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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
DOUTORADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
VALNEI PEREIRA
SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO: HIPERMETRÓPOLES
turismo e moda como economias culturais do espaço
SÃO PAULO, 2010
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VALNEI PEREIRA
SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO: HIPERMETRÓPOLES
turismo e moda como economias culturais do espaço
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo como requisito parcial à
obtenção do título de Doutor (PhD) em Arquitetura e
Urbanismo,
Área de Concentração em Projeto, Espaço e Cultura
Orientadora: Dra. Maria Cristina da Silva Leme
São Paulo, 2010
Autorizo a reprodução parcial ou total deste trabalho por qualquer meio convencional
ou eletrônico, para fins de estudos ou pesquisa, desde que citada a fonte.
valneipereira@uol.com.br
Pereira, Valnei
P436s São Paulo e Rio de Janeiro: hipermetrópoles turismo e moda
como economias culturais do espaço / Valnei Pereira. --São Paulo,
2010.
173 p. : il.
Tese (Doutorado - Área de Concentração: Projeto, Espaço
e Cultura) - FAUUSP.
Orientadora: Maria Cristina da Silva Leme
1.Áreas metropolitanas São Paulo (SP) 2.Áreas metropolitanas
Rio de Janeiro (RJ) 3.Economia urbana 4.Turismo 5.Moda
6.Cultura I.Título
CDU 711.432(816.11)
À minha mãe, por me ensinar a viver e pelas paisagens...
À São Paulo e Rio de Janeiro, hiperexistencialidades...
AGRADECIMENTOS
Esta tese correspondeu a um período de muitas mudanças, nas quais muitas pessoas
estiveram envolvidas. Mesmo que muitas delas não estejam aqui registradas, elas foram,
mesmo que de formas e motivos diferentes, importantes, e a quem eu afetuosamente as
guardarei em minhas memórias e sentimentos.
Todavia registro os agradecimentos as que estiverem diretamente envolvidas nesta jornada
de sentidos e busca de realizações. Inicialmente à minha orientadora, Profa. Dra. Cristina
Leme, pela sua orientação atenta e que durante estes quatro anos cedeu às minhas
necessidades abstratas de geógrafo “dos símbolos”. À ela devo também o instigante tema
da moda que como sugestão e oferta analítica acrescentou tantas perspectivas novas e
instigantes.
Ao Professor Doutor Luis Antônio Jorge que desde minha chegada à FAU/ USP me acolheu
nas minhas origens nos sertões de Guimarães, por quem ele devota grande estima
intelectual e artística. A ele devo também agradecer pelos ricos comentários na banca de
qualificação e nas discussões do meu projeto de tese.
À Professora Doutora Ana Fani Alessandri Carlos, querida colega geógrafa, pelos encontros
sempre carinhosos e pela oportunidade de poder explorar a liberdade por outras geografias.
Também pela farta contribuição no meu exame de qualificação.
Aos meus colegas da Pós Graduação da FAU/ USP, pelo rico convívio e onde eu fiz
grandes e queridos amigos, especialmente à queridíssima Milena Dayala Valva, a quem
devo o incentivo e o encorajamento por esta conclusão, além da rica companhia em
Higienópolis, e à Célia Paes e Mariana Pavlick Pereira, que além da amizade, foi
responsável pela cara mais atraente desta tese.
Na PUC-Minas, em Belo Horizonte, agradeço aos meus colegas e amigos professores,
especialmente à Magda Tezzi e Alecir Maciel, meus coordenadores no Departamento de
Geografia e à Rosilene Martins, minha grande amiga e coordenadora na Escola Superior de
Turismo. Também ao Programa Permanente de Capacitação Docente (PPCD) que
possibilitou a ancoragem e apoio para esta concretização.
À geógrafa e amiga Elisa Boechat por me trazer” para São Paulo e aos colegas da Golder
Associates Brasil, em especial a Alberto Coppede pela confiança e amizade. Ao Guilherme
Saltini e ao Marcio Labruna pelo prazer da convivência, pela generosa amizade,
cumplicidade e confiança e, acima de tudo, pela ajuda crucial na busca de dados e textos,
sem os quais este trabalho não teria sido possível. Também neste sentido agradeço ao
amigo Felipe Magalhães pelas interlocuções sobre economia espacial e à economista
Sibelle Diniz do Cedeplar da UFMG pelos dados e indicação de textos sobre economia
cultural.
Pela cessão de entrevistas e repasse de rico material, aos técnicos da Rio Tur e do Instituto
de Urbanismo Pereira Passos, no Rio de Janeiro, e aos da SPTuris, Sempla, Emurb,
Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) e Associação Brasileira da Indústria do
Vestuário (ABRAVEST) em São Paulo. Também ao Vladimir Pires e Oskar Metsavaht da
Osklen pelos inúmeros acessos, repasse de imagens e vídeos, além de rico material de
consulta e pesquisa.
À minha grande amiga Andréa Casa Nova Maia, parceira de pesquisa, incentivadora e
agora comadre e por quem, a partir de seu melhor projeto, o Pedrinho, alicerça uma
amizade que se consolida a cada dia. Também aos meus queridos amigos, antigos e
novos, em especial ao Sandro Farias, Viviane Machado, Fabiana Fedato, Arthur Ramos e
Ênio Monteiro pela amizade e carinho compartilhados em São Paulo. Também agradeço à
Roberta Milward e Andréa Soares pelo apoio nas visitas iniciais em São Paulo. Não posso
me esquecer do querissimo amigo Kadu Dantas, da Ray Comunicação, que cedeu
imagens e acessos ao São Paulo Fashion Week e Fashion Rio, além conversas sobre o
mundo da moda, o mercado de luxo em São Paulo e os riscos e excessos da cultura label.
Também aos meus amigos de Belo Horizonte para onde sempre retorno e encontro alegrias
e confortos.
Em especial aos meus alunos do Turismo e da Geografia da PUC-Minas que me “ensinaram
a ensinar” e a descobrir novas oportunidades de vida profissional e trajetórias pessoais e
com quem agora tenho prazer da profissão compartilhada.
Por fim, à minha mãe, por ter enfrentado tantos desafios neste período e por quem
redescubro novas maneiras de amar. À minha família pelo incentivo e por terem enfrentado
comigo tantos desafios e perdas neste período. Amo todos vocês. Também não posso
deixar de agradecer ao meu psicanalista Guilherme Massara Rocha, que, com
profissionalismo, me deu condições de dar conta dos desafios da vida neste momento e a
enxergar outras existencialidades.
À todos meus sinceros agradecimentos.
SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO: HIPERMETRÓPOLES
turismo e moda como economias culturais do espaço
RESUMO
A tese analisa as transformações socioespaciais das metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro na
virada do século XX para o XXI a partir do turismo e da moda, refletidos como economias culturais do
espaço. Para isso, considera os acionamentos e sentidos do turismo, para além de suas
categorizações, e pelas quais é possível identificar uma turistificação urbana presente em diferentes
níveis e escalas; um primeiro verificado nos discursos e sentidos das políticas urbanas de promoção
da imagem urbana e competição internacional; um segundo na busca da diversificação e
comoditização da experiência turística, numa imiscuição dos negócios ao lazer, à cultura e ao
entretenimento; um terceiro a partir da necessidade de reconciliação das centralidades urbanas na
medida em que verifica a emergência de um centro econômico e simbólico dessas metrópoles que
transita e reforça os diálogos entre os seus centros históricos tradicionais e suas novas centralidades
terciárias. No plano da moda, a análise foca as mutações do setor, desde processos de
reestruturação econômica e espacial das indústrias e mercados têxteis e do vestuário na escala
metropolitana, bem como na produção e reprodução de cenas e circuitos criativos que associam à
moda repertórios simbólicos e narrativas identitárias numa imagética da economia simbólica em que
São Paulo e Rio de Janeiro são mercados, mas também produtos. Numa perspectiva mais ampla, as
metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro são refletidas como hipermetrópoles, categoria que
convida a pensar a vida e os objetos socioespaciais como uma exacerbação dos próprios sentidos e
projetos da hipermodernidade em que se poderiam entrever novas urbanidades possíveis nas
simultâneas e complexas escalas das existências metropolitanas contemporâneas.
Palavras-chaves: hipermetrópole; economia cultural do espaço; São Paulo; Rio de Janeiro; turismo;
moda.
SÃO PAULO AND RIO DE JANEIRO: HYPERMETROPOLIS
tourism and fashion as cultural economies of space
ABSTRACT
This thesis analyze the sociospatial changes at São Paulo and Rio de Janeiro capital cities in the
period of turnover from the XX to the XXI Century with regards to tourism and fashion, these being
reflected as cultural economies of space. Tourism uses and senses are considered beyond its
categorizations, identifying an urban touristification process at different levels and scales; (1) in
speeches and senses of urban policies for urban image promotion and international competition; (2) in
search of diversification and commoditization of touristic experience by business intermeddling with
pleasure, culture and entertainment; (3) from the need of reconciliation of urban centers according to
the emergency of an economic and symbolic center of these metropolis reinforcing the relationship
between traditional historical centers and new tertiary centers. Concerning fashion the analyzes is
focused on changes of the sector considering processes of economic and spatial restructures of
industries and textile markets and of clothing at metropolitan scales, as well as production and
reproduction of creative scenes and circuits associating fashion to an identity symbolic and narrative
repertoire through image of symbolic economy in which São Paulo and Rio de Janeiro are market-
inserted and also products. In a wider perspective, São Paulo and Rio de Janeiro metropolis reflect
themselves as hypermetropolis leading us to think about life and sociospatial objects as
exacerbation of senses and projects of hypermodernity in which new urbanities are likely in
simultaneous and complex scales of contemporary metropolitan existences.
Key-words: hypermetropolis; cultural economy of space; São Paulo city; Rio de Janeiro city; tourism;
fashion.
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 10
Capítulo 1 - SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO COMO HIPERMETRÓPOLES ................ 16
1.1 Hipermetrópoles: derivas teóricas entre hiperespaço e hipermodernidade ................ 18
1.2 São Paulo e Rio Janeiro como hipermetrópoles: estratégias socioespacieais da
nova economia cultural do espaço ............................................................................. 26
1.3 Turismo e moda como economias culturais dos espaços metropolitanos .................. 40
Capítulo 2 - A NOVA ECONOMIA CULTURAL DA METRÓPOLE ................................... 48
2.1 Contextos aplicados da nova economia cultural do espaço: a indústria da moda ....... 54
2.1.1 Características organizacionais globais das indústrias da moda ....................... 56
2.1.2 Características gerais das indústrias da moda no Brasil ................................... 64
2.2 Contextos aplicados da nova economia cultural do espaço: os serviços turísticos ...... 66
2.3 Nova economia cultural da metrópole: estratégias socioespaciais dos
empreendedores culturais .......................................................................................... 74
2.3.1 A nova economia cultural da metrópole: as experiências emblemáticas de
Londres «Cool Britannia» e Berlim «Being Berliner» ........................................ 75
Capítulo 3 TURISMO EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO ........................................ 83
3.1 Turismo e turisticação: notas sobre alguns desdobramentos teóricos do turismo em
contextos metropolitanos ........................................................................................... 86
3.2 O turismo em São Paulo e Rio de Janeiro no período recente .................................... 91
3.3 Espacialidades hipermodernas do turismo em São Paulo e Rio de Janeiro................112
Capítulo 4 MODA EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO ........................................... 124
4.1 Indústria e mercados da moda em São Paulo e Rio de Janeiro: mutações
econômicas e socioespaciais ................................................................................... 127
4.1.1 Indústria Têxtil e do Vestuário em São Paulo e Rio de Janeiro:
reestruturações produtivas e espaciais ........................................................... 128
4.1.2 Seletividades da Moda em São Paulo e Rio de Janeiro: cenografias do
Luxo ................................................................................................................ 144
4.2 Processos de criação e scenificatio: contaminações urbanas na moda .................... 147
4.2.1 São e Rio de Janeiro como Repertórios Simbólicos de Criação da Moda
Brasileira: a experiência da Osklen ................................................................. 150
CONCLUSÕES: metrópoles como hiperculturas simbólicas e outras urbanidades ......... 158
Referências Bibliográficas e Entrevistas ......................................................................... 170
“Se quer seguir-me, narro-lhe, não uma aventura, mas
experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocínios
e intuições. Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos.
Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre
que não estamos vendo”.
(João Guimarães Rosa, em Primeiras Histórias)
Apresentação
SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO: HIPERMETRÓPOLES?
11
A idéia de realizar uma tese que analisa as experiências de duas metrópoles tão distintas
pode parecer tarefa muito ampla e complexa, mas por nós vista como necessária como
forma de ultrapassar escalas tradiconais de análise, não somente no âmbito espacial, mas,
sobretudo nas suas fronterias de conexão com a cultura e a economia. Foi com este desejo
que concebemos a metrópole desta virada de século, materializada em São Paulo e Rio de
Janeiro, como contextos ricos de investigação. Na FAU/ USP, em torno da Área de
Concentração de Projeto, Espaço e Cultura, essas perspectivas se materializaram, na
convergência da minha trajetória pessoal e acadêmica, como geógrafo, curioso e
interessado nas complexas mediações entre Geografia Cultural e Planejamento Urbano.
Também no reconhecimento da concepção de Arquitetura de forma mais ampla, como
linguagem e processo socioespacial, responsável por um campo fecundo de
experimentações e reflexões que ultrapassam a materialidade dos objetos urbanos e
assentamentos humanos, como nos ilumina Harvey: o arquiteto tem estado mergulhado
mais profundamente, ao longo da história, na produção e na busca de ideais utópicos,
moldando espaços de modo a lhes conferir utilidade social, bem como significados humanos
e estéticos/ simbólicos. O arquiteto plasma e preserva lembranças sociais de longa duração
e se empenha em dar forma material aos anseios e desejos de indivíduos e sociedades e
luta para abrir espaços para novas possibilidades, para futuras formas de vida social. A
vontade da arquitetura como vontade de criar constitui o alicerce do pensamento ocidental
(HARVEY, 2004: 262).
Ao evocar a imagem do arquiteto, Harvey vai além de suas inscrições ao associar seu
significado social a nós mesmos enquanto agentes de nosso próprio destino e nossa
própria vida(IBID: 263). Assim, pesquisar as metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro
privilegia uma análise quase biográfica ao trazer trajetórias de vida como experiência
sujeito e profissional e ter nestas metrópoles o objeto derivado de alguns processos
hipermodernos, refletidos, todavia, como novas economias culturais do espaço, a saber, o
turismo e a moda. Portanto, pesquisar São Paulo e Rio se apresenta como uma metáfora
ampliada das várias identidades urbanas em constante mutação. Nesta convergência de
sentidos é que se definiram os contextos de investigação da tese, na constituição de
identidades urbanas brasileiras que para nós transitam cada vez mais na relação cultural
entre São Paulo e Rio de Janeiro, como uma espécie de mítica urbana nacional, uma
narrativa espacial nexal, construída e experimentada neste continuun urbano cultural
híbrido, hiperespaço, resultante do diálogo e das relações intra e intermetropolitanas.
Aqui, a “cozinha das idéias”, ou seja, as categorias de reconhecimento passavam pela
incorporação da imagem urbana como identidade a partir da sugestão do prof. Dr. Luis
12
Antônio Jorge de conceber a imagem como par dialético entre imagerie (conjunto de
imagens) e imaginaire (dimensões visuais do imaginário). Neste sentido os processos
investigativos de fundo estariam na problematização atenta a alguns processos: (i) na nova
etapa econômica pós fordista baseada no culturalismo de mercado na qual a metrópole
terciária é entendida com uma economia baseada na “cultura/ produção cultural” em termos
de uma ampliação pela especialização (produção/ consumo) em setores ligados à arte;
comunicação e mídia; moda; música; audiovisual; turismo, lazer e entretenimento; (ii) nova
racionalidade urbanística: a cidade vitrine, a cidade espetáculo, o city marketing, a cidade
comunicacional, a cidade estratégica, a cidade empreendedora, a cidade fetiche, a
metrópole cultural, a cidade global, a metrópole turística, metrópole entretenimento; enfim as
várias nuanças interpretativas da metrópoles deste fim de século (iii) as alteridades e as
aproximações.
Estas dimensões conectam a tese a idéia de que a chamada produção cultural deve ser lida
de forma mais ampla enquanto processo cultural do espaço e muitas vezes sua imagem
urbana, igualmente um produto comercializável. Assim, o objeto da tese serim as
itinerâncias socioespaciais interurbanas presentes nos paradoxais (competitivos e também
complementares) diálogos culturais e espaciais intermetropolitanos entre São Paulo e Rio
de Janeiro. Neste foco a problematização recoloca a tese e o questionamento de que a
capital simbólica brasileira poderia ser uma só? Rio-São Paulo/ São Paulo-Rio? Como
processo a ser pesquisados estaria a “indústria” da produção cultural, posteriomente
definida como serviços da hipermodernidade, conceito que norteia e que será definido em
capítulo e pesquisa própria mediante o recorte do turismo e da moda e saus derivações.
Todavai, estas atividades e campos não se encerram na rubrica, nem de serviços, como a
indústria têxtil e do vestuário pode ser uma bom exemplo, muito menos de indústria cultural,
como os serviços do turismo seriam uma exceção. Portanto a necessidade de encontrar um
corpus teórico renovado, como na idéia de economia cultural do espaço refletido e analisado
na tese. Nessas fronteiras de análise estava a proposição de geógrafos culturais e
urbanistas, além de outros cientistas sociais, como sociólogos, antropólogos e economistas
que recentemente buscaram interpretar as complexas espacialidades das metrópoles
contemporâneas. Os aportes teórico-metodológicos integram um experimental analítico
capaz de categorizar os processos empíricos ao refletir sobre a reconhecida hiperescala
intermetropolitana, aqui definida como Hipermetrópoles numa fronteira teórica entre o
Urbanismo Contemporâneo, a Geografia Cultural e a Teoria da Arquitetura. Neste sentido
pareceu bastante profícua e exeqüível a idéia de conceber a hipermodernidade como etapa
histórica de análise e a produção de um hiperespaço que conceberiam o desdobramento
analítico da idéia de hipermetrópole. Nestes nexos conceituais a transformação da cultura
em negócio com diferentes rebatimentos no espaço, em escalas emaranhadas, foi um dos
13
outros argumentos da análise na concepção de economia cultrual do espaço. Nesta
conjuntura da pesquisa os processos investigativos ocorrem na fronteira de relação dialética
e paradoxal da escala como precursora de uma práxis urbanística (base teórica) e a empiria
de uma urbanidade da hiperescala. Os recortes empíricos evidenciados nos serviços e
lastros econômicos da hipermodernidade, reconhecidos no turismo e na moda, numa
aproximação entre economia e cultura e em sua capacidade em gerar representações
socioespaciais e transformações, como reflexos e expresões da própria mutação
metropolitana.
Neste sentido a tese é composta por quatro Capítulos e as Conclusões, sendo dois de
caráter mais teóricos e dois com evidenciações empíricas, apesar de em todos haver
diálogos entre teoria e processos sociohistóricos concretos, a seguir sucintamente descritos:
Capítulo 1 São Paulo e Rio de Janeiro como Hipermetrópoles: turistificação urbana
e cenificações da moda
São elaborados os nexos teóricos entre hipermodernodade e hiperespaço, os quais
subsidiam, a partir de percurso filosófico e sociogeográfico, a idéia e o conceito de
hipermetrópole como espacialidade característica não da superação da modernidade, mas
talvez de sua exacerbação, tal qual proposto por Lipovestky (2004) em corroboração de
alguns argumentos políticos e filosóficos por Marshall Berman (1982) e David Harvey
(1989). Também são construídas as conexões necessárias à compreensão das metrópoles
de São Paulo e Rio de Janeiro como hipermetrópoles nos seus vínculos com a nova
economia cultural nas quais emergem especializações econômicas e espaciais muito
sintonizadas com serviços, em particular com o turismo e a moda, os quais são analisados a
partir de processos de modernização socioespacial e cultural nas idéias de turistificação
urbana (STOCK, 2007; COËFFÉ, 2007 e 2008) e cenificações da moda (LANGE, 2007).
Capítulo 2 A Nova Economia Cultural da Metrópole: contribuições a partir das teses
do New Cultural Economy of Space
Estabelece as relações presentes nos processos da economia, da cultura e do espaço que
possibilitaram a emergência de uma economia simbólica mais aprofundada em termos de
conexões entre a comoditização enquanto apropriação racional de elementos simbólicos da
cultura e expressos em setores da economia hipermoderna, tais quais turismo e moda. Para
tanto, são construídos os vínculos com o conceito de nova economia cultural do espaço,
esboçados pela nova geografia cultural e econômica, por autores como Allen Scott, Teano
Terkenli e Bastian Lange, de uma forma evidente, e David Harvey, de maneira mais geral.
Como formas de relacionamento empírico são analisados os mercados da moda/ confecção
desde sua produção mais focada no vestuário até suas mutações presentes em amplos
14
repertórios simbólicos a partir de circuitos criativos. O mesmo movimento é feito para o
mercado turístico o qual começa a se hibridizar por lugares e metrópoles localizados em
países emergentes, com particular evidência na análise do mercado brasileiro,
apresentando formas de acontecer numa imiscuição que superam as clássicas entre
negócios, lazer, cultura e entretenimento.
Capítulo 3 Turismo em São Paulo e Rio de Janeiro
Analisa as inscrições do turismo nestas duas metrópoles desde os anos 1990 tendo como
foco a sua reorganização por agências públicas nas escalas federal (Ministério do Turismo e
Embratur) e local (SPTuris e RioTur), reconhecendo seus nexos com um crescente turismo
focado para além das tradicionais especializações dos negócios em São Paulo e do lazer
no Rio de Janeiro. Nestas novas possibilidades analisa tendências, como o turismo de
eventos no Rio e o de entretenimento em São Paulo, além do turismo cultural como
estratégias claras do setor para estas duas metrópoles. O foco da reflexão, no entanto, está
na constatação de que a atratividade turítica é histórica e culturalmente construída por
racionalizações que imputam aos destinos novas roteirizações e conteúdos simbólicos que
ressignificam os lugares e sua venda como commodites. Isso auxilia na compreensão dos
fortes processos de transformação das identidades turísticas de São Paulo, que vem se
posicionando, como consolidade pólo de negócios e cada vez mais de entretenimento e
cultural e do Rio como importante centro de lazer e cultura, com emblemática projeção
internacional, como atestam a conquista dos Jogos Olímpicos de 2016. Neste contexto são
analisadas ainda as repercussões socioespaciais do turismo nestas metrópoles, sobretudo
pela reflexão de suas novas centralidades econômicas e simbólicas.
Capítulo 4 Moda em São Paulo e Rio de Janeiro
Analisa a moda nos seus vários circuitos de produção e especialização espacial, em
particular nas metrópoles, tendo por referências sua reorganização produtiva e espacial,
materializados na indústria têxtil e do vestuário e nas mutações econômicas e culturais que
passou em sintonia com as transformações da metrópole. Para isso são analisados os
processos pós-fordistas que levaram à migração das grandes fábricas para o entorno da
periferia dinâmica da metrópole, o qual se deu nos chamados novos arranjos produtivos
locais localizados em municípios da órbita metropolitana, tanto em São Paulo (Americana,
Santa Bárbara, Nova Odessa e Sumaré) como no Rio de Janeiro (Nova Friburgo, Petrópolis,
Campos dos Goytacazes, dentre outros) e da forte tendência do comércio do luxo nestas
metrópoles, configurando novas espacialidades. Complementarmente são analisados os
processos de cenificação e das estratégias dos novos empreendedores culturais da moda,
em que se analisa a Osklen e seus repertórios simbólicos criativos vinculados à São Paulo
(Surfing in the City) e Rio de Janeiro (United Kingdon of Ipanema), além de outras cenas
15
marginais, desde a cultura urbana underground até contextos socioculturais marginais e
evidenciados pela presença dos bolivianos em São Paulo e suas táticas socioespaciais.
Conclusões: metrópoles como hiperculturas simbólicas e outras urbanidades
Nas conclusões são perspectivados os temas que sustentam alguns argumentos da tese, ou
ancorados na idéia de hipermetrópole que, ao contrário de encerrar mais um modismo
filosófico epocal oferece bases de análise interessantes para o desvelamento das
experiências metropolitana em vários níveis, tanto nas suas mutações econômicas e
socioespaciais, enquanto hiperculturas pulsantes, como na retomada de processos de
reconciliação com múltiplas urbanidades. São Paulo e Rio de Janeiro se colocam como
potenciais hiperobjetos urbanos dessas experimentações, hiperculturas simbólicas, que
oferecem narrativas para e de suas economias urbanas, evidenciadndo os fortes elos entre
economia, cultura e espaço que analisadas numa escala mais ampla, representam a si
mesmas, hipermetrópoles, como economias culturais do espaço.
16
“Tudo foi muito rápido: a coruja de Minerva anunciava o
nascimento do pós-moderno no momento mesmo em que
se esboçava a hipermodernização do mundo”
(GILLES LIPOVETSKY, 2004: 53)
Capítulo 1
SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO COMO
HIPERMETRÓPOLES:
TURISTIFICAÇÃO URBANA E MUTAÇÕES DA MODA
17
Analisar as metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro como hipermetrópoles nos coloca de
frente a uma série de desafios novos e velhos. Novos, na medida em que implica recortar
várias perspectivas reflexivas recém criadas, e em constituição, e moldá-las e estes
recortes. Também velhos, já que estas cidades vêm sendo acionadas historicamente por
diferentes pesquisadores e artistas como espécies de epicentros de brasilidades urbanas
em constituição e mutação. Outra questão se refere ao fato dos porques eleger São Paulo e
Rio de Janeiro como protagonistas e coadjuvantes brasileiras de papéis socioespaciais tão
complexos, à miúde de suas inscrições e vocações identitárias pretéritas, atuais e futuras;
locais, regionais e internacionais. Questões do tempo e do espaço que nos aflige e instiga,
mas também nos leva a experimentações, sobretudo no campo das escalas, como as
trabalhadas por Terkenli (2006), na medida em que os processos socioespaciais hoje se
relacionam a uma trama cada vez mais intricada e complexa de escalas e experiências,
gerando globalizações atomizadas (microglobalizações) e mediações interescalares com o
regional e o local. Ainda na perspectiva das escalas, Dias ao acionar Vainer nesta reflexão
afirma que, enquanto no início do século XX o debate foi marcado pela oposição entre as
escalas nacional e internacional e entre projetos fundados no nacionalismo ou no
internacionalismo, atualmente emerge a oposição entre as escalas global e local (DIAS,
2003: 87). neste início de século XXI assistimos à profusão de trabalhos que recortam
diferentes espacialidades, atravessando escalas e interconectando novos ângulos
socioespaciais para as análises nas Ciências Sociais. Mas a definição de escala é marcada
pela de fronteira e esta pela idéia de alteridade: a produção e a reprodução contínuas da
escala expressa tanto a disputa social quanto a geográfica para estabelecer fronteiras entre
diferentes lugares, localizações e sítios de experiência. A construção do lugar implica a
produção da escala, na medida em que os lugares são diferenciados uns dos outros; a
escala é o critério da diferença, não tanto entre lugares como entre tipos diferentes de
lugares(SMITH, 2000:142). Relacionados às transformações socioespaciais estão projetos
geopolíticos da modernização que parecem se intensificar nos últimos anos: a intensidade
da compressão do tempo-espaço no capitalismo ocidental a partir dos nos 60, com todos os
seus elementos congruentes de efemeridade e fragmentação excessivas no domínio político
e privado, bem como social, parece de fato indicar um contexto experiencial que confere à
condição da pós-modernidade o caráter de algo um tanto especial(HARVEY, 1994: 275-
276).
Neste Capítulo fazemos uma breve contextualização das escolhas e recortes possíveis da
tese que assumem São Paulo e Rio de Janeiro, compreendendo-as como hipermetrópoles,
numa passagem analítica entre hiperrealidade e hiperespaço (BAUDRILLARD, 1991) e
18
hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004). Outra ponte analítica se refere ao recorte dos
processos turísticos e da moda como instituintes de sentidos e significações socioespaciais
relevantes à reflexão da metrópole contemporânea, também no Brasil, seus vínculos e
lastros com a idéia de hipermetrópole e suas formas de acontecer em São Paulo e Rio de
Janeiro. A chamada metrópole pós fordista pode ser entendida como uma nova economia
fundada nos serviços e na cultura, numa especialização crescente dos espaços
metropolitanos enquanto centros produtores das decisões e arquiteturas corporativas de
sedes de indústrias e empresas e pólos de turismo, cultura, lazer e entretenimento
(MALLENKOPF e CASTELLS, 1991; TERKENLI e d‟HAUTESERRE, 2006). As rubricas
teóricas para estas metrópoles variam desde pós fordistas, pós industriais, pós modernas,
pós trabalho até comunicacionais, culturais, espetáculos, fetichistas, vitrines e turísticas.
Veremos como a idéia de hipermetrópole reflete estas definições, oferecendo, no entanto,
uma perspectiva filosófica e sociocultural que não encerra um fim ou um começo, mas uma
continuidade marcada por rupturas transitórias que ainda não se desdobraram
historicamente naquilo que parecia ser o fim da história e até mesmo do espaço.
1.1 HIPERMETRÓPOLES: DERIVAS TEÓRICAS ENTRE HIPERESPAÇO E
HIPERMODERNIDADE
O conceito de hipermodernidade insere-se em reflexões e perspectivas filosóficas
complexas advindas de diferentes linhagens intelectuais e acadêmicas com esboços
distintos que remetem a panoramas políticos, econômicos, culturais e sociais com
rebatimentos e relações com as questões do tempo e do espaço. Invariavelmente, nestas
abordagens, situam-se idéias subjacentes à concepção de que estaríamos vivendo um
tempo “novo” sem que isso necessariamente seja marcado pela própria afirmação de que
este novo seria característico da própria modernidade ou mesmo de sua ruptura total. Para
este contexto epocal vários autores utilizaram o termo pós, aplicando-o para uma série de
“novos” processos, desde o filosófico (pós moderno), sociopolítico (pós modernidade),
cultural e simbólico (pós modernismo) até o econômico, socioespacial e histórico (pós
modernização), com farta promiscuidade nos remetimentos em que estas ordens se
vinculam e interpenetram: originando-se sobretudo na esfera cultural, o conceito de pós-
modernismo (ou pós-modernidade) espalhou-se para abranger um número cada vez maior
de áreas da sociedade. A sugestão é de que as sociedades industriais sofreram uma
transformação tão vasta e fundamental que merecem um novo nome(KUMAR, 1997: 121).
Mas como tratar dos processos atuais sem cair na aparente armadilha dos pós. Para muitos
autores, esta situação está inserida em outras rubricas como a idéia dos estágios da
sociedade capitalista, reconhecidamente do “capitalismo tardio” como utilizado por Jameson
19
e Mandel (KUMAR, 1997). Para eles, o capitalismo tardio não coincide totalmente com o
pós-industrialismo na medida em que querem evidenciar a continuidade básica do novo
sistema com o que o precedeu e não, como aconteceu com a teoria pós-industrial,
entendida como ruptura. Portanto, nestas perspectivas o pós modernismo é evidenciado não
como elemento cultural dominante de uma ordem social inteiramente nova, mas apenas o
reflexo e o concomitante de mais uma modificação sistêmica do próprio capitalismo.
Aspectos desse capitalismo tardio seriam a empresa transnacional, a nova divisão
internacional do trabalho, a financeirização econômica, novas interrelações midiáticas, fuga
de capitais e produção para áreas avançadas do Terceiro Mundo e a emergência dos
yuppies. Estes próprios autores, no entanto, confessam certo mal estar em utilizar a
categoria capitalismo tardio, preferindo os chamados sinônimos apropriados, tais como
“sociedade do espetáculo ou da imagem”, “capitalismo da mídia”, “sistema mundial” e
mesmo “pós-modernismo” (JAMESON apud KUMAR, IBID: 126).
Uma linha de teóricos em particular trabalha a idéia de que o pós, muito mais do que
significar uma ruptura inteiramente nova, marcando espaço para um novo momento e uma
nova sociedade, poderia significar exatamente a crítica ao esgotamento e incapacidade de
seu projeto maior, o das utopias, das metanarrativas, da capacidade de emancipação
sociopolítica do homem e da sociedade, se colocando como projeto inacabado
(HABERMAS, 1987, 1990) ou mesmo como a vivência exacerbada da própria idéia de
modernidade (HARVEY, 1994). Para Habermas a racionalidade conveniente das estruturas
tecnológicas e burocráticas teve muito sucesso em colonizar o mundo da vida”, isto é o da
ação comunicativa, gerando não um excesso de racionalidade, mas um déficit. Esta
explicação, portanto, considera que a modernidade é um projeto ainda por acontecer. Num
horizonte mais abrangente, temos Charles Jencks (apud KUMAR, IBID: 131) e David Harvey
(1994) que consideram o pós modernismo uma categoria mais abrangente de cultura,
economia e sociedade. Em Jencks o pós modernismo é tratado como uma mudança nas
concepções de mundo e civilização e em Harvey o mesmo é tido como tipo de capitalismo
destacando suas variações e vínculos com a economia, a cultura e o espaço. Dialogando
com autores como Urry e Lash consideram que a cultura assumiu um poder extraordinário
na vida social. Corroboram com Jameson ao categorizarem as esferas culturais estética,
ética e teórica mediante as quais predomínio e formas de colonização de uma esfera
na outra, evidenciando a primazia do estético sobre outros campos que imputam à cultura a
nova imanência do social. Nesta direção situamos a vertente pós industrial que conceberam
a idéia de mercantilização da cultura e sua derivação nas chamadas “indústrias da cultura”:
educação, mass media, turismo, lazer e esporte (KUMAR, ibd: 128). Nesta abordagem
advém os trabalhos de Berman (1982) que mapeiam os paradoxos da própria modernidade
e a quase completa rejeição pelo rótulo da pós modernidade. Mesmo convencido do seu
20
apogeu com os movimentos do pós modernismo nos EUA nos anos 1960 mediante seus
experimentos artísticos e culturais da pop art e da contracultura, para ele tanto o pós
modernismo quanto qualquer antimodernismo é uma armadilha fadada ao fracasso, forma
de escapar de nós mesmos (IBID, 1982).
A chamada perspectiva dos franceses, dentre os quais se destacam analistas como Derrida,
Roland Barthes, Jacques Lacan, Michel Foucault e Jean Baudrillard, acreditam no poder
simbólico desta era onde se vislumbram perspectivas da chamada era da informação e da
economia simbólica dos signos. Berman é bastante crítico aos teóricos franceses acusando-
os de fugirem, via uma segunda onda interpretada por ele como “esotérica” do pós
modernismo: Derrida, Roland Barthes, Jacques Lacan, Michel Foucault, Jean Baudrillard e
sua legião de seguidores apropriaram-se de toda linguagem modernista e progresso radical,
arrancaram-na de seu contexto moral e político e transformaram-na em um jogo de
linguagens puramente estético(BERMAN apud KUMAR, IBID: 186). Mas a contribuição de
Berman vai além dos ideários contrários às teses do fim da modernidade, oferecendo um
panorama convincente de que as utopias e os processos sociais nunca estiveram tão vivos
quanto ao longo de todo o século XX, incluindo na sua última viragem. Seu pensamento,
contextualizado nas transformações urbanas em curso na passagem do modernismo aos
“pós”, reintroduz a temática das resistências e lutas urbanas. Seu universo é sua Nova York
que tal qual Paris foi para Benjamim, capital da modernidade, Nova York seria sua
atualização, capital do modernismo e seus símbolos: “(...) Boa parte da construção e do
desenvolvimento de Nova York ao longo do século passado deve ser vista como ação e
comunicação simbólicas: tudo foi concebido e executado não apenas para atender às
necessidades econômicas e políticas imediatas, mas, pelo menos com igual importância,
para demonstrar ao mundo todo o que os homens modernos podem realizar e como a
existência moderna pode ser imaginada e vivida” (BERMAN, 1982: 273).
Harvey, ao dialogar com Berman, acredita que hajam sinais claros de um pós modernismo e
mudanças significativas em processos sociais que, contextualizados a partir da análise do
espaço e seus processos, permite reconhecer que as teses centrais da modernidade ainda
estão vivas: “desejo sugerir que temos vivido nas duas últimas décadas uma intensa fase de
compressão do tempo-espaço que tem tido um impacto desorientado e disruptivo sobre as
práticas político-econômicas, sobre o equilíbrio do poder de classe, bem como sobre a vida
social e cultural (IBID, 1994: 257). Não dúvidas de que o que estamos experimentando
na vida social e nos seus vínculos com o tempo e o espaço uma dimensão histórica
atravessada por mudanças na temporalidade e espacialidade. O que os estudos ainda não
concluem ainda é se este momento seria, de fato, correspondente á passagem para o pós
moderno: a magnitude dos processos contemporâneos de modernização não permite, sem
21
fortes questionamentos, a afirmação da emergência de tempos pós-modernos, propícios ao
bric a brac com o passado, à escolha estudada de valores, à apropriação reflexiva da
sabedoria historicamente acumulada ou ao elogio indiscriminado da técnica” (RIBEIRO e
SILVA, 2004: 348).
Mas as transformações urbanas não são um trunfo somente das grandes economias de
cidades ocidentais típicas ou mesmo de lugares onde estes processos por mais que
pareçam se afigurar poderia confirmar esta tese. O que é certo é que mesmo em lugares
aparentemente distantes e que se viram lançados recentemente no cadinho político, cultural
e econômico da modernização, como a icônica Tirana, na Albânia, capital mais emblemática
da reabertura do Leste e Bálcãs, laboratório para vários estudiosos da contemporaneidade e
onde explodem processos e questões típicas da tradição e da modernidade que em choque
corroboram temas e questões: Tirana è la capitale europea che è maggiormente cambiata
negli ultimi 15 anni. Dopo la caduta del regime comunista, la città ha sperimentao,
nell'ordine: l'avvento della democrazia, l'immigrazione di massa, una drammatica e grottesca
crisi finanziaria seguita da disordini e dall'intervento militare straniero, una crescita
economica rapidissima e squilibrata, un'estrosa e pragmatica politica urbana opera del suo
"principe postmoderno" e, infine, una surreale fase di stallo in cui attende l'esito
dell'estenuante duello tra il sindaco e il presidente
1
(TAMBORELLI, 2006:87). Deste
panorama de muitas abordagens possíveis, e por vezes conflitantes e ainda em
constituição, para se enquadrar ângulos e formatos recentes da experiência socioespacial é
que vem as categorias de hipermodernidade e hiperrealidade que conformaria um
hiperespaço, com suas variantes como a idéia de hipermetrópole aqui defendida, que parte
de base do pensamento dos teóricos franceses Jean Baudrillard e Gilles Lipovesky, a partir
dos quais estes termos ganharam refinamentos mediante aplicações a contextos
particulares das ciências sociais, desde as perspectivas da Sociologia, da Antropologia, da
Geografia até a Psicologia Social: o indivíduo hipermoderno vive num momento da história
em que grandes transformações acontecem nas formas de assunção de sua subjetividade
(CARRETEIRO, 2005:2).
Harvey, ao tentar interpretar as origens do pensamento de Baudrillard, afirma que ele muito
mais reforça, do que transforma o papel da economia simbólica baseada no dinheiro:
Baudrillard descreve a cultura pós-moderna como „cultura do excremento‟. As
1
“Tirana é a capital da Europa que mais mudou nos últimos 15 anos. Após a queda do comunismo, a cidade
experimentou, na ordem: o advento da democracia, a imigração em massa, uma dramática e grotesca crise
financeira seguida da agitação levada pela intervenção militar estrangeira, um crescimento econômico rápido e
desequilibrado, uma política urbana pragmática operada pelo seu „príncipe pó-moderno‟ e, finalmente, um
impasse surreal em que aguarda o resultado do extenuante duelo entre o prefeito e o presidente”
(TAMBORELLI, 2006:87, Tradução Nossa).
22
preocupações pós-modernas com o significante e não com o significado, com o meio (o
dinheiro) e não com a mensagem (o trabalho social) com a ênfase na ficção e não na
função, nos signos em vez das coisas, antes na estética do que na ética, sugerem um
reforço, e não uma transformação, do papel do dinheiro descrito por Marx (IBID, 1994:99).
Sua reflexão refere-se ao fato de que Baudrillard ao propor o foco da análise do capitalismo
não mais na produção material de mercadorias, mas na produção dos signos, imagens e
sistemas de signos, Harvey, acha esta sinalização importante, mas acredita que não seja
difícil, ou tão divergente, estender a teoria da produção da mercadoria de Marx nesta
direção (IBID: 260). Talvez Harvey veja os dilemas e paradoxos presentes na concepção da
idéia de que o pós modernismo seria uma revisão da idéia de modernidade. O pós-
modernismo como legítima reação à monotonia da visão de mundo do modernismo
universal geralmente percebido como positivista, tecnocêntrico e racionalista em oposição e
contraste ao pós-moderno que privilegia a heterogeneidade, a fragmentação, contém a
renúncia ao impulso nostálgico de totalizar e legitimar a si mesmo. Trazendo Benjamim,
legítimo pensador na modernidade ao seu tempo, para quem a modernidade “é o transitório,
o fugidio, o contingente, como metade da arte, e a outra, sendo o eterno e o imutável
(BAUDELAIRE apud HARVEY, 1994: 21); e alinhando sua perspectiva com a de Berman,
podemos afirmar que a experiência da modernidade é paradoxal e contraditória, contendo,
nela mesma, elementos que se caracterizam muito de perto com os do mundo pós moderno:
existe um tipo de experiência vital experiência do tempo e do espaço, de si mesmo e dos
outros, das possibilidades e perigos da vida que é compartilhada homens e mulheres
em todo o mundo, hoje que designarei como „modernidade‟. Ser moderno é encontrar-se em
um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e
transformação das coisas em redor mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que
temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade
anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e
ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém,
é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num
turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e
angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, “tudo o que
é sólido desmancha no ar” (BERMAN, 1987: 15).
Portanto, a idéia de hipermodernidade parte destes marcos, diálogos e panoramas de
interpretação históricos, geográficos, socioculturais, econômicos, políticos, estéticos e
filosóficos que são ainda ensaios em constituição em busca da tentativa de analisar a
realidade do mundo e da vida. Para muitos a hiperrealidade de Baudrillard é um presságio
futurista pouco otimista: o fenômeno do hiper-real é ilegitimamente expandido para
incorporar a totalidade da vida social. A posição totalizante de Baudrillard exclui a
23
possibilidade de novos movimentos. Afundando em uma hipérbole deprimente do hiper-real,
ele ultrapassa a linha do discurso crítico com pronunciamentos abrangentes, sombrios,
como se soubesse o resultado de uma história que o foi ainda imaginada e muito menos
escrita(POSTER apud KUMAR, 1995: 137). No entanto, vários autores, ao reconhecerem
as complexidades em assumir rubricas, registram a importância das teorias dos pós
sobretudo as que propõem argumentos e definições independentes da terminologia pós, em
particular pós modernistas e pós estruturalistas, que desde o início restringiram suas
análises para campos da arte e da filosofia. Outros poucos assumiram o desafio de pensar
temas mais caros, como do tempo, do espaço, da sociedade e da política, aceitando o pós-
estruturalismo e o desconstrucionismo. Destes poucos, menos ainda assumiram realizar
esta complexa tarefa, sem se comprometer com uma postura eminentemente pós
modernista (KUMAR, 1995: 140), caso de Baudrillard e Lipovetsky, focos das nossas
abordagens para a idéia de hiperrealidade, hiperespaço e hipermodernidade.
Em Simulacros e Simulações (BAUDRILLARD, 1991) esboça e define a sua teoria de
hiperrealidade à qual recorre à idéia de simulacro, cópia da cópia (do real?). Sua formulação
parte do enquadramento da sociedade telemediada, a sociedade atravessada e definida
pelos mass media, pela comunicação. Para Baudrillard, a realidade se torna tão imagem
quanto à própria imagem e reside a idéia de que o hiperespaço, nestes remetimentos,
significando o lócus de condensação dos processos que nele se manifestam, não tendo,
todavia, que necessariamente, e cada vez mais, ser originário dele. Neste caso seriam os
nomadismos, itinerâncias socioespaciais bem reconhecidas em análises metafóricas, como
São Paulo é a maior capital nordestina, ou Lisboa é a segunda cidade francesa, e por aí vai.
Ou seja, as correspondências, simultaneidades e instantaneidades dos fluxos
socioeconômicos e culturais apresentam-se sob a forma de geografias difusas e
fragmentárias, o que exigem sua análise num mundo que a cada dia precisa rever seus
ideários políticos mais amplos, cada vez mais supra, infra, hipergeográficos. Mas trazer a
referência de hiperrealidade para o contexto urbano brasileiro implica assumir o desafio de
que São Paulo e Rio de Janeiro podem ser hiperrealidades ou mesmo que suas sociedades
e territórios, múltiplos e complexos, como os são os das grandes metrópoles de outros
contextos geográficos, assumiram um caráter ainda mais profuso de significações e
implicações a partir da produção, circulação e consumo de imagens e representações
comunicacionais que, ao se hibridizarem com as identidades cotidianas vividas, altera
memórias e identidades, em constante e ampliada (hiper)ressignificação: do mesmo tipo
que a impossibilidade de voltar a encontrar um nível absoluto do real é a impossibilidade de
encenar a ilusão. A ilusão não é mais possível porque o real não é possível. É todo o
problema político da paranóia, da hipersimulação ou simulação ofensiva, que se coloca
(BAUDRILLARD, 1991: 30). Estaríamos nessa dimensão da análise histórica, a viver uma
24
dimensão da história capitalista em que as teses da economia política dos signos precisam
superar a materialidade como fim ou imperativo: daí a histeria característica do nosso
tempo: histeria da produção e reprodução do real. A outra produção, a dos valores e das
mercadorias, a dos bons velhos tempos da economia política, desde muito não tem
sentido próprio. O que toda uma sociedade procura, ao continuar produzir e a reproduzir, é
ressuscitar o real que lhe escapa. É por isso que esta produção „material‟ é hoje, ela própria,
hiper-real(IBID: 33 e 34). E é o mesmo Baudrillard, quem completa: nem possível, nem
impossível, nem real, nem irreal: hiper-real é um universo de simulação, o que é uma
coisa completamente diferente (IBID: 155).
Numa vertente mais atual, que Baudrillard escreve suas obras nos anos 1980, Gilles
Lipovetsky atualiza muitas das questões que na ânsia por posicionamentos definitivos, em
que os pós pareceriam ser a resposta, elabora a concepção de hipermodernidade como
conhecimento maior do mundo (real e virtual) fenômeno muito influenciado pelo turismo e
pela incorporação da moda, em que a hipermodernidade vigora: “com a difusão da lógica da
moda pelo corpo social inteiro, entramos na era pós-moderna, momento muito preciso que
ampliar-se na esfera da autonomia subjetiva, multiplicarem-se as diferenças individuais,
esvaziarem-se de sua substância transcendente os princípios sociais reguladores e
dissolver-se a unidade das opiniões e dos modos de vida (LIPOVESTSKY, 2004: 19). Para
Lipovetsky, o termo pós moderno é importante na medida em salienta uma mudança de
caráter social e cultural das sociedades democráticas avançadas, mas para ele o termo
chega a ser vago, ambíguo, desajeitado(ibid: 52), o que portanto leva a crer que o hiper
vem substituir o termos pós: vinte anos, o conceito de pós-moderno dava oxigênio,
sugeria o novo, uma bifurcação maior; hoje, entretanto, está um tanto desusado” (IBID: 52).
Sua análise nos parece bastante fecunda e apropriada por pensar estes termos justamente
para dar conta de processos que ganham uma centralidade na sua difusão e proliferação
como economias simbólicas da hipermodernidade, sobretudo a moda: isso porque é com a
extensão da lógica da moda ao conjunto do corpo social (quando a sociedade inteira se
reestrutura segunda o lógica da sedução, da renovação permanente e da diferenciação
marginal) que emerge o mundo pós moderno(LIPOVETSKY, 2004:19). E continua: essa
época terminou. Hipercapitalismo, hiperclasse, hiperpotência, hiperterrorismo,
hiperindividualismo, hipermercado, hipertexto o que mais não é hiper? (ibid: 53). Seu
raciocínio,complexo e vigoroso, oferece lugar profícuo como corpus teórico, na medida em
que não estabelece, apesar dos diálogos espaço-temporais novos assumidos, o fim da
modernidade: “longe de decretar-se o fim da modernidade, assiste-se ao seu remate,
concretizando-se no liberalismo globalizado, na mercantilização quase generalizada dos
modos de vida, na exploração da razão instrumental até a „morte‟ desta, numa
25
individualização galopante(IBID: 53). Pelo contrário, identifica a sociedade moderna, a seu
termo e vivência vertical: nasce uma nova sociedade moderna. Trata-se não mais de sair
do mundo da tradição para aceder à racionalidade moderna, e sim de modernizar a própria
modernidade, racionalizar a racionalização ou seja, na realidade destruir os „arcaísmos‟ e
as rotinas burocráticas, por fim à rigidez institucional e aos entraves protecionistas, relocar,
privatizar, estimular a concorrência(ibid: 56/57). Trazendo os corolários da modernidade à
tona, reconhece que a hipermodernidade corresponde a um segundo estágio histórico: a
modernidade do segundo tipo (hipermodernidade) é aquela que, reconciliada com seus
princípios de base (a democracia, os direitos humanos, o mercado), o mais tem
contramodelo crível e não pára de reciclar em sua ordem os elementos pré-modernos que
outrora eram algo a erradicar. A modernidade da qual estamos saindo era negadora; a
supermodernidade é integradora” (IBID: 57).
Apesar de seu caráter de temeridade frente à “dureza” dos tempos: instalou-se um novo
ciclo social e cultural, a cada dia distanciamo-nos um pouco mais da tranqüilidade
descontraída dos anos pós-modernos (IBID: 71), o que depreende-se da obra de
Lipovetsky é seu caráter contextual e muito situado, tendo em vista que essa é, assim como
foi até muito pouco tempo em todos os cantos do mundo, a realidade, mas não podemos
deixar de assumir que as economias emergentes dos países semiperiféricos, dos quais o
Brasil em que assiste-se a uma aceleração da vida, mas que estes processos apresentam
formas particulares de exclusão: “a modernidade se construiu em torno da crítica à
exploração do tempo de trabalho; a época hipermoderna é contemporânea da sensação
de que o tempo se rarefaz com novos processos de exclusão. De um lado, o indivíduo
empreendedor, hiperativo, desfrutando a velocidade e a intensidade do tempo; de outro, o
indivíduo esmagado „ à revelia‟ pela ociosidade” (IBID: 78). Também na hipermodernidade o
que se destaca é, entre tantas outras perspectivas de análise, a valorização da importância
do espaço: se o desafio da modernidade parece ter sido pensar o tempo, na
hipermodernidade „temos que reaprender a pensar o espaço‟, pois a mudança na
espacialidade é o princípio ativo das figuras de excesso relacionadas às novas tecnologias
de comunicação e informação, à superabundância identitária, à individualização exacerbada
de referências torando múltiplos e flutuantes os mecanismos de identificação tanto
individuais quanto coletivos (ALMEIDA e TRACY, 2003: 32). Mas é preciso estar atento
pois muitas vezes estas categorias construídas para interpretar as novas paisagens da nova
economia cultural do século 21 implicitamente assumem a existência no passado de um
relacionamento mais fixo e estável entre a terra e a vida, o lugar e a cultura: many of the
neologisms generated to capture the processes and forms of contemporary landscapes:
'inauthentic place', 'non-place', 'heterotopia', 'hyperspace' implicitly assume the existence in
the past of a more fixed and stable relationship between land and life, place and culture,
26
locality and home. The result is a declensionist reading of 21st century landscapes of the
new cultural economy (COSGROVE, 2006: 88).
