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portanto, fundador de todo conhecimento (SODRÉ, 2002).
Essas formas de mediação compõem o fenômeno da midiatização que, na
visão de Sodré, constitui-se de uma ordem de mediações socialmente realizadas,
incluindo processos informacionais que se desenvolvem a reboque das
organizações empresariais. O processo corresponde ao conjunto de
tecnomediações caracterizado pela presença de um médium
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, sendo que a
mediação não se restringe ao dispositivo técnico
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, mas diz respeito ao fluxo
comunicacional vinculado a esse dispositivo (SODRÉ, 2002).
O dispositivo comunicacional consiste, assim, em espécie de abstração capaz
de articular comportamentos, ao conjugar elementos sociais e técnicos; agenciando
práticas em favor de determinada lógica de funcionamento das trocas sociais.
Agambem (2006) destaca a função reguladora do dispositivo sobre as
relações sociais, caracterizando-o como
[...] qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar,
orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos,
as condutas, as opiniões e os discursos dos seres vivos. Não somente,
portanto, as prisões, os manicômios, o panóptico, as escolas, a confissão,
as fábricas, as disciplinas, as medidas jurídicas etc., cuja conexão com o
poder é em certo sentido evidente, senão também a lapiseira, a escritura, a
literatura, a filosofia, o cigarro, a navegação, os computadores, os celulares
e - por que não - a linguagem mesmo, que é possivelmente o mais antigo
dos dispositivos em que milhares e milhares de anos um primata -
provavelmente sem dar-se conta das consequências que se seguiriam -
teve a inconsciência de deixar-se capturar. (AGAMBEM, 2006, tradução
nossa).
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O termo médium é empregado por Sodré (2002) como “prótese tecnológica e mercadológica da
realidade sensível”, em referência à “forma tecnointeracional, resultante de uma extensão especular
ou espectral que se habita, como um novo mundo, como nova ambiência, código próprio, e
sugestões de conduta,... entidade capaz de uma retroação expropriativa de faculdades
tradicionalmente atinentes à soberania do sujeito, como saberes e memória”. (SODRÉ, 2001, p. 21).
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O dispositivo abrange o dado material ou técnico - que corresponde ao suporte ou canal, a
tecnologia, o código e a estruturação em um sistema significante (ANTUNES; VAZ, 2006).
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“[...] cualquier cosa que tenga de algún modo la capacidad de capturar, orientar, determinar,
interceptar, modelar, controlar y asegurar los gestos, las conductas, las opiniones y los discursos de
los seres vivientes. No solamente, por lo tanto, las prisiones, los manicomios, el panóptico, las
escuelas, la confesión, las fábricas, las disciplinas, las medidas jurídicas, etc., cuya conexión con el
poder es en cierto sentido evidente, sino también la lapicera, la escritura, la literatura, la filosofía, la
agricultura, el cigarrillo, la navegación, las computadoras, los celulares y - por qué no - el lenguaje
mismo, que es quizás el más antiguo de los dispositivos, en el que millares y millares de años un
primate - probablemente sin darse cuenta de las consecuencias que se seguirían - tuvo la
inconciencia de dejarse capturar” (AGAMBEM, 2006). O autor parte da noção foucaultiana, na
perspectiva dos dispositivos enquanto formas de manutenção dos jogos de poder, ampliando-a, para
discutir a questão na contemporaneidade.