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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Curso de Pós-Graduação - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
OD O S
D A
N A S
D O S
I M P A C T O
A V A N Ç O S
T E C N O L O G I A
T R A N S F O R M A Ç Õ E S
A R Q U I T E T Ô N I C A S
E D I F Í C I O S
H O S P I T A L A R E S
Hermínia Silva Machry
Orientador: Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra
São Paulo
2010
Hermínia Silva Machry
O I M P A C T O D O S A V A N Ç O S D A
T E C N O L O G I A N A S T R A N S F O R M A Ç Õ E S
A R Q U I T E T Ô N I C A S D O S E D I F Í C I O S
H O S P I T A L A R E S
Dissertação apresentada à Comissão de Pós-
Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo, para a obtenção do
título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura
Orientador: Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra
São Paulo
2010
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Nome do Autor: Hermínia Silva Machry
Instituição: Universidade de São Paulo
FICHA CATALOGRÁFICA
Machry, Hermínia Silva
M151i O impacto dos avanços da tecnologia nas transformações
arquitetônicas dos edifícios hospitalares / Hermínia Silva
Machry. --São Paulo, 2010.
375 p. : il.
Dissertação (Mestrado - Área de Concentração: Tecnologia
da Arquitetura) – FAUUSP.
Orientador: Geraldo Gomes Serra
1.Hospitais (Arquitetura) 2.Tecnologia I.Título
CDU 725.51
FOLHA DE APROVAÇÃO
MACHRY, Hermínia Silva. O Impacto dos Avanços da Tecnologia nas
Transformações Arquitetônicas dos Edifícios de Hospitalares. Dissertação
apresentada à Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em
Arquitetura e Urbanismo.
Área de Concentração: Tecnologia da Arquitetura
Aprovado em __/__/____
Banca Examinadora
a) Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra – Orientador
Instituição: FAUUSP
Departamento: Tecnologia da Arquitetura _______________
Assinatura
b) Prof. Dr.
Instituição:
Departamento: _______________
Assinatura
c) Prof. Dr.
Instituição: FAUUSP
Departamento: _______________
Assinatura
d) Prof. Dr.
Instituição:
Departamento: _______________
Assinatura
São Paulo, ______ de _________________ de 2010.
Aos meus pais, Amaury e Márcia.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Amaury e Márcia, por acreditarem na minha capacidade e me
apoiarem ilimitadamente, de todas as formas possíveis.
Às minhas irmãs, Manuela e Joana, pelo apoio e aconselhamento.
Ao Prof. Dr. Geraldo Gomes Serra, pela impecável orientação.
À equipe do InCor, Régia Rueda, Luiz Motta e, especialmente, ao colega e
amigo Henrique Jatene, pela generosidade e apoio incondicional sem o qual
esta pesquisa não teria sido realizada.
Aos mestres, colegas e amigos Lisete Assen de Oliveira, Gilcéia Pesce do
Amaral e Silva, Luciana Costa, Alfonso Gill, Renata Malaquias, Carolina
Margarido, Paula Mastrocola, Marina Barros do Amaral, Marcos de Oliveira
Costa, Tiago Simões Borelli, Fábio Helfstein, José Borelli Neto, Hércules
Merigo, Irineo Albiero Filho e Gisela Barcelos, que de formas variadas, diretas e
indiretas, ajudaram no desenvolvimento desta dissertação.
Ao consultor e amigo Lívis Dzelve, por auxiliar o trabalho de uma forma tão
atenciosa e gentil.
Aos profissionais do Hospital Albert Einstein, arquitetas Paola, Cynthia e Renata
Lobel; engenheiro Reynaldo Gabarron; Ivana e Naige (Centro Histórico), pela
prestatividade ao fornecer diversos dados, conceder entrevistas e acompanhar
visitas técnicas.
Aos arquitetos Domingos Fiorentini e Arthur Brito, pelas entrevistas concedidas e
pelos desenhos do Hospital Albert Einstein, essenciais ao desenvolvimento do
trabalho.
Aos profissionais do Hospital São Camilo, arquiteto Aníbal Bártolo e engenheiro
Gleiner Ambrósio, pelas concessão de entrevistas e visita técnica.
Ao arquiteto Siegbert Zanettini, pelos ensinamentos de suas obras e por
possibilitar as visitas técnicas em dois hospitais de sua autoria (Hospital São
Camilo e Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco).
Aos arquitetos Luiz Engler Vasconcellos, Fábio Savastano e Neuton Bacelar,
pela preciosa colaboração durante as visitas técnicas aos hospitais da Rede
Sarah de Brasília e Salvador.
Ao arquiteto Lelé, pelos ensinamentos de suas obras e pela entrevista
concedida.
Aos engenheiros Carlos Hernandez e Manuel Moreira e ao arquiteto Silvano
Wendel, pelas entrevistas que em muito enriqueceram a pesquisa.
Ao engenheiro Gilberto Baron, pela visita à obra do Hospital Sabará.
À CAPES, pelo apoio financeiro.
“A arquitetura, entre todas as formas artísticas, é a
que menos se presta a excluir a idéia de
racionalidade, e a mais condicionada pela utilidade e
pela necessidade.” (RENÉ DESCARTES)
RESUMO
MACHRY, Hermínia Silva. O Impacto dos avanços da tecnologia nas transformações
arquitetônicas dos edifícios de hospitalares. Dissertação de Mestrado. Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo: 2010, 373 p.
Este trabalho disserta sobre o processo de adaptação arquitetônica dos edifícios
hospitalares frente às mudanças físicas e funcionais trazidas pelas inovações
tecnológicas na área médica.
Principalmente após a segunda metade do século XX, se acelerou o
desenvolvimento científico na medicina, com a descoberta de novas enfermidades,
novos tratamentos e, especialmente, novas formas e ferramentas de diagnóstico. A
existência e o aperfeiçoamento destas atividades têm se apoiado cada vez mais na
tecnologia, cujas inovações foram sendo introduzidas nos edifícios na forma de
equipamentos, exigindo espaços e instalações especiais. Os hospitais existentes,
tendo que se adaptar às especificidades técnicas, foram submetidos a um ritmo
intenso de transformações arquitetônicas, no intuito de evitar a sua obsolescência.
Para investigar o impacto destas freqüentes inovações tecnológicas sobre os
edifícios hospitalares, buscou-se analisar o desenvolvimento arquitetônico dos
mesmos, nas suas áreas mais relacionadas ao uso de tecnologia. Os casos
estudados foram o Instituto do Coração (InCor), o Hospital Israelita Albert Einstein
(HIAE) e o Hospital de Doenças do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek de
Brasília (HDAL), cujos edifícios são representativos do cenário ilustrado.
Reconhecendo nas instituições de saúde o dinamismo técnico-científico, a
complexidade espacial e os desafios quanto à preservação da sua integridade
arquitetônica, esta pesquisa espera alertar os arquitetos sobre a inconstância das
variáveis que desenham as edificações hospitalares, sobre a importância de
depreendê-las e sobre a necessidade de projetar edifícios flexíveis para incorporar
estas variáveis de modo menos impactante.
Palavras-chave: Edifícios hospitalares, inovações tecnológicas, transformações
arquitetônicas, flexibilidade.
ABSTRACT
MACHRY, Hermínia Silva. The impact of technological advances in medical buildings
architectural changes. Dissertation for Master’s degree. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo: 2010, 373 p.
This dissertation is about the architectural adaptation process that medical buildings
undergo in face of physical and functional changes brought by technological
innovations in medicine.
Especially after the second half of the 20
th
century, the scientific progress in
medicine accelerated with the discovery of new diseases, new treatments and new
forms and tools of diagnosis. The existence and improvement of these healthcare
activities have been supported more and more by technology and its machinery,
which were absorbed by medical buildings in the form of equipment, demanding
special space and infrastructure. Existing hospitals were forced to adapt to the
technical needs, and were submitted to an intense pace of architectural
transformation, fighting against their obsolescence.
In order to investigate the impact of these frequent technological innovations upon
medical buildings, their architectural development was analyzed in the areas most
affected by technology. The case studies were the Instituto do Coração (InCor), the
Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) and the Hospital de Doenças do Aparelho
Locomotor Sarah Kubitschek (HDAL) of Brasília, whose buildings represent the
illustrated scenario.
Acknowledging in medical buildings the spatial complexity, the technical and
scientific dynamism and the challenges involving the preservation of their physical
integrity, this research expects to call attention to the lack of constancy of the
elements that design medical buildings, to the importance of knowing them and to
the necessity of planning flexible buildings that are able to absorb those elements
with less impact.
Key Words: Medical buildings, technological innovations, architectural
transformation, flexibility.
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
Figura 1.01:
Figura 1.02:
Figura 1.03:
Figura 1.04:
Figura 1.05:
Figura 1.06:
Figura 1.07:
Figura 1.08:
Figura 1.09:
Figura 1.10:
Figura 1.11:
Figura 1.12:
Figura 1.13:
Figura 1.14:
Figura 1.15:
Figura 1.16:
Figura 1.17:
Figura 1.18:
Figura 1.19:
Figura 1.20:
Figura 1.21:
Figura 1.22:
Figura 1.23:
Figura 1.24:
Figura 1.25:
Figura 1.26:
Figura 1.27:
Complexo do Hospital das Clínicas com a localização do InCor ..........
Bloco I do InCor em 1975 .....................................................................
Conjunto de edifícios do InCor em 2000 ...............................................
Implantação atual do InCor ...................................................................
Corte longitudinal do complexo atual do InCor ....................................
Imagem atual do Complexo do HIAE ....................................................
Imagem do primeiro edifício construído ................................................
Imagem atual do Bloco BC, primeira ampliação do HIAE e atual
entrada do Hospital ...............................................................................
Construção do Bloco A, em 1989 .........................................................
Construção do Bloco A, em 1989, ao lado do Bloco BC .......................
Vista do Complexo do Morumbi do HIAE, em 1990 ..............................
Edifício 1 da nova fase de ampliação, denominado Pavilhão Vicky e
Joseph Safra ou Bloco A1 .....................................................................
Maquete física de toda a quarta fase de ampliação do HIAE ...............
Maquete física da futura ampliação do HIAE ........................................
Implantação geral do Complexo do HIAE, incluindo os edifícios
previstos para o futuro ..........................................................................
Corte geral do Complexo do HIAE, incluindo os edifícios previstos
para o futuro ..........................................................................................
Esquema das obras de renovação do Bloco A do HIAE, em 1999 .......
Átrio entre os Bloco A e B, que era antes uma área externa ................
Volume anexo de ligação entre os Blocos C e D ..................................
Estudo da Implantação do Hospital Sarah Brasília ...............................
Implantação do HDAL com o eixo principal de circulação do edifício ...
Implantação do HDAL com os vetores de expansão do edifício ...........
Esquema de circulações do HDAL: Eixo transversal principal no
térreo, e indicação dos percursos para os outros pavimentos ..............
Esquema funcional do HDAL ................................................................
Planta de Implantação do Hospital Sarah Brasília (em 2007) ..............
Corte do Hospital Sarah Brasília (em 2007) .........................................
Imagem atual do conjunto de edifícios do HDAL ..................................
38
39
39
39
41
42
43
44
44
44
44
45
46
46
47
47
49
49
49
51
53
53
53
53
54
54
55
CAPÍTULO 2
Figura 2.01:
Variáveis de um Sistema de Atenção Médico-Hospitalar .....................
62
Figura 2.02:
Figura 2.03:
Figura 2.04:
Figura 2.05:
Figura 2.06:
Figura 2.07:
Figura 2.08:
Esquema de ventilação natural e resfriamento aplicado ao Hospital
Sarah de Salvador ................................................................................
Corte do Hospital da Rede Sarah – Rio de Janeiro ..............................
Entrada do Bloco D do Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo):
projeto do arquiteto Siegbert Zanettini ..................................................
Área de estar na unidade de internação do Hospital e Maternidade
São Luiz – Anália Franco: projeto do arquiteto Siegbert Zanettini ........
Fluxograma genérico para EAS ............................................................
Fluxograma genérico para EAS ............................................................
Diagrama Composto – Modelo Teórico ................................................
71
71
72
72
76
76
77
CAPÍTULO 3
Figura 3.01: Fluxograma Metodologia ....................................................................... 85
CAPÍTULO 4
Figura 4.01:
Figura 4.02:
Figura 4.03:
Figura 4.04:
Figura 4.05:
Figura 4.06:
Figura 4.07:
Figura 4.08:
Figura 4.09:
Figura 4.10:
Figura 4.11:
Figura 4.12:
Figura 4.13:
Figura 4.14:
Figura 4.15:
Figura 4.16:
Segundo edifício da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na
época da sua construção ......................................................................
Projeto do IOT .......................................................................................
Projeto do IPq .......................................................................................
Maternidade Universitária USP – 1944 – Arq. Rino Levi ......................
Hospital da Cruzada Pró-Infância – 1950 – Arq. Rino Levi ...................
Maternidade Universitária USP: corte ...................................................
Maternidade Universitária USP: perspectiva com esquema funcional .
Hospital do Câncer (1947) ....................................................................
Hospital do Câncer (1947) – Arq. Rino Levi e Roberto Cerqueira
César .....................................................................................................
Hospital Gastroclínicas (Atual Hospital Dr. Edmundo Vasconcelos),
São Paulo ..............................................................................................
Hospital Sul América (atual Hospital Geral da Lagoa), Rio de Janeiro .
Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes, São José – 1980 –
Irineu Breitman ......................................................................................
Hospital Infantil Joana de Gusmão, Florianópolis – 1980 – Irineu
Breitman ................................................................................................
Hospital Regional Hans Dietter Schmith, Joinville – 1984 – Irineu
Breitman ……………………………………………………………..………
Hospital de Taguatinga, Vista do Bloco de Internação .........................
Hospital de Taguatinga – Elemento Pré-fabricado na fachada da
Internação .............................................................................................
100
103
103
106
106
106
106
107
107
108
108
109
109
109
110
110
Figura 4.17: Maca projetada por Lelé , de modo a dar mobilidade ao paciente com
dificuldade de locomoção internado nos hospitais da Rede Sarah ......
111
CAPÍTULO 5
Figura 5.01:
Figura 5.02:
Figura 5.03:
Figura 5.04:
Figura 5.05:
Figura 5.06:
Figura 5.07:
Figura 5.08:
Figura 5.09:
Figura 5.10:
Xenodochium Bizantino, Tessalonica, séc. VI (planta) .........................
Bimaristan de Qalawun, Cairo, séc. XIII (planta) ..................................
Hospital Santo Espírito de Lubeck, 1286 (planta) .................................
Ospedalle Maggiore, Milão, 1456: planta e perspectiva .......................
Royal Naval Hospital, Inglaterra, 1756-1764: planta e perspectiva ......
Hospital Lariboisiere, Paris, 1846-1854: planta e croqui .......................
Enfermaria Nightingale, 1857 ................................................................
Johns Hopkins Hospital, EUA, 1890: planta e perspectiva ...................
Otawa Civic Hospital: planta, corte e perspectiva .................................
Hospital Memorial França-Estados Unidos, Saint-Lô, 1955: planta e
perspectiva ............................................................................................
119
119
120
123
124
126
131
131
133
136
CAPÍTULO 6
Figura 6.01:
Figura 6.02:
Figura 6.03:
Figura 6.04:
Figura 6.05:
Figura 6.06:
Figura 6.07:
Figura 6.08:
Figura 6.09:
Figura 6.10:
Figura 6.11:
Figura 6.12:
Figura 6.13:
Figura 6.14:
Figura 6.15:
Sistema pioneiro de Raios-X: pacientes ainda ficavam de pé para
segurar as caixas ..................................................................................
Sala de Raios-x Hospital de Clínicas de Barcelona na sua primeira
etapa .....................................................................................................
Digitalizador do setor de Radiologia do Hospital Sarah Brasília ...........
Equipamento de Radiografia Torácica ..................................................
Equipamento de Mamografia ................................................................
Equipamento de Radiografia para várias partes do corpo (modelo
antigo) ...................................................................................................
Equipamento de Radiografia para várias partes do corpo (modelo
atual) .....................................................................................................
Equipamento de Tomografia Computadorizada atual (modelo de
1990) .....................................................................................................
Sala de Hemodinâmica do InCor em 2008 ...........................................
Sala de Radiologia Intervencionista ......................................................
Bomba de cobalto de radioterapia ........................................................
Acelerador Linear Hospital Sírio Libanês ..............................................
Escaneador de Medicina Nuclear na década de 1970 .........................
Cintilógrafo, produzido e instalado em meados da década de 1990,
no InCor ................................................................................................
Cintilógrafo com giro 360º, produzido e instalado no ano 2000, no
InCor .....................................................................................................
160
160
161
162
162
162
162
163
164
165
166
166
167
168
168
Figura 6.16:
Figura 6.17:
Figura 6.18:
Figura 6.19:
Figura 6.20:
Figura 6.21:
Figura 6.22:
Figura 6.23:
Figura 6.24:
Figura 6.25:
Figura 6.26:
Figura 6.27:
Figura 6.28:
Figura 6.29:
Figura 6.30:
Figura 6.31:
Figura 6.32:
Figura 6.33:
Figura 6.34:
Figura 6.35:
Figura 6.36:
Figura 6.37:
Figura 6.38:
Figura 6.39:
Figura 6.40:
Figura 6.41:
Figura 6.42:
Figura 6.43:
Equipamento PET do InCor ..................................................................
Modelo de um PET/CT ..........................................................................
Cíclotron ................................................................................................
Equipamento de Ressonância Magnética .............................................
Exemplo de um equipamento de Ressonância Magnética de Campo
Aberto ....................................................................................................
Exemplo de um equipamento de Ressonância Magnética com mais
espaço para a passagem do paciente ..................................................
Microscópio Eletrônico do Hospital Sarah Kubitschek de Brasília ........
Refrigeradores ......................................................................................
Centrífuga de mesa ...............................................................................
Capela de exaustão de gases tóxicos ..................................................
Centrífuga de chão ................................................................................
Estufas ..................................................................................................
Analisador Automático ..........................................................................
Equipamentos da Sala Cirúrgica da Santa Casa de Santos, na
década de 1940 ....................................................................................
Equipamentos de uma Sala Cirúrgica hoje ...........................................
Sala cirúrgica com equipamentos para Telecirurgia – Hospital Sírio
Libanês ..................................................................................................
Robô Da Vinci .......................................................................................
Robô Da Vinci em uma sala de cirurgia do Hospital Sírio Libanês .......
“Brigham and Women’s Hospital”: Advanced Multimodal Image-
Guided Operating Suite (AMIGO) ………………………………………...
Caldeiras do InCor ................................................................................
Geradores do Hospital e Maternidade São Luiz – Unidade Anália
Franco ...................................................................................................
Cilindro de O
2
do Hospital e Maternidade São Luiz – Unidade Anália
Franco ...................................................................................................
Centrais de Gases Medicinais do Hospital e Maternidade São Luiz –
Unidade Anália Franco ..........................................................................
Tubulação de água gelada do sistema de Ar Condicionado do
Hospital e Maternidade São Luiz – Unidade Anália Franco ..................
“Chillers” do sistema de Ar Condicionado do Hospital e Maternidade
São Luiz – Unidade Anália Franco ........................................................
Torres de Refrigeração do InCor ..........................................................
“Fan Coil” para um ambiente comum do Hospital e Maternidade
Vitória (São Paulo) ................................................................................
Bomba de Incêndio do InCor ................................................................
169
169
170
172
173
173
174
174
174
175
175
175
175
176
176
176
177
177
178
182
183
184
184
186
186
186
186
187
CAPÍTULO 7
Figura 7.01:
Figura 7.02:
Figura 7.03:
Figura 7.04:
Figura 7.05:
Figura 7.06:
Figura 7.07:
Figura 7.08:
Figura 7.09:
Figura 7.10:
Figura 7.11:
Figura 7.12:
Figura 7.13:
Implantação da Santa Casa de Misericórdia-SP. Prédio original
(séc.XIX) ...............................................................................................
Santa Casa de Misericórdia-SP. Configuração em 1992 ......................
Hospital Samaritano antes da última ampliação ...................................
Simulação do Hospital Samaritano com a última ampliação ................
Hospital Santa Catarina em 2009 .........................................................
Configuração a atual do conjunto de edifícios do HSL .........................
Configuração a atual do conjunto de edifícios do HSL .........................
Vista externa do HSL, destacando o contraste entre edifícios de
diferentes épocas ..................................................................................
Vista externas do HSL, destacando o contraste entre edifícios de
diferentes épocas ..................................................................................
Ampliação do Hospital São Camilo Pompéia ........................................
Esquema das fases de ampliação do Hospital São Camilo Pompéia ..
Corredor externo do Hospital de Clínicas de Barcelona nos anos
1930, mostrando o pé-direito alto que, posteriormente, foi dividido em
dois pavimentos ....................................................................................
Unidade provisória composta de contêineres, localizada no vão entre
dos edifícios do Hospital de Clínicas de Barcelona ..............................
197
197
198
198
200
203
203
204
204
205
205
206
206
CAPÍTULO 8
Figura 8.01:
Figura 8.02:
Figura 8.03:
Figura 8.04:
Figura 8.05:
Figura 8.06:
Figura 8.07:
Figura 8.08:
Figura 8.09:
Figura 8.10:
Figura 8.11:
Figura 8.12:
Posto de enfermagem com equipamentos de monitoramento do
paciente nos primórdios da UTI ............................................................
Paciente com “Pulmão de Aço”, equipamento utilizado na UTI até a
invenção do respirador mecânico, na década de 1950 ........................
Paciente com “Pulmão de Aço” .............................................................
Esquema ilustrativo das etapas do exame de Medicina Nuclear ..........
Laboratório no início da década de 1970 ..............................................
Laboratório em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Brasília) .............
Laboratório em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Brasília) .............
Laboratório em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Brasília) .............
Exemplo de uma sala de Radioterapia (Bunker) ................................
Projeto das salas cirúrgicas do Programa AMIGO, implantado no
Brigham and Women’s Hospital (Boston, EUA) ....................................
Projeto das salas cirúrgicas do Programa AMIGO, implantado no
Brigham and Women’s Hospital (Boston, EUA) ……………..................
210
211
211
218
221
221
221
221
222
225
225
Figura 8.13:
Figura 8.14:
Figura 8.15:
Figura 8.16:
Figura 8.17:
Figura 8.18:
Volumes cilíndricos para a observação dos partos e cirurgias no
projeto da Maternidade Universitária da Faculdade de Medicina da
USP (não construído) ............................................................................
Sala de cirurgia Hospital de Clínicas de Barcelona nos anos 1920 ......
Sala de cirurgia com observatório superior ...........................................
Equipamento de simulação da cirurgia robótica, e Robô anexado à
mesa cirúrgica .......................................................................................
Pavimento Técnico do Hospital Municipal de Boston (EUA, 1969), de
H. Stubbins e Rex Allen ........................................................................
Hospital Brigadeiro, São Paulo .............................................................
227
227
227
227
230
232
CAPÍTULO 9
Figura 9.01:
Figura 9.02:
Figura 9.03:
Figura 9.04:
Figura 9.05:
Figura 9.06:
Figura 9.07:
Figura 9.08:
Figura 9.09:
Figura 9.10:
Figura 9.11:
Figura 9.12:
Figura 9.13:
Figura 9.14:
Figura 9.15:
Figura 9.16:
Figura 9.17:
Figura 9.18:
Figura 9.19:
Figura 9.20:
Figura 9.21:
Figura 9.22:
Figura 9.23:
Figura 9.24:
Planta do pavimento AB do InCor em 1973-1976 (construção) ............
Planta do pavimento AB do InCor em 1984 ..........................................
Planta do pavimento AB do InCor em 1987 ..........................................
Planta do pavimento AB do InCor em 1993 ..........................................
Planta do pavimento AB do InCor em 2002 ..........................................
Planta do pavimento AB do InCor em 2009 (configuração atual) .........
Planta da unidade de Radiologia do InCor em 1976 ............................
Planta da unidade de Radiologia do InCor em 1987 ............................
Planta da unidade de Radiologia do InCor em 2002 ............................
Planta da unidade de Radiologia do InCor em 2009 ............................
Projeto de reforma da unidade de Radiologia do InCor para 2010 .......
Planta com a configuração original do Laboratório de Análises
Clínicas do InCor ...................................................................................
Planta do Laboratório de Análises Clínicas do InCor a partir de 1995 .
Centrífugas ocupando áreas de circulação junto aos Laboratórios de
Pesquisa do InCor (10º pavimento) ......................................................
Refrigeradores ocupando áreas de circulação junto aos Laboratórios
de Pesquisa do InCor (10º pavimento) .................................................
Planta da unidade de Ecocardiografia em 1976 ...................................
Planta da unidade de Ecocardiografia em 1984 ...................................
Planta da unidade de Ecocardiografia em 1987 ...................................
Planta da unidade de Ecocardiografia em 1993 ...................................
Planta da unidade de Ecocardiografia em 2009 ...................................
Planta da unidade de Métodos Gráficos em 1976 ................................
Planta da unidade de Métodos Gráficos em 1984 ................................
Planta da unidade de Métodos Gráficos em 1987 ................................
Planta da unidade de Métodos Gráficos em 1993 ................................
238
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250
250
Figura 9.25:
Figura 9.26:
Figura 9.27:
Figura 9.28:
Figura 9.29:
Figura 9.30:
Figura 9.31:
Figura 9.32:
Figura 9.33:
Figura 9.34:
Figura 9.35:
Planta da unidade de Métodos Gráficos em 2002 ................................
Planta da unidade de Medicina Nuclear em 1984 ................................
Planta da unidade de Medicina Nuclear em 2002 ................................
Planta da unidade de Ressonância Magnética em 1993 ......................
Planta da unidade de Ressonância Magnética em 2009 ......................
“Puxadinhos” nas redes de instalações prediais do InCor, incluindo os
dutos de ar condicionado, a tubulação de água dos hidrantes, etc. .....
Ajustes aparentes no Sistema de Ar Condicionado vistos na fachada
de fundos do InCor ................................................................................
Central de Utilidades do Bloco II do InCor ............................................
Sala de CPD .........................................................................................
Mapa elaborado para orientar a circulação dos usuários
(principalmente dos pacientes externos) no pavimento AB. No
desenho ficam evidentes as linhas coloridas como ferramentas de
orientação .............................................................................................
Corredor ocupado por área de espera em frente as salas de
Radiologia, mostrando também as linhas coloridas no piso com a
função de orientar os usuários do pavimento AB .................................
250
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254
256
256
256
256
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259
CAPÍTULO 10
Figura 10.01:
Figura 10.02:
Figura 10.03:
Figura 10.04:
Figura 10.05:
Figura 10.06:
Figura 10.07:
Figura 10.08:
Figura 10.09:
Figura 10.10:
Figura 10.11:
Figura 10.12:
Figura 10.13:
Figura 10.14:
Figura 10.15:
Figura 10.16:
Figura 10.17:
Corte Geral do Complexo do HIAE, incluindo os edifícios previstos
para o futuro ........................................................................................
Planta do 4º pavimento do HIAE em 1998 .........................................
Planta do 4º pavimento do HIAE em 2009 .........................................
Planta da Unidade de Radiologia do HIAE em 1998 ..........................
Planta da Unidade de Radiologia do HIAE em 2009 ..........................
Antiga Câmara Escura, hoje utilizada para serviços de apoio ............
Câmara Clara ou Unidade Técnica, onde é feita a revelação (digital)
dos exames de Radiologia ..................................................................
Planta da Unidade de Hemodinâmica do HIAE, em 1998 ..................
Planta da Unidade de Hemodinâmica do HIAE em 2009 ...................
Planta do Laboratório do HIAE em 1998 ............................................
Planta do Laboratório do HIAE em 2009 ............................................
Planta da Unidade de Medicina Nuclear do HIAE em 1998 ...............
Planta da Unidade de Medicina Nuclear do HIAE em 2009 ...............
Planta da Unidade de Métodos Gráficos do HIAE em 1998 ...............
Planta da Unidade de Métodos Gráficos do HIAE em 2009 ...............
Planta da Unidade de Ecocardiografia do HIAE em 1998 ..................
Planta da Unidade de Ecocardiografia do HIAE em 2009 ..................
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Figura 10.18:
Figura 10.19:
Figura 10.20:
Figura 10.21:
Figura 10.22:
Figura 10.23:
Figura 10.24:
Figura 10.25:
Figura 10.26:
Figura 10.27:
Figura 10.28:
Figura 10.29:
Figura 10.30:
Planta das Unidades de Endoscopia e Ultrasonografia do HIAE em
1998 ....................................................................................................
Planta das Unidades de Endoscopia e Ultrasonografia do HIAE em
2009 ....................................................................................................
Planta do Subsolo 1 do HIAE em 1998 ..............................................
Planta do Subsolo 1 do HIAE em 2009 ..............................................
Planta da Unidade de Ressonância Magnética (RM) do HIAE em
1998 ....................................................................................................
Planta da Unidade de Ressonância Magnética do HIAE em 2009 .....
Chegada de um equipamento de RM ao HIAE na segunda metade
da década de 1980, pela área do Pátio de Serviços ..........................
Sala do equipamento mais antigo de RM do HIAE, em 2009 .............
Planta do Centro de Simulação Realística (CSR) do HIAE em 2009
Planta das Áreas de Infra-estrutura Predial do HIAE em 1998 ..........
Planta da Unidade de Ressonância Magnética do HIAE em 2009 .....
Pátio de Serviços em 2009 (Subsolo 1), mostrando as Torres de
Resfriamento na cobertura da Central Térmica, os Contêineres e, ao
fundo, a Central de Geradores e outras duas Casas de Máquinas
encostadas no Bloco A .......................................................................
Central de Gases ................................................................................
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283
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287
287
CAPÍTULO 11
Figura 11.01:
Figura 11.02:
Figura 11.03:
Figura 11.04:
Figura 11.05:
Figura 11.06:
Figura 11.07:
Figura 11.08:
Figura 11.09:
Figura 11.10:
Figura 11.11:
Figura 11.12:
Figura 11.13:
Figura 11.14:
Planta do Subsolo 1 do HDAL, em 1980 (época da construção do
edifício) ...............................................................................................
Planta do Subsolo 1 do HDAL em 2007 .............................................
Planta da unidade de Radiologia em 1980 .........................................
Planta da unidade de Radiologia em 2007..........................................
Corredor entre os vestiários de pacientes e as salas de Raio-x .........
Área de Espera ...................................................................................
Sala de Raio-x ....................................................................................
Sala de Angiografia .............................................................................
Digitalizadora (CR) na atual área de revelação digital (antigas
Câmaras Clara e Escura) ...................................................................
Área de Comando comum entre as três salas adjacentes de
Tomografia ..........................................................................................
Adensamento de equipamentos sobre as bancadas do Laboratório ..
Adensamento de equipamentos sobre as bancadas do Laboratório ..
Planta do Laboratório de Análises Clínicas em 1980 .........................
Planta do Laboratório de Análises Clínicas em 2007 .........................
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299
300
300
Figura 11.15:
Figura 11.16:
Figura 11.17:
Figura 11.18:
Figura 11.19:
Figura 11.20:
Figura 11.21:
Figura 11.22:
Figura 11.23:
Figura 11.24:
Figura 11.25:
Figura 11.26:
Figura 11.27:
Planta das unidades de Ressonância Magnética e Medicina Nuclear
em 2007 ..............................................................................................
Planta do Centro Cirúrgico em 1980 ...................................................
Planta do Centro Cirúrgico em 2007 ...................................................
Desenho de Lelé para demonstrar o fluxo das instalações prediais
no pavimento do Subsolo 2 ................................................................
Casa de Máquinas para os equipamentos de ar condicionado (Fan-
coils) do Centro Cirúrgico ...................................................................
Instalações elétricas embutidas nos elementos estruturais do HDAL
Instalações elétricas embutidas nos elementos estruturais do HDAL
Instalações elétricas embutidas nos elementos estruturais do HDAL
Dutos de Ar Condicionado embutidos na estrutura pré-fabricada da
laje do Centro Cirúrgico ......................................................................
Planta do Subsolo 2 do HDAL, em 1980 (época da construção do
edifício) ...............................................................................................
Planta do Subsolo 2 do HDAL em 2007 .............................................
Galeria de Instalações do Subsolo 2 do Sarah Centro .......................
Condutores de água gelada do sistema de Ar Condicionado .............
302
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307
307
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310
310
CAPÍTULO 12
Figura 12.01:
Figura 12.02:
Figura 12.03:
Figura 12.04:
Figura 12.05:
Figura 12.06:
Figura 12.07:
Figura 12.08:
Figura 12.09:
Figura 12.10:
Configuração das áreas de circulação – Pavto AB InCor, em 1976 ...
Configuração das áreas de circulação – Pavto AB InCor, em 2009 ...
Configuração das áreas de circulação – 4º pavto HIAE, em 1998 .....
Configuração das áreas de circulação – Subsolo 1 HIAE, em 1998 ..
Configuração das áreas de circulação – 4º pavto HIAE, em 2009 .....
Configuração das áreas de circulação – Subsolo 1 HIAE, em 2009 ..
Configuração das áreas de circulação – Subsolo 1 HDAL, em 1980 .
Configuração das áreas de circulação – Subsolo 2 HDAL, em 1980 .
Configuração das áreas de circulação – Subsolo 1 HDAL, em 2007 .
Configuração das áreas de circulação – Subsolo 2 HDAL, em 2007 .
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318
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320
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320
CAPÍTULO 14
Figura 14.01:
Figura 14.02:
Figura 14.03:
Figura 14.04:
Figura 14.05:
Figura 14.06:
Figura 14.07:
Hospital Memorial França-Estados Unidos, Saint-Lô, 1955 ...............
Northwick Park Hospital (Implantação) ...............................................
Northwick Park Hospital …………………………………….……………
Hospital St. Albans e seus “Vetores de expansão” .............................
Greenwich Hospital – Plantas com zoneamento funcional .................
Greenwich Hospital –Volumetria .........................................................
Greenwich Hospital – Elevação ..........................................................
357
361
362
362
364
364
364
Figura 14.08:
Figura 14.09:
Figura 14.10:
Figura 14.11:
Figura 14.12:
Figura 14.13:
Figura 14.14:
Figura 14.15:
Figura 14.16:
Figura 14.17:
Figura 14.18:
Figura 14.19:
Figura 14.20:
Figura 14.21:
Figura 14.22:
Figura 14.23:
Programa Harness ..............................................................................
Programa Nucleus ..............................................................................
Programa Nucleus (rua hospitalar organizando os módulos
funcionais) ...........................................................................................
Programa Nucleus (rua hospitalar organizando os módulos
funcionais) ...........................................................................................
Centro de Saúde e Hospital “Linha de Frente” ...................................
Hospital Pré-fabricado – Consórcio BDSL, Siemens, Servlease ........
Hospital Regional, 1990 – Mayerhofer e Toledo Arquitetura ..............
Maquete do Hospital Geral Padrão “HGU”, reproduzido várias vezes
na segunda fase do PMS ....................................................................
Hospital Geral Itaim Paulista ...............................................................
Hospital Geral Grajaú .........................................................................
Hospital Geral Vila Alpina ...................................................................
Hospital Geral Pirajussara ..................................................................
Hospital Geral Carapicuíba .................................................................
Hospital Geral Itapevi ..........................................................................
Hospital Geral Diadema ......................................................................
Hospital Geral Itaquaquecetuba ....................................................
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375
375
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375
375
375
375
LISTA DE QUADROS
Quadro 01:
Quadro 02:
“Os números do crescimento” do HIAE com o mais recente plano de
expansão ...............................................................................................
Organização Físico-funcional adotada como base ...............................
48
78
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
AB – Ambulatório
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AIA – American Institute of Architetcs (Instituto Americano de Arquitetos)
AMIGO – Advanced Image-guided Operating Suit
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APO – Avaliação Pós Ocupação
CAP – Caixa de Aposentadoria e Pensões
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAT – Computerized Axial Toography
CATV – Circuito Aberto de TV
CDI – Centro de Diagnóstico por Imagem do Hospital Sírio Libanês
CEME – Central de Medicamentos
CEPE – Centro de Estudos e Pesquisas do Hospital Sírio Libanês
CFTV – Circuito Fechado de TV
CME – Central de Material Esterilizado
CNEN – Comissão Nacional de Energia Nacional
COE – Código de Obras e Edificações do Município de São Paulo
CPD – Central de Processamento de Dados
CR – Digitalizador de Raios-X
CSR – Centro de Simulação Realística do Hospital Israelita Albert Einstein
CTRS – Centro de Tecnologia Rede Sarah
DML – Depósito de Material de Limpeza
DOP – Departamento de Edifícios e Obras Públicas do Estado de São Paulo
EAS – Estabelecimentos Assistenciais de Saúde
ECG – Eletrocardiograma e
ECGE – Eletrocardiograma de Esforço
HC – Hospital das Clínicas
HDAL – Hospital de Doenças do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek
HIAE – Hospital Israelita Albert Einstein
HG – Hospitais Gerais
HGU – Hospital Geral Padrão
HSL – Hospital Sírio Libanês
IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil
IAP – Institutos de Aposentadoria e Pensões
ICESP – Instituto do Câncer de São Paulo
ICr – Instituto da Criança
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INCA - Instituto Nacional do Câncer
InCor – Instituto do Coração
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
InRad – Instituto de Radiologia
IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
IPq – Instituto de Psiquiatria
IOT – Instituto de Ortopedia e Traumatologia
IT – Instrução Técnica do Corpo de Bombeiros
MIT – Massachusetts Institute of Technology
MRI – Magnetic Resonance Imaging
MS – Ministério da Saúde
NASA – National Aeronautics and Space Administration
NUTAU – Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
OMS – Organização Mundial de Saúde
PABX – Private Automatic Branch Exchange
PACS – Picture Archiving and Communication System (Sistema de Comunicação e
Arquivamento de Imagens)
PAMB – Instituto dos Ambulatórios
PET – Positron Emission Tomography
PMS – Programa Metropolitano de Saúde
PPA – Plano de Pronta Ação
PRODESP – Companhia de Processamento de Dados de Estado de São Paulo
RDC 50 – Resolução n
o
50 da ANVISA, regulamentadora dos projetos de EAS
RH – Recursos Humanos
RI – Radiologia Vascular Intervencionista
RM – Ressonância Magnética
RMGSP – Região Metropolitana da Grande São Paulo
S1 – Subsolo 1 do Hospital Sarah Kubitschek de Brasília
S2 – Subsolo 2 do Hospital Sarah Kubitschek de Brasília
SBIBAE – Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
SESP – Serviço Especial de Saúde Pública
SINPAS – Sistema Nacional de Previdência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
TC – Tomografia Computadorizada
TI – Tecnologia da Informação
UBS – Unidade Básica de Saúde
UTI – Unidade de Tratamento Intensivo
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 31
1.1 COLOCAÇÃO DO PROBLEMA .............................................................................
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................
1.2.1 Geral .........................................................................................................................
1.2.2 Específicos ...............................................................................................................
1.3 PRESSUPOSTOS DA PESQUISA .........................................................................
1.4 O OBJETO DA INVESTIGAÇÃO ............................................................................
1.4.1 Os Objetos Concretos ...............................................................................................
1.4.1.1 Instituto do Coração
.................................................................................................
1.4.1.2 Hospital Israelita Albert Einstein
................................................................................
1.4.1.3 Hospital Sarah Kubitschek Brasília ............................................................................
31
35
35
35
36
37
37
38
42
50
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR: PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA 59
2.1 ATRIBUTOS DO PROJETO ...................................................................................
2.1.1 Implantação e inserção urbana .................................................................................
2.1.2 Condicionantes sociais, políticas e econômicas .......................................................
2.1.3 Fatores físico-funcionais
.........................................................................................
2.1.4 Condicionantes ambientais .......................................................................................
2.1.5 Normatização
............................................................................................................
2.1.6 Sustentabilidade .......................................................................................................
2.2 AS PARTES DO SISTEMA “HOSPITAL” ..............................................................
2.2.1 Internação .................................................................................................................
2.2.2 Diagnóstico e Tratamento
.........................................................................................
2.2.3 Ensino e Pesquisa ....................................................................................................
2.2.4 Apoio Administrativo
................................................................................................
2.2.5 Apoio Técnico e Logístico .........................................................................................
63
64
65
66
69
73
73
74
78
79
80
80
81
3 METODOLOGIA 85
3.1 LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDÁRIOS ...................................................
3.2 LEVANTAMENTO DE DADOS PRIMÁRIOS .........................................................
3.2.1 Estudos de Caso .......................................................................................................
3.3 ANÁLISE DOS DADOS ..........................................................................................
85
87
88
90
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
BRASILEIROS 93
4.1 EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR ...................................
4.1.1 No Brasil .................................................................................................................
93
93
4.1.2 Em São Paulo .........................................................................................................
4.2 MOVIMENTO MODERNO .....................................................................................
4.3 INDUSTRIALIZAÇÃO E PADRONIZAÇÃO NA ARQUITETURA DOS
HOSPITAIS BRASILEIROS ..................................................................................
98
104
108
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS A
SERVIÇO DA MEDICINA 115
5.1 IDADE ANTIGA: AS ORIGENS DA MEDICINA NA GRÉCIA E NO ORIENTE ...
5.2 IDADE MÉDIA: O AVANÇO DA MEDICINA NO ORIENTE .................................
5.3 RENASCIMENTO: O AVANÇO DA MEDICINA NO OCIDENTE .........................
5.4 HÔTEL-DIEU: INÍCIO DO PLANEJAMENTO HOSPITALAR COMO
DISCIPLINA ..........................................................................................................
5.5 SÉCULO XIX – O AVANÇO DA TECNOLOGIA A SERVIÇO DA MEDICINA .....
5.6 SÉCULO XX - POPULARIZAÇÃO DO USO DE TECNOLOGIA NOS
HOSPITAIS E AUMENTO DA SUA COMPLEXIDADE FUNCIONAL ..................
5.7 PERÍODO PÓS-GUERRA: ACELERAÇÃO .........................................................
5.7.1 Década de 50 ..........................................................................................................
5.7.2 Década de 60 ..........................................................................................................
5.7.3 Década de 70
..........................................................................................................
5.7.4 Década de 80 ..........................................................................................................
5.7.5 Década de 90
..........................................................................................................
5.7.6 Século XXI ..............................................................................................................
115
118
120
124
128
132
135
138
138
139
141
141
143
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES 149
6.1 COMPARTILHAMENTO E PROCESSAMENTO DE DADOS E IMAGENS ........
6.1.1 Informática Médica ..................................................................................................
6.1.2 Prontuário Eletrônico
..............................................................................................
6.1.3 Telemedicina ..........................................................................................................
6.1.4 Processamento de sinais biológicos
.......................................................................
6.1.5 Processamento de imagens médicas ......................................................................
6.1.6 Cabeamento Estruturado
........................................................................................
6.1.7 Redes sem fio
.........................................................................................................
6.1.8 Edifícios Inteligentes
...............................................................................................
6.2 EQUIPAMENTOS DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ...................................
6.2.1 Radiologia ..............................................................................................................
6.2.2 Radioterapia
...........................................................................................................
6.2.3 Medicina Nuclear
....................................................................................................
6.2.4 Ressonância Magnética
..........................................................................................
6.2.5 Laboratórios
...........................................................................................................
149
149
150
151
153
153
154
155
157
158
160
165
166
171
173
6.2.6 Cirurgia ..................................................................................................................
6.3 EQUIPAMENTOS DE INFRAESTRUTURA PREDIAL E INSTALAÇÕES
ESPECIAIS ............................................................................................................
6.3.1 Sistema de abastecimento e distribuição de água ....................................................
6.3.2 Sistema de captação e distribuição de energia ........................................................
6.3.3 Instalaçoes fluído-mecânicas ...........
........................................................................
6.3.4 Sistema de ar condicionado ....................................................................................
6.3.5 Sistema de proteção contra incêndio
.....................................................................
175
178
182
182
183
184
186
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES 191
7.1 REFORMAS EM HOSPITAIS EXISTENTES ........................................................
7.1.1 Questões demográficas, epidemiológicas e sociais ................................................
7.1.2 Questões político-econômicas
................................................................................
7.1.3 Questões legais ......................................................................................................
7.1.4 Hospitais modificados
............................................................................................
7.2 ARQUITETURA E TECNOLOGIA: ASSINCRONISMOS .....................................
191
193
194
196
196
201
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS 209
8.1 INTERNAÇÃO .......................................................................................................
8.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ........................................................................
8.2.1 Radiologia ..............................................................................................................
8.2.2 Medicina Nuclear
....................................................................................................
8.2.3 Ressonância Magnética ..........................................................................................
8.2.4 Laboratórios
...........................................................................................................
8.2.5 Radioterapia
...........................................................................................................
8.2.6 Cirurgia
..................................................................................................................
8.3 ENSINO E PESQUISA ..........................................................................................
8.4 APOIO ADMINISTRATIVO ...................................................................................
8.5 APOIO TÉCNICO E LOGÍSTICO ..........................................................................
209
211
214
216
218
220
221
222
226
228
228
9 ESTUDOS DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO 237
9.1 PAVIMENTO AB: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1976 E 2009 ...........................
9.1.1 Radiologia ..............................................................................................................
9.1.2 Laboratório .............................................................................................................
9.1.3 Ultrasonografia e Ecocardiografia
...........................................................................
9.1.4 Métodos Gráficos
....................................................................................................
9.1.5 Medicina Nuclear
....................................................................................................
9.1.6 Ressonância Magnética
..........................................................................................
9.2 ÁREAS DE INFRA-ESTRUTURA PREDIAL ........................................................
237
241
244
246
248
251
253
255
9.3 CONCLUSÕES .....................................................................................................
9.3.1 Reformas nas unidades de Imagenologia ................................................................
9.3.2 Articulação das centrais e redes de infraestrutura ...................................................
257
257
259
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN 263
10.1 4º PAVIMENTO: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1998 E 2009 ............................
10.1.1 Radiologia ..............................................................................................................
10.1.2 Hemodinâmica ........................................................................................................
10.1.3 Laboratório
.............................................................................................................
10.1.4 Medicina Nuclear ....................................................................................................
10.1.5 Métodos Gráficos
....................................................................................................
10.1.6 Ecocardiografia, Ultrasonografia e Endoscopia .......................................................
10.2 SUBSOLO 1: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1998 E 2009 .................................
10.2.1 Ressonância Magnética ..........................................................................................
10.2.2 Centro de Simulação Realística .
..............................................................................
10.2.3 Infraestrutura Predial ..............................................................................................
10.3 CONCLUSÕES .....................................................................................................
264
269
272
274
275
276
277
280
281
284
285
287
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK BRASÍLIA 293
11.1 SUBSOLO 1: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1980 E 2007 .................................
11.1.1 Radiologia ..............................................................................................................
11.1.2 Laboratório
.............................................................................................................
11.1.3 Ressonância Magnética e Medicina Nuclear ............................................................
11.1.4 Centro Cirúrgico
.....................................................................................................
11.2 SUBSOLO 2: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1980 E 2007 .................................
11.2.1 Apoio Técnico e Logístico .......................................................................................
11.3 CONCLUSÕES .....................................................................................................
293
296
298
301
303
305
308
311
12 CONCLUSÕES 317
12.1 SOBRE OS CASOS ESTUDADOS ......................................................................
12.1.1 Diferenças ..............................................................................................................
12.1.2 Semelhanças
..........................................................................................................
12.2 SOBRE OS RUMOS DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR ......................
12.3 SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FLEXIBILIDADE NA ARQUITETURA DOS
HOSPITAIS ...........................................................................................................
12.3.1 Flexibilidade no zoneamento funcional ...................................................................
12.3.2 Ampliação do conceito de modulação
.....................................................................
12.3.3 Planejamento estratégico de espaços técnicos
.......................................................
12.3.4 Plano Diretor
...........................................................................................................
318
320
321
322
324
326
328
329
330
12.4 SOBRE A PRESENÇA DO ARQUITETO NOS HOSPITAIS ................................
12.5 SOBRE A NECESSIDADE DE FUTURAS PESQUISAS .....................................
332
334
13 BIBLIOGRAFIA 339
13.1 ENDEREÇOS ELETRÔNICOS ............................................................................. 346
14 ANEXOS 357
14.1 ANEXO 1 ...............................................................................................................
14.1.1 Programa Hill Burton ...........................................................................................
14.2 ANEXO 2 ...............................................................................................................
14.2.1 Tentativas de estandardização do planejamento arquitetônico de edifícios
hospitalares na Grã-Bretanha do pós-guerra ...........................................................
14.2.1.1 Northwick Park Hospital
.........................................................................................
14.2.1.2 Greenwich Hospital ................................................................................................
14.2.1.3 Hospitais Best Buy
................................................................................................
14.2.1.4 Programa Nucleus .................................................................................................
14.3 ANEXO 3 ...............................................................................................................
14.3.1 Tentativas de estandardização do planejamento arquitetônico de edifícios
hospitalares no Brasil
.............................................................................................
14.3.1.1 Centro de Saúde e Hospital “Linha de Frente”
..........................................................
14.3.1.2 Hospital Pré-fabricado – Consórcio BDSL, Siemens, Servlease
.................................
14.3.1.3 Hospital Regional ..................................................................................................
14.3.1.4 Hospital da Cooperativa da Unimed – Araras
...........................................................
14.3.1.5 Hospital Mínimo Ministério da Saúde .......................................................................
14.3.1.6 Hospital Geral Padrão do PMS
...............................................................................
357
357
359
359
361
363
365
367
370
370
370
371
372
373
373
374
1
INTRODUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
31
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa cujos resultados são aqui apresentados investigou a dinâmica das
transformações do edifício hospitalar imposta pelos avanços técnicos e científicos.
A proposta do trabalho apoia-se na avaliação do processo de adaptação
arquitetônica dos hospitais face às mudanças físicas e funcionais trazidas pelos
avanços da tecnologia na área da saúde.
Os hospitais, ou Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), evoluíram muito
desde a sua origem. Seus edifícios passaram de tipologias cruciformes a
pavilhonares e sofreram uma série de mudanças até chegarem às tipologias em
monobloco e mistas, fazendo hoje parte de um cenário urbano também muito
modificado. Historicamente, estas transformações arquitetônicas dos hospitais
demonstram forte vínculo com os avanços da ciência e da tecnologia. “Como não
se pode duvidar, as transformações do espaço hospitalar estiveram apoiadas nas
próprias transformações da medicina, assim como nas transformações do
conhecimento”. (SILVA, 2001)
Assim como houve o aperfeiçoamento científico e tecnológico da medicina, houve o
aprimoramento técnico-construtivo na construção, ambos impulsionados pelo
movimento iluminista no século XVIII, e principalmente pelo aquecimento da
indústria tanto no século XIX como no século XX. Verificou-se uma grande
aceleração no desenvolvimento industrial com o final da Segunda Guerra, quando
se acelera também a produção científica. A construção civil, de uma maneira geral,
foi afetada de diversas maneiras por estes acontecimentos, e os hospitais, pela sua
utilização altamente especializada na área da medicina e da engenharia clínica,
destacam-se por estarem entre os edifícios mais modificados.
Principalmente após a segunda metade do século XX, a complexidade funcional
aumentou significativamente nas instituições de saúde, onde a demanda
populacional por atendimento e a necessidade de equipamentos médicos e
sistemas de infraestrutura mais refinados cresceram progressivamente. Este
processo, por sua vez, produziu muitas reformas e expansões em edificações
hospitalares existentes, as quais nem sempre estiveram preparadas para
adaptações tão constantes e complicadas tecnicamente.
Atualmente, “um edifício destinado à saúde, dependendo do seu grau de
complexidade, possui uma série de unidades e departamentos que são
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
32
interdependentes entre si e (...) possuem funções especializadas, portanto
necessitam de instalações diferenciadas. E para que as funções e o
atendimento do estabelecimento possuam qualidade e exerçam suas
atividades da melhor maneira, ele deve estar atualizado, ou seja, deve
acompanhar os progressos técnicos, médicos e administrativos”.
(MARINELLI, 2003:100)
Reconhecendo nas instituições de saúde contemporâneas a inerência da
complexidade espacial e funcional, bem como a dificuldade em manter a sua
integridade arquitetônica frente às adaptações às quais se submete, esta pesquisa
vem refletir sobre o contínuo processo de transformação destes edifícios e sobre a
incorporação das variáveis tecnológicas como determinantes incontestáveis na
atividade projetual. Deseja-se, portanto, alertar os arquitetos quanto à inconstância
destas variáveis que desenham as edificações hospitalares, esperando assim
contribuir ao aperfeiçoamento de futuros projetos desta natureza.
1.1 COLOCAÇÃO DO PROBLEMA
Representados antigamente por edificações afastadas dos aglomerados urbanos e
destinadas principalmente ao isolamento dos doentes, os hospitais percorreram,
desde a sua origem, um longo caminho de transformações arquitetônicas. Suas
construções estiveram durante séculos baseadas em preceitos religiosos e teorias
sobre a propagação das doenças, que dominaram a concepção técnica e formal
dos seus edifícios. A preocupação maior não era com a cura do corpo, mas sim
com a cura da alma e com a proteção dos sadios. Com o tempo o desenvolvimento
da ciência médica distanciou-se da Igreja e o paradigma para o tratamento das
doenças mudou, sendo que os edifícios hospitalares obrigatoriamente adaptaram-
se aos novos conceitos de cura, num processo que dura até hoje. O movimento
Iluminista foi o motor destes eventos, e a partir de então a construção civil, também
como ciência alimentada pelo uso de elementos como o aço e o elevador,
aprimorou-se.
Durante o século XX, com o surgimento de novas técnicas de assistência à saúde e
da crescente difusão dos meios de comunicação, foi iniciado um período de
aceleração na construção de hospitais. Estes foram então se adequando a tais
circunstâncias e logo necessitaram de maior flexibilidade espacial para agregar um
crescente número de atividades, criadas a partir da descoberta de novas doenças,
novos tratamentos e novas técnicas de diagnóstico. Tais novidades demandaram
1 INTRODUÇÃO
33
áreas novas e especializadas e, por isto, as instituições de saúde passaram a
receber atenção especial no campo da arquitetura.
“As atividades desenvolvidas nestes edifícios possuem uma dinâmica
própria que está sempre se modificando, evoluindo e agregando
conhecimento. Os avanços tecnológicos na área da saúde que são
absorvidos e agregados, sejam nas técnicas terapêuticas ou na própria
construção e manutenção do edifício, têm provocado mudanças na forma
de se pensar e projetar esses edifícios”. (MARINELLI, 2003:101)
Nos últimos 50 anos, o desenvolvimento da eletrônica e suas incontáveis
aplicações na medicina exigiram respostas imediatas e continuadas dos edifícios
hospitalares. Nestes tornaram-se imprescindíveis redes de instalações especiais,
aptas a dar suporte ao arsenal tecnológico e terapêutico constantemente absorvido
na assistência à saúde.
VISCONTI (1999) afirma que ...
... “os rápidos avanços das ciências médicas, dos métodos de tratamento e
ainda as alterações na população atendida, a ampliação da demanda de
leitos e tratamentos, as novas tendências em educação, pesquisa,
administração e gerenciamento hospitalar, fazem com que os edifícios
hospitalares sofram contínuas adaptações e ampliações”.
KARMAN (1994:25) completa, dizendo que ...
... “cada vez mais o hospital se revela ‘permanente canteiro de obras’ e
‘instituição à espera de conclusão’; cada vez mais rapidamente alterações,
inovações, avanços tecnológicos, mudanças, reformas e obras novas se
sucedem; equipamentos e instalações são levados a substituições mais
frequentes; vida útil dos produtos e a luta contra a obsolescência física e
funcional tornam-se mais presentes, gerando necessidade de resposta, de
planejamento, de ação e de investimento cada vez mais ágeis”.
Os edifícios hospitalares, porém, têm certa inércia face às modificações
necessárias, dado constituírem grandes investimentos. Essa inércia pode ser maior
ou menor, dependendo do partido arquitetônico adotado. De outro lado, a atividade
médico-hospitalar tem se caracterizado nos últimos decênios pela intensidade e
velocidade com que inovações tecnológicas são introduzidas na forma de
equipamentos exigindo espaços e instalações especiais.
O problema com que se defrontam os arquitetos envolvidos em projetos
hospitalares diz respeito à criação de condições que permitam receber essas
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
34
inovações sem que as modificações necessárias à sua introdução comprometam
de modo irremediável a concepção arquitetônica original, os espaços projetados e a
estética do edifício. Além disso, é necessário minimizar o impacto dessas
modificações na operação do hospital.
Segundo VISCONTI (1999), “a renovação dos edifícios hospitalares está
amplamente reconhecida como um dos principais problemas que os arquitetos têm
de enfrentar mais cedo ou mais tarde”, pois envolve variáveis técnicas interligadas
(rede de instalações hidráulicas, elétricas e fluído-mecânicas) e pode alterar as
relações estabelecidas entre as várias áreas da instituição. Como coloca KOTAKA
(1992:7), “se a reforma ou ampliação é realizada pensando somente em
determinado setor do hospital, pode prejudicar outros setores, interferindo no
funcionamento do conjunto”. As reformas, portanto, devem ocorrer com o mínimo
de transtorno possível para o funcionamento do hospital, exigindo flexibilidade tanto
na alteração do uso quanto na introdução de novas instalações e equipamentos.
Principalmente a partir da década de 1960, acelerou-se o aperfeiçoamento técnico
e científico na medicina, fato que despejou nos hospitais uma série de
necessidades arquitetônicas. Segundo ROSENFIELD (1969), os seus edifícios
sofreram grande adensamento, dificultando a sua gestão. Custos de trabalho se
tornam proibitivos e padrões de circulação evoluíram para labirintos. Rosenfield
chamou estes casos de “hospitais espaguete”, os apontado como um dos maiores
desafios no planejamento hospitalar.
Com tantas interferências, as intervenções nos espaços hospitalares se tornaram
cada vez mais numerosas e constantes, lentamente alterando a estrutura formal e
funcional dos edifícios. Neste processo, MIQUELIN (1992) comenta que passaram
a ser recorrentes afirmações de que o hospital tornou-se a instituição mais dinâmica
da sociedade contemporânea.
Comenta-se também que as mais rápidas soluções dadas aos ambientes
hospitalares para a sua modificação e/ou renovação “ameaçam a própria
integridade e perenidade do espaço arquitetônico tradicional”
1
, e que ao invés de
preconizarem um espaço determinante e organizado, podem incentivar a gradual
fragmentação das áreas de circulação e das unidades funcionais (por exemplo:
1
GIACOMO, 1994:52.
1 INTRODUÇÃO
35
uma unidade funcional com salas espalhadas pelo prédio em locais distantes uns
dos outros). Este processo costuma levar, por sua vez, a alterações nas relações
funcionais da instituição, aumentando as distâncias e a utilização dos sinais visuais
de informações.
Além das variáveis científicas e tecnológicas atuando sobre as modificações nos
edifícios hospitalares, há ainda a incerteza e a descontinuidade da política de
investimentos dos Governos, que afeta os hospitais públicos. Estes são, em grande
parte, levados à realização de “pequenas reformas, ampliações e mudanças de
layout, descaracterizando o seu plano diretor original, causando enormes prejuízos
ao seu fluxo operacional e à própria estrutura predial em si”. (BARATA, 2003, apud
SILVA, s/d:1)
Diante das possíveis implicações das alterações espaciais na própria estrutura
funcional da edificação hospitalar, faz-se certa a necessidade de uma contribuição
da pesquisa científica para a análise deste fenômeno. “Conscientização,
aprimoramento e mais pesquisas muito contribuirão para minimizar o empirismo e o
subjetivismo presentes em planejamento hospitalar”. (KARMAN, 2003)
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
O objetivo geral desta pesquisa é investigar o impacto das frequentes inovações
tecnológicas na medicina sobre o edifício hospitalar, buscando apresentar
concepções arquitetônicas que permitam a incorporação dessas inovações de
modo menos impactante tanto para o edifício como para a sua operação.
1.2.2 Específicos
A pesquisa foi lançada na tentativa de encontrar relações concretas entre a
inovação tecnológica nos hospitais e as suas transformações arquitetônicas. Foi
estudada a evolução da tecnologia e a maneira como ela tem atuado nos edifícios,
bem como os exemplos encontrados que exemplificam a sua influência sobre a
arquitetura. Desta forma pretende-se verificar as alterações espaciais que
acompanharam esta evolução e identificar as áreas dos hospitais que mais
sofreram mudanças durante o processo.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
36
Pretende-se ainda demonstrar os aspectos favoráveis e desfavoráveis de uma
configuração espacial intensamente modificada pela tecnologia, apontando
caminhos para projetos mais flexíveis.
1.3 PRESSUPOSTOS DA PESQUISA
Estando próxima ao cenário de reformas e expansões no qual está envolvido o
Instituto do Coração (InCor), a autora desta dissertação acompanhou um processo
de planejamento complexo e difícil de ser gerenciado. Foram percebidas várias
interferências no projeto que fogem ao controle do arquiteto, acerca do volátil
programa de necessidades, do extenso número de clientes e, sobretudo, do
elevado nível de especificidades técnicas envolvidas. Notou-se que as reformas
eram constantes e que ocorriam ao mesmo tempo em vários locais do edifício, não
havendo um momento em que o hospital não estivesse em obras.
Ciente desta situação, não demorou muito para que a ela fossem atribuídos muitos
dos labirintos existentes neste hospital, principalmente no pavimento do
Ambulatório, onde estão as atividades de diagnóstico por imagem da instituição. Lá
ficou visualmente flagrante que o número de reformas foi extenso, e que muitos
“puxadinhos” foram construídos como medidas emergenciais. A pesquisa surgiu
quando se decidiu procurar a causa desta configuração arquitetônica contingente.
Agregando à experiência no InCor, à pesquisa bibliográfica e às informações
absorvidas pelos depoimentos de alguns profissionais da área hospitalar, formou-se
a hipótese de que a necessidade principal por trás destas reformas seria de ordem
tecnológica. Pressupôs-se, portanto, que a incorporação de equipamentos e
procedimentos de alta tecnologia seja a causa de muitas das reformas ocorridas
dentro de hospitais existentes, alterando e impactando a sua estrutura física e
funcional.
Como será visto ao longo dessa dissertação, as unidades de diagnóstico e
tratamento são reconhecidas entre as que mais incorporaram novidades em
tecnologias médico-hospitalares, especialmente considerando o intenso e recente
processo de inovação dos equipamentos de medicina preventiva. Por isso,
pressupõe-se também que nestas áreas ocorra a maior parte das transformações
arquitetônicas vinculadas à incorporação de avanços tecnológicos.
1 INTRODUÇÃO
37
1.4 O OBJETO DA INVESTIGAÇÃO
O objeto desta investigação é formado pelas adequações impostas aos edifícios
hospitalares pelas inovações tecnológicas na medicina. Como objetos concretos
foram utilizados três hospitais: o Instituto do Coração (InCor) e o Hospital Israelita
Albert Einstein (HIAE), em São Paulo, e o Hospital de Doenças do Aparelho
Locomotor Sarah Kubitschek (HDAL) em Brasília – o primeiro da Rede de Hospitais
de Reabilitação Sarah Kubitscheck.
1.4.1 Os Objetos Concretos
Para investigar a problemática exposta neste trabalho, foram escolhidos alguns
casos representativos. Foram analisados três hospitais brasileiros onde a inovação
técnica tem sido especialmente responsável pelas transformações arquitetônicas. A
escolha destes edifícios foi motivada ora pelos seus elevados índices de renovação
tecnológica, como é o caso dos dois exemplos paulistanos, ora pela conceituação
tecnológica do próprio projeto, como é o caso do hospital brasiliense.
O Hospital Sarah, com quase 30 anos de funcionamento, possui assistência
considerada de ponta no tratamento do aparelho locomotor, enquanto o Instituto do
Coração e o Hospital Albert Einstein, com seus respectivos 33 e 40 anos de
história, estão entre as melhores instituições de saúde do país. Todos os três
edifícios, pelo seu pioneirismo na aplicação dos avanços da medicina brasileira,
vivenciaram o processo de atualização tecnológica, demonstrando o seu impacto
sobre as transformações arquitetônicas através de muitas reformas e ampliações.
No intuito de realizar uma investigação mais aproximada e factual do processo de
transformação arquitetônica vinculada às variáveis tecnológicas, optou-se por
analisar, em todos os três estudos de caso, as transformações das áreas do edifício
onde se concentra o maior número de atividades com intenso uso e renovação de
tecnologia (equipamentos e instalações). Por este motivo as análises se
concentraram nos pavimentos com o maior número de atividades de diagnóstico e
tratamento, incluindo quando possível a análise das áreas onde há concentração de
infraestrutura predial.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
38
1.4.1.1 Instituto do Coração
O Instituto do Coração é um hospital público especializado no tratamento, ensino e
pesquisa de doenças cardíacas. Fazendo parte do complexo do Hospital das
Clínicas de São Paulo (Figura 1.01), este hospital oferece assistência
predominantemente vinculada ao SUS (75% do atendimento total de pacientes), e
está intimamente ligado à Faculdade de Medicina da USP, mantendo dentro das
suas instalações espaço para o ensino e, principalmente, para a pesquisa. Está
entre os mais prestigiados hospitais do país, há muito contribuindo com importantes
avanços científicos.
Figura 1.01: Complexo do Hospital das Clínicas com a localização do InCor
Fonte: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Com quase 33 anos de funcionamento, o InCor (Figuras 1.02 e 1.03) abriu suas
portas em 1977 com menos da metade de sua área atual, chegando hoje a 75 mil
m² que envolvem Bloco I (30 mil m²) e Bloco II (45 mil m²). Com um setor próprio
responsável pela arquitetura do edifício, está constantemente expandindo-se e
alterando-se, convivendo com as dificuldades de sofrer modificações estando em
atividade 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Segundo VISCONTI (2000), este hospital era chamado inicialmente de Instituto de
Doenças Cardiopulmonares, e seu projeto inicial possuía 255 leitos, com um
terreno de 3.100 m². Considerado pequeno para este tipo de edificação, o terreno
foi totalmente ocupado e, para compensar este fato, o projeto colocou três níveis de
praças secas no prédio (Térreo/Praça + 4º e 6º pavimentos). Hoje, após uma série
de reformas e significativas expansões, a instituição já ocupou a maioria destas
praças. Com aproximadamente 500 leitos, o InCor possui hoje um conjunto
edificado constituído por dois blocos principais (Blocos I e II) e três edificações
1 INTRODUÇÃO
39
anexas, sendo que uma delas, o Anexo III, ainda não está concluída.
O InCor foi a oitava instituição a ser construída no complexo do Hospital das
Clínicas e o seu projeto foi, segundo Visconti, elaborado em 1967 “por uma equipe
de técnicos do extinto Departamento de Edifícios e Obras Públicas do Estado de
São Paulo (DOP), composta pelos arquitetos Maria Giselda Cardoso Visconti, Maria
Mércia Barbosa e Nelson Daruj, em 1967.” A construção durou de 1969 até 1974, e
nesta ocasião o hospital contava apenas com o Bloco I (Figura 1.02).
Figura 1.02: Bloco I do InCor em 1975.
Fonte: Departamento de
Documentação Científica InCor.
Figura 1.03: Conjunto de edifícios do InCor em 2000.
Fonte: Departamento de Documentação Científica do InCor.
Figura 1.04: Implantação atual do InCor.
Fonte: Departamento de Arquitetura – InCor.
Entre a conclusão da obra do Bloco I e o seu efetivo funcionamento houve um
período em que “apesar da existência do prédio, de muitos equipamentos, de
profissionais e de vários manuais, a organização não funcionava porque nunca
havia sido projetado o seu fluxo financeiro” (STEUER, 1997:47). Ou seja, o hospital
estava pronto em 1975, mas não possuía dinheiro para funcionar, dinheiro este que
era proveniente do Estado. A partir deste problema surgiu a necessidade da criação
de uma fonte financeira alternativa que culminou na criação da Fundação Zerbini,
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
40
ainda hoje co-mantenedora da Instituição. Segundo Steuer, os registros em relação
ao início das atividades do Bloco I são imprecisos, suspeitando-se que o
atendimento efetivo de pacientes tenha começado em 1977.
De acordo com um artigo de 1974 do jornal Folha de São Paulo (apud STEUER,
1997) o Bloco I do InCor foi a “obra mais cara em toda a história do Departamento
de Obras Públicas (DOP)”.
Ao prédio do Bloco I foi dada uma solução vertical frente ao terreno disponível e à
grande declividade. Este fato induziu à existência dos três níveis de acesso
presentes na edificação: Praça (através de grande rampa), Ambulatório (pavimento
semi-enterrado) e entrada de serviços (subsolo). Desde a sua abertura o Bloco I já
demonstrou necessidade de ampliação, o que deu início ao desenvolvimento do
projeto do Bloco II.
Foi nos anos 1980 que se tornou necessário expandir além do lote original. Por esta
razão, o arquiteto Nelson Daruj, que coordenava a equipe de arquitetura do
Hospital, iniciou o projeto do que é hoje o Bloco II. Este, que era para ser apenas
uma edificação complementar ao Bloco I, ganhou grande proporção ao assumir
uma área superior à do primeiro edifício. Ocupou inteiramente o terreno disponível,
que foi cedido pelo hospital vizinho Emílio Ribas.
A construção do Bloco II começou em 1988 e 95% do prédio foi finalizado em 2000.
Nesta época Daruj pôde contar com uma equipe que está até hoje integrada à
estrutura funcional do Hospital, contando com a colaboração do arquiteto Henrique
Jatene. Este, por sua vez, é hoje o responsável pelos projetos e obras do InCor.
As obras do Bloco II vieram ao encontro de uma proposta que preconizou a criação
de espaços para administração e laboratórios de pesquisa, buscando a liberação de
espaço no Bloco I para o atendimento de pacientes. A proposta inicial era de
apenas 90 leitos no Bloco II, sendo que hoje existem 112.
O Bloco I possui 11 pavimentos no total, sendo que destes, um é subsolo, um é
semienterrado e um é a chamada “Praça”, que tem pé-direito duplo e é o acesso
principal ao hospital. Os outros andares vão do 1° ao 8° pavimentos e constituem a
porção mais alta da edificação, com áreas menores e organização espacial mais
simples.
O Bloco II, cujas fachadas moduladas são diferentes das do Bloco I, acompanha
1 INTRODUÇÃO
41
todos os níveis desta edificação, porém com mais pavimentos: 9° e 10° pavimentos
com laboratórios de pesquisa e quatro subsolos de estacionamento.
Figura 1.05: Corte longitudinal do complexo atual do InCor.
Fonte: Departamento de Documentação Científica do InCor.
Analisando suas mais significativas modificações e expansões, podem ser
identificadas no desenvolvimento do InCor três grandes fases: construção inicial do
Bloco I, construção do Bloco II (e seus três edifícios anexos) e renovação e
expansão de várias áreas do Bloco I. Esta terceira fase trata de um período onde
foram realizadas grandes reformas como as dos 4°, 5° e 6º pavimentos do Bloco I,
e onde ainda estão sendo elaborados muitos projetos. Para dar continuidade à fase
de renovação do Hospital, está sendo planejada, por exemplo, a reforma e
ampliação do Pronto Socorro e do 1º pavimento do Bloco I. São muito comuns as
obras envolvendo a troca e a adição de equipamentos de diagnóstico, como
veremos no Capítulo 9.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
42
1.4.1.2 Hospital Israelita Albert Einstein
O Hospital Israelita Albert Einstein é um hospital geral e de caráter filantrópico
privado. Começou a ser construído em 1958 e iniciou suas atividades no final da
década de 1960, sendo oficialmente inaugurado em 1971.
O conjunto de edifícios do HIAE foi construído em quatro etapas até chegar ao que
é hoje, prevendo ainda futuras ampliações. A etapa inicial foi projetada nos anos
1950 e concluída na segunda metade dos anos 1960. A segunda foi inaugurada em
1982, a terceira em 1996 e a quarta em 2009, com a construção da sua primeira
parte. Além do crescimento do edifício original, as expansões do HIAE ainda
extrapolaram os limites territoriais, na medida em que foram criadas em 1999 duas
unidades satélites da instituição. Uma foi construída em Alphaville e outra no bairro
Jardim Paulista, com o intuito de realizar atendimento ambulatorial e de diagnóstico.
