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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO
NÍVEL DE MESTRADO/PPGE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADE, ESTADO E EDUCAÇÃO
O TRABALHO DOCENTE: PAUPERIZAÇÃO, PRECARIZAÇÃO E
PROLETARIZAÇÃO?
LIO CLEMENTE FERNANDES
CASCAVEL, PR
2010
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ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO
NÍVEL DE MESTRADO/PPGE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADE, ESTADO E EDUCAÇÃO
O TRABALHO DOCENTE: PAUPERIZAÇÃO, PRECARIZAÇÃO OU
PROLETARIZAÇÃO?
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação, Área de
Concentração Sociedade, Estado e
Educação, da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná UNIOESTE, como
requisito à obtenção do título de Mestre em
Educação.
Orientador: Prof. Dr. Paulino José Orso.
CASCAVEL, PR
2010
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iii
UNIOESTE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O TRABALHO DOCENTE: PAUPERIZAÇÃO, PRECARIZAÇÃO OU
PROLETARIZAÇÃO?
Autor: Hélio Clemente Fernandes
Orientador: Prof. Dr. Paulino José Orso
Este exemplar corresponde à dissertação de Mestrado
defendido por Hélio Clemente Fernandes aluno do Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Oeste do
Paraná-UNIOESTE para a obtenção do título de Mestre em
Educação.
Data: 05/03/2010.
Assinatura: ______________________________
(Orientador)
COMISSÃO JULGADORA:
________________________________
Prof. Dr. Paulino José Orso
___________________________________
Prof. Dr. Amarilio Ferreira Junior
___________________________________
Prof. Dr (a). Ireni Marilene Zago Figueiredo
___________________________________
Prof. Dr. Roberto Antonio Deitos
___________________________________
Prof. Dr. André Paulo Castanha
iv
Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca Universitária
UNIOESTE/Campus de Toledo.
Bibliotecária: Marilene de Fátima Donadel - CRB 9/924
Fernandes, Hélio Clemente
F363t O trabalho docente : pauperização, precarização e
proletarização? / Hélio Clemente Fernandes. -- Cascavel, PR : [s.
n.], 2010.
xiii ; 208 f. : il.
Orientador: Drº Paulino José Orso
Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade
Estadual do Oeste do Paraná. Campus de Cascavel. Centro de
Educação, Comunicação e Artes
1. Educação – História 2. Educadores 3. Professores –
Formação 4. Professores – Condições sociais 5. Professores –
Saúde 6. Prática de ensino 7. Estado - Políticas 8. Capitalismo I.
Orso, Paulino José, Org. II. T.
CDD 20. ed. 370.710981
v
RESUMO
A presente pesquisa busca melhor compreender o trabalho docente. Para
tanto, realizamos uma abordagem histórica desde as comunidades primitivas,
passando pelo modo de organização escravocrata, feudal e capitalista;
apresentamos alguns dados que demonstram como ele ocorre na atualidade e
refletimos sobre as categorias de pauperização, precarizão e proletarizão.
O objetivo central é entender o trabalho docente, que por sua vez, não pode
ser suficientemente dimensionado sem levar em consideração a sua ligação
como a totalidade social. A pesquisa apoia-se em autores que se ocuparam
desta temática, porém, também contém alguns elementos de pesquisa de
campo que evidencia as condições da saúde do trabalho docente no Paraná. A
bibliografia trabalhada permite estabelecer relações entre o trabalho docente e
a forma como a sociedade se organiza e prepara os indivíduos para viverem
nela mesma. O estudo está dividido em três capítulos. O primeiro intitulado
Panorama do trabalho docente: das comunidades primitivas a Idade Moderna.
Este procura construir o pano de fundo para se compreender o trabalho
docente tendo como referência sua origem na história. Reflete-se sobre o
trabalho docente em conexão com as diferentes sociedades que vigoraram no
passado e incidem nos dias de hoje. O segundo capítulo denominado O
trabalho docente: do Brasil ao Estado do Paraná, destaca alguns traços do
trabalho docente no Brasil, com o intuito de completar o contexto histórico para
indicar alguns elementos que possibilitem o desvelar deste no Estado do
Paraná a partir de 2002, buscando contribuir, de modo específico, na discussão
acerca da saúde desses trabalhadores a partir da realidade presente na Região
Oeste do Estado, tendo como ponto de observação a cidade de Cascavel, PR.
Neste capítulo apontam-se alguns dados que demonstram como é realizado o
trabalho docente no Paraná e as condições em que ele se processa. O terceiro
capítulo recebeu como título O trabalho docente e a pauperização,
precarização e proletarização, pretende verificar as implicações do
desenvolvimento do capitalismo no Brasil sobre o trabalho docente, sobretudo
a partir da década de 1990. Este estudo permite inferir algumas mudanças que
ocorreram no âmbito da educação e do trabalho docente conforme ocorrem as
transformações na sociedade.
Palavras-chaves: Trabalho docente; Educação e formão de Professores;
Pauperização, precarização e proletarização.
vi
ABSTRACT
This research seeks to better understand the teaching. We made a historical
approach since the early communities and to the way the organization slave,
feudal and capitalist present some data showing how it takes place today and
reflect on the categories of pauperization, impoverishment and
proletarianization. The main objective is to understand the teaching, which in
turn can not be sufficiently scaled regardless of its connection to the whole of
society. The research is supported by authors who have dealt with this theme,
however, also contains some elements of field research that shows the health
status of teaching in Parana. The bibliography worked to establish relationships
between teachers' work and the way society organizes and prepares people to
live in itself. The study is divided into three chapters. The first entitled Panorama
of teaching: the primitive communities the modern age. This seeks to build the
background to understand the teachers' work with reference to its origin in
history. Reflected on the teaching work in connection with the various
companies they operated in the past and focus today. The second chapter "The
teachers' work: from Brazil to the State of Paraná, highlights some features of
teaching in Brazil, in order to complete the historical context to provide elements
that allow the unveiling of the Parana State from 2002, seeking help, specifically
in the discussion of health workers from the present reality in Western State,
with the vantage point of the city of Cascavel, PR. In this chapter point to some
data that show how the work is done teaching in Parana and the conditions
under which it takes place. The third chapter received the title The teaching and
pauperization, impoverishment and proletarianization, intends to investigate the
implications of the development of capitalism in Brazil about the teaching
profession, especially since the 1990s. This study allows us to infer some
changes that have occurred in education and teaching as the changes occur in
society.
Key-words: Teaching: Education and Training of Teachers; Pauperization,
Impoverishment and Proletarianization.
vii
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Enoemia e Irineu Fernandes, por terem me auxiliado nos
primeiros passos e ensinado o valor da persistência e da disciplina necessária
para o êxito nos estudos, no trabalho e na vida.
Aos meus irmãos: Neusa, Nilva e Emerson, pela amizade, convivência e união,
apesar da “correria” do dia a dia do trabalho e das inúmeras obrigações.
Aos meus cunhados: sar e Paulo e a minha cunhada Carolina, por
acreditarem no amanhã, na possibilidade de uma nova sociedade, ao
abraçarem o compromisso da paternidade e maternidade, mesmo sabendo dos
inúmeros desafios.
Aos meus sobrinhos (Julio, Felipe e Enzo) e sobrinhas (Mariana, Bruna e
Mirella). Símbolos da vida e de seu constante devir.
Aos meus amigos, parentes e a minha namorada (Fernanda), por entenderem
este período de afastamento que houve em função de minha dedicação para a
realização desta pesquisa.
Aos professores da Rede Estadual de Educação o meu apreço e gratidão;
partilhar com vocês das alegrias e dos desafios presentes no “chão da escola”
constitui-se num aprendizado constante. Ao professor Amâncio e a professora
Ieda meus agradecimentos pela leitura deste trabalho, pelos apontamentos e
atenção dedicada.
Ao padre Clemente Damiani, por seu exemplo de vida, de solidariedade e
desprendimento.
viii
AGRADECIMENTOS
A elaboração deste trabalho contou com a colaboração de muitas pessoas
(direta ou indiretamente) e, sendo assim, agradecemos a todas elas e de modo
particular:
Ao meu orientador, pela orientação firme e segura, pela confiança depositada
e, principalmente, pelo incentivo dado por meio de seu exemplo - de quem
almeja à transformação da sociedade - essencial para a superação dos
inúmeros desafios colocados à todos que buscam avançar no campo da
pesquisa. Agradeço ainda pelos livros emprestados, estes foram fundamentais
para a realização deste estudo.
Às professoras Georgia Sobreira dos Santos Cêa e Edaguimar Orquizas
Viriato, por terem me apresentado a relevância do método na produção do
conhecimento.
Ao professor Dr. João Carlos, pela orientação informal, pela amizade, por estar
sempre disposto a ajudar.
Aos membros do grupo HISTEDOPR, por propiciarem um espaço de leitura,
estudo e debate acerca da história da educação.
Aos membros da banca examinadora pela valiosa contribuição no processo de
elaboração e amadurecimento desta dissertação.
Aos meus colegas de turma, pelas contribuições: Dalessandro, Deliane,
Iolanda, Artemio, Fabiano, Karina, Vandiana, Lilian e Margarete. Seriedade,
dedicação, humanidade, competência, disciplina acamica e compromisso
o alguns dos adjetivos desta turma e que me inspiram.
À coordenação e ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE-Campus
de Cascavel). De modo particular, destaco aqueles que foram meus
professores e com os quais tive o privilégio de conviver e aprender: Paulino
José Orso, Ireni Zago Figueiredo, Liliam Porto Borges, Edaguimar Orquizas
Viriato, Geórgia Sobreira dos Santos Cêa, Roberto Antonio Deitos, Ramon
Casanova e Francisco Lopes Segrera.
Á Sandra Köerich e Adeline, secretarias do Programa, pelos serviços prestados
e pela atenção dedicada.
A todos que colaboraram com comentários, críticas e encorajamento.
Por fim, agradeço à renovação da utopia promovida pelo Mestrado em
Educação, articulado a responsabilidade social. Vê-se, deste modo, o caráter
coletivo de todo este processo.
Hélio Clemente Fernandes
Verão de 2010
ix
“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural,
nada deve parecer impossível de mudar.”
Bertold Bretch
(1898 – 1956)
x
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................ v
ABSTRACT........................................................................................................ vi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................ xii
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS................................................................. xiii
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 01
CAPÍTULO I
Panorama do trabalho docente: das comunidades primitivas à Idade Moderna
1.1. O trabalho docente nas comunidades primitivas....................................... 18
1.1.1. Questões preliminares............................................................................ 18
1.1.2. A organização social das comunidades primitivas................................. 19
1.1.3. O ensino nas comunidades primitivas.................................................... 20
1.2. O trabalho docente nas sociedades escravocratas................................... 22
1.2.1. Questões preliminares............................................................................ 23
1.2.2. A organização social e o ensino na Grécia Antiga: Atenas e Esparta... 27
1.2.3. O trabalho docente realizado pelos fisofos e sofistas.......................... 34
1.3. O trabalho docente na sociedade medieval............................................... 41
1.3.1. Questões preliminares............................................................................ 43
1.3.2. A organização social da Idade Média..................................................... 45
1.3.3. O trabalho docente realizado na sociedade medieval............................ 47
1.4. O Trabalho docente na Idade Moderna..................................................... 53
1.4.1. Questões preliminares............................................................................ 54
1.4.2. A organização da social na Idade Moderna............................................ 57
1.4.3. O trabalho docente na sociedade moderna............................................ 63
CAPÍTULO II
O trabalho docente no Brasil e no Estado do Paraná
2.1. Alguns traços do trabalho docente na História do Brasil........................... 79
2.1.1. Alguns aspectos do trabalho docente no Brasil
Colonial............................................................................................................. 80
xi
2.1.2. Alguns aspectos do trabalho docente no Brasil
Imperial............................................................................................................. 88
2.1.3. Alguns aspectos do trabalho docente no Brasil
República.......................................................................................................... 93
2.2. O trabalho docente no Estado do Paraná................................................ 101
2.2.1. Alguns aspectos do trabalho docente no Estado do Paraná a partir de
2002.................................................................................................................101
2.2.2. Especificidades do trabalho docente no Estado do Paraná................. 104
2.2.3. A questão da indisciplina escolar no Estado do Paraná....................... 108
2.2.4. A valorização do trabalho docente no Estado do Paraná e os limites do
capital.............................................................................................................. 111
2.3. A saúde do trabalhador da educação no Estado do Paraná................... 119
2.3.1. Aspectos sobre a saúde dos trabalhadores em educação a partir da
cidade de Cascavel-PR.................................................................................. 126
CAPÍTULO III
O trabalho docente, a pauperizão, a precarização e a proletarização
3.1. As transformões no mundo do trabalho a partir da década de 1990.....138
3.1.1. Alguns apontamentos sobre os embates entre capital e trabalho..........139
3.1.2. A gica do capital, a globalização e o empobrecimento do
trabalhador........................................................................................................146
3.2. Pauperizão, precarização ou proletarização do trabalho docente?.......151
2.2.1. O trabalhador e a pauperização............................................................. 152
3.2.2. A precarização do trabalho docente...................................................... 155
3.2.3. A proletarização e a proletarização docente.......................................... 163
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 170
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 176
xii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANDES/SN – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior.
APP-Sindicato – Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do
Paraná.
CENSE – Centro Sócio Educativo
CFE – Conselho Federal de Educação.
CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
CPC – Centro Popular de Cultura.
CSN – Companhia Siderúrgica Nacional.
DIEESE Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos.
EaD – Ensino a Distância.
HISTEDBR Grupo de Estudos e pesquisas em História, Sociedade e
Educação no Brasil.
HISTEDOPR – Grupo de pesquisa em História, Sociedade e Educação no
Brasil - GT da Região Oeste do Paraná.
JIPM – Junta de Inspeção e Perícia Médica.
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
MCP – Movimento de Cultura/educação Popular.
MEB – Movimento de Educação de Base.
MEC – Ministério da Educação.
MOCLATE – Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação.
OLT – Organização por Local de Trabalho.
PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional.
TICs – Tecnologia da Informação e Comunicação.
UNE – União Nacional dos Estudantes.
UnB – Universidade de Brasília.
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas.
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
USAID – United States Agency for International Development.
USP – Universidade deo Paulo.
xiii
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
Tabela n. 1: Referente à turma da primeira série do Ensino Médio............... 106
Tabela n. 2: Referente à turma da segunda série do Ensino Médio........106-107
Tabela n. 3 Referente à turma da terceira série do Ensino Médio................. 107
Tabela n. 4: O vencimento dos professores em alguns Estados do
Brasil.........................................................................................................112-113
Tabela n. 5: O vencimento dos professores no Estado do Paraná.................115
Tabela n. 6: Salário mínimo nominal e necessário........................................ 117
Tabela n. 7: Juntas de Perícia Médica no Estado do Paraná........................ 128
Gráfico n. 1: Licença médica e readaptados no Estado do Paraná............... 121
Gráfico n. 2: Licenças tiradas durante o ano.................................................. 122
Gráfico n. 3: Duração do tempo das licenças................................................. 123
Gráfico n. 4: Funcionários do Estado atendidos na Perícia............................ 127
Gráfico n. 5: Atendimento da Perícia da cidade de Cascavel-PR.................. 128
Gráfico n. 6: Sindicalização e tempo de serviço............................................ 129
Gráfico n. 7: Doenças que mais atingem os trabalhadores da educação...... 131
1
INTRODUÇÃO
“As escolhas teóricas o podem ser arbitrárias”
Gaudêncio Frigotto
A presente dissertação resulta de um conjunto de fatores que contribuíram
de modo decisivo para que houvesse o interesse pela pesquisa acerca do
trabalho docente. Dentre os quais convêm destacar: primeiro, o fato do
pesquisador tamm atuar enquanto professor da Rede Estadual de Educação
no Paraná. Isto possibilitou o contato com as experiências de quem vive o dia
a dia em salas de aula. E com isso a partilha das satisfações e angústias,
ocasionadas pelo desenvolvimento do trabalho de ensinar diante do contexto
hisrico-político-econômico e social que impera na atualidade. Decorrente
deste, por segundo, a participação no sindicato e a volta aos estudos na
tentativa de entender um pouco mais sobre a escola, a sociedade e o Estado e
com isso poder enfrentar melhor os múltiplos desafios impostos à educação.
Por terceiro ressalta-se, a participação nas reflexões propostas, sobretudo pela
XI Conferência da Educação, que teve por título: Educação e Luta de Classe,
realizada pela APP Sindicato Sindicato dos Trabalhadores em Educação do
Estado do Paraná, em parceria com o Núcleo de Estudos Interdisciplinares
NEI, ligado a Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE e ao
Grupo de pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil, GT da
Região Oeste do Paraná - HISTEDOPR, ocorrida nos dias 29 e 30 de setembro
de 2006, no município de Cascavel-PR. Esta tríade, acima apresentada, foi o
que permitiu a indagação sobre o significado do trabalho docente inserido em
uma sociedade marcada pelo embate entre o capital e o trabalho.
Diante destas inquietações pessoais, ocorre o ingresso no Curso de
Pedagogia na UNIOESTE, campus de Cascavel, no ano de 2007, como outro
fator decisivo para a elaboração deste objeto de pesquisa, pois, a volta aos
“bancosda universidade, ao estudo sistematizado, foram fundamentais. Neste
retorno à academia o contato com algumas disciplinas precisam ser
mencionadas, dentre as quais cita-se: Trabalho, Organizão e Gestão Escolar
2
(TOGE)
1
, Estado e Organizão Escolar
2
e de Organização do Trabalho
Pedagógico (OTP)
3
. De modo particular, colaboraram para a compreensão da
escola articulada com os diferentes modos de organização social e, por
conseguinte, contribuíram para entender mais sobre o trabalho docente. Deste
percurso, surgiu um artigo intitulado A Proletarizão do Magistério,
apresentado no SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO e XIX SEMANA DE EDUCAÇÃO,
em comemoração aos 35 anos do Curso de Pedagogia da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná Campus de Cascavel (UNIOESTE), realizado
no ano de 2007.
Este processo possibilitou a construção do pré-projeto, apresentado
como pré-requisito para a participação na seleção do Mestrado em Educação. A
aprovação nesta seleção veio acompanhada da contradição entre o entusiasmo
por fazer parte do grupo dos mestrandos da turma 2008/2009 e a
responsabilidade social de quem deve esforçar-se ao máximo para que outros
tamm possam partilhar desta experiência marcada por luzes e sombras,
recuos e avanços, tristezas e alegrias.
Ao participar da disciplina A Produção de Conhecimento em Educação
4
(já como aluno regular do programa de Mestrado em Educação), tive a
oportunidade de entrar em contato com leituras e debates que possibilitaram
um melhor entendimento acerca da relevância do método, das disputas
teóricas na elaboração da pesquisa, no fazer ciência. Enquanto pesquisador,
confesso que esta disciplina se constituiu em um marco, pois, embora tendo a
possibilidade de me graduar em Filosofia e ter frequentado inúmeros cursos de
formação, reconheço que a questão do método não era algo claro para mim.
Hoje compreendo a necessidade de retomar o seu estudo, numa busca
constante de aprofundamento. Penso que se tratou de uma escolha certa,
adotada pelo conjunto dos professores do mestrado, a inserção da disciplina A
produção do conhecimento em Educação como obrigatória, na medida em que
1
Esta disciplina colaborou para pensar o trabalho docente inserido na organização da escola,
bem como sua articulação com o modo de organização do sistema capitalista. Esta disciplina
foi ministrada pela professora Dr. (a) Isaura Monica Zanardini.
2
Disciplina ofertada à turma do segundo ano de Pedagogia do ano de 2007 e que teve a frente
como responsável a professora Dr. (a) Edaguimar Orquizas Viriato.
3
Conduzida pelo professor Dr. João Jorge Correa, esta disciplina foi um dos alicerces
principais para a elaboração do pré-projeto de mestrado.
4
Disciplina esta, ministrada em parceria pelas prof. Dr. (a) Edaguimar Orquizas Viriato e Dr. (a)
Geórgia Sobreira dos Santos Cêa.
3
possibilitou a solidez das discussões e introduziu o estudo das outras
disciplinas.
A noção de educação que orienta esta pesquisa, pautando-se em Carlos
Rodrigues Brandão, diz respeito à condição para a própria sobrevivência do
homem, logo, “ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na Igreja ou na
escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com
ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar” (1981, p. 8). Para
Álvaro Vieira Pinto, compreende-se a educação como umprocesso pelo qual a
sociedade forma seus membros à sua imagem e em função de seus
interesses” (1987, p. 29).
Essa percepção é reiterada, de outra maneira, por Gilberta Sampaio de
Martino Jannuzzi, que concebe a educação como produto da organização
sociocultural e, por isso, ligada ao “conhecimento o mais possível completo da
realidade, de suas tradições, da ciência, da arte necessárias para que todos
cumpram a sua função política num tempo e num lugar” (2003, p. 104). Em
conformidade a isto, admite-se que a educação faz parte da nossa vida e,
sendo assim, é produzida na coletividade, ligada à história dos distintos modos
de organizar-se de cada comunidade.
José Martí, por sua vez, afirma:
A educação precisa ir aonde vai a vida. É insensato que a
educação ocupe o único tempo de preparação que tem o homem
em não prepará-lo. A educação precisa dar os meios de resolver
os problemas que a vida venha a apresentar. Os grandes
problemas humanos são: a conservação da existência e a
conquista dos meios de fazê-la grata e pacífica (2007, p. 241).
Sobre a educação, assinala-se, ainda, que:
A educação é necessariamente intencional. Não se pode
pretender formar um homem sem um prévio conceito ideal de
homem. Este modelo contudo, é um dado de consciência e
portanto, pertence à consciência de alguém; concretamente, de
alguém que está num dado tempo, num espaço, em definida
posição social (PINTO, 1997, p. 35).
Ressalta-se, também, com base em José Martí, que ao “vir à terra, todo
homem tem direito à educação, e depois, em pagamento, o dever de contribuir
4
com a educação dos demais” (2007, p. 47). Assim, pode-se inferir, conforme
Werner Jagaer, que a educação o é uma propriedade individual, mas
pertence por essência à comunidade(1936, p. 3) e, disso tudo, compreende-
se que não como entender o trabalho docente desvinculado do contexto
hisrico que o produz.
Toda a educação é assim o resultado da consciência viva duma
norma que rege uma comunidade humana, quer se trate da
família, duma classe ou duma profissão, quer se trate dum
agregado mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado
(JAGAER, 1936, p. 4).
No que diz respeito ao entendimento do significado da educação, afirma-
se também, de acordo com Paulo Freire, que “o processo do trabalho é o
verdadeiro processo de educação. Mas o homem que vive hoje em dia
mergulhado na sociedade de consumo não entende as coisas claramente”
(1982, p. 24). Pode-se dizer, portanto, de acordo com Ricardo Antunes que o
trabalho é o “elemento determinante e gerador da consciência e do
pensamento humano”, sendo assim, “desta reciprocidade decorre que não
trabalho sem consciência nem consciência sem trabalho (1982, p. 19, grifos do
autor). Deste modo, insistimos, ainda, pautados em Álvaro Vieira Pinto, de que
“na forma elementar, ingênua, a educação é considerada como o procedimento
de transformação do não-homem em homem. Na forma superior, crítica, a
educação se concebe como um diálogo entre dois homens, na verdade entre
dois educadores” (1997, p. 35).
Feito estes apontamentos sobre educação, enfatizamos que as pesquisas
nas áreas humanas e técnicas visam, sobretudo, reforçar que a centralidade
não deve ser a cnica, a produção, o lucro e sim o homem. Tudo deve estar a
serviço de tornar a vida humana melhor. A pesquisa se justifica quando a favor
da vida humana e para todos. Assim, o trabalho, de modo geral, encontra
justificação e positividade, uma vez que ele “é a condição básica e fundamental
de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar
que o trabalho criou o próprio homem” (ANTUNES, 2004, p. 13).
Deste modo, é preciso distinguir o trabalho docente ministrado em
determinadas instituições escolares, tal qual temos nos dias atuais e que
denominamos de educação formal (sistematizada, com um conjunto bem
5
elaborado de conhecimento que devem ser ministrados), daquele realizado
pela própria sociedade, isto é, da educação informal (que acontece pela
televisão, pelo rádio, nas conversas informais, na rua etc).
Optamos por utilizar o termo trabalho docente, respeitando as múltiplas
significações que ele recebe ao longo da história. Com este queremos designar
o trabalho de ensino das técnicas culturais, “que são técnicas de uso, produção
e comportamento, mediante as quais um grupo de homens é capaz de
satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a hostilidade do ambiente
físico e biológico e trabalhar em conjunto” (ABBAGNANO, 2000, p. 305).
Obviamente, não se trata somente de um trabalho de reprodução e sim, de
correção e aperfeiçoamento do que é transmitido. Ensejamos, desta forma, por
se tratar de um termo abrangente, que ele possa ser mais condizente com as
inúmeras nuances em que acontece a transmissão do conhecimento nos
diferentes processos históricos. Em síntese, de princípio, almeja-se com a
denominação de trabalho docente, em sentido restrito, designar o ofício
daqueles que se dedicaram e se dedicam à construção do conhecimento e, em
sentido lato, utilizamos o termo “trabalho docente” na contemporaneidade
devido a sua abrangência simbolizando a educação - realizada no espaço
formal escolar - ligada aos professores e funcionários de modo geral.
Todavia, vale lembrar que, de modo geral, a grande educadora é sempre
a sociedade no seu modo de organizar-se em função de sua produção e
reprodução.
Assim, tudo o que é importante para a comunidade, e existe como
algum tipo de saber, existe também como algum modo de ensinar.
Mesmo onde não criaram a escola, ou nos intervalos dos lugares
onde ela existe, cada tipo de grupo humano cria e desenvolve
situações, recursos e métodos empregados para ensinar às
crianças, aos adolescentes, e também aos jovens e mesmo aos
adultos, o saber, a crença e os gestos que o tornarão um dia um
modelo de homem ou de mulher que o imaginário de cada
sociedade idealiza, projeta e procura realizar (BRANDÃO, 1981, p.
27).
Realizada estas considerações sobre o significado do termo educão e
do trabalho docente, passamos a discutir um pouco sobre a questão do
método, uma vez que segundo José Paulo Netto, “é preciso ter clara as
referências teóricas(2002, p. 24). A relevância disso decorre do fato de que
6
“não existe neutralidade científica”, pois, parte-se do pressuposto de que o
conjunto do processo de conhecimento científico-social desde a formulação
das hipóteses até a conclusão teórica, passando pela observação, seleção e
estudo dos fatos, que é atravessado, impregnado, ‘colorido’ por valores,
opções ideológicas (ou utópicas) e visões sociais de mundo” (LÖWY, 2003, p.
203, grifo do autor). Logo, percebe-se que toda ciência implica opção, pois,
encontra-se ligada a certos valores da realidade social e, dada esta
constatação, o problema insere-se no âmbito de encontrar o referencial teórico
que possa melhor desvelar o objeto.
Com efeito, ao compreendemos o homem a partir das condições
materiais, entendemos a produção do conhecimento ligada às múltiplas
determinações que condicionam as transformões da materialidade. Logo, o
homem (e tudo que a ele se relaciona: educação, trabalho docente) não podem
ser pensados fora do contexto histórico e social em que foram produzidos e se
produziram. Disso, pode-se inferir conforme nos diz a Tese número dois sobre
Feuerbach “é na prática que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a
realidade e o poder, de seu pensamento. A disputa em torno da realidade ou
irrealidade do pensamento isolado da prática é um problema puramente
escolástico(MARX e ENGELS, 1983, p. 27). Percebe-se, assim, que apesar
dos embates teórico-metodológicos, é a base material quem determina o curso
da história. A propósito disso, Florestan Fernandes, assinala que em defesa de
privilégios ou meio-privigios, ‘revolucionáriossintonizaram-se “com as elites
no poder e com as classes dominantes. Formaram a sua ala radical, sempre
pronta a esclarecer os donos do poder sobre o que certas reformas
implicariam, para evitar uma aceleração da desagregação da ordem e os seus
efeitos imprevisíveis” (1986, p. XIII).
Portanto, cientes de que a ação do homem é realizada de modo
proporcional ao aumento da sua compreensão dos mecanismos de
funcionamento que regem a realidade, é que situamos o entendimento da
importância da luta teórica, da opção por um referencial teórico que mais se
aproxime da apreensão dos condicionantes que movem a sociedade.
Nesta perspectiva, Michael Löwy (2003), ao refletir sobre O modelo
científico-natural de objetividade e as ciências sociais, em seu livro As
Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen demonstra a
7
relevância do método na produção do conhecimento. Faz isto retomando a
questão de que na época feudal, fatores ideológicos tinham peso decisivo na
manutenção da ordem, e todo questionamento era percebido como uma
ameaça e tratada enquanto tal. Como exemplo disso, temos as discussões
astronômicas que renderam a prisão de Galileu Galilei e Giordano Bruno, pois,
suas descobertas punham em ‘cheque’ a dominação político-ideológico-
econômica das classes hegemônicas da idade média (e, em particular, o clero).
Com base nestes dados, afirma-se que uma
ciência livre de ideologias, julgamentos de valor ou
pressuposições políticas, isso é, uma ciência axiologicamente
neutra – corresponde, até certo ponto, à realidade das ciências da
natureza de nossa época. Até certo ponto somente porque, se é
verdade que as ciências ditas exatas foram neutralizadas e que
as ideologias têm relativamente pouca influência sobre seu valor
cognitivo, não é menos verdade que as condições sociais e as
opções partidárias determinam, em ampla medida, tudo o que se
encontra antes e depois da pesquisa propriamente dita (LÖWY,
2003, p. 198-199).
Em Poder e Ideologia, István Mésros (2004) se posiciona
contrariamente a afirmação de que a neutralidade metodológica isenta as
controvérsias sobre valores garantindo a objetividade desejada e o resultado
incontestável. Para o autor, em nenhuma parte o mito da neutralidade
ideológica é mais forte que no campo da metodologia, pois, tal abordagem
possui um forte viés ideológico conservador, na medida em que ao afirmar que
o plano da metodologia está em princípio separado das questões substanciais,
defende a neutralidade como requisito sine qua non para ser adotado no
quadro comum de referência do “discurso racional”. Noutras palavras, uma
metodologia que não leva em consideração as realidades materiais
diversificadas tende a padronizar e dominar em função de interesses
hegemônicos superiores, uma vez que os capitalistas o podem renunciar
aos seus interesses, tal como um homem não pode erguer-se puxando pelo
seu próprio cabelo” (LÉNINE, 1985, p. 113). Portanto, “as ideologias
pretensamente ‘não-ideológicasque, com tanto sucesso, exercem sua função
apologética sob o disfarce da metodologia neutra são duplamente
mistificadoras” (MÉSZÁROS, 2004, p. 303) e, por isso, eficazes na defesa e
perpetuação do sistema vigente. Dito de outro modo, todos aqueles que são
8
beneficiados pela organização social imperante não possuem motivos para
desejarem a mudança, a revolução, a transformação do que está posto.
Nas palavras de Florestan Fernandes constata-se que a “contra-
revolução corrompe tudo, pelos meios de educação, comunicação de massa,
consumo de massa, cooptação etc” (1986, p. XIV). Em suma, pode-se afirmar,
que “como quem dem o poder econômico detém também o poder político,
espiritual e ideológico, as idéias dominantes de cada época refletem em grande
parte as idéias dos dominantes” (ORSO, 2007, p. 03). Verifica-se, deste modo,
o desafio que deve ser enfrentado por todos os que visam contribuir com o
pensamento crítico no desvelamento do real, explicitando todos os seus
mecanismos de funcionamento e a necessidade de sua transformação a partir
das bases materiais.
Assim sendo, consideramos relevante destacar alguns dos
apontamentos sobre as especificidades metodológicas na produção do
conhecimento elencadas por Michael Löwy. O autor chama atenção para:
1) O cater histórico dos fenômenos sociais e culturais
produzidos, reproduzidos e transformados pela ação dos homens
(contraditoriamente, é claro, as leis da natureza).
2) O observador é, de uma maneira ou de outra, parte da, ou
implicado pela, realidade social que ele estuda, e não tem
portanto, esta distância, esta separação que caracteriza a relação
de objetividade do cientista natural com o mundo “exterior”.
3) Cada classe considera e interpreta o passado e o presente, as
relações de produção e as instituições políticas, os conflitos sócio-
econômicos e as crises culturais em função de sua experiência,
de sua vivência, de sua situação social, de seus interesses,
aspirações, temores e desejos.
4) O conhecimento da verdade pode ter conseqüências profundas
(diretas ou indiretas) sobre o comportamento das classes sociais.
5) Os cientistas como os intelectuais em geral tendem
inevitavelmente, qualquer que seja sua autonomia relativa ou sua
“flutuação”, a se vincular a uma das visões sociais de mundo em
que se reparte o universo cultural de uma época determinada (ou
uma mistura eclética destas visões, seguindo a tendência
característica da pequena burguesia) (2003, p. 202).
Pode-se entender, a partir destes aspectos, que longe de oferecer um
espaço adequado para a investigação crítica, a adoção geral do quadro
metodológico pretensamente neutro equivale, de fato, a consentir em não
levantar as questões que realmente importam” (MÉSZÁROS, 2004, p. 302).
9
Assim sendo, tendo presente que o proletário não precisa se camuflar em
‘princípios eternos de liberdade ou justiça, compreendemos conforme Adam
Schaff, citado por Michael Löwy, que o ponto de vista do proletário é o que
mais se aproxima na busca da verdade objetiva, por certo relativa, mas muito
mais integral, muito mais completa, com relação ao nível dado de
desenvolvimento do saber humano” (2003, p. 206). Concordamos nesse
sentido, que a escolha do referencial teórico por si não garante o sucesso da
pesquisa, contudo, de acordo com Gaudêncio Frigotto:
Abrir mão, pura e simples, deste legado, por seus erros,
deficiências, limites e crises, é abandonar, para além de uma
perspectiva epistemológica e ontológica, alternativas de cunho
ético-político de relações sociais que transcendam a forma capital.
Esta é a razão pela qual não podemos entender o embate teórico
como uma disputa de um campeonato de várzea ou uma copa
mundial e, muito menos, como um jogo arrogante e personalista
(s/d, p. 51).
Na perspectiva de Bertold Brecht, entendemos que se constitui numa
opção metodológica engajada desconfiar “do mais trivial, na aparência singelo”,
ou seja, daquilo que se apresenta como pretensamente neutro, apresentado
como “o que é de bito como coisa natural”. Neste sentido, István Mészáros
(2004) ao mesmo tempo que provoca já dá um norte à possibilidade de
resposta ao se posicionar contrariamente ao mito da neutralidade ideológica
afirmando que esta é mais forte no campo da metodologia. Segundo o autor:
Como resultado, os proponentes do método correto’ evitam todas
as dificuldades que acompanham o reconhecimento das divisões e
das incompatibilidades reais, à medida que elas necessariamente
se desenvolvem a partir dos interesses sociais antagônicos que
estão nas raízes de abordagens alternativas e dos conjuntos de
valores rivais a elas associados (MÉSZÁROS, 2004, p. 302).
Deste modo, verifica-se que ser um trabalhador docente pautado nos
princípios de neutralidade em uma sociedade desigual contribui para a
legitimão e justificação da mesma. Tendo isto em apreço, entendemos o
trabalho docente como produto de múltiplas determinações, inserido num
contexto dialético, influenciando e sendo influenciado por questões que
extrapolam o âmbito da escola, na medida em que esta é parte de um todo
10
social mais abrangente e ligada ao mundo do trabalho e, por conseqüência,
afetada pela mesma, nos seus avanços e nas suas crises. Assim, este estudo
se direciona a compreender o trabalho docente articulado a uma sociedade
complexa, fundada na contradição
5
entre quem tem propriedade e, por isso, em
tese, possui o saber e o poder de mando. E os o-proprietários, a quem é
reservado o trabalho, o não-saber e, portanto, o obedecer.
Para possibilitar a reflexão sobre o trabalho docente, realizou-se um
levantamento de dados relacionados ao objeto de pesquisa seguido do estudo,
síntese, anotações, debate e buscamos analisar algumas fontes que pudessem
auxiliar nesta empreita. A seguir, realizamos a seleção dos documentos
(primários e secundários) de maior relevância para a explicitação do objeto
investigado.
Assim, após um considerável acúmulo de leituras, tempo dedicado aos
estudos, o debate proporcionado pelas aulas da disciplina de Semirio de
Pesquisa, em que cada “companheiro de mestrado” ajudou com apontamentos
de bibliografia e sugestões de abordagem do objeto, foi possível compreender
um pouco mais o objeto de estudo “trabalho docente” e, a partir d, buscou-se
recolher um conjunto de dados para explicitá-lo, já com a certeza de que se faz
necessário tecer um recorte espaço-temporal para uma melhor compreensão do
mesmo. Para este fim, optou-se por realizar um panorama do trabalho docente
na história de modo geral e do Brasil, tendo como foco o debate em torno dos
termos pauperizão, precarizão e proletarização articulados à morfologia do
trabalho diante da reestruturação produtiva, centrando-se no trabalho docente
no Estado do Paraná, a partir de 2002. Optou-se por esta data, devido às
“mudanças” políticas em âmbito Federal e Estadual, bem como as conquistas
propaladas no interior do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado
do Paraná.
Dentre os objetivos deste trabalho destacam-se:
5
Para uma boa compreensão desta contradição fica como sugestão de leitura o livro
Educação e lutas de classes organizado por: Paulino José Orso, Sebastião Rodrigues
Gonçalves e Valci Maria Mattos, publicado pela Editora Expressão Popular em 2008 e o artigo
de Dermeval Saviani sobre Os desafios da Educação pública na sociedade de classes, in:
Educação, Sociedade de classes e reformas universirias, Campinas, SP: Autores
Associados, 2007, também organizado por Paulino José Orso.
11
- Por meio de uma digressão histórica, buscar entender o trabalho
docente articulado com as múltiplas determinações tendo presente os
diferentes modos de organização social;
- Contribuir com o debate acerca da reestruturação produtiva que se
evidenciou no Brasil, especialmente, a partir dos anos de 1990 e suas
implicações para com o trabalho docente;
- Intenta-se refletir sobre as condições do trabalho docente na atualidade
tendo como direcionamento os conceitos de pauperização, precarização
e proletarizão;
- Apresentar alguns traços do trabalho docente realizado no Estado do
Paraná após 2002 e, em específico, apontar alguns dados no que tange
à saúde deste trabalhador.
Com base nestes objetivos, buscamos precisar em que medida o
trabalho docente se insere na necessidade da reprodução dos diversos modos
de organização social no decorrer da história, em que os homens para
sobreviverem trabalham, ou seja, “criam e reproduzem sua existência na
prática diária, ao respirar, ao buscar alimento, abrigo, amor etc. Fazem isto
atuando na natureza, tirando da natureza (e, às vezes, transformando-a
conscientemente) com este propósito” (HOBSBAWN, 1985, p. 16). Por certo, o
trabalhador docente não estuda para si mesmo, embora e por vezes, o faça
solitariamente, sempre estasituado num determinado contexto social que
não o determina, mas o condiciona.
Neste sentido, espera-se que esta dissertação, por meio de suas
reflexões e análises, possa colocar-se “contra as políticas que defendem a
precarização, a privatização e a elitização do ensino nas suas diferentes
formas; (...) e aos projetos que levam ao aprofundamento da concorrência, da
divisão social e da dominação” (ORSO, 1999, p. 15) e, assim, contribua para o
debate em torno do entendimento do locus social da educação e do trabalho
docente e, de modo concomitante, este possa, ao lado das lideranças dos
movimentos populares, deixar “de considerar a escola um instrumento
exclusivo de dominação burguesa, deixando tamm de interpretar o interesse
da população pela escola como mero efeito da ideologia da ascensão social”
(SAVIANI, 2002, p. 154).
12
Com o pressuposto, portanto, de que o trabalho docente o pode ser
compreendido em paralelo, ao lado ou por fora do mundo e também com a
noção de que a realidade social e histórica é que possibilita a reflexão e o
entendimento da educação, esta que, ao mesmo tempo em que representa, é
representada pelo mundo concreto, busca-se fazer um retrospecto do trabalho
docente, na tentativa de evidenciar alguns traços deste na história, articulado
com a base material no qual se desenvolveu e se desenvolve. Pretende-se,
deste modo, sair do senso comum, aprender com a história e, no limite, dentro
de um movimento dialético, contribuir para a reflexão acerca do ensino público,
gratuito, universal comprometido com a transformão social. Obviamente,
compreendemos segundo Luiz Eduardo W. Wanderley que é “complexa a
tarefa de compreender as articulações entre fatores externos e internos de um
movimento educativo” (1984, p. 26) e com este desafio busca-se explicitar e
contribuir com a compreensão do trabalho docente na atualidade.
Com base nisso, procuramos organizar a dissertação em três capítulos
dispostos da seguinte forma: no primeiro capítulo faz-se um panorama do
“trabalho docente abrangendo as comunidades primitivas, escravocrata, feudal
e capitalista, ou seja, não nos interessa escrever um tratado sobre o conjunto
da história da educação e do trabalho docente e, sim, apresentar alguns
elementos que possam contribuir para a compreensão deste na atualidade. O
que intentamos é a construção de um cenário sobre trabalho docente a partir
das comunidades primitivas aa Idade Moderna, com o objetivo de explicar o
seu surgimento e desenvolvimento atrelado à ão das forças sociais: sua
natureza econômica, as ideologias presentes, os embates ocasionados pelas
contradições sociais. Ao invés de considerar seu aparecimento como natural,
busca-se elementos que possam explicitá-lo enquanto um construto do próprio
homem. “A postura que adotamos com respeito ao passado, quais as relações
entre passado, presente e futuro não são apenas questões de interesse vital
para todos: o indispensáveis” (HOBSBAWN, 1998, p. 36). Assim,
procuramos refletir sobre o trabalho docente em conexão com as diferentes
sociedades que vigoraram no passado e, partindo do entendimento que toda
realidade é marcada por contradições, assinala-se para o fato da possibilidade
de superação dos desafios impostos à realizão do trabalho docente somente
por meio de uma perspectiva histórico-dialética.
13
No segundo capítulo destaca-se alguns traços do trabalho docente no
Brasil, com o intuito de indicar alguns elementos que possibilitem desvelar o
trabalho docente realizado no Estado do Para a partir dos anos de 2002,
buscando contribuir, de modo específico, na discussão acerca da saúde
desses trabalhadores a partir da realidade presente na Região Oeste do
Estado, tendo como foco a cidade de Cascavel. Nesta parte apresentaremos
alguns dados que demonstram como é realizado o trabalho docente e as
condições em que ele se desenvolve.
No terceiro capítulo busca-se discutir as categorias de pauperização,
precarização e proletarização diante das implicações acarretadas ao trabalho
com o desenvolvimento do capitalismo após a década de 1990. Este estudo
visa compreender o que acontece com os trabalhadores de modo geral e, em
específico, com o trabalhador da área da educação. Ou seja, com as
transformações sociais, com as mudanças econômicas e políticas ocorridas no
“mundo do trabalho(amplamente refletida por Ricardo Antunes em O Avesso
do Trabalho, A Dialética do Trabalho, entre outras obras), objetiva-se apontar
algumas consequências disso no âmbito da educação e do trabalho docente,
com a finalidade de contribuir para conhecermos melhor o profissional que
somos.
14
I Capítulo
PANORAMA DO TRABALHO DOCENTE: DAS COMUNIDADES PRIMITIVAS
A IDADE MODERNA
Ainda que variando sua forma,
desde a Antiguidade até os
nossos dias, a sociedade tem
sido a história das lutas de
classes. Ao analisar a educação
não podemos deixar de
considerar esta realidade. A
escola, a educação formal um
dos tipos de educação que a
sociedade utiliza para preparar os
indivíduos para viverem nela
mesma surge durante o
escravismo, numa sociedade de
classes, e torna-se uma escola a
serviço da classe detentora do
poder. E, como tal, deixa de estar
voltada para o ensino da vida,
pela vida e para a vida; passa-se
a ensinar um saber
“especializado”, privilégio das
classes dominantes. Aos demais,
resta a educação informal voltada
para a resignação, aceitação da
sua condição de subserviência
estabelecida, para a aceitação da
sua condição de classe e para o
trabalho. Esta realidade estende-
se desde o surgimento da escola
até a modernidade (Paulino José
Orso, 2002, p. 92).
O pressuposto é que a problemática que envolve o trabalho docente não
pode ser adequadamente dimensionada e compreendida sem a referência às
relações históricas junto aos quais é produzido. O trabalho docente
desenvolve-se concomitantemente à forma de organização social, com o modo
com que os homens se organizam para produzir sua existência.
Nicola Abbagnano, nesse sentido, afirma que diante dos
acontecimentos, dos fatos, do devir da história, o historiador precisa
15
verificar o peso relativo dos fatores determinantes, estabelecendo-
o caso a caso, considerando as situações particulares, e não
decidindo de antemão e em definitivo. Isento dessa postura
dogmática, o Materialismo Histórico representa, para a cnica de
explicação historiográfica, umas das possibilidades mais fecundas
e um novo grau de liberdade à escolha historiogfica (2000, p.
652).
Nesta perspectiva, utilizando-nos do materialismo histórico-dialético,
buscamos apresentar alguns elementos históricos no intuito de contribuir com a
compreensão do trabalho docente na atualidade. Entende-se que é preciso o
distanciamento da posição dos que reconhecem “a educação como um fato
estritamente escolar e a considerar a atividade escolar como um fenômeno
autosuficiente e independente” (MARX e ENGELS, 1983, p. 11). Para tanto, é
necessário reconstruir os caminhos que a escola e, conseqüentemente, o
trabalho docente percorreram na forma de uma síntese explicativa das
múltiplas condicionantes históricas que perpassam desde a Antiidade
Clássica” (FERREIRA Jr & BITTAR, 2008, p. 232). Logo, objetiva-se com este
movimento de análise (em que o particular somente se compreende no
universal e de que o todo é um pouco mais que simplesmente a condensação
das partes), realizar um resgate histórico que possa auxiliar no entendimento
do trabalho docente articulado com o processo de desenvolvimento das
diversas sociedades.
Quanto à concepção de tempo norteadora desta pesquisa, destacamos,
que ela não é linear
6
, abstrata e homogênea, como nos diz Olinda Maria
Noronha:
A História não é constituída de um tempo homogêneo, linear,
abstrato e atemporal. A história não é um compacto tempo
absoluto sem inter-relações, um amontoado de fatos caóticos e
sem sentido. A História é entendida aqui com o sentido que lhe
6
Convencionou-se dividir a história da seguinte forma: 1) Pré-Histórica (período que se
estende do surgimento da humanidade até o aparecimento da escrita, por volta do ano de
4.000 a.C); 2) Idade Antiga (que se inicia com a invenção da escrita e se prolonga até a queda
do Império Romano, no ano de 476 d. C.); 3) Idade Média (que se estende até a tomada da
cidade de Constantinopla pelos turcos em 1453 d. C.); 4) Idade Moderna (que vai da queda de
Constantinopla até a Revolução Francesa, em 1789) e, 5) Idade Contemporânea que, por sua
vez, vai da Revolução Francesa até nossos dias. Esta divisão precisa ser entendida no seu
caráter pedagógico, pois, estes estágios da história estão intimamente relacionados,
articulados entre si, de modo que é impossível a compreensão do homem atual sem se levar
em apreço que ele é um produto de todo acúmulo histórico.
16
o materialismo histórico, onde vamos encontrar a importância e o
significado do passado (2002, p. 41).
No que se refere ao conceito de história, Paulino José Orso e André
Paulo Castanha, acrescentam:
a história tem a ver fundamentalmente com o homem, com as
mudanças, com as transformações, com o tempo e com a atuação
do homem no meio e na natureza. Ela resulta das relações dos
homens entre si e destes com a natureza em determinadas
condições e em determinados momentos; em síntese é expressão
do trabalho humano. Este é uma condição fundamental para o
homem. Homem e trabalho se identificam. Um não pode ser
compreendido e explicado sem o outro (2008, p. 8).
Pelo trabalho, portanto, o homem faz história e nesse processo constrói-
se a si mesmo. Entende-se, deste modo, conforme Paulo Freire que “o trabalho
é um processo através do qual o homem produz as coisas necessárias à sua
existência, as quais damos o nome de produtos” (1982, p. 15). Nesse sentido
Harry Braverman afirma que pelo trabalho, “a espécie humana partilha com as
demais a atividade de atuar sobre a natureza de modo a transformá-la para
melhor satisfazer suas necessidades” (1980, p. 49). Destaca-se, ainda, que
diferentemente dos animais o homem concebe antecipadamente o trabalho que
vai executar enquanto os animais o fazem instintivamente (ANTUNES, 2004).
Demonstrada a relação intrínseca entre o trabalho e história importa
enfatizar que Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto Comunista apresentam
uma ntese que se constitui em chave de leitura para o estudo da história ao
afirmarem que:
A história de todas as sociedades que existiram até hoje tem sido
a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e
plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro,
numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição,
têm vivido numa guerra ininterrupta, ora aberta, ora disfarçada:
uma guerra que sempre terminou ou por uma transformação
revolucionária de toda a sociedade, ou pela destruição das duas
classes em luta (1987, p. 75-76).
Perceber a dialética na história não é uma empreitada fácil. Todavia, é
nesta perspectiva que almejamos realizar uma breve retrospectiva histórica do
trabalho docente nos diferentes modos de produção: primitivo, escravocrata,
17
feudal e capitalista, com a compreensão de que a educação encontra-se em
relação indissolúvel com a vida da sociedade” (LARROYO, 1982, p. 17). Nesta
perspectiva, Gilberto Luiz Alves considera que somente “o persistente trabalho
de busca no passado dos elementos que tornaram inteligível o processo de
produção da escola e da educação pode contribuir para o inventário de todos
aqueles aspectos que as diferentes pedagogias agregaram à educação e à
escola brasileira” (2007, p. 264-265). Assim sendo, busca-se pensar o passado
não por uma questão saudosista, restrita à mera curiosidade, ou motivos de
erudição, mas, porque nele se encontram as raízes do presente. Compreende-
se que o trabalho docente pode ser corretamente equalizado neste
horizonte, pois, o presente é resultado de múltiplas determinações. E, portanto,
pode-se dizer que é pela compreensão do passado que podemos dar sentido
ao presente e, deste modo, construir o futuro.
