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FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM TEORIA DA LITERATURA
JESIANE MARION FERNANDES
A PRODUÇÃO CULTURAL JUVENIL
E A CONTEMPORANEIDADE: A
COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR
Porto Alegre
2010
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JESIANE MARION FERNANDES
A PRODUÇÃO CULTURAL JUVENIL E A
CONTEMPORANEIDADE: A COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR
Dissertação apresentada como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Teoria
da Literatura pelo Programa de Pós-Graduação
da Faculdade de Letras da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profa. Dr
a
. Maria Tereza Amodeo
Porto Alegre
2010
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
F363p Fernandes, Jesiane Marion
A produção cultural juvenil e a contemporaneidade: a Coleção
Primeiro Amor. / Jesiane Marion Fernandes. – Porto Alegre,
2010.
139 f.
Dissertação (Mestrado em Teoria da Literatura) – Faculdade
de Letras, PUCRS.
Orientação: Profa. Dra. Maria Tereza Amodeo.
1. Teoria Literária. 2. Cultura Contemporânea. 3. Literatura
Juvenil – História e Crítica. 4. Estudos Culturais. 5. Globalização.
6. Pós-Modernidade. 7. Indústria Cultural. I. Amodeo, Maria
Tereza. II. Título.
CDD 028.509
Ficha elaborada pela bibliotecária Cíntia Borges Greff CRB 10/1437
JESIANE MARION FERNANDES
A PRODUÇÃO CULTURAL JUVENIL E A
CONTEMPORANEIDADE: A COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR
Dissertação apresentada como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Teoria
da Literatura pelo Programa de Pós-Graduação
da Faculdade de Letras da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Aprovada em 13 de janeiro de 2010.
Banca Examinadora:
Orientadora: Profa. Dr
a
. Maria Tereza Amodeo
PUCRS
Profa. Dr
a
. Flavia Brocchetto Ramos
UCS/Caxias do Sul
Profa. Dr
a
. Vera Teixeira de Aguiar
PUCRS
3
Dedico esta dissertação à minha família: meus pais, Odete
Marion e Jeziel Dávalos (In Memorian), meus amores
Fabiano e Sofia, meus irmãos Julia e Fernando.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minhae, Odete Marion, pelo amor, apoio incondicional, incentivo à
leitura desde muito cedo e por ser uma avó tão dedicada nos momentos mais
atribulados de elaboração da dissertação nos últimos dois anos.
À Professora Dr. Maria Tereza Amodeo, por ser uma orientadora dedicada, segura, atenta e
inspiradora, que seguiu à minha frente nessa estrada desafiadora, iluminando o caminho.
Ao Fabiano e à Sofia, por toda a compreensão, amor, paciência e apoio.
À minha irmã Julia, pelos e-mails e mensagens instantâneas sempre que necessário.
Ao meu filho Bento, que está chegando, trazendo
amor e alegria para a etapa final deste trabalho.
A todos os amigos e familiares que, de alguma maneira, acompanharam a realização
deste trabalho, especialmente à Estela, ainda na época da prova de seleção, com
seu precioso auxílio gramatical, e à minha tia Norma, tão importante na
nossa casa, com sua presença e dedicação.
A todos os professores do PPGL da PUCRS, especialmente à Professora Dr. Vera Teixeira
de Aguiar, por auxiliar na qualificação da dissertação com orientações valiosas, e ao
Professor Dr. Luiz Annio de Assis Brasil, pela honra de ter sido sua aluna.
Nunca mais lerei ou escreverei da mesma forma.
Aos amigos e colegas de curso, pelo companheirismo, e pelos
intervalos compartilhando preocupações e idéias.
Ao CAPES, pelo suporte financeiro.
5
“Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de padias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
‘Minha pátria é minha língua’
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem”.
“Eu não espero pelo dia
Em que todos
Os homens concordem
Apenas sei de diversas
Harmonias bonitas
Possíveis sem juízo final.
Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem mundia”.
Caetano Veloso
6
RESUMO
A presente pesquisa, situada na área da Teoria da Literatura e da Literatura Juvenil, com
implicações teóricas advindas dos Estudos Culturais, pretende analisar a produção literária
contemporânea oferecida aos jovens, que se expande de forma veloz e abundante. Com o
intuito de desenvolver um consistente olhar crítico sobre esse nicho cultural, buscou-se o
aporte teórico da arte literária para o exame da coleção da Editora Ática denominada Primeiro
Amor, que representa uma amostra da produção textual recente voltada para jovens. O
trabalho examina, por meio do estudo dessa coleção de livros, as preferências e/ou
contingências de leitura de adolescentes no contexto s-moderno da globalização cultural e
da indústria cultural de massa. Busca apresentar informações que auxiliem os envolvidos nos
processos de leitura, no sentido de promoverem o refinamento artístico, a fruição literária e a
avaliação crítica de obras que, hoje, se oferecem aos novos leitores. O estudo da cultura
contemporânea, incluindo o uso da Internet como ferramenta de leitura e pesquisa a respeito
das características da indústria cultural e da cultura de massa, contribuiu para contextualizar o
objeto em questão. A Coleção Primeiro Amor, composta por 19 títulos lançados entre os anos
de 1995 e 2006, constitui-se, segundo dados da editora, em sucesso de vendas; gerando
intensa movimentação na Internet, em comunidades de relacionamento, promovendo,
inclusive, digitalização e troca de arquivos virtuais sobre literatura juvenil. A abordagem
adotada recupera elementos caracterizadores do gênero literário juvenil da mesma forma que
a leitura vista na perspectiva sociológica, relacionando às formas populares narrativas, que
envolvem o leitor no contexto da produção-divulgação-circulação literária.
Palavras-chave: Literatura juvenil. Cultura contemporânea. Teoria literária. Estudos
culturais. Globalização. Pós-modernidade. Indústria cultural.
7
RESUMEN
Esta investigación situada en el área de la Teoría de la Literatura y de la Literatura para
jóvenes con implicaciones teóricas derivadas de los estudios culturales, pretende analizar la
producción literária contemporánea ofrecida a los jóvenes, que se expande de forma veloz y
abundante. Con la intención de desarrollar una consistente mirada critica sobre ese nicho
cultural, se buscó el aporte teórico del arte literária para el examen de la colección de la
Editora Ática denominada “Primer Amor que representa una muestra de la producción
textual reciente orientada a los venes. El trabajo examina, a través del estudio de esta
colección de libros, las preferencias y / o lectura de los contingentes de los adolescentes en la
post-globalización y de la industria cultural moderna y de la cultura de masas. Trata de
presentar información para ayudar a las personas involucradas en los procesos de lectura a fin
de promover el refinanamiento artístico, la fruicn literária y la evaluación crítica de obras
literarias que se ofrecen actualmente a los nuevos lectores. El estudio de la cultura
contemporánea, incluyendo el uso de Internet como una herramienta de lectura y de
investigación al cumplimiento de las características de la industria cultural y la cultura de
masas, contribuyó a contextualizar el objeto en cuestión. La colección Primer Amor,
compuesto por 19 títulos publicados entre 1995 y 2006, constituye, según el editor, en êxito
de ventas, envolviendo intenso movimiento en la Internet, en comunidades de
relacionamiento, incluso mediante el fomento del intercambio y la exploración de archivo
virtual sobre literatura juvenil. El enfoque adoptado recupera elementos caracterizadores del
género literario de la juventud de la misma forma que la lectura vista en la prespectiva
sociológica, relacionando a las formas populares narrativas, que envuelven el lector en el
contexto de la producción-divulgación-circulación literaria.
Palabras clave: Literatura Infantil. Cultura contemporánea. Teoría literaria. Estúdios
Culturales. Globalización. Postmodernidad. Industria cultural.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Canais do mercado para acesso ao livro ............................................................... 30
Figura 2 - Motivações para escolher onde comprar livros..................................................... 31
Figura 3 - Como os leitores costumam ler livros................................................................... 38
Figura 4 - Taxa de penetração da leitura por idade................................................................ 39
Figura 5 - Compradores de livros no Brasil .......................................................................... 39
Figura 6 - Número de livros lidos por ano ............................................................................ 40
Figura 7 - Principais formas de acesso aos livros por idade .................................................. 40
Figura 8 - Gêneros mais lidos por idade ............................................................................... 41
Figura 9 - O consumo dos adolescentes de 13 anos .............................................................. 47
Quadro 1 - Perfil da Comunidade Amo a Coleção Primeiro Amor........................................ 55
Quadro 2 - Dados catalográficos da Coleção Primeiro Amor................................................ 61
Quadro 3 - Demonstrativo das funções de Propp em: O amor pode esperar.......................... 85
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - População residente no Brasil, por sexo e grupos de idade - 2000........................ 37
Tabela 2 - Downlads dos títulos da coleção Primeiro Amor.................................................. 54
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 12
2 A ARTE LITERÁRIA PARA JOVENS NO CONTEXTO DA PÓS-
MODERNIDADE............................................................................................................ 16
2.1 A NOVA ORDEM MUNDIAL...................................................................................... 16
2.2 ARTE LITERÁRIA E INDÚSTRIA CULTURAL......................................................... 26
2.3 JOVEM E CONTEXTO CULTURAL ........................................................................... 32
2.4 A LITERATURA JUVENIL CONTEMPORÂNEA....................................................... 42
3 CAMINHOS DA LEITURA: DO LIVRO À INTERNET ............................................ 49
3.1 UM POUCO DESTA HISTÓRIA.................................................................................. 49
3.2 A LEITURA VIRTUAL DA COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR....................................... 51
4 A COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR NO ÂMBITO DA LEITURA PARA
JOVENS........................................................................................................................... 57
4.1 A COLEÇÃO: CONTEXTO DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO ................................ 57
4.2 OS TEXTOS: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS............................................... 66
4.2.1 Narrador e estrutura narrativa ............................................................................... 66
4.2.2 As Personagens ......................................................................................................... 67
4.2.3 Os Temas ................................................................................................................... 70
4.2.4 A relação entre jovens, adultos e sociedade ............................................................. 74
4.2.5 Linguagem/clichês/diálogo com o leitor.................................................................... 76
4.3 O AMOR PODE ESPERAR, UM OLHAR MAIS PARTICULAR ................................ 78
4.4 ENTRE TEXTOS E CONTEXTOS, A COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR........................ 86
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 92
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 95
11
APÊNDICES.................................................................................................................... 101
APÊNDICE A - Análise de textos da coleção Primeiro Amor ............................................ 102
APÊNDICE B - Pesquisa sobre a Coleção Primeiro Amor - Editora Ática - Contexto de
prodão............................................................................................................118
APÊNDICE C - Contexto de circulação............................................................................. 120
APÊNDICE D - Informações encontradas sobre as autoras dos textos da Coleção
Primeiro Amor......................................................................................... 121
ANEXOS .......................................................................................................................... 124
ANEXO A - Conceituação sobre o fenômeno tween........................................................... 125
ANEXO B - Reportagem sobre o poder econômico dos pré-adolescentes........................... 127
ANEXO C - Reportagem sobre a influência dos tweens na economia................................. 128
ANEXO D - Reportagem sobre desejos de consumo de adolescentes de 13 anos................ 130
ANEXO E - Reportagem sobre venda de lançamentos juvenis na Feira do Livro de Porto
Alegre.......................................................................................................................132
ANEXO F - Entrevista sobre a Coleção Primeiro Amor..................................................... 133
ANEXO G - Correspondência eletrônica com a editora assistente de literatura juvenil da
Editora Ática ................................................................................................. 134
ANEXO H - Quadro demonstrativo dos romances da Editora Nova Cultural...................... 136
ANEXO I - Roteiros de trabalho pedagógico sugerido pela Ática Educacional ............... 138
12
1 INTRODUÇÃO
De acordo com recentes pesquisas sobre a leitura no Brasil, ao contrário do que refere
o senso comum, os jovens lêem, e lêem mais do que os adultos. Entretanto, é possível que
esse grupo leitor não esteja familiarizado com os cânones da literatura, ou o tenha ainda
iniciado - em sua maioria - a apreciação dos clássicos. Isso justifica a presente refleo: a
necessidade de conhecer as diferentes categorias de produção literária juvenil, a fim de
estabelecer critérios para oferta ou recomendação de leitura para jovens - ação que pode ser
realizada por educadores, teóricos da literatura, além dos demais mediadores de leitura.
O conhecimento acerca da literatura de massa - consumida avidamente por jovens leitores,
em escala mundial - é necessário, por tratar-se de uma realidade cultural, com implicações sociais,
que afeta a própria formação leitora. A presença (e popularidade) da literatura de massa constitui-
se em fenômeno irreversível. É imperioso, nesse contexto, que pesquisadores e demais
interessados conheçam as características que compõem tais produtos culturais.
Os argumentos favoráveis e contrários à literatura de massao variados. Alguns
fatores positivos podem ser apontados, segundo Zilberman (1987), como consequência de tais
produtos: eles estimulam o hábito leitor, criam a possibilidade de novos leitores
estabelecerem proximidade com os livros, além de contribuírem para o aquecimento da
indústria livreira. Por outro lado, elementos como a origem internacional dos textos, em
detrimento das produções nacionais, além do reduzido valor artístico, próprio da produção em
série, geram sobre as obras uma crítica que as incluem na categoria de literatura menor.
Por representar de maneira incontestável a preferência de grande grupo leitor,
possuindo relevância social, a literatura de massa merece uma avaliação reflexiva, que
considere suas origens, sua inter-relação com a história da literatura e com a própria história
social, para não ser considerada simplesmente “ruim” ou “menor”.
A expansão de tal literatura é um fenômeno da s-modernidade, período histórico e
cultural que Jameson (2007, p.13) caracteriza como “o que se tem quando o processo de
modernização está completo e a natureza se foi para sempre”. Segundo o autor, é um
momento em que a cultura amplia sua esfera mercadológica e torna-se produto, sendo seu
consumo um processo natural e integrado ao cotidiano do sujeito pós-moderno. É incontável a
quantidade de leitores que se valem de tais textos como seu único instrumento de formação
literária, seja como objeto sico ou por meio eletrônico. Portanto, o ideal é que um meio cultural
de tamanha expreso possa ser avaliado sob a ótica de estudos pluralistas, que o contextualizem
13
no campo da literatura e da sociedade. Candido (2005, p. 13) afirma:
O estudioso de literatura visa essencialmente ao conhecimento e análise do texto
literário. Este apresenta dois aspectos básicos: a) acessório; b) essencial. O primeiro
é a sua realidade material (aspecto, papel, caligrafia, tipo, estado do texto etc.), mais
a sua história (por quem, como, onde, quando, em que condições foi escrito). É, por
assim dizer, o corpo da obra literária e a história deste corpo. O segundo é a sua
realidade íntima e finalidade verdadeira: natureza, significado, alcance artístico e
humano. É, de certo modo, a sua alma.
Somente a partir da pesquisa literária e social de determinada obra, será possível
realizar inferências sobre os diferentes gêneros que compõem a literatura de massa, que,
segundo Zilberman (1987, p. 8), não pode ser vista “como um bloco homogêneo e indistinto
de textos com os mesmos problemas e peculiaridades”. Para qualificar tal espécie de
avaliação, uma visão analítica multidisciplinar pode ser bastante eficiente, ao buscar
conhecimento sobre a diversidade literária que se origina da indústria cultural.
Na busca por caminhos para a análise dos textos da Coleção Primeiro Amor, as vias
teóricas adotadas baseadas nos Estudos Culturais mostraram-se apropriadas. Elas
recomendam que a avaliação seja constituída sobre duas etapas: na primeira, o estudo
cuidadoso dos elementos literários propriamente ditos, a fim de estabelecer como eles
influenciam e sofrem influência de estruturas socioculturais, além de estéticas e psicológicas.
Uma caracterização que avalie elementos linguísticos, como enredo, conflitos, temática,
personagens e a própria linguagem. Tal avaliação não deve restringir-se aos elementos em si,
mas pesquisar sua funcionalidade psicológico-cultural, visto que essa funcionalidade resulta
de determinadas condições culturais, variáveis de acordo com os diferentes tipos de
sociedade, períodos, e da influência que esses elementos exercem sobre o autor.
Na segunda etapa do trabalho analítico, é enfatizado o campo de valores sociais e
culturais em que a obra es situada, focalizando os que ela enfatizou ou rejeitou.
Consequentemente, essa análise exibe algumas características de quem a investiga, tornando o
resultado da avalião algo em permanente mutação, por estar sujeita a diferentes perfis
investigativos. Segundo Bordini (2006, p. 14), “os pressupostos são de que qualquer sociedade
possui valores, que ela consti visões ordenadas de suas experiências, através de sistemas, rituais
e formas arsticas, que essa vivência de seus valores é um processo dialético, sempre incompleto
e sujeito à mudança”.
Ceccantini (2004) defende um método de abordagem do objeto “literatura juvenil”,
que esteja focado na “configuração textual da literatura” (CECCANTINI, 2004, p. 24),
14
apoiando que o estudo dos aspectos textuais seja realizado de forma interdisciplinar. Através de
tal pametro, o pesquisador buscaria a singularidade do texto através de sua estrutura
constitutiva, considerando que teticas ele aborda, quem o propõe (autor), de que forma
(estrutura textual) a partir de que lugar e momento, com quais necessidades e com que finalidades.
Após a contextualizão estrutural dos conteúdos, o foco volta-se para seu receptor, o leitor
jovem, buscando conhe-lo como indivíduo que influencia e é influenciado por diferentes
contextos culturais, econômicos e sociais.
No mundo em transformação, valores e concepções sociais interferem na produção
cultural. Novas situações do sistema social estão refletidas na atual literatura juvenil, que
aponta diferentes formas para as relações interpessoais. A compreensão de acontecimentos
extra-literários conduzirá a uma leitura crítica da produção voltada para jovens que, “[...] sem
deixar de ser um instrumento de emoção, diversão ou prazer, poderá auxiliar, e muito, a tarefa
da Educação, no abrir caminho aos que estão chegando, em direção à nova mentalidade a ser
conquistada por todos, em breve tempo (COELHO, 2000, p. 27).
Além do aporte teórico dos Estudos Culturais, o presente trabalho busca a compreensão
dos acontecimentos extra-literios por meio da contribuição da Sociologia da Leitura. Dessa
forma, é possível conhecer teorias que tratam do livro como objeto ao longo da história, além do
desenvolvimento social da leitura, desde suas origens até derivar no fenômeno da leitura na rede
cibernética - realidade que alcança escalas ascendentes. São as novas configurações do livro e da
leitura que merecem olhar atento, pois os textos vão assumindo novas significações, à medida que
seus leitores e o próprio mundo se modificam.
Para Chartier (1994, p. 12), reconstruir em suas dimensões históricas esse processo
de ‘atualização de textos exige, inicialmente, considerar que as suas significações são
dependentes das formas pelas quais eles são recebidos e apropriados por seus leitores”. Tal
apropriação pode ocorrer de diversas maneiras, através de diferentes olhares dos leitores,
olhares estes que serão, por sua vez, influenciados por vivências, experiências, ambiente e
hábitos do leitor. As normas e convenções que regem a fruição artístico-literária mudarão de
acordo com as diferentes comunidades de leitores. Portanto,
observar as redes de pticas e as regras de leituras pprias às diversas comunidades de
leitores (espirituais, intelectuais, profissionais, etc.) é uma primeira tarefa para se chegar
a uma história da leitura preocupada em compreender, nas suas diferenças, a figura
paradigmática desse leitor que é um furtivo caçador (CHARTIER, 1994, p. 14).
15
Finalmente, com o objetivo de analisar as estruturas textuais propriamente ditas, que
compõem o corpus da pesquisa, as contribuições da Teoria da Literatura foram muito
importantes. Desde o entendimento acerca dos tipos de narrador e personagem, da utilização
da linguagem até a construção dos personagens, os estudos nessa área são fundamentais para
constituir uma avaliação qualitativa de qualquer texto que se proponha literário.
A união de tais vertentes do conhecimento possibilitará o melhor entendimento acerca
da contemporaneidade, auxiliando a traçar um panorama sobre a produção literária juvenil
nesse contexto.
16
2 A ARTE LITERÁRIA PARA JOVENS NO CONTEXTO DA PÓS-MODERNIDADE
O contexto contemporâneo de produção literária destinada ao público juvenil e suas
implicações na formação dos jovens do século XXI deve ser estudado com o objetivo de
proceder a uma análise detalhada dos elementos que compõem o fenômeno literário.
O mundo globalizado, pós-capitalista e pós-moderno, possibilitou a atual configuração
assumida nas relações econômicas, com consequências sociais e artísticas. Surge um novo
intercâmbio do homem com as artes e a literatura, o que também determina mudanças dos
hábitos de consumo e de leitura dos jovens. A literatura juvenil ganha um expressivo impulso
nesse contexto. Para compreender o principal objeto da análise, a literatura juvenil no
contexto contemporâneo, torna-se necessário antes traçar um breve hisrico sobre como foi
caracterizada a figura do jovem até a atualidade, seus hábitos de consumo e leitura. Por fim,
apresenta-se um estudo que trata das formas que a leitura assume na s-modernidade, com
base em informações a respeito da circulação da Coleção Primeiro Amor na Internet.
2.1 A NOVA ORDEM MUNDIAL
Eis que começa nas feiras de amostras e máquinas de níqueis a segunda
industrialização: a que se processa nas imagens e nos sonhos. A segunda
colonização, não mais horizontal, mas desta vez, vertical, penetra na grande
reserva que é a alma humana.
Edgar Morin
Ao longo da segunda metade do século XX, com as marcas da Segunda Guerra
Mundial, surgiram circunstâncias que determinaram modificações nas relações sociais, cujos
efeitos se estenderam até o século XXI, o que influenciou a produção cultural contemporânea
de maneira permanente. A crescente industrialização, a revolução tecnológica e o
fortalecimento do capitalismo como sistema de produção, além da globalização mundial,
modificaram profundamente as relações de capital, consumo, mercado e produção.
Assim, o estabelecimento de uma nova ordem mundial, que assumiu maior
visibilidade e força nas últimas décadas do século XX, trouxe reformulações profundas para
todas as estruturas conhecidas e, até então, consideradas válidas. A globalização mundial é o
17
movimento que configura a realidade atual do planeta, em todas as suas instâncias de relação
e de produção. Ela apresenta aos olhos pós-modernos de seus cidadãos um momento de
ruptura com as tradições, propondo a revisão do papel do homem, convidado a atuar como
protagonista em um ambiente de mudanças e incertezas, onde uma nova sociedade se articula.
Ianni (1997, p. 7) defende ser o “globalismo” um movimento que possibilitou a
constituição de uma nova sociedade, global, não mais dividida, fragmentada. Ele “expressa
um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório
de alcance mundial” (IANNI, 1997, p.11).
É um processo de transformação natural da história humana, marcado por mudança e
movimento. A Hisria não ocorre sob a forma de processos contínuos ou rígidos, mas
exibindo movimento e descontinuidade em muitos níveis, gerando reviravoltas, revies e
reestruturação:
uma vez, no final do culo XX, o mundo se conta de que a história não se resume no
fluxo das continuidades, sequências e recorrências, mas que envolve tamm tensões,
rupturas e terremotos. Tanto é assim que permanece no ar a impressão de que terminou
uma época, terminou estrondosamente toda uma época; e comou outra não
diferente, mas muito diferente, surpreendente (IANNI, 1997, p. 12).
Uma das consequências das novas formações sócio-econômicas foi o surgimento das
sociedades de consumo, com características específicas, vinculadas ao sistema econômico
vigente. Elas sofrem influência, segundo Jameson (2007, p. 29), não mais do “capitalismo
clássico, a saber, o primado da produção industrial e a onipresença da luta de classes”, mas do
processo de globalização econômica e política.
As tecnologias nascentes, o surgimento e valorização de novos mercados, a
descentralização de poder geopolítico, as novas parcerias econômicas, a globalização do
próprio capital e as crescentes possibilidades de inovação em produção serviram para
impulsionar alterações no antigo sistema de produção capitalista. Outras transformações que
devem ser consideradas são as relativas às formas de distribuição, divulgação e circulação de
bens e serviços, antes centralizados e agora redistribuídos, criando novos territórios
econômicos. Além disso, a democratização da economia, possibilitando que uma imensa
massa de assalariados participe dos ciclos de compra e venda, igualmente contribui para
transformar mercados.
18
O modo de produção não pode mais seguir um modelo inflexível. A padronização
produtiva, preconizada pelo fordismo
1
, agora segue a gica global, buscando aliar
produtividade com capacidade competitiva e características inovadoras. A identidade
individual, a hegemonia e soberania das nações, a cidadania e seu exercício, tudo passa a ser
influenciado por diretrizes globais, não mais locais ou regionais, tendo sua atuação e
conceitos revistos e ampliados.
Na economia globalizada, o mercado de circulação de produtos - inclusive os culturais
- relaciona-se com a elaboração de ações, seguindo “escala nacional, regional e mundial.”
(IANNI, 1997, p.19). O planejamento de estratégias industriais, empresariais e culturais segue
análises detalhadas das realidades de mercado, sobre o público consumidor, seu perfil,
necessidades e desejos.
O mundo global pode ser caracterizado como uma teia, uma rede interligada em que
todas as esferas estão relacionadas, internamente com os indivíduos que a compõem, e
externamente, umas com as outras, todas influenciando e sendo influenciadas pelas ações
desenvolvidas em cada ponto.
Nessa teia, também a cultura reformula-se. Surge a busca pela regionalização cultural,
como uma tentativa de preservar os interesses locais, mesmo no contexto global; observa-se a
necessidade de reconstituição das identidades individuais e coletivas, através do
redimensionamento do passado, alterado para fazer-se novo e presente; modificam-se
imaginários culturais e visões de mundo. Tal movimento de auto-reestruturação da cultura
pode servir para qualificar artisticamente seus produtos, apresentando-os mais complexos e
elaborados, com tantas e tão diversas contribuições e contrapontos. Ou, no outro extremo, por
conta da ação esmagadora do capitalismo, pode resultar em produtos culturais despidos de
qualquer intenção artística ou estilística:
É claro que são muitas as formas culturais mutiladas ou mesmo destrdas pela
globalização. O capitalismo expande-se mais ou menos avassalador em muitos lugares,
recobrindo, integrando, destruindo, recriando ou subsumindo. São poucas as formas de
vida e trabalho, de ser e imaginar, que permanecem incólumes diante da ão
“civilizaria” do mercado, empresas, foas produtivas, capital (IANNI, 1997, p. 30).
1
Idealizado pelo empresário Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford Company, o fordismo é um modelo de
produção em massa que revolucionou a indústria automobilística a partir de 1914, ao introduzir a primeira
linha de montagem automatizada. Ford utilizou à risca os princípios de padronização e simplificação de
Frederick Taylor e desenvolveu outras técnicas avançadas para a época. Criou o mercado de massa para os
automóveis. Sua obseso era tornar o automóvel tão barato que todos poderiam comprá-lo. Fonte: Wikipédia.
Dispovel em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fordismo>. Acesso em: 25 jun. 2009.
19
Inserida no contexto das formações mundiais emergentes, a produção cultural
contemporânea acompanha o processo que o capitalismo atravessa, denominado por Jameson
(2007, p. 29) de “capitalismo multinacional”. Os produtos culturais são planejados e
distribuídos em série, travestem-se de estilos mercadológicos que os tornam palatáveis e
vendáveis ao grande público, submetem-se a ordens de mercado no que se refere à sua
circulação. Tornam-se enfim, produto:
A produção estética hoje está integrada à produção de mercadorias em geral: a
urgência desvairada da economia em produzir novas séries de produtos que cada vez
mais pareçam novidades (de roupas a aviões) [...] atribui uma posição e uma função
estrutural cada vez mais essenciais à inovação estética e ao experimentalismo
(JAMESON, 2007, p. 30).
Além das características que assume por fazer parte de um novo panorama econômico,
em que produz objetos para consumo, a cultura contemporânea sofre transformações políticas,
hisricas e antropológicas. A cultura letrada não é mais um campo canônico, reservado à elite;
estabelece uma rie de relões com a sociedade onde é produzida e com seu receptor. Bhabha
(1998, p.19), cita uma “sensação de desorientação” em relão à cultura atual. A
contemporaneidade é um período de sobrevivência, de valorização do presente, uma época de
transição, em que “espaço e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferença e
identidade, passado e presente, interior e exterior, incluo e exclusão” (BHABHA, 1998, p.19).
Os modelos de identidades sociais na contemporaneidade, com papéis e atribuões
estabelecidos e difundidos por décadas pela tradição cultural dos diferentes povos, estão
sendo revistos. Novos critérios atuam o mais a partir dos antigos modelos de identificação
iniciais, mas considerando as diferenças culturais. O homem contemporâneo o é um
observador passivo, e sim, indivíduo que influencia com suas singularidades o quadro geral
de mudanças no mundo globalizado.
Com as condições da pós-modernidade para a constituição de identidades culturais, a
epistemologia e a narrativa histórica não podem mais ser definidas por apenas um grupo
dominante. Novas vozes (queo são novas, mas passam a ser ouvidas), ganham força; a cultura
e a história passam a ter seus contornos redefinidos, a partir da narrativa de experiências desses
sujeitos que adquirem poder:mulheres, colonizados, grupos minoririos, os portadores de
sexualidades policiadas(BHABHA, 1998, p. 24). Para o autor, conhecer ou definir o presente
passa pelo reconhecimento de que esse tempo
20
o pode mais ser encarado simplesmente como uma ruptura ou um vínculo como o
passado e o futuro, não mais uma presea sincrônica: nossa autopresea mais
imediata, nossa imagem pública, vem a ser revelada por suas descontinuidades, suas
desigualdades, suas minorias (BHABHA, 1998, p. 23).
O resultado das novas conformações sociais e econômicas em nível mundial é certamente
positivo para a produção e distribuição da cultura, ainda que tal circuito careça de ampla crítica
para tornar possível sua teorização de maneira profunda.
Houve ampliação do acesso à cultura, tornada mais barata, popular e aberta a formas
menos canônicas, a partir do momento em que produzida em massa. Ocorreu a globalização do
conhecimento e das informões - por vezes em uma velocidade estonteante -, trazendo novos
narradores para o centro da circulação cultural. Reduziram-se as hegemonias econômicas e
políticas tradicionais, abrindo espaço para novas visões sobre a cultura. Assim, a cultura
disseminou-se, como uma explosão, influenciando e sendo influenciada por todos os estratos da
sociedade em que está inserida. Sabe-se que ocorreu
uma prodigiosa expansão da cultura por todo o domínio do social, até o ponto em que
tudo na nossa vida social - do valor econômico e do poder do Estado às práticas e à
própria estrutura da psique - pode ser considerada como cultural, em um sentido original,
que não foi, até agora teorizado (JAMESON, 2007, p. 74).
A nova forma assumida pela produção cultural, estabelecendo relações intrínsecas
com seu meio, resulta da necessidade de estabelecimento de novas concepções sobre a própria
cultura,o mais baseadas em avaliações dissociadas da realidade. Os estudos sobre as
formas emergentes de produção cultural devem imbuir-se de intenções que busquem o fim de
tal distanciamento. De acordo com Jameson (2007, p.74), “estamos submersos, no que são, a
partir de agora, volumes dilatados e saturados a um ponto que nossos próprios corpos pós-
modernos estão desprovidos de coordenadas espaciais, incapazes na prática (e, é claro) na
teoria, de se distanciarem”.
Compreender o cenário histórico, político, social e econômico do mundo globalizado,
torna menos árduo o caminho para compreender as formas que a arte em geral - e também a
literatura - assumiu na contemporaneidade, assim como as razões de tal configuração. É tarefa
que requer abordagem reflexiva a partir de novos paradigmas, pois:
21
No âmbito da globalizão, quando coma a articular-se uma totalidade histórico-
geográfica mais ampla e abrangente que as conhecidas, abalam-se algumas realidades e
interpretações que pareciam sedimentadas. Alteram-se os contrapontos singular e
universal, espaço e tempo, presente e passado, local e global, eu e outro, nativo e
estrangeiro, oriental e ocidental, nacional e cosmopolita. A despeito de que tudo parece
permanecer no mesmo lugar, tudo muda. O significado e a conotação das coisas, gentes
e idéias modificam-se, estranham-se, transfiguram-se (IANNI, 1997, p. 39).
Adorno e Horkheimer (1985, p. 57) revisaram o conceito de cultura popular, que
pressupõe a existência de uma cultura produzida para o povo ou pelo povo em contraponto à
cultura produzida para as elites. Estabeleceram, então, o conceito da indústria cultural, produtora
de pseudo-cultura, ideal para ser consumida em todos os estratos sociais, estruturada sob a forma
de sistemas, em que “cada setor é coerente em si mesmo e todos o são em conjunto”, conferindo a
todos seus produtos um “ar de semelhança”.
No século XX, a indústria cultural converte-se em fenômeno mundial, estabelecida a
partir do crescente domínio tecnológico que, ao facilitar a produção em série, ou a
reprodutibilidade técnica
2
, dos conteúdos culturais, transforma-os em mercadoria. Nesse
período, surgem as primeiras manifestações daquela que será conhecida como cultura de
massa, a produção irrefreável de mercadorias culturais para consumo massivo, obedecendo às
normas da fabricação industrial. Tal forma de produção determina as novas formas
assumidas pela arte na contemporaneidade:
Sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica, e seu esqueleto, a
ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se delinear. Os dirigentes não
estão mais sequer muito interessados em encobri-lo, seu poder se fortalece quanto
mais brutalmente ele se confessa de público. O cinema e o rádio não precisam mais
se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a
utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente
produzem (ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p. 57).
Com a ocorrência de tal transformação econômica e mercadológica de consequências
sociais, a produção de conteúdos artísticos passou a ser “organizada no contexto das relações
capitalistas de produção, lançada em circulação no mercado e por este consumida”
(FREITAG, 1987, p. 56).
É com o surgimento da indústria cultural que as técnicas de reprodução, antes
existentes em escala bastante reduzida, assumem força como modo de produção da arte. Esse
movimento, segundo Benjamin (1985), resulta na perda do elemento até então considerado
2 Cf. teoria de Walter Benjamim. In: BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de suas técnicas de
reprodução.
22
identificador de uma obra de arte: sua aura”, seu hic et nunc (BENJAMIN, 1985, p.13), o
aqui e agora que caracterizaria o valor da obra em si. Se em épocas anteriores os produtos
culturais possuíam valor de uso, representando o “beloe sendo acessíveis a um estrato social
privilegiado, com o surgimento da indústria cultural, eles assumiram valor de troca, tendo seu
conteúdo artístico dissolvido durante o processo de produção e de reprodução.
Dessa forma, é necessário reavaliar a relação do homem com a cultura. O “clássico” é
revisitado, reinterpretado e oferecido na contemporaneidade sob a forma de produto,
obedecendo à lógica e à demanda de mercado, em todas as esferas da arte, seja no cinema, na
literatura, nas artes plásticas, tendo sua “aura” esmaecida através de técnicas de reprodução:
Na época das técnicas de reprodução, o que é atingido na obra de arte é sua aura.
[...] Multiplicando as cópias, elas transformam o evento produzido apenas uma vez
num fenômeno de massas. Permitindo ao objeto reproduzido oferecer-se à visão e à
audição, em quaisquer circunstâncias, conferem-lhe atualidade permanente. Esses
dois processos conduzem a um abalo considerável da realidade transmitida - a um
abalo da tradição, que se constitui na contrapartida da crise por que passa a
humanidade e a sua renovação atual. Estão em estreita correlação com os
movimentos de massa hoje produzidos (BENJAMIN, 1985, p. 14). (Grifo do autor).
É inegável que a indústria cultural democratizou o acesso à cultura. No entanto, tal
fenômeno não resiste a uma análise mais acurada, apontando o paradoxo apresentado pela
indústria cultural: possibilita acesso à arte, mas à custa da banalizão do conteúdo artístico.
Com o pretexto de parecer atraente ao consumidor, cega-o para a realidade:
Longe de “democratizar” um bem cultural, a indústria cultural, ao produzir ou
reproduzi-lo (em rie), tornando-o acessível a todos, passa a oferecê-lo, juntamente com
sabonetes, automóveis, sapatos e outros produtos de consumo, descaracterizando-o,
utilizando-o para vendar os olhos do consumidor, distorcer sua percepção, embalá-lo em
ilusões, subverter seu senso ctico. O produto (original ou reproduzido) da instria
cultural visa, em suma, entorpecer e cegar os homens da moderna sociedade de massa,
ocupar e preencher o espaço vazio deixado para o lazer, para que não percebam a
irracionalidade e injustiça do sistema capitalista, no qual estão inseridos como
marionetes, atuando no interesse da perpetuação ad infinitum das relações de produção
alienantes e exploradoras (FREITAG, 1987, p. 57). (Grifo do autor)
Em resumo, a instria cultural executa determinadas ações, como dissolver a
dimensão crítica do produto cultural original ao transformá-lo em bem de consumo de massa,
reproduzindo-o e distribuindo-o à exaustão. Também transforma o consumidor em indivíduo
sem crítica, cego para os mecanismos de funcionamento da indústria cultural, tima distrda da
rede de produção e de consumo. Por fim, converte arte em mercadoria, ao submeter sua
reprodução ao processo de produção industrial e serial.
23
Paulatinamente, a indústria cultural especializou-se na oferta de mercadorias culturais,
estabelecendo cririos de produção mais elaborados, que trazem a ilusão da exclusividade, com
produtos atrativos, especiais para seu público-alvo. Tal refinamento nas ações da indústria cultural
resultou em uma linguagem estética aplicada às mercadorias e produtos, tornando seu consumo
agradável, buscando seduzir, distrair e envolver o consumidor final:
Pois um gênero de estímulo forte com o qual a produção de mercadorias opera,
objetivando a valorizão, é o estímulo amoroso. Por conseguinte, um nero inteiro de
mercadorias lança olhares amorosos aos compradores, imitando e oferecendo nada mais
que os mesmos olhares amorosos, com os quais os compradores tentam cortejar os seus
objetos humanos de desejo. Quem busca o amor faz-se bonito e amável. Todas asias e
tecidos, perfumes e maquiagens oferecem-se como meio para representar a beleza e a
amabilidade. Do mesmo modo, as mercadorias retiram a sua linguagem estica do
galanteio amoroso entre os seres humanos (HAUG, 1985, p. 30).
Ao mesmo tempo, em nome da produção industrializada, burocratizada e em série, é
necessário haver uma homogeneização na linguagem proposta, para que o público possa
assimilar diferentes temas e conteúdos.
A fim de organizar tal circuito de produção e consumo, criam-se categorias de
produtos e consumidores. O público possui perfil e desejos diferenciados - derivados de seu
poder econômico, classe social, formação educacional e demais (quase infinitas)
possibilidades de seriação e classificação do consumidor. Os estudos mercadológicos
consideram tal perfil para definir o que será oferecido às massas. Dessa forma, são criadas
necessidades e oferecidas “respostas” para tais demandas, em um círculo da manipulação e
necessidade retroativa, no qual a unidade do sistema se torna cada vez mais coesa
(ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p. 57).
Os produtos assumem um caráter mágico, com distinções e valores agregados,
próprios para cada público, mas cuja real utilidade é ilusória, pois em verdade, servem apenas
para consolidar a unidade da própria indústria cultural, ao “mapearseu público, tornando-o
mais conhecido e esquematizado:
As distinções enfáticas que se fazem entre os filmes das categorias A e B, ou entre as
histórias publicadas em revistas de diferentes preços, têm menos a ver com seu
conteúdo do que com sua utilidade para a classificação, organização e computação
estatística dos consumidores. Para todos algo está previsto; para que ninguém escape
as distiões são acentuadas e difundidas. O fornecimento ao público de uma
hierarquia de qualidades serve apenas para uma quantificação ainda mais completa.
Cada qual deve se comportar, como que espontaneamente, em conformidade com seu
level, previamente caracterizado por certos sinais, e escolher a categoria dos produtos
24
de massa fabricada para seu tipo. Reduzidos a um simples material estatístico, os
consumidores são distribuídos nos mapas dos institutos de pesquisa (que não se
distinguem mais dos de propaganda) em grupos de rendimentos assinalados por zonas
vermelhas, verdes e azuis (ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p. 58).