Em 2002 foram construídos, também em São Paulo, o Centro de Transplantes e o
novo prédio da Faculdade e Escola de Enfermagem, localizados na Av. Brasil e na
Av. Francisco Morato, respectivamente. Nesta pesquisa, porém, será estudado
somente o conjunto de edifícios principal do HIAE, situado no bairro Morumbi e
identificado como Complexo do Morumbi (Figura 1.06).
Figura 1.06: Imagem atual do Complexo do HIAE
Fonte: MELENDEZ, 2009
A evolução arquitetônica do Complexo do Morumbi incluiu uma série de reformas
internas e prédios anexos aos edifícios principais, utilizando o plano diretor como
ferramenta norteadora. As ampliações se deram na medida em que foram sendo
adquiridos os lotes adjacentes, sendo que em vários momentos foram incorporadas
as ruas existentes entre os terrenos. O primeiro edifício foi construído com base no
projeto do arquiteto Rino Levi, vencedor de um concurso fechado organizado pelo
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em 1958. Este edifício foi concebido a partir
1 INTRODUÇÃO
43
de fortes conceitos modernistas, valorizando uma arquitetura funcionalista e de
volumetria racionalista.
Idealizado como uma unidade autônoma, o projeto original de Rino Levi
2
seguiu a
tipologia base e torre, apostando em dois volumes articulados em “T”. O edifício
construído (atual Edifício Manoel Tabacow Hidal ou Bloco D), porém, abandonou
esta volumetria, consolidando-se em um bloco único (Figura 1.07). Neste, os sete
pavimentos mais altos eram ocupados por áreas de internação, enquanto nos três
primeiros pavimentos e dois subsolos havia áreas de ambulatório, laboratórios,
administração, centro cirúrgico, partos e serviços de apoio.
A primeira necessidade de expansão
veio na década de 1970, logo após a
inauguração oficial do HIAE. Nesta
época foi elaborado um plano diretor
para ordenar esta e as futuras etapas
de ampliação do hospital. O segundo
edifício (Figura 1.08) foi chamado de
Centro Médico de Diagnóstico e
Tratamento (atual Bloco BC) e foi
inaugurado em 1982 para ampliar as
áreas de exames de diagnóstico e criar
áreas para consultórios médicos. Tirou
Figura 1.07: Imagem do primeiro edifício
construído do Complexo do Morumbi do HIAE.
Fonte: HIAE, 1966.
partido da declividade do terreno alinhando-se ao embasamento do prédio anterior,
e apesar da incompatibilidade entre pés-direitos originada pelas novas dimensões
dos forros (necessidade de mais espaço para instalações), o edifício novo e o
antigo se conectaram por um volume de rampas, que permitiram a continuidade dos
fluxos e a integração funcional entre as duas partes.
O volume deste segundo edifício organizou-se em torno de um pátio central e foi
projetado pelos arquitetos Jarbas Karman, Domingos Fiorentini e Jorge Wilheim.
Seguiu um plano diretor que previa transformá-lo na área de entrada principal do
hospital, uma vez que fosse concluída a sua terceira etapa de ampliação, como de
fato ocorreu.
2
Rino Levi faleceu durante a construção do HIAE, em 1965.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
44
A terceira etapa de ampliação do
hospital (Figuras 1.09 e 1.10) ocorreu
em seguida. Projetada a partir de 1993
pela equipe de Wilheim, Karman e
Fiorentini, o edifício (Edifício Jozef
Fehér ou Bloco A) foi concluído em
1996 com 17 pavimentos e um subsolo
assentado no ponto mais baixo do
Figura 1.08: Imagem atual do Bloco BC, primeira
ampliação do HIAE e atual entrada do Hospital.
Fonte: Acervo da autora.
terreno, sendo ocupados por unidades de internação (sete últimos pavimentos),
terapia intensiva (10º pavimento), hemoterapia (9º pavimento) e consultórios
médicos (8º e parte do 4º pavimento). Garantiu-se nesta expansão a conexão e a
integração funcional com as outras partes do hospital, através do alinhamento
horizontal entre elas e do eixo central de circulação. Este foi destinado à circulação
exclusiva de funcionários e pacientes internos.
Figura 1.09: Construção do Bloco A,
em 1989.
Fonte: Acervo do Centro Histórico
da SBIBAE
3
.
Figura 1.10: Construção do Bloco A, em 1989, ao lado do
Bloco BC (à esquerda).
Fonte: Acervo do Centro Histórico da SBIBAE.
Figura 1.11: Vista do Complexo do Morumbi
do HIAE, em 1990.
Fonte: Acervo do Centro Histórico da SBIBAE.
3
SBIBAE: Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
1 INTRODUÇÃO
45
Além destas três etapas de construção do HIAE, acaba de ser concluída a
construção de parte de sua quarta ampliação, com o primeiro de cinco novos
edifícios planejados para o complexo. O projeto é da equipe do escritório Kahn do
Brasil e pretende criar novas áreas de apoio ao paciente externo e de apoio
logístico, liberando espaço nas edificações anteriores para novos usos. Segundo
Arthur Brito, arquiteto responsável pelas obras, foi elaborado um novo plano diretor
para o futuro crescimento do hospital.
“O Plano Diretor está horizontalizando o hospital, para atender à demanda
de pacientes com perfis específicos, como cardiológico, ortopédico,
neurológico, oncológico, cirúrgico, transplantado, etc. e integrando as
equipes que atendem a este paciente. (...) Além de reformas em quase toda
a área construída, em um horizonte de oito a dez anos, o Plano Diretor
prescreveu mais cinco edifícios para reorganizar o campus”. (BRITO,
2009)
4
O primeiro edifício desta quarta ampliação (Pavilhão Vicky e Joseph Safra, ou
Centro de Medicina Ambulatorial ou Bloco A1 – Figura 1.12) está pronto e prioriza
o atendimento do paciente externo, criando para ele um espaço mais afastado do
Figura 1.12: Edifício 1 da nova fase
de ampliação (Bloco A1).
Fonte: MELENDEZ, 2009
corpo do hospital e de seus fluxos internos
(pacientes internados, funcionários e transporte de
suprimentos). Para este edifício estão previstas
áreas de consultórios, centro cirúrgico de baixa
complexidade, diagnóstico e internação
ambulatorial. Os consultórios, por sua vez,
permitirão a liberação de área no edifício da primeira
etapa do HIAE, onde será ampliado o número de
leitos de internação. Para estabelecer uma conexão
direta com o Bloco A, foram projetadas neste novo
edifício passarelas, localizadas nos seus últimos
seis pavimentos. Os seus pavimentos inferiores
dispensam esta ligação por estarem ocupadas pelas
atividades de atendimento do paciente externo e
pelas áreas de estacionamento.
4
Trecho do Memorial Descritivo do Plano Diretor do HIAE.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
46
“O Pavilhão Vicky e Joseph Safra é o primeiro edifício a ser implantado a
partir do atual plano diretor para ampliação e reforma das instalações do
Einstein no bairro do Morumbi. (...) Essa proposta trabalha com um
horizonte entre oito e dez anos e prevê a construção de cinco edificações.
(...) Para aprimorar o atendimento das especialidades médicas, adotou-se a
horizontalização das atividades, conceito que, segundo o arquiteto (Arthur
Brito), integra as equipes, minimiza o número de funcionários assistenciais
com os quais o paciente interage e reduz as chances de erro médico”.
(MELENDEZ, 2009)
Edifício 1: Bloco A1
(“Pavilhão “Vicky e Joseph Safra”)
Figura 1.13: Maquete física de toda a quarta fase de ampliação do HIAE.
Fonte: Practica Maquetes.
Edifício 2
Edifício 3
Figura 1.14: Maquete física da futura ampliação do HIAE
Fonte: Practica Maquetes.
O novo Bloco A1, segundo o relato de Brito em entrevista a Melendez, é ...
... “destinado a pacientes que necessitam de tratamentos mais simples,
apartados daqueles que demandam procedimentos complexos. Ele é
conectado ao prédio projetado por Karman, Fiorentini e Wilheim por uma
passarela de pavimento único e por um edifício-passarela de seis andares.
(...) A passarela reorganiza os padrões de circulação do hospital e leva
visitas, acompanhantes e pacientes do ambulatório a transitar junto à
1 INTRODUÇÃO
47
fachada frontal do complexo. Isso melhora a orientação do visitante e
diminui sua ansiedade, comenta o autor”. (MELENDEZ, 2009)
Figuras 1.15 e 1.16: Implantação e corte gerais do Complexo do HIAE,
incluindo os edifícios previstos para o futuro.
Fonte: Acervo Kahn do Brasil.
O segundo edifício da quarta etapa (Edifício 2) está projetado para ocupar o espaço
existente entre os dois edifícios mais altos do Hospital (Blocos A e D), preenchendo
o atual Pátio de Serviços com um volume de cinco pavimentos e um subsolo. O
Edifício 2 “se integrará aos edifícios existentes para configurar uma unidade de
assistência de alta complexidade integrada, aproximando Unidade de Pronto
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
48
Atendimento (Emergência), Centro Cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva e
Recursos Diagnósticos de Alta Tecnologia”
5
. Com este agrupamento se adensarão
algumas das atividades com maior demanda de infraestrutura predial do HIAE.
O terceiro edifício (Edifício 3), em fase de construção, está ligado ao apoio logístico
da edificação, unificando e camuflando as áreas de carga e descarga, acesso de
funcionários e velórios. Formada por um conjunto de volumes baixos, está situada
na parte mais alta do terreno, logo a frente do Bloco D. Além destes três edifícios foi
planejado o Auditório “Moise Safra”, que está sendo construído no local da antiga
creche, e um volume de passarelas (Edifício 5), que liga o Bloco A (existente) e o
novo Bloco A1 (Edifício 1).
Quadro 01: “Os números do crescimento” do HIAE com o mais recente plano de expansão
Hoje Expansão
Área 86 mil m² 229 mil m²
Leitos 489 720
Salas de cirurgia 28 40
Consultórios 100 250
Leitos de pronto atendimento 10 59
Vagas no estacionamento 1.250 4.000
Assentos no auditório 200 500
Salas de aula 4 12
Fonte: Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Em cada etapa de ampliação do Complexo Hospitalar do HIAE estiveram presentes
também renovações dos edifícios anteriores, que com o tempo tiveram que ser
adaptados às novas necessidades da Instituição. Em 1984 ocorreu uma
reformulação completa das instalações da Maternidade (Bloco A), melhorando o
padrão de hotelaria do hospital. No mesmo ano foi inaugurada uma nova ala, no 7º
andar, com apartamentos equipados com ar condicionado, televisão e geladeira.
Segundo entrevista com o arquiteto Domingos Fiorentini, durante a década de 1990
foram realizadas no Bloco D obras de renovação nos quartos de internação, que
foram transformados em enfermarias de maternidade e consultórios médicos
(Figura 1.17). Para isto, o espaço dos quartos originais foi ampliado em 60 cm,
deslocando e reformulando as fachadas do edifício. O embasamento deste prédio
mais antigo também foi expandido nesta época, aumentando bastante as áreas do
centro cirúrgico no 5º pavimento, e do laboratório no 4º (Figura 1.17). Em 1998 a
5
Idem.
1 INTRODUÇÃO
49
área de entrada do edifício foi requalificada com uma grande marquise em estrutura
metálica, cujo projeto é do arquiteto Siegbert Zanettini.
Figura 1.17: Esquema das obras de renovação do Bloco A do HIAE, em 1999.
Fonte: Revista Construção São Paulo n
o
2671, abril de 1999:13.
Mais tarde, o vão entre o Bloco BC e o Bloco A foi fechado por uma cobertura,
transformando a área em um grande átrio. (Figura 1.18). Em meados dos anos
2000 foi construído um volume de ligação entre os Blocos C e D (Figura 1.19),
separando mais o fluxo de pacientes internos e externos.
Figura 1.18: Átrio entre os Bloco A e B, que
era antes uma área externa.
Fonte: Revista Construção n
o
2486, 1995.
Figura 1.19: Volume anexo de ligação
entre os Blocos C e D.
Fonte: Acervo do Centro Histórico da SBIBAE.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
50
1.4.1.3 Hospital Sarah Kubitschek Brasília
O Hospital de Doenças do Aparelho Locomotor Sarah Kubitschek de Brasília
(HDAL) é a instituição que deu origem à Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação
6
,
hoje com nove unidades. Além das de Brasília (o HDAL e o Centro Internacional de
Neurociências e Reabilitação), existem as unidades de Salvador, São Luís, Belo
Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Macapá e Belém. “Cada hospital da Rede
representa um espaço para reprodução e aperfeiçoamento dos princípios, conceitos
e técnicas consolidados ao longo do tempo pelo Sarah-Brasília”.
7
“Os hospitais da Rede caracterizam-se por uma cuidadosa integração de
sua concepção arquitetônica aos princípios de organização do trabalho e
aos diferentes programas de reabilitação, definidos conforme os indicadores
epidemiológicos da região em que cada unidade está inserida. Dessa
integração resultam, por exemplo, os amplos espaços dos hospitais
SARAH, com seus solários e jardins, buscando sempre a humanização do
ambiente hospitalar e as enfermarias coletivas, com o sistema de
’assistência progressiva’ com aproveitamento ótimo dos recursos
disponíveis.”.
8
O HDAL (ou Sarah Centro) foi projetado pelo arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé) a
partir de 1976 em um terreno onde já havia o Centro de Reabilitação Sarah
Kubitschek. Este, projetado na década de 1960 por Glauco Campello, foi construído
a partir da iniciativa da “Fundação das Pioneiras Sociais”, criada em 1960.
9
De acordo com MINIOLI (2007:5), em 1968 o Dr. Aloysio Campos da Paz Junior
assumiu a presidência desta Fundação e a direção do Centro de Reabilitação. Num
processo de organização do trabalho médico e racionalização administrativa da
instituição, surgiu o desejo de transformá-la em um hospital cirúrgico com 66 leitos
e um centro de pesquisa com produção científica e formação de recursos humanos.
Com a necessidade flagrante de uma nova estrutura física para colocar este plano
em prática, em 1975 foram iniciados por Campos da Paz, Lelé e Eduardo Kertész
(então coordenador dos Programas de Saúde do Ministério do Planejamento),
esboços para o novo projeto.
6
Ver Capítulo 4, item 4.3.
7
Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Disponível em: <www.sarah.br>
8
Idem.
9
MINIOLI, 2007:5.
1 INTRODUÇÃO
51
Os edifícios existentes estavam em boas condições (segundo Lelé era um ótimo
projeto) e tiveram utilidade na nova proposta após serem reformados. Assim, o
arquiteto concentrou o programa na área livre do terreno, onde existia uma grande
área de estacionamento.
O Hospital foi inaugurado em 1980 e no ano seguinte consolidou-se como Centro
Nacional de Formação de Recursos Humanos e produtor de equipamentos
hospitalares especializados. A Rede Sarah, com suas outras unidades, passou a
existir em 1987.
Segundo Lelé (apud MINIOLI, 2007:5), “a questão básica na elaboração do
programa do Hospital do Aparelho Locomotor de Brasília era a criação de
ambientes adequados à recuperação dos pacientes imobilizados em seus leitos
hospitalares”.
MINIOLI (2007:5) completa, dizendo que neste projeto ...
... “visava-se criar um ambiente hospitalar que estimulasse a reintegração
do paciente à sociedade, incluindo extensas áreas verdes dentro do
complexo e áreas para atividades sociais e culturais. Para atender a essas
premissas, que incluía a total mobilidade do paciente entre os três estágios,
e também nas atividades cotidianas de recuperação, foi projetada uma
cama hospitalar leve e ágil denominada cama-maca, assim como o
desenvolvimento de outros equipamentos”.
Figuras 1.20: Estudo de implantação de Lelé para o Hospital Sarah Brasília.
Fonte: MINIOLI, 2007:13.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
52
Segundo MINIOLI (2007:7), os princípios gerais definidos e seguidos por Lelé no
projeto deste hospital foram:
A interligação com o prédio existente, unificando o conjunto hospitalar
(infraestrutura, arquivo médico, setor de marcação de consultas, serviços
técnicos);
A criação de espaços verdes, como complementação terapêutica;
A urbanização da área, com o remanejamento do prédio existente e uma
reformulação dos acessos;
A iluminação natural e o conforto térmico dos ambientes, com a adoção de
sistemas de iluminação e ventilação naturais simples e adequados ao clima de
Brasília, onde não se justifica o emprego generalizado de sistemas de ar
condicionado;
A flexibilidade e a expansibilidade da construção, com base na utilização de
técnicas e equipamentos que a tecnologia modifica a cada dia;
A flexibilidade das instalações com o emprego de tubulações visitáveis, de fácil
acesso e, por conseguinte, com a utilização flexível dos espaços internos,
permitindo que cada setor do hospital se mantenha atualizado com relação às
inovações que a tecnologia proporciona;
A rigorosa padronização de elementos da construção (estrutura pré-fabricada,
vedações, divisórias, equipamentos fixos e móveis, luminárias, etc.), com a
redução de custos da obra e a facilitação das rotinas administrativas e da
manutenção do edifício.
Para colocar em prática as três últimas premissas, foram estabelecidos eixos muito
claros no edifício, os quais guiariam a organização das suas atividades, a
distribuição dos seus fluxos e o direcionamento das suas futuras expansões. O eixo
transversal dos edifícios existentes foi prolongado, tornando-se o principal eixo de
circulação nos níveis do térreo e dos subsolos (Figura 1.21). Todos os setores
ficaram localizados à direita e à esquerda desse eixo, de forma que pudessem ser
ampliados independentemente das outras áreas (Figura 1.22) e respeitar a
modulação de 1,15 x 1,15 m. “Da mesma forma, o bloco de internação foi disposto
paralelamente aos blocos existentes, podendo ser ampliado na direção norte-sul, e
tendo insolação na direção leste-oeste”. (MINIOLI, 2007:14)
1 INTRODUÇÃO
53
Figuras 1.21 e 1.22: Implantação do HDAL com o eixo principal
de circulação e os vetores de expansão do edifício.
Fonte: MINIOLI, 2007:12 e14.
Figura 1.23: Esquema de circulações do HDAL: Eixo transversal principal no térreo, e indicação dos
percursos para os outros pavimentos.
Fonte: MINIOLI, 2007:14.
Figura 1.24: Esquema funcional do HDAL.
Fonte: MINIOLI, 2007:13.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
54
A organização funcional do edifício (Figura 1.24) é muito clara, com as áreas de
internação na parte vertical e o Ambulatório e Serviços Gerais na parte horizontal.
Ou seja, ficaram na base as áreas mais complexas, que demandam maior
concentração de infraestrutura e mais espaço para futuras reformas e ampliações.
As alterações destas áreas, por sua vez, já ocorreram mesmo no desenvolvimento
do projeto, com aumento de área e deslocamentos. Muitas das ampliações
previstas no anteprojeto para serem realizadas após a construção do Hospital,
foram praticamente realizadas já em fase de projeto executivo.
Figuras 1.25 e 1.26: Planta de implantação e corte do Hospital Sarah Brasília (em 2007).
Fonte: MINIOLI, 2007:12.
Após a construção do HDAL, o térreo permaneceu do mesmo tamanho e o setor de
serviços técnicos do S1 continuou sendo ampliado na direção sul. Segundo
MINIOLI (2007:20), ...
1 INTRODUÇÃO
55
... “foram acrescidos mais 22 módulos, sendo necessário continuar o
crescimento perpendicularmente, na direção oeste. (...) Em função das
ampliações do edifício, as vias de acesso foram movidas cada vez mais
para o limite do lote. (...) Em função do limite do terreno a ampliações, Lelé
projetou uma unidade de reabilitação em outro terreno, o Sarah Lago Norte,
que funciona como uma extensão do Sarah Centro”.
Com o crescimento da demanda por estacionamento, a sua área também foi
ampliada com dois níveis subterrâneos de garagem.
Figura 1.27: Imagem atual do conjunto de edifícios do HDAL.
Fonte: MINIOLI, 2007:12.
No projeto do Hospital Sarah Brasília, bem como nas instituições que o seguiram,
os ambientes foram preparados para os pacientes das diversas especialidades
médicas e terapêuticas, com piscinas, ginásios para fisioterapia, unidades de
exames complementares ao diagnóstico, blocos de serviços operacionais, entre
vários outros espaços. Contudo, segundo LIMA (1999:16), “nesse projeto não foi
possível explorar convenientemente as técnicas de terapia ao ar livre, pois o prédio
foi implantado na área urbana de Brasília, em lote relativamente pequeno”.
Os conceitos de conforto ambiental, modulação, expansibilidade e flexibilidade
aplicados neste edifício, por sua vez, se tornaram modelo para os posteriores
hospitais da rede Sarah, já tendo sido experimentados por Lelé no Hospital
Taguatinga, alguns anos antes.
“O conceito principal utilizado no projeto, em relação ao sistema construtivo,
é a padronização de seus elementos, simultaneamente à possibilidade de
flexibilidade e extensibilidade da construção, que visa atender a
contigências de funcionamento de uma unidade hospitalar”. (MINIOLI,
2007:62)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
56
2
O EDIFÍCIO HOSPITALAR: PLURALIDADE
DIMENSIONAL E SISTÊMICA
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
59
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR: PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
“Pode-se afirmar que os edifícios que têm abrigado os hospitais, em que
pese as diferenças formais e/ou estruturais, podem ser considerados
‘funcionais’ ao longo dos séculos. Funcionais em sentido de estarem
sempre estreitamente relacionados às formas de uso; tão estreitamente que
a cada modificação estrutural da sociedade (tecnológica, sócio-política,
entre outras) transformam-se inteira ou parcialmente. (...) Essa vinculação
imperiosa com os usos traduz-se também em nível da solução
arquitetônica”. (SILVA, 1999:225-226)
Um dos programas arquitetônicos mais complexos e mais estudados da
contemporaneidade, os espaços para saúde impõem regras rígidas no manejo dos
ambientes, sem abrir mão da flexibilidade para assimilar os avanços do
conhecimento e da tecnologia hospitalar e sem deixar de proporcionar ambientes
mais humanos para os usuários. Essas características tornam o edifício hospitalar
um dos maiores desafios para os arquitetos.
Os hospitais constituem edifícios complexos porque encerram muitos elementos ou
partes, que são atividades semelhantes ou distintas coexistindo numa mesma área
de forma simbiótica. Estas atividades, ocupando espaços específicos ou não, se
comunicam de forma múltipla e variada, e dependem umas das outras. Como
características intensificadoras desta complexidade, os hospitais funcionam 24
horas por dia, todos os dias da semana, e contam com uma enorme rede de
infraestrutura, que suporta o edifício de modo a torná-lo muito semelhante a uma
indústria e até a uma pequena cidade. Segundo WEIDLE (1995, apud MARINELLI,
2003:100), “a complexidade característica dos estabelecimentos de saúde é devido
principalmente a dois fatores: primeiro, o número de funções que estes edifícios
realizam hoje, e segundo, a rapidez pela qual tendem a necessitar de adaptações e
expansões”.
MARINELLI (2003:98) comenta que a complexidade dos edifícios hospitalares
“aumentou de forma impressionante, principalmente depois da II Guerra Mundial,
com o desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos da área da saúde. Esta
complexidade tem evidenciado a necessidade de maior atenção para a organização
das relações interdepartamentais”.
Segundo TOLEDO (2006), “uma das peculiaridades que distingue o hospital de
outras edificações de complexidade programática semelhante é o fato de abrigar
funções extremamente diversificadas e, em certos casos, incompatíveis entre si”.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
60
FERNANDES (2003:1) completa que “algumas de suas unidades funcionais
encontram similaridades em outros edifícios, porém, no seu conjunto abriga
atividades próprias a essa tipologia que necessitam de instalações prediais bem
como sistemas construtivos e materiais de acabamento específicos”.
“Do ponto de vista funcional, além das atividades nitidamente terapêuticas,
de apoio ao diagnóstico e tratamento, o hospital desempenha outras
funções, entre as quais as de hotelaria, desenvolvidas ao receber, hospedar
e alimentar pacientes e acompanhantes, e as industriais, ao produzir,
processar e distribuir diversos insumos, tais como roupas, materiais
esterilizados, medicamentos e gases”. (TOLEDO, 2002:71)
Com tantas variáveis interagindo, estas edificações são conceituadas ainda como
extremamente dinâmicas e de difícil compreensão, principalmente sob o ponto de
vista do seu planejamento e gerenciamento. “Muitos fatores são necessários para
um melhor planejamento hospitalar e nenhum deles é estático”
1
. Para facilitar,
então, a compreensão deste equipamento coletivo tão útil e importante, muitos
profissionais têm procurado organizar a estrutura espacial e funcional do edifício
hospitalar, definido dentro da sua totalidade algumas partes homogêneas. Esta
tarefa, porém, não tem sido fácil.
Segundo CARR (2008), cada um dos setores de um hospital, incluindo os sistemas
mecânicos e elétricos altamente complicados que os abastecem, exige
conhecimento específico. Nenhum profissional conhece completamente todas as
atividades e necessidades desenvolvidas no edifício, razão pela qual consultores
especializados desempenham papel importante no seu planejamento e desenho.
As equipes envolvidas são multidisciplinares, e o arquiteto é o coordenador geral.
As unidades funcionais possuem necessidades e prioridades que competem entre
si e se sobrepõem, sendo a função do arquiteto a de balancear o cenário ideal de
cada área com as relações internas e a condição financeira da instituição. Além de
coordenar a equipe técnica, como em qualquer projeto, o arquiteto também advoga
pelos usuários da edificação, que neste caso são de diversos tipos: pacientes,
visitantes, enfermeiro(a)s, médico(a)s, funcionários de suporte técnico,
fornecedores, voluntários, etc. Segundo BROSS (2002, apud MENDES, 2006:37), o
seu papel “vai além do projeto arquitetônico, pois é necessário ter-se uma visão
1
ROSENFIELD, 1969:3
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
61
global da instituição e participar de todas as etapas, inclusive na tomada de
decisões”.
Alguns autores comparam hospitais a cidades, com sistemas e modos de
comunicação análogos, possuindo até planos diretores como estratégias
semelhantes de desenvolvimento, projetando para o futuro. Segundo CHRISTIE,
CHEFURKA e NESDOLY, alguns hospitais são ...
... “como pequenas cidades no sentido de que dão suporte a um grande
número de pessoas numa vasta variedade de ambientes de trabalho. Eles
também acomodam um leque amplo de tipos de espaço, como uma cidade,
incluindo: espaço comercial (escritórios, consultórios médicos, clínicas),
espaços industriais (gerenciamento de materiais, engenharia e oficinas de
manutenção, produção de alimentos), espaços residenciais (quartos de
pacientes e residentes, banheiros, áreas de estar) e espaços de alta
tecnologia (Imagenologia, laboratórios clínicos e de pesquisa, salas
cirúrgicas, etc.)”.
2
TOLEDO (2006) reforça este pensamento quando comenta que a setorização dos
ambientes hospitalares se aproxima, de certa maneira, do zoneamento de usos de
uma cidade.
3
Nos projetos de Estabelecimentos de Assistência à Saúde (EAS), além dos
condicionantes tecnológicos, colocados ao centro desta pesquisa, intervêm também
vários outros fatores. Os físico-funcionais, que envolvem características como
funcionalidade, contiguidade, flexibilidade e expansibilidade, são os mais
destacados. Além destes, são importantes também as condicionantes urbanísticas,
geográficas, ambientais (incluindo os aspectos psicológicos de conforto),
demográficas (demanda de pacientes), epidemiológicas (perfil dos pacientes e
doenças a serem tratadas ou prevenidas), econômicas, políticas (tipos de
2
Tradução livre do autor de: “Major tertiary/quaternary care teaching hospitals are like small cities in that they
support large numbers of people in a wide variety of work environments. They also accommodate a broad range of
space-types, as does a city or town, including: commercial space (offices/medical offices/practices), industrial space
(materiel management, engineering and maintenance shops, food production), residential space (patient and
resident bed-rooms, bathrooms, living space) and high tech space (diagnostic imaging, clinical and research
laboratories, surgical suite, etc.)”. CHRISTIE, CHEFURKA e NESDOLY. Disponível em <muhc-
healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>
3
TOLEDO destaca aqui que “os primeiros regulamentos urbanísticos propostos para as cidades inglesas do século
XIX tiveram sua origem em normas de higiene adotadas nos hospitais em funcionamento deste período, como
Benévolo (1963, p.xii) e Mumford (1961, p. 603-4) afirmaram”.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
62
procedimentos e gerenciamento), sociais, legais (leis, resoluções e normas a serem
atendidas) e de sustentabilidade – todas elas interferindo no edifício de formas e
intensidades diferentes.
Existem muitos pontos de vista sobre os aspectos mais importantes no projeto de
hospitais, já que são muitas as variáveis que nele interferem. O arquiteto Augusto
Guelli elaborou um organograma onde tenta resumir as variáveis de um sistema de
atenção médico-hospitalar (Figura 2.01), ilustrando superficialmente esta “caixa-
preta”
4
que é o projeto de um hospital, com todas as suas “entradas” e “saídas”, nos
seus âmbitos físico (onde?), operacional (como?), institucional (o quê?) e
econômico (quanto?).
Figura 2.01: Variáveis de um Sistema de Atenção Médico-Hospitalar
Fonte: GUELLI (2003)
Segundo Guelli, os principais requisitos no projeto de um hospital são contiguidade
(proximidade física dos setores com atividades de atenção afins), flexibilidade
(reformulações internas nos setores, adequando-os às novas técnicas e
tecnologias), expansibilidade (possibilidades de expansões de setores e de blocos)
e conformidade (com normas técnicas e posturas públicas), apontando ainda os
4
BUNGE, Mário. 1974.
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
63
requisitos dos espaços como sendo os ergonômicos, psicológicos, tecnológicos e
econômicos. (GUELLI, 2003)
Para ALLEN e KARÓLYI (1976 e 1983, apud KOTAKA, 1992:6), por sua vez, entre
os fatores considerados essenciais estão “a definição do papel a desempenhar, a
flexibilidade, a modulação, a facilidade de manutenção, a tecnologia apropriada, os
custos, a previsão de futuras ampliações e a localização”.
2.1 ATRIBUTOS DO PROJETO
Projetar um edifício é uma atividade que sempre segue os mesmos passos, onde
se analisa um terreno, suas diversas condicionantes urbanísticas, geográficas e um
programa de necessidades, onde estão implícitas variáveis de ordem funcional,
técnica, econômica, social, legal, política e ambiental (no sentido de preservação
ambiental). Em suma, a compreensão destes elementos e de suas interações se
traduz num desenho arquitetônico e, mais tarde, em arquitetura, sendo o método de
“tradução” variável entre os arquitetos. O processo, todavia, é universal e aplicável
a todos os tipos de edifícios, destituindo a arquitetura de adjetivos. No caso dos
hospitais, o que muda é, basicamente, o programa de necessidades, que é
complexo (mais elementos e mais exigências) e cobra do arquiteto e dos outros
profissionais envolvidos um pouco mais de atenção e conhecimento.
Segundo ZANETTINI (2003), a estruturação dos fundamentos teóricos e práticos
para hospitais surgiu e evoluiu com a incorporação de importantes questões, como
a programação participativa, a questão ambiental (preservação da ambiência e da
identidade de cada lugar), a adequação à cultura (atualização evolutiva do
conhecimento de base científica das ciências humanas, biológicas, ambientais e
exatas), a abordagem sistêmica (variáveis construtivas, estruturais, energéticas e
de comunicação) e o aprofundamento (do conhecimento científico e sensível).
Historicamente, podem ser observadas as interferências de várias condicionantes
no projeto do edifício hospitalar. A crescente urbanização dos hospitais obrigou os
mesmos a se adaptarem à escala das cidades, mudando sua forma em função dos
seus terrenos (menores) e impactando a sua vizinhança com novos tipos de
acessos e atividades criadas no seu entorno.
As condicionantes demográficas, epidemiológicas, econômicas, políticas e sociais,
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
64
diferentes em cada região do mundo, determinaram premissas para a elaboração
do programa de necessidades de cada edificação, determinando a sua escala
(número de leitos), as atividades de assistência oferecidas (hospital geral ou
especializado) e o seu caráter sócioeconômico (hospital público ou privado), com
especificidades físico-funcionais adequadas a cada situação.
As funções do edifício, que estiveram sujeitas às transformações da ciência e da
tecnologia, desenharam as relações internas dos edifícios, motivando a setorização
das suas atividades e a hierarquia das suas áreas de circulação, desvelando aos
poucos a necessidade de contiguidade, de flexibilidade e de expansibilidade entre
os setores.
Os aspectos de conforto ambiental sempre se refletiram nos projetos através das
condições térmicas, acústicas, de iluminação e ventilação naturais das edificações
e, mais recentemente, de humanização dos ambientes.
A determinância dos aspectos legais nos projetos de hospitais é mais recente,
destacando-se a partir da segunda metade do século XX e chamando mais atenção
nos últimos 20 anos, quando as normas e resoluções específicas para EAS foram
aprimoradas e multiplicadas.
Também nos últimos anos (desde a década de 1990) consolidaram-se as
condicionantes relacionadas à sustentabilidade, atentando para o impacto
ambiental dos hospitais, com os seus altos gastos energéticos, o seu alto consumo
de água e a sua alta produção de resíduos e poluentes. A sustentabilidade também
trouxe à tona a questão da durabilidade e longevidade dos edifícios (eficiência
arquitetônica), que será largamente discutida ao longo desta dissertação, pois
envolve questões ligadas às renovações arquitetônicas dos hospitais.
2.1.1 Implantação e inserção urbana
Atualmente, pode-se dizer que a grande maioria dos hospitais públicos e privados
encontra-se inserida em áreas urbanizadas, onde ficam mais próximos dos seus
usuários e das redes de abastecimento. Sendo instituições associadas à escala
coletiva, suas edificações representam amarrações importantes no desenho e na
organização das cidades, agregando uma arquitetura de grande porte e atividades
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
65
e fluxos de caráter bastante específico.
“Por conta de sua escala e de sua complexidade, a inserção de um hospital
na estrutura urbana provoca, de maneira geral, impactos físico-funcionais
importantes, muitos dos quais extrapolam o entorno imediato da edificação,
atingindo grandes áreas da cidade. (...) São os (EAS) que mais dependem
do fornecimento de água e energia, já que falhas em tais serviços,
especialmente em se tratando deste último insumo, colocam em risco a
saúde e a própria vida dos pacientes” (TOLEDO, 2006:53)
Atuando como parte fisicamente integrada à cidade e ao cotidiano das pessoas
(equipamento coletivo e de acesso universal, segundo o atual sistema de saúde
brasileiro), um hospital precisa levar em consideração, antes mesmo da escolha do
seu terreno de implantação, as relações que pretende estabelecer com o seu
entorno, planejando o edifício como a extensão das áreas públicas. Consideram-se,
além das dimensões e topografia do terreno, as possibilidades de acesso que a
área proporcionará, dando atenção especial às rotas de transporte coletivo. Seus
acessos são variados (principal, Ambulatório, Emergência e Suprimentos/Serviços)
e especiais, como o de ambulâncias e o de veículos de carga (pátios de serviço
para descarga de suprimentos, equipamentos, etc.), e devem estar em sintonia com
as vias de circulação da cidade, podendo alterá-las, porém de forma coerente e
viável.
A participação popular no projeto também interfere como elemento de inserção do
edifício, onde a própria comunidade expressa as suas necessidades, como ocorreu
no processo de planejamento do Hospital Municipal Ermelino Matarazzo, localizado
na zona leste da cidade de São Paulo. Segundo LIMEIRA (2006:82), “o projeto
deve atender não só a aspectos funcionais e de produtividade organizacionais, mas
também às necessidades dos doentes, devendo ser discutido por estes, seus
acompanhantes e visitas e pelos profissionais, através de processos de
participação conjunta e multidisciplinar”.
O estacionamento, nos hospitais e em várias edificações públicas, é outro item
importante a ser considerado, e que recentemente se tornou um problema pelo
aumento do número de veículos. É um problema para a cidade, que recebe o
tráfego gerado por estes edifícios, e para os edifícios, que precisam guardá-los.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
66
2.1.2 Condicionantes sociais, políticas e econômicas
O dimensionamento e a composição do programa de necessidades de um hospital
dependem muito dos fatores sociais, políticos e econômicos. Estes, por serem
modificáveis, determinam também muitas transformações neste mesmo edifício,
determinando o seu tamanho, o tipo de atendimento oferecido e o modelo de
gerenciamento adotado.
No dimensionamento do projeto, o tipo de população que será atendida influencia
muito, sendo que a demanda por atendimento pode e provavelmente irá aumentar.
É fato que a população tem crescido cada vez mais e, portanto, a demanda por
atendimento também. O número de leitos e de salas de atendimento, bem como o
tamanho das áreas de espera é determinado pela variação desta demanda,
enquanto o perfil epidemiológico da população indica as enfermidades mais
incidentes, e, logo, quais os tipos de tratamento que a instituição deve oferecer.
As questões políticas e econômicas também interferem no projeto e, principalmente
nas reformas de um EAS, motivando os estilos de gerenciamento e as prioridades
dentro da instituição. Sob estes aspectos muitas diferenças surgem entre os
hospitais públicos e privados, tanto antes como durante e depois do projeto e da
construção. Além de ambos apresentarem diferentes hierarquias na tomada de
decisões e na liberação dos investimentos para as obras, apropriam-se do espaço
construído de forma muito distinta.
2.1.3 Fatores físico-funcionais
Segundo BOING (2003), os fatores físico-funcionais no planejamento hospitalar
compreendem setorização, flexibilidade, previsão de futuras expansões e
circulação.
“A divisão em setores foi a primeira preocupação a surgir enquanto um fator
de organização interna do edifício hospitalar, sendo que apesar de
apresentarem uma setorização espacial primária, alguns hospitais orientais
da Idade Média já apresentavam a separação entre pacientes homens e
mulheres, e as funções logísticas de cozinha, dispensário de medicamentos
entre outras”. (BOING, 2003:90)
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
67
Na Europa Ocidental, por sua vez, a organização funcional das instituições de
saúde apareceu somente no séc. XIX.
“Para a flexibilidade e o funcionamento adequado de um estabelecimento
destinado à saúde, a localização de suas Unidades Funcionais, a ligação
entre elas, ou seja, o dimensionamento adequado e planejado das
circulações (horizontais e verticais0, é crucial para funcionamento e
integração de novas tecnologias e para a longevidade do edifício”.
(MARINELLI, 2003:111)
Assim como a setorização, a circulação também está diretamente relacionada ao
desempenho funcional do edifício, sendo, por bastante tempo, concebida como
espaço resultante da organização dos seus demais elementos. Pode-se dizer que
hoje as áreas de circulação deixaram de ser apenas um elemento de ligação entre
as partes do edifício, se destacando como seu elemento estruturador e fundamental
para o funcionamento das suas atividades internas. Nos hospitais, onde a
multiplicidade funcional aumentou consideravelmente, a circulação ramificou-se,
tentando estabelecer conexões internas e externas mais variadas.
De acordo com BOING (2003:93), “é importante observar que a circulação está
intimamente relacionada à setorização, pois a organização adequada dos espaços
e setores dentro de um edifício hospitalar influenciará no desenvolvimento das
atividades, e determinará um melhor ou pior fluxo das circulações”.
“A circulação dentro do ambiente destinado à saúde constitui um dos
pontos mais problemáticos a ser resolvido pelo projeto de arquitetura. Ela é
muito importante para o bom desempenho do estabelecimento destinado à
saúde, tendo em vista a necessidade de se interligar os diversos serviços e
unidades e, ao mesmo tempo, possibilitar a independência necessária”.
(PINTO, 1996, apud MARINELLI, 2003:111)
Segundo CARR (2008), a configuração física de um hospital e os seus sistemas de
transporte e logística são inexoravelmente interconectados, sendo eles compostos
por corredores, elevadores, escadas, tubos pneumáticos, carros-armário manuais e
automáticos, monta-cargas, esteiras rolantes, etc. Com o aumento da complexidade
funcional no século XIX, vieram os primeiros estudos envolvendo a questão da
circulação, os quais discutiram, na época, as grandes distâncias percorridas nos
corredores dos hospitais pavilhonares. No século XX, estes estudos aprimoraram-
se e também se apoiaram nos conceitos de horizontalidade X verticalidade
(comparação entre distâncias horizontais e verticais, bem como comparação entre
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
68
distâncias percorridas em tipologias horizontais e tipologias verticais), de valência
(de Jarbas Karman), de acessibilidade (recentemente normatizados na NBR 9050)
e de orientabilidade, visto que alguns hospitais tornaram-se verdadeiros labirintos.
Segundo KARMAN (2003), ...
... “o projetista de hospital vale-se, em última análise, de quatro
componentes: territórios, deslocamentos, objetos e interligações. A
interligação importa em dimensão, distância e intervalo. A distância, por si,
pouco representa sem a vital complementação do deslocamento. O
deslocamento tanto pode ser de pessoas, de rodantes, como de outras
formas energéticas, como fluxo de vapor, eletricidade, água e outras. Fato
que implica na provisão de corredores, poço de elevador, escada, ruas,
dutos, condutores elétricos, antenas e outros. A este conjunto biunívoco,
estático e dinâmico, os autores chamam de valência.”
As covalências, por sua vez, são as condicionantes e as qualificantes da valência
(comprimento, largura, altura, acabamentos, velocidade, tempo, horário, potência,
pressão, temperatura, etc.).
“O planejamento racional leva, necessariamente, ao equacionamento de
valências e covalências. Do seu acertado enfoque resulta a otimização do
inter-relacionamento dos elementos componentes do hospital e a
potencialização da sua funcionalidade e eficácia. A concepção hospitalar,
em bases racionais, condizentes com a Lógica de Planejamento, encontra,
no Conceito de Valência e Covalência , o necessário respaldo e suporte
técnico”. (KARMAN, 2003)
CORBIOLLI (2003) completa, afirmando que ...
... “os percursos que devem ser feitos por profissionais, pacientes, carrinhos
e equipamentos, bem como os trajetos de energia elétrica, água e gases
medicinais, dependem da provisão de corredores, dutos, poços de
elevador, escadas, condutores elétricos ou tubulações. O conjunto formado
por esses elementos dinâmicos e estáticos, que o arquiteto (Karman)
denomina valência, está sujeito a diversas variáveis como comprimento,
largura, horário, velocidade, tempo, pressão, potência e temperatura, entre
outras. Essas variáveis constituem as covalências.”
De acordo com CARR (2008), pacientes, visitantes e funcionários necessitam saber
onde estão, qual é o seu destino e como chegar a ele e retornar. O senso de
competência do paciente é encorajado ao facilitar que os espaços sejam
encontrados, identificados e utilizados sem precisar pedir ajuda. O autor afirma que,
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
69
no caso específico dos pacientes externos, que visitam áreas de diagnóstico e
tratamento, as rotas típicas devem ser simples e claramente definidas, sem
cruzamentos com as circulações dos pacientes internos. Vários autores concordam
com esta afirmação, que vem sendo preconizada como estratégia de planejamento
em vários projetos de hospitais.
Os conceitos de flexibilidade e futuras expansões, mais recentes (segunda metade
do século XX), surgiram em conseqüência dos rápidos avanços da medicina e
tecnologia, como comentado anteriormente. Estes conceitos tornaram-se
estratégias para programar as adequações dos edifícios frente às modificações
arquitetônicas trazidas pelas demandas das instituições e por estes avanços
científicos, que são imprevisíveis e supervenientes ao projeto. Este pensamento foi
incorporado porque se aprendeu que a função não é permanente, e que as
instituições tornam-se obsoletas na medida em que não acompanham estas
mudanças no seu campo de atuação.
2.1.4 Condicionantes ambientais
Quanto aos aspectos de conforto ambiental aplicados a edifícios hospitalares,
BOING (2003) comenta que os mesmos constituem uma preocupação “seja através
de soluções que aproveitem as características ambientais locais, seja através da
utilização de sistemas artificiais que promovam níveis ideais ou satisfatórios de
conforto ambiental. Os aspectos relacionados ao conforto térmico foram os
primeiros a surgir enquanto fatores de projeto”, e os relacionados ao conforto
acústico são os mais recentes. Estes estão ligados ao aumento do ruído urbano,
que é consequência da crescente urbanização das cidades, principalmente
causado pelo ruído do tráfego de veículos automotores. Além disso, as questões
sonoras estão relacionadas à inserção de novas tecnologias em equipamentos e
sistemas mecanizados, especialmente nas áreas de diagnóstico, tratamento e
serviços de apoio (lavanderia, cozinha, etc). Nos ambientes hospitalares a
tendência atual é a de preservar a privacidade do paciente, evitando a propagação
de ruídos de um ambiente para outro (corre-corre das circulações, conversas dentro
dos apartamentos ou enfermarias, choro de crianças, gemidos de pacientes, etc.).
O conforto térmico, por sua vez, tem sido cada vez mais uma premissa de projeto
para os edifícios hospitalares, onde a ventilação natural é recomendada inclusive
como elemento terapêutico. Segundo o arquiteto João Filgueiras Lima, “a
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
70
ventilação natural é um aspecto fundamental a ser considerado no projeto de um
edifício hospitalar e comprovadamente eficiente no combate a infecções
hospitalares, evitando ambientes herméticos”. (MOURA, 2002, apud BOING,
2003:88)
No entanto, em determinadas áreas do hospital, as estratégias ativas de
climatização são inevitáveis, como a utilização do ar condicionado nas áreas para
cirurgias, laboratórios e exames de diagnóstico por imagem, que englobam
atividades e equipamentos que só funcionam sob níveis ideais e constantes de
umidade e temperatura. Nestes locais, o ar condicionado é utilizado não somente
por aspectos de conforto ambiental, mas também técnicos e terapêuticos.
Como em qualquer outro edifício, para proporcionar conforto ilumínico ou visual nos
ambientes hospitalares também se priorizam as estratégias passivas,
recomendando-se iluminação natural ao maior número possível de seus
compartimentos. Neste caso, uma orientação favorável e uma configuração
arquitetônica que ofereça superfícies translúcidas estrategicamente localizadas não
só tende a reduzir o consumo de energia, como também ameniza a sensação de
enclausuramento do usuário.
“A indispensável proximidade de alguns setores de atividades com a
conseqüente redução das áreas de circulação explica, em parte, a grande
tendência nos hospitais modernos de certos pavimentos do edifício serem
transformados em massa compacta de cubículos com iluminação e conforto
térmico controlados artificialmente”. (MINIOLI, 2007:7)
Os projetos do arquiteto João Filgueiras Lima são um exemplo vivo da aplicação de
estratégias de conforto ambiental. Implantados em locais de clima
predominantemente quente, o planejamento dos hospitais e centros de reabilitação
da Rede Sarah apoiou-se em técnicas eficientes que garantem ventilação e
iluminação natural em quase todos os ambientes. As técnicas foram aplicadas
primeiramente em Brasília através dos sheds em argamassa armada, e foram
aperfeiçoadas no projeto de Salvador, com as galerias de resfriamento do ar no
subsolo do edifício (Figura 2.02). Nos projetos mais recentes (Sarah do Rio de
Janeiro e o de Macapá), notou-se uma evolução e adequação destas estratégias de
conforto ambiental. Na unidade de Macapá destacaram-se as venezianas fixas nas
paredes periféricas, os pés-direitos altos, as grandes aberturas para ventilação
zenital e a cobertura em semicírculo com sistema de ventiladores para retirada de
calor.
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
71
Figura 2.02: Esquema de ventilação natural e
resfriamento aplicado ao Hospital Sarah de Salvador.
Fonte: LATORRACA, 1999.
Figura 2. 03: Corte do Hospital da Rede
Sarah – Rio de Janeiro
Fonte: LEAL, 2008:46.
No Rio de Janeiro foi montado um
sistema onde a cobertura dos
edifícios forma um grande colchão
de ar ventilado e um difusor da luz
solar (Figura 2.03).
Os aspectos relacionados ao
conforto acústico também são uma
premissa na hora de projetar
hospitais, assim como qualquer
outro edifício. Com o adensamento
das cidades, a emissão de ruídos
aumentou principalmente por
causa da intensificação do tráfego
de veículos. Como todas as outras
condicionantes de projeto, o
referencial sonoro influencia a
arquitetura de várias maneiras,
podendo-se observar nos projetos
o empenho em bloquear a entrada
do som através de barreiras físicas como vidros duplos nas aberturas (que acabam
atrapalhando a aplicação de estratégias de ventilação natural) e vegetação.
Internamente também há preocupação com a propagação indesejada do som,
como no caso dos diversos equipamentos da instituição.
Segundo LIMEIRA (2006:91), ...
... “no caso dos EAS, eles próprios são produtores potenciais de ruídos, a
depender do grau de sua complexidade de atendimento. Isso se deve ao
fato de que, além do fluxo de pessoas exercendo várias atividades, existem
equipamentos de transporte de cargas e de diagnóstico que formam um
conjunto muito difícil de controlar”.
Nas áreas de diagnóstico por imagem como Ressonância Magnética (RM) e
Tomografia Computadorizada (TC), os equipamentos auxiliares são
necessariamente colocados num ambiente separado da sala do exame, devido aos
ruídos que emitem e à demanda por baixa temperatura.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
72
Para os hospitais, outro condicionante de projeto de ordem ambiental é a
humanização. Muito discutida atualmente, está relacionada ao atendimento das
necessidades psicológicas de bem-estar dos usuários através da arquitetura.
Dentro do conceito de humanização, muitas reformas têm se originado para
destituir do hospital o caráter pejorativo de ambiente da doença, trazendo aos seus
ambientes referenciais residenciais e intimistas. Isto tem ocorrido através da criação
de ambientes com mais luz natural, onde foi ampliada a utilização de cores e a
sofisticação dos materiais de revestimento e do desenho do mobiliário.
“Se ambientes mais humanizados não podem curar nem mudar o fato de
muitos pacientes não saírem vivos, evitar a típica arquitetura maquinal de
lúgubres corredores iluminados por lâmpadas fluorescentes pode melhorar
o estado de bem-estar de quem ocupa aquele espaço”. (HORTA, 2005)
Acompanhando o conceito de humanização está o conceito de hotelaria, indicado
por muitos arquitetos como a melhor estratégia de aprimorar a qualidade
arquitetônica e gerencial nos ambientes ligados à internação. Em São Paulo, muitos
hospitais se destacaram ao dar aos seus edifícios e serviços o aspecto de um hotel,
como é o caso do Hospital Albert Einstein (Figura 2.04), do Hospital do Coração e
do Hospital e Maternidade São Luiz, unidade Anália Franco (Figura 2.05).
Figura 2.04: Entrada do Bloco D do
Hospital Israelita Albert Einstein (São
Paulo).
Projeto de Siegbert Zanettini.
Fonte: Zanettini Arquitetura
Planejamento Consultoria Ldta.
Figura 2.05: Área de estar na unidade de internação do
Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco. Projeto do
arquiteto Siegbert Zanettini.
Fonte: Acervo da autora.
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
73
2.1.5 Normatização
O sistema normativo brasileiro evoluiu muito desde a década de 1970, sendo que,
do ponto de vista da arquitetura, as normas que possuem o maior impacto nos
edifícios hospitalares são a Resolução RDC n
o
50 da ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), os Códigos de Obras e Edificações (regularização dos
edifícios junto às prefeituras municipais) e as Instruções Técnicas do Corpo de
Bombeiros (garantia de segurança contra incêndio e regularização dos edifícios
junto ao Corpo de Bombeiros).
“No planejamento de um Estabelecimento de Assistência à Saúde (EAS),
tanto o arquiteto quanto todos os outros profissionais de saúde envolvidos
estão condicionados a várias normas que determinam cada ambiente ou
unidade em particular e suas relações em conjunto”. (LIMEIRA, 2006:142)
As normas técnicas, leis, códigos e resoluções “vêm influenciando profundamente o
trabalho dos arquitetos que se dedicam ao projeto de hospitais, inclusive em sua
forma de projetar. Seu papel, nas últimas três décadas, tem sido de tal importância,
que poderíamos até mesmo afirmar que o único ponto em comum na grande
maioria dos edifícios hospitalares em nosso país talvez seja o fato de que todos,
obrigatoriamente, devem obedecer às normas estabelecidas pelo Ministério da
Saúde”. (TOLEDO, 2002:55)
O número de normas não para de crescer, sendo que a desatualização e a
descontinuidade fazem parte da rotina institucional dos EAS. Quando mudam os
parâmetros legais, muda também o funcionamento do edifício, e normalmente este
aprimoramento significa a criação de mais restrições e uma adaptação física na
instituição. “Estas normas, apesar de fazerem parte de um conjunto necessário ao
controle da saúde pública, têm características independentes, complexas e
díspares.” (LIMEIRA, 2006)
2.1.6 Sustentabilidade
Diante da iminente escassez dos recursos naturais e do fato de os EAS serem
edificações que gastam níveis elevadíssimos de água e energia, além de
produzirem muitos resíduos, tem sido cobrado dos hospitais estratégias para
contribuir com a preservação do meio ambiente. BITENCOURT afirma que ...
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
74
... “a ineficiência energética e o desperdício são imagens comumente
vinculadas ao ambiente hospitalar, seja por descontrole da gestão
administrativa e operacional, seja pelas características funcionais que
obrigatoriamente demandam sistemas de reserva disponíveis a qualquer
momento, sobretudo nos locais onde se processa a assistência médico-
hospitalar”.
Nos projetos, esta preocupação tornou-se mais presente no final do século XX,
resultando no aprimoramento das técnicas de captação de energia solar,
reutilização de água e ventilação e iluminação naturais. Entre 1999 e 2001 “o
Ministério da Saúde do Brasil promoveu uma intensa campanha educativa dirigida
aos serviços de saúde, especialmente hospitais, com o objetivo de estimular a
racionalização e a redução do uso de energia elétrica e água”. (BITENCOURT, s/d)
Os aspectos mencionados acima podem ser entendidos como novas exigências
técnicas aos edifícios, introduzidas pela consciência da necessidade de conter o
desperdício, e que fazem parte dos mencionados avanços técnicos e científicos que
impõem transformações aos hospitais.
A dinâmica destas transformações, por sua vez, pode também ser tratada como
uma questão de sustentabilidade. Ao se adaptar sem grandes obras ou
desperdícios às suas constantes transformações, os hospitais tornam-se
construções mais duráveis e, logo, sustentáveis. Sendo assim, cabe aos projetistas
evitar que as frequentes demolições e obsolescência dos edifícios os levem ao final
de sua vida útil.
2.2 AS PARTES DO SISTEMA “HOSPITAL”
“Embora um conceito que sempre esteve presente ao longo da história dos
hospitais, a setorização vem ganhando cada vez mais importância devido
ao aumento da complexidade dos edifícios hospitalares, que atualmente
englobam uma infinidade de setores”. (BOING, 2003)
Muitos autores definem de forma diferente a organização funcional dos edifícios
hospitalares. O agrupamento de atividades geralmente está vinculado aos tipos de
serviços oferecidos, às relações que mantém com o usuário e ao tipo e direção do
fluxo de circulação que acompanham dentro da instituição.
Segundo KARMAN (1974, apud BOING, 2003), “um hospital é constituído, ao
mesmo tempo, de partes estreitamente interligadas e dificilmente dissociáveis e
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
75
de partes independentes e dificilmente agrupáveis”. A contiguidade das relações
funcionais, por sua vez, é planejada em função da maior ou menor necessidade de
proximidade entre setores, o que afetará diretamente a sua eficiência e o seu
desempenho. (BOING, 2003)
SCHMIDT (2003) descreve que na maior parte dos edifícios hospitalares visitados
durante a sua pesquisa a distribuição física encontrada era dividida entre o Centro
de Diagnóstico e Terapia (próximos aos acessos principais e voltados ao paciente
externo), a Internação (coroando o edifício), o Setor Cirúrgico (entre a área de
Diagnóstico e a área de Internações) e os Setores Técnicos (nos pavimentos
subsolo ou em unidades separadas).
ZEIN (1983), em uma entrevista com João Carlos Bross, relata que o arquiteto
indica a existência de três grandes zonas funcionais nos hospitais, que são a zona
de Diagnóstico e Tratamento, a zona de Internação e a zona das chamadas
“Atividades-meio”, ligadas ao conforto dos funcionários, à administração e ao
armazenamento e manipulação de suprimentos em geral. Em sua teoria, o arquiteto
destaca as duas primeiras zonas como as “Atividades-fim”, que agregam a maior
diversidade de atividades com o paciente e o maior número de equipamentos
médicos. As Atividades-meio, por outro lado, configuram um setor de produção que
pode ser caracterizado como industrial, envolvendo os sistemas de produção,
transporte e entrepostagem de suprimentos (alimentos, roupa, material estéril,
material de almoxarifado, medicamentos e material de enfermaria).
Em uma de suas palestras, o arquiteto Augusto Guelli apresentou alguns esquemas
representativos das relações funcionais existentes em um hospital, definindo outro
agrupamento de atividades (Figuras 2.06 e 2.07). Com o mesmo intuito, o extinto
grupo BDSL Arquitetura estabeleceu graficamente os sistemas organizacionais
empregados no seu projeto para o Hospital Municipal Campo Limpo.
No projeto para o Hospital de Campo Limpo foram descritas como áreas “quentes”
aquelas onde estão as atividades que mais consomem energia e infraestrutura,
identificadas como as unidades de diagnóstico e tratamento (exames, ambulatório,
centro cirúrgico e obstétrico, UTI). Estas exigiriam uma melhor dinâmica no
processo de atenção e uma maior facilidade e rapidez na tomada de decisão sobre
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
76
o paciente, estando, portanto, abaixo do pavimento técnico e acima das chamadas
“energias” (áreas de infraestrutura predial).
5
Figura 2.06: Fluxograma genérico para EAS.
Fonte: GUELLI (2003)
Figura 2.07: Fluxograma genérico para EAS.
Fonte: GUELLI (2003)
Apresentando um Programa de Necessidades físico-funcional mais detalhado, a
Resolução nº 50 da ANVISA (RDC 50, de 2002), que estabelece regras básicas
para o projeto dos EAS, a divide em oito (8) partes:
1. Área de Atendimento em Regime Ambulatorial e Hospital-Dia;
2. Área de Atendimento Imediato;
3. Área de Atendimento em Regime de Internação;
4. Área de Apoio ao Diagnóstico e Terapia;
5. Área de Apoio Técnico;
6. Área de Ensino e Pesquisa;
7. Área de Apoio Administrativo;
8. Área de Apoio Logístico.
Na RDC 50 a organização, segundo o arquiteto Irineu Breitman
6
, está baseada em
bases administrativas, que normalmente não correspondem à organização física
dos EAS. O arquiteto, que passou muitos anos coordenando uma equipe
multidisciplinar atuante em projetos hospitalares (Hospitasa), coloca que na
estrutura física do hospital existem premissas que a RDC 50 não preconiza, pois
sua organização baseia-se nas partes isoladas da instituição e não na sua
interação e conectividade. De acordo com Breitman, há uma diferença muito grande
5
Revista Projeto n
o
214, novembro de 1997, p. 89.
6
Informação obtida em uma palestra do arquiteto Irineu Breitman, em novembro de 2009, no Rio de Janeiro.
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
77
entre a organização colocada pela RDC 50, que é de caráter burocrático, e a real
organização física de um hospital.
Numa interpretação da RDC 50, o arquiteto Ronald Lima de Góes apresenta um
Diagrama teórico (Figura 2.08), onde insere todas as partes que podem existir na
organização funcional de um edifício hospitalar. Para a definição e descrição destas
partes, no presente trabalho a organização funcional adotada baseia-se também na
RDC 50, porém agrupando os grupos 1 e 3 como áreas de internação, e os grupos
5 e 8 como uma área única de Apoio Técnico e Logístico (Quadro 02). O intuito
deste agrupamento de atividades é o de estabelecer, no Capitulo 8 desta
dissertação, as relações arquitetônicas de cada uma delas com as variáveis
tecnológicas e, desta forma, contextualizar o edifício no tema da pesquisa aqui
desenvolvida.
Figura 2.08: Diagrama Composto – Modelo Teórico.
Fonte: GÓES, 2004:176.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
78
Quadro 02:
Organização Físico-funcional adotada como base.
Internação
Atendimento em Regime Ambulatorial e Hospital-Dia (pacientes externos);
Atendimento em Regime de Internação - 24 horas (pacientes internos);
Internação de pacientes adultos e infantis;
Internação de recém-nascidos até 28 dias (neonatologia);
Internação de pacientes em regime de terapia intensiva;
Internação de pacientes queimados em regime intensivo.
Diagnóstico e
Tratamento
Patologia clínica;
Imagenologia;
Métodos gráficos;
Anatomia patológica e citopatologia;
Atividades de medicina nuclear;
Procedimentos cirúrgicos e endoscópicos.
Partos normais, cirúrgicos e intercorrências obstétricas;
Atividades de reabilitação em pacientes externos e internos;
Atividades hemoterápicas e hematológicas;
Atividades de radioterapia;
Atividades de quimioterapia;
Atividades de diálise;
Atividades relacionadas ao leite humano;
Atividades de oxigenoterapia hiperbárica (OHB);
Atendimento Imediato – Urgência e Emergência – 24 horas (pacientes externos).
Ensino e
Pesquisa
Treinamento em serviço dos funcionários;
Ensino técnico, de graduação e de pós-graduação;
Desenvolvimento de pesquisas na área de saúde.
Apoio
Administrativo
Serviços administrativos do estabelecimento;
Serviços de planejamento clínico, de enfermagem e técnico;
Serviços de documentação e informação em saúde.
Apoio Técnico
e Logístico
Assistência alimentar a indivíduos enfermos e sadios;
Assistência farmacêutica;
Esterilização de material médico, de enfermagem, laboratorial, cirúrgico e roupas;
Lavagem das roupas usadas;
Armazenagem de materiais e equipamentos;
Revelação, impressão e guarda de chapas e filmes;
Manutenção do estabelecimento;
Guarda, conservação, velório e retirada de cadáveres;
Conforto e higiene aos usuários;
Limpeza e higiene do edifício, instalações e áreas externas e materiais e instrumentais
e equipamentos assistenciais, bem como gerenciamento de resíduos sólidos;
Segurança e vigilância do edifício, instalações e áreas externas;
Infraestrutura predial.
2.2.1 Internação
Os setores de internação, que variam entre hospital-dia, internação geral, intensiva
e semi-intensiva, encontram-se espalhados pelo hospital e são compostos
basicamente por enfermarias de um ou mais leitos e postos de enfermagem. Sua
configuração espacial é regida por áreas comuns ora centralizadas (enfemarias
coletivas voltadas para um ou mais postos de enfermagem) e ora lineares
(corredores de acesso a enfermarias isoladas de um ou mais leitos), onde as áreas
de apoio costumam ser diversificadas e em escala reduzida, na forma de pequenas
salas onde os suprimentos (medicamentos, roupas, equipamentos e alimentos) são
armazenados e manipulados.
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
79
Comparando-as ao restante do hospital, as áreas de internação apresentam uma
configuração espacial relativamente simples, onde as modificações têm sido, em
sua maioria, de caráter dimensional (aumento do tamanho das enfermarias e
criação de quartos privativos), quantitativo (aumento do número de leitos, porém
seguindo a configuração espacial original) e decorativo (renovação de
revestimentos e mobiliário). As obras nestas áreas costumam, porém, ser as mais
divulgadas e valorizadas entre as melhorias realizadas nas instituições de saúde.
2.2.2 Diagnóstico e Tratamento
As áreas de Diagnóstico e Tratamento possuem uma configuração espacial
complexa e dependente dos avanços tecnológicos, como poderá ser visto ao longo
deste trabalho. É uma parte da instituição que se espalha pelo hospital na forma de
setores bastante diversificados, como exposto no Quadro 01. Os setores de
diagnóstico compreendem o maior número de atividades (consultas e exames de
vários tipos), que desde os últimos anos passaram a se sobrepor às atividades de
tratamento (cirurgia, procedimentos não invasivos e atividades de reabilitação) e
tornaram os seus espaços ainda mais especializados.
Os exames, que até a década de 1960 eram apenas os de Raios-X convencional e
os de Ultrassonografia, se desenvolveram muito nas últimas décadas, criando
imagens cada vez mais nítidas do corpo humano (Tomografia Computadorizada,
Ressonância Magnética, Exames de Medicina Nuclear, etc). Para tanto o arsenal
de equipamentos multiplicou-se e sofisticou-se, passando a modificar as dimensões
e o desenho das máquinas. Os espaços direcionados aos exames, portanto,
tiveram que ser expandidos e modificados para receber os equipamentos e atender
às suas exigências técnicas de rede, energia (redes de energia e conexões de rede
mais potentes) e temperatura (sistema de ar-condicionado cada vez mais eficiente),
alterando significativamente não só o tamanho das salas como também a sua
interação com o restante do edifício.
Segundo SCHMIDT (2003), “sem qualquer dúvida este (setor de diagnóstico e
terapia) foi o setor que teve o maior avanço na área hospitalar com um
desenvolvimento mais significativo no final do século XIX e início do século XX,
sendo o principal responsável pelo aumento de área do hospital”. WEIDLE (1995,
apud MARINELLI, 2003:100) concorda com este enunciado quando afirma que ...
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
80
... “as áreas que têm demonstrado maior tendência a mudanças são as de
Diagnóstico e Terapia, principalmente devido ao ritmo de evolução
tecnológica dos equipamentos que, ao se tornarem informatizados,
evoluíram aceleradamente. E um equipamento que evolui pode significar
menos espaço ou mais espaço a ser requerido, o que acarreta a
necessidade de se adaptar”.
LONGHI (2001) ainda completa, dizendo que “a unidade de diagnóstico e terapia é
a mais suscetível nos EAS, em geral, a transformações pela ampliação do
atendimento existente e pela adoção de novas tecnologias”.
Por serem, de acordo com vários autores, as áreas de Diagnóstico e Tratamento as
que mais significativamente de modificam nos hospitais, a análise das
transformações arquitetônicas nestes setores será aprofundada ao longo deste
trabalho, focando nestas áreas a investigação realizada nos estudos de caso.
2.2.3 Ensino e Pesquisa
As áreas de Ensino e Pesquisa encontram-se normalmente distribuídas pelo
edifício na forma de salas de aula, auditórios e laboratórios de pesquisa. Além
disso, ocupam uma porcentagem de área interna em praticamente todos os
ambientes de atendimento (salas de exames, salas cirúrgicas, etc), haja vista a
necessidade de espaço para as aulas práticas e para a pesquisa clínica (com
pacientes). Esta área é também influenciada pelos avanços tecnológicos, na
medida em que utiliza cada vez mais a telemática e os equipamentos de análises
laboratoriais.
2.2.4 Apoio Administrativo
As áreas de Apoio Administrativo, como coloca a arquiteta Sung Mei Ling
7
,
possuem uma configuração espacial característica das consolidadas áreas de
escritórios, com layout bastante flexível e atividades pouco específicas, podendo
instalar-se em qualquer lugar do edifício. Encontram-se ora centralizadas e ora
descentralizadas, na forma de salas de chefias e secretarias setoriais, que existem
7
Como coloca a arquiteta Sung Mei Ling, “as áreas administrativas funcionam como um edifício de escritórios e
admitem mais flexibilidade”. (CORBIOLI, 2003)
2 O EDIFÍCIO HOSPITALAR COMO PLURALIDADE DIMENSIONAL E SISTÊMICA
81
em todas as unidades funcionais, e salas (individualizadas ou abertas) de
tesouraria, secretaria, recursos humanos, entre outros, administrando assuntos
gerais do hospital (gerenciamento financeiro, agenda de procedimentos e
contratação ou demissão de funcionários). Nas últimas décadas, as áreas
administrativas foram largamente influenciadas pela informática, diminuindo muito a
quantidade de papel manipulado.
2.2.5 Apoio Técnico e Logístico
As áreas de Apoio Técnico e Logístico, por outro lado, ocupam áreas muito
específicas, na medida em que constituem a base industrial dos hospitais. Estas
áreas são compostas por setores de Lavanderia, Cozinha, Farmácia, e
Infraestrutura Predial, cuja função é basicamente fazer a instituição funcionar. Por
este motivo, o Apoio Técnico e Logístico, apesar de representar os bastidores da
instituição, merece atenção especial no projeto.
“O Planejamento de Instalações e Equipamentos deve merecer o mesmo
zelo, por parte da Arquitetura Hospitalar, que o dedicado ao Projeto de
Circulações ou ao ordenamento de territórios de atividades afins, por
exemplo”. (KARMAN et al, 1995:27)
Segundo a arquiteta Sung Mei Ling (CORBIOLI, 2003), “áreas como cozinha,
central de esterilização, lavanderia ou manutenção têm funcionamento semelhante
ao de fábricas”. Junto à lavanderia, a Central de Material Esterilizado (CME), por
exemplo, alimenta todas as atividades de Diagnóstico e Tratamento, como
cirurgias, exames e atendimento de urgência e emergência, mantendo com as
mesmas um fluxo constante de roupas e utensílios (sujos e limpos). A cozinha e a
farmácia, por sua vez, manipulam e enviam alimentos e medicamentos também
para as áreas de internação. Sobre a sua localização no prédio, o arquiteto Augusto
Guelli aponta que a boa distribuição começa pela identificação dos agentes do
processo, sendo que o que não interage com o paciente, como os serviços de
lavanderia, nutrição e farmácia, pode ficar fora do edifício, desde que exista um
entreposto para assegurar o suprimento. (CORBIOLI, 2003)
As instalações, que distribuem energia, água, ar-condicionado e gases medicinais,
percorrem e conectam todas as partes de um EAS, distribuindo-se horizontal e
verticalmente. Os espaços horizontais podem ser de vários tipos, predominando o
inter-piso (forro falso) e o andar Técnico, que é um pavimento de pé-direito
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
82
relativamente baixo onde as instalações podem ser visitadas e a manutenção pode
ser realizada sem qualquer interferência no funcionamento das atividades dos
ambientes que atende. Os espaços verticais são o Poço Técnico, Curete ou Shaft
(visitável e alcançável), as Paredes Prumada, os Armários Prumada e os Painéis
Prumada, além das prumadas junto a pilares. (KARMAN et al, 1995:23)
Segundo LANDI (1980), “enquanto que na maioria dos edifícios residenciais ou até
mesmo comerciais, as instalações constituem uma pequena fração das dificuldades
do projeto, em num hospital elas podem se tornar tão complicadas a ponto de
comprometerem o projeto.” Além de extensas, estas instalações são complexas, na
medida em que se multiplicam pelo edifício com diversas prumadas. “Disso resulta
um problema de coordenação bastante complexo, para eliminar os pontos de
interferência.” (MCKEE e HEALY, 2002)
Junto às atividades de Apoio Técnico e Logístico está a manutenção, equipe
técnica responsável pela prevenção e pelo reparo de problemas com os
equipamentos e as instalações da instituição. De acordo com HARILAUS (1998:18,
apud DIAS, 2003:10), “a Manutenção é definida como a combinação de ações
técnicas e administrativas, incluindo a de supervisão, destinadas a manter ou
recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma função
requerida (NBR 5462-1994)”.
A atividade de manutenção constitui um elemento significativo a ser considerado no
projeto de um EAS. É literalmente vital a importância da manutenção programada
na preservação da continuidade operacional das atividades, sendo que “na
interrupção não programada no fornecimento de oxigênio ou energia elétrica, por
exemplo, em casos de pacientes críticos, o preço pago é em vidas e sequelas;
ocorrências de todo inadmissíveis”. (KARMAN, 1994;25)
3
METODOLOGIA
3 METODOLOGIA
85
3 METODOLOGIA
A metodologia empregada nesta pesquisa foi dividida em etapas, as quais estão
apresentadas no fluxograma abaixo:
Figura 3.01: Fluxograma Metodologia.