A hipermetrópole, portanto, condensa toda essa gama de referências ao se posicionar como
a exacerbação do espaço, onde todos os movimentos e processos parecem se juntar e
onde o imediato, o transitório, o efêmero parecem se colocar como cenas perpetuadas da
vida sociocultural, ou cenificações. Estas são referências maiores das espacialidades
resultantes da fragmentação, da fruição, da aceleração e do hedonismo e onde o lazer é, ao
mesmo tempo turismo, na medida em que a própria cidade em que vivemos apresenta toda
a multiplicidade do mundo (microglobalizações) e ao mesmo tempo onde a moda, em toda
sua performatividade e constituição de cenas, parecem conter os lastros de uma vida
requerida na mediação entre o legado da histórica e a fantasia midiatizada pela simulação e
o fugidio. No entanto, muito mais do que querer romper com toda uma análise do
contemporâneo que estamos ainda por entender e analisar, esta conceituação permite a
imediata e necessária adoção de um pós, quando se reconhece as armadilhas e dissensos
presentes nesta adoção. Julgamos este ponto relevante para situar a complexidade e,
muitas vezes, os conflitos teóricos baseados em evidenciações empíricas da realidade. Não
queremos, ao utilizar a concepção de hipermodernidade universalizar, e de certa forma
contribuir, com estas maneiras totalitárias de ajustar ou reduzir a totalidade a uma categoria
ou aporte teórico que, ao invés de abrir oportunidades de análise, se apresentam por
demais herméticos. Veremos que as espacialidades da hipermetrópole refletem e
oportunizam novos horizontes e visadas de análise na direção teórica esboçada e
pretendida.
1.2 SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO COMO HIPERMETRÓPOLES: ESTRATÉGIAS
SOCIOESPACIAIS DA NOVA ECONOMIA CULTURAL DO ESPAÇO
São Paulo e Rio de Janeiro são metrópoles que apesar de brasileiras e localizadas a menos
de quinhentos quilômetros uma da outra, na mesma região Sudeste, guardam diferenças
muito mais que semelhanças. Também suas trajetórias históricas e papéis sociais,
econômicos e políticos as configuraram como culturas muito específicas à revelia de suas
marcas identitárias e fluxos cada vez mais conectados e intercambiados. Hoje é comum
falar nas duas como pontes e pólos complementares, conexão para uma série de novas
oportunidades e talvez esta diferença, invariavelmente lidas como entraves para suas
aproximações, recentemente, convergiram para projetos semelhantes, comuns, negociáveis,
resguardando suas idiossincrasias. Da era da competição para o reconhecimento da
alteridade do outro como possível projeto de nexo de interrelacionamentos e também de seu
27
distanciamento e especialização, é outro dos recortes assumidos pelo trabalho. Ou seja, não
analisamos São Paulo e Rio de Janeiro mediante uma comparação ou mesmo buscamos
atribuir sentidos nesta relação na mera dualidade do par competição-complementaridade.
Claro que nestes projetos reconhece-se um jeito de fazer político e econômico que mais
uma vez reflete estratégias históricas e culturais destas duas metrópoles no período recente.
Todavia não é esta a perspectiva assumida, mas sim a de perceber nestas duas cidades
enredamentos para um ajustamento socioespacial presente em processos econômicos e
culturais do que definimos como economia cultural do espaço, exemplificados a partir do
turismo e da moda.
Em termos de estudos comparativos, podemos situar desde os que se fundamentaram na
comparação de processos entre duas metrópoles nacionais e internacionais a exemplo da
Los Angeles e Nova York analisadas por Edward Soja (1991) em sua teorização sobre a
cidade dual, para ele formada por uma complexidade de processos não somente duais, ou
seja, com processos socioespaciais do tipo ricos e pobres, mas por uma infinidade de
interesses, inclusive nostálgicos que ajudaram a manter as estratégias de crescimento
destas duas metrópoles, e a impedir que a fragmentação da metrópole pós-fordista
explodisse sob o impacto de sua evisceração. Também constata a premência do discurso
da mudança cultural e política e das práticas ideológicas da cidade do final do século XX
como outra dimensão importante da reestruturação urbana, em particular para o caso das
metrópoles de Nova York e Los Angeles: the post-Fordist dual city is thus becoming
increasingly filled with violent edges, colliding turfs, and interpenetrating spaces as the much
clearer, hierarchical lines and territorialities of an earlier urban era seemingly melt into air.
Instead of the older, simpler "tale of two cities", one rich and one poor, there is what Eric
Lapard calls a "compendious and unwieldy narrative of many 'cities' and a multitude of
interests, almost all of them suffused with nostalgia for times and places that never really
were. Ironically perhaps, it has been this compendious, pluralistic, and nostalgic narrative
that has helped to sustain and legitimize the most expansive growth strategies of urban
restructuring in New York and Los Angeles, and the prevent the fragment post-Fordist
metropolis from exploding under the impact of their evisceration. At this point, we are at the
edge of another important dimension of the urban restructuring of New York and Los
Angeles, one more finely attuned to the changing cultural logic, political discourse, and
ideological practices of the late twentieth century city (SOJA, 1991: 374).
2
2
“A cidade dual pós-fordista é, portanto, cada vez mais cheia de arestas violentas, nas quais colidem e
interpenetram espaços em que, muito claramente, linhas e territorialidades hierárquicas de uma época anterior
urbana aparentemente derretem no ar. Em vez dos mais velhos, mais simples "conto de duas cidades", uma rica
e uma pobre, não há o que Eric Lapard chama de compêndio narrativo e pesado de muitas cidades, formado por
uma infinidade de interesses, quase todos eles repletos de nostalgia por tempos e lugares que nunca existiram.
Ironicamente, foi este compêndio, pluralístico, com uma narrativa nostálgica que ajudaram a manter e legitimar
as estratégias de crescimento mais expansivo de reestruturação urbana em Nova York e Los Angeles, e a
impedir que a fragmentação da metrópole pós-fordista explodisse sob o impacto de sua evisceração. Neste
28
Em outra perspective comparativa, o geógrafo Cosgrove estabelece uma análise de duas
regiões urbanas, o Sul californiano, nos Estados Unidos, e a Città Diffusa, no Veneto
italiano. Para ele, o valor da análise de duas regiões urbanas, o Sul da Califórnia junto à
veneziana città diffusa deriva da justaposição de duas paisagens muito diferentes
superficialmente, a fim de revelar semelhanças significativas na sua geografia e evolução
que poderiam sugerir lições de compreensão e gestão da nova economia cultural do
espaço. Ao examinar a história, por exemplo, da região de Los Angeles, não sugere que ele
possa representar um futuro urbano para a região de Veneza, nem que o Veneto pode ser
entendido como simplesmente uma versão anterior do Sul da espacialidade da Califórnia.
Em vez disso, argumenta que processos socioculturais, bem como econômicos, muitas
vezes considerados como totalmente contemporâneos tem origens e resultados históricos
relevantes derivados da sua reflexão regional comparada: the value of placing Souhern
California next to the Venetian città diffusa derives from juxtaposing two superficially very
different landscapes in order to reveal signifcant similarities in their geography and evolution
that might suggest lessons in understanding and managing the new cultural economy of
space. By examining the landscapes history of the Los Angeles region, I am not suggestion
that it represents an urban future for the Venice region, nor that the Veneto may be read as
simply an earlier version of Southern California landscape. Rather, I suggest that social and
cultural (as well as economic) processes often regarded as wholly contemporary may not be
entirely so, and that their impact on these two regions has produced some important
similarities in landscapes outcomes, at least in coarse grain and viewed at the regional scale
(COSGROVE, 2006: 70).
Trabalhos recentes se posicionaram nestas fronteiras muito mais analisando o papel de São
Paulo e Rio de Janeiro como metrópoles globalizadas que buscaram se atualizar,
reinventando suas vocações e sentidos socioespaciais, quase como espelhos de uma
identidade urbana correspondesse a uma brasilidade urbana restaurada. Ou seja, quando
se fala de Brasil aciona-se uma grande variedade de sentidos e significações, mas quando
se situa neste país, sua vertente urbana, logo se associa São Paulo e Rio de Janeiro como
baluartes urbanísticos destas imaginações geográficas. Ao trazermos o plano da
imaginação, não o fazemos pelo recurso das ficções, mas dos valores, estéticas, e retóricas
em torno de processos sócio-históricos e imagéticos em que o Brasil tem sido cada vez mais
entendido como país emergente, ao lado de outros, os chamados BRIC´s (Brasil, Rússia,
Índia e China). Novas “potências” que da periferia me da pecha de incompletude, assumem
momento, estamos à beira de outra dimensão importante da reestruturação urbana de Nova York e Los Angeles,
mais sintonizada com a lógica do discurso da mudança cultural e política e das práticas ideológicas da cidade do
final do século XX” (SOJA, 1991: 374; Tradução Nossa).
29
nos discursos pós colonialistas, um novo eixo global e em cujos repertórios significacionais
também se inscrevem suas identidades espaciais. Sem sombra de dúvidas São Paulo é o
mais importante elo da economia brasileira com o processos globais: “São Paulo é hoje uma
das três maiores cidades do mundo, e abriga os centros de decisão empresarial, as sedes
dos sistemas financeiros e de prestação de serviços especializados: publicidade, moda,
design, saúde e educação superior. É, sem dúvida nenhuma, o mais importante elo entre e
economia nacional e a economia internacional(SOUZA, 1999: 37). Da mesma forma, mas
cumprindo historicamente e contemporaneamente um papel diferente, mas igualmente
importante o Rio de Janeiro se posiciona como uma das cidades mais importantes do
mundo e com uma estranha
3
espacialidade histórica no Brasil: “a quarta metrópole da
América Latina logo após São Paulo, Mexico e Buenos Aires estranha espacialidade que
após capital da Corte de Portugal, Brasil e Algarves, depois capital Imperial, capital
Republicana, capital de si mesma e agora capital do Estado que lhe nome pode ser
compreendida, com base nestas indicações históricas, como uma das mais ricas
expressões urbanas do país em seus sucessivos períodos de modernização(adaptado de
RIBEIRO, 2000). No entanto a importância do Rio de Janeiro no cenário nacional como sede
de grandes instituições, mesmo estatais, igualmente importante pólo de cultura e
entretenimento, estando aí grandes sedes de jornais, redes de TV e agências de publicidade
e marketing: no caso do Rio de Janeiro, decorridos mais de 30 anos da transferência da
capital federal, permanecem na cidade as sedes de grandes empresas estatais, as sedes do
Banco do Brasil e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
(PIQUET, 2000: 139E 140), dentre outras empresas importantes como a Vale e a Petrobras
o que lhe confere importante tulo de metrópole de novas indústrias, serviços e “formadora
da opinião nacional (IBID: 140)”.
Mesmo considerando a emergência de outros pólos urbanos e regionais brasileiros,
aprofundam-se, ao mesmo tempo, o papel das chamadas metrópoles nacionais, eixos e
epicentros de comando destas espacialidades. Em outras palavras, apesar do surgimento
de novas redes urbanas e regionais com papéis cada vez mais especializados e articulados
por novas geografias econômicas e culturais, os centros tradicionais urbanos se reinventam
3
Em 1834, a cidade do Rio de Janeiro foi transformada no Município Neutro da Corte, permanecendo como
capital do Império do Brasil, enquanto que Niterói passou a ser a capital da Província do Rio de Janeiro. Em
1889, a cidade transformou-se em capital da República, o município neutro em Distrito federal e a Província em
Estado. Com a mudança da capital para Brasília, em 21 de abril de 1960, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se o
Estado da Guanabara, de acordo com as disposições transitórias da Constituição de 1946 e com a Lei 3.752,
de 14 de abril de 1960 (Lei San Tiago Dantas). A Guanabara foi o único caso no Brasil de uma Cidade-Estado.
Em plebiscito realizado 21 de abril de 1963, a população decidiu pela existência de apenas um município na
unidade federada. Pela Lei Complementar nº20, de 1 de julho de 1974, durante a presidência do general Ernesto
Geisel, decidiu-se realizar a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, a partir de 15 de março de
1975, mantendo a denominação de Estado do Rio de Janeiro, voltando-se à situação territorial de antes da
criação do município neutro, com a cidade do Rio também voltando a ser a capital fluminense. A fusão causou
grande polêmica entre os cariocas e fluminenses à época, haja vista não ter havido consulta popular nos Estados
que se fundiam (RIO DE JANEIRO, 2004).
30
como nós das decisões de comando, inteligência e tecnologia com novas malhas de
transporte, hospitalidade, serviços, conhecimento e comunicação na mediação entre estes
novos pólos descentralizados e o mundo em constante conexão e demanda. O Brasil está
em mutação e com ele suas metrópoles correspondentes. Mas porque São Paulo e Rio de
Janeiro são ainda as metrópoles nacionais, apesar do surgimento, aprofundamento e
especialização de novas centralidades em outras regiões brasileiras? Esta resposta está na
sua capacidade e mesmo necessidade de adaptação econômica, política e cultural, como
uma espécie de reinvenção espacial e histórica. Poucos trabalhos dedicaram-se a esta
temática no período recente, sobretudo quando se considera as transformações externas no
contexto da rede urbana nacional e global, como se elas estivessem desconectadas de uma
rede de relacionamentos. Reconhecemos a pluralidade e dificuldade destas faces nas suas
dimensões de transformação econômica e espacial que o Brasil vem sofrendo e seus
desdobramentos óbvios na sua tradição política e sociocultural. Todavia destacamos sua
importância, apesar de assumir esta perspectiva na medida em que o trabalho se
desenvolve na arena destas relações intermetropolitanas, considerando fluxos e
intercâmbios entre São Paulo e Rio de Janeiro e a natureza e profundidade de tais
conexões com recortes globais presentes em interescalas do internacional.
Em primeiro plano evidenciam-se os estudos que consideram a grande região urbana de
São Paulo e Rio de Janeiro, numa perspectiva mais macro do desenvolvimento capitalista
global e seus resultados e arranjos espaciais, no qual se definiria uma cidade-região global,
dentro das conceituações propostas pelos geógrafos americanos Allen Scott, Agnew, Soja e
Storper: existem hoje mais de 300 cidades-regiões no mundo com população de mais de
um milhão de habitantes” (SCOTT, AGNEW, SOJA, STORPER, 2001: 11), que variam
desde aglomerações metropolitanas com um núcleo ou mais núcleos desenvolvidos como
Mexico, Londres ou Teerã, no caso de um núcleo central e ou São Paulo-Rio de Janeiro,
Nova York-Washington ou Tokio-Osaka, no caso de mais um núcleo indo até redes urbanas
difusas, mas conectadas como no caso da Emilia Romagna na Itália. Essas aglomerações
se formam por várias determinações geográficas, desde econômicas e políticas até culturais
e outras, mas seu surgimento está muito relacionado a novos circuitos econômicos globais,
notadamente os relacionados à modernização sociocultural, à indústria de novas tecnologias
e os serviços (IBID: 12). Nessa vertente regional, a cidade-região global, resultante do eixo
conurbado como um corredor polarizado pelas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro
são destacados como novo vetor urbano-regional da economia latinoamericana e
internacional: a megalópole do Sudeste Brasileiro se constitui na mais importante
concentração urbano-industrial da América Latina, no que tange a população total e
população empregada no setor industrial, encontra-se entre as áreas de destaque em
escala global. Com mais de 42 milhões de habitantes, não há, no Ocidente, estado membro
31
com população superior a da Megalópole do Sudeste (o Estado de São Paulo possuía
quase 37 milhões de habitantes em 2000, a Califórnia não chegava a 30 milhões em 1990);
na América Latina somente o Brasil e México possuem populações maiores; na Europa
Ocidental, apenas Alemanha, França, Itália e Inglaterra. O PIB da Megalópole do Sudeste é
o maior do que qualquer país da América do Sul, salvo, evidentemente, o do Brasil.
Englobando, entre outras, as duas mais importantes metrópoles do país torna-se
desnecessário demonstrar a importância da Megalópole enquanto concentradora e difusora
de produção cultural e científica brasileira. A Megalópole do Sudeste concentra mais de 70%
da produção científica brasileira, Rio de Janeiro e São Paulo possuem as sedes de todas as
redes nacionais de televisão, os quatro jornais de circulação nacional e seus museus
possuem o mais expressivo acervo de artes plásticas do país” (QUEIROGA: 2005: 14). Essa
espacialidade é tão expressiva que o governo Federal, através do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, ao reconhecer a importância dessa espacialidade
publicou, a partir do IPEA, um estudo intitulado “Rio-São Paulo Cidades Mundiais: Desafios
e Oportunidades (REZENDE e LIMA, 1999) onde foram analisados aspectos
socioespaciais, reestruturação produtiva, infraestrutura, condicionantes ambientais até
proposições visando à competitividade econômica e uma política urbana com mecanismos
comuns para a ação urbanística: as duas principais cidades brasileiras com potencial de
inserção no fechado círculo das cidades mundiais São Paulo e Rio de Janeiro detêm
uma posição única no mundo: estão situadas a poucos mais de quatrocentos quilômetros de
distância uma da outra e conectadas por um eixo rodoviário que apresenta sinais visíveis
de conurbação(IBID: 11). Esse eixo de desenvolvimento regional é comandado por dois
pólos metropolitanos no qual em cada uma das pontas localiza-se São Paulo e Rio de
Janeiro. O mapa 1 apresentado a seguir ilustra e importância demográfica e econômica da
região que, nos 1990, ela detinha em seu entorno os maiores valores do PIB e da
população urbana do Brasil.
Partindo destas considerações da formação e até da possível institucionalização de uma
região urbana global, também as análises que buscam entender as metrópoles de São
Paulo e Rio de Janeiro como Global Cities.
Nesta perspectiva, São Paulo apresenta-se como uma metrópole global cujos principais
focos estão ou na evidenciação da tese da Global City, tal qual proposto por Sassen e
outros autores. Nesta direção destacam-se os trabalhos de Evelyn Levy (1997) que, ao
comparar São Paulo e Londres, evidencia muito mais os gaps de São Paulo para com
aquela metrópole, sobretudo em termos da adoção de foco da gestão e do Governo urbano-
metropolitano (LEVY, 1997). Outros, autores, evidenciam as mitificações, neste caso
analisando os sentidos ideológicos escamoteados na idéia de entender, ou promover, São
32
Paulo como uma Metrópole Global, revelando os avessos de presentes nessa construção,
conduzindo à sua desmistificação: tomando como exemplo o caso de São Paulo, o que
podemos afirmar é que as dinâmicas de produção da cidade terciária, muito mais do que
influenciadas pela „globalização‟ são dominadas por relações arcaicas e patrimonialistas,
pelas quais a imiscuição entre Estado e iniciativa privada permite significativos ganhos
capitalistas e influencia a produção do espaço da cidade em torno das centralidades
terciárias (FERREIRA, 2003).
Em São Paulo, estas análises se debruçaram sobre processos recentes de reestruturação
urbana interna, em que se evidenciavam as chamadas formações de novas centralidades
globalizadas, sob a forma de territorialidades da globalização: reside o coração e a alma
de São Paulo com seus múltiplos centros de serviços avançados, de informação, de gestão,
de coordenação e de controle do capital que conformam territórios globalizados, a exemplo
das avenidas Paulista e Berrini. Os serviços agora funcionam como indústria: quer sejam de
serviços de informação, marketing ou propaganda. Tanto quanto os de auditoria contábil,
consultoria financeira, seguros, engenharia industrial, tecnologia, computação, etc. Serviços
estes que produzem idéias, aconselhamento de pareceres, se constituindo num intenso uso
do conhecimento como atividade diretamente prática. “Além desses serviços vale mencionar
aquelas atividades que envolvem concepção, inovação e criação” (LENCIONE, 2003: 41).
Outros autores, ao aludirem à criação dessa nova centralidade, evidenciam suas
33
repercussões sobre os estoques imobiliários, sobretudo os relacionados às sedes de
empresas: o crescimento do estoque da Avenida Marginal do Rio Pinheiros foi
acompanhado pela ação dos promotores imobiliários no sentido de cooptar possíveis
locatários, principalmente entre as grandes empresas. Em 1975 o Centro e a Avenida
Paulista concentravam a maioria das sedes dessas empresas em São Paulo com 68% do
total (54% no Centro e 14% na Paulista). Em 1998 a Marginal já despontava como a primeira
região nessa concentração com 41% do total, contra 21% da Paulista, 18% do Centro e 20%
em outras regiões(NOBRE, 2000 apud LEME, 2003: 32). A autora também considera que
esta migração da centralidade está fortemente relacionada à localização das grandes
corporações globalizadas e também à migração da territorialidade correspondente à
população de renda média e alta da cidade. Outros, por outro lado, refletiram sobre as
coalizões entre o público e o privado, responsáveis pela sua materialização e seus reflexos
sobre a reprodução da vida cotidiana. Neste caso a emblemática implementação da
Operação Urbana Faria Lima (OUFL) que, ao permitir a abertura e densificação do espaço
terciário na direção do vetor Sudoeste da metrópole paulistana, abriu novos espaços via
modernização do novo front simbólico imobiliário e vetor de uma série de intervenções
disseminadas pelo Estado e pelos empresários, como analisado por CARLOS, (2001): a
OUFL se inscreve, assim, em um conjunto de estratégias políticas, imobiliárias e financeiras,
com orientação significativa no processo de reprodução espacial, que converge para a
segregação e a hierarquização no espaço a partir da destruição da morfologia de uma área
da metrópole que ameaça/ transforma a vida cotidiana, reorientando usos, estruturas e
funções dos lugares da cidade (IBID: 30). Este espaço e todo o vetor sudoeste com suas
ilhas de modernização corresponderiam a essas territorialidades da globalização
(KOULIOUMBA, 2002).
Essas análises trouxeram à cena as especificidades dos processos de especialização
espacial da metrópole paulista, evidenciando, além de seu caráter como pólo de serviços,
não voltados para negócios, mas também para o entretenimento, rótulo que tem
mobilizado fortes segmentos empresariais na consolidação da imagem de São Paulo, não
somente como metrópole do trabalho, mas também da sua associação com o turismo, a
cultura e o lazer: com estas transformações, especializam-se espacialmente as funções,
aprofundando a divisão espacial do trabalho na metrópole, implodindo a antiga centralidade
que havia no bairro, no contexto da produção espacial de novas centralidades, que
constituem a metrópole polinucleada. O novo pólo que vai se produzindo reproduz um duplo
fenômeno: de um lado a extensão do eixo empresarial da metrópole; de outro, a constituição
de um pólo de lazer que definirá aquilo que chamamos de „centralidade móvel‟. Esse
fenômeno se refere, na metrópole, ao centro institucional de lazer, delimitado/ definido pela
monofuncionalidade, no caso específico, pela localização de equipamentos de lazer, como
34
bares e restaurantes, ligados a um consumo organizado, programado, produzido e
povoados de signos(CARLOS, 2001: 28). Em São Paulo, a forte componente do setor dos
serviços como o vetor de reestruturação econômica e espacial é importante, mas nem
sempre interpretado como o grande responsável pela sua emergência como uma metrópole
global, fazendo evidenciar ainda sua forte matriz industrial: “novamente, não se trata aqui de
ignorar a abundante literatura internacional e crescente discussão brasileira sobre o papel
dos chamados novos serviços, em especial os chamados „tradables‟, ou seja,
comercializáveis à distância. Porém, mesmo reconhecendo o crescimento dos serviços, seja
porque parte expressiva parece pertencer à categoria de .serviços produtivos., seja porque
há os conhecidos problemas de mensuração de sua produtividade, acreditamos que a
hipótese de que São Paulo tornou-se uma cidade global na medida em que se tornou uma
metrópole de serviços carece de sustentação empírica adequada” (MATTEO e TAPIA, 2002:
89). Em termos de uso do solo, a composição do uso do solo urbano é corroborada na
pesquisada detida feita por Carlos (2003), na qual se constata a primazia dos serviços:
nesta cidade como um todo, o uso do solo urbano destinado aos prédios de escritórios em
agosto de 1997 ocorria do seguinte modo: 39,7% eram ocupados por atividades de serviços;
14,4% pelo setor financeiro; 13,8% pelo setor industrial, 7,8% pelo setor governamental; 5%
pelo setor comercial; 5,3% por outros setores; o restante estava desocupado (13,9%)
segundo levantamento feito pela Bolsa de Imóveis. Do total dos edifícios de escritórios, 43%
ainda se localizavam no centro da metrópole, mas era evidente a tendência ao
deslocamento para o Sudoeste, onde se concentram hoje 38% dos escritórios(CARLOS,
2003: 140). Apesar disso, é preciso colocar, segundo ainda Matteo e Tapia, que, apesar de
muito dedicada à produção de serviços que o município ainda concentrava no começo de
2000, cerca de 1/3 da produção industrial do Estado de São Paulo.
A importância do Rio de Janeiro, alvo de uma série de estudos, foi recentemente
interpretada como uma metrópole que vinha, a passos consideráveis, perdendo peso
relativo no resultado geral da atividade econômica para a metrópole de São Paulo. Esta
análise, no entanto, foi rechaçada por vários autores, que ao se debruçarem sobre a
temática da reestruturação econômica pós fordistas das duas, evidenciaram a importância
de alguns setores, como o do quaternário para a metrópole carioca: ao longo do período de
declínio, em particular durante a década de oitenta, plantas foram relocalizadas para o
estado de São Paulo e para o sul de Minas Gerais e várias sedes de empresas foram
deslocadas para a Grande São Paulo. Os desfalques foram maiores nos ramos de
intermediários financeiros e atividades com alto conteúdo de capital intelectual. A Bolsa de
Valores do Rio foi fortemente afetada, vários Bancos Comerciais e de Investimentos,
Financeiras e empresas do ramo de seguros transferiram suas principais operações para
São Paulo. O mesmo vem ocorrendo com a informática e atividades correlatas. A despeito
35
dessas perdas, a área do Rio ainda retém algumas vantagens comparativas, em especial
aquelas relacionadas ao quaternário, isto é, aos serviços que fornecem insumos para outros
serviços. Ao que tudo indica, atividades de ensino superior, P&D, consultorias para a gestão
empresarial e engenharia, assim como turismo de lazer e negócios, demonstram forte
preferência locacional pela paisagem e outras amenidades urbanas e, como tal relutam em
deslocar-se para outros sítios onde tais condições são menos favoráveis. Algumas
localizações especiais, tais como as situadas na região serrana do Rio, são particularmente
atraentes para as atividades de pesquisa (Laboratório Nacional de Computação Científica,
LNCC) e linhas de produtos seriados com alto conteúdo tecnológico (Celma) (TOLOSA,
1999: 18). Para o caso do Rio de Janeiro, a consolidação de sua espacialidade terciária, se
bem que muito mais voltada para o lazer e o entretenimento, além de prover o saturado e
restrito mercado imobiliário da Zona Sul formado pelos “bairros atlânticos” (Copacabana,
Ipanema, Leblon, Gávea, Lagoa e São Conrado) em contigüidade ao centro e sua evolução
urbana, chegou ao seu auge via os fortes processos de conquista do mar e migração para a
Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, dada a “raridade” da localização próxima ao
mar dessas áreas e muito financiado pelo capital estatal (ABREU, 1987). No contexto da
formação de novas centralidades no Rio de Janeiro, tem-se adotado um foco especialmente
privilegiado na análise da Barra da Tijuca como uma espécie de correspondente carioca da
Marginal do Rio Pinheiros, o que não se fez sem custos para outros tecidos da cidade: as
tentativas de transformar a Barra da Tijuca num outro centro (ou subcentro de alta
polaridade) podem ser lidas como expressivas da tendência à sua autonomização de outras
regiões e/ ou áreas da cidade” (BIENENSTEIN, 2000: 284).
Também do ponto de vista das redes digitais e sociotécnicas percebe-se a importância das
metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro que atuam de forma intensa conectando um
espaço cada vez mais dinâmico e flexível com processos globais: os mapas das redes
telemáticas revelam a complexa arquitetura das políticas públicas que se organizam por
meio de redes sociotécnicas de gestão democrática da cidade. Neles podemos ler a forma
reticular que constitui esse mosaico de organização, onde se conforma um espaço dinâmico
e flexível e se redefinem as formas de articulação, redesenhando novas totalidades políticas
contra a degradação das condições de existência nas cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro” (EGLER ET AL, 2008: 83). A outra parte da escolha de São Paulo e Rio de Janeiro
recai justamente sobre uma série de transformações urbanas internas ou intraurbanas
que suas paisagens e espaços vem experimentando e que chamam a atenção pelo seu
caráter muitas intenso e até caótico dada a velocidade em que a cidade e sua materialidade
são demandados. Isto é visível, por exemplo, nos recentes incidentes em torno das
chamadas crises pelo estrangulamento e necessidade de modernização das infraestruturas,
como os graves acidentes aeroviários jamais vistos na escala e freqüência com que
36
aconteceram ou mesmo nos apagões de energia elétrica que levaram a uma série de
prejuízos e acometeram grandes tecidos nacionais. Esta constatação e tentativa de
demarcação ou justificativa teórica parte de processos específicos em particular o turismo
e a moda como constituintes de processos socioespaciais com capacidade de gerar novas
identidades, em um mundo com dinâmicos fluxos e mobilidades de pessoas e processos:
em um mundo de diásporas, fluxos transnacionais de culturas e movimentos em massa de
populações, tentativas antiquadas de mapear o globo como um conjunto de regiões ou
berços de cultura são desnorteadas por uma série estonteante de simulacros pós-coloniais,
duplicações e reduplicações, na medida em que a Índia e o Paquistão reaparecem numa
simulação pós-colonial em Londres e Teerã pré-revolucionária ergue-se das cinzas em Los
Angeles, e milhares de sonhos culturais semelhantes são representados em cenários
urbanos e rurais em todo o mundo. Neste jogo-cultura da diáspora, ficam borradas fronteiras
familiares entro o „aqui‟ e o „lá‟, o centro e a periferia, a colônia e a metrópole (GUPTA e
FERGUSON, 2000:35).
Mas os processos socioespaciais utilizados para analisar as metrópoles de São Paulo e Rio
de Janeiro não aludem somente à configuração das suas centralidades terciárias,
emblematicamente configuradas pela reconversão urbana do vetor sudoeste no caso da
experiência metropolitana ou na Barra da Tijuca, para o caso do Rio. Utilizamos vários
argumentos novos como os processos de revalorização de algumas áreas tradicionais,
tendo em vista seu alto valor simbólico, cada vez mais relacionado ao turismo e mesmo à
moda, servindo como base considerável do fluxos de turismo histórico-cultural e de
entretenimento e ainda sede de hotéis e escritórios ou como fonte de inspiração para alguns
diretores de criação, como a análise do processo de criação da Osklen tratados no Capítulo
4, demonstrará. Enquanto a globalização pede uma reorganização mundial, a escala do
urbano é reconfigurada por múltiplos processos. Podemos agrupá-los num conjunto
polarizado por dois movimentos: a produção de processos do tipo tabula rasa em que se
reinventam novos fronts da modernização via arrasamento de espaços e vidas até a
valorização por soluções mais vernaculares, onde edifícios e conjuntos de paisagens
urbanos são adaptados, revitalizados, regenerados ou requalificados como forma de servir
enquanto produtos espaciais simbólicos para estes novos processos. Neste sentido, não
nos interessa necessariamente se as verdadeiras cidades globais talvez sejam tanto as
economias metropolitanas em crescimento rápido da Ásia, América Latina, e (em menor
grau) África quanto os grandes centros da Europa, América do Norte e Japão, mas suas
especificidades em fase da acelerada internacionalização de processos urbanos, nos quais
São Paulo e Rio de Janeiro estão inseridos.
37
Outro processo que nos interessa situar é o da gentrificação
4
, conforme a definição adotada
e resultados socioespaciais são analisados por Smith (2000) e Rigol (2004). Seus esboços
teóricos permitirão o seu acionamento analítico como possibilidades de processos de
reconversão urbana em algumas áreas privilegiadas das metrópoles de São Paulo e Rio de
Janeiro. Para o primeiro autor, inicialmente a gentrificação surgiu como uma anomalia
esporádica, extraordinária e localizada no mercado imobiliário de alguns grandes centros
europeus e americanos e que nos dias atuais escompletamente generalizada como uma
estratégia urbana que substitui a política urbanista liberal. Não constituindo mais um
processo isolado e restrito a Europa, América do Norte ou Oceania, o impulso por trás da
gentrificação é atualmente generalizado; sua incidência é mundial, e está amplamente
conectada aos circuitos de circulação cultural e financeira mundiais. O que conecta esses
dois argumentos é a mudança de uma escala urbana definida de acordo com as condições
de reprodução social para outra na qual o investimento de capital produtivo detém prioridade
definitiva. Outro aspecto importante que o mesmo autor destaca é a rapidez da evolução de
um processo urbano inicialmente marginal identificado primeiramente nos anos 60 e sua
contínua transformação em uma dimensão significante do urbanismo contemporâneo. É
nesta categorização hábil que Smith (2002) constrói referenciais. Para ele, no contexto da
América do Norte e Europa, é possível identificar três ondas de gentrificação
(HACKWORTH, 2000 apud SMITH, 2002). A primeira onde, começando em 1950, pode ser
pensada como uma gentrificação esporádica, como Glass observou. Uma segunda onda
seguiu nos anos 70 e 80 já que a gentrificação se conectou a processos mais amplos de
reestruturação urbana e econômica, “fase de ancoragem” da gentrificação. Uma terceira
onda surge nos anos 90; nós poderíamos tomá-la como gentrificação generalizada. Claro,
essa evolução da gentrificação ocorre de maneira marcadamente diferente em diferentes
cidades e bairros e de acordo com diferentes ritmos temporais. Na Cidade do México, por
exemplo, o processo não é em nenhum lugar tão altamente capitalizado ou espalhado como
em Nova Iorque, permanecendo confinado ao distrito central da cidade, além de Coyoacán.
Para Smith, em Seul ou em São Paulo, o processo está geograficamente isolado em sua
infância e no Caribe, as crescentes conexões entre gentrificação e capital global estão
geralmente peneiradas pela indústria do turismo. De Canary Wharf em Londres à Battery
4
A maioria das visões acadêmicas sobre gentrificação continua ligada aos processos como ela foi definida nos
anos 60 pela socióloga Ruth Glass. Quase poeticamente, Glass capturou o que havia de novo nesse processo
no qual a nova gentryurbana transformava as vizinhanças da classe operária em Londres. Mais importante,
talvez, uma realidade altamente local, primeiramente identificada em cidades capitalistas um pouco mais
avançadas como Londres, Nova Iorque, Paris e Sidney, é agora virtualmente global. Smith (2002), ao mapear
sua abrangência, o identificou desde Glasgow, Cleveland, cidades anteriormente industriais, cidades menores
como Malmö ou Granada, e mesmo pequenos vilarejos comerciais como Lancaster, Pensilvânia ou Ceske
Krumlov na República Tcheca. Ao mesmo tempo, o processo se difundiu também geograficamente, com
relatórios de gentrificação de Tóquio ao Tenerife, São Paulo à Puebla, México, Xangai e Seul. Em certo tipo de
ironia, até Hobart (Tasmânia), onde camponeses britânicos desalojados tornaram-se caçadores ilegais e
rebeldes eram exilados no século XIX e de onde a população local foi aniquilada, também está sob o processo
de gentrificação (SMITH, 2002).
38
Park City em Nova York áreas desenvolvidas pela mesma empresa de base canadense ,
é fácil apontar o novo fluxo interno de capital global no megadesenvolvimento nos centros
urbanos (FAINSTEIN, 2005 apud SMITH, 2002).
Há obviamente outras abordagens para a gentrificação, como a oposição à gentrificação. De
Amsterdã a Sidney, Berlim à Vancouver, São Francisco à Paris, a segunda onda de
gentrificação estava associada ao aumento do número de desabrigados, agiotas, agentes
do mercado imobiliário, organizações e outros movimentos antigentrificação que estavam
frouxamente ligados por questões sobrepostas. Eles raramente constituíam movimentos que
abarcavam a cidade como um todo, mas desafiavam a gentrificação suficientemente para
que, em cada caso, eles fossem alvos de políticos da cidade e da força policial. Em São
Paulo, táticas altamente repressivas aplicadas a pessoas de rua da cidade são elaboradas
em termos de doutrina “científica” da “tolerância-zero” vinda de Nova Iork. Em todos esses
casos, o novo revanchismo estava explicitamente justificado por tornar a cidade segura para
a gentrificação. O novo autoritarismo tanto suprime a oposição quanto torna as cidades mais
seguras para o processo de gentrificação. Reorganizar a cidade para as classes médias
envolve muito mais que simplesmente fornecer imóveis gentrificados. A terceira onda de
gentrificação evoluiu para um veículo transformador de áreas inteiras em novos complexos
de paisagens que introduzem uma reorganização urbana compreensiva orientada para
classes. Mas é talvez sobre o significado cultural da gentrificação que nosso enfoque se
sobressaia. Sabe-se que suas matrizes encontram-se na substituição de contextos
socioculturais baseados na cultura capitalista: (...) a passagem do período industrial para o
pós-industrial havia significado a perda de relevância da mão-de-obra não qualificada no
processo produtivo, trabalhadores da indústria, os chamados blue collar, e o aumento de
uso de novas tecnologias em fábricas e escritórios, com aumento de status e postos
ocupados pelos profisionais de direção, administração e tecnologia, os chamados White
collar” (RIGOL, 2004: 103). Mas essa desdiferenciação não se vinculava somente ao mundo
do trabalho, mas ao mundo da vida sociocultural de uma forma geral dada pela valorização
de estilos de vida esteticizados e individuais geograficamente contextualizados, os quais
geraram uma espécie de urban commodities (LEY apud RIGOL, IBID: 104). Por outro lado,
não podemos nos esquecer nos aspectos econômicos que movem que se impõem como
determinantes nos espaços alvos ou a serem promovidos pela gentrificação e neste sentido
foi Neil Smith o grande autor a propor a teoria do rent gap baseada na explicação de que
estes processos estariam relacionados não somente na soberania dos consumidores, mas
nas mudanças de longo prazo no investimento e desinvestimento do espaço constrdo
dados pelo valor da terra urbana e divididos em valor da residência, preço de venda, renda
da terra capitalizada e renda potencial da terra (RIGOL, IBID: 106). Dessa forma, a
gentrificação é a consequência do movimento de retorno do capital aos centros urbanos,
39
onde a criação dos rent gaps havia consolidado as condições necessárisas para que a
reabilitação ou a renovação fosse viável economicamente. Outra importante análise feita
por SMITH refere-se à escala da gentrificação, antes muito associada a uma pequena
porção do território e da paisagem urbanos, pois para ele ela estaria relacionada aos ciclos
longos de acumulação e crise e do desenvolvimento desigual que se dava em escala
internacional como solução encontrada pelos capitais financeiros para a queda dos lucros
do setor industrial. Mas o que a gentrificação para nossa análise demonstra é de sua
vinculação à idéia de economia imobiliária fundada no conceito de economia cultural do
espaço. Rigol e Smith nos auxiliam nesta análise ao evidenciarem que a partir do final dos
anos 1980, as análises demonstravam essa articulação, ao analisarem a reconversão do
SoHo em Nova York de edifícios industriais e velhos armazéns e galpões para o Distrito dos
Artistas, em 1971. Mas por trás dessa operação 1estava presente uma estratégia de
recapitalização da baixa Manhattan, primeiro pelos pequenos promotores e depois por
grandes corretoras que adaptaram velhos edifícios por retrofit aos novos gostos dos novos
residentes, em sua maioria, o mais artistas (RIGOL, 2004: 110). Mas associar o conceito
de gentrificação a uma homogeneidade espacial, arquitetônica e, sobretudo, sociocultural é
tarefa quase impossível, dada a heterogeneidade de possibilidades dessa definição. Em
muitas análises se associa ao gentrificado sujeitos bem sucedidos, solteiros, sem filhos e
com boa educação, remuneração e padrão de consumo, ou seja, o yuppie, mas encontrar
empiricamente este sujeito em extensão e contigüidade geográfica é tarefa quase
impossível: “não havia um gentrificador tipo dominante, que feministas podiam não ter
filhos, os homossexuais podiam ser de jzes a artistas, os professores podiam viver em
cortiços ou residências unifamiliares mais caras, alguns recém chegados reabilitavam as
residências, outros não, um universo diverso e confuso de categorizar (RIGOL, 2004: 114).
Até onde a gentrificação em si permanece limitada, a mobilização do mercado de
investimento imobiliário urbano como veículo de acumulação de capital está sempre
presente. Um sintoma mais distante da intensa integração da indústria imobiliária com o
núcleo conceitual de um urbanismo neoliberal vem de cidades como Kuala Lumpur,
Singapura, Rio de Janeiro e Mumbai, onde os preços do mercado imobiliário nos anos 90
multiplicaram-se (SMITH, 2002). Os mesmos processos de centralização de capital que
acentuam a contradição entre produção e reprodução social também aumentam o processo
de gentrificação, embora, claro, isso aconteça de maneiras bem diferentes em diferentes
lugares. Em Mumbai, em particular, a desregulamentação do mercado e competição global
em meados dos anos 90 levou a “preços extravagantemente altos” que rapidamente
aproximou-se doa de Nova Iorque, Londres e Tóquio (NIJMAN 2000:575 apud SMITH,
2002). Os extremos altamente voláteis de 1996 recuaram, mas o mercado imobiliário da
parte norte de Mumbai agora se encontra para sempre em competição com imóveis em
40
cidades ao redor do mundo, uma condição que trouxe gentrificação em menor escala, mas
bem real, a algumas vizinhanças.
Por fim, destaca-se, de forma evidente, a presença e importância das metrópoles de São
Paulo e Rio de Janeiro dentro do conjunto da vida socioeconômica, política e cultural
brasileira e a riqueza ofertada pelos processos recentes de ajustamento às demandas
internacionalizadas da nova economia cultural do espaço e da forma como seus espaços
vêm sendo mobilizados dentro de estratégias socioespaciais particulares. Estas são claras
em processos da economia financeira e da chamada era dos serviços. Nossa proposta é
evidenciar alguns sentidos socioespaciais e repercussões sobre sua economia cultural a
partir de dois serviços ou dimensões econômicas que acionam significações culturais nesta
era, o turismo e a moda.
1.3 TURISMO E MODA COMO ECONOMIAS CULTURAIS DOS ESPAÇOS
METROPOLITANOS
O turismo a partir da sua relação com o espaço urbano pode ser definido de várias formas,
desde o chamado turismo de negócios, de eventos até o turismo de compras, o cultural.
Apresentando relacionamentos com vários campos da cultura e da natureza, sua prática é
sempre uma experiência da alteridade ou da excepcionalidade, na medida em que suas
motivações fundantes se colocam como interesse pelo diferente, exótico e do estrangeiro,
no sentido de não nativo. No entanto, nem todas suas práticas assim o são, como o turismo
de negócios que apesar de buscar novas oportunidades são parte de uma motivação da
decisão muitas vezes que não depende deste predicado de interesses e motivações
voluntárias dos seus praticantes. Não que os turistas de negócios sejam obrigados a viajar,
mas muitas vezes não o fazem por um desejo aporque o farão por motivo de trabalho e
não de tempo livre. Isso nos uma dica da complexidade que envolve a experiência
turística (PEREIRA e MAIA, 2004A e B). Na análise aqui realizada ele ainda se vincula a
outro fenômeno em particular: o da cultura e economia da moda e suas manifestações
derivativas, sobretudo gerando significações e sentidos para as economias e culturas
metropolitanas, no que, ao nos apoiar em Lange (2006), definimos como cenificações. O
turismo e a moda têm de fato ganhado centralidade dentro da economia e cultura
hipermoderna: dentre os muitos desenvolvimentos da arena do consumo, dois têm
particular importância. A mobilização da moda em mercados de massa (em oposição a
mercados de elite) forneceu um meio de acelerar o ritmo do consumo não somente em
termos de roupas, ornamentos e decoração, mas também numa ampla gama de estilos de
vida e atividades de recreação e lazer. Uma segunda tendência foi à passagem do consumo
41
de bens para o consumo de serviços não apenas serviços pessoais, comerciais,
educacionais e de saúde, como também de diversão, de espetáculos, eventos e distrações”
(HARVEY, 1994: 258).
Tendo em vista que os maiores destinos turísticos internacionais são as grandes metrópoles
onde as experiências e motivações turísticas se interpenetram, gerando desafios para sua
pesquisa e categorização, alguns autores (LAW, 2000; TYLER e GUERRIER, 2003;
FAINSTEIN, 2005) utilizam a rubrica de turismo urbano. Como forma de dar uma concretude
e especificidade ao chamado turismo urbano e suas ações correspondentes sobre o espaço,
economia, a cultura, a política e a vida social em face das suas manifestações, vários
estudiosos criaram abordagens condizentes a esta complexidade. A idéia de urbanização
turística exemplifica algumas dessas perspectivas (LUCHIARI, 1988) ao considerar que esta
corresponderia à formas e funções muito particulares de produção e consumo do espaço
pelo turismo: a urbanização turística acelera o movimento entre o velho e o novo, recriando
paisagens e a identidade dos lugares, produzindo um espaço social híbrido e uma nova
organização sócio-espacial (LUCHIARI, 1988: 2). Esta concepção é facilmente permeável
ao conceito de hiperespaço, como desenvolvido pela mesma autora: o turismo alimenta a
reprodução de pseudo-acontecimentos, hiper-realidades ou simulacros(IBID, IBIDEM). Se
apoiando em Urry, Luchiari afirma que o (pós)turista nesse ambiente (hiperespaço) não é
um viajante no tempo, nem um colecionador de autenticidades culturais, é um realista
irresoluto, um intruso consciente e, antes de ser um viajante, é um consumidor exigente
(IBID: 3). Apesar dessa conotação do turismo voltado para seus elementos socioculturais,
seu texto é bastante influenciado pelos conceitos em voga no começo dos anos 1990 como
os de capacidade de carga, sustentabilidade e a idéia de impactos, transferindo para o
campo do planejamento cultural turístico uma racionalidade que opera elementos
naturalizantes, muito remetidos à sustentabilidade socioambiental. Reconhecemos a
importância de tais conexões, mas evidenciamos as relações entre a produção do espaço e
a produção de símbolos que conduzem à criação de representações socioespaciais como
pilares de uma nova economia simbólica do espaço: the production of space and the
production of symbols have led to the creation of coherent spatial representations or
narratives of a new symbolic economy of space, the recent cultural turn in the social
sciences has led to the idea of cultural economy which recognises that economic practices
are culturally constructed” (d‟HAUTESERRE, 2006: 149).
A idéia de racionalidade, no entanto, é bastante interessante quando alia não à urbanização,
mas ao turismo seus vínculos com a produção e a reprodução de novas formas da ação no
território movida por múltiplos interesses agenciados e programados, o que deriva a idéia de
turistificação urbana. Ou seja, aos lugares, paisagens, territórios e espaços são orientados
42
projetos, intenções e perspectivas simbólicas e significacionais que alteram
significativamente sua materialidades, em termos de formas, seus sentidos em termos de
funções e suas significações, em termos de memórias, imaginários e processos de
apropriação sociocultural, reinventando incessantemente as identidades socioespaciais.
Trazendo a discussão para as idéias e recortes teóricos contemporâneos em voga,
sobretudo as noções de pós-modernismo, pós-fordismo, acumulação flexível e consumismo,
o turismo é reconhecido como uma das tendências do desenvolvimento econômico baseado
nos serviços orientados tanto ao consumidor, dada a sua característica associada à
produção de capital simbólico ou cultural, como também de alguns bens materiais. O
turismo, portanto, foi reinterpretado como um serviço importante na contemporaneidade, em
que se destacam suas fortes associações com a produção de símbolos, sendo o papel da
cultura nesse processo multifacetado e simultaneamente, um recurso, um produto, uma
experiência e um resultado: many of the changes in the culture of tourism have been
explained in terms of notions of pos-modernism, post-Fordism, flexible accumulation and
consumerism. Tourism, it is argued, fits in with trends in economic development towards
service-based, consumer-oriented industries associated with the production of symbolic or
cultural capital rather then material goods. The role of culture in this process is multi-faceted:
culture is simultaneously a resource, a product, an experience and an outcome(Tradução
adaptada de CRAIK, 1997: 113). Ainda nesta linha, e concordando com alguns autores o
turismo é entendido como um fenômeno essencialmente geográfico tendo por consideração
sua produção e consumo, bem como suas relações com os lugares e espaços. Estes
lugares incluem destinos, que são diferenciados através de processos de distinção social e
espacial, que simbólica e materialmente reestruturam-se dentro da sua incorporação na
economia mobilizada e mobilizadora de gostos e estilos(CRANG, 1997: 143)
5
.
Essa indústria cultural, também identificada como economia da cultura, emerge a partir da
segunda metade do século XX quando surgem diversos aparatos conceituais, como a
indústria de conteúdo, a economia criativa, a indústria criativa, a indústria do entretenimento,
a indústria da experiência e a indústria do copyright, para descrever as atividades
econômicas que produzem conteúdos simbólicos (SEGERS; HUJIGH, LIMA, 2006 apud
PIRES, 2009: 47-48). Um desses conceitos indústria criativa estabeleceu-se como uma
extensão da indústria cultural, porém fugindo do debate clássico sobre a mercantilização da
cultura, enfatizando a relação entre a criatividade e a economia no sentido de produzir e
circular bens simbólicos. A expressão surgiu em meados dos anos 1990, no âmbito das
5
the production and consumption of tourism are fundamentally 'geographical' processes. At their
heart are constructions of and relationships with places and spaces. These places include
destinations, which are differentiated through processes of social and spatial distinction and
symbolically and materially restructures through their incorporation within economies of taste
(CRANG, 1997: 143; Tradução Nossa)
43
políticas públicas, em resposta “à necessidade de promover a revitalização de determinadas
regiões e cidades”, classificando as atividades culturais tradicionais, ao mesmo tempo em
que enfatizava o papel da arte e da cultura na promoção de inovação e crescimento
econômico (LIMA, 2005: apud PIRES, 2009: 47-48). Esta indústria tem elos fortes com o
turismo e a moda que passam de processos e atividades a commodities. A
"commoditization" é um processo pelo qual as coisas (e atividades) são avaliadas
principalmente em termos de valor de troca e intercâmbio comercial, tornando-se
mercadorias e serviços. Turistas no mundo passaram a ter contato com formas de interação
social mediados pelo dinheiro, o que os levou, a também considerar os elementos exóticos,
e alvo das viagens por essa referência monetária. Segundo Greenwood (1977 apud
COHEN, 1988), que fez um dos primeiros estudos de mercantilização da cultura através do
turismo, ao verificar que seus atrativos, tornados commodities, perderam o seu significado
intrínseco e importância para a população local. Em outros palavras, uma vez que estes
eventos enraizados perdem sua fé pública, tornando-se uma performance encenada, uma
mercadoria "cultural", podem estar ameaçados também como mercadorias. Greenwood
(apud IBID), é categórico ao afirmar que uma vez que um produto cultural se torna uma
commodity "seu significado autêntico se esvai", evidência que o próprio Cohen desconstrói
por contra-exemplos como nos casos de músicos e dançarinos populares que, ao se
exibirem para um público externo, podem fazê-lo com interesse e orgulho autênticos. Essa
mesma autenticidade pode ser “inventada” por jovens artistas das grandes metrópoles que
têm que ser atraentes, estando o sentido da sua autenticidade relacionado com o
possibilidade de ser seu único diferencial competitivo. Igualmente, alguns eventos têm essa
mesma importância, como os desfiles e semanas de moda no mundo todo e aqui no Brasil,
como o São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio na medida em que passam a ser vistos
com valor de uma "autenticidade emergente", ganhando evidência e legitimidade
sociocultural, mas também econômica. Essa truncagem entre negócio e cultura é o
responsável pela suspeita e análise de que estes bens que antes tinham apenas valor
cultual passam a ser submetidos à lógica e órbita do mercado e da mercadoria. Mas muitas
vezes o surgimento de um mercado turístico pode freqüentemente facilitar a preservação de
uma tradição cultural que de outra forma pereceria. Ele permite que seus portadores
mantenham um sentido local ou étnico de identidade que, de outras formas poderiam ter se
perdido (PEREIRA ET AL, 2006). Este é particularmente o caso na esfera da arte popular e
do artesanato, muitos dos quais estão em declínio nos países do Terceiro Mundo, devido à
penetração de bens industriais introduzidos pela economia da mercadoria e que leva à
mercantilização, ou comoditização, de toda a experiência turística (COHEN, 1988).
