Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE
PRESBITERIANA
MACKENZIE
Silvania Maria Portela Silva
Imigração Coreana e Protestantismo no Brasil
Diálogo entre identidade religiosa e identidade etnica
São Paulo
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 2
Silvania Maria Portela Silva
Imigração Coreana e Protestantismo no Brasil
Diálogo entre identidade religiosa e identidade étnica
Dissertação apresentada à Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre
em Ciências da Religião.
Orientador Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira
São Paulo
2009
ads:
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 3
Silvania Maria Portela Silva
Imigração Coreana e Protestantismo no Brasil
Diálogo entre identidade religiosa e identidade étnica
Dissertação apresentada à
Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre
em Ciências da Religião.
Aprovada em _______/_______/________
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Ricardo Bitun
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Renato da Silva Queiroz
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 4
Universidade de São Paulo
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 5
Ao meu esposo, Izaias, alguém
que compartilhou comigo a
realização deste sonho.
Aos meus filhos Gabriel, Daniel
e a pequena Rachel. Três
forças inabaláveis.
Por último, mais não menos
importante, a Deus, para quem
sempre nos voltamos quando
queremos achar as Palavras de
Vida.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 6
AGRADECIMENTOS
Um trabalho da magnitude desta dissertação não pode ser creditado a uma pessoa
somente. Sendo assim, gostaria de render meus sinceros agradecimentos a algumas
pessoas que participaram direta ou indiretamente desta pesquisa e desenvolvimento. São
elas:
Ao meu orientador, Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira, que me auxiliou nos
momentos mais difíceis deste trabalho, dando sempre o norte para que a dissertação
sempre mantivesse a sua relevância para a comunidade;
Aos professores que fizeram parte desta Banca: Prof. Dr. Renato da Silva Queiroz
que com muita prestatividade aceitou o convite de fazer parte deste debate, trazendo
sua contribuição para a finalização do mesmo; ao Prof. Dr. Ricardo Bitun, que através
dos comentários auxiliou na construção desta pesquisa.
À Prof
a
Eun Yung Park, por ter sido minha primeira inspiradora para começar a
desenvolver este trabalho, mesmo eu não tendo nenhuma ascendência coreana me
mostrou os caminhos iniciais desta pesquisa.
À prof
a
. Dra Márcia De Liberal, por estar presente através dos seus conhecimentos no
campo sociológico.
À minha mãe, Silvia Rufino dos Santos, que deixou o clima agradável e aconchegante
de Recife para estar comigo no final da dissertação, e garantir uma ordenação mínima
da casa e da família;
Ao Sr. Chin Hae Kim, presbítero da Igreja Presbiteriana Unida Coreana de São Paulo,
que atuou como um registro vivo da história desta igreja e me atendeu muitas vezes
para esclarecer dúvidas e demonstrou porque os coreanos são conhecidos como um
povo extremamente cordial e afável;
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 7
Ao Pr. Marcos W. P. Hong, que com sua visão abrangente, seu espírito de serviço e
sua prestatividade ajudou grandemente a enriquecer o relato da vida dos coreanos em
São Paulo com vívidas e marcantes ilustrações;
À Missionária Rebeca (Sung Sun Won), pelo seu apoio e dedicação em compartilhar
comigo suas impressões e direções que me ajudaram a nortear este trabalho;
Ao Pr. André H. Chung, diretor do Seminário Teológico Sul-Brasileiro, pela sua
prestatividade em discutir as experiências dos coreanos que chegaram ao Brasil.
À Ester Yuon, secretária do Seminário Teológico Sul-Brasileiro que teve muita
paciência e disposição para me auxiliar na tradução de vários textos de apoio ao
trabalho desenvolvido;
À minha cunhada Magna do Carmo, que deu do seu tempo para fazer as correções
necessárias.
À direção do colégio polilogos, na pessoa da Sr
a
Maria Teresa, que possibilitou a
coleta de dados junto aos alunos deste estabelecimento, dados estes que nos
auxiliaram a um melhor entendimento de como as gerações mais novas encaram o
processo de aculturação na realidade brasileira;
À Fernanda Ramos e Keyla Teodoro que me auxiliaram incontáveis vezes ficando de
“baby sitter” com meus filhos, para que eu pudesse atender às aulas noturnas no
Mackenzie;
À Danielli Alves e Silvia Mendonça, pelo despreendimento e apoio logístico levando
e trazendo os filhos delas (e os meus também) para que eu pudesse me concentrar nas
aulas do mestrado
Agradeço à CAPES pelo suporte financeiro durante o mestrado.
Esta pesquisa contou com o apoio do MACPESQUISA.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 8
RESUMO
Na cidade de São Paulo, encontramos uma população coreana de aproximadamente
40 mil imigrantes, sendo considerada a maior concentração deste grupo humano em
território nacional
1
. Esta imigração ocorreu de maneira concentrada, num intervalo de
tempo menor que 50 anos, entre a década de 60 e os dias atuais. Uma característica
peculiar desta imigração foi o rápido crescimento econômico. Outro aspecto a ser
observado é a considerável presença de protestantes na comunidade coreana. Os
coreanos que vivem em São Paulo organizaram em menos de 50 anos 71 templos
evangélicos, porém somente um templo budista, apesar da tradição confucionista
deste povo, e uma igreja católica no centro da cidade. Estes números apresentam,
inicialmente, uma tendência religiosa protestante dentro da colônia. Esta pesquisa
analisará o papel das redes sociais protestantes na cidade de São Paulo face à
imigração coreana a partir dos anos 60. Vamos averiguar se e qual o suporte que estas
redes sociais protestantes forneceram aos recém-chegados, incluindo os fluxos
migratórios clandestinos, que no caso coreano representou um índice elevado
2
, e qual
a influência estes fluxos tiveram nos casos de sucesso de adaptação deste povo à
realidade de São Paulo.
Palavras-Chave: Protestante, coreano, imigração, redes sociais.
1
Projeto Caixa Populi
2
Freitas, p. 146. Eles usaram, principalmente, a rota de entrada via Bolívia e Paraguai.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 9
ABSTRACT
In São Paulo city, the Korean population is nearly 40 thousand people, being
considered the largest concentration of this human group in Brazil. This immigration
happened in a very concentrated way, in a time interval smaller than 50 years,
between the sixties and current days. A very peculiar characteristic of this
phenomenon was the quick economical growth. Another is the considerable number
of Protestants among the Korean community in São Paulo. In less than 50 years,
Korean were able to establish around 71 protestant churches, but only one Buddhist
temple (despite of the confucionist tradition of these people) and only one catholic
church in Sao Paulo. These numbers present an undoubting religious heritage in the
colony. This research will analyze the role of the protestant social networks in São
Paulo city and their relations with the Korean immigration from the sixties and on.
The dissertation analyzes whether or not (and how) the protestant social networks
favored the new-comers, including the non-legal immigrants what was quite relevant
in the Korean case; and also investigates the influence these networks had in the
adaptation process of the immigrants to Sao Paulo city reality.
Key Words: Protestant, Korean, immigration, social networks.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Coreia do Norte e Coreia do Sul (Arte e Folha Online)_________________________________ 26
Figura 2 – Crescimento da Igreja Católica no período 1866 a 1943 (Fonte: Kim p 399) _______________ 36
Figura 3 – Percentuais de participação por religião na Coreia. População 48.294.000 (1986) _________ 40
Figura 4 – restrição a estrangeiros (2002/2003) _____________________________________________ 46
Figura 5- percentual de estrangeiros na Coreia do Sul _________________________________________ 47
Figura 6 - Coreanos (1988) ao redor do mundo (Fonte: Negawa) ________________________________ 49
Figura 7 – Embarque do primeiro grupo de imigrantes coreanos para o Brasil, Pusan (Coreia), 18. Dez.
1962 - Acervo: Memorial do Imigrante _____________________________________________________ 52
Figura 8 - Embarque do grupo de 14 negociadores da Associação Cultural Coreia-Brasil no aeroporto.
Kimpo (Coreia), 25. Dez.1961.OBS.:A comitiva veio ao Brasil acertar os detalhes da imigração
coreana.Acervo: Memorial do Imigrante ___________________________________________________ 56
Figura 9 – Construção da Residência-padrão na Fazenda Bonsucesso para imigrantes coreanos, no interior
do Estado de São Paulo, C. 1962 - Acervo: Memorial do Imigrante _______________________________ 65
Figura 10 – Casamento coreano __________________________________________________________ 80
Figura 11 – Grupos de relacionamento prioritários na Escola Polilogos ___________________________ 90
Figura 12- Idioma respondido nos questionários _____________________________________________ 91
Figura 13 - Percentual de jovens (na Coreia e no Brasil) que entram na universidade ________________ 92
Figura 14 – Grau de importância de cada grupo humano (a média de cada grupo pode variar de 0 a 100%)
para os alunos da Escola Polilogos ________________________________________________________ 94
Figura 15 – Perfil religioso dos estudantes da Escola Polilogos __________________________________ 94
Figura 16 – Números da imigração coreana no Brasil _________________________________________ 97
Figura 17 - Primeira missa da igreja Católica para fiéis coreanos do Brasil, rezada por padre japonês, São
Paulo (SP), 1965. Acervo: Memorial do Imigrante ____________________________________________ 98
Figura 18 – Conhecimento de personagens da igreja reformada _______________________________ 104
Figura 19 – Distribuição das igrejas coreanas por bairro ______________________________________ 105
Figura 20 - Primeiro congresso coreano no Brasil, realizado na igreja, atrás da antiga rodoviária da Praça
Júlio Prestes, São Paulo, (SP), 1963. OBS.: ao centro, Don Jin Raak, primeiro embaixador coreano no Brasil.
Acervo: Memorial do Imigrante _________________________________________________________ 112
Figura 21 – Língua de resposta dos questionários na Igreja ___________________________________ 113
Figura 22 – Gênero dos participantes da pesquisa na Igreja __________________________________ 113
Figura 23 – Faixa etária dos entrevistados na Igreja _________________________________________ 113
Figura 24 – Estado civil dos entrevistados na Igreja _________________________________________ 114
Figura 25 – Composição da família dos entrevistados na Igreja ________________________________ 114
Figura 26 – Tempo de moradia no Brasil dos entrevistados na Igreja ____________________________ 114
Figura 27- Pop urbana e Rural na Coreia do Sul _____________________________________________ 146
Figura 28- população em seul e outras cidades da Coreia _____________________________________ 146
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 11
LISTA DE SIGLAS
CUT- Central Única dos Trabalhadores
CGT- Central Geral dos Trabalhadores
ONG-Organização Não Governamental
ABC- Associação Brasileira de Coreanos
ECLESIOCOM -2º colóquio de comunicação eclesional
IPUCSP- Igreja Presbiteriana Unida Coreana de São Paulo
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Budismo em números na Coreia do Sul (hoje) _______________________________________ 33
Tabela 2 – Dados estatísticos sobre crescimento da igreja católica no período 1866 a 1943 (Fonte: Kim p
399)_________________________________________________________________________________ 35
Tabela 3 – Dados estatísticos (Fonte: Kim p 399) ____________________________________________ 39
Tabela 4 – Igreja Presbiteriana na Coreia (2000) ____________________________________________ 40
Tabela 5 - As religiões na Coreia do Sul _____________________________________________________ 43
Tabela 6 – Principais datas da imigração coreana no Brasil ____________________________________ 45
Tabela 7 – Censo da Coreia de 1985 – Informações relevantes _________________________________ 46
Tabela 8 - Preços de terra, por alqueires, Choi p.227v _________________________________________ 54
Tabela 9 - Despesa de viagem (Coreia- Brasil) de um imigrante coreano __________________________ 57
Tabela 10 - terras de cultivo por família (Fonte: Choi, p. 227v) __________________________________ 76
Tabela 11 – Classificação das gerações de imigrantes Coreanos para o Brasil ______________________ 89
Tabela 12 - Novas religiões japonesas na região de São Paulo(Fonte:Shoji,2004) __________________ 101
Tabela 13 - Religiões na comunidade coreana em São Paulo __________________________________ 102
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 13
Sumário
Introdução
............................................................................................................... 15
CAPÍTULO I –História e protestantismo na Coreia............................................
21
1. Origem da Coreia................................................................................................. 21
2. contato com Ocidente........................................................................................... 22
3. Coreia do Sul e do Norte................................................................................... 24
4. História Recente................................................................................................ 26
5. Quinta república Coreana................................................................................. 27
6. A religião na Coreia......................................................................................... 29
6.1 Xamanismo...................................................................................................... 30
6.2 Budismo........................................................................................................... 31
6.3 Confucionismo................................................................................................. 33
6.4 Catolicismo....................................................................................................... 34
6.5 Protestantismo na Coreia................................................................................... 35
7. Razões para expansão do protestantismo na Coreia............................................ 40
CAPÍTULO II - Coreanos no Brasil.....................................................................
43
1. Relaçoes diplomáticas Brasil-Coreia.................................................................. 43
2. Imigração Coreana no Brasil............................................................................ 46
2.1 Perfil do Imigrante ........................................................................................... 47
2.2 Tipos de Imigração............................................................................................ 49
2.3 Causas da Imigração............................................................................................ 50
3. Movimentos migratórios coreanos no Brasil..................................................... 54
4. Outros movimentos migratórios coreanos recentes........................................... 60
4.1 Clandestinos..................................................................................................... 60
4.2 Rotas de Entrada............................................................................................... 62
4.3 Iniciativas de combate a clandestinidade........................................................... 62
5. Fixando residência em São Paulo........................................................................ 64
6. Rápido crescimento econômico......................................................................... 65
7. As organizações coreanas................................................................................. 69
CAPÍTULO III - Imigração e Redes Sociais........................................................
71
1. Migração e imigração....................................................................................... 71
2. Redes Sociais.................................................................................................... 76
2.1 Integração de diversidade................................................................................. 76
2.2 Colaboração solidária........................................................................................ 77
2.2.1
Casamento coreano: um exemplo de colaboração solidária............................. 78
2.3 Questões políticas dentro da rede.................................................................... 80
2.4 Sociedade atomizada....................................................................................... 81
2.5 Característica das redes coreanas.................................................................... 82
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 14
2.6 As redes sociais no Brasil.................................................................................. 85
2.7 Redes sociais coreanas...................................................................................... 86
2.7.1
Redes de parentesco na comunidade coreana.................................................. 87
2.7.2
Redes relacionais: o jovem coreano................................................................ 88
CAPÍTULO IV - As Redes e as Igrejas..............................................................
94
1. Imigração Coreana e as redes sociais................................................................
94
2. As redes religiosas japonesas e chinesas.......................................................... 97
A) Campo social.....................................................................................................
97
B) Campo religioso................................................................................................ 99
3. As redes religiosas coreanas........................................................................... 101
4. A comunidade eclesiástica como uma rede social........................................... 106
4.1 A igreja local................................................................................................... 106
4.2 Igreja social ................................................................................................... 108
4.3 A igreja e o apoio aos imigrantes coreanos..................................................... 109
4.4 A igreja primordial.......................................................................................... 109
A) Exemplo de rede social: as fazendas.................................................................
114
B) Exemplo de rede social: grupo de senhoras..................................................... 114
Conclusão
............................................................................................................... 116
Bibliografia
............................................................................................................... 123
Anexo I
-
Questionário para Igreja............................................................................. 128
Anexo II
-
Questionário coreano para Igreja..............................................................
130
Anexo III
-
Questionário para a Escola....................................................................
131
Anexo IV
-
Questionário coreano para Escola...........................................................
133
Anexo V
-
Questionário - roteiro para depoimento oral..............................................
135
Anexo VI
-
Questionário para líderes da igreja.........................................................
136
Anexo VII
Organograma da Igreja Presbiteriana Unida Coreana em São Paulo.....
137
Anexo VIII
Lista de Igrejas coreanas em São Paulo..............................................
139
Anexo IX
Mídia japonesa, chinesa e coreana em São Paulo....................................
141
Anexo X
Associações coreanas em São Paulo.......................................................
142
Anexo XI
Quadro sinótico das entrevistas de campo.............................................
143
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 15
Anexo XII
Dados gerais da Coreia do Sul..............................................................
144
Anexo XIII
Estatísticas de população da Coréia do Sul........................................
145
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 16
Introdução
“A imigração coreana no Brasil é um tema
de estudo bem atual e pouco explorado,
apesar de contarmos com 45 anos de
história dessa imigração. Talvez esse
interesse tardio se deva porque o mundo
também começou a notar a Coreia
apenas 20 anos, ou seja, após os Jogos
Olímpicos de 1988.”(Park)
O desenvolvimento econômico da Coreia do Sul e sua reaproximação à Coreia comunista
tem sido alvo de muitos debates na mídia internacional. Dentro da realidade brasileira
esta comunidade também tem tido uma influência econômica acima da sua quantidade de
membros, especialmente na cidade de São Paulo. Entender os processos religiosos que
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 17
aconteceram na Coreia se faz necessário para analisar o fenômeno da imigração coreana
no mundo e sua relação com a cristã reformada. Apesar de ter tido sua origem ligada a
religiões orientais, este país apresenta, atualmente, um elevado índice de protestantes.
São 44 milhões de habitantes
3
e mais de 10 milhões de protestantes, um número que vem
crescendo a cada ano.
É importante ressaltar ao leitor que um estudo histórico completo e abrangente sobre
todos os períodos da Coreia está fora do escopo deste trabalho. Formas de governo,
legado para a sociedade e, principalmente, seu papel na economia globalizada, são
questões que não serão consideradas neste estudo. Não obstante, o trabalho enfoca
brevemente aspectos políticos, econômicos e religiosos que marcaram o pensamento da
Terra da Manhã Calma”, como é conhecida. As correntes de imigração tradicionais
brasileiras, tais como: dos portugueses, italianos, alemães, japoneses e chineses m
sido alvo de estudos aprofundados sobre as condições de chegada, motivação sócio-
política e econômica, bem como o processo de fusão destas comunidades com os grupos
brasileiros.
Esta dissertação também propõe apresentar alguns dados sobre o avanço das igrejas
protestantes coreanas em São Paulo. Para compor este quadro será dado uma ênfase
simplificada sobre a realidade da Igreja Presbiteriana Unida Coreana, que fica no bairro
da Liberdade. Esta pesquisa usará dados tirados a partir de questionários, entrevistas e
pesquisa de campo feitos nessa igreja. Este espaço foi escolhido por se tratar da primeira
igreja coreana fundada em São Paulo. Outro espaço a ser considerado, dentro das fontes
primárias, foi a Escola Polilogos, localizada no centro da cidade de São Paulo. Ali foi
feito questionários com alunos do ensino fundamental e médio para estreitar as
informações dentro da comunidade.
A abordagem desta pesquisa será conduzida baseando-se na formação de redes sociais
dentro da instituição religiosa. A formação de rede social apresenta várias motivações,
tais como política, social, econômica e até religiosa. Seu objetivo é promover a inter
relação entre os imigrantes, contribuindo para um estilo de vida digno. Dentro da igreja
3
Nahan, 1994
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 18
protestante coreana, as redes sociais foram um importante indício aglutinador para o
imigrante sendo ele legal ou ilegal. As atividades desenvolvidas pela instituição religiosa
nesta expressão da afirmação do coreano em solo paulista merecerá uma atenção mais
detalhada.
No período de quase meio século de presença coreana em solo brasileiro, as igrejas
protestantes tiveram um papel fundamental na formação de redes sociais (social
networks). Além de ter sido um canal de adaptação social, estas redes sociais permitiram
uma estabilização financeira relativamente rápida dos coreanos no país, segundo Truzzi :
“Dois mecanismos aparecem como fundamentais à compreensão da rápida mobilidade econômico-social
experimentada pelos coreanos em São Paulo: o engajamento da família no trabalho e a capacidade de
articular redes internas à colônia para facilitar a inserção na nova pátria. Eles foram capazes de, em
pouco tempo, se auto-sustentarem no ramo de confecções, superando grupos humanos tradicionais neste
setor, como os judeus”
4
.
Esta estabilidade não se limitou a área econômica, mas ultrapassou as fronteiras até
alcançar o campo religioso. As igrejas passaram a ser locais de encontro daqueles que
compartilham os mesmos laços culturais e que proporcionam sentimento de
pertencimento. É também nas igrejas que os coreanos que vivem no Brasil fazem
contatos de negócios e constroem novos alicerces afetivos, passando a substituir os
alicerces familiares deixados na Coreia do Sul. A importância dessas igrejas também é
ressaltada quando analisamos os números de templos estabelecidos nesses 45 anos. São
cerca de 71 templos evangélicos, em comparação com apenas uma igreja católica
instalada na região do bairro do Bom Retiro e um templo budista.
5
Também será considerada a relação com outros grupos “irmãos”, como os japoneses e
chineses. Essa contribuição será feita superficialmente, só trazendo alguns pontos de
diferença entre estas etnias.
A escolha do tema desta dissertação foi motivada pela observação de alguns fatores:
4
Oswaldo Truzzi
5
Freitas, p. 152
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 19
a) Grande concentração da presença Protestante entre os coreanos no Estado de São
Paulo.
b) Possibilidade de enriquecer os poucos estudos sobre a imigração coreana na cidade de
São Paulo e destacar a singularidade do movimento migratório coreano.
O presente trabalho está dividido como segue: o primeiro capítulo apresenta dados
históricos sobre a religiosidade na Coreia, enfatizando algumas características das
principais religiões (Xamanismo, Budismo, Confucionismo, Catolicismo e
Protestantismo). Este capítulo ainda ressalta o movimento missionário e a origem do
protestantismo na Coreia.
O capítulo II retrata a imigração coreana no Brasil, fazendo uma reconstituição histórica
de chegada destes coreanos em território nacional.
O capítulo seguinte aborda os conceitos de rede social e o significado das imigrações.
Para finalizar será apresentada, no Capítulo IV, a realidade das redes sociais ou de
movimentos e a contribuição das igrejas na adaptação dos imigrantes coreanos.
Cabe aqui observar que o presente estudo, ao ser contextualizado na imigração coreana,
enquadra-se em larga medida no projeto Etnia e Religiosidade, coordenado pelo professor
João Baptista Borges Pereira
6.
Esse projeto já contempla sete dissertações finalizadas.
a) A primeira dissertação analisa a presença significativa de protestantes negros em uma
congregação Presbiteriana do Norte do Paraná
7
.
b) A segunda discorre sobre a identidade étnica e religiosa e o pluralismo religioso numa
comunidade italiana, Pedrinhas, no interior de São Paulo
8
.
6
Dr. João Baptista Borges Pereira é antropólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e
ciências Humanas da USP e professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
7
Trigueiro Neto, José Martins- Alvorada: negros e brancos numa congregação Presbiteriana de
Londrina- Estudo de caso” . Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2004.
8
Gouveia, Marivaldo. Terra Nostra em Mudança: Identidade étnica, identidade religiosa e pluralismo
religioso numa comunidade italiana, Pedrinhas, no interior paulista”. Dissertação de Mestrado da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2005.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 20
c) A terceira se refere ao trabalho missionário dos protestantes coreanos na cidade de
Cumbica
9
.
d) A quarta enfoca a presença dos imigrantes italianos na fundação da Congregação
Cristã no Brasil, no bairro do Brás, na cidade de São Paulo
10
.
e) A quinta dissertação orientada pelo professor Antônio Gouvêa de Mendonça, enfoca
o trabalho missionário protestante entre os índios Guarani, Kaiowá e Terenas, na
Missão Caiuá , em Mato Grosso do Sul
11
.
f) A sexta pesquisa focaliza as relações entre a imigração alemã e o movimento
messiânico Mucker
12
.
g) E a última pesquisa retrata a Igreja Reformada Húngara
13
.
Além dessas dissertações citadas acima e concluídas, outro grupo de pesquisadores
com estudos em andamento como o estudo sobre a Igreja Ortodoxa Russa na cidade de
São Paulo
14
. Outra pesquisa focaliza os Mórmons e a imigração alemã em Santa
Catarina
15
. Em andamento, ainda tem uma pesquisa sendo feita na cidade de Castrolânda
(Paraná)
16
. Ainda existe o trabalho sobre missionário sul coreano na cidade de Jandira·.
Ainda outro estudo investigativo, retrata a condição do homem dentro da APAC
17
.
Dentro desse projeto de Etnia e Religiosidade cabe um estudo sendo realizado sobre a
9
Araújo, Edson Isaac Santos- Os Missionários protestantes coreanos na periferia da grande São Paulo-
(Cumbica)- Estudo de Caso”. Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2005.
10
Bianco,Gloecir. Um veu sobre a imigração italiana no Brasil” . Dissertação de Mestrado da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2004.
11
Nascimento, Jonas Furtado do. “Missão Caiuá: um estudo da ação missionária protestante entre os índios
Guarani, Kaiowá e Terena” . Dissertação de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2005.
12
Luchesi, Heloisa Mara. Módulo delírios religiosos e estruturação psíquica: o caso jacobina Mentz
Maurer e o episódio Mucker- uma reeleitura fundamentada na psicologia analítica. Dissertação de
Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2006.
13
Lucena, Simone. Igreja Reformada Húngara
14
Loiacono, Maurício. “ Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Russa no Exílio”.
15
Lima, Rubens. “Os Mormons e a colonização alemã em Santa Catarina”.
16
Lucena Wilson.
17
Lira Júnior, José do Nascimento. "'Matar o Criminoso e Salvar o Homem' o papel da religião na
recuperação do penitenciário (Um estudo de caso da APAC - Associação de Amparo e Assistência ao
Condenado- em Itaúna-MG)".
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 21
Igreja Árabe
18
e por fim, tem-se a pesquisa sobre o luteranismo e os pomeranos no Estado
do Espírito Santo
19
.
18
Delage, Paulo. Igreja Evangélica árabe de São Paulo: Inserção, estruturação e expansão na adversidade-
diversidade cultural da cidade de São Paulo. Um estudo de caso.
19
Cunha, Gladson Pereira da. Pomerano e Luterano: com muita honra! Um estudo de caso da reciprocidade
entre a identidade étnica pomerana e o luteranismo de imigração em Santa Maria de Jetibá no interior
capixaba.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 22
Capítulo I
História e Protestantismo na Coreia
Neste capítulo tem-se um olhar mais próximo do fenômeno religioso característico da
Coreia, onde o interesse por missões se alastrou em vários países, inclusive no Brasil.
Serão trazidos alguns dados sobre a tradição religiosa coreana e o crescimento do
protestantismo desde sua origem. Deve-se se ter um cuidado a mais quando for
mencionado o termo Coreia. A preferência será dada ao uso dos termos Coreia do Sul ou
Coreia do Norte e Coreia quando se referir ao país unificado.
1 Origem da Coreia
A República da Coreia, hoje também chamada Coreia do Sul, situa-se na parte meridional
da península, numa posição estratégica entre a China e o Japão. Ocupa uma superfície de
99.237km2. Devido a influências continentais, o clima é desigual, com invernos frios e
verões quentes. Essas oscilações são mais acentuadas no norte e no centro que no sul do
país. Os ancestrais do povo coreano migraram das geladas terras da Sibéria e Manchúria
em busca de terras um pouco mais quentes. Foi através desse livre desejo de ter cruzado
as vastas planícies que serão forjadas um país onde a liberdade fará parte da sua história.
O nome Coreia tem raiz da palavra Koryo ou Goryeo, que significa alto e belo. A
Dinastia Goryeo, comandada pelo general Wang Geon, foi responsável pelo governo da
Península Coreana no período de 918 a 1392. Essa dinastia não teve êxito em recuperar
territórios perdidos, mas estabeleceu uma cultura sofisticada representada por cheongja, a
cerâmica verde-azulada e pela tradição budista. Durante a Dinastia Yi (1392-1910) o
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 23
nome dado ao território foi de Chosen, que significa terra da manhã serena. Com a
anexação do Japão, em 1910, a Coreia voltou a ser chamada de Chosen. Na atualidade a
República democrática da Coreia (sul) usa o nome oficial de Daehan. A República da
Coreia (norte) mantém Chosen.
As antigas tradições contam de uma Coreia onde os deuses sonharam em viver na terra.
Foi Tan-gun quem fundou a nação. Seu pai, Hwanung, um deus que morava nos céus,
decidiu morar na terra e casou com uma mulher, que outrora fora um urso. Dessa união
surge Tan-gun. Esta tradição aponta para uma forte relação do povo coreano com o lugar
onde vive. Não é um lugar de exílio ou penitência, mas um lugar tão prazeroso que até os
animais e os deuses desejam habitar. Por isso, para o povo coreano, é extremamente
importante o lugar de origem, a terra onde vive.
Os coreanos têm como característica ser um povo que usa da cortesia com outros. É uma
nação pacífica que, ao longo da história, nunca invadiu seus vizinhos (Handbook p.121) e
eram conhecidos pelos vizinhos orientais como um povo “cortês”.
2 Contato com o Ocidente
Antes de 1894, os Ocidentais impactaram a Coreia com idéias a ações. Foi o caso de
Hideyoshi, trazendo armas de fogo para conquista da terra; navios holandeses aportando
no continente coreano com instrumentos ocidentais; padres católicos abrindo os olhos do
povo coreano para novos desafios; e muitos outros forasteiros trazendo toda a sorte de
idéias ocidentais.
