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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE
DARCY RIBEIRO
LARA LAGES DA SILVEIRA
OXIGENAÇÃO EXTRACORPÓREA POR MEMBRANA (ECMO):
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS EM CÃES
(Canis familiaris) COM E SEM AUXÍLIO DE TERAPIA INTENSIVA
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ
FEVEREIRO - 2010
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LARA LAGES DA SILVEIRA
OXIGENAÇÃO EXTRACORPÓREA POR MEMBRANA (ECMO):
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS EM CÃES
(Canis familiaris) COM E SEM AUXÍLIO DE TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada ao Centro de
Ciências e Tecnologias Agropecuárias da
Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF), como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre
em Ciência Animal, na área de
concentração de Sanidade Animal.
Orientador: Prof. Dr. Claudio Baptista de Carvalho
Co-orientadores: Prof. Dr. André Lacerda de Abreu Oliveira
Prof. Dr. Antonio Peixoto Albernaz
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
FEVEREIRO – 2010
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LARA LAGES DA SILVEIRA
OXIGENAÇÃO EXTRACORPÓREA POR MEMBRANA (ECMO):
PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS EM CÃES
(Canis familiaris) COM E SEM AUXÍLIO DE TERAPIA INTENSIVA
Dissertação apresentada ao Centro de
Ciências e Tecnologias Agropecuárias da
Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF), como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre
em Ciência Animal, na área de
concentração de Sanidade Animal.
Dissertação aprovada em 23 de fevereiro de 2010
Banca Examinadora:
__________________________________________________________________
Dr
a
. Bianca Brand Ederli (DSc. Produção Animal) - Autônoma
__________________________________________________________________
_
Prof
o
. Antônio Peixoto Albernaz (DSc. Produção Animal) – UENF
(Co-orientador)
__________________________________________________________________
_
Prof
o
. André Lacerda de Abreu Oliveira (DSc. Cirurgia Geral) – UENF
(Co-orientador)
__________________________________________________________________
_Prof
o
. Claudio Baptista de Carvalho (DSc. Clínica Médica) – UENF
(Orientador)
“Deus está aqui neste momento,
sua presença é real em meu viver.
Entregue sua vida e seus problemas,
fale com Deus, ele vai ajudar você...”
“... e ainda se vier noites traiçoeiras e se
a cruz pesada for, JESUS estará contigo!
O mundo pode até fazer você chorar, mas
Deus te quer sorrindo...”
(Noites Traiçoeiras - Padre Zeca)
Dedicado
a Deus e a Virgem Maria,
pelo dom da vida ...
aos pais Célia Maria Lages da Silveira e Edson da Silveira (in
memorian) e ao marido Jaime Duarte Alves, por todo amor, carinho, orações e
compreensão dedicados ao longo de nossas vidas. Amo vocês
incondicionalmente!
Aos meus amores Billy Joe, Sasha, Pitucha, Diana Aparecida,
Mel, Jean Poul, Killer, Tuco e Duque, pelos incontáveis momentos de felicidade
plena. Aos meus anjinhos que hoje habitam “o u dos animais” todo meu amor e
minha saudade eterna: Dara Cristina, Boni Wesley, Campeão, Xuxa, Shanely,
Chana e Gatão. E de forma muito especial, a cadela Tita Luiza, in memorian, o ser
que representou o começo de tudo, sendo além de amiga, fonte inspiradora para
que este sonho se tornasse realidade
AGRADECIMENTOS
A Deus e a Virgem Maria, por vossa infinita bondade e pelos anos de vida
maravilhosos que me proporcionaram, permitindo chegar até aqui;
Aos pais Célia Maria Lages da Silveira e Edson da Silveira (in memorian),
por todo amor, carinho, confiança e orações dedicados, sendo fundamentais para
que conseguisse persistir e alcançar mais este objetivo. Amo vocês e perdoem a
ausência muitas vezes necessária;
Ao grande amor, marido, companheiro e amigo Jaime Duarte Alves.
Obrigada por acreditar e por vezes fazer dos meus sonhos, os seus.;
As irmãs Maria das Graças Lages da Silveira, Adriana Lages da Silveira e
Patrícia Lages da Silveira, que mesmo à distância sempre torceram e foram
grandes incentivadoras ao longo dos anos;
As irmãs de coração Ana Carolina Leal, Carla Salavessa, Letícia Cazes e
Marcela Braga, pelos incontáveis momentos de alegria, festinhas, sambinhas, ...
sorrisos e lágrimas, mas acima de tudo pelos momentos de sinceridade o qual
compartilhamos. Sem vocês estes dois anos certamente teriam sido menos
felizes;
Aos animais, amigos fiéis e grande paixão da minha vida;
Ao Professor Darcy Ribeiro por transformar o seu sonho na nossa
realidade;
A CAPES, pela bolsa de estudo concedida e, a UENF pela oportunidade;
Ao orientador e amigo, Professor Cláudio Baptista de Carvalho, que
paternalmente nos ensinou a arte de pesquisar e clinicar. Obrigada por confiar e
acreditar em nossa capacidade científica e ainda, pelo entusiasmo e amizade
dispensada durante todos esses anos;
Aos professores Cláudio Baptista de Carvalho, André Lacerda de Abreu
Oliveira, Eulógio Carlos Queiroz de Carvalho e Antônio Peixoto Albernaz, pelo
empenho e entusiasmo em melhorar cada vez mais nossa qualificação
profissional, assim como as condições de funcionamento de nosso Hospital
Veterinário;
A equipe integrante da linha de pesquisa: Oxigenação Extracorpórea por
Membrana (ECMO), pelo empenho e entusiasmo dispensado durante os longos e
difíceis dias de experimento, mas nem por isso menos harmonioso e gratificante;
Aos queridos Josias Machado, Guilherme Monteiro e Renato Saliba, que
aceitaram e acreditaram em nosso ideal e brilhantemente colaboraram para que
esse projeto se tornasse realidade;
Aos Médicos Veterinários do Hospital Veterinário da UENF, Maria Angélica
Dutra Viestel e Ricardo Benjamim, pela confiança sempre depositada;
Aos técnicos de enfermagem do Hospital Veterinário da UENF, Marília
Cipriano Dias e Evaldo Machado, pela grande ajuda, paciência, incentivo,
disponibilidade e bons momentos de convívio durante todos esses anos;
Ao Professor de Estatística Rogério Daher (LEAG) e ao doutorando Felipp
Silveira pela paciência e dedicação dispensada durante minhas análises
estatísticas;
A professora Fernanda Antunes pela ajuda dispensada no momento mais
difícil da minha vida. A ela, minha eterna gratidão.
Aos animais do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campos dos
Goytacazes, que mesmo inconscientemente cederam seus corpos em prol da
ciência. A eles todo o meu amor, carinho e respeito;
Aos amigos Adelaide Menezes, Anderson Barros, Daniele Rodrigues,
Edgard Pina, Edna Cosmos, Joana Cruz, Joseli Pontes, Letícia Paganot, Lívia
Rizzo, Marcelo Gomes, Melissa Catete, Penha Monteiro, Tatiani Gomes e Tatiana
Dutra que mesmo a distância, sempre acreditaram e torceram pelo meu sucesso.
RESUMO
A oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO) é uma cnica invasiva e
avançada de suporte cardiopulmonar prolongado, que tem a finalidade de auxiliar
o pulmão e/ou o coração, quando os mesmos entram em falência não responsiva
as terapias convencionais não invasivas. Apesar dos avanços científicos e
tecnológicos ocorridos na medicina, manter um paciente sob ECMO continua
sendo um grande desafio mesmo nos centros de maior referência. Inúmeras
complicações podem ser desencadeadas em decorrência da técnica, dentre elas
estão as alterações hematológicas e bioquímicas, sendo a hemólise, episódios
hemorrágicos e resposta inflamatória sistêmica as mais importantes. A ECMO
pode ser realizada por meio dos desvios Veno-Venoso, Veno-Arterial e Artério-
Venoso. No desvio Artério-Venoso (AV), o coração do paciente atua como bomba
pressora impulsionando o fluxo sanguíneo através do oxigenador e facilitando seu
retorno ao corpo. Além disto, este desvio reduz os riscos de produzir trauma
sanguíneo e complicações técnicas inerentes ao procedimento. No presente
trabalho, objetivou-se avaliar os efeitos da ECMO sobre os parâmetros
hematológicos (eritrograma, leucograma e plaquetograma) e bioquímicos (uréia,
creatinina, alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase, fosfatase
alcalina e glicose) de cães com e sem o auxílio da terapia intensiva durante um
período de três horas. Foi utilizado o desvio AV em dez cães, de diferentes raças,
idades, peso e sexo, que foram divididos em dois grupos. No grupo 1, quatro
animais receberam ventilação mecânica e infusão contínua de dopamina
concomitantemente à ECMO e no grupo 2, os seis animais participantes não
receberam qualquer medida de terapia intensiva durante o auxílio extracorpóreo.
Uma vez instituída à ECMO AV, as amostras foram coletadas da veia cefálica (ou
jugular quando necessário) a cada trinta minutos, durante um período de três
horas. Os dados coletados foram analisados estatisticamente com os testes de
ANOVA, Tukey e teste t para dados não pareados com correção de Mann-
Whitney, todos com (P 0,05). Os resultados revelaram a ocorrência de uma
leucopenia em ambos os grupos a partir de cinco minutos de ECMO, sendo mais
acentuada no grupo que não recebeu o auxílio da terapia intensiva, caracterizando
uma resposta inflamatória desencadeada pela técnica que persistiu ao longo do
procedimento. Foi verificado ainda, a não interferência da ECMO e da terapia
intensiva nos parâmetros de eritrograma, plaquetograma e bioquímicos. Conclui-
se que a ECMO do ponto de vista laboratorial, comportou-se como uma cnica
viável de suporte respiratório por um período de três horas.
Palavras chave: ECMO, oxigenadores de membrana, cães, hematologia,
bioquímica, terapia intensiva.
ABSTRACT
The extracorporeal membrane oxygenation (ECMO) is an invasive technique and
advanced prolonged cardiopulmonary support, which aims to help the lungs and
heart, when they fail and do not respond to noninvasive therapies. Despite the
scientific and technological advances occurring in medicine, keep a patient on
ECMO remains a major challenge even in the centers of major reference. Many
complications may be triggered as a result of the technique, among them are the
hematological and biochemical changes, hemolysis, bleeding and systemic
inflammatory response are the most important. ECMO can be performed through a
venous-venous, veno-arterial and arterio-venous. In deviation arteriovenous (AV),
the heart of the patient acts as a pressurizing pump boosting the blood flow
through the oxygenator and facilitating their return to the body. Moreover, this
deviation reduces the risk of blood trauma and produce technical complications
inherent in the procedure. The present study aimed to evaluate the effects of
ECMO on the hematological (erythrocyte, leukocyte and platelet) and biochemical
(urea, creatinine, alanine aminotransferase, aspartate aminotransferase, alkaline
phosphatase and glucose) parameters of dogs with and without the aid of intensive
care in a period of three hours. We used the standard AV in ten dogs of various
breeds, ages, weight and sex, which were divided into two groups. In group 1, four
animals received mechanical ventilation and continuous infusion of dopamine
concurrently with ECMO and in group 2, the six participating animals didn’t receive
any intensive care for extracorporeal assistance. Once in the VA ECMO, the
samples were collected from the cephalic vein (or jugular when necessary) every
thirty minutes during a period of three hours. The collected data were analyzed
using the ANOVA, Tukey and t test for unpaired samples with Bonferroni Mann-
Whitney, all (P 0.05). The results revealed the occurrence of leukopenia in both
groups after five minutes of extracorporeal membrane oxygenation and it was more
pronounced in the group that received the aid of intensive care, featuring an
inflammatory response triggered by the technique that persisted throughout the
procedure. It was further verified, the non-interference of ECMO and intensive
therapy on erythrocyte, platelet and biochemical parameters. We conclude that
ECMO in terms of laboratory, behaved as a viable technique of respiratory support
for a period of three hours. .
Keywords: ECMO, membrane oxygenators, dogs, hematology, biochemistry,
intensive care.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Oxigenador de telas de Gibbon utilizado para as primeiras
cirurgias com CEC. SOUZA; ELIAS, 2006a.
19
Figura 2: Oxigenador Mayo-Gibbon, usado por Kirklin et al. em 1955,
na Clínica Mayo. MEYER; JESSEN, 2001.
21
Figura 3: Oxigenador de membrana utilizado para ECMO AV em cão.
Canulação da artéria e veia femoral. (Arquivo pessoal, HV
UENF, 2008.
64
Figura 4: Ventilador mecânico utilizado como suporte ventilatório nos
cães submetidos à ECMO AV, pertencentes ao G1 (Arquivo
pessoal, HV – UENF, 2008).
64
Figura 5: Percentual de sobrevida dos cães pertencentes aos grupos 1
e 2, submetidos à ECMO AV. HV – UENF, 2008.
71
Figura 6: Gráfico representativo do comportamento das variáveis
hematológicas: hematimetria (x10
6
/µl), hemoglobimetria
(g/dl) e hematócrito (%) dos animais pertencentes ao G1
durante um período de três horas de ECMO AV. HV – UENF,
2008.
74
Figura 7: Gráfico representativo do comportamento das variáveis
hematológicas: hematimetria (x10
6
/µl), hemoglobimetria
(g/dl) e hematócrito (%) dos animais pertencentes ao G2
durante um período de três horas de ECMO AV. HV – UENF,
2008.
74
Figura 8: Valores médios do hematócrito em porcentagem de G1 e G2
nos momentos TO, T4 e T7. Teste t para dados não
pareados com correção de Mann-Whitney (P 0,05). HV
UENF, 2008.
75
Figura 9: Gráfico representativo do comportamento da leucometria
global (/µl), dos animais pertencentes ao G1 durante um
período de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
79
Figura 10: Gráfico representativo do comportamento da leucometria
global (/µl), dos animais pertencentes ao G2 durante um
período de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
80
Figura 11: Valores médios para leucometria global (/µl) de G1 e G2
nos momentos TO, T4 e T7. Teste t para dados não
pareados com correção de Mann-Whitney (P 0,05). HV
UENF, 2008.
82
Figura 12: Gráfico representativo do comportamento da
plaquetometria (/µl) dos animais pertencentes ao G1,
durante um período de três horas de ECMO AV. HV – UENF,
2008.
85
Figura 13: Gráfico representativo do comportamento da
plaquetometria (/µl) dos animais pertencentes ao G2,
durante um período de três horas de ECMO AV. HV – UENF,
2008.
86
Figura 14: Valores médios para plaquetometria (/µl) de G1 e G2 nos
momentos TO, T4 e T7. Teste t para dados não pareados
com correção de Mann-Whitney (P 0,05). HV – UENF,
2008.
88
Figura 15: Gráfico representativo do comportamento da AST sérica
(UI/L) dos animais pertencentes ao G1, durante um período
de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
90
Figura 16: Valores médios para AST sérica (UI/L) de G1 e G2 nos
momentos TO, T4 e T7. Teste t para dados não pareados
com correção de Mann-Whitney (P 0,05). HV – UENF,
2008.
92
Figura 17: Gráfico representativo do comportamento da uréia sérica
(mg/dl) dos animais pertencentes ao G1, durante um período
de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
94
Figura 18: Gráfico representativo do comportamento da uréia sérica
(mg/dl) dos animais pertencentes ao G2, durante um período
de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
94
Figura 19: Gráfico representativo do comportamento da creatinina
sérica (mg/dl) dos animais pertencentes ao G1, durante um
período de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
95
Figura 20: Gráfico representativo do comportamento da creatinina
sérica (mg/dl) dos animais pertencentes ao G2, durante um
período de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
95
Figura 21: Valores médios para uréia sérica (mg/dl) de G1 e G2 nos
momentos TO, T4 e T7. Teste t para dados não pareados
com correção de Mann-Whitney (P 0,05). HV – UENF,
2008.
97
Figura 22: Valores médios para creatinina sérica (mg/dl) de G1 e G2
nos momentos TO, T4 e T7. Teste t para dados não
pareados com correção de Mann-Whitney (P 0,05). HV
UENF, 2008.
97
Figura 23: Gráfico representativo do comportamento da glicose sérica
(ng/dl) dos animais pertencentes ao G1, durante um período
de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
100
Figura 24: Gráfico representativo do comportamento da glicose sérica
(ng/dl) dos animais pertencentes ao G2, durante um período
de três horas de ECMO AV. HV – UENF, 2008.
101
Figura 25: Valores médios para glicose sérica (ng/dl) de G1 e G2 nos
momentos TO, T4 e T7. Teste t para dados não pareados
com correção de Mann-Whitney (P 0,05). HV – UENF,
2008.
102
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Parâmetros hematológicos de normalidade na espécie canina. HV
– UENF. 52
Tabela 2: Parâmetros bioquímicos de normalidade na espécie canina. HV
UENF. 59
Tabela 3: Relação dos animais (cães) submetidos à ECMO AV com e sem o
auxílio da TI. HV – UENF, 2008. 61
Tabela 4: Teste t (P 0,05) das médias dos tempos de sobrevida dos
animais pertencentes ao G1 e G2 submetidos à ECMO AV durante
três horas de experimento. HV – UENF, 2008.
70
Tabela 5: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento
hematológico dos cães pertencentes ao G1 (n=4) e G2 (n=6),
submetidos à ECMO AV durante um período de três horas. HV
UENF, 2008.
73
Tabela 6: Parâmetros urinários (análise química) dos animais submetidos à
ECMO AV durante um período de três horas. HV – UENF, 2008.
77
Tabela 7: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da
leucometria global (/µl) dos cães pertencentes ao G1 (n=4),
submetidos à ECMO AV durante um período de três horas. HV
UENF, 2008.
78
Tabela 8: ANOVA (P 0,05) e teste Tukey (P 0,05) das médias referentes
ao comportamento da leucometria global (/µl) dos cães
pertencentes ao G2 (n=6), submetidos à ECMO AV durante um
período de três horas. HV – UENF, 2008.
80
Tabela 9: Índice de correlação entre leucometria global (/µl) e leucometria
específica (/µl) em G1 e G2 com cinco minutos de ECMO AV (T1).
HV – UENF, 2008
83
Tabela 10: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da
plaquetometria (/µl) dos cães pertencentes ao G1 (n=4) e G2 (n=6),
submetidos à ECMO AV durante um período de três horas. HV
UENF, 2008.
85
Tabela 11: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento
bioquímico dos marcadores hepáticos (ALT, AST, FA) dos cães
pertencentes ao G1 (n=4) e G2 (n=6), submetidos à ECMO AV
durante um período de três horas. HV – UENF, 2008.
89
Tabela 12: Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney
(P 0,05) dos valores médios para ALT (UI/L), AST (UI/L) e FA
(UI/L) rica de G1 e G2 nos momentos T0, T4 e T7. HV UENF,
2008.
91
Tabela 13: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da
uréia (mg/dl) e creatinina (mg/dl) sérica dos cães pertencentes ao
G1 (n=4) e G2 (n=6), submetidos à ECMO AV durante um período
de três horas. HV – UENF, 2008.
93
Tabela 14: Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney
(P 0,05) dos valores médios para uréia (mg/dl) e creatinina
(mg/dl) sérica de G1 e G2 nos momentos T0, T4 e T7. HV UENF,
2008.
96
Tabela 15: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da
glicose (ng/dl) sérica dos cães pertencentes ao G1 (n=4) e G2
(n=6), submetidos à ECMO AV durante um período de três horas.
HV – UENF, 2008.
99
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 15
1.1 JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................ 17
1.2.1 Objetivos Gerais........................................................................... 17
1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................. 17
2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 18
2.1 HISTÓRICO ............................................................................................ 18
2.1.1 Origem e Evolução da Circulação Extracorpórea (CEC)......... 18
2.1.2 Origem e Evolução dos Oxigenadores de Membrana.............. 19
2.1.3 Evolução da Circulação Extracorpórea no Brasil..................... 22
2.2 OXIGENADORES ................................................................................... 23
2.2.1 Oxigenadores de membrana .....................................................
24
2.2.2 Princípio das Trocas Gasosas.................................................... 24
2.2.3 Classificação dos Oxigenadores de Membrana........................ 25
2.2.3.1 Quanto ao Tipo de Membrana 25
2.2.3.1.1 Membranas Microporosas ..................................
25
2,2.3.1.2 Membranas Verdadeiras.....................................
26
2.2.3.2 Quanto à Disposição das Membranas .............................. 27
2.2.3.2.1 Oxigenadores Espiralados..................................
27
2.2.3.2.2 Oxigenadores de Placas....................................
27
2.2.3.2.3 Oxigenadores de Fibras Ocas...........................
27
2.3 OXIGENAÇÃO EXTRACORPÓREA POR MEMBRANA (ECMO).......... 28
2.3.1 Definição ...................................................................................... 28
2.3.2 Desvios Cardiopulmonares......................................................... 30
2.3.2.1 Desvio Veno-arterial (VA)................................................... 31
2.3.2.2 Desvio Veno-venoso (VV).................................................. 32
2.3.2.3 Desvio Arterio-venoso (AV)................................................ 32
2.3.3 Antigoagulação ........................................................................... 34
2.3.4 Indicações .................................................................................... 37
2.3.5 Contra-indicações ....................................................................... 42
2.3.6 Complicações............................................................................... 43
2.4 PARÂMETROS CLÍNICOS E LABORATORIAIS A SEREM
MENSURADOS
50
2.4.1 Hematologia ............................................................................. 50
2.4.2 Bioquímica Sérica .................................................................... 53
2.4.2.1 Alanina Aminotransferase (ALT)..................................... 53
2.4.2.2 Aspartato Aminotransferase (AST)................................. 54
2.4.2.3 Fosfatase Alcalina (FA).................................................. 54
2.4.2.4 Uréia............................................................................... 55
2.4.2.5 Creatinina....................................................................... 56
2.4.2.6 Glicose........................................................................... 57
2.4.2.6.1 Hiperglicemia.................................................
58
2.4.2.6.2 Hipoglicemia..................................................
58
3
MATERIAL E MÉTODOS..............................................................................
