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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E EOQUÍMICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DEPÓSITOS DE RAMPA CARBONÁTICA EDIACARANA DO
GRUPO CURUMBÁ, REGIÃO DE CURUMBÁ, MATO
GROSSO DO SUL
Dissertação apresentada por:
RICK SOUZA DE OLIVEIRA
Orientador: Prof. Dr. Afonso César Rodrigues Nogueira (UFPA)
BELÉM
2010
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação(CIP)
Biblioteca Geólogo Raimundo Montenegro Garcia de Montalvão
O48d
Oliveira, Rick Souza de
Depósitos de rampa carbonática ediacarana do Grupo Corumbá,
região de Corumbá, Mato Grosso do Sul / Rick Souza de Oliveira;
Orientador: Afonso César Rodrigues Nogueira – 2010
xvi, 88 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Geologia) – Programa de Pós-
Graduação em Geologia e Geoquímica, Instituto de Geociências,
Universidade Federal do Pará, Belém, 2010.
1. Geologia estratigrafica - Ediacarano. 2. Grupo Corumbá. 3.
Cloudina. I. Universidade Federal do Pará. II. Nogueira, Afonso César
Rodrigues, orient. III. Título.
CDD 20. ed.: 551.715
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iv
À minha família,
dedico esse manuscrito tão
rebuscado e apartado da
sociedade.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a DEUS por tantos motivos que não caberiam em manuscrito
algum. A razão do meu viver.
Ao prof. Dr. Afonso Nogueira pela orientação, oportunidades e ensinamentos durante
a execução dessa pesquisa.
A Dra. Renata Lopes pelas discussões e cuidadosa revisão, imprescindíveis a esta
pesquisa.
Ao prof. Dr. Werner Truckenbrodt pela amizade e valiosos ensinamentos no curso
desses 5 anos e ao prof. Dr. Paulo Boggiani pela revisão crítica do texto.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica, Laboratório de
Sedimentologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará e ao Laboratoire
de Géochimie des Isotopes Stables da Universidade de Paris pelo suporte técnico.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que
financiou a pesquisa através dos projetos Universal 481978/2004-6 e Universal/CT-Petro -
485902/2007/9, ao INCT - GEOCIAM e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de estudos.
Ao prof. Dr. Setembrino Petri por apoiar este trabalho através do projeto de pesquisa.
Aos meus pais Ioneide Lustosa e R. Rodrigues de Oliveira, meus irmãos Rikelly e
Rickson e minha avó Didi pelo estímulo, investimento e apoio durante toda a minha vida
estudantil. É o que me faz persistir.
Aos amigos mais chegados que irmãos Geraldo e Tatiana Oliveira, Carol e Clyde
Schulz, Gisele Costa, Éder, Sadraque Júnior, Myrian Arndt, Monique, Fernanda, Byanca e Pr.
Mesaque Rêgo pelas orações, incentivo e amor incondicional.
Aos amigos que a geologia me presenteou no decorrer desses sete anos, Igor Diniz
(“Play”), Msc. Luis Gustavo Viegas (“Guga”) consultor filosófico e de the book is on the
table, Isaac Rudnitzki (“Sputnik”), Anderson Mendes (“Gordinho”), Paulo Henrique (“pH”),
Pedro Augusto (“Formiga”), profª Márcia Valadares, Priscila Amaral, e Andressa Nogueira.
Aos amigos e colegas do Grupo de Pesquisa em Bacias Sedimentares (GSED),
Hozerlan Lima e prof. Msc. Joelson Soares pelo auxílio na confecção de lâminas delgadas e
algumas figuras, Msc. José Bandeira pela prontidão em auxiliar, que se estendeu desde os
trabalhos de campo até as etapas finais da dissertação. Prof. Msc. Lucindo Fernandes, Roberto
César Barbosa, Msc. Humberto Abinader, Maura, Luciana, Hudson, Tiago e Cléber pela
valiosa troca de experiências e momentos de descontração.
vi
Ao Manfrini Brito, Roberto da Pass. Simeão, meu padrinho Miguel e a todos os meus
amigos pelo incentivo e por suportarem as constantes ausências. A querida Anabella Justet,
maninha Acsa Santibañez, Lizet Jofre e demais amigos de América do Sul pelo amor e
compreensão.
Ao prof. Dr. François Gauthier-Lafaye pelas valorosas discussões e a profª. Dra.
Lucieth Vieira e Msc. Eisner Cunha pelo acompanhamento no campo.
À Calcário Corumbá Ltda., Itaú Cimentos - Votorantim e a direção das Minas Corcal e
Laginha, em especial ao Paulo Xavier e aos geólogos Mauro Carvalho e Alexandre Albiere
pelo apoio e livre acesso oferecidos durante as atividades de campo.
Ao Kleyver Lenno Ataíde por ajudar com os mapas.
Ao prof. Dr. Cláudio Ricomini pela indicação de alguns afloramentos.
A Cleida Freitas, Lúcia de Fátima Imbiriba de Sousa e ao prof. Dr. Jean-Michel Lafon,
que sempre estiveram disponíveis de modo a facilitar a pesquisa.
Ao Amilcar Carvalho Mendes (MPEG), por facilitar o acesso ao laboratório de
polimento.
A Cristiane Pereira e o prof. Dr. Rômulo Angélica, pela presteza durante as análises
por difratometria de raios-x.
Aos professores doutores Cândido Moura e Mário Vicente Caputo, pelas sugestões e
discussões durante as disciplinas seminário 1 e 2.
A turma de estratigrafia 03410 01/2008 na qual realizei estágio docente, pelo
aprendizado e carinho.
Ao Pe. Johannes Antonius Beukeboom, ao casal Van Zandbrik e ao tio Max in
memoriam.
A todos aqueles que por injustiça não foram citados, mas de igual modo merecem
meus sinceros agradecimentos. Obrigado!
vii
Uma linha reta é a distância
mais chata entre dois pontos.”
Derek Walcott
viii
RESUMO
Os eventos deposicionais ocorridos após as glaciações globais do final do Criogeniano (850 -
635 Ma) foram marcados pela implantação de extensas plataformas e rampas carbonáticas,
desenvolvidas em várias regiões cratônicas do planeta. Neste período, uma das inovações
bioevolutivas foi o surgimento dos primeiros animais com esqueleto calcificado como o
gênero Cloudina (~548 Ma). Na América do Sul, um dos melhores registros de depósitos
carbonáticos do Ediacarano (635-542 Ma) com este macrofóssil é o Grupo Corumbá,está
exposto no sudeste do Cráton Amazônico. Estes depósitos foram posteriormente deformados
pela tectônica Pan-Africana-Brasiliana que levou ao estabelecimento da Faixa Paraguai na
transição Neoproterozóico-Cambriano. A análise de fácies e estratigráfica, auxiliada por
isótopos de C, O e N, do Grupo Corumbá, representada pelas formações Bocaina e Tamengo,
na região de Corumbá e Porto Morrinhos, Estado do Mato Grosso do Sul, Brasil, permitiu
reconstituir a rampa carbonática ediacarana e o habitat de Cloudina. A Formação Bocaina é
constituída por ciclos métricos de raseamento ascendente que formam duas associações de
fácies: 1) planície de intermaré, que consiste em quartzo-arenitos finos, com grãos bem
selecionados e arredondados, cimentados por dolomita; dolomitos finos com estromatólitos
estratiformes e colunares, com porosidade fenestral/bird´s eyes e gretas de contração; e 2)
baixios de submaré, formados principalmente por dolomitos intraclásticos (intraclastos de
dolomicrito e dolowackestone peloidal), arenitos finos e folhelhos subordinados. Estruturas
deformacionais ocorrem em ambas as associações e são relacionadas a processos de
liquefação e fluidificação, possivelmente induzidos por sísmicidade. A Formação Tamengo
consiste nas associações de: 1) shoreface com barras oolíticas, composta de packstones
intraclásticos e oolíticos, e ritmitos mudstone calcífero/folhelho betuminosos com
macrofósseis Cloudina em bom estado de preservação; e 2) offshore influenciado por
tempestades, constituída por calcários cristalinos com raros grãos terrígenos, acamamento
maciço, estratificação cruzada hummocky/swaley, laminação cruzada de baixo-ângulo e
fragmentos de Cloudina. Pelitos e folhelhos separam as camadas de tempestitos distais.
Cloudina habitava ambientes protegidos no shoreface periodicamente retrabalhado por
tempestades que acumulavam coquinas na zona de offshore. A alta concentração de carbono
(TOC de até 0,41%) e os valores positivos de δ
13
C (1,5 a 5,4‰) e δ
15
N (entre 3,5 e 4,5‰) dos
depósitos com Cloudina indicam para o final do Neoproterozóico, uma alta produtividade
orgânica e concentração de oxigênio, semelhante às encontradas na atual interface
atmosfera/oceano.
ix
Palavras-chave: Geologia estratigráfica, Ediacarano, Grupo Corumbá, Cloudina.
x
ABSTRACT
Depositional events which occurred after Late Cryogenian global glaciations (850 - 635 Ma)
were marked by the implantation of extensive carbonate platforms and ramps developed in
several cratons worldwide. In this period, one of the bioevolutive innovations was the
appearance of calcified skeleton animals, like the genus Cloudina (~548 Ma). In South
America, one of the best records of Ediacaran carbonate deposits with these macrofossil is the
Corumbá Group, exposed in the southern Amazon craton. These deposits were deformed by
Brazilian/Pan-African tectonics which led to the establishment of the Paraguay belt in the
Neoproterozoic-Cambrian transition. Outcrop-based facies and stratigraphic analysis, assisted
with C, O and N isotope data of the Bocaina and Tamengo formations, belonging to the upper
Corumbá Group, were carried out in the Corumbá and Porto Morrinhos regions, State of Mato
Grosso do Sul, Brazil, and allowed the reconstitution of the Ediacaran carbonate ramp and the
habitat of Cloudina. The Bocaina Formation consists of small-scale shallowing upward cycles
grouped into two facies associations: 1) intertidal plain, consisting of well sorted and rounded
fine-grained quartz-sandstones cemented by dolomite and fine dolomite with stratiform and
columnar stromatolites, fenestral/bird´s eyes porosity and mud cracks; and 2) subtidal shoals,
formed mainly by intraclastic dolomites (intraclasts of dolomicrite and peloidal dolomite) and
subordinated fine-grained sandstones and shales. Deformation structures occur in both
associations and are related to liquefaction and fluidization processes, possibly triggered by
seismicity. The Tamengo Formation consists of the associations: 1) shoreface with oolithic
bars, composed of intraclastic and oolithic packstones, lime mudstone/ bituminous shale
rythmithes with Cloudina; and 2) storm-influenced offshore, consisting of crystalline
limestone with rare terrigenous grains, massive bedding, hummocky/swaley cross
stratification, low-angle cross lamination and Cloudina shell fragments. Mudrocks and shales
separate discrete tempestite beds. Cloudina lived in protected environments in the shoreface
zone, periodically reworked by storms that accumulated coquinas in the offshore zone. The
high carbon concentration (TOC up to 0.41%), the enriched values of δ13C (1.5 ‰ to 5.4‰)
and δ
15
N (between 3.5 and 4.5‰) found in the carbonate rocks with Cloudina, indicate high
organic productivity and oxygen concentration for the Terminal Neoproterozoic, similar to
those of the current atmosphere/ocean interface.
Key words: Stratigraphyc geology, Ediacaran, Corumbá Group, Cloudina.
xi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Geologia da Faixa Paraguai Sul (I) e região de Corumbá (II). Abreviações, A=
Porto Morrinhos, B= Pedreira Corcal dolomítica, C= Pedreira Laginha, D= Pedreira Itaú-
Saladeiro, E=Pedreira Corcal calcítica.. ..................................................................................... 4
Figura 2. Principais eventos do final do Proterozóico ao Cambriano. As curvas isotópicas
mostram a tendência geral e as demais indicam diversidade e declínio dos estromatólitos,
diversidade dos acritarcos e eventos de calcificação microbiana.. ............................................. 6
Figura 3. Surgimento dos 11 filos animais a partir dos eucariontes em uma estreita janela de
tempo após o ultimo evento de snowball Earth. As linhas tracejadas representam o que seriam
extinções da árvore ediacariana.. ................................................................................................ 9
Figura 4. Resumo das principais propostas estratigráficas para o Grupo Corumbá. ................ 13
Figura 5. Coluna estratigráfica composta do Grupo Corumbá e Formação Puga, com os
principais táxon, distribuição isotópica e eventos tectono-estratigráficos. Abreviação,
PP=Paleoproterozóico.. ............................................................................................................ 17
Figura 6. Disposição tectônica no Ediacarano. A: Bacias cratônicas, intracratônicas e
orogêneses no oeste do Gondwana durante o Ediacarano/Cambriano. B: Reconstituição
paleogeográfica durante a passagem do Ediacarano/Cambriano. Retângulos correspondem a
área abordada neste estudo.. ..................................................................................................... 22
Figura 7. Fluxograma com os principais processos analíticos realizados em um total de 28
lâminas petrográficas, análise de DRX em argila e amostra total em 6 amostras e análise
isotópica em 5 níveis estratigráficos. ........................................................................................ 26
Figura 8. Perfil estratigráfico composto da Formação Bocaina, na margem do Rio Paraguai,
em Porto Morrinhos. ................................................................................................................. 32
Figura 9. Aspectos faciológicos da Formação Bocaina. A) Fácies de diques de injeção
preenchidos por arenitos, B) Detalhe do dique com fraturas internas, C) Brecha gerada por
dique de injeção, D) Fácies de Am (arenito maciço) de quartzo-arenito com grãos
subarredondados e cimentado por dolomita com textura planar-s, Nicóis X. .......................... 33
xii
Figura 10. Fácies da Formação Bocaina. A) Mound métrico formado por estromatólitos
estratiformes da fácies De, sobreposto por folhelhos da fácies F; B) Textura da fácies De,
dolomita fina a grossa com matéria orgânica; C) Porosidade tipo olho de pássaro. D; E)
Estromatólitos colunares, observar a laminação crenulante convexa....................................... 34
Figura 11. Perfil estratigráfico da Formação Bocaina na Pedreira Corcal, representativo da
Associação de Fácies 2. ............................................................................................................ 38
Figura 12. Microfácies Dm, da associação AF2, Formação Bocaina. A) Dolomito com
intraclástos arredondados de micrito (Mc), fragmento de rocha peloidal (Pl), fragmento de
sílex (Sl) e grão de quratzo (Qz), B: Fragmentos de dolomicrito (Mc) e calcário peloidal (Pl)
subarredondados, cimentados por dolomita planar-s. Nicois X. .............................................. 39
Figura 13. Fácies sedimentares da associação AF2, Formação Bocaina. A) Dolomito fino com
laminação plano-paralela (Dpc), B) Dolomito, com laminação planar e laminação cavalgante
subcrítica incipiente (Dpc), C): Laminação estromatolítica planar (Dm), D) Camada de
arenito maciço (Am) intercalado com dolomito maciço (Dm)................................................. 40
Figura 14. Fácies com estruturas deformacionais da associação AF2. A) Folhelho (F) com
laminação convoluta intercalado à fácies de dolomito maciço (Dm); B) Estrutura de
sobrecarga no contato entre as fácies Ds e F; C e D) Brechas intraformacionais geradas dentro
de diques de injeção (Bd). ........................................................................................................ 41
Figura 15. Perfis estratigráficos da Formação Tamengo. C: Perfil realizado na frente de lavra
da Pedreira Laginha; D: Perfil da Pedreira Itaú-Saladeiro; E: Frente de lavra da Pedreira
Corcal.. ..................................................................................................................................... 44
Figura 16. Grainstone com intraclastos de packstone oolítico (fácies Gim). Nicóis X. .......... 45
Figura 17. Brecha intraclástica, com clastos de até 4 cm de diâmetro (Gim). Pedreira Laginha.