Ao selecionarmos espaços para a análise dos impactos do turismo e da moda sobre os
tecidos metropolitanos não podemos nos esquecer de seus fortes processos de exclusão
44
socioespacialque seus impactos ocorrem de forma pontual e alijando grandes e extensas
tecituras, sobretudo àquelas periféricas. Este papel é de forma geral atribuído aos
denominados impulsos globais e seus elos com as novas racionalidades e formas de gestão
que operam entre as condições herdadas e suas formas de organização interinsitucional
gerando um verdadeiro deslocamento da ação social: este deslocamento entre sintonia do
novo e condicionantes sociais e culturais da ação social seria, responsável, ao nosso ver,
pelo isolamento relativo da gestão, transformada, gradualmente, num âmbito de
especialistas atuantes em mediações entre cotidiano urbano e Estado (técnicos da
administração pública, agências multilaterais, empresas com vocação para a atuação social
e cultural, redes sociais)(RIBEIRO e SILVA, 2004: 354). Todavia as inscrições que estes
processos configuram nas metrópoles contemporâneas, são tema que suscita as redes de
trabalho e capital criativo que os fundamenta, pois caminham como um estilo de vida
emergente e reapropriado em uma série de espaços de consumo sedutor, como em
restaurantes de nouvelle cuisine e contemnporary fusion food, boutiques, galerias de arte,
bares e cafés: “futhermore, along the increasingly labyrinthine necklace of globalizing cities,
a more generalized post-fordist attention to urban 'lifestyle' has helped to precipitate a range
of alluring consumption spaces - nouvelle cuisine restaurants, boutiques and art galleries -
alongside instantly recognizable coffe bars (MacLEOD e WARD, 2002: 155). Assim, é que
desde a década de 1980, no Reino Unido e nos Estados Unidos, as artes (dentro de uma
categoria mais ampla das indústrias culturais e criativas) foram acionadas para lidar com os
problemas urbanos de exclusão social mediante reabilitação de espaços pós-industriais.
Nestes casos, muitas vezes no centro de um novo porta-estandarte para algumas
instituições cultural, como a Tate Modern, em Londres ou mesmo o Museu Guggenhein em
Bilbao.
Essas formas de manifestação também estão muito relacionadas a projetos arquitetônicos
espetacularizados, sobretudo em novas economias emergentes na Ásia. Nas últimas
décadas muitas cidades asiáticas adotaram regimes empresariais seguidas por experiências
dramáticas de transformações urbanísticas e arquitetônicas em sintonia com suas
ressurgências econômicas. Como uma categoria discursiva conjurando imaginários da alta
modernidade da urbanidade do Século XXI com a produção emblemática de megaedifícios
como ícone ou uma metáfora espacial da suas possibilidades de poder político e simbólico
global. Baseando-se em parcerias público-privadas como uma estratégia fundamental nos
programas de regeneração urbana, buscaram na antecipação do início do "século asiático",
substituir as milenares construções por paisagens urbanas high-techs, incluindo cidades
beira-mar impressionantes, centros de convenções, marktplaces, complexos de escritório e
outros empreendimentos de uso misto comercial. A criação acelerada de novas formas
urbanas produzidas sob a nomenclatura dos "Asian mega-projects,” tais como as Petronas
45
Twin Towers em Kuala Lumpur, Gateway de Jacarta, o novo centro comercial e cultural na
Marina Central de Cingapura, o Teleport Minato Yakohama Mirai de Tóquio e Cidade e seus
21 projetos, bem como o Distrito financeiro de Luijiazui em Pudong, novo eixo de expansão
de Shangai o as Torres Taipei 101 em Taiwan (YEOH, 2005: 946-947). A evidência dos
efeitos regenerativos tanto da cultura material como da imaterial podem, portanto, ser
buscados onde a cultura funcionaria como um catalisador ou, no mínimo, um 'jogador-chave
"no processo de regeneração ou renovação, sobretudo a longo prazo: evidence of
regenerative effects can therefore be sought where culture is a driver, a catalyst or at the
very least a 'key player' in the process of regeneration or renewal. Three models through
which cultural activity is incorporated (or incorporates itself) into the regeneration process
can be distinguished over this period: culture-led regeneration, cultural regeneration and
culture and regeneration, although these are not necessarily mutually exclusive, particularly
over the longer term” (EVANS, 2005: 96).
Nesta direção, a turistificação urbana funciona como uma nova commodity simbólica da
cultura econômica dos espaços urbanos, o que gera uma vantagem competitiva e
comparativa para as economias dos espaços centrais metropolitanos: “(...) as a result, urban
culture itself has become a commmodity, and cities have a competitive advantege over
suburbs(FAINSTEIN, 2005: 1). Esta commodity simbólica, no entanto, não surge e se
reinventa a partir da imaginação sociocultural, mas pode muito além ser fabricada e
ampliada por processos sociocomunicaionais, para os quais já existem os chamados “mitos”
ou “lendas” urbanas, verdadeiras narrativas ficcionais que imputam às cidades aspectos
mitológicos aliados a sentidos e significados em torno da cultura hipermoderna. Neste
sentido, foram emblemáticos dos anos 1960 a 1980, movimentos artísticos como o Velvet
Underground em Nova York onde despontavam artistas como Andy Wharrol e Lou Reed que
deram origem a grupos e artistas legendários como Iggy Pop, Blondie, Depeche Mode, Joy
Division, Sonic Youth, Jesus and Mary Chain, Nirvana e Nine Inch Nails que marcaram toda
uma geração. O correspondente em Londres foram artistas do cacife de David Bowie, Annie
Lennox do Eurythmics, Pet Shop Boys, George Michael, Queen e Elton John na Londres
nos anos 1970 e 1980. Estes contextos simbólicos alimentaram o surgimento das cenas, as
cenas urbanas nas quais a moda como expressão artística e comportamental se nutriu
dando origem a outro conceito tratada na tese: das cenas, ou da produção delas, derivando
o conceito de cenificações da moda. Hoje estes lastros das cenas culturais são
responsáveis pela reinvenção de importantes movimentos culturais ligados à moda e
iconicizados pelos chamados designers do mundo fashion, fashionistas para alguns,
estilistas para outros, iconoclastas, para outros, do mundo hipermoderno, a exemplo de
Stella McCarteney, Alexandre MacQueen, Nicolas Ghesquière da Balanciaga, Karl Lagerfeld
da Channel, John Galliano da Christian Dior, Christopher Bailey da Burberry, Stefano Pilati
46
da Yves Saint Laurent, Marc Jacobs da Louis Vuitton, Miuccia Prada da Prada e Tom Ford
da Tom Ford. No Brasil alguns nomes despontam como Alexandre hertchcovich, Gloria
Coelho e Oskar Metsavah. Hoje este legado é reinterpretado e costumizado, para usar a
expressão dos fashionistas, em algumas novas cenas que ressignificam a experiência e o
legado cultural dos espaços metropolitanos, como os grupos e cenas dos Strokes
6
que do
Lower East Side em Manhattan despontaram para o mundo. Ou seja, enquanto os
movimentos dos anos 1970 ficavam circunscritos ao universo local e à busca dos
antenados, hoje sua proliferação é instantânea e imediata pela sua forte associação com
suas extensões em infovias de imagens, sons e informações.
Estas seriam as cenas, ou cenificações que, do underground ou do particularmente
incompatível com o conceito de alta cultura tradicional se manifestam mediante novas
propostas e performances criativas dos agentes culturais brincando com mídia eletrônica,
design e publicidade, mas também música, moda e vida noturna (LANGE, 2006). O turismo
urbano se nutre destes atributos simbólicos gerados pelas cenas artísticas, incluindo a
moda, alavancando toda uma indústria cultural. Nos termos de uma indústria cultural
urbana, muitas cidades usam estas cenas e espetáculos e os exibem como atrativos. Mas
para isso essas cidades precisam ter um circuito sempre dinâmico de produção e consumo
para dar conta de sustentar este setor de entretenimento. Surpreendentemente um número
considerável de lugares tem conseguido atrair criadores de vários que com um tempo criam
uma ressignificação simbólica para estes espaços (FAINSTEIN, 2005: 19). Representadas
por imagens efêmeras, estas cenas que como videoclipes, atuam feito instalações de arte e
eventos de moda, buscando sintetizar experiências artísticas que se confundem com a
experiência da vida: o colapso dos horizontes temporais e a preocupação com a
instantaneidade surgiram em parte em decorrência da ênfase contemporânea no campo da
produção cultual em eventos, espetáculos, happenings e imagens de mídia. Os produtores
culturais aprenderam a explorar e usar novas tecnologias, a mídia e, em última análise, as
possibilidades multimídia(HARVEY, 1994: 61). Isso lança à cultura hipermoderna os seus
relacionamentos íntimos entre os processos culturais e artísticos que se hibridizam com os
recursos socioculturais da vida cotidiana: embora quase toda a discussão disso ocorra no
abstrato, inúmeros pontos de contato entre produtores de artefatos culturais e o público
em geral: arquitetura, propaganda, moda, filmes, promoção de eventos multimídia,
6
The Modern Age (EP) foi lançado em 2001 e acarretou numa guerra de interesses entre gravadoras
pela maior banda de rock and roll em anos. Posteriormente, foram bastante divulgados, causando
uma divisão entre os seguidores do rock e revistas independentes. A banda tem como grande
influência bandas como Velvet Underground, Television, Ramones, Buzzcocks e The Beatles. A
maneira de cantar de Julian é muito comparado ao de Jim Morrison, The Doors e, principalmente, ao
de Lou Reed, do Velvet Underground. Muitas bandas foram influenciadas pelo som dos dois primeiros
álbuns da banda. Alguns exemplos são Arctic Monkeys, The Kooks e The Cribs.
47
espetáculos grandiosos, campanhas políticas e a onipresente televisão (HARVEY, 1994:
62). Estas formas de invasão de elementos estéticos levam a uma comoditização também
da cultura simbólica da aparência representada pelo universo da moda: a metrópole onde
estas cenas se reproduzem como espécie de cotidiano espetacularizados é onde a moda
encontra sentidos incessantes para aus reprodução em estações, numa mítica entre
natureza e cultura que hibridiza a comoditização da cultura simbólica em mercadorias do
vestir e do comportamento: “o pós-modernismo, seja qual for a forma que a intelectualização
possa tomar, foi fundamentalmente antecipado nas culturas metropolitanas dos últimos vinte
anos: entre significantes eletrônicos do cinema, da televisão e do vídeo, nos estúdios de
gravação e nos gravadores, na moda e nos estilos da juventude, em todos os sons, imagens
e histórias diversas que são diariamente mixados, reciclados e „arranhados‟ juntos na tela
gigante que é a cidade contemporânea (IBID: 63). São estes e entre espaço urbano e
novas manifestações do turismo e da moda que reproduzem repertórios simbólicos,
tornados commodities, em grande parte responsáveis pela perpetuação do papel das
metrópoles como epicentros da economia cultural do espaço, contextos analisados para os
casos de São Paulo e Rio de Janeiro.
48
“A cultura industrializada faz algo a mais. Ela exercita o
indivíduo no preenchimento da condição sob a qual está
autorizado a levar essa vida inexorável.
(Theodor Adorno e Max Horkheimer, 1985)
Capítulo 2
A NOVA ECONOMIA CULTURAL DA METRÓPOLE:
CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DAS TESES DO
NEW CULTURAL ECONOMY OF SPACE
49
Reconhecer no panorama Capitalista contemporâneo uma Nova Economia Cultural do
Espaço pode parecer mais um modismo (pós) modernista que imputa à experiência do
tempo-espaço continuidades e rupturas marcadas por ciclos de processos marcadamente
novos. Todavia, localizar e precisar, nessas perspectivas conjunturais, suas inscrições
teórico-práticas, nos coloca frente à questão de que tudo seria ao mesmo tempo,
continuidade, mas também ruptura, e, neste sentido, o novo, como um novo novíssimo
(RIBEIRO, 2006), diz deste paradoxo espaçotemporal.
Estas análises partem da consideração a processos recentes em que setores da economia,
intimamente ligados à cultura capitalista urbana e estilos de vida, tais como o turismo, a
moda, a arte e o design; sua produção, reprodução, circulação e consumo ampliados,
anteriormente lidos como dimensões localizadas de um conjunto de experiências
socioespaciais, passam e evidenciar uma economia simbólica, expressa numa cultura. Esta
explicação atenta para o aprofundamento e complexificação das sociedades urbanas em
escalas interpostas e imbricadas do local/ regional/ nacional e global passam a propagar, via
os mass media, valores e estilos referenciados por uma esteticização da vida social que,
sustentada na captura da economia e o espaço, redefine uma cultura. Esta é a perspectiva
definidora da economia cultural. O espaço como um desses lastros, sob a forma de
paisagens construídas, tem uma forte ressignificação, na sua componente de dimensão da
vida sociocultural estendida, objeto de consumo, lugares em que o turismo e a moda, se
projetam ou são construídos com essa forte carga ideológica. Para esta análise, é preciso
entender como setores dessa chamada economia cultural (turismo, moda, comunicação,
cinema, fotografia, música, publicidade, arte e design) recolocam os chamados serviços
como esfera central da produção capitalista do século XXI em que o espaço ganha peso
como expressão e processo incessante, no que muitos autores definem como Nova
Economia Cultural do Espaço. De uma forma mais ampla e tecendo os fios da história desse
nova economia cultural do espaço chegamos à própria definição de indústria cultural que
retira do universo da arte e do entretenimento as condições de sua produção e consumo
ampliados: o entretenimento e os elementos da indústria cultural existiam muito tempo
antes dela. A indústria cultural pode se ufanar de ter levado a cabo com energia e ter erigido
em princípio a transferência muitas vezes desajeitada da arte para a esfera do consumo, de
ter despido a diversão de suas ingenuidades inoportunas e de ter aperfeiçoado o feitio das
mercadorias” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985: 126)
Essa nova economia não guarda uma ruptura abrupta, mas muito mais uma reorganização,
no discurso e na prática, de novos sentidos para as relações socioeconômicas com
repercussões marcantes na cultura e no espaço. Esta nova economia cultural do espaço se
materializa através da articulação recente de novas dinâmicas capitalistas que recriaram
50
espaços com múltiplas escalas, definidas em espacialidades, que exigem a reformulação
das distinções de lugar e território, bem como novos modelos conceituais e abordagens
metodológicas. Os esforços teóricos para esta análise partem da consideração de que até
recentemente, a especificidade cultural de uma paisagem e lugar costumava ser articulada
no contexto de um determinado sistema socioeconômico abrangente expresso em
perspectivas socioculturais particulares. Assim, no passado, sempre houve algum tipo de
distinção, "real" ou escalonada, sobre as propriedades geográficas ou históricas e que, na
atualidade, com a quebra das barreiras espaciais e temporais e a explosão dos fluxos e a
interconectividade do mundo ocidental trouxe grande fragmentação, diferenciação e
complexidade, inclusive nas paisagens mais distintivas e homogêneas (TERKENLI, 2006).
Mesmo reconhecendo a sua componente econômica e política e suas mil facetas, a análise
que empreendemos, está mais centrada no espaço e suas expressões no território, no lugar
e na paisagem. Ou seja, no contexto de um mundo em rápida mudança, as forças de
transformação geográfica encontram na cultura uma componente forte de ressignificação,
com alta carga ideológica e também como legitimação e leitura atenta de suas variações
espaciais. Tais forças, funcionando em diferentes escalas geográficas e sujeitas a
complexas formulações políticas e ideológicas e repercussões, trazem à cena fortes
conteúdos socioespaciais, expressos pelo movimento geográfico de diferenciação,
conectividade, consumo, lazer e outros. Sua marca e reflexo no espaço seriam
invariavelmente fundamentados e articulados através das escalas com práticas, funções e
significados mutáveis indicativos dessa "nova economia cultural do espaço", ou seja, por
novos nexos de renegociações culturais emergentes e reinterpretação dos padrões
tradicionais das relações entre economia e cultura e dos seus relacionamentos
socioespaciais. Algumas das características desta nova economia cultural do espaço são as
repartições dos limites e da fusão de todas as esferas do mundo social e humano, bem
como a dissolução da particularidade espacial e identitária enquanto as forças de
desconstrução, redefinição e descentralização espaço-temporal podem em alguns casos
reforçar particularismos locais - tendências que surgem e desaparecem, ou mesmo refletem
e desviam cada uma das outras através da divulgação e comunicação dessas mudanças,
principalmente por meio da imagem, muito bem ilustradas na Tabela 1.
51
Tabela 1
Características de uma economia global
cultural do novo espaço emergente
1. Mudanças nos esquemas geográficos
tradicionais das relações socioeconômicas
mutante;
2. Quebra das barreiras espaciais de
distância e lugar, resultando em novas
experiências coletivas de lugar;
3. Dessegregação entre vida privada/ mundo
do trabalho e lazer;
4. Rediferenciação no espaço entre as
esferas pública e privada da vida cotidiana;
5. Rápido e amplo intercâmbio e
comunicação de bens simbólicos,
estruturas, serviços e práticas;
6. Predominância do visual sobre os meios de
comunicação textual
Fonte: Terkenli, 2005, pag. 170
O termo "economia" neste contexto é derivado de seu significado original do grego arcaico,
entendido como arranjo, modo de funcionamento e / ou gestão do uso doméstico (Webster's
Ninth New Collegiate Dictionary, 1983 apud Terkenli, 2002), ou neste caso, assuntos locais,
onde o local e o doméstico difundem a escala global para todo o planeta como lar. O termo
"economia cultural" emparelha-se ao uso tradicional de termos como economia política nas
ciências sociais, por englobar cultura e economia em uma abordagem da economia
centrada na cultura e de outros padrões e relações espaciais, interpretados através da
análise cultural (TERKENLI, 2002). Como "uma nova economia cultural do espaço", ela
enfatiza a renegociação cultural dos padrões ou de relações espaciais emergentes. Esta
mesma autora grega, alinhada a grupos de pesquisa em Espaço e Transformações
Socioculturais Contemporâneos, em particular UCLA, CUNY e Cambridge, entende que a
partir da propagação do chamado mundo ocidental pós-moderno, a nova economia cultural
do espaço é caracterizada por processos que acionam processos de “en-mundamento”
(enworldment), “amundamento” (unworldment), desmundamento” (deworldment) e
“transmundamento” (transworldment). Apesar da tradução sugerida, optamos por trabalhar
com os termos em ings. Estas categorias estabelecem das fortes vínculos entre economia,
cultura e espaço, particularmente no caso das grandes metrópoles onde os níveis de
articulação com seus fragmentos e mundos socioespaciais, entendidos como conjunto de
mudanças complexas, exigindo novos esquemas para sua análise e interpretação. Como
demonstrado em trabalhos publicados anteriormente (IBID, 2002), enworldment,
unworldment, deworldment e transworldment não representam um continuum, mas sim um
conjunto de processos operando mais ou menos simultaneamente, e o necessariamente
na ordem apresentada aqui, embora alguns deles tendam a ser iniciados ou reforçados por
um ou mais dos processos anteriores como ordenados acima (ver Tabela 2).
52
Tabela 2. Processos da nova economia cultural do espaço em paisagens contemporâneas
Processos
Características
Tendências Indicativas
Enworldment
Abrange todos os mundos
em um
Queda de barreiras e fronteiras geográficas,
fusão das esferas do mundo da vida e das
distinções entre natureza e cultura;
Englobamento de todas as faculdades e
atividades humanas na experiência da vida
cotidiana.
Unworldment
Dissolução da
particularidade geográfica e
da identidade espacial
Inautenticidade, falta de origem, perda do
senso de habitat, ruína das paisagens
geográficas como os conhecemos até agora;
Criação de formas e funções ageográficas do
espaço.
Deworldment
Desconstrução, redefinição,
descentralização
Comercialização, objetificação,
anestesiamento, a banalização da cultura e da
sociedade;
Novos conjuntos de regras e tendências de
transformação das práticas existentes e
conceituações de espaço;
Espaço virtual.
Transworldment
Disseminação, comunicação
Rápida mudança nos padrões de oferta e
demanda da paisagem e dos lugares. Fluxos
generalizados e instantâneos de imagens
espaciais;
Paisagem de replicação, globalização
Fonte: Terkenli, 2005, pag. 171
Em particular, os processos de enworldment referem-se à repartição de barreiras e
fronteiras entre as esferas previamente estabelecidas nos "mundos" ocidentais, conforme
definido por uma variedade de bases geográficas ou substanciais ou esquemas
analíticos. Na verdade, a indefinição contemporânea e a fusão de todas as categorias
conceituais e reais querem espaciais ou substanciais, em que o mundo humano pode ser
compartimentado (Sack, 1980), sinaliza e concretiza a variável transformação espacial. Esta
transformação é reforçada pelo grau no qual os antigos esquemas socioespaciais estão
esfacelados e pelas novas formas, processos e significados criados. O desmantelamento
das antigas e estabelecidas estruturas socioespaciais implica em processos de
unworldment, enquanto a crescente dissociação entre esses novos esquemas de
localização geográfica e unicidade local significa processos de deworldment. Processos de
unworldment, por exemplo, costumam resultar em processos de deworldment, com a
criação de paisagens fictícias, comercializadas, descartáveis, efêmeras, encenadas e
"inautênticas" as heterotopias de Foucault, o hiperespaço de Baudrillard. Estes tipos de
paisagens podem ser enquadrados em novos conjuntos de regras que desafiam as práticas
comuns e conceituações de espaço e ser acompanhados por tendências a ruptura dos
níveis de pertencimento. Tais forças transformadoras invariavelmente assumem dimensões
53
cada vez mais globais (transworldment), embora sua manifestação varie ao longo do
espaço, tempo e contexto social. É através de sua imagem, o principal meio de
comunicação interpessoal contemporâneo, mais uma vez, que as paisagens são
simultaneamente e instantaneamente replicadas, comunicadas e divulgadas em todo o
mundo eletronicamente ou por meio da literatura de viagens, através de processos de
transworldment. No caso específico das paisagens turísticas, variáveis geográficas de
análise podem incluir a escala de concentração de atividades turísticas na paisagem
medida em termos de forma, função ou simbolismo da paisagem, do vel de importância ou
centralidade do turismo para a vida local e para a paisagem local, e das questões de
capacidade visual da paisagem a capacidade de absorção da intervenção paisagística
no que diz respeito às atividades de turismo, todas altamente relacionadas a questões de
escala e caráter da paisagem (TERKENLI, 2002).
A produção de escala é essencial para a produção dessas novas realidades socioculturais.
Com efeito, através da compressão tempo-espaço, a estruturação escalar está cada vez
mais uma função do tempo. Processos de enworldment tendem a eliminar as propriedades
geográficas da distância e da diferença, ambas conceituadas e articuladas em termos de
tempo / história, assim como as relações espaçoculturais dos seres humanos com suas
paisagens e lugares. Entretanto, uma reorganização de toda a estruturação do espaço de
escalas da paisagem está ocorrendo. Os processos de unworldment tornam as experiências
com a paisagem, na qual a dicotomia insider-outsider é evidente e essencial, cada vez
menos significativas para a nossa vida e experiência diária, tendendo a irrelevância e
atingindo a escala mais íntima dos conceitos de paisagem e lugar. Enquanto isso, "todos
nós estamos chegando mais perto de nos tornarmos turistas contínuos e colecionadores das
paisagens internas" (RILEY, 1992 apud TERKENLI, 2002), definidos em qualquer escala e
conspirando qualquer contexto geográfico ou o. O que agora é trabalho, lazer ou casa é
cada vez mais obscuro como prazeres específicos que não estão limitados ao lugar ou
como proliferam através do mass media enquanto objetos de prazer visual. O que se segue
através destes processos de deworldment é uma sociedade do espetáculo (DÉBORD, 1997)
com um novo sentido coletivo do local baseado em transcender as barreiras da distância
geográfica e local, articulados à escala global, muito palatável e consumível por
praticamente todos ao redor do mundo. Suas paisagens expressam uma des-diferenciação
geográfica da produção, reprodução, alimentação e prática de lazer, turismo, compras,
cultura, educação, alimentação e assim por diante. Agora é possível vivenciar a geografia do
mundo indiretamente, como um simulacro (HARVEY, 1994). Tais paisagens transmundadas
contemporâneas cada vez menos se referem a comunidades delimitadas, modos de vida
locais, ou as imagens do lugar compreendidas num olhar, embora, através de processos de
propagação da nova economia cultural do espaço, o elemento visual e, portanto, estético,
54
adquira uma relevância ainda maior na sua definição, produção, reprodução, circulação e
consumo. O novo mais uma vez introduzido como significação maior do valor da cultura é tal
qual para os objetos dessa nova economia do espaço, como o foi para a obra de arte no seu
surgimento: o novo não é o caráter mercantil da obra de arte, mas o fato de que, hoje, ele
se declara deliberadamente como tal, e é o fato de que a arte renega sua própria autonomia,
incluindo-se orgulhosamente entre os bens de consumo, que lhe confere o encanto da
novidade(ADORNO e HORKHEIMER, 1985: 147). A grande transformação que essa nova
economia cultural do espaço contém é sobre os seus bens de consumo, mercadorias, dadas
pelo espaço, reorganizado por uma esteticização, e pela moda, igualmente condicionada à
novidade, à seletividade e à raridade. Esses são os nexos que estabelecemos para a
análise das recentes mudanças nos espaços culturais tornados conteúdos econômicos em
São Paulo e Rio de Janeiro. Portanto, para nossa análise das trajetórias dessa nova
economia cultural do espaço presentes em espacialidades turistificadas e cenificadas pela
moda em São Paulo e Rio de Janeiro, a reflexão centra-se o turismo e na moda como
processos que promovem novas mediações entre mudanças nos sentidos e identidades
socioespaciais dessas metrópoles.
2.1 CONTEXTOS APLICADOS DA NOVA ECONOMIA CULTURAL DO ESPAÇO: A
INDÚSTRIA DA MODA
As análises precedentes constroem as referências teóricas mais amplas da chamada nova
economia cultural do espaço, porém, a análise de suas implicações concretas mediante
processos empíricos econômicos e espaciais iluminam as possibilidades de análise das
trajetórias de contextos geográficos específicos, caso das metrópoles de São Paulo e Rio de
Janeiro, neste novo cenário.
Obviamente que analisar os casos das metrópoles nos faz reconhecer as mudanças
econômicas e espaciais mais amplas que estas metrópoles estão inseridas como pano de
fundo dos processos globais e regionais. Neste caso, trazemos as referências de Allen
Scott (2006) e sua abordagem básica da investigação geográfica de indústrias de baixa
tecnologia e trabalho intensivo, delineada a partir de noções principais da organização
industrial, aglomeração local e divisões espaciais do trabalho. Sua análise, apesar de
parecer distante do tema de investigação específico das mudanças na economia espacial
das metrópoles brasileiras de São Paulo e Rio de Janeiro, nos ofereceu uma boa referência
das múltiplas complexidades que envolvem estes serviços e setores da economia, que o
fato de serem agora cada invariavelmente remetidos à cultura, não nos era suficiente, pois a
grande dificuldade está em entender suas redes de criação, produção, circulação,
55
reprodução e consumo, cada vez mais difusas geograficamente e externas aos próprios
espaços metropolitanos que se vinculam e acionam como auto-imagem e promoção.
Para este propósito, Scott analisa a distribuição das indústrias de roupas e calçados no
mundo contemporâneo tendo por bases estatísticas publicadas, mas com uma ênfase
especial a similaridades e contrastes na geografia da produção entre países mais e menos
desenvolvidos. Apesar de seu foco eminentemente econômico em suas conclusões ele
sugere que a geografia global da produção tende cada vez mais a tomar a forma de um
mosaico de aglomerações colaboradoras e competitivas em vários níveis de capacidade e
desenvolvimento produtivo. O embasamento conceitual de suas análises está muito
centrado na nova teoria de crescimento e comércio de economistas como Krugman (1991,
1996) e Romer (1986) (apud IBID), com sua ênfase nos returns effects nos sistemas
econômicos e as implicações desses efeitos para o objetivo estratégico daqueles que fazem
política, mas também deve bastante, como veremos, à pesquisa que foi realizada por
geógrafos, economistas e sociólogos na década de 1990 sobre questões interconectadas de
aglomerados e correntes internacionais de valor. Contexto de desenvolvimento
socioeconômico que requer novas formas de escalonamento socioespacial cada vez mais
internacionalizadas e interconectadas por redes de comércio internacional, cadeias criativas,
repertórios estéticos plurais, terceirização dos processos criativos e de produção e cadeia
de valores. Outro recorte estabelecido a partir da análise de Scott foi de focar somente a
indústria do vestuário e calçados, entendidos como confecção, deixando de lado sua análise
da indústria moveleira. Para o caso da análise do turismo, o outro setor analisado, suas
referências serão construídas a posteriori, como forma de remetê-lo à análise componente
desta nova economia cultural do espaço. Outra tese assumida pelo autor é a das
implicações destes segmentos na mudança da sua geografia global, entendendo estes
setores como caracterizadas pelo uso de baixa tecnologia e trabalho intensivo.
Uma das características notórias da economia contemporânea é a emergência de vários
tipos de indústrias de baixa tecnologia e trabalho intensivo como forças motrizes de
crescimento, desenvolvimento e comércio em baixo e alto escalão. Nas décadas seguintes à
Segunda Guerra Mundial, quando a produção em massa de grande escala deslocou-se
decisivamente para limiares da expansão econômica, setores como esses eram
freqüentemente vistos como sendo sintomas arcaicos de uma era mais antiga do
capitalismo. Na economia globalizante de hoje, vários setores de baixa tecnologia e trabalho
intensivo estão alcançando o que em um primeiro estágio teriam sido considerados níveis
surpreendentes de desempenho em termos de crescimento de vagas de trabalho e
capacidade de ganhos internacionais. Para se ter certeza, eles são geralmente marcados
por baixas condições de trabalho, baixos salários e mão de obra desqualificada. Por outro
56
lado, eles crescem rapidamente em diferentes países e segmentos orientados para a moda,
proporcionando também, em muitos casos, oportunidades lucrativas de emprego e novas
oportunidades de qualificação geograficamente dispersas. Entre esses setores, as indústrias
de roupa, calçados e móveis são especialmente significativos por causa de seu tamanho
geral (em termos de renda e emprego) e sua incidência extremamente comum na paisagem
global. Algumas das características mais marcantes dos três setores é a sua propensão de
moldar-se em formas de organização, sua realização difundida (porém não de maneira
universal) em termos locais como densas aglomerações de produtores, e seu envolvimento
crescente em subcontratos internacionais e arranjos de produção em série compondo uma
estrutura emergente de competição e colaboração que estão progressivamente atrelados a
vários dos mesmos aglomerados em um mosaico mundial interdependente. Apesar de suas
lógicas institucionais moldadas por combinações entre competição e colaboração, elas às
vezes também funcionam como instrumentos de reestruturação intra e interaglomerados e
de desenvolvimento econômico local.
2.1.1 CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS GLOBAIS DAS INDÚSTRIAS DA MODA
(ROUPAS E CALÇADOS)
Moda não significa necessariamente o vestuário em si, sendo este a concretude em que a
moda é praticada e experienciada historicamente. No entanto, é preciso situar que a moda
existe em função deste que se coloca com a dimensão criativa, estética e simbólica
dos repertórios e estilos do vestir que variam histórica, ambiental, social, cultural,
econômica, espacial, simbólica e politicamente assumindo sentidos e significados variáveis.
No entanto, seus circuitos de produção e reprodução socioeconômica dependem da
existência das cadeias produtivas. Na conjuntura contemporânea, estes contextos variam
para além destes padrões assumindo formas de trabalho e produção extremamente
fragmentados e que alteram os sentidos e significados originais, tanto da alta moda (alta
costura que se amplia pela noção de luxo), como o da escala do vestuário de massa.
Estabelecimentos que produzem roupas e calçados existem em vários formatos, tamanhos
e mantêm várias formas diferentes de relacionamento entre si. Em um extremo, percebemos
redes de vários pequenos estabelecimentos no mesmo setor formando aglomerados locais.
Num outro, a produção também acontece em grandes estabelecimentos em relativo
isolamento organizacional e espacial de outros estabelecimentos do mesmo setor.
Adicionalmente, todas as possibilidades de gradação entre esses dois casos paradigmáticos
são aceitáveis em princípio, e várias idéias e formas intermediárias podem ser observadas
na prática.
57
A paisagem global da produção de roupas e calçada, então, é marcada por uma enorme
diversidade de lugar para lugar, mas é, de qualquer forma, organizada de maneiras
importantes ao redor de grandes aglomerações que constituem os principais pólos de
desenvolvimento das três indústrias. De acordo com Scott essas aglomerações por sua vez
funcionam como âncoras espaciais de uma série de fluxos internacionais de comércio que
podem ser categorizados em três grandes tipos, ou seja, exportações diretas de produtos
finais, comércio intra-indústrias e relacionamentos de terceirização. Uma conseqüência da
rápida expansão do sistema de fluxo de comércio internacional e o arranjo da produção da
moda é que aglomerações individuais estão não somente competindo mais e mais
intensamente entre si, mas também estão em outro nível tornando-se mais funcionalmente
integradas entre si ao redor do mundo. No fim dos anos 70, intimações de subcontratos
internacionais e produção dividida eram aparentes quando indústrias, como de roupas e
eletrônicos, utilizavam mão de obra não especializada e de baixa remuneração combinadas
com a então chamada periferia do mundo, e na intensificação concomitante das atividades
de produção e design nos países-núcleo. O primeiro trabalho sobre essa questão foi
produzido por Fröbel, Heinrichs e Kreye em 1980 (apud SCOTT, 2002) que introduziram o
termo “nova divisão internacional do trabalho” para designar as relações de produção em
mudança entre países ricos e pobres. Tão útil quanto esse termo foi, e é, a tendência a
impor uma rigidez esquemática nas formas pelas quais nós pensamos a geografia
econômica da globalização contemporânea. Preferimos evocar a noção de um mosaico
mundial de economias regionais em vários níveis de desenvolvimento e dinamismo
econômico e com várias formas de interação econômica conectando-os (SCOTT, 2004).
Essa noção nos permite descrever o espaço geográfico global e a reconhecer a variedade
de contra-exemplos dos preceitos da teoria da nova divisão internacional do trabalho que
podem ser encontrados no mundo contemporâneo. Eles incluem numerosos agrupamentos
de indústrias com mão de obra explorada em países desenvolvidos, e números crescentes
de aglomerações industriais sobre significante melhoria em países menos desenvolvidos.
Podemos acrescentar a esses contra-exemplos a dinâmica dos novos pólos de tecnologia
que fizeram seu aparecimento histórico e geográfico em países como Brasil, China e Índia.
Estes dados são evidenciados a partir da relação entre a produção e os níveis de trabalho,
tratados nas Tabelas 3 e 4.
58
Tabela 3. Indústria de roupas (ISIC 1819): emprego e valor agregado em países líderes de produção
País
Ano
Emprego
Valor agregado
($ milhões)
Valor agregado
por trabalhador
($ mil)
China
Bangladesh
Indonésia
Estados unidos
Índia
Romênia
Federação
Russa
Itália
Vietnã
Polônia
2001
1998
2001
1999
2000
2001
2001
2000
2000
2000
2.027.000
989.700
497.800
493.704
329.400
290.100
264.000
240.000
213.027
211.000
8780,6
869,7
979,9
27.049,0
839,6
325,3
357,5
8.085,3
405,0
1.124,0
4,3
0,9
2,0
54,8
2,5
1,1
1,4
33,7
1,9
5,3
Fontes: (a) Organização do Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas, UNIDO INDSTAT3, 2004,
Base de Dados de Estatísticas Industriais (CD-ROM), e (b) UNIDO, Revista Anual de Estatísticas
Industriais, Viena, 2004.
Tabela 4 Indústria de calçados (ISIC 1920): emprego e valor agregado em países líderes de produção
País
Ano
Emprego
Valor agregado
($ milhões)
Valor agregado
por trabalhador
($ mil)
Brasil
Vietnã
Indonésia
Itália
Índia
Tailândia
Federação
Russa
Portugal
Espanha
Japão
2001
2000
2001
2000
2000
2000
2001
2000
2000
2001
287.000
270.058
245.800
117.000
87.600
83.909
62.000
61.400
49.858
30.000
2.417,2
308,0
640,9
3.718,4
218,9
279,0
102,1
596,0
838,0
1.556,6
8,4
1,1
2,6
31,8
2,5
3,3
1,6
9,7
16,8
51,9
Fontes: (a) Organização do Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas, UNIDO INDSTAT3, 2004,
Base de Dados de Estatísticas Industriais (CD-ROM), e (b) UNIDO, Revista Anual de Estatísticas
Industriais, Viena, 2004.
As tabelas 3 e 4 mostram os países líderes na produção de roupas e calçados,
respectivamente. Deve-se salientar que a cobertura estatística dessas indústrias ao redor do
mundo é extremamente isolada. Problemas de definição de dados e comparabilidade
acrescentam maiores dificuldades ao analista. O repositório de dados sistemáticos nas
configurações da produção industrial entre países em geral são os arquivos estatísticos
publicados pela Organização do Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (UNIDO),
apesar de sua fonte conter várias lacunas, em termos de países analisados e o período de
coleta dos dados. Os países listados nas tabelas 1 e 2 estão limitados àqueles que a UNIDO
fornece os dados e, não são necessariamente, os maiores produtores num sentido absoluto.
Por exemplo, a UNIDO não fornece estatística alguma sobre empregos em indústrias de
calçados na China, e como veremos a partir dos dados de exportação a serem examinados,
a China está certamente na liderança da produção de calçados mundial. Outra dificuldade é
59
o fato de que países diferentes coletam dados industriais em diferentes intervalos de tempo.
Logo, as informações apresentadas nas tabelas 3 e 4 se localizam em variadas épocas;
entretanto, os dados apresentados são sempre os mais recentemente disponibilizados por
qualquer país.
Os países mencionados nas tabelas anteriores estão organizados por emprego. Dados
sobre o total de trabalhadores são apresentados, assim como são apresentados os totais de
valor agregado e valor agregado por trabalhador. Apesar dos problemas comentados
anteriormente, as duas tabelas claramente revelam que os principais produtores de roupas e
calçados hoje em dia em termos de empregos totais estão representados por um mix de
países em níveis bem diferentes de desenvolvimento. Alguns desses países têm grandes
mercados internos, outros têm importante comércio de exportações diretas, alguns são
grandes recipientes de pedidos internacionais subcontratados e ainda outros são marcados
por várias combinações dessas características. A Itália, com sua alta qualidade na produção
industrial de acessórios, é o único país desenvolvido a aparecer consistentemente nas
tabelas. No grupo de países menos desenvolvidos, a Ásia (especialmente a China) e a
Europa Oriental representam os maiores centros de emprego. A América Latina está
representada nas tabelas somente pelo Brasil por causa de sua grande saída de calçados.
Dados mais detalhados acerca de empregos nas três indústrias de 72 países também foram
retirados das estatísticas da UNIDO.
Não importa qual o nível de desenvolvimento e nem se os empregos estão aumentando ou
diminuindo, o fato é que as indústrias de roupas e calçados em quaisquer países tendem a
ser altamente concentradas em distritos industriais especializados. Esse material nos
permite pontuar um grande número de diferentes aglomerados no mundo que se
especializam em um ou outro desses três produtos e que estão interligados em outros
relacionamentos comerciais internacionais. Nos países de capitalismo avançado, os centros
dominantes tendem a coincidir tanto com áreas metropolitanas maiores como Nova York,
Los Angeles, Londres, Paris e Tóquio como aglomerados altamente especializados que
formaram competências produtivas e capacidades de marketing ao longo de longos
períodos de tempo (RANTISI, 2004 apud SCOTT, 2006). As municipalidades da tal
chamada Terceira Itália (no nordeste e centro do país) com sua gama de indústrias de
design intensivo, baixa tecnologia e trabalho intensivo ilustram o último ponto. Em países
menos desenvolvidos, a evidência publicada sugere que a incidência de aglomerados nas
três indústrias também é forte e provavelmente é intensificado por causa de suprimentos
mais limitados de infraestrutura básica e serviços públicos serem encontrados nesses
países em comparação a partes mais desenvolvidas do mundo.
60
A Itália e a China merecem maiores comentários neste contexto. Ambos os países são
grandes produtores de roupas, calçados e móveis e ambos são marcados pela proliferação
de aglomerados especializados nesses produtos. Na Itália esses aglomerados estão
predominantemente localizados no nordeste e no centro onde coincidem com lugares como
Modena (roupas), Porto Sant‟Elpidio (calçados) e Pesaro (móveis) (apud SCOTT, 2006). Na
China, elas são densamente concentradas na província de Guangdong, por exemplo, em
Dongguan (roupas e calçados) e Foshan (móveis). Christerson e Lever-Tracy (1997)
aludiram Guangdong como a “Terceira China”, porém devemos reconhecer que ela opera
em geral em um nível bem baixo de especialização e qualidade do produto quando
comparada com a Terceira Itália. O aparecimento da China sulista como um grande centro
de produção de roupas, calçados e móveis além de sua ascensão como um exportador
eminente desses produtos começou a acontecer em anos recentes (FAN & SCOTT, 2003
apud SCOTT, 2006). A maioria de seu desenvolvimento ocorreu como resultado de grandes
transferências de capital de Hong Kong e Taiwan por empresários chineses que
administram com preceitos étnicos com a finalidade de diminuir bastante os custos de
produção nos centros (GEREFFI, 1999 apud IBID). Hsing (1999 apud IBD) afirma que por
volta de 1992, quase 80% da produção de calçados manufaturados de Taiwan tenham sido
relocados em áreas centrais da China. Concomitantemente, muitos dos ex-produtores em
Hong Kong e Taiwan funcionam atualmente como operadores do mercado financeiro e
comerciantes, utilizando seu capital social como intermediário entre o Ocidente e o Oriente.
Apesar destes padrões e tendências da geografia econômica da industria do vestuário, não
significa, que devemos manter em nossos pensamentos que nem toda a produção de
roupas, calçados e móveis está confinada a aglomerados. Significantes números de
produtores podem sempre ser encontrados em localidades mais dispersas. Alguns desses
produtores, por sua vez, são exportadores ativos, especialmente no caso de grandes branch
plants e estabelecimentos verticalmente padronizados em países menos desenvolvidos.
Uma das grandes questões políticas para as aglomerações nos países menos
desenvolvidos, portanto, é a forma de alcançar a melhoria da qualidade e escapar da
estrada tortuosa da concorrência pura.
Outra análise importante é a de que as exportações de países mais desenvolvidos incluem
não somente produtos finais para vendas finais, mas também (acima de tudo no caso de
roupas) itens parcialmente manufaturados enviados para fora do país por outros processos
e associações. Logo, dos $4,99 bilhões de dólares de roupas exportadas dos Estados
Unidos em 2004, 68,3% foram destinadas a partes menos desenvolvidas da Ásia e América
Latina, e 25,8% foram somente para o México. Podemos seguramente afirmar que grande
parte dessas exportações é constituída de materiais terceirizados para produtores além-mar
(BONACICH & WALTER, 1994; KESSLER, 1999, 2002; SCOTT, 2002 apud SCOTT, 2006).
61
três maiores destinos para as exportações dos três produtos no mundo contemporâneo.
O primeiro, os Estados Unidos constituem um receptor proeminente, estando seus
fornecedores dominantes localizados na Ásia, nas Américas e na Europa. Em segundo
lugar, os países da Europa Oriental constituem um eixo em crescimento de fornecedores
para os mesmos países. Em terceiro lugar, o Japão representa um foco menor, porém
definitivo da atividade importadora do reino asiático. Estes fluxos englobam uma mistura de
produtos de alta e baixa qualidade, os primeiros sendo originados primariamente da Itália e
os últimos da China.
Em termos das mudanças na estrutura da produção e do comércio internacional as Tabelas
5 e 6 desfecham as principais mudanças nos padrões globais da atividade exportadora de
roupas e calçados desde o meio dos anos 80. As tabelas mostram os principais países
exportadores e as correspondentes vendas estrangeiras de cada um dos três produtos nos
anos de 1984, 1994 e 2004. Os dados usados aqui foram extraídos em sua maioria da base
de dados da COMTRADE das Nações Unidas, que assim como a base de dados da UNIDO,
não fornece cobertura completa de todos os países do mundo. Entre os grandes furos nos
registros da COMTRADE estão Taiwan (que até recentemente tinha números interessantes
em todos os três produtos analisados) e Vietnã (que agora é o maior exportador de
sapatos). Nessa ocasião, então, a informação tirada da base de dados principal foi
complementada com dados das outras fontes, como indicado nas notas de rodapé das
tabelas 5 e 6. O valor total de exportações mundiais apresentado nas três tabelas vem da
soma de todos os países na base de dados da COMTRADE e depois, adicionando dados
relevantes de Taiwan e Vietnã. O Brasil, apesar de todos os esforços tem resultados ainda
muito significativos no mercado interno, só se posicionando de forma interessante na
indústria de calçados.
62
Tabela 5. Principais exportadores mundiais de vestuário, 1984, 1994, 2004 (valores apresentados são
em dólares correntes e representam as exportações de vestuário para todos os países
a
)
1984
1994
2004
País
$
bilhões
País
$
bilhões
País
$
bilhões
China
b
Itália
Coréia do Sul
Taiwan
Alemanha
Oriental
França
Reino Unido
Turquia
Estados
Unidos
Índia
Total mundial
8,99
4,83
4,50
3,15
2,63
1,76
1,34
1,27
0,88
0,83
42,43
China
b
Itália
Alemanha
Coréia do Sul
Estados
Unidos
França
Turquia
Tailândia
Reino Unido
Índia
Total mundial
34,61
12,73
6,81
5,96
5,59
5,07
4,68
4,52
3,98
3,72
129,55
China
b
Itália
Turquia
Alemanha
França
México
Índia
Bélgica
Estados
Unidos
Reino Unido
Total mundial
71,88
18,34
11,38
11,24
7,88
7,48
6,71
6,05
5,00
4,97
228,98
Fontes: (a) Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de
Estatísticas, Commodity Trade Statistics Database (COMTRADE),
http://unstats.un.org/unsd/comtrade/, e (b) República Popular da China, Departamento de
Comércio Exterior, http://www.trade.gov.tw/.
a
Re-exportações foram extraídas de todos os dados apresentados
b
China é definida aqui como a China Continental, Hong Kong e Macau.
Tabela 6. Principais exportadores mundiais de calçados, 1984, 1994, 2004 (valores apresentados são
em dólares correntes e representam as exportações de vestuário para todos os países
a
)
1984
1994
2004
País
$
bilhões
País
$
bilhões
País
$
bilhões
Itália
Taiwan
Coréia do Sul
Brasil
Espanha
Iugoslávia
França
Tchecoslováquia
Alemanha
Oriental
China
b
Total mundial
3,50
2,53
1,35
1,03
0,77
0,58
0,51
0,49
0,39
0,38
13,58
Itália
China
b
Taiwan
Indonésia
Espanha
Coréia do Sul
Portugal
Brasil
Tailândia
Alemanha
Total mundial
6,47
5,76
2,77
1,85
1,65
1,56
1,56
1,54
1,49
1,12
32,48
China
b
Itália
Vietnã
Espanha
Alemanha
Bélgica
Brasil
Portugal
Holanda
França
Total mundial
14,74
7,90
2,69
2,18
2,02
1,93
1,81
1,56
1,33
1,32
46,70
Fontes: (a) Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de
Estatísticas, Commodity Trade Statistics Database (COMTRADE),
http://unstats.un.org/unsd/comtrade/, e (b) República Popular da China, Departamento de
Comércio Exterior, http://www.trade.gov.tw/.
a
Re-exportações foram extraídas de todos os dados apresentado.s
b
China é definida aqui como a China Continental, Hong Kong e Macau.
Talvez a característica mais relevante depreendida da análise das tabelas 5 e 6 seja, mais
uma vez, as posições dominantes de China e Itália. A China, como definida, já foi o maior
exportador mundial de roupas em 1984 e desde os anos 1990 ascendeu com extraordinária
rapidez à proeminência de um exportador dos três produtos em todo o período coberto nas
tabelas. O México se tornou um importante exportador de roupas ao longo da última década,
com pedidos subcontratados originários dos EUA, e expandiu-se no NAFTA. No setor de
63
calçados, o Vietnã emerge como o maior exportador de sapatos atléticos feitos por grandes
branch plants propriedades de corporações multinacionais. O Vietnã se beneficiou bastante
na última década com grandes transferências de países produtores de sapatos atléticos de
branch plants para países com mão-de-obra menos especializada, tais como Coréia do Sul,
Taiwan e até as Filipinas (BARFF & AUSTEN, 1993; GONAGHU & BARFF, 1990 apud
SCOTT, 2006). Os dados mostrados nas tabelas 5 e 6 parecem exemplificar a intensificada
globalização da produção e configurações de comércio que tem ocorrido nessas indústrias
nas últimas décadas. Acima de tudo, os dados revelam a importância crescente de certos
países em partes menos desenvolvidas do mundo como fornecedores de suprimentos
internacionais e a difusão geográfica da indústria da moda. Os elevados níveis de produção
nos setores de baixa-tecnologia e trabalho intensivo em partes menos desenvolvidas do
mundo são a causa de grande parte da perda de empregos nos países mais desenvolvidos.
O que fica claro destas análises para o setor da moda é de que as regiões têm grande
significância estratégica para a diversidade de setores industriais (SCOTT, 2006),
especialmente no caso de roupas e calçados porque as forças que levam à aglomeração
estão insistentemente presentes nesses três exemplos e porque a aglomeração parece ser
crítica para o sucesso competitivo. Tendências à aglomeração são impulsionadas por efeitos
localizados de aprendizagem e, em centros de produção de alta qualidade e de alta moda,
por peculiaridades específicas de cada local que muitas vezes caracterizam competências
locais, tradições e know-how de design. Essas peculiaridades, por sua vez, incorporam-se
nas saídas de dadas aglomerações, e orna-os com uma aura de autenticidade (por
exemplo, moda de Paris, sapatos italianos, móveis escandinavos) que lhes permite praticar
preços diferenciados nos mercados mundiais.
As perspectivas cada vez mais incertas de muitas aglomerações de roupas e calçadas em
todo o mundo menos desenvolvido são agravadas pela circunstância que suas vantagens
competitivas são muitas vezes bastante rasas e facilmente contestáveis, um comentário que
está de acordo com a noção de que o crescimento industrial recente em muitos países
menos desenvolvidos tem sido induzido mais pelo aumento quantitativo do investimento e
do emprego do que por melhorias dos fatores da produtividade total (RODRIK, 1999;
YOUNG, 1995 apud SCOTT, 2006). Os grupos industriais marcados por baixos níveis de
qualificação, trabalho infantil, longas horas de trabalho e as más condições físicas nos locais
de trabalho não podem ser esperados a gerar muito na forma de vantagens competitivas
acima e além de um mínimo de eficiência transacional e um quadro facilmente explorável de
trabalhadores. Em aglomerações mais avançadas, também, os níveis de fundo do sistema
de produção hoje em dia parecem estar cada vez mais fracamente vinculados a acréscimos
de vantagens competitivas locais, e muitas dessas aglomerações estão rapidamente
perdendo partes significativas da sua baixa atividade de produção ao custo de mão-de-obra
64
barata de trabalhadores imigrantes. Mesmo no caso da China, o aumento dos salários pode
muito bem levar a produção final do vestuário e do calçado em longo prazo para outros
lugares que novos locais de trabalho de baixa remuneração estão abertos ao capital
internacional (na Índia ou no Vietnã, ou em partes da África, por exemplo). Uma das grandes
questões políticas para as aglomerações em países menos desenvolvidos, portanto, é a
forma de alcançar melhoria da qualidade e de escapar da estrada da concorrência pura.
Empresas atualizadas em processos de modernização por sua vez estão suscetíveis a
funcionar como fontes de transbordamentos de informação o que pode ser prontamente
aproveitado pelos produtores concorrentes. Assim, o comércio orientado para a exportação
e as cadeias de valor que o acompanham pode aumentar as possibilidades de algumas
aglomerações em países de baixos salários - principalmente aqueles que iniciaram
rapidamente início o crescimento da curva de aprendizagem - para estabelecer uma
trajetória relativamente duradoura de crescimento e desenvolvimento. Exemplos
esclarecedores sobre os impactos das cadeias de valor sobre a atualização de grupos
industriais na periferia do mundo podem ser encontrados nos estudos de HASSLER (2004)
para o caso dos produtores de vestuário na Indonésia, e por SCHMITZ (1995) e BAZNA e
NAVAS-ALEMA'N (2004) (apud IBIDEM) para o caso da região produtora de sapatos do
Vale dos Sinos e região de Franca, Brasil.