3.1 LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDÁRIOS
No intuito de formar uma base teórica referencial para a pesquisa aqui apresentada,
uma das etapas mais importantes do trabalho foi o levantamento de dados
secundários. Este foi continuamente realizado desde antes do ingresso ao
programa de mestrado até as últimas semanas de redação da dissertação,
abrangendo:
A coleta de informações a partir de teses, dissertações, livros e artigos
sobre o planejamento, a construção e o desenvolvimento histórico de
edifícios hospitalares, e sobre a evolução da tecnologia a serviço da
medicina;
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
86
A coleta de informações a partir de consulta a especialistas no assunto em
questão (arquitetos, engenheiros e profissionais da área médica);
A realização de trabalhos programados sobre os conteúdos de interesse da
revisão bibliográfica.
A revisão bibliográfica baseou-se na busca de informações sobre a evolução dos
edifícios de uso hospitalar e a evolução da tecnologia a serviço da saúde. No início
da pesquisa foram lidos textos mais gerais sobre os aspectos arquitetônicos dos
hospitais, procurando depreender a sua história, as especificidades do seu
funcionamento e os conceitos estabelecidos para o seu planejamento.
A partir desta etapa foram selecionados textos com conteúdos mais específicos,
ligados ao fenômeno das reformas e expansões dos hospitais, bem como aos seus
aspectos tecnológicos. Dentro deste escopo, foi inicialmente priorizada a busca de
informações sobre os procedimentos e equipamentos ligados à medicina
diagnóstica.
Ao ampliar o conceito de tecnologia, outras áreas foram estudadas, como as de
infraestrutura predial, de cirurgia e de análise laboratorial. Os equipamentos
envolvidos nas atividades desenvolvidas nestas áreas foram também estudados
extensivamente, na medida em que foi identificado o seu valor para a pesquisa.
Parte dos dados compilados na revisão bibliográfica foram organizados na forma de
trabalhos programados, os quais forneceram conclusões preliminares sobre o
estado da arte em projetos de hospitais.
As principais fontes bibliográficas foram encontradas nas bibliotecas da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo e da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo. Foram encontradas referências importantes também da Escola de
Engenharia de São Carlos (USP), na Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Brasília e na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Utilizando as ferramentas da internet, muitos artigos foram encontrados em páginas
virtuais, principalmente no que se refere às informações e imagens dos
equipamentos e tecnologias estudados.
Houve dificuldade para a coleta de dados mais específicos sobre os equipamentos
médicos e sobre os sistemas de instalações prediais utilizados nos hospitais, na
medida em que são muito escassas e superficiais as informações disponíveis sobre
3 METODOLOGIA
87
o dimensionamento e funcionamento destes elementos. A quantidade de
informações sobre o histórico destes equipamentos e sistemas é ainda menor.
Para a coleta dos dados não encontrados em publicações impressas ou virtuais,
foram realizadas algumas entrevistas a profissionais envolvidos no planejamento e
nas obras de hospitais. Foram consultados arquitetos e engenheiros que, além de
terem conhecimento específico sobre as várias tecnologias médicas, puderam
esclarecer muitas dúvidas sobre o funcionamento dos sistemas de infraestrutura do
edifício hospitalar.
A partir da revisão bibliográfica e da consulta a especialistas, foi possível instituir
algumas conclusões preliminares sobre as transformações arquitetônicas dos
hospitais vinculadas aos avanços tecnológicos. Neste sentido foram encontrados
muitos dados secundários relacionados à evolução histórica destes edifícios,
incluindo relatos de reformas e expansões em hospitais existentes no Brasil
Estados Unidos e Europa.
3.2 LEVANTAMENTO DE DADOS PRIMÁRIOS
Os dados primários desta pesquisa foram coletados a partir de estudos de caso
aplicados em três hospitais.
“O estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma porção do
universo de estudo, analisada de maneira aprofundada, permitindo, através dos
resultados atingidos, formular hipóteses para o encaminhamento de outras
pesquisas”. (TRIVINÕS, 1987, apud BOING, 2003:110)
Foi considerada como prioridade a descrição da evolução arquitetônica em áreas
específicas das edificações selecionadas, bem como a descrição dos seus
processos de incorporação de novas tecnologias.
A coleta de dados primários sobre os estudos de caso apoiou-se nas seguintes
etapas de ação:
1. Escolha dos estudos de caso: determinação dos critérios para a escolha
dos hospitais de interesse, de acordo com os objetivos da pesquisa;
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
88
2. Primeira coleta de dados: realização de visitas de reconhecimento nos
hospitais escolhidos; coleta de desenhos e textos relatando o
desenvolvimento histórico de cada instituição estudada.
3. Primeiras entrevistas: a partir de entrevistas à equipe técnica da instituição
(arquitetos, engenheiros, físicos, técnicos de manutenção, médicos, etc.),
realização do levantamento de informações sobre as experiências dos
hospitais estudados com reformas e ampliações ocasionadas pela
incorporação e/ou substituição de tecnologia;
4. Primeira análise: a partir dos dados fornecidos pelos desenhos, textos e
entrevistas, realização do reconhecimento da organização funcional de cada
hospital estudado, detectando os pavimentos onde é maior a concentração
de tecnologias médicas e de infraestrutura predial.
5. Segunda coleta de dados: coleta das plantas dos pavimentos a serem
analisados, atuais e antigas; reconstituição da configuração arquitetônica
das área estudadas em momentos diferentes; registro fotográfico das áreas
de interesse.
6. Entrevistas específicas: após analisar e comparar as plantas dos
pavimentos estudados em diferentes épocas, consultar novamente a equipe
técnica para levantar informações sobre os motivos que levaram a cada
reforma e obra de expansão constatada.
7. Segunda análise: ajuste nos levantamentos de acordo com as informações
fornecidas nas entrevistas; Verificação das informações coletadas.
3.2.1 Estudos de Caso:
As características procuradas para selecionar os hospitais a serem estudados
estiveram relacionadas à sua localização, à sua idade e à frequência pela qual a
instituição adquire e/ou renova o seu parque tecnológico de apoio à medicina. Os
edifícios deveriam estar situados na cidade de São Paulo, terem sido construídos
há aproximadamente 30 anos e possuírem um elevado grau de renovação
tecnológica.
3 METODOLOGIA
89
Encaixando-se neste perfil, foram escolhidos como estudos de caso o Instituto do
Coração (InCor), o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e o Hospital Sírio
Libanês (HSL), três dos hospitais mais bem conceituados atualmente no âmbito
nacional, e cujo poder de competitividade é, em grande parte, garantido pela
incorporação de tecnologias de vanguarda a serviço da medicina.
A pesquisa no HSL foi inviabilizada pelas restrições impostas pela instituição. Não
foram disponibilizadas as plantas do edifício, dificultando a precisão na análise
gráfica das suas transformações arquitetônicas. Por este motivo, ao invés desta
instituição estar colocada na dissertação como um estudo de caso, ela aparecerá
ao longo do trabalho através dos dados informados nas entrevistas realizadas com
alguns de seus funcionários.
Por recomendação dos pares durante o exame de qualificação, foi realizada uma
visita ao Hospital Sarah de Brasília (HDAL) para o enriquecimento da pesquisa.
Devido à quantidade de informações e desenhos encontrados sobre o hospital,
decidiu-se transformá-lo também num estudo de caso. Apesar da sua localização
não ser em São Paulo, este hospital encaixou-se nos critérios estabelecidos aos
outros hospitais estudados.
O InCor teve a vantagem de já ter sido local de trabalho da autora, o que facilitou
muito a coleta de dados. Foi liberado o acesso aos desenhos mais antigos do
prédio, que estavam armazenados de forma aleatória no seu Departamento de
Arquitetura. A coleta de informações sobre o edifício também foi viabilizada sem
qualquer restrição, sendo que a única dificuldade encontrada foi de fato a eventual
incerteza sobre o contexto de algumas das transformações arquitetônicas
apontadas pelos desenhos.
No HIAE a coleta de dados já foi bem mais lenta e difícil. Após a primeira visita de
reconhecimento ao edifício, foi difícil entrar nele pela segunda vez, pois a equipe
técnica não estava disponível para acompanhar a visita. Causa disto foi a
conclusão da construção de uma das ampliações do Complexo do Morumbi, que
deixou muito ocupada a equipe de projetos e obras da instituição. Mais difícil ainda
foi a coleta de desenhos antigos, sendo que a planta mais antiga conseguida foi a
de 1998. Esta foi, por sua vez, disponibilizada pelo arquiteto Domingos Fiorentini,
autor de alguns dos projetos de ampliação do HIAE. Os outros desenhos foram
liberados apenas no final da pesquisa, e complementados por um material
fornecido pelo arquiteto Arthur Britto.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
90
No HDAL, apesar da burocracia enfrentada para realizar a visita técnica, os
desenhos e dados para a pesquisa foram facilmente coletados. Além da riqueza de
informações fornecidas pela entrevista ao arquiteto da instituição (Luiz Engler
Vasconcellos), muitos dados, desenhos e imagens foram encontrados numa
pesquisa previamente realizada no hospital pela arquiteta Alda Regina Bueno
Minioli. No seu trabalho foram encontradas as plantas do hospital de 1980 e de
2007, utilizadas como base para todas as análises.
3.3 ANÁLISE DOS DADOS
Partindo das etapas de ação descritas no item 3.2, as análises da pesquisa
apoiaram-se por fim na leitura funcional das plantas (zoneamento funcional) aliada
às informações dos textos consultados e das entrevistas realizadas.
Primeiramente a análise foi feita sobre cada pavimento como um todo, comparando
as suas plantas em diferentes momentos e detectando as mudanças mais
evidentes na sua configuração arquitetônica. O passo seguinte foi a análise
individualizada de cada unidade funcional das áreas estudadas. As plantas foram
então ampliadas, observando de perto as intervenções mais localizadas.
Após serem determinadas as reformas e expansões de cada estudo de caso,
estabelecendo as suas possíveis causas de ordem tecnológica, o último passo foi
comparar o quadro encontrado em cada hospital, procurando diferenças e
semelhanças.
Etapas da análise:
1. Zoneamento funcional das unidades de diagnóstico em cada “momento
arquitetônico”, diferenciando por cores as unidades funcionais;
2. Determinação das mudanças mais significativas que ocorreram;
3. Determinação das causas mais significativas destas mudanças;
4. Determinação das consequências mais significativas destas mudanças.
4
ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS
EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
93
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
BRASILEIROS
4.1 EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR
4.1.1 No Brasil
Para abordar historicamente as edificações hospitalares brasileiras é necessário
entender um pouco a evolução das ações de saúde pública no Brasil, que partiu do
Sanitarismo Campanhista (até início do séc. XX), passou pela Assistência Médica
Previdenciária da classe operária (anos 1930 aos 1950) e pelo Regime Militar (1964
a 1974) até chegar ao Sistema Único de Saúde (consolidado em 1988), cuja
ideologia resultou de uma Reforma Sanitária de aproximadamente 12 anos.
A história das instituições de saúde brasileiras começou efetivamente com as
Santas Casas de Misericórdia, que foram as principais instituições de saúde até o
início do século XX, constituindo “a rede hospitalar mais ampla que possuímos”
1
.
Segundo MARINELLI (2003:15) “até este período o atendimento a saúde era
totalmente desvinculado do poder público”, cujo papel era apenas o de controlar as
endemias e epidemias e o de fiscalizar os alimentos, portos e fronteiras.
Segundo WATANABE (1974), durante o século XVI “não se pode falar em medicina
científica no Brasil, em comparação aos estudos médicos na Europa. (...) A
medicina praticada era (...) uma medicina rústica, desenvolvida a partir do
empirismo do dia-a-dia, sem qualquer base teórica”. Eram escassos os
profissionais de saúde (a vida difícil nos trópicos não entusiasmou os médicos
lusitanos a vir trabalhar na colônia), e para combater doenças como a sífilis, o
sarampo e a tuberculose, disseminadas pelos colonizadores e pelos escravos,
eram utilizadas práticas e terapias aprendidas com os indígenas e posteriormente
com os africanos, como o curandeirismo e a utilização de remédios obtidos através
de plantas medicinais.
(FERNANDES, 2003)
Os Jesuítas foram os primeiros a acolher adoentados no Brasil, e as suas
enfermarias funcionaram durante praticamente todo o período colonial. Quando as
enfermarias jesuíticas não estavam mais comportando a quantidade de pacientes,
os então chamados “homens-bons” começaram a se associar em Irmandades de
1
WATANABE, 1972.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
94
Misericórdia, iniciando posteriormente as chamadas “Santas Casas”, que durante
quatro séculos, foram a “força motriz na construção de equipamentos de
assistência a saúde” no Brasil.
As Santas Casas eram instituições de caráter sociocaritativo, ajudando os pobres e
doentes tanto material quanto espiritualmente. “A importância das atividades de
assistência social da Santa Casa era tamanha, que, por muito tempo, assumiu
responsabilidades que caberiam à Coroa ou à Câmara Municipal”. (LIMEIRA,
2006:36)
“A Santa Casa da época da colonização era construída de taipa, de um ou
dois andares com salas para enfermaria de homens e mulheres separados,
alguns quartos de dois leitos e pequenos cômodos para a área
administrativa, recepção, dormitório dos empregados, cozinha e botica, uma
capela ou igreja em anexo. Não existia sala cirúrgica e nem de curativo.
Estes hospitais possuíam pouca higiene e eram sempre escassos de
instrumentos, medicamentos, roupas e alimentos”. (MARINELLI, 2003:14)
A primeira Santa Casa a surgir foi a de Santos (povoado que originaria a Vila de
Santos, na Capitania de São Vicente), construída em 1543. Segundo SILVA (1999),
depois dela seguiram as Santas Casas de Salvador (1549), Ilhéus (1553), Olinda
(1560), Rio de Janeiro (1582), Sergipe (1597), São Paulo (1603), Itamaracá (1611),
João Pessoa (1618), Igaraçu (1629), São Luís (1657), Belém (1667), Vila Rica
(1739), São João Del Rey (1783), Diamantina (1790) e Campos (1791).
Sustentadas por recursos privados (doações), em 1985 havia 455 Santas Casas
cadastradas no Brasil, em praticamente todos os estados, embora nem todas
possuíssem hospitais. Segundo WATANABE (1974), todas as Santas Casas foram
cópias parciais ou totais do hospital de todos os santos de Lisboa, sem nenhum
planejamento prévio. LIMEIRA (2006:36) completa dizendo que, aparentemente,
“não havia critérios para a sua construção, pois podiam se instalar em casas
doadas e adaptadas para as obras sociocaritativas que, com o tempo, eram
ampliadas ou transferidas para prédios novos e construídos para tal fim”.
Com a proclamação da independência em 1822, alojou-se no Rio de Janeiro a
Inspetoria de Saúde dos Portos (1928). Em 1829 foi criada a Imperial Academia de
Medicina, que foi logo seguida pela Junta de Saúde Pública como as primeiras
instituições destinadas a pensar a saúde pública no país e a aplicar soluções
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
95
coletivas
2
.
Com as mudanças no cenário político, outras instituições de saúde passaram a
dividir espaço junto às Santas Casas. Entre elas estão as Enfermarias de
Emergência, criadas pelo governo por causa das epidemias de febre amarela,
varíola e cólera; os Hospitais Estrangeiros; os Hospitais de Isolamento; os
estabelecimentos destinados à quarentena nos maiores portos do país; os
“Lazaretos”, destinados aos leprosos; os Hospitais de Alienados, destinados ao
tratamento de doenças nervosas; e as Policlínicas, que se destinavam ao
tratamento ambulatorial e, inspirados na Policlínica Geral de Viena, originaram-se
no Rio de Janeiro e em São Paulo. (MARINELLI, 2003)
“No século XVIII surgiram no Brasil os primeiros Hospitais Militares
financiados pela Coroa e destinados às tropas, (...) e no século XIX se
instalaram no país os pequenos hospitais particulares chamados Casas de
Saúde. (...) Seus proprietários eram médicos famosos na época e por eles
eram administrados. As Casas de Saúde eram poucas e estavam
localizadas nas cidades mais populosas”. (MARINELLI, 2003:15)
Por volta de 1875, a Santa Casa de São Paulo começou a planejar uma reforma
devido às más condições do prédio (falta de higiene e materiais), constatadas pelo
médico Antônio Caetano de Campos. Ele fez um relatório que mudou um pouco o
pensamento e a condição das práticas em saúde no Brasil da época, dando início a
uma forma “moderna” de pensar o hospital. A reforma exigida ocorreu e, após
concurso público, foi escolhido o projeto do arquiteto Luiz Pucci para a construção
de um novo edifício para o Hospital. Este, que é sede da atual Santa Casa de São
Paulo, foi inaugurado em 1884, com tipologia pavilhonar. (SILVA, 1999)
De acordo com MARILELLI (2003:17), “do final do século XIX até metade da
década de 1960, praticou-se, como modelo hegemônico de saúde, o sanitarismo
campanhista”, marcado pela intervenção de sanitaristas como Oswaldo Cruz
(combate a febre amarela no Rio de Janeiro), Rodrigues Alves (saneamento do Rio
de Janeiro), Carlos Chagas, Emílio Ribas e Saturnino de Brito (saneamento da
cidade e do porto de Santos).
Por causa das ações destes sanitaristas, da década de 1920 em diante o Estado
2
BRENER, 2006, apud LIMEIRA, 2006.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
96
começou a intervir mais na saúde pública, inicialmente através do Ministério da
Justiça, com a reforma feita por Carlos Chagas (1923). Em 1930 a responsabilidade
passou para o Ministério da Educação com a criação do Departamento Nacional de
Saúde Pública, e ...
... “nesta mesma década surgiram inúmeros sanatórios para tratamento de
tuberculose e hanseníase, associando-se aos manicômios públicos já
existentes. (...) Foi nesta época que surgiu o Departamento Estadual de
Saúde, precursor das Secretarias Estaduais de Saúde, implantando-se de
forma progressiva a rede de postos e centros de saúde estaduais voltados
para o controle de endemias e epidemias”. (MARINELLI, 2003:17)
A industrialização brasileira nas décadas de 1920 e 1930 motivou a Lei “Elói
Chaves”, que criou a primeira Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAP). No Estado
Novo de Getúlio Vargas iniciou-se a implantação dos Institutos de Aposentadoria e
Pensões (IAPs), estruturados por categorias profissionais”
3
. Também por causa da
aceleração do processo de industrialização do país na década de 1950 e do
crescente êxodo rural que se seguiu, a demanda por assistência médica no país
aumentou significativamente. Isto ocasionou a ampliação considerável da estrutura
hospitalar brasileira durante as décadas de 1950 e 1960.
Neste período foi criado o Ministério da Saúde (1953), justificado pelo aumento das
ações de saúde pública necessárias. De acordo com VISCONTI (1999), ...
... “a maioria dos hospitais públicos brasileiros foram construídos neste
período. Concomitantemente, adotava-se cada vez mais o modelo de saúde
americano, incorporando-se indiscriminadamente tecnologia, numa visão de
saúde ‘hospitalocêntrica’ e, naturalmente, de alto custo, favorecendo o
fortalecimento da indústria de medicamentos e de equipamentos
hospitalares”.
Com o Golpe Militar de 1964, o sistema de saúde até então controlado pelos
trabalhadores foi tomado pelo regime ditatorial, que unificou os IAPs no Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS), criado em 1967. Neste período da história
da saúde pública brasileira, ao mesmo tempo em que se ampliava a cobertura
previdenciária à quase totalidade da população urbana e rural, ALMEIDA (1997)
afirma que “desnudava-se o caráter discriminatório da política de saúde, pois eram
3
MARINELLI, 2003:17.
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
97
cada vez mais nítidas as desigualdades quanto ao acesso, à qualidade e à
quantidade de serviços destinados às populações urbanas e rurais e entre as
diferentes clientelas dentro de cada uma delas”.
4
Em 1977 surgiu o Sistema Nacional de Previdência Social (SINPAS) que buscava
reorganizar, racionalizar e centralizar administrativamente a previdência. Foram
criados o Dataprev (empresa de processamento de dados), o INAMPS (Instituto
Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) e a CEME (Central de
Medicamentos).
Em meados da década de 1980, chegou ao fim o Governo Militar, em crise por
vários fatores, entre eles o aumento do desemprego acompanhado pelo aumento
de demanda ao sistema de saúde. Assim, impulsionados por uma lenta e
progressiva abertura política, o atendimento de urgência e emergência foi estendido
aos não-previdenciários (Plano de Pronta Ação – PPA), mudando novamente a
demanda de acesso à rede hospitalar.
Neste momento surgiram ainda as modalidades supletivas de prestação de
serviços, como o Convênio-empresa e a Medicina de Grupo. Estas modalidades,
por sua vez, também assumiram importante papel nos edifícios na medida em que
se multiplicaram e trouxeram aos hospitais um usuário diferenciado, ao qual foram
oferecidos serviços diferenciados. Estes Planos de Saúde, que vigoram até hoje,
incentivaram a expansão dos edifícios hospitalares e a diferenciação das suas
áreas de acesso, haja vista a diferenciação dos perfis de seus usuários.
Foi a partir do final da Ditadura Militar que surgiram os alicerces político-ideológicos
para o movimento de reforma do Sistema de Saúde no Brasil, o qual sugeriu, logo
de início, processos direcionados para uma grande expansão da rede ambulatorial
pública. Em 1978 a saúde foi conceituada pela OMS (Organização Mundial de
Saúde) como sendo direito humano fundamental, e no Brasil esta proposta
coincidiu com a necessidade de expandir a atenção à saúde, incluindo mais a
população de baixa renda da periferia das cidades e nas zonas rurais (direito
universal e integralidade). (MARINELLI, 2003:)
Durante a década de 1980 foi dada continuidade ao movimento de descentralização
4
ALMEIDA, ZIONI e CHIORO, 1997:24-25.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
98
das ações de saúde. Este culminou na regulamentação, através da constituição de
1988, de um Sistema Único de Saúde (SUS): “descentralizado, com comando único
em cada esfera do governo, atendimento integral e participação da comunidade”.
5
O processo de implantação do SUS já dura 21 anos e seu modelo universalista de
assistência, baseado na municipalização, influencia diariamente o ambiente
construído na saúde. Assim como nos outros sistemas de saúde implantados, o
SUS trouxe consigo um programa funcional diferenciado, priorizando nos hospitais
áreas mais públicas e que garantam acesso a todos. Todavia, a aplicação do
sistema foi falha, e acabou por fortalecer a procura pelo atendimento privado.
“A modernização do sistema de saúde brasileiro impulsionou a criação de
novos hospitais públicos e privados em várias capitais e cidades de médio
porte do país. O desenvolvimento do conhecimento científico apontava a
necessidade de constituir centros de diagnóstico e tratamento
especializados. Os avanços da tecnologia médica promoviam significativas
alterações na organização espacial/funcional dos complexos hospitalares,
com a assimilação de novos itens programáticos”. (SEGAWA,1997, apud
FERNANDES, 2003:35)
MAUDONNET (1988, apud MENDES, 2006) ainda comenta que “até metade do
século XX, salvo raras exceções, hospitais foram construídos sem qualquer
planejamento, dificultando sua atualização pela falta de condições favoráveis,
atingindo a obsolescência física e funcional em muitos casos.”
4.1.2 Em São Paulo
O Estado e a Cidade de São Paulo sempre formaram uma parte muito importante
no cenário social, político e econômico do território brasileiro. Tendo acompanhado
o desenvolvimento histórico da saúde pública descrito anteriormente, a cidade foi
palco das primeiras reformas sanitárias mencionadas.
Durante o período colonial a assistência médica à população paulista era
filantrópica, como no resto do país, realizada por instituições beneficentes como as
Santas Casas de Misericórdia.
5
ALMEIDA, ZIONI e CHIORO, 1997:31.
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
99
Em 1560 foi erguida a primeira enfermaria na São Paulo de Piratininga, junto ao
Pátio do Colégio. Em meados do século XVIII vieram os Hospitais Militares e uma
enfermaria militar foi instalada no Palácio do Governo no antigo Colégio dos
Jesuítas (1765). Posteriormente, em 1792, durante o governo de Bernardo José
Maria de Lorena, foi construído o Hospital da Capitania de São Paulo.
(FERNANDES, 2003)
No início do século XIX, apesar da escassez de recursos para a província de São
Paulo, houve na sua região a construção de vários hospitais, entre eles o Hospital
Militar (1802), o Hospício dos Lázaros (1803), o Hospício da rua de São João
(1858). Esses edifícios eram bastante simples, utilizando técnicas construtivas
geralmente primitivas. Segundo FERNANDES (2003), a partir de 1850 a economia
de São Paulo começou a prosperar, na medida em que a província se tornou
entreposto comercial. Todavia, tornou-se também fonte de disseminação de
doenças infecto-contagiosas para outras regiões do Brasil, razão pela qual foi
necessário organizar o Serviço Sanitário Paulista.
Em 1884 foi então criada a Inspetoria de Higiene da Província de São Paulo, sendo
elaborado o 1º Código Sanitário do Estado em 1894. O código regulamentava,
entre outras coisas, a localização dos hospitais e maternidades em relação às
cidades, vilas e povoados, indicando que deveria ser sempre afastada do centro.
Em 1896 o Estado de São Paulo se subdividiu em três zonas, para permitir a
ampliação da atuação sanitária. Dois anos depois o Dr. Emílio Marcondes Ribas
assumiu a direção do Serviço Sanitário Estadual, onde se manteve por 17 anos e
conseguiu promover uma nova reestruturação do serviço sanitário em 1906,
redividindo o território do Estado em um número maior de distritos sanitários.
(SILVA, 1999)
Com o crescimento e modernização da cidade de São Paulo (desenvolvimento da
cultura cafeeira, chegada dos imigrantes, construção das vias férreas e criação das
primeiras indústrias), o poder público e a oligarquia local destinaram vultosos
recursos para a organização da saúde pública e para a construção de edifícios de
saúde. (SEGAWA,1988; BERTOLLI FILHO, 2002, apud FERNANDES, 2003).
Este período foi marcado pela construção de algumas instituições, tais como o
Instituto Bacteriológico, Laboratório de Análises Químicas e Bromatológicas,
Laboratório Químico e Farmacêutico (1891); o Instituto Vacinogênico (1891); o
Desinfectório Central de São Paulo, (1893); o Instituto Serunterápico (1901); o
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
100
Hospital de Isolamento (1893); o Hospital da Força Pública (1893) e o Asilo do
Juquery (1895), projetados pelo arquiteto Francisco de Paula Ramos de
Azevedo; e
o Instituto Pasteur (1903). (FERNANDES, 2003).
Nesta mesma época ocorreu o concurso para o novo edifício da Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo (Figura 4.01), no qual foi escolhido o projeto do arquiteto
italiano Luigi Pucci, como comentado anteriormente. O Hospital foi construído no
Arouche (atual bairro Santa Cecília), em estilo neogótico, e inaugurado em 1884
com menos de 150 leitos. Foi, segundo TOLEDO (2002) fortemente influenciado
pelos conceitos adotados no Hospital francês Lariboisière (ver item 5.4).
“Concebido com configuração pavilhonar em um único pavimento, exceto
na fachada com dois, com galerias cobertas interligando os diferentes
corpos, tinha como programa arquitetônico enfermarias que comportavam
de 200 a 350 leitos; recepção de doentes; gabinete médico, sala de
conferências médicas, sala de cirurgia e autópsia, dispensa e cozinha;
capela, necrotério; salão para provedoria, arquivo; biblioteca; casa de
banho e lavanderia”. (SILVA 1999; MONTEIRO 2001, apud FERNANDES,
2003:25)
Figura 4.01: Segundo edifício da Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo, na época da sua construção.
Fonte: Arquivo da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
(apud FERNANDES, 2003).
A partir do final do século XIX
surgiram também os hospitais
direcionados ao atendimento
médico das comunidades
imigrantes, como o Hospital
Samaritano (1894), para a
comunidade inglesa, e o
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
(1897), para a comunidade
alemã, austríaca e suíça. Este
foi construído próximo à Av.
Paulista, onde também se
instalou o Hospital Santa Catarina em 1906. Em 1904, com recursos do governo
italiano e dos imigrantes que começavam a prosperar, a comunidade italiana
construiu o Hospital Umberto Primo.
Em 1911, Emílio Ribas reestruturou novamente os distritos sanitários do Estado de
São Paulo, aumentando-os em número e reorganizando o seu quadro funcional. Os
serviços, neste período e até a década de 1930, organizavam-se em função dos
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
101
períodos críticos e eram desativadas quando as epidemias eram atenuadas ou
eliminadas. (SILVA, 1999)
“No final da década de 1920, com financiamento da Fundação americana
Rockefeller, inicia-se a construção da sede própria da Faculdade. Do
projeto original, elaborado pelo Escritório Técnico Ramos de Azevedo, onde
se previa a implantação de cinco blocos, o único prédio construído foi o de
Medicina Legal, que mais tarde remodelado, passou a abrigar o Instituto
Médico Legal. (...) Em 1925, com o propósito de obter elementos para
tornar a Faculdade de Medicina uma instituição modelar na área da saúde,
é nomeada uma comissão composta pelos professores Ernesto de Souza
Campos, Luiz Manuel de Rezende Puech e Benedito de Freitas
Montenegro, que visitou diversos centros clínicos e faculdades de países da
Europa e Estados Unidos. Em 1928, reiniciam-se as obras do edifício que
hoje abriga a Faculdade de Medicina. Edificado pela empresa de Ramos de
Azevedo, o prédio foi inaugurado em 1931”. (MAZZIERI, 2000, apud
FERNANDES, 2003:32)
Nos anos 1930 aumentou em São Paulo o operariado, ao passo que diminuiu a
aristocracia do café. Em 1931 a Secretaria de Estado do Interior se transformou em
Secretaria da Educação e da Saúde Pública, refletindo o caráter de centralização
política. Com o Estado Novo houve nova reforma (1938) no Departamento de
Saúde, restaurando-se as premissas de 1925. Nesse período foram criados
inúmeros Centros de Saúde no interior do Estado. (SILVA, 1999)
Devido ao grande índice de mortalidade por tuberculose em São Paulo, foi criado
em 1938 o Sanatório do Mandaqui (Hospital de Tratamento de Tuberculose). “Foi o
primeiro hospital governamental, especializado em tuberculose, instalado no Estado
de São Paulo, dando início a toda rede de hospitais de tuberculose do governo
estadual”. (Conjunto Hospitalar do mandaqui
6
)
Dentro da concepção da época de que o melhor tratamento para o tuberculoso
envolvia clima agradável e afastamento dos ruídos dos centros urbanos, este
hospital foi construído próximo a serra da Cantareira, afastado da parte de maior
concentração populacional da cidade de são Paulo. Já se investia no caráter
hoteleiro do hospital e psicológico do paciente
7
.
6
Disponível em <www.hospitalmandaqui.com.br/hospital/historia.asp>
7
Revista Acrópole, novembro de 1942
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
102
Na época o movimento cirúrgico era grande no Sanatório do Mandaqui. “Os
procedimentos maiores eram toracoplastias, cavernostomias, jacobeus,
plumbagens, além de biópsias, frenicotripsias cervicais e drenagens
pleurais. As ressecções pulmonares, como em outros centros (Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre) na década de 40 e inicio dos anos 50
eram de alto risco, ainda se usando o chamado “torniquete” (ligadura em
massa, com elástico, do hilo pulmonar ou lombar) acarretando
complicações graves (hemorragia, fístula, infecção). Somente a partir dos
anos 50, com um maior conhecimento da anatomia dos hilos pulmonares e
do apoio da medicação especifica, as ressecções entraram na rotina
cirúrgica”.
8
A luta contra a tuberculose, traduzida no esforço comum nacional para a construção
de sanatórios, só perdeu importância no cenário da saúde nacional no inicio da
década de 1950. O motivo foi o advento da quimioterapia específica, que modificou
o prognóstico e a evolução da doença, permitindo também a sua prevenção
9
.
Ainda durante a primeira administração do Governador Adhemar de Barros (1938-
1941), iniciou-se a construção do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC), cujo
primeiro edifício (atual Instituto Central) foi inaugurado em 1944. Segundo
VISCONTI (1999), a Escola de Enfermagem começou dentro deste edifício, e em
1947 construiu uma sede própria (projetado por Peter Pfisterer), tornando-se
unidade autônoma da USP em 1961.
Aos poucos foi se formando o atual Complexo do HC, com a inauguração do
Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT - Figura 4.02) em 1951, do Instituto de
Psiquiatria (IPq – Figura 4.03) em 1952 (projetado por Hernani do Val Penteado),
do Centro de Medicina Nuclear em 1949 (pioneiro do gênero no mundo), do
Instituto de Medicina Tropical em 1959, do prédio da Residência Médica em 1968,
do Prédio da Administração em 1972 (liberando espaço no Instituto Central), do
Instituto do Coração (InCor) em 1975, da Companhia de Processamento de Dados
de Estado de SP (PRODESP) em 1978, do Instituto dos Ambulatórios (PAMB) em
1979 (projetado por Rodrigo Lefévre), do Instituto da Criança (ICr) em 1979
(projetado por Hoover Sampaio), do Instituto de Radiologia (InRad) em 1990
8
Idem.
9
www.sppt.org.br/wp/?p=186
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
103
(projetado por Joaquim Guedes) e do Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP) em
2008.
Figura 4.02: Projeto do IOT.
Fonte: Revista Acrópole, 1942.
Figura 4.03: Projeto do IPq.
Fonte: Revista Acrópole, 1942.
A partir da década de 1950, o crescimento de São Paulo passou a ser pautado pela
migração de pessoas em busca de trabalho, e isto tornou insuficiente o atendimento
de saúde vigente. Impulsionado também por reivindicações da população pela
melhoria e expansão no atendimento, o setor de saúde pública se organizou
novamente com a criação do Ministério da Saúde (1953). “Durante o governo de
Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), iniciou-se uma nova fase de
desenvolvimento do Brasil e, como consequência, a modernização e evolução
técnico-científica dos edifícios hospitalares”
10
. Além disso, tornou-se necessária a
construção de novos hospitais e centros de saúde, para dar suporte à nova classe
trabalhadora, numa São Paulo em crescente urbanização.
Peça importante no planejamento de hospitais paulistas dos anos 1950 foi o médico
Odair Pacheco Pedroso. Como consultor hospitalar, ele trabalhou direta ou
indiretamente, nos estudos preliminares, instalação, organização ou direção do
projeto de 215 hospitais, tais como a Santa Casa de Misericórdia de Santos, o
Hospital Emilio Ribas e o Hospital do Servidor Público Estadual. Também
participou, em 1951, da elaboração da Codificação das Normas Sanitárias para
Obras e Serviços, bem como da revisão do Código de Obras Arthur Saboya, do
Município de São Paulo. Nos projetos que assessorou, Pedroso ajudou a traduzir a
modulação americana, de 3’ e 10”, para a modulação brasileira de 1,20x1,20m,
utilizada até hoje. Nos inúmeros cursos e palestras que proferiu pelo Brasil,
10
FERNANDES, 2003:34.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
104
defendeu a flexibilidade do edifício hospitalar e a necessidade do seu planejamento
para o futuro, com a possibilidade de ampliação. (FERNANDES, 2003)
Segundo FERNANDES (2003), na década de 1970 foram construídos em São
Paulo a Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, projetada pelo arquiteto Siegbert
Zanettini; e o Pronto Socorro Municipal Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, projetado
pelos arquitetos Antonio Jorge Monteiro Filho e Luiz Antonio Velasco. Na época
também foi criada a Região Metropolitana da Grande São Paulo (RMGSP),
havendo a integração e hierarquização da sua rede hospitalar através do Plano
Municipal de Saúde (PMS). Com ele houve a construção de diversas Unidades
Básicas de Saúde (UBS) e Hospitais Gerais (HG), durante as décadas de 1980 e
1990.
4.2 MOVIMENTO MODERNO
Entre os anos 1940 e 1960, período do ápice da produção moderna no Brasil, o
enfoque volumétrico elementarista foi amplamente adotado nos edifícios
hospitalares construídos no país
11
. Na década de 1950, que foi marcada pelo
segundo governo de Getúlio Vargas e pela “era JK”, verifica-se uma ampliação
considerável da estrutura hospitalar brasileira
12
.
Este foi um período rico da produção arquitetônica no Brasil, e, como comentado
anteriormente, houve a construção de muitos hospitais públicos. O planejamento
destes edifícios, por sua vez, adquiriu o caráter racionalista e inúmeros hospitais
foram projetados pelos mais significativos mestres da arquitetura da época por todo
o país. Obras como a Maternidade Universitária de São Paulo (1944) de Rino Levi,
o Hospital Sul América (1952) de Oscar Niemeyer, o Hospital das Clínicas de Porto
Alegre (1955) de Jorge Machado Moreira, o Hospital Fêmina de Porto Alegre (1955)
de Irineu Breitman e o Hospital Albert Einstein (1958) também de Rino Levi, são
alguns exemplares da significativa produção de hospitais realizada nesta época.
11
PERALTA, 2002
12
ALMEIDA, ZIONI e CHIORO, 1997:22-24.
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
105
Segundo o arquiteto Irineu Breitman
13
, os projetos mais proeminentes de hospitais
verticais no Brasil, que surgiram na década de 1940, apresentam configurações
semelhantes. As tipologias eram em sua maioria mistas (base + torre), onde a
internação era locada na parte verticalizada, com o centro cirúrgico no coroamento
da “torre”. Na base foram colocadas as atividades mais voltadas ao paciente
externo (administração, ambulatório, diagnóstico, emergência), junto às atividades
de apoio (cozinha, lavanderia, central de utilidades). O arquiteto destaca neste
período alguns projetos importantes que seguiram esta configuração, como o
Hospital das Clínicas de Porto Alegre (1942), de Jorge Moreira, e o Hospital para
pacientes tuberculosos para Porto Alegre (1948, nunca construído), dos Irmãos
Roberto, cuja tipologia era, porém, horizontal. Ainda nos anos 1940 pode ser
mencionada a construção do Hospital da Universidade do Brasil (1942), de Jorge
Moreira.
Na década de 1950 os projetos mais comentados foram o do Hospital do Câncer
em São Paulo (1954), de Rino Levi; do Hospital Infantil do Morumbi em São Paulo
(1954), de Oswaldo Bratke; do Hospital de Londrina (1956), de Vilanova Artigas; e
do Hospital de Base de Brasília (1957), de Oscar Niemeyer.
Rino Levi foi um arquiteto que se destacou neste contexto chegando a formas que
romperam com as tipologias hospitalares preexistentes (exemplos americanos dos
anos 1920 – edifícios em X, em H ou em duplo H, etc). Em seus hospitais, Levi se
orientava a partir de três diretrizes que moldavam o edifício: o agrupamento de usos
afins, agrupados em volumes independentes e organizados segundo relações
funcionais adequadas; o fluxograma de circulação, organizadores dos volumes e
definidos como circuitos especializados; e a flexibilidade das plantas, possibilitada
através de vedações internas removíveis, shafts de instalações e modulação dos
elementos da construção.
A série de hospitais de Rino Levi se inicia com a vitória no concurso para o projeto
da Maternidade da USP (premiado em 1951 na 1ª Bienal de São Paulo, porém
nunca construído), passando por vários projetos importantes em São Paulo e
culminando, entre 1959 e 1960, com sua contratação pelo Governo da Venezuela
para a implantação no país de uma rede de hospitais públicos.
13
Depoimento do arquiteto Irineu Breitman em palestra no Rio de Janeiro, em novembro de 2009.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
106
Figura 4.04: Maternidade Universitária USP
1944 – Arq. Rino Levi.
Fonte: PERALTA, 2002.
Figura 4.05: Hospital da Cruzada Pró-Infância
1950 – Arq. Rino Levi.
Fonte: MACHADO, 1992:220.
Segundo ANELLI e GUERRA (2001:185-186), o projeto desta Maternidade
apresentou algumas inovações:
“Um volume vertical abrigava as enfermarias, enquanto um volume
horizontal concentrava os centros cirúrgicos e setor técnico-científico. (...) A
lâmina maior era composta por duas partes, sendo que a mais adensada e
de menor extensão abrigava as principais circulações verticais e os serviços
de apoio. (...) Para permitir o controle de infecções hospitalares foi criado
um complexo sistema de circulação estratificada, fundamentado pelas mais
atualizadas pesquisas sobre o assunto”.
Figura 4.06: Maternidade Universitária USP: corte.
Fonte: ANELLI e GUERRA, 2001:156.
Figura 4.07: Maternidade Universitária USP:
perspectiva com esquema funcional.
Fonte: ANELLI e GUERRA, 2001:157.
O primeiro hospital de Rino Levi a ser construído foi o Hospital do Câncer, em 1947
(Figuras 4.08 e 4.09). Segundo ainda Anelli e Guerra, uma de suas inovações foi a
utilização do sistema de viagem direta nos elevadores, simplificando a separação
dos fluxos sem eliminar a segregação dos pacientes pagantes dos não-pagantes,
que ocorria desde a recepção.
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
107
Figura 4.08: Hospital do Câncer (1947).
Fonte: TOLEDO, 2002:33
Neste projeto, “vários recursos são utilizados para
permitir a flexibilidade: paredes leves de divisória,
forro liso sem nervuras aparentes e modulação
das aberturas. Câmaras de ar contínuas entre as
lajes do piso e do forro facilitam alterações nas
redes de instalações”. (ANELLI e GUERRA,
2001:160)
Figura 4.09: Hospital do Câncer (1947)
Arq. Rino Levi e Roberto Cerqueira César.
Fonte: Revista Construção São Paulo 1627, abril
1979:19
Outros arquitetos também se destacaram nesta época, como Oscar Waldetaro e
Roberto Nadalutti. Os mesmos trabalharam no Serviço Especial de Saúde Pública
(SESP) entre 1951 e 1952, e estagiaram em um curso de atualização em
arquitetura hospitalar dado no Public Health Service, em Washington. “Saindo do
SESP em 1953, fundaram a firma Oscar Waldetaro & Roberto Nadalutti Arquitetos,
que se tornaria um dos mais importantes escritórios especializados em arquitetura
hospitalar”
14
. Entre os seus projetos podem ser citados o Hospital das Clínicas de
Ribeirão Preto, de 1956, e o Hospital da Universidade de Santa Maria, no Rio
Grande do Sul. (TOLEDO, 2002)
Em 1953 foi a vez de Oscar Niemeyer, com seu projeto para o Hospital
Gastroclínicas (atual Hospital Dr. Edmundo Vasconcelos) em São Paulo. Alguns
anos depois o arquiteto projetou, em parceria com Hélio Uchoa, o Hospital Sul-
América (1959 – atual Hospital Geral da Lagoa) no Rio de Janeiro. Em ambos os
edifícios a tipologia adotada foi também a mista, contando, na época, “com o mais
equipado centro cirúrgico da América do Sul”. (CAVALCANTI, 2001:289) Também
em 1959 foi projetado o Hospital de Base de Brasília, de Niemeyer e Germano
Galler.
14
TOLEDO, 2002:53-54
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
108
Figura 4.10 – Hospital Gastroclínicas (Atual Hospital Dr.
Edmundo Vasconcelos), São Paulo.
Fonte: Revista Projeto, 176, 1994:57
Figura 4.11: Hospital Sul América (atual
Hospital Geral da Lagoa), Rio de Janeiro.
Fonte: CAVALCANTI, 2001:288.
A inauguração de Brasília na década de 1960 repercutiu muito na produção
arquitetônica brasileira, com a liderança de Vilanova Artigas em São Paulo e as
crescentes técnicas de pré-fabricação. Em 1960 houve o concurso para o Hospital
Santa Mônica em Belo Horizonte (atual Hospital Belo Horizonte), de Oscar
Waldetaro e Roberto Nadalutti. O segundo lugar ficou com Jarbas Karman, que
propôs uma tipologia horizontal, a qual começou nessa época a ganhar mais
espaço.
Entre o final da década de 1960 e a década de 1970, Breitman aponta como
importantes o Hospital Escola Júlio de Mesquita Filho (atual Fórum Criminal da
cidade de São Paulo), de Fábio Penteado e Eduardo de Almeida; o Hospital de
João Filgueiras Lima para Taguatinga, de tipologia horizontal e pré-fabricação
pesada; e o Hospital Vila Nova Cachoeirinha, de Siegbert Zanettini. Pode ainda ser
adicionado a esta lista o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
(“Hospital do
Fundão”), construído em 1978 por Jorge Machado Moreira, no Campus da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro).
4.3 INDUSTRIALIZAÇÃO E PADRONIZAÇÃO NA ARQUITETURA DOS
HOSPITAIS BRASILEIROS
Na década de 1980 começaram a aparecer no Brasil projetos fortemente
comprometidos com a padronização de elementos construtivos, destacando-se os
hospitais de Irineu Breitman para Santa Catarina e, especialmente, os de João
Filgueiras Lima (Lelé) para a Rede Sarah Kubitschek de Hospitais de Reabilitação.
Entre os projetos de Breitman estão o Hospital Regional Dr. Homero de Miranda
Gomes, em São José (1980), o Hospital Infantil Joana de Gusmão (1980), em
Florianópolis, e o Hospital Regional Hans Dietter Schmith (1984), em Joinville.
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
109
Nestes edifícios a modulação é aparente, e há a utilização de sheds na cobertura
das áreas mais horizontais, permitindo iluminação natural.
Figura 4.12: Hospital Regional Dr. Homero de
Miranda Gomes
São José – 1980 – Irineu Breitman
Fonte: Hospital Regional de São José Dr.
Homero de Miranda Gomes.
Figura 4.13: Hospital Infantil Joana de Gusmão
Florianópolis – 1980 – Irineu Breitman.
Fonte: BOING, 2003.
Figura 4.14: Hospital Regional Hans Dietter Schmith
Joinville – 1984 – Irineu Breitman.
Fonte: Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.
Nos projetos de Lelé a industrialização e a padronização desempenharam
importante papel, sendo pela primeira vez ensaiadas no seu projeto para o Hospital
de Taguatinga, em 1967 (Figuras 4.15 e 4.16). Segundo Lelé, algumas das ideias
experimentadas em Taguatinga foram posteriormente aplicadas na Rede Sarah.
“A execução da estrutura utiliza a técnica da pré moldagem. As instalações
em geral são aparentes ou correm por canaletas e galerias visitáveis. O
sistema adotado se ajusta à filosofia da obra quanto a flexibilidade e
extensibilidade, mas também visa criar facilidades para os serviços de
manutenção”. (LIMA, 1973, apud MINIOLI, 2007:3)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
110
Figura 4.15: Hospital de Taguatinga
Vista do Bloco de Internação.
Fonte: MINIOLI, 2007:3.
Figura 4.16: Hospital de Taguatinga
Elemento Pré-fabricado na fachada da Internação.
Fonte: MINIOLI, 2007:4.
Mais tarde, entre 1975 e 1980, Lelé projetou para Brasília a primeira instituição da
Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor, que por sua vez constitui um dos
objetos de estudo desta pesquisa. A construção do Hospital Sarah de Brasília foi
vanguarda na estandardização da construção hospitalar no Brasil, marcando o
início de uma das experiências mais ricas e inovadoras que o planejamento
hospitalar no país já teve notícia.
A implantação desta rede de hospitais permitiu a criação de um sistema autônomo
de pré-fabricação para os seus edifícios e mobiliário, abraçando de forma única a
eficiência e a plástica da construção industrializada.
O interesse de Lelé pela industrialização se deu já em 1957 na construção de
Brasília. Algum tempo depois, ...
... “trabalhando junto ao antropólogo e educador Darcy Ribeiro na recém-
nascida Universidade de Brasília, Lelé viaja pelo leste europeu para
investigar a tecnologia de racionalização do uso do concreto armado,
utilizada por países como União Soviética, Tchecoslováquia e Polônia,
então dominados pelo regime socialista. Ao contrário dos Estados Unidos,
cuja temática mais comum remetia ao uso do aço, o uso do concreto nestes
países, em prol de uma política de construção em massa e recuperação da
Segunda Guerra, aproximava-os da nossa realidade, segundo Lelé,
enquanto um país que não dominava a construção metálica. (...) Depois do
concreto pré-moldado, foi a argamassa armada, ou ferro-cimento, um
importante objeto de pesquisa de Lelé”. (EKERMAN, 2005).
4 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES BRASILEIROS
111
Em meados da década de 1980, Lelé e o médico Aloysio Campos da Paz decidiram
criar em Salvador não só mais uma unidade da Rede Sarah, mas também um
núcleo capaz de produzir industrialmente todos os elementos componentes deste
modelo de edifício hospitalar. “Surge assim o Centro de Tecnologia da Rede Sarah
(CTRS), uma fantástica fábrica de prédios composta por diversos núcleos de
produção: metalurgia pesada (estruturas), argamassa armada, marcenaria
(utilizando apenas aglomerados e compensados), injeção de plástico e fibra de
vidro, dentre outros. Até mesmo os equipamentos especiais de uso hospitalar,
como macas e camas
15
(Figura 4.17), são produzidos no núcleo de metalurgia leve,
com desenho exclusivo de Lelé, no intuito de integrar espaço construído,
equipamentos e usuários”. (EKERMAN, 2005)
Figura 4.17: Maca projetada por Lelé , de modo a dar
mobilidade ao paciente com dificuldade de locomoção
internado nos hospitais da Rede Sarah.
Fonte: ANTUNES, 2008
“O Centro de Tecnologia da Rede
Sarah Kubitschek (CTRS) iniciou suas
atividades no canteiro de obras do
Hospital Sarah de Salvador em 1992.
Hoje, é o responsável pela construção
e manutenção dos dez hospitais da
rede. O CTRS é mais do que uma
fábrica: é m grande centro de
produção e desenvolvimento de
tecnologia”. (ANTUNES, 2008:58)
A partir da experiência do Hospital Sarah de Salvador (1991) surgiu também a
utilização das galerias de manutenção das instalações como dutos de distribuição
de ar fresco à maioria dos ambientes do edifício (com exceção do Centro Cirúrgico),
funcionando como um verdadeiro ar-condicionado natural que combate o clima
soteropolitano (estável e quente).
Do CTRS, em Salvador, as peças são mandadas para todo o Brasil, fazendo a
manutenção dos edifícios existentes e construindo novas unidades
16
. Segundo
Lelé, em uma entrevista concedida à autora deste trabalho, atualmente o CTRS
está funcionando bem abaixo de sua capacidade, atendendo apenas a manutenção
15
“Recentemente a cama-maca foi modificada: agora, além de móvel, ela possui um sistema que permite sua
mobilidade vertical, para maior comodidade do paciente”. (ANTUNES, 2008:62)
16
EKERMAN, 2005
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
112
das unidades existentes da Rede Sarah. Não há demanda porque não há
atualmente nenhuma unidade da Rede em construção, e foi vetada a fabricação de
elementos construtivos para edificações fora da Rede, como era feito até alguns
anos atrás.
“Apesar de extremamente eficiente (produção de obras rápidas, baratas e
de qualidade), o CTRS teve sua produção barrada para outras obras fora
da Rede Sarah, como explica Lelé: ‘O Tribunal de Contas diz que fazemos
competição com a iniciativa privada e nos proibiram de produzir qualquer
coisa para fora, temos que trabalhar exclusivamente para a rede Sarah.
Prevíamos uma ampliação para essa fábrica, mas parou porque para fazer
só os hospitais da Rede Sarah não tem necessidade de aumentar’. Já
saíram do CTRS oito prédios para o Tribunal de Contas de Salvador, e
pequenas prefeituras por meio de convênios, em cidades da região Norte,
tudo antes da proibição”. (ANTUNES, 2008:58-59)
Como exemplos de experiências na estandardização de projetos de hospitais
brasileiros existem também alguns programas que foram desenvolvidos ao longo da
década de 1980 e início da década de 1990: Centro de Saúde e Hospital “Linha de
Frente” (1980), Hospital Pré-fabricado – Consórcio BDSL, Siemens, Servlease
(1984), Hospital Regional (1990), o Hospital Geral Padrão “HGU”, da segunda fase
do PMS (Plano Metropolitano de Saúde da Grande São Paulo), o Hospital da
Cooperativa Médica da Unimed (1997), de João Carlos Bross e Augusto Guelli e o
Hospital Mínimo do Ministério da Saúde (1997), de Siegbert Zanettini. (ver Anexo 3)
5
DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES
CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS A
SERVIÇO DA MEDICINA
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
115
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS A
SERVIÇO DA MEDICINA
A tecnologia pode ser definida como o conjunto dos conhecimentos científicos, dos
processos e métodos usados na criação e utilização de bens e serviços (HOUAISS,
2004). Para a evolução da medicina ela é elemento chave, e sem a qual não teria
sido possível o atual refinamento e sucesso no tratamento de muitas doenças. A
ciência só evoluiu em toda a sua amplitude com a ajuda dos artifícios tecnológicos,
que permitiram enxergar e analisar o interior do corpo humano, bem como os seus
variados componentes. Os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, por sua vez,
acompanharam todo o processo de absorção desta tecnologia
No intuito de depreender o processo do aumento da diversidade tecnológica a
serviço da medicina e aprofundar a sua relação com o ambiente construído, a
seguir será apresentado um estudo sobre a evolução das ciências médicas ao
longo o tempo, colocando quando e como a tecnologia passou a ser utilizada como
a sua mais poderosa aliada no tratamento da saúde. Concomitantemente será
descrita a história dos edifícios hospitalares, apontando as suas transformações
físicas e funcionais como o resultado direto ou indireto desta evolução científica e
tecnológica.
5.1 IDADE ANTIGA: AS ORIGENS DA MEDICINA NA GRÉCIA E NO ORIENTE
“Inicialmente, o médico só dispunha de seus sentidos para exame do
paciente. Com a visão, observava o enfermo, com o tato realizava a
palpação e a tomada do pulso; com a audição ouvia as suas queixas e
ruídos anormais; com o olfato podia sentir odores característicos. ‘O exame
clínico’, ensinava Hipócrates, ‘deve começar pelas coisas mais importantes
e mais facilmente reconhecíveis’. Verificar as semelhanças e as diferenças
com o estado de saúde. Observar tudo que se pode ver, ouvir, tocar, sentir,
tudo que se pode reconhecer pelos nossos meios de conhecimento".
(REZENDE, 2002)
Durante a Idade Antiga predominava na medicina a Teoria Humoral (também
chamada de Teoria Humoral Hipocrática ou Galénica, ou ainda Teoria dos Quatro
Humores), que constituiu a principal explicação racional da saúde e da doença
entre o século IV a.C. e o século XVII.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
116
“Segue as teorias dominantes na escola de Kos (ilha grega), segundo as
quais a vida seria mantida pelo equilíbrio entre quatro humores: sangue,
fleuma, bílis amarela e bílis negra, procedentes, respectivamente, do
coração, sistema respiratório, fígado e baço. (...) Segundo o predomínio
natural de um destes humores na constituição dos indivíduos, teríamos os
diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o bilioso ou colérico
e o melancólico. As doenças se deveriam a um desequilíbrio entre os
humores, cuja causa principal seria as alterações devidas aos alimentos, os
quais, ao ser assimilados pelo organismo, dariam origem aos quatro
humores”.
1
A prática médica na Antiguidade baseava-se na coleta e no processamento de
informações sobre as experiências com os pacientes (descrição de sintomas). Os
gregos Hipócrates (460-377 a.C.) e Claudius Galenus de Pérgamo (131-201 d.C.)
foram os primeiros a documentarem o processo de cura dos doentes. Dava-se
muita importância ao exame do pulso, e Galenus chegou a descrever 27 variedades
de pulso. Hipócrates foi o primeiro a usar a palavra diagnóstico (‘dia’ = através de,
em meio de; ‘gnosis’ = conhecimento), que significa discernimento pelo
conhecimento.
Em 280 a.C. Herophilus estudou o sistema nervoso e distinguiu os nervos
sensoriais dos nervos motores, enquanto 30 anos mais tarde Erasistratus de Chios
estudou as divisões do cérebro. Em 180 a.C. Galenus estudou a conexão entre a
paralisia e a ruptura da espinha dorsal, e em 220 a.C. o chinês Zhang Zhongjing
publicou o mais antigo tratado médico, chamado “Shang Han Lun”, focado em
diagnóstico, tratamento e prognóstico. Um século depois Pedanius Dioscorides
escreveu “De Materia Medica”, livro de farmacologia que foi utilizado por quase
1600 anos
2
.
Ainda muito incipientes, estas primeiras descobertas científicas não tiveram impacto
em termos arquitetônicos, na medida em que sequer existiam edifícios com a
função exclusiva de cura de doentes. Etimologicamente, a palavra hospital provém
do latim hospes que significa “relativo a hóspedes, hospitaleiro”, sendo que a
atividade desenvolvida pelos primeiros hospitais era a de hospedagem.
1
WIKIPÉDIA. Disponível em <pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_humoral>
2
WIKIPÉDIA. Disponível em <en.wikipedia.org/wiki/Timeline_of_medicine_and_medical_technology>
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
117
Durante muito tempo estas instituições foram concebidas como abrigo para
peregrinos, viajantes, pobres e, eventualmente, enfermos. De acordo com TOLEDO
(2002:13), “a principal função do hospital era a de servir como estrutura de
separação e exclusão, isolando os mais pobres e os enfermos da sociedade de
forma a minimizar eventuais riscos sociais e epidemiológicos”.
Até o século XVIII estar próximo de Deus era mais importante que a medicina
propriamente dita, sendo desenvolvida nestas edificações uma organização
espacial estruturada de acordo com os padrões religiosos da época. Na Grécia e
Roma antigas apareceram os primeiros edifícios realmente destinados a atender
doentes em busca da cura, (templos chamados Asklepieia) aplicando, todavia,
métodos de tratamento baseados em experiências espirituais (cura da alma e não
do corpo).
“As mais antigas civilizações de que temos conhecimento, como Babilônia, Egito,
Grécia, etc., tinham suas instituições hospitalares, que mais eram templos, os
médicos mais sacerdotes, tudo devido ao teor mágico e superstição reinante na
época”. (WATANABE, 1974)
O Império Romano marca o período em que SILVA (1999) julga ser a real origem
do hospital ocidental. Foi com os romanos que apareceram dois importantes
modelos de arquitetura sanitária na forma das Termas e, principalmente, das
Valetudinárias. As termas tratavam os doentes através de banhos termais e a
valetudinária era uma espécie de hospital militar de campanha, dando assistência
aos legionários e escravos das grandes propriedades agrícolas.
Durante a Baixa Idade Média verifica-se um crescimento da população, bem como
da importância do comércio e das cidades européias. Os hospitais, que ainda eram
sobretudo grandes hospedarias, também estavam se expandindo, sendo
compostos por três tipos básicos: os Hotel-Dieu (hospitais gerais), os Hospícios ou
Hospitalias (casas de hospedagem) e os Leprosários (hospitais especializados). Os
Hotel-Dieu surgiram no centro das cidades no século XI e abrigavam pobres e
enfermos; os Hospícios recebiam os peregrinos e viajantes nas entradas das
cidades; e os leprosários eram construídos longe das cidades e pintados de
vermelho para simbolizar a morte.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
118
5.2 IDADE MÉDIA: O AVANÇO DA MEDICINA NO ORIENTE
Cientificamente, somente o Oriente produziu conhecimento médico no período
medieval, com enciclopédias pioneiras na medicina (Islã, Pérsia e Arábia). Elas
apresentaram estudos sobre pediatria (838-870), sobre a distinção entre varíola e
rubéola (865-925) e sobre a cirurgia (1000), introduzindo, entre outras coisas, a
utilização de vários instrumentos cirúrgicos (cordas, fórceps, agulha cirúrgica,
bisturi, cureta, etc.)
3
.
Durante o século X também foram escritos os primeiros textos sobre oftalmologia
(1021 e 1403) e medicina experimental (1030), onde foram relatadas, por exemplo,
descobertas sobre doenças contagiosas, problemas dermatológicos, doenças
sexualmente transmissíveis e farmacologia. Foi inventada a traqueotomia e foi
iniciada a prática de dissecamento de cadáveres e da necropsia (1100-1161).
Aproximadamente cem anos depois (1242) foram apresentadas teorias sobre a
composição do coração e sobre a circulação pulmonar, bem como aferido que as
doenças infecciosas eram causadas por microorganismos
4
.
Com uma sociedade muito bem estruturada, o Império Bizantino “desenvolveu a
tecnologia de abastecimento de água para as cidades fortificadas, esforço de
organização que se traduziu no âmbito sanitário pela construção de numerosos
edifícios assistenciais” (BOING, 2003:34). Um destes edifícios foi o Xenodochium,
que já demonstrava preocupações em separar pacientes por sexo. Na cultura
islâmica, por sua vez, o modelo hospitalar chamou-se Bimaristan (bimar = pessoa
enferma, e stan = casa) e seu conceito de hospitalidade foi semelhante ao dos
cristãos. Nestes hospitais a água surgiu como um elemento de melhoria do conforto
térmico e da higiene, assim como os numerosos sanitários, as funções logísticas de
cozinha, dispensário de medicamentos à base de ervas medicinais – origem da
farmácia-, áreas de enfermagem e necrotério. (LE MANDAT, 1989, apud BOING,
2003)
3
Idem.
4
Idem.
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
119
Figura 5.01: Xenodochium Bizantino, Tessalonica, séc. VI (planta).
Fonte: LE MANDAT, 1989, apud MIQUELIN, 1992.
Figura 5.02: Bimaristan de Qalawun, Cairo, séc. XIII (planta).
Fonte: LE MANDAT, 1989, apud MIQUELIN, 1992.
No caso do Bimaristan vale apontar ações de vanguarda como a segregação dos
pacientes pelo seu estado de saúde, bem como a conservação de áreas para
acolher enfermos “agitados” ou “alienados” (doentes mentais). Os islâmicos eram
também preocupados com a higiene e salubridade, estabelecendo estratégias para
distribuição de água e ventilação. Pela clareza funcional demonstrada por estes
conceitos, foram nestes hospitais antecipadas idéias que só seriam resgatadas
pelos ocidentais no Renascimento, a partir do século XV.
No Ocidente, por sua vez, o desenvolvimento científico na área médica só começou
a ocorrer após o lento processo de rompimento da simbiose médico-religiosa.
Segundo SILVA (1999) o que encetou este movimento foi a proibição do exercício
da medicina por parte da Igreja (a cirurgia era considerada um sacrilégio), que
impulsionou a medicina laica, e apenas no c. XIII fez surgir em Florença uma
poderosa guilda que reunia sessenta profissionais da área.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
120
Nesta época – a Idade Média do século VI ao IX – quase não havia instituições
hospitalares no ocidente, fato que pode ser explicado pela fragilidade econômica e
social das aglomerações urbanas e pelo processo de ruralização da sociedade
européia. Nos feudos os locais para atendimento aos doentes restringiam-se às
enfermarias anexas às abadias cristãs. Nas cidades estes locais encontravam-se
espalhados e adaptados em casas modestas. Entre os séculos X e XII, este cenário
aponta mudanças, dando início à ascensão do saber médico e assistencial.
Ainda sob a influência religiosa, a morfologia básica do hospital medieval foi a nave
(Figura 5.03), cuja forma polivalente refletiu o avanço das tecnologias estruturais.
Com vãos cada vez maiores, houve melhora significativa na qualidade da
ventilação e iluminação. A separação dos doentes por patologias e sexo também foi
aplicada à organização funcional dos edifícios, cujos meios de abastecimento de
água foram então estudados e reconhecidos como importantes fatores na melhoria
das condições de higiene. (MIQUELIN, 1992)
Figura 5.03: Hospital Santo Espírito de Lubeck, 1286 (planta).
Fonte: MIQUELIN, 1992.
5.3 RENASCIMENTO: O AVANÇO DA MEDICINA NO OCIDENTE
O período do Renascimento iniciou-se com o crescimento da população e da
importância do comércio nas cidades européias do final do séc. XV, passando a
haver uma pressão para a expansão do número de hospitais e uma dispersão do
interesse na laicização dos hospitais cristãos. Nesta época a Europa já dispunha de
uma rede considerável de estabelecimentos hospitalares, sendo que Paris contava
com quarenta deles no início do séc. XIV. Neste período foram criadas novas
universidades e iniciadas profundas transformações sociais. A vida urbana, cada
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
121
vez mais intensa e dinâmica, estimulou avanços científicos como a criação da
imprensa (1462) e dos novos sistemas filosóficos. Neste cenário houve também o
abalo da Igreja Católica e o retorno ao experimentalismo na prática médica a partir
da releitura dos clássicos gregos. (SILVA, 1999)
Nos séculos XV e XVI houve grandes avanços com o surgimento da epidemiologia,
da histologia, anatomia e fisiologia. Foi especulada e apresentada a teoria
sistematizada da infecção e do contágio (Teoria dos Miasmas), descoberto o
processo de circulação sanguínea, desenvolvida a técnica de cauterização de
feridas e realizadas intervenções mais delicadas nas cirurgias. (SILVA, 1999)
Também no século XVII foi notabilizado o uso do microscópio, que tornou-se a
ferramenta básica da pesquisa médica. De acordo com SABBATINI (2000), o
microscópio é, seguramente, “o instrumento mais importante da história da
medicina, tanto na pesquisa e ensino, quanto no diagnóstico clinico”, sem o qual
não seria possível a bacteriologia, a histologia e a patologia.
“Durante toda a Idade Média e até o século XVII, a medicina ficou presa aos
ensinamentos e doutrinas antigas. Estudiosos como Galeno e Descartes
contribuíram muito para as novas descobertas desmistificando o pensamento
antigo, que ainda vigorava, e valorizando o pensamento científico”
5
. Com isto, ...
... “foi necessária a ampliação do poder da visão para que a natureza fosse
desvendada em seus menores elementos. Sendo o primeiro microscópio
inventado em 1590, por Johannes e Zacharias Jansen de Middelburg, na
Holanda. Em 1610, Galileu adaptou o telescópio para observar objetos
pequenos e, mais tarde, Leeuwenhoek foi pioneiro no uso da protozoologia
e bacteriologia. (...) Em 1676, ele descobriu os infusórios, organismos
ciliados microscópicos, iniciando a microbiologia”. (MARINELLI, 2003:73)
Somente no século XVIII os médicos começaram a estudar cadáveres e usar
manuais técnicos para diagnosticar pacientes. Nesta época também já se
examinavam os excretas, especialmente a urina; o exame físico também foi
aperfeiçoado com a percussão do tórax, introduzida por Auenbrugger e divulgada
na França por Corvisart. (REZENDE, 2002)
5
MARINELLI, 2003:73.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
122
Durante o século XVIII surgiu a figura do médico como a conhecemos hoje, cuja
prática é baseada em conhecimentos científicos sólidos
6
, sendo que em 1736 foi
realizada pelo francês Claudius Aymand a primeira apendicectomia bem sucedida.
Como se pode notar, a Renascença foi um período muito fértil no meio intelectual
da medicina. Entretanto, tais avanços demoraram a serem colocados em prática, e
não significaram grandes mudanças no cotidiano da população até o séc. XIX.
Continuavam as epidemias frequentes, as mesmas crenças, as práticas de saúde
familiares, os doentes amontoados nos hospitais a espera da morte, etc.
Houve, todavia, sérias mudanças nos conceitos originais dos edifícios hospitalares,
que paulatinamente se moldaram arquitetonicamente aos avanços científicos e
tecnológicos da época. A partir deste período o advento das técnicas de diagnóstico
e tratamento de doenças (medicamentos e cirurgia) alavancou o crescimento e a
especialização das atividades nos hospitais, inserindo-os no contexto urbano,
expandindo a sua abrangência e atraindo mais usuários.
“Vários autores citam o período do Iluminismo, no século XVIII, como sendo
a origem do Hospital Contemporâneo, em se tratando de tipologia e
instituição. Nesse período ocorre, segundo Foucault (1979:101), a grande
mudança que revoluciona essa instituição: a junção entre as séries médica
e hospitalar, fenômeno denominado de ‘Medicalização do Hospital’. Isso
aconteceu quando o hospital passou a se destinar às finalidades médicas,
passou a ter uma função terapêutica sobre os doentes, através do comando
funcional e administrativo da classe médica”. (DALMASSO, 2005)
Os edifícios hospitalares evoluíram em tamanho, forma e função:
“Enquanto na Idade Média a nave e suas combinações constituíram as
bases formais dos edifícios hospitalares, no Renascimento, as construções
tornaram-se mais complexas utilizando duas formas básicas: o elemento
cruciforme e o pátio interno ou claustro, rodeado por galerias e corredores.
O hospital-pátio, e suas variações em cruz, “T”, “L” ou “U”, são assim
formas hospitalares características da Renascença”. (VISCONTI, 1999)
O protótipo do hospital-pátio e suas variações em cruz foi o hospital italiano
Ospedale Santa Maria Nuova (1288). Na aplicação da tipologia deste hospital
6
MARGOTTA, 1998, apud MARINELLI, 2003:73.
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
123
seguiu-se o Ospedale Maggiore de Milão (1456), projetado por Filarete e tida por
vários autores como o mais importante hospital do Renascimento italiano.
No projeto deste hospital de Milão pode ser destacada a preocupação com os
aspectos de salubridade e saneamento do edifício (acesso fácil aos locais de banho
e existência de lavanderia, cabines sanitárias junto aos leitos e sistema sofisticado
de esgoto). Este foi o primeiro caso em que apareceu na literatura a configuração
de um sistema de instalações que, embora primário, envolvesse dispositivos e
técnicas de engenharia avançadas para a época. (BOING, 2003)
Figura 5.04: Ospedalle Maggiore, Milão, 1456. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: SILVA, 1999.
Segundo SILVA (2001), apesar deste processo de evolução dos hospitais, a prática
médica (clínica e cirurgia) até o séc. XVIII se desenrolava totalmente fora destas
instituições. Assim, vários autores estabelecem que o hospital contemporâneo –
enquanto tipologia e enquanto instituição – originou-se entre os séculos XVII e
XVIII, período em que a medicina foi paulatinamente se desvinculando da religião.
Os melhores hospitais que sobreviveram a este período estão localizados na
França.
Em 1746 houve a revolucionária invenção do motor a vapor pelo escocês James
Watts, dando origem à Revolução Industrial, o que tornou possível a substituição do
trabalho mecânico dos músculos de homens e animais, do vento e das águas,
principais geradores de energia e movimento até então. Revolucionou o setor de
transportes (ferrovias e embarcações a vapor) e criou diversos setores industriais.
“A Revolução Industrial, por sua vez, transformou radicalmente a economia e a
sociedade, em pouco mais de um século”. (SABBATINI, 1999)
Neste período foram lançadas novas bases tecnológicas para o projeto de edifícios
de hospitais. O Royal Naval Hospital (Inglaterra, 1756-1764) foi o protótipo de uma
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
124
nova tipologia pavilhonar, cujos princípios baseados na indústria naval
influenciaram todo o desenho na saúde pelos 250 anos seguintes, segundo
MIQUELIN (1992). O Royal Naval Hospital estabeleceu, pela primeira vez na
Europa Ocidental, um layout ordenado dos elementos da construção, com
separações funcionais e um claro padrão de circulação. (BOING, 2003)
Figura 5.05: Royal Naval Hospital, Inglaterra, 1756-1764. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: ROSENFIELD, 1969.
5.4 HÔTEL-DIEU: INÍCIO DO PLANEJAMENTO HOSPITALAR COMO
DISCIPLINA
Intensificando o desenvolvimento científico no planejamento hospitalar, no final do
séc. XVIII intensas reflexões foram despertadas a respeito do tema através da
necessidade de reconstrução do Hôtel-Dieu de Paris, cujo prédio havia sido vítima
de um incêndio de grandes proporções em 1772. Houve então a necessidade
flagrante de reconstrução deste hospital, que acolhia permanentemente centenas
de pacientes e não poderia deixar a cidade sem os seus serviços.
Como nesta época as taxas de mortalidade eram muito altas (inclusive no Hôtel-
Dieu), a salubridade dos hospitais foi severamente questionada, criticando aspectos
como a superlotação, a ventilação das salas e a higiene dos procedimentos
cirúrgicos. Este movimento caracterizou um momento histórico de aproximação
entre a técnica profissional e a arquitetura dos hospitais.