No ano de 1894 acontecem reformas na estrutura feudal da Coreia com as chamadas
“Kabo Reformas”. Tais mudanças conseguiram afetar a sociedade através da política
modernizadora. Com a pressão japonesa para explorar as riquezas naturais, os
estrangeiros invadiram a Coreia trazendo investimentos e idéias que mudaram o
feudalismo.
O Confucionismo dividiu-se em duas escolas: a escola positiva, onde quem fazia parte
eram as admiradoras da cultura chinesa, contrária as invasões estrangeiras, tentando
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 24
preservar a própria cultura especialmente opondo-se as influências militares japonesas.
Outra escola negativa atraia todos que não faziam parte da primeira. O prestígio era dado
a quem estivesse ligado diretamente aos japoneses, o comando político, governamental
encontrava forças dentro dos representantes japoneses. O conflito destas escolas
contribuiu para forjar uma Coreia modernizada. Mesmo diante de um agressivo
capitalismo japonês e da perda da liberdade, a Coreia, enfraquecida dentro de uma
economia feudal interna, se entregou a pressão externa.
Economicamente e espiritualmente, o Reino do Hermit, abriu suas portas ao
ocidentalismo e em 1882 os Estados Unidos chegaram trazendo todo seu “American
Way”.
Neste processo de modernização o povo coreano contou com a ajuda de um livro
intitulado “Soyu Kyonmun (Observations on a Journey to the West) por um coreano
chamado Yu Kil-jun (1856-1915). Neste livro o autor apresenta todas as maravilhas da
sociedade Ocidental, como eles estavam lidando com os benefícios de uma estrutura
comercial forte, ao contrário da Coreia, que apresentava uma profunda pobreza pelo fato
de estar ligada a um mecanismo ultrapassado. Alguns nomes foram importantes nesta
transição de moderno pensamento e no estabelecimento de uma democracia nacional:
Chang Chi-yon
20
(1861-1921), Shin Cha’ae-ho
21
(1880-1963) e Chu Shi-gyong
22
.
Os missionários protestantes chegaram em 1884. Eles também foram responsáveis por
esse despertar nacional. As igrejas formaram palcos, onde pela primeira vez, os coreanos
ouviram sobre democracia e seus direitos. O Clube da Independência foi fundado e
dentro da comunidade protestante surgiram os líderes dos movimentos de independência.
O livro The Spirit of Independence, escrito por Dr. Syngman Rhee, que se tornou o
primeiro presidente da república da Coreia é um bom exemplo.
O movimento de independência não foi o responsável direto pela libertação do país das
mãos japonesas, mas o acordo oriundo da Segunda Guerra Mundial. Apesar deste aspecto
20
Escreveu vários artigos de jornal e livros.
21
Estudante da história coreana foi defensor da independência coreana e morreu nas mãos dos japoneses.
22
Sistematizou a gramática e aproximou a língua coreana, despertando a população, já que o idioma nativo
era abominado e banido pelos japoneses.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 25
o povo coreano não perdeu sua identidade, mas foi ao longo de outras invasões, buscando
a manutenção de suas características e culturas particulares.
3 Coreia do Sul e Coreia do Norte
Durante a Segunda Guerra Mundial os coreanos lutaram ao lado das tropas chinesas
contra o Japão e isso fez com que os aliados aprovassem e apoiassem sua Independência,
a partir de uma resolução firmada na Conferência do Cairo em 1943. No período final da
Guerra, as duas conferências mais importantes, em Yalta e Potsdan, definiram a divisão
da Coreia pelo paralelo 38, em duas zonas de influência: Sob o norte influência soviética
e sob o sul a norte-americana.
Em 1947, formaram-se dois governos, sendo que apenas o do sul foi reconhecido pela
O.N.U. No ano seguinte constituíram-se dois Estados autônomos: A República Popular
Democrática da Coreia (ao norte com o sistema comunista) e a República da Coreia ( ao
sul, com o sistema capitalista).
Depois desta divisão aconteceu um novo conflito, que se iniciou em 25 de julho de 1950,
quando tropas norte-coreanas ultrapassaram o paralelo 38 e dominaram a cidade de Seul.
Dois dias depois os Estados Unidos enviaram suas tropas para defender a Coreia do Sul,
sob o comando do General Douglas Mac Arthur, responsável por reconquistar os
territórios dominados e invadir o Norte, avançando até a fronteira com a China, com o
objetivo de conquistar toda a Coreia do Norte. No entanto, em novembro a China entrou
na guerra, apoiando os nortes coreanos e foi considerada como agressora pela Nações
Unidas; mesmo assim, continuou seu avanço em direção à Seul, ao mesmo tempo em que
os Estados Unidos intensificaram sua presença militar. Em 1952, temendo um novo
conflito mundial, os EUA adotam uma política defensiva, preocupada em preservar a
Coreia do Sul sob sua influência, aceitando a separação do norte; além disso, os gastos
com a guerra e a elevada mortalidade foram determinante para a assinatura de um
armistício em 27 de julho de 1953, suspendendo o conflito, mas não as hostilidades. As
Coreias estavam separadas.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 26
Figura 1 – Coreia do Norte e Coreia do Sul (Arte e Folha Online)
Na Coreia do Norte, o governo comunista manteve a aliança com chineses e russos e
tirou partido dos conflitos que envolveram esses dois países, aumentando sua
autonomia política. No entanto, do ponto de vista econômico, aumentou a dependência
junto à URSS, que tinha condições de abastecer o país com produtos industrializados e
armamentos. O desenvolvimento de uma política militarista e armamentista, inclusive
com um programa nuclear, promoveu a concentração de recursos, a diminuição da
produção agrícola e determinou o empobrecimento da população. No entanto, no início
da década de 70 o analfabetismo estava erradicado e o sistema de saúde estatal atendia
a toda a população.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 27
4 História recente
A segunda república durou apenas nove meses. Nesse período, o Parlamento se
fortaleceu, em contraste com o forte presidencialismo do anterior. Um golpe militar
derrubou o governo em 16 de maio de 1961. A junta que assumiu o poder dissolveu a
Assembléia e proibiu todas as atividades políticas, impôs a lei marcial e criou um
Conselho Supremo de Reconstrução Nacional, presidido pelo general Park Chung-Hee.
Em novembro do ano seguinte, reformas constitucionais deram mais poder ao presidente
e enfraqueceram a Assembléia. As mudanças na constituição foram aprovadas por
plebiscito em dezembro de 1962.
Em março de 1963, Park quis prolongar o governo militar por quatro anos, mas encontrou
grande resistência civil e teve de marcar eleições para o fim do ano. O próprio Park
concorreu como candidato à presidência pelo Partido Democrático Republicano. As
eleições que deram origem à terceira república foram realizadas em 15 de outubro de
1963. Park venceu por pequena margem, obtendo também maioria no Parlamento.
Em outubro de 1969, após graves distúrbios, Park recorreu a um plebiscito para se
reeleger para um terceiro mandato quadrienal. Acabou derrotando a oposição do Novo
Partido Democrata, de Kim Dae-jung, embora esse grupo tivesse ampliado sua
representação no Parlamento. Em dezembro de 1971, Park declarou estado de emergência
nacional, em outubro do ano seguinte dissolveu a Assembléia e suspendeu a constituição.
Em dezembro de 1972, implantou-se um novo regime constitucional que previa a
reeleição indefinida dos presidentes para mandatos de seis anos.
Park adotou um novo sistema político, conhecido como "Yushin", isto é, revitalização e
reforma. Instaurou-se uma Conferência Nacional para a Unificação, organização baseada
na "vontade coletiva do povo", cujo fim era "obter a unificação pacífica da pátria". A
Conferência reunia entre dois mil e cinco mil membros eleitos por um período de seis
anos, tendo como presidente o próprio Park. Este organismo também elegia dois terços da
Assembléia Nacional e aprovava as emendas constitucionais propostas por esta. Em
dezembro de 1978, Park foi reeleito segundo o novo sistema.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 28
Na gestão de Park, a Coreia do Sul logrou um impressionante crescimento econômico,
sobretudo durante o terceiro plano qüinqüenal, entre 1972 e 1976, quando o produto
interno bruto cresceu 11,2% por ano. O volume de exportações sul-coreanas chegou a
dobrar e a indústria de construção obteve contratos no exterior. Esses resultados se
deveram a uma política de diversificação da produção industrial e de modificações nas
estruturas econômicas nacionais. Além disso, adotou-se uma política de distribuição de
renda que garantiu a ordem social.
Park foi assassinado, segundo a versão oficial, em 26 de outubro de 1979, por Kim Jae-
Kyu, diretor da Agência Central de Inteligência da Coreia. Depois da morte de Park, o
primeiro-ministro Choi Kiu-han assumiu a presidência provisória e em dezembro foi
efetivado no cargo. No princípio, tudo indicava que o novo presidente iria liberalizar a
vida política do país. Todavia, o poder logo voltou às mãos dos militares, que em maio de
1980 proibiram as atividades políticas, ampliaram a lei marcial e suprimiram os focos de
resistência civil, como as universidades, que foram fechadas.
5 Quinta República Coreana
Após um período de desordens, em 27 de agosto de 1980 foi eleito presidente provisório
o general Chun Doo Hwan, que prometeu anular a constituição Yushin. Em 27 de
outubro daquele ano, inaugurou-se a quinta república. A nova constituição limitou os
poderes presidenciais em favor da Assembléia e o mandato presidencial ficou reduzido a
um único período de sete anos. Chun foi eleito presidente em fevereiro de 1981.
O Partido Democrático da Justiça, apoiado pelo presidente, tornou-se majoritário na
Assembléia Nacional, ficando na oposição os partidos Democrático e o Socialista
Democrático. O enfraquecimento da economia e a corrupção política provocaram uma
reforma no governo em 1982. Ao mesmo tempo, as relações com a Coreia do Norte, que
haviam melhorado temporariamente com Chun, passaram por uma fase conturbada. Em
1987, pressões internas e externas obrigaram o presidente a submeter a plebiscito um
projeto de lei que democratizava a vida política nacional. Nesse mesmo ano, foram
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 29
realizadas eleições presidenciais, com a vitória do candidato do partido oficial, Roh Tae
Woo, que assumiu o poder em 1988, ano em que Seul foi sede dos jogos olímpicos.
Nos dias 14 e 15 de junho de 2007, os líderes das duas Coreias realizaram um encontro
histórico em Pyongyang, depois de 55 anos de isolamento. O encontro não teve como
objetivo discutir a reunificação, mas questões específicas que interessem aos dois países e
mesmo não produzindo mudanças imediatas, a cúpula por si foi considerada de grande
importância, na medida em que reabre o diálogo entre os governos coreanos do norte e do
sul e dá esperança ao mundo de possível e breve acordo de paz.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 30
6 A Religião na Coreia
A religião oriental funde elementos diversos da filosofia, ciência e cosmogonia. Por ter
esse caráter abrangente em sua própria estrutura de pensar, faz da religião Oriental um
amálgama de tradições, pensamentos, provérbios e princípios de vida que raramente
conferem à religião do sentido comumente utilizado no ocidente, evidente na raiz latina
de palavra religião que significa religação do homem com Deus. O conceito de salvação
nesta cultura era formal e ritualista, comumente cercada de um cerimonial estamental. Os
letrados buscavam, à partir de suas próprias reflexões, o sentido de mundo, sem de
maneira prática (extramundana) desempenhá-la no cotidiano. Dentro da camada média
não letrada houve o acesso à idolatria a santos (hagiolatria) ou a salvadores vivos. Era a
forma de oferecer uma salvação mágica, composta por gurus carismáticos. Como diz
Weber “a submissão ao ‘salvador vivo’ foi o tipo característico da piedade asiática”.
Destacamos as principais religiões que atuaram e atuam na Coreia, pela sua
expressividade na cultura e o papel que desempenhou na modelação do que conhecemos
hoje. Por se tratarem de religiões complexas, daremos apenas as principais características.
Com a formação dos reinos, cada comunidade desenvolveu seu ritual tribal, onde eram
separadas pessoas para a função de mensageiros. Durante o império dos Três Reinos (San
Han tribos), a religiosidade esteve mais presente com a chegada do Taoísmo,
Confucionismo e Budismo. Todas estas religiões oriundas da China. As práticas
religiosas não eram conflitantes entre si, e o sincretismo religioso fazia parte do cotidiano
das pessoas. Com a chegada do cristianismo, este exigia exclusividade total. O taoísmo
passou a ser mais presente durante o enfraquecimento do Budismo. Os templos budistas
foram convertidos ao taoísmo durante Koguryo. Os altos escalões do governo eram
treinados dentro da ética taoísta a ser pacientes, a cultivarem a simplicidade, o
contentamento e a harmonia. Este sincretismo foi uma das causas para o culto não se
tornar independente e alcançar todas as camadas da população.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 31
6.1 Xamanismo
Xamanismo, talvez seja a religião mais antiga da Coreia. Ela ainda é muito influente.
Embora a palavra xamã tenha origem na tribo siberiana dos Tugus, não existe origem
histórica ou geográfica para o xamanismo. Encontrado no mundo todo, ela pode ser
caracterizada pela prática de cura e de busca de bem estar.
O xamanismo trabalha com profundo respeito às forças da natureza, com rituais vividos
por qualquer tipo de pessoa, envolvendo cristais, fogo, água, metal, madeira. É um
conceito de vida que busca no autoconhecimento a chave para o equilíbrio do ser.
O sacerdote do xamanismo é o xamã, que entra em transe durante rituais xamânicos,
manifestando poderes aparentemente sobrenaturais, e invocando espíritos da natureza. A
comunicação com estes aspectos sutis da natureza se processa através de estados
alterados de consciência. Estados esses alcançados através de batidas de tambor, danças e
até ervas enteógenas.
O xamã pode ser homem ou mulher, e sempre na história pessoal desse indivíduo um
desafio, como uma doença física ou mental, que se configura como um chamado, uma
vocação. Depois disto uma longa preparação, um aprendizado sobre plantas
medicinais e outros métodos de cura, e sobre técnicas para atingir o estado alterado de
consciência e formas de se proteger contra o descontrole. O xamã é tido como um
profundo conhecedor da natureza humana, tanto na parte física quanto psíquica. A
interação com espíritos é marca fundamental do Xamanismo. O xaé intermediário
entre as petições do homem e o mundo espiritual. Mi Kim diz que as práticas
xamanísticas, ainda praticadas atualmente na Coreia do Sul, andam juntas com outras
religiões, tais como catolicismo e protestantismo.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 32
6.2 Budismo
Siddhartha Gautama, foi um príncipe que viveu por volta de 563 a.C. até 483 a.C., no
reino de Śākya - que hoje em dia seria parte da fronteira do Nepal com a Índia. Aos 29
anos, decidiu deixar a vida palaciana para viver como um asceta na floresta. Praticou
meditação e severas austeridades por 6 anos até que, aos 35 anos de idade, teve uma
experiência religiosa à qual deu o nome de iluminação. A partir daí passou a ser
conhecido como o Buda . Viveu até os 80 anos de idade, transmitindo seus ensinamentos
e conquistando uma grande legião de discípulos.
Buda expôs as Quatro Nobre Verdades no Dhammacakkapavattana Sutta (Samyutta
Nikaya LVI.11) da seguinte forma:
1. A primeira nobre verdade: tudo é sofrimento; os agregados influenciados pelo
apego são sofrimento.(..)"
2. A segunda nobre verdade: a origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma
renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer
aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo
por não ser/existir.(...)".
3. A terceira nobre verdade: a cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação
sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a
libertação dele, a independência dele.(...)".
4. A quarta nobre verdade: o caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este
Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem
correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta,
concentração correta (...)".
Dentro do contexto coreano, o Budismo foi uma religião de rápida disseminação, com um
número grande de mosteiros espalhados pelo país. Posteriormente o envolvimento em
questões práticas da vida política, fez cair em descrédito e, muitos destes mosteiros,
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 33
foram destruídos. O budismo coreano foi formado a partir de uma mistura de adoração a
ancestrais misturados com xamanismo e adoração à natureza.
A busca pela salvação pessoal através da renúncia dos desejos mundanos através do
estágio do Nirvana. O Budismo entrou na Coreia no IX culo durante o governo dos
Três Reinos. em 668 AC o budismo foi abraçado tornando-se uma religião estatal,
juntamente com o confucionismo. Durante o Reino de Kongmin-wang (Século XIV)
houve um movimento de reação ao budismo devido ao aumento da corrupção e dos
abusos dos monges nos templos. Essa conduta passou a manchar e destruir a moralidade
do país. Outra situação foi o budismo e aqueles que ocupavam cargos do governo. Esta
associação foi vista como uma facção “pro mongol”. A partir de 1392, com a governo do
rei Gen. Yi Song-gye houve uma política de retirada da influência mongol e budista das
esferas do governo.
Apesar deste passado, o budismo teve que se deparar com a oposição dos estudiosos do
confucionismo. Com os acessos dificultados pela localização geográfica, os templos
foram se tornando cada vez mais inacessível e o budismo se tornando uma religião
monástica, e os monges contabilizados como de classe social mais baixa.
Atualmente o Budismo tem o maior número de adeptos no país. São 18 seitas budistas,
5.680 templos com 7,5 milhões de seguidores na Coreia do Sul. A maior seita é a de
Chogyejong. Depois de todo declínio e perseguição, o budismo encontra na atual Coreia
do Sul um lugar de destaque. As razões para isto são as mudanças, onde a conduta dos
monges é valorizada, templos dentro da área urbana, dando acessibilidade a todos,
modernização acompanhando o novo momento da Coreia, transcrição das tábuas de
madeira (Tripitaka Koreana)
23
. O intercâmbio com outros monges estrangeiros e a
abertura de templos ao redor do mundo deu um novo formato a religião.
Budismo
na Coreia
N
c
de seitas N
c
de templos N
c
de Praticantes
18 5680 7,5 milhões
Tabela 1- Budismo em números na Coreia do Sul (hoje)
23
Conjunto de tábuas de Madeira com os escritos budistas. São cerca de 81,258 blocos vindos do Século
XIII.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 34
6.3 Confucionismo
Kung Fuzi, ou Confúcio, como era conhecido foi um filósofo, teórico social e fundador
de um sistema ético, muito bem estruturado, pautado em valores definidos, tais como: o
Ren (Humanismo), Li (Ritual), Zheng (Conduta). Viveu na China feudal, entre 551a 479
a.C. Suas origens eram muito humildes, mas desde jovem mostrou uma grande inclinação
pelo estudo de livros antigos e, com o tempo, desempenhou uma alta posição como
funcionário do estado. Este ensinamento foi deturpado em períodos posterior,
transformando-se até numa religião. Dentro do conjunto ritualista, podemos destacar a
presença da magia. O confucionismo preservava a piedade às pessoas vivas ou mortas e
aos laços familiares.
No Confucionismo não existe um deus criador do mundo, nem uma igreja organizada ou
sacerdotes. O alicerce místico de sua doutrina é a busca do Tao, conceito herdado de
pensadores religiosos anteriores a Confúcio. O tao é a fonte de toda a vida, a harmonia do
mundo. No confucionismo, a base da felicidade dos seres humanos é a família e uma
sociedade harmônica. A família e a sociedade devem ser regidas pelos mesmos
princípios: os governantes precisam ter amor e autoridade como os pais; os súditos
devem cultivar a reverência, a humildade e a obediência de filhos.
Confúcio ensina que o ser humano deve cultuar seus antepassados mortos, de forma a
perpetuar o mesmo respeito e amor que tem por seus pais vivos. De acordo com a
doutrina, o ser humano é composto de quatro dimensões: o eu, a comunidade, a natureza
e o céu - fonte da auto-realização definitiva. As cinco virtudes essenciais do ser humano
são amar o próximo, ser justo, comportar-se adequadamente, conscientizar-se da vontade
do céu, cultivar a sabedoria e a sinceridade desinteressadas. Somente aquele que respeita
o próximo é capaz de desempenhar seus deveres sociais. O único sacrilégio é
desobedecer à regra da piedade.
O objetivo é estabelecer harmonia entre as esferas da família, estado e semelhantes,
regido por um conjunto de regras bem estabelecidas. Praticamente é um sistema de
subordinação. O confucionismo passou a ser, dentro da realidade coreana, uma filosofia,
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 35
um sistema de educação, cerimônia e administração civil, é o jeito de pensar e agir dos
coreanos. Não existem igrejas e sim instituições.
6.4 Catolicismo
O cristianismo é uma religião monoteísta baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus de
Nazaré. Os cristãos acreditam que Jesus é o Messias e como tal referem-se a ele como
Jesus Cristo. Com cerca de 2,1 bilhões de adeptos (segundo dados de 2001), o
cristianismo é hoje a maior religião mundial. O Imperador Constantino confirmou o
cristianismo, na seqüência da sua vitória da Batalha da Ponte Mílvio, perto de Roma, que
ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Ele também foi responsável por convocar o
concílio de Niceia a fim de unificar a Igreja cristã.
Os Católicos estiveram antes mesmo da entrada protestante na Coreia. O Padre Gregório
de Cespedes, um jesuíta espanhol, em 1565 seguiu os soldados japoneses na Guerra de
Toyotomi e se tornou o primeiro a proclamar a religião cristã. Os missionários católicos
foram responsáveis por trabalharem juntos a estes soldados, no período em que o
Catolicismo se espalhou pelo Japão.
Primeiro bispo da Coreia foi o padre Barthelemy C. Bruguiere. Após a reforma de
Sessenta jovens padres alemães organizaram a ordem dos Jesuítas e decidiram anunciar o
Evangelho em outras regiões. Um italiano padre, Matteo Ricci, ensinava matemática,
física e pregava o evangelho nesta região. Ele foi o responsável pelo estabelecimento de
uma igreja. Em 1785, o jesuíta Peter Grammont, cruzou as fronteiras e começou a batizar.
Outro católico chinês, Chu Mun-mo, arriscou sua vida dez anos depois, para anunciar o
cristianismo em solo coreano. Em 1863, com 23 mil cristãos a perseguição tornou-se
mais acirrada até 1876, com Taewongun, príncipe regente que atribuiu todos os
problemas coreanos a presença das idéias cristãs.
1866 23.000 1919 81.504
1928 86.026 1937 112.610 1943 116.687
1900 42.442 1922 91.320
1931 96.626 1939 113.562
1910 73.517 1925 89.789
1934 100.752 1941 108.079
Tabela 2 – Dados estatísticos sobre crescimento da igreja católica no período 1866 a 1943 (Fonte: Kim p
399)
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 36
O quadro acima mostra alguns dados sobre o crescimento de católicos no país, desde seu
início até os anos 40. Estes números dão a idéia da dinâmica de adesão ao catolicismo
coreano. Em 1986, existiam três arquidioceses e 14 dioceses na Coreia. Atualmente a
Coreia é o quarto país com maior número de santos canonizados coreanos do mundo.
Figura 2 – Crescimento da Igreja Católica no período 1866 a 1943 (Fonte: Kim p 399)
6.5 Protestantismo na Coreia
Nesta sessão será investigada a imigração coreana também sob a ótica religiosa por
identificarmos sua relevância no contexto histórico coreano. Calvino diz que “todo ser
humano é essencialmente religioso, tendo em si a semente da religião (sêmen
religionis)”)
24
. Esta declaração demonstra a nossa necessidade em entender o fenômeno
religioso, inerente ao ser humano. Independente da religião escolhida, o homem procura
se encontrar, preencher o vazio com algo que lhe proporcione uma resposta. Rubem
Alves diz que a religião “está presente em cada indivíduo, quando este mesmo, busca o
24
Alderi Souza de Matos cita Calvino no artigo “O pensamento Teológico Reformado: Origem e
desenvolvimento./www4.mackenzie.br/7068; acessado em 12/11/2007
1820
1840
1860
1880
1900
1920
1940
1960
1866
1900
1910
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1939
1941
1943
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 37
sentido da vida” (2001). Isto nos confronta a entendermos melhor o fenômeno religioso e
em especial o caso da Coreia.
De acordo com Kim (1998), o ser humano é uma criatura com crenças religiosas. A
influência do protestantismo na Coreia foi tão marcante que, este autor, em seu livro A
History of religions in Korea” diz que com apenas 20 anos da presença protestante no
país, a influência católica foi superada. Depois de 100 anos da propagação dos
missionários protestantes, a influência ainda é tão grande que além de ocuparem cargos
importantes, eles contribuem para o desenvolvimento da cultura (op. cit.,1998 p. 329).
Assim, existe uma expectativa (Park, 2007) de que a Coreia se tornará o primeiro maior
país Protestante/Evangélico da Ásia. Para se ter idéia desta possibilidade, tomemos como
exemplo o crescimento religioso evangélico deste país. A primeira igreja Protestante na
Coreia do Sul foi criada em 1884, porém no ano de 1984, cem anos depois, existiam
cerca de 30 mil igrejas. No ano de 2000, o número de igrejas protestantes cresceu para 60
mil. Das 11 mega-igrejas do mundo
25
, termo usado atualmente para designar igrejas com
números acima de 25 mil membros, 10 dessas estão na capital Seul.
Os primeiros contatos na Coreia datam de 1631, quando um coreano Chung Du Won,
voltando da China trouxe consigo alguns livros de ciências e um livro de um jesuita The
True Doctrine of the Lorde of Heaven. Em 1777, um grupo de estudantes ao encontrar
estes escritos, começou a praticá-los. Em 1783, Yi Seung Hoon foi convertido ao ir à
China. No seu retorno criou-se um pequeno grupo de crentes, que logo foi perseguido e
morto. Outra iniciativa de cristianismo foi em 1801, quando um pastor chinês tentou
entrar clandestinamente. Ele foi morto, juntamente com os outros.
Em 1832, O Rev. Karl F. A. Gutzlaff passou um mês na Coreia distribuindo bíblias. Em
1866, O Rev. R. J. Thomas, missionário da Sociedade bíblica Nacional na Escócia, chega
a bordo do navio General Chairman. Houve um enfrentamento quando eles tentaram
atracar na costa coreana. Vinte coreanos foram mortos e os disparos continuaram por
duas semanas. O navio foi incendiado e ao chegar à Costa, o missionário foi morto.
25
Mega igreja foi criada por Paul Young Cho, na Coreia do Sul. Fonte:
www.cpr.org.br/Vamos_comprar_a_boa_vontade_divina; acessado em 12/11/2007
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 38
Muito tempo depois o sobrinho do homem que o matou se formou no Colégio Cristão
Unido (Unem Christian Colega) em Pyengyang e ajudou na revisão da bíblia coreana.
Tempos depois foi conhecido que o homem que matou o missionário guardou uma das
bíblias que estavam no navio, e esta acabou chegando a este jovem coreano. Em 1933 foi
construído em homenagem ao missionário martirizado, um memorial (Thomas Memorial
Church).
Com a abertura da Coreia a outros países, o trabalho missionário protestante ficou mais
efetivo. O processo de abertura foi lento e difícil, já que o país resistia ao contato
ocidental. Os tratados vieram a partir de 26 de Fevereiro de 1876, com o Japão, logo
depois outras nações tiveram acessibilidade a este país. China(1882); EUA(1882);
Inglaterra e Alemanha(1883); Russia, Itália, França(1886); Áustria(1892).
Quando os protestantes tiveram permissão de entrada a partir dos acordos internacionais,
o fluxo missionário foi intensificado.
O Rev John Ross, da Igreja Presbiteriana da Escócia, em 1873 teve contato com os
coreanos e realizou a tradução do Evangelho de Lucas para a língua coreana. Seu
trabalho foi traduzir outras porções da Bíblia e distribuí-las. Este grupo que se fortalecia,
foi o embrião da primeira Igreja Presbiteriana, organizada em 1887 na cidade de Seul. A
construção do templo aconteceu um ano depois, em 1888.
Após o acordo entre Coreia e Estados Unidos, as missões americanas enviaram, em 1884,
o Dr. Praxe S. Allen, médico, diplomata e missionário à Seul. Ao tratar e curar o
sobrinho da rainha, ele conseguiu muito prestígio, o que muito ajudou a melhorar a
imagem do Cristianismo frente àquele povo. A missão americana presbiteriana enviou
Samuel A. Moffett, que desenvolveu o trabalho em Pyengyang.
Em 1889, a Igreja Presbiteriana Australiana enviou J. H. Davies e sua irmã. Através da
sua morte prematura, muitos americanos, especialmente os Presbiterianos do Sul dos
EUA, foram tocados e enviaram mais missionários, começando o trabalho evangelístico
em 1892.
Os Metodistas também foram pioneiros. Em 1883, John F. Goucher teve um encontro
com uma Missão do Governo Coreano que estava em visita aos Estados Unidos. Após
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 39
esse encontro seu interesse na Coreia foi tão grande que ele escreveu uma carta à Igreja
Metodista Episcopal do Norte, oferecendo dois mil dólares. Esta quantia logo se
transformou em cinco mil dólares e, em 1884, o Rev Robert S. Maclay foi enviado a
Coreia. A Igreja Metodista Episcopal do Sul também teve sua participação no processo
de evangelização, quando influenciou um jovem Barão T. H. Yun. Ele foi estudar em
Shangai e encontrou os missionários metodistas Dr Young J. Allen e Dr. A. P. Parker.