Tal forma de produzir e consumir reforça a dissolução do “valor em si” do objeto, para
enfatizar o valor de troca ou investimento realizado sobre tal produto.
O sistema da indústria cultural funciona, portanto, através de circuitos de produção e
de consumo. Se as necessidades e soluções o reais, se elas são criadas pelo público ou para
o público, nada disso é questionado: o importante é manter o sistema em funcionamento.
A padronizão de forma, ou de fórmula, é a que termina por ser aplicada, resultando
em séries de produtos carregados de uma estética aparentemente opulenta, mas vazia de
conteúdos e significados, oferecidos através de diversas manifestações culturais, como
cinema, mídia impressa, televisão, em diversas partes do mundo.
Segundo Morin, o cater sincretizante e homogeneizante da cultura é perceptível
internacionalmente. “A tendência homogeneizante é ao mesmo tempo uma tenncia cosmopolita
que tende a enfraquecer as diferenciões culturais nacionais em prol de uma cultura das grandes
áreas transnacionais” (MORIN, 1962, p. 45). Ao considerar as tendências mercadológicas e
comerciais que orientam a atual produção artística e cultural, é possível compreender o fenômeno
da globalização, em que as fronteiras culturais eso cada vez mais dissolvidas.
Em suma, a organização burocrático-industrial da cultura de massas procura
estabelecer uma estruturação aceitável, possível e vendável da produção, apresentada de
forma burocrática e serial. Ao mesmo tempo, aponta o paradoxo representado pela busca
incessante da individualização dos produtos, apresentando-os como “originais” e
“diferenciados”, em resposta àquela demanda moderna que, além da produção emrie,
solicita a exclusividade máxima. A indústria cultural busca, portanto, a superação de uma
contradição fundamental, entre sua base burocrática e padronizada e a aura de novidade e
exclusividade que seus produtos devem oferecer. Segundo Morin (1962, p. 28),
A instria do detergente oferece sempre o mesmo pó, limitando-se a variar as
embalagens de tempos em tempos. A indústria automobilística pode individualizar as
ries anuais por renovações técnicas ou de formas, enquanto as unidades são idênticas
umas às outras, com apenas algumas diferenças-padrão de cor e de enfeites. No entanto,
a instria cultural precisa de unidades necessariamente individualizadas. Um filme pode
ser concebido em função de algumas receitas-padrão (intriga amorosa, happy end), mas
deve ter sua personalidade, sua originalidade, sua unicidade. [...] Por outro lado, a
informação, a grande imprensa, pescam cada dia, o novo, o contingente, o
“acontecimento, isto é, o individual (Grifo do autor).
25
A explicação para a possibilidade de equilibrar dois fatores opostos - produção
burocrática versus individualidade - está, de acordo com Morin (1962), na estrutura do
imagirio. Ela sustenta a estrutura da organização da produção industrial: o sistema, mesmo
paradoxal, torna-se aceitável ao oferecer um conteúdo que se vale de arquétipos - símbolos
comuns a toda humanidade - orientadores de sonhos, aspirações e desejos consumistas. Assim, a
indústria cultural simplifica conteúdos culturais a uma forma travestida de original, representada
por arquétipos que traduzem sonhos, desejados por consumidores de todo o mundo.
Um último aspecto a ser considerado e que necessita ser minimamente conhecido é o
do receptor da indústria cultural, aquele que influencia e se deixa influenciar pelo circuito
existente no mercado de produtos culturais: a massa. Quem são as massas? Quais suas
características? A princípio, o grupo que se convencionou denominar de “massas” não é
composto por um estrato social específico, nem possui características sociológicas de fácil
definição. Segundo Baudrillard (1985), as massas são mais um fenômeno, típico da
modernidade, do que um conceito sociológico.
Querer especificar o termo massa é justamente um contra-senso - é procurar um
sentido no que não o tem. Diz-se: “a massa de trabalhadores”. Mas a massa nunca é a
de trabalhadores, nem de qualquer outro sujeito ou objeto social. [...] A massa é sem
atributo, sem predicado, sem qualidade, sem referência. essua definição, ou sua
indefinição radical. Ela não tem “realidade” sociológica. Ela não tem nada a ver com
alguma população real, com algum corpo, com algum agregado social específico.
Tentativa de qualificá-la é somente um esforço para transferi-la para a sociologia e
arrancá-la dessa indistinção que não é sequer a da equivalência (soma ilimitada de
indivíduos equivalentes: 1 + 1 + 1 + 1 - tal é a definição sociológica), mas a do neutro,
isto é, nem um nem outro (neuter) (BAUDRILLARD, 1985, p. 6-7). (Grifos do autor).
A massa pode não possuir caracterização formal, nos moldes da antropologia, sendo
“irredutível a qualquer prática e qualquer teoria simplesmente” (BAUDRILLARD, 1985,
p. 5). No entanto, serve perfeitamente para definir o público universal, médio, neutro, aquele
para o qual toda a produção cultural é voltada, que determina novos valores estéticos,
artísticos, mercadológicos e por eles é determinado.
O homem médio é o modelo “ideal, abstrato, sincrético e ltiplo” (MORIN, 1967,
p. 46) da cultura de massa, consumidor participante de uma maioria passiva, ou protagonista
seriamente considerado na produção e circulação de produtos culturais. É um modelo a um só
tempo real e imaginário, que está em toda parte e em lugar algum, é cada um dos indivíduos,
mergulhados na cultura popular e popularizada da s-modernidade, no consumo, no mar de
estímulos e na rede de informações e acontecimentos globais.
26
O indivíduo mediano que compõe a massa é elemento integrado e integrador da
gigantesca engrenagem que é a instria cultural, que exige e proporciona elementos de
universalidade através da fruição de seus produtos. E tal ser, tão universal e mediano, assume
novas configurações antropológicas, que ampliam o perfil até então conhecido de humanidade
e de sociedade. Está perfeitamente adaptado às linguagens e produtos que lhe são oferecidos,
dos mais simples aos mais complexos, usufrui deles, tem seu lazer e descanso baseado em tais
produtos e determina, assim, uma nova civilização, igualmente universal, paulatinamente
mais dependente dos produtos culturais de massa:
A linguagem adaptada a esse anthropos é a áudio-visual, linguagem de quatro
instrumentos: imagem, som musical, palavra, escrita. Linguagem tanto mais
acessível na medida em que é envolvimento politônico de todas as linguagens. [...]
Assim, é sobre esses fundamentos antropológicos que se apóia a tendência da
cultura de massa à universalidade. Ela revela e desperta uma universalidade
primeira. [...] É por isso que o homem universal não é apenas o homem comum a
todos os homens. È o homem novo que desenvolve uma civilização nova que tende
à universalidade (MORIN, 1967, p. 47). (Grifo do autor).
A partir dos conceitos que caracterizam a indústria cultural e a cultura de massas, é
possível analisar sua aplicação e influência junto às artes, especialmente a literária.
2.2 ARTE LITERÁRIA E INDÚSTRIA CULTURAL
A influência da indústria cultural estende-se às artes, resultando em mudanças de
valores e relações sócio-culturais dos indivíduos com os produtos artísticos. A mudança
observa-se menos nas relações de uso da arte do que nas relações de valor atribuídos a ela. A
produção artística contemporânea, de modo geral, não estimula a criticidade e autonomia de
quem dela se utiliza. Em nome da função de servir como entretenimento - e talvez justificado
por ela - o produto artístico, reproduzido em longas séries padronizadas, traz como resultado
uma estica de lazer aculturado, tornado estilo de vida.
Produtos literios sempre existiram; com o advento da prensa, uma das mais antigas
criações da modernidade, textos de diversas naturezas passaram a ser mercantilizados. Todavia,
observar a comercialização em escala industrial, com tamanha padronização, é possível somente
após o advento da indústria cultural. Conforme Morin, “não há dúvidas de que já o livro, o jornal,
eram mercadorias, mas a cultura e a vida privada nunca haviam entrado a tal ponto no circuito
27
comercial e industrial” (MORIN, 1962, p.15).
Seguindo os mesmo cririos aplicados aos outros produtos culturais - padronização de
fórmulas, simplificação de contdo, banalização do valor - também as artes terminaram por
moldar-se à indústria cultural massificadora. Segundo Zajdsznajder (1992, p.157), “a arte
acaba por não ser capaz de distinguir-se do resto. Tudo se tornou artístico, e, portanto, não
mais diferenças a destacar. Ou melhor: as diferenças tornam-se convencionais”.
Da mesma forma que automóveis, calçados e detergentes são produzidos em série,
com raras alterações em detalhes, também os produtos artísticos são apresentados com
pouquíssimas diferenças estruturais.
Através da análise de produções artísticas, sejam musicais, cinematográficas ou
literárias, não é difícil constatar a existência do padrão de produção, baseado em repetições
dos mesmos símbolos, desconsiderando as orientações da arte clássica. Surgem sob a forma
de um aparente ecletismo: tudo é oferecido, de música clássica ao último sucesso popular, de
livros clássicos a lançamentos infantis e juvenis.
Este universo não é governado, regulamentado pela polícia do gosto, a hierarquia do
belo, a alfândega da crítica estética. As revistas, os jornais de crianças, os programas
de rádio [...] não são nada mais governados pela crítica cultivada” do que o
consumo dos legumes, detergentes ou máquinas de lavar. O produto cultural está
estritamente determinado pelo seu caráter, industrial de um lado, de consumação
diária de outro, sem poder emergir para a autonomia estética. Ele não é policiado,
nem filtrado, nem estruturado pela Arte, valor supremo da cultura dos cultos
(MORIN, 1962, p. 20).
A produção cultural cria um público de massa, o público universal, que, por sua vez,
exige e consome cada vez mais produtos da indústria cultural. É um processo que cria um
objeto para o indivíduo, e ao mesmo tempo, um indivíduo para o objeto, em um círculo
vicioso que dificilmente pode ser rompido.
O aspecto interessante é que a indústria cultural desenvolveu mecanismos para manter
o sistema de forma bastante eficiente. Faz os consumidores acreditarem que não precisam ser
incomodados com questões transcendentes, que m direito ao lazer despreocupado, que não
necessitam tomar consciência da realidade que os cerca. Com esse pensamento, o sujeito
incentiva a produção de mais lazer, de consumo fácil, de entretenimento. Mesmo para
consumidores atentos, torna-se difícil adquirir postura ctica diante do que lhes é oferecido,
pois a linguagem estética que as artes assumiram na indústria cultural cumpre seu papel:
28
Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural
não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos - e entre
eles em primeiro lugar o mais característico, o filme sonoro - paralisam essas
capacidades em virtude de sua própria constituição objetiva. São feitos de tal forma
que sua apreensão adequada exige, é verdade, presteza, dom de observação,
conhecimentos específicos, mas também de tal sorte que proíbem a atividade
intelectual do espectador, se ele não quiser perder os fatos que desfilam velozmente
diante de seus olhos (ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p. 60).
Para refletir sobre o papel que a literatura representa nesse contexto, é necessário
reconhecer, inicialmente, o papel que ela representa como arte. Ao avaliar a função social e
humanizadora da literatura, Candido (1972) defende que ela representa e projeta a experiência
humana. A produção e a apreciação literária apóiam-se na necessidade natural que a criatura
possui “de ficção e de fantasia” (CANDIDO, 1972, p. 804), sendo esta uma característica que
acompanha a humanidade há gerações. O surgimento de tal necessidade ficcional como
companheira da realidade explicaria a grande aceitação artística da literatura por parte do
homem, já que ela
aparece invariavelmente em sua vida, como indivíduo e como grupo, ao lado da
satisfação das necessidades mais elementares. E isto ocorre no primitivo e no
civilizado, na criança e no adulto, no instruído e no analfabeto. A literatura
propriamente dita é uma das modalidades que funcionam como resposta a essa
necessidade universal, cujas formas mais humildes e espontâneas de satisfação
talvez sejam coisas como a anedota, a adivinha, o trocadilho, o rifão (CANDIDO,
1972, p. 804).
Tal característica manifesta-se desde os níveis mais simples, como o anedotário
popular ou as adivinhas, até os mais complexos, que abarcam a onipresença das mitologias,
do folclore e das lendas, por exemplo. Esses conteúdos narrativos ficcionais originaram-se na
tradição oral, circulando neste meio até assumirem uma forma mais elaborada de distribuição,
que atingiu seu auge na forma impressa, representada nos livros, revistas, jornais. Com tantos
meios acessíveis, as publicações ficcionais encontraram campo frutífero para manifestarem-se
sob variados gêneros, como poemas, novelas, narrativas romanceadas e o próprio romance.
Além disso, como decorrência natural do desenvolvimento tecnológico, a ficção
também passa a transitar por circuitos mais elaborados e complexos de divulgação, sendo
possível acessá-la através de mídias tecnológicas, cinematográficas, publicitárias, televisivas.
Como apresenta Candido (1972), a necessidade ficcional manifesta-se a todo instante,
sendo praticamente impossível o conviver com a ficção, o que explicaria a produção e o
consumo de literatura, uma das mais complexas formas de sistematizar a fantasia.
29
A literatura nasce da imaginação humana, unindo pontos de refencia na observação da
realidade ao pensamento poético, estando integrada, a um tempo, com o mundo real e com o
mundo subjetivo, influenciando o inconsciente do homem de maneira ainda pouco conhecida.
Na contemporaneidade, o conhecimento encontra-se fragmentado através das inúmeras
especializações. Tal característica resulta em divies dos indivíduos em grupos, separados por
conhecimentos e linguagens espeficas. Novos blocos culturais são compostos por aqueles
especializados em determinadas áreas, que dominam determinadas tecnologias, ou compreendem
determinados códigos.
Para a unificação de tal sociedade, fragmentada e quase desintegrada, a arte literia
contribui ao apresentar as experiências da humanidade de todas as épocas, recordando ao homem
suas origens e relativizando experiências sociais opressoras e limitantes:
A literatura, por sua vez, foi e, enquanto existir, continuará sendo um denominador
comum da experncia humana. Aqueles de nós que leram Cervantes, Shakespeare,
Dante ou Tolstoi entendem uns aos outros e se sentem indivíduos da mesma espécie
porque, nas obras desses escritores, aprenderam o que partilhamos como seres humanos,
independentemente de posição social, geografia, situação financeira e período histórico.
Nada nos protege melhor da estupidez do preconceito, do sectarismo religioso ou
político e do nacionalismo excludente do que esta verdade que sempre surge na grande
literatura: todos são essencialmente iguais (LLOSA, 2000, p. 100).
A literatura configura-se como um elemento artístico humanizador, na medida em que
possibilita ao homem reconhecer-se e redimensionar-se através da representação que faz da
existência, do mundo e do ser, com seus aspectos positivos e negativos, fantasias e desejos,
aspirações e conflitos, realizões e superações. A arte possibilita ao homem o reconhecimento de
si mesmo em um grupo histórico, com caractesticas próprias e específicas. A literatura, mais do
que qualquer ciência, reforça e perpetua tal reconhecimento.
Como fenômeno humano, a crião literia é tão complexa quanto a condição de seus
criadores. A compreensão da literatura, como manifestação de experiências humanas, passa pela
compreeno do mundo e suas singularidades em diversos momentos históricos, criando
diferentes possibilidades de expreso.
Em tempos de globalização e diminuição de fronteiras, na literatura as disncias tornam-
se evidentemente menores. Autores de diversas nacionalidades são lidos em diferentes países,
ainda que obedecendo estritamente às demandas mercadológicas, dentro dos blocos linguísticos
de maior circulação mundial. Com as possibilidades da produção em série, a massificação da
literatura tornou-se realidade.
30
Sem fugir aos padrões observados em toda a indústria cultural, também os produtos
literários de massa devem ser oferecidos com uma apancia física nova, colorida e brilhante, com
conteúdo que segue os já conhecidos padrões de repetição de fórmula e mbolos, característicos
da cultura de massa.
Regras, convenções, gêneros artísticos impõem estruturas exteriores às obras,
enquanto situações-tipo e personagens-tipo lhes fornecem as estruturas internas. [...]
A indústria cultural persegue a demonstração à sua maneira, padronizando os
grandes temas romanescos, fazendo clichês dos arquétipos em estereótipos.
Praticamente, fabricam-se romances sentimentais em cadeia, a partir de certos
modelos, tornados conscientes e racionalizados. Também o coração pode ser posto
em conserva. Com a condição, porém, de que os produtos resultantes da cadeia
sejam individualizados (MORIN, 1962, p. 29). (Grifo nosso).
A cultura impressa es inserida na cultura industrial e é por ela transformada.
Transformada, segundo Morin (1962, p. 65), pelo “poder de intensificação e exteno ilimitada”
dadia de massa.
De acordo com pesquisa a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, (grifo do autor)
divulgada em maio de 2008 pelo Instituto Pró-Livro
3
e Minisrio da Educão e Cultura,
executada pelo Ibope, as livrarias o apontadas como os principais locais para aquisição de
livros, seguidas de longe por bancas e sebos.
Figura 1 - Canais do mercado para acesso ao livro
Fonte: Amorin (2008, p. 98).
3
O Instituto Pró-Livro - IPL é uma associação de caráter privado e sem fins lucrativos mantida com recursos
constituídos, principalmente, por contribuições de entidades do mercado editorial, com o objetivo principal de
fomento à leitura e à difusão do livro. Site oficial, com os resultados da pesquisa retratos da Leitura disponível
em: <http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/>. Acesso em 22 out. 2009.
31
Nesses locais, estrategicamente estruturados, os volumes são apresentados em pilhas
imensas, do mesmo autor, mostrando o quanto eles são vendáveis. A mensagem de marketing
parece afirmar que quanto maior for o número de exemplares e de edições expostos, mais
consumida se a obra. A grandiosidade da obra parece ser sugerida pelas tiragens praticamente
ilimitadas que atendem às expectativas dos ansiosos leitores.
Lançamentos simultâneos de livros em todos os continentes, sessões de autógrafos com
escritores cada vez mais divinizados, além de adaptações cinematogficas, fazem da literatura
um acontecimento de consumo massivo e popular. Tais eventos conferem uma aura diferenciada,
culta e, ao mesmo tempo, popular às livrarias, frequentadas tanto por intelectuais em busca de
alguma obra rara no infindável estoque, quanto por jovens com uniformes de torcidas organizadas
em busca do autógrafo da musa mensal em seu exemplar de revista masculina.
Lá, os livros são as principais mercadorias, embora cercados por materiais de escritório e
de decoração, camisetas com mensagens ideológicas estrategicamente escolhidas, dias para
informática e lançamentos musicais. Tudo em ambiente climatizado, com agraveis poltronas e
atraente cafeteria, decorado com fotos eletronicamente retocadas de rostos sorridentes e
maquiados dos escritores mundialmente famosos. Atendentes atenciosos, segurança e
comodidade proporcionada pela localização em shopping centers, estoques inesgotáveis: nada
es ali por acaso ou sem intencionalidade mercadológica. Ao serem analisados os fatores que
influenciam na escolha do local de compra, observa-se que todos esses elementos estão presentes,
enumerados a figura a seguir:
Figura 2 - Motivações para escolher onde comprar livros
Fonte: Amorin (2008, p.100).
32
As capas de livros, mesmo os de literatura adulta, o coloridas, com fontes grandes e
joviais, que parecem reforçar a imagem estética diferenciada que a leitura proporciona.
Alguém que adquira um livro com essas características poderia imaginar que transmite
a imagem de sujeito “atualizado”, “culto”, “sintonizadocom as tendências literárias. Uma
análise mais atenta ao conteúdo, porém, pode revelar que aquela “literatura” é apenas mais
um produto cultural para diversão fácil e rápida.
A literatura é arte, e como tal, não deveria ser apenas uma atividade de entretenimento
e distração. Mais do que um passatempo, a literatura é “uma das ocupações mais estimulantes
e enriquecedoras do espírito humano, uma atividade insubstituível para a formação de
cidadãos na sociedade moderna e democrática” (LLOSA, 2003, p. 99).
A (boa) literatura mostra quem o ser humano é, com fantasias e desejos, aspirações e
conflitos, realizações e superões. A cultura possibilita ao homem o reconhecimento de si
mesmo em um grupo histórico, com características próprias e específicas. No mundo cada vez
mais democrático e globalizado, é necessário que os cidadãos tornem-se críticos, avaliadores
da cultura que recebem e produzem, conhecedores de sua história e origens para compreender
os efeitos de tais elementos na s-modernidade. Para isso, as ferramentas que a literatura
oferece são as mais adequadas, por serem a “própria fonte que estimula a imaginação e a
insatisfação, que refina nossa sensibilidade e nos ensina a falar com eloquência e precisão,
que nos torna livres e nos garante uma vida mais rica e intensa” (LLOSA, 2003, p.102).
Pensando no nível de qualidade que a literatura deve possuir para exercer o papel de
auxiliar na formação do ser humano, é preciso avaliar que espécie de produto cultural literário
o grande público recebe, o que o leitor comum consegue acessar da literatura mundial.
Também é necessário questionar os conteúdos, dito “literários”, oferecidos na cultura de
massa; que formas a literatura assume para tornar-se vendável; e se contribui para a formação
crítica e artística do leitor.
A relação entre o panorama que orienta a produção cultural contemporânea e a arte
literária nesse ambiente encaminha a reflexão acerca da literatura oferecida aos jovens.
2.3 JOVEM E CONTEXTO CULTURAL
Considerando o grande impacto que as linguagens artísticas em geral, e mais
especificamente a literatura, podem produzir sobre a formação humana, faz-se necessário
33
avaliar tal influência sobre aquele público que ainda está constituindo sua formação artística,
cultural e mesmo pessoal: o adolescente.
A definição de adolescência, segundo Groppo (2000), precisa ser elaborada com um
conceito mais amplo do que aquele que considera apenas a determinação restrita de faixas
etárias do sujeito. Ele propõe a definição da juventude como categoria social, por ser ela mais
do que simples definição quantitativa, e sim, um conjunto de “representações simbólicas e
situações sociais com suas próprias formas e conteúdos que têm importante influência nas
sociedades modernas” (GROPPO, 2000, p. 8).
O entendimento da juventude como categoria social possibilita melhor clareza sobre
algumas características, funcionamento e mudanças nas sociedades modernas. O
reconhecimento ou caracterização da juventude passou por muitas transformações através do
tempo, inclusive na modernidade. Está ligado a questões e experiências sociais, como as de
pertencimento a diferentes estratos sociais ou econômicos, além de sofrer influências
culturais, como as de gênero e de etnia. Em cada uma dessas situações, imprimiu-se um
caráter e uma definição para a juventude, vivenciada de acordo com os elementos próprios de
cada época e lugar.
De acordo com Levi (1996), uma importante consolidação do reconhecimento da
adolescência como fase, data da década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial. Antes
disso, alguns estudiosos tratavam da adolescência, caracterizando-a como uma etapa de
transformação e buscando traçar o perfil do indivíduo naquela faixa etária.
4
A partir de 1950, nos Estados Unidos, a adolescência adquirira um status legal e
social, a ser disciplinado, regulamentado e protegido(LEVI, 996, p. 353). O autor ainda
define que a primeira geração de jovens com uma noção de identidade coletiva constituída,
com papéis sociais específicos e reconhecimento entre seus pares, surgiu nessa década. Por
cerca de mais dez anos, o comportamento, a cultura e as manifestações juvenis passaram a ser
objeto de estudo e debates, envolvendo profissionais de diferentes setores da sociedade
americana. Na primeira geração tipicamente adolescente, as relações hierárquicas com os
adultos, pais e professores, foram aos poucos cedendo espaço para as relações bilaterais, com
maior interação entre parceiros de mesma idade a afinidades. Foi possível identificar neles
uma cultura própria, traduzida em hábitos de vestimenta e linguagem, de forma incipiente no
início da década, fortalecendo-se a partir dos anos 60, década em que a atuação política e
4
Levi (1996) comenta a publicação datada de 1904, de autoria do psicólogo G. Sanley Hall, intitulada
Adolescence. A obra “descobria e caracterizava o adolescente americano, atribuindo-lhe características
retomadas de Russeau.
34
revolucionária do jovem atingiu seu momento de maior relevância e visibilidade.
O discurso sobre o jovem e a juventude, de acordo com Levi (1996), tem sua história
estreitamente ligada à literatura, à música e ao cinema, principalmente a partir de 1950. Livros
como On the Road, de Kerouac e Rebel without a cause, de Robert Lindner, o rock como a
música típica dos jovens e os filmes como Juventude Transviada(1955), Sindicato dos
Ladrões” (1954), ou “Vidas Amargas”, (1955), trataram de reforçar a imagem do adolescente
como um sujeito cultural diferenciado. O conteúdo juvenil de tais produtos culturais auxiliou
a consolidar a imagem do garoto rebelde, contestador, cujo grande encanto, além da beleza
física, estava em questionar o mundo adulto, fugindo de seus padrões, com uma atitude
arrogante e independente. Tal imagem traduz-se no imaginário coletivo até os dias atuais, nas
figuras de James Dean, Elvis Presley e Marlon Brando, representantes naquele período do
ideal de juventude, beleza e comportamento. Levi (1996) ainda observa que as mesmas
liberdade e transgressão não eram o abertamente vinculadas à figura feminina, ainda
considerada submissa e menos rebelde, visão resultante de hábitos históricos de repressão às
mulheres, ainda não contestados naquele período.
A diferença na representação de gêneros, que traduzia uma cultura social de raízes mais
profundas, resultou em uma “fórmula de sucesso para exemplificar o que seria o modelo de
relacionamento sonhado (ou que deveria ser sonhado) pelos adolescentes: um rapaz selvagem e
arrogante, mas que é bom e vira de ponta-caba o mundo que vê, com suas injustiças, gras ao
amor de uma moça” (LEVI, 1996, p. 369). As jovens são representadas sob uma aura de devoção
e lealdade ao seu companheiro, importantes como reguladoras de sua selvageria, auxiliares no
papel regenerador do herói, ainda que sejam em menor número e menos centrais que os
protagonistas em tais produções.
O surgimento de uma produção em que o jovem é o protagonista dos conflitos, com uma
linguagem estética voltada a cativar o blico adolescente, ajudou a modificar os hábitos de
consumo cultural de jovens e adultos. Segundo Levi (1996, p. 368), com a “juvenilizão”, dos
produtos culturais, e consequente supervalorizão da juventude, a importância do blico não
adulto como consumidor e receptor ganhou força. No cinema e nas adaptações literárias, ele, o
novo consumidor, encontrou seu território, livre das regras e convenções do adulto, ao menos no
plano do imaginário. O adulto surge em tal contexto de produção como a figura detentora de
valores ultrapassados, a ser superada ou ignorada pelo jovem, trazendo pouca ou nenhuma
relevância e orientação para a realização do rito de passagem do jovem para o mundo adulto.
O que surgiu nos anos 50 do século XX como um movimento de caracterização e
valorização da identidade juvenil, tão presente por algumas gerações desde aquele período,
35
acabou por tornar-se universalmente aceito. Torna-se menos necesrio hoje afirmar de maneira
o veemente e frequente que o adolescente é um ser com características próprias, passando por
uma fase social e biológica de amadurecimento e transformações.
Foi necessária, no entanto, uma revolução cultural na história da representação juvenil,
estabelecendo a imporncia e subjetividade do adolescente. Nesse período foi fortalecida, além
da sua identidade, a ppria prodão cultural a ele destinada. Além de influenciar a cultura
industrial, a juventude também sofre transformações graças a ela, em um processo de retro-
alimentação típico da cultura de massa.
Na contemporaneidade, é preciso considerar igualmente, a potência não só cultural, mas,
principalmente, econômica, representada pelo adolescente. As coleções e lançamentos voltados
para esse público fazem parte de cuidadosos estudos e análises de mercado editorial, que tornou a
literatura para jovens um fenômeno econômico.
Los lectores entre los 12 y los 16 años, es decir, el importante núcleo del alumnado
em los niveles de educación secundaria, [...] es um importante mercado, cercado
com cierto poder aquisitivo y ya acostumbrado a unas “marcas” editoriales, como
continuidad de um proceso iniciado como lectors/consumidores infantiles
(PADRINO, 2005, p. 62).
5
Morin (1967, p. 41) avalia a participação crescente dos adolescentes na oferta dos
produtos literários. Um dos elementos estruturantes da cultura de massa é a temática juvenil, e
através dela busca-se padronizar os jornais, livros, revistas, programas de rádio, oferecendo
uma forma atrativa para jovens consumidores. Assim como existe um público médio na
cultura de massas, existe também uma idade média, a faixa etária ideal, para iniciar o
consumo de produtos culturais, representada pela pré-adolesncia, ou adolescência:
Pode-se considerar que quatorze anos é a idade de acesso à cultura de massa adulta:
é a idade em que já se vai ver filmes de todos os neros (exceto, evidentemente, os
censurados), em que se fica apaixonado pelas revistas, em que se escuta os
mesmos programas de rádio ou de televisão que os adultos.
Portanto, o que atualmente apresenta-se na sociedade é uma tendência aparentemente
irreversível: a entrada precoce - mas definitiva - dos pré-adolescentes e adolescentes no
mundo da indústria cultural e do consumo.
5
Tradução: Os leitores entre os 12 e 16 anos, a saber, o importante grupo dos estudantes de ensino médio, [...]
é um importante mercado, cercado por certo poder aquisitivo e já acostumado com algumasmarcas”
editoriais, como um processo iniciado como leitores/consumidores infantis.
36
Desde o início da última década, observa-se o fenômeno do aumento do poder
consumidor de jovens pré-adolescentes, encarados como o novo filão econômico e comercial.
São os denominados tweens, jovens com idades entre 8 e 13 anos que, de forma crescente, são
valorizados como consumidores exigentes, de grande influência sobre os adultos, e para quem
o mercado abre, satisfeito, suas portas. Como em todo o circuito da indústria cultural, esses
jovens - cada vez mais cedo - são estimulados ao comportamento consumista, encontrando
um mercado que lhes seduz e adultos que permitem tais atitudes. Novamente, seguindo a
tradição da indústria cultural, fica evidenciada a criação de um público para determinados
produtos, e produtos específicos para tais consumidores.
Segundo reportagem de Kostman (2003, p. 2)
6
, a expressão tween, abreviatura de
between (entre), e trocadilho com teen (adolescente), designa os pré-adolescentes, uma
geração com poder de compra e influência econômica crescentes:
Deparamos aqui com um fenômeno de força e amplitude ainda pouco analisadas, de
um tipo que não se via desde a “invenção” dos adolescentes, na década de 50.
Naquela época, empurrada pelo rock e pelos filmes de Hollywood, a garotada do
ginásio e do colegial começou a assumir um inédito controle de sua vida e de suas
atitudes - e, claro, se rebelar. Resultado: o mercado acordou para um contingente
inexplorado de consumidores, a sociedade precisou se reacomodar diante de uma
nova realidade e os pais, inicialmente pasmos, tiveram de mudar. Algo semelhante
acontece agora, com menos traumas, em relação aos tweens. Os mais novos têm 8, 9
anos; os mais velhos, 12 ou 13. (Grifo do autor).
São jovens das classes média e alta, com boa autonomia financeira e extremamente
bem adaptados às novas realidades do mundo. Estão acostumados a lidar com celulares,
computadores, jogos eletrônicos, além de uma série de produtos do mundo adulto, como
cosméticos e acessórios. De acordo com as informações de Kostman (2003), os tweens não
vêem os pais e adultos como heróis, são bem informados e consumistas, curiosos e volúveis, e
vivem sempre em busca de novos produtos de consumo.
No Brasil, segundo dados do Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em 2000, a população com idade entre 10 e 14 anos conta com mais de 17
milhões de habitantes.
6
Conceituação sobre o fenômeno tween, vide (Anexo A) do presente trabalho.
37
Tabela 1 - População residente no Brasil, por sexo e grupos de idade - 2000
POPULAÇÃO TOTAL
GRUPOS DE IDADE
TOTAL HOMENS MULHERES
TOTAL 169 799 170 83 576 015 86 223 155
0 a 4 anos 16 375 728 8 326 926 8 048 802
5 a 9 anos 16 542 327 8 402 353 8 139 974
10 a 14 anos 17 348 067 8 777 639 8 570 428
15 a 19 anos 17 939 815 9 019 130 8 920 685
20 a 24 anos 16 141 515 8 048 218 8 093 297
25 a 29 anos 13 849 665 6 814 328 7 035 337
30 a 34 anos 13 028 944 6 363 983 6 664 961
35 a 39 anos 12 261 529 5 955 875 6 305 654
40 a 44 anos 10 546 694 5 116 439 5 430 255
45 a 49 anos 8 721 541 4 216 418 4 505 123
50 a 54 anos 7 062 601 3 415 678 3 646 923
55 a 59 anos 5 444 715 2 585 244 2 859 471
60 a 64 anos 4 600 929 2 153 209 2 447 720
Fonte: IBGE (2009).
7
Certamente, uma grande parcela dessa população não possui acesso aos bens de
consumo, da forma descrita até aqui. Mas aqueles pré-adolescentes que exercem poder
consumidor despertam interesse sobre seus hábitos de compra:
Um levantamento realizado pelo instituto de pesquisas Ipsos-Marplan com a
garotada entre 10 e 14 anos das classes A, B e C em nove regiões metropolitanas do
país no ano passado revela que 81% das meninas usam esmalte (em 1998, eram
62%). Segundo a pesquisa, 71% das meninas decidem a marca de suas roupas
(contra 64% quatro anos antes) e 76% escolhem a marca do tênis (contra 70%)
(KOSTMAN, 2003, p. 6).
É um grupo com alto poder de autonomia sobre a escolha dos produtos para seu
próprio consumo, e grande influência sobre as escolhas dos adultos. Segundo Castellón
(2007)
8
estima-se que esse grupo questione as opções dos pais em relação a alimentos, roupas,
celulares, computadores e até automóveis. A autora apresenta estimativas que apontam serem
movimentados, no mundo, U$ 1,88 trilhão, direta e indiretamente, através do consumo dos
tweens. No Brasil,
7
Informações do documento Brasil em síntese - Resumo do Censo 2000, elaborado pelo IBGE. Disponível
em:<http://www.ibge.gov.br/brasil_em_sintese/default.htm>. Acesso em: 15 nov. 2009.
8
Reportagem completa a respeito do poder econômico dos tweens, vide (Anexo A) do presente trabalho.
38
o potencial da garotada também está sendo medido. Apresentado durante a
conferência - batizada de Kid & Tweens Power -, um estudo do instituto de pesquisa
Millward Brown mostra que até as marcas para adultos podem sair ganhando.
Entrevistas feitas em junho com tweens de São Paulo e Rio de Janeiro, as classes A
e B, revelaram que 22% dizem aos pais que carro eles devem comprar
(CASTELLÓN, 2007, p. 2).
Outra característica dos tweens é a facilidade que possuem para realizar múltiplas
tarefas ao mesmo tempo. Podem assistir à televisão, ouvir música, jogar no computador e
falar ao telefone, talvez por estarem familiarizados com as novas tecnologias e com o ritmo
acelerado do mundo atual.
Refletindo a realidade das informações sobre o perfil “multitarefa” dos pré-
adolescentes, a pesquisa sobre leitura no Brasil aponta, referindo-se a modos de leitura, que,
em relação aos livros, os comportamentos não são diferentes:
Figura 3 - Como os leitores costumam ler livros
Fonte: Amorin (2008, p.76).
É relevante observar que um grupo tão influente economicamente, com preferências de
consumo bastante definidas, está também inserido no mercado de consumo de bens literios.
Os leitores adolescentes e pré-adolescentes (entre 11 e 17 anos) representam 23% do
total de leitores do país. Em média, de cada 10 leitores brasileiros, 4 o jovens. Do total de
jovens da população, os que estão na faixa etária citada representam um grupo de 21,2
milhões de leitores.
39
Figura 4 - Taxa de penetração da leitura por idade
fonte: Amorin (2008, p. 52).
No universo dos compradores de livros, os adolescentes da até a série do ensino
fundamental representam um grupo de 7,6 milhões de consumidores, ou 21% do total de
compradores, conforme apresentado na figura a seguir.
Figura 5 - Compradores de livros no Brasil
Fonte: Amorin (2008, p. 92).
40
Os jovens, além de representar uma grande parcela dos leitores e compradores de
livros no Brasil, lêem mais que os adultos:
Figura 6 - Número de livros lidos por ano
Fonte: Amorin (2008, p.116).
O fato de este público ler mais que o público adulto explica-se, provavelmente, porque
os adolescentes frequentam o ambiente escolar, que oferece e exige mais leitura e acesso aos
livros. Isso é explicitado no quadro seguinte, onde a informação revela que o principal acesso
desses leitores ao livro é via bibliotecas (inclusive escolares) e programas de distribuição de
livros realizados pelo governo:
Figura 7 - Principais formas de acesso aos livros por idade
Fonte: Amorin (2008, p. 89).
41
A partir dos dados relacionados ao consumo de produtos literários juvenis, constata-se
que diversos gêneros são consumidos por adolescentes e pré-adolescentes, não apenas os
romances. Surpreendentemente, a poesia aparece como gênero que tem amplo espo junto à
preferência dos jovens, com quase os mesmos índices percentuais do romance, e muito próxima
do percentual das revistas em quadrinhos, conforme demonstrado na figura que segue.
Figura 8 - Gêneros mais lidos por idade
Fonte: Amorin (2008, p. 58).
Acessar todas essas informações é de extrema importância para traçar um perfil sobre
o jovem consumidor de produtos da indústria cultural no Brasil. Percebe-se que é um grupo
composto por milhões de futuros adultos, consumidores e leitores, que desde muito cedo
influenciam e sofrem influência de estratégias de mercado cada vez mais elaboradas. Além
disso, possuem capacidade de escolha, influência de compra e poder de decisão sobre o
consumo dos adultos. Conhecendo melhor o jovem e os significados de tal posição etária e
social, torna-se possível a análise dos produtos culturais a ele oferecidos.
42
2.4 A LITERATURA JUVENIL CONTEMPORÂNEA
A literatura juvenil concebida como vertente artística que se expressa pela linguagem
também está sujeita às mudanças de contextos sociais e hisricos. Ceccantini (2004) explica
que, enquanto objeto de estudo, o trabalho literário para jovens, é volátil, “resistente ao
enquadramento em definições precisas e à clara delimitação e descrição, situando-se numa
espécie de limbo acadêmico, que o transforma em propriedade de todos e de ningm
(CECCANTINI, 2004, p. 20).
Diferentes campos das ciências humanas dedicam-se a compreender o papel e a
representação do jovem, tomando como objeto de estudo as produções culturais voltadas para
esse público.
Na busca por conceituar a literatura juvenil, é possível afirmar que ela está em uma
zona de fronteira. É disputada por especialistas de Educação e de Literatura, que interpretam e
preconizam o uso dos conteúdos literários, sob diferentes pontos de vista, de acordo com a
área em que atuam. Ceccantini (2004) relata que as abordagens para definir a literatura juvenil
podem ser muitas: de caráter histórico, psicológico, literário e até mesmo artístico, se for
considerada a análise das ilustrações de livros juvenis.
Primeiramente, o gênero juvenilo pode ser visto como uma forma apartada do
gênero literário adulto ou universal. As estruturas narrativas, os procedimentos de linguagem,
estilo e forma são encontrados de forma semelhante tanto no gênero adulto quanto no juvenil,
e devem ser considerados e analisados para definir a qualidade de um texto. Se existem
diferenças, são, segundo Cerrillo (2005), em nível de destinatário, esse sim, variável. Em uma
obra para adultos, autor e o leitor são semelhantes em faixa eria, vivências e contexto. Já na obra
para adolescentes, o par é bastante diferente, sendo o autor um adulto, e o leitor, um indivíduo
ainda não totalmente autônomo em suas leituras, interpretações e experncias, bastante
dependente dos mais experientes (pais, educadores, o próprio escritor) para realizá-las.
