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quem detém o poder econômico detém também o poder político,
espiritual e ideológico, as idéias dos dominantes tornam-se as
idéias dominantes. Com a produção social baseada na divisão em
classes, a educação e o conhecimento passam a refletir essa
fragmentação. A educação torna-se uma educação de classe,
controlada pela classe dominante, voltada para sua auto-
reprodução; institucionaliza-se a divisão entre o saber e o fazer;
legitima-se a dominação dos que sabem, dos ‘iluminados’ sobre
os ‘ignorantes’ e os trabalhadores (ORSO, 2002, p. 91-92).
Tendo como pano de fundo estas reflexões e, também, o pressuposto de
que a educação e o trabalho docente estão intimamente relacionados ao modo
com que os homens se organizam socialmente para sobreviverem - como já foi
salientado - nos ocupamos sobre alguns aspectos do ensino na Grécia Antiga,
utilizando-nos do recorte espaço temporal as cidades-estados
16
de Atenas e
Esparta, com ênfase nos filósofos Platão
17
, Aristóteles
18
e os Sofistas
19
.
Vale lembrar, que este recorte é feito por questões didático-
metodológicas, pois, outros povos também se desenvolveram no comércio, na
agricultura, no modo de pensar. Corroboram com este entendimento Nicola
Abbagnano e A. Visalberghi, ao afirmarem que “los egipcios, los babilonios, los
hindúes, los chinos y muchos otros pueblos del Oriente cercano y lejano habían
elaborado complejas y eficientes formas de educación antes de los griegos”
16
Cidades-Estados são assim denominadas por serem autônomas entre si, isto é, cada uma
tinha seus próprios costumes, seus deuses, suas leis, sua economia, suas peculiaridades.
Assim, enquanto Atenas destacou-se pelo comércio, Esparta conservou-se mais agrária
(FLORENZANO, 1991, p. 09-55).
17
Segundo a tradução e notas de José Cavalcante de Souza “Platão nasceu em 428-7 a.C. e
morreu em 384-7 a.C” (1987, p. IX). “(...) Filho de Ariston e de Perictione, Platão pertencia a
tradicionais famílias de Atenas e estava ligado, sobretudo pelo lado materno, a figuras
eminentes do mundo político. Sua mãe descendia de Sólon, o grande legislador, e era irmã de
Cármides e prima de Crítias, dois dos Trinta Tiranos que dominaram a cidade durante algum
tempo” (1987, p. X).
18
Sobre o pertencimento social privilegiado de Aristóteles ao modo de organização social de
sua época, lê-se na obra A Política que ele: “nasceu em Stágiros (posteriormente Stágira,
atualmente Stavra), na Calcídice, território macedônio, em 384 a.C., e morreu em Cálcis (atual
Evripo), na Eubéia, em 322. Seu Pai era Nicômacos, da confraria dos asclepíadas, médico e
amigo de Amintas II, rei da Macedônia” (1992, p. 7).
19
Conforme Giovanni Reale e Dario Antiseri, “’sofista’ é um termo que significa ‘sábio’,
‘especialista do saber’. A acepção do termo, que em si mesma é positiva, tornou-se, porém,
negativa sobretudo pela tomada de posição fortemente polêmica de Platão e Aristóteles. Como
já havia feito Sócrates, eles sustentaram que o saber dos sofistas era ‘aparente’ e não ‘efetivo’
e que, ademais, não era professado tendo em vista a busca desinteressada da verdade, mas
sim com objetivos de lucro” (1990, p. 73). Deste modo, “num sentido pejorativo, passa a
significar ‘homem que emprega sofismas’, ou seja, alguém que usa de raciocínio capcioso, de
má-fé, com intenção de enganar” (ARANHA, 1989, p. 46). Uma análise mais aprofundada
sobre quem eram os sofistas pode ser encontrada em: GUTHRIE, W.K.C. Os Sofistas
(Tradução de João Rezende Costa; revisão H. Dalbosco - Maurício Nascimento). São Paulo:
Paulus, 1995.