Após se tornar cristão, ele veio concluir seus estudos na América, quando resolveu
investir em uma escola de meninos na Coreia.
Denominação Número de igrejas Número de ministros Números de cristãos
Presbiteriana 3.044
2.765
160.717
Metodista 794
350
31.914
Holiness 204
Sem informação
5.000
Tabela 3 – Dados estatísticos (Fonte: Kim p 399)
Em 1991 a Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana enviou 6 missionários:
William N. Blair e sua esposa, E. H. Miller, W. M. Barret, Mattie Henry e Mary Barret.
A visão da igreja nos Estados Unidos era criar e expandir o cristianismo naquela região.
O primeiro passo para a implantação chegou junto com a criação de escolas. Já em 1907
formou-se a primeira turma do seminário teológico, os primeiros pastores coreanos.
Apesar da acirrada perseguição contra os cristãos com a vitória dos japoneses durante a
guerra Russa - japonesa em 1904. O Japão manteve-se na Coreia pelo período de 1910-
1945. A perseguição se intensificou.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 40
Figura 3 – Percentuais de participação por religião na Coreia. População 48.294.000 (1986)
Igreja
Presbiteriana
na Coreia
(2000)
Presbitérios
Igrejas
Pastores
Presbíteros
Diáconos
Membros
batizados
Membros e
congregados
60
6621
9601
17745
29659
1211741
2.283.107
Tabela 4 – Igreja Presbiteriana na Coreia (2000)
26
Muitas missões, especialmente americanas, iniciaram o trabalho missionário na península
asiática. Muitos livros e porções da bíblia foram traduzidos para língua local. Hoje o
número de outras dominações é crescente. O mero de denominações chega a 70. Com
o auxílio aos movimentos de modernização, agricultura, saneamento ajuda durante os
momentos difíceis que a Coreia viveu, a participação das missões estrangeiras foi um
fator importante. Por causa desse sucesso inicial, o trabalho na Coreia tornou se num
Cristianismo muito forte e celeiro no enviou de missionários a outros países.
26
Araújo, p, 44,45.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 41
7 Razões para a expansão do protestantismo na Coreia
Existe uma busca em destacar os métodos que contribuíram nesse crescimento. Podemos
destacar alguns sem, contudo tentar apresentar a receita infalível para o crescimento do
Cristianismo. Nesta análise, não podemos deixar de mencionar que as próprias
características culturais do povo são importantes, como também o período histórico que o
evangelho foi proclamado.
Uma das coisas que não podemos deixar de mencionar é o zelo dos coreanos. Este zelo se
converteu, como diz Thiessen,
27
num diligente trabalho pessoal. Isto foi transferido para
o modo como o coreano encarava sua nova fé.
Outro motivo são algumas similaridades do confucionismo e o cristianismo no que se
refere ao sofrimento. A doutrina da crucificação, como chama Palmer. Uma resposta
imediata e positiva a adesão ao Cristianismo pode ser entendida pelas características
destas filosofias. A religião ascética budista se caracteriza pela mortificação do corpo, por
renunciar aos prazeres mundanos em favor de um alcance espiritual absoluto. No
Cristianosmo encontramos uma ênfase na obra realizada por Jesus. Seu sacrifício e
martírio feito na Cruz possibilitam uma aproximação de aceitação muito mais
determinante. Outra similaridade foi encontrada no mito do Tan’gun. Hananim, deus
supremo, criador e único, que para dar vida as pessoas enviou seu único filho ao
mundo.
28
Como foi dito, “o xamanismo coreano encontrou um espelho em seu próprio
deus na religião cristã’’.
29
Outro motivo por Thiessen mencionado, foi o plano de Nevius.
Vem do nome do Rev John L. Nevius, um misiionário presbiteriano na China, que visitou
a Coreia em 1890. Apesar dele não ser a resposta final a esse crescimento, muito pôde
ajudar na organização do que viria a ser uma das maiores igrejas na Ásia. Algumas idéias
do seu plano consistiam em:
27
Thiessen,p.115
28
Palmer,p.16
29
Palmer,p.17
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 42
1. Deixar cada cristão em seu próprio lugar de origem
2. A centralidade da bíblia em cada parte do trabalho.
3. O desenvolvimento da igreja iria de acordo com as condições da própria igreja. Ela
deve ser responsável pelo seu próprio sustento.
4. O envio de evangelista deve ser da própria igreja e a sua própria vizinhança.
5. Os nativos devem providenciar a construção de sua própria igreja, de acordo com as
características locais.
A língua escrita, que era chinesa, era privilégio de poucos na Coreia. A simplificação do
alfabeto para vinte e cinco letras (o Hangul)
30
, proporcionou um avanço e disseminação
dos escritos cristãos. A revitalização dessa língua pelos cristãos missionários foi além de
tudo um precursor do movimento de reforma nacionalista dentro daquele país. Em 1952 a
transcrição de toda bíblia em hangul foi concluída. O trabalho dos missionários médicos e
enfermeiras foi um fator importante no crescimento do cristianismo ali.
Ênfase no estudo da bíblia, com o oferecimento de cursos fez “da igreja coreana uma
apaixonada na leitura e tudo diário”. Devido a esse empenho o número de institutos
bíblicos que oferecem cursos anualmente é normalmente dividido, entre oito a dez
semanas anualmente para mulheres e, de um mês por curso para os homens. A duração
destes cursos é de cinco anos, o que para cobrir toda a bíblia. Apesar de ter tido sua
origem ligada a religiões orientais, este país apresenta, atualmente um elevado índice de
protestantes. São 44 milhões de habitantes
31
e mais de 10 milhões de protestantes, um
número que vem crescendo a cada dia. Segue abaixo um comparativo das religiões
atualmente presentes na Coreia:
Para entendermos a predominância de protestantes dentro da colônia coreana no Brasil, é
importante deter-se um pouco na construção da religião dentro da própria Coreia.
Apesar de ter tido sua origem ligada a religiões orientais, este país apresenta, atualmente,
30[1]
Han’gul, o alfabeto coreano, foi promulgado pelo Rei Sejong, o Grande (1397-1450).
31
Nahan, 1994
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 43
um elevado índice de protestantes. São 44 milhões de habitantes
32
e mais de 10 milhões
de protestantes, um número que vem crescendo a cada dia. Segue abaixo um comparativo
das religiões atualmente presentes na Coreia:
Religiões Subdivisões Detalhamento
Budismo 27 ordens
Igreja Católica 17 dioceses
Protestantes Cinco denominações
Luterana, Anglicana, Presbiteriana, Batista, Metodista,
Igreja do Evangelho Completo, Pentecostais,
Carismáticas e outras.
Tabela 5 - As religiões na Coreia do Sul
Dentro do protestantismo na Coreia do Sul, ainda existem cerca de 120 subgrupos do
Protestantismo. 80% desses subgrupos são subdivisões da Igreja Presbiteriana. Existem
vários estudos direcionados para identificar as condições que contribuíram nesse
crescimento.
32
Nahan 1994
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 44
Capítulo II
Coreanos no Brasil
O segundo capítulo trata de um levantamento histórico sobre a imigração coreana no
Brasil. Entende-se que esta construção histórica torna-se importante para a compreensão
plena da proposta deste trabalho. Vários aspectos da vida política e social dos anos 60
refletiram com grande força no cotidiano dos coreanos tanto no Brasil quanto na Coreia.
Devido à separação do país, dando origem a Coreia do sul e do Norte, necessário se faz
discriminar qual dos dois países será referido neste capítulo.
1 Relações diplomáticas: Brasil- Coreia
Ao longo da História, observa-se o governo coreano dificultando a saída dos seus
habitantes. Ao desejo da família em sair do país, ela enfrentaria muita dificuldade. A lei
coreana permitia que somente, os filhos menores de 20 anos, tinham o direito de deixar o
país. A ruptura na família era quase sempre inevitável, cabendo no futuro que esta família
se reunisse novamente. Aconteceram alguns casos aqui no Brasil, aonde anos depois, os
membros de uma família iria se reunir novamente.
A tabela abaixo representa, de forma resumida, a dinâmica de entrada no Brasil e as
relações entre Coreia-Brasil. Vale ressaltar a intensidade diplomática envolvida na
década de 60.
1918 4 famílias chegam ao Brasil e se naturalizam japoneses
1956 chegam 50 prisioneiros de guerra ex- soldados coreanos e 5 chineses ao
Rio de Janeiro
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 45
1959 início das relações diplomáticas entre Brasil e Coreia do Sul
1961 Através de um golpe militar governo de Chong Hi Pak
1962 Lei da Emigração
1962 18/12 emigração oficial ao Brasil –saída de 108 coreanos
1963 12/02 - chegada do primeiro grupo oficial ao porto de Santos
1962 11 de Julho abertura da embaixada da Coreia do Sul no RJ
1964 Chegam 68 famílias para o estado do Espírito Santo, foram enganados ao
comprar terras numa fazenda fantasma
33
alguns vão a São Paulo, outros
para os EUA.
1965 Instalada a Embaixada Brasileira em Seul, Coreia do Sul
1965 Lei de Imigração dos Estados Unidos
1966 69 famílias, Fazenda Santa Maria, Paraná, intermediado pela Igreja
Católica
34
, ficando apenas 11 famílias, os outros vieram a São Paulo
Década de 70
Fixam-se na “ Vila Coreana”, Rua Conde de Sarzedas
1970- 1200 Pessoas de 210 famílias recebem o visto de permanência do governo
brasileiro
1986- Coreanos fixam-se no Bairro da Liberdade
Tabela 6 – Principais datas da imigração coreana no Brasil
Durante a história diplomática brasileira houve momentos em que a abertura ao
recebimento de povos estrangeiros esteve em alta ou muitas vezes em baixa, tudo
dependia da motivação política daquele momento. O que surpreende é que o povo
brasileiro, no imaginário popular, é conhecido por ser amável e um ótimo receptor de
imigrantes. A pesquisa realizada em 2002 e 2003, no entanto, compõe um novo
brasileiro, mais cuidadoso e refratário a permanência de estrangeiros no país. Esta
pesquisa feita em 47 países coloca os brasileiros em 12
o
, ou seja, três em cada quatro
brasileiros mostram-se contra estrangeiros. Surpreendentemente, a Coreia do Sul teve o
menor índice (25%).
33
Kang, p 53
34
Kang, p. 53- único caso de sucesso na zona rural.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 46
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Costa do Marfim Itália EUA Brasil Coréia do Sul
95%
87%
75%
72%
25%
Figura 4 – restrição a estrangeiros (2002/2003)
No entanto a realidade sul coreana é de não incentivar a permanência no país. A recepção
a residentes temporários, ou viagens de negócios são até bem recebida, mais migrar ao
país ainda parece um tabu. Os dados a seguir mostram um contingente pequeno de
estrangeiros no país, ao contrário dos números apresentados na pesquisa acima. A
população é simpática ao estrangeiro, mas a realidade ainda mostra uma Coreia muito
fechada em seu próprio tradicionalismo.
População da Coreia do Sul: 48.294.000,000
densidade populacional na Coreia do Sul 415 hab/Km2
coreanos que vivem nas cidades 60%
Coreanos que vivem na capital (Seul) 25%
Coreanos do Norte que vivem na Coreia do sul 20380
Chineses em solo coreanos 23.328
Japoneses em viagens de negócios 5335
Boat-people na coreia 1360
Vietnamitas vivendo na Coreia do Sul 229
Tabela 7 – Censo da Coreia de 1985 – Informações relevantes
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 47
Figura 5- percentual de estrangeiros na Coreia do Sul
2 Imigração coreana no Brasil
Antes mesmo dos primeiros imigrantes aportarem em solo brasileiro, os Estados Unidos
desempenhavam o papel de ser o primeiro lugar de escolha dos coreanos. Foi uma troca
de favores: de um lado existia a real condição de miserabilidade do povo, e do outro lado,
os Estados Unidos, necessitando de mão- de- obra para o Havaí (1902-1905)
35
,
especificamente por trabalhadores coreanos, que tinham esta preferência em relação
aos chineses e japoneses.
36
O governo americano, a partir de 1882, intensificou as
relações com o governo coreano, assinando o Tratado de Paz e Amizade. Um dos
motivos favoráveis a esse deslocamento foi o apoio e incentivo dos missionários
americanos para que houvesse contato com a cultura americana (Araújo, 2005, p. 18).
Em 1965, é assinada a Lei de Imigração dos Estados Unidos. Um acordo entre os dois
governos. Com esta abertura o cenário migratório de coreanos, e outros asiáticos, para
35
O contingente que chegou ao Havaí foi de 65 navios com 7226 coreanos.
36
O contingente que chegou ao Havaí foi de 65 navios com 7226 coreanos.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 48
outros países, inclusive para a América Latina, mudaram. Os Estados Unidos passaram a
ser a rota de interesse maior
37
.
Do lado brasileiro, pode-se dizer que o lugar de interesse número um era a cidade de São
Paulo. Este Estado, ao longo da sua história, tem sido um berço étnico como um grande
receptor de povos estrangeiros
38
. Eles m pelas mais diferentes razões. Procura de
realização dos sonhos pessoais, fuga de situações problemáticas em seus países de
origem, ou simplesmente pelo interesse em desbravar. Independentemente das razões que
trazem estes imigrantes temos um Estado, que, à medida que os desdobramentos
históricos acontecem, também mudou sua forma de receber estes estrangeiros, passando
de estimulador para coibi dor da vinda de alguns contingentes de pessoas. No caso
coreano estas duas situações foram vivenciadas pelas famílias que vieram para São Paulo.
Quando as primeiras correntes migratórias no século XX começaram a deixar a Coreia,
os países preferidos foram Estados Unidos, Canae Brasil. O sucesso experimentado
com a imigração japonesa fez com que o Brasil passasse a ser uma rota de interesse. A
partir daí o fluxo de entrada se intensifica, principalmente nas décadas de 60 a 80. O
quadro abaixo apresenta números que mostram o deslocamento e os países de preferência
dos coreanos.
37
Entre 1971 a 1980 imigraram cerca de 272 mil coreanos
37
para os Estados Unidos da América.
38
Truzzi coloca que São Paulo foi estado que mais recebeu imigrantes no país.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 49
Figura 6 - Coreanos (1988) ao redor do mundo (Fonte: Negawa)
2.1 Perfil do Imigrante
“A multiplicação das igrejas é conhecida
dentro da comunidade. Os primeiros
imigrantes da primeira geração eram na
maioria, protestantes”.(Mi Kim, p.20)
O perfil do imigrante coreano era diferente de outros grupos migratórios (japoneses,
chineses) que historicamente chegaram ao país. Araújo (2005), em sua dissertação de
mestrado, categoriza a imigração em dois grupos distintos. Um primeiro grupo
caracteriza-se por uma busca de uma vida melhor. Um segundo grupo de pastores que
trazem consigo a missão de propagar a fé cristã e dar suporte aos imigrantes residentes no
país. Considerando as motivações migratórias de outros grupos como os citados acima, o
aspecto econômico está presente em sua grande maioria. Normalmente, os estrangeiros
envolvidos nos deslocamentos são pessoas da classe baixa e que por falta de opção, são
‘empurradas’ pelo fator econômico a se aventurar em busca de um bem estar, deixando
para trás sua própria família. No caso coreano, um fator sui generis de deslocamento
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 50
aconteceu. Os deslocamentos ocorreram, muitas vezes, com um grupo de pessoas de
classe média ou de profissionais especializados que vinham para São Paulo acompanhado
de suas famílias.
A própria participação brasileira de recebimento destes imigrantes, também oscilou ao
longo das décadas. O país que, inicialmente no ano de 1962, permitiu a entrada de
coreanos para o trabalho em áreas agrícolas, passou a ser mais rigoroso a partir do ano de
1976, dificultando esta imigração. Uma das conseqüências deste rigor foi à entrada de
imigrantes ilegais, vindos das duas Coreias. Muitos deles faziam a entrada pela Bolívia e
decidiam ficar em terra brasileira (WON, 2005). Poucos foram os coreanos que usaram
os canais normais de chegada. Enquanto outras etnias, como os japoneses e chineses
vieram ao Brasil via navios, os coreanos utilizaram num segundo momento o transporte
aéreo. Outra característica da imigração coreana foi o pouco uso da Hospedaria do
Imigrante. Ela não foi a parada obrigatória deste grupo. Eles eram recebidos por grupos
aqui existentes, ou se hospedavam em hotéis da cidade. A segunda delegação foi o único
grupo a utilizar as dependências da hospedaria.
Um outro aspecto interessante é a considerável presença de protestantes na comunidade
coreana. Os coreanos que vivem em São Paulo organizaram em menos de 50 anos mais
de 71 templos evangélicos. Apesar de a cultura religiosa coreana ser vista estereotipada
dentro do confucionista e budismo, o povo coreano, dentro da cidade de São Paulo, conta
apenas com um templo budista e, dentro do catolicismo, uma única igreja no centro da
cidade. Estes números apresentam, inicialmente, uma tendência religiosa protestante
dentro da colônia.
2.2 Tipos de Imigração
De acordo com Won, a Coreia presenciou diferentes tipos de imigração. Houve a
imigração de colonização agrícola, de exílio e imigração trabalhista. Todas ocorreram
tendo como pano de fundo a situação histórica vivida pelo país.
No caso da imigração de colonização agrícola, destacamos a necessidade de encontrar
terras cultiváveis. A fuga à Rússia, em 1860 levou um grande contingente de coreanos
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 51
(6,5 mil) numa tentativa de escapar da grande fome vivida pela Coreia. A China também
foi refúgio para esses imigrantes, cerca de 50 mil em 1907.
A Rússia e a China foram os países escolhidos na imigração de exílio. Foi uma tentativa
de fuga da opressão japonesa. O contato com outros conterrâneos deu um impulso rumo
aos movimentos de libertação do domínio japonês. Esse tipo de imigração despertou os
interesses de alguns de estudarem nos Estados Unidos. Cerca de 540 pessoas foram
estudar nas escolas americanas no período de 1910 a 1918.
A imigração trabalhista foi caracterizada pela presença de um acordo firmado entre a
Coreia e a Associação dos Cultivadores de Cana de açúcar do Havaí. Em 1902 até 1905,
com a proibição do governo japonês. Ao todo foram cerca de 7,2 mil coreanos para o
trabalho na lavoura. Houve ainda a imigração trabalhista para o Japão. Dividida em
Imigração trabalhista espontânea e imigração trabalhista compulsória. Ambas tinham o
destino ao Japão. Uma era de coreanos em busca de dinheiro, com tempo determinado de
retorno à Coreia e a compulsória, era determinada pelo governo japonês para trabalhar
nas minas até o fim das guerras.
De acordo com estatísticas, São Paulo é a cidade brasileira com maior número de
coreanos. Comparativamente com os imigrantes árabes
39
podemos dizer que é uma
população pequena, mas que impulsiona nosso estudo mais minucioso. Além disso, existe
uma carência de estudos nas áreas da igreja e da imigração coreana em língua
portuguesa
40
. A escassez de material demonstra a necessidade do pesquisador ser um
agente para a preservação da história deste povo.
2.3 Causas da Imigração
39
Hoje existem em São Paulo aproximadamente 1 milhão de árabes. Fonte: milpovos.prefeitura.sp.gov.br;
acessado em 12/11/2007
40
Os trabalhos conhecidos em língua portuguesa são da Choi (1991), Edson Isaac Santos Araújo (2005) e
Sung Sun Won (2005).
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 52
Figura 7 Embarque do primeiro grupo de imigrantes coreanos para o Brasil, Pusan (Coreia), 18. Dez.
1962 - Acervo: Memorial do Imigrante
Uma das principais causas desta diáspora pode ser relacionada a um período de pós
Guerra Civil da Coreia (1950-1953). Eles vivenciaram um aumento populacional devido
à emigração dos coreanos do Norte para o Sul. Também houve um incentivo do governo
para a imigração a outros países como Estados Unidos da América, Canadá, Austrália e
Brasil. Isto foi tentado a fim de solucionar o problema de alta densidade demográfica
vivida na Coreia do Sul. O presidente Jânio Quadros foi um incentivador desta
imigração, em especial com a vinda de técnicos. A ajuda do governo seria na doação de
terras na região norte do Brasil, acima do Rio Amazonas. O cálculo que foi feito
estipulava a despesa da imigração, por família, em 5.000 dólares,
41
o que para muito era
uma quantia exagerada. O alto valor das despesas assustou, mas não tirou o ânimo das
famílias. O recalculo foi feito e chegou a um montante de 1.000 dólares por família, valor
conpatível com a possibilidade de alguns.
Como em outros processos de imigração a imprensa coreana desempenhou um papel
muito importante na divulgação de uma imagem positiva do Brasil. Choi traz uma
seleção de artigos da mídia da Coreia do Sul. O Brasil foi apresentado como um país
convidativamente exuberante. Apesar de possíveis problemas com a fauna, ainda assim é
um lugar paradisíaco, onde compensa qualquer sacrifício. A falta de conhecimento da
terra a ser ocupada fica evidente nos depoimentos conhecidos. Muitos viam a grandeza
das terras através dos mapas. A vastidão era algo que impressionava o coreano,
41
Choi, 1985, p. 34,35
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 53
principalmente pela dificuldade vivida da falta de espaço físico na Coreia. A vastidão
acendia as esperanças de um futuro melhor.
“ lugar da natureza paradisíaca, impossibilidade de transformação do Brasil de um país
democrata em um país comunista” .
“Há cobras venenosas no norte do Brasil, mas praticamente inexistem na região sul.
o Instituto Butantã, onde são fabricados os soros anti-ofídicos, que são distribuidos para
todo o país, evitando mortes por picadas de cobras”.
A questão econômica foi o atrativo mais importante. O Brasil estava numa aceleração de
crescimento. Um otimismo e em pleno desenvolvimento econômico pela política voltada
para acelerar o crescimento.
“Os coreanos ainda tem em mente que na próxima geração talvez possam desfrutar de
progressos. A atual geração deverá ser sacrificada. Isto não ocorre no Brasil, onde
qualquer um pode melhorar após 10 anos de trabalho quando, inclusive, poderá andar
de carro próprio e ainda possuir um mínimo de terra para cultivar”.
Como os coreanos estavam vivendo uma estabilidade política e a sombra do comunismo,
uma realidade constante, principalmente, com o vizinho esta era um questionamento. O
imaginário de uma Coreia que abraçou o comunismo estaá associada a falta completa de
portunidades, miséria, e privações diárias que estavam longe do desejo da população.
Ainda hoje o sonho da Unificação apresenta-se apara alguns como uma boa oportunidade
dos ‘irmãos” se unirem, mas ao mesmo tempo apresenta resistências. O fato do Brasil
estar completamente distante do cominismo, em muito reforçou o interesse de morar aqui
“O Brasil não admite o comunismo pela lei, sendo profundamente capitalista. O caráter
do povo não aceita a limitação da liberdade e, naturalmente, o povo odeia o comunismo.
Por essa razão, não me parece que o Brasil se tornaria comunista. Neste aspecto, não
apresenta obstáculos à entrada dos imigrantes coreanos”.
Região Valores (US$)
São Paulo 250,00
Curitiba 200,00
Amazonas 80,00
Região do São Francisco 90,00
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 54
Mato Grosso 110,00
Tabela 8 - Preços de terra, por alqueires, Choi p.227v
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 55
3 Movimentos migratórios coreanos no Brasil
“A localização dos coreanos no seio do bairro dos japoneses
significava facilidades tanto em termos de comunicação,
quanto no que se refere a usufruir os benefícios de se passar
por anônimo, perante a sociedade nativa, misturando-se a
uma comunidade mais antiga e adaptada. Esse último
ponto foi muito importante para atenuar possíveis choques
culturais. Apesar de se tratar de uma imigração bastante
recente, a sociedade paulista já se encontrava muito
habituada com a imagem de asiáticos, sobretudo de
japoneses, e seu particularismo fisionômico”. (Truzzi)
1
o
Grupo de Coreanos - naturalizados Japoneses
A entrada no país de coreanos aconteceu de maneira tímida. Em 1925 a 1929 entra no
Brasil uma família coreana registrada como cidadã japonesa.
42
Por ser considerada uma
vergonha e até uma “traição”
43
para um coreano sair da sua terra e por questões de
domínio da língua, muitos vieram ao Brasil naturalizados japoneses. Neste caso, existe
uma dificuldade em precisar o número exato de coreanos neste período. Acessando o
banco de dados da Hospedaria do Imigrante é encontradas algumas dificuldades com
alguns indivíduos, pois muitos escondem a procedência. Constando como
“indeterminada”. O medo de se declarar norte coreano, também mascarou estes dados.
Alguns relatam que o governo comunista andava em busca de compatriotas para
extraditá-los. Passar-se por japonês contava com um conforto maior, além do que os
próprios brasileiros já estavam acostumados com este grupo étnico. Em fevereiro de 1956
é registrado o primeiro grupo de prisioneiros de guerra norte coreanos. Cerca de 60
jovens, fugindo da Guerra da Coreia (1950 -1953) chegam ao Brasil. Em 1962 foi criado
o Projeto de Emigração do Ministério da Saúde, especificamente com países não
comunistas. Tinha a função de controlar a número populacional, ao mesmo tempo em que
tentaria resolver o problema de desemprego.
42
Won, p. 85. família de três pessoas e três rapazes
43
Choi p 16 dentro dos princípios confucionistas, a saída de um coreano era considerada uma
traição.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 56
2
o
Grupo de Coreanos (1963)- Imigração Oficial
Imigração de colonização agrícola. Foram 17 famílias, 92 pessoas. Junto a esse grupo
veio 11 ex- militares. A missão destes 11 era de observar as áreas e providenciar a vinda
de outros grupos. Com visto de turista (validade de 6 meses), pretendiam na verdade, de
acordo com Choi, verificar a possibilidade de permanecer no Brasil
44
. Este grupo contou
com o apoio do governo coreano. Contavam com bom nível educacional.
Figura 8 - Embarque do grupo de 14 negociadores da Associação Cultural Coreia-Brasil no aeroporto.
Kimpo (Coreia), 25. Dez.1961.OBS.:A comitiva veio ao Brasil acertar os detalhes da imigração
coreana.Acervo: Memorial do Imigrante
O grupo chegou a São Paulo em 23 de fevereiro de 1963. É conhecida como a “expedição
para as áreas de agricultura”. Foi feito um acordo entre o governo brasileiro e o da Coreia
do Sul para agilizar a entrada de coreanos, mas na condição de desenvolver a atividade
agrícola. Esta foi uma situação nova para estas pessoas, que eles não tinham
experiência com o trabalho da terra. O governo coreano viu com muito gosto a partida
deste grupo e um início para outros fazerem o mesmo. As autoridades providenciaram
uma cerimônia de despedida no Porto de Pusan e cada família recebeu um valor de
US$200,00 dólares para despesas na nova terra.
44
Choi,1985, p, 49.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 57
Tipo de despesa Valores (US$) de despesa dos imigrantes coreanos
Passagem de navio categoria terceira classe US$ 283,00
Taxas e documentos US$ 70,00
Total US$ 353,00
Tabela 9 - Despesa de viagem (Coreia- Brasil) de um imigrante coreano
É conhecido que neste grupo havia “um grande número de protestantes”
45
·. Eles foram
responsáveis pelos cultos a bordo do navio Tjitjalenka. A viagem, apesar de longa 54
dias e de várias paradas, chegou ao Porto do Rio de Janeiro trazendo um grupo cheio de
esperança e ânimo para o recomeço de uma nova vida. Já a bordo os coreanos dispunham
de aulas sobre a cultura e língua portuguesa.
Infelizmente este grupo foi vítima da desonestidade e tiveram que ficar na Hospedaria
dos Imigrantes, mais tempo do que imaginavam. Com a desculpa de fechar os últimos
detalhes do recebimento do grupo na terra acertada em Miracatu, a pessoa encarregada
deixou o grupo na Hospedaria, dando a garantia de que retornaria em três dias. O grupo
ficou no alojamento por dois meses. Depois dessa situação o grupo se dividiu:
Os ex- militares adquiriram 37 alqueires de terra em Mogi das Cruzes, chamada de
Fazenda Arirang, onde plantaram caqui, uva, pêssego e goiaba e dedicaram-se a
avicultura.
O grupo de cinco famílias protestantes alugou, por um período de cinco anos, terras para
formar a Fazenda de Seoul Coreia Nova Bom Sucesso São Paulo Brasil- Fazenda Seul,
próximo a Guarulhos, São Paulo. O valor foi de 20 mil cruzeiros por ano. A horticultura e
a avicultura eram as formas encontradas pelo grupo de se manter. Pela localização, 30 km
da capital, os demais coreanos se encontravam nessa fazenda onde participavam de
comemorações. Ao fim de dois anos, decidiram mudar para São Paulo.
Os demais desta segunda leva se separaram empregando-se em outras fazendas.
Apesar de todo contra tempo da chegada destes imigrantes, o embaixador Dong Jin Park
conseguiu que todos os vistos de turistas fossem transformados em vistos permanentes
facilitando a permanência destas famílias.