“No final do séc. XVIII, os hospitais e asilos urbanos de proporções
gigantescas, com níveis desumanos de mortalidade, insalubridade e
promiscuidade, são pesquisados por Tugot, Necker e Tenon. Os resultados
destes estudos formarão boa parte do arcabouço conceitual do
planejamento hospitalar durante o séc. XIX.” (MIQUELIN, 1992:40)
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
125
O cirurgião francês Jacques-René Tenon, que desempenhou papel importante
nestes acontecimentos, realizou uma série de relatórios analisando alguns hospitais
franceses. Ele e uma equipe designada pela Academia Real de Ciências (Lavoisier,
Laplace, Beilly, Coulon, Lassone, Daubeton e d’Arcel) estabeleceram, através dos
desenhos do arquiteto Bernard Poyet, um modelo de hospital onde se observou
uma forte estruturação dos serviços e dos compartimentos a partir dos eixos de
circulação. Triunfava a partir daí a organização pavilhonar horizontal.
“A consciência de que o hospital pode e deve ser um instrumento destinado a curar
aparece claramente em torno de 1780 e é assinalada por uma nova prática: a visita
e a observação sistemática e comparada dos hospitais”. (FOUCAULT,1979, apud
BOING, 2003:26)
Em 1788 Tenon publicou seus cinco relatórios em uma obra intitulada Mémories sur
lês hôspitaux de Paris (Memórias sobre os hospitais de Paris), que reunia os
trabalhos desenvolvidos na pesquisa de hospitais da época. No quinto relatório o
médico apresentou a organização hospitalar que substituiria o Hotel-Dieu, a qual
consistia na execução de quatro novos hospitais. As recomendações de Tenon
foram, entre muitas outras:
1. Número de leitos nunca superior a 1.200 unidades;
2. Redução do número de leitos por enfermaria;
3. Maior isolamento entre as enfermarias;
4. Condenação de salas contínuas;
5. Disposição das salas de modo a permitir a circulação do ar com aberturas
de todos os lados;
6. Colocação dos pavilhões em ordem paralela e orientados favoravelmente;
7. Exposição de fachadas, uma ao Norte e outra ao Sul;
8. Construção de um só pavilhão destinado aos enfermos ou dois pavilhões
em caso de escassez de terrenos;
9. Permissão para três andares, sendo os mais elevados, preferencialmente,
para os empregados, e o térreo e o intermediário para os enfermos;
10. Tratamento e implantação de jardins entre os pavilhões.
Por Tenon também foi estudada a volumetria das edificações para estabelecer a
relação entre as dimensões de cada pavilhão de enfermos e o número de leitos das
enfermarias, tentando assim assegurar o volume mínimo ideal de ar renovado e
fixar em três o número ideal de pavimentos. Em suas normas para a organização
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
126
interna do hospital, Tenon propôs meios de impedir os contágios através da
interdição ao uso de leitos coletivos; da separação dos doentes por categoria de
doença e por sexo (antes todos ficavam internados no mesmo espaço); de um
núcleo de serviços para cada pavilhão, sendo todos ligados a uma unidade central;
e de um serviço de registros para cada pavilhão. “Foram condenados os edifícios
hospitalares com partido em bloco (inspirados nos templos romanos) ou em cruz,
cujas plantas dificultavam, ou mesmo impediam a separação dos fluxos de
materiais contaminados (...), considerados como fatores de contágio e propagação
das infecções”. (TOLEDO, 2002)
“As diretrizes formuladas por Tenon contribuíram para a adoção de um
novo partido arquitetônico: o partido pavilhonar, cujas características
espaciais propiciavam um maior isolamento das enfermarias e a separação
dos diferentes fluxos hospitalares. (...) Ao longo do século XIX o partido
pavilhonar tornou-se hegemônico na Europa, constituindo sem sombra de
dúvida a mais importante resposta arquitetônica aos saberes e
procedimentos médicos de uma época marcada pelas descobertas de
Pasteur e Kock e pelos estudos de Lister sobre a utilização do ácido
carbólico na assepsia dos campos cirúrgicos”. (TOLEDO, s/d)
A eclosão da Revolução Francesa atrapalhou a execução dos planos de Tenon,
haja vista terem sido aplicados apenas na construção em Paris do Hospital
Lariboisière, em 1854 (Figura 5.06). Ele era composto por um conjunto de blocos de
três pavimentos, ligados por um grande corredor (galeria) e dispostos na forma de
“pente” em volta de um jardim retangular.
Figura 5.06: Hospital Lariboisiere, Paris, 1846-1854. (a) planta; (b) croqui.
Fonte: LE MANDAT, 1989, apud MIQUELIN, 1992.
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
127
A valorização da ventilação e iluminação naturais dominou o planejamento dos
edifícios deste período. Entretanto, segundo MIQUELIN (1992), foi uma estratégia
apoiada em conceitos equivocados. Estes se baseavam na “teoria dos miasmas”,
que se originou em meados do séc. XVIII e atribuía a propagação de doenças a
gases ou miasmas gerados por matéria orgânica em decomposição. Por causa
desta teoria, os planejadores desta época deram grande atenção aos sistemas de
ventilação, à grande distância entre os edifícios e à localização dos sanitários.
“Neste mesmo período, os saberes e procedimentos médicos passaram por
uma grande transformação decorrente de uma maior compreensão das
doenças e de suas formas de transmissão, do surgimento de novos
medicamentos e do desenvolvimento da engenharia clínica, que colocou a
serviço dos médicos uma infinidade de novos equipamentos que, por sua
vez, revolucionaram os diagnósticos e tratamentos, tornando-os muito mais
eficientes. (...) Paralelamente desenvolveram-se novas técnicas de
assepsia, que extrapolaram o campo cirúrgico para abranger todo o edifício
hospitalar, através de uma atitude pró-ativa no que se refere à limpeza da
edificação, à esterilização de materiais e equipamentos e à própria higiene
dos profissionais de saúde e dos pacientes. (...) Este conjunto de medidas
resultou num controle muito maior do ambiente hospitalar e,
conseqüentemente, na contenção das infecções hospitalares via
procedimentos e não mais através das barreiras físicas, como era comum
tanto nos hospitais pavilhonares como nos primeiros hospitais em
monobloco”. (TOLEDO, s/d)
A Teoria dos Miasmas foi definitivamente derrubada e, em 1865, iniciou-se a defesa
por procedimentos assépticos baseada nos trabalhos de Louis Pasteur – Teoria dos
Germes. Segundo VISCONTI (1999:18), “novas técnicas e procedimentos passam
a ser estudados para combater as infecções cruzadas a partir da descoberta do
papel das bactérias na contaminação dos doentes”. Elas podem ser transmitidas
não só pelo ar, mas também pelas mãos, roupas da equipe médica ou paramédica
e pelos equipamentos, não sendo, portanto, somente as distâncias que impediriam
a propagação das moléstias. (SCLIAR, 1998, apud BOING, 2003)
Pasteur também possibilitou a vinda dos hospitais para as cidades, na medida em
que graças às suas descobertas os riscos de contaminação foram reduzidos tanto
no interior quanto no exterior do edifício.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
128
5.5 SÉCULO XIX – O AVANÇO DA TECNOLOGIA A SERVIÇO DA MEDICINA
No século XIX os equipamentos médicos começaram a ser utilizados na assistência
à saúde, sendo que os dois primeiros foram o de Hutchinson, para medir a
capacidade vital dos pulmões
7
, e o manômetro de Herisson, para medir a pressão
sanguínea. Nesta época a semiótica foi enriquecida pela descrição de sintomas e
sinais característicos de muitas doenças, bem como pela idealização de manobras
e técnicas especiais de exame.
A instrumentalização do médico teve início com a invenção do estetoscópio por
Rene Laennec em 1816, seguida pelo emprego do termômetro, embora o mesmo
fosse conhecido desde o século XVII
8
. Além destes, outros acessórios foram
adicionados à maleta do médico, como o oftalmoscópio, abaixador de língua,
otoscópio, rinoscópio, martelo de reflexo, etc.
Em 1864 foram publicados os trabalhos de Rudolf Virchow, que substituiu pela
Patologia Celular a teoria da Patologia Humoral, até então norteadora do
pensamento médico. Na mesma época, como a taxa de mortalidade ainda era
muito elevada (80% a 90%), precisaram ser superados os problemas de infecção
hospitalar. Em 1865 o cirurgião inglês Joseph Lister lançou as bases da assepsia
estabelecendo a desinfecção dos instrumentos e das mãos dos médicos antes das
cirurgias, bem como a vaporização das salas.
Segundo SILVA (2000), aos poucos os preceitos de anestesia foram vulgarizados,
conduzindo a uma importante modificação do espaço hospitalar. A anestesia fez
diminuir o sofrimento do paciente, facilitando a realização das cirurgias. Criou-se no
hospital o bloco cirúrgico e seus serviços anexos, entre eles as áreas de
preparação e recuperação de pacientes (UTIs). As mortes diminuíram e o número
de leitos aumentou.
O aperfeiçoamento do microscópio, por sua vez, deu nascimento à microbiologia,
possibilitando o desenvolvimento das análises laboratoriais. Esta tecnologia revelou
a estrutura celular dos seres vivos, ajudou a identificar as alterações patológicas
7
Bright Hub. Disponível em <www.brighthub.com/health/technology/articles/7302.aspx>
8
REZENDE, 2002.
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
129
dos tecidos produzidas pelas doenças e ampliou a eficiência dos medicamentos.
(SABBATINI, 2000)
A contribuição do laboratório ao diagnóstico clínico foi imensa, desde a hematologia
até a bioquímica, imunologia e provas funcionais. Estas e outras ferramentas da
tecnologia médica propriamente dita, desenvolveram-se mais no decorrer do século
XX, junto ao diagnóstico por imagens, endoscopia e métodos gráficos
9
. Dentro dos
hospitais, novos espaços foram sendo criados para receber estas novas atividades,
embora lentamente.
Em 1895 o físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen descobriu o uso médico dos
Raios-X, cujo aparelho revolucionou a medicina ao permitir que os médicos
obtivessem imagens do corpo dos pacientes sem precisar abri-los. De acordo com
REZENDE (2002), podemos apontar a invenção da radiologia como o marco inicial
da era tecnológica na saúde. Por décadas foi a tecnologia mais avançada para
prevenir e detectar doenças, permitindo posteriormente o surgimento da
radioterapia.
“A descoberta dos Raios-X causou um grande impacto, tanto nos meios
científicos como entre os leigos. Sentia-se que algo de extraordinário fora
descoberto e previa-se uma nova fase para a medicina, o que efetivamente
ocorreu. Aos Raios-X seguiram-se outros métodos de obtenção de
imagens, como a cintilografia, ultra-sonografia, tomografia
computadorizada, ressonância magnética, e mais recentemente, tomografia
com emissão de pósitrons e gamagrafia”. (REZENDE, 2002)
Na segunda metade do século XIX muitos avanços foram alcançados na
engenharia mecânica, com o advento da eletricidade e das telecomunicações
(telefone, telégrafo, rádio). A indústria alimentou-se destas novas descobertas,
desenvolvendo, entre outros, os transportes (automóvel, navegação a vapor), os
materiais para construção civil (aço e concreto armado) e os equipamentos
mecânicos em geral (primeiras autoclaves). Estes avanços, junto às novas
possibilidades de comunicação, foram importantes para os hospitais.
“Entre as inovações tecnológicas que surgiram nessa época, destaca-se a
contribuição do engenheiro Casimir Tollet (1892), ao criar uma nova
solução para a renovação do ar nas enfermarias, por meio da construção
9
REZENDE, 2002.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
130
de paredes com seção em arco, numa reinterpretação racionalista da
arquitetura gótica, como escreveria Mignot (1983:229). A contribuição de
Tollet para a arquitetura hospitalar não se limitaria a esta proposta, nem aos
inúmeros hospitais que construiu na França, Itália e Espanha, já que foi
também o autor de um dos mais importantes tratados sobre a arquitetura
hospitalar de seu tempo, intitulado Les édifices hospitaliers depuis leur
origine jusqu’a nos jours. O livro de Casimir Tollet (1892), assim como
Hospitals and asylums of the world, de autoria de Henry C. Burdette (1891),
fazia uma ampla revisão da arquitetura hospitalar, levantando as
características físicas das unidades hospitalares, estudando de forma
sistemática o espaçamento das camas, as condições de insolação e
ventilação das alas, as instalações de calefação, a circulação do ar, custos
por paciente e coeficientes de mortalidade, e comparando os resultados
obtidos com parâmetros internacionais”. (TOLEDO, 2002:19-20)
Durante o séc. XIX o hospital tornou-se importante para o aprendizado e o mito de
que era um sinônimo de morte e pobreza começou a desaparecer. Após 1850 o
hospital passou a se tornar, por excelência, lugar de tratamento dos doentes e de
restabelecimento da saúde. Os fatores que levaram ao desaparecimento do mito
foram de ordem tecnológica, destacando-se o desenvolvimento da anestesia, o
surgimento de práticas de assepsia e o desenvolvimento da profissão laica de
enfermeira, que englobam as ações de Florence Nightingale.
A enfermeira inglesa Florence Nightingale desempenhou papel muito importante na
consolidação da tipologia pavilhonar em hospitais. Organizadora da profissão de
enfermeira, ela fundou em 1860 uma escola de enfermagem junto ao hospital
londrino St. Thomas, e também publicou diversas obras. Em Notes on Hospital
(1859) ela selecionou os elementos mínimos para o bom funcionamento de um
edifício hospitalar, sendo pioneira na percepção de que a saúde dos pacientes não
dependia só de cuidados médicos, mas também da organização e da configuração
espacial do edifício.
Nightingale estabeleceu as bases e dimensões do que ficou posteriormente
conhecido como Enfermaria Nightingale, sugerindo que os defeitos dos hospitais
existentes residiam principalmente na falta de modelos adequados de iluminação e
ventilação naturais, áreas mínimas por leito e na própria superlotação.
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
131
Figura 5.07: Enfermaria Nightingale, 1857.
Fonte: MIQUELIN, 1992
A tipologia pavilhonar baseada na enfermaria Nightingale estabeleceu o
zoneamento funcional, dividindo a instituição em internação, cirurgia e diagnósticos,
administração, serviços de apoio e consultórios para atendimento ambulatorial e de
casualidades. Um modelo célebre deste modelo está no hospital americano Johns
Hopkins, inaugurado em Baltimore em 1890.
Figura 5.08: Johns Hopkins Hospital, EUA, 1890. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: JAMES, 1986, apud BOING,2003.
No século XIX houve também a especialização dos hospitais para cuidar um único
tipo de doença. “Tomando Londres como exemplo, temos o hospital de olhos, de
1805; o hospital Torácico, de 1814; o hospital de ouvidos, de 1816; o hospital do
Câncer, de 1835; o hospital ortopédico, de 1838, e assim muitos outros.”
(PEVSNER, 1980:186)
No final do século XIX e início do século XX houve o aperfeiçoamento da cirurgia
com o uso de anestésicos e a melhoria na formação médica para cirurgiões. Assim
o centro cirúrgico ganhou mais importância e passou a ter presença obrigatória nos
hospitais, ocasionando também a diminuição das mortes e uma maior necessidade
de leitos de internação.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
132
“Do final do século XIX até meados do século XX, o progresso das ciências
médicas foi o maior de toda a história da humanidade. A fantástica evolução
da técnica médica acarreta fatalmente uma transformação radical no
conceito de hospital” (VISCONTI, 1999:17)
5.6 SÉCULO XX – POPULARIZAÇÃO DO USO DE TECNOLOGIA NOS
HOSPITAIS E AUMENTO DA SUA COMPLEXIDADE FUNCIONAL
Com a chegada do século XX, a medicina não parou de fazer descobertas e de
criar novos procedimentos, aperfeiçoando também os existentes. Logo, os edifícios
cresceram por agregarem mais funções, bem como por incorporarem novas
técnicas construtivas e de infraestrutura, como os equipamentos de transporte
vertical e de condicionamento do ar
10
. As formas arquitetônicas também mudaram a
partir deste cenário.
“No início do século XX, enquanto o partido pavilhonar consolidava-se na
Europa, surgia, na América do Norte uma nova proposta arquitetônica para
o projeto de hospitais: o monobloco vertical, partido viabilizado pelas novas
tecnologias de construção que então surgiam, como o concreto armado, os
elevadores e os sistemas de condicionamento e exaustão de ar. (...) O novo
partido permitia não só implantar os hospitais em terrenos menores do que
os necessários aos hospitais pavilhonares, assim como reduzia
drasticamente a extensão das longas circulações horizontais que os
caracterizavam”. (TOLEDO, s/d)
Os edifícios passaram a ser mais altos, sendo que a invenção do elevador
possibilitou a multiplicação dos pavimentos. Nos hospitais, o advento do
aquecimento central ou disperso, da refrigeração, do condicionamento do ar e dos
sinais luminosos contribuiu para a composição de grandes massas edificadas, com
economia de multiplicação de serviços e de transporte horizontal (carrinhos para o
transporte de suprimentos). (CAMPOS, 1952)
O modelo típico deste tipo de edifício era dividido em seis partes básicas
configuradas pelo subsolo, térreo, primeiro andar, andares intermediários, último
10
Em 1902 foi construído em Buffalo, Estados Unidos, o primeiro edifício especialmente projetado para receber
um sistema de ar condicionado, que foi o Larkin Administration Building, do arquiteto Frank Lloyd Wright.
(associatedhvacr.com/ACHistory.aspx)
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
133
andar e sótão. No subsolo agrupavam-se os serviços de apoio, no térreo os
consultórios médicos e as áreas de diagnóstico (radiologia), no primeiro andar o
laboratório e os serviços administrativos, nos andares intermediários as áreas de
internação, no último andar o Bloco Operatório e no sótão a moradia para
residentes médicos e de enfermagem.
Como protótipo deste modelo tipológico e organizacional está o Otawa Civic
Hospital (Figura 5.09), construído no Canadá na década de 1920. Com o mesmo
modelo outros hospitais foram simultaneamente construídos nos Estados Unidos e,
posteriormente, na França (Cité Hospitalière, de Lille em 1932, e Hospital Beaujon,
de Clichy em 1935) e na Suíça.
Figura 5.09: Otawa Civic Hospital. (a) planta; (b) corte; (c) perspectiva.
Fonte: MIQUELIN, 1992.
“O sistema de condicionamento de ar, cujo desenvolvimento não tinha mais
do que 20 anos, ficava no sótão, sobre o bloco operatório. Os elevadores,
lentos, caros e insuficientes, eram sempre o melhor local para o cruzamento
de fluxos incompatíveis. Logo se percebeu que os serviços com forte
tendência de crescimento, como radiologia e laboratório, não tinham espaço
para ampliação. As anatomias mistas foram a resposta na década de 1950”.
(MIQUELIN, 1997:104)
Segundo MARINELLI (2003:88), na década de 1920 teve início o processamento de
Sinais Biológicos, o que possibilitou o surgimento dos primeiros Eletrocardiógrafos,
e em seguida, na década de 1930, do Eletroencelógrafo – ambos revolucionaram a
cardiologia e a neurologia. No mesmo período, incentivando a verticalização dos
hospitais brasileiros, chegou ao país a fabricação do cimento e de barras de aço,
matéria prima para a execução de estruturas de concreto armado. Destaca-se a
construção do Edifício Martinelli, em São Paulo, entre 1925 e 1929. (FERNANDES,
2003:24)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
134
Para a universalização do atendimento hospitalar e a extinção do atendimento
domiciliar, a origem da mudança foi a popularização de novas tecnologias de apoio
ao diagnóstico e o grande desenvolvimento da indústria farmacêutica, sobretudo
entre 1930 e 1950. Com a disseminação da aplicação das técnicas de Raios-X e o
aumento da eficiência e da acessibilidade aos medicamentos, foi incentivado o
acesso ao hospital.
A mudança do perfil de usuários implicou na introdução gradativa de leitos
privativos de internação, sendo que na década de 1920 aparecem na Europa as
primeiras subdivisões nas enfermarias Nightingale. No hospital dinamarquês
Rigshospitalet Copenhagen, por exemplo, as enfermarias foram compartimentadas
com divisórias pela primeira vez. (MIQUELIN, 1992)
Nos anos 1920 os Estados Unidos foi o país que mais fez avanços na área médica,
incluindo a descoberta da insulina (1921) e das primeiras vacinas para a difteria
(1923), a coqueluche (1926), a tuberculose (1927) e o tétano (1927). Lá foi também
criado o primeiro respirador artificial (1927).
“Após a Primeira Grande Guerra Mundial os Estados Unidos tornaram-se a
maior potência econômica do mundo. Em 1920 a indústria norte-americana
era responsável por quase 50% de toda a produção industrial mundial. (...)
Enquanto isso os países europeus lutavam com dificuldade para reconstruir
a Europa no pós-guerra.” (COTRIN, 1999, apud BOING,2003)
Em 1928 foi descoberta a penicilina pelo inglês Alexander Fleming, possibilitando
assim a invenção dos antibióticos. Esta foi, segundo SABBATINI (2000) a
descoberta que “transformou mais profundamente a nossa história, ao livrar-nos da
maioria das infecções bacterianas que provocavam grande mortalidade no
passado, como a tuberculose, a pneumonia, a meningite, a sífilis, a crupe, a
gangrena, e outras”.
Alimentando novamente as tecnologias relacionadas à comunicação, “na década de
1940, um dos primeiros computadores digitais foi utilizado na Alemanha no Hospital
Heidelberg, para o registro de tumores”
11
. Segundo SABBATINI (1999), isto
permitiu, mais tarde, invenções derivadas como a internet, a multimídia, as
telecomunicações digitais, os CDs, os aparelhos ‘inteligentes’, os bancos de dados,
11
MARINELLI, 2003:76.
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
135
etc., todos aplicados atualmente nos procedimentos médicos e revolucionando os
edifícios hospitalares, como veremos nos próximos capítulos desta dissertação.
Com expansão do conhecimento exigido para o diagnóstico e o tratamento dos
pacientes, nesta época intensificou-se a especialização médica, que se refletiu no
aumento da complexidade dos equipamentos. Aumentou também o número de
dados necessários para diagnosticar e tratar os pacientes, inflando a quantidade e
a importância dos dados nos documentos armazenados nas áreas de
arquivo/registro médico. As áreas administrativas cresceram dentro das instituições
hospitalares.
5.7 PERÍODO PÓS-GUERRA: ACELERAÇÃO
Segundo SCHMIDT (2003), as discussões até esse momento eram mais sobre a
localização dos setores do que sobre o dimensionamento ou modulações
estruturais, o que comprometia a flexibilidade dos projetos. Com a passagem das
duas guerras, o cenário mudou com a ascensão dos conceitos de construção
racional em série. Foram feitas pesquisas, especialmente na Europa, para
aperfeiçoar o sistema hospitalar da época, haja vista os seus altos custos de
manutenção e readaptação.
A tipologia que surgiu dessa realidade foi a Torre e Base, que misturava as
vantagens da tipologia pavilhonar, com amplos setores no subsolo e térreo,
somados à torre destinada a internações e centro cirúrgico. Com essa tipologia
nasceu também a necessidade máxima da modulação e do uso de tecnologias
passíveis de modificações que gerassem poucos transtornos. (SCHMIDT, 2003)
A tipologia mista, cujo protótipo foi o Hospital Memorial França-Estados Unidos
(Saint Lô, França), foi a mais reproduzida na arquitetura dos hospitais brasileiros da
época, na medida em que se tornou dominante no traço modernista de arquitetos
como Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Oscar Niemeyer e Helio Uchôa, Ari
Garcia Rosa, Jorge Moreira e Aldary Toledo, Oscar Waldetaro e Roberto Nadalutti.
(TOLEDO, 2002)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
136
Figura 5.10: Hospital Memorial França-Estados Unidos, Saint-Lô, 1955. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: MIQUELIN, 1992.
Frente às perdas das duas guerras, os avanços dos meios de cura às doenças e o
movimento de reconstrução das cidades devastadas, a indústria se empenhou
muito no desenvolvimento de tecnologias para a construção em série e a
estandardização em geral. Impulsionado por esta era da máquina e pela ascensão
dos conceitos modernistas, o hospital procurou se tornar uma “máquina de cura”
através de uma sistematização e especialização funcional cada vez maior.
“O novo hospital, originado nos EUA nas décadas que se seguiram ao fim
da Segunda Guerra Mundial, cresce em tamanho e complexidade e deve
abrigar convenientemente a tecnologia que surgia, apresentando um
programa compartimentado em áreas para: diagnóstico, tratamento,
cirurgia, administração, refeição e apoios. Até 1980, nos anos do Estilo
Internacional, prevaleceu o lema ‘menos é mais’ entre os arquitetos. O
hospital transformou-se em um local para aplicação dos princípios
modernistas, num esforço em expressar os ditos da era da medicina
tecnológica. (...) A expressividade do Estilo Internacional era aclamada por
administradores como a expressão arquitetônica perfeita na idade da
medicina de alta tecnologia. Agora era possível reduzir o hospital à sua
essência estrutural e permitir que se tornasse um recipiente de máquinas
para curar”. (VERDERBER e FINE, 2000, apud DALMASSO, 2005)
A grande reconstrução mundial que marcou o período após a Segunda Guerra
instigou uma acelerada busca pelo aperfeiçoamento científico e tecnológico.
Surgiram os antibióticos e as doenças infecciosas perderam espaço para as
doenças degenerativas, ao passo que caiu por terra a necessidade de isolamento e
distanciamento entre os pacientes. A radioterapia evoluiu muito devido ao aumento
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
137
de potência dos aparelhos graças à eletrônica e o início da utilização de isótopos
12
.
Entrementes, os sistemas de condicionamento mecânico de ar sofisticaram-se
rapidamente, bem como os métodos industriais de transporte e manuseio de
suprimentos nas instituições de saúde.
Neste período, com o intenso refinamento técnico dos procedimentos realizados na
assistência aos pacientes, progressivamente exigiu-se mais dos vários ramos da
tecnologia. O controle das condições do ar, por exemplo, se tornou cada vez mais
importante para as cirurgias, equipamentos, computadores, tratamento de
patologias relacionadas ao metabolismo e sistema imunológico. A medicina, a partir
deste momento, cobrou respostas da indústria com maior proximidade e frequência,
no intuito de melhorar o tratamento e, especialmente, o diagnóstico das doenças.
Foram adicionas à medicina novas máquinas como as de Tomografia
Computadorizada, Medicina Nuclear e Ressonância Magnética. Estas
possibilitaram a criação de novos setores de assistência dentro dos hospitais,
atraindo cada vez mais os pacientes externos. Com equipamentos caros que não
podiam ser facilmente transportados, pessoas de todas as classes sociais
passaram a frequentar mais certas áreas dos hospitais, o que representou
mudanças muito importantes nos seus edifícios.
Segundo entrevista com o engenheiro Manuel Moreira, o primeiro passo para a
criação destes novos equipamentos foi a invenção do Transistor em 1948, elemento
que substituiu nas máquinas a utilização de válvulas e iniciou a microeletrônica.
“A invenção do transistor é considerada a mais importante do século XX. Esse
minúsculo dispositivo revolucionou a eletrônica e as comunicações.” (SIQUEIRA,
2008)
A partir daí os equipamentos médicos ficaram mais rápidos e possibilitaram atender
mais pacientes num espaço menor de tempo. Segundo Moreira, se antes o exame
conseguia atender 15 pacientes por dia, com o tempo ele passou a atender 120,
aumentando o número de procedimentos de acordo com a eficiência do
equipamento.
12
MARINELLI, 2003:7.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
138
5.7.1 Década de 50
Segundo MIQUELIN (1992) foi na década de 1950 que as ciências médicas se
desenvolveram com maior aceleração, ressaltando os avanços na cardiologia, no
diagnóstico por imagem, na cirurgia em geral, nas análises laboratoriais e nos
serviços de processamento e distribuição de materiais. Merecem destaque nesta
época o surgimento do Microscópio Eletrônico, dos estudos sobre Medicina Nuclear
e dos princípios do sonar (equipamento detector de ondas sonoras), desenvolvidos
durante a Segunda Guerra e aplicados ao diagnóstico por imagem através da
Ultrasonografia.
Durante as décadas de 1950 e 1960 o movimento moderno influenciou muito a
consolidação de uma arquitetura funcionalista nos edifícios hospitalares, aplicando
veementemente os conceitos de racionalização e padronização (ver Anexo 1). Foi
nesta época que surgiram também os primeiros documentos norteadores de
projetos desta natureza. Uma das primeiras recomendações para hospitais foi
lançada na França em 1954, com um documento com regras lógicas para a
articulação das unidades hospitalares (MIQUELIN, 1992). No Brasil a primeira
norma veio em 1956 para guiar áreas mais específicas das instituições
13
, e em
1964 e 1965 seguiram-se as mais gerais relacionadas a todo o edifício
14
.
5.7.2 Década de 60
“Os anos 1960 e 1970 viram crescentes avanços em tecnologia, não só na
área clínica com transplantes, micro-cirurgias e antibióticos sintéticos, mas
também na área de assistência com sistemas de comunicação, sistemas
automatizados de movimento de materiais, infraestrutura sistematizada e
estrutura de construção como as usadas no McMaster University Medical
Centre”. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY
15
)
Nos anos 1960 houve o início da informática em saúde (que consiste na utilização
da tecnologia e dos recursos em informática na área da saúde individual e coletiva)
13
1956: “Lavanderia no hospital”; 1960: “Cozinha no Hospital”. (KOTAKA, 1992:4)
14
1964: “Hospitais especializados e suas características” e “Plantas, projeto e construção de hospitais e
estabelecimentos para hospitais”; 1965: “Projetos de normas disciplinadoras das construções hospitalares”.
(KOTAKA, 1992:4)
15
Disponível em <muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
139
com a implantação de computadores de grande porte, destinados à administração
de grandes hospitais e processamento estatístico de dados. Logo vieram os
computadores de médio e pequeno porte, que abriram caminho para a utilização da
informática na área clínica e técnico - cientifica. (MARINELLI, 2003)
Nesta década intensificaram-se os estudos relacionados ao planejamento
hospitalar. A estandardização, a modulação e a pré-fabricação nas instituições de
saúde ganharam destaque com pesquisas britânicas (Serviço Nacional de Saúde
da Grã-Bretanha) e norte-americanas (US Veterans Administration), as quais
desenvolveram módulos básicos para estrutura, serviços e espaços nos hospitais.
O foco estava na melhoria de desempenho e adaptabilidade dos seus edifícios,
bem como na diminuição do seu tempo de planejamento e dos seus custos
operacionais. (ver Anexo 2)
No mesmo período foi dada atenção especial aos sistemas de instalações (água,
gases medicinais, energia, telefonia, etc.) nos edifícios hospitalares. Surgiu nos
Estados Unidos o pavimento técnico como ferramenta estratégica de compactação
das instalações prediais. Eles passaram a formar, junto aos dutos verticais (Shafts),
um sistema independente na infraestrutura do edifício, constituindo uma evolução
do forro falso para esconder as instalações e, sobretudo, facilitar a manutenção
com pé-direito adequado para o acesso dos profissionais.
5.7.3 Década de 70
As técnicas de imagem digital foram implantadas como uso clínico pela primeira
vez, nos anos 1970, possibilitando o surgimento da Tomografia Computadorizada
(TC ou CAT – Computerized Axial Toography – 1975). Em seguida foi desenvolvido
o exame de Ressonância Magnética (RM ou MRI – Magnetic Resonance Imaging),
que foi introduzido nos hospitais para diagnóstico em 1983.
Neste período foi criado também o equipamento PET (Positron Emission
Tomography), na área de Medicina Nuclear. Ocorreram, segundo MARINELLI
(2003), avanços a na cirurgia e na microscopia, que culminaram na endoscopia.
Esta possibilitou a realização de cirurgias mais precisas e menos invasivas,
permitindo menos sofrimento ao paciente e uma recuperação muito mais rápida.
Segundo SABBATINI (2003), a introdução da internet no meio hospitalar aconteceu
também nesta época, quando a principal aplicação era o email. Foi quando, no
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
140
Brasil, a informática aplicada à medicina começou a ser pensada em alguns
hospitais, principalmente no Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no
Instituto do Coração e no Hospital das Clínicas de São Paulo e Ribeirão Preto. A
informática médica teve uma grande arrancada em 1983, com a criação de novos
grupos dedicados a esta área de conhecimento, pesquisa e ensino. (MARINELLI,
2003)
Nesta época também surge nos Estados Unidos a Engenharia Clínica, uma nova
especialidade técnica da área médica que “tinha como objetivo a segurança elétrica
dos equipamentos, evoluindo para o conceito atual. Tal necessidade adveio de
inúmeros acidentes, nesse campo, com pacientes e profissionais da saúde”.
(CORNIALI e LEITE, 2003:104)
Na arquitetura foram desenvolvidos estudos sobre as medidas de modulação nos
hospitais e sobre a longevidade dos equipamentos e instalações médico-
hospitalares. Foi estabelecida a modulação estrutural de 7,20 x 7,20m (múltiplo de
30cm) e foi constatado que, por durarem bem menos que a edificação, os
equipamentos e instalações necessitam de atenção especial à sua manutenção. O
edifício, antes estático, começa a consolidar o caráter dinâmico.
Na determinância das necessidades da tecnologia sobre o desenho dos espaços,
novas preocupações vieram à tona nos hospitais durante este período. Entre elas
destacaram-se as necessidades de expansibilidade, de flexibilidade, de
racionalidade (qualidade, custo e velocidade) e de humanização
16
. Segundo
VISCONTI (1999) é nesta época que se intensifica a preocupação em retardar o
processo de envelhecimento dos hospitais, que já apresentam dificuldades em
adaptarem-se às inconstantes variáveis científicas e tecnológicas.
Nota-se que a partir da década de 1970 fica mais evidente a transformação
arquitetônica nos hospitais, que partiram de uma estrutura pequena ao redor de
poucos serviços para se transformarem na complexa multiplicação das áreas
especializadas. Foi apontado então o novo modelo de hospital produzido pela
valorização do atendimento ao paciente externo, “um fenômeno crescente e
16
Algumas destas necessidades, porém, já haviam sido apontadas pelos estudos da Grã-Bretanha nos anos 1960.
(ver Anexo 2)
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
141
decisivo que acaba com a bipolaridade exclusiva entre a internação e as áreas
assistenciais”. (CASARES, 1994, apud SCHMIDT, 2003:31)
5.7.4 Década de 80
A tecnologia da Ressonância Magnética, inicialmente investigada nos anos 1950 e
intensamente pesquisada no início da década de 1970, somente foi aplicada nos
anos 1980, quando os primeiros protótipos do equipamento foram testados em
pacientes clínicos. As máquinas foram liberadas para comercialização nos Estados
Unidos em 1984 e o seu uso se espalhou pelo mundo rapidamente desde então.
O aperto econômico por que passaram os hospitais no final da década de 1980 e
durante a década de 1990, obrigou-os a modernizarem seus processos
administrativos e produtivos. Além disso, a necessidade de redução de custos, nos
hospitais fez emergirem estratégias como a priorização de pacientes críticos nas
internações, a redução de tempo de internação de pacientes e a promoção de
serviços para pacientes externos.
Nos anos 1980 e 1990 pesquisas assinalaram o aumento das áreas por leito, na
medida em que aumentou a demanda de pacientes e foram incorporados novos
serviços nas instituições (serviços de diagnóstico por imagem, por exemplo). Além
disso, aumentou a necessidade de privacidade do paciente, agora com maior poder
aquisitivo. Para isso foram construídas mais enfermarias (suítes) individuais, as
quais ganharam mais espaço e se tornaram mais sofisticadas.
Foram introduzidos os conceitos de hotelaria nas áreas de internação dos hospitais,
intensificando a discussão sobre a humanização dos edifícios e sobre a psicologia
ambiental nos espaços hospitalares.
5.7.5 Década de 90
O atendimento à saúde e as transformações dos edifícios hospitalares, na década
de 1990, foram marcados pelas influências de ordem política e econômica, no
Brasil e nos Estados Unidos. Houve crise, e esta pode ser atribuída também ao
crescimento da dimensão física e funcional das instituições de saúde.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
142
Segundo BURKHART (1995), houve a diminuição do atendimento de pacientes
internos, enquanto os serviços para pacientes externos e unidades de atenção
especial como maternidade e centro de câncer cresceram. Como sintoma,
NESMITH (1995) colocou o crescimento do número de centros de atendimento ao
paciente externo fora do hospital (Unidades Ambulatoriais).
Clínicas particulares e Centros de Diagnóstico multiplicaram-se, muitas vezes
permanecendo ainda próximos dos hospitais por uma questão de logística.
Cresceram no Brasil as empresas de Planos de Saúde (ver Capítulo 4) e com isso
mudou o perfil de muitos usuários e serviços nos EAS. Como consequência, os
edifícios também se modificaram.
Surgiram nos hospitais brasileiros áreas administrativas voltadas ao atendimento
dos pacientes conveniados aos Planos de Saúde, segregando muitas vezes o
atendimento dos mesmos em relação aos pacientes vinculados ao SUS (Sistema
Único de Saúde). Além disso, aumentou o número de hospitais voltados ao
atendimento privado.
Segundo PEARSON (1995), nos Estados Unidos os anos 1990 foram marcados
pela crise em muitos hospitais, onde se falava em fechar algumas instituições,
diminuir os investimentos em assistência médica e negar atendimento aos
imigrantes ilegais no país. Em Nova Iorque recomendou-se a venda ou locação de
onze hospitais públicos, e em Los Angeles o orçamento para o sistema de hospitais
e clínicas públicas foi cortado pela metade.
Na época o arquiteto Erich Burkhart comentou que os hospitais estavam muito
caros para serem construídos e levavam muito tempo para serem planejados,
sendo ainda muito inflexíveis. O arquiteto também dizia que “a indústria para a qual
estamos desenhando está mudando mais rapidamente do que os próprios
projetos”
17
. A discussão, apresentada na forma de um artigo da revista Architectural
Record, foi pautada pela comparação destes hospitais a “dinossauros”, pois
estavam se tornando muito grandes e muito caros para adaptarem-se ao cenário de
rápidas mudanças da saúde.
17
PEARSON (1995)
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
143
5.7.6 Século XXI
Os anos 2000 foram marcados pelo surgimento e desenvolvimento da terapia
gênica, que consiste em evitar ou tratar doenças através da interferência direta no
código genético (DNA) contido nas células. Chamada de medicina molecular,
constitui “uma metodologia extremamente nova, e ainda polêmica, por não ter
apresentado resultados consistentes até agora, apesar dos enormes investimentos
feitos em pesquisa e em desenvolvimento. Mas ninguém duvida que ela seja o
futuro da medicina, a vitória definitiva contra muitas doenças”. (SABBATINI, 2000)
“A medicina genética, a médio e longo prazo, causará mudanças na
prevenção de doenças e, conseqüentemente, no espaço para tratar essas
doenças. Uma das mudanças consiste na elevação da idade geral da
população, devido à prevenção antecipada de doenças. O projeto
GENOMA, com o mapeamento dos genes humanos revolucionará os
métodos e as formas de tratamento das doenças atuais, bem como sua
forma de prevenção”. (SCHMIDT, 2003:246)
Segundo o engenheiro Carlos Hernandez, os sistemas de compartilhamento e
transmissão de imagens (PAX, TI) foram introduzidos nos hospitais por volta de
2003 e 2004. Apesar das inseguranças legais e da resistência cultural dos próprios
médicos, no ano seguinte surgiram nos Estados Unidos os primeiros hospitais
inteiramente digitais (“paperless hospitals”), com o Orlando Regional Healthcare, o
Indiana Heart Hospital, o Baptist Center South e o Oklahoma Heart Hospital,
destacando-se ainda o Hospital espanhol Torrevieja Salud.
Em 2006, “pela primeira vez (no Brasil) um robô realizou sozinho uma cirurgia de
coração à distância”. Isto ocorreu no Centro Cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês, em
São Paulo, 20 anos após a primeira cirurgia com intervenção robótica no mundo,
que ocorreu na França em 1988. (OLIVEIRA, 2008)
Mais recentemente (2009), outro destaque na área tecnológica que apoia a
medicina foi o desenvolvimento de um sistema de cirurgia guiada simultaneamente
por equipamentos de diagnóstico por imagem, ainda em experimentação no
Brigham and Women’s Hospital, instituição norte-americana vinculada ao MIT
(Massachusetts Institute of Technology). Chama-se Advanced Image-guided
Operating Suit (AMIGO) e se tornou um programa pioneiro no mundo em terapia
guiada, em tempo real, com o auxílio dos equipamentos de Ressonância Magnética
e de PET.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
144
Segundo CHRISTIE, CHEFURKA e NESDOLY
18
hoje existe uma extensa lista de
tendências tecnológicas na área médica, a qual inclui:
Continuados avanços clínicos tendendo à miniaturização e mobilidade;
Descentralização de serviços e equipe técnica (assistência multidisciplinar);
Avanços dos sistemas de comunicação e informação para registro do
quadro de saúde do paciente (Telemedicina);
Crescimento dos procedimentos minimamente invasivos, reduzindo as
pernoites nos hospitais;
Expansão das clínicas de pacientes externos;
Crescente reconhecimento da contribuição da família no processo de cura;
Aceitação gradual dos benefícios dos modos de terapia não tradicionais
(massagens, acupuntura);
Aumento do acesso à informação pelo próprio paciente, que se torna cada
vez mais exigente;
Aumento da pesquisa clínica integrada ao ambiente de assistência.
Frente a tantos avanços e variáveis a serem consideradas no planejamento dos
espaços para os equipamentos médicos, o que tem impressionado é a rapidez das
transformações geradas e também a mudança do paradigma, como coloca Sidnei
Dias, em seu texto “A Cultura da Mudança e a Mudança de Cultura”.
Quando um engenheiro projetava uma máquina em 1940, ...
... “a sua grande preocupação era com a robustez do equipamento, pois,
tinha, segundo os conceitos de tecnologia da época, que construir uma
máquina que durasse a vida toda. Esse conceito de vida eterna vinha da
visão que a mudança tecnológica era muito lenta, portanto, a máquina iria
demorar muito tempo para ficar obsoleta”. (DIAS, 2003:8)
Já em 1990, o mesmo engenheiro está agora velhinho, porém muito atualizado e
ainda projetando máquinas, adaptado ao desenho digital.
“Sua visão de tecnologia está totalmente modificada, pois saiu dos sistemas
totalmente mecânicos para usufruir da eletro-pneumática,eletrônica e suas
variações, portanto está projetando máquinas com alto conteúdo
tecnológico e com uma visão de que esse equipamento terá uma vida útil
18
Disponível em <muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>
5 DINÂMICA DE TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS À SERVIÇO DA MEDICINA
145
tecnologicamente atualizada de aproximadamente seis anos”. (DIAS,
2003:9)
Dez anos depois, entrando no século XXI, ...
... “os avanços da micro-eletrônica e da informática tornaram os
equipamentos cada vez mais complexos e inteligentes, porém tendo uma
vida útil tecnologicamente atualizada muito curta. A obsolescência dos
equipamentos é um dos fatores de grande preocupação das organizações
que querem se manter competitivas, pois todos os dias temos grandes
novidades no que diz respeito a tecnologia. Estamos iniciando um período
onde o conceito de descartável está tendo uma grande ênfase em função
dessas transformações”. (DIAS, 2003:9)
Compreendendo a evolução da ciência e das tecnologias a serviço da medicina
relacionada à evolução arquitetônica dos hospitais é possível determinar que a
relação entre a tecnologia e a arquitetura sempre foi muito próxima. A prioridade
dos edifícios hospitalares é garantir a saúde dos seus usuários e, para isso, é
necessário que os mesmos acompanhem o desenvolvimento da medicina e das
tecnologias nas quais se apóiam os tratamentos.
Haja vista o grau de determinância da forma dos edifícios pelos avanços da
medicina, pôde ser verificado a cristalização do hospital contemporâneo como um
conjunto articulado de agrupamentos ou zonas de atividades. Nesta nova fase, vem
dominando a prática de uma construção menos preocupada com fatores tipológicos
ou de inserção urbana, distanciando-se do racionalismo estético pela dificuldade
em manterem-se volumes puros nos edifícios (muitas expansões e edificações
anexas).
Ao que parece, a discussão atual se concentra na busca de flexibilidade nos
projetos de novas instituições de saúde, pois a complexidade de sua organização
funcional aumentou muito. Neste sentido, pode-se observar a existência de um
movimento destinado a reverter este quadro.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
146
6
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
RECENTES
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
149
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
6.1 COMPARTILHAMENTO E PROCESSAMENTO DE DADOS E IMAGENS
6.1.1 Informática Médica
O advento da informática transformou os padrões de transmissão de informações
na cultura humana. Durante séculos, os registros de todas as espécies foram
realizados em papel ou pergaminhos. Com o surgimento do registro em meio
magnético, com toda sua sofisticação e durabilidade, novos conceitos e
possibilidades se apresentaram e os registros ganharam uma face multifuncional.
1
“Desde a formalização da disciplina em 1974, a informática médica está em
crescente desenvolvimento e cada vez mais ela é de extrema importância
para a área da saúde”. (MARINELLI, 2003:76)
Segundo MARINELLI (2003:90), a digitalização de imagens teve seu início no final
da primeira grande guerra. O grande avanço aconteceu por volta de 1964 na NASA
(National Aeronautics and Space Administration), quando o processamento de
imagem foi utilizado em grande escala para processar as imagens da lua enviadas
pela sonda Ranger-7. Hoje o grande desenvolvimento desta área se deve ao
desenvolvimento de componentes eletrônicos menores, mais baratos e potentes,
democratizando o acesso a esses equipamentos e exames.
No Brasil a informática aplicada à medicina entrou com certo atraso em relação aos
EUA e Europa, tendo início nos primeiros anos da década de 1970,
simultaneamente em alguns centros universitários, principalmente no Hospital da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto do Coração e nos
demais Hospitais do Complexo HC de São Paulo e Ribeirão Preto. Segundo
MARINELLI (2003:117), o Hospital Albert Einstein implantou seu prontuário na rede
interna (prontuário eletrônico) em 1998, e o Instituto do Coração o fez em 2000. O
Hospital Sírio Libanês foi um dos pioneiros na conexão entre hospitais através do
sistema de videoconferência, onde foi implantado um projeto piloto nas enfermarias,
possibilitando a conversa entre o paciente e o médico. Lá houve também a primeira
Telecirurgia brasileira.
1
Clicsaude. Disponível em: <www.clicsaude.com.br/pub/materiaview.asp?cod_materia=229, 2006>
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
150
De acordo com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, “a saúde é uma
das áreas da qual há maior necessidade de informação para tomada de decisões”.
Como campo científico, a Informática Médica lida com recursos, dispositivos e
métodos para otimizar o armazenamento, recuperação e gerenciamento de
informações biomédicas, atuando como Sistemas de Informação em Saúde,
Prontuário Eletrônico do Paciente, Telemedicina, Sistemas de Apoio à Decisão,
Processamento de Sinais Biológicos, Processamento de Imagens Médicas, Internet
em Saúde e Padronização da Informação em Saúde. (MARINELLI, 2003)
Segundo PEARSON (1997:166), embora ocupem espaços pequenos, as novas
tecnologias computacionais podem ter um grande impacto nas instituições de
saúde, significando a descentralização funcional e até a descentralização
institucional dos próprios hospitais. “Em última análise, o arquivamento eletrônico e
o compartilhamento de informações e registros podem permitir que mais funções
ocorram fora do hospital”
2
. A filosofia é a de que não se devem transportar átomos
quando se podem transportar bytes.
6.1.2 Prontuário Eletrônico
O Prontuário Eletrônico já se encontra muito disseminado entre os hospitais, apesar
das barreiras culturais e legais envolvidas. Disponibiliza informações através de um
meio hipermídia, “com as vantagens de melhorar o acesso aos dados (uso mais
veloz e dinâmico), aumentar a legibilidade das informações, eliminar dados
redundantes e pedidos de exames repetidos, organizar os dados de forma
sistemática e melhor estruturada, permitir a visualização de vários dados ao mesmo
tempo (planilhas, exames), permitir a verificação automática dos dados, permitir o
apoio automático à decisão, permitir a busca coletiva, permitir as análises
estatísticas e permitir a pesquisa”. (MARINELLI, 2003:83)
Ao invés de consultar várias folhas de papel com anotações e resultados de
exames, o processo é acelerado quando o médico possui em um notepad sem fio
todas as informações do paciente digitalizadas. Segundo MARINELLI (2003:127),
em um laboratório de análises clínicas, por exemplo, “um analisador bioquímico de
2
Tradução livre da autora para: “Ultimately, the electronic storage and sharing of information and records might
allow more functions to happen outside the hospital”. (PEARSON, 1997:166)
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
151
sangue, que realiza um grande número de análises, já tem um computador
embutido que pode ser ligado à rede do hospital, de forma que não há mais
necessidade de digitação dos resultados, entrando o exame diretamente no
prontuário eletrônico do paciente”.
6.1.3 Telemedicina
A Telemedicina, de acordo com MARINELLI (2003:83-84), “é um termo que se
refere ao exercício da atenção à saúde utilizando comunicações interativas de
áudio, imagem e dados. (...) Quase todas as especialidades médicas podem utilizar
a Telemedicina. Mas as que utilizam imagens como meio de diagnóstico (radiologia,
ultra-som, etc.) são as mais beneficiadas”.
O surgimento da Telemedicina é atribuído às primeiras explorações espaciais feitas
pelos Estados Unidos e União Soviética da década de 1960, quando os sinais vitais
(vídeo, com e parâmetros fisiológicos com a finalidade médica) dos astronautas
puderam ser enviados do espaço. “Através do êxito deste monitoramento ficou
comprovado que a Telemedicina poderia ser utilizada no campo da assistência a
saúde encurtando distâncias”. (MARINELLI 2003:83)
Já na década de 1970 muitos países, como Inglaterra, Canadá, Suécia, Japão, etc.,
se interessaram por esta ferramenta, embora a maioria dos seus projetos tenha, na
época, fracassado pela baixa velocidade da telecomunicação digital na época. Na
década de 1990, todavia, a Telemedicina ressurgiu, por causa dos avanços
tecnológicos, do maior conhecimento da tecnologia por parte dos profissionais da
saúde e do preço mais acessível das telecomunicações. (MARINELLI, 2003)
Segundo SABBATINI (1998), a Telemedicina é uma forma de se prestar assistência
médica quando o paciente está fisicamente distante do médico. “Ela envolve a
transmissão de imagens estáticas, vídeos, informações sobre o paciente, sinais de
eletrocardiografia, etc., através dos meios de telecomunicações, como cabos, fibra
ótica, satélite, rádio digital e internet”.
“A incorporação da tecnologia telemática vem diminuir a necessidade de
deslocamentos não apenas fora do Estabelecimento de Saúde, mas
também dentro dele, agilizando o atendimento aos pacientes, com isso
possibilitando que mais pessoas sejam atendidas, diminuindo o número de
funcionários que antes eram necessários para o transporte de informações
(resultado de exames laboratoriais, exame de Raios-X, prontuário, etc.) e
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
152
diminuindo por conseqüência o numero de pessoas circulando pelos
corredores da instituição, diminuindo o risco de infecção hospitalar”.
(MARINELLI, 2003:113)
De acordo com MARINELLI (2003:84), a Telemedicina pode ser classificada em:
Telediagnóstico, onde há o envio de dados de sinais
3
e imagens médicas,
dados laboratoriais, etc.;
Telemonitoramento
4
, onde há o registro de dados vitais de um paciente e o
envio contínuo destes dados a um local remoto de análise, interpretação e
alerta (possibilidade do doente ficar em casa);
Teledidática, onde há o ensino médico à distância;
Teleconsulta, onde há o envio de imagens médicas a qualquer distância
para a troca de ideias entre profissionais;
Telecirurgia, onde há demonstrações por teleconferência de cirurgias,
realização de procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos através de
dispositivos pequenos a serem teleguiados pelo cirurgião no corpo do
paciente, onde há o manuseio de instrumentos cirúrgicos tradicionais por
robôs ou onde há a robotização de instrumentos cirúrgicos, operados por
cirurgiões distantes fisicamente do local onde ocorre o procedimento;
Telesocorro, onde o paciente possui controle portátil em terminais
domésticos, a serem acionados pedindo socorro imediato;
Teleterapia, onde há realização de procedimento em casa com
equipamentos médicos ligados a centrais, que enviam, verificam e
monitoram os dados do paciente;
Teleambulância, onde ambulâncias são equipadas com sistemas de
telemedicina (agilidade no atendimento).
3
“Entre os sinais biológicos implementados com sucesso em telediagnóstico estão: eletrocardiograma,
eletroencefalograma, pressão e fluxo sanguíneo, eletromiografia, eletrooculograma, potenciais evocados cerebrais,
eletrogastrograma, temperatura corpórea, ritmo cardíaco e freqüência cardíaca”. (MARINELLI, 2003:118)
4
“O cardiobipe é o principal sistema de telemonitoramento. Este sistema consiste em um aparelho portátil de ECG
que o paciente encosta no peito, pressiona um botão por alguns segundos e em seguida transmite para a central,
encostando o aparelho no bocal do telefone”. (MARINELLI, 2003:118)
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
153
6.1.4 Processamento de sinais biológicos
O Processamento de sinais biológicos “começou na década de 1920, com a
descoberta do tríodo, uma válvula amplificadora de voltagens, que possibilitou o
surgimento dos primeiros eletrocardiógrafos, e em seguida, na década de 1930, o
eletroencelógrafo. (...) Com a invenção dos computadores eletrônicos, a partir da
década de 1940, surgiu a possibilidade de registrar e processar sinais biológicos de
forma digital”. (MARINELLI, 2003:88)
“É óbvio que o futuro do processamento de sinais médicos é digital. E
também podemos prever que a informatização dos consultórios e hospitais
fará, cada vez mais, a utilização de equipamentos que serão capazes de
fornecer diretamente o sinal em forma digital para armazenamento nos
sistemas de informação sobre o paciente, sem necessidade de registros em
papel, e facilitando grandemente o acesso e a análise dessas informações”.
(SABBATINI, 1995, apud MARINELLI, 2003:89)
6.1.5 Processamento de imagens médicas
O Processamento de imagens médicas por meio de uma rede de computadores
surgiu inicialmente com o Sistema de Informação Radiológica, que demonstrou que
é possível a utilização de sistemas computadorizados para facilitar o gerenciamento
de filmes no setor de radiologia. “Até pouco tempo (e ainda hoje) as imagens eram
registradas em filmes e o seu armazenamento requer espaços muito grandes no
departamento de radiologia”, o que é minimizado com o processamento e
compartilhamento digital de imagens. (MARINELLI, 2003:92)
“Há vários fatores que contribuíram para a multiplicação de exames que
produzem imagens, como, por exemplo, o desenvolvimento dos princípios
da captação de imagens e a evolução e barateamento dos computadores.
Hoje em dia a tendência é a geração de imagens digitais até nos exames
tradicionais de Raios-X”. (MARINELLI, 2003:90)
Segundo ALMEIDA (2002, apud MARINELLI, 2003:92), “a aquisição digital de todas
as imagens dentro do hospital possibilita a redução de espaço físico para
arquivamento de exames realizados, custo material, redução do trabalho de
manuseio dos filmes, rápida recuperação de imagens via pedido à base de dados e
alta velocidade de transmissão de imagens através da rede”.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
154
A transmissão de dados e imagens digitais nas organizações hospitalares inclui,
entre outros, Sistemas PABX, Central de Agendamento (Call Center), Sistema
Unificado de Mensagens, Sistema de Chamada de Emergência, Circuito Fechado e
Aberto de TV (CFTV e CATV), Controle de Acesso, Sistema de Detecção de
Incêndio, Rede de informática LAN, WAN e WLAN, Rede para Imagens (PACS –
Picture Archiving and Communication System), Sistema para Telemedicina, Rede
de Cabeamento Estruturado (fibras ópticas), Sistema de Tecnologia da Informação
(TI) na área da Saúde e Infraestrutura de Network. (COUTINHO, 2003)
Com o advento das novas tecnologias da informação veio também preocupação
com a organização dos diversos sistemas de informática e de gerenciamento do
edifício, bem como com a configuração das redes internas e externas de
comunicação, a integração de novos serviços de valor agregado, a flexibilidade
para a adaptação da rede para a mudança de uso do espaço, e a conexão aos
serviços de comunicação
5
.
As salas de TI
6
(Tecnologias de Informação), hoje comuns nos hospitais, são
geralmente os locais onde esta organização é feita, como pôde ser verificado em
visita ao Hospital e Maternidade São Luiz - Anália Franco, em São Paulo.
Nos edifícios hospitalares, a Telemedicina também criou outros espaços
específicos que anteriormente não eram necessários. Para oferecer serviços como
o Telemonitoramento, o Telesocorro e a Teleterapia, tornou-se necessária a criação
de salas, dentro ou fora de suas instalações, com telefones e computadores onde
profissionais possam atender pacientes a distância.
6.1.6 Cabeamento estruturado
Dando suporte às tecnologias telemáticas e aos novos sistemas de
compartilhamento e processamento de dados e imagens está o cabeamento
estruturado e as redes sem fio, que estão se disseminando cada vez mais.
5
MARINELLI, 2003:148-149
6
“No projeto destas salas devem ser levadas em consideração fontes de interferência eletromagnética, vibração,
altura do pé-direito e ele deve ser provido de sistema de ar-condicionado”. (MARINELLI, 2003:157)
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
155
“O sistema de cabeamento estruturado é um sistema para uso integrado em
comunicação de voz, dados, imagem, preparado para atender ao mais
variados layouts de instalação, por um longo período de tempo, sem exigir
modificações físicas da infraestrutura. Um só cabeamento atende diferentes
tipos de redes de sinal”. (MARINELLI, 2003:138)
O cabeamento estruturado surgiu no início da década de 1990, e no Brasil, essa
técnica começou a ser utilizada por volta de 1993.
7
Segundo MARINELLI
(2003:139), foi um grande avanço para os sistemas de comunicação, aprimorando
e sofisticando bastante os projetos de edifícios em geral.
“Os equipamentos deste sistema (central telefônica, servidor de rede, HUB,
central de alarme, supervisor geral, etc.) podem ser instalados em uma
sala, e as interligações com sistemas externos podem ficar nos shafts,
dependendo do edifício. O cabeamento vertical, que pode ser por
barramento, interliga a sala de equipamentos com os painéis distribuidores
locais, localizados em diversos pontos da edificação”. (MARINELLI,
2003:139)
6.1.7 Redes sem fio
As redes sem fio (Wireless), por sua vez, constituem um “sistema de comunicação
de dados flexível implementado como uma extensão, ou como uma alternativa às
redes de cabeamento estruturado. Este sistema de rede utiliza a tecnologia de
radiofrequência ou infravermelho e transmite os dados através do ar, diminuindo a
necessidade de cabos. (...) O usuário acessa a rede sem a preocupação com o
lugar para se conectar”. (MARINELLI, 2003:145)
Porém, as redes locais sem fio ainda não possuem tecnologia para substituir as
redes locais com fio, pois implicam em investimentos altos e possuem uma
velocidade de transmissão considerada baixa em comparação ao sistema cabeado.
(MARINELLI, 2003)
7
Ministério da Educação. Disponível em:
<paraiso.etfto.gov.br/docente/admin/upload/docs_upload/material_dbe64d7c19.pdf>
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
156
Há ainda a promessa de redes de eletricidade sem fio (Witricity), que ainda estão
em fase experimental
8
. Apesar dos recentes avanços, são muitos os obstáculos
para transmitir-se energia entre elementos mais distantes.
Com o advento destas tecnologias que possibilitam a circulação virtual de dados e
imagens, muitos hospitais aderiram ao conceito paperless (sem papel). O
Oklahoma Heart Hospital (Ok Heart) foi um dos primeiros hospitais no mundo a ser
totalmente apoiado no meio digital.
O Indiana Heart Hospital (EUA) e o hospital espanhol Torrevieja Salud, em
Valência, foram desde o início planejados para serem inteiramente digitais,
suprimindo o uso do papel. No Indiana Heart Hospital, pesquisas internas mostram
uma redução de 85% nos erros médicos, de 65% nos atrasos e de 45% no custo de
atualização de arquivos, se comparado a hospitais baseados na utilização de
papéis. Médicos também reduziram em um terço o tempo gasto atualizando dados.
(VERSHBOW, 2005)
Sobre esta experiência em Indiana, todavia, o arquiteto Arthur Brito comenta que na
prática não foi de todo satisfatória, pois houve a resistência de médicos e da própria
legislação à ferramenta digital.
Além dos hospitais sem papel há ainda os hospitais sem fios, que são ainda uma
utopia por causa da falta de eficiência e confiabilidade da tecnologia wireless em
procedimentos médicos. Com exceção da Internet em Saúde
9
, a maioria das ações
diretamente relacionadas ao tratamento do paciente ainda exigem um nível de
eficiência muito alto, melhor oferecido pelos meios físicos de transmissão de dados
e imagens (fios e cabos).
Em termos de tecnologias wireless em hospitais, existem os “dispositivos sem fio
utilizados pelos médicos para checar resultados de exames, visualizar imagens de
8
“Cientistas americanos conseguiram transmitir com sucesso eletricidade entre dois aparelhos sem o uso de
cabos ou fios. No experimento, realizado por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e
relatado na revista científica ‘Science’, foi acesa uma lâmpada de 60W localizada a dois metros de distância da
fonte de energia”. (FILDES, 2007)
9
A internet em saúde é utilizada para a disseminação do conhecimento médico e das informações sobre as
próprias instituições de saúde (serviços oferecidos), incluindo a realização de procedimentos administrativos a ela
vinculados (marcação de exames e consultas, registro on-line de pacientes a serem internados, transações
financeiras, etc.).
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
157
Raios-X, atualizar prontuários, organizar prescrições e enviar e receber e-mails”
10
.
No caso do Baptist Medical Center South (EUA), totalmente eletrônico, KING (2005)
relata que as enfermeiras utilizam, ao lado dos leitos, “dispositivos sem fio sobre
rodas para registrar o progresso do paciente e checar as instruções dos médicos.
(...) O que está notavelmente ausente em todo o lugar é papel”
11
.
6.1.8 Edifícios Inteligentes
Além dos sistemas relacionados à transmissão e troca de informações, existem
também os responsáveis pela segurança e automação predial, caracterizando
assim os Edifícios Inteligentes. Eles são definidos por ASPERTI (2003), como
aqueles que incorporam dispositivos de controle automático aos sistemas técnicos
e administrativos. Incluem o monitoramento de todo o edifício pelo sistema de rádio
e TV, o controle dos acessos, os alarmes contra roubo, o controle de abertura e
fechamento de portas a distância, o controle de rondas e itinerários, o sistema de
detecção de incêndio, (alarmes, iluminação de emergência e hidrantes), o
insuflamento de ar nas escadas de emergência, e a automatização dos transportes
verticais e do abastecimento de água, gases e energia.
“A automação dos serviços de saúde abrange todas as áreas do
estabelecimento. Controla e racionaliza processos desde a entrada de
pacientes, consultas e internações, pronto-atendimento, centro cirúrgico,
ambulatório, internação e enfermagem e apóia e automatiza atividades
administrativas como faturamento, compras, estoques, dispensação,
distribuição, etc.” (MARINELLI, 2003:155)
MARINELLI (2003:149-150) dá o exemplo do sistema de abastecimento de água,
onde ...
... “é possível monitorar o nível dos reservatórios, quais bombas estão
funcionando, se alguma está com defeito, o consumo de água diário e o
controle da qualidade da água consumida, que é um dos fatores de controle
de infecção hospitalar”.
10
Tradução livre da autora para: “physicians at the brand-new hospital make their rounds toting wireless devices to
check lab results, view X-rays, update charts, order prescriptions and send and receive e-mail”. (KING, 2005)
11
Tradução livre da autora para: “At bedsides, nurses use wireless devices on wheels, or WOWs, to record
progress notes and check doctors' orders. (…) What's conspicuously absent everywhere is paper”. (KING, 2005)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
158
No monitoramento dos sistemas de transporte vertical, ...
... “a automatização do sistema de elevadores possibilita o controle de
abertura e fechamento de portas, subida e descida, determinando a
prioridade de atendimento a chamadas e a seqüência em que as chamadas
serão atendidas”. (MARINELLI, 2003:150)
Nos hospitais, a infraestrutura dos espaços direcionados a atender as necessidades
de telecomunicações não necessariamente deve ser implantada desde o início do
projeto, mas deve ser prevista a possibilidade de sua implantação no futuro.
(MARINELLI, 2003)
“Previsões arquitetônicas talvez seja um dos mais importantes temas no
conceito dos ‘edifícios inteligentes’, dada a flexibilidade que deve atingir o
edifício para dar respostas aos avanços contínuos quanto às
comunicações, informática, automação etc, assegurando longa vida às
instalações fixas”. (CASTRO NETO, 1994, apud MARINELLI e CAMARGO,
2004:35)
6.2 EQUIPAMENTOS DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
As novas tecnologias a serviço da medicina têm trazido aos hospitais uma miríade
de equipamentos, especialmente nas áreas de Diagnóstico e Tratamento. Nas
últimas décadas aumentou a variedade de equipamentos com a capacidade de
fotografar e filmar o interior do corpo humano, trazendo aos hospitais mais
pacientes externos. Junto ao aumento da demanda e da diversidade de doenças,
cresceram também as expectativas quanto aos equipamentos, e isto motivou a
realização de pesquisas extensivas pela indústria deste setor.
Fomentadas pelo surgimento da microeletrônica, muitas empresas aceleraram o
processo de aperfeiçoamento dos seus equipamentos, procurando atender às mais
variadas necessidades dos profissionais da área médica. As premissas eram maior
conforto físico, sonoro e funcional. Ou seja, seriam mais competitivos equipamentos
menores, menos robustos, mais facilmente manuseáveis, menos pesados, com
menor número de equipamentos de apoio, menos ruidosos, com funções mais
compactadas, etc. As mudanças eventualmente ocorreram, na medida em que
muitos equipamentos diminuíram de tamanho, perderam peso, se tornaram mais
silenciosos e agregaram mais funções numa só máquina.
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
159
Com as constantes novidades no meio tecnológico que serve o diagnóstico e o
tratamento das doenças, principalmente nas atividades diretamente relacionadas
aos pacientes, os equipamentos médicos se tornaram cada vez mais eficientes e
passaram a ser intensamente produzidos e comercializados. Este processo acabou
motivando e, de certa forma, pressionando as instituições de saúde a adquirir novas
e melhoradas tecnologias o tempo todo.
O primeiro importante equipamento usado para o diagnóstico médico foi o de
Raios-x. Ele foi criado em 1895 e por décadas foi a tecnologia mais avançada para
prevenir e detectar doenças. A partir principalmente da segunda metade do século
XX, o uso extensivo das máquinas de Raios-x somou-se ao advento da tecnologia
digital, que permitiu o surgimento das novas modalidades em Imagenologia e
ocasionou uma explosão das técnicas de diagnóstico por imagem. Após a Segunda
Guerra Mundial, à Radiologia seguiram a Medicina Nuclear, a Ultrasonografia e a
Ecocardiografia, sendo que a própria Radiologia evoluiu e originou a Tomografia
Computadorizada. A Ressonância Magnética veio em seguida.
Nas cirurgias houve avanços impressionantes com a robotização dos
procedimentos e o auxílio das tecnologias de diagnóstico junto à cirurgia. Neste
sentido foi criada a Laparoscopia
12
e, mais recentemente, a convergência das
técnicas de Ressonância Magnética e Medicina Nuclear junto à cirurgia, que está
em fase de experimentação.
“Para terapia, a sensibilidade deve ser uma característica fundamental.
Imagens da mais alta qualidade são requisitos para obter precisão na
localização, segmentação e definição das trajetórias dos instrumentos.
Todas as modalidades de imagem disponíveis, especialmente as de Raios-
X, foram exploradas neste sentido. Mais recentemente a Tomografia
Computadorizada, o Ultrasom, e a Ressonância Magnética foram
introduzidos nas salas de cirurgia para imagem-orientação intracirúrgica”.
(ROUGHAN, 2009)
Unindo novamente as atividades de diagnóstico e tratamento, existem hoje os
casos onde o exame e a terapia são simultâneos através de procedimentos
minimamente invasivos, como na Hemodinâmica e na Radiologia Vascular. A
12
Cirurgia auxiliada por um instrumento de fibra óptica que, inserido no corpo do paciente, permite a sua
visualização em tempo real.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
160
Patologia Clínica, por sua vez, também se aperfeiçoou com a precisão dos seus
novos equipamentos, mecanizando as análises clínicas em laboratório.
Analisando a estrutura técnica e funcional de alguns equipamentos empregados no
diagnóstico e tratamento das doenças, a seguir será apresentada a sua evolução
tecnológica. O intuito é o de permitir maior compreensão destes equipamentos para
depois reconhecê-los como variáveis concretas nas transformações arquitetônicas
dos edifícios hospitalares.
6.2.1 Radiologia
Nos primeiros 50 anos da Radiologia, o exame básico envolvia a criação de uma
imagem focando Raios-X através do corpo humano e diretamente sobre um
cartucho de filme. O tempo de duração do exame mudou muito ao longo dos anos,
sendo que há 100 anos uma radiografia de crânio levava aproximadamente 11
minutos e hoje imagens são criadas em milissegundos. Além disso, a dose de
Raios-X normalmente utilizada atualmente é 98% menor do que aquela de
antigamente. Técnicas modernas adquiriram mais resolução e detalhe de contraste
e a maior qualidade de imagem permite o diagnóstico de patologias menores que
não poderiam ser detectadas com a tecnologia antiga.
Figura 6.01: Sistema pioneiro de Raios-X:
pacientes ainda ficavam de pé para segurar
as caixas.
Fonte: Imaginis.
Figura 6.02: Sala de Raios-x Hospital de
Clínicas de Barcelona na sua primeira etapa.
Fonte: CORBELLA, 2006:40.
A primeira evolução do exame tradicional de
Raios-X foi a Fluoroscopia ou Radioscopia,
que surgiu com o uso de telas fluorescentes
e vidros especiais para que o médico
pudesse enxergar as imagens em tempo
real. Em seguida veio a revolucionária
aplicação do meio de contraste
farmacêutico durante o exame, cujo objetivo
foi ajudar a visualização dos órgãos e vasos
sanguíneos com mais nitidez na imagem.
Em 1955, o Intensificador de Imagem foi
criado e permitiu a tiragem e visualização
do filme de Raios-X usando uma câmera de
televisão e um monitor. Nos anos 1960 o
sistema fluorescente, que se tornou
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
161
complexo por causa da presença de um espelho óptico, foi largamente substituído
pelo Intensificador de Imagem combinado ao monitor de televisão. O
Intensificador de Imagem abriu caminho para uma nova sub-especialidade
conhecida como Angiografia ou Hemodinâmica, a qual permitiu a visualização do
sistema circulatório (vasos sanguíneos e coração).
A partir dos anos 1970 a grande maioria dos equipamentos convencionais de
Raios-X foi adaptado à tecnologia digital. Esta trouxe muitos benefícios, e
eventualmente permitiu a substituição dos os sistemas de fitas-cassete e filmes por
detectores digitais.
Na Radiologia Digital, o filme convencional foi substituído por uma película especial,
sensível aos Raios-X, que é lido por um equipamento moderno de computação e
proporciona uma imagem de alta resolução. O equipamento utilizado é o
Digitalizador, também chamado de CR (Figura 6.03).
Figura 6.03: Digitalizador do setor
de Radiologia do Hospital Sarah
Brasília
Fonte: Acervo da autora
Entre as suas principais vantagens estão a obtenção
de imagens de melhor qualidade; a utilização de
uma dosagem menor de Raios-X; a possibilidade de
melhora e manipulação das imagens através dos
computadores; a possibilidade de envio das imagens
digitais via rede para outras estações de trabalho e
monitores de computador; e a possibilidade de
arquivamento das imagens digitais em cd-rom ou
drives de gravação digital, economizando muito o
espaço de armazenagem e a mão-de-obra
necessária para a biblioteca tradicional de filmes de
Raios-X. Algumas modalidades como a Mamografia
(Radiografia da mama) também ficaram melhores, pois exigem resolução
extremamente alta para um bom diagnóstico, o que só foi possível com os
detectores digitais.