Os processos envolvidos nos arranjos da indústria da moda global, portanto, resultam em
geografias em transformação de indústrias de baixa tecnologia e trabalho intensivo no
contexto global e não mais local/ regional. Este setor se caracteriza por uma dinâmica
básica local persistente que leva à formação de aglomerações de capital e trabalho,
constituindo localidades-chave dentro do vasto panorama da produção. Apesar da constante
melhoria das tecnologias de comunicação e transporte ao longo das últimas décadas, a
tendência geral dessas indústrias a se aglomerar no espaço geográfico não foi
comprometida, mesmo se as formas e as dinâmicas de agrupamento foram
significativamente reorganizadas.
2.1.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS INDÚSTRIAS DA MODA NO BRASIL
As dimensões atuais da indústria de confecção brasileira são bastante significativas, apesar
da dificuldade de estatísticas oficiais, tendo em vista que partes dos circuitos da confecção
seja constituído por agenciamentos internacionais ou se caracterizem por redes informais ou
em processo de formalização. Segundo dados da ABRAVEST (Associação Brasileira da
Indústria do Vestuário), o país está entre os cinco maiores produtores mundiais, apesar da
forte concentração regional nas Regiões Sul e Sudeste que juntas participam com 80% do
65
valor nacional, com destaque para os estados de São Paulo e Santa Catarina. A explosão
do mercado de roupas prontas (confeccionadas industrialmente), no Brasil, se deu a partir
da década de 60 e início dos anos 70, acompanhando a industrialização do país, que
provocou a migração da população rural para os grandes centros urbanos do país e a
entrada das mulheres no mercado de trabalho. Atualmente, a indústria nacional apresenta
as mesmas características da estrutura internacional, grande fragmentação e diversidade de
escalas e técnicas produtivas. O setor de confecções no Brasil é formado por um numeroso
grupo de pequenas e médias indústrias, dedicadas à produção de artigos do vestuário,
artigos decorativos e produtos técnicos. Cerca de 71% das empresas nacionais são de
pequeno porte, e respondem por apenas 11% do total da produção de confeccionados. As
confecções de grande porte, que representam pouco mais de 2,5% do total das indústrias,
dominam 40% do mercado. A maior parcela da produção provém das médias empresas,
que respondem por 50% dos volumes produzidos.
A sobrevivência das pequenas e microempresas é viabilizada por aspectos que marcam o
consumo de produtos de moda no país. A diversificação da demanda, com uma variada
gama de nichos consumidores de vestuário e agregados, cria circuitos de mercado
antieconômicos que se colocam como dificuldade par o mercado das empresas de grande
porte, e também, a flexibilidade exigida pela indústria do vestuário, submetida a um grande
número de modelos durante todo o ano. Neste circuito merecem destaque as criações,
concentradas, sobretudo nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e que se
apresentam nas principais Semanas de Modas internacionais, em torno da São Paulo
Fashion Week (SPFW) e Fashion Rio, tratadas no Capítulo 4. A heterogeneidade da
estrutura industrial brasileira é amplificada pela própria heterogeneidade do mercado
consumidor, no qual estão presentes segmentos variados de padrões socioculturais também
é um forte emblema. No Brasil, operam cerca de 17.400 unidades fabris no setor (em escala
industrial), gerando 1,2 milhões de empregos diretos e movimentando mais de US$22
bilhões (de produção), com uma participação superior a 4% do PIB. Suas dimensões
reproduzem a amplitude do mercado consumidor brasileiro, e dão conta da importância da
moda na formação da riqueza socioeconômica e cultural do Brasil e sua promoção
internacional. Estes dados e esta performance reposiciona a moda como um dos segmentos
da indústria cultural de maior crescimento no país, depois da música.
A redução das tarifas alfandegárias, a partir do início da década de 90, expôs a indústria à
concorrência com países mais competitivos, sobretudo os asiáticos, que também abriram
perspectivas para seu alinhamento dentro de outros centros de excelência, sobretudo os
europeus. Outro fato de destaque relaciona-se à “indústria da beleza a partir da forte
visibilidade dos modelos brasileiros que deram um vulto à imagem da moda brasileira, muito
66
associada à beleza e aos referenciais da natureza e cultura brasileira. A mudança nos
níveis de competitividade do mercado forçou as empresas nacionais do vestuário a iniciaram
um processo de reestruturação, em curso até hoje. As companhias passaram a terceirizar a
produção parcialmente ou totalmente, nas chamadas facções (empresas muito menores,
muitas vezes informais); passaram a aplicar seus esforços no fortalecimento das marcas e
de sua imagem mediante fortes acionamentos publicitários e do design, e muitas passaram
a atuar no varejo de moda, inaugurando lojas próprias e franquias.
O que mais chama a atenção nessa indústria nascida poucas décadas atrás, é que se
alastrou por todo país, extinguindo mercados enormes como os de venda de tecidos a metro
e o de máquinas de costura doméstica, substituindo quase que totalmente a confecção
artesanal realizada por alfaiates, costureiras e pelas próprias “donas de casa”.
2.2 CONTEXTOS APLICADOS DA NOVA ECONOMIA CULTURAL DO ESPAÇO: OS
SERVIÇOS TURÍSTICOS
O turismo entendido como economia cultural considera os fluxos de pessoas e seus
mananciais culturais, mobilizando serviços e racionalidades relacionados aos circuitos dos
espaços emissivos e receptivos e todo o trading turístico. A posição do Brasil como um
desses destinos pode ser analisado tendo por base as Tabelas 7 e 8. Os recortes históricos
selecionados referem-se às fortes repercussões dos Atentados de 11 de setembro/2001 em
Nova York, nos Estados Unidos que sofreram grande queda no recebimento de turistas
internacionais a partir de 2002, chegando ao seu ponto mais baixo em 2003. Já o Brasil, que
vinha em ascensão no recebimento de turistas internacionais até o ano de 2000, sofreu
reduções drásticas em 2002, como conseqüência dos atentados, chegando a um número de
turistas internacionais de 3,78 milhões (OMT, 2005). Entretanto, no ano seguinte, 2003,
retomou o seu crescimento, perdurando até o ano 2008. Vale lembrar que embora esteja em
crescimento no número de turistas internacionais, o Brasil não alcançou a marca do ano
2000 em 2008, mesmo com todos os esforços das instituições e a organização do setor.
67
Tabela 7 Principais Destinações Turísticas Internacional por Período (1990-2000-2003-2008)
Fonte: OMT (2009),UNWTO Tourism Highlights; OMT (2005), Tourism Market Trends. Elaboração própria.
De acordo com dados da OMT (2009), a Europa Ocidental e Mediterrânea foi a região mais
atingida pela crise econômica mundial de 2008. Levando em conta que o continente
absorvia mais de 50% das receitas do turismo internacional até 2008. A partir da crise
econômica o continente registrou o mais baixo crescimento de freqüentação de turistas
internacionais dentre as outras principais destinações. No entanto, houve crescimento
considerável de fluxos internacionais nos países do Leste. As maiores quedas em 2008
predominam nos países do Noroeste europeus como a Holanda, França e Reino Unido.
Países como a Alemanha (Sede da Copa do Mundo em 2006) e Suíça e Áustria (Sedes da
Copa da Europa de futebol Eurocopa em 2008), conseguiram manter o crescimento
positivo em 2008. Portanto, em relação a 2006 e 2007, o ano de 2008 apresentou queda
nos valores das receitas do turismo para os países da Europa do Norte e Ocidental, além da
África do Norte, Subsaariana, Caribe e América Central. No caso dos países da África do
Norte e América Central, esta baixa sucedeu a dois anos de forte crescimento.
A maior progressão em nível de receitas do turismo em 2008 se deu nos países da América
do Norte e da Ásia Meridional. Outro destaque no ano de 2008 é a ascensão de países
como Turquia e Ucrânia. O crescimento do turismo na Turquia se deve principalmente a
duas cidades (Antalya e Istambul) que juntas concentram cerca de 60% do recebimento de
turistas do país. a Ucrânia, se deve muito a sua independência nos anos 1990, sua
localização geográfica privilegiada como eixo de ligação da Europa do Leste para o Oeste,
sua inserção na Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e, sobretudo, a abolição em
2005 do visto de turismo para cidadãos da UE, dos EUA, Canadá e Japão. Apesar destas
1990
2000
2003
2008
Rank
País
Turistas
Inter.
(Milhões)
Rank
País
Turistas
Inter.
(Milhões)
Rank
País
Turistas
Inter.
(Milhões)
Rank
País
Turistas
Inter.
(Milhões)
1
França
52,4
1
França
77,2
1
França
75,0
1
França
79,3
2
EUA
39,4
2
EUA
51,2
2
Espanha
50,9
2
EUA
58,0
3
Espanha
34,1
3
Espanha
47,9
3
EUA
41,2
3
Espanha
57,3
4
Itália
26,7
4
Itália
41,2
4
Itália
39,6
4
China
53,0
5
Reino
Unido
18,0
5
China
31,2
5
China
33,0
5
Itália
42,7
6
México
17,2
6
Reino
Unido
25,2
6
Reino
Unido
24,7
6
Reino
Unido
30,2
7
Áustria
19,0
7
México
20,6
7
Rússia
20,4
7
Ucrânia
25,4
8
Alemanha
17,0
8
Canadá
19,6
8
Áustria
19,8
8
Turquia
25,0
9
Canadá
15,2
9
Alemanha
19,0
9
México
18,7
9
Alemanha
24,9
10
China
10,5
10
Áustria
18,0
10
Alemanha
18,4
10
México
22,6
41
Brasil
1,1
28
Brasil
5,3
38
Brasil
4,1
39
Brasil
5,1
68
facilidades, o grande crescimento no número de visitantes estrangeiros no país parece estar
muito relacionado ao setor de mineração e siderurgia, apresentando uma das maiores
reservas de Urânio do mundo, atraindo muitos investidores a partir dos anos 2000. Apenas
para esclarecer um pouco mais a situação da Ucrânia como destaque no número de turistas
estrangeiros, segundo dados do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, a Ucrânia
adota atualmente uma política de apoio aos investimentos externos e ao comércio exterior,
tendo aprovado uma legislação que permite aos estrangeiros comprar empresas e
propriedades, repatriar receitas e lucros e receber compensações no caso de
nacionalização da propriedade. O país aumentou, assim, significativamente o número de
companhias estrangeiras e de investimento externos a partir da chamada Revolução
Laranja” em dezembro de 2004 (BRASIL, 2008). O resultado disso foi o superaquecimento
do mercado imobiliário de Kiev e o crescimento de sua economia. Portanto, grande parte
deste turismo atual, parece vir também do turismo de negócios. o resultado do Brasil foi
crescente entre 1990 e 2000 quando enfrentou a dura crise de 2001, como reverberação
dos efeitos dos atentados às torres gêmeas nos EUA impactando significativamente o fluxo
de entrada, com grande peso de americanos. Em 2008 o Brasil cai nos resultados, apesar
de aumentar sua receita (de 1,172 par 5,8 milhões de euros). Esta queda se deveu pelo
crescimento considerável de outros pólos, sobretudo na Europa do Leste e Ásia.
Tabela 8 - Receitas do Turismo Internacional por Período (1990-2008)
Fonte: OMT (2009),UNWTO Tourism Highlights; OMT (2005), Tourism Market Trends. Elaboração
própria.
As atividades econômicas aqui definidas como Atividades Características do Turismo
constituem um grupo heterogêneo de serviços e estruturas produtivas que operam dentro do
circuito da produção-promoção-circulação-venda-consumo em que muitas vezes a
experiência entre venda e consumo ocorrem simultaneamente por se tratar de um serviço/
1990
2008
Ranking
País
Receita - $EU
(Milhões)
Ranking
País
Receita - $EU
(Milhões)
1
EUA
33,8
1
EUA
110,1
2
França
15,85
2
Espanha
61,6
3
Espanha
14,51
3
França
55,6
4
Itália
12,92
4
Itália
45,7
5
Reino Unido
12,07
5
China
40,8
6
Alemanha
11,18
6
Alemanha
40,0
7
Áustria
10,53
7
Reino Unido
36,0
8
Suíça
5,82
8
Austrália
24,7
9
México
4,3
9
Turquia
22,0
10
Canadá
4,9
10
Áustria
21,8
32
Brasil
1,172
41
Brasil
5,8
69
experiência. O que torna possível agrupá-las e analisá-las como tal é a identificação, em sua
produção principal, de produtos classificados como característicos do turismo, isto é,
produtos que são potencialmente de consumo dos visitantes. A Organização Mundial de
Turismo (OMT) define o turismo como o conjunto de atividades que as pessoas realizam
durante suas viagens e estadas em lugares distintos do seu entorno habitual, por um
período de tempo inferior a um ano, com fins de lazer, negócios ou outros motivos não
relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no local visitado (CUENTA,
2001: 39). No ano de 2006, essas Atividades Características do Turismo geraram um valor
da produção de R$149.642 milhões, constituindo-se, exclusivamente, como atividades
relacionadas à prestação de serviços, cuja participação percentual no total do valor da
produção gerado pelo setor de serviços foi de 7,1%. Na comparação com a economia
brasileira, este valor representou 3,6%. Ao analisar os segmentos das Atividades
Características do Turismo em relação ao valor da produção, observa-se que a atividade de
serviços de alimentação apresentou a maior participação, 40,94% com R$ 61.279 milhões
daquele total. Segue-se a ela o transporte rodoviário que, ao totalizar R$ 26 422 milhões, foi
responsável por 17,67% do valor da produção gerado pelas Atividades Características do
Turismo. As atividades recreativas, culturais e desportivas, ao registrarem um montante de
R$ 20 682,00 responderam por 13,82% das Atividades Características do Turismo (IBGE,
2006).
No ano de 2006, as Atividades Características do Turismo registraram um total de R$
73.868 milhões de valor adicionado, o que representou 5,5% e 3,6% do valor adicionado do
setor de serviços e da economia brasileira, respectivamente. Destes valores, as atividades
dos serviços de alimentação apresentaram a maior participação, 36,36%, com R$ 26.856
milhões daquele total, seguidas pelo transporte rodoviário, com um montante de R$ 14.232
milhões, sendo responsável por 19,27% do valor adicionado das Atividades Características
do Turismo. As atividades recreativas, culturais e desportivas e os serviços auxiliares dos
transportes responderam por 18,06% e 8,78% deste total, totalizando R$ 13.339 milhões e
R$ 6.484 milhões, respectivamente (IBGE, 2006).
A heterogeneidade dos segmentos que constituem as Atividades Características do Turismo
pode ser observada, também, a partir da relação consumo intermediário/valor da produção.
O consumo intermediário corresponde ao valor dos bens e serviços consumidos como
insumos num processo de produção. O valor do consumo intermediário em uma atividade
econômica mostra-se influenciado, tanto pela quantidade de insumos utilizados no processo
produtivo como também pelo preço destes. Em seu conjunto, as Atividades Características
do Turismo consumiram, de forma intermediária, R$ 75.774 milhões de bens e serviços da
economia brasileira. O transporte aéreo apresentou, em 2006, a maior relação consumo
70
intermediário/ valor da produção dentre as Atividades Características do Turismo (0,71).
Com uma relação consumo intermediário/valor da produção superior à média dessas
atividades (0,51), tem-se ainda os serviços de alimentação (0,56) e o transporte rodoviário
(0,55). Os serviços de alimentação necessitam de um grande número de bens e serviços em
seu processo de produção justificando, desse modo, a relação observada. A Tabela 9, a
seguir, ilustra a relação consumo intermediário/valor da produção das Atividades
Características do Turismo em 2006.
Tabela 9. Distribuição Percentual do Valor Adicionado das Atividades Características do Turismo por
Setores de Serviço - Brasil
2006
2005
Serviços de
alimentação
36,36
19,53
Atividades
recreativas,culturais e
desportivas
18,06
10,03
Serviços auxiliares dos
transportes
8,78
11,00
Serviços de
alojamento
6,14
3,24
Aluguel de bens
móveis
2,72
3,95
Transporte aquaviário
0,58
2,93
Transporte Rodoviário
19,27
41,85
Transporte Aéreo
5,63
3,97
Serviços de agências
e Organizadoras de
Viagens
2,45
1,36
Transporte Ferroviário
0,03
2,14
Fonte: IBGE, 2009. Elaboração Própria.
O resultado oriundo da relação consumo intermediário/valor da produção representa o custo de
produção por unidade produzida. Por exemplo: para as Atividades Características do
Turismo, cuja relação consumo intermediário/valor da produção é igual a 0,51, significa que
para cada 100 unidades monetárias, 51 foram gastas para a geração da produção. As
Atividades Características do Turismo, em 2006, totalizaram 5.714.669 ocupações, o que
representou 10,1% e 6,1% do total do setor de serviços (56.619.241) e da economia
brasileira (92.246.963), respectivamente. A atividade de serviços de alimentação destacou-
se dentre as Atividades Características do Turismo, com 2.857.677 ocupações, ou seja,
50,01% desse total. Também merece destaque o transporte rodoviário, com 18,89% do total
das Atividades Características do Turismo em 2006, ou seja, 1.079 351. As atividades
recreativas, culturais e desportivas totalizaram 1.013.987 ocupações, o que representou
17,74% das Atividades Características do Turismo naquele ano (IBGE, 2006). No ano de
2006, as Atividades Características do Turismo registraram um montante de R$ 31.341
71
milhões em salários e outras remunerações, o que representou 4,6% e 3,2% do total do
setor de serviços e da economia brasileira, respectivamente. Desse total, os salários e
ordenados despendidos pelas Atividades Características do Turismo representaram 85,9%,
ou seja, R$ 26 920 milhões. Estes, por sua vez, representaram 4,9% e 3,5% do total de
salários e ordenados pagos pelo setor de serviços e pela economia brasileira,
respectivamente. Das Atividades Características do Turismo, em 2006, a de serviços de
alimentação foi a que apresentou a maior participação, 28,8%, totalizando R$ 9.025 milhões.
Seguem-se a ela as atividades recreativas, culturais e desportivas, com 17,7% do total das
Atividades Características do Turismo, ou seja, R$ 5.548 milhões. A atividade de transporte
rodoviário, com R$ 4.974 milhões, respondeu por 15,9% desse total. Em termos de
remuneração média depreendida, as Atividades Características do Turismo pagaram, em
2006, uma remuneração média anual, por trabalhador, de R$ 5.484,00. As remunerações
médias variam muito intensamente nas Atividades Características do Turismo, pois diversos
fatores contribuem para a determinação dos rendimentos em um segmento econômico, tais
como: o grau de concentração do mercado, as características dominantes das empresas
segundo o porte, o grau de complexidade do processo de trabalho, além da qualificação e
organização de seus trabalhadores. Os transportes aéreo, aquaviário e ferroviário
apresentaram os maiores rendimentos médios, sendo de R$ 68.406,00 para o primeiro, e de
R$ 36.069,00 e R$ 33.265,00, respectivamente, para os demais. Dentre os segmentos que
apresentaram, em 2006, os menores rendimentos médios, destacam-se o transporte
rodoviário (R$ 4.608,00) e os serviços de alimentação (R$ 3.158,00) (IBGE, 2006).
Em termos econômicos evolutivos, as Atividades Características do Turismo cresceram de
R$ 113.284 milhões de valor da produção, a preços correntes, sendo responsáveis por 3,8%
do valor gerado pela economia brasileira em 2003 e por 7,6% do valor da produção do setor
de serviços para R$ 149.642 milhões. Estes dados apontam para um crescimento
significativo, superior ao observado para a economia brasileira fazendo com que a
participação do conjunto das Atividades Características do Turismo na economia brasileira
subisse para 3,62% em 2006. Nos agregados do Sistema de Contas Nacionais, o valor é
igual à multiplicação de uma quantidade por um preço e, portanto, quando se detalham
quantidades e preços, esses valores se referem à quantidade total transacionada no período
e ao preço médio do período considerado (FEIJÓ ET Al., 2008: 31). Assim, a variação do
valor da produção das Atividades Características do Turismo a preços correntes pode ser
explicada, em grande parte, pelo aumento na quantidade produzida. Isto porque, no período,
o indicador de preços do valor da produção aumentou em 2,12% enquanto o seu indicador
de volume apontou crescimento de 4,5%. Em 2006, o indicador de preços do valor da
produção aumentou em 7,0% enquanto o de volume registrou crescimento de 4,2% (IBGE,
2006).
72
Em termos de valor adicionado, no ano de 2003, as Atividades Características do Turismo
totalizaram R$ 53.088 milhões, a preços correntes, sendo responsáveis por 3,61% do valor
adicionado da economia brasileira e por 5,6% do setor de serviços. Entre 2005 e 2006, foi
registrado um aumento no valor adicionado das Atividades Características do Turismo, a
preços correntes, passando de R$ 66.044 milhões para R$ 73.868 milhões, isto é, um
acréscimo de 11,8%. Esta variação ficou 1,4 ponto percentual acima da encontrada para a
economia brasileira no mesmo período, que cresceu, a preços correntes, 10,4%. O
crescimento do valor adicionado das Atividades Características do Turismo implicou no
aumento de participação na economia brasileira, passando para 3,63%. As atividades que
mais contribuíram para esse desempenho foram: transporte ferroviário (29,8%); serviços de
alimentação (25,5%); aluguel de bens móveis (23,4%); transporte aquaviário (34,3%); e
serviços auxiliares dos transportes, com variação de 12,0%. Em contraposição, destacou-se
apenas o segmento de transporte aéreo, que apresentou redução no valor adicionado (-
4,2%).
A Evolução do mero de ocupações das Atividades Características do Turismo, em 2003,
apresentou 5.355.784 ocupações, representando uma participação de 10,6% e 6,4% no
setor de serviços e na economia brasileira, respectivamente. Em 2006, as Atividades
Características do Turismo apresentaram um crescimento de 6,1% no número de postos de
trabalho em comparação com o ano anterior: 5.714.669 contra 5.385.827, em 2005. Esse
resultado foi bastante superior ao verificado para a economia brasileira (2,6%), o que
possibilitou a ampliação da participação das Atividades Características do Turismo no total
de postos de trabalho da economia naquele ano. Assim, em 2006, a participação das
Atividades Características do Turismo passou de 5,9% para 6,1%. Todas as Atividades
Características do Turismo assinalaram um aumento no número de ocupações. As
variações mais expressivas ocorreram nos serviços de alimentação (6,0%), nas atividades
recreativas, culturais e desportivas (13,4%), e no de transporte rodoviário (1,4%). A única
atividade a registrar redução no número de postos de trabalho foi a de transporte aéreo, que
apresentou queda de 9,2% (IBGE, 2006).
No tocante ao total dos rendimentos, as Atividades Características do Turismo pagaram R$
22.435 milhões, a preços correntes, em 2003. Este valor correspondeu a 3,3% do total dos
rendimentos pagos na economia brasileira neste ano. No ano de 2006, os rendimentos
pagos pelas Atividades Características do Turismo totalizaram R$ 31.341 milhões,
representando um aumento de 16,2% na comparação com o ano anterior. Esse resultado,
superior ao observado para a economia nacional, significou um aumento da participação das
Atividades Características do Turismo de 3,13%, em 2005, para 3,23%, em 2006.
73
Colaboraram para este desempenho os serviços de alimentação, com taxa de 20,3% (de R$
7 503 milhões para R$ 9.025 milhões), transporte rodoviário, com aumento de 7,4% (de R$
4 633 milhões para R$ 4 974 milhões), e as atividades recreativas, culturais e desportivas,
com acréscimo de 18,6%, de R$ 4 679 milhões, em 2005, para R$ 5.548 milhões, em 2006
(IBGE, 2006).
Ao analisar a evolução de principais indicadores econômicos para as Atividades
Características do Turismo percebe-se que seu resultado e comportamento tiveram
resultados crescentes consideráveis, quando comparado com outros setores econômicos e
com o próprio desempenho do restante da economia brasileira. Desse modo, entre 2003 e
2006, quando o IBGE passou a abrir os dados por setores específicos, a participação das
Atividades Características do Turismo no conjunto da economia se mostra bastante
crescente em todos seus indicadores (valor da produção, valor adicionado, número de
ocupações, e rendimentos totais pagos).
Tabela 10. Consumo Intermediário, a preços correntes, das atividades características do Turismo,
segundo setores de serviços Brasil 2000-2005
Setores de Serviços
Valor do Consumo Intermediário (R$
1.000.000)
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Atividades Características do Turismo
71049
81352
93570
112876
117974
134895
Serviços de Alojamento
2102
2076
2426
2729
2844
3253
Serviços de Alimentação
22610
23959
26690
32222
32692
36490
Serviços de Transporte Ferroviário
1696
2455
3101
3905
3152
4313
Serviços de Transporte Rodoviário
26450
28520
31816
38566
43123
50102
Serviços de Transporte Aquaviário
2111
2794
4238
4760
4672
5696
Serviços de Transporte Aéreo
5167
8893
10470
14298
13015
13725
Serviços Auxiliares dos Transportes
4567
5623
7091
8180
10259
11137
Serviços de Transporte Ferroviário
785
762
708
1196
1312
1619
Serviços de Transporte Ferroviário
1498
1736
2021
2288
2216
2889
Atividades de Agência e Organizadores de
Viagem
4063
4534
5009
4732
4689
5671
Fonte: IBGE (2009). Economia do Turismo: Uma Perspectiva Macroeconômica 2000-2005.
Também é preciso reconhecer a rede técnica e institucional de atores que passaram a
exercer importante papel no planejamento e gestão do Turismo nas esferas nacional
(Ministério do Turismo e EMBRATUR) e local (SPTuris, RioTur, São Paulo Convention e
Visitors Bureau, Rio Convention e Visitors Bureau) que deram novo panorama que culminou
em momento favorável à economia brasileira no contexto internacional e do seu
reconhecimento como nação e economia emergente, ao lado da Rússia, Índia e China
(BRIC´s). Estes aspectos foram consideráveis, por exemplo, na captura internacional de
novas oportunidades, como as emblemáticas concorrências e vitórias para sediar a Copa do
74
Mundo (Brasil 2014) e os Jogos Olímpicos (Rio 2016), concomitantes e complementares e
que tem exigido novos esforços no aparato técnico e político destas agências.
O turismo é entendido como uma dos processos da nova economia cultural do espaço em
que aspectos selecionados do tecido urbano são acionados como tecituras hipermodernas
na busca de oportunidades recicladas de desenvolvimento metropolitano internacional.
2.3 NOVA ECONOMIA CULTURAL DA METRÓPOLE: ESTRATÉGIAS SOCIOESPACIAIS
DOS EMPREENDEDORES CULTURAIS
Uma das principais características do desenvolvimento urbano e cultural dos últimos vinte
anos refere-se ao surgimento de novos agentes culturais híbridos e empresariais (os
chamados Empreendedores da cultura (Culturepreneurs) (LANGE, 2006). Sua proliferação e
papel relevante para economias metropolitanas se evidenciaram em contextos urbanos
emblemáticos do mundo ocidental, a exemplo de Berlim, Londres, Nova Iorque, Paris e
Barcelona, mas logo sua multiplicação se ampliou de forma quase que mimética, se
hibridizando com os repertórios e movimentos de grupos socioculturais locais/ regionais
ligados à arte, design, música, moda e comunicação. Do underground ao mainstream estes
grupos ganhando contornos locais e regionais em outras metrópoles européias fora deste
circuito para os quais estes segmentos se tornaram visíveis em cidades como Praga,
Lisboa, Roma, Estocolmo e Reikjavik. Neste contexto, o jargão de um “novo
empreendedorismo alude além do sucesso de algumas iniciativas, a estratégias de
marketing individualizado e dificuldades socioculturais, mas também a hábil alternância
entre possibilidades de desemprego, emprego temporário, e estruturas de auto-emprego, tal
como praticada por numerosos jovens agentes no campo da produção cultural.
Semanticamente aceita desde 1998, por termos como “Geração Berlim” (BUDE, 1999 apud
LANGE, 2007), a nova trajetória empresarial e carreiras profissionais no campo da cultura
popular, a produção de bens simbólicos, e uma nova economia orientada para as mídias
digitais, podem ser analisadas como panorama mais específico deste processo.
Muitas vezes, os empreendedores culturais utilizam de uma postura lúdica na sua relação
com o espaço e as paisagens, alterando os sentidos tradicionais da cultura e inaugurando
novas perspectivas do existir urbano a partir do que muitos autores têm definido como cenas
(LANGE, 2006). Sua importância está na capacidade de reinvenção de novos circuitos e
identidade das metrópoles que muitas tendências e vanguardas emergem destes
contextos, como, por exemplo, as Semanas de Moda e os circuitos de lazer, cultura e
turismo das metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro. Também suas espacialidades são
tema bastante fecundo no urbanismo contemporâneo, por sua capacidade de ocupar
75
lugares e paisagens específicos, reunindo temporalmente diferentes cenas e, sobretudo
pela reinvenção de tecidos culturalmente simbólicos da metrópole gentrificados a partir
destes atores. Suas cenas, portanto, aludem e privilegiam recortes urbanos pós-industriais,
onde cenas profissionais diferentes e heterogêneas juntam-se para formar vários contextos
que assegurem processos socioespaciais de reincorporação socioespacial. Códigos
culturais, narrativas locais e mitos urbanos, muitas vezes inventados por empreendedores
culturais, são sutilmente misturados a estes espaços. Empreendedores culturais
desempenham um papel decisivo, atuando como agentes chaves, fornecendo e inventando
novas narrativas urbanas. Portanto, a habilidade de “ler e “experimentar” esses estilos
urbanos e condições voltadas para eventos (casa noturnas, cenas musicais, galerias, lojas
de designs) atuam como pré-requisitos para a participação temporária na cena heterogênea
das paisagens urbanas. A interpretação destas novas estratégias socioespaciais oferece
insights sobre novos modelos de urbanidade moldados por membros destas culturas e suas
cenas localmente associadas e baseadas na fragmentada e mutável metrópole
contemporânea. A relação entre estas perspectivas economicizantes da cultura é a fumaça
que invade a cena urbana trazendo novos significantes para sua própria versão ampliada,
da cultura cosmopolita de metrópole.
2.3.1 A NOVA ECONOMIA CULTURAL DA METRÓPOLE: AS EXPERIÊNCIAS
EMBLEMÁTICAS DE LONDRES «COOL BRITANNIA» E BERLIM «BEING BERLINER»
No início da formação política de um Neue Mitte(“Novo Centro”), na Alemanha, em 1998,
estabeleceram-se novas conexões entre as estratégias políticas e socioculturais que
redefiniram os processos de desenvolvimento urbano. Com a mudança do paradigma
político novas atitudes de liberdade de individuação possibilitaram a emergência de
posições empreendedoras que definiram o que se convencionou chamar de o
Empreendedor Cultural. Em primeiro lugar, o termo Empreendedor cultural (Culturepreneur)
foi sugerido pela primeira vez por Davies / Ford (1998, p. 13 apud LANGE, 2007), mediante
a noção tipológica de Pierre Bourdieu de um empresário que incorpora diversas formas de
capital (Bourdieu, 1986, p. 24 apud LANGE, 2007). Empreendedor cultural, portanto,
descreve um protagonista urbano que possui a capacidade de mediar e interpretar entre as
áreas da cultura e da prestação de serviços novas perspectivas socioeconômicas. Ele(a)
pode então ser caracterizado, em primeiro lugar, como um empreendedor criativo, alguém
que dirige casas noturnas, espaços de arte, mercado de pulgas, lojas de músicas, moda,
design, tatoos e outros estabelecimentos que abram brechas na cena urbana, para novas
práticas sociais, empresariais e espaciais. Tais estratégicas marcaram a paisagem de
diferentes metrópoles européias com aparecimento de galerias de arte e cenas multimídias,
principalmente em Londres na década de 1990, o que para Davies e Ford (apud LANGE,
76
2007), caracteriza um tipo de iniciativa que provem da comunicação de serviços de
transferência entre os subsistemas “serviços ligados a empresas” e “cena criativa”. No caso
de Berlim, estas identidades foram logo associadas ao caráter criativo, de ser berlinense
(em alemão being Berliner).
Apesar desta definição analítica relativamente vaga, o termo Empreendedor Cultural
representa um conceito de pesquisa aberto, mas de suma importância para a compreensão
dos contextos socioculturais que dão sentido e materialidade à nova economia cultural do
espaço. Sua atuação foi muito bem situada a partir de seus negócios criativos e inovadores
com práticas artísticas que combinaram as capacidades locais com o conhecimento criativo
e idéias novas, especialmente em uma economia urbana desindustrializada e estagnada,
como a de Berlim. Após o fim da era Kohl, em 1998, na Alemanha, um novo começo político
do tipo sonhado pela geração de 68 parecia não estar diretamente alcançável. Novos
detentores do poder da Alemanha tomaram como seu modelo o Primeiro Ministro britânico,
Tony Blair, e com as formas, meios e estratégias de seu New Labour”. Sua política
forneceu o modelo para o previsto novo começo da República Federal da Alemanha. Blair,
no entanto, não despejou descuidadamente os ideais políticos do Partido Trabalhista
Britânico, partido que tradicionalmente representa a classe trabalhadora. Ao invés disso, ele
desenvolveu paralelamente uma nova visão da Grã-Bretanha com o slogan e jargão “Cool
Britannia”, pelo qual semanticamente preparou o terreno não somente para a reformulação e
reinterpretação das atuais realidades sociais, mas também daquelas que ainda estavam por
ser desenvolvidas. Cuidadosamente calendarizada, e muitas vezes surpreendente, a
desregulamentação em seguida parecia fazer parte da agenda política: as realidades
neoliberais mostraram-se, sob o disfarce discursivo de visões da sociedade, uma espécie de
presságio do futuro anunciado. Os responsáveis pela política econômica, assim, atribuíram
um papel inovador para profissões criativas na nova economia cultural baseada na
informação, criatividade, conhecimento e inovação (Landry, por exemplo, 2000; Leadbeater,
1999 apud LANGE, 2006). Com o slogan de indústrias criativas (um conceito de marketing
originários da indústria da cultura e do amplo campo do trabalho criativo), eles abriram
caminho, no final da década de 90, para se constituírem na geração de novas formas de
trabalho a partir da inovação multimídia (Banks et al., 2000 apud LANGE, 2007). Basearam-
se, no entanto, numa releitura atenta dos processos de inovação das vanguardas culturais e
artísticas de cenas anteriores, como da Pop Art/ Velvet Underground em Nova York nos
anos 1970.
Neste contexto, o jargão “novo empreendedorismo” alude a estratégias de marketing
individualizado e dificuldades sociais, mas também a hábil alternância entre o banco de
empregos, emprego e estruturas de auto-emprego. Como prova disso, em 2004, ocorreu na
77
comunidade cultural e científica européia uma mudança de perspectiva no que diz respeito à
relação entre o trabalho criativo auto-organizado e a economia cultural definida em seus
termos políticos e econômicos a partir das experiências cotidianas de diferentes cidades
européias como Paris, Barcelona, Londres, Berlim, Munique, Zurique e Madri que obrigaram
muitos a repensar a sociedade, bem como os papéis individuais (McRobbie, 2004). Hoje, é
verdade, a tentativa de capitalizar o trabalho criativo e trazê-lo sob o controle direto do
processo de capitalização, resumida na expressão indústrias criativas, perdeu muito de seu
apelo público, com o fiasco da Nova Economia e do governo “Ich-AG” (ou seja, em alemão
de “Eu S/A”). Mas a conversão para uma sociedade de empreendedores autosuficiente
criativos que comercializem com sucesso suas próprias obsessões ainda está em
andamento de forma menos glamorosa que dos meados ao fim da década de 1990.
O conceito de empreendedor cultural tornou-se mesmo um novo bem de exportação. No
caso de Berlim, por exemplo, a agência de Relações Públicas da cidade Partner für Berlin
faz um esforço a cada ano para enviar uma série de designers de web, de moda, multimídia
para o exterior para representar e comercializar a “Nova Berlim”. Os segmentos orientados
para o design são importantes inspirações para a exportação de uma “Berlim” jovem,
elegante e criativa, o que ajudou, como um rótulo urbano e nacional, a criar uma identidade
de marketing específica para as mais diversas indústrias criativas. Este nos parece ser um
marco na formação de uma nova geração de empresários culturais como ilustra as
experiências nas áreas da moda e nos repertórios do turismo, do lazer e da cultura nas
metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro, tratadas nos próximos Capítulos. No âmbito de
uma “virada cultural” sociogeográfica teoricamente formulada, códigos culturais, significados
do espaço e dos processos de valorização, assim como de desvalorização, foram
transferidos para o centro do palco nas análises socioespaciais recentes (COOK ET AL,
2001 para uma visão geral; PHILO, 2000: 27 apud LANGE, 2006). Levada ao extremo, esta
abordagem é criticada por praticar um ecletismo de que “qualquer coisa vai” sem senso de
projeto político, negligenciando a economia política, abnegando toda a responsabilidade de
fazer perguntas sobre o valor, qualidade e verdade (THRIFT, 2000: 2 e 3 apud LANGE,
2006). O debate alemão parece centrar-se numa “virada cultural dosada” (MATTHIESEN,
2002A: 26 apud IBID). Dentro desta perspectiva, o foco de análise espacial foi deslocado
para um entendimento relacional de códigos culturais e espaços físicos persistentes,
construções espaciais materializadas e identidades culturalmente codificadas. Estes termos
podem ser entendidos como uma expressão de uma gestalt social, que é visível ou
detectável do nível micro ao médio, representando assim e referindo-se a um sistema maior,
com fronteiras abolidas (GIDDENS, 1990 apud IBID). Na cidade pós-industrial, as
estratégias de diferenciação individuais são formuladas simbólicas e culturalmente. A
estrutura socioespacial se manifesta cada vez mais forte na política local através do qual os
78
indivíduos, não só criam diferenças simbólicas, mas também tentam despertar a atenção por
meio de táticas de posicionamento ancoradas no local. Estes contextos levam à formação
de fronteiras obscuras entre os subsistemas economia e cultura, mas quando se analisam
experiências urbanas concretas, temos nos parâmetros que auxiliam na reflexão das
experiências de outros contextos, servindo como modelos conceituais amplos, comportando
ajustamentos locais.
Berlim, a exemplo de outras cidades, carece substancialmente de uma economia industrial
ou de serviços consolidada. Desde 1990, o potencial da cidade está na sua base de
conhecimento e educação, com várias universidades, institutos politécnicos e institutos de
pesquisa, e na sua capacidade de atração cultural. Autoridades oficiais têm promovido
pesadamente novos negócios e campos de conhecimento, tais como meios de comunicação
e produção de filmes, e também a biotecnologia (MATTHIESEN ET AL, 2004 apud LANGE,
2006). Em 2005, um dos grupos profissionais mais importantes do setor de design, cresceu
substancialmente, sem apoio direto ou auxílio financeiro por parte da administração da
cidade. Recentes pesquisas baseadas em Berlim indicam a seguinte situação: Em julho e
agosto de 2003, o Centro Internacional de Design em Berlim (ZDI) (Internationales Design
Zentrum, 2003) avaliou a estrutura quantitativa da cena do design Berlim. Design de moda,
web, arquitetura, impressão, e mídia estão incluídos neste grupo. De um total de 1.153
empresas cotadas, 18,2% tinham sido fundadas nos últimos três anos, 31,5% nos últimos
dez anos. 84,4% do total das empresas em 2003 empregavam de 1 a 5 trabalhadores.
Quase 50% deste total estão trabalhando em “diferentes áreas profissionais”. Assim, a fim
de permanecer no mercado, tiveram que abandonar a sua profissão de formação e
passaram para campos de serviços relativamente novos (LANGE, 2006). A quebra da
chamada Nova Economia entre 2001 e 2002 teve um enorme impacto sobre o
desenvolvimento deste grupo profissional. Em 2000 e 2001, 186 novas empresas foram
fundadas no setor de design de Berlim. Em 2003, esse número diminuiu para apenas 48.
A convergência das agendas dessa nova economia cultural urbana em cidades européias foi
criticada por teóricos como Davies e Ford (1998), Urry e Lash (1990), e Scott (2000) (apud
IBID) a partir da sua promiscuidade entre valores econômicos, políticos e culturais irradiados
a partir, sobretudo, de Londres na década de 1990. Grande parte desta atividade foi
resultado direto das mudanças organizacionais e estruturais correntes no setor corporativo.
Para entender esse processo, é cada vez mais necessário verificar como as redes e as
“novas” economias estão sendo formadas, acessadas e utilizadas, e para onde elas
convergem, interagem e se dispersam. Na revista “Capital Arte” (Art Capital), Davies e Ford
(1998) (apud IBID) identificaram o aumento da fusão entre cultura e economia como um
fator-chave da tentativa de Londres de consolidar sua posição como centro europeu da
79
indústria de serviços financeiros globais. “Cultura” era parte do mix de marketing que, no
contexto da União Européia (UE), mantinha Londres à frente de seus concorrentes,
especialmente Frankfurt em Main, na Alemanha. Tal situação inicia-se com a saída do Reino
Unido da Exchange Rate Mechanism (ERM) em 1992 e com uma série de iniciativas
econômicas com o objetivo de atrair investimento estrangeiro, o Foreign Direct Investiment
(FDI). Durante este período, o Reino Unido foi responsável por 40% dos investimentos
japoneses, americanos e asiáticos na UE. Ao contrário do que o espetáculo da mídia da
Cool Britannia”, foi a necessidade de atrair FDI, combinado com as coordenadas de uma
nova economia baseada no conhecimento e em serviços que sustentou a emergência
espetacular de Londres como a “cidade mais legal do planeta” nos anos 90.
Estes desenvolvimentos abriram o campo no qual artistas eram encorajados a explorar e
muitos se aproveitaram das emergentes oportunidades interpromocionais para redefinir e
diversificar as suas práticas. Como resultado, as identidades baseadas em termos como
artista, curador, crítico e galerista vieram sob crescente pressão na medida em que o leque
de atividades e serviços profissionais nestas áreas expandia-se. Em retrospecto, as
exigências culturais da nova economia resultaram no surgimento de "corretores de cultura" -
os intermediários que vendiam serviços e negociavam conhecimento e cultura com vários
clientes fora do sistema de arte e galeria, para desde empresas de publicidade,
desenvolvedores de propriedades até restaurantes e varejistas de luxo. Seu papel de ponte
para as comunidades na vanguarda da cultura forneceu conhecimento, informação e
associação local, vitais para as empresas que procuram estratégias globais “multilocais”.
Angela McRobbie primeiramente analisou criticamente a situação de algumas indústrias
criativas protagonistas em regiões de Londres e suas frágeis situações profissionais e de
vida socialmente desintegradas no contexto da cultura popular (McROBBIE, 1999, 2002
apud LANGE, 2006). Artistas organizam suas próprias exposições ou abrem suas próprias
lojas. Críticos avaliam tais atividades como estratégias comerciais o que eles certamente
são. Mas também são oportunidades de conseguir mais desemprego e iniciar uma atividade
que é percebida pelo público. Assim, os protagonistas culturais estão se posicionando tanto
na tradição punk do “faça você mesmo” quanto na cultura corporativa neoliberal. Isso marca
também uma mudança significativa no conceito de “cultura”, ou seja, a transmutação da sub
e alta cultura à cultura pop. Desde o trabalho padrão pop de Tom Holert e Mark Terkessidis
Mainstream der Minderheiten”, (alemão para mainstream das minorias”), em 1996, a
distinção clara entre a subcultura e a cultura pop foi fortemente questionada. Os autores
descrevem a década de 1990 como marcada por rápidos processos de mudanças e
recodificação entre a corrente principal e o underground, resultando na formação de uma
corrente brida composta por minorias. No entanto, a indústria da cultura interessa-se e
detecta até mesmo as recusas e reavaliações mais sutis e lhes tira proveito. Isso aconteceu
80
com o punk, grunge e em parte também com as cenas rave e techno: o Pop é descrito como
um regenerador potencial contínuo de atitudes sociais e estéticas. A relação entre a alta
cultura e a cultura pop é semelhante. As estratégias de marginalização elitista da alta cultura
burguesa (às quais os elitismos subculturais tinham se ajustado estruturalmente) foram
neutralizadas: se mostrar super culto hoje, não significa poder e ter que somente ir ao
teatro e à ópera, mas deve-se provar a sua competência cultural também no campo da
cultura popular, mas a urbana e cada mais mediatizada (LANGE, 2006).
Particularmente incompatível com o conceito de alta cultura tradicional são as novas cenas
criativas dos agentes culturais brincando com mídia eletrônica, design e publicidade, mas
também música, moda e vida noturna. A maioria dos produtos culturais desses atores
requer as mais altas demandas estéticas, o que sugere que as técnicas altamente
desenvolvidas são aprovadas e transformadas em um novo sistema independente da vida
cultural. A combinação de novas tendências, novos produtos com novos investimentos
financeiros e intensivo poder humano, representam uma economia urbana acelerada cultural
e midiaticamente. Ao produzirem-se bens entrelaçados entre o setor de serviços
econômicos e no âmbito cultural, a velocidade e o tempo têm impacto enorme, mas ainda
pouco claro, sobre os processos de organização dos fluxos de produção. No âmbito deste
primeiro diagnóstico, não é detectável como as novas ligações informais entre os diversos
agentes e instituições são tecidas entre as grandes empresas, a administração da cidade e
as novas redes de produtores culturais, muitas vezes temporariamente organizadas. Além
disso, as maneiras pelas quais essa acelerada economia afeta a organização dos mundos
da vida social dos produtores não estão de forma alguma claras.
A contrapartida dessas idéias em imagens pode ser redescoberta nos termos dessa nova
economia cultural nas estratégias de marketing das cidades. A cidade está se firmando cada
vez mais sobre os níveis de imagem da mídia, construídos de acordo com modelos
imaginários e tipologias fixas, cujo relacionamento socialmente integrador é difícil de
discernir. No âmbito municipal, as estratégias de imagem são cada vez mais orientadas para
um grupo que é jovem, dinâmico, feliz para tomar decisões e dispostos a consumir, e que
por sua vez, tenta corresponder ao tipo ideal representado nestas estratégias de marketing
para o urbano. Desta forma, as articulações urbanas específicas, por exemplo, em Viena a
maravilhosa cena Drum 'n' Bass em meados de 1990, em Londres, fabricantes de moda, e
na jovem Berlim, multimídias descoladas e designers, tornaram-se conhecidas por um
público mais vasto. As cidades, por sua vez, vêem nessa clientela, cuja auto-imagem se
aproxima muito ao de uma empresa, o “Eu S/A”, a possibilidade de uma expansão do setor
de serviços relacionados aos negócios, para a prosperidade econômica e para a finalidade
do lucro, ao mesmo tempo em que legitimam a autoimagem da cidade. Uma interpretação
81
positiva, porém irônica desses ambientes emergentes, poderia atribuir a estes novos tipos
de empreendedores uma função tão necessária no setor econômico da cidade como o
criador de pontes e sistemas de comunicação entre os dois subsistemas da economia e da
cultura (BUDE, 2001: 9 apud LANGE, 2006). A estes centros de comunicação, cujos
equivalentes físicos são eventos em casas noturnas, aberturas de galerias e festas de
inauguração, as questões relativas à modernização da cidade são incessantemente
abordadas. Não é a autoapresentação e autocelebração do indivíduo que devem ser
concedidas como significado principal destes eventos claramente performáticos. Os locais
de “empreendedores culturais” são, mais uma plataforma de interação social e de
transferência, do que um local permanente e estruturado economicamente; plataformas nas
quais, utilizando materiais urbanos, novas relações podem ser experimentadas. A questão
para o presente planejamento urbano e a mudança visando o desenvolvimento urbano dos
lugares na cidade em tempos de transformações significativas e geralmente aceitas está
inevitavelmente ligada com a questão de para quem esses lugares devam ser feitos ou
alterados. Essa questão ainda está em pleno fervor tendo em vista os processos em
constituição e à morosidade de algumas práticas urbanísticas em percebê-los e mais ainda
em tentar planejá-los e geri-los.
As geografias do efêmero, do provisório e do seletivo observadas competem com as
práticas espaciais da reconstrução de padrões históricos, o que é, em alguns locais (no
distrito de Mitte, Prenzlauer Berg e outros como destacados por Lange), já claramente
visível. É, naturalmente, também (um pouco) cool ser contra a estratégia dominante ou
apenas in por meio de conceitos taticamente inteligentes de oposição - para lucrar com
isso financeiramente (por exemplo, a Feira de Design em Berlim, o Berlinmai”). À medida
que a tentativa de demarcação espacial pode ser observada através dos jogos de
descoberta de distintas localizações dos Empreendedores Culturais é também à medida que
o elemento espacial combinado com o significado do local e as relações espaciais vêm à
tona no jogo. A partir desta perspectiva, Empreendedores Culturais também mostram
estratégias decorrentes da necessidade e, acima de tudo, as sementes de novos tipos de
qualidade urbana. Mas dessa forma eles também demonstram como os processos de
globalização afetam a política do lugar e do espaço com antigas formações desconhecidas
que surgem e materializam-se no nível micro, executando microglobalizações.
No contexto desta economia cultural do espaço emergente, é especialmente o conjunto de
características distintivas do espaço, nomeadamente a experiência relacional da paisagem
em conexão a ação transformadora das cenas culturais, que instauram múltiplas faces,
sentidos e significados socioespaciais em mosaicos escalares e redes emaranhadas. Pelo
contrário, essa conexão é realmente alcançada através de questões práticas recorrentes da
82
vida local (TERKENLI, 2005), apontando para a interpenetração e intrincabilidade do "local"
e do "global". Como resultado dos processos acima descritos, em nossos dias, paisagens
perdem a sua inteligibilidade e proporcionam a experiência de "nada para entender, lugar-
comum e reduzida para os processos ilimitados de reprodução mecânica. Uma nova
geografia das fantasias [surge]: perdas de origem, identidades vacilantes, espaços
labirínticos e temores de impotência e desmembramento socioespacial "(MELCHIO-
BONNET, 2001: 267-269 apud TERKENLI, 2006).
A análise da chamada nova economia cultural do espaço e sua derivação para o epicentro
dos complexos espaços metropolitanos nos leva a refletir sobre seus usos, sentidos e
significados para os quais as fronteiras entre economia e cultura são mediadas pela
profusão de novos negócios: (...) “cultura e economia parecem estar correndo uma na
direção da outra, dando a impressão de que a nova centralidade da economia tornou-se
cultural, sendo o capitalismo uma forma cultural entre outras rivais(ARANTES, 2000: 47).
Sem alegar que estas estratégias seriam baseadas em um modelo único, podemos nos
indagar acerca da complexidade das escalas e contextos políticos das trajetórias
multiescalares e multiinteresses dos atores e comunidades urbanos que os produzem,
consomem e experienciam. Através de processos de enworldment, unworldment,
deworldment e transworldment, espaços urbanos contemporâneas fruem em novas escalas,
compreendendo novas paisagens de espacialidades. Na verdade, elas podem ser
consideradas como peças, imagens ou segmentos de uma rede cada vez mais globalizada
e de mudanças escalares das espacialidades. Tanto em termos de função quanto de
simbolismo, elas são cada vez mais produzidas, reproduzidas e consumidas por meio de
processos que envolvem formas, funções e sinais / simbolismos com o exterior. Estas
seriam os arranjos espaciais hipermodernos de hoje já não podem ser vistos como os
segmentos do um mundo geográfico tradicional, mas sim como componentes materiais e
imateriais reais, percebidos ou imaginários ou sistemas na interface de diferentes
escalas em rápida transformação. Essa nova economia cultural do espaço encerra uma
possibilidade de instaurar uma nova urbanidade, quando entendida em função de seus
processos simbólicos e concretos e nas possibilidades de reflexão de experiências em
curso, como nos casos examinados para as metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro.
83
Rio: incomparável...