Assim, com base no princípio de que “os homens são os produtores das
suas representações, idéias etc., mas, os homens reais, os homens que
realizam, tal como se encontram condicionados por um determinado
desenvolvimento das suas forças produtivas” (MARX; ENGELS, 1981, p. 29),
procurou-se investigar, inicialmente, o trabalho docente nas comunidades
primitivas articuladas ao modo de organização social destes homens para
produzirem-se historicamente e materialmente. Na seqüência, analisamos a
educação nas sociedades escravocratas e, em específico, nos limitamos à
Grécia Antiga
7
na busca por identificar quem eram os filósofos, os sofistas e o
que e a quem ensinavam. Após isto nos reportamos à sociedade medieval no
intuito de apontar os homens que podiam ter acesso ao conhecimento e a
quem serviam. Por fim, adentramos na Idade Moderna procurando analisar o
trabalho docente tendo presente o movimento da história e o aparecimento da
burguesia como classe que se consolida no poder.
Deste modo, busca-se apresentar um panorama do trabalho docente
tendo presente a continuidade na descontinuidade. Obviamente, não se trata
de um estudo minucioso, pois, este voltar à história tem por finalidade contribuir
7
Destaca-se, desde início, que “na sociedade grega, o trabalho é visto em função do produto e
este, por sua vez, em função de sua utilidade ou capacidade de satisfazer uma necessidade
humana concreta (VÁZQUEZ, 2007, p. 40).
18
para a compreensão do trabalho docente na sociedade contemporânea
(capitalista) dentro do contexto de luta de classes.
1.1. O trabalho docente nas comunidades primitivas.
Primeiramente, enfatizamos que partimos da premissa de que os
homens, de acordo com Karl Marx e Friedrich Engels, precisam “estar em
condições de viver para poderem ‘fazer história’. Mas da vida fazem parte
sobretudo comer e beber, habitação, vestuário e ainda algumas outras coisas.
O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios para a satisfação
destas necessidades, a produção da própria vida material” (1981, p. 36-37).
Com base nisto, Paolo Nosella destaca que “se a história é um garimpo, a
memória é a bateia que revolve o cascalho do passado e busca dados
preciosos para continuar nossa luta” (2007, p. 27). Percebe-se, deste modo, a
inconteste relevância do acumulo da história para o homem na melhoria da sua
própria condição existencial.
Feitas estas considerações e tendo presente o apontamento de Paulo
Freire de que “a educação das crianças e dos jovens era feita no trabalho e nas
horas de descanso ou de divertimentos, de maneira permanente” (1982, p. 21),
objetiva-se apontar algumas questões preliminares, sobre o cuidado que é
preciso ter no trato com a história, para em seguida, escrever sobre o modo de
organização primitiva e, na sequência, dissertar sobre o tipo de trabalho
docente que era realizado nestas comunidades.
1.1.1. Questões preliminares.
Em função da distância histórico-temporal do modo de produção
primitivo e no intuito de rechaçar qualquer preconceito em relação aos homens
que viveram em uma época da história tão distante da que vivemos na
atualidade, assinalamos os cuidados que se deve tomar ao estudar a história
afim de não se reprovar ou valorar desmedidamente os acontecimentos
passados, tendo como parâmetro a consciência do homem atual. Portanto,
trata-se de buscar aprender com o legado histórico de cada época
considerando as condições da mesma.
19
Sendo que a história é acumulativa e que ela ocorre em
determinadas condições, pode-se dizer que a história de cada
momento corresponde ao grau de desenvolvimento e às
condições de cada sociedade em cada época. Isto, porém, não é
suficiente para dizer que a sociedade do momento é mais
atrasada ou mais adiantada do que qualquer uma outra. Cada
sociedade se expressa e vive de acordo com o que as condições
do momento lhe permitem (ORSO; CASTANHA, 2008, p. 9).
Constata-se, dentre outras coisas, que a historicidade possibilita uma
experiência humana concreta de construção do conhecimento. Seu significado
liga-se “à compreensão que se tem de que o homem, como ser histórico,
constantemente sofre novos desafios e adquire de modo permanente, neste
processo, novas possibilidades” (NORONHA, 2002, p. 28). Quanto a isso
importa destacar a afirmão de Álvaro Vieira Pinto ao escrever Ciência e
Existência, Problemas filosóficos da Pesquisa Científica de que “o trabalho
científico não passa de um caso particular do trabalho geral que a sociedade
executa com o fim de sobreviver e desenvolver-se” (1979, p. 323).
Neste processo, é preciso considerar, também, conforme Nicola
Abbagnano e Visalberghi, que “las llamadas ‘sociedades primitivas’
compreenden grupos humanos diversos y desemejantes que tienen usos,
costumbres y creencias diversas(1993, p.10), que procuram compreenderem-
se na finalidade de garantirem sua sobrevivência. A partir disso, compreende-
se a observação de Mario Alighiero Manacorda de que “a sociedade e a escola
o, ao mesmo tempo, conseqüência da mudança ocorrida e instrumento da
mudança futura” (1992, p. 69). Nota-se, por conseguinte, a ligação intrínseca
que existe entre educação, trabalho docente e organizão social.
Em suma, conforme o exposto, objetiva-se realizar um estudo, ainda que
em linhas gerais, das comunidades primitivas - respeitando suas
particularidades dentro da totalidade da história - no intuito de averiguar as
implicações para com o trabalho docente.
1.1.2. A organização social das comunidades primitivas
Ao escrever A origem da família, da propriedade privada e do Estado,
Engels busca uma base sólida para compreender o homem, a sociedade e o
Estado. Sendo assim, a partir da análise das formações gentílicas, volta à
hisria para ver como os homens produziam sua existência na sua origem.
20
Trata-se de um trabalho que contribuiu na demonstração da base
material enquanto explicadora e justificadora da consciência, da moralidade,
dos costumes, em síntese, de todo construto social. Para Engels (s/d) no
estado selvagem, os homens viviam nas árvores e aos poucos comam a
incluir os peixes em sua alimentação, a usar o fogo; tornaram-se
independentes do clima e da localidade passando a espalhar-se sobre as
encostas dos rios. Com a invenção das armas (arco e flecha) tornaram-se
caçadores e passaram a ter uma alimentão regular e neste processo
registram-se os primeiros incios de residência fixa em aldeias.
Nesta fase, segundo Lorenzo Luzuriaga, ainda não existem povos ou
Estados, e sim apenas pequenos grupos humanos dispersos na face da Terra;
tampouco se pode estabelecer aqui rigorosa cronologia” (2001, p. 5). Contudo,
importa destacar que no comunismo tribal - que assinala a pré-história de todos
os povos hoje conhecidos -o que era produzido em comum era repartido com
todos, e imediatamente consumido. O pequeno desenvolvimento dos
instrumentos de trabalho impedia que se produzisse mais do que o necessário
para a vida cotidiana e, portanto, a acumulação de bens” (PONCE, 2005, p.
17).
A partir da visão do tecido social presente “nas sociedades primitivas de
selvagens e de povos rbaros” (MONROE, 1970, p. 1), a seguir, intenta-se
compreender como se realizava o “trabalho docente”, isto é, como o ensino era
realizado nesta fase da história.
1.1.3. O ensino nas comunidades primitivas
À guisa de compreensão, os primeiros ancestrais são de
aproximadamente 3,5 milhões de anos. Obviamente, não havia homens
preparados especificamente para ensinar, e muito menos escolas. Entretanto,
mesmo assim, estes primeiros hominídeos tiveram que aprender como
sobreviver diante dos desafios impostos pela natureza
8
.
Francisco Larroyo, entende que “nas origens de sua vida, o homem, que
hoje domina a natureza, era o mais bil e indefeso dos seres. Um de seus
8
Para o entendimento desta temática recomenda-se a leitura de: 1) ENGELS, F. A Origem da
Família, da Propriedade Privada e do Estado. In: MARX, K e ENGELS, F. Obras Escolhidas.
São Paulo: Editora Alfa-Omega s/d p.p. 07 143; 2); PINSKY, Jaime. As primeiras
civilizações. São Paulo: Atual, 1987.
21
recursos, no correr do tempo, o converteria no soberano da criação: a
inteligência” (1982, p. 44). No entanto, é lento o processo em que o homem
9
na
medida em que vai interagindo com o meio, involuntariamente também vai se
diferenciando dos outros animais. O aprendizado ocorria por meio da ão
prática em que, por exemplo, ao jogar uma pedra na cabeça de seu
semelhante e ver que vertia sangue aos poucos vai aprendendo o que não
podia fazer
10
. Certamente, nesse momento histórico o homem teve de enfrentar
vários obstáculos e, para garantir a sua sobrevivência, necessitava socializar o
conhecimento. Este construído coletivamente com os membros da tribo.
Pode-se inferir, portanto que a exposição acima, que neste estágio
hisrico o “trabalho foi o principal instrumento de educação” (FREIRE, 1982,
p.23). Vale lembrar que estas tarefas eram desenvolvidas e de
responsabilidade de todos os partícipes, na medida em que, da socialização do
trabalho e do conhecimento dependia a sobrevivência de todos os integrantes
da comunidade.
Deste modo, constata-se que nas comunidades primitivas, a
socialização do conhecimento ocorre no dia-a-dia em função da defesa da
própria vida, “o treino nos processos de obtenção de alimentos, de vestiário e
de abrigo que são imposões de natureza direta e permanente para todo
indivíduo na sociedade primitiva constitui sua educação prática(MONROE,
1970, p. 1). Logo, não havia necessidade de um homem em particular, isto é,
um trabalhador docente (de acordo com o entendimento da atualidade) que se
destinasse a especificamente ensinar, pois, tudo era de todos; não necessitava
de uma modalidade específica de trabalho destinada a ensinar, até mesmo
porque a divisão social do trabalho ainda era pouco desenvolvida. O “trabalho
docente”
11
era responsabilidade da coletividade dos membros pertencentes à
comunidade e quanto a isso vale lembrar que “nas condições das comunidades
primitivas, os homens produziam sua existência coletivamente, isto é,
apropriavam-se de forma coletiva dos meios de vida fornecidos pela natureza
9
Conforme Noronha, partimos “do conceito de homem como sujeito que é produto e produtor
de relações históricas concretas e determinadas” (2002, p. 27).
10
Sobre o lento aprendizado do homem nos primórdios da humanidade conferir o texto de
Vitrúvio, Sobre a Arquitetura, 2, 1, A origem da construção, em que afirma: Os homens,
segundo o costume antigo, nasciam como animais, em selvas, cavernas e bosques, e levavam
a vida alimentando-se da comida do campo. (...)(FUNARI, 2003, p. 81).
11
A noção “trabalho docente” aparece entre aspas por expressar algo que, de certa forma é
impróprio às condições, ao tempo e etapa de desenvolvimento do momento.
22
e, agindo sobre eles, produziam aquilo de que necessitavam para sobreviver”
(SAVIANI, 2007, p. 10).
Em suma, pode-se, afirmar que no estágio anterior à substituição da
propriedade comum pela propriedade privada a educação era espontânea e
natural, como relata Francisco Larroyo:
Característica essencial deste tipo de educação era que não se
tinha consciência do processo formativo; não, precisamente,
porque a criança e o adolescente não tivessem consciência do
que imitavam, mas porque não se dava conta de que, por esse
esforço espontâneo e natural, as gerações jovens iam assimilando
os bens culturais da sociedade a que pertenciam (1982, p. 46).
De acordo com Paul Monroe, pelo estudo da educação primitiva “pode
chegar-se a uma compreensão melhor dos estádios posteriores e mais
complexos da atividade educacional” (1970, p. 1). Brandão afirma que “mesmo
em algumas sociedades primitivas, quando o trabalho que produz os bens e
quando o poder que reproduz a ordem são divididos e comam a gerar
hierarquias sociais, também o saber comum da tribo se divide” (1981, p. 27). E,
neste sentido é que Luzuriaga destaca:
Vemos já aqui algumas das formas que mais tarde a educação
nos povos civilizados de adotar: de um lado, educação
elementar na família; de outro, preparação profissional e militar
terminada numa espécie de graduação. Nada ainda,
entretanto, de educação especializada e com pessoal
especializado (2001, p. 16).
Todavia, onde quer que ocorra a divisão social, devido às desigualdades
sociais, o trabalho docente tamm “começa a se distribuir desigualmente e
pode passar a servir ao uso político de reforçar a diferença, no lugar de um
saber anterior, que afirmava a comunidade” (BRANDÃO, 1981, p. 27). Sendo
assim, na sequência, passa-se a tratar do trabalho docente nas sociedades
escravocratas e, de antemão, vale lembrar a observação realizada por Larroyo
ao afirmar que “embora a educação intencionada signifique inegável progresso
no desenvolvimento da sociedade, nunca desaparece a educação primitiva e
espontânea” (1982, p. 16).
1.2. O trabalho docente nas sociedades escravocratas
23
A partir do entendimento de que “a sociedade é a natureza transformada
pelo trabalho do homem” (FREIRE, 1982, p. 21), objetiva-se aqui, elencar
alguns elementos para se compreender o trabalho docente nas sociedades
escravocratas - que se situam na história durante o período que vai da
invenção da escrita (por volta de 4.000 a.C.) até à derrocada do Império
Romano (476 d.C.). Por se tratar de um período abrangente e ao mesmo
tempo complexo, optou-se por apontar elementos que forneçam algumas linhas
gerais da articulação do trabalho docente e da educação em relação ao modo
de organização social da época.
Nesse enfoque, por questões didático-pedagógicas, nos propomos
organizar este estudo da seguinte forma: de início apresentamos algumas
questões preliminares; a seguir, apontamos, de modo geral, como era a
educação na Grécia Antiga, bem como fazemos alguns apontamentos com
base em Platão e Aristóteles e, finalizando esta parte do trabalho, destacamos
um pouco da rivalidade entre os filósofos e os sofistas no âmbito político, social
e educacional.
Ressaltamos, porém, que apenas apontamos algumas questões,
concernentes ao modo de organização social e do ensino realizado na Grécia
Antiga, que possibilitem a compreensão do trabalho docente na atualidade.
1.2.1. Questões preliminares.
Inicialmente e, de modo geral, convém destacar que o processo de
instituição da propriedade privada
12
provocou transformões sociais que, por
sua vez, implicaram em mudanças no modo de produção e socialização do
conhecimento. Demerval Saviani explica:
Com a apropriação privada da terra surge a classe dos
proprietários cujos membros não precisam trabalhar para
sobreviver porque o trabalho dos não-proprietários (os escravos
do modo de produção antigo ou escravista) deve prover os meios
tanto para a sua existência como para a existência do seu senhor,
12
Para um entendimento mais aprofundado sobre a constituição da propriedade privada
recomenda-se que seja lido o livro de Karl Marx: Formações Econômicas pré-capitalistas, Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1985. Nesta obra, pode-se ler: “originalmente, propriedade significa
nada mais do que a atitude do homem ao encarar suas condições naturais de produção como
lhe pertencendo, como pré-requisitos de sua própria existência; sua atitude em relação a elas
como pré-requisitos naturais de si mesmo, que constituiriam, assim, prolongamentos de seu
próprio corpo” (p. 85).
24
ou seja, o proprietário da terra onde ele vive e trabalha. Surge,
assim, uma classe ociosa, que vive do ócio, já que não precisa
trabalhar, pois vive do trabalho alheio. E é nesse contexto que
surge a escola, palavra que, em grego, significa exatamente o
lugar do ócio (2007, p. 11).
Nesta perspectiva, pode-se constatar que com a instituição da
propriedade privada
13
surgiu a possibilidade de se viver com a expropriação do
trabalho de outrem e decorrente desta divisão - entre proprietários e não-
proprietários dá-se a implementação da educação dual, diferenciada e, a
grosso modo, os primeiros beneficiados pelo desfrute do ócio
14
, do tempo livre,
receberão uma educação fora do trabalho “para mandar” e, os segundos serão
educados, de preferência, no próprio processo de trabalho “para a obediência”.
Quanto a isso, em A Origem do Capital, a acumulação primitiva, Karl Marx,
contrapõe-se ao entendimento afirmado pelos manuais beatos, que
apresentam a propriedade como decorrência do trabalho e do direito, ao que
aconteceu na história real: “a conquista, a dominação, a rapina à mão armada,
o predomínio da foa bruta” (1979, p.13), são estes acontecimentos que estão
na origem da propriedade privada.
Nesse sentido, contribui para o entendimento das mudanças efetuadas
no modo de ensinar das comunidades primitivas, Orso que ao escrever um
artigo intitulado As possibilidades e os limites da educação, publicado no livro A
Comuna de Paris de 1871: História e Atualidade, enfatiza que nas
comunidades primitivas a educação exercia um papel fundamental. Não havia
escolas. Ela se confundia com a própria vida. Dela dependia a melhor
sobrevivência do grupo” (2002, p. 91). No entanto, com a instituição da
propriedade privada alterou-se a base material destas comunidades e, por
conseguinte, implicações se farão sentir na totalidade da existência humana.
13
Conforme Orso: “aproximadamente 10.000 a. C. surge a propriedade privada dos meios de
produção e, com ela, as classes e as lutas entre as classes” (2002, p. 91). Corrobora, nesse
sentido, Darcy Ribeiro ao afirma que o “primeiro processo civilizatório corresponde à Revolução
Agrícola, que se desencadeou originalmente, cerca de 10 mil anos passados” (1987, p.65).
E no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens pode-se ler
ainda que o verdadeiro fundador da sociedade civil foi o “primeiro que, tendo cercado um
terreno, arriscou-se a dizer: isso é meu’, e encontrou pessoas bastante simples para acreditar
nele” (ROUSSEAU, 1985, p. 84).
14
Para muitos pesquisadores o ócio é um dos fundamentos que contribuiu para o surgimento,
desenvolvimento e sustentação da filosofia. Dentre os livros que possibilitam uma
compreensão do que é a filosofia, apontamos: Caio Prado Jr. O que é filosofia. São Paulo:
Brasiliense, 1985.
25
Se antes o saber era de todos, o conhecimento socializado, agora passa a ser
apropriado indevidamente pela classe que detêm o poder, a propriedade.
Nessa sociedade dividida em classes a educação não pode ser a mesma para
todos, afinal, o interesse de quem domina volta-se para o desenvolvimento de
estratégias que contribuam para perpetuar essa condição de privilégio, em
detrimento a qualquer movimento de protesto da classe oprimida. Observa
Manacorda:
Quer as artes em geral fossem ou não consideradas dignas
pelos conservadores, particularmente o costume de ensiná-las
por dinheiro, o fato é que este uso acabou prevalecendo e a
escola, nos seus vários veis, tornou-se a instituição que não
podia faltar nas cidades gregas da Hélade e de todo o Oriente
mediterrâneo. A instrução na música e na ginástica era
prerrogativa das classes dominantes e só os homens livres
eram considerados dignos desses ensinamentos (1992, p. 64).
Logo, a questão central que se apresenta para favorecer a compreensão
destas reflexões em torno da educação e de seus agentes se situa na divisão
de classes. Sendo assim, é preciso não perder o horizonte de que a
colaboração entre os homens baseada na propriedade coletiva e nos laços de
sangue presentes na comunidade primitiva retrocederam com a instituição da
propriedade privada e a organização da escravidão
15
, pois,
com o desaparecimento dos interesses comuns a todos os
membros iguais de um grupo e a sua substituição por interesses
distintos, pouco a pouco antagônicos, o processo educativo, que
até então era único, sofreu uma bipartição: a desigualdade
econômica entre os ‘organizadores’ cada vez mais exploradores
e os executores’ cada vez mais explorados trouxe,
necessariamente, a desigualdade das educações respectivas
(PONCE, 2005, p. 26).
Cabe ressaltar, em decorrência do que foi exposto acima, que:
15
Conforme Friedrich Engels “sem escravatura não haveria Estado grego, arte grega, ciência
grega. Sem escravatura, o império romano é impensável. Ora, sem a base do helenismo e da
romanização, impensável é a Europa moderna. Não devemos esquecer que toda a nossa
evolução econômica, política e intelectual tem por condição prévia uma situação na qual a
escravatura era essencialmente necessária. Nesse sentido, pode-se afirmar que, sem a
escravatura antiga, não seria possível o socialismo moderno” (1981, p.185). Entretanto, com
isso não se quer justificar a escravatura.
26
quem detém o poder econômico detém também o poder político,
espiritual e ideológico, as idéias dos dominantes tornam-se as
idéias dominantes. Com a produção social baseada na divisão em
classes, a educão e o conhecimento passam a refletir essa
fragmentação. A educação torna-se uma educação de classe,
controlada pela classe dominante, voltada para sua auto-
reprodução; institucionaliza-se a divisão entre o saber e o fazer;
legitima-se a dominação dos que sabem, dos ‘iluminados’ sobre
os ‘ignorantes’ e os trabalhadores (ORSO, 2002, p. 91-92).
Tendo como pano de fundo estas reflexões e, tamm, o pressuposto de
que a educação e o trabalho docente estão intimamente relacionados ao modo
com que os homens se organizam socialmente para sobreviverem - como já foi
salientado - nos ocupamos sobre alguns aspectos do ensino na Grécia Antiga,
utilizando-nos do recorte espaço temporal as cidades-estados
16
de Atenas e
Esparta, com ênfase nos filósofos Platão
17
, Aristóteles
18
e os Sofistas
19
.
Vale lembrar, que este recorte é feito por questões didático-
metodológicas, pois, outros povos também se desenvolveram no comércio, na
agricultura, no modo de pensar. Corroboram com este entendimento Nicola
Abbagnano e A. Visalberghi, ao afirmarem que “los egipcios, los babilonios, los
hindúes, los chinos y muchos otros pueblos del Oriente cercano y lejano habían
elaborado complejas y eficientes formas de educación antes de los griegos”
16
Cidades-Estados o assim denominadas por serem autônomas entre si, isto é, cada uma
tinha seus próprios costumes, seus deuses, suas leis, sua economia, suas peculiaridades.
Assim, enquanto Atenas destacou-se pelo comércio, Esparta conservou-se mais agrária
(FLORENZANO, 1991, p. 09-55).
17
Segundo a tradução e notas de José Cavalcante de Souza “Platão nasceu em 428-7 a.C. e
morreu em 384-7 a.C” (1987, p. IX). (...) Filho de Ariston e de Perictione, Platão pertencia a
tradicionais famílias de Atenas e estava ligado, sobretudo pelo lado materno, a figuras
eminentes do mundo político. Sua mãe descendia de Sólon, o grande legislador, e era irmã de
Cármides e prima de Crítias, dois dos Trinta Tiranos que dominaram a cidade durante algum
tempo” (1987, p. X).
18
Sobre o pertencimento social privilegiado de Aristóteles ao modo de organização social de
sua época, lê-se na obra A Política que ele: “nasceu em Stágiros (posteriormente Stágira,
atualmente Stavra), na Caldice, território macedônio, em 384 a.C., e morreu em Cálcis (atual
Evripo), na Eubéia, em 322. Seu Pai era Nicômacos, da confraria dos asclepíadas, médico e
amigo de Amintas II, rei da Macedônia” (1992, p. 7).
19
Conforme Giovanni Reale e Dario Antiseri, “’sofista’ é um termo que significasábio’,
‘especialista do saber’. A acepção do termo, que em si mesma é positiva, tornou-se, porém,
negativa sobretudo pela tomada de posição fortemente polêmica de Platão e Aristóteles. Como
havia feito Sócrates, eles sustentaram que o saber dos sofistas era ‘aparente’ e não ‘efetivo’
e que, ademais, não era professado tendo em vista a busca desinteressada da verdade, mas
sim com objetivos de lucro” (1990, p. 73). Deste modo, “num sentido pejorativo, passa a
significar ‘homem que emprega sofismas’, ou seja, alguém que usa de raciocínio capcioso, de
má-fé, com intenção de enganar” (ARANHA, 1989, p. 46). Uma análise mais aprofundada
sobre quem eram os sofistas pode ser encontrada em: GUTHRIE, W.K.C. Os Sofistas
(Tradução de João Rezende Costa; revisão H. Dalbosco - Maurício Nascimento). São Paulo:
Paulus, 1995.
27
(1993, p. 19). Desde modo, de acordo com estes autores convém que se evite
cair na idolatria do povo grego.
Como una especie de milagro nacido del encuentro de una estirpe
humana, dotada de inteligencia y sensibilidad excepcionales, con
ciertas circunstancias de clima y ambiente extraordinariamente
favorables, en una situación geográfica que facilitaba una
asimilación rápida de todo lo elaborado por más importantes
culturas del Oriente mediterráneo. Aclaremos de inmediato que se
trata de explicaciones insuficientes, para no decir enteramente
insatisfactorias. No existen pueblos inteligentes ni pueblos
estúpidos (ABBAGNANO; VISALBERGHI, 1993, p. 20).
Percebe-se, por conseguinte, a necessidade do debate diante da
afirmação de que “o povo grego é o povo filosófico por excelência” (JAEGER,
1936, p. 11), na medida em que se parte do pressuposto que os gregos não se
constituíram a partir do nada e, historicamente, souberam sintetizar, recolher e
transmitir o patrimônio cultural de tantas outras civilizações.
Entretanto, relatar aqui, integralmente e nos detalhes como se
desenvolveu a educação neste estágio do mundo grego
20
, não é possível e
nem se constitui objetivo central desta pesquisa. Portanto, pretende-se
somente apresentar algumas indicações no intuito de averiguar a concepção
de homem e de sociedade presentes naqueles que se dedicaram ao ensino
nesse período.
1.2.2. A organização social e o ensino na Grécia Antiga
21
: Atenas e
Esparta
De princípio, importa ressaltar que a Grécia Antiga não constitui uma
unidade político-administrativa, pois, era formada por uma diversidade de
cidades-estados, em que cada cidade gozava de autonomia, com suas leis,
seus costumes, seus deuses, sua economia, sua política etc. Das inúmeras
cidades-estados gregas destaca-se Esparta e Atenas. Enquanto, a primeira
tornou-se famosa por valorizar as atividades guerreiras e desenvolver uma
educação severa, voltada para a formação militar, a segunda buscou enfatizar
20
Acerca de uma investigação histórica minuciosa sobre a educação na Grécia Antiga, sugere-
se a leitura de Werner Jaeger: Paidéia, a formação do homem grego, São Paulo: Editora
Herder, 1936.
21
É preciso ter cuidado, pois, tornou-se “comum nos referirmos à educação grega como aquela
oferecida por Atenas a seus cidadãos” (ARANHA, 1989, p. 39).
28
a formação intelectual ao lado dos cuidados com a educação física. De modo
que, segundo Roger Gal “foi Atenas a herdeira e a alma desta civilização.
Esparta deixou-nos somente um belo exemplo de uma civilização militar”
(1976, p. 33).
Compreende-se, desta maneira, que os espartanos ao contrário dos
atenienses, não o educados para os refinamentos intelectuais, nem afeitos
aos discursos longos e às discussões. Portanto, pode-se dizer, segundo
Franco Cambi, que elas “deram vida a dois ideais de educação: um baseado
no conformismo e no estatismo, outro na concepção de paidéia, de formação
humana livre e nutrida de experncias diversas, sociais mas tamm culturais
e antropológicas” (1999, p. 82).
Sobre o ensino realizado por Esparta, Paul Monroe afirma que “o
objetivo da educação espartana era dar a cada indivíduo tamanha perfeição
física, coragem e hábito de obediência completa às leis, que o tornassem o
soldado ideal, insuperável em bravura; um soldado em que o indivíduo
estivesse absorvido pelo cidadão” (1970, p. 34). Nesse sentido, “as crianças do
sexo masculino, a partir dos sete anos, eram retiradas da família e inseridas
em escolas-ginásios onde recebiam, até os 16 anos, uma formação de tipo
militar, que devia favorecer a aquisição da força e da coragem (CAMBI, 1999,
p. 83). Assim, com uma educação predominantemente física e moral em
detrimento do estético e intelectual (onde a leitura e a escrita eram ensinadas
em extensão limitada), o ensino em Esparta acontecia durante os jogos, ao ar
livre. Quanto ao trabalho de ensino, destaca-se que:
Todo espartano adulto era um professor; e todo menino espartano
tinha um tutor, escolhido sob o critério da estima mútua. Professor
e aluno não estavam unidos por nenhum laço econômico, mas
pelos laços de amizade e afeto. Mediante essa camaradagem,
geralmente fora das horas do treino ginástico regular, o menino
recebia educação sobre justiça, honra e patriotismo, espírito de
sacrifico, domínio de si mesmo e honestidade (MONROE, 1970, p.
39).
Não obstante, é preciso que se ressalte o alerta de Francisco Larroyo
sobre o perigo das reduções interpretativas, relativas ao predomínio da
educação-guerreira em Esparta, quando diz: “não se deve exagerar isto a
ponto de considerar a cidade como um acampamento militar e refratária à
29
cultura do espírito” (1982, p. 141). Tendo presente esta observação, passa-se a
descrever um pouco do ensino realizado na cidade de Atenas.
Luzuriaga, descreve que “na fase guerreira, aristocrática, Atenas
reproduz o tipo de sociedade heróica e cavalheiresca da época de Homero.
Mas pelo século VII a.C., experimenta radical mudança no sentido cívico; a
cultura e a educação alcançam lugar preeminente e passa para segundo plano
o guerreiro” (2001, p. 39). Neste sentido, Larroyo afirma que os meninos de
sete anos eram confiados a um pedagogo, que os acompanhava
continuamente e os conduzia à escola (didascaléia). Amiúde, o pedagogo era
um escravo culto, responsável pelos bons costumes e pelos progressos do
Infante” (1982, p. 153). Sobre a educação deste, assim, se expressou o autor:
O pequeno dividia seu tempo entre a palestra e a didascaléia. Na
primeira, cultivava o corpo. O paidotriba lhe ensinava os
exercícios e o sofronista vigiava a conduta moral. Antes de tudo
praticava-se o pentatholon: salto, corrida, lançamento do disco,
lançamento do dardo e pugilato. A ginástica prática iniciava-se
com movimentos de braços e pernas, salto etc (idem, p. 153).
Percebe-se, assim, que no decurso da história grega, Atenas passou a
valorizar a formação intelectual ao lado da formação guerreira. Sendo assim,
ao buscar compreender porque o ensino em Atenas se diferencia de Esparta,
confirma-se que a educação encontra-se articulada com a sociedade que a
sustenta. Diferentemente de Esparta,
Atenas foi uma cidade inclinada para o comércio, a indústria, a
marinha, as letras e as artes. Seu governo, de início monárquico
(seu último rei foi Codro), mais tarde adquiriu a forma popular.
Ainda na época do grande legislador Sólon (638-559 a. C.), e do
tirano Pisístrato, o regime político tinha muito de oligarquia. Foi até
Clístenes (507), quando irrompeu a democracia à base de
organização política do demos - uma espécie de município
(LARROYO, 1982, p. 151).
Na verdade, percebe-se que Atenas, a partir do século V a.C.,
experimenta mudaas em que ao passar da fase agrícola para a comercial e
marítima, fez com que uma “nova classe social” se sobrepusesse à classe
aristocrática dando lugar a uma democracia mais extensa. Soma-se ainda, as
guerras de libertação contra a Pérsia que contribuíram para aumentar o poder
30
de Atenas. Devido a estas transformões de âmbito econômico-político e
social, em Atenas, privilegia-se a “coordenação de pensamento e ação, o
ajuste da conduta ao preceito, da palavra à ação. Daí resultou aquela harmonia
entre a vida interior de pensamentos e a conduta exterior, que constitui o ideal
grego” (MONROE, 1970, p. 44). Revela-se, deste modo, a construção do ideal
de formação completa do homem, com a educação intelectual associada à arte
da guerra. Muito embora não se possa esquecer que Atenas jamais tenha
descuidado da formação militar, pois, “é necessário um regime mais apurado
para os nossos atletas guerreiros, para que se mantenham, com os cães,
sempre alerta, vejam e ouçam com a maior acuidade e, embora mudando
freqüentemente de bebida e comida, conservem uma excelente saúde”
(PLATÃO, 2004, p. 98). Sobre tal educação:
Ainda que as mudanças mais intensas ocorressem no ensino
superior, o deixaram de influenciar a educação elementar.
Acentua-se intervenção do didaskalos, que substitui o citarista da
época anterior; e com isso aumenta a instrução, ampliada
apartada da música. Parece também que a rígida disciplina
anterior se faz mais flexível e a própria música se enriquece de
novas modalidades (LUZURIAGA, 2001, p. 41).
Acresce ainda, a constatação de que o surgimento da polis
22
ateniense
foi fundamental para à experiência da vida pública enquanto espaço de debate
e deliberação, tornando-se campo fértil para o florescimento da filosofia. A
praça pública (Ágora), por exemplo, foi o espaço em que crates interrogava
os homens e criava um novo método de reflexão conhecido na história por
ironia
23
e a maiêutica
24
. Pautada na divisão entre cidadãos e escravos a
democracia ateniense se alicerçou e na forma como se organizou teve na
22
Pólis: “Termo específico para designar o Estado grego na época clássica. A pólis,
geralmente, compreendia uma cidade e seu território. Mas o termo tem um significado
extremamente rico e cheio de nuanças que apenas parcialmente exprime a expressão Cidade-
Estado” (MOSSÉ, 1982, p. 139).
23
Segundo Nicola Abbagnano, a ironia socrática é o modo como Sócrates se subestima em
relação aos adversários com quem discute” (2000, p. 585). Exemplifica essa postura de
Sócrates a célebre expressão destacada por Platão em A defesa de Sócrates: “... eu, como de
fato não sei, também não fico pensando que sei” (2006, p. 3).
24
Exercício de ajudar as pessoas a darem a luz às verdades que, no entender de Sócrates,
elas já trazem dentro de si. Logo, da mesma forma que a mulher que está grávida no corpo
tem necessidade da parteira para dar à luz, também o discípulo que tem a alma grávida de
verdade tem necessidade de uma espécie de arte obstétrica espiritual que ajude essa verdade
a vir à luz e nisso consiste exatamente a ‘maiêutica’socrática” (REALE; ANTISERI, 1990, p.
99, grifos dos autores)
31
retórica
25
o seu destaque dentre aquilo que deveria ser ensinado a um cidadão
ateniense. A retórica, de certa forma, acaba por ser a arte possível e
necessária à sociedade de classes da época. A participação - na vida da polis -
acontecia por meio dos debates públicos, pela defesa argumentada das
posições dos cidadãos nas assembléias.
Compreende-se, por conseguinte, que a autoridade era pública e
coletiva e, consequentemente, com base nestas considerações se explicitam
os motivos pelos quais o pensar, o falar e o discutir eram tão valorizados. Estas
considerações históricas possibilitam a compreensão da valorizão da retórica
na vida política de Atenas e justifica o fato dela constituir-se no conjunto do que
havia de ser ensinado, de modo particular, ao cidadão ateniense. Acrescenta-
se, ainda, o fato de que nesse tempo, o se compreendia um indivíduo que
não participasse das decisões da polis: Ora, aquele que não pode viver em
sociedade, ou que de nada precisa por bastar-se a si próprio, não faz parte do
Estado; é um bruto ou um deus” (ARISTÓTELES, 2006, p. 13).
Quanto à afirmação de que Esparta não participou muito do esplendor
artístico, literário e do desenvolvimento filosófico que constituíram a glória de
Atenas” (MONROE, 1970, p. 35), nos parece que, é somente na base material
constitutiva, de ambas cidades-estados, que se poderá encontrar o
entendimento. Logo, para se compreender as diferenças de ensino entre
Esparta e Atenas (bem como entre elas), é necessário investigar sobre o modo
como cada uma buscou se organizar para produzir e reproduzir sua existência.
Se por um lado Esparta, ao situar-se no interior da Grécia Antiga, acostumou-
se por meio da guerra a garantir sua reprodução social, Atenas, por sua vez,
situada a beira-mar, privilegiou-se pelo surgimento de uma nova classe de
comerciantes que, contrária a antiga aristocracia, passa a exigir uma nova
educação. Tanto é, que o ideal de educação para Atenas é a sofrosine ou
temperança, ou seja, a razão no domínio das paixões. Ao contrário de Esparta,
25
Conforme Aristóteles, Retórica, I, 1355a: “A Retórica, stricto sensu, trata dos modos de
persuasão. Essa é um tipo de demonstração, que estamos quase totalmente persuadidos
quando algo foi demonstrado. A demonstração do orador é uma enthymeme (arte dos
argumentos), e este é, em geral, o mais efetivo meio de persuasão. A enthymeme é um tipo de
silogismo, os silogismos de toda espécie, sem exceção, são tratados pela Dialética, seja no
todo seja por um de seus ramos...” (apud FUNARI, 2003, p. 75). Para aprofundar a importância
da retórica neste período recomenda-se a leitura do livro de Armando Plebe: Breve História Da
Retórica Antiga. Tradução e notas de Gilda Naécia Maciel de Barros. São Paulo: E.P.U.
EDUSP, 1978.
32
“Atenas passou pelas mesmas fases de desenvolvimento; mas, enquanto
Esparta se deteve na fase guerreira e autoritária, Atenas chegou a estádio
superior, o da vida política democrática” (LUZURIAGA, 2001, p. 39).
Tendo em apreço, as considerações feitas, Franco Cambi, depois de
assinalar sobre a importância da polis para a difusão e desenvolvimento do
conhecimento, demonstra o caráter eminentemente comunitário da educação
grega onde um dos instrumentos fundamentais dessa educação comunitária é
o teatro, a tragédia e a comédia, que é um espelho da comunidade que
enfrenta seus problemas de legitimão das normas e de descrição/avalião
dos costumes” (1999, p. 79). Das peças teatrais destacamos a tragédia grega:
Édipo Rei, escrito por focles que dentre os ensinamentos apresenta o
reforço ao pensamento de que não há como lutar contra o destino, pois, tudo já
esprevisto pelos deuses. Em síntese, pode-se dizer que Édipo ao querer
fugir de sua sina, aí é que ele fez com que ela se cumprisse. Ou seja, por mais
que o homem tende a escapar ou a mudar sua sorte, tudo es escrito e
cabe a este escutar e pôr em prática o que os oráculos profetizam. Logo,
percebe-se, deste modo, que no teatro, a comunidade educa a si mesma
(idem, p. 79). Dessa forma, inútil torna-se a luta tanto por mudar o “destino”
quanto a sociedade.
Platão, no que diz respeito ao funcionamento equilibrado da sociedade,
defendeu que ao Estado era destinado o fim supremo de formar homens
virtuosos em que a cada classe competia o cultivo preferente de uma virtude
social; os governantes cuidariam, antes de tudo, da sabedoria; os guerreiros,
da valentia; os artesãos, da moderação. A harmonia cabal destas três virtudes
era a justiça” (LARROYO, 1982, p. 168). Em suma, pode-se dizer, como afirma
Maria da Glória de Rosa que “o fim da educação para Platão é, como para
Sócrates, a formação do homem moral. Porém, o meio para atingir essa
educação é o Estado, na medida em que representa a idéia de justiça.
Resumindo: a idéia essencial da pedagogia de Platão é a formação do homem
moral dentro do Estado justo(2009, p. 36). No entanto, vale lembrar, que a
justiça só será alcançada quando cada um realizar bem o seu papel social, ou
seja, “que os fisofos pensem, que os guerreiros lutem, que os trabalhadores
trabalhem para os filósofos e os guerreiros” (PONCE, 2005, p. 58).
33
Nessa direção, é que podemos inserir alguns fragmentos escritos por
Aristóteles - o fundador da escola denominada de peripatéticos
26
-, a respeito
do seu entendimento sobre o tecido social de seu tempo.
Primeiramente, como dizemos, deve-se reconhecer no animal vivo
um duplo comando: o do amo e o do magistrado. A alma dirige o
corpo, como o senhor ao escravo. O entendimento governa o
instinto, como um juiz aos cidadãos e um monarca aos seus
súditos. É claro, pois, que a obediência do corpo ao espírito, da
parte afetiva à inteligência e à razão, é a coisa útil e conforma com
a natureza. A igualdade ou direito de governar cada um por sua
vez seria funesta a ambos (2006, p. 16).
Importa destacar, entretanto, que havia na Grécia também o pedagogo
escravo e que este não era um escravo comum, e, portanto, “o ofício de mestre
era o ofício de quem caíra em desgraça (como no exemplo de Diosio de
Siracusa)” (MANACORDA, 1992, p. 61). Conforme vimos com Larroyo,
Aranha também diz que o pedagogo significava literalmente ‘aquele que
conduz a criança’ (paidós, ‘criança’, agogôs, ‘o que conduz’) à palestra (de
palaistra,lugar onde se luta’), “aí sob a orientação do pedótriba (instrutor
físico), é iniciado em corrida, salto, lançamento de disco, de dardo, e em luta,
as cinco modalidades que formam o pentatlo, competição famosa dos jogos
gregos” (1989, p. 40).
Evidencia-se, deste modo, a ênfase no pedagogo enquanto aquele que
acompanha a criaa e, neste sentido, Manacorda (1992) apresenta outras
obrigações destinadas aos pedagogos escravos que ao serem reduzidos à tal
condição eram obrigados a servir como mestres aos filhos de seus senhores.
Neste trabalho realizado por escravos incomuns, destaca-se a mecanicidade
mnemônica e a lentidão no ensino do alfabeto aos discípulos, bem como o
castigo por meio de chicotes e varas aplicados no discípulo. Além disso,
tamm relatos que testemunham os mestres sendo surrados pelos
discípulos.
Em Aristóteles constata-se a naturalização de que uns nasceram para
mandar e outros obedecer, que a desigualdade é imposta pela própria
26
De acordo com Ivan Lins: “Desde 336, por ocasião da ascensão de Alexandre ao trono,
voltou a Atenas e fundou uma escola de filosofia, no Liceu, ginásio localizado na parte leste
da cidade. Como dava suas lições passeando pelos jardins, sua escola foi chamada
peripatética, isto é, dos passeadores” (s/d, p. 6).
34
natureza
27
ao afirmar que assim como o homem nasce do homem e o animal
do animal, tamm o homem virtuoso só pode nascer de pais virtuosos” (2006,
p. 18). Deste modo, pelas citações apontadas, expressa-se a posição de
Aristóteles sobre a discussão que havia nos século IV a.C. no que diz respeito
ao fato de alguns homens terem sido feitos para a liberdade e outros para a
escravidão
28
.
Em suma, buscou-se expor até aqui um pouco das diferenças no ensino
e, por conseguinte, do trabalho docente realizado por Esparta e Atenas,
articulado com a tentativa de compreender o modo como cada uma se
organizava socialmente. Neste propósito, objetivou-se precisar as posições dos
filósofos Platão e Aristeles quanto ao ensino, a política, enfim, ao modo de
organização da sociedade da qual fizeram parte. Assim sendo, no intuito de
compreender um pouco mais o ensino, na Grécia Antiga, passa-se a
apresentar um pouco do embate entre os filósofos e os sofistas, com a
finalidade de apreender alguns elementos que contribuam para a compreensão
do trabalho docente, nesse período, onde a naturalização da escravidão era
tida como a base das relações sociais.
1.2.3. O trabalho docente realizado pelos filósofos e sofistas
Primeiramente, de acordo com Luzuriaga, “convém destruir o
preconceito popular acerca dos sofistas, considerados assim como
embaucadores ou tergiversadores das idéias. São eles, em verdade, os
primeiros professores, os primeiros educadores profissionais conscientes da
hisria” (2001, p. 45). Para Larroyo, “os sofistas eram professores ambulantes;
percorriam as grandes cidades, ensinando as Ciências e as Artes, com
finalidades práticas, particularmente, a eloquência, em troca de uma elevada
retribuição pecuniária” (1982, p. 159). Ao situá-los no contexto histórico grego,
27
Sem esquecer, é claro, da importância dos deuses para atenuar as tensões sociais:
“Estavam os deuses sentados, para a sessão da assembléia; entre eles Zeus, que troa nas
alturas e detém o poder supremo...” (HOMERO, 2005, p. 60). Em Fédon ou da alma apresenta-
se a crença de que “os deuses cuidam dos homens e que os homens são posses dos deuses
(PLATÃO, 2004, p. 122). Evidencia-se, deste modo, que o questionamento da ordem social
implicava numa afronta aos próprios deuses.
28
Sobre o tema da escravidão o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1776) ao escrever O
Contrato Social assinala: “Se há, pois, escravos por natureza, é porque houve escravos contra
a natureza. A força fez os primeiros escravos, sua covardia os perpetuou” (1989, p.11). Nota-
se, portanto, a questão da convenção na manutenção da convenção.
35
Luzuriaga assinala que estes trabalharam na segunda metade do século v
a.C., no momento da grande transformão social e política de Atenas, quando
a cidade se converteu em grande potência econômica e comercial e substituiu
o regime aristocrático pelo democrático” (2001, p. 45).
Até nesse período, o ideal dominante era aquele concebido e imposto
pelos senhores da terra. Contudo, com o desenvolvimento do comércio e das
indústrias o ideal dominante passa a ser contestado por aqueles que até então
tinham ficado excluídos do ginásio. Pode-se dizer que os Sofistas são os
ideólogos da “nova riqueza” advinda da ascensão dos comerciantes, “vindos de
todas as partes do mundo grego, os sofistas se encontram em Atenas. Os mais
famosos foram: Protágoras (485-410 a.C.), de Abdera, Górgias (485-380 a.C.),
de Leôncio, na Sicília, Híppias, de Élis, e ainda Trasímaco, Pródico, Hipódamos
etc” (ARANHA, 1989, p.46). Sobre o pertencimento social dos sofistas escreve
Aníbal Ponce: “sendo também artesãos eles próprios, os sofistas não
desdenhavam o trabalho, nem a propaganda ruidosa da rua, e para provar o
quanto estimavam os depreciados trabalhos dos arteos, alguns deles, como
Hípias, se apresentaram em Olímpia com roupas e sapatos feitos por suas
próprias mãos (2005, p. 53). Protágoras, por sua vez, em sua defesa pela
democracia, afirmou: o homem é a medida de todas as coisas”, contrapondo-
se ao modelo aristocrático que imperava até então.
Porém, com o crescimento da polis, em consequência da ampliação das
atividade comerciais, aumentou a tolerância para com os mestres estrangeiros;
bem como a liberdade na esfera política acarretando maior liberdade individual
ao pensamento e ação. “Os sofistas foram, pois, a nova classe de professores
que surgiram em resposta às novas exigências” (MONROE, 1970, p. 54). Duas
características vão torná-los odiados pelos gregos ponderados: a primeira se
refere ao fato de se apresentarem como entendedores e capazes de ensinar
sobre qualquer assunto e, a segunda, por cobrarem por seus ensinamentos.
Protágoras foi o primeiro a propor um ensino deste tipo
comercializado: não havia, antes dele, semelhante instituição; os
sofistas não encontraram, pois, uma clientela feita: foi-lhes
necessário granjeá-la, persuadir o público a recorrer a seus
serviços, o que explica toda uma série de expedientes
publicitários; o Sofista vai de cidade em cidade à cata de alunos,
36
levando atrás de si aqueles que arrebanhou (MARROU, 1975,
p. 86).
Por conseguinte, Marrou entende os sofistas como educadores. No
entanto, é preciso destacar que estes exerciam o ofício de ensinar de maneira
bem diversa do que se compreende hoje, pois, “não abriram escolas, no
sentido institucional desta palavra; pode-se definir como um preceptorado
coletivo. Agrupam eles, em torno de si, os jovens que lhes são confiados e de
cuja formação completa se incumbem(1975, p. 86). Neste sentido, segundo,
Abbagnano e Visalberghi, a educação grega também se deve aos sofistas,
“auténticos ‘profesores’ itinerantes que iban de ciudad en ciudad” (1970, p. 58).
Naturalmente, percebe-se que o sofista para defender sua existência vendia
técnicas de aprendizagem de oratória, matemática, geometria, etc. E, como
“esta franca publicidade não se faz sem algum charlatanismo: estamos na
Grécia e na Antiguidade: para impressionar seu auditório, o Sofista o hesita
em pretender a onisciência e a infalibilidade” (MARROU, 1975, p. 87). Com isto
fornecem as ferramentas necessárias para serem atacados por seus
opositores.
Contudo, é importante salientar que grande parte ou quase tudo do que
conhecemos sobre os sofistas, bem como sobre os pré-socráticos, foi por meio
de seus contestadores. Isto é atestado por Guthrie: Com os Sofistas achamo-
nos na mesma situação dos pré-socráticos, de reconstruir as idéias de homens
cujos escritos não mais são em sua grande maioria disponíveis, visto que
nossa fonte mais rica de informação é Platão, o seu oponente filosófico(1995,
p. 15). O debate entre Platão e os Sofistas levou o primeiro a se declarar como
o filósofo verdadeiro ou amante da sabedoria e tachar os segundos como
superficiais e enganadores, criadores de sofismas.
Com base nestes apontamentos, duas coisas podem ser inferidas: a
primeira é a de que havia um embate entre os filósofose os sofistas’ e a
segunda, é a de que se constitui em erro gravíssimo o posicionamento
daqueles que consideram os sofistas apenas de modo pejorativo, situando-os
num patamar inferior em relação ao conhecimento e no desempenho de seu
trabalho docente.
37
Mas, é na base material da sociedade ateniense que este embate
teórico adquire significado, uma vez que “seu descrédito veio de que, como se
disse, foram contra a educação tradicional, perceberam retribuição pelo ensino
e deles os houve de caráter arbitrário e fraudulento” (LUZURIAGA, 1972, p.
45). Quanto a esta problemática que qualifica ou desqualifica o trabalho
docente dos sofistas, Guthrie, fundamentando-se nas relações econômicas,
sociais, políticas e culturais daquela época, afirma:
Jowett também publicou uma crítica judiciosa de Grote ao
introduzir sua tradução do Sofista de Platão (1871), onde
argumentou que os principais sofistas podem ter sido homens
bons e honrados, mas que sua reputação em Atenas era
algo corrente por rias razões - eram estrangeiros, conseguiam
grandes fortunas, excitavam as mentes jovens etc (1995, p. 17).
Conforme salientamos, a Atenas do tempo dos sofistas havia passado
por uma grande transformação social e política em que substituiu o regime
aristocrático pelo democrático, ao se tornar uma grande potência econômica e
comercial na segunda metade do século V a.C.. Nesse contexto, sofistas eram
aqueles que empregavam-se na atividade docente e, dada a necessidade
existente de uma educação mais alta, mais intelectual que a educação ofertada
até então direcionada à música e à ginástica, trabalhavam como professores
ambulantes. Neste sentido Luzuriaga afirma:
Surgiu um grupo de homens, os sofistas, que, embora sem
conexão entre si, tinham, contudo, a mesma finalidade: educação
para a vida pública, formação do político, do orador. Eram de
diversa linhagem, uns sérios e responsáveis, outros frívolos e
utilitários. Entre os primeiros, e esses é que nos interessam,
figuram Protágoras, Trasímaco, Górgias e Hípias, especialmente o
primeiro (1972, p. 45).