Outro aspecto importante em relação ao exame de Raios-X é a especialidade
funcional dos diversos tipos de equipamentos, o que faz os mesmos variarem muito
fisicamente.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
162
Figura 6.04: Equipamento de
Radiografia Torácica.
Fonte: Siemens.
Algumas máquinas foram criadas especialmente
para fazer o diagnóstico de determinadas partes
do corpo, como aquelas utilizadas na
Mamografia (mama) e na Radiografia Torácica
(tórax). Quanto mais específico é o exame
menor costuma ser o equipamento, assim como
maior ele é quando possibilita o exame de várias
partes do corpo.
Figura 6.05: Equipamento de
Mamografia.
Fonte: Diagnóstico Médico
por Imagenes Dr. Rojas.
Figura 6.06: Equipamento de
Radiografia para várias partes do
corpo (modelo antigo).
Fonte: Acervo da autora.
Figura 6.07: Equipamento de
Radiografia para várias partes do
corpo (modelo atual).
Fonte: Philips.
Há ainda os equipamentos de Raios-X portáteis, que facilitaram enormemente a
prática do exame em pacientes internados ou de emergência. Pela dificuldade de
locomoção, estes pacientes teriam muita dificuldade de ir até o setor de radiologia
do hospital, sendo, com o advento deste equipamento, examinado onde estiver.
Com a tecnologia digital, foi criado em 1972 por Godfrey Hounsfield o equipamento
de Tomografia Computadorizada (TC). O TC é um aparelho de Raios-X munido de
uma ampola que emite esses Raios enquanto gira 360
o
em torno do paciente. O
computador processa as informações e reconstrói artificialmente uma imagem
tridimensional dos órgãos.
Uma imagem de Raios-X convencional tem uma variação de 30 escalas de cinza,
ao passo que as da TC chegam a 200 escalas. É essa variação que permite
identificar a densidade dos tecidos ou órgãos examinados.
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
163
A criação do Tomógrafo foi muito importante e modificou o enfoque diagnóstico de
muitas doenças. No começo eram feitos exames apenas no crânio; hoje, o corpo
inteiro pode ser examinado. Os Tomógrafos iniciais não primavam pela questão da
imagem, mas os equipamentos atuais permitem novos diagnósticos com uma
qualidade superior e com maior rapidez.
A máquina original de Hounsfield levava horas para conseguir uma única fatia de
dados de imagem e mais de 24 horas para reconstruir estes dados numa única
imagem. Os sistemas atuais dos Tomógrafos podem conseguir uma imagem em
menos de um segundo e reconstruir a imagem instantaneamente.
Também dentro da radiologia podemos
destacar o exame de Hemodinâmica,
mencionado anteriormente. Constitui
“um conjunto de procedimentos médicos
invasivos para diagnóstico e tratamento
de cardiopatias”
13
. Também chamada de
Cardiologia Intervencionista, utiliza como
ferramenta o Angiógrafo (Figura 6.08),
que aplica um procedimento chamado
Cateterismo. Este constitui uma “prática
Figura 6.08: Equipamento de Tomografia
Computadorizada atual (modelo de 1990).
Fonte: Acervo da autora.
que introduz finos cateteres na dinâmica circulatória,possibilitando assim o
diagnóstico por introdução de contraste radiológico. Possibilita também tratar
isquemias coronárias pela desobstrução mecânica do vaso (angioplastia) bem
como a introdução de aparatos (“Stent”
14
) que impeçam a re-estenose (retorno da
lesão tratada)”
15
.
Com as informações trazidas pela técnica do cateterismo cardíaco, surgiu e
desenvolveu-se a cirurgia cardíaca de pontes de safena em meados de 1960.
Outras técnicas para realização de cinecoronariografia (cateterismo cardíaco) foram
anos mais tarde desenvolvidas.
13
WIKIPÉDIA. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Cardiologia_intervencionista>
14
Prótese metálica, cilíndrica, em forma de uma malha. Disponível em :
<pt.wikipedia.org/wiki/Cardiologia_intervencionista>
15
Idem.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
164
Segundo VINÍCIUS
16
, o equipamento de Hemodinâmica é uma “ferramenta de
imagem diagnóstica tridimensional de alta precisão e agilidade, com a qual os
médicos podem quantificar e visualizar lesões no coração”. Usa tecnologia
semelhante à de um aparelho de tomografia computadorizada no que diz respeito à
maneira de formatar e enviar imagens digitais que possibilitam a leitura e a
comunicação entre serviços. Hoje a imagem é captada a partir de um detector
plano digital, substituindo o antigo intensificador de imagem.
Figura 6.09: Sala de Hemodinâmica do InCor (2008).
Fonte: Acervo da autora.
Como tecnologia de imagem
aplicada ao diagnóstico e à terapia
ao mesmo tempo, existe também a
Radiologia Vascular Intervencionista
(RI), um procedimento
minimamente invasivo para o
tratamento e detecção de
problemas cardíacos, neurológicos
e periféricos.
“Surgida na Europa, na década de 1970, no início a Radiologia
Intervencionista servia apenas para detectar possíveis problemas que eram
posteriormente tratados por meio de cirurgias. Já na década de 1990, com
a evolução tecnológica e o avanço e a precisão dos exames de imagem
com alta definição, ficou comprovada a eficiência da técnica também no
tratamento de doenças cardiovasculares, do sistema nervoso e vascular.
Em outras palavras, a cirurgia, muitas vezes de altíssimo risco, em
determinados casos passava a ser substituída por esse procedimento
minimamente invasivo e muito mais seguro”.
17
O procedimento da RI envolve métodos percutâneos guiados por imagens
radiológicas. Um tubo muito fino é inserido na virilha do paciente através de um
corte mínimo. O tubo chega até o cérebro, coração ou outro órgão para detectar e,
quando possível, eliminar possíveis trombos, coágulos ou más-formações.
16
WIKIPÉDIA. Disponível em: <wikicomputacao.blogspot.com/2007/11/entao_06.html>
17
Revista Corpore. Disponível em <revistacorpore.com.br/index.php/Radiologia-Intervencionista/017-Radiologia-
Intervencionista-Cirurgias-precisas-e-menos-invasivas.html>
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
165
Figura 6.10: Sala de Radiologia
Intervencionista.
Fonte: Yokoyama.
Por ser menos agressiva ao paciente, a
radiologia intervencionista vem sendo
amplamente utilizada pela cardiologia, pela
área vascular e pela neurologia. Oferece
uma série de benefícios aos pacientes,
com procedimentos mais rápidos, mais
precisos e com menor risco de infecção,
além do tempo de internação reduzido.
18
6.2.2 Radioterapia
A Radioterapia “é uma especialidade dentro da medicina que se utiliza das
radiações e da sensibilidade dos tumores a ela para o seu tratamento”. Evoluíram
da tecnologia de Raios-X, sendo os seus equipamentos a Bomba de Cobalto e o
Acelerador Linear. Estes utilizam radiação eletromagnética (Raios-X ou Raios
Gama) e por elétrons (Aceleradores lineares de alta energia).
Os primeiros equipamentos de radioterapia surgiram no final dos anos 1940. Com a
invenção da Tomografia Computadorizada em 1971, a tridimensionalidade se
tornou possível na emissão de radiação. Isso permitiu que os profissionais
pudessem determinar com maior precisão a distribuição da dose de radiação,
usando as imagens axiais da tomografia para mapear a anatomia do paciente.
19
Com o surgimento de novas tecnologias de imagem, a Radioterapia foi de
Tridimensional Conformada para de Intensidade Modulada, avanço que ocasionou
melhores resultados nos tratamentos e diminuiu os seus efeitos colaterais.
No Brasil as primeiras unidades de Radioterapia foram instaladas em 1954, no
Hospital São Sebastião e, a seguir, no Instituto Nacional do Câncer (INCA), ambos
no Rio de Janeiro.
A Bomba de Cobalto é um equipamento que contém uma fonte de cobalto num
recipiente, onde um dispositivo abre uma pequena janela e deixa o feixe de
18
Idem.
19
Idem.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
166
radiação sair de forma controlada. Isto permite que o tumor seja tratado
preservando os tecidos normais à sua volta. Como a emissão de radiação é
constante, o tempo de tratamento e todos os outros parâmetros físicos envolvidos
são cuidadosamente controlados e verificados através de um programa de controle
de qualidade permanente.
20
O acelerador linear, por sua vez, é um equipamento de radioterapia que funciona
de maneira muito semelhante a um aparelho de Raios-X, onde a radiação somente
é produzida quando o aparelho é ligado a uma fonte de energia elétrica. “O
mecanismo de formação da radiação é um pouco mais complicado, mas no final o
seu efeito é o mesmo: um feixe de radiação controlado incide sobre o alvo a ser
tratado”.
21
Figura 6.11:
Bomba de cobalto de radioterapia.
Fonte: Mastologia.
Figura 6.12;
Acelerador Linear Hospital Sírio Libanês.
Fonte: Sociedade Beneficente de Senhoras, 2008:96.
6.2.3 Medicina Nuclear
A Medicina Nuclear é uma área da Imagenologia que usa pequenas quantidades de
substâncias radioativas para examinar as funções e a estrutura dos órgãos do
corpo humano. Os estudos de Medicina Nuclear tiveram início nos anos 1950, e 20
anos depois surgiram os seus primeiros equipamentos
22
. Desde então o maior
benefício desta tecnologia é a capacidade de identificar funções metabólicas, sendo
muito aplicada na Oncologia.
20
CENTRO DE TERAPIA ONCOLÓGICA. Disponível em <www.ctopetropolis.com.br/radioterapia.htm>
21
Idem.
22
INSTITUTO DE MEDICINA NUCLEAR. Disponível em <www.ipen.br>
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
167
Para obter avaliações diagnósticas de condições anatômicas e/ou fisiológicas, os
Isótopos Radioativos (Radioisótopos) são administrados oralmente, por inalação,
intravenosamente ou, em casos especiais, por injeção direta.
Embora o nível de radioatividade a que o paciente é exposto não represente riscos
significativos, a manipulação do material radioativo deve obedecer “os requisitos de
proteção radiológica para proteção do operador, do paciente, do público em geral e
do meio ambiente, e procedimentos de boas práticas de fabricação para garantir a
qualidade radiofarmacêutica”
23
.
Figura 6.13: Escaneador de Medicina Nuclear
na década de 1970.
Fonte: ROSENFIELD, 1971:290
As avaliações diagnósticas realizadas
pelos equipamentos de Medicina Nuclear
envolvem vários procedimentos. Fazem
parte do processo consultas médicas e
exame prévios do paciente, manipulação
das substâncias radioativas utilizadas no
exame, preparo do paciente (inserção da
substância radioativa no paciente),
isolamento físico dos pacientes
“injetados” por estas substâncias e
interpretação das imagens. Além dos
procedimentos de diagnostico, outros
serviços realizados nesta área incluem Radiobioassay (análise do tipo,
concentração e localização do material radioativo no corpo humano), análise de
espécie e teste de esforço cardíaco, utilizado para ativar as funções do coração e
analisá-las no exame.
Os equipamentos utilizados na Medicina Nuclear são variados, sendo o Cintilógrafo,
que também é chamado de Gama-Câmara, um dos mais antigos. Nesta máquina a
estrutura física encontrada é composta por um plano horizontal e um volume lateral
móvel, o qual apoia um outro volume superior através de um braço. No plano
horizontal (mesa ou maca) fica o paciente e ao lado corre por um trilho o volume
lateral conectado ao superior, que se movimenta linearmente sobre o corpo do
paciente e tira as fotografias dos pontos de interesse.
23
Idem.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
168
Ao longo do tempo a própria necessidade de que mais partes e ângulos (laterais e
inferiores) do corpo fossem analisados encetou mudanças nestes equipamentos. A
grande inovação neste sentido foi em relação ao movimento do equipamento, onde
um volume passou a girar 360º sobre o paciente e tirar imagens de vários ângulos
Figura 6.14: Cintilógrafo, produzido e instalado
em meados da década de 1990, no InCor.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 6.15: Cintilógrafo com giro 360º, produzido
e instalado no ano 2000, no InCor.
Fonte: Acervo da autora.
do seu corpo. Com os novos e mais
eficientes equipamentos também veio a
diminuição do peso e da robustez das
máquinas, que só não diminuíram mais
pela dimensão da maca do paciente,
que é constante.
Assim como no caso dos equipamentos
de radiologia, na medicina nuclear
existem máquinas específicas para o
diagnóstico de algumas partes do corpo
como, por exemplo, o coração. Nestas
o equipamento costuma ser um pouco
menor, enquanto é maior uma máquina
que realiza exames de mais partes do
corpo.
Os equipamentos de apoio
(computadores) também diminuíram
com o passar dos anos, estando
ligados à evolução da informática.
Um dos equipamentos mais recentes da Medicina Nuclear é o chamado PET
(Positron Emission Thomography) que pode ser definido com um Tomógrafo que
utiliza Raios Gama.
A história desses exames começou na década de 1960 e seu funcionamento
envolve a aquisição e a reconstrução de dados através de cortes seccionais. Ainda
nos anos 1980, o desempenho das imagens PET de corpo inteiro foi melhorado e,
no início dos anos 1990, sua aplicação como modalidade diagnóstica passou a ser
reconhecida. O equipamento é muito usado para a visualização do coração e dos
Tumores Cerebrais, que antes eram visualizadas pelo Tomógrafo.
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
169
Figura 6.16: Equipamento PET do InCor.
Fonte: Acervo da autora.
Um grande desafio enfrentado pelo PET é a
falta de uma informação anatômica precisa,
uma vez que é um exame eminentemente
funcional. Esta ausência do detalhe
anatômico pode ser substituída por uma
informação morfológica complementar,
normalmente obtida pelo TC ou pela
Ressonância Magnética. No entanto, esta
solução traz dados imprecisos.
A solução para este desafio foi então o
desenvolvimento de um novo equipamento
que pode ser considerado como a "pedra
fundamental" do o PET/CT. Este teve o seu primeiro protótipo desenvolvido por
uma empresa de tecnologia em conjunto com a Universidade de Pittsburgh, em
1998. Já em 1999 uma imagem obtida neste equipamento foi reconhecida como um
sucesso.
24
Figura 6.17: Modelo de um PET/CT.
Fonte: Stanford School of Medicine.
O PET/CT é, a grosso modo, um
equipamento PET acoplado a um
Tomógrafo, cuja inovação foi ser um
equipamento que produz Raios Gama e
Raios-X ao mesmo tempo. Por este
motivo se diferencia de um equipamento
convencional PET, tendo necessidades
bem específicas quanto à movimentação
da máquina (sobre trilhos) e quanto à acomodação dos pacientes sobre ela.
Exige também proteção especial para radiação e um sistema de fornecimento de
energia e de refrigeração mais potente.
O equipamento PET/CT é ainda maior que o de PET pela presença do Tomógrafo.
O tempo de exame, por sua vez, ainda é demorado (uma a duas horas
25
). Porém,
24
SIEMENS. Disponível em <www.siemens.com.br/templates/coluna1.aspx?channel=5239>
25
U.S. Department of Veterans Affairs (www.va.gov/facmgt/standard/dguide/nucmed/nucmed01.pdf)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
170
como vimos acontecer na Radiologia, a tendência é que ele diminua de tamanho e
seja mais rápido com o aperfeiçoamento de sua tecnologia.
Para a produção do material radioativo utilizado nos exames PET existe o Cíclotron,
um equipamento utilizado para produzir os radioisótopos. São usados para
sintetizar os radiofármacos (produtos biológicos ou drogas que contém elementos
radioativos), produzidos a partir de reações nucleares
26
. Por este motivo, o
Cíclotron é um equipamento especial, caro e de uso bastante controlado, sendo
que são raros os estabelecimentos que têm interesse em possuí-lo.
Se para manipular qualquer material radioativo o EAS deve obter licença da
Comissão Nacional de Energia Nacional (CNEN)
27
, atendendo a todos os requisitos
regulamentares e dispondo de infraestrutura adequada e pessoal treinado
28
, as
restrições para a instalação de um Cíclotron são bem maiores. Além disso, uma
instituição normalmente não tem, isoladamente, demanda para manter o
equipamento, sendo ele capaz de fornecer material radioativo para muitas salas de
PET ao mesmo tempo. Por isso, este tipo de equipamento é geralmente locado em
um estabelecimento centralizado em cada região, de onde o material radioativo é
fornecido a várias instituições.
Figura 6.18: Cíclotron.
Fonte: SABBATINI, 1997.
Pela curta longevidade dos
radioisótopos (cerca de 110
minutos para o tecnécio),
todavia, o seu transporte “é uma
verdadeira corrida contra o
relógio, pois assim que o
Radioisótopo é obtido, restam
poucos minutos para sintetizar o
radiofármaco e injetá-lo no
paciente, de modo que o PET e
26
Instituto de Medicina Nuclear. Disponível em <www.ipen.br>
27
“A CNEN licencia e fiscaliza instalações nucleares e radioativas, como reatores, fábricas do ciclo do combustível
e instalações que utilizam radioisótopos, na medicina, indústria e atividades de pesquisa. As licenças para a
aprovação do local, construção, operação e desativação seguem procedimentos baseados em normas técnicas e
padrões internacionais”. (Comissão Nacional de Energia Nuclear, disponível em <www.cnen.gov.br>)
28
Instituto de Medicina Nuclear. Disponível em <www.ipen.br>
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
171
o Cíclotron não devem estar muito distantes um do outro”
29
.
Na cidade de São Paulo, que é um grande centro na área da saúde, há apenas dois
Cíclotrons disponíveis atualmente, instalados no IPEN (Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares), e no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas.
6.2.4 Ressonância Magnética
As pesquisas sobre as técnicas de Ressonância Magnética (RM) se intensificaram
no início da década de 1970.
Os seus equipamentos foram liberados para
comercialização nos Estados Unidos em 1984 e o seu uso se espalhou pelo mundo
rapidamente desde então.
Empregando um forte campo magnético, a RM permite a visualização das partes do
corpo do paciente pela aplicação de pulsos de frequência de rádio sobre elas. Os
pulsos permitem medir o vetor de deflexão de certos núcleos atômicos existentes
nos órgãos e estes vetores levam à formação das imagens. O aparelho de
Ressonância percorre cada ponto do corpo do paciente, construindo um mapa em
2-D ou 3-D dos tipos de tecido. Então, ele junta todas essas informações para criar
imagens em 2-D ou modelos em 3-D. A imagem criada pelo computador durante
este exame é eletronicamente melhorada, gravada em vídeo, armazenada em fita-
cassete ou cd-rom e reproduzida em uma imagem laser, a qual pode ser revelada
em papel ou filme. A RM é mais bem aproveitada para fornecer imagens de tecidos
moles.
Com a presença do campo magnético, muitos cuidados são necessários em
relação ao equipamento de Ressonância Magnética. Ele funciona como um
verdadeiro imã que atrai tudo o que tem metal e altera o funcionamento de
equipamentos próximos. Por este motivo é contra-indicado para pacientes com
marca-passo e com clipes ferromagnéticos de aneurisma cerebral.
O design básico da maioria dos equipamentos de RM pode ser descrito como um
cubo gigante”. O cubo de um aparelho comum deve ter 2 m de altura por 2 m de
largura por 3 m de comprimento, embora os modelos mais novos estejam
29
SABBATINI, 1997. Disponível em <www.cerebromente.org.br/n01/pet/petcyclo_port.htm>
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
172
diminuindo. Há um tubo horizontal que atravessa o Magneto (ímã) da parte dianteira
até a traseira. Esse tubo é uma espécie de
vão da máquina. O paciente, deitado de
costas, desliza para dentro do vão por meio de uma mesa especial (maca).
Os fatores que mais influenciaram a busca por melhorias nos equipamentos de
Ressonância Magnética foram as influências causadas pelo campo magnético, o
tamanho do equipamento, o conforto do paciente ao ser envolvido pela máquina e
as condições de existência das máquinas de apoio ao exame.
Em relação ao campo magnético o avanço foi significativo, haja vista que já existe
um equipamento de Ressonância autoescudado capaz de conter a expansão do
campo para fora do Magneto.
Figura 6.19: Exemplo de um
equipamento de Ressonância
Magnética.
Fonte: Philips.
O tamanho dos equipamentos também diminuiu ao
longo dos anos e, segundo arquitetos do Hospital das
Clínicas de São Paulo
30
, hoje já é possível acomodar
duas máquinas numa área onde antigamente cabia
apenas uma.
No que se refere ao conforto dos pacientes, os
equipamentos deste exame foram recentemente
adaptados para aqueles com claustrofobia e até
mesmo excesso de peso. Um exemplo disto está no
novo edifício
do Hospital Albert Einstein (Bloco A1), onde as salas de RM foram locadas na
periferia do prédio, possuindo janelas especiais. Nestas foi instalado um vidro com
a propriedade de proteção eletromagnética, atenuando nos pacientes a sensação
de confinamento durante o exame.
A criação de um aparelho de RM de Campo Aberto e com mais espaço para a
passagem do paciente melhoraram o conforto do usuário neste sentido. O tempo de
duração do exame, outro fator importante, é muito longo e tende a potencializar a
sensação de desconforto.
30
Arquiteto Henrique Jatene (InCor) e Arquiteto Michel Jospin (InRad).
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
173
Figura 6.20: Exemplo de um equipamento de
Ressonância Magnética de Campo Aberto.
Fonte: Philips.
Figura 6.21: Exemplo de um equipamento de
Ressonância Magnética com mais espaço para a
passagem do paciente.
Fonte: Philips.
Num caso semelhante ao que ocorre com o Tomógrafo, as máquinas de apoio ao
equipamento de Ressonância fazem muito ruído e possuem necessidades
especiais de temperatura, exigindo estarem em ambientes isolados.
Segundo o arquiteto Henrique Jatene, hoje já existem equipamentos de apoio mais
silenciosos e adaptados à temperatura ambiente, o que torna cada vez mais
possível a coexistência destas máquinas com o Magneto num mesmo espaço.
Outra evolução importante relacionada é o peso do equipamento, que diminuiu
junto com o seu tamanho. Este fato facilitou muito o transporte da máquina, que
antigamente era mais complicado e exigia mais espaço para circular dentro do
edifício.
O exame de Ressonância Magnética é uma atividade ainda centralizada, pois sua
tecnologia é bastante cara e seus espaços muito especializados.
6.2.5 Laboratórios
Como comentado no Capítulo 5, o impulso às análises laboratoriais veio do
aperfeiçoamento do microscópio e do nascimento da microbiologia, no final do
século XIX. A partir daí, as atividades desenvolvidas nos Laboratórios contribuíram
muito ao diagnóstico clínico, através da hematologia, bioquímica, imunologia e
provas funcionais.
Com o microscópio óptico e a ampliação do poder da visão, a natureza passou a
ser desvendada em seus menores elementos, e novas substâncias foram
descobertas tanto para analisar as doenças quanto para a criação de novos
medicamentos. Isto fez crescer significativamente o trabalho nos laboratórios,
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
174
aumentando o número de utensílios e, posteriormente, de equipamentos. Estes
surgiram somente a partir da segunda metade do século XX, quando a
microeletrônica foi inventada.
Nesta época surgiu o microscópio eletrônico, e a ele seguiram vários pequenos
equipamentos, de tipos e tamanhos diversificados e com necessidades mais
específicas. Os tubos de ensaio, béqueres e buretas foram cada vez mais dividindo
espaço com refrigeradores, centrífugas, capelas de exaustão de gases tóxicos,
estufas de esterilização e analisadores automáticos de bioquímica (contador
eletrônico de células, analisador automático de íons, analisador de gases
sanguíneos, etc.), onde a análise clínica passou a ser inteiramente mecanizada.
Figura 6.22: Microscópio Eletrônico do Hospital
Sarah Kubitschek de Brasília.
Fonte: Acervo da autora.
“Um analisador bioquímico de sangue, que
realiza um grande número de análises, já tem
um computador embutido que pode ser ligado
à rede do hospital, de forma que não há mais
necessidade de digitação dos resultados,
entrando o exame diretamente no prontuário
eletrônico do paciente”. (MARINELLI,
2003:127)
Figura 6.23: Refrigeradores.
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
Figura 6.24: Centrífuga de mesa.
Fonte: Prefeitura de Parambu, 2008.
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
175
Figura 6.25: Capela de exaustão de gases tóxicos.
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
Figura 6.26: Centrífuga de chão.
Fonte: Uniscience.
Figura 6.27: Estufas.
Fonte: OLX.
Figura 6.28: Analisador Automático.
Fonte: Prefeitura de Videira.
Devido às necessidades mais específicas em relação à umidade, temperatura e
pressão do ar, estes novos equipamentos também ampliaram o uso e a sofisticação
de equipamentos de ar condicionado dentro dos edifícios hospitalares. Este fato
também é justificado pelo aumento do calor nas salas, emitidos pela grande
quantidade de máquinas funcionando.
6.2.6 Cirurgia
“Cirurgia é a parte do processo terapêutico em que o cirurgião realiza uma
intervenção manual ou instrumental no corpo do paciente”
31
. Nesta atividade o
maior aperfeiçoamento dos equipamentos também acompanhou o desenvolvimento
31
WIKIPÉDIA. Disponível em <pt.wikipedia.org/wiki/Cirurgia>
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
176
da microeletrônica, ou seja, ocorreu a partir da segunda metade do século XX.
Antes disso os instrumentos resumiam-se à mesa cirúrgica, ao suporte de
iluminação e a algumas mesas metálicas para apoiar os instrumentos.
Figura 6.29: Equipamentos da Sala Cirúrgica da Santa
Casa de Santos, na década de 1940.
Fonte: Revista Acrópole, novembro 1945:177
Com o tempo, a mesa cirúrgica
foi automatizada, adquirindo um
design mais simples, enquanto
o suporte de iluminação
sofisticou-se, multiplicando o
número de luminárias,
agregando mais funções e
movimentos e transformando-se
numa Estativa de teto. Outros
suportes substituíram as mesas
de apoio metálicas, apoiando não só os instrumentos da cirurgias como também
monitores e outros equipamentos ligados ao monitoramento do paciente, à
Imagenologia e à Telemedicina.
Figura 6.30: Equipamentos de uma Sala
Cirúrgica hoje.
Fonte: PCE.
Figura 6.31: Sala cirúrgica com equipamentos para
Telecirurgia – Hospital Sírio Libanês.
Fonte: Sociedade Beneficente de Senhoras, 2008.
Recentemente foi adicionado à sala cirúrgica o robô (Figura 6.32). A cirurgia
robotizada é menos invasiva e por isso permite uma recuperação ao paciente,
que os cortes feitos pelo equipamento são menores que um centímetro. O robô
também diminui o número de profissionais envolvidos no procedimento, sendo esta
uma tendência para o futuro segundo OLIVEIRA (2008). Além do equipamento,
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
177
foram incorporadas também novas necessidades elétricas e de rede às salas
(câmeras e rede de cabeamento estruturado)
32
.
Figura 6.32: Robô Da Vinci.
Fonte: Terra, 2008.
Figura 6.33: Robô Da Vinci em uma sala de
cirurgia do Hospital Sírio Libanês.
Fonte: O Globo, 2008.
“Robôs mecânicos de alta precisão, aliados aos recursos da video-
endoscopia e à realidade virtual, estão começando a auxiliar cirurgiões de
todo o mundo a realizar proezas como cirurgias de revascularização do
miocárdio, de reparo de válvulas cardíacas e neurocirurgias estereotáxicas.
Mais espantoso ainda, em alguns projetos já divulgados o cirurgião estava a
milhares de quilômetros do paciente, acionando os manipuladores da
cirurgia endoscópica e visualizando o campo operatório através de um
computador ligado a um sistema de telecomunicação por satélite”.
(SABBATINI, 1999)
Com a aproximação entre as atividades de cirurgia e de diagnóstico, surgiram ainda
as salas “Híbridas”, onde equipamentos de diagnóstico e de cirurgia interagem no
mesmo procedimento. Na experimentação americana com cirurgias apoiadas
simultaneamente por tecnologias de PET-CT e Ressonância Magnética, ficou claro
o aumento da quantidade de equipamentos (e de espaço, como será comentado no
Capítulo 8) na sala cirúrgica.
O Brigham and Women’s Hospital (Boston, Estados Unidos) está desenvolvendo o
Advanced Multimodal Image-Guided Operating SuiteAMIGO (Conjunto de
Cirurgia Guiada por Imagem Multimodal Avançada).
32
MARINELLI e CAMARGO, 2004.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
178
“O objetivo deste projeto é desenvolver a nova geração de conjuntos
intervencionistas intracirúrgicos equipados com o estado-da-arte da
integração entre a tecnologia de orientação por imagem e instrumentação
relacionadas à RM (três teslas), PET-CT, Raios-X, Ultrasom e Imagenologia
óptica, integradas a vários dispositivos de terapia com um sistema de
navegação que oferece o registro preciso da anatomia do paciente”.
(ROUGHAN, 2009)
33
Figura 6.34: “Brigham and Women’s Hospital”: Advanced Multimodal
Image-Guided Operating Suite (AMIGO).
Fonte: ROUGHAN, 2009.
O objetivo geral, por sua vez, é o de integrar toda a informação acessível num único
ambiente, o qual deve estar operacionalmente apto a realizar a terapia. Outra
característica deste projeto é a multidisciplinaridade, envolvendo mais tipos de
profissionais num mesmo procedimento.
6.3 EQUIPAMENTOS DE INFRAESTRUTURA PREDIAL E INSTALAÇÕES
ESPECIAIS
Para dar suporte técnico às atividades que ocorrem dentro de qualquer edifício
existe um verdadeiro arsenal de equipamentos e instalações, constituindo a sua
infraestrutura e garantindo que ele tenha suprimentos como energia, água e ar
tratados. Nos hospitais, pela sua variedade e especificidade funcional, esta
33
Tradução livre da autora para: “The goal of this project is to develop the next generation of interventional/intra-
operative suite equipped with state-of-the-art integrated image-guidance technology and instrumentation comprising
high field MRI (3 Tesla), PET-CT, X-ray fluoroscopy, ultrasound and optical imaging, integrated with various therapy
devices and with a navigational system that provides accurate registration of the patient’s anatomy”. (ROUGHAN,
2009)
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
179
infraestrutura pode ser classificada como industrial, envolvendo um maquinário
bastante diversificado, complexo e volumoso. BROSS (2006) acrescenta dizendo
que há uma grande diferença dos edifícios convencionais para os hospitalares,
onde são chamadas de “instalações prediais e instalações especiais aquelas
diferenciadas pela utilização de determinados equipamentos”.
“Inúmeros são os aparelhos e equipamentos disseminados pelo hospital,
cada qual com exigências, peculiaridades, cuidados e requisitos os mais
variados, envolvendo: peso, volume, altura, vibração, interferência,
blindagem, proteção, isolação, iluminação, voltagem, estabilização de
corrente elétrica, sistema de ‘no-break’, ‘short-break’, nível equipotencial,
aterramento, corrente de fuga, campo magnético induzido; explosão e
inflamação de gases, água tratada, destilada, quente; vapor, condensado;
assepsia; esterilização, umidade, temperatura e muitos outros”. (KARMAN,
1994:85)
A infraestrutura predial hospitalar evoluiu na medida em que se desenvolveram as
atividades e tecnologias internas da instituição. À sofisticação dos equipamentos e
procedimentos médicos acompanharam necessidades novas de energia,
temperatura e umidade, atendidas por instalações elétricas mais potentes e
equipamentos de ar condicionado mais eficientes, respectivamente. Além disso,
surgiram novas demandas e formas de comunicação, as quais originaram as
instalações eletrônicas e multiplicaram a quantidade e a variedade de cabos de
rede.
O aumento do rigor na segurança de uso dos hospitais também motivou a
ampliação da sua infraestrutura. A geração de energia passou a apoiar-se nas
redundâncias, cercando-se de equipamentos para garantir o fornecimento contínuo
de energia aos equipamentos de suporte à vida do paciente (equipamentos
cirúrgicos, ar condicionado de salas cirúrgicas, respiradores artificiais, etc).
Para aumentar a segurança contra a infecção hospitalar nas cirurgias, os
equipamentos de ar-condicionado tiveram que melhorar o seu desempenho e
alcançar a máxima assepsia do ar nos centros cirúrgicos. Por causa do aumento na
severidade das normas de segurança seus ambientes. Os edifícios tiveram que
aumentar seus reservatórios de água por causa dos sistemas de chuveiros
automáticos, instalando também sistemas novos de detecção e alarme contra fogo.
“São exemplos significativos de imputabilidade as conseqüências
decorrentes de falta ou falha no suprimento de oxigênio, de eletricidade ou
de vácuo; deficiente esterilização de autoclave por retenção de ar;
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
180
eletrocussão ou choque por falha de ‘aterramento’ ou de nível equipotencial
ou de transformador separador de corrente; introdução de nitrogênio em
rede de oxigênio para teste de vazamento, levando a graves distúrbios
(pacientes descerebrados); vazamento de radiações de Raios-X isótopos
por blindagem deficiente; agravamento das condições de casos críticos por
parada de elevador, entre outros”. (KARMAN, s/d
34
)
A organização das instalações é outro item a ser lembrado na questão da
segurança, havendo hoje várias normas para regularizar e padronizar os
procedimentos e a manutenção nos diversos sistemas de infraestrutura dos
edifícios. A divisão dos circuitos, por exemplo, é discutida pelos engenheiros como
forma de diferenciar mais claramente o fornecimento de energia das áreas mais e
menos vitais da instituição. Esta estratégia impediria que o fornecimento de uma
área importante fosse cortado por engano numa situação de emergência (incêndio,
por exemplo).
Os equipamentos de diagnóstico e tratamento, por sua vez, são agentes das mais
diversas adaptações no sistema de instalações do edifício. Segundo LAMHA NETO
(2008), estas máquinas têm, hoje, muita tecnologia agregada, sendo que “na hora
em que você instala uma Ressonância Magnética, um Tomógrafo, se não houver
energia ou ar condicionado com a qualidade adequada, você vai ter dificuldades
com o equipamento. Se tudo isso não for previsto, ocorrerão interrupções de
exames, que custarão bem mais caro do que o tempo economizado no
planejamento”.
Numa entrevista concedida pelo engenheiro Carlos Hernandez, atuante em projetos
de hospitais desde 1986, ele comentou que antigamente a parte mais complicada
em termos de instalações hospitalares eram as áreas de cozinhas e lavanderias.
Hoje são claramente as áreas de Imagenologia, que foram crescendo enquanto as
tecnologias nas lavanderias e cozinhas foram sendo compactadas e simplificadas
em termos de instalações. Hernandez conta que os laboratórios tiveram um
adensamento grande de instalações, com os vários novos equipamentos.
Sobre a demanda de energia nos EAS, Hernandez afirma que houve um aumento
significativo nos últimos 20 anos. Até o final da década de 1990 num hospital eram
necessários em média dois transformadores de energia de 500 kVA, enquanto hoje
34
Disponível em <www.karman.com.br/jkfala/pensandoB.php>
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
181
são necessários em média dois transformadores de 700 kVA, sendo que os de
1000 kVA tem que ser importados. “Não há energia suficiente”, diz Hernandez.
Em sua experiência com reformas em hospitais, o engenheiro relata que as
Cabines Primárias
35
existentes mostram-se muitas vezes insuficientes às novas
necessidades, alterando arquitetonicamente o edifício. As categorias dos sistemas
de compartilhamento e transmissão de imagens também apresentam
incompatibilidades de caso a caso.
“Em nenhum outro local os problemas de expansão revelam mais surpresas
do que nos ambientes para equipamentos e utilidades. Uma esterilizadora
que estava razoavelmente adequada ontem, de repente é revelada como
inaceitável para uso no edifício novo; semelhantemente, canos, fios,
equipamentos de instalações, ventiladores, bombas, boilers, elevadores, e
até todo o sistema de aquecimento pode sofrer uma repentina e dolorosa
desvalorização quando requerimentos para a futura capacidade são
calculados. Tais descobertas são normais e não sérias se houve
manutenção apropriada e se são descobertos e incluídos antes do
orçamento do projeto ser fixado, embora muito freqüentemente eles
passem despercebidos ou não totalmente explorados até que o esquema
da expansão esteja formado e o orçamento estabelecido. Descobertas de
inadequação então caem como uma bomba na equipe de planejamento, e
se o orçamento não foi ajustado antes, alguns outros melhoramentos
necessários e neste ponto bem quistos têm que ser deferidos.” (WHEELER,
1964:274)
Segundo LANDI (1980), existem mais de quarenta sistemas individuais que podem
ser requeridos para a infraestrutura predial de um hospital, entre eles: sistema de
água fria, água quente, esgoto, águas pluviais, proteção contra incêndio, gás
combustível, ar comprimido, vapor, vácuo, oxigênio, dióxido de carbono, nitrogênio,
óxido de nitrogênio, água destilada, tratamento de água, tratamento de esgoto, lixo,
material radioativo, ácidos, transporte pneumático, óleo combustível, gases
queimados de caldeira, ventilação de ambientes, ar condicionado, iluminação,
eletricidade, para-raios, telefone, detecção e alarme contra incêndio,
processamento de dados, aterramento, elevadores, etc. A seguir serão comentados
alguns destes sistemas, descrevendo o arcabouço tecnológico que representam
aos edifícios hospitalares.
35
Local onde entra a energia da rede pública.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
182
6.3.1 Sistema de abastecimento e distribuição de água
O sistema de abastecimento e distribuição de água envolve os reservatórios, as
bombas de recalque e a rede de tubulação, que se espalha por todo o edifício. No
caso da água quente existem ainda os sistemas de aquecimento, que podem
apoiar-se na captação da energia solar, nos Aquecedores de Acumulação, nos
Aquecedores de Passagem e nas Caldeiras (Figura 6.35), máquinas que não só
aquecem a água como também alimentam as Autoclaves de Esterilização, o
cozimento por vapor e a calefação (para os locais com inverno mais rigoroso).
As instalações hidro-sanitárias, incluindo as tubulações de esgoto, apresentam a
necessidade de fácil manutenção, por causa da complexidade das conexões
(muitas redes se comunicando) e para evitar a temida infecção hospitalar.
O arquiteto Domingos Fiorentini, em
entrevista concedida à autora,
aconselha que as instalações de água e
esgoto nunca sejam enterradas em um
hospital, como ocorre no seu projeto
para o Hospital Albert Einstein, onde há
um porão técnico de instalações.
Figura 6.35: Caldeiras do InCor.
Fonte: Acervo da autora.
6.3.2 Sistema de captação e distribuição de energia
Os sistemas de captação e distribuição de energia são responsáveis por receber a
energia da rede pública, transformá-la e distribuí-la pela edificação, garantindo, no
caso dos hospitais, que ela nunca falte às atividades que mantêm a vida dos
pacientes. Haja vista a grande quantidade de energia consumida em uma
instituição de saúde, este sistema tende a chamar atenção pela sua escala e
complexidade.
O recebimento de energia é realizado na Cabine Primária, onde normalmente ficam
os transformadores de energia, que tem a aparência de grandes armários
metálicos. Deles saem os circuitos que serão distribuídos pelo edifício.
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
183
Figura 6.36: Geradores do Hospital e
Maternidade São Luiz – Unidade Anália Franco.
Fonte: Acervo da autora.
Para manter as atividades de suporte à
vida funcionando em caso de falta de
energia, existem os Geradores (Figura
7.34), que por sua vez são alimentados
por tanques de óleo combustível e ainda
auxiliados pelos aparelhos No-break e
pelo sistema DSI (Dispositivo Supervisor
de Isolação). Muito ruidosos, os
geradores são, por norma, locados em
espaços com proteção acústica.
No sistema de geração de energia de um hospital está presente o conceito de
redundância, que aumentou a sofisticação dos equipamentos envolvidos e a
segurança dos pacientes. Em primeiro lugar existe a fonte de energia normal, da
rede pública, depois vem o gerador, acionado apenas em caso de queda da energia
pública, e depois vem o No-break, que gera a energia durante o intervalo de
segundos ou minutos entre a queda de energia e o acionamento Gerador.
Segundo o engenheiro Gleiner Ambrósio, do Hospital São Camilo Pompéia, as
centrífugas do sistema de ar condicionado (Chillers), por exemplo, são alimentados
em parte pela rede elétrica e em parte por gás, estabelecendo um sistema mais
seguro.
6.3.3 Instalaçoes fluído-mecânicas
O sistema de fluído-mecânicas nos hospitais é bem específico, pois além dos gases
comuns (GLP e/ou gás natural) existem os sistemas de gases medicinais, ar
comprimido e vácuo.
As tubulações destas substâncias são distintas por cores padronizadas, onde o
tubo de O
2
é pintado de vede, o de Ar Comprimido de amarelo, o de N
2
O de azul
escuro e o de Vácuo de cinza claro. O seu fornecimento varia entre grandes
tanques cilíndricos (Figura 6.37) localizados fora do edifício, no caso do O
2
, e
centrais de pequenos cilindros, chamadas de Centrais de Manifold (Figura 6.38).
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
184
Figura 6.37: Cilindro de O
2
do
Hospital e Maternidade São Luiz –
Unidade Anália Franco.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 6.38: Centrais de Gases Medicinais do Hospital e
Maternidade São Luiz – Unidade Anália Franco.
Fonte: Acervo da autora.
6.3.4 Sistema de ar condicionado
O sistema de ar condicionado, preferencialmente central, é uma instalação muito
importante nos hospitais. Comporta equipamentos essenciais a várias atividades,
existindo muitas vezes como pré-requisito para o seu funcionamento. Por permitir o
controle de umidade, pressão e temperatura, o ar condicionado é a condição de
existência para os equipamentos de Imagenologia e procedimentos de terapia.
“A pressão de ar diferenciada (negativa ou positiva) e o aumento da
qualidade de ar através da utilização de filtros em salas cirúrgicas e áreas
de internação especiais (como em enfermarias de doenças
infectocontagiosas e de pacientes imuno-deprimidos) são fundamentais”.
(MARINELLI e CAMARGO, 2004:34)
Segundo FRANÇA
36
, a capacidade de retirar calor de um sistema foi descoberta
em meados do século XIX, quando foi encetada a produção industrial de gelo. “A
partir dessa época teve início a atividade comercial de conservação de alimentos
36
Disponível em <www.fem.unicamp.br>
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
185
em grande escala”
37
. Em hospitais o ar condicionado apareceu somente no início
do século XX, sendo que os seus equipamentos evoluíram bastante desde então.
Em instituições como as hospitalares, onde há uma grande quantidade de
ambientes a terem a qualidade do seu ar controlada, o sistema de ar condicionado
envolve uma série de equipamentos complexos e volumosos. Estes compõem,
juntos, um sofisticado ciclo (“Ciclo de Refrigeração” ou “Ciclo Termodinâmico de
Fluidos Refrigerantes”) onde dois circuitos fechados e independentes são
responsáveis pelo resfriamento da água e pela sua distribuição pelo edifício.
Há o circuito entre as Torre de Resfriamento (Figura 6.41) e as Centrífugas (Chillers
– Figura 6.40), bem como o circuito entre as Centrífugas e os Fan-Coils (Figura
7.40), equipamentos menores distribuídos pelo edifício de acordo com a
necessidade. As vias de comunicação entre a Torre e o Chiller e entre o Chiller e os
Fan-coils se dá por uma tubulação de água gelada bastante robusta (Figura 6.39).
No Fan-Coil, por sua vez, há um “conjunto de serpentinas onde circula a água
resfriada e um ventilador responsável pela movimentação do ar a ser tratado”
38
.
Determinando o grau de pureza do ar existem ainda os filtros de ar, geralmente
localizados nos dutos de passagem entre o Fan-coil e os ambientes de destino.
Nos ambientes cirúrgicos os Fan-coils geralmente são maiores e sempre mais
sofisticados (Figura 6.42). Nestes casos chega a existir um equipamento para cada
sala cirúrgica, com uma filtragem do ar próxima a 100%.
37
“Os gases refrigerantes usados neste início da história da refrigeração eram a amônia, o dióxido de enxofre e o
cloreto de metil. (...) Os compressores frigoríficos de então, dada a limitação tecnológica da época, eram tidos
como máquinas perigosas, sujeitas a explosão. (...) Somente em 1932 o cientista Thomas Midgely Jr inventou o
Refrigerante 12, mais conhecido como Freon 12. (...) Enfim, um ‘gás ideal’, ‘maravilhoso’. Isto é, até descobrirem
que o Freon destrói o ozônio da atmosfera, tão importante para barrar o excesso de radiação solar ultra-violeta na
superfície da Terra”. (FRANÇA, s/d)
38
Cabano Engenharia. Disponível em <www.cabano.com.br/centrais_de_%C3%A1gua_gelada.htm>
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
186
Figura 6.39: Tubulação de água gelada do
sistema de Ar Condicionado do Hospital e
Maternidade São Luiz – Unidade Anália
Franco.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 6.40: “Chillers” do sistema de Ar Condicionado
do Hospital e Maternidade São Luiz – Unidade Anália
Franco.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 6.41: Torres de Refrigeração do InCor.
Fonte: Acervo da autora
Figura 6.42: “Fan Coil” para um
ambiente comum do Hospital e
Maternidade Vitória (São Paulo).
Fonte: Acervo da autora.
6.3.5 Sistema de proteção contra incêndio
O sistema de proteção contra incêndio, por sua vez, está vinculado às instalações
hidráulicas e elétricas do prédio. Como em qualquer outro tipo de edificação,
adiciona aos reservatórios uma quantidade significativa de água, dependendo da
demanda, e possui um equipamento para bombear a água aos hidrantes (Bomba
de Incêndio – Figura 6.43). Sua tubulação vermelha serve separadamente a rede
de chuveiros automáticos (Sprinklers) e a rede de Hidrantes e/ou Mangotinhos,
exigindo também um sistema rigoroso de manutenção para garantir o
funcionamento adequado em caso de emergência.
6 INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS RECENTES
187
Figura 6.43: Bomba de Incêndio do InCor.
Fonte: Acervo da autora.
A parte elétrica inclui o acionamento do
sistema de detecção de incêndio,
devidamente conectado às centrais
repetidoras, de alarme (luminoso e
sonoro) e de iluminação de emergência.
Para garantir a segurança de seus
usuários existe ainda a
compartimentação vertical e horizontal
do edifício, que impede a transmissão de
fumaça em caso de incêndio. Este procedimento inclui a compartimentação dos
dutos de ar condicionado através da colocação neles de Controladores de Vazão
(Dumpers) em locais estratégicos.
Todos os sistemas e maquinário apresentados até aqui, com sua variedade e
especificidade, ilustram a complexa infraestrutura de um edifício do porte hospitalar.
Para manter todos os equipamentos mencionados, computa-se ainda uma equipe
grande e multidisciplinar de profissionais dedicados à sua manutenção, cumprindo
normas e medindo o desempenho das máquinas regularmente.
“Tecnologias avançadas, concorrentes a aparelhos e equipamentos,
demandam correspondentes tecnologias no tocante a instalações e
infraestrutura; e, ainda, preparo e reabilitação de técnicos, operadores e
utilizadores; gerando a necessidade de especialização em manutenção e o
concurso de Engenharia Clínica e Bioengenharia”. (KARMAN, 1994:85)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
188
7
HOSPITAL CONTEMPORÂNEO:
CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
191
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
“O Hospital moderno é uma das mais complexas, dinâmicas e
especializadas instituições da atualidade. Dia a dia, novas aplicações,
pesquisas e descobertas o vêm transformando. Gradativamente, o que
ainda resta de empírico e tradicional está dando lugar ao científico e
racional. Para cada peça, equipamento, dimensão, localização ou
intercomunicação, há uma base sólida, uma razão de ser, técnica, funcional
ou administrativa”. (KARMAN, 1954, apud TOLEDO, 2002: 43)
Como visto no Capítulo 4, as atividades ligadas à saúde são caracterizadas pelo
dinamismo e pela contínua atualização. Na medida em que o conhecimento
avança, há a descoberta de novas doenças, de novos tratamentos, a absorção de
novas tecnologias para subsidiar estes tratamentos, a mudança dos procedimentos
e estruturas administrativas, etc. A arquitetura, por sua vez, não passa ao largo
destes acontecimentos, pois nota-se que a organização operacional e física dos
hospitais está em constante revisão para acompanhar, direta ou indiretamente, o
cenário de transformações na área médica.
“Analisando as diversas tendências que são propostas na área hospitalar,
como a informatização das diversas atividades, as mudanças no sistema de
gerenciamento de materiais e de informação, a centralização ou
descentralização de algumas atividades como de alimentação e lavanderia,
a cirurgia ambulatorial e o acréscimo de novas tecnologias como a
ressonância magnética, estas poderão modificar os aspectos físicos dos
hospitais”. (KOTAKA, 1992:7-8)
Colocando muito bem o cenário de transformações que a arquitetura acomoda,
principalmente nos dias de hoje, ROGERS (2001) comenta que “a vida moderna
está mudando mais rápido do que os edifícios que a abriga. (...) As estéticas de
resposta, mudança e modulação substituem a ordem fixa da arquitetura". De fato
há um assincronismo entre o tempo de transformação de um edifício em
comparação com o tempo de transformação da ciência médica e da tecnologia.
7.1 REFORMAS EM HOSPITAIS EXISTENTES
Segundo NESMITH (1995:8-9), ...
... “diversos fatores – tecnologia, códigos, políticas, etc. – influenciaram no
modo em que os equipamentos de saúde são planejados. (...) O dramático
crescimento no número de unidades ambulatoriais e instituições de
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
192
atendimento ao paciente externo é uma das mais significativas tendências
no campo da assistência à saúde. (...) Embora os hospitais estejam sob
intensa pressão para conter gastos, estas mesmas instituições também são
cobradas a melhorar continuamente a qualidade do atendimento para
permanecerem competitivas”.
Os hospitais existentes são um retrato vivo do processo de transformações
arquitetônicas. Seus edifícios apresentam históricos cheios de reformas e
expansões, evidenciando o caráter dinâmico destas edificações. Segundo o
arquiteto Irineu Breitman, atualmente o maior volume de obras na área hospitalar
está ocorrendo em instituições existentes, o que mostra como os arquitetos
precisam aprender lidar com as dificuldades envolvidas na renovação dos seus
edifícios.
“Fundamental para o planejamento de expansões estão as pesquisas em
edifícios existentes. (...) Igualmente importantes são as investigações das
plantas mecânicas, o encanamento, aquecimento, ventilação, ar
condicionado e sistemas de refrigeração, os sistemas elétricos, iluminação,
força, elevadores, todos os sistemas de comunicação, e força de
emergência”. (WHEELER, 1964:264-265)
Segundo avaliação do arquiteto Siegbert Zanettini (apud HORTA, 2005) sobre
projetos em hospitais antigos, "quando o especialista é chamado, é sinal de que o
hospital já chegou a um ponto de saturação em que os puxadinhos se esgotaram e
se instalou um déficit operacional, baixo faturamento ou mau atendimento". O
arquiteto ainda acrescenta que ...
... “o desenvolvimento sadio de um hospital assemelha-se ao do corpo
humano. Possui uma ‘genética’ - isto é, um plano diretor - que determina
um crescimento orgânico e ordenado, sem interrupção de atividades vitais.
Se tiver nascido ou se desenvolvido mal setorizado, uma reformulação que
seria parcial pode levar à necessidade de uma profunda reordenação
setorial.” (HORTA, 2005)
Durante a primeira metade do século XX ROSENFIELD (1969:33) aponta que
houve muito o “planejamento ‘oportunístico’ em que algumas poucas circunstâncias
imediatas ditavam o plano e não uma visão de mais longo prazo”. Segundo ele os
hospitais assim planejados se caracterizaram pela desordem.
“Baseando-se nas mudanças exponenciais dos serviços clínicos,
tendências operacionais e novas tecnologias, não é surpreendente que
muitas instituições, aclamadas como o estado-da-arte 20 ou até 10 anos
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
193
atrás, estejam se tornando funcionalmente obsoletas muito antes da sua
longevidade física se esgotar”. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY
1
)
Soluções arquitetônicas estáticas comprometem a habilidade de responder às
mudanças, com plantas muito estreitas, pés direitos limitados para a permanência
de instalações elétricas e de ar condicionado, e terrenos que não permitem a
expansão e a renovação espacial. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY
2
)
Intervenções geradas por fechamento e abertura de vãos, instalação de divisórias e
inserção de paredes criam compartimentos muitas vezes sem ventilação e
iluminação apropriadas. Junto às solicitações de projeto setorizadas (sem
preocupação com o todo das unidades), ao fechamento de acessos e ao uso
inapropriado de diversas áreas, surgem inúmeros problemas de fluxo e distribuição
de espaços arquitetônicos.
Muitos são os fatores que ocasionam a configuração caótica e obsolescência de
alguns hospitais. Como já pôde ser constatado no Capítulo 4, as variáveis
científicas e tecnológicas na medicina são culpadas por grande parte das suas
adequações. Dividem responsabilidade, por sua vez, com as questões
demográficas, epidemiológicas, econômicas, políticas e legais.
7.1.1 Questões demográficas, epidemiológicas e sociais
Segundo TAYLOR (1968:167), o mutante papel dos serviços prestados aos
pacientes externos criou muitos problemas para os setores funcionais a eles
relacionados nos hospitais gerais. “No passado eles não foram desenhados ou
localizados corretamente dentro dos estabelecimentos para atender os vários
serviços que agora tentam oferecer”
3
. Mudou também o perfil deste paciente
externo, bem como aumentou o seu número. Consequentemente alterou-se a
sofisticação (climatização, acessibilidade, decoração, etc) e o dimensionamento dos
ambientes. As tecnologias utilizadas nas áreas voltadas ao paciente externo foram
1
Disponível em <muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>
2
Idem.
3
Tradução livre da autora para: “In the past, they have not been designed or located properly within the facility to
take care of the many services they now try to provide”. (TAYLOR, 1968:167)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
194
palco de transformações muito significativas, motivo pelo qual serão aprofundadas
no Capítulo 7.
Os pacientes internos, por sua vez, também alteraram muito as enfermarias por
causa da exigência cada vez maior de espaço, sofisticação e privacidade. O
conceito de hotelaria transformou muito as áreas de internação, originando obras
para aumentar o tamanho e a quantidade de quartos privativos.
O arquiteto Lelé, em entrevista concedida à autora (novembro de 2009), comenta
que, em virtude de um excessivo desejo de privacidade, mudou muito a concepção
de socialização nos hospitais. Com a proliferação das instituições de saúde
privadas e o marketing em torno da privacidade do paciente, perdeu-se de vista a
importância do convívio social entre os que estão internados, limitando assim a
troca de experiências e os benefícios terapêuticos deste contato humano. Em seus
hospitais Lelé projetou enfermarias comuns partindo deste princípio, que hoje já
possuem quartos separados por causa desta transformação social.
7.1.2 Questões político-econômicas
Sobre questões de ordem política, CAETANO (apud LIMEIRA, 2006:83) alerta que
“é um erro projetar um Departamento segundo a idiossincrasia de um dado médico
(como tão frequentemente acontece), sendo que o hospital continuará de pé depois
de ele ter desaparecido”. É clara nos hospitais a disputa de poder entre os
profissionais, o que às vezes dificulta nestas instituições um planejamento mais
global e integrado.
Num hospital público, por exemplo, a verba é estatal, ou seja, de uma fonte indireta,
um proprietário distante. Por isto acredita-se que ele apresenta uma situação
organizacional descentralizada, onde não há um pensamento coletivo para a
aplicação dos recursos. Isto significa que os usuários do hospital com o poder de
decisão gerenciam sob interesses individualizados, cada um angariando recursos
para a melhoria do seu setor, separadamente. Esta segregação política causa
segregação também no espaço, com intervenções arquitetônicas pontuais e, às
vezes, planejadas sem a visão global do edifício. Como visto em alguns hospitais
públicos visitados e mencionados por alguns arquitetos entrevistados para esta
pesquisa, ocorrem casos onde o diretor de um setor específico, tendo conseguido
recursos para a aquisição de um determinado equipamento e a realização de uma
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
195
determinada reforma, solicita espaços que poderiam ser compartilhados com outros
setores, minimizando a obra, mas exigindo concessões. Há, porém, dificuldade
para convencer cada área a ceder, estando o poder político com estes diretores,
enquanto que um hospital privado é geralmente gerido pelos próprios donos da
instituição, centralizando mais a tomada de decisão. Isto tende a facilitar, em alguns
casos, a otimização da utilização dos espaços, estabelecendo as mesmas
prioridades a todos os setores e aumentando o controle sobre qualquer reforma.
Por este motivo, é mais comum em hospitais privados o uso de planos diretores
como ferramenta de controle das obras de expansão e renovação do edifício.
Há ainda o caso especial da Rede Sarah, que é um hospital público com uma
estrutura política bastante particular
4
, onde a figura do arquiteto detém grande parte
do poder de decisão sobre as modificações do edifício. Há lá um histórico forte de
participação da arquitetura na raiz do planejamento da rede de hospitais, com uma
rígida padronização dos seus elementos construtivos e mobiliário, mantida mesmo
após anos de funcionamento.
A questão financeira também pesa na medida em que são estabelecidas as
prioridades de ação. Em muitos casos obras são inviabilizadas pela falta de
recursos, que em outros momentos justifica equivocadamente a ausência de
planejamento do “puxadinho”. É comum a desculpa de que não há verba para
contratação de um arquiteto, tampouco há tempo para o desenvolvimento de um
projeto, frente à necessidade iminente de uma reforma em uma área de atividade
muito rentável para a instituição. Desta situação resultam muitas reformas paliativas
e mal executadas, que em pouco tempo precisam ser refeitas, já não atendendo
bem às necessidades a que se propôs.
Segundo CROSBIE (2004), ...
... “geralmente existem três níveis de intervenções em termos de custo de
reformas: intervenção ‘cosmética’ em ambientes existentes (como pintura e
piso novos); aprimoramento de ambientes existentes (como instalações,
iluminação, forro e piso novos); e a renovação onde paredes são
deslocadas (todos as camadas são afetadas)”.
4
A Rede Sarah é gerida pela Associação das Pioneiras Sociais (APS), tem como objetivo retornar o imposto pago
por qualquer cidadão, prestando-lhe assistência médica qualificada e gratuita, formando e qualificando profissionais
de saúde, desenvolvendo pesquisa científica e gerando tecnologia. O caráter autônomo da gestão desse serviço
público de saúde faz da Associação a primeira Instituição pública não-estatal brasileira. (www.sarah.br)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
196
7.1.3 Questões Legais
Nos últimos anos a grande quantidade de Normas e Resoluções criadas para
nortear os novos projetos de hospitais criou uma série de exigências também aos
edifícios existentes. Isto ocorre quando as instituições de saúde são obrigadas a
regularizarem-se quanto às normas de acessibilidade, segurança contra incêndio e
vigilância sanitária. O Hospital das Clínicas de São Paulo, por exemplo, está
submetendo seus edifícios a uma regularização junto à Prefeitura e ao Corpo de
Bombeiros, ajustando-se, portanto, às regras impostas pelo Código de Obras e
Edificações do Município de São Paulo (COE) e pelas Instruções Técnicas do
Corpo de Bombeiros (ITs). Estes ajustes têm motivado uma série de intervenções
físicas nos hospitais do Complexo HC, umas simples e outras de maior impacto,
que ainda estão em fase de projeto.
7.1.4 Hospitais modificados
Pode-se dizer que a grande maioria dos hospitais com mais de dez anos de
funcionamento tiveram que passar por reformas, e o fazem durante quase todo o
tempo, nos diferentes níveis de intervenções. A renovação e expansão de edifícios
hospitalares existentes é um fenômeno que pode ser clareado com alguns
exemplos, que serão apresentados a seguir.
Segundo MCKEE e HEALY (2002:9), “na Europa ocidental, alguns hospitais ainda
ocupam edifícios que outrora foram monastérios medievais, mas mesmo hospitais
relativamente novos falharam em acompanhar a mudança dos padrões das
doenças e tratamentos”
5
.
A Santa Casa de Santos, que foi o primeiro edifício hospitalar do Brasil a ser
construído (1543), passou por uma importante reforma e ampliação iniciada em
1929. As obras se arrastaram por vários anos e tornaram-se contínuas no hospital,
segundo o depoimento do Dr. Hugo Santos Silva
6
.
5
Tradução livre da autora para: “In Western Europe, some hospitals still occupy buildings that were once medieval
monasteries, but even relatively new hospitals have failed to keep pace with changing patterns of disease and
treatment”. (MCKEE e HEALY, 2002:9)
6
Revista Acrópole, setembro de 1943:130.
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
197
A experiência da Santa Casa de São Paulo (Figuras 7.01 e 7.02), por sua vez, foi
repleta de reformas e expansões, como apresenta MIQUELIN (1992). Segundo ele,
“o processo não planejado de crescimento e reformas conduziu este Hospital-
escola a um conjunto desorganizado de edifícios, interligados através de túneis e
passagens subterrâneas com aproximadamente 1 km de extensão. O papel de
ensino desta Santa Casa pode ter contribuído para a multiplicação de edifícios
departamentais estanques, duplicando serviços, recursos humanos e materiais. O
padrão de crescimento e transformações da Santa Casa é um exemplo interessante
do que pode ocorrer num processo natural e, portanto, desordenado, de
desenvolvimento da anatomia do edifício hospitalar”. (FERNANDES, 2003:25)
Figura 7.01: Implantação da Santa Casa de
Misericórdia-SP. Prédio original (séc.XIX).
Fonte: MIQUELIN, 1992
Figura 7.02: Santa Casa de
Misericórdia-SP. Configuração em 1992.
Fonte: MIQUELIN, 1992
Segundo WATANABE (1974), é possível notar que ...
... “todas as Santas Casas fundadas até os princípios do século XX foram
simplesmente instaladas na medida do necessário sem prever as
necessidades futuras e nem mesmo sequer estudar uma boa localização
para as mesmas. Estas Santas Casas sofriam e sofrem periodicamente
contínuas reformas e reconstruções e, sempre que o prédio permita,
ampliam suas instalações anexando simplesmente casas ao hospital,
tornando-se assim cada vez mais complexo e dificultoso para uma boa
funcionalidade”.
No Hospital Samaritano, fundado em 1984, o modesto edifício de dois pavimentos
evoluiu para um prédio de 10 pavimentos (Figura 7.03), iniciando em 2007 uma
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
198
nova ampliação (Figura 7.04). Originalmente o hospital tinha uma sala da
administração, uma enfermaria geral de 16 leitos para homens, duas enfermarias
pequenas, alguns quartos para pensionistas e dependências necessárias a seu
funcionamento. “Faltaram recursos para construir, nesta etapa inicial, outras áreas
importantes, como uma enfermaria para mulheres e uma sala para cirurgias. A
água, de poço, era obtida por meio de um moinho de vento, enquanto o gás para
iluminação e para as caldeiras seria fornecido gratuitamente pela São Paulo Gás
Company. (SAMARITANO, 2001, apud FERNANDES, 2003.)
O mais recente edifício do Hospital Samaritano, chamado de “Novo Complexo
Hospitalar Sustentável” e de autoria do escritório de arquitetura Botti Rubin,
possuirá 15 andares e 32 mil m² de área, e está em fase de obras no mesmo
terreno ocupado atualmente pelo hospital
7
.
Figura 7.03: Hospital Samaritano antes da
última ampliação.
Fonte: Hospital Samaritano.
Figura 7.04:
Simulação do Hospital Samaritano
com a última ampliação.
Fonte: Revista Finestra n
o
50, agosto de 2007
O Hospital Gastroclínicas (atual Hospital Dr. Edmundo Vasconcellos) também
passou por importantes reformas. Em 1988, com projeto do arquiteto Lauro
Miquelin, o hospital reformou o seu Centro Cirúrgico e criou novas áreas de Pronto
Atendimento, UTI, Radiologia e Imagem. Além disso criou um novo edifício para
Centro Médico e de Diagnóstico
8
. Mais recentemente, em 1999, no mesmo edifício
7
Revista Finestra. Disponível em <www.arcoweb.com.br/arquitetura/botti-rubin-arquitetos-hospital-samaritano-17-
09-2007.html>
8
MARINELLI, 2003:14.
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
199
foi realizado um refrofit
9
pelo arquiteto Siegbert Zanettini, onde as intervenções
foram desde a infraestrutura aos acabamentos.
“As instalações elétricas, hidráulicas e de gases foram refeitas. As obras
foram realizadas em uma prumada de shaft de cada vez, sendo todo o
acesso à obra feito por um monta-carga externo ao edifício. Esse sistema
de trabalho possibilitou a continuidade das atividades do hospital durante as
intervenções nos ambientes internos, onde foi adotado um design mais
contemporâneo”.
10
O Hospital Oswaldo Cruz, que iniciou suas atividades em 1923, num edifício de dois
pavimentos e um subsolo, somando um total de 30 leitos, hoje possui uma estrutura
física muito maior. Em 1928 foi construída a sua primeira ampliação, com um
pavimento a mais no prédio existente, o aproveitamento do sótão, a instalação de
um elevador e a construção do segundo prédio. Em 1966 foi construído um edifício
anexo de três pavimentos com internação e área administrativa, e “na década de
1970 foram construídos o Centro de Diagnóstico e Check-up, uma Clínica de
Reabilitação e a Farmácia. Para acompanhar o ritmo acelerado do desenvolvimento
tecnológico, em 1980 foram construídos um novo Centro Cirúrgico e uma nova UTI.
Na década de 1990 foi construído o Centro de Diagnóstico formado por dois
pavimentos subterrâneos abaixo do jardim interno”. E no final dos anos 1990
iniciou-se a construção de um edifício de 14 pavimentos. (MARINELLI, 2003:68)
No exemplo do IPq, projetado pelos arquitetos do NUTAU (Núcleo de Pesquisa em
Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo – Geraldo Gomes Serra, Marcelo Roméro e
Maria Giselda Visconti) em parceria com o escritório Borelli & Merigo (José Borelli
Neto e Hércules Merigo), o ambiente agressivo idealizado se tornou obsoleto em
poucos anos, quando os tratamentos psiquiátricos se tornaram mais humanos.
(HORTA, 2005)
“Inaugurado nos anos 50, quando surgiram os primeiros neurolépticos, o
prédio já nasceu defasado. Praticamente sem ambulatório e com espaço
organizado para internações prolongadas, de caráter prisional e sem real
perspectiva de devolver o paciente à sociedade, o IPq assistiu à inversão
9
“Retrofit é uma palavra inglesa que significa readequação ou reajustamento. Em outras palavras, quer dizer
adaptar algo do passado às mudanças promovidas por uma nova era”. (MARINELLI, 2003:158)
10
ZANETTINI ARQUITETURA PLANEJAMENTO CONSULTORIA LTDA. Disponível em:
<www.zanettini.com.br/hosp_edmundovasconscelos.html>
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
200
do tratamento psiquiátrico: os medicamentos diminuíram as internações
para em média três semanas, ao mesmo tempo em que tornaram
necessárias consultas ambulatoriais periódicas ao longo da vida do
paciente. (...) O aprofundamento do conhecimento da área psiquiátrica
também criou novas exigências, pois passou a classificar os pacientes em
várias categorias. (...) A mudança de paradigma e a própria redescoberta
do programa para o hospital, sem instituição de referência nacional em
psiquiatria, tornaram necessária uma grande reforma no edifício. Entre as
intervenções estiveram a redução do número de leitos, criação de mais
espaço para a área ambulatorial, maior compartimentação dos ambientes
(setores com diferentes grupos de pacientes) e implantação de estrutura
para cirurgias. Do edifício existente, praticamente só sobrou a estrutura de
concreto, comenta o arquiteto Geraldo Serra”. (HORTA, 2005)
O Hospital do Coração, projetado pelo arquiteto Carlos Eduardo Pompeu e
construído em 1976 numa área bastante urbanizada da cidade de São Paulo, foi
praticamente triplicado de tamanho nos últimos anos com a adição de dois novos
blocos. “Primeiro foi o centro de diagnóstico, inaugurado no início dos anos 1990.
Em 1997 foi inaugurada a segunda etapa de expansão, que incluiu o setor de
internação, responsável pela requalificação conceitual e tecnológica do hospital”
11
.
Muitos outros hospitais podem exemplificar a convivência entre o antigo e o novo,
demonstrando a evolução do edifício. No Hospital Santa Catarina (Figura 7.05), em
São Paulo ficaram claras as expansões do edifício, com linguagem arquitetônica
Figura 7.05: Hospital Santa Catarina em 2009.
Fonte: Acervo da autora.
bem diferente entre o prédio
original e as expansões. No
Hospital Infantil do Morumbi
(atual Hospital Infantil Darcy
Vargas), segundo FERNANDES
(2003), “o edifício veio se
descaracterizando ao longo do
tempo com a construção de
anexos e ‘puxadinhos’”.
Há também exemplos internacionais que podem ser destacados quando se trata de
hospitais em vertiginosa transformação e da obsolescência de suas edificações.
11
Revista Projeto n
o
214, novembro de 1997.
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
201
Segundo PEARSON (1997), no final dos anos 1990 alguns escritórios de
arquitetura norte-americanos, como Stein-Cox e Perkins & Will, relataram estarem
construindo muitos “hospitais substitutos”, onde, ao invés de adaptar hospitais
antigos, construíram-se edifícios novos. “Comumente é mais barato do que tentar
mudar edifícios velhos. Se o clássico é errado, é melhor começar do zero”, diz
Donald Blair (Perkins & Will).
Dois dos “hospitais substitutos” projetados foram o Veterans Memorial Medical
Center (Meriden, Connecticut, Estados Unidos) e o Greenwich Hospital (Greenwich,
Connecticut, Estados Unidos), o qual foi diagnosticado como incapaz de acomodar
novas tecnologias e estratégias operacionais. (PEARSON, 1997)
O mesmo ocorreu com o Baptist Memorial Medical Center, na cidade de North Little
Rock, Arkansas (Estados Unidos). Neste caso o novo hospital, projetado por um
escritório de Dallas (“HKS”), reduziu pela metade o número de leitos do anterior,
compactando as áreas de exames para reduzir a necessidade de mover os
pacientes entre diferentes departamentos. No projeto os quartos de internação são
flexíveis o suficiente para deixar que mais procedimentos de diagnóstico e
tratamento ocorram junto ao leito. (PEARSON, 1997)
Segundo COX e GROVES (1981), a demonstração clássica de que os edifícios
hospitalares inevitavelmente requerem alterações e ampliações durante sua vida
útil pode ser vista também na Grã-Bretanha, através do Northwick Park Hospital
(Figura 6.06). O Hospital Geral Distrital e Centro de Pesquisa Clínica projetado nos
anos 1960, “é provavelmente a mais descomprometida e teoricamente ’pura’ prova
desta filosofia, e permanece um exemplo seminal que de uma forma ou de outra
teve provavelmente a mais profunda influência no planejamento hospitalar
estratégico desde então”. (Ver Anexo 2)
7.2 ARQUITETURA E TECNOLOGIA: ASSINCRONISMOS
A qualidade da tecnologia disponível em um hospital tem cada vez mais
determinado o nível de qualidade do seu atendimento. Portanto, para
permanecerem rentáveis e competitivas, muitas instituições de saúde existentes
viram-se obrigadas a atualizar com frequência os equipamentos médicos utilizados,
atualizando também os seus espaços. Como mostrado até aqui, a tecnologia muda
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
202
mais rápido que os edifícios, e essa assincronia é traduzida na forma de constantes
reformas e expansões.
De acordo com CASTRO NETO (1994, apud MARINELLI, 2003), na recuperação
de edifícios por causa da incorporação de equipamentos de elevada tecnologia, a
principal problemática está centrada na necessidade de espaços que não foram
previstos, e na procura de soluções que atendam as exigências normativas, sem
destruir a estética do edifício. Segundo Lelé, em entrevista a ANTUNES (2008:69),
arquitetura não é técnica, pois “técnica é apenas um instrumento para realizar a
arquitetura. Mas há momentos em que você está tão submisso ou pressionado pela
técnica, que você tem de dar essas respostas”.
Segundo entrevista ao engenheiro Manoel Moreira, o Brasil tem um histórico de
puxadinhos (dinâmica anárquica) em estabelecimentos assistenciais de saúde.