(Campanha de promoção turística do Rio de Janeiro,
RioTur, 2007)
“São Paulo: capital dos negócios, do conhecimento e do
entretenimento da América Latina”
(Campanha de promoção turística de São Paulo, SPTuris,
2009)
Capítulo 3
TURISMO EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO
84
Este Capítulo apresenta uma análise do turismo nas metrópoles de São Paulo e Rio de
Janeiro desde os anos 1990 até o começo do século XXI buscando entender os fluxos e
repercussões deste processo na economia e cultura urbana e alguns de seus efeitos sobre
a reestruturação destes espaços. A partir de uma análise teórica do turismo até sua reflexão
como fenômeno econômico, sociocultural e espacial, a reflexão visa compreender o perfil
socioeconômico do turismo nestas duas metrópoles, seus formatos político- institucionais,
mediante reconhecimento das agências que o promove e institui, e do seu significado
enquanto dimensão da nova economia cultural do espaço. A análise parte da sua
significativa expressão dentro do conjunto da vida socioeconômica das metrópoles de São
Paulo e Rio de Janeiro, e sua capacidade de acionar e transformar os espaços, bem como
abarcar corações e mentes em um amplo corolário de discursos e representações da vida
metropolitana. Neste sentido partiu-se da análise de dados das instituições oficiais de
turismo nacional (EMBRATUR e Ministério do Turismo), estadual (Secretarias Estaduais de
Turismo), municipal (SPTURIS e RIOTUR) e internacional (Organização Mundial de Turismo
e Euromonitor da Comunidade Européia), em duas dimensões socioeconômicas e nos suas
intervenções, concretas e simbólicas, sobre os espaços urbanos. É preciso também
considerar que boa parte das análises aqui desenvolvidas parte de compilação de dados
estatísticos, o que leva a uma leitura muito quantitativa do setor que, mesmo realizada a
partir das agências oficiais da área, mascaram ou não evidenciam uma miríade de outras
dimensões de processos associados ao turismo, sobretudo as transformações
socioterritoriais: os impactos do turismo não seriam compreensíveis através de uma ótica
exclusivamente quantitativa, como tantas vezes sugeridas pelas estatísticas do setor. Ao
contrário, trata-se de um conjunto de mudanças também qualitativas, de novos
acondicionamentos da sociedade, da economia e do território” (RIBEIRO ET AL, 2002: 215).
Para tanto estes mesmos autores, elencam uma série de variáveis qualitativas, resumidas
em: influência da autopercepção social do turismo sobre a autopercepção dos habitantes;
selecionar de forma a valorizar ou desvalorizar parte das materialidades espaciais,
segmentos sociais, comportamento e hábitos; forte interferência em hierarquias
socioculturais, formas de poder e produção de imagens; compartilhamento de hábitos de
consumo, representações e práticas sociais permutáveis e, o pior, nivelamento dos critérios
internos do lugar pelos referenciais de fora, do turista. Estes referenciais são muito
evidentes quando se analisa a importância do turismo em São Paulo e Rio de Janeiro,
sobretudo pelas diferenças nas suas modalidades e formas de acontecer e experienciar a
cidade, suas paisagens, lugares e serviços, contaminando formas de representação local
que correm o risco de conduzir para a construção de amplos e profundos processos de
esquecimento social e formas turistizadas (estranhas e distantes ao lugar entendido como
espaço de consumo e não de exercício da cidadania e da reprodução social da vida
cotidiana) (PEREIRA, 2001).
85
A definição de turismo considerada nesta análise parte do reconhecimento dos seus
sentidos e significados amplos, com destaque para seus relacionamentos com a economia,
a cultura e o espaço. Portanto, entende-se esta relação como condensação destas
dimensões enquanto uma economia cultural do espaço (d‟AUTESERRE, 2008), na medida
em que se manifesta desde a promoção, ou para muitos a venda, dos lugares marcados
pela dialética alteridade-igualdade. Esta relação entre alteridade e igualdade nos parece
importante, levando em conta as inscrições do turismo analisado, ou seja, o chamado
turismo urbano, dentro do qual se pode verificar uma infinidade de motivações e
racionalidades que orientam seus fluxos, desde as marcadas pela evidente busca pela
diferença cultural (ou alteridade), sobretudo reconhecida no turismo cultural ou por lazer e
entretenimento, até as que buscam ambientes “familiarizados” ou mesmo lugares confiáveis
para os negócios, condições dos chamados turismo de negócios e eventos. Portanto,
partimos da consideração de que nas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro estas duas
formas se hibridizam, na medida em que mesmo um turista de negócios pode, muitas das
vezes, querer entender a cultura e os atrativos relacionados aos costumes, valores e
identidades dos lugares. Percebe-se assim, o leque complexo relacionado à definição do
turismo, associado à sua des-diferenciação pelos contextos espaciais entre os pólos
emissores e receptores. Todavia, é preciso atentar para os riscos das tipologizações como
racionalizações incapazes de, na maioria das vezes, reconhecer as especificidades e
complexidades inerentes aos praticantes (turistas-estrangeiros-outsiders), aos promotores
(agentes e operadores públicos e privados) e à população local (nativos) deste serviço.
Nesta definição dos segmentos sociais, uma das questões que sempre esteve vinculada ao
turismo era a de que os nativos seriam os cidadãos, enquanto o turista um pastiche um
tanto quanto amorfo e sempre depredador. Na medida em que as práticas e os estudos se
aprofundam confirmam-se outras faces destes segmentos. Os turistas, na verdade,
possuem várias motivações que se imiscuem quando de suas viagens e que têm na sua
condição de sujeitos sociais suas bases ou lastros, inclusive na atribuição de
responsabilidades de cidadania e respeito às formas e valores locais da cultura e ambiente
visitados. Estes sentidos têm sido redefinidos por toda uma literatura e estratégias do setor
desde os discursos e narrativas científicas em torno do turismo cultural (RITZER; LISKA,
ROJEK, URRY, COHEN, MACDONALD, McDOWELL) até autores do mercado que
identificam nestas novas significações perspectivas para novos negócios e necessidades de
planejamento e gestão do setor. Cabe uma breve discussão sobre algumas destas
definições.
86
3.1 TURISMO E TURISTICAÇÃO: NOTAS SOBRE ALGUNS DESDOBRAMENTOS
TEÓRICOS DO TURISMO EM CONTEXTOS METROPOLITANOS
A definição de Turismo é talvez uma das mais instigantes do pensamento social
contemporâneo, dada a gama de interrelações deste fenômeno com diferentes dimensões
da vida social e seus atrelamentos junto a processos de constituição de identidades
subjetivas, sociais e espaciais. Contraditoriamente ao reconhecimento do turismo como um
fenômeno complexo, possuindo uma série de sentidos e significados, muitas vezes sua
análise e compreensão o sintetiza como “atividade econômica”, o que até reduz e até
banaliza, múltimpas faces de sua repercussão, pois muitas dessas abordagens,
recentemente, tiveram o crivo de economicistas, sobretudo por importantes economistas do
turismo. Etimologicamente, sua definição parte do prefixo tour que remete imediatamente
ao imaginário da viagem. Viagem por lugares e cidades conhecidas ou desconhecidas que
nos colocam num experimento da diferença, da troca cultural e do encontro com nós
mesmos e com nossas representações culturais. Alteridades que marcam, na
hipermodernidade, novas clivagens no que se refere à produção e ao consumo de imagens,
com rebatimentos no espaço e na paisagem (PEREIRA; MAIA, 2005).
O turismo é um fenômeno social, econômico, político, cultural e ambiental complexo cujas
origens remontam à Modernidade e ao chamado Grand Tour quando a atividade ainda
estava muito relacionada a uma experiência colonizadora e elitizada. Nas três últimas
décadas, no entanto, sua prática se ampliou consideravelmente atingindo segmentos
socioculturais para os quais se desenvolveu uma ampla segmentação de serviços e
infraestruturas com repercussões profundas nos espaços. Cidades que passaram por
reestruturação produtiva tiveram seus espaços transformados e capturados pelo fenômeno
turístico com segmentação direcionada ao seu perfil, ou seja, não somente as tradicionais
cidades cuja presença de belas e emblemáticas paisagens culturais como Roma ou Paris,
mas também novos destinos como Kuala Lumpur, cujas paisagens parecem ter sido
lançadas nesta competição. Este foi em grande parte a forma como o turismo foi e vem
sendo entendido para o contexto de grandes metrópoles, desde as européias e asiáticas,
até as americanas (e sul americanas), caso das metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro.
Também são significativos seus efeitos sobre os espaços destas metrópoles, culminando
em transformações, na forma e nos discursos, que enredaram distintos processos de
urbanização e urbanidade, como os também emblemáticos casos de reconversão urbana
associada a city marketing em Buenos Aires, Bilbao ou Belém do Pará. Para muitos, essa
urbanização turística produzida por uma geração de planejadores, numa aproximação entre
intervenção urbana e espetacularização da cultura, recoloca o foco da problemática entre
produtores (planejadores urbanos e turísticos) e consumidores (turistas), de forma
87
maniqueísta e com grande capacidade na reprodutibilidade dos modelos e das experiências,
acirrando competições: “o aumento da competição entre os lugares deveria levar à produção
de espaços mais variegados no âmbito da crescente homogeneidade da troca internacional.
No entanto, na medida em que essa competição abre as cidades a sistemas de
acumulação, acaba sendo produzido o que Boyer (1988) chama de monotonia „serial‟ e
„recursiva‟(HARVEY, 1994: 266). Neste caso até a memória parece ter sido articulada à
idéia de espetáculo, gerando visitas ou mesmo contatos com o passado teatralizado, numa
valorização do “passado” e seus legados, o turismo da „memória‟ é sucesso entre as
massas. Não é que se adeus à modernidade; antes, é a terceira etapa da modernidade
consumista que triunfa na democratização maciça do lazer cultural, no consumismo
experiencial, na transformação da memória em entretenimento-espetáculo(LIPOVETSKY,
2004: 88).
Até mesmo a experiência turística teve seus sentidos alterados em uma série de
perspectivas e possibilidades socioculturais, o que, por um lado, complexificou sua análise
e, por outro, gerou novas categorias analíticas. Neste sentido, é que surge o termo pós-
turismo”, como nova possibilidade na afirmação deste fenômeno de reprodutibilidade e
análise socioespacial dos seus significados e repercussões. Apesar dessa concepção
relacionando modernização socioespacial e reinvenção de identidades ser atual, sua
vinculação teórica e mesmo empírica com análises específicas do chamado pós-turismo
ainda é frágil. Os recortes teóricos e os esboços conceituais para a definição do pós-turismo
podem ser situados em três vertentes principais em torno da idéia de autenticidade/
inautenticidade das práticas socioespaciais vivenciadas na relação turista-nativo.
Uma primeira vertente, marcadamente mercadológica, entende o pós-turismo como
expressão simplificada da pós-modernidade resultante, sobretudo de novos arranjos
econômicos e gerenciais associados ao pós-fordismo. Neste remetimento a ênfase se
coloca na organização mais flexível por parte das operadoras e agenciadoras para o
planejamento do setor, se esforçando no desenho e implementação de serviços mais
individualizados e antenados com estilos de vida mais particulares ou segmentados.
Caracteriza-se, portanto, como indústria” do terciário avançado, numa complexa
simultaneidade entre produção e consumo, que redefine constantemente, ou supostamente,
suas estratégias e racionalidades econômicas, referenciadas no mercado e na sociedade de
consumo em escopo, diferentemente da sociedade de outrora, fordista e baseada no
consumo de massa: “assim, instaram-se sistemas mais personalizados, tanto de produção
(os modelos de produção flexível, por exemplo, que são de natureza pós-industrial), como
de consumo (produtos e serviços prestados de forma personalizada ao usuário). Ambos os
sistemas têm como particularidade repelir os rigores e a uniformidade e, ao contrário,
88
reconhecer a mobilidade, a mudança e o aprofundamento dos esforços para buscar o único”
(MOLINA, 2004: 27). Também referenciado a esta categorização, o pós-turismo se configura
como altamente eclético, um pastiche de interesses diferenciados e permeados por
motivações amplas viagens sagradas, para conhecimento, para fazer negócios para lazer
ou simplesmente para conhecer lugares diferentes. O turista pós-moderno teria mais opções
definidas como segmentação e, portanto, possibilidades organizadas/ planejadas, desde
ecoturismo, turismo cultural, turismo gls, dentre outros (HOUSER, 1994; HILL, 1995;
TAZZIOLI, 1995 apud RITZER E LISKA, 1997: 102). Essa perspectiva, apesar de, em tese,
conceber um quadro de fragmentação cultural e de uma consciência política nova do turista,
de certa forma naturaliza ou reifica os contextos sociais inerentes à atividade turística.
Uma segunda vertente define o pós-turismo como a generalização e ampliação do consumo
de imagens ou de experiências mediadas pelas novas tecnologias de comunicação e
informação. O pós-turista, voyer-houser, com acesso constante às tecnologias televisão,
vídeo, CD-ROM, a internet e a realidade virtual pode “visitar” lugares turísticos sem sair de
casa ou mesmo sair, mas experimentar espaços espetacularizados pela presença
controlada e irruptiva de signos e imagens virtuais (FEIFER, 1985 apud RITZER E LISKA,
1997: 102). Neste caso, valeria tudo, inclusive o reconhecimento de que não há experiência
turística autêntica (MacCANNELL, 1989 apud RITZER E LISKA, 1997: 102).
A terceira vertente, mais recente, e com uma perspectiva mais crítica, chama a atenção para
os impactos gerados pelo fenômeno turístico que banalizam as experiências, (re)produzindo
os serviços e os lugares indistintamente. Os lugares, identitários, relacionais e históricos,
tornam-se não-lugares. O espaço, planejado, recusa o enraizamento do sujeito, tornando-se
inautêntico. Essa perspectiva analítica procura uma reflexão que atenta para a necessidade
de um planejamento turístico que considere a história e a cultura dos lugares e a
necessidade dos sujeitos por experiências autênticas capazes de cambiar preservando, da
forma menos impactante possível, as dinâmicas das comunidades locais e das redes e
fluxos culturais dos turistas (URRY, 1994; HANNERZ, 1992; MACDONALD, 1997 apud
MACDONALD, 1997). Esta referência, além do foco na aculturação, chama a atenção para
a produção de lugares-mercadorias ou paisagens-marca, numa administração do tempo e
reinvenção constante da atratividade promovida por inovações espaciais e estratégias
publicitárias que selecionam aspectos e faces da cultura e dos lugares: “a meta da
administração bem-sucedida do tempo e sua venda na forma de produto” tende a
reconhecer, como obstáculos, as barreiras e rugosidades presentes em espaços
historicamente construídos e, também, as surpresas ou imprevistos que a vida social
espontânea apresenta. Menos resistência e menos acasos um conceito estendido de
“segurança” ou confiabilidade, como nos diria Giddens (1990) eis alguns traços da
89
atividade que encontram tradução prática em intervenções no tecido material e sociocultural
dos lugares” (RIBEIRO et all, 2002).
Portanto situam-se neste breve retrospecto dos quadros teóricos mais gerais do turismo, ou
do chamado pós-turismo, que refletem a multiplicidade das experiências e práticas turísticas
no contexto das sociedades complexas hipermodernas em que a aceleração tecnológica e
comunicacional, as mudanças nos padrões da competitividade econômica e novas
racionalidades na relação público-privado incidem em novas significações e sentidos da
ação social que se (i)materializam no espaço urbano. A cidade passa a ser experienciada e
apropriada, portanto, pelos usos e sentidos esteticizados da sua paisagem cultural
materializada num palimpsesto de formas herdadas e atuais (HARVEY, 1989; SANTOS,
2000) constantemente inovadas (modernizações espaciais que associam novos signos em
novos circuitos imobiliários) e imaterializadas em sua produção cultural, comportamentos e
modismos, também selecionados pela funcionalidade dos padrões econômicos. Esta
discussão, claro, não nega a existência de apropriações críticas e subversivas, no bom
sentido, de resistência à modernização-conservadora do urbano, gerando circuitos
alternativos e de protestos, na maioria das vezes interpretados como undergrounds ou
“alternativos”, mesmo para os casos de atrativos urbanos (PALOMINO, 1999 apud
PEREIRA, 2004). Vistas assim, as estruturas de pertencimento não são dadas, mas
construídas por relações de poder e dominação (com forte acionamento de imagens
espetacularizadas) que levam a uma segregação simbólica, escamoteada em pretensas e
ilusórias imagens e atualizações do espaço e da paisagem urbana. A atratividade turística,
historicamente construída e legitimadora de interesses, se referenciando desta perspectiva
ficcional, passa então a reinventar os lugares da moda, numa constante forma de produzir
para atender a um consumo movido por inovações que agora, mais do que nunca (re)produz
espaços miamizados (PEREIRA, 2004). Do ponto de vista do “olhar estrangeiro” (do
turista ou pós turista) a cidade e sua cultura são interpretadas por novas fetichizações que
se hibridizam com o olhar nativo reinventando, num fluxo e numa ampla rede de
significados, os imaginários (COHEN, 2008).
Nesse contexto, as experiências turísticas têm gerado amplo potencial para o estudo das
subversões espaciais e para as novas interações sujeito-paisagem. Muitas vezes, o turista
se apreende das imagens da metrópole de uma forma muito mais intensa e rápida do que o
cidadão-nativo ao mesmo tempo em que suas representações e imaginários reinventam a
experiência urbana, hibridizando-se com as dos “nativos”. A metrópole se configura como
um hiperespaço (BAUDRILLARD, 1991) distintamente marcado pela aproximação
selecionada (apropriação versus exclusão). O turismo na ótica da Globalização possibilita
novas formas do existir coletivo, onde os chamados "impulsos globais" são agora avaliados
90
não somente como deslocamentos de divisas e serviços, mas como possibilidade para
novas experiências dos sujeitos sociais em experienciar valores, atitudes, comportamentos
e visões de mundo estranhas à sua realidade local.
No campo das definições, o turismo urbano ganha destaque por ser uma atividade em que a
mudança é talvez seu fundamento e sua base, sobretudo nos atributos e qualidades
espaciais e culturais: o turismo urbano relaciona-se com a mudança: mudança na base
econômica das cidades, na utilização do espaço e da imagem urbana e na vida cultural dos
seus residentes” (TYLER e GUERRIER, 2003: 309). Nesta direção, seu entendimento como
uma economia cultural do espaço urbano parte também dos usos e formas pelos quais os
produtos turísticos são vendidos ou promovidos, incluindo uma mudança, inclusive na sua
cultura organizacional, como serviço, ou “indústria”: the culture of tourism includes:
maximising the culture of tourism products, re-definig tourist experiences, addressing the
cultural impacts of tourism, and dealing with the changing culture of industry itself. A niche
form of tourism that emphasises the cultural dimension of tourism above all is cultural
tourism (where cultural sites, events attractions, and/ or experiences are marketed as
primary tourist experiences); the creation of purpose-built cultural attractions for tourists; and
the modification of, or access to, everyday leisure attractions for tourists
7
(CRAIK, 1997:
113). Neste sentido ainda reconhecemos os fortes processos, evidenciados em discursos,
ações e práticas, de racionalização presentes na passagem da urbanização turística para a
turistificação urbana, conforme tratado no Capítulo 1, na qual autores percebem uma clara
onda de discursos, valores e imagens dos espaços urbanos, fortemente transformados ou
capturados pela lógica do turismo (STOCK, 2007; COËFFÉ, 2007 e 2008)
Este percurso teórico visou demonstrar os planos conceituais nos quais o Turismo como
fenômeno socioespacial se insere ou possui fronteiras móveis. As análises de alguns de
seus efeitos em São Paulo e no Rio de Janeiro, empreendidas a seguir, contextualizam esta
definição na medida em que dialogam com processos mais amplos. Para efeito empírico da
análise de suas expressões econômicas, relacionamos suas conexões com a espacialidade,
capaz de iluminar algumas interrelações com a mudança cultural e a transformação urbana.
7
A cultura do turismo inclui: a maximização da cultura de produtos turísticos, a redefinição das experiências
turísticas, abordando os impactos do turismo cultural, como forma de lidar com a mudança de cultura da própria
indústria. Uma forma de nicho de turismo destaca a dimensão cultural do turismo, sobretudo enfatizando que
tudo relacionado ao turismo é cultural (onde os locais das atrações culturais, eventos, e / ou experiências são
comercializados como experiências turísticas primárias), a criação de propósito-construído para as atrações
culturais para os turistas, e a modificação, ou o acesso a atrações de lazer para os turistas todos os dias (CRAIK,
1997: 113, Tradução Nossa).
91
3.2 O TURISMO EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO NO PERÍODO RECENTE
Esta análise parte de uma consideração básica, porém reveladora, por si só, de muitas
reflexões. A de que os principais destinos turísticos urbanos internacionais são metrópoles.
Esta constatação é corroborada pelo fato de que grande parte dos fluxos turísticos ocorre
pela vontade, necessidade ou simplesmente interesse em realizar viagens, encontros ou
reuniões de negócios em que as grandes metrópoles internacionais são os grandes pólos
em termos de destinação. A Tabela 11 apresenta os principais fluxos para as cidades mais
visitadas desde 2006. Nela é possível perceber que Londres é a metrópole que recebe os
maiores fluxos turísticos internacionais, mantendo margem expressiva da segunda colocada
que transitou nos últimos anos entre Nova York, segundo destino em 2008, e as metrópoles
asiáticas de Bangkok, na Tailândia, e Hong Kong, na China. Evidencia-se ainda a grande
importância dos fluxos para as metrópoles do Sudeste Asiático que desbancaram destinos
consolidados da Europa e América, em que Bangkok, Singapura e Kuala Lumpur,
aparecerem à frente das Ocidentais Paris, Roma, Barcelona ou Toronto. Os mesmo fluxos
foram significativos para as metrópoles do Oriente Médio, com destaque para Dubai, nos
Emirados Árabes Unidos, e Antalya e Istambul, na Turquia. Vários foram os motivos por
estes dados tão expressivos em menos de uma década que alteraram profundamente a
relação entre as motivações e a escolha dos destinos. Muitas delas são evidentes na
emergência de expressiva classe média asiática na China, Índia e Malásia, inclusive em
números, países que passaram por profunda modernização socioespacial, assim como de
outros formados países independentes da ex União Soviética, com destaque, além da
própria Rússia, para a Ucrânia, o Cazaquistão e o Azerbaijão, dentre outros.
Em meio a esta explosão do turismo asiático que desbanca inclusive as metrópoles
tradicionais do Ocidente, a exemplo de Roma, Barcelona e Berlim, surgem novos destinos
muito relacionados às economias emergentes também na América Latina. Aqui, o Rio de
Janeiro aparece em primeiro lugar, na 40 posição com um fluxo em 2008 de 2.820 milhões
de turistas, seguida pela Cidade do Mexico (posição 43 com 2.598 milhões) e Buenos Aires
(posição 47 com 2.399 milhões). Mas mesmo o Rio de Janeiro fica atrás de cidades como
Dublim, Moscou, Kiev e Bucareste que ocuparam, em 2008, as posições 19, 22, 27 e 34,
respectivamente. São Paulo aparece na posição 72 com volume de 1.704 milhão e bem
atrás das já citadas também latinoamericanas, Mexico e Buenos Aires, bem como outros
destinos como Cancun (57 posição) e Punta Cana (66 posição), bem como metrópoles
africanas (Johanesburgo aparece na posição 67). Em perspectiva comparada, São Paulo e
Rio de Janeiro, apesar de terem aumentado seus números absolutos, ainda aparecem em
posições piores entre 2006 e 2009, passando da 62 e 35 posição para a 40 e 72,
respectivamente.
92
Dados divulgados pela imprensa (CARNEIRO, 2010) afirmam que até outubro, o Brasil
havia recebido 5,3 milhões de turistas estrangeiros, ou 2% menos que o total registrado no
mesmo período de 2008. Apesar da queda, o resultado não é considerado tão ruim,
principalmente diante das baixas sofridas pelo setor de turismo de outras regiões do mundo
em função da crise econômica, sobretudo a Europa, que recebeu 11% menos visitantes em
2009. Parte deste decréscimo foi exatamente por conta da Crise que fez com o país
deixasse de receber turistas americanos e europeus. O que manteve, no entanto, os
números em patamares considerados bons, foi o destaque para o aumento dos turistas sul-
americanos.
Tabela 11 - Principais Destinações Urbanas do Turismo Internacional por Período (2006-2007-2008)
Fonte: Euromonitor International (2009).Top City Destination Ranking. Elaboração Própria.
Esses números são bastante significativos e indicativos de que o fluxo turístico internacional
aumentou expressivamente nos países emergentes, alterando os interesses e motivações
dos fluxos para estas áreas. Estes dados explicam em parte o porque do Brasil ter decaído
no ranking pela emergência de novos destinos. Soma-se a isso, a crise internacional que fez
com que muitos turistas que antes vinham para a América Latina, sobretudo europeus,
tenha se dirigido para novos lugares, sobretudo na própria Europa e Ásia. O que se revela é
que as metrópoles asiáticas, em função das novas e múltilpas oportunidades de novos
negócios, viram crescer consideravelmente seus números, mas também alguns destinos em
que o lazer aparece em primeiro plano, como na Turquia ou se hibridizam, como no caso de
Dubai. Mas associar estes dados simplesmente com estas conjunturas macroeconômicas
mais amplas, talvez alije processos particulares e ricos, como no caso do turismo para as ex
Repúblicas Soviéticas ainda pouco analisadas, em que se destacam Kiev (Ucrânia), Almaty
2006
2007
2008
Ranking
Cidade
Turistas
Inter.
(Milhões)
Ranking
Cidade
Turistas
Inter.
(Milhões)
Ranking
Cidade
Turistas
Inter.
(Milhões)
1
Londres
15,64
1
Londres
15,34
1
Londres
15,033
2
Bangkok
10,35
2
Hong Kong
12,057
2
Nova Iorque
10,786
3
Paris
9,7
3
Bangkok
10,844
3
Bangkok
10,209
4
Singapura
9,502
4
Singapura
10,284
4
Singapura
10,115
5
Hong Kong
8,139
5
Paris
8,762
5
Kuala
Lumpur
8,935
6
Nova Iorque
6,219
6
Nova Iorque
7,646
6
Paris
8,375
7
Dubai
6,12
7
Antalya
7,292
7
Antalya
8,295
8
Roma
6,033
8
Toronto
6,627
8
Dubai
7,584
9
Seul
4,92
9
Dubai
6,535
9
Hong kong
7,290
10
Barcelona
4,695
10
Istambul
6,454
10
Istambul
6,682
35
Rio de
Janeiro
2,185
34
Rio de
Janeiro
2,627
40
Rio de
Janeiro
2,820
62
São Paulo
1,095
74
São Paulo
1,307
72
São Paulo
1,704
93
e Astana (Cazaquistão) e Tashkent (Uzbequistão). Simbolicamente, as metrópoles Orientais
também representam uma série de sentidos pela conexão com a tradição e o exotismo pela
experiência da alteridade e seus recentes processos de modernização que impuseram
novos valores, estes sim os grandes mobilizadores das viagens na medida em que
oportunizam e disponibilizam a segurança do conforto em redes de hospedagem e
transporte mais seguras. Outro conjunto de fatores está associado às melhorias técnicas em
termos de transporte, hospedagem e qualidade dos serviços nestes destinos, resultado de
seu boom econômico recente, além de vários outros fatores associados à segurança
pública, mas não só, como o aumento de informação e conhecimento sociocultural destes
destinos, o que aumenta a sua procura. Os números de vôos, incluindo com promoções
também são bem mais disponíveis e em consulta ao maior site de turismo internacional, o
lonelyplanet.com, fica evidente a oferta e recomendação de visita aos destinos asiáticos.
Nele São Paulo e Rio de Janeiro aparecem como destinos com boa infraestrutura e
excelência em serviços, mas ainda com problemas relacionados aos preços, segurança
pública e violência urbana.
O turismo nas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro possuem tradições, segmentações
e mesmo fluxos muito distintos. Tradicionalmente o Rio de Janeiro sempre foi um destino
internacional pela sua importância como capital do país até os anos 1960, e se consolidou
como espécie de espelho da identidade urbana nacional e onde se encontram a cultura e a
natureza do país. São Paulo por sua vez sempre foi tida como a metrópole do trabalho e
uma cidade industrial que foi se modernizando e se consolidando como principal centro de
negócios da América Latina. Portanto, estes lastros iluminam as diferenças entre as
principais motivações que movem os fluxos turísticos em São Paulo e Rio de Janeiro. Do
ponto de vista do lazer, as motivações estão relacionadas ao core da atividade, ou seja, a
sedução e desejo de conhecer lugares onde a cultura, o lazer e o entretenimento são os
principais repertórios significacionais. Por outro lado, a idéia de turismo de negócios evoca a
viagem por trabalho, surgida não de uma escolha espontânea, mas, sobretudo necessária.
Mas o conceito e realidade dos negócios podem assumir uma polissemia de sentidos,
sempre associados aos grandes fechamentos de contratos ou mesmo reuniões corporativas
expressivas. Mas esta noção pode ser também pensada em termos de pequenas
transações, fundamental para esta compreensão e reiterados por Cruz, 2006: tal
entendimento do que seja negócio nos conduz a reconhecer como turismo de negócios
desde as viagens a São Paulo feitas por pequenos negociantes, que aqui chegam via
automóvel ou pelos terminais rodoviários, se hospedam em casa de parentes ou conhecidos
ou em hotéis de preços populares e realizam pequenas transações comerciais (em termos
de volume de mercadorias e em termos de capital transacionado) até representantes
comerciais de grandes empresa nacionais ou multinacionais que chegam à cidade via
94
Aeroporto de Guarulhos ou de Congonhas, se hospedam nos hotéis de mais alto padrão de
serviços e passam horas ou dias confinados em escritórios luxuosos, discutindo transações
de milhões de dólares (CRUZ, 2006: 204). Mas estas motivações têm mudado
consideravelmente nestas duas metrópoles, estando cada vez mais não hibridizados,
como também relacionados aos novos negócios no Rio de Janeiro, bem como a
consolidação de São Paulo como metrópole de serviços de lazer, entretenimento e cultura.
Os dados a seguir analisados dão um panorama mais preciso á atividade nos Estados e
Municípios.
O setor turismo ocupa hoje papel relevante na economia mundial. De acordo com
informações do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), a atividade turística gera
anualmente US$ 4 trilhões e aproximadamente 280 milhões de empregos em todo o mundo.
Segundo dados da Rais8, apresentados na Tabela 12 as atividades consideradas turísticas9
ocupavam cerca de 170 mil pessoas no Estado de São Paulo em dezembro de 2004. Os
setores que mais ocupavam pessoas eram os de transportes, alojamento e alimentação,
que também apresentaram as maiores massas salariais.
TABELA 12
Mercado de trabalho no setor turístico Estado de São Paulo 2004
Setor
Pessoal
ocupado
% total
Massa
salarial
(em
salários
mínimos)
%
total
Remuneração
média (em
salários
mínimos)
Alojamento
32176
18,8
96115,50
13,4
2,99
Alimentação
29775
17,4
69120,40
9,6
2,32
Transporte
82204
48,1
444153,80
61,8
5,40
Auxiliar de transporte
10456
6,1
44600,40
6,2
4,27
Agência de viagens
11293
6,6
46853,00
6,5
4,15
Aluguel de transporte
1474
0,9
6128,10
0,9
4,16
Cultura e lazer
3389
2,0
11531,10
1,6
3,40
Total
170768
100,0
718502,40
100,0
4,21
% total estado
1,8
1,6
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Rais 2004
A última linha da Tabela 12 indica a participação do pessoal ocupado em turismo em relação
ao total do pessoal ocupado no Estado. Essa participação é de 1,8%; no entanto, esse valor
8 A Relação Anual de Informações Sociais - Rais - é uma pesquisa coletada junto aos estabelecimentos de
trabalho formais no Brasil, e tem por objetivo o suprimentodas informações necessárias ao controle da atividade
trabalhista no país, além do provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho.
9 Foram consideradas como atividades turísticas aquelas correspondentes às seguintes categorias da
Classificação Nacional de Atividades do IBGE: alojamento, alimentação, transporte, auxiliares de transporte,
agências de viagem, aluguel de transporte, cultura e lazer. Tal classificação foi utilizada pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em tentativas de mensuração do mercado de trabalho do turismo no Brasil.
Para mais, ver Árias e Barbosa (2007).
95
pode estar subestimado, visto que as estimativas da Rais computam os trabalhadores
formais da economia e a informalidade é uma característica do setor de turismo.
TABELA 13
Mercado de trabalho em todos os setores Estado de São Paulo 2004
Setor de atividade
Pessoal
ocupado
Massa salarial
(em salários
mínimos)
Remuneração
média (em
salários
mínimos)
Extrativa mineral
12447
51049,50
4,10
Indústria de transformação
2116743
12240078,04
5,78
Serviços industriais e de utilidade pública
82037
655960,12
8,00
Construção civil
285094
1031036,95
3,62
Comércio
1687545
5796180,72
3,43
Serviços
3269881
16543731,89
5,06
Administração pública
1476843
8385355,54
5,68
Agropecuária
342587
751857,10
2,19
Total
9273177
45455249,86
4,90
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Rais 2004
Ao analisar-se a Tabela 13, constata-se que o número de pessoas ocupadas com turismo
em São Paulo é superior ao de outras atividades como a extrativa mineral e a de serviços
industriais e de utilidade pública. A remuneração média do setor de turismo (4,21 salários
mínimos) é superior à média de todos os salários (4,10 salários nimos), além de superar
as dos setores de extrativismo mineral, construção civil, comércio e agropecuária. A massa
salarial do setor corresponde a 4,3% da massa salarial do setor serviços e a 1,6% da massa
de todos os setores. As Tabelas 14 e 15 apresentam as mesmas estatísticas para o Estado
do Rio de Janeiro.
TABELA 14
Mercado de trabalho no setor turístico Estado do Rio de Janeiro 2004
Setor
Pessoal
ocupado
% total
Massa
salarial
(em
salários
mínimos)
%
total
Remuneração
média (em
salários
mínimos)
Alojamento
21755
20,6
57093,90
13,9
2,62
Alimentação
10951
10,3
18710,50
4,6
1,71
Transporte
59506
56,2
275600,40
67,2
4,63
Auxiliar de transporte
5157
4,9
30729,50
7,5
5,96
Agência de viagens
5471
5,2
18652,60
4,5
3,41
Aluguel de transporte
726
0,7
2226,80
0,5
3,07
Cultura e lazer
2282
2,2
7034,30
1,7
3,08
Total
105848
100,0
410048,10
100,0
3,87
% total estado
3,5
2,9
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Rais 2004
No Rio de Janeiro, o número de pessoas ocupadas no setor turismo segundo a Rais era de
quase 106 mil, cerca de 65 mil a menos que em São Paulo, A remuneração média, no
entanto, era inferior à desse Estado em todos os setores, exceto o de auxiliar de transporte.
Os setores que mais ocuparam pessoas eram os mesmos de São Paulo: transportes,
96
alojamento e alimentação e as maiores remunerações médias correspondiam aos setores
relacionados a transportes e a agências de viagem, enquanto as maiores massas salariais
ocorreram nos setores de transporte, alojamento e alimentação.
TABELA 15
Mercado de trabalho em todos os setores estado do Rio de Janeiro 2004
Setor de atividade
Pessoal
ocupado
Massa salarial
(em salários
mínimos)
Remuneração
média (em
salários
mínimos)
Extrativa mineral
20305
392338,09
19,32
Indústria de transformação
318620
1668015,24
5,24
Serviços industriais e de utilidade pública
43277
306146,28
7,07
Construção civil
108634
418002,52
3,85
Comércio
588693
1596867,17
2,71
Serviços
1341340
5908951,67
4,41
Administração pública
610520
3928423,44
6,43
Agropecuária
28785
58053,32
2,02
Total
3060174
14276797,73
4,67
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Rais 2004
Os setores de atividade que ocupavam número menor de pessoas, em comparação com os
dados para o Estado do Rio de Janeiro em 2004, eram apenas os de extrativismo mineral,
serviços industriais e de utilidade pública e agropecuária. Ao contrário do que ocorre para
São Paulo, a remuneração média do setor turismo (3,87 salários mínimos) é inferior à média
de todos os trabalhadores (4,67 salários mínimos), Ademais, dos setores listados na Tabela
15, apenas o de construção civil, o comércio e a agropecuária apresentaram remuneração
média inferior à do turismo. a massa salarial do setor corresponde a 2,9% do total dos
trabalhadores, quase o dobro do valor verificado para São Paulo (1,6%).
Em termos da participação das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro nos resultados do
turismo no Brasil, os dados para o turismo nacional e internacional no Rio de Janeiro nas
décadas de 1990 e 2000 indicam uma queda na participação desta cidade no setor turístico
brasileiro nos anos recentes. Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira
(ABIH) indica que a taxa de ocupação dos hotéis no Rio de Janeiro, embora tenha crescido
entre 1997 e 2000 (de 63,1 para 69,9%), apresentou forte queda a partir deste ano,
chegando a 59,8% em 2005, como mostra a Figura 1.
97
FIGURA 1
Taxa de ocupação de hotéis cidade do Rio de Janeiro 1997 a 2005
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ABIH
Segundo estudo da ABIH, entre 1995 e 2002 a maior parte dos hóspedes na cidade,
incluindo turistas nacionais e internacionais, vieram ao Rio de Janeiro por motivo de
negócios, enquanto cerca de 30% o fizeram por motivo de lazer. Em seguida veio o motivo
“convenções”, e, por fim, “outros motivos”. As participações de cada um dos motivos
mantiveram-se relativamente constantes no período, como mostra a Figura 2. A maior
inflexão ocorre entre os anos de 1995 e 1996, quando o motivo negócios cai, cedendo lugar
aos demais, o que evidencia a manutenção da importância do Rio de Janeiro como turismo
de lazer, sobretudo o sol e praia, mas que em tempos recentes tem se dirigido muito para os
aspectos culturais da cidade, sobretudo suas manifestações, a exemplo do samba e
carnaval, bem como de sua identidade muito relacionada aos mitos da brasilidade.
54
56
58
60
62
64
66
68
70
72
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Taxa de ocupação (%)
98
FIGURA 2
Motivo de viagem dos hóspedes cidade do Rio de Janeiro 1995 a 2002
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ABIH
No entanto, dados da mesma entidade, calculados junto à Federação do Comércio do Rio
de Janeiro (FECOMÉRCIO-RJ) para os anos de 2000 a 200410, indicam uma tendência de
crescimento da participação relativa de hóspedes por motivo lazer com relação ao motivo
negócios: a importância do lazer cresceu de 25,5% em 2002 para 34,2% em 2004, enquanto
a dos negócios caiu de 50,6% em 2002 para 43,4% em 2004. Esses dados corroboram com
a análise visualizada anteriormente.
TABELA 16
Motivo de viagem dos hóspedes cidade do Rio de Janeiro 2000 a 2004
Motivo da viagem
Ano
2000
2001
2002
2003
2004
Negócio/trabalho
48,6
49,0
50,6
48,4
43,4
Lazer
29,9
29,5
25,5
29,6
34,2
Convenções/congressos/feiras
13,9
12,0
13,8
11,9
11,8
Tripulação aérea
3,2
4,2
5,3
4,2
5,2
Outros
4,5
5,4
4,9
6,0
5,3
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ABIH / FECOMÉRCIO-RJ
Dados da mesma fonte indicam que a maior parte dos hóspedes entrevistados no período
(por volta de 70%) chegou à cidade por avião. O segundo meio de transporte mais utilizado
foi o automóvel. Essas participações também se mantiveram relativamente constantes no
período, salvo a queda de importância relativa dos automóveis e dos outros meios de
transporte quando o percentual de hóspedes que utilizaram ônibus começa a ser computado
(ano 2000). Note-se ainda que os transportes por trem e navio foram muito pouco utilizados.
10
Tais dados foram calculados através de metodologia um pouco distinta da dos dados da Figura 2, no entanto
as diferenças nos resultados podem ser ignoradas, visto que se situam nas casas decimais.
0
10
20
30
40
50
60
70
Média
1995
Média
1996
Média
1997
Média
1998
Média
1999
Média
2000
Média
2001
Média
2002
% turistas
Negócios Convenção Lazer Outros
99
FIGURA 3
Meio de transporte utilizado pelos hóspedes cidade do Rio de Janeiro 1995 a 2002
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ABIH
a Figura 4 mostra o número de congressos e convenções realizados no Brasil e no Rio
de Janeiro de 1999 a 2005. Embora esse número tenha crescido no país - especialmente
após o ano de 2003 -, para o Rio de Janeiro ele permaneceu estável, de modo que a cidade
perdeu importância relativa nesse quesito, ou seja, dos eventos computados no Brasil em
2001, 60,3% ocorreram no Rio de Janeiro, enquanto em 2005 essa participação foi de
26,9%.
FIGURA 4
Número de congressos e convenções internacionais realizados cidade do Rio de Janeiro e Brasil
1995 a 2002
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da International Congress & Convention
Association/ICCA (via RIOTUR)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Média
1995
Média
1996
Média
1997
Média
1998
Média
1999
Média
2000
Média
2001
Média
2002
% turistas
Avião Carro Ônibus Trem Navio Outros
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Número de eventos
Rio de Janeiro Brasil
100
No que diz respeito ao turismo internacional, como mostra a Figura 5, o número de
visitantes estrangeiros no Brasil cresceu consideravelmente entre 1991 e 2005: de pouco
mais de um milhão para mais de cinco milhões. O Rio de Janeiro foi a cidade que mais
recebeu turistas estrangeiros em todo o período, embora sua participação relativa ao Brasil
tenha caído de 50,3% em 1991 para 34,7% em 2005. Essa queda, no entanto, não foi
devido a uma redução do número de visitantes no Rio de Janeiro - essa variável, ao
contrário, cresceu em todo o período -, mas sim ao aumento do número de turistas em
outras cidades brasileiras.
FIGURA 5
Número de visitantes estrangeiros (mil) Cidade do Rio de Janeiro e Brasil 1991 a 2005
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EMBRATUR (via RIOTUR)
A Figura 6 mostra a participação das duas cidades que mais receberam turistas no Brasil
entre 1990 e 2001 (Rio de Janeiro e São Paulo) em relação ao total de turistas que chegou
ao país. É visível que as duas cidades perderam participação relativa no país ao longo do
tempo, sendo que a perda do Rio de Janeiro foi bem mais acentuada que a de São Paulo.
1 000
2 000
3 000
4 000
5 000
6 000
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Número de visitantes estrangeiros (mil)
Brasil Rio de Janeiro
101
FIGURA 6
Turistas estrangeiros (% em relação ao Brasil) Cidades Rio de Janeiro e de São Paulo 1990 a 2001
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EMBRATUR
Dados da EMBRATUR indicam que a maior parte dos turistas estrangeiros que chegou ao
Rio de Janeiro de 2003 a 2006 era residente na Europa, seguidos dos visitantes vindos da
América do Sul e América do Norte (Figura 7). Estes dados evidenciam a importância dos
fluxos turísticos provenientes de países vizinhos nas taxas como um todo.
FIGURA 7
Turistas estrangeiros segundo residência permanente Cidade do Rio de Janeiro 2003 a 2006
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EMBRATUR
Pesquisa realizada pela EMBRATUR em 2003 indicou que 17,5% dos turistas internacionais
que visitaram o Rio de Janeiro também visitaram São Paulo (cidade mais visitada pelos
0
10
20
30
40
50
60
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Turistas estrangeiros (%)
Rio de Janeiro São Paulo
0% 20% 40% 60% 80% 100%
2003
2004
2005
2006
África
América Central
América do Norte
América do Sul
Ásia
Europa
Oceania
Oriente Médio
Países não especificados
102
turistas que foram ao Rio de Janeiro); em seguida, estavam Salvador (17,4%), Foz do
Iguaçu (12,8%) e Búzios (10,7%). Quase 90% dos turistas estrangeiros interrogados pela
pesquisa avaliaram os hotéis e restaurantes do Rio de Janeiro como excelentes ou bons,
além de considerarem a existência de informação turística e a precisão da informação como
boas ou excelentes (EMBRATUR, 2003). Ainda segundo a EMBRATUR, a maior parte dos
turistas internacionais que visitaram a cidade entre 1994 e 2003 foi motivada pelo lazer.
Esse percentual, no entanto, caiu de 74,2% em 1994 para 57,9% em 2003. Em segundo
lugar, estiveram os negócios, cuja importância em termos de número de turistas se manteve
em torno de 20% no período. Enquanto isso cresceram outros motivos, como visitas a
familiares e amigos e participação em congressos. Esta última modalidade tem apresentado
dados importantes, estando sua motivação muito hibridizada com a de lazer e cultura.
TABELA 17
Visitantes internacionais por motivo de viagem cidade do Rio de Janeiro 1994 a 2003
Motivo de viagem
Visitantes internacionais com destino ao Rio de Janeiro (%)
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Lazer
74,2
63,8
54,3
63,7
72,3
71,9
61,1
62,2
58,8
57,9
Negócios
22,1
26,2
35,2
29,8
23,3
21,8
18,3
17,8
17,9
21,8
Visita a
familiares/amigos
-
-
-
-
-
-
8,2
10,2
13,4
14,1
Congresso/convenção
2,6
7,2
9,3
5,3
3,7
5,4
8,7
8,4
5,9
3,59
Estudo/ensino
-
-
-
-
-
-
-
-
1,4
0,9
Tratamento de saúde
-
-
-
-
-
-
-
-
0,2
0,3
Religião/peregrinação
-
-
-
-
-
-
-
-
0,3
0,4
Outros
1,1
2,8
1,3
1,2
0,7
0,7
3,5
1,5
2,1
1,0
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EMBRATUR
Como mostra a Tabela 18, no ano de 2001, a permanência média dos turistas estrangeiros
na cidade foi de 9,29 dias, abaixo da média nacional (12,2 dias). O gasto médio diário por
turista foi de US$ 99,98 dólares, superior à média nacional (US$ 81,21). Ainda segundo
essa pesquisa, 79,7% dos turistas estrangeiros se hospedou em hotéis no Rio de Janeiro
(mais que a média nacional). A decisão da visita à cidade foi influenciada principalmente por
amigos (45,9%), pela televisão (18,7%) e por outros meios de comunicação (16,3%). Como
principais aspectos negativos da cidade, os turistas apontaram a limpeza pública, as
comunicações, a sinalização turística e a segurança pública.
103
TABELA 18
Perfil do turista Brasil e cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo 2001
Brasil
Rio de
Janeiro
São
Paulo
Permanência média
12,2 dias
9,29 dias
7,23 dias
Gasto médio per capita/dia (US$)
81,21
99,98
126,55
Renda Média Anual Individual (US$)
34 726,74
45 126,08
51 855,43
Meio de hospedagem utilizado (%)
Hotel
69,8
79,7
72,6
Casa de amigos/parentes
19,8
10,5
24,2
Apartamento de aluguel
6,6
7,2
1,7
Outros
3,8
2,6
1,4
Influências na decisão da visita (%)
Amigos
47,4
45,9
37,9
Televisão
8,2
18,7
26,2
Outros meios de comunicação
27,9
16,3
8,0
Folder de agência
6,2
5,9
21,3
Revista
4,6
6,5
2,6
Jornal
2,6
3,1
1,6
Internet
3,1
3,7
2,3
Rádio
,,,
,,,
,,,
Aspectos considerados negativos (%)
Limpeza pública
12,1
14,8
15,2
Rodovias
13,1
,,,
,,,
Comunicações
10,6
17,8
11,4
Sinalização turística
15,8
15,2
17,2
Segurança pública
9,1
12,6
15,4
Transporte urbano
7,7
7,3
12,0
Informações turísticas
5,4
3,2
8,3
Táxis
5,8
4,6
5,0
Guias de turismo
2,8
3,1
5,6
Restaurantes
0,8
0,8
0,4
Hotelaria
1,7
2,7
0,6
Diversões noturnas
3,2
2,2
1,6
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EMBRATUR
104
Em termos de renda gerada pelo turismo internacional, dados da EBAPE/FGV estimam que,
em 2003, os visitantes estrangeiros gastaram mais de 1 bilhão e 700 milhões de dólares no
município. Tal valor é equivalente a 40,6% da renda gerada em todo o país com a atividade,
que é de cerca de 4 bilhões e 300 milhões de dólares. uma pesquisa feita pela
EMBRATUR junto a participantes de 6 eventos internacionais realizados no Rio de Janeiro
em 2007 e 2008 indicou que os 3577 entrevistados movimentaram cerca de 7 milhões de
reais na cidade. A maior parte (52,9%) desse valor foi gasta com hospedagem; em segundo
lugar, ficaram alimentos e bebidas (16,75%), seguidos de compras e presentes (10,7%),
cultura e lazer (5,9%), transportes (7,3%), telecomunicação (3,2%) e outros gastos (2,4%).
52,9% dos entrevistados compraram souvenires e/ou artesanato na cidade, 35% roupas
e/ou calçados, 8,8% livros e/ou revistas; apenas 17,9% não compraram nada.
O gasto médio diário dos turistas foi de US$ 308,80 (EMBRATUR, 2008). Um grande
motivador do turismo no Rio de Janeiro é o Carnaval. Estimativa da RIOTUR indica que
cerca de 694.000 turistas chegaram ao município em 2007 devido a esse evento, o que
movimentou cerca de 500 milhões de dólares na cidade (US$ 720,50 por turista). No
período de verão, a cidade atraiu cerca de 2469000 turistas, o que gerou aproximadamente
1 bilhão e 775 milhões de dólares para a cidade (US$718,90 por turista). Dados da ABIH de
1997 a 2002 indicam que, dos turistas nacionais que chegaram ao Rio de Janeiro no
período, quase 40% eram residentes em São Paulo. Em 1997, o segundo maior emissor de
turistas era o interior do Rio de Janeiro; no entanto, sua participação caiu de 12% neste ano
para 6,61% em 2002. Em terceiro lugar esteve o interior de São Paulo, seguido de Minas
Gerais, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.
105
FIGURA 8
Turistas nacionais segundo residência permanente cidade do Rio de Janeiro 1997 a 2002
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ABIH
Enquanto no Rio de Janeiro evidências de queda da taxa de ocupação hoteleira nos
anos recentes, na cidade de São Paulo verificou-se crescimento expressivo dessa taxa,
Segundo a São Paulo Turismo S/A (SPTURIS), a ocupação de hotéis na cidade no mês de
abril de 2008 ficou 4,33% acima do mesmo período de 2007 e 10,91% acima da média dos
últimos três anos, que foi de 63,39% (Figura 9). Em termos de eventos é destaque em São
Paulo, o evento da Formula 1 que teve além de capacidade de atrair um fluxo considerável
de turismo, alavancar a imagem da cidade de São Paulo internacionalmente, sendo o único
evento a ocorrer na América do Sul. Neste sentido, o esporte, coligado com o turismo teve a
capacidade de contribuir no processo de identidade da cidade. Estes eventos esportivos
estão cada vez mais entendidos como parte de uma estratégia mais ampla de turismo que
visa levantar o perfil de uma cidade e, invariavelmente ligado a estratégias de regeneração
urbana e desenvolvimento do turismo: sports events are increasingly seen as part of a
0% 20% 40% 60% 80% 100%
1997
1998
1999
2000
2001
2002
o Paulo (Capital) Rio de Janeiro (Estado)
Minas Gerais o Paulo (Interior)
Distrito Federal Rio Grande do Sul
Bahia Paraná
Esrito Santo Pernambuco/ Alagoas/ Sergipe
Ceará Goiás
Maranhão/ Pia/ Rio Grande do Norte/ Paraíba) Amazonas
Outros
106
broader tourism strategy aimed at raising the profile of a city and therefore success cannot
be judged on simply profit and loss basics. Often the atraction of events is linked to a
reimaging process and, in the case of many cities, is invariably linked to strategies of urban
regeneration and tourism development. Major events if successfull have the ability to project
a new image and identity for a city” (GRATTON ET AL, 2005: 987).
FIGURA 9
Taxa de ocupação de hotéis cidade de São Paulo 2005 a 2008
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da SPTURIS
Segundo essa mesma entidade, a cidade de São Paulo recebe, por ano, cerca de 9 milhões
de turistas, sendo que, destes, 2,5 milhões são estrangeiros. Cerca de 50% dos turistas da
cidade vem a negócios, 39% a lazer e o restante para compras, saúde, cursos/faculdades e
outras motivações. Em 2006, os valores movimentados pela atividade turística na capital
paulista com a arrecadação do ISS (Imposto sobre Serviços) sobre o grupo “Gastos com
pacotes, turísticos, hospedagem e eventos” cresceram 32,6% em relação a 2004 e 15,26%
em relação a 2005, ultrapassando R$ 100 milhões.
