação
referente ao PE.
Figura 14: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PB dos séculos XIX e XX
Confirmando a diferença de comportamento verificada com os índices
percentuais, certifique-se de que a fase 4, efetivamente, representa o intervalo de tempo
que favorece a ordem proclítica (.76), ao contrário do que ocorre na fase 2, que a
desfavorece (.18). A propósito das demais fases especialmente a 1 , verifica-se
comportamento próximo ao da neutralidade no condicionamento da próclise segundo os
139
valores relativos. As fases 3 e 5 assumem, igualmente (.55), leve favorecimento à
variante tida como valor de aplicação.
No que tange ao PE, acompanhe-se a esquematização:
Figura 15: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PE dos séculos XIX e XX
O gráfico exposto acima permite constatar que a fase 1, em primeira instância, e
a fase 5, em segunda, constituem contextos de favorecimento da próclise, assim como
os percentuais obtidos sugerem. No que respeita aos demais períodos, a ponderação
estatística sinaliza que as fases 2, 3 e 4 não favorecem a ordem pré-verbal, tendo
registrado índices relativos abaixo da marca de .50.
Pelas constatações pontuadas, ateste-se que a variedade brasileira do Português
denota uma tendência considerável de próclise na fase 4, em primeira ordem, e de
ênclise na fase 2. Acerca do PE, os intervalos de tempo representados pelas fases 1 (.59)
e 5 (.58) corroboram o favorecimento desses períodos à ocorrência da variante
proclítica.
5.1.1.1.2 Variáveis de cunho lingüístico
Discriminam-se, doravante, os grupos de fatores de natureza interna concebidos
como relevantes no condicionamento da próclise.
a) Grupos de fatores relevantes para as amostras brasileira e européia:
(i) Possível elemento proclisador
140
De modo a tecer as devidas observações a propósito da atuação dos
proclisadores de caráter canônico e não-canônico, considere-se a tabela subseqüente, em
que se apresentam os elementos amalgamados consoante as decisões informadas no
capítulo referente à metodologia
55
.:
Presença de possível elemento proclisador em dados de Lexias Verbais Simples
(fatores amalgamados)
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
SN sujeito nominal
39%
110/281
61%
171/281
17%
37/219
83%
182/219
Conjunções coordenativas
30%
34/115
70%
81/115
13%
13/103
87%
90/103
Adv canônicos [aqui, cá, já, lá]
e Operadores de foco [Ex.:
apenas, só, também (inclusão), até,
mesmo, ainda]
93%
64/69
7%
5/69
100%
96/96
0%
0/96
Adv não-canônicos [sempre,
depois, talvez, agora] e Adv em
-mente
40%
8/20
60%
12/20
30%
9/30
70%
21/30
Loc. adverbiais
30%
14/47
70%
33/47
29%
15/52
71%
37/52
Preposições
25%
25/101
75%
76/101
58%
68/117
42%
49/117
Vocábulos de negação
97%
91/94
3%
3/94
100%
105/105
0%
105/105
Elementos subordinativos
94%
330/351
6%
21/351
99%
371/375
1%
4/375
Tabela 13: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável presença de um possível elemento
proclisador: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples
Contemplando-se a atuação dos elementos proclisadores de cunho canônico e
não-canônico, registre-se que aqueles (como, por exemplo, os vocábulos de negação, os
elementos subordinativos e os advérbios canônicos / operadores de foco), de fato, se
revelam decisivos ao favorecimento da posição pré-verbal nas variedades brasileira e
européia do Português. Registre-se que, no âmbito do PE, as preposições, uma vez
consideradas em conjunto, parecem ser, em certa medida, motivadoras da variante
proclítica.
55
No Anexo 4, exibem-se as tabelas com a distribuição percentual e absoluta das variantes por cada fator
constituinte das variáveis em destaque no presente capítulo, antes da amalgamação de fatores.
141
No que se refere ao PB, os números exibidos permitem constatar que,
efetivamente, os vocábulos de negação (97%), os elementos subordinativos (94%) e os
advérbios canônicos / operadores de foco (93%) integram as três primeiras instâncias de
“atração” do clítico tal como o prescrito pela tradição gramatical. Perceba-se, pois, que
os demais fatores analisados corroboram seu status de operadores de próclise não-
canônicos pelo motivo de não serem decisivos no deslocamento do clítico para a
esquerda do item verbal.
Os pesos relativos, que se apresentam a seguir, legitimam as tendências
apontadas:
Figura 16: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PB dos séculos XIX e XX
Os elementos, pouco considerados como fatores de maior potencialidade na
atração do clítico pronominal, apresentam-se como favorecedores inquestionáveis da
posição proclítica. Destaque-se, também, que os índices de próclise atribuídos aos SN
sujeitos do tipo pronome pessoal, indefinido e demonstrativo ao contrário dos sujeitos
nominais revelam, ainda que de modo discreto (.56) em cotejo com os fatores mais
potenciais, certa participação no favorecimento à variante pré-verbal. Os demais
elementos dentre os quais as preposições “a”, “de”, “para” alcançam índice
aproximado ao ponto neutro desfavorecem a próclise.
No que respeita ao PE, pontue-se que, assim como o observado no Português do
Brasil, todavia com índices mais altos, os vocábulos de negação (100%), os advérbios
canônicos/operadores de foco (100%) e os elementos subordinativos (99%),
142
inquestionavelmente, se constituem como contexto de freqüência (quase) categórica da
colocação proclítica, consoante se atesta uma vez mais
56
:
Figura 17: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PE dos séculos XIX e XX
Cumpre ressaltar a expressividade das preposições que, concebidas pela
prescrição como fatores que não exercem potencialidade de “atração” do clítico
pronominal, se dão a perceber como elementos proeminentes (.70) à manifestação da
ordem pré-verbal.
A propósito dos itens prepositivos, contemplem-se as palavras de Mateus et alii
(2003: 854) transcritas:
Os complementadores simples e complexos, i.e., seleccionados por uma preposição ou um
advérbio ou que resultam de reanálise, são igualmente palavras funcionais indutoras de
próclise, como se pode ver através do contraste (24) e (25):
(24) [...] O Pedro pediu à Maria para lhe telefonar logo.
(25) [...] *O Pedro pediu à Maria para telefonar-lhe logo.
De modo geral, fica estabelecido o claro condicionamento da variável presença
de possível elemento proclisador em relação à próclise. Via de regra, esse
condicionamento é mais efetivo na variedade européia do que na brasileira. Consoante o
exame da influência dos vários proclisadores canônicos e não-canônicos sobre o evento
da ordenação pronominal, verifica-se que a escrita literária tende a concretizar a
variante pré-verbal mais especificamente nos contextos com proclisadores canônicos.
56
Esclarece-se que a presente representação gráfica discrimina valores referentes aos pesos obtidos na
análise multivariacional. Para efeito de melhor comparação, acrescentam-se as barras gráficas
concernentes aos índices percentuais categóricos (100%).
143
As preposições, ao que parece, atuam, em boa parte das ocorrências, como elemento
proclisador típico da norma de uso literária.
(ii) Tipo de clítico pronominal
Para exame do efeito da presente variável, torna-se imprescindível a análise das
freqüências expostas:
Tipo de clítico em dados de Lexias Verbais Simples
(fatores amalgamados)
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Me, te, nos, vos
89%
146/164
11%
18/164
79%
153/194
21%
41/194
Se reflexivo / inerente
54%
206/380
46%
174/380
55%
213/389
45%
176/389
Se indeterminador /
apassivador
70%
67/96
30%
29/96
79%
83/105
21%
22/105
O, a, os, as
60%
136/227
40%
91/227
62%
150/242
38%
92/242
Lhe, lhes
58%
126/219
42%
93/219
67%
116/173
33%
57/173
Tabela 14: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos
séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples
No que respeita aos clíticos pronominais, perceba-se que todos os pronomes
considerados se apresentam com maior freqüência de próclise em ambas as variedades
(salvo as formas contraídas no PB, que registraram mais ênclise e foram excluídas da
tabela acima, por apresentarem número incipiente de dados). Todavia, é oportuno
constatar que os índices de produtividade da próclise em referência a cada pronome não
ocorrem de modo semelhante. Observe-se que os clíticos concernentes às primeiras e
segundas pessoas discursivas bem como o se do tipo apassivador e indeterminador se
constituem como os fatores de maior realização de próclise em ambas as variedades.
Comparem-se, pois, as percentagens acima e os pesos relativos que, na
seqüência, se indicam para o PB:
144
Figura 18: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PB dos séculos XIX e XX
Note-se que os valores percentuais obtidos para os clíticos de primeira e segunda
pessoas discursivas do singular e do plural se confirmam mediante os pesos relativos
observados no PB, fato que corrobora a hipótese de que, por motivo de focalização, tais
pronomes tendem a favorecer o posicionamento proclítico por identificarem as vozes do
locutor bem como do interlocutor quando em situação dialogal. Verifique-se que as
marcas probabilísticas revelam que os acusativos assumem a segunda posição de maior
favorecimento da variante proclítica nos contextos com elementos proclisadores. Os
demais átonos comportam-se com valores abaixo de .50, não se constituindo, por isso,
como relevantes no condicionamento da ordem pré-verbal.
No que tange ao PE, eis as marcas:
Figura 19: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PE dos séculos XIX e XX
145
Assim como se atesta no PB, os pronomes me, te, nos, vos, igualmente,
constituem, no PE, contexto de maior favorecimento de próclise seguidos de se
apassivador/indeterminador. Os outros clíticos pronominais revelam-se
desfavorecedores da variante pré-verbal.
(iii) Tempo e modo das formas verbais
Apreciem-se, preliminarmente, as freqüências da ordem em face da variável
tempo e modo das formas verbais segundo os seguintes fatores amalgamados:
Tempo e modo das formas verbais em dados de Lexias Verbais Simples
(fatores amalgamados)
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Presente e pretéritos do
indicativo
65%
562/870
35%
308/870
63%
527/841
37%
314/841
Futuros do indicativo
100%
18/18
0%
0/18
100%
28/28
0%
0/28
Tempos do subjuntivo
98%
55/56
2%
1/56
99%
78/79
1%
1/79
Imperativo
65%
13/20
35%
7/20
55%
6/11
45%
5/11
Infinitivo
26%
29/111
74%
82/111
56%
77/138
44%
61/138
Gerúndio
35%
6/17
65%
11/17
31%
5/16
69%
11/16
Tabela 15: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo fatores amalgamados da variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos
séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples
A interpretação da presente variável esclarece que, em ambas as variedades, os
futuros do indicativo bem como os tempos do subjuntivo correspondem aos contextos
de maior concretização da variante pré-verbal. Note-se, ainda, que, de modo geral, os
demais tempos do indicativo tanto no PB quanto no PE também se revelam como
contextos preferenciais para a realização da variante proclítica. No que respeita ao PB,
as formas de imperativo (65%) apresentam taxas percentuais consideráveis de
ocorrência da próclise. As formas nominais do verbo registram baixos índices da
variante pré-verbal: gerúndio (35%) e infinitivo (26%). A propósito do Português
Europeu, verbos flexionados no infinitivo (56%) bem como no imperativo (55%) atuam,
146
de modo similar, como hospedeiros do clítico em posição de próclise. As formas de
gerúndio (31%), tal como no PB, mostram-se como domínios de baixos registros da
colocação proclítica.
Uma vez conhecidas as freqüências percentuais da ordem em face dos tempos e
modos das formas verbais, considerem-se, no que respeita ao PB, os pesos relativos
obtidos
57
:
Figura 20: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PB dos séculos XIX e XX
Além dos índices percentuais dos futuros do indicativo registrados acima, as
tendências probabilísticas corroboram com expressividade os tempos do subjuntivo
como domínios de maior favorecimento à próclise. Os tempos do presente e pretéritos
do indicativo apresentam discreto favorecimento à variante pré-verbal, estando poucos
pontos acima da linha de neutralidade (.50). Postula-se que a manifestação categórica da
variante pré-verbal em domínio dos futuros do indicativo ocorra como forma de se
evitar a variante mesoclítica. No que respeita aos tempos do subjuntivo, ressalte-se que
tais formas verbais, por estarem diretamente correlacionadas com elementos
subordinativos, concebidos como proclisadores canônicos, tendem a se constituir como
ambientes profícuos de ocorrência da ordem proclítica. Note-se que, abaixo da marca de
57
Esclarece-se que, para efeito de melhor comparação, exibem-se as barras gráficas concernentes aos
índices percentuais categóricos (100%) da ordem em domínio de futuro do presente bem como do
pretérito do indicativo.
147
.30, se percebe o desfavorecimento da próclise por parte das formas de gerúndio e
infinitivo, tendência que não fica evidente para a forma imperativa consoante a mera
observação dos percentuais.
No tocante ao PE, eis os valores relativos alcançados:
Figura 21: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PE dos séculos XIX e XX
Tal como a variedade brasileira do Português, o PE denota, de fato, que os
futuros do indicativo e os tempos do subjuntivo favorecem de forma incontestável a
variante proclítica. As demais formas verbais, assim como o presente e pretéritos do
indicativo, não se evidenciam com considerável proeminência como elementos
favorecedores do deslocamento do clítico para a esquerda de seu hospedeiro verbal.
b) Grupo de fatores relevante apenas para a amostra brasileira
Observe-se, nesta seção, a atuação da variável tonicidade das formas verbais,
selecionada (em posição) exclusivamente para a compreensão da ordem em lexias
verbais simples no âmbito do Português do Brasil.
Para o estabelecimento das considerações acerca deste grupo de fatores, julga-se
oportuna a análise das freqüências a seguir expostas:
148
Tonicidade dos itens verbais em dados de Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Próclise
Ênclise
Oxítona
44%
182/416
56%
234/416
Paroxítona
74%
501/676
26%
175/676
Proparoxítona
-
-
Tabela 16: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores
canônicos e não-canônicos, segundo o grupo de fatores tonicidade dos itens verbais: PB dos
séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples
Registre-se que os vocábulos paroxítonos integram contextos de maior
ocorrência da variante proclítica em comparação com as formas oxítonas. Uma vez
observada a seleção de tal grupo de fatores para PB pelo programa computacional
utilizado, ressaltem-se os pesos relativos indicados:
Figura 22: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos,
mediante a variável tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX
As formas verbais com acentuação paroxítona revelam-se, como se pontuou,
como domínio em que a freqüência de próclise efetivamente encontra favorecimento.
Os resultados vão ao encontra da hipótese de que a pauta acentual das paroxítonas
motive a realização de próclise em detrimento da ênclise de modo a evitar a
configuração de um vocábulo fonológico proparoxítono, os quais não são freqüentes no
Português. As formas oxítonas, por sua vez, não atuam no favorecimento à próclise; a
149
ênclise a um vocábulo oxítono (perdeu-se, por exemplo) mantém a aludida pauta
paroxitonizante do Português.
Com o fim de exemplificar o que pouco se justificou, acompanhem-se as
ilustrações:
(i)
Aqui se acarreta a próclise. Donde: se . a .car .re .ta, com pauta acentual na 4ª silaba.
5 4 3 2 1
(ii)
Acarreta-se a ênclise. Donde: a. car. re. ta. se, com pauta acentual na 3ª silaba.
5 4 3 2 1
(iii)
nos levantávamos cedo. Donde: nos. le. van. tá. va. mos, com pauta acentual na 4ª silaba.
6 5 4 3 2 1
(iv)
Levantávamo-nos cedo. Donde: le. van. tá. va. mo. nos, com pauta acentual na 3ª silaba.
6 5 4 3 2 1
Certifique-se de que em (i) o item vocabular paroxítono revela a realização do
vocábulo fonológico com pauta acentual na sílaba, permanecendo com a mesma
acentuação ao contrário de (ii), contexto em que se verifica a configuração de uma
forma proparoxítona.
Os ínfimos registros de freqüência absoluta de itens proparoxítonos permitem
atestar a improdutividade desses vocábulos na Língua Portuguesa. Nos dois casos de
proparoxítonas no PE (ausentes no PB), a colocação proclítica foi estabelecida como
forma de manutenção da mesma pauta acentual (como em (iii)) para que não se
demandasse a constituição de uma forma bi-esdrúxula (apresentada em (iv)).
c) Grupo de fatores relevante apenas para a amostra européia
Sublinhe-se que a variável natureza da oração se exibe como o terceiro grupo de
fatores responsável pelo condicionamento da ordem no Português Europeu, conforme
apontado pelo tratamento multivariacional dos dados.
No que respeita à atuação da variável natureza da oração, tomem-se, de
antemão, os números distribucionais das variantes pelos fatores amalgamados conforme
o exposto:
150
Fatores amalgamados do grupo natureza da oração em dados de Lexias Verbais
Simples
Variedades
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Or. absoluta / principal
/ Coord. assindética
44%
151/344
56%
193/144
Or. coord. sindética
38%
76/201
62%
125/201
Or. sub. desenvolvida /
Estruturas clivadas
99%
405/408
1%
3/408
Or. sub. red. de
infinitivo
56%
77/138
44%
61/138
Or. sub. red. de
gerúndio
33%
5/15
67%
10/15
Tabela 17: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo fatores amalgamados da variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX,
no âmbito das lexias verbais simples
Perceba-se que, no PE, as orações absolutas / principais / coordenadas
assindéticas assim como as sindéticas e as subordinadas reduzidas de gerúndio se
evidenciam como ambiente de baixos índices de próclise, confirmando as
recomendações gramaticais. Saliente-se, ainda, que a variedade européia revela índices
de 56% de freqüência da ordem proclítica no contexto de subordinadas reduzidas de
infinitivo, variante essa que assume índices quase categóricos em contexto de cláusulas
subordinadas desenvolvidas / clivadas (99%).
Associem-se, pois, às percentagens obtidas para PE, no que respeita à variável
presente, os pesos relativos alcançados segundo a seleção realizada pelo programa
computacional utilizado:
151
Figura 23: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-
canônicos, mediante a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX
Corrobore-se que, quanto ao favorecimento da variante proclítica, as orações
desenvolvidas / clivadas, indubitavelmente, assumem o forte caráter de motivação de
próclise. As demais orações examinadas até mesmo as cláusulas subordinadas
reduzidas de infinitivo , com pesos abaixo de .50, não se apresentam atuantes para a
ocorrência de tal ordenação.
5.2 A ordem em ambientes de Lexias Verbais Complexas: a realidade dos corpora
Para a análise do fenômeno de ordenação pronominal no âmbito das construções
verbais complexas, dispõe-se de 431 dados de clíticos, dos quais 194 concernem à
colocação constatada na amostra brasileira e 237 correspondem aos registros colhidos
no corpus europeu.
Acompanhem-se os números citados por meio da seguinte representação
esquemática:
Número total de dados: 3478
Número total de LVC: 431
Total de LVC no PB: 194 dados
[Século XIX: 81 Século XX: 113]
Total de LVC no PE: 237 dados
[Século XIX: 80 Século XX: 157]
152
Faz-se conveniente esclarecer que a totalidade de 194 casos de ordem no PB
engloba, dentre as variantes apresentadas na subseção 4.3.2, uma ocorrência de
mesóclise morfologicamente marcada no verbo auxiliar, a qual, agora, se apresenta:
Ex
1
.:
O subsecretário não mostrava os livros a ninguém, mas acontecia que, quando se abriam
as janelas da sala de sua livraria, da rua poder-se-iam ver as estantes pejadas de cima a
baixo. [LB-PB-LVC-32]
Note-se que a manifestação da variante mesoclítica se procede mesmo diante de
um proclisador canônico, isto é, da conjunção integrante que. Acredita-se que a
interferência da variável distância entre proclisador e segmento constituído de clítico e
complexo verbal motive a realização de tal registro. Por se tratar de um único dado
particular, opta-se, em termos metodológicos, por não contemplá-lo na análise
variacionista.
Ressalte-se que a maior parte dos registros de lexias verbais complexas colhidas
tanto na amostra brasileira quanto na européia correspondem a casos de conglomerados
integrados por dois elementos verbais, quais sejam: (i) v1 como auxiliar e (ii) v2 como
principal. Entretanto, verificam-se, no PB, 2 complexos constituídos de duas formas
auxiliares, agora exibidos:
Ex
2
.:
O que pensei encontrar: alguma velha, ou um velho, que da história soubesse dela
lembrados quando tinha sido menina e então a razão [...] de muitas coisas haviam de
poder me expor muitos mundos. [GR-PB-LVC-42]
Ex
3
.:
Um ancião, envolto em sua toga cerimonial de seda preta e acompanhado de seu
primogênito, saiu do grande templo aonde tinha ido [...] prosternar-se diante do altar de
seus ancestrais. [EV-PB-LVC-52]
Os parcos dados de estruturas verbais complexas com dois auxiliares nas quais
se observa a realização das variantes intra-LVC sem hífen (entre o segundo auxiliar e o
verbo principal) e pós-LVC surtem como uma razão consistente para que tais registros
não sejam considerados na análise quantitativa dos resultados.
Mediante a exclusão das 3 ocorrências supracitadas (1 caso de mesóclise
morfologicamente marcada bem como 2 manifestações de complexos com dois verbos
auxiliares), submetem-se ao tratamento cnico-computacional 191 dados de colocação
em lexias verbais complexas advindos do corpus do PB dos séculos XIX e XX.
No que toca ao Português Europeu, tal como o constatado no PB, leia-se o dado
no qual a mesóclise se realiza no verbo auxiliar:
153
Ex
4
.:
Da rapidez dessa réplica poder-se-ia calcular o humor do director, ou antes, do "patrão".
[FN-PE-LVC-52]
A propósito das lexias verbais complexas integradas por 2 auxiliares,
destaquem-se as 5 ocorrências subseqüentes:
Ex
5
.:
[...] ninguém estranhará que saber, interessar-se, Coitada da rapariga, o que lhe havia
de ter acontecido, há pessoas que nascem sem sorte. [JS-PE-LVC-52]
Ex
6
.:
Ao cimo da escada aparece o Pimenta, vai para descer julgando que é um cliente com
bagagem, então ficou à espera, ainda não reconheceu quem sobe, pode-se ter esquecido,
são tantas as caras que entram e saem da vida de um mandarete de hotel [...].[JS-PE-LVC-
52]
Ex
7
.:
O do 2º direito bem poderia tê-lo levado no Alfa Romeo, pelo menos ao Chile. [FN-PE-
LVC-52]
Ex
8
.:
Deus, na sua infinita misericórdia, -de ter-lhe perdoado, porque muito amou e muito
sofreu! [CM-PE-LVC-32]
Ex
9
.:
Apesar do tempo que tive, não cheguei a acabar de lê-lo [...]. [JS-PE-LVC-52]
Note-se, das escassas ocorrências de conglomerados verbais com 2 auxiliares, a
realização de 1 dado da variante pré-LVC (Ex
5
) assim como de 3 registros de intra-LVC
com hífen (em Ex
6
, o clítico se coloca em ênclise a v1 enquanto, em Ex
7
e Ex
8
, o
pronome se revela enclítico ao segundo auxiliar) além de 1 manifestação da ordem pós-
LVC (Ex
9
). De todos os autores analisados, José Saramago apresenta-se como o escritor
que mais produziu dados de complexos com duplo auxiliar (3 casos).
Pelos mesmos motivos expostos para o PB, procede-se à eliminação do caso de
mesóclise morfologicamente marcada bem como dos dados de complexos com 2
auxiliares no conjunto de registros de colocação no PE dos séculos XIX e XX, que
passa a contar, para o exame variacionista, com 231 ocorrências.
Sumarizem-se todas as informações aqui prestadas pelo novo esquema em que
se discrimina o número de dados quantitativamente investigados no âmbito das
estruturas verbais complexas do PB e do PE dos séculos XIX e XX:
154
Os pormenores da ordem em complexos verbais encontram-se registrados nas
respectivas seções em que se analisam, em três momentos, os casos de colocação em
lexias verbais complexas com gerúndio, particípio de infinitivo.
5.2.1 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal
no gerúndio
Por intermédio dos dados concernentes às variedades brasileira e européia do
Português dos séculos XIX e XX, almeja-se, na seção que ora se inicia, discorrer acerca
do fenômeno da ordem em estruturas verbais complexas em que v1 (semi-)auxilia
verbos na forma de gerúndio.
De modo a efetuar as considerações pretendidas, examinam-se 23 ocorrências de
tais construções com pronome clítico na amostra brasileira, bem como 15 registros de
colocação nos mesmos ambientes verificados no corpus europeu.
Certifique-se de que, conforme salientado na subseção 4.3.2, em contexto de
auxiliar + gerúndio, se admitem quatro possíveis variantes:
(i)
cl v1 v2: Aqui se está analisando a ordem pronominal.
(ii)
v1-cl v2: Está-se analisando a ordem pronominal.
(iii)
v1 cl v2: Está se analisando a ordem pronominal.
Número inicial de LVC: 431
Número total de LVC após as decisões metodológicas: 422
Total de LVC no PB (todos os contextos): 191 dados
Total de LVC no PE (todos os contextos): 231 dados
Dados em LVC com gerúndio: 23;
Dados em LVC com particípio: 29;
Dados em LVC com infinitivo: 139.
Dados em LVC com gerúndio: 15;
Dados em LVC com particípio: 39;
Dados em LVC com infinitivo: 177.
155
(iv)
v1 v2-cl: Está analisando-se a ordem pronominal
58
.
No que concerne à variável dependente examinada nas estruturas de complexos
integrados por verbos na forma de gerúndio, apreciem-se os números atribuídos a cada
fator em particular:
Variantes em domínio de LVC com gerúndio a partir de todos os contextos
Português do Brasil
Português Europeu
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
17%
4/23
17%
4/23
44%
10/23
22%
5/23
40%
6/15
53%
8/15
0%
0/15
7%
1/15
Tabela 18: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com gerúndio,
referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
A distribuição dos valores da tabela 18 permite verificar que a colocação v1 cl
v2 (44%), no PB, bem como a ordem v1-cl v2 (53%), no Português Europeu, se revelam
em números superiores em cotejo com as demais registradas, assim como pontua Schei
(2003) em sua análise da ordem em romances brasileiros. No que tange ao PB, como
segunda opção de colocação pronominal em estruturas com gerúndio, apresenta-se a
variante pós-LVC (22%) seguida das posições cl v1 v2 (17%) e v1-cl v2 (17%).
Constate-se que o inverso se observa no PE, uma vez que a variante pré-LVC (40%)
cujos índices superam os valores da ordem pós-LVC (7%) se manifesta em segunda
instância, pelo possível fato de os elementos proclisadores, conforme se verificará na
análise dos grupos de fatores linguísticos, serem mais atuantes nessa variedade, tal
como o atestado por Schei (2003).
Os índices, pouco expostos, sugerem a preferência pela colocação intra-LVC
sem hífen na variedade brasileira do idioma, enquanto o padrão europeu opta, na
maioria das vezes, pela ordenação dos clíticos em posição intra-LVC com hífen.
A respeito da colocação intra-LVC sem hífen, isto é, v1 cl v2, ressalte-se que, no
corpus brasileiro em discrepância à amostra européia, na qual não se constatam
ocorrências dessa ordem , sua manifestação foi verificada em 10 registros de um total
de 23 dados, sobrepujando a freqüência da colocação intra-LVC com hífen (4/23
58
Constate-se que, embora tal construção possa vir a causar algum tipo de estranhamento no que se refere
ao Português do Brasil devido à presença de se do tipo indeterminador/apassivador, a tradição gramatical
prevê tal estrutura em termos teórico-virtuais da língua.
156
dados). De modo a ilustrar alguns dos casos de v1-cl v2 e v1 cl v2 no PB, observem-se,
respectivamente, os itens subscritos:
Ex
1
.:
Pouco a pouco uma série de interrogações foram-se erguendo no seu espírito. [AAr-PB-
LVC-32]
Ex
2
.:
Sei lá, doutor! Os antigos diziam tolices, como todo o mundo... Mas, até logo; Mãe
Nácia está-me chamando lá da casa da Lourdinha [...]. [RQ-PB-LVC-32]
Ex
3
.:
As mulheres foram se levantando da mesa. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
4
.:
Eu fiquei me rindo quando o portador do Oiteiro me chegou com a sela. [JLR-PB-LVC-
42]
Faz-se oportuno esclarecer, ainda, que, por motivo do baixo número de dados
em complexos formados por auxiliar + gerúndio, não se estabelece, aqui, a exposição
pormenorizada das freqüências percentuais das variantes em contexto de início absoluto
de oração em face dos demais constituídos de proclisadores. Apresentam-se, assim, os
valores contabilizados a partir de todos os dados em início de oração bem como em
ambientes integrados por proclisadores canônicos e não-canônicos em conjunto,
contemplando-se, dessa forma, todos os contextos. Saliente-se que, no PB, somente
quatro dados (1 de ordem v1-cl v2, 1 de v1 cl v2 e 2 de v1 v2-cl) revelam o fenômeno
em início de período/oração e, no PE, apenas 1 registro (de colocação v1-cl v2). Para
exemplificação dessas ocorrências, considerem-se os casos subseqüentes:
Ex
5
.:
Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá.
[GrR-PB-LVC-42]
Ex
6
.:
[...] Depois saímos, eu de um lado, você do outro; está me compreendendo, Lião.
[LFT-PB-LVC-52]
Ex
7
.:
Caindo por ali séculos as fortes enxurradas, derivando a princípio em linhas
divagantes de drenagem, foram talhando-as em quebradas que se fizeram canyons[...].
[EC-PB-LVC-32]
Ex
8
.:
Vou-me deixando para trás [...]. [FN-PE-LVC-52]
A partir dos exemplos, verifique-se que, nos dados em que os inícios absolutos
de oração e de período
59
coincidem (Ex
5
e Ex
8
[este último advindo do PE]), ocorrências de
v1-cl v2 são observadas. Nos registros em que não se tal coincidência, todos da
amostra brasileira, perceba-se que apesar dos escassos números de dados colhidos se
opta ora pela variante v1 cl v2 (Ex
6
) ora pela colocação v1 v2-cl (Ex
7
).
59
Considerou-se o conceito tradicional de período para a modalidade escrita todo enunciado
compreendido entre letra maiúscula e ponto final.
157
Uma vez destacado o uso das variantes v1-cl v2 e v1 cl v2, tomem-se os padrões
gráficos, a seguir apresentados, os quais concedem melhor visualização dos números,
anteriormente, discriminados na tabela 18:
Em face dos índices percentuais concernentes aos fatores constituintes da
variável dependente, observem-se, agora, os valores absolutos e percentuais referentes à
manifestação de cada variante pelos tipos de lexias verbais complexas integradas por
verbo com flexão de gerúndio encontrados no material analisado:
Variantes em face de estrutura complexa (semi-)auxiliar + gerúndio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Estruturas
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Acabar + gerúndio
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
_
_
_
_
Ficar + gerúndio
0%
0/3
0%
0/3
100%
3/3
0%
0/3
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Estar + gerúndio
20%
1/5
20%
1/5
60%
3/5
0%
0/5
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
Ir + gerúndio
23%
3/13
23%
3/13
31%
4/13
23%
3/13
33%
4/12
59%
7/12
0%
7/12
8%
1/12
Total de dados
23 dados
2 de acabar + gerúndio, 3 de ficar + gerúndio,
5 de estar + gerúndio e 13 de ir + gerúndio.
15 dados
1 de ficar + gerúndio, 2 de estar + gerúndio e
12 de ir + gerúndio.
Tabela 19: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de estrutura (semi-)
auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX e XX
Figura 24: Distribuição das variantes em
domínio de LVC integrada por gerúndio,
no PB dos séculos XIX e XX
Figura 25: Distribuição das variantes em
domínio de LVC integrada por gerúndio,
no PE dos séculos XIX e XX
158
Identifique-se, à primeira vista, considerando o total de dados e as estruturas
recorrentes nas amostras de ambas as variedades do Português, a realização do
complexo ir + gerúndio em índices absolutos mais elevados comparados com a
freqüência apresentada pelos demais. Para efeitos de melhor percepção visual da
constituição dos corpora quanto aos números de lexias verbais complexas com verbo
principal no gerúndio, expõe-se o seguinte gráfico:
Note-se, pela apresentação crescente das barras gráficas, uma distribuição
similar dos tipos de complexos constatados em ambos os corpora, com especial atenção
à estrutura acabar + gerúndio, que apresenta baixo número de ocorrências no conjunto
de dados do PB e não se apresenta no corpus do Português Europeu.