45
Choi, 1985, p. 51.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 58
3
o
Grupo de Coreanos (1964)
Nove meses depois, com os vistos do grupo da segunda leva regularizados, muitos
vieram se juntar aos familiares que estavam aqui. Eles trouxeram todo capital que
dispunham através de vendas de propriedades e recursos levantados na Coreia do Sul.
Este grupo de 450 pessoas chegou a Vitória, Espírito Santo. Foram 68 famílias vindos
para a ocupação agrícola. O destino era a propriedade em Ponte Limpa. Devido às
dificuldades com os animais selvagens e peçonhentos, resolveram mudar para São Paulo
e Rio de Janeiro fugindo da área agrícola. Os coreanos anticomunistas foram peças
importantes na recepção e no suporte a estes grupos.
4
o
Grupo de Coreanos (Agosto de 1964)
Com 46 famílias, ao todo 448 pessoas chegaram ao Rio de Janeiro. Desta vez, o grupo
contou com a participação de uma companhia brasileira, chamada Causa, especializada
em trazer imigrantes estrangeiros oferecendo terras que foram adquiridas por baixos
preços ou doadas pelo estado. A propriedade em questão pertencia a imigrantes alemães e
foi abandonada por estes, pela precariedade de condições de uso. Localizava-se no estado
de Goiás e não apresentava condições para a agricultura. Organizado por Jong Sik Park,
ex-participante da Primeira Delegação Cultural (1962). Ainda na Coreia compraram 50%
dos lotes de terra US$435,00 dólares por hectare e mais US$40,00 dólares para a
documentação. Apesar da dificuldade da terra, a vontade de imigrar era o grande que o
grupo chegou ao Brasil para tomar posse da Fazenda Menino, no estado de Goiás em 18
de agosto de 1964.
5
o
Grupo de Coreanos (Novembro de 1964)- “Caso Bolívia ou Caso
Paraguai”
Grupo de oito famílias com 45 pessoas tem o destino de chegada à Bolívia.
Desembarcam no Rio de Janeiro e permanecem em solo brasileiro. Chegam desta forma
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 59
mais 720 pessoas de 120 famílias, uma tentativa de driblar a dificuldade de imigração
imposta pelo governo brasileiro. Este grupo resolveu fixar residência em São Paulo.
6
o
Grupo de Coreanos (1966)- Imigração em Três etapas
Numa parceria entre a Igreja Católica da Coreia e Brasil foi intermediada a vinda de
coreanos em regime colonização agrícola. A primeira leva foi de 313 pessoas, 53
famílias. Desembarcaram em Paranaguá, ficando em Ponta Grossa, Paraná. O segundo
grupo, chega em Maio com 13 famílias, num total de 103 pessoas. Em Junho, mais três
famílias (30 pessoas). No total, apenas 23 famílias continuaram a desenvolver sua vida na
área rural, os demais se mudaram para o centro urbano. A igreja católica teve uma
presença importante para a entrada deste grupo onde contou com a intermediação de
padres.
A fazenda Santa Maria, com 619 alqueires, localiza-se no Km 37 da Rodovia do Café, em
Tibagi, Paraná. Posteriormente ficou conhecida como Colônia Coreana. Esse grupo pode
contar com uma estrutura melhor do que as outras imigrações, com supervisão direta da
igreja nas compras das terras e na construção das casas. O compromisso firmado era de
passar três anos cultivando a terra, porém devido a vários problemas (falta de energia e de
água encanada, terras não cultiváveis) a maioria das famílias resolveu abandonar a vida
de agricultores e mudar para a cidade. Hoje, conta com algumas famílias que produzem
produtos típicos da culinária coreana.
Com as medidas de controle e até de impedimento da imigração por parte do governo
brasileiro, á partir de 1969, pois o acordo visivelmente não estava sendo cumprido
determinou esta nova postura do governo.
7
o
Grupo- Imigração de mão de obra especializada (1970 em diante)
Desembarcam no aeroporto de Campinas 120 pessoas de 25 famílias. No ano de 1972
chegaram mais de 1200 pessoas 210 famílias.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 60
Apesar de a imigração ter tido o caráter agrícola, verificou-se o fenômeno destes
imigrantes coreanos não terem fixado residência na área rural, preferindo desenvolver
suas habilidades dentro das grandes cidades. Esta tendência seguiu o crescimento
industrial vivido por países da América Latina (Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil)
atraindo as pessoas aos centros urbanos, onde as oportunidades se encontravam. Outro
aspecto é a formação urbana dos imigrantes coreanos, muitos vinham das grandes
cidades.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 61
4 Outros movimentos migratórios coreanos recentes
“Atualmente os coreanos estão vivendo outro tipo
de imigração. São pessoas com ensino superior,
mão de obra qualificada e que sentem se atraídas a
estudarem ou enviarem seus filhos a outros
países”.(Won, 2005, p.44)
À partir de 1990 percebesse uma queda brusca na entrada de coreanos no país. As
causas apontadas para essa queda é a estabilidade econômica vivida pela Coreia e a
política de repressão a imigração de outros países. A imigração coreana no Brasil, em
pouco menos de cinqüenta anos, já pode ser descrita pelo quadro sinótico abaixo:
Pioneiros Chegada dos prisioneiros de guerra norte coreanos em Fev. 1956
Foco comercial Chegada dos primeiros imigrantes da “expedição nas áreas de agricultura” Fev. 1963
Concentração Em 2007, aproximadamente 40 mil, concentrados principalmente em São Paulo
Interação com
sociedade
Retratada com estereótipos e preconceitos
Foco industrial Atividades: Setor têxtil e confecções.
Evolução Geração 1.5 e 2.0: Profissionais liberais, magistratura, executivos.
Divulgação Quatro jornais standard diários e cinco jornais tablóides: DIÁRIOS!!!
Notícias um canal fechado coreano
Tabela 10 – Dados de desenvolvimento dos coreanos no Brasil
4.1 Clandestinos
“O problema da imigração clandestina em massa
preocupou autoridades brasileiras e coreanas, e os
líderes da colônia coreana, bem como suas
organizações religiosas, as quais procuravam,
dentro das normas do país, acomodar as diversas
situações, dando aos lamentos detidos o amparo
necessário para que não se vissem abandonados em
terra estranha”. Choi, 1995, p. 119
Dentro da imigração oficial tem destaque o grande número de clandestinos. Quando
houve as primeiras restrições a imigração, alguns conseguiram a entrada, vindo,
primeiramente via outros países da América latina, como Paraguai e Bolívia. A Lei N
o
.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 62
9.675, de 29 de junho de 1998, anistiou os estrangeiros residentes em solo brasileiro,
dando a legalização deste contingente de imigrantes.
Com a proibição da imigração coreana pelo governo brasileiro em 1968, o contingente de
entradas clandestina aumentou consideravelmente. Com o fracasso da imigração para a
colonização de áreas rurais, os grupos não permaneciam na terra, abandonando em favor
de conquistar novas oportunidades nas cidades. Como a imigração coreana foi permitida
com base na permanência dos imigrantes na área rural, e por conta da característica dos
contingentes que chegaram ao Brasil ser de origem urbana, não se conseguiu ultrapassar
todas as dificuldades de pessoas que não tinham nenhuma experiência com o manuseio
da terra. A tentativa de trazer conterrâneos ao Brasil foi uma tentativa, por muitas vezes,
frustrada. A clandestinidade foi a forma encontrada para alguns. Esta situação
intensificou as divergências entre os governos brasileiro e coreano.
Coreanos no Brasil Dados
Imigrantes legais 45 000
Imigrantes ilegais 35 000
Distância entre Brasil e Coreia 20 000 Km
Renda per capita (por ano) 9 700 dólares
Renda per capita no Brasil (por ano) 4 700 dólares
Tabela 11 – Indicadores da Coreia do Sul
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 63
4.2 Rotas de entrada
Uma forma de fugir a situação de falta de visto de permanência foi o acordo assinado
entre o governo boliviano. Ele previa a expedição de visto via Brasil. Ou seja, eles
vinham ao Brasil como turistas, as bagagens seguiam até a fronteira com a Bolívia e
retornariam a São Paulo. Este recurso parece ter sido usado. Outro ponto de entrada era
via Paraguai e Uruguai. Algumas entrevistas falam dessas rotas, que serviam unicamente
como passagem para alcançar o objetivo maior: o Brasil, para alguns ou Estados Unidos
para outros.
Em 1969, o Brasil anistiou quase 1000 coreanos ilegais, Já em 1980, o governo brasileiro
repetiu a possibilidade dos estrangeiros no país terem sua situação regularizada. Naquele
ano foram anistiados 15.351 estrangeiros, dos quais 4.500 eram coreanos. Entre 1964 e
1966 cerca de 1.000 clandestinos Choi, p. 180
4.3 Iniciativas de combate a clandestinidade
O governo coreano, conhecedor das dificuldades dos conterrâneos em manterem as terras
produtivas, usufruindo os lucros pela produção agrária, disponibilizou algumas ações
para que a imigração desse certo. A liberação de recurso financeiro foi uma tentativa de
interferência direta. Foi enviado um subsídio de US$680.000,00 dólares para a Fazenda
La Marque na Argentina e para a Fazenda San Pedro, no Paraguai.
46
No Brasil, o governo coreano resolveu juntar, num lugar todos os imigrantes que
viviam irregularmente no país. Os lugares escolhidos foram a Fazenda Santa Cruz
Semaul e a Cooperativa Agrícola Miracatu. A idéia era fazer um esforço para que estes
projetos pudessem suprir as necessidades que os ilegais viviam. A igreja, juntamente com
a Embaixada da República da Coreia, participou apoiando estas iniciativas.
46
Choi,1985, p. 82.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 64
Fazenda Santa Cruz Semaul
47
, localizada a 80km de Brasília, teve um investimento de
US$2.730.000,00 dólares, num período de 1978 a 1982. O dinheiro era designado para
aquisição de maquinário de construção de casas. O acordo entre os países que contava
com a participação das igrejas coreana era da permanência dos clandestinos na fazenda
por um período de cinco anos para a regularização dos documentos. Cerca de 100
famílias se interessaram pelo projeto que contava com a intermediação das igrejas
protestantes coreanas. Foram feitas uma triagem e 60 famílias estavam habilitadas a
participar desta iniciativa. Infelizmente o projeto não avançou e por falta de experiência
na área, os grupos foram desistindo.
Outra tentativa de reagrupar os clandestinos foi a Fazenda Agrícola Miracatu, comandada
pelo pastor Seung Mann Kim. A cidade de Miracatu, 95 Km de São Paulo. Esta fazendo
tinha sido usada anteriormente neste tipo de projeto.Algumas igrejas estiveram
presentes na administração deste projeto. A Igreja Han In que contava com a presença do
pastor Kim e a Igreja Missionária Coreana, que posteriormente indicou um substituto,
pastor Chang Sôo Lee, como presidente da cooperativa. As divergências internas, a falta
de preparo em lidar com a terra e a anistia dos clandestinos em 1980, limitaram o número
de participantes.
A cooperativa ainda contou com a vinda da Coreia de mais 350 famílias. O plantio de
cacau, palmito, banana, milho, feijão e cogumelos foram os produtos produzidos. Ela
funcionou até 1983.
“A Atuação das igrejas coreanas foi maior do que qualquer órgão da colônia: criaram
uma comissão de Providências Jurídicas, com representantes de todas elas, visando
defender os interesses dos clandestinos, e cada família deveria colaborar com
determinada quantia em dinheiro para ajudar a regularizar a situação dos irregulares”
(Choi, 1991, p. 119)
i
47
Choi, 1985, p. 89. Semaul, em coreano significa vila nova. O movimento Semaul vivido pela Coreia
tinha o sentido de promover desenvolvimento. Atualmente significa progresso.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 65
5 Fixando residência em São Paulo
Com o fracasso da permanência na área rural brasileira, eles vieram à cidade de São
Paulo e ocuparam principalmente as ruas do Glicério e Conde de Sarzedas, no bairro da
Liberdade. Conhecido como Vila Coreana ou bairro Xangai, tornou-se principal ponte de
residência e comércio dos coreanos.
Figura 9 – Construção da Residência-padrão na Fazenda Bonsucesso para imigrantes coreanos, no interior
do Estado de São Paulo, C. 1962 - Acervo: Memorial do Imigrante
Esta região era caracterizada pelos valores dos aluguéis. De acordo com Truzzi, eram
“relativamente baratos”. Outra razão pela escolha destas localidades era o fato de morar e
trabalhar próximo aos japoneses. Isto dava uma maior segurança e permitia a
comunicação. Além do aluguel barato e a proximidade que existia com o centro da
cidade (Choi,1991, p. 97).
A Vila Coreana concentrou o maior número destes imigrantes. Os recém chegados
estabeleciam residência ali. A precariedade e as frequentes inundações tornavam a vida
muito difícil com a falta de estrutura.
Com o passar do tempo e o progresso econômico, eles mudaram, preferindo residir em
outros bairros, mas mantendo os negócios ainda no bairro do Bom Retiro.
Este levantamento histórico ainda presente nas memórias dos seus atores, é uma colcha
de retalhos que paulatinamente vai sendo composta. Ela apresenta uma riqueza de
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 66
detalhes e de experiência merecedora de mais destaque para entendermos com maior
plenitude a vida e cultura dos imigrantes coreanos no Brasil.
6 Rápido crescimento econômico
O trabalho mais acessível aos primeiros imigrantes era
vender de porta em porta os objetos que os coreanos haviam
trazido da Coreia. Em razão disso surgiu o serviço de
intermediação que negociava as mercadorias de mudança dos
imigrantes; os coreanos assumiram a função de sacoleiros e
iam até as residências de japoneses providos de produtos
coreanos”. Won, 2005, p. 47
Outra característica desta imigração foi o rápido crescimento econômico. Eles foram
capazes de, em pouco tempo, proverem o próprio sustento no ramo de confecções, que
tradicionalmente era domínio dos judeus. Apesar do domínio, hoje eles dividem espaço
com os bolivianos. O manejo do comércio de confecções foi a primeira opção na cidade
paulista. Mesmo não tendo nenhuma experiência anterior, os coreanos conseguiram
financiamento facilitado nas compras do maquinário. Os fornecedores davam um
parcelamento de em até três vezes no pagamento das máquinas. A baixa necessidade de
empregar pessoas fora do círculo familiar foi um atrativo para se especializar na
produção de confecções, e em pouco tempo eles já detinham grande fatia do mercado.
Outra razão de êxito era o fato da atividade de confecção ainda não ser bem explorada no
Brasil. Isto fez com que esse grupo se dedicasse, exclusivamente, ao ramo de roupas.
“A confecção foi uma boa oportunidade de trabalho para aqueles que não haviam
conseguido uma ocupação na área urbana e dependendo do esforço, o ganho era
satisfatório”. Won, 2005, p. 47
A presença feminina foi um fator marcante dentro do meio produtivo. Independentemente
de a tradição coreana manter a mulher com funções do cotidiano do lar, aqui elas fizeram
parte integrante do crescimento econômico. A dupla jornada (dona de casa e costureira)
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 67
não intimidou essas mulheres que foram co participantes na produção de roupas e nas
vendas diretas de porta a porta.
“Toda a família unia as forças nessa ocupação: o casal, os filhos maiores de 10 anos ou
os adultos na faixa de 20 anos geralmente costuravam; as crianças e os avôs na faixa
de 60 anos faziam o serviço de arremate. Como costura era um ofício mais comum às
mulheres, na maioria dos lares, o trabalho realizava-se sob a supervisão da mãe”. Won,
“Nesse período, os coreanos conseguiam sustentar com esse trabalho e ainda poupar o
dinheiro ganho para em breve montarem uma confecção de roupa e um estabelecimento
comercial decente, por isso trabalhavam até tarde da noite. Acordavam cedo e depois de
uma rápida refeição sentavam-se na frente de suas máquinas de costura e ficavam até
uma ou duas horas da manhã, portanto exceto o tempo para as refeições, era natural
trabalharem em média 15 horas por dia”. Won, 2005, p. 54.
Para entendermos com maior clareza foi feita uma pesquisa com a Agenda Comercial
Coreana em 1991, onde foram constatados os seguintes números ao que se refere às
funções exercidas por coreanos na cidade de São Paulo.
O trabalho com confecção chega a 80% dentro da comunidade. Existem outras funções,
com menor representatividade como: relojoarias, firmas de importação e exportação,
agências de turismo, bijuterias e presentes, restaurantes, consultórios médicos e dentários,
mercearias, locadoras de vídeo coreano, cabeleireiras, farmácias, escritórios de advocacia
e contabilidade, oficinas mecânicas (Kang, p.54).
Com a liberação de importação de tecidos coreanos o setor fabril sentiu um impacto
direto no consumo e na produção de seus bens aumentando mais a presença dos
imigrantes. Atualmente existe uma saturação deste mercado e os coreanos que trabalham
nesta área está diversificando a atuação dos filhos. É censo comum o desejo dos pais no
apoio aos estudos para que seus filhos sigam outra carreira profissional, deixando este
setor.
“Nova safra de coreanos se distancia das máquinas de costura e brilha em outras
profissões. engenheiros, médicos, juízes, dentistas e até barítonos atuando na
cidade”. Revista Veja- Muito Além do Bom Retiro
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 68
Uma das necessidades do recém chegado é manejar a questão econômica a ponto de se
tornar o mais rápido possível auto-suficiente financeiramente. O imigrante tem muitas
questões de tensão a enfrentar no novo país. O aspecto econômico é sem dúvida, uma das
mais difíceis situações enfrentadas.
Os primeiros coreanos tiveram que enfrentar a falta de apoio por parte do governo e de
dispor uma quantia de dinheiro na compra das passagens, documentação e na aquisição
de terras. A troca de moeda e a sobrevivência faziam parte do dia a dia do imigrante
coreano. A falta de conhecimento da estrutura financeira do país associada à barreira
linguística proporcionou o aparecimento do Kye. Esta formação de grupos de apoio
financeiros foi importante nessa adaptação e no crescimento econômico da comunidade
na cidade de São Paulo. Este sistema, conhecido com kye, foi uma forma encontrada para
driblar a dificuldade.
O Kye, ou danomoshi (termo japonês) é um dos responsáveis por grandes negócios e
crescimento financeiro dentro da comunidade.
Modo tradicional vindo da própria Coreia. Funcionava nos campos até alcançar as
cidades coreanas numa tentativa de oferecer ajuda a quem precisasse. Ele é utilizado
para cobrir despesas de casamento, funerais, festas de aniversários, abertura de negócios.
É um sistema de crédito informal, ou consórcio que funciona através da confiança e que
é estendido e praticado dentro da colônia. As características e funcionamento podem
ser descritos a seguir:
1- Duração de 12 a 36 meses, dependendo do número de participantes.
2- A moeda corrente é o dólar.
3- O organizador do kye é o oia, pessoa influente e de respeito, que assegura os
pagamentos mensais. Ele também é responsável por aquele que não está pagando e
por pagar o contemplado do sorteio.
4- Acontece entre famílias conhecidas e a confiança é a base do grupo.
5- Pode-se participar de vários kye ao mesmo tempo.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 69
O Kye “continua a ser determinante na vida dos imigrantes coreanos, sendo em grande
parte responsável pela sua ascensão econômica” Mi Kim, p 92. Esta desburocratização
para conseguir crédito rápido e seguro foi um dos fatores do crescimento econômico
deste grupo.
O ganhar dinheiro pode ser considerado, dentro da comunidade, como o objetivo
principal. Toda estabilidade financeira conquistada passa por essa visão do trabalho. A
conquista do sucesso é fator de identidade no grupo. Nas entrevistas realizadas
observamos esta tendência de acúmulo e da importância dada ao dinheiro.
No bairro do Bom Retiro, que tem 1800 lojas, os coreanos já controlam 70% dos pontos-
de-venda e, no bairro do Brás, sua participação é de 20%, no total dos cinco mil
estabelecimentos
48
.
48
www.labeurb.unicamp.br/elb/asiaticas/leiamais_coeano; acessado em 13/11/2007
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 70
3 As Organizacões coreanas
“Assim, verifica-se um fenômeno
curioso. O simples fato de ser
coreano fornece uma série de
garantias, mostras de confiança etc.,
unindo todos os subgrupos” (Mi
Kim, p. 20).
Existem algumas associações exclusivamente voltadas para coreanos, tais como a ABC-
Associação Brasileira dos Coreanos; Associação Coreana de Educação; ACGB-
Associação Coreana de Golfe do Brasil; Associação Esportiva Brasil-Coreia; Associação
das Esposas; Associação de Fotógrafos; Associação dos Idosos; Câmara de Comércio e
indústria Brasil-Coreia; Conselho Consultivo Nacional da Unificação da República da
Coreia. O texto abaixo mostra como esta maneira de se organizar foi percebida pelos
estudiosos no assunto:
O povo coreano apresenta uma forma de organização e isto é refletido no grande
número de organizações que existem aqui no Brasil. Eles tentam manter-se em grupo ou
associações, como forma de auto preservação.
Existe a Associação Brasileira dos Veteranos Coreanos, grupos esportivos, como o
Taekwondo (150 a 200 academias no país), modalidade de arte marcial foi trazida ao
Brasil em 1972, por Kiong Su Han e outros mestres. Inclusive este esporte é uma marca
do povo coreano, contando com mais de três mil anos de história. Logo foi disseminado
no território brasileiro, contando, inclusive com participação de brasileiros nas
olimpíadas.
As associações de ex-alunos priorizam os colégios e as universidades freqüentadas na
Coreia para se formar. As associações de ex-alunos do ginásio, por exemplo, ou do
colégio eram de dezessete e das universidades, doze. ( Choi. p.191)
Os restaurantes também desempenham um papel importante dentro da colônia. Muito
além de ser um lugar onde são oferecidos pratos típicos, é um ambiente onde é realizado
todo tipo de contato e a manutenção dos laços culturais. Os restaurantes também são
espaços onde acontecem as reuniões que formam os kyes.
A mídia coreana também tem seu lugar de destaque. Existe uma presença de jornais
diários e semanais em número bem maior do que o percentual de leitores, quando
comparados com o restante da população.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 71
Jornais: o Jornal Cho Sun Brasil, Jornal Dong-A, Jornal Han- Kook, Jornal Joong-
Ang, Jornal Cristão da América Latina, Jornal Evangélico da América Latina,
Jornal Católico
49
;
Tablóides -News Brasil, Boletim Interno da ABC, Bom Dia News, IMOSP,
Nammi-Dong-A, News Namiro Brasil, São Paulo Journal;
Canal de Televisão: TV COREIA, YTN (real time via satélite)
50
;
Internet:www.kol.com.br,;www.nammiro.com.br;www.hanin.com.br,www.hanar
o.com.br
51
.;
Revistas: Nova geração; cultura Tropical, Vida Nova (religiosa), Getúlio, KOCA-
Koreanos Cabeça, JIP- Jornal Interno dos Politécnicos.
49
Choi, 1991, p. 194 menciona a presença desse jornal compublicação em português.
50
www.labeurb.unicamp.br/elb/asiaticas/leiamais_coreano; acessado em 13/11/2007
51
Os sites foram acessados em 13/11/2007
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 72
Capítulo III
Migração e Redes Sociais
Neste capítulo trará um pouco do cotidiano da Igreja Presbiteriana Unida Coreana,
primeira igreja coreana na cidade de São Paulo. Qual foi seu papel dentro da colônia e
suas articulações na formação de redes sociais e adaptação destes imigrantes à realidade
brasileira. Também será abordado como as redes foram organizadas e preservadas dentro
da igreja a fim de ser um fator facilitador de integração e identidade pessoal, revendo
alguns conceitos importantes no entendimento mais amplo da imigração.
1 Migração e Imigração
Antes mesmo de se iniciar a discussão sobre as redes e de como elas desempenharam um
forte papel dentro da comunidade, deve-se trabalhar com os conceitos de migração e
imigração. Estas definições, em termos mais amplos, ajudam a entender um pouco
melhor da dinâmica migratória dentro do campo coreano especificamente presenciado na
cidade de São Paulo. Estes conceitos aproximam o leitor da realidade coreana paulista. A
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 73
construção das redes de movimento dentro do processo migratório foi discutida por
Oswaldo Truzzi (Truzzi, 2008, p.199-218).
As redes, dentro da dinâmica migratória, oferecem uma compreensão mais apurada nas
relações das migrações. O componente humano desempenha algum deslocamento que
envolve a fixação permanente ou temporal de grupos. Estes deslocamentos são
influenciados por fatores externos, como o caso coreano, a guerra, contenção da
população, falta de oportunidades ou simplesmente pelo fato de se aventurar. Os
pequenos deslocamentos aos quais estão diariamente submetidas as pessoas servem como
um pré-teste para saltos maiores. Sendo assim, antes dos coreanos se aventurarem numa
jornada longa e sem volta, como a viagem para o Brasil, eles experimentaram muitos
problemas, que os fizeram refinar a disposição de cruzar o oceano e vir tentar a vida no
Brasil. Truzzi emprega uma classificação trazida por Tilly que nos retrata de forma mais
categorizada o que acontece no setor social quanto aos diferentes tipos de migrações:
Locais
- envolvem deslocamentos conhecidos. Muitos grupos costumam
utilizar rotas usadas até por outros no sentido de suprir uma necessidade.
Circulares envolve o retorno ao local de origem. É o que chamamos de cidades
dormitórios. Elas suprem uma necessidade real, mas não atrai a família a fixar
residência, passando a ser um ambiente onde todos os serviços são realizados e
mantidos fora do local de residência. É um afastamento consciente entre as
atividades seculares (lazer, trabalho, serviços) e o local repouso.
Carreira- quando procura oportunidades de trabalho. A profissão é o que move a
pessoa, ela vai onde a oportunidade estiver, mesmo que o local escolhido esteja
além das pretensões de moradia. A carreira passa a tomar um impulso maior do
que o próprio conforto. Normalmente este tipo de migração é solitária. O cônjuge
vem sozinho, deixando sua família amparada na cidade de origem até alcançar o
sucesso.
Cadeia(chain migration) - esta atende a um apelo de parentes e familiares que
servem de ponte no local de destino. É o exemplo dos coreanos. Quando existe a
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 74
adaptação e a concretização das necessidades do primeiro grupo, existe uma
necessidade de expandir até aqueles que ficaram na terra natal.
“Essa tradição cultural da emigração, a partir da penúltima década do século XIX,
facilitou o deslocamento ao Brasil nos quadros de uma emigração em cadeia, em que
parentes, conterrâneos e agentes de propaganda agiam como uma corrente transmissora
de informações que alimentavam os deslocamentos” (Truzzi, 2008, p. 201).
Em 1960, surge o emprego da idéia de cadeias. Os australianos conceituaram o termo da
seguinte maneira:
“movimento pelo qual migrantes futuros tomam conhecimento das oportunidades de
trabalho existentes, recebem os meios para se deslocar e resolvem como se alojar e como
se empregar inicialmente por meio de suas relações sociais primárias com emigrantes
anteriores” (Truzzi citando MacDonaldo, 2008, p 202).
Estes conceitos retratam uma condição específica desta etnia. Truzzi afirma que as
imigrações em cadeia são comuns para povos desta região.
Dentro da realidade coreana em São Paulo podemos ver a relação presente da imigração
em cadeia. São os parentes que promovem a cidade. Eles atraem os demais familiares ao
compor um quadro de sucesso e bem estar que só será desfrutado se houver a coragem de
deixar o país de origem.
Existem aqueles indivíduos que viam ao país desejado, munidos apenas da vontade de
obter sucesso e conquistar uma vida melhor. Dentro do exemplo coreano, são poucos os
imigrantes solteiros. A maioria vinha com os pais, cônjuges ou filhos. A família era
responsável por desempenhar uma força emocional, no sentido de manter os laços e de se
auto ajudar. O lado econômico era outra conquista da parentela. Na área de confecção,
eram os membros da família que faziam o negócio dar certo através do trabalho exaustivo
nas máquinas de costura. Desta forma, o que se é a chegada da família (pais e filhos).
Eles se deslocavam juntos e juntos se mantinham contribuindo no sustento da casa como
força de trabalho.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 75
contemplavam na verdade alguns tipos distintos de cadeias migratórias: as migrações
de homens solteiros; a imigração contínua de trabalhadores incentivada pela ajuda de
outros indivíduos trabalhadores instalados ; e a imigração defasada da família. Onde
acontecia o desmembramento da família, aonde o homem vinha sozinho até estabilizar-se
e trazer, posteriormente a família”(Truzzi,2008, p. 201).
Esta relação familiar era tão forte que as estatísticas se preocupam em contar as famílias
chegadas no Brasil. Mesmo aqueles que viam sozinhos tinham como objetivo principal
juntar os parentes e servir de apoio para os demais. Os registros de chegada mostram
11.525 famílias vindas da Coreia para o Brasil.
“ A imigração subsidiada realmente assumiu proporções muito notáveis no Brasil,
sobretudo em São Paulo” (Truzzi, 2008, p 205).