Cerrillo (2005) ainda cita algumas estruturas a serem consideradas para definir a
literatura juvenil, a começar pela linguagem literária, que não deve subestimar o jovem leitor,
possuidor de referenciais e idéias claras. Além disso, propõe que sejam levados em
consideração pelo menos outros três elementos para a caracterizão do texto juvenil: o tema,
que não deve ser simplista, e sim desafiador, exercitando a criatividade do leitor; não
necessitando ser específico “para jovens”, mas ser estimulante, mostrando uma visão crítica e
ampla sobre o mundo; a linearidade, necessária a qualquer estrutura narrativa, como auxiliar
43
na manutenção do interesse do leitor, além de possibilitar melhor fruição estética; por fim, a
extensão do texto, variável de acordo com a experiência e maturidade do leitor.
Padrino (2005) salienta que tentar adequar o texto a uma determinada faixa etária,
como a adolescência, e permanecer nesta especificidade, pode ser redutor, acabando por fazer
o texto perder sua autenticidade literária, fixado na imagem do receptor, no caso o
adolescente, assumida e idealizada pelo adulto. Em sua opinião, o texto literário juvenil é
acima de tudo, um texto que deve seguir os mesmo critérios das demais realidades literárias, e
como tal deve ser estruturado e avaliado, na busca por critérios que definam sua qualidade:
Pero si queremos adentrarnos em la própria esencia de la literatura juvenil y de sus
limites o rasgos, es necesario plantearse cuestiones como las sigientes: Dónde
empieza el arte? Donde empieza la literatura? Donde acaban las auténticas
realidades astísticas o literárias para entrar em los productos subartísticos
dedicados al “consumo de las massas ¿ (PADRINO, 2005, p. 67).
9
A literatura juvenil, como a literatura em geral, obedece a critérios de produção e
distribuão variáveis, de acordo com a época, local, e realidade social em que estão inseridos.
O receptor da arte literária juvenil tem seu próprio valor e caracterização modificados
historicamente, em diferentes momentos. Torna-se necessário avaliar todo esse panorama para
conceituar os valores artísticos da literatura para jovens. Padrino (2005) cita a necessidade de
avaliação dos mecanismos de aquisição do livro, por parte do leitor, seus hábitos literários
anteriores, a influência dos mediadores adultos em suas leituras, o acesso a outras formas de
leitura e a formação crítica que foi orientada (ou não) durante sua formação.
A literatura juvenil atravessou períodos e situações em que houve priorização do
mercado editorial e livreiro na oferta de determinadas formas e fórmulas, em detrimento do
conteúdo artístico e literário. É o que descreve Souza (2001, p. 29), a respeito de sua pesquisa
sobre as origens do gênero, ao afirmar que:
A minha crença era que, nas origens, a literatura para jovens configurara-se com
mais pureza nos mecanismos de produção, circulação e recepção de obras.
Entretanto, que dizer quando se descobre que um Daniel Defoe [...], assim como
Alexandre Dumas e rios clássicos da juventude e clássicos do folhetim eram
considerados escritores menores porque tentavam não atender, mas
principalmente, ampliar o mercado de leitores? Que dizer quando se fica sabendo
que Julio Verne foi contratado para escrever especificamente para jovens e que, para
isso, devia se enquadrar nas regras mantidas pelo seu editor? Que dizer da mágoa de
Verne, por ser considerado escritor menor em seu tempo?
9
Tradução: Mas se queremos adentrar na própria essência da literatura juvenil e de seus limites ou
características, é necessário estabelecer questões como as segiintes: Onde começa a arte? Onde começa a
literatura? Onde acabam as as autênticas realidades artísticas ou literárias para entrar nos produtos
subartísticos, dedicados ao “consumo de massas”?
44
A literatura para jovens surgiu em um contexto de consolidação de instituições como a
família e a escola. Circulou prioritariamente no ambiente escolar, por longo período, sendo
largamente utilizada, principalmente em suas origens, como ferramenta didática e
pedagogizante, servindo diversas vezes para expressar ideologias que o adulto gostaria que o
jovem adotasse.
No Brasil, desde os anos 60 do século XX, houve uma “explosão” editorial de livros
para jovens. Nesse período,
começava a haver um aumento significativo da produção literária para jovens, ao
mesmo tempo em que se ampliavam e aperfeiçoavam as estratégias de divulgação
dessa produção pelas editoras para as escolas, transformadas em mercado
privilegiado (SOUZA, 2001, p. 13).
Foi um período em que ocorreram lançamentos de livros e colões indicados para as
escolas, cuja divulgação contava com o envio de livros para o professor, acompanhados de fichas
para orientação da leitura e roteiros pedagógicos com sugestões de atividades para sala de aula.
Com a escola tomando para si a tarefa de mediar a leitura e formar leitores, mas quase
sempre sem estimular a fruição estética, seguindo roteiros de trabalho em modelos prontos, o
ensino da leitura e da literatura acabou por fragilizar-se. A leitura de textos literários foi
pouco valorizada, não fazendo parte da formação pessoal dos jovens fora da escola
(desestimulados talvez por esta apresentação indevida que marcou algumas gerações), nem da
qualificação profissional da maioria dos professores. Segundo Souza (2001, p. 13), o fato de
tanto os alunos quanto os professores estarem pouco envolvidos com a leitura fora do formato
escolar levou
os autores a apequenarem suas obras, submetendo-se às regras do mercado ao
aceitarem o tutelamento das editoras que estavam esquematizando padrões de gosto
em uma fôrma para o atendimento das necessidades da leitura escolar, ou do
mercado que ela estaria representando.
Ainda no âmbito escolar, o ensino da Literatura, durante a última década do século
XX, foi beneficiado com o fortalecimento e a restauração de importantes aspectos da
educação brasileira, preconizados pela legislação, através das Orientações Curriculares
Nacionais. As orientações buscaram resgatar a importância da metodologia de ensino de
literatura que possibilitasse o olhar mais apurado sobre a mediação de leitura e a importância
da fruição estilística da literatura para a formação do leitor crítico.
45
Evidentemente, também foram produzidos conteúdos literários juvenis interessantes
durante o período compreendido pelas últimas décadas, com propostas ricas, que
possibilitaram crescimento da arte literária para jovens.
Algumas características intrínsecas da natureza da literatura juvenil mantiveram-se
inalteradas através de sua evolução histórica; elementos como o maravilhoso, o mítico, o
mágico, os conflitos e as relações humanas interessam ainda hoje os jovens para os quais se
produziu e produz literatura. Por serem temas de caráter arquetípico, despertando interesse
universal, são, ao mesmo tempo, perenes e mutáveis, podendo ser atualizados.
Mesmo derivados de uma matriz muito antiga, que muitas vezes se perde
historicamente, esses elementos, quando presentes nas obras juvenis, são indicadores da
qualidade artística que determinada obra pode vir a possuir. Conforme a definição de Coelho
(2000, p. 45):
É esse o caráter fundamental da literatura (ou da arte em geral): traduzir verdades
individuais, de tal maneira integradas na verdade geral e abrangente, que a forma
representativa escolhida, mesmo perdendo com o tempo o motivo particular que a
gerou, continua falando aos homens por outros motivos, também verdadeiros, no
momento em que surgem.
A influência da literatura juvenil na formão humana deveria ocorrer sem intenção
educacional, no sentido da ideologia pedagógico-educativa encontrada na escola. Ela surge com
um caráter mais amplo de formação arstica e estica. Enriquece os saberes do leitor, que se
sente “participante de uma humanidade que é a sua, e deste modo, pronto para incorporar à sua
experiência humana mais profunda o que o escritor lhe oferece como vio da realidade
(CANDIDO, 1972, p. 809).
A tendência globalizante da contemporaneidade, marcada pela superexposição de
informações, veiculadas de forma incontrolável e simultânea, imprime à produção cultural
oferecida para jovens traços que parecem determinantes na formão estética desses
interlocutores. Ao mesmo tempo em que propostas, produtos, conquistas tecnológicas são
socializadas, criam-se formas culturais homogêneas, com aspectos bastante similares, muitas
vezes desvinculadas da realidade, que repetem fórmulas para manter os públicos já capturados,
em especial aqueles despreparados. De forma impressionante, tais públicos são seduzidos por
produtos que, em muitos casos, não respeitam suas peculiaridades ou necessidades.
Nesse contexto, a produção “literária” juvenil cresce de forma impressionante, oferecendo
ampla variedade de lançamentos e publicações para p-adolescentes e adolescentes. Ao
investigar as caractesticas que compõem a produção oferecida de forma sedutora e competente
46
aos jovens, verifica-se que, em muitos casos, há falta de qualidade estica ou de elementos que
estimulem a formão do senso estico de indivíduos em formão.
Na atualidade é muito grande o interesse por produtos homogeneizados, seriais, dirigidos
a jovens. A ênfase de sua prodão está na forma eo no conteúdo, o que leva à superficialidade
no tratamento dos elementos narrativos. A função artística não parece ser considerada nesses
casos. E assim, valendo-se da legitimidade da literatura juvenil, muitos textos são oferecidos aos
jovens como arte, sem, no entanto, possibilitar a ampliação de horizontes dos indivíduos leitores.
A respeito da popularização do gênero juvenil nas últimas décadas, pode se considerar que
ela foi promovida por dois fatores principais: primeiro, a valorização dos textos e autores atuais,
com linguagem mais acessível e temáticas adaptadas ao adolescente - em contraposão aos
clássicos ocorrida na escola, ou através dos mediadores de leitura. Segundo Padrino (2005), os
docentes de língua e literatura buscam oferecer textos mais adequados aos jovens leitores, tanto
no que se refere às suas estruturas narrativas e linguagem, quanto em seus conteúdos, a fim de
conquistar o leitor jovem através de temas relacionados à realidade juvenil. Isso se deve ao fato de
ainda considerar-se a literatura juvenil como “literatura de transición (PADRINO, 2005, p. 61),
cuja função seria estimular os hábitos e gostos literios do futuro leitor adulto.
O segundo fator de valorização da literatura juvenil na atualidade esbastante ligado ao
advento da indústria cultural contemporânea, pois o adolescente forma um grupo consumidor,
autônomo, com necessidades e poder de consumo crescente, conforme citado anteriormente.
Em pesquisa sobre os hábitos de consumo adolescentes no Brasil, é interessante
observar a presença de lançamentos literários juvenis na lista de desejos de consumo das
adolescentes brasileiras.
47
O que elas qu
erem:
1. Celular para trocar SMS
2. Gloss, blush e nécessaire
3. Livros das séries
“Crepúsculo” e “Gossip
Girl
4. Presilhas coloridas
5. Mochila para guardar
tudo
6. Doces temáticos
7. Esmalte colorido
8. Caderno para anotações
9. Água saborizada
10. Relógio feminino
11. Blusa estampada
12. Perfume da moda
13. Buttons da banda
preferida
14. iPod com músicas e
vídeos
O que eles querem:
1. Game portátil para
disputas entre amigos
2. Camiseta com dizeres
bem-humorados
3. Desodorante que exale
masculinidade
4. Jeans largo
5. Relógio de plástico
resistente
6. Carteira enxuta que caiba
no bolso
7. Boné para fazer estilo
8. Chaveiro com grafismos
9. Mochila para guardar
tudo
10. Celular recheado de
funções, com games e
acesso à internet
Figura 9 - O consumo dos adolescentes de 13 anos
10
Fonte: Loes (2009, p. 1-2)
10
Reportagem integral sobre os desejos de consumo dos tweens, dispovel no (Anexo D) do trabalho.
48
O livro citado no quadro, intitulado Crepúsculo é o primeiro de uma série, composta
pelos títulos: Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Breaking Down (o último ainda sem tradução
para o Brasil). São de autoria da escritora americana Stephenie Meyer, que, a exemplo de sua
legião de seguidores adolescentes que executam diversas tarefas ao mesmo tempo, declarou
em entrevista conseguir escrever enquanto ouve sica.
11
Vale lembrar que a série de
livros derivou na oferta de outros produtos, como dois filmes (o terceiro encontra-se em
filmagens), - com viagens promocionais dos protagonistas para diversos países, incluindo o
Brasil
12
, agendas, camisetas, e demais artigos promocionais, além de uma série de TV.
13
Verifica-se em nível regional a realidade afirmada pela pesquisa nacional: o fenômeno dos
livros para adolescentes com a temática “do momento - romance entre vampiros
adolescentes - foi um dos recordistas de vendas da primeira semana da Feira do Livro de
Porto Alegre em 2009
14
.
11
A entrevista onde a autora é descrita como roqueira está dispovel no site da editora Abril, em:
<http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_349314.shtml>
12
A visita dos protagonistas do filme “Lua Nova” ao Brasil, ocorreu no último final de semana de outubro de
2009. Notícia disponível em: <http://imirante.globo.com/noticias/pagina220706.shtml>
13
Série intitulada “Vampire Diaries”, que estreou no final de outubro de 2009, no canal fechado Warner
Channel, conta a saga do triângulo amoroso formado pela mocinha e seus dois pretendentes vampiros, irmãos
e antagonistas. Com disponibilização dos capítulos para download e discussões em fóruns e comunidades, a
série já conta com um site de fãs, oficial, disponível em: <http://vampirediariesbrasil.com/>.
14
Reportagem sobre venda de laamentos juvenis na Feira do Livro de Porto Alegre, vide (Anexo E) deste trabalho.
49
3 CAMINHOS DA LEITURA: DO LIVRO À INTERNET
3.1 UM POUCO DESTA HISTÓRIA
Da mesma forma que as relações de mercado envolvendo produção e consumo foram
se modificando ao longo do culo XX, também a relação do leitor com o livro vem se
alterando. Compreendido como instrumento social, não apenas portador de texto, mas
ferramenta de lazer, entretenimento e enriquecimento cultural, o livro como produto cultural
acompanha a evolução dos diferentes grupos e contextos sociais, assumindo novas formas, e
meios de acesso, como o virtual, por exemplo, continuando a acompanhar o leitor na
contemporaneidade.
Em relação à produção literária, algumas ações de origem histórica mais antiga
concorreram para que o objeto livro e seu conteúdo também fossem adaptados à indústria
cultural. Não rompendo com as culturas literárias anteriores, a cultura de massa, pelo
contrário, beneficiou-se do processo hisrico que acompanha a literatura.
Com o próprio surgimento da imprensa, da tipografia, iniciou-se a popularização e
democratização da literatura. O antigo hábito originário da época da Biblioteca Azul
15
,
durante o Antigo Regime na França, de simplificar enredos, diminuir parágrafos, reduzir o
número de personagens e modificar expressões gramaticais muito elaboradas, adequando a
narrativa a um público leitor imaturo, parece ter encontrado um ambiente propício para sua
continuidade na cultura contemporânea.
Sociologicamente, o livro ganhou importância e público em progressão geométrica. O
fortalecimento do papel do leitor, a ascensão e a popularização do romance, a valorização
feminina como figura leitora, possibilitaram o surgimento de um mercado literário frutífero
(em quantidade, não necessariamente em qualidade de produção) e em constante expansão.
A figura do leitor assume maior valorização na modernidade, a partir dos estudos
sobre como o texto é transmitido e recebido. Diferentes correntes teóricas passam a falar
sobre o leitor, discutir seu papel e questionar a influência da recepção literária na estética e
15
Segundo Chartier (2004) a Biblioteca Azul foi um movimento camponês, em que livros eram produzidos e
vendidos para a população rural na França, durante o Antigo Regime. Eram livros cujo repertório era
composto por ficção divertida, conhecimentos úteis e exercícios devotos. Este repertório não era em si mesmo
popular, e sim, composto de textos de origens diversas. Na maioria das vezes, eram textos de tradução erudita,
adaptados ao gosto popular. Tratavam também de romances, contos de fadas, utilidades diárias.
50
nas significações elaboradas sobre o texto. O leitor torna-se colaborador na construção de
sentidos literários, o que contribui para um melhor entendimento das práticas de leitura
relativas ao passado e ao presente.
Eco (1994) define algumas características do leitor-receptor, afinal, “numa história
sempre um leitor, e esse leitor é um ingrediente fundamental não do processo de contar
uma história, como também da própria história” (ECO, 1994, p.7). Ele situa o ato da leitura
no centro do processo literário e faz do leitor a personagem principal, definindo conceitos
sobre leitor e autor. Para ele, está atrelado ao leitor o entendimento da obra ou sua frustração,
mas isso pode depender das suas escolhas: um texto, assim como um bosque, é um
emaranhado de trilhas confusas e infinitas a serem seguidas. No entanto, o leitor precisa fazer
“escolhas razoáveis” (ECO, 1994, p.14).
Enquanto o leitor estabeleceu novas formas de relacionamento com o livro, esse se
modificou, passando de instrumento perpetuador de ideologias dominantes à ferramenta de
cultura e entretenimento. Com esta nova função, aliada à maior participação crítica dos
leitores na produção literária e às novas demandas mercadológicas das produções culturais,
gêneros narrativos como o romance alcançaram grande popularização.
Ao acompanhar historicamente a evolução de tal gênero literário, encontram-se
informões para compreender sua popularidade até nossos dias. Watt (1990) relata que na
França do século XVIII, as muitas horas de trabalho diário, o alto preço dos livros e a pouca
privacidade encontrada nas moradias superlotadas e mal iluminadas contribuíram para tornar
o livro inacessível às classes mais pobres, restringindo o público leitor às classes burguesas e
nobres. Enquanto isso, junto às classes mais abastadas, ocorria o abandono de grande parte da
sociedade e da própria Igreja aos ideais religiosos e doutrinários, permitindo a produção e
distribuão de textos não teológicos e sem fundo moralizante.
Nessa época começa a produção de romances, que falam ao gosto popular, tratando de
cavalaria, amores proibidos, aventuras. É possível avaliar e perceber a ascensão do romance a
um grau raro de popularidade: o barateamento provocado pela forma de distribuição do texto,
muitas vezes em folhetins de baixo custo, ou por capítulos, possibilita que mais leitores,
inclusive das camadas sociais operárias, ou que desenvolviam trabalhos servis, pudessem ter
acesso a ele.
Além disso, a mulher passa, na Europa do século XVIII, a ser importante figura
leitora, auxiliada pela industrialização de diversos produtos, que a deixou com mais tempo
livre - além de sua natural não-participação nas atividades masculinas.
51
Aos poucos, especialmente a partir da instauração do hábito da leitura silenciosa, os livros
são transferidos de lugares de acesso público da casa para lugares de mais intimidade, como o
quarto do casal, o que diz respeito ao ato de ler antes de dormir, quer solitariamente, quer em
cumplicidade de casal. A biblioteca passa a ser lugar de retiro, estudo e meditação solitária.
O objeto “livro” e seus textos foram sendo adaptados e modificados de forma a
servirem a um perfil de público leitor, compreendido e definido por diferentes grupos de
editores, que segundo seus critérios, alteravam o conteúdo ou a forma dos textos. Além disso,
a censura sobre o impresso, que por muito tempo definiu conteúdos textuais, de forma a
manter a ordem (religiosa, social, econômica e política) vigente, igualmente concorreu para a
heteronomia do leitor. O estabelecimento do ato de leitura silenciosa auxiliou a proporcionar
audácias, como a circulação de textos heréticos e a expressão de idéias críticas. Chartier
(1991) afirma que historicamente, o perfil do leitor transformou-se, passando este a,
gradativamente, estabelecer uma relação primeiramente mais autônoma, e, em um segundo
momento, mais crítica dos textos recebidos.
A partir do “refinamento” dos hábitos leitores, consequência de uma evolução social e
cultural, surge uma nova espécie de leitura e de leitor. A leitura solitária induz ao abandono,
de que o romance é representante, pois “todos os indícios são reunidos para caracterizar a
leitura do romance que alimenta sonhos perturbadores, nutre expectativas sentimentais, excita
os sentidos” (CHARTIER, 1991, p. 148). O romance está associado à leitura - vista pelos
homens do século XVIII como o ato privado por excelência – por parte do público feminino.
A influência da popularização do livro como objeto de entretenimento, da produção
cultural de massa, além da democratização do acesso à realidade digital e virtual, podem ser
percebidos nos jovens, crianças e adolescentes. O ambiente que torna mais acessível a
observação destas manifestações sociais é, certamente, o da escola, onde passam grande parte
de seu tempo, construindo vivências sociais e interagindo com seus pares. Os valores que esse
ambiente defende, buscando referendar ou contestar a realidade contemporânea, podem ser
avaliados através das propostas culturais, incluindo as literárias, que apresenta.
3.2 A LEITURA VIRTUAL DA COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR
Um importante aspecto da cultura contemporânea, refletido no fenômeno literário, é
uma variação na forma de relação estabelecida entre leitores e livros, cada vez mais difundida:
52
a digitalização dos textos e a utilização da Internet para distribuição de obras. Durante a
análise preliminar das obras a serem estudadas, este fato apresentou-se bastante evidente,
que a Coleção Primeiro Amor é de grande procura nos sites de digitalização e distribuição de
livros. Esse é um acontecimento que reflete a época atual, quando a velocidade das
informões, a globalização e democratização do conhecimento, além da ppria Internet,
eliminam fronteiras e criam novos horizontes, inclusive no campo da Literatura.
A este respeito, Sodré (2002), relata que a tendência da leitura e da produção literária
hoje, passa ainda, além do circuito constituído e conhecido das publicações impressas, pelo
universo virtual. Neste ambiente, onde relações entre informações, a exemplo da ppria
cognição humana, estabelecem redes de conhecimentos em uma velocidade impressionante, é
possível repensar, desconstruir e reconstruir os papéis das personagens do fato literário. O
autor e o editor não detêm mais o controle sobre a obra, que pode ser levada a todos os cantos
do mundo real e virtual onde haja um computador.
O leitor, que pode interferir na obra ou no texto, produzir informação e relacionar tudo
isso de diferentes formas, passa da posição de sujeito e receptor, para a de protagonista no
circuito. Fala-se hoje em hipertextos (processos inter-relacionados) e elos intertextuais, e isso
denota um processo novo e inovador, citado também por Sodré (2002): a abolição da
verticalidade da rede literária e das relações sociais, sendo substituída pela horizontalidade da
informação. Devem os participantes, observadores e estudiosos do fenômeno literário,
acompanhar as mudanças, sabendo observá-las como necessárias e importantes para o
estabelecimento de uma nova etapa na cultura contemporânea.
A nova etapa assumida pelas formas de leitura está refletida no contexto atual de
circulação da Coleção Primeiro Amor. Em consulta a comunidades de leitores no site de
relacionamentos Orkut, algumas informações confirmam o sucesso editorial da coleção. No
entanto, em relação ao público leitor, uma informação surge de forma surpreendente, já que o
grande número de leitores na rede pesquisada não são pré-adolescentes, nem mesmo
adolescentes. São, em sua maioria, mulheres adultas, a partir dos 19 anos de idade.
Confirmando o sucesso da Coleção junto a um público amplo, e que parece ser
bastante fiel, existem, no Orkut, duas comunidades dedicadas a ela: a comunidade Coleção
Primeiro Amor, com 500 membros cadastrados e a comunidade Amo a Coleção Primeiro
Amor, com 125 membros cadastrados. Nas comunidades Digitalização de Livros, com 7.764
membros cadastrados, e Romances adolescentes, com 4.941 membros, o fórum de debates,
digitalização e troca de arquivos da coleção Primeiro Amor está entre os mais acessados.
Neste fórum, são indicados três sites de troca de arquivos, a saber: Rapidshare, E-snips e 4-
53
Shared. Neles, os livros foram digitalizados e colocados em disponibilidade para
compartilhamento e download (quando o usuário copia o arquivo para seu computador
pessoal) para qualquer usuário com computador e acesso à Internet. A forma de copiar o livro
para o computador do usuário é simples, com instruções nos sites e nas próprias comunidades.
Além do compartilhamento do arquivo de forma integral - o livro escaneado e
digitalizado -, encontra-se também, nos runs de discussão, a postagem de trechos inteiros
dos livros, digitalizados de forma coletiva. Algum usuário inicia a digitação e publicação do
livro, por capítulos, e num rodízio entre todos os interessados em divulgar a obra, as páginas
são publicadas uma a uma. À medida que os trechos vão sendo postados, os usuários fazem
seus comentários, expressando suas preferências em relação às personagens, ao enredo, às
reviravoltas da trama, etc..
É importante observar a relação estabelecida entre o leitor virtual e a obra no formato
eletrônico. A circulação do produto cultural literário no ambiente cibernético assume uma
forma inédita: editor, autor, direito comercial e direito autoral não entram em questão,
contrariando a estrutura da indústria cultural. Surge uma situação em que a própria
reprodutibilidade, essencialmente vinculada à cultura de massa, perde controle. Segundo
Meirelles (2008, p. 364):
Essa situação tende a se tornar ainda mais frequente. Basta lembrar que com o
aumento do número de computadores nos lares brasileiros, mais e mais leitoras terão
acesso à Internet e a livros gratuitos. Como isso, quebram-se as barreiras sobre o
consumo de livros, as leitoras têm uma espécie de biblioteca virtual dentro de
computador, bastando a vontade de escolher e ler um exemplar. Nas comunidades,
recebem as indicações sobre quais obras são consideradas mais interessantes, na
versão moderna da propaganda boca-a-boca. Pouco a pouco, a empresas perdem
ainda mais o controle sobre a circulação das obras; depois dos sebos e dos leilões
virtuais, os e-books são a síntese de uma nova relação de consumo de livros, seja
sentimentais ou não [...].
Tal acesso crescente aos livros, sob a forma de circulação eletrônica, pode ser facilmente
comprovado com pesquisas aos números disponíveis nos sites de compartilhamento. Em relão
aos títulos da Coleção Primeiro Amor, junto ao site de compartilhamento de arquivos 4-Shared,
os números apontam a preferência dos leitores:
54
Tabela 2 - Downlads dos títulos da coleção Primeiro Amor
DOWNLOADS DOS TÍTULOS DA COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR
Título Downloads (no período de 1 ano)
Meu primeiro namorado 1.421
O amor chegou de surpresa 1.339
Mais que um amigo 899
Garota dos meus sonhos 622
Confie em mim 481
Meus três namorados 474
Do jeito que eu sou 467
Ensaio de um beijo 400
O presente do amor 397
O amor pode esperar 396
Jogos do Amor 390
Dez razões para amar 342
Juntos para sempre 528
Só podia ser você 300
Coração dividido 234
Meu suposto namorado 215
Fonte - Elaborado pela autora (2009).
Sobre o perfil dos leitores, bastante diferente na Internet daquele público para o qual a
obra é recomendada pela editora, é possível encontrar alguns dados relevantes. Na
comunidade de fãs da coleção com 500 membros cadastrados, 10 são homens. Este número
representa 2% dos leitores da comunidade. Na outra comunidade, com 125 membros
cadastrados, apenas 1 é homem, representando 0,8% dos leitores cadastrados como
aficionados pela série. Todos os outros membros são mulheres, e através da escolha de alguns
perfis para análise da faixa etária e grau de escolaridade, foi constatado o seguinte.
55
Perfil dos participantes da Comunidade: Coleção Primeiro Amor
500 membros cadastrados - Perfis estudados – 50
Idade declarada nos perfis Grau de escolaridade declarado nos perfis
Não consta idade
16
- 13 usuárias Não declararam – 11
19 anos - 12 usuárias Ensino Médio 15
21 anos - 16 usuárias Superior incompleto – 19
Acima de 21 anos, até 32 anos
17
- 9 Superior completo – 5
Quadro 1 - Perfil da Comunidade: Amo a Coleção Primeiro Amor.
Fonte: Elaborado pela autora (2009).
A escolha dos perfis para compor a amostra obedeceu aos seguintes critérios: maior
participação nos fóruns de discussão da comunidade; comentários e participações mais
recentes (últimos dois meses); disponibilização de arquivos digitalizados dos livros da
coleção para outros usuários; perfis com acesso irrestrito a qualquer usuário, com a maior
quantidade de informações.
A análise dos dados da amostra, representando 10% dos membros da comunidade,
aponta que a faixa etária e o perfil dos fãs da Colão Primeiro Amor, no ambiente da Internet,
é bastante diferente da classificação orientada pela editora. O perfil escolhido pela editora Ática
é de leitores dae 8ª séries do ensino fundamental, com idades entre 12 e 14 anos.
No ambiente virtual, na comunidade de leitores da coleção, 74% dos leitores declaram
possuir mais de 19 anos. Em relação ao grau de instrução, a amostra aponta que 78% dos
leitores declaram possuir pelo menos o Ensino Médio, sendo que destes, 5% dizem ter ensino
superior completo, e 38%, ensino superior incompleto.
O que se mantém como padrão de leitores para esta publicação é o perfil de gênero,
com um público predominantemente feminino, tanto nos dados da editora, quanto nos da
pesquisa na Internet. Relacionando as informações com os estudos da sociologia da leitura, é
possível chegar a algumas constatações.
Primeiramente, que a leitura é uma experiência, em que o leitor busca não somente
informões, mas vivência de sensações e identificação emocional. Parece ser este o caso da
leitura dos livros da Coleção Primeiro Amor. Apesar da forma (para pré-adolescentes), o tema
tratado - a primeira vivência amorosa - é universal e agrada, como constatado, não somente
16
O Orkut aceita usuários com idades declaradas de, no mínimo, 18 anos. Se o usuário for de idade menor
que essa, não existe a opção de declarar a idade. Pode ser o caso destas usuárias.
17
Integrante com maior idade declarada na comunidade.
56
em relação a seu blico alvo, mas também a uma faixa etária bastante diferente. Nesse caso,
alguns elementos parecem unidos, resultando no sucesso desta coleção: a experiência
prazerosa proporcionada pela leitura e o atendimento às exigências de um perfil leitor
específico, através do dlogo que a obra estabelece com o mesmo.
Segundo Maria (2002, p. 23), quando pegamos um livro para ler, um romance, ou
mesmo um ensaio, ou até mesmo um jornal ou revista, o que nos move é muito mais a
experiência e o prazer que essa leitura nos proporciona, do que simplesmente a busca de
informação”. Quando o tema do livro, ou neste caso, da coleção inteira, é de interesse
universal, e apresentado de maneira simples, possibilita experiências prazerosas para o leitor,
que se identifica com as situações descritas, ou por já as haver vivenciado, ou por estar na
expectativa de vivenciá-las. Segundo Ricciardi (1971, p. 99), “se o escritor sabe interpretar e
concretizar as experiências do público, é muito provável que sua obra alcance sucesso
imediato”.
Os best sellers, por exemplo, enquadram-se nos critérios de exigência do público,
apresentando “a imagem que este de si próprio prefere ou as coisas que ama(RICCIARDI,
1971, p. 99), perdendo, no entanto, em qualidade literária, na maioria dos casos.
Ao dialogar com o leitor, através de sua linguagem simples e de temas cotidianos, a
Coleção Primeiro Amor parece ter encontrado caminho para tornar-se popular, cumprindo
aqueles caracteres explicados por Maria (2002), quando diz que:
A leitura é a possibilidade de diálogo para além do tempo e do espo; é o
alargamento do mundo para além dos limites do nosso quarto, mesmo sem sairmos
de casa; é a exploração de experiências as mais variadas, quando não as podemos
viver realmente (MARIA, 2002, p. 25).
O estudo mais pontual da Coleção pode orientar a reflexão sobre como a indústria
cultural do livro para jovens atua na contemporaneidade.
57
4 A COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR NO ÂMBITO DA LEITURA PARA JOVENS
4.1 A COLEÇÃO E SEU CONTEXTO DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO
Os dados constantes no quadro a seguir oferecem elementos relevantes para este estudo
18
.
Ele apresenta informações sobre todos os títulos, por ordem de publicação, do título mais
antigo ao mais recente.
18
Os dados foram coletados atras de diferentes instrumentos, enumerados a seguir:
a) dados extraídos do site Agência Brasileira do ISBN (International Standard Book Number), pertencente à
Fundação Biblioteca Nacional, do site da editora Ática e das folhas de rosto de cada livro, que resultaram
em um quadro com informações catalográficas sobre cada volume da coleção. Site do ISBN dispovel
em: < http://www.bn.br/portal/?nu_pagina=35>. Acesso em: 12 jul. 2009.
b) entrevista sobre o perfil das obras, publicada no site da editora Ática, com a editora adjunta da Ática no
ano de 2002, Carmem Lucia Campos. Entrevista sobre a Coleção Primeiro Amor, vide (Anexo F) neste
trabalho. Dispovel em: <http://www.atica.com.br/materias/?m=96>. Acesso em: 10 jul. 2009.
c) correspondência eletrônica estabelecida com a editora assistente da área de literatura juvenil da Editora
Ática, Malu Rangel, que respondeu um questionário a respeito da coleção
.
E-mails, vide (Anexo G) deste
trabalho e Pesquisa sobre a Coleção Primeiro Amor - Editora Ática - Contexto de prodão, vide (Apêndice B)
e Contexto de circulação, vide (Apêndice C) .
d) pesquisa na Internet, informações sobre as autoras sobre as autoras dos textos da Coleção Primeiro Amor,
vide (Apêndice D) neste trabalho.
58
COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR, EDITORA ÁTICA
Título e capa Autor e
tradutor
Título
original
19
Nível e série para os
quais o livro é
recomendado e nº de
páginas
20
Assuntos ou
Temas
abordados no
livro
Anos de
publicação no
Brasil
O amor pode
esperar
Katherine
Applegate
Tradução
Luciano
Machado
Sharing Sam Nível Fundamental
7ª e 8ª séries
144 páginas
Amor e
Amizade
1995
1997
1998
2000
2001
2002
2003
2006
O amor chegou
de surpresa
Arlynn
Presser
Tradução
Fábio
Fernandez
Love
changes
everything
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries
128 páginas
Amor e
Amizade
1995
1999
2000
2001
A garota dos
meus sonhos
Cheryl
Zach
Tradução
Fábio
Fernandez
Kissing
Caroline
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries.
167 páginas
Amor e
Amizade
1996
1998
1999
2000
2001
2002
Só podia ser
você
Stephanie
Doyon
Tradução
Beth Vieira
It had to be
you
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries
155 páginas
Amadureci
Mento
1996
2001
2002
2003
2004
Ensaio de um
beijo
Elizabeth
Bernard
Tradução
Fábio
Fernandez
How to kiss
a guy
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries.
158 páginas
Amor e
Amizade
1997
2000
2001
2002
2004
19
Fonte: Ancia Brasileira do ISBN (International Standard Book Number), da Fundação Biblioteca Nacional,
Ministério da Cultura. Dispovel em: <http://www.bn.br/portal/?nu_pagina=26>. Acesso em: 12 jul.2009.
20
Recomendação de faixa etária, série escolar assunto e tema realizada pela própria editora Ática Educacional.
Dispovel em: <http://www.atica.com.br/busca/catalogos.aspx?c=juv>. Acesso em 12 jul. 2009.
59
COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR, EDITORA ÁTICA
Título e capa Autor e
tradutor
Título
original
Nível e série para os
quais o livro é
recomendado e nº de
páginas
Assuntos ou
Temas
abordados no
livro
Anos de
publicação no
Brasil
Coração
dividido
Janet Quin
Harkin
Tradução
bio
Fernandez
The boy next
door
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries
167 páginas
Amor e
Amizade
1997
2002
2004
Meu primeiro
namorado
Callie West
Tradução
Luciano
Vieira
Machado
My first love
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries.
135 páginas
Amor e
Amizade
1997
2000
2002
2004
Mais que um
amigo
Elizabeth
Winfrey
Tradução:
João Alcino
Andrade
Martins
More than a
friend
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries
160 páginas
Amor e
Amizade
1998
1999
2001
2002
2003
2004
Meus três
namorados
Alexis Page
Tradução
bio
Fernandez
Three-guy
weekend
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries.
136 páginas
Amor e
Amizade
2000
2002
2004
Juntos pra
sempre
Cameron
Dokey
Tradução
bio
Fernandez
Together
forever
Nível Fundamental
7ª e 8ª séries
166 páginas
Amor e
Amizade
2000
2001
60
COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR, EDITORA ÁTICA
Título e capa Autor e
tradutor
Título
original
Nível e série
para os quais o
livro é
recomendado e
nº de páginas
Assuntos ou
Temas
abordados no
livro
Anos de
publicação no
Brasil
O segredo de
Malory
Diane Namm
Tradução Beth
Vieira
Never tell Ben
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
136 páginas
Amor e
Amizade
2001
2002
2006
A linguagem do
amor
Kate Emburg
Tradução Marta
Svartman
The language
of love
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
135 páginas
Amor e
Amizade
2002
2003
Jogos do amor
Elizabeth
Chandler
Tradução
Leonardo
Antunes
Love game Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
160 páginas
Amor e
Amizade
2002
2004
Meu suposto
namorado
Elizabeth
Winfrey
Tradução Beth
Vieira
My so called
boyfriend
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
160 páginas
Amor e
Amizade
2002
61
COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR, EDITORA ÁTICA
Título e capa Autor e
tradutor
Título
original
Nível e série
para os quais o
livro é
recomendado e
nº de páginas
Assuntos ou
Temas
abordados no
livro
Anos de
publicação no
Brasil
Dez razões para
amar
Liesa Abrams
Tradução
Leonardo
Antunes
His other
girlfriend
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
143 páginas
Amor e
Amizade
2003
O presente do
amor
Diane
Schwemm
Tradução
Leonardo
Antunes
Don't say
good-bye
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
152 páginas
Amor e
Amizade
2003
Um verão
inesquecível
Elizabeth Craft
Tradução Beth
Vieira
What we did
last summer
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
136 páginas
Amor e
Amizade
2004
Confie em mim
Kieran Scott
Tradução Inês
Lohbauer
Trust me
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
144 páginas
Amor e
Amizade
Tema: ética e
Cidadania
2005
Do jeito que eu
sou
Lynn Mason
Tradução Beth
Vieira
As i am
Nível
Fundamental
7ª e 8ª séries
152 páginas
Amor e
Amizade
2005
2006
Quadro 2 - Dados catalográficos da Coleção Primeiro Amor.
Fonte: Elaborado pela autora (2009).
62
A Colão Primeiro Amor, da Editora Ática, é uma rie composta por dezenove títulos,
que, segundo a classificação da editora, o voltados para leitores de e ries do ensino
fundamental, ou seja, um público pré-adolescente, com idades variando entre 12 e 14 anos. O
foco das narrativas é o primeiro envolvimento amoroso dos jovens. Em todas as histórias, o tema
trata de moças adolescentes envolvidas com a descoberta do primeiro amor verdadeiro”.
O formato de todos é o mesmo: brochura, com extensão entre 135 e 170 páginas. As
capas lembram as edições de best sellers norte-americanos, ou as famosas novelas Júlia,
Sabrina, Bianca.
A ambientação da história e as personagens são norte-americanas, bem como a origem dos
textos; trata-se de uma tradão para o Brasil de coleção existente nos Estados Unidos, intitulada
Love Stories, criada e distribuída em meados dos anos 1990. Nenhum texto é brasileiro, todos
existiam na coleção americana. Atualmente não é mais produzida em nenhum dos dois países
21
,
existindo apenas dois tulos no calogo da editora: Confie em mim e Do jeito que eu sou; os
outros foram distratados, ou seja, saíram de circulação.
Os tradutores brasileiros - são oito para os dezenove títulos da coleção - compõem o
quadro de colaboradores da editora. Foram escolhidos pela qualidade de seu trabalho e pela
disponibilidade no momento da edição do livro.
As autoras dos textos são sempre mulheres, escritoras norte-americanas de livros
infantis e juvenis reconhecidas nos Estados Unidos, algumas bastante respeitadas por suas
contribuições para séries literárias, televisivas, e filmes de grande sucesso junto aos
adolescentes; outras, sem grande produção divulgada. Não há informações sobre elas
disponíveis em português, apenas em sites dos Estados Unidos. O resumo das informações
disponíveis na Internet sobre as autoras dos textos da Coleção Primeiro Amor está disponível
no (Apêndice D) deste trabalho.
A partir da pesquisa a respeito das escritoras cujos textos compõem a coleção, é
possível realizar algumas observações relevantes a respeito da figura do autor na produção da
indústria cultural.