Com o amparo dos valores concedidos na tabela 19, pode-se diagnosticar que,
nos domínios de todas as construções complexas atestadas no âmbito do PB, a variante
v1 cl v2 excede os números de realização das outras colocações, salvo em contexto de
acabar + gerúndio, no qual a ordem pós-LVC se faz categórica nos dois únicos casos
de registro desse complexo. No que toca à ordem v1-cl v2, note-se que, no conjunto de
dados europeus em que se registram as lexias complexas consideradas, seus valores
absolutos e percentuais ocorrem em proporções maiores comparadas aos outros fatores
da mesma variável dependente. A construção estar + gerúndio tipicamente brasileira
(ilustrada, mais adiante, em Ex
20
e Ex
21
, em vez de estar + a + infinitivo) assume a
particularidade de, entre as estruturas observadas no PE, apresentar 2 ocorrências da
variante pré-LVC.
Figura 26 Freqüência percentual das estruturas (semi-)auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos
séculos XIX e XX
159
5.2.1.1 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis
extralingüísticas
Efetuada a descrição do caráter distribucional das variantes assim como da
realidade das amostras investigadas, pormenorizam-se, na presente seção, as
peculiaridades do fenômeno da ordem em construções complexas integradas por
gerúndio quanto às variáveis extralingüísticas consideradas.
No que respeita à variável vozes do romance, a observação do comportamento
das variantes no PB admite constatar que a colocação v1 v2-cl consiste na opção
majoritária de ordem em domínio narrativo de pessoa. Cumpre, ainda, informar que
v1 cl v2, nos dados da variedade brasileira do Português, atinge índices categóricos de
manifestação nos contextos instanciados pelos personagens (4/4 dados) e narradores
personagens [1ª pessoa] (3/3 dados). Das vozes verificadas no PE, isto é, narrador
personagem [1ª pessoa] bem como narrador de pessoa, em construções complexas
com gerúndio, a variante v1-cl v2 alcança maiores índices nos domínios destes (6/8
dados) enquanto a ordem pré-LVC revela maior ocorrência nos contextos de narrador
personagem (5/7 dados). A propósito da posição pós-LVC, seus 5 registros no corpus
brasileiro bem como sua única ocorrência dentre os dados de lexias verbais complexas
com gerúndio na amostra européia encontram-se em instância narrativa de 3ª pessoa.
Saliente-se que, devido aos parcos números de construções complexas com
verbo principal no gerúndio em ambos os corpora, nem todas as obras permitiram uma
apreciação dessas estruturas em seus domínios.
Dos escritores responsáveis pelas poucas lexias com gerúndio, citam-se, como
aqueles que em maior número realizaram a variante mais produtiva do PB, ou seja, a
intra-LVC sem hífen, José Lins do Rego (Fase 4 3/4 dados), Guimarães Rosa (Fase 4
1/1 dado) e Lygia Fagundes Telles (Fase 5 5/5 dados). Certifique-se de que os
autores Bernardo Guimarães (Fase 1 1/1 dado) e Afonso Arinos (Fase 3 1/1 dado),
em seus únicos dados de ordem com complexos integrados por gerúndio, revelam opção
pela ordem intra-LVC com hífen. No que concerne à distribuição equilibrada das
variantes, Rachel de Queiroz (Fase 3) assume, nos dois dados que produz, ora a
colocação v1-cl v2 ora a ordem v1 cl v2, enquanto o autor Graciliano Ramos (Fase 4)
revela igual distribuição entre as variantes pré-LVC e intra-LVC com hífen. No âmbito
do PE, resguardada a mesma particularidade dos baixos registros de lexias complexas
com gerúndio, tal como o registrado para PB, obras houve em que tais estruturas não
foram testemunhadas. Ressalte-se que a variante v1-cl v2, de maior freqüência no
160
corpus europeu, alcança ocorrência categórica nas obras de a de Queiroz (Fase 2 1
dado), José Cardoso Pires (Fase 4 3 dados), José Saramago (Fase 5 1 dado),
Fernando Namora (Fase 5 1 dado), Vergílio Ferreira (Fase 5 1 dado) e Alves Redol
(Fase 4 1 dado). A colocação pré-LVC, do mesmo modo, é diagnosticada
categoricamente nos escritos de Camilo Castelo Branco (Fase 1 2 dados), Almeida
Garrett (Fase 1 2 dados), Alexandre Herculano (Fase 1 1 dado) e Raul Brandão
(Fase 3 1 dado). Pontue-se que o único registro da variante pós-LVC é atestado no
romance de Júlio Dinis (Fase 2).
A atuação do evento da ordem em face da variável gênero/sexo dos escritores
contemplados
60
demonstra, no PB, que escritores assumem a posição pós-LVC com a
marca de 31% (5/16 dados) enquanto, em romances de autoria feminina, a variante v1 cl
v2 revela índices quase categóricos (6/7 dados). No âmbito do PE, não se registram
dados de colocação em estruturas complexas com gerúndio no texto de Augustina Bessa
Luís, única obra feminina do corpus europeu.
O exame da ordem pelas fases estipuladas a partir da época de publicação dos
romances não permite tecer generalizações quanto à colocação no PB, uma vez que cada
período de tempo apresenta preferências distintas quanto à realização das variantes.
Entretanto, pode-se sinalizar que o século XIX, dos 5 dados que fornece, aponta
distribuição equilibrada das posições pré-LVC e pós-LVC, ao passo que o século XX,
apresentando 18 registros de ordenação de clíticos, indicia, majoritariamente (10/18
dados), a ordem v1 cl v2. As considerações descritas para PE demonstram que cl v1 v2,
nas fases 1 e 3, e v1-cl v2, nas fases 4 e 5, tomam para si registros categóricos. De modo
particular, a fase 2 distribui, igualmente, nos 2 dados de complexos com gerúndio que
apresenta, as variantes cl-v1 v2 e v1 v2-cl. O decurso dos anos concede observar que o
século XIX põe à vista maiores índices da ordem pré-LVC (5/7 dados), enquanto as
ocorrências de v1-cl v2 assumem números mais elevados (7/8 dados) no século XX.
5.2.1.2 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis
lingüísticas
60
Considere-se, uma vez mais, a discrepância justificada no capítulo 4, referente à constituição das
amostras entre o número de escritores e escritoras cujas obras foram eleitas para a composição dos
corpora brasileiro e europeu.
161
No propósito de descrever o evento da colocação em estruturas complexas com
forma de gerúndio a partir dos grupos de fatores de cunho lingüístico, contemplem-se os
exemplos selecionados:
Dados de clíticos com (semi-)auxiliar + gerúndio no PB dos séculos XIX e XX
Ex
9
.:
Explicou-lhe, como pôde, essas dúvidas, e acabou perguntando-lhe [...]. [MA-PB-LVC-
29]
Ex
10
.:
Vamos, Lena, entra depressa. Você vai na frente. Mas não fique
61
me olhando, está
quase amanhecendo. [LFT-PB-LVC-52]
Ex
11
.:
Nas pausas das lições ficava me olhando, tão mais consciente do que eu na minha
inconsciência, como é que eu podia saber? [LFT-PB-LVC-52]
Ex
12
.:
A cena se estava tornando patética; ambos choravam e passados alguns instantes a
inexplicável Moreninha pôde falar e responder ao triste estudante. [JMM-PB-LVC-19]
Ex
13
.:
A de fora já está se dissipando e aqui começa outra, ah, não esquecer de avisar à menina
de Santarém que se aparecer um gatinho malhado atendendo pelo nome de Astronauta.
Gatinho? Mas ele não cresceu? Enfim, um gato malhado. Me avise e será fartamente
recompensada. [LFT-PB-LVC-52]
Ex
14
.:
Jisé Simpilício e Aristides, mesmo estão se engordando, de assim não-ouvir ou ouvir.
[GR-PB-LVC-42]
Ex
15
.:
Pouco a pouco uma vida nova [...] se foi esboçando. [GrR-PB-LVC-42]
Ex
16
.:
Pouco a pouco uma série de interrogações foram-se erguendo no seu espírito. [AAr-PB-
LVC-32]
Ex
17
.:
O mestre José Amaro, arrastando a perna torta, foi se chegando para mesa posta, uma
pobre mesa de pinho sem toalha. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
18
.:
Pegou no pedaço de sola e foi dobrando-a, com os dedos grossos. [JLR-PB-LVC-42]
Dados de clíticos com (semi-)auxiliar + gerúndio no PE dos séculos XIX e XX
Ex
19
.:
Outros ficaram-se movendo as cabeças e olhando à volta, estranhos à imensidão da
lezíria, a desdobrar-se até ao infinito, numa chã retalhada de oiro e verde, verde e
castanho [...] [AlR-PE-LVC-42]
61
Acredita-se que este dado testemunhe o percurso do processo de gramaticalização do item verbal ficar
pela ambigüidade de função que tal forma assume na fronteira entre verbo predicador [instanciando o
SAdv ai] e verbo (semi-)auxiliar [demonstrando um matiz aspectual, o qual pode ser percebido
claramente no exemplo seguinte] por conta da perda de parte de seus semas prototípicos. Compreenda-se,
assim, que o caráter dúbio da classificação inequívoca de ficar como verbo predicador ou gramatical
enseja contemplá-lo, aqui, como um item (semi-)auxiliar integrante de uma estrutura complexa. Para
maiores detalhes acerca dos padrões de auxiliaridade em perífrases verbais, consultar, por exemplo, os
estudos de Machado Vieira (2001, 2003 e 2004).
162
Ex
20
.:
Eu cismava estas e outras coisas quando me estava preparando para entregar a minha
vida às quietas delícias dum casamento que faria rir de piedade os meus amigos. [CCB-
PE-LVC-19]
Ex
21
.:
O bispo soluçava e gemia como se lhe estivessem dando os mais excruciantes tratos de
tortura [...]. [AG-PE-LVC-19]
Ex
22
.:
Isto disse o monge com tom solene e em voz alta, de modo que fosse ouvido dos dous
homens d'armas que se iam retirando. [AH-PE-LVC-19]
Ex
23
.:
Cabem aqui dentro as velhas cismáticas, atrás de interesses, de paixões ou de simples
ninharias [...]; os homens a quem se foram apegando pela vida [...] e o Gabiru e o seu
sonho. [RB-PE-LVC-32]
Ex
24
.:
Da porta da casa, a mãe da rendeira vigiava o genro e ia-se voltando para dentro
[...].[JCP-PE-LVC-42]
Ex
25
.:
Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. [VF-PE-LVC-52]
Ex
26
.:
Assim o entendera José das Dornas, que foi preparando-o para um dia abdicar nele a
enxada, a foice, a vara, a rabiça, e confiar-lhe a chave do cabanal, tão repleto em
ocasiões de colheita. [JD-PE-LVC-29]
As ilustrações de ambas as variedades demonstram que os casos de complexos
com gerúndio, quase em sua totalidade, não apresentam a inserção de elementos entre
os verbos integrantes de tais construções. Apenas 2 dados, no PB, indicam a presença de
material interveniente (como no Ex.
10
), não sendo registrados itens interpostos nos
complexos do PE.
De modo a verificar a ordem segundo o tipo de clítico pronominal, tome-se o
quadro que se segue:
Variável tipo de clítico pronominal em domínio de LVC com verbo no gerúndio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Me
0%
0/5
20%
1/5
80%
4/5
0%
0/5
50%
1/2
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
Se reflexivo /
inerente
27%
3/11
18%
2/11
55%
6/11
0%
0/11
33%
3/9
67%
6/9
0%
0/9
0%
0/9
Se apassivador
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
O, a, os, as
25%
1/4
0%
0/4
0%
0/4
75%
3/4
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
Lhe, lhes
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
50%
1/2
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
163
Tabela 20: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de
clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com gerúndio
A realidade da amostra brasileira evidencia que a variante v1 cl v2 a mais
produtiva, conforme se pontuou encontra contexto de maior freqüência com os
pronomes me (4/5 dados v.g. Ex
11
) e se reflexivo/inerente (6/11 dados v.g. Ex
14
).
Perceba-se, também, o registro de v1-cl v2 com o clítico se apassivador (1/1 dado v.g.
Ex
16
). Os clíticos acusativo (3/4 dados v.g. Ex
18
) e dativo (2/2 dados v.g. Ex
9
)
manifestam-se, (quase) exclusivamente, em posição pós-LVC. No âmbito do PE, o se
reflexivo/inerente faz-se freqüente em colocação v1-cl v2 (6/9 dados v.g. Ex
24
),
enquanto os pronomes me e lhe(s) exibem opção equilibrada por cl v1 v2 e v1-cl v2. Na
amostra européia, o único registro de colocação pós-LVC deu-se com pronome
acusativo (Ex
26
).
A propósito da variável natureza da oração, eis os fatores recorrentes em ambos
os corpora:
Variável natureza da oração em domínio de LVC com verbo no gerúndio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Or. absoluta / principal
/ coord. assindética
14%
2/14
22%
3/14
50%
7/14
14%
2/14
0%
0/4
100%
4/4
0%
0/4
0%
0/4
Or. coord. sindética
12%
1/8
12%
1/8
38%
3/8
38%
3/8
20%
1/5
80%
4/5
0%
0/5
0%
0/5
Or. sub. desenvolvida
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
83%
5/6
0%
0/6
0%
0/6
17%
1/6
Tabela 21: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da
oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas
com gerúndio
No âmbito da variedade brasileira do Português, ateste-se que as orações
indicadas em primeira posição na tabela 21 integram contexto de considerável
ocorrência da variante v1 cl v2 (7/14 v.g. Ex
17
). O dado único de cláusula subordinada
desenvolvida expõe a ordem pré-LVC [[Rubião] [...] esperava que o fosse animando. [MA-PB-
LVC-29]]. Verifique-se, ainda, que as coordenadas sindéticas apresentaram a ordem v1 cl
v2 [Ex.: E, deitada, à luz vermelha do farol [...] Conceição ia se embebendo nas descrições de ritos [...].
[RQ-PB-LVC-32]] e a posição v1 v2-cl (Ex
18
), em 3 dos 8 registros observados para cada
164
variante. Na variedade européia, como no único dado do PB, as subordinadas
desenvolvidas favorecem com expressividade a variante pré-LVC (5/6 dados v.g.
Ex
22
). Quanto às demais orações constatadas, considere-as como contexto de maior
registro de v1-cl v2.
No intuito de pormenorizar o comportamento da ordenação dos clíticos segundo
os possíveis elementos proclisadores, discriminem-se, previamente, os fatores
observados:
Variável presença/ausência de possível elemento proclisador em domínio de LVC com verbo
no gerúndio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Início absoluto /
ausência de proclisador
0%
0/4
25%
1/4
25%
1/4
50%
2/4
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
SN sujeito nominal
33.3%
3/9
33.3%
3/9
33.3%
3/9
0%
0/9
0%
0/3
100%
3/3
0%
0/3
0%
0/3
SN suj. pron. pessoal
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
SN suj. pron. indef.
[exceto elemento de negação]
_
_
_
_
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Conj. coord. aditiva
0%
0/4
0%
0/4
25%
1/4
75%
3/4
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
SAdv. [um só vocábulo]
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
_
_
_
_
SAdv Loc. adverbiais
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
Operador de foco
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
_
_
_
_
Vocábulo de negação
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
_
_
_
_
Elementos
subordinativos
62
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
84%
5/6
0%
0/6
0%
0/6
16%
1/6
Tabela 22: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores
presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX
e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio
-se a perceber que, no PB, com exceção do elemento subordinativo, os itens:
(i) advérbio (v.g. Ex
13
), (ii) operador de foco (Ex
14
) e (iii) vocábulo de negação (Ex
10
),
62
Do rol dos elementos subordinativos verificados no PB em dados de clíticos no âmbito de LVC com
gerúndio, averiguou-se somente a presença da conjunção integrante que. No que concerne ao PE,
observam-se os seguintes fatores: (i) pronome relativo que (domínio no qual cl v1 v2 ocorre em 3 dos 4
casos colhidos), (ii) outros pronomes/advérbios relativos e (iii) conjunção subordinativa.
165
todos apresentados pela tradição normativa como proclisadores canônicos, não
evidenciam um comportamento decisivo para a manifestação da variante pré-LVC
esperada, salvo o único domínio integrado por conector que [[Rubião] [...] esperava que o
fosse animando. [MA-PB-LVC-29]]. Em tais contextos, registre-se a predominância da variante
inovadora v1 cl v2. Convém, entretanto, sinalizar que, embora a ordem pré-LVC não se
manifeste com expressividade mediante operadores de próclise tradicionais, sua
ocorrência pode ser percebida em contextos não prescritos pelos compêndios
gramaticais (Ex
12
e Ex
15
). De todos os possíveis proclisadores recorrentes nos dados de
complexo com gerúndio do PB, a conjunção coordenativa aditiva (3/4 dados) se
constituiu como contexto de maior registro da variante pós-LVC (v.g. Ex
9
). A propósito
da variedade européia do Português, perceba-se que esta revela, pelos casos analisados,
que os elementos subordinativos motivam, altamente, o fenômeno de subida de clítico
(como nos dados indicados em Ex
20,
Ex
21,
Ex
22,
Ex
23
, evento não verificado em Ex
26
).
Dentre os proclisadores não-canônicos constatados, apenas o domínio de locução
adverbial apresentou dado de ordem pré-LVC [Os anjos [...] a cada oração do mancebo se iam
atenuando [...] os crimes enormes do velho pecador. [AG-PE-LVC-19]].
Para apreciação da influência da variável tempo e modo das formas (semi-)
auxiliares, considerem-se os fatores registrados:
Variável tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em domínio de LVC com verbo no
gerúndio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Presente do indicativo
20%
1/5
20%
1/5
60%
3/5
0%
0/5
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
Pret. imperfeito do
indicativo
25%
1/4
25%
1/4
50%
2/4
0%
0/4
57%
4/7
43%
3/7
0%
0/7
0%
0/7
Pret. perfeito do
indicativo
8%
1/12
17%
2/12
33%
4/12
42%
5/2
21%
1/5
60%
3/5
0%
0/5
20%
1/5
Pret. imperfeito do
subjuntivo
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
Imperativo
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
_
_
_
_
Tabela 23: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo
dos verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais complexas com gerúndio
166
É oportuno salientar que, no PB, a variante v1 cl v2 se faz freqüente em
contextos constituídos por verbo (semi-)auxiliar nos tempos do indicativo observados
(v.g. Ex
13
e Ex
17
), ocorrendo, também, no único dado de imperativo (Ex
10
). O pretérito
imperfeito do subjuntivo (1 registro) antecipado por operador de próclise
testemunha a colocação pré-LVC [[Rubião] [...] esperava que o fosse animando. [MA-PB-LVC-29]].
No que concerne à variedade européia, tal como no PB, a variante pré-LVC ocorre no
dado exclusivo de verbo flexionado no pretérito imperfeito do subjuntivo (Ex
21
). O
presente e o pretérito perfeito do indicativo indiciam freqüências maiores de colocação
v1-cl v2 (v.g. Ex
25
e
Ex
19
). A propósito do pretérito imperfeito do mesmo modo,
contabilizem-se 4 ocorrências da ordem pré-LVC dos 7 casos registrados na amostra
examinada (v.g. Ex
22
).
Acrescentem-se às ponderações, aqui estabelecidas, as considerações efetuadas
na próxima seção concernente à interpretação dos resultados da ordem no âmbito das
lexias verbais complexas integradas por particípio.
5.2.2 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal
no particípio
A seção presente visa a descrever, quanto ao evento da ordem nas variedades
brasileira e européia do Português nos séculos XIX e XX, as particularidades encerradas
no âmbito das LVC que apresentam verbo principal na forma de particípio. As
ponderações, aqui estabelecidas, ancoram-se no exame de 29 dados verificados no
corpus brasileiro e de 39 ocorrências registradas na amostra européia.
A propósito das possibilidades de colocação pronominal nas estruturas verbais
complexas com particípio, conforme o apresentado na seção 4.3.2, examinem-se os
exemplos que se seguem
63
:
(i)
cl v1 v2: Aqui se tem analisado a ordem pronominal.
(ii)
v1-cl v2: Tem-se analisado a ordem pronominal.
63
Convém registrar que, embora não se tenha por expectativa a manifestação da ordem pós-LVC no
conjunto de dados de complexos verbais com particípio variante essa não prevista pela tradição
gramatical (Ex.: Tem analisado-se), não se pode desconsiderar o fato de que ela, mesmo que
hipoteticamente, pode ocorrer em tais domínios. Verifique-se, entretanto, que os resultados desta
investigação, assim como de vários outros estudos (cf. Schei, 2003, por ex.), corroboram a não-
manifestação de pronome átono posposto ao complexo verbal.
167
(iii)
v1 cl v2: Tem se analisado a ordem pronominal.
A propósito dessa última variante em contexto de particípio ausente no PE ,
certifique-se de que, no corpus brasileiro, seu registro foi testemunhado em apenas uma
ocorrência, a qual, abaixo, se ilustra:
Ex
1
.:
[...] Porque eu, em tanto viver de tempo, tinha negado em mim aquele amor, e a amizade
desde agora estava [...] falseada; e o amor, e a pessoa dela, mesma, ela tinha me negado.
[GR-PB-LVC-42]
É oportuno esclarecer que, tal como na análise da ordem em lexias verbais
complexas com gerúndio, em razão dos escassos números de dados, não se procede,
aqui, à apresentação detalhada dos percentuais em contexto de início absoluto de oração
em face dos demais constituídos por proclisadores. Opta-se, assim, por indicar os
números contabilizados a partir de dados em início de oração e em ambientes em que os
fatores de próclise (canônicos e não-canônicos) se fazem presentes, isto é,
contemplando-se os valores mediante todos os contextos. Constate-se que, no PB,
somente 3 casos foram verificados em início de período e, no PE, 9 registros, todos com
realização de v1-cl v2 nas duas variedades. Eis, respectivamente, dois exemplos:
Ex
2
.:
Tem-se visto inverno começar até em abril. [RQ-PB-LVC-32]
Ex
3
.:
Tinham-me dito vais pela vereda, chegas ao cotovelo da rocha, à esquerda, sobes a
encosta. [FA-PE-LVC-29]
Em face dessas considerações preliminares, acompanhem-se os números
exibidos na tabela subseqüente para maior clareza quanto à distribuição das variantes:
Variantes em domínio de LVC com particípio a partir de todos os contextos
Português do Brasil
Português Europeu
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
69%
20/29
28%
8/29
3%
1/29
0%
0/29
62%
24/39
38%
15/39
0%
0/39
0%
0/39
Tabela 24: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com particípio,
referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
168
Pelos números expostos, é possível constatar que, tal como o prescrito nos
compêndios gramaticais no que concerne à recomendação de não se pospor clítico ao
verbo principal no particípio (cf. CUNHA & CINTRA, 2001: 316) , a ordem pós-LVC
não ocorre nas obras pertencentes aos corpora investigados.
Constatem-se, como variantes registradas em contexto de LVC participial, as
colocações cl v1 v2 com maior produtividade , v1-cl v2 e v1 cl v2 sendo esta
última encontrada somente no PB , tal como o ilustrado na figura a seguir para efeito
de melhor visualização:
Note-se que ambas as variedades revelam similaridade de distribuição no que se
refere à freqüência da variante cl v1 v2: a ordem pré-LVC revela-se com percentagens
de 69% no PB e 62% no PE. Acredita-se que os altos índices de próclise a v1 se
sucedem pela forte potencialidade de “atração” exercida pelos proclisadores canônicos
nos complexos com particípio, fato não verificado nos dados de LVC com gerúndio.
Ressalte-se, também, que alguns operadores de próclise não-tradicionais como os
itens prepositivos e as locuções adverbiais observados no PE (discriminados na tabela
concernente à atuação de possíveis proclisadores, exposta mais adiante) contribuem
para a motivação de próclise a v1. De modo a ilustrar alguns dos casos de manifestação
de cl v1 v2, leiam-se os exemplos:
Figura 27: Distribuição das variantes
em domínio de LVC participial, no PB
dos séculos XIX e XX
Figura 28: Distribuição das variantes em
domínio de LVC participial, no PE dos
séculos XIX e XX
169
Ex
4
.:
Mas em expiação de tuas culpas, e para que volte a paz à tua consciência, é mister que
leves a efeito uma obra piedosa e santa, que compense largamente em benefícios à
humanidade os danos e males que lhe tens causado. [BG-PB-LVC-19]
Ex
5
.:
Confesso que dou o cavaco por elas, mas as moças me têm posto velho. [JMM-PB-LVC-
19]
Ex
6
.:
Estava desnorteado ou se calhar meio louco com aquele momento de sorte que lhe tinha
caído do céu. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
7
.:
[...] É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele
depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52]
As variantes v1-cl v2 (28%) e v1 cl v2 (3%), no PB, e v1-cl v2 (38%), no PE,
são contabilizadas com percentuais inferiores à ordem pré-LVC. Estudos recentes, como
o de Schei (2003) e o de Nunes (2009), apontam a predominância da ordem pré-LVC
sobre v1(-)cl v2
64
em ambiente de complexos verbais com a forma de particípio.
Registre-se que, embora o PB apresente apenas 1 dado de colocação v1 cl v2
concebida como tipicamente brasileira , tal caso representa, de certo modo, uma
diferença entre as variedades do Português examinadas, uma vez que o PE não
demonstra registros dessa mesma variante em complexos com particípio, assim como
atestado em ambientes de lexias com gerúndio. Antecipe-se, entretanto, que, no que toca
especificamente ao PE, em ambiente de conglomerados verbais com infinitivo, tal
variedade permite vislumbrar, ainda que em meros reduzidos, casos de intra-LVC
sem hífen em construções complexas com elementos intervenientes entre os verbos que
as integram.
No propósito de aduzir a produtividade das variantes pelas estruturas verbais
haver + particípio e ter + particípio verificadas nos corpora, considerem-se os
valores abaixo:
Variantes em face das estruturas complexas haver + particípio e ter + particípio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Estruturas
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Haver + particípio
75%
6/8
25%
2/8
0%
0/8
60%
3/5
40%
2/5
0%
0/5
64
A indicação de parênteses entre o hífen sinaliza que, em alguns trabalhos, como o de Nunes (2009), se
contabilizam juntamente as posições v1-cl v2 e v1 cl v2 por motivo dos escassos números da variante
intra-LVC sem hífen.
170
Ter + particípio
67%
14/21
29%
7/21
4%
1/21
62%
21/34
38%
13/34
0%
0/34
Total de dados
29 dados
8 de haver + particípio e 21 de ter +
particípio
39 dados
5 de haver + particípio e 34 de ter +
particípio
Tabela 25: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de haver + particípio e ter +
particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX
Primeiramente, pode-se perceber que, das lexias verbais complexas registradas, a
construção ter + particípio ocorre em maior número nas amostras das duas variedades
contempladas. Assim, visualize-se graficamente a produtividade dos complexos,
considerando-se a totalidade das ocorrências 29 dados do PB e 39 do PE:
Quanto à ordem, no PB, a variante proclítica a v1 faz-se um pouco mais
freqüente com o auxiliar haver (75%) em comparação a ter (67%). No que tange ao
Português Europeu, os índices são muito próximos, sendo o registro de cl v1 v2 em
construções verbais complexas com auxiliar ter (62%) levemente superior aos
percentuais observados em domínio de verbo principal auxiliado por haver (60%).
Expostos os valores de ocorrência das lexias verbais complexas destacadas,
apresenta-se, a seguir, a descrição dos dados relativos à ordem em face dos grupos de
fatores controlados.
Figura 29: Freqüência percentual das estruturas ter + particípio e haver + particípio no PB e no
PE dos séculos XIX e XX
171
5.2.2.1 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis
extralingüísticas
Procede-se, nesta seção, à apresentação das particularidades da ordem no total
de dados obtidos, embora os registros não sejam suficientemente numerosos para que se
proponham generalizações.
No que se refere ao controle da variável vozes do romance, faz-se saber que a
variante cl v1 v2, a mais freqüente nos corpora brasileiro e europeu, se revela como a
opção mais realizada em todas as vozes do romance, isto é, em falas de personagens,
narradores observadores (3ª pessoa) e narradores personagens (1ª pessoa), nos dados do
PB. A propósito do PE, percebe-se comportamento semelhante ao Português do Brasil,
salvo em contexto de narrador personagem (1ª pessoa), em que a variante v1-cl v2 se
manifesta em 5 dos 7 dados colhidos.
No que respeita aos escritores contemplados na amostra brasileira, registrem-se
índices categóricos da variante proclítica a v1 em grande parte das obras observadas. Os
escritos concernentes à autoria de Júlia Lopes (Fase 2 1/1 dado), Rachel de Queiroz
(Fase 3 2/2 dados), Euclides da Cunha (Fase 3 1/1 dado) e Nélida Piñon (Fase 5
1/1 dado) exibem exclusivamente a posição v1-cl v2. O único dado da ordem intra-LVC
sem hífen apresentado no início desta seção encontra-se registrado na obra de
Guimarães Rosa. Considere-se, ainda, que os escritores Lima Barreto (Fase 3) e
Graciliano Ramos (Fase 4), responsáveis por 4 dos dados colhidos, apresentam igual
opção pelas variantes pré-LVC e intra-LVC com hífen (2 dados de cl v1 v2 e 2 dados de
v1-cl v2). A propósito do PE, o número de escritores, quanto à realização categórica de
cl v1 v2 ou v1-cl v2, encontra-se equilibrado. Daqueles cuja escrita permite vislumbrar
um possível caso de variação (tendendo para próclise a v1) ainda que de modo tênue,
visto que uma das variantes não se estabelece de modo categórico ou em igual número
de realização como a sua concorrente , citam-se Vitorino Nemésio (Fase 4 3/5
dados), José Cardoso Pires (Fase 4 5/7 dados) e José Saramago (Fase 5 4/7 dados).
No que tange à distribuição equivalente de cl v1 v2 e v1-cl v2, destacam-se as obras de
Júlio Dinis (Fase 2) e Vergílio Ferreira (Fase 5) como ambientes de ocorrência de 2 dos
dados de pré-LVC e 2 dos casos de inta-LVC com hífen observados em contexto de
auxiliar + particípio.
A análise do evento da colocação pelas fases controladas, em ambas as
variedades, aponta índices superiores da variante pré-LVC, com exceção da fase 3 no
172
PB e da fase 5 no PE, em que a ordem intra-LVC com hífen ocorreu em maior número:
4 de 5 dados no PB e 6 de 11 casos no PE. Em ambas as variedades, o século XIX
consiste no período de tempo em que se a colocação pré-LVC em primeira instância,
no que respeita às construções de auxiliar + particípio. Todavia, no Português Europeu,
embora cl v1 v2 se apresente em maiores números do que v1-cl v2 nos períodos
contemplados, as diferenças percentuais dessa colocação entre os séculos XIX (68%) e
XX (60%) não são consideravelmente díspares.
5.2.2.2 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis
lingüísticas
No intuito de pormenorizar o evento da ordenação dos clíticos pronominais em
domínios de construções verbais complexas com verbo principal no particípio mediante
variáveis de cunho lingüístico, leiam-se, preliminarmente, os exemplos arrolados:
Dados de auxiliar + particípio no PB dos séculos XIX e XX
Ex
8
.:
Sentia que não deveria, por coisa alguma, contrariar aquela valente mulherzinha que as
águas do mar lhe haviam trazido do reino [...]. [DSQ-PB-LVC-42]
Ex
9
.:
O senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou, sim, foi
que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo. [AAz-PB-
LVC-29]
Ex
10
.:
Tropas do exército regular do Sul, ajudadas pelos seus aliados brancos de além-mar,
tinham sido levadas em helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o inimigo,
mas este se havia sumido por completo. [EV-PB-LVC-52]
Ex
11
.:
Apesar de haver-lhe freqüentado o leito e, desavisado, batido à porta do ventre, tudo
que queria era livrar-se daquele afeto. [NP-PB-LVC-52]
Ex
12
.:
Haviam-se esquadrinhado todas as anfractuosidades, e todos os dédalos rasgados entre
as pedras [...]. [EC-PB-LVC-32]
Ex
13
.:
Ora! bastava já, e não era pouco, o que lhe tinham sugado durante tanto tempo! [AAz-
PB-LVC-29]
Ex
14
.:
Foram ter com Maria-Regalada, que mesmo na véspera lhes tinha mandado dar parte
que se mudara da Prainha, e oferecia-lhes sua nova morada. [MAA-PB-LVC-19]
Ex
15
.:
[...] creio que a não ser a falta de louças, já teu senhor me teria oferecido. [JMM-PB-
LVC-19]
Ex
16
.:
A velhice tinha-o tornado moleirão e pachorrento; com sua vagareza atrasava o negócio
das partes [...]. [MAA-PB-LVC-19]
173
Ex
17
.:
Luciano tinha-se afastado do quarto e passeava no jardim, fugindo aos olhos de todos e
à bulha atormentadora das vozes. [JL-PB-LVC-29]
Dados de auxiliar + particípio no PE dos séculos XIX e XX
Ex
18
.:
De todos os maus sentimentos que outrora lhe haviam corroído a alma, só um persistira,
mas orientado de maneira a tornar-se prestável à comunidade: a emulação. [CM-PE-LVC-
32]
Ex
19
.:
[...] é como se a sua pavorosa desordem interior se houvesse, por qualquer reflexo
fenômeno, exteriorizado, extravasando numa forma visível sobre todo o seu ser [...].