60
3.1 COMITÊ DE ÉTICA PARA USO DE ANIMAIS........................................ 60
3.2 LOCAL.....................................................................................................
3.3 AMOSTRAGEM ......................................................................................
60
60
3.4 PROTOCOLO ANESTÉSICO................................................................. 62
3.5 REALIZAÇÃO DA ECMO....................................................................... 62
3.6 PARÂMETROS LABORATORIAIS AVALIADOS .................................. 65
3.6.1 Hematologia ......................................... ...................................... 65
3.6.2 Bioquímica Sérica ...................................................................... 65
3.7 COLETA DE MATERIAL PARA ANÁLISE HEMATOLÓGICA............... 66
3.8 COLETA DE MATERIAL PARA ANÁLISE BIOQUÍMICA....................... 66
3.9 COLETA DE MATERIAL PARA UROANÁLISES................................... 67
3.10 TEMPO DE COLETA DAS AMOSTRAS SANGUÍNEAS....................... 68
3.11 EUTANÁSIA.......................................................................................... 68
3.12 DELINEAMENTO ESTATÍSTICO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 68
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 70
4.1 TEMPO DE SOBREVIDA DOS ANIMAIS SUBMETIDOS À ECMO AV
COM E SEM O AUXÍLIO DA TERAPIA INTENSIVA (TI) ..............................
70
4.2 ANÁLISE DOS EFEITOS DA ECMO SOBRE OS PARÂMETROS
HEMATOLÓGICOS .......................................................................................
71
4.2.1 Eritrograma .................................................................................. 71
4.2.2 Leucograma.................................................................................. 78
4.2.3 Plaquetograma..............................................................................
84
4.3 ANÁLISE DOS EFEITOS DA ECMO SOBRE OS PARÂMETROS
BIOQUÍMICOS ..............................................................................................
88
4.3.1 Marcadores Hepáticos: ALT, AST e FA .................................... 88
4.3.2 Marcadores Renais: Uréia e Creatinina..................................... 92
4.3.3 Glicose Sérica ..............................................................................
98
5 CONCLUSÕES ............................................................................................. 103
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................
104
15
1. INTRODUÇÃO
A Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO) é uma técnica de
suporte cardiopulmonar prolongado, que tem a finalidade de auxiliar o pulmão e/ou
o coração, quando os mesmos entram em falência não responsiva as terapias
convencionais não invasivas. Ela é efetiva em casos emergenciais como: falência
respiratória grave, marcada por hipercapnia e acidose respiratória, e pode
representar uma opção de salvamento para a vida do paciente.
Embora com todos os avanços científicos e tecnológicos ocorridos na
medicina, manter um paciente sob ECMO continua sendo um grande desafio nos
centros médicos de maior referência. Além de sua invasividade, a técnica pode
desencadear inúmeras complicações que podem culminar com o óbito do
paciente, mas, os potenciais benéficos da ECMO acabam superando os riscos
gerados, com relatos de sobrevivência de 80% em pacientes humanos tratados
nos centros especializados.
As técnicas de suporte mecânico das funções cardiorrespiratórias podem
receber diversas denominações. Quando a circulação extracorpórea é usada com
canulação extratorácica e com o emprego de oxigenadores de membranas, a
técnica é denominada ECMO (sigla derivada de “Extracorporeal Membrane
Oxygenation”). Em procedimentos cirúrgicos cardiovasculares, onde a máquina
coração-pulmão no modo veno-arterial é utilizado para prover suporte
cardiopulmonar total, emprega-se o termo Bypass ou Desvio Cardiopulmonar ou,
simplesmente, circulação extracorpórea.
Esses termos servem para designar a realização de hematose e prover
assistência circulatória aos pacientes. Em alguns casos, pode fornecer assistência
dupla, ventilatória e circulatória, tornando-se um mecanismo capaz de oferecer
suporte às funções vitais do organismo.
Em casos de refratariedade às terapias convencionais e com risco de
mortalidade acima de 80%, a ECMO torna-se indicada permitindo a realização da
16
troca gasosa sanguínea fora dos pulmões, fornecendo tempo hábil para o
tratamento das afecções de base e resolução da afecção pulmonar.
A ECMO pode ser realizada por meio dos desvios Veno-Venoso (VV),
Veno-Arterial (VA) ou Arterio-Venoso (AV). O desvio AV além de ser mais simples
e não necessitar de equipamentos onerosos como bomba centrífuga ou de rolete,
é também tecnicamente menos arriscado. Complicações com o uso de auxílio
circulatório como hemólise, resposta inflamatória sistêmica e distúrbios de
coagulação, o consideravelmente menores com a utilização do desvio AV.
Neste caso, o próprio coração do paciente é o responsável por enviar o fluxo
sanguíneo ao oxigenador, reduzindo situações de trauma sanguíneo.
A hemólise é uma das complicações mais sérias inerentes às técnicas de
ECMO e bypass cardiopulmonar. Entretanto, as características destas hemólises
não são bem definidas. relatos que demonstram a ocorrência de trombose no
circuito seguido por hemólise em casos de prolongamento da ECMO.
Outra alteração importante é a ocorrência de uma resposta inflamatória
sistêmica. A ECMO pode induzir uma ativação leucocitária com liberação de
citocinas e, desta forma, causar um trauma adicional e deteriorar ainda mais a
situação do paciente.
1.1 JUSTIFICATIVA
A circulação extracorpórea por membrana apesar de ser um método de
suporte cardiovascular avançado é um procedimento não fisiológico e de grande
complexidade técnica. Embora a ECMO ainda permaneça restrita aos grandes
centros médicos especializados, gradativamente sua utilização vem se tornando
mais freqüente. Em Medicina Veterinária, a ECMO continua sendo realizada
apenas em caráter experimental, com pesquisas voltadas para aplicação em seres
humanos.
Nos pacientes humanos submetidos à ECMO, principalmente os
pediátricos, os efeitos da hipotermia, hemólise, da distribuição irregular do fluxo
sanguíneo aos tecidos, da hemodiluição, dos desvios do equilíbrio ácido-base, das
17
microembolias e da síndrome da resposta inflamatória sistêmica, continuam
representando um desafio de grandes proporções.
Espera-se que os resultados deste estudo em cães possam contribuir para
a viabilização da ECMO através do desvio AV, uma vez que serão analisados os
parâmetros hematológicos e bioquímicos objetivando reduzir complicações
inerentes à técnica e tentando elevar o percentual de sobrevida dos pacientes.
Acredita-se que brevemente a utilização da ECMO possa ser empregada de forma
rotineira não só na Medicina Humana, mas também em clínicas veterinárias,
quando afecções pulmonares reversíveis não responsivas às terapias
convencionais forem detectadas.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivos Gerais
Objetiva-se estudar a viabilidade da ECMO do ponto de vista laboratorial
(hematológico e bioquímico) e a necessidade de aplicação do recurso de terapia
intensiva (ventilação mecânica e infusão contínua de dopamina) para auxílio à
ECMO no modelo experimental adotado.
1.2.2 Objetivos Específicos
Avaliar os parâmetros hematológicos: hematócrito; hemoglobinometria;
leucometria global; leucometria específica e plaquetometria, dos animais
submetidos à ECMO com ou sem terapia intensiva;
Avaliar os parâmetros bioquímicos: alanina aminotransferase (ALT);
aspartato aminotransferase (AST); fosfatase alcalina (FA); uréia; creatinina e
glicose, dos animais submetidos à ECMO com ou sem terapia intensiva;
18
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 HISTÓRICO
2.1.1 Origem e Evolução da Circulação Extracorpórea (CEC)
“De Motu Cordis”, publicação intitulada por William Harvey em 1628,
certamente foi o marco inicial na história da circulação extracorpórea. Nesta obra,
Harvey descreveu o o trajeto que o sangue percorria no organismo humano
a partir do coração, mas fundamentalmente os princípios da fisiologia. E por este
motivo, Harvey foi considerado no início do século XVII, o pai da cardiologia
(SOUZA; ELIAS, 2006a). Tal importância foi atribuída em decorrência de ser a
circulação extracorpórea, uma condição primordial para que células,
funcionalmente diferentes, se agrupassem em um organismo, a própria base cuja
evolução permite criar seres superiores (GOTTSCHALL, 1999). O modelo de
Harvey é um fato aceito, intacto e modificado há séculos.
No século XIX, fisiologistas realizaram os primeiros estudos na tentativa de
oxigenar o sangue fora do organismo, para a perfusão de órgãos isolados de
animais (DRUMOND et al. 2005; SOUZA; ELIAS, 2006a), sendo fundamental para
estabelecer as bases da circulação extracorpórea.
Em 1937, John Gibbon foi um dos pioneiros a se dedicar ao estudo da
oxigenação artificial do sangue, objetivando sustentar a vida de um organismo
como um todo (DRUMOND et al., 2005). Desta forma, a incisão do coração
durante uma cirurgia cardíaca se tornaria possível. John e sua mulher Mary
Gibbon, após longo período de estudo, desenvolveram um sistema de respiração
e circulação artificial que permitia manter temporariamente um ser humano vivo,
suprindo suas necessidades metabólicas. Em 1954 foi então realizada a primeira
cirurgia cardíaca com sucesso, em uma jovem de dezoito anos portadora de uma
comunicação interatrial, através da técnica de Circulação Extracorpórea (CEC)
pelo casal John e Mary Gibbon. Com este feito, Mary tornou-se a primeira
19
perfusionista da história ao operar uma máquina de CEC (BARTLETT et al., 1986;
SOUZA; ELIAS 2006a).
A oportunidade de operar diretamente o coração era um tanto miraculosa,
porém a máquina coração-pulmão gerava sérios prejuízos aos fluidos e elementos
sólidos do sangue (WALKER et al., 2003). A principal causa era a exposição direta
do sangue com o gás. Com o patrocínio e ajuda de alguns dos mais talentosos
engenheiros da International Business Machines (IBM), John Gibbon conseguiu
construir máquinas de grande porte capazes de sustentar a oxigenação e a
circulação do sangue. O novo equipamento produzia uma quantidade mínima de
hemólise e continha um revestimento térmico que ajudava a manter o paciente
normotérmico. A nova máquina (Figura 1) apresentava um eficiente mecanismo
que evitava a entrada de bolhas de ar na circulação, além de um delicado controle
do fluxo sanguíneo para manter uma volemia estável do paciente (ELIAS; SOUZA,
2006a).
Figura 1: Oxigenador de telas de Gibbon utilizado para as primeiras cirurgias com
CEC (SOUZA; ELIAS, 2006a).
2.1.2 Origem e Evolução dos Oxigenadores de Membrana
O conceito de oxigenar o sangue artificialmente fora do organismo surgiu no
século XIX, quando os fisiologistas objetivaram perfundir órgãos isolados de
20
animais. Porém, foi após as publicações do casal Gibbon, que pesquisadores
começaram a trabalhar no desenvolvimento de oxigenadores (SOUZA; ELIAS,
2006a).
Diferentes formas de ofertar oxigênio ao sangue foram tentadas, permitindo
o desenvolvimento de inúmeros modelos de oxigenadores, dos quais poucos
tiveram aplicação clínica. Segundo o casal Gibbon, o oxigenador deveria produzir
uma fina camada de sangue que ficasse em contato com o oxigênio. Isto seria
possível através da utilização de uma força centrífuga ou formando bolhas de
sangue, ou ainda fluindo o sangue sobre uma tela (DRUMOND et al., 2005).
Complicações como formação de espuma, hemólise, trombocitopenia, hemorragia
e produção de substâncias vasoativas que culminavam com a falência dos órgãos
eram freqüentes, tornando a técnica fatal quando aplicada por mais de duas a três
horas (BARTLETT et al., 1986; LEWANDOWSKI, 2000).
Alguns pesquisadores passaram a utilizar membranas permeáveis aos
gases, fazendo a separação física entre o sangue e o gás. Com isto, evitava-se a
formação de bolhas e tornava a oxigenação artificial mais próxima da fisiológica
(DRUMOND et al., 2005).
Inicialmente os resultados obtidos com oxigenadores de membrana
não foram muito animadores e, mostravam uma relativa ineficiência da oxigenação
do fluxo sanguíneo necessário para manter uma parada cardiocirculatória. De
acordo com o “princípio de ázigos”, que demonstrava a possibilidade da circulação
extracorpórea ser conduzida com fluxos sanguíneos baixos, diversos
pesquisadores voltaram a se interessar e a estudar as membranas, por ser mais
semelhante à oxigenação realizada nos pulmões e permitir um processo artificial
mais próximo do fisiológico (DRUMOND et al., 2005; SOUZA; ELIAS, 2006a). E foi
com base nestes estudos que Dr. Lillehei, em março de 1954, reparou um defeito
ventricular septal utilizando o princípio da circulação cruzada. A técnica foi
utilizada em quarenta e cinco casos, onde 62% dos pacientes sobreviveram
(MEYER; JESSEN, 2001).
21
Em 1955, Kirklen modificou e aperfeiçoou a máquina de Gibbon (Figura 2),
realizando uma série de cirurgias intracardíacas bem-sucedidas sob visão direta.
O aparelho ficou conhecido como Mayo-Gibbon (SOUZA; ELIAS, 2006a).
Figura 2: Oxigenador Mayo-Gibbon usado por Kirklin et al. em 1955, na Clínica
Mayo.(MEYER; JESSEN, 2001).
Kolff em 1955 construiu o primeiro protótipo de oxigenador de membranas a
partir de lâminas de polietileno, que foi usado com sucesso, em trabalhos
experimentais. O oxigenador apresentava um formato de bobina e as membranas
eram dispostas em torno de um eixo central (DRUMOND et al., 2005).
Em 1956, foi desenvolvido o primeiro oxigenador de membrana reutilizável,
baseado em princípios de trocas de gases observados nos hemodializadores da
época, onde a separação do oxigênio e do sangue era realizada através de uma
membrana (LEWANDOWSKI, 2000; DRUMOND et al., 2005). Clowes e Neville
foram os pioneiros na utilização deste tipo de oxigenador em cirurgia cardíaca e,
em 1958 publicaram inúmeros trabalhos sobre o assunto (GANDOLFI; BRAILE,
2003). Para a confecção do aparelho, eles utilizaram membranas planas,
construídas de teflon e dispostas em camadas superpostas. O oxigenador era
grande, difícil de montar e, freqüentemente, apresentava vazamentos (DRUMOND
et al., 2005).
22
Com a colaboração de Kolobow na década de sessenta, tornou-se possível
prolongar o suporte circulatório extracorpóreo, através da utilização de um novo
oxigenador que utilizava uma membrana de silicone emborrachada, para separar
em fases, o sangue e o gás, permitindo melhores resultados de biocompatibilidade
nas cirurgias cardiovasculares (WALKER et al., 2003; KOOP et al., 2006;
FRENCKNER; RADELL, 2008).
2.1.3 Evolução da Circulação Extracorpórea no Brasil
No Brasil, sessenta anos aproximadamente iniciaram-se os primeiros
experimentos com circulação extracorpórea, baseados no desvio seletivo do
coração direito, utilizando pulmão autólogo em modelo experimental canino,
baseado no “princípio de ázigos”, estabelecido por Andreassen e Watson
(GOMES et al. 2005).
Hugo João Felipozzi, professor e dico cirurgião especialista em cirurgia
torácica, foi um dos pioneiros a liderar pesquisas que culminaram no
desenvolvimento da primeira máquina de CEC produzida no país e, na realização
das primeiras cirurgias cardíacas no Brasil. Em outubro de 1955, foi operado o
primeiro paciente com diagnóstico de estenose valvar pulmonar através da técnica
de comissurotomia da valva pulmonar e desvio seletivo do coração direito,
utilizando o recurso da circulação extracorpórea (D’ OLIVEIRA, 1957). No mesmo
ano, uma correção de tetralogia de Fallot foi realizada em uma criança, através da
técnica de perfusão contínua com sangue homólogo arteriolizado. A cirurgia
transcorreu sem complicações, porém após trinta e nove dias de pós-operatório, a
paciente veio a óbito por desenvolver atelectasia pulmonar com conseqüente
falência respiratória (GOMES et al., 2005).
Subsidiado pela Fundação Anita Pastore D’ Ângelo, Felipozzi e
colaboradores projetaram um novo modelo de oxigenadores de discos. Durante
as experimentações cirúrgicas o oxigenador conseguiu manter níveis adequados
de perfusão tissular e valores normais de equilíbrio ácido-base, porém
permaneceram complicações anteriormente observadas, como níveis elevados de
23
hemólise em circulação extracorpórea acima de trinta minutos. Este fato associado
ao grande volume de sangue necessário para a perfusão desfavoreceu sua
utilização (GOMES et al., 2005).
Novos estudos com es foram desenvolvidos, desta vez com
oxigenadores de bolhas tipo De Wall e bomba Sigmamotor, porém os resultados
não foram encorajadores, uma vez que freqüentes casos de acidentes embólicos
foram observados, provavelmente em decorrência do uso de silicone antiespuma
da câmara desborbulhadora (GOMES et al., 2005). Foi então que Felipozzi e
colaboradores partiram para um novo projeto desenvolvendo o oxigenador com
discos rotatórios, montado em um conjunto com bomba tipo rolete. Este modelo
foi testado durante quatro meses em modelo experimental canino e, finalmente foi
constatado segurança quanto à sua aplicabilidade clínica. Além do volume de
perfusato reduzido (sangue heparinizado), que permite uma adequada
transferência de oxigênio por minuto sem gerar turbilhonamento sanguíneo, ele
conseguia manter as taxas de hemólise em níveis aceitáveis e em adequado
equilíbrio ácido-base em perfusões de até duas horas de duração (GOMES et al.,
2005).
Um ano depois (1956), Felipozzi operou com sucesso o primeiro paciente
com abertura das cavidades cardíacas sob o auxílio total da circulação
extracorpórea (GOMES et al., 2005). E em 1957, rotineiramente iniciaram-se as
cirurgias cardíacas favorecidas pelo uso da CEC .
2.2 OXIGENADORES
Os oxigenadores são aparelhos utilizados para a realização das trocas
gasosas no sangue, durante a circulação extracorpórea (SOUZA; ELIAS, 2006a).
Na tentativa de oxigenar o sangue artificialmente, inúmeros tipos e modelos
de oxigenadores foram desenvolvidos: de películas, cilindros, telas, discos, bolhas,
bolhas concêntricas e finalmente os de membrana. Estes oxigenadores diferem
entre si pelo modo de oferta do oxigênio ao sangue. Atualmente apenas os
oxigenadores de bolha, em pequena escala, e os de membrana estão sendo
24
utilizados rotineiramente nos procedimentos cirúrgicos cardiovasculares com o uso
da circulação extracorpórea.
2.2.1 Oxigenadores de Membrana
O mecanismo sico dos oxigenadores de membrana se através da
separação do sangue e do oxigênio por uma membrana semipermeável e, as
trocas ocorrem por difusão dos gases, através desta membrana ou dos poros
existentes nas mesmas. Por este motivo, eles se assemelham mais
fisiologicamente com a hematose pulmonar (SOUZA; ELIAS, 2006a).
Devido a inúmeras barreiras a serem vencidas, o mecanismo que envolve
os oxigenadores de membrana é mais complexo do que mostra a lei dos gases. O
O
2
ao atravessar a membrana dos oxigenadores, dissolve-se no plasma
sanguíneo e ultrapassa a membrana das hemácias, difundindo-se no seu
citoplasma para combinar-se com a hemoglobina. A difusão do O
2
no sangue é
mais complexa que a do CO
2
, isto porque este é cerca de vinte vezes mais solúvel
que o oxigênio e pode ser eliminado com grande facilidade, através da diferença
de pressão parcial em qualquer tipo de membrana (SOUZA; ELIAS, 2006a). Este
controle independente da transferência dos gases é feito através de um
misturador. A transferência do CO
2
é controlada por variações de fluxo do gás que
ventila o oxigenador. Quanto maior o fluxo de gás, maior será a remoção de CO
2
do sangue. para o O
2
, a transferência é controlada pela porcentagem desse
gás instilado no oxigenador. Quanto maior a fração de O
2
no gás, maior será sua
transferência para o sangue (DRUMOND et al., 2005).
2.2.2 Princípio das Trocas Gasosas
O princípio da difusibilidade consiste na capacidade das moléculas de gás
se mover das áreas de menor concentração para as áreas de maior concentração,
buscando o equilíbrio. Baseado neste princípio ocorre a transferência de gases
para o sangue ou para o gás que ventila o oxigenador (DRUMOND et al., 2005).
25
A teoria cinética dos gases demonstra que a difusão depende da velocidade
do movimento das moléculas do gás e, de acordo com a lei de Graham, é
inversamente proporcional à raiz quadrada do peso molecular do gás. Assim,
quanto menor o peso molecular do gás, maior é a sua difusibilidade. A velocidade
da difusão de um gás também aumenta proporcionalmente a sua solubilidade
(DRUMOND et al., 2005).