.................................................................................................................................................. 45
Figura 18. Sucessãoda Formação Tamengo na Pedreira Laginha, com destaque para a fácies
de ritmito (Rmf) ........................................................................................................................ 46
Figura 19. Grainstone oolítico com duas gerações de cimento (A e B). Nicóis X. ................. 47
xiii
Figura 20. Seção panorâmica da Formação Tamengo na mina Itaú-Saladeiro. As camadas
espessas e contínuas de calcário cristalino (Fácies Cm), alternam níveis tabulares de folhelhos
amarelados (Fácies F). .............................................................................................................. 50
Figura 21. Estratificação cruzada hummocky com até 15 cm de comprimento de onda (Csh). 51
Figura 22. Camadas onduladas lateralmente contínuas com estruturas swaley/hummocky. .... 52
Figura 23. Aspecto petrográfico da fácies Csh (calcário cristalino), Formação Tamengo. A)
Calcário cristalino fino, exibindo textura xenotópica; B) Plano de estilólito; C) Seção
transversal de concha de Cloudina, em calcário cristalino; D) Coquina formada por
fragmentos de Cloudina. Nicois X. .......................................................................................... 53
Figura 24. Níveis de marga (Pm) intercalados a calcários cristalinos (Csh), Perfil C. ............ 54
Figura 25. A) Padrão de DRX de amostra total, representativo do Perfil C. Q= quartzo e C=
calcita; B) Padrão de DRX da fração argila de margas e folhelhos aflorantes na Pedreira
Corcal (Perfil C). I/S= interstratificado ilita-esmectita, I= ilita, K= caulinita e Q= quartzo. ... 55
Figura 26. Perfis esquemáticos de (A) Plataforma e (B) Rampa mostrando o efeito de
rebaixamento de nível do mar relativo. Notar também a diferença de declividade e a área de
exposição, muito maior nas plataformas comparativamente ao modelo em rampa.. ............... 58
Figura 27. Proposta de modelo deposicional para a sucessão sedimentar da Formação
Bocaina. Abreviações: A: Porto Morrinhos, B: Pedreira Corcal dolomítica............................ 59
Figura 28. Modelo deposicional proposto para a sucessão sedimentar da Formação Tamengo.
Abreviações: C: Pedreira Laginha, D:Pedreira Itaú-Saladeiro, E: Pedreira Corcal (escala
aproximada).. ............................................................................................................................ 60
Figura 29. Metazoário Cloudina. A: recontituição da estrutura interna da concha segundo
Seilacher (1999) e a excentricidade provocada pela atuação da gravidade visualizada nas
seções transversais A-‘A, segundo Miller (2003); B: Imagem de MEV em uma concha de
Cloudina encontrada na China, onde a seta 1 indica possível furo gerado por predador e a seta
2 indica a estrutura do tipo budding.. ....................................................................................... 63
Figura 30. Curvas isotópicas (C, O, N), de Carbono Orgânico Total (TOC) e proporção de
carbonato para o ritmito referente ao perfil Pedreira Laginha (Perfil E). ................................. 66
xiv
Figura 31. δ
13
C versus δ
18
O para as fácies carbonáticas portadoras de Cloudina do Grupo
Corumbá. Os valores isotópicos são expressos em ‰. Onde: Círculos fechados representam
amostras do Perfil E (Pedreira Laginha), e o circulo aberto representa amostra do Perfil C
(Pedreira Corcal)....................................................................................................................... 68
Figura 32 Ciclo biológico do Nitrogênio no ambiente marinho atual. As variações de δ
15
N
estão indicadas em ‰ abaixo de cada processo.. ..................................................................... 70
Figura 33. δ
13
C versus δ
15
N para as fácies carbonáticas portadoras de Cloudina do Grupo
Corumbá. Os valores isotópicos são expressos em ‰. Onde: Círculos fechados representam
amostras do Perfil E, e o circulo aberto representa amostra do Perfil C. ................................. 71
Figura 34 Evolução da composição isotópica do nitrogênio comparado à evolução do nível de
oxigênio atmosférico ao longo do Pré-cambriano até o recente. Observar que a composição
isotópica do nitrogênio torna-se cada vez mais enriquecida a partir do aumento da
concentração de oxigênio até os tempos mais recentes.. .......................................................... 72
xv
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ...................................................................................................................... iv
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. v
EPÍGRAFE ............................................................................................................................. vii
RESUMO ................................................................................................................................ viii
ABSTRACT .............................................................................................................................. x
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
1.1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 1
1.2 ÁREA DE ESTUDO E BASE DE DADOS ....................................................................... 3
1.3 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 3
2 EVENTOS DO NEOPROTEROZÓICO E TRANSIÇÃO PARA O CAMBRIANO ............ 5
2.1 TEORIA DO SNOWBALL EARTH ................................................................................... 8
2.2 A TEORIA DO SLUSHBALL EARTH ............................................................................ 10
2.3 GRUPO CORUMBÁ NO CONTEXTO DAS GLACIAÇÕES GLOBAIS
NEOPROTEROZÓICAS ......................................................................................................... 11
3 GRUPO CORUMBÁ ........................................................................................................... 12
3.1 NOMENCLATURA ESTRATIGRÁFICA E CARACTERÍSTICAS
SEDIMENTOLÓGICAS .......................................................................................................... 12
3.2 PALEONTOLOGIA ........................................................................................................... 18
3.3 IDADE E ISÓTOPOS ESTÁVEIS .................................................................................... 20
4 CONTEXTO TECTÔNICO ............................................................................................... 21
5 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 23
5.1 ANÁLISE DE FÁCIES E ESTRATIGRAFIA .................................................................. 23
5.2 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X (DRX) EM AMOSTRA TOTAL E FRAÇÃO
ARGILA ................................................................................................................................... 24
5.3 ISÓTOPOS DE C, O e N, TEORES DE CARBONATO E DE CARBONO ORGÂNICO
TOTAL (TOC) ......................................................................................................................... 24
xvi
6 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE FÁCIES E ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES .... 27
6.1 OBSERVAÇÕES GERAIS ................................................................................................ 27
6.2 FORMAÇÃO BOCAINA .................................................................................................. 31
6.2.1 Associação de Fácies 1 (AF1): Planície de maré ......................................................... 31
6.2.2 Associação de Fácies 2 (AF2): Baixios de Submaré ................................................... 37
6.3 FORMAÇÃO TAMENGO ................................................................................................ 43
6.3.2 Associação de Fácies 3 (AF3):Shoreface com barras oolíticas. ................................. 43
6.3.1 Associação de Fácies 4 (AF4): depósitos de offshore .................................................. 49
6.4 MODELO DE FÁCIES ...................................................................................................... 57
7 PALEOAMBIENTE DE Cloudina COM BASE NOS ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE C, O
E N. ........................................................................................................................................... 61
7.1 TRABALHOS PRÉVIOS, E CONTEXTO PALEOAMBIENTAL E BIOLÓGICO DE
Cloudina ................................................................................................................................... 61
7.2 ISÓTOPOS DE CARBONO, OXIGÊNIO E NITROGÊNIO............................................ 65
7.2.1 Isótopos de carbono e oxigênio ..................................................................................... 67
7.2.2 Isótopos de nitrogênio ................................................................................................... 69
7.3 AVALIAÇÃO DO HABITAT DE Cloudina ..................................................................... 73
8 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 74
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 76
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
O Neoproterozóico constitui um dos períodos mais intrigantes da história da Terra. Foi
marcado por mudanças climáticas e paleogeográficas expressivas responsáveis por excursões
isotópicas negativas anômalas em rochas carbonáticas (Hoffman et al. 1998, Jacobsen &
Kaufman 1999, Bartley et al. 2001, Hoffman & Schrag 2002). As glaciações de idade
criogeniana (720 Ma e 635 Ma) foram sucedidas por eventos de deposição carbonática, as
chamadas capas carbonáticas, com estruturas típicas e ricas em pseudomorfos de aragonita,
relacionados à supersaturação em CaCO
3
(Kennedy et al. 1996, Kennedy et al. 2001,
Hoffman & Schrag 2002, Nogueira et al. 2007). No Ediacarano (635-542 Ma), a deposição
carbonática persistiu em plataformas continentais por diversos crátons pelo mundo e foi
regionalmente interrompida pela última fase glacial, o evento Gaskier de 580 Ma (Halverson
et al. 2005). Destacam-se neste período, o surgimento das inovações bioevolutivas que
precederam a explosão de vida cambriana, representada pela Biota de Ediacara, com o
surgimento dos metazoários e os primeiros animais com esqueleto (Corsetti & Hagadorn
2000, Knoll 2000, Erikson et al. 2005, Narbonne 2005, Gaucher et al. 2009).
Rochas carbonáticas de idade ediacarana na América do Sul são encontrados no sul da
Faixa Paraguai e Maciço de Urucum, representados pelo Grupo Corumbá, objeto desse estudo
(Boggiani 1998, Hidalgo 2002, Gaucher et al. 2003) (Fig. 1). Esta unidade, interpretada como
depósitos de plataforma carbonática, contém os primeiros fósseis com concha, o Cloudina
(Zaine & Fairchild 1985, Zaine 1991) com idade em torno de 548 Ma (Corsetti & Hagadorn
2000). O Grupo Corumbá, que se sobrepõe aos diamictitos criogenianos da Formação Puga,
inclui as formações Cadiueus (arenitos, conglomerados e folhelhos), Cerradinho (grainstones,
folhelhos e arenitos), Bocaina (dolomitos, margas fosforitos e estromatólitos), Tamengo
(folhelhos, brechas intraformacionais, calcários e arenitos) e Guaicurus (folhelhos) (Almeida
1965, Boggiani 1997, Gaucher et al. 2003). Esta pesquisa concentrou-se principalmente nas
unidades Bocaina, Tamengo e Guaicurus, por possuir melhores exposições na região de
Corumbá, estado do Mato Grosso do Sul (Fig. 1). Embora algumas interpretações
paleoambientais com base em fácies e microfácies carbonática desta região tenham sido
esboçadas em diversos trabalhos (Boggiani 1997, Gaucher et al. 2003, Trompette et al. 1998),
algumas seções do Grupo Corumbá puderam ser reavaliadas com base na análise de fácies e
2
estratigráfica confirmando as interpretações prévias de plataforma e fornecendo aspectos
deposicionais importantes para o ambiente de Cloudina com base em isótopos estáveis,
auxiliando na reconstituição paleogeográfica dos primeiros indivíduos com conchas fósseis
nesta parte do sul do Cráton Amazônico.
3
1.2 ÁREA DE ESTUDO E BASE DE DADOS
A região de Corumbá, no Estado do Mato Grosso do Sul, representa uma porção da
Faixa Paraguai Sul na confluência entre as seguintes unidades geotectônicas; Cráton
Amazônico ao norte; Faixa Tucavaca a oeste; bacia do Pantanal a leste; e o Bloco Rio Apa ao
sul (Fig. 1). Embora o relevo em Corumbá alcance altitudes de até 800 m, a região apresenta-
se dissecada e com vegetação densa, o que não favorece uma densidade de afloramentos
apropriados para a análise de fácies, sendo as melhores exposições em frentes de lavras das
pedreiras Corcal, Itaú-Saladeiro e Laginha, onde foram estudadas as formações Tamengo e
Guaicurus. A Formação Bocaina foi estudada em um único ponto na margem esquerda do Rio
Paraguai, na localidade de Porto Morrinhos e na Mina Corcal em Corumbá (Fig. 1A e B).
A descontinuidade lateral dos afloramentos não permitiu uma correlação precisa das
unidades, apesar de algumas superfícies estratigráficas terem sido detectadas. Áreas com
deformação tectônica foram evitadas neste estudo, contudo a maioria das seções foram
realizadas em flancos de dobras, ou homoclinais.
1.3 OBJETIVOS
O presente estudo foi realizado em depósitos carbonáticos-siliciclásticos da porção
superior do Grupo Corumbá, nas formações Bocaina, Tamengo e Guaicurus, e teve como
principais objetivos:
1) reconstruir o paleoambiente deposicional, com base na análise de fácies e estratigráfica;
2) fornecer informações paleoambientais do macrofóssil Cloudina, reconstituindo em parte o
seu “habitat”;
3) inferir as condições de oxigenação da água do mar neoproterozóico e a produtividade
orgânica, com base em isótopos estáveis, teor de carbono orgânico e porcentagem de
carbonato para o paleoambiente de Cloudina.
4
Figura 1. Geologia da Faixa Paraguai Sul (I) e região de Corumbá (II). Abreviações,
A= Porto Morrinhos, B= Pedreira Corcal dolomítica, C= Pedreira Laginha, D=
Pedreira Itaú-Saladeiro, E=Pedreira Corcal calcítica. Modificado de Lacerda Filho et
al. (2004) e Pimentel et al.(2000).