Um dos grandes motivadores do turismo em São Paulo são os eventos de grande porte que
ocorrem na cidade. Destes, os de maiores receitas em 2005 foram o Grande Prêmio de
Fórmula 1 (R$ 150 milhões), a Parada GLBT (R$ 120 milhões), o Salão do Automóvel (R$
100 milhões), o SP Fashion Week (R$ 75 milhões (julho) R$ 40 milhões (janeiro) e o
Carnaval (R$ 30 milhões) (SPTURIS, 2006b). Boletim Anual da SPTURIS de 2006
apresenta um perfil dos participantes de nove eventos que ocorreram na cidade nesse ano:
Carnaval, Bienal do Livro, Parada do Orgulho GLBT, Feira Hospitalar, Francal, Adventure
Sports Fair, Equipotel, Grande Prêmio de Fórmula 1 e Salão do Automóvel. 46,5% dos
52
54
56
58
60
62
64
66
68
70
72
Média 2005 Média 2006 Média 2007 Abril 2008
Taxa de ocupação (%)
107
entrevistados eram visitantes (turistas) nacionais e internacionais, o que indica o grande
potencial turístico desses eventos. O gasto médio diário dos participantes dos eventos foi de
R$ 204,61, e a média de pernoites dos turistas, de 3,02 dias. As avaliações dos
entrevistados estiveram entre ótimo e bom nos itens hospedagem (83,89%), transporte
público (58,33%), centrais de informações turísticas (63,95%), atrativos culturais (86,51%),
opções gastronômicas (91,08%) e de compras (93,10%), além da hospitalidade do povo
(72,42%) (SPTURIS, 2006a). Estes são os lemas hoje trabalhados pela SPTuris, ou seja de
que a cada seis minutos é realizado um evento em São Paulo e de que não é à toa que a
metrópole paulistana é conhecida como a cidade que nunca pára tendo em vista a
quantidade de congressos, feiras, convenções, shows internacionais, grandes festas, dentre
outros, em um total de 90 mil eventos por ano, ou cerca de 75% das grandes feiras do País,
dentre as quais destacam-se o Salão do Turismo, Salão do Automóvel, Couromoda,
Francal, Hospitalar, Automec, Fenatec, Telexpo, Expofarma, Fenit que movimentam cerca
de R$ 2,4 bilhões por ano, dos quais R$ 700 milhões em locação de espaço, R$ 700
milhões em equipamentos para serviços e R$ 8 bilhões em viagens, hospedagem e
transporte terrestre e aéreo.400 mil de espaços bem equipados, charmosos e
diferenciados (SÃO PAULO, 2009). Segundo a International Congress & Convention
Association ICCA (na sigla em português, Associação Internacional de Congressos e
Convenções), que faz o ranking dos maiores centros de eventos do mundo, a cidade de São
Paulo é o maior destino de eventos internacionais das Américas. Além de figurar entre os
Top 20 destinos para eventos no mundo, São Paulo ultrapassou destinos como Madri,
Sidney, Atenas e Vancouver. O evento que traz maior receita para o município é o Grande
Prêmio de Fórmula 1, realizado anualmente no Autódromo de Interlagos. Em 2006, 56,7%
dos participantes eram turistas; destes, 5,2% eram estrangeiros. Os participantes gastaram
em média R$ 614,97 por dia, sendo a maior parte com compras e hospedagem e R$145,62,
somente no autódromo. O evento movimentou 52 diferentes setores da economia local
(SPTURIS, 2006c). No caso da Fórmula 1 um efeitos mais expressivos está na forte
associação da imagem do evento com a promoção internacional da imagem da cidade em
diferentes mídias (DOMINGUES, 2007). De 1990 a 2003, São Paulo manteve-se no
segundo lugar entre as cidades mais visitadas por turistas estrangeiros no país, atrás
apenas para o Rio de Janeiro. No entanto, assim como a der, perdeu importância relativa
no período (de 29,3% em 1990 para 17,02% em 2002), conforme mostrado na Figura 10.
Ainda assim, o número de visitantes internacionais vem crescido: de 2002 a 2005, houve
crescimento de 44,04%, segundo dados da EMBRATUR. Em termos de espaços para
eventos, destacam-se os espaços do Anhembi, Rebouças, Imigrantes, São Luis, Barra
Funda, Center Norte, Frei Caneca Center, Mart Center, Transamérica e World Trade Center.
108
FIGURA 10
Número de visitantes estrangeiros cidade de São Paulo 2002 a 2005
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EMBRATUR
A Figura 11 indica que a origem dos turistas estrangeiros que chega a São Paulo é
semelhante à do Rio de Janeiro: em primeiro lugar estão os turistas europeus, seguidos dos
da América do Norte e América do Sul. Note-se, entretanto, a queda de participação da
América do Sul no período e o crescimento dos europeus. Conforme indicado na Tabela 6, a
permanência média dos turistas estrangeiros na cidade em 2001 foi de 7,23 dias, abaixo da
média brasileira e da média do Rio de Janeiro. No entanto, o gasto médio per capita/dia foi
de U$$ 126,55, muito superior à média nacional e do Rio de Janeiro, o que pode ser
associado tanto a um maior custo de vida dessa cidade quanto à maior renda média anual
dos visitantes.
FIGURA 11
Turistas estrangeiros segundo residência permanente cidade de São Paulo 2003 a 2006
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da EMBRATUR
1000
1200
1400
1600
1800
2000
2200
2400
2600
2800
3000
2002 2003 2004 2005
Número de turistas (mil)
0% 20% 40% 60% 80% 100%
2003
2004
2005
2006
África
América Central
América do Norte
América do Sul
Ásia
Europa
Oceania
Oriente Médio
Países não especificados
109
Embora a maior parte dos turistas tenha se instalado em hotéis, 24,2% ficaram em casas de
amigos/parentes, valor bastante superior ao do Rio de Janeiro (10,5%) e da média nacional
(19,8%). A decisão da visita à cidade foi influenciada principalmente por amigos (37,9%),
pela televisão (26,2%, valor abaixo do obtido para o Rio de Janeiro), por folders de agências
(21,3% de importância contra 5,9% no Rio e 6,2% na média nacional) e por outros de
comunicação (8%, muito inferior ao do Rio de Janeiro e da média nacional). Os principais
aspectos negativos apontados pelos turistas são a sinalização turística, a segurança pública,
a limpeza pública, o transporte urbano e as comunicações. Em 2003, 28,8% dos
estrangeiros que visitaram São Paulo também visitaram o Rio de Janeiro; 10,2% a Bahia,
5,6% Foz do Iguaçu e 5,2% Recife. Os hotéis, restaurantes e o setor de informações
turísticas da cidade foram avaliados, majoritariamente, como bons ou excelentes (ABAV,
2004 apud GORINI e MENDES, 2005).
O turismo também traz muitos brasileiros a São Paulo, Dados da FIPE indicam que o estado
de São Paulo é a unidade da federação que mais recebeu brasileiros de outros estados em
2005 (27,7%), seguido de Minas Gerais (10,8%), Rio de Janeiro (8,4%), Bahia (7,4%) e
Santa Catarina (7,2%) (FIPE, 2007). Segundo Resende (2002) a indústria hoteleira no Brasil
é formada principalmente por hotéis de pequeno e médio porte, freqüentemente de
propriedade familiar. Tais estabelecimentos foram construídos na maioria das vezes com a
finalidade de atender a satisfações pessoais dos donos; apenas na década de 1970, com a
chegada de cadeias internacionais no país, a hotelaria passou a ser desenvolvida com
maior profissionalismo. Nas últimas décadas, o comportamento dos investimentos no setor
hoteleiro no Brasil respondeu à situação econômica do país, embora com alguma
defasagem. a demanda, diretamente associada à renda, respondeu mais rapidamente à
atividade econômica (GORINI e MENDES, 2005).
São Paulo também possui o maior e mais moderno centro hoteleiro do país com presença
de grandes cadeias internacionais como o Hyatt, Hilton, Marriott, Accor, Meliá, Radisson ao
lado de opções exclusivas locais das quais as mais emblemáticas são o Fasano, Emiliano
ou Unique, sofisticados e personalizados hotéis-butique. São 410 hotéis em um total de
42.000 quartos ou UHs. Em termos de infraestrutura de transporte, a metrópole paulistana
conta com um metrô, além de 33 mil táxis e mais de 200 helipontos que servem uma frota
de 500 helicópteros, a segunda maior do planeta. A cidade de São Paulo sozinha abriga
170 unidades hoteleiras entre hotéis e flats. Isso corresponde a 3,3% de toda a oferta
brasileira. O número de unidades habitacionais da cidade de SP é de 27.707, o que
corresponde a 9,9% do total brasileiro. Essa diferença de participação se deve, novamente,
ao tamanho dos hotéis existentes na capital paulistana. Os hotéis de São Paulo possuem
em média 163 unidades habitacionais por empreendimento, contra uma média brasileira de
110
58 UH‟s por empreendimento. (IGNARRA, 2007: 53 e 54). O turismo de eventos conta com
vários espaços para convenções, o que em 2001, totalizava 142 espaços, dos quais, 10
centros de convenções, 6 casas noturnas, 3 pavilhões, 12 clubes e estádios, 69 hotéis e
flats, 17 teatros/ auditórios, 11 businness centeres, 14 buffets/ restaurantes. Estes números,
no entanto são impressionantes quando associados ao seu frequentantes, o que resultou,
em um toital de 21.686.240 no ano de 2001, dos quais 67,2% são residentes em São Paulo
e 32,8% visitantes (IBID: 128). Destes tem-se que quase 30% são eventos de âmbito
mundial, internacional ou latinoamericano.
TABELA 19
Ocupação nos Hotéis por categoria, de 1992 a 2002
Tipo do estabelecimento
1992
2002
Hotéis
Quartos
Hotéis
Quartos
Independentes
2393
120000
4876
200500
Hotéis e Apart-Hotéis de Cadeias Nacionais
65
12000
170
26000
Hotéis e Apart-Hotéis Internacionais
42
8000
208
34400
Total
2500
140000
5254
260900
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da HIA Hotel Investment Advisors
O capital estrangeiro também foi atuante no setor nesse período, principalmente através das
cadeias hoteleiras. Exemplos destes investimentos são a compra da rede Caesar Park pelo
grupo mexicano Posadas; a construção do Grand Hyatt em São Paulo, com investimento da
Hyatt e do grupo argentino Libermann; o Marriott Copacabana com investimento total da
Marriott International; o novo Hilton em São Paulo que está sendo construído pela Hilton
International; e o Grupo Pestana de Portugal que adquiriu quatro hotéis em Salvador, Rio de
Janeiro, Angra dos Reis e Natal (RESENDE, 2002). Gorini e Mendes (2005) apresentam
como problemas do setor turístico com fortes implicações sobre a hotelaria brasileira na
atualidade: o baixo grau de articulação entre as políticas destinadas ao setor pelas diversas
instâncias governamentais e entre os setores público e privado; as deficiências na gestão e
operacionalização da infra-estrutura básica (saneamento, água, energia, transportes) e
turística do país; a elevada concentração no segmento das operadoras de turismo,
provocando forte pressão sobre os preços de hotelaria, companhias aéreas e outros
segmentos; a burocracia e os custos envolvidos nos processos de concessão de vistos a
turistas estrangeiros; a insuficiência de estatísticas sobre o turismo brasileiro; a qualificação
profissional insuficiente dos recursos humanos do turismo; a qualidade ainda insuficiente e a
pouca diversidade de produtos turísticos ofertados nos mercados nacional e internacional;
as dificuldades de acesso e condições de crédito. Como pontos positivos, os autores
colocam: o aumento do número de vôos diretos entre os principais países emissores de
turistas e as cidades brasileiras de seus destinos; o reconhecimento da vocação para o
ecoturismo no país; o incremento da promoção do país como destino factível durante todo o
111
ano; o Plano Nacional de Turismo, que prevê a concessão de prioridade pelas instituições
oficiais de crédito ao financiamento aos empreendimentos do setor.
no Rio de Janeiro, em pesquisa realizada pelo IBGE em 2001 questionou 2132
estabelecimentos que ofertantes de serviços de alojamento no estado do Rio de Janeiro. No
referido ano, esses estabelecimentos ocupavam 33465 pessoas, auferiram R$ 1 bilhão em
receita total e R$ 292 milhões em remuneração total. A Figura 12 mostra a taxa de
ocupação dos hotéis da cidade do Rio de Janeiro de acordo com sua classificação. Note-se
que as maiores taxas de ocupação correspondiam aos hotéis quatro estrelas, seguidos dos
hotéis três estrelas, dois, cinco, e por último, os flats. Do ponto de vista das regiões da
cidade, segundo a ABIH-RJ, as maiores taxas de ocupação, em 2007, foram verificadas nas
unidades de hospedagem localizadas nos bairros de Ipanema e Leblon (65,17%), seguidas
por Copacabana e Leme (62,92%) e Barra da Tijuca e São Conrado (54,32%).
FIGURA 12
Taxa de ocupação de hotéis segundo o perfil do estabelecimento cidade do Rio de Janeiro
Fonte: ABIH-RJ / FECOMÉRCIO-RJ - Indicadores da Indústria Hoteleira do Rio de Janeiro.
No caso de São Paulo, são raras as informações disponíveis a respeito da composição das
redes hoteleiras e sua localização espacial. Segundo dados da SPTURIS, ao se analisar a
taxa de ocupação na cidade de São Paulo por categoria de hotel, observa-se aumento na
movimentação de valores no segmento hoteleiro, uma vez que a categoria mais favorecida
foi a dos hotéis de luxo. A ocupação média nessa categoria passou de 42,11% em 2005
para 54,26% em 2006. Na categoria superior (equivalente à quatro estrelas), a taxa foi de
54,1% em 2005 para 59,1% em 2006 variação de 5 pontos percentuais ou 9,2%. no
segmento de hotéis econômicos ou supereconômicos, a ocupação média superou os 70%
em 2005 e em 2006; foi de 73,6% em 2005 e 72,6% em 2006, apresentando uma variação
40
45
50
55
60
65
70
75
2000 2001 2002 2003 2004
Taxa de ocupação (%)
5* 4* 3* 2* Flat
112
de apenas 1 ponto percentual para menos, provavelmente por absorção de hóspedes por
estabelecimentos de categorias superiores.
Um dado que nos parece rico, no caso da metrópole do Rio de Janeiro, em termos de
repercussão socioespacial do turismo refere-se à utilização de apartamentos de aluguel por
parte dos turistas internacionais. Estas taxas eram, em 2007 de 7,2% no Rio de Janeiro e de
1,7% em São Paulo, destacadas em pesquisas recentes sobre o mercado imobiliário nestas
duas metrópoles (PAIVA e QUINTO JR, 2007). Com base nestas fontes, se observa que há,
no caso carioca, uma grande repercussão sobre os estoques imobiliários totais, que este
se apresenta concentrado nos Bairros da Zona Sul do Rio e que os torna ainda mais
inflados ao entrarem no circuito internacional do mercado imobiliário de segundas
residências, utilizadas somente em períodos de férias (o que constitui uma pressão a mais
na demanda do mercado imobiliário de alta renda do Rio de Janeiro, cuja oferta é bastante
restrita e tem problemas espaciais para se expandir, desconsiderando a Barra da Tijuca).
Essas análises ilustram em grande medida a importância econômica do turismo para as
economias metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro e apresentam uma série de
evidências na comparação entre perfil, motivação e resultado. O que se observa é na
grande importância do turismo de lazer para o Rio de Janeiro, tendo em vista que mesmo
em termos de tendências, para as quais se materializam a consolidação de novos pólos em
torno das futuras reservas de óleo e gás pelo Pré Sal da Petrobras, as perspectivas maiores
estão para eventos que relacionam esporte, lazer e cultura como a Copa do Mundo em 2014
e as Olimpíadas de 2016. Em São Paulo é evidente a força do turismo de negócios, mas
também de seus fortes nculos com o entretenimento e a cultura metropolitana, a qual é
promovida pela idéia de cosmopolitismo brasileiro, relacionados à sua herança como cidade
formada por migrantes com desdobramentos na gastronomia e opções culturais. Também
se destaca na área da vida noturna como um dos principais destinos internacionais (SÃO
PAULO, 2008 e 2009). No entanto, a compreensão destas análises fica mais evidente
quando relacionada às espacialidades promovidas pelo turismo, ou pela turistiticação
espacial onde se evidenciam permanências e rupturas significativas da reestruturação
metropolitana destes espaços.
3.3 ESPACIALIDADES HIPERMODERNAS DO TURISMO EM SÃO PAULO E RIO DE
JANEIRO
É evidente a importância atual e potencial do turismo nas metrópoles de São Paulo e Rio de
Janeiro quando a atividade é analisada para a totalidade dos seus municípios. No entanto é
preciso reconhecer que esta atividade seleciona espacialidades e mesmo constrói/ altera
113
outras. Assim, quando se analisa suas formas e conjuntos de intervenções sobre os
processos socioespaciais revela-se uma série de seletividades em relação aos espaços que
privilegia e também à captura sociocultural de seus resultados. Outro fato que nos parece
relevante relaciona-se à forma como o turismo articula espacialmente os tecidos
intrametropolitanos, constituindo novas redes socioculturais e novos processos espaciais.
Neste sentido, nossa pesquisa além da análise realizada anteriormente sobre economia e
perfil dos fluxos turísticos, buscou examinar as espacialidades do mesmo para as
metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro em dois momentos ou recortes temporais, a
saber, o começo da década de 1990 e o fim da década de 2010, observando as
permanências e mutações da turistificação urbana (cf. STOCK, 2007; COËFFÉ, 2007 e
2008) e suas ofertas como leituras possíveis dessas metrópoles nesta virada de século.
Para esta análise foram georreferenciados os dados de hotéis; espaços culturais que agrega
centros culturais, construções históricas, museus e parques temáticos; e casas noturnas
(GUIA QUATRO RODAS BRASIL, 1991 e 2010). A seleção destes aspectos e espaços
deveu-se ao reconhecimento da distribuição espacial da principal infraestrutura de apoio
turístico, ou seja, sua rede de hospedagem; seus atrativos culturais, presente nos espaços
culturais; e seus atrativos de entretenimento reconhecidos em casas e clubes noturnos.
Neste último aspecto sabemos da grande diferenciação entre os atrativos presentes em São
Paulo e Rio de Janeiro, tendo em vista suas fortes características de metrópole litorânea e
outra localizada em planalto. Nestes termos, o foco do turismo de lazer associado ao
modelo sol e mar para o caso do Rio de Janeiro que se materializa pela sua grande orla
oceânica voltada para a Baía de Guanabara e Oceano Atlântico, deve ser considerado,
apesar de sua análise não ser nosso foco de evidenciação. Esta se dará pela análise mais
uma vez não realizada pelas diferenças quantitativas em termos de atrativos, mas,
sobretudo pelas suas relações com as centralidades urbanas e sua relação com a
turistificação. Como resultado desta pesquisa podemos verificar nos Mapas 2 e 3 as aqui
definidas espacialidades turísticas e sua mobilidade espacial entre 1990 e 2010. É preciso
reconhecer também que apesar de sua forte vocação diurna em torno dos atrativos da praia,
outros espaços simbólicos da metrópole transitórios e efêmeros, que mesmo da praia, se
espalham por postos de gasolina, porta das casas noturnas, espaços apropriados pelos
jovens na noite carioca: nas praias e seus Postos é onde a noite começa a partida da
„zoação‟ e depois a pré-night que não está somente limitada aos postos de gasolina, casas
de suco e lanchonetes fast food como o Bob‟s e McDonald‟s. As aglomerações formam-se
também em torno de bares, restaurantes e entradas de condomínios situados em lugares
estratégicos. Lugares de passagens, como os postos de gasolina e suas lojas de
conveniência, conectados por redes interativas, promovidos pelos celulares, tornam-se
settings interativos de encontro e diversão de jovens que os ocupam em suas trajetórias
(ALMEIDA e TRACY, 2003: 39).
114
Em São Paulo, observa-se a presença de três pólos de centralidades, organizados em torno
do Centro Histórico que agrega ainda as regiões da Bela Vista, Higienópolis e Pacaembu, a
Paulista/ Jardins, que envolve ainda parte da região de Pinheiros e a região da Marginal do
Rio Pinheiros que se espraia pelas regiões do Itaim, Moema, Brooklin e Vila Olímpia. Estas
regiões e centralidades correspondem aos espaços que historicamente se consolidaram
como os novos centros econômicos e simbólicos da metrópole paulista, ou seja, o espaço
central em torno do Pateo do Collegio quando da origem da cidade de São Paulo, a região
da Paulista no período da transição do café para a indústria e hoje a Marginal do Rio
Pinheiros, que para alguns corresponde à metrópole terciária e pós-industrial. No contexto
destas centralidades foi bastante expressivo os movimentos de cunho patrimonial,
sobretudo em torno da tentativa e luta pelos direitos e participação nos processos de
revitalização do Centro: “as tentativas de retomada das região central como local de moradia
e de recuperação de prédios históricos passaram a ocorrer com mais vigor a partir dos anos
90, mediante projetos oficiais com apoio internacional, seguindo uma onda mundial de
reurbanização e revitalização das regiões centrais, dado que elas não têm não só patrimônio
histórico-cultural, mas também infra-estrutura urbana instalada (embora em estado
precário e inadequado para as novas tecnologias, Poe exemplo). Foi no rastro dessas
políticas de recuperação de prédios e de sítios históricos que surgiram tanto nos
movimentos populares de moradia como as associações de cidadãos de camadas altas e
médias, das áreas financeira e comercial, tais como: Associação Viva o Centro, Ações
Locais, Defenda São Paulo, etc.” (GOHN, 2006: 137). Esta discussão ilustra e importância
destas ações, em que estiveram de vários lados vários segmentos e representações,
inclusive as ligadas aos processos turísticos e culturais. Essa evidenciação entre
centralidades metropolitanas e turistificação apresenta a possibilidade de reconhecer os
processos de consolidação em maior e menor grau destas centralidades. Claro que outros
processos estão em jogo, mas nossa proposta é gerar um novo ângulo de análise como
contribuição para estas questões. Assim, e tendo como foco de análise a infraestrutrua
hoteleira, sobretudo os de categoria superior que considera os hotéis de 5 e 4 estrelas,
percebe-se que entre 1991 e 2010 houve a consolidação, em casos específicos via
migração como foi o caso do Hilton da área central para a Marginal, de novos
empreendimentos, com destaque para o Grand Hyatt, Sheraton e Transamérica, além do
Radisson, Meliá e Etoille. No entanto, ainda é significativa a presença de hotéis luxuosos na
região da Paulista/ Jardins a exemplo do Tivoli Mofarrej, Fasano, Emiliano, Renaissance,
Intercontinental, Pestana, Golden Tulip e George V, além do Unique, Sofitel e Marriott. Na
área central destaca-se a presença apenas do Portobay na categoria superior. O que é
surpreendente, por outro lado, além da consolidação dos hotéis ao longo deste vetor
sudoeste é a forte presença de redes internacionais e sofisticadas em menos de duas
115
décadas, que em 1991, de acordo com o Guia Quatro Rodas havia apenas o Macksoud
Plaza, o Caesar Park, Sheraton Mofarrej, Grand Hotel Cado‟ro, e Hiton, todos na região
central/ Jardins e somente o Transamérica na região da Berrini.
Os espaços culturais em São Paulo, em sua grande maioria, localizam-se na região central
a exemplo do Memorial da América Latina, Sala São Paulo e Estação Júlio Prestes,
Pinacoteca do Estado, Museu da Língua Portuguesa, Museu de Arte Sacra, Centro Cultural
Banco do Brasil, Teatro Municipal, Mercado blico, Pateo do Collegio, Catedral da Sé,
Basílica e Mosteiro de São Bento, Capela da Ordem Terceira do Carmo e Museu do Futebol
e Museu de Arte Brasileira. Nas regiões da Paulista/ Jardins têm-se o espaço cultural
FIESP, Centro Cultural São Paulo, Itaú Cultural, Casa das Rosas, Catedral Ortodoxa, Museu
de Arte de São Paulo (MASP), Complexo Cultural do Ibirapuera, Museu da Imagem e do
Som. Na região próxima da Marginal do Rio Pinheiros, tem-se o Palácio dos Bandeirantes e
a Fundação Maria Luísa e Oscar Americano.
Em termos de casas noturnas ou clubes o que se observa em São Paulo é a permanência
de uma forte concentração na área central, onde o destaque é o recente Hot Hot, além do
Baixo Augusta com os clubes A Loka, Z Carniceria, Studio SP, Volt, Funhouse e Sonique,
além do D.Edge, Clash e The Week na Barra Funda/ Lapa e Pink Elephant nos Jardins. Esta
localização praticamente se manteve, tendo havido neste intervalo de tempo, uma
concentração considerável na região da Vila Olímpia, dos quais vários clubes fecharam, a
exemplo da Lov.e, e também na Rua da Consolação nos Jardins onde haviam vários clubes
com destaque para o Ultra Lounge. O destaque, todavia, da noite paulistana sempre foi
composta pelos seus famosos clubes alternativos ou undergrounds desde o Nation, Hell‟s,
Massivo e Sra. Kravitz (PALOMINO, 1999). Atualmente estes clubes estão sendo muito
representativos de uma cena gay responsáveis por um amplo espectro de opções noturnas
e que colocou São Paulo no mapa turístico como destino desse segmento, com destaque
para a Parada Gay e junho que superou em termos de hospedagem os demais eventos
da cidade (SÃO PAULO, 2009). O que se observa hoje é uma forte tendência à
especialização temática de alguns destes espaços, como analisado por Carlos: “do ponto de
vista do entretenimento, novos empreendimentos são inaugurados no diálogo com o lugar,
mas sempre aludindo às experiências internacionais: a estratégia do bar como negócio se
apóia em uma arquitetura especializada, com uma tendência a que cada estabelecimento
esteja voltado para um segmento diferenciado aquele que gosta de jazz (All the Jazz),
aquele que se identifica com motos (Iron Horse); a „geração saúde‟ (freqüenta o Açaí, um
bar mais despojado). A maioria caros, com jardins internos e mix diferentes. bares em
meio a restaurantes que, por sua vez, misturam-se a lojas mais diversas (o Bar des Arts, por
exemplo, tem vários ambientes fechados e jardim onde se encontra uma loja de couros,
116
uma floricultura, uma loja de cosméticos até uma filial da loja H. Stern). Ao lado de nomes
quase impronunciáveis ao paulistano comum, surgem também conceitos importados como o
lounge, que se transformou em um sinal de modernidade na noite paulistana, desde maio de
1998, quando surgiram o Love.e, o chaos, Bradwick, Armazém Paulista, etc (CARLOS,
2001: 184).
Estas análises iluminam fortes processos na construção da atratividade turística, expressa
pela turistificação de seus espaços. Antes muito relacionada à própria lógica da produção e
consumo internos, o que se percebe é à entrada de novos espaços de hospitalidade, lazer e
entretenimento internacionalizados, como as redes internacionais de hotéis, que introduzem
novas racionalidades no processo turístico local. Observa-se em São Paulo uma forte
construção de centralidades imediatas dadas pela proximidade com o perfil do turista que se
deseja. Assim, percebe-se uma forte decadência e deterioração da oferta de hotéis na
região central, em face da consolidação para uma região intermediária, materializada pelos
Jardins como abrigo de uma farta oferta de hotéis mais sofisticados, exatamente refletindo o
diálogo entre o tradicional e o novo, como espaço da sedução intermediária entre as duas
centralidades configuradas de um lado pela região central e da outra pela a região da
Marginal do Rio Pinheiros numa espécie de batalhas entre os lugares ou centralidades:
desde a década de 1970, o Centro Histórico de São Paulo tem sido alvo de propostas
isoladas de revitalização. Elas procuraram se contrapor aos problemas emergentes e ao
desenvolvimento de áreas de comércio e serviços alternativos ao Centro na Avenida
Paulista e, mais recentemente, em áreas como as avenidas Faria Lima, Luis Carlos Berrini,
a marginal Pinheiros e até mesmo núcleos suburbanos fronteiriços, como Alphaville(LIMA,
2000: 90). Como metrópole baseada na indústria do entretenimento, São Paulo se
especializa em um nicho altamente sofisticado da indústria cultural e igualmente cria as
condições de produção, reprodução e consumo de si mesma, tendo em vista que o grande
turista consumidor destes serviços e produtos é o próprio nativo “como a indústria financeira,
a indústria do entretenimento requer acesso a uma multiplicidade de insumos altamente
especializados, apenas acessíveis em lugares de alta diversidade. Ocorre que as cidades
que produzem o entretenimento são as mesmas que os consomem, dando origem a uma
nova forma de turismo urbano relacionada à mídia que faz da própria cidade, especialmente
a cidade global, um objeto de consumo a cidade como parque temático (SASSEN e
ROOST, 2001: 66). Trabalhos recentes no campo do próprio turismo têm evidenciado a
estreita relação do Turismo Urbano como uma modalidade responsável pelos
deslocamentos do CBD Central Business District. Os centros de negócios, acompanhados
de infraestruturas como hotéis e espaços para eventos são grandes norteadores destes
efeitos que, ao se constituírem, alteram espacialidades numa estreita relação entre turismo
e espaço urbano (TELES, 2006).
117
118
Quando se analisa o mesmo mapa para o Rio de Janeiro percebe-se ainda a forte
polarização da Região Central e Zona Sul carioca na localização dos hotéis, espaços
culturais e casas noturnas. Utilizando as mesmas fontes, ou seja, os Guias Quatro Rodas
Brasil, de 1991 e 2010, reconhece-se que os espaços culturais cariocas estão todos
localizados nesta região central tendo havido, no entanto, entre estas datas, um amplo
processo de patrimonialização dessa espacialidade, patrocinado pela iniciativa pública em
parceria com movimentos sociais e iniciativa privada.
Ou seja, em 1991, estes mesmos espaços culturais, estavam na mesma localização, todavia
a sua definição e mesmo intervenção ocorreram neste tempo, o que demonstra a
revalorização deste espaço nas últimas duas décadas. Neste sentido é forte a atuação das
agências de turismo nesta valorização do turismo cultural, resultado da tradição institucional
do turismo na cidade: no Rio coisas que são muito boas. O trade turístico daqui é muito
unido. Muitos começaram suas carreiras 30 anos aqui na EMBRATUR e o trade existe
desde o século XIX. O Rio sempre foi muito institucionalizado como herança dos Sindicato
dos Guias, o Rio Convention é o primeiro do Brasil. uma sinergia, uma união que todo
mundo sabe que funciona legal” (Márcia Migliaccio, Entrevista 1).
Nos processos de promoção internacional da metrópole carioca, também são promovidos os
chamados surrounds (Búzios e Região dos Lagos, Petrópolis, Paraty e Angra). Assim, pela
análise dos mapas, além de bairros inteiros, a exemplo de Santa Teresa e Lapa, os
seguintes patrimônios e paisagens culturais são identificados no mapa, em 2010: Ilha Fiscal,
Museu Nacional da UFRJ e Quinta da Boa Vista, Museu Histórico Nacional, Centro Cultural
Banco do Brasil, Espaço Cultural dos Correios, Theatro Municipal, Biblioteca Nacional, Real
Gabinete Português de Leitura, Confeitaria Colombo, Palácio Tiradentes, Paço Imperial,
Academia Brasileira de Letras, Igreja de São Francisco da Penitência, Nossa Senhora do
Carmo da Antiga Sé, Mosteiro de São Bento, Igreja da Candelária, Catedral Metropolitana,
Museu de Arte Moderna (MAM), Museu Nacional de Belas Artes, Museu Chácara do Céu,
Espaço Cultural da Marinha e Espaço Naval, além de outros espaços que estão sendo
requalificados para a função cultural.
Para esta política de valorização dos espaços históricos a Lapa talvez reúna os exemplos
mais interessantes de estratégias de conservação e apropriação sociocultural, fortemente
apoiadas pelo poder público: a Lapa teve como importantes aliados, nesse processo o
Estado com os vários projetos de intervenção (Corredor Cultural, Quadra da Cultura e
Distrito Cultural da Lapa) que associadas ao desinteresse do mercado imobiliário pela área,
contribuíram para impedir que as destruições urbanas decorrentes de obras viários e
metroviários seguissem seus rumos. A diversidade socioespacial que permaneceu naquela
119
área, posteriormente incentivada, contribuiu sobremaneira para o sucesso da regeneração
cultural, independentemente de qualquer projeto pelo poder público (VAZ e SILVEIRA,
2006: 97). Neste caso, as estratégicas estiveram ligadas a projetos específicos como o
Corredor Cultural, mas também de outras intervenções, como a revitalização da zona
portuária e a renovação do centro administrativo: as tentativas de „retorno‟ ao Centro da
Cidade, onde se inscrevem as propostas de „revitalização‟ da zona portuária, devem ser
analisadas neste contexto, observando os projetos de preservação, como o Corredor
Cultural, e os projetos de renovação, como o Teleporto do Rio, todos realizados dentro do
processo de „revitalização‟ do Centro da cidade” (MOREIRA, 2004: 80).
Já em termos de meios de hospedagem o que se observa para o caso do Rio de Janeiro é a
forte reconcentração na Zona Sul, sobretudo em Copacabana, Ipanema e Leblon, mas
com uma nova concentração, não tão expressiva quando a outra para a Barra da Tijuca.
Neste caso, os principais hotéis de categoria superior estão localizados na Zona Sul como o
Copacabana Palace, o JW Marriot, em Copacabana; o Sofitel, Caesar Park e Fasano em
Ipanema; Sheraton no Leblon/ São Conrado e Windsor e Sheraton Barra na Barra. Na
região Central não há nenhum hotel de categoria superior, apenas o Hotel Gloria em
reforma. As casas noturnas, em quase sua totalidade se localizam na Zona Sul,
especialmente no Botafogo, Ipanema e Leblon com alguns pólos, derivados de iniciativas na
região da Lapa e Centro, onde se destaca a The Week Rio.
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121
Ainda dentro do processo de revitalização da Zona Central do Rio de Janeiro, merece
destaque a intervenção junto à Área Portuária (Mapa 4). Numa espécie de contigüidade ou
articulação com um conjunto mais amplo de intervenções que visam resgatar as estruturas
simbólicas, arquiteturais e paisagísticas do Centro Histórico do Rio de Janeiro, os objetivos
são amplos e sempre abrem o debate em torno da revitalização do Porto, para a qual estão
previstos, além das intervenções e exemplo de fronts portuários como de Puerto Madeiro,
em Buenos Aires, espaços destinados para a cultura, o turismo, o lazer e o entretenimento,
ao mesmo tempo em que cogita sua adaptação a localização de espaços mistos para
serviços e escritórios que atenderiam a demanda potencial por escritórios pelo Pré Sal da
Petrobrás. Estas diferentes funcionalidades podem ser verificadas com base no Mapa 4 que
apresenta os últimos projetos constantes do zoneamento dos usos previstos na última
revisão do Plano Porto do Rio nos quais se destacam a Vila Olímpica da Gamboa, Cidade
do Samba, Museu do Amanhã, Pinacoteca do Rio, a reurbanização e revitalização
patrimonial dos Morros da Conceição, Providência e do Pinto, além de contar com um
terminal de turismo, uma área de lazer e uma equipamento de entretenimento junto ao Píer
Mauá (RIO DE JANEIRO, 2004). No caso deste espaço estava também previsto a sua
emblematização e espetaculariação com a polêmica vinda do Guggenheim Museum, projeto
que mobilizou diferentes escalas do Governo e que, após ações civis foi abandonado, como
refletido por Egler: estavam previstos para a realização do projeto de instalação do
Guggenheim Museum de Jean Nouvell, numa soma de 18 milhões de dólares, dimensão
mais palpável em comparação com com o Programa Fome Zero, do Governo Lula, estimado
em 400 milhões de dólares. Foi necessário um amplo movimento social para impedir as
negociações do Governo César Maia com os diretores da Fundação Guggenheim. Afinal,
depois de muitas negociações, o movimento popular ganhou a liminar que questionava a
legalidade do processo orquestrado pela prefeitura. O fato é que os diretores do Museu
desistiram da construção da filial no Rio de Janeiro” (EGLER, 2005: 13).
122
Outra característica marcante na São Paulo de muitas centralidades é a nova coalizão de
empresários e movimentos para promover processos de evidenciação desses espaços,
como na tentativa de revitalização do Centro: São Paulo tem várias centralidades (Berrini,
Nova Faria Lima, Centro Empresarial, Centro Histórico e Tradicional) que possuem os
elementos que possibilitam e servem de atrativos para novos investimentos. O que vemos
acontecer é a ação de grupos que se articulam nas áreas citadas, montam estratégias
conjuntas com a do poder público e acabam por favorecer as transformações espaciais
necessárias à reprodução do sistema. É esse o sentido do processo de revitalização da área
que corresponde ao Centro Tradicional da Cidade” (ALVES, 2004: 141). Mas além da
disputa dos atores e movimentos assiste-se a uma disputa da própria centralidade em
relação ao Centro Tradicional: esse espaço inicialmente se constitui como centro que entra
em disputa com os centros tradicionais caso do centro histórico da cidade e da região da
avenida paulista , mas se trata efetivamente de um movimento de expansão e
deslocamento e não criação de „outra coisa‟. Na realidade a extensão da avenida liga dois
subcentros de escritórios em São Paulo, criando uma área de expansão que se constitui no
eixo empresarial, o que significa dizer que o fenômeno da raridade se associa ao da
centralidade e das necessidades de sua área de expansão. A centralidade da atividade
econômica faz com que importantes transformações espaciais ocorram iluminando o jogo
estratégico de classes diferenciadas da sociedade urbana(CARLOS, 2001: 26 e 27). Ao
mesmo tempo em que autores na tentativa de categorização de São Paulo como uma global
123
city ou não, o fazem relacionando suas evidências à constituição de um novo front
imobiliário e de negócios em torno da região conhecida como Berrini. Todavia são poucos
que fazem esta relação evidenciando a importância do Centro Tradicional da Metrópole, não
sua tecitura cultural e simbólica mais potente, estando localizados os Bairros étnicos
da Liberdade, dos judeus, do Bom Retiro e hoje Higienópolis, dos judeus, árabes, da Barra
Funda, dos outrora armênios e hoje africanos, como também e ainda lócus do mercado
financeiro, escritórios e sedes de empresas: no Centro de São Paulo, mais
especificamente, temos serviços que atendem, ao mesmo tempo, a um mercado
consumidor e empresarial. São mais de 30% dos empregos na atividade de serviços,
representados pelo setor bancário, empresas de seguros, de viagens, de turismo, escritórios
de contabilidade, engenharia, arquitetura, de aplicações financeiras, além de uma série de
estabelecimentos que fazem do comércio da região um dos mais variados da cidade. É no
Centro que se localiza a Bolsa de Mercadorias e Futuros, a Bolsa de Valores (Bovespa), a
sede de 13% das instituições bancárias” (ALVES, 2004: 142).
A análise do turismo para as metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro trazem novos
argumentos para a reflexão mais ampla de seus significados enquanto metrópoles
constituintes de uma rede de relacionamentos externos, sobretudo internacionais, e
simultaneamente dos fortes e amplos processos derivados daí que repercutem sobre suas
centralidades internas. Neste sentido, não podemos afirmar categoricamente que o turismo
é o indutor destas transformações, mas das suas fortes associações com estes fenômenos,
como a análise do turismo demonstrou a partir da turistificação urbana. Outra linha refere-se
à necessidade do turismo pela conexão entre diferentes temporalidades urbanas, expressas
em espacialidades, e pelas quais, o mesmo provocaria o debate pela necessidade de
coexistência e cooperação entre estes lugares e não pela disputa dos lugares dentro da
metrópole.
124
“assim, vemos que a moda clubber serve como injeção de ânimo nos
criadores. Primeiro em São Paulo, depois no Rio, trazendo junto com a falta
de preconceitos possibilidades criativas e de difusão de idéias que só o
underground ou o „alternativo‟ podem proporcionar. O que se viu a seguir foi
o chamado „boom da moda‟ no Brasil, como não se via desde os áureos
anos 80. Como a mídia se apressa a celebrar, a moda entra na moda”
(Erica Palomino, 1999: 226)
“as rodovias internas de São Paulo me parecem análogas aos territórios do
hiperespaço, nos quais a literatura cyberpunk encontra seu novo húmus, sua
fertilidade poluída e imunda, ruas como sensores que se inserem no corpo
tátil, intervenções bioculturais dentro do aparato visual e cibernético de
quem dirige um carro. São Paulo é também hiperespaço, o seu contexto
(Massimo Canevacci, 1997: 220)
Capítulo 4
MODA EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO
125
Os anos 1990 são um marco para a moda no Brasil, uma espécie de momento de
passagem e transição. Mas a origem da difusão de idéias e tendências deste universo
fashion tem suas raízes nos anos 1980 e sua sedimentação neste novo século XXI. E o
epicentro da moda no Brasil está muito bem delineado nas suas duas mais importantes
metrópoles que organizam hoje todo um circuito de produção e consumo, e suas
ramificações, emblematizados em torno do São Paulo Fashion Week e Fashion Rio,
reconhecidos entre os maiores eventos de moda internacionais. Com esta constatação é
que analisamos neste Capítulo a moda em suas bases econômicas e culturais, fundadas na
indústria têxtil e do vestuário e seus derivados, bem como nas suas mediações e fronteiras
mais amplas com a economia, a cultura, e, portanto, no seu entendimento, como uma
economia cultural do espaço, considerando em particular sua capacidade de transformar o
espaço urbano nas suas dimensões materiais e simbólicas. Estas evidenciações são
construídas em dois movimentos distintos. O primeiro relaciona-se à reestruturação
produtiva, econômica e espacial da indústria da moda, entendida nos setores têxtil e do
vestuário, nestas duas metrópoles no período recente, reconhecendo seus fortes processos
de mudanças e especializações que junto aos setores de formação acadêmica,
comunicação, arte e design alterou significativamente sua presença na cena metropolitana.
Na análise destes processos são perspectivados alguns ângulos presentes nos processos
de criação da moda brasileira e seus acionamentos da imagem e dos sentidos culturais
destas metrópoles, ao mesmo tempo em que realiza reflexões acerca da constituição de
cenografias com a chamada espacialidade criativa. A moda também é entendida como uma
estratégia de empreendedores culturais, designers ou criadores, que a partir da relação com
outros campos da economia e da cultura fundaram empresas e marcas, como um branding
urbano em que a moda é criação, mas também criatura, para as chamadas cenas presentes
em imagens, comportamentos, modismos, paisagens e representações da metrópole. Para
esta análise é focada a estratégia da marca carioca Osklen e seus referencias de
construção de sua identidade de marca que ilustram bem estes fortes diálogos entre cidade
e moda e especialmente para as metrópoles do Rio de Janeiro no conceito criativo de
United Kingdon of Ipanema e São Paulo e seu Surfing in the City. Por fim, em outras cenas,
localizam-se as novas frentes e perspectivas para o setor com a emergência de novos
estratos socioculturais e sua presença nesta indústria e serviço.
Antes cabe a consideração de que o conceito de moda utilizado envolve não as suas
dimensões de criação e consumo, mas em particular sua cadeia produtiva e espacial que
articula múltiplos circuitos capitalistas e que hoje é tema reconhecidamente importante,
dadas as escala de transformações que engendra, particularmente nos espaços urbanos.
Neste sentido, a reflexão parte dos seus circuitos de produção, consumo e reprodução.
Mediante a compilação e análise de dados e informações obtidas em bancos de dados,
126
visitas e conversas junto à Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), da Associação
Brasileira da Indústria do Vestuário (ABRAVEST) e dos dois mais importantes eventos de
moda do Brasil, realizados pela Agência Luminosidade Marketing e Produções Ltda, em São
Paulo (São Paulo Fashion Week) e Rio de Janeiro (Fashion Rio), além de entrevistas com
Oskar Metsavaht, Diretor de Criação da Osklen, as análises visam entender os diferentes
circuitos espaciais de relação com a moda. O conceito de moda evocada é amplo, o que
não seria diferente tendo em vista sua complexidade: “a moda baseia-se em precisos
parâmetros de gostos e consumos, em sofisticados procedimentos e estratégias
empresariais, comerciais e de imagem, em profundo conhecimento das transformações e
das tendências culturais e sociais em curso. A moda, quando tratada dessa forma, revela-
se menos fortuita do que poderia parecer. Coloca, com efeito, uma série de problemas: o
problema das matérias-primas, o problema dos procedimentos e das estruturas de
transformação, a questão dos custos e dos benefícios‟, que se inserem em uma perspectiva
econômica, social e antropológica, na qual o passado e suas culturas não são
repetidamente expulsos e apagados de maneira definitiva. De fato, o suceder dessas
dimensões interpretativas, como acontece em todo o setor da atividade humana, estratifica
traços e inquietações em um substrato histórico-narrativo a partir do qual é possível
decodificar, mutatis mutandis, novas fronteiras da expressividade criativa e comportamental
(SORCINELLI, 2008: 13).
Esses referenciais corroboram com a importância socioeconômica no bojo da sociedade
capitalista que a moda se tornou: o gigantismo do consumo e o avanço do neoliberalismo
determinaram uma maior abertura e complexidade do fenômeno, transformado em
referencial de suma importância para a afirmação individual, como verdadeira prótese do
corpo que entra definitivamente em cena. As propostas da moda tornam-se alvo de estudos
sociológicos, culturais, merecendo sempre mais atenção devido à abrangência dos espaços
que ocupa. Do público ao privado, do natural ao artificial, do real ao irreal, do local ao global,
do humano ao inumano, ela parece tecer uma rede na qual todos são apanhados
(VILLAÇA, 2007: 144). Aqui ela é, portanto, abordada como um campo particular dado seu
caráter não somente de proteção humana expressa pelo vestuário e a indumentária, mas
particularmente nos seus remetimentos históricos e culturais, como extensão civilizacional
do corpo e da sociedade: “a moda é uma tecnologia de civilidade, constituindo uma segunda
natureza do corpo(IBID, 2007: 144). Dessa perspectiva a moda é concebida como numa
dimensão histórica e cultural mais complexa, embrenhada no imaginário social: a moda é
mítica, no sentido de que contribui para manifestar concretamente, isto é, para tornar
visíveis sonhos, desejos, fantasias. Desse ponto de vista, configura-se uma história do
imaginário, em que „imaginário‟ é entendido como o conjunto das representações que
ultrapassam os limites postos pelos dados da experiência e pelas associações dedutivas
127
ligadas à experiência” (CALANCA, 2008: 52). Portanto, sua concretude alcançou o contorno
histórico da sociedade capitalista baseada na produção e no consumo, materializado em
seus mercados que dinamizam todo um circuito econômico, desde a produção de suas
matérias primas têxteis até sua escala de comercialização e consumo: “o mercado da moda
refere-se especificamente a venda global de artigos de moda, no qual os vendedores e
compradores são comerciantes ou lojistas de moda, no qual encontramos num vértice os
fiadores, depois os tecelões em seguida os fabricantes e distribuidores, e, por fim, os
consumidores em sua base(FEGHALI, 2006:141 e 142). Essa compreensão é vital, tendo
em vista que a moda hoje é considerada um dos maiores setores da economia internacional,
sobretudo urbano tendo em vista as confecções, que se desenvolvem desde grandes
fábricas até pequenos ateliês de costura e criação e lojas de venda em shoppings ou outros
mercados urbanos. Esta análise será feita a seguir onde se evidenciam as estratégias e
novos arranjos produtivos, econômicos e culturais que alteraram significativamente as várias
geografias da moda presentes e em mutação nas metrópoles de São Paulo e Rio de
Janeiro.
4.1 INDÚSTRIAS E MERCADOS DA MODA EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO:
MUTAÇÕES ECONÔMICAS E SOCIOESPACIAIS
A chamada indústria da moda envolve desde a produção agrícola de algodão e outras fibras
naturais têxteis, até a comercialização de tecidos e couros e sua transformação em
vestuário e calçados, fora as indústrias de acessórios e adereços, presentes desde grandes
fábricas até pequenas escalas de produção localizadas nos centros urbanos. Todavia, na
metrópole, estes espaços tendem a escassear e também a sofrer pressões por altos custos
de manutenção, o que delegou para as grandes cidades a localização dos espaços de
vendas e comercialização como lojas de atacado e varejo, feiras, eventos, além de centros
de educação, criação, comunicação e gerência. Este fenômeno ocorreu em metrópoles no
mundo todo que passaram a terceirizar e flexibilizar tecnológica e geograficamente suas
bases têxteis e produtivas. Mas para isso, houve uma completa reestruturação entre os
setores têxteis e da moda, visando alcançar um mercado mais exigente, inclusive
demandando outros níveis e requisitos na sua maior articulação: estamos vivendo um
momento especial de união da indústria têxtil com a produção da moda, pois o design está
incorporado ao processo produtivo e suas características são: inovação, confiabilidade,
racionalização, evolução tecnológica, padrão estético, rápida percepção da função-uso de
produtos, adequação às condições socioeconômicas e culturais do usuário (CADOIRA,
2006: 155). Essas transformações inserem-se em processos mais amplos de reestruturação
produtiva da indústria: na atualidade, a atividade industrial com base no sistema de
produção em série se encontra submetida a uma verdadeira mutação que afeta tanto a
128
lógica interna do seu funcionamento e as estratégias competitivas das empresas, como suas
redes de relações externas, suas demandas de insumos (tais como mão de obra, capital,
tecnologia, matérias-primas e energia) e, por conseguinte, sua localização espacial
(PIQUET, 2000: 119).
Foi o que ocorreu com a indústria, sobretudo têxtil, mas também do vestuário, que passaram
a se localizar em cidades na órbita de influência metropolitana, onde se localizam os setores
de planejamento, criação, comunicação e consumo. Nestes espaços, lidos com periferias
metropolitanas, a produção em escopo encontrou novos formatos como a idéia de arranjos
produtos locais, os APL‟s: nos países desenvolvidos, áreas de antiga tradição industrial
registraram um retrocesso dessa atividade, em benefício dos „eixos industriais‟ onde
geralmente se implantam empresas que operam em mercados nacionais ou internacionais,
que necessitam de grandes superfícies, de boa acessibilidade e solo barato e dos
chamados „sistemas ou arranjos produtivos locais‟ áreas onde se registra uma destacada
presença de pequenas e médias empresas surgidas a partir de iniciativas locais,
especializadas em algum tipo de atividade ou produto, o que outorga personalidade a essas
áreas (calçados, móveis, moda) (PIQUET, 2000:125). Para melhor compreensão dessas
espacialidades e suas múltiplas faces, procederemos à análise da indústria têxtil e do
vestuário em suas relações com os espaços de São Paulo e Rio de Janeiro.
4.1.1 Indústria Têxtil e do Vestuário em São Paulo e Rio de Janeiro: reestruturações
produtivas e espaciais
As indústrias de artigos têxteis e confecções são marcadas pela migração da produção em
busca de mão-de-obra mais barata ao redor do mundo, facilitada pela baixa qualificação
exigida da força de trabalho e pelos poucos requisitos de infra-estrutura necessários à
instalação das fábricas. Do ponto de vista da sua localização o que se assiste é a
mobilidade espacial frenética dessas indústrias para as periferias metropolitanas ou mesmo
globais localizadas em contextos que oferecem vantagens em termos de custos de matérias
primas, mão de obra barata, boa logística em termos de localização e proximidade aos
centros consumidores. Assim, grandes metrópoles que detinham essa produção, como
Nova York, Paris, Milão e outras se viram lançadas em novas redes geográficas, como
analisado no Capítulo 2. No caso americano e japonês, estas fábricas migraram, sobretudo
para o leste e sul asiáticos, em particular para a China e Malásia, no caso do vestuário e
Vietnã, no caso de calçados. No contexto europeu elas passaram a se localizar, sobretudo
no Leste europeu, em particular na Romênia, Bulgária e Turquia. No entanto, os centros de
criação se mantiveram nestas grandes metrópoles, as quais se especializaram na criação e
comunicação.