A força que impulsiona o gás através da membrana é denominada pressão
parcial. Quanto maior a diferença entre a pressão parcial, maior a força que
impulsiona o gás. A difusão dos gases no interior do oxigenador depende do tipo
de material da membrana, de sua espessura e porosidade, mas também é
influenciada pela espessura da lâmina de sangue em contato com a membrana e
pelas características do fluxo de sangue. Nos oxigenadores, a velocidade de
difusão pode ser aumentada reduzindo a espessura da membrana (DRUMOND et
al., 2005).
No sangue, o O
2
e o CO
2
não se comportam linearmente. Isto ocorre devido
a não linearidade da dissociação da oxi-hemoglobina. Do mesmo modo, o CO
2
é
combinado com diversas substâncias do plasma e da hemácia para formar
bicarbonato. Portanto, através do processo de dissolução física, as concentrações
entre CO
2
e O
2
são maiores do que esperado, tornando a análise de transferência
de gases nos oxigenadores mais complexa (DRUMOND et al., 2005).
2.2.3 Classificação dos Oxigenadores de Membrana
2.2.3.1 Quanto ao Tipo de Membrana
2.2.3.1.1 Membranas Microporosas
Os oxigenadores que utilizam membranas do tipo microporosas, permitem
que os gases atravessem os poros microscópicos presentes na mesma, não
havendo a difusão dos gases no material da membrana (DRUMOND et al., 2005).
26
Apesar dos oxigenadores de membrana terem sido idealizados para
trabalhar sem a interface gás-sangue existente nos demais tipos de oxigenadores,
as membranas microporosas, inicialmente, permitem nos momentos da perfusão
uma interface transitória entre gás-sangue. Posteriormente o revestimento protéico
das membranas ocorre, isolando as duas fases, líquido e gás, permitindo a difusão
através dos microporos. A tensão superficial do sangue impede que haja
extravasamento pelos minúsculos poros da membrana capilar, que funcionam
como condutos através do material de polipropileno, conferindo capacidade
suficiente de difusão de ambos os gases, O
2
e CO
2
(DRUMOND et al., 2005).
Devido à evaporação e subseqüente condensação de soro que extravasa
pelos microporos, após algum tempo de uso, a capacidade funcional dos
oxigenadores de membrana do tipo microporosa é reduzida (KOPP et al., 2006). O
aquecimento do gás e das membranas pode reverter esse fenômeno e prolongar a
vida útil do equipamento, uma vez que ocorre a estabilização da estrutura do
polímero. (DRUMOND et al., 2005).
Complicações importantes como alterações hemodinâmicas e transfusões
sanguíneas, são decorrentes destes extravasamentos e sucessivas trocas de
aparelhos (KITANO et al., 1997). Visando prevenir este problema foram
desenvolvidos novos modelos de oxigenadores, que objetivaram combinar a
textura de microporos com uma fina camada fechada na superfície e circuitos de
ECMO previamente heparinizados (KOPP et al., 2006).
2.2.3.1.2 Membranas Verdadeiras
As membranas do tipo verdadeiras são semipermeáveis e funcionam como
uma barreira entre gás e líquido, uma vez que a difusão dos gases depende da
transferência destes no material da membrana. Uma vez dissolvido na membrana,
o gás passa a ser liberado na face oposta em decorrência do gradiente de pressão
parcial existente entre os dois lados da membrana (DRUMOND et al., 2005).
Algumas desvantagens relacionadas a este tipo de oxigenador acabam
restringindo sua utilização, como alto custo, dificuldade de produção, grandes
27
volumes de perfusato e extensas áreas de membrana. Em contrapartida, os
oxigenadores de membrana verdadeira permitem a realização de procedimentos
de longa duração, como assistência ventilatória ou circulatória em condições
adequadas por dias e até semanas (DRUMOND et al., 2005).
2.2.3.2 Quanto à Disposição das Membranas
2.2.3.2.1 Oxigenadores Espiralados
O oxigenador espiralado ou em espiral foi desenvolvido a partir do modelo
de Kolobov, anteriormente citado. É formado por uma membrana de silicone,
enrolada em torno de um eixo central, semelhante a um novelo, com disposição
ligeiramente espiralada (DRUMOND et al., 2005). Daí a origem do nome fornecido
ao equipamento. É o oxigenador mais indicado para procedimentos de longa
duração (SOUZA; ELIAS, 2006a).
2.2.3.2.2 Oxigenadores de Placas
O oxigenador de placa ou membrana plana é constituído por membranas do
tipo microporosas de polipropileno expandidas, dobradas em Z e com disposição
semelhante a uma sanfona. Nesse tipo de equipamento, o sangue e o gás fluem
em lados opostos da membrana (DRUMOND et al., 2005).
2.2.3.2.3 Oxigenadores de Fibras Ocas
Também conhecido como oxigenador de membrana capilar, os
oxigenadores de fibra oca são atualmente os equipamentos mais utilizados em
procedimentos de oxigenação extracorpórea por membrana. Eles são construídos
com membranas do tipo microporosa de polipropileno e de finos capilares
dispostos em feixes paralelos ou em novelos (DRUMOND et al., 2005).
28
De acordo com o tipo de circulação sanguínea, podem-se separar os
oxigenadores capilares em dois subgrupos. O primeiro consiste em um modelo
onde o fluxo sanguíneo circula dentro do feixe de fibras ocas e, o gás circula
externamente em sentido oposto. Complicações como trombose de um grande
número de fibras pode ser observado em conseqüência do gradiente de pressão
gerado pela resistência das fibras à passagem do sangue. No outro subgrupo, o
gás circula no interior do capilar que fica imerso no fluxo sanguíneo. Desta forma o
gradiente entre sangue e gás é reduzido, diminuindo traumas produzidos pela
passagem do sangue no interior dos capilares. Esse modelo é considerado mais
atual e veio em substituição aos anteriores (DRUMOND et al., 2005).
2.3 OXIGENAÇÃO EXTRACORPÓREA POR MEMBRANA (ECMO)
2.3.1 Definição
As principais funções do pulmão consistem em manter uma oxigenação
adequada e remover CO
2
do sangue, mantendo o pH sanguíneo em níveis
fisiológicos adequados. Diante da impossibilidade em realizar uma eficiente
hematose e/ou cirurgias cardíacas com o coração em funcionamento, inúmeros
equipamentos foram desenvolvidos objetivando substituir a função cardiopulmonar
enquanto o coração é operado (GANDOLFI; BRAILE, 2003).
Por definição, ECMO é uma técnica de suporte cardiopulmonar prolongado,
que tem a finalidade de auxiliar o coração e/ou pulmão, de neonatos, crianças e
mais recentemente adultos, quando os mesmos entram em falência e não
respondem às terapias convencionais (WEBER et al., 1990; LIN et al., 2006;
TAMESUE et al., 2006; JACKSON et al., 2007).
Este tipo de suporte apresenta caráter temporário, permitindo a
recuperação cardiopulmonar de pacientes portadores de injúria aguda reversível
(THAKAR et al., 2001; PERALTA et al., 2005; HANEKAMP et al., 2006; KAHN et
al., 2007) sem gerar prejuízo às estratégias de ventilação agressiva controlada,
como lesões pulmonares decorrentes de altas concentrações de oxigênio
29
inspirada e maior risco de barotrauma pela utilização de pressão elevada
(CHAPMAN et al., 1990; DE SOMER et al., 1999; KOOP et al., 2006; KAHN et al.,
2007; FRENCKNER; RADELL, 2008).
Comumente, o sistema utilizado para a circulação extracorpórea denomina-
se máquina coração-pulmão artificial, aparelho coração-pulmão artificial, bomba
coração-pulmão, ou simplesmente, bomba (SOUZA; ELIAS, 2006a).
Em linhas gerais, a ECMO consiste em um circuito fechado onde o sangue
rico em CO
2
é drenado, para ser oxigenado ao passar por um sistema de
oxigenação artificial de membranas, retornando ao organismo em condições
adequadas (COLAFRANCESCHI et al., 2008). Desta forma os pulmões
conseguem se recuperar e nenhum dano iatrogênico é gerado a este órgão
(FRENCKNER; RADELL, 2008).
Os circuitos utilizados pela ECMO neonatal, infantil e adulto são muito
semelhantes. A diferença entre eles está no tamanho dos diferentes componentes
que integram o circuito, determinado pelo peso de cada paciente. Com isto, é
possível obter um fluxo sanguíneo extracorpóreo adequado (FRENCKNER;
RADELL, 2008).
A assistência pulmonar através da ECMO tem sido aplicada como uma
alternativa de terapia invasiva, quando o uso da ventilação mecânica culmina com
uma oxigenação inadequada. Nos últimos anos, aplicações dos métodos de
suporte mecânico às funções cardiorrespiratórias vêm aumentando
consideravelmente e alguns dados fornecidos pela “Extracorporeal Life Support
Organization” revelaram que a ECMO, tem sido cada vez mais praticada por
países desenvolvidos, principalmente ECMO neonatal, com resultados de
sobrevida superior a 80%. Os principais obstáculos encontrados em relação à
técnica são: os altos custos de implantação e manutenção dos programas, além
da dedicação e disponibilidade de tempo de mão-de-obra treinada e qualificada
para o procedimento (BARTLETT et al., 1974).
Com o refinamento das técnicas, modernização tecnológica e
aperfeiçoamento nos critérios de seleção dos pacientes submetidos à ECMO,
melhores taxas de sobrevida estão sendo alcançadas. Alguns recursos, assim
30
como a sua disponibilidade, vêm contribuindo para melhorar os resultados e
manuseio destes pacientes. Dentre eles pode-se citar: ventilação com jatos de alta
freqüência, ventilação oscilatória de alta freqüência, uso de óxido nítrico e
surfactante (HINTZ et al., 2000; THAKAR et al., 2001; PEEK et al., 2006;
FRENCKNER; RADELL, 2008).
Diante da perspectiva de longa duração da ECMO, não a ventilação,
mas a nutrição dos pacientes, o manuseio farmacológico renal e cardiovascular e
o uso de antibiótico profilaticamente, devem ser cuidadosamente avaliados, uma
vez que os pacientes encontram-se imunologicamente debilitados, associados às
complicações inerentes ao procedimento (SOUZA; ELIAS, 2006a; ATIK et al.,
2008)
O tempo que o paciente permanece em ECMO deve ser decidido
individualmente e é influenciado pelo estado geral do paciente associado ao
restabelecimento das funções cardíacas e pulmonares (BAKHTIARY et al., 2008).
Com o avanço tecnológico das terapias de suporte, apenas pacientes com
severas complicações estão sendo direcionados à terapia com ECMO, elevando o
tempo médio destes tratamentos ao longo do tempo (COOK, 2004).
As etapas finais de recuperação do tecido pulmonar permitem o início do
processo de interrupção da assistência extracorpórea, porém o desmame deste
paciente deve ser lento e progressivo e pode durar horas ou dias (SOUZA; ELIAS,
2006a).
2.3.2 Desvios Cardiopulmonares
A escolha do tipo de “bypass” a ser utilizado em pacientes selecionados
para a ECMO é dependente de alguns fatores, dentre eles a indicação do uso da
assistência, a urgência em se restabelecer o fluxo sanguíneo, o local onde o
paciente se encontra dentro da instituição (laboratório de hemodinâmica, sala de
emergência, unidade de terapia intensiva ou centro cirúrgico), além das
características individuais de cada paciente (COLAFRANCESCHI et al., 2008).
31
Segundo Souza; Elias (2006a) existem três tipos de “bypass” ou desvios
cardiopulmonares que podem ser utilizados rotineiramente durante a ECMO:
desvio veno-arterial, veno-venoso e arterio-venoso.
Usualmente a oxigenação extracorpórea é realizada através dos desvios
veno-arterial ou veno-venoso com o uso de uma bomba centrífuga ou de rolete,
permutador de calor e oxigenador de membrana. Entretanto, a execução da
ECMO como auxílio circulatório produz inúmeras complicações inerentes à
técnica, tornando o procedimento arriscado e de custo elevado (GANDOLFI;
BRAILE, 2003).
2.3.2.1 Desvio Veno-Arterial (VA)
O desvio VA é o modelo de “bypass” mais utilizado e corresponde à
sistemática convencionalmente utilizada para a cirurgia cardíaca (SOUZA; ELIAS,
2006a). O sangue venoso é drenado, oxigenado externamente ao organismo e
reinfundido através de uma artéria (COOK, 2004).
Na ECMO neonatal, uma das cânulas é introduzida através da veia jugular
interna para que o sangue seja drenado do átrio direito. Após a oxigenação e
remoção de CO
2
do sangue, o mesmo é devolvido à aorta através de uma cânula
inserida na artéria carótida comum. para crianças e pacientes adultos, a
canulação se dá preferencialmente através dos vasos femorais, ou ainda por
outras vias alternativas dependendo das necessidades específicas de cada
paciente (BARTLETT et al., 1974; SOUZA; ELIAS, 2006a).
As principais complicações decorrentes desta técnica segundo Chatuverdi
et al. (2004), são hemorragia, paralisia diafragmática, sepse e danos neurológicos
severos relacionados a processos embólicos, assim como complicações
mecânicas relacionadas a falhas no oxigenador, ar no circuito venoso ou arterial e
lesões teciduais no local da canulação.
32
2.3.2.2 Desvio Veno-Venoso (VV)
O desvio VV em ordem de preferência para a ECMO neonatal está em
segundo lugar. Ele consiste na utilização de uma cânula introduzida na veia
jugular interna para drenagem do sangue no átrio direito; ocorrendo externamente
a hematose, e posteriormente o sangue é reinfundido no paciente através de outra
veia canulada, geralmente a veia femoral (SOUZA; ELIAS, 2006a). Alguns autores
relatam o caminho inverso com resultados positivos, ou ainda, citam a utilização
da safena e ilíaca comum para a drenagem venosa, aproveitando a gravidade,
retornando com o sangue pela jugular ou safena (GAY et al., 2005).
Para Linton et al. (1998), a ECMO VV apesar de menos utilizada que a
ECMO VA, oferece inúmeras vantagens sobre esta quando utilizada
adequadamente em crianças e adultos.
Segundo Peralta et al. (2005), é possível mesmo com o desvio VV obter
adequada oxigenação utilizando ou não ventilação pulmonar.
Uma das principais complicações observadas neste tipo de “bypass”, são
alterações da pressão venosa central ou das pressões de enchimento ventricular
decorrente de um desequilíbrio dos fluxos sanguíneos, interferindo na condição
hemodinâmica do paciente (LINTON et al., 1998; SOUZA; ELIAS, 2006a).
2.3.2.3 Desvio Arterio-Venoso (AV)
O desvio AV é comumente utilizado para hemodiálise ou para ultrafiltração
e, raramente utilizado nos procedimentos de assistência ventilatória. Tem como
princípio, drenar o sangue arterial através de uma cânula inserida nas artérias
carótidas ou femoral e devolvê-lo através da canulação da veia jugular interna,
após hematose (SOUZA; ELIAS, 2006a).
Segundo Liebold et al. (2002), a canulação femoral arterial e venosa pode
ser adotada, desde que, um oxigenador de membrana de baixa resistência seja
utilizado visando aproveitar a pressão arterial do paciente para impulsionar o
sangue.
33
Em 1951, foram realizados os primeiros experimentos em cães utilizando o
desvio AV. Os animais apresentavam insuficiência respiratória aguda induzida e
receberam suporte respiratório através de pulmões autólogos. Os resultados
foram promissores demonstrando a eficiência da técnica (POTTS et al., 1951).
Em 1965, o desvio AV passou a ser utilizado em crianças com insuficiência
respiratória, após resultados satisfatórios obtidos por Rashkind et al. (1965), em
estudos utilizando cães com insuficiência respiratória induzida por asfixia.
No Brasil, estudos utilizando es como modelo experimental, permitiram
experimentos com ácido oléico para gerar insuficiência respiratória e, verificaram
que a ECMO através do desvio AV era capaz de manter níveis gasométricos
aceitáveis e compatível com a vida (GOMES et al., 2005).
A primeira aplicação clínica utilizando o desvio AV foi realizada em 2000,
em vinte pacientes humanos portadores de insuficiência respiratória aguda e com
estabilidade hemodinâmica. Os resultados foram satisfatórios em 60% dos casos,
demonstrando além da facilidade de aplicação, melhora significativa na
oxigenação e remoção de CO
2
(LIEBOLD et al., 2000).
Em 2002, Liebold et al. conduziram um novo experimento com setenta
pacientes humanos portadores de falência pulmonar severa de causas diversas,
utilizando a mesma técnica e, confirmando a eficiência da mesma.
A principal vantagem deste tipo de desvio cardiopulmonar é a utilização de
um gradiente de pressão arteriovenoso, com objetivo de impulsionar o sangue
através do circuito. Desta forma, torna-se desnecessário o uso de auxílio
circulatório (bomba), reduzindo complicações importantes inerentes à cnica,
como hemólise, resposta inflamatória e distúrbios de coagulação (GANDOLFI;
BRAILE, 2003). Além disto, trata-se de uma técnica mais simples, de cil
instalação e relativamente segura, que dispensa a necessidade de cuidados
intensivos ou pessoal especializado, assim como um custo mais acessível
(ZIMMERMANN et al., 2006).
Outro fator vantajoso é a mobilidade do sistema, permitindo o transporte de
pacientes gravemente acometidos e impossibilitados fisicamente de serem
34
transportados pelos métodos convencionais, entre o hospital e os centros
especializados (ZIMMERMANN et al., 2006).
Apesar da eficiência desta técnica ser comprovada, a mesma torna-se
contra-indicada em casos de hipoxemia severa, uma vez que o sangue que chega
ao oxigenador é arterial, limitando a transferência de O
2
(KOPP et al.; 2006).
A principal complicação inerente à técnica é a instalação aguda de uma
fístula arteriovenosa, que é geralmente mal tolerada, podendo gerar isquemia
transitória dos membros inferiores (SOUZA; ELIAS, 2006a). Contudo, a perfusão
retorna ao normal após a remoção das cânulas (ZIMMERMANN et al., 2006).
2.3.3 Anticoagulação
Durante os procedimentos com circulação extracorpórea é essencial que a
coagulação sanguínea seja inibida, para impedir a formação de trombos (SOUZA;
ELIAS, 2006a), mesmo que a técnica utilizada seja o desvio AV, sem a utilização
de bomba (LIEBOLD et al., 2002). Uma vez em contato com outra superfície
biológica que não seja a parede dos vasos ou do endocárdio, o sangue tende a
coagular, havendo uma quebra no equilíbrio físico-químico existente no interior
destas estruturas. Na circulação extracorpórea, o sangue circula através de um
circuito composto por cânulas e oxigenadores, que apesar de biocompatíveis, são
superfícies estranhas ao organismo, capazes de disparar a cascata de coagulação
(SOUZA; ELIAS, 2006a).
Desde os primeiros estudos realizados por Potts et al. (1951) aos dias
atuais, a droga de escolha utilizada para evitar a coagulação sanguínea durante o
procedimento da circulação extracorpórea é a heparina.
A heparina foi descoberta em 1916, acidentalmente, por um estudante de
medicina Joy McLean, que investigava extrato de tecido hepático e cardíaco,
buscando substâncias com propriedades tromboplásticas. Durante os
experimentos, foi encontrado no extrato de tecido hepático, uma substância capaz
de retardar a coagulação plasmática, sendo então batizada como heparfosfatide e
posteriormente como heparina (SOUZA; ELIAS, 2006a).
35
Apesar de eficiente como droga anticoagulante, a heparina induz alguns
efeitos adversos como hemorragia e trombocitopenia, freqüentemente
acompanhada por trombose arterial e/ou venosa, resultando em elevadas taxas de
morbidade e mortalidade (BAUER et al., 2008).
Ainda segundo Bauer et al. (2008), uma promissora alternativa aos efeitos
deletérios da heparina é o uso do Danaparoid sodium, uma droga inibidora direta
da trombina, que tem sido muito estudada, porém ainda com poucos dados
publicados. Ela tem sido utilizada com sucesso em situações que contra-indiquem
o uso da heparina.
Koster et al. (2007) ao operar uma paciente com falência miocárdica
presenciaram a ocorrência de uma trombocitopenia induzida pela heparina com o
uso da circulação extracorpórea. Mediante este fato, os autores utilizaram com
sucesso, outra droga inibidora direta da trombina, o Bivalirudin. O protocolo
utilizado consistiu na administração em bolus de 0,5mg.kg
-1
, seguido da infusão
contínua de 0,5mg.kg.h
-1
, mantendo o TCA em níveis apropriados de 200 a 220
segundos. Kopp et al. (2006) citam que em casos de trombocitopenia induzida
pelo uso da heparina, a utilização de hirudin, argatroban e talvez prostraciclinas,
têm sido utilizada como alternativa para obtenção da anticoagulação sistêmica.
Apesar dos efeitos colaterais da heparina, esta droga se torna atrativa aos
adeptos da circulação extracorpórea por possuir um eficiente antídoto, a
protamina, que neutraliza rapidamente complicações na cascata de coagulação
(SOUZA; ELIAS, 2006a).
Não existe ainda, um protocolo consagrado em relação às doses
adequadas de heparina a serem utilizadas com a circulação extracorpórea. Nos
primeiros estudos sobre o tema, Potts et al., (1951) utilizaram 10.000UI de
heparina para cada paciente, neste caso o cão. Balasubramanian et al. (2007) em
estudo retrospectivo (1990 a 2003), atenderam cinqüenta e três pacientes
humanos com defeitos cardíacos congênitos através do uso da ECMO e,
escolheram a heparina como droga anticoagulante na dosagem de 30–60UI.kg.h
-1
.