5
2 EVENTOS DO NEOPROTEROZÓICO E TRANSIÇÃO PARA O CAMBRIANO
A International Comission of Stratigraphy (2008) considera três períodos
geocronológicos para o Neoproterozóico: Toniano (1000-850 Ma), Criogeniano (850-600 Ma)
e Ediacarano (635-542 Ma, Knoll et al. 2004), durante os quais ocorreram expressivos
eventos biológicos, geoquímicos e tectônicos (Fig. 2, Tab. 1), como: i) múltiplas glaciações
globais; ii) precipitação carbonática sincrônica imediatamente após as glaciações globais
contendo fácies ainda pouco explicadas; iii) mares supersaturados em CaCO
3
com abundância
de precipitados aragoníticos; iv) as mais expressivas e anômalas variações isotópicas; v) o
surgimento das primeiras conchas fósseis, vi) o desaparecimento de diversos grupos; e vii)
rápidas mudanças tectônicas.
6
Figura 2. Principais eventos do final do Proterozóico ao Cambriano. As curvas
isotópicas mostram a tendência geral e as demais indicam diversidade e declínio dos
estromatólitos, diversidade dos acritarcos e eventos de calcificação microbiana.
Modificado de Nogueira (2003) e Beaumont & Robert (1999).
7
Tabela 1. Principais bio-eventos Ediacaranos. Modificado de Fedonkin (1995).
8
2.1 TEORIA DO SNOWBALL EARTH
A possibilidade de glaciação global durante o Neoproterózoico vem sendo levantada
desde 1964, com a publicação de Harland (in Moczydlowska 2008). Deve-se a Kirshvink
(1992) a origem do termo snowball Earth, porém as bases teóricas adotadas neste capítulo são
as fundamentadas por Hoffman et al. (1998) e Hoffman & Schrag (2002) com base nas
seguintes evidências: I) dados paleomagnéticos em diamictitos, indicando glaciações em
regiões de baixa latitude; II) flutuações em isótopos de carbono; III) formações ferríferas
bandadas indicando anoxia oceânica gerada pela capa de gelo e IV) deposição de capas
carbonáticas.
O cenário snowball Earth sugere que no Criogeniano a concentração de massas
continentais na porção equatorial resultaria em um aumento do intemperismo, que, por sua
vez, causaria o sequestro de gás carbônico da atmosfera e a consequente redução do efeito
estufa. A maior inclinação no eixo da Terra causaria menor exposição aos raios solares, que
na época seriam 6% menos intensos que o atual. Esta condição faria com que a Terra passasse
por uma glaciação, amplificada pela alteração progressiva no índice de albedo (quantidade de
luz solar refletida pela Terra), até envolver toda a área do globo terrestre. Neste momento não
haveria circulação oceânica e a vida estaria concentrada em pequenas fontes hidrotermais, ou
junto a fissuras e/ou regiões de baixa espessura na capa de gelo, por onde parte da luz solar
seria capaz de penetrar.
Posteriormente, o processo tectônico natural, que com o tempo liberaria grandes
quantidades de gás carbônico para a atmosfera através de fissuras na capa de gelo, causaria
um efeito estufa capaz de derreter a capa de gelo em torno do planeta. Esse efeito reverso é
marcado pela deposição de sequências dolomíticas e localmente calcárias, de espessura
métrica a decamétrica, ricas em estromatólitos, finamente laminadas, por vezes fenestrais,
com estruturas de megamarcas onduladas, relacionadas a ventos extremos (Allen & Hoffman
2005). São encontradas ainda nessas sequências, estruturas de tubos verticais interpretadas
como produto de escape de gases (tubestones) e pseudomorfos de aragonita. Esses dolomitos
ocorrem em diversos locais do globo, logo acima de diamictitos glaciais e são denominados
de capas carbonáticas (Hoffman & Schrag 2002; Kennedy et al. 2001; Nogueira et al. 2003;
Soares & Nogueira 2008). Esta deposição é atribuído: 1) mistura de águas profundas por
ressurgências (Kaufman et al. 2000; Grotzinger & Knoll, 1995); 2) taxas de intemperismo
9
altamente elevadas; e 3) desestabilização de hidratos de metano causando alcalinidade
excessiva. Os registros dessas glaciações são do Esturtiano (~710 Ma), Marinoano (~635 Ma)
e Ediacarano (Gaskiers; ~580 Ma), esta última considerada regional.
Figura 3. Surgimento dos 11 filos animais a partir dos eucariontes em uma estreita
janela de tempo após o ultimo evento de snowball Earth. As linhas tracejadas
representam o que seriam extinções da árvore ediacariana. Modificado de Hoffman
& Schrag (2002).
10
2.2 A TEORIA DO SLUSHBALL EARTH
Na teoria do slushball, o gelo cobriria apenas 60% do oceano propiciando ambientes
com circulação marinha nos trópicos (Hyde et al. 2000, 2001). A temperatura média global
poderia ter atingido cerca de 0°C, ao contrário dos -50°C postulados pelo modelo snowball
Earth; e os efeitos de glaciação e período ultra-estufa seriam consequentemente menos
catastróficos (Cowen 2001).
A teoria do snowball Earth propõe que as condições estressantes durante a glaciação
provocariam mudanças evolutivas que propiciaram a explosão da biota cambriana (Hyde et al.
2000; Maruyama & Santosh 2008, Figura 3); contudo algumas assembléias fossilíferas
encontradas em estratos anteriores às glaciações globais não apresentam grandes diferenças
das encontradas após estes eventos. Isso indica que os eventos de glaciação influenciaram,
porém não foram fundamentais para o surgimento dos novos filos no Cambriano. Vincent et
al. (2000) questionam a presença de microbiota durante o snowball Earth com base em
ecossistemas do Ártico. Da mesma forma, Grey (2005) com base em acritarcos pré e pós-
glaciais, atribui o surgimento de novos táxons ao impacto de um meteorito e descartou a
relação com a glaciação aos depósitos estudados na Austrália.
Por fim, Moczydlowska (2008), em estudo de microbiota criogeniana no talude
polonês, afirma que para a manutenção e sobrevivência dessa biota seria necessário ambiente
com circulação oceânica, rico em oxigênio e nutrientes, dentro de uma zona fótica e afirma
que “para uma perspectiva de biosfera, o modelo radical de snowball Earth seria inválido, e a
teoria de slushball Earth seria a mais adequada”.
11
2.3 GRUPO CORUMBÁ NO CONTEXTO DAS GLACIAÇÕES GLOBAIS
NEOPROTEROZÓICAS
No sul do Cráton Amazônico e Faixa Paraguai, são descritos os principais eventos de
glaciação global do Neoproterozóico: Esturtiano de 710 Ma, na região de Corumbá, onde
diamictitos se intercalam com formações ferríferas (Eyles et al. 2004); Marinoano de 635 Ma,
na Faixa Paraguai Norte, representada pelos diamictitos da Formação Puga e recobertos por
capa carbonática (Alvarenga & Trompette 1992, Nogueira et al. 2003); e, provavelmente,
Gaskier de 580 Ma, representado por siltitos com dropstones e folhelhos (Alvarenga et al.
2007). Contudo a ausência de datações radiométricas, dificulta a correlação com depósitos de
outras regiões do globo. Diferente dos eventos Marinoanos, que são descritos em toda a Faixa
Paraguai, o Grupo Corumbá - apesar de ser considerado de idade Ediacarana, principalmente
devido à ocorrência de Cloudina - não apresenta nenhum depósito correlato à glaciação
Gaskier.
A Capa carbonática denominada “Puga Hill” tem sido inferida para os depósitos basais
da Formação Bocaina, com base apenas em isótopos de carbono e estrôncio (Boggiani &
Coimbra 1995, Boggiani et al. 1996, Boggiani et al. 2003, Boggiani et al. 2005, Boggiani et
al. 2005, Misi et al 2007). Há registros da ocorrência de uma brecha - provável diamictito (?)
- na Pedreira Laginha, alvo de estudo do projeto IGCP 478 UNESCO “Neoproterozoic-Early
Paleozoic Events in southwestern Gondwana”, o que precisa ser mais bem investigado.
Adicionalmente estruturas típicas de capas carbonáticas, como aquelas descritas por Hoffman
& Schrag (2002), nunca foram descritas para a Formação Bocaina. Da mesma forma, os
contatos com os depósitos glaciogênicos ainda precisam ser revistos, se realmente são hiatos
de curta duração ou discordâncias expressivas de tempo geológico. Assim, a relação dos
depósitos do Grupo Corumbá com as glaciações do Neoproterozóico ainda permanece
duvidosa.
12
3 GRUPO CORUMBÁ
3.1 NOMENCLATURA ESTRATIGRÁFICA E CARACTERÍSTICAS
SEDIMENTOLÓGICAS
O primeiro estudo realizado nos calcários na região de Corumbá deve-se a Castelnau
(1857) in Boggiani (1997), que posteriormente foram genericamente denominados por Evans
(1893) como Corumbá Limestone. Deve-se a Almeida (1965) o emprego do termo Grupo
Corumbá para a sucessão de até 700 m exposta ao longo da Serra da Bodoquena e Região de
Corumbá. Este autor subdividiu o grupo, da base para o topo, nas formações (Figura 3):
Cerradinho, composta de quartzo-arenitos, arcósios e folhelhos; Bocaina, formada por
calcários e dolomitos; Tamengo, representada por calcários que passam para folhelhos e
margas; e Guaicurus, composta quase que exclusivamente de folhelhos. Estas unidades
sobrepõem, em discordância, os diamictitos da Formação Puga (Maciel 1959).
Corrêa et al. (1979), em mapeamento na escala 1:250.000, região sudoeste do Mato
Grosso do Sul, inseriram a Formação Puga no Grupo Corumbá e excluíram as formações
Tamengo e Guaicurus por considerá-las pertencentes ao Grupo Cuiabá, mais antigo. Del’Arco
(1981) confirma a presença de passagem gradativa de folhelhos dos dolomitos da Formação
Bocaina para a base dos calcários pretos da Formação Tamengo, demonstrando a
inviabilidade da proposta de Corrêa et al. (1979). Por fim, Boggiani (1997) redefine o Grupo
Corumbá, tal qual o proposto por Almeida (1965) e inserindo a Formação Cadiueus,
mantendo da base para o topo, as formações Cadiueus, Cerradinho, Bocaina, Tamengo e
Guaicurus.
13
Figura 4. Resumo das principais propostas estratigráficas para o Grupo Corumbá.AAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaa
14
A primeira definição da Formação Cadiueus deve-se a Almeida (1965) em estudos
realizados na borda oeste do Planalto da Bodoquena e a nordeste do Posto Indígena Alves de
Barros, Mato Grosso do Sul. Esta formação com espessura média de 150 m, apresenta contato
inferior discordante com o embasamento e os diamictitos glaciais da Formação Puga,
enquanto que o contato superior com a Formação Cerradinho é gradacional (Almeida 1965;
Boggiani1997; Gaucher et al. 2003). A Formação Cadiueus é composta de ortoconglomerados
polimíticos, intercalados com arcósios de granulometria grossa, que gradam em direção ao
topo para folhelhos (Almeida 1965; Boggiani 1997). É interpretada como sendo o resultado
da retração da glaciação marinoana (Formação Puga), com a formação de leques aluviais sin-
rift, relacionadas com a abertura da Bacia Corumbá.
A Formação Cerradinho foi primeiramente descrita e individualizada por Almeida
(1965), na borda oeste do Planalto da Bodoquena, uma vez que as ocorrências no Maciço de
Urucum (região de Corumbá) são escassas. A espessura varia entre 100 e 150 m. O contato
inferior com o embasamento e com a Formação Puga é discordante, enquanto que o contato
superior com a Formação Bocaina é gradacional (Almeida 1965; Boggiani 1997). A
Formação Cerradinho é constituída por quartzo-arenitos e arcósios finos a médios, de
coloração cinza a rosada, e pequenos níveis conglomeráticos que gradam, em direção ao topo,
para folhelhos de coloração avermelhada a cinza-médio e siltitos com intercalação de argilito.
Ocorrem também, de forma muito rara, finas camadas de sílex (Almeida 1965; Corrêa et al.
1979; Del’Arco et al. 1981; Boggiani 1997). A Formação Cerradinho é interpretada como
depósitos de fan-deltas, resultante do afogamento de leques aluviais durante a entrada do mar.
A Formação Bocaina foi inicialmente denominada de Corumbá Limestone (Evans
1893) e redefinida por Almeida 1945 (in Corrêa et al. 1979), nas proximidades da cidade de
Corumbá, onde ocorrem suas melhores exposições. Apresenta uma espessura máxima de
100m, sendo o contato inferior gradacional com a Formação Cerradinho, erosivo com a
Formação Puga e discordante com o embasamento, gerando uma superfície erosiva
denominada de Superfície de Aplainamento Pedra Branca (Boggiani & Coimbra 1998). O
contato superior com a Formação Tamengo é gradacional (Almeida 1965; Corrêa et al. 1979;
Del’Arco et al. 1981; Boggiani 1997). Trata-se de uma formação composta de calcários
dolomiticos, dolomitos estromatolíticos, dolomitos arenosos - localmente silicificados, níveis
oolíticos a pisolíticos, fosforitos e raras intercalações milimétricas de argila (Almeida 1965;
Corrêa et al. 1979; Del’Arco et al. 1981; Boggiani 1997; Gaucher et al.2003). A formação
15
tem sido interpretada como sendo originada em uma ampla e extensa planície de maré,
resultante da transgressão pós-glacial marinoana sobre uma superfície de aplainamento. A
água rasa, calma e rica em nutrientes favoreceu a proliferação de atividade microbiana
bentônica, formação de estromatólitos e de camadas fosfáticas.
O termo “Formação Tamengo” foi atribuído por Almeida (1965) durante mapeamento
no Planalto da Bodoquena. Segundo Gaucher et al. (2003) a espessura média desta unidade é
100 m, podendo chegar a 200 m. Tanto o contato inferior com a Formação Bocaina, quanto o
superior com a Formação Guaicurus é gradacional. A Formação Tamengo é caracterizada por
calcários bastante puros, de coloração preta, localmente dolomíticos, com teores de MgO
inferiores a 5%. São freqüentes as intercalações de folhelhos carbonosos com margas. Na base
da formação, ocorrem quartzo-arenitos com cimento calcítico e brechas sedimentares
polimíticas. Podem ainda ocorrer pequenas intercalações de siltitos e níveis oolíticos.