Os imigrantes não dispunham de um protecionalismo tão acirrado assim e eram eles
próprios quem bancavam suas despesas. Em alguns momentos eles contaram com uma
ajuda mínima para custear as despesas mais básicas. Diferentemente de outros grupos
(japoneses, italianos) que contaram com o apoio do governo e de particulares, eles
tiveram que financiar sua viagem e a compra das terras de cultivo. As famílias saiam
com capital obtido através da venda de bens e acúmulo de dinheiro. A rede formada no
interior das famílias coreanas foi determinante na imigração destes ao Brasil. Qual seria a
conceituação mais adequada de redes sociais e migratórias, visto que, no caso estudado,
ambas estiveram lado a lado?
Para responder ao questionamento acima vale a pena entender a existência e uma
diferenciação entre redes sociais e redes migratórias, como sugere Truzzi (Truzzi, 2008, p
207). As redes sociais dão o suporte para que se formem as redes migratórias. As redes
sociais podem sobreviver por si só, mas as migratórias necessitam de um apoio na terra
de destino, elas são iniciadoras e contribuem passanda informação e, segurança, dicas de
sobrevivência e orientações aos interessados no deslocamento geográfico. Elas passam a
ter um papel decisório, já que possibilitam que a rede migratória aconteça com muito
mais força. As redes se intensificam, no caso coreano, antes mesmo de cruzar o Atlântico,
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 76
através de informações, apelos atrativos, cartas de parentes alocados aqui. Também foi o
caso da dia coreana, como foi mencionada em outro capítulo, ela estveve presente
promovendo um sonho. Sonho de alcançar os mais altos objetivos e sucesso. A
propaganda era tão intensa que até tabelas de quantidades de terras necessárias para o
destino de cada produto eram divulgadas nos jornais coreanos a fim de atrair interessados
como se vê logo abaixo: As terras passíveis de cultivo por família de cinco membros,
sendo três ativos:
Interessados em
cultivar Verduras
0.5 a 1 alqueire de terras
Interessados em
cultivar Batata
1 a 2 alqueires de terras
Interessados em
cultivar Arroz
5 a 6 alqueires de terras
Interessados em
cultivar Café
6 alqueires de terras
Interessados em
cultivar Algodão
7 alqueires de terras
Tabela 10 - terras de cultivo por família (Fonte: Choi, p. 227v)
Portanto existiu um contingente trabalhando conjuntamente no complexo amaranhado de
redes. A mídia, os governos (brasileiro e sul coreanos) e as famílias formaram uma força
tarefa no rumo de trazer famílias ao território brasileiro. Estes grupos, e em especial o
grupo familiar, tem um poder de decisão muito forte (Truzzi, 2008) transformado seus
sonhos em ações concretas (deslocamentos). Cabe a família emigrada uma parcela
significativa na vinda dos parentes.
A idéia de que as redes migram” ( Carleais, 2004 cf Soares), pode ser observada na
comunidade coreana. Eles usufruíram dos contatos inter pessoais no país de origem para
atrair seus familiares para São Paulo e aqui, intensificaram a presença das redes através
de ações concretas.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 77
2 Redes Sociais
O estudo de redes sociais se intensificou na década de 80, com estudos e pesquisas que
apontavam para uma forma de entender as relações sociais. Elas não foram uma
invenção dos anos 80, apesar de neste período termos as principais teorias compiladas.
As redes e suas relações se manifestam diante de uma necessidade real. Os exemplos no
decorrer da História da Humanidade refletem o surgimento inevitável destas invenções.
Os homens se ligavam e formavam grupos de interesses comuns. Tomando como
exemplo Mance aborda o exemplo das ligas camponesas, as hansas dentro do sistema
feudal como modelos de redes já utilizados antes. Elas eram redes comerciais importantes
na comunicação entre as classes e os detentores do capital. Foi um movimento em torno
de uma necessidade comum que concentrou os interessses de um grupo.
Muitos outros grupos foram sendo forjados e desempenharam grandes impactos na
sociedade ou alguns se desfizeram quando a necessidade foi suprida. Esta interação das
redes está associada a dinâmica da sociedade. Quanto maior for a vida e as relações de
convívio, maior serão as estruturas de redes, de apoio e de sobrevivência.
Tem-se falado exaustivamente sobre as redes, mas de fato, como se pode conceituá-las?
Como é possível identificar e apresentar a devida compreensão?
2.1 Integração de Diversidade
Existem algumas concepções sobre o aspecto teórico das redes. Por exemplo, Warren
as redes como sendo capaz de possibilitar a “integração de diversidade”. De acordo
com a autora, elas não estão ligadas a unidade. A rede de movimento, dentro do seu
escopo de estudo é apresentada como uma forma que conduz a um perfeito equilíbrio
entre o local e o global, ou seja, entre os extremos. Não havendo nenhum conflito que
desacredite sua força e influência.
Quanto a essa “integração de diversidade”, Warren escreve, dizendo que a rede:
“Busca as formas de articulação entre local e o global, entre o particular e o universal, entre o uno e o
diverso, nas interconexões das identidades dos atores com o pluralismo”. (Warren: 10).
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 78
Ele ainda acrescenta, enfaticamente que:
“A rede busca o compromisso com os princípios humanísticos que permitem a comunicação, articulação,
intercâmbio e solidariedade entre atores sociais”. (Warren: 10)
Outros teóricos, como é o caso de Santos observam a rede de sua forma mais estrutural,
ou seja:
Um emaranhado tão ordenadamente interligado que a sobrevivência, fora dela, torna-se inviável. Esta
rede precisa destas ligações para se manter forte e resistente aos impactos externos. Sua preservação
provoca mudanças sociais tão relevantes que o participar dela torna-se indispensável a sobrevivência”.
Diante destas afirmações podemos entender que as redes podem adquirir um aspecto
plural, ou seja, ser um centro receptor, não do que é inteiramente igual, mas trabalhar
com aspectos em comum. O ambiente de formação da rede pode apresentar algo que
identifique os autores, que ligue, que vincule a pessoa a este movimento. Por exemplo, a
língua, a cultura, a opção religiosa.
2.2 Colaboração Solidária
As redes de movimentos, como foi dito anteriormente, estão sempre associadas a uma
necessidade real dos atores. Um observador dirá com toda segurança sobre a crescente
crise que o mundo vem enfrentando ao longo das décadas. A pobreza e a condição de
miséria que o ser humano tem passado remete a uma colaboração solidária” (Mance:
14).
Este é um conceito bastante impregnado nas redes. Ela pode ser construída a partir do
significado da palavra colaboração, quando significa trabalhar juntos e solidariedade que
pode ser interpretada como aquele que:
“indica uma relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de
maneira tal que cada elemento do grupo se sinta na obrigação moral de apoiar os
demais” (Santos).
Este posicionamento dentro da rede seu caráter filantrópico, característica comum
dentro destes grupos. A possibilidade de autonomia individual dentro do grupo é algo que
contempla seus autores, que com o suporte conseguido através da rede se ajusta e
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 79
retoma sua identidade que outrora teve em seu país de origem. As redes de movimentos
(network organizations) possibilitam estes ajustes sociais e os imigrantes conseguem, em
terra estrangeira, desfrutar do sentimento de pertencimento por parte de seu próprio
grupo.
Esta característica é algo bastante presente dentro da igreja coreana onde se encontram
vários tipos de apoio aos coreanos, por exemplo, existe um folheto de instruções Tudo o
que você precisa saber quando um ente querido falece” (vide anexo). Ali são dadas as
informações desde os primeiros passos da família, a obtenção de atestado de óbito,
agências de serviço funerário até o apoio de conforto espiritual.
A colaboração solidária pode ser entendida a partir do resgate da própria desorganização
da sociedade quanto ao aumento da pobreza, insegurança e violência. O agrupamento das
pessoas se fora do âmbito estatal e até da sua vontade. É uma forma de busca de
sobrevivência e de contornar a própria miserabilidade. No caso dos imigrantes coreanos
eles precisavam estabelecer vínculos de auto-ajuda que também foi oferecida pela igreja.
Por outro lado, essa mesma condição de miséria e insegurança vivida apelo homem pode
trabalhar no sentido de reforçar seu apego ao grupo social em que está inserido. Ele se
isola dentro do seu próprio grupo, afastando-se da convivência social. No caso coreano a
ruptura aconteceu dentro dos parâmetros do convívio com brasileiros. A colônia se
fechou em torno da cultura, festividades, casamentos.
2.2.1
Casamento Coreano: um exemplo de colaboração solidária
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 80
Figura 10 – Casamento coreano
A cerimônia, cheia de simbolismo, marca o início de entrada da mulher para a família do
marido. Os trajes (hanbok) típicos são milimetricamente mantidos. Os sogros jogam
jujubas secas ao novo casal dizendo: “tenham muitos filhos” num desejo de que nasçam
filhos homens, pois eles são os responsáveis pela continuidade do nome da família.
O casamento coreano, por exemplo, mantém um tabu muito grande de casamentos mistos
entre coreanos e brasileiros. Esta prática ainda é muito tímida. A colônia, em geral, se
envolve socialmente com brasileiros apenas quando existem interesses bem concretos. É
o caso de almoços de negócios, da necessidade de estabelecer contatos com fornecedores
e clientes. Após essa breve abertura ele volta a interagir, única e exclusivamente, dentro
do seu grupo. As decisões, principalmente, aquelas que implicam diretamente na vida dos
jovens são acordadas no seio da família. A família decide o futuro dos filhos e quais vão
ser os futuros cônjuges, mantendo a hegemonia étnica preservada. Os sobrenomes m
uma importância muito grande e também são responsabilidades da família. À medida que
o jovem se aproxima do casamento, existe o cuidado na escolha acertada do
esposo/esposa, via sobrenome.
Ainda em relação ao casamento, as condições favoráveis para ser um marido aceitável
dentro da colônia são: ser coreano, ser mais velho, ir à igreja e ter trabalho. Este é o
padrão coreano de casamento (Kang,1993,p.134).
A entrada nesse grupo fica comprometida já que a forma natural seria a miscigenação. Os
casamentos mistos ainda são vistos com muita reserva por parte da comunidade.
Nesse aspecto o casamento serve de “solidão étnica” para o coreano, onde o pertencer ao
grupo está associado à preservação das características culturais e isto implica numa
colaboração solidária. Kang, também em seu estudo, observou esta característica. Ele
apresentou alguns trechos de entrevistas onde o dialogo com outros grupos, em especial,
com os brasileiros fica comprometido. (Kang, 1993, p. 134). Termos como os descritos
abaixo mantém o grupo fechado em torno deles mesmos.
“Ele resolveu viver como brasileiro.”
“Ele está bem abrasileirado.”
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 81
“Até agora, sou uma coreana, mesmo”.
“Eu vou-me sentir melhor casando com coreano.”
“Eu nem tento me aproximar muito dos brasileiros para não ter problema com meus
pais”.
A socialização e a permanência em redes serão garantidas para quem comungar das
mesmas características, inclusive, físicas. O jovem coreano passa por uma situação
crítica, pois transita em dois mundos. Não é difícil encontrar um jovem que vive um
dilema na sua identidade.
“Quando estou no Brasil, sinto-me coreana. Quando estou na Coreia, sinto-me
brasileira.”
2.3 Questões políticas dentro da rede
As redes não contemplam apenas o indivíduo dentro do grupo e todos os dilemas de um
jovem/adulto imigrante, elas também trabalham vislumbrando o trabalho em
coletividade, apesar de destacar o fator de importância do indivíduo. Dentro da vida
social coreana encontramos várias ações coletivas. Através delas pode-se perceber que:
“O mais relevante dentro desta perspectiva metodológica não é tanto o entendimento
dos movimentos enquanto partes estruturadas ou estruturantes da realidade, mas
enquanto processos de ação política, enquanto práticas sociais em construção, enquanto
movimento propriamente dito”. (Warren, p. 22)
Isto quer dizer que a preocupação do pesquisador é entender as reais motivações que
levam a determinadas práticas dentro da rede. O estudo ainda é recente comparado ao
grande número de redes de movimentos que se formam. Apesar de estes movimentos
estarem “interconectados pelas questões étnicas, políticas” (Warren: 24), assumindo a
necessidade de internamente a busca “utópica” pela paz, tolerância, harmonia, justiça
social, a instituição desempenha um papel que vai além, pois ela providencia o resgate
identidário, oferecendo a segurança do imigrante a manter suas características culturais
inabaladas, apesar da distância geográfica.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 82
As redes têm crescido dramaticamente e por isso alguns recorrem a uma reflexão de que
este aumento das redes de apoio caracteriza um início de uma anarquia. O distanciamento
das ações do governo e, consequentemente dos deveres deste Estado está cada vez mais
ausente quando uma rede é formada. A busca do cidadão comum em se agrupar e
alcançar uma qualidade de vida apropriada torna estas ações desassociadas à vontade do
governo quanto a este ator. Warren chama de um “neo-anarquismo humanístico”. Esta
“crise” entre sociedade civil e estatal aponta para um engajamento maior ao mesmo
tempo em que se observa que esta ‘independência social’ torna-se uma característica da
sociedade contemporânea. A massificação da comunicação, a informação ao alcance de
todos tornou possível esta construção de redes de movimentos, tornando-as uma realidade
continuada e numa velocidade incrível. Independente da vontade política/governamental,
a igreja tem sido uma forte incentivadora da criação de grupos de solidariedade. Elas são
incentivadas a participar ativamente, utilizando seus próprios recursos e arrebanhando um
contingente significativo de adeptos.
2.4 Sociedade atomizada
Independente de ser imigrante ou não, a humanidade está vivendo um momento em que
as pessoas estão cada vez mais solitárias, como já foi dito anteriormente. O
individualismo supera os relacionamentos tácteis. A televisão, e agora a internet, no seu
alcance instantâneo e ilimitado projetam as pessoas para dentro de si mesmas. Sua
identidade está delimitada a esse espaço, criado por ela mesma, a fim de se defender, a
fim de se isolar. As quebras das relações interpessoais lançam o indivíduo num processo
individualizado que tem se alastrado nas sociedades industriais. O fim do convívio, da
interação e dos motins aqui entendido como participação coletiva de troca de
informações sendo elas negativas ou não, projeta uma sociedade enclausurada, como se
fizesse parte de um átomo. A divisão de um corpo chega a um limite em que se torna
indivisível, ou seja, o átomo. Mas até ele precisa se juntar, se unir a outras partículas para
realizar sua função na célula, o que vemos no mundo moderno é a insistência do ser
humano de manter-se ensimesmado.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 83
Surpreendentemente à tendência atual, as redes trazem à tona a identidade construída
dentro do grupo, do coletivo. Estas redes, portanto, atuam no contra fluxo do que se
presencia diariamente. É a interação, é o compartilhar experiências é o fortalecimento
mútuo que tornam as redes resistentes ao próprio caminhar do mundo. Warren chama este
fenômeno de sociedade atomizada.
2.5 Características das redes Coreanas
Podemos dar, a efeito de sistematização, uma caracterização das redes. As redes que
intencionalmente foram criadas como meios possibilitam as ações. Todas as ações
solidárias são redes em potencial, que pouco a pouco se conectam dando as
características de redes propriamente dita.
“A idéia elementar de rede é bastante simples. Trata-se de uma articulação entre diversas unidades que,
através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se
multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que são
fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável.
Cada nódulo da rede representa uma unidade e cada fio um canal por onde essas unidades se articularam
através de diversos fluxos”. Mance p 24
Citaremos algumas características das redes de movimentos, de acordo com Warren.
Seus atores podem se articular na busca de interesses em comum. Mesmo grupo
étnico, mesmo instituição religiosa ou girar em torno de uma circunstância
particular/ momentânea. Exemplo do que foi feito na constituinte quando a ala
evangélica se uniu em favor de uma causa definida. Trazendo para a realidade
coreana pode-se citar as inúmeras associações. Grupos criados para garantir os
interesses comuns do grupo (vide lista completa em anexo).
o Associação dos Coreanos Naturalizados;
o Associação dos ex-alunos do colégio e/ou universidade (29 associações);
o Associação dos Pescadores do Farol;
o Associação dos Juristas Coreanos-brasileiros;
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 84
Transnacionalidade. Elas estão no âmbito internacional, não apenas local, mas
cruzam as fronteiras geográficas e culturais em torno de um projeto comum. O
exemplo disso são as ONGs. Elas têm estas características e ainda contam com
apoio financeiro externo, o que provoca muitas vezes uma grande tensão interna.
As decisões e os projetos resultantes vêm diretamente da ação de uma ONG.
Outro exemplo é dos Kyes (Cap II). Eles cruzaram o oceano, vindo de uma prática
corrente na Coreia, chegando às terras brasileiras. Apesar da distância, manteve
todas as suas características de origem sendo um importante componente
econômico e social dos imigrantes coreanos.
Pluralismo organizacional e ideológico. São redes que conseguem absorver dentro
de si as mais diferentes posições ideológicas, desde que nas mínimas coisas
tenham concordância. Elas podem ter atores de diferentes organizações.
Redes que atuam na área cultural e política. Tem interesse em “transformar a
opinião pública”, quando se envolvem nas grandes discurssões como fome,
pobreza ou direitos igualitários para todos.
Intensividade e extensividade. O surgimento de outros nódulos, pois a adesão do
maior número de pessoas aumenta a intensividade à rede. Ela se auto-reproduz.
Independente da localização geográfica a rede pode alcançar grupos que nutrem
as mesmas caracrterísticas e que necessitam das mesmas bases de solidariedade.
Nada impede que ela ultrapasse as fronteiras, ou seja, ela passa a ser extensiva,
não conhecendo barreiras territoriais, afetando outro ‘nódulo’ da rede compondo
um quadro maior.
Diversidade. Quando a rede consegue absorver e trabalhar dentro da
multiplicidade cultural, étnica, por exemplo, ela está sujeita ao crescimento e a
estabilidade de permanecer. Esta característica não está tão presente dentro das
redes coreanos. O fator primordial para a frequência de uma rede social, dentro do
grupo coreano, é exatamente as semelhanças e o compartilhar dos mesmos
interesses. Apesar de não haver 100% de coesão, eles conseguem sobreviver por
similaridades maiores tais como: língua, tradição e cultural.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 85
Integralidade. O cumprimento do conjunto das reclamações é de interesse do
grupo. Ganha quando todos puderem ter suas necessidades supridas. Esse
componente integral das redes age como uma voz uníssona. O se fazer ouvir e ser
ouvido atenua todo tipo de carência social vivida pelo estrangeiro.
Realimentação. Ela apresenta um círculo vicioso, que suas ações acabam
alimentando a própria rede.
Redes religiosas, não mencionadas pela autora, mas de relevância para esta
pesquisa, torna-se parte importante, quando desempenha uma forte ligação de
integração social entre o recém chegado. Ela determina, em até certo ponto, o
procedimento de cada um dentro do grupo. Além da acolhida e o fornecimento de
recursos práticos (aluguel, emprego, intérpretes...) ela determina a vida social
deste imigrante fazendo-o parte dos grupos de apoio.
A o participação nas entidades religiosas é um meio de segregar o indivíduo. Alguns
que seguem o modelo de não estar filiado a uma igreja vivem isoladamente do grupo. É
uma decisão que reduz o impacto da proteção dispensada àqueles que estão sob a
proteção da igreja. Em alguns casos o indivíduo torna-se um frequentador assíduo com
objetivos bem claros: conseguir uma esposa/esposo. A igreja torna-se palco de interesses
matrimoniais.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 86
2.6 As redes sociais no Brasil
Os movimentos populares dos anos 70 se organizaram em torno das necessidades da
comunidade. Naquela época era comum as iniciativas e inúmeras reivindicações. A falta
de água, luz, creche eram demandas suficientes para o surgimento de grupos
mobilizadores em prol de atender essa necessidade real. Nos anos 80, os movimentos
sociais surgem com muita força. Os movimentos sindicais tais como a criação da CUT,
CGT, USI, articulam-se a fim de conquistar os direitos dos trabalhadores num âmbito
mais estruturado. Por outro lado, também aparecem as Comunidades Eclesiais de Base
mantida pela ala mais esquerdista da Igreja católica. A mobilização da população na
criação de grupos foi a mola propulsora para o aumento espetacular (boom) de
organizações interligadas em redes sociais.
Os estudos demográficos dos anos 80 mostram também uma dinâmica significativa nas
entradas e saídas do país. Uma das razões conferidas a este aumento de estrangeiros em
solo brasileiro foi o momento em que a situação econômica brasileira passava. A
estabilidade e o crescimento econômico conseguido através do fim do regime militar
orientaram a intensificação dos imigrantes. Apesar deste momento de desenvolvimento
econômico, o Brasil estava envolvido em uma “crise de identidade”.
52
A abertura política e a oportunidade de participar dos desfechos da vida brasileira
trouxeram uma sede no sentimento participativo do brasileiro. Foi um período em que as
organizações sociais proliferaram no Brasil
53
.
O sentimento de pertencimento foi algo marcante para estes grupos, outrora isolados pela
drástica censura. Apesar do poder limitado destes grupos, no que se referem ao alcance
político, elas dentro da coletividade, foram relevantes para dar suporte àqueles que se
sentiam solitários ou até mesmo excluídos. Alguns grupos ganharam um pouco mais de
52
Ilse Scherer WARREN, p 115
53
Warren descreve a formação de alguns grupos como as associações de bairro, a ANSUR (Articulação
Nacional do Solo Urbano), Rede Brasileira de Solidariedade(ONGs /AIDS), MNMMR (Movimento
Nacional de Meninos e Meninas de Rua).
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 87
força, como foi o caso das ONGs (Organização não governamental). Na década de 80
elas chegaram a cerca de mil ONGs.
54
2.7 Redes sociais coreanas
“No caso coreano, as igrejas cristãs também exerceram um
importante papel, dando suporte social e econômico aos
imigrantes e colaborando para sua inserção na sociedade
brasileira”. (Freitas: 152)
No caso coreano a imigração teve seu início nos anos 60, caindo drasticamente” em
1986. Isto se explica pela política externa que pôs mais restrição à entrada de imigrantes e
a estabilidade econômica enfrentada pela própria Coreia do Sul.
55
Uma discussão que
Warren traz são de que as redes tornaram-se centros de:
“construção de novas utopias ou novos modos de vida alternativa”. (Warren, 1996, p.
123).
São nas redes sociais de movimentos (network organizations), que os atores produzem as
alternativas para o surgimento das inter relações. A rede, como uma forma de
organização das instituições, determina a identidade do grupo representada por estas
redes, dando uma uniformidade, e mantendo o grupo com características comuns. Não é a
toa que, os freqüentadores/participantes das redes devem preencher um padrão comum.
Por exemplo, língua em comum, região de origem, nacionalidade, crença. Deve ter algo
que faça uma ponte entre estas redes mantendo-a com características próprias ao grupo
que oferece alguma assistência e solidariedade. O imigrante, devido às suas condições
adversas, muitas vezes se integra a grupos, familiar ou de conterrâneos a fim de buscar
ajuda, informações úteis para viver no novo país. Um exemplo disto foi o que aconteceu
com os primeiros coreanos prisioneiros de guerra. Eles puderam contar com a ajuda de
coreanos naturalizados japoneses que residiam no país. Estes, por sua vez, puderam
ajudar o primeiro grupo (1963) como intérpretes e facilitador de adaptação ao novo país.
54
Warren, p 117
55
Won, p 83
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 88
2.7.1 Redes de parentesco na comunidade coreana
A estrutura familiar de parentesco é algo que está intimamente ligado a própria tradição
coreana. O parentesco fornece uma rede social capaz de manter a sobrevivência. O
confucionismo forneceu essa base, que define o parentesco e as ações do grupo sendo
estendida a este grupo.
“pode-se dizer que o espírito da sociedade coreana está presente em cada uma das dimensões da vida
social, através do predomínio do universo do parentesco, com a sua visão particular concernente a
atitudes, deveres e direitos. Esta predominância se registra, por exemplo, no fato de que uma condição
ainda hoje em voga para a realização de um bom casamento é a proibição de uniões entre pessoas de
sobrenomes iguais, procedentes de uma mesma região”.(Mi Kim, p. 86)
A família se estabelece como mantenedora da identidade do ser coreano. Ela age como
guardiã do ser e permanecer coreano. As redes foram uma alternativa para desenvolver e
assegurar a identidade étnica deste grupo de imigrantes. As primeiras redes de apoio
foram observadas dentro do seio da própria família. A criação destes entrelaçamentos foi
incentivada por parentes residentes aqui, que chamavam outros parentes coreanos,
oferecendo toda a ajuda possível na adaptação através de recursos financeiros, moradia,
emprego. Estas redes familiares foram importantes no crescimento econômico na área da
confecção.
56
Muitas redes foram formadas a partir de um a necessidade real do grupo como foi dito,
por isso elas têm características próprias. Quando se oferece um ambiente em que o
indivíduo pode manter suas raízes através da língua, grau de parentesco e mesma origem
étnica,
57
isto torna o impacto da mudança menor. Cada qual procura encontrar algum
referencial que se aproxime de sua própria realidade. A própria condição de imigrante,
como o termo declara é daquele que se desloca de um lugar a outro, situação esta que
intensifica uma perda significativa de identidade. Santo uma contribuição reflexiva
sobre a condição real daquele que sai da sua parentela para uma terra distante.
56
Oswaldo Truzzi e Manuel Castells p. 41
57
Adelita Carleials
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 89
“Não emigração sem imigração. Quem sai de um lugar é imigrante para quem fica, mas se torna
imigrante para a sociedade que o recebe. O imigrante carrega assim uma dupla condição de ser ao mesmo
tempo e/imigrante, mas como não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, sua existência individual
e social e ambiguamente vivida” (Santos p.205)
Custumes como a reverência aos mais velhos (Seh-bet) perpetua a rigidez na hierarquia
familiar, tornando as relações de parentela algo muito significativo dentro da
comunidade.
2.7.2 Redes relacionais: o jovem coreano
“Mas, mesmo que o indivíduo tenha saído de seu país na
busca de melhor meio, não fica livre da tarefa de enfrentar o
choque de símbolos, valores e crenças. Pois, fica debilitado
seu mundo doméstico que servia de centro significativo de sua
vida, perdendo individual e coletivamente detidos
integradores do mesmo” (Berger ET alli, 1979 citado por
Kang, p 48)
A convivência em grupo é algo característico neste grupo. É notório encontrar jovens
passeando nos shoppings e centros de lazer. As redes de amizades não extrapolam a
convivência com os brasileiros como já foi mencionada anteriormente. Estes grupos, com
características e comportamentos próprios delimitam a atuação da rede. Entre eles existe
até uma distinção de grupos, que não são exatamente um estereótipo, mas uma forma de
classificar- se em “subgrupos”. Os que nasceram no Brasil, coreanos que moram no
Brasil e os coreanos residentes na Coreia. Dentro daqueles que moram no Brasil também
existe uma nomenclatura de identificação:
Gerações Característica
Geração 1.0 Veio da Coreia a partir de 14 anos de idade.
Geração 1.7 Veio da Coreia a partir de 10 anos de idade.
Geração 1.8 Veio da Coreia a partir de quatro anos de idade.
Geração 1.9 Veio da Coreia com meses de nascimento.Quase não fala o idioma materno.
Geração 2.0 Nasceu no Brasil.
Tabela 11 – Classificação das gerações de imigrantes Coreanos para o Brasil
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 90
Figura 11 – Grupos de relacionamento prioritários na Escola Polilogos
Ainda existe outra classificação daqueles que residem no Brasil (Mi Kim).
Coreanos-coreanos- são os nascidos na Coreia, ou que vieram ainda pequenos para o
Brasil.
Coreanos-brasileiros- o os nascidos no Brasil, ou os que “transitam entre a
sociedade brasileira e coreana”.
Abrasileirados- que são vistos com reserva pela colônia. Normalmente estão a pouco
tempo no país e decidiram não participar de nenhuma associação ou grupo coreano.
O imigrante, principalmente o jovem coreano, transitava nos dois mundos: na Coreia
tradicional, que mantém toda sua carga de tradicionalismo como a cerimônia do Randon
Ran, por exemplo, festa de um ano de vida das crianças. Por outro lado, recebe no
cotidiano toda a carga de ser brasileiro, onde a informalidade ganha a roupagem da
característica despretensiosa do povo brasileiro. Essa liberdade e a rigidez recebida pelos
pais tornam essa dualidade presente na vida desse jovem.
A educação tem um papel muito importante dentro desse traçado de redes. As relações
sociais que acontecem na escola determinam um comportamento que se mantém ao longo
das décadas. Como foi dito, na realidade coreana é possível observar o moderno se
misturando às formas tradicionais da sociedade. Esta simbiose de culturas fica mais
notadamente na 3
a
. geração. Os jovens, apesar da relação familiar ainda ser forte,
apresenta um lento distanciamento da cultura tradicional. A fluência da língua coreana
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 91
tem sido, paulatinamente, trocada pela língua portuguesa. No levantamento que foi feito
entre jovens da Escola Polilogos, onde 99% são descendente de coreano, observou-se a
preferência do idioma português em relação ao coreano.
Figura 12- Idioma respondido nos questionários
Estes contrastes vão dando as características desta nova geração. Para conhecer um pouco
mais da realidade destes jovens, é necessário resgatar um pouco como a educação é vista
na Coreia do Sul e como isso foi importado para jovens coreanos no Brasil.
