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do sujeito - organiza o real, permitindo a construção das grandes categorias
das ações: os esquemas do objeto permanente, do espaço, do tempo e da
causalidade. Desses movimentos simples seguem-se os exploratórios,
considerados como jogos funcionais, pois são repetidos pelo prazer sensorial
que proporcionam. Posteriormente, o que agradará à criança não é o ato pelo
resultado da ação, mas o como e o porquê desse ato, dando lugar ao prazer de
repeti-lo. Isso denota o aparecimento do lúdico.
Dessa maneira, enquanto o jogo funcional resulta de um impulso interno
de tendências, no princípio do lúdico existe uma necessidade mais ampla da
criança de se auto-afirmar, de revelar seus poderes. Nessa fase, até os dois
anos, já se pode observar a existência de uma consciência de legalidade, dado
alguns acontecimentos naturais cíclicos (dia, noite) e também, organicamente,
de ritmos, regulações diversas e o princípio da reversibilidade. Enfim, surgem
as regras motoras ou rituais e não regras, propriamente, coletivas e coercitivas.
São suportadas, inconscientemente, como algo interessantes e não de
realidade obrigatória. Inicia-se, então, a consciência relativa da regularidade.
Montessori, que possuía formação de médica e educadora, em A
Criança (1986), adverte sobre a necessidade de se permitir que a criança
interaja em seu espaço, de maneira a experimentar todas as situações
possíveis. Destaca que o adulto, não tendo ainda compreendido a vital
necessidade da atividade manual infantil, nem a tendo reconhecido como
primeira manifestação de um instinto de trabalho, impede o infante de agir, de
ajudar, de trabalhar. Exemplifica, esclarecendo que, se uma criança verifica
que um enfeite está fora do lugar numa mesinha e se lembra da posição
habitual, procurará endireitá-lo, se a deixarem repor algo no seu lugar, tal como
viu, constitui o triunfante agir do seu estágio de desenvolvimento. E
complementa, afirmando que o ritmo não é uma idéia velha que se possa
mudar, ou uma nova que se compreenda. O ritmo de atividade faz parte do
indivíduo, é característica inata.
O método de Montessori (1986), inicialmente criado e aplicado em
crianças excepcionais e aplicado mais tarde a crianças "normais", sofreu
algumas críticas em função do material didático específico para cada