De acordo com as biografias, cinco autoras escrevem, ou escreveram no início de suas
carreiras, sob pseudônimos. Sobre uma sexta, informa-se que atuou como gosthwriter para
uma série popular de livros para adolescentes. A propósito dessa tendência, Scliar (2009)
afirma que na atual sociedade de informação, não há lugar para o pseudônimo; o público
21
Informações a respeito da coleção que originou a “Primeiro Amor”, disponíveis em:
<http://www.amazon.com/The-Love-Stories-series-1-25/lm/150VD8CJCUYU5>. Acesso em: 20 nov. 2009
63
exige a presença do autor como pessoa, quer saber sobre ele e conhecê-lo, como celebridade
que é, transformando-o em figura pública a ser explorada.
O artista tem de estar presente - como pessoa, junto àquilo que faz - seja sica, ou
filme, ou livro: ninguém mais escreve sob pseudônimo. As editoras não o
aceitariam: querem que o autor esteja presente, para fotografar, para dar entrevistas
(SCLIAR, 2009, p. 6).
Nesse caso, o uso do pseudônimo apresenta-se como elemento dissonante nessa
estrutura, uma tentativa de ocultar a figura do autor. Seria essa a intenção das escritoras que se
valem do pseudônimo, o próprio ocultamento? Com que finalidade, se a produção literária
dessa espécie, a princípio corresponde a uma necessidade de mercado, e faz sucesso?
Talvez a resposta a essas questões esteja situada na construção de personagem que
envolve a figura do autor na indústria cultural. Se a intenção é tornar todos os produtos o mais
vendáveis possível, cria-se sobre eles uma aura diferenciada, que envolve todos seus
elementos: capas, temas e autores.
A maneira como o apresentadas as autoras também obedece a uma fórmula, a
exemplo de tudo o que ocorre na indústria cultural. Meirelles (2008, 95-6) explicita muito
bem o tema:
Com pseudônimos diferentes, as mesmas autoras escrevem para mais de uma editora
e mais de uma coleção (históricos ou contemporâneos). [...] As mini-biografias
são feitas em cinco ou seis linhas, e o notadamente ficcionais, evocando, de um
lado, uma atmosfera cotidiana de harmonia familiar. De outro, a possibilidade de
que essas mulheres escritoras têm sucesso fazendo o que gostam, sem sair de suas
casas ou cidades (normalmente elas moram em lugares desconhecidos, nunca em
grandes centros como Nova York). A menção a prêmios recebidos reforça a
legitimidade da leitura e da escritura. Os prêmios, indicados por associações pouco
conhecidas no Brasil (talvez no mundo), podem dar à leitora a sensação de estar
lendo obras com apuro técnico, escritas por autoras consagradas e respeitadas
internacionalmente. Nas biografias, às vezes não menção ao estado civil da
autora, o que para a leitora pode ser importante. Uma autora divorciada ou vva
pode gerar tanto identificação com as leitoras quanto a sensação de que, mesmo
sabendo muito sobre histórias de amor, a escritora não soube trazê-las para dentro de
sua vida. No caso dos outros textos, elas são apresentadas como casadas e vivendo
em harmonia com seus maridos e filhos.
Pode-se perceber que há uma construção em torno das autoras, fazendo com que elas
assemelhem-se às personagens sobre as quais escrevem: felizes, bem sucedidas nas áreas
amorosa e profissional, obedecendo a um perfil de vida que é certamente desejado pelo leitor,
levado a se identificar com a obra, desde sua autoria.
64
A autora do livro Confie em mim, Kieran Scott, é assim apresentada em seu site
oficial:
Uma verdadeira garota de Jersey, Kieran cresceu em Montvale, Nova Jersey, e
estudou na Pascack Hills High School, onde era der de torcida, cantora, atriz e,
eventualmente, estudante. Fez graduação na Rutgers University, formou-se com uma
dupla especializão em Inglês e Jornalismo e agora reside em Ridgewood, Nova Jersey,
em sua própria casa de solteira (maso por muito tempo; ela está prestes a se casar com
um - surpresa! - nova iorquino). Quando não es escrevendo, Kieran passa seu tempo no
cinema, assistindo a WB, indo à academia ou tendo aulas em escolas locais para manter
o bom funcionamento cerebral. Kieran escreveu mais de trinta livros para crianças e
jovens sob vários pseudônimos, incluindo as edições da rie popular Charmed, Alias e
em breve, Everwood. (Mais alguns que são tão secretos que ela não pode mesmo dizer!).
Jingle Boy é o seu primeiro livro de capa dura.
22
Confirma-se, pois, a tentativa de aproximação entre a escritora e o leitor de suas
hisrias amorosas. Ela foi uma adolescente ativa, tem dois diplomas, e conseguiu, além da
independência financeira, um noivo, a exemplo das personagens de seus livros.
Em outro exemplo que evidencia o “tratamento de imagem” dispensado ao autor, a
escritora Cameron Dokey, de Juntos para sempre, é assim apresentada:
Cameron Dokey é uma autora americana que vive em Seattle, Washington, com seus
três gatos e seu marido. Ela tem uma coleção de mais de 50 filmes antigos de terror
e ficção científica. Cameron nasceu no vale central da Califórnia. Cresceu lendo
literatura clássica e mitologia; seu pai, Richard, era professor de Filosofia, Escrita
Criativa e Literatura Ocidental. Os dois pais de Cameron são escritores. O trabalho
de sua mãe é menos conhecido que o do pai. A avó de Cameron, Mabel, foi uma
cantora no radio no início do século 20. Contribuiu nos roteiros de episódios das
séries: Buffy, a caça vampiros, Charmed e Angel.
23
As informações são fornecidas de modo a reforçar o fato de a autora ser competente e
qualificada para exercer sua profissão, especialmente por ser filha de dois escritores, um deles
intelectual, estudioso de literatura. Ao mesmo tempo, ela surge como uma pessoa versátil, que
assiste a filmes de terror e tem uma avó artista. Ou uma mulher “de família”, que vive
sossegadamente no interior, com um marido e três gatos. Para cada público, uma personagem
se apresenta, na pele de uma autora literária.
Em relação ao contexto de circulação da Coleção, foram editados 19 livros pela Ática,
enquanto a coleção original americana (Love Stories) contava com 25 títulos. Em cada edição
foram produzidos cerca de 3 mil exemplares. Segundo a atual editora assistente do núcleo de
22
Traduzido de site com informações sobre a autora, disponíveis em:<http://www.teenreads.com/authors/au-
scott-kieran.asp>. Acesso em 10 nov. 2009
23
Traduzido de site com informações sobre a autora dispovel em: <http://www.fantasticfiction.co.uk/d/
cameron-dokey/>. Acesso em 10 nov. 2009.
65
obras juvenis, não foi elaborada uma estratégia específica para divulgação das mesmas junto a
escolas, apesar de possuírem roteiros com sugestão de trabalhos pedagógicos para elas.
24
Atualmente, a Coleção o essendo editada e quase todos os livros foram retirados
de circulação, tendo em vista que não obtiveram mais tanta vendagem como na época do
lançamento. Essa é uma característica dos produtos da indústria cultural: sua pouca
durabilidade. Segundo Zilberman (2006) a arte literária pode ser perene e manter-se válida
mesmo com a ação do tempo, por tratar de temas universais. a literatura para consumo em
quantidade se desgasta rapidamente, por tratar-se de simples repetição de fórmulas, cuja
criação é baseada na capacidade de venda da obra e não por sua originalidade. Segundo a
autora, a literatura de massa sofre com “a pouca durabilidade dos produtos, pois [...] rmulas
e autores se desgastam, sendo então descartados e esquecidos” (ZILBERMAN, 2007, p. 102).
Considerando estas informações, pode-se afirmar que o tempo de vida da Coleção Primeiro
Amor (onze anos, entre 1995 e 2006) é surpreendente, para um produto de seu gênero, e
talvez explique sua procura por parte dos s até a atualidade.
Uma observação final a respeito das características da Coleção diz respeito ao gênero
literário a que pertencem. Podem ser definidos como novelas, romances, ou alguma outra
classificação literária? No catálogo da editora Ática, eles são classificados como
“paraditicos”, talvez para que essa categorização confira aos textos um caráter mais
respeitável, adequado para ser trabalhado com leitores e estudantes, uma ferramenta
complementar à formação leitora. No entanto, avaliando o conteúdo das obras, torna-se claro
que elas pertencem a uma escola que deriva dos folhetins, novelas amorosas e demais textos
de cunho romanesco. Segundo Meirelles (2008, p. 55), podem ser chamados de romances
sentimentais, ou novelas femininas, variações da literatura de entretenimento. Sua origem
hisrica é bastante antiga e está relacionada a diferentes fontes:
Os romances sentimentais (também chamados por Marlyse Meyer de novelas
femininas) que hoje encontramos [...], são frutos diretos da produção romanesca
surgida na esteira do grande sucesso do autor inglês Richardson, Pamela, publicado
em 1740. Na sequência, também na Inglaterra, aconteceu a popularização do
romance gótico [...] retratando a mulher casta e defensora de sua virtude, submetida
a todo tipo de provações para garantir sua pureza. É inegável que o modelo de
romance sentimental tal qual o conhecemos inclui também tros dos folhetins, na
preocupação de cativar um grande blico, na produção em massa e na
padronização, além da idéia de uma serialização, não de um mesmo texto, como no
caso dos folhetins, mas de modelos o semelhantes que fazem a leitora aguardar e
procurar outro da mesma série.
24
Roteiros de trabalho pedagógico sugeridos pela Ática Educacional, vide (Anexo I) neste trabalho e disponíveis
em: <http://www.aticaeducacional.com.br/htdocs/secoes/ficha.aspx?cod=121>. Acesso em: 13 jun. 2009.
66
O resultado de tal combinação literária com a cultura contemporânea permite o
surgimento de obras tais como as que compõem a Coleção Primeiro Amor e tantas outras da
mesma espécie. São produtos que se transformam ao longo dos tempos com formatos cada
vez mais sofisticados, mas, que, invariavelmente, captam leitores de todas as gerações.
4.2 OS TEXTOS: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS
Para análise dos elementos da Coleção referentes ao conteúdo e estruturas textuais,
foram avaliadas a linguagem, seu estilo e recursos utilizados, bem como a temática, através
dos conflitos apresentados. Também foi considerada a representação do jovem, com sua
atuação social, faixa etária e ritos de passagem. Por fim, estudou-se o diálogo que a obra
estabelece com o leitor atual, observando se ela interfere na formação crítica do sujeito, ou se,
simplesmente, reduz-se à repetição dos clichês que caracterizam a cultura de massa.
O estudo de todos esses elementos resultou na produção de um quadro da Análise de
textos da Coleção Primeiro Amor, vide (Apêndice A) deste trabalho. Alguns dos textos
passam a ser analisados a seguir.
4.2.1 Narrador e estrutura narrativa
A narrativa sempre é apresentada em primeira pessoa, geralmente intercalando os
narradores masculinos e femininos na apresentação dos capítulos. Em apenas um dos livros o
narrador em primeira pessoa é o protagonista masculino. O fato de mostrar apenas um, ou no
máximo dois pontos de vista narrativos contribui para tornar o texto pouco interessante,
apresentando uma visão de mundo e das relações de forma reduzida e simplista. Sobre essa
questão, Zuckermann (1995, p. 13) afirma:
Outro aspecto importante do grande romance é que envolve emocionalmente o leitor
com mais de um personagem. Contem múltiplos pontos de vista. A história não é
primariamente narrada por um autor onisciente, ou por um único personagem no
romance, na primeira pessoa, mas sim expressa através dos sentimentos,
pensamentos e sensibilidades de um pequeno número de personagens destacados.
67
O desenvolvimento das narrativas é previsível, sem peripécias ou reviravoltas. O
objetivo é a união do par principal. Cada texto apresenta um casal principal, o namorado não
adequado de cada um, o melhor amigo e a melhor amiga. A ação está fundamentada no
reconhecimento do sentimento amoroso pelo parceiro (geralmente é um amigo de infância),
também em algum conflito facilmente identificável e superável que possa impedir a união,
para em seguida, o casal terminar unido.
Segundo Cademartori (1987, p. 26), tal construção linear, sem elementos dramáticos
elaborados, com resolução previsível de conflitos, é o que caracteriza os romances
sentimentais na indústria cultural:
A realização amorosa [...] é o móvel desse tipo de narrativa. A história se divide em
três momentos imutáveis e facilmente identificáveis: o surgimento do sentimento
amoroso, os obstáculos à realização amorosa - responsáveis pelo desencadear das
ações - e a superação das dificuldades e instauração do equilíbrio com a união dos
enamorados. A história é absolutamente linear, com início, meio e fim.
4.2.2 As Personagens
Em geral, elas apresentam reações emocionais pouco elaboradas e consistentes. As
personagens femininas possuem ingenuidades a respeito de si mesmas e baixa auto-estima
que beira o inverossímil: nunca acreditam que podem gerar interesse no parceiro, mesmo que
todos ao redor afirmem o contrário.
Por que eu nunca namorara? Não sabia com certeza. [...] Quanto à aparência, me
daria um sete num dia em que os cabelos estivessem arrumados. Talvez um oito no
verão, quando estivesse bronzeada. Tenho cabelos loiros e densos cortados na altura
do queixo e olhos azuis amendoados. Duas semanas antes Rick me dissera que eu
era maravilhosa, mas tenho que repetir que sua opinião não contava pra mim
(WEST, 1997, p. 13)
Podem ainda negar o interesse que sentem por determinado rapaz, demonstrando
ingênuo desconhecimento sobre seus próprios sentimentos:
68
- Na verdade é bem simples: você está apaixonada por Ethan. Não por Jack. Entenda
isso de uma vez por todas, menina!
- Mas não pode ser, Becky! Eu sei que sou apaixonada por Jack, sempre fui. Tenho
pensado nele, sonhado com ele e abraçado meu travesseiro fingindo que é ele desde
que me conheço por gente (PRESSER, 1995, p. 58).
Cada vez mais espantada, percebi que tinha chamado James pelo nome de Steve. O
que estaria pensando? Será que ele tinha percebido?
Afastei a cabeça um pouco para atrás e olhei para James. Ele me abraçou, apertando
meus ombros com força. Não tinha ouvido que eu dissera o nome de Steve. Uma
enorme sensação de avio bateu em mim. Mas não conseguia mais me concentrar
nos beijos de James. O nome de Steve não me saía da cabeça. Por que eu dissera o
nome dele? O que tinha de errado comigo?
Balancei a cabeça levemente, tentando clarear os pensamentos. Raciocinando
logicamente, tentei me convencer de que pronunciar o nome de Steve o
significava nada. Tinha acabado de vê-lo e estivera pensando nele (WINFREY,
1998, p. 50).
Elas são submissas ao olhar aprovador do rapaz em questão, nunca tomando a
iniciativa amorosa, mesmo quando apaixonadas. A confiança em si mesma aumenta
quando ela é valorizada pelo parceiro, a exemplo do verificado no seguinte trecho:
Pude sentir que, sutilmente, ele estava me avaliando. Provavelmente o queria ser
cru e me olhar descaradamente de alto a baixo como faziam alguns dos garotos mais
grosseiros da escola. E pude sentir também que ele gostou do que viu. [...] Jack ficou
me ouvindo sem dizer uma palavra, como se eu fosse a garota mais linda e mais
interessante sobre a face da Terra. Ele riu quando contei que tinha pedido miolos de
bezerro por engano em um restaurante. Estar com ele era ver meu sonho se tornando
realidade (PRESSER, 1995, p. 20).
as personagens masculinas geralmente percebem que estão apaixonadas, passando a
enxergar as outrora amigas (agora objeto de amor romântico) de um novo modo, identificando
nova beleza nelas e culpando-se por não terem aproveitado as oportunidades afetivas
anteriormente, tratando de assumir uma postura arrojada para conquistar a parceira.
Nós dois estávamos tão apertados um contra o outro que a respiração dela e cada
movimento de seu corpo me faziam estremecer. Meu braço encostava no seu, e
quando ela girava a cabeça para vasculhar com a vista as ruas escuras, seus cabelos
roçavam em meu rosto. Captei um aroma suave, algo como flores na primavera, que
me fez formigar da cabeça aos pés (ZACH, 1996, p. 88).
Por um instante pensei em ir até lá e dizer oi, mas em vez disso dei um gole em meu
chocolate quente e fiquei observando os dois de longe. De vez em quando Wade se
inclinava para a frente e tocava na mão de Caroline ou em seu ombro. Os olhos dele
pareciam o desgrudar do rosto dela. “Não posso culpá-lo”, pensei. “Caroline é
uma garota bonita.” Mas à medida que os minutos iam passando, senti que meu
69
rosto esquentava um pouco. Caroline e eu sempre nos divertíamos quando
estávamos juntos, mas eu nunca a vira rir tanto como naquele momento.
Nos encontros com Miranda, algumas vezes eu me sentia como se estivesse me
contendo, como se tivesse medo de ser eu mesmo. Caroline não parecia ter esse
problema com Wade. Como ela podia deixar que ele se aproximasse assim o
rápido? (ZACH, 1996, p. 61).
Happy começou a puxar forte pela correia logo que avistou sua casa. Segurar dois
cachorros e uma bicicleta não era tarefa fácil. Eu tinha levado cerca de uma hora
para chegar à residência de seu Francisco, para devolver o Red, e mais meia hora
para chegar à dos Willis. Quando paramos em frente à porta, Happy saltou contra a
madeira lustrosa. Alguém a ouvira: antes mesmo de tocar a campainha, pude escutar
um barulho de passos descendo as escadas à toda, do lado de dentro.
Caroline abriu a porta. No primeiro instante ela nem percebeu que eu estava lá.
olhava para o chão.
- Ah, Happy!!! Pensei que nunca mais fosse ver você!
Ela se ajoelhou e abraçou com força a cadelinha suja e tremeliquenta.
- Ai, você está tão gelada! [...]. E essas patinhas [...]. Nem consigo acreditar que
você voltou inteira!
Caroline olhou para cima, como que se tocando pela primeira vez de que alguém
segurava a outra ponta da correia de Happy.
- Jake! - exclamou ela, parecendo alarmada.
- [...] - comecei hesitante. - É que eu vi o cartaz sobre seu cão, e aí eu [...]
(ZACH, 1996, p. 68).
Cademartori (1987, p. 27), explica que nesse gênero narrativo, as personagens femininas
nunca são atuantes ou tomam a iniciativa nas relões ou na resolução dos conflitos. Segundo ela,
nesses textos, os problemas da mulher o resolvidos “através do apelo emocional, pois a mulher,
a rigor, não atua, uma vez que ela o tem nas mãos as deas da ão. O sucesso e o fracasso
independem dela; ela é a personagem que sofre a ação de outrem”.
Em relação às descrições físicas dos personagens, elas apresentam beleza
estereotipada: são sempre magras, geralmente com cabelos e olhos claros, com peles e corpos
perfeitos. Alguns exemplos são encontrados em Presser (1995, p. 3): “Lydia, com seu rosto
perfeito de modelo, seus cabelos loiros impecáveis descendo como uma cascata dourada até a
altura do queixo, e um vestido tão justo e cavado que beirava a indecência”, ou em Dokey
(2000, p 5): Na minha opinião, Jayne é linda. Ela tem cabelos loiros sedosos e brilhantes e
enormes olhos azuis”. Sobre um rapaz, a descrição é a seguinte:
Seu rosto, com aqueles deslumbrantes olhos verdes, era perfeito. Seu corpo era
musculoso, sem nenhum vestígio de gordura. E seu cabelo, há várias semanas
precisando de um corte, era sedoso e dourado como as areias de uma praia tropical
banhada pelo sol. Qualquer garota daria tudo para poder passar seus dedos por eles
(PRESSER, 1995, p. 19).
70
Mesmo quando a personagem não está satisfeita com algum aspecto de sua aparência
(cor de olhos ou de cabelos), esse é um detalhe que somente ela percebe, sendo em seguida
desmentida por seus pares, amigos ou namorados.
4.2.3 Os Temas
A questão afetiva presente nos textos está relacionada ao surgimento do primeiro
amor. O jovem necessita superar alguns entraves psicológicos ou sociais e descobrir a
felicidade junto a seu par, estando centrado o seu desenvolvimento interior. Em toda a
Coleção, o tema dominante e único é a vivência e experimentação do amor, com destaque
para o primeiro amor verdadeiro, como se ele fosse o objetivo da vida de todos os seres, e
garantia de felicidade eterna. As personagens geralmente possuem ou desenvolveram
envolvimentos amorosos anteriores. Mas não com “a pessoa certa” e, por isso, o infelizes:
O namoro de Tanya e Garth sempre havia sido a fofoca predileta do segundo ano
colegial. que, apesar de os dois viverem brigando, ninguém jamais esperava que
um dia eles pudessem desmanchar o namoro.
E quando eles realmente terminaram, eu com certeza não esperava que o impensável
acontecesse. Mas aconteceu. Garth começou a dar em cima de mim. Eu era vidrada
em Garth Hunter desde que me conhecia por gente. Provavelmente desde que
aprendera a respirar. Bastou apenas uma palavra, um olhar de Garth, e Dean Smith
tornou-se passado.
Ainda que Dean tivesse três cabeças e três pares de maravilhosos olhos cinzentos, eu
nunca teria notado. Naquele momento, Garth era o único cara que eu conseguia
enxergar no universo.
Infelizmente, também não consegui enxergar que nossa relação seria para ele pouco
mais que uma brincadeira. Saímos algumas vezes e nos divertimos bastante [...] ou
pelo menos foi o que me pareceu. Mas, como logo descobri, Garth estava me
usando para reconquistar Tanya. Assim que ela voltou rastejando, ele me chutou
(DOKEY, 2000, p. 5-6).
Rebecca não demonstrava nenhum interesse em conhecer meus amigos a menos que
fossem lideres de torcida ou atletas. E sempre que ela dizia que me amava a palavra
“popularidade” vinha logo em seguida. Basicamente, Rebecca me tratava mais como
um troféu de que como namorado (WINFREY, 1998, p. 53).
A exemplo dos contos de fadas, a verdadeira e suprema felicidade está em
experimentar o “beijo de amor verdadeiro” que garantirá a eterna ventura:
71
Desde o primeiro instante eu soubera que Dean era especial. A química entre nós
dera certo. Tínhamos batido um com o outro.
Nós dois realmente somos como Romeu e Julieta, disse a mim mesma. Um olhar
significativo havia sido tudo o que Romeu e Julieta tinham precisado para se
apaixonar. Mas, ao contrário dos amantes de Shakespeare, Dean e eu o
acabaríamos morrendo nos braços um do outro no fim da história.
A nossa história ia ter um final feliz. Juntos para sempre. Felizes para sempre
(DOKEY, 2000, p. 25).
A preocupação com o amor e os temas amorosos não é recente, pois ilustra a cultura
de muitas épocas, desde a Antiguidade. Mas, como “a propriedade da cultura de massa é
universalizar, em todos os setores, a obsessão do amor”, este ganhou status de onipresença,
em todas as instâncias, inclusive a literária. “O amor decantado, fotografado, filmado,
entrevistado, falsificado, desvendado, saciado, parece natural, evidente. É porque ele é o tema
central da felicidade moderna” (MORIN, 1967, p.137).
Ao longo dos textos, ainda que alguns trechos descrevam sensações sicas erotizadas,
elas referem-se a manifestações públicas de afeto, como beijos e abraços; o relacionamento
amoroso apresenta-se com alguns traços do que poderiam ser considerados como
representação das sensações adolescentes a respeito da descoberta da sexualidade. Nenhuma
das obras refere um envolvimento sexual efetivo entre as personagens.
Apenas uma leve pressão de seus bios. Pura magia. E antes que eu tivesse tempo
de pensar em mais nada estávamos nos beijando ardentemente. Na boca. Pra valer.
No início nossos lábios apenas roçaram suavemente, e depois se buscaram com cada
vez mais intensidade. Fechei meus olhos com força e senti milhares de estrelas
explodirem nas minhas pálpebras. E escutei fogos de artifício trovejando nos meus
ouvidos (PRESSER, 1995, p. 36).
Steve colocou a mão em minha nuca e me puxou para mais perto. Fechei os olhos,
desejando que seus bios tocassem os meus. Assim que senti seu beijo, um fogo
quido se espalhou em mim. Sem pensar, agarrei sua camiseta como se não quisesse
que ele se afastasse mais. Nossas bocas se encontraram com perfeição, como se
fossem feitas uma para a outra. Os fogos de artificio que esperava com James
finalmente aconteceram. Cada parte do meu corpo estava viva e em chamas, como
se estivesse no meio de uma experiência nuclear. o mundo fora evaporou-se e
Steve era a única coisa que ainda existia no planeta (WINFREY, 1998, p. 59).
Eu sabia que não devia retribuir aquele beijo — não enquanto não tivesse decidido o
que queria de fato. Mas parecia impossível reprimir o desejo. Minha mãe tinha me
recomendado que eu ouvisse meus instintos [...] e naquele exato instante meus
instintos gritavam que eu queria beijar Dean.
Seus braços estavam em torno dos meus. Ele o me prendia contra a pia, mas,
em vez disso, me apertava contra seu corpo. Coloquei minha mão livre em sua nuca.
A pele estava quente, e seus cabelos, macios e sedosos. Era tão bom tocá-lo, parecia
tudo tão perfeito, tão certo para mim [...]. Me vi desejando que pudéssemos ficar
daquele jeito para sempre. Não queria que o beijo terminasse.
Finalmente, Dean se afastou. Eu estava sem fôlego, e meu coração batia como um
tambor. Ele me abraçou com força (DOKEY, 2000, p. 60).
72
Cademartori (1987, p. 26) explica que o gênero literário feminino da espécie que
compõe a Coleção, é caracterizado por codificar a proibição ao uso do corpo e da sexualidade,
desde suas origens. A própria construção do caráter das personagens está vinculada ao maior
ou menor grau de exercício de seus desejos eróticos: “as personagens que negam o corpo e o
desejo são puras, boas e dignas de confiança, enquanto aquelas que têm interesses sexuais são
desprezíveis, más e ameaçadoras”.
Nos textos do Primeiro Amor, não há o extremo da negação do impulso sexual; ele é
reconhecido pelas personagens, especialmente quando da descrição de experiências de
proximidade física, como abros e beijos. o aspecto que apresenta as personagens s como
aquelas que vivenciam mais a sensualidade surge em diversos textos. As adolescentes
antagonistas da personagem principal, tidas como de “má índole” ou “pouco confiáveis” o
descritas como “levianas”, que “andam com todos os rapazes”, ou que se portam de forma
francamente sedutora, com ações ou com gestos, como em Dokey (2000, p. 15): “Alta e
magérrima, cabelo loiro oxigenado, Tanya Wright parece uma modelo. O vestido vermelho
justíssimo parecia pintado em seu corpo.”, ou em Presser (1995, p. 36): “Agora ele fora
fisgado por Karen Haupt, a líder da torcida organizada, que àquela altura tinha dançado
com toda a zaga do time. Uma personagem, apresentada como possuidora de “segundas
intenções” em relação ao rapaz, assume um figurino sedutor, que é bem recebido por ele:
Rebecca vestia uma roupa rosa para patinação. O material devia ser cem por cento
malha elástica, porque estava colado ao corpo como uma segunda pele. Ela usava
uma bermuda cor da pele e segurava em uma das mãos os patins imaculadamente
brancos. Para ser honesto, todo mundo que conheço patina de jeans e blusa de lã e
nunca me ocorreria que Rebecca se vestiria como uma bailarina de patinação no
gelo. Mas não seria eu quem iria reclamar. Ela parecia uma atleta olímpica
transformada em supermodelo (WINFREY, 1998, p. 62).
Observa-se nos textos a recorrência de uma fórmula que define as relações afetivas,
bastante difundida na perspectiva da instria cultural, igualmente presente na produção
literária para jovens. Tal fórmula não é tão inovadora, nem privilégio da contemporaneidade,
como se pode perceber em ficções mais antigas, como as mitologias e os contos de fadas. È a
presença de um rapaz rebelde e contestador, “regenerado” pelo poder mágico do amor de uma
mocinha submissa e angelical.
Uns diziam que Sam roubara uma loja em Okeechobee. Outros, que ele era
traficante de drogas. Fontes bem-informadas do banheiro das garotas garantiam que
ele era filho ilegítimo de Mick Jagger. Estávamos entediados com nossas vidas
monótonas, e Sam - misterioso e calado - tornou-se o alvo de todo tipo de
73
especulação. Sendo novato na escola e o único garoto no curso de biologia a exibir
uma jaqueta de couro preta, não podia ser diferente.
Sam dirigia uma motocicleta, sem capacete. Num ambiente em que predominavam
carros do tipo sedã da hevy e trailers sóbrios, a grande Harley no bloco B dos
estudantes chamava a atenção. Cheirava a membros mutilados, fraturas e mortes
prematuras (APPLEGATE, 1995, p. 3).
Evitei falar sobre Sam. Não que houvesse muito a dizer. Não o vi, desde quando ele,
mais ou menos, me convidou para sair, Ele foi à escola esporadicamente - três dias
sim, quatro dias não. Não podia entender como ele conseguia fazer isso e ainda o
fora suspenso (APPLEGATE, 1995, p. 25).
O tema do “noivo-animal”, termo utilizado por Bettelheim (1996), caracteriza
determinadas narrativas, que apresentam a figura do jovem rapaz oculto sob uma forma
selvagem, o civilizada. Ele é sempre acompanhado e auxiliado por uma jovem meiga,
bonita e dedicada, que pode superar grandes dificuldades para confirmar o amor por seu par.
É uma situação que acompanha o imaginário sobre as relações amorosas há séculos. A
mitologia grega apresenta Cupido (Eros) e Psique, história baseada em conto grego anda mais
antigo
25
, onde uma jovem casa-se com um monstro em forma de serpente. Na mitologia, o
conto transforma-se em metáfora para simbolizar, entre outras coisas, o “progresso da alma
racional em direção ao amor intelectual” (BETTELHEIM, 1996, p. 332). Já o conto A Bela e
a Fera culmina com a regeneração da fera em ser humano principesco, após a descoberta do
amor e da civilidade, auxiliado por sua companheira.
Em tais narrativas, a exemplo das produções literárias e cinematográficas
contemporâneas, “o afeto e a devoção da heroína é que transformam a fera” (BETTELHEIM,
1996, p. 324).
- O que sua mãe disse esta manhã quando partiu? - perguntei. - Ainda quer que eu
volte para Detroit, mas se eu quiser ficar com Jane, ela não se importa. Podemos
resolver o problema da transferência da escola e as outras coisas pendentes. Ela
entende que eu queira ficar por aqui para que possa visitar Morgan.
- O que você respondeu?
- Que este não era o único motivo para ficar aqui - Disse ele, enquanto seus lábios
roçaram meus cabelos.
praias lindas, você quer dizer.
- Na verdade, quis dizer que tinha de terminar o curso de verão se realmente
pretendesse passar para o quarto ano.
Empurrei-o e tentei me afastar, mas foi impossível, ele me beijava o
carinhosamente que eu pensei que fosse desmanchar na areia e desaparecer para
sempre (APPLEGATE, 1995, p. 87).
25
Bettelheim (1996, p. 332) diz que em Cupido e Psique, “Apuleius, um neoplatonista, transformou um conto
grego antigo em uma alegoria, que simboliza o progresso da alma racional na direção do amor intelectual”.
74
Verifica-se que, na contemporaneidade, em plena cultura de massa, elementos da
cultura clássica e universal são utilizados. Talvez por essa razão haja tamanha identificação
do público com as produções sobre o tema.
4.2.4 A relação entre jovens, adultos e sociedade
Em poucos títulos da Coleção, os adultos possuem alguma autoridade ou diálogo com
a personagem adolescente.
Minha mãe sempre me considerou como um tesouro. Quero dizer, quando eu era
bebê, ela fez todas as minhas roupas. É claro que ficava mais em conta, mas a
questão era que ela dizia que não havia roupas boas para mim nas lojas.
No curso primário, ela assava torta de banana e biscoitos para eu levar de lanche,
quando o que eu mais queria era pudim de lata e os biscoitos Oreos que as outras
crianças levavam.
Embora tivéssemos problemas para pagar o aluguel, algumas vezes, mesmo com
dificuldade, mamãe conseguia juntar dinheiro para contratar um professor particular
de álgebra para mim, comprar meus uniformes de competição e adquirir um titulo de
sócio de verão num clube de natação. Quando eu comecei o curso colegial, ela
arranjou mais de um emprego para guardar dinheiro para a faculdade. Em todos
esses anos, sempre que lhe agradecia, ela dizia:
- Você pode me agradecer pela educação que nunca tive (WEST, 1997, p. 15).
Na maioria dos textos, os adultos o apresentados na fase inicial das narrativas, somente
para compor” o cenário familiar da personagem adolescente, sem, no entanto, influenciar nos
acontecimentos, muitas vezes sem sequer terem outra aparição ao longo da estória. Quando o pai
ou a mãe se fazem presentes, o fato es ligado à anteriormente referida “juvenilização” dos
produtos culturais, citada por Morin (1967). Na cultura de massa, a figura do adulto perde sua
importância e autoridade, retratada como instável ou ausente, conforme observado em roteiros
cinematográficos, por exemplo, e igualmente, no conteúdo narrativo da Colão analisada.
A própria representação do jovem em relação à sua atuação social é estereotipada, com
grande valorização de ações que não contribuem para a realidade social, econômica e cultural
em que estão inseridos. Em geral, as personagens juvenis ficam restritas à atuação em um
cenário tipicamente adolescente.
São muito frequentes os bailes de formatura ou de estações do ano, com todas as
implicações e preocupações esperadas desses eventos, como o que vestir, que penteado usar,
ou como conseguir uma companhia.
75
Novembro tinha chegado, e o dia 11, sábado, dia do Baile de Boas-Vindas,
amanheceu frio, mas ensolarado. Na sexta à tarde já tinha preparado tudo para a
festa: minha mãe me ajudara a escolher um buquê de rosas vermelhas para Rebecca,
eu tinha mandado meu único terno para a lavanderia e até mesmo lavara o meu
carro. Estava tudo arrumado.
Como Patrick era um jogador e Carrie a líder de torcida, Rebecca e eu fomos
sozinhos ao jogo dos Raiders. Depois voltaríamos para casa para trocar de roupa, e
todos nos encontraríamos por volta das nove horas. Ainda não estava muito contente
por ter a companhia de Patrick e Carrie, mas já estava mais conformado com a iia.
Chegando ao estádio, Rebecca quis sentar nas arquibancadas em frente às garotas da
torcida (WINFREY, 1998, p. 44).
Por que será que todo baile de colégio sempre tem um tema? Nunca tem uma festa
com luzes, uma banda e ponche.. Deve ser alguma lei não escrita que os
estudantes devam ser submetidos aos caprichos de um comitê de decoração. Para o
Baile de Boas-Vindas o comitê escolheu o tema “Uma noite em Paris”.
Admito que o ginásio estava bem bonito, para os padrões do colégio Jefferson.
Havia cordões de luzes em volta de todas as paredes, e até no teto, e alinhavam-se
filas e filas daquelas mesinhas para café por todo o salão, com cadeiras de ferro e
candelabros. Grandes painéis de lugares famosos em Paris pintados pelos estudantes
estavam pendurados nas paredes. Bem embaixo da tabela de basquete destacava-se
uma escultura da Torre Eiffel de papel machê (WINFREY, 1998, p. 46).
Todos os livros apresentam descrição de atividades tipicamente vinculadas aos jovens
norte-americanos, igualmente retratadas em produções cinematográficas juvenis: participação
em acampamentos de verão e idas a lanchonetes, onde as personagens consomem sorvetes,
chocolate quente, junkie food. Quando necessidade de retratar adolescentes mais maduros,
surgem as cafeterias e capuccinos, e a leitura de jornais ou livros como atividade cotidiana do
jovem em questão. Outros cenários, sempre iguais, o as escolas, ginásios esportivos,
shopping centers e as pistas de patinação.
Decidi dar uma passada no Café Luna antes da escola, na terça-feira de manhã. o
é um lugar aonde costumo ir. Tem uma frequência muito cult para o meu gosto. Mas
eu sabia que Natalie gostava do Ca Luna, de maneira que estava disposto a me
sujeitar a um bando de pretensiosos vestidos de preto, discutindo vegetarianismo e
Kafka. Com um pouco de sorte, eu toparia com Natalie (DOKEY, 2000, p. 27).
Em nossa quarta parada em frente ao Taco Villa, o carro estava cheio de papéis de
embrulho engordurados e cheirando a pizza e batata frita. Já tínhamos no
empanturrado até a goela quando Zipperman declarou que uns nachos para a viagem
era o que estava faltando ara que os Golfinhos ganhassem à competição. Quanto a
mim, não queria mais o burrito ao creme.
Havia um congestionamento de carros dos garotos do colegial na fila do Taco Villa
e é provável que alguns estivessem tão famintos quanto nós antes de nossas duas
primeiras refeições (WEST, 1997, p. 25).
76
Em geral, os jovens personagens não possuem atuação social de impacto, mesmo que
tenham uma ocupação (sempre adequada ao perfil do adolescente de classe média): aqueles
que são apresentados como repórteres do jornal da escola, atores do grupo escolar de teatro,
monitores de acampamento, cuidadores de animais, ou baby sitters, têm nisso apenas uma
característica que justifica sua autonomia para transitar socialmente e encontrar o objeto de
interesse amoroso. A ocupação ou profissão descrita serve como mote para que ele possa sair
de casa ou do ambiente escolar e encontrar seu par; não possui, portanto, caráter definidor de
sua personalidade, nem influencia em seu comportamento ou amadurecimento, nem mesmo
se percebe que o adolescente tenha qualquer preocupação de ordem social. Dessa forma, a
própria sociedade parece não existir, estando o jovem caracterizado como um ser apartado da
coletividade real.
Em Cademartori (1987, p. 27), encontra-se uma explicação sobre tal realidade social
tão pouco presente, separada do mundo adulto, com o perfil alienado e pouco atuante dos
jovens nessas narrativas:
Não conflitos na sociedade, segundo esse tipo de narrativa: tudo é pessoal. As
personagens não ocupam um lugar social, sequer através do trabalho. Este se torna,
apenas, um charme da personalidade e circunstância de aproximação ao amado.
Consequentemente, a luta de classes é negada, e mais do que isso, colocada como
improcedente.
4.2.5 Linguagem/clichês/diálogo com o leitor
reincidente uso de clichês, em todas as obras, mesmo naquelas traduzidas por
pessoas diferentes, denunciando que a matriz das obras em língua inglesa é que apresenta tais
figuras empobrecidas de linguagem.
Um exemplo bastante evidente é o uso da expressão “no fundo dos meus olhos”
quando o narrador quer expressar a intensidade do olhar do parceiro. Como em Zach (1996,
p. 77), quando “Caroline olhou direto no fundo dos meus olhos, quase me desafiando a
responder”, ou em Page (2000, p. 8, 41): “Peter olhara no fundo dos meus olhos, e eu erguera
minha cabeça na direção da dele”, “Eu gosto desse seu jeito - disse, me fitando direto nos
olhos. Um olhar tão intenso que fez minha boca secar”.
Outro problema, ainda no campo dos clichês, é a construção cênica em torno das
personagens nos momentos de encerramento do livro.o ambientes relativamente bem
77
descritos, com detalhes, mas que contam com ação simples, termos previsíveis e fórmula
extremamente conhecida, lembrando filmes B e novelas televisivas:
Senti como se estivéssemos num paraíso particular. Um doce aroma de madressilva
perfumava a noite, e uma cascata de raios prateados caía da lua, iluminando a mata
escura.
-Ah, Kerry, é lindo demais [...] - falei baixinho, quase chorando de emoção.
-Mas não tanto quanto você - ele disse.
Me virei para olhá-lo, sorrindo. Ele se inclinou para mais perto de meu rosto e me beijou
com seus lábios quentes e doces. Em seguida me puxou contra seu corpo e me abraçou
forte, justamente quando os primeiros raios do sol batiam na praia (PAGE, 2000, p. 66).
