15
implementar as ações tinham que ser atualizadas. D. João V, então, iniciou sua viragem
administrativa com a instituição da Real Academia de História, em 1720
17
, que adotava novas
técnicas de pesquisa, ressaltando o papel dos documentos e arquivos. Depois, pressionado por
contingências internacionais que colocavam em cheque a soberania portuguesa na América, o
rei convocou matemáticos estrangeiros e lusitanos para o seu serviço
18
, a fim de que estes
traçassem os mapas do reino e das colônias, não por ouvir dizer, mas com observação in loco,
além da utilização do método de triangulação. Para a governação da área que se tornara a mais
preciosa, reluzente, e, por isso mesmo, a mais preocupante, ele escolhe homens que reúnem
características militares e letradas: militares, para saber impor disciplina e ter voz de
comando; letrados, porque haveriam de lidar com regras, instruções, relatórios, pareceres, e
ter desenvolvido o olhar perscrutador do “cientista”
19
. Muitos, ele encontra na Real
Academia, outros, no comando de suas tropas. Juntos, deveriam trabalhar para conservar a
Colônia, ampliar o território, definir suas fronteiras, eliminar os contrabandos e descaminhos,
implantar uma nova tecnologia para o recolhimento dos quintos. Tudo isso com o apoio dos
colonos, devidamente motivados pela fidelidade ao rei e pela certeza da recompensa
20
.
17
Cf. MOTA, Isabel Ferreira da. A Academia Real de História: os intelectuais, o poder cultural e o poder
monárquico no século XVIII. Coimbra: Minerva, 2003. 391 p.; KANTOR, Íris. «A Academia Real de História
Portuguesa e a defesa do patrimônio ultramarino: da paz de Westfália ao Tratado de Madri, 1648-1750». In:
BICALHO, M. Fernanda; FERLINI, Vera L. A. (orgs.). Modos de governar: ideias e práticas políticas no
império português, séculos XVI-XIX. São Paulo: Alameda, 2005. 445 p., cap. 13, p. 257-276
18
Cf. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid: introdução, 1695-1735. Brasília: Senado
Federal, 2001. pt. 1, t. 1; BUENO, Beatriz P. S. «Decifrando mapas: sobre o conceito de ‘território’ e suas
vinculações com a cartografia». Anais do Museu Paulista, v. 12, n. 12, p. 193-234, jun./dez., 2004; RENGER,
Friedrich E. «Os primórdios da cartografia em Minas Gerais (1585-1735): dos mitos aos fatos». In: RESENDE,
M. Efigênia Lage de; VILALTA, Luiz Carlos. História de Minas Gerais: as minas setecentistas. Belo
Horizonte: Autêntica, 2008.
19
Cf. BETHENCOURT, Francisco. «A América Portuguesa». In: BETHENCOURT, Francisco; CHAUDHURI,
Kirti. História da expansão portuguesa. Navarra: Círculo dos Leitores e Autores, 1998. v. 3, p. 228-249. E
também: MONTEIRO, Nuno Gonçalo F. O crepúsculo dos Grandes. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, 2003; MONTEIRO, Nuno Gonçalo F. «Poder senhorial, estatuto nobiliárquico e aristocracia». In:
MATTOSO, Jose (dir.). História de Portugal. Lisboa: Estampa, 1993. v. 4, cap. 10, p. 333-377. MONTEIRO,
Nuno Gonçalo F. «Trajetórias sociais e governo das conquistas». In: FRAGOSO, João; BICALHO, M.
Fernanda; GOUVÊA, M. de Fátima (orgs.). O antigo regime nos trópicos.... op. cit., 2001. cap. 8, p. 249-84;
este texto, com pequenas modificações já havia sido publicado nos Anais UE, 8-9, 1998-1999, p. 99-123 [Texto
gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Luciano Figueiredo, a quem agradeço]; MONTEIRO, Nuno G.
«Governadores e capitães-mores do império atlântico». In: BICALHO, M. Fernanda; FERLINI, Vera L. A.
(orgs.). Modos de governar: ideias e práticas políticas no império português, séculos XVI-XIX. São Paulo:
Alameda, 2005. 445 p., cap. 6, p. 93-117; CUNHA, Mafalda S. da; MONTEIRO, Nuno G. «Governadores e
capitães-mores do império atlântico português nos séculos XVII e XVIII». In: _____, CARDIM, Pedro; _____
(orgs.). Optima Pars: elites ibero-americanas do Antigo Regime. Lisboa: ICS - Imprensa de Ciências Sociais,
2005. 361 p., cap. 8, p. 191-252; CUNHA, Mafalda S. da. «Governo e governantes do império português». In:
BICALHO, M. Fernanda; FERLINI, Vera L. A. (orgs.). Modos de governar: ideias e práticas políticas no
império português, séculos XVI-XIX. São Paulo: Alameda, 2005. 445 p., cap. 4, p. 69-92.
20
Essa conjugação de esforços entre ministros reinóis e colonos, para melhor governação das conquistas foi
estudada por RAMINELLI, Ronald. Viagens ultramarinas .... op. cit., 2008; CEBALLOS, Rodrigo.