[AB-PE-LVC-32]
Ex
20
.:
Milagre fora o Algodres vir no barco que senão, havendo-lhes faltado a corda que [...] é
mais que a muleta para um coxo, os peixes tinham festim. [AqR-PE-LVC-32]
Ex
21
.:
Um ano, fins de outubro, havendo-se abalançado com tempo incerto até o extremo das
cordas, foi caso que já ele, como arrais responsara o lanço [...]. [AqR-PE-LVC-32]
Ex
22
.:
O trato e freqüência da corte enriqueceu os burgueses: muitos francos, vindos em
companhia do Conde, se tinham estabelecido, e os homens de rua, ou moradores do
burgo, constituíram-se em sociedade civil. [AH-PE-LVC-19]
Ex
23
.:
Raras vezes se terá visto quadro tão estranho: uma rapariga a sacudir a cabeça,
desesperada, e um homem sorrindo tristemente para a paisagem, certo de que a
tempestade iria passar. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
24
.:
[...] Antes a peste me tivesse levado! [VN-PE-LVC-42]
Ex
25
.:
É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele
depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52]
Ex
26
.:
Mas isso fora há umas três noites, alguém lhe teria dito? [VF-PE-LVC-52]
Ex
27
.:
A companheira tinha-se chegado. Fumava e olhava. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
28
.:
Tinham-nos avisado no asilo [...]. [VF-PE-LVC-52]
Ex
29
.:
Consoante vão pondo em terra, [...] os estrangeiros murmuram contra o temporal,
como se fôssemos nós os culpados deste mau tempo, parece terem-se esquecido de que
nas franças e inglaterras deles costuma ser bem pior [...]. [JS-PE-LVC-52]
No que concerne à ausência ou presença de elemento interveniente nas lexias
verbais complexas com forma de particípio, os exemplos permitem observar que não
existem registros de complexos com material interveniente no PB. Dos 39 dados de
auxiliar + particípio no corpus europeu, somente 1 apresenta sintagma entre os verbos
da construção complexa (Ex
19
).
174
Para a apresentação da ordem frente à variável tipo de clítico pronominal,
expõem-se, na tabela abaixo, os seguintes resultados da colocação em face de
construções auxiliar + particípio, no PB e no PE dos séculos XIX e XX:
Variável tipo de clítico pronominal em domínio de LVC com verbo no particípio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Me
75%
3/4
0%
0/4
25%
1/4
40%
2/5
60%
3/5
0%
0/5
Se reflexivo /
inerente
67%
4/6
33%
2/6
0%
0/6
47%
7/15
53%
8/15
0%
0/15
Se apassivador
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
O, a, os, as
67%
4/6
33%
2/6
0%
0/6
83%
5/6
17%
1/6
0%
0/6
Lhe, lhes
82%
9/11
18%
2/11
0%
0/11
78%
7/9
22%
2/9
0%
0/9
Nos
_
_
_
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
Formas contraídas
_
_
_
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
Tabela 26: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico
pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais
Complexas com particípio
Dos pronomes observados no PB, apenas o clítico se apassivador (Ex
2
) diverge
dos demais quanto à colocação em contexto de particípio: enquanto os outros são mais
freqüentes na posição proclítica a v1, o apassivador mostra-se, nos dois casos de
ocorrência, em posição intra-LVC com hífen. No que toca ao PE, o apassivador se (1/1
dado Ex
23
) bem como os acusativos o(s), a(s) (5/6 dados v.g. Ex
25
) e o dativo lhe(s)
(7/9 dados v.g. Ex
18
) correspondem às formas pronominais
65
que figuram, na maioria
dos casos, em posição pré-LVC. Ateste-se, ainda, que os clíticos se reflexivo/inerente
(8/15 dados v.g. Ex
27
) assim como os pronomes me (3/5 dados v.g. Ex
3
) e nos (1/1
dado v.g. Ex
28
) se revelam um pouco mais freqüentes em colocação intra-LVC com
hífen.
65
Perceba-se que, em contexto de formas contraídas observadas no PE, a posição pré-LVC se faz
categórica (Ex.: [...] ela lho [lhe + o] tinha dito [...] [JS-PE-LVC-52]).
175
A respeito da ordem em face da variável natureza da oração, considerem-se os
contextos subseqüentes:
Variável natureza da oração em domínio de LVC com verbo no particípio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Or. absoluta / principal /
coord. assindética
33%
3/9
56%
5/9
11%
1/9
44%
8/18
56%
10/18
0%
0/18
Or. coord. sindética
67%
2/3
33%
1/3
0%
0/3
_
_
_
Or. sub. desenvolvida
100%
15/15
0%
0/15
0%
0/15
100%
13/13
0%
0/13
0%
0/13
Or. sub. red. de infinitivo
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
50%
2/4
50%
2/4
0%
0/4
Or. sub. red. de gerúndio
_
_
_
0%
0/3
100%
3/3
0%
0/3
Or. optativa
_
_
_
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Tabela 27: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da
oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas
com particípio
Em ambas as variedades, a posição pré-LVC manifesta-se de modo categórico
em contexto de orações subordinadas desenvolvidas v.g. Ex
13
e Ex
18
, respectivamente
(bem como em cláusula optativa em 1 registro do PE) , as quais se constituem dos
elementos proclisadores. No que tange ao PB, verifique-se que a variante cl v1 v2, em
domínio de coordenadas sindéticas (v.g. Ex
5
), ocorre em dois dos três registros colhidos.
A propósito da colocação v1-cl v2, pontua-se sua manifestação em 5 dos 9 casos de
oração absoluta/principal/coordenada assindética (v.g. Ex
12
) assim como nos 2 únicos
registros de oração subordinada reduzida de infinitivo (v.g. Ex
11
). No âmbito do PE, a
ordem v1-cl v2 apresenta-se, no maior número de vezes, em contexto de oração
principal/absoluta e/ou coordenada assindética (10/18 dados v.g. Ex
27
) bem como de
cláusulas subordinadas reduzidas de gerúndio (3/3 dados v.g. Ex
21
). Quanto às
reduzidas de infinitivo, as variantes cl v1 v2 e v1-cl v2 distribuem-se igualmente em
número de ocorrências.
O evento da colocação em estruturas de auxiliar + particípio, mediante o grupo
de fatores presença/ausência de possível elemento proclisador, assume os seguintes
índices com base nos contextos analisados:
176
Tabela 28: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores
presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e
XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio
Consoante o prescrito pela tradição gramatical, pode-se, também, constatar, nas
estruturas complexas integradas por particípio, que, em ambas as variedades, os
elementos subordinativos, os vocábulos de negação observados somente no PB
assim como os advérbios
67
integram contextos com maiores índices de freqüência da
variante pré-LVC. O único registro de SN sujeito pronome demonstrativo no PB tal
como o de SN sujeito pronome indefinido e de preposição de na variedade européia
apresentam, também, a ocorrência da ordem pré-LVC. Saliente-se, ainda, que tanto PB
66
Do inventário dos elementos reunidos sob o rótulo “elementos subordinativos” averiguados no PB,
citam-se: (i) conjunção integrante que, (ii) pronome relativo que e (iii) palavra QU- interrogativa do tipo
pronominal. No que tange ao PE, eis os fatores: (i) conjunção integrante que, (ii) pronome relativo que,
(iii) outros pronomes/advérbios relativos, (iv) conjunção subordinativa, partícula que em locução
conjuntiva e (v) palavra QU- interrogativa do tipo adverbial.
67
Ilustra-se o dado: “– meu amo tinha-me dito: <<Vai [...] e perguntas o sr. Roberto se quer que o
ajudes a tirar a mala da loja [...].>> [VN-PE-LVC-42]. A distância entre o advérbio e o clítico pode ter
motivado o fato de essa ocorrência corresponder ao único caso do PE de contexto adverbial em que a
variante v1-cl v2 ocorre em vez da ordem esperada pré-LVC.
Variável presença/ausência de possível elemento proclisador em domínio de LVC com
verbo no particípio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Início absoluto / ausência
de proclisador
0%
0/3
100%
3/3
0%
0/3
0%
0/9
100%
9/9
0%
0/9
SN sujeito nominal
43%
3/7
57%
4/7
0%
0/7
20%
1/5
80%
4/5
0%
0/5
SN suj. pron. pessoal
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
67%
2/3
33%
1/3
0%
0/3
SN suj. pron. indef. [exceto
elemento de negação]
_
_
_
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
SN suj. pron.
demonstrativo
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
_
_
_
SAdv. [um só vocábulo]
100%
3/3
0%
0/3
0%
0/3
80%
4/5
20%
1/5
0%
0/5
SAdv Loc. adverbiais
_
_
_
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
Preposição de
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Vocábulo de negação
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
_
_
_
Elementos
subordinativos
66
100%
12/12
0%
0/12
0%
0/12
100%
12/12
0%
0/12
0%
0/12
Pronome átono
_
_
_
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
177
quanto PE em conformidade com a prescrição gramatical não demonstram registros
de cl v1 v1 em contexto de início absoluto, ambientes nos quais a ordem v1-cl v2 é
categórica em ambas as variedades.
No que respeita à atuação do grupo tempo e modo das formas auxiliares,
considerem-se os fatores discriminados:
Variável tempo e modo das formas auxiliares em domínio de LVC com verbo no
particípio
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Presente do indicativo
67%
2/3
33%
1/3
0%
0/3
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
Pret. imperfeito do
indicativo
67%
12/18
28%
5/18
5%
1/18
63%
15/24
37%
9/24
0%
0/24
Futuro do pres. do
indicativo
_
_
_
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Futuro do pret. do
indicativo
100%
3/3
0%
0/3
0%
0/3
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
Pret. imperfeito do
subjuntivo
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
4/4
0%
0/4
0%
0/4
Futuro do subjuntivo
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
_
_
_
Infinitivo
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
50%
2/4
50%
2/4
0%
0/4
Gerúndio
_
_
_
0%
0/3
100%
3/3
0%
0/3
Tabela 29: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo
das formas auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com particípio
Ressalte-se que os futuros do indicativo dos quais o do pretérito se constata no
PB bem como o pretérito imperfeito e o futuro do subjuntivo sendo esse último
verificado somente no PB se particularizam como contextos categóricos de realização
da variante pré-LVC. A respeito da variante v1-cl v2, perceba-se seu registro categórico
em ambiente de infinitivo, no PB, bem como em domínio de presente do indicativo e de
gerúndio no PE.
À luz das constatações, aqui efetuadas, acerca do evento da ordem no conjunto
de dados de complexos verbais com particípio do PB e do PE, contemplem-se as
considerações que se tecem, na seção subseqüente, a propósito da colocação em
construções verbais complexas com infinitivo.
178
5.2.3 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal
no infinitivo
Em seqüência à análise da ordem em lexias verbais complexas gerundivas e
participiais, leva-se a efeito, nesta seção, o exame de estruturas perifrásticas constituídas
de infinitivo com o propósito de se delinear, nas variedades brasileira e européia do
Português dos séculos XIX e XX, a ordenação dos clíticos no domínio de tais
construções.
De modo a apresentar as primeiras noções acerca da cliticização pronominal em
complexos com infinitivo, reiterem-se as seguintes possibilidades de colocação, tal
como o pontuado na seção 4.3.2:
(i)
cl v1 v2: Aqui se pode examinar a ordem pronominal.
(ii)
v1-cl v2: Pode-se examinar a ordem pronominal.
(iii)
v1 cl v2: Pode se examinar a ordem pronominal.
(iv)
v1 v2-cl: Pode examinar-se a ordem pronominal.
Uma vez apreciados os fatores da variável dependente no âmbito das lexias
verbais complexas com infinitivo, contemplem-se as freqüências percentuais e absolutas
de cada variante atestada nos corpora investigados:
Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir de todos os contextos
Português do Brasil
Português Europeu
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
11%
15/139
7%
10/139
18%
25/139
64%
89/139
20%
37/177
17%
30/177
4%
7/177
58%
103/177
Tabela 30: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo
referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
Os valores evidenciam que o fenômeno da colocação pronominal assume, em
ambas as variedades, índices maiores de freqüência em posição pós-LVC (64% e 58%,
respectivamente no PB e no PE), sinalizando que, supostamente, os domínios de
conglomerados com verbo no infinitivo se constituem como ambientes profícuos à
realização v1 v2-cl, situação não observada nos contextos de gerúndio e de particípio.
179
Segundo constatações dos estudos sobre o fenômeno, o registro obtido para a variante
pós-LVC vai ao encontro do padrão esperado de colocação em construções integradas
por verbo principal no infinitivo.
Certifique-se, entretanto, de que Vieira (2002), a propósito da variedade
brasileira, registra, nos poucos dados por ela obtidos, maior freqüência de realização
intra(-)LVC
68
, atestando no PE percentuais levemente superiores de v1 v2-cl em
comparação aos obtidos para a variante pré-LVC. Schei (2003), de outro lado, registra
no conjunto de dados brasileiros ora a colocação pré-LVC ora a pós-LVC. No que
respeita ao PE, a pesquisadora contabiliza maiores números de v1 v2-cl. A propósito
dos resultados de Nunes (2009), tanto o PB quanto o PE do século XIX demonstram
certa preferência pela colocação pré-LVC, cujos índices sofrem decréscimos no século
posterior em favor da variante pós-LVC.
No presente estudo, no que respeita à ordem pré-LVC, PB e PE revelam,
também, distribuição similar de dados, tendo o Português Europeu registrado um
número maior de ocorrências (11% e 20%, de modo respectivo).
Verifique-se, pois, que a disparidade existente entre as variedades do Português
quanto à colocação em domínios de estruturas verbais complexas se estabelece na
produtividade das variantes v1 cl v2 e v1-cl v2, característica essa mais bem
representada nas construções gráficas que se sucedem:
68
Uma vez mais, constate-se a utilização dos parênteses para indicar que alguns estudos, como o de
Vieira (2002) e o de Nunes (2009), devido aos parcos números de v1-cl v2 e v1 cl v2, contabilizam,
juntamente, ambas as variantes.
Figura 30: Distribuição das variantes em
todos os contextos, no âmbito das LVC
com infinitivo, no PB dos séculos XIX e
XX
Figura 31: Distribuição das variantes em
todos os contextos, no âmbito das LVC
com infinitivo, no PE dos séculos XIX e
XX
180
No que respeita à variante v1 cl v2 concebida em diversas investigações como
inovação da variedade brasileira, uma vez que registros dessa colocação não são
acusados na história do Português (v.g. MARTINS, 2009; PAGOTTO, 1992; GALVES,
2001) , contabilizem-se, do total de 139 dados da amostra brasileira, 25 casos (contra
10 ocorrências de ordem v1-cl v2), dentre os quais se arrolam:
Ex
1
.:
A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado!... [JL-PB-LVC-29]
Ex
2
.:
Eu não digo besteira, mulher. Se não quiser me ouvir que se retire. Estou falando a
verdade. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
3
.:
Um homem que se preza não deve se entregar. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
4
.:
Não quis se levantar, mas acertou bem os ouvidos. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
5
.:
Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar...
[GR-PB-LVC-42]
Ex
6
.:
Mas ninguém não pode me impedir de rezar; pode algum? O existir da alma é a reza...
[GR-PB-LVC-42]
Ex
7
.:
E quem vai nos visitar a esta hora, Dodô? [NP-PB-LVC-52]
Ex
8
.:
Quero me lembrar de um verso de Garcia Lorca e que não me lembro mas cito ao
acaso, precisamos ir falando, falando em voz baixa mas falando como duas delirantes
amparando uma terceira, a mais trôpega e a mais bonita, onde foi a festa? [LFT-PB-LVC-
52]
Ex
9
.:
Sua missão acabava de lhe ser revelada pelo céu por um modo solene e miraculoso; ali
mesmo pois prostrado aos pés da imagem prometeu erigir-lhe uma capela naquele
mesmo sítio e junto àquele mesmo córrego onde fora visitado pela beatífica visão. [BG-
PB-LVC-19]
Ex
10
.:
Estou com pena do compadre José Amaro. Como é que vai ele se arrumar naquela
casa abandonada. [JLR-PB-LVC-42]
Ex
11
.:
Numa manhã assim tenho que me segurar senão saio voando, olha as margaridinhas,
abriram todas! [LFT-PB-LVC-52]
Ex
12
.:
E por que iria o pai se vingar? A senhora lhe deu cinco filhas saudáveis e terras como
dote. [NP-PB-LVC-52]
Mediante os exemplos supracitados, pode-se verificar que a manifestação da
ordem v1 cl v2 ora ocorre em estruturas que não demonstram a presença de elementos
intervenientes entre os verbos do complexo (exemplos 1 a 8), ora em construções com
material interposto (exemplos 9 a 12). Saliente-se que, dos 25 casos da colocação intra-
LVC sem hífen encontrados no PB, essa variante é registrada em maior número em
domínios desprovidos de elementos intervenientes (16/25 dados).
181
Compare-se aos 25 registros de v1 cl v2 do PB a marca de apenas 7
manifestações dessa mesma variante no corpus europeu que privilegia a estrutura com
hífen (v1-cl v2), atestada em 30 dados. É oportuno salientar que os testemunhos da
posição intra-LVC sem hífen no PE ocorrem apenas em complexos com elemento
interveniente em sua maioria a preposição de , o que sugere um efeito proclisador
interno ao complexo verbal:
Ex
13
.:
Na capoeira, a galinha raivosa, reconhecendo o outro enjeitado à luz da manhã, acabava
de o matar à bicada, lançando-o fora do cesto. [FA-PE-LVC-29]
Ex
14
.:
de lhe isso servir de muito! - rosnou o Paula, afastando-se. [EQ-PE-LVC-29]
Ex
15
.:
Mas se ele nem força tinha de se arrastar até lá! Ao que ele chegara!... Clamaria
por socorro... [AB-PE-LVC-32]
Ex
16
.:
Não esperou pela resposta; ou pelo menos não precisou de a saber. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
17
.:
Nem tempo tiveram de lhe gritar. Conforme apareceu sumiu-se. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
18
.:
Pareceu-lhe ver nos criados um ar de susto e de perturbação, que acabou de lhe fazer
[...] medo. [JD-PE-LVC-29]
Ex
19
.:
Rodrigo não tinha que se surpreender. [FN-PE-LVC-52]
No que toca aos poucos registros da colocação v1-cl v2 (10 dados) na variedade
brasileira do Português, contemplem-se alguns dos casos a seguir:
Ex
20
.:
Em todos os maus lugares, onde quer que houvesse uma orgia, um batuque, uma
algazarra qualquer, podia-se jurar que lá se achava Gonçalo [...]. [BG-PB-LVC-19]
Ex
21
.:
Num domingo de junho de 1891, ela sentou-se na sua sala, muito fresca e perfumada; e,
estendida numa cadeira de balanço, perto da janela, pôs-se muito sossegadamente a ler
um jornal do dia. [JL-PB-LVC-29]
Ex
22
.:
Voltada para o sonho, ela continuou imóvel, com os membros lassos estendidos sob as
roupagens longas e negras do seu ainda rigoroso luto de viuvez, e pôs-se a seguir com o
olhar, que o pensamento erradio tornava ora abstrato, ora pensativo, uma barquinha de
velas pandas que deslizava embaixo, isolada e pequenina, na solidão das águas. [JL-
PB-LVC-29]
Ex
23
.:
A língua do boato murmurava que, no dia seguinte ao da descoberta do crime, o duque
se levantara acabrunhado como um doente; que recebera a visita do Dr. Louro
Trigueiro; que começara-se a dizer então que as jóias tinham sido encontradas. [RP-PB-
LVC-29]
Ex
24
.:
A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-se a cear, calada, abstraída. [RQ-PB-LVC-
32]
182
Ex
25
.:
Quincas Borba procurou com os pés as chinelas; Rubião chegou-lhas; ele calçou-as e
pôs-se a andar para esticar as pernas. [MA-PB-LVC-29]
Ex
26
.:
O sol apontava por trás das montanhas quando o velho que, ao entardecer do dia
anterior, havia apanhado uma pomba-rola com sua armadilha de bambu, saiu de sua
choça e pôs-se a acender um fogo de gravetos para esquentar a água do chá matinal.
[EV-PB-LVC-52]
Os complexos verbais expostos, em sua maioria, encontram-se antecedidos por
conjunção coordenativa, locução adverbial, assim como SN sujeito nominal e
pronominal. Atente-se, entretanto, para o Ex
23
, em que, mesmo mediante a presença de
operador de próclise canônico, o pronome clítico não se posiciona de modo anteposto a
v1. É oportuno salientar que grande parte dos casos de v1-cl v2 se manifesta em
domínio da construção complexa do tipo pôr-se + infinitivo, fato que sugere ser a lexia
destacada uma possível motivação para a ocorrência da variante intra-LVC com hífen.
A propósito da colocação em contexto de início absoluto, aprecie-se a tabela
seguinte:
Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir do contexto de início absoluto
Português do Brasil
Português Europeu
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
0%
0/33
0%
0/33
15%
5/33
85%
28/33
0%
0/49
22%
11/49
2%
1/49
76%
37/49
Tabela 31: Distribuição geral das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo
referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
Em oposição às lexias verbais simples, tanto PB quanto PE não exibem dados de
pronomes átonos em primeira posição inicial absoluta, conforme se constata pelos
índices nulos da variante cl v1 v2. Em tais contextos, a predileção pela ordem pós-LVC
torna-se mais nítida em ambas as variedades contempladas. Eis a aplicação dos valores
expostos na tabela 31 nos gráficos abaixo:
183
Os padrões gráficos permitem observar que, na variedade brasileira do
Português, além da colocação pós-LVC, somente a variante intra-LVC sem hífen se
concretiza. Em contrapartida, note-se que, no PE, a variante intra-LVC com hífen se
apresenta como segunda opção de ordem em início absoluto, seguida pela variante v1 cl
v2, cujo percentual (2%) é ainda menor se comparado ao obtido para os demais
contextos.
De modo a observar o comportamento das variantes sob a intervenção dos
proclisadores canônicos, analisem-se as freqüências percentuais e absolutas expostas na
seqüência:
Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir do contexto de proclisadores canônicos
Português do Brasil
Português Europeu
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
21%
15/70
3%
2/70
21%
15/70
55%
38/70
42%
29/69
3%
2/69
7%
5/69
48%
33/69
Tabela 32: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC
com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
Os números permitem atestar que, em contexto de proclisadores canônicos,
ambas as variedades optam, em primeira instância, pela realização pós-LVC nos
domínios em que, segundo a prescrição gramatical, se recomenda a colocação pré-LVC.
A título de ilustração, leiam-se os dados subseqüentes:
Figura 32: Distribuição das variantes em
início absoluto, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX
Figura 33: Distribuição das variantes em
início absoluto, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX
184
Casos de “v1 v2-cl” em dados do PB dos séculos XIX e XX
Ex
27
.:
Junto ao leito de um moribundo jurou que havia de amá-la para sempre. [JMM-PB-
LVC-19]
Ex
28
.:
Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o cidadão
esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto dele uma folha de
papel, começava a lê-la em tom confidencial! [MAA-PB-LVC-19]
Ex
29
.:
Do hábito que tinha de queixar-se a todo o instante de que pagassem por sua citação
a módica quantia de 320 réis, lhe viera o apelido que juntavam ao seu nome. [MAA-PB-
LVC-19]
Ex
30
.:
Iaiá não quer vê-lo e pede-lhe para não voltar a esta casa. [JL-PB-LVC-29]
Ex
31
.:
Sentia não poder atendê-lo. [NP-PB-LVC-52]
Casos de “v1 v2-cl” em dados do PE dos séculos XIX e XX
Ex
32
.:
Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29]
Ex
33
.:
Sempre o desejo de apoiar as almas necessitadas conduziu os meus actos, porque
penso não se conquistar a salvação cumprindo somente os sacramentos, mas pelas obras
que devem conformar-se com a vontade divina. Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE-
LVC-52]
Ex
34
.:
Para melhor merecer o apreço de Deus, não deveríamos então pô-la à prova? [AAb-
PE-LVC-52]
Ex
35
.:
Mas eu sacrifico-me, a Igreja entende que deve sacrificar-se pela Igreja e pelos
pobres. [RB-PE-LVC-32]
Conforme se pontuará mais adiante, as ocorrências expostas denotam que os
operadores de próclise parecem não atuar de modo tão significativo para a manifestação
da ordem proclítica a v1 como o fazem no domínio das lexias verbais simples. A
respeito da atuação dos proclisadores em contexto de lexias verbais complexas,
reproduzem-se as seguintes considerações de Vieira (2002: 315):
[Em lexias verbais complexas,] Não se pode assegurar, entretanto, a efetiva atuação dos
operadores de próclise, uma vez que, independentemente da presença de tais elementos, a
variante intra-complexo verbal (e até a pós-CV) se concretiza.
Embora, mormente no PB, os elementos proclisadores não interfiram
significativamente na manifestação de próclise a v1 como é de expectativa ,
185
considere-se que os índices de cl v1 v2 exibem, em sua freqüência, acréscimos de
alguns pontos percentuais em ambientes integrados por tais formas, em comparação aos
obtidos no conjunto de todos os contextos e nos domínios de início absoluto.
A fim de visualizar a distribuição das variantes em ambientes de proclisadores
tradicionais, contemplem-se as figuras:
Ressalte-se que, apesar de os elementos proclisadores não promoverem a
realização categórica ou quase categórica da realização de cl v1 v2 em ambas as
variedades, a interferência desses itens se faz de modo mais efetivo no PE (42%) em
comparação ao PB (21%).
No que tange aos contextos constituídos de proclisadores não-canônicos,
analisem-se os números expostos:
Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir de contexto de proclisadores não-
canônicos
Português do Brasil
Português Europeu
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
0%
0/36
22%
8/36
14%
5/36
64%
23/36
14%
8/59
29%
17/59
1%
1/59
56%
33/59
Tabela 33: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das
LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
Uma vez mais, perceba-se que a variante pós-LVC se constitui como a primeira
opção de ordem nas duas variedades do Português. No que concerne ao PB, faz-se
Figura 34: Distribuição das variantes em
domínio de proclisadores canônicos, no
âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos
séculos XIX e XX
Figura 35: Distribuição das variantes em
domínio de proclisadores canônicos, no
âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos
séculos XIX e XX
186
necessário sinalizar a ausência categórica da colocação pré-LVC indiciando que os
proclisadores não-canônicos, de fato, não se apresentam como potenciais motivadores
de tal variante. Pari passu, constate-se que, no PE, ainda que os índices de cl v1 v2
sejam pequenos, os valores obtidos revelam a distinção entre as variedades do
Português: enquanto a chamada subida do clítico assume caráter mais europeu, mesmo
em domínio de operador de próclise não-tradicional (tal como os itens: SN pronome
pessoal (Ex
36
), preposições para (Ex
37
) e de (Ex
38
) e locução adverbial (Ex
39
)), o
Português do Brasil não registra qualquer dado.
Como exemplificação dos registros de cl v1 v2 em face dos proclisadores não-
canônicos, leiam-se, a seguir, os dados:
Casos de cl v1 v2 em dados do PE dos séculos XIX e XX
Ex
36
.:
Eu lhe virei abrir! [AB-PE-LVC-32]
Ex
37
.:
[...] Guida saiu com o perdigoto na mão para o ir deixar no meio dumas moitas. [JCP-
PE-LVC-42]
Ex
38
.:
[...] o coração, assustadoramente parado, parecia que crescera e avolumara a ponto de
lhe ir estourar o peito... [AB-PE-LVC-32]
Ex
39
.:
[...] ele, com menos custo, a pode aumentar, se quiser. [JD-PE-LVC-29]
O contexto de proclisadores não-canônicos permite evidenciar, ainda, um
relativo aumento nos percentuais de v1-cl v2, sendo tais números superiores àqueles
observados para a mesma variante nos demais contextos, nos dados de início absoluto
de oração/período e de proclisadores canônicos. No tocante ao PE, tal como no
Português do Brasil, os números da colocação pós-LVC continuam superiores em
relação aos das demais possibilidades de ordenação pronominal. Note-se, também, que,
para o PE, se diagnostica o contexto de operadores de próclise não-canônicos como
ambiente em que se observa maior freqüência da variante v1-cl v2 em comparação à
obtida em todos os contextos anteriormente contemplados. A respeito dos números
indicados na tabela anterior, ei-los a seguir representados:
187
Observando-se, de forma pormenorizada, o comportamento da ordem em lexias
verbais com infinitivo segundo cada contexto ambiente de início absoluto, de
proclisadores canônicos e de proclisadores não-canônicos , verificou-se a necessidade
de tratamento diferenciado dos dados de início absoluto de oração/período,
principalmente pelo fato de esse domínio não exibir qualquer registro da variante pré-
LVC. Desse modo, o exame da colocação doravante efetuado assume, por decisão
metodológica, o procedimento de contemplar tal como o estabelecido na análise das
lexias verbais simples apenas os casos constituídos de proclisadores canônicos e não-
canônicos. Embora esses contextos também apresentem algumas diferenças
comportamentais em termos de distribuição das variantes, o tratamento conjunto dos
dados permitirá a observação de possíveis motivações para a ordem em função de se
contar com maior número de ocorrências por contexto. Ademais, o tratamento
qualitativo dos exemplos, sempre que necessário, fundamenta a análise dos fatores em
questão.
A ordem dos clíticos pronominais, assim analisada, delineia-se conforme a
seguinte tabela:
Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir dos contextos de proclisadores
canônicos e não-canônicos
Português do Brasil
Português Europeu
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
14%
15/106
9%
10/106
19%
20/106
58%
61/106
29%
37/128
15%
19/128
4%
6/128
52%
66/128
Figura 36: Distribuição das variantes em
domínio de proclisadores não-canônicos,
no âmbito das LVC com infinitivo, no PB
dos séculos XIX e XX
Figura 37: Distribuição das variantes em
domínio de proclisadores não-canônicos,
no âmbito das LVC com infinitivo, no PE
dos séculos XIX e XX
188
Tabela 34: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no
âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX
Os registros contemplados em domínio de proclisadores canônicos e não-
canônicos em conjunto confirmam a variante pós-LVC como posição mais freqüente
nos romances brasileiros e europeus dos séculos XIX e XX. Acompanhe-se, pois, a
leitura de tais números mediante os padrões gráficos representados:
Schei (2003), em sua tese de doutoramento, ao analisar o estatuto da ordem em
romances literários brasileiros e, em certa medida
69
, em obras européias do século XX,
constata, para o Português do Brasil, que a variante proclítica a v1 ocorre muito
esporadicamente nos textos investigados e que a ênclise a v1 também não se manifesta
de modo expressivo. Das variantes mais freqüentes, divulga a autora que o clítico
pronominal, na maior parte de seus dados, ora se antepõe ora se pospõe ao verbo
principal, resultado esse comparável à distribuição aqui atestada. No tocante ao PE, a
estudiosa, em exame de três romances europeus, verifica que a freqüência da ordem
ocorre, de modo significativo, em próclise ao auxiliar (v1) ou em ênclise ao infinitivo
(v2), posições essas compatíveis com os resultados da presente análise.
No que respeita à cliticização em domínio de escrita jornalística, reitere-se que
Vieira (2002), por exemplo, em face dos dados investigados do final do século XX,
69
Conforme o pontuado no capítulo de Revisão da Literatura sobre a colocação, Schei (2003) enfoca o
estudo da ordem no Português do Brasil por meio da análise de seis romances brasileiros. No entanto,
com o anseio de constatar possíveis semelhanças ou discrepâncias entre as variedades do idioma, a autora
lança-mão de três obras literárias do Português Europeu, contemplado tais romances em segunda
instância.
Figura 38: Distribuição das variantes em
domínio de proclisadores canônicos e
não-canônicos, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX
Figura 39: Distribuição das variantes em
domínio de proclisadores canônicos e
não-canônicos, no âmbito das LVC com
infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX
189
verifica a preferência brasileira pelo padrão v1 cl v2, seguido das variantes pré-LVC e
pós-LVC. No âmbito do Português Europeu, apresenta a opção, em primeira instância,
por v1 v2-cl seguida por v1-cl v2. Observe-se, então, pelas ponderações estabelecidas,
que as distinções evidentes entre os corpora jornalístico e literário do PB isto é, entre
a amostra de Vieira (2002) e a compilação de dados do estudo que aqui se efetua não
se procedem do mesmo modo no que respeita à variedade européia. Pontue-se, uma vez
mais, que a investigação de Nunes (2009), também a respeito da ordem em textos
jornalísticos, revela índices maiores da colocação pré-LVC no PB e no PE do século
XIX, com percentuais superiores de pós-LVC no século posterior, em ambas as
variedades.