Sem aviso, as luzes se acenderam. Nós ainda nos beijávamos. Só paramos quando todos
no cinema comaram a aplaudir espontaneamente. Olhamos um para o outro com ar
cúmplice e caímos na risada. Um assobio longo e forte de alguém no corredor nos fez rir
mais ainda. Mas o parávamos de nos olhar. Estávamos completamente absorvidos pela
magia do momento. Na entrada toda iluminada a mulher da bilheteria estava parada, com
as mãos na cintura.
- Eu sabia! - exclamou ela quando nos viu saindo juntos - Como eu disse, deve ser
alguma coisa no ar! Andamos pela rua, sorrindo e rindo feito bobos. Todos apaixonados,
pensei.
- Ei, Kelly. - disse ele. O quê?
- Você tem um par para o Baile de Inverno? - ele perguntou - sabe, preciso ganhar
uma certa aposta.
Puxei-o para mais perto, beijando-o de leve. Depois dei uma risada e um soco ligeiro em
seu braço.
- Acho que você quis dizer que tem uma aposta que EU preciso ganhar. - Falei, olhando
em seus olhos. Steve fez cara de rio e colocou asos em torno de minha cabeça.
- Acho ques dois ganhamos. - Sussurou gentilmente.
Então ele me beijou, e não estou bem certa do que aconteceu depois. Tudo de que me
lembro é que a noite terminou com chocolate quente e uma lareira. Adivinhe o resto [...]
(WINFREY, 1998, p. 89).
Outro lugar-comum nas obras é a presença de sonhos: eles aparecem em diversos
textos, como uma forma de a personagem perceber seus sentimentos.
O que se evidencia é que os textos apresentam os mesmo problemas: recorrência de
figuras de linguagem e estereótipos. Aqui a referência não é à forma, que sabe-se, é repetida até o
desgaste. o detalhes, como as apostas, os conflitos, as descrições físicas, que se assemelham
muito, levando por vezes a suspeitar da propagada multiplicidade das autoras.
Meirelles (2008, p. 98) acredita queas editoras manipulam os textos a que se encaixem
num padrão previamente determinado. Por consequência, pode-se pensar que realmente, não
existe uma autoria única, o livro é composto em rias mãos”. No caso da Colão Primeiro
Amor, essa parece ser a explicação adequada para tamanha semelhança entre os textos.
Segundo as informações da coordenação de literatura juvenil da editora Ática, eles
recebiam os textos da editora americana que publicava a coleção Love Stories, a Bantam
Books for Young Readers, e encaminhavam para a tradução. Por serem tradutores diferentes, e
comprovadamente reconhecidos no Brasil, é de se supor que as questões problemáticas dos
78
textos estejam em sua matriz de língua inglesa.
A Coleção Primeiro Amor segue o formato das prodões contemporâneas próprias da
cultura de massa. Segundo Zilberman (2007, 102-03) a literatura de massa não possui liberdade
criativa, sendo mais afeita à repetição, e não à criação. Segundo ela, tal prodão es sujeita à:
Falta de ímpeto experimental, e de projeto de cunho artístico. Como é imperativa a
necessidade de agradar ao leitor aficcionado, e este prefere a repetição da fórmula à
inovação constante, a literatura de massa não assume a liberdade de criação
conferida à arte. Preferindo ser regularmente adquirida por seu público, em vez de
chocá-lo com experiências mais avançadas, abdicando de sua adesão fiel, ela acaba
por se revelar na condição de mercadoria, e não na de objeto estético.
4.3 O AMOR PODE ESPERAR, UM OLHAR MAIS PARTICULAR
A análise acurada de uma das obras pode comprovar a forma como se organiza este
tipo de produção. Foi escolhida para análise mais detalhada, a obra O amor pode esperar,
lançada em 1995, o primeiro título da Coleção.
Como é possível verificar na tabela de dados catalográficos, O amor pode esperar de
Katherine Applegate, teve tradução de Luciano Machado. É uma publicação da Editora Ática,
do ano de 1995, com 144 páginas. Seu título original é Sharing Sam, ou seja, “compartilhando
Sam”, o que apresenta muito rápida e claramente o conflito proposto no texto. Nesse livro o
enredo é simples:
Para Alison, Sam Cody é irresistível: aquele belo rosto, os olhos penetrantes [...]
Quando ele a convida para dançar no baile da escola, fica eufórica. Mas a alegria
acaba quando descobre que sua melhor amiga, Isabella, também se apaixonou por
Sam. Sofrendo de uma doença incurável, ela está para morrer. Diante desse fato,
Alison se conforma e deseja que os últimos dias de Isabella sejam os melhores de
sua vida. Mesmo que ela e Sam tenham de esconder o seu amor. Mas será que eles
podem guardar segredo de um sentimento tão forte? (APPLEGATE, 1996, p. 3).
Através da ntese, é possível para o leitor perceber o conflito, imaginar o
desenvolvimento e concluir o final. Porém, além da fórmula conhecida, adequada à origem do
texto como produto cultural de massa, ele também trata de assuntos mais delicados, como a
doença, a velhice (o avô de Sam é senil) e a própria morte. São temas pouco abordados,
especialmente em obras juvenis.
79
De acordo com a perspectiva da instria cultural, cujos produtos não possuem cunho
artístico, mas de entretenimento, a síntese, especialmente quando apresentada na primeira
página do livro e na contracapa, serve como mais uma maneira de atrair o leitor para as
possibilidades de distração que o texto oferece. Por vezes, desenvolve premissas
aparentemente estranhas, como uma doença fatal acometendo uma linda jovem; por outras,
apresenta conflitos prosaicos. O objetivo final é um só: atingir o maior número possível de
seguidores, ou melhor, de consumidores, que podem, efetivamente, encontrar as emoções que
procuram. Isso ocorre por que:
Enquanto a história da estética valoriza a arte, é importante entender que a literatura
de massa o é uma arte e nem se propõe a tal. A literatura de massa proe o prazer
- não aspira à beleza, evoca a comoção, excitando os sentidos em um movimento
que prescinde da dimensão intelectual, transbordando na excitação das lágrimas, do
riso, da sensualidade. E é capaz de fazer aflorar essa emoção no momento da leitura
(MEIRELLES, 2008, p. 47).
A exemplo de outras obras da Coleção, a narrativa é em primeira pessoa, realizada pela
protagonista feminina. As personagens principais são Alison, filha de pais veteririos, 17 anos;
sua melhor amiga é Isabella Cates, filha de imigrantes cubanos, que descobri um tumor mortal
no cérebro. Alison tem uma irmã, Sara, de 10 anos de idade. Outro personagem importante é Sam,
17 anos, o garoto rebelde, mas sensível, que possui uma moto e um segredo.
É um dos únicos textos da Coleção em que os pais da protagonista o retratados, e m
ão efetiva sobre a educão das filhas. Conversam, aconselham e, quando necessário, impõem
limites e castigos. São apresentados como confiáveis, a quem a jovem recorre quando necessita de
apoio para seus conflitos. Surgem como adultos atuantes, representados como educadores
responsáveis, cumprindo seu papel, conduzindo e mediando a ação da adolescente.
os pais da personagem Izzy, a melhor amiga, bem como uma tia materna, são
figuras menos atuantes, surgindo na narrativa apenas como acompanhantes preocupados da
doença da filha. O terceiro e ultimo núcleo de adultos apresentado na obra é formado pela
mãe e pelo avô paterno de Sam, com quem ele vive e de quem ele cuida. O rapaz optou por
deixar a convivência da mãe, para cuidar do avô, que, em uma etapa anterior de sua vida,
quando de uma internação da mãe, adotou o neto, cuidando dele por bastante tempo. Por ter
essa “dívida de gratidão” com o avô, o jovem comprometeu-se em ficar com ele, que está
sofrendo de senilidade, adiando a internação que a mãe já avisou ser inevitável.
Em relação à linguagem, apresenta-se simples e coloquial, em acordo com a
linguagem juvenil, destacando-se alguns recursos narrativos ao longo do texto.
80
A narradora busca aproximar-se do leitor, estabelecendo diálogos e fazendo
observações diretamente a ele:
Guiei a égua a passos moderados para evitar solavancos desnecessários. Segurar as
rédeas exigia um ocasional contato de pulso com cintura. Meu pulso e sua cintura
rija e quente. Eu sentia o cheiro de suor, de cigarro, grama e pele - tudo misturado
com o da égua. Parece horrível, eu sei. Mas não foi (APPLEGATE, 1995, p. 6).
Mas este foi realmente um beijo de verdade. Toda vez que eu me lembrava, ficava
trêmula e tonta e o coração parecia querer sair pela boca.
Parece terrível, eu sei. Mas não era. Sentia-me como se tivesse viajado a um lugar
desconhecido. Como se estivesse nas nuvens, se é que me entende (APPLEGATE,
1995, p. 38).
“Sentia-me muitíssimo generosa. Quase nobre, como Sam havia dito. Meu Deus, estou
me vangloriando, não estou?” (APPLEGATE, 1995, p. 65).
Utiliza-se de humor, lembrando os roteiros e diálogos de sitcoms.
“O Sam Cody das loucas especulações e boatos cochichados, que poderia ter matado
um homem, assaltado um banco, ou vendido coisas de porta em porta: e não estou me
referindo a aspiradores de pó” (APPLEGATE, 1995, p. 5).
Apenas prometa-me isso. Se eu sair da cirurgia igual a uma couve-flor, convença-os
a desligar a máquina - disse ela, jogando seu almoço no lixo. - Eu pedi a mesma
coisa a meus pais, mas você sabe como os pais são apegados a seus filhos. Estou
falando sério! Se eu sair babando, ou se, de repente, começar a assistir a seriados na
televisão ou coisa assim, acabe com meu sofrimento (APPLEGATE, 1995, p. 14).
Sabe, eu acredito que o espectro da morte está me liberando. O que de pior poderia
acontecer? Eu convido-o para sair, ele diz não. Eu morro. Convido-o para sair, ele
diz sim. Eu morro. Em ambos os casos, a parte rejeitada assemelha-se a uma reles
grama na paisagem, não é? (APPLEGATE, 1995, p. 15).
Se um cara flertasse com ela, somente quatro dias mais tarde perceberia. Enquanto
eu, ao contrário, estava ligada a tudo. A cada nuance, olhar, palavra ou nas
entrelinhas. Se um cara esbarrasse em mim no corredor, naquela mesma noite eu
estaria escolhendo vestidos de noiva (APPLEGATE, 1995, p. 16).
“Segurei a camiseta pelos ombros. Uma camiseta masculina - a camiseta do Sam. Já
usada. Iria usá-la para dormir até que dela restassem apenas tiras, linhas ou minúsculos fiapos
de algodão” (APPLEGATE, 1995, p.18).
81
- O que está fazendo? - perguntou Sara. - Voo pode deixá-lo entrar no carro.
o nos encontrar em pedacinhos no Jardim Botânico daqui a dez anos” (APPLEGATE,
1995, p.19).
O rito de passagem da personagem feminina ocorre através da vivência de diferentes
obstáculos: a morte, o amor adolescente, a disputa fraterna. Percebe-se o fortalecimento da
personagem ao longo das situações, chegando ao final da história mais amadurecida, com um
olhar mais sereno e bem resolvido sobre si mesma e os conflitos que vivenciou. Em união
com a linguagem, jovem, sem subestimar a inteligência do leitor, a personagem apresentada é
verossímil e apresenta crescimento. A narração desses temas utiliza-se, em vários momentos,
de uma linguagem poética sem ser demasiadamente piegas:
- Não sei, Al. Você simplesmente mudou. Sinto como se [...]. - Ela engoliu em seco
e continuou: - É como se eu não pudesse entender.
- Você não tem de entender. Você tem dez anos e deve agir como uma garota de
dez. Quando está crescendo, você tem de passar por todas essas fases, algumas delas
muito chatas. Mas não há como fugir.
- Por que não?
- Porque [...]. É difícil explicar. É como se você estivesse jogando banco imobiliário.
Se pular um dos espaços, você estará trapaceando.
- Às vezes, sinto como se você fosse de outro planeta - disse Sara.
- Às vezes, eu tamm - disse, rindo (APPLEGATE, 1995, p. 80).
Olhei para o lugar onde estivéramos, onde Miguel abrira a urna ao vento e as cinzas de
Izzy voaram. Pensara que este final seria importante para Izzy. Mas naquele momento
compreendi que era apenas um símbolo e um ritual para nós e não para ela. Não era Izzy
sendo carregada pelo vento, alojada numa moita de grama da praia, se desmanchando
nas ondas. s o a estávamos deixando para ts, aqui na areia. Ela estava indo para
casa conosco, estava indo para seu lugar (APPLEGATE, 1995, p. 139).
Em relação ao conflito, que envolve todas as personagens do enredo, ele tem início com a
descoberta da doença terminal da melhor amiga, quando a protagonista resolve que, para o bem
da amizade, não divulgará seu namoro com o rapaz por quem a colega está apaixonada. Apesar de
ser um conflito piegas, as situaçõeso apresentadas de forma bem construída.
Ainda que o tema apresentado e o obstáculo a ser superado sejam previsíveis,
superficiais e quase inverossímeis - uma adolescente apaixonada abre mão de seu amor em
benefício de uma amiga portadora de uma doença fatal - a construção da narrativa possui
algumas virtudes. A linguagem empregada, ainda que coloquial, traz momentos poéticos, e
não parece subestimar a capacidade de fruição artística do leitor adolescente, conferindo
momentos de beleza e emoção ao longo da narrativa. Além disso, devido à forma como os
82
conflitos internos da personagem são apresentados, é possível que o leitor se identifique com
o texto, vendo ali refletidos seus próprios anseios e vidas adolescentes. Por fim, alguns dos
temas tratados ao longo do texto merecem destaque, por constituírem exceções na produção
literária de massa: a doença, a velhice, a senilidade e a morte. Presentes na narrativa e parte da
ação e dos conflitos, tais temas são difíceis de serem abordados, especialmente em uma obra
de lazer, voltada para jovens.
No entanto, deve estar claro que esta configuração o é própria dos produtos
culturais. Segundo Zilberman (1987, p. 103), valores como a singularidade do texto, a
possibilidade de causar estranheza ao leitor e capacidade de representar comportamentos
(individuais ou sociais), em princípio,
estão ausentes de uma obra voltada ao grande público; quando ela os inclui, fá-lo
apesar de sua destinação primitiva.[...] E aquela ausência não motiva apenas sua
condenação; é também ela que relega os textos onde é constatada à classificação de
literatura de massa.
Comprovando que O amor pode esperar segue a mesma estrutura dos outros textos da
Coleção, elementos como o universo cênico e representação social do jovem são similares às
das demais obras.
A ação dos personagens se desenvolve na escola. Em relação a representações de
função social, eles desenvolvem atividades comuns: são estudantes, alguns com mais
destaques que outros. A personagem de Izzy, a melhor amiga doente, é filha de imigrantes
cubanos, refugiado nos Estados Unidos. No entanto, tal situação política é apenas citada, sem
consequência ou influência no desenrolar da trama.
O único personagem que aparece com maior atuação social é Sam, que trabalha em
uma oficina mecânica (e por isso é um aluno ausente) e cuida do avô materno, doente.
A ação interior, especialmente da protagonista, é explicitada em diversas passagens,
conferindo-lhe maior veracidade psicológica:
Tive uma sensação semelhante à de alguns verões passados, quando todos os meus
amigos foram acampar e eu ficara em casa. Eles voltaram mudados. Mais
inteligentes e cheios de segredos que eu não sabia. Sam me fez sentir assim
(APPLEGATE, 1995, p. 22).
83
“Procuramos os peixes-bois, mas eles estavam escondidos na vegetação escura,
esperando um momento para aparecer. Esperando, suponho, como nós estávamos para ver o
que o mundo nos reservava” (APPLEGATE, 1995, p. 33).
Sentia uma agitação interior e estava a ponto de chorar. Era minha chance de ajudá-
la a superar tudo isso, mas não conseguia. Eu não era a pessoa certa, disse a mim
mesma. Mas eu era sua melhor amiga. Os melhores amigos são aqueles para quem
dizemos todas as coisas que nunca diríamos aos pais. Coisas como: eu sei que estou
morrendo e estou com medo (APPLEGATE, 1995, p. 74).
Para melhor entendimento acerca da função e atributos das personagens nesse texto, torna-
se possível aplicar aqui as conclusões de Propp (1972), que desenvolveu amplo estudo sobre uma
vertente de contos mágicos semelhante aos contos de fadas. A fórmula estabelecida por ele,
apesar de originalmente explicar os contos populares russos, presta-se à análise de O amor pode
esperar, sem inadequações, conforme apresenta-se adiante. Isso se deve ao fato de tal gênero
literário apresentar um padrão narrativo estabelecido sobre uma estrutura que em muito lembra os
contos de fadas. O herói necessita superar obstáculos, por vezes cumprir uma tarefa ou enfrentar
um perigo, para, ao final, alcançar a felicidade, que no caso dos romances sentimentais, es
intimamente vinculada ao sucesso amoroso. Segundo Paes (1990, p. 30), os textos dessa natureza
possuem um cater compensatório quase infantil:
Tampouco é difícil perceber no romance sentimental, que privilegia o amor como
sentimento todo-poderoso [...], um eco da moral do conto de fadas. O final feliz desses
contos satisfaz o nosso ‘sentimento do justo’ ao reparar injustiças como a de crianças
abandonadas no mato por seus pais ou de enteadas tiranizadas por suas madrastas.
De acordo com Propp (2001), as personagens possuem atributos ou ões constantes
que as caracterizam, denominadas pelo autor de funções. Elas o executadas por cada
personagem, de acordo com seu significado para o desenvolvimento da trama, podendo a
mesma ação ser praticada por diferentes personagens, de diferentes maneiras.
O autor definiu mais de trinta funções, ou ações desenvolvidas pelos personagens. A
seguir, destacam-se dez, que, segundo Propp, podem surgir após a apresentação da situação
inicial, podendo ser facilmente identifiveis na narrativa estudada:
a) o afastamento, representado pela saída de casa por parte de um dos membros mais
novos ou mais velhos, ou ainda pela morte dos pais;
b) a proibição, onde uma interdição é imposta ao herói;
84
c) a transgressão da proibição, executada pelo herói;
d) a carência, onde o herói busca obter algo que não possui, que pode ser o amor de
uma noiva;
e) a tarefa difícil, quando o herói recebe a obrigação de cumprir um teste de força,
coragem ou paciência;
f) o dano, imposto ao herói, que vem a ser o que dá movimento á narrativa;
g) a reação do herói, em que ele pode questionar ou não levar a cabo a tarefa imposta;
h) a realização, quando a tarefa é realizada com sucesso;
i) reparação do dano ou carência; quando a história atinge seu ápice;
j) o casamento, quando o herói concretiza o matrimônio.
Propp definiu ainda sete tipos de personagens, que em sua esfera de ação, podem
desempenhar as funções citadas, sendo que alguns deles estão presentes no enredo de O amor
pode esperar:
a) o auxiliar - que ajuda nos deslocamentos do herói, no socorro, na reparação do
dano;
b) a princesa e seu pai, que podem efetuar o pedido para o cumprimento da tarefa
difícil, participarem do reconhecimento do herói e da concretização do
matrimônio;
c) o herói, encarregado de partir, cumprir as tarefas, transpor as dificuldades e por
fim, casar com a princesa.
Em relação às personagens que desempenham funções importantes na narrativa, pode-
se relacionar Sam com o herói. Alison, a protagonista que determina a tarefa difícil de ser
executada e é a noiva ao final, pode ser classificada como a princesa. O auxiliar está
representado pela figura de Sara, a irmã de dez anos de Alison, que atua como mediadora nos
conflitos entre o casal, e entre o herói e sua família, prestando socorro em momentos cruciais.
Segundo Khéde (1986, p.20-21), em narrativas que seguem a configuração aqui descrita, “o
personagem criança é esporádico. Quando aparece, está ligado à representação da fragilidade
e da inocência (embora plena de bom senso) e aos processos ritualísticos de iniciação”. É o
caso de Sara, criança vivaz, inteligente e bastante consciente sobre as mudanças que a irmã
está passando, reconhecendo que também ela se transforma e evolui. Finalmente, avaliando o
antagonista, o há um personagem específico que assuma tal função; no entanto, como os
danos são causados pelos próprios protagonistas, pode-se considerar que a função de
antagonista ou agressor ocorre em nível interno, compondo a psique de cada um dos
elementos do casal principal, o herói e a princesa.
85
Nem todas essas personagens estão presentes em O amor pode esperar, assim como
outras funções descritas por Propp não são identificáveis no texto. É interessante verificar a
presença das dez funções citadas, além da possibilidade de adequar os personagens à
estratificação proposta pelo autor.
FUNÇÃO
SITUAÇÃO NO TEXTO
Situação Inicial
Alison é uma garota tranquila, estudiosa, que possui uma família estável e uma
melhor amiga, Izzy. Ela conhece um rapaz, Sam, por quem vem a se
apaixonar, que acaba de mudar-se para sua cidade e para sua escola. Ele
tamm se apaixona por ela.
O afastamento
O personagem de Sam inicia sua aparição com seu afastamento do lar de
origem, a casa materna, pois escolheu viver com o avô, que está doente e
precisa de seus cuidados. É esse afastamento da casa materna que possibilita o
desenrolar da ação, pois a partir dele, o rapaz vai para acidade e escola novas,
onde conhece a mocinha.
A proibição
Acontece em dois momentos:
1) Sam se apaixona por Alison, mas não se acha à altura dela, impondo-se a
proibição de amá-la ; 2) mais tarde, quando os dois assumem seu amor, a
doença de Izzy e o interesse dela por Sam surgem como uma proibição ao seu
relacionamento.
A transgressão da proibição
1) Sam resolve assumir seu amor por Alison;
2) Sam resolve namorar as duas moças ao mesmo tempo.
A carência
Sam é um herói solitário, que necessita de um amor; toda sua movimentação é
baseada na busca por uma companheira, e por ser aceito per ela. Possui
família, mas sua relação com ela é instável.
A tarefa difícil
Alison pede que Sam reprima seus sentimentos por ela, e num exercício de
paciência, renúncia e superação, volte seu interesse e afeto para Izzy.
O dano imposto ao herói
Por estar envolvido com as duas moças, Sam não sabe mais por quem está
apaixonado, reconhecendo que também passou a amar Izzy, que morrerá. O
reconhecimento de tamanha confusão gera sofrimento.
A reação do herói
Sam questiona a decisão de Alison, buscando convencê-la de que não podem
levar o plano adiante. Ela argumenta que Izzy, paciente terminal, está muito
feliz, pois vai morrer tendo conhecido o amor e sendo correspondida.
A realização
A tarefa é cumprida por Sam. Ele faz o papel de namorado perfeito de Izzy,
conforme idealizado por Alison. Izzy morre, todos sofrem, mas a sensação de
dever cumprido e consciência apaziguada domina o casal, que cresceu com a
perda da amiga e com os danos sofridos, estando amadurecidos para
finalmente usufruírem de seu amor.
A reparação do dano
Sam encontra a parceira ideal na figura de Alison, de quem pode finalmente
ficar próximo sem esconderem-se. Além disso, a situação com sua própria
família também está resolvida com a intervenção de sua mãe na internação de
seu avô.
O casamento Os protagonistas finalmente estão juntos. O equilíbrio é restaurado.
Quadro 3 - Demonstrativo das funções de Propp em: O amor pode esperar
Fonte: Elaborado pela autora (2009).
Conforme citado anteriormente, o estudo de Propp analisa contos maravilhosos. No
entanto, é possível perceber a proximidade da estrutura dos contos mágicos populares e das
narrativas da Coleção Primeiro Amor. Apesar da ausência do elemento mágico nessas obras
86
(por pretenderem a verossimilhança), a presença das demais funções, como a situação inicial
perturbada por um conflito, a superação do obstáculo e o final feliz, são perceptíveis em todos
os textos. Esses elementos, tão ao gosto dos ouvintes de hisrias muitas gerações, podem
auxiliar na explicação do apreço do público por este nero de narrativa e a popularização de
tais obras.
4.4 ENTRE TEXTOS E CONTEXTOS, A COLEÇÃO PRIMEIRO AMOR
Os textos da Coleção Primeiro Amor pertencem à categoria de literatura de
entretenimento sob a forma de romance sentimental. Sua matriz histórica é bastante antiga,
ligada à literatura dedicada ao público feminino, os romances sentimentais, ou a chamada
“literatura cor-de-rosa”.
Segundo Morin (1967), no início do século XX, as barreiras de estratificação cultural
eram mais delineadas e visíveis, havendo diferenças claras entre a imprensa burguesa e a
imprensa popular, a imprensa de informação e a imprensa fácil, a literatura popular e a
erudita. Com o tempo, novas estratificações foram sendo formadas, surgindo a literatura
infantil e a imprensa feminina, por exemplo.
Defendendo que a cultura de massa não rompe com, mas prolonga as tradições
literárias, o autor explica que ainda no século XVII, os romances de amor e aventura ganham
fôlego e força, graças à ascensão da burguesia, da figura feminina e do próprio romance,
conforme verificou-se na primeira parte do presente trabalho.
Com a decadência dos antigos romances de cavalaria, quiméricos, frente ao fortalecimento
do realismo, o mito do amor ideal precisava de novo cenário para manifestar-se. Encontrou
terreno fértil no campo do próprio terreno realista, promovido pelo romance burguês.
No século XVII, o romance é esquartejado entre os dois pólos da quimera e do
realismo, mas logo esses dois pólos vão operar uma eletrólise, de onde sairá o
romance moderno. Os temas de amor serão extraídos dos romances de cavalaria
(que se enfraquecerá) para serem integrados nos romance burguês que deixará de ser
cínico e caricatural para ficar realista. Dessa dupla transfusão [...] nascerá o romance
burguês moderno no século XIX, romance de relações, conflitos, [...], onde o amor
desempenha um papel essencial (MORIN, 1967, p. 61).
87
Ainda segundo o autor, é a partir da publicão de Madame Bovary, em que a
protagonista é a representação da própria leitora burguesa, que o romance feminino tem sua
consolidação. “Em Madame Bovary a dominante se tornou feminina e o amor se tornou o
tema identificativo inicial” (MORIN, 1967, p. 62).
A tendência que unifica obra e leitora torna-se dominante na literatura romanesca d
em diante. Com a tipografia, a partir do século XVIII, e o aumento da produção e
comercialização de livros, tal movimento ganha popularização crescente, a alcançar o
sucesso máximo com os folhetins, no século XIX. Nestas publicações, os personagens “reais”
e possíveis, vivem aventuras fantásticas. Tal corrente literária popular permanece fiel aos
temas melodramáticos, que envolvem amores impossíveis, mortes e sofrimento, superação de
obstáculos e o amor triunfante, ao final.
Acompanhar o desenrolar histórico do romance feminino de caráter sentimental,
reforça a idéia de que a cultura de massa não fabrica conteúdos artificialmente. Pelo contrário,
ela perpetua tradições de estilo e tema que o seculares.
A cultura de massa, em certo sentido [...], é a herdeira e a continuadora do
movimento cultural das sociedades ocidentais. Na cultura de massa vão confluir as
duas correntes com as águas frequentemente misturadas, e no entanto, fortemente
diferençadas logo que a industrialização da cultura aparece: a corrente popular e a
corrente burguesa, a primeira dominando, de início, a segunda se desenvolvendo em
seguida. A cultura de massa integra esses conteúdos, para logo desintegrá-los e
operar uma nova metamorfose (MORIN, 1967, p. 65).
A Coleção Primeiro Amor segue os mesmo padrões da leitura feminina dos últimos
séculos. Nela apresentam-se elementos como o amor que necessita superar obstáculos, a
protagonista que espera o ser amado, o herói que enfrenta provas para testar a resistência de
seu sentimento, tudo objetivando o almejado final feliz.
No Brasil, a tradição de romances sentimentais iniciou com a “Biblioteca das Moças”,
coleção de romances editada pela Companhia Editora Nacional, publicada ininterruptamente
entre as décadas de 20 e 60 do século XX. Os autores mais conhecidos da coleção eram um
casal de irmãos franceses que escreviam sob o pseudônimo “M. Delly” e detiveram o maior
número de títulos e edições. A coleção, traduzida do francês, compunha-se de 190 títulos, e
influenciou gerações de mulheres em sua formação leitora e pessoal.
Lang (2007) relata que no acervo de documentos da Companhia Editora Nacional,
existem inúmeras cartas de leitoras, solicitando a retomada de publicação das obras:
88
Entre os papéis do departamento editorial constava um conjunto de cartas das
leitoras dessa coleção, que se corresponderam com a editora na década de 1980,
destacando a importância que esse conjunto de livros teve na sua formação.
Algumas eram professoras e elas ressaltaram a importância da Nacional reeditar a
coleção, dando acesso a outras moças, suas próprias netas e filhas, às leituras de que
tanto gostaram outrora. As cartas indicam a importância da coleção na formação de
pelo menos três gerações de jovens, que ela circulou entre os anos 1920 e 1960,
sem interrupção (LANG, 2007, p. 1).
Ela também relata que a criação da coleção fez parte de uma estratégia da editora para
organizar seu acervo, agrupando os títulos de acordo com o interesse e o perfil dos leitores.
Após o surgimento de uma coleção, as ações de venda eram voltadas para o seu público-alvo:
que o objetivo da CEN era organizar seu fundo de edições, pois estava
preocupada com a escolha dos seus leitores, passou a articular os dispositivos de
recomendação, como os preços (barateamento), a propaganda e a definição de cada
coleção pelo público que pretendia atingir, e fazer a aquisição de diversos romances
espalhados por várias livrarias no país para o seu fundo editorial. que
representavam um público garantido, faltaria organizá-los em uma coleção
(LANG, 2007, p. 5).
Quando surgiu, nos anos 20, a Biblioteca das Moças foi beneficiada por um momento
editorial de expansão do mercado livreiro, com entrada de obras estrangeiras românticas, sem
similar nacional, e com um fenômeno econômico à época, novo: a autonomia das mulheres,
que passaram a frequentar sozinhas as livrarias e escolher suas leituras. Os romances da
coleção eram edições baratas, encontradas facilmente em livrarias e bancas de jornal, de
grande aceitação junto ao público jovem. Em 1930, a Companhia Editora Nacional chegou a
publicar mais de 900 mil exemplares; em 1940 esse número chegou a 1,4 milhão de livros, e
em 1950 o número total de publicações duplicou em relação à década anterior, alcaando
mais de 2,9 milhões de exemplares publicados. Na década de 1960 houve uma queda
vertiginosa de publicação, com pouco mais de 130 mil exemplares
26
. A estrutura narrativa de
tais obras é centrada no amor impossível entre uma jovem pobre e ingênua, e um herói nobre
e rico, que após inúmeras dificuldades, conseguem se casar.
Em estudo sobre a representação da figura feminina nas capas da Biblioteca das
Moças, Cunha (2008, p. 1) afirma que:
26
Segundo página da Wikipédia a respeito da Biblioteca das Moças, disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_das_Mo%C3%A7as>. Acesso em: 03 nov. 2009.
89
Os livros traziam capas desenhadas, coloridas e apresentavam sempre figuras de
jovens mulheres em poses românticas, algumas vezes sozinhas, outras vezes figuras
de casais em cenas idílicas que aguçavam a imaginação das leitoras. Assim, pode-se
considerar que as imagens que estampavam as capas e os títulos dos livros da
“Biblioteca das Moças”, [...] eram portadoras tanto de um conjunto de signos como
forneciam um suporte para representações que se desejavam, principalmente, para
uma mulher de classe média, urbana, escolarizada.
Ao olhar as capas e títulos dos livros é possível perceber estratégias através das
quais estas imagens acionavam dispositivos que poderiam funcionar para certa
educação das sensibilidades das leitoras seja pelo uso de termos ligados ao
romantismo presentes em seus tulos, seja pelas cenas apresentadas que classificam
o texto, sugerem uma leitura e sinalizavam para a construção de significado, um
protocolo de leitura.
As mesmas definições a respeito de formato, origem (estrangeira), rmula dramática,
conteúdo e mesmo ilustrações das capas (sugerindo um imaginário romântico), podem
perfeitamente ser aplicadas à Coleção Primeiro Amor, que, guardadas as proporções, pois conta
com apenas 19 títulos, repete a mesmarmula da Biblioteca das Moças, sucesso a os anos 60.
Mas a Coleção não foi a única a assemelhar-se ao modelo apresentado na Biblioteca
das Moças, em uma aparente tentativa de repetição de sucesso editorial; entre os anos 70, até
os dias de hoje, outra série fez tanto sucesso quanto a primeira ou ainda mais, que ainda
produz grandes tiragens: os Romances da Editora Nova Cultural, conhecidos por seus títulos,
Julia, Sabrina, Bianca.
A fórmula é a mesma: traduções de textos de autoras norte-americanas e histórias de
amor impossível, em que heroínas, após superarem dificuldades, terminam o romance ao lado
de seu grande amor. A Editora possui, dentro de seu site
27
oficial, um link para o site exclusivo
dos romances, que existem desde a década de 70. No caso dessas ries, o refinamento da
estratégia de conquista do público chega ao auge: elas são divididas por categorias, por
“intensidade de emoções que podem proporcionar, e por perfil das narrativas - mais
contemporâneas ou ambientadas em outras épocas - estando bastante estratificadas, para alcançar
em cheio suas leitoras. Na entrada do site, encontra-se uma enquete, com a seguinte pergunta:
Você prefere romances com: ( ) 160 ginas; ( ) 224 páginas; ( ) 320 ginas?, apontando o
quanto a editora busca adaptar seu produto às preferências de sua clientela.
Também é possível, clicando em Autoras, conhecer uma breve biografia, ver a foto e
saber quais são os títulos de cada autora das séries, em ordem alfabética. Alguns títulos
possuem um selo que identifica os romances escritos por autoras citadas na lista de best
sellers do New York Times.
27
Site oficial da Nova Cultural: Disponível em: <http://www.novacultural.com.br/>.
Site dos romances da editora: Disponível em: <http://www.romances.com.br/>.
90
Outro link no mesmo site dos romances leva ao blog das séries. Lá estão disponíveis as
capas, sinopses e datas de lançamento de cada título novo, por região do Brasil.
Para melhor ilustrão da organização editorial no trato das ries, é possível consultar o
quadro demonstrativo dos romances da Editora Nova Cultural
28
, disponível no site. Nele são
exibidos elementos como a divisão temática, título, número de ginas e valor atual de cada
lançamento.
Segundo informações de Meirelles (2008), as séries da Nova Cultural vendem mais de
2 milhões de exemplares ao ano, sendo 40 mil por s somente da série mais antiga, Sabrina,
lançada em 1978. No início de 2008, a reunião de todos os títulos alcançava tiragens de 240 mil
exemplares por mês. O sucesso não é o mesmo da época de seu lançamento no Brasil, no final da
cada de 70, quando um único número atingia a marca de 600 mil exemplares vendidos.
Mensalmente, a editora recebe cerca de 1.200 e-mails e cartas de leitoras fiéis dos exemplares.
De posse de tais dados a respeito de três coleções de romances sentimentais publicadas
no Brasil, legítimas representantes da cultura de massa, uma série de constatações podem ser
realizadas. Se “um texto existe se houver um leitor para lhe dar um significado
(CHARTIER, 2004, p. 11), o mero de leitores e a influência das suas escolhas determina o
inegável sucesso dos romances sentimentais. A relação entre autor, obra e público é intrincada
e interligada, segundo Cândido (2006, p. 47), pois “o público dá sentido e realidade à obra, e
sem ele o autor não se realiza, pois ele é de certo modo o espelho que reflete a sua imagem
enquanto criador”.
Observa-se que a repetição de fórmulas não cansa o blico de tais romances. Em um
país sobre o qual, sabe-se, o bito de leitura o é intenso, muito menos estimulado, os
números alcançados por tais publicações impressionam. Isso considerando os números oficiais,
pois, em consulta a um dos inúmeros sites de compartilhamento de arquivos ou de comunidades
leitoras, verifica-se que a contagem sobre a circulação dos volumes acaba por tornar-se
impossível. Quem dita tamanho sucesso, através das escolhas de leitura que realizam, são os
próprios leitores, visto que:
Quando milhares de leitores respondem da mesma forma, apontando o mesmo tipo
de texto, aí está um sucesso editorial. O conceito de sucesso, sempre
problematizável, é entendido no caso dos romances sentimentais como a
permanência das séries editoriais no mercado brasileiro ao longo de três cadas
com tiragens significativas, o que não deixa de ser um fenômeno a ser estudado,
num país onde o baixo índice de leitura é problema sempre discutido tanto na mídia
quanto nos meios acadêmicos (MEIRELLES, 2008, p. 12).
28
Quadro demonstrativo dos romances da Editora Nova Cultural. Vide (Anexo H) neste trabalho.
91
Somente o interesse permanente dos leitores/consumidores estimulando o mercado de
circulação desses produtos pode garantir o sucesso tão consolidado de quase um século de
romances sentimentais no Brasil.
92
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os motivos para que publicações do gênero aqui referido sejam bem sucedidas foram
explicitados anteriormente. Todas possuem determinadas características em comum:
a) atendem a uma necessidade ficcional natural do ser humano, oferecendo-lhe
narrativas que proporcionam emoções e identificação, refletindo e estimulando
sonhos e desejos;
b) respondem à uma demanda mercadológica gerada pela necessidade de lazer
superficial e descomplicado, típica da cultura de massa, com estruturas simples,
alienantes e pouco (ou nada) críticas da realidade social;
c) eso adequadas a critérios de globalização de idéias e formas, consequência da pós-
modernidade, mostrando o quanto um produto cultural, independente de sua origem
geográfica pode travestir-se deútil” ao ser humano de qualquer região do planeta;
d) fazem parte da indústria cultural através das cnicas de reprodução e das regras que
orientam os circuitos de produção, distribuição e circulão de produtos literios;
e) são produtos de entretenimento, elaborados após cuidadosos estudos de perfis
consumidores, para suprir as necessidades específicas de grupos de leitores, não
apenas no conteúdo, mas na forma e no próprio valor monetário;
f) repetem um padrão estrutural que remete às antigas tradições orais, aos mitos e aos
contos de fadas.
Outro elemento importante é a possibilidade que os leitores vêem de evadir-se de sua
realidade cotidiana nos momentos de leitura dos romances sentimentais. Ao se identificarem
com as personagens, vivenciam seus conflitos, sentem que fazem parte de uma história
diferente da sua e assumem as emoções descritas nos textos como verdadeiras.
Cumprindo seu papel de leitura de entretenimento, os romances também podem ser
vistos como um momento que as leitoras dedicam a si mesmas, distanciando-se dos
problemas cotidianos. De todas as motivações apontadas para a leitura dos romances
sentimentais, uma é especialmente forte e recorrente [...]: a possibilidade de evasão
que esses textos proporcionam. Esses sonhos podem levar a muitos caminhos,
alguns deles fora do plano imaginário (MEIRELLES, 2008, p. 15).
Tudo aponta para uma realidade, incômoda para alguns, que mostra ser a literatura de
massa uma preferência do grande público. Sabe-se que as produções literárias nesse contexto
são apenas produtos, mercadorias que seguem estritamente as orientações mercadológicas em
93
que estão inseridas. Evidentemente, tal configuração serve igualmente para definir a produção
literária juvenil na indústria cultural. Não intenção ou resultado artístico, e os livros são
produzidos para consumo, tendo seu público-alvo - leitores adolescentes e adultos -
caracterizados como consumidores. No entanto, apesar de ser um produto cultural, para
consumo em massa e entretenimento ligeiro, as comunidades virtuais de leitura e os adeptos
da literatura de massa e dos romances sentimentais aumentam constantemente. Não é possível
ignorar tal realidade, ou fechar os olhos para a preferência de leitura dos jovens.