Segundo ele, entre as mudanças tecnológicas que alteraram estes edifícios
destacam-se o “work-flow”; o tamanho das salas e o peso dos equipamentos. O
“work-flow’ está relacionado ao aumento da quantidade de procedimentos de
diagnóstico por imagem e de pessoas atendidas por vez, haja vista a diminuição do
tempo gasto na realização de cada exame. Enquanto isso, o peso dos
equipamentos diminuiu (10 toneladas para 1,5 toneladas, aproximadamente), sendo
hoje transportados em módulos e, às vezes, cabendo até em elevadores.
A informatização de hospitais, instituindo a chamada “Telemedicina”, também
impactou muito os seus edifícios, criando uma rede de conexões virtuais
revolucionária. De acordo com o DATASUS
12
, em 2006 apenas 33% dos quase
sete mil hospitais do Brasil possuem algum nível de informatização e dentre esses,
apenas 5% possuem um nível de informatização que pode ser considerado
satisfatório. (Clicsaude, 2006
13
)
Muitos são os exemplos de hospitais que se transformaram fisicamente por causa
de inovações tecnológicas, principalmente nos últimos 50 anos. No Brasil e no
exterior, novos meios de comunicação, tecnologias cirúrgicas e equipamentos de
diagnóstico renderam muitas preocupações ao projeto arquitetônico, como será
visto nos exemplos a seguir.
12
Banco de dados do Sistema Único de Saúde
13
Disponível em <www.clicsaude.com.br/pub/materiaview.asp?cod_materia=229>
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
203
No Hospital Sírio Libanês (HSL), que foi pioneiro no Brasil na aplicação da
Telemedicina e na robotização médica, o histórico de reformas e expansões está
intimamente vinculado ao seu aperfeiçoamento científico e tecnológico.
Após o primeiro edifício do HSL (Bloco A), muitos outros foram construídos, sendo
que a primeira expansão resultou, em 1971, no edifício localizado atrás do Casarão
Branco (Bloco B), onde foi implantada a primeira Unidade de Tratamento Intensivo
(UTI) do Brasil
14
.
Com uma equipe médica em crescimento, a estrutura do HSL foi aos poucos se
modernizando por causa das novidades trazidas pelos seus profissionais, muitas
vezes envolvidos com a universidade. Em 1972 foi então inaugurado um novo
prédio, conhecido hoje como Bloco B. Com dez pavimentos, foi ocupado pelas
áreas de Radiologia (térreo), Radioterapia Geral e Supervoltagem, Unidades de
Terapia Intensiva e Semi-intensiva, entre outras. Com o incentivo às atividades de
ensino na nova estrutura do hospital, foi criado em 1978 o Centro de Estudos e
Pesquisas (CEPE).
Figuras 7.06 e 7.07: Configuração a atual do conjunto de edifícios do HSL.
Fonte: Folder informativo do Hospital Sírio Libanês (junho de 2009).
Em 1992 houve outra ampliação com a construção do Bloco C, e em 2002 reformou
o Bloco A para receber o Centro de Oncologia. As obras mais recentes foram a
renovação da área de diagnóstico por imagem, projetada pela equipe do escritório
14
Sociedade Brasileira da História da Medicina. Disponível em:
<www.sbhm.org.br/index.asp?p=instituicoes_view&codigo=13 >
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
204
L+M (arquiteto Lauro Miquelin e arquiteta Sung Mei Ling) em 2007, e a construção
do Bloco D, em andamento.
Figuras 7.08 e 7.09: Vistas externas do HSL, destacando
o contraste entre edifícios de diferentes épocas.
Fonte: Acervo da autora.
Segundo entrevista ao engenheiro do HSL Vinícius Ferreira, nos últimos três anos
houve duas ou três trocas de equipamentos de tomografia no hospital, ilustrando o
dinamismo das suas renovações tecnológicas na área de diagnóstico. Em visita ao
hospital em 2008, o novo Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) estava ainda em
obras, as quais claramente representavam um obstáculo para o cotidiano da
instituição. Sempre um problema a ser minimizado, o canteiro de obras dentro do
hospital normalmente gera desvios de circulação e adaptações provisórias, como
de fato ocorreu no HSL.
O Hospital São Camilo Pompéia (Figuras 7.10 e 7.11), por sua vez, está
construindo uma ampliação, que gerou nos edifícios existentes uma série de
renovações para acompanhar a sofisticação tecnológica dos novos blocos. “Em
2002, o arquiteto Siegbert Zanettini elaborou um novo plano diretor junto com toda
equipe do hospital. Nesse plano, o prédio existente seria integrado a dois novos
blocos para formar um conjunto único, com quase 40 mil m². Esses blocos foram
identificados, andar por andar, com o existente.” (HORTA, 2005)
No prédio novo houve uma grande evolução na automação e segurança do
complexo. Há cerca de 10 anos, houve uma aceleração na expansão do conjunto,
sendo adquirido o terreno ao lado e iniciado a elaboração de um plano para
expansão. Zanettini propôs melhorias tecnológicas com as expansões,
organizando-a em três fases. Na Fase 1, que consiste na construção do Bloco 2, foi
7 HOSPITAL CONTEMPORÂNEO: CENÁRIO DE TRANSFORMAÇÕES
205
planejado o novo “coração” do complexo, concentrando as novas centrais técnicas
e de infraestrutura, compatíveis com a nova dimensão do complexo. Na Fase 2,
que está em execução, foi estabelecida a reforma do Bloco 1 (edifício original),
renovando e organizando as áreas técnicas (Shafts novos sendo abertos no edifico
existente). Na Fase 3 o Bloco 2 será expandido e um novo prédio será construído
ao seu lado (Bloco 3).
Figura 7.10: Ampliação do Hospital São
Camilo Pompéia.
Fonte: Acervo do arquiteto Siegbert
Zanettini.
Figura 7.11: Esquema das fases de ampliação do
Hospital São Camilo Pompéia.
Fonte: HORTA, 2005.
Segundo depoimento do arquiteto Aníbal Bártolo, esta e outras reformas exigem
uma permanente readequação física e funcional nos edifícios mais antigos do
hospital. Como não se pode dar ao luxo de paralisar determinados serviços por
causa das obras, tornaram-se comuns os deslocamentos de atividades enquanto
suas áreas originais são reformadas. Numa espécie de reação em cadeia, os locais
para onde estas atividades são temporariamente transferidas também demandam
modificações arquitetônicas, simples ou complexas.
Segundo Bártolo, no caso dos exames de Imagenologia esta manobra torna-se
mais delicada, na medida em que o provisório tende-se a tornar permanente. Um
equipamento de Ressonância existente, por exemplo, foi deslocado para outro
pavimento para permitir que a sua área fosse reformada, no intuito de receber um
equipamento novo. Por tratar-se de um exame cujo espaço é bastante específico, o
equipamento existente exigiu reajustes arquitetônicos significativos para ser
instalado nesta área distante, de onde nunca mais retornou ao local original. Como
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
206
se pode notar, a adição de uma sala de exame modificou permanentemente a
estrutura funcional do edifício.
Sobre este processo de interferências no edifício hospitalar durante a realização de
reformas, merece menção também o caso do Hospital Clínico y Provincial de
Barcelona (Espanha), onde foi criada uma estrutura provisória na forma de
contêineres (Figura 7.13). Estes, segundo depoimento do Dr. Antônio Coca à
autora, abrigam as atividades das áreas sendo reformadas, podendo ser facilmente
desmontados quando as obras ficam prontas.
A expansão física deste hospital espanhol foi constante, extrapolando inclusive os
limites do seu terreno original. Num terreno próximo foi construído um prédio para
consultas médicas, e em 2008 foi iniciada a construção de mais um edifício
direcionado ao paciente externo, num terreno a poucos metros do original. Neste
hospital ainda é possível observar a expansão de área no interior dos prédios, onde
o pé-direito alto permitiu que cada pavimento se dividisse em dois, duplicando o
número de andares.
Figura 7.12: Corredor externo do Hospital de Clínicas de
Barcelona nos anos 1930, mostrando o pé-direito alto que,
posteriormente, foi dividido em dois pavimentos.
Fonte: CORBELLA, 2006:23.
Figura 7.13: Unidade provisória
composta de contêineres, localizada
no vão entre dos edifícios do Hospital
de Clínicas de Barcelona.
Fonte: CORBELLA, 2006:226.
8
INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS
AVANÇOS TECNOLÓGICOS
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
209
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
Ao longo da sua existência, cada setor do hospital teve que alterar-se de formas
diferentes em virtude da variável tecnológica, ora ampliando-se para dar espaço a
equipamentos e procedimentos totalmente novos, ora rearticulando os seus
ambientes pela simples substituição de um aparelho obsoleto.
Nesta parte da dissertação, então, o intuito foi descrever com maior profundidade
como ocorre este processo de transformação do edifício hospitalar frente os
avanços da tecnologia, procurando relacionar cada unidade funcional às suas
próprias reformas e expansões.
8.1 INTERNAÇÃO
Em termos tecnológicos, as adequações que o setor de Internação foi submetido ao
longo de sua história estão mais relacionadas aos seus processos administrativos,
afetados pelos avanços nas telecomunicações e pela inserção da tecnologia digital.
Houve também o aprimoramento das camas dos pacientes e dos meios de
transporte de suprimentos.
As camas ficaram mais largas ao longo das últimas décadas, pois passaram a
agregar cada vez mais funções. A autonomia dos pacientes em relação à
movimentação do leito (ângulos de reclinação) evoluiu muito através de artifícios
mecânicos e eletrônicos acoplados nas laterais da cama. Os seus assessórios
também se modificaram para atender melhor o paciente, tornando-se em muitos
casos mais ergonômico quando deslocado.
A cama, em si, com toda a sua nova parafernália, passou a se movimentar mais
pela instituição, com o intuito de minimizar as transferências do paciente para
outros equipamentos de transporte. Assim, todo o hospital viu-se obrigado a
aumentar os vãos de suas portas, que hoje chegam a ultrapassar 1,20m de largura.
Com as facilidades de comunicação com a equipe de enfermagem, que através dos
avanços tecnológicos monitoram o paciente por voz e/ou imagem, os quartos de
internação também puderam ter mais privacidade, sem a necessidade de contato
visual direto com os postos de enfermagem.
Com o desenvolvimento da informática e da digitalização, muitos processos nesta
área tornaram-se digitais, minimizando o tempo gasto e os espaços para
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
210
armazenamento de documentos. Diminuiu-se também a manipulação de
prontuários, os quais recentemente tornaram-se eletrônicos.
“Computadores de mão (notebooks) e equipamentos de diagnóstico
portáteis, por exemplo, estão tornando possível que médicos e enfermeiras
tragam mais assistência ao leito do paciente, reduzindo a necessidade de
transportá-los pelo hospital. Ao invés de levar o paciente à sala de exame, o
exame vem ao paciente. Redes de dados eletrônicos também estão
reduzindo a necessidade de grandes sistemas de arquivamento nos postos
de enfermagem. Para acomodar este novo equipamento, os quartos dos
pacientes terão que se tornar maiores. Mas este aumento deverá ser
paralelo à diminuição de outras áreas do hospital, como menos e menores
salas de exame e postos de enfermagem”. (PEARSON, 1997)
Segundo PEARSON (1999), as colunas de instalações (gases, eletricidade, etc.)
junto aos leitos favoreceram o layout dos ambientes, a exemplo do que foi
implantado no Doernbecher Children’s Hospital (Portland, Oregon, EUA). Lá foi
constatado que estas colunas liberam espaço em volta do leito do paciente para
que as enfermeiras tenham mais mobilidade e haja mais espaço para acomodação
dos acompanhantes, tratando-se de pacientes pediátricos.
Nas Unidades de Tratamento Intensivo as mudanças foram significativas, na
medida em que os equipamentos diminuíram em dimensão, embora tenham
aumentado em quantidade. Há aproximadamente 30 anos os computadores dos
postos de enfermagem eram bem maiores (Figura 8.01), como alguns dos
equipamentos de apoio à vida do paciente. Até o surgimento do respirador
mecânico que conhecemos hoje (anos 1950), por exemplo, era utilizado o “Pulmão
de Aço” (Figura 8.02), inventado em 1927 para manter a respiração do paciente.
Figura 8.01: Posto de enfermagem com equipamentos
de monitoramento do paciente nos primórdios da UTI.
Fonte: TAVARES, 1974, apud DALMASSO, 2005
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
211
Figuras 8.02 e 8.03: Paciente com “Pulmão de Aço”, equipamento utilizado
na UTI até a invenção do respirador mecânico, na década de 1950.
Fonte: Medicina Intensiva.
8.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Tão impressionante como os equipamentos em si está a rapidez com que eles têm
sido criados e alterados pela indústria a serviço da medicina. A arquitetura tem
enfrentado desafios para acompanhar esta velocidade, dado o caráter de
permanência da construção (malha estrutural, paredes, redes de instalações, eixos
de circulação vertical e horizontal, etc.) quando comparada à volatilidade dos
avanços científicos e tecnológicos (descobrimento de novas doenças, novos
medicamentos e criação de novos equipamentos de diagnóstico e tratamento) e
dos procedimentos de assistência a eles associados.
Nas atividades de tratamento, hoje muitas vezes sobrepostas às de diagnóstico, o
cenário é parecido, porém percebe-se que a configuração espacial é um pouco
mais permanente no que se refere às rotas de circulação. Em alguns dos hospitais
visitados durante a pesquisa, os relatos são de constantes aquisições e/ou
substituições de equipamentos, reformando continuamente os edifícios para
acompanhar a atualização tecnológica.
“A Unidade de Diagnóstico e Tratamento é um dos setores que se tem mais
desenvolvido no hospital moderno. As gerações de equipamentos se
sucedem, apresentando novas facilidades e exigências, que devem ser
prontamente atendidas por quem lhes planeja os espaços. (...) A arquitetura
desses serviços deve atender as estritas condições de espaço, localização,
materiais e instalações, que necessitam ser conhecidas por quem os utiliza
e os projeta”. (CYSNEIROS, in: CARVALHO, 2002:54)
Ao passo que máquinas inovadoras são criadas elas rapidamente se tornam
essenciais para os tratamentos de saúde, exigindo espaços diferenciados para se
acomodarem. Alguns equipamentos diminuíram de tamanho, exigindo salas um
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
212
pouco menores. Por outro lado, as melhorias técnicas muitas vezes significaram a
criação de novos ambientes, seja para abrigar novas máquinas ou novas atividades
que apareceram junto ao exame (Sala Técnica, Sala de Preparo, Sala de
Recuperação, etc).
Segundo entrevista cedida pelo engenheiro Vinícius Ferreira, é muito raro o caso
onde a troca de um equipamento não signifique uma alteração do espaço. Em sua
opinião, estas alterações não estão tão ligadas à carga elétrica ou ao tamanho das
máquinas, mas sim à sua funcionalidade, rapidez e à sua movimentação. A
incorporação de novas funções e o aumento da agilidade do exame geralmente
modificam o fluxo de pacientes e ocasionam alterações externas à sala de exame,
como nas áreas de Espera, Preparo e Recuperação. A movimentação do
equipamento, que se posiciona em relação à parte do corpo a ser examinada,
modifica o espaço mínimo necessário à sua volta.
Nas reformas dos edifícios hospitalares desencadeadas pela complexidade dos
equipamentos de diagnóstico e tratamento, existem barreiras relacionadas não só
aos aspectos técnicos. O cronograma apertado e as questões políticas e
financeiras, que são problemáticas para a maioria dos hospitais públicos, também
interferem. Equipamentos de diagnóstico são muito caros e, portanto, para os
gestores dos hospitais o projeto do espaço é secundário quando se trata da
aquisição da máquina.
Segundo o arquiteto Henrique Jatene, nas reformas do InCor ocorreram situações
onde o equipamento foi comprado antes de ter-se a verba para a obra de reforma
para recebê-lo. Neste sentido, um caso alarmante ocorreu no Hospital Samaritano,
onde se descobriu que o edifício necessitava de reforço estrutural para receber um
equipamento que já havia sido comprado e estava a caminho do hospital. “Mesmo
se foram levados anos para a execução de um projeto, o hospital usualmente
deseja ação imediata. O proprietário é ávido para que a construção se inicie e
impaciente com o tempo que leva o projeto.” (WHELLER,1971)
1
1
Tradução livre da autora para: “Even if it has taken years to bring the project to a head, the hospital usually wants
immediate action. The owner is eager to begin construction and impatient with time taken for planning”. (WHEELER,
1971)
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
213
Motivadora de adaptações é também a blindagem agregada à existência de alguns
aparelhos. Segundo KARMAN (1994:75), vários são os que necessitam de um tipo
de revestimento protetor contra campo magnético ou radiação, como nas salas de
Ressonância Magnética, de Radiologia, de Radioterapia e Medicina Nuclear.
“As proteções são de várias naturezas (...): a Radiologia, por exemplo,
recorre à blindagem propiciada por vidro plumbífero, mantas de chumbo ou
argamassa baritada (...); a Ressonância Magnética à blindagem, com
barras de ferro doce, correspondente ao número de Teslas; a Medicina
Nuclear a divisórias de concreto (braquiterapia) e a mantas e blocos de
chumbo, a poço ou cofre de chumbo”. (KARMAN, 1994:73-74)
A proteção normalmente é para o ambiente externo, onde as pessoas e as
máquinas diversas não devem receber radiação ou interferência magnética
2
. Estes
requisitos, por sua vez, interferem na localização das máquinas.
Sobre as reformas e expansões associadas a equipamentos de diagnóstico em
edifícios hospitalares, TERRY e MCLAREN (1973) afirmaram que elas se
apresentam sob duas formas: de longo e de curto prazo. Na época (1973) eles
estavam falando apenas sobre as áreas de radiologia, mas suas colocações podem
ser facilmente aplicadas à realidade atual, onde é maior a variedade de exames de
diagnóstico e, logo, de procedimentos envolvidos.
As expansões de longo prazo acontecem quando há a expansão pela ocupação de
áreas adjacentes. Segundo os autores, o planejamento deste tipo de expansão
pode ser complicado por paredes autoportantes, saídas de emergência, escadas,
elevadores e malha estrutural (pilares). Sobre as expansões de curto prazo, TERRY
e MCLAREN explicam que no período entre a implantação original e as expansões
de longo prazo, muitas vezes existem momentos em que são exigidas adaptações
mais imediatas.
“No passado muitos departamentos sofreram com a perda de eficiência
largamente devido ao uso de projetos estereotipados e falhos, que ao
reformar os espaços somente de acordo com condicionantes atuais, os
2
“A exposição prolongada à radiação ionizante pode provocar anemia, leucemia, câncer de pele, c6ancer ósseo,
entre outros”. (www.clicsaude.com.br/pub/materiaview.asp?cod_materia=229, 2005)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
214
torna inevitavelmente inadequados no longo prazo”
3
. (TERRY e MCLAREN,
1973:11)
Ao falarem sobre Unidades de Radiologia, os autores a comparam com um
aeroporto, “sob o aspecto de que a sua forma de trabalho está mudando
constantemente, de modo que eles parecem muito grandes ou muito pequenos.
Parece razoável, portanto, escolher uma determinada data sobre a qual o
departamento seria exatamente adequado ao tipo de trabalho. Antes desta data o
espaço possivelmente superaria necessidades. Após esta data o departamento
deveria ser expandido, descartado ou reconstruído, ou tornar-se progressivamente
menos adequado.”
De acordo com SCHMIDT (2003), setores de diagnóstico são os principais
responsáveis pela expansão de área dos hospitais contemporâneos. Além do
impacto interno ao edifício, essa expansão recentemente originou fora dos hospitais
a multiplicação das unidades autônomas especializadas em diagnóstico.
“As transformações que ocorrem no edifício hospitalar têm impulsionado
cada vez mais a desvinculação do centro de diagnóstico dos hospitais,
embora dele, eles prescindam. Acompanhando a tendência de
especializações, formam-se cada vez mais centros de diagnóstico e
médicos que oferecem uma grande variedade de serviços em diferentes
ramos da medicina”. (THOMAZONI, 2009:6)
8.2.1 Radiologia
Os espaços reservados aos exames de radiologia se modificaram ao longo dos
anos. Certamente isto ocorreu por causa de mudanças nas necessidades físicas e
funcionais dos equipamentos envolvidos.
Para o bom funcionamento do exame de Raios-X sempre foram necessários
ambientes básicos como sala de espera, vestiário, sanitário, sala de exame, área
de comando (dentro ou ao lado da sala do exame), câmaras clara e escura
3
Tradução livre da autora para: “In the past so many departments have suffered from loss of efficiency due largely
to the use of stereotyped plans and failure to give due consideration to the fact that whatever space is reckoned to
be sufficient to deal with today’s problems, it is inevitably inadequate in the long term”. (TERRY e MCLAREN,
1971:11)
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
215
(revelação dos filmes de Raios-X), salas de interpretação dos laudos, salas para o
arquivamento dos laudos e salas de chefias administrativas. Os ambientes que
mais se modificaram foram a sala do exame e a área de revelação do filme.
Segundo TERRY e MCLAREN (1973) a sala de exame de raios-x convencional
deveria ter, em meados da década de 1970, entre 32 e 37m². Hoje a sala pode ter
até 25m² (equipamentos maiores) e 15m² (equipamentos menores) segundo alguns
casos analisados para esta pesquisa. A esta mudança no espaço se atribui a
mudança de tamanho do equipamento envolvido, que se mostrou variável por
razões relacionadas às suas diferentes funções, à sua forma (robustez) e ao seu
peso.
Pode-se dizer que com o passar do tempo foram surgindo equipamentos
especializados em examinar determinadas partes do corpo (Mamografia,
Radiografia Torácica), e isto provocou o surgimento de diversos equipamentos de
Raios-X menores.
As salas de alguns exames, por sua vez, passaram a exigir menos espaço,
enquanto outros tipos de equipamento continuaram grandes por realizarem na
mesma máquina o exame de diversas partes do corpo. Nestes casos, porém, pode-
se notar que as máquinas ficaram mais articuladas e mais leves, embora o espaço
necessário para a realização do exame pouco mudou em função da presença do
plano horizontal para o paciente, cujas medidas continuaram as mesmas. Além
disso, diferentes áreas passaram a ser definidas pela inovação nos movimentos de
cada equipamento.
Segundo o arquiteto Nelson Daruj, em entrevista à autora, as salas de Raios-X
costumavam ser maiores dentro dos hospitais também por causa da disponibilidade
de espaço existente, na medida em que antigamente haviam mais espaços
disponíveis nos setores de diagnóstico. Pode-se dizer também que o aumento de
demanda pelos exames de Raios-X criou a necessidade de mais equipamentos,
causando assim a subdivisão das salas existentes em busca de mais espaço nos
setores de radiologia. O aumento do número de equipamentos também pode ser
relacionado à sua especialização, pois para possibilitar o exame de várias partes do
corpo foi necessária a existência de várias salas com equipamentos diferentes (sala
de Mamografia, sala de Raios-X de Tórax, etc.).
As áreas de revelação do exame e armazenagem dos filmes foram praticamente
suprimidas com o advento da tecnologia digital, causando importantes mudanças
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
216
nas áreas de processamento de dados e imagens. Apesar do aumento de espaço
com as áreas dedicadas aos novos computadores, os mesmos acompanharam a
evolução da informática e ficaram cada vez menores, havendo a liberação de muito
espaço devido ao armazenamento digital de todas as informações. Com isso os
ambientes de interpretação de laudos também diminuíram e mudaram o seu próprio
conceito de funcionamento, haja vista que a rede de comunicação entre os
computadores tornou substituível a presença dos médicos para discussão e
interpretação dos resultados dos exames.
Nos hospitais visitados, porém, constatou-se que há nos exames a tendência de
multidisciplinaridade, o que tem lotado estas áreas de interpretação com
profissionais de várias especialidades médicas, bem como diversos técnicos. Nas
áreas de comando ocorre o mesmo, principalmente nos exames de Tomografia
Computadorizada e Hemodinâmica.
Outro importante motivo para as mudanças na configuração espacial dos setores
de exames de diagnóstico foi o tempo de duração do exame, que antes era bem
mais longo do que é hoje. Com menos tempo de exame, foi possível atender mais
pessoas por dia, o que criou a necessidade de mais espaço para as salas de
espera e processamento de dados.
Na Tomografia Computadorizada a evolução do equipamento e a sua
funcionalidade sempre foram um pouco mais específicas. Neste caso mudanças
drásticas em relação à sala convencional de exame Raios-X, pois além do
equipamento ter maior dimensão, sua área de controle passou a envolver uma área
bem maior para suportar alguns computadores e uma bancada de trabalho.
Na própria sala do exame passaram a existir equipamentos de apoio ao tomógrafo,
todos um pouco ruidosos e com necessidades especiais de temperatura. Por isto
estes equipamentos foram muitas vezes compartimentados em salas separadas, o
que tornou o espaço para este exame maior e ainda mais específico sob o aspecto
técnico (instalações elétricas, de ar-condicionado e eventualmente proteção
acústica).
8.2.2 Medicina Nuclear
O processo de exame realizado na Medicina Nuclear é muito especial devido ao
envolvimento de substâncias radioativas. O movimento do paciente e do funcionário
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
217
no antes, durante e depois do exame é muito controlado, e isto se reflete na
distribuição espacial do setor. O desenho das unidades de Medicina Nuclear está
guiado principalmente pela separação de áreas radioativas e não-radioativas,
sendo que quanto mais efetiva for esta separação, menor a necessidade de
artifícios de proteção contra radiação.
No processo do exame o paciente chega, é recebido, registrado e direcionado para
a área de espera de pacientes externos ou de pacientes internos, que devem estar
em locais distintos. Antes do exame o paciente deve receber as substâncias
radioativas em uma área específica (sala ou cabine com uma cadeira e um
pequeno armário ou estante), sendo depois direcionados à sala do exame. No caso
de alguns exames há ainda o teste de esforço ou teste farmacológico antes, que é
realizado em esteiras ergométricas ou em outra sala, respectivamente. Na
sequência, o paciente que ingeriu a substância radioativa deve acessar outra sala
de espera, com sanitários exclusivos, dedicada apenas aos pacientes
“contaminados”, enquanto aguarda o exame propriamente dito.
As substâncias radioativas, por sua vez, devem ser preparadas antes de ingeridas
pelo paciente, sendo armazenadas e manipuladas com segurança em uma sala
separada e de acesso controlado (Radiofarmácia ou Sala Quente). O recebimento
das substâncias é realizado manualmente ou por carros de transporte, requerendo
atenção especial. Deve ser evitada a passagem destas substâncias por áreas de
acesso ou permanência de pacientes.
Durante o exame as imagens fornecidas pelo equipamento são vistas e melhoradas
em aparelhos dentro das próprias salas ou na área anexa de comando. O médico
e/ou o técnico recebe as imagens para interpretação e os arquivos de imagem são
armazenados eletronicamente e disponibilizados para retirada e consulta.
Hospitais-escola podem precisar de mais suporte técnico para acomodar pequenos
grupos de alunos que participam da consulta, interpretação e manipulação das
imagens.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
218
Figura 8.04: Esquema ilustrativo das etapas do exame de Medicina Nuclear.
Fonte: InCor.
Os equipamentos de PET/CT, ao contrário dos de Cintilografia ou Gama-Câmaras,
exigem instalações especiais. Por utilizar uma máquina diferenciada, precisa de
mais espaço linear interno (2 a 3 metros mais longa que uma sala de Cintilografia)
para permitir a movimentação da máquina. A quantidade de dados gerada neste
tipo de exame é também muito maior, exigindo salas maiores para serem
distribuídas e arquivadas. Por serem máquinas mais pesadas e complexas,
também necessitam de reforço estrutural e espaço para equipamentos de suporte
adicionais.
Enquanto uma estrutura direcionada ao PET convencional necessita de 2 ou 3
salas, o PET/CT exige 4 ou 5 salas, além dos sanitários diferenciados
(contaminados e não-contaminados). Para a incorporação destas e de outras
especificidades, são comumente impactantes as reformas para a instalação das
salas de PET e PET/CT nos hospitais pré-existentes.
8.2.3 Ressonância Magnética
O processo do exame de Ressonância Magnética começa com a preparação do
paciente, que muitas vezes precisa ingerir substâncias de contraste (líquido que
melhora a definição dos órgãos e vasos sanguíneos nas imagens) e é solicitado a
remover acessórios ou artigos de roupa que possam ser atraídos pelo magneto. Já
na sala do exame, o paciente é posicionado pelo técnico na mesa do equipamento,
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
219
sendo colocada uma superfície especial envolvendo a região de interesse do
exame.
Durante o exame são realizadas de duas a seis sequências diferentes, durando
cerca de quinze minutos cada uma. O técnico que executa o exame permanece
fora da sala o tempo todo, se comunicando por som da sala de Comando.
Após o exame, o técnico pede ao paciente que se vista novamente e aguarde
enquanto as imagens são revisadas para que possa ser liberado (às vezes são
necessárias mais imagens).
Para possibilitar a realização de todas as etapas acima descritas, as áreas de RM
necessitaram sempre de espaços básicos como Recepção, salas de Espera, sala
de Recuperação, Vestiários; Sanitários, sala do exame, sala de Comando, Sala
Técnica, sala de Interpretação de Laudos e salas de Chefias Administrativas. As
transformações que ocorreram em relação a estes espaços estiveram certamente
ligadas ao espaço das salas de exame e de seus componentes, considerando
também o aumento do número de salas causado pelo aumento de demanda pelo
exame. Este se tornou cada vez mais rápido e o seu equipamento, como vimos
anteriormente, diminuiu.
Em alguns hospitais brasileiros, por exemplo, foram observados casos onde áreas
antes destinadas a apenas um equipamento de RM, foram facilmente ocupadas por
dois deles, provando a diminuição das dimensões da máquina.
As modificações das condições de existência dos aparelhos de apoio ao exame
também estão em processo de adaptação, já sendo incorporadas às salas dos
magnetos. Com isso espera-se que sejam pouco a pouco eliminadas, ou pelo
menos reduzidas as Salas Técnicas, cujos equipamentos também tendem a
diminuir e liberar mais espaço dentro dos setores de Ressonância Magnética.
Nos espaços utilizados pelo exame existem algumas especificidades técnicas a
serem consideradas. A presença do campo magnético cria várias restrições à
localização da sala de Ressonância dentro da edificação. Eficientes tecnologias de
proteção (revestimento de chumbo ou barita nas paredes externas) existem contra
a entrada de frequências de rádio e contra a expansão do campo magnético..
“Se por um lado o campo magnético de RF (Radiofrequência) influencia o
ambiente externo (pessoas com implante magnético ou marca-passo), por
outro lado é afetado por mudanças no campo magnético provocado por
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
220
massas magnéticas em movimento (veículos), as quais podem provocar
graves distorções em imagens MR”. (KARMAN, 1994:75)
O tamanho e o peso do equipamento são determinantes na configuração espacial
das salas e nos aspectos estruturais do edifício, pois muitos não estão preparados
para suportar o peso das máquinas. O uso do refrigerador e as necessidades
especiais de ventilação também influenciam o layout destes espaços. Instituições
de ensino (hospitais-escola) exigem áreas maiores de apoio, incluindo espaços
para pequenos grupos de observação nas áreas de interpretação e manipulação de
imagens.
8.2.4 Laboratórios
Em um exame laboratorial a participação do paciente é bem definida
espacialmente. Existem as áreas de recepção e espera, de coleta e de entrega de
resultados, que hoje é em grande parte realizada pela internet. A área de coleta,
por sua vez, varia no número de boxes e sanitários, configurando ambientes
pequenos e auxiliados por um mobiliário simples. A transformação destas áreas
não sofreu grandes alterações, modificando-se mais no sentido de expansão por
causa do aumento da demanda de pacientes. Na área de domínio dos bioquímicos,
porém, foram significativos os avanços científicos e tecnológicos, trazendo a
especialização dos seus espaços.
No Laboratório de Análises Clínicas propriamente dito, o aumento significativo do
número de equipamentos e instalações gerou o adensamento das bancadas de
trabalho, que também aumentaram em extensão e profundidade (comparação entre
a Figura 8.05 e as Figuras 8.06, 8.07 e 8.09). Na medida em que foi ampliada a
variedade de elementos a serem analisados, o processo de trabalho foi
reorganizado (hematologia, parasitologia, urinálise, bacteriologia, etc.), bem como
os seus espaços. Equipamentos de apoio como estufas, refrigeradores e câmaras
frigoríficas criaram nestas áreas salas novas e individualizadas.
Na maioria dos hospitais visitados durante esta pesquisa foi observado que os
laboratórios são áreas que demandam muitas reformas, embora estas sejam de
pequena escala. Isto se explica pelo fato de que cada equipamento que é adquirido
ou deslocado exige uma série de ajustes nas instalações elétricas, hidráulicas e
fluído-mecânicas. As bancadas também são frequentemente modificadas, ora
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
221
interrompidas para dar lugar a um equipamento um pouco maior a ser apoiado no
piso, ora expandidas para englobar mais área de trabalho.
Figura 8.05: Laboratório no início da década de 1970.
Fonte: ROSENFIELD, 1971.
Figuras 8.06, 8.07 e 8.09: Laboratório em 2009 (Hospital Sarah Kubitschek de Brasília).
Fonte: Acervo da autora.
8.2.5 Radioterapia
No caso da Radioterapia a especificidade técnica e arquitetônica sempre foi a
proteção radiológica necessária ao equipamento. O nível de proteção necessária é
tão alto que as salas do exame possuem paredes de concreto que chegam a
ultrapassar dois metros de espessura (Bunker- Figura 8.10). A espessura
necessária de chumbo, embora menor, ainda seria grossa e, logo, de custo muito
elevado.
Por causa dos Bunkers, a localização do setor de Radioterapia dentro de uma
instituição deve ser muito bem planejada, pois o seu deslocamento é muito
dispendioso e raramente viabilizado.
No caso do Alta Bates Cancer Center (Califórnia, Estados Unidos), por exemplo,
houve dificuldade na hora de adaptar um edifício existente, onde o pé-direito de
2,4m era insuficiente para a instalação do novo equipamento de radioterapia. Um
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
222
novo edifício teve que ser construído para atender os quase 5m de pé direito
exigidos. (PEARSON, 1997)
Figura 8.10: Exemplo de uma sala de Radioterapia (Bunker).
Fonte: Acervo Carlos Hernandez
8.2.6 Cirurgia
A configuração arquitetônica básica de um Centro Cirúrgico pouco se modificou ao
longo dos anos, na medida em que sempre foi caracterizada por uma área “limpa”
onde existem salas de cirurgias de tamanhos variados e onde o acesso do médico
é realizado por vestiários de barreira e o do paciente por uma área de transferência
de macas. O interior da sala de cirurgia, por sua vez, foi a área mais afetada pela
variação tecnológica.
Como comentado anteriormente, a cirurgia como disciplina só ganhou força a partir
do século XIX, devido ao aprimoramento das técnicas de assepsia. Desde então o
aparato tecnológico desta atividade em muito aumentou, trazendo para dentro das
salas uma série de equipamentos e profissionais. Segundo CARVALHO, BATISTA
e VIEIRA (2004:37), o Centro Cirúrgico requer “um especial cuidado e pesquisa na
sua programação e concepção arquitetônica, buscando-se sempre minimizar custos
e maximizar sua assepsia”.
Segundo TOLEDO (s/d), houve nos hospitais uma queda de barreiras físicas com
as descobertas científicas e tecnológicas do final do século XIX.
“Na medida em que se aperfeiçoavam os procedimentos de assepsia e que
a medicina passava a compreender melhor as formas de propagação da
infecção hospitalar, inúmeras destas barreiras (antecâmaras, vestiários
barreira, circulações exclusivas, pró-pés, capelas de fluxo laminar, ar com
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
223
pressão positiva ou negativa) deixaram de ser utilizadas, ou por não
apresentarem resultados satisfatórios ou para diminuir o custo da
construção e operação das unidades”.
Segundo a própria Resolução RDC n
o
50 da ANVISA (2002), "a melhor prevenção
de infecção hospitalar é tratar os elementos contaminados na fonte; o transporte de
material contaminado, se acondicionado dentro da técnica adequada, pode ser
realizado através de quaisquer ambientes e cruzar com material esterilizado ou
paciente, sem risco algum”. Isto dispensou tecnicamente o isolamento entre as
circulações exclusivas para elementos sujos e limpos nas áreas cirúrgicas. “Mesmo
nos ambientes destinados à realização de procedimentos cirúrgicos, as circulações
duplas em nada contribuem para melhorar sua técnica asséptica, podendo
prejudicá-la pela introdução de mais um acesso, e da multiplicação de áreas a
serem higienizadas". (RDC 50, 2002:99)
Mais recentemente foram incorporados ao setor cirúrgico vários procedimentos
ligados ao diagnóstico, além da robotização do trabalho do próprio cirurgião. Isto
demandou reformas nas salas cirúrgicas, como no caso do Hospital Sírio Libanês,
primeira instituição brasileira a incluir o robô (“Da Vinci”) na cirurgia.
Neste caso foram reformadas duas salas cirúrgicas, planejadas em
aproximadamente cinco semanas e executadas em 33 dias. Segundo o engenheiro
Vinícius Ferreira
4
, responsável pela obra, foi exigido mais espaço dentro das salas
devido à presença do robô, à sua movimentação em torno do paciente (cada tipo de
cirurgia determina uma localização diferente do equipamento) e à movimentação da
equipe em torno do equipamento. Além disso, Ferreira comentou sobre as
recomendações provenientes da empresa fabricante do robô, onde foram
estabelecidas distâncias mínimas entre o equipamento e as paredes do ambiente.
Com a aplicação de técnicas menos invasivas, a robotização da cirurgia também
reduziu o tempo de recuperação do paciente, reduzindo a sua permanência no
hospital e aumentando a rotatividade de ocupação dos leitos de UTI e internação.
No Brigham and Women’s Hospital, por sua vez, a união da prática cirúrgica com o
auxílio diagnóstico foi mais longe com a construção de um protótipo com três salas
contíguas (Figuras 8.11 e 8.12) para a interação simultânea entre a cirurgia e as
4
Em entrevista à autora (fevereiro de 2009)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
224
atividades de diagnóstico (RM e PET/CT – Programa “AMIGO” de cirurgia guiada
por imagem). Neste caso, a mesa onde está o paciente é transportada de um
equipamento a outro através de trilhos no chão, encaixando-se no anel do PET/CT.
O equipamento de RM, por sua vez, é preso ao teto e pode ser transportado até a
mesa cirúrgica.
“A sala de cirurgia é equipada com o estado-da-arte em mesa cirúrgica,
eletronicamente controlada e cercada por modalidades de imagem e
dispositivos de terapia, incluindo um sistema de navegação integrado ao
teto, uma unidade de fluoroscopia, um ultrasom 3D, e um sistema de
imagem próximo ao infravermelho. (...) Montado no teto, o equipamento de
RM pode ser movido para fora da sala e até a sala de cirurgia. Com esta
inovação, o paciente não precisa ser transferido para a mesa da RM. Estes
recursos permitem flexibilidade no fluxo de trabalho para adaptar os
procedimentos às necessidades do médico e do paciente”
5
. (National
Center for Image Guided Therapy)
ROUGHAN (2009) comenta que no processo de desenho destes ambientes
existem “camadas de complexidade que irão requerer uma miríade de constituintes
incluindo clínicos, tecnólogos, equipe de enfermagem, pessoal biomédico, gestão
de materiais, equipe de planejamento, arquitetos/planejadores médicos,
engenheiros, e fornecedores/planejadores de equipamentos. Ninguém
individualmente é conhecedor de todos os parâmetros necessários; o processo
exige colaboração entre todos eles”
6
.
5
Tradução livre da autora para: “The operating/angiography room (OAR), is outfitted with a state-of-the-art,
electronically controlled patient table surrounded by imaging modalities and therapy devices, including a ceiling-
integrated navigation system, a fluoroscopy unit, 3D ultrasound, and a near-infrared imaging system. The patient
table top can be changed to optimize the procedure for surgery or angiography. (…) The ceiling mounted MRI
scanner can be moved out of the MR room and into the operating/angiography room. With this innovation, the
patient does not need to be transferred into the operating/angiography table for MR imaging. These features enable
flexibility in workflow to tailor procedures to the needs of the doctor and patient”. (National Center for Image Guided
Therapy - www.ncigt.org/pages/AMIGO)
6
Tradução livre da autora para: “The design process for technology intensive image-guided surgery rooms has
layers of complexity that will require a myriad of constituents including clinicians, technologists, nursing staff,
biomedical personnel, material management, facility planning staff, architects/medical planners, engineers, and
equipment planners/vendors. No one individual is cognizant of all of the required parameters; the process requires
collaboration among all of them”. (ROUGHAN, 2009)
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
225
Figuras 8.11 e 8.12: Projeto das salas cirúrgicas do Programa AMIGO, implantado no
Brigham and Women’s Hospital (Boston, EUA).
Fonte: National Center for Image Guided Therapy.
Claramente o aumento da variedade de funções na sala de cirurgia também
aumentou o número de profissionais envolvidos em um mesmo procedimento,
aumentando também a necessidade de espaço.
“O que era outrora domínio único do cirurgião foi invadido por vários clínicos
diferentes, entre os quais cardiologistas intervencionistas, radiologistas, e
gastroenterologistas. Códigos estão atualmente sendo reescritos e a
distinção entre salas de cirurgia e salas de procedimentos intervencionistas
está mais turva. A questão inevitável é se uma caixa pode ser criada onde
um tamanho sirva para tudo”.
7
(ROUGHAN, 2009)
Como em qualquer outra área com a necessidade de equipamentos de grande
porte, nas áreas de cirurgia consideram-se também as estratégias de transporte
dos equipamentos até seus locais de destino dentro do edifício. Por este setor estas
7
Tradução livre da autora para: “What was once the sole domain of the surgeon has been invaded by several
different clinicians, among them interventional cardiologists, radiologists, and gastroenterologists. Codes are
currently being rewritten and the distinction between ORs and interventional procedure rooms is further blurred. The
Inevitable question is whether a box can be created where one size fits all” (ROUGHAN, 2009)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
226
muitas vezes localizado nos andares acima do térreo, são comuns dificuldades
neste processo, envolvendo freqüentemente o uso de guindastes (Figura 8.13) e a
demolição de paredes.
No IPq, por exemplo, o projeto arquitetônico encarregou-se de solucionar isso com
a previsão de “uma parede retirável (chapas de fibrocimento pintadas do lado
externo e placas de gesso acartonado por dentro, com um vão de 10 cm entre os
dois tipos de placa) na área do Centro Cirúrgico, necessária para viabilizar futuras
trocas de equipamentos pesados, como aparelhos de ressonância magnética. (...)
Pela dificuldade de transporte destes equipamentos pelos elevadores e escadas, a
alternativa foi prever a sua entrada no edifício pela fachada, através de um
guindaste”. (HORTA, 2005)
8.3 ENSINO E PESQUISA
Fazem parte das áreas de ensino e pesquisa as salas de aula, os auditórios, as
bibliotecas, os laboratórios de pesquisa e o espaço eventualmente ocupado pelos
alunos dentro das salas de diagnóstico e terapia dos hospitais. Com a tecnologia
digital, porém, todo esse espaço de troca de informações e experiências está em
processo de transformação, na medida em que dados e imagens passaram a
integrar o mundo virtual.
Foi possibilitado o ensino à distância em tempo real, e por isso os Anfiteatros cada
vez mais têm se preparado tecnologicamente “para receber sistemas de
videoconferência e possuir salas onde os profissionais de saúde possam acessar a
internet e buscar novos conhecimentos e se atualizarem”. (MARINELLI, 2003:131)
Nas áreas cirúrgicas, por exemplo, a Telecirurgia e a Videoconferência
(transmissão on-line de procedimentos invasivos) são tecnologias que influenciaram
a configuração espacial.
Até a segunda metade do século XX, como pode ser observado nas imagens
abaixo, nas salas de cirurgia dos hospitais escola eram projetados espaços
especiais para que os alunos pudessem assistir aos procedimentos. Com as
ferramentas atuais isso não é mais necessário, permitindo ainda que um maior
número de alunos assista cada cirurgia, em um ambiente mais apropriado à
atividade didática.
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
227
No projeto de Rino Levi para a Maternidade
Universitária da Faculdade de Medicina da
USP (não construído), por exemplo, foi
projetado um observatório acima da sala
cirúrgica (Figura 8.13).
Figura 8.13: Volumes cilíndricos para a observação dos
partos e cirurgias no projeto da Maternidade Universitária
da Faculdade de Medicina da USP (não construído).
Fonte: ANELLI e GUERRA, 2001:185.
Figura 8.14: Sala de cirurgia Hospital de
Clínicas de Barcelona nos anos 1920.
Fonte: CORBELLA, 2006:72.
Figura 8.15: Sala de cirurgia com observatório
superior.
Fonte: Post-Gazzete.
Segundo MARINELLI (2003:132), “a realidade virtual permite que o aluno treine
operar sobre uma imagem virtual antes de ir para a sala cirúrgica”. Com a cirurgia
robótica, ambientes especiais foram adicionados nas instituições, também
fisicamente desvinculados da sala de cirurgia.
Figura 8.16: À direita o equipamento de simulação da
cirurgia robótica, e ao centro o robô anexado à mesa
cirúrgica.
Fonte: Engenharia de Automação IFF Campos & ISA
Campos.
Neste caso o treinamento é
realizado através de um
equipamento especial de simulação
(Figura 8.16). No Brasil o Hospital
Sírio Libanês também foi pioneiro na
implantação de um Centro de
Treinamento e Desenvolvimento de
Cirurgia Robótica, onde existe um
robô utilizado exclusivamente com a
finalidade de ensino.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
228
Nos laboratórios de pesquisa, por sua vez, a influência da tecnologia no espaço
envolve os aspectos comentados no item 8.2.4, referentes a qualquer laboratório. O
número de salas tem se multiplicado na medida em que se desenvolve o campo
científico da bioquímica, virologia, medicina molecular, etc. A descoberta de um
novo vírus, por exemplo, introduz necessidades de isolamento físico e de
procedimentos especiais, o que se traduz em novos ambientes com características
especiais de ar (isolamento também pela diferença de pressão do ar externo e
interno às salas) e novos equipamentos para apoiar a análise e a manipulação
segura dos microorganismos.
8.4 APOIO ADMINISTRATIVO
O setor de Apoio Administrativo de um hospital, como de qualquer outra instituição,
funciona como um escritório, onde não há muitas restrições físicas de
funcionamento. O que ocorreu nestas áreas foi a diminuição das áreas de
armazenamento de papel, pois com a tecnologia digital quase todos os seus
processos tornaram-se virtuais.
Têm sido englobados equipamentos dispersos por todo o edifício, como terminais
de computadores, fotocopiadoras e faxes ligados à rede.
“A automação dos serviços administrativos no estabelecimento de saúde
abrange todas as áreas. Controla e racionaliza processos desde a entrada
de pacientes, consultas e internações, pronto-atendimento, centro cirúrgico,
ambulatório, internação e enfermagem, apoiando atividades como
faturamento, compras, estoques, dispensação de materiais e
medicamentos, distribuição e custos”. (MARINELLI e CAMARGO, 2004:35)
8.5 APOIO TÉCNICO E LOGÍSTICO
Fisicamente, os sistemas de infraestrutura hospitalar representam espaços técnicos
específicos e contínuos, distribuídos pela edificação. “Por ‘Espaços Técnicos’
entendem-se os espaços especialmente planejados para acolher, abrigar e
distribuir as mais diferentes modalidades de instalações e equipamentos de apoio,
que compõem a infraestrutura da Instituição”. (KARMAN et al, 1995:23)
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
229
Os Espaços Técnicos Específicos são aqueles pontuais e destinados a propiciar
manutenção operacional a equipamentos específicos, como os de esterilização, de
refrigeração, de ar condicionado (torres de resfriamento, Chillers e Fan-coils), de
compressão do ar, de vácuo, de No-break, de energia (casa de força e cabine
primária), de água (barrilete, estação elevatória, bombas de recalque), de
tecnologia da informação, de correio pneumático, de telefonia, etc.
Para a passagem da grande quantidade de eletrodutos, tubos de água, cabos de
rede (tecnologias da informação), dutos de gases e ar, existem os Espaços
Técnicos contínuos. Estes podem ser horizontais ou verticais, formando uma rede
de distribuição integrada e ordenada dos sistemas de abastecimento e suprimento.
A presença dos Espaços Técnicos como parte importante do edifício hospitalar
intensificou-se a partir da segunda metade do século XX, quando foram
estabelecidas estratégias mais racionais para o agrupamento dos equipamentos e
das instalações. Passou-se a valorizar mais a facilidade de manutenção, disciplina
cada vez mais especializada e rigorosa dentro das instituições hospitalares.
Segundo DIAS (2003:13), “o próprio conceito de Manutenção também está
modernizando-se para poder acompanhar essas transformações (tecnológicas)”.
Como disse Karman em entrevista a MAWAKDIYE (1997), "manter um hospital não
é apenas trocar as calhas defeituosas", pois "os equipamentos têm de ser
consertados imediatamente, a acessibilidade tem de ser total e há de haver
continuidade operacional permanente".
Os Espaços Contínuos Horizontais são formados pelos pavimentos técnicos e pelos
espaços entre a laje e o piso e entre a laje e o forro. Também denominados
“Espaços Intersticiais”, os pavimentos técnicos (Figuras 8.17 e 8.18) são andares
com pé-direito de aproximadamente 2,40m (mais baixo que o restante dos andares)
onde são colocados estrategicamente diversos equipamentos e instalações. Nestas
áreas, concebidas para terem um bom isolamento acústico, é facilitada a
manutenção individualizada a cada peça ou componente, bem como a introdução
de alterações, derivações, extensões, acréscimos e supressões, sem perturbar o
funcionamento de outras atividades da instituição.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
230
Figura 8.17: Pavimento Técnico do Hospital Municipal de Boston (EUA, 1969),
de H. Stubbins e Rex Allen.
Fonte: STUBBINS e ALLEN, 1970:55.
A presença dos pavimentos técnicos confere grande flexibilidade para a aquisição e
substituição de equipamentos, principalmente se for construído adjacente às áreas
mais tecnologicamente carregadas do edifício hospitalar, que são as unidades de
diagnóstico e tratamento. No Centro Cirúrgico, por exemplo, a presença do
pavimento técnico é muito favorável, concentrando o grande número de
equipamentos e instalações complementares demandados pela atividade cirúrgica,
bem como suprimindo a necessidade de manutenção dentro do setor.
Os Espaços Técnicos Contínuos entre a laje e o forro e entre a laje e o piso
também existem para dar flexibilidade às instalações, na medida em que
concentram vários tipos de tubulações e são vedados por placas removíveis para
permitir a manutenção dos mesmos. Os Espaços Técnicos Verticais, por sua vez,
são também visitáveis, concentrando nos chamados Shafts a mesma tubulação na
forma de prumadas.
Apesar de toda a descrição apresentada sobre os espaços técnicos, é importante
ter-se em mente que nem sempre existiu esta quantidade e variedade de
tecnologias para dar suporte ao edifício e às atividades nele desenvolvidas, o que
fez com que edifícios mais antigos tivessem que se adaptar arquitetonicamente a
esta nova realidade.
“As instalações são as que mais sofrem o impacto das alterações,
modernizações, progressos e expansões a que os hospitais estão
continuamente sujeitos; por isso, é absolutamente essencial dotar o hospital
de meios e recursos para poder zelar eficazmente pela eficiência de sua
infraestrutura”. (KARMAN et al, 1995)
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
231
Ao aumento da área útil e do parque tecnológico das instituições hospitalares
acompanhou o aumento da carga elétrica dos edifícios, da necessidade de
climatização dos seus ambientes e da quantidade de espaços técnicos. O aumento
do rigor no desempenho técnico dos equipamentos e a necessidade de flexibilidade
nas redes de instalações reforçaram o caráter essencial destes espaços técnicos.
Segundo LAMHA NETO (2008), em termos de modificações arquitetônicas por
causa de instalações “há áreas mais estáveis, como as de internação. (...) O
dinamismo é muito maior nos Centros Cirúrgicos e de Diagnóstico e aí os cuidados
devem ser maiores para permitir que as paredes e os suprimentos sejam facilmente
mutáveis. É preciso prever espaços técnicos adequados para, por exemplo,
substituir um aparelho de ar-condicionado sem interferir nas dependências e
serviços do hospital”.
Com as visitas a alguns hospitais durante esta pesquisa, foi possível constatar que
o sistema de ar condicionado é um dos que mais impactaram arquitetonicamente os
edifícios, pela dimensão e complexidade dos equipamentos envolvidos. Os Chillers
e as Torres de Resfriamento constituem equipamentos grandes e com necessidade
de ventilação, o que induz que a sua localização seja geralmente na cobertura dos
edifícios. A tubulação envolvida nesta fase de congelamento da água também é
bastante volumosa, ocupando espaços significativos nos “bastidores” do edifício.
Os Fan-coils, por sua vez, espalham-se pela instituição de acordo com a
necessidade, variando entre pequenas salas a grandes áreas, no caso dos
equipamentos que atendem as salas com maior necessidade de pureza do ar,
como as cirúrgicas. Os dutos de ar condicionado que chegam aos ambientes
também são relativamente volumosos, e determinam mais espaço nos forros falsos.
Segundo o engenheiro Carlos Hernandez, para a instalação dos dutos de ar-
condicionado, os grandes “vilões” são os pés-direitos, muitas vezes insuficientes. É
comum também a falta de espaço para as salas dos Fan-coils, que devem estar
próximas às áreas a serem climatizadas.
Em hospitais que passaram por reformas, é possível notar com clareza a
dificuldade em adaptar os espaços técnicos à expansão das instalações do edifício.
Este é o caso do Hospital Brigadeiro (São Paulo – Figura 8.18), onde na fachada de
fundos é visível a falta de um espaço adequado para as prumadas de alguns dutos.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
232
Figura 8.18: Hospital Brigadeiro, São Paulo.
Fonte: Acervo da autora
No Complexo do Hospital São Camilo
Pompéia, por sua vez, um edifício da
década de 1960 (Bloco I) está sendo
reformado radicalmente para poder abrigar
uma nova estrutura técnica, incluída na
instituição por causa de uma grande obra
de expansão. Em visita ao prédio, pôde-se
constatar que não foram previstos espaços
técnicos, nem horizontal e nem vertical,
para a expansão da sua infraestrutura,
havendo uma série de arranjos empíricos
(“puxadinhos”) para cada ajuste ocorrido
até hoje. Na nova reforma, espaços para
Shafts novos estão sendo abertos do térreo ao último pavimento, instalando uma
nova “espinha dorsal” eletroeletrônica (sistema de barramento Bus-way). O sistema
de transporte vertical, obsoleto, também está sofrendo alterações.
Segundo Gleiner Ambrósio, engenheiro de manutenção do Hospital São Camilo
Pompéia, a renovação da infraestrutura está causando outras modificações
arquitetônicas no Bloco I, onde o atual equipamento de ar condicionado deverá ser
substituído e ocupará um apartamento da área de internação, dada a sua
dimensão. Além disso, o pé-direito dos pavimentos não é suficiente para manter no
forro falso a quantidade de instalações necessárias.
No caso do novo Hospital Sabará, em São Paulo, que está adaptando um edifício
de escritórios para o uso hospitalar, outros desafios foram encontrados para
adaptar a tecnologia necessária. O edifício para onde será transferido o hospital,
não possuía a área, os pés-direitos, a quantidade de elevadores e a base estrutural
necessárias para a instalação de um hospital. Para adequar o edifício foram
destruídas lajes, reforçados pilares e vigas, adicionados elevadores e escadas
rolantes, etc.
Segundo o engenheiro responsável pela obra, Gilberto Baron, uma das grandes
razões para o reforço estrutural nas lajes foi a abertura dos Shafts no edifício, pois
a laje existente é nervurada. A escada existente foi demolida para o aumento do
hall dos elevadores, sendo que os níveis também se modificaram em alguns
pavimentos. A laje com maior reforço estrutural é a laje do 4º pavimento, onde
8 INTERAÇÃO ARQUITETÔNICA COM OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS
233
estão previstas as áreas de diagnóstico e, logo, uma grande carga em
equipamentos.
No novo edifício do Hospital Sabará, o pé-direito existente era insuficiente para as
instalações hidro-sanitárias e fluído-mecânicas (pouco espaço para forro),
especialmente no Centro Cirúrgico. Para melhorar esta situação, teve-se que
destruir as lajes de dois andares do prédio, aumentando o pé-direito do andar do
meio (centro cirúrgico), com a reconstrução das lajes novas com 30cm de
deslocamento cada uma. Os andares acima e abaixo ficaram com pés-direitos
menores, porém as atividades ali locadas (Pavimento Técnico, acima, e Pronto
Socorro, abaixo) poderiam existir com um pé-direto mais baixo.
Outro projeto de adaptação arquitetônica que destacou a sua influência na
readequação dos espaços técnicos foi o do IPq, onde foram construídos no exterior
da fachada Shafts novos. Segundo HORTA (2005) o espaço interno destes Shafts
foi superdimensionado para incluir futuras ampliações, sem reduzir o espaço interno
do edifício. Parte do forro teve que ser aumentado, medida que reduziu o pé-direito
dos pavimentos.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
234
9
ESTUDO DE CASO 1:
INSTITUTO DO CORAÇÃO
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
237
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
No Instituto do Coração as áreas analisadas concentram-se no pavimento do
Ambulatório (AB), onde vem se adensando uma grande quantidade de
equipamentos e de infraestrutura para viabilizar as atividades de diagnóstico. Como
indicado no Capítulo 1, o InCor apresenta um histórico repleto de grandes
transformações arquitetônicas, e muitas delas ocorreram neste andar.
Segundo VISCONTI (2000:75), em sua Avaliação Pós Ocupação (APO) do InCor:
“O pavimento semi-enterrado, onde estão localizados o ambulatório e os
serviços de diagnóstico, foi o pavimento que sofreu não só as maiores
alterações., como também significativa ampliação de área. (...) A parte
posterior do pavimento foi remodelada para receber os mais modernos
métodos de diagnóstico e tratamento, ampliando sua área sobre o pátio de
serviços”.
Inicialmente composta apenas pelas unidades de radiologia, as atividades de apoio
ao diagnóstico do InCor em muito se expandiram e se modificaram, apresentando
hoje uma configuração arquitetônica bastante alterada. Houve muitas reformas
envolvendo a expansão de departamentos inteiros, substituindo tecnologias,
estreitando áreas de circulação pela ampliação de salas, subdividindo ambientes
para dar lugar a outros, etc. Estas situações poderão ser melhor compreendidas a
seguir, onde foram analisadas e comparadas algumas das fases arquitetônicas do
Hospital (períodos de 1973-1976, 1984, 1987, 1993, 2002 e 2009).
9.1 PAVIMENTO AB: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1976 E 2009
Ao reconstituir-se a evolução arquitetônica do pavimento AB foram encontrados
muitos indícios sobre as suas reformas e ampliações. Entre 1973 e 1976, época da
inauguração do InCor (Figura 9.01), existia apenas o Bloco I, sendo que no AB o
número de setores era bem menor do que o atual. As unidades funcionais
existentes eram as de Radiologia, Ecocardiografia, Laboratório de Análises
Clínicas, Métodos Gráficos e Endoscopia, além de uma área administrativa com
Arquivo Médico e de um conjunto de consultórios. Os exames de Radiologia, de
Endoscopia, de Ecocardiografia e de Métodos Gráficos (Eletrocardiograma e
Eletrocardiograma de Esforço – ECG e ECGE) eram os únicos com expressiva
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
238
tecnologia no auxílio ao diagnóstico da época, ocupando uma grande porcentagem
do pavimento.
A área de Endoscopia foi rapidamente removida e substituída pelas áreas de
Pneumologia e Odontologia, como pode ser percebido na planta de 1984 (Figura
9.02). No mesmo ano a unidade de Eco e parte da unidade de Métodos Gráficos foi
deslocada, cedendo lugar à nova unidade de Medicina Nuclear. Os exames de Eco
ocuparam algumas das salas de Raios-X, que se uniram às demais e expandiram o
núcleo maior de exames radiológicos. Enquanto isso, as salas de Métodos Gráficos
ocuparam uma área administrativa e um corredor, bloqueando um dos acessos ao
eixo de circulação vertical do edifício. Outra área de circulação foi ocupada com o
aumento da unidade de Registro Geral de Pacientes, logo na entrada do AB.
Figura 9.01: Planta do pavimento AB do InCor em 1973-1976
(construção).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.02: Planta do pavimento AB do InCor em 1984.
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
239
Em 1987 a planta (Figura 9.03) evidencia mais uma modificação na área,
ocasionada pelo aumento do Arquivo Médico e pela diminuição da área de espera
geral. O Arquivo passou a ter uma área separada do Registro de Pacientes,
enquanto o número de consultórios aumentou numa região adjacente à área menor
de Métodos Gráficos.
Figura 9.03: Planta do pavimento AB do InCor em 1987.
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.04: Planta do pavimento AB do InCor em 1993.
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Em 1993 a obra foi mais impactante com a construção de um edifício anexo para a
nova unidade de Ressonância Magnética. Aproveitando a área adicionada ao
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
240
pavimento, o setor de Ecocardiografia e Ultrasonografia lá instalou um conjunto de
salas. Com a conclusão da parte do AB pertencente ao Bloco II, em 1995, este
pavimento sofreu uma expansão maior ainda, como demonstrado na planta de
2002. Ali se pode notar o deslocamento e ampliação da área do Laboratório, cujo
espaço anterior acomodou a expansão da Medicina Nuclear (área de PET).
Figura 9.05: Planta do pavimento AB do InCor em 2002.
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.06: Planta do pavimento AB do InCor em 2009 (configuração atual).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
241
Multiplicou-se na região do Bloco II o número de consultórios, agora especializados
nos diferentes ramos da cardiologia. Estes dividiram ainda espaço com alguns
escritórios de pesquisa, alinhados a uma das fachadas. Entre hoje e 2002 as
reformas foram relativamente menores, havendo apenas mudanças internas em
setores como os de Radiologia e de Ressonância Magnética.
3.1.1 Radiologia
A unidade de Radiologia foi introduzida no InCor desde o início do projeto do
edifício, no final da década de 1960. Na época as tecnologias de Raios-X eram as
mais importantes na medicina diagnóstica, dominando a atenção dos médicos e
arquitetos.
O primeiro setor de radiologia foi distribuído de forma segregada nos desenhos
iniciais do edifício. De acordo com o arquiteto Nelson Daruj, isto provavelmente
ocorreu devido às necessidades de alguns dos usuários da área, que
possivelmente gostariam de dispor de equipamentos para realizar determinada
atividade de pesquisa clínica, mantendo-o longe das instalações comuns para
pacientes externos. Daruj afirmou que estas situações foram muito comuns na
história do planejamento do InCor, constantemente interferindo no processo de
planejamento.
Para ilustrar o desenvolvimento arquitetônico da unidade de Radiologia do InCor
(Figuras 9.07, 9.08, 9.09 e 9.10), alguns desenhos foram organizados e agrupados
em ordem cronológica. Eles representam todas as mudanças significativas que a
área sofreu desde a sua construção em 1975. As imagens estão baseadas em
plantas encontradas no Departamento de Arquitetura do InCor e generosamente
cedidas para esta pesquisa.
Na área de Radiologia os primeiros indícios de transformações arquitetônicas
ocorreram em 1987, quando a recepção original e uma das áreas de espera foram
removidas para dar espaço a uma nova sala de Radiologia Vascular
Intervencionista (RI). Esta, cujo equipamento empregava a tecnologia digital, fez
surgir a primeira Sala Técnica da unidade.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
242
Figura 9.07: Planta da unidade de Radiologia do InCor em 1976 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.08: Planta da unidade de Radiologia do
InCor em 1987 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Recentemente, em 2007, o equipamento de RI foi substituído por um de tecnologia
mais avançada, originando a modificação da sala. Na reforma a sala do exame do
exame aumentou e incorporou outras áreas de apoio como uma área para médicos
(interpretação de laudos), um expurgo e uma área de preparo de pacientes. A de
recuperação já era desde 1993 compartilhada com a unidade de Ressonância
Magnética.
Estas mudanças podem ser observadas na planta de 2009 (Figura 9.10), onde se
percebe que a “sala” de preparo ocupa parte de um corredor que deveria servir de
acesso ao Arquivo Médico. A área foi ocupada por não haver outra disponível no
andar, muito menos dentro da unidade de Radiologia.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
243
Figura 9.09: Planta da unidade de Radiologia do
InCor em 2002 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.10: Planta da unidade de Radiologia do
InCor em 2009 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Em 1996 foi colocada em operação a Tomografia Computadorizada (TC). Para
obter-se um espaço adequado para o novo exame, as áreas de espera foram
transferidas e compartilhadas com o recentemente criado setor de Ressonância
Magnética. Um equipamento existente de Raios-X, previamente localizado na área
do novo tomógrafo, também foi transferido para uma das antigas áreas de espera,
ocupando uma área menor. Os vestiários de preparo, que antes eram alinhados e
configuravam uma espécie de antecâmara para a sala do exame, passaram a
existir isoladamente dentro das mesmas.
Nos últimos dois anos o InCor incorporou mais dois equipamentos de TC,
reformando para isso duas salas de Raios-X. Com o desenvolvimento da tecnologia
digital no processo de revelação do exame, parte das antigas Câmaras Clara e
Escura foram ocupadas. A expansão foi necessária porque os equipamentos
exigiram mais espaço interno da sala, bem como áreas para Comando e Sala
Técnica. A configuração espacial resultante pode ser observada na planta de 2009
(Figura 9.10).
As áreas de preparo do paciente continuaram fragmentadas, na forma de pequenos
banheiros dentro de cada sala. As áreas administrativas também foram aos poucos
diminuindo, provavelmente pela informatização dos processos internos, enquanto
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
244
as áreas de espera só aumentaram, estendendo-se sobre os corredores
adjacentes.
Em 2008 iniciou-se o planejamento de outras reformas na unidade de Radiologia do
InCor, motivadas pela futura substituição de dois equipamentos de Raios-X
convencional. Junto à remoção do Arquivo Médico, as reforma está prevista para
2010, possibilitando a expansão da unidade de Radiologia como um todo.
Influenciada também pela necessidade de cumprimento das normas de segurança
contra incêndio, a liberação da área do Arquivo Médico permitirá a criação de uma
Figura 9.11: Projeto de reforma da unidade de Radiologia
do InCor para 2010 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
área de espera única para todos
os exames de Imagenologia,
cuja administração também
pretende ser centralizada na
mesma região. De acordo com o
projeto (Figura 9.11), as áreas
de revelação também serão
substituídas, na medida em que
todos os seus procedimentos já
foram digitalizados. Outra
medida será a liberação da área
de preparo da área de RI, no
intuito de garantir ali uma rota
de fuga em caso de
emergência.
3.1.2 Laboratório
A área ocupada originalmente pelo Laboratório de Análises Clínicas do InCor era
bem menor do que a atual. Encontrava-se no Bloco I e possuía uma área de
Laboratório propriamente dito bem pouco especializada (Figura 9.12). Em 1995,
com a inauguração dos pavimentos mais baixos do Bloco II, esta unidade foi
ampliada (Figura 9.13).
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
245
Figura 9.12: Planta com a configuração original
do Laboratório de Análises Clínicas
do InCor (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Dobrou o número de boxes de coleta, enquanto a área de manipulação do
laboratório subdividiu-se com as novas modalidades da Patologia Clínica. Cresceu
também a área administrativa, enquanto a área de processamento de dados
permaneceu do mesmo tamanho, adaptando-se à era digital.
Figura 9.13: Planta do Laboratório de Análises Clínicas do InCor a partir de 1995 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Embora situados em outra área da instituição (9º e 10º pavimentos do Bloco II), vale
comentar aqui sobre os Laboratórios de Pesquisa do InCor. Com atividades
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
246
intensas de pesquisa na área cardiológica, é uma área que foi criada há
aproximadamente dez anos, possuindo uma quantidade enorme de equipamentos.
Lá as reformas também são constantes, sendo que todas as vedações são feitas de
materiais leves para facilitar as reformas.
Esta área apresenta atualmente uma ocupação sobrecarregada, que resulta na
ocupação indiscriminada de corredores para o depósito de equipamentos como
centrífugas e refrigeradores (Figuras 9.14 e 9.15). Também devido à necessidade
de atender às exigências das normas de segurança contra incêndio, estes
corredores deverão ser em breve desocupados para garantir rotas de fuga livre de
obstáculos.
Figura 9.14: Centrífugas ocupando áreas de
circulação junto aos Laboratórios de Pesquisa do
InCor (10º pavimento).
Fonte: Acervo da autora
Figura 9.15: Refrigeradores ocupando áreas de
circulação junto aos Laboratórios de Pesquisa do
InCor (10º pavimento).
Fonte: Acervo da autora.
3.1.3 Ultrasonografia e Ecocardiografia
Por possuir uma organização física mais adaptável, no InCor as áreas de
Ultrasonografia e Ecocardiografia mudaram muito para facilitar a expansão de
áreas adjacentes. O resultado mais interessante da evolução deste departamento é
o de que o número de salas de exame aumentou bastante, o que nos revela que
eles foram largamente disseminados durante os últimos 20 anos. Uma das
possíveis razões para estas mudanças é também a substituição dos exames de
Fonocardiograma (Fono), que foram suprimidas do Hospital na metade da década
de 1980. As salas de Fono eram encontradas no Departamento de Métodos
Gráficos e à sua tecnologia se sobrepôs a de Ecocardiografia.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
247
Figura 9.16: Planta da unidade de
Ecocardiografia em 1976 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
No início o núcleo da unidade de Eco era
pequeno, instalado na área atual da
Medicina Nuclear (Figura 9.16). Com a
chegada desta, foi dali transferida para a
área onde são hoje realizados os exames
de ECG (Figuras 9.17 e 9.18).
Figura 9.17: Planta da unidade de
Ecocardiografia em 1984 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.18: Planta da unidade de Ecocardiografia
em 1987 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.19: Planta da unidade de Ecocardiografia em 1993 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
248
Figura 9.20: Planta da unidade de
Ecocardiografia em 2009 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Em 1993 houve a última modificação significativa na área (Figura 9.19), momento
em que a elas foram adicionados os exames de Ultrasonografia. Mais uma vez
influenciada por setores vizinhos, a reforma ocorreu devido à instalação do primeiro
equipamento de Ressonância Magnética no edifício, o que criou uma grande área
de expansão para o pavimento. Esta ampliação horizontal ocupou o pouco que
sobrava de espaço nos fundos do lote.
Devido à intenção de segregação entre pacientes públicos e privados, em 2002
foram criadas no 1º pavimento do Bloco II atividades de Ambulatório e Diagnóstico
para pacientes particulares e conveniados. Nesta área foram implantadas algumas
salas adicionais de Ecocardiografia.
3.1.4 Métodos Gráficos
A unidade de Métodos Gráficos tem uma organização simples em termos espaciais
e funcionais. Ao longo dos anos, a sua área no InCor diminuiu para dar lugar a
outras atividades. Também afetado pela expansão de áreas adjacentes, começou
ocupando o que mais tarde se tornou parte da unidade de Medicina Nuclear e parte
da de Ressonância Magnética.
Em 1984 a Medicina Nuclear conquistou aproximadamente um terço da área de
Métodos Gráficos (Figura 9.22), removendo do Hospital os ambientes utilizados
pelo Vetocardiograma, Fonocardiograma e testes com esteiras ergométricas, que
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
249
foram parcialmente transferidas para outra parte do mesmo andar. Esta nova área
incluiu a administração de um procedimento chamado Holter, e obstruiu um dos
acessos principais ao eixo de circulação vertical da instituição.
Alguns anos depois, em 1993, outra fração do Departamento de Métodos Gráficos
foi suprimida para abrir espaço ao então novo Departamento de Ressonância
Magnética. Para compensar a deficiência, em 2002 algumas salas de
Eletrocardiograma foram criadas na área de atendimento privado e conveniado do
1º pavimento do Bloco II.
