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de maneira diferenciada a desafios, oportunidades e restrições semelhantes e que, portanto,
demandam tratamento compatível com as diferenças.
As principais características da agricultura familiar podem ser observadas através da análise
do caderno temático “Agricultura Familiar: Primeiros Resultados” do Censo Agropecuário
2006, fruto da cooperação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com o IBGE.
Este documento utiliza os critérios definidos pela Lei nº 11.326/06, que é mais restritivo que
os critérios adotados na metodologia vinculada ao Projeto de Cooperação Técnica
INCRA/FAO, com base nos dados do censo agropecuário do IBGE de 1995/1996
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.
Foram identificados 4.367.902 estabelecimentos
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de agricultores familiares no Censo
Agropecuário de 2006, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Este
contingente de agricultores familiares ocupa uma área de 80,25 milhões de hectares, ou seja,
24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Tais resultados
mostram uma estrutura agrária concentrada no país: os estabelecimentos não familiares,
apesar de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da área
ocupada. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 ha, e a dos não
familiares, de 309,18 ha.
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A análise comparativa dos resultados do Censo Agropecuário 2006 com o Censo 1995/1996 deve levar em
consideração algumas mudanças metodológicas. A primeira refere-se à mudança do período de coleta de dados,
que passou do ano agrícola para o ano civil. Até o Censo de 1985 e em 2006 a data de referencial para todas
informações é o dia 31 de dezembro. No censo de 95/96, os dados relativos a produção de lavouras permanentes,
temporárias, horticultura, extração vegetal e silvicultura estão referenciados no período do primeiro dia de agosto
de 1995 ao último de julho de 1996. Os dados sobre propriedade, área, pessoal ocupado, referem-se a 31 de
dezembro de 1995 e os dados sobre efetivos da pecuária e de lavouras e da silvicultura, referem-se a 31 de julho
de 1996. Dizem respeito ao período, informações sobre investimentos, financiamentos, despesas, receitas,
produção e outras ligadas ao movimento dos estabelecimentos agropecuários. Com isso, a rigor, a mudança
metodológica adotada significa que os dois censos mais recentes não são estritamente comparáveis em todos os
seus quesitos. Quando isto for feito, é necessário considerar as implicações destas alterações, que incidem
basicamente sobre a mensuração dos estabelecimentos agropecuários com natureza precária e transitória no
censo anterior. Esses estabelecimentos são identificáveis apenas durante o período entre o plantio e a colheita da
safra. A conseqüência da metodologia utilizada seria uma subestimação da área cultivada (particularmente
lavouras temporárias) e da mão-de-obra nela ocupada12. Ou seja, os resultados destes quesitos no censo mais
recente devem considerar este efeito (IBGE, 2006; FRANÇA et al, 2009)
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Segundo a metodologia do Censo 2006, considerou-se estabelecimento agropecuário toda unidade de produção
dedicada total ou parcialmente, a atividades agropecuárias, florestais e aquícolas, subordinada a uma única
administração: a do produtor ou a do administrador. Independentemente de seu tamanho, de sua forma jurídica
ou de sua localização em área urbana ou rural, tendo como objetivo a produção para subsistência e/ou para
venda, constituindo-se assim numa unidade recenseável. As áreas não-contínuas, exploradas por uma mesmo
produtor , foram consideradas como um único estabelecimento, desde que estivessem situadas no mesmo setor
censitário, utilizassem os mesmos recursos técnicos e os mesmos recursos humanos, e , também, desde que
estivessem subordinados a uma única administração: a do produtor ou a do administrador (IBGE, 2009).