Estratificação plano-paralela, raras estratificações cruzadas tabulares de pequeno porte,
estratificação do tipo hummocky e marcas de onda, são as principais estruturas sedimentares
encontradas (Almeida 1965; Del’Arco et al. 1981; Boggiani 1997; Gaucher et al. 2003).
Encontra-se nesta unidade a maior parte dos fósseis do Grupo Corumbá. Merecem destaque o
gênero Cloudina e o invertebrado Corumbella werneri (Fairchild 1978; Walde et al. 1982;
Zaine & Fairchild 1981; Zaine & Fairchild 1985; Hahn & Pflug 1985; Gaucher et al. 2003).
Em relação à Formação Bocaina, a Formação Tamengo representa, de maneira geral, águas
mais profundas com acentuada transgressão para oeste e aumento de profundidade para leste.
Inicialmente ocorreu um acentuado rebaixamento do nível do mar, com subseqüente elevação
eustática que propiciou condições pelágicas e periplataformais em ambiente francamente
oceânico. Neste contexto houve deposição em talude, com geração de tempestitos tropicais
em águas sob condições anóxicas. Têm sido esboçado algumas correlaçõesentre essa unidade
e o Grupo Itapucumi no Paraguai (Boggiani & Gaucher 2004), Grupo Arroyo del Soldado no
Uruguai (Gaucher et al. 2003), Grupo Murciélago na Bolívia (Jones 1985, Boggiani, 1997;
Trompette et al. 1998) e consequentemente, aos depósitos com Cloudina ao redor do globo.
A Formação Guaicurus foi definida primeiramente por Almeida (1965) em
mapeamento no Planalto da Bodoquena. Segundo Gaucher et al. (2003), esta formação tem
espessura em torno de 150 m, apesar de Almeida (1965), com base em fotografias aéreas, ter
atribuído valores da ordem de 1.000 m. O contato inferior com a Formação Tamengo é
gradacional. Já o contato com o Grupo Cuiabá ainda não é bem definido, devido à ausência de
16
exposições. A Formação Guaicurus é constituída por um contínuo e espesso pacote de
folhelho preto. (Almeida 1965; Boggiani 1997; Gaucher et al. 2003). A inibição da deposição
carbonática poderia ter sido causada por diversos fatores, como maior aporte terrígeno na
bacia devido ao tectonismo, afogamento da plataforma carbonática devido a elevação do nível
de mar, mudanças no teor de oxigenação da água ou mudanças climáticas. Outra hipótese
seria uma possível movimentação de placas tectônicas, e a conseqüente mudança de latitude
da plataforma, o que teria interferido na salinidade, turbidez e temperatura da água,
provocando assim a mudança litológica.
17
Figura 5. Coluna estratigráfica composta do Grupo Corumbá e Formação Puga, com
os principais táxon, distribuição isotópica e eventos tectono-estratigráficos.
Abreviação, PP=Paleoproterozóico. Modificado de Gaucher et al (2003) e Hidalgo
(2002).
18
3.2 PALEONTOLOGIA
O primeiro estudo paleontológico deve-se a Burlen & Sommer (1957) que
descreveram fósseis com forma de tubos carbonáticos, encontrados na Formação Tamengo,
como algas Aulophycus lucianoi, que posteriormente foram redefinidas como pertencentes a
exoesqueletos Cloudina (Fairchild 1978). Posteriormente Hahn & Pflug (1985) utilizaram o
nome Cloudina waldea, e Zaine & Fairchild (1985) o nomearam como Cloudina lucianoi.
Contudo, a classificação mais condizente deve-se a Vidal et al. (1994), que enquadram os
fósseis da Formação Tamengo na espécie Cloudina hartmannae de Germs (1972). Anos mais
tarde, Walde et al. (1982) constataram a ocorrência de macrofóssil Corumbella werneri.
Ainda nesta unidade, Zaine & Fairchild (1991) reportam ocorrência do gênero
Vandalosphaeridium, da alga macroscópica Tyrasotaenia sp. e do microfóssil Bavlinella
faveolata. Deve-se a Gaucher (2000) identificação do fóssil Eoholynia presente na Formação
Guaicurus. Estromatólitos foram descritos na Formação Bocaina.
Hidalgo (2002) realizou um refinamento bioestratigráfico com base em estudos de
afloramentos da região de Corumbá, agrupando as ocorrências fossilíferas em três categorias:
a) Microfósseis: presente na Formação Tamengo e representados pelos cocoidais
Bavlinella faveolata e Eoentophysalis croxfordii.
b) Incertae Sedis: encontrados na Formação Tamengo, incluindo os microfósseis
filamentosos de táxon indefinido Helicotheichoides sp. e Waltheri e o microfóssil
cocoidal Leiosphaeridea crassa.
c) Macrofósseis: ocorrentes na Formação Guaicurus e representados por Eoholynia
mosquensis e Enteromorphites siniasis. Todavia, há a possibilidade de E.siniasis ser
impressões geradas por processos abiogênicos.
Por fim, Gaucher et al. (2003), em tentativa de correlacionar o Grupo Corumbá com o
Grupo Arroyo del Soldado no Uruguai, realizaram um estudo paleontológico organizando os
fósseis nas seguintes categorias:
19
a) Microfósseis de parede orgânica: representados por Bavlinela faveolata,
Siphonophycus robustun, L. tenuissima, Myxococcoides sp. e Soldadophycus bosii.
Contudo, o caráter fóssil de S. bosii deve ser mais bem investigado, devido à ausência
de correlatos em outras partes do globo e a possibilidade de contaminantes.
b) Vendotaenides: constituidos pelos fósseis Vendotaenides antiqua, Eoholynia
corumbensis e Taenia sp.
c) Fósseis esqueletais: incluindo o macrofóssil Cloudina lucianoi e o até então nunca
descrito, para a Formação Bocaina, Titanotheca coimbrae, espécie caracterizada por
apresentar uma alta especificidade de minerais na composição de sua carapaça, o que
restringe seu habitat.
20
3.3 IDADE E ISÓTOPOS ESTÁVEIS
Boggiani et al. (2005) e Babinski et al. (2006), com base em datações radiométricas
realizadas na Formação Tamengo com SHRIMP em grãos de zircão presentes em cinzas
vulcânicas, intercaladas a níveis com ocorrência de Cloudina, na pedreira Corcal, sugerem
545±6 Ma como idade máxima para a sucessão. Contudo, a diversidade de idades encontradas
não torna estes resultados conclusivos, sendo necessários estudos mais aprofundados a
respeito dessas idades e da comprovação da natureza dessas cinzas vulcânicas.
Zaine & Fairchild (1991) indicam idade ediacarana a cambriana inferior para os
invertebrados primitivos Cloudina lucianoi e Corumbella werneri, a alga macroscópica
Tyrasotaenia sp. e o microfóssil Bavlinella faveolata encontrados nas formações Tamengo e
Guaicurus, nos arredores da cidade de Corumbá, MS. A idade de sedimentação para esta
sucessão compreenderia o Neoproterozóico Superior (Ediacarano) entre 600 e 544 Ma
inferidas a partir de estudos do fóssil índice do gênero Cloudina (Zaine & Fairchild 1991;
Gaucher et al. 2003).
Estudos isotópicos em Carbono e oxigênio até então realizados, principalmente na
Formação Tamengo, resultaram em valores de δ
13
C
PDB
variando de – 3‰ a + 5‰ em direção
ao topo da Formação Tamengo (Fig. 5), sendo essa excursão positiva interpretada como típica
de sequências de idade Ediacarana e os valores negativos, relacionados ao evento glacial
Varanger ou a glaciação Gaskier (Boggiani et al. 1996; Boggiani 1997 e, Boggiani et al.
2003, Gaucher et al. 2003, Misi et al. 2006). Os valores de Sr
87
/Sr
86
em torno de 0.70852 são
comuns a seções situadas na passagem Neoproterozóico/Cambriano (600-535 Ma), e foram
interpretados como avanço dos oceanos associados com a colisão continental Pan-Africana-
Brasiliana (Boggiani et al. 2003).
21
4 CONTEXTO TECTÔNICO
A Bacia Corumbá de idade Ediacarana, com 300 km de extensão no sentido N-NW,
localiza-se na borda leste do Bloco Rio Apa, entre a Serra da Bodoquena e o Aulacógeno
Tucavaca. Na região de Corumbá as unidades do Grupo Corumbá encontram-se pouco
deformadas, enquanto que na Faixa Paraguai e ao longo da Serra da Bodoquena (Faixa
Paraguai) são intensamente dobradas.
A bacia desenvolveu-se sobre um dos complexos de grábens resultantes do processo
de rifteamento do Rodínia há aproximadamente 590 Ma (Trompette 1994, Tohver et al. 2006;
Li et al 2008). Seu preenchimento ocorreu durante a fase rift-to-drift; sendo a fase rift
resultante da formação de grabens, representada pelos depósitos aluviais da Formação
Cadiueus e transgressivos da Formação Cerradinho. O estágio drift se refere às formações
Bocaina e Tamengo, com características francamente oceânicas e a Formação Guaicurus
depositada em condição de margem passiva, marcando o final da deposição da bacia
(Almeida 1965; Boggiani 1997).
As rochas do Grupo Corumbá foram deformadas e metamorfisadas no final do
Cambriano e início do Ordoviciano (540-459 Ma) durante a Orogenia Paraguai-Araguai
(Basei & Brito Neves 1992), fase final da tectônica Brasiliana-Pan-Africana (Almeida 1984,
Alvarenga & Trompette 1993). Granitos pós-tectônicos, como o Granito São Vicente de idade
504±12 Ma (K/Ar em biotita: Almeida & Montovani 1974), fornecem a idade mínima para as
sucessões sedimentares da faixa. Eventos de reativação tectônica durante o Paleozóico e
Mesozóico, e o desenvolvimento de uma tectônica de inversão do graben, resultando na
topografia pantaneira (datado em torno de 3 Ma), finalizaram o tectonismo na área em estudo
(Trompette et al. 1998).
22
Figura 6. Disposição tectônica no Ediacarano. A: Bacias cratônicas, intracratônicas e
orogêneses no oeste do Gondwana durante o Ediacarano/Cambriano. B:
Reconstituição paleogeográfica durante a passagem do Ediacarano/Cambriano.
Retângulos correspondem a área abordada neste estudo. Modificado de Aceñolaza
et al. (2002).
23
5 MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 ANÁLISE DE FÁCIES E ESTRATIGRAFIA
O estudo de fácies e estratigráfico foi realizado ao longo das diversas exposições em
frentes de lavras nas pedreiras situadas na região de Corumbá. Consistiu na descrição de
fácies sedimentares, segundo a técnica de Miall (1989 a,b) e Walker & James (1992).
Parâmetros como litologia, geometria, estruturas sedimentares, textura, grãos componentes,
fábrica e conteúdo fossilífero, incluindo a descrição do tipo e morfologia de estromatólitos,
foram descritos. Para auxiliar a descrição foram confeccionados perfis litoestratigráficos,
croquis detalhados, fotomosaicos e blocos diagramas (Arnott et al. 1997) que permitiram o
registro da distribuição e variabilidade vertical e lateral das fácies. As fácies foram agrupadas
em associações faciológicas geneticamente relacionadas, cuja análise possibilitou a
interpretação do sistema deposicional das unidades estudadas. Superfícies de descontinuidade
(superfícies-chave) foram utilizadas para a correlação estratigráfica. A coleta sistemática de
amostras seguiu a individualização prévia de fácies (Fig. 7).
As fácies foram descritas petrograficamente com base nos trabalhos de Tucker (1990),
Dunham (1962) e Folk (1974). Para a determinação do tipo de carbonato, as lâminas foram
tingidas com alizarina vermelha-s e ferrocianeto de potássio, segundo a técnica descrita por
Adams et al. (1984).
24
5.2 DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X (DRX) EM AMOSTRA TOTAL E FRAÇÃO
ARGILA
Para amostra total utilizou-se 5-10g de amostra pulverizada em grau de ágata e
analisada em um intervalo de 5 a 65° 2θ.
Na preparação dos argilominerais para a DRX, 20 a 30g de amostras foram
previamente desagregadas em grau de ágata e posteriormente tratadas com ácido clorídrico
(HC) diluído a 5% para dissolução de carbonato, e água oxigenada (H
2
O
2
) para a eliminação
de matéria orgânica. Após lavagem das amostras em água destilada para retirada do HC, as
mesmas passaram por peneiramento úmido resultando na separação da fração inferior a 62µm
(silte-argila). Em seguida, esta fração foi colocada em cilindros de Atterberg com 350ml de
água destilada por 7 horas. Floculações foram revertidas mediante a adição de 0,3g de
pirofosfato. Após essa etapa a fração foi centrifugada a 2000 rotações durante 10 minutos e a
concentração foi lavada com água destilada para a remoção do pirofosfato. Por fim, 0.2g de
argila concentrada em 10ml de água destilada foi pipetada em uma lâmina de vidro para a
orientação da argila. No caso de argilas desorientadas, não foi necessário pipetação (Fig. 7).
Para identificação dos grupos de argilominerais via difratometria de raios-X (DRX),
utilizou-se, a fração <2µm orientada, nas condições seca ao ar, saturada com etilenoglicol e
aquecida a 550°/1hora.
5.3 ISÓTOPOS DE C, O e N, TEORES DE CARBONATO E DE CARBONO ORGÂNICO
TOTAL (TOC)
Amostras para análise isotópica foram obtidas da coleta sistemática em 2 perfis
colunares da Formação Tamengo. A análise isotópica de C, O e N foi realizada em 4 amostras
de calcários da Pedreira Laginha e uma da Pedreira Corcal, principalmente de granulação fina
(mudstones). Foram selecionadas amostras representativas do intervalo com Cloudina, dando-
se preferência àquelas mais homogêneas evitando-se porções fraturadas, zonas com
preenchimento mineral secundário e intemperizadas. Além do teste de reação com ácido
clorídrico feito no campo (reação a frio para calcita e em amostra pulverizada de dolomita), a
distinção entre calcita e dolomita foi feita em seções delgadas com tingimento utilizando
solução de alizarina e ferrocianeto de potássio. Amostras homogêneas foram pulverizadas em
grau de ágata.