Efetuadas as considerações concernentes aos fatores integrantes da variável
dependente contemplada, examinam-se, na seqüência, as possíveis interferências do
caráter diacrônico sobre a distribuição das variantes ao longo das fases investigadas dos
séculos XIX e XX, discriminando-se, separadamente, cada contexto anteriormente
apresentado.
Domínio de todos os contextos no PB e no PE dos séculos XIX e XX
Figura 40: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da
publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX
Convém pontuar, dada a consideração de todos os contextos do PB analisados a
um só tempo, que os índices de próclise a v1 se exibem com discreta freqüência
atingindo, na segunda metade da fase 4, sua maior percentagem de concretização
seguida de um declínio quase categórico no fim do século XX. Perceba-se, ainda, que,
na proporção em que a variante intra-LVC sem hífen se opera de forma crescente
assim como se com a colocação pré-LVC da fase 3 para a 4 os valores da ordem
pós-LVC, mais freqüente em relação às outras posições, sofre decréscimo de
190
produtividade, mantendo-se, todavia, com índices superiores comparados aos das
demais variantes.
A respeito da variedade européia do Português, considere-se o gráfico que se
segue:
Figura 41: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da
publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX
A figura exposta denota maior concorrência entre as variantes pré-LVC, intra-
LVC com hífen e pós-LVC, sinalizando números um pouco maiores para a ordem v1
v2-cl e equiparados percentuais de cl v1 v2 e v1-cl v2. O registro (quase) nulo da
variante intra-LVC sem hífen é constante em todo o período investigado.
Domínio de início absoluto de período/oração no PB e no PE dos séculos XIX e XX
Figura 42: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação
dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX
191
Verifique-se, pela evolução da linha gráfica, a inaplicabilidade de dados da
variante pré-LVC
70
em contexto de início absoluto dentre os dados colhidos do PB no
decurso de todas as fases. Os índices nulos verificados para essa posição também se
aplicam para a variante v1-cl v2 em todos os intervalos de tempo verificados. A
propósito da ordem intra-LVC sem hífen, constate-se, do mesmo modo, sua ausência
categórica até a segunda metade do século XIX. Certifique-se de que essa variante, nos
períodos posteriores, assume acréscimos em seus percentuais de freqüência. A respeito
da ordem pós-LVC, observe-se que tal variante assume, até meados da fase 2,
manifestação categórica com declínio nos intervalos de tempo posteriores à medida que
a colocação intra-LVC sem hífen emerge.
No que toca ao PE, eis a figura representada:
Figura 43: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação
dos romances portugueses dos séculos XIX e XX
Tal como o PB, a variedade européia do idioma, em ambiente de início de
período/oração, parece repudiar a próclise a v1, conforme se pode constatar pela
ausência de ocorrências da variante pré-LVC. Ateste-se, ainda, que a inconstância de
aplicação das colocações pós-LVC e intra-LVC com hífen advém de uma suposta
competição entre si ao longo de todas as fases investigadas.
Domínio de proclisadores não-canônicos no PB e no PE dos séculos XIX e XX
70
Perceba-se que a não-visualização da linha gráfica concernente à variante pré-LVC ocorre pelo motivo
de essa colocação apresentar índices nulos em contexto de início absoluto tal como a colocação intra-
LVC com hífen, representada pela linha laranja, que se sobrepõe à verde na figura.
192
Figura 44: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX
Os operadores de próclise não concebidos pela prescrição gramatical como
“atratores” do pronome não parecem atuar no PB como contextos de favorecimento da
colocação proclítica a v1 do mesmo modo que se verifica em início absoluto de
período/oração , consoante se atesta pelos índices nulos de tal variante. Note-se,
quanto às posições v1-cl v2 e v1 v2-cl (considerando, também, v1 cl v2 a partir da
segunda metade da fase 3), que a instabilidade de suas linhas gráficas testemunha a
competição que elas realizam no decurso de todas as fases contempladas.
Convém destacar, a propósito das variantes v1-cl v2 e v1 cl v2, que a ordem
intra-LVC sem hífen, cuja freqüência, até a fase 3, se revela inferior aos percentuais da
posição intra-LVC com hífen, passa a suplantar esta última variante a qual atinge 0%
no fim da fase 5 nos períodos posteriores do século XX. Tal fato indicia a emergência
da variante tipicamente brasileira em contexto de proclisadores não-canônicos.
No que tange ao PE, contemple-se o gráfico abaixo:
Figura 45: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX
193
É oportuno salientar que os chamados proclisadores não-canônicos, embora não
apresentem alta motivação de próclise a v1, se revelam mais atuantes na manifestação
de tal variante exceto no fim do século XX em comparação ao que se verificou no
PB. Sublinhe-se, também, que, enquanto as posições cl v1 v2, v1-cl v2 e v1 cl v2
demonstram percentagens mais baixas de ocorrência, a ordem pós-LVC, principalmente
a partir da terceira fase, exibe números cada vez mais elevados de manifestação,
alcançando valores majoritários no fim do século XX.
Domínio de proclisadores canônicos no PB e no PE dos séculos XIX e XX
Figura 46: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX
A representação exposta no gráfico 46 concede averiguar que, em cotejo com os
outros contextos examinados, os índices de cl v1 v2 apresentam seus maiores valores de
manifestação em ambiente integrado por proclisadores canônicos, mesmo que, nesses
domínios, as variantes intra-LVC sem hífen e pós-LVC se dêem em valores mais
elevados do que a ordem proclítica a v1 no final do século XX. A evolução das linhas
gráficas sugere que os operadores de próclise tradicionais, apesar de apresentarem certa
potencialidade no favorecimento de cl v1 v2 presente no início do século XIX e
retomado no início do XX , não são efetivamente decisivos para a ocorrência da
posição proclítica a v1 de forma altamente produtiva no decurso dos períodos
controlados e chegam a deixar de atuar no fim do século XX.
A fim de conhecer o efeito dos operadores de próclise canônicos no padrão
literário da escrita européia, acompanhe-se a evolução das variantes investigadas:
194
Figura 47: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases
estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX
Dos contextos observados no PE, ressalte-se que é em domínio de proclisadores
canônicos que a variante proclítica a v1 assume, pela primeira vez, valores percentuais
superiores aos atribuídos à ordem intra-LVC com hífen em todas as fases, revelando-se,
na fase 1 (século XIX) e na segunda metade da fase 4 (século XX) períodos nos quais
passa a sobrepujar, também, a variante pós-LVC , como a opção preferencial de
colocação. Entretanto, seu decréscimo a partir do meado do período 4 sinaliza, de outro
lado, a preferência pela variante pós-LVC de modo isolado em relação às outras
posições.
Domínio dos demais contextos (proclisadores canônicos e não-canônicos) no PB e no
PE dos séculos XIX e XX
Dado que, para o desenvolvimento da análise da ordem em construções verbais
complexas com infinitivo, se procede, na maior parte das vezes, ao exame da colocação
em face dos ambientes constituídos de proclisadores canônicos e não-canônicos a um
tempo, contemplem-se, preliminarmente à observação das representações gráficas
construídas, os valores percentuais e absolutos expostos na tabela subseqüente:
195
Fase / Época de publicação dos romances eleitos em dados de Lexias Verbais Complexas com
infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Fase 1
[1834 1866]
21%
4/19
11%
2/19
5%
1/19
63%
12/19
35%
6/17
6%
1/17
0%
0/17
59%
10/17
Fase 2
[1867 1900]
7%
2/29
17%
5/29
4%
1/29
72%
21/29
21%
7/34
29%
10/34
6%
2/34
44%
15/34
Fase 3
[1901 1933]
13%
1/8
13%
1/8
0%
0/8
74%
6/8
35%
7/20
20%
4/20
5%
1/20
40%
8/20
Fase 4
[1934 1966]
33%
7/21
5%
1/21
33%
7/21
29%
6/21
46%
11/24
13%
3/24
8%
2/24
33%
8/24
Fase 5
[1967 2000]
4%
1/29
4%
1/29
37%
11/29
55%
16/29
18%
6/33
3%
1/33
3%
1/33
76%
25/33
Tabela 35: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores fase/época dos
romances eleitos em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo
Associem-se, pois, à exposição dos índices da tabela 35 os gráficos que se
seguem:
Figura 48: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX
O padrão gráfico do PB, no que tange aos contextos constituídos de
proclisadores tradicionais e não-tradicionais, denota, ao longo dos séculos XIX e XX,
índices superiores da variante pós-LVC, revelando um decréscimo a partir da segunda
metade da fase 3 que culmina em percentuais inferiores em relação às variantes pré-
196
LVC e intra-LVC sem hífen em meados da fase 4. Registre-se que, desse período em
diante, a ordem pós-LVC, novamente, assume acréscimos percentuais até a fase 5, na
qual se mantém, mesmo com um sutil percentual de diferença, mais freqüente do que a
variante intra-LVC sem hífen. As posições v1 cl v2 e v1 v2-cl, as duas primeiras
instâncias de opção pela ordem no PB nos fins do século XX, justificam os ínfimos
valores de cl v1 v2 nesse mesmo período.
No que respeita ao evento da colocação no Português Europeu em domínios de
proclisadores canônicos e não-canônicos, acompanhem-se as freqüências subseqüentes:
Figura 49: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas
fases estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX
Na variedade européia, a variabilidade entre as posições pré-LVC, intra-LVC
com hífen e pós-LVC mostra-se de modo mais evidente do que o constatado no PB até a
segunda metade da fase 4. Entretanto, verifique-se que o Português Europeu, nos
momentos finais do século XX, adota, como primeira opção de ordem, a colocação pós-
LVC, a qual assume, de forma isolada, as maiores percentagens de manifestação em
face das posições cl v1 v2, v1-cl v2 e v1 cl v2.
Em consonância às constatações efetuadas mediante a análise das épocas/fases
de publicação dos romances investigados, acrescentem-se as ponderações que se
estabelecem segundo a variável século, de que, a seguir, se trata.
No intuito de observar o fenômeno da ordem na totalidade dos séculos
examinados, sem segmentação por fases, exibe-se a tabela subseqüente:
197
culos investigados em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Século XIX
12%
6/48
15%
7/48
4%
2/48
69%
33/48
25%
13/51
22%
11/51
4%
2/51
49%
25/51
Século XX
16%
9/58
5%
3/58
31%
18/58
48%
28/58
31%
24/77
11%
8/77
5%
4/77
53%
41/77
Tabela 36: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores séculos investigados
em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo
De modo indubitável, a posição pós-LVC constitui-se como a variante de
primeira opção em ambos os séculos nas duas variedades do Português.
Convém ressaltar que, embora v1 v2-cl assuma índices de freqüência superiores
aos das outras colocações, seus maiores valores de ocorrência, no que respeita ao PB,
são verificados no século XIX (69%), observação essa que, conseqüentemente, sublinha
o decréscimo da ordem pós-LVC no século XX (48%) em benefício de outras posições.
A alteração que parece mais relevante vincula-se à posição intra-LVC: enquanto a
variante com hífen sofre decréscimo de 10% do século XIX para o XX, a ordem sem
hífen aumenta sua produtividade em 27 pontos percentuais.
O Português Europeu, em discrepância ao PB, permite verificar uma estabilidade
de comportamento entre os dois séculos. Registre-se apenas a discreta elevação dos
casos da ordenação pré-LVC (31%) e pós-LVC (53%) no século XX. A respeito da
variante intra-LVC com hífen, note-se que os valores indiciam queda em seus pontos
percentuais de freqüência no século XX.
Após as considerações estabelecidas a respeito da diacronia pela qual a ordem é
examinada, segundo os grupos de fatores extralingüísticos época/fase de publicação dos
romances eleitos bem como séculos investigados, acompanhem-se os números da
colocação segundo as demais variáveis externas.
5.2.3.1. A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis
extralingüísticas
198
Examine-se, pois, o fenômeno da ordenação dos clíticos pronominais em
estruturas complexas com verbo principal na forma de infinitivo consoante as seguintes
variáveis:
a) Vozes dos romances contemplados
Comparem-se, a seguir, as freqüências das variantes pelas vozes constatadas nos
romances eleitos para o presente estudo:
Vozes do Romance em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Narrador
personagem e/ou
de 1ª pessoa
8%
1/12
0%
0/12
17%
2/12
75%
9/12
25%
9/35
6%
2/35
6%
2/35
63%
22/35
Narrador de 3ª
pessoa
16%
9/57
16%
9/57
5%
3/57
63%
36/57
25%
13/52
21%
11/52
8%
4/52
46%
24/52
Personagem
14%
5/37
3%
1/37
40%
15/37
43%
16/37
37%
15/41
14%
6/41
0%
0/41
49%
20/41
Tabela 37: Produtividade percentual e absoluta das variantes amalgamadas em face do grupo de fatores
vozes do romance no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo
Por intermédio da tabela 37, verifique-se que a variante mais produtiva na
amostra brasileira, a colocação pós-LVC, ocorre, como padrão preferencial de ordem,
em contextos que se constituem como domínios de narrador de pessoa (75%) e de
pessoa (63%). No que toca a diálogos de personagem, observe-se a opção ora por v1 cl
v2 ora por v1 v2-cl. Resguardadas as particularidades de cada amostra, verifica-se, em
romances da variedade européia, que a colocação pós-LVC também ocorre em números
um pouco superiores às demais posições atestadas. De modo distinto ao que se procede
no PB, a escrita literária européia, no domínio de fala de personagens, exibe índices de
v1 cl v2 nulos. Os valores de v1 v2-cl, nesse contexto, são levemente superiores aos
percentuais observados em contexto de narrador de 3ª pessoa.
Atestadas as devidas influências lingüísticas presentes nos contextos, observa-se
que é na fala de personagens, em primeira instância, e na de narrador personagem, em
segundo lugar, que se verifica maior distância entre o comportamento do PB e do PE.
199
Essa distância é especialmente observável nos índices obtidos para a variante intra-
LVC: os maiores valores para a posição sem hífen, considerada típica da variedade
brasileira, são registrados nos referidos contextos. Ao que parece, esses domínios
propiciariam a reprodução do que seria a norma de uso em cada variedade, enquanto a
voz do narrador observador revelaria um comportamento mais compatível com o que se
idealiza como escrita padrão formal, constituindo-se um contexto inibidor das
diferenças entre as variedades.
A propósito de tais vozes discriminadas, tomem-se as seguintes exemplificações:
Dados de clíticos pelas vozes do romance mediante dados do PB dos séculos XIX
e XX
Narrador personagem (1ª pessoa)
Ex
40
.:
Eu avancei para Emília; e meu passo hirto, e meu olhar abrasado deviam incutir-lhe terror.
[LFT-PB-LVC-52]
Narrador de 3ª pessoa
Ex
41
.:
No momento em que o duque, sem mais poder conter-se, levantava-se do tapete, sentiu
um peso sobre os ombros e tornou a cair de joelhos. [MAA-PB-LVC-19]
Personagem
Ex
42
.:
A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado!... [JL-PB-LVC-29]
Ex
43
.:
Leva este dinheiro; esconde-o bem escondido, que muito pode servir-te no
caminho. [AAr-PB-LVC-32]
Dados de clíticos pelas vozes do romance mediante dados do PE dos séculos XIX
e XX
Narrador personagem (1ª pessoa)
Ex
44
.:
Fernão não respondeu palavra, e continuava a fitá-la com a mesma serenidade. [ArG-
PE-LVC-19]
Narrador de 3ª pessoa
200
Ex
45
.:
Metia entre dentes um pedacito de queijo, logo uma côdea de pão, e fazendo umas
grandes rugas na testa, de quem começa a zangar-se, voltava-se então muito sério. [TC-
PE-LVC-29]
Personagem
Ex
46
.:
Já me custa ler, disse, mas mesmo assim vou levá-lo [...].[JS-PE-LVC-52]
b) Autores dos romances contemplados
Com a finalidade de pormenorizar o evento da ordenação dos clíticos por meio
do presente grupo de fatores, cotejem-se os valores da colocação segundo cada um dos
autores brasileiros eleitos:
Autores contemplados do PB em dados de Lexias Verbais Complexas com
infinitivo
Variedade
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Fase 1
[1834 1866]
Joaquim Manuel de
Macedo
17%
1/6
17%
1/6
0%
0/6
66%
4/6
Manuel Antônio de Almeida
33%
1/3
0%
0/3
0%
0/3
67%
2/3
José de Alencar
20%
1/5
0%
0/5
0%
0/5
80%
4/5
Bernardo Guimarães
20%
1/5
20%
1/5
20%
1/5
40%
2/5
Fase 2
[1867 1900]
Raul Pompéia
0%
0/7
14%
1/7
0%
0/7
86%
6/7
Machado de Assis
14%
1/7
14%
1/7
0%
0/7
72%
5/7
Aluísio Azevedo
13%
1/8
13%
1/8
0%
0/8
74%
6/8
Júlia Lopes
0%
0/7
29%
2/7
14%
1/7
57%
4/7
201
Fase 3
[1901 1933]
Euclides da Cunha
_
_
_
_
Lima Barreto
25%
1/4
0%
0/4
0%
0/4
75%
3/4
Afonso Arinos
0%
0/3
0%
0/3
0%
0/3
100%
3/3
Rachel de Queiroz
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Fase 4
[1934 1966]
Graciliano Ramos
50%
3/6
17%
1/6
0%
0/6
33%
2/6
José Lins do Rego
0%
0/4
0%
0/4
100%
4/4
0%
0/4
Dinah Silveira de Queiroz
43%
3/7
0%
0/7
0%
0/7
57%
4/7
Guimarães Rosa
25%
1/4
0%
0/4
75%
3/4
0%
0/4
Fase 5
[1967 2000]
Érico Veríssimo
20%
1/5
20%
1/5
0%
0/5
60%
3/5
Jorge Amado
0%
0/5
0%
0/5
60%
3/5
40%
2/5
Lygia Fagundes Telles
0%
0/12
0%
0/12
50%
6/12
50%
6/12
Nélida Piñon
0%
0/7
0%
0/7
29%
2/7
71%
5/7
Tabela 38: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores
contemplados em referência ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com
infinitivo
Apesar dos baixos valores registrados por fator, os números demonstram que, de
todos os autores brasileiros cujos escritos constituem as amostras que servem a esta
análise, somente Euclides da Cunha não apresenta o fenômeno da ordem em
construções verbais complexas com infinitivo.
O quadro exposto concede observar que grande parte dos escritores efetua, como
primeira opção de ordem, a colocação pós-LVC de 50 pontos percentuais em diante.
Ressalte-se que, dentre as obras com maiores índices de v1 v2-cl, se apresentam os
textos de Afonso Arinos (3/3 dados), Raul Pompéia (6/7 dados) e José de Alencar (4/5
dados). Leiam-se, assim, alguns exemplos:
Afonso Arinos
202
Ex
47
.:
Leva este dinheiro; esconde-o bem escondido, que muito pode servir-te no caminho.
[AAr-PB-LVC-32]
Raul Pompéia
Ex
48
.:
Quando acabaram de acender-se as luzes também o movimento cessou. Principiaram-
se os serões. [RP-PB-LVC-29]
José de Alencar
Ex
49
.:
Eu avancei para Emília; e meu passo hirto, e meu olhar abrasado deviam incutir-lhe
terror. [JAl-PB-LVC-19]
Pontue-se que, no PB, tal como já se informou, os operadores de próclise
parecem não atuar para a manifestação do fenômeno de subida de clítico conforme se
imaginara.
A propósito da ordem realizada por Graciliano Ramos, verifique-se que, em
comparação aos demais, ele se apresenta como o único escritor a produzir mais casos de
colocação pré-LVC (3/6 dados):
Ex
50
.:
Baleia, o ouvido atento, o traseiro em repouso e as pernas da frente erguidas, vigiava,
aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do bicho e talvez o couro.
[GrR-PB-LVC-42]
Ex
51
.:
Voavam sempre, não se podia saber donde vinha tanto urubu. [GrR-PB-LVC-42]
Ex
52
.:
O que indignava Fabiano era o costume que os miseráveis tinham de atirar bicadas aos
olhos de criaturas que já não se podiam defender. [GrR-PB-LVC-42]
Em discrepância aos exemplos anteriores nos quais se atesta a ordem pós-LVC,
os elementos proclisadores (em Ex
50,
Ex
51,
Ex
52
) parecem exercer a chamada atração do
clítico pronominal.
A propósito dos autores José Lins do Rego (4/4 dados), Guimarães Rosa (3/4
dados) e Jorge Amado (3/5 dados), certifique-se de que esses se constituem como os
literatos que mais produzem a variante v1 cl v2. Considerando-se que essa variante seria
inovadora no PB, pode-se, por hipótese, propor que tais autores seriam inovadores no
sentido de registrar com mais freqüência as tendências do vernáculo brasileiro. Ocorre
que o baixo número de ocorrências e a ausência de descrições lingüísticas mais gerais
de suas obras impedem a confirmação empírica dessa hipótese.
203
José Lins do Rego
Ex
53
.:
Um homem que se preza não deve se entregar. [JLR-PB-LVC-42]
Guimarães Rosa
Ex
54
.:
Então ele desconversou. Mas, naqueles três dias, não descansou de querer me aliviar, e
de formar outros planejamentos para encaminhar minha vida. [GR-PB-LVC-42]
Jorge Amado
Ex
55
.:
Há de se misturar, ninguém pode impedir. [JAm-PB-LVC-52]
As ocorrências supracitadas ilustram que a variante v1 cl v2 ora ocorre em
domínio de estrutura verbal complexa com elemento interposto entre as formas verbais
(Ex
55
) ora em contexto no qual a tradição gramatical recomenda a próclise a v1 (Ex
53
)
ou a ênclise a v2 (Ex
54
). O mesmo, de certo modo, pode ser percebido nos casos
seguintes.
Perceba-se que, em certa freqüência de dados, Lygia Fagundes Telles opta,
igualmente, pelas colocações v1 cl v2 e v1 v2-cl.
Ex
56
.:
Não vão nos pegar, querida. [LFT-PB-LVC-52]
Ex
57
.:
Eu sei que o senhor executa sua tarefa a frio mas desta vez vai recebê-la com mãos
diferentes, a beleza ainda emociona. [LFT-PB-LVC-52]
Observe-se que Bernardo Guimarães se apresenta como o único escritor
contemplado a realizar todas as variantes, sendo a posição pós-LVC a ordem de
primeira instância em seus escritos:
Ex
58
.:
Era também agilíssimo no jogo da faca [...] e com tal destreza se defendia que nem
assim o podiam tocar. [BG-PB-LVC-19]
Ex
59
.:
Em todos os maus lugares [...] podia-se jurar que lá se achava Gonçalo [...].[BG-PB-
LVC-19]
Ex
60
.:
Sua missão acabava de lhe ser revelada pelo céu por um modo solene e miraculoso
[...].[BG-PB-LVC-19]
Ex
61
.:
Quando em Goiás aparecia algum desses valentões [...] ia Gonçalo procurá-lo
[...].[BG-PB-LVC-19]
204
A propósito da variante v1-cl v2, destaque-se que Rachel de Queiroz, em seu
único dado de complexo verbal com infinitivo no domínio dos demais contextos, realiza
o registro, agora ilustrado:
Ex
62
.:
A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-se a cear, calada, abstraída. [RQ-PB-LVC-
32]
Eis, agora, a realidade de colocação segundo os autores portugueses arrolados:
Autores contemplados do PE em dados de Lexias Verbais Complexas com
infinitivo
Variedade
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Fase 1
[1834 1866]
Alexandre Herculano
0%
0/5
0%
0/5
0%
0/5
100%
5/5
Almeida Garrett
67%
2/3
0%
0/3
0%
0/3
33%
1/3
Arnaldo Gama
17%
1/6
17%
1/6
0%
0/6
66%
4/6
Camilo Castelo Branco
100%
3/3
0%
0/3
0%
0/3
0%
0/3
Fase 2
[1867 1900]
Júlio Dinis
37%
4/11
27%
3/11
9%
1/11
27%
3/11
Fialho de Almeida
0%
0/7
0%
0/7
14%
1/7
86%
6/7
Eça de Queiroz
25%
1/4
50%
2/4
0%
0/4
25%
1/4
Trindade Coelho
16%
2/12
42%
5/12
0%
0/12
42%
5/12
Fase 3
[1901 1933]
Abel Botelho
33%
3/9
23%
2/9
11%
1/9
33%
3/9
Raul Brandão
40%
2/5
20%
1/5
0%
0/5
40%
2/5
Aquilino Ribeiro
0%
0/2
50%
1/2
0%
0/2
50%
1/2
Campos Monteiro
50%
2/4
0%
0/4
0%
0/4
50%
2/4
205
Fase 4
[1934 1966]
Alves Redol
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
Vitorino Nemésio
67%
2/3
0%
0/3
0%
0/3
33%
1/3
Augustina Bessa Luís
33.3%
2/6
33.3%
2/6
0%
0/6
33.3%
2/6
José Cardoso Pires
39%
5/13
7%
1/13
15%
2/13
39%
5/13
Fase 5
[1967 2000]
Augusto Abelaira
20%
3/15
7%
1/15
0%
0/15
73%
11/15
Vergílio Ferreira
0%
0/4
0%
0/4
0%
0/4
100%
4/4
José Saramago
22%
2/9
0%
0/9
0%
0/9
78%
7/9
Fernando Namora
20%
1/5
0%
0/5
20%
1/5
60%
3/5
Tabela 39: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores
contemplados em referência ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com
infinitivo
A respeito dos representantes da literatura européia, constate-se que Alexandre
Herculano (5/5 dados), Vergílio Ferreira (4/4 dados), Fialho de Almeida (6/7 dados),
José Saramago (7/9 dados), Augusto Abelaira (11/15 dados), Arnaldo Gama (4/6 dados)
e Fernando Namora (3/5 dados) integram o inventário dos autores que mais levam a
efeito a variante pós-LVC.
Alexandre Herculano
Ex
63
.:
[...] Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que de vir. [AH-PE-LVC-
19]
Vergílio Ferreira
Ex
64
.:
Como queres igualar-te ao imenso e imperscrutável? [VF-PE-LVC-52]
Fialho de Almeida
Ex
65
.:
Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29]
José Saramago
206
Ex
66
.:
Ricardo Reis [...] um destes dias terá de assentar-lhe o fio, que parece dobrado. [JS-PE-
LVC-52]
Augusto Abelaira
Ex
67
.:
Sempre o desejo de apoiar as almas necessitadas conduziu os meus actos, porque
penso não se conquistar a salvação cumprindo somente os sacramentos, mas pelas obras
que devem conformar-se com a vontade divina. Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE-
LVC-52]
Arnaldo Gama
Ex
68
.:
Fernão não respondeu palavra, e continuava a fitá-la com a mesma serenidade. [ArG-
PE-LVC-19]
Fernando Namora
Ex
69
.:
A lotação ou estaria esgotada ou iria esgotar-se num rufo assim que chegasse a
próxima paragem [...]. [FN-PE-LVC-52]
As ilustrações ora apresentadas denotam a ocorrência da posição v1 v2-cl em
orações absolutas/principais bem como em cláusulas coordenadas sindéticas e
subordinadas. Convém sublinhar, ainda, os registros dessa colocação em ambiente
integrado por vocábulo de negação (v.g. Ex
65
), por palavra QU- (v.g. Ex
64
) e por
pronome relativo (Ex
67
), nos quais a próclise a v1 é esperada.
Os maiores índices de realização da variante pré-LVC são advindos dos textos
de Camilo Castelo Branco (3/3 dados), Alves Redol (2/2 dados), Almeida Garrett (2/3
dados) e Vitorino Nemésio (2/3 dados).
Camilo Castelo Branco
Ex
70
.:
Leontina, dias depois, foi para o Convento da Encarnação, onde esteve dois anos e
donde saiu a tomar caldas em Torres Vedras, por consenso do marido, que a foi
visitar e de lá foi com ela à exposição à Londres. [CCB-PE-LVC-19]
Alves Redol
Ex
71
.:
Andei-me nela que nem sombra atrás d'alma penada, mas o patrão arrinca para cima de
quarenta sementes. Se os outros a pudessem comer... [AlR-PE-LVC-42]
Almeida Garrett
Ex
72
.:
[...] e ele vai misturando, no alvoroçado pensamento, conquistas bélicas e amorosas, as
damas que de render e as guerrilhas que de espatifar, e mais que tudo, as
histórias que sobre isso se hão de contar à noite no refeitório dos Grilos hoje [...].[AG-
PE-LVC-19]
207
Vitorino Nemésio
Ex
73
.:
A fúria do o enchia-o de um atrevimento nervoso, como se Margarida estivesse em
perigo ou o quisesse experimentar [...]. [VN-PE-LVC-42]
No que concerne à variante intra-LVC com hífen, observe-se que os números
obtidos revelam índices superiores de tal colocação nos escritos de a de Queiroz (2/4
dados) assim como na obra de Aquilino Ribeiro, sendo este último pontuado como o
escritor que, igualmente, opta por v1-cl v2 e v1 v2-cl. Eis, pois, alguns exemplos:
Eça de Queiroz
Ex
74
.:
Jorge enrolou um cigarro, e muito repousado [...], pôs-se a pensar na sua jornada ao
Alentejo. [EQ-PE-LVC-29]
Aquilino Ribeiro
Ex
75
.:
Entretanto, perfura-se, esbarronda-se e torna-se a perfurar o areal em que assentam
todas as nossas construções [...]. [AqR-PE-LVC-32]
Ex
76
.:
Amplie-se a aventura da duna, e teremos a aventura da humanidade no tempo e no
espaço. Não conseguirá evadir-se! [AqR-PE-LVC-32]
Aquilino Ribeiro, mesmo em possível ambiente favorecedor à próclise (Ex
76
),
revela preferência pela colocação pós-LVC.
No que concerne ao literato Júlio Dinis, note-se que as ordens cl v1 v2 e v1-cl
v2 se igualam em números de ocorrência.
Júlio Dinis
Ex
77
.:
Que empresa é essa em que me andas a cismar há tantos dias? [JD-PE-LVC-29]
Ex
78
.:
Eu, tu e José das Dornas devíamo-nos retirar, porque eles estão agora persuadidos que
nunca envelhecem nem morrem [...].[JD-PE-LVC-29]
Registros equivalentes de cl v1 v2 e v1 v2-cl são verificados nos textos de Raul
Brandão, Campos Monteiro e José Cardoso Pires, conforme o exemplificado:
Raul Brandão
208
Ex
79
.:
Outra época se vai abrir na história da humanidade. [RB-PE-LVC-32]
Ex
80
.:
uma figueira brava conseguiu meter-se nos interstícios das pedras e delas extrair
suco e vida. [RB-PE-LVC-32]
Campos Monteiro
Ex
81
.:
Ultimamente, ouvindo falar de uma cura quase miraculosa realizada por certo médico de
Aveiro, entrara de envidar todos os seus esforços no sentido de conseguir que ele o fosse
ver. [CM-PE-LVC-32]
Ex
82
.:
Ó minhas senhoras! Que feliz surpresa! - bradou o velho capelão, tentando
desnvencilhar-se do capote e fazendo menção de se erguer. [CM-PE-LVC-32]
José Cardoso Pires
Ex
83
.:
No entanto, ele, indivíduo de modos terra a terra, não se podia comparar a qualquer dos
ditos infantes da lavoura. [JCP-PE-LVC-42]
Ex
84
.:
Como de facto passou. Instantes depois Guida recuava um passo e ia sentar-se no chão,
quebrada, numa grande fadiga. [JCP-PE-LVC-42]
Pontue-se, também, que Trindade Coelho fornece freqüência similar de dados
constituídos das ordens intra-LVC com hífen (5/12 dados) e pós-LVC (5/12 dados).