Os exames que compõem a unidade de Métodos Gráficos desde o princípio foram
muito utilizados na área cardiológica, e isso não deixou de ser verdade. O número
de salas aumentou na medida em que aumentou a variedade de procedimentos
envolvidos (Vetocardiograma, ECG, ECGE, Holter, Marcapasso).
Figura 9.21: Planta da unidade de Métodos Gráficos em 1976 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.22: Planta da unidade de Métodos Gráficos em 1984 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
250
Figura 9.23: Planta da unidade de Métodos Gráficos em 1987 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.24: Planta da unidade de
Métodos Gráficos em 1993 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.25: Planta da unidade de Métodos Gráficos em 2002 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
251
Durante as visitas ao Hospital percebeu-se que na
região ocupada pelo Marcapasso houve um
adensamento excessivo, onde a largura dos
corredores está bem abaixo do ideal. Nesta região
teve-se a impressão de que foram muitos os
“puxadinhos”, sendo que após o último
levantamento, em meados de 2009, já houve novas
alterações na área. Segundo o arquiteto Henrique
Jatene, foi adicionada na área uma nova sala de
atendimento, que ocupou a sua área administrativa.
Esta foi transferida para o 1º pavimento do Bloco II.
Na área do Marcapasso, onde foi encontrada uma sala ligada ao
Telemonitoramento, uma das expansões também resultou no avanço sobre uma
área de circulação geral do pavimento, estreitando-a.
3.1.5 Medicina Nuclear
A unidade de Medicina Nuclear do InCor iniciou suas atividades há
aproximadamente 25 anos. O primeiro equipamento de Gama Câmara do Hospital
ainda existe e, apesar de funcionar bem, será em breve substituído por uma
tecnologia mais eficiente. De 1984 ao final da década de 1990 a área sobreviveu
sem grandes reformas. Com a aquisição de um novo equipamento (PET), porém, a
necessidade de novos espaços se tornou inevitável.
Comparando as plantas de 1984 e 2002 percebe-se que mesmo sem alterar-se a
dinâmica do exame, em 1984 (Figura 9.26) não existia uma área de espera
separada para os pacientes “injetados” por substâncias radioativas, aparecendo só
no desenho de 2002 (Figura 9.27). Segundo alguns funcionários da área, a sala de
espera separada só foi implantada na área por causa do surgimento de exigências
normativas indicando a sua obrigatoriedade. Foi relatado que antes da existência
da norma, a demanda era baixa e por isso as condições dos ambientes de espera
não representavam uma preocupação para os técnicos.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
252
Figura 9.26: Planta da unidade de Medicina
Nuclear em 1984 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
No início dos anos 2000, a construção do Bloco II possibilitou a transferência e
expansão da área do Laboratório para o novo edifício, liberando espaço para a
implantação da área dos equipamentos PET. Junto dele foram adicionadas novas
salas para Gama Câmaras, agora mais sofisticadas e com funções variadas.Como
pode ser observado na planta de 2002, uma grande área foi reformada para
receber o PET e suas tecnologias relacionadas, anteriormente ocupada pelo
Laboratório.
Figura 9.27: Planta da unidade de Medicina Nuclear em 2002 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
A área de Medicina Nuclear do InCor está atualmente em reforma para substituir
alguns de seus equipamentos mais antigos e, por sua vez, obsoletos frente às
novas tecnologias disponíveis.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
253
3.1.6 Ressonância Magnética
O processo de planejamento da unidade de Ressonância Magnética do InCor
dependeu de muitas especificações técnicas, novas para a época. Por causa disto,
o projeto das salas dos equipamentos veio da empresa que forneceu o
equipamento. Isso é hoje uma prática comum, na medida em que a instalação dos
equipamentos é tão específica que as suas próprias fábricas possuem uma equipe
de projeto, garantindo que sejam seguidos os pré-requisitos físicos das máquinas.
Avaliando a posição da área de RM na configuração espacial do andar, fatos
interessantes podem ser destacados. Um deles é uma importante expansão
horizontal de área, a qual não estava prevista no projeto original pela falta de
terreno disponível atrás do edifício. O terreno, no entanto, foi conquistado pela
instituição anos depois.
O processo de planejamento deste novo departamento foi rápido, incluindo a
elaboração dos projetos complementares. Como se se tratava de uma construção
totalmente nova e independente fisicamente, a sua concepção trouxe a previsão de
uma futura expansão vertical, haja vista o histórico de renovações arquitetônicas
demonstrado até então pelo Hospital.
Após a instalação dos dois equipamentos de RM, um deles foi trocado em 2008,
permitindo a diminuição tanto da sala do exame quanto da sua Sala Técnica.
Apesar de adaptar-se um espaço menor horizontalmente, o novo equipamento
exigiu um pé-direito maior, gerando dificuldades para a execução da reforma.
Com o espaço ganho na sala de RM foi aberto um corredor nos seus fundos,
conectando quatro novas salas de médicos. Foi possível também o aumento da
sala de Interpretação de Laudos.
Em visita a esta área, constatou-se que apesar das novas salas adicionadas para
os médicos, há hoje a superlotação das mesmas. Abrigando atividades
relacionadas à interpretação e discussão de laudos, absorve também algumas
atividades de pesquisa, por estar localizada em um hospital-escola.
A aglomeração de profissionais e estações de trabalho nestas salas, bem como nas
salas de comando dos exames de diagnóstico e tratamento, deve-se provavelmente
ao aumento da multidisciplinaridade que estas atividades têm exigido. Cada vez
mais os exames agregam funções extras, adicionando também profissionais de
diferentes campos científicos.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
254
Figura 9.28: Planta da unidade de Ressonância Magnética em 1993 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
Figura 9.29: Planta da unidade de Ressonância Magnética em 2009 (pavimento AB).
Fonte: Departamento de Arquitetura do InCor.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
255
Atualmente uma expansão vertical está em processo de planejamento, no intuito de
abrigar a ampliação do Pronto Socorro, que está localizado no pavimento superior.
9.2 ÁREAS DE INFRAESTRUTURA PREDIAL
No edifício do InCor não há pavimento técnico, sendo que as áreas de
infraestrutura predial encontram-se em diferentes partes do conjunto de edifícios do
Hospital. Quando havia apenas o Bloco I, as casas de máquinas mais importantes
estavam no Térreo (cabine primária, geradores e tanques de óleo), no Subsolo -1
da “Edícula” (tubulação de água gelada e centrífugas) e na Cobertura (reservatórios
de água e barrilete).
No eixo vertical do Bloco I concentravam-se as casas de máquinas do Sistema de
Ar Condicionado em cada pavimento, para a localização dos Fan-Coils. Na mesma
região havia as principais prumadas de Shafts, que eram ainda auxiliados por
Shafts menores junto aos pilares. Horizontalmente os dutos de ar, condutores
elétricos e tubulações de água, gases e esgoto passavam pelo piso elevado e pelo
teto rebaixado (forro).
De um modo geral, os Sistemas de Infraestrutura do InCor, apesar de
suficientemente dimensionados e locados para a época da sua construção, não
apresentaram uma distribuição suficientemente articulada e organizada para
facilitar as futuras expansões do edifício. Prova disso são os “puxadinhos” de fios e
dutos encontrados pelo edifício (Figura 9.30).
Os condutores de ar do Sistema de Ar Condicionado, por exemplo, aparecem em
diversas áreas internas e externas dos prédios, demonstrando os ajustes feitos
para ampliar a sua atuação (Figura 9.31). Como as casas de máquinas junto ao
eixo vertical do Bloco I não deram conta da crescente demanda por climatização,
notou-se a proliferação destes ambientes pelo interior de cada andar do Bloco I,
incluindo o 3º. Neste pavimento localiza-se o Centro Cirúrgico e a Hemodinâmica,
com demandas especiais sobre a qualidade do ar.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
256
Figura 9.30: “Puxadinhos” nas redes de
instalações prediais do InCor, incluindo
os dutos de ar condicionado, a
tubulação de água dos hidrantes, etc.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 9.31: Ajustes aparentes no Sistema de Ar
Condicionado vistos na fachada de fundos do InCor.
Fonte: Acervo da autora.
Com a construção do Bloco II o sistema de infraestrutura foi naturalmente ampliado,
proporcionando aos edifícios mais antigos alguns reajustes e melhorias. As centrais
de infraestrutura do Bloco II ficaram concentradas no Anexo 1, chamado de “Central
de Utilidades” (Figura 9.32). Neste prédio encontram-se desde o início dos anos
2000 o novo reservatório de água, o barrilete com as bombas de recalque, as
caldeiras e as torres de resfriamento, sendo que continua na “Edícula” do Bloco I a
tubulação de água gelada.
Figura 9.32: Central de Utilidades do Bloco II do InCor.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 9.33: Sala de CPD.
Fonte: Acervo da autora.
Além de uma ampliação desordenada das instalações em geral, no InCor não há
desenhos as-built atualizados, nem da arquitetura nem das redes de infraestrutura.
Isto, por sua vez, representa muitas dificuldades durante as reformas no Hospital.
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
257
Nestas, os obstáculos técnicos existentes acima do forro ou abaixo do piso elevado
são encontrados durante a execução da obra, sem a chance de prevê-los e
organizar o projeto em relação as suas rotas horizontais e verticais.
Sobre a infraestrutura dos sistemas de processamento de dados e imagens da
instituição, cuja implantação certamente foi posterior à construção do Hospital, foi
encontrada no 2º pavimento uma sala de CPD (Central de Processamento de
Dados – Figura 9.33). Localizada junto às salas administrativas do setor de
informática, a área aparenta ter sido locada em uma sala que “sobrou” da área,
apresentando condições de uso precárias.
9.3 CONCLUSÕES
A pesquisa no Instituto do Coração evidenciou que a renovação tecnológica nas
suas atividades pode ser um dos principais motivadores de transformações
arquitetônicas em edifícios hospitalares.
No pavimento AB, por exemplo, a incorporação de tecnologias mais avançadas,
principalmente na forma de equipamentos de diagnóstico e tratamento, demonstrou
ser quase sempre causadora de algum tipo de ajuste no edifício, por menor que ele
seja. As razões de ordem técnica e intransponíveis, por sua vez, geraram muitas
vezes outras intervenções, readequando na mesma obra áreas adjacentes que
precisavam ser reformadas por razões menos urgentes. Foi o que ocorreu, por
exemplo, com a Sala de Ressonância Magnética, cuja readequação originou a
ampliação do número de salas de médicos.
Direta ou indiretamente, obras como as descritas no InCor tendem a interferir muito
na estruturação arquitetônica estabelecida pelas áreas de circulação. Isto pode
ocorrer especialmente em casos como o deste hospital, onde o edifício não possui
uma estratégia definida de ampliação.
3.1.7 Reformas nas unidades de Imagenologia
No cenário resultante da evolução arquitetônica do pavimento AB pode-se
identificar uma configuração espacial contingente e marcada pela fragmentação.
Pela falta de áreas disponíveis para ampliação ali ocorreram expansões territoriais
pela subdivisão interna de ambientes, onde unidades funcionais cresceram sobre
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
258
elas mesmas. Como consequência do adensamento, ficaram claros os desvios nas
relações funcionais, principalmente devido à descaracterização da estrutura original
de circulação.
Os circuitos dos corredores se ramificaram, originando becos e uma malha
identificável como labiríntica. Para facilitar a orientação dos usuários frente à
mesma, o sistema apoiou-se nas comuns linhas de comunicação visual no piso
(Figuras 9.34 e 9.35).
Figura 9.34:
Mapa elaborado para orientar a
circulação dos usuários
(principalmente dos pacientes
externos) no pavimento AB. No
desenho ficam evidentes as linhas
coloridas como ferramentas de
orientação.
Fonte: InCor.
A criação e ampliação das áreas de Holter, Marcapasso, Medicina Nuclear e
Arquivo Médico, por exemplo, contribuíram para a obstrução de muitos espaços de
passagem importantes.
Estas áreas foram adicionadas ao Hospital e expandiram-se internamente através
da subdivisão. Aparentemente não houve critério para esta expansão, na medida
em que houve interferências negativas em áreas adjacentes. Internamente ficaram
claros os “puxadinhos” na área do Marcapasso, que possui hoje circulações
internas muito estreitas.
Uma situação semelhante foi observada na recente reforma da área de Radiologia
Vascular Intervencionista, onde a ocupação do corredor com uma sala de preparo
não considerou ou ignorou as relações ali existentes. Embora seja uma via não
utilizada, a sua ocupação não levou em conta a possibilidade futura de resgate da
mesma, haja vista a iminência de haver uma significativa liberação de espaço na do
Arquivo Médico.
Em 1993, a área ampliada para receber a unidade de Ressonância Magnética
parecer ter sido criada também para desafogar um pouco do adensamento que
ocorria no andar, onde outras áreas passaram a compartilhar com a RM áreas de
apoio como Sala de Recuperação e Espera. Estas, por sua vez, perderam
9 ESTUDO DE CASO 1: INSTITUTO DO CORAÇÃO
259
prioridade entre as obras de expansão, fragmentando-se e diminuindo. A
necessidade deste uso, no entanto, só aumentou, o que ocasionou a ocupação,
mais uma vez, das áreas de circulação (Figura 9. 35).
Figura 9.35: Corredor ocupado por área de
espera em frente as salas de Radiologia,
mostrando também as linhas coloridas no piso
com a função de orientar os usuários do
pavimento AB.
Fonte: Acervo da autora.
Segundo o arquiteto Henrique Jatene,
foram comuns na área do AB situações
onde o projeto da reforma de uma sala
de exame apenas se iniciou quando o
equipamento já estava em processo de
compra, o que deixava períodos de 60 a
90 dias para entregar a obra finalizada.
Isto impediu muitas vezes qualquer
tentativa de contextualizar a reforma na
totalidade do edifício e das suas
relações funcionais, dados os
problemas técnicos a serem resolvidos.
Suspeita-se que este sistema de relação com a prática do planejamento dentro da
instituição, muito ligado às questões políticas e financeiras, tenha contribuído para
ao cenário de “puxadinhos” descrito acima.
Diante da pesquisa apresentada neste capítulo pode-se concluir ainda que, nos
edifícios hospitalares, os espaços de armazenagem de arquivos médicos estão
lentamente desaparecendo e abrindo espaços valiosos para outras atividades. No
InCor foi possível acompanhar este processo, sendo que a digitalização dos
processos na Radiologia, por exemplo, está permitindo a ampliação de outras áreas
como as de espera (projeto para 2010).
3.1.8 Articulação das centrais e redes de infraestrutura
Entre os fatores causadores de dificuldades durante as obras de reforma do
pavimento AB, destacou-se o pouco controle que existe sobre as áreas de
infraestrutura (teto rebaixado e piso elevado), bem como a falta de manutenção das
mesmas. Segundo Jatene, são comuns os “sustos” no meio de uma obra, quando
são constadas incompatibilidades com os sistemas elétricos existentes.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
260
Estes problemas podem ser remetidos até a fase de projeto da edificação, onde os
espaços não foram locados no edifício de forma suficientemente articulada com o
restante dos seus sistemas (sistema de circulação, por exemplo). Como descrito no
item 9.2, as centrais de equipamentos de infraestrutura no Bloco I também não
foram planejadas para adaptarem-se às várias ampliações sofridas. Acompanhando
o que ocorreu com as áreas de circulação horizontal de pessoas, os espaços
destinados à circulação horizontal dos condutores de abastecimento do prédio
também se ramificaram em vários pontos, destituindo o critério de organização
original. Assim, foi perdido o controle sobre a localização e possível interferência
destes condutores.
10
ESTUDO DE CASO 2:
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
263
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
Analisando a evolução arquitetônica do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE)
percebeu-se que muitas das suas expansões foram motivadas pelos avanços
tecnológicos e científicos. O hospital possui um histórico de pioneirismo em alta
tecnologia, adquirindo novos equipamentos médicos com muita frequência e, logo,
inflando sua infraestrutura predial progressivamente.
O hospital como um todo sofreu significativas reformas e expansões, como
comentado no Capítulo 1. Os prédios mais antigos tiveram que se adaptar à
digitalização dos procedimentos, à climatização dos ambientes e especificações de
segurança contra incêndio, entre outros.
Entre as readequações de ordem tecnológica, destacam-se a reforma da UTI em
1985 (Bloco D), a implantação do setor de informática no mesmo ano, e a
regulamentação de todo o complexo junto ao Corpo de Bombeiros em 2002,
quando foram adaptadas todas as áreas de instalações do edifício (aplicação de
massa moldável e chapas rígidas para selar todos os canais e dutos). “De acordo
com Rodrigues, engenheiro de obras, o departamento promoveu uma reforma
profunda em todo o hospital e agregando recursos tecnológicos sofisticados”.
(Revista Infra, agosto de 2000:20)
No HIAE o 4º pavimento e o Subsolo 1 foram eleitos para serem estudados com
maior profundidade durante esta pesquisa, sendo lá encontrado o maior número de
atividades de diagnóstico, tratamento e infraestrutura coexistindo numa mesma
área. Como já comentado, estes setores agregam um arsenal tecnológico
relativamente volumoso, tornando-se importantes para o tema aqui abordado. O
período de análise das transformações arquitetônicas do hospital é entre 1998 e
2009, na medida em que os desenhos disponibilizados para a pesquisa
representam os edifícios nestas duas datas.
O 4º pavimento, onde se suspeita terem surgido já nos anos 1970 os primeiros
ambientes de radiologia e laboratório (Bloco D), contém hoje a maioria dos exames
de Imagenologia da instituição, que agora estão se expandindo para o nível
Subsolo 3 do recém inaugurado Bloco A1. Isto está ocorrendo também com os
exames de Ressonância Magnética, cuja localização sempre foi no Subsolo 1.
Neste, por sua vez, também existe hoje o Centro de Simulação Realística (CSR),
que agrega tecnologias médicas para o treinamento de profissionais da área.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
264
Figura 10.01: Corte Geral do Complexo do HIAE,
incluindo os edifícios previstos para o futuro.
Fonte: Acervo Kahn do Brasil.
No Bloco D, primeiro prédio do HIAE, as áreas de diagnóstico foram pouco
valorizadas, havendo apenas algumas salas para exames de Raios-X e um
pequeno laboratório, contiguamente aos consultórios médicos do antigo
ambulatório. No início da década de 1970, por incentivo do então gestor Jozef
Fehér, alguns profissionais da instituição buscaram no exterior as vanguardas em
tecnologias para diagnóstico, iniciando o processo de compra dos dois primeiros
equipamentos de Ressonância Magnética da América Latina. Estes, que foram
grandes motivadores da primeira ampliação do hospital, foram implantados no
subsolo do novo edifício (Bloco BC) em 1982.
Nesta ampliação as demais áreas de diagnóstico ficaram no 4º pavimento, de onde
se expandiram horizontalmente para o Bloco A em 1996. Com a área adicionada,
muitos novos equipamentos foram adquiridos e as instalações do edifício tiveram
que sofrer adaptações. A análise aqui apresentada inicia-se nesta segunda etapa
de ampliação do Complexo do HIAE, onde o 4º pavimento já ocupa os Blocos A,
BC e D.
10.1 4º PAVIMENTO: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1998 E 2009
Em 1998 o 4º pavimento era constituído de ambientes para diversos exames,
incluindo os de Radiologia, Hemodinâmica, Ultrasonografia, Endoscopia,
Colonoscopia, Pneumologia, Ecocardiografia, Dermatologia, Laboratório de
Análises Clínicas, Medicina Nuclear e Métodos Gráficos. No andar havia ainda as
áreas da Central de Agendamento, do Banco de Tecidos e do Hemocentro.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
265
Muitas dessas atividades migraram para o 4º andar em 1996, porém não foram
encontradas fontes que pudessem afirmar com certeza em que outra região do
hospital elas estiveram previamente localizadas. Supõe-se que a área de
Radiologia nunca mudou de lugar, estando sempre no Bloco D. O mesmo
possivelmente ocorreu com o Laboratório, sendo que ambas as áreas nasceram
junto com o hospital e desde então em muito se expandiram. O Banco de Tecidos,
por sua vez, surgiu em 1996 junto ao Bloco A. O Hemocentro foi transferido do
nono pavimento do Bloco D, aumentando sua área.
Pode-se supor também que a Medicina Nuclear tenha ali se instalado por volta de
1982, ano de inauguração do Bloco BC que coincide com a época em que este tipo
de exame chegou aos EAS brasileiros. É provável ainda que as áreas de Métodos
Gráficos e Pneumologia tenham migrado do Bloco D para o Bloco A, como ocorreu
com as de Ultrasonografia, Endoscopia e Colonoscopia.
Figura 10.02: Planta do 4º pavimento do HIAE em 1998.
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.
“Dentro do Centro de Diagnóstico já funcionavam, desde 1981, os serviços
de endoscopia, ultrassonografia e ecocardiografia, além do banco de
sangue. Em 1981, o HIAE foi o primeiro Hospital do país a adquirir uma
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
266
máquina de Aférese (que permite a separação de elementos figurativos do
sangue)”.
1
Em 1998 (Figura 10.02) já funcionava no hospital uma grande variedade de
equipamentos especiais para o diagnóstico médico. Naturalmente, os mesmos
estavam agrupados de acordo com a sua finalidade, facilitando as relações
funcionais. No Bloco A estavam agrupadas as áreas de Endoscopia, que
compartilhava com algumas outras unidades uma sala de Recuperação para
Pacientes. No mesmo bloco estavam os conjuntos de salas de Ultrasonografia, de
Métodos Gráficos e o Hemocentro, que incluía atividades de hemoterapia. Havia
ainda uma sala direcionada à Pneumologia, que por razões de gerenciamento ficou
próxima às salas de Métodos Gráficos.
No Bloco B havia as unidades de Hemodinâmica e Medicina Nuclear, instaladas em
lados opostos do mesmo corredor. Ocupavam todo o espaço disponível no Bloco,
sendo que suas ampliações tiveram que se dar em locais mais distantes. No caso
da Hemodinâmica isto ocorreu antes de 1998, na medida em que algumas salas de
apoio ao exame foram locadas no Bloco C.
Não conseguindo espaços adjacentes no Bloco A, disponíveis para ocupação, o
Bloco C também abrigou um fragmento da unidade de Métodos Gráficos. O mesmo
ocorreu com a área de Colonoscopia (Bloco C), que embora intimamente
relacionada ao exame de Endoscopia (Bloco A), foi instalada numa área distante do
mesmo. O Bloco C de 1998 ainda possuía áreas de Apoio Geral e Apoio Técnico
(equipe de Engenharia Clínica), bem como áreas de Laboratório, Dermatologia e
Ecocardiografia, cujas atividades são muito semelhantes às de Ultrasonografia,
localizadas no Bloco A. Os exames de radiologia, por sua vez, formavam uma área
unificada no Bloco D, assim como os de Laboratório.
Em termos de tecnologia, podemos dizer que nos Blocos B e D estavam
concentrados os equipamentos mais complexos, detentores das maiores
necessidades de infraestrutura. Não é por acaso que se encontravam localizadas
nestes blocos as Casas de Máquinas do pavimento. No Bloco D, em especial,
foram muitas as dificuldades encontradas para ampliar o arsenal de equipamentos
1
Sociedade Beneficente Israelita Brasileira – Centro Histórico. “Gestão Jozef Fehèr: Primeiro Período – 1979-
1989”.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
267
de radiologia, sendo esta a região mais antiga do Complexo do HIAE e, logo, a
mais defasada em termos de instalações.
O Bloco C apresentava a maior diversidade de atividades, demonstrando ser
essencialmente uma área versátil para onde se expandiram atividades de outros
Blocos. Suspeita-se que a área de Eco, por exemplo, tenha sido adicionada após a
instalação da área de Ultrasom. Por compartilharem a mesma tecnologia, se
tivessem surgido juntas as mesmas teriam sido locadas em áreas adjacentes, de
acordo com a lógica. No Bloco A encontravam-se os equipamentos menos
complexos, cujos ambientes estiveram mais influenciados pelo aumento de
demanda do que pelo avanço tecnológico.
Na planta de 2009 do 4º pavimento (Figura 10.03) puderam ser verificados outros
indícios de deslocamentos e ampliações das unidades funcionais, agora
evidenciados graficamente. Na planta observou-se a expansão do Laboratório de
Análises Clínicas, que ocupou parte da antiga Central de Agendamento. Esta, pela
ausência de vinculação física com outras atividades do edifício, foi deslocada para
fora do hospital, dando espaço para o processamento dos laudos da área de
Radiologia. A Central de Agendamento foi temporariamente transferida para a Av.
Paulista, voltando ao edifício em 2009 como parte do 2º andar. Isto foi possível por
causa da construção do Bloco A1, que desocupou a mesma área transferindo a
unidade Day Clinic para o prédio novo.
Na planta de 2009 também se constata a expansão da área de Medicina Nuclear,
por causa da criação da área de PET. Esta ficou no Bloco C, onde a área de
exames dermatológicos foi transferida para o 12º andar do Bloco D e deu lugar ao
nascimento da Unidade de Neurofisiologia Clínica, que trata dos distúrbios do sono.
A nova unidade também ocupou as salas de Métodos Gráficos, que foram
deslocadas em alguns metros e ainda absorveram uma sala de Pneumologia,
adicionada àquela já existente no Bloco A.
No lado oposto do corredor surgiu mais uma sala de Eco e uma sala de Tilt Test,
que formaram uma área comum e ocuparam a unidade de Engenharia Clínica. Esta
passou a ocupar uma área da Radiologia no Bloco D, possibilitada pela
transferência de um dos tomógrafos para a Unidade Avançada Einstein Alphaville.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
268
Figura 10.03: Planta do 4º pavimento do HIAE em 2009.
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
Como se pode notar, foi intenso o vai-e-vem de alguns setores dentro do 4º
pavimento do HIAE, principalmente daqueles menos dependentes de infraestrutura.
Em meados nos anos 2000 foi adicionado um anexo de ligação entre os Blocos C e
D. Assim, algumas casas de máquinas, antes mais espalhadas pelos Blocos B e D,
desapareceram e deram lugar a salas maiores localizadas neste novo volume.
Embora esta informação não tenha sido confirmada, suspeita-se que estes
ambientes maiores tenham sido construídos para centralizar as instalações de ar
condicionado do pavimento (Fan-coils).
No Bloco A as alterações foram bem poucas, pelo menos até o final de 2009. O
Hemocentro praticamente não mudou, sofrendo apenas pequenas reformas
internas (expansão do Laboratório sobre a área de Aférese Terapêutica). A área de
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
269
Ultrasonografia diminuiu um pouco e deu lugar ao acesso ao novo Bloco A1 e a
outra sala de Tilt Test. Este foi um tipo de exame que, peculiarmente, ocupou
ambientes distantes entre si no andar (Bloco A e Bloco C), instalando-se em
espaços de restaram.
No início de 2010 este bloco passou a modificar-se mais, pois as áreas de
Ultrasonografia e Endoscopia começaram a ser transferidas para o Subsolo 3 do
Bloco A1, onde está o novo Centro de Diagnóstico. O novo destino para estas
áreas, porém, ainda está incerto.
No intuito de compreender melhor o processo de transformação arquitetônica de
cada unidade, a seguir serão apresentados os desenhos da evolução física e
técnica das áreas de Radiologia, Hemodinâmica, Laboratório, Medicina Nuclear,
Métodos Gráficos, Ecocardiografia, Endoscopia e Ultrasonografia, que constituem
as mais modificadas pela tecnologia.
10.1.1 Radiologia
A unidade de Radiologia se expandiu desde 1998 (Figura 10.04), sendo notáveis
algumas mudanças internas nesta área. As áreas para análise de laudos foram
centralizadas, ocupando parte da antiga Central de Agendamento. Isto possibilitou
a ampliação da área de espera para pacientes ambulantes e a inserção de duas
áreas a mais de Espera de Acamados (pacientes internos). O deslocamento dos
quartos de plantonistas para uma área adjacente ao Laboratório também favoreceu
esta configuração.
A supressão das áreas de Interpretação de Laudos existentes entre as salas de
Tomografia possibilitou a reorganização dos ambientes adjacentes, criando salas
de Comando menores. Entre estas ficou ainda uma sala de processamento de
dados e imagens e duas salas administrativas, além de uma das salas de espera
de acamados citadas acima. A poucos metros dali houve outra reforma com a
remoção de um dos tomógrafos e sua sala de Comando. Sobrou espaço, o qual foi
logo ocupado pela sala de Engenharia Clínica e por uma copa para os funcionários.
A Sala Técnica existente diminuiu, pois passou a servir apenas um equipamento de
Tomografia, ao invés de dois.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
270
Figura 10.04: Planta da Unidade de Radiologia do
HIAE em 1998 (4º pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.
Figura 10.05: Planta da Unidade de Radiologia do
HIAE em 2009 (4º pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
271
Na outra extremidade do Bloco D, duas
salas de Raios-X próximas à sala de
Mamografia foram reformadas,
provavelmente por causa da troca dos
seus equipamentos. Com a reforma
organizou-se entre elas uma área de
apoio comum com vestiários para
pacientes (preparo) e uma sala de
Comando. Logo ao lado foi desativada
a Câmara Escura (Figura 10.06), devido à digitalização do processo de revelação.
A Câmera Clara transformou-se em Unidade Técnica, na medida em que mudaram
os tipos de equipamentos utilizados (Figura 10.07).
Figura 10.06: Antiga Câmara Escura, hoje
utilizada para serviços de apoio.
Fonte: Acervo da autora
Figura 10.07: Câmara Clara ou Unidade Técnica,
onde é feita a revelação (digital) dos exames de
Radiologia.
Fonte: Acervo da autora.
Motivados pela troca dos equipamentos de alguns exames e pelo deslocamento
das áreas de laudos, estes e outros ajustes arquitetônicos refletiram-se também na
configuração das áreas de preparo dos pacientes. Nestas diminuíram as salas
comuns, aumentando o número de pequenos vestiários individuais.
Como parte do novo anexo de ligação entre os Blocos C e D, duas Casas de
Máquinas foram transferidas a uma Casa de Máquinas externa ao Bloco D, dando
espaço a uma sala de Ultrasonografia (apoio aos exames da mama) e à reforma da
área de preparo para uma das salas de Tomografia. Mais próximo da região do
Laboratório, outra Casa de Máquinas de Ar Condicionado foi deslocada,
aumentando de tamanho.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
272
Vale lembrar que transferir uma Casa de Máquinas é uma tarefa complexa, pois lida
com um sistema interligado horizontalmente e verticalmente a vários locais do
edifício. As reformas nestas áreas demandam ajustes no forro falso e, logo,
interferências em outros ambientes. Mudanças nas instalações de ar-condicionado,
por exemplo, implica desativar temporariamente a climatização em alguns
ambientes, o que pode, no caso de exames de diagnóstico, significar o fechamento
da sala por determinado período de tempo. Isto gera por conseguinte prejuízo à
instituição.
10.1.2 Hemodinâmica
Entre 1998 e 2009 (Figuras 10.08 e 10.09, respectivamente) a Hemodinâmica
permaneceu do mesmo tamanho. Mudaram, todavia, as atividades desempenhadas
no seu apêndice no Bloco C, onde salas de apoio administrativo e processamento
de dados e imagens foram substituídas por uma área de Recuperação Anestésica.
Figura 10.08: Planta da Unidade de Hemodinâmica do HIAE
em 1998 (4º pavto)
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
273
Na parte do Bloco B percebeu-se que,
com a saída de um dos Angiógrafos, a
unidade se reorganizou para receber
as áreas de apoio vindas do Bloco C.
Além da sala de exame de
Hemodinâmica, foram suprimidas as
áreas de Espera e de processamento
de dados e imagens (Câmaras Clara e
Escura). Com os novos meios digitais
viabilizados pela renovação dos equipamentos utilizados na área, surgiram as
Salas Técnicas e aumentaram as salas de Comando. As salas de Preparo do
Paciente, por sua vez, também ficaram maiores de acordo com a planta de 2009.
Figura 10.09: Planta da Unidade de Hemodinâmica do HIAE
em 2009 (4º pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
274
10.1.3 Laboratório
No período analisado o Laboratório de Análises Clínicas do HIAE já havia sofrido a
sua maior expansão, ocorrida alguns anos antes. Entre 1998 e 2009 (Figuras 10.10
e 10.11, respectivamente) a maior mudança na área foi a sua expansão parcial
para a antiga Central de Agendamento. Lá se instalou uma área administrativa,
permitindo a criação de mais uma Sala de Coleta. Outra região adicionada foi a
das Casas de Máquinas de Ar Condicionado, que se transformaram em Câmara
Frigorífica. Na área de trabalho do Laboratório propriamente dito a única mudança
constatada foi a diminuição do Almoxarifado, por causa de uma sala nova de
Virologia. Antes esta sala era menor e ocupada pela Manutenção, que deixou de
existir.
Figura 10.10:
Planta do Laboratório do HIAE em 1998 (4º pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.
Uma peculiaridade no Laboratório em termos de tecnologia é a presença de uma
esteira entre as salas de Coleta e a área de Fracionamento. Ela fica instalada num
vazio entre a parede de alguns boxes de coleta e a parede da Central de Liberação,
tendo sido instalada na ocasião da primeira expansão desta unidade.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
275
Figura 10.11:
Planta do Laboratório do HIAE em 2009 (4º
pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras
HIAE.
10.1.4 Medicina Nuclear
A unidade de Medicina Nuclear praticamente manteve a sua configuração
arquitetônica interna entre 1998 e 2009, salvo a incorporação de uma área nova no
Bloco C. No Bloco B as poucas mudanças ocorreram nas extremidades da unidade,
com o surgimento de mais uma Gama-Câmara e de duas salas administrativas. A
nova sala de exame ocupou um sanitário,
uma sala administrativa e uma sala de
Café. Dois sanitários públicos deram lugar
a salas administrativas. Na área nova,
ocupada pelo PET no Bloco C (Figura
10.13), além da sala de exame foram
adicionadas uma sala de Comando, uma
Sala Técnica, uma área de preparo e uma
Radiofarmácia (ou Laboratório Quente).
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
276
Figura 10.12: Planta da Medicina
Nuclear do HIAE em 1998 (4º pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de
Hospitais.
Figura 10.13: Planta da Unidade de Medicina Nuclear
do HIAE em 2009 (4º pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
10.1.5 Métodos Gráficos
A unidade de Métodos Gráficos já estava fragmentada em 1998 (Figura 10.14),
como comentado anteriormente. Ocupava uma área do Bloco A (exames de
Eletrocardiograma e Eletrocardiograma de Esforço) e outra no Bloco C
(Eletromiografia e Dova).
Na planta de 2009 (Figura 10.15) constataram-se mudanças internas na parte do
Bloco A, onde aumentou a área reservada ao processamento de dados, instaladas
no lugar das duas salas de ECGE e Holter. Estas foram transferidas para outro
pavimento do HIAE. No Bloco C as salas foram deslocadas, ocupando a área
anteriormente ocupada por salas de Colonoscopia, também transferidas para outro
andar da instituição.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
277
Figura 10.14: Planta da Unidade de Métodos Gráficos do HIAE em 1998 (4º pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.
Figura 10.15: Planta da Unidade de Métodos Gráficos do HIAE em 2009 (4º pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
10.1.6 Ecocardiografia, Ultrasonografia e Endoscopia
Na Ecocardiografia, as mudanças ocorreram com o deslocamento de uma das
salas do exame e com uma reorganização interna onde as duas salas de Eco que
ficaram abriram mão de uma ante sala para ter acesso independente. A ante sala,
por sua vez, aumentou e se transformou em área administrativa, também como
acesso direto ao corredor.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
278
Assim como nos exames de Eco, o
Ultrasom e a Endoscopia são
atividades simples sob o ponto de vista
tecnológico, onde os equipamentos
médicos contam com uma
infraestrutura mais genérica. Isto
possibilitou a padronização das salas,
que desde 1998 pouco se modificaram
no caso estudado. A única alteração
ocorreu com a supressão de duas salas de Ultrasonografia. Uma delas deu lugar a
uma sala de Tilt Test, enquanto a outra deu lugar para o novo acesso ao Bloco A1
(Figura 10.19).
Figura 10.16: Planta da Unidade de
Ecocardiografia do HIAE
em 1998 (4º pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de
Hospitais.
Figura 10.17: Planta da Unidade de Ecocardiografia
do HIAE em 2009 (4º pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
No início de 2010 mudanças mais drásticas estão ocorrendo, na medida em que
metade da área de Ultrasom e toda a área de Endoscopia foram transferidas para o
Subsolo 3 do Bloco A1. A futura finalidade da área desocupada é incerta.
O Tilt Test foi encontrado tanto na unidade de Ultrasom como na unidade de Eco.
Isto se justifica por este ser um exame de localização flexível, com necessidades de
infraestrutura pouco específicas. Está vinculado ao diagnóstico de cardiologia,
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
279
podendo ficar próximo tanto de áreas de Métodos Gráficos como de áreas de
Ecocardiografia, direcionadas à análise das funções cardíacas. No caso do HIAE,
porém, uma das salas está junto às salas de Ultrasom, por ser este o espaço
disponível na época em que se tornou necessária uma sala extra de Tilt Test.
Figura 10.18: Planta das Unidades de
Endoscopia e Ultrasonografia do HIAE
em 1998 (4º pavto).
Fonte: Fiorentini Arquitetura de
Hospitais.
Figura 10.19: Planta das Unidades de Endoscopia e
Ultrasonografia
do HIAE em 2009 (4º pavto).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
280
10.2 SUBSOLO 1: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1998 E 2009
O pavimento Subsolo 1 surgiu no HIAE em 1982, com a construção do Bloco BC.
Nesta época originou-se no hospital a unidade de Ressonância Magnética (RM), e
em seguida também se acomodaram ali as atividades de apoio aos funcionários
(Vestiários, Medicina do Trabalho e Conforto) e de infraestrutura predial (Cabine
Primária, Geradores, Central de Gases, Casas de Máquinas de Ar Condicionado).
O Pátio de Serviços facilitava o acesso a estas áreas (entrada de funcionários e de
Carga e Descarga em geral). Com a construção do Bloco A em 1996, o pavimento
de expandiu, agregando uma área de estacionamento e de Oficinas de Manutenção
(Figura 10.20).
Figura 10.20: Planta do Subsolo 1 do HIAE em 1998.
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.
Na planta de 2009 (Figura 10.21) observa-se o adensamento do andar, onde foram
substituídas as oficinas de Manutenção pelo setor de Recursos Humanos, bem
como implantada na área do estacionamento duas unidades direcionadas ao
Ensino (Salas de Aula e Centro de Simulação Realística). Na projeção do Bloco BC
a unidade de RM se expandiu, enquanto algumas salas de infraestrutura deram
espaço para áreas de conforto de funcionários (Lanchonete, atividades recreativas,
etc.). As Casas de Máquinas, por sua vez, foram para o Pátio de Serviços, onde
passaram a ocupar uma área cada vez maior.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
281
Figura 10.21: Planta do Subsolo 1 do HIAE em 2009.
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
A seguir serão detalhadas as transformações arquitetônicas ocorridas nas áreas de
Ressonância Magnética, de Ensino e de Infraestrutura, que agregam a maior carga
tecnológica do Subsolo 1.
10.2.1 Ressonância Magnética
A localização da Ressonância Magnética no Subsolo 1 foi desde o princípio
determinada pela facilidade do acesso em nível (Pátio de Serviços) dos seus
equipamentos, inicialmente maiores, mais pesados e com mais restrições em
relação às interferências emitidas e sofridas pelo seu campo magnético. Em 1985
foram importados os primeiros equipamentos de RM (Figura 10.24), sendo que o
terceiro veio em 1989. Em 1998, como se pode notar na planta abaixo (Figura
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
282
10.22), havia três salas de exame, apoiadas por três respectivas Salas Técnicas e
salas de Comando.
Figura 10.22: Planta da Unidade de Ressonância Magnética (RM) do HIAE em 1998 (Subsolo 1)
Fonte: Fiorentini Arquitetura de Hospitais.
Figura 10.23: Planta da Unidade de Ressonância Magnética do HIAE em 2009 (Subsolo 1)
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
283
Figura 10.24: Chegada de um equipamento de
RM ao HIAE na segunda metade da década de
1980, pela área do Pátio de Serviços.
Fonte: SBIBAE.
Em 2009 (Figura 10.23) muitas mudanças foram constatadas. Uma sala de RM foi
adicionada, sendo que dois equipamentos existentes foram trocados e geraram
reformas. O equipamento mais antigo da unidade (Figura 10.25) está localizado no
canto superior direito da planta, possuindo uma proteção radiológica mais
sofisticada por tratar-se de um campo magnético mais abrangente. A sua Sala
Técnica diminuiu, enquanto as dos equipamentos posteriores aumentaram. A
mesma sala receberá um novo equipamento em 2010, segundo o engenheiro
Reinaldo Gabarron.
Figura 10.25: Sala do equipamento mais antigo de RM
do HIAE, em 2009.
Fonte: Acervo da autora.
Numa sala de RM, localizada no
canto superior esquerdo da planta,
o equipamento foi substituído,
possibilitando a diminuição da sua
sala. Porém, por serem ali
desenvolvidos procedimentos de
diagnóstico para a pesquisa
neurológica, tornou-se necessária
uma sala a mais para o Projetor,
equipamento que interage com o
exame e deve ficar separado do
magneto por razões de proteção mecânica. Com esta reforma foram ainda
ajustadas as áreas adjacentes, sendo que a sala de Comando anterior, que servia
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
284
também como circulação, ficou isolada entre dois corredores, também recebendo
ao seu lado uma nova área de Espera para acamados.
A reorganização das áreas de circulação nesta região redefiniu os limites da Área
de Espera de pacientes ambulantes, que aumentou um pouco, e a localização das
áreas de preparo, agora mais adensadas e individualizadas na forma de pequenos
vestiários. A área de Recuperação Anestésica, por sua, vez, foi centralizada numa
sala anteriormente ocupada pelos equipamentos de ar condicionado, cujo acesso
se dá por um corredor periférico da unidade de RM.
Outra reforma ocorreu na área da antiga biblioteca e de uma das salas de
recuperação, que foram ocupadas por uma quarta sala de RM, construída por volta
de 2003. A mesma ocasionou a expansão da Sala Técnica mais próxima, que
passou a ser compartilhada por dois equipamentos.
10.2.2 Centro de Simulação Realística
O Centro de Simulação Realística (CSR – Figura 10.26) foi uma unidade adicionada
no HIAE após 1998, ocupando parte do antigo estacionamento. Ali a tecnologia
também desempenha papel importante, na medida em que seus ambientes incluem
salas de cirurgia simuladas em robôs. A presença destas áreas gerou o aumento da
infraestrutura no andar, no intuito de atender a presença de mais equipamentos.
Figura 10.26: Planta do Centro de Simulação Realística
(CSR) do HIAE em 2009 (Subsolo 1)
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
285
10.2.3 Infraestrutura Predial
As Casas de Máquinas no Subsolo 1 sempre foram relativamente grandes e
numerosas, sendo este um dos “bastidores” do hospital. No início (Figura 10.27)
ocupavam apenas ambientes internos ao edifício, em grande parte concentrados
numa única região (Aquecedor, Bomba de Vácuo, Ar Condicionado, Cabine
Primária, Transformadores e Geradores). De acordo com a planta de 2009 (Figura
10.28), uma das duas salas de Ar Condicionado mais dispersas foi ocupada pela
sala de Recuperação Anestésica da Ressonância Magnética, que reservou ainda
um pequeno espaço para os No-Breaks dos equipamentos de RM. Outras salas
foram ocupadas por áreas de conforto de funcionários, sendo realocadas no Pátio
de Serviços.
Figura 10.27: Planta das Áreas de
Infraestrutura Predial do HIAE em 1998
(Subsolo 1)
Fonte: Fiorentini Arquitetura de
Hospitais.
No Pátio (Figura 10.29) instalaram-se grandes casas de máquinas como a Central
Térmica, com as Torres de Resfriamento na sua cobertura; a Central de Gases
(Figura 10.30), suspensa sobre um talude; e a Central de Geradores, que ampliou o
número de geradores para suportar o edifício todo ao invés de apenas os seus
equipamentos de suporte à vida, como era na situação anterior.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
286
Figura 10.28: Planta da Unidade de Ressonância Magnética do HIAE em 2009 (Subsolo 1).
Fonte: Departamento de Projetos e Obras HIAE.
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
287
Outra adição ao Pátio de Serviços foram os contêineres das equipes técnicas de
infraestrutura e manutenção. O grande arsenal tecnológico presente no hospital
necessita da presença permanente de profissionais das empresas fornecedoras
dos equipamentos, bem como daquelas contratadas para realizarem a manutenção
de sistemas como os de ar condicionado. O edifício não possui espaço para que
estas equipes técnicas possam instalar seus escritórios e armazenar ferramentas, e
por isso a alternativa encontrada foi o aluguel dos contêineres para desempenhar
esta função.
Figura 10.29: Pátio de Serviços em 2009 (Subsolo 1),
mostrando as Torres de Resfriamento na cobertura da Central
Térmica, os Contêineres e, ao fundo, a Central de Geradores e
outras duas Casas de Máquinas encostadas no Bloco A.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 10.30: Central de Gases.
Fonte: Acervo da autora.
10.3 CONCLUSÕES
Ao analisar as transformações arquitetônicas do Hospital Israelita Albert Einstein
em algumas de suas áreas mais carregadas tecnologicamente, foi possível detectar
uma grande quantidade de reformas e ampliações. Estas, por sua vez, estiveram
em sua maioria vinculadas principalmente à incorporação e renovação de
equipamentos, sejam eles de apoio ao diagnóstico e tratamento ou de infraestrutura
predial.
Nas áreas do 4º pavimento as expansões ocorreram internamente às unidades,
praticamente sem alterar as áreas comuns de circulação do andar. Houve a
subdivisão de ambientes e, eventualmente, a sobreposição de atividades em
espaços comuns. Neste processo áreas foram liberadas com a digitação de alguns
procedimentos.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
288
Percebeu-se que as áreas cujas instalações são menos específicas, como salas de
Métodos Gráficos (ECE, ECGE, etc.), Ecocardiografia e Ultrasonografia, os
deslocamentos entre os blocos foram mais freqüentes. Isto pode ser justificado pela
facilidade de adaptação dos ambientes aos seus equipamentos e procedimentos.
No caso dos exames mais complexos, como os de Radiologia, Hemodinâmica e
Medicina Nuclear, as mudanças de localização foram menos vezes encontradas.
Nestes casos ficou claro que os seus equipamentos, quando incorporados ou
substituídos, motivaram as transformações arquitetônicas mais significativas. Isto
foi o que ocorreu, por exemplo, com a remoção de um Tomógrafo, a instalação do
equipamento de PET e a troca de um dos Angiógrafos.
No Subsolo 1 o mesmo ocorreu na unidade de Ressonância Magnética, onde as
transformações arquitetônicas foram todavia mais impactantes. Nos espaços
destinados às Salas Técnicas da RM as áreas adicionadas foram bem maiores do
que no 4º pavimento. Concomitantemente, a estrutura interna de circulação da
unidade de RM apresentou maiores alterações entre 1998 e 2009, uma vez que era
mais ramificada desde o início da ocupação da área. Isto, por sua vez, ocorreu
certamente por causa da diferença na configuração espacial entre o 4º pavimento e
o Subsolo 1, onde aquele apresenta uma malha de corredores mais racional do que
este, onde pouca largura dos prédios e a diferenciação volumétrica entre os Blocos
A, B, C e D também limitaram os desvios das vias originais de circulação horizontal.
De um modo geral pode-se aferir também que o Subsolo 1, se comparado ao 4º
pavimento, apresentou mais mudanças em sua configuração arquitetônica original.
Principalmente por causa da adição das áreas administrativas (RH) e de ensino
(Salas de Aula e CSR), houve entre 1998 e 2009 uma diferenciação evidente em
sua malha de corredores principais.
Em relação à evolução arquitetônica das áreas de Infraestrutura Predial, outras
conclusões foram alcançadas. Dividindo funções apenas com as Casas de
Máquinas existentes na cobertura dos Blocos A e D, as Casas de Máquinas
presentes no Subsolo 1 concentram as bases de abastecimento do HIAE,
aumentando o controle das suas redes horizontais e verticais de instalações.
Notou-se que a modulação das prumadas foi semelhante entre os quatro blocos do
hospital, indicando o planejamento de uma rede relativamente articulada e
organizada. Indício desta organização é a coincidência entre os Shafts e os
corredores gerais de circulação dos andares, de onde parte a distribuição de tubos
10 ESTUDO DE CASO 2: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
289
e condutores pelo forro. Este fato facilitou também a manutenção destes espaços
técnicos verticais, na medida em que não há necessidade de entrar nas unidades
para a realização de reparos.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
290
11
ESTUDO DE CASO 3:
HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK BRASÍLIA
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
293
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK BRASÍLIA
Como comentado no Capítulo 1, o Hospital Sarah de Brasília, também chamado de
HDAL, foi projetado a partir de premissas como flexibilidade e expansibilidade, as
quais foram aplicadas na sua modulação estrutural, na sua composição funcional e
na distribuição dos seus diversos fluxos (pessoas, suprimentos e condutores de
infraestrutura). A configuração arquitetônica do hospital originou-se a partir da
sobreposição destes diferentes sistemas de organização. Por este motivo, há uma
compatibilidade entre todas as “espinhas dorsais” do edifício, onde os vetores de
expansão também seguem juntos.
No HDAL foram analisadas as transformações arquitetônicas que ocorreram entre a
sua construção (1980) e o ano de 2007, cujos desenhos foram encontrados no
levantamento da arquiteta Alda Regina Bueno Minioli, e posteriormente ajustados
através do zoneamento funcional.
Para enfatizar a variável tecnológica como fator de impacto nas reformas e
expansões ocorridas, os pavimentos estudados foram o Subsolo 1 e o Subsolo 2
(S1 e S2), onde estão agrupadas as atividades que concentram o maior número de
equipamentos e instalações prediais. No S1 estão todos os setores de Diagnóstico
e Tratamento, incluindo as áreas de Imagenologia, Laboratório e Centro Cirúrgico; e
no S2 estão todos os ambientes de Apoio Técnico e Logístico, que por sua vez dão
suporte estratégico às atividades do S1.
11.1 SUBSOLO 1: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1980 E 2007
Este foi o pavimento mais modificado do HDAL até hoje. Entre as áreas que
estiveram ou estão presentes neste andar estão os setores de Diagnóstico por
Imagem (Radiologia, Ressonância Magnética e Medicina Nuclear), o Centro
Cirúrgico, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o Laboratório de Movimentos, os
Laboratórios de Análises Clínicas e o Banco de Sangue, concluindo as unidades
funcionais com mais tecnologias agregadas. Ainda no S1 podemos indicar a
presença dos Vestiários de funcionários, do Arquivo Médico, da Anatomia
Patológica, do Centro de Criatividade e das áreas de Ensino e Pesquisa (Biblioteca
e Auditórios).
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
294
Segundo MINIOLI (2007:42), ...
... “o Subsolo 1 apresenta o maior número de usos em um mesmo
pavimento. Isso se deve à facilidade de ligação com o pavimento térreo, em
algumas áreas de atendimento a pacientes externos, ao mesmo tempo em
que permite a existência de galerias para instalações no pavimento inferior.
(...) Os setores são dispostos na direção norte-sul, ortogonalmente ao eixo
transversal e tendo acesso direto a ele, tornando assim possível que os
setores sejam ampliados de forma independente no sentido longitudinal”.
Como muitos dos setores projetados para o S1 são altamente especializados,
qualquer alteração do procedimento médico ou dos equipamentos usados implica
em adaptações no espaço físico, comenta Minioli. De fato estas alterações
ocorreram, como pode ser verificado ao comparar as plantas do pavimento em
1980 e em 2007 (Figuras 11.01 e 11.02, respectivamente).
Figura 11.01: Planta do Subsolo 1 do HDAL, em 1980 (época da construção do edifício)
Fonte: MINIOLI, 2007.
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
295
No período analisado o S1 cresceu na direção sul, ao
contrário dos demais. Contribuíram para esta expansão
a construção das áreas de Ressonância Magnética e
Medicina Nuclear, a ampliação das unidades de
Radiologia e Laboratório e o deslocamento do Banco
de Sangue, que fechou transversalmente o vão
ajardinado adjacente ao Laboratório e ganhou acesso
independente. Internamente o Centro Cirúrgico
aumentou o número e o tamanho de suas salas,
avançando sobre a área do Arquivo Médico. Este, por
sua vez, passou a ocupar uma área maior (dois
pavimentos de 700m²) no Prédio Administrativo da
instituição.
Figura 11.02: Planta do Subsolo 1 do HDAL em 2007.
Fonte: MINIOLI, 2007.
A seguir serão analisadas separadamente as áreas que mais se modificaram
arquitetonicamente neste andar.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
296
3.1.1 Radiologia
A unidade de Radiologia (Figuras 11.03 e 11.04) expandiu-se em aproximadamente
um terço do seu tamanho original durante o período analisado. Até
aproximadamente 1998 existiam no HDAL dois Tomógrafos comuns. Em 2001 foi
adquirido um terceiro e em 2003 um dos equipamentos mais antigos foi substituído.
Nesse “entra e sai” de maquinas, uma sala de Tomografia foi deslocada, juntando-
se a outras duas salas do mesmo exame.
Foram criadas também mais áreas de preparo (Vestiários) e de processamento de
dados e imagens (Interpretação de Laudos), além das compulsórias áreas de
Comando e de Infraestrutura. Neste aspecto, a coincidência física com as galerias
existentes no pavimento inferior favoreceu o suprimento de energia e ar
condicionado às novas salas, na medida em que foram mantidos os espaços de
subida dos dutos de ar condicionado, espalhados pelo corredor principal da
unidade. Estes espaços, previstos desde o projeto original, foram importantes para
dar flexibilidade ao projeto.
Figura 11.03: Planta da unidade de Radiologia (Subsolo 1) em 1980.
Fonte: MINIOLI, 2007.
Figura 11.04: Planta da unidade de Radiologia (Subsolo 1) em 2007.
Fonte: MINIOLI, 2007.
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
297
A área onde estava o Tomógrafo
foi reformada e possibilitou o
aumento da sala de Angiografia
(Hemodinâmica – Figura 11.08),
que ganhou uma sala exclusiva
de Comando na área onde antes
havia um pequeno corredor. Ao
lado foi introduzida ainda uma
sala de Ultrasonografia.
Com a digitalização dos processos de revelação dos exames, foram desativadas as
Câmaras Escuras, cuja área se uniu à das Câmaras Claras adjacentes e passou a
ser utiliza pelos equipamentos de revelação (Digitalizadores ou CRs). As salas de
Raios-X próximas dali aumentaram, assim como a área de Espera (Figura 9.06).
Figura 11.05: Corredor entre os vestiários de
pacientes e as salas de Raio-x.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 11.06: Área de Espera.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 11.07: Sala de Raio-x.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 11.08: Sala de Angiografia.
Fonte: Acervo da autora.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
298
Figura 11.09: Digitalizadora (CR) na atual área
de revelação digital
(antigas Câmaras Clara e Escura).
Fonte: Acervo da autora.
Figura 11.10: Área de Comando comum entre as
três salas adjacentes de Tomografia.
Fonte: Acervo da autora.
De acordo com MINIOLI (2007:40), já na etapa do projeto executivo “a área do
Raio-X foi ampliada linearmente pela justaposição das salas e pela extensão dos
corredores”, onde os acréscimos puderam ser realizados sem prejudicar a
configuração existente. A isto favoreceram a modulação estrutural e a adoção de
uma altura padrão para as lajes, gerando um pé-direito uniforme e contínuo.
“Nesta direção longitudinal, os vãos entre pilares são constantes (seis
módulos) como no restante do edifício, onde também é usado esse
esquema estrutural. Os vãos transversais, no entanto, são ajustados em
função da largura das salas e dos corredores, que variam a cada ala,
posicionando os pilares alinhados às paredes, evitando pilares no meio das
salas. As paredes em alguns trechos são duplas, faceando os dois lados
dos pilares, criando um nicho por onde passam verticalmente instalações
de ar-condicionado”. (MINIOLI, 2007:64)
Na direção transversal, porém, a flexibilidade ficou mais restrita, por causa das
diferentes dimensões dos vãos entre pilares, que dificultaram um layout diverso do
daquele definido inicialmente.
3.1.2 Laboratório
As transformações arquitetônicas na área do Laboratório foram numerosas e
contínuas, haja vista a quantidade de equipamentos que foram adicionados dentro
da mesma área (Figuras 11.11 e 11.12). O arquiteto Luiz Engler Vasconcellos,
responsável pelas obras do Hospital Sarah Brasília, identifica as obras no
Laboratório como uma “dor de cabeça”, por causa da infinidade de problemas com
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
299
instalações (tomadas, pontos hidráulicos, etc.) e mudança de layout, principalmente
quando relacionado ao aumento e redução de bancadas de trabalho.
Na medida em que se incorporaram nestas atividades o uso de refrigeradores, por
exemplo, criou-se a necessidade de um espaço para eles, sendo que logo se
criaram sala só para acomodá-los, diz o arquiteto. Outro problema é o
armazenamento de blocos (material biológico), que só aumenta.
Figuras 11.11 e 11.12: Adensamento de equipamentos sobre as bancadas do Laboratório.
Fonte: Acervo da autora.
Entre as plantas de 1980 e 2007 (Figuras 11.13 e 11.14, respectivamente) pode-se
constatar uma grande expansão da unidade do Laboratório, que avançou sobre a
antiga Biblioteca do Centro de Estudos. Isto ocorreu durante a década de 1990,
quando esta foi transferida para uma área maior no prédio da Associação das
Pioneiras Sociais.
O acréscimo de espaço do
Laboratório foi motivado,
segundo Vasconcellos, pelo
avanço científico, na medida em
que foi descoberta a Patologia
Molecular e uma grande área
precisou ser dedicada à ela.
Segundo Marcelo Buzzi, que
trabalha na área, a Patologia
Molecular tende a crescer e
substituir a Patologia Clínica.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
300
Figura 11.13: Planta do Laboratório de Análises Clínicas (Subsolo 1)
em 1980 (época da construção do edifício).
Fonte: MINIOLI, 2007.
Figura 11.14: Planta do Laboratório de Análises Clínicas (Subsolo 1) em 2007.
Fonte: MINIOLI, 2007.
No período estudado também foram adquiridos pela instituição três microscópios
eletrônicos, cuja presença trouxe alguns ajustes arquitetônicos. O primeiro
microscópio veio em 2000, o segundo provavelmente em 2001 e o terceiro em
2003. Foram instalados em uma sala da área de Patologia Molecular, avançando
sobre uma pequena área do Centro de Criatividade. Este, por sua vez, já estava
bem menor devido à expansão do Laboratório como um todo.
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
301
Em termos de instalações de ar condicionado, outros ajustes precisaram ser feitos.
A Patologia Clínica, que antes não precisava de climatização, passou a precisar, na
medida em que a grande quantidade de equipamentos trouxe também a emissão
de calor. Outros equipamentos mais sofisticados como os microscópios eletrônicos
exigiram desde o princípio climatização, criando um apêndice ao sistema de ar
condicionado na forma de um aparelho Split (Fancolete).
3.1.3 Ressonância Magnética e Medicina Nuclear
Constituindo uma significativa adição de área ao pavimento S1, a criação das
unidades de Ressonância Magnética e Medicina Nuclear (Figura 11.15) ocorreu
junto à ampliação das galerias de instalações no pavimento inferior (S2). O
crescimento manteve-se linear, aumentando o número de ambientes e entendendo
em “L” o corredor existente, na direção oeste. Chegando ao limite possível no lote,
esta ampliação já estava prevista no projeto inicial do arquiteto João Filgueiras
Lima.
Os equipamentos de RM foram trocados várias vezes após a construção da área,
gerando novas reformas toda vez que isso ocorreu. Em 1994 a máquina nova, que
pesava aproximadamente 32 toneladas exigiu reforço estrutural no prédio para que
pudesse ser instalada. Em 2009, quando foi substituído outro equipamento, o
mesmo aconteceu, sendo que nesta obra mais recente o pé-direito teve que ser
aumentado (através do rebaixamento do piso) e a sala pôde ser reduzida, assim
como a sua Sala Técnica.
Segundo Vasconcellos, o tipo de proteção radiológica exigida por este aparelho de
RM era diferente, indicando a necessidade de dois tipos de blindagem. Obras foram
realizadas para instalar a proteção magnética e de radiofrequência, que impedem
interferências tanto de dentro para fora quanto de fora para dentro do ambiente.
Apesar das dificuldades de execução desta reforma, a mudança do tipo de material
empregado para a blindagem apresentou alguns pontos positivos. A usual placa
monolítica foi substituída por uma composição de várias placas mais finas de
chumbo. Mais leves e facilmente manuseadas, as placas apresentam no seu
conjunto maior eficiência, diz o arquiteto.
Nestas transformações arquitetônicas foi importante a presença de uma grande
Casa de Máquinas ao fundo das salas de exames, a qual estabelece comunicação
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
302
direta com as Galerias de Instalações inferiores. Localizada em um dos limites do
edifício, é ali que se dá o acesso dos equipamentos de RM (através de um poço de
comunicação como o pavimento térreo), abrigando também as máquinas de ar
condicionado.
Figura 11.15: Planta das unidades de Ressonância Magnética e
Medicina Nuclear (Subsolo 1) em 2007.
Fonte: MINIOLI, 2007.
Sobre o sistema de ar condicionado, outra peculiaridade foi comentada por
Vasconcellos, que constatou a necessidade de diferentes temperaturas dentro da
unidade. A temperatura ideal para os equipamentos tem sido cada vez mais baixa,
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
303
distanciando-se da temperatura de
conforto dos usuários, em especial
os funcionários, cuja permanência
nas áreas é mais prolongada.
Assim, mais uma alteração se
tornou necessária, na medida em
que o sistema de climatização deve
ser subdividido para criar ambientes
de temperaturas diferentes (um
Fan-coil para cada temperatura).
Nos equipamentos de RM, a presença de macas retráteis também teve impacto
arquitetônico. Para facilitar e acelerar o acesso de pacientes com dificuldades
locomotoras ao equipamento, o hospital comprou um modelo onde a maca se
desencaixa do Magneto e vai até a área de preparação do paciente. Isto, porém,
criou a necessidade de um espaço de armazenamento e higienização das macas
extras.
A área de Medicina Nuclear, por sua vez, não permaneceu muito tempo no hospital.
Com muitas especificidades em relação ao espaço físico e aos procedimentos
envolvidos, a sala de Cintilografia recentemente deu lugar a uma sala de Simulação
do exame de RM, especialmente construída para diminuir a fobia do paciente
durante o exame propriamente dito. Nesta sala existe um equipamento falso, que
simula a sensação de claustrofobia. As salas de Vídeo MR e Vídeo CT, criadas
também para preparar psicologicamente o paciente com vídeos explicativos sobre
os exames de Ressonância Magnética e Tomografia, não foram muito utilizadas, e
são hoje ocupadas por salas de Ultrasonografia.
3.1.4 Centro Cirúrgico
A localização do Centro Cirúrgico (Figuras 11.16 e 11.17), segundo Lelé (apud
MINIOLI, 2007), deve-se à decisão de colocá-lo próximo (logo acima) das Galerias
de Instalações, pois esta área necessita de grande quantidade e diversidade de
sistemas de instalações. Foi priorizada, já no projeto, a facilidade de manutenção.
As transformações desta área ocorreram em 2002, desencadeadas pelo acréscimo
de uma sala cirúrgica com Tomógrafo Deslizante. Para a incorporação da
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
304
tecnologia de diagnóstico na cirurgia, houve uma grande reforma, onde além de
avançar sobre a área do Arquivo Médico foi necessária a renovação das
instalações elétricas e fluído-mecânicas existentes. Segundo o arquiteto Luiz Engler
Vasconcellos, esta foi uma obra muito longa e complicada, pois naturalmente não
poderia haver qualquer interferência sobre as cirurgias durante a reforma.
O problema maior foi reformar o sistema de ar condicionado, cujos Fan-coils e
dutos eram antigos e obsoletos. “Foi difícil porque os outros equipamentos de ar
condicionado e instalações precisavam continuar funcionando”, conta o arquiteto. O
piso foi trocado e assim foi constatado que as instalações de gás também
precisavam de reparos.
Figura 11.16: Planta do Centro Cirúrgico (Subsolo 1) em 1980
(época da construção do edifício)
Fonte: MINIOLI, 2007.
Figura 11.17: Planta do Centro Cirúrgico (Subsolo 1) em 2007.
Fonte: MINIOLI, 2007.
Em termos de instalações elétricas, a norma específica da ABNT para Proteção
Elétrica de Centros Cirúrgicos também influenciou a obra. Para garantir o
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
305
funcionamento dos equipamentos em caso de queda de energia, teve que ser
instalados em cada sala cirúrgica o DSI (Dispositivo Supervisor). Este é um
dispositivo que garante que no caso de a eletricidade sair pelo fio terra, ao invés de
haver o desligamento automático de energia, apenas há o acionamento de um
alarme, mantendo tudo funcionando durante o procedimento cirúrgico.
Na planta de 2007 é possível perceber que em uma área onde existiam duas salas
cirúrgicas, passou a existir somente uma. Esta é a sala na qual se introduziu o
Tomógrafo deslizante, o qual trouxe ainda espaços maiores para preparo e para
equipamentos (Sala Técnica). Uma região periférica de instalações foi criada,
servindo a esta e a outras duas salas de alta tecnologia, também maiores que as
comuns. O elevador monta-cargas ali existente, anteriormente utilizado para
transportar arquivos em papel entre o Arquivo Médico e o Ambulatório, acabou
sendo útil para transportar os equipamentos vindos da Casa de Máquinas inferior.
Segundo Vasconcellos, a reforma foi realizada, a priori, porque o espaço interno
das salas existentes do Centro Cirúrgico, que era de 6,40 por 6,40m, tornou-se
insuficiente. Com a introdução do exame de diagnóstico junto às cirurgias, houve
necessidade de áreas maiores. No início (1980) havia oito salas de cirurgia
comuns, e com a reforma a área passou a ter três salas de alta tecnologia e seis
salas comuns, totalizando 1.400m².
11.2 SUBSOLO 2: TRANSFORMAÇÕES ENTRE 1980 E 2007
No Subsolo 2 concentram-se as atividades de Apoio Técnico e Logístico, incuindo
as áreas responsáveis pela Infraestrutura Predial e pelos Serviços de
Processamento e Armazenamento de Suprimentos do hospital. Constituem os
“bastidores” da instituição. De acordo com MINIOLI (2007:42), neste pavimento são
desempenhadas funções de apoio fundamentais ao funcionamento do HDAL:
“Algumas áreas estratégicas foram dispostas para leste, próximas à via
secundária, onde há um acesso do exterior direto para um pátio de
serviços, a partir do qual se pode ingressar nesses ambientes, facilitando os
serviços de abastecimento. (...) No S2, além destas áreas de serviços,
encontram-se as galerias de instalações prediais aparentes. A sua
presença é um exemplo de flexibilidade, pois permite que as tubulações
possam ser acessadas, movidas e atualizadas, acompanhando alterações
de layout e/ou de função nos ambientes”. MINIOLI (2007:42)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
306
Figura 11.18: Desenho de Lelé para demonstrar o fluxo das
instalações prediais no pavimento do Subsolo 2.
Fonte: MINIOLI, 2007.
“Há uma galeria abaixo das salas de exames de Raios-X, e outra sob da
área dos laboratórios, na projeção do corredor. Um corredor transversal
principal também está presente neste pavimento, e cria um acesso direto da
parte dos serviços para os blocos existentes, que passa abaixo da via de
acesso interna do térreo. Lelé ressalta no Anteprojeto a importância dessa
integração, necessária ao adequado funcionamento desses blocos”.
(MINIOLI, 2007:44)
Como comentado anteriormente, neste andar existe uma Casa de Máquinas de
700m² exclusiva para os equipamentos de Ar Condicionado do Centro Cirúrgico,
que se localiza no pavimento superior, na mesma projeção. Neste espaço ficam os
Fan-coils (Figura 11.19), sendo que, devido ao nível elevado de filtragem
necessário, há um equipamento exclusivo para cada sala cirúrgica.
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
307
Figura 11.19: Casa de Máquinas para os
equipamentos de ar condicionado (Fan-coils) do
Centro Cirúrgico.
Fonte: Acervo da autora.
As Galerias de Instalações Lineares,
que se transformaram em
Pavimentos Técnicos em outras
sedes da Rede Sarah
1
, alimentam
todos os setores do hospital, através
de Canaletas e Shafts embutidos nos
elementos estruturais do edifício
(Figuras 11.20, 11.21, 11.22 e
11.23).
Figuras 11.20, 11.21 e 11.22:
Instalações elétricas embutidas nos
elementos estruturais do HDAL.
Fonte: MINIOLI, 2007.
1
No Rio as galerias são substituídas pelo piso técnico, para dar mais flexibilidade ainda ao projeto. As galerias de
instalações foram usadas também como vias de ventilação natural (Sarah de Salvador).
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
308
Figura 11.23: Dutos de ar condicionado embutidos
na estrutura pré-fabricada da laje do Centro Cirúrgico.
Fonte: MINIOLI, 2007:63.
3.1.5 Apoio Técnico e Logístico
Como pode ser visto na comparação entre as plantas de 1980 e 2007 do S2
(Figuras 11.24 e 11.25, respectivamente), as Galerias de Instalações foram
estendidas, em função das ampliações realizadas no S1. Enquanto isso os
ambientes de Apoio Logístico (Centrais de Higienização, de Armazenamento e de
Processamento de Roupas, Alimentos) pouco se modificaram, destacando-se
apenas o aumento da Farmácia e do Almoxarifado Geral
2
.
A Farmácia expandiu-se porque o hospital passou a tratar de Câncer Ósseo,
originando o aumento significativo de medicamentos armazenados e manipulados.
A Central de Material Esterilizado (CME), por sua vez, sofreu uma reforma mais
significativa com o deslocamento de uma de suas Autoclaves, que são os
equipamentos de esterilização. Para alguns materiais não suscetíveis ao calor,
como o plástico, a esterilização era realizada em um equipamento especial, porém
auxiliado por substâncias tóxicas. Era necessário, o seu isolamento em relação às
2
A maior mudança no ambiente foi a instalação de arquivos deslizantes.
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
309
áreas de trabalho. Houve a substituição desta Autoclave por outra mais avançada,
onde as substâncias utilizadas não eram tóxicas. O resultado foi uma obra para
incorporar o equipamento às áreas de trabalho comuns.
Figura 11.24: Planta do Subsolo 2 do HDAL, em 1980 (época da construção do edifício)
Fonte: MINIOLI, 2007.
Figura 11.25: Planta do Subsolo 2 do HDAL em 2007.
Fonte: MINIOLI, 2007.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
310
Durante os anos de funcionamento do
hospital, houve um adensamento de dutos nas
Galerias de Instalações (Figura 11.26), na
medida em que aumentou muito a carga
elétrica e o número de ambientes a serem
climatizados no prédio. Por isso, nas mesmas
foram adicionados Transformadores, Quadros
Elétricos e Dutos de Água Gelada (Figura
11.27) do sistema de Ar Condicionado.
Figura 11.26: Galeria de Instalações do Subsolo 2
do Sarah Centro.
Fonte: Acervo da autora.
Figura 11.27: Condutores de água gelada do
sistema de Ar Condicionado.
Fonte: Acervo da autora.
A presença da Central de Processamento de Dados (CPD), também chamada de
Sala de Servidores, merece atenção especial neste andar, na medida em que esta
área pode ser considerada como o cérebro da instituição. Qualquer interferência
nos seus equipamentos tem implicações sérias, pois atualmente todas as
atividades do hospital dependem dos seus computadores (servidores).
Segundo Vasconcellos, são complexas as reformas que envolvem a área de CPD,
por menores que elas sejam. O arquiteto conta que na ocasião do deslocamento de
uma divisória interna da área, um cabo foi cortado acidentalmente, algo que
desativou um equipamento do Ambulatório (pavimento Térreo) por um período
relativamente longo. Em 2009 a mesma área foi reformada novamente, redefinida
pela expansão da área de Higienização de Equipamentos.