25
As análises δ
13
C
carb
da calcita e δ
13
C
org
da matéria orgânica foram realizadas no
Laboratoire de Géochimie des Isotopes Stables da Universidade de Paris (IPGP), França. O
gás CO
2
extraído dos carbonatos pulverizados em linha de alto vácuo após a reação com ácido
fosfórico a 100% foi aquecido a 25
o
C durante 4 horas. A razão carbono e oxigênio foi medida
por um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massa GC-IRMS. As amostras
foram calibradas usando o padrão do laboratório (Rennes 2) ao padrão internacional, V-PDB
(Vennese Pee Dee Belemnites). Os resultados foram registrados com a notação convencional
de δ
13
C e δ
13
O em por mil (‰) e as incertezas das medidas de isótopos foram 0,1‰. Para a
análise de carbono orgânico, o carbonato foi dissolvido após reagir com HCl 6N durante toda
a noite na temperatura do laboratório e após isso, 2 horas a 80
o
C, o resíduo foi lavado com
água destilada até a neutralização do pH. O resíduo foi centrifugado e seco a 50
o
C durante 48
horas. A fração de C
org
, o silicato residual e o CuO foram colocados em um tubo selado de
alto vácuo. Os tubos foram aquecidos a 950º durante 6horas para oxidar a matéria orgânica. O
CO
2
foi quantificado, purificado e extraído em uma linha de alto vácuo. Na determinação da
composição isotópica o nitrogênio foi extraído das amostras pala técnica de combustão em
tubo de quartzo selado em alto vácuo. O gás nitrogênio, purificado usando Cu, CuO e CaO,
foi quantificado como dinitrogênio N
2
pela manometria de capacitância em ultra-alto vácuo.
Para a análise isotópica de nitrogênio realizadas no IPGP, utilizou-se um espectrômetro de
massa com triplo coletor a vácuo, que permitiu a medida em nanomol de N
2
. As incertezas
das medidas de isótopos foram 0,2‰.
. Para as análises de Carbono Orgânico Total (TOC), foi utilizado o método de
combustão, onde após a remoção do carbonato em uma solução de HCl a 10%, as amostra
calibradas com atropina foram aquecidas em um analisador DOC de combustão a 1.020 ºC,
reduzidas para 600 ºC, e finalmente obtendo a coluna cromatográfica a 60 ºC. O valor de TOC
resultou da soma do carbono orgânico, com o carbono inorgânico.
26
Figura 7. Fluxograma com os principais processos analíticos realizados em um total
de 28 lâminas petrográficas, análise de DRX em argila e amostra total em 6
amostras e análise isotópica em 5 níveis estratigráficos.
27
6 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE FÁCIES E ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES
6.1 OBSERVAÇÕES GERAIS
Diversos autores se empenharam na tarefa de caracterizar os paleoambientes das
rochas carbonáticas e siliciclásticas da região de Corumbá, os quais foram definidos como
planície de maré, laguna, borda de plataforma e depósitos de talude (Almeida 1965, Correa et
al 1979, Del’Arco et al. 1981, Boggiani 1997, Gaucher et al. 2003). A maior parte destas
interpretações é baseada na presença de estromatólitos, níveis fosforíticos, estratificações
plano-paralelas e cruzadas,estratificação cruzada hummocky e marcas onduladas.
Destaca-se entre estes trabalhos o estudo prévio de fácies realizado por Boggiani
(1997) que revelou 7 fácies sedimentares para a Formação Bocaina e 9 fácies sedimentares
para a Formação Tamengo, representativa de uma plataforma carbonática (Tabela 2). Embora
nem todas as fácies descritas por Boggiani (1997) tenham sido estudadas nesta pesquisa, o
objetivo deste capítulo é, além de fazer considerações sobre estas unidades, complementar o
sistema deposicional Ediacarano na região de Corumbá.
Tabela 2. Sumário das fácies das formações Bocaina e Tamengo individualizadas
por Boggiani (1997). Modificado.
UNIDADE FÁCIES INTERPRETAÇÃO
Fm Tamengo
Rudstones com Cloudina
Evento transgressivo
em borda de plataforma
Rudstones oncolíticos
Grainstones oolíticos
Ritmitos
Margas carbonáticas
Mudstones calcíticos pretos
Rudstones com clastos arredondados
Brechas intraformacionais
Quartzoarenitos
Fm Bocanina
Planície de maré e borda de plataforma
sujeita a ressurgências
Rudstones pisolíticos
Rochas fosfáticas
Dolomitos estromatolíticos
Mudstones alternados com silexitos
Flakestones
Mudstones dolomíticos estratificados
Estromatólitos LLH
28
Em geral, as rochas carbonáticas estudadas pertencentes às formações Bocaina e
Tamengo estão representadas por wackestones, em parte dolomitizados, e packstones,
podendo conter 3% a 5% de grãos terrígenos de granulometria silte a areia fina. As texturas
micríticas estão quase que completamente modificadas por neomorfismo, predominando a
textura microesparítica a pseudoesparítica. Outros litotipos encontrados são folhelhos
betuminosos, arenitos finos a médios algumas vezes cimentados por dolomita e brechas
cimentadas por dolomita espática. Exibem cores preta, cinza claro, e amarelada a avermelhada
quando intemperizados. É evidente a intensa atuação de processos diagenéticos nos litotipos,
com destaque para a estilolitização tanto em escala macro, como microscópica. Dobras
anticlinais, falhas e fraturas, algumas vezes associadas a preenchimentos por sílica ou
carbonato são feições tectônicas comumente encontrados nestas rochas. Em todos os
afloramentos estudados, o plano de acamamento apresenta mergulho em torno de 25° para
noroeste ou nordeste, indicando atuação de esforços tectônicos. Complexidade estrutural
somada a escassez de afloramentos dificultou uma correlação estratigráfica mais precisa dos
estratos.
O estudo faciológico realizado identificou 16 fácies sedimentares agrupadas em 4
associações faciológicas de rampa carbonática, confirmando as interpretações prévias para a
porção superior do Grupo Corumbá.(Tabela 3 e 4).
29
Tabela 3. Sumário das fácies e associações de fácies da Formação Bocaina
aflorantes na região de Corumbá.
ASSOCIAÇÃO/FÁCIES ESTRUTURAS PROCESSOS
AF1
PLANÍCIE DE MARÉ (De, Am)
Dolomito estromatolítico (De).
Coloração rosada e rico em
matéria orgânica. Granulação fina.
Raros grãos de quartzo de
tamanho silte.
Laminações estromatolíticas
planares e dômicas, com
poros fenestrais/bird’s eyes e
gretas de ressecamento.
Estromatólito LLHSH
segundo Logan et al. (1964).
Atividade microbiana com formação de
esteiras em águas rasas com energia
moderada a alta. Ambiente estressante e
exposição subaérea. Degradação da
matéria orgânica na zona de Intermaré.
Folhelho (F) Ocorre de maneira
subordinada, em uma camada de
até 60 cm de espessura
Laminação plana
Deposição por suspensão durante águas
paradas (maré?).
Arenito maciço (Am).Quartzo
arenito médio, com grãos bem
selecionados e bem
arredondados, cimentado por
dolomita.
Camadas tabulares, ou
preenchendo diques
centimétricos.
Deposição por correntes em regiões
planas de intermaré. Processos de
liquefação/fluidificação e fraturamento
sinsedimentar induzido por sobrecarga
(?) ou choques sísmicos (?).
AF2
BAIXIOS DE SUBMARÉ
(Dm, Dpc, Ap, F)
Dolomito maciço (Dm). Dolomito
fino com intraclastos de
mudstone, carbonato oolítico e
até 5% de grãos terrígenos
(quartzo e micas). Rara laminação
estromatolítica.
Acamamento maciço.
Laminação convoluta,
estruturas de sobrecarga e
diques de injeção, localmente
brechas sinsedimentares.
Precipitação de carbonato, deposição de
formas de leito por correntes de alta
energia, atividade microbiana incipiente,
fluxo plástico, liquefação. Localmente
fraturamento e falhamento sin
sedimentar por sobrecarga.
Dolomito com laminações planar
e cruzada (Dpc). Granulação fina a
média
Estratificação planar
incipiente, laminação
cruzada.
Deposição por ação de ondas e correntes
em águas rasas.
Arenito com estratificação plano
paralela (Ap). Arenito friável com
granulometria média e coloração
amarelada.
Estratificação planar
incipiente.
Ação de fluxo trativo ou em regime de
fluxo superior.
Folhelho (F) Ocorre de maneira
subordinada, em uma camada de
até 30 cm de espessura
Laminação plana e
acamamento convoluto.
Deposição por suspensão durante águas
paradas (maré?). Processos de
liquefação.
Brecha dolomítica (Bd) Formada
por clastos da fácies Dpm e Dpc.
Feições de deformação
sinsedimentar. Acamamento
maciço
Deposição por fluxo trativo em ambiente
de alta energia. Liquefação e
fluidificação.
30
Tabela 4. Sumário das fácies e associaçõ.es de fácies da Formação Tamengo
aflorantes na região de Corumbá.
ASSOCIAÇÃO/FÁCIES ESTRUTURAS PROCESSOS
AF3
SHOREFACE COM BARRAS OOLÍTICAS
(Pim e Po)
Grainstone intraclástico maciço (Gim) de
coloração escura e formada por fragmentos
arredondados de micrito e packstone oolítico.
Raros grãos terrígenos. Localmente ocorre
brecha intraformacional com clastos de até 4
cm.
Camadas tabulares e
lateralmente contínuas por
dezenas de metros.
Ressedimentação através de
fluxos trativos/oscilatórios
(?).
Grainstone oolítico maciço (Go) Packstones
com oóides compostos e simples de 0,4mm de
diâmetro, apresentando cimento calcítico em
franja. Presença de intraclastos oolíticos. Grãos
de quartzo são raros.
Camadas de até 1m de
espessura, tabulares e
lateralmente contínuos
Precipitação carbonática sob
atuação de fluxos trativos em
ambiente de alta energia.
Ritmito mudstone calcífero/folhelho (Rmf)
com sets variando de 5 a 10 cm de espessura.
Betuminoso.
Laminação plana Alternância entre
precipitação química e
deposição de grãos
terrígenos em ambiente de
baixa energia.
AF4
OFFSHORE INFLUENCIADO POR
TEMPESTADE (Mhs, Mm, Pm e F)
Calcário cristalino com estratificação cruzada
swaley/hummocky (Csh) Calcário fino de cor
cinza escura, com aproximadamente 5% de
grãos terrígenos. Apresenta fragmentos de
conchas de Cloudina, com 0,9mm de diâmetro e
até 1 cm. de comprimento
Estratificação cruzada do
tipo hummocky/swaley, e
estratificação cruzada de
baixo ângulo (<10°).
Deposição por fluxo
combinado dominantemente
oscilatório por ondas de
tempestades.
Calcário cristalino maciço (Cm) Calcário
cristalino cinza escuro com até 5% de
terrígenos. Ocorrem fragmentos do macrofóssil
Cloudina.
Camadas planas e
lateralmente contínuas.
Precipitação química de
carbonato em ambiente com
energia moderada a alta.
Folhelho (F) Rico em matéria orgânica e
geralmente betuminoso.
Camadas métricas
tabulares.
Deposição por suspensão.
Concentração de matéria
orgânica.
Pelito carbonático maciço (Pm) Pelito com até
40% de calcita (marga) de coloração
avermelhada.
Acamamento maciço
geralmente intercalado com
a fácies Cm.
Deposição por suspensão e
precipitação química
subordinada.
31
6.2 FORMAÇÃO BOCAINA
6.2.1 Associação de Fácies 1 (AF1): Planície de maré
Esta associação é encontrada em afloramentos ao longo do Rio Paraguai, na localidade
de Porto Morrinhos, Mato Grosso do Sul (Fig. 1). AF1 está organizada em ciclos métricos
tabulares de raseamento ascendente, lateralmente contínuos, formados, da base para o topo,
pelas seguintes fácies: arenito com acamamento maciço (Am), dolomitos com estromatólitos
estratiformes a colunares (De) e folhelho (F). (Tab. 3, Fig 8).
Os arenitos são médios a grossos, cimentados por dolomita, e formam camadas de
espessura centimétrica em contato erosivo com a fácies De (Fig. 9A). Petrograficamente são
quartzo-arenitos com grãos arredondados, moderadamente a bem selecionados (Fig 9D).
Ocorrem também preenchendo fraturas verticais a subverticais ou em forma de diques com
até 10 cm de espessura, e variando entre morfologias ramificadas a sinuosas. Estes não cortam
as camadas da porção superior do perfil caracterizada por estromatólitos planares intercalados
a folhelhos, (Fig. 8). Brechas também podem preencher diques (Fig. 9C).
Os dolomitos com estromatólitos planares (De), que exibem contato abrupto com a
fácies Am, correspondem à fácies de dolomitos estromatolíticos e estromatólitos LLH de
Boggiani (1997) (Tab.2). Apresentam cristais finos a grossos com textura planar-s (segundo a
classificação de Sibley & Gregg, 1987) e são ricos em matéria orgânica (Fig. 10A). Os
estromatólitos são estratiformes a suavemente ondulados, formando “mounds” com até 3 m de
extenção e 2 m de altura. Os mounds são conectados (biostromas) ou separados por dolomito
fino ou folhelhos (Fig 10B). No topo dos mounds estromatolíticos, coincidentes com o topo
dos ciclos, ocorrem estromatólitos colunares empilhados com até 1,5 m de altura. As colunas
são de 3 a 10 m de largura, sem ramificações, mostrando laminações convexas com poros do
tipo olhos de pássaro (birds eyes). Os espaços intercolunares são preenchidos por
dolomudstone laminado (Fig. 10C,D). Gretas de contração ocorrem associadas aos
biostromas.
Uma camade de 60 cm de um folhelho bege ocorre na metade do perfil (Fácies F),
exibindo um contato abrupto que limita a ocorrência de diques de arenito e estromatólitos
colunares. A partir dos 5 m, folhelho ocorre de forma subordinada em meio a laminações
estromatolíticas planares.