Trindade Coelho
Ex
85
.:
O Tomé pôs-se a roer as unhas, nervoso... [TC-PE-LVC-29]
Ex
86
.:
Não! Parecia responder-lhe o animal. E, abstrato, continuava a envolvê-lo no seu
olhar profundo. [TC-PE-LVC-29]
As variantes pré-LVC, intra-LVC com hífen e pós-LVC ocorrem em números
iguais de registros nas porções textuais analisadas dos romances de Augustina Bessa
Luís:
Ex
87
.:
Germana, sua prima, era, por seu lado, um tipo fatídico das degenerescências, o artista,
o produto mais gratuito da natureza e que se pode definir como uma inutilidade
imediata. [ABL-PE-LVC-42]
Ex
88
.:
E, absorta, pôs-se a murmurar um lento monólogo, olhando à sua frente o caixilho da
porta que comunicava com a cozinha, onde se via a pedra da lareira, arrumada e varrida
de cinza. [ABL-PE-LVC-42]
Ex
89
.:
É já de noite; eu vou levar-te a casa. [ABL-PE-LVC-42]
209
De modo geral, a enorme alternância de comportamento nos poucos dados
registrados por autor o permite traçar generalizações acerca de seus estilos mais ou
menos inovadores quanto ao atendimento à norma. Ademais, os contextos lingüísticos
registrados por autor podem ser mais decisivos para a opção de ordem escolhida do que
o próprio estilo do autor.
c) Gênero / sexo dos autores eleitos
Considerando-se a já esclarecida desproporcionalidade do número de escritores e
escritoras contemplados, observem-se as freqüências obtidas em relação à variável
gênero/sexo:
Gênero / Sexo dos autores contemplados em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Masculino
17%
12/72
10%
7/72
15%
11/72
58%
42/72
29%
35/122
14%
17/122
5%
6/122
52%
64/122
Feminino
9%
3/34
9%
3/34
26%
9/34
56%
19/34
33.3%
2/6
33.3%
2/6
0%
0/6
33.3%
2/6
Tabela 40: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores gênero/sexo
dos autores contemplados em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias
Verbais Complexas com infinitivo
As percentagens indicadas exprimem que, no PB, homens e mulheres optam, de
modo equiparado, pelas colocações pós-LVC e intra-LVC sem hífen em primeira e em
segunda instâncias, respectivamente.
O nero masculino no PE também realiza, na maior parte das vezes, a variante
pós-LVC. Reitere-se que a única autora, cuja obra integra o corpus europeu, Augustina
Bessa Luís, decide por produzir em números exatamente idênticos as variantes
examinadas, salvo a colocação v1 cl v2 (0%).
No que respeita à variante v1 cl v2, de caráter inovador no PB, perceba-se que as
autoras produzem tal posição em 26% dos casos contra 15% da escrita masculina.
Grosso modo, essa diferença percentual sugere que a escrita feminina seria mais
inovadora do que a masculina quanto ao evento da colocação. Com base no que propõe
210
Labov em relação ao comportamento feminino as mulheres seriam mais inovadoras
nos processos de mudança, desde que a variante considerada fosse tida como de
prestígio , pode-se supor que a ausência do hífen na variante intra-LVC não seja
avaliada como um desvio relevante no atendimento à escrita culta literária. Essa
hipótese deve ser aferida em estudo específico da variável gênero/sexo com a ampliação
do número de dados.
Em contrapartida, no Português Europeu, os poucos registros de v1 cl v2 o
concedem traçar hipóteses sobre o caráter inovador/conservador do comportamento
atestado. Isso porque essa variante, além de pouquíssimo produtiva, circunscreve-se
exclusivamente a complexos com elemento interveniente específico, conforme se
descreveu. Além disso, o fato de haver uma escritora impede qualquer tentativa de
generalização.
5.2.3.2. A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis
lingüísticas
Compreenda-se, agora, o evento de ordenação dos clíticos em domínio de
complexos verbais com infinitivo segundo as variáveis de natureza lingüística
controladas:
a) Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa
Com o propósito de observar o fenômeno em face da variável presente,
acompanhem-se os índices subseqüentes:
211
Tabela 41: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença /
ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos
séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com infinitivo
As percentagens expostas evidenciam que, no PB, a variante pós-LVC se faz em
maiores índices em comparação aos das demais posições em complexos com as formas
de/por, com alguns sintagmas (como SN sujeito) e, de forma mais expressiva, com o
item a entre as formas verbais. Quanto à anteposição do pronome ao verbo auxiliar, a
faixa de 20% alcançada em contexto sem elemento interveniente diminui ou nem sequer
se registra em domínios verbais com itens intervenientes, o que faz supor que a
chamada subida do clítico é inibida nessas estruturas. Verifique-se que o único registro
em que se visualiza a interveniência da preposição para demonstra a manifestação da
ordem intra-LVC com hífen em complexo do tipo dar + para + infinitivo. O elemento
que, na única vez em que se manifesta, presencia a realização da ordem v1 cl v2.
O Português Europeu, em oposição ao PB, permite contabilizar maiores
percentuais da ordem pré-LVC no âmbito de complexos com elementos interpostos
entre as formas que os constituem, sugerindo que tais elementos não impedem a
chamada subida do clítico. Apenas nos contextos com de/por interveniente, registra-se
índice mais expressivo da variante intra-LVC sem hífen, conforme já se descreveu
anteriormente. Tal como o PB, a ordenação pós-LVC faz-se mais produtiva em
Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa em dados de
complexos verbais com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Presença de para
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
Presença de de/por
15%
2/13
0%
0/13
23%
3/13
62%
8/13
30%
3/10
0%
0/10
50%
5/10
20%
2/10
Presença de a
0%
0/19
32%
6/19
0%
0/19
68%
13/19
9%
3/32
35%
11/32
0%
0/32
56%
18/32
Presença de que
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
Presença de
sintagma
0%
0/6
17%
1/6
33%
2/6
50%
3/6
30%
3/10
20%
2/10
0%
0/10
50%
5/10
Ausência de
elemento
20%
13/66
3%
2/66
21%
14/66
56%
37/66
38%
28/73
6%
4/73
0%
0/73
56%
41/73
212
estruturas verbais complexas integradas por a e sintagmas intervenientes assim como
em lexias sem itens interpolados.
b) Natureza da oração
A propósito do presente grupo de fatores, contemplem-se os números obtidos:
Natureza da oração em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo (fatores amalgamados)
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Or. absoluta /
principal / coord.
assindética
12%
4/34
9%
3/34
23%
8/34
56%
19/34
25%
12/49
18%
9/49
6%
3/49
51%
25/49
Or. coord.
sindética
3%
1/27
19%
5/27
22%
6/27
56%
15/27
12%
5/42
24%
10/42
2%
1/42
62%
26/42
Or. sub.
desenvolvida /
Estruturas clivadas
25%
10/40
5%
2/40
12%
5/40
58%
23/40
53%
17/32
0%
0/32
6%
2/32
41%
13/32
Or. sub. red. de
infinitivo
0%
0/3
0%
0/3
33%
1/3
67%
2/3
60%
3/5
0%
0/5
0%
0/5
40%
2/5
Or. sub. red. de
gerúndio
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
_
_
_
_
Tabela 42: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais
Complexas com infinitivo
Na variedade brasileira, especialmente no que respeita à colocação v1 v2-cl,
todas as cláusulas controladas se apresentam como contexto favorável à ocorrência
dessa variante, a qual se opera com valores a partir de 56 pontos percentuais, atingindo
índices categóricos (2/2 dados) em orações subordinadas reduzidas de gerúndio.
Verifique-se, também, que a variante v1 cl v2
71
é concebida como a segunda opção de
ordenação em sentenças absolutas, principais, coordenadas assindéticas e sindéticas e
em subordinadas reduzidas de infinitivo. O único contexto em que a próclise a v1 se
manifesta com maior freqüência, uma vez comparados os números percentuais e
71
Uma vez contemplada a tabela exposta no Anexo 5, na qual se discriminam todos os fatores da presente
variável, perceba-se que, em estruturas clivadas, as percentagens de v1 cl v2 se igualam aos números de
freqüência da variante s-LVC no PB dos séculos XIX e XX, contrariando a hipótese de que, em tais
contextos (em comparação às cláusulas subordinadas), a ordem pré-LVC seria evidente.
213
absolutos dessa variante nas demais cláusulas, é o ambiente de orações subordinadas
desenvolvidas. Saliente-se, entretanto, que, apesar de possuir em seus domínios
elementos subordinativos concebidos como proclisadores canônicos, não se observa a
realização de altos índices de cl v1 v2 tal como o averiguado por Schei (2003) ,
sendo esses sobrepujados pela maior ocorrência de v1 v2-cl. A respeito da ordenação
intra-LVC com hífen, registre-se que o contexto de orações coordenadas sindéticas se
revela como o ambiente em que tal variante ocorre de forma mais expressiva (5/27
dados).
No que concerne à variedade européia do idioma, note-se que v1 v2-cl, assim
como no PB, encontra maiores índices de ocorrência em orações absolutas, principais,
coordenadas assindéticas e sindéticas a partir de 51%. As cláusulas subordinadas
desenvolvidas, em oposição ao PB, exibem-se de forma mais atuante (53%) para a
colocação cl v1 v2. As orações subordinadas reduzidas de infinitivo, em número
escasso, apresentaram o clítico na posição anterior ou posterior ao complexo verbal. No
que se refere à variante v1-cl v2, também no PE, seus maiores valores o percebidos
em orações coordenadas sindéticas.
c) Presença de possível elemento proclisador
Para a compreensão do grupo de fatores agora contemplado, analisem-se os
números que se indicam:
Presença de possível elemento proclisador em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
(fatores amalgamados)
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
SN sujeito
0%
0/14
14%
2/14
7%
1/14
79%
11/14
17%
3/18
28%
5/18
5%
1/18
50%
9/18
Conjunções
coordenativas
0%
0/14
36%
5/14
14%
2/14
50%
7/14
4%
1/27
33%
9/27
0%
0/27
63%
17/27
Adv canônicos [aqui, cá, já,
lá] e Operadores de foco
[Ex.: apenas, só, também
(inclusão), até, mesmo, ainda]
30%
3/10
0%
0/10
30%
3/10
40%
4/10
25%
1/4
0%
0/4
0%
0/4
75%
3/4
Adv não-canônicos
[sempre, depois, talvez, agora]
e SAdv em mente
33%
1/3
0%
0/3
0%
0/3
67%
2/3
29%
2/7
29%
2/7
0%
0/7
42%
3/7
214
Loc. adverbiais
0%
0/4
25%
1/4
0%
0/4
75%
3/4
22%
2/9
11%
1/9
0%
0/9
67%
6/9
Preposições
0%
0/1
0%
1/1
100%
1/1
0%
0/1
67%
2/3
0%
0/3
0%
0/3
33%
1/3
Vocábulos de negação
16%
3/19
0%
0/19
37%
7/19
47%
9/19
36%
8/22
0%
0/22
14%
3/22
50%
11/22
Elementos
subordinativos
21%
8/38
5%
2/38
13%
5/38
61%
23/38
50%
18/36
0%
0/36
6%
2/36
44%
16/36
Tabela 43: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da
variável presença de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos
XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Mediante o amálgama de fatores, dado o baixo número de ocorrências em cada
contexto individualizado
72
no PB, perceba-se que os três primeiros domínios nos quais
os maiores registros de cl v1 v2 se verificam são integrados por advérbios não-
canônicos e com sufixo em mente (33%), bem como por advérbios canônicos /
operadores de foco (30%) e por elementos subordinativos em geral (21%).
No Português Europeu, certifique-se de que as preposições (67%), os elementos
subordinativos (50%) e os vocábulos de negação (36%) se revelam como os três
primeiros ambientes de maior ocorrência da ordem pré-LVC.
Como se pode observar, em nenhuma das variedades fica evidente o efeito dos
elementos proclisadores no contexto de complexos verbais com infinitivo,
diferentemente do que se registrou no contexto de lexias verbais simples. Ainda assim,
percebe-se que, na variedade européia, os índices da variante pré-LVC são mais
expressivos. No que se refere aos elementos citados, ressalte-se que os itens
subordinativos, canonicamente apontados como proclisadores, exercem certa atuação
em ambas as variedades, embora em proporções diferentes.
Quanto à variante pós-LVC, a mais produtiva em ambas as variedades, verifica-
se sua realização com maior freqüência no PB nos contextos de SN sujeito (79%),
locução adverbial (75%) e advérbios não-canônicos (67%).
No tocante ao PE, a variante pós-LVC encontra, nos três contextos de maior
produtividade domínios de advérbios canônicos / operadores de foco (75%), de
locução adverbial (67%) e conjunções coordenativas (63%) , índices percentuais a
partir de 63 pontos de freqüência.
72
Para o acompanhamento detalhado de cada possível elemento proclisador, conferir Anexo 5.
215
Destacados os contextos em que se o maior e o menor efeito proclisador,
passa-se a comentar o comportamento específico de alguns contextos controlados
(Anexo 5).
A respeito dos SN sujeitos, em ambas as variedades, a ordem pós-LVC se de
modo mais freqüente em comparação aos índices das demais posições, salvo em
contexto de SN sujeito pronome indefinido listado em alguns compêndios gramaticais
como fator de próclise no qual a ordem pré-LVC, no PE, se manifesta no único dado
colhido.
No que concerne aos domínios integrados por conjunções coordenativas, a opção
pela variante pós-LVC, no PB, faz-se evidente com exceção dos domínios constituídos
de conjunção coordenativa aditiva, em que a ordem v1-cl v2 se apresenta em número
maior do que o registrado pela posição pós-LVC. O verificado no PB pode, de certo
modo, ser constatado no PE, a propósito dos maiores índices de pós-LVC em face das
conjunções coordenativas. Ateste-se, ainda, que, mediante conjunções coordenativas
explicativas, a igual distribuição entre cl v1 v2 e v1 v2-cl pode ser constatada.
Registre-se que, embora a prescrição gramatical recomende próclise a v1 em
face dos chamados advérbios tradicionais (aqui, cá, já, , por exemplo), maiores
percentagens de v1 v2-cl foram computadas nas duas variedades examinadas,
pontuando maiores índices de pós-LVC no PE (2/3 dados) em comparação aos do PB
(4/9 dados). A propósito dos vocábulos adverbiais nem sempre considerados “atratores”
em compêndios normativos (sempre, depois, talvez, agora), destaque-se, no PB, assim
como ocorre em ambientes de advérbios tradicionais, a primeira opção pela variante
pós-LVC (2/3 dados). A freqüência de v1 v2-cl é acompanhada pelo único caso de pré-
LVC. A variedade européia revela semelhante distribuição das variantes cl v1 v2, v1-cl
v2 e v1 v2-cl nos mesmos contextos de advérbios não-tradicionais.
Embora os casos de ordem em contexto de advérbios com sufixo mente não
tenham sido averiguados em números consideráveis (ambiente esse não observado na
amostra brasileira), verifique-se que o único domínio com tal item vocabular exibe, no
PE, a colocação pós-LVC. Os sintagmas adverbiais do tipo locução, em ambos os
corpora, atuam de modo similar aos advérbios canônicos, não-canônicos e àqueles com
mente sufixal, visto que tais locuções se constituem como contexto de maior
freqüência da posição v1 v2-cl.
Em consideração aos chamados operadores de foco (como, por exemplo, os itens
apenas, só, também [inclusão], até, mesmo, ainda), os casos exclusivos de tais
216
elementos em ambas as amostras (1 dado para PB e 1 dado para PE) sinalizam a
manifestação da variante pós-LVC.
Do inventário de preposições consideradas, somente o conectivo de
licenciando a colocação v1 cl v2 se faz presente no conjunto de dados de clíticos em
ambiente de estruturas verbais complexas com infinitivo no PB. A mesma escassez de
contextos constituídos de preposições é verificada para o PE, em que se registrou igual
freqüência de cl v1 v2 (1/1 dado) e v1 v2-cl (1/1 dado) em face da preposição de, assim
como a ocorrência de cl v1 v2 no caso exclusivo do conectivo para.
Acerca dos vocábulos de negação, concebidos nos compêndios gramaticais
como fatores de próclise tradicionais, constate-se que assim como o atestado por Schei
(2003) também esses itens parecem não exercer, no PB, efeito proclisador, haja vista o
registro de maiores percentagens da variante pós-LVC (47%) em detrimento da ordem
pré-LVC (16%), a qual se manifesta, ainda, em números inferiores à colocação v1 cl v2
(37%). Tal como o PB, a variedade européia, em contextos de elementos de negação,
apresenta maior ocorrência da posição pós-LVC (50%). No entanto, em oposição ao
Português do Brasil, PE assume, como segunda opção de ordem em face desses itens, a
colocação pré-LVC (36%) acompanhada da ordem v1 cl v2 (14%).
No que tange aos elementos de natureza subordinativa, considerados como
proclisadores canônicos pela prescrição gramatical, ressalte-se que, no PB, os itens
introdutores de orações subordinadas adverbiais demonstram, em seus domínios,
freqüências mais significativas da variante pós-LVC (4/7 dados) do que as obtidas para
as colocações cl v1 v2 e v1-cl v2. Em contrapartida, no PE, os mesmos itens
subordinativos registram maior produtividade da ordenação pré-LVC (6/7 dados),
figurando apenas um dado na posição v1 cl v2 (1/7 dados).
No que respeita à conjunção integrante que, os registros do PB permitem
evidenciar que tal partícula apresenta em seus domínios percentagens superiores para a
posição pós-LVC seguida da ordem v1 cl v2, cujos índices sobrepujam os valores das
variantes do tipo intra-LVC. Do mesmo modo como ocorre com as conjunções
subordinativas no PE, o que integrante, na maior parte dos casos, sugere favorecimento
à ordem pré-LVC (3/5 dados), estando v1 v2-cl com o registro de 40% (2/5 dados).
No tocante ao que pronome relativo, observe-se que, no PB, tal conector, assim
como os demais elementos subordinativos até o momento considerados, não se revela
decisivo para a ocorrência de cl v1 v2. Nesses domínios de grande freqüência da ordem
proclítica no âmbito das lexias verbais simples, a produtividade da colocação pós-LVC
217
em complexos com infinitivo se revela bem expressiva. Pontue-se que, nesses
ambientes constituídos de relativo que, o PE exibe distribuição equivalente de pré-LVC
(46%) e pós-LVC (46%).
Quanto aos demais pronomes / advérbios relativos, nos dois casos integrados por
tais elementos no PB, a ordem pré-LVC deu-se de modo categórico (2/2 dados). A
variedade européia, de outro lado, registrou, nos 4 dados encontrados, 3 ocorrências de
posição pós-LVC e 1 de colocação pré-LVC.
Tanto no PB (1/1 caso) quanto no PE (1/1 caso), as locuções conjuntivas com o
elemento que registram em seus domínios a ordem pós-LVC.
Os vocábulos QU- interrogativos do tipo pronominal (por exemplo, quem, qual),
observados somente no PB, integram contexto de igual distribuição entre cl v1 v2 e v1
cl v2. A propósito de QU- interrogativo de natureza adverbial (por exemplo, como,
quando), a variedade brasileira do Português registra número equivalente de ocorrência
das variantes v1 cl v2 e v1 v2-cl. O Português Europeu, nesses mesmos contextos de
QU- interrogativo de caráter adverbial, exibe mais casos de v1 v2-cl do que de pré-
LVC.
A partícula que em estruturas clivadas, atestada em complexos verbais com
infinitivo no PB, constitui caso em que se computam valores iguais de v1 cl v2 e v1 v2-
cl.
As únicas ocorrências de sintagma preposicionado (1/1 dado de pós-LVC), de
elemento discursivo fático (1/1 dado de v1 cl v2) e de interjeição (1/1 dado de pós-
LVC), verificadas entre os dados de clíticos em estruturas verbais complexas com
infinitivo no PB, ora mostram realização de v1 v2-cl, ora de v1 cl v2. No PE, houve o
registro exclusivo de pós-LVC em domínio de interjeição.
À vista do detalhamento de cada fator inicialmente previsto para a presente
variável, reafirma-se que, grosso modo, os elementos averiguados não se demonstram
decisivos à manifestação de cl v1 v2 em ambas as variedades (mormente no PB), haja
vista a maior freqüência da variante pós-LVC. Tal fato não corrobora a hipótese inicial
de que a manifestação da posição pré-LVC seria observada de modo expressivo nos
diversos contextos controlados, assim como o constatado no âmbito das lexias verbais
simples, no qual a ordem pré-verbal se faz em valores majoritários.
Sublinhe-se que, no PB, a próclise a v1, esperada em domínio de proclisadores
canônicos, ocorre, em primeira instância, em ambiente de operadores o-tradicionais
218
como os advérbios não-canônicos. O Português Europeu permite vislumbrar números
mais consideráveis de cl v1 v2 em face de preposições, elementos que, embora não
contemplados nas listas dos compêndios normativos, foram apontados por Mateus et alii
(2003) com significativo potencial de motivação no fenômeno de subida de clítico no
PE.
Schei (2003) atesta que, em romances tanto brasileiros como portugueses, a
colocação pós-LVC se destaca em face das demais variantes em contexto de lexias
verbais complexas com infinitivo, mesmo em domínio de proclisadores canônicos. As
constatações da autora podem ser corroboradas, assim, segundo os resultados da
presente análise.
Postula-se, pois, que, a produtividade das variantes, possivelmente, esteja
associada ao tipo de complexo verbal, visto que, em ambientes de conglomerados
verbais com infinitivo, a ordem pré-LVC se faz em menores números do que em
domínio de complexos com gerúndio e particípio, fato esse também pontuado por Schei
(2003).
d) Distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e
complexo verbal
Preliminarmente às ponderações que se pretendem estabelecer acerca da ordem
em face da variável distância entre possível elemento proclisador e seqüência
constituída de clítico e complexo verbal, tomem-se os números indicados:
Distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e complexo
verbal em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo (fatores amalgamados)
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Zero a três
sílabas
15%
14/96
7%
7/96
20%
19/96
58%
56/96
29%
34/117
14%
16/117
3%
4/117
54%
63/117
Quatro a dez
sílabas
25%
1/4
0%
0/4
25%
1/4
50%
2/4
40%
2/5
0%
0/5
20%
1/5
40%
2/5
Onze sílabas em
diante
0%
0/6
50%
3/6
0%
0/6
50%
3/6
17%
1/6
49%
3/6
17%
1/6
17%
1/6
219
Tabela 44: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável
distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e complexo verbal em
referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Os valores ora em debate não permitem sugerir o efeito do presente grupo de
fatores sobre o fenômeno de ordenação dos clíticos em ambientes de complexos verbais
com infinitivo, nas duas variedades, tal como o já pontuado no exame das lexias verbais
simples.
Os fatores, uma vez amalgamados
73
, revelam que, no PB, a posição pós-LVC, se
manifesta em maiores meros em relação às demais variantes em ambientes nos quais
os possíveis elementos proclisadores se encontram em até dez sílabas distantes do
conglomerado integrado por verbo (semi-)auxiliar + infinitivo. A partir de onze sílabas
em diante, igual distribuição de v1-cl v2 e v1 v2-cl pode ser verificada. Advoga-se que
a atuação dos elementos proclisadores quanto à ausência considerável de atração não é
influenciada pelo fator distância, haja vista que a colocação v1 v2-cl se procede como
primeira opção de ordem (56%) até mesmo em domínio de zero a três sílabas de
distanciamento entre o operador de próclise e a seqüência constituída de clítico e
complexo verbal.
No que respeita ao PE, v1 v2-cl manifesta-se, assim como no PB, em maiores
percentagens na distância de até três sílabas. Pontue-se que tanto a posição pré-LVC
quanto a pós-LVC apresentam semelhante freqüência na distância de quatro a dez
segmentos silábicos. Contraponha-se, pois, o valor de 40% de cl v1 v2 em contexto de
afastamento de quatro a dez sílabas ao índice de 29% da mesma variante em ambiente
de zero a três sílabas, de modo a sinalizar a refutação da hipótese de que, quanto maior a
proximidade entre o item proclisador e o segmento clítico e complexo verbal, maior
registro da variante pré-LVC poderia ser observado. Saliente-se, também, que, da marca
de onze sílabas adiante, a ordem v1-cl v2 se faz em números mais elevados no que
respeita às demais colocações.
e) Tempo e modo das formas (semi-)auxiliares
Analisem-se, de antemão, as freqüências percentuais e absolutas registradas:
73
Reitere-se que o quadro referente à exposição de todos os fatores da presente variável se encontra
apresentado no Anexo 5.
220
Fatores amalgamados do grupo tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em dados de Lexias
Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Presente e pretéritos do
indicativo
12%
10/83
12%
10/83
21%
17/83
55%
46/83
26%
25/98
18%
18/98
6%
6/98
50%
49/98
Futuros do indicativo
20%
2/10
0%
0/10
10%
1/10
70%
7/10
25%
4/16
0%
0/16
0%
0/16
75%
12/16
Tempos do subjuntivo
43%
3/7
0%
0/7
14%
1/7
43%
3/7
63%
5/8
0%
0/8
0%
0/8
37%
3/8
Imperativo
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Infinitivo
0%
0/3
0%
0/3
33%
1/3
67%
2/3
60%
3/5
0%
0/5
0%
0/5
40%
2/5
Gerúndio
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
_
_
_
_
Tabela 45: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores
amalgamados da variável tempo e modo das formas (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao
PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Os valores, ora dispostos, permitem pontuar que, em ambas as variedades, os
tempos do indicativo, com especial atenção aos futuros, integram contextos de maiores
freqüências da ordem pós-LVC.
Quanto às formas do futuro, não se registra de fato a posição intra-LVC,
conforme recomenda a prescrição gramatical. O único contexto colhido de futuro do
presente do indicativo, no PB, apresenta a realização de pré-LVC. Em contrapartida,
averigúe-se que, no PE, o mesmo tempo se revela como contexto de maiores
freqüências de v1 v2-cl (8/9 dados). O futuro do pretérito, nas duas variedades
examinadas, interfere nos maiores índices de v1 v2-cl. Pontue-se que, no Português
Europeu, como segunda opção de ordem em ambientes integrados por verbos
flexionados em tal tempo, se verifica a ocorrência de cl v1 v2 em 43 pontos percentuais
(conforme indicado na tabela exposta no Anexo 5).
221
O modo subjuntivo, no que concerne ao PB, aponta equivalente distribuição
entre as colocações pré-LVC e pós-LVC. Em contrapartida, no PE, evidencie-se maior
ocorrência de cl v1 v2 em detrimento de v1 v2-cl.
Saliente-se que, no Português do Brasil, o presente assim como o pretérito
imperfeito do subjuntivo correspondem aos domínios de distribuição equivalente entre
as variantes pré-LVC e pós-LVC. Quanto ao futuro do mesmo modo, o único caso em
que tal tempo se manifesta exibe a ordem v1-cl v2.
Dos tempos do subjuntivo observados no PE, o presente, em dado exclusivo,
revela a ocorrência da posição pós-LVC. No que respeita ao pretérito imperfeito, dá-se a
preferência pela variante cl v1 v2, ao lado do registro da posição pós-LVC.
Quanto ao imperativo, observado somente uma vez no PB assim como no PE,
testemunha naquela variedade a ordem pós-LVC enquanto nesta expõe a colocação v1-
cl v2.
As formas nominais do verbo infinitivo e gerúndio, no PB, apresentam-se como
domínio de freqüência majoritária de v1 v2-cl. Destaquem-se, pois, os índices
categóricos dessa variante em contexto de gerúndio (2/2 casos) assim como a única
manifestação de v1 cl v2 em contexto de infinitivo.
No que tange ao PE, das formas nominais observadas, somente 5 casos de
infinitivo foram obtidos no conjunto de dados de clíticos examinados. Desses casos, 3
registraram a ordem cl v1 v2 e 2, a posição pós-LVC.
À luz dessas considerações descritivas, verifique-se que os tempos do indicativo,
concebidos hipoteticamente como contexto de atuação neutra no fenômeno da ordem,
manifestam, de fato, a variante mais comum em ambas as variedades, a pós-LVC. As
formas do futuro não denotaram por preferência a variante intra-LVC.
No que concerne aos tempos do subjuntivo, perceba-se que a colocação
proclítica a v1 se distribui do mesmo modo como a ordem pós-LVC, no PB. A
variedade européia, por seu turno, permite vislumbrar maior freqüência da posição pré-
LVC em face da ordenação pós-LVC, demonstrando que a atuação dos tempos de
subjuntivo para a manifestação de cl v1 v2 se revela com maior potencialidade do que
no Português do Brasil. Associe-se a essas evidências aquilo que se pontuou no controle
do grupo possível elemento proclisador, reiterando que, no PE, a influência dos
elementos subordinativos, típicos de contextos de subjuntivo, é mais bem observada no
conjunto de seus dados.
222
f) Tipo de clítico pronominal
O quadro exposto conhecimento sobre a distribuição percentual e absoluta da
ordem mediante os fatores amalgamados do presente grupo:
Tipo de clítico pronominal em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo (fatores
amalgamados)
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
Fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Me, te, nos, vos
12%
2/16
0%
0/16
69%
11/16
19%
3/16
18%
4/22
23%
5/22
0%
0/22
59%
13/22
Se reflexivo /
inerente
3%
1/32
22%
7/32
19%
6/32
56%
18/32
12%
5/42
28%
12/42
5%
2/42
55%
23/42
Se indeterminador /
apassivador
58%
4/7
14%
1/7
14%
1/7
14%
1/7
62%
8/13
7%
1/13
0%
0/13
31%
4/13
O, a, os, as
16%
5/32
0%
0/32
0%
0/32
84%
27/32
41%
12/29
0%
0/29
7%
2/29
52%
15/29
Lhe, lhes
16%
3/19
10%
2/19
10%
2/19
64%
12/19
36%
8/22
5%
1/22
9%
2/22
50%
11/22
Tabela 46: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da
variável tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito
das lexias verbais complexas com infinitivo
Observe-se, neste momento, que os átonos pronominais de primeira e segunda
pessoas, no PB, se revelam, na maior parte das vezes sob a ordem v1 cl v2 (69%), ao
passo que no PE a colocação v1 v2-cl é verificada em 59% dos casos com essas formas
pronominais. Esse resultado confirma que a variante tipicamente brasileira, a intra-LVC
sem hífen, se instaura de forma mais produtiva com pronomes que identificam os
interlocutores.
Detalhando o comportamento de cada forma pronominal em questão, registrou-
se que: (i) no que toca ao pronome me, no PB, a variante de maior número de
ocorrências é a posição v1 cl v2, enquanto no PE é preferida a ordem v1 v2-cl; (ii) em
referência ao clítico de 2ª pessoa te, observa-se, no PB, igual distribuição entre as
variantes v1 cl v2 e v1 v2-cl, assim como no Português Europeu, também se registrou
223
maior concretização da variante pós-LVC; (iii) quanto ao pronome nos, nos dois casos
encontrados no PB, averigua-se a opção categórica por realizá-lo em posição v1 cl v2,
enquanto no PE tal clítico se distribui de modo similar entre as variantes v1-cl v2 e v1
v2-cl; (iv) o pronome vos encontrado somente uma vez no PE ocorre em colocação
pós-LVC.
Em cotejo entre o se reflexivo/inerente e o apassivador / indeterminador, a um
tempo, saliente-se que aquele, em ambas as variedades, se manifesta com maior
freqüência na posição pós-LVC, enquanto este, no PB e no PE, se exibe, na maioria das
vezes, na ordem pré-LVC.
Saliente-se que houve apenas um registro de se de natureza indeterminadora em
cada variedade. No PB, ele ocorreu na posição cl v1 v2 e no PE, na ordem v1 v2-cl. Em
ambas as variedades, o clítico se apassivador se apresenta em maior número de dados
sob a colocação pré-LVC.
O quadro exposto concede, ainda, perceber que os acusativos bem como os
dativos, nas variedades brasileira e européia, se manifestam enclíticos a v2 em grande
parte de seus registros, confirmando a tendência atestada em outros estudos sobre o
tema.
g) Tipo de lexia verbal complexa
Observe-se a seguir o comportamento das construções complexas em face dos
fatores amalgamados:
Tipo de lexia verbal complexa em dados de complexos verbais com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Tempos compostos
10%
3/28
0%
0/28
29%
8/28
61%
17/28
32%
11/34
6%
2/34
0%
0/34
62%
21/34
Modais
29%
10/35
5%
2/35
20%
7/35
46%
16/35
42%
16/38
8%
3/38
10%
4/38
40%
15/38
Aspectuais
0%
0/21
33%
7/21
5%
1/21
62%
13/21
6%
2/35
37%
13/35
6%
2/35
51%
18/35
Bi-oracionais com
mesmo referente
sujeito
9%
2/22
5%
1/22
18%
4/22
68%
15/22
39%
7/18
5%
1/18
0%
0/18
56%
10/18
224
Tabela 47: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da
variável tipo de lexia verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no
âmbito dos complexos verbais com infinitivo
Em todos os domínios controlados na amostra brasileira, a variante s-LVC
exibe-se de modo mais produtivo em relação às demais posições, especialmente em
contexto de complexos bi-oracionais com mesmo referente sujeito. Assim como se
verifica no PB, a variante v1 v2-cl também ocorre em números majoritários em todos as
lexias verbais complexas colhidas na amostra européia, salvo em ambiente de (semi-)
auxiliares modais, nos quais os índices da variante pré-LVC sobrepujam levemente (em
2 pontos percentuais) à posição v1 v2-cl.