Segundo a pesquisa Retratos da Leitura, 41% dos adolescentes de 14 a 17 anos
declaram ler romances e 31% declaram ler literatura juvenil. Considerando que boa parte da
chamada “literatura juvenil” é composta por romances como os aqui analisados, pode-se
concluir que mais da metade dos leitores adolescentes buscam espontaneamente a leitura
“açucarada”. Os dados existentes nos sites de leitura e compartilhamento de arquivos, além
dos blogs sobre livros e comunidades em sites de relacionamento, confirmam a preferência.
É certo que não é possível substituir a leitura da literatura canônica e clássica pela
produção literária da cultura de massa, afinal, segundo Freire (1989, p.12), temos necessidade
“de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos
adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa
prática enquanto professores e estudantes”. Por outro lado, não é possível negar a grande
influência da literatura de massa junto aos jovens.
Resta agora decidir sobre como os mediadores de leitura podem atuar diante dos fatos.
Partir da realidade de conhecimento literário do leitor adolescente, para então sugerir novas
possibilidades de fruição estética e ampliação de horizontes artísticos pode ser uma alternativa
de trabalho com a literatura na contemporaneidade. Buscar a dimensão real do “ato de ler, que
implica sempre percepção critica, interpretação e “re-escrita” do lido(FREIRE, 1989, p.14)
talvez seja outro objetivo dessa proposta.
Conforme Meirelles (2008, p. 258), é o momento em que devemos
olhar a literatura mais ligeira, seja na forma de romances sentimentais, seja em
outras literaturas de entretenimento, como possível aliada na formação do leitor
brasileiro. Se a poderosa indústria editorial move suas engrenagens para conquistar
as leitoras desses romances, também as estruturas acadêmicas - aqui entendidas
como escolas, professores, pesquisadores - podem se utilizar o dos mesmos
mecanismos aqui descritos, mas também das suas fraquezas, igualmente expostas,
para aumentar o contingente de leitores no país.
94
Candido (2004), ao defender o direito à literatura, argumenta que ela estimula o
potencial imaginativo em cada leitor.
Vista deste modo, a literatura aparece claramente como manifestação universal de
todos os homens em todos os tempos [...]. O sonho assegura durante o sono a
presença indispensável deste universo, independentemente da nossa vontade. E
durante a vigília, a criação ficcional ou poética, que é a mola da literatura em todos
os seus níveis e modalidades, está presente em cada um de nós, analfabeto ou
erudito -, como anedota, causo, história em quadrinho, noticiário policial, canção
popular, moda de viola, samba carnavalesco. Ela se manifesta desde o devaneio
amoroso ou econômico no ônibus até a atenção fixada na novela de televisão ou na
leitura seguida de um romance (CANDIDO, 2004, p. 17).
Tais elementos artísticos, libertadores e estimulantes do potencial criativo do ser
humano, devem ser priorizados, em qualquer manifestação artística. Estimular que eles
possam ser alcançados futuramente por um leitor iniciante é um dos objetivos dos mediadores
de leitura e estudiosos dos processos literários. No entanto, muitos leitores iniciam sua
jornada literária por produtos de menor qualidade estética, algumas vezes por opção própria,
outras por não ter outra escolha, que a oferta desses produtos e irrestrita. Tal fato deve ser
considerado e analisado, de modo que, a partir desses produtos, as futuras escolhas leitoras
possam ser orientadas de maneira a tornarem-se mais complexas, elaboradas e artísticas.
Para alcançar esse objetivo, a postura dos estudiosos do fato literário deve ser flexível
e atenta, pois somente dessa forma será possível acompanhar os caminhos da literatura, e até
mesmo defender e preservar seu caráter artístico no mundo contemporâneo e para o futuro.
95
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101
APÊNDICES
102
APÊNDICE A - Análise de textos da coleção Primeiro Amor.
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
CIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
O amor pode
esperar
Katherine
Applegate
Tradução:
Luciano
Machado
1995
Entre o amor e a amizade
Para Alison, Sam Cody é
irresistível: aquele belo rosto,
os olhos penetrantes...
Quando ele a convida para
dançar no baile da escola, fica
eufórica. Mas a alegria acaba
quando descobre que sua
melhor amiga, Isabella,
também se apaixonou por
Sam. Sofrendo de uma doença
incurável, ela está para morrer.
Diante desse fato, Alison se
conforma e deseja
que os últimos dias de Isabella
sejam os melhores de sua vida..
mesmo que ela e Sam tenham
de esconder o seu amor.
Mas será que eles podem
guardar segredo de um
sentimento tão forte?
Narrativa em
primeira pessoa, a
protagonista
feminina:
Alisson, pais
veterinários, 17
anos, dirige o
carro dos pais.
Melhor amiga:
Isabella Cates
Lopes - era
brilhante; um gênio
real. Uma das
semifinalistas da
Westinghouse que
entrara direto no
segundo ano e um
crânio em genética.
O tipo de pessoa
cujo cérebro
estava tão
avançado em
assuntos teóricos
que explicá-los para
mim seria a mesma
coisa que discuti-
los
com um gato.”
- Sara, irmã de 10
anos de Allison
- Sam, 17 anos, o
garoto rebelde mas
sensível, que
possui uma moto e
Linguagem coloquial. Narradora busca aproximar-se do leitor,
estabelecendo diálogos e fazendo observações diretamente a ele.
EXEMPLOS:
Procuramos os peixes-bois, mas eles estavam escondidos na
vegetação escura, esperando um momento para aparecer. Esperando,
suponho, como nós estávamos para ver o que o mundo nos reservava.
(p.33)
Mas este foi realmente um beijo de verdade. Toda vez que eu me
lembrava, ficava trêmula e tonta e o coração parecia querer sair pela
boca. Parece terrível, eu sei. Mas não era. Sentia-me como se tivesse
viajado a um lugar desconhecido. Como se estivesse nas nuvens, se é
que me entende. (p. 38)
Sentía-me muitíssimo generosa. Quase nobre, como Sam havia
dito.Meu Deus, estou me vangloriando, não estou? (p. 65)
- Utiliza-se de humor, lembrando os roteiros e diálogos dos sitcoms
americanos.
EXEMPLOS:
Enquanto corria até os destroços, preparei-me para
deparar com um defunto ensanguentado de olhar fixo
- como numa cena de filme de horror. Relembrei as
primeiras páginas do meu livro de primeiros socorros.
As primeiras eram sobre respiração, mas que diabo era
o C? (p.3)
Sam Cody das loucas especulações e boatos
cochichados, que poderia ter matado um homem,
assaltado um banco, ou vendido coisas de porta
em porta: e não estou me referindo a aspiradores de pó.
(p.5)
Apenas prometa-me isso. Se eu sair da cirurgia igual a
uma couve-flor, convença-os a desligar a máquina
Eu pedi a mesma coisa a meus pais, mas você sabe
como os pais são apegados a seus filhos. Estou falando
sério! Se eu sair babando, ou se, de repente,
O conflito principal é o da
protagonista, Alisson, que
precisa administrar o amor
pelo namorado e a amizade
por sua amiga doente,
também apaixonada pelo
rapaz. Através da resolução
desse conflito, a personagem
amadurece, crescendo
emocionalmente.
Além disso, elementos como
a sexualidade, os sentimentos
amorosos, a proximidade com
a morte e a finitude da vida
também são mostrados,
trazendo experiências de
passagem para a vida adulta a
todos os personagens
adolescentes.
Olhei para o lugar onde
estivéramos, onde Miguel
abrira a urna ao vento e as
cinzas de Izzy voaram.
Pensara que este final seria
importante para Izzy. Mas
naquele momento compreendi
que era apenas um mbolo e
um ritual para nós e não para
ela. Não era Izzy sendo
carregada pelo vento, alojada
numa moita de grama da
praia, se desmanchando nas
ondas. Nóso a estávamos
deixando para trás, aqui na
areia. Ela estava indo para
Os jovens nesse texto, a
exemplo de outros
adolescentes da coleção,
são apresentados mais
como portadores de
conflitos internos do que
propriamente atores sociais
de grande relevância.
Uma das personagens
pertence a uma família
cubana, apresentando o
tema dos refugiados de
Cuba, sem, no entanto,
aprofundar qualquer outra
informação sobre o tema.
A protagonista tem
preocupações éticas,
pertence a uma família
com pais presentes, adultos
que aparecem como
impositores de algumas
regras e limites familiares,
dentro na normalidade.
O rapaz, motivador do
conflito, traz seu próprio
problema familiar:
abandona a mãe para
cuidar de seu avô, que
sofre de senilidade devido
à idade avançada. No
entanto, é mais um tema
que não é aprofundado no
livro, apenas citado.
Os jovens frequentam a
escola, vão a bailes, têm
uma atuação social
mediana, que, conforme
Figuras de
lingugem ou
clichês vistos
em outros livros
da coleção:
Lance tinha lá suas
credenciais. Tinha
um sorriso cheio de
covinhas e olhos
azuis. (p. 6)
103
um segredo. começar a assistir a seriados na televisão ou coisa
assim, acabe com meu sofrimento. (p.14)
Se um cara flertasse com ela, somente quatro dias mais
tarde perceberia. Enquanto eu, ao contrário, estava
ligada a tudo. A cada nuance, olhar, palavra ou nas
entrelinhas. Se um cara esbarrasse em mim no corredor,
naquela mesma noite eu estaria escolhendo vestidos de
noiva. (p.16)
Segurei a camiseta pelos ombros. Uma camiseta
masculina - a camiseta do Sam. usada. Iria usá-la
para dormir até que dela restassem apenas tiras, linhas
ou minúsculos fiapos de algodão.(p.18)
O que está fazendo? - perguntou Sara. - Você não pode
deixá-lo entrar no carro. Vão nos encontrar em pedaci-
nhos no Jardim Botânico daqui a dez anos. (p.19)
- Linguagem poética sem ser piegas, ainda que utilizando clichês.
Trata de temas como a morte, o amor adolescente, os medos.
EXEMPLOS:
Tive uma sensação semelhante à de alguns verões
passados, quando todos os meus amigos foram acampar
e eu ficara em casa. Eles voltaram mudados. Mais
inteligentes e cheios de segredos que eu não sabia. Sam
me fez sentir assim. (p. 22)
Todos nós éramos covardes. Izzy deixou que fingíssemos que tudo
estava bem. Somente agora, finalmente, ela estava se cansando da
encenação. Sentia uma agitação interior e estava a ponto de chorar.
Era minha chance de ajudá-la a superar tudo isso, mas não conseguia.
Eu não era a pessoa certa, disse a mim mesma. Mas eu era sua
melhor amiga. Os melhores amigos o aqueles para quem dizemos
todas as coisas que nunca diríamos aos pais. Coisas como: eu sei que
estou morrendo e estou com medo. (p.74)
- Não sei, Al. Você simplesmente mudou. Sinto como se... - Ela
engoliu em seco e continuou: - É como se eu não pudesse entender.
- Vo não tem de entender. Você tem dez anos e deve agir como
uma garota de dez. Quando está crescendo, você tem de passar por
todas essas fases, algumas delas muito chatas. Mas não há como
fugir.
- Por que não?
- Porque... É difícil explicar. É como se você estivesse jogando banco
imobiliário. Se pular um dos espaços, você estará trapaceando.
- Às vezes, sinto como se vo fosse de outro planeta - disse Sara.
- Às vezes, eu tamm - disse,rindo. (p.80)
casa conosco, estava indo
para seu lugar” (p.90)
citado, não é o foco da
narrativa.
104
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
SÓCIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
O amor chegou
de surpresa
Arlynn Presser
Tradução: Fábio
Fernandez
1995
Gerolyn Gigi” Pelka
passou um ano inteiro em
Paris escrevendo cartas para
sua melhor amiga Becky
Cohen... e suspirando de
amores pelo belo Jack
Chandler. Jack é o típico
garoto dos sonhos de todas
as meninas e Gigi sonha
com ele desde que se
conhece por gente. Agora
Gigi es de volta a
Winnetka, sua cidade natal
no estado de Illinois,
determinada a fazer com
que Jack repare nela custe o
que custar. Mas o irmão
mais novo de Jack, Ethan,
amigo de infância de Gigi,
acha que é uma péssima
idéia: Jack tem fama de ser
um verdadeiro dom-juan.
Gigi merece algo melhor...
ele mesmo, Ethan. Mas será
que ela vai lhe dar a chance
de provar isso?
Narrativa em
primeira pessoa,
feita pela
protagonista
feminina:
Gerolyn “Gigi”
Pelka. 15 anos.
Melhor amiga
Becky Cohen,
mesma idade
Jack Chandler, 17
anos, aluno do
último ano da
escola, capitão do
time de rúgbi.
Seu rmão, Ethan
Chandler, 16 anos.
Lydia Joyner, 15
anos, loira e
popular entre os
garotos.
- Expressões problemáticas, que, ou não parecem traduzir
os pensamentos ou bitos de adolescentes, ou podem ter
sido dificuldades de tradução (falta de expressão mais
adequada em português):
EXEMPLOS:
Aqui estou sentada num café, bebericando um café au lait e
observando esses estudantes franceses incrivelmente
charmosos. Quase todos fumam, o que eu acho indecente,
mas parecem tão intensos curvados sobre suas xícaras e
conversando uns com os outros como se estivessem
resolvendo os problemas do mundo! (p.4)
não muito tempo Ethan era um bocó magricela que
dependia de seu Irmão grandalhão para protegê-lo dos
trogloditas da escola. (p.14)
não era nem de longe o cientistazinho bitolado que muita
gente achava que ele era.(p.16)
Como o barulho do motor do jipe era muito alto para que
pussemos conversar, empurrei para o fundo a fita que
estava meio enfiada no toca-fitas — uma velha gravação de
Eric Clapton — e subi bem o volume. (p.17)
Será que Jack seria capaz de fazer a cachorrada de convidar
outra garota para o baile (p.29)
Jack se levantou e deu um pique até a porta de sda da
cantina. (p.30)
- Utilização de cartas trocadas entre as personagens em
toda a primeira parte da narrativa para contar sua estória
anterior de vida, de forma bastante óbvia e previsível:
EXEMPLOS:
Às vezes vou ao mercado com madame Thibault. Ela não
faz as compras em um supermercado como nós fazemos .
(p. 6)
Sabe, pai, até vir pra cá eu nunca tinha percebido o quanto
sentia falta de uma mãe. Não que você o tenha feito um
ótimo trabalho me criando sozinho depois que a mamãe
morreu. (p. 6)
A problemática principal da narrativa é a
protagonista conseguir enxergar os
defeitos de seu objeto de amor e
transferir sua paixão obsessiva para o
irmão do rapaz, que a ama
verdadeiramente. Tal conflito é
representado de forma bastante
estereotipada, e com o uso de diversos
clichês. Toda a narrativa é direcionada
para o final previsível, em que ela ficará
com seu verdadeiro amor. o
crescimento da heroína, nem ganhos em
sua personalidade.
EXEMPLOS:
Nós dois rimos, e de repente me dei
conta de que nos últimos minutos eu
não tinha pensado em Jack nenhuma
vez. Me senti mais relaxada do que
havia me sentido durante toda a semana,
sempre preocupada com o meu encontro
com Jack, com o que eu iria dizer, o que
ele diria...
Eu tinha me esquecido de como era
gostoso estar com Ethan. Nós nhamos
sido melhores amigos um do outro
quando éramos pequenos. Tínhamos a
mesma idade e brincávamos juntos
depois da escola. Jack geralmente estava
fora com seus amigos e não nos dava a
mínima atenção, porque éramos um
ano mais novos do que ele. (pg.16)
Ethan me parecia um garoto bonito e
interessante como amigo, claro —, e
de olhar para ele se via que era um
cara legal. (p.16)
Mas aquele não ela o beijo com o qual
eu tinha sonhado tantas e tantas vezes.
Na verdade beijar Jack na vida real não
era nem de longe o que eu imaginara. Eu
sempre tinha pensado que me derreteria
completamente em seus braços, que o
tempo pararia. (p..29)
Algumas situações de
diferença social são
apresentadas:
antes de vir para cá eu não
conseguia sequer imaginar
uma casa maior ou mais
bonita que a mansão dos
Chandler. Mas comparada
ao Palácio de Versalhes a
casa deles parece menor do
que a casinha em que meu
pai e eu moramos. (p.5)
Acho que o fato de morar
numa casinha nos fundos
da mansão dele tornou as
coisas muito piores. (p.5)
Afinal, como eu poderia
me sentir pertencendo a
uma comunidade cujos
membros possuíam casas
com salas do tamanho de
uma quadra de basquete?
Onde tirar férias dentro
dos Estados Unidos não
era de forma alguma
considerado tirar férias de
verdade? Onde era
requisito básico ter ao
menos duas casas? Onde
todo mundo ganhava um
carro no seu décimo sexto
aniversário e não tinha a
menor dificuldade para
pagar a anuidade escolar?
(p.17)
No entanto, essa realidade
social o chega a ser
explorada ou vivenciada
pelas personagens de
maneira mais profunda.
Narrativa
ambientada na
cidade de
Winnetka,
Illinois.
Representações
de beleza
estereotipada,
também
apresentada
nos outros
textos da
coleção:
Lydia, com seu
rosto perfeito
de modelo,
seus cabelos
loiros
impecáveis
descendo como
uma cascata
dourada até a
altura do
queixo, e um
vestido tão
justo e cavado
que beirava a
indecência.
(p.3)
Seu rosto, com
aqueles
deslumbrantes
olhos verdes,
era perfeito.
Seu corpo era
musculoso,
sem nenhum
vestígio de
gordura. E seu
cabelo,
105
Mas não è só a comida e a língua que são diferentes aqui,
pai. É tudo! Estou tão feliz por você ter me deixado vir! Eu
sei que não deve ter sido nada fácil economizar o dinheiro
necessário para eu poder passar este ano no exterior, e
apreciei muito isso da sua parte. (p.6)
Me lembro de que alguns anos eu me sentia
constrangido como convidado na casa deles, já que os meus
pais haviam sido empregados dos pais do sr. Chandler. Mas
eles sempre me trataram como um vizinho, e não como o
filho do antigo chofer e da antiga cozinheira da família.
Além do mais, quando a sua mãe morreu e você era só uma
criancinha eles foram especialmente amáveis. Abaixaram
para quase nada o aluguel desta casinha nos fundos da
mansão deles, que como você sabe era a antiga cocheira
dos Chandler, e colocaram a babá dos garotos pra dar uma
olhada em você também. Se não fosse por eles, acho que eu
não teria conseguido terminar a faculdade de direito. (p.7)
Ethan fazia a elegância parecer algo
absolutamente natural. Me peguei
imaginando como seria a sensação de
passar os meus próprios dedos pelo meio
daqueles cabelos macios e sedosos.
(p.32)
Fechei meus olhos com força e senti
milhares de estrelas explodirem nas
minhas pálpebras. E escutei fogos de
artifício trovejando nos meus ouvidos.
Eu estava planando nas alturas...
Ethan levantou sua cabeça por um breve
momento. Me olhou com uma expressão
estranha e profunda por um segundo e
veio ao meu encontro novamente para
mais um beijo explosivo, alucinante.
(p.42)
- Na verdade é bem simples: você está
apaixonada por Ethan. Não por Jack.
Entenda isso de uma vez por todas,
menina! - Mas não pode ser, Becky! Eu
sei que sou apaixonada por Jack, sempre
fui. Tenho pensado nele, sonhado com
ele e abraçado meu travesseiro fingindo
que é ele desde que me conheço por
gente...(p.58)
Naquele momento vi Jack subitamente
sob um outro ângulo: de repente ele me
pareceu um babaca, um brutamontes
inseguro e egocêntrico que precisava ser
constantemente reassegurado de que era
o melhor. Em tudo.(p.64)
A própria condição-mote
da transformão e
valorização da personagem
- a passagem por um ano
de estudos em Paris - não
possui nenhuma conotação
de amadurecimento real de
sua psicologia. A
experiência aparece mais
como justificativa para o
uso de roupas e cabelos
diferenciados, que a
destacariam diante do
grupo, do que por gerar
crescimento.
Os adultos não são
referência para os
adolescentes, servindo
apenas como coadjuvantes
na trama. O pai da heroína
é um advogado de causas
ambientais, sem relevância
educacional sobre a filha.
Na família vizinha, os pais
são apenas citados.
A atuação social de todos
os jovens da história é, a
exemplo das outras obras,
escolar: atuam em esportes
coletivos ou individuais
(os rapazes), estudam para
provas, vão a lanchonetes,
etc.
várias semanas
precisando de
um corte, era
sedoso e
dourado como
as areias de
uma praia
tropical
banhada pelo
sol. Qualquer
garota daria
tudo para
poder passar
seus dedos por
eles. (p.19)
106
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
SÓCIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
A garota dos
meus sonhos
Cheryl Zach
Tradução: Fábio
Fernandez
1996
Quando Miranda me
abandonou sem maiores
explicações, nas speras
do Natal, achei que nada
mais poderia me acontecer
de ruim. Fiquei com o
coração despedaçado.
Perder minha linda
namorada, a menina mais
badalada da escola, me
parecia o fim do mundo. É
talvez tenha sido por isso
que acabei me metendo
numa confusão ainda
maior. Passeando um dia
no shopping, vi um casal
brigando. O rapaz parecia
violento e me apressei em
defender a garota. Foi
assim que conheci
Caroline, e acabei metendo
os pés pelas mãos. Minha
intromissão acabou com o
namoro dela com aquele
cara. Caroline ficou
magoada. Eu me senti
péssimo! E para tentar
consertar as coisas, cismei
de arruma-lhe um novo
amor.
Caroline passou a se
interessar por outro garoto,
Miranda voltou para mim...
mas acho que fiquei
maluco. Agora eu só penso
em Caroline, em seu doce
sorriso, em seu olhar
meigo e profundo. O cme
por vê-la sempre
acompanhada está me
matando.
Narrativa em
primeira pessoa,
voz do
protagonista
masculino:
Jake Magee, 16
anos
Irmã, Kate, 12
anos
Sid Halleman -
melhor amigo de
Jake
Brian White,
estrela do time de
basquete da
Hillcrest High
School, a escola.
Caroline Willis,
ex namorada de
Brian
Miranda Thomas,
ex namorada de
Jake
- Expressões inadequadas, que parecem ter sido problemas
de tradução.
EXEMPLOS:
- Epa, peraí! Tava só brincando (p.14)
o maior fuzuê no centro da quadra (p.18)
empetecada de maquiagem (p.20)
Ele se espevitou com o comentário (p.31)
Ele foi fuçar no freezer, de onde tirou uma caixinha de
iogurte congelado. (p.71)
- Linguagem coloquial, com muitos clichês. Figuras
narrativas recorrentes.
EXEMPLOS:
Enquanto nossos pés afundavam na neve, eu me esforçava
para esquecer o quanto o corpo dela estava próximo do meu,
e para não sentir o roçar do ombro dela em meu braço nem o
doce perfume que tanto me atormentara naquelas noites em
claro que se seguiram ao rompimento.(p.48)
Nós dois estávamos o apertados um contra o outro que a
respiração dela e cada movimento de seu corpo me faziam
estremecer. Meu braço encostava no seu, e quando ela
girava a cabeça para vasculhar com a vista as ruas escuras,
seus cabelos roçavam em meu rosto. Captei um aroma
suave, algo como flores na primavera, que me fez formigar
da cabeça aos pés.( p.88)
Ela se aproximou mais um passo. Eu a abracei pela cintura e
puxei com força para perto de mim, sentindo a carícia do
suave tecido de seu vestido e do calor de sua pele quando
ela passou os braços ao redor de meu pescoço. Ela era o
doce quanto um confeito de Natal, tão quente quanto uma
lareira rugindo numa noite de inverno. Finalmente eu estava
beijando Caroline, e o zumbido dentro da minha cabeça
ficou mais alto que o som da música que ecoava pelo salão
de baile. O beijo pareceu durar uma eternidade e, ao mesmo
tempo, não durar o suficiente. (p.94)
O conflito é vivido de Jake.
Infinitamente apaixonado por Miranda,
de quem levou um fora; passou semanas
em depreso e desanimado. Neste
período conhece Caroline, de quem acha
que é apenas amigo. Quando Miranda
quer que voltem a namorar (na verdade
interessada apenas em um par para o
baile, já que seu atual namorado, mais
velho, quebrou a perna) ele começa a
reconhecer defeitos nela e a dar-se conta
que agora está loucamente apaixonado
por Caroline. Apesar de ser um conflito
crível, em função da imaturidade
emocional e a novidade que os assuntos
amorosos representam para os jovens
(vide Romeu), a transição emocional da
paixão de Miranda por Caroline é
apresentada de forma bastante repentina,
sem consistência psicológica.
Jake - solidário, atuante,
escreve coluna esportiva
no jornal da escola,
trabalha cuidando de es,
comprou presentes de natal
sozinho, idealiza uma
garota como seu
verdadeiro amor.
Jake é um adolescente de
16 anos, que fora o conflito
amoroso em que se
encontra (e que acaba
resolvendo com bastante
facilidade, ao fim das
contas), é bastante maduro,
preocupado com o bem
estar dos outros o tempo
todo, sem nenhum conflito
familiar aparente.
Caroline - veio de outra
cidade, namorou o astro da
escola, realiza trabalho
voluntário.
A família de Jake é
harmônica, com pais que
se relacionam bem, dão
bastante liberdade ao filho,
compreendem seus
problemas, de forma
verossímil. Essa psicologia
paterna e familiar
explicaria a harmonia e
autonomia de Jake.
Narrativa
situada na
cidade de Grand
Rapids,
Michigan.
Clichês
recorrentes,
encontrados em
diversos outros
textos da
coleção:
EXEMPLOS:
Miranda riu, e
pude enxergar a
covinha de sua
bochecha
esquerda ficar
mais funda. Eu
costumava a
esfregar o
polegar por
cima da covinha
dela, só para vê-
la sorrir.(p.17)
Caroline olhou
direto no fundo
dos meus olhos,
quase me
desafiando a
responder.
(p.77)
107
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
SÓCIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
Só podia ser
vo
Stephanie Doyer
Tradução: Beth
Vieira
1996
Rebecca Lowe está
apaixonada. O único
problema é que ela
nunca viu o garoto.
Ou será que viu?
Depois de semas
trocando cartas de
amor pela internet,
terá finalmente a
chance de um
encontro com sua
paixão cibernética, no
baile da escola. Mas
quando Jordan
West aparecer no
local do encontro
secreto, fica sem
saber o que fazer.
Ninguém perturba
tanto sua paciência
quanto esse rapaz,
Jordan, com sua
mania de salvar o
planeta. No entanto,
pela Internet,
ninguém parece
entendê-la melhor do
que ele. Será que esse
cara todo esquisito
vai acabar sendo o
grande amor de sua
vida?
Narrativa em
primeira
pessoa,
protagonista
feminina:
Rebecca
Lowe, 16
anos,
melhor amiga,
Leslie
Weaver,
colega de
turma.
Marissa,
Donny, Buzz,
André, colegas
de banda.
Jordan West,
par da heroína,
17 anos,
envolvido em
causas
ambientais.
Antônio
Ramirez,
estudante
espanhol de
intercâmbio.
Talvez por estar ambientado no início dos anos 90
do século XX, a Internet e as possibilidades de
comunicação online representam a grande
“modernidade” desse texto. Para um leitor
contemporâneo, que convive com a Internet e todo
o avanço nas comunicações na última década, os
adolescentes do livro parecem bastante
desatualizados.
EXEMPLOS:
Minha mãe acaba de se conectar à Internet por
conta do trabalho. Ela me ensinou a usar sistemas
como esse. Correio eletrônico é o maior barato,
Rebecca. Você sabia que dá para bater papo e até
mandar mensagens sem se identificar? (p.6)
Fiquei navegando na Internet no computador da
minha mãe e entrei numa sala de bate-papo
superlegal, onde para conversar com gente do
mundo inteiro. Você tem que aparecer em casa para
ver como é. (p.24)
— Sem querer ofender, Les, mas é que encontrar
desconhecidos pela Internei não faz muito meu
gênero. Gosto de saber com quem estou falando.
— Mas você sabe com quem está conversando, afinal
você frequenta a mesma escola que os caras que te
mandam os e-mails. Dá uma chance, Rebecca. Seja
imprudente pelo menos uma vez na vida. Lembrava-
me de ter ouvido notícias sobre malucos que usavam
a Internet para atrair suas vítimas, roubá-las ou
ameaçá-las com coisas horríveis. Era assustador. Mas
Leslie tinha razão num ponto. Nós podíamos
mandar mensagens para as pessoas da escola. Era
tudo muito seguro. Até onde eu sabia, não havia
nenhum psicopata no colégio Westfield. (p.24)
A problemática consiste na
necessidade de a protagonista
decidir por quem, afinal, está
apaixonada. Se é pelo rapaz que
conhece virtualmente e lhe parece o
par perfeito; se é pelo rapaz
intercambista, espanhol, misterioso
e lindo, que a deixa confusa e
apaixonada; ou pelo seu colega de
música, o rapaz “ecologista” que
tanto a incomoda. O sentimento por
ele, que na verdade é o mesmo com
quem se comunica sem saber via
computador, começa a gerar
dúvidas entre amor e ódio na moça.
Quando finalmente o rapaz
estrangeiro mostra-se um cafajeste,
ela consegue decidir-se pelo amor
ao jovem bom e amigo de todos.
Conflito superficial, igual ao de
vários outros textos da coleção, não
apresenta crescimento, rito de
passagem, em superação de
qualquer obstáculo para
consolidação da identidade da
heroína.
O casal de
protagonistas é filho
de professores
universitários, ela de
Economia, ele de
Música. A
personagem do jovem
por duas vezes cita a
figura paterna como
influência para seu
gosto musical. Os
pais da jovem
aparecem e um
diálogo pido ao
longo do texto.
O rapaz, apresentado
com um jovem “com
mania de salvar o
planeta”, na verdade
não apresenta tal
atuação ecológica ao
longo da narrativa, a
não ser em um diálogo.
Adultos ausentes.
Quando aparecem, no
caso de um professor de
informática, ou de
algum pai e e, são
em cenas curtas, quase
sem diálogos.
Nesse texto,
a maior parte
da narrativa
acontece na
escola e em
lanchonetes,
além de um
bar, que a
personagem
frequenta
para ensaiar
jazz com
seus colegas
de banda.
108
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
SÓCIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
Ensaio de um beijo
Elizabeth Bernard
Tradução: Fabio
Fernandez
1997
Aos 15 anos, Naomi
Peters é a aluna mais
aplicada da escola e todos
estão certos de que uma
brilhante carreira de
advogada a aguarda.
Todos, menos ela, pois
secretamente Naomi tem
um sonho. Ou melhor,
dois: deseja tornar-se uma
atriz e quer viver uma
história de amor,
igualzinha aos romances
que adora ler.
Ela se candidata ao
principal papel feminino da
peça A Bela e a Fera, que o
grupo de teatro de sua
escola se prepara para
encenar. E, para surpresa
geral, é a escolhida.
O teatro faz vir à tona um
lado da personalidade de
Naomi que ela jamais
imaginara que existisse.
Tudo lhe parece novo, a
vida se torna cada vez mais
excitante... principalmente
quando descobre que o
misterioso e rebelde Dylan
Russo foi o escolhido para
o papel de Fera.. Ele a
fascina desde o início. Mas
será que a paixão entre eles
é verdadeira ou fruto
apenas da linda história de
amor que representam no
palco?
Narrativa em
primeira pessoa,
feninina.
Narradora: Naomi
Peters, 15 anos,
aluna do segundo
ano colegial.
Tem uma irmã
menor, Karen,
mãe, pai e uma
gata.
Josh Davidson,
namorado que não
lhe proporciona
sensações
românticas”.
Melhor amiga,
Amanda
Zukowsky.
Dylan Russo,
jovem sedutor,
dono de uma
moto, que fará o
coração da
mocinha bater
mais forte.
Transferido de
outra escola, mora
somente com o
pai, a quem ajuda
na oficina. Aluno
do último ano.
Tentativa de aproximar-se do leitor adolescente,
estabelecendo alguns diálogos e “identificando-
se” com ele.
EXEMPLOS:
A felicidade, eu já aprendi, é um sentimento
muito fugaz. Num minuto você está tão alto
quanto o monte Everest, no topo da alegria, e no
seguinte pode estar mergulhada no mais
profundo oceano de desespero. Eu costumava
me preocupar muito com esse fenômeno da
vida. Minha mãe dizia que isso tem a ver com
ter 15 anos.(p. 5)
Primeiro fizemos algumas brincadeiras de roda
que eu tinha até esquecido que existiam. O
“jogo do anel” foi uma delas, acredite se quiser.
(p.11)
Papai voltara a falar macio. Mas o se deixem
enganar por isso. Seu olhar indicava estar
prestes a promulgar uma nova terrível regra.
(p.44)
O conflito aqui é mais verossímil: uma
adolescente, que sempre foi
acompanhada de perto e teve seus atos
regulados por seus ais, começa a receber
um pouco mais de liberdade, participa
de uma montagem teatral e descobre a
série de possibilidades de atuação no
mundo adulto. Apaixona-se pela
primeira vez e precisa aprender a lidar
com as diversas mudanças que a vida e
o crescimento lhe possibilitaram.
Com uma narrativa simples, utilizando-
se do mesmo mote dos outros títulos da
série - o primeiro amor - nesse texto os
adolescentes são apresentados de forma
mais verdadeira, com conflitos mais
críveis de acordo com a instabilidade
emocional e descobertas dos
adolescentes, com mais consistência
psicológica que em outras obras da
série.
A família é bastante presente, os pais da
protagonista - médicos - são atuantes e
orientam as ações da personagem. Ela
realiza um rito de passagem para a idade
adulta ao conseguir compreender as
ações paternas e equilibrar seus desejos
e as regras familiares.
O casal de
protagonistas é filho
de professores
universitários, ela de
Economia, ele de
Música. A
personagem do jovem
por duas vezes cita a
figura paterna como
influência para seu
gosto musical. Os
pais da jovem
aparecem e um
diálogo pido ao
longo do texto.
O rapaz, apresentado
com um jovem “com
mania de salvar o
planeta”, na verdade
não apresenta tal
atuação ecológica ao
longo da narrativa, a
não ser em um diálogo.
Adultos ausentes.
Quando aparecem, no
caso de um professor de
informática, ou de
algum pai e e, são
em cenas curtas, quase
sem diálogos.
Narrativa
situada em um
subúrbio de
Boston.
A diferença
social não chega
a gerar um
conflito maior:
ao final serve
como
justificativa
para o bom
caráter do
jovem, que
além de estudar
e atuar, auxilia
o pai no
sustento da sua
nova família,
com filhos
pequenos.
109
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO
DO JOVEM/
ATUAÇÃO SÓCIO-
CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
Coração
dividido
Elizabeth Bernard
Tradução: Fábio
Fernandez
1997
Amber Stevens é uma
típica garota da cidade
grande. Adora pizza,
cinema, televisão e tem
uma incrível turma de
amigos com quem se
diverte o tempo todo.
Sonha em fazer uma boa
faculdade e curte seu novo
namorado, o charmoso
Brendan Cooper. Tudo vai
bem até que seus pais
decidem mudar de vida.
Cansados da agitação de
Nova York, eles resolvem
cuidar de um sítio no
estado de Wyoming, no
Velho Oeste americano.
De uma hora para outra o
mundo de Amber desaba.
Não mais namorado,
televisão, cinema ou pizza.
Em vez disso, ela tem de
aprender como tirar leite da
vaca, alimentar galinhas,
cortar lenha, dirigir um
trator... Seria um pesadelo,
se o belo e vigoroso Rich
Winter, vizinho e colega de
escola, não se dispusesse a
ajudá-la. Seu coração bate
acelerado toda vez que
aquele lindo garoto se
aproxima...
E logo Amber se diante
de um dilema. A quem ama
de verdade? Rich, o
atraente cowboy daquela
cidadezinha perdida do
interior, ou o fascinante
Brendan, que a quer de
volta a Nova York?
Narrativa em
primeira pessoa,
contada pela
protagonista:
Amber Stevens,
15 anos, aluna do
segundo ano
colegial.
Pai advogado,
mãe executiva,
dois irmãos
menores.
Melhor amiga,
Suzane, colega de
escola.
Namorado, 15
anos, Brendan
Cooper
Rich Winter,
vizinho do sítio do
avô em Wyoming,
jovem simpático,
esforçado,
acostumado com
as lides do campo.
A narrativa é conduzida em linguagem simples. È
interessante observar que, mais do que contar os
acontecimentos, as cenas os mostram em detalhes,
tornando a narrativa mais interessante e verossímil. È um
dos únicos livros que se vale desse recurso. Os conflitos,
vivências e sentimentos tornam-se mais reais para o leitor.
Em diversos momentos, a personagem cita elementos que
remetem à modernidade, como os deliverys e cafeterias de
Nova York, que ela frequenta com seus amigos, ou os
serviços que, permanecem abertos noite e dia na cidade, ao
contrário da zona rural.
EXEMPLOS:
Abandonamos o que era ridiculamente chamado de
estrada principal e entramos numa ainda menor. A
estradinha começou a subir. Logo as árvores apareceram e
depois um riacho. As curvas ascendentes das montanhas se
mostraram com clareza, cobertas por um negro manto de
pinheiros e por vacas e cavalos que estavam pastando nas
encostas. (p.12)
Fomos subindo aos trancos e barrancos por um caminho
sulcado por pneus de carros, no meio de árvores escuras e
bamboleantes. No meio daquela escuridão mal
conseguíamos divisar as formas de uma torta casa de
fazenda. Uma luz fraca brilhava nas janelas do andar de
baixo. A casa era bastante grande, e parecia o lugar mais
solitário do mundo. O vento uivava quando estacionamos o
carro e descemos, quase nos levando pelos ares enquanto
subíamos os degraus da varanda. A grande lareira acesa e o
jantar quente de fato soavam como uma ótima iia
naquele momento.
A porta da frente se abriu e um facho de luz se precipitou
para fora. Um home alto e musculoso, com o rosto
escondido por um chapéu de cowboy, surgiu no umbral e
ficou parado, me olhando enquanto eu era varrida ao longo
da varanda por uma forte rajada de vento. (p.13)
Os lábios deles encontraram os meus produzindo em mim
uma sensação de emoção, de aventura, de não estar tudo
totalmente sob controle, como se meu corpo estivesse
respondendo com uma vontade própria, independente da
O principal conflito é a adaptação da
personagem adolescente a uma vida
totalmente diferente da que conhecia até
então: os pais decidem viver de forma mais
simples e retirada, mudando-se de Nova York
para o Oeste americano.
A personagem precisa adaptar-se à nova vida
e, através da relação com um novo namorado,
decidir com qual deles que ficar, se com o da
cidade ou o do campo. O amadurecimento da
protagonista se dá quando ela percebe que
cada um dos namorados está associado a uma
forma de identidade dela mesma. Ao escolher
entre os dois namorados, terá de escolher
qual representação de si mesma acabará
assumindo.
Os pais são presentes e, segundo a
personagem, superprotetores. O conflito
inclui crescer e conviver com eles de forma
equilibrada. A narrativa é bem construída
sobre os conflitos naturais que os
adolescentes enfrentam ao confrontar seus
crescimento e vontades com o dos pais. Tal
problemática é bem retratada nessa história, e
a personagem fortalece sua identidade ao
encontrar o equilíbrio entre seu crescimento e
a vida e, família.
EXEMPLOS:
Não é fácil amadurecer e se tornar corajosa
quando se tem pais superprotetores como os
meus. Pensar neles naquele instante provocou
uma pontada de sentimento de culpa em mim.
Nunca havia mentido para eles antes, pelo
menos não uma mentira tão atrevida como
aquela. Dessa vez a coisa era séria. (p.4)
Na man seguinte meus pais estavam
sentados na mesa para o café da manhã
quando entrei na cozinha.
- Sente-se, Amber - ordenou minha mãe,
Os jovens são
representados sob duas
formas: os da cidade,
como fúteis,
superficiais e
consumistas; os do
campo, trabalhadores,
simples e mais
responsáveis.
A protagonista termina
a narrativa
completamente
adaptada à sua nova
vida no campo,
percebendo que não
possui mais nada em
comum com seus
amigos da cidade, feliz
por estar fortalecida
com a vida rural.