Segundo os autores, uma adequada anticoagulação foi alcançada.
36
Outros estudos utilizando o cão como modelo experimental, demonstraram
sucesso na terapia anticoagulante utilizando apenas dose única de heparina, 400
UI/kg (GOMES et al., 2005). Bruston et al. (1997) publicaram resultados
animadores em ovelhas, utilizando 300UI/kg de heparina sódica, em infusão
contínua. Outro estudo também em ovelhas foi conduzido com sucesso utilizando
uma dose de 100UI/kg por via intravenosa (MOSCARDINI et al., 2002).
A heparinização em seres humanos é realizada de forma rígida, através da
monitoração do tempo de coagulação ativada (TCA). Este deve ficar
aproximadamente em 200 segundos e a contagem de plaquetas acima de 100 mil
(THAKAR et al., 2002; PEEK et al., 2006). Portanto, a administração de heparina
nestes pacientes deve ser feita apenas em quantidades suficientes para alcançar
um bom nível de anticoagulação. Para Souza e Elias (2006a), uma boa
heparinização sistêmica é alcançada, quando o TCA atinge valor mínimo de 480
segundos. para Frenckner e Radell (2008) em estudo com 21.500 neonatos,
bons resultados foram obtidos através da infusão continua de heparina, com TCA
entre 180 220 segundos. Para Brederlau et al., (2004), resultados satisfatórios
com heparinização sistêmica foram obtidos mantendo o TCA em uma faixa de 150
segundos.
Muellenbach et al., (2008) sugerem que a anticoagulação possa ser
realizada somente através da heparinização do circuito. Porém, para muitos
autores, o uso associado da heparina tanto no perfusato quanto por via
intravenosa, seja em bolus ou infusão contínua, é a melhor opção para obter
anticoagulação sistêmica (CHAPMAN et al., 1990; MOSCARDINI et al., 2002;
THAKAR et al., 2002; TAMESUE et al., 2006; IGLESIAS et al., 2008).
No início dos anos 80 foi desenvolvida uma técnica onde as moléculas de
heparina eram atraídas pelas superfícies sintéticas, o que permite a heparinização
de todo o revestimento do circuito de troca gasosa extracorpórea
(LEWANDOWSKI, 2000). Com o avanço das pesquisas, produtos para desvios
cardiopulmonares revestidos com heparina se tornaram disponíveis no mercado
(KITANO et al., 1997), sendo adotados por centros especializados em ECMO, com
mínima ou nenhuma heparinização sistêmica (LEWANDOWSKI, 2000).
37
Kahn et al., (2007) em estudos com pacientes humanos adultos portadores
de falência respiratória, adotaram um protocolo associado onde administraram
infusão intravenosa de heparina (100UI/kg) antes de iniciar a terapia com ECMO
e, utilizaram um circuito com cânulas heparinizadas. O TCA foi mantido entre
180 200 segundos. Seus resultados apesar de animadores com sobrevida de
70%, permitiram a ocorrência de hemorragia e trombose da veia femural em dois
pacientes.
2.3.4 Indicações
A assistência pulmonar extracorpórea tem sido indicada como alternativa
invasiva ao tratamento convencional, em pacientes portadores de afecção
cardiopulmonar severa, porém reversível e, quando a oxigenação adequada
através das terapias convencionais torna-se impossível (GOLEJ et al., 2002;
ELSHARKAWY et al., 2007; COPPOLA et al., 2008). Ou ainda, quando a
mortalidade prevista para estes pacientes for superior a 80% (PERALTA et al.,
2005).
De acordo com Souza e Elias (2006a), a circulação extracorpórea
convencional ou alguma de suas variantes, tem sido indicada com elevados graus
de sucessos nos seguintes casos:
Neurocirurgias para a ressecção de grandes aneurismas de artérias
intracranianas, correção de malformações e extirpação de neoplasias cerebrais;
Extirpação de tumores renais com invasividade da veia cava inferior;
Remoção de tumores traqueais que envolvem a Carina, objetivando
oxigenar o paciente durante a secção de segmentos da traquéia e grandes
brônquios;
Afecções pulmonares reversíveis que geram severo comprometimento do
parênquima pulmonar impedindo hematose eficiente, sendo necessária
assistência ventilatória prolongada através do uso de oxigenadores de membrana;
38
Assistência circulatória como método exclusivo para falência ventricular, em
pacientes não operados e candidatos a cirurgia imediata para transplante;
Suporte circulatório adjunto em salas de hemodinâmica para casos de
angioplastia coronária, onde o procedimento cirúrgico é contra-indicado;
Reaquecimento lento de pacientes hipotérmicos acidentalmente expostos a
baixas temperaturas, em países de clima frio da Europa e América do Norte;
Ressuscitação de pacientes vitimados por envenenamentos, choque
cardiogênico refratário, miocardiopatias ou parada cardiorrespiratória de diversas
etiologias.
A ECMO por ser um procedimento invasivo que envolve riscos iminentes,
deve ser somente utilizada quando todas as alternativas terapêuticas forem
esgotadas. Porém, a decisão de iniciá-la não deve ser tardia, uma vez que a
deterioração das funções cardiopulmonares pode ser maior (THAKAR et al.,
2002).
Os critérios para utilização da ECMO variam dentro das inúmeras
instituições adeptas à técnica. Segundo Thakar et al. (2002), a maioria dos centros
especializados adota o seguinte critério de seleção, visando auxiliar o médico
responsável quanto à análise de sucesso ou insucesso da terapia:
Hipóxia acima de quatro horas;
Acidose persistente (pH < 7,2) apesar da aplicação de terapia alcalinizante,
hiperventilação e infusão de bicarbonato de sódio, com crescente produção de
ácido lático;
Barotrauma;
Peso > 2kg, facilitando a aplicação da técnica;
Menos de sete dias de assistência ventilatória;
Doença pulmonar reversível em até 10 a 14 dias;
Fracasso em terapias conservadoras;
Ausência de coagulopatia ou hemorragias intracranianas;
Idade gestacional de 35 a 40 semanas.
39
A ECMO é comumente utilizada em pacientes neonatais e pediátricos com
variados graus de sucesso e resultados promissores. Em adultos, esta modalidade
terapêutica está começando a ser aplicada com maior freqüência e com melhores
resultados (GAY et al., 2005). Para Thakar et al. (2002), uma maior sobrevida em
neonatos com relação a pacientes pediátricos e adultos, deve-se à reversibilidade
do processo patológico e à ausência de afecção pulmonar crônica ou de doença
cardíaca.
Em todo o mundo, mais de 18.700 pacientes humanos neonatais
portadores de afecções respiratórias têm sido beneficiados com o uso da ECMO
e, taxas de sobrevida global de 77% (HANEKAMP et al., 2006). Dentre as
principais afecções tratadas pela ECMO neonatal estão; a hipertensão pulmonar
persistente decorrente de shunt da direita para a esquerda; a síndrome da
aspiração do mecônio; a doença da membrana hialina severa; a persistente
hipertensão pulmonar idiopática e/ou refratária; a deficiência severa de
surfactante; a hérnia diafragmática congênita e a sepse envolvendo
particularmente o Streptococcus beta hemolítico do grupo B (THAKAR et al., 2002;
WALKER et al., 2003; KATTAN et al., 2005; VORST et al., 2006; FRENCKNER;
RADELL, 2008; HANEKAMP et al., 2006).
Nielsen et al. (2002) relataram com sucesso o caso de um lactente portador
de ventrículo único, submetido à ECMO, para a realização de uma anastomose
cavopulmonar bidirecional, em decorrência do desenvolvimento de insuficiência
respiratória severa por pneumonite produzida pelo vírus respiratório sincicial. Este
paciente foi “ressuscitado” pela ECMO recuperando-se com mínima morbidade.
Estudo retrospectivo durante o período de 1996 a 2003, em 89 neonatos
submetidos à ECMO, verificou que os melhores percentuais de sobrevida foram
obtidos em casos de síndrome da aspiração do mecônio - 82% e, os piores em
casos de hérnia diafragmática congênita - 46% (FLAMANT et al., 2007).
A falência respiratória aguda em crianças, apesar das diversas estratégias
de ventilação existentes, apresenta uma taxa de mortalidade acima de 40%. O
emprego do suporte extracorpóreo nesta população não é tão bem estabelecido
quanto em pacientes neonatos, porém sua aplicação tem crescido ao longo do
40
tempo, sendo considerada uma opção razoável para aqueles pacientes pediátricos
com falência respiratória severa não responsiva às demais modalidades de terapia
intensiva (SWANIKER et al., 2000). Em pacientes pediátricos, as principais
indicações à utilização da ECMO são: SARA: pneumonite decorrente de infecção
pelo vírus respiratório sincicial: pneumonias virais, bacterianas e por aspiração:
leucemias (inclusive pós-transplante de medula óssea); insuficiência cardíaca
potencialmente reversível; hipotensão secundária a disritmias; cardiomiopatias e
sepse (WALKER et al., 2003; FRENCKNER; RADELL, 2008). Hemorragias
pulmonares e infecções por Pneumocystis carinii também têm sido tratadas com
sucesso através da ECMO (FRENCKNER; RADELL, 2008).
A ECMO também deve ser considerada em casos refratários a terapêutica
farmacológica para a hipertensão pulmonar (HP) em crianças. Porém, o índice de
sucesso desta modalidade terapêutica em pós-operatório de cirurgia cardíaca com
HP é menor do que na HP primária do recém-nascido (HOROWITZ, 2002).
Taoka et al. (2007), relataram um caso de sucesso utilizando a ECMO em
uma criança de seis anos de idade com miocardite fulminante. Os autores
concluíram que esta modalidade terapêutica quando aplicada em momento
apropriado é útil para assistência circulatória em casos nos quais a afecção resiste
ao tratamento convencional, e se estabelecerá em um futuro próximo, como
método de tratamento eficaz para quadros como estes.
Em adultos, apesar de uma menor aplicabilidade, as possíveis indicações
da ECMO resumem-se a doenças respiratórias agudas, como a SARA, hipóxicas
ou hipercárbicas, insuficiência cardíaca direita aguda e insuficiência cardíaca
global aguda, cardiomiopatias e choque cardiogênico pós-operatório, sempre nos
casos em que a reversibilidade do quadro for esperada. (LIN et al., 2006). A
ECMO também é utilizada em casos de transplantes de pulmões e/ou coração
(JACKSON et al., 2007; KAHN et al., 2007).
Segundo Peralta et al. (2005), apesar de controverso, a terapia com ECMO
para pacientes com SARA, tem se mostrado uma boa opção terapêutica,
prevenindo situações de hipóxia e reduzindo estresse mecânico sobre os
pulmões. Ensaios clínicos randomizados com pacientes portadores de SARA
41
mostraram que, atualmente a ECMO, é o que de mais apropriado no
tratamento destes casos, não responsivos às estratégias terapêuticas
convencionais (KOOP et al., 2006; KAHN et al., 2007). Estes autores citam ainda,
a utilização da ECMO com sucesso em paciente adulto que sofreu semi-
afogamento, apresentando SARA e pneumonia.
Peek et al. (2006) em estudo randomizado utilizando pacientes adultos com
idade entre 18 e 65 anos e, portadores de falência respiratória potencialmente
reversível, concluíram que a ECMO além de uma terapia eficiente é
financeiramente viável quando aplicada corretamente dentro dos critérios de
seleção.
Sihoe et al. (2008) relataram com sucesso a utilização da ECMO associada
a uma agressiva lavagem pulmonar, em paciente adulto portador de uma afecção
rara, Proteinose Pulmonar Alveolar, que consiste no depósito de material
lipoproteináceo nos alvéolos comprometendo significativamente as trocas
gasosas. Após ficar doze dias em hipercapnia e dependência ventilatória, a
paciente conseguiu recuperar sua função pulmonar e a terapia com a ECMO foi
descontinuada.
Estudos conduzidos por Dietl et al. (2008) utilizando a ECMO em pacientes
adultos (38) com severa síndrome cardiorrespiratória por Hantavírus, mostraram
que dois terços dos pacientes conseguiram se recuperar completamente. Apesar
das estatísticas pouco animadoras, a mortalidade prevista para este tipo de
afecção está em torno de 100%, tornando a ECMO uma alternativa atraente para
este fim.
Pacientes portadores de choque cardiogênico após infarto agudo do
miocárdio, cardiotomia ou depois de parada cardíaca, apresentam elevados
índices de mortalidade. Muitas vezes mesmo que a etiologia primaria seja
abordada de forma terapêutica, este quadro permanece inalterado, sendo
segundo Colafranceschi et al. (2008), a ressuscitação através da ECMO a melhor
opção para reverter este cenário.
2.3.5 Contra-indicações
42
A ECMO por ser uma cnica invasiva e complexa, apresenta algumas
complicações e por este motivo critérios de seleção que contra-indicam tal
procedimento precisaram ser estabelecidos (KOOP et al., 2006).
Essencialmente, a ECMO deve ser utilizada em pacientes que necessitem
de forma extrema desta terapia e, que estejam apropriadamente enquadrados em
seus critérios de seleção. Existem situações em que apesar de existirem contra-
indicações específicas, a equipe médica opta por colocar o paciente em ECMO,
uma vez que elevado risco de mortalidade (geralmente acima de 80%) e/ou
quando as demais terapias disponíveis fracassaram (THAKAR et al., 2001).
Segundo Koop et al. (2006), situações como danos cerebrais irreversíveis,
injúria cerebral severa aguda, doença crônica terminal ou maligna, hemorragia
severa e coagulação intravascular disseminada (CID), contra-indicam
absolutamente a inserção de um paciente em ECMO. Já fatores como idade
avançada, imunossupressão, injúria cerebral moderada aguda, falência ventricular
esquerda e trombocitopenia induzida por heparina são considerados contra-
indicações relativas nesta avaliação.
Outros fatores citados ainda como impeditivos da inserção de um paciente
em ECMO são: peso inferior a 2kg, isto porque estes pacientes apresentam vasos
muito pequenos a serem canulados, tornando difícil o estabelecimento de fluxos
adequados devido às limitações impostas pelo tamanho da cânula e também pela
resistência elevada ao fluxo sanguíneo; idade gestacional inferior a 34 semanas,
por ser prematura e seus sistemas fisiológicos ainda não estarem bem
desenvolvidos, principalmente a vasculatura cerebral e a matriz germinal;
hemorragia intraventricular superior a grau I; lesões irreversíveis em cérebro,
coração, fígado ou rins; doença pulmonar não reversível em até 10 14 dias; uso
de ventilação mecânica por mais de sete a dez dias; sepse; coagulopatias severas
ou ainda quando os pais se recusarem em aceitar o procedimento (THAKAR et al.,
2002; PEEK et al., 2006; COPPOLA et al., 2008).
Em estudo retrospectivo realizado entre 1973 a 1986 utilizando a ECMO em
recém-nascidos portadores de falência respiratória reversível, Bartlett et al. (1986)
43
contra-indicaram a utilização da técnica em pacientes com peso inferior a 2kg, que
apresentassem fontanela protuberante ou ainda quando fosse identificada
hemorragias intracranianas.
Em situações de hérnia diafragmática congênita, Heiss et al (1989)
excluíram de seu experimento pacientes que apresentavam idade inferior a 7 10
dias de vida; idade gestacional inferior a 35 semanas em virtude da elevada
probabilidade de hemorragia intracranial e imaturidade neonatal; hemorragia
intracranial preexistente identificada através da ultra-sonografia; anormalidades
coexistentes incompatível com uma maior sobrevida; doença do coração cianótico
identificada por ecocardiografia e finalmente pacientes com hipoplasia pulmonar
bilateral incompatível com a vida.
Cook et al. (2004) citaram ainda, que a ECMO não é indicada para a
aplicação em pacientes com malformações congênitas irreparáveis; doenças
metabólicas letais e intratáveis; malformações cromossômicas e sepse bacteriana,
além de hemorragias intracranianas de qualquer grau (COOK, 2004).
2.3.6 Complicações
Por ser a ECMO um procedimento não fisiológico, sua utilização mais
freqüente vem estimulando o estudo de inúmeras complicações associadas ao
procedimento.
O trauma de elementos sanguíneos gerado pelas bombas de rolete; as
substâncias incorporadas ao perfusato; as trocas gasosas modificadas pelos
oxigenadores; as variações de temperatura e, sobretudo, a exposição do sangue a
superfícies artificiais gerando efeitos sistêmicos adversos, criam a cada dia,
esforços no sentido de aperfeiçoar a técnica.
Pacientes submetidos a procedimentos que envolvem o auxílio
extracorpóreo têm como característica comum o fato de ter seus diferentes
sistemas orgânicos acometidos, geralmente por disfunções cardiovasculares
primárias. As funções pulmonares, neurológicas, renais, e hepáticas,
44
principalmente, dependem de um adequado suprimento sanguíneo e podem
colapsar rapidamente diante de baixo débito cardíaco (SOUZA; ELIAS, 2006a).
Por vezes, torna-se difícil atribuir uma determinada complicação a um
procedimento específico, uma vez que forte inter-relação entre os
procedimentos adotados (SOUZA; ELIAS, 2006a).
As complicações mais freqüentemente relatadas com o uso da ECMO são
os distúrbios hematológicos, baixo bito cardíaco, disfunção respiratória,
disfunção renal, alterações neurológicas e infecções (GANDOLFI; BRAILE, 2003;
MULHOLLAND, 2007). Portanto, parâmetros como hemoglobina, hematócrito,
plaquetas, o tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial e níveis de
fibrinogênio necessitam ser freqüentemente monitorados, pois os pacientes
favorecidos pela ECMO correm sérios riscos de desenvolver trombocitopenia e
coagulação intravascular disseminada (GAY et al., 2005),.
Dentre as principais alterações hematológicas citam-se a hemólise,
coagulopatias e o desenvolvimento de resposta inflamatória sistêmica,
decorrentes de trauma sanguíneo que ocorre durante a assistência extracorpórea
prolongada, sendo atualmente o principal fator limitante para a aplicação da
técnica (LIEBOLD et al. 2000; GANDOLFI; BRAILE, 2003).
A hemólise continua sendo um dos mais sérios problemas durante a
realização do bypass cardiopulmonar, ECMO e suporte cardiopulmonar
percutâneo, porém com características ainda pouco definidas (MOSCARDINI et
al., 2002). Ding et al.(2007) em experimentos in vitro, verificaram que a utilização
da ECMO com bomba de rolete pode induzir a ocorrência de hemólise, porém não
de forma imediata. Inicialmente o que ocorre são sub-traumas em um grande
número de eritrócitos que ficam com suas membranas deformadas, favorecendo
que um quadro hemolítico se instale.
As coagulopatias são causadas principalmente, pelo aumento nas
quantidades dos produtos de degradação da fibrina, a presença de coágulos
sanguíneos no circuito, assim como uma redução nos níveis de fibrinogênio. Os
produtos gerados pela degradação do fibrinogênio podem prejudicar a formação
de fibrina, a função plaquetária e causar lesão endotelial. A combinação destes
45
efeitos pode levar à lesão capilar, com alterações da hemostasia, determinando
maior perda sangüínea (BUTLER et al., 1993). Alguns autores propõem a
utilização do desvio AV para reduzir estes inconvenientes, uma vez que o sangue
passa a ser impulsionado através do sistema pelo coração utilizando seu próprio
gradiente de pressão (GANDOLFI; BRAILE, 2003).
Outro aspecto limitante inclui o desenvolvimento de uma síndrome da
resposta inflamatória sistêmica (SIRS), onde uma ativação leucocitária é induzida
com a liberação de citocinas, que culmina por deteriorar ainda mais a situação
debilitante do paciente (MOSCARDINI et al., 2002; YAMAMOTO et al., 2006). A
SIRS é definida como uma resposta do organismo a uma variedade de agressões
graves, infecciosas ou não. Clinicamente a SIRS caracteriza-se pelo
comprometimento das funções pulmonares, renais, cerebrais, cardíacas, presença
de febre ou hipotermia acentuada, taquicardia, hipotensão arterial, leucocitose (>
12.000 mm
3
leucócitos) ou leucopenia (< 4.000 mm
3
leucócitos) com ou sem
desvio à esquerda (bastões > 10% - neutrófilos), coagulopatia, suscetibilidade a
infecções, alterações na permeabilidade vascular levando ao acúmulo de líquido
intersticial, vasoconstrição e hemólise (BRASIL et al., 1999). Segundo Taylor
(1996), a SIRS não é uma entidade clínica única, apresentando um grau de
resposta moderada a severa, que será induzida em todos os pacientes
submetidos à circulação extracorpórea, variando sua intensidade de paciente para
paciente. O contato do sangue com superfícies o biológicas do circuito
extracorpóreo provoca uma reação do sistema humoral e celular sanguíneo,
desencadeando a ativação do sistema complemento, dos fatores de coagulação,
de fibrinólise, da cascata de calicreínas e dos neutrófilos, ocasionando a liberação
de mediadores inflamatórios, que induzem a liberação de enzimas proteolíticas e a
produção de radicais livres de oxigênio (BUTLER et al., 1993). Além disto,
produzem alterações do fluxo sangüíneo, aumentando a permeabilidade vascular
e a aderência dos leucócitos ao endotélio, causando lesão endotelial e
conseqüente migração transendotelial dos leucócitos para os tecidos. Pequenas
quantidades de citocinas quando são liberadas nos tecidos, promovem efeitos
benéficos determinando uma ativação dos mecanismos de defesa do organismo
46
contra o agente agressor. Porém, a produção excessiva desses mediadores
provoca efeitos maléficos ao organismo.