Quanto ao PB, além da variante mais produtiva, destaca-se que a ordem pré-
LVC se verifica com percentual mais alto em construções modais (cf. detalhamento no
anexo 5), o que parece estar relacionado à forma do verbo modal. As variantes pré-LVC
e pós-LVC distribuem-se de modo equiparado em complexos do tipo ter + de/que +
infinitivo. Os domínios de poder + infinitivo apresentam, em primeira instância, a
ordem cl v1 v2. Tal como se atestou no controle da variável presença/ausência de
elementos intervenientes na estrutura verbal complexa, a estrutura integrada por
preposição para (dar + para + infinitivo) exibe a colocação v1-cl v2 (1/1 dado), a qual
ocorre em 7 de 13 dados da estrutura começar / passar + a + infinitivo. Ao que parece,
estruturas do tipo não se pode fazer mostram-se produtivas na escrita literária brasileira.
Cabe, ainda, ressaltar que a variante tida como inovação brasileira, a intra-LVC
sem hífen, se registra em todos os contextos, com menor expressividade nas construções
aspectuais.
No que concerne ao PE, registre-se, mais uma vez, a maior produtividade da
ordem cl v1 v2 em comparação com a verificada no PB. Detalhadamente, verifica-se
sua ocorrência em complexos do tipo: haver + de/que + infinitivo (3/4 dados), poder +
infinitivo (13/21 dados), costumar + infinitivo (1/1 dado) e querer + infinitivo (6/10
dados). Os escassos registros da posição intra-LVC sem hífen dão-se em domínio de ter
+ de/que + infinitivo (3/5 dados); e precisar + infinitivo (1/1 dado). Nos contextos de
acabar + de/por + infinitivo e chegar + a + infinitivo, as variantes v1 cl v2 (2/5 dados)
e v1 v2-cl (2/5 dados) distribuem-se em igual número de ocorrências. A respeito da
ordem intra-LVC com hífen, constate-se que a mesma se revela nos dois únicos casos
de dar + para + infinitivo.
225
5.3 O fenômeno da interpolação
Convém contemplar, no âmbito da análise da ordem, o evento da interpolação
74
,
concebido como o fenômeno em que o pronome átono, em posição proclítica, se
encontra separado do item verbal devido à presença de um elemento intercalado (entre o
clítico e o verbo), situação essa que acarreta um posicionamento não-contíguo,
conforme o ilustrado na seguinte exemplificação:
Ex
1
.: Só os loucos e os iludidos a não sabem. [VF-PE-LVS-52]
Ateste-se, pois, pelo dado exposto acima, a posição interveniente do elemento de
negação não entre o pronome a e o verbo sabem.
Estudos sobre o fenômeno na história do Português revelam que a interpolação,
freqüente no Português antigo e clássico, pode ocorrer mediante a existência de algum
elemento proclisador. No intuito de verificar, diacronicamente, a produtividade de tal
fenômeno, Martins (1994), considerando os contextos potenciais de interpolação, isto é,
domínios em que o evento pode se manifestar, registra as marcas de 94% da estrutura
com não interpolado e 66% quando a interpolação abrange outro tipo de elemento
como sujeito pronominal ou nominal, sintagma preposicional ou adverbial em dados
do século XIII. Em períodos posteriores, a percepção do decréscimo da produtividade
de interpolação de outros elementos torna-se cada vez mais evidente, restringindo-se,
basicamente, aos casos de não interveniente.
De modo a investigar a produtividade dos registros de interpolação nos corpora
investigados na presente análise, procedeu-se ao cômputo dos casos encontrados no PB
e no PE.
No Português do Brasil, contabilizaram-se apenas 6 registros de interpolação,
todos com não interveniente e realizados nas duas fases do século XIX, tendo sido 2
deles produzidos em texto de Manuel Antônio de Almeida (Fase 1), 2, no romance de
Joaquim Manuel de Macedo (Fase 1) e os outros 3, na obra de Aluísio Azevedo (Fase
2):
74
Martins (1994: 161), em seu estudo intitulado Clíticos na história do português, define a interpolação
como o fenômeno de não adjacência entre o verbo e o clítico, comum no português medieval e clássico;
[passível] apenas quando o clítico precede o verbo; [havendo o contrário, ocorre,] necessariamente
adjacência.”
226
1.
Aquele aperto de mão que no dia do enterro de seu marido Luizinha dera ao Leonardo
não caíra no chão a D. Maria, assim como também lhe não escaparam muitos outros
fatos consecutivos a esse. [MAA-PB-LVS-19]
2.
Verdade é que se não sabiam bem as contas que seu pai havia feito a esse respeito; mas
como era coisa que constava de verba testamentária, D. Maria nada via de mais fácil do
que propor uma demanda, cujo resultado não seria duvidoso. [MAA-PB-LVS-19]
3.
Filipe não falava, por conhecer o propósito em que estavam os três de lhe não deixar
concluir
75
uma só proposição [...] [JMM-PB-C-19]
4.
Como, filho, se você não a alugou das mãos de ninguém?!... Você não sabe se a
mulher é ou era escrava; tinha-a por livre naturalmente; agora aparece o dono, reclama-a,
e você a entrega, porque não quer ficar com o que lhe não pertence! [AAz-PB-LVS-29]
5.
É, se eu soubesse que eles se não demoravam muito ficava para ajudá-lo. [AAz-PB-
LVS-29]
6.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. [AAz-PB-
LVS-29]
No que tange ao PE, verificaram-se 16 ocorrências de interpolação, todas,
igualmente ao PB, caracterizadas por não
76
interveniente. Os registros do fenômeno no
corpus europeu distribuem-se pelos dois séculos analisados, contabilizando-se 8 dados
exatos para ambos os períodos de cem anos. No que concerne ao século XIX, os dados
de não interpolado são advindos das obras de Arnaldo Gama (Fase 1 1 dado), Almeida
Garrett (Fase 2 1 dado), Júlio Dinis (Fase 2 3 dados) e Trindade Coelho (Fase 2 3
dados). A propósito do século XX, de todos os autores contemplados, destaquem-se
Aquilino Ribeiro (Fase 3 1 dado), Abel Botelho (Fase 3 1 dado), Alves Redol (Fase
4 1 dado), José Cardoso Pires (Fase 4 1 dado), Fernando Namora (Fase 5 1 dado) e
Vergílio Ferreira (Fase 5 3 dados) como os escritores responsáveis pelos exemplos de
interpolação na variedade européia do Português, a seguir listados
77
:
1.
Desta singular mistura de qualidades fisiológicas resultava o de João de Mendonça um
destes tipos inexplicáveis, a primeira face, para quem o não conhecesse de perto. [ArG-PE-
LVS-19]
75
Ateste-se uma ocorrência do fenômeno de interpolação em estrutura constituída de verbo causativo +
infinitivo.
76
Consoante Martins (1994), a variedade européia do Português atual, em alguns de seus dialetos,
apresenta ocorrências de interpolação de pronomes retos e advérbios além do elemento não.
77
Arrolam-se, agora, 15 dos 16 dados de interpolação no PE, uma vez que, no início desta seção, a
exemplificação da ocorrência de não interpolado constitui 1 dos casos provenientes da amostra européia.
227
2.
Era o Sr. José U homem bem apessoado, e de tal capacidade e rotundidade nas formas
posteriores, que, por elegante e popular metonímia, lhe chamaram a parte pelo todo, e foi
apelidado José U, ou José outra coisa que a gravidade da minha história me não deixa por
aqui mais clara. [AG-PE-LVS-19]
3.
Em perfeita e exemplar harmonia vivera vinte anos com sua mulher, e então, como depois
que viuvara, manifestou sempre pelos filhos uma solicitude, não revelada por meiguices
que lhe não estavam no gênio mas que, nas ocasiões, se denunciava por sacrifícios de
fazerem hesitar os mais extremosos. [JD-PE-LVS-29]
4.
Correu, em vista disso, à casa do reitor; também o não encontrou. [JD-PE-LVS-29]
5.
Imagine-se pois se o não irritaria a presença de espírito, o ar de gracejo, com que lhe
respondeu o reitor! [JD-PE-LVS-29]
6.
E, por se vingar, o Tomé carregava o semblante numa seriedade muito pesada, e, erguendo
o rosto iracundo, chamava-lhe interesseiro, maroto, afirmando que lhe não dava o pão!
[TC-PE-LVS-29]
7.
Sai-te para dizia ele muito amuado, sem se voltar. Cuidas talvez que te não
conheço, cuidas?! Já te não quero, vai-te! [TC-PE-LVS-29]
8.
Sai-te para dizia ele muito amuado, sem se voltar. Cuidas talvez que te não
conheço, cuidas?!te não quero, vai-te! [TC-PE-LVS-29]
9.
Imprevistamente, ao cabo duma dessas pausas assombrosas, garganta de pária que se não
via cantou [...]. [AqR-PE-LVS-32]
10.
E aflitivamente admirava-se de que a multidão se não espantasse, ao ver aquela
abominável ruína ambulante [...]. [AB-PE-LVS-32]
11.
Sabiam que os não teriam nunca, como o mendigo não teria uns seios de mulher, mesmo
flácidos e descorados. [AlR-PE-LVS-42]
12.
Tudo é terrível enquanto se não conhece. [JCP-PE-LVS-42]
13.
[...] fingira que o não vira. [FN-PE-LVS-52]
14.
Cá em cima, o cheiro a mofo clareou. Mas há ainda o odor forte à sombra e ao tempo, sinal
de abandono e solidão, que se não desvaneceu. [VF-PE-LVS-52]
15.
Segui-a com os olhos para a não perder de vista [...].[VF-PE-LVS-52]
Por meio do cotejo dos dados supracitados referentes às duas variedades
consideradas, verificou-se que os casos de interpolação do PB e do PE integram, na
maioria das vezes, estruturas oracionais subordinadas. Observem-se, ainda, ocorrências
de não interveniente em orações absolutas com a presença de proclisadores, assim como
1 dado de interpolação em contexto de infinitivo preposicionado [Segui-a com os olhos
para a não perder de vista [...].[VF-PE-LVS-52]].
228
À luz das ponderações de Martins (1994), não se verifica a mudança gramatical
que se efetivou para outros elementos, como advérbios, por exemplo, no caso da
interpolação de não na história do Português Europeu ao advento do século XIX. No
entanto, um considerável decréscimo do fenômeno faz-se pressentir no século XX. No
que concerne aos dados do PE investigados na presente pesquisa, resguardadas as
especificidades de tal variedade e a realidade do corpus, verificaram-se os mesmos
índices de não interpolado em ambos os séculos. Cumpre, todavia, ponderar que, por
mais que se registrem exemplificações de interpolação no Português Europeu do século
XX, tais casos, comparados à produtividade de não interpolado no Português clássico e
medieval, se revelam em reduzidas proporções. No âmbito do Português do Brasil,
destaque-se, uma vez mais, a ausência de dados de interpolação nos romances
brasileiros, aqui analisados, durante o decorrer de todo o século XX. Essa ausência
sinaliza uma flagrante diferença entre as duas variedades em contexto literário:
enquanto o PE tende a admitir, ainda que com baixa produtividade, a estrutura com o
elemento não, o PB não apresenta qualquer possibilidade de interpolação na passagem
do século XIX para o XX, mesmo com tal partícula.
Ateste-se que, tal como o observado no conjunto de dados aqui investigado,
Martins (2009), no âmbito do PB, registra, em escritos do século XIX, ocorrências de
não interveniente além de duas manifestações de interpolação do pronome pessoal eu,
não constando, no século posterior, casos de elemento interpolado. No que tange ao PE,
verificou o autor a freqüência de 35 registros de interpolação no século XIX em face de
apenas 2 casos observados no século XX. Martins (2009), mediante a forma como o
fenômeno se apresentou nas amostras contempladas em seu estudo bem como em outras
investigações por ele analisadas, postula que os registros de interpolação nos textos
escritos por brasileiros do século XIX podem ser apreciados como padrões da gramática
do PE ou, até mesmo, da gramática do Português Clássico.
229
6. SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS E REFLEXÕES FINAIS
Em face de todas as constatações evidenciadas ao longo do exame, aqui
promovido, sistematizam-se, neste capítulo de caráter conclusivo, as ponderações que se
julgam relevantes reiterar a propósito do tema da colocação pronominal nas variedades
brasileira e européia do Português Literário segundo a diacronia dos culos XIX e XX.
Após a sistematização dos resultados, apresentam-se reflexões acerca das questões
centrais que estão na base dos diversos estudos sobre o tema (cf. capítulo 2)
propostas na introdução deste trabalho.
Em atendimento aos objetivos almejados, a análise foi efetuada com base nos
pressupostos (cf. capítulo 3) da Sociolingüística Laboviana aplicados à compreensão da
regra variável relacionada ao segundo parâmetro de cliticização, o da precedência,
proposto por Klavans (1985). O tratamento dos dados (cf. capítulo 5) sublinha as
variantes mais produtivas no âmbito da ordem em lexias verbais simples construções
com uma só forma verbal e complexas construções com mais de uma forma verbal
em face da realidade total de 3478 dados, todos obtidos em corpora criteriosamente
constituídos de romances representativos da Literatura de “aquém e além-mar”.
No que respeita aos contextos de lexias verbais simples (cf. capítulo 5, seção
5.1), o exame da colocação, nos 1427 dados do PB, assim como nos 1538 registros do
PE, permite atestar uma distribuição equilibrada entre próclise e ênclise, e baixíssimos
índices de mesóclise.
Quanto à ordem mesoclítica, embora as poucas ocorrências registradas não
permitam generalizações, elas sugerem que a variante apareça em maior variedade de
contextos no PE, sendo uma opção mais natural na escrita literária européia do que na
brasileira. Considerando que a ordem intraverbal se manifesta em contextos estruturais
restritos (com formas de futuro e sem elementos proclisadores), verifica-se que a
mesóclise se constitui, em tais domínios, como primeira opção de ordem pronominal na
escrita literária européia do período investigado. Indubitavelmente, somente uma
investigação específica acerca da variante mesoclítica em corpora diversificados
conjugando, possivelmente, preceitos teóricos que abarquem as noções de gênero
textual bem como de tradição discursiva e procedendo ao levantamento de toda a
expressão temporal do futuro permititratar, com mais propriedade, a produtividade
de tal colocação em ambas as variedades do Português.
230
No que se refere ao equilíbrio entre as variantes proclítica e enclítica, a
observação detalhada dos resultados demonstrou que o comportamento dos dados se
altera de modo fundamental consoante o contexto sintático em que se encontram a
forma verbal e o pronome átono. Em função disso, a compreensão do referido equilíbrio
entre as variantes foi garantida pela separação dos dados de cada variedade em
subamostras, consoante as seguintes estruturas: início absoluto de oração/período e
demais contextos (com elementos proclisadores canônicos e não-canônicos, ora tratados
separadamente ora em conjunto).
A descrição detalhada de cada variedade no decorrer dos séculos XIX e XX
permitiu constatar o seguinte comportamento dos dados:
(i) Os contextos de início absoluto constituem-se como ambiente em que não se
pode observar o fenômeno variável, visto que a ordem enclítica sobrepuja os índices das
demais posições, que permanecem próximas de zero ponto percentual no PB e no PE
em praticamente todas as fases dos séculos XIX e XX. Exceção a esse comportamento
se observa na fase 4 do PB, em que a variedade brasileira registra, ainda que de forma
discreta, dados do comportamento considerado vernacular a variante pré-verbal em
início de sentença. De todo modo, pode-se considerar, consoante Labov (2003), que, no
contexto de verbo inicial, se detecta uma regra categórica ou semi-categórica de
colocação pronominal no PE em todo o percurso e no PB, com exceção da fase 4 do
século XX.
(ii) No que tange aos domínios de possíveis proclisadores, ressalte-se que a
ordem proclítica se manifesta de forma mais produtiva, em ambas as variedades no
decurso dos séculos XIX e XX, diante de operadores de próclise canônicos. Na
variedade européia, a colocação pré-verbal alcança índices quase categóricos. Diante de
operadores não-canônicos, a manifestação da regra variável ocorre de forma mais nítida
em todo o período investigado.
Tendo em vista a distribuição dos dados verificada por variedade, época e
contexto sintático, procedeu-se ao tratamento multivariacional das estruturas em que se
exibem possíveis proclisadores, canônicos ou não-canônicos. Nessa amostra, as
variáveis possível elemento proclisador, época/fase de publicação das obras adotadas,
tipo de clítico pronominal e tempo e modo das formas verbais para ambas as
variedades , assim como os grupos de fatores tonicidade das formas verbais somente
231
para o PB e natureza da oração apenas para o PE revelam-se como as mais
proeminentes à instauração do fenômeno variável.
Isso posto, acompanhem-se as seguintes observações que sintetizam os
resultados encontrados quanto às referidas variáveis:
a) Possível elemento proclisador: Tanto no PB quanto no PE, os índices de
próclise manifestam-se com expressividade em detrimento da colocação enclítica no
que concerne à influência dos chamados proclisadores, especialmente os canônicos.
Ocorre que, considerando-se os resultados obtidos, o condicionamento dos elementos
proclisadores tradicionais se de forma mais efetiva na escrita literária européia do
que na brasileira.
No PE, registram-se índices categóricos ou quase categóricos da ordem pré-
verbal com os operadores canônicos do tipo vocábulo de negação, elemento
subordinativo e advérbio canônico / operador de foco, e, ainda, com preposições (que
figuram em alguns compêndios normativos como elementos que favorecem a variação).
No PB, além de os vocábulos de negação, os elementos subordinativos e os
advérbios canônicos / operadores de foco atuarem com índices um pouco mais baixos
do que os obtidos no PE, observa-se o favorecimento da próclise pelos SN sujeitos do
tipo pronome pessoal, indefinido e demonstrativo nem todos aventados como
proclisadores canônicos.
b) Época/fase de publicação das obras adotadas: A distribuição dos dados
revela que, em ambas as variedades, de modo geral, os índices de próclise se
manifestam com expressividade em comparação aos de ênclise, pelas fases investigadas
segundo os contextos com possíveis elementos proclisadores.
No que tange, particularmente, aos registros do PB, a ocorrência da ordem pré-
verbal não é majoritária na segunda fase do século XIX, período em que, mediante a
implantação da norma gramatical tradicional, alguns estudiosos advogam que a escrita
brasileira teria adotado a ênclise como modelo de colocação pronominal (cf.
PAGOTTO, 1992). Ressalte-se, ainda, que, na fase 4, se contabiliza a maior
produtividade da ordem pré-verbal nos dados brasileiros. A análise variacionista
confirma esses resultados, indicando que, enquanto o fim do século XIX desfavorece a
próclise, a fase 4 a favorece.
232
Com base nos dados do PE, a posição proclítica constitui-se como opção
preferencial em todos os períodos, alcançando sua maior produtividade no fim do século
XX (fase 5). Mediante a ponderação estatística realizada, o estudo registrou que a fase
1, em primeiro lugar, e a fase 5, em segundo, constituem contextos de favorecimento da
próclise.
Comparando as duas variedades, atestou-se que os registros de próclise se
manifestam com mais freqüência na presença de possíveis proclisadores no Português
Europeu do que no Português do Brasil, em quase todas as fases. Esse resultado leva a
crer que o efeito proclisador seja mais efetivo na variedade européia do que na
brasileira.
c) Tipo de clítico pronominal: Todos os clíticos contemplados revelam maior
produtividade de ordem pré-verbal no PB e no PE nos contextos com possíveis
proclisadores salvo as formas contraídas no PB, que registram mais a ênclise.
Todavia, cumpre destacar que, ponderando-se a atuação de todos os pronomes em
conjunto, o tratamento estatístico aponta que, em ambas as variedades, as formas
referentes às primeira e segunda pessoas discursivas, que identificam as vozes do
locutor bem como do interlocutor, se apresentam como os fatores de maior realização
da ordem proclítica. No PB, figura em segundo lugar no favorecimento à próclise os
acusativos de 3ª pessoa e, no PE, o pronome se apassivador / indeterminador.
d) Tempo e modo das formas verbais: A respeito dos futuros do indicativo assim
como dos tempos do subjuntivo, note-se que tais formas verbais, tanto no PB quanto no
PE, se revelam como elementos favorecedores da ordem pré-verbal. Quanto aos
primeiros, sublinha-se que o uso da próclise acaba por evitar a mesóclise. No que se
refere às formas do subjuntivo, registra-se a coatuação, nesses contextos, dos elementos
subordinativos, concebidos como proclisadores canônicos. No PB, também apresentam
discreto favorecimento à variante pré-verbal os tempos do presente e pretéritos do
indicativo. Destaque-se, ainda, o desfavorecimento da próclise por parte das formas de
gerúndio e imperativo.
e) Tonicidade das formas verbais (variável selecionada apenas para o PB): Os
resultados corroboram a hipótese de que a pauta acentual dos vocábulos proparoxítonos
influencia a ocorrência de próclise em detrimento da ênclise.
233
O fato de essa variável ter sido selecionada apenas para o PB sugere, por
hipótese, que o condicionamento de natureza fonético-fonológica se aplique
efetivamente no vernáculo brasileiro, conforme pontuam alguns estudos resenhados
neste trabalho. A confirmação dessa consideração hipotética depende, de modo
indubitável, de investigação específica do parâmetro 3 (KLAVANS, 1985). Vieira
(2002), estudando o comportamento de tal parâmetro a partir de exame de natureza
acústica, confirmou a importância do componente prosódico na delimitação da ligação
fonética do pronome átono no PB. Segundo o estudo, a diferença entre as sílabas
pretônica e postônica, expressiva no PB, mas não no PE, afetaria a colocação
pronominal.
f) Natureza da oração (variável selecionada apenas para o PE): tal grupo de
fatores permite atestar que as cláusulas subordinadas desenvolvidas/clivadas assumem a
forte tendência de motivação da ordem pré-verbal.
Mediante a consideração das lexias verbais complexas (cf. capítulo 5, seção
5.2), o conjunto de 431 ocorrências foi segmentado em três subamostras consoante a
forma do verbo principal, se infinitiva, gerundiva ou participial. Essa segmentação
tomou por base o comportamento diferenciado da colocação pronominal não
sugerido em compêndios gramaticais, mas também confirmado em estudos descritivos
em amostras variadas. Em decorrência dessa decisão metodológica, que gerou
subamostras com número reduzido de dados por contexto estrutural controlado, julgou-
se necessário analisar os dados a partir dos índices percentuais. Saliente-se, ainda, que a
sistematização que ora se apresenta exibe maior grau de detalhamento em que, quando
necessário, se comparam os resultados com os obtidos em outros trabalhos do que o
apresentado para as lexias verbais simples, em função de os complexos verbais terem
recebido menos atenção dos estudos descritivos do fenômeno.
Em face da descrição detalhada dos 23 registros de ordem pronominal no
Português do Brasil e dos 15 dados no Português Europeu, no âmbito dos complexos
verbais com gerúndio de todos os contextos (que não apresentaram em sua maioria
elementos intervenientes), procede-se, subseqüentemente, à sistematização dos
resultados constatados. Saliente-se que os escassos números da ordem em LVC com
gerúndio não concedem estabelecer generalizações a respeito do fenômeno; busca-se,
234
tão-somente e até quando se faz possível, tecer as particularidades que se julgam
conveniente pontuar.
Preliminarmente, destaque-se que a construção ir + gerúndio corresponde ao
tipo de complexo mais freqüente nos dois corpora analisados, tal como o constatado por
Schei (2003), no Português do Brasil. De outro lado, o conglomerado acabar +
gerúndio exibe-se com os menores índices de freqüência tanto no PB quanto no PE.
Dentre os casos examinados, a variante v1 cl v2, na variedade brasileira, e a v1-
cl v2, na européia, constituem-se como os fatores mais freqüentes da variável
dependente analisada. Esse resultado confirma a diferença entre PB e PE apontada em
diversos estudos do fenômeno, no que se relaciona ao comportamento do clítico entre as
formas verbais. Os textos literários demonstram que, enquanto o PB assume por padrão
particular a ordem intra-LVC sem hífen (interpretada como próclise ao verbo principal),
o conjunto de dados europeus de LVC com gerúndio não registra qualquer manifestação
dessa variante.
No que respeita aos parcos dados de início absoluto, a variante v1-cl v2, em
ambas as variedades, ocorre em domínios nos quais os inícios de período bem como de
oração coincidem. Em contrapartida, as posições intra-LVC sem hífen e pós-LVC
revelam-se, nos dados do PB, como as opções de ordem em contextos de início apenas
de orações. Esse resultado sugere que a literatura apresenta rigor no cumprimento da
prescrição gramatical em contextos prototípicos de assinalação da variante, em que o
descumprimento poderia ser facilmente denunciado, qual seja o de início absoluto de
oração e de período.
Em termos diacrônicos, os resultados obtidos acerca da variável fase/época de
publicação sugerem, grosso modo, que as referidas opções preferenciais do PB e do PE
são mais expressivas no século XX do que no XIX. Embora o Português do Brasil, nos
cinco intervalos de tempo controlados, opte por distintas variantes, no século XIX, as
ordens pré-LVC e pós-LVC se distribuem com número equilibrado de ocorrências,
enquanto, no século XX, a variante inovadora v1 cl v2 se exibe de modo majoritário em
face das demais posições. Os resultados de Nunes (2009), no que concerne à colocação
em LVC com gerúndio no âmbito da escrita jornalística, apontam o percentual de 56
pontos para a variante pré-LVC, no século XIX, e de 60 pontos de ordem intra(-)LVC
78
,
78
Novamente, lança-se mão do sinal gráfico de hífen na representação da variante intra-LVC, pelo
motivo de a autora considerar, juntamente, as posições v1-cl v2 e v1 cl v2, devido aos escassos meros
de dados.
235
no século XX. Os padrões literário e jornalístico, pelo que se expõe, apresentam certa
similaridade quanto à distribuição dessas variantes no PB.
No Português Europeu, o decurso dos anos permite verificar que a colocação
pré-LVC assume maiores índices de produtividade no século XIX, sendo a posição v1-
cl v2 a mais freqüente no século posterior. Nunes (2009) contabiliza, também,
percentuais maiores de manifestação da ordem pré-LVC no século XIX, bem como
considerável produtividade das variantes pré-LVC (52%) e intra(-)LVC (47%), no século
XX.
Ao que parece, as generalizações usualmente propostas para a mudança de
padrão de ordem no PB, que se teria iniciado no século XIX e se intensificado no XX,
encontram respaldo nas tendências verificadas nos poucos dados de complexos com
gerúndio desta investigação.
Quanto às variáveis de caráter extralingüístico, pode-se sintetizar o
comportamento dos dados em relação à variante mais produtiva em cada variedade do
Português da seguinte forma:
a) Vozes do romance As variedades contempladas demonstram opções
distintas quanto à colocação nos domínios averiguados: enquanto a ordem mais
freqüente no PB, v1 cl v2, se faz em índices maiores em contextos de narrador
personagem (1ª pessoa) e em falas de personagem instâncias favorecedoras da norma
vernacular brasileira , PE demonstra a posição v1-cl v2, mais produtiva em seu corpus,
em contexto de narrador observador (3ª pessoa).
b) Autoria Do inventário de autores que mais efetuam a ordem v1 cl v2, no
PB, destaquem-se: José Lins do Rego, Guimarães Rosa e Lygia Fagundes Telles. Do rol
de autores portugueses, os literatos Eça de Queiroz, José Cardoso Pires, José Saramago,
Fernando Namora, Vergílio Ferreira e Alves Redol são os responsáveis por maiores
índices de v1-cl v2.
c) Gênero/sexo dos autores contemplados Escritores brasileiros produzem
mais a posição pós-LVC em comparação às escritoras selecionadas as quais optam, na
maior parte dos casos, pela variante tipicamente brasileira v1 cl v2. Os escritos de
autoria masculina parecem ser, quanto à colocação pronominal em LVC com gerúndio,
mais conservadores do que os textos compostos por mulheres. No que se refere ao PE,
236
tal variedade permite pontuar apenas os números majoritários de v1-cl v2 em obras
masculinas, haja vista que os escritos de Augustina Bessa Luís, única autora portuguesa
observada na amostra européia, não apresentam dados de complexos com verbo
principal no gerúndio.
No que se refere às variáveis estruturais que ainda puderam ser observadas,
sistematizam-se os resultados do seguinte modo:
a) Tipo de clítico As variedades brasileira e européia do idioma assumem
discrepâncias de colocação quanto à variável tipo de clítico pronominal. No PB, os
pronomes me e se reflexivo/inerente posicionam-se, na maioria das vezes, em colocação
v1 cl v2. Os acusativos e dativos realizam-se, via de regra, enclíticos a v2 (v1 v2-cl).
Schei (2003), em análise dos tipos de pronomes átonos, observa, tal como neste estudo,
maiores percentuais de me em posição v1 cl v2; todavia, em oposição às evidências aqui
constatadas, o clítico acusativo o assume índices categóricos em domínio de pré-LVC.
Saliente-se que os dados considerados pela estudiosa ocorrem em ambientes
favorecedores da variante proclítica a v1. No que toca ao PE, em oposição ao PB, o
átono se reflexivo/inerente realiza-se, com maior freqüência, em posição v1-cl v2.
Pontue-se, também, que os clíticos me e lhe testemunham, de modo equilibrado, ora a
variante cl v1 v2, ora a posição v1-cl v2. O átono acusativo exibe-se no único dado de
ordenação v1 v2-cl em domínio de LVC com gerúndio no PE.
b) Natureza da oração As estruturas subordinadas desenvolvidas, em ambas as
variedades, figuram como contextos motivadores da ordem pré-LVC. Tal constatação
sugere que os elementos subordinativos constituintes de tais cláusulas exerçam
considerável influência no fenômeno de subida do clítico. No que respeita às demais
sentenças, PB e PE assumem opções díspares de ordem: enquanto, no Português do
Brasil, as orações absolutas/principais/coordenadas assindéticas representam domínio de
freqüência da variante v1 cl v2, sendo essa também verificada ao lado da realização
pós-LVC em estruturas coordenadas sindéticas, a variedade européia do idioma permite
vislumbrar que, em todas as outras sentenças as quais não possuem itens
subordinativos , salvo as subordinadas desenvolvidas, a variante v1-cl v2 ocorre
majoritariamente.
237
c) Possível elemento proclisador do clítico Com exceção dos elementos
subordinativos, favorecedores de cl v1 v2 em ambas as variedades, os demais
proclisadores verificados, concebidos pela tradição gramatical como canônicos, não
demonstram influência decisiva para a manifestação do clítico à esquerda de v1. No PB,
os advérbios, operadores de foco e vocábulos de negação constituem ambiente de
ocorrência categórica da variante v1 cl v2 em vez da ordem pré-LVC. Os dois registros
de advérbio observados no conjunto de dados de LVC com gerúndio no PE apresentam
a variante v1-cl v2 em detrimento de cl v1 v2. Ademais, tanto PB quanto PE exibem
casos de pré-LVC em face de proclisadores não-canônicos, fato não verificado por
Schei (2003), cujos resultados de colocação em LVC com gerúndio demonstram, no PE,
a ocorrência de próclise ao auxiliar quando da presença de algum fator proclítico.
Acredita-se que, em domínios de LVC com gerúndio, à exceção dos elementos
subordinativos, os proclisadores canônicos não atuem na chamada atração do clítico
pronominal do mesmo modo como atuam no conjunto de dados de lexias verbais
simples.
À luz das considerações de Schei (2003), cogita-se que a não-manifestação da
variante pré-LVC, mesmo diante dos proclisadores canônicos, esteja, de algum modo,
associada ao tipo de auxiliar integrante dos complexos verbais com gerúndio, os quais
não permitiriam a adjacência de clítico à esquerda. A autora salienta que suas
constatações não permitem pontuar, exatamente, quais são os auxiliares que impedem a
próclise a v1. Ao considerar somente aqueles que, em seu conjunto de dados,
permitiram algum registro de cl v1 v2, isto é, estar, ficar, ir e andar, a estudiosa verifica
que, igualmente, os índices da posição pré-LVC não se evidenciam em grandes
números.
d) Tempo e modo das formas verbais o PB demonstra maior produtividade da
variante intra-LVC sem hífen nos tempos do indicativo (presente, pretérito imperfeito e
perfeito), assim como no caso exclusivo de imperativo. Somente no único dado de
imperfeito do subjuntivo tempo este típico de sentenças em que se observa a presença
de algum elemento subordinativo , tal como no PE, ocorre a variante pré-LVC.
Observa-se que, na variedade européia, os tempos do indicativo (presente e pretérito
perfeito) salvo o pretérito imperfeito, no qual os índices de cl v1 v2 sobrepujam os
percentuais das demais variantes , considerados contextos neutros quanto ao
238
condicionamento da ordem pronominal (cf. VIEIRA, 2002, por ex.), se exibem como
ambientes de ocorrência da variante intra-LVC com hífen.