Deste modo, constata-se que a realidade é bem mais complexa e se
constitui num reducionismo desmedido nivelar os sofistas como inimigos do
conhecimento em que, comumente, muitos estudiosos ao se deixarem
persuadir pelo pensamento de Aristóteles e Platão acabam por reforçar o
sentido negativo endereçado aos sofistas, apresentando-os numa posição
inferior em relação à filosofia e ao compromisso com o ensino,
desconsiderando-os enquanto pensadores, filósofos.
38
Existe aqui, de facto, uma conexão entre a sofística e a filosofia,
mas limita-se a um só representante, e a ponte é assaz estreita. A
história da filosofia que Aristóteles nos na Metafísica não inclui
os sofistas. As mais recentes histórias da filosofia consideram-nos
como fundadores do subjectivismo e do relativismo filosófico. O
esboço duma teoria por parte de Protágoras não justifica tais
generalizações e é um erro evidente de perspectiva histórica pôr
os mestres da Arete ao lado de pensadores do estilo de
Anaximandro, Parmênides ou Heráclito (JAEGER, 1936, p. 319)
Todavia, para além deste problemático debate entre quem são, ou não,
os verdadeiros filósofos da Gcia Antiga, interessa saber que a realização do
ensino era oferecida por estes homens (filósofos ou sofistas) e que tinha um
endereço certo: à classe dominante, os donos de propriedade, aos que podiam
pagá-lo, aos detentores do poder político e econômico e não a grande massa
das classes subalternas de escravos e trabalhadores livres. Nas palavras de
Guthrie, pode-se constatar o comércio do ensino destinado aos que podiam
pagar. Trata-se da venda dos saberes, da “mercantilização do ensinocomo
dir-se-ia na atualidade. Nesta perspectiva, a educação é tida na Idade Antiga
ou escravocrata como um reforçador do status quo.
Referências aos sofistas como pagos por seu trabalho são
freqüentes em Platão, e ocorrem também em Xenofonte, Isócrates
e Aristóteles. O caráter dos sofistas pode ter mudado, mas
permaneceram profissionais desde Protágoras até os tempos de
Isócrates pelo menos. Os que vendem sua sabedoria por dinheiro
a quem a queira são chamados sofistas, diz crates em
Xenofonte (Mem. 1.6.13) (GUTHRIE, 1995, p. 39).
Neste sentido, com o desenvolvimento da cidade-estado ateniense, a
intensificação do comércio, lentamente foi se contrapondo às explicações
mitológicas. O conhecimento começa a ser sistematizado e em decorrência
temos a fundação das primeiras escolas. Têm-se, desta maneira, o surgimento
do trabalho docente, inspirado pela filosofia platônica, voltado para realizar o
ideal do que o homem deve ser e, assim, de influência idealista foi “por
diversas vezes ponto de partida de várias correntes filosóficas, desde a época
helenística ao Renascimento” (SUCHODOLSKI, 1984, p. 18).
Platão, concebendo que não é o corpo, por muito bem constituído que
seja, que, por virtude própria, torna pura a alma boa, mas, ao contrário, é a
39
alma que, quando é boa, dá ao corpo pela sua própria virtude, toda a perfeição
de que ele é capaz” (2004, p. 97-98), funda a Academia, uma escola filosófica
composta de “alojamentos para alunos e mestres, salas de aula, local
destinado a livros e coleções científicas. O corpo docente era dos mais
selecionados: dele fizeram parte Espeusipo, sobrinho de Platão, Xecrates,
Heráclides do Ponto, Eudóxio de Cnide, Teeteto e Aristóteles(ROSA, 2009, p.
36). Pode-se dizer que de acordo com a obra A República, o que convém ser
imitado são as virtudes já “desde a infância: a coragem, a sensatez, a pureza, a
liberalidade e as outras virtudes da mesma espécie. Porém, não devem imitar a
baixeza nem ser capazes de imitá-la, igualmente a nenhum dos outros vícios”
(PLATÃO, 2004, p. 87). Evidencia-se, desde modo, que a finalidade da
educação incutida pela Academia é a introdução da “imagem do bom caráter”
(idem, p. 95). Sobre esta escola afirma-se que ela era orientada para a política:
“a política dominou a obra de Platão e a Academia não podia deixar-se escapar
a essa tendência” (ROSA, 2009, p. 36).
Segundo a interpretação de Aristóteles, Platão foi acusado de ter criado
- para garantir a validade do conhecimento - uma teoria duplicadora da
realidade: o sensível e o intelígivel, em que o segundo se sobrepõe ao
primeiro
29
. Deste modo, para Platão o filósofo não tem por objeto o corpo e,
mais ainda, precisa trabalhar para afastar-se dele dentro do possível e, assim,
ocupar-se com sua alma, pois, esta ao procurar a verdade “com o corpo é
enganado por ele, que a induz ao erro” (PLATÃO, 2004, p. 126). Logo, “a
educação verdadeira’ é, justamente, o auxílio prestado a estas forças do ‘outro
mundo’ que o homem tem em si” (SUCHODOLSKI, 1984, p. 20). Nota-se que
em tal corrente filosófica-pedagógica, a educação, não se impõe para o aluno e
sim desperta-se neste, aquilo que previamente sabe. De acordo com esta
concepção, a essência verdadeira do homem está no mundo das ideias do qual
tudo provêm. Para tanto, Platão enfatiza a necessidade da purificação da alma,
“separá-la do corpo e habituá-la a recolher-se em si mesma, partindo de todos
os pontos do corpo, e viver, seja nesta vida, seja na outra, só e separada do
corpo” (2004, p. 128). Descura-se assim, tudo o que há de empírico no homem.
29
Para a compreensão da dualidade entre o sensível e o inteligível em Platão, contribui a
leitura da Alegoria da Caverna que se encontra no Livro VII, da obra A República.
40
Platão distinguiu no próprio homem o que pertence a este mundo
das sombras – o corpo, o desejo, os sentidos etc, - e o que
pertence ao mundo magnífico das Ideias: o espírito na sua forma
pensante. Estas distinções constituíram o motivo clássico que
conduziu a pedagogia da essência a descurar tudo o que é
empírico no homem e em torno do homem e a conceber a
educação como medida para desenvolver no homem tudo o que
implica a sua participação na realidade ideal (SUCHODOLSKI,
1984, p.19).
Acrescentamos também o fato de tanto Aristóteles como Platão serem
pertencentes a classes sociais privilegiadas. Aristóteles, por exemplo, foi
preceptor de Alexandre, e seus ensinamentos jamais ocorreram por uma
questão de generosidade. Do mesmo modo, Platão não se ocupou em ensinar
escravos, campesinos empobrecidos, senão aqueles suficientemente capazes
de recompensá-lo com os benefícios de seu tempo. Os sofistas também não
transmitiram seus saberes sem em troca obterem um pagamento. Portanto,
pode-se afirmar que o trabalho docente na Grécia Antiga articula-se com os
interesses de produção e perpetuação da sociedade daquele tempo.
É neste cenário, tendo presente a totalidade e contradição que se pode
compreender o homem, a educação e as sociedades gregas. Nesta
perspectiva, para Manacorda, os detentores do conhecimento forneciam uma
educação que favorecia o domínio das classes superiores com prejuízo para as
subalternas.
Encontraremos, antes de tudo, a separação dos processos
educativos segundo as classes sociais, porém menos rígida e com
um evidente desenvolvimento para formas de democracia
educativa. Para as classes governantes uma escola, isto é, um
processo de educação separada, visando preparar para as tarefas
do poder, que são o pensar ou o falar’ (isto é, a política) e o
‘fazer’ a esta inerente (isto é, as armas); para os produtores
governados nenhuma escola inicialmente, mas só um treinamento
no trabalho, cujas modalidades, que foram mostradas por Platão,
são destinadas a permanecer imutáveis durante milênios:
observar e imitar a atividade dos adultos no trabalho, vivendo com
eles. Para as classes excluídas e oprimidas, sem arte nem parte,
nenhuma escola e nenhum treinamento mas, em modo e em
graus diferentes, a mesma aculturação que descende do alto para
as classes subalternas (MANACORDA, 1992, p. 41).
Percebe-se, assim, que o papel precípuo de quem ensinava na Gcia
Antiga, era o de preparar os adolescentes “para as tarefas da vida adulta do
41
cidadão” (idem, p. 47) e, que esta preparação dependia da posição que o
discípulo ocupava na escala social desse tempo, que o ensino baseava-se
fundamentalmente na observação, imitação e memória. À grosso modo,
enquanto uns eram preparados para exercerem a posição de mando, outros
eram lapidados para obedecer. Logo, entende-se porque a educação (domínio
da escrita, da oratória e a formação militar) não era para todos e sim somente
para os pertencentes à classe dominante. Em Atenas, por exemplo, faziam
parte da classe dominante os homens livres com mais de 18 anos, que
cultuavam os mesmos deuses e praticavam a mesma religião. Aos escravos,
mulheres e estrangeiros, reservava-se o espaço da casa (oikos) e não o da
cidade (polis).
Em linhas gerais, apresentamos algumas nuances da educação na
Grécia Antiga e a posição de alguns de seus principais interlocutores. Deste
modo, muito embora, seja dominante o pensamento de que os filósofos
Platão
30
e Aristóteles (representantes da velha ordem aristocrática), foram os
grandes mestres da Grécia Antiga, trata-se de um equívoco esquecer as
contribuições para com a educão realizadas pelos sofistas (defensores da
nova ordem democrática).
A grosso modo, os dados apresentados demonstraram que o acesso ao
saber - leitura, escrita e todo conhecimento historicamente e coletivamente
elaborado - eram reservados a uma pequena elite: ao cidadão ateniense, ao
cidadão espartano (homoioi) etc. tendo sempre como escopo o bom
funcionamento da ordem social vigente.
No entendimento de que a educação articula-se com a sociedade,
seguimos apresentando alguns apontamentos sobre o trabalho docente na
Idade Média.
1.3. O trabalho docente na sociedade medieval
30
Para um aprofundamento na filosofia de Platão recomenda-se a leitura da obra A República,
e na passagem citada a seguir pensamos estar expressando um pouco do fio condutor do
pensamento platônico: “No mundo inteligível, a ideia do bem é a última a ser apreendida, e
com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que
de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz e o soberano
da luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é
preciso -la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública” (2004, p.
228).
42
A Idade Média é um período que se estende por aproximadamente mil
anos, indo desde a derrubada do Imrio Romano (476 d.C.) pelos povos
germânicos (bárbaros) até a tomada de Constantinopla (1453 d.C.) pelos
turcos otomanos. Trata-se de um período bastante abrangente e que teve na
economia agrária e de subsistência uma de suas principais características.
Enfatiza-se, também, o fato da vida encontrar-se impregnada pelo pensamento
clerical, ou seja, “o padrão do que era certo ou errado na atividade religiosa
não diferia das demais atividades sociais ou, mais importante ainda, do padrão
das atividades econômicas. As regras da Igreja sobre o bem e o mal
aplicavam-se a todos os setores, igualmente” (HUBERMAN, 1973, p. 47)
31
.
Assim sendo, cumpre assinalar conforme Bogdan Suchodolski, que o
cristianismo manteve, transformou e desenvolveu a concepção platônica.
Realçou ainda com mais força a oposição de duas esferas da realidade:
verdadeira e eterna por um lado, aparente e temporal por outro” (1984, p. 20).
Nesta perspectiva e dentro deste contexto, segundo Amarílio Ferreira Jr
e Marisa Bittar, passa-se das escolas que outrora tinham o objetivo de “formar
o cidadão, o político, aquele que governaria a pólis” para “as escolas paroquiais
e cenobiais que têm por “finalidade divulgar o logos, ou seja, formar os
cristãos” (2008, p. 233), em que “a verdadeira educação cumpre ligar o homem
à sua verdadeira pátria, a pátria celeste, e destruir ao mesmo tempo tudo o que
prende o homem à sua existência terrestre (SUCHODOLSKI, 1984, p. 20).
Acrescenta ainda que:
Além de educar segundo os preceitos religiosos do
cristianismo, as instituições educacionais do medievo
formavam quadros intelectuais e criavam uma hegemonia
cultural favorável à nobreza feudal, papel que coube
particularmente às escolas cenobiais. Elas tinham, entre
outras, a tarefa de transformar os oblatos, isto é, os meninos
oferecidos, nos intelectuais orgânicos que pensavam o
processo de reprodução do status quo da ordem feudal
(FERREIRA Jr; BITTAR, 2008, p. 233).
31
Para se entender o trabalho docente realizado na Idade Média, estudar Ruy Afonso da Costa
Nunes, que em sua obra História da Educação na Antiguidade cristã, põe “em relevo as
concepções pedagógicas dos Santos Padres”, que foram os “grandes doutores e escritores
cristãos dos primeiros séculos do Cristianismo, até o fim do mundo antigo” (1978, p. XI).
43
Com base nestes elementos, investiga-se sobre o modo como na Idade
Média organizava-se socialmente e apresenta-se elementos sobre o trabalho
docente nesse período, restringindo-se a tecer algumas considerações sobre
um de seus principais personagens, o filósofo Santo Agostinho; bem como
abordar os tipos de educação oferecida (com ênfase na educação monacal e
cavalheiresca).
1.3.1. Questões preliminares
Na Idade Média os escravos cedem lugar aos servos, pois, do mesmo
modo que os altos-fornos cessam de funcionar sem o fornecimento de carvão,
tal qual o sistema social fundado na escravidão acaba sem o fornecimento de
escravos
32
. Ao tratar, destas classes sociais, Marx afirma que, tal qual os
escravos, os servos o estavam separados das condições naturais e
inorgânicas e seu metabolismo com a natureza: o que acontece é que uma
parte da sociedade é tratada pela outra como simples condição inorgânica e
natural de sua própria reprodução” (1985, p. 82-83).
Portanto, busca-se explicar a transição do modo de produção
escravocrata para o feudal apoiando-se nas transformações que ocorreram na
base material.
À medida que os povos conquistados deixavam de fornecer
escravos e riquezas, mais aumentavam os impostos, as taxas, as
requisições. A miséria foi crescendo de tal forma, que a
exploração dos domínios enormes latifundia por verdadeiros
exércitos de escravos não produzia rendas compensadoras. O
cultivo em pequena escala voltou a ser o único que compensava,
o que é a mesma coisa que dizer que a escravidão se tornou
desnecessária. O escravo passou a produzir menos do que
custava a sua manutenção, e a partir desse momento ele
desapareceu como um sistema de exploração em grande escala
(PONCE, 2005, p. 83).
O mesmo autor acrescenta:
32
Constitui-se em uma fonte preciosa de estudo o livro de Perry Anderson Passagens da
Antiguidade ao Feudalismo, para quem desejar aprofundar-se neste assunto. Segundo este
autor, a crise da antiguidade tem sua origem no campo: “enquanto as cidades estagnavam ou
entravam em declínio, ocorriam na economia rural modificações de maior alcance, presságio
da transição para outro modo de produção. [...] nas condições recessivas do fim do império, o
trabalho escravo (sempre ligado a um sistema de expansão política e militar) foi-se tornando
cada vez mais escasso e incômodo e, por isso, foi sendo largamente convertido pelos
proprietários de terras em adscrição vinculada ao solo” (1980, p. 102).
44
Do ponto de vista dos donos da terra, a servidão representava
uma real vantagem sobre a escravidão. Era necessário um grande
capital para adquirir e manter os escravos necessários, ao passo
que a servidão não requeria nenhum gasto; o servo custeava a
sua própria vida, e todas as vicissitudes do trabalho corriam por
sua conta. A servidão constituía, pois, a única maneira de que o
patrão dispunha para tirar proveitos dos seus fundos, ao mesmo
tempo que também constituía o único modo dos que não
possuíam terras proverem o seu próprio sustento (idem, p. 85).
Convém, ainda que se diferencie o servo do escravo, pois, os servos,
apesar de estarem presos ao serviço total do seu senhor (não serem livres),
não podiam ser vendidos como uma simples mercadoria tal qual era feito com
o escravo
33
.
Pelo exposto, percebe-se que a escravidão tornou-se um mau negócio’
e, “com a insegurança advinda das invasões bárbaras e, posteriormente, pela
expansão muçulmana, as cidades foram se despovoando, perdendo sua
importância, e um processo começa a ocorrer: ruralização(ARANHA, 1989, p.
80). Nesta sociedade irá predominar as explicações teológicas sobre tudo o
que acontece na natureza e, serão os “homens da Igrejaos responsáveis para
decodificar os “desígnios de Deuse, como porta vozesdo criador de todo o
universo irão impor ao povo a “vontade divina”.
Ressalta-se também a dicotomia entre a pregação e a prática executada
pelos homens da Igreja, pois, apesar de anunciarem que todo poder é serviço,
pautando-se nas Escrituras Sagradas
34
, viviam na ostentação de riquezas, com
o serviço dos outros de tal modo que “entre os muitos senhores em que o
mundo antigo se desagregava, a Igreja se apresentou como um deles:
possuidora de terras e guerreira, da mesma forma que todos os outros”
(PONCE, 2005, p. 88).
Destaca-se que um dos instrumentos utilizados para a reprodução da
sociedade medieval é a educação, que ao partir da premissa de que o homem
era um pecador, concebido em pecado, precisava ser convertido e curado do
33
É de lembrar, no entanto, conforme Luiz Werneck Vianna, que sob o feudalismo não se pode
propriamente falar em direito e sim numa regulamentação do sistema de desigualdades sociais
existentes, face à ausência de um estatuto jurídico formal e comum a todos(1976, p.12).
34
No evangelho de São Marcos, por exemplo, pode-se ler: “aquele que dentre vós quiser ser
grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de
todos. Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos” (10, 43-45); Cf. Bíblia de Jerusalém, 1995.
45
pecado original e dos outros, posteriormente cometidos, em decorrência deste.
A relevância disso adm, na medida em que o homem para adentrar no
paraíso, necessitava sobretudo da purificação da própria alma, salvando-a e
elevando-a junto de Deus.
A partir destas considerações, intenta-se ater um pouco mais sobre a
organização social da Idade Média, no intuito de explicitar algumas das
características da educação e, por conseguinte, do trabalho docente nesse
período.
1.3.2. A organização social da Idade Média
Inicialmente, pode-se afirmar conforme Leo Huberman que a sociedade
feudal era dividida basicamente em três classes: “sacerdotes, guerreiros e
trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava produzia para ambas as
outras classes, eclesiástica e militar” (1973, p. 11). A partir dessa constatação,
acrescenta-se que a sociedade medieval “era também uma sociedade
governada pela autoridade política, religiosa e cultural, representada no grau
máximo pelo imperador e pelo papa, que eram os avalistas da ordem social e
cultural, como também os intérpretes e os mbolos da ordem do cosmos,
estabelecida pelo ato divino da criação” (CAMBI, 1999, p. 196). Em tal modelo
de organização social, entende-se, que alguém “tinha que pagar pelas
diversões e coisas boas que os cavaleiros e damas desfrutavam. Também
alguém tinha que fornecer alimentação e vestuário para os crigos e padres
que pregavam, enquanto os cavaleiros lutavam (HUBERMAN, 1973, p. 11).
Pode-se dizer, segundo Sérgio Buarque de Holanda, que:
A Idade Média mal conheceu as aspirações conscientes para uma
reforma da sociedade civil. O mundo era organizado segundo leis
eternas indiscutíveis, impostas do outro mundo pelo supremo
ordenador de todas as coisas. Por um paradoxo singular, o
princípio formador da sociedade era, em sua expressão mais
nítida, uma força inimiga, inimiga do mundo e da vida (1995, p.
34).
É interessante notar que o clero era formado pelos membros da Igreja;
os guerreiros eram os nobres que tinham domínio das terras; e os
trabalhadores, em sua maioria, eram os servos. Das obrigações que os servos
46
tinham para com o seu senhor feudal e a Igreja, assinala-se: talha (metade da
produção do servo devia ser destinada ao senhor feudal), banalidades (imposto
pago pelo servo para utilizar o forno, o moinho etc, do senhor feudal), corvéia
(eram os três ou quatro dias que o servo devia trabalhar nas terras do senhor
feudal) e tostão de Pedro (Dízimo: dez por cento do resultado da produção do
servo era destinado à Igreja).
Segundo Huberman: “Dizia-se comumente do período feudal que não
havia ‘senhor sem terra, nem terra sem um senhor’” (1973, p. 12). Assim, numa
sociedade fundada na economia agrícola e de subsistência, a terra é tida como
símbolo máximo de poder. No modo de produção feudal, a condição dos
homens é determinada pela sua relação com a terra: os que são proprietários
(nobreza e clero) m poder e liberdade. No outro extremo se encontram os
servos da gleba, os despossuídos” (ARANHA, 1989, p. 81). Neste sentido,
destaca-se, que a Igreja além de possuir o poder espiritual (pensamento
dominante) se tornou proprietária de quase metade das terras cultiváveis na
Europa (domínio econômico). Para manter-se nos seus privilégios o clero
contava com o trabalho de ensino, isto é, “todo o trabalho dos pensadores, dos
grandes construtores de sistemas, não significava outra coisa senão o
empenho em disfarçar, quanto possível, esse antagonismo entre o Espírito e a
Vida” (HOLANDA, 1995, p. 34).
E sobre alguns dos motivos que explicitam o vertiginoso enriquecimento
da Igreja na Idade Média aponta-se:
A Igreja foi a maior proprietária de terras no período feudal.
Homens preocupados com a espécie de vida que tinham levado e
desejosos de passar para o lado direito de Deus antes de morrer,
doavam terras à Igreja; outras pessoas, achando que a Igreja
realizava uma grande obra de assistência aos doentes e aos
pobres, desejando ajudá-la nessa tarefa, davam-lhe terras; alguns
nobres e reis criaram o hábito de, sempre que venciam uma
guerra e se apoderavam das terras do inimigo, doar parte delas à
Igreja; por esses e por outros meios a Igreja aumentava suas
terras, até que se tornou proprietária de entre um terço e metade
de todas as terras da Europa ocidental (HUBERMAN, 1973, p.
22).
47
Aos poucos a Igreja foi se tornando muito rica e suas regras de
comportamento moral e social foram disseminados entre os moradores dos
feudos, comportando-se de modo similar à todos os outros senhores feudais.
Destaca-se, ainda, que por meio da obrigatoriedade das confissões,
acontecia o controle da Igreja, pois, este permitia que o clero tomasse
conhecimento de quase tudo o que ocorria nos feudos (vastas extensões de
terra em que se praticava a agricultura, o extrativismo, a ca e a criação de
animais)
35
. Com base em Friedrich Engels, ironicamente pode se perceber que
a Igreja ao adquirir cada vez mais terra e poder, distanciou-se na prática
daquilo que pregava e apesar de proclamar o Evangelho e a defesa da vida
divina, na sua prática a negava, de modo que, “simplesmente, eles deram cabo
de Deus, vivem e pensam no mundo real, são materialistas” (1981, p. 143).
Importa ressaltar, três pontos: a) que a sociedade do medievo era
estamental, isto é, nela não havia mobilidade social, sendo assim, os filhos
tinham sua vida traçada em função de seu nascimento, onde por inúmeras
gerações alguém que nascia servo iria continuar servo, pois, os filhos ao
herdarem os pedaços de terras dos seus pais, herdavam todos os seus
compromissos; b) a influência exercida pela Igreja se estendia sobre todos os
âmbitos do modo de organização da vida na Idade Média; c) o predomínio da
idéia (forma) frente à matéria, explicitado pela filosofia aristotélica desse
período que diz:
A matéria é passiva, variável, neutra; a forma é ativa, duradoura, e
um aspecto qualitativamente definido. A ‘forma’ do homem é a
atividade, uma atividade específica. Não a que possui à
semelhança de plantas e animais, mas a atividade pensante. Esta
‘forma’ molda a ‘maria’ e cria o homem. Há, portanto, uma forma
para cada homem. A tarefa da educação consiste em atuar da
mesma maneira em todos (SUCHODOLSKI, 1984, p. 21).
Após a colocação de tais questões, buscar-se-á à compreensão da
educação na sociedade medieval.
1.3.3. O trabalho docente realizado na sociedade medieval
35
Contribui para o entendimento da sociedade medieval a narrativa realizada por Umberto Eco
intitulada de O Nome da Rosa, que retrata fatos que supostamente teriam acontecidos em um
mosteiro medieval.
48
Nos primórdios do feudalismo, segundo Huberman, a Igreja “preservou
muito da cultura do Império Romano. Incentivou o ensino e fundou escolas
(1973, p. 23)”. Nota-se que o trabalho docente na sociedade medieval articula-
se com os interesses da Igreja, detentora de enorme poder material e
monopolizadora no âmbito da mentalidade. Assim, com regras estabelecidas
nas Sagradas Escrituras, a atividade do homem é guiada por esta e tem por
escopo fazer o que O Mestre mandar e os êxitos ou fracassos das ões do
homem ligam-se à questão da Providência Divina” (Sb 14,3; Hb 11,6 - cf.
Bíblia de Jerusalém, 1995). Deste modo, compreende-se que o criação
independente na atividade do homem; esta não é mais do que um meio pelo
qual o ideal da verdade e o ideal do bem, autoritários e dogmáticos, devem
formar a natureza corrompida do homem” (SUCHODOLSKI, 1984, p. 22). -
se, assim, à influência que a Igreja exerce na questão do domínio das
mentalidades, viabilizado por Santo Agostinho, um dos pilares do pensamento
deste período.
Gionanni Reale e Dario Antiseri relatam que “Aurélio Agostinho nasceu
em 354 em Tagasta, pequena cidade da Numídia, na África. Seu pai, Patrício,
era um pequeno proprietário de terras” (1990, p. 428). Canonizado - pelos
préstimos prestados a Igreja - teve forte influência sobre o pensamento
medieval por meio de sua vida e principalmente com seus escritos, dentre os
quais destaca-se: Cidade de Deus (parte I), Cidade de Deus, contra os pagãos
(parte II), A Doutrina Cristã, De Magistro, entre outros. Sem fazer nítidas
divisões cronológicas, René Latourelle e Rino Fisichella ressaltam que em
Santo Agostinho,
de início, prevalece claramente o interesse apologético, no sentido
de que, em face do racionalismo maniqueu, mais ostentado que
verdadeiro, e em face das críticas pagãs ao reclamado caráter
divino da religião cristã, no neoconvertido prevalece a obsessão
de defender a racionalidade da e a credibilidade da revelação
cristã. Mais tarde, a atenção desloca-se para os aspectos mais
propriamente teológicos e antropológicos da revelação: como
salvaguardar a simplicidade e a imutabilidade de Deus, a
dimensão trinitária, a natureza e a economia da revelação (1994,
p. 37).
Influenciado abundantemente pelo filósofo Platão, Santo Agostinho
compreende o homem como corpo e a alma, e estabelece que o primeiro é o
49
cárcere do segundo. A partir disso, têm-se os castigos aplicados ao corpo - tido
como um instrumento de pecado - para a libertação da alma. E, assim, dá-se a
relevância da austeridade e a rudeza como expressões simbolizadoras do bem
em detrimento do riso e da alegria compreendidas como encarnações do
demoníaco. Esta atitude levará, por exemplo, a proibição da obra de Aristóteles
que trata da felicidade, conforme demonstra o livro de Humberto Eco O Nome
da Rosa. Esta obra procura retratar, dentre outras coisas, os valores que
deviam ser enaltecidos e aqueles que deviam ser reprimidos e se possível
extintos dentro da “cultura medieval”.
Pode-se dizer que a educação e, por conseguinte, o trabalho docente
estará à serviço da teologia, pois, desempenharão como papel precípuo
conduzir os homens em direção à Deus. Em sua obra Confissões, Santo
Agostinho define o único caminho para a Verdade ao escrever sobre si mesmo:
“buscava um meio para me prover de forças a fim de ser apto para gozar-Vos,
mas o o encontraria, enquanto não abraçasse ‘o mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo Homem-Deus, bendito por todos os séculos, que es
acima de todas as coisas(1992, p. 159). Em De Magistro (do mestre), Santo
Agostinho realiza um diálogo com seu filho Adeodato em que ambos
perscrutam a finalidade da fala. Importa ressaltar que este diálogo se reporta
aos anos de 388 e 391 d.C, quando Agostinho se batiza em Tegaste (sua terra
natal) e passa a dedicar o seu trabalho à Deus. Nesta obra, escrita após a
morte de seu filho Adeodato, Agostinho explicita o seu lado paterno ao lado do
educador ao demonstrar sua preocupação com a educação e formão de
Adeodato que na época tinha apenas 16 anos. Ela se constitui num importante
alicerce para a edificação da doutrina em Santo Agostinho. A influência
platônica pode ser observada ao analisarmos a estrutura do diálogo De
Magistro e sua semelhança com o diálogo socrático-platônico. Por ora, é
relevante perceber neste diálogo, a conclusão apontada de que o único e
verdadeiro Mestre, o “Mestre de todos está no céu” (AGOSTINHO, 1973, p.
355). Sendo assim, precisamos compreender que a verdade está escrita nos
livros sagrados, e se, depois, foi dita a verdade, isto no-lo pode ensinar
somente Aquele que, falando por fora, avisa que habita dentro de nós; Aquele
que, pela sua graça, hei de amar tanto mais ardorosamente quanto mais eu
progredir no conhecimento” (idem, p. 356). Logo, para Agostinho, basta
50
somente consultarmos o que nos ensina Deus por meio dos homens, com
sinais exteriores, para nos voltarmos interiormente a Ele.
Percebe-se, por conseguinte, a contribuição dada por Agostinho para
que a Igreja monopolizasse o trabalho docente ao século XIII articulando-o
aos seus interesses de acordo com as necessidades de cada período. Para os
que não tinham as condições sociais e materiais para freqüentarem as escolas
havia as peregrinações e as festas dos santos de guarda, onde era uma
obrigação interromper o trabalho para assistir às cerimônias religiosas. Nessas
ocasiões, os sermões das missas funcionavam como um canal de divulgação
das idéias clericais, “aliás, as ordens mendicantes são famosas pelos
pregadores de discurso cil e inflamado pintando, com tintas fortes, a
recompensa divina e o castigo dos infernos” (ARANHA, 1989, p. 90). Constata-
se, neste sentido, que “estamos diante de uma educação informal que,
sobretudo numa sociedade analfabeta, desempenha um papel realmente
fundamental” (CAMBI, 1999, p. 181).
A partir do séc. V, devido as incursões dos povos germânicos
(bárbaros), restou as escolas e “mosteiros da educação” cristã primitiva. Entre
os mosteiros cumpre contar, em primeiro lugar, os da ordem beneditina
36
, e
que no período medieval atingem o máximo desenvolvimento, até tornarem-se
pólo da educação monástica ocidental. Lorenzo Luzuriaga, ao referir-se à estes
mosteiros, assinala: “nos mosteiros, o essencial era, naturalmente, a vida
religiosa, e só subsidiariamente a cultural e educacional. Por isso, seu aspecto
intelectual era mui reduzido; mas, em compensação, era mui elevado o aspecto
moral e espiritual”(2001, p. 79). E, neste sentido acrescenta Paul Monroe:
“exceto para a preparação dos próprios monges ou da juventude consagrada à
vida monástica, os mosteiros pouco fizeram durante diversos séculos para a
instrução de qualquer espécie e o que fizeram foi principalmente de caráter
religioso” (1970, p. 109).
Segundo Manacorda a partir dos mosteiros o nasce uma nova
condição social do trabalho, pois, o trabalho fundamental para a subsistência
deste, o cultivo do campo, era realizado portrabalhadores agrícolas que
36
Segundo Arranha: “a Ordem Beneditina pode ser considerada a primeira ordem monástica,
em importância, na Idade Média. Foi fundada por São Bento, no século VI (529), em Monte
Cassino, na Itália” (1989, p.83)
51
trabalham nas propriedades do mosteiro nas mesmas condições em que
trabalhariam para os remanescentes patrões romanos ou para os novos
patrões bárbaros (1992, p. 121). E foi nestas condições que os monges
tiveram tempo para dedicarem-se a cópia de manuscritos e a conservação do
saber. “Este trabalho de copista não era simplesmente mecânico, mas visava
tamm produzir um resultado intelectual e moral” (MONROE, 1970, p. 110).
Deste modo, é certo que nos séculos X e XI, não só grande parte da
população era analfabeta; também os nobres ignoravam os rudimentos do
ensino elementar, embora para muitos sempre fosse desprezível gastar tempo
em livros e estudos (LARROYO, 1982, p. 303). No entanto, é inegável o
serviço prestado pelo monaquismo, que deixou como herança as sete artes
liberais, a saber, o trivium (gramática, retórica e dialética) e o quatrivium
(aritmética, geometria, música e astronomia). De acordo com Paulo Monroe,
apesar da Idade Média possuir “em esboço todo o saber dos poucos séculos
anteriores e sucessores; mas em seu conteúdo este saber era
incomensuravelmente mais pobre do que o da era precedente ou seguinte”
(1970, p. 112). Perante a um mar de analfabetos, portanto, cumpre enfatizar:
“tudo que de saber e de literatura antigos temos hoje devemos, em grande
parte, aos monges. Mesmo o que os árabes acrescentaram durante os últimos
tempos da Idade Média nos veio por intermédio dos monges” (idem, p. 111).
Sobre a “educação cavalheiresca”, os dados apontam que “esta nasce
a partir do século IV reunindo grupos armados irregulares que, colocando-se
fora da lei e agindo com violência e crueldade, perturbavam a vida da societas
christiana, dando voz a inquietudes sociais” (CAMBI, 1999, p. 160). Acrescenta
Manacorda que o ensino cavalheiresco se referia “essencialmente a
preparação para o exercício do poder, ou melhor, para aquele aspecto do
poder que é o ‘fazer’ das classes dominantes, a guerra” (MANACORDA, 1992,
p. 190).
Ao tratar sobre a educação cavalheiresca, Luzuriaga afirma:
De origem germânica, a cavalaria constitui um tipo de organização
em parte coincidente com o feudalismo. Por ela os cavaleiros se
vêem livres dos trabalhos econômicos e podem dedicar toda a
atividade a outros fins. O principal deles é o serviço do Príncipe,
do Estado, em sua forma rudimentar; daí nasce a necessidade do
valor, da coragem que todo cavaleiro deve ter (2001, p. 83).
52
Os senhores feudais, tendo como interesse aumentar suas riquezas se
utilizavam do saque e violência. Neste peodo, a profissão do nobre era a
guerra, era natural um senhor feudal assaltar o domínio dos seus adversários.
No entanto, “ninguém nascia cavaleiro. Tal dignidade se alcançava mediante
um longo aprendizado e uma cerimônia. Além disso, constituía privilégio; era
necessário pertencer a uma classe social” (LARROYO, 1982, p. 303).
Nesse período, pode-se dizer que os torneios eram um instrumento de
preparação para a guerra, onde a educação cavalheiresca acontecia.
A educação do cavaleiro realizava-se, quando menino, no seio da
família, no próprio palácio. Aos seis ou sete anos era mandado,
para a corte, para o palácio de outro cavaleiro, e ficava
principalmente ao serviço das damas como pajem. Aos quatorze
ou quinze passava a escudeiro, e acompanhava o senhor nas
guerras e a senhora no castelo, nas horas de paz. Aos vinte e um
era armado cavaleiro em cerimônia especial e adquiria, então,
personalidade independente, posto fosse, às vezes, vassalo ou
tributário de outro cavaleiro (LUZURIAGA, 2001, p. 84).
Compreende-se, deste modo, que a educação do cavaleiro possuía
ideais e objetivos diversos daqueles ofertados pela educação dos mosteiros.
Tanto é que ela se resumia, “em oposição as sete artes liberais da educação
monástica, as sete perfeições do cavaleiro. Estas eram: cavalgar, atirar com o
arco, lutar, caçar, nadar, jogar xadrez e versificar” (LARROYO, 1982, p. 306).
No entanto, com as transformações econômicas e o desenvolvimento do
comércio, ocorreu o aparecimento da burguesia, que teve nos camponeses
(servos e colonos) e no rei aliados para se contraporem ao poder dos senhores
feudais. Deste modo, associados em corporações de ajuda mútua, os
burgueses massacraram alguns senhores feudais religiosos e leigos” (PONCE,
2005, p. 98). Soma-se, ainda, o aparecimento do dinheiro que favoreceu o
desenvolvimento das trocas comerciais e contribuiu para que o servo se
tornasse mais independente diante de seu senhor feudal, pois, podia pagar
pelos dias que devia trabalhar nas terras senhoriais.
Assim, “já no curso do século XV, a Cavalaria era uma instituição em
crise, marginalizada pelo renascimento da cidade e pelo fim dos aspectos
‘barbaros’ da vida social” (CAMBI, 1999, p. 162). Além disso, “perdido nas
53
solidões rurais, o monastério não podia servir de sustentáculo para a
hegemonia da Igreja, numa época em que o comércio que nascia nas cidades
comava a exigir outra escie de instrução” (PONCE, 2005, p. 98).
Conclui-se, deste modo, que a “ordem medieval se desmoronou em sua
estrutura social e política, em consequência das modificações nas relações de
produção, frente às novas exigências de produção dos valores e de
intercâmbio de mercadorias” (FALEIROS, 1980, p. 10).
Embora apresentados de modo sucinto, os elementos expostos acima
apontam para a compreensão do trabalho docente articulado com os interesses
das classes sociais vigentes, aqui no caso, da sociedade medieval. Os estudos
evidenciaram, que as relações sociais medievais pautavam-se na ruralização,
em uma economia de subsistência, estamental e rigidamente hierarquizada;
decorrente disto não se julga absolutamente necessário ensinar as letras aos
camponeses(ARANHA, 1989, p. 90) e, sim, formá-los no cristianismo para
que compreendam que Deus determinara a cada um o seu lugar: os que
rezam para obter a salvação a todos, os que combatem para todos defender, e
os que trabalham para o sustento de todos” (PONCE, 2005, p. 90). Destaca-se,
ainda, que o cultivo do conhecimento da leitura e da escrita tinham pouca ou
nenhuma importância para o camponês medieval.
No entanto, com “o advento do capitalismo mercantil” e sua combinação
com o “humanismo renascentista e com a Reforma Protestante no século XVI
deu um outro alento a escola de Estado” (FERREIRA Jr & BITTAR, 2008, p.
233). Tendo isso em apreço, ao analisar o trabalho docente na Idade Moderna,
ressaltamos dois dos principais educadores: Jean Amos Comenius e Jean
Jacques Rosseau.
1.4. O Trabalho docente na Idade Moderna
A tomada de Constantinopla, em 1453, marca o início a Idade Moderna,
que vai até a Revolução Francesa, em 1789. Sobre esse período Franco
Cambi afirma: “fecha-se um longo ciclo histórico e prepara-se outro, igualmente
longo e talvez ainda inconcluso, que é geralmente designado como
Modernidade” (1999, p. 105).
Quanto a essa afirmão, Monroe fala que a transição entre a velha
cultura e a nova nunca ocorreu de modo repentino, isto é, lentamente se
54
construiu o espírito renascentista. Segundo ele, mesmo em face ao surgimento
e triunfo do novo espírito não acarretou o desaparecimento do velho e isso,
“tanto nos interesses educativos quanto nos mais amplos que envolvem o
intelecto e o espírito humanos, os velhos métodos de pensamento, e as velhas
idéias e ideologias continuaram ativos por muitos séculos” (MONROE, 1970, p.
148). Trata-se da permanência na transformão, da história enquanto um
processo em que o “momento novo” sempre entendido como resultado de
múltiplas determinações - supera e, necessariamente, não elimina por
completo o “momento que passou”. No âmbito da educação, percebe-se o
embate entre a Pedagogia da Esncia e a Pedagogia da Existência.
Por ora, afirmamos ainda, que a superação também não implica
necessariamente em uma evolução para o melhor, entendendo a história em
seus avanços e recuos, como enfatizamos ao iniciar este primeiro capítulo.
Nesse enfoque, apresentamos algumas questões preliminares, afim de
compreender o modo com que se organizou a sociedade moderna e, a partir
disso, apresentar o ensino e o trabalho docente realizados nesse período,
tendo como pametro as contribuições de Comenius e Rousseau, dois
importantes referenciais, conforme já assinalamos.
1.4.1. Questões preliminares
Primeiramente, cumpre ressaltar o êxito das Cruzadas do ponto de vista
comercial: a retomada do Mediterrâneo das mãos dos Muçulmanos, o
deslocamento dos mercadores com suas mercadorias de feira para feira, a
regulamentação destas feiras, a segurança para os mercadores e o salvo
conduto de poderem ir e vir, o dinheiro e a facilitação para o desenvolvimento
do comércio, os acordos destes mercadores com o senhor da cidade etc. Sem
vida estes o alguns motivos que explicitam a complexificação do comércio
e sua intensificação na Europa. E, neste horizonte de análise,
à medida que o riacho irregular do comércio se transformava em
corrente caudalosa, todo pequeno broto da vida comercial,
agrícola e industrial recebia sustento, e florescia. Um dos efeitos
mais importantes do aumento no comércio foi o crescimento das
cidades (HUBERMAN, 1973, p. 35).
55
Percebe-se, desse modo, o longo percurso que levou a Renascença
para florescer. Apesar da ênfase à questão do Renascimento não se pode
deixar de ressaltar a sua ligação com outros acontecimentos nele imbricados
“que não se esgotam improvisadamente: a Reforma, a Contra-Reforma, a
utopia, a revolução” (MANACORDA, 1992, p. 193). No limite, somente dentro
de um processo dialético pode-se melhor compreender o Renascimento.
Assim sendo, observa-se, de acordo com João Carlos da Silva, que o
Renascimento “foi, em sua essência, um esforço de elaborar um universo
sacralizado, portanto, a instauração de um novo homem religioso, garantindo a
ele um espaço sagrado. A Renascença reencontrou e revalorizou o paganismo
numa tentativa de comparar o homem religioso do mundo moderno ao da
Antiguidade” (2003, p. 47). Por conseguinte, nota-se que os renascentistas
eram antes de tudo antropocêntricos, isto é, compreendiam o homem como
centro dos interesses e preocupações. E, conforme Suchodolski, visualizou-se
a possibilidade da formulação “de juízos sobre as instituições concretas e sobre
as leis em vigor, sobre os atos e os homens concretos; podia-se distinguir o
que no homem e no mundo que o rodeia é digno de ser respeitado e
conservado e o que é contra a Natureza devendo ser eliminado” (1984, p.30).
Contudo, apesar de posta como modelo supremo a natureza, não punha em
questão a realidade empírica do homem. Em suma o sistema natural visava
“destruir o que na vida real dos homens violava os princípios da ordem natural
e combater as aspirações audaciosas que punham em dúvida a existência de
tais princípios e tendiam para a conquista da liberdade no domínio do
pensamento e da moral” (idem, 1984, p. 31). Passa-se, deste modo, do
domínio da fé para o domínio da razão.
A questão não era de ver se Deus ou o homem era mais importante,
uma vez que aceitavam a noção do homem enquanto criatura e um pecador
miserável. Entretanto, os renascentistas enfatizavam, conforme a narrativa
Bíblica, que “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o
criou, homem e mulher ele os criou” (Gn 01, 27), logo, tinha alguma coisa de
divino dentro dele. Sendo assim, passam a valorizar a capacidade criativa do
homem exercitando-a na construção de prédios, máquinas, obras de arte,
teorias filosóficas, navios e buscavam, deste modo, colocar em prática o
preceito bíblico que diz: “sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e
56
submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os
animais que rastejam sobre a terra” (Gn 01, 28; cf. Bíblia de Jerusalém). Vale
lembrar que esta compreensão que exalta a atividade do homem é
fundamental para o avanço do modo de produção capitalista. Com isso,
destacamos a mudança no critério de verdade que antes estava centrada na
autoridade Papal e agora, com os renascentistas, passa a ter como critério a
observação e experimentação racional
37
.
Dada estas considerações, apresentamos um esboço sobre a
organização da sociedade moderna. Por tratar-se de um panorama geral do
trabalho docente na história, optou-se por dissertar sobre algumas das
mudanças educacionais, centrando em dois dos grandes “educadores do
período moderno: Comenius e Rousseau.
A opção por Comenius deve-se ao fato da experiência pedagógica ter-se
apropriado dos seus ensinamentos e com isso enriqueceu-se e aprofundou-se.
Este autor é destacado, por ter sido quem talvez, pela primeira vez elaborou
um sistema pedagógico completo, “que partia de considerações sobre os fins
da educação para chegar ao estudo dos meios e instrumentos didáticos”
(ABBAGNANO, 2003, p. 748). Para Bogdan Suchodolski, “Jean Amos
Comenius (1593-1670) foi precisamente o criador de um sistema pedagógico
dependente da Natureza. O carácter deste sistema é, ainda hoje, objeto de
confusões fundamentais” (1984, p. 31). Verifica-se também que Comenius
continuou a tradição do Renascimento, buscando tornar o ensino escolar mais
agravel, baseando-se na filosofia empírica de seu tempo, conectado ao
princípio da religião natural, política de estado e legislatura baseados no direito
natural
38
.
A escolha por Jean Jacques Rousseau, por sua vez, justifica-se pelo fato
de ser um dentre “os fisofos do chamado século das luzes, que preconizavam
a difusão do saber como o meio mais eficaz para se pôr fim à superstição, à
ignorância, ao império da opinião e do preconceito, e que acreditavam estar
37
A respeito destas transformações no campo da ciência, sugerimos, dentre outros, a leitura da
obras de Francis Bacon, Novo Organun (1620): Verdadeiras indicações acerca da
interpretação da natureza, 3ª edição, São Paulo: Abril Cultural, 1984.
38
Cf. Bogdan Suchodolski, a noção de natureza em Comenius não tem significado empírico na
acepção em que se considera o homem tal como é concretamente. Pois, para Comenius, “por
Natureza não entendemos a corrupção que, a partir da Queda, atingiu todos os homens... mas
o nosso sistema espiritual original e essencial, ao qual devemos ser conduzidos como a um
estado preliminar” (Suchodolski, 1984, p. 32).
57
dando uma contribuição enorme para o progresso do espírito humano”
(NASCIMENTO, 2008, p. 189). Assinala-se, ainda, a influência que este filósofo
teve no processo que desencadeou na Revolução Francesa, bem como o
inegável valor pedagógico de sua obra Emílio, ou, Da Educão.
Destarte, com o propósito de demonstrar a inter-relação entre trabalho
docente, pensamento dominante e modo de organizão social, apontamos
alguns elementos que caracterizam a sociedade moderna.
1.4.2. A organização social na Idade Moderna
Pode-se dizer que uma das características deste período é o surgimento
dos Estados Nacionais, o fortalecimento da burguesia e a expansão marítimo-
comercial. Os Estados Nacionais referem-se à aliança entre rei e a crescente
burguesia, no qual o primeiro deixa de ser simplesmente um grande nobre,
passando a centralizar o poder político (de mando) sobre rios feudos. Com
isso, as inúmeras leis existentes de acordo com cada feudo são substituídas
por leis nacionais, válidas para todos os que habitavam no território de domínio
do rei. Este fato contribuiu para viabilizar e potencializar o desenvolvimento do
comércio, pois, para tramitar de um feudo para outro os mercadores (a
burguesia comercial) o necessitavam mais ficar pagando tarifas
alfandegárias aos senhores feudais. Sobre estas transformões, Franco
Cambi, assinala também que no final dos “anos Quatrocentos, quando a
Europa se laiciza economicamente (com a retomada do comércio) e
politicamente (com o nascimento dos Estados Nacionais e sua política de
controle sobre toda a sociedade)” (CAMBI, 1999, p. 196) tamm,
ideologicamente, separa-se o mundano do religioso.
Contudo, trata-se de um processo e, portanto, apesar de todas estas
transformações, ocorridas por volta do século XV e XVI, a esmagadora maioria
dos europeus continua a viver no trabalho de cultivar o campo (é lento o
processo em que estes vão se deslocando para a cidade). Sendo assim, é
natural supor que estes continuassem por um tempo longo e considerável,
submetidos às obrigações feudais e que o processo de urbanização caminhou
concomitantemente com o da industrialização e fuga do homem do campo.
Dentre uma série de fatos hisricos e sociais que contribuíram para o
processo que conduziu-nos aa modernidade, destacam-se:
58
a) o grande Cisma (1378), que debilitou a autoridade e favoreceu
a Reforma; b) a Guerra dos Cem Anos (1328-1453), com todo o
cortejo de consequências que um evento bélico de tal natureza
provoca; c) as Grandes Invenções e os Descobrimentos
Geográficos. A bússola propiciou viagens mais arrojadas e
conquistas de novas terras; como resultado, a ciência, a técnica e
o comércio beneficiaram-se enormemente. A pólvora transformou
a arte da defesa e do ataque e abriu perspectivas para a indústria
ainda em embrião. A imprensa e o papel acarretaram sensíveis
mudanças no mundo da cultura: livros passaram a ser impressos
e distribuídos, semeando frutos de vida e de morte (ROSA, 2009,
p. 117).
Os Estados Nacionais
39
e a centralização política incentivou o
mercantilismo que predominou entre os séculos XV e XVIII, caracterizado como
um conjunto de idéias e práticas econômicas beficas para o Rei e a
burguesia comercial. A união entre os interesses da burguesia mercantil, aliada
aos interesses do rei em expandir os seus terririos e da religião em
conquistar novos fiéis impulsionou as grandes navegações (iniciada no século
XV), que contornou a África, alcançou o oriente e aportou na América. Os
resultados destas grandes incures além-mar foi a acumulação de riquezas
advindas do comércio. Buscava-se, principalmente, por metais preciosos (ouro
e prata, principalmente) e o comércio vantajoso das especiarias. Todavia, não
se pode esquecer que por trás disso tudo, encontra-se a força de trabalho
humano e a sua capacidade de produzir um excedente que, por sua vez,
possibilita a ampliação da produtividade. Por conseguinte, “do ponto de vista do
capitalista, esta potencialidade multilateral dos seres humanos na sociedade é
a base sobre a qual efetua-se a ampliação do seu capital” (BRAVERMAN,
1980, p. 58).
Constata-se, desta forma, com base nas palavras de Marx e Engels, que
“impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade o
globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar
39
Para a compreensão dos Estados Nacionais, recomenda-se a leitura do livro de Luciano
Gruppi Tudo começou com Maquiavel: as concepções de Estado em Marx, Lênin e Gramsci,
Porto Alegre: L&PM, 1987. Ver também a obra de Thomas Hobbes Leviatã ou a Matéria,
Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, tradução Rosina D’Angina; consultor jurídico
Thélio de Magalhães. São Paulo: Ícone, 2000. Nesta obra o autor justifica um poder absoluto
em função das “Leis da Natureza (tais como Justiça, Eqüidade, Modéstia, Piedade, que
determinam que façamos aos outros o que queremos que nos façam), são contrárias às
nossas Paixões naturais, que nos inclinam para Parcialidade, Orgulho, Vingança e outras, se
não houver o Temor de algum Poder que obrigue a respeitá-las (2000, p. 123).
