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1844 – Surge em Sorocaba, interior de São Paulo, João Maria I. Nasceu em
1801, em Piemonte, Itália. Tendo permanecido cerca de três anos em
Sorocaba, inicia sua peregrinação, atravessando os estados do Paraná e
Santa Catarina, alcançando o Rio Grande do Sul. Em Santa Maria, erige
uma capela sobre um morro dedicada a Santa Antão, perto de uma
nascente. Sua fama percorreu grande distância, atraindo notável
contingente. Temendo mais um movimento de “fanáticos religiosos”,
comuns no Brasil da época, o presidente da província prende e ordena a
transferência do monge para o Rio de Janeiro. Livre da prisão, retorna a
Sorocaba, de onde seguiu para a Lapa, no Paraná. Muitos dos lugares por
onde passou tornaram-se sagrados, destino de milhares de pessoas até os
nossos dias. Seu fim é incerto. Pode ter morrido em Sorocaba, ou, em
Araraquara, pois há relatos do surgimento de um João Maria na cidade em
1906.
1893 – Surgem informações que dão conta do aparecimento de outro João
Maria, perambulando pelas paragens entre o Iguaçu e o Uruguai. Sua
presença é confirmada entre os combatentes sertanejos do Vale do Rio do
Peixe, portando uma bandeira do Divino, branca, com uma pomba vermelha
ao centro. Pediu licença para tocar, com ela, os feridos nos combates, pois
acreditava ter poderes curativos. Era partidário da causa federalista, aberto
apoiador de Gumercindo Saraiva. De tal forma o promovia, que, morto em
combate, chegou a profetizar a sua ressurreição, à frente de um exército de
anjos. Segundo consta, o nome real do monge era Atanás Marcaf,
possivelmente de origem Síria, o que denunciava o seu sotaque
estrangeiro. No encontro que teve com o Frei Rogério Neuhaus, sua fala,
quanto às suas origens, foi: “Nasci no mar, criei-me em Buenos Aires, e faz
onze anos que tive um sonho, percebendo nele, claramente, que devia
caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas
quartas-feiras, sextas e sábados, e sem pousar na casa de ninguém. Vi-o
claramente”.
1897 – Quando Hercílio Luz governava em Santa Catarina, aparece um
grupo de fiéis em Entre Rios, município de Lages, atraídos por um novo
monge, que dizia ser irmão de João Maria. Liderava-o um comerciante
chamado Francelino Sutil de Oliveira, funcionando como um tipo de deão. O
“coronel” Henrique Rupp denuncia o grupo ao governo, acusando os seus
integrantes de insurgentes. Assim, sofrem o ataque de um destacamento de
Santa Catarina, apoiado pelos capangas do citado caudilho. Derrotados na
demanda, outra expedição catarinense é enviada com o mesmo objetivo,
comandada pelo Tenente Coronel Gastão Cotrim. Todavia, antes da
chegada da nova brigada, o movimento já havia sido desmantelado pelas
forças do Rio Grande do Sul, comandadas pelo Coronel Bento Porto. Esse
rápido surto messiânico ficou conhecido como “Canudinhos de Lages”.
1908 – João Maria II já havia desaparecido por completo. Há relatos
inconclusivos quanto à sua morte. Pode ter ocorrido em um hospital da
cidade de Ponta Grossa, no Paraná, ou então, sepultado em Lagoa
Vermelha, no Rio Grande do Sul. Todavia, na crença popular, ele não pode
morrer. Sua retirada foi estratégica para provar a fé que possuíam seus
seguidores. Acreditavam que se encontrava “encantado”, habitando no
morro do Taió. Sua permanência ali é temporária, pois deverá regressar
“para pôr tudo em ordem”. Na vacância da função monacal, vários tentaram
assumi-la, intitulando-se sucessores, ou mesmo, o próprio João Maria
ressurrecto.
1911 – Boatos atiçam o imaginário sertanejo, falando da iminência da volta
de João Maria.