32
Figura 8. Perfil estratigráfico composto da Formação Bocaina, na margem do Rio
Paraguai, em Porto Morrinhos.
33
Figura 9. Aspectos faciológicos da Formação Bocaina. A) Fácies de diques de
injeção preenchidos por arenitos, B) Detalhe do dique com fraturas internas, C)
Brecha gerada por dique de injeção, D) Fácies de Am (arenito maciço) de quartzo-
arenito com grãos subarredondados e cimentado por dolomita com textura planar-s,
Nicois X.
34
Figura 10. Fácies da Formação Bocaina. A) Mound métrico formado por
estromatólitos estratiformes da fácies De, sobreposto por folhelhos da fácies F; B)
Textura da fácies De, dolomita fina a grossa com matéria orgânica; C) Porosidade
tipo olho de pássaro. D; E) Estromatólitos colunares, observar a laminação
crenulante convexa.
35
No geral a natureza planar das camadas estromatolíticas sugere morfologia plana do
ambiente deposicional caracterizada por correntes fracas. Os ciclos de raseamento se iniciam
com a disposição de arenitos tabulares, associada à erosão de camadas subjacentes, seguida
pela proliferação de tapetes microbianos em áreas protegidas, providas de nutrientes
formando bioconstruções métricas. Já a associação de lentes arenosas e intraclastos com
dolomitos estromatolíticos colunares indica crescimento de esteira biogênicas em ambiente de
alta energia, similar àqueles dos estromatólitos descrito por Grey & Corkeron (1998). Os
estromatólitos com natureza estratiforme sugerem um ambiente deposicional relativamente
calmo, que permiteo a conexão lateral das esteiras sem formar “cabeças”. Por outro lado, os
estromatólitos colunares que fecham os ciclos de raseamento, apontam aumento de energia, e
formação em ambiente de planície de maré (Sami & James 1993). A presença de gretas de
contração e de poros tipo olho de pássaro confirma ambiente raso sujeito à exposição
subaérea, com degradação de matéria orgânica, (Tucker & Wright 1990, Pratt et al. 1992,
Shinn 1983) com patível com a planície de maré, particularmente a zona de intermaré.
Os diques de injeção representam um evento posterior a deposição. Segundo Lowe
(1975), liquefação é o processo em que sedimentos metaestáveis ou inconsolidados
experimentam um repentino e temporário aumento da pressão de fluido nos poros, fazendo
com que os sedimentos antes suportados por grãos, passem por um estado transitório onde os
grãos são suportados pelo fluido. A fluidificação ocorre quando há uma fluidez vertical
através de um agregado granular, exercendo força suficiente nesses grãos para vencer a força
da gravidade e soerguendo-os momentaneamente. Neste contexto, as camadas de areia
estudadas estariam saturadas em água, foram liquefeitas e posteriormente fluidificadas,
rompendo níveis estratigráficos mais superiores por alívio de pressão. Dentre os fatores que
favorecem a liquefação estão a diferença de permeabilidade entre camadas, o tamanho dos
grãos, seleção, a presença de filossilicatos, diferenças de densidade, e diferenças de
viscosidade. O gatilho que desencadeou a expulsão de água por alívio de pressão nas camadas
e a conseqüente formação de estruturas de deformação, podem estar relacionados a oscilações
cíclicas de maré, ondas de tempestade, rápida acumulação de sedimentos, ou mesmo abalos
sísmicos (Lowe 1975). No caso das estruturas encontradas em Porto Morrinhos, o mais
provável seria a origem por sismicidade, uma vez que: i) os diques estão restritos a um
horizonte, ii) são em geral de natureza rúpteis, e iii) a ocorrência de estruturas com esse
padrão e sem atuação de sismicidade é mais comum em sedimentos continentais ligados a
36
evaporitos no ambiente de sabkha ou playa (Lowe 1975, Montenat et al. 2007, Potsma 1983,
Owen 1996, Battacharya & Bandyopadhyay 1998, Kahle 2002).
37
6.2.2 Associação de Fácies 2 (AF2): Baixios de Submaré
A associação de fácies 2, descrita na frente de lavra da Pedreira Corcal, cidade de
Corumbá, consiste em ciclos métricos de raseamento ascendente, lateralmente contínuos por
dezenas de metros. Os ciclos são formados, da base para o topo, por dolomito maciço (Dm),
dolomito com laminação plana e cruzada (Dpc), e esporadicamente, brecha dolomítica (Bd),
folhelho (F) e arenito com estratificações plana e cruzada (Apc) (Tab. 3). A fácies Dm possui
granulação fina, contendo intraclastos subarredondados de micrito, sílex e fragmentos de
rocha carbonática peloidal, cimentados por dolomita com textura planar-s a planar-e, e até 5%
de grãos terrígenos (Fig. 12). As estruturas predominantes na associação AF2 são
estratificação cruzada, plano-paralela, laminação cruzada cavalgante subcrítica e uma
ocorrência localizada de estromatólito planar (Fig. 13 A,B,C). A fácies Apc, friável, forma
pacotes de até um metro de espessura, com laminações plano-paralela e cruzada (Fig. 13D).
As brechas dolomíticas são constituídas por clastos de até 12 cm de diâmetro e ocorrem
próximo a metade do perfil (Fig. 11). As estruturas de deformação incluem laminação
convoluta, estruturas de sobrecarga e diques preenchidos por arenito e brechas (Fig. 14).
Diques de injeção com até 20 cm de largura, ocorrem com forma sinuosa, segundo a
classificação de Lowe (1975), que truncam até um metro da fácies Dm (Fig. 14C e D).
38
Figura 11. Perfil estratigráfico da Formação Bocaina na Pedreira Corcal,
representativo da Associação de Fácies 2.
39
Figura 12. Microfácies Dm, da associação AF2, Formação Bocaina. A) Dolomito com
intraclástos arredondados de micrito (Mc), fragmento de rocha peloidal (Pl),
fragmento de sílex (Sl) e grão de quratzo (Qz), B: Fragmentos de dolomicrito (Mc) e
calcário peloidal (Pl) subarredondados, cimentados por dolomita planar-s. Nicois X.
40
Figura 13. Fácies sedimentares da associação AF2, Formação Bocaina. A) Dolomito
fino com laminação plano-paralela (Dpc), B) Dolomito, com laminação planar e
laminação cavalgante subcrítica incipiente (Dpc), C): Laminação estromatolítica
planar (Dm), D) Camada de arenito maciço (Am) intercalado com dolomito maciço
(Dm).
41
Figura 14. Fácies com estruturas deformacionais da associação AF2. A) Folhelho (F)
com laminação convoluta intercalado à fácies de dolomito maciço (Dm); B) Estrutura
de sobrecarga no contato entre as fácies Ds e F; C e D) Brechas intraformacionais
geradas dentro de diques de injeção (Bd).
42
Os bancos espessos de dolomito com grãos terrígenos e abundantes intraclastos
arredondados, intercalados com arenitos, indicam a atuação de fluxos trativos em ambiente de
alta energia, provavelmente relacionados a barras intraclásticas na zona de submaré (Tucker
& Wright 1990, Pratt et al. 1992).
A ocorrência de laminação cruzada e laminação plano-paralela no topo dos
ciclos/bancos indica lâmina d’água rasa, que permitia o retrabalhamento destas barras
intraclásticas por correntes e ondas, formando baixios.
Segundo Owen (1996), para a geração de laminação convoluta e estruturas em chamas
é necessário diferença de densidade entre litotipos com semelhante viscosidade, enquanto que
a formação de diques de injeção requer diferença de densidade e viscosidade. Estruturas de
deformação são frequentes na associação AF2, e foram geradas por sobrecarga e processos de
liquefação durante a migração dos baixios de submaré. Em geral as estruturas de deformação
nas associações de fácies AF1 e AF2 devem ter gênese similar, provavelmente relacionada a
fluxos gravitacionais.
43
6.3 FORMAÇÃO TAMENGO
6.3.2 Associação de Fácies 3 (AF3):Shoreface com barras oolíticas.
Observada na frente de lavra da Pedreira Laginha (Fig. 1), a associação de fácies 2 é
caracterizada por camadas tabulares e lateralmente contínuas, com empilhamento de até 75 m
(Fig. 15). É composta da base para o topo pelas fácies: grainstone intraclástico (Pim), ritmitos
(Rmf) e grainstone oolítico (Po) (Tab. 4).
O grainstone intraclástico (Pim), com acamamento predominatemente maciço,
corresponde à fácies de rudstone com clastos arredondados de Boggiani (1997). É formado
por clastos arredondados de packstone oolíticos, cimentados por calcita espática com
granulação fina a média (Fig. 16). Localmente ocorrem conglomerados e brechas formadas
por clastos oolíticos de até 4 cm de diâmetro, dispostos em um arcabouço fechado (Fig 17).
44
Figura 15. Perfis estratigráficos da Formação Tamengo. C: Perfil realizado na frente de lavra da Pedreira Laginha; D: Perfil da
Pedreira Itaú-Saladeiro; E: Frente de lavra da Pedreira Corcal. As ocorrências de microfósseis no Perfil E foram baseadas em
Hidalgo (2002)AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.
45
Figura 16. Grainstone com intraclastos de packstone oolítico (fácies Gim). Nicóis X.
Figura 17. Brecha intraclástica, com clastos de até 4 cm de diâmetro (Gim). Pedreira
Laginha.
46
A fácies Rmf corresponde à fácies de ritmito descrita por Boggiani (1997) (Tab. 2).
Forma camadas tabulares de aproximadamente 7m de espessuca, em contato abrupto com as
fácies de grainstone intraclástico e packstone oolítico (Fig. 18). Nesse nível ocorrem
carapaças de Cloudina em bom estado de preservação, diferenciando-se dos exemplares
encontrados na fácies Csh da AF1.
Figura 18. Sucessãoda Formação Tamengo na Pedreira Laginha, com destaque
para a fácies de ritmito (Rmf)
47
A fácies de grainstone oolítico enquadra-se na fácies grainstones oolíticos de
Boggiani (1997) (Tab. 2). Forma camadas tabulares, lateralmente contínuas e atinge até 50 m
de espessura (Fig. 15). Os oóides são formados por laminas concêntricas em torno de grãos
siliciclásticos, ou pela junção de dois ou mais núcleos gerando oóides complexos. Podem ser
distinguidas duas gerações de cimento: Cimento A, formando franja em torno dos oóides e
Cimento B, na forma de mosaico (Fig. 19).
Figura 19. Grainstone oolítico com duas gerações de cimento (A e B). Nicois X.
48
A Formação de oóides necessita da atuação contínua de correntes ou ondas (Tucker &
Wright 1990), sugerindo um ambiente de alta energia para AF1. A geometria tabular das
camadas indica regiões planas, com a migração de formas de leito om barras que migravam
sob a ação de correntes litorânea na zona de shoreface.
A presença de intraclastos, provenientes de packstone oolítico, indica também
ambiente deposicional de alta energia para o grainstone intraclástico.
Ritmitos carbonosos são mais comuns em ambiente de águas profundas (Calvet &
Tucker 1988), contudo, estruturas indicativas de bacia profunda como turbiditos não foram
encontrados. Dessa forma, as fácies de ritimitos são possivelmente, protegidas da ação de
correntes por barras oolíticas; de forma análoga aos depósitos descritos por Read (1985). A
presença de conchas de Cloudina (aparentemente in situ) sugere um ambiente propício para a
proliferação e preservação das conchas. Seu ambiente de vida corresponderia às regiões entre
as barras oolíticas onde foram depositados os pelitos e carbonatos em ambiente de baixa
energia (Fig. 27, Capítulo 8).
49
6.3.1 Associação de Fácies 4 (AF4): depósitos de offshore
A associação de fácies 2 ocorre nas frentes de lavra das pedreiras Corcal e Itaú-
Saladeiro em Corumbá (Fig. 1). Exibe camadas tabulares e lateralmente contínuas, formando
ciclos métricos de raseamento em sucessões de até 25 m de espessura, compostos pelas fácies
calcário cristalino com estratificação cruzada hummocky e swaley (Csh), Calcário cristalino
maciço (Cm), Pelito carbonático maciço (Pm) e Folhelho (F) (Tab.4, Fig. 15).
A fácies Csh, formada por calcários com estratificação cruzada swaley e estratificação
cruzada hummocky (λ = 50cm – 1 m, H = 10 cm - 15 cm), forma bancos amalgamados de até
7 m de espessura e está recoberta pelas fácies de Pm e F (Fig. 21). Os calcários são finamente
cristalinos e contém até 3% de grãos terrígenos (Fig. 23 A e B). Ocorrem ainda, fragmentos
de conchas de Cloudina gerando coquinas com maior concentração no topo dos ciclos de
tempestade (Fig. 23 C e D).
O calcário cristalino maciço (fácies Cm) está disposto em estratos tabulares de até 10
m de espessura e faz contato abrupto com as fácies Pm e F (Fig. 20, 21). Apesar de
diferenciar-se pelo predomínio de acamamento maciço, é petrograficamente semelhante à
fácies Csh. Contudo, não foram encontrados ocorrências de Cloudina. Está fácies corresponde
aos mudstones calcíticos pretos descritos por Boggiani (1997) (Tab. 2).
A fácies de pelito (Pm) com acamamento maciço ocorre na forma de camadas
amareladas e friáveis de até 15 cm de espessura. Exibe contato abrupto com os fácies de
tempestade (Csh) (Fig. 24). Apresenta teor de calcita em torno de 40%, o que o classifica
como marga (Weaver 1989). Equivale à fácies margas carbonosas de Boggiani (1997)
(Tabela. 2).
Os folhelhos (fácies F) apresentam camadas de até 2 m de espessura, com geometria
tabular, e lateralmente contínuas (Fig. 15 e Fig. 22).
50
Figura 20. Seção panorâmica da Formação Tamengo na mina Itaú-Saladeiro. As camadas espessas e contínuas de calcário
cristalino (Fácies Cm), alternam níveis tabulares de folhelhos amarelados (Fácies F).AAAAAAAAAAAAAAAAAA
51
Figura 21. Estratificação cruzada hummocky com até 15 cm de comprimento de
onda (Csh).
52
Figura 22. Camadas onduladas lateralmente contínuas com estruturas
swaley/hummocky.