59
vínculos em toda parte” (1987, p. 79). Ressalta-se, nesta perspectiva, que “a
propriedade capitalista típica será o mais a terra e sim a propriedade dos
instrumentos de produção (que não são dádivas da terra) e do sobre-trabalho.
Assim, a propriedade burguesa não é só alguma coisa para possuir, para
usufruir, mas, sobretudo para vender, para trocar” (BUFFA, 1991, p. 15). É
importante salientar que para os membros da classe burguesa, a única
atividade que de fato conta, segundo Berman Marshall, com base em Karl Marx
“é fazer dinheiro, acumular capital, armazenar excedentes; todos os seus
empreendimentos são apenas meios para atingir esse fim, não m em si
senão um interesse transitório e intermediário” (1986, p. 92).
Pode-se afirmar que o desenvolvimento (crescimento e fortalecimento)
do comércio desembocou no surgimento da Revolução Industrial (1750) que
ocorre junto com a exploração do trabalho infantil, das mulheres, da classe
trabalhadora assalariada. Nada podia frear o trabalho das indústrias, que iriam
se utilizar de quaisquer meios para atingir o seu fim, que é o lucro a qualquer
preço. Assim sendo, compreende-se que “a burguesia submeteu o campo ao
domínio da cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente
a população das cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma
grande parte da população do embrutecimento da vida rural” (MARX; ENGELS,
1987, p. 80). Pois, de acordo com Harry Braverman, o capitalista sabe que seu
lucro depende da compra do tempo da foa-de-trabalho (porção variável) que
encarece a produção. Logo, “torna-se portanto fundamental para o capitalista
que o controle sobre o processo de trabalho passe das mãos do trabalhador
para as sua próprias” (1980, p. 59).
Por conseguinte, deste modo, aos poucos o modo de produção
capitalista vai se constituindo, “como a estrutura hierárquica, a mediação da
função do capital que é a exploração da força-de-trabalho para obtenção de
mais-valia
40
(FÉLIX, 1987, p. 45). Em O Capital, Marx analisa exaustivamente
e concomitantemente as dimensões histórica e gica da expansão capitalista.
Sobre O Processo de Produção do Capital, Marx, no volume I, Livro primeiro,
40
Segundo Tom Bottomore, “a extração de mais-valia é a forma específica que assume a
EXPLORAÇÃO sob o capitalismo, a differentia specifica do modo de produção capitalista, em
que o excedente toma a forma de LUCRO e a exploração resulta do fato da classe
trabalhadora produzir um produto líquido que pode ser vendido por mais do que ela recebe
como salário” (2001, p. 227, grifos do autor). Em resumo a mais-valia é o trabalho não pago ao
trabalhador.
60
explicita a origem e o funcionamento da manufatura em que muitos
trabalhadores passam a trabalhar no mesmo local de trabalho, pois, “o
costureiro, o serralheiro, o correiro etc., que se ocupam apenas com a feitura
de carruagens, perdem pouco a pouco com o costume a capacidade de
exercer seu antigo ofício em toda sua extensão” (1985, p. 254). Por suposto,
“na manufatura a prodão de uma mercadoria, que antes resultava do
trabalho de um artesão, é subdividida em vários passos, consumindo o
trabalho de vários artesãos, cada um deles realizando uma operação
específica até chegar ao produto final” (FRANCO, 1987, p. 09). Por tudo isso,
pode-se afirmar que a “Revolução Industrial garantiu a vitória do projeto
societário burguês” (FERREIRA Jr & BITTAR, 2008, p. 234).
Com efeito, destaca-se que a Idade Moderna apresenta-se
como revolução social, promove a formação e a afirmação de uma
nova classe: a burguesia, que nasce nas cidades e promove o
novo processo econômico (capitalista), assim como delineia uma
nova concepção do mundo (laica e racionalista) e novas relações
de poder (opondo-se à aristocracia feudal e aliando-se à coroa,
depois entrando em conflito aberto também com esta e com seu
modelo de Estado-patrimonial e de exercício absoluto do poder)
(CAMBI, 1999, p. 197).
Deste modo, os burgueses “produziram novas imagens e paradigmas,
vívidos, da vida boa como a vida de ação. Provaram que é possível, através da
ão organizada e concertada, realmente mudar o mundo” (MARSHALL, 1986,
p. 92) e, paralelamente ao que proclamava no âmbito da formalidade a todo
homem: liberdade, igualdade e fraternidade, sabiam muito bem que a
exploração dos trabalhadores assalariados era uma necessidade para a
consolidação de seu poder. A brica “se desenvolve de maneira crescente à
submissão do trabalho vivo (o operio) ao trabalho morto (a máquina)”
(FRANCO, 1987, p. 10). Mas, como tornar possível o recrutamento deste
trabalhador para a submissão? Ora, fazendo com que a grande “massa
camponesa” fosse privada dos seus meios de sobrevivência, expropriando-a de
suas terras, forçando-a a vender sua força de trabalho. Neste sentido, a obra
de Thomas More (1477-1535) Utopia serve como um documento histórico que
retrata essa mudança, a prática de “cercamento”, pois, conforme o autor, para
a criação de animais “basta um pastor ou vaqueiro” (1993, p. 28). Dessa forma,
61
os camponeses ingleses ficaram privados das condições materiais para
produzirem e reproduzirem sua existência. De acordo com Virgínia Fontes
“este momento original corresponde ao tortuoso e violento processo histórico
no qual o campesinato europeu viu-se despojado da capacidade de assegurar
sua própria subsistência” (2008, p. 11) e dos camponeses expulsos de suas
terras serem transformados em empregados demitidos e estes, transformarem-
se “inevitavelmente, em mendigos ou ladrões” (MORE, 1993, p. 29)
41
.
Nesta mesma perspectiva, Hannah Arendt, destaca duas condições para
o surgimento da economia capitalista: a expropriação, o fato de que certos
grupos foram despojados de seu lugar no mundo e expostos, de mãos vazias,
às conjunturas da vida, criou o original acúmulo de riqueza e a possibilidade de
transformar essa riqueza em capital através do trabalho” (1991, p. 267). Ou
seja, expulsou-se os camponeses em direção ao trabalho livre e assalariado
das cidades, em que a partir do período da manufatura, segundo Luiz Antonio
Carvalho Franco, “coma a concentrar os trabalhadores num único local de
trabalho, sob o seu controle e vigilância” (1987, p. 11).
Evidencia-se, deste modo, que a acumulação de riquezas, nas mãos de
uma minoria, faz parte da natureza intrínseca do modo de produção capitalista
em que “o produto é propriedade do capitalista, não do produtor imediato, o
trabalhador. O capitalista paga, por exemplo, o valor diário da força de
trabalho” (MARX, 1994, p. 209). Logo, com o fortalecimento da burguesia
houve o “estabelecimento do comércio mundial e com o aparecimento de
enormes massas de ‘trabalhadores livresque ofereciam à venda a sua força
de trabalho, surgiram os alicerces do novo regime” (PONCE, 2005, p. 137).
Trata-se do regime burguês “em que o capitalista ao trabalhador muito
menos do que o valor do objeto produzido” (idem, p. 137). Se antes do século
XVI (1501-1600), o camponês que alugava os seus braços temporariamente
era também dono de uma pequena extensão de terra, capaz de sustentá-lo em
casos extremos com o trabalho assalariado a partir do século XVI converte a
41
Para se compreender um pouco mais sobre esta expropriação sofrida pelo camponês e as
dificuldades deste homem possuidor apenas de sua força de trabalho em adaptar-se enquanto
proletário às fábricas, recomenda-se a obra literária de Victor Hugo: Os Miseráveis, tradução
de José Maria Machado, São Paulo: Hemus Livraria Editora Limitada, 1979.
62
força dos seus braços no seu único meio de subsistência. Expulso da terra
42
o
camponês torna-se um proletário, sem os meios de produção e fica
dependendo da “sorte” para que alguém lhe dê trabalho.
A legislação promulgada nos fins do século XVI no Oeste da Europa
visou acusá-los de criminosos, vagabundos e pobres, sem considerar que
A criação do proletariado sem lar nem pão despedido pelos
grandes senhores feudais e cultivadores, vítima de repetidas e
violentas expropriações era necessariamente mais rápida que a
sua absorção pelas manufaturas nascentes. Por outro lado, estes
homens, bruscamente arrancados e suas ocupações habituais,
não se podiam adaptar prontamente à disciplina do novo sistema
social, surgindo, por conseguinte, deles uma porção de mendigos,
ladrões e vagabundos (MARX, 1979, p. 57).
Compreende-se, deste modo, que houve vezes em que aldeias inteiras
foram destruídas, e os camponeses, que ficaram arruinados, depois de
perderem as suas terras, dirigiam-se às cidades para procurarem trabalho nas
manufaturas(MANFRED, 1982, p. 57). Segundo Marx e Engels a burguesia
onde quer que tenha conquistado o poder “jogou por terra as relações feudais,
patriarcais e idílicas. Despedaçou sem piedade todos os complexos e variados
laços que prendiam o homem feudal a seus ‘superiores naturais’, para só
deixar subsistir, entre um homem e outro, o laço do frio interesse, as duras
exigências do ‘pagamento à vista(1987, p. 78). Compreende-se isso, pelo fato
de que a burguesia para manter-se enquanto classe hegemônica precisar da
“mudança permanente, para a perpétua sublevação e renovação de todos os
modos de vida pessoal e social” (MARSHALL, 1986, p. 93). Com efeito, cumpre
ressaltar, com base em Marx, a evolução nas relações de produção em que
“enquanto o escravo é uma mercadoria que pode passar das mãos de um
proprietário para as mãos de um outroe o servo aquele que “só vende uma
parte da sua força de trabalho” o trabalhador assalariado livre, “pelo contrário,
não pertence a nenhum proprietário nem espreso a nenhuma terra, mas as
42
Importa destacar, referente à importância da terra, a afirmação explicativa de Friedrich
Engels de que a alienação da terra é uma imoralidade só ultrapassada pela alienação de si
mesmo. Ao partir da premissa de que a terra é a condição primeira da existência do homem
compreendeu que “a monopolização da terra por um pequeno número, a exclusão dos outros
daquilo que é a condição da sua vida, não tem nada a invejar em imoralidade à venda ulterior
do solo” (1981, p.66).
63
oito, dez, doze, quinze horas da sua vida diária pertencem a quem as compra”
(1985, p. 19).
Dentro desse contexto, de acordo com Eric Hobsbawn, a burguesia “não
era evidentemente uma classe dirigente no sentido em que o velho tipo de
senhor de terra o era, numa posição que proporcionava, de jure ou de facto, o
direito de governo sobre os habitantes de seu território” (1996, p. 345). O novo
modo de produção, o capitalismo, estimula, ou melhor, força o
autodesenvolvimento de todos, mas as pessoas podem desenvolver-se de
maneira restrita e distorcida(MARSHALL, 1986, p.95), porque tudo é regido
pela gica de mercado. Assim sendo, os talentos e aptidões que interessam
o aproveitadas até a exaustão e o que não é atraente por não ser lucrativo é
reprimido ou deteriorado por não ter uma chance real de manifestar-se.
Neste sentido, Engels, ao escrever um Esboço de uma crítica da
Economia Política assinala que “a propriedade privada faz do homem uma
mercadoria, cuja produção e destruição dependem, também elas, apenas da
concorrência, e que o sistema concorrencial massacrou deste modo, e
massacra, diariamente milhões de homens (1981, p. 77). Vê-se, deste modo, a
relevância de se entender o movimento do capital, dada a sua conexão com a
educação e, por consequência no trabalho docente.
Para compreendermos melhor esta questão, a seguir, busca-se
apresentar, entre outras coisas, a contribuição de Comenius e Rousseau, no
âmbito da educação e do trabalho docente.
1.4.3. O trabalho docente na sociedade moderna
As transformões na base material do modo como os homens se
organizam para produzirem e reproduzirem suas vidas, fez com que a
educação monacal, cavalheiresca, bem como os valores, o pensamento e, o
ensino da Idade Média fossem questionados, pois, correspondiam ao tempo
dos palácios destinados a uma vida “perfeita” e revelaram-se prisões. De tão
perfeitos que eram “não permitiam nem mudança nem progresso. Neles não
havia lugar para o indivíduo. O Renascimento, ao contrário, trazia como traço
essencial o individualismo” (MONROE, 1970, p. 146). A Renascença assinala,
deste modo, “uma nova forma de vida, nova concepção do homem e do
64
mundo, baseada na personalidade humana livre e na realidade presente”
(LUZURIAGA, 2001, p. 93).
O Renascimento se situa nesse contexto e, dentre outras coisas,
significou “à secularização da cultura, isto é, busca-se desvesti-la da
parcialidade religiosa, para torná-la propriamente humana. Procura-se formar o
espírito do homem culto mundano, o gentil-homem” (ARANHA, 1989, p. 104).
Entretanto, não se pode esquecer a continuidade na descontinuidade,
manifesta no Renascimento, uma vez que este desenvolveu ainda mais a
Pedagogia da Essência. Na análise de Bogdan Suchodolski:
Este desenvolvimento caracteriza-se pela sua ligação às tradições
laicas e racionalistas do mundo antigo, à concepção do homem
‘ser pensante’. Erasmo de Roterdão, na obra De pueris
instituendis, expôs como deve ser entendida a natureza humana.
É aquela propriedade comum a todos os homens cuja razão é a
força que orienta a vida humana. Em conformidade com este
caráter fundamental da natureza humana, a educação deve
combater tudo o que se lhe opõe e desenvolver tudo o que lhe é
próprio (1984, p. 23).
São caractesticas dos tempos Modernos: o Renascimento, o
Humanismo e o Iluminismo que ligam-se ao fato do homem buscar acreditar
em si, como um ser com condições para enfrentar seus desafios, sem pedir
para que forças supranaturais intervenham. Refere-se, deste modo, ao homem
que auxiliado por sua razão, julga-se capaz de resolver seus próprios
problemas.
Nesta perspectiva, na Idade Moderna o espírito revolucionário da
burguesia passa a se contrapor aos valores medievais, aos senhores feudais,
inaugurando uma nova concepção de homem pautada em sua própria
capacidade para guiar seu próprio destino. Nesta fase, Locke afirma o princípio
da igualdade entre os homens, e isto sem dúvida trouxe um problema para a
burguesia. Pois, se nos tempos da escravidão e dos trabalhos servis estava
evidente a quem competia o poder de dominação, com o fortalecimento dos
ideais burgueses associados à sua consolidação no âmbito da economia (o
triunfo burguês) trouxe consigo o problema de terem de buscar outros meios
para justificar a submissão do homem pelo homem. Assim, por um lado,
precisavam exterminar o sentimento próprio tanto do homem rural como do
65
urbano, ainda profundamente arraigado: “o sentimento de que a liberdade
pessoal é incompatível com a subordinação a um processo de trabalho
estritamente vigiado e totalmente racionalizado e que, até a esse momento, era
conhecido apenas nas casas de correção e nos presídios” (BUFFA, 1991, p.
24). De outro lado, a classe burguesa precisava impor novos valores e outras
concepções de mundo.
Nesse sentido, ao se consolidar no poder a burguesia revolucionária
tornou-se reacionária e passou a exigir outro tipo de educação a ser oferecida
às massas. De acordo com Ponce:
Com a substituição do regime feudal pelo burguês, piorou a
situação das massas, mas os novos amos não se importavam
absolutamente com isso. Formar indivíduos aptos para a
competição do mercado, este foi o ideal da burguesia triunfadora.
Ideal lógico, sem dúvida, para uma sociedade em que a sede de
lucros lançava os homens uns contra os outros, em um tropel de
produtores independentes. Produzir, e produzir cada vez mais
para conquistar novos mercados ou esmagar algum rival, essa foi,
desde o início, a única preocupação da burguesia triunfante (2000,
p. 136).
Estamos cientes dos apontamentos realizados por Gilberto Luiz Alves,
no seu livro A Produção da Escola Pública Contemporânea, que destacam o
equívoco de todos aqueles que iludiram-se com a visão que reduz os
problemas da universalização da educação (na quantidade e qualidade) às
massas a uma conspirão burguesa (na França) que trai o povo, tido como
seu aliado (do terceiro Estado) na derrubada do antigo regime e que entre as
bandeiras abandonadas pela burguesia estaria a escola pública, gratuita,
universal e para todos. Para o autor, enveredar-se pelo materialismo vulgar
(mecanicista) implica em negar que “a luta de classes movimento à história
(ALVES, 2001, p. 31). Para ele,
o proletário moderno, por exemplo, com o qual Ponce se identifica
ideologicamente, não estava suficientemente constituído na época
analisada nem havia elevado ao plano da consciência a
necessidade de educação para todos. Como decorrência, essa
classe ainda não havia eleito tal bandeira como essencial aos
seus interesses, em especial à formação de seus quadros. Logo,
a conquista da escola ainda não se lhe apresentava como um
valor nem a movia a lutar por sua realização. Essa consideração é
decisiva quando a história é concebida como luta. A burguesia
66
não pode ser condenada, pura e simplesmente, pelo fato de não
ter pleiteado os interesses de uma outra classe que, então,
começava a emergir para a história (ALVES, 2001, p. 34).
Tendo isso em apreço, destaca-se que às transformações no âmbito da
mentalidade moderna acompanham o processo lento de desenvolvimento do
homem no decurso da história: “a vida associada e industriosa dos costumes, o
surgimento e desenvolvimento das universidades, o delinear-se de Estados
Nacionais com um vigoroso poder central favorável às burguesias urbanas
(ABBAGNANO; VISALBERGHI, 1993, p. 200). Neste contexto, a Renascença
adquire significado, pois, impressiona os avanços realizados com a educação
nesse peodo em detrimento ao que havia se conseguido no modo de
produção medieval: “não só pela produção teórica dos pedagogos, mas
principalmente pela proliferação de colégios e manuais para alunos e
professores. Educar-se torna-se uma questão de moda e uma exigência dentro
da nova concepção do homem” (ARANHA, p. 104). O homem enquanto medida
de todas as coisas de Protágoras é retomado e o “passado perdeu o seu
caráter de reino em que se realizaram as idéias absolutas e imutáveis;
comou-se a destrinçar nele a luta contra a autoridade, a luta trágica para
obter o direito de viver conforme as suas próprias experiências”
(SUCHODOLSKI, 1984, p. 25).
Nasce assim, o problema da individualidade, o perguntar-se sobre a
essência do homem, sua formão, sua transformão. E ligado a este novo
modo de visualizar o homem surgiram indícios de renovação do pensamento,
ainda que modestos, conforme atesta este autor: “a crítica da escola medieval
e da pedagogia medieval inspirou-se o só na nova concepção do ideal, mas
tamm nos direitos e nas necessidades da criança(1984, p. 26), ou seja, a
escola, o trabalho docente passa a adaptar-se às características psíquicas e
intelectuais de cada criança.
Na modernidade, os estudos da tradição clássica (Platão, Aristóteles)
voltam a ser valorizados, porém, num espírito diferente do que aconteceu na
Idade Média: “já não se via nela um recurso aproveitável para se educar nos
dogmas da religião cristã; era admirada em seu intrínseco valor, como floração
de uma época, não somente insuperada, como nem sequer igualada
(LARROYO, 1982, p. 339). Adota-se uma “concepção do homem e do mundo,
67
baseada na personalidade humana livre e no momento presente. Esta nova
maneira de encarar a vida provocou um tipo diferente de educação, chamada
humanista, cujo desejo era a formão da personalidade humana, em
contraposição à vida claustral” (ROSA, 2009, p. 117). Diante deste quadro
Suchodolski, observa que “Montaigne criticou a caráter superficial e verbal da
educação quer escolástica quer humanista, mas nesta crítica foi muito mais
longe que os seus predecessores” (1984, p. 27). E nesta direção, Suchodolski
conclui:
Não se tratava de lutar por melhores métodos de educação, mas
mostrar a profundidade ignorada do processo educativo e revelar
a sua ligação com a vida real do homem. As idéias da pedagogia
da existência, ainda vagas, mas já fortes e vivas, manifestavam na
obra de MONTAIGNE tendência para revoltar-se contra a
pedagogia da essência; esta revolta condenava não somente os
princípios de adestramento postos em dúvida pela maioria dos
humanistas, mas também as afirmações fundamentais da
pedagogia da essência, isto é, a submissão do homem aos
valores e aos dogmas tradicionais e eternos (1984, p. 27).
Passa-se, com o Renascimento a enfatizar a “alegria de viver, dos
prazeres e satisfação contemplativa desta vida e da apreciação do belo. O
interesse na observação e na análise introspectiva partia agora do ponto de
vista estético e humano” (MONROE, 1970, p. 147).
De acordo com Rosa:
O movimento humanista marcou-se por uma reação contra o
método da autoridade, a filosofia escolástica, a sobrecarga da
memória e a negligência do espírito crítico. Abandonando a rotina
estreita do passado, os mestres voltaram-se para as coisas da
Grécia e Roma. A este retorno à antigüidade no campo da
plástica, convencionou-se chamar Renascença; no campo
filosófico, pedagógico e literário, Humanismo (2009, p. 117).
Deste modo, com base no que foi exposto e tendo presente que nesse
período quem passa a dominar o cenário econômico, social e políticos é a
classe burguesa, buscamos, a seguir, apresentar algumas das contribuições de
Jean Amos Comenius (1592-1670). Considerado um dos maiores educadores
do século XVII, foi o criador da Didática Magma e, pode-se destacar que trata-
se de um pensador da fase “inicial do capitalismo e as categorias corretas para
68
entendê-lo são a manufatura, a divisão parcelar do trabalho, a ciência
experimental moderna” (BUFFA, 1991, p. 19). Afirma-se ainda que ele “é o
profeta da moderna escola democrática; confere igual dignidade a todos os
veis educativos e o direito de educação a todos(ROSA, 2009, p. 152) e
tamm que “aproxima-se da criança de modo incomparavelmente mais
marcado do que qualquer dos seus predecessores ou contemporâneos
(SUCHODOLSKI, 1984, p. 31, na medida em que “proclama o princípio de uma
educação elementar para todas as crianças, ricas ou pobres, nobres,
burguesas ou do campo” (GAL, 1976, p. 78). Alves, por sua vez, tece seus
elogios, dizendo que:
Todo o esforço de Comenius voltado para o barateamento dos
serviços escolares não tem merecido o necessário destaque.
Visando apreendê-lo, o trabalho realça questões como a
simplificação e a objetivação do trabalho didático, a elaboração de
novos instrumentos de trabalho para o professor e a
especialização profissional do mestre como condições
necessárias à queda dos custos do ensino e, portanto, à
universalização da instrução (2001, p. 46).
Na Didática Magma, compreendida como a arte de ensinar tudo a todos,
“procurou equacionar a questão metodológica da pedagogia” e, neste
direcionamento “buscou construir um sistema pedagógico articulado em que a
consideração dos fins da educação constituía a base para a definição dos
meios” (SAVIANI, 2007 (b), p. 100). Neste sentido, Comenius preconiza o
método intuitivo, o estudo da gramática pelos exemplos e pelo uso, e não por
meio de regras abstratas” e, em decorrência, “recomendava uma educação
integral e desejava que se seguisse a ordem natural do desenvolvimento das
faculdades” (GAL, 1976, p. 78) dos estudantes.
No entanto, é bom lembrar que Comenius, é “movido pela necessidade
hisrica de seu tempo” (ALVES, 2007, p. 63) e, por mais que defenda a
“adaptação da educação e do ensino à natureza psicológica da criança e às
tendências do seu desenvolvimento (SUCHODOLSKI, 1984, p. 32),
paradoxalmente “defende com energia o princípio de que a educação deve
formar o homem de acordo com uma finalidade previamente estabelecida”
(idem, p. 32). Evidencia-se, assim, a influência do contexto histórico em que o
autor vive que é o da Reforma Protestante, em que para tornar possível a
69
interpretação dos Livros Sagrados individualmente era necessário romper com
a prática Católica e possibilitar a todos a instruírem-se.
Lorenzo Luzuriaga, ao referir-se a Comenius afirma que ele “foi o
fundador da didática e, em parte, da pedagogia moderna. Mas foi, ainda, um
pensador, um místico, um reformador social, personalidade extraordinária, em
suma, seu nome figura ao nível dos de Rousseau, Pestalozzi e Froebel” (2001,
p. 139). Corrobora com esta compreensão sobre Comenius, a afirmação de
Rosa:
Suas teorias educacionais são acentuadamente atuais. Aplicou
quase todos os grandes princípios da pedagogia progressiva;
fixou as bases da organização do ensino, desde a escola maternal
até a academia; chamou a atenção dos educadores para o
desenvolvimento das aptidões da criança em contato com as
coisas; elevou-se ao plano moderno da escola unificada, etc
(2009, p. 153).
A Didática Magma, uma das principais obras de Comenius
43
“foi
completada em 1632, embora não publicada; a tradução latina apareceu em
1657, e a impreso no idioma em que foi escrita, em meados do século XIX.
Este trabalho é certamente um dos mais notáveis tratados educacionais que se
tenham escrito ahoje” (MONROE, 1970, p. 224). Esta obra é destinada a
expor uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo,
para obter resultados; de ensinar de modo fácil, portanto sem que docentes e
discentes se molestem ou enfadem, mas ao contrário tenham grande alegria”
(COMENIUS, 2002, p. 13). Dentre as propostas pedagógicas tidas como muito
avançadas, destaca-se a tentativa de se construir o conhecimento por meio da
experiência, da observação, respeitando o estágio de desenvolvimento da
criança no processo de ensino-aprendizagem e, de modo particular, defende
uma educação pautada no diálogo, no exemplo, isenta de punições e realizada
43
Os pesquisadores são unânimes em apontar a Didatica Magma como sendo a obra Prima de
Comenius e sua maior contribuição ao pensamento educacional. Contudo Comenius escreveu,
ainda, O labirinto do Mundo (1623), Guia da Escola Materna (1630), Porta Aberta das Línguas
(1631), Consulta Universal Sobre o melhoramento dos Negócios Humanos (1657), Novíssimo
todo das Línguas (1647), A Única Coisa Necessária (1668) entre outros. Entretanto, cumpre
destacar, conforme Ivone Castilho Benedetti, tradutora da Didática Magma, que a “extensão da
bibliografia comeniana não permite fazer um inventário completo nem das obras de Comenius
nem das obras a seu respeito” (2002, p. XIX).
70
num ambiente propício, que levasse em consideração o desenvolvimento da
criança.
Não obstante, uma análise do índice da Ditica Magma aponta para
a compreensão referente ao homem, a sociedade e a educação, isto é, “a
pedagogia de Comenius é conjunção de idéias religiosas e idéias realistas.
Continua, de certo modo, a corrente religiosa da Reforma e a empirista da
Renascença. A parte religiosa se refere mais aos fins da educação e a realista,
aos meios” (LUZURIAGA, 2001, p. 139). Quanto a isso, verifica-se, logo nos
títulos dos quatro primeiros capítulos onde se lê: “I - O homem é a mais
elevada, perfeita e excelsa das criaturas; II - O fim último do homem está fora
desta vida; III- Esta vida não passa de preparação para a vida eterna; IV - São
três os graus de preparação para a vida eterna: conhecer, dominar e conduzir
para Deus a si mesmo e, consigo, todas as coisas” (COMENIUS, 2002, p. VI-
V). Percebe-se, desta maneira, que Comenius por meio da Didática Magma,
“expõe sua doutrina a respeito da educação e organização prática das escolas”
(ROSA, 2009, p. 53), em que fica expressa a finalidade de condução de todos
para Deus.
Neste sentido, a convicção fundamental, de Comenius, “é que a
educação, que faz do homem um homem, é a que apesar da sua vida de
pecado, o reconduz à sua essência mais profunda” (SUCHODOLSKI, 1984, p.
33). Assim sendo, o domínio da leitura e da escrita colocava o fiel em
condições de ler as sagradas escrituras e, por conseguinte, abria a
possibilidade de salvar a sua alma. Logo, “como decorrência de um imperativo
imediatamente religioso, a alfabetização foi assumida, então pela primeira vez
na história, como uma necessidade geral dos homens(ALVES, 2007, p. 63).
Isto se torna perceptível, ao analisarmos a exposição de Luzuriaga, sobre as
principais idéias de Comenius, que se resumem em: “a) a do método conforme
a natureza, isto é, conforme o desenvolvimento do homem. b) a da escola para
todos, da escola única. c) a da graduação e continuidade da educação, numa
unidade da escola maternal à universidade” (2001, p. 143).
Pode-se perceber dentre outras coisas - que apesar da pedagogia de
Comenius fazer concessões às necessidades da vida presente nas crianças,
do respeito a cada fase de desenvolvimento do homem, da articulação das
diversas fases pelas quais passa o homem etc, esta pedagogia encontra-se
71
inserida no vasto campo da pedagogia da essência, em relação à qual
constitui uma forma moderna, porque se liga à análise psicológica do homem,
muito embora esteja ainda carregada de noções tradicionais e religiosas”
(SUCHODOLSKI, 1984, p. 33).
Enfatiza-se, portanto, que Comenius defende no capítulo IX que “toda
juventude de ambos os sexos, deve ser enviada à escola”, porém, o autor
tamm afirma:
A quem um dia caberá comandar outros, como reis, príncipes,
magistrados, pastores e doutores da Igreja, a estes, mais que a
ninguém, é necessária a educação profunda na sabedoria, assim
como os guias precisam ter os olhos treinados, e os intérpretes a
língua, a trompa precisa ser capaz de tocar, e a espada de cortar.
Do mesmo modo, os súditos precisam ser iluminados, para que
saibam obedecer com prudência os que comandam com
sabedoria: não por obrigação e com servil obséquio, mas de bom
grado e por amor à ordem (COMENIUS, 2002, p. 76).
Com base nesta exposição, nota-se que a educação e o trabalho
destinado a sua realizão, tornam-se um instrumento utilizado para identificar
o pertencimento das pessoas à determinada classe social.
À guisa de compreensão, Gilberto Luiz Alves reitera e acrescenta, o que
havíamos assinalado com Ester Buffa, de que a contribuição de Comenius
conferida ao trabalho didático foi plasmada pela madura organizão
manufatureira
44
. Com o aprofundamento da divisão do trabalho instaura-se a
base técnica do ensino que ao ser concebido como uma atividade artesanal
transforma-se: “Daí a seriação escolar; daí a separação clara das áreas do
conhecimento no plano de estudos; daí a especialização dos professores e, a
exemplo do que ocorrera na produção material, daí, também, a especialização
dos instrumentos de trabalho do educador” (ALVES, 2007, p. 64). Neste
sentido, é conveniente, acrescentar os apontamentos de Ester Buffa, que ao
estudar os escritos de Comenius, no que se refere à educação para todos”
cita, por exemplo, os quatro tipos de escolas correspondentes às quatro fase
da vida: “o regaço materno é a escola da infância; a escola primária ou escola
44
Adam Smith, no livro II, em Riqueza das Nações, ao tratar Da Acumulação do Capital, ou do
Trabalho Produtivo ou Improdutivo afirma que “o trabalho de um manufatureiro acrescenta,
geralmente, ao valor dos materiais que ele trabalha, o de sua própria manutenção, e o lucro de
seu patrão” (2001, p. 151). Evidencia-se que a manufatura articula-se em função da
concentração da riqueza nas mãos do capitalista.
72
pública de ngua vernácula é a escola da puerícia; a escola de latim ou ginásio
é a escola da adolescência; a academia e as viagens são a escola da
juventude” (1991, p. 20). E, complementa que “somente as duas primeiras
estão destinada a todos. As outras, apenas a alguns” (idem, p. 20).
Portanto, nestas condições, pode-se afirmar que
a pedagogia da essência encontrava-se sempre defendida por
aquelas classes que se gabavam de que a ‘essência verdadeira’
do homem se realiza de modo mais perfeito nos membros da sua
própria classe do que nos membros das outras classes
(SUCHODOLSKI, 1984, p. 34).
Nesta direção, o trabalho docente e a educação são recrutados no
sentido de colaborar com a produção e reprodução da “dualidade estrutural”
(KUENZER, 2001) vigente. Evidencia-se, deste modo, que o trabalho docente
não é oferecido de igual modo a todos os homens, pois, a educação precisa
ser dosada na medida certa, para que o povo saiba ler e interpretar a Bíblia, no
intuito de tornar-se fiel a Deus e às lideranças na terra (civis e religiosas).
Percebe-se, deste modo, que todo homem, escritor (ou não), é condicionado
pelas condições sociais, políticas, econômicas, religiosas, culturais do tempo
hisrico em que viveu.
Jean-Jacques Rosseau [1712-1778], por conseguinte, fornece outro
direcionamento no modo de entender o trabalho docente quando em sua obra
Emílio, ou, Da Educação - logo no primeiro capítulo - destaca a sua concepção
de educação ao afirmar: “Tudo esbem quando sai das mãos do autor das
coisas, tudo degenera entre as mãos do homem. Ele força uma terra a
alimentar as produções de outra, uma árvore a carregar os frutos de outra”
(1999, p. 7). Portanto, segundo Rousseau, a educação deve ser a própria vida
da criança, que precisa ser respeitada no seu desenvolvimento concreto, nos
seus impulsos, sentimentos e pensamentos.
Nesta perspectiva, Roger Gal, refere-se a Rousseau como o
“responsável e o autor desta espécie de revolução copérnica da educação que
colocou a criança, e a criança como indivíduo, no centro de todas as
considerações pedagógicas” (1976, p. 85). Isto se percebe na medida em que
analisamos a seguinte afirmão: “O homem nasceu livre e por toda parte está
agrilhoado. Aquele que se crê senhor dos outros não deixa de ser mais escravo
73
que eles” (ROSSEAU, 1989, p. 9). A partir disso, pode-se inferir que o
verdadeiro trabalho docente para Rousseau é aquele que procura auxiliar
evitando qualquer outra interferência no vir a ser destas crianças. No que diz
respeito a isso assinala Suchodolski:
A pedagogia de ROUSSEAU foi a primeira tentativa radical e
apaixonada de oposição fundamental à pedagogia da essência e
de criação de perspectivas para uma pedagogia da essência e de
criação de perspectivas para uma pedagogia da existência. A
influência de ROUSSEAU foi enorme. Muito embora os seus
adeptos não se tenham mostrado igualmente extremistas; as
reflexões subseqüentes constituíram um desenvolvimento por
vezes recheado de contradições desta nova posição (1984, p.
40, grifos do autor).
Neste sentido, vale destacar as observações de Mario Alighiero
Manacorda, no que tange o seu entendimento sobre Rousseau e sua
importância para se pensar a educação e a função do trabalho docente.
Revolucionou totalmente a abordagem da pedagogia,
privilegiando a abordagem que chamarei antropológica’, isto é,
focalizando o sujeito, a criança ou o homem, e dando um golpe
feroz na abordagem ‘epistemológica’, centrada na reclassificação
do saber e na transmissão à criança como um todo já pronto. Pela
primeira vez, ele enfrenta com clareza o problema, focalizando-o
‘do lado da criança’, considerada não somente como homem in
fieri, mas propriamente como criança, ser perfeito em si (1992, p.
242).
Em o Elio, no livro I, Rousseau afirma a importância do respeito ao
desenvolvimento natural da educação infantil, pois, “se o homem nascesse
grande e forte, a estatura e a força ser-lhe-iam inúteis até que tivesse
aprendido a servir-se delas; ser-lhe-iam prejudiciais, pois impediriam que
outros pensassem em socorrê-lo” (1999, p. 8). Observa-se, conseqüentemente,
o estabelecimento dos fundamentos indestrutíveis da educação em
conformidade com a psicologia e com a natureza” (GAL, 1976, p. 85) da
criança.
No entanto, é preciso ter presente o alerta de Manacorda para não se
cair no equívoco de simplificar o pensamento de Rousseau, reduzindo-o à
visão puerocêntrica, à tomada de consciência da ‘natureza’ da criança, se se
esquece o aspecto social; e ainda pior seria reduzir o seu puerocentrismo à
74
espontaneidade e à permissividade, quando nele tantos outros e complexos
aspectos” (1992, p. 243). Contribui para esta compreensão, a posição de
Suchodolski que situa Rousseau dentro do quadro da pedagogia da existência,
ao destacar que “o homem é bom por natureza, a educação o deve ser
concedida de modo a conduzir à destruição de todo o seu eu empírico e ao
renascimento da sua verdadeira essência’ oculta” (1984, p. 36), defendendo,
por conseguinte, “a noção de uma exigência própria da natureza de cada
criança e da natureza humana em geral acima de quaisquer pressões que a
sociedade ou as gerações adultas se arroguem o direito de exercer sobre ela”
(GAL, 1976, p. 85).
Certamente, tal concepção de educação decorre da concepção que
Rousseau tem da escie humana concebida com somente dois tipos de
desigualdade. A primeira denominada de natural ou física, por se referir a que é
imposta pela natureza “e que consiste na diferença de idades, de saúde, das
forças do corpo e das qualidades do espírito ou da alma” (ROUSSEAU, 1985,
p. 48). A segunda, diz respeito à desigualdade moral, ou política, visto que
“depende de uma espécie de convenção, e é estabelecida, ou pelo menos
autorizada pelo consentimento dos homens” (idem, p. 48).
Feitas estas observações, pode-se dizer que a pedagogia da existência
em Rousseau encontra-se em destaque e, a partir desta, entende-se que o
trabalho docente não deveria ir contra o homem para formar o homem. Com
efeito, de acordo com Suchodolski, em Rousseau a educação poderia apoiar-
se sobre a totalidade do homem empírico, acompanhando o desenvolvimento
das suas forças, dos seus gostos e aspirações” (1984, p. 36). Aparece aqui a
tentativa de organizar a pedagogia a partir da existência, baseada nos homens
tais como existem realmente e não em como deveriam ser.
Vê-se, desta forma, que um estudo minucioso sobre Jean Jacques
Rousseau é preciso. Contudo, nosso interesse volta-se para o contexto social
no qual viveu e a quem era destinado a educação nessa sociedade.
Se Rousseau se contrapõe à pedagogia da essência, Comenius busca
aquilo que considera a “verdadeira essência do homem”. Em nome do Estado
Natural Rousseau se distancia tamm do regime feudal, defendendo, como já
foi exposto, uma educação [Emílio] natural do homem que brota
espontaneamente. Todavia, enquanto homem de seu tempo, de acordo com
75
Aníbal Ponce, “não se incomodou com a educação das massas e sim, apenas,
com a educação de um indivíduo suficientemente abastado para permitir-se o
luxo de contratar um preceptor” (2005, p. 136). Certamente, a razão disso tudo
se situa, conforme assinalado, nas condições do contexto histórico, político,
econômico e cultural.
Nesta perspectiva, Milton Meira do Nascimento aponta que de certa
maneira, “se Rousseau não partilha com seus contemporâneos o ideal da
difusão das luzes do saber, pode-se dizer que, ao invocar o ideal do sábio, sua
exigência é ainda maior do que a deles, porque acompanhada de uma forte
conotação moral” (2008, p. 190). Para Rousseau a ciência devia ser praticada
por um verdadeiro amor ao saber, caso contrário ela “não passa de uma
caricatura da ciência e sua difusão por divulgadores e compiladores, autores de
segunda categoria, só pode contribuir para piorar muito mais as coisas
(NASCIMENTO, 2008, p. 190). Eis aqui, um pouco do entendimento, daqueles
que advogam que a expansão da escola “ocasionaria o rebaixamento da sua
qualidade ao nível das multidões” (FERREIRA Jr & BITTAR, 2008, p. 236).
Para as crianças oriundas da classe trabalhadora os estudos eram
intercalados com o trabalho sendo que o aprendizado era voltado para torná-
las trabalhadores mais produtivos, assim, ainda que minimamente, precisavam
aprender a ler, a escrever e a contar.
Dado o contexto histórico assinalado nas bases materiais articuladas
com o Renascimento, século das luzes, Iluminismo, constata-se que a
burguesia não podia recusar ao povo o direito pela instrução como havia sido
feito na Antigüidade e na Idade Média. A vida na cidade e a Revolução
Industrial exigem conhecimentos básicos para que o sistema consiga se
produzir e reproduzir. Surge, deste modo, o trabalhador assalariado livre que,
ao contrário do escravo e do servo, vai precisar de alguns conhecimentos para
poder exercer seu trabalho. Porém, “a educação dos trabalhadores pobres tem
por função discipliná-los para a produção. O que propõe para a maioria da
população é pouco; é o mínimo. Aquele mínimo necessário para fazer do
trabalhador um cidadão passivo que, apesar de tudo, tem alguns poucos
direitos” (BUFFA, 1991, p. 28). Afinal, ao tratar-se de um trabalho baseado no
uso da força sica e repetitiva não exige “habilidades cognitivas abstratas que
implicassem em atividades intelectuais sofisticadas por parte do proletariado
76
fabril” (FERREIRA Jr & BITTAR, 2008, p. 238) e, deste modo, o trabalho
docente tem como principal papel social ajudar na organização da
racionalidade produtiva que imperava na sociedade moderna” (idem, p. 238).
Verificou-se, tamm, após a análise de diversas fontes bibliográficas,
que o embate presente entre a Pedagogia da Existência e da Essência,
perpassa todo trabalho docente, na medida em que este precisa estar ciente de
qual tipo de homem deseja formar e para qual sociedade. Esta contradição
antinômica entre essência e existência não foi resolvida até hoje na educação
contemporânea e repercute no trabalho docente. Para a compreensão desta
antinomia apresenta-se como fundamental a contribuição de Suchodolski ao
escrever A Pedagogia e as Grandes Correntes Filoficas.
Ao apresentar esta obra, Maurice Debesse assim se pronunciou:
B. SUCHODOLSKI descobre, com efeito, na história pedagógica
duas tendências fundamentais, uma pedagogia baseada na
existência do homem, cada qual correspondendo a uma grande
corrente do pensamento filosófico. A primeira destas duas
doutrinas, que é também a mais antiga, assenta numa concepção
ideal do homem, racionalista em PLATÃO, cristã em S. Tomás de
AQUINO. A segunda, mais tardia, perceptível já em ROUSSEAU e
seguidamente em KIERKEGAARD, toma o homem tal como é e
não como deveria ser. O autor acompanha pormenorizadamente o
desenvolvimento destas concepções pedagógicas fundamentais e
o seu conflito, até à época contemporânea (1984, p. 8-9).
Em suma, observa-se que a história de todas as sociedades é a
sucessão de gerações, cada uma explorando os materiais, os recursos
financeiros e as forças produtivas que lhe foram transmitidas pelas gerações
precedentes” (FREIRE, 1982, p. 47). Assim sendo, dada esta contradição
social e, o aceite de que a centralidade pedagógica é a criança (ponto de
partida e de chegada), - que deve ser educada para eliminar o dogmatismo e
libertar-se da hipocrisia social e da servidão, incentivando-a no
desenvolvimento de suas potencialidades, seu espírito crítico e curiosidade - a
questão é que ao adentrar na vida adulta a criança terá que confrontar-se com
uma vida rotineira, terá que adaptar-se ao modo de produção capitalista em
que a centralidade passa a ser a acumulação de riquezas em detrimento da
vida e do desenvolvimento das habilidades humanas por si mesmas. Logo, a
Pedagogia da Adaptação busca solucionar este conflito do seguinte modo: a
77
“seu ver, o interesse do indivíduo estava no êxito alcançado durante a vida, no
equilíbrio psíquico mantido entre o indivíduo e o meio e na sua capacidade de
adaptação às exigências deste” (SUCHODOLSKI, 1984, p. 94).
Percebe-se, desta maneira, que o trabalho docente, ao longo da história
é mediado pelos embates de classes, em que, de um lado, situam-se os que
buscam dominar e legitimar o seu poder e, do outro, aqueles que resistem a
esta dominação.
Com efeito, foi com o propósito de compreender o trabalho docente, que
realizamos esta volta à história: desde as comunidades primitivas; passando
pelas sociedades fundadas na escravidão (Idade Antiga) e na servidão (Idade
Média); até chegarmos à sociedade do trabalho livre assalariado (Idade
Moderna) onde acontece o fortalecimento e consolidação do modo de
produção capitalista. Nesta empreita, buscou-se perceber a articulação do
trabalho docente com os distintos modos de organizações sociais. Observou-se
com base em Suchodolski, que a pedagogia burguesa busca transformar não
as relações sociais, mas a maneira de conceber indivíduo e ideal”,
empenhando-se em fazer os ideais pedagógicos retomarem “contato com o
mundo terreno”, no entanto, desvencilhando-o de “seu caráter universalmente
humano” (1984, p. 116). Entretanto,
a pedagogia devia ser simultaneamente pedagogia da existência e
da essência, mas esta síntese exige certas condições que a
sociedade burguesa não preenche, exige também que se criem
perspectivas determinadas de elevação da vida quotidiana acima
do nível atual. O ideal não deve nem sancionar a vida atual, nem
tomar uma forma totalmente alheia a essa vida (SUCHODOLSKI,
1984, p. 117).
Assim sendo, após a realização desta incursão na história da educação
com o objetivo de explicitar o trabalho docente articulado com os diversos
modos de organização social, evidenciou-se que: a) a cada período de
desenvolvimento social e econômico encontramos projetos de educação a ele
correspondentes, que respondem a demandas e percepções de mundo
fundadas na concepção dominante da sociedade e que acarretam implicações
para o trabalho docente; b) sendo assim, pode-se também inferir que, em geral,
as transformações sociais apesar de não determinarem, condicionam o
78
trabalho docente, logo, lutar pela transformão social é lutar por uma
educação melhor quantitativa e qualitativamente.
Na sequência, aponta-se alguns elementos do trabalho docente
realizado no Brasil, tendo como parâmetro o Estado do Para(2002-2009) e,
em particular, a cidade de Cascavel, enfatizando a questão da sde dos
trabalhadores da educação.
79
Capítulo - II
O TRABALHO DOCENTE NO BRASIL E NO ESTADO DO PARANÁ
(...) a relação entre professor e
aluno é uma relação ativa, de
vinculações recíprocas, e que,
portanto, todo professor é sempre
aluno e todo aluno, professor
(Antonio Gramsci, 2004, p. 399).
Em continuidade com o primeiro capítulo - onde apresentamos um
panorama do trabalho docente no decurso da história - buscamos realizar
algumas considerações gerais sobre o trabalho docente no Brasil e no Estado
do Paraná a partir de 2002.
Alguém perguntará: porque apresentar o trabalho docente numa
perspectiva histórica, buscando resgatá-lo a partir da história geral? Sem entrar
no mérito da discussão é possível dizer que no Brasil a continuidade da
cultura européia e ruptura, que tudo ocorre dentro de um processo hisrico-
dialético. Nesta perspectiva, cumpre lembrar que o trabalho docente no novo
mundo (Brasil), trata-se de um processo em curso e que tem suas raízes
transportadas das culturas européias.
Pode-se afirmar que a influências tanto de Rousseau quanto de
Comenius, de modo particular na questão da educação, ultrapassam os limites
da Europa e, talvez, o elo de ligação entre o primeiro capítulo e o segundo
possa ser estabelecido por meio da questão religiosa do século XVI, da
Reforma, da Contra-Reforma e da Companhia de Jesus etc.
Apresentamos esta divisão do trabalho docente no Brasil de acordo com
a divisão da História da Educação feita pelo grupo HISTEDBR da Universidade
Estadual de Campinas UNICAMP, sem esquecer de mencionar que este
período pode ser dividido de outras maneiras
45
.
2.1. Alguns traços do trabalho docente na história do Brasil
Com o objetivo de fornecer, de modo geral, alguns elementos sobre os
quais o trabalho docente se desenvolve no Brasil, “procurando assim entender
o sentido latente do processo educacional no seu todo histórico-social”
45
Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/index.html >Acesso em 02/03/2009.
80
(SEVERINO, 1986, p. 61), voltamos à história. No entanto, não se trata de uma
digressão histórica que refaz toda a história da educação brasileira na busca de
recuperar o trabalho daqueles que foram seus interlocutores e, sim, de apontar
para alguns traços que possibilitem compreender melhor o trabalho docente
nos dias atuais
46
. Deste modo, levamos em apreço a afirmão de Vanilda
Paiva de que “tirar lições da história deveria ser um exercício político
permanente” e não “resumir-se a um exercício intelectual” (2005, p. 161).
Sendo assim, esta reconstrução histórica tem como foco compreender como se
caracteriza o trabalho docente - se pauperização, precarização ou
proletarização - que será abordado no terceiro capítulo.
Por questões metodológicas e conceituais, organizamos nossa
exposição em três tópicos: 1) destacar os primeiros contatos entre os
colonizados e o colonizador tendo como foco o trabalho de ensino neste
“processo civilizatório em que se destaca a institucionalização da Ratio
Studiorum (1599 - 1759) e para com a fase pombalina (1759 - 1808), esta que
por influência do Iluminismo promove reformas modernizantes no intuito de
colocar Portugal em igualdade com as outras nações européias; 2) apontar
alguns elementos da educação desenvolvida no período imperial e, 3) elencar
alguns traços da educação desenvolvida no período republicano. Depois disso
tratamos do estudo, em específico, do trabalho docente e da educação no
Estado do Paraná após o ano de 2002.
2.1.1. Alguns aspectos do trabalho docente no Brasil Colonial
Precipuamente ressalta-se, conforme Caio Prado Junior, que a
colonização do Brasil não é um fato isolado, deriva “do desenvolvimento do
comércio continental europeu, que até o séc. XIV é quase unicamente terrestre,
e limitado, por via marítima, a uma mesquinha navegação costeira e de
cabotagem (2004, p. 21) e se enquadra dentro do processo de
desenvolvimento das Grandes Expansões Marítimas e Comerciais. Nesse
sentido, o autor enfatiza que “para se compreender o caráter da colonização
brasileira é preciso recuar no tempo para antes do seu início, e indagar das
46
Trabalhos excelentes, que tratam com precisão de detalhes históricos sobre a educação no Brasil, já
estão a disposição de estudantes e professores, entre eles: Demerval Saviani. Histórias das idéias
Pedagógicas no Brasil, Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
81
circunstâncias que a determinaram. A expansão marítima dos países da
Europa, depois do século XV, (...)” (1976, p.13). Em linhas gerais, pode-se
dizer que o Brasil foi “encontrado” pelos portugueses por volta de 1500 e,
inicialmente - devido ao interesse que estes tinham no comércio das
especiarias (cravo, canela, sal, noz moscada, pimenta etc, produtos com alto
valor comercial na Europa) com a Índia (o entreposto comercial era a cidade de
Callecute), - não vão se interessar pela colonização das terras recém
‘descobertas
47
. Nota-se, por conseguinte, que a idéia de povoar não ocorre
inicialmente a nenhum país da Europa, pois, é “o comércio que os interessa, e
daí o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que é a América”
(PRADO Jr, 2004, p. 23).