Repassei mentalmente
tudo o que havia feito:
o trator e os fardos de
feno, a lenha, o leite, as
galinhas, cuidar de
quatro pessoas
doentes... E fiquei
bastante impressionada
comigo mesma. Era a
primeira vez em minha
vida que tinha que
fazer algo realmente
duro, e conseguira. Em
Nova York sempre
esperara que alguém
tomasse conta de mim
enquanto me divertia.
Nunca precisara fazer
nada que fosse
realmente um desafio,
como as coisas que
estava fazendo agora.
Narrativa situada
em Nova York,
depois em
Wyoming, velho
oeste americano.
Uma problemática
interessante pe
apresentada nessa
história: o a
paterno é retratado
como uma pessoa
de difícil
convivência, da
qual o pai da garota
emancipou-se assim
que possível.
Durante a história,
ele mostra-se um
senhor rude, porém
humano, que
identifica-se com a
neta e sua
independência, e
com quem acaba
construindo uma
bonita amizade.
Uma mulher
sensata a sua avó.
Você me lembra
muito ela. Tem
alguma coisa,
quando você gira a
cabeça...
Meus olhos
estavam rasos
d’água.
- Vovô, não posso
aceitar. É precioso
demais.
- Mas quero que
vofique com ele.
Ela não chegou a te
conhecer, mas
110
minha. O beijo de Rich me fez senti algo completamente
diferente.
Foi como um ardor quente que começou nos meus lábios e
se espalhou por todo o meu corpo, me envolvendo numa
belíssima bolha cor-de-rosa. Queria que aquilo não
acabasse nunca. (p.42)
mostrando meu lugar com um gesto.
Era como se eu fosse um réu num tribunal.
- Realmente sinto muito... - comecei dizendo.
Sempre achei que a auto-humilhação era uma
estratégia que funcionava bem. Nenhuma
mãe consegue ficar furiosa com uma filha
que admita ser um lixo e implore por perdão.
- Queria que vos soubessem que essa foi a
primeira vez que fiz algo desse tipo, e não me
senti nada bem.
Olhei esperançosa de minha mãe para meu
pai, tentando julgar se os estava atingido ou
não. Os dois me escutavam em silêncio.
(p.7)
- A decisão que tomamos é que Nova York
não é um lugar saudável para criar os filhos -
disse ela - e, no ritmo que estamos indo, seu
pai e eu seremos dois fortes candidatos a um
enfarte por volta dos quarenta anos. Sei que
vos têm nos ouvido conversar a respeito do
problema do vovô durante toda a semana. Ele
quebrou a perna e o tem ninguém para
ajudá-lo a tomar conta do rancho. Nessa noite
papai e eu decidimos que a melhor coisa a
fazer é ir para lá cuidar dele. (p.8)
Senti-me autêntica. E
orgulhosa de mim
mesma.
(p.48)
Para ser mais exata -
continuei -, tudo está
perfeito.
Tão perfeito que me dei
conta até de que estava
ansiando mais do que
nunca por terminar o
colegial ali mesmo, no
Wyoming, com minha
família, meu avô... e, é
claro, com Rich. (p.63)
tenho certeza de
que ela iria querer
que você usasse
esse anel. Você tem
a firmeza de caráter
dela. Ela sempre o
usou neste dedo.
Use-o no mesmo
lugar.
Subitamente ele
olhou para cima.
- Sei que não tem
sido fácil para vo
se adaptar a este
lugar... - continuou
ele. - Mas tem dado
duro e superado
muitos obstáculos,
e acho que se
tornou uma pessoa
muito especial.
Igual à sua avó.
- Ah, vovô, é tão
bom ouvir você
dizer isso!
Lentamente os
braços dele se
fecharam em torno
de mim.
- É muito bom ter
vo aqui - disse
ele com voz rouca.
- É bom ter uma
família de novo.
Eu... eu não quero
que vocês vão
embora nunca
mais. (p.48)
111
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
SÓCIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
Meu primeiro
namorado
Callie West
Tradução:
Luciano Vieira
Machado
1997
Amy Wyse não quer que o
amor interfira nos
objetivos pelos quais tem
lutado tanto: entrar na
faculdade e tornar-se uma
camp de natação. Mas
eis que de repente se
apaixona por Chris
Shepherd, o mais atraente
dos alunos da escola. É
totalmente correspondida.
O namoro entre ambos é
arrebatador. As
consequências, porem,
logo começam a aparecer.
O rendimento escolar de
Amy cai, seu desempenho
na natação piora... Ela não
sabe mais o que fazer.
Deve abrir mão de uma
projeto acalentado desde
criança ou romper com seu
meigo e fascinante Chris?
Narrativa em
primeira pessoa,
contada pela
protagonista:
Amy Wyse, 16
anos, cuja mãe
solteira precisa
trabalhar em dois
empregos para
sustentar a filha e
a si mesma.
Amy é atleta de
natação e muito
estudiosa.
Melhor amiga,
Blythe Carlson.
Blythe tinha
cabelos longos,
lisos, loiros e
sedosos. Seu
corpo era muito
bonito. (p.17)
Chris Shepherd, o
mais atraente dos
alunos da escola.
Bonito, rico,
colega de Amu na
equipe de natação,
aluno do terceiro
ano colegial.
A linguagem é simples e acessível. A narrativa desenvolve-
se em torno do conflito da personagem, que precisa resolver
como equilibrará o primeiro amor com sua vida cheia de
exigências e metas.
Utiliza-se de um roteiro previsível. O leitor pode prever o
desenlace, pois a estória não conta com peripécias ou
reviravoltas surpreendentes.
No entanto, graças à linguagem acessível, é possível para o
leitor identificar-se com os conflitos da jovem,
estabelecendo alguma identificação com ela.
EXEMPLOS:
Se isso fosse verdade, eu estaria perdida, porque há muitos
nãos da minha martelando na minha cabeça: Não se
desculpe pela sua inteligência”, não fique se lamentando
pelas coisas que não tem, não deixe seus estudos de lado,
não se subestime, não espere que as coisas caiam do céu,
não troque seu futuro por um namorado. Há anos venho
repetindo estas imposições na minha cabeça, estando
fadada, talvez, a fazer justamente o contrário. (p.7)
A problemática está no fato de a jovem
sofrer muitas exigências, por parte de sua
mãe, para ter excelente desempenho
escolar, e portanto, não poder namorar. A
menina apaixona -se por um colega, quer
estabelecer com ele um relacionamento,
mas o pode contrariar a mãe. A família
passa por dificuldades financeiras, e a mãe
conta como bom desempenho da filha para
receber financiamento para a faculdade.
O fato é agravado pela situação anterior
vivenciada pela mãe, abandonada pelo pai
da menina, e que hoje tem de trabalhar
muito para manter-se a si e à filha, não
acreditando em relacionamentos.
Ao final da narrativa, a jovem percebe a
necessidade de equilibrar seu desejo
amoroso com o atendimento às exigências
de sua condição social, que exige alguns
sacrifícios para conseguir as bolsas de
estudo que a moça necessita.
EXEMPLOS:
Comporte-se, fofinha sussurrou ela,
beijando meu rosto em frente de Chris.
Conto com você.
Com essas palavras toda a sensação de
leveza e felicidade que estava sentindo
desde o sábado anterior desapareceu.
Conto com você.” Sabia exatamente com
que ela estava contando. Esperava que eu
não fizesse o que ela fizera: que não me
arruinasse por causa de um garoto. (p.46)
Naquele momento o problema ficou claro
para mim. Se levasse a vida do jeito que
eu queria, não iria agradar a minha mãe,
era impossível. Mas se fizesse tudo que ela
queria, eu seria infeliz. (p.64)
__ Ao seu sucesso e felicidade... - brindou
minha mãe, com a voz um pouco tremula
Em relação à família, a
representação desta jovem
busca identificação com a
realidade de muitos jovens
na atualidade: a ausência
de um dos pais. A mãe
criou a filha sozinha, pois
o marido a abandonou.
Meu pai, por exemplo,
acabou sendo um mau
investimento. Ele foi
embora antes de eu
completar dois anos. Não
guardo lembranças dele,
mas minha mãe me contou
que tinha sido tão
apaixonada por ele que seu
coração doía. Depois que
papai se foi, ela dedicou a
mim toda paixão que
restou. (p.5)
Oh, não foi a minha mãe
que fez. Está muito
ocupada para cozinhar. Ela
comprou tudo no Sutton’s.
Fiquei em silencio,
pensando em minha mãe
preparando uma torta
depois de trabalhar em dois
empregos (p.34).
- O papel social dos jovens
desse texto é o de
estudantes e atletas. São
retratados como
responsáveis e maduros.
Também é referida a
diferença sócio-econômica
entre as famílias dos dois
jovens, mas que não chega
a tornar-se um obstáculo
para a relação amorosa:
Narrativa situada
no Arizona,
EUA.
A composição
familiar de mãe
solteira e filha
adolescente
aparece
novamente na
obra “Juntos para
Sempre”,
publicada na
mesma coleção
em 2000.
Uma frase
apenas no livro
retrata uma
possível atuação
ou preocupação
do protagonista
em relação à
educação
abiental:
Nós reciclamos
tudo em casa,
mas não faz
diferença
comparado com
o que é jogado
fora. Eu
realmente me
preocupo com o
que está
acontecendo com
o meio ambiente
e como podemos
resolver o
problema que
estamos criando
com o nosso
112
de emoção. - E ao seu amadurecimento.
Sorri para ela quando juntamos nossos
copos. (p.80)
Chris pertencia a uma
família muito rica, mas,
como sempre usava Levi´s
com buracos nos joelhos,
camisetas
e bonés de beisebol, nunca
refleti sobre isso. (p.8)
Os Shepherd moravam
numa região de casas caras
e suntuosas. A deles era
um sobrado, estilo Tudor,
com paredes estucadas; o
gramado de capim-de-
burro era duas vezes maior
que a área comum do
nosso condomínio e tinha
uma garagem enorme para
três carros. o pude
deixar de admirar toda
aquela abundância, mas
também fiquei um pouco
revoltada. Pensei no fato
em que minha mãe tinha de
trabalhar em dois
empregos apenas para
pagar as contas.
(p.60)
lixo. (p.34)
113
CATALOGAÇÃO
(obra, autor,
tradutor, ano da
primeira edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E
IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
CIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
Mais que um
amigo
Elizabeth
Winfrey
Tradução: João
Alcino Andrade
Martins
1998
UM PERIGOSO JOGO
DE AMOR
Para Steve, sua melhor
amiga Kelly, tem medo de
se aproximar dos garotos.
Ela acha que será rejeitada,
sem perceber como é
bonita, inteligente e
charmosa.
Então ele resolve lançar-
lhe um desafio. Até o Baile
de Verão, no final do ano,
deve arranjar um
namorado. Para sua
surpresa, Kelly não só
aceita, como o desafia
também. Os DOIS devem
encontrar uma nova
paixão.
É só quando ela começa a
sair com Derrick que Steve
percebe como foi tolo.
De que lhe adianta ter
conquistado a insinuante
Claudia, se seus
pensamentos jamais se
afastam de Kelly?
Por causa de uma aposta
inconsequente, corre o
risco de perder seu
verdadeiro amor...
Duas vozes
narrativas
alternadas,
masculina (Steve)
e feminina (Kelly)
Kelly Byrne e
Steve Parson,
melhores
amigos,17 anos,
estão para iniciar
o último ano na
escola.
- Andrew Rice,
melhor amigo de
Steve depois de
Kelly
- Ellen Frazier,
melhor amiga de
Kelly Depois de
Steve.
- Rebecca Foster,
linda e loira
namorada
temporária de
Steve
- James Sutton,
lindo e loiro
namorado
temporário de
Kelly
Tanya, a bonita
líder de torcida
que estudava um
ano a frente, ex
namorada e
verdadeira paixão
de James
.
- Algumas imagens apresentadas estavam em conflito
tecnológico, talvez devido à tradução; além disso algumas
vezes o texto utiliza-se de linguagem vulgar:
Se eu tivesse um pingo de cérebro, trataria de colocar o fone de
ouvido de meu walkman e ignorar aquele comentário (p.3)
Disse com firmeza e mordi meu sanduíche e liguei meu i-pod.
(p.5)
Ela não é do tipo que se coloca em uma lista feita só pelo tesão
de sair com uma garota gostosa. Ela é uma pessoa. (p.10)
Não entendia o que ela pudesse ter visto no cara, além da figura
do macho. (p.73)
- Uso constante de clichês, com destaque para toda a cena final:
Sem aviso, as luzes se acenderam. Nós ainda nos beijávamos.
Só paramos quando todos no cinema começaram a aplaudir
espontaneamente. Olhamos um para o outro com ar mplice e
caímos na risada. Um assobio longo e forte de alguém no
corredor nos fez rir mais ainda. Mas não parávamos de nos
olhar. Estávamos completamente absorvidos pela magia do
momento. Na entrada toda iluminada a mulher da bilheteria
estava parada, com as mãos na cintura.
- EU SABIA! - exclamou ela quando nos viu saindo juntos -
Como eu disse, deve ser alguma coisa no ar! Andamos pela rua,
sorrindo e rindo feito bobos. Todos apaixonados, pensei.
- Ei, Kelly. - disse ele. O quê?
- Você já tem um par para o Baile de Inverno? - ele perguntou -
sabe, preciso ganhar ma certa aposta.
Puxei-o para mais perto, beijando-o de leve. Depois dei uma
risada e um soco ligeiro em seu braço.
- Acho que você quis dizer que tem uma aposta que EU preciso
ganhar. - Falei, olhando em seus olhos. Steve fez cara de sério e
colocou as mãos em torno de minha cabeça. - Acho que NÓS
dois ganhamos. - Sussurou gentilmente.
Então ele me beijou, e não estou bem certa do que aconteceu
depois. Tudo de que me lembro é que a noite terminou com
chocolate quente e uma lareira. Adivinhe o resto...(p.89)
O conflito inicia-se com a descoberta,
por parte do protagonista, de que está
apaixonado por sua melhor amiga.
Após diversas reviravoltas muito
previsíveis, muitos clichês narrativos e
situações que servem apenas para
preencher o espaço em branco das
páginas, eles ficam juntos.
A problemática é colocada de forma
simplista, com recursos falsamente
psicológicos que intencionam apontar
profundidade avaliativa do
personagem, mas falham:
Todo mundo sabe que os sonhos não
significam nada. porque sonhei que
beijava Kelly, isso não queria dizer que
realmente desejava beijá-la. A gente
tinha dançado uma sica romântica
na noite anterior, e ter um sonho
inocente com ela era muito
natural.(p.52)
Não um rito de passagem definido.
Apenas algumas situações afetivas que
não requerem grande amadurecimento
emocional para serem resolvidas.
Os jovens, em relação
a representações de
função social,
desenvolvem
atividades comuns:
são estudantes,
alguns com mais
destaque em esportes.
114
CATALOGA
ÇÃO (obra,
autor,
tradutor, ano
da primeira
edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO
DO JOVEM/
ATUAÇÃO SÓCIO-
CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
Meus três
namorados
Alexis Page
Tradução:
Fábio
Fernandez.
2000
Anna Morris se meteu
numa enorme
enrascada.
Normalmente ela ficaria
contente com uma visita
surpresa de Joel, seu
namorado fixo três
anos, mas este não é um
fim de semana normal.
Não Peter, seu ex-
quase-caso, está prestes
a aparecer, como ela
tem também um
compromisso
imperdível com Kerry
Halley, sua última
paixão - talvez o garoto
dos seus sonhos. Triplo
desastre!
Nem mesmo a ardente e
romântica Anna, uma
gata pra ninguém botar
defeito, sabe como lidar
com três garotos ao
mesmo tempo num
único fim de semana.
Ou será que ela sabe?
Anna Morris - narradora
feminina, primeira
pessoa - 16 anos.
Lucky Hamilton, amiga
mais antiga e mais
querida.
Jackie Knaus, melhor
amiga em Washington.
Joel, namoradotrês
anos.
Peter, francês por parte
de pai, admirador de
Anna
Kerry Halley,monitor
sênior de natação.
.
Palavras problemáticas, provavelmente devido á tradução:
Abrindo as três portas do armário ao mesmo tempo, comecei a socar
na mochila todas as minhas roupas: meias, calcinhas, uma calça
jeans, duas camisetas. (p.3)
Isso foi realmente uma estupidez, garota-disse, soltando fogo pelas
ventas.(p. 32)
murmurei, picando e revirando obsessivamente meus ovos e
atochando tudo de uma vez na boca.
(p.51)
Mas que idéia de jerico a sua, hein, Kerry, se oferecer pra cuidar da
limpeza e ainda por cima me botar na roda -falei fingindo
indignação, com as mãos na cintura.(p.63)
Clichês:
Peter olhara no fundo dos meus olhos, e eu erguera minha cabeça na
direção da dele.(p. 8)
Eu gosto desse seu jeito - disse, me fitando direto nos olhos.
Um olhar tão intenso que fez minha boca secar. (p.41)
A tensão no ar fora palpável. Havia claramente algo a ponto de
acontecer entre nós dois, a menos que eu impedisse. Mordi o lábio.
Será que eu queria impedir?
(p 61)
confessou ele de bem na minha frente e olhando fundo nos meus
olhos. (p.64)
Senti como se estivéssemos num paraíso particular. Um doce aroma
de madressilva perfumava a noite, e uma cascata de raios prateados
caía
da lua, iluminando a mata escura. (p.64)
Cheguei a hesitar, mas o pude resistir ao contato de seu corpo, ao
seu cheiro doce e masculino, à magia da noite. (p.64)
. Um raio elétrico atravessou todo o meu corpo, fazendo-o formigar e
tremer de desejo. As mãos de Kerry passearam pelas minhas costas e
Novamente a transição de
sentimentos surge de
repentinamente, com a própria
personagem justificando-se e
buscando convencer-se do
contrário.
O conflito é apresentado de forma
bastante clara e previsível: ela
reconhece que está apaixonada, tem
algumas breves amarras
psicológicas para superar, e acabam
juntos.
Pouca profundidade, nennhum
crescimento da personagem.
Por um instante minha única
vontade foi pular em seus braços e
cair junto com ele na água. Então
sacudi a cabeça. Era Kerry quem
estava ali, e não. Joel. Eu devia
estar passando por algum sério
distúrbio afetivo para que aquelas
idéias viessem à minha cabeça,
talvez uma espécie de “síndrome
do namorado distante”. Kerry e eu
éramos amigos, ponto. (p 46)
Por que eu me sentira tão irritada
com Sam se derretendo toda por
Kerry? Devia ter ficado contente
pelos dois, e não chateada. Afinal
Kerry e eu éramos apenas amigos.
E ele tinha todo o direito de ser tão
feliz quanto eu era com Joel.
Estou feliz por eles, disse a mim
mesma. Estou feliz por eles.
Repeti aquelas palavras como um
mantra por todo o caminho. (p.48)
Me levantei do banco de um pulo.
Não podia suportar ficar assistindo
àquela cena por mais nem um
segundo. [...]Tinha uma súbita e
Adolescente
apresentada como
reflexiva e analítica em
relação aos próprios
sentimentos. No
entanto, tais reflexões
não se repetem, e não a
levam a nenhum lugar:
Será que eu realmente
vivia em guarda? Será
que eu empurrava as
pessoas para longe de
mim, de maneira que
elas não pudessem se
aproximar muito?o,
não podia ser verdade.
Se eu era tão bloqueada,
então como tinha
conseguido manter uma
relação duradoura com
Joel? Mordi o lábio.
Talvez me sentisse
segura com ele e nada
mais. Talvez Joel nunca
tivesse se aproximado
muita da verdadeira
Anna, do meu eu mais
profundo.
(p.45)
115
foram parar nos cabelos da minha nuca. Um delicioso arrepio
percorreu a minha espinha de alto a baixo, e me agarrei à camiseta de
Kerry. O mundo inteiro pareceu desaparecer. As únicas coisas que
existiam para mim naquele momento eram os braços de Kerry
envolvendo meu corpo e seus lábios quentes nos meus. (p. 64)
-Ah, Kerry, é lindo demais... -falei baixinho, quase chorando de
emoção.
-Mas não tanto quanto você -ele disse.
Me virei para olhá-lo, sorrindo. Ele se inclinou para mais perto de
meu rosto e me beijou com seus lábios quentes e doces. Em seguida
me puxou contra seu corpo e me abraçou forte, justamente quando os
primeiros raios do sol batiam na praia. (p 66)
erguendo meu queixo e olhando fundo nos meus olhos. (p.74)
De repente Kerry me agarrou em seus braços e me deu um beijo de
fazer a terra tremer. Fechei os olhos e me perdi na eternidade daquele
momento. Quando nos separamos, me sentia sem fôlego. (p.88)
-Eu tinha um bom motivo pra ir à sua cabana ontem de manhã.
Pretendia contar uma coisa a você... -disse Kerry, com voz grave e
rouca.
Então ele pegou meu rosto com ambas as mãos e olhou fundo nos
meus olhos.
-Eu... Eu te amo, Anna Morris.
-Eu também, Kerry. Eu também te amo -sussurrei. (p.88)
desesperadora necessidade de ligar
para Joel. Provavelmenteficava
irritada ao ver Kerry e Sam juntos
porque me sentia sozinha,
raciocinei. Devia ser uma espécie
de pena de mim mesma. Conversar
com Joel sem dúvida iria me
reconfortar e acabar com aquela
bobagem.
(p 51)
Resolução do conflito com o
namorado bastante previsível, ao
explicar que ele e a amiga Jackie
eram muito semelhantes com
interesses a finidades em comum.
Jackie estava excitada como
sempre. Mesmo quando dirigia não
conseguia parar de se mexer. Batia
no volante com a mão direita e
balançava a cabeça. Era como se
ela e Joel estivessem seguindo um
mesmo ritmo inaudível para os
meus ouvidos. (p.11)
Observei Joel e Jackie fazendo uma
pequena bagunça no
estacionamento enquanto o ônibus
se afastava. Doutor J escapara, e os
dois corriam atrás dele. Finalmente
Joel pisou na coleira e Jackie
tropeçou nela, caindo no chão.
Doutor J a lambeu carinhosamente,
colocando as patas no peito dela e
passando a enorme língua em sua
cara. Ri sozinha enquanto
observava as palhaçadas deles,
sentindo uma pontada de
arrependimento.(p,13)
116
CATALOGA
ÇÃO (obra,
autor,
tradutor, ano
da primeira
edição)
RESUMO NARRADOR,
PERSONAGENS
PRINCIPAIS
(NOMES E IDADES,)
LINGUAGEM/DIÁLOGO COM O LEITOR
ATUAL/ESTILO/RECURSOS
CONFLITO/
PROBLEMÁTICA/
RITO DE PASSAGEM
REPRESENTAÇÃO DO
JOVEM/ ATUAÇÃO
CIO-CULTURAL DO
JOVEM
OBS.
Juntos para
sempre
Cameron
Donkey
2000
Tradução
Fábio
Fernandez
Um amor
condenado pelas
estrelas...
Dean me convidou
Para sair no Dia
dos
Namorados...
e roubou meu
coração. Mas aí eu
descobri que ele é
de Gêmeos
- a pior
combinação
amorosa possível
para mim (sou de
Escorpião). Com o
zodíaco todo para
escolher,
Por que fui logo
me apaixonar por
alguém do signo
mais incompatível
com o meu?
Portanto, agora só me
restava uma coisa a
fazer: eu precisava
romper com Dean...
Narradores
alternado, um
capítulo para Dean,
outro para Natalie.
Igual à estrutura
narrativa de Mais
que um amigo.
Natalie Taylor
melhor amiga,
Jayne Engerman
Tanya Wright , a
ex namorada e
verdadeira paixão
de
Garth Hunter, um
dos ídolos da
escola
Dean Smith, aluno
novo e novo
candidato a ídolo
da escola
John Muirhead,
melhor amigo de
Dean
Expressões vulgares, linguagem bastante comum e
simples:
Minha cintura parecia menor, e como a barra ficava
pouco abaixo da bunda, minhas pernas pareciam mais
compridas. Meus cabelos (que, para mim, m cor de
lama, mas que os outros dizem ser castanho) e meus
olhos castanho escuros se destacavam contra o
vermelho berrante da lycra. (p.3)
Dean protestou, tentando eliminar a prova do crime
passando a mão na cara. (p.59)
O conflito é extremamente
superficial e piegas:
A adolescente que acredita
piamente em horóscopos e
astrologia de almanaque
acredita que o rapaz
maravilhoso que conheceu
não é astrologicamente
compatível com ela
Todos os obstáculos à
relação são jutificados por
esse “temos da
personagem”, e os
conflitos psicológicos que
ela eventualemnte
apresenta não passam de
questionamentos sobre o
mesmo assunto.
O início da ação é em Baile de Dia
Dos Namorados.
Representação dos adultos:
surge aqu
i a mesma configuração
de esposa abandonada pelo marido
com filhos pequenos, já vista em
Meu Primeiro Namorado:
- Ah, Dean - minha mãe
disse, abandonando seu
pedaço de torrada no prato
e olhando para o fogo.
Fazia muito tempo que eu
não a via parecer tão triste.
- Às vezes você me
lembra tanto eu mesma,
filhinho. Cometi o mesmo
Natalie é uma jovem
pouco inteligente, com
uma visão reduzida de
mundo, que acredita em
astrologia e nela baseia
sua existência e decisões.:
Antigamente eu lia meu
horóscopo só por diversão.
Mas isso antes de me
envolver a sério com
astrologia. Agora dou
muita importância à
leitura do horóscopo. É a
primeira coisa que faço
todos os dias (p.7)
Dean é um filho de mãe
solteira, um pouco mais
consciente sobre o mundo
e seus problemas,
inclusive observando os
conflitos da própria mãe:
Durante o dia, minha mãe é uma importante
executiva de uma agência de
publicidade. Mas assim que
chega em casa, troca suas
elegantes roupas de trabalho
po
r jeans e camisetas surrados.
(p.12)
A única pessoa a quem eu
realmente podia confidenciar
alguma coisa era minha mãe.
Talvez seja assim que ela
consegue fazer com que eu l
lhe conte tudo. Ser minha mãe
Ação ocorre
em Seattle
117
tipo de erro com seu pai.
Minha mãe nunca fala de
meu pai. Não que ela ande
por eternamente furiosa
ou magoada pelo que
aconteceu no passado.
Mas simplesmente não o
menciona. Roy e Randy
não percebem.
Quando ele nos deixou, os
dois ainda não tinham
idade suficiente para se
lembrar dele (p .85).
lhe dá as melhores condições
para estar no lugar certo na
hora certa. (p.57)
118
APÊNDICE B - Pesquisa sobre a Coleção Primeiro Amor - Editora Ática - Contexto de produção
1) Qual é a origem dos textos da coleção? São americanos, ingleses, ou de alguma outra
nacionalidade?
Os textos são norte-americanos.
2) Qual é o histórico da coleção Primeiro Amor em outros países?
A coleção se chama “Love Stories” e é de meados dos anos 1990.
3) Quais foram os critérios para a editora escolher esta temática para formar a coleção?
A coleção já existia com esse formato, foi traduzida para o Brasil.
4) Os textos existiam em separado, e foram compilados para formar a coleção, ou ela
foi encomendada, com cada texto elaborado exclusivamente para a coleção?
Os textos já existiam em uma coleção previamente formada, chamada Love Stories”. A
coleção acabou nos Estados Unidos (também por isso a Ática deixou de publicar os
livros). Mais informações sobre os livros podem ser encontradas no seguinte link:
<http://www.amazon.com/The-Love-Stories-series-1-25/lm/150VD8CJCUYU5>.
5) Por que somente autoras mulheres compõem a coleção?
Infelizmente, a Ática não dispõe de dados para responder.
6) Em relação aos tradutores: eles comem o quadro da editora? Qual o critério para a
entrega de textos para eles traduzirem?
Alguns livros foram traduzidos por uma pessoa diferente cada um, outros foram traduzidos
em grupo por uma mesma pessoa. O Fábio Fernandez, foi quem mais traduziu, bem como
a Beth Vieira. Eles trabalham com exclusividade para a Ática?
Os tradutores compõem o quadro de colaboradores da editora. Acredito que tenham sido
escolhidos pela qualidade de seu trabalho e também pela disponibilidade no momento da
edição do livro.
119
7) As autoras que assinam os textos são pessoas diferentes, ou é sempre a mesma pessoa
utilizando-se de pseudônimos? Elas tem outras publicações em seus países de origem?
Em caso afirmativo, o publicações juvenis?
Infelizmente, a Ática não dise de dados para responder.
8) Qual é o público alvo da coleção, de acordo com a Ática?
sobraram dois livros no catálogo: Confie em mim e Do jeito que eu sou; os outros foram
distratados, ou seja, saíram de circulação. A coleção era feita para adolescentes a partir do
8º ano escolar.
120
APÊNDICE C - Contexto de circulação
1) Desde o ano de lançamento até hoje, quantos títulos foram editados na coleção
Primeiro Amor?
Foram editados 19 livros pela Ática.
2) A tiragem de cada edição é de quantos exemplares?
Cada edição tem em torno de 3 mil exemplares.
3) Foi elaborada alguma estratégia para divulgação da obra junto a escolas?
Não.
4) A distribuição é maior para escola ou em venda direta ao consumidor (livrarias, etc.)?
Infelizmente, a Ática não dispõe de dados para responder.
5) A editora possui informações sobre a atual distribuição da coleção, ela ainda é
procurada pelo público?
Não muito. Tanto que quase todos os livros foram distratados.
6) Existe previsão de lançamento de novos títulos pela coleção?
Não, pois ela já não existe nos Estados Unidos.
7) Na avaliação da Ática, a coleção Primeiro Amor é um sucesso editorial? Por quê?
No início sim, mas depois não fez muito mais sucesso. Tanto que quase todos os livros
foram distratados.
121
APÊNDICE D - Informações encontradas sobre as autoras dos textos da Colão Primeiro Amor.
DADOS A RESPEITO DAS AUTORAS DOS TEXTOS DA COLEÇÃO
PRIMEIRO AMOR
Katherine Applegate - O amor pode esperar (Sharing Sam)
Katherine Applegate - K. A. Applegate é uma prolífica autora de romances de ficção científica para
leitores juvenis. A mais bem sucedida empreitada de Applegate na ficção juvenil, tem sido a sua criação da série
“Animorphs”. Tais livros, sobre jovens adolescentes que receberam de alienígenas o poder de se
“metamorfosearem” em rios animais, rivalizam-se em popularidade com a série de R. L. Stine,
“Goosebumps”. Applegate escreveu mais de sessenta títulos da série “Animorphs” e também criou continuações
da rie, como “Megamorphs”. Applegate falou sobre seus sentimentos sobre escrever para adolescentes,
chamando a platéia de “os melhores leitores do planeta. Eles têm a mente aberta, imaginativa e estão dispostos a
abraçar idéias.” Ela também revelou que gosta dos desafios apresentados pelas séries de ficção, pois “um escritor
de séries tem de desenvolver uma estrutura que se torne uma máquina bem lubrificada. Você não pode se dar ao
luxo de passar um ano em um único livro e absolutamente não pode ter bloqueio de escritor”. Ela declarou à
revista Lodge, que, ao escrever para os leitores adolescentes, trabalha para “escrever em linguagem perfeita e
escolher apenas as imagens certas, para ter certeza de que meus jovens leitores se apaixonem pelas personagens
e regressem ...outra e outra vez.”
29
Arlynn Presser - O amor chegou de surpresa (Love Changes Everything)
Arlynn é o pseudônimo de Vivian Leiber, escritora de romances femininos, publicados no Brasil, na
coleção Sabrina, da Editora Nova Cultural.
30
Cheryl Zach - A garota dos meus sonhos
Zach, que começou sua carreira escrevendo romances adolescentes por causa da decisão de um agente
de marketing e passou algum tempo a escrever sob um pseudônimo para a série “Sweet Valley High”, pode dar-
se por satisfeita com seu sucesso como escritora. Algumas das séries para as quais ela escreveu têm sido muito
bem recebidas pelos jovens leitores, e seu trabalho para a série “Southern Angels” têm recebido atenção positiva
da crítica. Primeira autora para adolescentes a ser incluída no Hall da fama dos escritores de romance da
America, Zach ganhou elogios por sua capacidade de empatia de seus personagens, por escrever obras de
suspense, e por integrar detalhes históricos nas tramas e enredos de seus romances.
31
Stephanie Doyon - Só podia ser vo
Stephanie Doyon cresceu na zona rural do Maine. Fez graduação em Inglês e Literatura no Colby
College, onde estudou com Jennifer Boylan e o Prêmio Pulitzer, Richard Russo. Após a faculdade, se mudou
para Nova Iorque e trabalhou na contabilidade de uma pequena agência literária. Em seu tempo livre, ela
trabalhou como ghostwriter para uma série popular de livros para adolescentes. Em 1999, ela criou sua própria
série teen, um quarteto de livros chamados On the Road, que narrou as aventuras de um graduado no ensino
dio que aproveita um ano de folga antes da faculdade para viajar através dos Estados Unidos. A rie foi
adquirida para a televisão. Em 2005, Stephanie dá adeus à escrita adolescente com o lançamento de seu primeiro
romance literário para adultos, The Greatest Man in Cedar Hole. A novela atraiu vasta aclamação de publicações
como The New York Times e The Boston Globe, comparando seu trabalho ao estilo de Anne Tyler e Mark Twain.
Cedar Hole foi nomeado um dos melhores livros do ano pelo Library Journal e foi o vencedor do Prémio
Literário Maine para a ficção. Stephanie vive com o marido e duas filhas no Maine onde está trabalhando em um
novo romance.
32
29
Traduzido da biografia de Applegate disponível em: <ttp://biography.jrank.org/pages/1703/Applegate-
Katherine-Alice-1956-K-Applegate.html>.
30
Fonte: Disponível em: <ttp://www.fantasticfiction.co.uk/p/arlynn-presser/>.
31
Traduzido da biografia de Cheryl Zach. Disponível em: <http://www.bookrags.com/biography/cheryl-zach-
aya/>.
32
Traduzido da biografia de Stephanie Doyon. Disponível em: <http://www.redroom.com/author/stephanie-
doyon/bio>.
122
Elizabeth Bernard - Ensaio de um beijo (How to kiss a guy)
A pesquisa não apontou resultados biográficos , a não ser uma lista de seus livros, em inglês: 1995 -
How to Kiss a Guy (Love Stories #3); 1989 - Summer Dance (Satin Slippers, Book 12); 1989 - RISING STAR-
SS #10 (Satin Slippers, No 10); 1988 - Stepping Out (Satin Slippers #8); 1988 - TEMPTATIONS-SAT.SLP#7
(Satin Slippers, No 7); 1988 - Second Best (Satin Slippers, Bk 5); 1988 - Changing Partners (Satin Slippers #4);
1987 - Stars in Her Eyes (Satin Slippers, No 3); 1987 - Center Stage (Satin Slippers, No 2); 1987 - To Be A
Dancer (Satin Slippers, Bk 1); 1989 - Starting Over : (#11) (Satin Slippers, No 11); 1989 - Stars in Her Eyes
(Satin Slippers); 1989 - Chance to Love : (#9) (Satin Slippers, No 9); 1988 - Curtain Call (Satin Slippers, No 6)
33
Janet Quin Harkin - Coração Dividido
Escritora britânica que escreve também para adultos, sob o pseudônimo de Rhys Bowen, autora de mais
de cem livros. Ela nasceu em Bath, Inglaterra, e tem trabalhado para a BBC e a TV Australiana. Algumas de
suas obras mais populares incluem “Sweet Dreams”, “Sugar and Spice”, e On Our Own”. A maioria de seus
livros apresenta um pequeno grupo de personagens cujas vidas refletem os hábitos e a cultura do meio oeste
americano.
Na década de 1990 Quin-Harkin voltou a escrever romances de mistério para adultos sob o pseudônimo
Rhys Bowen. “O segredo do confessionário”, que aparece na antologia Unholy Orders, foi finalista dos prêmios
Agatha e Anthony. “Doppelganger”, da antologia “Sangue em suas os”, venceu o prêmio Anthony 2004 de
melhor conto (ambos escritos sob o nome de Rhys Bowen). Ela escreve atualmente três séries com esse
pseudônimo: um sobre uma aristocrata britânica, Lady Georgiana, “Georgie”, em 1930, Inglaterra, outra
apresentando o imigrante irlandês Molly Murphy, vivendo em Nova York no início de 1900 e uma terceira,
apresentando um policial galês chamado Evan Evans. Ela é a autora do sucesso de vendas “Boyfriend Club”,
uma série sobre quatro meninas calouroa na Alta Mesa High School (Arizona): Roni, Ginger, Justine e Karen.
Quin-Harkin é casada e mãe de quatro filhos. Vive atualmente na Califórnia.
34
Callie West - Meu primeiro namorado
A pesquisa não retornou resultados sobre perfil e bibliografia da autora
Elizabeth Winfrey - Mais que um amigo, meu suposto namorado
Elizabeth Winfrey é uma autora de livros infantis e juvenis. Algumas de suas publicações incluem Let's
Put on a Show (Full House Sisters), How to Hide a Horse (Full House Sisters). Contribuiu para a série literária
Goosebumps.
35
Alexis Page - Meus três namorados
Não foi encontrado nenhum perfil público ou demais informações sobre a produção literária da autora,
apenas a citação do nome em inglês do livro Meus três namorados. (Three Guy Weekend).
Cameron Dokey - Juntos para sempre
Cameron Dokey é uma autora americana que vive em Seattle, Washington, com seus três gatos e seu
marido. Ela tem uma coleção de mais de 50 filmes antigos de terror e ficção científica. Cameron nasceu no vale
central da Califórnia. Cresceu lendo literatura clássica e mitologia; seu pai, Richard, era professor de Filosofia,
Escrita Criativa e Literatura Ocidental. Os dois pais de Cameron são escritores. O trabalho de sua mãe é menos
conhecido que o do pai. A avó de Cameron, Mabel, foi uma cantora no radio no início do século 20.
Contribuiu nos roteiros de episódios das séries: Buffy, a caça vampiros, Charmed e Angel.
36
Diane Namm - O segredo de Malory
Diane é autora de mais de 55 livros infantis, incluindo o best-seller (com mais de seis milhões de pias
vendidas) “A Charlie Brown Christmas”; bem como histórias originais para Scholastic / Children's Press. Ela é
uma das escritoras oficiais do programa “Reading is Fundamental”. Diane tem escrito uma rie de histórias
originais publicados por “Little Golden Books”; histórias originais para a Disney publicadas pela Bantam. Diana
é fundadora e diretora artística da “West of Brodway Theater Company”, uma organização sem fins lucrativos.
33
Disponível em: <http://www.paperbackswap.com/book/author/Elizabeth+Bernard>.
34
Traduzido da biografia de Janet Quin Harkin. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Janet_Quin-
Harkin>.
35
Traduzido de site com informações sobre a autora. Dispovel em: <http://www.jacketflap.com/
persondetail.asp?person=45830>.
36
Traduzido de site com informações sobre a autora. Disponível em: <http://www.fantasticfiction.co.uk/
d/cameron-dokey/>.
123
Ela ainda escreve para filme e livros infantis e juvenis.
37
Kate Emburg - A linguagem do amor
A pesquisa não retornou nenhum perfil, apontando apenas mais três livros publicados: Recipe for Love
(Sweet Dreams Series #225); The Whispering Belltower: A Judy Bolton Mystery; Susan Slutt: Girl Detective.
38
Elizabeth Chandler - Jogos do amor
Pseudônimo da escritora inglesa Mary Claire Helldorfer. Elizabeth Chandler tem escritos livros
ilustrados, novelas adolescentes, e romances juvenis (incluindo a popular trilogia Kissed By an Angel) sob
diversos nomes. Como Mary Claire Helldorfer, ela vive em Baltimore, e ama contos, gatos, baseball e Bob - não
necessariamente nessa ordem.