53
Figura 23. Aspecto petrográfico da fácies Csh (calcário cristalino), Formação
Tamengo. A) Calcário cristalino fino, exibindo textura xenotópica; B) Plano de
estilólito; C) Seção transversal de concha de Cloudina, em calcário cristalino; D)
Coquina formada por fragmentos de Cloudina. Nicois X.
54
Figura 24. Níveis de marga (Pm) intercalados a calcários cristalinos (Csh), Perfil C.
55
A difratometria de raios-x (DRX) de amostras da fácies Pm e F mostrou predomínio
de calcita e quartzo (Fig. 25 A), enquanto que o padrão geral da fração argila das fácies Pm e
F é formado, em ordem de abundância, por: interstratificado ilita/Esmectitta, ilita e caulinita
(Fig.25 B).
Figura 25. A) Padrão de DRX de amostra total, representativo do Perfil C. Q=
quartzo e C= calcita; B) Padrão de DRX da fração argila de margas e folhelhos
aflorantes na Pedreira Corcal (Perfil C). I/S= interstratificado ilita-esmectita, I= ilita,
K= caulinita e Q= quartzo.
A
B
56
A morfologia tabular dos depósitos da AF4, sua grande contunuidade lateral e
espessura, indicam ambiente deposicional com morfologia plana e relativo espaço de
acomodação.
A estratificação cruzada hummocky (ECH) tem sido interpretada como sendo gerada
pela atuação de ondas de tempestade envolvendo intensos fluxos oscilatórios e/ou combinados
que retrabalham sedimentos desde a zona de intermaré até regiões de plataforma externa
(offshore) e bacia profunda, onde o potencial de preservação tende a ser maior (Cheel &
Leckie 1993). A intercalação de calcários cristalinos com ECH/Swalley com pelitos da fácies
Pm e F sugere variação cíclica no grau de energia do ambiente, que ora estaria sujeito a fluxos
oscilatórios de alta velocidade em regime de fluxo superior, ora sujeito a deposição por
suspensão com diminuição de correntes e redução das condições favoráveis à precipitação de
cálcio. Desta forma, o ambiente que gerou tal sucessão pode ser atribuído à rampa
intermediária (shoreface) ou à transição para a rampa externa (offshore), onde a quantidade de
argila advinda de correntes longitudinais (longshore currents) tende a ser maior (Calvete &
Tucker 1988, Bruchette & Wright 1992).
Análise de DRX auxiliam na identificação de minerais insolúveis e podem trazer
informações a respeito da diagênese e paleoclima (Weaver 1958, Weaver 1989, Meunier
2005). Nas amostras de marga e folhelho analisadas, a presença de interestratificado ilita-
esmectita e caulinita sugere um clima semi-árido predominante naquela região, com períodos
de relativa umidade.
A fragmentação e acumulação de conchas de Cloudina são relacionadas à ação de
tempestades, o que indica que essas ocorrências são, na verdade, o resultado de
retrabalhamento e redeposição na zona de shoreface/offshore.
57
6.4 MODELO DE FÁCIES
A definição de um modelo de fácies para depósitos de idade Proterozóica enfrenta
dificuldades, devido a suas distintas condições paleobatimétricas, paleoceanográficas, intensas
alterações provocadas pela diagênese e/ou tectonismo, e escassez de fósseis que possam
auxiliar na definição do ambiente deposicional (Chakraborty 2004). Como a maioria dos
modelos deposicionais foi elaborada com base em contextos ambientais meso-cenozóicos,
nem sempre é uma tarefa fácil elaborar um modelo calcado em processos desenvolvidos em
ambientes pré-cambrianos.
Na elaboração de um modelo deposicional para a porção carbonática do Grupo
Corumbá levou-se em consideração algumas características importantes dos depósitos
estudados como: a) ausência de fluxos de detritos, turbiditos e maior frequência de brechas; b)
fácies com intraclastos, provenientes dos depósitos da própria plataforma/rampa; c) caráter
tabular das camadas e sua ampla continuidade lateral. Baseado nessas informações atribui-se
um modelo deposicional em rampa de margem continental passiva que pode ter evoluído a
partir de uma rampa do tipo fringing (segundo Read 1985; Handford 1986; Fred et al. 1991;
Burchette & Wright 1992; Calvet & Tucker 1998) (Fig. 26). A pesquisa realizada não permite
fazer implicações paleogegráficas mais expressivas em função da área limitada estudada. A
parte mais profunda da Bacia Corumbá tem sido proposta por Boggiani (1997) para leste, que
considera um modelo de plataforma com sucessão retrogradante.
A interpretação de rampa carbonática para a parte superior do Grupo Corumbá vem de
encontro com os vários trabalhos realizados na Serra da Bodoquema (Almeida 1969, Boggiani
1997, Gaucher et al. 2003). Atribui-se à Formação Bocaina um ambiente de planície de maré
com atividade microbiana importante (fácies De) e baixios de submaré, como parte da rampa
interna (fácies Dm, Dc e Ds), sujeita esporadicamente a eventos de sismicidade (Fig. 26). A
Formação Tamengo corresponderia a depósitos de offshore, sujeitos a tempestades
responsáveis pela fragmentação de conchas de Cloudina (Cm, Csh, Pm e F), e de shoreface
com a formação de barras oolíticas. Ambientes de baixa energia seriam formados no
shoreface protegidos em parte, da ação de ondas de tempestade, onde Cloudina teria
proliferado (Fig. 27).
58
O ciclos de raseamento ascendente observados não permitiu verificar se a tendência da
sedimentação das unidades estudadas eram progradante ou retrogradante. Apenas o contato
entre as formações Tamengo e Guaicurus pode ser considerada como uma possível superfície
transgressiva, encerrando a deposição carbonática na Bacia Corumbá.
Figura 26. Perfis esquemáticos de (A) Plataforma e (B) Rampa mostrando o efeito de
rebaixamento de nível do mar relativo. Notar também a diferença de declividade e a
área de exposição, muito maior nas plataformas comparativamente ao modelo em
rampa. Modificado de Burchette & Wright (1992).
59
Figura 27. Proposta de modelo deposicional para a sucessão sedimentar da Formação Bocaina. Abreviações: A: Porto Morrinhos,
B: Pedreira Corcal dolomítica. Símbolos nas figuras 8 e 11.
60
Figura 28. Modelo deposicional proposto para a sucessão sedimentar da Formação Tamengo. Abreviações: C: Pedreira Laginha,
D:Pedreira Itaú-Saladeiro, E: Pedreira Corcal (escala aproximada). Símbolos na Figura 15aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
61
7 PALEOAMBIENTE DE Cloudina COM BASE NOS ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE C, O
E N.
7.1 TRABALHOS PRÉVIOS, E CONTEXTO PALEOAMBIENTAL E BIOLÓGICO DE
Cloudina
Cloudina foi descrito pela primeira vez no Grupo Nama na Namíbia por Germs
(1972), que o nomeou em homenagem ao professor Preston Cloud, e o enquadrou no filo
Archaeocyatha e classe Cibricyatha. Germs também subdividiu o gênero em duas espécies
separadas por diferenças sutis na parede da concha, e principalmente com base no tamanho:
C. hartmannae, com 2,5 - 6,5 mm de diâmetro e 8 - 15 mm de comprimento; e C. reimkeae
que apresenta 0,3 - 1,3 mm de diâmetro e 1,5 – 12 mm de comprimento.
A presença deste fóssil está relacionada diretamente à maior e última excursão positiva
de carbono do Neoproterozóico (Grotzinger et al. 1995, Corsetti & Hagadorn 2000, Amthor et
al. 2003). Trata-se de um fóssil guia do final do Neoproterozóico com biozona entre 550 e
543 Ma, que ocorre em distintas partes do Gondwana, como Namíbia (Germs 1972), Oman
(Conway Morris et al. 1990), China (Conway Moris et al. op. cit.), Canadá (Hofmann &
Mountjoy, 2001), regiões centrais da Espanha (Vidal et al. 1994), Brasil na Formação
Tamengo (Zaine & Fairchild 1985), Uruguai (Gaucher et al. 2003), e possivelmente
Argentina e Antarctica (Yochelsen & Stemp 1977 in Grant 1990). Entretanto Grant (1990)
afirma que nesses últimos dois casos a taxonomia é questionável e admite a ocorrência deste
fóssil no nordeste do México e na região da Califórnia e Nevada nos Estados Unidos.
Evidências de mineralização induzidas por atividade biológica vêm sendo atribuídas a
idades em torno de 2.7 Ga (Monster et al. 1979). Apesar de ser encontrado junto a outros
gêneros formadores de concha como o Sinotubulites na região da Califórnia e China (Grant
1990; Conway Morris et al. 1990; Hua et al. 2003) tudo indica - embora questionado por
Conway Morris (1990) - que Cloudina foi o primeiro organismo metazoário a formar um
exoesqueleto primitivo sob a forma de concha, significando um grande avanço evolutivo que
por consequência nortearia o aparecimento da maioria das espécies complexas e melhores
adaptadas no Cambriano (Kerr 2002).
62
A relação filogenética do Cloudina continua enigmática e oscila entre três diferentes
correntes de pensamento:
I) Germs (1972) e Zaine & Fairchild (1987) enquadram o Cloudina no filo Archeocyatha
e classe Cribricyathea.
II) Grant (1990) e Conway-Morris (1993) sugerem que o macrofóssil apresenta um grau
cnidariano de organização e pode posteriormente ter originado o grupo dos cnidários fato
reforçado pela presença de estruturas do tipo budding reportadas por Hua et al. (2003) (Fig
38B).
III) Conway Morris et al. (1990), Miller (2003) e Hua et al. (2005) afirmam que Cloudina
pertenceria ao grupo de anelídeos poliquetos ou vermes pogonoferídeos, e propõem uma
similaridade de convergência entre organismos tubulares paleozóicos como Trypanopara do
Devoniano da França e Torquaysalpinx sokoloni com Cloudina.
Seilacher (1999) foi o primeiro a propor um habito de vida para o Cloudina,
posicionando-o como um mat-sticker formado pela união de várias conchas sob a forma de
cones unidos por sua parte basal. O crescimento ocorreria de maneira episódica e sua
velocidade dependeria da taxa de sedimentação (Grant 1990). O momento de estabilidade
ocorria quando a abertura situada na porção superior estava acima do nível de sedimentação.
Assim que o sedimento ameaçava cobrir essa abertura, a parte mole do animal, que mantinha
um tamanho constante na fase adulta, migrava para o topo onde era construída uma nova
concha. Desta maneira, como efeito denominado “elevador” (Seilacher op. cit.), gerava vários
compartimentos isolados entre si, sendo que a parte mole do animal ocuparia sempre o
compartimento mais superior, situação similar ao crescimento original de alguns corais.
Miller (2003), com base em nova metodologia de análise 3D e de influências
gravitacionais, critica as reconstituições morfológicas realizadas por esses autores e afirma
que a concha, até então interpretada como uma biomineralização porosa, resultante da junção
de matriz orgânica com cristais de calcita possivelmente magnesiana (Grant 1990; Brain
2001; Hua et al. 2005) e formada por várias paredes resultantes da junção cone-cone (Fig. 29
A); seria na verdade um único test tube concêntrico e flexível, que cresceria lentamente com o
tempo. Os vários compartimentos não existiriam, fazendo com que a concha fosse inteiriça e a
parte mole do organismo estaria dispersa por toda a concha (Hua et al. 2005).
63
Figura 29. Metazoário Cloudina. A: recontituição da estrutura interna da concha
segundo Seilacher (1999) e a excentricidade provocada pela atuação da gravidade
visualizada nas seções transversais A-‘A, segundo Miller (2003); B: Imagem de MEV
em uma concha de Cloudina encontrada na China, onde a seta 1 indica possível furo
gerado por predador e a seta 2 indica a estrutura do tipo budding (Hua et al. 2005).
Em relação à paleoecologia, Grant (1990) descreve Cloudina como um mat-sticker
suspensívoro. Segundo Seilacher (1999) Cloudina viveria em meio a estromatólitos, onde o
seu crescimento dependeria da taxa de sedimentação estromatolítica. Miller (2003) propõe
que o organismo possui três posições infaunais (horizontal, vertical e curvada) e habitava
regiões de mar raso (Germs 1972). Sua reprodução se daria de forma assexuada (Hua et al.
2005).
Não se sabe ao certo o que resultou no desaparecimento deste fóssil, porém o registro
geológico fornece algumas evidências. Alguns fósseis encontrados na Namíbia (Brain 2001) e
na China (Hua et al. 2003) apresentam furos na parede da concha, revelando a presença de
algum predador (ainda desconhecido), que possuía padrões de comportamento bastante
específicos. Atacava somente espécies de C. hartmannae, escolhia porções da concha livres
de imperfeições, selecionava um tamanho específico de Cloudina, e a distância do furo para a
abertura da concha era de aproximadamente 3 a 4 vezes o diâmetro da mesma, possivelmente
64
para evitar a proximidade com a abertura, que por sua vez possuiria mecanismos de defesa.
Isso implica afirmar que haveriam predadores macrófagos no pré-Cambriano. Esses
predadores possuíam um avançado grau de complexidade neural e especificidade. Conchas
mineralizadas não eram suficientes para adquirir uma total segurança contra predadores e a
predação desta espécie pode ter sido o gatilho para o aparecimento de conchas e outros
mecanismos evolutivos que provocaram a diversificação cambriana.
A ausência de impressões fósseis desse predador dificulta uma reconstituição mais
segura, entretanto, é improvável a existência de organismos tão complexos com tamanha
especificidade no Ediacarano. Miller (2003) questiona essa especificidade do predador e
Grotzinger et al. (2003) atribuem a extinção do Cloudina como resultado de um processo
geoquímico global na passagem Ediacarano - Cambriano, marcado pela excursão negativa de
δ
13
C.
Enfim, Cloudina como a maioria dos metazoários, apesar de ser conhecido há mais de
três décadas, ainda deixa dúvidas quanto à afinidade filogenética, sua morfologia e papel no
ecossistema.