É, portanto, no contexto da Grande Expansão Marítima e Comercial da
Europa, entendida enquanto necessidade imposta aos países europeus de
encontrarem novas rotas e entrepostos comerciais, na finalidade de ampliarem
as suas riquezas com o achamento” de novas colônias, que se encontram as
origens da formação do Estado Brasileiro. O Pacto Colonial, “representa o
exclusivismo do comércio das colônias para as respectivas metrópoles”
(PRADO Jr, 1976, p. 123), ou seja, as colônias além de serem obrigadas a
fornecerem matéria-prima para suas metrópoles precisavam comprar destas os
seus produtos manufaturados.
Interessa, sobretudo, perceber que juntamente com a chegada do
modelo econômico, político, social, adentra no Brasil a cultura européia e “um
dos efeitos do movimento de idéias da Renascença e da Reforma foi a criação
e o desenvolvimento muito rápido dos colégios jesuítas nos países de
obediência católica” (GAL, 1976, p. 69). Vê-se, desta maneira, a relevância que
ocupa a questão religiosa.
Pode-se dizer
48
, segundo Demerval Saviani, que a primeira fase da
educação e que caracteriza o trabalho docente no Brasil vai de 1549 até 1759
e, por meio das cartas de José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, têm-se uma
fonte valiosíssima de pesquisa. Nestas os missionários descrevem o que se
47
Para o aprofundamento deste tema recomenda-se um estudo do livro de Caio Prado Junior, Formação
do Brasil contemporâneo: Colônia, São Paulo: Editora Brasiliense, 2004.
48
Contudo, não um consenso quanto a esta periodização. Antonio Joaquim Severino, por exemplo,
divide em três fases a educação brasileira: 1) de 1500-1889; 2) de 1889-1964 e 3) de 1964 até a
atualidade.
82
passava no Brasil, a visão que tinham dos nativos e os objetivos que buscavam
alcançar. As cartas auxiliam no entendimento, dentre outras coisas, sobre
quem eram os índios brasileiros (na ótica dos jesuítas) antes da chegada do
colonizador europeu. Percebe-se, que esse período liga-se intimamente “à
presença e à atuação da Igreja Católica, que para aqui veio logo após o
descobrimento, com o prosito de desenvolver trabalho de evangelização
missionária” (SEVERINO, 1986, p. 65).
Com base nas cartas escritas pelos missionários se esclarece o tipo de
educação que será ministrada e a quais interesses ela se colocará a serviço.
Conforme se pode perceber nas palavras de José de Anchieta:
Estes entre os quais vivemos estão espalhados 300 milhas
(segundo nos parece) pelo sertão; todos eles se alimentam de
carne humana e andam nus; moram em casas feitas de madeira e
barro, cobertas de palhas ou com cortiças de árvores; não são
sujeitos a nenhum rei ou capitão, têm em alguma conta os que
alguma façanha fizeram, digna do homem valente, e por isso
comumente dão obediência aos pais quando lhes parece;
finalmente, cada um é rei em sua casa e vive com quer; pelo que
nenhum ou certamente muito pouco fruto se pode colher deles, se
a força e o auxílio do braço secular não acudirem para domá-los e
submetê-los ao jugo da obediência (1988, p. 55)
Nesse processo civilizador a Igreja chama para si a responsabilidade
para com a conversão dos gentios, conforme Nóbrega “e assim também que as
leis positivas não obriguem ainda este Gentio, até que vão aprendendo de nós
por tempo, scilicet: jejuar, confessar, cada anno e outras cousas similhantes
(1988, p. 83, cf. o autor). Constata-se deste modo que nesta fase, o trabalho
docente tinha na catequese sua idéia-força e o eixo pedagógico, “uma vez que
os jesuítas consideravam que a primeira alternativa de conversão era o
convencimento que implicava práticas pedagógicas institucionais (as escolas) e
não-institucionais (o exemplo). As primeiras eram mais visíveis” (SAVIANI,
2008, p. 31). Todavia entende-se a partir de Gramsci, que o cristianismo
jesuitizado foi transformado em puro narcótico para as massas populares”
(1978, p. 34), na medida em que, o nativo desrespeitado em sua crença, foi
obrigado a aceitar a fé cristã para poder sobreviver.
83
Ao escrever sobre a primeira fase da educação jesuítica marcada pelo
plano de instrução elaborado por Manuel da Nóbrega, Saviani assim se
expressa:
O plano iniciava-se com o aprendizado do português (para os
indígenas); prosseguia com a doutrina cristã, a escola de ler e
escrever e, opcionalmente, canto orfeônico e música instrumental;
e culminava, de um lado, com o aprendizado profissional e
agrícola e, de outro lado, com a gramática latina para aqueles que
se destinavam à realização de estudos superiores na Europa
(Universidade de Coimbra). Esse plano não deixava de conter
uma preocupação realista, procurando levar em conta as
condições específicas da colônia (2008, p. 43).
Neste sentido, Caio Prado Junior aponta a infiltração de jesuítas e
carmelitas, em particular, pelo vale acima do rio Amazonas iniciado a partir da
segunda metade do século XVII e, sem a pretensão de indagar, sobre os
interesses que animavam os missionários (se o puro zelo religioso da
convero de almas pagãs; se outros projetos mais amplos e não
confessados), afirma:
Quanto aos jesuítas, parece fora de dúvida que tinham na
América um plano de grandes proporções: nada menos que
assentar nela um imenso império temporal da Igreja Católica e
sob sua direção. Não se explica de outra forma a empresa
sistemática, e em parte realizada, de conquistar todo o coração do
continente sul-americano; o que se revela nesta linha estratégica
de missões que se estendem do Uruguai e Paraguai, pelos Moxos
e Chiquitos da Bolívia, até o alto do Amazonas e Orenoco (1976,
p. 70).
Em consonância, Neves (1992) ao escrever A grande Empreitada,
enfatiza que o objetivo dos Jesuítas era o de realizar uma “nova civilização no
Brasil”. Isto é, o trabalho doutrinário dos jesuítas estava dirigido à dissolução da
cultura íncola e seu primitivismo, pois, o interesse era acabar com o hábito dos
índios por meio da substituição dos seus moldes vivenciais indígenas pelo
modo de organização social e cultural da Europa
49
. Assim, assinala-se que a
instrução básica oferecida generosamente aos índios tinha em vista a
49
Ao ler os escritos de Nóbrega sobre às condições para que os índios recebessem o Evangelho, e a
doutrina de Cristo, Saviani constatou: “de acordo com essa pedagogia e ética missionária, a sujeição dos
índios precede a conversão, sendo condição necessária de sua eficácia”(2008, p. 44).
84
catequização, afinal, desde esse tempo se percebeu que o convencimento por
meio do trabalho educativo é um instrumento muito mais valorativo que a
utilização do poder das armas, que além de serem menos eficazes são mais
custosas. Dentre os primeiros professores do Brasil
50
encontramos “os irmãos
Antonio Rodrigues, Manuel de Chaves, Fabiano, Antonio, Mateus Nogueira,
João de Souza e Gonçalo Antonio; ajuntaram de diversas partes muitos dos
filhos dos índios, e os instruíam otimamente nos rudimentos da cristã, no
estudo dos elementos e no escrever” (ANCHIETA, 1988, p. 48).
Com o passar do tempo, vai se formar no Brasil uma pequena elite
agrária e serão os jesuítas que irão se dedicar - além da catequização dos
gentios - a educação dos filhos desta elite que podia pagar pelos ensinamentos
oferecidos. Para consolidar tal ensino, os jesuítas especializaram-se desde
cedo, segundo Paiva (s/d, p. 01), a organizar seu próprio código pedagógico
intitulado de Ratio Atque Institutio Studiorum
51
, numa concepção de mundo
voltada para a salvação e perfeição das almas próprias e do próximo utilizando-
se da educação no cumprimento desta missão de acordo com o preceito: “tudo
para maior honra e glória de Deus”. Por conseguinte, a evangelizão unida à
educação fez dos jesuítas os primeiros professores brasileiros especialistas “na
ão de instruir e educar, para salvar” (PAIVA, 1981, p. 1).
Maurício Tragtenberg, enfatiza sobre a necessidade de “letrados” para
dar sustentação ao aparato burocrático de poder instituído a partir da Igreja e
do Estado Moderno e aponta para o fato do intelectual ser “domesticado”, de
um lado, dentro do contexto das universidades ligadas à Santa e, de outro,
“com a emergência do jesuitismo, seu aprendizado passapelo processo de
organização e planejamento de estudos num espírito de obedncia - é o
sentido da ratio studiorum de 1586” (1978, p. 15). Percebe-se a ligação
estreita entre religião e educação. A concepção de homem e de sociedade
referenda-se em Deus em que tudo essubmetido à fé, à edificação da Igreja,
50
Embora se reconheça a hegemonia jesuítica nas questões educacionais o pioneirismo da educação
vinculada a catequização no Brasil se deve aos franciscanos. Conforme Saviani: “esses frades já usavam a
técnica de percorrer as aldeias indígenas em missões volantes, unindo a catequese à instrução. Foi essa
técnica que mais tarde caracterizou a ação dos jesuítas. Esses franciscanos constituíram recolhimentos
que funcionavam em regime de internatos, como verdadeiras escolas que ensinavam, além da doutrina, a
lavrar a terra e outros pequenos ofícios” (2008, p. 40).
51
A título de interesse as 467 regras da Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Jesus podem ser
consultadas e analisadas por meio do livro História das Idéias Pedagógicas no Brasil de Demerval
Saviani, nas páginas 53 à 59 da 2ª Edição de 2008.
85
à salvação das almas. Toda organização da educação traduz este
direcionamento “em que o conceito de homem é o apresentado pela Igreja do
século XVI, ou seja, uma referência essencial a Deus de um ser que se
caracteriza pelo uso da razão, e esta razão alcança seu apogeu, dedicando-se
a seu próprio cultivo, conforme as lições dos antigos, por meio da interpretação
cristã” (PAIVA, 1981, p. 2).
Assim, com disciplinas organizadas em blocos e não por ano a
educação jesuítica valorizava a oratória (filosofia, teologia, gramática e a
memória). Enquanto na Europa se valorizava o saber científico, a ênfase da
educação jesuítica era a valorização dos grandes feitos dos santos, da
utilização de técnicas de memorização que dava mostra de estarem mais
preocupados em formar padres do que os profissionais de que o país
precisava. Em tal educação livresca, não havia lugar para o homem prático,
pois, não estava voltada para o trabalho que era visto como algo feio,
pejorativo, recomendado somente para o escravo.
Cumpre destacar, ainda, que os jesuítas tinham muito poder
52
- os filhos
das elites, filhos de senhores de engenho freqüentaram suas escolas e,
portanto, o que eles diziam não se questionava e isto incomodava Portugal. A
solução para este impasse é fornecida por Marquês de Pombal que propôs a
expulsão dos jesuítas para que outro tipo de educação pudesse desenvolver-
se. Sobre esta disputa entre o poder secular e o poder eclesiástico, Caio Prado
Junior - as destacar as poucas realizações ocorridas até meados do século
XVIII, devido às dificuldades empreendidas pelos jesuítas e pelos colonos
leigos que os seguiram - afirma:
Nesta época, a administração portuguesa que por iniciativa do
Marquês de Pombal, ministro de D. José I, se libertara da
influência jesuítica até então dominante na corte, resolve abrir luta
contra o poder excessivo dos padres na América, que ameaçava
subtrair à coroa portuguesa o domínio efetivo de grande parte da
colônia. Em 1755 é abolido o poder temporal dos eclesiásticos nas
missões indígenas. As aldeias são entregues a administradores
52
desde 1564 a coroa portuguesa adotou o plano da redízima, pelo qual dez por cento de todos os
impostos arrecadados da colônia brasileira passaram a ser destinados à manutenção dos colégios
jesuíticos (SAVIANI, 2008, p. 49). Soma-se à isto as usurpações que os padres empreendiam contra a
liberdade dos índios; a posse dos bens situados nas terras em que eles moravam; a venda das drogas que,
por ordem deles, os índios iam buscar no sertão; e a venda das carnes e couros e dos peixes obtidos com o
trabalho dos mesmos índios” (idem, p. 74-75).
86
leigos, e os padres conservaram apenas os poderes espirituais.
Aliás pouco depois (1759) os jesuítas, que resistiram à
secularização das aldeias, são expulsos de todos os domínios
portugueses (PRADO Jr, 1976, p. 71).
Percebe-se que a educação de viés religioso encaminhada pelos padres
jestas - voltada para a maior honra e gria de Deus, a salvação e edificação
da Igreja - em 1759 cederá paulatinamente espaço para as aulas régias. o
obstante, destaca-se que até então, a maior parte das escolas eram dos
padres jesuítas e a grande elite brasileira havia realizado sua formação nela.
Sendo assim, os professores das aulas régias foram formados pelos padres
jestas e, portanto, este modelo de educação voltada ao aperfeiçoamento da
alma produz eco por um bom tempo. Entretanto, as o período jesuítico,
observa-se, no que diz respeito à educação que “havia os mestres particulares,
que ensinavam em domicílio, também havia aqueles que criavam ‘classes’, os
chamados regentes régios, de primeiras letras ou dos preparatórios” (XAVIER,
2008, p.182).
À exemplo disso cita-se um documento deste período: Cultura e
Opulência do Brasil, por suas drogas e Minas de André João Antonil que ao
tratar do como se de haver o senhor do Engenho na eleição das pessoas e
oficiais que admitir ao seu serviço, e primeiramente da eleição do capelão
descreve a função deste servo que é servir apenas a Deus e se houver de
ensinar aos filhos do senhor do engenho, se lhe acrescentará o que for justo e
correspondente ao trabalho” (ANTONIL, 1983, p. 83). Outra passagem que
confirma isto é do Congresso Agrícola:
Que sejam creadas em todas as sedes de freguesia e nas
capellas, sob a direcção dos parochos, melhor remunerados, as
santas instituições das Escolas do domingo, onde, graças ao
benéfico influxo da religião, possamos colher a população
dispersa pelo campo, fora do alcance das escolas, quando é
attrahida as povoações pelo sagrado engodo das festividades
religiosas, que tão grande influencia exercem sobre a população
do campo (Congresso Agrícola, 1988, p. 56, cf. original)
Constata-se, por conseguinte, dentre outras coisas, a) o caráter religioso
presente nesta educação e seu teor de moralidade e preparação para o
trabalho; b) e, também, conforme Faria Filho & Vidal “a dificuldade de num país
87
agrário de convencer os pais da importância de incentivar os filhos aos
estudos” (2000, p. 22).
E dentro desse contexto - em um país em que as pessoas viviam
eminentemente no campo - em 1759, foram fundadas as aulas regias. Nesse
sistema o professor recebia do rei para lecionar em sua própria casa. O Brasil
era um país de economia agrícola, com uma população formada por
camponeses e escravos em sua maioria, logo, o havia preocupação com a
educação dos filhos como se sucede mais de duzentos anos mais tarde com o
êxodo rural
53
que conduz ao aumento do mero de habitantes nas cidades.
Assim, num ambiente campestre o acesso a escola era pequeno
54
e a procura
por uma aprendizagem voltada para a agricultura não eram muito valorizada
pela mocidade.
[...] o certo é que os lavradores de um amor mais esclarecido, e
que, desejando melhor futuro para seus filhos, os fazem proseguir
em seus estudos, os destinam a essas differentes profissões, e
não nos consta que os cursos de agricultura, que possuímos em
numero muito inferior as nossas necessidades, sejam
sufficientemente freqüentados pela mocidade de um paiz
essencialmente agrícola! (Congresso Agrícola, 1988, p. 55, cf.
original).
Assim, os reclames do congresso agrícola realizado no RJ em que se
requisitará uma educação pública para melhorar a qualidade na produção se
contrapõem à educação de vertente religiosa, pois, para os lavradores de
Baependy a educação primária e secundária deve ser garantida pelo Estado
para que o país possa se desenvolver:
[...] e, quando mesmo se realize logo o ideal desejado da
intervenção da trindade política Município, Província e Estado
na distribuição do ensino, ainda se fapreciso a intervenção do
Estado no ensino primário e secundario, não para pagai-os
como para inspeccionai-os, simplificando-se, o qual, unido ás
distancias que tem de vencer a acção do poder central para se
fazer sentir em um paiz vasto como o Brasil, é um obstaculo serio
á toda Idea de progresso na ordem moral, como na material, e se
53
No Brasil, o êxodo rural intensificou-se a partir da década de 1970 e, com isso, a população da cidade
aumentou a ponto de superar a população radicada no meio agrícola. Paralelamente a este fato cresce a
demanda por escolas.
54
Segundo o Congresso Agrícola eram 1.583.705 as crianças em idade de freqüentarem a escola e que o
Estado tinha a obrigação de atender, fora os adultos analfabetos. Entendiam que o futuro da pátria
dependia da educação (p. 56).
88
acha em flagrante contradição com o prolóquio inglez time is
Money tempo é dinheiro (Congresso Agrícola, 1988, p. 55, cf.
original).
Nota-se, a partir do exposto a ênfase dada a educação enquanto aquela
que vem para salvar’ o Brasil de seu atraso e elevá-lo ao mesmo patamar de
desenvolvimento que as nações européias.
2.1.2. Alguns aspectos do trabalho docente no Brasil imperial
Conforme alguns historiadores - dentre eles André Paulo Castanha - a
independência do Brasil aconteceu de modo harmônico, de cima para baixo,
sem guerra e não significou “nenhuma ruptura significativa. No entanto, tal fato
foi importantíssimo para nossa história. A partir de então o poder estava
próximo, e por isso, mais sujeito às críticas, às contradições e ao jogo de
interesses” (CASTANHA, s/d, p. 4). A independência simbolizou o surgimento
de outras relações da classe dominante brasileira que ao tornar-se mais
independe de Portugal, passa a estabelecer comércio e contratos com a
burguesia européia e, particularmente, com a Inglaterra. Neste sentido, reitera
Antonio Joaquim Severino
A Independência não provoca grandes transformações: do ponto
de vista econômico, a maior conquista é a liberdade do comércio
internacional; do ponto de vista político-social, a adoção do
formalismo liberal do governo, resistência a qualquer
transformação: manutenção do tfico de escravos e da
escravidão, continuação da monarquia (1986, p. 68).
Enfatiza-se, de acordo com Castanha, em sua tese de doutorado sobre
O Ato Adicional de 1834 e a Instrução Elementar no Império: descentralização
ou centralização? Que neste período persistia e se generalizava a escravidão,
aceita por diversos segmentos da sociedade, sem “grandes divergências
ideológicas, pois ambos eram formados por proprietários rurais, comerciantes,
profissionais liberais, intelectuais, religiosos” (CASTANHA, 2007, p. 34).
Percebe-se, deste modo, que vigorou um “liberalismo de fachada” no Brasil, na
medida em que “toda a base econômica, ou seja, as relações de produção e as
próprias relações sociais e culturais estavam aliceadas na escravidão” (idem,
p. 34).
89
Segundo Enrique Peregalli, para a Igreja:
Escravos nasciam para ser escravos, senhores para serem
senhores. Sem negar a escravidão, insistia na tese que um bom
escravo cristão é aquele que aceita a escravidão, e que um bom
senhor cristão é aquele que tratava bem aos escravos. Pregava-
se a resignação a uns, a benevolência a outros. O pecado do
senhor era a crueldade, o pecado do escravo a revolta (1988, p.
28).
Por conseguinte, pode-se destacar que este foi um dos principais
entraves para o desenvolvimento e organização do trabalho docente, uma vez
que as necessidades de instrução eram mínimas, mesmo para os que eram
livres. Nota-se, deste modo, que a independência do Brasil não mudou as
condições e a vida dos escravos, que contrariamente, passa a ser reforçada
depois da independência na medida em que ascende “ao poder e à direção
política do novo Estado, da classe mais diretamente interessada na
conservação do regime: os proprietários rurais que se tornam sob o Imrio a
força política e socialmente dominadora” (PRADO Jr, 1976, p. 143). Portanto,
numa economia fundada na escravidão e com predomínio de atividades
agropecuárias a industrialização, em que as inovações tecnológicas eram
praticamente inexistentes, onde as pessoas em sua maioria viviam de modo
simples espalhados pelo vasto império brasileiro, percebe-se a pouca
importância atribuída à educação.
Pois, para o trabalho braçal, mesmo o simples ler, escrever e
contar era dispensável, pois a instrução é um fenômeno
característico de sociedades urbanas, ou seja, quanto mais
intensa e complexa for a sociedade mais necessitará e estimula
o seu desenvolvimento. No Império, mesmo as maiores cidades
mantinham uma forma de vida e organização bastante
elementares, devido a existência da escravidão urbana
(CASTANHA, 2007, p. 15).
Com efeito, a primeira lei educacional no Brasil data da promulgação da
primeira constituição do império do Brasil, outorgada por D. Pedro I no ano de
1824, e que no inciso 32 do último artigo (179) do último título (VIII) se limitou a
afirmar que a instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”. Deste modo,
colocava-se em sintonia com o espírito da época, tomado pela influência
90
iluminista que defendia para a elevação da nação de seu atraso a difusão das
luzes, garantindo em todos os povoados, o acesso aos rudimentos do saber
que a modernidade considerava indispensáveis para afastar a ignorância”
(SAVIANI, 2008, p. 126). Entretanto, nem sempre o ideal correspondia ao
efetivo, pois, apesar da constituição pregar - baseada nos princípios iluministas
- o direito às liberdades individuais e da abolição da tortura, a escravidão e as
chibatas permaneceram.
No que diz respeito à organização escolar e o trabalho docente estes
sofrem os efeitos da “religiosidade, moralidade, tradição e a cultura dos
homens simples, entre outras” (CASTANHA, 2007, p. 16). A hierarquização e a
centralização do Estado, bem como a vitória dos conservadores frente os
embates entre centralização e descentralização “permitiu visualizar melhor a
construção do poder do inspetor de instrução pública, os aspectos
fundamentais do currículo escolar e os instrumentos utilizados para controlar o
trabalho dos professores” (idem, p. 16).
A adoção do “ensino mútuo” se torna oficial no Brasil a partir de 1827,
muito embora viesse sendo divulgado pela Lei das Escolas de Primeiras
Letras, desde 1808. Um dos argumentos apresentados diz respeito ao fato de
que eram poucos professores para ensinarem individualmente os alunos,
“mesmo quando sua classe era formada por vários alunos (método individual),
impedia que a instrução pudesse ser generalizada para um grande mero de
indivíduos, tornando a escola dispendiosa e pouco eficiente” (FARIA FILHO;
VIDAL, 2000, p. 22). Deste modo, nossos políticos e intelectuais passaram a
defender uma escola mais rápida, mais barata e com um professor mais bem
formado. O método preconizado, utilizado largamente na Europa, possibilitava
segundo seus defensores, que um único professor desse aula para a1.000
alunos” (idem, p. 22).
Manacorda assinala que este método de ensino trata-se da resposta
prática a este perpétuo medo dos conservadores, o medo de que a instrução
pudesse ‘perturbar o Estado’” (1989, p. 258). Voltado sobre a realidade do
Brasil, complementa Saviani dizendo que o “método mútuo”, também chamado
de monitorial ou lancasteriano, difundido pelos ingleses Andrew Bell (pastor da
Igreja Anglicana), e Joseph Lancaster (da seita dos Quakers), consistia “no
91
aproveitamento dos alunos mais adiantados como auxiliares do professor no
ensino de classes numerosas” (2008, p. 128).
Percebe-se, assim, como relatam Luciano Mendes de Faria Filho e
Diana Gonçalves Vidal, que se acreditou que para ter êxito o método mútuo,
“bastava, para isso, que ele contasse com espaço e materiais adequados e,
sobretudo, com a ajuda dos alunos-monitores(2000, p. 22). Observa-se ainda
que:
As lições são de um quarto de hora nas classes inferiores e de
meia hora nas superiores; os exercícios são breves e fáceis.
Nelas finalmente está associada a aprendizagem do ler e do
escrever e se utilizam materiais didáticos novos; particularmente,
os livros são eliminados, alunos recebem uma tabuinha com areia,
onde escrevem com o dedo, e uma pequena lousa. Para ler, os
alunos se agrupam em semicírculo na frente de grandes lusas ou
“quadros”, pendurados nas paredes, e tudo se desenvolve com
rigorosa disciplina (MANACORDA, 1989, p. 259).
Nota-se, por conseguinte, o exercício do trabalho docente diferenciado
daquele que se realiza na atualidade, em que os alunos exercem monitoria em
colaboração na realização do processo de ensino aprendizagem. Para o bom
êxito desta empresa escolar, destaca-se “a mobilidade dos monitores por entre
as turmas, a mobilidade das turmas dentro da classe, a necessidade de
pendurar ‘cartazes’ e outras peças na parede, dentre outras inovações” (FARIA
FILHO; VIDAL, 2000, p. 22). No entanto, é bom lembrar, conforme Manacorda
que a “competição é o princípio ativo destas escolas, que solicitam a
participação, embora extrínseca, e não conhecem punições físicas. Mas
permanece o grave defeito do excesso de espírito militarista e mecanicista na
didática” (1989, p. 260).
Saviani, embora indique o Ato Adicional de 1834 como responsável, pela
não viabilização da Lei das Escolas de Primeiras letras no Brasil, na medida
em que por meio deste, “o governo central desobrigou-se de cuidar das escolas
primárias e secundárias transferindo essa incumbência para os governos
provinciais(2008, p.129), pondera e se distancia da tenncia freqüente da
historiografia educacional
55
que atribui ao Ato Adicional a responsabilidade pela
55
Sobre os embates em torno da responsabilidade do Ato Adicional de 1834, Castanha, em sua tese de
doutorado em 2007 com o título: O Ato Adicional de 1834 e a instrução elementar no império:
92
não realização ou pelas deficiências educacionais do século XIX e, para
reforçar sua posição, acresce a constatação de que, em cada província, o
ensino primário e secundário era realizado por quem podia pagar.
Para Maria Elizabete Sampaio Prado Xavier o as “vinculações com o
contexto econômico, político e social do país que explicam tanto as
incoerências entre os objetivos educacionais proclamados e encaminhamento
das propostas de efetivação dos mesmos (1980, p.131). Neste sentido,
Saviani aponta algumas das razões pelas quais a implementação da Lei das
Escolas de Primeiras Letras caminhou a passos lentos:
As críticas principais recaíam sobre a insuficiência quantitativa,
falta de preparo (a tentativa de resolver esse problema com a
criação de Escolas Normais ainda não surtira efeito e vinha sendo
objeto de críticas constantes), parca remuneração e pouca
dedicação dos professores; a ineficácia do todo lancasteriano
atribuída, sobretudo, à falta de instalações sicas adequadas à
prática do ensino mútuo; e a ausência de fiscalização por parte
das autoridades do ensino, o que tornava freqüente nos relatórios
a demanda pela implantação de um serviço de inspeção das
escolas (2008, p.130).
Sendo assim, é preciso considerar a relação existente entre
escolarizão de conhecimentos e tempos e espaços escolares, uma vez que
estes, como analisam Luciano Mendes de Faria Filho e Diana Gonçalves Vidal,
tamm educam. Em outras palavras, pode-se dizer, que como pedagogias,
tanto o espaço quanto o tempo escolar ensinam, permitindo a interiorização de
comportamentos e de representações sociais” (2000, p.20). Segundo estes
autores, no império e, mesmo no início da República, a grande maioria da elite
econômica e política do Brasil eram analfabetos, dado que se tratava de um
país basicamente agrário-exportador. No entanto, interessa destacar aqui os
dois tipos de escolas citadas: de improviso, monumentos.
As escolas de improviso eram aquelas em que os pais organizavam os
espaços escolares para seus filhos e pagavam os professores. Este nome liga-
se ao fato desta educação se realizar em espaços improvisados, como por
exemplo, em casas de famílias, dos próprios professores, em prédios públicos
ou comerciais, na capela da Igreja. Apesar do Estado se esfoar para sujeitar,
descentralização ou centralização após analisar vasta bibliografia concluiu que não se pode atribuir ao
Ato a precariedade educacional do país.
93
estas escolas de improviso, a seus desígnios, estas se mantinham sem
nenhum vínculo com o mesmo. Por “vezes chamadas de particulares, outras
vezes de domésticas, ao que tudo indica, superavam em mero, até bem
avançado o século XIX, aquelas escolas cujos professores mantinham um
vínculo direto com o Estado” (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p. 21). Nestas
desenvolvia-se o ensino da leitura, da escrita e do cálculo. Verifica-se neste
período que a maior parte das escolas funcionavam em locais inapropriados,
sem condições e, portanto, no século XIX os médicos, engenheiros e a
comunidade em geral, começam a exigir espaços adequados para a instrução,
pressionando o Estado para que construa escolas apropriadas.
Assim, tendo presente que a falta de espaços e materiais higienicamente
concebidos era prejudicial à saúde e à aprendizagem dos alunos, a origem dos
grupos escolares articula-se com a industrialização e urbanização. No entanto,
apesar do debate sobre a constituição de espos dedicados ao ensino e a
fixação de tempos de permanência na escola, estar posto desde a segunda
metade do século XVIII, sua concreção terá que esperar até meados da última
década do século XIX. Por meio das escolas-monumentos os governos
visavam passar a imagem da estabilidade governamental. Têm-se a divisão
seriada de classes, por idade e nível de conhecimento; a delimitação do tempo
escolar controlado pela campainha; a distribuição rígida das disciplinas, para
favorecer “a utilização racionalizada do tempo e dos espaços e para o controle
sistemático do trabalho das professoras, dentre outros aspectos” (FARIA
FILHO; VIDAL, 2000, p. 27).
Sobre estes grupos escolares, assinala-se ainda que estas escolas
edificadas “em função do número de alunos contendo em geral 4,8 ou 10
classes, em um ou dois pavimentos, com nichos previstos para biblioteca
escolar, museu escolar, sala de professores e administração” (FARIA FILHO;
VIDAL, 2000, p. 25), construídos simetricamente, possuíam um pátio central,
no intuito de rigidamente separar a ala feminina da masculina. Deste modo, por
meio destas escolas, busca-se no Império, aparentar uma pátria ordeira e
progressista.
2.1.3. Alguns aspectos do trabalho docente no Brasil República
94
A Proclamação da República ocorrida no dia 15 de novembro de 1889,
assinala para uma nova tendência nas relações entre a Igreja e o Estado. Têm-
se a romanizão da Igreja Católica no Brasil e o fim do padroado, dos amplos
poderes que tinha o imperador sobre os assuntos eclesiásticos. A partir da
Igreja passa a seguir os encaminhamentos advindos de Roma. Este episódio
contribui para a afirmão do laicismo, que “era a forma encontrada pelo
Estado para recusar a ingerência direta da Igreja em sua política e para
dispensar a mediação da ideologia católica na consecução de seus objetivos
(SEVERINO, 1986, p. 66).
Este fato repercute no campo da educação de que a mudança política
acarretaria mudança na educação. Como pano de fundo estava a idéia de que
o Brasil somente iria se igualar aos países europeus por meio do investimento
em educação. Decorrente disso, tivemos o entusiasmo pela educação (basta
aumentar o número de escolas sem a necessidade de torná-las obrigatórias) e
o otimismo pedagógico (a preocupação com o método, com o currículo, com a
qualidade da formação do professor, entre outras). Sendo assim, os
republicanos colocaram-se como porta-vozes da classe média e da população,
porém, não constava na sua agenda que “a educação escolar precisava estar
acompanhada de transformações materiais, distribuição das riquezas, justiça e
igualdade” (HILSDORF, 2003, p. 71).
Por conseguinte, a Primeira Guerra Mundial ocorrida em 1914-1918,
causou destruição na Europa e possibilitou o declínio do câmbio, reduziu
consideravelmente a concorrência estrangeira, inviabilizou a importação dos
produtos manufaturados dos países beligerantes e contribuiu para o
desenvolvimento econômico e industrial do Brasil. No entanto, assinala-se que
a “modificão mais sensível será a transferência para o primeiro lugar das
indústrias de alimentação, que passam de 26,7% da prodão em 1907, para
40% em 1920 (PRADO Jr, 1976, p. 261). Importa destacar que “o capital
cafeeiro deu nascimento à indústria de bens de consumo assalariado, como o
têxtil, e não à indústria de bens de produção cujos riscos de investimentos
eram altíssimos” (ANTUNES, 1982, p. 41). Esta transformação da realidade
brasileira (surgimento dos núcleos urbanos) passa a requerer uma demanda
pela escola e, consequentemente, pelo trabalho docente.
95
De modo que a abertura da escola de massas para o setor populacional
não urbanizado acontece em meados da década de 1910. Hilsdorf considera
que os cafeicultores redesenharam a escola e definiram a pedagogia segundo
os seus interesses. Porém, assinala-se, de acordo com José dos Santos
Souza, que no Brasil até 1930 “a educação da classe trabalhadora não tinha
muito significado para a constituição da sociedade brasileira” na medida em
que têm-se a “constatação negativa atribuída ao trabalho manual” (2002, p. 3)
em um país pobre que mal acabara de “libertar seus escravos” (13/05/1888).
Assinala-se que a busca por escolarização acentuou-se com o
desenvolvimento da indústria brasileira associada à urbanização. Nas palavras
de Ricardo Antunes, constitui-se em particularidade da Industrialização
brasileira ser de via colonial, hipertardia, retardatária e subordinada ao
capitalismo na sua fase monopolista” (1982, p. 49). De acordo com Xavier, a
“rearticulação da economia mundial favoreceu” (1990, p. 30) a expansão da
indústria submissa a interesses internacionais. Enfatiza-se ainda que “enquanto
nas formões centrais o processo de constituição do capitalismo passa pelas
formas clássicas de produção como o artesanato, a manufatura e a grande
indústria -, no Brasil o processo de industrialização nasce dentro de um
contexto onde predomina a grande indústria” (ANTUNES, 1982, p. 49).
Aponta-se tamm que no Brasil o
complexo econômico gerado pelo núcleo cafeeiro, onde se
incluíam desde as estradas de ferro aos bancos, o grande
comércio de exportação e importação, assim como a própria
mecanização crescente da produção, havia constituído a base de
um crescimento industrial tímido e descontínuo (XAVIER, 1990, p.
31).
Com o desenvolvimento do movimento democrático têm-se a luta pela
democratizão da escola. Os prédios monumentais passam a ser símbolos da
elitização da educação e, com Anísio Teixeira (1933) no Rio de Janeiro e
Almeida nior (1936) em São Paulo passa-se a arquitetura funcionalista e a
revitalização do escolanovismo. Os novos prédios escolares deveriam ser
simples e baratos, sem o estilo estético colonial. Tratava-se de uma
“arquitetura funcional, racional, com uso de materiais da região e atendendo às
condições de clima, usos e costumes, e não a uma arquitetura de fachadas,
96
que caberia projetar as instalações escolares” (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.
29-30). Em outras palavras, busca-se construir escolas simples e funcionais
para atender o maior mero de alunos possível, alterando-se as concepções
de espaços escolares.
Para os republicanos somente eles poderiam modernizar o ps e tirá-lo
do atraso, sendo assim, faziam uma propaganda de educão para todo Brasil.
Observa-se, neste sentido, conforme Ester Buffa e Paolo Nosella, a influência
exercida pelos Pioneiros da Educação Nova
56
e as grandes reformas estaduais
de ensino dos anos 20 e 30 que começa “a negar formas arcaicas e
persistentes do ensino e se propõe uma modernizão da administração, dos
conteúdos e dos métodos escolares, no esteio, aliás, de um processo de
modernização geral da sociedade brasileira” (1991, p. 59). Com efeito, este
processo culminou no aproveitamento de suas idéias pela Revolução de 30, a
grande revolução burguesa que, essa sim, estendeu a todos os direitos liberais
que a Primeira República não conseguira concretizar, inclusive o direito à
educação” (HILSDORF, 2003, p. 79, grifo da autora).
Sem pretender entrar no mérito do debate acerca do Direito Formal e a
sua relação com a materialidade, se ele significa um avanço ou retrocesso, o
fato é que o Direito Formal não é garantia na prática que algo se efetive. Assim,
importa explicitar a particularidade do trabalho docente oferecido à todos
aqueles que, neste período, frequentaram os bancos escolares. Para tanto,
evidencia-se “o caráter centralizador e intervencionista do Estado Varguista, a
rigorosa disciplina imposta aos fatores de produção, especialmente à força de
trabalho industrial” (ANTUNES, 1982, p. 70) e, dentro deste movimento
econômico-político e social, nota-se que a educação e o trabalho docente
encontram-se articulados com a proposta nacionalista, a serviço da ordem e
do progresso” do país.
Simultaneamente aos “avanços” no campo educacional constata-se a
repressão política desencadeada a partir de 1935 num momento fecundo em
que estes buscavam definir diretrizes para embasar a política educacional.
56
Fernando de Azevedo, ao redigir O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova 1932, inicia revelando
a centralidade da educação na reconstrução nacional argumentando que “é impossível desenvolver as
forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento de
aptidões a invenção e a iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riquezas de uma
sociedade” (s/d, p. 54).
97
Concomitantemente, verifica-se que durante o governo Vargas, também ocorre
a ditadura do Estado para conter o perigo de “real possibilidade da revolução
socialista, alimentada pelo exemplo russo, espalhara-se pelo mundo inteiro e o
Brasil (com seus educadores) não ficou imune a esta influência” (BUFFA;
NOSELLA, 1991, p. 93). A burguesia brasileira em ascensão reequipa o velho
Estado Liberal e como estratégia importa “o fascismo, expressão política
internacional do capitalismo monopolista” (idem, p. 93). Em decorrência dá-se o
golpe de Vargas em 1937, oficializando o fascismo no Brasil.
No que tange a educação, a Constituição outorgada no dia 10 de
novembro de 1937, manteve alguns princípios anteriores e procurou dar
destaque ao trabalho manual. O artigo 128 declara a manutenção da
“gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário instituindo, em caráter
obrigatório, o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas primárias,
normais e secundárias” e o artigo 129 afirma o “regime de cooperação entre a
indústria e o Estado(RIBEIRO, 1998, p. 129). Nesse sentido, vale lembrar,
ainda, as implicões da Reforma Capanema decretada no dia 09 de abril de
1942 relativa ao ensino secundário e que refletia “o transplante da ideologia
nazi-fascista já agora na organização escolar brasileira” (idem, p.131).
Conjuntamente, observa-se também, segundo Moacyr de Góes, a
negociação da entrada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) por Getúlio
Vargas em troca da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a opção da
burguesia nacional em aliar-se ao capital internacional. Nesse momento,
devido à sua vulnerabilidade, ocorre a cooptação do movimento operário que é
atrelado ao Estado. Deste modo, a capitalização brasileira “foi conseguida
através da imposição de grandes sacrifícios à maioria da população. O terror
policial, a repressão violenta, as deportações impostas pela ditadura getulina”
(RIBEIRO, 1998, p. 130).
É dentro deste cenário que a pedagogia tradicional, centrada no
professor, tinha como fuão “transmitir os conhecimentos acumulados pela
humanidade segundo uma graduação lógica, cabendo aos alunos assimilar os
conteúdos transmitidos (SAVIANI, 2007 (b), p. 104). Este entendimento
modifica-se com o movimento da Escola Nova em que ocorre o deslocamento
da centralidade da educação do professor para o aluno. Dentro desta
concepção a escola é entendida “como um espaço aberto a própria
98
aprendizagem, construindo seus conhecimentos. Ao professor cabe o papel de
acompanhar os alunos auxiliando-os em seu próprio processo de
aprendizagem” (idem, p. 104).
Acrescenta-se, tamm, que a suntuosidade exibida pela escola-
monumento no fim do Império e início da República lugar, conforme já
salientamos, à prédios funcionalistas, tecnicamente projetados para uma
educação rápida e eficiente, com lugares específicos para acolher maquinário,
como mimeógrafo, e propiciar um controle do corpo docente através de
mecanismos administrativos cada vez mais capilares” (FARIA FILHO; VIDAL,
2000, p.31). Tudo isso encontra-se articulado com a necessidade de
reprodução da sociedade e, por conseguinte, do Estado, pois, além dos
“aparatos coercitivos” precisa dos “aparatos ideológicos” para perpetuar-se.
Diante dessa conjuntura, o marco apresentado no tocante às reformas
sociais pautadas nas agendas dos países da América Latina e entre eles o
Brasil é a década de 1960. Dalila Andrade Oliveira, argumenta que só “a partir
desta década no Brasil é possível falar em planejamento educacional
propriamente dito, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.
4024 de 1961” (1997, p. 67). Pode-se dizer que esta é resultado de um
processo em que o trabalhador docente percebeu que os problemas da sala de
aula não se resolviam só dentro dela e passa a espiar o que se passa no
campo social e “com a crise dos anos 50-60 maior número de educadores
comou a botar a cabeça para fora da sala de aula para olhar e estudar o
mundo” (GÓES, 2002, p. 11).
Ressalta-se o embate acerca do Projeto Mariani na defesa da escola
pública e o Projeto Substitutivo Lacerda que empunha a bandeira dos
privatistas em educação para a promulgação da LDB(1961) vinha sendo
discutido desde 1948. O desfecho foi a conciliação entre os dois projetos e,
desta forma, o ensino no Brasil passou a ser de direito tanto do poder público
como da iniciativa privada (art. 2º). A gratuidade do ensino, conquistada
constitucionalmente, fica sem explicitação. Abre-se a porta para o Estado
financiar a escola privada (art. 95)” (GÓES, 2002, p. 13). Nesse embate, os
responsáveis pelas escolas privadas leigas limitaram-se a apoiar as decisões e
procedimentos dos responsáveis pela escola particular católica, pois,
99
entendiam que se “os princípios destes últimos fossem aceitos, os benefícios
recairiam sobre todas as organizões particulares” (RIBEIRO, 1998, p. 166).
Todavia, o debate assumiu um papel questionador a 1964, quando
com o golpe de Estado, ocorreu o verdadeiro ‘cala a boca’ nacional” (GÓES,
2002, p. 13), em que, segundo Luiz Antônio Cunha (2002), institui-se a
repressão militar e o acirramento da perseguição ao perigo comunista. No
âmbito da educação liquidou-se com o método Paulo Freire de alfabetização; o
Movimento de Educação de Base (MEB) é contido por todos os lados: material
educativo aprendido, verbas cortadas e monitores perseguidos; têm-se a prisão
dos integrantes da equipe dirigente da Campanha de no Chão Também se
Aprende a Ler
57
; buscou-se afastar, perseguir e silenciar os defensores do
ensino gratuito e, no Conselho Federal de Educação (CFE), são empossados
aqueles que se submetiam aos interesses das agências internacionais;
professores e acadêmicos são expulsos das universidades, dentre esses
destaca-se a demissão sumária de Anísio Teixeira da Universidade de Brasília
(UnB) e a aposentadoria precoce de Florestan Fernandes da Universidade São
Paulo (USP) devido a repressão acionada pelo Ato Institucional n. 5.
Nesta perspectiva, Antonio Joaquim Severino afirma que é a partir de
1964 que se consolida a ideologia burguesa a respeito da educação, trazendo
implicações para a realizão do trabalho docente, dado que assume
características inerentes ao capitalismo avançado”. Segundo o autor, num
“plano mais internacional que nacional, o capitalismo impõe ao país uma nova
orientação ideológica, fundada nos seus valores cssicos, mas rearranjada em
termos de uma versão tecnocrática de concepção da vida social” (SEVERINO,
1986, p. 62). Com o intervencionismo proporcionado pelo golpe de 1964 os
projetos sociais são suplantados na perspectiva de promover o
desenvolvimento do capitalismo moderno. Os projetos populares tinham em
comum a busca pelo conhecimento aliado a conscientizão e a busca pela
desalienação política e econômica. A educação com o povo foi tida como uma
ameaça, “subversão”. O golpe de 1964 representou, segundo Moacyr de Góes,
a destruição dos movimentos de educação e cultura popular e a cassação,
57
Campanha “desenvolvida diretamente pela Secretaria Municipal de Natal (Rio Grande do Norte) na
administração do prefeito Djalma Maranhão: fevereiro de 1961” (GÓES, 2002, p. 21) e tinha por objetivo
a superação do analfabetismo.
100
prisão e o exílio dos seus educadores aliados. Concomitantemente, registra-se
a “denúncia dos acordos MEC-USAID, a acusação de que o governo era
vendido’ aos americanos e a condenação do papel que as multinacionais
exerciam no país eram pontos importantes na pauta do discurso da revolta do
movimento estudantil” (BUFFA; NOSELLA, 1991, p. 140).
Para anular os setores progressistas buscou-se realizar a chamada
“limpeza de área” e utilizou-se da força, isto é “o Estado que se reorganizava
optou pela coerção (no sentido usado por Gramsci) como caminho para difundir
a sua concepção de mundo” (GÓES, 2002, p. 31). Com efeito, o golpe de 1964
“põe fim aos ricos movimentos de educação popular dos anos 60. Extingue-se
o debate educacional através de cassações, exílios, perseguições, torturas e
destruição da literatura marxista” (BUFFA; NOSELLA, 1991, p. 139). E, por
conseguinte, em função do custeio americano para a oposição do governo de
Jango e suas reformas (combate ao latifúndio, por exemplo) e do “capital
associado” (em que o importante era exportar), aprofundou-se no Brasil a
concentração de riquezas e os problemas educacionais, aumentando as
dificuldades na realização do trabalho docente.
Com a crise do petróleo da década de 1970 temos o esgotamento do
“milagre brasileiro” e o início do declínio do regime militar. A burguesia passa a
criticar os gastos e a ineficiência das estatais. Diante do aumento do
desemprego, da recessão, dos altos índices inflacionários e da miséria,
aumenta o clamor pela democracia e, com a reforma partidária de 1979, têm-se
o retorno das eleições diretas para governador. No campo da educação
observa-se uma intensa reorganização, em que são criadas várias entidades,
“tais como o Cedes (Centro de Estudos de Educação e Sociedade), a Anped
(Associação Nacional de s-graduação e Pesquisa em Educação) e a Ande
(Associação Nacional de Docentes em Educação)” (XAVIER; RIBEIRO;
NORONHA, 1994, p. 271). Outra conquista importante, foi elaboração do
projeto de reforma que fez com que a Constituição passasse a determinar a
partir de 1983, “os gastos do país com a Educação: a União gastaria nunca
menos que 13% e os estados e municípios nunca menos que 25% de suas
receitas de impostos” (idem, p. 271).
Pode-se dizer que a ampla organização da sociedade garantiu inúmeros
direitos na Constituição Federal de 1988. Nela evidencia-se a luta pelo ensino
101
público e gratuito, por meio do debate acerca de uma nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN).
Após tal contextualização, pretende-se apresentar alguns apontamentos
sobre o trabalho docente no Estado do Paraná a partir do ano de 2002 e
algumas reflexões sobre a saúde do trabalhador da educação na atualidade.
2.2. O trabalho docente no Estado do Paraná
Nesta etapa da dissertação, busca-se centrar no trabalho docente
realizado no Estado do Para tendo como recorte temporal após o ano de
2002, devido os avanços propalados aos trabalhadores do Estado do Paraná e
tendo como pressuposto o que foi exposto sobre o trabalho docente ao longo
da história e na história do Brasil.
Na sequência, intenta-se apontar elementos que possam contribuir para
o entendimento do trabalho docente na atualidade. Deste modo, busca-se
refletir sobre as categorias da pauperizão, precarização e proletarização,
abordadas no terceiro capítulo.
Norteia esta pesquisa a constatação de que, conforme foi salientado,
o trabalho docente não se explica por ele mesmo, mas na sua relação com
multiplicidade das determinações.
2.2.1. O trabalho docente no Estado do Paraná a partir de 2002
O recorte do ano de 2002 se deve, também, as “mudanças” políticas no
âmbito federal e Estadual em que se observa a retomada do Estado no seu
compromisso com a educação, em particular, com a volta da abertura de
inúmeros concursos públicos. No Paradestacou-se entre os investimentos
em recursos didáticos aos professores a TV-pendrive onde cada professor
recebeu um pendrive para uso particular. O professor elabora suas aulas e
repassa por meio da TV-pendrive aos alunos. Deste modo, facilita o seu
trabalho por não precisar restringir-se somente ao quadro e ao giz.
Por outro lado, melhorar as condições de trabalho (a infra-estrutura das
escolas, os materiais didáticos disponíveis e o serviço de apoio aos
educadores e á escola) possibilitam melhores resultados para a realização do
trabalho docente. Contudo, é preciso considerar os apontamentos feitos por
102
Fidalgo, Faria e Mendes ao tratarem do assunto sobre A precarização do
trabalho docente no contexto da EaD, de que:
A EaD contribui para a intensificação do trabalho docente, na
medida em que exige do profissional uma disponibilidade maior de
tempo do professor, seja para dedicar-se à sua formação
continuada, seja para o uso das TICs na sala de aula (tempo
despendido no processo de elaboração, acompanhamento e
correção das atividades, ou na assistência aos alunos via e-mail)
(2008, p. 67).
Logo, é preciso ressaltar que não bastam investimentos na área de
tecnologias aplicadas à educação, pois, o problema é muito mais amplo e se
estende para fora dos muros escolares. Verifica-se, então, a necessidade de
buscar compreender o trabalho docente articulado às transformações
hisricas. Diante de tais expectativas passa-se a esperar muito da escola e a
exigir do trabalho docente a execução de funções que extrapolam a questão da
relação ensino-aprendizagem.
Diante disso, insere-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN) n. 9394/1996 que facilitou o “aligeiramento da formação
docente” ao determinar, em seu artigo 62, que
[...] a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-
á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena,
em universidades e institutos superiores de educação, admitida,
como formação mínima e nas quatro primeiras séries do ensino
fundamental, a oferecida em nível dio, na modalidade Normal
(Brasil, 1996).
Evidencia-se com isso, a abertura de inúmeros cursos de formação de
educação a distância (EaD), que passam a se constituir em uma prática
comum justificados pela necessidade de atingir aqueles que se encontram em
“áreas de difícil acesso”, porém, representam um perigo para a qualidade da
educação ministrada, quando não se levaem consideração o elevado número
de alunos e a quantidade de turmas por professor, que, na maioria das
situações, recebe um baixo valor hora-turma(FIDALGO; FARIAS; MENDES,
2008, p. 68). Logo, o trabalhador da educação muitas vezes não é livre para
escolher a formação que quer receber e nem o local onde irá cursar. A EaD
constitui-se, deste modo, também num elemento que contribui com a
103
precarização do trabalho docente, na medida em que empobrece a sua
formação. Em consequência, evidencia-se o argumento da proletarização
docente articulado às mudanças na sociedade capitalista e suas implicações
que acarretam transformações no ensino, “no qual se observa uma divisão do
trabalho docente, retirando do professor a propriedade de seu meio de
produção, o conhecimento” (ABREU; LANDINI, 2003, p. 5).