Segundo Brasil et al. (1999), o uso de corticóides (metilpredinisolona) inibe
significativamente a liberação de citocinas pró-inflamatórias atenuando os efeitos
sistêmicos adversos decorrentes da resposta inflamatória observada após
circulação extracorpórea. Yamamoto et al. (2006) relataram a ocorrência de
leucopenia transitória associada ao aumento de citocinas pró-inflamatórias em um
paciente com grave edema pulmonar cardiogênico submetido à ECMO, que
necessitou de troca de oxigenador. A leucopenia pode ser causada por uma
queda na produção, um aumento na destruição periférica ou excesso no “pool”
marginal, sendo a marginação leucocitária um dos mecanismos responsáveis por
este incremento. Uma leucopenia transitória com marginação pulmonar pode ser
decorrente de um acentuado aumento de citocinas disparada por episódios de
hipóxia e reperfusão. Ainda segundo Yamamoto et al. (2006), imediatamente após
o inicio da ECMO, o contato do sangue com superfícies não endoteliais do circuito
extracorpóreo dispara uma resposta do organismo com liberação de citocinas
como TNFα, IL-6 e IL-8. A leucocitopenia ocorre dentro de cinco a quinze minutos
do inicio da ECMO e o NADIR na contagem dos leucócitos é atingido dentro de 2h
após a troca do oxigenador. Neste caso sugeriu-se que o apenas a troca do
oxigenador, mas também outros fatores contribuíram para a ocorrência da
leucocitopenia. A hipóxia induz um aumento acentuado na concentração de TNFα
e no seqüestro de neutrófilos. Neste caso, a leucocitopenia ocorreu principalmente
pela marginação leucocitária pulmonar e não pela interação dos leucócitos com
receptores de superfície e/ou endotélio.
Segundo Kurundkar et al. (2009), leitões submetidos à ECMO
freqüentemente desenvolvem SIRS, decorrente de lesões na mucosa intestinal e
conseqüente translocação bacteriana, com elevados níveis de endotoxinas
circulantes. As endotoxinas o lipopolissacárides (LPS) derivado da parede de
bactérias em degradação. Seus efeitos biológicos incluem a ativação do sistema
complemento, da cascata da coagulação ou de ambos, sendo um caminho
alternativo para a liberação de radicais livres em resposta à ativação dos
47
neutrófilos e ao aumento da adesividade das células endoteliais (BUTLER et al.,
1993). A presença de endotoxinas na circulação extracorpórea pode ser devida à
infusão de substâncias pirogênicas durante a operação ou pela utilização de
materiais não estéreis do circuito extracorpóreo ou instrumental cirúrgico (BRASIL
et al., 1999). A endotoxinemia ocorre devido à translocação de bactérias Gram-
negativas do intestino ocasionada por quebra da barreira da mucosa intestinal,
que em condições normais impede a passagem de componentes xicos da luz
intestinal para a corrente sangüínea (RIDDINGTON et al., 1996). Em estudos com
leitões, Kurundkar et al. (2009) verificaram que uma hora após o início da ECMO,
os níveis de TNFα aumentaram consideravelmente permitindo a ativação de
neutrófilos e a mensuração de alterações histopatológicas. Verificaram ainda, a
ocorrência de apoptose generalizada dos enterócitos permitindo a quebra da
função na barreira de proteção intestinal. A descontaminação seletiva do trato
gastrointestinal, com a administração de antibióticos via oral previamente à
circulação extracorpórea, foi preconizada, com o objetivo de reduzir a
endotoxemia durante e após o procedimento, visando à diminuição da produção
de citocinas, da ativação do sistema complemento e a subseqüente diminuição da
resposta inflamatória pós-circulação extracorpórea (MARTINEZ-PÉLLU et al.,
1997).
Koster et al. (2007) verificaram a ocorrência de trombocitopenia induzida
pela heparina como complicação principal em um paciente com falência
miocárdica. Para reverter o quadro, os autores substituíram com sucesso, a
heparina por outra droga anticoagulante com um mecanismo diferenciado,
Bilivalirudin, um inibidor direto da trombina.
Uma das alterações fisiológicas mais importantes e observadas em um
grande número de pacientes submetidos à ECMO são os quadros hemorrágicos
(CHATUVERDI et al., 2004). Devido à heparinização sistêmica obrigatória,
quadros hemorrágicos são comumente observados, sendo a hemorragia
intracraniana a complicação mais comum (BALASUBRAMANIAN et al., 2007).
Outros focos de importância clínica incluem sangramento difuso, no ponto de
canulação, tamponamento cardíaco, hemorragia intratorácica, hemorragia
48
gastrointestinal e sangramento retroperitoneal (THAKAR et al., 2002). Esta
complicação pode ser evitada através da manutenção rigorosa do TCA, que deve
ficar em aproximadamente 200 segundos e com uma contagem de plaquetas
acima de 100 mil (PEEK et al., 2006). Outras complicações como convulsões,
alterações neurológicas, lesão renal, arritmias e pneumotórax são citadas
(THAKAR et al., 2002; BALASUBRAMANIAN et al., 2007)).
Em estudos com crianças submetidas à cirurgia cardíaca através da ECMO,
Chatuverdi et al. (2004) encontraram em 10% dos pacientes a ocorrência de
paralisia diafragmática. Tal complicação pode ser explicada pelas inúmeras
explorações torácicas realizadas para investigar episódios de sangramento. Neste
mesmo estudo, os autores relatam casos de sepse durante o procedimento e, os
microorganismos mais comuns foram Staphylococcus aureus, Staphylococcus
epidermitis, Pseudomonas sp., Klebsiella sp. e Haemophilus sp. Por este motivo a
antibioticoterapia profilática é preconizada.
Nielsen et al. (2002) relataram o caso de um lactente, portador de ventrículo
único, que desenvolveu pneumonite produzida pelo vírus sincicial respiratório
durante o período pós-operatório e, que foi ressuscitado pela ECMO. Sua
recuperação foi complicada por um infarto do lobo parietal direito, que se
manifestou pela perda parcial dos movimentos do membro superior esquerdo.
Mesmo após três meses de alta médica, um pequeno déficit neurológico no
membro foi verificado.
Colafranceschi et al. (2008) verificaram em análise retrospectiva com
pacientes adultos portadores de choque cardiogênico agudo e refratário, que as
principais complicações durante a ECMO foram hemorragias, isquemia do
membro e disfunção renal. Após o procedimento, foram identificados quadros de
trombocitopenia induzida pela heparina, infarto êntero-mesentérico, hemorragias e
disfunção multiorgânica levando alguns pacientes a óbito. Em estudo recente com
ECMO em pacientes adultos portadores de síndrome cardiopulmonar por
Hantavírus, também se verificou complicações hemorrágicas e episódios
isquêmicos, culminando inclusive com amputação de membro (BAKHTIARY et al.,
2008; DIETL et al..,2008).
49
Segundo KHAN et al. (2007), dados publicados recentemente sugeriram
que o uso da ECMO pode estar associado ao aumento do risco de sangramentos
e trombose venosa femoral.
Para INGYINN et al. (2004), a hipertensão é uma complicação comum
durante e após a ECMO VA, podendo ter muitos fatores como causas, tais como
retenção a administração inadvertida de fluidos durante o procedimento e
estresses hormonais de adrenalina, noradrenalina e cortisol.
A insuficiência renal aguda (IRA) tem sido observada durante o período
pós-operatório imediato de cirurgias com circulação extracorpórea, constituindo
um significativo fator de risco capaz de aumentar a mortalidade e a morbidade
destes procedimentos. Eventos ocorridos durante a perfusão tais como hemólise,
acidose metabólica, hipotensão arterial, hipoperfusão tissular, uso de agentes
vasoconstritores, dentre outros, podem constituir fatores predisponentes ao
desenvolvimento de insuficiência renal no período pós-operatório imediato
(SOUZA; ELIAS, 2006b). Relatos sugerem que falha renal grave é comum em
pacientes críticos colocados em ECMO, alguns inclusive com necessidade de
realização de diálises (CHATURVEDI et al., 2004). Este dano está associado com
o aumento nas taxas de mortalidade que ocorre em 60% dos casos (LIN et al,
2006).
Hanekamp et al. (2006) avaliaram 98 pacientes neonatos que foram
submetidos à ECMO VA após cinco anos da aplicação da técnica. Os autores
verificaram que 17% dos pacientes apresentavam algum tipo de déficit
neurológico, sendo esta uma complicação pós-operatória a ser considerada.
Wagner et al. (2007) em estudo semelhante com crianças, verificaram que
seqüelas cerebrais são freqüentemente encontradas em pacientes submetidos à
terapia com ECMO.
Complicações inerentes à técnica também têm sido relatadas, como falhas
mecânicas no oxigenador, bomba, permutador de calor, problemas nas cânulas e
nos tubos (GANDOLFI; BRAILE, 2003; CHATUVERDI et al., 2004;
MULHOLLAND, 2007). Coppola et al. (2008) citaram estes fatores como
conseqüência do transporte com a ECMO, em estudo recente, apesar dos
50
mesmos terem sido perfeitamente revertidos sem interrupção significativa no
suporte extracorpóreo para os pacientes, nem ocorrência de óbito. Outros
aspectos limitantes são a formação de coágulos sanguíneos na bomba, no
oxigenador e nas cânulas; o deslocamento ou a ruptura de componentes (KOOP
et al., 2006), além de hemorragias, trombose, coagulopatia difusa e sepse
(PERALTA et al., 2005).
Para Cook (2004), a morte também deve ser considerada uma provável
complicação devido ou apesar da ECMO.
2.4 PARÂMETROS CLÍNICOS E LABORATORIAIS A SEREM MENSURADOS
2.4.1 Hematologia
O sangue é um meio através do qual o organismo transporta as substâncias
e elementos necessários à vida. Seu exame é uma maneira fácil e prática de se
obter informações sobre a saúde do paciente (GARCIA-NAVARRO, 2005).
O Hemograma oferece uma visão geral sobre o estado do paciente e de
seu sistema hematopoiético em um determinado momento (REBAR et al, 2003).
Desta forma, ele é recomendado na avaliação laboratorial de qualquer animal. O
hemograma subdivide-se em eritrograma, leucograma e plaquetograma.
O eritrograma fornece informações a respeito da série vermelha do sangue,
isto é dos eritrócitos. Nas amostras são avaliadas as quantidades de hemáceas,
hemoglobina, porcentagem de eritrócitos, tamanho médio e quantidade média de
hemoglobina no interior dos eritrócitos (TURNWALD, 1999).
O leucograma consiste na contagem total de leucócitos (leucometria global)
e na leucometria específica, que é analisada através do esfregaço sanguíneo.
Neste último item, as células de defesa são quantificadas e analisadas
individualmente, inclusive quanto à sua morfologia (basófilos, eosinófilos, bastões,
neutrófilos, monócitos e linfócitos) (HOSKINS, 1997).
51
No plaquetograma são realizados a contagem total das plaquetas, volume
plaquetário médio, porcentagem e amplitude de distribuição das plaquetas na
amostra sanguínea (FAILACE, 1995).
Anormalidades relativas a hemácias, leucócitos e plaquetas devem ser
avaliadas antes de qualquer procedimento anestésico e/ou cirúrgico. Assim sendo,
pacientes anêmicos são mais predispostos a desenvolver hipoxia, aumentando a
probabilidade de complicações anestésicas. A principal causa de policitemia é a
desidratação, que por sua vez pode causar hipotensão e pode levar a
complicações anestésicas, especialmente quando associada à perda de sangue
ou aos efeitos vasodilatadores de alguns agentes anestésicos. A leucocitose pode
estar associada a inflamação, estresse ou excitação. A trombocitopenia é o
distúrbio sangüíneo mais freqüente na Medicina Veterinária. A contagem de
plaquetas deve ser realizada como exame pré-operatório, devido ao risco de óbito
associado à trombocitopenia (REBAR et al, 2003; GARCIA-NAVARRO, 2005).
Existem também, situações que requerem a realização de hemogramas
seriados durante procedimentos de emergência, como é o caso da utilização da
ECMO e CEC mediante a ocorrência de falência respiratória aguda ou cirurgias
cardiovasculares. A hemólise é um dos problemas mais rios encontrados na
ECMO, que também pode induzir o organismo a desenvolver uma síndrome de
resposta inflamatória sistêmica (SIRS), com a ativação de leucócitos e a liberação
de citocinas. Por ser um trauma adicional, esta reação pode piorar ainda mais a
situação do paciente que se encontra muito debilitado (GANDOLFI; BRAILE,
2003). Outra complicação importante é a trombocitopenia com conseqüentes
quadros hemorrágicos, uma vez que obrigatoriamente antes de iniciar o
procedimento, estes pacientes são heparinizados para evitar riscos de formação
de coágulos sanguíneos no interior da bomba e também a coagulação do sangue
(REBAR et al., 2003; KOPP et al., 2006).
52
Tabela 1: Parâmetros hematológicos de normalidade na espécie canina.
PARÂMETROS VALORES DE NORMALIDADE
ERITROGRAMA
Hemácias 5,5 – 8,5 x 10
6
l
Volume Globular 37 – 55%
Hemoglobinometria 12 – 18 g/dl
VCM 60 – 77 fl
CHCM 32 – 36%
LEUCOGRAMA
Leucometria Global 6000 - 17000/µl
LEUCOMETRIA ESPECÍFICA
Basófilo Raros
Eosinófilo 100 - 1250/µl
Neutrófilos:
Mielócito 0
Metamielócito 0
Bastão 0 - 300/µl
Segmentado 3000 - 11500/µl
Linfócito 1000 - 4800/µl
Monócito 150 - 1350/µl
PLAQUETOGRAMA
Plaquetas 175 – 500 x 10
3
/µl
µl = microlitros; fl = fentolitros; dl = decilitros
*Referências: MEYER; COLES; RICH, 1995.
53
2.4.2 Bioquímica Sérica
2.4.2.1 Alanina Aminotransferase (ALT)
A ALT é uma enzima citossólica de caráter hepato-específica, que é
utilizada como prova de função hepática em cães (AMARAL et al., 1996). Seus
valores mais elevados o encontrados no fígado, pâncreas, eritrócitos, coração,
rins e músculos esqueléticos (KANEKO et. al, 1997).
Segundo Ferreira Neto et al. (1991) e Amaral et al. (1996), níveis séricos
elevados da ALT indicam a existência de necrose ou aumento da permeabilidade
dos hepatócitos por hipóxia e toxinas. Kaneko et al. (1997) afirmaram que o fígado
tem importante atividade específica da enzima e um aumento na sua
concentração sérica denota destruição ou necrose hepática, atuando como um
sensível marcador. A elevação sérica de ALT está relacionada com o número de
células envolvidas, ou seja, com a extensão, e não com a gravidade da lesão.
A gestação, a nutrição inadequada e falhas renais podem levar a uma
redução na concentração sérica desta enzima, em virtude da deficiência de
vitaminas (GELLA, 1994). Segundo Kramer e Hoffmann (1997), cães tratados com
cefalosporinas também podem apresentar esta diminuição.
Segundo Rodrigues et al. (2005), a ALT tem um pico de liberação
sanguínea em torno de três ou quatro dias após a ocorrência da lesão, porém
retorna aos valores basais cerca de duas semanas depois. A persistência de
valores elevados durante longos períodos pode sugerir um quadro crônico como
hepatite ou neoplasia. Aumentos discretos podem ser decorrentes de congestão
hepática ou ainda esteatose, elevações moderadas a severas são observadas
em situações de necrose celular, cirrose, hepatite tóxica ou infecciosa e neoplasia.
Outras causas relacionadas com a elevação da ALT são: pancreatite, necrose
renal, necrose da musculatura esquelética e infarto no miocárdio.
54
2.4.2.2 Aspartato Aminotranferase (AST)
As mais elevadas concentrações de AST encontram-se principalmente nas
células musculares esqueléticas, hepatócitos, coração e rins. Meyer et al. (1995)
baseados em estudos humanos, demonstraram que aproximadamente 80% desta
enzima que encontra-se no interior dos hepatócitos, está associada às
mitocôndrias e o restante encontra-se solúvel no citosol.
A AST é uma enzima que possui seus níveis séricos elevados
principalmente em casos de necrose dos músculos cardíacos e esqueléticos, e em
situações de necrose hepática (FERREIRA NETO et al., 1991).
Segundo Kaneko et al. (1997), apenas a mensuração sérica da ALT é
insuficiente para se diagnosticar lesão hepática, sendo necessária a mensuração
concomitante da AST. Porém, Pontes (2005) afirma que a AST não funciona como
um indicador específico de lesão hepática.
2.4.2.3 Fosfatase Alcalina (FA)
A FA é uma enzima ligada à membrana celular que pode ser produzida em
diversos tecidos do organismo, como ossos, intestinos e sistema hepatobiliar, na
forma de isoenzima, sendo que no fígado está localizada primariamente na
membrana canalicular da bile, mucosa gastrintestinal e menor concentração nos
rins, placenta e baço (MEDWAY et al., 1973; COLES, 1986., AMARAL et al., 1996;
KANEKO et al., 1997), sendo utilizada como indicador de injúria hepática e biliar
(AMARAL et al., 1996; KANEKO et al., 1997).
As isoenzimas de importância diagnóstica são de origem óssea e do
sistema hepatobiliar, uma vez que as mesmas apresentam meia-vida maior do
que as demais. Portanto, aumentos na atividade sérica desta enzima, geralmente
são de origem hepatobiliar, exceto em pacientes em crescimento ou com
patologias ósseas (MEYER et al., 1995). Nos ossos, a FA está presente na
membrana dos osteoblastos e é liberada por um mecanismo ainda desconhecido
durante a formação dos ossos (KANEKO et al., 1997). Segundo Willard et al.
55
(1993), animais castrados apresentam uma maior atividade da FA que os animais
não castrados.
A fosfatase alcalina é uma enzima de indução e para que sua atividade
sérica esteja aumentada, é necessário que haja um aumento em sua produção
tecidual (AMARAL et al., 1996).
Em animais em desenvolvimento, a atividade desta isoenzima pode elevar
muito e chegar a níveis de duas a três vezes mais do que o normal. Portanto, a FA
não pode ser utilizada como exame complementar no diagnóstico de disfunções
hepáticas em animais que estejam em fase de desenvolvimento (CENTER et al.,
1993).
Segundo Coles (1986), na maioria dos animais a FA é eliminada pelo
fígado, sendo assim, qualquer situação que promova obstrução no fluxo biliar
(intra ou extra-hepático), causa marcada elevação de sua concentração sérica.
Seu aumento pode também justificar-se pelo uso de algumas drogas, como os
corticosteróides, que podem aumentá-la em até dez vezes seu valor de
normalidade, barbitúricos, cefalosporinas, fenobarbital, fenotiazínicos,
fenilbutazona, tetraciclinas, tiabendazol e halotano (WILLARD et al., 1993).
2.4.2.4 Uréia Sérica
A Uréia é um composto orgânico nitrogenado formado no fígado e
eliminado pelos rins, a fim de excretar o excesso de amônia do organismo
(MEDWAY et al., 1973). Ela constitui 45% do nitrogênio não protéico presente na
circulação sanguínea e serve como um marcador predictivo da insuficiência renal
sintomática e no estabelecimento de um diagnóstico diferencial (MOTTA, 2000).
A uréia é um soluto permeável, sendo transportada a partir do fígado e se
difunde de forma passiva a todos os compartimentos líquidos do organismo. Na
luz intestinal, ela é hidrolisada em amônia por bactérias produtoras de urease,
ganhando a circulação, sendo reabsorvidas e posteriormente reconvertidas em
uréia pelo fígado (OLIVEIRA, 2007).
56
Sua excreção se dá principalmente pelos rins, porém nem toda uréia filtrada
é eliminada na urina. Isto porque a reabsorção passiva da uréia ocorre nos túbulos
renais, logo sua concentração depende da velocidade de filtração glomerular e
das alterações na velocidade do fluxo urinário (OLIVEIRA, 2007).
Rotineiramente para mensurar os níveis ricos de uréia utiliza-se o soro,
tendo esta, pouca ou nenhuma toxicidade até que suas concentrações excedam
os limites de normalidade em caso de insuficiência renal (KANEKO et al., 1997).
Níveis abaixo da normalidade podem estar associados com quadros de
hepatopatia grave. Uma vez lesado, o fígado torna-se incapaz de transformar a
amônia em uréia, ficando essa em níveis elevados na circulação sanguínea
(MOTTA, 2000).
A concentração sérica da uréia fornece importante índice de avaliação
renal, quando associada à mensuração sérica de creatinina (COLES, 1986;
KANEKO et al., 1997).
2.4.2.5 Creatinina Sérica
A creatinina é uma substância formada no tecido muscular e distribuída de
maneira uniforme nos líquidos orgânicos (COLES, 1986). Segundo Motta (2000), a
creatinina também pode ser sintetizada nos rins, fígado e pâncreas, sendo
transportada para as células musculares e cérebro, onde é fosforilada em
creatinina-fosfato.
A creatinina é produzida, em taxa constante, como produto residual do
metabolismo muscular. Ela é filtrada pelo glomérulo, sem absorção ou secreção
tubular subseqüente, logo seus níveis séricos podem ser utilizados para avaliar a
taxa de filtração glomerular (AIELLO, 2001).