A) A Educação coreana
“Curiosamente, ouve-se dizer entre os coreanos, com uma pontada de orgulho, que, enquanto o Japão
armava-se através da figura do samurai, o scholar confucionista coreano estava mergulhado em livros”. (
Mi Kim, p. 85)
Na dinastia Chosun (1392-1910) a educação formal ficava restrita aos homens. As
mulheres se restringiam a como se portar no dia a dia, às aulas de boas maneiras dadas
pela mãe à filha como um preparatório ao casamento, a ter uma linguagem correta e a
preservação dos costumes.
58
Atualmente a questão da educação dentro da cultura coreana é algo muito apreciado. Os
pais fazem questão de propiciar a melhor educação ao filho. Na Coreia do Sul, o esporte
58
Won, 2006 p. 29
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 92
preferido é o estudo. A criança passa mais de dez horas diárias na sala de aula. O índice
de analfabetismo é quase zero. Fazendo uma comparação com o Brasil, que nos anos 80
nutria uma condição econômica e política melhor que a dos asiáticos.
Figura 13 - Percentual de jovens (na Coreia e no Brasil) que entram na universidade
Os pais exercem forte influência no curso da socialização dos filhos através do seu empenho educativo ao
estilo coreano.” (Kang, 1993, p. 2)
As escolas cristãs também têm sido muito importantes no crescimento deste povo, uma
iniciativa direta da chegada do cristianismo, principalmente dos presbiterianos, que
criaram escolas em “quase todo território coreano”.
59
“A educação na atual Coreia é pública e todos têm direito garantido pelo governo. No entanto, a formação
dos filhos é levada tão sério que pais oferecem aulas particulares para os filhos com o objetivo destes
entrarem nas melhores universidades, no caso, a Universidade de Seul. O clima de concorrência faz parte
do dia a dia”. (Mi Kim, p. 85)
B) Escola polilogos
Fundada em 1999, a escola Polilogos contou com o apoio do governo coreano. 99% dos
alunos são coreanos ou descendentes. Atualmente são 350 alunos e o objetivo do colégio
59
Araujo, p 42
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 93
é oferecer à colônia alta qualidade de ensino e preservar a cultura. A instituição também
age no sentido de abrir as portas para brasileiros estudarem na instituição. Um dos
objetivos que vai nessa direção é o projeto de modificar a fachada da escola que conta
com o nome da instituição em coreano dificultanto a identificação por brasileiros. O
prédio moderno conta com salas amplas e bem estruturada nos remetendo à atual Coreia,
onde o progresso anda de mãos dadas com a educação.
O público é composto basicamente por filhos de coreanos recentes, ou seja, que ainda
estão se adaptando. Estes alunos contam com o apoio de bolsas de estudos para custear
seus estudos. Diferentemente das outras gerações que preferem colocar seus filhos em
escolas mais tradicionais paulistas como colégio Objetivo, Etapa, Bandeirantes. As aulas
são oferecidas da educação infantil até o ensino médio. O ensino é bilíngüe, aulas em
português e em coreano.
Foi feita uma pesquisa através de preenchimento de um questionário (modelo em anexo)
nesta escola. Estas informações possibilitaram observar algumas características que
ajudam na composição do quadro do imigrante. O perfil dos entrevistados é de uma faixa
etária entre 15 a 20 anos. O resultado dos números mostra jovens adolescentes mais
entrosados com o idioma português, do que propriamente com o coreano. Outra
característica do grupo é o fato da importância dada ao grupo. Eles preferem passar mais
tempo entre os amigos e atividades na igreja ( a maioria é protestante) do que com os
familiares. A igreja e a escola, nesse contexto, se fundem muitas vezes, pois os amigos da
escola passam também a frequentar a igreja mantendo o mesmo ambiente. As redes
formadas aqui não buscam soluções críticas, mas identificam uma necessidade de
compartilhar através da amizade.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 94
Figura 14 – Grau de importância de cada grupo humano (a média de cada grupo pode variar de 0 a 100%)
para os alunos da Escola Polilogos
Figura 15 – Perfil religioso dos estudantes da Escola Polilogos
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 95
Capítulo IV
As Redes e as Igrejas
“No caso da imigração coreana, a
aglutinação foi exercida pelas
igrejas” Choi, p. 158
A contribuição desta pesquisa será dada através do estudo do papel das redes e como elas
foram exaustivamente utilizadas dentro da comunidade coreana e, sobretudo dentro das
igrejas protestantes na cidade de São Paulo. Como o tema é bastante complexo, nos
limitaremos a permanecer dentro deste escopo por considerar a abrangência do efeito das
redes sociais muito amplas.
1 Imigração coreana e as redes sociais
Desde o início a igreja esteve presente no projeto de imigração coreana. A presença
maciça de protestantes nos grupos oriundos da Coreia, principalmente da primeira
imigração, mostra essa presença marcante. A igreja também mostrou sua importância,
quando se envolveu diretamente nestes assuntos. Podemos citar o exemplo do projeto de
colonização das fazendas Santa Cruz Semaul e a Cooperativa Agrícola Miracatu. Em
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 96
ambos os projetos gerenciados pelo governo coreano teve como representante principal
as igrejas.
A questão das igrejas, na imigração coreana, foi um fator aglutinador. Dentro desse
aspecto a relevância foi primordial.
Diferentemente de outros grupos migratórios, os
coreanos mostraram desde o começo algumas diferenças que caracterizaram
posteriormente o movimento migratório. Vejamos alguns dados que autentica essa
afirmação:
1. Os coreanos vindos, o tinham uma unidade, que viam de regiões diferentes,
inclusive, da Coreia do Norte.
2. A maioria dos que vieram eram protestantes. Na primeira/segunda delegação, quase
que metade era protestante. Foi chamada de “emigração protestante” Choi,199, p.
159.
3. A igreja era um canal de recepção aos recém chegados.
4. O uso do idioma e da cultura no dia-a-dia da igreja era fundamental.
5. As igrejas eram a única instituição que oferecia toda a assistência aos imigrantes.
As redes eram fortes indícios de tentar amenizar o choque cultural e a situação precária
vivida pela maioria dos coreanos. Os números da tabela abaixo, retirados do consulado da
Coreia (1989), mostram uma tendência de deslocamento que privilegia os centros
urbanos, especialmente a cidade de São Paulo, época em que era o porto de parada
preferencial dos imigrantes. A rede familiar atraia os novos a se estabelecerem protegidos
pelos familiares destes que já estavam fixado na cidade.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 97
Região Número de famílias Número de imigrantes
São Paulo 11.392 40.689
Brasília 35 150
RJ 42 201
Belém 13 52
Belo Horizonte 8 32
São Luis 6 24
Manaus 4 16
Porto Alegre 12 45
Florianópolis 11 38
Outras regiões 2 7
Total 11.525 41.254
Figura 16 – Números da imigração coreana no Brasil
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 98
2 As redes religiosas japonesas e chinesas
Vale à pena apresentar alguns dados sobre as principais diferenças entre os japoneses, os
chineses e os coreanos. As diferenças começam no processo de imigração de cada grupo
e se estende no campo social e religioso. O fato de este trabalho ser um auto-retrato
coreano, não significa que se podem desprezar estas duas etnias. Toda contribuição e
influencia trazida à colônia coreana é de suma relevância.
Apesar de terem vindo do mesmo continente e por muitas vezes serem confundidos entre
si, especialmente no aspecto físico, será considerado as diferenças que unem estes três
povos. Apesar das diferenças políticas, linguísticas, existia uma parceria, um apoio mútuo
entre estes grupos.
Figura 17 - Primeira missa da igreja Católica para fiéis coreanos do Brasil, rezada por padre japonês, São
Paulo (SP), 1965. Acervo: Memorial do Imigrante
A) Campo social
Os três grupos (japoneses, chineses e coreanos), quando instalados em São Paulo,
também deram preferência em fixar residência nas mesmas áreas geográficas. Os bairros
escolhidos foram o bairro do Conde de Sarzedas e o bairro da Liberdade. Esta estratégia
foi um importante elemento de apoio entre estes grupos. Além da “semelhança”física, o
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 99
conhecimento da mesma língua foi um facilitador nos primeiros anos de vida no país
estrangeiro.
Outro ponto de diferea foi a vinda de grupos de diferentes regiões. Fato não ocorrido
entre os coreanos. Eles conseguiram manter o dialeto, ideologias semelhantes por serem
da mesma área.
Pode-se dizer que a diferença também surge quando confronta-se o aspecto
organizacional, e este é o enfoque primário deste estudo. Estas etnias, diferentemente da
coreana não apresentaram o mesmo número de “organizações conterrâneas”, como
descreve Negawa
60
. A comunidade coreana tem um enorme número de organizações que
se relacionam entre si; associações de ex-alunos existem mais de 20 grupos, Associação
Brasileira dos Coreanos (ABC), e as associações das igrejas (vide a lista completa nos
anexos).
As igrejas cristãs, e em especial, as protestantes fortaleceram essa realidade por
incentivar a imigração. Com a exigência do acordo com o governo brasileiro de ter que
trabalhar e se estabelecer nas áreas agrárias, os coreanos de origem urbana, sentiram
estranheza e isso foi um dos fatores para que a maioria tenha abandonado o campo e a
vida rural para as grandes cidades, como o caso de São Paulo. Cerca de 90% deles
fizeram essa mudança.
Os chineses, por exemplo, viam de diferentes regiões como os chineses taiwaneses, os
chineses cantoneses e os chineses fuzhoneses. Estes chineses, principalmente os que
vieram de Taiwan, apresentou uma predominância maior de trabalhadores rurais, cerca de
90% moravam em área agrária ( Negawa, p.117). Os japoneses também eram tipicamente
oriundos das áreas rurais do Japão. A sensibilidade agrícola no povo japonês não era
coincidência, havia uma importância muito grande dada às atividades ligadas ao cultivo
da terra. O Xogunato Tokugawa (1603-1876) era uma política isolucionista de apego e
cultivo da terra que apresentava essa tarefa como algo importante do ponto de vista de
alcance de se auto encontrar-se. O fluxo de coreanos, no entanto, se concentrava, em
60
Negawa, p. 94
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 100
sua maioria, nas cidades, como Seul e Pusan, compondo o aspecto urbano desta
imigração.
Quanto à questão de deslocamento, podemos dizer que a mobilidade dos japoneses era
de baixo nível”( Negawa, p 120), ou seja, não apresentam a característica de
remigração. Eles tinham objetivos de trabalhar, e mesmo que houvesse ascensão
econômica, não mostravam interesse em procurar pólos que lhe rendessem mais
viabilidade econômica. A tendência, demonstrada, é a busca por dar uma educação
melhor. Neste caso os filhos dos imigrantes japoneses têm a tendência de estudar no
Japão, voltando ao país de origem dos pais.
No caso dos imigrantes coreanos e chineses eles apresentam um “exemplo de
remigração”. Como o objetivo inicial era de chegar até aos Estados Unidos ou/e Canadá,
eles se deslocavam de acordo com o potencial que o país podia lhe oferecer
economicamente. É o que se chama de “mobilidade de alto nível no campo
internacional.” Mesmo dando um valor grande à educação dos filhos, não fazem o
mesmo que a maioria dos japoneses. Preferem enviar os filhos para estudar nos países de
língua inglesa.
“Nesse ponto, podemos dizer que o imigrante japonês tem uma característica agrícola, e ao contrário, os
imigrantes chineses e coreanos tem uma forte tendência comercial” Negawa, 2000, p. 120
B) Campo religioso
Dentro do campo religioso podem-se perceber algumas diferenças. A colônia coreana
protestante apresenta uma taxa maior de crescimento em relação a de outros orientais no
Brasil, e em especial em São Paulo (Shoji, 2004), apesar da presença coreana girar em
torno do Xamanismo, Confucionismo e Budismo (Palmer, 1986). O primeiro e único
templo budista brasileiro foi fundado em 1984 na cidade de São Paulo (Shoji, 2004).
Dentro dos grupos japoneses e chineses observam-se uma tímida presença protestante.
Ela é diluída entre as igrejas brasileiras, não sendo ponto forte a concentração dentro do
seio evangélico como acontece com os coreanos.
Por outro lado, dentro da comunidade japonesa, destacam-se as igrejas atuantes nas novas
religiões como é o caso da Igreja Messiânica Mundial, a Seicho No Iê, a Perfect Liberty,
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 101
a Tenrikyo, a Mahicari e a Hari Krishna. Estas igrejas, chamadas de étnicas, congregam
em torno de si além do componente religioso, o aspecto cultural de preservação onde o
culto aos antepassados ainda é um marco importante, portanto, limitando a difusão da
religião para fora da comunidade.
Novas religiões japonesas Total
Igreja Messiânica Mundial
104295
Seicho-No-Iê
Perfect Liberty
Tenrikyo
Mahicari
Hari Krishna
Tabela 12 - Novas religiões japonesas na região de São Paulo(Fonte:Shoji,2004)
No caso chinês, a presença maior no Brasil é dos templos budistas, que passaram a ser
também um ambiente mais diversificado do que só um refúgio religioso (escola de
monges, escolas de culinária, escola de chinês). São quatro templos budistas chineses,
com média de 60 a 70 freqüentadores em cada
61
.
61
Shoji, p. 76.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 102
3 As redes religiosas coreanas
“A emigração coreana foi uma emigração
protestante” (Araújo p. 45).
Quando se observa a evolução das religiões entre os coreanos, aqui no Brasil, o cenário é
descrito da seguinte maneira:
Período
Religião Números
Hoje Católicos 1 igreja
Hoje Budismo 1 templo
Hoje Protestantismo 71 igrejas
Tabela 13 - Religiões na comunidade coreana em São Paulo
62
Comparativamente existe uma tendência protestante dentro da comunidade coreana. Essa
tendência pode ser observada no grande número de denominações e associações
missionárias. Dentro das diferentes linhas doutrinárias do protestantismo tem-se:
Adventista do Sétimo Dia, Testemunhas de Jeová, Metodista, Igreja do Evangelho
Completo, Pentecostais, Presbiteriana e seus subgrupos. Cerca de 100 missionários atuam
no Brasil e têm-se aproximadamente 10 seminários. Apesar de ter algumas diferenças
culturais, ela se aproxima da realidade brasileira.
63
É uma tentativa de integrar-se ao novo
país. Algumas mudanças significativas foram implantadas no andamento dos cultos
protestantes, tais como:
Cultos em Português com objetivo de proporcionar uma integração efetiva na
comunidade brasileira
Adaptação dos cultos coreanos, os tornando mais próximos dos cultos brasileiro-
cânticos com ritmos locais.
Trabalho em “células”, ou que eles chamam de fazendas.
62
Eun Yung Park, dados apresentado no ECLESIOCOM
63
Araújo, p 19. Como foi detectado com a imigração de coreanos nos Estados Unidos. Ali eles
mantiveram sua cultura, mas aderiram ao estilo americano.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 103
Além disso, a participação dos protestantes também fez parte da história da imigração
coreana no Brasil. A associação às igrejas protestantes estabelecidas aqui também foi
algo importante nesta caminhada. O crescimento destas igrejas se reflete no
comportamento dos que chegaram ao Brasil.
“ maioria dos imigrantes não só para o Brasil como também para outros lugares
incluíam bastantes cristãos” Negawa, 2000, p. 95
Choi apresenta uma linha diferenciada das igrejas brasileiras e até coreanas em relação às
constituições das igrejas. O papel do líder (pastor/presbítero
64
) era de ser o responsável
em direcionar a igreja e não a denominação, como acontece normalmente nas igrejas
protestantes brasileiras. As pessoas seguiam o pastor. O pastor/líder passa a ser aquele
que as orientações tanto no aspecto espiritual quanto no social do fiel. A presença
desse pastor, como colaborador atuante era tão importante, especialmente para os
imigrantes, que muitos deles são citados nominalmente por seus descendentes. Muitos
deles tinham uma linha direta para contato, independente do horário. Existem muitas
lembranças de idas à maternidade no meio da madrugada. Quem era chamado através da
linha direta para contato (telefônica)? Ainda hoje se pode observar essa tendência.
A questão denominacional também foi um fator diferenciado dentro da comunidade.
Diferentemente de outros grupos religiosos, onde a denominação é algo marcante e
determinante, nos coreanos ela fica um pouco em segundo plano. Especialmente quando
comparada às igrejas brasileiras e até coreanas em relação à constituição das igrejas. O
papel do líder (pastor/presbítero
65
) era quem direcionava a igreja e não a denominação.
As pessoas seguiam o pastor. Este der era um representante capaz de tomar decisões,
orientar, representar a comunidade. Dentro dos dados colhidos, foi adicionada uma
questão para comprovar o conhecimento sobre a denominação, no caso em particular, por
64
Presbítero: Função eclesiástica semelhante a um pastor, porém mais voltado para o estudo da Bíblia e
ensino para a congregação.
65
Pastor: Função eclesiástica presente na maioria das igrejas protestantes, responsável pela parte
administrativa, espiritual e social da comunidade de fiéis.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 104
se tratar de uma igreja presbiteriana, saber se as pessoas conheciam João Calvino
66
ou
Martinho Lutero
67
.
Figura 18 – Conhecimento de personagens da igreja reformada
Os líderes que estiveram envolvidos na questão da imigração são, em sua maioria,
integrantes ativos das igrejas protestantes na Coreia. Podemos citar alguns exemplos,
como foi o caso do responsável pelo processo inicial da imigração aqui no Brasil. O
pastor Dal Bin Chung, intermediou os trâmites legais de imigração mantendo sua
liderança eclesiástica. Sua escolha se deu pelo fato da experiência que tinha de viagens ao
exterior e do alto número de interessados inscritos serem protestantes. Esta demanda
atendia às próprias características destes religiosos, pois eram mais “ esclarecidos e
liberais do que os confucionistas”.
Outro exemplo é o do próprio responsável pelo primeiro grupo. Foi o presbítero Sung
Han Kim. A presença de cultos e atividades de oração, cânticos e louvores durante a
66
João Calvino- teólogo reformador. Calvinismo, doutrina aceita dentro das igrejas presbiterianas.
67
Reformador Alemão, desencadeou a ruptura com a Igreja Católica. Representante da Igreja luterana.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 105
viagem foi um potencial marcante de que este grupo já vinha com um diferencial de
pertencimento a um grupo.
O número crescente de igrejas tem sido um marco dentro da realidade coreana em São
Paulo. Quando a Choi realizou sua pesquisa existiam 29 igrejas na cidade paulista, no ano
de 1991. Hoje, dezoito anos depois o número pulou para 71(lista completa nos anexos).
Outra característica marcante é o grande mero de igrejas, dirigidas por missionários e
evangelistas coreanos para atender ao público brasileiro. A concentração de igrejas ainda
se mantém no bairro do Bom Retiro, como a figura logo abaixo indica.
Figura 19 – Distribuição das igrejas coreanas por bairro
Diante desta situação, as redes incentivadas pelas igrejas, favoreceram a manutenção
identidária e promoveu um meio facilitador de adaptação. A manutenção cultural nas
comunidades coreanas testifica essa realidade. Eles mantêm os serviços religiosos na
língua natal, preservam os jogos coreanos e a culinária tradicional coreana.
Araújo destaca que as igrejas se tornaram centro da língua materna, reduto cultural, onde
as características culturais são reconhecidas e mantidas. Araújo citando o pastor Yong
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 106
Shik Kim aponta os aspectos positivos e negativos das igrejas coreanas na cidade de São
Paulo: (Araújo p 46, 47).
Características positivas
Centralização das igrejas
Programas de voluntários
Freqüência de oração
Desejo de evangelização
Doação de dinheiro e tempo
Fé exercida diariamente diante dos problemas
Características negativas
Nem sempre os fiéis correspondiam em seu comportamento na vida cotidiana.
igrejas atraindo membros de outras, trazendo desentendimento entre pastores.
Individualmente o coreano pode ser forte, em grupo não apresenta esta
característica.
Facilidade de se irritar
Divisão
Essa idéia de expandir o protestantismo a outros continentes se apóia em algumas visões
defendidas pela igreja protestante da Coreia. Os coreanos tinham uma determinação a
levar o evangelho a outros povos, cumprindo assim a resolução do congresso de
Lausanne. Este documento foi um referencial para muitos grupos protestantes. Foi escrito
na década de 80 e contou com a estratégia de Evangelização do Brasil e de outros países
como Filipinas, Japão, Índia, Taiwan, México, Marrocos.
“Os missionários protestantes coreanos foram influenciados pelas idéias de Lausanne
·68,
Outro ponto nessa expansão é como a gratidão a Deus pela reconstrução do país e a
potência econômica que se tornou, impeli os cristãos a difundir o Cristianismo a outras
nações, ou seja, a Coreia deve abençoar outras nações.
68
1974, 2.700 participantes, na cidade Suíça
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 107
4 A Comunidade eclesiástica como uma rede social
4.1 A Igreja local
De acordo com Park,
69
a igreja local tem desempenhado um papel muito importante para
comunicar-se com estes estrangeiros. Perguntas básicas como: Qual é o seu nome, em
que ano nasceu quem é o seu pai, onde estudou, qual igreja freqüenta, tomam dimensões
relevantes, quando se busca uma identidade dentro de um grupo como este. Este espaço
religioso passa a ser um local em que:
a) Fala-se e é compreendido;
b) Ouve e compreende;
c) O culto é contextualizado, trazendo mais próximo possível da própria cultura;
d) Faz amizades e procura ajuda;
e) Encontro com aqueles que compartilham dos mesmos laços culturais;
f) Pertenço a um grupo;
g) Busco de identidade;
O fato de se frequentar uma igreja credibilidade à pessoa dentro da colônia. Existe
uma aceitação maior para aqueles frequentadores regulares das atividades da igreja. São
os “bonzinhos”, pessoas idôneas capazes de manter a honestidade dentro dos negócios e
por isso mais acessível até no mundo empresarial. Aqueles que decidiram ficar fora da
igreja são considerados “os não tão bons”, onde todo cuidado no trato e nos negócios
deve ser ampliados.
Dentro do aspecto social, a integração destes coreanos é tida com muita seriedade. Todas
as ações estão voltadas para proporcionar um ambiente amigável e de integração urgente
desta pessoa ao novo ambiente. Para isso foram montadas algumas estruturas que
recepcionam e tratam de cuidar daquele que procura a igreja.
69
Eun Yung Park discute esse tema no ECLESIOCOM.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 108
Aconselhamento pré-nupcial
Serviço de tradução
Apoio às novas famílias
Medicina Paliativa
Comitê de bolsas de estudos
Creche
Assistência a funerais e casamentos.
Ainda existem serviços estendidos às comunidades brasileiras:
Trabalhos nas comunidades brasileiras de periferia e interior de grandes cidades.
Prestação de serviço às comunidades carentes locais: tratamento dentário, por
exemplo.
Criação de igrejas pelos missionários coreanos.
Ensino do coreano e da língua portuguesa.
Os encontros dentro das igrejas são semanais. Nos domingos, com a celebração do culto
que dura cerca de 1 hora espaço para os cânticos, orações, e pregação de textos
bíblicos. A igreja ainda atua na organização de eventos sociais, de acordo com a faixa
etária. Existe uma estrutura muito rígida nas divisões por idade, assim cada faixa receberá
o apoio de acordo com sua necessidade.
São realizados vários eventos tais como pic-nic, passeios, aniversários, competições,
celebração conjunta de feriados nacionais. Até as refeições após o culto são elaboradas e
oferecidas dentro do cardápio tradicional coreano. A igreja propicia o pertencer em grupo
na companhia dos “iguais” (Mi Kim, 1996, p. 21).
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 109
4.2 Igreja Social
As atividades proporcionam contatos dentro da colônia. Pode-se dizer que a igreja
ultrapassou a barreira de ser apenas uma instituição religiosa. De acordo com Shoji a
maior parte da comunidade freqüentava as igrejas protestantes, “principalmente devido
ao auxílio prestado na sua chegada ao Brasil”. Choi (1991) ainda diz que a igreja
desempenhou o papel de ser um “centro de convivência social e étnica” além de
representar “também no auxílio financeiro e psicológico aos novos imigrantes que
chegavam”. Desta forma, o objetivo de analisar o nível de relacionamento desenvolvido
entre imigrantes coreanos e entre esta igreja torna-se imprescindível.
Numa entrevista a uma jovem coreana descreve sua visão em relação à vida religiosa.
“Para ela, o fato do coreano frequentar alguma igreja está ligado à sua vinda ao Brasil, e essa relação
coreano-igreja é algo que faz parte do ser coreano. Estranha os brasileiros que não vão a nenhuma igreja,
o que é difícil de ser imaginado por ela”. A igreja funcionava como “um local de reunião com outros
coreanos” A igreja “preenchia um vazio deixado pelas escolas brasileiras, oferecendo uma opção
complementar às crianças, além de ser um local de convivência com os outros coreanos”. ( Kang, p.
101,102).
Ainda existem algumas críticas observadas quanto às igrejas perderam sua função
principal, sendo um local onde se funciona como uma empresa, onde o aspecto social é
mais relevante do que área espiritual. Apesar disto podemos assegurar o importante papel
na socialização das pessoas. A dupla função da igreja se apresenta da seguinte forma, no
aspecto espiritual e social:
Primeiro propicia um lugar onde outros coreanos vão praticar a língua. Segundo, a vida
social está atrelada a vida religiosa (freqüência) “quanto maior a proximidade com o
grupo coreano melhor era a freqüência a uma igreja coreana”
Khang, citando Whong diz que as igrejas funcionam “como fonte de força moral” e como
o centro comunitário dos solitários imigrantes”. A igreja passa a ser o melhor lugar para”
resolver o stress”. A comunidade terapêutica onde as angústias, os fracassos nos
negócios, a saudade do passado, a não compreensão da cultura atual, o refletir sobre sua
própria identidade são questionamentos compartilhados por muitos frequentadores. A
cura, ou pelo menos, o se fazer entendido é um forte aspecto do fazer parte desse espaço.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 110
Por outro lado a igreja ocupa um espaço diferenciado, exclusivista daqueles “iguais”.
Elas são vistas como sendo um lugar de segregação, onde a barreira da língua impede a
participação de outros de fora. É o campo da igreja étnica. Onde a cultura e o traço racial
passa a ter um peso muito grande. A igreja passa a ter este perfil, mesmo quando abre os
cultos em língua local. Observa-se na frequência quase que 99,9% composto por
coreanos, apesar de ser um “culto brasileiro”.
Pode-se concluir que a igreja coreana protestante cumpre dois papéis simultâneos: é a
ponte de socialização, por outro afasta aqueles que não as freqüenta
.
4.3 A igreja e o apoio aos imigrantes coreanos
De acordo com Choi, o movimento de apoio aos imigrantes coreanos promovido pelas
igrejas seguiu um processo.
“para recrutar emigrantes coreanos teve início em igrejas protestantes antes da Guerra da Coreia.
Embora a Associação Internacional dos Servidores das igrejas Protestantes tivesse se interessado em
promover a emigração para o Brasil, não obteve resultado positivo dada a inexistência de órgão oficial
brasileiro na Coreia.” P. 86.
Desde seu início a imigração coreana em São Paulo contou com o apoio de redes.
Inicialmente podemos observar redes formadas pelas próprias famílias imigrantes
residentes na cidade. Elas eram responsáveis em propagar a vinda de novos membros da
família, mostrando as vantagens e garantindo o suporte completo a esses parentes.
O aspecto familiar muito solidificado entre eles permitiu além da sobrevivência cultural,
o desenvolvimento econômico. As famílias eram verdadeiras empresas, principalmente
dentro do setor têxtil. A empresa era dirigida e mantida pelos membros da própria
família. Uma forma de guardar recursos e não necessitar da mão de obra assalariada
garantindo o acúmulo de bens.
Outro aspecto desta rede foi à manutenção dos kye. Uma espécie de consórcio. Os
membros participavam para financiar, funerais, escola, e até a abertura de pequenos
negócios, tudo dentro da colônia. O empreendimento familiar, responsável pelo acúmulo
de bens foi uma forte reação a uma rede familiar bem inter conectada entre si.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 111
Esta conexão de redes de apoio ficou visível quando nos referimos às questões religiosas,
em especial, dentro da comunidade protestante. A necessidade de se ampliar à ligação,
estabelecer pontes entre a condição do necessitado e o que a sociedade pode oferecer, foi
um recurso visto dentro das igrejas da comunidade coreana. Estas igrejas deram uma
resposta positiva suprindo as necessidades dos imigrantes. Logo de início, estas igrejas
protestantes foram desenvolvendo características de apoio. O apoio podia ser visto
através do fornecimento de deixar o recém chegado nas programações da igreja. Esta rede
de apoio foi um ponto determinante na adaptação dos coreanos em São Paulo.
A maioria das famílias coreanas chegadas ao Brasil era de origem protestante,
justificando o número maior destas igrejas dentro da colônia coreana. Uma das formas de
rápida inserção à comunidade era, desde cedo, integrar-se à vida religiosa. Esta
instituição, além de oferecer apoio religioso, também fornecia condições de apoio nas
mais diferentes esferas.
“A esse respeito, as instituições mais notáveis, que desempenham papéis de maior
relevância são as igrejas (sobretudo as protestantes)” (Truzzi).