Por isso, Demerval Saviani, após reconhecer a importância do avanço
tecnológico para o enriquecimento e auxílio no processo educativo, também
assinala:
Tomá-lo, entretanto, como a base dos cursos de formação
docente não deixa de ser problemático, pois arrisca converter-se
num mecanismo de certificação antes que de qualificação efetiva.
Esta exige cursos regulares, de longa duração, ministrados em
instituições sólidas e organizadas preferencialmente na forma de
universidades (2009, p. 41).
Reafirma-se, por conseguinte, que o estudo do trabalho docente na fase
atual interliga-se com o novo (e precário) mundo do trabalho” (ALVES, 2000,
p. 65) diante da “reestruturação produtiva” (ANTUNES) e do movimento do
capital.
Na perspectiva de Harry Braverman, o trabalho diante do
desenvolvimento do modo de produção capitalista,
tornou-se cada vez mais subdividido em operações mínimas,
incapazes de suscitar o interesse ou empenhar as capacidades de
pessoas que possuam níveis normais de instrução; que essas
operações mínimas exigem cada vez menos instrução e
adestramento; e que a moderna tendência do trabalho, por sua
vez dispensa de ‘cérebro’ e pela ‘burocratização’ es ‘alienando’
setores cada vez mais amplos da população trabalhadora (1980,
p.15-16).
Talvez, aí se encontre uma das explicações para a escola ter sido cada
vez mais chamada para “armazenar” meninos e meninas, sem uma
preocupação maior com a aprendizagem e sim para aprenderem o mínimo de
civilidade, de convivência social que o mercado de trabalho exige.
Frente a esta problemática, pode-se dizer que a Constituição Federal de
1988 ao definir em seu artigo 208 “o dever do Estado com a educação se
104
efetivado mediante a garantia de: I ensino fundamental obrigatório e gratuito,
assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram
acesso na idade própria” (2002, p. 124), demonstra um Estado brasileiro,
comprometido com as questões sociais tais quais as registradas nos tempos do
“Estado do bem-estar-social, típico da etapa de desenvolvimento
taylorista/fordista, este mesmo modelo se tornava anacrônico em face da
globalização da economia e da reestruturação produtiva(KUENZER, 2001, p.
26-27). Dá-se, portanto, o choque entre o que a Constituição determina e o que
interessa a política “neoliberal” que passa a exigir em nome da maximização do
capital, um Estado Mínimo no que tange aos investimentos em políticas
públicas e máximo para facilitar o aumento do capital de uma pequena elite
nacional e internacional. Neste contexto, passa-se a falar na terceirização da
educação e da necessidade dos usuários dos sistemas estarem arcando de
algum modo com os custos da manutenção. Trata-se da desobrigação do
Estado para com as questões sociais, para tornar-se enxuto” e, desta forma,
poder honrar suas dívidas com os países ricos e credores internacionais.
Observa-se, diante deste cerio, os prejuízos contabilizados por
aqueles que dependem unicamente e exclusivamente da força de trabalho para
a manutenção da própria vida. Isto quer dizer, segundo Karl Marx, “que a sua
atividade vital o é mais do que um meio para poder existir. Trabalha para
viver. Para ele, o trabalho não é uma parte da sua vida, é antes um sacrifício
da sua vida. É uma mercadoria que outros utilizarão” (1985, p. 18).
Tendo em apreço estes embates apontados acima e de que a
organização escolar, o trabalho docente (e o aparato escolar como um todo)
necessitam “adequar-se às condições existentes e atingir os objetivos que são
determinados pela sociedade” (FÉLIX, 1986, p. 74), busca-se a seguir destacar
alguns elementos do trabalho docente realizado no Estado do Paraná.
2.2.2. Especificidades do trabalho docente no Estado do Paraná
Na atualidade, 2009, o trabalho docente no Paraná se realiza mediante
uma carga horária de 32 horas em sala e de 8 horas-atividades para a
preparação de aulas, correção das provas e dos trabalhos. A média de alunos
por turma, conforme atesta o caderno do Curso de Formação Para
Representantes de Escola - 2009 / OLT (Organizão por Local de Trabalho),
105
da Etapa III - Condições de Trabalho e Saúde dos/as Trabalhadores/as em
Educação é “de 31,78 no ensino fundamental e 33,77 no Ensino Médio” (2009,
p. 21). Grosso modo, as turmas vão de trinta a cinquenta alunos por sala, o que
exige um grande esforço do trabalhador docente para ensinar e desenvolver o
processo ensino-aprendizagem.
A maior parte das disciplinas contam com duas horas (nesta se
encontram a grande maioria das disciplinas), outras possuem três aulas (a
exemplo disso temos a disciplina de história de quinta à sétima série) e ainda,
as que contam com quatro aulas por turma (português, matemática). Em linhas
gerais, é assim que se procede à distribuição das aulas por disciplina - ver
tabela 1, 2 e 3. No entanto, cada colégio da rede estadual dispõe de certa
autonomia na organização de seu quadro de aulas. Assim, por exemplo, no
ano de 2009, na cidade de Cascavel-PR, alguns colégios optaram por colocar
aulas da disciplina de filosofia nos primeiros e terceiros anos do Ensino Médio,
outros inseriram somente nos primeiros anos, outros somente nos segundos
anos, outros somente nos terceiros anos (conforme demonstram as tabelas nº
01, 02 e 03).
E, sobre o que é ensinado nas escolas, Jurjo Torres Santomé afirma:
A imensa maioria das pessoas que passaram pelas salas de aula
e continuam ocupando-as, os conteúdos educativos costumam ser
muito abstratos, referidos a situações e espaços ahistóricos,
imprecisos, indefinidos, nada concretos. Parece existir mais
preocupações em memorizar fórmulas, dados e generalizações
descontextualizadas que em chamar a atenção para realidades
concretas, tanto longínquas quanto locais” (2003, p. 203).
Acrescenta-se, ainda para a compreensão do desinteresse dos alunos
para com a educação, a influência exercida pelos meios de comunicação, os
jogos eletrônicos, a preocupação com o trabalho, entre outros. Evidencia-se,
deste modo, que o diversos os apelos sociais que distanciam o aluno da
concentração que os estudos carecem.
Todavia, supondo que a média de alunos nas turmas atendidas por um
professor seja de 40 (existem turmas com menos e outras com bem mais
alunos que isso) e que um professor para completar sua carga horária de 40
horas/aula precise trabalhar 32 horas/aula em sala com alunos, em disciplinas
106
que tem somente duas aulas semanais por turma, o professor terá que atender
dezesseis turmas semanalmente durante o ano. Ao multiplicarmos os 40
alunos por 16 turmas, veremos que o professor precisaconviver, ensinar,
avaliar/diagnosticar, preparar aulas para cerca de 640 alunos. De acordo com a
grade curricular elaborada com base nos dados do Colégio Estadual Marilis
Faria Pirotelli, de Cascavel-PR e que não difere muito da que é elaborada por
outros colégios no Estado, percebe-se que é maior o número dos professores
que se enquadram nestes parâmetros.
Tabela nº 1 – Referente ao Ensino Médio – Turmas da 1ª série.
Disciplina Sugestão de Carga
horária para 2010
Carga horária
realizada em
2009
Língua Portuguesa 3 3
Matemática 2 4
História 2 2
Geografia 2 2
Biologia 2 2
Física 2 2
Química 2 2
Educação Física 2 2
Arte 2 2
Inglês 2 2
Sociologia 2 2
Filosofia 2 0
Total 25 25
Verifica-se de acordo com a tabela 1 a ausência da disciplina de
filosofia na primeira série do Ensino Médio. Também destacam-se as
disciplinas de português (três aulas) e matemática (quatro aulas) com o maior
número de aulas. As outras disciplinas contam com a mesma carga horária
(duas aulas semanais por turma). Assim, no ano de 2010, matemática “perde”
duas aulas para que a filosofia seja contemplada com duas aulas na primeira
série do Ensino Médio.
Tabela nº 2 – Referente ao Ensino Médio – Turmas da 2ª série.
Disciplina Sugestão de Carga
horária para 2010
Carga horia
realizada em
2009
Língua Portuguesa 2 4
107
Matemática 3 3
História 2 2
Geografia 2 2
Biologia 2 2
Física 2 2
Química 2 2
Educação Física 2 2
Arte 2 2
Inglês 2 2
Sociologia 2 0
Filosofia 2 2
Total 25 25
Nota-se na tabela 2, que a diferença da segunda série do Ensino
Médio para a primeira (em 2009) é que esta tem duas aulas de filosofia e
nenhuma de sociologia; por outro lado passa-se a ter quatro aulas de
português e três de matemática.
Tabela nº 3 – Referentes ao Ensino Médio – Turmas da 3ª série.
Disciplina Sugestão de Carga
horária para 2010
Carga horária
realizada em
2009
Língua Portuguesa 4 4
Matemática 3 4
História 2 2
Geografia 2 2
Biologia 2 3
Física 2 3
Química 2 3
Educação Física 2 2
Arte 0 0
Inglês 2 2
Sociologia 2 0
Filosofia 2 0
Total 25 25
Na terceira série do Ensino Médio, não aulas de filosofia e nem de
sociologia no colégio acima mencionado as disciplinas de português e
matemática voltam a ter quatro aulas semanais. Observa-se, deste modo, que
a inserção da filosofia e sociologia tem sido feita com a diminuição das aulas
de portugs e matemática no Ensino Médio, uma vez que, não pode haver
disciplinas nos colégios do Paraná com menos de duas horas/aulas por turma.
108
A exceção a esta norma acontece por conta da disciplina de Ensino Religioso,
que ocorre nas turmas de 5º e ano e que contam com uma única aula
semanal.
Destarte, evidencia-se que a maioria dos trabalhadores em educão,
o responsabilizados por um elevado número de alunos para conseguirem
completar a sua carga horária.
Caso o colégio exija (e muitos são os que o fazem) dois trabalhos e duas
provas por bimestre, então, por mês além de preparar aulas o professor terá
em média 1280 provas e 1280 trabalhos para corrigir. Cumpre lembrar que o
professor é obrigado a aplicar uma recuperação paralela toda vez que o aluno
não atinge o resultado esperado (isto é, a média que atualmente é 6,0).
Ao somarmos o tempo gasto para elaboração das aulas, provas,
trabalhos, entre outros, e os compromissos burocráticos como a organização e
o registro no livro de chamada, perceberemos que se trata de atribuições que
envolvem toda uma vida. Neste sentido, ressalta-se a pesquisa realizada por
Thais Damaris Rocha sobre A Feminizão do Magistério que evidenciou que a
ampla maioria dos trabalhadores da educação básica são mulheres. Deste
modo, observa-se que estas são obrigadas a realizar duplas e até triplas
jornadas as o trabalho em sala de aula.
Logo, o trabalhador docente para desempenhar razoavelmente a sua
função se obriga a viver em função do trabalho e, no ritmo que lhe foi imposto,
“com professores em regime de hora-aula; com classes semanais para
compensar os baixos salários que ainda vigoram nos estados e municípios”
(SAVIANI, 2009, p. 39). Com isso tudo fica difícil pensar em qualidade no
ensino. Cumpre assinalar que os apontamentos apresentados referem-se ao
modo de organização dos colégios da Rede Estadual de Educação em que o
trabalho docente precisa submeter-se.
Na sequência, busca-se apontar alguns traços sobre a indisciplina
escolar no Estado do Paraná e suas implicações na realização do trabalho
docente.
2.2.3. A questão da indisciplina escolar no Estado do Para
Diante dos desafios impostos à realização do trabalho docente, destaca-
se a questão da indisciplina escolar que tem dificultado ainda mais o trabalho
109
docente. Frequentemente, escuta-se os professores dizerem que o conteúdo é
fácil, o difícil é transmiti-lo para alunos que não querem aprender, só fazem
bagunça, e “não estão nem para os estudos”. Nesta perspectiva, escrevem
Andrea Gazzotti e Wanderley Codo Histeria: doença profissional, enfocando
“os trabalhos que envolvem atividades de cuidar do outro, com base em vários
resultados de pesquisas” (BORGES-ANDRADE, 2002, p. 13). A conclusão que
estes autores chegam é de que os conflitos afetivos são oriundos “da
ambiguidade com que o mundo do trabalho dificulta o espaço para a
manifestação da afetividade” (GAZZOTTI; CODO, 2002, p. 395). Vê-se que o
presente estudo que enfoca a realidade do Brasil contribui para pensarmos a
realidade do Estado do Paraná. Assim sendo, nota-se até que não há nada que
caracterize a especificidade do trabalho docente no presente Estado que via de
regra tende a seguir o que ocorre em âmbito nacional.
Pode-se, portanto, assinalar tamm, de acordo com Maria das Mercês
Ferreira Sampaio e Alda Junqueira Marin, que devido ao “comprometimento da
função cultural da escola básica brasileira, como fruto de determinadas
condições econômicas e sociais que incidem sobre seu trabalho, tornando-o
frágil e insuficiente” (2004, p. 01). Os pedagogos constantemente são
acionados para realizarem atividades que extrapolam a questão pedagógica,
tendo que intervir nas brigas de alunos, enfrentar traficantes, entre outros.
No livro A educação em tempos de neoliberalismo, Jurjo Torres Santomé
direciona-se para algumas soluções pontuais que possibilitariam a superação
de alguns desafios impostos pela educação. O autor acredita que “muitos
comportamentos problemáticos e de fracasso escolar poderiam ter sido
evitados se, quando surgissem os primeiros sintomas, eles tivessem sido
diagnosticados” (2003, p. 163). Assim, responsabiliza os diagnosticadores por
não terem desempenhado bem a sua função sem levar em consideração a
materialidade e suas implicões diante do processo das relações sociais:
Ao contrário do que ocorria nos processos de produção pré-
capitalistas, em que o instrumento de trabalho era um elemento
intermediário entre o homem e a natureza, no modo de produção
capitalista é o trabalhador que serve como elemento de mediação
entre as máquinas e a natureza (FÉLIX, 1986, p. 46).
110
Separando os problemas que ocorrem na escola (entre os quais se
enfatiza a indisciplina por parte dos alunos) do que acontece ao seu entorno,
passa-se a pensar em soluções pontuais, como se estas fossem capazes de
nortear a escola e o trabalho docente em função do êxito. Com esta finalidade
muitos apostam que a realização de “adaptações curriculares adequadas”, bem
como “uma maior coordenação ente os professores e professoras responsáveis
por esses estudantes, que teriam de levar em conta especialmente esses
períodos de transição do ensino fundamental para o médio” (SANTOMÉ, 2003,
p. 163), ampliariam a qualidade da educação. Enfim, torna responsáveis os
professores pelos estudantes não obterem êxito.
Por isso, vale insistir sobre a necessidade de superação das
especulações intelectuais que “caminham para todos os lados e acabam não
chegando à lugar algum”, pois, o problema - da escola, da educação e do
trabalho docente - só pode ser efetivamente compreendido, enfrentado e
resolvido quando se considera a totalidade das relações sociais.
A indisciplina escolar (a violência presente na escola) reflete um
contexto social em que a violência se faz presente. Pode-se dizer que o
trabalhador separado das condições objetivas de produção reitera e concretiza
a dominação do capital sobre o trabalhador.
Torna-se evidente que soluções parciais não o capazes de dar uma
resposta definitiva às deficiências educacionais que se arrastam pelo país e,
apesar de poderem contribuir para solucioná-las, a escola reflete o modo com
que a sociedade se organiza. Logo, o trabalho docente, deve inserir-se nos
embates pela mudança social, pela emancipação do homem diante do capital.
Caso contrário, ficar-se-á buscando “bodes expiatórios” e respostas para
resolver dificuldades impostas ao trabalho docente e a escola, que extrapolam
aquilo que um ser humano é capaz de suportar.
Percebe-se que a educação realiza-se para além dos limites das
paredes escolares em que os jovens aprendem com a televisão, na rua, na
internet, com as músicas, com os amigos e, assim, vão formando a sua
personalidade. Frente aos problemas de violência que estão presentes na
sociedade, temos as implicações disso na escola e no trabalho docente.
Enfatiza-se que a valorizão do magistério associada “a vioncia nas
escolas, que atinge professores e alunos – a ponto de inviabilizar o ensino, nas
111
grandes cidades” (CUNHA, 2002, p. 93) tem se constituído num dos grandes
desafios do trabalho docente.
Flávia Schilling, no livro A sociedade da insegurança e a violência na
escola, apresenta a escola ora “como vítima da violência externa, ora como
algoz” (2004, p. 60) e, por vezes, apresentada como um lugar que também
exerce sua cota de violência, na medida em que nela também ocorre a
“reprodução das desigualdades sociais, de gênero e raça, da produção da
pobreza e da exclusão” (idem, p. 61).
Em suma, percebe-se que a indisciplina contribui para a amputação do
direito de ensinar por parte do trabalhador docente. Uma análise mais
específica sobre este tema requer estudos que ajudem a compreender melhor
o significado do trabalho daqueles que não conseguem exercer as suas tarefas
devido à resistência dos alunos a leitura, a escrita, aos estudos, traduzidos em
forma de indisciplina.
Tendo presente o que foi exposto, na seqncia discute-se sobre a
valorizão do trabalho docente dentro do contexto do modo de produção
capitalista.
2.2.4. A valorização do trabalho docente no Estado do Paraná e os limites
do capital
Compreende-se que, de modo geral, o trabalhador docente pertence a
classe de trabalhadores que “só pode viver se trabalhar, a troco de um salário,
para os proprietários dos meios de produção” (ENGELS, 1985, p. 10) e, por
conseguinte, também é condicionado pelas implicações resultantes dessa
condição. Diante dessa realidade, percebe-se que “quanto menos tempo de
formação profissional um trabalho exigir, menos será o custo de produção do
operário, mais baixo será o preço do seu trabalho, o seu salário” (MARX, 1985,
p. 25). Talvez isto explique, ainda que em partes, o empenho das autoridades
em promoverem o aligeiramento da formação inicial para o ambíto do magistério
por meio dos chamados cursos de formão a distância. Mas, dificilmente se
escuta pessoas defendendo a formão de médicos, engenheiros civis,
utilizando-se do Ensino à Distância (EaD).
É preciso ressaltar também as inúmeras conquistas propagandeadas no
interior do próprio sindicato do Estado do Paraná e articulá-las com as reflexões
112
que serão realizadas no terceiro capítulo sobre a pauperização, precarização e
proletarização. Em cartaz, produzido pelo núcleo sindical dos professores
estaduais da área norte da cidade de Curitiba em virtude da “campanha de
sindicalização 2008”, as o jargão, “Nossa luta não é pequena nossas
conquistas valem a pena”, destaca-se:
Antes de 2002 não tínhamos plano de carreira, agora em 2008
temos plano de carreira; Antes de 2002 não tínhamos 20% de
hora-atividade, agora em 2008 temos 20% de hora-atividade;
Antes de 2002 o salário inicial do professor(a) com licenciatura
plena era 385,00 reais e não tinha auxílio transporte, agora em
2008 o salário inicial do professor (a) com licenciatura plena mais
auxílio transporte é de 778 reais, entre outros
).
Diante deste fato, onde se apresentam conquistas pontuais, muitos
(pautados na imediaticidade e sem uma análise mais aprofundada) poderiam
comar a acreditar, que enfim o trabalho docente passou a ser valorizado
conforme é tão anunciado pelos candidatos a cargos blicos. Contudo, uma
observação um pouco atenta e articulada com a história e suas múltiplas
determinações, no mínimo revelam a complexidade do tema.
Apresenta-se, neste sentido, os dados elaborados pelo ANDES/SN
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior.
Tabela nº 4: Os vencimentos dos professores em alguns Estados do
Brasil
UF NÍVEL MÉDIO
Salário Remun.
LIC. CURTA
Salário Remun.
LIC. PLENA
Salário Remun.
CARGA
HORÁRIA
AC ---- ---- 1.267,6
5
---- 1.675,79 ---- 30h
AL 473,22
946,45
---
---
903,60
1.807,2
1
---
---
1.015,00
2.030,00
---
---
20h
40h
AM 499,00 713,47 563,00 804,99 665,00 950,85 20h
Manaus 300,00 750,00
423,66 935,49 20h
AP 913,62 1.781,
56
1.041,5
4
2.031,0
0
1.145,68 2.234,08 40h
BA 481,86
963,72
762,20
1.471,
07
487,96
975,92
771,84
1.543,7
0
593,04
1.186,08
774,94
1.555,89
20h
40h
113
CE 218,00
437,58
328,20
950,00
323,24
646,50
484,86
969,75
392,91
785,84
589,37
1,178,76
20h
40h
DF* 692,15
1.384,2
9
959,66
2.551,
59
790,02
1.580,0
3
1.086,9
0
2.903,9
2
880,00
1.760,00
1.203,87
3.227,87
20h
40h
ES 924,00 --- --- --- 1.200,00 --- 25h
GO 357,84
536,76
715,68
-----
-----
-----
404,59
606,89
809,19
-----
-----
------
542,34
813,55
1.084,71
-----
-----
------
20h
30h
40h
MA 367,35 734,71 454,93 1.046,3
4
609,64 1.402,18 20h
MG 336,26 850,00 410,24 850,00 500,49 850,00 24h
MS 498,75
997,50
798,00
1.596,
00
-----
-----
-----
------
748,13
1.496,25
1.197,00
2.394,00
20h
40h
MT 966,72 ---- --- --- 1.450,08 --- 30h
PA 465,00 745,00 --- --- 480,00 864,00 20h
PB 554,95 776,93
665,94 932,32 30h
João
Pessoa
572,77 744,60 ---- ---- 763,69 992,79 25h
PE 445,00
593,76
712,00
950,01
---- ---- 467,00
635,00
762,00
1.016,00
30h
40h
PI 465,00
930,00
580,00
1.160,
00
-----
-----
-----
------
540,00
1.080,00
670,00
1.340,00
20h
40h
PR 487,33 690,42 522,14 725,23 696,18 899,27 20h
Curitiba 664,72 ---
--- 902,17 --- 20h
RN 620,00 --- --- --- 868,00 --- 30h
RJ
22h e 16h
RO 320,12
640,24
425,75
851,51
422,47
844,94
561,88
1.123,7
7
538,82
1.077,63
716,63
1.433,24
20h
40h
RR 928,76 1.392,
76
--- --- 1.289,78 1.753,78 25h
RS 288,60 --- 375,10 -- 533,80 -- 20h
SC 509,46 1.045,
24
650,37 1.144,9
6
830,25 1.189,81 40h
SE 425,87 950,00 484,98 775,96 738,20 1.181,12 40h
Aracajú 692,65 --- 823,70 --- 1.038,97 --- 40h
SP (Classe
Docente)
748,24
935,01
970,88
1.213,
26
---- ---- ---- ---- 24h
30h
SP (PEB I) ---- ---- ---- ---- 785,50
981,88
958,53
1.198,16
24h
30h
114
SP (PEB II) ---- ---- ---- ---- 909,32
1.136,64
1.100,92
1.376,14
24h
30h
SP/Capital 928,20
1.237,5
7
---- ---- ---- 1.121,26
1.495,02
---- 20h
30h
TO 947,00 --- 1.031,0
0
--- 2.020,00 --- 40h
Os salários aqui publicados referem-se ao pagamento de professores do ensino básico da rede
pública, em início de carreira.
DF Desconsideradas as gratificações pessoais.
SP (estado): “Classe Docente”: professores/as com ensino médio; “PEB I”: professores/as das
séries iniciais; “PEB II”: professores da 5ª série em diante.
Dados atualizados: janeiro/2009, exceto as linhas de cor branca.
Fonte: Entidades Filiadas à CNTE
Disponível em:< www.andes.org.br
> Acesso em 08/12/08.
A tabela acima evidencia que, de modo geral, a remuneração docente é
precária e abaixo do que precisa ser investido para que a qualidade da
educação aumente, na medida em que, conforme o Relatório sobre o
desenvolvimento Mundial, 1997, que trata dos salários em geral afirma que “o
pagamento de salários pouco competitivos aos funcionários de nível mais alto,
dificulta o recrutamento e a retenção de pessoal capaz” (1997, p. 10). Pode-se
dizer que esta constatação vale tamm para os trabalhadores em educação,
logo, compreende-se que a valorização do magistério e a permanência de
“professores capacitados” (bem preparados e satisfeitos na realização do
trabalho) tamm passa pela questão da valorização salarial.
Todavia, não se pode esquecer que numa sociedade capitalista, segundo
Bottomore “os salários reais declinam relativamente ao aumento da
produtividade do trabalho ou, em termos marxistas, com o aumento da
produtividade, a taxa de EXPLORAÇÃO aumenta” (2001, p. 284). No limite os
sarios reais dos trabalhadores poderão subir, desde que não coloquem em
risco a reprodução sócio-metabólica do capital que “só pode aumentar se for
trocado por força de trabalho, se criar trabalho assalariado. A força de trabalho
do operário assalariado só pode ser trocada por capital, multiplicando esse
capital, fortalecendo essa potência de que ele é escravo” (MARX, 1985, p. 30).
Contudo, é no capitalismo que ocorre o acirramento do controle do
processo de trabalho pelo capital, por meio do desenvolvimento dos meios de
produção. Tudo isso porque a maximização da mais-valia pressupõe a
exploração do trabalho que deve ser constantemente vigiado e controlado, uma
115
vez que, a parte do capital, o lucro aumenta na mesma proporção em que
diminui a parte do trabalho, o salário, e vice-versa” (MARX, 1985, p. 36). Neste
horizonte, compreende-se o desenvolvimento das forças produtivas que visam
colaborar com a extração da mais-valia e, como consequência, contribuem com
a subordinação do trabalhador.
No Paraná, o trabalhador docente conta com um regime de 40 horas de
trabalho semanal, sendo que 32 horas realiza em sala e dedica outras 8 horas
como hora-atividade para a preparação das mesmas. De acordo com esta
jornada de trabalho o professor recebe seu salário, conforme descrito na tabela
nº 5:
Tabela n° 05: Vencimento dos professores no Estado do Paraná
58
.
TABELA
JORNADA
40 HORAS
CLASSES
VEIS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
VEL III
3.155,38
3.313,15
3.478,81
3.652,75
3.835,38
4.027,15
4.228,51
4.439,94
4.661,93
4.895,03
5.139,78
VEL II
1.844,89
1.937,13
2.033,99
2.135,69
2.242,47
2.354,59
2.472,32
2.595,94
2.725,74
2.862,02
3.005,12
VEL I
1.549,70
1.627,19
1.708,55
1.793,98
1.883,67
1.977,86
2.076,75
2.180,59
2.289,62
2.404,10
VEL
ESPECIAL
III
1.254,52
1.317,25
1.383,11
1.452,27
1.524,88
1.601,12
1.681,18
1.765,24
1.853,50
1.946,18
2.043,48
VEL
ESPECIAL II
1.106,93
1.162,28
1.220,39
1.281,41
1.345,48
1.412,76
1.483,39
1.557,56
1.635,44
1.717,21
1.803,07
VEL
ESPECIAL I
1.033,14
1.084,79
1.139,03
1.195,98
1.255,78
1.318,57
1.384,50
1453,73
1.526,41
1.602,73
1.682,87
58
Esta Tabela se encontra disponível em: <
http://www.portaldoservidor.pr.gov.br/arquivos/File/caderno_tabelas_remuneração_2009.pdf >
Acesso em 26/10/2009.
116
Observa-se, porém, que são recentes as primeiras turmas que
concluíram o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) no Paraná
59
,
portanto, não ninguém que tenha avançado no vel III e, também, não
garantias que no próximo governo, eleito em outubro de 2010, continuidade
ao programa, pois, falta uma Política de Estado para a Educação e, por isso,
estaspolíticas educacionais”
[...] passam pela “vontade” do Ministro da Educação, dos
Secretários de Educação dos Estados e/ou dos Municípios e na
verdade deveriam ter possibilidades de impor suas vontades e sim
cumprir o que foi estabelecido pela grande comunidade nacional
interessada em educação. Se isto for conseguido a troca de
governos não a alterará e nem a estrutura deve ser superior à
vontade de políticos que podem ser despreparados ou mal
intencionados (ANJOS, 2008, p. 132).
Dada estas considerações, é preciso lembrar ainda, de acordo com a
Tabela 6 e conforme os dados apresentados pelo Departamento Intersindical
de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), referente ao salário
mínimo nominal e o salário mínimo necessário que deve ser praticado para a
manutenção da força de trabalho em condições normais de reprodução. Sendo
assim, para exemplificar e caracterizar a situação da classe trabalhadora (onde
situamos os trabalhadores da educação) é relevante apresentar os dados do
DIEESE, sobre o salário
60
mínimo nominal que se tem em junho do ano de 2009
no valor de R$ 465,00 (sem os descontos, é claro) e o salário mínimo
59
O professor ao chegar à classe 11 no vel II torna-se um candidato para participar do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) onde uma vez aprovado, no primeiro ano, fica afastado
integralmente de sala de aula para dedicar-se aos estudos e, no segundo ano, tem afastamento de 75%.
Talvez por ser, até o presente momento, o único meio para se ascender ao vel III muitos tenham
batizado este programa como o “mestrado” que tem validade para os professores da Rede Estadual de
Educação do Estado do Paraná.
60
O salário refere-se “a quantia em dinheiro que o capitalista paga por um determinado tempo de trabalho
ou pela execução de determinada tarefa” (MARX, 1985, p. 16).
Auxílio transporte 24% do Nível I – classe 5 (Art. 26) 430,55
Disponível em: <
http://www.portaldoservidor.pr.gov.br/arquivos/File/caderno_tabelas_remuneração_2009.pdf
> Acesso em: 27/11/2009.
117
necessário que deveria ser de R$ 2.046,99 em função do aumento do custo de
vida
61
.
Tabela nº 6: Salário mínimo nominal e o necessário segundo o DIEESE
Período Salário mínimo nominal Salário mínimo necessário
2009
Agosto R$ 465,00 R$ 2.005,07
Julho R$ 465,00 R$ 1.994,82
Junho R$ 465,00 R$ 2.046,99
Maio R$ 465,00 R$ 2.045,06
Abril R$ 465,00 R$ 1.972,64
Março R$ 465,00 R$ 2.005,57
Fevereiro R$ 465,00 R$ 2.075,55
Janeiro R$ 415,00 R$ 2.077,15
Fonte: http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml
Como a Tabela 6 demonstra, percebe-se a distância que entre o
que deveria ser recebido pelo trabalhador daquilo que efetivamente ele recebe.
No quesito salário os trabalhadores docentes do Estado do Paraná obtiveram
alguns “avanços” e, por hora, interessa insistir para a necessidade da
compreensão dos avanços elencados dentro de um contexto histórico e social
mais amplo.
Ao compararmos as tabelas 5 e 6, percebemos que o trabalhador
docente em início de carreira recebe no Estado do Paraná o que determina
como salário necessário pelo DIEESE e passa a ocupar uma posão de
privilégio diante de outros trabalhadores. Esta constatação ajuda a entender o
fato de muitos serem aqueles que passam a levantar a bandeira para que se
melhore as condições de trabalho (ampliação da hora-atividade, turmas menos
numerosas, por exemplo).
Esta realidade presenciada no Paraná não se verifica em âmbito de
Brasil. Neste horizonte, busca-se entender a luta travada pela Confederação
61
Conforme o DIEESE: Salário mínimo nominal: salário mínimo vigente. Salário mínimo necessário:
Salário mínimo de acordo com o preceito constitucional “salário fixado em lei, nacionalmente unificado,
capaz de atender às suas necessidades vitais sicas e às de sua família, como moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de
modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim (Constituição da
República Federativa do Brasil, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV). Disponível em:
<http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml
>. Acesso em: 03/10/2009.
118
Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) para estabelecer O Piso
Salarial Nacional. Em cartaz dizia-se: O Piso é Lei Faça Valer!
(www.cnte.org.br
). Certamente, o salário é uma luta importante, pois, para se ter
acesso aos meios de ampliar a qualidade de vida são indispensáveis os
recursos econômicos. O professor que descansa bem, que se alimenta bem,
com tempo para preparar as suas aulas terá maiores possibilidades de
encontrar-se na vida, no trabalho e de realizar-se enquanto homem.
Colabora para o entendimento deste quadro Demerval Saviani ao
assinalar:
O PDE cuidou da questão salarial por meio do programa “Piso do
Magistério”. O valor de R$ 850,00 foi obtido tomando-se o salário
de R$ 300,00 proposto em 1994, corrigido pela inflação. Observe-
se, porém, que R$ 300,00 correspondiam, naquele ano, a 4,28
salários mínimos, cujo valor era R$ 70,00. Em relação ao salário
mínimo apenas 2,23 vezes. Além disso, previa-se sua implantação
gradativa pelo incremento, em 2008, de um terço do salário de
2007, dois terços em R$ 200,00 e apenas em 2010 chegar-se-ia ao
valor de R$ 850,00 (2009, p. 39).
Compreende-se - com base no Jornal Educação e Luta de Classes
produzido pelo Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação
(MOCLATE) - que mal remunerado, o trabalhador da educação não vive com
dignidade juntamente com sua família. Assim, apesar da aprovação do piso de
R$ 950,00 reais (referentes a um cargo de quarenta horas) por meio da Lei n.
11.738, de julho de 2008 (Anexo II), que ampliou em R$ 100,00 reais, esse
“pequeno aumento não invalida as críticas formuladas, mesmo porque as
demais características foram mantidas” (SAVIANI, 2009, p. 40).
Portanto, com base nos dados do DIEESE, pode-se dizer que a defesa
do mínimo torna-se uma falsa bandeira na medida que hoje o salário mínimo
deveria ser em torno de R$ 2.114,00. Por isso o Jornal do MOCLATE,
questiona a não implantação da hora-atividade de 1/3 que, no entendimento de
seus redatores, ampliaria a possibilidade dos professores prepararem melhor
as suas aulas, elevando a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.
119
Por isso, torna-se importante ressaltar, que pesquisas
62
, revelam que
pouco dos impostos arrecadados pelo governo é investido em educação. Existe
uma lacuna entre o que poderia ser feito de investimentos na educação e do
que realmente é realizado. Logo, é preciso ter cautela e sempre analisar o
conjunto dos avanços ou retrocessos da educação. Sendo assim, é necessário
desconfiar do que se apresenta naturalizado e mais ainda, compreender que
uma categoria somente se faz ser ouvida quando se entende enquanto tal e se
une em vista de objetivos comuns
63
. Somente assim, a categoria de
trabalhadores deixará de ser em si e passará a ser para si, indo além da luta por
meras conquistas pontuais (direitos), lutando pela emancipação de toda a
classe trabalhadora. Compromisso este que extrapola as quatro paredes da
sala de aula.
Doravante, após termos apresentado alguns dados sobre o modo com
que se organiza o trabalho docente (sua valorização e as condições em que
ocorre), buscamos apontar algumas implicações disso no que se refere à
saúde dos Trabalhadores em Educação do Estado do Paraná.
2.3. A saúde do trabalhador da educação no Estado do Paraná
Particularmente no ano de 2009 ampliou-se a preocupação dos
trabalhadores em educação e da APP-Sindicato, no que diz respeito à saúde
do trabalhador da Educação. À exemplo disso, elaborou-se para o mês de
outubro de 2009 uma edição especial do Jornal 30 de Agosto que trazia em
sua capa o seguinte questionamento: “Quanto vale a saúde de um (a)
educador (a)?” e reiterava dizendo: “Os(as) educadores(as) estão ficando
doentes!”.
Com base nisso, apresentamos alguns dados que podem contribuir para a
compreensão desta problemática que o pode ser explicada nela mesma,
62
Faria Filho e Vidal (2000, p. 22) ao escreverem um artigo denominado Os tempos e os espaços
escolares no processo de institucionalização da escola primária no Brasil assinalam que sem
investimento não como generalizar uma boa educação: “O problema, pois, que há de resolver é; como
se podegeneralizar uma boa educação elementar, sem grandes despesas do Governo, e sem que tire as
classes trabalhadoras o tempo, que é necessário que empreguem-nos diferentes ramos de suas respectivas
ocupações?” (O Universal, 18 de julho de 1825). Percebe-se, deste modo, que este é um problema que se
arrasta desde o império.
63
Sobre isso ver o livro do Prof. Amâncio Luiz Saldanha dos Anjos APP Sindicato – 60 ano. Cascavel e
região 40 anos: História e memórias, onde este registra a história de luta de todos os professores do
Paraná, em comemoração dos 60 anos da APP sindicato em âmbito Estadual e 40 anos da APP sindicato
na região de Cascavel – PR, obra realizada no ano de 2008.
120
uma vez que, suas raízes encontram-se no contexto social-econômico e
cultural, mais amplo, em que o trabalho docente se realiza.
Entendemos conforme Marx em O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte
de que os
[...] homens fazem a sua própria história, mas não a fazem
segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de
sua escolha, mas sob aquelas circunstâncias com que se
defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado
(1987, p.15).
Pensamos que a “qualidade da educação” articula-se com as condições
em que o trabalho docente se realiza, o que torna relevante este estudo sobre
a saúde dos trabalhadores em educação. Portanto, em relação a citação
acima, a premissa que norteia esta análise é a de que nenhum trabalhador
adoece por vontade própria e, sendo assim, as causas de todo adoecimento
precisam ser analisados a partir das bases materiais nas quais o homem
desenvolve seu trabalho.
No entendimento de que o modo de produção capitalista sustenta-se
sobre as bases do trabalho alienado, em que o trabalhador é visto como um
produtor de mais-valia, não sendo dono do que produz, o se reconhecendo
no que faz. Assim, percebe-se o mal-estar e o sofrimento que isto tem
ocasionado entre os trabalhadores. Pode-se dizer que o trabalho precarizado
em si é fonte de adoecimento.
Neste horizonte, assinala-se em âmbito geral a realização de uma Cartilha
sobre a saúde do trabalhador, fique de olho para não entrar numa fria, pelo
Programa de s-Graduação em Educação da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná UNIOESTE - campus de Cascavel e outras instituições,
endereçada a todos os trabalhadores (especialmente os que trabalham em
frigoríferos) para se prevenirem quanto algumas doenças ocasionadas no
exercício do trabalho, bem como apresentar “os direitos dos trabalhadores à
saúde no trabalho”. Segundo esta cartilha, o acidente de trabalho pode
acontecer com qualquer trabalhador (autônomo, com carteira assinada, sem
carteira assinada), porém, “só o trabalhador que contribuiu com a Previdência
Social pode continuar recebendo seu salário, em forma de auxílio doença, caso
tenha que ficar afastado do trabalho por causa do acidente que sofreu” (2008,
121
p. 25). Faz-se menção a esta pesquisa na medida em que ela diretamente
contribui para pensar a saúde entre aqueles que se dedicam a educação. Com
isso, temos presente que o problema da saúde não se reduz aos trabalhadores
em educação e, se estende à todos os trabalhadores (formais, informais).
Em específico, sobre a saúde do trabalhador em educação no Paraná
apontamos a pesquisa quantitativa realizada por Edevalter Bueno (Técnico em
Segurança do Trabalho da APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação),
no período de 10 de setembro a 10 de outubro de 2009. Nesta, foram
entrevistados dois mil trabalhadores em educação (professores e funcionários)
e evidenciou-se um enorme mero de professores e funcionários pedindo
licença médica, afastados, readaptados de suas funções:
O gráfico 1 demonstra que os que trabalham o processo ensino-
aprendizagem em sala com os alunos se afastam/tiram bem mais licença
médica do que os funcionários nas escolas. Conforme as porcentagem dos
dois mil entrevistados 28% (560) são funcionários e 72% (1.440) são
professores.
Neste sentido, contribui com a compreensão desta realidade, Rita Melânia
Webler ao escrever O Mal-Estar e os Riscos da Profissão Docente. A autora
Inicia relembrando os tempos em que os docentes eram valorizados e que
quando o aluno não aprendia atribuía-se a responsabilidade ao aluno. Ela
revela que esta situação se inverteu e quando o aluno deixa de aprender as
explicações para isso recaem sobre o professor, a falta de uma metodologia
adequada, de didática e isto tem transformado a forma de se compreender o
trabalho docente. Preocupada com as condições de saúde e trabalho dos
Gráfico n° 1: Professores e funcionários afastados do trabalho por
Licença médica e readaptados – 2.000 entrevistados.
Professor
72%
Funcionário
28%
122
docentes ela busca avaliar as possíveis associações entre trabalho de ensino e
problemas de saúde e apresenta como causa deste “Mal-Estar” “a
possibilidade/obrigação que os docentes m de trabalhar para sobreviver e se
manter no emprego é o que causa muitos sofrimentos, doenças psíquicas e
físicas” (WEBLER, s/d, p. 02).
Entretanto, temos presente, que para viver todo trabalhador precisa
manter-se no emprego e o que causa adoecimento são as condições em que
seu trabalho se realiza. Logo, é comum alguns trabalhadores terem que se
afastar por esforço repetitivo, por problemas cardíacos, mentais etc.
Dos dois mil trabalhadores da educão que tiraram licença médica
Bueno destaca:
Nota-se que 1.780 (89%) tiveram mais de três licenças médicas contra
220 (11%) que tiveram menos de três. O fato é que muitos trabalhadores em
educação por conta das condições de trabalho comprometem sua saúde.
Lembramos, ainda, que somente precisam encaminhar-se para a perícia os
funcionários do Estado que recebem licença médica acima de três dias.
Indaga-se, portanto, sobre os motivos que afastam os trabalhadores da
sala de aula e, neste sentido, cita-se a campanha realizada no interior da APP
Sindicatos dos Trabalhadores em Educação do Paraná, no ano de 2009, com o
presente tema: Quanto vale a saúde de um(a) educador(a)? Os(as)
educadores(as) estão ficando doentes! Compreende-se que a saúde do
docente reflete na qualidade da educação e, por conseguinte, de nada adianta
falar em qualidade de educação sem a luta para mudar esta realidade. Neste
sentido, é relevante a pesquisa realizada por Bueno em que se constatam os
números de licença médica tiradas e o tempo que ficaram afastados os
Gráfico n° 2: Teve licença médica mais de
três dias durante esse ano
SIM 89%
NÃO
11%
123
trabalhadores da educação (professores e funcionários) de suas funções
durante os meses de setembro/ outubro de 2009.
Os dados indicam que dos 1.780 (89%) entrevistados que tiveram mais
de três licenças médicas a maior parte era de até 15 dias (60%). Sendo assim,
ao multiplicarmos por três constata-se um afastamento das funções de até 45
dias. Em todo caso, o mais crítico são os afastados por mais de dois meses
(14%) que provalvelmente encontram-se em vias de serem readaptados
definitivamente de sua função de sala de aula, passando a desempenhar outras
atividades no colégio: ora na biblioteca, na secretaria etc. Lembrando sempre
que se não for feito nada para melhorar esta situação estes índices de
afastamentos e readaptações tendem a aumentar.
Não o poucos os artigos que demonstram que a concretização da
valorizão do trabalho docente, enquanto profissão es cada dia mais
distante. Dentre estes, cita-se o trabalho de Jussara Brito e Milton Athayde:
Trabalho, Educação e Saúde: O ponto de vista enigmático da atividade. Estes
autores buscam “considerar os conflitos em que os servidores estão envolvidos
que acarretam o adoecer e o sofrimento para buscar estratégias que possam
afirmar a vida” (2003, p. 63). Trata-se de um estudo de caso em que são
apresentadas as estratégias dos professores para não caírem na Síndrome de
“Burnout
64
. Os autores ao constatarem a heterogeneidade das escolas frente
ao quadro geral de precarização, questionam-se sobre o que pode ser feito para
64
Síndrome que afeta principalmente os trabalhadores encarregados de cuidar [...] e é definida como
reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres
humanos, particularmente quando estes estão com problemas [...]. Trata-se de sentimento crônico de
desânimo, apatia, de despersonalização” (CODO, 1999, p. 237-238).
Gráfico n° 3: Duração do tempo das licenças:
Dos 89% que tiveram
Até 15 dias
60%
de 15 a 30 dias 13%
de 31 a 60 dias 13%
mais de 2
meses 14%
124
mudar esta situação que dificulta a profissionalização docente. Um pouco antes
haviam afirmado que suas pesquisas apresentavam os problemas
relacionados a saúde mental dos professores como os mais frequentes. E ao se
indagarem sobre o que leva os professores a ficarem doentes depararam-se
com às condições precárias em que os trabalhadores da educação estão
submetidos.
A essas queixas foram associados as seguintes características das
condições de trabalho: salas inadequadas, trabalho repetitivo,
exposição à poeira, ambiente intranquilo e estressante, ritmo
acelerado de trabalho, desempenho das atividades sem materiais e
equipamentos adequados e posição de trabalho incômoda (BRITO
& ATHAYDE, 2003, p. 69)
Verifica-se que as condições materiais incidem no homem e, neste
sentido, o editorial do Jornal 30 de Agosto, ano XIX, n. 148 afirma que “as
políticas adotadas, especialmente durante os anos do neoliberalismo, trouxeram
para professores e funcionários das escolas públicas brasileiras um quadro de
adoecimento dos educadores” (2009, p. 02). Vale lembrar, nesta perspectiva, de
acordo com Brito e Athayde (2003) que o “cotidiano escolar” leva os professores
a terem um mal-estar, quer seja pela formão deficiente, quer seja pelas
condições sob as quais precisam trabalhar.
Constata-se, no entanto, entre os trabalhadores a recusa em falar da
doença e do sofrimento, que colabora para o agravamento dos problemas
concernentes à saúde.
Os meros de afastados seriam bem maiores se fosse possível ampliar
a pesquisa para se diagnosticar os trabalhadores da educação que a base de
medicamentos conduzem seus trabalhos, procurando esconder os problemas
que enfrentam. Entende-se que ninguém adoece por que quer e não é tarefa
fácil para ninguém reconhecer-se enquanto doente e que precisa de ajuda.
Sendo assim, contribui nesta direção o depoimento (ao Jornal 30 de Agosto,
ano XIX, n. 148) de Neusa de Souza, professora de Biologia e Ciências, que
depois de atuar 25 anos na rede Estadual de Educação contraiu a síndrome de
“Burnout”, do inglês “queimar de dentro para fora”, que declara:
125
Sentia-me esgotada. Perdi o estímulo e passei a duvidar da minha
capacidade como profissional. Comecei, então, a tomar remédios.
Inicialmente, a dosagem do antidepressivo era de 25mg, hoje são
150 mg. consigo, dormir e dar aula usando a medicação. Em
casa, minha filha de 10 anos, ao me ver tão mudada, teve que se
tratar. Ela não conseguia entender porque a mãe vivia com dor e
acamada (2009, p. 03).
Evidencia-se, neste relato, que ao trabalhador não é dado o direito de
adoecer, pois, seu valor é proporcional aquilo que consegue produzir. Logo,
uma vez impossibilitado a realizar o seu trabalho, passa a ser discriminado até
mesmo por aqueles que trabalhavam com ele. Este quadro se agudiza devido
as justificativas apresentadas pelo pensamento neoliberal”, de que os
professores estão ficando doentes porque não etão preparados para lidar com
os alunos, porque são incompetentes e coisas do gênero.
Para o pensamento liberal, o problema nunca é do sistema e, desta
forma, pontualmente se culpabilizam os envolvidos. Consequentemente, por
vezes, os professores são acionados como culpados por não terem “domínio
sobre os alunos”, por não conseguirem “controlar a turma”, por não saberem
realizar um planejamento eficiente para suas atividades; outras vezes, coloca-se
o aluno como o responsável devido a sua falta de compromisso, a sua
indisciplina e desinteresse pelos estudos; também aqueles que encontram
na direção do colégio a culpa, pois, acreditam que todo exemplo de
competência deve vir de cima; e na busca por culpados e inocentes, os pais
tamm são denunciados por não acompanharem os seus filhos nas
“obrigações escolares” e, assim, por diante. Sem solução as dificuldades para a
realização do processo ensino-aprendizagem no interior da escola
aumentam.
Diante dos problemas pelos quais passam os trabalhadores da
educação é interessante destacar que inúmeros pesquisadores e entre eles,
Jurjo Torres Santomé, acredita que a educação pode solucionar os problemas
da maioria das sociedades. Segundo o autor é preciso educar os alunos para a
tolerância entendida como consequência de uma maturidade intelectual, ética
e política que percebe que os atuais privilégios de alguns grupos são isso
mesmo: privilégios(2003, p. 253). -se, por conseguinte, que a escola com
todos os seus problemas é requisitada para resolver os problemas que
126
extrapolam os espaços dela mesma. Por conseguinte, “a escola vem mudando
em suas funções sociais – passando de puro espaço de aprendizagem a
espaço de proteção social e de sociabilidade mais ampla” (PAIVA, 2005, p.
182) e, desta maneira, o trabalho docente acaba por diluir-se em múltiplas
funções: além de ensinar precisa ser pai, psicólogo, amigo, policial, juiz, dentre
outras atribuições que são atribuídas aos trabalhadores da educação.
Percebe-se, que o trabalho docente, por conta da sobrecarga de aulas
para preparar, provas, trabalhos e atividades realizadas na sala de aula e que
o levadas para serem corrigidas em casa, levam os professores a sentirem-
se (ainda que o do mesmo modo), as consequências da rotina do trabalho
docente” e adoecerem. Entretanto, conforme atesta o Jornal 30 de Agosto,
especial saúde, os problemas de saúde não são uma especificidade dos
educadores do Paraná:
O cenário de hoje tem tirado os educadores de sua profissão,
fazendo com que se afastem por problemas de saúde ou sejam
remanejados para outras funções. Uma pesquisa realizada em
o Paulo pelo Dieese, em 2004, mostrou que 38% dos
entrevistados haviam se afastado do ambiente de trabalho por
motivo de doença. Um dos fatores que contribui refere-se à
superlotação das salas de aula, situação apontada por 73% dos
professores. Entre os sintomas mais frequentes estão: cansaço
80%, nervosismo 61%, problemas de disfonia 57% (2009, p. 5).
Afirma-se, deste modo, que a situação da saúde do trabalho docente
atinge diretamente o desenvolvimento da educação. Afinal, a defesa da
educação com qualidade articula-se com a luta em benefício da saúde dos
trabalhadores em Educação.
2.3.1. Aspectos sobre a saúde dos trabalhadores em educação a partir da
cidade de Cascavel-PR
De acordo com entrevista realizada no dia 18 de novembro de 2009,
com a secretária Emília Rodrigues, da Junta de Inspeção e Perícia Médica
(JIPM) de Cascavel,
o número dos professores que são atendidos pela Perícia é
significativamente maior do que os trabalhadores em outros
setores do Estado. Para se ter uma idéia, hoje foram vinte
127
pessoas atendidas, destes, um era da área da saúde, outro era do
IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e dezoito eram da área da
educação (conforme o relato da funcionária).