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
311
11.3 CONCLUSÕES
Ao longo de sua vida útil o Hospital Sarah de Brasília conseguiu, apesar de
algumas reformas e expansão do edifício, manter a sua estrutura original de fluxos
e de zonas funcionais. Apesar de enfrentar obras muitas vezes complexas e longas,
os seus eixos principais de circulação não foram alterados e mantiveram a
hierarquia entre os fluxos e relações operacionais. Isto foi percebido também em
outras áreas da instituição, como Internação e Ambulatório no pavimento Térreo.
Concorda-se com MINIOLI (2007), que diz que “o esquema estrutural do prédio e o
respeito a padronização concebida durante estas reformas fez com que o conjunto
permanecesse harmonioso”. Acredita-se que fatores de ordem política e
tecnológica foram os que mais influenciaram para a preservação da organização
espacial do hospital, desde a fase de projeto nos anos 1970.
Como já comentado, entre as premissas de projeto de João Filgueiras Lima
estiveram a flexibilidade e a expansibilidade do edifício, antevendo as suas
ampliações e reformas. Estas premissas, por sua vez, foram claramente
concretizadas no edifício, atestando que não existiram, como em muitos casos,
apenas no discurso do arquiteto.
“O projeto estrutural original é exemplo dessa premissa. (...) Então o partido deveria
permitir sua repetição, com o objetivo de simplificar e dar unidade à construção,
sem perder a sua característica ao longo do tempo, pelas mudanças nas funções
dos ambientes”. (MINIOLI, 2007:62)
Entre as estratégias de projeto para que o edifício se tornasse de fato adaptável,
considera-se mais determinante a modulação e a localização estratégica das áreas
de infraestrutura.
“Segundo o arquiteto Lelé, para que os ambientes sejam realmente
flexíveis, além da estrutura, as instalações também devem sê-lo. Em seus
projetos as instalações são acessíveis, embora não possam ser vistas.
Suas obras têm uma linguagem industrial, embora não aparente como tal.
O conceito adotado demonstra a preocupação com a praticidade, a
funcionalidade, a facilidade e o custo de manutenção. A distribuição dos
serviços deve ser rápida e objetiva, sem que as modificações sejam
notadas após sua execução”. (MINIOLI, 2007)
Nos locais onde a necessidade de infraestrutura é mais concentrada e
especializada, foi importante a presença de espaços técnicos estrategicamente
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
312
distribuídos. No Centro Cirúrgico, prumadas de ar condicionado estão por toda a
parte, facilitando os frequentes ajustes e acréscimos ao conjunto de dutos. O
mesmo ocorre nas áreas de Imagenologia.
No setor de Ressonância Magnética, por sua vez, todas as salas de exame fazem
limite com uma grande Casa de Máquinas, a qual possui acesso independente ao
exterior do edifício. Nesta região, como ficou evidente durante uma visita à área,
reformas são realizadas de forma mais organizada e isolada, na medida em que a
obra fica totalmente voltada para as áreas técnicas. Estas, por sua vez, possuem
ligação direta com as galerias do S2, através de um plano inclinado. Com isso fica
flexível o ajuste nas instalações que vão servir a área reformada.
Durante as transformações arquitetônicas do S1 e do S2, provou-se verdadeira a
teoria dos vetores de expansão lineares exposta no projeto. A multiplicação e
subdivisão dos ambientes, principalmente na área de Imagenologia, raramente
ocupou espaços de circulação. Estes se ramificaram pouco, preservando a
linearidade e, logo, a racionalidade no desenho das vias de comunicação entre os
diferentes setores.
Outro resultado favorável foi a permanência da estrutura entre as áreas do “antes”,
do “durante” e do “depois” dos exames, no caso da unidade de Radiologia. A região
de preparo do paciente (vestiários) permaneceu praticamente intacta, apenas
prolongando-se em “L” na ocasião da sua ampliação. A sua relação com a área de
espera, que se ampliou no mesmo sentido, foi totalmente mantida.
Na Radiologia manteve-se também o corredor intermediário entre os conjuntos de
salas de preparo e de salas de exames. Ali continuou priorizado o fluxo dos
pacientes, ao passo que no corredor existente aos fundos das salas de Raios-X
continuaram concentradas as atividades e a circulação da equipe técnica.
Após as análises foi possível concluir que outro fator importante para as ampliações
do edifício foi a modulação padronizada da sua estrutura, único elemento estático
do edifício. O seu desenho também favoreceu a distribuição das instalações
prediais por diversos caminhos embutidos.
Concorda-se com MINIOLI (2007:62) quando ela comenta que “pela complexidade
de usos de um hospital, ficaria ainda mais dificultada sua funcionalidade e
manutenção, se o sistema construtivo fosse resolvido de maneira distinta para cada
setor”. A modulação estrutural, como também apontado por Minioli, foi uma
11 ESTUDO DE CASO 3: HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK DE BRASÍLIA
313
ferramenta utilizada por Lelé inclusive para direcionar a expansão na direção
desejada, diminuindo a flexibilidade nos outros sentidos através de vãos menores
entre os pilares.
Além da presença de uma malha estrutural mais facilmente contornável e de
espaços de infraestrutura estrategicamente localizados, a atuação do arquiteto na
Rede Sarah também é tida como causa para a preservação da sua integridade
arquitetônica original.
Nos hospitais da Rede Sarah, como em poucos, a figura do arquiteto é respeitada
na tomada das decisões. Lelé e a equipe interna de arquitetos e engenheiros têm
poder ao vetar ou induzir determinadas modificações do edifício.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
314
12
CONLCUSÕES
12 CONCLUSÕES
317
12 CONCLUSÕES
Como se supôs ao iniciar-se esta pesquisa, a incorporação de inovações
tecnológicas é uma das principais causas que levam à realização de reformas nos
hospitais existentes, alterando e impactando de formas variadas a sua estrutura
física e funcional.
Por meio dos relatos de vários autores e dos casos acompanhados de perto sobre
a adaptação arquitetônica dos edifícios hospitalares aos condicionantes
tecnológicos nas áreas de diagnóstico, tratamento e infra-estrutura, conclui-se que
se trata de um processo complexo e instransponível. Lidar com ele, por sua vez, é
uma tarefa difícil que deve ser facilitada através da produção de uma arquitetura
mais flexível, na medida em que a única certeza é a de que haverá transformação.
Edifícios grandes e complexos como os hospitais nunca estarão finalizados, sendo
construções dinâmicas como a própria medicina e tecnologia.
Foram encontradas situações caóticas em hospitais brasileiros, onde o resultado
final destas readequações espaciais foi uma colagem de elementos. Como coloca
SCHMIDT (2003), um hospital deve ser, no final, arquitetura e não somente
construção. Arquitetura no sentido de unir simultaneamente funcionalidade e
qualidade formal e estética.
“A construção ou a renovação de um hospital não é apenas função,
tecnologia e conceito. É também estética. É isso que faz o paciente
percebê-lo não como um portal da morte, mas como um ambiente de cura.
São as ruas e praças do Rikshospitalet, o jardim e o hall de entrada com
teto solar do IPq, as paisagens locais exploradas no São Camilo.
Perguntado sobre o que seria um bom hospital, Zanettini afirma: ‘eu iria
mais longe. Eu diria o que é uma boa arquitetura. E ela é aquela que
consegue aliar com equilíbrio a base científica ao mundo sensível, da
intuição, da criatividade’.” (HORTA, 2005)
Neste sentido, através desta pesquisa puderam ser elencadas e recomendadas
algumas ferramentas de planejamento para melhorar o potencial de atualização
destes edifícios, sem que fique comprometida a sua a sua organização funcional e
a sua qualidade formal.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
318
12.1 SOBRE OS CASOS ESTUDADOS
Ao compararem-se as situações encontradas nos três estudos de caso desta
pesquisa, pode-se chegar à conclusão geral de que há uma diferença gradual no
impacto que as transformações arquitetônicas vinculadas às variáveis tecnológicas
tiveram sobre os três edifícios.
Numa hierarquia, coloca-se a experiência do Instituto do Coração como a mais
crítica. As inúmeras reformas e expansões do pavimento AB resultaram numa
configuração espacial bastante diferente da original. Neste caso, a rede de
corredores (Figuras 12.01 e 12.02) e o zoneamento funcional resultante deixaram
uma impressão de confusão e fragmentação.
Figura 12.01: Configuração das áreas
de circulação do Pavimento AB do
InCor , em 1976.
Figura 12.02: Configuração das áreas de circulação do
Pavimento AB do InCor , em 2009.
A fragmentação das unidades funcionais pode ser desfavorável no sentido de
prolongar as distâncias percorridas e duplicar algumas atividades ou áreas de
apoio. Para o paciente, quando há salas de exames em locais diferentes, ele fica
obrigado a circular mais pela instituição, dependendo da localização das áreas de
preparo. Isto contribui para a perda da sensação de organização da instituição,
enegrecendo o seu grau de confiabilidade.
A experiência do Hospital Albert Einstein foi considerada intermediária. Apesar das
numerosas alterações internas em cada unidade funcional, bem como dos
deslocamentos de algumas delas entre os blocos A, B, C e D, a configuração
12 CONCLUSÕES
319
arquitetônica resultante não apresentou grandes diferenças na rede original de
circulação horizontal (Figuras 12.03, 12.04, 12.05 e 12.06). Esta se manteve linear,
praticamente sem ramificações. O zoneamento funcional, por sua vez, apresentou
algumas fragmentações, principalmente entre as unidades que se expandiram para
Blocos diferentes.
Figura 12.03: Configuração das áreas de
circulação do 4º pavimento
do HIAE, em 1998.
Figura 12.04: Configuração das áreas de
circulação do Subsolo 1
do HIAE, em 1998.
Figura 12.05: Configuração das áreas de
circulação do 4º pavimento
do HIAE, em 2009.
Figura 12.06: Configuração das áreas de
circulação do Subsolo 1
do HIAE, em 2009.
O Hospital Sarah de Brasília aparece aqui como a experiência mais bem conduzida.
O seu zoneamento funcional e a sua malha de circulação horizontal (Figuras 12.07,
12.08, 12.09 e 12.10) apresentaram poucas alterações significativas desde o início
da vida útil do edifício.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
320
Figura 12.07: Configuração das áreas de circulação do
Subsolo 1 do Hospital Sarah de Brasília, em 1980.
Figura 12.08: Configuração das áreas de
circulação do Subsolo 2
do Hospital Sarah de Brasília, em 1980.
Figura 12.09: Configuração das áreas de circulação do
Subsolo 1
do Hospital Sarah de Brasília, em 2007.
Figura 12.10: Configuração das áreas de
circulação do Subsolo 2
do Hospital Sarah de Brasília, em 2007.
12.1.1 Diferenças
As diferenças entre as modificações arquitetônicas ocorridas nestas três áreas
analisadas podem ser justificadas por outros fatores além dos relacionados ao tipo
de planejamento e à tecnologia. O caráter de gestão de cada um é diferente,
passando pelas esferas políticas pública e privada.
O InCor é um hospital que, além de público, é também vinculado à universidade.
Isso difere a forma como a decisão é tomada em relação às reformas e expansões,
na medida em que há frequentemente a sobreposição de interesses entre os
gestores, os médicos e os professores titulares, que detém grande parte do poder
político. A fragmentação espacial muitas vezes origina-se da disputa de poder entre
as áreas, que se sentem donas da instituição.
12 CONCLUSÕES
321
No caso do HIAE, que é uma instituição privada, o poder de decisão está mais
centralizado, porém nas mãos de um conjunto muito grande de pessoas. Mesmo
assim, tratando-se de cofres privados, a impressão é a de que, neste caso, os
investimentos são mais bem distribuídos entre as diferentes áreas, não se
distanciando tanto da visão global do conjunto físico do hospital.
No HDAL, assim como em todas as unidades da Rede Sarah, o modelo de gestão é
ainda mais favorável à centralização do poder de decisão, evitando desvios do
plano arquitetônico geral da edificação. Nestes hospitais, uma característica muito
peculiar e que faz toda a diferença no rumo tomado pelas transformações
arquitetônicas é o respeito à figura do arquiteto como detentor do poder de decisão
sobre as mesmas.
12.1.2 Semelhanças
Foram encontradas entre os hospitais estudados algumas características comuns
que possivelmente foram a causa de semelhanças no comportamento do edifício
frente as inevitáveis transformações arquitetônicas.
Tanto no HIAE quanto no HDAL foram encontradas estratégias de projeto
relacionadas à localização das prumadas de instalações. Em ambos os casos os
Shafts ficaram todos localizados nos principais corredores das áreas de
diagnóstico, determinando em parte a sua preservação. Especialmente no caso do
Sarah de Brasília, foi percebida como favorável a coincidência entre os espaços de
circulação de instalações e pessoas, sendo que isto limitou as alterações
(ramificações) dos mesmos. No InCor, onde esta coincidência física não foi
indicada pelo projeto original, foi maior a fragmentação das vias de circulação
horizontal.
Na configuração interna das áreas de Imagenologia em todos os três hospitais
analisados, observou-se a superlotação das áreas de Interpretação de Laudos e de
Comando, apesar da liberação de espaço devido à digitalização dos processos
envolvidos (equipamentos menores e processos feitos à distância). Supõe-se que a
causa da grande quantidade de profissionais seja o aumento da
multidisciplinaridade em relação aos exames de diagnóstico, onde cada vez mais
está havendo nos equipamentos a superposição de funções. Aliada à
superespecialização da medicina, a visualização de mais partes do corpo cria a
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
322
necessidade de mais médicos especialistas trocando informações na interpretação
do mesmo exame.
Outra semelhança que merece ser mencionada entre todos os três edifícios é a
flutuação da localização de exames de Ultrasonografia, bem como a presença
destes nas áreas de Radiologia e Hemodinâmica.
12.2 SOBRE OS RUMOS DA ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR
Segundo vários autores, há uma tendência de crescimento das áreas de
diagnóstico, especialmente quando a serviço de pacientes externos. Muitas já são
as unidades autônomas com esta função, passando a dividir espaço com os
hospitais. A estes caberia priorizar o foco no atendimento ao paciente interno,
deixando para as unidades externas a maior fatia do atendimento aos pacientes
externos.
Isto é o que está ocorrendo, por exemplo, no Hospital Albert Einstein, que está
aplicando este pensamento com unidades satélites da própria instituição
especializadas no atendimento ambulatorial e de diagnóstico (Imagenologia e
Laboratório).
Os procedimentos de tratamento dos pacientes internos, auxiliados pelas
tecnologias de diagnóstico, estão cada vez menos agressivos, tornando mais curto
o tempo da recuperação e da estadia do paciente no hospital. Deste modo os leitos
de tratamento intensivo tendem a aumentar, enquanto diminuem as áreas de
internação comum. Segundo BROSS (2006), isso ...
... “levará grandes hospitais a uma reciclagem, porque vão produzir mais
com menor número de leitos. A tecnologia médica e a da informação estão
caminhando entrosadas, o que permitirá a tomada de decisões mais rápida
e com mais competência. Em vez de se coletar uma série de exames em
laudos escritos, esse trabalho já é feito virtualmente”.
As UTIs agregarão um arsenal tecnológico cada vez maior, na medida em que se
concentrará nela a recuperação dos casos mais agudos.
“As unidades destinadas a diagnóstico e tratamento deverão se localizar
próximo ao usuário. Os hospitais (unidades para pacientes internados)
terão menor número de leitos, uma vez que atenderão apenas situações
12 CONCLUSÕES
323
agudas, com uma concentração cada vez maior de complexos recursos
tecnológicos.” (BROSS, 1997, apud Revista Projeto, 1997:56)
Segundo FERNANDES (2003:129), no futuro os hospitais ...
... “terão áreas menores, em conseqüência da diminuição das internações e
do período de permanência de pacientes, promovendo a otimização desses
edifícios. Com a implementação de procedimentos que propiciam o
aumento de procedimentos e cirurgias em ambulatórios externos, parte dos
pacientes será atendida em regime de hospital-dia, com tratamentos
intensivos em um período de 24 a 48 horas; e parcela expressiva de
profissionais, que desenvolvem hoje suas atividades dentro dos hospitais,
transferirá suas atividades para fora nos ambulatórios de especialidades”.
Neste sentido, existem ainda previsões sobre o tamanho e o transporte de
equipamentos de diagnóstico como o de tomografia, que devem no futuro se tornar
portáteis como ocorreu como os aparelhos de Raios-X convencional. As áreas de
tratamento intensivo são, assim, eleitas como uma das mais suscetíveis a agregar
tecnologia no futuro, como comenta OLIVEIRA (2007):
“Em um futuro não muito distante, as unidades de cuidados especiais,
chamadas hoje de UTIs, terão um arsenal tecnológico ao seu dispor capaz
de melhorar muito os processos internos e principalmente a qualidade de
vida do paciente. Poderemos ter imagens do corpo do paciente em tempo
real sem precisar levá-lo a tomografia, pois teremos ‘Tomógrafo à beira
leito’, acessível para muitas unidades”.
Ainda sobre as tecnologias aplicadas ao atendimento médico, Oliveira indica que
diminuirá cada vez mais a quantidade de fios na comunicação entre as máquinas e
os pacientes, pois a informação clínica destes existirá na forma de cartões e/ou
chips.
Com o aumento do número de empresas especializadas no apoio às atividades
hospitalares, está aumentando também o número de serviços removidos dos
edifícios, cujas atividades são desempenhadas por terceiros. Um exemplo disso
ocorre nas áreas de lavanderia e nutrição, onde as roupas limpas e os alimentos já
chegam prontos ao hospital. Consequentemente há a sua compactação tanto física
quanto administrativa, demonstrada no Hospital e Maternidade São Luiz, unidade
Anália Franco. Dentro de instituições como esta existem ainda unidades funcionais
gerenciadas por outras empresas, como laboratório, setores de diagnóstico por
imagem, engenharia de manutenção, engenharia clínica e restaurantes.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
324
Todas estas tendências relacionadas ao futuro do atendimento médico certamente
darão continuidade ao dinamismo já detectado nos edifícios hospitalares, sendo
que no projeto elas deverão ser consideradas como possíveis condicionantes.
Apesar de se tratarem de previsões, ou seja, especulações sobre a realidade, os
arquitetos devem estar atentos a elas, projetando um edifício que possa incorporar
estas possibilidades. Ou seja, é imprescindível a flexibilidade. “Nas decisões de
projeto devem ser consideradas as situações que só enxergamos em futuro
distante, de modo que a edificação tenha vida mais longa”. (João Carlos Bross,
apud CORBIOLI, 2000)
12.3 SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FLEXIBILIDADE NA ARQUITETURA DOS
HOSPITAIS
Segundo CHRISTIE, CHEFURKA e NESDOLY
1
, ser flexível significa ser “adaptável
ou variável, não rígido e suscetível a condições mutáveis
2
.
Flexibilidade na arquitetura, segundo LONGHI (2001), é entendida como ....
... “a capacidade dos espaços em se adaptarem a novas necessidades
funcionais, e está relacionada a modulação estrutural utilizada (vãos
estruturais), a padronização dos espaços construídos (espaços construídos
que podem atender funções semelhantes) e a contigüidade entre espaços
não construídos e construídos (possibilidade de ampliação)”.
A evolução arquitetônica dos edifícios hospitalares, estudada durante a pesquisa,
demonstra que é flagrante a necessidade de que os mesmos sejam extremamente
flexíveis. O ambiente construído deve estar apto a acompanhar o dinamismo da
ciência e da tecnologia a serviço da medicina. Como comenta ROGERS (2001),
“projetar tendo em vista a flexibilidade de uso dos edifícios inevitavelmente desloca
a arquitetura das formas fixas e perfeitas”.
“O desafio a todos envolvidos com o planejamento e gerenciamento de
estabelecimentos assistenciais de saúde é antecipar, ao mais elevado grau,
onde as mudanças são mais prováveis de ocorrerem, e considerar
flexibilidade por todos os estágios das fases de planejamento, desenho,
1
http://muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html
2
Tradução livre da autora para: “Flexibility means: adaptable or variable, not rigid, responsive to changing
conditions." (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY)
12 CONCLUSÕES
325
construção e pós-ocupação para garantir que os objetivos finais de
satisfação do cliente, resultados clínicos desejados, eficiente ambiente de
trabalho, e uso efetivo de capital, sejam todos alcançados”.
3
De acordo com esta pesquisa conclui-se que o processo de adaptação
arquitetônica dos hospitais pode ter consequências muito depreciativas aos seus
edifícios, através de uma configuração espacial labiríntica e desorganizada. Assim,
crê-se que está no projeto uma das chaves para evitar tais efeitos, direcionando de
forma racional as expansões, a subdivisão interna dos ambientes e a articulação
organizada da distribuição funcional.
Basicamente, o que torna complexa e difícil a adequação dos edifícios a inovações
tecnológicas é uma estrutura confusa e cheia de pilares internos, a ausência de
espaço nos Shafts de instalações, o espaço insuficiente sobre o forro e a
distribuição de energia elétrica e das comunicações em tubulações fechadas (e não
em bandejas acessíveis), a distribuição de água e de esgoto em dutos embutidos
na alvenaria, a existência mesma de paredes de alvenaria e a ausência de
modulação múltipla no forro, nas esquadrias e nos pisos. Uma arquitetura flexível é
o oposto de tudo isso.
Para prever, direcionar e controlar melhor as transformações arquitetônicas nestes
edifícios, de modo que elas estejam em comunhão com as premissas de projeto,
algumas estratégias podem ser indicadas. Entre elas está a flexibilidade no
zoneamento funcional, locando estrategicamente os setores e os diferentes tipos de
ambientes; a ampliação do conceito de modulação, onde vários elementos do
edifício devem ser padronizados; o planejamento estratégico de infraestrutura,
localizando de forma racional os espaços técnicos; e a aplicação do Plano Diretor,
para impor às transformações algumas regras.
3
Tradução livre da autora para: “The challenge to all involved in planning, construction and management of
healthcare facilities, is to anticipate, to the greatest degree, where changes are most likely to occur and to consider
"flexibility" throughout all stages of the planning, design, construction and post-occupancy phases to ensure that the
ultimate goals of client satisfaction, desirable clinical outcomes, efficient work environment, and effective use of
limited capital dollars, are all achieved”. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
326
12.3.1 Flexibilidade no zoneamento funcional
Para dar flexibilidade a projetos complexos como os de hospitais, uma das
alternativas é ter critério na distribuição funcional do edifício. Como comenta BOING
(2003:92), “a flexibilidade deve ser possível tanto entre os compartimentos de um
determinado setor quanto entre diferentes setores de um hospital”.
Há áreas mais e menos flexíveis, caracterizadas respectivamente pelas que
utilizam tecnologias e infraestrutura menos ou mais sofisticadas. As áreas cujos
equipamentos e instalações são mais complexas, por exemplo, possuem maior
inércia aos deslocamentos e reformas, enquanto as mais simples podem se
acomodar em diversos outros locais, na medida em que suas necessidades de
infraestrutura e espaço são bem menores. São os chamados espaços “duros” (hard
spaces) e espaços “moles” (soft spaces), de acordo com as teorias de CHRISTIE,
CHEFURKA e NESDOLY:
“O conceito de localização individual de departamentos adjacentes aos
espaços ‘moles’, que podem absorver a expansão dos espaços ‘duros’, é
essencial para a acomodação das contínuas necessidades do
departamento. O planejamento das mudanças pequenas e contínuas é tão
importante como o projeto das grandes expansões do edifício”.
4
Reconhecendo estas diferenças é possível compreender que nas áreas ou
unidades funcionais mais específicas, como áreas de Ressonância Magnética,
Radioterapia (Bunkers) e Tomografia, a localização dentro da instituição é muito
mais fixa, enquanto são frequentes as expansões e reformas. Devem, portanto,
serem locadas nas suas adjacências áreas menos específicas, como as
administrativas, que podem ser mais facilmente remanejadas ou deslocadas para
dar espaço às acomodações arquitetônicas das áreas mais complexas.
“Em áreas ou departamentos, onde o crescimento futuro é previsto, uma
das soluções é a proximidade com áreas de complexidade funcional de
graus diversificados permitindo que as áreas mais complexas cresçam para
as áreas menos complexas, que são muito mais fáceis de serem
remanejadas sem grandes perdas ou perturbações. Uma outra
4
Tradução livre da autora para: “The concept of locating individual departments adjacent to ‘soft’ spaces, that can
absorb the expansion of ‘hard’ spaces, is essential to accommodating the ongoing needs of the department.
Planning for small and continuous change is as important as the major building expansion project”. (CHRISTIE,
CHEFURKA, NESDOLY)
12 CONCLUSÕES
327
possibilidade de crescimento de áreas mais complexas dentro do
estabelecimento destinado a saúde é a utilização de jardins e pátios
internos como reserva de espaço para expansão, mas há perda de
iluminação e ventilação naturais, ainda mais quando estes espaços são
ocupados sem planejamento”. (MARINELLI, 2003: 98)
Isto pode ocorrer tanto dentro de uma mesma unidade funcional quanto entre
unidades diferentes. Dentro de uma área de Ressonância Magnética, por exemplo,
que possui salas mais simples como as administrativas e de médicos (interpretação
de laudos), estas devem estar locadas na periferia das salas de exames e salas
técnicas, que agregam maior complexidade e costumam alterar sua posição ou
forma em caso de reforma. Como é comum a necessidade de expansão de setores
como o de RM como um todo, também é importante manter nas suas adjacências
áreas mais flexíveis também. Apesar das congruências em termos de infra-
estrutura, seria desfavorável colocar lado a lado áreas como as de RM e de
Tomografia, na medida em que ambas tendem a transformar-se de forma
impactante.
“As preocupações com a possibilidade de expansão se justificam pela
necessidade de previsão de crescimento de determinados setores do
hospital, de maneira que estes não fiquem limitados por outros setores ou
que tenham que crescer em detrimento de outros”. (BOING, 2003:92)
Neste sentido, deve-se tomar cuidado ao agrupar as áreas nos edifícios
hospitalares. Áreas comuns para o preparo dos pacientes, por exemplo, tem se
tornado comuns e são favoráveis à funcionalidade. Porém, é mais delicado o
agrupamento das salas de exames, devido à sua rigidez técnica.
O compartilhamento de áreas de apoio, todavia, é recomendado, na medida em
que podem ser ambientes neutros ocupados de acordo com a necessidade. Nas
áreas de cirurgia e internação, por exemplo, isto pode ser muito útil, na medida em
que salas ou quartos podem servir a especialidades diferentes ao mesmo tempo
(cirurgia e obstetrícia, pediatria e adulto).
Ainda sobre a organização funcional como fator importante de flexibilidade, pode-se
comentar que, por ter-se chegado à conclusão de que as áreas de diagnóstico e
tratamento (principalmente Imagenologia) são as que mais têm se expandido nas
instituições de saúde, e que deve ser preconizada a sua localização nas áreas mais
térreas e horizontais dos edifícios, onde há maior potencial para expansão.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
328
“A opção por edifícios de tendência horizontal, ou com o bloco de
diagnóstico e tratamento horizontal, muitas vezes está relacionada à maior
possibilidade de expansão de determinados setores do edifício. É
importante salientar que a possibilidade de expansão está sempre
vinculada às dimensões do terreno”. (BOING, 2003)
Uma solução horizontal oferece as maiores oportunidades para a criação das
adjacências departamentais desejadas, apesar de representar desafios quanto à
limitação do acesso à luz natural (plantas muito grandes) e depender muito do
terreno disponível, que está cada vez menor.
12.3.2 Ampliação do conceito de modulação
A modulação é uma estratégia consagrada para facilitar as alterações
arquitetônicas nos edifícios. Através da padronização adequada dos elementos
construtivos, de vedação e acabamento, pode-se facilitar muito as reformas e
ampliações dos edifícios. Nos hospitais isso não é diferente.
“Recursos como paredes leves, divisórias, estrutura com modulação, que
facilitam o arranjo interno, têm sido utilizados nos projetos atuais para
proporcionar maior flexibilidade ao edifício e seus ambientes”. (BOING,
2003)
Nos EAS há, todavia, a necessidade de ampliação deste conceito de modulação e
padronização, que deve ser aplicado também à tipificação de alguns de seus
ambientes. Segundo LONGHI (2001), “a padronização dos espaços com pouca
especialidade (por exemplo, consultórios e salas de atendimento), habilita-os a
funções variadas, facilitando as necessidades de ampliação”.
De acordo com CARR (2008), já que as necessidades médicas e os modos de
tratamento continuarão mudando, os hospitais devem seguir conceitos modulares.
Devem utilizar tamanhos genéricos para seus ambientes o máximo possível, ao
invés de tamanhos/dimensões específicas, bem como utilizar sistemas elétricos e
mecânicos modulares e facilmente acessáveis e modificáveis.
Dentre todos os elementos da construção de um hospital, a sua estrutura é o mais
estático, merecendo atenção especial da hora do projeto. Deve-se minimizar as
interferências de pilares e vigas, aumentando o potencial de modificação interna do
edifício. Deste modo torna-se flexível a organização tanto dos ambientes quanto
12 CONCLUSÕES
329
das instalações prediais. Neste sentido, MARINELLI (2003:103) recomenda “que a
modulação estrutural esteja defasada da modulação arquitetônica (paredes não
estão sobre as vigas), facilitando a passagem de dutos verticais embutidos nas
paredes (de um pavimento para o outro não haverá vigas obstruindo o caminho)”.
“Em decorrência da Arquitetura-Manutenção Preditiva a modulação
estrutural passa a ser obrigatoriamente projetada, “defasada” da modulação
arquitetônica, de tal forma a permitir a passagem de dutos e prumadas
verticais, que vierem a se fazer necessárias pela Manutenção Operacional,
para a instalação presente e futura de dutos (água, esgoto, ventilação,
eletricidade e outros)”. (KARMAN et al, 1995: 17-18)
É também indicado “o uso de materiais industrializados é preferível ao uso de
materiais produzidos no canteiro de obras”
5
, pois as tecnologias “limpas” diminuem
a produção de ruído e sujeira durante as reformas, tornando-as mais rápidas e
menos prejudiciais ao funcionamento das atividades de assistência médica.
Um exemplo de modulação e padronização generalizadas foi encontrado nos
hospitais da Rede Sarah do arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé). Já prevendo que
um hospital tende a transformar-se e expandir-se, Lelé projetou edifícios onde a
modulação estrutural teve a função simultânea de dar flexibilidade e controlar as
futuras ampliações e reformas dos mesmos. A padronização de todos os elementos
construtivos, vedações e mobiliário, permitiu reformas mais rápidas e controladas,
onde a presença dos módulos foi sempre respeitada. Com isso foi minimizado o
número de “puxadinhos”, pois as modificações arquitetônicas tinham que encaixar-
se nas dimensões previamente estabelecidas pelas diferentes instâncias da
modulação: estrutura, piso, forro, paredes, espaços técnicos, etc.
12.3.3 Planejamento estratégico de espaços técnicos
Esta pesquisa também permitiu chegar à conclusão de que os espaços técnicos de
infraestrutura são importantes norteadores nas reformas e expansões dos edifícios
hospitalares. A sua estruturação e articulação com os ambientes que alimenta
podem ser peças chave para a maior ou menor flexibilidade arquitetônica.
5
SCHMIDT,2003:162.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
330
Pela necessidade de manutenção, o planejamento estratégico tanto dos espaços
técnicos quanto dos seus locais de visitação deve ser realizado junto ao
zoneamento funcional da instituição. Nos casos estudados do Hospital Albert
Einstein e do Hospital Sarah de Brasília, por exemplo, notou-se eficiente a
sobreposição entre os caminhos das instalações (pelo forro e pelos Shafts) e as
áreas de circulação horizontal. Ao mesmo tempo em que foi proporcionada
flexibilidade às instalações, garantiu-se que a configuração das vias de
comunicação dos edifícios fosse mantida, preservando também parte da
organização formal do conjunto arquitetônico. “Estes elementos de engenharia são
o sistema circulatório de um edifício”. (CHRISTIE, CHEFURKA, NESDOLY
6
)
Outra estratégia muito disseminada em relação aos espaços técnicos é a presença
dos pavimentos técnicos em locais estratégicos. Estes proporcionam muita
flexibilidade aos edifícios, devendo estar posicionados em áreas onde haja maior
necessidade de infraestrutura.
Uma experiência positiva neste sentido foi encontrada no Hospital norueguês
Rikshospitalet (The National Hospital), onde o arquiteto Tony Monk projetou um
andar técnico para cada dois andares, recurso que deu rapidez às mudanças de
equipamento nas salas. “Onde o andar técnico for desnecessário, o espaço é
aproveitado para abrigar escritórios e laboratórios.” (HORTA, 2005)
12.3.4 Plano Diretor
O Plano Diretor, segundo o arquiteto Arthur Brito, “é um documento vivo
(constantemente revisitado e adaptado) que alinha o Planejamento Estratégico da
Instituição com sua estrutura física, alinha investimentos, estabelece indicativos
para acompanhamento do crescimento da instituição e disciplina o processo de
tomada de decisões”.
Se realmente revisado e adaptado com frequência, o Plano Diretor pode ser uma
ferramenta muito útil para o desenvolvimento das transformações arquitetônicas.
Como numa cidade, são necessárias regras para o crescimento de um hospital,
afim de que não se crie o caos entre as relações funcionais e formais do edifício.
6
Disponívelem<http://muhc-healing.mcgill.ca/english/Speakers/chefurka_p.html>
12 CONCLUSÕES
331
De acordo com MENDES (2006), “o plano diretor deve ser lógico e dinâmico,
alinhado às necessidades da instituição e com ferramentas de decisão e de
atualização que possibilitem a sua manutenção, já que se não for flexível, é
abandonado e não sobrevive às intempéries.”
“O Plano Diretor Hospitalar (PDH) tem como objetivo traçar as diretrizes de
expansão do EAS, tanto no que se refere aos aspectos físicos, como em
relação aos aspectos programáticos e de infraestrutura. Sua elaboração
deve ser exigida no caso de unidades já existentes e também no projeto de
novos EAS. Tem como produto final um conjunto de diretrizes de
desenvolvimento envolvendo o programa hospitalar, as edificações, a infra-
estrutura, os equipamentos e a programação dos investimentos. (...) Assim,
pode-se considerar que a elaboração do PDH é fundamental para permitir
que unidades hospitalares de elevada complexidade e alto custo de
implantação possam ser construídas, equipadas e postas em
funcionamento em etapas, o que, muitas vezes, é a única forma de
viabilizar sua implantação”. (TOLEDO, 2002:82)
No Brasil a utilização de planos diretores surgiu entre as décadas de 1970 e 1980.
Na Japão, no Canadá e na Suíça, experiências positivas com a sua utilização
ocorreram no Chiba Cancer Centre, no McMaster Health Centre e no Insel
University Hospital, respectivamente. Nestes exemplos o Plano Diretor foi
conduzido efetivamente por mais de 30 anos, segundo NAGASAWA (2007).
“Considerando as drásticas mudanças nos serviços de assistência à saúde,
no desenvolvimento das tecnologias médicas, nos avanços da construção e
da engenharia e especialmente na tecnologia da informação, 30 anos de
eficácia sustentável é consideravelmente excepcional”. (NAGASAWA,
2007)
7
De acordo com NAGASAWA (2007), o sucesso de um Plano Diretor “depende da
compreensão das idéias arquitetônicas por parte do cliente e da vontade das
autoridades do hospital em honrar a visão original do arquiteto. Ainda, planos
7
Tradução livre da autora para: “Considering drastic changes in healthcare service delivery systems, medical
technology developments, advances in construction and engineering technology and especially in information
technology, 30 years of sustainable effectiveness is quite remarkable”. (NAGASAWA, 2007)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
332
diretores precisam ter pessoas chave ou times de pessoas que estão presentes e
dando suporte durante todo o processo”
8
.
12.4 SOBRE A PRESENÇA DO ARQUITETO NO HOSPITAL
Como no comentário de NAGASAWA (2007) colocado acima, a presença do
arquiteto durante o processo de desenvolvimento arquitetônico do hospital após a
construção é muito importante. Ao prever as transformações do edifício, conclui-se
que ele deve conduzi-las para que as estratégias de projeto sejam mais bem
executadas e não sejam esquecidas no meio do caminho.
Durante esta pesquisa, o melhor exemplo disso foi encontrado nas unidades da
Rede Sarah, nas quais o arquiteto Lelé está sempre presente, antes como arquiteto
interno da instituição Sarah e hoje como consultor de outros arquitetos da Rede.
“A arquitetura é um processo, desde o momento em que se discute o
programa. E depois esse processo, para mim, não termina nunca. Continua
depois que o edifício é ocupado. (...) O mais importante que eu acho que
temos que fazer é investigar os nossos erros. Investigar para corrigir. Se
você não tiver um ‘feedback’, se não tiver a arquitetura como um processo,
parece que você esqueceu uma coisa que foi feita lá e que não tem mais
nada com isso,” explica Lelé, quando entrevistado por ANTUNES (2008:68).
KOTAKA (1992) ainda salienta que, uma vez concluída a construção e em
funcionamento, “o hospital deve dispor de equipe básica que participe
continuamente de todo o processo de seu planejamento e desenvolvimento”. Tal
equipe poderá ser própria ou não da instituição, desde que assessore a direção a
ser tomada quanto aos aspectos físicos do hospital.
A equipe de trabalho que atua nas transformações arquitetônicas de um hospital
deve ser multidisciplinar, haja vista a quantidade de disciplinas do conhecimento
8
Tradução livre da autora para: “Its (master plan) success depends on the client’s understanding of architectural
ideas and the willingness of successive hospital authorities to honour the architect’s original vision. Thus, master
plans need to have key individuals or teams of people that are present and supportive throughout the entire
process”. (NAGASAWA, 2007)
12 CONCLUSÕES
333
envolvidas no seu planejamento (arquitetura, engenharia mecânica, engenharia de
manutenção, engenharia clínica, medicina, enfermagem, etc.). O arquiteto, por sua
vez, é o coordenador desta equipe na elaboração dos projetos e no
acompanhamento das obras, na medida em que é o único com formação capaz de
visualizar a interação entre todas as áreas envolvidas.
“O arquiteto é sempre um generalista que tem de entender situações diferentes. (...)
O trabalho em equipe, quando se têm diferentes técnicas em curso, é fundamental.
O arquiteto, daqui para diante, assim como os médicos, como todos, não vai poder
trabalhar (solitário)”, explica Lelé, quando entrevistado por ANTUNES (2008).
Neste sentido, GOMEZ (2002) comenta que é preciso formar profissionais que
entendam o momento histórico que estamos vivendo, pois uma nova arquitetura se
faz urgente nos hospitais. “É notável que a tendência seja diminuir o ritmo de
construções físicas hospitalares e aumentar a manutenção nas existentes. E para
que isso ocorra, é preciso entender o cenário que se apresenta”, diz Gomez,
completando que quem estiver preparado para essa nova realidade, saberá se
manter atuando em projetos desta natureza.
“É necessário que o arquiteto busque o conhecimento generalista no foco
‘hospital’, ou seja, deve-se construir um conhecimento diversificado e amplo
sobre o tema. Além disso, é importante que o profissional abra mão de seus
preconceitos e tenha percepção sensorial para que as informações
cheguem até ele, de maneira que possa também compreender o
comportamento no ambiente de trabalho, de clientes e demais agentes
envolvidos.” (MENDES, 2006)
Os arquitetos devem inteirar-se mais, mesmo que superficialmente, sobre as
variáveis técnicas que envolvem as edificações, especialmente nos seus
“bastidores”. Assim será mais fácil e favorável a comunicação entre a arquitetura e
a sua força motriz.
Outra questão mencionada como importante no acompanhamento das obras em
um hospital é a necessidade de atualização dos desenhos do edifício, incluindo o
as-built das suas instalações. A falta de informações verdadeiras atrasa e dificulta
as obras de adaptação arquitetônica, como explica LAMHA NETO (2008):
“Nós já enfrentamos problemas graves numa obra, simplesmente porque a
empresa que executou a estrutura não se ateve ao projeto: uma laje foi
executada sem a previsão para o embutimento das instalações. Esse tipo
de erro não pode acontecer. É fundamental que haja planejamento da obra.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
334
O construtor deve ter a consciência de que todos os documentos do projeto
precisam ser examinados. O projeto precisa ser compreendido como um
todo, os arquivos da obra precisam estar em ordem”. (LAMHA NETO, 2008)
12.5 SOBRE A NECESSIDADE DE FUTURAS PESQUISAS
A pesquisa aqui realizada deixa também uma série de outras questões a serem
investigadas futuramente.
As transformações arquitetônicas, em maior ou menor quantidade e complexidade,
ocorrem em todos os tipos de edifícios, e devem receber mais atenção dos
arquitetos.
Não se pode prever o futuro, mas pode-se tirar conclusões a partir da compreensão
do caminho percorrido na formação de certos cenários. Este caminho deve ser mais
extensivamente estudado e analisado em edifícios existentes, através da Avaliação
Pós Ocupação (APO) e de outros tipos de apreciação como as aqui apresentadas,
que têm ainda muito a contribuir como ferramenta de projeto.
Como pôde ser visto nesta dissertação, é intenso o processo de avanço da ciência
e da tecnologia, que interfere muito em grande parte das atividades presentes na
sociedade contemporânea. Assim, estes avanços devem ser cada vez mais
reconhecidos e compreendidos como condicionantes de projeto, pois interferem
muito no ambiente construído. Nesta direção, os novos meios de comunicação
virtual são objetos a serem observados nos diversos campos que se aplicam,
prevendo seus desdobramentos na arquitetura.
No caso dos hospitais e dos Estabelecimentos de Assistência à Saúde em geral, a
complexidade e a necessidade de flexibilidade levam ao estudo de outras variáveis
além da tecnológica. Devem ser investigadas com maior profundidade, por
exemplo, as interferências dos avanços na legislação, a qual também se
aperfeiçoou muito nos últimos 25 anos e tem sido limitadora da atuação dos
arquitetos. Além disso, é importante aprofundar o conhecimento sobre outros
processos e especificidades funcionais que possam interferir no desenvolvimento
arquitetônico dos hospitais existentes, bem como servir de base para projetos de
novas edificações.
12 CONCLUSÕES
335
Por tudo que foi exposto nesta pesquisa, crê-se ainda na necessidade de valorizar
mais o papel do arquiteto junto aos edifícios hospitalares, disseminando a
importância da sua atuação como detentor de poder de decisão em relação às
transformações arquitetônicas dos edifícios em geral.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
336
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14
ANEXOS
14 ANEXOS
357
14 ANEXOS
14.1 ANEXO 1
14.1.1 Programa Hill Burton
Os Estados Unidos lançaram em 1946 o programa Hill-Burton, cujo objetivo era
financiar e incentivar a construção de hospitais em áreas carentes. Para isto, uma
divisão de planejamento do serviço de Saúde Pública do país iniciou um processo
de cadastramento da rede se saúde americana, o qual culminou no
desenvolvimento de uma série de protótipos de hospitais para 25, 50, 100 e 200
leitos. Foi o início de um período fortemente voltado à estandardização na
construção, influenciado pelo proeminente movimento moderno.
Como prova da expansão internacional do programa Hill-Burton, em 1950 foram
aplicadas as recomendações do Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos no
projeto do Hospital Memorial França-Estados Unidos, localizado em Saint Lô
(França).
Figura 14.01: Hospital Memorial França-Estados Unidos, Saint-Lô, 1955. (a) planta; (b) perspectiva.
Fonte: MIQUELIN, 1992.
Com a premissa filosófica de diminuir os tempos de hospitalização dos pacientes
através de uma maior eficácia da sua equipe médica e dos seus meios de
diagnóstico e tratamento, este projeto inaugurou a linhagem funcionalista dos
hospitais. Tornou-se referência ao marcar o surgimento de uma nova tipologia, que
é chamada de “mista” ao combinar o monobloco vertical apoiado sobre um bloco
horizontal. Na torre está o Bloco Cirúrgico (último andar) e oito pavimentos de
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
358
internação, e no bloco horizontal estão os serviços de apoio logístico e de
diagnóstico
2
.
No Brasil, muitos dos hospitais construídos entre as décadas de 1940 e 1960,
seguiram esta tipologia. Ela se tornou dominante no traço modernista de arquitetos
como Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Oscar Niemeyer e Helio Uchôa, Ari
Garcia Rosa, Jorge Moreira e Aldary Toledo, Oscar Waldetaro e Roberto Nadalutti.
(TOLEDO, 2002)
2
MIQUELIN,1992
14 ANEXOS
359
14.2 ANEXO 2
14.2.1 Tentativas de estandardização do planejamento arquitetônico de
edifícios hospitalares na Grã-Bretanha do pós-guerra
Segundo MIQUELIN (1992) na Grã-Bretanha do pós Segunda Guerra a aplicação
do “Welfare State” (modelo ideal no qual o Estado assume a responsabilidade
sobre o bem-estar dos seus cidadãos) como ideologia de recuperação estimulou a
criação em 1948 do Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha. Este, que herdou
vários hospitais construídos durante as guerras (mais de 500.000 leitos de 2.800
instituições), optou por cadastrar todos os hospitais existentes e a partir disto
implantar Hospitais Gerais Distritais (“District General Hospitals”) com recursos e
concentração de especialidades para atendimento de raios populacionais
relativamente definidos.
Até 1955 o volume escasso de recursos para reconstrução da Grã-Bretanha era
canalizado para as áreas de ensino e habitação. Somente a partir deste ano é que
estes recursos começaram a fluir com mais facilidade para a construção de
hospitais de grande porte. Neste mesmo ano foi criado um time multidisciplinar de
profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiras, técnicos dos departamentos
logísticos e gerenciais, engenheiros e arquitetos) no intuito de empreender uma
vasta pesquisa sobre os processos e as condições de trabalho nos hospitais, e as
implicações sobre o design dos edifícios. Esta pesquisa, que incluiu a observação
de hospitais na Europa e Estados Unidos, obteve como resultado a elaboração do
Nuffield Provincial Hospitals Trust (Relatório Nuffield).
As conclusões do Relatório Nuffield foram desde recomendações específicas sobre
cada departamento hospitalar até aferições relacionadas à morfologia dos seus
edifícios, apontando, por exemplo, limitações nos blocos verticais com elevadores
centrais utilizados nos Estados Unidos e na Suécia, sendo que as unidades
hospitalares com esta tipologia tinham pouco ou nenhum espaço para expansão e
mudanças, além de forte dependência de iluminação e ventilação artificiais. O
Relatório priorizou em suas recomendações a capacidade de expansão do edifício
da saúde, enfatizando o uso do Plano Diretor (Master Plan) como ferramenta para
prever as fases da construção e os vetores de futuro crescimento dos hospitais.
Estes eram colocados no relatório como um conjunto de zonas que deveriam
organizar-se horizontalmente (apenas um pavimento) e aproveitar ao máximo a
ventilação e a iluminação naturais, utilizando a tipologia mista no caso de terrenos
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
360
mais reduzidos (bloco horizontal com internação e bloco vertical com serviços
médicos e apoio logístico). O Relatório Nuffield representou, segundo MIQUELIN
(1992), um dos momentos mais importantes do processo de revisão crítica das
morfologias verticais que vinham sendo construídas na América do Norte desde
1920 (existem dois exemplos que cristalizam os conceitos desta fase: Otawa Civic
Hospital, Canadá, e Good Samaritan Hospital, EUA).
Em 1961 o Ministério de Saúde Britânico (transformado em 1968 no DHSS –
“Department of Health & Social Security”) publicou um conjunto de três building
notes (notas sobre edifícios) preparatório para um programa de construção de dez
anos no país. Junto com estas notes o Ministério construiu também um conjunto de
normas e orientações relacionadas à segurança predial, ventilação mecânica,
custos, estudos de tráfegos interdepartamentais e políticas de gerenciamento de
materiais. As duas primeiras building notes eram relacionadas ao conteúdo
programático (avaliação do cenário existente e identificação das necessidades) e a
estimativas de custos para cada unidade funcional dos edifícios, sendo a terceira
note relacionada às interrelações entre estas unidades e ao planejamento do
crescimento futuro do Hospital. As unidades funcionais básicas definidas foram
internação, bloco operatório + serviços de diagnóstico / tratamento e serviços de
apoio, indicando que as áreas de ambulatório e serviços de diagnóstico seriam as
mais suscetíveis a expansão, teoria válida ainda hoje.
A partir da publicação das building notes em 1962 cada região da Grã-Bretanha foi
convocada a preparar um programa de renovação, reforma e construção de novos
hospitais, programa este que foi incorporado no que ficou conhecido como Hospital
Plan for England and Wales (Plano Hospitalar para a Inglaterra e País de Gales) e
um plano similar para a Escócia. O plano, inicialmente muito ambicioso
(investimentos da ordem de 750 milhões de libras esterlinas de 1962 a 1975), foi
revisado e antecipou a necessidade de maior rigidez no controle de custos,
mantendo, entretanto, a sua rota inicial de estabelecer uma rede de Hospitais
Gerais Distritais.
Durante o período que vai da criação do Sistema Nacional de Saúde da Grã-
Bretanha até o início dos anos 1980, há quatro projetos no país que, segundo
MIQUELIN (1992), certamente tiveram grande repercussão e influência sobre os
conceitos contemporâneos de desenho arquitetônico na área da saúde: Northwick
Park Hospital (1960), Greenwich Hospital (1966), Best Buy Hospitals (1967) e
14 ANEXOS
361
Nucleus Hospital Programme (1974), sendo que os dois últimos são na realidade
programas que produziram vários projetos estandardizados de hospitais.
14.2.1.1 Northwick Park Hospital
O Northwick Park Hospital aborda a temática de crescimento e mudança dos
hospitais, sendo um verdadeiro marco da arquitetura da saúde segundo MIQUELIN
(1992). Foi projetado para Londres no início da década de 1960 pelos arquitetos
Llewelyn Davies e John Weeks, que participaram das pesquisas do Relatório
Nuffield durante os anos 50.
Figura 14.02: Northwick Park Hospital (Implantação).
Fonte: MIQUELIN, 1992:67.
Neste projeto a fundamentação conceitual veio com os resultados do Relatório e
com a analogia do planejamento hospitalar ao planejamento urbano, na medida em
que os autores organizaram as partes do edifício a partir de uma “rua hospitalar,
onde fez-se alusão ao sistema viário como o componente menos mutável do
desenho urbano e também os edifícios. Como objetos de referência arquitetônica
ao desenvolvimento do projeto também foram utilizados um Hospital Militar pré-
fabricado de 1855 (projetado pelo Engenheiro I. K. Brunel) e o Hospital St. Albans
de 1940, cujo conceito também se baseia numa rua hospitalar orientando o layout
geral da edificação. St. Albans foi também um exemplo muito interessante na
tentativa de planejar as expansões futuras da instituição (Vetores de expansão),
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
362
estando entre as características básicas do projeto a forte divisão funcional, que é
aparente na configuração formal da instituição.
O Northwick Park Hospital é também formado por um conjunto de volumes distintos
– edifícios departamentais – que se espalham pelo terreno e são conectados
através da rua de circulação, a qual por sua vez se divide em três níveis funcionais:
pacientes, funcionários e visitantes circulam no nível superior, suprimentos e
materiais no nível intermediário e instalações no nível inferior.
Figura 14.03: Northwick Park Hospital.
Fonte: www.btinternet.com/~c.tomlinson/nph.jpg
Outra característica importante deste hospital é a de que ele foi projetado para
permitir a expansão individualizada de cada um dos seus edifícios departamentais,
repetindo o conceito de Vetores de expansão utilizado no Hospital St. Albans.
Figura 14.04: Hospital St. Albans e seus
“Vetores de expansão”.
Fonte: MIQUELIN, 1992:67.
A racionalização da construção esteve
sempre presente como princípio no
planejamento arquitetônico dos hospitais
desta época, e por isso este hospital,
bem como a maioria dos seus
contemporâneos, admitiu como fator
determinante de seu projeto a modulação
e a pré-fabricação de seus elementos
construtivos. O Northwick Park Hospital
adotou um sistema construtivo misto
(concreto armado fundido no local e
elementos estruturais pré-moldados) baseado numa malha modular de 6.88m, com
vedações planejadas em módulos de 0.86m.
14 ANEXOS
363
Segundo MIQUELIN (1992), as vantagens do projeto deste hospital foram:
A flexibilidade possibilitada pelo sistema de ruas hospitalares ao distribuir os
edifícios departamentais e assim permitir serem neles realizadas reformas,
ampliações e até demolições sem atrapalhar o funcionamento de outras
áreas;
A rapidez do projeto, na medida que a independência dos edifícios permitiu
o desenvolvimento dos projetos por diferentes equipes simultaneamente.
As suas desvantagens foram:
As distâncias muito longas entre as partes do hospital
3
;
A exigência de um terreno muito extenso.
14.2.1.2 Greenwich Hospital
O Greenwich Hospital foi o primeiro grande projeto do Ministério da Saúde britânico
em um terreno de área restrita em uma zona densamente urbanizada.
Desenvolvido para Londres na segunda metade da década de 1960, o Greenwich
foi um Hospital Distrital e a sua construção foi inserida em um contexto de
vertiginosa aceleração do uso de serviços de diagnóstico e tratamento (tecnologias
cada vez mais dependentes das instalações – hidráulica, ar condicionado, gases,
etc), bem como de necessidade impreterível de flexibilidade nos edifícios da saúde,
ao passo que se tornavam cada vez mais frequentes as transformações do seu
perfil e da própria ciência médica.
O projeto para o Greenwich Hospital foi de autoria dos arquitetos Howard Goodman
e W. Tatoon Brown, sendo adotado o partido de um edifício vertical compacto com
quatro pavimentos (incluindo subsolo) cujo percentual maior era dependente de
iluminação e ventilação artificiais. O projeto foi também uma experiência realizada
pelo Ministério da Saúde visando avaliar o efeito deste layout na eficiência da
edificação, haja vista terem sido foram previstos para a mesma custos mais baixos.
3
Os autores defenderam-se desta crítica ao dizerem que as distâncias são longas somente entre
departamentos com pouca relação entre si, sendo que as relações existentes não exigem rapidez na
comunicação. (MIQUELIN, 1992 – pág. 69)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
364
Um dos aspectos mais característicos de Greenwich é a utilização de pavimentos
técnicos e a descentralização de alguns serviços dentro do prédio (refeitórios, por
exemplo) para diminuir as distâncias verticais e priorizar as horizontais. Pela sua
configuração compacta, porém, este projeto não permitiu nenhum grau de
estandardização, o que passou a ser o principal objetivo da DHSS (órgão sucessor
do Ministério da Saúde Britânico) desde então.
Figura 14.05: Greenwich Hospital – Plantas com
zoneamento funcional.
Fonte: MIQUELIN, 1992:70.
LEGENDA:
a- Arquivos
b- Vestiários
c- Ateliers
d- Almoxarifado
e- Caldeiras
f- Creche
g- Estacionamento
h- Ar Condicionado
1. Consultas
2. Pré-Parto
3 e 4. Atendimento dia
5. Radiologia
6. Geriatria
8. Psiquiatria
9. Reeducação
10. Urgências
11. Dispensário
12. Cozinha
13. Ginecologia
14. Cirurgia
15. Ortopedia
16. Partos
17. Bloco Operatório
18. Reanimação
19. Administração
20. Clínica
21. Pediatria
22. Isolamento
23. Ensino
24. Laboratório de Patologia
Figura 14.06: Greenwich Hospital
–Volumetria.
Fonte: MIQUELIN, 1992:70.
Figura 14.07: Greenwich Hospital – Elevação.
Fonte: MIQUELIN, 1992:69.
14 ANEXOS
365
O Greenwich Hospital fechou suas portas em 2001 e foi demolido em 2006 devido a
razões desconhecidas pela autora deste trabalho.
4
A partir desta ideologia o DHSS desenvolveu o programa Best Buy (melhor
compra), que enfatizava edifícios baixos e compactos e foi reforçado pela
necessidade de economia deflagrada através da crise do petróleo em 1974.
14.2.1.3 Hospitais Best Buy
O Programa Best Buy foi concebido em 1967 a partir de dois hospitais protótipos –
um na cidade de Bury St. Edmunds e outro na cidade de Frimley (Frimley Park
Hospital) – que foram orçados pela metade dos custos normais da época. Dentro
de um cenário econômico recessivo, este programa explorou a economia de tempo,
dinheiro e espaço através de uma possível redução do número de leitos e
integração com as unidades ambulatoriais já existentes na comunidade. O projeto
baseou-se em edifícios compactos e baixos (dois pavimentos) mantendo
sobrepujantes as comunicações horizontais. Como em Greenwich, a área de
internação foi colocada na parte mais periférica do pavimento superior do prédio,
havendo um anel de circulação principal separando esta região de zonas internas
densamente servidas por instalações (Bloco Operatório e Obstétrico, UTIs e áreas
centralizadas de tratamento) e com pequenos pátios para iluminação e ventilação
naturais. Neste programa também surgiram os serviços de apoio externos
(atendimento ambulatorial, lavanderia, esterilização, farmácia, áreas de
processamento e armazenamento de materiais e cozinha – alimentos pré-
processados
5
), cuja utilização se tornou recorrente em vários hospitais nas décadas
seguintes.
Segundo MIQUELIN (1992), as principais desvantagens dos dois projetos citados
acima foram a redução excessiva das áreas dos compartimentos (muitas vezes
contrariando as recomendações da DHSS), o custo elevado de manutenção e a
falta de flexibilidade das edificações, sendo que todas as unidades que têm maior
pressão para expansão estão enclausuradas no interior das mesmas. A economia
4
www.derelictlondon.com/id747.htm
5
Em Bury St. Edmunds os alimentos pré-processados nunca chegaram a ser utilizados, tornando a
cozinha inadequada. (MIQUELIN, 1992: 72)
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
366
na construção dos dois hospitais foi de 35% em relação a casos não
estandardizados, e foi constatado pelo DHSS que em Bury St. Edmunds o
desempenho foi melhor inicialmente, principalmente devido à existência de uma
infraestrutura razoável de serviços comunitários e à falta de hospitais na região,
enquanto em Frimley a população crescia rapidamente e demandava cada vez
mais espaço.
East Anglia foi a única região a tirar vantagens do investimento inicial e voltou a
utilizar o Projeto Best Buy no final dos anos 1970, sendo que versões modificadas
dos projetos originais foram construídas em King’s Lynn, Grat Yarmouth e
Huntingdon.
Como alternativa ao Programa Best Buy experimentado em East Anglia, a região de
Oxford procurava sua própria forma de estandardização, tomando uma direção
bastante divergente. O método lá desenvolvido foi um sistema construtivo composto
por uma série de partes do edifício que se articulam entre si e com elementos
estruturais e de instalações a partir de uma grelha modular padrão. No início da
década de 1980 o sistema foi computadorizado e, apesar de com isto possibilitar a
produção rápida de desenhos preliminares e layouts para discussão (aceleração do
processo de tomada de decisões), possuía uma escala de produção muito pequena
para justificar a construção pré-fabricada. Por isso nenhuma outra região da Grã-
Bretanha seguiu o exemplo de Oxford. No início da década de 1970 o DHSS
retomou o conceito das “ruas hospitalares”, inserindo-o agora num contexto de
planejamento estandardizado.
Neste período, frente às tentativas fragmentadas de padronização do planejamento
hospitalar na Grã-Bretanha, o DHSS decidiu assumir a coordenação destas ações,
padronizando dimensões e o arcabouço de políticas operacionais para todas as
regiões da Inglaterra e País de Gales. O programa foi denominado “Harness” e,
devido a crise do petróleo em 1974, foi abortado após ser aplicado em alguns
hospitais (Unidade Geriátrica no Southlands Hospital e Hospitais Gerais Distritais
em Stafford e Dudley), exercendo todavia forte influência no planejamento do
Programa Nucleus, que incorporou seus conceitos e é utilizado até hoje na Grã-
Bretanha.
Sob este controle as investigações passaram a tratar conjuntamente os
departamentos de um hospital completo, compondo-o a partir de uma rede de
14 ANEXOS
367
comunicações e serviços, podendo, segundo MIQUELIN (1992), comparar o
sistema a um “Lego”.
Cada departamento, por sua vez, foi estandardizado em vários tamanhos de forma
a permitir a escolha do modelo e conteúdo mais adequados para o local. Sendo
informatizado, este sistema oferece
um pacote completo de dados
sobre cada departamento, os quais
abrangem políticas operacionais,
listagens de compartimentos,
planilhas detalhadas de cada
compartimento, etc.
Figura 14.08: Programa Harness.
Fonte: MIQUELIN, 1992:74.
14.2.1.4 Programa Nucleus
O Programa Nucleus é, segundo MIQUELIN (1992), uma das experiências mais
abrangentes de estandardização projetual na área da saúde desde os anos 1940.
Desde o início do programa em 1974 já foram completados mais de 20 hospitais, 50
obras estão em andamento e há mais de 40 projetos em andamento
6
.
Sendo uma síntese de todo o processo de estandardização que vinha sendo
pesquisado desde o final da Segunda Guerra pelo Ministério de Saúde Britânico, o
Nucleus é um programa que trouxe facilidade construtiva, garantia de aprovação
em todos os níveis burocráticos britânicos e otimização do processo projetual, na
medida em que possibilitou gastar mais tempo nas soluções formais e de
detalhamento das edificações hospitalares através da redução do tempo dedicado à
discussão de layout e ao projeto executivo.
A crise do petróleo em 1974 intensificou ainda mais a busca por custos menores na
construção, o que findou abruptamente a expectativa de espaços mais generosos
na construção de novos hospitais ou nas suas ampliações e recuperações. Neste
6
Esta informação consta em um texto de 1992, devendo estar alterada. MIQUELIN (1992), pág. 75.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
368
contexto Nucleus foi concebido como um programa que oferece um planejamento a
partir de um catálogo de departamentos estandardizados no tocante ao layout,
conteúdo e políticas operacionais. Cada opção de departamento pode ser utilizada
tanto para a ampliação de edifícios existentes como para a construção de novas
instituições, funcionando como um quebra-cabeça onde as peças (módulos
funcionais) se encaixam e deixam sempre uma extremidade pronta para receber
mais uma peça.
LEGENDA:
a. Ambulatório
b. Laboratório
c. Prontuário
d. Emergência
e. Ortopedia
f. Administração
g. Aulas
h. Radioogia
i. Hospital-dia
j. Terapia Intensiva
k. Tratamento
l. Centro Cirúrgico (4
salas)
m. Internação (28
leitos)
Figura 14.09: Programa Nucleus.
Fonte: MIQUELIN, 1992:74.
Ao avaliar o Programa Nucleus 15 anos após a sua implantação, o MARU (Medical
Architecture Research Unit, da Politécnica do Norte de Londres) identificou oito
problemas principais nos hospitais, entre eles a falta de espaço para depósito, a
falta de flexibilidade às políticas operacionais e às necessidades locais de cada
hospital, o subdimensionamento das áreas usadas por funcionários e a abordagem
segmentada do planejamento.
14 ANEXOS
369
Figura 14.10: Programa Nucleus (rua hospitalar
organizando os módulos funcionais).
Fonte: MIQUELIN, 1992:75.
Figura 14.11: Programa Nucleus (rua
hospitalar organizando os módulos
funcionais).
Fonte: MIQUELIN, 1992:75.
Na análise de cada bloco funcional os aspectos negativos encontrados superaram
os positivos e, por isso, foram realizadas algumas modificações no sistema. Assim,
em um Nucleus reciclado e quase 20% maior, a rua hospitalar foi alargada, os
blocos adicionais (entre a rua e os departamentos) aumentaram a área dos blocos
cruciformes e vários outros departamentos (não incluídos no programa original)
foram padronizados.
Estas modificações do Programa, aliadas às suas qualidades originais, têm
realimentado e consolidado ao longo dos anos, atribuindo a ele muita credibilidade
na Grã-Bretanha e em vários outros países.
Como no Programa Best Buy, a primeira fase de construção de um Hospital
Nucleus conta com a colaboração de serviços já existentes na comunidade. Do
programa Harness, Nucleus herdou o bloco cruciforme padrão de 1.008m² por
pavimento – máximo de três pavimentos e a rua hospitalar como elemento
estruturador dos mesmos.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
370
14.3 ANEXO 3
14.3.1 Tentativas de estandardização do planejamento arquitetônico de
edifícios hospitalares no Brasil
No Brasil, diferentemente dos países europeus, não houve grandes destruições por
causa das guerras e, portanto, a avidez pela construção em grande escala foi
motivada pelo déficit sócioeconômico e pela disseminação dos princípios do
Movimento Moderno, que foram absorvidos intensamente como características
sobrepujantes nos projetos desde os anos 1940.
Além dos projetos da Rede Sarah, existiram no Brasil outras experiências na
tentativa de estandardização de projetos de hospitais, como aquelas desenvolvidas
ao longo da década de 1980 e do início da década de 1990. Foram programas
elaborados por arquitetos muito presentes na pesquisa sobre edifícios hospitalares,
como Jarbas Karman, João Carlos Bross, Siegbert Zanettini e, mais recentemente,
Lauro C. Miquelin. Estão colocados a seguir alguns exemplos desta padronização
do desenho de hospitais no Brasil.
14.3.1.1 Centro de Saúde e Hospital “Linha de Frente”
O Centro de Saúde e Hospital “Linha de Frente” foi uma proposta apresentada pelo
arquiteto Jarbas Karman em 1980 à Revista Projeto, para a criação do protótipo de
uma instituição de saúde. Esta partiria da prestação de atendimento ambulatorial e
cresceria até tornar-se um hospital geral de 100 leitos. O Plano Diretor que
direcionou o projeto definiu um modelo de expansão composto de módulos de
aproximadamente 200m² cada, chegando a 4.000m² (20 módulos) na etapa final.
(MIQUELIN, 1992)
14 ANEXOS
371
Módulo Posto de Saúde Módulo 10 leitos
Módulo 20 leitos Módulo 30 leitos
Módulo 60 leitos Módulo 100 leitos
Figura 14.12: Centro de Saúde e Hospital “Linha de Frente”
100 leitos, 4.000m², 1980, Brasil. Arquiteto Jarbas Karman
Fonte: MIQUELIN, 1992, pág. 93.
14.3.1.2 Hospital Pré-fabricado – Consórcio BDSL, Siemens, Servlease
O Hospital Pré-fabricado – Consórcio BDSL, Siemens, Servlease é, segundo
MIQUELIN (1992), foi mais um exemplo na busca pela estandardização dos
componentes construtivos e dos layouts departamentais. O hospital era composto
de construções térreas, com três larguras diferentes e articuladas através de um
sistema de ruas internas. Estas, assim como na experiência britânica,
apresentavam-se setorizadas de acordo com determinado tipo de fluxo.
Internamente as vedações utilizadas são divisórias padronizadas em 1,20m de
largura por 2,50m de altura e 4 cm de espessura.
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
372
A – Internação
B – Ambulatório
C – Emergência
D – Administração
E – Radiologia, Laboratório e Apoio
F – Queimados
G – Bloco Operatório
H – Unidade de Terapia Intensiva
I – Serviços de apoio logístico
J – Internação, Maternidade, Berçário
K – Internação Pediatria
L – Internação de clínica médica
M – Internação de clínica cirúrgica
Figura 14.13: Hospital Pré-fabricado – Consórcio BDSL, Siemens, Servlease
120 leitos, 7.200m², 1984, Brasil.
Arquitetos João Carlos Bross, Altino Mario dos Santos,
Ricardo Júlio Leitner e Arnaldo Villares de Oliveira
Fonte: MIQUELIN, 1992:95
14.3.1.3 Hospital Regional
O Hospital Regional, por sua vez, é um projeto padronizado para construção de
Hospitais Regionais, podendo, segundo os seus autores (arquitetos Mayerhofer e
Toledo), ser implantado em terrenos entre 17.750m² e 20.560m². O projeto é
composto pela articulação de uma lâmina ou bloco horizontal, contendo serviços
médicos e de apoio logístico, com uma torre de internação de cinco pavimentos,
sendo que um andar mecânico faz a transição entre a torre e o bloco horizontal.
14 ANEXOS
373
Figura 14.14: Hospital Regional, 1990 – Mayerhofer e Toledo Arquitetura
Planta e Corte.
Fonte: MIQUELIN, 1992:98.
14.3.1.4 Hospital da Cooperativa da Unimed - Araras
No Hospital da Cooperativa Médica da Unimed, em Araras, interior de São Paulo,
os arquitetos João Carlos Bross e Augusto Guelli (Bross Consultoria e Arquitetura)
adotaram a solução horizontal para a implantação de blocos articulados, com
estrutura e modulação (7,20 x 7,20m) convencionais. A área de internação fica
sobre pilotis e cria um estacionamento coberto, que é um espaço que garante
futuras ampliações.
“O projeto permite ampliação futura em todos os setores de apoio logístico
(lavanderia, nutrição e dietética, esterilização) localizados no térreo. (...) A
previsão de ampliação fez com que as instalações elétricas, hidráulicas e
de ar condicionado (as centrais de geradores, caldeira e central de gases
medicinais) fossem dimensionadas para atender à capacidade final”.
(Revista Projeto, novembro 1997:54)
14.3.1.5 Hospital Mínimo Ministério da Saúde
Outra tentativa de padronização no projeto de hospitais foi através de um programa
mínimo definido pelo Ministério da Saúde, a partir do qual o escritório do arquiteto
Siegbert Zanettini elaborou o projeto de um hospital compacto, barato e de fácil (e
1 – Emergência
2 – Radiologia, Imagem e Laboratório
3 – Ambulatório
4 – Recepção, Administração,
Vestiários
5 – Materiais, Sub-estação, Oficinas
6 – Cozinha, Refeitório, Lavanderia
7 – Docas, Ar Condicionado, Necrotério
8 – Bloco Operatório e Unidade de
Terapia Intensiva
O IMPACTO DOS AVANÇOS DA TECNOLOGIA NAS TRANSFORMAÇÕES ARQUITETÔNICAS DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES
374
rápida) reprodução. Com capacidade para 50 leitos e destinado ao atendimento da
população carente, este hospital foi concebido para ser modular e de componentes
metálicos (estrutura, cobertura e vedações externas), adaptando um sistema norte-
americano às condições climáticas tropicais. “O projeto apresenta eficiente
aproveitamento energético, redução dos gastos com manutenção e flexibilidade,
permitindo futuras ampliações e a incorporação de novos equipamentos e layouts”.
(Revista Projeto 214, novembro 1997:78)
14.3.1.6 Hospital Geral Padrão do PMS
O exemplo do Hospital Geral Padrão chamado HGU, mencionado anteriormente
(ver item 3.2.1.2), também pode ser acrescentado na lista dos projetos
padronizados no Brasil. A tipologia HGU foi desenvolvida durante a segunda fase
do Programa Metropolitano de Saúde (PMS), sendo reimplantada por dez vezes na
RMGSP. “Esta série teve início em 1987 com a construção de dois hospitais e,
posteriormente, em 1989, continuou com as obras de outros oito HGU: Itaim
Paulista, Grajaú e Vila Alpina na cidade de São Paulo, e Pirajussara, Carapicuíba,
Itapevi, Diadema e Itaquaquecetuba, em municípios da Região Metropolitana”.
(FERNANDES, 2003:92)
Figura 14.15: Maquete do Hospital Geral Padrão “HGU”,
reproduzido várias vezes na segunda fase do PMS.
Fonte: PMS, 1987, apud FERNANDES, 2003.
14 ANEXOS
375
Figura 14.16: Hospital Geral Itaim Paulista.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Figura 14.17:
Hospital Geral Grajaú.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Figura 14.18:
Hospital Geral Vila Alpina.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Figura 14.19:
Hospital Geral Pirajussara.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Figura 14.20: Hospital Geral Carapicuíba.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Figura 14.21:
Hospital Geral Itapevi.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Figura 14.22:
Hospital Geral Diadema.
Fonte: FERNANDES, 2003.
Figura 14.23:
Hospital Geral Itaquaquecetuba.
Fonte: FERNANDES, 2003.
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376
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