39
Liesa Abrams - Dez razões para amar
Liesa Abrams é uma autora de livros infantis e juvenis. Suas publicações incluem “Bound for Glory: A
história autorizada do seleção de ginástica olímpica Americana de 2004”, além de “Overview Series” - Divorce,
Doenças e síndromes - Síndrome da fadiga crônica e His Other Girlfriend (no Brasil, publicado como Dez razões
para amar).
40
Diane Schwemm - O presente do amor
Diane Schwemm tem publicadas mais de quarenta novelas e romances juvenis.Ela vive no Colorado.
41
Elizabeth Craft - Um verão inesquecível
Elizabeth Craft produziu programas e ries de TV, como The Shield, Women's Murder Club, Lie to
Me, e Angel. É uma autora de livros infantis e juvenis.
42
Kieran Scott - Confie em mim - Kieran Scott
Uma verdadeira garota de Jersey, Kieran cresceu em Montvale, Nova Jersey, e estudou na Pascack Hills
High School, onde era líder de torcida, cantora, atriz e, eventualmente, estudante. Fez graduação na Rutgers
University, formou-se com uma dupla especialização em Inglês e Jornalismo e agora reside em Ridgewood,
Nova Jersey, em sua própria casa de solteira (mas não por muito tempo; ela está prestes a se casar com um -
surpresa! - nova iorquino.) Quando não está escrevendo, Kieran passa seu tempo no cinema, assistindo a WB,
indo à academia ou tendo aulas em escolas locais para manter o seu funcionamento cerebral. Kieran escreveu
mais de trinta livros para crianças e jovens sob vários pseudônimos, incluindo as edições da série popular
Charmed, Alias e em breve, Everwood. (Mais alguns que o tão secretos que ela não pode mesmo dizer!). Jingle
Boy é o seu primeiro livro de capa dura.
43
Lynn Mason - Do jeito que eu sou
Lynn Mason tem escrito várias novelas para adolescentes, incluindo Love Stories Super Editions, The
“LWord (adaptada para a TV sob a forma de seriado) e All That. Contribuiu também para roteiro do seriado
televisivo Alias.
44
37
Traduzido de informações contidas no site oficial da escritora. Dispovel em:
<http://www.dianenamm.com/>.
38
Disponível em: <http://www.goodreads.com/author/show/906153.Kate_Emburg>.
39
Traduzido de site com informações sobre a autora. Dispovel em: http://www.fantasticfiction.co.uk/
c/elizabeth-chandler/>.
40
Traduzido de site com informações sobre a autora. Dispovel em: <http://www.jacketflap.com/
persondetail.asp?person=94295>.
41
Traduzido de informações. Disponíveis em: http://www.randomhouse.com/teens/authors/
author.pperl?authorid=27430 >.
42
Traduzido de sites com informões sobre a autora. Disponível em: <http://www.fancast.com/ people/Elizabeth-
Craft/18703/biography/about. e http://www.jacketflap.com/persondetail.asp?person=45104>.
43
Traduzido de site com informações sobre a autora. Disponíveis em: <http://www.teenreads.com/authors/au-
scott-kieran.asp>.
44
Traduzido de site com informações sobre a autora. Disponível em: <http://www.randomhouse.com/author/
results.pperl?authorid=19335>.
124
ANEXOS
125
ANEXO A - Conceituação sobre o fenômeno tween
ELES TÊM A FORÇA
Criança, não senhor - pré-adolescente. A meninada de 8 a 12 anos vive e
consome feito gente grande. E ainda ensina os pais a lidar com o computador
Ariel Kostman
Marina acessa a internet diariamente. os e-mails enviados pelas amigas e entra em salas de bate-
papo. Martim gosta de assistir aos clipes da MTV. Ambos adoram marcas e novidades tecnológicas. Martim e
Marina foram namorados durante cinco meses, mas terminaram. Seria apenas mais uma história comum de
adolescentes, não fosse pela idade dos personagens. Martim tem 11 anos. Marina, 10.
Os dois são típicos representantes de uma nova e poderosa congregação: os tweens, abreviação da
palavra between (entre, em inglês) e trocadilho com teens (adolescentes). Deparamos aqui com um fenômeno de
força e amplitude ainda pouco analisadas, de um tipo que não se via desde a “invençãodos adolescentes, na
década de 50. Naquela época, empurrada pelo rock e pelos filmes de Hollywood, a garotada do ginásio e do
colegial começou a assumir um idito controle de sua vida e de suas atitudes - e, claro, se rebelar. Resultado: o
mercado acordou para um contingente inexplorado de consumidores, a sociedade precisou se reacomodar diante
de uma nova realidade e os pais, inicialmente pasmos, tiveram de mudar.
Algo semelhante acontece agora, com menos traumas, em relação aos tweens. Os mais novos têm 8, 9
anos; os mais velhos, 12 ou 13. Arecentemente, pertenciam ao vasto e indiferenciado mundo das crianças.
Agora, essa turminha ultrajovem tem voz ativa em casa, sabe muito bem o que quer, namora, sai com os amigos
e consome como gente grande. E, claro, se rebela contra pais controladores. Devido à contração da unidade
familiar, muitas vezes são filhos únicos, ou no máximo dividem o trono com um irmão. Mimados e paparicados,
são o equivalente ocidental dos pequenos imperadores, como os chineses chamam os frutos da política oficial de
um só filho. Quem tem um desses em casa já sabe: eles mandam e desmandam como gente grande.
[...] Nascidos e criados com a internet como um mero fato da vida, os tweens costumam ter maior
facilidade para lidar com informática do que os adultos - uma fonte inesgotável de espanto, admiração e orgulho
para a maioria dos pais. De tão informatizados, põem o computador em posição mais importante, na ordem das
prioridades, do que a televisão. Faz sentido: vieram justamente da internet, dos bate-papos e dos games, mais do
que de qualquer outra fonte, a informação e a desenvoltura que puseram essa turminha na porta do mundo dos
adultos. Mais decididos e mais independentes, os tweens de classe média, em consequência, adquiriram um alto
poder de compra. Nunca garotos e garotas de 10 anos tiveram tanto dinheiro nas mãos e tamanha autonomia para
decidir o que fazer com ele. [...] Detestam mágicos, palhaços e qualquer coisa que se relacione ao universo
infantil; suas festas têm, isso sim, dança e horário avançado. Começam por volta das 21 horas, acabam lá pelas 2.
Quando estão com amigos, abominam a presença de papai e mamãe, uma dupla posta no mundo, como se sabe,
para constranger filhos. “Uma das coisas que eu mais detesto é quando meu pai me beija na frente dos meus
amigos”, declara o precoce Martim.
[...] O diretor de marketing da brica de brinquedos Estrela, Aires José Leal, que por força do cargo
acompanha passo a passo a evolução do fenômeno, acredita que os tweens estão provocando uma quebra na
hierarquia das famílias. “Os pré-adolescentes se tornaram pequenos monarcas. Definem tudo o que vão consumir
e ainda influenciam os pais na compra das coisas da casa”, constata. A mineira Ana Luisa Davisson, 8 anos e
nove viagens ao exterior na bagagem, confirma: quando quer muito uma coisa, pede, pede e os pais cedem. “Se
vejo uma roupa de que gosto, primeiro convenço minha e a entrar na loja. Aí, experimento e insisto tanto que
ela acaba comprando”, relata. Quem já passou pela experiência sabe como é difícil resistir.
Nas pesquisas trimestrais que realizam com grupos entre 9 e 12 anos para traçar um perfil desse novo e
promissor mercado, os analistas da Estrela compuseram uma lista de suas características mais marcantes. São
elas:
126
a) detestam ser chamados de crianças. Definem-se como pré-adolescentes;
b) rejeitam produtos caracterizados como infantis;
c) são muito bem informados e consumistas;
d) gostam de colecionar e classificar tudo;
e) identificam marcas e relacionam grife a qualidade;
f) não mais enxergam os pais como heróis;
g) dão grande importância à turma (tribo);
h) ditam moda para os mais novos;
i) são muito volúveis, buscam sempre produtos novos.
Quando se fala em tweens, fala-se de uma multio. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), são 13,5 milhões os brasileiros com idade entre 9 e 12 anos, mais que toda a população da
Bélgica. Embora as conhecidas disparidades sociais do país mantenham uma grande fatia desse contingente à
margem da sociedade de consumo, os hábitos e as aspirações dos pré-adolescentes começam a ser estudados a
sério. Um levantamento realizado pelo instituto de pesquisas Ipsos-Marplan com a garotada entre 10 e 14 anos
das classes A, B e C em nove regiões metropolitanas do país no ano passado revela que 81% das meninas usam
esmalte (em 1998, eram 62%). Segundo a pesquisa, 71% das meninas decidem a marca de suas roupas (contra
64% quatro anos antes) e 76% escolhem a marca do tênis (contra 70%). Ao contrário dos adolescentes, cujos
bitos e reões o bem semelhantes seja aos 14, seja aos 16 anos, a aldeia dos tweens não é homonea. Isso
acontece porque os pré-adolescentes estão atravessando uma fronteira importante, a puberdade, quando as mudanças
no corpo e no comportamento são muito grandes. Os meninos enfrentam alterações na voz, aumento da massa
muscular, crescimento de pêlos. As meninas têm a primeira menstruação e os seios começam a aparecer. Nessa época
acontece o que o psiquiatra ami Tiba chama de “confusão puberria”. “É como um camarão trocando a casca. A
criaa perde o modo de ser infantil, mas ainda não tem nada para colocar no lugar”, compara. Por serem depositários
de uma montanha de informões, têm, claro, idéias que ou não passavam pela caba da maioria das criaas da
mesma idade no tempo de seus pais ou, se passassem, ficavam na clandestinidade das brincadeiras entre amigos. O
psiquiatra Jairo Bouer, que responde a dúvidas sobre sexo em jornais e na televisão, calcula que 15% a 20% das
perguntas que recebem da turminha dos 9 aos 12 anos. “As mais comuns são sobre mudança corporal e
masturbação. É uma geração muito precoce, atesta.
[...] Loucos por tecnologia, os tweens consideram o telefone celular uma extensão do próprio braço e,
claro, estão no centro da mira das operadoras. A Telesp Celular estima que 5% dos quase 6 milhões de linhas
vendidas pela companhia estejam nas mãos de garotos e garotas entre 9 e 15 anos de idade. A empresa faz
campanhas voltadas para o mercado jovem e investe em promoções que distribuem produtos como lixa para
skate e parafina. A Oi, operadora de telefonia celular da Telemar, lançou o Oi MTV, destinado a jovens entre 12
e 18 anos, e o Oi Xuxa, focado nas crianças de 8 a 11 anos - este, ao custo de 300 reais, um objeto de desejo tão
disseminado que apareceu no topo da lista da garotada que vive na favela Nova Holanda, no Rio de Janeiro,
segundo pesquisa de uma organização não-governamental, a Uerê. Não é só no próprio celular que os tweens dão
palpite: segundo Carla Esteves, coordenadora de desenvolvimento de mercado jovem da Oi, mais da metade dos
pais compradores admitem que ouvem os filhos na hora de decidir. “Essas crianças são muito abertas à
tecnologia, aprendem tudo muito rápido”, analisa Carla.
Engana-se, porém, quem acha que os tweens são uns bobinhos facilmente controlados pela publicidade.
Pelo contrário - são exigentes e mudam de foco como quem muda de canal no controle remoto. “É preciso tomar
cuidado com a linguagem utilizada, porque eles o muito ligados”, avisa a diretora da agência de publicidade
Age, Ana Lúcia Serra. “Qualquer vacilo e eles deletam o produto com a maior facilidade”, diz, na linguagem de
quem leva a turminha a sério. Quem é do meio também se impressiona com o poder de influência da meninada
dentro de casa. “O que está acontecendo é uma mudança na história da humanidade”, empolga-se a publicitária
Helena Quadrado, vice-presidente de planejamento da McCann-Erickson. “Pela primeira vez, a geração mais
nova está ensinando a geração mais velha.” Os exageros de precocidade dos pré-adolescentes evidentemente
tamm podem ter efeitos nocivos. “Como adquiriram poder antes da hora, alguns podem se transformar em
pequenos tiranos”, alerta o psiquiatra Tiba. Ele também aponta risco de problema nos novos hábitos de consumo
da turma. “O sinal vermelho pisca quando, para ser feliz, ele precisa ter a roupa ou a bolsa da moda”, explica
Tiba. “O perigo disso é formar um indivíduo movido apenas pelo desejo, incapaz de encarar uma vontade o
realizada.” Aos pais cabe a missão de estimular o lado bom da revolução tween, que é o de formar crianças mais
determinadas e sabidas, e ao mesmo tempo conter seu contraponto deletério: criar um exército de pestinhas
mimadas. Fácil, não?
Fonte: Revista Veja - edição 1791 - 26 fev. 2003. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/260203/ _084.html>.
Acesso em: 21 out. 2009
127
ANEXO B - Reportagem sobre o poder econômico dos pré-adolescentes
Poder ultrajovem - Os tweens, a garotada entre oito e 12 anos, conquistam o mercado. Eles adoram
moda e internet e influenciam as compras dos pais
Lena Castellón
Experimente chamar de criança uma menina de dez anos. Muitas delas o torcer o nariz. Querem ser
tratadas como adolescentes, mesmo que as mudanças da puberdade não tenham chegado. Parecer ter mais idade
é um desejo comum da garotada. Quem pensa assim em geral sonha ser quatro anos mais velho. Desse modo,
seria mais fácil sair sozinho, ter uma mesada maior e namorar. Esse ideal ronda principalmente a turma que hoje
vive o final da infância e o início da adolescência. Um blico que recebeu um apelido em inglês que se torna
mais conhecido no mercado: o tween. “Antes, essa garotada ficava esquecida. Agora, um holofote sobre o
grupo. As empresas estão percebendo que os tweens m preferências diferentes das de crianças e adolescentes.
Estamos desenvolvendo mais projetos que estudam essa população”, diz Cecília Russo, sócia-diretora da Troiano
Consultoria de Marca.
Criado a partir do termo between (“entre em inglês), o conceito de tween é aplicado no Brasil para
meninos e meninas de oito a 12 anos, uma fase popularmente conhecida como pré-adolescência. Expressão que
eles detestam. “Pré-adolescente é horrível”, dispara Marina Ferri, 11 anos. de gloss, sandálias de salto fino e
peças com estampa de oncinha, ela é o retrato da atual geração tween, mais informada sobre moda e tecnologia
do que se supõe. Eu e minhas amigas temos MSN, Orkut, celular, iPod. usamos roupas de marca. Bolsa, a
gente compra da Puma ou da Adidas. Louis Vuitton é desejo das mais velhas, as com 13 anos”, explica Marina.
O poder de consumo desses jovens, claro, é o que mais desperta a atenção do mercado. Na semana
passada, especialistas de diversos setores se reuniram em São Paulo para debater, entre outros temas, a forte
influência que os filhos exercem sobre as compras dos pais. Estima-se que o consumo do grupo movimente
US$ 1,88 trilhões por ano no mundo. No Brasil, o potencial da garotada também está sendo medido.
Apresentado durante a conferência - batizada de Kid & Tweens Power -, um estudo do instituto de
pesquisa Millward Brown mostra que até as marcas para adultos podem sair ganhando. Entrevistas feitas em
junho com tweens de São Paulo e Rio de Janeiro, das classes A e B, revelaram que 22% dizem aos pais que carro
eles devem comprar. A opinião dos filhos também é importante na hora de os pais trocarem os celulares ou
computadores.
Mais da metade dos garotos ouvidos na pesquisa aponta que, nesse quesito, a palavra deles é a lei. “Os
tweens nasceram em um mundo em que a internet e o celular fazem com que estejam ligados 24 horas por dia,
sete dias na semana”, esclarece Aurora Yasuda, diretora da Millward Brown no Brasil.
Apesar de muitas vezes ainda exibirem feições infantis, os meninos e meninas dessa faixa etária estão
tão conectados que falam uma linguagem quase inacessível aos pais. “Meu filho gosta de um jogo da internet
que eu não entendo direito o que é”, conta a nutricionista Marli Jimenez, mãe de Tárik, 12 anos. No caso, o game
é o Habbo, uma comunidade virtual ambientada em um hotel. Descobri o jogo conversando com meus amigos
pelo MSN”, diz Tárik, que calcula passar 16 horas por dia no computador nestas férias.
Para a medicina, tween não existe. É apenas um apelo mercadológico. Mas os doutores sabem bem
como é peculiar essa meninada - que é considerada criança ou adolescente de acordo com o desenvolvimento
social, psicológico e físico. “Hoje, um menino de 11 anos é capaz de discutir temas com os adultos em condições
de igualdade. É uma evolução que veio da globalização, da internet e da influência dos jovens mais velhos”,
afirma o dico Paulo Ribeiro, da Sociedade Brasileira de Pediatria. De fato. A pequena Rafaella Faviani, sete
anos, se espelha na irGabriela, 17, que veste peças de marca. A menina conhece moda e às vezes pede
para Gabriela fazer sua maquiagem (rímel e gloss). E tem suas paixões. Amo salto alto”, suspira. Como muitas
mulheres o fariam.
Fonte: Revista ISTOÉ - Edição 1970 - 1º Ago. 2007. Disponível em: < http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/
1970/ artigo57115-1.htm>. Acesso em: 21 out. 2009.
128
ANEXO C - Reportagem sobre a influência dos tweens na economia
Por que a Disney precisa dos pré-adolescentes - 13/05/2008
O show de Hannah Montana: na TV, no cinema, em DVD e discos
FOTO: MATT SAYLES/AP PHOTO
O fenômeno de programas como Hannah Montana, dedicados aos
chamados tweens, faz renascer a empresa do Mickey
O seriado Hannah Montana, sucesso do Disney Channel, na TV por assinatura, agora passa também na TV Globo.
É reflexo da imensa popularidade da personagem Miley Stewart - menina normal na escola durante o dia e uma cantora
popular à noite, a Hannah Montana que dá título ao programa. Estrelada por Miley Cyrus, de apenas 15 anos, é tratada como
a produção que resgatou a Disney da irrelevância para a qual caminhava. Ela e a turma do High School Musical são motores
do renascimento da fábrica de sonhos - ícone aos anos 1980, derrotada pela criatividade de Steven Spielberg e pelas
travessuras eletrônicas da Pixar de Steve Jobs (agora parte do grupo do Mickey Mouse).
Qual é a origem da freada da Disney? A fórmula perfeita da companhia criada por Walt Disney, aperfeiçoada ao
longo de gerações de bichinhos antropomórficos, com sentimentos e modos humanos, era simples: afeiçoá-los às crianças e
depois franqueá-los em milhares de produtos. Os executivos da Disney, porém, sempre tiveram medo de envelhecer os
personagens, diz Karl Taro Greenfeld, da revista Portfolio. Perderam o bonde. Resultado: “Uma lacuna demográfica e
dinheiro perdido”. A empresa que atraíra os menores de até 8 anos com o Mickey perdia o carinho dos mais velhos.
Como se deu a virada? O crédito é da executiva Anne Sweeney, presidenta da Disney-ABC Television Group
desde 2004. Por meio de pesquisas - e de intuição - ela percebeu que havia um vasto mercado de pessoas “velhas demais para
o canal Nickelodeon e jovens demais para a MTV”. Bingo. O Disney Channel é provavelmente a maior incubadora de
estrelas adolescentes desde que a NBA parou de selecionar americanos saídos dos colégios”, anota a Portfolio.
Quem são esses jovens entre a Nickelodeon e a MTV, os fãs de High School Musical e Hannah Montana? São
os tweens. É expressão em inglês resultado da fusão de teen (adolescente) com between (entre). São crianças de 7 a 12
anos.
Eles têm real poder econômico? Sim. Os pré-adolescentes gastam, anualmente, US$ 51 bilhões - outros US$
170 bilhões são produzidos ao redor deles, com sica, televisão e cinema. O consumo de produtos franqueados da
Disney cresceu 29% em 2007 em relação ao ano anterior - a maior parte deles ligada ao seriado High School Musical e a
Hannah Montana. O faturamento da empresa chegou a US$ 10, 4 bilhões, ante US$ 9, 6 bilhões do peodo anterior, informa
a BBC. “Os tweens são os novos adolescentes”, crava reportagem da agência AP para definir o ingresso dessa turma no
mercado consumidor.
Como fazê-los comprar CDs e DVDs em um mundo plugado na internet, de música e filmes
129
baixados gratuitamente da rede? aqui uma jogada comercial de gênio. Os tweens talvez sejam o derradeiro
reduto jovem a comprar produtos físicos - possivelmente porque ainda não dominam a internet 100% e também
porque os pais os afastam dela, por medo de sites proibidos para menores. Em outras palavras: num tempo em
que os consumidores anseiam tudo grátis, a Disney achou um nicho que ainda topa pagar. “Os pais compram
dois ou três CDs da Disney para os filhos, sobrinhos e amiguinhos, que gostam de ver o desenho da capa, o
folheto interno”, diz Abbey Konowitch, vice-presidente da Disney Hollywood Records. Nos dormitórios de
faculdades, um estudante compra e outros dez copiam.”
Fonte: Revista da Semana - Editora Abril, edição 36 - de 08/05 a 15/05 de 2007. Disponível em:
<http://revistadasemana.abril.com.br/edicoes/36/porque/materia_porque_278821.shtml>. Acesso em: 21
out. 2009.
130
ANEXO D - Reportagem sobre desejos de consumo de adolescentes de 13 anos
Especial 13 anos
Tenho que Ter!
Nesta fase o consumo vai além da necessidade material. Ele ajuda a construir a identidade
João Loes
Esse hábito não é das meninas. Enquanto elas concentram as despesas no universo da estética, os
meninos gastam, de maneira equivalente, com tecnologia. E tudo precisa ter grife, mesmo que o produto seja
falsificado. Aliás, o mercado paralelo é um dos canais usados pelos menos abastados para saciar o desejo de ser
como seus pares. Segundo o terapeuta Moisés Groisman, como os estímulos para o consumo do jovem da classe
C o basicamente os mesmos para o jovem de classe A, os gostos são muito semelhantes. “As marcas dão
respostas às aspirações desses meninos e meninas”, reforça Calliare. “Muitas vezes, elas garantem a aceitação
social dentro do grupo ao qual eles desejam pertencer.
“Comprar, aos 13 anos, é muito mais do que gastar dinheiro”, diz Marcos Calliare, cio-diretor da
NaMosca, agência de pesquisas focada no público jovem. Segundo o especialista, nessa idade, as escolhas de
consumo ajudam a construir a identidade do adolescente.
A carioca Julia Vidal, 13 anos, tem dificuldade para lembrar de tudo o que comprou na viagem que fez
em julho a Miami, nos Estados Unidos. A mãe dela, Danieli, 33 anos, contou pelo menos 20 cores diferentes de
gloss na mala da filha, que fez a festa na seção de maquiagem da grife Victoria's Secret.
No Rio de Janeiro, onde mora, Julia sempre acompanha a mãe em incursões por joalherias e não sai das
lojas sem um novo penduricalho. Embora ganhe boa parte das coisas que tem, a jovem também costuma se
mimar com agrados comprados com o próprio dinheiro. “Gasto mais da metade da minha mesada para me
enfeitar”, admite
131
O que elas querem:
1. Celular para trocar SMS
2. Gloss, blush e nécessaire
3. Livros das séries
“Crepúsculo” e “Gossip Girl”
4. Presilhas coloridas
5. Mochila para guardar tudo
6. Doces temáticos
7. Esmalte colorido
8. Caderno para anotações
9. Água saborizada
10. Relógio feminino
11. Blusa estampada
12. Perfume da moda
13. Buttons da banda preferida
14. iPod com músicas e vídeos
O que eles querem:
1. Game portátil para disputas
entre amigos
2. Camiseta com dizeres bem-
humorados
3. Desodorante que exale
masculinidade
4. Jeans largo
5. Relógio de plástico resistente
6. Carteira enxuta que caiba no
bolso
7. Boné para fazer estilo
8. Chaveiro com grafismos
9. Mochila para guardar tudo
10. Celular recheado de funções,
com games e acesso à internet
Fonte: Revista Istoé Independente. Edição 2084 - 21 out. 2009. Dispovel em:
<http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2084/artigo154207-1.htm>. Acesso em: 21 out. 2009.
132
ANEXO E - Reportagem sobre venda de lançamentos juvenis na Feira do Livro de Porto Alegre
Vampiros lucram nesta edição da Feira
Rafael Gloria, especial para o JC
Sucesso no cinema e na literatura, série Crepúsculo virou febre mundial entre os adolescentes
Foto: Pedro Revillion/JC
Na frente da banca Magia da Leitura, um casal discute que livro levar para a sua sobrinha. Ao avistarem um
exemplar do Crepúsculo, primeira parte da badalada trilogia, a mulher indica: “as meninas andam lendo isso aí”. O
namorado, até então de óculos escuros, resolve tirá-los para observar melhor a capa. E responde: “ah, são aqueles vampiros
que parecem modelos, não?”. A mulher ri.
Personagem muito comum na literatura de terror e na mitologia, os vampiros voltaram com força total graças à
série Crepúsculo, da escritora americana Stephenie Mayer. A história mostra a trajetória de Bella Swan, uma estudante que se
muda para uma cidade do interior dos Estados Unidos, colocando sua vida em risco ao apaixonar-se pelo vampiro Edward
Cullen. Com a chegada aos cinemas do próximo capítulo, Lua Nova, no dia 20 de novembro, a venda dos livros sobre esse
tema tem aumentado vigorosamente.
Segundo Kátia Moreira, do Beco dos Livros, mais de dez livros da série Crepúsculo já foram vendidos nos
primeiros dois dias de feira. Ela diz que quem mais procura o tema são os adolescentes, embora os mais velhos também não
fiquem atrás, como é o caso de Paulo Custódio e Tatiana Teles, que adquiriram o livro para a afilhada. Eles assistiram à
produção cinematográfica, mas não se interessaram muito sobre o assunto. “Achei o filme razoável, mais leve e voltado para
o público juvenil. Embora eu não tenha lido o livro, fiquei interessado em comprar para a minha afilhada, as gurias gostam
bastante”, explica Custódio. Tatiana diz que eles apreciam o tema e recentemente acompanharam a primeira temporada da
série True Blood, mais uma que explora o nicho.
True Blood é baseada no livro Vampiro em Dallas, que está sendo vendido na banca Saraiva, onde o vendedor
Carlos Alberto explica que, uma vez que o tema está em voga, as publicações sobre os vampiros têm aparecido da noite para
o dia. “Só hoje vendemos quatro edições do Eclipse e uma edição do Vampiro em Dallas”, diz.
Os vampiros prometem continuar em alta durante algum tempo. muitos livros sobre chupadores de sangue em
produção, principalmente nos Estados Unidos, onde série House of Night, escrita por P.C Cast e sua filha, Kristin Cast, é o
mais novo sucesso entre adolescentes que seguiram a onda de Crepúsculo e passaram a gostar de livros de vampiros. Para ter
uma idéia, os livros da dupla estão na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times, com mais de três milhões de
cópias comercializadas. House of Night narra as aventuras de Zoey, uma jovem de 16 anos que se torna vampira após ser
marcada por um rastreador (assim como o James, de Crepúsculo) e passa a frequentar uma espécie de escola de vampiros
chamada Morada da Noite. O primeiro livro da série, Marcada, foi lançado no Brasil no começo de 2009 e Traída, a
continuação da saga, acaba de chegar às bancas da Feira do Livro. Alice Butzgle, da Livraria Cervo, diz que seis tipos de
livros diferentes sobre vampiros sendo vendidos, uma espécie de recorde nos últimos anos da Feira. Entre eles, A Traída, tem
boa procura. “É o que tá na moda, né”, define.
Fonte: Jornal do Comércio, 04 nov. 2009. Dispovel em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=11547>.
Acesso em 06 nov. 2009.
133
ANEXO F - Entrevista sobre a Coleção Primeiro Amor
UMA FORMA GOSTOSA DE CONHECER A PRIMEIRA PAIXÃO
A coleção “Primeiro Amor”, da Ática conta com 14 tulos publicados e é, indiscutivelmente, um
grande sucesso. Em média, a série conta com o lançamento anual de dois novos livros. O mais recente tulo da
coleção é Jogos do amor, de Elizabeth Chandler.
A editora adjunta da Ática, Carmen Lucia Campos, esclarece que a experiência do primeiro amor é
sempre mobilizadora para o jovem.
“Os textos que tratam do assunto costumam despertar a empatia dos adolescentes”, diz. Carmen
esclarece que no catálogo da Ática o havia tulos que tratassem especificamente desse acontecimento tão
marcante na vida de qualquer pessoa. “Por isso, resolvemos dar início à coleção, e o sucesso foi imediato”, conta
ela. “Segundo as cartas que recebemos e o relato de muitas bibliotecárias, os leitores se envolvem com as
histórias e, mal terminam um título, estão em busca de outro da mesma coleção.” Quanto à linguagem das
histórias da “Primeiro Amor”, a editora adjunta explica que está adequada ao jovem do século XXI, com muitas
informações, inclusive de ordem afetiva e sexual. Ela acrescenta que o tom intimista - confessional, por vezes -
das histórias e a visão de mundo bem adolescente fazem com que o leitor se identifique com as situações
mostradas nos livros. Sobre o futuro da série, Carmen pensa que há, hoje, uma clara predominância da
perspectiva feminina. “Nossa meta é publicar livros que mostrem, do ponto de vista masculino, as
complexidades da primeira paixão”, revela”.
Fonte: Site da Editora Ática. Disponível em:<http://www.atica.com.br/materias/?m=96>. Acesso em 10 jul.2009.
134
ANEXO G - Correspondência eletrônica com a editora
assistente de literatura juvenil da Editora Ática
-----Mensagem Original-----
De: Malu Rangel
Para: 'Jesiane'
Enviada em: quarta-feira, 18 de novembro de 2009 13:14
Assunto: RES: Primeiro Amor
Jesiane,
Boa tarde, tudo bem?
Em anexo, o relatório respondido. Peço desculpas pois não disponho de alguns dados
específicos, por isso, algumas respostas ficaram um pouco vagas.
Se eu puder ajudar em mais alguma coisa, por favor, me procure.
Um abraço e muito obrigada por seu interesse. Boa sorte na defesa!
Malu
De: Jesiane [mailto:jesiane@terra.com.br]
Enviada em: terça-feira, 17 de novembro de 2009 13:47
Para: Malu Rangel
Assunto: Re: Primeiro Amor
Olá, Malu!!
Estou escrevendo uma dissertação de mestrado em Teoria LIterária, cujo tema é literatura juvenil
contemporânea, com foco na análise da coleção Primeiro Amor, que ainda faz muito sucesso,
principalmente na internet, com comunidade no orkut.
se tu puderes responder até sexta, te agradeço muito, pois vou finalizar a dissertação neste final de
semana. E como expliquei para a Nanci, quanto mais fidedignos os dados, melhor para a apresentação
da coleção.
Segue o arquivo em anexo. Mais uma vez, obrigada!
um abro,
Jesiane M. Fernandes
-----Mensagem Original-----
De: Malu Rangel
Para: '[email protected]m.br'
Enviada em: segunda-feira, 16 de novembro de 2009 12:52
Assunto: ENC: Primeiro Amor
Jesiane,
Tudo bem?
Havia enviado a mensagem abaixo para o seu endereço de email antigo.
Um abraço,
Malu
De: Malu Rangel
Enviada em: quarta-feira, 11 de novembro de 2009 14:16
135
Para: 'jesiane-fernandes@saude.rs.gov.br'
Assunto: Primeiro Amor
Olá, Jesiane,
Como vai?
Em primeiro lugar, mil desculpas pela demora em responder. Estamos aqui em fechamento,
só agora consegui tempo para saber das suas questões.
Sou editora assistente aqui do núcleo de juvenis, e a Nanci me falou que você precisa de
algumas informações sobre a coleção Primeiro Amor. É isso mesmo?
Se você puder me passar novamente as perguntas, respondo para você (prometo!) até
sexta-feira.
Se quiser me ligar, o telefone está abaixo. Amanhã passarei o dia fora, mas sexta estou por
aqui das 11h às 20h.
Obrigada, me desculpe novamente pela demora e um abraço,
malu rangel
editora assistente | literatura juvenil
avenida otaviano alves de lima 4.400 (4. andar) | cep 02909.900
11 3990.1638
136
ANEXO H - Quadro demonstrativo dos romances da Editora Nova Cultural
Julia, Sabrina, Bianca, Clássicos Históricos, Clássicos Históricos Especial, Best Seller e Sabrina Sensual são romances publicados pela Nova Cultural. Cada
série leva a você diferentes tipos de histórias, seja históricas ou contemporâneas, sempre com toques de suspense e mistério que prendem a atenção dos leitores da
primeira à última página.
Romances instigantes escritos por autoras renomadas, com tramas envolventes. Emoção do começo ao fim do livro.
Formato Pocket
R$ 10,50
A partir da edição 123
Novo Formato
R$ 12,50
Tramas cheias de romance,suspense e magia levam você para lugares além da imaginação! Prepare seu coração. E atenção:
a partir da edição 863, a série Bianca terá 224ginas, muito mais emoção para você!
128 páginas - Mensal
R$ 5,90
A partir da edição 863
224 páginas - Quinzenal
R$ 8,90
Muita cultura e lazer nas páginas de romances históricos inesquecíveis. Conheça lugares e costumes de uma época de puro
romantismo!Histórias que se passam no século XIX (1801-1900). 224ginas - Quinzenal
R$ 8,90
137
Homens corajosos, damas audaciosas, perigos e aventuras vão conquistar você!
320 páginas de magia e romance!
Histórias que se passam até o século XVIII (1800).
320 páginas - Quinzenal
R$ 10,50
Príncipes, piratas, castelos, damas misteriosas...
Perigo, emoção e muito romance vão transportar você ao passado e a lugares inimagináveis
160 páginas - Semanal
R$ 6,90
A magia do amor presente na vida moderna.
Conheça os sentimentos, sonhos e dúvidas de mulheres como você!
128 páginas - Semanal
R$ 5,90
Romances intensos, repletos de paixão e desejo. Prepare-se! Você viverá intensas emoções até a última página.
192 páginas - Mensal
R$ 8,50
Fonte: site oficial da editora, disponível em: <http://www.romances.com.br/site3/oquesao.asp>. Acesso em: 03 nov. 2009.
138
ANEXO I - Roteiros de trabalho pedagógico sugerido pela Ática Educacional
Juntos para sempre
Cameron Dokey
Você acredita mais em vo ou no
s outros? Natalie é da astrologia e Dean, seu namorado, o é seu par perfeito,
segundo as estrelas. Natalie terá que decidir em que confiar: nos astros ou nos seus instintos?
1. Possibilidades Pedagógicas
- Relacionamento amoroso do ponto de vista dos dois adolescentes envolvidos: a garota e a busca de certezas e
segurança após a primeira decepção com alguém do sexo oposto; e o garoto procurando encarar todos os desafios
na busca da auto-afirmação.
- A tragédia de Romeu e Julieta como pano de fundo e a narrativa estruturada no jogo entre dois narradores, Natalie
e Dean, permitem aos leitores terem perspectiva do rapaz e da garota, seus conflitos, suas inseguranças e suas
dúvidas na busca do equilíbrio. O que fica evidente é que desencontros, angústias e principalmente tempo fazem
parte do processo de amadurecimento, de crescimento físico, emocional e social.
2. Abordagens Interdisciplinares
Língua Portuguesa
- Estruturão criativa da narrativa realizada na troca de narradores personagens em cada capítulo (ver sumário,
página 7). O hoscopo do signo de cada um deles, Natalie ou Dean, colocado na abertura de cada capítulo, dá ao
leitor um prognóstico de como se encaminharão os acontecimentos naquela parte da história.
- Intertexto com Romeu e Julieta, de Shakespeare (páginas 44, 73 e 144).
- As funções da linguagem e o sujeito do discurso: escrita e reescrita do texto segundo a inteão e o contexto
(páginas 74 a 75 e 78).
Língua Estrangeira/Inglês
- Palavras e expressões do cotidiano dos jovens americanos e brasileiros das grandes cidades (jeans, milk-shake,
smoking, flash, lycra, just do it, etc.).
- Cultura americana: dia dos namorados (14 de fevereiro, dia de São Valentim, página 16); referência à boca-ligão
a partir da costa leste ou costa oeste (página 160).
3. Temas Transversais
Pluralidade Cultural
Os valores e as atitudes dos jovens, dos pais e dos professores.
Ética
O código de ética particular dos jovens.
Saúde e Educação Sexual
Os cuidados e as preocupações com o corpo (página 58), com os riscos para a saúde (salmonela, página 96). As
difereas físicas e emocionais entre os gêneros masculino e feminino.
139
O segredo de Malory - Diane Namm
Mudar o nome e a cor do cabelo, recomeçar a vida em uma nova cidade são r
otina para Malory, já que sua família é
perseguida pela máfia. Para piorar, ela se apaixona por Ben, o gato mais popular da escola. Como contar a verdade a
ele?
1. Possibilidades Pedagógicas
- Os livros da rie Primeiro Amor comprovam a sabedoria popular que diz: “o primeiro amor a gente nunca
esquece”.
Na adolescência, período da vida marcado por crises (do grego krisis, juízo, decisão), a descoberta “do outro”,
quando se está em busca da própria identidade, conflita e exacerba emões reveladas na necessidade de se
fazerem escolhas entre semelhanças/difereas, atrão/rejeição e ousadia/inseguraa. As histórias que vivenciam
esses conflitos na realidade ficcional ficam para sempre na memória do leitor por anteciparem ou comprovarem
suas hipóteses sobre relacionamentos afetivos. - Os valores, as atitudes e os procedimentos das personagens da
hisria revelam o “way of lifedo povo americano e permitem que o leitor brasileiro, pela comparação entre
semelhanças e diferenças, analise com um novo olhar os conteúdos cio afetivos relacionados à nossa cultura em
relação aos jovens, à sociedade e à vida.
2. Abordagens Interdisciplinares
Língua Portuguesa
- Recursos narrativos para enfatizar as infencias, as hipóteses, o suspense sugerido pelo tulo O segredo de
Malory:
1. Prólogo (p. 5) é uma reescrita da gina 53 graficamente planejada para enfatizar o segredo (“... o podia
contar a ele. Nem agora. Nem nunca”);
2. Recursos gráficos (letra em itálico) refoam o mistério pelo jogo enfático entre palavras: “Eram eles” (p. 11) e
entre a narrativa e o pensamento da personagem Malory: “E fora pura sorte. Estremeceu e pedalou mais rápido.
Pura e simplesmente sorte.” (p. 10);
3. Os capítulos, mesmo no sumário, são nomeados por numerais escritos por extenso o que dá a impreso de um
crescente suspense, segredo ... (Um, Dois, Três, Quatro...);
4. Os “estranhamentos” constatados pelo leitor numa página têm seu segredo revelado pela leitura das páginas
seguintes: linguagem em digo (p. 9) e FBI (p. 10), a “reencarnação” sugerida na página 5 é revelada pelo
tingimento do cabelo na página 16.
- Intertextualidade: A revolução dos bichos, fábula moderna de George Orwell (páginas 19 e 20), e o conto de
fadas Branca de Neve (p. 45);
- Gíria e construção lingstica próprias dos jovens: “tipo assim(p. 72).
Geografia
- Estados Unidos: divio política, clima e relevo: Nebrasca, Los Angeles, Flórida, Minnesota (p. 17).
Artes
- Música como linguagem terapêutica (páginas 31 e 52).
- Composições de Beethoven: Nona Sinfonia (p. 31), Sonata Pathetique (p. 34).
- Informões sobre a vida de Beethoven.
- Música folcrica americana (Clementine) e mexicana (La Cucaracha).
3. Temas Transversais
Pluralidade Cultural
Ver segundo item de Possibilidade Pedagógica. Ética
- A mentira como recurso de convivência social (p. 12).
- O preconceito pelo diferente (bolsista) (p. 19).
- Moral X legal: o conflito do pai de Malory (p. 40). onte: Ática Educacional. Disponível em:
<http://www.aticaeducacional.com.br/htdocs/secoes/ ficha.aspx?cod=125>. Acesso em 12 jun. 2009.
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