Entretanto, a prestação de contas para a SEED acontece por via de
“malote”, sem a utilização da internet, com isso os números totais dos
atendidos ficam centrados em Curitiba - PR. Deste modo, os funcionários que
realizam o trabalho nas Juntas de Perícia Médica do Paraná possuem apenas
uma visão parcial dos servidores estaduais que se ausentam de suas funções
por motivos de saúde.
A JIPM de Cascavel atende todos os servidores estaduais, independente
de serem da região deste município ou não, a partir das 13:00 até às 14:30
horas. Por meio desta verificou-se que tem sido elevado o mero daqueles
que trabalham na área da educação que procuram este serviço. É o que ajuda
explicitar o gráfico a seguir:
O gráfico acima revela os dados obtidos em pesquisa realiza nos dias:
23/11/09 em que compareceram na perícia (que se encontra no prédio da sede
do núcleo de Educação) 19 funcionários do Estado (dos quais 13 são
professores, 05 trabalham no Hospital Universitário e um atua como agente
penitenciário); dos 22 pacientes atendidos no dia 24/11/2009 (21 são
professores, sendo que quatro que estavam impossibilitados de se fazerem
pessoalmente presentes enviaram os atestados médicos via fax, e um era
agente penitenciário); no dia 25/11/2009, foram atendidos 17 funcionários
(dentre os quais 16 eram professores e uma psicóloga do Centro Sócio
Educativo (CENSE), trabalho este que também envolve o cuidar do outro); no
dia 26/11/2009, outros dezessete passaram pela perícia: (15 eram professores
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Trabalhadores da Educação
Outra àrea
Gfico n°4: Funcionários do Estado atendidos pela Perícia Médica
de Cascavel
128
e 02 da área da saúde); no dia 27/11/2009, (foram 10 professores e um
funcionário de escola, 02 da saúde e um agente penitenciário).
O quadro a seguir demonstra como os pacientes em o serviço
prestado pela JIPM.
Sobre o serviço prestado pela JIPM de Cascavel, observou-se que no
geral os pacientes o consideram bom. Porém, quando questionados por meio
de entrevista informal alguns pacientes revelam que deveriam “ter médicos nos
municípios e não somente nos cleos”. Ou seja, quem mora na cidade de
Toledo ao pegar um atestado para mais de três dias precisa deslocar-se até
Cascavel para passar pela perícia. Entende-se, deste modo a fala da
professora-paciente: “acho uma falta de respeito com as pessoas que estão
doentes terem que vir aqui passar pela perícia uma vez que se estão de
atestado é porque ela precisam manter repouso”. E, das sugestões para
melhorar a perícia médica apontou-se a necessidade do atendimento no local
onde o paciente habita/trabalha “pois é muito difícil o deslocamento quando se
esdoente”. A tabela a seguir demonstra os poucos locais em que ocorre a
perícia médica no Estado do Paraná:
Tabela nº 7: Juntas de Perícia Médica no Estado do Paraná.
COD. Municípios COD. Municípios
100 Paranaguá 1100 Campo Mourão
300 Ponta Grossa 1200 Umuarama
400 Irati 1400 Paranavaí
500 Guarapuava 1500 Maringá
0
5
10
15
20
25
30
35
Ótimo Bom Regular ssimo
Gráfico n° 05: Atendimento da Perícia
129
600 União da Vitória 1600 Apucarana
700 Pato Branco 1800 Cornélio Procópio
800 Francisco Beltrão 1900 Jacarezinho
900 Foz do Iguaçu 3000 Londrina
1000 Cascavel
Se comparado com a quantidade de municípios e distritos pertencentes
ao Estado evidencia-se que se trata de um mero baixo de locais de
atendimento dos servidores públicos estaduais, o que comprova a afirmão
dos transtornos causados a quem, mesmo estando doente, precisa deslocar-se
do local onde trabalha até as Juntas de Inspeção e Perícia Médica-JIPM’s.
Outro fator relevante e que cumpre destacar é a tomada de consciência
da importância da sindicalização por parte dos trabalhadores da educação que
é maior na medida em que aumenta o tempo em que estes prestam seus
serviços ao Estado.
0
5
10
15
20
25
30
Sindicalizados o
sindicalizados
A5 anos
Mais de 5 anos
Revelou-se, por meio da pesquisa (realizada do dia 23 ao dia 27 de
novembro de 2009, na JIPM de Cascavel-PR, no total de 88 entrevistados) que
Disponível em: http://www.sindafep.com.br/legislacao/resolucao/maual_pericia_medica.pdf Acesso
em 01/12/2009
Gráfico n. 6: sindicalização e tempo de servo
130
o índice dos não sindicalizados é maior entre aqueles que não passaram de
cinco anos de prestação de serviço ao Estado.
Menga dke e Luiz Alberto Boing, após elencarem algumas
características da profissionalizão também apontam alguns elementos que
contribuem para a desprofissionalização docente, dentre os quais destacamos
a dessindicalização:
A formação feita por um grupo de outro meio, o que diminui a
autonomia do grupo profissional; a remuneração considerada
muito abaixo de sua qualificação; a diversidade das formações e
de experiências de cada um, inclusive profissional; a
multiplicidade de vias de formação, sacrificando o aspecto
globalmente socializador; e a dessindicalização (2004, p. 03).
Talvez possa-se dizer que muitos são aqueles que se tornaram
professores pela necessidade de sobrevivência e não por uma opção e, logo,
vale lembrar o legado histórico daqueles que enquanto trabalhadores da
educação buscaram por meio de ações organizadas em torno do sindicato
promover a união da classe trabalhadora (seja da educação ou não).
Certamente, uma educação de qualidade só pode ser construída
coletivamente, logo, entendemos que é a participação dos trabalhadores nos
sindicatos e outras associações que promovam a união da classe que vive do
trabalho que contribui para a melhoria das condições de vida e trabalho.
Muito que ser feito, é o que apontam Richetti, Siqueira e Rizzotto ao
pesquisarem acerca das Principais doenças que acomentem professores da
rede estadual de educação no âmbito da 10ª regional de saúde/ Paraná-Brasil,
constataram que “os transtornos mentais e comportamentais ocuparam o
primeiro lugar entre as doenças diagnosticadas que provocaram o afastamento
dos professores de suas atividades laborais(2006, p.12).
Em entrevistas realizadas na JIPM de Cascavel do dia 18/11/2009 até
27/11/2009, entre 88 servidores estaduais, verifica-se:
131
De acordo com o gráfico percebe-se que o “stress”, a depressão e a
síndrome de “Burnout” são as doenças que mais incidem sobre os funciorios
do Estado (É preciso lembrar, entretanto, que a maioria dos entrevistados
conforme o gráfico 4 são trabalhadores da educação). Afirma-se, também,
que o homem é uma totalidade e no limite todas estas doenças elencadas
encontram-se interligadas e incidem na qualidade de vida do trabalhador.
Registra-se, conforme a fala de uma professora (paciente entrevistada),
que “a indisciplina, a falta de educação dos alunos e a sensação de o poder
ser professor (se sentir inútil)” é o que mais foi apontado como fator que
desencadeia estas doenças. No entanto, sabe-se que as origens das causas
deste quadro de “mal-estar na docência” extrapola o âmbito da sala de aula, na
medida em que ele é acompanhado, conforme destaca o ANDES-SN, pelo
aceleramento dos processos de flexibilização e precarização das relações de
trabalho e pela supressão de direitos e conquistas sociais, em particular as
trabalhistas e previdenciárias, que o poupam, nem mesmo, os trabalhadores
aposentados e pensionistas”
65
.
Este processo certamente corrobora com a precarização do trabalho
docente e aguça ainda mais a problemática que envolve a totalidade do tecido
social.
Com base, nestes dados apresentados, para finalizar esta dissertação,
buscamos discutir as categorias: pauperização, precarização e proletarização,
65
Excerto retirado da Seção Sindical dos docentes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Dispovel em: http://www.sindutfpr.org.br/novosite/NoticiaInterna.aspx?id=302 >. Acesso em:
19/07/2009.
14%
28%
29%
13%
5%
11%
Gráfico 7: Doeas que mais atingem os funcionários públicos
Burnout
Depressão Stresse Ler Hipertensão Aparelho respiratório
132
afim de entender um pouco mais aquilo que ocorre com o trabalho docente no
Estado do Paraná e que serve para a compreensão daquilo que ocorre com o
mesmo no âmbito nacional.
133
Capítulo - III
O trabalho docente, a pauperização, a precarização e a proletarização
O trabalhador fica mais pobre à
medida que produz mais riqueza
e sua produção cresce em força e
extensão. O trabalhador torna-se
uma mercadoria ainda mais
barata à medida que cria mais
bens (Marx, 2008, p. 02)
No primeiro capítulo realizamos um retorno à história com a finalidade de
averiguarmos e dissertarmos sobre a educação e, por conseguinte, o trabalho
docente em sua conexão com o modo de organização da produção e
reprodução das sociedades. Depois, no segundo capítulo, apresentamos
alguns elementos sobre o trabalho docente no Brasil, com destaque para o
realizado no Estado do Paraná e, em específico, o que se desenvolve na
Região Oeste do Estado.
A partir de 1990, ocorrem grandes mudanças na organização social e da
produção. Com isso tamm desenha-se um “novo papel” para o Estado,
chamado a mediar e arbitrar sobre os conflitos entre as classes.
Mas, para que esses antagonismos, essas classes com interesses
econômicos colidentes não se devorem e não afundem a
sociedade numa luta fatal, torna-se necessário um poder colocado
aparentemente acima da sociedade, chamado a amortecer o
conflito e a mantê-lo nos limites da ‘ordem’. Este poder, oriundo da
sociedade, mas posto sobre ela e dela distanciando-se
progressivamente, é o Estado (ENGELS, 1981, p. 195).
Diante disso, faz-se necessário, a compreensão do papel do Estado e
para tanto nos apropriamos do entendimento de Vladimir Ilich Lênin que,
fundamentado em Karl Marx, o percebe enquanto condição necessária para
atenuar os conflitos de classe. Constata-se, por conseguinte, que o Estado é
tido como elemento fundamental para a perpetuação e fortalecimento do
capital, muito embora é preciso que se ressalte que “o Estado não existe
eternamente. Houve sociedades que se organizaram sem ele, não tiveram a
menor noção do que ele representava” (ENGELS, 1981, p. 198). Ou seja, o
134
Estado é uma construção histórica que visa atender certos e determinados
interesses de classes. Sobre o Estado José dos Santos Souza, com base em
Antonio Gramsci, afirma que ele se refere a um “conjunto de atividades práticas
e teóricas com as quais a classe dirigente justifica e mantém não só o seu
domínio, mas consegue obter o consentimento ativo dos governados através
da hegemonia” (2002, p. 44).
Feitas estas considerações, na seqüência, objetiva-se neste terceiro
capítulo - em continuidade com o pressuposto de que o trabalho docente não
pode ser corretamente dimensionado sem que se leve em consideração as
múltiplas determinações que o constitui - expor a situação do mundo do
trabalho em geral diante do modo de organização que assumiu o capitalismo
na atualidade, quando a partir da década de 1970, em âmbito mundial ocorre a
reestruturação econômica, seguida do reajustamento social e político
evidenciado pelo processo de substituição do modelo fordista-taylorista pelo de
acumulão flexível.
Neste sentido, David Harvey enfatiza que:
A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um
confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na
flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho,
dos produtos e pades de consumo. Caracteriza-se pelo
surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas
maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos
mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de
inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação
flexível envolve pidas mudanças dos padrões do
desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões
geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no
emprego no chamado setor de serviços’, bem como conjuntos
industriais completamente novos em regiões até então
subdesenvolvidas (1992, p. 140).
Percebe-se, por conseguinte, que o pressuposto para se entender a
nova morfologia do trabalho é a intensificação dos ritmos que atingiu o modo
de produção capitalista em escala mundial. De acordo com Maria Lúcia Melo
de Souza Deitos “em meio à crise que teve por ápice o início da década de
1970, e em busca da almejada flexibilidade, então colocada como necessária
para superar a rigidez do fordismo, passou à implementar estratégias que
tinham por objetivo reestruturar os processos de trabalho” (2008, p. 240). Nesta
135
direção, Ricardo Antunes enfatiza que “foram tão intensas as modificações,
que se pode mesmo afirmar que a classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais
aguda crise desse século, que atingiu o a sua materialidade, mas teve
profundas repercussões na sua subjetividade” (1995, p. 15, grifos do autor).
Dentro deste contexto torna-se relevante assinalar também a constatação de
que
[...] o trabalho organizado foi solapado pela reconstrução de focos
de acumulação flexível em regiões que careciam de tradições
industriais anteriores e pela reimportação para os centros mais
antigos das normas e práticas regressivas estabelecidas essas
novas áreas (HARVEY, 1992, p. 141).
Diante deste quadro, pode-se dizer que os empregadores passam a
exercer um controle mais forte sobre a força de trabalho, dado o retrocesso do
poder sindical e o aumento dos índices de desemprego.
Em consonância com tudo isso, evidenciam-se as mudanças que têm
ocorrido no modo de entender a atuação do Estado, que passa a ser mínimo
para o atendimento das questões sociais e máximo diante das necessidades
de expansão do capital. Para Giovanni Alves, estas transformações
ocasionadas pelo avanço do capitalismo adentram ao Brasil a partir da década
de 1990 “em que ocorre a inserção subalterna do Brasil na mundialização do
capital por meio de políticas neoliberais
66
que acentuaram a lógica destrutiva
do capital no país” (2002, p. 71). Acresce, neste sentido, os apontamentos de
Emílio Gennari, acerca da fragilidade, falência e ineficiência do Estado
brasileiro decorrentes “de sua história e evolução, como todo Estado
Capitalista, vem agindo no sentido de salvar o capital e de garantir as
condições de sua valorização(s/d, p. 35), em face ao prejuízo da vida de
muitos, em detrimento de uma minoria. Instaura-se, por vezes de modo velado
e muitas vezes às claras, o conflito ocasionado pela lógica do capital:
66
Vê-se aqui a utilização do termo neoliberal. Apesar de não ser o foco desta pesquisa, uma
reflexão acerca deste conceito é fundamental. Para isso, recomenda-se a leitura do texto de
Paulino José Orso: Neoliberalismo: equívocos e conseqüências. In: Liberalismo e educação em
debate/ Jo Claudinei Lombardi & José Luís Sanfelice (orgs.). Campinas, SP: Autores
Associados, HISTEDBR, 2007. Neste o autor vai à história para fundamentar que: “[...] se
formos rigorosos com os conceitos, se não quisermos incorrer em equívocos, não se pode
chamar as atuais políticas de neoliberais, mas sim de ultraliberais, pois trata-se da superação
tanto do liberalismo clássico quanto do intervencionismo” (2007, p. 177).
136
concentração de riquezas nas mãos de alguns e aumento da pobreza da
maioria.
Para percebermos, portanto, a importância do Estado na perpetuação do
modo de organização econômico-político-social vigente, temos como exemplo,
A Estratégia dos Bancos Multilaterais para o Brasil, receituários para solucionar
os problemas da globalização
67
nos “países periféricos” etc. Porém, José Luis
Fiori analisa que, no limite, a globalização é uma versão atualizada da
economia liberal em que predomina a livre circulação de capitais, a
despolitização dos mercados, a gestão autônoma da moeda e o livre comércio
entre os povos. Portanto, “no caso da globalização, o que em geral se
ocultado pela sua ideologia econômica são as relações assimétricas de poder e
dominação que estão na sua origem e que explicam a sua expano e a sua
originalidade financeira” (FIORI, 1997, p. 88).
Assim, para não incorremos em equívocos, vale lembrar a regra geral
intrínseca do capitalismo que “é separar a propriedade do capital da sua
utilização na produção; separar o capital-dinheiro do capital industrial ou
produtivo; separar aquele que vive apenas dos rendimentos obtidos do capital-
dinheiro, o do industrial, como de todos aqueles que participam
diretamente na gestão dos capitais” (LÊNIN, 1987, p. 58). Deste modo, para
além dos discursos eloquentes, das ideologias é preciso atentar para o plano
material em que se verifica “uma onda de internacionalizão de enorme
extensão e profundidade, mas cujo resultado, como no final do século XX, foi
uma concentração sem precedentes de riqueza em não mais do que dez
países” (FIORI, 1997, p. 102). Diante deste contexto, em que o capital para
reproduzir-se gera a concentração de renda de um lado e, por outro, produz
uma massa de miseráveis é que o Estado, aparentando ser neutro, age para
manter a ordem e garantir a expropriação da força de trabalho, fundamento do
sistema capitalista.
A exemplo disso, apresenta-se o Relatório sobre o desenvolvimento
mundial, 1997: O Estado num mundo em transformação, em seu prefácio
acrescenta que longe de sustentar um enfoque minimalista do Estado, esses
67
Sobre a globalização é interessante destacar, ainda, nas palavras de Paulo Freire que: “o
discurso ideológico da globalização procura disfarçar que ela vem robustecendo a riqueza de
uns poucos e a verticalizando a pobreza e miséria de milhões. O sistema capitalista alcança no
neoliberalismo globalizante o máximo de eficácia de sua malvadeza intrínseca” (1996, p.128).
137
exemplos demonstram que o desenvolvimento requer um Estado efetivo, que
desempenhe papel catalisador e facilitador, incentivando e complementado as
atividades das empresas privadas e dos indivíduos” (Relatório, 1997, p. III).
Este relatório apresenta inúmeras proposições sobre o que o Estado deve fazer
e como fazer para melhor se adequar às transformações rápidas do mundo,
pois, entende que “um Estado enfraquecido a tal ponto que não consiga
supervisionar o sistema financeiro devidamente irá ameaçar o funcionamento
do mercado” (WILLIAMSON, 1992, p. 45). Vê-se que a “participação do setor
privado é encarada como um instrumento para a melhoria da eficiência,
aumentando a competividade e incorporando fundos privados para
investimentos setoriais” (BANCO MUNDIAL, 1998, p.108). Percebe-se,
portanto, com tal alocução, a preocupação de fortalecer o Estado pró-
capitalismo, parceiro e necessário para a reprodução da concentração de
capital. Neste sentido Gilberto P. de Souza, afirma que “o fato é que ao longo
dos anos 1980-1990, começando com a dupla Reagan-Thatcher nos países
centrais e com figuras como Menem na Argentina e Collor e FHC no Brasil, o
neoliberalismo passou a dar o tom das políticas blicas na América Latina”
(2009, p. 110) e, diante desta moldura, pode-se inferir que os “efeitos
neoliberaisse fizeram e se fazem sentir em todas as interfaces da vida do
trabalhador.
Neste horizonte, entende-se que “é importante atentar para o
desenvolvimento do capitalismo, em âmbito mundial e para as transformações
técnicas geradas no movimento de reestruturação produtiva” (DEITOS, 2000,
p. 33), no intuito de compreender as implicações que estas acarretam para o
trabalho docente.
Com base na digressão histórica realizada nos dois primeiros capítulos e
tendo presente os dados atuais sobre o trabalho docente realizado no Paraná a
partir do ano de 2002 - que parecem se contrapor a política econômica adotada
no Brasil após a década de 1990 com a abertura econômica - a seguir, procura-
se refletir sobre as categorias da pauperização, precarização ou proletarização,
no intuito de desvelar o trabalho docente frente as condições em que se
encontra o mundo do trabalho em geral. Com efeito, buscamos investigar o que
ocorre com o trabalho docente na atualidade tendo como pano de fundo as
transformações do sistema capitalista percebidas no Brasil - a partir da
138
década de 1990 e o embate entre capital e trabalho, buscando refletir sobre o
conceito de pauperização, precarizão ou proletarização do trabalho docente.
3.1. As transformações no mundo do trabalho a partir da década de 1990
68
Parte-se do princípio que as mudanças ocorridas no mundo do trabalho
ligam-se as transformões de âmbito econômico, político, social e cultural que
envolvem toda a sociedade.
Na contemporaneidade o trabalho é marcado pela acumulação flexível,
assim denominada por Ricardo Antunes (2004), onde observa-se a inserção de
novas tecnologias exigindo do trabalhador flexibilidade e maior dedicão na
execução das tarefas. O trabalho é visto como um custo e por isso tem que
baixar em função do lucro, isto acarreta a precarização das condições de quem
trabalho. Passa-se a exigir um trabalhador multifacetado, que realize várias
operações e dedicação integral àqueles que compram sua força de trabalho.
Deste modo, enfocamos a análise do trabalho a partir da década de
1990, uma vez que, de acordo Acácia Zeneida Kuenzer, “em decorrência das
mudanças ocorridas no mundo do trabalho pela globalização da economia e
pela reestruturação produtiva, as velhas formas de organização taylorista-
fordistas deixam de ser dominantes” (2001, p. 32) e, por isso, passam a
determinar novas formas de relação entre o Estado e a sociedade; bem como
para o mundo do trabalho e para com a educação e, por conseguinte, para com
o trabalho docente.
De acordo com Maria Elizabete Sampaio Prado Xavier:
Quando se trata de explicar o desenvolvimento capitalista de uma
formação social determinada, além de examinar essas
contradições particulares responsáveis pela configuração e pelo
avanço de diferentes formas de dominação capitalista, é
necessário não perder de vista a sua articulação com o
desenvolvimento internacional do capitalismo (1990, p. 26).
No que tange ao Estado brasileiro, para justificarem as reformas, os
capitalistas afirmam que a crise que vivemos é de Estado, logo, é Este quem
precisa ser reformado para continuar dando conta dos seus compromissos.
68
A respeito dos estudos que se dedicam a compreender as transformações no mundo do
trabalho destaca-se Ricardo Antunes (2004, 2005), Armando Boito (1999) e Giovanni Alves
(2008), entre outros.
139
Assim, dentro desta lógica é necessário “enxugara máquina estatal tida como
muito onerosa. De acordo com Fernando Henrique Cardoso (FHC), o Estado é
quem deve ser regulado.
É preciso reorganizar as estruturas da administração com ênfase
na qualidade e na produtividade do serviço público; na verdadeira
profissionalização do servidor, que passaria a perceber salários
mais justos para todas as funções. Esta reorganização da máquina
estatal tem sido adotada com êxito em muitos países
desenvolvidos e em desenvolvimento (BRASIL, PRESIDENTE,
1995, p. 10).
Assim foram feitas reformas profundas no governo, como por exemplo, “a
reforma administrativa (essencialmente a retirada da estabilidade no serviço
público), Reforma da Previdência Social (que tem como ponto maior a mudança
da exigência de os benefícios dos aposentados serem 100% iguais aos do
último salário enquanto na ativa; redução cumulativa dos benefícios, introdução
de uma idade mínima para aposentadoria” (BARROS, 2003, p. 106) e, dentro
deste processo de construção do Estado mínimo (ou ximo para o capital)”
(NETTO, 1993, p. 81), acrescenta-se “a reforma fiscal (melhorando a eficiência,
a conformidade e a universalização dos tributos sobre bens e serviços)”
(BARROS, 2003, p.106).
Verifica-se, a tendência dos capitalistas de fazerem do Estado o guardião
da ordem voltado para legitimar a exploração do trabalho. O Estado ideal passa
a ser aquele que deixa o mercado livre de qualquer interferência em que tudo
fica a mercê das leis da oferta e da procura, como se fosse possível a existência
de um mercado capaz de por si só se regular. Deste recuo do Estado nas
questões econômicas e sociais buscamos apresentar outros pontos para o
entendimento da relação entre capital e trabalho.
3.1.1. Alguns apontamentos sobre os embates entre capital e trabalho
Estas considerações apontadas, concernentes as implicações da
dinâmica do capital para com o Estado, ligam-se às transformões ocorridas
no mundo do trabalho. Entendemos, de acordo com István Mészáros, que
como uma grande ironia da história, a dinâmica interna antagonista
do sistema do capital agora se afirma no seu impulso inexorável
140
para reduzir globalmente o tempo de trabalho necessário a um
valor mínimo que otimize o lucro como uma tendência
devastadora da humanidade que transforma por toda parte a
população trabalhadora numa força de trabalho crescentemente
supérflua (2002, p. 341, grifos do autor).
Constata-se, deste modo, que os impactos da configuração do
capitalismo na atualidade, marcada pela inserção de novas tecnologias, pela
reconstituição das relações de trabalho e dos sistemas de produção, fez com
que a outrora ‘pequena firma’ expulsa pelo capital monopolista voltasse a vigorar
devido à “imensa mudança na aparência superficial do capitalismo a partir de
1973” (HARVEY, p. 177). Há, pois, que destacar, conforme Ricardo Antunes,
que estas transformações são sentidas no Brasil, após a década de 1990, com
as seguintes consequências: “mutações políticas, com o advento do receituário
e da pragmática neoliberais, desencadeando uma onda enorme de
desregulamentações nas mais distintas esferas sociopolíticas” (2004, p. 13).
Para José Luís Fiori o Estado brasileirotem levado às suas últimas
consequências um projeto de inserção internacional e de transnacionalização
radical do controle dos nossos centros de decisão e de nossas estruturas
econômicas, com o apoio de uma aliança de poder estabelecida por nossas
elites econômicas e políticas” (2001, p. 11).
Ricardo Antunes (2007) entende que da empresa taylorista-fordista,
passamos para a acumulação flexível, onde o trabalho - sempre visto como um
custo - na perspectiva capitalista deve diminuir para que as empresas aumentem
seus lucros e sua competitividade diante do mundo globalizado. Pode-se dizer,
simplesmente, que é impossível para uma empresa capitalista subsistir sem
progredir continuamente.
Daí a importância que significa a pesquisa científica destinada a
traduzir permanentemente em aperfeiçoamentos técnicos e aplicá-
los praticamente em modificações do processo industrial, os
rápidos e ininterruptos progressos da ciência que se vêm
verificando em nossos dias num ritmo cada vez mais acentuado
(PRADO Jr., 1976, p. 329).
Nesse propósito, têm-se o desenvolvimento da maquinaria técnico-
científico-informacional e hoje digital, em que se apontam como causa o
aumento do trabalho informal, do desemprego (mutilação da força de trabalho) e
141
as implicações disso tudo para todas as relações sociais. Sobretudo com a
digitalização se fragmentou ainda mais a classe trabalhadora e dificultou
imensamente a organização sindical. Uma coisa é organizar uma fábrica com
dez mil trabalhadores, outra - e bem diversa desta - é organizar um sindicato
numa empresa que tem vinte fábricas com cinqüenta, cem trabalhadores cada
uma, espalhados geograficamente.
La empresa crea uma situación muy compleja: es aparentemente
menos despótica, aparentemente hay más libertad; por ejemplo: los
comedores de los trabajadores son los mismos que los de los
directores, cuando em el pasado estaban separados. No hay más
divisiones. El hecho de que uno puede mirar al outro genera uma
situación de aparente igualdad; pero, al mismo tiempo, al no haber
divisiones, uno puede vigilar al outro, se ejerce um control más
enmascarado, porque todos miran todos simultáneamente. Hay um
proceso em el que, como las plantas son flexibles, las producciones
son más flexibilizadas, el consumo no es el mismo tipo de consumo
de masas de la época taylorista-fordista: las empresas producen
aquello que la demanda requiere para evitar la hiperproducción y la
incapacidade de vender los productos. Esto significa que la clase
trabajadora debe estar compuesta por un núcleo pequeno y estable,
el grupo que dispone del domínio cnico necesario para la empresa.
Si la empresa va creciendo mucho toma los tercerizados y
cuarterizados. Son aquellos que son contratados cuando los
mercados se expanden y que son brutalmente reducidos cuando el
mercado se reduce” (ANTUNES, 2007, p. 01).
Diante desta realidade e tendo presente que “as ideias neoliberais só
ganham terreno a partir da crise do modelo de desenvolvimento taylorista e
fordista” (SOUZA, 2002, p. 76), acrescenta-se a afirmação de Armando Boito Jr,
de que a abertura comercial se articula com a desregulamentação financeira
(manifesto por meio das privatizações, expressão do mercado livre); e da
desregulamentação do mercado de trabalho tendo como consequência a
supreso dos direitos sociais. Segundo este autor para apresentar a política
neoliberal deve-se antes conhecer a ideologia neoliberal que “exalta o mercado,
a concorrência e a liberdade de iniciativa empresarial, rejeitando de modo
agressivo, porém genérico e vago, a intervenção do Estado na economia
(1999, p. 23). Nesta perspectiva é relevante destacar que Paulino José Orso
após examinar, a compreensão de diversos liberais (Friederich Von Hayek,
Antonio Paim, Roque Spencer de Barros, Vicente Barreto, dentre outros, etc) -
nas suas aproximações e divergências - assinala:
142
Todavia, na prática, defende o Estado mínimo, isto é, que o estado
intervenha quanto menos possível, o suficiente para garantir a
propriedade, o “império da lei” e a livre concorrência, numa palavra,
para a defesa do capital. É em função disso que, de acordo com as
circunstâncias, o liberalismo muda e defende mais ou menos
intervenção (2003, p. 179).
Percebe-se, deste maneira, que apesar das mudanças alardeadas no
que tange ao que é fundamental o ‘novo’ modo de organização do sistema
capitalista, denominado de “neoliberalismo”, continua inalterado, ou seja,
continua em sua essência pautado na concentração de riquezas como condição
necessária para sua produção e reprodução. Neste horizonte, Emir Sader
enfatiza: “as crises apontam exatamente para as contradições entre um sistema
que produz seus pressupostos, mas que, pela separação entre prodão social
/ apropriação privada que o funda não reproduz homogeneamente as condições
de produção e de apropriação” (1993, p. 50). Assim sendo, no plano
ideológico os homens são tratados como iguais; as práticas sociais decorrentes
de uma lógica que pretende a acumulação precisa necessariamente expropriar”
(BORGES,2007, p. 276).
Compreende-se, deste modo, conforme Evaldo Vieira que “nem a
tecnologia nem a industrialização são garantias suficientes para a existência de
uma sociedade verdadeiramente democrática” (1992, p. 13). Pelo contrário, de
acordo com David Harvey percebe-se que as habilidades técnicas tem levado o
aumento da desigualdade de renda, “a desvalorizão geral da força de
trabalho por meio do aumento do controle do trabalho como algo capaz de
oferecer mesmo uma solução de curto prazo para as tendências de crise do
capitalismo” (1989, p.181). Assim sendo, o que se verifica com o avanço da
tecnologia é o favorecimento da “livre circulação do movimento do capital,
redução do custo do trabalho e incentivo a desregulamentação dos direitos do
trabalho, acarretando toda ordem de emprego precarizado” (LEHER, 1998, p.
167).
Para entender com maior precisão esta lógica que assola o mundo do
trabalho é preciso considerar, ainda, que ela ocorre dentro de um processo de
mundialização do capital, descrito por François Chesnais como sendo
143
[...] resultado de dois movimentos conjuntos, estreitamente
interligados, mas distinto. O primeiro pode ser caracterizado como
a mais longa fase de acumulação ininterrupta do capital que o
capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às
políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e
de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas, que
foram aplicadas desde o início da década de 1980, sob o impulso
dos governos Thatcher e Reagan (1996, p. 34).
A partir deste conceito de mundializão, acresce os apontamentos
realizados por Giovanni Alves, que ao escrever Trabalho e Sindicalismo no
Brasil: Um Balanço crítico da “Década Neoliberal” (1990-2000) enfatiza a
precarização do mundo do trabalho com a implementação do Toyotismo e a
fragmentação da classe trabalhadora, de modo que, o maior desafio do
sindicalismo no Brasil na virada para o século XXI é romper com o viés
burocrático-corporativo, organizar e mobilizar um contingente massivo de jovens
operários e operárias, empregados e empregadas e, inclusive trabalhadores por
conta própria precarizados ou explorados pelo capital” (2002, p. 71).
Neste contexto, Ricardo Antunes observa que com o modo de
acumulação capitalista flexível ocorrem inúmeras transformações no mundo do
trabalho, dentre elas evidencia-se: a desconcentração do espaço físico
(diminuição da concentração do proletariado fabril); o fim de algumas formas de
profissão (aumento da precarização do trabalho); aumento dos setores de
prestação de serviço; exclusão de jovens e idosos do mercado de trabalho;
exploração do trabalho infantil; utilização do trabalho feminino (mais barato e
mais precarizado); a terceirização do trabalho (a produção passa a expandir-se
ou retrai-se dependendo da demanda do mercado consumidor); avanço da
flexibilizão (intensificação do trabalho em domicílio).
Ao contrário da propaganda de substituição do trabalho pela
ciência, ou ainda da substituição da produção de mercadoria pela
esfera comunicacional, da tão falada substituição da produção pela
informação, as novas formas de interpenetração existentes entre
as atividades produtivas e as improdutivas, entre as atividades
fabris e de serviços, entre atividades laborativas e as atividades de
concepção, entre produção e conhecimento científico, que vêm se
ampliando no mundo contemporâneo, configuram-se como
elementos analíticos que em nosso entendimento conferem
validade à forma contemporânea da centralidade do trabalho
(ANTUNES, p. 32).
144
Entendemos, por conseguinte, que a centralidade do trabalho contribui
para percebermos a atualidade de Marx, destacada por István Mészáros (2006)
ao escrever Marx, nosso contemporâneo, e o seu conceito de globalizão.
Baseando-se neste autor, entende-se que o processo de desenvolvimento do
modo de produção capitalista avança trazendo em si a destruição, de modo
que, as crises conjunturais hoje se tornaram estruturais, dado o acirramento das
suas contradições.
Neste sentido, David Harvey, por sua vez, ao se referir sobre o mercado
de trabalho e sua reestruturação, assinala que
diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição
e do estreitamento das margens de lucro, os patrões tiraram
proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande
quantidade de mão de obra excedente (desempregados ou
subempregados) para impor regimes e contratos de trabalho mais
flexíveis (1989, p. 143).
A exemplo disso, no Brasil, tivemos recentemente em pauta no
Congresso Nacional a votação da Emenda 3
69
, que tinha por objetivo a
amputação de direitos trabalhistas historicamente conquistados como: carteira
assinada, férias, décimo terceiro, licença maternidade, entre outros.
Pode-se, dizer que o problema do desemprego na atualidade é estrutural,
devido a vertiginosa diminuição da oferta de trabalho decorrente da lógica do
capital direcionada para a lucratividade em que é preciso fazer mais com menos
homens trabalhando. Com a introdução das máquinas e da tecnologia (trabalho
morto) que faz mais em menos tempo, têm-se o desemprego do homem
(trabalho vivo). “De fato, nesse estágio, com a plena utilização da ciência e da
tecnologia, pelo capital, o trabalho o é mais o elemento predominante no
processo de produção, porque as máquinas o o ponto de partida do
processo” (FÉLIX, 1987, p. 46).
Com efeito, é preciso assinalar que o problema o está na tecnologia
em si e, sim, na utilização e no serviço de quem e para que ela vem sendo
69
Tal Emenda, incluída pelo senado e mantido pela Câmara no Projeto de Lei 6.272, de 2005
(PLC 20/06, no Senado Federal), que tratava da Super Receita (Lei 11.457/07), segundo
Antônio Augusto de Queiroz, tem como propósito “descaracterizar vínculo empregatício entre o
prestador e tomador de serviço de pessoa jurídica”
(http://www.diap.org.br/index.php/artigos/8949-veto-a-emenda-3-corre-risco-de-ser-rejeitado);
Pesquisa realizada no dia 22/10/2009.
145
implantada. Assim, vemos que todo desenvolvimento tecnológico articulado em
função do lucro e da competitividade acarreta o desemprego na cidade e no
campo, onde evidencia-se que o fazendeiro para aumentar seu capital
introduziu a mecanização nas suas terras onde antes o serviço que era
realizado por muitos: preparação do solo, plantio, cultivo, colheita etc, agora é
realizado por alguns operadores de máquina.
Nota-se, tamm, a partir da década de setenta o ‘êxodo rural forçado’,
em que inúmeras famílias não m outra saída para sobreviverem a não ser
migrarem para as cidades, indo ocupar geralmente as periferias das mesmas.
Dá-se, com isso o aumento dos problemas sociais, pois, em tempos de crise
econômica - sinônimo de desemprego-fome-miséria - aumenta a violência, a
criminalidade e a prostituição. Evidencia-se, por conseguinte, que o problema
do campo acirra as mazelas sociais presentes na cidade, pois, conforme já
exposto, a tecnologia (dentro deste modelo de sociedade) tem contribuído de
modo eficaz para diminuição de ofertas de emprego e favorecido a
concentração de renda.
Segundo Francisco de Oliveira, pode-se afirmar que a revolução
tecnológica molecular-digital, “em combinação com o movimento da
mundialização do capital, a produtividade do trabalho dá um salto mortal em
direção à plenitude do trabalho abstrato” (2003, p. 135). O trabalhador cria a
máquina e esta vai lentamente substituindo-o na execução dos trabalhos,
principalmente, os manuais.
Dentro deste contexto de expansão do capital, o professor Luciano
Vasapollo da Universidade La Sapienza, na Itália, em seu livro O Trabalho
Atípico e a Precariedade destaca a naturalização que se produziu do conceito
de flexibilizão do trabalho e o abandono do modelo de trabalho esvel,
posicionando-se contrariamente aos economistas e estudiosos que se curvaram
ao capital ao declarar “que através de um rápido intercâmbio de postos de
trabalho será possível uma adaptação às novas regras impostas pela
globalização e pelo novo paradigma socioecomico produtivo” (2005, p. 15).
Na verdade, com a tecnologia todo o tempo do homem torna-se tempo de
trabalho na hora que o capitalista precisar, além de que, “a tendência moderna
do capital é a de suprimir o adiantamento de capital: o pagamento dos
trabalhadores não será um adiantamento do capital, mas dependerá dos
146
resultados das vendas dos produtos-mercadorias(OLIVEIRA, 2003, p. 136).
Novamente, observa-se que o avanço da tecnologia não vem para libertar o
homem, mas para aprisioná-lo ainda mais, na medida em que ela é engendrada
para atender às necessidades do capital.
Outra estratégia de avanço utilizada pelos capitalistas tem sido a
negação dos embates entre capital e trabalho, em que o trabalhador passa a
ser chamado de sócio, colaborador. Quanto a isso importa a observação de Eric
Hobsbawm de que a “visão essencialmente não-capitalista do trabalho beneficia
mais aos empregadores que aos operários” (1996, p. 310). O complicador disso
tudo, como foi salientado, é que em escala mundial observa-se “a diminuição
dos postos de trabalho efetivos e estáveis não estão vinculados a um
processo mais amplo de precariedade, mas também à afirmação de atividades
flexibilizadas e intermitentes, em um contexto que supera o mercado de trabalho
e se impõe como modalidade da vida cotidiana” (VASAPOLLO, 2005, p. 35).
A diminuão dos postos de trabalho, como foi salientado, acontece
devido ao fato de que o capitalista para aumentar os seus lucros busca
substituir a força de trabalho do homem pelas máquinas. “Disso decorrem todos
os novos ajustamentos no estatuto do trabalho e do trabalhador, forma própria
do capitalismo globalizado” (OLIVEIRA, 2003, p. 136). Assim sendo, “cada
passo dado na introdução da automatização contemporânea, baseada nos
microprocessadores, foi uma oportunidade para destruir as formas anteriores de
relações contratuais(CHESNAIS, 1996, p. 35), contribuindo para o avanço da
“flexibilidação” e desregulamentação dos contratos de trabalho.
A seguir busca-se entender um pouco mais as raes pelas quais o
trabalho vem sucumbindo diante da força “concêntrica-destrutiva” do capital.
3.1.2. A lógica do capital, a globalização e o empobrecimento do
trabalhador
Concomitantemente a estas reflees é preciso que se considere que o
desemprego não é produto direto da tecnologia e sim, do modo de produção
capitalista “baseada na exploração da força de trabalho” (FREIRE, 1982, p. 47),
na medida em que este modelo econômico-social pressupõe a subordinação do
trabalho ao capital. Portanto,
147
[...] como conseqüência, o momento’ da verdade’ que atingimos
nestes tempos difíceis quer dizer precisamente que não é
posvel falar de mudanças significativas sem enfrentar as
determinações fundamentais do sistema de reprodução social no
seu conjunto, como Marx entendia, para encontrar respostas
sustentáveis para a crise estrutural da ordem do capital em todo o
mundo e não apenas neste ou naquele ‘pequeno recanto’
específico do capitalismo subdesenvolvido ou avançado’
(MÉSZÁROS, 2006, p. 1).
Logo, é preciso insistir que a raiz do problema não está na globalização
(produto da expansão do capital) e sim no modelo de organização econômico-
social pautada na concentração de riquezas nas mãos de poucos, que impede a
expansão do trabalho e dos benecios do trabalho a todos, ceifando, por
conseguinte, os meios necessários para que a vida com dignidade seja
socializada e vivida sem reservas por todas as pessoas, pois, impede a
implantação do fim da mutilação do trabalhador advindo do desemprego,
subemprego, trabalho infomalizado, explorado. O que precisa ser mudada é a
lógica de produção destrutiva do capital, pois, “um mercadoo-integrado
nessa terceira dimensão permite que as companhias explorem a seu bel-prazer
as diferenças de remuneração do trabalho, entre diversas regiões” (CHESNAIS,
1996, p. 40). Trata-se de desfazer a inversão dos valores promovida pelo capital
que tornou a propriedade um fim e relegou a vida humana (a qual deveria ser o
fim para o qual tudo convergeria), a tornar-se um simples meio para a obtenção
de dinheiro e, no limite, para o acúmulo de capital.
Observa-se, deste modo, a necessidade e urgência, da compreensão das
bases materiais que sustentam a organizão social vigente, para se fortalecer
a atitude crítica e de enfrentamento do projeto neoliberal que es
desencadeando uma profunda degradação, precarização e (des)socialização
dos valores fundamentais da humanidade” (NORONHA, 2002, p. 99). Para
tanto, faz-se necessário a revisitação constante das obras de Marx, dentre as
quais, pode-se destacar os Manuscritos Econômicos-Filosóficos, onde observa-
se que a desvalorização do mundo humano es intimamente ligada ao
aumento do valor do mundo dos objetos e, por conseguinte, o produto do
trabalho é estranho a quem o produziu, ou se preferir, trata-se da alienação do
trabalho.
148
O fato é que o trabalhador ao produzir riquezas continuamente contribui
para a diminuição do seu próprio valor enquanto mercadoria, afinal, quanto mais
o capital se concentra nas mãos de uns poucos, mais pode-se constatar a falta
que ele faz para dar condições de “vida justa” a classe que só pode contar com
o seu trabalho para sobreviver. Estruturado em função da acumulação de
capital, o modo de produção capitalista faz com que o trabalhador ao trabalhar
mais desqualifique o seu trabalho, tornando-se uma mercadoria de custo mais
barato. Marx revela que:
O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e
sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se
uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. A
desvalorização do mundo humano aumenta na razão direta do
aumento de valor do mundo dos objetos. O trabalho não cria
apenas objetos, ele também se produz a si mesmo e ao
trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma
proporção em que produz bens (s/d, p. 02).
Com base nisto, entende-se que “no caso da globalização, o que em
geral se vê ocultado pela sua ideologia econômica são as relações assimétricas
de poder e dominação que estão na sua origem e que explicam a sua expansão
e a sua originalidade financeira” (FIORI, 1997, p. 88). Com efeito, a
mundialização do capital fez com que “o modelo de acumulação capitalista
dominante no Brasil, assentado na indissociabilidade entre internalizão do
capital industrial e presença do Estado” (CÊA, p. 59), deixasse de se sustentar
material e ideologicamente.
Giovanni Alves discute que a inserção do Brasil, na mundialização do
capital, se deu de modo subordinado “por meio de políticas neoliberais que
acentuaram a lógica destrutiva do capital no país(2002, p.71) e, sobre isso,
acrescenta José Luis Fiori que se “fez as reformas e privatizações requeridas e
hoje este se transformou numa agência de gerenciamento macroeconômico do
acordo internacional que o salvou da falência na crise final do Plano Real e que
definiu, por vários anos, o que serão os objetivos e as prioridades da nação
brasileira” (2001, p. 26). Este processo tem contribuído para o aumento da
concentração de renda e da precariedade do trabalho de forma ainda mais
acentuada no Brasil.
149
Certamente, neste contexto, algumas expressões entre as quais
podemos citar: união dos trabalhadores, sindicato, greve, redução da jornada de
trabalho, exploração, luta de classe, assustam a burguesia e todos aqueles que
o privilegiados pelo modo de produção capitalista. Afinal, para o bom
funcionamento da sociedade os conflitos de classes precisam ser negados e a
noção de classe pulverizada. Neste sentido, compreende-se a importância do
lema estampado na bandeira brasileira: “ordem e progresso”, em que o Estado
deve garantir para que de dia a “sociedade produza” e durante à noite ela possa
descansar em paz para noutro dia recomar o seu ciclo de produção
sóciometabólico. No entanto, o se pode esquecer que não são poucas as
indústrias, empresas, firmas, que trabalham noite e dia na voracidade por
ampliarem sua lucratividade.
Desta forma, é preciso que se analise a precarização do trabalho docente
inserido no quadro da precarização da própria vida e, longe do pessimismo
“precisamos trabalhar para construir os alicerces de uma nova sociedade”
70
que
suplante a gica da produção destrutiva da sociedade capitalista. De acordo
com Ricardo Antunes, a mudança deste quadro somente pode acontecer por
meio da luta:
Es um cuadro pesimista? Si, lo es. Pero em um contexto de crítica
que implica muchas luchas sociales. Nosotros estamos viviendo
uma etapa de cambio em las formas de lucha social. Por ejemplo,
em América Latina se lucha contra la privatización del água -
Equador, Bolívia, Peru -, contra la privatización del Petróleo -
Venezuela -, contra la privatización del gás - Bolívia. Se lucha
contra la destrucción de la naturaleza que los capitales globales
efectúan en nuestra América y em otras partes del mundo. Hay
huelgas em distintas partes del mundo, uma forma de lucha
tradicional pero importante em su persistência (2007, p. 4).
A verdade é que a ordem burguesa sabe muito bem que a sua riqueza
advém da expropriação do trabalho, constantemente naturalizada e
suficientemente demonstrada por Karl Marx. Por isso, o controle do trabalhador
é necessário, e atualmente um dos modos de encarcerá-lo é por meio de um
exército de ‘mão de obra de reserva’. Neste sentido, pode-se acrescentar que
70
Fala da Secretária de Estado da Educação do Paraná, Yvelise Freitas Souza Arco-Verde,
durante o quarto Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais, ocorrido de 16 a 19 de
setembro de 2009, na UNIOESTE, campus de Cascavel-PR.
150
a maioria dos trabalhadores não controla hoje a duração nem a
intensidade de seu trabalho. O trabalhador assalariado deve
submeter-se aos ritmos impostos pela maquinaria, aos fluxos
planificados de produção e às normas de rendimento estabelecidas
pela direção” (ENGUITA, 1989, p. 9).
E, caso um trabalhador não se submeta as regras do mercado capitalista,
tem sempre outro trabalhador ansioso (por vezes beirando o desespero)
esperando por sua vaga.
Estes embates entre capital e trabalho podem ser percebidos no livro de
Davi Félix Schreiner sobre o Cotidiano, Trabalho e Poder: A formação da cultura
do trabalho no Extremo Oeste do Paraná, onde assinala que “a existência de
práticas de controle e normalização objetivam a subordinação dos
trabalhadores. A subordinação não é total e tampouco homogênea. Os
trabalhadores resistem e lutam contra as práticas de domínio(1997, p. 143).
Entretanto, esta resistência está visivelmente enfraquecida diante da
reestruturação produtiva imposta pelo capital em que “as formas de organização
da classe trabalhadora (como os sindicatos), por exemplo, dependiam bastante
do acúmulo de trabalhadores na brica para serem viáveis, sendo
peculiarmente difícil ter acesso aos sistemas de trabalho familiares e
domésticos” (HARVEY, 1989, p. 145).
Notadamente, a realidade até aqui apresentada é condição para a fábrica
aumentar sua produtividade e ganhos, “para a escola esta é, contraditoriamente,
a condição para a educação de cidadãos / trabalhadores capazes de enfrentar
os efeitos perversos da exclusão gerada por esse novo padrão de acumulação
(KUENZER, 1998, p. 50).
Diante deste quadro, torna-se relevante, conforme Vicente de Paula
Faleiros, “as lutas sindicais pelos salários e pelas condições de trabalho e as
lutas populares pelas condições de vida, colocam em confronto forças
contrárias em torno de problemas que se referem à sobrevivência dos
indivíduos em sociedade” (1980, p. 36).
Com efeito, a luta deve ser travada no sentido de dar condições para que
o trabalhador possa desempenhar seu trabalho e, em contrapartida realizar-se
naquilo que executa, produzindo para si mesmo. Mais do que amenizar o
embate precisa girar em torno do fim da exploração do homem pelo homem.
151
Rompe-se, deste modo, com as imposições da divisão social do trabalho que se
refletem na divisão social do consumo, pois, os lares operários, à grosso modo,
“não tem a liberdade de escolha para comprar uma carne de primeira qualidade,
mas somente pode escolher os produtos de segunda ou de terceira categorias”
(FALEIROS, 1980, p. 36) e, mesmo assim, em quantidades restritas.
3.2. Pauperização, precarização ou proletarização do trabalho docente?
Considera-se relevante analisar estes conceitos, buscando compreeder
se o que ocorre com o trabalhador em educação trata-se de precarização,
pauperização, ou proletarizão. Logo, intentamos verificar qual destas
categorias melhor explicita o que acontece com o trabalho docente na
atualidade, ou ainda, compreender se o que caracteriza o trabalho docente não
carece da conjunção das três categorias para melhor explicá-los.
Sabemos que estes conceitos não são estanques. A precarização
docente liga-se à pauperização e vice-versa e, ambas se articulam à
proletarização. Assim, o professor tende a trabalhar, tornando-se um cumpridor
de tarefas, um reprodutor daquilo que o currículo exige, um aplicador de
conteúdos dentre outras coisas. Sem tempo para ler, estudar, pesquisar o
professor passa a executar suas obrigações de modo mecânico - semelhante a
um robô preso ao comando - transformando-se em um proletário, no sentido de
ter perdido sua autonomia; por falta de tempo ou incentivo para exercer sua
capacidade criativa, desenvolve uma aula irreflexiva e de qualidade
questionável.
Neste sentido, Tumolo e Fontana, ao escreverem o artigo Trabalho
Docente e Capitalismo: um estudo crítico da produção acadêmica da década de
1990, afirmam que
as investigações sobre o trabalho docente, em sua inter-relação
com outras categorias profissionais, começaram a emergir como
objeto de estudo na pesquisa educacional brasileira no final da
década de 1970 (OLIVEIRA, 2003), tendo como temas centrais a
organização do trabalho docente e a gestão da escola (2008, p.