129
No caso brasileiro não foi diferente, tendo a indústria do vestuário migrado para regiões com
as mesmas características. No entanto, pela dimensão continental do país, elas foram para
as órbitas das grandes cidades, no caso do Sudeste e Sul ou migraram para outras regiões
como no caso da indústria têxtil que foi muito atraída para o Nordeste, por conta, em
particular, de incentivos fiscais. Enquanto no Nordeste estão se concentrando os
investimentos intensivos em escala, no Sul se reúnem os produtores de cama, mesa e
banho e malhas, de médio e pequeno portes, e no Sudeste fica a produção de artificiais e
sintéticos, desde os grandes produtores de matérias-primas (viscose, poliéster, náilon,
elastano, entre outros) até pequenas e médias tecelagens, malharias e confecções. Cabe
destacar vários pólos importantes na região Sudeste, como os de Americana, Santa
Bárbara, Nova Odessa e Sumaré (São Paulo) formados em grande parte por pequenas e
médias empresas responsáveis por 85% da produção nacional de tecidos artificiais e
sintéticos e Nova Friburgo (Rio de Janeiro) dedicado à produção de lingerie, entre outros
(Gorini, 2000). O movimento é mais forte no setor de confecções, mais intensivo em mão de
obra e menos exigente em escalas de produção, mas ocorre também, em menor grau, para
nas indústrias de fiação e tecelagem. O mercado internacional apresenta tendência de
aumento de consumo de fibras químicas (sintéticas e artificiais), indicativo desfavorável ao
Brasil, mais competitivo na cadeia de produtos feitos à base de algodão. Tendo como
referência esta constatação, destaca-se que as fibras naturais representavam 80% do
consumo mundial de fibras têxteis na década de 50 e em 2000, essa participação havia
caído para 48%. A tendência do mercado mundial é de maior dinamismo no segmento de
confecções. O comércio internacional desse item vem crescendo bem acima da média
verificada para produtos têxteis nos quais o Brasil é mais forte. Em 2000, o consumo
mundial de fibras têxteis foi de 43,5 milhões de toneladas, ante 40 milhões registrados dez
anos antes, como pode ser verificado na Figura 13 a seguir:
130
Figura 13 - Evolução do Consumo mundial de fibras têxteis (em milhões de toneladas)
Fonte: Fiber Organon/Departamento de Agricultura USA apud GORINI, 2000. Elaboração própria.
Neste contexto, as empresas têxteis brasileiras passaram por intenso processo de ajuste a partir do
início da década de 90. Diante da combinação de abertura comercial e forte recessão, a maioria das
empresas teve de buscar aumentar a eficiência no processo produtivo, com introdução de inovações
técnicas, melhoria dos sistemas de qualidade, terceirização de atividades e especialização da
produção. Os resultados foram um significativo aumento de produtividade, redução de pessoal (40%
em dez anos) e elevação da importação de insumos. A produção da indústria xtil nacional cresceu
lentamente nos anos mais recentes, apesar de ter enfrentado dois anos de crise, entre 1995 e 1997,
com retorno da expansão entre 1998 e 2000 e nova queda em 2001. Em 2000, o Brasil fabricou 1,7
milhão de toneladas de produtos têxteis, que geraram um faturamento de US$ 16,4 bilhões. A
indústria de confecções produziu 1,3 milhão de toneladas, equivalentes a US$ 27,2 bilhões. Entre
1995 e 2000, o comércio internacional de confecções cresceu 5,9% ao ano, enquanto o de produtos
têxteis aumentou 2,6% anualmente. As transações considerando todos os produtos da cadeia
avançaram à taxa anual de 34,6% no período, em termos globais. Em 2000, o comércio mundial de
produtos têxteis atingiu US$ 126,1 bilhões e o de confecções, US$ 165,5 bilhões. Apesar de os
países em desenvolvimento dominarem as exportações do setor têxtil e de confecções
respectivamente 60% e 78% do total mundial em 2000 o Brasil desempenha papel praticamente
irrelevante nesse mercado. As vendas externas brasileiras de artigos têxteis foram de US$900
milhões em 2000, o que equivaleu a 0,71% do total global. As exportações de confecções atingiram
US$ 282 milhões, ou 0,17% da soma de todos os países. As importações brasileiras, no mesmo ano,
foram de US$ 1,1 bilhão em têxteis e US$ 185 milhões em confecções. Entre meados dos anos 70 e
1994, a balança comercial brasileira da cadeia têxtil sempre foi superavitária. Desde então, o saldo
tornou-se negativo, chegando a US$ 1,1 bilhão em 1997. Em 2000, o déficit do setor foi de US$ 384
131
milhões. A partir da década de 90 as importações do setor tiveram aumento expressivo, favorecidas
pela abertura de mercado conjugada ao crescimento do consumo interno e à expansão de produtos
estrangeiros de baixo custo, principalmente os asiáticos. O recorde foi registrado em 1997, com US$
2,4 bilhões. Em 2000, as compras do país feitas no exterior somaram US$ 1,6 bilhão. As exportações
da cadeia têxtil têm se mantido próximas a US$ 1,2 bilhão por ano desde o começo da década
passada. Em 2000, a indústria brasileira vendeu US$ 1,2 bilhão em produtos têxteis e confecções
para o exterior. Os países asiáticos são os maiores exportadores do ramo para os Estados Unidos e
a União Européia. Em 2000, 49% dos produtos têxteis e 55% dos artigos de confecção comprados
pelos americanos vieram da Ásia. No mercado europeu a proporção foi de 47% e 53%,
respectivamente. A participação brasileira nesses dois mercados é irrisória. Em 2000, o país
respondeu por 0,15% das importações de produtos têxteis feitas pelos Estados Unidos segundo
maior comprador mundial, com US$ 15,7 bilhões movimentados, ou 11,5% do total mundial. Das
aquisições de têxteis feitas no exterior pela União Européia, 0,56% eram provenientes do Brasil, fatia
que cai a 0,07% no segmento de confecções (GORINI, 2000), conforme a Figura apresentado a
seguir
Figura 14 - Comércio exterior têxtil brasileiro (em US$ milhões)
Fonte: ABIT apud GORINI, 2000. Elaboração própria.
Esta realidade não diferente para a indústria do vestuário que também sofreu mudanças
consideráveis nas metrópoles se São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo dados de 2000 do
IBGE, apenas 3,81% da População Economicamente Ativa da Região Metropolitana de São
Paulo encontrava-se ocupada na indústria têxtil e do vestuário, considerando como tal a
fabricação de produtos têxteis, confecção de artigos do vestuário e acessórios e a
132
preparação de couro e fabricação de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados. Na
região metropolitana do Rio de Janeiro esse número é de 2,58%. Quanto ao PIB a Tabela
20 mostra que 4,7% do PIB da Região Metropolitana de São Paulo eram adicionados da
indústria têxtil em 1996, ao passo que a confecção de vestuários e acessórios e a
preparação e fabricação de artefatos em couro representavam 5,3% e 0,4% do PIB,
respectivamente. No ano de 2001 esses números foram de 2,1% para a fabricação de
produtos têxteis, 2,8% para a confecção de vestuários e acessório e 0,6% para a confecção
de artefatos de couro.
Tabela 20. Distribuição do Valor Adicionado das Empresas da Indústria, segundo Atividades no Município de São
Paulo 1996 - 2001
Atividades
1996
2001
TOTAL
100
100
Indústria Extrativa
0,5
0,2
Fabricação de Alimentos e Bebidas
10
13
Fabricação de Produtos Têxteis
4,7
2,1
Confecção de Vestuários e Acessórios
5,3
2,8
Preparação e Confecção de Artefatos de Couro
0,4
0,6
Fabricação de Celulose e Papel
3,4
2,6
Edição, Impressão, Reprodução de Gravações
13,8
10,5
Fabricação de Combustíveis, Refino de Petróleo, e
Produção de Álcool
0
1,2
Fabricação de Produtos Químicos
13
22,9
Fabricação de Artigos de Borracha e Plásticos
5,2
3,9
Fabricação de Produtos Minerais Não-Metálicos
2,5
2,2
Metalurgia Básica
2
7,1
Fabricação de Produtos de Metal (exclusive Máquinas e
Equipamentos)
6,3
4,6
Fabricação de Máquinas e Equipamentos
11,7
8,7
Fabricação de Máquinas para Escritório e Equipamentos
de Informática
0,8
0,6
Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos
3,1
6,1
Fabricação de Material Eletrônico e Aparelhos e
Equipamentos de Comunicações
6,1
3,6
Fabricação Equipamentos Médicos, Ótica, Relógios,
Instrumentos de Precisão e Automação Industrial
1,6
1,5
Fabricação e Montagem de Veículos Automotores,
Reboques e Carrocerias
4,7
2,6
Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte
0,7
1
Outras Indústrias
4,4
2,2
Fonte: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Paulista - PAEP 1996 e 2001.
Observa-se, portanto, expressiva redução da participação do setor no PIB da região
metropolitana, a exceção da fabricação de artefatos em couro, a qual teve aumento de
0,1%. Estes dados para a metrópole de São Paulo podem ser explicados pela migração da
sua indústria, associada à migração da indústria como um todo: observa-se que as
indústrias de maior porte estão saindo do território do município. As zonas industriais
133
tradicionais, junto á área central da cidade, onde estavam predominantemente localizadas
estas indústrias, consistem, hoje, em extensas áreas vazias sujeitas à intensa pressão do
mercado imobiliário para mudança do uso do solo(LEME, 2003: 34). Do ponto de vista da
sua indústria, a cidade de São Paulo se fortemente influenciada pelos processos de
desconcentração metropolitana, relacionados não somente aos preços da terra, mas em
particular pela especialização terciária da metrópole, tendo em vista que espaços mas
que cada vez mais estão sendo destinados à reconversão: na cidade de São Paulo
podemos encontrar três tipos de territórios relacionados à atividade industrial.
Primeiramente, os territórios industriais: dizendo respeito àqueles que desenvolvem a
atividade fabril; o segundo, relativo aos territórios possíveis, relacionados àqueles territórios
que têm possibilidade de realizar as novas necessidades do capital industrial e, o terceiro,
referente aos territórios residuais, a exemplo de algumas parcelas do Brás, que se
constituem como resíduos de um passado industrial à espera de reconversão(LENCIONE,
2003: 40). Ou seja, cada vez mais, os territórios possíveis a serem ocupados pela indústria
muitas das vezes não são tão atraentes como os espaços localizados na órbita
metropolitana. Os principais pólos têxteis e do vestuário do Estado de São Paulo são as
cidades de Americana, Santa Bárbara, Nova Odessa e Sumaré. Estas cidades formam
arranjos produtivos locais, os quais são constituídos em grande medida por pequenas e
médias empresas responsáveis por 85% da produção nacional de tecidos artificiais e
sintéticos. Essa mesma lógica de migração da indústria têxtil e do vestuário ocorreu no Rio
de Janeiro que sofreu uma migração intensa e extremamente especializada para seus
arranjos produtivos locais, sendo eles concentrados nos seguintes municípios: Nova
Friburgo (moda íntima), Petrópolis (têxtil-vestuário), São Gonçalo (vestuário), São João do
Meriti (vestuário), Nova Iguaçu (vestuário), Cabo Frio (moda praia), Itaperuna (têxtil), Niterói
(comércio de vestuário), Valença (têxtil) e Campos dos Goytacazes (vestuário). Isso é
evidenciado para o caso carioca/ fluminense, tendo por base a tabela 21, que relaciona o
expressivo aumento na taxa de crescimento anual da indústria Têxtil no Estado entre os
anos de 1997 e 2000, seguidos de queda até o ano de 2003 e tendência a aumento nos dois
anos subseqüentes.
Tabela 21. Taxa de crescimento anual da indústria têxtil no Estado do Rio de Janeiro 1997 - 2005
Classes e
Gêneros
Taxa de crescimento anual (%)
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Total
1,83
7,2
6,05
6,65
1,57
12,35
-2,28
2,43
2,01
Extrativa
mineral
10,21
19,3
17,09
15,52
5,67
14,47
0,31
-3,63
14,98
Indústria de
transformação
-3,03
-
0,63
-2,61
-1,66
-2,96
1,95
-2,84
3,76
-0,63
Alimentos
-8,77
2,74
-10,32
-3,95
-7,63
-4,6
-0,83
3,06
10,4
Bebidas
5,38
0,01
-6,14
23,22
4,08
-6,64
-4,09
11
2,03
Têxtil
-23,94
9,41
5,37
33,6
13,1
6,42
-4,7
20,2
15,93
134
Edição,
impressão e
reprodução de
gravações
-
-
-
-
-
-
-21,94
-7,38
-5,33
Refino de
petróleo e
álcool
-3,24
9,35
3,92
-11,67
-0,77
3,47
-0,42
6,17
-2,11
Farmacêutica
-8
-8,2
-16,63
-18,14
6,51
-7,87
-14,41
-0,24
-3,81
Perfumaria,
sabões,
detergentes e
produtos de
limpeza
24,51
-
4,59
-7,69
14,38
0,64
-18,9
-3,6
9,38
-13,9
Outros
produtos
químicos
-1,39
-
0,11
9,75
-11,53
-22,19
-18,1
-0,5
-4,02
-1,98
Borracha e
plástico
3,07
-5,8
-6,91
-10,28
-9,23
-0,82
-3,95
-5,5
-25,8
Minerais não
metálicos
5,47
-4,9
-2,03
-2,1
-10,46
-1,89
3,8
23,2
19,94
Metalurgia
básica
6,92
-
5,61
-1,22
3,72
1,95
17,12
11,92
0,97
-7,18
Veículos
automotores
138,69
20
2,45
41,29
22,42
2,13
12,39
23,2
14,94
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Coordenação de Indústria.
Quanto à ocupação, observa-se queda contínua e expressiva de pessoas ocupadas na
indústria têxtil no município de São Paulo conforme apresenta a tabela 22, tendo sido de
6,0% em 1988 e atingindo 3,1% em 2004, ou seja, em 16 anos houve redução de quase a
metade da ocupação no setor, quando comparado com a ocupação total do município de
São Paulo.
Tabela 22. Distribuição percentual dos ocupados na indústria, por ramo de atividade econômica do trabalho
principal no Município de São Paulo 1989 - 2004
Anos
Metal-
Mecânica
Química
e
Borracha
Vestuário
e Têxtil
Alimentação
Gráfica
e Papel
Outras
Total da
Indústria
1989
11,9
3,4
6,6
1,7
2,4
4,3
30,4
1990
11,3
3,4
5,7
1,7
2,4
3,8
28,3
1991
9,7
3,1
5,6
1,7
2,5
3,6
26,1
1992
8,8
2,7
5
1,5
2
4
24
1993
8,3
2,6
4,9
1,6
2,2
3,9
23,3
1994
8,3
2,4
5,1
1,5
2,1
4
23,4
1995
8,2
2,3
4,6
1,4
2,1
3,7
22,3
1996
7,5
2
4,5
1,4
2,2
3,3
20,8
1997
6,8
2
3,7
1,3
1,9
3,2
18,9
1998
6,3
2
3,3
1,4
1,8
3
17,8
1999
6,1
1,9
3,5
1,2
2,1
3,1
18
2000
6,2
2
3,3
1,2
2
3,2
17,8
2001
6
2
3,6
1,1
2,1
2,9
17,7
2002
5,8
1,9
3,7
1,2
2
3
17,6
2003
5,4
1,8
3,2
1,1
2
3
16,7
2004 (Jan. a
Maio)
5,8
1,7
3,1
1,1
1,7
3
16,4
Fonte: SEP. Convênio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED.
135
Ainda que pouco expressivo na indústria estadual, o setor têxtil e do vestuário do Estado de
São Paulo detém quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor Têxtil e de Confecção
do país. A tabela 23 apresenta o orçamento doméstico do município de São Paulo. Pode-se
observar que o orçamento doméstico destinado ao vestuário representa 7,87% do
orçamento total no período 1994/1995, abaixo somente de alimentação, habitação, saúde e
transporte.
Tabela 23. Estrutura do orçamento doméstico no município de São Paulo 1958 - 1995
Setor do Orçamento
Doméstico
1958
1969/70
1982/83
1994/95
1.
Alimentação
45
39
28,13
27,44
2.
Habitação
33
25,2
24,87
23,52
3.
Transporte
2
8,8
19,3
13,62
4.
Saúde
4
3,6
4,95
8,18
5.
Vestuário
10
7,48
6,54
7,87
6.
Educação e
leitura
1
3,5
4,8
6,91
7.
Equipamentos
domésticos
3
7,12
4,89
6,13
8.
Despesas
pessoais
1,5
5,18
4,72
3,96
9.
Recreação
0,5
0,12
1,63
2,08
10.
Despesas
diversas
-
-
0,17
0,29
Total
100
100
100
100
Fonte:DIEESE-POFs 1958, 1969/70, 1982/83 e 1994/95.
A Figura 15 ilustra a oscilação da variação relativa anual média de empregos formais na
indústria têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos, ou seja, a média anual da relação entre o
saldo de empregos formais (admissões menos demissões) e o estoque verificado nos
primeiros dias de cada mês. Verifica-se uma tendência de inversão dos comportamentos da
variação relativa de empregos formais do Rio de Janeiro e São Paulo a partir de 2004, na
qual o município do Rio de Janeiro tende a ultrapassar a do município de São Paulo. Isso
não significa que o total de empregos formais no Rio de Janeiro torna-se maior, mas sim
que o desempenho dos empregos formais em termos percentuais supera o de São Paulo.
136
Figura 15. Evolução da variação relativa anual média de empregos formais da indústria têxtil nos municípios de
São Paulo e Rio de Janeiro.
Fonte: Ministério do Trabalho. CAGED - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. 2010. Elaboração
Própria
Com relação ao número absoluto de empregados da indústria têxtil, foram encontrados
dados relativos apenas à cidade do Rio de Janeiro, como ilustra a Figura 16. Nota-se que,
de 1990 até 2008, houve queda de mais de 50% do número absoluto de empregados neste
setor no município do Rio de Janeiro.
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Ano
Variação Relativa
São Paulo Rio de Janeiro
137
Figura 16. Evolução dos empregos formais na indústria têxtil, do vestuário e artefatos de tecido no Município do
Rio de Janeiro.
Fonte: CIDE - Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro. 2009.
Considerando a metodologia utilizada pelo CIDE, o setor têxtil-vestuário é aquele no qual foi
possível identificar um dos maiores números de concentrações no Estado do Rio de Janeiro,
com um total de nove concentrações. Dentre estas, duas delas - localizadas em Nova
Friburgo e Petrópolis - apresentam características que as aproximam da definição de
Arranjos Produtivos Locais corrente na literatura (PIQUET, 2000). Nas concentrações do
setor têxtil-vestuário, foram identificados 3.660 estabelecimentos, responsáveis pela
geração de 26.607 empregos formais no ano de 2001 (considerando as informações da
RAIS). Estas concentrações caracterizavam-se pela predominância de pequenas e
microempresas, o que se refletia no reduzido tamanho médio dos estabelecimentos
identificados (7,3 empregados por estabelecimento) e no baixo nível de remuneração média
por empregado (aproximadamente, R$ 400,00 em dezembro de 2001). Observa-se também
que o total de empregos e estabelecimentos em concentrações vinculadas a estes setores
esfortemente concentrado em três núcleos principais - Nova Friburgo, Petrópolis e São
Gonçalo - os quais são responsáveis por 69% do emprego e por 58% dos estabelecimentos
vinculados àqueles setores (ver Tabela 1). Dentre as concentrações industriais vinculadas à
22982
21767
51936
23374
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
1990 2000 2001 2008
Ano
Número de Empregos Formais
138
cadeia têxtil-vestuário que apresentam maior relevância no contexto estadual, destacam-se:
Nova Friburgo, com a produção de moda íntima (lingerie) e Petrópolis, com a produção de
moda feminina e malhas: Nova Friburgo, a capital brasileira da lingerie, sendo o maior
deste segmento no país e responsável por 25% de toda a lingerie (moda íntima dia e noite)
consumida no território nacional. Itaperuna, maior pólo das indústrias de confecção do
noroeste do Estado e cujo principal produto é a moda íntima noite. O Sul Fluminense conta
com mais de 400 empresas de segmento de jeans e por estar perto do pólo metal-mecânico
de Volta Redonda e Barra Mansa nasceu um consumo significativo de workwear com
produção de uniformes e Petrópolis, com 800 empresas sobretudo de malhas, em torna da
Rua Tereza (FEGHALI, 2006:146 e 147). É possível mencionar também algumas outras
concentrações, como Valença, Campos dos Goytacazes, São Gonçalo e a Região da
Baixada Fluminense (São João de Meriti e Nova Iguaçu), que apresentam uma produção
multissegmentada, porém com predominância do ramo de confecções. Além disso, destaca-
se a presença de núcleos de especialização vinculados especificamente à comercialização
de peças de vestuário em Cabo Frio (voltado para o segmento de "moda praia") e Niterói. A
Tabela 24, por sua vez, demonstra que a participação das concentrações industriais do
setor têxtil-vestuário no total do emprego e das remunerações dos respectivos municípios
era maior em Nova Friburgo (principalmente), Petrópolis, Valença e São Gonçalo,
comparativamente aos demais municípios. O mesmo ocorre quando se considera a
participação das concentrações no total dos estabelecimentos dos diversos municípios;
neste caso, porém, cabe ressaltar também a expressiva participação da concentração
identificada no total dos estabelecimentos de Cabo Frio.
Tabela 24 - Participação no Total de Emprego, Estabelecimentos e Remunerações nos Respectivos
Municípios - APL e Concentrações de Atividades no Setor Têxtil-Vestuário
Município
% dos
Empregos
% dos
Estabelecimentos
% da
Remuneração
Nova
Friburgo
24,43%
19,74%
22,40%
Petrópolis
12,39%
20,76%
7,61%
São
Gonçalo
5,01%
2,12%
3,41%
São João
de Meriti e
Nova
Iguaçu
Nova
Iguaçu
1,52%
1,06%
1,15%
139
São João
de Meriti
2,65%
3,38%
1,66%
Cabo Frio
3,34%
9,00%
1,80%
Itaperuna
2,21%
1,94%
1,10%
Niterói
2,35%
5,40%
1,18%
Valença
7,38%
1,87%
6,39%
Campos
dos
Goytacazes
3,87%
8,89%
2,07%
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados da RAIS (2001)
Comparando-se os diversos municípios nos quais foi possível identificar núcleos de
especialização no ramo têxtil-vestuário, é possível destacar um grupo de três municípios
que apresentam um elevado PIB per capita (superior a R$ 6.000,00 no ano 2000), uma
renda per capita mais elevada (próxima ou superior a R$ 400,00 em 2000) e um Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) satisfatório (superior a 0,8 em 2000): Niterói, Petrópolis e
Nova Friburgo (ver Tabela 25). As demais concentrações identificadas no ramo têxtil-
vestuário estão localizadas em municípios nos quais aqueles indicadores são inferiores.
quando se considera o Índice de Qualidade Municipal (IQM), elaborado pelo CIDE/RJ,
verifica-se que, dentre os municípios nos quais foram identificadas concentrações no ramo
têxtil-vestuário, os mais bem posicionados são, pela ordem: Niterói (2o no ranking de IQM),
Petrópolis (6o), Campos dos Goytacazes (10o) e Cabo Frio (12o).
Tabela 25 - Características de Municípios com APL e Concentrações de Atividades no Setor Têxtil-
Vestuário no Estado do Rio de Janeiro
Município
PIB -
Valores
absolutos
(1.000 R$)
População
Valores
PIB per
capita
(R$)
Renda
per
capita
(R$)
IDH
Rank
IQM
Niterói
4.127.865
459.451
8.984
809,18
0,886
2
Petrópolis
2.092.973
286.537
7.304
399,93
0,804
6
Nova
Friburgo
1.132.828
173.418
6.532
366,84
0,81
25
Cabo Frio
701.823
126.828
5.534
311,03
0,792
12
Nova
Iguaçu
3.221.405
754.519
4.269
237,5
0,762
23
Campos
dos
Goytacazes
1.736.447
406.989
4.267
247,2
0,752
10
Itaperuna
363.882
86.720
4.196
261,87
0,787
34
São
Gonçalo
3.667.637
891.119
4.116
268,79
0,782
36
140
Valença
267.838
66.308
4.039
267,72
0,776
26
São João
de Meriti
1.624.403
449.476
3.614
233,12
0,774
42
Fonte: CIDE Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro. 2009.
A importância que assumem as diversas concentrações de atividades no setor têxtil-
vestuário no Estado do Rio de Janeiro pode ser analisada tanto pela sua contribuição na
composição do PIB estadual como pela participação relativa dessas atividades no Valor da
Transformação Industrial (VTI) do Estado. As atividades ligadas ao setor têxtil-vestuário
responderam por cerca de R$ 969 milhões ou 5,1% do PIB da indústria de transformação no
Estado no ano 2000. Dentre os municípios que apresentam maior participação na
composição do PIB deste setor, destaca-se, em primeiro lugar, Nova Friburgo que responde
por cerca de 16% do PIB estadual nas atividades ligadas ao setor têxtil-vestuário (ver
Tabela 26). Da mesma forma, em Nova Friburgo, as atividades ligadas ao setor têxtil-
vestuário respondem por cerca de 65% do produto local na indústria de transformação, o
que se reflete no elevado índice de especialização relativa (12,58) que o município
apresenta nas atividades ligadas a este setor. Outros municípios que apresentam uma
participação considerável na composição do PIB estadual no setor têxtil-vestuário são
Petrópolis (6,6%), São Gonçalo (3,1%) e Niterói (1,5%). Petrópolis apresenta um índice de
especialização relativa de 4,9 nas atividades vinculadas ao setor têxtil-vestuário que
respondem por cerca de 25% do produto total na indústria de transformação do município.
Dentre os demais municípios, destaca-se também Valença, com um índice de
especialização relativa de 6,18 e uma participação de 32% do setor têxtil-vestuário no
produto total da indústria de transformação do município. A análise da composição do PIB
por setores de atividade em diferentes localidades do Estado permite destacar, também,
determinados municípios onde, apesar da reduzida participação destes no total do PIB
setorial no Estado, as atividades ligadas ao setor têxtil-vestuário apresentam expressiva
importância na composição do produto industrial local. Este é o caso dos municípios de São
João de Meriti e Itaperuna onde as atividades ligadas ao setor têxtil-vestuário respondem,
respectivamente, por 12,6% e 8,9% do PIB na indústria de transformação local.
Tabela 26 - PIB em Atividades Vinculadas (Têxtil-Vestuário) em Municípios Selecionados
Estado/Município
Valor
Absoluto
- PIB na
Atividade
(1.000
R$)
% da Atividade
no PIB Industrial
do
Estado/Município
% do
Município
no PIB da
Atividade
no
Estado
Índice de
Especialização
Relativa na
Atividade
Estado
969.054
5,10%
100,00%
1
Nova Friburgo
154.484
64,60%
15,90%
12,58
141
Petrópolis
63.800
25,10%
6,60%
4,9
São Gonçalo
29.642
7,40%
3,10%
1,45
Niterói
14.921
6,30%
1,50%
1,22
São João de
Meriti
7.302
12,60%
0,80%
2,45
Nova Iguaçu
7.302
3,40%
0,80%
0,67
Campos dos
Goytacazes
4.706
4,00%
0,50%
0,78
Itaperuna
3.793
8,90%
0,40%
1,74
Valença
3.341
31,70%
0,30%
6,18
Cabo Frio
1.278
2,40%
0,10%
0,46
Fonte: Anuário Estatístico do Rio de Janeiro - CIDE (2003) (base de dados: 2000)
De modo que se possa obter uma caracterização mais detalhada do setor têxtil-vestuário no
Estado, é possível considerar as informações coletadas pela PIA-IBGE. Em termos da
participação no Valor da Transformação Industrial, segundo as informações da PIA, o setor
têxtil-vestuário respondeu, em 2000, por aproximadamente R$ 600 milhões, ou cerca de
2,5% do Valor da Transformação Industrial (VTI) total da indústria fluminense (Tabela 27).
Deste total, a maior contribuição coube às atividades de confecção de artigos de vestuário -
com 35 mil empregados e um VTI de R$ 176 milhões. Neste mesmo período, o setor têxtil-
vestuário empregava 46.300 trabalhadores, com uma participação de 13,3% no total do
emprego industrial no Estado. Comparativamente ao total do País, o setor têxtil-vestuário no
Estado era responsável por aproximadamente 6,8% do total de empregados e por 4,9% do
total do VTI da indústria brasileira. Desagregando-se esta participação pelos diversos
segmentos, verifica-se que ela é mais elevada nos segmentos de confecção e artigos de
vestuário (9,2% do emprego e 8,5% do VTI), acessórios de vestuário (5,7% do emprego e
2,8% do VTI), artefatos têxteis (4,4% do emprego e 4,4% do VTI) e fiação (4,8% do emprego
e 4,4% do VTI).
Tabela 27 - Número de Empregados, Valor da Transformação Industrial (VTI) e Produtividade em
Atividades Vinculadas ao Setor Têxtil-Vestuário - Rio de Janeiro e Brasil 2000
CNAE -
Atividades
Vinculadas
Número de
Empregados
Massa
de
Salários*
(1.000
R$)
VTI (1.000
R$)
Salário por
Empregado*
(1.000 R$)
Produtividade
(VTI/Emp)
(1.000 R$)
Têxtil-
Vestuário -
Estado do RJ
46.309
257.947
598.463
5,57
12,92
Beneficiamento
de fibras
têxteis
48
401
213
8,35
4,44
Fiação
2.722
63.947
19.770
23,49
7,26
142
Tecelagem -
inclusive fiação
e tecelagem
2.653
49.985
25.436
18,84
9,59
Fabricação de
artefatos
têxteis
incluindo
tecelagem
205
1.181
631
5,76
3,08
Serviços de
acabamento
em fios e
tecidos
482
8.586
2.194
17,81
4,55
Fabricação de
artefatos
têxteis a partir
de tecidos -
exclusive
vestuário
2.752
72.832
23.676
26,47
8,60
Fabricação de
tecidos e
artigos de
malha
898
8.763
5.209
9,76
5,80
Confecção de
artigos do
vestuário
35.474
383.147
176.437
10,8
4,97
Fabricação de
acessórios do
vestuário
1.075
9.621
4.381
8,95
4,08
Total da
Indústria do
Estado do RJ
348.947
4.707.763
24.144.024
13,49
69,19
Têxtil-
Vestuário -
Brasil
676.597
3.849.452
12.134.709
5,69
17,93
% da Atividade
Têxtil-
Vestuário no
total da
Indústria do
Estado do RJ
13,30%
5,50%
2,50%
41,30%
18,70%
% Têxtil-
Vestuário do
Estado do RJ
no Brasil
6,80%
6,70%
4,90%
97,90%
72,10%
* Anual Fonte: Elaboração própria a partir da PIA-IBGE (2000)
143
Em termos dos salários por empregado, as informações da PIA evidenciam uma média
salarial baixa, se comparada à média salarial do setor industrial no Estado. Neste aspecto, o
salário por empregado nas atividades deste setor correspondia a menos da metade (41,2%)
do salário médio da indústria no Estado. Da mesma forma, a produtividade (medida pela
relação VTI por empregado) no setor têxtil-vestuário correspondia, no ano 2000, a
aproximadamente um quinto (18%) da produtividade geral da indústria no Estado.
Comparativamente ao total do País no ramo têxtil-vestuário, verifica-se que o salário por
empregado era praticamente igual à média nacional (98%), enquanto a produtividade do
setor no Estado equivalia a 72% daquela média. Desagregando-se a produtividade pelos
diversos segmentos, verifica-se que a mesma é igual ou superior à média nacional nos
segmentos de serviços de acabamento em fios e tecidos, artefatos têxteis a partir de
tecidos, confecção de artigos de vestuário e fiação. Em contraste, esta produtividade é
expressivamente inferior à média nacional.
Essas análises da indústria têxtil e do vestuário evidenciam a importância dos chamados
arranjos produtivos locais que capitanearam, ao se especializaram, grandes concentrações
industriais fora dos espaços metropolitanos, em especial das metrópoles de São Paulo e Rio
de Janeiro. Esta constatação fica mais evidente quando se confrontam estes análises com
informações qualitativas. Em entrevista realizada com o Presidente da Associação Brasileira
da Indústria do Vestuário, Sr. Roberto Chadad, entende-se que as indústrias da confecção
em São Paulo e Rio de Janeiro migraram por estes e outros motivos. No caso de São Paulo,
estas indústrias tiveram seu apogeu com os judeus e árabes em torno do Bairro do Bom
Retiro entre os anos 1950 até final dos anos 1970. A partir de então, com a chegada dos
coreanos com suas matrizes produtivas flexíveis e com o conceito da pronta entrega,
uma desmobilização, mas também a necessidade de novos espaços e especialização. Isso
logo ocorre com a migração para o desindustrializado Brás que oferecia amplos espaços
nos antigos galpões subdivididos no antigo lugar das ex indústrias metalúrgica, de plásticos
e tecidos. Em termos de especialização, os judeus e árabes não conheciam a tecnologia da
pronta entrega, bem como trabalhavam com tecidos derivados do algodão, o que
futuramente seria seu diferencial competitivo em relação aos tecidos sintéticos introduzidos
pelos coreanos. Nessa época, os imóveis do Bom Retiro começaram a ficar mais caros, o
que os levou para o Brás, ocupado majoritariamente pelos coreanos. Juntos deles, ali,
outros asiáticos se especializaram nos tecidos sintéticos mais voltados para o mercado
consumidor feminino. Do Braz essas pequenas fábricas migraram para Zona Leste e na
direção oeste, para a Lapa. Um mercado mais especializado e exclusivo se desenvolveu na
região de Moema e Itaim, sobretudo nas Ruas João Cachoeira e Joaquim Floriano. Os anos
90 são marcados pela chegada dos sulamericanos, sobretudo bolivianos, que se
especializam em produtos femininos e passaram a disputar espaços no Braz. Mas a grande
144
parte da indústria migrou para o interior, deixando para a metrópole estas pequenas fábricas
voltadas para nichos e setores específicos de mercado: Bom Retiro algodão, Braz, sintéticos
(coreanos) e femininos (bolivianos). Nesta separação, houve também a estratégia dos
lojistas que passaram a vender em shoppings centeres, nos anos 1980, com produtos
exclusivos e mais caros, o que levou à criação de toda uma estratégia criativa uma, em
torno do São Paulo Fashion Week, um grande branding de sucesso. Este é o início da
especialização e profissionalização da moda que passa a investir em formação superior e
demanda por produtos de melhor qualidade, que se consagra em inteligência voltada para
os mercados de imagem, comercialização e marketing. No Rio de Janeiro, a história não foi
diferente. As grandes fábricas têxteis de Bangu do século XIX, evidenciados até no Plano
Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro: cederam lugar para os hoje organizados arranjos
produtivos locais, conforme análise anterior. No centro da metrópole, as pequenas
confecções se especializaram na chamada moda praia em espaços localizados e nos
Bairros da Zona Sul: na cidade do Rio de Janeiro, showrooms e pronta-entrega localizam-
se em prédios ou centros comerciais, nos bairros mais conhecidos como Copacabana,
Ipanema e Leblon” (FEGHALI, 2006: 146). Também no Rio de Janeiro, esse setor se vincula
à organização da segunda maior semana de moda nacional, o Fashion Rio, agora
administrado pela mesma agência (Luminosidade Marketing e Produções Ltda) e que busca
a integração desse circuito, especializando-se a partir de referenciais econômicos, culturais
e criativos locais, mas com forte capacidade de intercâmbio e geração de oportunidades de
negócios fundadas nesta especialização. Ou seja, de São Paulo como a vitrine de uma
sofisticada moda brasileira e o Rio com sua forte vertente de moda praia e tropical, ambas
vitrines simbólicas, como uma economia cultural, mobilizadora de fortes vínculos com a
escala internacional.
Essas análises dão conta da complexidade da mutação da indústria têxtil e do vestuário nas
metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro e das especializações correlatas pelas quais elas
vêm passando nos últimos vinte anos. Nestas transformações é possível reconhecer novos
nichos e oportunidades econômicas, sobretudo em dois níveis, do chamado mercado de
luxo e da consolidação dessas metrópoles no comando, gestão, design e criação de moda,
resultantes de uma exigência socioeconômica e cultural que se realiza em profundos
processos de profissionalização e especialização espacial metropolitana.
4.1.2. Seletividades da Moda em São Paulo e Rio de Janeiro: cenografias do Luxo
O chamado mercado do luxo corresponde a um dos setores mais emergentes da moda em
São Paulo e Rio de Janeiro. Muito evidente nas grandes metrópoles centrais, onde se
tornaram grandes vitrines turísticas da ostentação, a exemplo da 5th Avenue, em Midtown,
145
em Nova York ou no Bairro de Ginza, em Tóquio, se colocaram como espaços exclusivos
deste mercado, ao lado dos vibrantes bairros de dos novos estilistas, reconhecidos como
lugares da moda hype como o SoHo e Chelsea, também em Nova York ou o Shibuya em
Tóquio. Aqui no Brasil sua presença se materializa na região da Rua Oscar Freire, nos
Jardins, em São Paulo, ou no chamado Quarteirão do Luxo em torno da Rua Garcia D‟Ávila,
em Ipanema, no Rio de Janeiro. Além destes espaços o mercado do luxo se consolida em
representações das grandes marcas e griffes internacionais em escritórios ou locais
exclusivos de comercialização em shoppings, ou em complexos criados com esta finalidade,
a exemplo da Daslu, em São Paulo. Esta presença se consolida até na relação da moda
com o turismo, expressos nos discursos da Presidente da Embratur: fizemos, por exemplo,
um acordo com a Associação Brasileira de Turismo de Luxo para atrair visitantes de países
ricos, que gastam mais de 2.500 dólares por viagem. Também fechamos um negócio
semelhante com a Associação dos Operadores de Turismo de Golfe, aproveitando que o
esporte vai estrear na Olimpíada de 2016” (LOBATTO; DUARTE, 2010).
Segundo estimativas, havia em 2005 2,5 milhões de pessoas no segmento dos
consumidores de luxo nos Estados Unidos, 760.000 na Alemanha, 300.000 na China e
98.000 no Brasil, sendo que as marcas mais importantes nesse segmento, em 2006, eram
Louis Vuitton, Richemont, Prada e Gucci. Essas marcas lideravam o mercado de produtos
de luxo, sendo, na verdade, grandes grupos multimarcas. A Gucci, por exemplo, era
proprietária das marcas Yves Saint Laurent, Boucheron, Alexander McQueen, Bottega
Veneta, Di Modolo e Balenciaga, entre outras. Assistia-se a um processo de consolidação
das marcas de luxo sob a égide de grandes holdings mundiais. Essas marcas eram
aplicadas a produtos os mais diversos, a que transmitiam o fascínio do luxo (GALBETTI,
2004). O mercado de consumo de Luxo movimenta, no Brasil, cerca de R$ 2 bilhões, com
média de crescimento de 35% ao ano. A lucratividade das principais marcas de Luxo do
mundo cresceu 45% em 2004, num mercado global estimado em R$ 200 bilhões.
Potencialmente, o mercado de consumo de luxo no Brasil em 2010 cresceu entre 300 mil a
500 mil consumidores regulares, sendo que São Paulo é a cidade líder, movimentando,
sozinha, quase R$ 1,5 bilhão (75% do total) e tem crescimento anual que varia de 33% a
35%. O mercado carioca segue com crescimento de 28% ao ano e movimenta R$ 350
milhões. O restante da movimentação se dissipa por outras capitais (D‟ÂNGELO, 2004).
Marcas como a italiana Diesel é um bom termômetro do que significa este mercado de luxo
em São Paulo. Sua loja no Shopping Iguatemi, em São Paulo, vende quatro vezes mais do
que a loja de Nova York, com gasto médio por cliente de cerca de R$ 1,3 mil. É possível
encontrar as roupas da grife em 30 multimarcas espalhadas pelo Brasil, além das duas lojas
de São Paulo (uma no Shopping Iguatemi e outra nos Jardins) e Rio de Janeiro, estando
previsto a construção do segundo hotel da Diesel no mundo, o Pelican, localizado no bairro
146
dos Jardins, em São Paulo. Ele seguirá os moldes do hotel já existente, em Miami
(LOBATTO; DUARTE, 2010).
O crescimento do mercado de luxo no Brasil relaciona-se ao grande potencial do seu
mercado consumidor e ao surgimento de uma nova classe “média” muito referenciada no
consumo, o que se relaciona com a saturação dos mercados de origem, sobretudo Estados
Unidos e Europa, o que fez com que, nos últimos anos, as grifes investissem US$ 3 bilhões
anuais em mercados emergentes como a China, o Leste Europeu e a América Latina. Neste
último bloco, o Brasil é considerado o grande mercado representando cerca de dois terços
de todas as vendas no continente, por exemplo, para a Louis Vuitton. É o sexto consumidor
mundial de canetas Montblanc, registra 30% de crescimento nas vendas por ano da Cartier,
e possui cerca de 25 mil clientes exclusivos da marca Armani. No mundo todo, de acordo
com estatísticas divulgadas pelas grifes, apenas 2% da população consome produtos de
alto luxo. No Brasil, são cerca de 0,5%, ou seja, de 700 mil a um milhão de pessoas, entre
os segmentos definidos por quatrocentões, novos-ricos e empreendedores da classe AAA.
Segundo dados divulgados recentemente pelo IBGE, essa fatia da população teve a sua
renda aumentada em 29% na última década (GALHANONE; TOLEDO, 2008).
Esses dados referenciam as chamadas cenografias do luxo nas metrópoles de São Paulo e
Rio de Janeiro e dizem um pouco desta face do mercado metropolitano da moda,
representando uma das suas mutações no Brasil em termos de especialização econômica e
cultural. Seus significados espaciais analisados para além das chamadas centralidades do
luxo, materializadas nos bairros dos Jardins, em São Paulo e Ipanema, no Rio de Janeiro,
configura-se, ainda, pela abertura de novos espaços, como os novos shoppings Cidade
Jardim e o futuro JK Iguatemi, com inauguração prevista para 2010, que visam constituir
uma nova centralidade do luxo na região da Marginal do Rio Pinheiros, em São Paulo,
conectando a vizinha Daslu numa margem e o Shopping Cidade Jardim na outra. Essas
transformações urbanas provocadas pelo mercado do luxo, mais do que constituir
mercados, ressignificam os espaços metropolitanos, atribuindo-lhes novos sentidos em
termos de posição na rede internacional das metrópoles mundiais do luxo. Neste panorama
espacial podemos incluir as semanas de moda, a exemplo do São Paulo Fashion Week e do
Fashion Rio que hoje agregam um dinâmico circuito de criadores de coleções que visam
ainda consolidar a moda brasileira entre as mais representativas do mundo
11
.
11
O São Paulo Fashion Week é considerado a quinta mais importante Semana de Moda internacional, depois
de Paris, Londres, Milão e Nova York, e à frente de metrópoles como Sydney e à emergente e forte concorrente
Istambul Fashion Days. O evento conta com quase 50 grifes nos desfiles e atrai cerca de 2 mil showrooms de
outras marcas para o seu entorno. Desde a primeira edição, o SPFW atraiu mais de 1,6 milhão de pessoas ao
Pavilhão da Bienal. Duas vezes ao ano, o SPFW impulsiona R$ 1,5 bilhão em negócios relacionados direta e
147
Vistos além da moda em si e do consumo, é preciso reconhecer o lugar deste mercado e
dos seus fortes nculos com a idéia de seletividades socioculturais, na medida em que
associa o consumo a uma estratificação social severa. No entanto, começam a aparecer
nestas cenas, novos referenciais, sobretudo pela formação de uma geração brasileira de
designers com propostas criativas novas que transitam entre o econômico e uma dimensão
identitária, referenciada na idéia de brasilidade, constituindo novas paisagens de e para o
consumo. Também é preciso reconhecer algumas estratégias socioespaciais de
empreendedores da economia simbólica da moda que tendo as metrópoles de São Paulo e
Rio de Janeiro como referências introduzem novos mercados e segmentos socioculturais,
conforme analisados a seguir.
4.2 PROCESSOS DE CRIAÇÃO E SCENIFICATIO: CONTAMINAÇÃOES URBANAS NA
MODA
Após analisar os processos econômicos e espaciais formais da moda é preciso situar a
multiplicidade de elementos simbólicos presentes nestes vínculos e em outros nexos na
mediação entre moda e vida metropolitana. Em outras palavras, a metrópole é o grande
mercado da moda, mas é também sua principal referência em termos dos processos
criativos, afinal, é observando a moda na rua, no cotidiano urbano dos comportamentos
socioculturais e nos seus códigos estéticos e artísticos que a moda se reproduz numa
reinventividade incessante, nos quais urbanidades possíveis são os grandes vínculos na
perpetuação do desejo de ser, vestir e aparecer, ver e ser visto na cena urbana. Na máxima
de que nós somos o que comemos, podemos parafrasear, ao dizer que somos também o
que vestimos, ouvimos, enfim consumimos ou desejamos como universo simbólico. Essas
seriam as cenas ou cenificações, as quais autores têm experimentado novas abordagens
teóricas e fronteiras de reflexão. Mas as cenificações (LANGE, 2006), ao contrário do que
poderiam sugerir, serem um modismo, do cotidiano imediato, constituem-se como símbolos
da hipermodernidade enraizados em elementos históricos, mesmo idealizados ou
reinterpretados, tendo em vista sua apreensão na vertente mercadológica: na sociedade
indiretamente ao evento. Mais de 5.000 empregos diretos e indiretos são criados a cada edição em função do
SPFW, gerando um grande fluxo significativo de e mais de 2 mil jornalistas do Brasil e do exterior que fazem a
cobertura do evento, que resulta em mais de 5.000 páginas de jornais e revistas e 300 horas de cobertura em TV
aberta e por assinatura. Cerca de 200 jornalistas e compradores internacionais comparecem ao SPFW a cada
edição. O investimento direto na produção do evento cresceu de R$ 530 mil na primeira edição para atuais R$ 7
milhões nesta edição do evento. Desde 1996, mais de R$ 170 milhões foram investidos diretamente em infra-
estrutura para sua realização do SPFW, dos quais R$ 95 milhões apenas nos últimos 4 anos. As grifes e
estilistas que atualmente compõem o SPFW investem nos desfiles cerca de R$ 7,5 milhões por temporada,
impulsionando uma rede virtuosa de desenvolvimento, emprego e negócios. Anualmente, são investidos R$ 19
milhões em permutas de espaços publicitários e horas de programação relacionados ao SPFW que recebe
durante sua realização cerca de 12 mil pessoas por dia (SÃO PAULO, 2008).
148
hipermoderna, o modelo de mercado e seus critérios operacionais conseguiram imiscui-se
até na conservação do patrimônio histórico. Elemento do avanço do capitalismo cultural e da
mercantilização da cultural, a valorização da cultura, a valorização do passado é um
fenômeno mais hipermoderno que pós-moderno(LIPOVETSKY, 2004: 87). Nesta direção
de análise nos parece oportuno situar os fortes relacionamentos presentes entre a moda e
as inovações geradas pelas novas tecnologias de comunicação e informação que invadiram
o cotidiano, a tal ponto de alguns autores da área da moda situar os anos 2000 como a dos
corpos interativos: nos anos 50 havia corpos dóceis; anos 60 e 70, moda prótese, corpos
rebeldes; anos 80, moda fetiche, corpos marcados; anos 90, moda álibi, corpos
multiculturais; anos 2000, moda instalação, corpos interativos (VILLAÇA, 2007). Aqui, a
moda passa de uma função social e econômica, para uma experimentação, uma dimensão
da experiência lúdica, recreativa quase: a mobilização da moda em mercados de massa
(em oposição a mercados de elite) forneceu um meio de acelerar o ritmo do consumo não
somente em termos de roupas, ornamentos e decoração, mas também numa ampla gama
de estilos de vida e atividades de recreação” (HARVEY, 1994: 258)
Nestes cenários cambiantes, uma estética do urbano e uma atmosfera do possível criam
solo fértil para os novos e criativos empreendedores, muitos dos quais plantaram eles
mesmos a semente de seu próprio negócio fundados em imaginários urbanos. Isto traz uma
maior ênfase na experiência subjetiva, embora as estratégias de imagem forneçam os
códigos visuais e imagens espaciais na relação em que um se posiciona a si mesmo, essas
imagens têm justificativa para existência quando existe uma correspondência com
contextos espaço-sensoriais viáveis de experiência. Esta função de interface econômica dos
chamados empreendedores culturais, categoria analisada teoricamente no Capítulo 2, é
também evidente na dissolução de fronteiras entre a corrente principal da cultura e a
subcultura. Uma vez que as práticas da juventude e as práticas subculturais serviam como
um meio de distinguir seus praticantes dos profissionais com formações mainstream, agora
manter essa demarcação exige novas posturas, novas escolhas e novos referenciais. A
velha dicotomia foi substituída por novas formações sociais que deixaram de mostrar um
contraste gido entre mainstream e subcultura, e prestação de serviços com fins lucrativos
orientados para a produção cultural, que através do processo constante e simultâneo de
remodelação e recodificação mediam entre diferentes grupos sociais. Os da esquerda
queixam-se muito citado esgotamento do underground”, mas também é verdade que
nenhuma corrente clara pode ser reconhecida também. A diferença, ao invés de adaptação,
é a unidade principal por trás do consumo hipermoderno que levou a uma hibridação do
mainstream e de uma multiplicidade de estilos e grupos heterogêneos.
149
A analogia linguística entre a categoria sociológica Szene” (alemão para a cena) e da
categoria espacial “in Szene setzen” (alemão para ser o centro de interesse) conecta esta
dimensão a uma espacialidade urbana (LANGE, 2006), facilmente encontrada em eventos
em casas noturnas, galerias, lojas, exposições e inaugurações de escritório, por exemplo,
são montagens e feituras locais temporais de cenas na cena urbana, onde os atores usam o
tecido urbano, a cidade ou edifícios de concreto, para criar redes de relacionamento de
poder, significado e tensão a fim de testar novos produtos. Esta formação social “cena”
experimenta e realiza-se na sua materialidade e corporeidade através da sua presença
emocional nos lugares que seleciona. Lugares conscientemente construídos permitem aos
indivíduos verem e serem vistos. Estes protagonistas são ao mesmo tempo tanto
participantes quanto espectadores, ambos equipados com o conhecimento e as habilidades
sutis de saber como entrar “em cena” ou “ficar de fora” de (outras) cenas. A localização
espacial das experiências lúdicas com essa exigência de individualização é a cidade: a
cidade é vista como laboratório para suas próprias idéias, independentemente do fato de
que os protagonistas estão sujeitos a novos padrões de flexibilização e processos de
desintegração social, que podem ser mais bem absorvidos pelo urbano.
Estratégias da existência empreendedora individualizada, no entanto, são codificadas
positivamente em termos sociopolíticos e têm sido pelo menos desde os anos 1990, como
visto no Capítulo 2. O resultado foi uma política de imagens discursivas e de redefinição dos
símbolos. Imagens e símbolos tinham que ser encontrados para proclamar mais realidades,
ao invés de possibilidades, idéias, ao invés de entrega e atitudes ao invés de eventos.
Nestes contextos, o organismo da cidade, por um lado, aparece então como um território
potencialmente caótico, aberto, mas, ao mesmo tempo palco de novas oportunidades e
qualidades, de empreendedores culturais e novos excluídos que passam a
Conviver no bojo de áreas, em que a moda possibilita estes encontros: nos anos 2000, a
moda se espalha pela cidade, ou melhor, pelas cidades, reorganiza seus espaços,
dinamizando-os. A estética da periferia também participa desta dinâmica, seja por
intermédio de comunidades artesanais que cooperam com os estilistas. A mídia notícias
de um trânsito de mão dupla centro/ periferia. O caso da Daslu/ Daspu é um bom exemplo
(VILLAÇA, 2007: 221)
12
.
12
Apesar de Villaça chamar a atenção para estas convivências e articulações, o caso específico da Daslu e da
Daspu é bastante particular, revelando um acerta ambiguidade irônica, por evidenciar uma estratégia bastante
lúdica que possibilitaram às mulheres marginais ao sistema produtivo da moda (ex prostitutas cariocas que
lançaram a Daspu (das putas), numa brincadeira do nome a exemplo de Das Lu, ou seja, das Lucianas) se
lançar no mercado oficialao parafrasearem sua marca à uma loja de luxo paulistana, igualmente bastante
controversa, tendo em vista os escândalos de sonegação de impostos que a mídia brasileira recentemente
cobriu.
150
Inicialmente, parece ser menos plausível identificar fenômenos de superfície puramente
estéticos e visíveis (vestuário, roupa, etc;) como modos de integração e motivações do
desejo de participar em processos de formação de cena ou se posicionar na cidade, mas
vários autores localizam em certos segmentos e subculturas urbanas estes potenciais,
inclusive em São Paulo: veremos que os tipos de organizações alternativas em São Paulo
são diferentes das ocorridas em Amsterdã e Berlim durante os anos 90. Enquanto e Berlim
os movimentos subculturais possuem a forma de coletivos profissionais ou artísticos,
lutando por expressão e experimentando novos conceitos de produção ou gerenciamento de
uma empresa, em São Paulo, normalmente, lutam por reconhecimento e contra os
problemas da vida do dia-a-dia, como violência, desemprego, drogas e falta de habitação
acessível” (NEFS, 2005: 128). Podemos estender esta análise também para o Rio de
Janeiro tendo em vista sua condição periférica e onde talvez diferentemente de São Paulo,
onde essas organizações encontram possibilidades na sua diferença cultural, econômica e
paisagística realizada na orla, nas praias onde os níveis de criatividade de sobrevivência
são bastante profícuos.