Para que a creatinina seja utilizada como marcador de disfunção renal, é
necessário que haja um entendimento em relação à sua excreção, uma vez que a
mesma pode ser eliminada por via urinária, sudorese e vômito. Sua filtração
ocorre através dos glomérulos permitindo concentrações urinárias e plasmáticas
iguais. O processo de secreção sepor transporte ativo, logo a secreção tubular
57
não sofre influência da velocidade do fluxo urinário (KANEKO et al., 1997). De
forma semelhante à uréia, uma redução na taxa de filtração glomerular culmina
com elevações séricas de creatinina (MEYER et al., 1995).
Para Coles (1986), a determinação da concentração sérica de creatinina é
um teste de função renal mais seguro que a Uréia, pois nas doenças renais a
creatinina se eleva mais lentamente que a uréia, e se reduz também mais
lentamente com o auxílio da hemodiálise.
2.4.2.6 Glicose Sérica
A glicose é um monossacarídeo proveniente do produto final dos
carboidratos (RANDALL et al., 2000), cuja fórmula molecular é C
6
H
12
O
6. .
Possui
um sabor adocicado, e pode ser encontrada na natureza em sua forma livre ou
combinada.
A glicose é o principal substrato para a geração de energia na maioria dos
tecidos, e é a única fonte energética utilizada pelas lulas cerebrais. Sua
degradação durante o processo de respiração celular dá origem à energia química
que é armazenada em moléculas de adenosina trifosfato (ATP), gás carbônico e
água. Para que ocorra o completo aproveitamento desta fonte energética é
necessário que haja uma interação entre os mediadores químicos, neste caso
hormônios, permitindo que a glicose seja absorvida e transformada em fonte de
energia. Após uma refeição rica em carboidratos, os níveis de glicose sérica se
elevam resultando em uma maior secreção de insulina e redução nos níveis
séricos de glucagon. Tendo em vista o caráter hipoglicemiante da insulina e
hiperglicemiante do glucagon, este controle é realizado para manter uma perfeita
homeostase glicêmica (RANDALL et al., 2000).
58
2.4.2.6.1 Hiperglicemia
Hiperglicemia é um termo aplicado quando os níveis séricos de glicose
excedem os valores de normalidade, embora os sinais clínicos de hiperglicemia
não se desenvolvam até que, o limiar tubular renal para reabsorção de glicose
seja ultrapassado. Em cães isto acontece quando a concentração sanguínea de
glicose supera 180mg/dl, ocorrendo glicosúria. Quando isto ocorre, complicações
importantes surgem com o curso evolutivo da doença, como alterações
macrovasculares, microvasculares e neurológicas (NELSON; COUTO, 1992).
Em algumas situações mecanismos fisiológicos podem desencadear
quadros de hiperglicemia, como por exemplo, o efeito Somogy. Neste caso
reduções nos níveis séricos glicêmicos menores que 65mg/dl, estimulam a
glicogenólise hepática e secreção de hormônios diabetogênicos elevando a
gliconeogênese e, a redução da utilização sanguínea periférica da glicose.
Conseqüentemente, um aumento da síntese de glicose pelo fígado e maiores
concentrações glicêmicas (ANDRADE, 2002).
2.4.2.6.2 Hipoglicemia
Por definição, hipoglicêmica é uma denominação utilizada quando níveis
séricos de glicose encontram-se abaixo de 60mg/dl em cães, resultante
geralmente, do uso excessivo de glicose por células normais (hiperinsulinismo) ou
neoplásicas, anormalidades na gliconeogênese e glicogenólise hepática,
deficiência dos hormônios diabetogênicos (hipocortisolismo), inadequada
absorção da glicose oriunda da dieta e outros substratos necessários à
gliconeogênese ou ainda, a combinação desses mecanismos. a hipoglicemia
iatrogênica, pode ser resultante da administração excessiva de insulina, um
hormônio hipoglicemiante (NELSON; COUTO, 1992).
Os sinais clínicos de hipoglicemia surgem conforme a velocidade de
declínio da glicose plasmática, e incluem fraqueza, letargia, deambulação da
cabeça, ataxia, convulsões e coma (ANDRADE, 2002).
59
Segundo Wallach (1999), para estabelecer o diagnóstico de hipoglicemia é
necessário verificar uma glicemia reduzida no momento dos sintomas
hipoglicêmicos e um alívio dos mesmos quando fornece glicose ao paciente.
Tabela 2: Parâmetros bioquímicos de normalidade na espécie canina.
UI/L = unidades internacionais por litro; mg/dl = miligramas por decilitro
*Referência: MEYER; COLES; RICH, 1995
PARÂMETROS VALOR DE NORMALIDADE
ALT
10 – 88 UI/L
AST
10 – 88 UI/L
FA
20 – 150UI/L
URÉIA
21,4 – 59,9 mg/dl
CREATININA
0,5 – 1,5 mg/dl
GLICOSE
70 – 110 mg/dl
60
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 COMITÊ DE ÉTICA PARA USO DE ANIMAIS
O presente trabalho de pesquisa experimental foi submetido à avaliação e
aprovado sob registro CEUA/UENF 038/2008 pelo Comitê de Ética e Uso de
Animais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
3.2 LOCAL
O trabalho foi desenvolvido nos setores de Clínica Médica, Cirurgia e de
Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (HV-UENF), no município de Campos dos
Goytacazes/RJ.
3.3 AMOSTRAGEM
O modelo experimental adotado foi o cão (Canis familiaris), por atender
fisiologicamente ao propósito do estudo.
Foram utilizados dez animais, adultos, machos e fêmeas, de raças diversas,
pesando 16,98 ± 8,84Kg (média ± desvio padrão), cedidos pelo Centro de
Controle de Zoonoses (CCZ) do município de Campos dos Goytacazes, RJ. O
envio dos cães foi condicionado àqueles destinados à eutanásia por razões de
agressividade.
Os animais foram divididos em dois grupos: o primeiro composto por quatro
animais (G1) e o segundo por seis animais (G2). O G1 foi submetido à técnica de
ECMO com o uso da terapia intensiva (TI) (ventilação mecânica e droga
61
vasopressora) e o G2 foi submetido à técnica sem qualquer auxílio adicional
(Tabela 1).
Tabela 3: Relação dos animais (cães) submetidos à ECMO AV com e sem o
auxílio da TI. HV/UENF, 2008.
GRUPO ANIMAL SEXO RAÇA PESO (Kg)
TI
G1
G1
G1
G1
G2
G2
G2
G2
G2
G2
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Macho
Fêmea
Macho
Macho
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Pit Bull
Pit Bull
Pit Bull
Poodle
Poodle
Pit Bull
S.R.D.
Pastor Alemão
S.R.D.
Poodle
16,5
29,5
20,0
6,2
7,0
27,5
8,5
23,0
21,8
13,0
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Os animais foram avaliados no Hospital Veterinário da UENF, sendo
submetidos a exame clínico e laboratorial, a fim de se detectar alterações
orgânicas importantes que pudessem interferir nos resultados do experimento.
Os animais foram everminados profilaticamente através da administração
oral de Fembendazol
1
, na dose de 50 mg.kg
-1
, VO, a cada 24h, durante três dias,
permanecendo alojados em canis apropriados, durante um período de sete dias,
recebendo alimentação adequada, água ad libitum, e banhos de sol, cumprindo as
condições básicas de bem-estar animal.
1
Panacur - Akzo Nobel Ltda. – Divisão Intervet.
62
3.4 PROTOCOLO ANESTÉSICO
O protocolo anestésico consistiu na associação de acepromazina
2
(0,05
mg.k.h
-1
) e sulfato de morfina
3
(0,1 mg.kg.h
-1
), pela via subcutânea, como
medicação pré-anestésica. A indução anestésica foi alcançada através da
administração intravenosa de cloridrato de cetamina
4
(5 mg.kg
-1
) e diazepam
5
(0,5
mg.kg
-1
), sendo a manutenção anestésica feita com a infusão contínua de
cloridrato de lidocaína
5
(100 µg.kg.min
-1
), fentanil
6
(10 µg.kg.h
-1
) e cloridrato de
cetamina (5 µg.kg.min
-1
) em bomba de infusão volumétrica
7
.
Todos os animais também receberam, por via intravenosa, cloreto de
succinilcolina
8
(0,1 mg.kg
-1
), um bloqueador neuromuscular capaz de promover a
paralisação dos músculos respiratórios e, conseqüentemente, a apnéia
imediatamente antes do inicio do desvio cardiopulmonar.
3.5 REALIZAÇÃO DA ECMO
Após serem anestesiados, os cães foram colocados na mesa operatória em
decúbito dorsal para o início da realização da técnica de inclusão dos pacientes
em ECMO. Para mantê-los adequadamente neste posicionamento, seus
apêndices torácicos e pélvicos foram contidos com correias atreladas à mesa
cirúrgica.
A técnica de desvio utilizada foi o arteriovenoso, com a remoção do sangue
venoso pela artéria femoral e a reinfusão do sangue oxigenado pela veia femoral.
Este sangue percorreu o seguinte trajeto: artéria femoral, tubo conector,
oxigenador de membranas e, após a remoção do CO
2
e o recebimento de O
2
, o
sangue foi transportado de volta para o organismo através de outro tubo conector,
2
Acepran® 1%, Univet S.A., São Paulo - SP.
3
Dimorf SP®, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., São Paulo - SP.
4
Dopalen®, SESPO – Divisão Vetbrands Saúde Animal, São Paulo - SP.
5
Diazepan® 0,5% - União Química, Embu-Guaçu – SP.
6
Lidovet® 2%, Bravet, Rio de Janeiro - RJ.
7
Fentanest®, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., São Paulo - SP.
8
Optima MS®, Fresenius Kabi, Barueri - SP.
9
Quelicin®, Abbott Labs. do Brasil Ltda., São Paulo - SP, frasco-ampola contendo 100 mg em 5 ml.
63
chegando à veia femoral. O experimento teve a duração de cento e oitenta
minutos ou três horas para cada animal, utilizando o oxigenador de membranas
“MASTERFLO infant” (Dideco®, Itália). (Figura 3).
Para fins de evitar as complicações pressóricas, foi utilizado um volume de
repleção do circuito e oxigenadores, chamado “prime” ou “priming”, na forma de
solução fisiológica 0,9%.
Os animais foram divididos em dois grupos. No primeiro deles, houve ajuda
da terapia intensiva. Foi utilizado infusão contínua de um fármaco inotrópico,
dopamina
10
, através de sua diluição em 500 ml de solução de NaCl a 0,9% e
administrado na dose de 5 µg.kg
-1
.min. para manter o fluxo sanguíneo e a
perfusão tecidual em níveis adequados, minimizando as chances de surgimento
de instabilidade hemodinâmica e, suporte ventilatório mínimo (figura 4) com 12
movimentos respiratórios por minuto, PEEP de 3cmH
2
O e FiO
2
de 21% a um fluxo
inspirado de oxigênio de três litros por minuto, concomitantemente à terapia de
suporte promovida pela ECMO, objetivando evitar atelectasias e, as funções dos
pulmões foram substituídas apenas parcialmente pelo órgão artificial. No segundo
grupo, estes recursos não foram utilizados. Em ambos os grupos, os animais
receberam cloreto de succinilcolina (0,1 mg.kg
-1
) para promover a paralisação dos
pulmões e causar apnéia. Portanto, no segundo grupo, a ECMO foi a única
responsável pela oxigenação do animal.
64
Figura 3: Oxigenador de Membrana utilizado para ECMO AV em o. Canulação
da artéria femoral (ponto superior) e veia femoral (ponto inferior). (Arquivo pessoal,
HV – UENF, 2008)
Figura 4: Ventilador Mecânico utilizado como suporte ventilatório nos cães
submetidos à ECMO AV, pertencentes ao G1. (Arquivo pessoal, HV UENF,
2008)
65
A anticoagulação sanguínea foi estabelecida através da administração de
heparina sódica
9
no prime do oxigenador composto de 2000 UI diluídas em 110
ml de soro Ringer com lactato e por via intravenosa, de 350 UI.kg
-1
a cada hora,
logo após a canulação da artéria e da veia femorais. No momento de início do
desvio cardiovascular arteriovenoso para a promoção da oxigenação
extracorpórea por membrana, todos os animais encontravam-se heparinizados e
em apnéia.
3.6 PARÂMETROS LABORATORIAIS AVALIADOS
Foram comparados entre os dois grupos, os seguintes parâmetros
laboratoriais:
3.6.1 – Hematologia
Hematimetria (Hmt)
Hemoglobinometria (Hgb)
Hematócrito (Ht)
Leucometria Global (LG)
Leucometria Específica (basófilos, eosinófilos, neutrófilos, monócitos
e linfócitos) (LGe)
Plaquetometria (Plt)
3.6.2 – Bioquímica Sérica
Uréia (Ur)
Creatinina (Crt)
Alanina Aminotransferase (ALT)
Aspartato Aminotransferase (AST)
Fosfatase Alcalina (FA)
Glicose (Glc)
9
Heparin®, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., São Paulo - SP.
66
3.7 COLETA DE MATERIAL PARA ANÁLISE HEMATOLÓGICA
As amostras de sangue venoso foram coletadas pela veia cefálica (ou
jugular em caso de impedimento da primeira), através de agulha hipodérmica (25 x
7mm), seringas descartáveis (10ml), e distribuídas em frascos com EDTA em
intervalos de 30 minutos, durante três horas, totalizando seis amostras por animal
durante a ECMO. Foi coletada ainda, uma amostra de sangue antes de iniciar a
ECMO, que serviu como controle individual para o próprio animal.
Os hemogramas foram realizados utilizando-se um contador hematológico
de células MS4 (Melet Schloesing Laboratories, France). A determinação da
leucometria específica foi realizada através de esfregaço sangüíneo
confeccionado com o sangue total e corado pelo panótico, no laboratório de
Patologia Clínica da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF).
3.8 COLETA DE MATERIAL PARA ANÁLISE BIOQUÍMICA
As amostras de sangue venoso foram coletadas pela veia cefálica (ou
jugular em caso de impedimento da primeira), através de agulha hipodérmica (25 x
7mm), seringas descartáveis (10ml), e distribuídas em frascos siliconizados sem
anticoagulante, em intervalos de 30 minutos, durante três horas, totalizando seis
amostras por animal durante a ECMO. Foi também coletada uma amostra de
sangue do animal antes da ECMO, para controle individual de cada animal.
As amostras sanguíneas foram centrifugadas (1500g por 5 minutos) em
tempo não superior a 1 hora após a coleta, e a alíquota do sobrenadante de no
mínimo de 500µL foi separada. Tais amostras foram acondicionadas em
microtubos tipo “Eppendorf” e mantidas sob refrigeração em freezer”, à
temperatura de –20ºC, para posterior realização de análises bioquímicas dos itens
ALT, AST, FA, Ur e Crt em equipamento espectrofotométrico semi-automatizado,
67
da marca Microlab 200 - Merck, Vertrieb Diagnóstica, Darmstadt, Alemanha,
utilizando-se kits comerciais da marca Labtest®.
As amostras de sangue destinadas à mensuração da glicose sérica foram
distribuídas em frascos siliconizados com fluoreto de sódio a 10%, utilizando o
mesmo material e procedimento de coleta para as demais amostras bioquímicas
analisadas, em intervalos de 30 minutos, durante três horas, totalizando seis
amostras por animal durante a ECMO. Foi também coletada uma amostra de
sangue do animal antes da ECMO, para controle individual de cada animal. O
sangue foi centrifugado por cinco minutos, a 1500g, com a finalidade de obter-se
plasma e, foi analisado em até uma hora após a coleta. Em seguida, foi realizado
o protocolo pelo fabricante do aparelho semi-automático “Microlab 200
®
da marca
Merk
®
, utilizando-se kits comerciais da marca Labtest®, no Laboratório de
Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro.
3.9 COLETA DE MATERIAL PARA URINÁLISE
As amostras de urina foram coletadas via cateter vesical, através de uma
sonda uretral descartável (número 6 ou 8 de acordo com o porte do animal), e
distribuídas em frasco apropriado estéril em intervalos de 90 minutos, durante três
horas, totalizando duas amostras (T4 e T7) por animal durante a ECMO. Foi
coletada ainda, uma amostra de urina antes de iniciar a ECMO, que serviu como
controle individual para o próprio animal.
Para as amostras urinárias foram mensurados: densidade específica e
análise química (pH, hemoglobina, glicose e proteína). As análises urinárias foram
também realizadas no laboratório de Patologia Clínica da Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), utilizando-se o kit Urequest (Labtest
Diagnóstica Lagoa Santa Brasil) para verificação da densidade específica e
análises químicas.
68
3.10 TEMPO DE COLETA DAS AMOSTRAS SANGUÍNEAS
O tempo de coleta das amostras sanguíneas foi predeterminado da
seguinte forma:
Tempo 0 (T0) – antes de iniciar a ECMO (Pré-ECMO ou controle)
Tempo 1 (T1) – cinco minutos após o início da ECMO
Tempo 2 (T2) – trinta minutos após o início da ECMO
Tempo 3 (T3) – sessenta minutos após o início da ECMO
Tempo 4 (T4) – noventa minutos após o início da ECMO
Tempo 5 (T5) – cento e vinte minutos após o início da ECMO
Tempo 6 (T6) – cento e cinqüenta minutos após o início da ECMO
Tempo 7 (T7) – cento e oitenta minutos após o início da ECMO
3.11 EUTANÁSIA
Os animais foram submetidos à eutanásia através da infusão intravenosa
de pentobarbital sódico
10
(na dose de 120mg para os primeiros 4,5kg e 60mg para
os demais), respeitando-se os princípios éticos do uso de animais para
experimentação.
3.12 DELINEAMENTO ESTATÍSTICO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Os resultados foram anotados em fichas individuais (sete para cada
animal), sendo utilizados os testes estatísticos t para dados não pareados com
correção de Mann-Whitney, além da Análise de Variância (ANOVA) e, no caso
deste último demonstrar variação significativa, aplicou-se o teste de Tukey. Em
todos os testes considerou-se P<0,05. Utilizou-se ainda estatística descritiva.
Para as análises, foi utilizado o programa GraphPad Prism versão 4.03 for
Windows (GraphPad Software).
10
Thiopentax®, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., São Paulo – SP.
69
Os dados coletados durante o experimento foram analisados em conjunto
de forma a buscar um entendimento a respeito da viabilidade do uso da ECMO
com e sem o auxílio da terapia intensiva, do ponto de vista laboratorial, sem
auxílio circulatório em cães.
70
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 TEMPO DE SOBREVIDA DOS ANIMAIS SUBMETIDOS À ECMO AV COM E
SEM O AUXÍLIO DA TERAPIA INTENSIVA (TI)
A porcentagem de óbitos total dos animais submetidos à técnica foi de 50%.
O uso da TI como suporte auxiliar para os cães submetidos à ECMO o foi
estatisticamente significativo (F = 0,3963, onde P>0,05) (Tabela 2). No grupo que
foi utilizado a TI (G1), 75% dos animais sobreviveram, enquanto que no grupo sem
auxílio da TI (G2), 33% dos animais sobreviveram.
Tabela 4: Teste t (P 0,05) das médias dos tempos de sobrevida dos animais
pertencentes ao G1 e G2 submetidos à ECMO AV durante três horas de
experimento. HV-UENF, 2008.
GRUPOS
TEMPO DE SOBREVIDA (min.)
G1
157,5 ± 22,5
*
G2
130,0 ± 20,0
*
Os valores referentes ao tempo de sobrevida foram expressos em média ± desvio padrão (*)
A figura 5 apresenta o tempo de sobrevida dos cães submetidos à ECMO
AV, com e sem auxílio da TI, durante um período de três horas. Analisando o
gráfico foi observado que o G1 apresentou os melhores resultados, possivelmente
devido à utilização da TI, que se mostrou de eficiente para aumentar a sobrevida
dos animais. Esses resultados estão de acordo com os observados por Flamant et
al. (2007), que em estudos com pacientes humanos neonatos beneficiados com o
uso da ECMO, relataram taxas de sobrevida entre 46 e 82% nos centros
especializados.
71
0%
20%
40%
60%
80%
100%
G1 G2
Sobreviveram
o Sobreviveram
Figura 5: Percentual de sobrevida dos cães pertencentes aos grupos 1 e 2,
submetidos à ECMO AV. HV-UENF, 2008.
4.2 ANÁLISE DOS EFEITOS DA ECMO SOBRE OS PARÂMETROS
HEMATOLÓGICOS
4.2.1 Eritrograma: hematimetria, hemoglobinometria e hematócrito
Os dados analisados através da ANOVA (P 0,05) revelaram resultados
estatisticamente não significativos nos dois grupos em todos os tempos estudados
para as análises de hematimetria, hemoglobimetria e hematócrito (Tabela 3).
Porém, cabe ser destacada a seguinte situação:
Nos gráficos que representam as análises de eritrograma (Figuras 6 e 7),
pode ser observado especificamente em T1 um comportamento que difere dos
demais tempos ao longo das três horas de ECMO para as três variáveis
estudadas. Em uma análise inicial, acredita-se que por ser imediatamente após o
início da ECMO (T1 = cinco minutos), possa ter ocorrido uma hemodiluíção
transitória quando o sangue entrou em contato com a solução presente no
“priming”. Moscardini et al. (2002), em estudos anteriores com ovelhas, relataram
fato semelhante, onde verificaram a interferência da solução do “priming” nos
72
níveis ricos de hemoglobina e hematócrito. Souza e Elias (2006a) relataram
ainda, que a solução do “priming” pode induzir desde hemodiluíção até quadros de
hemólise, acidose metabólica severa, redução de plaquetas e dos leucócitos,
alterações de coagulação, congestão pulmonar, insuficiência renal e disfunção
cerebral (quando utilizado sangue autólogo).