Tendo em vista as considerações efetuadas ao longo da análise acerca de todos
os contextos de colocação em lexias verbais complexas participiais formadas por ter
(mais predominante) e haver, sem elemento interveniente (em sua maioria) ,
sistematiza-se o comportamento da ordem examinado a partir dos 29 dados do
Português do Brasil e dos 39 do Português Europeu.
Primeiramente, pelas evidências observadas, as variedades brasileira e européia
do Português revelam maiores similaridades quanto à ordem em domínio de estruturas
verbais complexas integradas de particípio do que em construções constituídas de
gerúndio.
Quanto à variável dependente, pontue-se que, tanto no PB quanto no PE, não se
registra qualquer ocorrência da variante v1 v2-cl em ambiente de complexos
participiais. Em ambas as variedades, manifestam-se as ordens cl v1 v2 e v1-cl v2 no
conjunto de dados analisados. A posição pré-LVC, motivada provavelmente pela forte
potencialidade dos operadores de próclise potencialidade essa não verificada em
contextos de LVC com gerúndio , ocorreu majoritariamente em ambos os corpora.
Cumpre declarar que, embora se tenha contabilizado apenas 1 registro da variante intra-
LVC sem hífen no PB, tal fato demonstra uma relevante diferenciação entre as
variedades examinadas, uma vez que a realização v1 cl v2 não é esperada dentre os
dados do PE. No que respeita especificamente aos casos de início absoluto de
período/oração, perceba-se a exclusividade de ocorrência da ordem v1-cl v2 nas duas
amostras consideradas.
O caráter distribucional das variantes, aqui atestado, vai ao encontro das
constatações de Vieira (2002), Schei (2003) e Nunes (2009), por exemplo, no que tange
aos maiores índices da posição pré-LVC, os quais sobrepujam a freqüência de v1-cl v2
em contexto de verbo principal na forma de particípio.
No que toca ao comportamento das LVC com particípio, não se verifica
qualquer diferença nem entre fases, nem entre séculos que permita confirmar ou
negar tendências relacionadas a mudanças observadas em outros estudos sobre o
fenômeno. Na presente investigação, em praticamente todos os intervalos de tempo
estabelecidos, a posição pré-LVC revela-se em maiores números nos complexos com
239
particípio, o que deve ser relativizado em função dos contextos morfossintáticos que
caracterizam as poucas ocorrências registradas.
No que diz respeito aos possíveis condicionamentos extralingüísticos, não se
podem postular tendências vinculadas aos fatores controlados nos grupos vozes do
romance, escritores contemplados e sexo/gênero dos autores eleitos. Com exceção de
alguns poucos contextos, o número exíguo de dados por fator observado e a maior
concretização da variante pré-LVC impedem a observação de diferenças que permitam
traçar tais tendências.
Quanto ao exame das variáveis lingüísticas, podem-se propor as seguintes
considerações:
a) Tipo de clítico pronominal No PB, todos os pronomes observados, com
exceção do se apassivador (que se posiciona em ordem v1-cl v2 2/2 dados), registram
a variante pré-LVC como opção preferencial. Saliente-se, ainda, que o único dado de
colocação intra-LVC sem hífen ocorre com o pronome me, clítico que, em outros
contextos e trabalhos, costuma favorecer essa variante.
Schei (2003), a propósito dos tipos pronominais observados em ambientes de
conglomerados com verbo auxiliar no particípio, constata que o átono pronominal o se
constitui como a única forma divergente dos demais itens: enquanto os outros pronomes
atestados ocorrem, por vezes, proclíticos ao verbo principal, o acusativo o não é
atestado nessa posição, figurando, assim, na maioria das vezes, em ordem pré-LVC e,
esporadicamente, em posição v1-cl v2, tal como o constatado na presente investigação.
Esse resultado confirma a hipótese de que a fragilidade fonética do clítico acusativo não
permite que ele se submeta aos mesmos condicionamentos sintáticos verificados para
outras formas pronominais.
Em referência ao PE, diferentemente do PB, constata-se maior variação entre as
posições pré-LVC e intra-LVC com hífen. Tal variabilidade fica mais evidente nos
contextos em que se encontram os pronomes me, se reflexivo/inerente e nos, os quais se
mostram mais produtivos na posição intra-LVC com hífen.
b) Natureza da oração Nas amostras brasileira e européia, a posição pré-LVC
manifesta-se categoricamente em contexto de orações subordinadas desenvolvidas (bem
como de optativas no PE), nos quais também imperam os chamados elementos
subordinativos, fortemente potenciais para a ocorrência de próclise a v1. Nos dados do
240
PB, a variante cl v1 v2 ocorre, também, preferencialmente (2/3 dados), em orações
coordenadas sindéticas. Os registros do PE confirmam o aspecto variável normalmente
detectado em ambiente de cláusula subordinada reduzida de infinitivo, em que se
contabilizam percentuais equilibrados de cl v1 v2 e de v1-cl v2. A próclise a v1, nesse
contexto, pode ser possivelmente justificada em razão de essas orações apresentarem,
por vezes, itens prepositivos, os quais, conforme já pontuado por Mateus et alii (2003),
exercem potencialidade de atração na variedade européia.
c) Possível elemento proclisador Em conformidade com a prescrição
gramatical e conforme o atestado por Schei (2003), os itens concebidos como
proclisadores canônicos (como os elementos subordinativos, vocábulos de negação
verificados somente na amostra do PB e advérbios) atuam, assim como em ambientes
de lexias verbais simples, em ambas as variedades, em favor da variante pré-LVC.
Destaque-se, ainda, a ocorrência da ordem proclítica a v1 em domínios de operadores de
próclise não-tradicionais como em contexto integrado por item prepositivo no PE, por
exemplo.
d) Tempo e modo das formas auxiliares Apesar do exíguo número de dados, os
valores alcançados não negam certas tendências usualmente verificadas para as formas
verbais. Temporalidades do subjuntivo que se combinam com elementos
subordinativos e dos futuros do indicativo que usualmente evitam a ênclise e, no PB,
também a mesóclise , quando registradas, revelam índices categóricos da variante cl v1
v2. Quanto às formas nominais, reitere-se que o gerúndio e o infinitivo demonstram
maior produtividade de colocação v1-cl v2, sendo os contextos de infinitivo os
ambientes em que as posições cl v1 v2 e v1-cl v2 (no PE) se exibem em maior
competição.
A propósito das constatações observadas no âmbito das lexias verbais
complexas com infinitivo que conta, considerando-se todos os contextos em
conjunto, com 139 ocorrências no PB, e 177, no PE , certifique-se de que a variante
pós-LVC ocorre em índices percentuais majoritários em face dos demais fatores da
variável dependente analisada. Essa opção preferencial particulariza as construções
verbais complexas infinitivas em relação às lexias integradas por particípio e gerúndio.
241
Cotejando-se as variedades brasileira e européia no conjunto dos dados, também
se verifica distribuição similar das ocorrências no que se refere à ordem pré-LVC, tendo
o PE concretizado a chamada subida do clítico com freqüência um pouco maior.
Desse modo, a diferença mais flagrante entre as variedades do Português quanto
à colocação em domínios de estruturas verbais infinitivas é verificada no âmbito das
variantes v1 cl v2 e v1-cl v2. Confirmando a proposta de que a variante v1 cl v2
constitui inovação da variedade brasileira, que ela não é registrada na história do
Português (v.g. MARTINS, 2009; PAGOTTO, 1992; GALVES, 2001), os dados do PB
registram essa variante em 18% dos contextos. No PE, dá-se a preferência, no caso da
ordem intra-LVC, pela forma hifenizada (17%); os raros casos da variante sem hífen
ocorrem em contextos específicos: os de complexos com elemento interveniente em
sua maioria com preposição de, que atuaria como proclisador interno ao complexo
verbal.
Também isolando os contextos de início absoluto de oração, verifica-se a
diferença entre as variedades: além da ordem pós-LVC, o PB registra a intra-LVC sem
hífen e o PE, a intra-LVC com hífen.
Os demais contextos (com elementos proclisadores canônicos e não-canônicos,
separados ou em conjunto) permitiram observar que, de modo geral, o Português do
Brasil concretiza menos a subida de clítico do que o Português Europeu, registrando a
variante intra-LVC sem hífen por opção. Ressalte-se, porém, que, mesmo na variedade
européia, a subida de clítico não se com a relevância verificada nos dados de lexias
verbais simples. De fato, é a ordem pós-LVC a opção primeira dos complexos com
infinitivo.
No que se refere à distribuição dos dados pelas fases e séculos estipulados no
decurso temporal, evidenciou-se, uma vez mais, ser fundamental a separação dos dados
pelos contextos controlados, especialmente no que tange à oposição início absoluto
versus demais contextos.
A propósito dos dados de início absoluto, a variedade brasileira não exibe
variação no culo XIX, registrando a colocação pós-LVC. No século XX, emerge a
variante intra-LVC sem hífen, que alcança maiores índices da fase 4 em diante. A
variedade européia exibe, ao longo de todo o período, concorrência entre as posições
pós-LVC e intra-LVC com hífen (há raros casos sem hífen). Na fase 4, dá-se a
intensificação no uso de v1-cl v2, variante essa que não chega a ultrapassar os números
de v1 v2-cl.
242
No que concerne aos elementos proclisadores, saliente-se que o PE, embora
tenha por preferência, de modo geral, a variante pós-LVC, demonstra o efeito dos itens
proclisadores (canônicos, especialmente, mas também não-canônicos) em todo o
período controlado, diferentemente do que ocorre no PB. Esse efeito proclisador
europeu revela-se de modo intenso na penúltima fase, especialmente com os elementos
tradicionais, mas se reduz no fim do século XX, em que nítida preferência pela
ordem pós-LVC.
A respeito do Português do Brasil, em comparação com os outros contextos
examinados, os índices de cl v1 v2 apresentam seus maiores valores de manifestação em
ambiente integrado por proclisadores canônicos, ainda que, nesses domínios, a variante
pós-LVC se em valores mais elevados em quase todas as fases. Esse discreto efeito
proclisador, verificado no início do século XIX e retomado no início do século XX,
intensifica-se na fase 4, mas parece se perder no fim do século XX. Nesse período, a
norma literária brasileira impõe-se, fazendo com que coexistam apenas as variantes
intra-LVC sem hífen e a pós-LVC.
No que tange aos grupos de fatores de natureza extralingüística, pode-se
sintetizar o comportamento dos dados de complexos com infinitivo em relação à
variante mais produtiva em cada variedade do Português tal como se segue:
a) Vozes do romance Na fala de personagens, em primeiro lugar, e na de
narrador personagem, em segundo, constata-se maior distância entre o comportamento
do PB e do PE. De acordo com os índices obtidos para a variante intra-LVC, verificou-
se que a concretização da ordem considerada típica da variedade brasileira, a sem hífen,
é mais comum nesses contextos do que nos ambientes relativos à voz do narrador
observador.
Com base nesse resultado, apresentou-se, por hipótese, que os contextos
relacionados a personagem propiciariam a reprodução do que seria a norma de uso em
cada variedade, ao contrário da voz do narrador observador, que motivaria
comportamento mais compatível com o que se idealiza como escrita padrão formal,
constituindo-se um domínio inibidor das diferenças entre as variedades.
b) Autoria Os índices obtidos para cada autor não permitem estabelecer
qualquer generalização quanto ao comportamento da ordem segundo a variável em
243
questão. Embora se trate de poucos dados por escritor, acredita-se que as diferenças de
comportamento reveladas nos escritos dos autores em todas as subamostras
controladas na investigação vão ao encontro das conclusões do trabalho de Schei
(2003). A autora advoga, em linhas gerais, que não é possível estabelecer um modelo
único de colocação para a norma literária, em função das especificidades relacionadas à
autoria.
c) Sexo/gênero do autor Pela razão de a amostra européia se constituir de
apenas uma escritora em face dos autores adotados, não se julgou pertinente sugerir o
efeito de tal grupo de fatores sobre a ordem na variedade referida. Nos dados do PB,
pode-se pontuar que as autoras realizaram a variante v1 cl v2, considerada de caráter
inovador no PB, com maior freqüência do que os autores. Apesar do pouco número de
dados, o estudo tomou por hipótese, amparado nos pressupostos labovianos, que a
diferença percentual sugeriria que a escrita feminina seria mais inovadora do que a
masculina quanto ao evento da colocação.
No que tange aos índices percentuais obtidos com a investigação das variáveis
lingüísticas nos contextos de complexos com infinitivo, propõem-se as considerações
subseqüentes:
a) Presença de elemento interveniente A presença de elementos intervenientes
não se constitui como fator motivador da colocação intra-LVC. Conforme sugerem
alguns estudiosos, a realização da ordem cl v1 v2 parece ser desfavorecida nos
contextos com itens intervenientes, especialmente no PB. Na variedade européia, ao que
parece, mesmo na presença de formas entre os verbos do complexo, -se a subida do
clítico de modo mais freqüente.
b) Natureza da oração As orações subordinadas registram índices maiores
(embora distantes de categóricos) da posição pré-LVC, mais no PE do que no PB, o que
confirma que o efeito proclisador atua de modo mais expressivo na variedade européia
do que na variedade brasileira. Os contextos de orações independentes e coordenadas
sindéticas registram, via de regra, a opção preferencial de cada variedade. As orações
reduzidas, mesmo ocorrendo em número muito baixo, confirmam, no PB, a tendência à
244
variante pós-LVC e, em Portugal (somente as reduzidas de infinitivo), apresentam a
distribuição entre as colocações p-LVC e pós-LVC.
c) Possível elemento proclisador Em nenhuma das variedades, pode-se atestar
a evidente atuação dos elementos proclisadores no contexto de complexos verbais com
infinitivo, diferentemente do que se registrou nos domínios de lexias verbais simples. A
título de ilustração, ambientes com elementos de negação (que costumam se manifestar
como fortes proclisadores) exibem mais a ordem pós-LVC do que a colocação pré-LVC
no PB e no PE. Entretanto, percebe-se que, na variedade européia, os índices da variante
cl v1 v2 são mais evidentes.
Quanto aos elementos controlados, os itens subordinativos, canonicamente
apontados como proclisadores, registram certa atuação em ambas as variedades, embora
em proporções diferentes. O PB não só exibe o efeito proclisador de forma mais
discreta, como também considera elementos não-canônicos (advérbios não tradicionais
e com sufixo em mente) ao lado de canônicos (advérbios / operadores de foco e
elementos subordinativos). No que se refere ao PE, averigua-se que tal variedade
registra percentuais mais altos de pré-LVC na presença de elementos subordinativos e
de preposições.
d) Distância entre proclisador e seqüência constituída por clítico e complexo
verbal Não foi possível sugerir o efeito dessa variável sobre o fenômeno investigado.
Como a atuação dos proclisadores não se mostrou efetiva nas lexias complexas com
infinitivo, não era de fato esperada a atuação da distância entre eles e o clítico.
e) Tempos das formas (semi-) auxiliares Os tempos do indicativo manifestam,
de fato, a variante mais comum em ambas as variedades, a pós-LVC, o que indica que
eles possuem uma atuação neutra quanto ao evento de colocação. As formas do futuro
não registraram por preferência a variante intra-LVC. Quanto aos tempos do subjuntivo,
no PB, a colocação proclítica a v1 distribui-se na mesma proporção que a pós-LVC. A
variedade européia registra maior freqüência da ordem pré-LVC em face da colocação
pós-LVC, demonstrando que a atuação dos tempos de subjuntivo para a manifestação de
cl v1 v2 se revela com maior potencialidade no PE do que no PB. Quanto às demais
formas, a raridade das ocorrências não permite qualquer generalização.
245
f) Tipo de clítico Também nos dados de complexos com infinitivo, os
pronomes de primeira e segunda pessoas revelam mais, no PB, a variante considerada
tipicamente brasileira, a ordem v1 cl v2. No PE, entretanto, verificou-se, com essas
formas pronominais, mais uma vez, a colocação v1 v2-cl como opção preferencial.
O se reflexivo/inerente denota a variante mais produtiva, a pós-LVC, com maior
freqüência. O apassivador / indeterminador, em ambas as variedades, guardadas suas
proporções, exibe-se, na maioria das vezes, na ordem pré-LVC isso confirma, apesar
do baixo número de dados, a diferença entre os tipos de se, e a hipótese de que a
adjacência ao primeiro verbo é típica das estruturas indeterminadoras. Observe-se,
porém, que, embora como tendência geral o resultado obtido para o se se aplique a
ambas as variedades, as constatações observadas são mais contundentes no PB. No
conjunto de dados do PE, dá-se a subida do se reflexivo/ inerente em um número maior
de registros.
Os clíticos acusativos e dativos de pessoa manifestam-se enclíticos a v2 em
grande parte de suas ocorrências, confirmando a tendência atestada em outros estudos
sobre o tema para o contexto com infinitivos.
g) Tipo de complexo verbal No PB, atestou-se maior produtividade da variante
pós-LVC em todos os tipos de construção, com mais destaque para o contexto de
complexos bi-oracionais com mesmo referente sujeito. A variante tida como inovação
brasileira, a intra-LVC sem hífen, ocorre em todas as estruturas, com menor
expressividade nas construções aspectuais. Além da variante mais produtiva, a
colocação pré-LVC ocorre com percentual mais alto em complexos integrados por
modais, o que parece estar relacionado à forma do verbo modal estruturas do tipo
(não) se pode fazer (e não: (não) pode se fazer) parecem produtivas na escrita literária
brasileira.
Na variedade européia, também se contabilizou a maior freqüência da variante
v1 v2-cl em todos as lexias verbais complexas, salvo em ambientes de (semi-)auxiliares
modais, nos quais se observaram índices um pouco maiores da ordem p-LVC. Em
cotejo com o PB, constatou-se que ocorre maior produtividade da ordem cl v1 v2.
Feita toda a sistematização dos resultados em cada subamostra contemplada,
apresentam-se, por fim, breves reflexões a respeito das três grandes questões científicas
246
usualmente relacionadas ao tema da ordenação dos clíticos pronominais, citadas na
introdução do presente trabalho.
A primeira delas diz respeito à relação entre a norma idealizada em manuais
prescritivos, supostamente construída a partir dos textos literários que constituiriam o
bem escrever, e a efetiva norma de uso atestada no material analisado.
Em consideração ao tema da ordem dos clíticos pronominais, este estudo
permite atestar que tanto os romances brasileiros quanto os europeus refletem, em
quantidade de dados e qualidade diferenciadas, as regras apresentadas em tais manuais,
mas não revelam o pleno cumprimento das propostas tradicionais. Em outras palavras,
os resultados desta pesquisa permitem sugerir certo grau de incompatibilidade entre as
normas subjetiva e objetiva do que se considera a escrita culta padrão.
De fato, dá-se o respeito, em certa medida, por exemplo, às regras de que não se
deve iniciar sentença com o clítico pronominal e de que determinados elementos,
chamados “atratores”, atuam no sentido de determinar a próclise. Comparando as duas
variedades, pode-se afirmar, entretanto, que o atendimento a essas regras se expressa de
forma mais efetiva na norma de uso européia do que na brasileira. No PE, os índices
obtidos da ordem pré-verbal são categóricos ou quase categóricos e os contextos em que
se a suposta atração são, grosso modo, compatíveis com os proclisadores
tradicionais, exceto no caso das preposições, que nem sempre são elencadas nas listas
apresentadas pelos compêndios tradicionais. No PB, os valores que confirmam a regra
tradicional são, via de regra, um pouco menos elevados e, em termos qualitativos, ao
lado dos atratores tradicionais, a categoria de alguns sujeitos demonstra certo efeito
proclisador.
No contexto das lexias verbais complexas, a incompatibilidade entre o que
propõe a tradição normativo-gramatical e o que se verifica nos dados da pesquisa é,
indubitavelmente, maior. Podem-se destacar, nesse sentido, duas das tendências
delineadas a partir da sistematização dos resultados:
(1) Nem no PB, nem no PE, a atuação dos operadores de próclise é verificada
em complexos verbais com índices comparáveis aos obtidos no contexto das lexias
verbais simples. Nas estruturas participiais, esse efeito é um pouco mais evidente do que
nas construções com gerúndio e com infinitivo. No que toca às construções complexas
infinitivas, em particular, a tendência geral à colocação pós-LVC registrada nos dados
está longe de representar o que propõem os compêndios normativos. Destaque-se, ainda,
247
que o padrão idealizado não apresenta as diferenças obtidas em relação aos tipos de
clíticos, o que, sem dúvida, distancia a proposta tradicional das regras de uso, de forma
relevante.
(2) No âmbito do Português do Brasil, particularmente, verifica-se a
concretização de uma variante não contemplada, como regra, nos manuais prescritivos,
a colocação intra-LVC sem hífen. Ressalte-se, a esse respeito, que a presença dessas
estruturas na norma idealizada pelos manuais figura como uma espécie de concessão
aos padrões brasileiros, mas não como modelo a ser seguido pela modalidade escrita
literária. Essa concessão é apresentada por Pagotto (1998) na tese defendida em artigo
que trata da implantação da norma lusitana nas gramáticas brasileiras. Segundo o autor,
as normas de uso brasileiras seriam admitidas nos compêndios gramaticais tradicionais
num discurso de condescendência.
A partir do debate relativo à primeira questão, se pôde delinear a contribuição
dos dados desta pesquisa em relação ao segundo questionamento proposto: os resultados
indiciam normas diferenciadas no PB e no PE?
Embora haja diversas semelhanças entre as tendências verificadas na aplicação
da regra variável, as diferenças observadas entre os dados do PB e do PE são além de
quantitativamente distintas, conforme se apresentou qualitativamente suficientes
para sugerir que os dados literários sinalizam normas de uso diferenciadas no Português
do Brasil e no Português Europeu. Nesse sentido, destaquem-se, em especial, duas
estruturas verificadas nos romances brasileiros e, de modo geral, não constatadas nas
obras européias: a próclise em início de oração e a próclise ao verbo principal.
Isso posto, os resultados permitem postular, ao menos, uma competição de
normas nos textos literários brasileiros: entre o padrão idealizado pelos compêndios
gramaticais e o padrão de uso atestado em outros estudos acerca do fenômeno (VIEIRA,
2002; NUNES, 2009), no âmbito do vernáculo do Português do Brasil. Dentro do
escopo sociolingüístico assumido na presente investigação, a referida competição de
normas também pode ser atestada na variedade européia, todavia de forma discreta,
tendo em vista que algumas estruturas não são totalmente compatíveis com a norma
idealizada.
248
Por fim, no que tange ao percurso diacrônico, objeto da terceira questão
formulada para reflexão, os dados da pesquisa permitem avaliar se houve situação de
mudança no PB e/ou no PE.
Em consideração aos dados de início absoluto de oração no que concerne às
lexias verbais simples, os dados da pesquisa não permitem postular mudança de
comportamento lingüístico nem no PB, nem no PE, tendo em vista a ênclise categórica
ou quase categórica. Cabe salientar, entretanto, que a exceção verificada na fase 4 do
PB que registra a variante pré-verbal em início absoluto sugere que os casos de
próclise, que são mais evidentes nesse período, sejam indícios da mudança
supostamente iniciada no PB vernacular desde a segunda metade do século XVIII
(PAGOTTO, 1992). Saliente-se que o intervalo de tempo compreendido pela fase 4 se
caracteriza pelo forte apego ao que representaria a identidade nacional brasileira, o que
pode, por hipótese, se relacionar ao fato de, não só no contexto de lexias verbais
simples, mas também no de complexos verbais, essa fase registrar índices destoantes em
face dos obtidos para outras fases investigadas.
No que se refere, principalmente, aos contextos com possíveis elementos
proclisadores, a evidência de a ordem pré-verbal não ser majoritária na segunda fase do
século XIX pode sinalizar o peso que teve a implantação do modelo lusitano na norma
gramatical brasileira. Nesse sentido, os dados de ênclise podem ser reflexo da adoção de
um modelo “estrangeiro” na literatura praticada no Brasil (cf. PAGOTTO, 1998).
Quanto aos ambientes integrados por possíveis elementos proclisadores na variedade
européia, sublinhe-se, apenas, o maior favorecimento à próclise no início do século
XIX. Segundo alguns estudos (como os de GALVES, BRITTO & PAIXÃO DE
SOUSA, 2005 e MARTINS, 2009), essa maior tendência à variante pré-verbal pode
constituir um resquício de períodos mais antigos do Português, em que a ordem
proclítica seria a regra em praticamente todos os casos, exceto em início absoluto.
Considerando os resultados alcançados para a variável fase/época de publicação
nos contextos de complexos verbais, destaca-se que a suposta mudança de padrão de
ordem no PB, em que a variante v1 cl v2 teria sido implantada no século XIX e se
intensificado no XX (cf. CYRINO, 1996), encontra respaldo nas tendências verificadas
nos poucos dados de complexos com gerúndio desta investigação.
Nos registros de construções verbais complexas com infinitivo, verificou-se,
também nos dados do PB do século XX, a variante intra-LVC sem hífen, que alcança
maiores índices da fase 4 em diante. Ressalte-se que, no fim do século XX, a norma
249
literária brasileira se impõe com feições próprias, fazendo com que coexistam apenas as
variantes intra-LVC sem hífen e a pós-LVC.
De modo geral, os resultados diacrônicos, ao demonstrarem maior estabilidade
de comportamento na norma de uso praticada na variedade européia do que na
brasileira, sinalizam a implantação de um padrão de uso brasileiro diferenciado, com
maior ou menor expressividade em função das fases no decurso temporal. Nesse
sentido, os registros analisados revelam que é no século XX que as prováveis mudanças
operadas no decorrer do século XIX apresentam reflexos na norma de uso literária, e
ainda com mais nitidez a partir do período 4 contemplado.
Por todas as constatações efetuadas, espera-se que a sistematização dos
resultados, aqui empreendida, e as reflexões propostas ao fim do presente trabalho
possam efetivamente contribuir para o conhecimento de que se dispõe acerca do
fenômeno da ordem dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do
Português, testemunhado no decurso dos séculos XIX e XX. De modo indubitável, as
interpretações que, por ora, foram formuladas como hipóteses interpretativas serão
objeto de análise de futuras etapas investigativas, nas quais se pretende ampliar o
material, especialmente no que se refere aos contextos de lexias verbais complexas e,
ainda, aprofundar o exame acerca da implantação histórica da norma constatada no
Brasil e em Portugal.
250
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<www.bnportugal.pt>. Acessado em 2008 / 2009.
<www.instituto-camoes.pt>. Acessado em 2008 / 2009.
79
Esclarece-se que os endereços eletrônicos arrolados foram consultados durante o decurso dos anos de
2008 e 2009, indicando-se, por esse motivo, somente o ano sem a especificação do dia e do mês nos quais
o acesso foi efetuado. Ressalte-se que as páginas indicadas concernem às inúmeras pesquisas realizadas
acerca da biobibliografia dos autores contemplados, bem como das consultas em meio eletrônico das
obras que se encontram disponibilizadas em domínio público. Reitere-se que os romances obtidos em
meio digital foram cotejados com edições impressas.
258
ANEXOS
259
Anexo 1
Obras literárias utilizadas na composição dos corpora brasileiro e europeu dos séculos
XIX e XX
Português do Brasil
Século XIX
Fase 1 [1834 1866]
Joaquim Manuel de Macedo (1820 1882) A moreninha [1844].
Edição examinada: MACEDO, Joaquim Manuel de. A moreninha (1899). Rio de Janeiro:
Paris, H. Garnier. [1844]
Manuel Antônio de Almeida (1831 1861) Memórias de um sargento de Milícias: por um
brasileiro [1854 1855].
Edição examinada: ALMEIDA, Manuel Antônio de [1854 1855]. Memórias de um
sargento de Milícias: por um brasileiro. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense de Maximiano
Gomes Ribeiro.
José de Alencar (1829 1877) Diva (perfil de mulher)[1864].
Edição examinada: ALENCAR, José de [1864]. Diva. Rio de Janeiro: B. L. Garnier.
Bernardo Guimarães (1825-1884) O ermitão de Muquém [escrito em 1858 e publicado em 1869].
Edição examinada: GUIMARÃES, Bernardo. O ermitão de Muquém [1869]. Rio de
Janeiro: B.L. Garnier.
Fase 2 [1867 1900]
Raul Pompéia (1863 - 1895) As Jóias da Coroa [1882].
Edição examinada: POMPÉIA, Raul [1882]. As Jóias da Coroa. In: COUTINHO, Afrânio
(org.) (1981- 1984). Obra completa. Rio de Janeiro: INL.
Aluísio Azevedo (1857 1913) O Cortiço [1890]
Edição examinada: AZEVEDO, Aluísio [1890]. O cortiço. Rio de Janeiro: Garnier.
Machado de Assis (1839 1908) Quincas Borba [Publicado, primeiramente, entre 1886 e 1891 na
revista A Estação].
Edição examinada: ASSIS, Machado de [1891]. Quincas Borba. Rio de Janeiro: B. L.
Garnier.
Júlia Lopes (1862- 1934) A Viúva Simões [1897]
Edição examinada: LOPES, Júlia [1897]. A Viúva Simões. Lisboa: A. M. Pereira.
Século XX
Fase 3 [1901 1933]
260
Euclides da Cunha (1866- 1909) Os Sertões (Campanha dos Canudos) [1902]
Edição examinada: CUNHA, Euclides da [1902]. Os Sertões: Rio de Janeiro/São Paulo:
Laemmert & C.
Lima Barreto (1881-1922) O triste fim de Policarpo Quaresma [1911].
Edição examinada: BARRETO, Lima (1948). O triste fim de Policarpo Quaresma. Rio de
Janeiro: Mérito.
Afonso Arinos (1868- 1916) O mestre de campo [1915]
Edição examinada: ARINOS, Afonso. O mestre de campo. [1915] In: COUTINHO,
Afrânio. (org.) (1969). Obra Completa. Rio de Janeiro: INL.
Rachel de Queiroz (1910- 2003) O Quinze [1930].
Edição examinada: QUEIROZ, Rachel de [1930]. O Quinze. Rio de Janeiro: Urânia.
Fase 4 [1934 1966]
Graciliano Ramos (1892- 1953) Vidas Secas [1938].
Edição examinada: RAMOS, Graciliano [1938]. Vidas Secas. Rio de Janeiro: José
Olympio.
José Lins do Rego (1901- 1957) Fogo Morto [1943].
Edição examinada: REGO, José Lins do [1943]. Fogo Morto. Rio de Janeiro: José
Olympio.
Dinah Silveira de Queiroz (1910- 1982) A Muralha [1953].
Edição examinada: QUEIROZ, Dinah Silveira de (1954). A Muralha. Rio de Janeiro: José
Olympio [1953].
João Guimarães Rosa (1908- 1967) Grande Sertão: Veredas [1956].
Edição examinada: ROSA, João Guimarães [1956]. Grande Sertão: Veredas. Rio de
Janeiro: José Olympio.
Fase 5 [1967 2000]
Érico Veríssimo (1905- 1975) O prisioneiro [1967].
Edição examinada: VERÍSSIMO, Érico [1967]. O prisioneiro. Porto Alegre: Globo.
Jorge Amado (1912- 2001) Tenda dos milagres [1969].
Edição examinada: AMADO, Jorge [1969]. Tenda dos milagres. São Paulo: Martins.
Lygia Fagundes Telles (1923 -) As Meninas [1973].
Edição examinada: TELLES, Lygia Fagundes [1973]. As Meninas. Rio de Janeiro: José
Olympio.
Nélida Piñon (1937 ) A doce Canção de Caetana [1987]
261
Edição examinada: PIÑON, Nélida [1987]. A doce canção de Caetana. Rio de Janeiro:
Guanabara
Português Europeu
Século XIX
Fase 1 [1834 1866]
Alexandre Herculano (1810 - 1877) O Bobo [1843].
Edição examinada: HERCULANO, Alexandre (1884). O Bobo. Lisboa: Bertrand [1843].
Almeida Garrett (1799- 1854) O arco de Sant’ Anna [1845].
Edição examinada: GARRETT, Almeida [1845]. O arco de Sant’ Anna: Chronica
Portuense. Lisboa: Imprensa Nacional.
Arnaldo Gama (1828 1869) Honra ou Loucura [1858].
Edição examinada: GAMA, Arnaldo [1858]. Honra ou Loucura. Porto: Typ. Sebastião
José Pereira.
Camilo Castelo Branco (1825 1890) Coração, cabeça e estômago [1862].
Edição examinada: CASTELO BRANCO, Camilo [1862]. Coração, cabeça e estômago.
Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira.
Fase 2 [1867 1900]
Júlio Dinis [Pseudônimo de Ernesto Biester] (1829 1880) As pupilas do Senhor Reitor [1868?].
Edição examinada: DINIS, Júlio (1869). As pupilas do Senhor Reitor. Porto: Typ. Jornal
do Porto [1868?].
Eça de Queiroz (1845 1900) O primo Basílio [1878].