65
7.2 ISÓTOPOS DE CARBONO, OXIGÊNIO E NITROGÊNIO
Amostras para análise isotópica foram obtidas da coleta sistemática no intervalo com a
ocorrência in situ de Cloudina nos perfis das Pedreiras Laginha e Corcal (Figura 15). A
análise isotópica de C, O e N foi realizada em 5 amostras de calcário fino, fresco e não
deformado, intercalado com folhelhos pertencentes à Formação Tamengo. Em grande parte
das seções delgadas a textura original micrítica do calcário está preservada, muito embora
modificações neomórficas ocorram. A matriz micrítica, seja de composição dolomítica ou
calcítica, é quase opaca e quando neomorfisada uma textura fina eqüigranular hipidiotópica.
Os valores de isótopos estáveis, % de carbonato e carbono orgânico total (TOC) estão
plotados na tabela 5 e no perfil da Figura 30. Fornecem para o intervalo de Cloudina
informações sobre o seu paleoambiente, inferindo a composição isotópica e as condições
redox da água do mar. Além disso, foram feitas considerações sobre a produtividade orgânica
deste intervalo. Ver capítulos 8.2.1, 8.2.2 e 8.3.
Tabela 5. Valores de isótopos de carbonatos da Formação Tamengo com Cloudina.
As amostras “Lar” são da Pedreira Laginha e amostra C da Pedreira Corcal,
Corumbá, MS, mostrados nos perfis E e C da figura 1.
Amostra Carbonato
%
δ
13
C
carb
(‰)
δ
13
C
org
(‰)
Δ
13
C
(‰)
δ
18
O
carb
(‰)
δ
15
N
org
(‰)
TOC %
Lar 1 85,0 4,4 24,6 29,0 7,6 4,8 0,33
Lar 2 89,0 5,2 23,5 28,7 7,7 3,4 0,29
Lar 6 97,0 1,5 25,9 27,4 7,0 3,2 0,30
Lar 7 81,0 5,4 24,5 29,9 7,5 3,9 0,41
C 1 97,0 3,9 23,5 27,4 8,4 3,2 0,74
66
Figura 30. Curvas isotópicas (C, O, N), de Carbono Orgânico Total (TOC) e
proporção de carbonato para o ritmito referente ao perfil Pedreira Laginha (Perfil E).
67
7.2.1 Isótopos de carbono e oxigênio
As variações isotópicas da água do mar têm sido utilizadas como marcadores
paleoambientais e na elaboração de arcabouços quimioestratigráficos para a correlação global
de sucessões neoproterozóicas (Knoll et al. 1986, Narbonne et al. 1994, Kaufman & Knoll
1995, Kaufman et al. 1997, Saylor et al. 1998, Jacobsen & Kaufman 1999, Knoll 2000). A
composição reflete a variação dos isótopos leves de C e O da água do mar daquela época em
que foram registrados nos depósitos marinhos carbonáticos. No entanto, devido às mudanças
pós-deposicionais seja por diagênese (neomorfismo e dolomitização), metamorfismo e/ou
fluídos meteóricos (Kaufman & Knoll 1995, Jacobsen & Kaufman 1999), esta composição
isotópica de C em carbonatos proterozóicos pode não ter preservado esta assinatura. Com o
intuito de estabelecer o grau de alteração de amostras de carbonato, é geralmente realizada
uma análise geoquímica determinando a razão de Mn/Sr, pela relação entre δ
13
C
carb
e δ
13
C
org
(
13
C = δ13C
carb
δ13C
org
,) - a diferença ou
13
C entre essas composições é sempre
constante para amostras não alteradas - e a relação entre os valores de δ
13
C e δ
18
O (Kaufman
& Knoll 1995, Kha et al. 1999, Jacobsen & Kaufman 1999). No presente trabalho, não foi
determinada a razão entre Mn/Sr (Tab. 5), mas os valores constantes do
13
C implicam que as
amostras não foram alteradas (Tab. 5). Além disso, verificou-se que os carbonatos estudados
possuem valores de δ
18
O depletados e que variam muito pouco de -7,0 ‰ a -8,4‰. Estes
dados, apesar de serem poucos, quando plotados em gráficos δ
13
C versus δ
18
O mostram uma
forte dispersão, sem uma correlação positiva clara (Fig. 31). A não covariância entre os
valores de C e O sugere que o volume de fluido diagenético necessário para reequilibrar a
composição isotópica de O foi insuficiente para modificar a composição original de δ
13
C
(Jacobsen & Kaufman 1999). Assim, considera-se que os valores isotópicos encontrados são
provavelmente primários e representativos da composição isotópica da água do mar
neoproterozóica. Os valores positivos de δ
13
C sugerem um consumo importante de
12
C
compatível com a proliferação de organismos. Assim, Valores positivos de δ
13
C para os
intervalos com Cloudina e/ou na biota de Ediacara, próximo ao limite com o Cambriano, são
indicativos do aumento da atividade biológica (Narbonne et al. 1994, Saylor et al. 1998,
Corsetti & Hagadorn 2000). Os valores de TOC de até 0,7 % também confirmam crescente
produção de matéria orgânica.
68
Os valores negativos de δ
13
C
org
na Formação Tamengo sugerem uma contribuição da
biomassa bacteriana para o acúmulo de matéria orgânica derivado da produção primária no
Oceano Neoproterozóico. Além disso, valores de C = 28 ± 2% tem sido empiricamente
determinado por Knoll et al. (1986) para sequências do Neoproterozóico do leste da
Groenlêndia e Spitsbergen (Svalbard, Noruega) enquanto valores de C = 33 ± 2% tem sido
representativos de depósitos pré-Marinoanos, e portanto, mais antigos. Portanto, os valores
obtidos da Formação Tamengo sugerem que esta unidade está cronologicamente inserida na
transição do pré-Cambriano para o Paleozóico.
Figura 31. δ
13
C versus δ
18
O para as fácies carbonáticas portadoras de Cloudina do
Grupo Corumbá. Os valores isotópicos são expressos em ‰. Onde: Círculos
fechados representam amostras do Perfil E (Pedreira Laginha), e o circulo aberto
representa amostra do Perfil C (Pedreira Corcal).
69
7.2.2 Isótopos de nitrogênio
Registros de isótopo estável de nitrogênio (N) sedimentar têm sido usados para traçar a
origem da matéria orgânica, inferindo condições da superfície durante a produção primária, e
reconstituir feições ambientais e paleogeográficas (Peter et al. 1978; Sweeney et al. 1978,
Rau et al. 1987, Altabet & François 1994). Embora fracionamentos isotópicos leves possam
ocorrer durante a diagênese, a composição isotópica do nitrogênio pode refletir aquela dos
organismos que deram origem aos sedimentos ricos em matéria orgânica (Macko et al. 1993).
A matéria orgânica sedimentar de depósitos marinhos fanerozóicos geralmente apresenta um
enriquecimento em
15
N com valores em torno de +6 a +7 ‰, se comparado com o da
atmosfera (Peters et al. 1978; Sweenwy et al. 1978). Isto reflete o enriquecimento relativo da
atmosfera, observado no plâncton atual com valores de δ
15
N de +7‰ (Schoeninger & DeNiro
1984) e em espécies de nitrogênio inorgânico que é NH
+
4
e NO
-
3
com valores de δ
15
N de +4 a
+10‰ (Altabet 1988, Montoya et al. 1991). O N
2
atmosférico entra no ciclo do nitrogênio
por processo de fixação biológica realizada por bactérias e cianobactérias fotoautotróficas
cuja morte favorece o retorno do nitrogênio por meio da mineralização, levando a formação
de NH
4
+
(Fig. 32). O NH
4
+
ou amônio pode ser usado como fonte de N por outros organismos
(assimilação), transformado em NO
3
-
(nitrificação) ou liberado para a atmosfera
(desnitrificação). O nitrogênio que escapa da mineralização é incorporado nos sedimentos,
principalmente querogênios, durante a diagênese ou consumido pela predação do fitoplâncton
pelo zooplâncton (Figura 32). O fracionamento isotópico do nitrogênio ocorre durante a
desnitrificação (NO
3
N
2
), ou seja o N
2
é retirado da atmosfera por meio da fixação
biológica e retorna para ela pela desnitrificação. Esses dois processos controlam a
composição isotópica do nitrogênio orgânico. Durante a desnitrificação o
14
N retorna
preferencialmente à atmosfera, deixando NO
3
-
enriquecido em
15
N na água dos oceanos com
valores em média de δ
15
N de +6‰ (Liu & Kaplan 1988, Wada et al. 1975).
70
Figura 32 Ciclo biológico do Nitrogênio no ambiente marinho atual. As variações de
δ
15
N estão indicadas em ‰ abaixo de cada processo. Modificado de Beaumont &
Robert (1999).
Os valores de δ
15
N da Formação Tamengo são isotopicamente positivos variando de
+3,2 a +4,8‰ semelhantes aos valores encontrados em amostras marinhas fanerozóicas que
variam de 0 a +10 ‰ (Figura 34). Mudanças através do tempo geológico da composição
isotópica do nitrogênio atmosférico ou a preservação diagenética seletiva dos compostos
orgânicos portadora de nitrogênio não podem ser aventadas para esta variação isotópica. Hoje
a matéria orgânica marinha exibe valores positivos de
15
N refletindo o enriquecimento deste
elemento a partir do nitrato dissolvido (NO
3
-
) o que não acontecia em tempos arqueanos
devido à ausência de oxigênio (Figura 43). Valores negativos de
15
N sugerem um
fracionamento isotópico metabólico em condições anóxicas com microorganismos usando
formas de nitrogênio reduzidas (N
2
, NH
4
+
). Os dados plotados no gráfico δ
13
C versus δ
15
N
não mostram uma dispersão e apresentam uma tendência de correlação positiva sugerindo a
presença de um oceano oxidado (Fig. 33). Os valores enriquecidos encontrados na Formação
Tamengo sugerem uma atmosfera já rica em oxigênio durante a deposição, o que permitiu
uma produção biológica de NO
3
-
expressiva e seu uso como fonte para o nitrogênio orgânico.
Esta afirmação vem de encontro com os dados de δ
13
C e TOC.
71
Figura 33. δ
13
C versus δ
15
N para as fácies carbonáticas portadoras de Cloudina do
Grupo Corumbá. Os valores isotópicos são expressos em ‰. Onde: Círculos
fechados representam amostras do Perfil E, e o circulo aberto representa amostra do
Perfil C.
72
Figura 34 Evolução da composição isotópica do nitrogênio comparado à evolução do
nível de oxigênio atmosférico ao longo do Pré-cambriano até o recente. Observar
que a composição isotópica do nitrogênio torna-se cada vez mais enriquecida a
partir do aumento da concentração de oxigênio até os tempos mais recentes.
(Beaumont & Robert 1999).
73
7.3 AVALIAÇÃO DO HABITAT DE Cloudina
Os dados faciológicos realizados nos intervalos onde Cloudina é considerado in situ
(Tab.4, Fig 16) indicam que este macrofóssil habitou um ambiente oxidante entre barras
oolíticas no shoreface que, por sua vez, forneciam proteção parcial contra a ação das correntes
(Fig 28). Situação análoga é descrita por Seilacher (1999), onde os refúgios seriam
propiciados por construções estromatolíticas, e Vidal et al. (1994) onde os refúgios estariam
associados com baixios oolíticos. Por outro lado, Cloudina ocorre também fragmentada,
formando coquinas no topo de ciclos de tempestitos (perfis D e E), indicando retrabalhamento
do seu habitat natural no shoreface e redeposição por tempestades na zona de offshore.
Cloudina parece ter tido condições paleoambientais com níveis de oxigênio semelhantes ao
atual, sem perturbação no ciclo do nitrogênio que permitiu uma intensa proliferação deste
indivíduo e a acumulação de níveis ricos em matéria orgânica como indicados pela
concentração de carbono total deste intervalo.
74
8 CONCLUSÕES
A análise de fácies realizada nas sucessões carbonáticas do Grupo Corumbá permitiu a
individualização de 15 fácies sedimentares que foram englobadas em 4 associações
representativas de um modelo de rampa carbonática de margem continental passiva.
A Formação Bocaina é constituída de duas associações de fácies: 1) planície de intermaré,
que consiste de quartzo-arenitos finos, com grãos bem selecionados e arredondados,
cimentados por dolomita, dolomitos finos com estromatólitos estratiformes e colunares,
porosidade fenestral/bird´s eyes e gretas de contração; e 2) baixios de submaré, formados por
dolomitos intraclásticos, arenitos finos e folhelhos subordinados. Estruturas deformacionais
ocorrem em ambas as associações e são relacionadas a processos de liquefação e
fluidificação, possivelmente induzidos por sísmicidade.
A Formação Tamengo consiste nas associações de: 1) shoreface com barras oolíticas,
caracterizada por grainstones intraclásticos e oolíticos, e ritmitos mudstone calcífero/folhelho
betuminosos com macrofósseis Cloudina aparentemente in situ; e 2) offshore influenciado por
tempestades constituído por calcários cristalinos com raros grãos terrígenos, acamamento
maciço, estratificação cruzada hummocky/swaley, laminação cruzada de baixo-ângulo e
fragmentos de Cloudina, pelitos e folhelhos subordinados.
Os argilominerais dos pelitos e folhelhos da Formação Tamengo são constituídos
principalmente por interstratificado ilita/esmectitta, ilita e caulinita que sugerem clima semi-
árido a árido, com períodos de umidade.
Os dados faciológicos dos intervalos com Cloudina in situ, indicam que este fóssil habitou
um ambiente oxidante protegido entre barras oolíticas no shoreface. Enquanto que conchas
fragmentadas de Cloudina, formando coquinas, são condizentes com o retrabalhamento do
seu habitat natural no shoreface e a redeposição por tempestades na zona de offshore.
Contudo, se fazem necessário novos estudos a respeito da tafonomia deste fóssil para a
confirmação dessas interpretações.
Os valores positivos de δ
13
C (1,5 a 5,4‰) e δ
15
N (entre 3,5 e 4,5‰) encontrados em
amostras com Cloudina indicam pouca perturbação no ciclo do nitrogênio, o que permitiu
uma intensa proliferação deste indivíduo e a acumulação de níveis ricos em matéria orgânica
como indicada pela concentração de carbono total deste intervalo (TOC de até 0,41%). O
75
ambiente deposicional do habitat neoproterozóico de Cloudina parece ter tido concentração
de oxigênio semelhante à encontrada na atual interface atmosfera/oceano.
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