4.4 A Igreja primordial
A Igreja Presbiteriana Unida Coreana, localizada no bairro da Liberdade, é a igreja mais
antiga da cidade de São Paulo. Por esse motivo, essa igreja merece capítulo especial nesta
dissertação, algo como estudo de caso.
O Primeiro culto foi realizado na Fazenda Seul, já em Abril 1964, na casa de Joong Hyuk
Kim, com seis famílias no total de 20 pessoas. Em São Paulo aconteceu em seis de
setembro do mesmo ano, na associação Brasileira dos Coreanos, sob a liderança do
presbítero Soon Koo Kilkwor. Esta é uma data significativa, pois se deu um ano após a
chegada dos primeiros imigrantes coreanos ao Brasil. A Comissão da Igreja Coreana se
encarregou de conduzir os cultos para o prédio da Igreja Metodista Central, na Avenida
Liberdade, 659. Este foi o início da Igreja Presbiteriana Unida Coreana de São Paulo, que
existe até hoje. Com o tempo e as diferentes visões, principalmente, no que se refere à
forma de administração a igreja Unida se dividiu dando origem a outra igreja, a Igreja
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 112
Evangélica Central Coreana de São Paulo, sob a liderança do presbítero Soon Kook
Kwon, usando o prédio da Igreja Alemã Luterna, na Avenida Rio Branco, 34.
Esta igreja apresentou, desde suas origens, um papel de suporte e de elo à adaptação dos
recém chegados.
Figura 20 - Primeiro congresso coreano no Brasil, realizado na igreja, atrás da antiga rodoviária da Praça
Júlio Prestes, São Paulo, (SP), 1963. OBS.: ao centro, Don Jin Raak, primeiro embaixador coreano no
Brasil. Acervo: Memorial do Imigrante
O crescimento da igreja seguiu a necessidade que a colônia demandava. No ano seguinte
foi criado um conselho, presidido pelo Pastor Myung Chul Moon. Este conselho contou
posteriormente, com a presidência do pastor Ke Yong Kim, que em 1967, veio ao Brasil
como missionário enviado através do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana Coreana.
Em 1971 é criada a escola para ensinar a língua coreana às crianças, garantindo aos filhos
da segunda geração a manutenção da cultura materna. Depois dessas décadas a igreja
continua com seus cultos e seu suporte aos frequentadores das reuniões. A igreja
desempenha várias atividades. Uma delas é o grupo de senhoras coreanas e um segundo
grupo, este formado por casais/famílias que se reúne semanalmente, chamados de
Fazendas. Estes atividades são exemplos de redes sociais que desenvolvem projetos de
apoio às famílias.
Os gráficos a seguir dão o panorama dessa igreja.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 113
Figura 21 – Língua de resposta dos questionários na Igreja
Figura 22 – Gênero dos participantes da pesquisa na Igreja
Figura 23 – Faixa etária dos entrevistados na Igreja
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 114
Figura 24 – Estado civil dos entrevistados na Igreja
Figura 25 – Composição da família dos entrevistados na Igreja
Figura 26 – Tempo de moradia no Brasil dos entrevistados na Igreja
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 115
A) Exemplo de rede social: As fazendas
A Fazenda é um encontro semanal de um pequeno grupo, onde cristãos e não cristãos se
reúnem. Essas reuniões normalmente são acompanhadas com refeições preparadas pelos
coordenadores e voluntários, com ingredientes trazidos pelos próprios fazendistas
(organizadores) ou trazidos pelos membros. As reuniões são precedidas por momentos de
louvor e adoração onde a dinâmica semanal é relembrada. Nessa reunião também o
ensinamento e compartilhamento de ensinamentos bíblicos e existe um momento de
compartilhamento de experiências e culmina com um momento de oração pelos
problemas dos irmãos e dos temas que surgem durante a semana. Ela geralmente dura 3
horas ou mais e existem relatos de consolação, encorajamento, cura, edificação,
crescimento espiritual e transformação na vida dos participantes. No decorrer desses
encontros, visitantes esporádicos são convidados a permanecerem no grupo e pessoas
que se convertem vendo na unidade do grupo presente a Expressão de amor de Deus
através da fazenda como um todo. O nome fazenda remonta à tradição rural dos coreanos
e associa o pastor a um servo que cuida do rebanho, os fazendistas e é responsável pela
produção. Algumas fazendas mantêm exclusivamente o idioma coreano.
70
B) Exemplo de rede social: Grupo de Senhoras
Dentro da rede de apoio social desenvolvido pela igreja observada encontramos o grupo
de senhoras. Estes grupos estão divididos de acordo com a faixa etária, que vai dos 30
anos até os 69 anos de idade. O objetivo é ajudar financeiramente missionários e
desenvolver a confraternização a cada encontro. Os encontros são mensais e promovem
uma interação entre os participantes. As programações passam pelo momento devocional
onde é estudado um texto da bíblia, terminando com um momento de oração. A agenda
das reuniões não se limita apenas a estes assuntos leitura e oração, mas também tem
como meta suprir as necessidades físicas e relacionais dos membros entre si. A escolha
70
Depoimento dado à autora em 2/04/2008.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 116
da pessoa a ser ajudada, como também do levantamento dos recursos acontecem dentro
destes grupos e por decisão das participantes.
71
A mulher ocupa um papel importante dentro da cultura coreana, no que se refere à
criação de redes de relacionamento. O universo feminino coreano mantém certos aspectos
da própria cultura, incluindo o suporte religioso. É uma rede dentro de outra rede, pois
apesar de se auto ajudarem, elas promovem solidariedade a outros, dentro da comunidade
coreana. Diferentemente das fazendas estas redes extrapolam suas próprias necessidades
quando vem ao encontro das necessidades de outros. Outra diferença é o fato de ser
composta apenas por mulheres e de estarem unidas e prol de um ideal externo.
Existem outras atividades desenvolvidas (vide lista nos anexos).
Existem outros programas mantidos pela igreja. Eles proporcionam uma oportunidade de
integração e bem estar dos fiéis. O JATI (jardim de treinamento dos idosos para
assemelhar-se a Cristo) é um exemplo dessa associação igreja- social.
É Jardim de ação e jardim de Português. Reunem-se uma vez por semana com objetivo de
promover cursos de interesse geral (Cristianismo, saúde, cultura, história, alimento,
música ). Ainda contam com os momentos de recreação e atividades físicas (caminhada,
gatebol, jardinagem, jogos picos da Coreia, golf, dança, passeios, caligrafia em
pergaminho).
Jardim em Português, é um curso voltado para o aprendizado da língua portuguesa. Está
dividido em básico e intermediário e supre a necessidade que o imigrante da primeira
geração tem de se comunicar no idioma local.
A população da igreja consiste em pessoas ligadas a área de confecção. São jovens
empresários, que seguem as pisadas dos imigrantes da primeira geração. Muitos desses
coreanos, hoje idosos, já eram pequenos empresários no seu país de origem. Trabalhavam
com tecidos e fabricação de plásticos. Muitos destes da primeira geração se mantiveram
na como donos de negócio por causa da língua.
71
Depoimento dado à autora em 2/04/2008.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 117
Conclusão
Por que estudar um grupo numericamente não-expressivo, quando comparado à
megalópole de São Paulo? Numa pesquisa feita no ano de 2006 para avaliar qual a cidade
mais populosa do país, a cidade de São Paulo ficou em primeiro lugar, passou dos 11
milhões de habitantes. A colônia coreana brasileira apresenta 50 mil habitantes, sendo
92% no estado de São Paulo; destes, 90% moram e trabalham na capital paulista. Ou seja,
estamos falando de cerca de 40 mil imigrantes coreanos
72
. Mesmo com meros
modestos para a realidade brasileira, esta cifra revela que o Brasil é o sexto país que mais
recebeu imigrantes coreanos, ficando em termos numéricos abaixo apenas da China,
Japão, Rússia, Estados Unidos e Canadá.
A razão para o estudo deste grupo não é apenas numérica, como pode sugerir, nem
demográfica. Antes, porém, é de ordem organizacional, pois o nível de organização
dentro da colônia, tanto na esfera econômica e religiosa, nos apresenta uma grande
relevância na montagem deste quadro investigativo. Além disto, a rapidez com a qual os
imigrantes coreanos ascenderam na pirâmide econômica e social brasileira gera um
intrigante misto de admiração e curiosidade, que se procurou desvendar neste trabalho
dissertativo. Em suma, o trabalho apresentado debruçou-se sobre informações provindas
de diversas fontes com o intuito de desvendar as razões do sucesso na imigração e
adaptação dos coreanos na cidade de São Paulo, no período de 1960 até os dias atuais. A
72
Existem cerca de 50.000 coreanos, incluindo descendentes.Fonte::www.memorialdoimigrante.sp.gov.br/historico; acessado em
11/11/2007
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 118
hipótese de que as igrejas protestantes são um dos fatores mais importantes (se não o
mais importante) nesta situação pode ter sido apontada por outros autores, mas até o
presente, não se tinha coletado dados de uma comunidade em particular para se
aprofundar nesta conjectura. Este trabalho coletou dados primários de entrevistas, e dados
traduzidos de semanários e folhetos de circulação na comunidade coreana, como um
importante passo para corroborar a correlação entre o crescimento da protestante entre
os coreanos e a rápida ascensão econômica e social em São Paulo.
Coleta de Informação: a primeira barreira superada
A falta de documentos e pesquisas na área nos levou a juntar o maior número possível de
artigos, dissertações, entrevistas que pudemos dispor. Apesar do levantamento feito,
ainda existe uma escassez da história de chegada dos coreanos
73
. Isso nos leva a refletir
sobre a montagem da realidade coreana , como se fosse um quebra cabeças, onde todas as
peças são de extrema importância no desfecho da imagem projetada. Os elementos
referidos nesta pesquisa ainda representam pequenos fragmentos do formato original da
imagem. Esta foi a primeira barreira a ser transposta. O fato das informações estarem
dentro da comunidade protegida pela ngua, ou seja, o acesso a não falantes do Han-gul
fica limitado. Parece até uma contradição: ao mesmo tempo em que tentam se projetar no
imenso emaranhado cultural do território brasileiro, fica protegidos atrás de uma barreira
linguística e cultural, onde o acesso às informações são divulgadas a poucos. O exemplo
disso se apresenta na situação onde foram buscados algumas informações dentro da
Associação Brasileira dos Coreanos e a resposta conseguida é que está sendo copilado
um material que conta a história da imigração em coreano, ou seja, a circulação destas
informações ainda será muito restrita.
O acesso a não-descendentes ainda é uma barreira a ser transponível. Este trabalho
apresenta uma inovação, pois dentro deste campo étnico, o fato de não ser descendente,
73
Negawa,2000, p. 67
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 119
limitou as pesquisas feitas fora da esfera coreana. Praticamente todos aqueles que se
debruçaram em recontar a história coreana foram pesquisadores de dentro da
comunidade. A participação desta pesquisa, portanto, representa uma tentativa de ampliar
as fronteiras deste universo coreano.
Fator protestante & Crescimento econômico exponencial: Observando para Interpretar.
Uma segunda observação feita é através de alguns elementos observados no decorrer de
presença coreana em solo brasileiro quanto ascensão econômica desta comunidade. O
fato de ter um período inferior a 50 anos não dificultou, ao contrário, deu um impulso
rápido no fator econômico. Em pouco tempo eles conseguiram ter um desenvolvimento
rápido e superior a outras etnias que estão a mais tempo no Brasil. Pode se citar o
exemplo dos japoneses. Dentro da mídia a presença numericamente maior é dos coreanos
(vide anexo com a lista dos jornais e revistas) em relação aos japoneses. O que justifica
essa situação diferenciada? A presença protestante intensa, principalmente junto aos
primeiros grupos pode ser considerada como resposta? Algumas considerações são
necessárias para fazer o desfecho apropriado desta abordagem.
Vale à pena observar a questão econômica e organizacional da comunidade coreana na
cidade de São Paulo. O fato de ser uma imigração recente, como já foi dito anteriormente,
poderia ser um recurso contra a adaptação e a estruturação financeira desse grupo, mas
diferentemente do que se esperaria para uma imigração tão recente, eles apresentam uma
conquista econômica muito relevante. Para se ter idéia o leque de profissionais bem
sucedidos ultrapassa o convencional. São 50 mil vivendo na cidade de o Paulo, destes,
1.200 administradores, 1.000 engenheiros, 400 médicos, sessenta advogados, cinqüenta
dentistas, vinte professores universitários, quatro juízes, três promotores, um violonista,
dois cantores líricos e uma dúzia de estilistas. O fato de ter uma postura de ser patrão e
não empregados é uma característica que acompanha os primeiros imigrantes. Cerca de
40 mil empregos estão ligados diretamente a presença coreana, e outros 100 mil indiretos.
São números bastante expressivos que revelam um vigor considerável.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 120
Pelo que foi analisado nos capítulos anteriores desta dissertação, a confissão religiosa foi
um diferencial na comunidade. O grande número de igrejas protestantes significa uma
concentração maior de esforços no sentido de todos trabalharem juntos e estabelecerem
elo de redes de apoio. As próprias instituições religiosas se comportaram como um filtro,
mantendo e protegendo seus integrantes dentro dessa estrutura. As igrejas foram palcos
de preservação da tradição e campo efetivo da adaptação.
A língua ainda apresenta um importante referencial nessa nova” aquisição cultural. Ela
pode ser considerada como um divisor de águas, pois possibilita as interações sociais
confirmando a plena adaptação do imigrante.
Chegou-se num ponto onde atentar para o conceito de adaptação parece uma ferramenta
necessária para uma compreensão maior. A adaptação de um povo numa cultura diferente
da sua pode ser entendida como plena quando os limites culturais deste grupo se
misturam com o local, dificultando, sob o aspecto cultural, a identificação dos imigrantes.
Alguns podem entender que a adaptação aconteceu na observação única e exclusivamente
sob o aspecto econômico, ou seja, a independência nos negócios e na carreira.
Desta forma pode se concluir, resumidamente, que o sentir-se bem no grupo participante,
seja ele no campo profissional ou no ambiente familiar, ter uma situação financeira
estável, comumente melhor que a vivenciada na terra natal, desenvolver uma relação de
amizade e ajuda entre os imigrantes e os naturais são fatores que falam dessa adaptação
integral, plena, completa.
A possibilidade de transpor as barreiras econômicas deu um impulso e um referencial do
ser coreano no Brasil. Este engajamento econômico favorecido dentro das igrejas através
dos kye, das associações, do convívio semanal determinou uma aquisição identidária
mais definida. Durante este trabalho, foi-se capaz de identificar uma série de dados que
define quem são e o impacto dos coreanos na maior cidade brasileira. Isto também foi de
grande auxílio para entender os movimentos migratórios e seus desdobramentos
econômicos e sociais
74
.
74
revista Veja : A São Paulo Coreana.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 121
Os bairros Aclimação, Liberdade e Bom Retiro concentram mais de 70% da
comunidade
65% das famílias têm negócios no ramo de confecção. Até o início dos anos 90, esse
índice era de 80%
Eles faturam 6 bilhões de reais por ano com o pólo de vestuário do Bom Retiro, onde
comandam 1 300 das 2 000 lojas da região
Os coreanos geram em torno de 40000 empregos diretos e 100 000 indiretos na
cidade
Existem na capital cerca de 1 000 supermercados, mercearias, restaurantes e lojas
especializados em artigos coreanos
O esporte preferido é o golfe. São 1 600 golfistas. Eles têm ainda cinco associações
de tenistas, que reúnem 500 sócios. Também por influência da colônia, há 120
academias de tae-kwon-do na capital
Os sobrenomes mais populares de coreanos em São Paulo são Kim, Lee e Park. Para
facilitar a identificação, muitos adotam nome brasileiro, que serve como apelido
A maioria da comunidade é cristã e freqüenta cinqüenta templos presbiterianos em
São Paulo (só 5% são budistas)
Entre os costumes preservados, os imigrantes fazem questão de comemorar os 100
dias de vida de um recém-nascido. Na festa, o bebê recebe alianças de ouro de
presente
Outro motivo de comemoração é o aniversário de 60 anos da estimativa de vida
média do homem. Como a expectativa de vida na Coreia nos tempos mais duros era
de seis décadas, o patriarca que alcançava essa idade era saudado por parentes e
amigos
A Igreja, uma Rede Social
A igreja protestante foi estudada como uma rede social eficiente e participativa de todas
as esferas do imigrante coreanos, especialmente daqueles frequentadores da Igreja
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 122
Presbiteriana Coreana Unida. As entrevistas, questionários, pesquisas de campo
contribuíram para a percepção de que ali é um lugar onde a construção do ser coreano e
do suporte serão garantidos.
Com relação as redes observadas dentro desta igreja podemos concluir, sem finalizar a
discussão em torno do tema, que elas acontecem de forma dinâmica, ordenada e
homogênea. Os possíveis “nós” (castells, 2007, p. 566) a serem acrescentados dentro
desta estrutura cumprirá uma tolerância com seus iguais, onde a língua e as características
sociais compatíveis serão preservadas.
É incontestável que dentre os que vieram para cá, a maioria era cristã. O presidente da
Associação Brasileira dos Coreanos, Chul Un Kim atesta essa condição quando deu uma
entrevista à Revista Veja.
"Católicos e presbiterianos tiveram papel fundamental na recepção de nossa
comunidade"
O engajamento e a relação muito próxima à igreja faz parte do cotidiano e as atividades
ligadas deixam evidentes o papel da instituição religiosa tanto na adaptação quanto no
sucesso destes imigrantes. Mesmo dentro da Escola Polilogos a presença protestante é
maioria.
Apesar da igreja ter esse papel de preservação, ela criou um ambiente comum, onde o ser
coreano (tradições, língua, cultura) pode andar de mãos dadas ao ser protestante (ritos,
ética, preceitos). A ruptura de tradições culturais passa pelo compromisso e aceitação da
nova religião. O ritual de culto de antepassados, chamado de chesa, onde no dia do
aniversário de sua morte é reverenciado contando com a presença da família, comidas
típicas e incensos, não é um uso dentro das famílias protestantes como constatou Mi Kim.
P 14.
O Coreano de Hoje
Apesar das primeiras gerações viverem dentro de um nicho étnico, a possibilidade das
atuais gerações, ou seja, a terceira e quarta geração, extrapolar as barreiras culturais e se
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 123
diluírem dentro da brasilidade é forte. Poderão ser eles que vão quebrar os paradigmas
inter racial. Esta coreanidade” como se refere (Mi Kim, 1996 p 13), pode dar lugar a um
novo identidário dentro do universo brasileiro, onde as diferenças e peculiaridades serão
marcadas.
O número de imigrações está caindo, inclusive ao Brasil isso pode ser respondido pela
estabilidade econômica vivida atualmente e pelas negociações de paz entre as Coreias.
Além disso, existe um sentimento de insegurança devido à imagem de violência do Brasil
no exterior, desestimulando a vinda de grupos para o país.
Considerações finais e sugestão de próximos trabalhos
A riqueza de informações e análises feitas aqui indicou a necessidade de um
desdobramento mais amplo. Por exemplo, pode-se fazer um estudo para identificar como
a imigração coreana está dialogando com outras etnias, por exemplo, os Bolivianos, que
dividem espaço na área de confecção no bairro do Bom Retiro.
Um tema que, com certeza, tem uma alta relevância dentro do estudo das correntes
migratórias em geral, é fazer um estudo ressaltando as diferenças e similaridades da
imigração coreana no Brasil, quando comparada com a ocorrida em outro país, trazendo à
mesa de discussão os temas referentes ao movimento migratório e processo de adaptação.
Será que a imigração coreana foi tão bem-sucedida em outros países, como foi no nosso?
Que fatores fazem esta imigração única no Brasil (se é que isto é comprovado)? Também
existe margem para se fazer uma investigação sobre se o fato de houver uma
predominância de imigrantes protestantes no inicio e no próprio movimento migratório
no Brasil influenciou ou o fato de que este é um fenômeno presenciado unicamente no
Brasil ou também em outras paragens.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 124
Bibliografia
ALVES, Rubem. O que é Religião? São Paulo:Edições Loyola, 2001.
ARAÚJO, Edson Isaac Santos. Os Missionários Protestantes Coreanos na periferia da
Grande São Paulo (Cumbica)- Um Estudo de Caso. Dissertação de Mestrado,
Departamento de Ciências das Religiões, Universidade Presbiteriana Mackenzie. São
Paulo, 2005.
BERGER, P. L. 1985. O Dossel Sagrado: Elementos para uma Teoria Sociológica da
Religião. Paulus. São Paulo.
BLAIR, Willian; HUNT, B. O Pentecoste Coreano. São Paulo : Editora Cultura Cristã,
1998.
BRITTO, Letelba R. De. Um brasileiro na Coreia. Edições Contemporâneas. Rio de
Janeiro
CARDOSO, Ruth (org). Aventuras Antropológicas. Paz e Terra, São Paulo.
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. A Imagem do Imigrante Indesejável. Seminários;
imigração, repressão e segurança nacional. Arquivo do Estado Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, No 3, Dez 2003.
CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O Nome da
Rosa, 2000, pp. 11--69
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Sao Paulo : Paz e Terra, 2007.
_________________ O Poder da Identidade. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
CHOI, Keum Joa. Além do Arco-Íris: A Imigração Coreana no Brasil. Dissertação de
Mestrado, Departamento de História Social, Universidade de São Paulo, 1991.
Fatos sobre a Coreia. Publicado pelo serviço coreano de informações no exterior.
Agência de Informação do governo coreano, Seul, 2006.
GOHN, Maria da Glória Marcondes. Movimentos Sociais e Luta pela Moradia. Edições
Loyola, 1991.
Handbook of Korea pg 121- 142
HO-SANG, Phil Na. Six Thousand years of Korean History. The Korea-Dong-I Race as
Creator of East Asian Culture. Korean Programme of Unites nations Volunteers. Institute
of Baedal (Korean)Culture Seoul, Korea p 100- 113.
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 125
KANG, San. Socialização de jovens imigrantes coreanos. Dissertação de mestrado do
Instituto de psicologia- USP, 1993.
KIM, Duk-Whang. A History of Religions in Korea. Daeji Moonhwa-sa, Seoul, 1998.
KIM, Hyung Mi. Han-Guk Yonsok-kuk: nas salas de vídeo, uma janela para a Coreia.
Etnografia do conteúdo simbólico das novelas coreanas. Dissertação de mestrado do
departamento de Antropologia da FFLCH- USP, 1996.
KIM, Yoo Na. A Jovem Coreia -Um almanaque sobre uma das imigrações mais recentes
do Brasil. Editora: Ssua, São Paulo, 2008.
MANCE, Euclides André. A revolução das Redes. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
MASIERO, Gilmar. Negócios com Japão, Coreia do Sul e China. Economia, gestão e
relações com o Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 2007.
MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir. A inserção do Protestantismo no
Brasil. ASTE. São Paulo, 1995.
NAHM, Andrew C. Introduction to Koreana History and culture. Hollym. Seoul, 1994.
_______. Korea Tardition & Transformation. A History of the Korean People. Hollym.
Seoul, 2004.
NEGAWA, Sachio. Formação e transformação do bairro oriental. Um aspecto da história
da imigração asiática da cidade de São Paulo, 1915-2000. Dissertação de mestrado do
curso de pós-graduação em língua, literatura e cultura japonesa na faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2000.
PAIVA, Odair da Cruz (Org.) Migrações Internacionais Desafios para o século XXI.
Memorial do Imigrante. Série Reflexões : São Paulo, Vol I, 2007.
PALMER, Spencer J. Korea and Christianity.The Problem of Indentification with
Tradition. Published for the Royal Asiatic Society Korea Branch by Seoul Computer
Press, Seoul, 1986.
PARK, Eun Yung .dados apresentados no Eclesiocom,2007. II Coloquio de Comunicação
Eclesional.
PARK, Timothy Kiho. A Survey of the Korean Missionary Movement in: Japanese
Policy toward the North Korean Problem: Balancing Bilateralism and. Journal of Asian
and African Studies, 6, 2007, vol. 42: p. 111-119.
RICARDO, D. M. y CASTRO, V. M. O habitar no processo de integração do imigrante.
Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona:
Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146(064).
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-146(064)
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 126
SANTOS, Gislene Aparecida dos.Redes e Território reflexões sobre a migração. IN
DIAS, Leila Cristina e SILVEIRA, Rogério Leandro Lima da (org). Redes, Sociedades e
territórios, Santa Cruz do Sul, EDUNISC,2005.
SILVA, S. A. Costurando Sonhos.Trajetória de um grupo de imigrantes bolivianos em
São Paulo. São Paulo: Paulinas Editora, 1997.
THIESSEN, John Caldwell. A Survey of World Missions. Moody Press. Chicago, 1970.
TOMITA, Andrea Gomes Santiago. A s Novas Religiões Japonesas como instrumento de
Transmissão de cultura japonesa no Brasil. Rever –Revista da Religião, no. 3/2004 pp 88-
120.
TRUZZI, Oswaldo. Redes em processos migratórios. Tempo Social, revista da sociologia
da USP, v 20. n 1. junho 2008. pp 199-218
WEBER, Max. A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo. Companhia das letras,
São Paulo, 2004.
WON, Sung Sun. As Mulheres Coreanas na Coreia e no Brasil; As Mudanças de seu
papel com a imigração para o Brasil e suas implicações para o aconselhamento.
Dissertação de Mestrado, Centro Presbiteriano de Pós- Graduação Andrew Jumper,
Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2005.
Jornais e Revistas
Estadão-72% dos brasileiros rejeitam imigrante
Revista Veja- 7 Lições da Coreia para o Brasil
Revista Veja- O Enigma dos Coreanos no Brasil
Revista Veja- Muito Além do Bom Retiro
Revista Veja- O Eldorado Boliviano
Revista Veja- São Paulo coreana
Revista Veja- Coreanos O submundo dos coreanos clandestinos
Correio Braziliense-Ir na Terra das oportunidades
Buddhism in Korea -Korean Buddhism Magazine, Seoul 1997
http://www.buddhismtoday.com/english/world/country/027-korea.htm- acesso
12/05/2009 às 10:17h
GUSMÃO, Marcos Buarque de. Muito além do Bom Retiro. Vejinha.
Filmes
Se fosse eu 2
(Coreia do Sul, 2005, 112 min). Direção: Park Kyung-hee, Ryoo Seung-wan, Jung Ji-
woo, Jang Jin e Kim Dong-won. Com Jeong Eun-hye, Kim Su-hyun, Lee Jin-seon e
outros. Concebidos e produzidos pela Comissão de Direitos Humanos da Coreia, cinco
curtas-metragens abordam temas como a indiferença e a discriminação sofridas por
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 127
diversas minorias no país, como trabalhadores informais, homossexuais e refugiados
norte-coreanos.
Caminhos do crime
(Coreia do Sul, 2006, 141 min). Direção: Yoo Há. Com Zo In-sung, Lee Bo-young e
outros. Jovem mafioso trabalha muito para poder sustentar sua família. Ao ser convidado
para uma missão secreta, ele tem a chance de alcançar o sucesso pessoal e a segurança
dos familiares.
Na estrada como o amante da minha mulher
(Coreia do Sul, 2007, 92 min). Dir.: Kim Tai-sik. Com Park Kwang-jung, Jung Bo-seok,
Jo Eun-ji e outros. Homem desconfia que sua mulher tem um caso com um taxista. Para
ter certeza, decide contratá-lo para uma longa viagem e, juntos, vivem situações
surpreendentes.
Os fuzileiros que nunca retornaram
(Coreia do Sul, 1963, 110 min). Direção: Lee Man-hee. Com Jang Dong-hwi, Choi Mu-
ryong, Koo Bong-seo e outros. Durante a Guerra da Coreia, enquanto luta para assegurar
o controle de uma vila, um grupo de soldados encontra uma mulher morta e adota sua
filha como mascote. Ao perceberem a destruição causada pelos chineses, eles partem para
um embate.
Laços de família
(Coreia do Sul, 2006, 114 min). Direção: Kim Tae-yong. Com Moon So-ri, Uhm Tae-
woong, Ko Doo-shim e outros. Mulher vive sozinha em uma cidade da província onde
administra um pequeno restaurante. Sua vida toma novo rumo após a chegada da família
de seu irmão.
Cão que ladra não morde
(Coreia do Sul, 2000, 106 min). Direção: Bong Joon-ho. Com Lee Sung-jae, Bae Doo-na,
Byeon Hie-bong e outros. Homem desempregado enfrenta sérias dificuldades tentando
conseguir um cargo de professor em uma universidade e, ao mesmo tempo, irrita-se com
o cachorro do vizinho que o perturba com seu latido. Certo dia, ao encontrar o animal,
decide se livrar dele.
Artigos
BUENO, André. Dez lições de filosofia chinesa. Ensaios sobre a filosofia chinesa
clássica. http://filosofia-chinesa.blogspot.com/2007/07/as-conversaes-de-confcio.html.