Edição examinada: QUEIROZ, Eça de [1878]. O primo Basílio. Porto; Braga: Livraria
Chardron.
Fialho de Almeida (1857 1911) “O ninho de Águia”. [1881].
Edição examinada: ALMEIDA, Fialho de [1881] “O ninho de Águia”. In: _____ [1881].
Contos. Porto; Braga: Livraria Chardron.
Trindade Coelho (1861 1908) Sultão [1891].
Edição examinada: COELHO, Trindade [1891] “Sultão”. In: _____ [1891]. Os meus
amores: Contos e baladas. Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira.
Século XX
Fase 3 [1901 1933]
262
Abel Botelho (1856 1917) Os Lázaros [1904].
Edição examinada: BOTELHO, Abel [1904]. Os Lázaros. Porto: Tip. Renascença
Portuguesa.
Raul Brandão (1867 1930) Húmus [1916].
Edição examinada: BRANDÃO, Raul [1916]. Húmus. Porto: Tip. Renascença Portuguesa.
Campos Monteiro (1876 1933) Camilo alcoforado [1925].
Edição examinada: MONTEIRO, Campos [1925]. Camilo alcoforado. Porto: Livraria
Civilização
Aquilino Ribeiro (1885 1963) A batalha sem fim [1931].
Edição examinada: RIBEIRO, Aquilino [1932]. A batalha sem fim. Lisboa: Soc. Graf.
Editorial. [1931]
Fase 4 [1934 1966]
Alves Redol (1911 1969) Gaibéus [1938]
Edição examinada: REDOL, Alves (1939). Gaibéus. Lisboa; Barcelos: Comp. Ed. do
Minho [1938]
Vitorino Nemésio (1901 1978) Mau tempo no canal [1944].
Edição examinada: NEMÉSIO, Vitorino [1944]. Mau tempo no canal. Lisboa: Bertrand
Augustina Bessa Luís (1922 -) A Sibila [1953]
Edição examinada: LUÍS, Augustina Bessa [1953]. A Sibila. Lisboa: Guimarães.
José Cardoso Pires (1925 1998) O Anjo Ancorado [1958].
Edição examinada: PIRES, José Cardoso [1958]. O Anjo Ancorado. Lisboa: Ulisseia.
Fase 5 [1967 2000]
Fernando Namora (1919 1989) O rio triste [1982].
Edição examinada: NAMORA, Fernando [1982]. O rio triste. Amadora: Bertrand.
Augusto Abelaira (1926 2003) O Bosque Harmonioso [1982].
Edição examinada: ABELAIRA, Augusto [1982]. O Bosque Harmonioso. Lisboa: da
Costa.
Vergílio Ferreira (1916 1996) Para Sempre [1983].
Edição examinada: FERREIRA, Vergílio [1983]. Para Sempre. Lisboa: Bertrand.
José Saramago (1922 -) O ano da morte de Ricardo Reis [1984].
Edição examinada: SARAMAGO, José [1984]. O ano da morte de Ricardo Reis. Lisboa:
Caminho.
Todos os contextos
Rodadas
80
/
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (3)
0.02 / 0.574
S
S
S
-
S
-
S
-
S
S
S
S
S
S
Rodada 2 (4)
0.02 / 0.574
S
S
S
-
S
S
-
S
S
S
S
S
S
Rodada 3 (5)
0.00 / 0.543
N
N
N
S
N
S
-
S
N
S
S
S
Rodada 4 (6)
0.00 / 0.543
N
N
N
N
N
S
-
S
N
S
S
S
Demais contextos [Proclisadores canônicos e não-canônicos]
Rodadas /
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (3)
0.01 / 0.838
S
S
S
-
S
S
-
S
S
S
S
S
S
Rodada 2 (4)
0.01 / 0.783
N
N
N
S
S
-
S
-
S
N
S
S
S
Rodada 3 (5)
0.04 / 0.783
N
N
N
S
S
-
S
S
N
S
S
S
Rodada 4 (6)
0.01 / 0.783
N
N
N
S
S
-
S
S
N
S
S
S
Rodada 5 (7)
0.00 / 0.799
N
S
N
S
-
S
S
S
N
S
S
S
Rodada 6 (8)
0.00 / 0.801
N
S
N
Não
S
houve
N
ordem
S
de
S
seleção
N
S
S
S
Proclisadores canônicos
Rodadas /
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (3)
0.02 / 0.980
N
S
N
S
-
S
S
S
N
S
-
S
-
N
Rodada 2 (4)
0.04 / 0.994
N
N
N
S
S
-
S
S
N
S
S
-
N
Proclisadores não-canônicos
Rodadas /
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (3)
0.01 / 0.277
S
S
S
-
S
-
S
S
-
S
-
N
S
S
-
S
Rodada 2 (4)
0.04 / 0.299
N
N
N
S
S
-
S
S
N
S
S
N
Anexo 2 Seleção das variáveis investigadas no PB em face de diversas rodadas realizadas a partir de dados de LVS
80
Cumpre esclarecer que o presente quadro contempla, somente, as rodadas advindas a
partir dos resultados percentuais amalgamados. Uma vez feita tal consideração,
certifique-se de que diversas análises univariacionais foram realizadas, todavia, por
motivo de espaço, não são igualmente expostas. Informa-se, ainda, que, na primeira
coluna, se apresentam os números referentes à significância, números esses separados
por barra (/) dos valores concernentes ao input.
Legenda
S Variáveis consideradas pela autora. Rodada contemplada no capítulo 5 acerca dos resultados.
N Variáveis não consideradas pela autora.
Numerais Ordem de seleção realizada pelo Programa Goldvarb X.
- Variáveis excluídas pelo Programa Goldvarb X.
X Variáveis, ao mesmo tempo, selecionadas e excluídas pelo Programa Goldvarb X.
264
Todos os contextos
Rodadas
81
/
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (3)
0.01 / 0.543
S
S
S
-
S
-
S
-
S
S
S
S
S
-
S
-
Rodada 2 (4)
0.02 / 0.320
N
N
N
S
S
-
S
S
N
S
-
S
S
-
Demais contextos [Proclisadores canônicos e não-canônicos]
Rodadas /
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (4)
0.00 / 0.814
S
S
-
S
-
S
S
-
S
S
S
S
S
-
S
-
Rodada 2 (5)
0.03 / 0.826
N
N
N
S
S
-
S
S
N
S
S
S
-
Rodada 3 (6)
0.00 / 0.827
N
N
N
N
S
-
S
S
N
S
S
S
-
Proclisadores canônicos
Rodadas /
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (3)
0.00 / 0.959
N
N
N
N
S
-
S
N
N
S
S
N
Proclisadores não-canônicos
Rodadas /
variáveis
Vozes do
romance
Autores
Gênero
Fase
Século
Oração
Proclisador
Distância
Tempos e
modos
Clítico
Tonicidade
Rodada 1 (3)
0.00 / 0.223
S
N
S
-
S
-
S
-
S
S
N
S
S
-
S
-
Rodada 2 (4)
0.04 / 0.222
N
N
S
-
S
S
-
S
S
N
S
S
S
-
Seleção das variáveis investigadas no PE em face de diversas rodadas realizadas a partir de dados de LVS
81
Informa-se, novamente, que o quadro apresentado expõe, somente, as
rodadas advindas dos resultados percentuais amalgamados. Reitere-se que
diversas análises univariacionais foram realizadas, mas, por motivo de
espaço, não são igualmente apresentadas. Considere, uma vez mais, que, na
primeira coluna, se apresentam os números referentes à significância,
números esses separados por barra (/) dos valores concernentes ao input.
Legenda
S Variáveis consideradas pela autora. Rodada contemplada no capítulo 5 acerca dos resultados.
N Variáveis não consideradas pela autora.
Numerais Ordem de seleção realizada pelo Programa Goldvarb X.
- Variáveis excluídas pelo Programa Goldvarb X.
X Variáveis, ao mesmo tempo, selecionadas e excluídas pelo Programa Goldvarb X.
265
Anexo 3
Grupo de fatores não selecionados na análise multivariacional no âmbito das Lexias
Verbais Simples
Variáveis extralingüísticas
Vozes do romance
Vozes do Romance Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Narrador personagem e/ou
de 1ª pessoa
72%
60/83
28%
23/83
71%
292/410
29%
118/410
Narrador de 3ª pessoa
53%
384/725
47%
341/725
53%
260/488
47%
228/488
Personagem
84%
239/284
16%
45/284
79%
169/215
21%
46/215
Tabela 48: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores vozes do romance no que concerne ao PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples
Autores contemplados
No âmbito do PB:
Autores contemplados Lexias Verbais Simples
Variedade
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Fase 1
[1834 1866]
Joaquim Manuel de Macedo
79%
46/58
21%
12/58
Manuel Antônio de Almeida
61%
35/57
39%
22/57
José de Alencar
72%
54/75
28%
21/75
Bernardo Guimarães
66%
36/55
34%
19/55
Fase 2
[1867 1900]
Raul Pompéia
32%
19/59
68%
40/59
Machado de Assis
62%
32/52
38%
20/52
Aluísio Azevedo
44%
30/68
56%
38/68
Júlia Lopes
54%
23/43
46%
20/43
266
Fase 3
[1901 1933]
Euclides da Cunha
52%
32/62
48%
30/62
Lima Barreto
73%
30/41
27%
11/41
Afonso Arinos
51%
24/47
49%
23/47
Rachel de Queiroz
68%
40/59
32%
19/59
Fase 4
[1934 1966]
Graciliano Ramos
41%
23/56
59%
33/56
José Lins do Rego
89%
33/37
11%
4/37
Dinah Silveira de Queiroz
84%
59/70
16%
11/70
Guimarães Rosa
98%
46/47
2%
1/47
Fase 5
[1967 2000]
Érico Veríssimo
47%
24/51
53%
27/51
Jorge Amado
67%
30/45
33%
15/45
Lygia Fagundes Telles
85%
44/52
15%
8/52
Nélida Piñon
40%
23/58
60%
35/58
Tabela 49: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo
de fatores autores contemplados no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples
No âmbito do PE
Autores contemplados Lexias Verbais Simples
Variedade
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Fase 1
[1834 1866]
Alexandre Herculano
69%
37/54
31%
17/54
Almeida Garrett
92%
59/64
8%
5/64
Arnaldo Gama
63%
37/59
37%
22/59
Camilo Castelo Branco
67%
30/45
33%
15/45
Fase 2
[1867 1900]
Júlio Dinis
65%
41/63
35%
22/63
Fialho de Almeida
46%
18/39
54%
21/39
Eça de Queiroz
38%
15/39
62%
24/39
Trindade Coelho
58%
26/45
42%
19/45
267
Fase 3
[1901 1933]
Abel Botelho
43%
24/56
57%
32/56
Raul Brandão
69%
33/48
31%
15/48
Aquilino Ribeiro
68%
32/47
32%
15/47
Campos Monteiro
63%
22/35
37%
13/35
Fase 4
[1934 1966]
Alves Redol
44%
15/34
56%
19/34
Vitorino Nemésio
67%
28/42
33%
14/42
Augustina Bessa Luís
69%
38/55
31%
17/55
José Cardoso Pires
52%
53/102
48%
49/102
Fase 5
[1967 2000]
Augusto Abelaira
71%
48/68
29%
20/68
Vergílio Ferreira
80%
65/81
20%
16/81
José Saramago
73%
41/56
27%
15/56
Fernando Namora
73%
59/81
27%
22/81
Tabela 50: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo
de fatores autores contemplados no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples
Gênero/sexo dos autores contemplados
nero / Sexo dos autores contemplados Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Masculino
61%
494/810
39%
316/810
65%
683/1058
35%
375/1058
Feminino
67%
189/282
33%
93/282
69%
38/55
31%
17/55
Tabela 51: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores gênero/sexo dos autores contemplados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no
âmbito das lexias verbais simples
268
Séculos investigados
Séculos investigados Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Século XIX
59%
275/467
41%
192/467
65%
263/408
35%
145/408
Século XX
65%
408/625
35%
217/625
65%
458/705
35%
247/705
Tabela 52: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores séculos investigados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples
Variáveis lingüísticas
Distância entre um possível elemento proclisador e segmento constituído de
clítico e item verbal
Distância entre possível elemento proclisador e segmento constituído por clítico e
item verbal Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
culos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Zero sílaba
62%
579/938
38%
359/938
62%
540/867
38%
327/867
Uma sílaba
88%
7/8
12%
1/8
100%
15/15
0%
0/15
Duas sílabas
90%
17/19
10%
2/19
94%
30/32
6%
2/32
Três sílabas
93%
13/14
7%
1/14
97%
30/31
3%
1/31
Quatro sílabas
80%
12/15
20%
3/15
84%
21/25
16%
4/25
Cinco sílabas
91%
10/11
9%
1/11
83%
15/18
17%
3/18
Seis sílabas
75%
9/12
25%
3/12
77%
13/17
23%
4/17
Sete a dez sílabas
61%
22/36
39%
14/36
66%
29/44
34%
15/44
Onze sílabas em diante
36%
14/39
64%
25/39
44%
28/63
56%
35/63
Tabela 53: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores Distância entre possível elemento proclisador e segmento constituído por clítico e item verbal no
que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples
269
No âmbito do PB
Natureza da oração
Tabela 54: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores natureza da oração no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais
simples
No âmbito do PE
Tonicidade dos itens verbais
Tonicidade dos itens verbais Lexias Verbais Simples
Variedades
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Oxítona
54%
200/371
46%
171/371
Paroxítona
70%
519/740
30%
221/740
Proparoxítona
100%
2/2
0%
0/2
Tabela 55: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de
fatores Tonicidade dos itens verbais no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples
Natureza da oração Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Or. absoluta / principal /
Coord. assindética
52%
209/402
48%
193/402
Or. coord. sindética
45%
82/183
55%
101/183
Or. sub. Desenvolvida
94%
346/367
6%
21/367
Or. sub. red. de infinitivo
26%
29/112
74%
83/112
Or. sub. red. de gerúndio
35%
6/17
65%
11/17
Or. optativas
100%
5/5
0%
0/5
Estruturas clivadas
100%
6/6
0%
0/6
270
Anexo 4
Tabelas detalhadas acerca da distribuição das variantes por cada fator constituinte das
variáveis relevantes para a ordem no PB e no PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das
Lexias Verbais Simples
Presença de possível elemento proclisador
Possível elemento proclisador do clítico Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
SN sujeito nominal
31%
75/238
69%
163/238
14%
26/188
86%
162/188
SN suj. pron. pessoal
84%
32/38
16%
6/38
16%
3/19
84%
16/19
SN suj. pron. indef. [exceto
elemento de negação]
75%
3/4
25%
1/4
60%
3/5
40%
2/5
SN suj. pron.
demonstrativo
0%
0/1
100%
1/1
71%
5/7
29%
2/7
Conj. coord. aditiva
30%
29/97
70%
68/97
9%
7/74
91%
67/74
Conj. coord. alternativa
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/7
100%
7/7
Conj. coord. adversativa
23%
3/13
77%
10/13
0%
0/14
100%
14/14
Conj. coord. conclusiva
__
__
__
__
Conj. coord. explicativa
50%
2/4
50%
2/4
75%
6/8
25%
2/8
SAdv canônicos [aqui, cá, já,
lá]
94%
45/48
6%
3/48
100%
64/64
0%
0/64
SAdv não-canônicos
[sempre, depois, talvez, agora]
39%
7/18
61%
11/18
36%
8/22
64%
14/22
SAdv em -mente
50%
1/2
50%
1/2
12%
1/8
88%
7/8
SAdv Loc. adverbiais
30%
14/47
70%
33/47
29%
15/52
71%
37/52
Operadores de foco [Ex.:
apenas, só, também (inclusão), até,
mesmo, ainda]
91%
19/21
9%
2/21
100%
32/32
0%
0/32
Prep. a, ao
15%
4/26
85%
22/26
0%
0/37
100%
37/37
Prep. para
27%
7/26
73%
19/26
81%
25/31
19%
6/31
Prep. de
21%
8/38
79%
30/38
85%
23/27
15%
4/27
Prep. por
50%
1/2
50%
1/2
75%
3/4
25%
1/4
Prep. sem, até
50%
3/6
50%
3/6
100%
17/17
0%
0/17
271
Prep. em
67%
2/3
33%
1/3
0%
0/1
100%
1/1
Vocábulos de negação
97%
91/94
3%
3/94
100%
105/105
0%
0/105
Conj. subordinativa
98%
41/42
2%
1/42
98%
61/62
2%
1/62
Conj. integrante se
0%
0/1
100%
1/1
100%
3/3
0%
0/3
Conj. integrante que
87%
47/54
13%
7/54
94%
46/49
6%
3/49
Pronome relativo que
96%
168/176
4%
8/176
100%
189/189
0%
0/189
Outros pron. / adv.
relativos
98%
39/40
2%
1/40
100%
30/30
0%
0/30
Que em loc. conjuntiva
[Ex.: para que]
93%
14/15
7%
1/15
100%
26/26
0%
0/26
Pal. QU- interrogativa do
tipo pronominal [Ex.: quem,
qual]
100%
6/6
0%
0/6
100%
3/3
0%
0/3
Pal. QU- interrogativa do
tipo adverbial [Ex.: como,
quando, onde, por que]
85%
11/13
15%
2/13
100%
13/13
0%
0/13
Que em estruturas
clivadas
100%
4/4
0%
0/4
__
__
Sprep [Ex.: objeto indireto]
25%
1/4
75%
3/4
50%
4/8
50%
4/8
Predicativo do Sujeito
0%
0/1
100%
1/1
__
__
Partícula Eis
__
__
__
__
Pronome átono
__
__
100%
2/2
0%
0/2
Elementos discursivos
fáticos [Ex.: tá, por favor]
50%
3/6
50%
3/6
20%
1/5
80%
4/5
Interjeições
100%
3/3
0%
0/3
0%
0/1
100%
1/1
Tabela 56: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo a variável presença de um possível elemento proclisador: PB e PE dos séculos
XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples
272
Tipo de clítico pronominal
Tipo de clítico pronominal Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Me
88%
103/117
12%
14/117
72%
91/126
28%
35/126
Te
91%
32/35
9%
3/35
90%
35/39
10%
4/39
Se reflexivo / inerente
54%
206/308
46%
174/308
55%
213/389
45%
176/389
Se indeterminador
86%
6/7
14%
1/7
89%
8/9
11%
1/9
Se apassivador
69%
61/89
31%
28/89
78%
75/96
22%
21/96
O, a, os, as
60%
136/227
40%
91/227
62%
150/242
38%
92/242
Lhe, lhes
58%
126/219
42%
93/219
67%
116/173
33%
57/173
Nos
100%
9/9
0%
0/9
91%
19/21
9%
2/21
Vos
67%
2/3
33%
1/3
100%
8/8
0%
0/8
Formas contraídas [Ex.: mo
(me + o)]
33%
2/6
67%
4/6
60%
6/10
40%
4/10
Tabela 57: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo a variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito
das lexias verbais simples
Tempo e modo das formas verbais
Tempo e modo verbais Lexias Verbais Simples
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Próclise
Ênclise
Presente do indicativo
86%
186/216
14%
30/216
78%
205/263
22%
58/263
Pret. imperfeito do
indicativo
66%
187/284
34%
97/284
62%
171/277
38%
76/277
Pret. perfeito do indicativo
48%
159/329
52%
170/329
46%
118/257
54%
139/257
Pret. mais-que-perf. do
indicativo
73%
30/41
27%
11/41
75%
33/44
25%
11/44
Futuro do pres. do
indicativo
100%
8/8
0%
0/8
100%
10/10
0%
0/10
Futuro do pret. do indicativo
100%
10/10
0%
0/10
100%
18/18
0%
0/18
273
Presente do subjuntivo
95%
20/21
5%
1/21
96%
24/25
4%
1/25
Pret. imperfeito do
subjuntivo
100%
29/29
0%
0/29
100%
48/48
0%
0/48
Futuro do subjuntivo
100%
6/6
0%
0/6
100%
6/6
0%
0/6
Imperativo
65%
13/20
35%
7/20
55%
6/11
45%
5/11
Infinitivo
26%
29/111
74%
82/111
56%
77/138
44%
61/138
Gerúndio
35%
6/17
65%
11/17
31%
5/16
69%
11/16
Tabela 58: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo a variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos XIX e XX, no
âmbito das lexias verbais simples
No âmbito do PE
Natureza da oração
Natureza da oração Lexias Verbais Simples
Variedades
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Próclise
Ênclise
Or. absoluta / principal / Coord.
assindética
44%
151/344
56%
193/344
Or. coord. sindética
38%
76/201
62%
125/201
Or. sub. Desenvolvida
99%
403/406
1%
3/406
Or. sub. red. de infinitivo
56%
77/138
44%
61/138
Or. sub. red. de gerúndio
33%
5/15
67%
10/15
Or. optativas
100%
7/7
0%
0/7
Estruturas clivadas
100%
2/2
0%
0/2
Tabela 59: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e
não-canônicos, segundo a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias
verbais simples
274
Anexo 5
Tabelas detalhadas acerca da distribuição das variantes por cada fator constituinte das
variáveis contempladas no tratamento da ordem em Lexias Verbais Complexas com
infinitivo, no âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX
Natureza da oração
Natureza da oração em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Or. absoluta /
principal / Coord.
assindética
12%
4/34
9%
3/34
23%
8/34
56%
19/34
25%
12/49
18%
9/49
6%
3/49
51%
25/49
Or. coord.
sindética
3%
1/27
19%
5/27
22%
6/27
56%
15/27
12%
5/42
24%
10/42
2%
1/42
62%
26/42
Or. sub.
Desenvolvida
26%
10/38
5%
2/38
11%
4/38
58%
22/38
53%
17/32
0%
0/32
6%
2/32
41%
13/32
Or. sub. red. de
infinitivo
0%
0/3
0%
0/3
33%
1/3
67%
2/3
60%
3/5
0%
0/5
0%
0/5
40%
2/5
Or. sub. red. de
gerúndio
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
_
_
_
_
Or. optativas
_
_
_
_
_
_
_
_
Estruturas
clivadas
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
50%
1/2
_
_
_
_
Tabela 60: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da
oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas
com infinitivo
275
Presença de possível elemento proclisador
Presença de um possível elemento proclisador em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
SN sujeito nominal
0%
0/11
9%
1/11
9%
1/11
82%
9/11
7%
1/14
36%
5/14
7%
1/14
50%
7/14
SN suj. pron.
pessoal
0%
0/3
33%
1/3
0%
0/3
67%
2/3
33%
1/3
0%
0/3
0%
0/3
67%
2/3
SN suj. pron. indef.
[exceto elemento de
negação]
_
_
_
_
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
SN suj. pron.
demonstrativo
_
_
_
_
_
_
_
_
Conj. coord.
aditiva
0%
0/11
46%
5/11
18%
2/11
36%
4/11
0%
0/22
41%
9/22
0%
0/22
59%
13/22
Conj. coord.
alternativa
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
Conj. coord.
adversativa
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
Conj. coord.
conclusiva
_
_
_
_
_
_
_
_
Conj. coord.
explicativa
_
_
_
_
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
SAdv canônicos
[aqui, cá, já, lá]
33%
3/9
0%
0/9
22%
2/9
45%
4/9
33%
1/3
0%
0/3
0%
0/3
67%
2/3
SAdv não-
canônicos [sempre,
depois, talvez, agora]
33%
1/3
0%
0/3
0%
0/3
67%
2/3
33.3%
2/6
33.3%
2/6
0%
0/6
33.3%
2/6
SAdv em -mente
_
_
_
_
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
SAdv Loc.
adverbiais
0%
0/4
25%
1/4
0%
0/4
75%
3/4
22%
2/9
11%
1/9
0%
0/9
67%
6/9
Operadores de
foco [Ex.: apenas, só,
também (inclusão), até,
mesmo, ainda]
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
Prep. a, ao
_
_
_
_
_
_
_
_
276
Prep. para
_
_
_
_
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
Prep. de
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
Prep. por
_
_
_
_
_
_
_
_
Prep. sem, até
_
_
_
_
_
_
_
_
Prep. em
_
_
_
_
_
_
_
_
Vocábulos de
negação
16%
3/19
0%
0/19
37%
7/19
47%
9/19
36%
8/22
0%
0/22
14%
3/22
50%
11/22
Conj.
subordinativa
29%
2/7
14%
1/7
0%
0/7
57%
4/7
86%
6/7
0%
0/7
14%
1/7
0%
0/7
Conj. integrante se
_
_
_
_
_
_
_
_
Conj. integrante
que
8%
1/12
8%
1/12
17%
2/12
67%
8/12
60%
3/5
0%
0/5
0%
0/5
40%
2/5
Pronome relativo
que
20%
2/10
0%
0/10
0%
0/10
80%
8/10
46%
6/13
0%
0/13
8%
1/13
46%
6/13
Outros pron. / adv.
relativos
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
25%
1/4
0%
0/4
0%
0/4
75%
3/4
Que em loc.
conjuntiva [Ex.: para
que]
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
Pal. QU-
interrogativa do
tipo pronominal
[Ex.: quem, qual]
50%
1/2
0%
0/2
50%
1/2
0%
0/2
_
_
_
_
Pal. QU-
interrogativa do tipo
adverbial [Ex.: como,
quando, onde, por que]
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
50%
1/2
33%
2/6
0%
0/6
0%
0/6
67%
4/6
Que em estruturas
clivadas
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
50%
1/2
_
_
_
_
Sprep [Ex.: objeto
indireto]
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
_
_
_
_
Predicativo do
Sujeito
_
_
_
_
_
_
_
_
Partícula Eis
_
_
_
_
_
_
_
_
Pronome átono
_
_
_
_
_
_
_
_
Elementos
discursivos fáticos
[Ex.: tá, por favor]
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
277
Interjeições
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
_
_
_
_
Tabela 61: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo presença de um possível
elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais
Complexas com infinitivo
Distância entre um possível elemento proclisador e segmento constituído por
clítico e item verbal
Distância entre um possível elemento proclisador e clítico/complexo verbal em dados de
Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Zero sílaba
14%
13/92
7%
7/92
20%
18/92
59%
54/92
26%
26/101
15%
15/101
3%
3/101
56%
57/101
Uma sílaba
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
Duas sílabas
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
50%
1/2
60%
3/5
0%
0/5
20%
1/5
20%
1/5
Três sílabas
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
45%
4/9
10%
1/9
0%
0/9
45%
4/9
Quatro sílabas
_
_
_
_
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
Cinco sílabas
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
Seis sílabas
50%
1/2
0%
0/2
50%
1/2
0%
0/2
_
_
_
_
Sete a dez sílabas
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
Onze sílabas em diante
0%
0/6
50%
3/6
0%
0/6
50%
3/6
17%
1/6
49%
3/6
17%
1/6
17%
1/6
Tabela 62: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores distância
entre um possível elemento proclisador e clítico/complexo verbal em referência ao PB e ao PE dos
séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo
278
Tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares
Tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Presente do
indicativo
7%
2/28
3%
1/28
36%
10/28
54%
15/28
38%
12/32
6%
2/32
0%
0/32
56%
18/32
Pret. imperfeito do
indicativo
23%
6/26
4%
1/26
11%
3/26
62%
16/26
28%
7/25
16%
4/25
12%
3/25
44%
11/25
Pret. perfeito do
indicativo
3%
1/27
26%
7/27
15%
4/27
56%
15/27
14%
5/36
34%
12/36
8%
3/36
44%
16/36
Pret. mais-que-perf.
do indicativo
50%
1/2
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
20%
1/5
0%
0/5
0%
0/5
80%
4/5
Futuro do pres. do
indicativo
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
11%
1/9
0%
0/9
0%
0/9
89%
8/9
Futuro do pret. do
indicativo
11%
1/9
0%
0/9
11%
1/9
78%
7/9
43%
3/7
0%
0/7
0%
0/7
57%
4/7
Presente do
subjuntivo
50%
1/2
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
Pret. imperfeito do
subjuntivo
50%
2/4
0%
0/4
0%
0/4
50%
2/4
71%
5/7
0%
0/7
0%
0/7
29%
2/7
Futuro do
subjuntivo
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
_
_
_
_
Imperativo
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
Infinitivo
0%
0/3
0%
0/3
33%
1/3
67%
2/3
60%
3/5
0%
0/5
0%
0/5
40%
2/5
Gerúndio
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
_
_
_
_
Tabela 63: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e
modo dos verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito
das Lexias Verbais Complexas com infinitivo
279
Tipo de clítico pronominal
Tipo de clítico pronominal em dados de Lexias Verbais Complexas com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Me
17%
2/12
0%
0/12
66%
8/12
17%
2/12
27%
3/11
18%
2/11
0%
0/11
55%
6/11
Te
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
50%
1/2
12%
1/8
25%
2/8
0%
0/8
63%
5/8
Se reflexivo /
inerente
3%
1/32
22%
7/32
19%
6/32
56%
18/32
12%
5/42
29%
12/42
4%
2/42
55%
23/42
Se indeterminador
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
Se apassivador
49%
3/6
17%
1/6
17%
1/6
17%
1/6
67%
8/12
8%
1/12
0%
0/12
25%
3/12
O, a, os, as
16%
5/32
0%
0/32
0%
0/32
84%
27/32
41%
12/29
0%
0/29
7%
2/29
52%
15/29
Lhe, lhes
16%
3/19
10%
2/19
10%
2/19
64%
12/19
36%
8/22
5%
1/22
9%
2/22
50%
11/22
Nos
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
50%
1/2
0%
0/2
50%
1/2
Vos
_
_
_
_
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
Formas contraídas
[Ex.: mo (me + o)]
_
_
_
_
_
_
_
_
Tabela 64: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de
clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias
Verbais Complexas com infinitivo
280
Tipo de lexia verbal complexa
Tipo de lexia verbal complexa em dados de complexos verbais com infinitivo
Variedades
Português do Brasil
Séculos XIX e XX
Português Europeu
Séculos XIX e XX
Variantes
fatores
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Pré-LVC
cl v1 v2
Intra-LVC
v1-cl v2
Intra-LVC
v1 cl v2
Pós-LVC
v1 v2-cl
Estar + a + infinitivo
-
-
-
-
25%
1/4
25%
1/4
0%
0/4
50%
2/4
Ir + a + infinitivo
16%
3/19
0%
0/19
31%
6/19
53%
10/19
41%
9/22
4%
1/22
0%
0/22
55%
12/22
Vir + a + infinitivo
0%
0/9
0%
0/9
22%
2/9
78%
7/9
12%
1/8
0%
0/8
0%
0/8
88%
7/8
Haver + de/que +
infinitivo
0%
0/5
0%
0/5
40%
2/5
60%
3/5
75%
3/4
0%
0/4
0%
0/4
25%
1/4
Ter + de/que + infinitivo
40%
2/5
0%
0/5
20%
1/5
40%
2/5
0%
0/5
0%
0/5
60%
3/5
40%
2/5
Poder + infinitivo
44%
8/18
6%
1/18
17%
3/18
33%
6/18
62%
13/21
0%
0/21
0%
0/21
38%
8/21
Dever + infinitivo
0%
0/6
0%
0/6
17%
1/6
83%
5/6
0%
0/5
20%
1/5
0%
0/5
80%
4/5
Precisar + infinitivo
-
-
-
-
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
Dar + para + infinitivo
0%
0/1
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/2
100%
2/2
0%
0/2
0%
0/2
Acabar +de/por +
infinitivo
Chegar + a + infinitivo
0%
0/7
0%
0/7
14%
1/7
86%
6/7
20%
1/5
0%
0/5
40%
2/5
40%
2/5
Começar / pôr-se / tornar-
se e voltar [somente PE] /
passar [somente PB]+ a +
infinitivo
0%
0/13
54%
7/13
0%
0/13
46%
6/13
0%
0/25
48%
12/25
0%
0/25
52%
13/25
Andar / continuar e
habituar-se [somente PE]
+ a + infinitivo
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
100%
1/1
20%
1/5
20%
1/5
0%
0/5
60%
3/5
Costumar + infinitivo
-
-
-
-
100%
1/1
0%
0/1
0%
0/1
0%
0/1
Saber + infinitivo
-
-
-
-
0%
0/2
0%
0/2
0%
0/2
100%
2/2
Procurar / conseguir /
tentar [somente PE]+
infinitivo
0%
0/3
0%
0/3
0%
0/3
100%
3/3
12%
1/8
0%
0/8
0%
0/8
88%
7/8
Querer / prometer,
propor e decidir [somente
PB] / permitir [somente
PE] + infinitivo
11%
2/19
5%
1/19
21%
4/19
63%
12/19
60%
6/10
10%
1/10
0%
0/10
30%
3/10
Tabela 65: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de lexia
verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais
com infinitivo
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