73
Tabela 5: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento hematológico dos cães pertencentes ao G1 (n=4), 1
e G2 (n=6) submetidos à ECMO AV, durante um período de três horas. HV-UENF, 2008. 2
3
4
5
T0
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
VARIÁVEIS
G1
G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2
Hematimetria (x10
6
µl)
4,77 4,72 4,26 4,21 4,49 4,50 4,92 4,61 4,95 4,19 4,96 4,00 5,04 4,07 4,97 4,68
Hemoglobina (g/dl)
10,07 9,33 8,62 8,55 9,52 9,05 10,25 9,60 10,17 8,54 10,93 8,18 11,03 8,30 10,73 9,65
Hematócrito (%)
29,67 28,55 25,90 26,62 27,52 28,13 30,20 29,33 30,82 26,68 31,60 25,50 31,93 25,93 31,50 29,90
µl = microlitros; g/dl = grama por decilitros; % valores percentuais 6
Observação: não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 7
8
9
10
11
12
13
14
15
74
1
Figura 6: Gráfico representativo do comportamento das variáveis hematológicas: 2
hematimetria (10
6
/µl), hemoglobimetria (g/dl) e hematócrito (%) dos animais 3
pertencentes ao G1, durante um período de três horas de ECMO AV. HV UENF, 4
2008. 5
6
7
8
Figura 7: Gráfico representativo do comportamento das variáveis hematológicas: 9
hematimetria (x10
6
/µl), hemoglobimetria (g/dl) e hematócrito (%) dos animais 10
pertencentes ao G2, durante um período de três horas de ECMO. HV UENF, 11
2008. 12
13
14
75
A figura 6 revela um crescimento na linha de tendência traçada para os 1
parâmetros analisados do G1, ao longo das três horas de experimento, que pode 2
ser justificada por uma possível perda de fluido para o interstício, decorrente de 3
alterações hemodinâmicas desencadeadas pela ECMO (YAMAMOTO et al., 4
2006). O gráfico que representa o G2 (figura 7) revela uma oscilação na linha de 5
tendência, que culmina com decréscimo da linha traçada. Possivelmente em 6
decorrência de uma maior administração de fluidos endovenoso na tentativa de 7
manter a pressão arterial em níveis médios aceitáveis, uma vez que neste grupo 8
não foi utilizado qualquer recurso de TI. 9
Os resultados médios obtidos para o eritrograma mantiveram-se estáveis 10
durante as três horas de ECMO. Especificamente para a variável hematócrito no 11
G1, o valor pré-ECMO foi de 29, 66%, mantendo-se em 30,82% nos que atingiram 12
uma hora e meia de experimento (T4) e ficando próximo deste valor nos que 13
atingiram três horas (T4), 31,5%. No G2, o hematócrito médio pré-ECMO era de 14
28,55% e manteve-se estável durante todo o experimento (26,68 e 29,9%) com 15
uma hora e meia e três horas de ECMO, respectivamente. A análise comparativa 16
entre os dois grupos não revelou diferença estatística significativa (Figura 8). 17
18
19
15
17
19
21
23
25
27
29
31
33
1 2
Grupos
Hematócrito (%)
T0
T4
T7
20
Figura 8: Valores médios do hematócrito em porcentagem de G1 e G2 nos 21
momentos T0, T4 e T7. Teste t para dados não pareados com correção de Mann-22
Whitney (P 0,05). HV-UENF, 2008. 23
24
76
Segundo Rebar et al. (2003), o hemograma oferece uma visão geral sobre 1
o estado do paciente e de seu sistema hematopoiético em um determinado 2
momento, sendo desta forma recomendado para a avaliação laboratorial de 3
qualquer animal. Por este motivo, optou-se por coletas seriadas de amostras 4
sanguíneas dos cães submetidos à ECMO. 5
Gay et al. (2005) afirmaram em estudos anteriores, que parâmetros como 6
hemoglobina, hematócrito e plaquetas precisam ser freqüentemente monitorados 7
em pacientes submetidos à ECMO, em decorrência de sérios riscos de 8
desenvolverem quadros hemolíticos, trombocitopênicos e CID. 9
Com o objetivo de obter uma análise complementar, foram coletadas 10
amostras de urina dos cães pertencentes aos grupos 1 e 2 submetidos à ECMO 11
em três momentos distintos: T0, T4 e T7. Apenas o animal 2 pertencente ao G1, 12
demonstrou indícios de um possível quadro hemolítico, apresentando 13
hemoglobinúria (++/4 e +++/4) em T4 e T7, respectivamente. A hemoglobina é 14
uma proteína que se localiza no interior dos eritrócitos, e que é lançada na 15
circulação sanguínea em pequenas quantidades de forma fisiológica 16
(envelhecimento dos eritrócitos) ou mediante quadros hemolíticos. Uma vez 17
presente na circulação sanguínea, esta sofre filtração renal sendo detectadas 18
quantidades anormais na urina (TURNWALD, 1999). O quadro hemolítico sugerido 19
classifica-se possivelmente em grau leve, não sendo observada alteração nos 20
níveis séricos de hemácias e hemoglobinas. 21
De modo geral, os resultados obtidos para o eritrograma tanto em G1 22
quanto em G2 não indicaram a ocorrência de um quadro hemolítico, o que 23
contrasta com os resultados dos autores referenciados (GAY et al. 2005; 24
MULHOLLAND, 2007). Talvez esse fato atribua-se a dois fatores: o curto tempo 25
de realização da ECMO e a não utilização de assistência circulatória (bomba de 26
rolete). Gandolfi e Braile (2003) relataram a ocorrência de hemólise, coagulopatia 27
e SIRS em experimentos anteriores decorrente de assistência extracorpórea 28
prolongada, limitando a aplicação da técnica. Em outro estudo, Ding et al. (2007) 29
verificaram a presença de hemólise induzida por uma bomba do tipo rolete, porém 30
não de forma imediata. 31
77
Tabela 6. Parâmetros urinários (análise química) dos animais submetidos à ECMO durante um período de três horas. 1
HV-UENF, 2008. 2
3
4
pH = potencial hidrogeniônico; hgb = hemoglobina; T0 = tempo zero (controle); T3 = uma hora e meia de ECMO; T7 = três horas de ECMO; - = nenhuma substância mensurada; 5
+ = pequena quantidade de substância mensurada; ; ++ = moderada quantidade de substância mensurada; +++ e ++++ = grande quantidade de substância mensurada; * = paciente 6
veio à óbito 7
Parâmetro Densidade
pH Hgb Glicose Proteína
Animal T0 T3 T7 T0 T3 T7 T0 T3 T7 T0 T3 T7 T0 T3 T7
01 >1030
>1030 * 6,5 6,5 * - - * - - * - - *
02 >1030
>1030 >1030 5,0 5,5 5,5 - ++/4 +++/4 - +++/4 +++/4 - ++/4 ++/4
03 >1030
>1030 >1030 5,0 5,0 5,0 - - - - - - - - -
04 >1025
>1025 >1025 5,0 5,5 5,5 - - - - - - - - -
05 >1030
>1030 * 6,5 6,5 * - - * - - * - - *
06 >1025
>1025 >1025 5,5 5,5 5,5 - - - - - - - - -
07 >1025
>1025 * 5,0 5,0 * - - * - - * - - *
08 >1030
>1030 * 5,0 5,5 * - - * - - * - - *
09 >1030
>1030 * 6,5 5,5 * - - * - - * - - *
10 >1030
>1030 >1030 5,0 5,0 5,5 - - - - - - - - -
78
4.2.2 – Leucograma 1
2
Analisando os valores médios obtidos para leucometria global do G1, pode-3
se perceber que não ocorreu diferença estatística significativa ao longo das três 4
horas de ECMO (ANOVA P 0,05) (Tabela 4). Entretanto, na figura 9 observa-se 5
através de uma análise na linha de tendência um decréscimo dos valores médios 6
de leucócitos ao longo do tempo. Uma possível migração leucocitária tecidual 7
pode justificar este fato como conseqüência de uma resposta inflamatória 8
disparada pelo contato do sangue com superfícies não biológicas (YAMAMOTO et 9
al., 2006). Moscardini et al. (2002) em estudos anteriores com ovelhas, relataram 10
leucocitopenia significativa com seis e doze horas de ECMO, o que leva a pensar 11
na possibilidade de um curto tempo de realização da técnica associado à 12
utilização da terapia intensiva, ter interferido nos resultados. Apesar de constatar a 13
citopenia, Moscardini et al. (2002) afirmaram não existir interferência na função 14
fagocítica dos leucócitos. 15
16
17
Tabela 7: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da 18
leucometria global (/µl) dos cães pertencentes ao G1 (n=4), submetidos à ECMO 19
AV, durante um período de três horas. HV-UENF, 2008. 20
21
22
VARIÁVEIS (/µl)
T0/G1 T1/G1 T2/G1 T3/G1 T4/G1 T5/G1 T6/G1 T7/G1
Leucometria
Global
12.433 5.625 8.325 4.625 5.525 6.066 5.600 5.000
µl = microlitros; 23
Observação: não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 24
79
1
Figura 9: Gráfico representativo do comportamento da leucometria global (/µl), 2
dos animais pertencentes ao G1, durante um período de três horas de ECMO AV. 3
HV – UENF, 2008. 4
5
6
O G2 por sua vez, apresentou resultados estatisticamente significativos 7
através da ANOVA (P 0,05) quando comparadas as médias de leucometria 8
global ao longo dos tempos (tabela 5). 9
A leucopenia pode ser causada por uma queda na produção, um aumento 10
na destruição periférica ou um excesso no pool marginal, sendo a marginação 11
leucocitária um dos mecanismos responsáveis por este incremento. Segundo 12
Butler et al. (2003), o sangue em contato com superfícies não endoteliais do 13
circuito extracorpóreo dispara uma resposta humoral e celular com liberação de 14
mediadores inflamatórios, que dentre as inúmeras alterações hemodinâmicas 15
promovem o aumento da permeabilidade vascular com perda de fluido para o 16
interstício e aderência dos leucócitos ao endotélio, com conseqüente migração 17
leucocitária para os tecidos. Segundo Yamamoto et al. (2006), esta resposta 18
inicia-se dentro de cinco a quinze minutos após o início da ECMO e é nitidamente 19
observada nos resultados apresentados nas tabelas 5 e 6, concordando com a 20
afirmação feita pelos autores. Talvez esta seja a hipótese mais provável para os 21
resultados encontrados no comportamento da leucometria global tanto para G1 22
quanto para G2, embora o G1 não tenha revelado resultados estatisticamente 23
significativos. 24
80
Tabela 8: ANOVA (P 0,05) e teste Tukey (P 0,05) das médias referentes ao 1
comportamento da leucometria global (/µl) dos cães pertencentes ao G2 (n=6), 2
submetidos à ECMO AV, durante um período de três horas. HV-UENF, 2008. 3
4
5
VARIÁVEIS
T0/G2 T1/G2 T2/G2 T3/G2 T4/G2 T5/G2 T6/G2 T7/G2
Leucometria
Global (/µl)
10.966
a
4.316
b
3.583
b
2.766
b
2.760
b
3.900
b
1.833
b
2.000
b
µl = microlitros; médias seguidas de diferentes letras mostram diferenças (P 0,05) na mensuração da leucometria 6
global. 7
8
9
10
11
Figura 10: Gráfico representativo do comportamento da leucometria global (/µl), 12
dos animais pertencentes ao G2, durante um período de três horas de ECMO. HV 13
– UENF, 2008. 14
15
Outra hipótese proposta com base nas observações feitas por Yamamoto et 16
al. (2006) é que não o contato do sangue com o circuito extracorpóreo, mas 17
também a ocorrência de hipóxia, pode acentuar a liberação de citocinas pró-18
inflamatórias como o TNFα, IL-6 e IL-8, incrementando a migração leucocitária. 19
Este fato talvez explique os resultados encontrados para o comportamento da 20
leucometria global no G2 em relação ao G1, uma vez que no G2 não foi utilizado 21
81
qualquer auxílio de terapia intensiva, sendo a hipóxia provavelmente mais 1
acentuada neste grupo. A leucocitopenia nesses casos ocorre principalmente pela 2
marginação leucocitária pulmonar e não pela interação dos leucócitos com 3
receptores de superfície e/ou endotélio. Essa hipótese não pode ser comprovada 4
em virtude da não realização do exame histopatológico do tecido pulmonar. 5
Kurundkar et al. (2009) em estudos com leitões submetidos à ECMO, 6
verificaram que, com uma hora de procedimento os níveis plasmáticos de TNFα 7
aumentam consideravelmente, permitindo não uma migração leucocitária como 8
a ocorrência de apoptose generalizada dos enterócitos, permitindo uma quebra na 9
barreira de proteção intestinal, translocação bacteriana e a liberação de 10
endotoxinas na circulação. As endotoxinas o lipopolissacarídeos derivados da 11
parede de bactérias gram-negativas em degradação, que promovem diversos 12
efeitos biológicos no organismo, dentre eles, a estimulação de citocinas pró-13
inflamatórias afetando a estabilidade hemodinâmica (BUTLER et al., 1993). Sendo 14
assim, uma endotoxemia pode potencializar uma redução no número de 15
leucócitos, e ainda favorecer a ocorrência de SIRS em pacientes submetidos à 16
ECMO (KURUNDKAR et al., 2009). 17
Martinez-Péllu et al. (1997) após verificaram uma freqüente ocorrência de 18
endotoxemia relacionada à técnica, recomendam a descontaminação seletiva do 19
trato gastrintestinal através da administração oral de antibióticos previamente à 20
circulação extracorpórea. Esse fato associado a uma leucocitopenia prevista 21
respalda a recomendação feita pelos autores. 22
A inibição da resposta inflamatória através de medicações específicas em 23
pacientes submetidos à circulação extracorpórea pode trazer benefícios 24
importantes, atenuando os efeitos sistêmicos observados nesses casos. 25
Objetivando reduzir tais alterações, Brasil et al. (1999) recomendam o uso de 26
corticóides (metilpredinisolona) como droga eficiente para este fim. 27
Os resultados médios obtidos para leucometria global com e sem a 28
utilização de TI (G1 e G2) não revelaram diferença significativa pelo teste de 29
Mann-Whitney (P 0,05). O G1 apresentou 12.433,33 leucócitos/ µl no pré-ECMO 30
(T0), 5.525 leucócitos/ µl com uma hora e meia (T4) e 5.000 leucócitos/ µl com 31
82
três horas de experimento. O G2 apresentou 10.966,67 leucócitos/ µl no pré-1
ECMO (T0), 2.760 leucócitos/ µl com uma hora e meia (T4) e 2.000 leucócitos/ µl 2
com três horas. Apesar destes resultados, a figura 11 demonstra um 3
comportamento descendente na leucometria global durante as três horas de 4
experimento em ambos os grupos, sendo mais evidente em G2. É provável que 5
esta situação esteja relacionada com o fato de que no G2 não houve o auxílio da 6
TI, e com isto a ocorrência de hipóxia tenha sido mais acentuada. A hipóxia 7
associada a outros fatores desencadeantes (anteriormente discutidos) colaboram 8
para o incremento na queda da leucometria global, apesar dos resultados 9
afirmarem que a TI não interferiu significativamente na análise desta variável. 10
11
12
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
1 2
Grupos
Leucócitos (/microlitros)
T0
T4
T7
13
Figura 11: Valores médios para leucometria global (/µl) de G1 e G2 nos 14
momentos T0, T4 e T7. Teste t para dados não pareados com correção de Mann-15
Whitney (P 0,05). HV-UENF, 2008. 16
17
Ao se organizar os dados tendo como base T1 (5 min. ECMO), é possível 18
traçar através do índice de correlação (P 0,05), algumas considerações a 19
respeito do comportamento da variável leucometria (global e específica) entre os 20
grupos 1 e 2 (tabela 6). A escolha desta análise está vinculada ao fato de ser este 21
momento, o mais representativo para demonstrar a leucopenia aqui ocorrida. 22
83
É particularmente interessante observar que os maiores decréscimos 1
ocorreram com neutrófilos e eosinófilos, seguidos por monócitos e linfócitos. Para 2
os basófilos não ocorreu índice de correlação significativo. Estes resultados estão 3
de acordo com as observações feitas por Butler et al. (1993) e Yamamoto et al. 4
(2006), verificando que a reação disparada pelo organismo em resposta à ECMO 5
inclui além de outros eventos, a ativação e o seqüestro de neutrófilos, sendo estas 6
células as primeiras a participarem da migração leucocitária. 7
8
9
Tabela 9: Índice de correlação entre leucometria global (/µl) e leucometria 10
específica (/µl) em G1 e G2 com cinco minutos de ECMO AV (T1). HV-UENF, 11
2008. 12
13
MÉDIAS T1
PARÂMETROS (/µl)
G1 G2
r (P 0,05)
Leucometria Global
5.625,00 4.316,66 ___ ___
Neutrófilos
4.512,00 3.233,50 0,9945 ***
Basófilos
76,75 58,66 0,6023 ___
Eosinófilos
86,00 75,66 0,9906 ***
Linfócitos
941,00 693,66 0,9116 *
Monócitos
196,00 91,00 0,9445 **
/µl = por microlitros; r = grau de correlação; * = menor grau de correlação; ** médio grau de correlação; 14
*** elevado grau de correlação 15
16
17
De um modo geral, a ECMO parece interferir de forma importante para os 18
parâmetros de leucograma, desencadeando imediatamente após o início do 19
procedimento uma situação de leucopenia que perdura ao longo das três horas de 20
ensaio. Apesar do curto tempo de realização da técnica, este fato torna-se 21
preocupante, uma vez que os pacientes submetidos ao auxílio extracorpóreo têm 22
como característica comum o acometimento de seus diferentes sistemas 23
84
orgânicos, tornando-se alvo de complicações iminentes. Segundo Souza e Elias 1
(2006a), torna-se difícil atribuir uma determinada complicação a um procedimento 2
específico, uma vez que há forte inter-relação entre os procedimentos adotados. 3
4
4.2.3 Plaquetograma 5
6
Com base nos valores médios obtidos para plaquetometria em G1 e G2, 7
percebe-se que não houve diferença estatística significativa (ANOVA P 0,05) 8
durante as três horas de ECMO (tabela 7). No entanto, as figuras 12 e 13 mostram 9
um comportamento inverso entre elas na linha de tendência traçada, sendo 10
crescente para G1 e decrescente para G2. Apesar dessa tendência em G1, 11
observa-se em T1 (5 min. ECMO) uma queda de aproximadamente 60% no 12
número de plaquetas seguido por uma recuperação crescente. Em G2 também em 13
T1, verifica-se uma queda de aproximadamente 20%, seguida por um 14
comportamento oscilatório que culminou (T7) com uma perda de 37% quando 15
comparado à T0. Resultados semelhantes foram obtidos por Robinson et al. 16
(1993) ao trabalharem com pacientes humanos neonatos, alcançando com 15 17
minutos de ECMO uma redução de 26% no número de plaquetas e de mais 16% 18
após uma hora, fazendo um total de 42% nos primeiros sessenta minutos de 19
procedimento. Moscardini et al. (2002) também verificaram uma redução na 20
plaquetometria, porém com seis e doze horas de ECMO. 21
22
23
24
25
26
27
28
29
85
Tabela 10: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da 1
plaquetometria dos cães pertencentes ao G1 (n=4) e G2 (n=6), submetidos à 2
ECMO AV, durante um período de três horas. HV-UENF, 2008. 3
4
VARIÁVEIS (/µl)
T0/G1 T1/G1 T2/G1 T3/G1 T4/G1 T5/G1 T6/G1 T7/G1
Plaquetas
363.000 225.250 284.250 282.500 295.750 330.333 373.000 305.666
VARIÁVEIS (/µl)
T0/G2 T1/G2 T2/G2 T3/G2 T4/G2 T5/G2 T6/G2 T7/G2
Plaquetas
354.500 285.000 274.666 272.833 281.200 291.500
288.333 220.500
µl = microlitros. 5
Observações: não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 6
7
8
9
10
Figura 12: Gráfico representativo do comportamento da plaquetometria (/µl), dos 11
animais pertencentes ao G1, durante um período de três horas de ECMO AV. HV 12
– UENF, 2008. 13
14
15
86
1
Figura 13: Gráfico representativo do comportamento da plaquetometria (/µl), dos 2
animais pertencentes ao G2, durante um período de três horas de ECMO. HV 3
UENF, 2008. 4
5
6
Em ambos os grupos o protocolo de anticoagulação mostrou-se eficiente 7
estando o parâmetro de plaquetometria dentro dos níveis de normalidade durante 8
todo o procedimento. Em estudos anteriores Chatuverdi et al. (2004) e Koster et 9
al. (2007) observaram em um grande número de pacientes humanos submetidos 10
à ECMO, quadros hemorrágicos relacionados ao uso de heparina sódica. Embora 11
este fato tenha ocorrido em um de nossos pacientes testados, tratou-se de um 12
caso isolado, não sendo esta alteração observada nos demais cães ao longo das 13
três horas de experimento. 14
Segundo Koop et al. (2006), inúmeras complicações inerentes ao auxílio 15
extracorpóreo têm sido relatadas, como a formação de coágulos sanguíneos na 16
bomba, no oxigenador de membranas e nas cânulas, sendo aspectos limitantes 17
para a técnica. Durante as três horas de ECMO, apenas um animal (cão 5 18
pertencente ao G2), apresentou alterações hemorrágicas, sendo verificada a 19
formação de coágulo sanguíneo no interior do oxigenador de membranas e nas 20
cânulas, não havendo tempo hábil para a reversão do problema, culminando com 21