Amplamente percebidos, porém raramente integrados pelos poderes municipais na política
comunitária, o número de iniciativas culturais que surgiram na cena urbana são significativos
quase que de uma agenda política necessária, ressignificadora de novas urbanidades. De
qualquer forma, o comportamento “faça você mesmo” dos organizadores de eventos teve o
seu impacto sobre o município: até meados dos anos 90, que inclui desde jovens criadores
de moda e praticantes de esportes urbanos, como skatistas, até outros segmentos. Este é o
panorama teórico em que se evidenciam a emergência de novos criadores da moda em São
Paulo e Rio de Janeiro, entendidos como Empreendedores Culturais.
4.2.1 São e Rio de Janeiro como Repertórios Simbólicos de Criação da Moda
Brasileira: a experiência da Osklen
Do ponto de vista da situação profissional dos empreendedores da moda, o termo biografias
em patchwork parece uma metáfora suficientemente interessante para incluir as carreiras de
novos criadores, tendo em vista suas origens e universos de criação. Mas quanto à suas
origens é possível demarcar contextos culturais ou cenografias urbanas, alternativos ou
undergrounds, mas com grande capacidade inventiva em um momento que as metrópoles
de São Paulo e Rio de Janeiro ofereciam a possibilidade e o desejo de inventar novos
códigos, novas modas. Essa experimentação segundo Erika Palomino (1999) surge nos
clubes noturnos paulistanos em lugares visionários como o Hell‟s, o Nation, o Massivo, o
Sra. Kravitz, no final dos anos 1980, que além de festas promoviam modas e novos
comportamentos, altamente antenados com a cena internacional e com grande capacidade
151
de diálogo e permeabilidade com outras arenas culturais urbanas como a música, desde as
cenas techno, rave, gay que deram origem, no Brasil, à cena fashion. Sua versão carioca
continha outros elementos estéticos como o culto do corpo malhado que logo invade São
Paulo e introduz intercâmbios hoje indissociáveis. Mas também tinha seus elementos
culturais genuinamente urbanos desde clubes como o Kitschnett, até festas como a
Valdemente e suas cenas na praia, do jeito carioca de ser metrópole. Estes universos é que
revelam os criadores de moda que se consagraram em São Paulo e Rio de Janeiro desde
essa época e anos depois, em nomes como Alexandre Herchcovitch, Gloria Coelho,
Marcelo Sommer, dentre outros, além de novas experimentações da moda em feiras de
novos designers e criadores, como o Mercado Mundo Mix, que de São Paulo se espalha
pelo Brasil, e a Feira Hype, no Rio (PALOMINO, 1999). Estes repertórios simbólicos abrem
espaço para o surgimento de outros criadores de moda também no Rio, como Isabela
Capeto e Oskar Metsavaht, da Osklen, este último cujo contexto de criação é totalmente
referenciado na idéia de brasilidade urbana no encontro da natureza e da cidade (OSKLEN,
2009).
Essa captura da idéia de brasilidade é muito bem refletida por Villaça na medida que
atravessa e decodifica as transições que capturam a idéia de identidade e o maneja como
marca: com o título Brasil: da identidade à marca, busca-se evidenciar, na trajetória
brasileira, o pensamento da nação como um „constructo‟ que, após estar longamente
vinculado a um discurso do Estado e ao projeto nacional, hoje liga-se progressivamente ao
mercado. Nesta passagem com conexões entre corpo, moda, cultura e Brasil, tendo como
fundo de fundo a questão identitária, estão o desenvolvimento de novas tecnologias da
comunicação e do marketing, da produção têxtil, do design e a progressiva globalização da
economia(VILLAÇA, 2007: 253). Esta reflexão nos coloca diante da moda em seus
aspectos simbólicos de criação e fetichismo, alimentadores do seu mercado, mas também
numa esteira histórica mais ampla localizada nos anos 1960 quando a moda sai do pedestal
da chamada Alta Costura e invade o social como fantasmagoria no que se reconhece como
a introdução do estilo: desde os anos 1960, com o fenômeno „estilo‟, novos nomes se
impõem rapidamente, introduzindo no mundo da moda griffes reconhecidas ao lado das da
Alta Costura” (LIPOVETSKY, 1987: 116).
Antes cabe uma contextualização da Osklen como moda e marca. Criada em 1989 por
Oskar Metsavaht, é uma marca de lifestyle desenvolvida em Ipanema, Rio de Janeiro, mas
com a primeira loja em Búzios. Posicionada entre as marcas premium, conceitua-se como
de sportwear e ecobrands, é considerada como casual chic por misturar urbano e natureza,
global e local, orgânico e tecnológico de forma criativa e inovadora. Se no início a marca foi
reconhecida por sua qualidade internacional e pelos novos conceitos de esportes de ação e
152
aventura somados a estilos urbanos, logo a Osklen seguiria um caminho natural na busca
pelo design inovador. Nascia assim, a Osklen Collection, com peças conceituais
confeccionadas em seu ateliê de estilo com materiais sofisticados, acabamentos especiais e
em séries limitadas. Desde 2003, a Osklen apresenta suas coleções no São Paulo Fashion
Week e se expressa no crossover dos mais distintos elementos que fazem parte do dia-a-
dia de Oskar Metsavaht
13
, seu Diretor de Estilo e Criação. Seus universos simbólicos são
objetos esportivos, como a prancha de snowboard e o taco de golfe; livros de arte, objetos
trazidos de expedições que coadunam-se nos conceitos de moda, arte, cultura, design e
meio ambiente. Tudo é parte do inspiracional da marca,o que a torna, mais do que uma
grife, o veículo de comunicação desse estilo de vida. Hoje, a Osklen tem 53 lojas no Brasil,
quatro em Portugal, duas em Milão, uma em Nova York, uma em Tóquio, uma em Roma,
além de showroom em Nova Iorque, Los Angeles, Athenas, Milão e de exportar para Japão,
Chile e Oriente Médio. É considerada hoje uma das dez marcas mais influentes e
inspiradoras do mundo pelo WGSN (Worth Global Style Network), entidade de referência
virtual do universo fashion, e seus parceiros. Para a Chrysler Osker desenhou o interior de
um jeep Cherokee. Para a H Stern desenvolveu uma linha de relógios inspirada no
Arpoador, ponta da praia de Ipanema, e reduto de surfistas desde os anos 50. A coca-cola o
convidou para recriar trabalhos de Andy Warhol e o Guaraná Antárctica lançou com ele uma
minicoleção inspirada na Amazônia (OSKLEN, 2009; METSAVAHT, 2009).
Mas talvez seja seu universo criativo a marca mais representativa da referência de criação
de sua marca, para a qual se inspira simbolicamente no Rio de Janeiro de onde criou o
conceito de United Kingdon of Ipanema, uma superlatização da metrópole carioca resumida
no transecto urbano de Ipanema
14
. para o mesmo estilista, São Paulo seria o
13
Além de Diretor da Osklen, Oskar Metsavaht é fundador e vice-presidente da Associação Brasileira dos
Empreendedores Amigos da UNESCO e Cônsul Honorário da Estônia no Rio de Janeiro.
14
O Rio é um passeio por Ipanema, ou United Kingdon of Ipanema. A tese é a de que o tropical é minimal e não
excêntrico. Veja o tucano, ícone do tropicalismo. É um animal todo preto com detalhes coloridos, ou seja, o bico
laranja e o olho azul. Daí vem a idéia da calçada preta e branca (aliás areia). Parece um conceito da Bauhaus
cuja imagem icônica e real é o calçadão de Ipanema. Também valorizo muito a arquitetura que é muito
evidenciada à noite. Adoro o urbano noturno. Pois na noite a moldura de fundo, além da luz artificial é o negro do
céu em que se pronuncia a arquitetura. Ai vem a luz sobre o verde, adoro o elétrico artificial. O verde á a minha
terceira cor. Assim, o tucano, de uma versão exuberante e tropical passa a ser minimal, com o laranja. O tropical
pode ser minimalista com um wake up cosmopolita, saindo dos prédios. Ipanema é um ícone disso. A mulher e o
homem contemporâneo em perfeito equilíbrio com natureza e cultura, uma ecotopia. Vejo uma foto de Ipanema
com calçada, praia, coqueiros, arquitetura, Ilhas Cagarras, mar, o Arpoador e seu legado do surf brasileiro, a
praia e a sensualidade (o beach culture), os prédios da Vieira Souto com festas sofisticadas. A sofisticação do
Fasano, os legados da Bossa Nova, quiosques e bares de frutas, a beleza da lagoa, o Jardim Botânico e a
Hollywood brasileira da Rede Globo (fábrica de sonhos e imaginários do Brasil), a floresta, a serra e a escarpa
do rocha com o Cristo. É um transecto que conecta natureza e cultura, ou seja, a mata, a cidade, arquitetura, a
praia e o mar. O Rio é cosmopolita. Tem luxo e onde a liberdade de ser convive com o sofisticado e o simples. A
calçada, portanto, é um ícone. A expressão da osklen é o Lifestyle da roupa como um momento do dia,
particularmente o fim do dia e início da noite. Uma espécie de reconciliação entre o dia e a noite. O por do sol
onde a luz é bela, trazendo reflexão e carícia. A roupa é relax, não largada, e sim com estilo descolado, bem
vestido e moderno. O fim do dia para um jantar, ir a uma festa, na fronteira entre ir a uma festa e estar bem
153
corresponde às grandes metrópoles como Tokio, Nova York, e outras. Na sua visão de São
Paulo um elemento urbano mais evidente, iconicizado no conceito Surfing in the city
15
.
Além das imagens, cujas representações das metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro,
Oskar, produz deos como cenografias simbólicas de sua moda: meu processo criativo
começa com uma cena, uma história, um estilo, um conceito que crio a partir de algo que eu
desejei ou vivi. Deste ponto, eu crio o clima, a atmosfera, os looks e as atitudes. Na maior
parte das vezes, eu concebo a campanha antes mesmo da coleção. Talvez por isso eu
adore fazer a direção de arte do shooting. Crio a atmosfera da história e faço meus próprios
filmes, através dos quais posso compartilhar a cena que imaginei no início do processo. As
peças são desenhadas para serem o figurino do meu filme. E é possível „assisti-lo em cada
detalhe da coleção. fico satisfeito quando os elementos propostos para cada peça, as
cores, as texturas e as silhuetas passam a ser usados pelos personagens do filme que criei
(OSKLEN, 2009).
Entendida como o reflexo de um estado de espírito e uma proposta comercial e estética,
fundada no comportamento imagético, e nos medias que não estão distantes de outros
campos do conhecimento, a moda da Osklen revela uma série de perspectivas associadas a
uma trama rica nas quais as metrópoles de São Paulo são consumo de si mesmas. A
Osklen se inspira no dinamismo da metrópole e na exuberância da natureza brasileira,
dando vida a um estilo baseado na harmonização dos contrastes, unindo as idéias de
sofisticação e despojamento. A marca representa o lifestyle da mulher e do homem
contemporâneos, em um mundo onde convivem o urbano e a natureza, o global e o local, o
orgânico e o tecnológico: os discursos da moda como prótese corporal se aceleram na
cidade pós-moderna com seu ritmo frenético, apropriando-se de inúmeros espaços e
sugerindo diversas propostas existenciais” (VILLAÇA, 2007: 141). Estas referências podem
ser analisadas com base nas imagens repassadas pelo próprio Oskar, como dimensão
vestido. A praia funciona como fronteira entre o trabalho e o lazer. O Rio é uma grande inspiração. Estou 25
anos aqui, sou carioca por opção. Moro no Arpoador. Adoro skate, surf, daí o surfar pela cidade” (Entrevista 3).
15
“Com mote de sustentabilidade label criei o conceito “surfing in the city” e SK8 (Skate board on skate vehicular)
que foi depois urbanizado. O skate é interessante por ser um esporte urbano e fiquei pensando como seriam as
roupas para este segmento. O designer tem que ter um link imagético, pois a moda é efêmera, mas o estilo fica.
A moda é, portanto, estilo. Em 2008 eu viajei muito pelo mundo: Tokyo, New York, Paris, São Paulo, sou
snowboarder, surfista urbano. Me vejo como se estivesse no Uptown em New York. Fui em muitas festinhas
boas e fechadas por e me via muito olhando a cidade como um voyer. São Paulo é complemento, uma ponte
aérea que une o despojado (Rio) e o sofisticado. A cidade já amadureceu. Passou pela fase de nouveau riche
em que uma ausência de cultura estética, ausência de arte, famílias cultas com pouca referência, milionárias
mas cafonas que deturpam o sentido do bom consumo. Após isso ele viveu uma fase de empobrecimento
estético-cultural com resistência cultural e artística, como ser curador de mostras de design. O paulistano viajou,
transitou entre mundos e civilidades e se sofisticou mais pela cultura, pelo design, até sem saber disso, mas
reconhece uma boa estética que foi incorporada. Houve um acesso material e estético. São Paulo conquistou
confiança de produzir seus próprios contextos culturais, de receber bem, possui uma gastronomia elaborada e
receptiva, boas galerias, bons museus e curadorias de arte, possui os museus mais ricos e cosmopolitas num
trânsito entre chique e um orgulho de ser urbano num modelo europeizado. O garotão paulistano se orgulha de
ser urbano diferentemente do carioca que se orgulha de sua estética natural. vejo o belo e o sofisticado,
apesar de existir uma Belíndia” (Entrevista 3).
154
analítica dos nexos entre moda e espaço urbano e mais ainda na sua idéia simbólica de Rio
de Janeiro e São Paulo, a seguir apresentadas
Imagens como fontes de inspiração e resultado dos processos criativos da Osklen para São Paulo
(Surfing in the city) e Rio de Janeiro (United Kingdon of Ipanema)
São Paulo Rio de Janeiro
Fonte: Imagens cedidas por Oskar Metsavaht, 2009.
155
Depois de uma primeira onda de atitudes muito otimistas em relação ao novo papel de
liderança dos produtores culturais no final da década de 1990, as relações de trabalho e de
vida dos mesmos e suas relações com a sua situação social e urbana, têm sido objetos de
crítica ferrenha nos últimos anos (LANGE, 2006), em ambos os níveis locais e globais. Isto
ocorreu no contexto da estilização de atividades culturais geralmente não remuneradas ou
mal remuneradas e das profissões criativas. Essa dimensão nos parece interessante como
último movimento de análise da moda em São Paulo e Rio de Janeiro.
4.2.1 Circuitos marginais da confecção e moda: realizando outras microglobalizações
Neste último movimento de análise, não que ele seja menos importante, situamos as outras
faces da moda, entendidas como marginais no sentido de não serem muitas vezes
consideradas na cena da metrópole, tendo em vista os sofisticados e sedutores atrativos da
moda urbana veiculada. Denominamos como outras cenas, os contextos socioculturais
marginalizados, sobretudo os que se colocam no papel de possíveis novos empreendedores
populares da cultura e da moda, por vezes até informais. Em São Paulo eles são muito
evidentes dadas as características multiculturais da metrópole que tem nas últimas décadas
recebido uma porção considerável de migrantes estrangeiros vindos de contextos até então
novos nesta metrópole historicamente multicultural. Trata-se de romenos que vieram no
perídio pós Ceaucescu; africanos que conformaram em torno da área central o que se
denomina de “Pequena África” e notadamente os sulamericanos, em especial os bolivianos,
que se dedicaram exclusivamente à indústria da confecção, desde pequenos
empreendedores até trabalhadores informais, envolvendo fortes processos de trabalho
informal e até escravo. Sua geografia é particularmente ampla na metrópole paulistana, mas
faz parte da paisagem cultural recente da metrópole e em torno da qual sua presença e
identidade se afirmam: do ponto de vista espacial, os bolivianos(as) estão concentrados em
bairros da Zona Central da cidade, como Bom Retiro, Brás, Pari, Barra Funda, Cambuci,
Mooca, entre outros. Entretanto, também uma significativa presença deles em bairros da
Zona Leste, como Belém, Tatuapé, Penha, Itaquera, Cangaíba, Engenheiro Goulart,
Ermelino Matarazzo, Guaianases, São Mateus, e em bairros da Zona Norte, como Vila
Maria, Vila Guilherme, Casa Verde, Cachoeirinha, entre outros. Entretanto, nos últimos
anos, a presença de bolivianos extrapolou os limites do município de São Paulo, podendo
ser encontrada em cidades como Guarulhos, Osasco, Santo André, Diadema, e em outras
156
cidades do interior paulista, como Jundiaí, Campinas, Americana, entre outras (SILVA,
2006: 260)
Vindos, sobretudo a partir dos anos 1980, a migração dos bolivianos se intensifica nos anos
1990, com a instalação de famílias aqui no Brasil e a formação das redes migratórias de
parentesco e solidariedade. Ao virem para São Paulo instalaram uma nova cultura no vestir,
sendo hoje importantes na indústria do vestuário de baixo custo, tendo se especializado na
fabricação e comercialização de produtos de origem sintética direcionada em especial para
a moda feminina. Ao analisar suas estratégias espaciais é possível reconhecer uma
geografia de vários nichos culturais, com estratégias individuais de posicionamento dentro
do empreendedorismo cultural, tendo em vista que imputaram uma forma de trabalho e
estética que traduz muita da sua identidade (SILVA, 2006). Alcançar a autonomia e
reconhecimento a partir da moda foi a forma pela qual assumiram a necessidade de
assegurar uma subsistência em arenas de vida marginais, nas quais encarnaram uma
relação ambivalente em que o jargão “novo empreendedorismo” demonstra táticas
individualizadas de inserção econômica e alinhamento cultural, mas, em particular,
dificuldades sociais. Também indica a alternância temporariamente hábil entre diferentes
modos de integração socioinstitucional. Essas táticas revelam oportunidades identificatórias
conscientemente construídas para a adoção e adaptação de contradições com a finalidade
de distinção, legitimidade e inclusão socioculturais. As práticas espaciais e atividades
empreendedoras dos bolivianos em São Paulo revelam-se como mudanças significativas na
reconfiguração da organização do trabalho, na sua relação com o lugar, que recolocam a
necessidade de sua identificação e construção de políticas, pois muitas vezes suas
precárias e marginais situações de vida existencial, os alijam, na invisibilidade da
informalidade social, econômica e cultural.
Como vimos os segmentos sociais da moda evidenciados neste Capítulo constituem um
tecido social bastante amplo, mas que assumem na metrópole hipermoderna um papel
central na constituição de cenas profissionais. Suas concretizações sintéticas, muitas vezes
aqui interpretadas como de Empreendedores Culturais pioneiros urbanos reside no fato
de que eles organizam novas imagens locais ambivalentes, do underground ao mainstrean,
mesmo em locais que tenham caído fora da lógica tradicional ou das novas centralidades
urbanas. Esta presença muitas vezes escondida no desaparecimento temporário de suas
existências, sobretudo dos excluídos, como o caso dos bolivianos em São Paulo, deve ser
interpretada no contexto do desenvolvimento de práticas heterogêneas e de diversidade
sociocultural que acontecem simultaneamente na metrópole, mesmo com seus
distanciamentos socioculturais. Como pioneiros no espaço, eles se posicionam em locais
perfurados da cidade, locais que, através de desindustrialização e da reorganização da
157
infraestrutura, caíram fora do ciclo de exploração econômica e fora da consciência cotidiana
da sociedade urbana. Aparentemente, espaços funcionais, inúteis, abandonados, sobras e
lugares esquecidos vieram a existir aqui. Em suma, microperiferias interiores da cidade são,
assim, reconstituídas. Em uma época de áreas da cidade cada vez mais estreitamente
controladas e disneyficadas, encenando paraísos comerciais, estes contextos culturais
evocam memórias das instabilidades do rosto da cidade do século XXI por meio da
utilização temporária de suas visões escondidas e táticas espaciais complexas. Assim,
empreendedores culturais de todo tipo podem ser considerados como pontos de mudança
social em uma sociedade individualizada e cega pela moda e pelo consumo, em que novas
formações serão testadas, e cenas formadas e abertas. Estes são horizontes possíveis para
uma nova urbanidade metropolitana inclusiva.
158
E a ilha desconhecida? Perguntou o homem do leme. A ilha
desconhecida não passa duma idéia da tua cabeça. Os geógrafos do
Rei foram ver nos mapas e declararam que ilhas por conhecer é coisa
que acabou desde muito tempo”.
(Jose Saramago, O Conto da Ilha Desconhecida)
CONCLUSÕES
metrópoles como hiperculturas simbólicas e outras
urbanidades
159
Podemos iniciar estas conclusões evocando os sentidos admitidos na idéia de
espacialidades hipermodernas que corresponderiam à exacerbação ou aprofundamento da
concepção de espaço ou de contexto socioespacial como aceleração contemporânea destes
processos, o que corrobora com as teses de Harvey (1994) acerca da compressão do
tempo-espaço. Aparentemente, poderíamos, por isso mesmo e à primeira vista, sugerir uma
memória imediata, sem passado, esquizóide, quando na verdade é o seu oposto, com a
sociedade vivendo uma onda mnêmica: os modernos queriam fazer tabula rasa do
passado, mas nós o reabilitamos; o ideal era ver-se livre das tradições, mas elas adquiriram
dignidade social. Celebrando até o menor objeto do passado, invocando as obrigações da
memória, remobilizando as tradições religiosas, a hipermodernidade não é estruturada por
um presente absoluto; ela é por um presente paradoxal, um presente que não pára de
exumar e „redescobrir‟ o passado (LIPOVETSKY, 2004: 85). Ou seja: na sociedade
hipermoderna, o modelo de mercado e seus critérios operacionais conseguiram imiscuírem-
se até na conservação do patrimônio histórico. Elemento do avanço do capitalismo cultural e
da mercantilização da cultura, a valorização da cultura, a valorização do passado é um
fenômeno mais hipermoderno que pós-moderno” (IBID: 87). Nestes termos, a abordagem de
hipermetrópole sugere o resgate dos possíveis valores de reconciliação com um projeto
mais aprofundado de urbanidade.
Processos urbanos simultâneos e modelares seguem cada vez mais o modelo da
Losangelização cujo arquétipo histórico teria sido Paris. uma controvérsia de que hoje o
arquétipo se torna Los Angeles na medida em que as camadas atualmente produzidas do
palimpsesto urbano se espelham neste modelo, centrado no carro e nos espaços cercados;
as anteriores se tornam rugosidades. A tese é de que se poderia identificar uma tendência
do turismo a contribuir com esta dinâmica de fragmentação do espaço urbano a partir do
uso de equipamentos herméticos, de pequeno diálogo com seu entorno imediato, e,
sobretudo, altamente defensivos e vigiados grandes hotéis, centros de convenções,
shopping centers, centros de negócios, dentre outros. Por outro lado, na medida em que o
próprio tecido urbano consolidado anteriormente a esta tendência se torna um espaço
valorizado pelo turismo, a ser descoberto e explorado em suas diversas facetas pelos
visitantes, pode ser que ocorra uma relação de contribuição para a manutenção destes
espaços por parte da atividade turística. Considerando que a grande maioria de museus,
centros culturais, galerias de arte e outros usos culturais tendem a se localizar nestas
espacialidades da cidade, como as análises das espacialidades do turismo em São Paulo e
Rio de Janeiro demonstraram, nos seus centros tradicionais e/ou nas ruas de seus bairros
mais valorizados podemos supor que o turismo voltado para a cultura tende a estabelecer
esta relação positiva com a cidade, de valorização de seu espaço público e de sua
160
espacialidade marcada pelo valor de uso e pela diversidade de apropriações. No caso do
Rio de Janeiro, muito concentrado na Zona Sul, com espraimentos pelo Centro Tradicional.
Por sua vez, o turismo de negócios, em grande medida localizado em espaços que cada vez
mais se retiram deste centro urbano diversificado e que passam a se localizar nos novos
centros de negócios, como na Marginal do Rio Pinheiros, em São Paulo, ou na Barra da
Tijuca, no Rio de Janeiro, tenderia a incentivar o padrão de urbanização contemporâneo
relacionado à fragmentação socioespacial. Por outro lado o que as análises do turismo e da
moda nestas duas metrópoles sugerem é da reconciliação entre estas centralidades, na
medida em que depende delas para a promoção de amplos segmentos do turismo, como o
cultural e o de entretenimento, bem como repertórios simbólicos em que a moda é criação,
mas também criatura.
Outro processo contemporâneo de transformação do espaço urbano com o qual podemos
procurar relações com o turismo é a chamada gentrificação, conforme conceituada no
Capítulo 1, cujo caso exemplar é a história recente da região do SoHo em Nova York.
Anteriormente uma zona de pequenas indústrias têxteis, que posteriormente têm seus
imóveis ocupados por artistas que os transformariam em grandes ateliês nos quais
moravam (fazendo surgir o loft como tipologia arquitetônica residencial) e que salvariam a
região de um grande projeto de construção de uma via expressa elevada concebido por
Robert Moses, o SoHo é paulatinamente transformado por uma dinâmica de mercado onde
estes moradores são “substituídos” (através de aluguéis mais elevados) por jovens
profissionais urbanos (Young Urban Professionals ou Yuppies). Trata-se de um extrato
sócio-ocupacional de empregados do setor terciário avançado de alta qualificação e renda,
que ganha peso nas economias metropolitanas com o avanço do regime de acumulação
pós-fordista e da financeirização das economias dos grandes centros que se tornariam as
cidades globais. O que se viu em São Paulo e Rio de Janeiro é que a gentrificação não é
resultado de ações e processos unicamente locais, mas especialmente associados a
circuitos de uma nova onda de internacionalização que se coloca diferentemente nos
mercados imobiliários destas metrópoles, como esboçados no Capitulo 3, acerca dos
impactos nos preços de imóveis provocados pela aquisição por estrageiros de segundas
residêncais, os quais exigiriam uma análise mais detida e pormenorizada, pois, como o
próprio Neil Smith (2002) sugere, ela ainda seja incipiente e esgarçada no caso brasileiro. A
ação do Estado no provimento das condições necessárias a estes empreendimentos
(ampliação de aeroportos e sua ligação viária aos entornos como Búzios e Angra no Rio ou
o litoral paulista) é decisiva. Esta urbanização espraiada, possibilitada por esta extensão das
condições gerais de produção ao longo do território, cria espacialidades semelhantes ao que
Soja (1991) chama de exopolis, concebendo uma tipologia semelhante aos condomínios
residenciais cercados, no sentido de que pretendem uma autonomia em relação à cidade e
161
suas centralidades, porém voltada para a apropriação turística do espaço (e de seu valor de
uso compartimentado e privatizado condição necessária para a realização destes
empreendimentos no molde em que são concebidos).
Mais remetimentos entre economia urbana e turismo podem ser encontrados no
inquestionável impacto positivo na geração de renda; se configurando como uma “indústria
sem poluentes”, sem impactos econômicos negativos, grande fonte geradora de empregos
de média qualificação e renda; com impactos sobre outros setores, particularmente
gastronomia, consumo cultural e entretenimento. Mas é preciso fazer uma interagir do
circuito turístico com o circuito inferior da economia urbana localizado nas chamadas outras
cenas identificadas nos bolivianos no caso de São Paulo, fazendo com que essa renda
gerada pelo turismo atinja também as atividades e os produtores não somente da economia
informal, mas também da economia popular e solidária, por exemplo.
Na Semiperiferia, estes processos ocorrem muitas vezes de forma tardia, mas ao mesmo
tempo abrupta. Devido ao fato de que se tratam de “espaços derivados” (SANTOS, 2002),
diretamente vinculados a processos socioespaciais que partem de núcleos decisórios
externos a estes espaços, a interdependência com o norte global faz com que muitas vezes
os projetos de construção de determinado modelo seja abandonado antes de sua
maturação. [Escola de Geografia da UCLA Post-*isms and the third-world]. Se assumirmos
que uma das marcas do pós-moderno sobre o meio urbano é justamente a grande
diversidade do seu mosaico sociocultural, nas cidades do sul global esta característica se
faz presente de forma prematura, pois o próprio moderno é um elemento “estrangeiro”,
apesar de se colocar como dominante. Se por um lado não existem fluxos diversos de
imigrantes de diversas partes do mundo que criam uma diversidade étnica nas cidades
globais (sem entrar no mérito de cada uma ficar relativamente isolada no seu espaço que
lhe é reservado para tal, não chegando a criar um espaço diferencial Lefebvriano), a
metrópole do terceiro mundo é uma cidade fractal por definição, onde o outro é composto
em grande parte por aqueles que permanecem excluídos das benesses do projeto de
modernidade inacabado.
Estes ângulos oferecem perspectivas para se pensar as metrópoles de São Paulo e Rio de
Janeiro nos seus sentidos mais amplos como metrópoles complexas inseridas em circuitos
urbanos maiores simultâneos à coexistência de espacialidades internas em constante
mutação. O que se verifica após análise de alguns processos socioespaciais com fortes
vínculos com a cultura e a o imaginário urbano, como são o turismo e a moda, entendidos
como economias culturais do espaço (TERKENLI, d‟AUTESSERE, LANGE, 2006) é a de
que um conjunto de análises que vigoraram até muito recentemente concebiam estas
162
metrópoles ou pelo viés patrimonialista, expresso numa invariável política de
patrimonialização dos seus espaços históricos ou na valorização de suas novas
centralidades terciárias. Estas, de fato, foram análises muito profícuas no Brasil,
interessadas nesta espécie de duelo urbano de centralidades. O que se procurou
demonstrar, após a análise do turismo e da moda como economias culturais da metrópole é
que estas espacialidades estão mais conectadas do que nunca, a ponto de falarmos que o
que ocorreu nas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro não foi a demarcada pela
migração absoluta para as novas centralidades da marginal do Rio Pinheiros, no caso da
primeira, ou para a Barra da Tijuca, no caso da segunda. Mas da configuração de uma
centralidade intermediária presente entre estas duas e que se faz evidenciar por uma
tendência espacial de concentração de atividades que fica no meio do caminho desse
hiperobjeto urbano que é a metrópole, em fronteiras móveis na altura da Zona Sul carioca
ou na região dos Jardins e do Itaim, em São Paulo.
Estas tendências, obviamente estão em dinâmica constituição, o que dificulta a construção
de análises definitivas, mas estes são fortes indícios de toda uma reestruturação
metropolitana no plano local de diálogo entre as diversas centralidades que compões seu
hiperespaços. No caso de São Paulo estas análises se evidenciam pela observação da
importância que as áreas centrais retomaram no campo dos empreendedores da cultura
localizados na região da Baixa Augusta, como demonstrado no Capítulo 3.
Como vimos a consolidação da centralidade terciária da Marginal do Rio Pinheiros em São
Paulo é considerada como uma condição de reprodução do capital imobiliário na metrópole:
a reprodução do ciclo do capital exige, em cada momento histórico, determinadas
condições especiais. A dinâmica da economia metropolitana, antes baseada no setor
produtivo industrial, vem-se apoiando, agora, no amplo crescimento do setor terciário
moderno serviços, comércio, setor financeiro -, como condição de desenvolvimento, em
uma economia globalizada. Tal transformação requer a produção de outro espaço, condição
da acumulação, que se realiza a partir da expansão da área central da metrópole (até então
lugar precípuo à realização dessa atividade) em direção à região Sudoeste da metrópole. As
áreas tradicionais se encontram densamente ocupadas, o sistema viário congestionado;
além disso, os novos padrões de competitividade da economia, apoiada em um profundo
desenvolvimento técnico, impõem outros parâmetros para o desenvolvimento dessa
atividade. A superação dessa situação requer a construção de um novo espaço, como área
de expansão, porque a centralidade é fundamental nesse tipo de atividade, não podendo
instalar-se em qualquer lugar do espaço metropolitano. Todavia, na metrópole capitalista,
densamente edificada, a expansão dessa área não se fará sem problemas (CARLOS,
2001: 21 e 22). Complementarmente, estes processos, apesar de parecerem novos, são
163
identificados por Ferreira, como historicamente perpetuados: temos que por um lado
elementos que indiquem alguma „modernização‟ ou „internacionalização‟ mais significativa
da produção do espaço urbano especialmente o de serviços em São Paulo, e por outro
as dinâmicas do mercado imobiliário de escritórios que continuam pautando-se na busca da
rentabilidade que as „modernas centralidades terciárias‟ podem oferecer, pelos mesmos e
tradicionais fatores motivadores: a busca por baixos preços fundiários, a possibilidade de
agregação de valor proporcionada pelo trabalho social, a construção de „valores de
localização‟ capazes de gerar diferenciação espacial, que garante maiores perspectivas de
rentabilidade para os empreendedores, etc. Exatamente o que sempre ocorreu na cidade,
com ou sem „globalização‟: a constante busca dos empreendedores do mercado imobiliário
terciário pelas „possibilidades econômicas dos lugares” (IBID, 2003: 308).
Como análise derivativa de algumas repercussões socioespaciais do processo turístico em
São Paulo e Rio de Janeiro levantamos questões que servem como interpretações teóricas
possíveis deste processo e alguns apontamentos sobre a relação do turismo com a
reestruturação (inter)metropolitana. Neste sentido, estas questões se colocam como pistas
analíticas para serem ampliadas em conteúdos que devem ser retomados quando do seu
confronto com os dados qualitativos e nas suas interrelações com outros processos
socioespaciais. Em termos de tipologia turística 50% do turismo em São Paulo referem-se a
negócios derivados de sua nova condição do espaço e economia mundializada. Com o
aumento substancial no investimento direto estrangeiro (IDE) e do comércio exterior nos
últimos anos, a cidade de São Paulo se consolida como o centro dos negócios
internacionais no Brasil. Considerando a tendência à fragmentação socioespacial na
produção do espaço contemporâneo da metrópole brasileira (SOUZA, 1999), surgem
questões acerca da relação do turismo com esta dinâmica de compartimentação do tecido
urbano, indagando se este seria um elemento que contribuiria para atenuar tal tendência, ou
pelo contrário, se contribuiria para reforçá-la. Tal fragmentação se apresenta na forma de
um tecido urbano marcado por rupturas e separações abruptas, com espaços defensivos e
isolados tanto no uso residencial (condomínios fechados) quanto comercial e de serviços
(shopping centers, grandes centros de negócios e serviços etc.), tendo o transporte
automotor individual como um elemento central. As espacialidades do turismo em São Paulo
são amplas e complexas, se configurando como principal pólo receptor como também
emissor, pelas mesmas condições, mas a espacialidade dos negócios é muito variada, a
depender muitas vezes do segmento: se se reconhece de modo mais amplo ser o turismo
de negócios o mais importante segmentos de turismo na cidade de São Paulo, isso quer
dizer que o turismo em território paulistano é muito mais uma conseqüência de sua história
que fruto de planejamento de administradores públicos municipais ou de agentes de
mercado ao longo do tempo” (CRUZ, 2006: 205).
164
No caso do Rio de Janeiro, é possível analisar nos processos de revalorização da sua
região central, destacados nos termos da comunicação e informação e, sobretudo na
produção de representações símbólicas: o Rio de Janeiro, sobretudo o seu núcleo,
encontra-se integrado aos circuitos mais avançados de poder e informação e, ainda, que
esta metrópole reúne condições ágeis para a aceleração dos fluxos de consumo e,
sobretudo, para a difusão dos seus símbolos (RIBEIRO, 1988: 251). E ainda: cabe
ressaltar que a região central da cidade do Rio de Janeiro ainda apresenta enorme grau de
polarização, especialmente pelo fato de concentrar equipamentos de funções indispensáveis
a um CDB (BIENENSTEIN, 2000: 278). Nesta espacialidade histórica original novas
narrativas se impõem nos marcos de revalorização de contextos socioespaciais de
seletividades e alisamentos, advertidos por Moreira: o porto do Rio de Janeiro é um fato
originário de uma ação de tabula rasa. Foi construído no governo Pereira Passos, na
primeira década do século XX, através de aterros, durante o processo de modernização da
capital. A existência do porto, no entanto, foi uma das condições que certamente influenciou
na eleição do Rio de Janeiro como capital. O porto e a cidade estão profundamente ligados
na constituição da singularidade carioca e determinam muitas características que se
desdobram em urbanidades singulares: a cultura urbana, a composição social, as relações
da cidade com o país e com o mundo(MOREIRA, 2004:92). Um fato é certo, a de que a
revitalização é uma das esperanças para o centro das cidades, o que também é verdade
para o caso do Rio de Janeiro, sobretudo para os urbanistas atentos à sua vida
socioespacial: essa é, também, a esperança de todos aqueles que amam o centro do Rio
de Janeiro e que acreditam que sem sua atratividade e sem o interesse de suas ruas e
monumentos a cidade perderia muito de sua alma (MAGALHÃES, 2008: 145).
Contrapondo-se ao espaço central carioca, estaria a centralidade terciária e de lazer da
Barra da Tijuca, considerada como a antítese desejada para a área central e como risco à
diversidade como traço existencial e razão de ser das metrópoles: essas novas
urbanidades da Barra da Tijuca, desdobradas de um modelo urbano cujas bases são
modernas, são compartilhadas por grande parte da população como um modo de viver
desejável. Ela constitui, a nosso ver, a antítese da urbanidade ainda existente no Centro do
Rio de Janeiro, onde, associada à forma urbana histórica, ainda resistem modos de vida
não encontrados em grande parte da cidade, aqueles mesmos modos de vida que, de algum
modo, se desejava recuperar para a cidade moderna no final do século XIX, em Sitte, e
em meados do século XX, nos últimos CIAMs , baseados no encontro, na vida pública e na
„espontaneidade‟, em lugar de controle, da separação e da homogeneidade (MOREIRA,
2004: 89).
165
Os vínculos do Turismo entre Rio de Janeiro e São Paulo encontram subsídio nas teses de
que os turistas de negócios estrangeiros em São Paulo tenderiam a visitar o Rio de Janeiro
como complemento. Nesta leitura, haveria uma relação de complementaridade dentre os
serviços avançados realizados nos dois centros, com predominância de São Paulo, e com o
apoio do Rio de Janeiro em determinados setores, principalmente aqueles ligados à
chamada indústria criativa, ou seja, a nova economia cultural urbana. No que diz respeito
aos setores financeiros e às atividades complexas de comando e controle das atividades
econômicas, situadas em todo o território brasileiro, São Paulo ganha escala e
predominância. em termos dos serviços culturais e nas lógicas do turismo de lazer,
entretenimento e cultura, observa-se uma conjuntura em que estas áreas imiscuem-se,
estando São Paulo cada vez mais buscando promover sua cena cultural urbana, bem como
o Rio atraindo negócios naquilo que seria cultura ou lazer. Mas cria-se um intercâmbio
constante entre estes dois centros naquilo em que são complementares (o que não quer
dizer que a competição entre eles se acirre). Essas especializações estão ligadas às
chamadas vantagens comparativas, que são vantagens competitivas que determinada
região tem em relação às demais em determinado setor produtivo, onde a especialização
desta região neste setor gera ganhos de escala e produtividade inalcançáveis pelas demais
regiões. A liberalização do comércio dentre estas regiões é pré-requisito fundamental para
estes ganhos de escala e para o aprofundamento da especialização produtiva (o que
constitui uma das ligações entre a globalização e o espraiamento do neoliberalismo
enquanto modo de regulação dominante da contemporaneidade). Os negócios em torno da
imagem dos lugares constituem hoje, fortes modalidades dessa economia fundada na
cultura dos símbolos: “contextualização e formatação de negócios e oportunidades, reunindo
inovação e impondo critérios de qualidade, são característicos do fazer que orientam a sua
veiculação imagética, acelerando a inovação(RIBEIRO e SILVA, 2004: 364). As questões
da imagem devem ser sempre analisadas como uma política, no mínimo delicada. São
Paulo e sua imagem de cidade empreendedora e agora do entretenimento com seus graves
problemas de estrangulamento da infraestrutura e adversidades ambientais. Rio de Janeiro
com face de metrópole exuberante e tropicalizada, convivendo com uma profusão de
violência urbana. Outros exemplos podem não ser controlados: Hong Kong nos anos 90 se
viu diante de uma queda considerável no número de turistas, sobretudo asiáticos. Essa
queda estava atribuída à imagem da cidade depois de alguns megaeventos e sua
reanexação à China. Hong Kong se tornara mais uma cidade chinesa (TYLER e
GUERRIER, 2003: 315).
Um dos grandes riscos da política turística e da moda é da tematização urbana que pode
induzir à homogeneização da heterogeneidade, ou seja, introduzir uma racionalidade
modernizadora no espaço que alija suas rugosidades introduzindo enredos enxutos e
166
narrativas simbólicas comuns: “Los riegos que esta reducción de las funciones urbanas, y la
consecuent especilización entrañaban, no siempre fueron percibidos de forma crítica por los
gestores de las politicas urbanas. En muchos casos, se ha tratado del comienzo de un
auténtico proceso de 'tematización' de la ciudad por la exportación al territorio urbano de
espacialidades y temporalidades características de los contenedores de ocio y consumo
especializado” (MUÑOZ, 2005: 83). Essas interpretações nos leva também ao seu extremo
na criação de cidades-marcas, no chamado branding urbano: el 'cosmopolitismo
brandificado' y el 'romanticismo de consumo' configuran un auténtico sistema para la
producción de paisajes 'sabrosos' y ' brillantes'. Una secuencia de paisajes urbanales que
sintetizan las imágenes que el turista ya tenía en su mente y por tanto, ya esperaba
ensontrar. Souvenirs del pasado urbano previamente tipificados por los mass-media y por
las tecnologias tematicas por los tour-operadores globales, na auténtica cadena de montaje
de imaginario urbano que funciona a escala panetaria(MUÑOZ, 2005: 90). O turismo como
uma estratégia envolve, então, a expansão incremental no mundo da vida dado pelo
alargamento e aprofundamento dos horizontes de alteridade, que foi apreendido e, em
sentido fenomenológico, sintetizado naquilo que vem "ao alcance", do sujeito, como uma
fundação para a síntese de novas experiências (HARKIN, 1995: 654).
A análise da moda nas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro mostra que suas
transformações refletem desdobramentos da própria mutação metropolitana, espacial, mas
também econômica e cultural, o que a vincula diretamente a uma típica economia cultural.
Esses elos associados mudança são evidenciados quando se analisa, ainda, seus
diferentes circuitos e mercados, desde o têxtil, do vestuário até suas relações com o
universo criativo dos seus diretores de criação, ou designers, ou ainda estilistas, na medida
em que quando a migração de suas bases produtivas acendem na metrópole cenas de
criação que se alimentam do próprio repertório simbólico urbano e de sua condição de
centro de formação, comunicação e cultura, oportunizando os empreendedores culturais.
Em outras palavras, até o decréscimo na produção de algodão e fibras têxteis correspondeu
a uma mudança tecnológica que passou a exigir novos materiais, pela sua tecnologia, ou
mesmo preços mais competitivos.
Outra característica especialmente importante relaciona-se à reestruturação produtiva da
indústria têxtil e do vestuário com desdobramentos diretos da reorganização econômica e
espacial com desdobramentos e ajustes sobre a paisagem e a cultura das metrópoles de
São Paulo e Rio de Janeiro. Em ambos os casos ocorre uma verdadeira relocalização de
plantas fabris, tendo a grande indústria têxtil praticamente toda se mobilizado no espaço e a
do vestuário que se direciona para o interior dos Estados de São Paulo e Rio Janeiro, mas
em conexão estreita com a metrópole que além de importantes centros de consumo, são
167
também de formação, comunicação, comando e reprodução desses segmentos mesmo com
os fortes processo de desconcentração associados em particular às crescentes
deseconomias de aglomeração com formação de novos arranjos produtivos e espaciais, na
órbita metropolitana. Neste sentido são visíveis os conglomerados industriais especializados
em segmentações da indústria do vestuário tanto do Rio, em municípios como Nova
Friburgo, Petrópolis, Campos dos Goytacases, Cabo Frio, dentre outros; bem como nos
municípios paulistas de Americana, Nova Odessa, Santa Bárbara e Sumaré. No entanto, a
metrópole carioca sofre mais os impactos do esvaziamento industrial do setor têxtil e de
confecções em lugares como Bangu e do confinamento das pequenas confecções nos
Bairros da Zona Sul carioca. O mesmo acontece em São Paulo, mas com uma importância
relativa ainda significativa dos bairros do Bom Retiro e Brás e a presença de uma sucessão
quase que étnica entre os grupos que detêm o controle majoritário do setor que transitou
entre judeus e árabe, entre os anos 1950 a 1970; para os asiáticos, especialmente
coreanos, duas décadas depois; e que agora assiste à chegada dos sulamericanos,
sobretudo bolivianos, que de uma invisibilidade evidente na paisagem política e cultural da
metrópole se põem na cena através de suas táticas de sobrevivência e autoreconhecimento.
Estes argumentos permitem elucidar alguns ângulos das complexidades inerentes às
transformações socioespaciais da base da indústria da moda nestas duas metrópoles.
Todavia importante nos campos da moda são as cenas criativas que surgem na metrópole e
a tem como habitat e referência de existência, também de reprodução, ao ponto de
afirmarmos que esse seja o seu grande lastro existencial e fronteira de oportunidades para
várias iniciativas no campo da arte, da moda, da música, da gastronomia, dentre outros. A
idéia é de que a metrópole é repleta de tantas oportunidades socioculturais, inscritas em
dimensões simbólicas, que incessantemente podem incitar a emergência de fartos e
inúmeros repertórios culturais experienciais, configurando-a como uma hipercultura na qual
se manifestam, ou fruem novos criadores e empreendedores culturais. Foi assim no plano
da experiência simbólica das metrópoles, vivenciada em diferentes territórios urbanos que
surgiram cenas nos emblemáticos clubes cariocas e, sobretudo, nos paulistanos que da
criação lúdica e da brincadeira performática, viram nascer a moda brasileira: toda essa
ebulição acontece junto com a febre de desfiles de moda nos clubes, reforçada pela
presença dos promotores do Trio Dance Arte no Columbia. se realizam tanto a primeira
apresentação de Alexandre Herthcovitch quanto bazares e performances fashion de
diversas grifes. A característica desses lançamentos é contar com um casting igualmente
underground, de amigos e não-modelos. Os desfiles acontecem até no alternativo horário do
Hell‟s Club, às seis da manhã, como o da coleção de verão de Anderson Rubbo para a Ad
Libitum (a marca das camisetas do Super-Homem, usadas até por Constanza Pascolato)
(PALOMINO, 1999: 225). Além disso, essas cenografias são extremamente importante pois
168
materializam a atratividade autêntica das metrópoles enquanto espaços da
multiculturalidade e da convivência promíscua da diferença e da alteridade.
Nessas capilaridades da cena metropolitana, por vezes mimeticamente ressignificada aqui
no Brasil, como uma reprodução infinita de modismos e comportamentos trazidos das cenas
européias e americanas é que se aceleram os tempos da vivência e profissionalização de
novos grupos urbanos que vão conformar grande extrato consumidor de novos produtos,
sobretudo do luxo, em São Paulo e Rio de Janeiro. Ou seja, além dos ricos, são os ligados
na cena fashion que se tornam os novos label consumers que ajudam a engordar o
faturamento e a presença de várias grandes marcas de luxo aqui. Novas espacialidades do
luxo são conformadas em territórios, nos Jardins, em São Paulo e na Zona Sul carioca. Mas
são nestas hiperculturas, das quais a metrópole é a grande metáfora, é que flanam os novos
criadores e artistas da moda, a exemplo de Oskar Methsavah, da osklen e seus conceitos
criativos de brasilidade urbana, fundados no Surfing in the city de São Paulo e United
kingdon of Ipanema do Rio de Janeiro.
Atravessando esses repertórios e lançados à própria sorte é que surgem, ou tentam a partir
da luta, novos excluídos nas franjas complexas dos circuitos da moda, e presentes nas
redes migracionais dos sulamericanos, especialmente dos bolivianos, no caso paulistano.
Talvez tenhamos que percorrer nesse curto temporamente, mas profundo espacialmente
tecido hipermoderno que consitui a hipermetrópole como nova arena socioespacial destas
complexidades. Um dos traços mais interessantes da hipermodernidade é a revalorização
do passado: é inegável que, ao celebrar o sempre novo e os gozos do aqui-agora, a
civilização consumista opera continuamente para enfraquecer a memória coletiva,
acelerando o declínio da continuidade e da repetição ancestral. Não obstante, permanece o
fato de que nossa época (da hipermodernidade), longe de encerrar-se num presente
trancado em si mesmo, é palco tanto de um frenesi histórico-patrimonial e comemorativo
quanto de uma investida das identidades nacionais e regionais, étnicas e religiosas
(LIPOVETSKY, 2004: 85). Aqui retornamos ao mote dessas conclusões quando aludíamos à
hipermetrópole a condição e natureza de resgatar e fazer construir uma urbanidade, aliás
outras urbanidades possíveis. Todavia é preciso pensar nos riscos desta afirmação na
medida em que amplos repertórios de urbanidade têm sido usados também como
estratégias urbanas destinadas ao consumo: desde os anos 80, tem ocorrido um rápido
crescimento no uso da urbanidade como uma arma da propaganda, ao mesmo tempo em
que a música e os estilos de vida urbanos ascendem como objetos de consumo. Nos anos
90, grandes empresas de entretenimento aparecem entre as principais investidoras e
promotoras de projetos urbanos importantes destinados a turistas e suburbanitas(SASSEN
e ROOST, 2001: 66).
169
Queremos acreditar em processos legítimos e legitimadores de outras urbanidades
renovadas em que as metrópoles e seus contextos socioespaciais possam ser lidos como
lugares da esperança e da solidariedade, tais quais poderiam ser reafirmados pela
hipermodernidade e experienciados nos seus hiperespaços. Uma espécie de nostalgia
contaminada de ranço esquizóide teima em pairar sobre as reflexões atuais, em formatos
que poderiam, ao contrário, buscar formas de compreensão de faces desse acelerado
turbilhão de tempos e espaços em que a hipermetrópole condensa e condena. Esperamos
ter contribuído um pouco com esta esperança analítica.
170
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São Paulo Turismo S/A (SPTuris). CD-ROM.
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Entrevistas
1. Márcia Paula Migliacci, da RioTur/ Prefeitura do Rio de Janeiro, com o tema A RioTur e a
Promoção Internacional da Cidade do Rio de Janeiro. Entrevista concedida em Julho de
2009, no Rio de Janeiro.
2. Mario La Torre Filho e Luciana Canto, do SPTuris/ Prefeitura de São Paulo, com o tema A
SPTuris, os Números do Turismo em São Paulo a partir do Observatório de Turismo, os
Novos Projetos e a Promoção Internacional de São Paulo. Entrevistas concedidas em Julho
de 2009, em São Paulo.
3. Antonio Luiz Barboza Correia, da Diretoria de Projetos Especiais/ Instituto de Urbanismo Pereira
Passos/ Prefeitura do Rio de Janeiro, com o tema Os Projetos para a Área Central o Projeto
de Revitalização da Área Portuária do Rio de Janeiro. Entrevista concedida em Julho de
2009, no Rio de Janeiro.
4. Pedro Sales, do SEMPLA/ Prefeitura de São Paulo, com o tema Centralidades Urbanas e
Novos Projetos na Metrópole Paulistana. Entrevista concedida em Setembro/ 2009, em São
Paulo.
5. Vladir Bartalini, da EMURB/ Prefeitura de São Paulo, com o tema Centralidades Urbanas e
Novos Projetos na Metrópole Paulistana. Entrevista concedida em Setembro de 2009, em São
Paulo.
6. Roberto Chabad com o tema Evolução da Localização Geográfica da Indústria da
Confecção em São Paulo e Rio de Janeiro e suas relações com a Moda. Entrevista
concedida em Janeiro de 2010, em São Paulo.
7. Oskar Metsavaht com o tema A Osklen e suas Relações Criativas com as Metrópoles do Rio
de Janeiro (United Kingdon of Ipanema) e São Paulo (Surfing in the City). Entrevista
concedida em Agosto de 2009, em São Paulo.
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