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especialmente Abraão Ibn Ezra
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, o qual assinalara, entre outras coisas, a polêmica que existia
em relação a atribuir-se a Moisés a autoria de partes do Pentateuco; Maimônides
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, que propõe
interpretações alegóricas de passagens da Bíblia, as quais, em outro sentido, seriam
incompreensíveis, e havia sugerido também algumas dúvidas sobre a imortalidade do
indivíduo e sobre a criação do mundo em face de sua eternidade; Hasdai Crescas
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, que havia
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Abraão Ibn Ezra – (1092-1167) – Filósofo judeu neoplatônico. Seus comentários bíblicos contêm um grande
número de excursos filosóficos de cariz panteísta. “Deus é o um; Ele fez tudo e Ele é tudo. Ele é tudo e dele vem
tudo. Ele é o um e não há ser senão apegando-se a Ele” – comentário a Gênese 1:26; Êxodo 23:21. Ezra sustenta,
outrossim, que as substâncias inteligíveis são compostas de matéria e forma – comentário a Êxodo 3:15; Daniel
11:12. Diz, ainda, que a imortalidade da alma não é mero ascenso ao mundo inteligível, porém é uma
reunificação com a alma do mundo – comentário a Gênese 25:8; Salmos 49:16. Ezra, influenciado pelo
aristotelismo islâmico, fala de um conhecimento divino, que se estende apenas à essência geral, às leis formais
dimanantes de Deus, que governa todas as substâncias, sendo o particular incluído nesse conhecimento somente
na medida em que é um elo nessa corrente de causalidade formal – comentário a Gênese 18:21. GUTTMAN,
Julius, A Filosofia do Judaísmo.
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Moisés ben Maimônedes, Rambam – (1135 – 1204). Nasceu em Córdova, onde seu erudito pai servia como
juiz na corte rabínica. Depois de conquistada a capital almorávida pelos almôadas, em 1148, Maimônedes vai
com sua família para Fez, no norte da África. Em 1165, estabelece-se em Fostat, perto do Cairo, onde exerce a
medicina. Sua extraordinária erudição talmúdica o torna guia espiritual e chefe político dos judeus egípcios. Seu
magnum opus filosófico é o Guia dos Perplexos, de 1190, no qual Rambam afirma que o conhecimento histórico
da fé tradicional apreende seus objetos de uma maneira externa e indireta, mas o conhecimento filosófico torna
possível uma apreensão imediata dos objetos da fé. Diz também que, a partir do mundo dos sentidos, podemos
claramente inferir a existência de um mundo supra-sensível, remontando até a sua divina causa última. Para isso
exige-se não só a perfeição do intelecto, mas ainda a purgação e purificação da personalidade humana inteira, o
que facultaria o conhecimento metafísico como uma intuição das essências eternas. Rambam empenha-se em
dissociar a prova da existência de Deus da controversa questão acerca da origem temporal ou eterna do mundo.
Suas provas da existência de Deus pressupõem a eternidade do mundo, para demonstrar que, mesmo nessa
hipotética suposição, a existência de Deus é certa. Rambam parte da prova aristotélica da existência de um
primeiro motor e acrescenta o argumento dos aristotélicos árabes, no sentido de que, em si, o existir de coisas
meramente possíveis pressupõe um ser de existência absolutamente necessária. Esse conceito positivo de
existência necessária encontra-se em Avicena, segundo o qual a existência, que é, em todas as outras substâncias
uma determinação acidental acrescida à essência destas, é no caso de Deus, idêntica a sua essência. Em outro
ponto, Rambam tece uma crítica sobre os atributos de Deus, demonstrando a impossibilidade de predicar-lhe
atributos positivos, pois, na medida em que o dualismo sujeito e objeto envolve, em toda proposição, uma
pluralidade de determinações conceituais, a absoluta simplicidade do uno excluiria qualquer proposição
predicativa, já que as propriedades que atribuímos a Deus não podem ser diferentes de sua essência; se fossem, a
unificação da essência e dos atributos implicaria a pluralidade em Deus. No entanto basicamente em dois
sentidos, é impossível a definição da essência divina: no estrito, a redução do conceito, definindo suas condições,
só pode ser aplicado a um ser contingente, e Deus não o é; ao passo que uma definição que demonstra
características particulares só pode ser aplicada a uma entidade composta. Tampouco Deus é definível por sua
relação com outras coisas, já que a diferença absoluta de espécie entre a essência divina e a de todas as outras
coisas exclui qualquer comparação. Além disso, a auto-suficiência de seu ser, voltado para si próprio, elimina
qualquer relação entre Ele e as outras coisas. O único enunciado positivo que se pode fazer acerca de Deus
refere-se aos efeitos dele oriundos. Rambam lança, a despeito da impossibilidade de efetuar enunciações
positivas em relação a Deus, o alicerce para a doutrina dos atributos do atuar divino. Esse atuar multiforme das
ações divinas, de modo algum implicava a pluralidade do princípio divino ativo. Dessa forma, os vários aspectos
dos atos divinos são atributos do atuar. Assim, as expressões antropormórficas da escritura pertencem à mesma
categoria; não apenas a ira, mas o amor e a vontade são simples descrições de seu atuar. Enfim, Rambam
defende, ainda, que os relatos miraculosos da Bíblia são explicados por meio de uma exegese alegórica ou,
então, pela interpretação das histórias como experiências e fantasias da imaginação profética. GUTTMAN,
Julius. A filosofia do judaísmo, Moisés vem Maimônedes. Guia dos Perplexos.
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Hasdai Crescas – (1340-1410) – Rabi-mor das comunidades judaicas aragonesas. Seu opus magnum foi Or
Adonai (A luz do Senhor), divulgado em 1410. Nessa obra, Crescas tece uma crítica à doutrina aristotélica sobre
o espaço e o lugar de um corpo, sendo que o espaço é o limite entre o seu conceito de infinitude. Em oposição a
Aristóteles, Crescas mantém a possibilidade do vácuo. Aristóteles não diferenciava o espaço e o lugar de um