o óbito do animal. Para tanto, foi adotado o mesmo protocolo de anticoagulação 22
sanguínea em todos os animais (2000 UI de heparina sódica no priming” do 23
oxigenador diluídas em 110 ml de soro Ringer com lactato e a administração 24
87
intravenosa de 350 UI.kg-1 a cada hora, logo após a canulação da artéria e da 1
veia femorais). Em outro estudo, Gomes et al. (2003) trabalharam com doses 2
menores de heparina sódica (400 UI.Kg-1 ) durante o mesmo período de ECMO, e 3
obtiveram bons resultados. 4
Outro aspecto relevante é a via de administração do anticoagulante 5
utilizado. Neste estudo, o sangue desviado para o circuito da ECMO foi arterial e a 6
heparina dica foi administrada através da veia cefálica. Em estudo semelhante, 7
Zimmermann et al. (2006), optaram pela aplicação do anticoagulante pela linha 8
arterial, imediatamente antes do desvio cardiopulmonar realizado, tendo bons 9
resultados. Isto leva a questionar se de alguma forma a via de administração da 10
heparina sódica pode interferir no resultado final da terapia anticoagulante. 11
Os resultados médios obtidos para plaquetometria com e sem a utilização 12
de TI (G1 e G2) não revelaram diferença significativa pelo teste de Mann-Whitney 13
(P 0,05). O G1 apresentou 363.000 plaquetas/µl no pré-ECMO (T0), 295.750 14
plaquetas/µl com uma hora e meia (T4) e 305.666,7 plaquetas/µl com três horas 15
de experimento. O G2 apresentou 354.500 plaquetas/µl no pré-ECMO (T0), 16
281.200 plaquetas/µl com uma hora e meia (T4) e 220.333,3 plaquetas/µl com três 17
horas. Entretanto, pode-se perceber que a figura 14 revela um comportamento 18
descendente na plaquetometria do G2 durante as três horas de experimento. É 19
possível que de alguma forma a TI tenha interferido nesses resultados, uma vez 20
que a hipóxia se apresenta de forma mais intensa neste grupo, desencadeando 21
uma resposta inflamatória de maiores proporções e conseqüentemente alterações 22
hemodinâmicas mais significativas, como as vasculites, justificando uma queda 23
mais evidente no número de plaquetas no G2, apesar dos resultados entre os dois 24
grupo não terem sido significativos. 25
26
27
88
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
400000
1 2
Grupos
Plaquetas (/microlitro)
T0
T4
T7
1
Figura 14: Valores médios para plaquetometria (/µl) de G1 e G2 nos momentos 2
T0, T4 e T7. Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney (P 3
0,05). HV-UENF, 2008. 4
5
6
4.3 ANÁLISE DOS EFEITOS DA ECMO SOBRE OS PARÂMETROS 7
BIOQUÍMICOS 8
9
4.3.1 Marcadores Hepáticos : ALT, AST e FA 10
11
Analisando os dados entre ambos os grupos para os marcadores ALT, AST 12
e FA através da ANOVA (P 0,05) em todos os tempos propostos, verifica-se que 13
não houve diferença significativa entre os resultados obtidos (tabela 8). Entretanto, 14
observando a figura 15 percebe-se um crescimento na linha de tendência 15
elaborada para os parâmetros de AST em G1 ao longo das três horas de ECMO. 16
Segundo Meyer et al. (1995), as maiores concentrações desta enzima encontram-17
se principalmente nas células musculares, hepatócitos, coração e rins, e por este 18
motivo elevadas concentrações séricas de AST podem refletir situações de 19
necrose muscular e/ou necrose hepática (FERREIRA NETO, 1991). Neste estudo 20
especificamente, suspeita-se da possibilidade de lesão muscular, uma vez que os 21
resultados referentes às concentrações séricas de ALT e FA não demonstraram 22
alterações relevantes ao longo do ensaio, sendo a ALT um marcador sensível 23
para análise da função hepática (KANEKO et al., 1997). 24
89
Tabela 11: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento bioquímico dos marcadores hepáticos (ALT, 1
AST, FA) dos es pertencentes ao G1 (n=4) e G2 (n=6), submetidos à ECMO AV, durante um período de três horas. 2
HV-UENF, 2008. 3
4
5
T0
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
VARIÁVEIS (UI/L)
G1
G2 G1
G2 G1 G2 G1 G2 G1
G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2
ALT
30,00 38,33 25,75
31,66 25,25
33,17 25,75
31,0 23,0
29,0 25,66 13,66 26,0
13,66 24,66 18,0
AST
26,75
23,83 20,50 21,17 22,25
21,83 30,25
22,50 35,50
21,60 29,0
18,0 29,33 25,33 33,33 21,50
FA
13,00 27,83 16,0 22,17 15,0
17,50 12,25
17,17 9,25
18,0 17,0
15,0 22,66 15,66 20,66 12,0
UI/L = Unidades Internacionais por litro; 6
Observações: não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 7
8
9
10
11
12
90
1
Figura 15: Gráfico representativo do comportamento da AST sérica (UI/L), dos 2
animais pertencentes ao G1, durante um período de três horas de ECMO AV. HV 3
– UENF, 2008. 4
5
6
Ferreira (2008) verificou em estudo semelhante a ocorrência de lesão 7
muscular através da análise dos valores referentes às enzimas LDH e CK, em um 8
grupo de cães submetidos à ECMO durante o mesmo período de tempo. Com 9
base também nas observações feitas por Souza e Elias (2006a), acredita-se que o 10
desvio do suprimento sanguíneo durante a circulação extracorpórea para órgãos 11
mais nobres, como cérebro e coração, possa justificar estes resultados, sendo a 12
nutrição destinada à musculatura esquelética insuficiente para manter suas 13
necessidades, produzindo um quadro de hipóxia tecidual e favorecendo a 14
ocorrência de lesões musculares. 15
Os resultados encontrados em ambos os grupos para a enzima ALT talvez 16
possam ser justificados com base nas afirmações feitas por Rodrigues et al. 17
(2005), onde afirmam que o pico de liberação deste marcador ocorre em torno de 18
três a quatro dias após o surgimento da lesão hepática, retornando aos valores 19
basais cerca de duas semanas depois. É possível que mesmo tendo ocorrido 20
algum tipo de lesão hepatocelular, os resultados tenham sido obscurecidos pelo 21
curto tempo de realização da ECMO, sendo necessário períodos superiores a 22
setenta e duas horas para afirmar qualquer consideração a esse respeito. 23
91
Os resultados médios obtidos para ALT, AST e FA quando comparados 1
entre os grupos 1 e 2, não revelaram diferença significativa pelo teste de Mann-2
Whitney (P 0,05) (tabela 9). Embora o uso da terapia intensiva não tenha 3
influenciado os resultados referentes aos marcadores hepáticos, observa-se na 4
figura 16 um comportamento de elevação nos valores de AST para G1. Isto leva a 5
questionar se o uso de drogas vasopressoras (dopamina) não acentuou o desvio 6
do fluxo sanguíneo para órgãos mais nobres, conforme discutido anteriormente, 7
desencadeando uma maior hipóxia tecidual e predispondo a ocorrência de lesões 8
musculares. 9
10
Tabela 12: Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney (P 11
0,05) dos valores médios para ALT (UI/L), AST (UI/L) e FA (UI/L) sérica de G1 e 12
G2 nos momentos T0, T4 e T7.. HV-UENF, 2008. 13
14
MÉDIAS T0
MÉDIAS T4 MÉDIAS T7 PARÂMETROS (UI/L)
G1
G2 G1 G2 G1 G2
ALT
30,0
38,83 23,0
29,0 24,66 18,0
AST
26,75
23,83 35,50 21,60 33,33 21,33
FA
13,0
27,83 9,25
18,0 20,66 12,0
mg/dl= miligramas por decilitro 15
Observações: não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 16
17
92
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1 2
Grupos
AST (UI/L)
T0
T4
T7
1
Figura 16: Valores médios para AST (UI/L), de G1 e G2 nos momentos T0, T4 e 2
T7. Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney (P 0,05). 3
HV-UENF, 2008. 4
5
6
7
4.3.2 Marcadores Renais: Uréia e Creatinina 8
9
Os dados analisados através da ANOVA (P 0,05) revelaram resultados 10
estatisticamente não significativos nos dois grupos em todos os tempos estudados 11
para uréia e creatinina sérica (tabela 10). 12
As figuras 17 e 19 apresentam o comportamento da uréia e creatinina 13
sérica para os animais pertencentes ao G1 submetidos à ECMO. Através da 14
análise da linha de tendência elaborada, observa-se que estes marcadores 15
apresentaram uma tendência de queda ao longo das três horas de ensaio, porém 16
mantendo-se dentro dos níveis considerados fisiológicos (20 45mg/dl) até o final 17
do experimento. 18
Em G2, apesar dos valores de uréia e creatinina sérica permanecerem 19
dentro da faixa de normalidade, observou-se um comportamento inverso ao 20
ocorrido em G1. A figura 18 (uréia G2) apresenta uma tendência de crescimento 21
na linha de tendência traçada ao longo das três horas de ECMO. a figura 20 22
(creatinina G1) mostra um comportamento constante ao longo do ensaio. 23
93
Tabela 13: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da uréia e creatinina sérica dos cães 1
pertencentes ao G1 (n=4) E G2 (n=6), submetidos à ECMO AV, durante um período de três horas. HV-UENF, 2008. 2
3
4
T0
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
VARIÁVEIS (mg/dl)
G1
G2 G1
G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2
Uréia
33,75
30,17 33,75 21,50 34,25
28,17 33,0
26,50 29,50 28,20 26,0
33,67 26,33 29,33 28,33 38,0
Creatinina
1,20 0,91 1,26 0,82 1,42 0,76 1,29 0,84 1,13 0,70 1,19 0,65 0,94 0,82 0,82 0,93
mg/dl = miligramas por decilitro 5
Observações: não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 6
94
1
Figura 17: Gráfico representativo do comportamento da uréia sérica (mg/dl), dos 2
animais pertencentes ao G1, durante um período de três horas de ECMO. HV 3
UENF, 2008. 4
5
6
7
8
Figura 18: Gráfico representativo do comportamento da uréia sérica (mg/dl), dos 9
animais pertencentes ao G2, durante um período de três horas de ECMO. HV 10
UENF, 2008. 11
12
13
14
15
95
1
Figura 19: Gráfico representativo do comportamento da creatinina sérica (mg/dl), 2
dos animais pertencentes ao G1, durante um período de três horas de ECMO AV. 3
HV – UENF, 2008. 4
5
6
7
Figura 20: Gráfico representativo do comportamento da creatinina sérica (mg/dl), 8
dos animais pertencentes ao G2, durante um período de três horas de ECMO AV. 9
HV – UENF, 2008. 10
11
Os resultados dios obtidos para uréia e creatinina sérica com e sem a 12
utilização de TI (G1 e G2) não revelaram diferença significativa pelo teste de 13
Mann-Whitney (P 0,05) (tabela 11). No entanto, pode-se perceber que nos 14
gráficos de uréia e creatinina séricas (respectivamente figuras 21 e 22) revelam 15
um comportamento descendente no G1, e no G2, especificamente em T7, 16
observa-se valores séricos de uréia e creatinina maiores do que os encontrados 17
96
no grupo controle (T0). Pacientes submetidos a procedimentos que envolvem o 1
auxílio extracorpóreo têm como característica comum o fato de ter seus diferentes 2
sistemas orgânicos acometidos, geralmente por disfunções cardiovasculares 3
primárias. As funções pulmonares, neurológicas, renais e hepáticas, 4
principalmente, dependem de um adequado suprimento sanguíneo e podem 5
colapsar rapidamente diante de baixo débito cardíaco (SOUZA; ELIAS, 2006a). 6
Desta forma, torna-se imprescindível que pacientes submetidos à ECMO AV 7
apresentem condições cardíacas adequadas e permitam uma nutrição eficiente 8
principalmente para os órgãos vitais. Apesar da hipotensão e episódios de baixo 9
débito cardíaco ser considerados complicações comuns decorrentes do auxílio 10
extracorpóreo e determinantes para a instalação de um quadro de IRA, os 11
resultados obtidos neste estudo para uréia e creatinina não refletem esta 12
realidade. Isto leva a acreditar que o suprimento sanguíneo durante as três horas 13
de ECMO tenha sido adequado apesar do comportamento crescente verificado no 14
G2, especificamente em T7. É possível que de alguma forma a TI tenha interferido 15
nesses resultados, uma vez que drogas vasopressoras não foram utilizadas como 16
recurso para controlar a hipotensão e o baixo débito cardíaco, complicações 17
provavelmente mais intensas neste grupo. É provável que em procedimentos 18
mais prolongados uma situação de uremia possa instalar-se. Para tanto, é 19
necessário estudos futuros com períodos de ECMO mais prolongados. 20
21
Tabela 14: Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney (P 22
0,05) para os valores médios de uréia (mg/dl) e creatinina (mg/dl) sérica, de G1 e 23
G2 nos momentos T0, T4 e T7. HV-UENF, 2008. 24
25
MÉDIAS T0
MÉDIAS T4 MÉDIAS T7 PARÂMETROS
G1 G2 G1 G2 G1 G2
Uréia (mg/dl)
33,75 30,17 29,50 28,20 28,33 38,0
Creatinina (mg/dl)
1,20 0,92 1,13 0,70 0,82 0,93
mg/dl= miligramas por decilitro. Não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 26
27
97
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1 2
Grupos
Uréia (mg/dl)
T0
T4
T7
1
Figura 21: Valores médios para uréia sérica (mg/dl), de G1 e G2 nos momentos 2
T0, T4 e T7. Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney (P 3
0,05). HV-UENF, 2008. 4
5
6
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1 2
Grupos
Creatinina (mg/dl)
T0
T4
T7
7
Figura 22: Valores médios para creatinina sérica (mg/dl), de G1 e G2 nos 8
momentos T0, T4 e T7. Teste t para dados não pareados com correção de Mann-9
Whitney (P 0,05). HV-UENF, 2008. 10
11
12
Souza e Elias (2006a) em estudos anteriores relataram a ocorrência de IRA 13
no pós-operatório imediato de pacientes submetidos à circulação extracorpórea, 14
sendo este um fator de risco capaz de aumentar a morbidade e mortalidade deste 15
procedimento. Afirmam ainda que eventos como hemólise, acidose metabólica, 16
hipotensão arterial, hipoperfusão tissular, uso de agentes vasoconstritores, dentre 17
98
outros, podem constituir fatores predisponentes ao desenvolvimento de 1
insuficiência renal no período pós-operatório imediato. Neste estudo não foi 2
possível verificar as observações feitas pelos autores, uma vez que os animais 3
foram eutanasiados imediatamente após o término das três horas de ECMO. 4
5
4.3.3 Glicose Sérica 6
7
Os valores médios de glicose sérica encontrados para os dois grupos não 8
revelaram diferença estatística significativa durante as três horas de ECMO 9
(ANOVA P 0,05) (tabela 12). No gráfico da glicose sérica de G1 (figura 23), 10
observa-se que em T1 e T2 (5 e 30 min. ECMO) os seus níveis ricos 11
apresentam um padrão de elevação em relação aos demais tempos, voltando a 12
declinar nos momentos seguintes e mantendo-se dentro dos níveis considerados 13
fisiológicos (60,0 – 110,0 mg/dl) até o final do experimento. 14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
99
Tabela 15: ANOVA (P 0,05) das médias referentes ao comportamento da glicose sérica dos cães pertencentes ao G1 1
(n=4) e G2 (n=6), submetidos à ECMO AV, durante um período de três horas. HV-UENF, 2008. 2
3
4
T0
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
VARIÁVEIS (mg/dl)
G1
G2 G1
G2 G1 G2 G1 G2 G1 G2 G1
G2 G1 G2 G1 G2
Glicose
75,40 78,67 141,90 87,17 130,87 93,17 110,35
108,33 91,02 115,0
111,0 111,30 105,23 121,27 101,67 128,50
mg/dl = miligramas por decilitros; Não foi verificada diferença significativa para as variáveis acima mencionadas. 5
100
1
Figura 23: Gráfico representativo do comportamento da glicose sérica (ng/dl), dos 2
animais pertencentes ao G1, durante um período de três horas de ECMO AV. HV 3
– UENF, 2008. 4
5
6
Segundo Elias e Souza (2006a), esta hiperglicemia transitória justifica-se 7
por uma alteração no metabolismo glicêmico decorrente da circulação 8
extracorpórea, vinculada a fatores como temperatura corporal e perfusato 9
administrado. Neste caso especificamente, pode-se apresentar duas hipóteses 10
prováveis: redução na produção e liberação de insulina em conseqüência de uma 11
hiportemia, uma vez que não foi utilizado nenhum permutador de calor para 12
controlar essa variável e, um elevado teor sanguíneo de catecolaminas 13
(adrenalina, noradrenalina e dopamina) circulantes como resposta simpática a 14
episódios de hipotensão, complicação comum observada em pacientes 15
submetidos à ECMO. A adrenalina estimula a glicogenólise hepática culminando 16
com uma hiperglicemia transitória (GUYTON; HALL, 2006). 17
Chapman et al. (1990) em estudos com cães verificaram que a infusão 18
contínua de dopamina (dose de 5 µg.kg.min
-1
) nessas situações, é capaz de 19
controlar alterações hemodinâmicas indesejáveis como hipotensão, baixo débito e 20
alterações na resistência vascular periférica mais eficientemente do que a 21
expansão da volemia. Neste estudo a dose utilizada foi a mesma preconizada 22
pelos autores. 23
101
No gráfico abaixo (figura 24), nota-se um crescimento na linha de tendência 1
traçada para os parâmetros analisados em G2 ao longo do experimento, que pode 2
ser justificada pela hipótese anteriormente descrita, para G1 em T1 e T2. Nesse 3
grupo, não foi utilizado nenhum recurso de TI, o que provavelmente desencadeou 4
maior instabilidade hemodinâmica e por este motivo um crescimento contínuo foi 5
verificado. É provável que em procedimentos mais prolongados (acima de 6 horas 6
de ECMO), uma hiperglicemia mais acentuada seja observada. 7
Neste trabalho não foi possível realizar uma quantificação de forma direta 8
da atividade simpática para uma real correlação com a variável glicêmica. 9
10
11
Figura 24: Gráfico representativo do comportamento da glicose sérica (ng/dl), dos 12
animais pertencentes ao G2, durante um período de três horas de ECMO AV. HV 13
– UENF, 2008. 14
15
Os resultados médios obtidos para glicose sérica com e sem a utilização de 16
TI (G1 e G2) não revelaram diferença significativa pelo teste de Mann-Whitney (P 17
0,05). O G1 apresentou 75,4 mg/dl de glicose no pré-ECMO (T0), 91,025 mg/dl 18
de glicose com uma hora e meia (T4) e 101,6667 mg/dl de glicose com três horas 19
de experimento. O G2 apresentou 78,6667 mg/dl de glicose no pré-ECMO (T0), 20
115,0 mg/dl de glicose com uma hora e meia (T4) e 128,3333 mg/dl de glicose 21
com três horas. Apesar destes resultados, o gráfico abaixo (figura 25), demonstra 22
um comportamento crescente da glicose sérica durante as três horas de 23
experimento em ambos os grupos, sendo mais evidente em G2. É provável que 24
102
esta situação justifique-se pelo fato de que no G2 não houve o auxílio da TI, e com 1
isto a ocorrência de hipotensão tenha sido mais acentuada. Esta alteração 2
associada a outros fatores desencadeantes (discutidos anteriormente) colaboram 3
para o aumento da glicemia, embora os resultados afirmem que a TI não interferiu 4
significativamente na análise desta variável. 5
6
7
0
20
40
60
80
100
120
140
1 2
Grupos
Glicose (ng/dl)
T0
T4
T7
8
Figura 25: Valores médios para glicose sérica (ng/dl), de G1 e G2 nos momentos 9
T0, T4 e T7. Teste t para dados não pareados com correção de Mann-Whitney (P 10
0,05). HV-UENF, 2008. 11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
103
5. CONCLUSÕES 1
2
3
1 - A oxigenação por membrana extracorpórea comportou-se como uma 4
técnica viável de suporte respiratório por um período de três horas, sob o ponto de 5
vista laboratorial; 6
2 - O uso da terapia intensiva utilizada concomitantemente à ECMO AV não 7
influenciou de forma significativa os parâmetros mensurados, porém contribuiu 8
para aumentar o tempo de sobrevida dos animais. 9
3 - A ECMO AV induziu uma leucopenia a partir dos primeiros cinco minutos 10
de procedimento, em decorrência de uma resposta fisiológica ao estresse induzido 11
pelo procedimento em questão; 12
4 - A leucopenia observada se deu principalmente pelo decréscimo no 13
número de neutrófilos e eosinófilos, seguidos por monócitos e linfócitos, não 14
havendo correlação significativa para os basófilos; 15
5 A funcionalidade renal e hepática foi mantida durante as três horas de 16
experimento; 17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
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