01).
Deste modo, o trabalho docente se aproxima do que é realizado pelo
operário de uma fábrica de automóveis que aperta os parafusos que levarão à
152
produção de um carro. O que diferencia é o produto fornecido por eles.
Enquanto o operio da fábrica produz carros o professor colabora na produção
do aluno para que se torne um trabalhador, especializado em executar tarefas,
em obedecer ordens e que assim não questiona a realidade. Em suma,
isto significa dizer que o trabalho produtivo está presente em toda
e qualquer relação de produção capitalista, não importando se se
trata de uma empresa agrícola, fabril ou uma empresa escolar, se
a mercadoria produzida é soja, robô ou ensino (TUMOLO;
FONTANA, 2008, p. 7).
Percebe-se, por meio dos estudos realizados que a classe trabalhadora,
dentro da lógica do capitalismo, fica mais pobre na proporção em que amplia a
concentração de renda, fundamento para a perpetuação da sociedade
capitalista. Afinal, nesta forma de organização social, política e econômica, o
trabalho tornou-se uma mercadoria e é visto como um custo que precisa ser
diminuido para aumentar os ganhos daqueles que o os proprietários dos
meios de produção. Vê-se, que a pauperização
71
está presente no dia-á-dia do
trabalhador e liga-se à precarização. Nota-se, por conseguinte, que a
precarização, pauperização e a proletarizão caminham juntas, se
interrelacionam. No entanto, faz-se necessário precisar o que significa cada
uma delas, no intuito de se perceber em que medida se diferem e se
aproximam.
3.2.1. O trabalhador e a pauperização
Parte-se da premissa que a pauperização liga-se à gica intrínseca do
capital que, para expandir-se, concentra a riqueza produzindo a diminuição dos
rendimentos daqueles que trabalham, ou seja, o seu empobrecimento. Segundo
71
Em sua tese de doutorado Amarilio Ferreira Junior ao escrever sobre Sindicalismo e
proletarização: a saga dos professores brasileiros, assim se refere ao arrocho salarial sofrido
pelos professores após a queda do regime militar: Para a Confederação de Professores do
Brasil, com base nas suas resoluções congressuais, as mudanças do modelo econômico do
regime militar passava, obrigatoriamente, por mudanças políticas, ou melhor: pela conquista
das liberdade democráticas. Entretanto, apesar deste processo de lutas, a categoria dos
professores públicos estaduais de e 2º graus não conseguiu romper com a lógica das
classes dominantes brasileiras que, historicamente, sempre se pautou pela adoção de políticas
econômicas baseadas no arrocho dos salários dos trabalhadores (FERREIRA JR, 1988, p.
247).
153
Bottomore “o empobrecimento relativo dos trabalhadores é um aspecto inerente
ao sistema capitalista como um todo” (2001, p. 284).
Nossa abordagem refere-se ao trabalhador em geral e, de modo
particular, o trabalhador em educação e a relevância acontece, na medida em
que partimos do pressuposto de que o trabalho é uma mercadoria e esta existe
na sua duplicidade: valor de uso e de troca
72
. Assim, a mercadoria-trabalho,
enquanto valor de troca é alienada e, por conseguinte, esta expropriação
remete à própria vida do trabalhador (seja ele da educação ou do chão da
fábrica ou ainda outro qualquer) que diminui em detrimento ao capital na sua
ânsia por agregar mais-valor. O resultado disso tudo nos é apresentado por
Roberto Leher que fundamentado em Chomsky afirma:
Outros efeitos da política neoliberal são igualmente relevantes,
como a flexibilização dos direitos do trabalho e a sua precarização,
acarretando drástica redução dos salários e, mais amplamente,
uma vigorosa redução dos direitos do trabalho. Na América Latina,
o salário mínimo real declinou agudamente entre 1985 e 1992, sob
o impacto dos programas de ajuste neoliberais, enquanto o número
de pobres aumentou em quase 50% entre 1986 e 1990 (1998, p.
153-154).
Marx (s/d, p. 1) ao escrever a Crítica da Economia Política assinala, entre
outras coisas, que para os detentores do capital não interessa a explicitação de
que a riqueza é resultado da exploração do trabalho do homem pelo homem.
Com efeito, a empresa moderna instaurou de maneira completa o modo de
produção capitalista com a incorporação real dos trabalhadores ao capital, com
“métodos modernos e maquinarias sofisticadas, dentro de um empenho para
planejar e controlar o processo de trabalho e torná-lo um processo dirigido
exclusivamente pela gerência” (FRANCO, 1987, p. 12). O trabalho manual vem
perdendo o seu espaço gradualmente e cada vez mais aumenta a sua
“exploração” por meio da ciência e tecnologia. Maria de Fátima Costa Félix
entende que,
No processo produtivo a estrutura hierárquica, os meios de
produção e o próprio trabalho, que mediatizam a dominação do
capital sobre o trabalhador, aparecem como condições naturais e
72
Marx analisa estes dois conceito na obra O Capital, no capítulo em que se refere a
mercadoria, 1985, p. 45-78.
154
necessárias do processo de trabalho, como se nesse processo não
se desse início e continuidade a um outro mais amplo que é o da
própria produção social da existência dos homens (1986, p. 47).
Sobre as características do trabalho na sociedade capitalista enfatiza Karl
Marx:
Quanto mais o trabalhador apropria o mundo externo da natureza
sensorial por seu trabalho, tanto mais se despoja de meios de
existência, sob dois aspectos: primeiro, o mundo exterior sensorial
se torna cada vez menos um objeto pertencente ao trabalho dele
ou um meio de existência de seu trabalho; segundo, ele se torna
cada vez menos um meio de existência na acepção direta, um
meio para a subsistência física do trabalhador (s/d, p. 3).
Logo, o aumento do valor do mundo dos objetos es vinculado à
desvalorizão do mundo humano. E, apesar da máquina, o capitalista precisa
controlar o trabalhador tornando-o um apêndice vigiado enquanto executa a
mesma em função da produção. Conforme Benedito Moraes Neto, “em Marx, o
que apreendemos são os fenômenos da ‘apendicização’ do homem à máquina,
da objetivação do processo de trabalho, da transformão do processo de
trabalho em uma aplicação tecnológica da ciência, da transformão do trabalho
vivo em coisa supérflua” (2003, p. 18). Na base do controle exercido sobre o
trabalho encontra-se, conforme salientado, a separação entre teoria e
prática, concepção e execução, pensamento e ação” (FRANCO, 1987, p. 13),
característica do trabalho no capitalismo moderno, justificador e legitimador de
seu empobrecimento.
Para Marx, a miria do trabalhador aumenta na proporção do aumento
da sua produção e, como salientamos, deste modo, “o trabalho humano
produz maravilhas para os ricos, mas produz privação para o trabalhador” (s/d,
p. 4). O trabalhador se aliena no próprio ato da produção e, sendo assim,
produz palácios e vive em favelas; produz beleza e o que recebe é só fealdade.
Com a mundialização do capital, Frigotto e Ciavatta (2003), afirmam que
a condição do trabalho torna-se ainda mais pauperizada, passando a necessitar
de novas noções no plano simbólico e ideológico para poder reproduzir-se.
Aumenta-se assim a contradição, quando constata-se que o cidadão ao
maximizar a produção torna-se um cidadão mínimo, sem condições de perceber
a totalidade do tecido social.
155
Não se trata de afirmar a ocupação, a profissão e o emprego,
mas sim de uma realidade desregulamentada e flexível. O ideário
pedagógico vai afirmar as noções de polivalência, qualidade total,
habilidades, competências e empregabilidade do cidadão
produtivo (um trabalhador que maximize a produtividade) sendo
um cidadão mínimo (2003, p. 52).
Nota-se aqui a relação intrínseca que entre o trabalho realizado na
escola com aquilo que a sociedade necessita para reproduzir-se, como
procuramos demonstrar no primeiro e segundo capítulo da dissertação. Neste
sentido, pode-se perceber que a pauperização do trabalhador de modo geral
traz conseqüências ao trabalho do professor, que terá de ensinar alunos, cada
vez mais, sem a devida assistência (econômica e afetiva) dos seus pais.
Por outro lado o salário docente apresentado no segundo capítulo
demonstra a problematicidade que envolve o desenvolvimento deste tema da
pauperização docente uma vez que se comparado com outros trabalhadores o
sario docente fica um pouco acima do estipulado pelo DIEESE como sendo o
necessário para o “bem viver”. No entanto, pensamos que seja mais
conveniente deixar a questão em aberto (uma vez que não podemos nivelar o
sario dos trabalhadores em educação por baixo), pois, existem outros
trabalhadores que, com a mesma formão, recebem salários bem maiores do
que aqueles destinados aos que se dedicam ao ensino.
Na sequência, após termos apontado alguns elementos da pauperização
do trabalho em geral, busca-se discutir a questão da precarização em relação
ao trabalho docente.
3.2.2. A precarização do trabalho docente
O termo precário nos remete, segundo o dicionário contemporâneo de
Maria Tereza Camargo Biderman, ao “que não é definitivo, que é provisório” ou
“que é ruim, insuficiente, inadequado” (1992, p. 740). Por sua vez, nosso
entendimento é o de que o termo precarização indica o movimento constante
deste tornar precário o trabalho no dia-à-dia, na materialidade concreta do devir
de quem trabalha.
Dentre os trabalho produzidos dentro da temática da precarização
destaca-se os estudos de: Maria das Mercês Ferreira Sampaio e Alda Junqueira
156
Marin, ao escreverem sobre Precarização do trabalho docente e seus efeitos
sobre as práticas curriculares, (Revista Educação & Sociedade, 2004), onde
afirmam que as condições econômicas e sociais incidem sobre a escola
tornando-a frágil e insuficiente e analisam a precariedade do trabalho docente e
suas consequências sobre as práticas curriculares.
Outro texto, que busca discutir a precarizão docente é de Menga Lüdke
e Luiz Alberto Boing, com o artigo publicado na Revista Educação & Sociedade
(2004), com o título: Caminhos da profissão e da profissionalidade docentes.
Estes autores destacam que um dos elementos que corroboram para a
precarização das condições do trabalho docente é o baixo salário e apontam
isto como um dos motivos que afastam os meninos e meninas do sonho de
serem professores, pois, a valorização social de uma determinada profissão - no
modelo organizacional desta sociedade - liga-se à questão da remuneração.
Estes autores problematizam também acerca da relação que existe entre a
formação e a profissionalizão do trabalho docente.
De que profissão estamos falando quando tratamos do magistério?
Hoje, sua preparação pode ser feita em diferentes instituições
formadoras, até mesmo de níveis de ensino diferentes. Assim,
convivem agora os cursos oferecidos pelas universidades, como os
de pedagogia e de licenciatura, o curso normal superior, dentro dos
intitutos superiores de educação, e ainda o antigo curso normal,
em nível médio. Essa é apenas uma das dificuldades que se
levantam quando tentamos entender o magisrio como uma
profissão (LÜDKE & BOING, 2004, p. 2).
Mattos ao trabalhar a relação entre a educação e o meio ambiente,
assinala para o movimento contraditório do capital que para produzir riquezas
precariza o trabalho e aniquila o meio ambiente. Motta, ao citar Anderson,
afirma que a riqueza das nações capitalistas ricas reclama a miséria dos pses
capitalistas pobres. Caso contrário, “se todas as pessoas da Terra possuíssem
o mesmo número de geladeiras e automóveis que as da América do Norte e da
Europa Ocidental, o planeta ficaria inabitável” (2007, p. 47).
Assim, conclui que para garantir a sustentabilidade do planeta “o
privilégio de uns poucos, requer a miséria de muitos” (idem, p. 47). Neste
sentido, trazendo para o plano educacional, Saviani afirma que as soluções
para a educação são relativamente simples. No entanto, o problema se
157
encontra no fato de que estas implicam uma democratização mais radical e
“acabam mexendo com os quadros de estratificação da sociedade, atingindo,
em conseqüência, interesses à luz dos quais todo um conjunto de
reinterpretações da questão educacional é mobilizado” (2002, p. 154).
Todavia, a educação ocorre concomitantemente com o desenvolvimento
das sociedades e sofre, deste modo, com a racionalidade do capital que
ameaça a sobrevivência da Terra e tem nela um instrumento de ajuste a seu
favor. Muito embora, no limite a educação também pode, por meio de seus
agentes e quando possível, produzir o seu contrário que é a negação da
“dualidade estrutural” imperante na sociedade capitalista.
De acordo com Motta a “lógica do capital é perversa, supérflua, egoísta”
(2007, p. 49). Assim, enquanto uma minoria esbanja futilidades uma imensa
maioria não tem nem o mínimo necessário para viver com dignidade. Importa
ressaltar os dados fornecidos pelo documento Brasil. Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Planejamento e
Investimentos Estratégicos, de que o perfil da pobreza no Brasil abrange cada
vez mais a população urbana jovem:
Outras mudanças também são evidentes de 1998 a 2001. A
incidência de pobreza entre os jovens aumentou (o percentual de
pobres com menos de 24 anos se elevou de 36% para 39% do
total); a relação entre pobreza e educação apresentou uma
pequena redução (a pobreza diminuiu entre pessoas com baixa ou
nenhuma escolaridade, mas aumentou em todos os outros grupos
escolarizados); e o vínculo entre desemprego e pobreza tornou-se
mais forte (2003, p. 19).
O fato é que “chegamos a um novo estágio histórico no desenvolvimento
transnacional do capital: aquele em que não é possível evitar o afrontamento
da contradição fundamental e a limitação estrutural do sistema” (MÉSZÁROS,
2003, p. 39). Sendo assim, a luta pela construção de uma nova sociedade
torna-se fundamental, caso contrário, a bárbarie continuará a expandir-se e
ameaçando, no limite, a destruição do próprio planeta. Este panorama
possibilita a compreensão e a ligação que existe entre a pauperização e
precarização, explicitada por Motta:
158
No novo milênio, a problemática que se coloca não é restrita à
incapacidade de a maioria da população obter uma renda mínima
para se beneficiar dos bens sociais básicos: educação, nutrição,
saúde..., mas inclui a possibilidade da escassez de produção de
alimento, das energias etc. Trata-se da ideologia do progresso, do
desenvolvimento e da lógica de consumo (2007, p. 49).
A pauperização e a precarização, portanto, precisam ser extintas e não
simplesmente controladas como nos alerta Roberto Leher, que após examinar
os documentos do Banco Mundial, constatou que a ênfase na ‘administração
da pobreza diz respeito às condições de governabilidade e, mais
genericamente, à sustentação política das reformas (LEHER, 1998, p. 153).
Pois, a pauperizão do trabalhador conduz a precarização das suas condições
econômicas, sociais e culturais tendo em vista a manutenção da sua própria
vida e de suas famílias.
Parte-se do princípio de que o professor é um trabalhador uma vez que
para garantir a sua sobrevivência precisa se colocar a serviço da educação-
escolarizão. Assim, apesar do professor o se encontrar no “chão da
fábrica é dele que se utilizam as classes dominantes para prepararem
proletários, força de trabalho para ser utilizada na produção de mais-valia.
Desta alienação da força de trabalho advém a alienação do próprio trabalhador,
docente ou operário da fábrica, na medida em que de sua exploração depende
a reprodução sóciometabólico
73
do capital.
Ao indagar sobre a quem interessa a neutralidade numa sociedade em
que impera a injustiça social, onde se observa que uns possuem um alto grau
de consumo e outros morrem por inanição e ao perceber a pauperizão e
precarização dos trabalhadores em educação, quer seja pela via salarial, quer
seja pelas condições de trabalho, pela formão insuficiente etc, algumas
questões surgem e, de certo modo, são solucionadas quando associadas ás
análises referente à alienação do trabalho. E se partimos do pressuposto de que
o trabalho docente também é regido, apesar de suas especificidades, pela
lógica capitalista, então torna-se relevante saber como nos diz Marx, que a
alienação do trabalho acontece sob dois aspectos:
73
Expressão esta cunhada por István Mészáros em A ordem da reprodução sociometabólica
do capital. In:_________. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Tradução de
Paulo César Castanheira e Carlos Lessa. São Paulo: Boitempo, 2002, p. 94-132.
159
1) a relação do trabalhador com o produto do trabalho como um
objeto estranho que o domina. Essa relação é, ao mesmo tempo, a
relação com o mundo exterior sensorial, com os objetos naturais,
como um mundo estranho e hostil; 2) a relação do trabalho como o
ato de produção dentro do trabalho. Essa é a relação do
trabalhador com sua própria atividade humana como algo estranho
e não pertencente a ele mesmo, atividade como sofrimento
(passividade), vigor como impotência, criação como emasculação,
a energia física e mental pessoal do trabalhador, sua vida pessoal
(pois, o que é a vida senão atividade?) como atividade voltada
contra ele mesmo, independente dele e não pertencente a ele. Isso
é auto-alienação, ao contrário da acima mencionada alienação do
objeto (s/d, p. 5).
Certamente, a transformão da humanidade trabalhadora em uma
‘força de trabalho’, em ‘fator de produção’, como instrumento do capital, é um
processo incessante e interminável. A condição é repugnante para as vítimas,
seja qual for o seu salário, porque viola as condições humanas do trabalho”
(BRAVERMAN, 1980, p. 124). Não obstante, ao realizar um trabalho alienado o
trabalhador aliena seu próprio corpo, da sua própria vida, alienando-se também
dos outros trabalhadores. Uma sociedade erigida sob o trabalho alienado
reclama relações sociais alienantes na escola, na igreja, aonde quer que
estejam os homens. Logo, as relações entre os homens ocorrem de modo
alienado. Esta alienação se expressa no homem e na sua relação com ele
próprio, com os outros e com a natureza, uma vez que o trabalhador não produz
para si. Assim, o trabalho constitui-se num tormento para quem trabalha e um
“deleite” para quem dele se apropria.
Portanto, pode-se afirmar que o trabalhador é subjugado por quem detêm
os meios de produção. Ao alienar o seu trabalho, o trabalhador aumenta o
poder do o produtor. Sem trabalhar o capitalista multiplica suas fortunas, a
sua possibilidade de extrair a mais-valia:
A propriedade privada é, portanto, o produto, o resultado inevitável,
do trabalho alienado, da relação externa do trabalhador com a
natureza e consigo mesmo. A propriedade privada, pois, deriva-se
da análise do conceito de trabalho alienado: isto é, homem
alienado, trabalho alienado, vida alienada, e homem afastado
(MARX, s/d, p. 9-10).
Paulo Sandroni convenceu-se da profunda verdade da expressão antes
tida como mais uma expressão de efeito, a saber: “o drama da burguesia é
160
saber que não pode viver sem o proletário e de que este pode viver (melhor)
sem ela(1985, p. 105, grifos do autor). E, um homem que se defronta a si
mesmo se defronta com os outros homens, logo, têm-se continuamente um
campo aberto para a possibilidade de subversão da ordem vigente. Pois, “uma
vez que os trabalhadores não são destruídos como seres humanos, mas
simplesmente utilizados de modos inumanos, suas faculdades críticas,
inteligentes e conceituais permanecem sempre, em algum grau, uma ameaça
ao capital, por mais enfraquecidas ou diminuídas que sejam” (BRAVERMAN,
1980, p. 124).
Nesta perspectiva para entendermos o significado do termo pauperização
assinalamos uma passagem dos escritos de Marx presente nos Manuscritos
econômicos-filosóficos, que diz:
(XXII) Partimos dos pressupostos da Economia Política. Aceitamos
sua terminologia e suas leis. Aceitamos como premissas a
propriedade privada, a separação do trabalho, capital e terra, assim
como também de salários, lucro e arrendamento, a divisão do
trabalho, a competição, o conceito de valor de troca, etc. com a
própria economia política, usando suas próprias palavras,
demonstramos que o trabalhador afunda até um nível de mercadoria,
e uma mercadoria das mais deploráveis; que a miséria do
trabalhador aumenta com o poder e o volume de sua produção; que
o resultado fooso da competição é o acumulo de capital em poucas
mãos, e assim uma restauração do monopólio da forma mais terrível
(s/d, p. 1).
Pode parecer um pouco repetitivo, mas insistimos nisso, pois, supomos
que esta é a regra que rege o capital que avança em prejuízo do trabalhador,
uma vez que, para expandir-se promove e depende da concentração de
riquezas nas mãos de uns poucos em detrimento da peria da grande maioria
e da força de trabalho reserva. Observa-se, deste modo, que a concorrência se
instaura tanto entre os capitalistas como entre os trabalhadores. Logo, “a
remuneração do trabalho subirá ou baixará de acordo com as relações entre
oferta e a procura” (ENGELS, 1985, p. 24).
E assim, à medida que o trabalho se torna cada vez mais
desagradável, mais repugnante, a concorrência aumenta e o salário
diminui. O operário procura manter o mesmo salário trabalhando
mais, quer fazendo horas extraordinárias, quer produzindo mais em
cada hora de trabalho. Empurrado pela miséria, o operário aumenta
161
mais os efeitos funestos da divisão do trabalho. Pois que quanto
mais trabalha menos ganha, e isto por uma razão muito simples:
fazendo concorrência aos seus companheiros, estes se transformam
em concorrentes que se vendem em condições o más quanto as
dele, deste modo, em definitivo, é assim mesmo que ele faz
concorrência, a ele pprio como membro da classe operária (MARX,
1985, p. 42-43, grifos do autor).
Sendo assim, tendo presente o que foi exposto acima, ao
compreendermos o professor como um trabalhador, somos obrigados a
concordar que, enquanto tal, encontra-se submetido à lógica do sistema
capitalista que resulta na geração de duas classes: os proprietários e não-
proprietários, isto é, trabalhadores que para sobreviver são obrigados a alienar
sua própria força de trabalho.
Não há espaços para a ilusão, o trabalhador-livre encontra-se submetido
aos ditames do capital. Sua liberdade é a de trabalhar e de receber o que o seu
patrão pagar, uma vez que é forçado a despojar-se de seu próprio objeto que é
o trabalho. Assim sendo, para a sociedade capitalista o trabalhador é um
recurso, um objeto que produz riquezas. Logo,
[...] dizer que o operário tem interesse no crescimento do capital
significa apenas isto: quanto mais rapidamente o operário faz
aumentar a riqueza alheia, mais abundantes serão as migalhas que
ele recolhe do banquete; quanto mais operários se empregarem, e
quantos mais nascerem, mais se multiplicará a massa de escravos
dependentes do capital (MARX, 1985, p. 37).
Neste contexto, dos apontamentos elencados por Enguita que
demonstram os motivos pelos quais o modo de produção capitalista foi tão
capaz de dar forma a escolarizão (escola de massa), destaca-se: as escolas
têm elementos comuns com as empresas, sendo campo de treinamento para
estas (1989, p. 131). Observa-se, por conseguinte, que a escola é chamada a
colaborar na preparação dos futuros trabalhadores.
Diante deste quadro, interessa destacar a definição de Tom Bottomore,
fundamentado em Marx, sobre a pauperização enquanto produto do sistema
capitalista:
Em sua análise do capitalismo, Marx identifica dois tipos de
tendências inerentes ao sistema: as tendências inelutáveis ou
dominantes, entre as quais estão a criação de um ercito industrial
162
de reserva e a tendência decrescente da taxa de lucro, que
canalizam em uma certa direção os fatores que atuam no sentido de
neutralizar sua ação, acabando, com isso, por subordiná-los; e as
tendências eviveis ou coordenadas, cuja pressão incessante pode,
não obstante, ser compensada por uma tendência oposta que se
mostre capaz de exercer pressão suficiente para neutralizá-la
(BOTTOMORE, 2001, p. 283).
A divisão do trabalho atende a lógica do capital na qual quem detêm a
propriedade manda e, por isso sabe, enquanto os que possuem somente a
força de trabalho obedecem e a priori nada sabem. Assim, é preciso analisar
como esta regra social se estende para a escola e em que medida, o professor
do ensino médio e fundamental, muitas vezes é chamado a ser um receptor
passivo, um aplicador do livro didático planejado por intelectuais universirios.
Sobrecarregado por uma infinidade de tarefas para executar, não m tempo
para ler, estudar, aprimorar-se e, assim, acaba por se restringir a sua sala de
aula, no cumprimento de suas inúmeras obrigações institucionais, sociais e
pessoais. Observa-se, deste modo, que a pauperizão e precarizão do
trabalho estão articulados ao “aumento da pobreza, da desigualdade social e do
desemprego estrutural, as determinações de políticas macroeconômicas
neoliberais e as perdas dos direitos sociais, no enfraquecimento das forças
trabalhistas, e põe em risco a própria existência humana” (MOTTA, 2007, p. 49).
Bottomore, amplia a sua análise sobre a lógica da oferta e da procura ao
campo do trabalho, ao afirmar: “quando o exército industrial de reserva é
grande, por exemplo, os salários reais podem ser reduzidos abaixo do nível de
subsistência da força de trabalho porque há novos trabalhadores para substituir”
(2001, p. 284) e, mais adiante, conclui: “os salários reais podem elevar-se
simplesmente em consequência da escassez de trabalho assalariado
imediatamente disponível” (idem, p. 284). Pode-se dizer que o sistema
capitalista para não entrar em crise precisa expandir-se constantemente e, este
processo ocorre com a concentração da riqueza nas mãos de uma minoria em
detrimento da maioria evidenciando-se, assim, a questão da pauperização.
Segundo Mészáros, esta lógica é inerente ao capital.
As mudanças sob tais limitações conjecturais e apriorísticas são
admissíveis apenas com o único e letimo objetivo de corrigir
algum detalhe defeituoso da ordem estabelecida, de forma a
manter-se intactas, em conformidade com as exigências
163
inalteráveis de um sistema reprodutivo na sua totalidade lógica. Se
é autorizado a ajustar as formas através das quais uma
multiplicidade de interesses particulares conflitantes se devem
conformar com a regra geral, pré-estabelecida da reprodução
societária, mas nunca se pode alterar a própria regra geral (2005,
p. 2).
E, onde quer que se encontre, o trabalhador para manter seu emprego
contribui para que esta lógica sóciometabólica se perpetue. Em todo caso,
dadas as nuances que perpassam o termo pauperização, que buscamos acima
expor, pensamos por bem não denominarmos este nosso objeto de pesquisa
como pauperizão docente na tentativa de não estreitarmos a nossa análise e
nos enclausurarmos numa discussão estéril, uma vez que pode-se reconhecer
que o trabalhador docente, se comparado com outros trabalhadores, ainda pode
ser considerado um privilegiado, tendo em vista as conquistas empreendidas
pelo sindicato como já salientamos anteriormente.
Enfatiza-se que esta pesquisa não se reduz a análise da pauperização do
trabalho docente e nem busca investigar quem é mais pauperizado: o
trabalhador da educação ou os trabalhadores de modo geral. Caminhar por esta
via não acresentaria muita coisa frente ao que já foi produzido e conduziria ao
risco de ficarmos divagando sobre quem são os mais pauperizados, se o
professor ou os produtores das riquezas materiais? Nosso objetivo não é buscar
quem é o mais explorado, quem ganha mais ou menos e sim, de contribuir para
a tomada de consciência dos mesmos em fuão de que o único meio para
emancipação do trabalhador é a união enquanto classe.
Portanto, intentou-se ir além da demonstração da pauperização e
precarização docente. Uma vez que a pauperização e a precarização afetam os
trabalhadores de modo geral, uns mais e outros menos, e que, a grosso modo,
dia após dia o fortalecimento do capital tem como consequência o
empobrecimento do trabalhador e do trabalho.
3.2.3. A proletarização e a proletarização docente
Procura-se, inicialmente, analisar o conceito proletário em sua origem
para em seguida perceber em que medida pode ser relacionado ao trabalho
docente. De princípio afirma-se que proletário é todo aquele que para manter-se
vivo (bem como sustentar sua família) precisa vender sua força de trabalho.
164
Acrescenta-se ainda a questão do proletário que não sendo dono dos meios de
produção é controlado em seu trabalho, executando as ordens” recebidas do
proprietário. É neste contexto, que a problematização do trabalho docente
ligada a proletarização ocorre.
Claudia Barcelos de Moura Abreu e Sonia Regina Landini, com base nos
autores: SAVIANI, HYPOLITO (1997), SILVA (1991), PARO (1986) questionam
as teses de proletarização do trabalho docente. No entendimento destas
autoras, o trabalho dos professores não se caracterizam efetivamente
vinculados à lógica da economia capitalista, por não produzirem mais-valia e
possuírem uma especificidade própria: o produto do trabalho o saber não
ser submetido à relação capitalista de produção de mais-valia” (2003, p. 10). Ou
seja, ao contrário do operário de uma fábrica que produz mercadorias que
posteriormente são vendidas no mercado para darem lucro ao seu “patrão”, o
trabalhador da educação ao ensinar não perde o que foi ensinado (a mercadoria
produzida/conhecimento). Talvez, por isso, estes autores acima apontados
defendam que se trata de um equívoco atribuir a proletarização ao trabalhador
da educação pública.
Entretanto, Áurea Costa, quando escreve Entre a dilapidação moral e a
missão redentorista: o processo de alienação no trabalho dos professores do
ensino básico brasileiro, afirma que a “proletarizão é um conceito que,
embora forjado no contexto do Império Romano para se referir aos que nada
tinham de sua propriedade, a não ser sua prole, foi apropriado por Karl Marx
nos Manuscritos econômico-filosóficos (1844-1846)” no intuito de caracterizar os
trabalhadores despossuídos dos meios de produção obrigados a venderem a
sua força de trabalho para sobreviverem.
Segundo Marx:
Torna-se evidente que a economia potica considera o proletário,
ou seja, aquele que vive sem capital ou renda, apenas do trabalho
e de um trabalho unilateral, abstrato, como simples trabalhador.
Por conseqüência, pode sugerir a tese de que ele, assim como um
cavalo, deve receber somente o que precisa para ser capaz de
trabalhar. A economia política não se ocupa dele ou seu tempo
livre como homem, mas deixa este aspecto para o direito penal, os
médicos, a religião, as tabelas estatísticas, a política e o
funcionário de manicômio (2001, p. 72).
165
Com efeito, cumpre destacar que foi após a Revolução Industrial,
ocorrida na segunda metade do século XVIII, que o termo proletário ganha
notoriedade enquanto classe antagônica à burguesa que se consolida e se
impõe como classe dominante. Observa-se, deste modo que o pano de fundo
que dinamiza a sociedade é a luta de classes e o embate entre capital e
trabalho. Neste conflito entre a burguesia e o proletariado, interessa perceber as
implicações resultantes para o campo da educação e, por conseguinte, para
com o processo de desenvolvimento do trabalho docente.
Sendo assim, ao partirmos da premissa de que proletário é o trabalhador
que não tem autonomia no que realiza, por não possuir os meios de produção,
que vive de salário, e, deste modo, inserem-se nesta categoria todos aqueles
que para viver são obrigados a alienar sua força de trabalho e, entendendo o
trabalho docente, nesta perpspectiva, busca-se precisar em que medida ele se
situa dentro das estratégias daqueles que o vêem como algo necessário para a
reprodução do sistema capitalista. “Daí, a associação, que vários autores
fizeram, entre o trabalho fabril e o trabalho docente, que foi gradativamente
incorporando as características do primeiro, um trabalho taylorizado,
padronizado, repetitivo, fragmentado” (TUMOLO; FONTANA, 2008, p. 10).
FIDALGO, FARIA e MENDES ao partirem da premissa da proletarização
docente buscam apresentar alguns indicadores que embasam a sua posição,
dentre os quais destaca-se:
A hierarquização na organização do processo de trabalho escolar
através da separação entre concepção e execão; a perda de
autonomia por parte dos docentes; a excessiva regulamentação do
ensino; a perda de controle sobre o processo e sobre o produto do
trabalho; a simplificação do trabalho docente a rotinas
preestabelecidas; a degradação das condições de trabalho; e o
achatamento salarial (2008, p. 66).
De modo geral, o conceito de proletarização pode ser entendido como a
separação do produtor direto de seus meios de produção. Define-se, deste
modo, a proletarizão como o controle direto do capitalista sobre o processo
de produção, isto é, o trabalhador é proletarizado quando o é dono do seu
trabalho e esta definição aplicada a educação leva-nos a perceber a
proletarização docente enquanto perda da autonomia do professor no
166
desenvolvimento do seu trabalho. No fundo, percebe-se a compreensão da
“conversão dos professores em proletários no plano do processo de trabalho”
(TUMOLO; FONTANTA, 2008, p. 10).
Neste sentido, Dalila Andrade Oliveira e Savana Diniz Gomes Melo
contribuem ao escreverem sobre o Trabalho docente: conflito e resistência nas
redes públicas de Ensino de Minas Gerais – Brasil, onde enfatizam:
Essas tensões parecem resultar de diferentes fatores expressos no
trabalho docente, muitos deles apontados por diversos estudos,
tais como a intensificação do trabalho, a crescente perda de
autonomia, a alienação, a desvalorização e a precarização a que
esses profissionais vêm sendo submetidos nos últimos anos,
sobretudo em decorrência das reformas educacionais em curso a
partir de 1990 (2006, p. 04).
Constata-se, deste modo, que o conceito proletarização tem uma
amplitude maior que pauperização e precarização, que fazem parte do processo
que intenta para a concreção da proletarizão. Assim, quando nos referimos
aos trabalhadores em educação, entendemos e nos remetemos a um dado
momento histórico em que ser professor era um privilégio e que hoje não o é.
Percebe-se que além das questões salariais o que mais dificulta o trabalho
docente, conforme buscamos explicitar no segundo capítulo, são as condições
em que ele ocorre, o “controle social” e as dificuldades que estes trabalhadores
da educação encontram para realizarem-se no exercício de sua função.
Importa ressaltar, que não se trata do conceituar por conceituar - como
quem afia uma enxada por afiar - e, sim, de um esforço para nos apropriarmos
de um conhecimento que possa contribuir com o trabalho docente, afim de que
ao se perceber enquanto classe trabalhadora e passem a trabalhar
coletivamente em prol da emancipação do homem. Assim, o professor -
enquanto trabalhador - faz parte de uma classe que nada tem a perder com o
desvelar da história.
O trabalhador docente, enquanto proletário, engrossa as fileiras dos
únicos que podem subverter a ordem, pois, “são os únicos que têm tudo a
ganhar e nada a perder” (Lênin, s/d, p. 32). Afinal, constitui-se em eqüívoco
esperar que aqueles que são beneficiados pelo modo de produção capitalista
167
façam esta transformação, bem como é ingenuidade pensar que a melhoria
venha da conscientização e da bondade de quem domina.
Diante disso, cumpre destacar a tese da proletarização docente, feita
pela professora Áurea Costa, com base nos seguintes argumentos:
1) o empobrecimento dos professores de educação básica; 2) o
assalariamento associado à precarização profissional; 3) a perda
do controle sobre o seu trabalho; 4) a transformação da categoria
num trabalhador coletivo, negando-se suas peculiaridades de
trabalhador individual; 5) a caracterização do professor como
produtor de mais-valia”(2009, p. 95).
Nota-se, deste modo, que os dados apresentados nas tabelas salariais
do segundo capítulo parece contradizer pelo menos os dois primeiros
argumentos elencados, pois, ao analisarmos os vencimentos dos trabalhadores
da Rede Estadual do Estado do Paraná e de outros Estados do Brasil e
comparamos com a média salárial dos trabalhadores em geral percebemos que
existe uma vantagem salarial” significativa para aqueles que trabalham nas
Redes Estaduais de educão.
Sendo assim, pode parecer questionável a tese da proletarização
docente que, conforme assinalamos, é explicitada pela “existência de uma
classe que o possui mais nada a não ser a sua capacidade de trabalho é a
primeira condição necessária para que exista capital” (MARX, 1985, p. 29). O
trabalhador da educação lida com o conhecimento e ao repassá-lo, se supõem
que ele fortaleca aquilo que sabe e acumule ao longo de seu processo de
trabalho novos conhecimentos. Diferentemente, o operário do “chão da fábrica”
e demais trabalhadores, que são apartados da mercadoria que produz.
No entanto, a grosso modo, entendermos por proletário aquele que ao
dispor somente da própria foa de trabalho é forçado a vendê-la para
sobreviver tornando-se assalariado e, assim, alienado dos meios de produção
tamm é vilipendiado na sua possibilidade de exercer o senso crítico, mutilado
no exercício do pensamento. Estreitam-se nos limites deste quadro, todos
aqueles que envoltos em muitos afazeres, limitam-se a ir da sua casa para o
trabalho. Assim, sem encontrar tempo para o estudo reduzem-se ao senso
comum e passam a fazer a apologia da lógica que os oprime em prejuízo da
própria vida. Afinal, uma sociedade pautada na expropriação do trabalho alheio
168
requer relações alienantes em todos os sentidos. Devido a isso é fundamental
que a televisão, a educação e outros mecanismos se articulem em função da
alienação do proletário, que ao alienar-se alimenta o sistema que sobrevive em
função do lucro constante.
Com efeito, a proletarização é apresentada como um processo de
desqualificação do trabalho docente. Nesta perpectiva encontramos as
proposições de Girox - citado por Farago e Utsumi que afirma que a
“proletarização docente se liga a tendência de reduzir os professores ao status
de técnicos especializados” (s/d, p. 1) e, por conseguinte, têm-se a
desumanização do trabalho docente. Assim, a autonomia docente não deve ter
o significado do ter que se virar sozinho e sim enquanto capacidade de intervir
nas decisões políticas.
Ora a proletarização docente se explica a partir de sua inserção numa
sociedade dividida - resultado das relações sociais, da exploração e dominação
basicamente em duas classes antagônicas, pois, a escola situada entre os
embates do capital e do trabalho é convocada a contribuir com a preparação da
força produtiva o necessária para a manutenção das relações de produção
capitalista. Porém, isto não é algo que ocorre mecanicamente,
matematicamente, isto é, a sala de aula é um espaço de luta e, portanto, o
professor ao posicionar-se de modo neutro, consciente ou não, acaba por
justificar e legitimar a dominação de uma classe sobre a outra reforçando as
injustiças sociais
74
.
Nota-se, enfim com base no artigo Trabalho Docente: a dinâmica entre
formação, profissionalização e proletarização na constituição da identidade,
escrito por Claudia Barcelos de Moura Abreu e Sonia Regina Landini, que “o
processo de proletarização docente é uma realidade inerente ao modo de
produção capitalista e suas transformões” (2003, p. 9).
Observa-se, deste modo, que o trabalho docente só pode ser
dimensionado na sua relação direta como a sociedade se organiza em que
temos “as exigências típicas ligadas à formação do homem, as quais sempre
devem responder às novas demandas da reestruturação produtiva” (NAGEL,
74
Sobre a função da escola na sociedade capitalista recomenda-se a leitura do livro de
Gaudêncio Frigotto: A produtividade da escola improdutiva: um (re) exame das relações entre
educação e estrutura econômico-social e capitalista. São Paulo: Cortez: Autores Associados,
1989.
169
2007, p. 23). Desta forma, a reflexão sobre as categorias da pauperização,
precarização e proletarizão, contribuem de modo direto e indireto para a
compreensão daquilo que ocorre com o trabalho docente onde quer que este
seja realizado. Portanto, para a educação, o trabalho docente ser melhor (no
Estado do Paraná, no Brasil, no mundo) torna-se necessária a luta pela
transformação da sociedade como um todo.
170
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática social se põe, portanto,
como o ponto de partida e o
ponto de chegada da prática
educativa (Demerval Saviani,
2005, p. 263).
A preocupação que nos acompanhou nesta pesquisa foi a vinculação
das questões educacionais, do trabalho docente em específico com o processo
de transformação da sociedade. Sendo assim, realizamos uma digressão
hisrica e, neste processo, o fio condutor foi os embates travados na
sociedade e suas implicações no tocante a educação.
O percurso realizado no primeiro capítulo sobre o trabalho docente
revelou que o conteúdo da educação acompanha a tendência e a estrutura
social de cada época. Verifica-se, por conseguinte, que toda pretensa busca
pela especificidade do trabalho docente e do que se relaciona com a educação
dilacera-se diante da articulação com a sociedade.
Sendo assim, ao definir o homem como sujeito e produto do modo com
que se relaciona com a história, por meio do trabalho, constatou-se que o
trabalho docente (a educação) está intrinsecamente vinculado às filosofias de
cada período histórico que, por sua vez, estão condicionadas ao modo de
organização de cada sociedade, que lhe definem o caráter, norteando o
pensamento pedagógico.
Percebe-se, desta forma, a relação que entre o trabalho docente com
as distintas transformações ocorridas na base material das comunidades.
Portanto, voltar à história é inclinar-se para apreender a educação e seus
interlocutores a partir da origem, pois, o homem é produto e produtor da
hisria.
No segundo capítulo pontuamos alguns elementos do trabalho docente
no Brasil a fim de introduzir o estudo do que ocorre no Estado do Paraná a
partir do ano de 2002. Os dados levantados nas tabelas salariais demonstram
a complexidade que envolve a discussão sobre as categorias pauperização,
precarização e proletarização, pois, apesar dos trabalhadores da Educação
receberem bem menos que outros funcionários blicos com a mesma
171
formação de vel superior, seus salários estão acima do que aponta a tabela
do DIEESE como necessário para o bem viver” e, tamm, melhor do que
recebem a maioria dos trabalhadores de modo geral. Esta constatação mostrou
a necessidade de uma releitura do trabalho docente relacionado com a
pauperização, precarização ou proletarização.
Assim, no terceiro capítulo, tendo como pano de fundo as transformações
ocorridas no mundo a partir da década de 1990, buscamos analisar as
categorias acima citadas. O fio condutor deste capítulo foi o de precisar em que
medida pode-se dizer que a nova morfologia do mundo do trabalho” acarreta
implicações na realização do trabalho docente. Por meio deste estudo, percebe-
se que afirmões de que o professor esteja pauperizado podem ser postas em
aberto uma vez que em comparação com a maioria dos trabalhadores, os que
se dedicam ao ensino recebem o que o DIEESE estipula como sendo o mínimo
necessário (conforme a tabela nº 6). Cumpre lembrar, ainda, que a
pauperização não se reduz a não ter o que comer.
A precarização pode ser atribuída ao professor se consideramos a rotina
e as condições de trabalho. A categoria da proletarização do trabalho docente,
apesar de ser a que, talvez, melhor expresse o que ocorre com o trabalhador da
educação, não demonstra na totalidade aquilo que se passa com o professor.
Restringindo-nos ao proletário como aquele que não tem controle do seu
trabalho, por meio dos livros didáticos, das Leis e Diretrizes destinadas a
Educação (de cima para baixo elaboradas) e, sobrecarregado com muitas aulas
para ministrar, o trabalhador da educação torna-se, por vezes, um mero
aplicador dos conteúdos. A perda do controle do trabalho docente também
ocorre quando a ênfase do processo pedagógico recai sobre o aluno. Isto é,
quando tudo gira em torno do interesse de quem apresenta-se para “estudar”,
logo, a individualidade de cada educando, os seus “reclames naturaisé que
ditam o que deve ser trabalhado pelo professor, muito semelhante ao
apregoado por Rousseau.
Destarte, queremos destacar o caráter inconcluso desta dissertação,
porém, mesmo assim, é possível elencar alguns apontamentos: a) serviu para
compreender um pouco mais o trabalho docente e sua relação com o modo de
produção social em vigor, que no dia-à-dia muitas vezes passa desapercebida;
b) a análise das categorias pauperizão, precarização e proletarização,
172
possibilitou situar a educação dentro dos embates entre capital e trabalho; c)
defendemos a idéia do “professor militante” que, a partir da escola e fora dela,
luta pela superação das diferenças sociais e do sistema capitalista.
Assim, destacamos que, na sociedade capitalista, o homem livre não
participa da gestão da coisa pública, pois apesar de ser livre de direito não o é
de fato. Ou seja, a igualdade formal oferecida à todos não corresponde a uma
igualdade material, uma vez que a “sociedade nacional moderna iguala
desiguais na única dimensão do direito formal – todos são iguais perante a lei”
(VIANNA, 1976, p. 13). Logo, quem tem ‘dinheiro’ no plano real passa a ser
mais igual diante dos que só possuem a propriedade do próprio corpo
enquanto força de trabalho a ser vendida no mercado e, por conseguinte,
[...] o princípio da justiça que mantém, de um lado, os donos do
capital com direito infinito de acumulação de riqueza e, de outro,
que reproduz a miséria e as condições degradantes dos seres
humanos que vivem do lixo nas cidades (GOALVES, 2008, p.
65).
Neste sentido, talvez possamos compreender a legitimidade da luta
travada pelos sindicatos, pela organização dos trabalhadores em educação em
função das reposições das perdas salariais, aumento da hora atividade,
diminuição de alunos por turma, entre outras, contribuindo para o aumento da
qualidade do processo de ensino-aprendizagem no Paraná e no Brasil. País
este, que tem uma das maiores economias do mundo e, tamm, um dos
piores índices educacionais.
No entanto e no limite, a luta deve direcionar-se para a superação da
lógica sócio-econômica vigente, caso contrário, permaneceremos a padecer na
luta por não conseguirmos visualizar a possibilidade de construção de uma
“nova sociedade”.
É preciso também que se afirme que a resolução dos problemas
relativos à educação vão além da implantação e capacitação dos professores
para a utilizão das novas tecnologias em sala de aula. Enfatiza-se, portanto,
o fato de que os problemas da sociedade estouram na escola, logo, entende-se
que “quem acredita na educação luta ao mesmo tempo para transformar a
sociedade” (ORSO, 2002, p.101). Dito de outro modo, se queremos ver a
situação do trabalho docente melhorar, precisamos dar o passo seguinte na
173
luta pela transformação de toda sociedade, no sentido, da generalização da
fruição da vida e sua maximizão.
Deste modo, pensamos que a melhor estratégia para a defesa dos
direitos, seja a extensão deles “a todos os trabalhadores e que, frente à
agressão permanente aos seus direitos, melhor é elevá-los a um estágio de
conquistas sociais” (ALVES, 2005, p.16). Para Francisco de Oliveira somente “a
organização dos trabalhadores poderia operar a transformação da estrutura
desigualitária da renda, tal como ocorreu nos subsistemas nacionais europeus
do Welfare State” (2003, p.144).
Entendemos, como revela Engels, que a luta deve ser pela transformação
da própria sociedade, em que a luta pela existência individual é superada pela
necessidade da união, do coletivo, como único meio de construir uma produção
articulada aos interesses de todos os membros da sociedade. Elimina-se,
portanto, o domínio do produto sobre o produtor:
Assim, pela primeira vez, o homem separa-se, em certo sentido,
definitivamente, do reino animal: passa de condições animais de
existência para condições verdadeiramente humanas. O conjunto
de condições de vida, no qual o homem se insere e que, até aqui,
o dominava, passa agora a estar sob o seu domínio e controle:
pela primeira vez, os homens se tornam senhores reais e
conscientes da natureza, enquanto senhores da sua própria vida
social (ENGELS, 1981, p.163)
Certamente, a luta por uma sociedade emancipada em que o trabalho
seja a condição do processo de produção coletiva e humanamente viável, inclui
a transformação do espaço escolar, isto é, precisa acontecer também no interior
da escola, pois, a precarização do mundo do trabalho incide na qualidade de
vida das pessoas, do alunado e do professorado. Caso contrário, o discurso
hisrico da educação enquanto “transformadora” continuará a servir os
interesses da justificação e legitimação das discrepantes desigualdades sociais.
José Paulo Netto ao escrever sobre a Crise do Socialismo e Ofensiva
Neoliberal, também assinala que enquanto a organização social estiver
submetida aos ditames do capital, haverá necessidade da mobilização dos
trabalhadores (dentro ou fora da escola) para a instauração de uma ordem
societária em que a alienação, a opressão e a exploração do homem pelo
homem deixem de existir. Por conseguinte, isto não é uma dádiva e, portanto,
174
“é o conjunto de lutas que a tenham como escopo que pode bloquear e reverter
a dinâmica que hoje compele o movimento do capital a rumar para a barbárie”
(NETTO, 1993, p. 85).
Pensa-se, que da compreensão disso depende o direcionamento da
organização dos trabalhadores em educação em torno da luta para além de
conquistas pontuais e, sendo assim, unirem-se enquanto classe trabalhadora e
estenderem a luta em nome da transformação, na busca por construir um novo
modo de organizão social em que o homem ocupe papel central.
Portanto, é preciso aprender com a história e
[...] assim como fizeram os comunardos em Paris, em 1871, e,
posteriormente, em diferentes épocas, lutas e sociedades,
também nós reafirmamos: “Estamos aqui pela humanidade!”.
Nosso compromisso: o desmascaramento do oportunismo; nossa
missão: trabalhar pela construção da unidade da classe
trabalhadora: nossa meta: a construção de uma nova
humanidade. Proletários de todo o mundo, uni-vos! Esta é nossa
esperança e este é o motivo de nossa luta (ORSO, 2009, p. 05).
Deste embate, depende não só a saúde como também a própria vida da
classe dos trabalhadores de modo geral e, aqui, em particular, dos que se
dedicam ao trabalho docente. Pois, embora possa ser dito que a escolarização
reproduz a dominação de classe é preciso que se afirme que não é só isso,
afinal, a escola é tamm um espaço de contradição onde se verifica a
possibilidade do pensar sobre a construção de uma organização social que
venha suplantar o capitalismo, que acarreta implicações ao trabalho docente,
mas, de modo algum o determina. Para Saviani (2000), o professor ao se
apropriar da competência técnica e colocá-la em prática realiza a competência
política. Com efeito, dada a autonomia no fazer pedagógico o professor tem um
papel importante a desenvolver na sociedade de classes, de atuar em função
da emancipação do homem.
De modo geral, portanto, ao utilizarmos a categoria proletarização -
entendida enquanto o controle direto do capitalista sobre o processo de
produção e do trabalhador - assinalamos para a necessidade de quem realiza o
trabalho docente, de colocar-se como um intelectual transformador em
detrimento de um simples reprodutor das relações capitalistas vigentes.
175
Todavia, o que importa não é a constatação de que o professor esta
pauperizado, precarizado e proletarizado e sim, dar o passo adiante, como
afirma Saviani (2000, p. 31). A luta pela superação da pauperização e
precarização das condições de existência, pela desproletarização docente
precisa ocorrer concomitantemente com a luta pela emancipação de toda classe
trabalhadora.
Desta maneira, contrapõem-se contra a discriminação e o rebaixamento
do ensino das camadas populares. Professores desproletarizados requerem
uma sociedade onde a vida humana em geral esteja emancipada, que ocorram
novas relações sociais, que passam por um ensino de qualidade, possível, já no
contexto em que a escola encontra-se inserida.
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