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que ele dá ao texto, que tem um caráter dramatúrgico, um texto extremamente calcado em
diálogo. Então temos bons personagens, um bom texto, uma boa história. Tudo isso incita a
adaptação. E no filme mantém-se esse caráter literário, todo o andamento da história, toda a
estrutura do filme, a construção dos personagens, a construção de um clímax, a montagem,
tudo é baseado nesse diálogo, quer dizer, toda a tensão, todo o drama é construído pelo
diálogo, pelo ritmo. Foi por tudo isso que me interessei. Vilela tem outros contos que são
mais abertos, que não são tão pautados no diálogo, ele não é um autor cinematográfico, como
há muitos na literatura contemporânea. Há livros que as pessoas escrevem que já parece um
roteiro pra ser filmado, eu acredito que o Luiz Vilela nunca buscou isso, quer dizer, ele gosta
de cinema, mas não tem essa preocupação, não é intencional escrever para ser filmado, é o
estilo dele de escrever. E ele escreve os diálogos pela observação, ele observa as outras
pessoas conversando, e depois que escreve, lê em voz alta, até chegar ao ponto que deseja. E
assim ele consegue dar o ritmo que deseja. Tem um fato que é extremamente interessante: em
todos os curtas eu mantive uma fidelidade em relação ao diálogo, e o Françoise ficou grande,
tinha 22 minutos, e pelo edital, eu tinha que fazer um filme de 15 minutos. Mas quando eu
tentava cortar alguns trechos, era impossível, porque o texto tem uma “unidade dramática” tão
grande, uma coesão, um ritmo no diálogo, que qualquer parte que você corte, de alguma
forma, fazia falta. Isso é muito interessante, é impressionante como é um texto totalmente
calculado, não tem barriga, digamos assim, o admirável é isso, ser um texto extremamente
pensado, extremante bem construído, e isso é realmente uma excelência.
Lavínia – Você falou que Luiz Vilela não escreve intencionalmente para ser adaptado, mas
você acha que o texto dele possui proximidades com o roteiro?
Rafael – Possui nessa questão do discurso direto, do diálogo. Outra coisa que o torna
sugestivo para ser adaptado é que ele trabalha, geralmente, com um cenário só, geralmente
não é um filme de ação, é um filme de encontro, não têm deslocamentos. Os personagens se
encontram e ali é criada a situação. Então, tem o caráter prático que é o que permite os textos
dele serem encenados, por exemplo, no teatro. Essa possibilidade está nos 3 curtas que eu
adaptei, são personagens que se encontram num cenário e ali mesmo se desenvolve uma ação
dramática em torno do diálogo.
Lavínia – Como foi o contato com o texto de Vilela? Como se deu a escolha dos contos?