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Schopenhauer
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. Também reafirmamos que nossa meta não é discutir o panteísmo, pois isso
exigiria de nós uma outra pesquisa, com outro recorte. Não é o caso.
E, voltando à religião que detectamos em Nietzsche, não podemos deixar de
especificar mais o "eterno retorno do mesmo" e o "amor fati". O que retorna é o mesmo como
diferença. Parece contraditório, mas não é. O antes e o depois são sempre o agora
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. Quem
seria capaz, então, de amar esse destino, essa vida como ela é e para sempre: luta entre forças,
pluralidade, devir? Nossa tese diz que somente um novo tipo religioso teria a qualidade
explícita no texto e não enxergaria a vida como peso, como sofrimento. Para nós, é o
transvalorado ou o "super-homem", ou ainda, aquele que chegou ao máximo do amor: "amor
fati". Com isso, inclusive, Nietzsche consegue chegar ao ápice do distanciamento em relação a
Schopenhauer, para o qual "viver é sofrer”
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Aqui, apenas pontuaremos uma diferença entre o panteísmo e o pantelismo
schopenhaueriano, para vermos que Nietzsche não se encaixa em nenhum dos dois. Bem,
representação não remonta ao mundo como Deus. Já no panteísmo, o mundo não representa
Deus, ele é Deus e vice-versa. Mas,, se, por outro lado, existe uma teofania (de acordo com a
nota anterior): não seria esta uma representação? Para Schopenhauer, a vontade vê-se a si
mesma, mas "nega aquilo que afirma" (Cf. Artur Schopenhauer. O mundo como vontade e
representação, p. 219). Por que isso acontece? Porque a inteligência, a razão, ganha
autonomia sobre a vontade e, sendo assim, muda a natureza da vontade. Isso é possível
somente no homem, que é um privilegiado (Cf. Ibid.. p. 221V Desse modo, o fenómeno
distancia-se daquilo que representa e aquela vontade absoluta não se reconhece mais, até
porque pode ser negada. Contudo, "o caráter não pode nunca, é verdade, modificar-se nos
pormenores" (Cf. Ibid., p. 220). Somente, pois, quando a inteligência reconhece a vontade
absoluta, é que suspeita de seu livre-arbítrio. Porém passa a acreditar numa "conversão da
vontade" (Cf. íbid., p. 220). O cristianismo faz assim... Mas está errado. No fim, tudo o que o
homem conseguiu foi eliminar a representação da vontade e não a própria. Disto feito, temos
que não há teofenia em Schopenhauer, como pode haver no panteísmo. O fenómeno é pura
ilusão e jamais reconhecerá a essência sem exterminar-se (essa, inclusive, é a situação
humana). Essa essência é cega, mas prevalece. Na verdade, o que chamamos de nada é o que
existe e o que "existe" é o nada "real" (Cf. Ibid., p. 231). O que são os fenómenos? Vontade
objetivada ou o "querer viver" objetivado. O mundo é, essencialmente, vontade (pantelismo) e
não a sua objetividade (panteísmo). Eis a metafísica da vontade em Schopenhauer.
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Reportarão-nos a ideia do círculo no filósofo. Nele não há espiral. O eterno retomo é do mesmo, com todas as
diferenças que contém. Obs.: o grifo é para destacar o "círculo". E poderíamos parafrasear o poeta: "Onde
vamos? Não me perguntes! Sobe e desce. Não existe começo, não existe fim. O que existe é o momento, cheio
de amargor e de doçura, e eu o desfruto por inteiro". In: Nikos KAZANTZÁKIS. Ascese: os salvadores de Deus,
p. 57. Quem amaria o agora?
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Longe também está do pantelismo schopenhaueriano, que afirma a vontade como sendo tudo. Se Nietzsche o
tomou como referência no início, como já vimos, depois distanciou-se dele e criticou-o, apontando que nele há
uma metafísica da vontade. Schopenhauer oferece margem para outras existências, outros mundos.