Acessado em 27/11/2007 às 20:05. http://www.coladaweb.com/paises/coreia.htm
acessado em 04/12/2007; às 7:45 h
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 128
OAK, Sung-Deuk entrevistado por Margaretta Soehendro para Spearhead English-
Language Studies of Korean Christianity at UCLA. American missionaries were well
received by the people, and Korean leaders thought the United States would help them be
an independent nation. 10/2/2007
Coreanos no Brasil- Enciclopédia de Línguas no Brasil.
www.labeurb.unicamp.br/elb/asiaticas/leiamais_coreano acesso: 3/08/08nàs 17:18h
Lei no. 6.815, de 19 de agosto de 1980.
Masiero, Gilmar- Centro de Estudos Coreanos.
www.pucsp.br/geap/centrodeestudos/cecoreia.htm acesso: 13/02/2008 às 9:30h
SHOJI, Rafael. Reinterpretação do Budismo Chinês e Coreano no Brasil. Revista de
Estudos da Religião -Pós-Graduação em Ciências da Religião - PUC-São Paulo No. 3 ano
4, 2004.
TRUZZI, Oswaldo. Etnias em Convívio: o bairro do Bom Retiro em São Paulo.
www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/314.pdf acesso: 14/02/2008 às 10:30h
CARLEIAL, Adelita. Redes Sociais entre imigrantes.
www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_640.pdf acesso
02/02/2008 às 9:53h
SCHULTZE, Mary- Vamos Compra a boa vontade divina-TBC This Week, 12/01/04
www.cpr.org.br/Vamos_comprar_a_boa_vontade_divina.htm
O Hangeul e a educação na Coreia do Sul- milpovos.prefeitura.sp.gov.br/internaphp
acessado em 16/06/2008 às 8:13h
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 129
Anexo 1 - Questionário para Igreja
Este questionário tem como finalidade fomentar o trabalho acadêmico com dados sobre o perfil
das pessoas, junto a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Futuramente, os dados deste
documento serão úteis para a sociedade coreana. As informações são sigilosas, não envolvendo
identidade de nenhum dos participantes. Contamos com a sua ajuda neste questionário anônimo e
qualquer dúvida ligue para 89715394.
1. ( ) feminino ( ) masculino
2. Qual é sua idade?
( ) 20-30 anos ( ) 31-40 anos ( ) 41-50 anos
( ) 51-60 anos ( ) 61-70 anos ( ) acima de 71 anos
3. Qual é o seu estado civil?
( ) solteiro ( ) casado ( ) viúvo
( ) separado ( ) divorciado ( ) outros
4. Quem mora com você?
( ) marido ( ) esposa ( ) 1 filho ( ) 2 filhos ( ) 3 ou mais filhos
( ) sua mãe ( )seu pai ( )sua sogra ( )seu sogro
5.Quanto tempo você mora no Brasil?
( ) nascido no Brasil ( ) menos de 5 anos ( ) 6-15 anos
( ) 16-25 anos ( ) 26-35 anos ( ) mais de 35 anos
6. Qual era sua profissão/ocupação na Coreia?
( ) dona de casa ( ) estudante ( ) empregado ( ) empresário
( ) não tinha profissão ( ) outro ( ) não tinha profissão
7. Qual é sua profissão no Brasil?
( ) dona de casa ( ) estudante ( ) profissional liberal ( ) outro-
Qual?___________________
( ) empresário ( ) não tem profissão ( ) trabalha na área de confecção
( ) aposentado
8. Por que você mudou para o Brasil ?
( ) veio com os pais ( )visitar ( ) tentar uma vida melhor
( ) estudar ( ) trabalhar ( ) convidado por parentes
( ) outro ( ) veio primeiro para outro país da América Latina, e
depois veio ao Brasil
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 130
9. Em geral, como e com quem você compartilha o seu tempo livre? (marque 1 a 4,
cada número uma única vez) 1 = mais frequentemente, 2 = frequentemente, 3 =
menos frequentemente, 4 = raramente
( ) só com o cônjuge ( ) só com os filhos ( ) com o cônjuge e
os filhos ( ) com amigos brasileiros ( ) com parentes
( ) com seu grupo religioso ( ) sozinho ( ) outro
( ) com amigos coreanos ( )esporte ( )música ( ) artes
10. Quando você chegou ao Brasil, quais os grupos você frequentava?
( ) escola brasileira ( ) igreja protestante coreana ( ) família ( ) outros
( ) templo budista ( ) igreja católica ( ) nenhum grupo
11. Qual língua você domina melhor?
( ) língua coreana ( ) língua portuguesa
12. Qual personalidade você mais conhece?
( ) Martinho Lutero ( ) João Calvino
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 131
Anexo 2- Questionário Coreano para Igreja
설문지는 브라질에 사는 한국여성들의 황을 조사하기 위한 으로 마켄지 대학
상담학 석사과정 논문을 위한 자료로 쓰일 것입니다. 앞으로 한인사회에도 유익한 좋은
자료가 위해서는 하의 도움이 필요합니다. 보다 폭넓은 여를 위해 익명으로
실시되는 조사에 부담없이 협조해 주시기를 부탁드립니다. 외에도 움을 주실
일이나 문의하실 사항이 있다면 8971 5394 로 연락주십시오.
귀하께 해당하는 사항에 표시하십시오.
1. ( ) 20 – 30세 ( ) 31 – 40세 ( ) 41 – 50세
( ) 51- 60세 ( ) 61 – 70세 ( ) 71세 이상
2. ( ) 미혼 ( ) 기혼 ( ) 미망인
( ) 별거 ( ) 이혼 ( ) 기타
3. ( ) ( )
4. 누구와 같이 살고 계십니까?
( ) 남편 ( ) 아내 ( ) 자녀 1명 ( ) 자녀 2명 ( ) 자녀 3명 또는 그 이상 ( )
어머니 ( ) 아버지 ( ) 장모, 시어머 ( ) 장인, 시아버
5. 브라질에서는 몇 년이나 사셨습니까?
( ) 브라질에서 태어났다 ( ) 5년 이하 ( ) 6 – 15년
( ) 16 – 25년 ( ) 26 – 35년 ( ) 36년 이상
6. 한국에서의 귀하의 직업은 무엇이었습니까?
( ) 가정주부 ( ) 학생 ( ) 직장인 ( ) 자영업자
( ) 무직 ( ) 기타
7. 브라질에서의 귀하의 직업은 무엇입니까?
(현재 은퇴하신 분은 은퇴하기 전의 직업에 표하시기 바랍니다)
( ) 가정주부 ( ) 학생 ( ) 직장인 ( ) 자영업자
( ) 무직 ( ) 기타 (
) 가개
8. 여가 시간을 대개 누구와 함께 지내십니까? (1~4까지 힌 번씩 표해주십시오)
1 = 매우 자주, 2 = 자주, 3 = 가끔, 4 = 매우 가끔
( ) 남편과 함께 ( ) 자녀들과 함께 ( ) 남편과 자녀 함께
( ) 브라질 친구들과 ( ) 친척들과 ( ) 종교단체 멤버들과
( ) 혼자 지낸다 ( ) 그외 ( ) 한국인 친구들과
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 132
9. 왜 브라질에 오게 됐습니까?
( ) 부모님이 오셔서 ( ) 더 좋은 삶을 찾아서 ( ) 학업
( ) 직장 ( ) 브라질에 있는 친척들의 초청으로
( ) 기타 ( ) 남미 다른 나라에 살다가 브라질로 이주
10. 브라질에 도착 후, 어떤 단체에 속해 있습니까?
( ) 현지 학교 ( ) 한인 교회 ( ) 친척 ( ) 기타
( ) 불교 ( ) 천주교 ( ) 아무 단체에도 속하지 않습니다
11. 더 잘 구사 하는 언어는?
( ) 한국어 ( ) 포어
12. 잘 아는 인물은?
( ) 마틴 루터 ( ) 존 칼빈
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 133
Anexo 3 – Questionário para a Escola
Este questionário tem como finalidade fomentar o trabalho acadêmico com dados sobre
o perfil das pessoas, junto a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Futuramente, os
dados deste documento serão úteis para a sociedade coreana. As informações são
sigilosas, não envolvendo identidade de nenhum dos participantes. Contamos com a
sua ajuda neste questionário anônimo e qualquer dúvida ligue para 8971 5394.
1. ( ) feminino ( ) masculino
2. Qual é sua idade?
( ) 20-30 anos ( ) 31-40 anos ( ) 41-50 anos
( ) 51-60 anos ( ) 61-70 anos ( ) acima de 71 anos
3. Qual é o seu estado civil?
( ) solteiro ( ) casado ( ) viúvo ( ) separado ( ) divorciado
4. Quem mora com você?
( ) marido ( ) esposa ( ) 1 filho ( ) 2 filhos ( ) 3 ou mais filhos
( ) sua mãe ( )seu pai ( )sua sogra ( )seu sogro
5. Quanto tempo você mora no Brasil?
( ) nascido no Brasil ( ) menos de 5 anos ( ) 6-15 anos
( ) 16-25 anos ( ) 26-35 anos ( ) mais de 35 anos
6. Qual era sua profissão/ocupação na Coreia?
( ) dona de casa ( ) estudante ( ) empregado ( ) empresário
( ) não tinha profissão ( ) outro ( ) não tinha profissão
7. Qual é sua profissão/ocupação no Brasil?
( ) dona de casa ( ) estudante ( ) profissional liberal ( ) outro
( ) empresário ( ) não tem profissão ( ) aposentado
( ) trabalha na área de confecção
8. Por que você mudou para o Brasil
( ) veio com os pais ( ) tentar uma vida melhor ( ) estudar
( ) trabalhar ( ) convidado por parentes residentes no Brasil
( ) outro ( ) veio para um país da América Latina, e depois veio ao Brasil
9. Qual grupo ajudou você a se adaptar ao Brasil?
( ) família ( ) escola brasileira ( ) trabalho ( ) igreja ( ) amigos coreanos
( )amigos brasileiros ( )nenhum grupo
10. Qual é a sua eligião?
( ) protestante/evangélica ( ) católica ( ) budista ( ) não tem ( )outros
11. Qual língua você domina melhor?
( ) língua coreana ( ) língua portuguesa
12. Marque quais ítens você possui:
( ) TV por assinatura/ a cabo ( ) mais de 1 carro ( ) casa própria
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 134
Anexo 4- A-Questionário Coreano para escola
설문지는 브라질에 사는 한국여성들의 황을 조사하기 위한 으로 마켄지 대학
상담학 석사과정 논문을 위한 자료로 쓰일 것입니다. 앞으로 한인사회에도 유익한 좋은
자료가 위해서는 하의 도움이 필요합니다. 보다 폭넓은 여를 위해 익명으로
실시되는 조사에 부담없이 협조해 주시기를 부탁드립니다. 외에도 움을 주실
일이나 문의하실 사항이 있다면 8971-5394 로 연락주십시오.
귀하께 해당하는 사항에 표시하십시오.
1. ( ) 20 – 30세 ( ) 31 – 40세 ( ) 41 – 50세
( ) 51- 60세 ( ) 61 – 70세 ( ) 71세 이상
2. ( ) 미혼 ( ) 기혼 ( ) 미망인
( ) 별거 ( ) 이혼 ( ) 기타
3. ( ) ( )
4. 누구와 같이 살고 계십니까?
( ) 남편 ( ) 아내 ( ) 자녀 1명 ( ) 자녀 2명 ( ) 자녀 3명 또는 그 이상 ( )
어머니 ( ) 아버지 ( ) 장모, 시어머 ( ) 장인, 시아버
5. 브라질에서는 몇 년이나 사셨습니까?
( ) 브라질에서 태어났다 ( ) 5년 이하 ( ) 6 – 15년
( ) 16 – 25년 ( ) 26 – 35년 ( ) 36년 이상
6. 한국에서의 귀하의 직업은 무엇이었습니까?
( ) 가정주부 ( ) 학생 ( ) 직장인 ( ) 자영업자
( ) 무직 ( ) 기타
7. 브라질에서의 귀하의 직업은 무엇입니까?
(현재 은퇴하신 분은 은퇴하기 전의 직업에 표하시기 바랍니다)
( ) 가정주부 ( ) 학생 ( ) 직장인 ( ) 자영업자
( ) 무직 ( ) 기타 (
) 옷가개
8. 여가 시간을 대개 누구와 함께 지내십니까? (1~4까지 힌 번씩 표해주십시오)
1 = 매우 자주, 2 = 자주, 3 = 가끔, 4 = 매우 가끔
( ) 남편과 함께 ( ) 자녀들과 함께 ( ) 남편과 자녀 함께
( ) 브라질 친구들 ( ) 친척들과 ( ) 종교단체 멤버들과
( ) 혼자 지낸다 ( ) 그외 ( ) 한국인 친구들
9. 브라질에 정응하기까지 도와준 단체는?
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 135
( ) 가족 ( ) 현지인 학교 ( ) 일터 ( ) 교회 ( ) 한인 친구들
( )브라질 친구들 ( ) 없음
10. 당신이 선호하는 종교는?
( ) 기독/개신교 ( ) 천주 ( ) 불교 ( ) 없음 ( ) 기타
11. 더 잘 구사 하는 언어는?
( ) 한국어 ( ) 포어
12. 소유하고 있는 것들에 표시 하세요:
( ) 케이블 TV ( ) 1 이상의 동차 ( ) 개인 소유의 집
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 136
Anexo 5 – Questionário- Roteiro para depoimento oral
As perguntas abaixo serão utilizadas no complemento da pesquisa acadêmica para levantamento do perfil
de coreanos residentes na cidade de São Paulo. Todas as respostas serão mantidas em sigilo, como também
a identidade dos participantes.
1- Local de nascimento
2- Idade
3- Origem dos pais e ano de chegada ao Brasil
4- Por que você(s) resolveu(ram) mudar para o Brasil?
5- Por que escolheu São Paulo?
6 -Como você mantem sua cultura? (língua, tradições)
7- Você está adaptado ao Brasil?
8- Você recebeu algum tipo de ajuda para esta adaptação?
9-Você frequenta algum grupo de relacionamento? Qual? Quantas vezes?
10- Há quanto tempo frequenta este grupo?
11- Quais as atividades oferecidas por este grupo?
12- Por que você frequenta este grupo?
13- Comente livremente sobre sua participação neste grupo
14- Se não participa de grupos, o que faz para manter-se em contato com pessoas da
colônia
15- Você sente algum tipo de preconceito? Quem o discrimina?
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 137
Anexo 6 – questionário para líderes da igreja
1- Qual seu cargo/função na igreja?
2- Local de nascimento
3- Quanto tempo mora no Brasil
4- A igreja Unida o ajudou na adaptação ao Brasil? Como?
5- Quantos novos membros coreanos a igreja absorve por ano?
6- Como a Igreja Coreana ajuda na adaptação?
Perguntas para o pastor/líder
1- O que motivou a fundação da Igreja Unida?
2- Quantos membros tem na igreja?
3- Qual o percentual de descendentes/não descendentes?
4- O presbiterianismo da Igreja Unida é mais parecido com o da igreja brasileira ou tem
aspectos mais próprios. Exemplo
5- Existe algum tipo de tradiçào cultural coreana que a igreja ainda preserva? Qual?
6- Em linhas gerais, o membro da Igreja coreana se sente mais coreano ou brasileiro?
Como foi a adaptação dele?
7- Qual o motivo principal para o coreano ter vindo ao Brasil?
8- Qual a missão da Igreja Unida?
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 138
Anexo 7- Organograma da Igreja Presbiteriana Unida Coreana em São
Paulo
Organização da IPUCSP
Comitê de
Culto
Culto
Música
Áudio
Assembléia Geral
Conselho dos
Presbíteros
Comitê de
Missão
Missões Transculturais
Missões Médias
Integração de Missões
Evangelização
Reunião Diaconal
Comitê de
Educação
Berçário
Pré-Escola
Primário
Time de Deus
Comitê de
Jovem Adultos
Mocidade 1
Mocidade 2
Comitê de
Educação da Maioridade
Apois aos Pequenos Grupos (Fazenda)
Aconselhamento Pré-Nupcial
Tradução
Centro Cultural
Recurso visuais e áudios
Comitê de Planejamento do
Ministério em Português
Ministério de Dons
Fazendas
MUC
Comitê de
Membresia Local
Apoio àos Novas Famílias
Manutenção de Zonas Regionais
Visitas
Ministério de Medicina Paliativa (Hospice)
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 139
Comitê de Planejamneto
Planejamento
Secretaria
Editorial
Comitê de
Manutenção
Manutenção Predial
Manutenção Automobilística
Manutenção do Estacionamento
Manutenção do Acampamento
Comitê de
Finança
Tesouraria
Finanças
Comitê de
Comunhão
Atividade da Comunhão
Manutenção do Refeitório
Eventos dos Membros da Igreja
Comitê de
Bolsas de Estudo
Comitê de
Ação Social
JaTI
Creche
Central de Ação Social
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 140
Anexo 8 - Lista de Igrejas coreanas em São Paulo (2009)
75
1. Ig Evangelho Pleno- Rua São João Batista, 77 São Paulo SP
2. Ig Amor- Rua do Areal, 132, Bom Retiro São Paulo SP
3. Ig Cristo- Av.Conceição,1400,V.Guilherme São Paulo SP
4. Ig Boa Notícia- Rua Ouro Grosso, 1089,Parque Peruche São Paulo SP
5. Ig Paraíso- R. Jose do Patrocínio, 25 São Paulo SP
6. Ig Sul Americana Unida- Rua Antonio Coruja,187,Bom Retiro São Paulo SP
7. Ig Sempre Verde- R. General Flores, 258,Bom Retiro São Paulo SP
8. Ig Evangélica Coreana Jesus de Dae han- R. Muniz de souza,297 Sao Paulo SP
9. Ig Evangélica Holiness Coreana de São Paulo-R.Muniz de Souza,297,Cambuci SP
10. Ig Missionária Oriental de São Paulo- R. Mamore, 71,Bom Retiro São Paulo SP
11. Ig Bedani- R.Lava-pés,368,Cambuci São Paulo SP
12. Ig Betesda- Rua Ágata,26,Aclimação São Paulo SP
13. Ig Batista Evangelho-: R.da Graça, 588,Bom Retiro São Paulo SP
14. Ig Bom Retiro- R. Afonso Pena, 314,Bom Retiro São Paulo SP
15. Ig evangelho Pleno do Brasil- Rua Jose Paulino,235 2And.,Bom Retiro SP
16. Ig Batista Central- Rua Lubavitch,203,Bom Retiro São Paulo SP
17. Ig Coreana do Brasil- Av. Turmalina 53,,Aclimação São Paulo SP
18. Ig Filadélfia-: R.das Olarias 103,Canindé São Paulo SP
19. Ig Boa Notícia de SP- R. Mamore, 501,Bom Retiro São Paulo SP
20. Ig Senuri- Rua Bueno de Andrade 219,Liberdade São Paulo SP
21. Ig Seronam- R. Newton Prado, 77,Bom Retiro São Paulo SP
22. Ig Nova Luz- R.Jaraguá,126,B.Retiro São Paulo SP
23. Ig Nova Vida- R. Salvador Leme, 374,B.Retiro São Paulo SP
24. Ig Evangélica Nova Esperança- Rua Santa Rita, 215, Pari São Paulo SP
25. Ig Nova Jerusalém-: Rua Dom Duarte leoporde,946,Cambuci São Paulo SP
26. Ig Fonte de Vida- R. Prates, 799,Bom Retiro São Paulo SP
27. Ig Presbiteriana Esmirna Coreana-: R. Guimarães Passos, 124 São Paulo SP
28. Ig Presbiteirana Seul Coreana- R. Joaquim Piza, 281 São Paulo SP
29. Ig Missão-R. David Bigio, 31,Bom Retiro São Paulo SP
30. Ig Sundu- R. Joaquim Murtinho, 172,Bom Retiro São Paulo SP
31. Ig Presbiteriana Sung Do- R. Dom Duarte Leopardo, 168 São Paulo SP
32. Ig Sião- Rua Dos Bandeirantes, 60 - Bom Retiro São Paulo SP
33. Ig Jiguchon de SP- R. Hannemann, 149 Sao Paulo SP
34. Ig Sin Am- R. Rodovalho da Fonseca, 194 São Paulo SP
35. Ig Sin Il- Rua Basilio da Cunha, 789,Aclimação São Paulo SP
36. Ig Santana- R.donizete Tavaro de Lima,108,Santana São Paulo SP
37. Ig Água Viva-Rua Traip?, 290,Pacaembu. São Paulo SP
38. Ig Presbiteriana Antióquia- R. Rio Bonito, 1804,Brás São Paulo SP
39. Ig Presbiteriana. Embu- R. Xingu 265 novo campo limpo SP
75
Informação tirada das páginas amarelas por Pr Marcos W. P. Hong
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 141
40. Ig Presbiteriana Eden- Av. Carlos de Campos, 538 Sao Paulo SP
41. Ig Presbiteriana Unida Coreana de São Paulo- R.Mitiuto Mizumoto,220,Liberdade
São Paulo SP
42. Ig Glória- Rua Padre Vieira,166,Canindé São Paulo SP
43. Ig Onnuri- R. Lopes Trovão, 74 São Paulo SP
44. Ig Graça Coreana- Rar Prates 93,Bom Retiro São Paulo SP
45. Ig Emanuel- Rua Amazonas 64,Bom Retiro São Paulo SP
46. Ig Jong Won- Rua Dr.Miguel Paulo Capalbo,114,Pari São Paulo SP
47. Ig Jo-Un- Rua Prates, 460,Bom Retiro São Paulo SP
48. Ig Batista Ju-sarang- R. Lubavitch, 34,Bom Retiro São Paulo SP
49. Ig Louvor ao Senhor- R. Cachoeira 1370,Pari São Paulo SP
50. Ig Evangélica Central Coreana de São Paulo- Rua Paraíso 734 São Paulo SP
51. Ig Holyness central - R.do Paraíso, 749 Paraíso, Aclimação São Paulo SP
52. Ig Jiguchon- Rua Virgilio do Nascimento 71,Pari São Paulo SP
53. Ig Paz- R. Anhaia, 305,Bom Retiro São Paulo SP
54. Ig Abundante- R. Rodrigo Cláudio, 422 São Paulo SP
55. Ig Han-a-rum- Rua Tres Rios, 218A,Bom Retiro São Paulo SP
56. Ig Hanin- Rua Dr. Lund, 370,Liberdade São Paulo SP
57. Ig Batista Coreana- R. Dr. João Alves de Lima, 186 São Paulo SP
58. Ig Feliz- R, Prates, 880.,Bom Retiro São Paulo SP
59. Ig Presbiteriana Betel Coreana de São Paulo- Luz , São Paulo SP
60. Ig Presbiteriana da Paz de São Paulo- Rua Anhaia, 305 São Paulo SP
61. Primeira Igreja Batista Coreana de São Paulo-R. Bandeirantes, 101, SP
62. Igreja Presbiteriana Ban Suk de São Paul. R Prates, 384 Luz São Paulo – SP
63. Igreja Shin Kwang Batista Coreana Cristã- R. Hannemann, 149, São Paulo
64. Igreja Presbiteriana Sin Am Coreana SP- R. Rodovalho
65. Igreja Presbiteriana Han Sun Coreana
66. Igreja Presbiteriana Canaã
67. Igreja Missionária Jeli- R Castelo de paiva, 51, Jd Ipanema, SP
68. Igreja Presbiteriana Yong Kwang do Brasil- R. Mendes Gonçalves, 329 Pari
69. Igreja Presbiteriana Missionária
70. Full Gospel Church- Assembléia de Deus da Coreia- Brás
71. Igreja Presbiteriana Coreana. Rua Dr Miguel Guimarães, 235- Vila Santana
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 142
Anexo 9 – Mídia japonesa, chinesa e coreana em São Paulo
Japoneses
76
JORNAIS TABLOIDES E
REVISTAS
INTERNET E TV
São Paulo Shimbun Opa Rádio Nikkei
Jornal Brasil- Jihô Bumba Imagens do Japão- único
programa asiático de tv.
Jornal Paulista Imagens do Japão Tv Japan POP Show
Diário Nippak
Jornal do Japão
Jornal Nikkei
Nikkei Jornal
Jornal da Liberdade
Jornal Tudo Bem
Chineses
JORNAIS TABLOIDES E
REVISTAS
INTERNET E TV
Hua-Kuang Jornal Chinês de São Paulo
Jornal Chinês do Brasil Jornal Taiwanês
Jornal Na-Mei (1969-1988)
Jornal Chinês Americana
Coreanos
JORNAIS TABLOIDES E
REVISTAS
INTERNET E TV
Jornal Cho Sun Brasil Boletim interno da ABC Nammiro
Jornal Cristão da América
Latina
Bom Dia News Hanin
Jornal Dong-A IMOSP Hanaro
Jornal Evangélico da
América Latina
Nammi-Dong-A TV Coreia
Jornal Han-Kook News Brasil
Jornal Joong-Ang News Namiro Brasil
Korea Times São Paulo Journal
Jornal Protestante Nova Geração
Jornal Católico Cultura Tropical
76
Negawa, 2000 p 58
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 143
Anexo 10- Associações coreanas em São Paulo
ATIVIDADE ECONÔMICA GRUPOS DE ARTISTAS GRUPOS ESPORTIVOS
Câmara de Comércio e Industria
Coreana
Federação da Organização
Cultural dos Artistas da
Coreia do Brasil
Associação Coreana de
Esportes Amadores do
Brasil
Associação de Oficina coreana
do Brasil
Associação de artes Plásticas Associação Coreana de
Taekwondo
Associação dos Comerciantes
Coreanos do Bom Retiro
Associação dos Músicos Associação de Golfe dos
Coreanos
Associação Relojoeiro Coreano Associação dos Maestros Associação de Futebol dos
Coreanos do Brasil
Associação Unida dos
Economistas Coreanos
GRUPOS DE AMIZADE Associação Basebolistas
dos Coreanos no Brasil
Associação das Agências de
Turismo
Dong Ho Pescador Clube
Coreano
Associação Kobras de Tiro
ao Alvo
GRUPOS SOCIAIS Associação dos Pescadores
do Farol
Associação de Voleibol
Coreano no Brasil
Associação Brasileira dos
Veteranos Coreanos
Associação de Go Associação de Tênis do
Brasil
Associação dos ex- alunos do
Colégio e/ou Universidade( 29
associações)
Associação de Ex-moradores
do Estado de Hwang Hae
Coreia Kum da Associação
do Brasil
Associação dos Idosos
Coreanos
GRUPOS RELIGIOSOS Coreia Sirum Associação
do Brasil
Dai Han Associação das
Senhoras do Brasil
Associação das Igrejas
Protestantes
Associação de Tênis de
Mesa
Internacional Lions Club São
Paulo
Associação dos Homens
Propagadores do
Protestantismo
Associação de Soft Tênis
Associação dos Coreanos
Naturalizados
Associação das Mulheres
Propagadores do
Protestantismo
Associação de Hapkido
OUTROS GRUPOS Associação de Gate-ball
Associação de Abstinência
Associação de Juristas
Coreanos-Brasileiros
Associação dos Servidores
Coreanos Voluntários
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 144
Anexo 11 – Quadro sinótico das entrevistas de campo
ENTREVISTA DATA OBSERVAÇÃO
ENTREVISTADO 1 20.04.2008 Missionária
ENTREVISTADO 2 24.04.2008 Pastor
ENTREVISTADO 3 24.04.2008 Funcionária de entidade
ENTREVISTADO 4 25.04.2008 Esposa de pastor
ENTREVISTADO 5 27.04.2008 Empresário
ENTREVISTADO 6 25.04.2008 Primeira geração de imigrantes
ENTREVISTADO 7 25.04.2008 Primeira geração de imigrantes
ENTREVISTADO 8 17.06.2008 Professor de educação fundamental
ENTREVISTADO 9 17.06.2008 Diretora de Escola
ENTREVISTADO 10 06.04.2009 Pastor
ENTREVISTADO 11 05.05.2009 Presbítero
ENTREVISTADO 12 08.02.2009 2ª geração de imigrantes
ENTREVISTADO 13 19.05.2009 2ª geração de imigrantes
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 145
Anexo 12 – Dados Gerais da Coreia do Sul
Coreia do Sul
Capital: Seul
POPULAÇÃO
Total: 48,598,175 (julho de 2004)
Área:98,480 km²
Renda per capita: 17,700 (2003)
Alfabetização: 97.9%
Língua: Coreano
Religião: 26% da população pratica o budismo mahayana, outros 22% são cristãos. São
minorias o confucionismo, taoísmo e o chundokyo.
Estatuto: República
Moeda: Won sul-coreano (KRW)
Organizações: ONU e Plano Colombo
DATAS IMPORTANTES
Independência: 15 de agosto de 1945, do Japão.
Feriados nacionais: Dia da Libertação: 15 de agosto.
Fonte: http://www.apolo11.com/paises.php?ban=ks acesso 12/05 às 10:56h
Imigração Coreana e Protestantismo…
Silvania Maria Portela Silva
Universidade Presbiteriana Mackenzie Página 146
Anexo 13 – Estatísticas de população da Coréia do Sul
60%
40%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
População nas cidades População no campo
Figura 27- Pop urbana e Rural na Coreia do Sul
25%
75%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
População urbana em Seul População urbana em outras cidades
Figura 28- população em seul e outras cidades da Coreia
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo