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FÁBIO AUGUSTO SCARPIM
Bens simbólicos em laços de pertencimento: família, religiosidade e identidade
étnica nas práticas de transmissão de nomes de batismo em um grupo de
imigrantes italianos (Campo Largo – PR, 1878-1937).
CURITIBA
2010
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ii
FÁBIO AUGUSTO SCARPIM
Bens simbólicos em laços de pertencimento: família, religiosidade e identidade
étnica nas práticas de transmissão de nomes de batismo em um grupo de
imigrantes italianos (Campo Largo – PR, 1878-1937).
CURITIBA
2010
Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do grau de mestre em História. Programa de
Pós-Graduação em História, Setor de Ciências
Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do
Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Odilon Nadalin
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iii
Catalogação na publicação
Sirlei do Rocio Gdulla – CRB 9ª/985
Biblioteca de Ciências Humanas e Educação - UFPR
Scarpim, Fábio Augusto
Bens simbólicos em laços de pertencimento: família, religiosi-
dade e identidade étnica nas práticas de transmissão de nomes
de batismo em um grupo de imigrantes italianos (Campo Largo –
PR, 1878-1937) / Fábio Augusto Scarpim. – Curitiba, 2010.
230 f.
Orientador: Prof.Dr. Sérgio Odilon Nadalin
Dissertação (Mestrado em História) Setor de Ciências Huma-
nas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.
1. Italianos – identidade étnica - Campo Largo(PR).
2. Italianos – religiosidade – Campo Largo(PR). 3. Italianos –
nomes próprios - Campo Largo(PR). 4. Imigrantes – Campo
Largo(PR). I. Titulo.
CDD 325.2450981
iv
AGRADECIMENTOS
Durante a elaboração dessa dissertação, desde a concepção do projeto até a sua
finalização, várias pessoas contribuíram direta ou indiretamente. À elas quero
agradecer.
Primeiramente devo agradecer ao orientador professor Sérgio Odilon Nadalin
pelas sugestões, pelas críticas, pelos elogios, pela bibliografia emprestada e pela
paciência com que lidou com todas as minhas dúvidas. Seu vasto conhecimento foi
precioso em várias partes desse trabalho.
Aos professores do curso de pós-graduação em História da UFPR, especialmente
as professoras Maria Luiza Andreazza e Roseli Boschilia pelas valiosas contribuições
no exame de qualificação.
As professoras Maria Luiza (UFPR) e Núncia Santoro de Constantino (PUCRS)
pelas observações e pelas sugestões na defesa dessa dissertação.
À professora Andréa Doré e aos caros colegas da turma de Seminários 2008 da
Linha Espaço e Sociabilidades : Anadir, Beatriz, Daniele, Maria Helena, Maria
Rosangela, Paulo, Paulinha, Thiago Estevão e Tiago Bonato pelo convívio e pela troca
de ideias. Agradecimento especial a Anadir, pois trocamos muitas ideias, informações e
também a expectativa e a incerteza, quando do processo de seleção para o mestrado.
Também a todos que indicaram bibliografia, que sugeriram ideias, o qual seria tarefa
muito difícil a todos aqui mencionar.
A CAPES pela bolsa durante um ano.
A secretária Maria Cristina pelo auxílio nas questões burocráticas.
Reconstituir a trajetória desses imigrantes foi como montar um quebra-cabeças
com peças espalhadas por todas as partes. Portanto agradeço a todos que facilitaram
meu acesso as fontes para essa pesquisa: funcionários do cartório de registros civis de
Campo Largo, paróquia São José de Santa Felicidade, paróquia Nossa Senhora da
Piedade de Campo Largo e especialmente ao roco da paróquia de São Sebastião da
Rondinha e a secretária Silmara pelas tantas vezes que me atenderam para a coleta dos
registros paroquiais. Processo esse que se iniciou ainda quando preparava o projeto da
monografia de graduação.
À Ademir Berton que emprestou o livro de registros de óbito da caixa mortuária
da colônia Campina.
Ao arcebispo Dom Pedro Fedalto pela entrevista concedida.
v
Ao padre Angelo Carlesso Primo pelas informações e pelos dados da genealogia
de sua família.
A professora Sandra que fez o Abstract.
A minha família , especialmente aos meus pais, que mesmo não entendendo
direito o porquê de tantos livros, fichas, registros, indas e vindas e tantas horas na frente
do computador, sempre me apoiaram. Certamente suas estórias despertou o meu
interesse para estudar como historiador a história dos imigrantes italianos e de seus
descendentes.
Finalmente a Deus que me deu força e coragem para chegar até aqui e para não
desanimar perante as dificuldades e perante os milhares de registros paroquiais que
transcrevi para essa dissertação.
vi
Existe uma antiga crença segunda a qual uma pessoa morre três
vezes. A primeira é no momento em suas funções vitais param. A
segunda é quando seu corpo é colocado no túmulo e a terceira
acontece em algum momento no futuro quando seu nome é
pronunciado pela última vez.
vii
SUMÁRIO
Lista de tabelas.................................................................................................................ix
Lista de anexos.................................................................................................................xi
Lista de mapas e figuras..................................................................................................xii
Resumo...........................................................................................................................xiii
Abstract..........................................................................................................................xiv
Introdução..........................................................................................................................1
1. Das aldeias do Vêneto a Campo Largo: imigração e estabelecimento das colônias
1.1 O Êxodo dos camponeses do Vêneto........................................................................15
1.2 Políticas imigratórias no Brasil: imigração para a grande lavoura e a colonização no
Sul....................................................................................................................................26
1.3 O município de Campo Largo e as colônias italianas.............................................34
1.4 Da Capelania Curada italiana à criação da paróquia de São
Sebastião..........................................................................................................................42
2. Construindo identificações étnicas: família, religiosidade e nomes.
2.1 De camponeses do Vêneto a colonos ítalo-brasileiros: a construção da identidade
étnica................................................................................................................................52
2.2 Nas aldeias do norte da Itália: a família camponesa...............................................60
2.2.1 A estrutura dos domicílios camponeses................................................................60
2.2.2 Valores camponeses...........................................................................................65
2.3 A família imigrante: vínculos familiares e de identificação étnica..........................70
2.4 Do norte da Itália às colônias do Sul do Brasil: a religião como fator de identificação
coletiva........................................................................................................................86
2.5 Um bem simbólico: os nomes de batismo.................................................................99
viii
3.Na pia batismal: tradição e identidade étnica nas práticas de transmissão de
nomes de batismo.
3.1 Os nomes ao longo da história: algumas considerações.........................................104
3.2 Os nomes e sua frequência....................................................................................110
3.3 Nomes e família......................................................................................................122
3.3.1 Nomes dos avós, tios e pais..................................................................................125
3.3.2 Nomes dos padrinhos, bisavós e outros parentes.................................................130
3.3.3 Os nomes dos irmãos falecidos...........................................................................134
3.3.4 Nomes dos avós: vivos ou mortos? .....................................................................138
3.4 Os nomes e o calendário litúrgico...........................................................................144
3.5 Outras referências.................................................................................................149
3.6 O nome do primeiro filho.....................................................................................151
Considerações Finais.....................................................................................................157
Fontes.............................................................................................................................161
Referências Bibliográficas.............................................................................................163
Anexos...........................................................................................................................172
ix
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Área de procedência dos noivos nascidos na Itália (Paróquia de São
Sebastião, Campo Largo – Paraná, 1878-1920)............................................................17
TABELA 2: Colônias italianas de Campo Largo...........................................................39
TABELA 3: Distribuição dos noivos (as), conforme local de nascimento: Colônias
italianas de Campo Largo (1878-1920)..........................................................................72
TABELA 4: Distribuição dos cônjuges, conforme origem étnica. Colônias italianas de
Campo Largo (1878-1920).............................................................................................73
TABELA 5: Origem étnica dos padrinhos e madrinhas que batizaram filhos dos
imigrantes e descendentes de italianos em Campo Largo (1878-1937). Números
absolutos e relativos........................................................................................................82
TABELA 6: Relação entre o local de residência dos pais e padrinhos (1878-1937).
(Famílias Reconstituídas). Números absolutos e relativos..............................................84
TABELA 7: Frequência dos principais prenomes masculinos escolhidos pelo grupo
italiano (1878-1937........................................................................................................114
TABELA 8: Frequência dos principais prenomes femininos escolhidos pelo grupo
italiano (1878-1937)......................................................................................................114
TABELA 9: Prenomes mais frequentes entre os imigrantes italianos.........................116
TABELA 10: Frequência dos principais prenomes duplos masculinos escolhidos pelo
grupo italiano (1878-1937)............................................................................................121
TABELA 11: Frequência dos principais prenomes duplos femininos escolhidos pelo
grupo italiano (1878-1937)............................................................................................121
x
TABELA 12: Escolha dos nomes de batismo dos filhos de Antonio e Luigia............123
TABELA 13: Influência da linhagem paterna na escolha dos prenomes (1878-
1937)........................................................................................................................126
TABELA 14: Influência da linhagem materna na escolha dos prenomes (1878-
1937).........................................................................................................................126
TABELA 15: Influência dos padrinhos, bisavós e outros parentes na escolha dos
prenomes. (1878-1937)..................................................................................................131
TABELA 16: Influência dos Irmãos falecidos (1878-1937).........................................135
TABELA 17: Crianças que receberam prenomes dos avós vivos ou falecidos (1878-
1937).......................................................................................................................140
TABELA 18: Influência dos Santos nos nomes da crianças (1878-1937)....................142
TABELA 19: Relação entre o nome da criança batizada e o calendário litúrgico (1878-
1937).......................................................................................................................144
TABELA 20: Outras Influências na escolha dos prenomes (1878-1937).....................149
TABELA 21: Escolha do nome do primeiro filho (1878-1937)...................................152
TABELA 22: Escolha do prenome da primeira filha (1878-1937)...............................152
xi
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: Limites territoriais da paróquia São Sebastião Rondinha (Campo Largo,
Paraná)......................................................................................................................173
ANEXO 2: Casamentos por troca : paróquia São Sebastião Rondinha (Campo Largo,
Paraná) )......................................................................................................................174
ANEXO 3: Anexo metodológico: Organização das tabelas para tratamento dos
dados........................................................................................................................176
ANEXO 4: Tabulação dos dados referentes as práticas de nominação entre imigrantes e
descendentes de italianos de Campo Largo, Paraná (1878-1937). Tabelas 1.A, 2.A, 3.A,
4.A e 5.A.................................................................................................................183
ANEXO 5: Genealogia das famílias Zanin e Carlesso..................................................189
ANEXO 6: Frequência dos prenomes masculinos dos imigrantes italianos instalados em
Campo Largo.................................................................................................................200
ANEXO 7: Frequência dos prenomes femininos dos imigrantes italianos instalados em
Campo Largo.................................................................................................................201
ANEXO 8: Contagem dos prenomes femininos mais frequentes ano a ano (1878-
1937)..............................................................................................................................202
ANEXO 9: Contagem dos prenomes femininos mais frequentes ano a ano (1878-
1937)..............................................................................................................................205
ANEXO 10: Frequência total dos prenomes simples femininos (1878-1937).............210
ANEXO 11: Frequência total dos prenomes simples masculinos (1878-1937)............214
ANEXO 12: Frequência total dos prenomes combinados femininos (1878-1937).......221
ANEXO 13: Frequência total dos prenomes combinados masculinos (1878-1937).....227
xii
LISTA DE MAPAS E FIGURAS
Figura 1: Mapa da Itália...................................................................................................19
Figura 2: Localização de Campo Largo..........................................................................34
Figura 3: Frontespício da Paróquia São Sebastião (Rondinha).......................................47
Figura 4: Igreja de Rondinha em 1936............................................................................50
Figura 5: Paróquia de Sãoo Sebastião (Rondinha)..........................................................90
Figura 6: Detalhe da Torre..............................................................................................90
Figura 7: Igreja de Nossa Senhora da Anunciação (Colônia Mariana)...........................91
Figura 8: Igreja do Senhor Bom Jesus - Colônia Timbutuva (Antiga Caratuva)...........91
Figura 9: Martírio de o Sebastião tendo como paisagem de fundo a paróquia. (Pintura
interna da Igreja de São Sebastião- Rondinha)................................................................92
Figura 10: Igreja de Nossa Senhora do Carmo (Colônia Antônio Rebouças).................94
Figura 11: Placa comemorativa feita à Nossa Senhora do Carmo em 25.04.1884..........94
Figura 12: São Roque (protetor contra a peste)...........................................................95
Figura 13: Pintura de Santo Antônio Abade.................................................................146
Figura 14: Papa Giulio I................................................................................................146
Figura 15: São Bernardo, Santa Angela, São Jorge e São Paulo...................................146
Figura 16: Imagem de Anjo........................................................................................146
Figura 17: São Pedro.................................................................................................147
Figura 18: Detalhe da cúpula da Igreja de Rondinha com um dos 4 evangelhistas......147
Figura 19: Santo Antônio de Pádua...............................................................................147
xiii
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a construção da identidade etnocultural
de um grupo de imigrantes italianos e seus descendentes instalados no município de
Campo Largo (Paraná) no período de 1878 a 1937. Para isso, partimos do pressuposto
de que a identidade de um um grupo étnico surge quando do contato interétnico, ou seja,
da necessidade da afirmação de um nós diante dos outros. Nessa direção analisamos
alguns dos signos culturais acionados pelo grupo para a construção de um sentimento
de pertencimento grupal. Tais signos analisados foram as relações familiares, a
religiosidade e as práticas de transmissão dos nomes de batismo. Procuramos verificar
nesse trabalho como o grupo em estudo construiu sua identidade pautada pelos
referenciais simbólicos e culturais da terra de partida, assim como se o processo de
mudança tendo em vista a nova realidade e os contato culturais estabelecidos com os
brasileiros. Para conduzir essa análise, utilizamos principalmente registros paroquiais
(atas de batismos, casamentos e óbitos) que foram sistematizados pela metodologia de
reconstituição de famílias, oriunda da demografia histórica. Através da análise da
documentação foi possível perceber nos comportamentos referentes a família, as
práticas religiosas e aos nomes de batismos a predominância de elementos típicos do
mundo rural de origem desses imigrantes que simbolicamente os ligavam a terra de seus
ancestrais.
Palavras chaves: imigrantes italianos, identidade, família, religiosidade, nomes de
batismo.
xiv
ABSTRACT
The present research aims to analyse the construction of the ethnocultural identity of a
group of Italian immigrants and his descendants installed in Campo Largo (Paraná)
from 1878 to 1937. To this, we assume that the identity of a group appears when occurs
the interethnic contact, or, because the necessity of affirmation of one of us before
others. In this direction we analysed some of cultural signs activated by the group to the
construction of a sense of belonging group. These signs analysed were the family
relationship, the religiosity and the practice of transmission of baptism names. We tried
to verify in this work how the studying group built his identity guided by the symbolic
and cultural references of the land of departure. As the moving process, in order the new
reality and the cultural contact established with Brazilian people. To form this analyse,
we used like historical resources, mainly parish registers ( minutes of baptism,
marriages and deaths) that they were systematic by the methodology of family
reconstitution, the historical demography originated from the documentation. Such
analysis was possible to notice in the behavior referring to family, the religious
practices and to the names of baptism, the predominance of typical elements of rural
areas of immigrants origin that symbolically linked them with the land of their
ancestors. These elements were of great relevance for the definition of the identity of
the group while Italian-Brazilian.
KEY WORDS: Italian immigrants, identity, family, religiosity, Christian names.
INTRODUÇÃO
“Meu nome é Pedro porque havia uma tradição entre os
italianos, dos netos os primeiros que nascessem ficariam com
o nome dos avós e por isso eu me chamo Pedro porque meu
avô paterno era Pedro e meu irmão se chama Angelo porque
o meu avô materno era Angelo, minha irmã era Margarida
porque minha aera Margarida, então havia uma tradição.
Meu avô se chamava Pedro porque o avô dele também era
Pedro, então havia uma uma tradição entre os italianos
antigos de os filhos todos tomarem o nome dos avós , bastava
ver que meu bisavô se chamava Joe ele teve seis filhos e
os seis filhos todos tinham um filho chamado José Fedalto,
então era uma tradição entre os italianos”.
1
O texto da epígrafe traz as palavras iniciais de uma entrevista realizada com um
depoente, que cresceu na comunidade ítalo-brasileira, se tornou padre e teve uma longa
vivência paroquial entre os descendentes de italianos, inclusive escreveu um livro sobre
uma das colônias que constitui nosso objeto de estudo. O referido texto nos propõe uma
questão muito importante: Por que entre os italianos, no momento do batismo é
reiterada a repetição dos nomes
2
de família? Para o depoente, a forma como os nomes
eram dados às crianças tem explicação na tradição. Embora mencionar a tradição para
explicar determinada prática cultural soe como senso comum, nela pode estar embutida
uma série de questões de grande interesse ao pesquisador, como a fidelidade ao passado,
os costumes e o pertencimento a um determinado grupo. Na literatura, mais que um
costume que vem do passado, entende-se por tradição um conjunto de práticas de
natureza ritual ou simbólica que visa inculcar certos valores e normas de
comportamento mediante a repetição, o que implica uma continuidade com um
determinado passado histórico. Assim, o passado real ou forjado a que elas se referem
impõe práticas fixas, em que a repetição tem caráter fundamental.
3
Independente de as
pessoas agirem consciente ou inconscientemente em relação aos significados das
tradições, o interesse em preservar, ou continuar certas práticas culturais, está
diretamente relacionado à importância de se perpetuar valores que estão carregados de
significados, de grande peso para o indivíduo ou grupo, e também, como uma forma de
alteridade num contexto de encontros culturais.
1
Entrevista concedida por D. Pedro Fedalto ao autor em 23/12/2008.
2
Queremos destacar que não estamos diferenciando nome de prenome, a utilização de um ou outro ao
longo do texto está relacionada a questões de estilo.
3
HOBSBAWN & RANGER, Éric, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro : Paz e Terra,
2002. p. 10-11.
2
O nome próprio é um dos primeiros elementos de diferenciação e
individualização que uma pessoa recebe. Ao mesmo tempo, ele é um poderoso meio de
integração do indivíduo a uma família ou a um grupo social, e um signo muito
importante na definição da identidade. Em muitas sociedades, os nomes são pensados
como um patrimônio. Assim, as práticas de nomeação (o ato de atribuir nomes de
batismo) têm caráter significativo para o estudo das tradições, da circulação de bens
simbólicos e principalmente da constituição da identidade, seja individual ou coletiva.
Esta dissertação se insere numa temática clássica da historiografia: os estudos
imigratórios. Nas últimas décadas, muitos trabalhos, especialmente na Região Sul do
Brasil, se dedicaram ao estudo dos diversos grupos imigrantes (italianos, alemães,
poloneses, japoneses, ucranianos entre outros), sob os mais diversos enfoques. Sobre os
italianos, grupo étnico do presente trabalho, a historiografia (em particular a sul-rio-
grandense) tem explorado diferentes aspectos, que vão da religião à política, passando
pelas relações culturais, de trabalho, de poder, entre outras. A bibliografia recente tem
se esforçado para mostrar que a ideia do imigrante italiano como profundamente
católico e avesso ao nacionalismo é resultado de uma construção histórica, e que
diferentes formas do que se convencionou chamar de italianidade se chocaram, de
acordo com os projetos de instituições que pretenderam se tornar porta-vozes das
comunidades italianas no Brasil.
4
A proposta desta pesquisa foi verificar como um grupo de imigrantes italianos e
seus descendentes instalados no município de Campo Largo, Paraná, construiu um
sentimento de pertencimento grupal a partir das referências da terra de partida, nas suas
ações e práticas cotidianas, especialmente no ambiente comunitário e privado. Dessa
maneira, a problemática desta dissertação se refere à maneira pela qual foram
construídos e (ou) acionados mecanismos de identificação étnica
5
. Assim, buscamos
entender como os imigrantes, e num segundo momento seus descendentes, recriaram as
estruturas herdadas da terra de origem, bem como quais dessas estruturas foram
transformadas em função da imigração. O enfoque se centrou sobretudo na forma pela
qual determinados elementos como os laços familiares, as práticas religiosas, os valores
4
Dentre os trabalhos mais recentes, podemos citar o livro de POSSAMAI, Paulo. Dall’Itália siamo
partiti: a questão da identidade entre os imigrantes italianos e seus descendentes no Rio Grande do
Sul (1875-1945). Passo Fundo : UPF, 2004. Também OTTO, Claricia. Catolicidades e italianidades:
tramas e poder em Santa Catarina (1875-1930). Florianópolis : Editora Insular, 2005.
5
De acordo com Roberto Cardoso de Oliveira, identificação é o processo de emergência da identidade
étnica. CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo : Pioneira,
1976. p. 4.
3
étnicos e culturais e principalmente os nomes de batismo foram utilizados na construção
de um sentimento de pertencimento, bem como de diferenciação para com os outros
grupos que estavam em contato. A partir desses elementos, analisamos como ocorreu a
formação de uma cultura imigrante, assim como se deu a influência da sociedade
receptora num processo de contato cultural com a sociedade luso-brasileira.
6
Dessa
maneira, frisamos que não temos por finalidade discutir a identidade grupal a partir dos
discursos dos diferentes grupos (membros da Igreja Católica ou do Estado Italiano) que
pretenderam criar uma consciência étnica nas comunidades italianas, de acordo com
seus interesses.
É importante destacar que, embora os imigrantes fossem provenientes quase
exclusivamente do Vêneto, eles não constituíam um grupo homogêneo. Daí a
necessidade de se conceber (de se pensar) o grupo social etnicamente original como
uma “cultura imigrante”, pois, de acordo com Peter Burke, a cultura popular é
constituída de uma série de “subculturas” que são parcialmente autônomas, mas não
separadas por completo do resto da cultura popular. As pessoas que participam de uma
determinada “subculturatambém participam da cultura em geral, pois selecionam seus
santos, canções, lendas, danças e ritos dentro de um repertório comum da cultura
popular.
7
Apesar de esses indivíduos terem uma origem comum (camponeses), eram
provenientes de aldeias diferentes, portanto com características peculiares, que no seu
estabelecimento na nova sociedade tiveram que ser readequadas.
Conforme mencionamos, para verificar como o grupo constrói sua identidade
coletiva, analisamos basicamente três elementos que são elevados à categoria de sinais
diferenciadores da identidade (sinais que as pessoas procuram e exibem para demonstrar
sua identidade
8
): a família e seus vínculos, a religiosidade e as práticas de nomeação. A
escolha desses signos para o estudo da identidade coletiva do grupo tem grande
relevância para a definição da etnicidade. O primeiro, a família (ou as relações
familiares) porque se constitui no espaço privilegiado de partilha das emoções e
6
Sobre a noção de “cultura imigrante” e “contato cultural” ver: ANDREAZZA,
Maria Luiza &
NADALIN, Sergio Odilon. O cenário da colonização no Brasil Meridional e a família imigrante. Revista
Brasileira de Estudos de População, v. 11, n.1: 61-87, jan./jun.1994. Para os autores, “as diversas e
variadas identidades construíram-se historicamente como a própria sobrevivência do imigrante e seus
descendentes”. E, assim, também como” sistemas de aprendizado inconscientemente construídos e
destinados a melhor integração dos estrangeiros ao meio em que foram inseridos” Dessa forma, “a
autopreservação e a integração constituir-se-iam nas duas variáveis fundamentais que poderiam explicar
todo o processo de formação dos grupos étnicos, culturas em contato”.
7
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo : Companhia das Letras, 1989.p.68.
8
BARTH, Fredérik. “Grupos étnicos e suas fronteiras” In. POUTIGNAT, Philippe & STRIFF-FENART,
Joceleyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: Unesp, 1998. p.190.
4
solidariedades mais profundas e estruturantes do grupo.
9
Aliás, é justamente na família,
por ser o locus mais íntimo das relações sociais, que o grupo aplicava maiores controles
de modo a impedir as influências externas. O segundo signo, as manifestações religiosas
porque sintetizam valores e crenças do mundo camponês e constitui num dos aspectos
identitários dessa sociedade. Nessa, a igreja se constituía num dos espaços privilegiados
de exteriorização das práticas culturais e de socialização das pessoas. A religiosidade
camponesa comportava ao mesmo tempo as imposições clericais e também crenças e
práticas gicas paralelas, que, em geral, foram herdadas dos antigos cultos agrários.
Por fim, as práticas de transmissão de nomes de batismo que, além de estarem
vinculadas aos dois signos anteriores, cumprem o papel de referenciar as gerações
passadas e vincular a uma determinada memória que se quer preservar e que, por sua
vez, faz a ligação a uma genealogia comum da terra de partida. Dessa maneira,
observamos que os elementos simbólicos presentes no ato de nomear reforçam
principalmente valores familiares e religiosos, que são referências muito importantes do
mundo rural de onde esses imigrantes são oriundos. Por essa razão podem ser
entendidos como um signo de identificação étnica.
Os três signos mencionados estão condicionados às informações contidas nas
principais fontes utilizadas nesta pesquisa, ou seja, os registros paroquiais. Assim, os
objetivos desse trabalho visam verificar quais são as estratégias utilizadas pelo grupo
para a construção de sua identidade coletiva, tendo em vista os três signos mencionados,
num processo de inserção dos imigrantes e seus descendentes na sociedade brasileira.
Para dar conta dessa proposta, os objetivos específicos consideram:
De que maneira os imigrantes procuraram se inserir na sociedade de
adoção, e como ocorreram os processos de identificação étnica realizada
por eles, bem como a maneira pela qual os outros (luso-brasileiros) viam
os imigrantes.
Como ocorreram as formações familiares na colônia imigrante, tendo em
vista a maneira como estavam organizados na Itália, o impacto da
imigração na redefinição dos arranjos familiares e os novos vínculos
formados, como parte das identificações étnicas realizadas no interior do
grupo.
9
Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. São Paulo : Edusc, 1996. p.179-180.
5
O papel da religião como elemento de identificação e recriação
sociocultural da terra de partida, bem como de diferenciação na situação
interétnica.
Os significados das práticas de nomeação (as práticas de atribuir nomes
às crianças) como manutenção dos valores herdados do mundo ancestral
e de construção da identidade etnocultural, assim como a importância da
família e da religiosidade no ato de nomear.
As fissuras na nominação, assim como do estabelecimento de vínculos
familiares, como um provável produto de negociação da identidade e
aproximação com a sociedade receptora.
O nosso interesse pelo estudo dos imigrantes italianos e seus descendentes de
Campo Largo nasceu ainda quando estávamos na graduação e desejávamos conhecer
melhor a história das colônias que são objeto desta dissertação. Buscando informações
sobre elas, percebemos que a bibliografia era escassa. A produção se restringia a uns
poucos livros comemorativos, ou destinados à reconstituição de genealogias de
famílias.
10
De fato, não havia nenhum estudo histórico problematizando os núcleos
coloniais italianos campolarguenses. Ao procurar por fontes sobre as citadas colônias,
percebemos que o principal corpus documental se referia a registros de batismos,
casamentos e óbitos presentes no acervo da paróquia de São Sebastião, situada na
colônia de Rondinha. Tal conjunto de fontes permanecia até então praticamente
inexplorado. Em 2004, para a realização da monografia de conclusão de curso, foram
arrolados registros de batismo e casamento e sistematizados pela metodologia
FLEURY-HENRY de reconstituição de famílias, oriunda da demografia histórica.
11
Por
sugestão do professor Sergio Odilon Nadalin, o recorte temático incidiu sobre os nomes
de batismo. Ao término da monografia constatamos que a maior parte dos prenomes
dados às crianças era inspirada no estoque familiar e em prenomes devocionais.
12
Esse
estudo inicial serviu para demonstrar as virtualidades da documentação para o estudo do
10
As publicações sobre as colônias de Campo Largo são: o livro de D. Pedro Fedalto sobre o centenário
da Colônia Antônio Rebouças, publicado em 1978. O livro de Osmar Aggio sobre a história e a
genealogia das famílias pioneiras da Colônia Campina, publicado em 2005, e o livro organizado por
diversos autores sobre o centenário da paróquia de São Sebastião publicado em 2006.
11
FLEURY, Michel & HENRY, Louis. Nouveau Manuel de dépouillement et d’exploitation de l’état
civil ancién. 3ème.ed. Paris: INED, 1985. 115-182.
12
SCARPIM, Fábio Augusto. Atribuição de nomes de batismo: valores étnicos e culturais entre
imigrantes e descendentes de italianos. (Campo Largo – PR, 1899-1920). Departamento de História
UFPR (monografia de graduação), 2004.
6
tema, bem como a necessidade de fazer dialogar os resultados com a bibliografia
produzida sobre o assunto, que na sua maior parte é estrangeira.
A partir do trabalho realizado na graduação, nosso objeto de pesquisa foi
“reproblematizado”, ampliando assim os objetivos e, em consequência, o corpus
documental anteriormente arrolado. Entretanto, foram encontradas algumas dificuldades
em relação à documentação. Na paróquia em estudo (São Sebastião), a série de registros
de batismo existe somente a partir do ano de 1888 (data da criação da Capelania Curada
para atendimento religioso dos imigrantes italianos instalados em Curitiba e seus
arredores) enquanto a sequência de casamentos (não se sabe por qual motivo) somente a
partir de 1899. Como a presença italiana em Campo Largo remonta ao ano de 1878
(data de fundação da primeira colônia), tornou-se necessário buscar informações em
outras paróquias. Como a sede da Capelania durante muito tempo foi a paróquia de
Santa Felicidade em Curitiba, nesta encontramos registros de casamento do período
anterior a 1899, e na paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Campo Largo foram
encontrados alguns registros de batismo e matrimônio do período anterior à criação da
referida instituição em 1888. Entretanto, permanecia em aberto outra lacuna: os livros
de óbitos. Na paróquia de São Sebastião não havia o livro de óbito.
13
Assim, recorremos
a outras fontes que pudessem suprir a falta desses registros paroquiais. Mediante
autorização judicial, foram obtidas consultas aos registros cartorários. A busca nos
livros foi efetivada a partir dos sobrenomes, uma vez que estes se encontram misturados
aos registros dos brasileiros. Entretanto, os registros cartorários também apresentaram
lacunas.
14
Além daqueles constantes no cartório, tivemos acesso a uma cópia do livro de
assentos de óbitos da Caixa Mortuária da Colônia Campina que também ajudou a
completar informações ausentes.
15
Foram levantados 4.337 registros de batismo, 395 de casamento e 467 de óbito,
perfazendo um total de 5.199 registros. Além dessas fontes, também estamos utilizando
informações contidas no Livro Tombo da paróquia em estudo, principalmente para
reconstruir o contexto de formação da paróquia de São Sebastião, além de um
depoimento realizado com o arcebispo emérito de Curitiba, Dom Pedro Fedalto, que é
descendente de imigrantes italianos e teve uma longa vivência na comunidade ítalo-
13
Sabe-se que o livro existiu, provavelmente foi extraviado.
14
Não existe registro de óbito entre os anos de 1908 e 1922, por motivo de incêndio ou extravio desses
registros (não se sabe exatamente qual motivo).
15
A colônia Campina ou Balbino Cunha, durante o recorte temporal que a pesquisa cobre, fazia parte da
paróquia de São Sebastião.
7
brasileira. Terminada a etapa de arrolamento das atas de catolicidade, procedeu-se à
reconstituição de famílias.
Ao acompanhar os indivíduos por toda sua existência, a técnica de reconstituição
de famílias permite conhecer a vida cotidiana de amplas camadas sociais ignoradas pela
genealogia clássica.
16
Dessa maneira, considerando que todo indivíduo registra os
momentos essenciais de sua vida, isto é, o nascimento, o casamento e a morte diante do
cura de sua paróquia ou do cartório de sua cidade, o princípio básico da metodologia
consiste no agrupamento em fichas especiais de todas as informações relativas a estes
eventos.
17
Desse modo, as estruturas demográficas, além de constituírem um objeto de
conhecimento, constituem um nível de análise que possibilita levantar indicadores
acerca das atitudes e comportamentos sociais, que nos levam naturalmente a uma
concepção mais ampla do grupo.
18
Essa metodologia nos permitiu recuperar
informações, basicamente, referente a três gerações em cada ficha de família (os avós,
os pais, os filhos, além de permitir a recuperação dos padrinhos de batismo).
A partir das famílias recuperadas na documentação, procuramos verificar como
o grupo construiu laços de uma sociabilidade característica da sociedade de origem,
mediante as formações familiares e os vínculos de parentesco. Nesse sentido, o foco da
análise se voltou para as escolhas matrimoniais, levando em conta a origem dos noivos
e seu local de residência e as escolhas dos padrinhos das crianças batizadas,
pretendendo assim verificar como se formaram relações de solidariedades entre
famílias, tendo por base o pertencimento étnico. A análise de alguns comportamentos
referentes à família foi fundamental, pois foi principalmente por intermédio de membros
do grupo familiar que foi escolhida a maior parte dos nomes de batismo dados às
crianças. Observando as famílias reconstituídas, especialmente daquelas que obtivemos
informações referente a três gerações, foi possível elaborar uma tabela que serviu de
modelo para ilustrar a maneira pela qual imigrantes e descendentes atribuíam os nomes
de batismo aos seus filhos. O referido modelo está sintetizado na análise da prole de um
casal de descendentes de italianos (ver tabela 12) que nos possibilitou constatar a
existência de determinadas “regras” ou convenções no processo de escolha dos
prenomes dos filhos de cada casal. É importante destacar que para a confecção da maior
16
BALHANA PILATTI, Altiva. “Reconstituição de famílias: instrumento de análise demográfica”. In
WESTPHALEN, Maria Cecília (org.). Un mazolino di fiori vol. II. Curitiba : Imprensa Oficial do
Paraná, 1978. p. 61.
17
NADALIN, Sérgio Odilon. História e Demografia: elementos para um diálogo. Campinas : ABEP,
2004. p.116
18
NADALIN, Sérgio Odilon. Op. Cit 2001 p. 47
8
parte das tabelas utilizadas nos capítulos 2 e 3 não utilizamos todo o corpus documental,
mas principalmente aquelas famílias que tivemos as informações completas das três
gerações (avós, pais e filhos).
Outro elemento importante a ser destacado sobre a limitação das fontes
paroquiais neste trabalho refere-se à forma de grafar os prenomes. Durante todo o
período analisado, foi recorrente o “aportuguesamento” dos nomes no momento do
registro das fontes paroquiais, inclusive dos indivíduos que nasceram na Itália. Dessa
maneira, é importante destacar que o nosso foco foi tentar desvendar as intenções dos
pais ao escolher os prenomes de batismo, bem como o conjunto de significados e
crenças presentes nesse ato, e não os aspectos morfológicos e linguísticos do prenome
(uma breve discussão sobre essa questão encontra-se no item 3.2).
A documentação arrolada cobre o período de 1878 a 1937. A baliza inicial
refere-se à criação da primeira colônia italiana no município (Antônio Rebouças), o
marco cronológico final está relacionado ao momento em que foi criada oficialmente a
Paróquia de São Sebastião, que, por questões de disputas de jurisdição territorial com a
paróquia vizinha, perde parte significativa de seu território, inclusive muitas famílias de
origem italiana. Assim, nosso recorte espacial cobre basicamente cinco colônias:
Antônio Rebouças, Mariana, Campina, Caratuva e Rondinha, sendo a última o local
onde está a sede da paróquia de São Sebastião. A maior parte da documentação foi
consultada nessa paróquia. As paróquias de São José (Santa Felicidade) e Nossa
Senhora da Piedade (Campo Largo) não fazem parte do nosso recorte espacial.
Utilizamos fontes presentes nessas paróquias porque nelas encontramos informações
referentes ao período inicial da colonização italiana em Campo Largo, época anterior a
criação da paróquia de São Sebastião. Por outro lado, é importante destacar que o
recorte temporal selecionado se insere no período designado por Grande Imigração
(1850-1939).
Para conduzir a análise da forma como imigrantes e descendentes de italianos
construíram sua identidade coletiva a partir dos vínculos familiares, da sociabilidade
religiosa e das práticas de nomeação, foram utilizados alguns conceitos emprestados da
antropologia. Para trabalhar o conceito de grupo étnico” e de “fronteira étnica”,
buscamos apoio em Fréderik Barth. Para esse autor, o aspecto mais importante deste
baseia-se na forma como os indivíduos de um mesmo grupo se identificam e são
9
identificados pelos outros.
19
Assim, “a classificação de pessoas e grupos locais como
membros de um grupo étnico deve depender do modo como demonstram os traços
particulares de cultura”.
20
Tendo por base essa ideia, entendemos que a identidade
étnica de um indivíduo não é dada, ao contrário, é criada na situação interétnica,
surgindo do confronto estabelecido com o outro, e é expressada em um conjunto de
representações que um grupo social se faz delimitando suas fronteiras e marcando suas
diferenças aos outros grupos com os quais está em contato.
21
Partindo do pressuposto do antropólogo, para quem a identidade étnica é
resultante da seleção de alguns signos culturais que o grupo elege como significativo
para marcar a diferença cultural, também utilizamos a ideia de “identidade contrastiva”.
22
Esta se constitui na essência da identidade étnica e implica a afirmação de um nós
diante dos outros, ou seja, quando uma pessoa ou um grupo se afirmam como tais, o
fazem como meio de diferenciação em relação a alguma pessoa ou grupo com que se
defrontam. É uma identidade que surge por oposição.
23
Nessa direção, a construção de
estruturas socioculturais a partir das referências da terra de partida teria por objetivo
criar um microcosmo entre aqueles que partilhavam dos mesmos códigos culturais, de
modo a selecionar os que pertencem e os que o pertencem ao grupo. Ao valer-se de
determinados signos como próprios do grupo de pertencimento, os imigrantes e seus
descendentes delimitavam fronteiras etnoculturais com os brasileiros. Nesse sentido,
também nos foi útil a ideia de M. Castells, para quem a identidade é construída pelos
mais variados materiais que as pessoas ou os grupos reorganizam de acordo com seus
objetivos.
24
A construção de uma identidade coletiva pelo grupo imigrante certamente foi
favorecida pela própria condição de estrangeiro. Por serem portadores de uma língua
diferente e, em geral, de uma cultura diferente, os imigrantes eram tidos pelos nacionais
como outsiders.
25
Por serem recém-chegados, eram vistos sob suspeita, aliás, um
sentimento comum dentro de uma situação interétnica. Em muitas situações,
estigmatizados pelos brasileiros, lidando com as dificuldades de ser estrangeiro em uma
19
BARTH, Frederik. “Grupos étnicos e suas fronteiras”. In. POUTIGNAT, Philippe e STREIFF-
FENART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade. São Paulo : UNESP, 1997. p.190
20
Ibid. p. 191
21
Ibid. p.191
22
Essa ideia é
definida por Roberto Cardoso de Oliveira, que também se apoia em Fréderik Barth.
23
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Op. Cit. p. 6.
24
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 2002. p.23
25
Conforme propõe o conceito de estabelecidos e outsiders de Norbert Elias. ELIAS, Norbert &
SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2000.
10
terra estranha, o grupo cada vez mais passou a se relacionar entre seus vizinhos e
compatriotas, e assim a construir um mesmo sentimento de pertença.
Além dos conceitos citados, também usamos a noção de “identidade cultural”,
bem como a de “estratégia de identidade” definida por Denys Cuche. Diferente da
cultura que pode existir sem consciência de identidade, a identidade cultural, remete a
uma norma de vinculação, necessariamente consciente, baseada em oposições
simbólicas.
26
Essa se refere à questão mais abrangente da identidade social, da qual ela é
um dos componentes.
27
Assim, segundo o referido autor, o pertencimento a uma
determinada cultura, também se por processos de inclusão e exclusão. Ela aparece
como uma forma de distinção nós/eles, baseada essencialmente na diferença cultural.
Segundo essas concepções, a perpetuação de determinados traços culturais para marcar
a diferença com os grupos em que se está em contato, determinaria a emergência do que
poderíamos chamar de identidade etnocultural, ou seja, a utilização de determinados
signos culturais para marcar o pertencimento ao grupo, assim como a diferença para
com o outro. Essas ideias são defendidas especialmente por algumas teorias
“primordialistas” da identidade cultural que consideram que a identidade etnocultural é
primordial porque a vinculação ao grupo étnico é a primeira e a mais fundamental de
todas as vinculações sociais.
28
Sendo o grupo étnico, o elemento essencial para a definição da identidade dos
que pertencem a ele tem caráter bastante relevante no nosso caso em estudo, a
importância da família e da religiosidade. Em especial nos grupos camponeses, a família
é a célula social mestra, na qual os indivíduos são socializados e partilham de um
conjunto comum de referências culturais. A manutenção de laços de dependência e
solidariedade, seja entre os membros da linhagem, seja entre famílias distintas, exibe
um tipo de organização específica que marca o pertencimento àquele grupo ou àquela
comunidade. Além dessas redes familiares, tem papel bastante importante a Igreja,
encabeçada pela figura do padre, que identifica a comunidade camponesa, assim como
as crenças e práticas religiosas herdadas do mundo agrário, que os imigrantes e
descendentes recriam na sociedade receptora como parte de uma linguagem simbólica
própria do grupo.
Também, emprestado de Denys Cuche, nos foi bastante útil o conceito de
estratégias de identidade. Para esse autor, a estratégia pressupõe consciência, entretanto,
26
CUCHE , Denys. Op.cit. p.176.
27
CUCHE, Denys. Op.cit. p. 177.
28
CUCHE, Denys. Op. cit. p.179-180.
11
o indivíduo como ator social não é desprovido de uma certa margem de manobra. Em
função de sua avaliação da situação, ele utiliza seus recursos de identidade de maneira
estratégica. Nessa direção, os atores sociais não são totalmente livres para definir sua
identidade segundo interesses materiais e simbólicos. As estratégias devem levar em
conta a situação social e as relações de força de cada momento.
29
Esse conceito é
importante para pensar as práticas de nomeação como uma estratégia de identidade. Se
os imigrantes e descendentes nomeavam seus filhos a partir da tradição, dos costumes e
valores herdados da Itália e que os ligava simbolicamente a terra de origem, faziam-no
de maneira consciente. Entretanto, as estratégias de identidade, conforme define o
citado autor, embora seja realizada conscientemente, nem sempre dão plena liberdade
ao indivíduo; devem ser levados em consideração os diferentes fatores envolvidos
como, por exemplo, no grupo em estudo, o peso e a importância dados à tradição. Aliás,
a tradição, entendida como um conjunto de práticas simbólicas que visam inculcar
valores e comportamentos pela repetição, é um componente peculiar que ajuda a
explicar a manutenção e perpetuação dos valores étnicos e culturais como marcadores
do grupo de pertencimento e da diferença com o outro.
Além dos conceitos discutidos acima, é importante destacarmos que a situação
interétnica exigiu um rearranjo do arcabouço cultural e simbólico trazido pelos
imigrantes, a “cultura do contato”, pressupõe justamente uma mistura genérica, muitas
vezes resultante de ganhos e perdas entre sistemas culturais em conjunção.
30
Assim,
interessa-nos acompanhar a progressiva influência da sociedade receptora à medida que
as gerações se sucedem e que os contatos culturais se estreitam. Dessa maneira, tanto
em relação aos vínculos familiares como nas práticas de nomeação, ao longo do período
estudado, foi possível observar “fissuras” que indicariam uma aproximação entre o
grupo italiano e o brasileiro, ou mesmo ser resultado do impacto das políticas de
nacionalização que vigoraram a partir da década de 1920.
Com base nos conceitos discutidos sobre identidade, o que estamos
considerando como a italianidade, ou melhor, a ítalo-brasilianidadeé justamente a
defesa dos costumes e das tradições herdadas da sociedade original, que ao mesmo
tempo que significam uma forma de congregar o pertencimento dos indivíduos ao
grupo, também é uma maneira de marcar a diferença em relação ao outro. Assim,
imigrantes e descendentes irão se sentir como “italianos” na situação de contato
29
CUCHE, Denys. Op. cit. p.196-197
30
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Op. cit. p.21.
12
interétnico, ao exibir os valores recriados a partir das referências da terra de partida,
pois, na Itália, a elaboração de um sentimento de pertencimento à nação italiana ainda
estava num lento processo de formação quando eles emigraram.
Tendo em vista a problemática geral sintetizada nos objetivos colocados acima,
a presente dissertação foi estruturada em três capítulos. Tal divisão está relacionada ao
conjunto de questões que pretendemos abordar. O primeiro capítulo tem por objetivo
recompor o contexto imigratório das décadas finais do século XIX, através da trajetória
dos imigrantes italianos que vão se estabelecer em Campo Largo, tendo como pano de
fundo a visão de mundo, as estruturas de poder e a organização social, tanto da
sociedade norte italiana como da brasileira. Nessa direção, discutiremos primeiramente
os principais motivos que levaram ao êxodo dos camponeses do norte da Itália
(especialmente do Vêneto) na segunda metade do século XIX; na sequência, a política
imigratória brasileira nesse período, situando as diferentes correntes em prol da
imigração, o estabelecimento de estrangeiros no Paraná no período pós-emancipação
política, a formação das colônias em Campo Largo dentro de um quadro de mudanças
políticas, econômicas e sociais, e, por fim, a organização religiosa institucional dos
imigrantes italianos no Paraná, que se desdobra na criação do Curato de Rondinha e,
posteriormente, na paróquia que é o objeto deste estudo. Para a confecção dessa parte da
dissertação, partimos da revisão bibliográfica das questões tratadas.
No segundo capítulo tratamos dos três signos eleitos para discutir a construção
da identidade etnocultural do grupo em estudo. Assim, faz parte desse capítulo verificar
como os imigrantes italianos e seus descendentes reconstruíram a aldeia camponesa nas
colônias de Campo Largo, por meio dos laços familiares e das manifestações religiosas,
reiterando que o ambiente familiar e o comunitário congregam diversos aspectos
simbólicos de um grupo étnico. Nessa direção, inicialmente fizemos uma discussão
sobre a construção da italianidade nas colônias, partindo do choque cultural e do
confronto estabelecido entre o grupo italiano e brasileiro, bem como sobre o processo de
inserção dos imigrantes. Na sequência, realizamos uma revisão bibliográfica sobre a
organização dos domicílios e valores camponeses no período pré-imigração, para
discutirmos o que permaneceu após a mudança de local. Posteriormente verificamos,
utilizando dados das fontes paroquiais, como se deu a formação de novos vínculos
familiares (casamento e compadrio) nas colônias, bem como a organização da família
imigrante e de seus laços de solidariedade. No subcapítulo seguinte, discutimos a
religiosidade camponesa como elemento de identificação coletiva, assim como a
13
permanência de crenças e valores herdados do mundo agrário italiano e a relação dos
imigrantes com o sagrado. Por último, para introduzir o tema a ser tratado no último
capítulo, elaboramos uma revisão bibliográfica sobre o tema da nominação.
No último capítulo, partindo do pressuposto de que o nome é um forte elemento
de constituição da identidade individual, familiar e coletiva, assim como um signo
étnico e um bem simbólico, apresentamos os resultados obtidos pela sistematização das
informações contidas nas fontes paroquiais, lançando um modelo metodológico que
serviu de guia para a análise dos resultados, segundo o qual existiram “regras” ou
convenções para a escolha dos prenomes. Apresentamos as diferentes influências no
momento da escolha dos nomes de batismo e, igualmente, os seus prováveis
significados que estão intimamente ligados às heranças culturais trazidas do mundo
camponês europeu. Nesse capítulo pretenderemos verificar, por meio das práticas de
nomeação, como se deu a influência da família e da religião, já que consideramos que
esses dois signos foram muito importantes para a definição da etnicidade do grupo. Da
mesma forma, pretendemos verificar como essas práticas foram sendo modificadas a
partir do momento que se travou um contato mais estreito com a sociedade receptora.
14
1. Das aldeias do Vêneto a Campo Largo: imigração e estabelecimento das
colônias.
“(...) é o trabalho que funda
a existência do imigrante,
que lhe confere seu estatuto
social, legitima sua
presença, assim como sua
ausência no país de origem.”
“A ideia de paraíso no outro
mundo é parte de uma
necessidade de acreditar do
imigrante”
1
As epígrafes que abrem este capítulo, enfatizam dois elementos dos mais
importantes que fundamentaram a Grande Imigração, a busca por trabalho (ou a fuga do
desemprego e de suas consequências) e a ideia de paraíso. O contexto da segunda
metade do século XIX foi marcado por um constante processo de repulsão na Europa e
de atração de imigrantes na América, que ocasionou uma extraordinária mudança no
quadro da divisão internacional do trabalho.
2
Nessa direção, o objetivo deste capítulo é
discutir como a história de dois espaços sociais distintos (o Vêneto e Campo Largo) se
entrelaçam nas décadas finais dos oitocentos mediante a trajetória de um grupo
imigrante. Para isso, discutiremos os fenômenos ligados ao êxodo dos camponeses do
norte da Itália, a política imigratória no Brasil nesse período, o estabelecimento das
colônias em Campo Largo dentro de um quadro de mudanças políticas, econômicas e
sociais, e, por fim, a organização religiosa institucional dos imigrantes italianos no
Paraná, que se desdobra na criação do Curato de Rondinha, e posteriormente na
paróquia que é o objeto deste estudo.
1
SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os parodoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, 1998. p.109
2
ANDREAZZA,
Maria Luiza & NADALIN, Sergio Odilon. Op.cit. p.63
15
1.1 O êxodo dos camponeses do Vêneto
A segunda metade do século XIX foi marcada por profundas mudanças na
sociedade europeia, que afetaram principalmente o grupo que era majoritário naquele
momento, ou seja, os camponeses. Até meados do século XIX, a população do mundo
consistia, sobretudo, em homens do campo. Sendo assim, para a maior parte da
humanidade a vida ainda dependia do que acontecesse na e com a terra.
3
Entretanto,
essa situação estaria para ser modificada. As erupções políticas que sacudiram o
continente europeu entre os anos de 1789 e 1848 foram a antecâmara para desmantelar
os laços do tipo feudal que impediam o completo desenvolvimento do capitalismo.
Como consequência desse processo, os vinte anos seguintes – de 1850 a 1870 – fariam a
maior parte da Europa experimentar uma das mais extraordinárias mudanças
econômicas, que a transformaria de uma economia ligada ao “ciclo agrário” à economia
ligada ao “ciclo industrial”.
O rápido avanço da tecnologia tornou possível trazer regiões até então
inacessíveis para a esfera do mercado mundial, tendo as ferrovias e os navios a vapor
papel relativamente importante nesse processo. Nessa direção, a penetração do
capitalismo no campo, para a maior parte dos camponeses, teve como consequência o
afrouxamento dos tradicionais laços que uniam homens e mulheres à terra de seus
ancestrais, à qual eram tão apegados.
4
Em quase toda a Europa até então, muitas das
pessoas que viviam no campo não possuíam a propriedade, estavam submetidas a um
sistema agrícola bastante primitivo, ligadas a vários contratos com o proprietário, que
muito lembrava o antigo sistema feudal. Dada a demanda constante de alimentos e
produtos agrícolas pelas áreas urbanas e industriais, a agricultura foi modernizada e
muitos dos campesinos foram expulsos do campo. Aliado a esses fatores, no delinear do
século XIX, ocorreram profundas mudanças na dimensão populacional europeia, o que
os demógrafos chamam de transição demográfica.
5
Essa situação se acirrou nas décadas
3
HOBSBAWN, Eric. A era do capital. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1998. p. 243-244
4
HOBSBAWN, Eric. Op. cit. 245
5
A expressão transição demográfica é utilizada para definir o processo complexo de passagem de um
período marcado por altas taxas de fecundidade e mortalidade para níveis mais moderados desses índices.
Na Europa esse fenômeno variou de região para região, mas no geral é consenso entre os especialistas,
que foi ao longo do século XIX que essas mudanças ficaram mais evidentes. É importante lembrar que
essas transformações geraram um excedente populacional que também contribuiu para os grandes êxodos
desse período. Sobre a teoria da ‘transição demográfica’, ver o capítulo 3.1 de NADALIN, Sérgio Odilon.
História e demografía. Elementos para um diálogo. Campinas : ABEP, 2004.
16
finais dos oitocentos, tendo como desfecho um movimento crescente e contínuo de
deslocamento das massas trabalhadoras da Europa, sobretudo, em direção ao continente
americano.
Dentro desse quadro de profundas mudanças, encontramos a Itália. Esta foi uma
das nações europeias que se firmou como Estado moderno mais tardiamente, obtendo a
sua unidade nacional somente em 1870.
6
O processo de unificação política foi bastante
conturbado, em meio a disputas territoriais com austríacos e franceses, e também com o
Papado. De fato, não vem ao caso fazer aqui um resumo da unificação política, o que
pretendemos salientar é que a construção do Estado Italiano, liderada por um pequeno
grupo (especialmente as elites dirigentes do norte), em nada contribuiu para a melhoria
na vida da população, principalmente aquela que vivia no campo. Ao contrário, a
unificação agravou a situação de miséria dos camponeses, e acabou contribuindo
para o êxodo de milhões de pessoas. Para gerir a máquina burocrática estatal, o novo
Estado unitário, por necessitar de uma maior quantidade de recursos financeiros,
aumentou a carga fiscal, atingindo principalmente a população mais pobre.
7
Além disso,
a política italiana privilegiou a indústria, em prejuízo do campo, fazendo incidir sobre
este último as mais altas taxas de impostos. Por outro lado, para contar com apoio
político dos grandes proprietários, não se esforçou para combater o latifúndio
(especialmente no sul, que conservava os camponeses em intensa pobreza).
8
A análise de alguns dos motivos que levaram a um grande movimento
migratório em direção à América vai se centrar sobre uma área específica do território
italiano, a porção norte, mais precisamente o Vêneto. Essa escolha se justifica pelo fato
de a maior parte dos emigrantes italianos que vieram para o Brasil ser oriunda dessa
região. No sul do país estima-se que correspondam a 90%, e nas colônias de Campo
Largo, objeto desta pesquisa, também constituem a grande maioria.
9
A tabela a seguir,
elaborada a partir de informações contidas em registros de casamento, exemplifica essa
situação.
6
O Estado Italiano foi oficialmente criado em 1861, mas, 1870 (mais exatamente 20 de setembro) é a
data que marca a tomada da cidade de Roma pelas tropas liberais liderada pelo revolucionário Giuseppe
Garibaldi, tido como herói da unificação italiana.
7
IANNI, Constantino. Homens sem paz: os conflitos e bastidores da Emigração Italiana. São Paulo :
Difusão europeia do livro, 1972. p. 72
8
BERTONHA, João Fábio. Os italianos. São Paulo : Contexto, 2006. p.84
9
BALHANA PILATTI, Altiva. Imigração italiana no Paraná Curitiba : Revista Panorama, 1978.p.5.
17
TABELA 1- ÁREA DE PROCEDÊNCIA DOS NOIVOS NASCIDOS NA ITÁLIA.
PARÓQUIA DE SÃO SEBASTIÃO, CAMPO LARGO – PARANÁ (1878-1920).
Região Província Número Total %
Vêneto
Vicenza 101
300
95
Treviso 146
Padova 43
Belluno 7
Verona 3
Lombardia
Ceneda 8 9 3
Mantova 1
Emilia Romagna Bologna 1 1 0
Trentino Trento 6 6 2
Total 316 316 100
FONTE: REGISTROS DE CASAMENTO (PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO E SÃO JOSÉ)
Dos 316 indivíduos que, nos registros de casamento, tiveram anotada a região de
procedência, percebe-se que a quase totalidade era oriunda do Vêneto (95%). Dos países
transatlânticos, foi o provavelmente o Brasil que recebeu a maior parte do contingente
imigratório vindo dessa parte da Itália. A título de exemplo, em 1891, das 74.978
pessoas que provavelmente partiram do Vêneto para a América, nada menos que
70.010, ou seja, 93%, desembarcaram em portos brasileiros.
10
De acordo com os
especialistas em emigração italiana, as causas principais que levaram muitas pessoas a
emigrar são múltiplas, tais como: a explosão demográfica aliada à miséria, desastres
naturais, epidemias, crises agrícolas e as oscilações dos preços dos alimentos e também
a ideia de busca pelo paraíso.
Renzo Grosselli, referindo-se ao Trentino, região vizinha do Vêneto, coloca que
esse lugar, até o avanço do capitalismo no campo, permaneceu durante centenas de anos
de forma quase inalterada, como uma economia agrícola autossuficiente e praticamente
impermeável às influências externas. Configurava-se como uma sociedade camponesa,
cujo centro da vida girava em torno da terra. A família constituía a célula econômica e
10
FRANZINA, Emilio. A grande emigração: o Êxodo dos camponeses italianos do Vêneto (1876-
1902). Campinas : Editora da Unicamp, 2006. p. 110-111 ver a tabela 11 “Emigrantes vênetos partidos
para a América no período de 1876-1901, de acordo com os países de destino”.
18
social mestra, e a Igreja determinava todo um conjunto de regras a serem seguidas.
Aliás, era o chamado campanilismo, ou seja, a identificação para com a aldeia, o paese
de nascimento, que predominava no mundo rural italiano. Entretanto, a crise que se
seguiu a esse período, fruto dos efeitos da Revolução Industrial, abalou profundamente
aquele modo tradicional de viver. Diante dessa situação irreversível, o camponês
trentino procurou, ao emigrar, reconstruir na América aquela sociedade que estava
irreparavelmente se despedaçando.
11
Muito próximo da situação vivida no Trentino, era o que também acontecia no
Vêneto, cujo impacto das mudanças econômicas fora igualmente devastador.
Geograficamente o Vêneto está situado na porção norte da península, e engloba oito
províncias (Vicenza, Treviso, Belluno, Udine, Verona, Rovigo, Pádua e Veneza). De
acordo com suas características físicas, pode ser subdividido em dois grandes setores.
As quatro primeiras províncias formam o primeiro setor, caracterizando-se por faixas de
planície não irrigada, de colinas altas e baixas, e de montanha; já as quatro últimas
formam o segundo setor e compreendem as áreas planas da faixa de planície do Rio Pó.
A pequena propriedade e a média locação dominavam o primeiro setor, sendo essas
províncias aquelas que forneceram as maiores cotas de emigrantes, tanto definitivos
quanto temporários, nas duas décadas seguintes à unificação, justamente por serem as
mais atingidas pela crise agrícola. Embora eles possuíssem um pequeno pedaço de terra
ou dispusessem de algum capital para arrendar uma área de cultivo, não estavam isentos
de trabalhar como bracciantis.
12
Aliás, por ser pequena a propriedade, esta não era
suficiente para sustentar uma família grande.
13
Dessa maneira, muitos filhos de
pequenos proprietários ou meeiros se viam obrigados a procurar trabalho fora da
propriedade.
14
Ao contrário do primeiro setor, nas províncias do segundo grupo, a
grande propriedade e as culturas extensivas predominavam.
15
Desse modo, as áreas de
planície, nas proximidades de rios importantes como o Ádige e o Pó, que tornavam o
11
GROSSELLI, Renzo Maria. Vencer ou morrer: camponeses trentinos (vênetos e lombardos) nas
florestas brasileiras. Florianópolis: Editora da UFSC, 1987. Op. cit. p. 17
12
Bracciantis, como o próprio termo sugere, são trabalhadores braçais, que em geral eram desprovidos de
propriedade, cujo único recurso que possuíam era sua própria força de trabalho e de sua família. Após
1885, com o financiamento da viagem por parte do governo brasileiro, foi esse grupo que mais compôs o
contingente de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil. ALVIM, Zuleika. Brava gente: imigrantes
italianos em São Paulo. São Paulo : Cia das Letras, 1986. Op.cit. p. 32-33
13
As famílias venetas contavam com doze ou até quinze elementos ao todo, tendo dois ou três homens e
suas respectivas mulheres e filhos, e o pai como autoridade máxima. Nessa região do Vêneto
caracterizada por áreas mais montanhosas, parece predominar a pequena propriedade e a família do tipo
extensa. ALVIM, Zuleika. Op.cit.
14
As características da família camponesa do Vêneto serão tratadas no capítulo 2.
15
FRANZINA, Emilio. Op. Cit. 136
19
solo riquíssimo em água, estiveram estreitamente ligadas aos interesses da agricultura
capitalista e a consequente expulsão dos camponeses na segunda metade do século XIX.
Figura 1: Mapa da Itália
O fluxo migratório dessa região em direção ao Brasil nas cadas finais do
século XIX pode ser dividido em dois momentos específicos, o primeiro tem início no
ano de 1875.
16
De acordo com Alvim,
“até 1885 (primeiro momento da emigração italiana para o Brasil) as
famílias que saíram da Itália, em grande parte, pertenciam ao universo dos
meeiros, pequenos proprietários e arrendatários, independentes de se
originarem da Itália setentrional ou meridional”.
17
Esse contexto está diretamente ligado à profunda crise agrícola do final dos anos
70 e início dos 80 do culo XIX, devido à drástica queda internacional dos preços do
trigo, cujas primeiras vítimas não foram os camponeses mais pobres, mas sim, os
pequenos produtores.
18
Essa conjuntura foi provocada pelas próprias mudanças político-
16
Até o início da década de 1870, a emigração transatlântica italiana era pouco frequente se comparada a
outros países como Inglaterra, Irlanda e Alemanha. A migração de camponeses do norte da Itália até
então era mais comum para outras regiões da Europa, como o Império Austro-Húngaro e a França.
Entretanto, na maior parte das vezes, constituíam-se em migrações temporárias, especialmente em
períodos de colheitas.
17
ALVIM, Zuleika. Op. Cit. 1986. p.22
18
FRANZINA, Emilio. Op. cit. p.39
20
econômicas, pois, com o progresso tecnológico, veio também a concorrência com os
países mais adiantados, com os quais a fraca agricultura italiana não tinha condições de
concorrer.
19
Até esse momento, também, os emigrantes que escolhiam por destino o
Brasil tinham de arcar com todas as despesas de viagem, o que excluía a população mais
pobre de emigrar. Somente a partir de 1885, o governo brasileiro passou a financiar a
viagem, o que elevou o contingente de emigrantes, principalmente daqueles desprovidos
de propriedade.
Em relação às levas que chegaram a Campo Largo, a primeira colônia (Antônio
Rebouças), fundada em 1878, recebeu principalmente imigrantes provenientes das
províncias das áreas de montanhas. Provavelmente eram pequenos proprietários, que
foram os primeiros a sentir os efeitos da crise econômica. Entretanto, a maior parcela
chegou no período pós-1885, época em que o êxodo italiano se acirrou e que também
coincide com a intensificação da política imigratória brasileira na região.
É importante destacar que o Vêneto não era uma região homogênea, suas
províncias não estavam divididas por uma mera divisão administrativa, mas também
dialetal e histórica, que no ato da anexação permanecia inalterada.
20
As vinculações
provinciais remontam à época do Império Romano, que, ao longo dos séculos, foi
criando um senso de pertencimento identitário entre aqueles que partilhavam dos
mesmos códigos culturais, como o dialeto, a tradição, os laços familiares.
21
Assim, no
momento de crise, em função dos vínculos criados entre famílias, não foram raros os
casos de aldeias inteiras que se esvaziaram para migrar para a América.
Juntamente com o cenário de crise agrícola, as alterações climáticas e as
catástrofes naturais também deram sua contribuição ao fenômeno emigratório. Na
segunda metade do século XIX esses fenômenos foram frequentes em muitas partes do
norte italiano, tais como enchentes, períodos de seca, invernos rígidos e tempestades de
granizo, que devastavam as lavouras, e tinham por consequência quase imediata a
emigração. Como exemplo disso, pode ser citada a rigidez excepcional do clima durante
19
POLINARI, Marcelo. Cantando a vida: a mentalidade do imigrante italiano nas letras folclóricas
de música. Curitiba, UFPR (dissertação de mestrado), 1992. p. 119. Também é importante frisar que a
violenta queda dos preços do cereal se deve ao impacto da concorrência do trigo russo e americano,
efeitos do próprio avanço do capitalismo. A economia dos pequenos proprietários foi a primeira a sentir
os impactos da crise, levando muitos à falência, pois eles eram incapazes de concorrer com os grandes
proprietários. Da mesma maneira, fez os salários dos trabalhadores braçais despencarem, assim como a
oferta de emprego diminuir.
20
FRANZINA, Emilio. Op. Cit. 139
21
BENEDUZI, Luís Fernando. Mal di paese: as reelaborações de um Vêneto imaginário na ex-colônia
Conde d’eu (1884-1925). Porto Alegre : Programa de Pós-graduação em História da UFRGS, 2004.
(Tese de Doutorado) p.64.
21
o inverno de 1879-1880,
22
ou ainda as terríveis enchentes do início da década de 1880,
que trouxeram enormes prejuízos.
23
Esse quadro foi, em parte, causado pelo próprio
avanço do sistema capitalista no campo. A exploração predatória dos recursos naturais e
o desmatamento desmedido das florestas deram sua contribuição para essas mudanças
climáticas.
Além das catástrofes naturais, outro fenômeno constante na história dos italianos
acompanhava o cenário de miséria: a peste. A disseminação de doenças está ligada a
dois fatores cruciais: a alimentação e as péssimas condições de higiene. A dieta de
toda a população do norte pautava-se sobretudo na polenta. O pão de farinha de trigo era
quase inacessível pelo seu alto preço, e o macarrão, tão ligado à imagem do italiano,
naquele momento era um luxo poucas vezes permitido. Mais rara ainda na mesa dos
camponeses, era a carne. O trecho a seguir, extraído do jornal L’Eco di Bergamo de 25
de dezembro de 1890, intitulado A miséria na Itália: cenas selvagens citado por Roselys
Izabel Correa dos Santos,
24
pode exemplificar a situação de penúria e miséria.
Cada vez que morre em um estábulo do Polesine (região do baixo Pó, província
de Rovigo, região do Vêneto), de qualquer doença, um boi ou uma vaca, o veterinário
do lugar ordena o sepultamento. E isto é executado na presença de três ou quatro
camponeses, e do oficial de justiça do município. Mas, apenas estes se afastam poucos
passos, e sucede uma cena macabra. Vinte ou trinta camponeses armados de pás,
machados, foices e facas se aproximam rapidamente, desenterram o animal e o fazem
em pedaços, procurando cada um as partes melhores. (...) Recentemente, em uma dessas
partilhas, segundo o que narra um correspondente do Caffaro de Genova de 22 do
corrente, encontrava-se uma velha alta e magra, a qual queria levar a cabeça com os
chifres de uma vaca. Dois camponeses com a mesma ideia, intimaram-na de não tocar a
cabeça. A velha, em vez disso, agarrou-a pelos chifres, colocou-a nas costas e saiu
correndo. Os dois seguiram-na e quando a alcançaram, sucedeu-se uma luta corporal,
como os outros prosseguiam esquartejando a vaca. (...) Apenas os camponeses apanham
sua parte do butin, correm para casa e colocam a carne e os ossos para ferver na panela
onde fazem a polenta. Geralmente é carne insípida, nauseabunda, de animais que
sofreram uma longa doença, e que tomaram toda a sorte de medicamentos, mas estes
esfomeados que coisa não comem? (...) Quando morre um animal de carbúnculo ou de
outra doença contagiosa, o veterinário, conhecendo os usos do lugar, ordena que nas
carnes do cadáver se façam grandes cortes e se coloque petróleo. E muitas vezes, nem
estas preocupações servem para que o lugar do enterramento se mantenha inviolado:
quem tenha estômago também para comer carnes infectadas. (...) Dizíamos mais acima:
‘O que não comem esses esfomeados?Contava um comerciante que o salame velho e
rançoso é procuradíssimo pelos camponeses, primeiro porque é barato e depois porque
“ch’el cunza mejo”, isto é, tem mais tempero. O mesmo dizem do toucinho (...)
A situação acima ilustra o quanto desesperadora poderia ser a busca por comida,
tanto que as pessoas chegavam a disputar carne estragada. Se extremamente precária era
22
FRANZINA, Emilio. Op. cit. p. 139
23
GROSSELLI, Renzo. Op. cit. p. 96
24
In SANTOS, Roselys Izabel Correa dos. A terra prometida. Emigração italiana: Mito e realidade.
Itajaí : Univali, 1998.
22
a alimentação, não em melhores condições estavam suas moradias, aliás, situação
comum para várias partes da Europa nesse momento. As vilas eram formadas de casas
construídas uma ao lado da outra, com falta de luz e arejamento.
25
As ruas eram muitas
vezes invadidas pelas imundícies, sendo comum a vivência ao lado dos animais, em
função do próprio sistema de construção de suas moradias.
26
As duras condições de
vida, a precária alimentação e as baixas condições sanitárias tornavam o meio favorável
para a propagação de diversas doenças, entre elas a pelagra, que foi um tormento
permanente em várias partes da Itália. Essa doença tinha por principal causa a grave
carência alimentar dos camponeses. Os números de pelagrosos publicados no jornal La
Gazzetta di Treviso, de 1885, dão conta das proporções epidêmicas que essa
enfermidade atingia: “Em 1879, no Vêneto, existiam 29.800 pelagrosos, esse número
sobe para 55.983 em 1881. Em toda a Itália os pelagrosos eram da ordem de 97.855 em
1879 e 104.000 em 1881”
27
. Além da pelagra, doenças como escrófola, raquitismo e a
bronquite também alcançavam índices elevados.
28
Sem falar na malária, comum nas
áreas pantanosas das planícies do Pó.
Conjuntamente a esse cenário desolador de más condições de vida, é importante
ressaltarmos a presença de um excedente populacional. Como indicamos no início deste
capítulo, o fenômeno chamado de transição demográfica ocorreu em épocas diferentes,
conforme a região da Europa. Na Itália, a passagem de um sistema desordenado de
nascimentos e mortes para um sistema ordenado só teria ocorrido na segunda metade do
século XIX.
29
Assim, o tardio declínio da mortalidade coexistindo com altas taxas de
fecundidade, no período logo seguinte à unificação política, fez muitas partes da
península experimentarem um extraordinário crescimento populacional. Como havia
mais pessoas, e os empregos vinham diminuindo, em função do processo de
mecanização da agricultura, o norte italiano tornava-se uma das áreas mais aptas da
Europa a liberar mão de obra.
25
GROSSELLI, Renzo. Op.cit. p.67
26
As casas mais pobres dispunham de uma ou duas peças e de uma estrebaria, como as melhores eram
providas de dois pisos. No térreo estavam a cozinha e o estábulo, e no superior, os quartos, cada qual com
janelas pequenas e insuficientes para o arejamento do lugar. Esse sistema bastante difundido servia para
aquecer o ambiente no inverno, o que poderia causar graves danos à saúde, em função da exposição a
variações bruscas de temperatura. Em dias de frio intenso, quando o trabalho dos campos permitia, era
comum as pessoas ficarem por longos períodos do dia, com roupas leves, fechadas em casa sob o calor
dos animais. GROSSELLI, Renzo. Op.cit. p.67
27
SANTOS, Roselys Izabel Correa dos. Op. cit. p.155.
28
ALVIM, Zuleika. Op.cit. p. 32
29
LIVI BACCI, Massimo & BRESCHI, Marco. “Italian fertility: Na historical account.” In. Journal of
family history. 1990, vol.15, n°4. p. 385-387
23
Outra razão que impulsionava muitos homens (jovens principalmente) a emigrar,
estava ligada à obrigatoriedade do serviço militar. Pela lei italiana, todo homem dos 18
aos 30 anos estava obrigado a se disponibilizar a prestar serviços militares, quando
convocado. A emigração muitas vezes era um pretexto para não servir ao exército, a
impopularidade do Estado e da guerra, entre outras causas, levava muitos a tentarem
emigrar antes de ser chamado às armas.
30
Essa situação também é verificada no
Trentino, que naquele momento não tinha sido alcançado pela unificação, tanto que o
Estado austríaco demorava a conceder a isenção do serviço militar para quem queria
emigrar, ou mesmo a recusava. Essa negação foi uma das armas nas mãos da burocracia
austríaca para combater o maciço fenômeno emigratório naquela região.
31
O cenário de crise no campo, aliado ao excedente populacional, em grande parte,
explica o motivo do êxodo de milhares de camponeses. Entretanto, esses não foram os
únicos motivos; paralelo a esse fenômeno, contribuiu de maneira significativa toda uma
campanha publicitária empreendida pelos países transoceânicos (Estados Unidos e
América Latina) para atrair imigrantes para povoar suas terras desocupadas ou para o
trabalho agrícola na grande lavoura.
32
A verdadeira “caça ao emigrante que se
empreendeu em terras europeias, na figura de propagandistas americanos, fez com que
milhares de pessoas, alimentassem a utopia do enriquecimento.Também no clero era
difundida a ideia de poder transplantar para o outro lado do oceano a sociedade católica
camponesa com seus valores e costumes, que não era mais compatível com os “novos
ares” trazidos pelo avanço do capitalismo. Não raro, muitos padres acompanhavam seu
rebanho na aventura transoceânica. A presença de um sacerdote entre os imigrantes
dava-lhes um sentimento de segurança, aumentando ainda mais a identificação entre o
baixo clero e o campesinato.
33
Os camponeses do norte da Itália, até então, não tinham por tradição a realização
de greves ou paralisações para pedir melhores condições, pois a própria obediência ao
clero, a que estavam submetidos, os ensinava a agir assim.
34
Dessa forma, mudar de
local foi o grande ato de demonstração e descontentamento com aquela sociedade.
Provavelmente, essa não foi uma atitude fácil de ser tomada, pois era com a terra em
que viveram seus ancestrais, com o paese de nascimento, em que eles passaram a sua
30
IANNI, Constantino. Op.cit. p. 87
31
GROSSELLI, Renzo. Op. cit. p.118-119
32
Essas questões serão melhores trabalhadas no subcapítulo 1.2.
33
POSSAMAI, Paulo.2005. Op.cit. p. 68
34
A fama de os italianos do norte serem mais dóceis, mais ordeiros e de boa moralidade, levava muitos
fazendeiros paulistas a terem preferência por esses imigrantes.
24
infância, com a qual se identificavam. Como havia uma enorme campanha publicitária
que pintava o Brasil e outros países sul-americanos como um verdadeiro Éden, em que
se abundava a terra que tudo produzia, esses indivíduos não hesitaram. A América se
transformava no maior sonho para esse grupo, porque representava a verdadeira
liberdade. Até então, o significado da palavra liberdade, não era mais que uma ideia
napoleônica ou liberal, vista como mais uma das ideologias urbanas. Tanto que as
palavras de ordem da Revolução Francesa trazida para a região pelos soldados eram
parodiadas pelos camponeses: Liberté, égalitè, fraternité; vocês a cavalo e nós a pé.
35
Na América, mais que o sonho da terra em abundância e o fato de todos terem
sua propriedade, estava a utopia da ausência de ricos e de seu sistema opressor. Uma
canção popular surgida nesse período é sugestiva para exemplificar essa ideia:
Aos ricos do Tirol nós lhes daremos a enxada / a enxada e também a
/ depois iremos ao Brasil / a beber o bom vinho. / Os ricos a conduzir os
bois / as ricas o arado / e os camponeses na América / a beber o bom vinho
36
.
Esses indivíduos, sempre dependentes da Igreja, não foram ensinados a refletir e
julgar, por isso foram presas fáceis dos agentes de imigração. Entretanto, o sonho de
que a família finalmente estaria unida, e que seria possível a reconstrução da sociedade
camponesa tradicional em outro lugar, não se efetivaria para a maior parte dos que se
aventuraram na viagem transoceânica. A realidade com que se defrontariam ao chegar
ao Brasil, ou mesmo em outros países, não correspondia em nada à campanha
publicitária realizada.
Os propagadores da emigração, especialmente aqueles a serviço dos grandes
cafeicultores paulistas, ofereciam as mais tentadoras vantagens para os agricultores que
emigrassem. As estratégias de arregimentação foram tão bem articuladas que milhares
de camponeses, antes de 1875, nunca tinham sequer ouvido falar do Brasil ou
Argentina, passaram a preferir esses países como local de destino.
37
Dentre os
arregimentadores, podemos citar um dos mais atuantes na região norte da Itália, Caetano
Pinto, cujo contrato, assinado em 1874 com o governo imperial brasileiro, previa a
transferência de 100.000 colonos europeus em 10 anos. Em pouco tempo, diversos
vilarejos foram percorridos por dezenas de homens a serviço do referido empresário.
Distribuído provavelmente sobre a forma de folheto, foram várias as vantagens
35
GROSSELLI, Renzo. Op.cit. p. 101
36
GROSSELLI, Renzo. Op.cit. p. 100
37
ALVIM, Zuleika. Op. cit. p.44
25
oferecidas a quem migrasse para o Império do Brasil. Entre os diversos prospectos das
vantagens que constam na propaganda, um coloca o Brasil como um verdadeiro paraíso,
tanto que ao final do folhetim vinha assinalado: “Vocês querem emigrar? Vão para o
Brasil. Se vocês são honestos e trabalhadores, vocês terão a certeza de tornarem-se
proprietários em pouco tempo e de serem ricos depois de uma dezena de anos”.
38
Vimos até aqui algumas das condições que levou a um movimento crescente de
saída de pessoas da Itália. Mas, diante desse esse êxodo constante e maciço, como se
portaram as classes dirigentes italianas, em particular o governo? De maneira geral, o
Estado se mostrou bastante indiferente ao fenômeno. Inicialmente atribuía a emigração
transatlântica à ignorância do povo, mas, depois que se propagaram grandes greves
contra as más condições de vida e a falta de emprego, como aquelas que paralisaram as
províncias de Polesine e Mântua em 1884-1885, este passou a ver a emigração como
uma válvula de escape aos problemas enfrentados pela nação. Era preferível a
emigração à revolução social, afirmava-se.
39
Nas poucas vezes em que o Estado Italiano
se preocupou com esse problema refere-se à proibição da emigração para países
destruídos por guerras, afetados por crises econômicas, ou atingidos por epidemias.
40
Foi somente com a lei de 31 de janeiro de 1901 que a Itália, sem nunca propor uma
eliminação do fenômeno emigratório, procura discipliná-lo. Entretanto, a preocupação
maior dessa lei era proteger o governo das acusações de indiferença em relação aos
emigrantes.
41
Também merece destaque o Decreto Prinetti, de 26.03.1902, que proibiu a
emigração gratuita para o Brasil.
42
Se a própria Itália via na emigração uma forma de resolver seus problemas
estruturais de falta de emprego, do outro lado do Atlântico, o Brasil enfrentava uma
grave crise de mão de obra, vendo nos países europeus aptos a liberar seu excesso de
trabalhadores, em uma possível solução para esse problema. É o que veremos a seguir.
38
GROSSELLI, Renzo. Op. cit. p. 171-174.
39
POSSAMAI, Paulo. 2005. Op. cit. p.70
40
Exemplo disso foi quando, “entre 13 de março de 1889 e 27 de julho de 1891, uma ordem ministerial
bloqueou as partidas para o Brasil, atingido por uma epidemia de febre amarela, tendo o período seguinte
a liberação, atingido das cifras mais elevadas do fluxo”. FRANZINA, Emilio. Op.cit. p.78.
41
FRANZINA, Emilio. Op.cit. p.45
42
Frente a um minucioso relatório enviado por emissários do governo italiano que estavam no Brasil, para
averiguar uma enxurrada de reclamações de imigrantes que trabalhavam nas fazendas paulistas foi
proibida a emigração gratuita para o Brasil. Conforme Lucy Maffei Hutter “o decreto Prinetti,
contrariamente ao que se diz, não foi uma medida tomada contra o Brasil, nem mesmo contra a emigração
italiana para cá. Apenas proibia a vinda de emigrantes italianos com passagens gratuitas. Era livre a vinda
de cidadãos que tivessem meios e se dispusessem a emigrar para o Brasil”. O decreto suspendia uma
vantagem especial que o Brasil tinha em relação a outros países. HUTTER, Lucy Maffei. “A imigração
italiana no Brasil (séculos XIX e XX) : Dados para a compreensão desse processo”. In. Imigração
italiana: estudos (Anais do I e II Fórum de Estudos Ítalo-brasileiros), Caxias do Sul, 1976. p.78.
26
1.2 Políticas imigratórias do Brasil: imigração para a grande lavoura e para
o sul do país.
Os primeiros esforços para o estabelecimento de colonos europeus livres datam
de 1808, quando foi baixado um decreto pelo príncipe regente D. João VI, que tornava
possível a propriedade de terra aos estrangeiros.
43
Nesse primeiro momento, a política
de estabelecimento de núcleos coloniais, que foi continuada por D. Pedro I, visava à
ocupação e à defesa de parte do território nacional.
44
Nessa direção, até 1830 foram
estabelecidas sete colônias oficiais e uma particular; entre elas, a de Nova Friburgo no
Rio de Janeiro, em 1819, e a de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, em 1824.
Entretanto, a política imigratória desenvolvida no período inicial do Império tinha forte
oposição dos grandes proprietários, preocupados em garantir apenas para si os escassos
recursos do Estado. Diante das constantes críticas ao governo imperial e do desinteresse
das elites escravocratas, o estabelecimento de estrangeiros livres na primeira metade do
século XIX caminhou a passos lentos.
Com a proibição definitiva do tráfico de escravos em 1850 e a expansão das
áreas cafeicultoras no Sudeste do país, forma-se uma grande contradição. “No momento
em que o sistema de produção exigia o reforço do sistema escravista, amadurece a
consciência do abolicionismo”.
45
Como suprir a carência de mão de obra em uma
economia que se apoiava no modelo agrário-exportador? Havia a necessidade de
resolver esse problema. Inicialmente, os fazendeiros do café buscaram aliviar o impacto
da diminuição de escravos provocado pela Lei Euzébio de Queiroz, pelo tráfico
43
BALHANA PILATTI, Altiva. “Política Imigratória no Brasil Meridional” In. WESTPHALEN, Maria
Cecília (org). Un Mazolini di fiori (vol. III), Curitiba : Imprensa Oficial do Paraná, 2002. p.132
44
Luiza Horn Iotti divide a política imigratória imperial brasileira em quatro períodos: O primeiro
compreendido entre os anos de 1822 a 1830 teria sido caracterizada pelo início do projeto imigratório,
numa continuidade da política adotada por D. João VI. No segundo período, de 1831 a 1840, que
correspondeu ao período regencial, a colonização subvencionada por cofres públicos teria sido
abandonada, o que representou a vitória das elites escravocratas. Num terceiro momento de 1841 a 1874,
uma nova fase em que o governo imperial retoma a política imigratória com o estabelecimento de
dezenas de colônias por todo o Império brasileiro. Esse período é marcado também pela transferência de
parte significativa da busca de imigrantes europeus à iniciativa privada, por meio das Sociedades de
Imigração. O quarto e último período (1874-1889) é marcado pelo fortalecimento do fluxo migratório,
sobretudo italiano, em função do irreversível processo de diminuição da mão de obra escrava. IOTTI,
Luiza Horn. A política imigratória brasileira e sua legislação: 1822-1914. Disponível em:
WWW
.
ARTIGOCIENTIFICO
.
UOL
.
COM
.
BR
/
UPLOADS
/
ARTC
_1153944668-79.
DOC ACESSO EM
13/11/2008
45
MACHADO, Brasil et ale. “Alguns aspectos relativos aos estudos de imigração e colonização” In
WESTPHALEN, Maria Cecília (org). Un Mazolini di fiori (vol. I), Curitiba : Imprensa Oficial do
Paraná, 2002. p.237.
27
interprovincial, o que se tornou apenas um paliativo, e que por sua vez gerou um grave
problema de abastecimentos de gêneros alimentícios nas províncias de onde provinham
esses escravos, inclusive no Paraná. Por ser uma região periférica do império e de
economia não especializada, a remoção de muitos escravos gerou grandes preocupações
em relação à mão de obra e ao abastecimento da província. Diante desse impasse, foi
incentivada a vinda de colonos estrangeiros. Nesse momento, podemos perceber como
ficaram evidentes as duas correntes em relação à imigração: de um lado, os cafeicultores
que necessitavam urgentemente de mão de obra para a grande lavoura (evidenciado, por
exemplo, pelo estabelecimento da Lei de Terras
46
) e, de outro lado, os interesses em se
fomentar a agricultura familiar em colônias destinadas a suprir a carência de gêneros
alimentícios, como foi o caso das províncias do sul.
Além da necessidade de mão de obra, existia a preocupação com o povoamento
das vastas áreas desocupadas, os chamados “vazios demográficos”. Também estava em
discussão a questão do branqueamento da população brasileira via integração com a
raça branca europeia, além da busca de uma renovação do conceito de trabalho,
considerado manchado pela escravidão.
47
Defendia-se a ideia de que o estrangeiro
contribuiria também para o desenvolvimento do país, trazendo “novas e produtivas
técnicas agrícolas, ensinando-as aos habitantes da terra, junto com as virtudes do
trabalho”.
48
Nesse sentido, o imigrante europeu seria peça fundamental para a mudança
na definição de dois elementos-chave: raça e trabalho. O trecho a seguir, extraído de
um jornal publicado em Curitiba em 1885, é elucidativo dessas questões.
(...)Tenhamos, porém viva no futuro. Custa muito desenraizar maus
hábitos tradicionais, mas aqui há também trabalho nacional bem sensível e do
cruzamento das raças europeas com os nacionaes, produzir-se-há a nacionalidade
que saberá levantar o Brazil a posição que merece. E uma vez alcançado o ponto de
partida para imenso desenvolvimento, este será relativamente rápido (...).
49
46
Com o predomínio político-econômico da elite fundiária, em 1850 foi estabelecida a Lei de Terras, cujo
primeiro artigo proibia a entrega de terras gratuitas a estrangeiros, estes somente poderiam adquirir
propriedade mediante compra. Segundo Maria Teresa Petrone, a Lei de Terras, “embora assegurasse
certos recursos para os programas de colonização, pode ser interpretada como resultado da pressão dos
grandes proprietários monocultores de café, que [...] pretendiam drenar a corrente de imigrantes para as
suas fazendas, daí o interesse de que não mais se doassem terras para a criação de núcleos coloniais”.
PETRONE, Maria Teresa in IOTTI, Luiza Horn. Op.cit. p.5-6
47
NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: Ocupação do território, população e migrações. Coleção
História do Paraná: textos introdutórios. Curitiba : SEED, 2002. p. 67
48
NADALIN, Sérgio Odilon. 2002. Op. cit. p. 65.
49
Curitiba, Gazeta Paranaense: 14 de Outubro de 1885.
28
Inicialmente a política imigratória imperial se voltou para a Europa setentrional,
tanto que as primeiras levas de estrangeiros foram alemães, suíços e franceses.
Entretanto, esses países não viam com bons olhos a emigração para o Brasil, pois a
consideravam como uma “escravidão camuflada”, e estabeleceram restrições, haja vista
que em 1871 todo o Império alemão proibiu as saídas para o Brasil, revogando tal
proibição somente em 1896, apenas para os três Estados do Sul.
50
A causa dessas
restrições foram as constantes reclamações e os insucessos dos primeiros núcleos
coloniais. Diante da pouca eficácia das tentativas de estabelecimento de alemães, a
atenção do governo, e principalmente das agências promotoras da imigração, se voltou
para a nação europeia que dispunha de uma grande massa desempregados, a Itália,
especialmente a região norte do país.
Como vimos no item anterior, por várias questões, a Itália estava passando por
um intenso processo de disponibilização de mão de obra. Assim, milhões de
camponeses e operários se tornaram presas fáceis de toda uma campanha publicitária
enganosa. De fato, entre 1876 e 1920 emigraram para o Brasil nada menos que
1.243.633 de italianos.
51
O destino da maior parte desse contingente foram as fazendas
cafeicultoras paulistas. O trabalho com braços imigrantes na área cafeicultora vigorou
inicialmente sob o sistema de parceria,
52
mas este não obteve êxito, em parte, devido à
própria inabilidade dos fazendeiros em adequar a mão de obra livre no trabalho nas
lavouras, uma vez que estavam habituados a lidar apenas com o trabalho cativo. Para a
grande parcela de italianos que se dirigiram a essa região, certamente o sonho tão
cobiçado da terra em abundância e da ausência de patrões não se concretizaria, muito
pelo contrário, o processo de proletarização, de que eles tanto fugiam, demoraria um
pouco mais a acontecer, ou melhor, ocorreria em país estrangeiro.
50
MACHADO, Brasil et ale. Op.cit. p. 250.
51
ALVIM, Zuleika. 1986. Op.cit. p.62.
Embora nem todo esse contingente tenha se fixado nas mais diversas regiões do Brasil, dos grupos
étnicos, o italiano é o segundo mais numeroso, cujas cifras ficam abaixo apenas dos portugueses. Num
recorte temporal mais amplo, de 1819 a 1970 entraram no Brasil 1.627.919 imigrantes, o que
correspondeu a 29,15% do total de estrangeiros que chegaram no país nesse período. BALHANA
PILATTI, Altiva. “L’immigration italienne au Brésil”. In WESTPHALEN, Maria Cecília (org). Un
Mazolini di fiori (vol. II), Curitiba : Imprensa Oficial do Paraná, 2002. p.211
52
As colônias de parceria representaram o início da imigração promovida por particulares, com o objetivo
de substituir o trabalho escravo na lavoura de café. Os cafeicultores recebiam empréstimos do governo
imperial, com o qual contratavam empresas para aliciarem e transportarem imigrantes europeus. O
pioneiro nesse tipo de iniciativa foi o senador Nicolau de Campos Vergueiro, que, em 1847, introduziu,
na sua fazenda paulista de Ibicaba, 80 famílias vindas da Alemanha. O sistema de parceria provocou
descontentamento entre os imigrantes, principalmente pela falta de clareza dos contratos e das cláusulas
evidentemente desfavoráveis a eles. A revolta dos colonos de Ibicaba, em 1856, assinalou o abandono
desse sistema nas fazendas paulistas. IOTTI, Luiza Horn. Op.cit. p.6
29
Uma das maiores decepções daqueles que foram encaminhados às lavouras
cafeeiras certamente reside no fato de que, embora fossem trabalhadores livres, eram
submetidos a condições semelhantes àquelas impostas aos escravos. A mentalidade
escravocrata dos fazendeiros muitas vezes não os distinguia dos cativos. Os imigrantes
eram submetidos à mesma carga de trabalho, além de receberem baixos salários e de
estarem presos à fazenda pelas dívidas. Também, tinham seus horários de trabalho
estritamente regulados, assim como as horas de folga e suas entradas e saídas da
propriedade. Não raro, eram vítimas de toda a sorte de abusos. Essas circunstâncias
levaram a fugas em massa, assim como ao expatriamento, sendo as regiões cafeicultoras
as principais responsáveis pela evasão italiana no Brasil.
Se os imigrantes italianos que se dirigiram a São Paulo – que representaram 70%
do contingente transferido para o Brasil tiveram de enfrentar duras condições, até
mesmo piores do que aquelas enfrentadas antes na Itália, aqueles que foram
encaminhados às três províncias do Sul do país tiveram um destino um pouco melhor,
ou pelo menos, conseguiram o tão almejado pedaço de terra. O estabelecimento de
colônias com estrangeiros nessa região, num primeiro momento, visava à ocupação de
áreas despovoadas, pois até a primeira metade do século XIX praticamente a faixa
litorânea estava ocupada. Além do mais, existia a preocupação constante em
salvaguardar as fronteiras com os países platinos. Nessa direção, especialmente a partir
de 1834 quando a facção governista favorável à imigração propõe que essa não deveria
ser exclusiva do governo imperial, mas sim realizada em conjunto com as províncias,
53
foram estabelecidas várias colônias, tanto por iniciativa dos governos locais quanto de
particulares. Os grupos que compunham essas colônias até o início da década de 1870
eram relativos a alemães, ingleses, franceses e suíços. Os italianos começariam a
chegar em maior número a partir da segunda metade da década de 1870.
Das três províncias do Sul, foi o Rio Grande do Sul que recebeu a maior parcela
dos imigrantes italianos, que se concentraram sobretudo na região serrana, na porção
norte da província. No Paraná a presença italiana em massa tem início em 1875. Antes
dessa data registros de alguns, mas eram poucos e diluídos entre os outros grupos,
como aqueles que integravam a colônia Assungui, fundada em 1860 e pertencente ao
atual município de Cerro Azul. De fato, a questão imigratória no Paraná era colocada
53
NADALIN, Sérgio Odilon. 2002, Op.cit. p.67.
30
como uma solução para os problemas relativos à ausência de uma agricultura
diversificada, no período imediatamente posterior a sua emancipação política, em 1853.
“É para lamentar que essa província, cujos terrenos produzem com
abundância a mandioca , o arroz, o café, a cana, o fumo, o milho, o centeio, a
cevada, o trigo e todos os gêneros alimentícios, compensando tão prodigiosamente
os trabalhos do agricultor, receba da marinha e por preços tão exagerados a mor
parte daqueles gêneros. Este estado de coisas temo continuará, e que quando
colonos morigerados e laboriosos vierem povoar vossas terras vastas e fecundas,
aparecerá a abastança dos neros alimentícios e abundantes sobras do consumo
irão dar nova vida ao comércio de exportação dos produtos agrícolas”.
54
Destaca-se que a vinda de colonos “morigerados e laboriosos” era um dos
principais objetivos a serem atingidos, e uma constante no discurso das elites locais. Os
anos que se seguiram à emancipação política da província foram marcados pelo
aprofundamento da política imigratória, numa ação conjunta das autoridades imperiais e
provinciais.
55
Assim, entre as décadas de 60 e 80 do século XIX, foram instaladas várias
colônias nas proximidades dos centros urbanos, especialmente na administração de
Adolpho Lamenha Lins, a qual logrou grande êxito, conforme consta no seu próprio
relatório do ano de 1877.
O colono europeo, por via de regra, desanima diante das nossas mattas
virgens, porque para elle é completamente ignorada essa cultura extensiva, da
derrubada, da queima e das sementeiras a vôo, e é por isso que internados nas
colonias afastadas dos centros populosos, elles fogem de entregar-se a esse
trabalho improbo, que lhes é inteiramente desconhecido, acontecendo muita
vez que o desastre que na primeira derrubada fere a um, basta para amedrontar
uma expedição inteira.
É preciso pois preparar o colono para penetrar nas regiões das mattas
virgens, riquissimas de uberdade, e de seiva, porem cuja rude magestade os
assombra e intimida.
D’ahi a vantagem de estabelece-los primitivamente, nos arredores dos
centros populosos, ahi, perto de todos os recursos, ao passo que se dedica a
cultura que conhece, e tem mercado prompto e consumo immediato para os
seus productos, o colono ensaia essa cultura nacional que lhe é inteiramente
estranha, mais que a elle tem de entregar-se mais tarde, pela natureza das
plantas que tem de cultivar, e do terreno em que elles produzem. (...)
Foi sob o domínio dessas ideias, que adoptei o systema do
estabelecimento de colonos nos arredores da capital.
56
É nessa conjuntura que é estabelecida a maior parte dos colonos italianos que
chegaram ao Paraná. Conforme Romário Martins, o rush italiano ocorreu entre os anos
de 1875 e 1878, quando entraram na província 4.350 pessoas. As primeiras experiências
54
Relatório do Presidente Francisco Liberato de Mattos, apresentado na abertura da Assembléia
Legislativa Provincial, em 07 de janeiro de 1858.p. 35
55
MACHADO, Brasil Pinheiro et ale. História do Para. Curitiba : Grafipar, 1969. p.163
56
Relatório do Presidente de Província Adolpho Lamenha Lins do 1877, p. 81-82.
31
com a colonização italiana no Paraná foram realizadas mediante um contrato firmado
com o empresário Sabino Tripotti. Em fevereiro de 1875, o referido empresário fundou
a primeira colônia italiana do Paraná (Alexandra). Entretanto, essa foi um fracasso,
devido a vários motivos, como a insalubridade do clima, a falta de conhecimento e
orientação para superar as moléstias tropicais e as pragas da lavoura e a ausência de
mercados consumidores próximos.
57
Também, os colonos foram instalados sem a
mínima assistência para que progredissem, tanto por parte do governo quanto do
empresário. Este último foi acusado por nunca ter tido realmente interesse na
colonização. Na verdade, o transporte de imigrantes era para ele altamente lucrativo,
pois gastava com cada pessoa apenas um quinto do que recebia do governo, embolsando
o restante.
58
De fato, a colonização intermediada por sociedades particulares sempre
estava sujeita a problemas, dada a ganância daqueles que estavam interessados apenas
em arrebanhar o maior número possível de imigrantes, para obter mais lucro.
O governo rescindiu o contrato com o empresário, chegando mesmo a confiscar
seus bens, em função do enorme prejuízo causado pela administração do
empreendimento. A administração provincial, tentando contornar o problema e para
atender àqueles que não mais queriam permanecer em Alexandra, assim como para
acomodar o grande número de italianos que estavam a caminho, cria em 1877 a colônia
Nova Itália, que abrangia doze núcleos coloniais em uma vasta área que se estendia
pelos municípios de Morretes, Antonina e Porto de Cima.
59
Os núcleos coloniais estabelecidos no litoral não alcançaram êxito. Diante disso,
seja por iniciativa própria ou com ajuda do governo, a maior parte dos colonos
radicados no litoral pediu transferência para o planalto curitibano, e apenas um pequeno
contingente permaneceu na colônia Nova Itália. O governo provincial abandona então o
projeto de colonização do litoral e o direciona para a capital e seus arredores. Daqueles
oriundos do núcleo colonial Nova Itália, muitos se fixaram junto com colonos de outras
nacionalidades em colônias existentes na região
60
, enquanto outros foram
estabelecidos em cleos coloniais criados para tal fim, por iniciativas governamentais
ou de particulares,
61
como Antônio Rebouças em Campo Largo. É importante destacar
57
BALHANA, Altiva Pilati. “Imigração italiana no Paraná. Op.cit. p. 4.
58
MARTINS, Romário, 1941: p. 75
59
MACHADO, Brasil Pinheiro et ale. 1969. Op. cit. p. 168-169.
60
como Argelina, Muricy, Órleans, Inspetor Carvalho, Antonio Prado, Antonio Rebouças, entre outras.
61
Entre elas, podem ser citadas: Alfredo Chaves, Santa Gabriela e Novo Tirol, Santa Felicidade, etc.
32
que o programa de colonização na região de Curitiba responde às necessidades de
expansão da capital da recém-emancipada província.
Na década de 1880 o incentivo a imigração continua, e a maior parte dos
italianos que chegaram ao Paraná foi instalada em regiões próximas à capital. Nesses
anos são fundadas três das colônias analisadas neste trabalho (Rondinha em 1885, e
Balbino Cunha e Mariana em 1889). Aliás, esses núcleos coloniais que estamos
analisando fazem parte do auge da política imigratória subvencionada pelo governo
provincial. Entretanto, esse momento também marca o término de uma fase do
empreendimento, com a extinção do sistema de colonização oficial, com colônias
mantidas sob a tutela do governo, e o início de outra etapa com motivações diferentes e
com menor participação oficial.
62
Na década seguinte (1890) a chegada de italianos
continua, mas vai progressivamente diminuindo até se tornar restrita a pequenos
números. Aqueles que chegaram nos anos finais do século XIX e início do XX, por
ocasião da redução da colonização oficial, ou se fixaram nas colônias existentes ou
adquiriam terrenos de particulares, ou ainda aqueles que tinham menos condições
financeiras acabavam trabalhando nas obras públicas, ou de empresas particulares. No
final do século XIX e início do XX, os grupos majoritários estabelecidos no Paraná
seriam compostos de poloneses e ucranianos, cuja colonização se expandiria para o
interior do Estado. Em relação à quantidade total de imigrantes que chegaram ao
Paraná, a imigração italiana não representou mais que 9%, ou seja, cerca de 9.000
pessoas. De fato os investimentos maciços em imigração foi canalizado para São Paulo.
Por ser uma província politicamente importante, esta influenciou o parlamento no
sentido de canalizar esforços nacionais para assim usufruir da política imigratória. O
Paraná, por ser uma província periférica do ponto de vista econômico, não tinha as
mesmas condições de promover a imigração numa escala maior, nas suas áreas
despovoadas, como fez, por exemplo, o Rio Grande do Sul.
O quadro a seguir ilustra a presença italiana no Paraná, nas colônias criadas nas
décadas finais do século XIX.
62
MACHADO, Brasil Pinheiro et ale. 1969. Op. cit. p. 180.
33
QUADRO 1 – PRESENÇA ITALIANA NAS COLÔNIAS ESTABELECIDAS NO
PARANÁ NAS DÉCADAS FINAIS DO SÉCULO XIX.
Ano Município Colônia Grupos étnicos
1860 Cerro Azul Assungui Ingleses, franceses,
alemães, italianos e outros
1869 Curitiba Argelina Franceses da Argélia,
alemães, suíços, ingleses e
italianos
1870 Curitiba Pilarzinho Poloneses, alemães e
italianos
1875 Curitiba Órleans Poloneses, franceses,
suíços, italianos e outros
1875 Paranaguá Alexandra Italianos
1877 Morretes e Antonina Nova Itália Italianos
1878 Curitiba Santa Felicidade Italianos
1878 Campo Largo Antonio Rebouças Italianos
1879 Paranaguá Maria Luiza Italianos
1885 Campo Largo Mendes de Sá Italianos e poloneses
1886 Curitiba Santa Gabriela, Antonio
Prado, Presidente Faria e
Maria José
Italianos e poloneses
1888 Paranaguá Visconde de Nácar,
Santa Cruz e Santa Rita
Italianos
1889 Campo Largo Balbino Cunha e Mariana
Italianos
1893 Palmeira Cecília Italianos
FONTE: MACHADO, Brasil Pinheiro et ale. 1969. Op. cit. pp.164-167.
Pelo quadro acima verifica-se que a presença italiana está basicamente
distribuída no litoral e, principalmente, na região de Curitiba. Dentro desse quadro e da
conjuntura discutida, encontramos o município de Campo Largo.
34
1.3 O município de Campo Largo e as colônias italianas
Campo Largo geograficamente está situado no primeiro planalto paranaense, a
860 m do nível do mar e distante cerca de 20 km da capital. Os primeiros povoadores se
estabeleceram na região por volta de 1814, sendo construída sua igreja em 1821 e tendo
como padroeira Nossa Senhora da Piedade. Foi elevada à categoria de capela curada em
1828 e de paróquia em 1841. A criação oficial do município data de 1871, quando este
se desmembra de Curitiba e Palmeira.
63
Figura 2: Localização de Campo Largo
Fonte: <http://www.guiageo-parana.com/mapas.htm>
A origem do município está ligada ao desenvolvimento da economia pastoril.
Inicialmente foi uma região de passagem das tropas que vinham do sul com destino a
Sorocaba (o antigo caminho do Viamão) e mais tarde se tornou um elo entre Curitiba e
os Campos Gerais.
64
Foi uma das diversas povoações que se formaram ao longo do
caminho do Viamão, e que posteriormente deram origem a cidades como Ponta Grossa,
Castro, Palmeira, Itararé, Lapa, Rio Negro, entre outras. O desenvolvimento dessas
63
BARCICK, Virgínia. Campo Largo: Demografia Histórica 1832-1882 Curitiba, Mestrado em
História : UFPR, 1992. p.8
64
BARCICK, Virgínia. Op. cit. p.7
35
vilas, com suas fazendas de pouso e invernagem, está atrelado ao comércio de muares,
que foi uma das principais atividades econômicas da Região Sul durante os séculos
XVIII e XIX. Em 1820, ao percorrer os Campos Gerais e de Curitiba, Saint Hilaire
anotava:
Ao mesmo tempo que a criação e transporte de gado influíram para que as
populações se agremiassem em determinados locais de ‘pouso’ e de ‘currais’, a
formação de ‘roças’ com intentos industriais, isto é, com excessos comerciais, foi
fixando essas e outras populações em lugares certos e estáveis e dando origem às
fazendas, às freguesias, às vilas e às cidades, como aconteceu com Jaguariaíva, Piraí
(Furnas), Castro, Ponta Grossa, Campo Largo, Rio Negro, etc.
65
O crescimento da vila de Campo Largo e o processo de ocupação territorial
estiveram ligados ao desenvolvimento da pecuária. Com o estabelecimento das fazendas
de invernagem, foram se consolidando também uma agricultura de subsistência e o
comércio. À medida que a vila evoluía e que a própria atividade econômica se
desenvolvia, abria-se espaço para um novo empreendimento, a extração e o comércio da
erva-mate. Esse produto passa a ter importância significativa na economia
campolarguense, principalmente quando a cidade de Curitiba expande suas áreas de
influência econômica, sobretudo a partir do momento que esta passa a ser a capital da
nova província.
66
Dessa maneira, a produção e o beneficiamento do mate, que até
meados do século XIX estavam concentrados majoritariamente no litoral, passam a se
disseminar pelo planalto curitibano. Em 1875, no auge da economia do mate, em
Campo Largo existiam treze engenhos.
67
A mão de obra utilizada, tanto na pecuária como no mate, era principalmente
escrava. Entretanto, conforme visto no item anterior, com a extinção do tráfico atlântico,
parcela significativa da escravaria das regiões periféricas do Império brasileiro, como é
o caso do Paraná, foi remanejada para as fazendas cafeicultoras. Nesse contexto de crise
de mão de obra e necessidade de se fomentar uma agricultura diversificada,
especialmente a partir da década de 1870, o fundadas colônias com imigrantes
europeus em Campo Largo. Pelo fato de o município estar situado relativamente
próximo à capital, suas terras passaram a fazer parte dos propósitos da política
colonizadora provincial que tinha por objetivo abastecer as cidades com os gêneros
alimentícios produzidos pelos colonos.
65
MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba : Travessa dos Editores, 1995. 2ª edição. p. 267.
66
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida Material e vida econômica Curitiba : SEED (Coleção
História do Paraná : textos introdutórios), 2002. p. 56
67
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Op. cit. p. 53
36
No primeiro recenseamento do Império em 1872, a população do município era
de 6.338 habitantes, número que praticamente dobrou no primeiro recenseamento da
República em 1890, com 12.539 pessoas.
68
O período compreendido entre esses dois
censos alterou profundamente a população campolarguense, sendo marcado pela
instalação de centenas de colonos italianos e poloneses.
A primeira colônia com imigrantes italianos, Antônio Rebouças
69
, foi criada em
1878. Antes dela havia a colonização polonesa na região, como nos núcleos Alice,
Cristina, Tomás Coelho e Dom Pedro, que tinham parte do seu território nesse
município. A referida colônia foi fundada oficialmente em 11 de setembro de 1878 com
154 imigrantes italianos do Vêneto, como menciona o Relatório do Presidente Manuel
Pinto de Souza Dantas Filho, em 1880.
Situada no local denominado Timbituva, a margem da estrada Mato Grosso, e a
distância de 19 km de Curitiba, foi estabelecida em 1878. Acha-se dividida em 34
lotes, habitada por 154 colonos, possue 6234 metros de estrada e terrenos férteis
que são bem cultivados. Existe n’esta collonia uma fabrica de tijolos de
propriedade dos collonos Baroni Antônio e outros, necessita de igreja e escola.
70
Os colonos que se instalaram em Antonio Rebouças chegaram ao Paraná em
fevereiro de 1878, sendo inicialmente alocados na colônia Nova Itália em Morretes.
Entretanto, provavelmente devido a sua não adaptação ao litoral, ou mesmo em função
dos insucessos dos núcleos coloniais litorâneos, conforme foi discutido anteriormente,
esses imigrantes permaneceram poucos meses naquela região, sendo transferidos
provisoriamente para barracões em Curitiba, até que fosse definido o seu local de
destino.
71
Na capital, o grupo que se deslocara do litoral permaneceu em torno de cinco
meses. Nesse intervalo de tempo foi selecionado o local de fundação da colônia, assim
como preparadas a medição dos lotes e a construção das casas. O contrato firmado entre
o governo e os imigrantes previa que os terrenos deveriam ser pagos num prazo de nove
anos.
72
68
MARTINS, Romário. 1941. Op. cit. p.94 - 95.
69
O nome da colônia foi uma homenagem ao engenheiro Antonio Pereira Rebouças Filho, que
juntamente com seu irmão teve participação fundamental na construção da ferrovia Paranaguá-Curitiba.
Muitos documentos, inclusive as fontes paroquiais, referem-se a essa colônia como Timbituva, o que
remete a divisão de quarteirões, que era a forma como estava divido o município de Campo Largo.
70
Relatório do Presidente de Província. 1880: p. 55
71
FEDALTO, Pedro. O centenário da colônia Antônio Rebouças. Curitiba : Voz do Paraná, 1978. p.
21-22.
72
ibid
37
Conforme Pedro Fedalto, foram 27 as famílias fundadoras, distribuídas em 34
lotes.
73
Os lotes não correspondiam exatamente ao número de famílias, pois aquelas que
tinham mais de um homem adulto ou que possuíam alguma reserva de dinheiro,
poderiam adquirir mais de um lote. Como ocorria nas demais colônias governamentais,
nos primeiros meses o governo fornecia as sementes para que realizassem suas
primeiras plantações, e nesse meio tempo os empregaria na construção de estradas de
acesso. Passado o momento inicial e à medida que obtinham suas primeiras colheitas, a
ajuda do governo cessaria. Se compararmos aos imigrantes que foram encaminhados às
fazendas paulistas, que foram submetidos a duras condições de trabalho, ou mesmo a
uma parcela significativa que se dirigiu ao Rio Grande do Sul, onde foram
simplesmente abandonados em meio a mata,
74
podemos dizer que aqueles que foram
para Campo Largo, ou mesmo se distribuíram por toda região do Paraná, tiveram
melhor sorte. Embora as condições não fossem as ideais, é de se notar o interesse do
governo provincial na imigração, especialmente na administração de Lamenha Lins, que
fornecia os lotes em regiões de fácil acesso de instalação, assim como as casas, trabalho
e outros suprimentos de que necessitavam no período inicial.
Os colonos, em sua maioria, eram agricultores e passaram a se dedicar ao cultivo
da terra. Conforme o núcleo colonial foi se estabilizando, novas famílias vindas da Itália
foram sendo encaminhadas ou para a colônia ou nas áreas próximas. Também alguns
jovens casais, à medida que iam se casando, foram adquirindo terrenos nas imediações,
expandindo, assim, a presença italiana na região.
Alguns anos após a instalação da colônia Rebouças, às margens da estrada Mato
Grosso, foi iniciada a formação de uma outra colônia: a Rondinha. Observa-se que o
estabelecimento de núcleos coloniais às margens da referida estrada era uma estratégia
do governo provincial para facilitar o escoamento dos produtos agrícolas para a capital,
uma vez que essa estrada era a principal ligação de Campo Largo com Curitiba e uma
continuação da estrada da Graciosa que ligava a capital ao litoral.
75
A fundação da
73
FEDALTO, Pedro. Op. cit. p. 22-23
74
Conforme as memórias de Júlio Lorenzoni no Vale Vêneto, no Rio Grande Sul, muitos imigrantes
receberam seus lotes e foram abandonados no meio da mata, longe da sede várias horas, sendo obrigados
a viver sob uma cabana rústica, coberta de ramos e se alimentando de pinhões, da caça e outras coisas que
a floresta oferecia. LORENZONI, Júlio. Memórias de um imigrante italiano. Porto Alegre : Sulina,
1975 pp.63-69.
75
Basta ver que na década de 1870, entre os anos de 1875 e 1876 na administração de Adolpho
Lamenha Lins, foram fundadas seis colônias nas margens da estrada do Mato Grosso: Órlenas, D. Pedro,
Santo Inácio, D. augusto, Riviére e Tomás Coelho. SANTOS, Carlos Roberto Antunes. Op. cit. p. 80.
38
citada colônia se deve à iniciativa particular dos irmãos Cel. José Olintho de
(conhecido como coronel ‘Jugica’) e o Capitão José Mendes de Sá, que eram
proprietários de grandes quantidades de terras nessa localidade.
76
A colonização da
região com imigrantes europeus se deu em parceria com o governo provincial a partir do
ano de 1885. Merece destaque a criação, nesse ano, da Sociedade de Imigração em
Campo Largo, sob a presidência de João Ribeiro de Macedo,
77
o que dinamizou o
assentamento de novos colonos no município.
Os lotes foram distribuídos principalmente para imigrantes italianos, mas
também poloneses e brasileiros ocuparam alguns terrenos. Esta foi a maior colônia do
município, com 280 lotes, abrangendo uma área de 2.000 hectares,
78
sendo ocupados até
a década de 1890. Por ser um núcleo colonial fundado pela iniciativa particular, ao
contrário das governamentais, as informações contidas nas fontes são mais esparsas.
Seguindo a lógica das demais colônias, acredita-se que também os lotes e as casas, pelo
menos para uma parcela significativa, foram adquiridos e financiados pelo governo,
uma vez que os imigrantes que aqui se instalaram eram bastante pobres, provavelmente
pertenciam ao grupo dos bracciantis, não traziam consigo reserva de dinheiro suficiente
para comprar a propriedade. Se, como vimos no item anterior, só conseguiram emigrar a
partir do momento em que o governo brasileiro passou a financiar a viagem,
supostamente não deviam ter capital suficiente para comprar o lote de terra.
Pouco tempo depois de ser iniciada a ocupação dos lotes de Rondinha, foram
criadas mais duas colônias governamentais, inauguradas em 1889. Essas duas fazem
parte do final do programa de colonização subvencionado pelo governo provincial. A
colônia Mariana localizada no quarteirão do Rio Verde, também nas proximidades da
Estrada Mato Grosso, possuía 33 lotes e um total de 170 pessoas.
79
Já a colônia Balbino
76
Nos documentos, assim como na bibliografia sobre imigração no Paraná, podem ser encontrados três
nomes para a mesma colônia. Mendes de ou Jugica Mendes referem-se aos precursores do projeto
colonizatório na região, assim como o termo Rondinha que é o que permanece até hoje. A denominação
Rondinha para a região surgiu porque grupos de boiadeiros que traziam gado para Curitiba, faziam uma
pequena “ronda” na região. Quando paravam, tendo o rio de um lado e o barranco de outro, era possível
acomodar o gado para um descanso, facilitando o seu controle. Por causa desta pequena ronda é que foi
dado ao local o nome de Rondinha” CEQUINEL, Valdemar José et al. Igreja de Rondinha: 100 anos de
História e. Campo Largo, 2006. p. 25.
77
MACHADO, Brasil Pinheiro et al. 1969. Op. cit. p.182
78
MACHADO, Brasil Pinheiro et al. 1969. Op. cit. p.164-167
79
ibid O nome da colônia resultou de uma homenagem a D. Maria José Correia, esposa do deputado
provincial Ildefonso Pereira Correia. Conforme consta no artigo publicado em 26.05.1889 da Gazeta
Paranaense (...) Do Exmo Sr. Conselheiro Cardoso ao Exmo. Sr. Conselheiro Correia, espirito patriota
que devia sentir satisfação em saber, naquelle dia, ligado o nome de sua virtuosa esposa a um dos núcleos
coloniais que se acabava de inaugurar; (...)
39
Cunha, também conhecida por Campina, situava-se no quarteirão da Catta, estando mais
afastada dos demais cleos italianos de Campo Largo, atualmente com seu território
próximo dos limites com os municípios de Balsa Nova e Araucária. Foi dividida em 25
lotes e ocupada por 122 colonos italianos.
80
A criação das colônias italianas em Campo
Largo podem ser sintetizadas como na tabela abaixo:
TABELA 2 – DADOS DAS COLÔNIAS ITALIANAS DE CAMPO LARGO
ANO
Colônia
Distanc.
da sede
munic.
Àrea
em
hectares
Número
de Lotes
N° de
imigrantes
1878 Antônio Rebouças ou
Timbituva
14 km 350,9 34 244
1885 Mendes de Sá ou
Rondinha
4 km 2.000,0 180 148
1889 Balbino Cunha ou
Campina
8km 225,9 25 122
1889 Dona Mariana ou Rio
Verde
8 km 315,3 33 170
FONTE: MACHADO, Brasil Pinheiro et ale. 1969.
p. 164-167.
As colônias de Mariana e Campina foram ocupadas por italianos oriundos do
Vêneto que chegaram a Campo Largo em janeiro de 1889.
81
Inicialmente foram
acomodados em barracões provisórios, até que fossem terminadas a medição dos lotes e
a construção das casas, pois os núcleos coloniais foram inaugurados no mês de maio,
conforme consta em um artigo publicado no jornal Gazeta Paranaense, em 26.05.1889.
Nota-se que, apesar do interesse do governo e da política de colonização oficial estar
em vigor algumas décadas no Paraná, ainda havia problemas, pois os imigrantes
tinham de aguardar, amontoados em barracões provisórios por meses, até que pudessem
tomar posse de seus terrenos.
Segundo o artigo publicado no referido jornal, intitulado “Inauguração dos
núcleos Balbino Cunha e D. Marianna”, estiveram presentes no ato várias autoridades,
entre elas, o próprio presidente da província, cujo nome foi dado a um dos núcleos
80
ibid
81
AGGIO, Osmar. A colônia que veio do Pó. Ponta Grossa: Gráfica Planeta, 2005. p.63
40
coloniais, assim como o Inspetor Especial de Terras e Colonização, o Dr. Candido de
Abreu, entre outros. O artigo narra de maneira ufanista o empreendimento colonial,
enfatizando que os imigrantes receberam o lote de terra com uma casa.
“Em breve, depois de repetidas consultas ao relógio, avistava-se o núcleo <D.
Marianna>, cujo aspecto ridente parecia convidar a entrar, lá no fundo de um esplendido
valle, onde a vegetação variada e pujante indicava um terreno fertilissimo, verdadeira
promissão para os immigrantes alli localisados.”
82
E prossegue com a descrição das casas e da chegada da comitiva ao núcleo
colonial D. Mariana:
“Lindíssimas casinhas alvejavam ao longe, cheias de conforto, vendo-se as
portas os seus moradores que em sympathica gesticulação e aclamação enthusiasticas,
saudavam a administração que ia oficialmente inaugurar aquela celula de trabalho
d’onde mais tarde hão de brotar as commodidades e quiçá a fortuna para aqueles que
souberem cavar no seio opulento da terra.
83
O artigo continua tratando de maneira exagerada a calorosa recepção às
autoridades e a profunda satisfação dos imigrantes estabelecidos naquele núcleo
colonial, assim como a verdadeira festa que se sucedeu, na qual compareceram
muitas pessoas ilustres. Aliás, o extrato acima é totalmente contraditório com a real
situação inicial dos imigrantes que geralmente tinham que aguardar a finalização da
medição das terras e da construção das casas por meses, em barracões provisórios,
em péssimas condições de higiene. O texto do jornal enfatizava a importância da
imigração para o Paraná, pois “representava mais um passo dado na estrada larga do
engrandecimento da província”.
84
No dia seguinte, um domingo, o objetivo da
comitiva seria a inauguração da colônia Balbino Cunha, após a celebração de uma
missa na paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Campo Largo. Entretanto, a
inauguração não ocorreu, conforme está descrito na fonte:
“Ao amanhecer do dia 26, ficou resolvido que se ouviria missa, e que após,
seria feita visita ao núcleo Balbino Cunha. Como, porém, houvesse demora em serem
preparados os carros, assentou-se que não seria visitado aquele núcleo e que se voltaria
a capital no mesmo dia.”
85
Os possíveis motivos para não ter ocorrido a visita à colônia Balbino Cunha
podem estar ligados à distância, pois esta colônia estava mais afastada das demais e
demandaria algumas horas do centro de Campo Largo até o destino, o que obrigaria a
comitiva a permanecer mais um dia no município. De fato, Balbino Cunha não queria
82
JORNAL GAZETA PARANAENSE 26.05.1889
83
ibid
84
ibid
85
ibid
41
ficar muito tempo ausente da capital, pois vivia-se um momento de crise política no
governo paranaense, decorrente das disputas entre liberais e conservadores.
86
Como foi mencionado anteriormente em relação à colônia Antonio Rebouças,
nos primeiros tempos o governo fornecia as sementes para que os colonos fizessem
sua primeira plantação, assim como os empregaria na construção de estradas vicinais
que ligariam o núcleo colonial às estradas principais. Entretanto, nos primeiros meses
a situação foi caracterizada por muitas dificuldades, conforme uma carta enviada
pelos imigrantes das colônias Balbino Cunha e Mariana ao presidente Jesuíno
Marcondes em junho de 1889, citada por Osmar Aggio.
Na carta, as principais reivindicações são ferramentas necessárias para o cultivo
da terra, sementes, comida durante o tempo necessário, trabalho contínuo nas obras
públicas, restauração das estradas, um padre para atender às duas colônias, um
médico, entre outras.
87
Segundo o autor, a carta foi escrita por um dos colonos, num
misto de italiano com o dialeto vêneto, o que indica que, apesar de bastante
humildes, alguém deveria saber ler e escrever. É de se destacar que as solicitações
demonstram a pobreza desses imigrantes que não possuíam praticamente nada, o que
reforça nossa hipótese de que os colonos que chegaram no período pós-1885
pertenciam ao grupo dos bracciantis.
Dentre os pedidos feitos ao presidente da província, merece destaque aquele
referente à vinda de um padre para o atendimento espiritual dos imigrantes. Aliás,
essa reivindicação foi uma constante nas diversas colônias estabelecidas no Sul do
Brasil. Antonio Rebouças, por ser a mais antiga de Campo Largo, foi a primeira a
solicitar à diocese de Curitiba um padre que lhes atendesse no seu idioma. Outras
colônias estabelecidas nos arredores de Curitiba também encaminharam o mesmo
pedido. Essa situação remete à forma como esses indivíduos estavam organizados na
sua terra de origem, a tentativa de reconstruir a nova realidade a partir do mundo que
conheciam, onde o padre era uma figura imprescindível na sua organização social.
Nessa direção, merece espaço a discussão de como foi feita a organização religiosa
institucional das famílias italianas de Campo Largo radicadas nos núcleos coloniais.
86
AGGIO, Osmar. Op.cit. p.64-65.
87
AGGIO, Osmar. Op.cit. p. 70-71
42
1.4 Da Capelania Curada italiana à criação da Paróquia de São Sebastião
O choque entre o modelo de religiosidade trazido pelos imigrantes e aquele
encontrado no Brasil foi um elemento importante que serviu para marcar a diferença
entre os dois grupos. Os colonos traziam consigo um catolicismo calcado no
ultramontanismo, no qual era imprescindível a presença de um sacerdote que
ministrasse os sacramentos e proporcionasse o conforto espiritual necessário, mas aqui
se depararam com um catolicismo que estava em crise. Os padres brasileiros em geral
não mantinham o celibato sacerdotal, não raro mantinham família, a frequência dos fiéis
à missa e as práticas sacramentais eram baixas, muito em função das taxas cobradas.
Além disso, a participação na Igreja era uma atividade mais feminina, pois os homens
pouco a frequentavam. Por se sentirem diferentes e pelo modelo de organização
religiosa a que estavam habituados, os colonos passaram a reivindicar ao bispo
diocesano um padre que lhes atendesse no seu idioma.
88
A discussão sobre a
religiosidade como um fator de identificação coletiva será melhor tratada no capítulo 2.
Na sua fase inicial, os habitantes da colônia Antonio Rebouças frequentavam a
paróquia Nossa Senhora da Piedade em Campo Largo. Entretanto, a distância de cerca
de cinco horas da Igreja era um impeditivo para boa parte da população, especialmente
para as crianças e os idosos. Essa situação era recorrente para a maior parte das colônias
estabelecidas no Paraná. A necessidade de construir sua igreja com um padre exclusivo
para os atender remete às tentativas de se reelaborar a terra de partida, pois o templo
religioso representava mais que um ambiente para a satisfação das necessidades
espirituais. Comparecer as celebrações religiosas também era um pretexto para tecer
relações sociais. Esse motivo ajuda a explicar essa insistência para que cada colônia
construísse sua capela.
Diante da carência de atendimento espiritual, os colonos se organizaram e
enviaram uma solicitação à Vigararia Geral Forense de Curitiba para serem atendidos
por um sacerdote no seu idioma. Este pedido é encaminhado ao bispo de São Paulo D.
Lino Deodato,
89
que por sua vez designa o padre italiano Pietro Cobalchini, em maio de
88
AZZI, Riolando. A Igreja e os migrantes: a imigração italiana e os primórdios da obra
escalabriana no Brasil (1884-1904). São Paulo : Paulinas, 1987. p.205-211
89
Do ponto de vista religioso, até então, o Paraná era dependente do bispado de São Paulo. Em 02 de
abril de 1879 é criada a Vigararia Geral Forense sob comando de D. Lino Deodato. A diocese de Curitiba,
seria criada em 1892 sob a direção de D. José de Camargo Barros e abrangia os Estados do Paraná e
Santa Catarina. AZZI, Riolando. Op. Cit. p. 207 e 255.
43
1886, com faculdades especiais para o atendimento religioso dos imigrantes italianos
instalados no Paraná, inclusive, celebrações de casamentos e batizados. Cobalchini,
oriundo da Itália, atendia aos imigrantes em São Paulo desde 1884. Ao chegar a
Curitiba, fixa sua residência na colônia Dantas (Água Verde) e passa a visitar todos os
núcleos coloniais da região.
90
Depois de ter tomado conhecimento das necessidades dos colonos e para
amenizar as dificuldades, o padre italiano solicita ao bispo diocesano medidas para
harmonizar e regularizar o atendimento religioso das colônias, tendo em vista que não
seria possível fixar divisas territoriais dentro das paróquias existentes.
91
Dessa
maneira, Pietro Cobalchini propôs a criação de uma capelania curada, nos mesmos
moldes daquela criada em 1875 para os poloneses. Por um decreto episcopal de 14 de
fevereiro de 1888 foi criada essa instituição para o atendimento religioso aos imigrantes
italianos dos núcleos coloniais de Curitiba e região, cuja sede seria a colônia Dantas,
conforme consta no primeiro artigo do decreto:
Catholicos imigrantes italianos e seus filhos domiciliados nos ex-núcleos
coloniais ora emancipados que são os seguintes: Dantas ou Água Verde, Santa
Felicidade, Campo Comprido e Alfredo Chaves da Parochia de Nossa Senhora da Luz
de Corytiba, Antonio Rebouças ou Timbutuva e Jugica Mendes da Parochia de Nossa
Senhora da Piedade de Campo Largo; Santa Maria do Novo Tyrol, Murici e Zacharias
da Parochia do Patrocínio de São José dos Pinhais da sobredita comarca eclesiastica de
Corytiba da Província do Paraná, deste Bispado, que de sua livre e expontânea vontade,
se quiserem inscrever como applicados ou jurisdicionados nesta Capellania.
92
Pelo decreto, as famílias integrantes dos núcleos coloniais citados seriam
desligadas das paróquias a que pertenciam e passariam a integrar a nova organização.
Tal empreitada deveu-se à impossibilidade de se formar uma paróquia territorial
italiana, pelo fato dos núcleos coloniais estarem dispersos, a vários quilômetros de
distância um dos outros. Além do mais, muitas colônias eram mistas com italianos e
poloneses. De fato, o objetivo de Cobalchini era transformar as capelanias dos
imigrantes em verdadeiras paróquias, com a diferença de que não teriam por limites o
território, mas sim a divisão étnica.
93
Essa atitude, provavelmente, foi uma estratégia
para a expansão do catolicismo nos moldes ultramontanos, que os imigrantes traziam
90
Antes da presença do referido sacerdote, o jesuíta italiano Giovanni Maria Cybeo também tinha
visitado aquela região.
91
Ao receber sua apelação, o bispo transfere o encargo ao Vigário Geral Forense que, por conhecer
melhor as circunstâncias locais, encontraria a melhor solução para evitar conflitos de jurisdições
paroquiais BALHANA PILATTI, Altiva. “O papel da Igreja na integração de imigrantes no Brasil
Meridional”. In WESTPHALEN, Maria Cecília (org). Un Mazolini di fiori (vol. III), Curitiba :
Imprensa Oficial do Paraná, 2002. p.207
92
ibid
93
AZZI, Riolando. 1987. Op. cit. p. 266
44
consigo. Ademais, também é evidente o objetivo dos colonos, a reprodução do sistema
paroquial a que eles estavam habituados, no qual a liderança da comunidade estava
encerrada na figura do sacerdote. Entretanto, a proposta de construção de paróquias
étnicas se chocava com as divisões paroquiais vigentes no Brasil até então.
Criada a Capelania, faltavam mais sacerdotes para atender às colônias, uma vez
que Cobalchini não dava conta sozinho. Aliás, um problema recorrente no Brasil nesse
período. No final de 1887, o Bispo de Piacenza na Itália, Monsenhor João Batista
Scalabrini havia criado a ordem dos missionários de São Carlos, cujo principal objetivo
era assistir espiritualmente aos italianos emigrados para a América. Em agosto de 1888,
são enviados ao Paraná dois sacerdotes, Domenico Mantese e Giuseppe Molinari.
Entretanto, eles permaneceram pouco tempo, não se adaptaram ao clima, vindo o
primeiro a ficar doente. Menos de dois anos depois são encaminhados aos Estados
Unidos, onde Mantese vem a falecer logo em seguida.
94
Pouco tempo antes da vinda dos dois missionários escalabrianos, Cobalchini
contava com a ajuda do sacerdote secular Francisco Bonato, que desde o início do
surgimento da congregação de Scalabrini manifestava o desejo de se integrar a Ordem.
Em 18 de abril de 1888, o referido sacerdote foi encarregado de atender às colônias de
Rondinha e Antônio Rebouças. No momento de sua chegada, nessa última, já estava em
vias de ser finalizada a construção da igreja, assim como a casa do padre. A citada
colônia teve a primazia na construção do templo definitivo em alvenaria em relação às
demais. A inauguração da capela contou com a participação de várias autoridades
locais, assim como de colonos provenientes de diferentes regiões.
95
Na verdade, a
chegada do padre Bonato não foi desproposital, pois naquela colônia foi residir também
sua família, o que por sua vez gerou a implicância de Cobalchini, ao qual estava
subordinado.
Parece que ele está muito mais ligado à sua família (que veio ter com ele
alguns meses atrás), e quase pretenderia que estivesse a cargo da missão. Atualmente
convive com ela, na casa que eu mesmo fiz construir pelos colonos de Timbituva para
residência do sacerdote, e goza do benefício daquela terra que eu mesmo obtive de um
rico senhor brasileiro em prol da igreja. Se fosse necessário tirá-lo de seria
complicado, e é preciso usar prudência e esperar que mais tarde possa ser admitido na
congregação, tomando-se outra providência com relação à sua família”
96
94
FEDALTO, Pedro. Op. cit. p. 72
95
FEDALTO, Pedro. Op. cit. p. 45-49.
96
Arquivo Central da Congregação Escalabrina, Roma. In AZZI, Riolando. Op. cit. 1987. p. 245.
45
O padre Pietro Cobalchini foi uma figura emblemática na defesa do catolicismo
ultramontano e contra o liberalismo. Pelos fortes e constantes atritos com os liberais
italianos residentes em Curitiba, foi obrigado a fugir, inclusive sendo jurado de morte.
De caráter intransigente e espírito autoritário o sacerdote não se limitava a tratar
energicamente apenas aqueles que dependiam de suas atribuições religiosas, mas
também atacava abertamente todos aqueles que não partilhavam de suas ideias. A
intransigência do referido sacerdote não se coadunava com a mentalidade do criador da
ordem escalabriana, que defendia a conciliação entre a política nacionalista italiana e a
católica. Muito pelo contrário, Pietro Cobalchini continuava a proclamar a
necessidade de que todos os italianos deveriam se submeter às diretrizes da Igreja.
97
Esse caráter autoritário do sacerdote é reflexo das próprias disputas ideológicas travadas
na Itália no período da pós-unificação. De um lado, estava a Igreja que defendia
arduamente a imposição de um catolicismo intransigente e, de outro, o Estado italiano,
de caráter liberal, tentando impor a população o nacionalismo. Esses embates também
atingiram aqueles que emigraram para a América e podem expressar os desdobramentos
da compreensão do fenômeno da italianidade.
Das perseguições sofridas no Paraná no período da Revolução Federalista, o
sacerdote retorna a sua cidade natal (Bassano) na Itália em 1894,
98
onde mesmo a
distância continua a controlar Francisco Bonato por meio de cartas. Consegue dissuadi-
lo de aceitar a paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Campo Largo que estava
precisando de pároco, e, posteriormente, também tenta fazê-lo desistir de aceitar a
colônia Alfredo Chaves (Colombo)
99
, que foi elevada a curato em 1895.
Com a saída de Cobalchini, Francisco Bonato fica atendendo sozinho, durante
um ano, toda a Capelania, mas continuou a residir em Antonio Rebouças. Em 1895,
chegam dois novos missionários escalabrianos enviados pelo bispo de Piacenza,
Francesco Brescianini e Faustino Consoni, sendo que o primeiro passaria a chefiar a
97
AZZI, Riolando. 1987. Op. cit. p. 236.
98
Pietro Cobalchini permaneceu na Itália até 1896 onde adere definitivamente à ordem dos padres
missionários. Nesse mesmo ano retorna ao Brasil, desta vez vai para o Rio Grande do Sul, onde funda a
colônia de Nova Bassano, que posteriormente se transformaria em cidade. Continua com seu
posicionamento rígido e intransigente, o que por sua vez gera novos atritos. Em 1901 já com sua saúde
debilitada, volta para a Itália onde pouco tempo depois vem a falecer em 30 de janeiro de 1901. AZZI,
Riolando. 1987. Op. cit. p. 339-340.
99
Cobalchini tentou induzi-lo a voltar para a Itália, queria que Bonato ficasse o mais longe possível de
seus parentes, conforme consta num trecho da carta a ele enviada em 25 de janeiro de 1896: “Já faz tempo
que sabia de vossa nomeação como pároco dessa vila. Pedirei a Deus que realize no bem os vossos
desejos. O melhor para vós é a distância de 50 quilômetros dos parentes. Se fosse maior, seria melhor
(...)”AZZI, Riolando. 1987. Op. cit. p.247.
46
organização religiosa, que nesse mesmo ano teve sua sede transferida para o núcleo de
Santa Felicidade.
100
A nova situação que se configurava gerou a insatisfação e o
protesto dos colonos italianos de Campo Largo, principalmente da colônia que perdeu
seu padre residente. Nos anos seguintes a capelania vai se desmantelando, as colônias
de Santa Maria do Novo Tyrol retornam à paróquia a que pertencia anteriormente,
Muricy e Zacarias são desligadas da capelania em 1899, Umbará se torna curato em
1904 e Pilarzinho passa a ser atendida pelos padres passionistas.
101
Os colonos de Antônio Rebouças, não satisfeitos com o atendimento esporádico
dos padres de Santa Felicidade, reivindicam ao bispo de Curitiba o restabelecimento do
curato. Era o ano de 1899, e o bispo diocesano D. José de Camargo Barros estava em
Roma, participando do Concílio Latino Americano. Da Itália mandou autorização ao
governador do bispado para aceitar o padre italiano Pietro Nosadini
102
para atender às
colônias de Antonio Rebouças, Mariana, Balbino Cunha e Rondinha, que deveria ser a
sede. O referido sacerdote manda um relatório pormenorizado da situação de cada
colônia, salientando que depois da saída do padre Antonio Bonato a situação não era
nada boa. Também acusava Francesco Brescianini de não fazer o atendimento regular
das colônias e de tê-las deixado no abandono. Sugere que a sede retorne ao antigo local,
pois a colônia Rondinha não apresentava estrutura suficiente para a residência do
sacerdote. Nosadini não fica muito tempo na direção das colônias; em 1901, dois anos
após sua chegada a Campo Largo, ele sai de Rondinha, e as colônias voltam a ficar sob
jurisdição da Santa Felicidade.
Algum tempo depois, em 1903, o chefe da capelania manda o padre Giovanni
Baptista Bérgia para assistir as colônias, devendo residir em Antonio Rebouças.
Entretanto, pouco tempo depois, em 1904, vagava a paróquia de Nossa Senhora da
Piedade de Campo Largo. Nesse momento o bispo D. Batista Scalabrini, criador da
ordem missionária, estava visitando o Paraná, nessa ocasião o governador do bispado
oferece a paróquia à congregação. Scalabrini aceita a oferta e institui Giovanni Bérgia
como pároco. Então, Antônio Rebouças mais uma vez perde a sede da residência
sacerdotal. O padre escalabriano permanece pouco tempo na direção da paróquia de
100
AZZI, Riolando. 1987. Op. cit.
101
A parte que se segue apoia-se na obra de: FEDALTO, Pedro. Op. cit. p. 74-81
102
Vale destacar que o padre Pietro Nosadini vinha atuando entre os colonos italianos do Rio Grande
do Sul. Aliás, a sua vinda ao Paraná não foi por caso, como pároco em Caxias do Sul, se dedicou numa
intensa campanha contra a maçonaria e os liberais, inclusive, criou um jornal católico mensal no qual
combatia esses grupos. Os ataques promovidos pelas associações católicas contra a maçonaria levaram à
expulsão do referido padre, tendo ele sofrido um atentado em 24 de março de 1898. POSSAMAI, Paulo.
2005. Op.cit. p. 168-169.
47
Campo Largo, pois, tendo ficado doente, retorna à Itália. Esses curtos espaços de tempo
em que os colonos conseguem um sacerdote para residir em sua colônia refletem a
própria carência de clérigos no Brasil naquele momento, situação inversa da Itália.
Em 1905 é designado o padre André Garau para atender às referidas colônias.
Embora os colonos de Rebouças continuassem a insistir para ter um sacerdote, eles não
conseguem mais reaver a sede do curato. O núcleo colonial perde espaço com a
construção das igrejas de Ferraria e Mariana
103
, além do mais Rondinha, por ser uma
colônia maior, com mais famílias, se organiza, principalmente para melhorar sua
imagem, após o relatório negativo de Nosadini, construindo a igreja em alvenaria e a
sede paroquial. Vale destacar que o privilégio de uma capela ser elevada à categoria de
paróquia seria concedido mediante a garantia da digna sustentação do vigário.
104
O
terreno para a construção da igreja foi doado por Libânea Mendes de , cuja família
era proprietária da maioria das terras da região onde foi criada a colônia.
105
Em 07 de
outubro de 1906, por decisão do novo bispo de Curitiba, é criado o curato de Rondinha,
que abrangeria as demais colônias italianas de Campo Largo.
106
Figura 3: Frontispício da Paróquia São Sebastião (Rondinha)
Os acontecimentos citados acima mostram quão forte foram as tentativas de
reconstruir o mais próximo possível a organização social a que esses camponeses
estavam habituados. Ao contrário do Brasil, onde o padre tinha que atender a uma
paróquia com várias capelas em uma vasta região, na Itália predominavam as pequenas
paróquias rurais que, geralmente, tinham um sacerdote para cada 200 ou 300 pessoas
103
Os moradores dessas duas localidades até então frequentavam a capela de Antonio Rebouças.
104
AZZI, Riolando. O catolicismo de imigração. In. DREHER, Martin N. Imigrações e História da
Igreja no Brasil. Aparecida : Editora Santuário, 1993. p. 81.
105
CEQUINEL, Valdemar Joet al. Op.cit. p.33.
106
“Il sottoscreto fu destinado dal superiore provinciano Ver. Padre Faustino Consoni alla cura dalle
colonia Mendes de Sá, Antônio Rebouças, Campina e Dona Mariana nel giorno de febracio del 1906.”
Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971) p. 1.
48
com missas diárias e grande frequência aos sacramentos.
107
Em solo brasileiro, as
disputas entre as colônias que desejavam ser sede do curato, assim como quem
construiria a igreja maior ou a mais imponente, remete ao prestígio e ao status que estes
elementos conferiam aos colonos. Assim, de maneira distinta e guardada as devidas
proporções, é possível fazermos uma aproximação com a lógica do prestígio na
sociedade de corte do Antigo Regime, conforme propôs Norbert Elias.
108
Se naquela
sociedade quanto mais próximo do rei mais status se tinha perante os demais, para os
colonos italianos, naquele momento, era motivo de orgulho e de exibição ter o sacerdote
residindo em sua colônia. Exemplo disso, foram os diversos abaixo-assinados enviados
pelas duas colônias (Rondinha e Antônio Rebouças) para se tornar a sede definitiva do
Curato.
109
Sendo o intermediário entre Deus e os homens, como discutiremos melhor no
capítulo seguinte, o padre, que personificava o poder da Igreja, era uma figura de
destaque entre os colonos, assim como foi uma peça-chave no processo de construção
das identificações etnoculturais do grupo em estudo.
As colônias que disputaram a sede do curato demonstram o quanto as
concepções religiosas dos imigrantes não estavam dissociadas de questões de status,
poder e independência. O templo religioso e seus anexos representava a materialização
das expectativas e dos desejos de autonomia do grupo, e para isso se concretizar,
necessitavam de um guia não espiritual, mas de toda a comunidade. Certamente as
disputas pela sede do curato evidenciam a importância de se reconstruir em novo
território, o mundo conhecido desses camponeses, com seus elementos próprios, que
lhes davam sentido a vida.
Os anos seguintes à criação do curato de Rondinha vão ser marcados pela
expansão da comunidade italiana pela região. Além das quatro colônias, existiam ainda
Ferraria, que embora fosse situada em Campo Largo, durante muito tempo pertenceu a
Santa Felicidade, e Caratuva, situada às margens da estrada Mato Grosso e que foi
colonizada por italianos, poloneses e brasileiros. Até o início do século XX cada colônia
estava em processo de construção de suas igrejas em alvenaria. Novas comunidades
foram formadas pelos descendentes dos imigrantes nas áreas próximas as colônias, que
também vão erigir suas capelas. Até a década de 1930 a paróquia contava também com
as comunidades de São Roque (Botiatuva próximo a Campina), Santa Ana (Figueredo),
107
BEOZZO, Oscar. As Igrejas e a Imigração. In. DREHER, Martin N. Imigrações e História da Igreja
no Brasil. Aparecida : Editora Santuário, 1993. p. 49.
108
ELIAS, Norbert. A sociedade de corte. Lisboa : Estampa, 1987.
109
FEDALTO, Pedro. Op.cit. p.78-80.
49
São Sebastião (Rio Verde a cima), Nossa Senhora da Medianeira (Alto da Medianeira),
São João Baptista e Santo Antonio (São João do Campo de Rondinha), São Benedito
(Salgadinho).
110
Em 02 abril de 1937 é decretado oficialmente o fim da Capelania e são criadas
as paróquias de São Sebastião (Rondinha) e São José (Santa Felicidade). Com a criação
oficial, a paróquia perde parte significativa de seu território, conforme trecho do
documento retirado do Livro Tombo da paróquia de São Sebastião.
“ (...) Com este decreto a Egreja de Rondinha esta elevada a Parochia,
mas vem a perder cinco capellas: S. João Baptista de Campina, S. Benedito de
Salgadinho, S. Antonio e S. João do Capão, e S. Anna de Figueredo. Ficam
tambem escluidas da nova parochia 120 familias, que estão registradas no
livro de batismo deste archivo, assim divididas, 38 familias da colonia de
Campina, 55 familias italianas do centro de Rondinha, 30 familias brasileiras
de Rondinha, mais algumas familias de Mariana e Rebouças. Os excluidos
ficaram muito malcontentes e repetidas vezes foram do Sr. Arcebispo a se
queixar, mas debalde. Os padres de S. Carlos não puderam fazer nada, porque
não foram convidados a presentar as divisas e proprio ponto de vista, nem
tampouco consultados, mas foram aceitadas as divisas como foram
apresentadas pelo P. de Campo Largo, P. Aloisio Domanski. Resentemente a
parochia é em forma de retangulo com o comprimento de 18km por 5 km e
compreende as capellas de Mariana, Timbituba, Rebouças e Ferraria.”
111
Segundo o fragmento apresentado, a decisão episcopal gerou a insatisfação dos
colonos, que assim como nas situações anteriores manifestaram seu descontentamento.
A mudança provocou um corte na trajetória do grupo, pois representou a quebra da
unidade étnica das famílias de descendentes de imigrantes italianos, que desde seu
estabelecimento em Campo Largo estavam ligadas pela paróquia.
112
A redução do
território paroquial pode estar ligada a vários fatores, entre eles, uma disputa de poder
com a paróquia vizinha, ou mesmo uma tentativa de quebrar a unidade dos colonos em
torno de uma paróquia étnica. Afinal de contas, vivia-se o período conturbado do Estado
Novo, e foi nesse contexto que houve a proibição dos idiomas estrangeiros. É possível
que as restrições políticas desse momento também interferissem em atos referentes a
jurisdições paroquiais. Ademais, as acusações contra o pároco João Morelli, num artigo
publicado no jornal Correio do Paraná algum tempo depois, podem ter ligação com as
110
Os nomes entre parênteses referem-se às localidades onde estão essas comunidades.
111
Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971), folha 14 f. e v. O documento na íntegra
encontrar-se no anexo.
112
Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971), folha 15f. Também pouco tempo após a
publicação do artigo, é registrado o óbito do padre João Morelli em 05 de junho de 1937, conforme consta
no livro tombo. Op.cit.
50
querelas territoriais. Sobre o episódio transcrevemos o que foi registrado no livro
tombo:
“No dia (espaço em branco) no giornal vespertino correio do Paraná,
appareceram uma orrivel calunia contra o padre João Morelli intitulando-o como
comunista e propagador do credo moscovita na paróquia. A tendenciosa calunia
suscitou numa geral indignação entre os conhecidos e paroquianos do bom P. João, que
logo foram a protestar e fizeram retratar-se o jornal no dia seguinte.”
113
Embora não seja a intenção da pesquisa discutir as implicações políticas do
período repressor do Estado Novo contra a etnia italiana, é possível que não seja apenas
coincidência a relação entre a diminuição do território paroquial e aquele momento
histórico, uma vez que muitas ações tomadas pelas autoridades brasileiras tentavam
desagregar as comunidades étnicas. A criação oficial da paróquia de São Sebastião em
1937 marca a baliza temporal final deste trabalho, cujo recorte também foi aplicado nas
fontes utilizadas nesta pesquisa: os registros paroquiais. É dentro dessas balizas
cronológicas que discutiremos nos capítulos seguintes como os imigrantes e
descendentes construíram, ou melhor, reconstruíram seu mundo deixado para trás, e
assim manifestaram sua identidade.
Figura 4: Vista aérea da paróquia de São Sebastião em 1936
Fonte: CEQUINEL et ale. Op. Cit. p.45
113
Op.cit..
51
2. Construindo identificações étnicas: família, religiosidade e nomes
“No mundo que ficou para trás, a comunidade
encontrava-se intimamente envolvida nos três
acontecimentos vitais da vida de uma pessoa: o
nascimento, o casamento e a morte.
Simbolicamente, esse tipo de participação da
comunidade assevera o modo como os membros
individuais da família, eram parte de uma
coletividade maior do que a família”.
1
“Foi por meio de um cotidiano orientado pela
religião que os pioneiros conseguiram reproduzir
seu modo de vida no Brasil e permitir que as
primeiras gerações de nascidos no Brasil
mantivessem e reproduzissem o habitus adquirido
dos antepassados (...)”
2
“Na pessoa dessas crianças reúne-se o que ela
trouxe e o que elas conservam de seu pai, a
esperança de duas sucessões, a reverência para
com duas linhagens de antepassados de onde são
retirados, segundo regras de difícil reconstituição,
os nomes dados a cada uma delas.”
3
A mudança para um local desconhecido sempre vem acompanhada de um
profundo corte, de rupturas e da necessidade do restabelecimento de uma nova ordem.
Certamente, a maioria dos grupos europeus que cruzaram o Atlântico, para se
estabelecer em algum ponto da América, no período da Grande Emigração, trazia em
sua bagagem, juntamente com os sonhos de uma vida melhor, com o espírito de
aventura e o desejo de busca pelo “novo”, também uma sensação de tristeza e
ressentimento para com a sua terra natal, pois esta não mais oferecia condições de
viver.
4
Embora a mudança venha acompanhada de um grande trauma, que separa o
mundo conhecido do desconhecido, ela não significa a perda das referências
socioculturais e simbólicas do local onde eles foram socializados, muito pelo contrário,
1
SHORTER, Edward. A formação da família moderna Lisboa : Terramar, 1975. p. 229.
2
ZANINI. Maria Chitolina. Italianidade no Brasil Meridional: a construção da identidade étnica na
região de Santa Maria-RS. Santa Maria : editoraufsm, 2006. p.140.
3
DUBY, Georges. Idade Média, Idade dos Homens: Do amor e outros ensaios. São Paulo :
Companhia das Letras, 1990. p. 15.
4
As questões referentes à sociedade italiana pré-imigração e as condições que levaram ao grande êxodo
são discutidas no primeiro capítulo.
52
as atitudes dos diversos grupos que para migraram foi no sentido de reconstruir a
nova vida na sociedade receptora, firmemente ancorada nas estruturas que lhes eram
conhecidas. Portanto, no plano cultural, a imigração implicou muito mais em uma
continuidade com os símbolos e valores da sociedade emissora.
O objetivo deste capítulo é discutir como o grupo em estudo construiu
mecanismos de identificações etnoculturais, tendo em vista o choque o cultural e o
confronto estabelecido com o outro. Nessa direção, nossa análise se centrará em alguns
elementos utilizados pelos imigrantes e seus descendentes, como sinais diacríticos da
construção de um sentimento de pertencimento grupal, vale dizer, da identidade. A
escolha desses signos que serão tratados a seguir (família, as manifestações religiosas os
nomes de batismo) não foi aleatória, ao contrário, está diretamente ligada às
informações contidas na principal base documental utilizada neste trabalho, os registros
paroquiais, e porque consideramos que são extremamente importantes para a construção
da identidade coletiva do grupo em estudo.
2.1 De camponeses do Vêneto a colonos ítalo-brasileiros: a construção da
identidade étnica.
Para reconstruir o contexto inicial da colonização, ou melhor, o choque cultural
entre os imigrantes e os luso-brasileiros, e da emergência do que podemos chamar de
uma cultura imigrante, é necessário refletirmos sobre como foram estabelecidas as
relações de interdependência entre os dois grupos. A reconstituição de determinados
comportamentos socioculturais característicos do grupo étnico, assim como as diversas
e variadas identidades construídas historicamente, constitui-se em mecanismos de
defesa à própria sobrevivência do imigrante e seus descendentes, cuja função principal
foi a sua melhor integração ao meio em que foram inseridos.
5
Dessa maneira, foi na
percepção da diferença com os outros grupos em que estavam em contato que esses
indivíduos viram na etnicidade em comum uma forma de autodefesa.
Vimos no capítulo anterior que os imigrantes italianos, em sua quase totalidade,
eram camponeses, e com seu estabelecimento em Campo Largo, passaram a fazer o que
sabiam e o que justificava sua presença aqui, ou seja, a dedicação à agricultura. Num
primeiro momento, essas pessoas mantiveram-se ocupadas em reorganizar-se
5
ANDREAZZA, M.L. & NADALIN, S.O. Op.cit. p. 71
53
economicamente e estabilizar suas vidas. Tiveram de lidar com as dificuldades de
adaptação, próprias de quem migra para um local totalmente novo. Esses obstáculos
foram maiores, principalmente, nos primeiros anos, em função da necessidade, por
exemplo, do conhecimento da região, da adaptação ao clima, e da obtenção de um
melhor aproveitamento do solo e das culturas mais propícias para o plantio.
Organizados em lotes rurais, esses indivíduos passaram a se socializar com seus
próprios compatriotas, e assim a partilhar também das dificuldades. É claro que, muitos
deles, provavelmente, não se conheciam na Itália antes de emigrar, passaram a se
socializar durante a travessia, nos barracões provisórios e na própria colônia. Além do
mais, o fato de a grande maioria ter migrado em famílias favoreceu tanto o processo de
enraizamento na sociedade de adoção como ofereceu maiores condições de preservar
sua cultura, seu ethos camponês, enfim seu habitus.
6
Conforme mencionamos
anteriormente, a emigração também foi uma maneira de salvar um modo tradicional de
viver do camponês, que o avanço do capitalismo vinha desestruturando.
Se, de um lado, havia os italianos iniciando seu processo de adaptação na nova
sociedade, por outro, existiam os brasileiros que sentiam um “certo estranhamento” com
os estrangeiros. Acreditamos que muitos indivíduos da sociedade receptora não viam
com bons olhos a imigração. Estes assistiam ao Estado patrocinar a vinda de imigrantes
com dinheiro público, ao mesmo tempo que eles permaneciam destituídos dos meios de
acesso a terra, sendo que muitos dos que a ocupavam, sem possuir o título de
propriedade, foram expulsos dela em prol da imigração.
7
Na região de Santa Felicidade,
em Curitiba, por exemplo, a ocupação dos terrenos por imigrantes foi causa de disputas
com os nacionais, que exigiam pagamento em troca de sua retirada, possivelmente pelo
fato de as terras adquiridas pelos estrangeiros serem áreas de exploração do mate, uma
das principais atividades econômicas paranaenses da época.
8
Vários depoimentos do início da colonização também mostram que o italiano era
muitas vezes escarnecido ou maltratado pelos luso-brasileiros, que se achavam com
6
Para Pierre Bordieu, o habitus é uma mediação entre a estrutura e a prática, uma gramática geradora de
condutas. Uma prática social internalizada pelo indivíduo. BORDIEU, Pierre. A economia das trocas
simbólicas. p.104. Nessa direção a emigração, para muitos italianos, representava uma forma de
sobreviver como camponeses, mantendo suas tradições e modos de vida que as transformações devido à
expansão do capital ameaçavam desestruturar.
7
POSSAMAI, Paulo. 2005.Op. Cit. p.77.
8
PILATTI BALHANA, Altiva. Santa Felicidade: Uma paróquia veneta no Brasil. Curitiba : Fundação
Cultural, 1978. p. 61.
54
maiores direitos de brasilidade que os primeiros, que buscavam uma nova pátria.
9
O
imigrante Andréa Pozzobon, que foi para o Rio Grande do Sul, em suas memórias,
assim descreveu a recepção que tiveram quando ele e seu grupo desembarcaram no
porto de Santos:
“(...) continuamente a ‘negrada’ nos apupava com os pouco honrosos nomes
de carcamanos, gringos, ladrões, filhos da... e outras boas companhias”.
10
Embora houvesse certas fricções entre os dois grupos, os italianos deveriam
interagir com os brasileiros, pois precisavam vender seus excedentes, bem como
comprar os produtos de que necessitavam e de que não dispunham na colônia. E para
isso precisariam aprender o português. Essas necessidades econômicas, ao mesmo
tempo que contribuíram com a inserção dos imigrantes na sociedade receptora,
provocaram o surgimento de fricções interétnicas, quando as diferenças entre os dois
grupos afloraram. De acordo com Roberto Cardoso de Oliveira, “a noção de fricção
interétnica é uma maneira de descrever a situação de contato entre grupos étnicos
irreversivelmente vinculados uns aos outros, a despeito das contradições expressas
através de conflitos (manifestos) ou tensões (latentes) – entre si existentes.”
11
Em
relação à emergência da identidade étnica, essa situação de contato tem um caráter
duplo, pois perante o outro, também os nacionais passam a se ver como brasileiros.
De outra forma, conforme propõe o conceito de estabelecidos e outsiders de
Norbert Elias, esse olhar dos brasileiros para com os imigrantes remete à importância da
antiguidade de residência, da ancestralidade partilhada e do domínio sobre o local, para
afirmar sua superioridade. O grupo outsider (nesse caso, os imigrantes), por ser recém-
chegado, era visto sob suspeita, aliás, um sentimento comum dentro de uma situação
interétnica. Elias salienta que o fato de a ‘antiguidade de residência’ ser encarada como
um grande trunfo social, como motivo de orgulho, satisfação e poder, pode ser
observado em muitos contextos sociais diferentes.
12
O ressentimento dos nacionais em
relação aos imigrantes poderia estar ligado ao fato de que eles estariam usufruindo de
bens (como terras, recursos públicos) que por direito seriam dos brasileiros. Esta
aversão suscitava uma certa antipatia com os estrangeiros, aos quais, muitas vezes,
9
HOHLFELDT, Antonio. Desenvolvimento cultural na zona de imigração italiana. In. _____________.
Imigração italiana: estudos. Caxias do Sul, EST/ UCS : 1979. p. 212.
10
POZZOBON, Zola Franco in POSSAMAI, Paulo. O processo de construção da identidade ítalo-sul-
riograndense (1875-1918). Revista História Unisinos, vol.11, n°1, jan/abr2007. p. 51
11
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto Op. Cit. p.6
12
ELIAS, Norbert & SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders. Trad. Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. p. 168.
55
atribuíam a culpa pelas suas dificuldades econômicas. Talvez, esse estranhamento tenha
contribuído para que no início a maior parte das famílias tenha evitado uma
aproximação mais efetiva, com exceção, é claro, da elite que apoiava a imigração.
Por outro lado, à medida que os imigrantes vão se estabelecendo
economicamente, principalmente a partir dos descendentes, era comum eles se sentirem
e mesmo se atribuírem o qualificativo de mais trabalhador do que o brasileiro, a quem
se referiam como gente preguiçosa e não devotada ao trabalho. Aliás, esse preconceito
para com o natural da terra não foi próprio apenas do italiano. Entre os alemães, essa
associação de que os brasileiros (designados como caboclos) eram indolentes e
preguiçosos, por isso eram pobres, também é evidente.
Aliás, diversos estudos sobre
grupos étnicos salientam essa questão. Conforme constatou Odinei Fabiano Ramos
13
,
para o município de Prudentópolis no Paraná, estando em condição de maioria, era
comum os ucranianos se referir ao “caboclo brasileiro” como gente mais preguiçosa
que não gostava de trabalhar.
14
A tendência de proclamar o feito dos imigrantes como
desbravadores, que venceram a natureza selvagem e prosperaram graças ao trabalho
árduo e contínuo e que trouxeram o progresso, foi fenômeno comum para os diversos
grupos étnicos, e parece ser enfatizada principalmente a partir da geração dos
descendentes.
Na cultura imigrante era iminente uma relação positiva com o trabalho, diferente
do brasileiro. Essa característica dos grupos estrangeiros vinha ao encontro das
expectativas da sociedade brasileira (das elites principalmente), que tinha por objetivo
implantar um modelo de produção agrícola e de trabalhador oposto ao da população
nativa, a ideia dos colonos morigerados e laboriosos.
15
Nesse sentido, Elias coloca que,
muitas vezes, os outsiders se esforçavam para melhorar sua imagem, pois, ao
ressentirem-se da sua condição, procuravam elevar-se do status inferior que lhes era
atribuído, assim, diminuindo a relação de forças na balança de poder.
16
O depoimento
do imigrante Paulo Stropparo recolhido por Pedro Fedalto nos uma ideia dessas
fricções ocorridas:
13
RAMOS, Odinei F. Ucranianos, poloneses e brasileiros: fronteiras étnicas e identitárias em
Prudentópolis – PR. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós graduação em História da UNISINOS,
2006.
14
Conforme o estudo de Emílio Willens. WILLENS, Emílio. A aculturação dos alemães no Brasil. São
Paulo : brasiliana volume 250, 1980. p. 326.
15
SILVA, Maria R.G. Checcuci Gonçalves da. Imigração italiana e vocações religiosas no vale no
Itajaí. Blumenau : Edifurb/Editora da Unicamp, 2001. p.181.
16
ELIAS, Norbert & SCOTSON, John. Op. cit. p. 168
56
“(...) Era muito pobre. Saí da colônia Antonio Rebouças e vim morar no
Pirapó. Depois vendi tudo e mudei-me para Guamirim, por causa das intrigas. Eu não
sou homem de encrenca. Quero paz com todos. Trabalhava de dia e de noite. Cheguei a
vender 500 cargueiros de milho ao Dr. Emílio Gomes, isto é, mil sacos. Os caboclos
tinham raiva de mim, porque trabalhava demais e produzia muito”
17
Talvez, essas situações de conflito fossem comuns tanto aos homens como às
mulheres, pois, embora fossem eles quem gerenciassem a unidade produtiva familiar,
não era fato incomum mulheres - especialmente as mais velhas - participarem nos
negócios, como na venda dos produtos da colônia.
18
De qualquer forma, embora os
imigrantes estivessem alocados em colônias rurais, tendo seus próprios compatriotas
como vizinhos, eles não deixavam de se encontrar numa constante situação de
estranhamento, pois a interação com os brasileiros era inevitável e, mesmo, necessária.
Percebendo a diferença, os colonos cada vez mais buscaram se recompor a partir dos
referenciais da sua terra de origem e assim vão reconstruindo sua identidade como um
grupo étnico.
O conceito de grupo étnico está sendo empregado conforme propõe o
antropólogo Frederik Barth. Para ele: “a importância principal reside no fato de que
grupos étnicos são categorias de atribuição e idealização realizadas pelos próprios atores
e, assim, têm a característica de organizar a interação entre as pessoas.” Nessa direção, a
forma pela qual as pessoas partilham e manipulam determinados traços da cultura é o
que inclui ou exclui do grupo, determina o pertencimento e por conseguinte a
emergência de “fronteiras étnicas”.
19
De acordo com Ruano-Borbalan, a identidade se manifesta no confronto
estabelecido com o outro, e tem por principal finalidade afirmar a diferença. Porém, ela
não é um atributo imutável do indivíduo ou da coletividade, ela se elabora, se constrói e
se atualiza na interação entre indivíduos, grupos e suas ideologias.
20
Em relação à identidade étnica, Barth afirma que esta, como qualquer outra
identidade coletiva, adquire relevância na percepção da diferença, quando se estabelece
o confronto com o outro. Ela é construída e transformada na interação de grupos sociais
por meio de processos de inclusão e exclusão, definindo aqueles que pertencem ou não
17
FEDALTO, Pedro. Op.cit. p.199. O depoente tinha 91 anos a época que o autor escreveu o livro (1978).
Dessa forma, ele está se referindo ao período inicial da colonização, as primeiras gerações.
18
Conforme Altiva Pilatti Balhana, em Santa Felicidade, as carroças que levavam os produtos da colônia
para Curitiba, era conduzida por mulheres. Vir a cidade conduzindo uma carroça era um privilégio que
pertence geralmente a mulher mais velha da família. PILATTI BALHANA, Altiva. Santa Felicidade:
um processo de assimilação. Curitiba : UFPR, 1958. p.92-93.
19
BARTH, Frederik. Op.cit.. p.190-194.
20
RUANO-BORBALAN, Jean-Claude. La construction de L’identité. Diffusion Presses Universitaires
de France : Sciences Humaines Éditions, 2004. p.1
57
a determinado grupo. O elemento que diferencia a identidade étnica das outras formas
de identidade coletiva é o fato de esta ser orientada para o passado, que não é o passado
da ciência histórica, mas sim um passado reelaborado, e muitas vezes mitificado, aquele
composto pela memória coletiva.
21
a identidade cultural, segundo Denys Cuche,
diferente da cultura que pode existir sem consciência de identidade, remete a uma
norma de vinculação, necessariamente consciente, baseada em oposições simbólicas.
22
A
identidade cultural refere-se à questão mais abrangente da identidade social, da qual ela
é um dos componentes.
23
Assim, o pertencimento a uma determinada cultura também se
por processos de inclusão e exclusão. Ela aparece como uma forma de distinção
nós/eles, baseada essencialmente na diferença cultural. Segundo essas concepções, a
perpetuação de determinados traços culturais para marcar a diferença com os grupos em
que se está em contato determinaria a emergência do que poderíamos chamar de
identidade etnocultural. Dessa maneira, interessa-nos analisar como determinados
valores pertencentes à cultura do norte da Itália foram utilizados para marcar o
pertencimento étnico, para a construção da etnicidade, tendo em vista o confronto
estabelecido com o luso-brasileiro.
Um dos primeiros estranhamentos que os imigrantes devem ter percebido foi o
fato de eles terem sido designados indistintamente como “italianos” pelos brasileiros e
de falarem a “língua italiana”, que eles não se identificavam como tais e falavam
diferentes dialetos. Esse estranhamento se justifica pela situação da Itália no período
anterior à Grande Emigração. Retomando o que discutimos rapidamente no capítulo
anterior, a Itália, em relação às demais nações europeias, obteve sua unificação política
relativamente tarde (o processo foi concluído em 1870, e ainda com questões
territoriais pendentes que se resolveriam com o final da Primeira Guerra Mundial), e
foi basicamente um projeto liderado pelas elites liberais do norte da península, que uniu
sob a égide de uma nação regiões que tinham características econômicas, sociais e
culturais bastante distintas. O desfecho desse processo teve como uma das principais
consequências a extinção dos Estados Pontifícios e a perda da hegemonia que, por
vários séculos, o papado exerceu sobre a região. Como consequência, criou um grande
antagonismo entre o Estado italiano e a Igreja Católica que perdurou por décadas.
21
POUTIGNAT, Philippe & STRIFF-FENART, Joceleyne. Teorias da etnicidade. São Paulo: Unesp,
1998. p. 11-15.
22
CUCHE , Denys. Op.cit. p.176.
23
CUCHE, Denys. Op.cit. p. 177.
58
No momento em que estava começando o movimento emigratório transatlântico,
a identidade italiana estava em início de seu processo. A forte oposição entre a Igreja
Católica e Estado italiano no início da unificação criou um grande empecilho para a
formação de uma consciência nacional. Ainda era muito cedo para o nacionalismo criar
raízes. Aliás, o nacionalismo era uma ideologia das elites liberais e burguesas que
encontrava pouca ressonância na população camponesa. Como salienta John Breuilly,
“nas sociedades agrárias, as Igrejas e as dinastias eram as únicas instituições capazes de
garantir uma identidade coletiva que abrangesse um âmbito maior do que o da aldeia ou
região”
24
. Assim, muitos dos que emigraram para América não compreendiam o que
significava a unificação política e o projeto nacionalista do Estado italiano. A
população, que era majoritariamente rural nesse momento, além de pouco ou nada ter
participado das lutas de unificação do país, não se sentia italiana, ao contrário, o que
predominava era a identificação pela região (eram vênetos, lombardos, toscanos etc.).
Sua consciência de grupo, geralmente, não ia além da aldeia em que viviam. Além
disso, para a maioria dos camponeses, acostumados a viver sob a autoridade da Igreja,
ser italiano significava ser liberal e, por consequência, anticatólico.
Outro elemento importante que criava empecilhos à unidade italiana era a
língua. No momento da unificação, apenas uma minoria falava o idioma oficial: o
italiano standard, em torno de 2,5%, e nesse percentual incluía-se basicamente a elite.
25
Os imigrantes que para cá vieram falavam dialetos, que variavam de uma região a outra.
No próprio Vêneto não existia um único dialeto. Assim, quando se estabeleceram no
Brasil, a língua falada (o talian ou taliani) foi resultante de uma mescla das variações
dialetais, ou seja, também uma língua reconstruída.
Tendo em vista a situação complexa em que se configurava a Itália, no momento
que partiram os imigrantes que vieram para Campo Largo, entendemos que esses
indivíduos não se reconheciam como italianos, pois a identidade não é algo inato,
existente na consciência, no momento do nascimento, muito pelo contrário, é algo
formado ao longo do tempo, mediante processos conscientes e inconscientes. Também
não é algo acabado, está sempre em andamento.
26
Para os imigrantes a primeira
identificação recebida e assumida é a de estrangeiro, e num momento posterior a de
italianos. O processo de passagem de vêneto para italiano genérico ocorreu devido à
24
BREUILLY, John in POSSAMAI, Paulo. 2005, Op. cit. p. 23
25
POSSAMAI, Paulo. 2005, Op.cit. p.29.
26
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro : DP&A, 2005. p.38
59
forma como a sociedade receptora os concebia, ou seja, indistintamente como italianos.
No entanto, esse processo não se deu de forma rápida, foi construído de forma lenta,
principalmente a partir da segunda geração.
Ao serem instalados no novo território, esses indivíduos reconstruíram suas
vidas pautados por referenciais socioculturais da sua região de origem, das suas aldeias,
atribuindo aos seus valores o significado do que era ser “italiano”, pois, para muitos
deles, a Itália nada mais era do que o mundo rural que eles nasceram e passaram sua
infância, o mundo que lhes era conhecido. De acordo com Castells,
“a construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia,
biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais,
pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso. Porém, todos esses materiais são
processados pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades, que reorganizam seu significado em
função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como
em sua visão de tempo/espaço”.
27
Para Castells, assim como para Denys Cuche, a identidade é construída e
reconstruída a partir de determinantes simbólicos. Muito próxima das ideias defendidas
pelos dois autores está a de Roberto Cardoso de Oliveira, para quem a essência da
identidade étnica é o fenômeno da constrastividade das relações interétnicas, a
identidade de um grupo surge em oposição ao outro principalmente pela diferença
cultural.
28
Dessa maneira, ao fazerem uso de determinados signos culturais para
perpetuar seus valores, assim como para marcar a diferença para com outro, os
imigrantes e seus descendentes construíam sua identidade. À medida que o processo de
enraizamento se efetivava, ao reiterarem a diferença com os brasileiros, eles assumem
para si o que inicialmente era uma maneira de ver dos brasileiros. Passam a se
identificar como italianos, ou melhor, como ítalo-brasileiros.
Embora a afirmação da identidade étnica não tenha sido um processo
homogêneo nas áreas de colonização italiana no sul do Brasil, foi frequente a
recorrência a determinados valores que foram elevados a categorias de sinais diacríticos,
tais como: a língua (o talian), a culinária, a música e o folclore, a e a catolicidade, a
família e o trabalho.
29
Era utilizando esses signos que esses indivíduos rememoravam a
lembrança de uma terra que ficou para trás e, assim, marcavam a diferença com os
outros grupos. Segundo Denys Cuche, o que cria a separação, a fronteira” é a vontade
27
CASTELLS, Manuel. Op.cit. p.23
28
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Op. cit. p.5
29
ORO, Ari Pedro. “Mi son talian” Considerações sobre a identidade étnica dos descendentes de italianos
no Rio grande do Sul. In: BONI, Luis de. A presença italiana no Brasil. vol. III Porto Alegre :
Fondazione Giovanni Agnelli. Ed. Est., 1996. pp.612-617
60
de se diferenciar e os usos de certos traços culturais como marcadores de sua identidade
específica.
30
Nesses termos, o que estamos considerando como a italianidade, ou
melhor, a “ítalo-brasilianidade” é justamente a defesa dos costumes e das tradições
herdados da sociedade original, que congregava o pertencimento dos indivíduos ao
grupo, e também marcava a diferença em relação aos demais.
Conforme apontamos no início deste capítulo, vamos nos deter em alguns desses
signos que foram elevados à categoria de sinais diacríticos, utilizados pelo grupo na
reconstrução de sua identidade, tais como a família, a sociabilidade religiosa e os nomes
de batismo, a serem analisados especialmente no terceiro capítulo. É claro que a
reconstrução da aldeia camponesa nas colônias italianas de Campo Largo poderia ser
visualizada a partir de diferentes aspectos. Porém, como mencionamos, nossa análise
está condicionada às informações contidas num conjunto específico de fontes, os
registros paroquiais.
Para entendermos como os imigrantes e descendentes reorganizaram sua vida
sociocultural nas colônias de Campo Largo, é necessário conhecer como esta se
configurava no norte da Itália antes de eles partirem, para verificarmos qual o impacto
da imigração no processo de reconstrução, assim como o papel desempenhado pela
nova realidade na redefinição dos valores e do modo de viver.
2.2 Nas aldeias do norte da Itália: a família camponesa
2.2.1 A estrutura dos domicílios camponeses
Atualmente quando falamos em família, rapidamente pensamos no casal e os
filhos, ou ainda em um conjunto de pessoas ligadas entre si pelo casamento ou filiação.
Da mesma maneira, como consequência dessa concepção, imaginamos esses indivíduos
vivendo juntos sob um mesmo teto. Entretanto, esse modelo de família, chamada pelos
demógrafos de família nuclear, nem sempre foi dominante e, em muitas regiões, pode
ser um fenômeno muito mais recente do que se imagina.
Conforme aponta Jean-Louis Flandrin, a leitura dos dicionários franceses e
ingleses dos séculos XVI e XVII revela que o conceito de família estava dividido entre
a ideia de residência comum e a de parentesco, que se encontram unidas na definição
30
CUCHE, Denys. Op. cit. p.200
61
que é hoje mais corrente. A palavra evocava de fato, com muito mais frequência, um
conjunto de parentes que não moravam juntos e designava também, frequentemente, um
conjunto de pessoas que coabitavam e que não estavam necessariamente ligadas pelo
sangue ou pelo parentesco.
31
Nesse sentido, a definição de família para o passado não
pode ser reduzida a uma simplificação, muito pelo contrário, torna-se bastante complexa
e envolve uma diversidade de arranjos possíveis.
Entre os camponeses, que são os indivíduos com que estamos trabalhando, na
Europa pré-industrial, a organização familiar variava de região a região, e certamente
estava diretamente ligada a um elemento central: a terra. O acesso ou não à propriedade
poderia determinar se o domicílio seria simples ou complexo, assim como as idades ao
casar para moças e rapazes, as taxas de celibato definitivo, bem como as maneiras pelas
quais ocorriam a transmissão da herança, elementos tão importantes para a reprodução
dos sistemas campesinos.
Nas últimas décadas, estudos de diversos demógrafos e historiadores da família
propuseram uma nova abordagem, de modo a contestar os tradicionais modelos
explicativos propostos por J. Hajnal e P. Laslett, que dividiram a Europa pré-industrial
em padrões.
32
A teoria de que o continente europeu teve um único padrão de
nupcialidade, é em parte, pautada na crença de que o desenvolvimento demográfico tem
sido uniforme. Entretanto, alguns trabalhos, como aqueles de Robert Rowland, têm
sugerido que o modelo de casamento europeu tem se desenvolvido regionalmente e não
necessariamente de maneira cronológica, contestando assim as tipologias propostas
pelos dois autores citados.
33
A Itália, assim como outras regiões do continente, constituem exemplos da
impossibilidade de se definir modelos únicos de padrões de organização.
31
FLANDRIN, Jean-Louis. Famílias: parentesco, casa e sexualidade na sociedade antiga. Lisboa :
Estampa, 1991. p.12
32
De acordo com esses autores, o leste seria caracterizado por idade precoce ao casar tanto para homens
como para mulheres, baixas taxas de celibato e predomínio de domicílios simples, como no oeste a idade
ao casar seria mais elevada, com taxas mais altas de celibato e presença de domicílios
complexos.RETTAROLI, Rosella. “Age at marriage in nineteenth-century Italy” Journal of family
history. vol. 15, n°4, 1990. pp. 409-411.
33
Para Rowland, as regiões mediterrânicas da Europa apresentariam padrões diferenciados de
desenvolvimento demográfico. As regiões sul de Portugal, Espanha, Itália e a Sicília seriam
caracterizadas por idade precoce ao casar da mulher (20 a 22 anos) e mais tarde do homem (25 a 27 anos),
com predomínio de domicílios simples e residência neolocal. Contrariamente, no norte de Portugal, na
Galícia e Toscana haveria uma presença mais acentuada de pessoas que casavam-se mais tarde (mulheres
entre 25 a 27 anos e homens entre 26 e 28) com predomínio da família do tipo extensa em domicílios
complexos. WOOLF, Stuart. “The Southern European family again. Some perspectives of research”. In.
Família, casa y trabajo. Anais do Seminário Família y elite de poder em el Reino de Murcia. Siglos
XV-XIX. Universidad de Murcia, 1997. p. 37-38.
62
inconsistências na definição de um sistema familiar em particular, como, por exemplo,
sinais da presença de casamento tardio em conjunção com altas proporções de
domicílios complexos, e de taxas expressivas de celibato coexistindo com a presença de
idade precoce ao primeiro casamento, baixas taxas de celibato e domicílios simples. No
caso do sul da Europa, a coexistência de diferentes comportamentos dificulta a
percepção de que um único padrão mediterrânico.
34
Assim, não se pode encaixar
regiões que apresentam diferentes características dentro de um modelo único de
desenvolvimento demográfico. É necessário levar em consideração os determinantes
culturais e econômicos nos comportamentos referentes à composição dos domicílios e
aos padrões de casamento.
Essa coexistência de padrões diferenciados de organização familiar é bastante
evidente no norte da Itália, o qual engloba o Vêneto. Essa região é tão rica na
diversidade de situações que faz dessa península um dos casos mais significativos da
Europa, para se acessar o impacto da vasta gama de fatores ecológicos, econômicos,
demográficos e culturais na estrutura dos domicílios e na vida familiar.
35
Segundo os
autores, em nenhuma outra parte do continente é possível mover-se tão rapidamente por
uma sucessão de zonas ecológicas distintas, que ajudam a explicar as variações nas
formações familiares e os diferentes níveis demográficos.
No que concerne ao Vêneto, vimos no capítulo anterior que era uma região
relativamente heterogênea que, conforme a tipologia de Emílio Franzina, pode ser
dividida em aproximadamente dois grandes setores. Quatro províncias estavam situadas,
em sua maior parte, nas áreas de montanha (Vicenza, Treviso, Belluno e Udine) como
as outras quatro (Verona, Rovigo, Pádua e Veneza) compreendiam as planícies do vale
do Pó. Assim, a topografia das terras no Vêneto também determinava como esta era
ocupada (pequenos proprietários ou bracciantis trabalhando para os grandes
proprietários) e, consequentemente, o tipo de família.
As áreas de montanhas, pelo seu próprio relevo, eram caracterizadas por uma
baixa quantidade de terras produtivas, sendo ocupadas basicamente por pequenos
proprietários.
36
Nesse tipo de organização, não para a Itália, mas também para a
Europa em geral, antropólogos e historiadores têm sugerido que eram evitadas a
34
WALL, Richard. “Characteristics of european family and household systems”. In. Família, casa y
trabajo. Anais do Seminário Família y elite de poder em el Reino de Murcia. Siglos XV-XIX.
Universidad de Murcia, 1997. p. 20-21.
35
VIAZZO, Píer Paolo & ALBERA, Dionigi. “The peasant family in northen Italy, 1750-1930: A
Reassessment.” Journal of family history. vol. 15, n°4, 1990. pp. 461-463.
36
Ibid.
63
fragmentação e partilha da propriedade. Dessa maneira, predominavam as famílias
tronco (famille-souche), na qual conviviam por longos períodos num mesmo domicílio
três ou até quatro gerações.
37
Entretanto, alguns autores têm sugerido que a divisão da
propriedade era evitada porque as áreas de montanhas eram ligadas por uma imbricada
combinação, que incluía: pastagens, bosques, áreas de cultivo e prados, cujo equilíbrio
não poderia ser rompido pela subdivisão.
38
Sendo assim, era comum muitos dos irmãos,
depois de casados, continuarem a morar na propriedade paterna, inclusive, convivendo
juntos por anos ou até mesmo décadas, após a morte do pai. Diferentes tipos de
comportamentos familiares faziam com que as regiões montanhosas do norte da Itália
possuíssem altas taxas de domicílios complexos, com diferentes regras de residência.
39
Aparentemente essa organização parece ser confusa ou mesmo contraditória. Se
as áreas de montanhas possuíam baixas quantidades de terras agricultáveis, como era
possível manter uma família com muitos membros? As migrações sazonais em direção
ao interior da Europa serviam como uma forma de suprir as carências econômicas de
que a propriedade não dava conta, por outro lado, também serviam para expandir o
domicílio. Essas migrações desde muito tempo acompanhavam os camponeses do
Vêneto e de outras regiões do norte italiano. Elas ocorriam nas chamadas estações
mortas da agricultura, ou seja, períodos em que os trabalhos agrícolas diminuíam na
propriedade, ou especialmente nos grandes períodos de colheita do trigo e outros
cereais, quando se dirigiam milhares de camponeses rumo ao interior do Império
Austro-Húngaro, França e mesmo aos Estados da Confederação Germânica. Para essas
“viagens temporárias” eram destinados em sua maioria homens adultos, cabendo aos
mais velhos e às mulheres gerenciarem a propriedade.
40
O tipo de composição dos domicílios e as maneiras como a propriedade era
transmitida tinham um impacto direto na nupcialidade. Massimo Livi Bacci, ao estudar
Portugal, constata que, entre os desprovidos de propriedade, a incidência ao casamento
era mais alta, justamente porque não tinham nada para herdar.
41
Nessa direção, até o
início do fenômeno emigratório, no Vêneto, especialmente nas áreas de montanha, a
idade ao casar era mais alta tanto para homens como para mulheres (em torno de 28 e
37
BARBAGLI, Marzio & KERTZER, David. “An introduction to the history of italian fertility” In.
Journal of family history. vol. 15, n°4, 1990. p.373.
38
Basta lembrar que a persistência das propriedades comunais que remetiam a uma herança feudal,
existiam em altas proporções nas áreas de montanhas, quase não sendo encontradas nas áreas de planícies.
39
VIAZZO, Pier Paolo & ALBERA, Dionigi. “The peasant family in northen Italy, 1750-1930: A
Reassessment.” Journal of family history. vol. 15, n°4, 1990. pp. 465-469.
40
GROSSELLI, Renzo. Op. Cit. p.75
41
LIVI-BACCI In RETTAROLI, Rosella. Op. cit. p. 411.
64
25 anos, respectivamente), assim como eram maiores as taxas de celibato, entre aqueles
que possuíam a propriedade. O estudo de R. Rettaroli, que classificou as províncias do
norte da Itália em quatro grupos, mostra que muitas províncias do Vêneto que se situam
nas faixas de montanhas, como aquelas citadas acima, estão inseridas no grupo em que a
idade ao casar, tanto para homens como para mulheres, é maior, assim como os índices
das pessoas que não se casam.
42
O panorama discutido acima foi característico das províncias localizadas nas
regiões montanhesas do Vêneto. Nas áreas de planície, que compõem o segundo setor,
43
a situação era diferente. As regiões mais planas e os vales têm grande quantidade de
terras produtivas, o que despertou desde muito cedo o interesse dos grandes produtores.
Desde o início da Idade Moderna, essas porções de terras estiveram concentradas nas
mãos de grandes fazendeiros, que alugavam ou empregavam trabalhadores assalariados.
Esse fenômeno fez crescer o poder dos proprietários, formando muitas vilas compostas
por famílias em que predominava o domicílio do tipo simples.
44
Como vimos no capítulo 1, o vale do e suas proximidades, desde a metade do
século XVIII, experimentavam um intenso processo de modernização da agricultura,
que provocou a proletarização de milhares de camponeses. Dessa maneira, no período
pré-emigração, os camponeses que viviam nas províncias circundadas pelo referido rio
eram, em grande parte, pertencentes ao universo dos bracciantis. Assim, como
geralmente não tinham nada para herdar, casavam-se mais intensamente e mais cedo.
Nas províncias do Vêneto situadas nas planícies, a tendência era a baixa idade ao casar e
maior intensidade ao casamento, assim como formação de domicílios do tipo simples,
com residência neolocal.
As diferentes formas de organização familiar, vinculadas à disponibilidade de
terras cultiváveis, impactariam diretamente na fecundidade dos casais. Nas áreas de
montanha do Reino de Nápoles, por exemplo, onde a terra era mais escassa, a idade ao
casamento era mais tardia e consequentemente as taxas de fecundidade eram mais
baixas. Ao contrário, nas regiões de planícies da Apúlia, onde predominavam as grandes
propriedades e a maior parte da população era desprovida de terra, os controles sobre o
casamento e a herança eram de pouca consequência. Assim os camponeses casavam
42
RETTAROLI, Rosella. Op. cit. p. 420-421.
43
Ver capítulo I, subcapítulo 1.1 pp. 6-7
44
VIAZZO, Pier Paolo & ALBERA, Dionigi. p.469-470.
65
mais cedo e tinham mais filhos, pois as maiores oportunidades de emprego se tornavam
uma variável importante para definir o progresso econômico da família.
45
Pelo que foi discutido acima, a distribuição da terra tinha um papel importante
na definição de comportamentos familiares, principalmente no que se refere à
organização da propriedade, dos domicílios e, consequentemente, na idade ao casar.
Entretanto, esses comportamentos não estão ligados apenas a fatores de ordem
econômica, mas também de ordem cultural. Concordamos com R. Rettaroli, quando ela
diz que indivíduos que vivem na mesma região frequentemente têm costumes em
comum, o mesmo dialeto e os mesmos comportamentos como a idade ao casar.
Também as mesmas crenças religiosas e os mesmos sentimentos, enfim, têm uma
cultura comum.
46
No caso em estudo nesta dissertação, a maior parte dos imigrantes
originava-se, principalmente, de duas províncias (Treviso e Vicenza) que, do ponto de
vista dos comportamentos familiares, apresentavam características próximas.
2.2.2 Valores camponeses
Vimos até aqui as variações nos regimes demográficos do norte da Itália no
período anterior à emigração. Indo adiante, vamos nos deter agora sobre alguns valores
camponeses atinentes à família, para posteriormente discutirmos como estes serviram de
base para a reconstrução sociocultural dos imigrantes na nova sociedade. A
historiografia tem salientado que a moral e as concepções de mundo camponês italiano
do Antigo Regime, eram fruto de um híbrido, composto pelos padrões de honra e
família-linhagem característico das sociedades aldeãs, somados aos padrões de
santidade e disposição das coisas dadas pela Igreja.
47
Constituía-se em uma sociedade
fortemente influenciada pelo clero, que agia como elaborador do consenso e conferia à
família o papel de guardiã do respeito e da honra pública. A vida do camponês
transcorria entre a família e a Igreja, onde se respirava religião e vivia-se sem muita
distinção entre o espaço público e o privado.
48
A tênue linha limítrofe entre a vida
familiar e a comunidade circundante era uma característica marcante dessa sociedade.
Ao mesmo tempo, era uma sociedade fortemente pautada por regras tradicionais,
cuja distribuição das tarefas relacionava-se ao sexo, a idade e à posição dentro do grupo
45
DELILLE, Gerard In CASEY, James. A História da família. São Paulo : Àtica, 1992. p. 153.
46
RETTAROLI, Rosella. Op. cit. p. 422-423.
47
POLINARI, Marcelo. Op.cit. p.76.
48
POLINARI, Marcelo. Op.cit. p.81.
66
doméstico. Às mulheres caberia a obediência ao marido, assim como os jovens aos mais
velhos, e os filhos aos pais. Em muitas sociedades camponesas, como a do norte da
Itália, o mais comum é que o homem casado mais idoso, o avô ou o patriarca, disponha
de toda a fonte de autoridade do grupo familiar. Ele é o organizador do trabalho e o
porta-voz do grupo nas transações exteriores. Sendo o mais idoso, pode se apoiar na
memória mais antiga, na tradição ancestral para determinar o certo e o errado, o bem e o
mal.
49
E, quanto mais velho, mais sábio era considerado, dada a grande mortalidade e a
baixa expectativa de vida, pois, sobreviver até idade provecta resultava muitas vezes da
sorte. No Vêneto o modelo de sociedade patriarcal predominava, portanto normalmente
era o homem mais idoso quem comandava a unidade familiar.
A vida doméstica também era pautada pela divisão de gênero. Cabia à mulher
reger a família e ao homem a unidade produtiva familiar, sendo cada componente um
aspecto do mesmo grupo social. Ao pai cabia o símbolo externo do poder social e à
mãe, o governo interno da família.
50
No mundo mediterrânico caracterizado pelo
patriarcalismo, a honra dos homens era ativa enquanto das mulheres passiva.
51
Já a
educação salta uma geração, e são os avós que ensinam o mundo às crianças. Nas
sociedades de cultura oral, é a memória de alguns indivíduos que constituem na
principal fonte do saber.
52
Os anciãos, os pais e es de família tinham um papel muito
importante na manutenção das tradições e no estabelecimento da ordem. Assim, a
perpetuação de determinados costumes e tradições da mesma maneira há séculos refere-
se a esse modo peculiar de transmissão de valores. Conforme salienta Edward Shorter,
“as pessoas ficavam a saber quem eram e qual viria a ser o seu lugar na eterna ordem
das coisas olhando para as gerações que se estendiam atrás delas”.
53
Desse modo, é
muito em função dessas características, próprias do mundo rural, que prevalecia uma
identificação para com a aldeia, com a comunidade, e não a um nacionalismo imposto
de cima para baixo. O que os imigrantes trazem na sua bagagem para a sociedade
receptora é justamente essa maneira específica de viver que permanecia inalterada
séculos.
A sociedade camponesa do norte da Itália estava impregnada dos padrões
clericais. Organizada em aldeias, onde o trabalho envolvia relações de solidariedades
49
MENDRAS, Henri. Sociedades camponesas. Rio de Janeiro : Zahar, 1985. p.70
50
POLINARI, Marcelo. Op.cit. p.124.
51
GOODY, Jack. Família e casamento na Europa. Oeiras : Celta, 1995. p. 25
52
MENDRAS, Henri.. Op. cit. p. 100
53
SHORTER, Edward. Op. cit. p. 13.
67
entre famílias, e o clero agia como elaborador do consenso, da ordem a ser seguida, o
que norteava a vida do camponês, que lhe conferia honra pública estava basicamente
relacionado ao trabalho e à manutenção de uma moral estritamente cristã, não sua,
mas principalmente do seu grupo familiar. Em muitas sociedades com estas
características, a honra pública do camponês estava ligada a presença de uma grande
prole. Assim, para o camponês trabalho, devoção e a constituição de uma família eram
sinônimos de um comportamento honrado. Sendo a família a base dessa configuração
social, o valor de cada um se dava principalmente pelo grupo que pertencia por
nascimento.
54
Se existia todo um conjunto de regras e de expectativas para com o homem e a
mulher, ou mesmo a família constituída, não menos deixava de existir em relação às
crianças e aos jovens. Por ser uma sociedade estritamente agrária, organizada em
aldeias, onde a vida dependia da colaboração de todos, predominava a vontade coletiva
em detrimento da individual. Embora cada ser tivesse seu próprio corpo, a dependência
em relação às solidariedade de sangue eram tais que o indivíduo não podia se sentir
plenamente autônomo, ele era parte de uma grande família, que incluía não os vivos,
mas também os mortos.
55
Como veremos no capítulo seguinte, essa concepção de
mundo, essa importância da linhagem também é percebida nas práticas de nomear dos
imigrantes e descendentes de italianos que migram para Campo Largo. A vida da
criança não era dissociada da do adulto, seu aprendizado era essencialmente prático e
visava torná-la um membro da comunidade.
56
Como mencionamos anteriormente,
eram os avós os responsáveis pela educação das crianças. Essa diferença de duas
gerações fazia com que se mantivesse o conservadorismo, característico do mundo
camponês.
Esse caráter de coletividade, a que os indivíduos estavam imersos e esse modo
tradicional de viver, que se apoiava basicamente num conjunto de solidariedades
familiares e na organização do trabalho em cada aldeia, também eram determinantes na
vida dos jovens, vale dizer, das escolhas matrimoniais. Os laços de parentesco formados
54
POLINARI, Marcelo. Op.cit. p.79-80.
55
GÉLIS, Jacques. “A individualização da criança”. In ARIÉS, Philippe (org.). História da vida
privada: da Renascença ao século das luzes. São Paulo : Cia das Letras, 1997. p. 312.
56
Conforme Philippe Áriès “desde a Idade Média, e por muito tempo nas classes populares, as crianças
misturavam-se com os adultos, assim que eram considerados capazes de dispensar a ajuda das mães ou
das amas, pouco tempo depois de um desmame tardio, ou seja, aproximadamente aos sete anos de idade.
A partir desse momento, ingressavam imediatamente na grande comunidade dos homens, participando
com seus amigos jovens ou velhos dos trabalhos e dos jogos de todos os dias”. ARIÈS, Philippe. História
social da criança e da família. Rio de Janeiro : Editora Guanabara, 1981. p. 275.
68
pelo casamento, tanto nas grandes aldeias como nas pequenas, eram uma maneira de
reforçar laços de vizinhança, bem como da manutenção do patrimônio.
57
Desse modo, a
finalidade principal da união de um homem e uma mulher era a estabilidade da família e
da própria comunidade, a quem deveriam atender prioritariamente os interesses. Dessa
maneira, “o casamento representa a vinculação de duas redes familiares, preocupadas
com a estabilidade de aliança que implica investimento material e moral de monta, mas
que depende de algo tão frágil como é a conduta de dois jovens”.
58
Seja entre os nobres ou entre os camponeses, em sociedades organizadas em
torno da linhagem e das solidariedades coletivas, o casamento é assunto sério, que
levava em consideração primordialmente as questões econômicas e vinculadas à
manutenção de um consenso, de uma ordem. Entretanto, a relativa endogamia entre as
aldeias, cujo objetivo era a manutenção do patrimônio, enfrentou restrições da Igreja
Católica que velava pela exogamia dos casamentos.
59
As suas preocupações, junto aos
interditos, em relação às uniões matrimoniais, parecem ter se chocado com as principais
finalidades das famílias camponesas. Conforme salienta Jack Goody, as proibições da
Igreja em relação aos casamentos dentro do grupo de parentesco estão muito mais
ligadas às transferências de riquezas do grupo doméstico para a Igreja do que a questões
espirituais.
60
Desde a Idade Média os inúmeros pedidos de dispensas para realização de
casamentos entre parentes remete para a grande frequência com que essas uniões
ocorriam. Em relação ao norte da Itália, parece aparentemente contraditório, como uma
sociedade fortemente clericalizada convivia com taxas relativamente elevadas de
casamentos consanguíneos, principalmente entre primos de terceiro, segundo e até
primeiro grau.
61
No mundo mediterrânico o casamento entre parentes era bastante comum antes
do advento do cristianismo como religião oficial. A partir do século IV, quando a Igreja
passou a intervir na legislação sobre o matrimônio, os antigos costumes romanos foram
proibidos e sua proscrição obteve a sanção legal dos monarcas cristãos.
62
Os interditos
eclesiásticos em relação aos casamentos consanguíneos ao longo dos séculos,
57
FLANDRIN, Jean-Louis. Op. cit. p. 42.
58
CASEY, James. Op. cit. p. 109.
59
O medo constante das uniões consanguíneas é evidente desde a Idade Média. Até o Concílio Laterano
de 1215 os impedimentos de parentesco iam até sete graus, tanto do lado do pai como do lado da mãe. A
partir dessa data, o impedimento foi revogado para quatro graus.
60
GOODY, Jack. Op. Cit.
61
Ver: MERZÁRIO, R. “Land, kinship and consaguineous marriage in Italy from the seventh to the
nineteenth centuries”Journal of family history. Vol.15 n°4, 1990.
62
GOODY,Jack. Op. Cit. p.35
69
atravessando toda a Idade Média, seriam os próprios reflexos da luta da Igreja contra o
fortalecimento das linhagens.
63
Essas disputas, quanto às maneiras que deveriam se proceder as uniões
matrimoniais, parecem ter norteado as sociedades camponesas da Europa pré-industrial
durante séculos. Conforme observou Jean-Louis Flandrin para as aldeias rurais da
França, de um lado, muito influenciada pela Igreja, tinha-se uma política de exogamia,
como a única maneira de impedir que as sociedades aldeãs constituíssem sociedades
fechadas, hostis umas às outras. Do outro lado, tinha-se o controle da sociedade aldeã
que buscava estabelecer o monopólio das moças casadouras, de modo a evitar o
casamento das filhas no exterior, pois estavam interessados em impedir que elas
levassem em dote uma fração do patrimônio para fora da aldeia.
64
Esses embates entre
essas duas concepções (a da Igreja e das famílias) mostram que, embora essas
sociedades fossem bastante clericalizadas, como a do norte da Itália, elas não eram
bastante espiritualizadas. Muitas vezes os interesses materiais se sobrepunham aos
espirituais. A política de exogamia da Igreja, que tinha por objetivo afastar qualquer
risco de união consanguínea, não estava em primeiro plano no momento de organizar os
arranjos matrimoniais dentro ou fora de uma aldeia, pois um pedido de dispensa
mediante pagamento não era difícil de ser conseguido. Também esses conflitos
demonstram as maneiras de organização de uma sociedade bastante ativa, que se
apoiava em diversas estratégias, para a manutenção não dos poucos recursos que
tinham, mas também de uma ordem e de um modo tradicional de viver.
65
De outra
forma, essa organização dos indivíduos atados por laços de sangue e vizinhança dentro
da mesma aldeia também dificultava a incorporação de um sentimento de pertencimento
maior, como, por exemplo, a difusão do nacionalismo, ou da identidade nacional.
Tendo em vista o que foi discutido acima sobre os valores camponeses, temos
que a aldeia se constituía no elemento-chave da organização dessa sociedade. Os
vínculos criados seja por meio do parentesco, seja mesmo por solidariedades ligadas ao
trabalho, eram estratégias fundamentais para a sua sobrevivência, bem como para a
perpetuação de valores e costumes. Conforme discutimos anteriormente, os
63
GOODY, Jack. Op. Cit. 132.
64
FLANDRIN, Jean-Louis. Op. cit. p. 54.-55.
65
Sobre a ideia de comunidade ativa, podemos nos reportar ao conceito definido por TONNIES em que
(...) “a avaliação da vida no campo tem demonstrado que aí a comunidade entre os homens é mais forte e
viva: a comunidade é a convivência permanente e autêntica, a sociedade é passageira e aparente. De
acordo com isso a própria comunidade deve ser compreendida como um organismo vivo”(...) TONNIES,
Ferdinand. “Comunidade e sociedade” In: CRUZ, M. Braga da (org). Teorias sociológicas. Lisboa :
Calouste Gulbenkian, 1989. p.512-513.
70
camponeses no período pré-imigração viviam numa situação constante de exploração e
pobreza, também a posse da terra era um bem que não estava ao alcance de todos, ou
melhor, era uma minoria que a possuía, e quando a possuía, normalmente eram terras
com baixa produtividade. Portanto, a organização de laços de dependência entre as
famílias era de suma importância para a própria sobrevivência da aldeia. A Igreja,
sintetizada na figura do clero, figurava como elaboradora de um conjunto de normas e
condutas a serem seguidas. O clero agia como o promotor da ordem e era o principal
guia dos camponeses. Entretanto, em muitas ocasiões, as ingerências da Igreja não se
sobrepunham aos interesses dos camponeses, principalmente quando se tratava de
questões materiais.
2.3 A família Imigrante: vínculos familiares e de identificação étnica
Até agora, tratamos da maneira como se caracterizavam os domicílios no mundo
rural do norte da Itália, assim como alguns dos valores referentes à família, na
organização das comunidades camponesas tradicionais. O que discutiremos a seguir
refere-se à maneira pela qual os imigrantes em estudo reconstruíram suas organizações
familiares na sociedade de adoção, assim como o impacto da imigração nesse processo.
Pelo que foi tratado até aqui, temos em mente que esses camponeses que migraram para
Campo Largo não apresentavam características homogêneas. Entretanto, no seu
estabelecimento nas colônias, arranjos e comportamentos foram readequados em função
das necessidades, assim como da nova realidade que se configurou para eles.
A maior parte dos italianos instalados nas colônias de Campo Largo, como
dissemos, veio em famílias. De acordo com o levantamento realizado nos registros de
desembarque de imigrantes, constante no DEAP,
66
percebe-se que a maioria refere-se a
casais que vieram acompanhados de alguns filhos. Entretanto, não se limitavam apenas
a famílias nucleares. Em muitos casos, foi possível observar unidades familiares com
três gerações (o casal junto com filhos casados e netos), assim como casais com seus
filhos e irmãos solteiros, e, também, viúvos acompanhando seus filhos solteiros ou
casados. Essa diversidade de situações reflete, também, características específicas das
regiões de origem (províncias de Treviso e Vicenza), no que toca aos arranjos
66
Departamento de Arquivo Público do Paraná, livros: 428, 444, 445, 455, 833 e 834.
71
familiares, onde coexistiam famílias grandes vivendo em domicílios complexos, assim
como famílias nucleares vivendo em domicílios simples.
Como tratamos no capítulo 1, cada grupo familiar poderia requerer para si um
lote. Aqueles que eram compostos por mais de um casal ou tinham vários adultos
poderiam solicitar mais de um, como salientou Pedro Fedalto em relação a sua família:
“Giuseppe Fedalto requereu um lote para si e outro para seu pai, Giacinto”.
67
A
disponibilidade de terras provavelmente foi um dos primeiros impactos que a imigração
causou na organização familiar dos camponeses vênetos. Também é importante destacar
que muitos casais, quando chegaram a Campo Largo, ainda não tinham completado sua
prole, tendo mais filhos na nova sociedade. Se na sua aldeia de origem, algumas dessas
famílias viviam num domicílio complexo, na colônia em Campo Largo teriam a
oportunidade de modificar essa situação, uma vez que aqui, ao contrário da Itália, a
quantidade de terras cultiváveis era abundante. De qualquer forma, tendo origem como
pequenos proprietários ou bracciantis, a nova realidade com que se defrontaram foi
importante para a redefinição dos comportamentos familiares.
Uma alteração profunda provocada pela imigração refere-se ao casamento. Se na
sociedade emissora, em algumas regiões, principalmente por motivos de ordem
econômica, adiava-se o matrimônio ou mesmo muitos permaneciam celibatários, no
Brasil, como a situação se modificou, os colonos passaram a se casar cada vez mais
cedo, e com maior frequência. Como consequência desse comportamento, passaram a
ter uma prole mais numerosa. Entretanto, antes de chegarmos à família constituída,
vamos nos deter na análise de como ocorriam as uniões matrimoniais nas colônias
italianas de Campo Largo. Aliás, consideramos as escolhas dos cônjuges um dos pontos
em que o grupo mais se esforçava para manter-se coeso. Emílio Willens salienta que as
diferenças culturais verificadas podem distanciar ainda mais os grupos em contato, à
medida que estes percebem que a miscigenação lhes desorganizava o setor mais
resguardado da sua cultura, ou seja, a família.
68
Segundo esse autor, a família pertence à
esfera mais íntima de qualquer criatura humana. Assim, as sociedades tendem a aplicar
todo um sistema de controle destinado a evitar desajustamentos internos e penetrações
67
FEDALTO, Pedro. Op. cit. p.23.
68
WILLENS, Emílio. A aculturação dos alemães no Brasil. São Paulo : brasiliana, 2ª ed. , 1980. p.
323.
72
externas. Daí ser improvável que a assimilação” se possa iniciar justamente por esta
esfera.
69
Na colônia imigrante, ao contrário do casamento moderno, fruto de decisões
individuais, este era arranjado pelas famílias. Conforme foi discutido anteriormente, o
mais comum nas sociedades agrárias era o coletivo se sobrepor à vontade individual.
Portanto, a ideologia moderna, que “tem o indivíduo como valor e a liberdade como
atributo”,
70
não tinha espaço nos primeiros tempos da colonização. O amor romântico
se opunha ao esforço da família em construir o casamento de acordo com os seus
interesses e da comunidade, assim como representava um perigo ao romper com
barreiras fundamentais como a religião ou a origem étnica.
71
Nessa direção, neste
período inicial os casamentos “por amor” ainda eram poucos se comparados ao número
total de uniões.
As principais premissas do matrimônio para as comunidades imigrantes, não
italianas, mas também de outros grupos étnicos, visavam à preservação do patrimônio
(seja material, seja simbólico), assim como agregar forças de trabalho. Dessa maneira, a
homogamia era considerada condição primordial de estabilidade não só do casal, mas da
própria comunidade. Nessa direção, a análise dos registros de casamento, entre os
colonos italianos de Campo Largo, recolhidos nas três paróquias pesquisadas, durante
os anos de 1878 a 1920, revela uma relativa endogamia, conforme mostram as tabelas a
seguir:
TABELA 3 - DISTRIBUIÇÃO DOS NOIVOS (AS), CONFORME LOCAL DE
NASCIMENTO. COLÔNIAS ITALIANAS DE CAMPO Largo (1878-1920).
Local de Nascimento 1878-1887 1888-1899 1900-1910 1911-1920 1878-1920
Itália (imigrantes) 30 205 172 26 433
Brasil (filhos de
imigrantes) * 20 104 235 359
Outras etnias * 4 10 10 24
Total 30 230 286 270 816
FONTE: REGISTROS DE CASAMENTO DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO (CAMPO
LARGO), Nª SRA DA PIEDADE (CAMPO LARGO –PR) E SÃO JOSÉ (SANTA FELICIDADE-
CURITIBA, PR)
69
WILLENS, Emílio. Op. cit. p. 322.
70
DUMONT, Louis. Homo hierarchicus: o sistema de castas e suas implicações. São Paulo: Edusp,
1992. p.57
71
WOORTMANN, Ellen F. op.cit p. 157-159
73
TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DOS CÔNJUGES, CONFORME ORIGEM
ÉTNICA. COLÔNIAS ITALIANAS DE Campo Largo (1878-1920).
Período
1878-1887 1888-1899 1900-1911 1911-1920 1878-1920
N° de casamentos
15 115 143 135 408
Casamentos
interétnicos
0 0% 4 3% 10 7% 10 7% 24 6%
Noivos de origem
italiana
30 100% 226 99% 276 96% 260 96% 792 97%
Noivos de outras
etnias
0 0% 4 1% 10 4% 10 4% 24 3%
Total
30 100% 230
100%
286
100%
270
100%
816 100%
FONTE: REGISTROS DE CASAMENTO DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO (CAMPO
LARGO), Nª SRA DA PIEDADE (CAMPO LARGO –PR) E SÃO JOSÉ (SANTA FELICIDADE-
CURITIBA, PR)
As tabelas acima mostram que, durante o período analisado, é predominante a
escolha dos cônjuges dentro do grupo étnico, tanto na primeira como na segunda
geração, ou seja, independente de serem imigrantes ou descendentes. Essa situação é
característica para vários grupos imigrantes no Sul do Brasil.
72
Apenas 23 uniões foram
mistas, o que corresponde a cerca de 6% do total de casamentos. Entretanto, essa
relativa endogamia de grupo, para as primeiras gerações, não se limitava apenas a
indivíduos da mesma origem étnica. Um elemento que sempre nos chamou atenção está
no fato de que a maior parte dos casamentos referia-se a noivos residentes na mesma
colônia. Na Campina, uma das colônias pertencentes à paróquia de São Sebastião, por
exemplo, essa situação é mais visível. Por estar mais afastada dos demais núcleos
coloniais, acreditamos ser esta uma das razões que dificultasse o contato entre jovens de
outras colônias. Também se levarmos em consideração quais eram os espaços em que as
pessoas do grupo se socializavam, veremos que esses muitas vezes se restringiam às
celebrações familiares e religiosas. Daí a pouca probabilidade que, para esse período, as
uniões fossem pautadas pelo ideal do amor romântico.
Além das uniões ocorrerem entre noivos da própria colônia, dentre aqueles
nascidos na Itália, muitas referiam-se a moças e rapazes oriundos da mesma região da
Itália, o que reflete o conservadorismo do grupo e o desejo de manter o que era
“conhecido”. Exemplo interessante pode ser citado a partir do casamento de Domenico
Merotto e Luigia Fontana em 26/08/1899. Ambos nasceram em Sarnaglia, diocese de
72
A questão endogâmica, nas primeiras gerações, é característica para praticamente todos os grupos
étnicos. Entre diversos trabalhos, podemos citar: os italianos, pesquisados por BASSANEZZI (1999) e
BALHANA PILATTI (1978), os alemães luteranos por NADALIN (2001), os alemães católicos por
WOORTMANN (1995) e os ucranianos por ANDREAZZA (1995).
74
Ceneda, na Lombardia, vieram para cá em 1879 e 1880, respectivamente, e eram
oriundos de uma região que contribuiu com apenas alguns poucos imigrantes para
Campo Largo. Esse caso serve para mostrar que a elaboração de um sentimento de
pertencimento grupal estava em processo de construção, pois num primeiro momento os
imigrantes constroem relações sociais que revelam a heterogeneidade do grupo. O
referido casal provavelmente falava um dialeto diferente dos vênetos, ou mesmo eram
portadores de códigos culturais diversos que não provocaram uma aproximação
imediata, muito pelo contrário, possivelmente foram excluídos do grupo hegemônico
que era vêneto. Assim, este casal pode ser apontado como um clássico exemplo de
outsider dentro do grupo italiano. Nessa mesma direção podemos destacar também o
caso de duas irmãs oriundas do Trentino (região que foi anexada à Itália em 1918 e
onde se falava um dialeto próximo do alemão) que se casaram com imigrantes
prussianos.
73
Nesse caso novamente a reivindicação pelo pertencimento ocorria no
plano das identificações pelas regiões de origem.
Numa situação muito próxima daquelas descritas acima, encontramos muitos
imigrantes que nasceram em Brusaporco, diocese de Treviso, e que foram estabelecidos
na colônia Campina, casaram-se entre os nascidos dessa mesma comuni. Parece que a
preferência na escolha dos cônjuges, para aqueles que vieram crianças da Itália, recaía
sobre membros nascidos na mesma região. Embora não tenhamos conseguido
identificar a aldeia de nascimento de todos os noivos que nasceram na Itália, foi
possível quantificar quanto à diocese de proveniência. O que pode ser percebido é que,
pelo menos em metade desses casamentos, os noivos vinham de uma mesma província.
Assim, de uma amostra de 141 uniões em que ambos os cônjuges eram nascidos na
Itália, 70 referiam-se a noivos da mesma diocese. Situação muito próxima foi constatada
por Altiva Balhana Pilatti, para os italianos de Santa Felicidade. Segundo a autora, nos
primeiros decênios da colonização da região, foram mais correntes as uniões
matrimoniais formadas por noivos das mesmas paróquias vicentinas e padovanas do que
entre pessoas originárias de paróquias e dioceses diversas.
74
73
No Rio Grande do Sul os trentinos sofriam discriminação por parte dos italianos, eram chamados de
senza bandiera (sem bandeira) por não pertencerem a um Estado, eram uma minoria dentro do Império
Austro-Húngaro quando emigraram. Por manterem uma certa hostilidade com os italianos ( e vice-versa)
e serem discriminados, mantinham a união máxima entre eles. POSSAMAI, Paulo. 2005. Op. Cit. p. 88-
89.
74
PILATTI BALHANA, Altiva. “ A vida familiar em Santa Felicidade” In ____________ Um mazolino
di fiori vol. II .(org) Westphalen, Maria Cecília. Curitiba : Imprensa Oficial do Paraná, 2002. p. 350.
75
O matrimônio conforme a concepção maussiana de dádiva sela
simbolicamente a aliança entre duas famílias, ou entre dois troncos.
75
Partindo dessa
concepção, uma outra observação que também nos chamou muita atenção durante a
análise das famílias reconstituídas, refere-se aos casamentos duplos,
76
ou como chamou
o demógrafo português Manuel D.P.C. Serra, casamentos por “cambia” ou “camba”.
77
Existem vários tipos de casamentos por troca, entretanto, o nosso foco de análise se
voltou para aquelas uniões realizadas entre dois irmãos de uma família com outros dois
de outra família. Embora não conheçamos bibliografia sobre o tema dos casamento por
troca para grupos étnicos no Brasil, ao que tudo indica esses comportamentos remetem
a uma prática comum na sociedade emissora, mas que não se restringe apenas aos
italianos, como aponta o trecho deste depoimento:
“Lá na colônia onde eu nasci, casava italiano com italiano, a primeira geração
e a segunda também praticamente casavam da sua nacionalidade e havia
bem perto os poloneses (D. Pedro II e Tomaz Coelho) também casavam entre
eles. (...)Depois também haviam muitos casamentos de irmãos com
irmãs...(trocados). Irmãos de meu avô, dois irmãos casaram-se com duas irmãs,
(de outra família) depois a segunda geração, diversos irmãos (de uma família)
casaram-se com irmãs (de outra). E entre os poloneses também era comum
isso...”
78
No item anterior, discutimos que as principais finalidades do casamento nas
aldeias camponesas estavam relacionadas à manutenção de solidariedades familiares, ou
ainda do patrimônio dentro da aldeia. Entretanto, a imigração provocou uma grande
mudança na articulação casamento/propriedade. Assim, a reprodução dessa prática
estaria ligada ao próprio habitus dessas famílias em relação ao matrimônio. Embora a
situação tenha mudado, o costume que era perpetuado há séculos na sociedade de
origem permaneceu ativo, evidenciando a lentidão em que se processava a mudança na
mentalidade camponesa. De outra maneira, essa prática pode estar ligada a formas
específicas de reciprocidades entre famílias ou a manutenção de solidariedades de
sangue ou vizinhança, que ajudam a explicar o pertencimento ao grupo.
75
No Ensaio sobre a dádiva, um dos argumentos centrais de Mauss é de que a dádiva produz a aliança,
tanto as alianças matrimoniais como as políticas, religiosas, econômicas, jurídicas e diplomáticas.
MAUSS, Marcel. “O ensaio sobre a dádiva”. In. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Pioneira/Edusp,
1974.
76
Os casamentos trocados envolvendo pares do mesmo nível geracional estão no Anexo 2.
77
SERRA, Manuel D. P. C. “O casamento por ,<câmbia> ou <camba> no noroeste de Portugal. Primeira
tentativa de caracterização”. In. Família, casa y trabajo. Anais do Seminário Família y elite de poder
em el Reino de Murcia. Siglos XV-XIX. pp.93-108.
78
Entrevista concedida ao autor em 23/12/2008 por D. Pedro Fedalto.
76
Entre os casamentos por troca envolvendo pares do mesmo nível geracional,
foram contabilizadas 16 uniões. Dentre esses, pode ser destacado um caso. Estevam
Rigoni, filho de Antonio Rigoni e Domenica Cunico, casou-se em 18 de maio de 1889
com Maria Cunico, filha de Cipriano Cunico e Maria Rodighero. Ambos os noivos
eram nascidos em Arsiago, província de Padova, região do Vêneto. Pela observação dos
sobrenomes, provavelmente, o pai da noiva e a mãe do noivo deveriam ter algum grau
de parentesco. Basta lembrar que casamentos consanguíneos (entre primos,
principalmente) não eram raros no norte da Itália. Menos de dois anos depois da união
e, depois de batizar um filho, o rapaz vem a falecer. Seguindo a trajetória dessas
famílias nos registros paroquiais, vemos mais um filho (Cristhiano) de Antonio e
Domenica casando com outra filha (Catterina) de Cipriano e Maria. O enlace
matrimonial foi realizado na mesma colônia onde residiam as famílias, Antonio
Rebouças, em 02 de maio de 1903, e ambos os noivos nasceram em terras
campolarguenses. Trouxemos como exemplo essas duas uniões para mostrar como
determinadas práticas relacionadas ao casamento, que eram realizadas na sociedade
emissora, foram reconstruídas nas colônias, em Campo Largo. Assim, embora a
mudança de local venha acompanhada de um profundo corte, a manutenção de certas
características, entre elas, aquelas referentes à família e aos seus vínculos, possibilitava
ao grupo a construção de uma identificação própria. De outra forma, é importante
mencionar que esses arranjos demonstram a importância da organização da família no
mundo camponês que muitas vezes se sobrepunha às determinações da Igreja. Pela
lógica dos interditos eclesiásticos, os casamentos entre irmãos de uma família com
irmãs de outra não eram permitidos, pois pelo ritual do matrimônio a família do noivo e
a da noiva seriam “aparentadas”. No anexo 2, em que estão descritos os casamentos
trocados, percebemos que estes não ocorreram na mesma data, o que implicaria o
parentesco dos noivos que se casaram por último.
No que toca aos casamentos entre afins, o caso a seguir é um exemplo
interessante de como o costume de unir cônjuges dentro do grupo de parentesco, que se
sobrepunha às ingerências da Igreja, ainda se mantinha forte no período s-emigração.
Em 03 de outubro de 1895, na colônia Campina foi realizado o matrimônio de dois
viúvos: Francisco Bini e Marina Marchiorato, com idades de 30 e 22 anos
respectivamente. No registro de casamento o padre Faustino Consoni anotou:
77
dispensados do impedimento de afinidade cita em primeiro grau
79
. Ocorre que no
primeiro casamento da noiva (Marina com Paulo Maquiorato) havia sido pedida a
dispensa por ocasião de consaguinidade em segundo grau, da linha fraternal. A moça
tinha casado primeiramente com um primo e depois da viuvez, com o cunhado (que
ficara viúvo de sua irmã). Ambos os noivos que protagonizaram o segundo matrimônio
eram jovens e casaram novamente em curto espaço de tempo. O rapaz (Francisco), por
exemplo, casou novamente menos de dois meses após “enterrar” sua primeira esposa. O
rápido enlace matrimonial pode estar ligado ao fato de os dois cônjuges terem filhos
pequenos, bem como à necessidade de constituir uma nova família para a reprodução do
modo de vida camponês. Por meio desse caso percebemos o quanto a escolha do
cônjuge se fundamentava em elementos que visavam fortalecer as solidariedades
familiares e da linhagem. Por outro lado, podem ser entendidos como parte do
comportamento inercial camponês, que, mesmo após o corte provocado pela imigração,
permanecia ativo.
Ao reconstruírem comportamentos típicos da sua região de origem, como
aqueles referentes à escolha do cônjuge, o grupo delimitava fronteiras. De acordo com
Barth, as distinções de categorias étnicas não dependem de uma ausência de mobilidade,
contato e informação. A persistência dos grupos étnicos em contato implica não
somente critérios e sinais de identificação, mas também a estruturação de uma interação
que permite a diferenciação cultural.
80
O grupo imigrante não estava em condição de
isolamento, de alguma forma precisava interagir com a sociedade receptora. Num
primeiro momento essa interação era de caráter econômico, mas, à medida que o
processo de enraizamento se efetivava, trocas culturais também seriam realizadas. A
maneira como esses indivíduos manipulavam certos “traços culturais” próprios do seu
grupo delimitava a fronteira etnocultural, que não é fixa, mas construída e reconstruída
em função do contexto e de determinados interesses dos atores sociais.
A situação interétnica exigiu um rearranjo do arcabouço cultural e simbólico
trazido pelos imigrantes. A “cultura do contato”, conforme aponta Roberto Cardoso de
Oliveira, pressupõe uma mistura genérica, muitas vezes resultante de ganhos e perdas
entre sistemas culturais em conjunção.
81
Conforme mostrou a tabela 3, um casamento
fora do grupo embora pouco frequente no início da colonização poderia não
79
Livro 2B de casamento da paróquia Sõa José (Santa Felicidade, Curitiba – PR).
80
BARTH, Frederik. Op.cit. pp.188-196
81
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Op. cit.
78
significar necessariamente que se estavam dissolvendo as fronteiras étnicas, mas
deslocando-as. Devido às novas condições (aqui nos referimos à disponibilidade de
terras), como o próprio grupo estimulava os jovens a casar relativamente cedo (a idade
média ao casar nas colônias em estudo foi de 19,70 anos para as moças e 22,50 anos
para os rapazes), para assim ter uma prole numerosa e poder prosperar economicamente,
o casamento interétnico poderia ser uma opção, ou mesmo falta de opção, perante um
eventual mercado matrimonial desigual.
A observação das uniões interétnicas revelou que a maior parte delas se referia a
moças que se casavam com homens de outras etnias. Assim, temos durante todo o
período analisado 10 noivos italianos (imigrante ou descendente) casando fora do
grupo, sendo seis uniões com brasileiras, três com polonesas e uma com alemã
(prussiana). as mulheres totalizaram 14 uniões interétnicas, sendo nove com
brasileiros, três com alemães (prussianos) e dois com poloneses. É uma situação
contraditória, visto que o contexto imigratório geralmente beneficia as mulheres, pois,
mesmo nos grupos em que predomina a imigração do tipo familiar, é mais comum a
presença de homens solteiros (que migram sozinhos) do que mulheres, assim eram elas
que tinham mais chances de encontrar um parceiro conjugal dentro do grupo étnico.
82
Talvez, a própria idade ao casar da mulher, que geralmente era menor que o homem,
tenha influenciado o mero de uniões interétnicas. De qualquer forma, a preferência
era sempre a união com um cônjuge da própria etnia, não havendo, este ou esta deveria
ser buscado fora do grupo. Como vimos no começo deste capítulo, principalmente no
período inicial da colonização, houve um certo estranhamento entre italianos e
brasileiros, levando a formulações de estereótipos em relação ao outro, e um deles
referia-se ao trabalho. Assim no imaginário camponês, as virtudes do trabalho, assim
como a prática da poupança e da moderação do consumo, eram enaltecidas. A exaltação
do trabalho era uma importante maneira pela qual os italianos se afirmavam sobre os
outros (especialmente os negros e caboclos).
Uma das finalidades do casamento, como dissemos, visava à preservação e
ampliação do patrimônio e à união das capacidades de trabalho. Assim, pessoas que
partilhavam do mesmo habitus, da mesma cultura, teriam maiores condições de
prosperar economicamente e, também, de atender aos interesses da família. Da mesma
82
BASSANEZI, Maria Silvia C. Beozzo. “Família e Imigração Internacional no Brasil do Passado”.
Artigo publicado em Estudos de História, Franca, SP, v.6, n.2,1999. p. 300.
79
forma que muitos brasileiros desqualificavam os estrangeiros, o inverso também
ocorria, conforme já mencionado. Dessa maneira, os esforços da comunidade,
principalmente das pessoas mais velhas, era evitar que seus filhos ou netos viessem a
contrair matrimônio fora do grupo. Entretanto, especialmente a partir da segunda e
terceira geração, como os casais tinham muitos filhos e a propriedade não poderia ser
repartida entre todos os herdeiros, muitos migravam para outras regiões em busca de
terra, dentro do próprio município ou mesmo para fora dele. Nessa direção, esses
controles sobre os noivos tenderiam a se tornar mais frouxos à medida que o grupo se
dispersava. De qualquer forma, no período em que se mantivesse na colônia ou próximo
dela, a preferência era a manutenção de uma endogamia étnica, pois assim seria
garantida a continuidade de um conjunto de valores e de um sistema cultural específico.
Vimos até aqui que as estratégias utilizadas pelo grupo para a formação de
vínculos familiares por meio do casamento tiveram por base o pertencimento étnico.
Entretanto, a imigração causou um grande impacto nos comportamentos demográficos.
Como foi mencionado nos itens anteriores, a organização das estruturas familiares
estava estreitamente ligada ao acesso a terra. Esse fenômeno tinha consequência direta
nas taxas de nupcialidade e celibato definitivo. Na região norte da Itália, incluindo o
Vêneto, nas últimas décadas do século XIX, principalmente entre os pequenos
proprietários, o casamento era adiado, tanto para homens como para mulheres, e a
proporção de pessoas que não se casavam era relativamente alta. Porém, essa situação
iria se inverter no Brasil. Para os diversos grupos de imigrantes, a idade média ao casar,
tanto para as moças como para os rapazes, foi antecipada em relação aos seus
conterrâneos que não emigraram, ou ainda em relação aos seus pais.
83
É muito provável
que a antecipação da idade ao casar tenha sido reflexo da mudança na articulação
terra/demografia, fruto da imigração.
84
Por outro lado, as taxas de celibato
relativamente alta em boa parte da Europa no século XIX – caíram bruscamente na nova
sociedade, muito em função da abundância de terras e do estímulo ao casamento.
Conforme Altiva Pilatti Balhana, a idade média ao primeiro casamento na
comunidade italiana de Santa Felicidade, em Curitiba, no Paraná, no período 1888-
83
BASSANEZI, Maria S.C.B. “Considerações sobre os estudos do celibato e da idade ao casar no
passado brasileiro”. Texto publicado nos Anais da NEPO, 1992, p.382. Sobre a antecipação da idade ao
casar dos noivos, em função da imigração e da sua reorganização na sociedade receptora. Ver, entre
outros, os trabalhos de NADALIN (2001), ANDREAZZA (1999), PILATTI BALHANA (1978).
84
ANDREAZZA, Maria Luiza & NADALIN, Sérgio Odilon. Op. cit.. p.77
80
1929, foi de 23,9 anos para os homens e 20,80 para as mulheres.
85
Na paróquia de São
Sebastião em Campo Largo, cujos imigrantes têm origem nas mesmas províncias
daqueles estudados pela referida autora, as taxas por nós calculadas a partir dos registros
de casamento revelou médias muito próximas, ou seja, moças e rapazes se casavam
relativamente cedo (19,70 anos para as mulheres e 22,50 para os homens). Já no Vêneto,
a situação era inversa, em 1881 era de 28,3 para os homens e 24,6 para as mulheres, e
em 1901 eram, respectivamente, de 27,5 e 24,7 anos.
86
Além de casarem-se mais cedo,
os italianos que se instalaram nas colônias do Sul, casavam-se mais intensamente do
que em seu país de origem. Nas colônias do sul, embora desconheçamos estudos que
apontem os percentuais de pessoas que não se casavam, estes deveriam ser bem
menores do que os encontrados no Vêneto, por exemplo. Nessa região, as taxas de
celibato definitivo eram relativamente altas, de 10,9% para homens e 10,2% para as
mulheres em 1891, e em 1901 10,8% e 10,4%, respectivamente.
87
Esse novo
comportamento, ao que tudo indica, revela um mecanismo dos grupos imigrantes
especialmente os camponeses de enfrentamento às condições da nova sociedade, que
não colocava obstáculos às uniões conjugais. A facilidade de acesso a terra para aqueles
que desta tiravam o seu sustento foi sem dúvida um fator crucial para o adiantamento da
idade ao casar.
A antecipação do matrimônio, por sua vez, favorecia a constituição de uma prole
numerosa. Embora este trabalho não tenha por objetivo fazer uma análise demográfica
da população, não poderíamos deixar de mencionar uma observação sobre o número de
filhos das famílias de imigrantes e descendentes de italianos. Numa sociedade que tinha
por base o trabalho familiar, o maior ou menor desenvolvimento da produção agrícola
numa propriedade dependia diretamente do tamanho e da composição da família.
88
Dessa maneira, ter muitos filhos era significado de muitos braços para trabalhar na
lavoura e, por conseguinte, maiores possibilidades de expandir o patrimônio familiar.
Assim, a constituição de uma família numerosa significava vantagens econômicas e
sociais e, numa relação de reciprocidade, amparo na velhice para os pais.
89
Ademais,
essas comunidades eram fortemente influenciadas pelo clero, que tentou impor valores
85
PILATTI BALHANA, Altiva. Santa Felicidade: Uma paróquia veneta no Brasil. Curitiba :
Fundação Cultural, 1978. p. 68-70.
86
BASSANEZI, MARIA S. B. Op. cit. p.303
87
Ibid
88
SILVA, Maria R.G. Checcuci Gonçalves da. Op.cit. p. 147.
89
ANDREAZZA, Maria Luiza & NADALIN, Sérgio Odilon. Op. cit., p.78. Também ver o trabalho
citado na nota anterior que trata sobre a família camponesa nas áreas de colonização italiana no Vale do
Itajaí em Santa Catarina.
81
morais rígidos, no que diz respeito aos comportamentos sexuais. Dessa maneira, entre
os grupos de imigrantes italianos, pelo menos nas primeiras gerações, não era recorrente
o uso dos chamados “freios contraceptivos”, sendo pouco frequente a limitação das
concepções.
As altas taxas de natalidade e o predomínio de famílias relativamente grandes
evidenciavam atitudes tipicamente camponesas. As famílias italianas do Rio Grande do
Sul, por exemplo, eram bastante extensas. O número médio de filhos por casal no
período 1875-1910 foi de 10,8 filhos. em Santa Felicidade, em Curitiba, essa média
foi de 9,9.
90
Entre os italianos de Campo Largo, a média por nós calculada se aproxima
dos estudos citados (9,2 filhos)
91
. Foram encontrados casais com até 16 filhos, como
Luigi Maso e Angela Fracaro, casados em 23 de junho de 1896. A moça que casou com
18 anos teve o décimo sexto filho aos 46.
92
Esses números indicam que, embora as taxas
de mortalidade infantil ainda fossem altas para o período, uma prole numerosa era uma
estratégia não só material, mas também revelava a reprodução de comportamentos
simbólicos, típicos do mundo camponês. Um exemplo pode ser dado a partir da ideia de
status que uma família numerosa representava no interior da comunidade. Ou ainda,
uma tradição de masculinidade traduzida no direito a uma esposa fértil e a muitos filhos,
o que se harmonizava com um ideal tipicamente camponês de feminilidade, ou seja, a
fertilidade feminina.
93
Se os casais tinham muitos filhos, (média de 9,2 filhos por casal) conforme
constatamos nos registros paroquiais, vários seriam os vínculos formados pelo
parentesco espiritual. As relações de compadrio serviam para firmar laços de
reciprocidade e poderiam tanto reforçar vínculos de parentesco como de amizade e
vizinhança, fruto das novas relações estabelecidas. Estas não envolviam apenas o
90
PILLATTI BALHANA, Altiva. “A vida familiar em Santa Felicidade” Op.cit. 347-354.
91
Taxa calculada para aqueles casais entre os quais é constatada a presença na paróquia por meio da idade
da mulher ao último nascimento (em torno dos 40 anos). Segundo Altiva Balhana Pilatti, em populações
que não fazem controle de natalidade (caso dos italianos) a idade média da mulher ao último nascimento
situa-se por volta dos 40 anos, independente da sua idade ao casar. PILATTI BALHANA, Altiva.
“Nupcialidade e fecundidade”. In ____________ Um mazolino di fiori vol. II .(org) Westphalen, Maria
Cecília. Curitiba : Imprensa Oficial do Paraná, 2002. p. 185
92
Conforme aponta Altiva Pilatti Balhana, em populações que não há limitações dos nascimentos, a idade
da mulher a última maternidade é bastante elevada. Assim, a idade média da mãe ao último nascimento é
um indicador suplementar da ausência de limitação de filhos. PILATTI BALHANA, Altiva. 1978. Op.cit.
p. 76.
93
ANDREAZZA, Maria Luiza & NADALIN, Sérgio Odilon. Op. cit.. 79. Entretanto, se, uma família
numerosa era sinônimo de status, o contrário se dizia daqueles casais que não tinham filhos. A falta de
filhos era concebida como um “castigo de Deus”. Essas ideias a respeito da família, refletem as
características peculiares do mundo camponês, cuja sobrevivência se apoiava na terra, que era explorada
basicamente através da mão de obra familiar.
82
vínculo entre o padrinho e o afilhado, mas também entre os compadres, sendo que entre
os colonos, ambos tinham a mesma importância.
94
Segundo os registros paroquiais,
assim como a maior parte dos cônjuges era escolhida dentro do grupo, o mesmo
também ocorria para com os padrinhos. Estes geralmente eram escolhidos entre
parentes, vizinhos ou amigos. A tabela a seguir ilustra bem a nossa ideia.
TABELA 5 ORIGEM ÉTNICA DOS PADRINHOS E MADRINHAS QUE
BATIZARAM FILHOS DOS IMIGRANTES E DESCENDENTES EM CAMPO
LARGO (1878-1937). NÚMEROS ABSOLUTOS E RELATIVOS.
Períodos
1878-
1887
1888-
1899
1900-
1910
1911-
1920
1921-
1930
1931-
1937
1878-
1937
N° de
batismos 60 760 867 919 1003 670 4279
# % # % # % # % # % # % # %
Padrinho
italiano
55 92% 723 95% 831 96% 864 94% 931 93% 615 92% 4019 94%
Madrinha
italiana
54 90% 727 96% 834 96% 873 95% 942 94% 634 95% 4064 95%
Padrinho
de outra
origem
5 8% 37 5% 36 4% 55 6% 72 7% 55 8% 260 6%
Madrinha
de outra
origem
6 10% 33 4% 33 4% 46 5% 61 6% 36 5% 213 5%
Total de
padrinhos
120 1520 1734 1838 2006 1340 8558
FONTE: REGISTROS DE BATISMO DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO (CAMPO LARGO) E
Nª SRA. DA PIEDADE (CAMPO LARGO).
A tabela 5 mostra que, durante praticamente todo o período analisado, foi
predominante a escolha dos padrinhos dentro do grupo italiano.
95
Assim como os
casamentos, as escolhas interétnicas representam cerca de 6% dos padrinhos e 5% para
as madrinhas. A tabela aponta que os maiores percentuais de padrinhos e madrinhas
escolhidos fora do grupo ocorreram na geração dos pioneiros. Provavelmente, a
associação com os brasileiros por meio do compadrio reflita as necessidades de
estabelecer contatos mais íntimos, ou mesmo, uma maneira de obter favores de pessoas
socialmente importantes. Da mesma forma, o período inicial é caracterizado pelo
94
WOORTMANN, Ellen F. Herdeiros, parentes e compadres: colonos no sul e sitiantes no nordeste.
São Paulo: Edunb, 1995. p. 199.
95
É importante salientar que dentre os registros paroquiais levantados, entre os italianos, salvo raras
exceções, a presença de um padrinho e uma madrinha. Situação contrária por exemplo é verificada
entre os alemães analisados por Woortmann e Nadalin. WOORTMANN, Ellen. Op. cit e NADALIN,
Sérgio Odilon. NADALIN, Sérgio Odilon. O Compadrio batismal a apartir dos registros paroquiais:
Sugestões Metodológicas II disponível em < www.abep.nepo.unicamp.com.br
>
83
processo de socialização entre as próprias famílias imigrantes, bem como de construção
do sentimento de pertencimento étnico, que estava em início de seu processo. Por outro
lado, percebemos que a partir do quarto decênio (1911-1920) há um aumento dos
compadres escolhidos fora do grupo, o que pode ser resultado da própria mobilidade de
algumas famílias.
Em relação à diferença de gênero, percebemos que, no total, as maiores taxas de
compadrio interétnicas foram para os padrinhos. Em uma sociedade caracterizada pelo
patriarcalismo, na construção da etnicidade verifica-se que o compadrio, embora com
uma pequena diferença, foi uma das poucas relações em que se privilegiou a mulher
dentro do grupo. Desde pelo menos a Idade Média era disseminada a ideia de que eram
os padrinhos e não os pais que se tornariam responsáveis pela educação religiosa da
criança, sendo encarregados de lhes ensinar o credo, o pai-nosso e os dez
mandamentos.
96
Na comunidade colonial italiana era principalmente a mulher a
responsável pela transmissão dos valores morais e pela educação dos filhos. Na
concepção cristã, os padrinhos seriam os “segundos pais” que deveriam zelar pelos
afilhados na falta destes. Assim, as maiores taxas de madrinhas dentro do grupo,
poderiam estar ligadas à própria função atribuída à mulher naquela sociedade. Se era ela
a responsável pela guarda da tradição e da transmissão dos valores, seria lógico que
preferencialmente elas fossem escolhidas entre os seus semelhantes.
Ao analisar os registros de batismo, constatamos que, mais que dentro do grupo,
as escolhas dos pais espirituais eram efetuadas entre residentes da mesma colônia.
97
Exemplo disso pode ser visualizado a partir da descendência de um casal. Bernardino
Carlesso, com 32 anos, e Maria Zanin, com 30 anos, oriundos da província de Vicenza,
região do Vêneto, chegaram a Campo Largo em janeiro de 1889 juntamente com seus
dois filhos (Domenico e Elisabetta com 6 e 3 anos, respectivamente). Na colônia
Rondinha, onde o casal passou a residir, nasceram mais seis filhos. Dessas crianças,
somente os padrinhos do último filho não moravam na Rondinha e sim, em Antônio
Rebouças. Dos quatro primeiros filhos de Bernardino e Maria, até 1937, foram
batizados na paróquia de São Sebastião 23 netos, e destas crianças, todos os padrinhos e
madrinhas escolhidos eram moradores da colônia Rondinha, assim como de origem
italiana
96
GOODY, Jack. Op. Cit. p.183.
97
Situação muito próxima observou Ellen Woortmann, para as colônias alemãs do Rio Grande do Sul.
Segundo a autora, em seu estudo, foram raras as relações de compadrio entre famílias de colônias
distintas. WOORTMANN, Ellen F. Op. cit. p. 199.
84
A tabela a seguir, elaborada a partir de um conjunto de fichas de família em que
foi possível saber o local de residência dos pais e padrinhos pela frequência nos
registros paroquiais, ilustra esse aspecto.
TABELA 6
RELAÇÃO ENTRE O LOCAL DE RESIDÊNCIA DOS PAIS E DOS
PADRINHOS (1878-1937) : FAMÍLIAS RECONSTITUÍDAS (NÚMEROS
ABSOLUTOS E RELATIVOS)
1878-
1887
1888-
1899
1900-
1910
1911-
1920
1921-
1930
1931-
1937
1878-
1937
# % # % # % # % # % # % # %
Mesma
colônia
92 94% 433 89% 616 84% 609 83% 256 75% 44 80% 1365 83%
Colônia
diferente
3 3% 35 7% 80 11% 89 12% 61 18% 7 13% 193 12%
Não
identificado
3 3% 18 4% 35 5% 34 5% 25 7% 4 7% 92 5%
Total 98
100 486
100
732
100
732
100
342
100
55
100
1650
100
Fonte: registros de batismos das paróquias de São Sebastião (Campo Largo) e Nª Sra. da Piedade
(Campo Largo).
Os dados da tabela são exemplificativos de como os vínculos entre famílias eram
firmados pelo compadrio. Também servem para reforçar nossa hipótese sobre as
solidariedades de sangue ou vizinhança que eram realizadas entre os colonos, além de
ser importantes para a criação de um sentimento de pertencimento grupal. A escolha de
pessoas que falavam a mesma língua, que partilhavam da mesma cultura e que estavam
mais próximas (aqui o no sentido territorial) também poderia ser uma forma de
delimitar “fronteiras”, de marcar a diferença com o outro. Além do mais, convidar
determinado parente, amigo ou vizinho para batizar seu filho poderia ser uma forma de
retribuir uma solidariedade ou um favor oferecido. Nas colônias italianas, era comum
recorrer aos vizinhos e amigos para a realização de trabalhos agrícolas, os chamados
mutirões ou troca de dias. Geralmente esses mutirões ocorriam em situações diversas
(como em caso de doenças, morte na família etc.) ou para executar rapidamente
determinados trabalhos agrícolas como a colheita. Os vizinhos se reuniam para ajudar a
família envolvida a realizar trabalhos que ela sozinha não podia dar conta. A
participação era espontânea e a retribuição à ajuda era considerada obrigação coletiva.
Essa tabela foi organizada somente a partir das famílias reconstituídas, tanto das fichas “M” (aquelas em
que o registro de casamento é conhecido) assim como das fichas “E” (aquelas que não temos o registro de
matrimônio, mas apenas a sequência de filhos encontrada nos registros de batismo). A relação que se
estabeleceu leva em conta a menção do local de residência dos pais e padrinhos, nos registros de
batismos.
85
Essas ocasiões são ilustrativas para percebermos os nculos de compadrio como um
possível resultado de um sistema de solidariedade entre famílias.
Também em todas as colônias italianas que pesquisamos, como produto desse
sistema de solidariedades entre famílias, existiu durante muito tempo uma associação
denominada Caixa Mortuária, que era destinada às despesas funerais dos moradores da
colônia. Cada família pagava periodicamente certa quantia, cujo dinheiro seria usado na
assistência aos sócios, quando adoeciam gravemente. Num sistema de rodízio, homens e
mulheres (conforme o doente) se revezariam para cuidá-lo durante a noite, assim como
as famílias se revezavam para ajudar a cuidar da lavoura do enfermo (principalmente se
fosse o chefe da família). Essas organizações, características do meio colonial, além de
ser uma forma de enfrentamento das adversidades, numa época em que não havia
qualquer tipo de assistência dos poderes públicos, também evidenciam os traços típicos
de uma comunidade bastante ativa.
98
Além do fortalecimento das solidariedades familiares ou de vizinhança, o
compadrio também poderia ser uma estratégia para se conseguir algum benefício ou
estreitar um laço de amizade, assim como adquirir prestígio ou status. Em 1936, por
exemplo, foi realizada a pintura interna da paróquia São Sebastião, e também da igreja
da colônia Campina. As obras foram chefiadas por um pintor italiano, de nome
Anacleto Garbaccio, famoso por seus trabalhos decorativos nas igrejas. Ao longo dos
registros de batismo desse ano, vemos que ele aparece como padrinho de várias
crianças.
99
Em relação aos casos em que os padrinhos eram escolhidos fora do grupo,
podemos encontrar uma diversidade de situações. Nos primeiros tempos da colônia
Antonio Rebouças, por exemplo, a quase totalidade dos padrinhos e madrinhas
brasileiros, escolhidos pelos imigrantes italianos, eram membros da família Torres.
Aliás, o Comendador Mariano Torres era um grande proprietário de terras na região e
foi incentivador da imigração, inclusive doou parte do terreno onde foi construída a
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na referida colônia.
100
A escolha de membros da
família Torres para apadrinhar muitos filhos dos colonos contribuiu para que as taxas de
padrinhos escolhidos fora do grupo fossem maiores entre os pioneiros. É claro que essas
98
Novamente podemos nos reportar ao conceito de comunidade definido por Tönnies, citado na nota 55.
99
Conforme consta nos livros de batismo da paróquia de São Sebastião e no Livro Tombo da mesma
paróquia.
100
Conforme consta na ata de inauguração da Igreja, várias autoridades estavam presentes e assinaram o
documento, inclusive diversos membros da família Torres. FEDALTO, Pedro. Op. cit. p. 49.
86
escolhas não eram aleatórias, mas sim formas específicas de reciprocidades, que de
alguma maneira visavam à obtenção de favores, prestígio ou status.
Vimos no capítulo anterior que a maior parte das terras para a construção das
igrejas foi doada pelas famílias brasileiras mais abastadas. Assim a escolha de um
membro desta ou daquela família da sociedade receptora para batizar um filho poderia
simbolizar também uma forma de agradecimento, de reciprocidade social. Na mesma
direção, a seleção de padrinhos de outras etnias, como os poloneses que eram vizinhos a
algumas colônias, ou mesmo moravam ao lado dos italianos. Convidá-los para batizar
um filho poderia ser uma maneira de aproximação, ou mesmo de apaziguamento das
diferenças, indícios de que a “fronteira etnocultural” estava sendo deslocada.
2.4 Do Vêneto às colônias de Campo Largo: a religião como fator de
identificação coletiva.
Além dos vínculos familiares e das solidariedades de sangue e vizinhança
criadas ou recriadas na sociedade de adoção, a religião católica praticada pelos
imigrantes teve um papel bastante importante como fenômeno de identificação coletiva.
Como já mencionamos no capítulo anterior, a religiosidade diversa dos italianos e
brasileiros foi encarada como mais uma das diferenças entre os dois grupos, ou seja,
mais um elemento de estranhamento. Embora ambos fossem católicos, a forma como
essa religião era vivida e praticada no Brasil e na Itália divergia muito.
101
A
historiografia recente sobre imigração italiana tem criticado os trabalhos anteriores, que
defenderam a ideia de que a religião católica foi o único e principal elemento de
construção da italianidade e de que os imigrantes italianos e seus descendentes não se
identificavam com a pátria Itália. Entre esses trabalhos, que têm abordado de forma
crítica a construção da identidade na área colonial italiana, podem ser destacados a obra
de Paulo Possamai
102
, que questiona a afirmação recorrente na historiografia tradicional
que a identificação dos imigrantes se deu apenas pela catolicidade, demonstrando que
também se identificavam como italianos. Na mesma direção o trabalho de Claricia
101
Sobre essas questões, mais especificamente, as diferenças entre o catolicismo de imigração e o
catolicismo brasileiro, ver, entre outros: AZZI, Riolando. O catolicismo de imigração. In. DREHER,
Martin N. Imigrações e História da Igreja no Brasil. Aparecida : Editora Santuário, 1993. BEOZZO,
Oscar. As Igrejas e a Imigração. In. DREHER, Martin N. Imigrações e História da Igreja no Brasil.
Aparecida : Editora Santuário, 1993 e BENEDUZI, Luis Fernando. Imigração italiana e catolicismo.
Porto Alegre : Edipucrs, 2007.
102
Ver; POSSAMAI, Paulo. Op. Cit.
87
Otto
103
mostra os conflitos e os jogos de poder existentes na região do Vale do Itajaí a
partir dos diferentes projetos de catolicizar e italianizar empreendidos pela Igreja
Católica e pelo governo italiano, respectivamente. O que queremos salientar é que o
nosso ponto de vista é de que a religiosidade trazida pelos imigrantes teve um papel
bastante importante na reconstrução do mundo sociocultural da terra ancestral, e assim
da configuração da identidade étnica. Entretanto, não cabe a este trabalho analisar se os
imigrantes se identificavam com a pátria, ou melhor, com a política oficial de
italianidade propagada pelo governo italiano, uma vez que nossas fontes não permitem
tal análise.
O catolicismo que os imigrantes trouxeram consigo estava impregnado do
espírito conciliar ultramontano.
104
Aliás, o norte da Itália, nas décadas finais do século
XIX, era uma das regiões da Europa mais fortemente influenciada pela Igreja. Eram
características do catolicismo nessa região, a observância estrita dos sacramentos, a
participação masculina na vida religiosa, as exteriorizações das crenças religiosas por
meio de procissões e bênçãos, o lugar de destaque que o templo religioso assumia,
assim como a extrema dependência das pessoas para com o clero. São esses elementos
básicos da religiosidade italiana, incluindo a vêneta, que nortearão a reconstrução da
vida religiosa nas colônias em Campo Largo.
Entretanto, apesar de ser uma sociedade fortemente clericalizada, a convivência
com certas formas de religiosidade camponesa, em pleno final do século XIX, ainda era
bastante comum. Portanto, o que estamos considerando como a religião dos imigrantes,
leva em conta que embora eles fossem provenientes de uma sociedade bastante
clericalizada, marcada pelas imposições da Igreja, trouxeram em sua bagagem uma série
de crenças e práticas mágicas picas de origem pa que foram mescladas ao
catolicismo. De qualquer forma, a religiosidade trazida pelo imigrante era bastante
diferente daquela praticada pelo luso-brasileiro, o que se constituiu em mais um
elemento de diferenciação.
De acordo com Emilio Franzina, no Vêneto, a sobrevivência tenaz de crenças
típicas dos cultos agrários, com crenças latentes em feiticeiras, filtros e sortilégios,
especialmente nas áreas periféricas e montanhosas, alerta-nos para a grande incidência e
103
OTTO, Claricia. Op. Cit.
104
De acordo com Ivan Manoel, entende-se o catolicismo ultramontano “como uma política católica entre
1800 e 1960 assentada nos seguintes fundamentos: 1) Condenação do mundo moderno; 2) centralização
política e doutrinária na Cúria Romana; 3) adoção da medievalidade como paradigma sócio-político.”
MANOEL in OTTO, Claricia. Op. cit. p. 14.
88
difusão desse fenômeno.
105
O próprio clero rural, evitava combater de modo profundo
essas práticas pouco cristãs, pois assim eles gozavam de uma maior autoridade, uma vez
que os camponeses esperavam do próprio padre as funções de curandeiro.
106
Na crença
popular campesina, com suas bênçãos, o sacerdote tinha o poder de curar as doenças,
afastar as chuvas de granizo, destruir as pragas que atacavam a lavoura, fazer parir as
grávidas, nascer os dentes das crianças, fazer o tempo bom, e assim por diante.
107
Essas
atribuições divinas e milagrosas conferidas ao padre, é que o confundia, muitas vezes,
com a figura de um verdadeiro mago. Numa sociedade submetida a uma grande
opressão fiscal e sujeita às bruscas oscilações do ciclo natural, assim como da vida e da
morte, o sacerdote, sendo o intermediário entre Deus e os homens, era de suma
importância, bem como uma peça de destaque na comunidade. Além de chefe da
paróquia, acumulava as funções de confidente, conselheiro dos camponeses e também
de advogado e defensor.
108
Para retomar um estudo clássico da historiografia, basta lembrarmos do sucesso
das pregações e dos exorcismos de massa efetuados por Giovan Baptista Chiesa na
região do Friuli, no final do século XVII, pesquisado por Giovanni Lévi.
109
Também, de
forma análoga, as funções mágicas atribuídas aos sacerdotes parecem em muito se
assemelhar com os poderes taumatúrgicos atribuídos aos reis, durante boa parte da
Idade Média e Moderna, em diferentes regiões da Europa, conforme aponta a obra de
Marc Bloch.
110
Essas maneiras de acreditar, características do mundo agrário, que mesclavam as
práticas católicas com crenças pagãs, que oscilavam entre o sagrado e o profano, fazem
parte de um modo de ser do camponês, caracterizado por um cotidiano extremamente
rústico, e que necessitava, ao mesmo tempo, de respostas e proteção para a vida instável
que eles levavam. Essas respostas eram buscadas nas crenças paralelas, e essa proteção
na Igreja, personalizada na figura do padre. Dessa maneira, como já foi mencionado, era
com a aldeia (na família e na Igreja) que os camponeses se identificavam. Quando a sua
sociedade não ofereceu mais condições de continuar aquele modo tradicional de vida, e
essas pessoas foram obrigadas a emigrar para um local distante, é essa organização que
105
FRANZINA, Emilio. Op. cit. p.332.
106
Sobre essas questões, ver o capítulo “A autonomia camponesa e a emigração” da obra citada.
107
FRANZINA, Emilio. Op. cit. p.332-333.
108
FRANZINA, Emilio. Op. cit. p.334.
109
LÉVI, Giovanni. A herança imaterial: Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII.
Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2000.
110
BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos. Lisboa : Estampa, 1970.
89
eles buscaram reconstruir. De acordo com De Boni & Costa, “chegando ao Brasil, os
imigrantes sentiram-se perdidos, pois viram destruído seu mundo cultural. Aos poucos,
porém, conseguiram reconstruí-lo com as devidas adaptações e de forma espontânea,
tendo por referência fundamental a sociedade rural italiana de onde provieram”.
111
Ao serem instalados nas colônias, uma de suas primeiras preocupações foi
construir suas capelas. Surgindo como organizações espontâneas, derivada da própria
forma de organização a que estavam habituados, a capela acabou por se tornar o local de
destaque da colônia. Ela funcionava como um espaço de intensa sociabilidade, uma
referência indispensável ao grupo, pois era ao seu redor que as pessoas se encontravam
aos domingos e assim exibiam o seu pertencimento. Também era um dos espaços que os
imigrantes e descendentes rememoravam a vida na terra de origem. As igrejas
construídas da mesma maneira como eram edificadas na Itália do norte (com o
campanário separado do corpo do templo) serviam como um elo simbólico, uma forma
de manter viva a imagem de um Vêneto que ficou na memória, ou mesmo a sensação de
que eles ainda estavam em território italiano.
112
De acordo com Antony Giddens, “nas
sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados porque
contêm e perpetuam a experiência de gerações”.
113
A sociedade organizada em torno da
capela foi uma marca característica da forma de ser desses camponeses, do que para eles
era ser italiano, ou melhor, da italianidade.
111
DE BONI & COSTA, Luís Alberto e Rovílio. Os italianos no Rio Grande do Sul. São Lourenço :
EST, 1984. p. 124-125.
112
Todas as igrejas das colônias estudadas foram construídas de acordo com o padrão vêneto (capela com
duas águas e com uma torre alta, separada do templo).
113
GIDDENS In HALL, Stuart. Op.cit. p.14.
90
Figura 5: Paróquia São Sebastião (Rondinha)
Figura 6: Detalhe da Torre
A capela e seus anexos, o sino e o campanário, a escola, o salão de festas, o
cemitério são elementos intrínsecos à identidade italiana e funcionavam como
elementos de territorialização, demarcadores do espaço colonial. Uma característica
marcante dos templos religiosos das colônias italianas, como mencionado acima, é a
presença do campanário. Este, nas pequenas comunidades rurais da Itália era uma
referência territorial, um verdadeiro divisor de águas entre o conhecido e o
Aos pósteros
O povo de Rondinha
Como testemunho
De sua fé invicta
Esta obra
monumental
Inaugurada no ano
Eucarístico
29-10-1933
A Cristo Rei
Elevaram
91
desconhecido.
114
Torna-se o centro mágico do mundo camponês, que articula uma
identidade temporal e outra territorial.
115
Herdado do modelo medieval, ele traz um
componente simbólico bastante importante. No alto das torres estavam os sinos, que
serviam para marcar, e mesmo controlar, o tempo e a vida na colônia. Para cada evento,
existiam toques diferentes, por exemplo, para anunciar a morte (se era um homem ou
uma mulher, adulto ou criança). Também havia a crença de que o sino, por ser benzido,
como que “abria as portas do céu” e avisava a Deus que mais uma alma estava
chegando, assim como servia para espantar o demônio.
116
Figura 7: Igreja de Nossa Senhora Figura 8: Igreja do Senhor Bom
da Anunciação (Colônia Mariana) Jesus Colônia Timbutuva (antigo
Caratuva)
Entretanto, devido à importância assumida pelo templo religioso, a construção
do seu local, assim como a escolha dos padroeiros, foram motivo de intensas e calorosas
disputas. Diversos estudos que se dedicaram a analisar comunidades italianas no Sul do
Brasil mostram que essas ocasiões foram constantes, e em Campo Largo a situação não
114
BENEDUZI, Luis Fernando. 2004. Op. cit. p. 141
115
ibid
116
BATTISTEL, Arlindo. Op. cit. p. 43-44. Na crença popular dos camponeses italianos, no momento da
morte, havia uma certa disputa pela alma do falecido, entre os anjos e os espíritos malignos. Daí a
necessidade da importância da presença do sacerdote no momento final da vida (para ministrar a extrema-
unção), assim como das orações e das missas encomendadas aos fiéis defuntos, muito comum no meio
colonial italiano. Sobre essas questões, ver o livro de FOCHESSATO, Iloni. Descrição do culto aos
mortos entre descendentes de italianos no Rio Grande do Sul. Caxias do Sul : EST-UCS, 1977.
92
foi diferente.
117
Como mencionamos, apesar de oriundos do Vêneto, os colonos não
constituíam grupos homogêneos. Assim, na escolha dos padroeiros, por exemplo, cada
um queria escolher os santos de sua aldeia de origem. Não raro, muitas capelas tinham
mais de um padroeiro.
“As capelas tinham mais de um padroeiro, mas veja, onde eu nasci é Nossa
Senhora do Carmo, Santo Antonio uma grande festa, Nossa Senhora do Monte Bérico
uma festa no final de agosto, depois eles tinham São Roque. Ferraria tinha Senhor
Bom Jesus, mas também Nossa Senhora do Carravaggio, Timbotuva senhor Bom Jesus,
mas também nossa Senhora do Rosário, também São Valentim lá, Mariana Nossa
Senhora da Anunciação, mas também São Pedro e São Lourenço, Rondinha São
Sebastião depois nossa Senhora das Dores, Miqueleto Nossa Senhora do Rocio, aaa eles
tinham outros santos também”.
118
Figura 9 :Martírio de São Sebastião tendo como paisagem de
fundo a paróquia. (Pintura interna da Igreja)
Em relação às colônias que são objeto de nosso estudo, é interessante observar
como certos elementos, característicos da religiosidade imigrante, eram determinantes
117
Só para cita alguns trabalhos que trataram do assunto, ver: SILVA (2001), VENDRAME (2007),
BENEDUZI (2008), POSSAMAI (2005), entre outros.
118
Entrevista concedida ao autor, por D. Pedro Fedalto, em 23/12/2008.
93
na escolha dos padroeiros, ou mesmo do local de construção da capela. Um exemplo
pode ser ilustrado a partir de um evento ocorrido em 1884, seis anos após a fundação da
colônia Antonio Rebouças. De acordo com Pedro Fedalto,
119
os colonos foram afligidos
por uma epidemia, que, pelas constatações médicas da época, referia-se à febre miliar.
Segundo os relatos, em poucas semanas, morreram 13 pessoas (um número
relativamente grande para uma população de pouco mais de 150), além de outras terem
adoecido. O povo se reuniu em um oratório familiar
120
para rezar e pedir a Deus a cura
dos doentes. Tendo cessado as mortes, os imigrantes passaram a guardar o dia 25 de
abril para as rogações a São Marcos e decidiram construir a capela dedicada à Nossa
Senhora do Carmo.
121
Conforme narra o referido autor, a restituição da saúde aos
doentes e o fim da epidemia, em função da promessa realizada, foram fundamentais
para unir a comunidade para a construção da capela, que antes estava dividida, tanto em
relação ao local de construção como em relação à escolha do padroeiro. As próprias
disputas para decidir quem seria o padroeiro da capela remetem ao plano das
identificações das comuni de origem de cada família. Oratórios familiares ou os
chamados capiteos construídos em louvor a um determinado santo de devoção estão
intimamente ligados às tentativas de se presentificar elementos simbólicos de cada
microrregião do Vêneto. Da mesma forma, os próprios santos escolhidos como
padroeiros remetem às tentativas de se reelaborar a terra de partida.
119
FEDALTO, Pedro. Op. cit. p. 32-36.
120
Antes da construção das igrejas, a ereção de capiteos (pequenos oratórios familiares) onde as pessoas
se reuniam para rezar, era bastante comum na área colonial italiana. Muitos desses oratórios, geralmente
construídos em honra a algum santo, existem até hoje.
121
Não foi possível averiguarmos essas informações nos registros paroquiais. Segundo o livro do autor
citado, escrito em 1978, os óbitos das pessoas que morreram nessa epidemia, foram registrados no livro 5
de óbitos da Paróquia Nossa Senhora da Piedade. Entretanto, esse livro parece ter sido extraviado, pois
não se encontra no acervo da paróquia. Também no cartório de registros civis de Campo Largo não
encontramos os registros das 13 pessoas, mas apenas de seis pessoas, talvez porque, à época do ocorrido,
ainda não fosse obrigatório o registro civil, ou mesmo não fosse o costume dos italianos de frequentar o
cartório para registrar os óbitos.
94
Figura 10: Igreja de Nossa
Senhora do Carmo (Colônia Antônio Rebouças)
Eventos semelhantes, com devoções surgidas a partir de promessas, aconteceram
em outras colônias. Exemplo disso foi uma epidemia de tifo, ocorrida em 1906 na
colônia Campina em Campo Largo, em que várias pessoas adoeceram, sendo que em
uma família específica todos ficaram doentes. Na ocasião foi feita uma promessa à
Nossa Senhora da Saúde, pedindo a cura dos enfermos e o fim das mortes. Assim como
no caso anterior, foi escolhido o dia 15 de maio para lembrar o ocorrido, e durante
muitos anos essa data era considerada feriado na colônia, além de a referida santa ter se
tornado uma das padroeiras da igreja.
122
No Vêneto, em Veneza no culo XVII foi
construída uma basílica em honra à Nossa Senhora da Saúde depois da passagem de um
surto de peste. Assim, essa santa passou a ser invocada para cura das pessoas quando
adoeciam no norte da Itália. Também numa região próxima à colônia Campina,
chamada de Botiatuva, em 1918 um surto de febre espanhola fez várias vítimas. Os
moradores do local fizeram uma promessa para São Roque (considerado protetor das
enfermidades), cuja capela nesse local foi edificada em homenagem a esse santo.
122
AGGIO, Osmar. Op. cit. p. 104. A colônia Campina tem por padroeiro São João Batista, mas também
Nossa Senhora da Saúde, em função da promessa realizada.
Figura 11: Placa Comemorativa da
promessa feita a Nossa Senhora do
Carmo em 25.04.1884
A colônia Antônio Rebouças celecra com
reconhecimento o voto feito a Nossa Senhora
do Carmo em 25 de abril de 1884 por ocasião
da epidemia em que morreram 13 pessoas.
25 de abril de 1884
95
Figura 12: São Roque (protetor contra a peste)
Um outro acontecimento que ficou gravado na memória coletiva dos
descendentes de italianos de Campo Largo foi a cura de um menino, chamado João
Gasparetto, que havia ficado paralítico aos 12 anos de idade, em função da doença que
contraíra (o tifo). Alguns anos depois, em 1920, levado por seus pais a Paranaguá, na
celebração de Nossa Senhora do Rocio, o rapaz foi curado. Após esse evento, a família
em agradecimento doou para a capela da comunidade onde residia, uma imagem da
santa, que também passou a ser padroeira dessa igreja, dedicada a São João Baptista. Se
fossemos investigar mais intensamente a memória popular dos descendentes de italianos
da região, poderíamos encontrar vários outros casos semelhantes, além desses
mencionados.
O que se pretende salientar é que, se a escolha dos padroeiros em algumas
ocasiões era motivo de desavenças entre os colonos, existiam outras situações em que
congregavam a comunidade, como aquelas mencionadas acima. De qualquer forma,
essa característica “santoral” da religiosidade carregada pelos imigrantes, que
posteriormente o catolicismo ultramontano buscou trazer para o controle da Igreja,
remete a costumes típicos do mundo rural de onde eles provêm. Recorrer ao santo para
obter determinados favores ou pedidos era prática comum, e cada santo tinha uma
especialidade, como, por exemplo: São Roque protetor contra a peste; São Valentim,
contra os ataques; Santa Bárbara, contra as intempéries climáticas; Santo Antonio, para
os momentos difíceis; Santa Ana, para as mães e parturientes; São Paulo, contra as
96
picadas de cobras; e assim por diante.
123
Em geral, as preocupações dos camponeses, as
quais são expressas em uma série de superstições e pedidos de bênçãos, giram em torno
da esfera produtiva, fundamental para a sobrevivência dessa população. Aliás, o próprio
calendário litúrgico foi construído pela sobreposição às comemorações pagãs, que
geralmente estavam vinculadas ao ciclo da natureza.
124
Como veremos no capítulo seguinte, a prática de nomear as crianças a partir dos
santos também podia representar devoções particulares, ou mesmo uma forma de
estabelecer um contrato, uma dádiva entre a criança, ou os pais dela e o santo patrono.
Acreditamos que essas práticas estavam intimamente ligadas às próprias dificuldades de
instalação em um novo espaço. Assim, a recorrência ao sagrado, além de ser um
componente comum do mundo de origem dos imigrantes, também era uma maneira de
amenizar a situação provocada pela mudança. De fato, os dias sagrados no mundo
colonial italiano eram muitos, como aponta o trecho do depoimento a seguir transcrito:
“(...) eu vou dar sempre o exemplo de onde eu nasci, eles não tinham padre
então eles rezavam de manha e de tarde. Eles tinham muitos dias santos, a Igreja tinha
os domingos e nove dias santos, a Igreja. Eles tinham lá: em janeiro São Sebastião,
fevereiro dia 2 Nossa Senhora das Candeias, 14 São Valentim, março dia 19 São José,
25 Anunciação do Senhor, abril, lá na colônia era muito lembrado o dia 25 de abril, eles
fizeram uma promessa porque tinha morrido muita gente naquele dia até hoje depois de
quase 130 anos eles ainda comemoram esse dia. Depois havia junho 13, Santo Antonio,
24 São João, 29 São Pedro, julho, 16 Nossa Senhora do Carmo, agosto dia 6 senhor
Bom Jesus, dia 15 Nossa Senhora da Assunção, dia 16 São Roque, setembro dia 8
Nossa Senhora da Luz depois eles guardavam o dia de todos os santos em novembro,
depois todos os mortos, dia 15 Nossa Senhora do Rocio, dezembro guardavam dia 08,
evidente o Natal e depois o dia seguinte Santo Estevam. Eles tinham muitos dias santos,
mas eles eram livre não dependiam de ninguém, eles guardavam e o povo ia a igreja.
No tempo que eu era criança todos iam a igreja, ninguém faltava, homens e mulheres,
eles iam mais de manha, eles iam de manha as nove, nove e meia e a tarde as duas
horas, e isso foi até recentemente”.
125
Entre os imigrantes e descendentes de origem italiana, além do culto aos santos é
bastante forte aquele referente à Nossa Senhora. Dessa forma, na região colonial italiana
do Sul do Brasil aparecem devoções das mais variadas como: Nossa Senhora dos dois
corações, da cabeça, da Boa Viagem ou do D’ancino.
126
A devoção mariana é uma
prática familiar e durante muito tempo foi um costume generalizado, que simbolizava as
famílias de bons cristãos. A reza do terço é um costume trazido da Itália, especialmente
123
BATTISTEL, Arlindo Itacir. Colônia Italiana: Religião e costumes. São Lourenço : EST, 1981. p.
44.
124
BENEDUZI, Luis Fernando. 2004. Op. cit. p. 148.
125
Entrevista concedida ao autor, por D. Pedro Fedalto, em 23/12/2008.
126
GALIOTO, Antonio. “O significado das capelas nas colônias italianas do Rio Grande do Sul”. . In:
BONI, Luis de. A presença italiana no Brasil. vol. I Porto Alegre : Fondazione Giovanni Agnelli. Ed.
Est., 1990.p.310.
97
da região do Vêneto, ocasião em que podia reunir, além da família, toda a comunidade,
substituindo, aos domingos, a própria missa, em função da falta de sacerdotes.
127
Aliás, como o próprio depoimento menciona, a falta de sacerdotes foi um
problema enfrentado em praticamente todos os núcleos coloniais do Sul do Brasil.
Como mencionamos, o sacerdote era um personagem imprescindível na organização
social dos italianos. Assim, devido à carência de religiosos e à má fama do clero
brasileiro, os imigrantes passaram a escolher dentro do grupo um líder religioso leigo
para coordenar as orações dominicais da comunidade.
No norte italiano, o sacerdote era
visto como um verdadeiro modelo de conduta e de valores morais e éticos. Já no Brasil
a situação dos sacerdotes era completamente diferente, pois muitos não seguiam o
celibato clerical, se envolviam em disputas políticas, além de frequentemente estarem
envolvidos em escândalos. Também é importante mencionar a questão da ngua.
Embora tivessem a opção de frequentar uma igreja, para o grupo era muito mais
cômodo fazer a sua própria organização religiosa, que seria partilhada entre seus iguais,
do que comparecer a uma celebração em língua estranha a sua, sem falar na distância
entre as colônias e a paróquia de Campo Largo que ficava no centro do município.
A escolha do líder religioso da comunidade era feita com base nos valores
morais e religiosos, e sempre eram homens que tinham algum tipo de instrução. O
fenômeno dos “padres leigos”, como é chamado pela historiografia, foi comum a
diversas colônias italianas do Brasil. Suas atribuições variavam de local para local, mas,
em geral, eram responsáveis pelo catecismo das crianças, pela recitação do terço e das
orações dominicais, por organizar as vigílias para os defuntos e chamar o padre em
casos urgentes.
128
Em algumas regiões, como no Rio Grande do Sul, por exemplo, a
carência de sacerdotes era tão grande que os padres leigos chegavam a ministrar
batismo às crianças e a benzer objetos. Com a chegada das ordens religiosas e a difusão
do catolicismo ultramontano, os padres leigos passaram a ser combatidos.
129
O clero via
como supersticiosa a religiosidade desenvolvida por eles, que era estritamente ligada à
sociedade camponesa que atendiam. Em algumas regiões a atividade sacerdotal leiga
127
COSTA, Rovílio. Culto a Maria entre os descendentes italianos do Rio Grande do Sul”. In: BONI,
Luis de. A presença italiana no Brasil. vol. II Porto Alegre : Fondazione Giovanni Agnelli. Ed. Est.,
1996. p. 534.
128
POSSAMAI, Paulo. 2005.Op. cit. p.131-132.
129
Ibid..
98
chegou a ser causa de disputas com a Igreja, principalmente quando os colonos não
aceitavam as imposições de determinado sacerdote.
130
A figura do sacerdote, assim como no Vêneto, sempre foi de destaque no meio
colonial, havendo uma estreita identificação entre ele e os colonos. Entretanto é
importante mencionar que esse estreita identificação, nem sempre fluía perfeitamente.
Conforme salienta historiografia, apesar de toda a autoridade que o padre dispunha no
meio colonial italiano, não foram raras as desavenças entre padres e colonos ou entre
ordens religiosas diferentes.
131
A sua importância não estava ligada apenas ao fato de
ele ser um guia espiritual e fonte mítica de poder e autoridade, mas também porque ele
agia como um verdadeiro mediador das relações humanas no espaço colonial. A
comunidade dependia dele sob muitos aspectos: confortava os doentes, opunha-se
àqueles que exploravam o povo, mas também interferia em questões pessoais e
familiares, orientava jovens e casais, intervinha em assuntos econômicos e até em
problemas agrícolas.
Dada a importância que os colonos atribuíam ao padre, houve uma série de
disputas entre as colônias, envolvendo a sede da paróquia e a residência sacerdotal, no
início da colonização. Inclusive, os colonos chegavam a reclamar quando um sacerdote
não prestava os devidos atendimentos espirituais. Dedicamos a parte final do capítulo
anterior à discussão de como se formou a paróquia que é o objeto desta dissertação.
Vimos que, com frequência, os colonos se reuniam para reivindicar ou mesmo protestar,
quando seus pedidos não eram atendidos. A busca incessante pela assistência religiosa
regular e por um sacerdote residindo em sua colônia mostra-se como um indício de
como essas pessoas vivenciavam uma organização comunitária específica, um modo de
ser que buscavam reconstruir a todo custo. A organização das comunidades em torno da
capela, onde o sino controlava os movimentos do tempo e o sacerdote, as normas de
conduta, com suas crenças e costumes religiosos, que, muitas vezes, oscilavam entre o
sagrado e o profano, são elementos importantes para a redefinição da sociedade
camponesa tradicional que havia ficado para trás.
130
Sobre o fenômeno dos padres leigos além da obra citada, existe abundante bibliografia que trata do
assunto como: BATTISTEL (1981), MERLOTTI (1976), AZZI (1987), entre outros.
131
Entre outros, ver o trabalho de: BENEDUZI, Luís Fernando. “A queda de um semi-deus: o mito do
sacerdote na imigração italiana”. In. História-Unisinos. jul/dez 2002.
99
2.5 Um bem simbólico: os nomes de batismo
Vimos até aqui que a família e a sociabilidade ordenada em torno da religião
foram signos muito importantes, acionados na construção de um sentimento de
pertencimento grupal. Nessa direção, esses dois signos, também estão intimamente
ligados às práticas de transmissão de nomes de batismo efetuadas pelo grupo no
decorrer do período analisado, e que, por sua vez, também se torna um outro signo
bastante relevante para a análise da identidade étnica.
Nas últimas décadas, os nomes de batismo tem sido objeto de interesse de
diferentes pesquisadores (historiadores, sociólogos, antropólogos, linguistas,
demógrafos), em função das hipóteses de análise que estes autorizam, como as regras de
funcionamento de uma comunidade
132
, as normas de transmissão de bens reais e
simbólicos, a ação do Estado e da Igreja,
133
as crenças religiosas,
134
a modernização da
sociedade,
135
as relações de gênero, e o desenvolvimento do gosto e da moda. Para os
propósitos desta pesquisa, temos que o nome, tanto para quem o atribuiu como para
quem o recebe, é um elemento muito importante na definição da identidade. Conforme
Leite de Vasconcellos, em seu estudo clássico de Antroponímia Portuguesa, o nome
passa a ter simultaneamente uma dimensão social e uma dimensão moral, articulando as
identidades pessoal e social dos indivíduos e contribuindo, assim, para a constituição
social e moral da pessoa”
136
. Nessa mesma direção, “o nome, a nível pessoal se torna
expressão de identidade. O ser humano se familiariza com seu nome, tornando-se um
com ele. Assim, nomes, não ‘significam’ no sentido usual da palavra, mas
‘designam’.”
137
132
DÛPAQUIER, Jacques. “Introduction” In. prénom, mode et Histoire Les Entretiens de Malher ,
1980. Édition de L’École des Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris.
p. 7
133
SCHNAPPER, Dominique. “Essai de lecture sociologique” In. prénom, mode et Histoire Les
Entretiens de Malher , 1980. Édition de L’École des Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris.
p. 14
134
BURGUIÈRE, André. “Prénoms et parenté” In. prénom, mode et Histoire Les Entretiens de
Malher , 1980. Édition de L’École des Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris.
e KLAPISCH-ZUBER, Christiane. Constitution et variations temporelles des stocks de prénoms” In.
Lê prénom, mode et Histoire Les Entretiens de Malher , 1980. Édition de L’École des Hautes Etudes em
Sciences Sociales, Paris.
135
SMITH, D. S.“Child-naming practices, kinship ties, and change in family attitudes in Hingham,
Massachusetts, 1641 to 1800” Journal of social history 18, 1985 p. 541-566
136
VASCONCELLOS In. ROWLAND, Robert. “Práticas de Nomeação em Portugal durante a Época
Moderna: Ensaio de aproximação”. Etnográfica, maio/2008. p.18.
137
SIEMENS, João Udo. Os prenomes dos descendentes de alemães de Curitiba. Tese de doutorado
em Lingüística, USP, 1992. p. 34.
100
No que toca à identidade de grupo, familiar ou social, Françoise Zonabend
salienta que o prenome tem um lugar importante, pois, além de servir como elemento de
diferenciação entre uma pessoa e outra, serve para marcar a diferença entre aqueles que
pertencem ou não a determinado grupo, linhagem ou família.
138
Assim, o nome é um
componente essencial da pessoa, de sua identidade. Ele pode tanto ser objeto de crenças
como estar associado a uma história, uma recordação singular, que pode ou não ter
relação com o seu portador.
139
Em relação aos grupos étnicos, Sérgio Nadalin coloca
que: “dar nome a uma criança configura um sinal ou signo dos contatos culturais
desenvolvidos, compondo um dos traços diacríticos que as pessoas procuram e exibem
para demonstrar sua identidade”.
140
O seu estudo sobre os prenomes de imigrantes
alemães e descendentes, fundados em uma paróquia luterana em Curitiba no Paraná, ao
longo de mais de um século, mostra as virtualidades dos prenomes, como signos de
pertencimento a uma cultura étnica, que se constrói e se atualiza, num processo
contraditório de contatos culturais entre o grupo alemão e a sociedade curitibana.
141
Em relação à influência da família e da religião nas formas de nomear, os
estudos de Daniel Scott Smith
142
, Glória Main
143
e Eduard Tebenhoff
144
sobre as
escolhas de nomes de batismo em diferentes regiões dos Estados Unidos
145
entre os
séculos XVII e XVIII, mostram a persistência de variações de costumes regionais
herdados da Grã-Bretanha, e que os primeiros colonizadores reproduzem e (ou)
modificam em função da nova realidade que se desdenha. Tais práticas estão
estreitamente ligadas à organização da família e suas modificações, como, por exemplo,
a emancipação da família nuclear, assim como se referem a crenças e convenções
religiosas dos diversos grupos protestantes que se dirigiram às colônias inglesas da
138
ZONABEND, Françoise. “Prénom et identité” In. prénom, mode et Histoire Les Entretiens de
Malher , 1980. Édition de L’École des Hautes Etudes em Sciences Sociales, Paris.
p. 23
139
ZONANBEND, Françoise. nom de personne”. L’HOMME. Revue française d’antropologie.
Tome XX, Octobre-Décembre 1980, n° 4. p.14-15.
140
NADALIN, Sérgio Odilon. “Um viés determinado pela etnicidade: os nomes de batismo Registros
paroquiais de uma comunidade luterana, séculos XIX e XX–” NEPO/Unicamp, 2007. p.6.
141
NADALIN, Sérgio Odilon. “João, Hans, Johan, Johannes: dialética dos nomes de batismo numa
comunidade imigrante”. Revista História Unisinos. vol.11, n°1 jan/abr 2007. Assim como o texto
citado na nota anterior.
142
SMITH, D.S. Op.cit.
143
MAIN, Gloria M. “Naming Children in Early New England” Journal of Interdisciplinary History,
XVII:I (Summer, 1996), 1-27.
144
TEBBENHOFF, E.H. “Tacit rules and hidden family structures: naming practices and godparentage
in Schenectady, New York 1680-1800Journal of social history 18, 1985 p. 567-585.
145
Mais especificamente, os estudos referem-se às regiões de Hingham (Massachusetts), Nova Inglaterra
e Schenectady (New York) respectivamente, entre os séculos XVII e XIX.
101
América.
146
Os autores também enfatizam que as alterações nas formas de nomear, bem
como o abandono do uso de nomes retirados da Bíblia ou do grupo de parentesco, assim
como o uso cada vez mais corrente de nomes emprestados da literatura, da moda, ou
inventados, foram um fenômeno estreitamente ligado às mudanças nas relações
familiares (como, por exemplo, um menor controle dos pais sobre o casamento dos
filhos), na economia e na transição dos costumes tradicionais para um comportamento
moderno. Também se referem ao crescente processo de urbanização e secularização da
sociedade, que, nas regiões estudadas pelos autores, ocorre na passagem do século
XVIII para o XIX.
Nessa mesma direção, o trabalho de J. David Hacker, sobre os Estados Unidos
no século XIX,
147
mostra a relação entre os nomes de batismo, as crenças religiosas e o
declínio da fecundidade. Segundo o autor, em muitas regiões é possível observar que as
mudanças nas formas de nomear (modernização dos nomes) refletem também o declínio
da religiosidade familiar. Nessa direção, Hacker constata que entre os grupos mais
conservadores (luteranos, batistas, episcopais e metodistas), os pais costumavam
escolher mais frequentemente nomes bíblicos para as crianças, denotando assim uma
maior religiosidade, e a conservação de atitudes mais tradicionais, como, por exemplo, a
não-limitação de nascimentos. entre os grupos mais “liberais” (unitaristas,
presbiterianos e universalistas) nos quais ocorreu mais cedo a modernização dos
prenomes, evidenciam-se atitudes mais modernas, como o uso mais corrente do controle
de natalidade e a baixa influência das crenças religiosas.
Se as transformações nas formas de nomear acompanham as mudanças sociais,
como aquelas mencionadas acima, nas sociedades ditas “tradicionais”, especialmente no
meio rural, essas modificações demoraram muito mais tempo para acontecer. Como
veremos no capítulo seguinte, os imigrantes italianos ainda manterão muito fortes
determinadas práticas culturais relacionadas à escolha dos nomes na sociedade
receptora. Um grupo de holandeses
148
em seu estudo sobre as regiões rurais da Holanda
protestante constatou uma forte relação entre o nome recebido pela criança e o grupo de
146
Entre alguns grupos protestantes, por exemplo, o abandono do compadrio teria deixado os pais mais
livres para a escolha do nome. Também a ênfase em nomes bíblicos, bastante difundidos nas regiões
estudadas pelos autores, reflete crenças específicas em relação ao nome e seus portadores.
147
HACKER, J. David. “Child Naming, Religion and Decline of Marital Fertilityin Nineteenth-Century
América.” Journal History of family. 1999, vol.4, Issue 3.
148
POPPEL, F. Van, BLOOTHOOFT, G.,GERRITZEN, D., VERDUIN, J. “Naming for kin and the
development of modern family structures: An analysis of a rural region in the Netherlands in the
nineteenth and early twentiefh centuries. The history of the family 4, 261-265 disponível em
www.let.uu.nl.gerrit.blooth/personal/HISTFAM.1999.html/
102
parentesco. Para os autores, embora a Holanda tenha sido uma das regiões da Europa
onde a família nuclear tenha se emancipado mais cedo da família tronco, e que novas
atitudes tenham se desenvolvido em relação à criança, a escolha de nomes centrados nos
ancestrais ou no grupo de parentesco permaneceu latente durante todo o século XIX e
início do XX.
Nessa direção, para a França do Antigo Regime, os trabalhos de André
Burguiére
149
e Jean Claude-Sangoï
150
mostram que os nomes dados às crianças estão
diretamente ligados à família e a expressões de religiosidade familiar. Segundo
Burguiére, as regras para a escolha do prenome são comandadas pela necessidade de se
perpetuar um patrimônio simbólico familiar. Assim, transmitir os mesmos prenomes de
uma geração a outra acabou por se tornar uma obrigação explícita. Como ambos os
autores constataram, na maior parte da França, quem escolhia o nome de batismo da
criança eram os padrinhos, que geralmente davam seus próprios nomes. Dessa maneira,
em muitos casos, estes eram escolhidos em função dos prenomes que passariam ao
recém-nascido. A escolha de determinado nome de batismo poderia ter o objetivo de
ampliar e consolidar redes de alianças familiares, bem como ser uma maneira de
identificar a criança no interior da linhagem. O advento dos registros paroquiais no
período pós-tridentino, contribuiu para reforçar a função de designação e, sobretudo, de
individualização do prenome.
151
Num sentido muito próximo, o estudo de Christiane Klapisch-Zuber, sobre
Florença nos séculos XV e XVI, mostra como os prenomes evidenciam os vínculos
familiares, seja pelo parentesco consanguíneo, seja pela ligação espiritual. Segundo a
autora, os nomes de batismo dos florentinos ilustram uma identidade solidamente
fundada sobre a filiação, especialmente pela via masculina.
152
Dessa maneira, o nome
tinha como uma das funções reconhecer o indivíduo mediante a descendência. Junto
com os vínculos familiares, os nomes de batismo estão estreitamente ligados às
devoções particulares. Em Luca e Bolonha, no norte italiano, cerca de três quartos do
149
BURGUIÉRE, André. “ Um nom pour soi”. L’HOMME. Revue française d’antropologie. Tome XX,
Octobre-Décembre 1980, n° 4.
150
SANGOï, Jean-Claude. “ La transmission d'un bien symbolique : le prénom, Bas-Quercy 1750-1872”,
Terrain, numero-4 - Famille et parenté (mars 1985), [En ligne], mis en ligne le 23 juillet 2007. URL :
http://terrain.revues.org/index2873.html. Consulté le 27 décembre 2008.
151
BURGUIÉRE, André. “ Um nom pour soi”. Op. cit. p. 38.
152
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. nom <refait>”. L’HOMME. Revue française d’antropologie.
Tome XX, Octobre-Décembre 1980, n° 4. p. 79.
103
segundo nome dos prenomes duplos referiam-se a um santo patrono, ou foram retirados
do calendário litúrgico.
153
Assim, uma das funções dos nomes combinados seria a
necessidade de conciliar um prenome da linhagem com o de um patrono religioso.
Além de os prenomes reforçarem uma marca familiar ou religiosa, eles ainda
poderiam ser uma marca social, como a transmissão de estados e posições,
especialmente entre as classes mais abastadas. Aos olhos da comunidade, determinado
prenome poderia indicar elevação social na família, assim como a escolha do nome de
alguém bem-sucedido poderia significar uma forma de obter status e prestígio.
154
Também em muitas sociedades, especialmente nas chamadas sociedades patriarcais,
uma estreita correspondência entre o sistema nomeativo e o padrão de transmissão da
herança. O filho que herdava o prenome do “cabeça da casa” também seria o herdeiro
das possessões materiais.
Seja como uma marca social, religiosa ou familiar, o nome de batismo é uma
referência identitária. Em relação ao grupo em estudo nesta dissertação, estes também
são uma outra referência de etnicidade.
155
Como foi discutido ao longo deste capítulo, a
família e a religiosidade foram signos importantes demarcadores da identidade, assim
estes signos foram praticamente a base de orientação para a escolha dos nomes entre os
imigrantes e descendentes. Por mais que o grupo italiano tenha cortado muitos laços que
os uniam à “sociedade emissora”, continuaram a manter ligações afetivas e simbólicas.
Percebendo a diferença com os outros grupos que estavam em contato, passaram a
reavaliar a orientação de seus valores fundamentais e os sinais ou signos por meio dos
quais se identificavam.
156
Assim, a forma pela qual o grupo fazia a transmissão dos
prenomes tem caráter muito relevante para a análise de como se deu o processo de
construção da identidade coletiva.
153
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. “ Lê nom <refait>”. Op. cit. p. 86.
154
SANGOÏ, Jean-Claude. “Forename, Family and Society in Southwest France (Eighteenth-Nineteenth
Centurkes). Journal History of family. 1999, vol.4, Issue 3.
155
NADALIN, Sérgio Odilon. “João, Hans, Johan, Johannes: dialética dos nomes de batismo numa
comunidade imigrante”. Revista História Unisinos. vol.11, n°1 – jan/abr 2007. p. 16.
NADALIN, Sérgio Odilon. “Um viés determinado pela etnicidade: os nomes de batismo Registros
paroquiais de uma comunidade luterana, séculos XIX e XX–” NEPO/Unicamp, 2007. p.7.
156
NADALIN, Sérgio Odilon. 2007. Op. cit. P. 18.
104
3. Na pia batismal: tradição e identidade étnica nas práticas de transmissão de
nomes de batismo.
“(...) Nomear é um importante passo no processo
de constituição da nova pessoa e de sua inserção
no grupo familiar.(...) Pelo valor simbólico e
afectivo que se lhes atribui, os nomes próprios
constituem em uma parte importante do património
familiar.”
157
“(...) não damos apenas nomes às crianças, mas as
classificamos com os nomes que lhes damos
(...)”
158
Os textos das epígrafes acima nos trazem uma reflexão muito importante acerca
dos significados presentes no ato de nomear. Receber um nome que faz parte de um
determinado estoque onomástico familiar ou étnico é sinônimo de um signo de
pertencimento que a criança recebe ao nascimento. Os nomes de batismo podem ser
entendidos como um patrimônio simbólico que são transmitidos ao longo das gerações,
bem como uma marca (familiar, religiosa, social, cultural) própria de determinado
grupo, família ou linhagem, ou seja, uma marca identitária. Nessa direção o objetivo
deste capítulo é entender como se processaram as práticas de transmissão de nomes de
batismo no interior do grupo italiano como um importante elemento de perpetuação da
tradição e principalmente de construção da identidade etnocultural. Para isso, nesta
seção, nos dedicaremos a analisar os resultados obtidos das informações do principal
conjunto de fontes utilizado nesta dissertação: os registros paroquiais.
3.1 As práticas de transmissão de nomes ao longo da história: algumas
considerações.
A manutenção do mesmo estoque de prenomes ao longo das gerações é
verificada em diferentes grupos desde a antiguidade. Portanto, não é um costume apenas
dos italianos, tampouco do mundo católico, muito pelo contrário, esta prática têm
157
LIMA, Antónia Pedroso de. “Intencionalidade, afecto e distinção: as escolhas de nomes em famílias de
elite de Lisboa”. In. CABRAL, João de Pina & VIEGAS, Susana de Matos. (Orgs). Nomes: gênero,
etnicidade e família. Coimbra: Almedina, 2007. p.41-43.
158
LÉVI-STRAUSS, Claude In MAGALHÃES JR., R. Como você se chama: estudo sócio-psicológico
de prenomes e cognomes. Rio de Janeiro : Editora Documentário. p.12.
105
origens bastante antigas. Na Bíblia, no Evangelho de Lucas, no capítulo da anunciação
do nascimento de João Batista, há esta menção:
“No oitavo dia queriam circuncidar o menino e o queriam chamar
pelo nome de seu pai Zacarias. Mas sua mãe interveio: Não, disse ela, ele se
chamará João’. Replicaram-lhe: ‘Não ninguém na tua família que se chame
por esse nome’”.
159
Essa passagem do texto bíblico nos a indicação de que a escolha de nomes
retirados do grupo familiar já era uma prática bastante comum. A própria indagação dos
parentes de Isabel não ninguém na tua família que se chame por esse nome
remete para a reprovação do grupo pela não escolha do nome de um familiar. Leite de
Vasconcellos também fala que em outros povos antigos são encontrados costumes
semelhantes. Os gregos, analogamente aos semitas, impunham aos seus filhos, em
particular ao primogênito, o nome do avô paterno; e muitas vezes o nome do pai, o que
também acontecia entre os romanos.
160
Em diferentes povos observa-se que o uso de
prenomes utilizados por antepassados, especialmente dos falecidos, era prática corrente.
Entre os diversos grupos europeus, esse costume se generalizou, sendo bastante
evidente nas casas dinásticas, mas também entre as populações camponesas. Embora
haja dificuldades em se saber como essa prática se disseminou, especialmente aquela de
transmitir os prenomes dos avós, ou dos ancestrais falecidos, algumas hipóteses são
apontadas, tais como: a transmissão de bens materiais e (ou) simbólicos, crenças
populares e a afirmação de uma identidade familiar ancorada na linhagem. É consenso
entre os autores que se dedicaram ao estudo deste tema, que essa prática era comum
muito tempo antes do advento dos registros paroquiais. Na verdade, pode ter uma
origem muito mais antiga do que se imagina, como estar relacionada aos cultos aos
antepassados, costumes que remontam às tradições pagãs do mundo greco-romano.
Porém, a partir do momento em que a Igreja se apropria do ato de nomear, vinculando-o
ao batismo, os prenomes cada vez mais vão ser escolhidos dentro de um repertório de
nomes cristãos.
No fim da antiguidade, com o advento do cristianismo como religião oficial
houve a preocupação por parte da Igreja em agregar a transmissão do prenome ao rito
do batismo. Até pelo menos o século V, tanto entre os romanos quanto entre os francos,
159
BÍBLIA DE JERUSÁLEM. São Paulo : Editora Ave-Maria, 119ª edição, 1997. LUCAS 1, 57-60.
160
LEITE DE VASCONCELLOS, J. Antroponímia Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa, 1928. p.
87.
106
a imposição do nome e o sacramento do batismo eram atos separados.
161
Ao longo dos
séculos seguintes, há uma progressiva tendência de associação por parte da Igreja
Católica do nascimento com o batismo, especialmente a partir dos séculos XI e XII,
como uma reação contra os movimentos heréticos (valdenses, cátaros) que contestavam
a utilização do batismo na infância.
162
Dessa maneira, a estreita ligação entre a
transmissão do nome durante o rito batismal, já nos primeiros dias de vida, significaria a
admissão da criança na família e, mais largamente, a sua agregação dentro da
comunidade de fiéis cristãos, que por sua vez, era controlada pela Igreja.
As mudanças onomásticas influenciadas pela Igreja entre os culos XI e XII
podem ser entendidas como parte de suas determinações e interditos sobre os sistemas
de casamento, que pretendia retirar o poder da linhagem e do grupo de parentesco.
Dentro desse contexto, especialmente a partir da reforma gregoriana, a Igreja promoveu
a difusão dos nomes dos santos, principalmente aqueles reconhecidos por toda a
cristandade, como os santos evangélicos e apostólicos, os mártires e os fundadores de
ordens religiosas.
163
Esse processo teve como resultado direto uma grande concentração
de determinados prenomes a partir do fim da Idade Média. Entretanto, ao lado dessa
revolução antroponímica, a coexistência com os costumes de atribuir à criança os nomes
dos ancestrais e dos parentes mortos da linhagem, em função da crença na reencarnação,
costumes provavelmente herdados das tradições pagãs, se mostrou bastante forte. Na
Florença dos séculos XIV e XV, o uso corrente dos prenomes duplos ilustram os efeitos
do processo de cristianização e ao mesmo tempo a permanência dos costumes ligados à
transmissão de prenomes ancorados no grupo de parentesco. Assim, o primeiro nome
normalmente referenciava um membro da família, enquanto o segundo, um patrono
religioso.
A partir do século XVI, as ações da Contra-Reforma novamente impactaram os
sistemas onomásticos. O Concílio de Trento propagou uma pedagogia religiosa do
prenome, prescrevendo que a criança deveria receber um nome de batismo cristão,
164
um nome piedoso que evocasse as virtudes do seu portador, assim como seria um
símbolo de fidelidade a Deus. Para a Igreja, a principal função do prenome era
transmitir esse valor pedagógico: a criança tinha que imitar as qualidades de seu
161
MAUREL, Christian. “Prénomination et parenté baptismale du Moyen à la Contre-Reforme. Modèle
religieux et logiques familiales”. Revue de l’histoire des religions. Anneé 1992, vol. 209, n°4. p. 394-
395.
162
ibid
163
Ibid.
164
DUPÂQUIER, Jacques. Op.cit. p. 5.
107
patrono.
165
Essa tentativa de impor a supremacia dos nomes cristãos é uma continuação
da revolução onomástica, encabeçada pela Igreja, desde o século XII. Especialmente
nas áreas pouco atingidas pelo protestantismo como a França, a Itália e a Península
Ibérica, que se mantiveram fortemente fiéis ao catolicismo, o uso dos nomes dos santos
foi acionado de maneira intensa.
166
Exemplo disso são os prenomes Maria e José que
foram transformados em arquétipos dos valores maternais e paternais. Em grande parte
da Europa Ocidental, a partir desse período é verificada uma profusão desses prenomes,
especialmente José. Conforme um estudo sobre a república florentina, a partir de censos
de domicílios, ao longo de 250 anos (1282-1532)
167
, o prenome Giuseppe praticamente
não existe nessas listas.
168
A crescente utilização desse prenome na Itália certamente
está ligada às ações da Igreja que exaltou as figuras da Sagrada Família como modelos
de virtude a serem seguidos. Também é importante destacar que o século XVI marcou o
advento dos registros paroquiais que contribuíram para reforçar a função de designação
e sobretudo de individualização do prenome.
169
A disseminação dos nomes dos patronos da Igreja nas áreas onde a reforma
católica foi mais atuante pode, em parte, explicar o porquê do uso corrente destes. Na
Itália, desde a Idade Média, a relação do nome da criança com o calendário litúrgico era
bastante significativa. Por outro lado, as mudanças provocadas pelas reformas do século
XVI também tiveram reflexos nas populações que se converteram ao
protestantismo,
que, por sua vez, impactou diretamente na distribuição dos nomes, pois nas novas
religiões não havia mais o culto aos santos. Nessa direção, muitos protestantes vão
buscar referências na Bíblia, e é justamente os nomes de personagens bíblicos que vão
ser utilizados em larga escala entre os adeptos das novas religiões. Assim como os
católicos que reiteraram o uso dos prenomes dos santos em função do seu poder
simbólico, entre os protestantes, nomes de personagens bíblicos importantes também
eram transmitidos com o intuito de que a criança herdasse as virtudes do seu portador.
165
SANGOÏ, Jean-Claude. 1999. Op.cit. p. 5.
166
De acordo com ARTIGAUT citado por SANGOÏ, em Castres, na França, 90% dos prenomes
masculinos tinham uma origem religiosa. SANGOÏ, Jean-Claude. 1999. Op.cit. p. 5.
167
Ver: <http://www.stg.brown.edu/projects/tratte/doc/TLNAME1.html> Acesso em 29/05/2009. O
referido site dá acesso a uma base de dados de cerca de 165.000 nomes, com informações sobre os
domicílios da república florentina ao longo de 250 anos de história. A base de dados foi desenvolvida
inicialmente pelo profesor David Herlihy da Harvard and Brown Universities, e completada pela direção
dos professores R. Burr Litchfield e Anthony Molho da Brown com suporte da National Endowment for
the Humanities, Division of Preservation and Access, and the Brown University Center for Computing
and Information Services and Scholarly Technology Group.
168
Nessa lista dos 165.000 prenomes, Giuseppe aparece apenas 2 vezes.
169
BURGUIÈRE, André. Op. cit. 1980. p.38.
108
Essa conexão entre o prenome e as características que a criança herdaria, independente
de ela provir da influência religiosa, familiar ou outra, revela os valores que se queriam
transmitir ao recém-nascido junto com o prenome. Muitas vezes, os pais escolhiam ou
eram compelidos a escolher nomes que invocassem atitudes e comportamentos mais
apropriados para uma devoção cristã.
Na Europa Católica, os costumes relacionados à perpetuação dos prenomes da
família, juntamente com o uso corrente dos prenomes dos santos, especialmente dos
grandes patronos religiosos; e na Europa protestante, a perpetuação dos nomes retirados
do grupo familiar somados aos prenomes bíblicos, até pelo menos o final do século
XVIII, contribuíram para a limitação dos estoques onomásticos em uso.
A grande utilização de um número limitado de prenomes foi verificada em
diferentes regiões e contextos da Europa. Em Moncarapacho, Portugal, no século XVI,
os cinco nomes mais frequentes correspondiam a 44% da população masculina e 55%
da feminina.
170
Em Fronton, na França, entre os anos de 1620 e 1659, os três nomes
mais populares representavam 61% dos meninos batizados e 43% das meninas.
171
Em
diversas regiões da França, por exemplo, durante vários séculos os prenomes Jean,
Pierre e Antoine para os meninos e Marie, Jeanne e Marguerite, para as meninas
estiveram entre aqueles mais utilizados.
172
Na Curitiba setecentista cerca de metade dos
homens chamavam-se Manoel, Francisco, José ou Antônio e a cada de dez meninas
nascida na vila e seus domínios, quatro atendiam pelo nome de Maria ou Anna.
173
Segundo vários autores, em diferentes partes da Europa pré-industrial, a estabilidade de
um reduzido estoque de prenomes deve-se à maneira como este era dado à criança. Era
prática recorrente ser os padrinhos os responsáveis pela escolha do prenome, que
geralmente atribuíam a criança o seu próprio nome.
Utilizar o mesmo nome de um ancestral (vivo ou morto), ou de algum membro
da família, além de ter a função de identificar o indivíduo no interior da linhagem e de
responder à necessidade de transmitir um patrimônio simbólico, também era sinônimo
de identidade. Cada linhagem poderia ser identificada a partir de um determinado
estoque de prenomes.
174
Na França do Antigo Regime, existia a necessidade de se
170
ROWLAND. Robert. Op. cit. p. 22.
171
SANGOÏ, Jean-Claude.1999. Op.cit. p.2.
172
ibid
173
NADALIN, Sérgio O. 2004. Op.cit. p.106.
174
PALUMBO, Bernardino. “Le même sang, le même nom, la même terre. Théories traditionalles de
l’identité sociale dans um village du Sannio”. Mélanges de l’Ecole française de Rome. Italie et
Mediterranée. Année 1992, Vol. 104, Numéro 2. p.649.
109
marcar a posição social por meio do nome.
175
para a Toscania do século XVI, Jean
Boutier salienta que a dimensão territorial dos diferentes estoques de prenomes e de
suas regras de transmissão constituem identidades locais ou regionais.
176
Para Joseph
Fucilla, na Itália, talvez mais que em outras nações, uma pessoa pode ser identificada
como nativa de uma determinada região pelo nome. Assim, para exemplificar,
Calogero, Basílio, Nunzia e Rosalia são nomes típicos da Sicília, Santo, Pasquale,
Biagio, Gennaro, Alfonso, Filomena no sul. Aldo, Oreste, Gustavo, Melchiorre, Renato
no centro e norte da Itália.
177
A variação do uso de determinados prenomes pode estar associada a fenômenos
diversos. Na França, por exemplo, a Revolução de 1789 assinalaria o advento da
modernização dos prenomes. Entretanto, no mundo rural, para os diversos grupos, a
permanência de atitudes mais conservadoras em relação à nominação tem-se mostrado
mais forte, pois era com aldeia que havia uma maior identificação. Nessa direção, o
estoque de prenomes que os imigrantes italianos trazem em sua bagagem para Campo
Largo parece ser o mesmo utilizado vários séculos no norte da Itália, o que
caracteriza as lentas mudanças que se sucediam na mentalidade camponesa. Quando
eles se instalaram na nova sociedade, os comportamentos em relação às formas de
nomear, nas primeiras gerações, permaneceram fortemente atados à sociedade emissora.
Exemplo disso pode ser visualizado na genealogia presente no anexo 5. Nesta,
percebemos que alguns prenomes se mantêm no interior da linhagem ao longo de vários
séculos, como o prenome Pietro.
A atribuição dos prenomes nas sociedades ditas tradicionais durante muitos
séculos foi determinada por regras bem precisas, estritamente ligadas à identidade social
da pessoa e ao grupo no qual ela estava inserida.
178
Assim, perpetuar de geração em
geração, no interior das mesmas linhagens, um, ou um grupo de prenomes constitui em
um emblema de pertencimento, pois o nome articula a identidade individual (de curta
duração) e a identidade social do grupo, que está fundada sobre uma memória de longa
duração.
179
A transmissão dos mesmos prenomes dos ancestrais era uma maneira de não
175
SCHNAPPER, Dominique. Op. cit. p. 19
176
BOUTIER, Jean. “Prénoms et identité urbaine em Toscane au XVIe siècle. In CASSAN, M.,
BOUTIER, J., LEMAITRE, N. (orgs). Croyances, pouvoirs et società. Etudes offerts à Louis Pérouas
Treignac, Les Monédières, 1988, pp. 143-163. p. 144. disponível em <http://www.storiadifirenze.org.>
acesso em 7/12/2008.
177
FUCILLA, Joseph. Our italian surnames. Genealogical Publishing Co., Inc. Baltimore, Unitad
States, 2003. Originally published: Evanston, Illinois, 1949. p. 4.
178
PALUMBO, Bernardino. Op.cit. p.649.
179
PALUMBO. Op. Cit. p.653.
110
perder o vínculo com a “raça da família”
180
, bem como representaria a própria
concepção de indivíduo do mundo camponês. Dessa maneira, conforme já
mencionamos, a linhagem (que não compreendia somente os vivos, mas também os
mortos) e a religiosidade trazida pelo imigrante constituirão a base de orientação para a
escolha dos prenomes de batismo nas colônias de Campo Largo.
3.2 Os nomes e sua frequência
Conforme mencionamos, as práticas de nomeação se constituem em um dos
signos acionados pelo grupo italiano no processo de construção de sua identidade e das
identificações étnicas. A análise das informações dos registros paroquiais,
sistematizados pela metodologia FLEURY-HENRY de reconstituição de famílias,
revelou que as escolhas dos prenomes não foram aleatórias, muito pelo contrário,
estavam influenciadas pela herança cultural trazida da sociedade de origem. Conforme
Robert Rowland, “independente dos nomes em si, a existência de uma distribuição
regular dos nomes próprios em qualquer população, ou a persistência dessa distribuição
ao longo do tempo, constitui um indício seguro do caráter socialmente significativo das
práticas de nomeação”
181
.
A maior frequência de determinados prenomes, assim como a menor de outros,
está diretamente ligada a mecanismos de ordem social, cultural ou religiosa. Como todo
agir humano, o ato de nomear acontece para alcançar um objetivo, e é determinado por
conhecimentos, por avaliações e motivações, que são “condicionados pela sociedade
como um todo e pelo grupo social”
182
. Assim, a escolha do prenome de uma criança não
deveria atender apenas aos interesses dos pais, mas também ser reconhecida dentro de
uma esfera válida, de uma determinada ordem, para todo o grupo.
Antes de tratarmos da distribuição dos prenomes de batismo no decorrer do
período analisado, é importante ressaltarmos as dificuldades e as limitações das fontes
utilizadas nesta dissertação. O primeiro problema refere-se à maneira de grafar os
prenomes nos registros paroquiais. Desde o início da colonização, os nomes, inclusive
dos imigrantes, são geralmente apresentados na forma portuguesa e não na forma
180
Aqui entendida como o grupo familiar, em que o indivíduo se liga dentro de uma cadeia que é
estendida ao longo das gerações.
181
ROWLAND, Robert. “Práticas de Nomeação em Portugal durante a Época Moderna: Ensaio de aproximação”.
Etnográfica, maio/2008. p. 18.
182
EICHLER In SIEMENS, João Udo. Op. cit. p. 40.
111
veneta. Exemplo disso é que a maior parte dos noivos que nasceram na Itália e se
casaram em Campo Largo, e mesmo de seus pais, tem seus nomes traduzidos no
registro de matrimônio. O intrigante é o fato que, salvo os registros paroquiais dos
primeiros anos da colônia Antonio Rebouças que estão na paróquia Sr.ª da Piedade,
os demais foram feitos por padres italianos. Qual o motivo? Registrar os prenomes dos
imigrantes em português parece ter se constituído numa tendência generalizada dos
sacerdotes para facilitar sua inserção na sociedade, ou mesmo poderia ser uma
determinação da Igreja. Segundo Sérgio Odilon Nadalin, na Comunidade Evangélica
Luterana de Curitiba, constituída por imigrantes alemães e seus descendentes, os
pastores alemães geralmente mantinham os nomes originais, seja no batismo e, muitas
vezes, no casamento. Por outro lado, muitas crianças batizadas com nomes grafados em
alemão tinham seus nomes aportuguesados no casamento e (ou) por ocasião do
sepultamento. No caso dos italianos, diferente dos alemães, a impressão que temos é
que os noivos italianos estariam perdendo na hora do casamento sua identidade
batismal, considerando o diálogo necessário com a sociedade maior, luso-brasileira.
Nesse sentido, os padres italianos contribuiriam para a integração dos noivos na
sociedade receptora.
O artigo de um regulamento da Capelania Curada italiana, criada em 1888, e
citado por Riolando Azzi, traz a seguinte informação em relação à manutenção dos
livros de registro:
“Na capelania é preciso ter os livros seguintes, os quais serão abertos,
numerados, rubricados e fechados pelo Chanceler do Bispado. Um livro de
tombo para registrar aquilo que sucede na capelania; um livro para registrar as
visitas pastorais, ordens, avisos do bispo diocesano. Três livros para registrar,
os batizados, os casamentos e os óbitos. O registro desses livros será feito em
língua portuguesa, conforme a ordem do Ordinário. Como porém, o
bispado não tem o seu pessoal adequado, damos ordem ao capelão cura
superior para abrir, numerar e fechar estes livros conforme o costume da
diocese”.
183
No trecho acima podemos destacar que a recomendação era para que os livros
fossem feitos em língua portuguesa. Até que ponto essas determinações não deveriam
ser aplicadas também aos nomes? De qualquer forma, cremos que, para o grupo em
estudo, o nome podia se apresentar de maneiras distintas no meio público e privado.
Assim, na esfera pública, para facilitar a inserção na sociedade receptora, poderia ser
utilizado em português, enquanto no âmbito familiar e colonial permaneceria tal como
183
AZZI, Riolando. 1987. Op.cit. p. 268. O destaque é nosso.
112
era na terra natal. A não-uniformidade dos registros paroquiais no que toca à forma de
grafar dificulta o entendimento de quando os contatos culturais entre o grupo italiano e
brasileiro se estreitam a ponto de modificar o uso do prenome nos dois âmbitos.
Referimo-nos a essa inconstância, porque na década de 1920, o padre Jorge Bortolero,
que redigiu as atas de batismo durante um curto período
184
, registrou a maior parte das
crianças com os prenomes em italiano. Também no livro de registro da Caixa Mortuária
da colônia Campina da paróquia em estudo, à qual tivemos acesso, percebe-se que na
maior parte dos casos, até o ano de 1937, os nomes são escritos na língua de origem. Ao
contrário das atas paroquiais, esse livro não era redigido pelo sacerdote, mas sim por
algum morador da colônia, responsável pela administração da instituição.
Em relação ao rol de indivíduos listados nesse documento, percebemos que
somente a partir da década de 1910 começam a aparecer os primeiros prenomes
traduzidos. Até então, embora muitos estivessem grafados com erros, estes eram
escritos na forma italiana (ou melhor, vêneta) como por exemplo, o prenome Piero
(grafado no dialeto). A partir desses indícios, acreditamos que o processo de
“aportuguesamento” dos nomes foi lento, e que se iniciou quando da maior necessidade
de utilização dele no ambiente público ou quando os contatos interétnicos se
intensificaram, sendo que no ambiente doméstico e comunitário, prevalecia como era na
língua de origem. Dessa maneira, é possível que as atas paroquiais tivessem um caráter
mais público, daí a tradução do prenome para a forma portuguesa. É claro que esse
caráter “mais público” deve ser relativizado, pois se compararmos o registro paroquial
com o civil, o último tem uma caráter muito mais público do que o primeiro. O trecho
do depoimento a seguir ilustra como a menção ao nome pode se dar em esferas
distintas.
‘(...) meu pai era Giacomo, nem muito bem o italiano, veja Jacó é Giacomo,
mas chamavam de Giaco, então não era muito pelo nome em italiano, era o
nome como chamavam. Meu avô se chamava Piero, Domingos se chamava
Menigo, e Francisco, Francesco, Keiko no dialeto, Antonio, Toni, José, o
Giuseppe virava Beppi.
185
Da mesma maneira um conjunto de apelidos que era comum no cotidiano das
colônias italianas:
184
Registros de batismo rubricados por esse cura compreendem o período de setembro de 1926 a março
de 1927.
185
Entrevista concedida ao autor em 23/12/2008 por D. Pedro Fedalto
.
113
Andin, Angelin, Angio, Bastian, Bepi, Bepo, Catina, Fiuriti, Gigio, Gusto,
Iaco, Iiha, Ina, Iza, Lecio, Leli, Lolo, Maneco, Marica, Marieta, Mariquinha,
Mênega, nego, Meni, Mingo, Maneco, Nina, Nino, Pipeta, Tato, Tchula,
Tiqueto, Toni, Tonico.
186
Embora em situações formais, como na escola, no cartório e na Igreja na hora do
registro, nos negócios ou na vida política, os nomes fossem apresentados na forma
portuguesa, no cotidiano da colônia e na família, prevalecia a referência da língua
materna, na qual eles transmitiam suas crenças, seus hábitos e costumes. Nas situações
informais, nem era o prenome italiano que predominava, mas sim apelidos ou formas
abreviadas do nome na língua original. A própria repetição de nomes retirados da
linhagem gerava uma série de apelidos, sendo que um mesmo prenome poderia ter
diferentes variações. Esse processo é antigo; segundo Bennett citado por Jack Goody, a
diminuição dos nomes e o aumento populacional a partir da época das reformas dos
séculos XI e XII agudizaram o problema dos homônimos, o que veio favorecer o
desenvolvimento dos apelidos como meio suplementar de identificação.
187
Embora não
tenhamos por objetivo estudar a forma como o grupo lidava com o uso dos prenomes no
seu cotidiano ou mesmo o uso do nome por esses indivíduos ao longo de sua vida, pois
as fontes paroquiais não permitem esse tipo de análise, é importante destacar que essas
“corruptelas” geradas pelo próprio sistema de transmissão dos prenomes também fazem
parte dos códigos culturais do grupo e por sua vez da etnicidade.
Independente da forma grafada ou falada, a escolha por esse ou aquele prenome
respondia aos costumes e desejos da família, e num âmbito maior, do grupo. Embora
muitos dos nomes de batismo sejam apresentados nos registros escritos, em português, a
origem da sua escolha refere-se a elementos simbólicos, característicos do grupo de
pertencimento, da sociedade original.
Entre os anos de 1878 e 1937, nos 2.023 meninos batizados foram utilizados 310
diferentes prenomes e nas 1.948 meninas 278 variados nomes de batismo.
188
Para os
nomes duplos, apareceram 242 combinações diferentes para os meninos e 248 para as
meninas, utilizadas em 359 e 308 casos, respectivamente. As tabelas que se seguem,
mostram quais foram os 10 prenomes femininos e masculinos preferidos pelos
imigrantes e seus descendentes. Os recortes cronológicos foram feitos em decênios, para
verificar se mudanças no uso de determinados prenomes na passagem de uma
geração a outra. As tabela a seguir levaram em consideração também a frequência dos
186
CEQUINEL et ale. Op.cit. p.244.
187
GOODY, Jack. Op. Cit. p.183.
188
Os números (310 e 278) referem-se a prenomes simples.
114
prenomes, independente de estes serem utilizados de forma única ou combinada. A lista
completa dos prenomes simples e combinados encontra-se em anexo (Anexos 10, 11, 12
e 13).
TABELA 7 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES MASCULINOS ESCOLHIDOS
PELO GRUPO (1878-1937).
Nomes
1878-1899 1900-1910 1911-1920 1921-1930 1931-1937 1878-1937
# % # % # % # % # % # %
Angelo
45 6,6 22 4,0 20 4,0 27 4,5 15 4,6 129 4,9
Antonio
86 12,6 76 14,0 68 13,5 83 13,7 38 11,7 351 13,2
Augusto
5 0,7 8 1,5 9 1,8 15 2,5 9 2,8 45 1,7
Baptista
29 4,3 21 3,9 11 2,2 13 2,1 8 2,5 82 3,1
Domingo/
Domenico
17 2,5 11 2,0 9 1,8 9 1,5 8 2,5 54 2,1
Francisco/
Francesco
19 3,0 18 3,3 23 4,6 8 1,3 5 1,5 73 2,7
João/Giovanni
97 14,2 61 11,2 67 13,3 80 13,2 25 7,7 330 12,4
José/Giuseppe
69 10,1 60 11,0 45 9,0 39 6,4 11 3,4 224 8,4
Luis/Luigi
25 3,7 26 4,8 27 5,4 26 4,3 9 2,8 113 4,2
Pedro/Pietro
33 4,8 25 4,6 18 3,6 19 3,1 16 4,9 111 4,2
Subtotal
425 62,4 328 60,2 297 59,1 319 52,6 144 44,2 1512 56,8
Outros
256 37,6 217 39,8 206 40,9 288 47,4 183 55,8 1150 43,2
Total
681 100 545 100 503 100 607 100 326 100 2662 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO, ACERVOS DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO E Nª SRA DA
PIEDADE (CAMPO LARGO – PR)
TABELA 8 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES FEMININOS ESCOLHIDOS PELO GRUPO
ITALIANO (1878-1937).
Nomes 1878-1899 1900-1910 1911-1920 1921-1930 1931-1937 1878-1937
# % # % # % # % # % # %
Angela
40 7,0 32 6,8 18 3,3 14 2,3 13 3,8 117 4,6
Anna
11 2,0 22 4,7 8 1,5 14 2,3 9 3,0 64 2,5
Antonia
24 4,2 12 2,6 35 6,5 16 2,6 15 4,4 102 4,0
Catterina/
Cattarina
21 3,7 27 5,8 17 3,2 19 3,1 8 2,3 92 3,6
Joana/Giovanna
17 3,0 9 1,9 22 4,1 9 1,5 6 1,7 63 2,5
Luiza/Luigia
20 3,5 17 3,6 22 4,1 22 3,6 8 2,3 89 3,5
Magdalena
16 2,8 8 1,7 9 1,7 8 1,3 2 0,6 43 1,7
Maria
94 16,4 89 19,0 100 18,6 108 17,8 63 18,3 454 18,0
Rosa
37 6,5 23 4,9 33 6,1 30 4,9 13 3,8 136 5,4
Teresa
16 2,8 20 4,3 26 4,8 15 2,5 24 7,0 101 4,0
115
Subtotal
296 51,8 259 55,2 290 54,0 255 42,0 161 46,8 1261 50,0
Outros
262 48,2 224 47,8 248 46,0 352 58,0 183 53,2 1269 50,0
Total
572 100 469 100 538 100 607 100 344 100 2529 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO, ACERVOS DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO E Nª SRA DA
PIEDADE (CAMPO LARGO – PR).
De acordo com as tabelas acima percebemos que para todo o período analisado
os 10 prenomes mais frequentes, com exceção do último para os meninos e dos dois
últimos para as meninas, correspondem a mais da metade dos nomes de batismo em
uso. Entretanto, à medida que as gerações se sucedem uma maior diversificação dos
prenomes. Para as mulheres, esse fenômeno se processa principalmente a partir dos anos
1920 e para os homens a partir dos anos 1930. Esse descentramento poderia ser
resultado do impacto das políticas de nacionalização dos estrangeiros e seus
descendentes, propagadas pelo Estado brasileiro a partir dos anos 1920. Entretanto,
apesar dos dois últimos períodos indicarem o início de uma mudança no estoque
onomástico utilizado pelo grupo, numa leitura geral das duas tabelas, percebemos que o
fato de estes dez prenomes listados acima serem utilizados com bastante frequência está
diretamente ligado à forma como os imigrantes e descendentes nomeavam seus filhos.
Como veremos no desenrolar deste capítulo, as principais fontes de referência foram,
sobretudo, a família e a religiosidade conforme era tradição na sociedade de origem. A
perpetuação desses costumes traz como resultado direto um grupo restrito de prenomes
como os mais utilizados.
189
A análise comparativa das tabelas 7 e 8 nos mostra que a diferença de gênero ao
longo do período estudado, em relação ao conjunto dos dez prenomes mais frequentes e
o grupo dos “outros prenomes” é bastante significativa. Observando as tabelas acima
percebemos que para todo o período analisado o percentual dos prenomes escolhidos,
fora do grupo dos dez mais votados, foi de 43,2% para os homens e 50% para as
mulheres. A diferença de contração no estoque de prenomes masculinos e femininos
indica que o sistema de nomeação no interior do grupo está de acordo com os valores e
as formas de sociabilidade por ele desenvolvidos, que privilegiou o patriarcalismo. Dar
nomes é também transmitir valores, estados e posições no interior da família ou
linhagem. Conforme mencionamos, os imigrantes italianos eram portadores de uma
tradição camponesa patriarcal, na qual a transmissão de bens materiais e simbólicos se
189
A evolução da frequência dos 10 prenomes masculinos e femininos mais utilizados, ano a ano, em
números absolutos e relativos, encontra-se no Anexo 8 e 9 respectivamente.
116
daria especialmente pela via masculina. Dessa maneira, percebemos que a tradição se
mantém mais forte para os homens, pois são eles os herdeiros da linhagem. Segundo
Jack Goody, na Europa mediterrânica a supremacia da linhagem se manteve forte até o
século XIX.
190
Como nesse sistema o par conjugal ficava incorporado dentro de uma
unidade maior, a autoridade masculina prevalecia e recebia o apoio do grupo de
parentesco. Como a mulher, pelo casamento, passaria a outra linhagem, as regras de
transmissão do patrimônio simbólico não eram tão rígidas quanto para os homens.
Os prenomes mais utilizados pelo grupo para batizar seus filhos estão de acordo
com o estoque onomástico trazido pelos imigrantes. Assim como em Campo Largo os
principais prenomes que a geração de pioneiros portavam são praticamente os mesmos
utilizados por seus descendentes, embora a forma como estes foram grafados (nos
registros paroquiais tabelas 7 e 8 e nos registros de chegada dos imigrantes, tabela 9)
seja diferente. A tabela a seguir mostra os prenomes mais utilizados entre os imigrantes
italianos que colonizaram Campo Largo. Os percentuais entre o conjunto total dos
prenomes mais votados em relação aos “outros” evidentemente são maiores na tabela 9,
pois o número total de nomes nestas duas é bem maior.
TABELA 9- PRENOMES MAIS FREQUENTES ENTRE OS IMIGRANTES ITALIANOS
Prenome # % Prenome
# %
Angelo 24
4,5%
Angela 42
8,3%
Antonio 54
10,2%
Anna 17
3,4%
Baptista 11
2,1%
Antonia 12
2,4%
Domenico 21
4,0%
Catterina 34
6,7%
Francesco 31
5,8%
Domenica 12
2,4%
Giovanni 58
10,9%
Giovanna 15
3,0%
Giuseppe 57
10,7%
Luigia 22
4,4%
Luigi
32
6,0%
Maria 109
21,6%
Pietro 31
5,8%
Regina 18
3,6%
Santo 16
3,0%
Teresa 17
3,4%
Outros 196
37%
Outros 206
40,8%
Total 531
100,0%
Total 504
100,0%
FONTE: LIVROS DE REGISTROS DE CADASTRO DE IMIGRANTES ENTRADOS PELO
PORTO DE PARANAGUÁ. (DEAP), (1877-1891).
Outra observação a ser destacada em relação ao rol de prenomes listados acima
nas tabelas 7, 8 e 9 é a notória percepção de que os mais utilizados se relacionam aos
principais personagens da Igreja, tanto dos meninos quanto das meninas, embora dos
primeiros seja mais acentuado. Conforme discutimos no capítulo anterior, no norte
italiano, a Igreja Católica era um forte elemento de identificação coletiva, ou melhor,
190
GOODY, Jack. Op. Cit. p.26.
117
uma das únicas instituições capazes de congregar a comunidade num âmbito maior que
o da aldeia. A difusão dos nomes dos grandes patronos religiosos seria reflexo do
movimento empreendido pela Igreja de cristianizar os nomes próprios. Dessa maneira,
muitos dos nomes dados às crianças estavam impregnados do sentimento religioso.
Mudanças e permanências no uso de determinados prenomes podem ser
observadas a partir de diferentes eventos históricos, exemplo disso pode ser relacionado
nas tabelas 7 e 9. Nestas, vemos que José ou Giuseppe está entre os mais utilizados.
Conforme o citado estudo sobre a república florentina, a partir de censos de domicílios,
ao longo de 250 anos (1282-1532)
191
, o prenome Giuseppe praticamente não existe
nessas listas.
192
Essa mudança provavelmente está ligada às ações da Igreja pós-
tridentina em relação as figuras da sagrada família, conforme mencionamos. É claro
que a comparação está sendo feita entre períodos temporalmente distantes. Mas, por
outro lado, se levarmos em consideração que na referida pesquisa sobre a Florença dos
séculos XIII ao XVI, o prenome Antonio está entre os mais usados, assim como no
nosso grupo em estudo, verificamos que o nome do santo medieval atravessou séculos
como um dos preferidos entre os italianos do norte.
193
Da mesma forma, Piero,
Giovanni e Francesco,
194
que estão entre os mais usados em Florença na Idade Média,
também encabeçam a lista dos nomes mais frequentes entre os imigrantes italianos e
descendentes em Campo Largo nos séculos XIX e XX.
A perpetuação de determinados costumes, como o de transmitir nomes de
familiares, certamente contribuiu de forma significativa para a estabilidade do estoque
de prenomes. Na tabela 8, observamos que o prenome Maria é soberano entre as
meninas durante todo o período. Seja de forma simples ou combinada, foi largamente
utilizado pelos imigrantes e descendentes. Maria é um prenome de origem semítica ou
hebraica,
195
e sempre foi muito utilizado pelos diversos povos europeus. O seu uso
recorrente pode estar associado à progressiva difusão do culto mariano a partir da Idade
Média. Entretanto, Dominique Schnapper alerta que não podemos concluir que sua
proliferação está associada somente à crescente influência da Igreja, outras causas
191
Ver: <http://www.stg.brown.edu/projects/tratte/doc/TLNAME1.html> Op. Cit.
192
Nessa lista dos 165.000 prenomes, Giuseppe aparece apenas duas vezes.
193
Antonio aparece 8.412 vezes sendo o terceiro nome mais utilizado.
194
Piero, Giovanni e Francesco aparecem 7.973, 13.259 e 11.300 vezes sendo o quarto, primeiro e
segundo, respectivamente, dos mais utilizados.
195
GUÉRIOS, Mansur. Dicionário Etimológico de nomes e sobrenomes. São Paulo : Editora Ave
Maria, 1973. p.171
118
também podem estar associadas.
196
No grupo em estudo, o prenome Maria é muito
utilizado tanto de maneira simples como em combinações, como, por exemplo, Maria
Madalena, Maria de Lourdes, Maria Anunziata, que podiam estar associado ao
sentimento religioso, ou, em outras ocasiões, a nomes de um familiar, ou ser utilizado
por outro motivo.
O costume de se repetir os mesmos nomes de batismo pela família fazia com que
determinados prenomes fossem utilizados com bastante frequência entre os colonos
italianos. Entretanto, outros que não figuram entre os dez mais utilizados pelo grupo
também têm a mesma explicação. Plácido, por exemplo, aparece, entre os anos de 1888
e 1920, nove vezes, e todos os meninos batizados com esse prenome tem um ancestral
comum, ou seja, são netos do imigrante Plácido Zampieri. Da mesma forma, os 10
meninos designados por Cipriano no mesmo período são todos netos do imigrante
Cipriano Cunico. Na colônia Campina, um grande número de meninas batizadas
como Carolina, sendo que quase todas se relacionam a uma ancestral comum.
Além de expressar valores familiares e religiosos, ou a identidade do grupo, a
escolha de um nome também pode estar associada a um significado conotativo.
Segundo a definição de Sonderegger, o significado conotativo é a soma das associações,
imagens e sentimentos ligados a ele, quer sejam positivos, quer neutros, quer negativos.
Essa conotação pode ser evocada, pelo corpo sonoro, pela forma escrita do nome, pelo
portador, pela capacidade de imaginação do ouvinte, ou, até mesmo, pelo seu
significado etimológico, na medida em que for possível identificá-lo.
197
Entre os
descendentes de italianos do grupo em estudo era comum a modificação de
determinados prenomes a partir do nome de batismo de um familiar. Nessa direção,
principalmente para o gênero feminino, temos muitos prenomes terminados em –ina,
como: Paolina (de Paola) , Orsolina (de Orsola), Carmelina (de Carmela), Pasqualina
(de Pasqua), Angelina (de Angela), Rosalina (de Rosa), Santina (de Santa). O objetivo
dessa prática parece ter uma dupla função, ao mesmo tempo que se buscava a inovação,
a escolha de um prenome pouco comum e assim sublinhar a identidade do indivíduo,
homenageava-se um membro da família. Era escolhido um nome diferente, mas que não
deixava de evocar um parente. Dito de outra forma, a própria repetição gerava essas
196
SCHNAPPER, Dominique. Op. cit. p. 14. O prenome Maria é particularmente preferido entre vários
grupos. Entre os alemães pesquisados por Sérgio Odilon Nadalin, esse prenome também é soberano entre
as meninas. Ver: NADALIN (2004 e 2007).
197
SONDEREGGER In SIEMENS, João Udo. Op. cit. p. 34.
119
novas formações, tendo em vista a conciliação entre a tradição e a criação de uma nova
identidade para a criança por meio do nome.
Os prenomes retirados de um determinado estoque familiar, ou do calendário
litúrgico, constituem a maior parte do rol daqueles utilizados. Entretanto, apesar de
esporádicos, alguns nomes bastante inusitados nos chamaram a atenção. O uso de Itália
ou Ítalo como nome de batismo parece não ter sido fato incomum aos diversos núcleos
coloniais do Sul do Brasil. Conforme cita o padre Henrique Vieter, em Silveira Martins,
no Rio Grande Sul, foram constantes as lutas dos sacerdotes palotinos para a
“cristianização” de alguns nomes próprios demasiadamente ligados ao nacionalismo
italiano. “Os italianos muitas vezes davam o nome de Ítalo aos meninos, e Itália às
meninas, e contra isso nada se podia fazer. Para evitar longas discussões eu lhes dizia:
‘tomemos São José por protetor’, e batizava o menino com o nome de José Ítalo. As
meninas também merecem uma grande padroeira, e lhes dava o nome de Maria Itália,
com o que os colonos se sentiam muito satisfeitos”.
198
Embora, dentro do nosso grupo,
fossem poucas as meninas batizadas como Itália,
199
tanto de forma simples como
combinada, o caso de uma família específica merece ser destacado. O segundo e
terceiro filho do casal Domingo Bianco e Maria Vechiato, um menino e uma menina,
receberam os prenomes de Vitório e Itália, respectivamente. Esses prenomes parecem
não ser herdados de nenhum parente próximo, mas provavelmente referências ao país de
origem de seus pais. Vitório poderia ser uma referência ao primeiro nome do rei italiano
(Vittore Emanuelle) e o da menina, a menção à própria pátria de origem.
Além dessas menções à terra de origem dos imigrantes, outros casos que
também chamam a atenção, como, por exemplo, do menino batizado como Brasilino,
que parece saudar a pátria receptora. Também temos alguns prenomes que, no estoque
total utilizado pela comunidade, foram raros como Crescencia, Fedenziana, Persilio,
Ovídio, Tarsilla, Feliciano, Landilino ou Vicenza. O que queriam esses pais quando
escolheram esses nomes? Seriam referências a membros da família, coisas, lugares,
sentimentos ou poderiam ser inventados? Em algumas situações, o desejo de inovar, ou
mesmo sublinhar a individualidade da criança, parece ter se sobreposto aos costumes
tradicionais. Por outro lado, os outros casos vão no sentido oposto, pois apresentam uma
clara conotação religiosa, como: Apostolo, Santa, Santo, Christao, Arcangelo,
198
VIETER, Henrique. In POSSAMAI, Paulo. Op.cit. p. 147.
199
Durante todo o período encontramos sete meninas batizadas como Itália e nenhum menino Ítalo.
120
Anunziata, entre outros, e que são nomes característicos da região de origem dos
imigrantes.
O hábito de utilizar nomes menos comuns, derivados de um prenome em larga
utilização como aqueles citados acima, inventados ou combinados, pode ter sido
alternativas encontradas por alguns pais para individualizar a criança num período em
que as famílias tinham um grande número de filhos.
200
Por exemplo, em 1914 o casal
Antonio Carlesso e Luiza Massochetto batizaram seu primeiro menino com o prenome
Bernardino (nome do avô paterno), menos de dois anos depois, Pietro, irmão de
Antonio, também escolhe para seu primeiro menino o prenome do avô paterno, que
ao invés de Bernardino, coloca Bernardo combinado com Carlos (nome do avô
materno). A escolha de um nome duplo poderia ser uma maneira de individualizar
crianças de idade próxima e que moravam relativamente perto umas das outras? Com
exceção de alguns prenomes que foram usados com maior frequência, os nomes duplos
geralmente são escolhidos a partir de determinadas influências. Na Florença
renascentista, por exemplo, estes representavam a necessidade de conciliar nomes da
linhagem com o do patrono religioso. Também serviam para solidificar os laços entre as
duas famílias (da mãe e do pai), assim como era uma forma de enriquecer o estoque de
prenomes em uso.
201
Vejamos quais prenomes combinados foram utilizados mais
frequentemente pelo grupo.
202
200
Dominique Schnapper mostra que a utilização crescente de prenomes compostos e múltiplos está
ligada ao processo de urbanização, ocorrido na Europa entre o século XVIII e o início da Primeira Guerra
Mundial, que poderia ser interpretado como uma resposta a dupla necessidade de individualizar o sujeito
no interior de sua família e da sociedade, e de distinguir o individuo e sua família da sociedade.
SCHNAPPER, Dominique. Op.cit. p. 18.
201
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. nom <refait>”. L’HOMME. Revue française d’antropologie.
Tome XX, Octobre-Décembre 1980, n° 4. p. 87-88.
202
A lista com todos os prenomes combinados encontra-se no anexo
121
TABELA 10 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES DUPLOS MASCULINOS
ESCOLHIDOS PELO GRUPO ITALIANO (1878-1937).
nomes
1878-1899 1900-1920 1921-1937 1878-1937
# % # % # % # %
João Baptista 13 11 21 16 18 17 52 15
Antonio Luiz 1 1 6 5 0 0 7 2
Angelo Antonio 2 2 6 5 0 0 8 2
João Antonio 4 3 1 1 1 1 6 2
Santo Antonio
2 2 3 2 0 0 5 1
Outros
99 81,0 96 71 86 82 281 78
Total
121 100 133 100 105 100 359 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO, ACERVOS DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO E Nª SRA DA PIEDADE
(CAMPO LARGO – PR).
TABELA 11 – FREQUÊNCIA DOS PRINCIPAIS PRENOMES DUPLOS FEMININOS
ESCOLHIDOS PELO GRUPO ITALIANO (1878-1937).
Nomes
1878-1899 1900-1920 1921-1937 1878-1937
# % # % # % # %
Maria Luiza 9 8 5 5 2 2 16 5
Maria Madalena 6 5 4 4 5 5 15 5
Maria Antonia 4 4 5 5 3 3 12 4
Maria de Lourdes 0 0 0 0 11 10 11 3
Maria Rosa 0 0 7 7 1 1 8 2
Outros 96 83 80 80,0 85 79 261 81
Total 115 100 101 100 107 100 323 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO, ACERVOS DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO E Nª SRA DA
PIEDADE (CAMPO LARGO – PR).
Nas tabelas acima, constatamos que são poucas as combinações que foram
utilizadas em maiores proporções pelo grupo. Para os meninos, João Batista é o único
prenome duplo que pode ser definido como de grande utilização. Entretanto, indagamos
até que ponto este pode ser tomado como prenome duplo, pois na grafia italiana,
Giovanbattista muitas vezes se apresentava como um prenome.
203
Para um povo de
203
discussões em relação aos procedimentos a serem tomados quando se distingue prenome simples
de prenome combinado. Entretanto, essa é uma questão linguística, que no momento não temos condições
de resolvê-las. Alguns autores, como Jean Boutier em seu artigo sobre a Toscana do século XVI, também
salientam as dificuldades e os problemas relativos aos nomes simples e combinados. O autor considera
“Giovanbattista” como primeiro prenome, e assim para outros como “Marcantonio” e Marcaurélio”.
122
grande devoção ao santo, poderíamos atribuir a sua frequência à influência do patrono
religioso. Além desse, as demais combinações se relacionam aos prenomes mais
recorrentes. No decorrer do período analisado, das 245 combinações masculinas,
Antonio aparece em 42 delas, João em 47, José em 33 e Angelo em 24. É interessante
como alguns prenomes duplos adquirem uma clara conotação religiosa como: Santo
Antonio, Santo Paulo, Santo Tobias, João Santo, entre outros. Aliás, o uso corrente do
prenome Santo é característico da Itália, sendo pouco comum em outras regiões da
Europa. Também foram os italianos os precursores da utilização de Maria como
segundo nome masculino, principalmente junto com o prenome João.
204
Em relação aos nomes duplos femininos, percebe-se que Maria está entre as
mais utilizadas. Das 254 combinações, esse prenome aparece em 99 casos. Alguns
arranjos são tradicionais como Maria Madalena, que remonta à personagem bíblica,
também Maria Luiza, que é uma combinação utilizada por diferentes grupos. Pela
tabela acima, é notório que o nome Maria de Lourdes passa a ser utilizado somente a
partir da década de 1920. Até então, não havíamos encontrado nenhum caso. Seriam
reflexos do culto à N.ª Sr.ª de Lourdes difundido na Europa a partir da segunda metade
do XIX?
205
O próprio prenome Lourdes praticamente não foi utilizado de forma única
antes desse período. Além de Maria, outros prenomes também foram bastante usados
em combinações, tais como: Rosa em 21 prenomes duplos, Angela em 18 e Antonia em
19. Assim como os meninos, nomes combinados com conotação religiosa também
apareceram: Maria Santa, Santa Cattarina, Santa Inês, entre outros.
3.3 Nomes e família
A análise do conteúdo das fichas de famílias nos permitiu afirmar a existência de
convenções, ou melhor regras” para a escolha dos prenomes entre os imigrantes e seus
descendentes. A tabela a seguir, representada pela prole de um casal, sintetiza o modelo
das práticas de nomeação, proposto para o grupo.
206
Estamos considerando essa tabela
Como a maior parte dos prenomes se apresentou traduzida para o português no registro de batismo, adotei
por critério considerar como prenome combinado. Assim João Batista foi incluído na lista de nomes
combinados. Da mesma forma procedemos para outros casos como Mariana foi distinguido de Maria
Ana, no primeiro caso um prenome simples e no segundo, um combinado.
204
FUCILLA, Joseph. Op. cit. p. 4-6.
205
Em 1907 o papa Pio X estendeu a celebração de Nossa Senhora de Lourdes a toda a Igreja Universal.
206
A parte que segue está baseada em: SCARPIM, Fábio Augusto. Na pia batismal: práticas de
trasmissão de nomes de batismo entre imigrantes italianos e descendentes (Campo Largo –PR, séc. XIX e
123
como um modelo porque ela caracteriza a sequência mais comum encontrada, em
relação às influências presentes na hora da escolha do prenome das crianças numa
mesma família. Além disso, estamos usando como referência um casal de descendentes
de imigrantes, que nasceram e se casaram em Campo Largo (na colônia Rondinha) e
com uma prole numerosa, que era um comportamento característico das famílias em
questão. Nessa direção partimos do pressuposto de que a imigração não modificou as
práticas de nomeação, pois o grupo continuou, ou mesmo reforçou os costumes ligados
à transmissão dos prenomes que eram praticados na sociedade de origem.
TABELA 12 – MODELO DE ESCOLHA DOS NOMES DE BATISMO NO GRUPO
ITALIANO. FILHOS DO CASAL ANTONIO E LUIGIA.
Pai: Antonio Avós paternos: Bernardino Lorenço Carlesso
Maria Zanin
Mãe: Luigia Avós maternos: Giuseppe Massochetto
Madalena Peruzzolo Casamento: 27.04.1912
Ordem Sexo Prenome da
Criança
Data de
Nascimento
Referência Padrinhos
1 F Maria 03.04.1913 Combinação dos
prenomes das
avós
João Massochetto e Maria Carlesso
2 M Bernardino 19.09.1914 Avô paterno Pedro Carlesso e Elisabetta sua
mulher
3 M Jo 23.05.1916 Avô materno João Baptista Gadens e Ângela
Baridotti
4 M João 31.01.1918 Tio materno Francisco Carlotto e Enriqueta Rasera
5 M Carlos 07.09.1919 Tio paterno Antonio Massochetto e Adelaide
Scapin
6 M Sebastião 16.01.1922 Santo padroeiro Francisco Peruzzolo e Eliza Meroto
7 M Luiz 13.12.1923 Versão masculina
do prenome da
mãe
Angelo e Rosa Mazzochetto
8 M Angelo 27.08.1925 Tio materno Pedro Sabin e Anna Mazzochetto
9 F Luiza 07.05.1927 Mãe e tia paterna Baptista Franchetto e Scolastica
Massochetto
10 M Lourenço 30.01.1929 2° nome do avô
paterno.
Bernardo e Regina Benato
11 F Teresa Assunta 15.08.1931 Combinação do
prenome da tia
paterna e de um
prenome
devocional
Angelo e Santina Mazodin
12 F Anna 09.04.1935
Madrinha Angelo Massochetto e Anna Cunico
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVOS DA PARÓQUIA DE SÃO SEBASTIÃO
(CAMPO LARGO – PR).
A tabela em evidência mostra que a maior parte dos prenomes são os mesmos
de membros da família (incluindo o parentesco espiritual). Dos 13 prenomes presentes
XX). Texto apresentado no VII Congresso Internacional de Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre :
PUCRS, 2008.
124
na tabela, 11 expressaram o parentesco. “Receber um nome que faz parte do patrimônio
onomástico da família é receber à nascença o símbolo de uma pertença uma forma de
inserção simbólica numa determinada posição hierárquica dentro do grupo familiar”.
207
Vemos que para a primeira menina foi escolhido o nome de Maria, prenome da avó
paterna. Essa escolha parece ter uma dupla conotação. O segundo filho do casal, como
era de costume, recebeu o prenome do avô paterno, assim como o filho da sequência, o
do avô materno. Esse exemplo ilustra uma tendência generalizada no grupo em estudo,
aquela de privilegiar a via agnática.
Os filhos subsequentes receberam os nomes de outros parentes e nomes
devocionais. Para o período em estudo, como as famílias geralmente eram compostas
por muitos filhos, entre as convenções para a escolha dos prenomes era comum que
aos primeiros fossem honrados os avós ou pais (fossem meninos ou meninas). Primeiro
deveria ser garantida a perpetuação dos nomes dos ancestrais da linha vertical. Aos
filhos que nasceriam na sequência, seriam escolhidos os demais parentes (tios, irmãos
falecidos, padrinhos), santos do dia, ou outros de preferência do casal (nomes da moda,
inspirados em lugares ou coisas, personagens históricos ou bíblicos, ou ainda inventados
ou reinventados). Entretanto, esse padrão não era fixo, podia muito bem ser readequado
em função de outras motivações ou acontecimentos na vida da família. Exemplo disso,
remetendo a um outro casal, refere-se ao primeiro filho (Carlo) de Noé Massochetto e
Adelaide Scapin, que o recebeu o nome de nenhum parente de sangue, mas sim a
partir do padrinho de batismo do menino, que também fora testemunha do casamento do
casal. Nesse caso, parece ter sido mais forte o desejo de homenagear um amigo do que
um parente. De maneira similar, o primeiro filho de Luigi Cosmo e Regina Ceccatto foi
chamado de Antônio, que também não era prenome de nenhum parente próximo, mas a
referência a Santo Antônio de Pádua, que o menino nasceu no dia do santo (13 de
junho).
Sérgio O. Nadalin
208
coloca que os pais ao escolherem os nomes de seus filhos
são influenciados por uma determinada herança. Assim, acreditamos que quando uma
criança nascia e o casal iria escolher o nome, na maioria dos casos o que prevalecia era
a força da tradição, do costume. O desejo de manter essa herança cultural está carregado
de intencionalidade. A repetição dos nomes próprios dos antepassados também evoca
207
LIMA, Antónia Pedroso de. Op. Cit. p.40.
208
NADALIN, Sérgio Odilon. “Construção e Desconstrução de uma cultura imigrante: reconstituição de
famílias, atribuição de nomes de batismo e identidade étnica (séc. XIXe XX)”. Projeto de Pesquisa
30.0681/79.8 p.5
125
uma memória que se quer preservar. Os laços de identificação simbólica com um
passado partilhado pelo grupo têm peso significativo no processo de formação das
gerações posteriores, pois são maneiras importantes para se preservar a coesão familiar
e a identidade do grupo.
209
Por outro lado, também se constituem numa forma de
diferenciação dos outros grupos com que estavam em contato. Nesse sentido, os nomes,
assim como a família e a religiosidade, também se manifestam como estratégias de
identidade.
Para Denys Cuche, a estratégia de identidade pressupõe consciência. Entretanto,
o indivíduo como ator social não é desprovido de uma certa margem de manobra. Em
função de sua avaliação da situação, ele utiliza seus recursos de identidade de maneira
estratégica. Nessa direção, os atores sociais não são totalmente livres para definir sua
identidade segundo interesses materiais e simbólicos. As estratégias devem levar em
conta a situação social e as relações de força de cada momento.
210
para Bordieu, “o
caráter estratégico da identidade não implica necessariamente em uma perfeita
consciência dos objetivos buscados pelos indivíduos e tem a vantagem de dar conta dos
fenômenos de eclipse ou de despertar de identidade”
211
Dessa maneira, as práticas
nomeativas não são simplesmente formas de homenagear indivíduos, mas sim, de
afirmar a identidade com o grupo.
212
3.3.1 Nomes dos avós, tios e pais
A análise das informações das famílias reconstituídas nos mostrou que uma
parcela significativa dos prenomes era escolhida a partir de uma referência familiar.
Para sistematizar os dados obtidos, organizamos tabelas, diferenciando por gênero e
coortes. O objetivo de separar em três coortes foi o de equiparar o número de famílias,
por isso a primeira compreende um período maior, uma vez que o período de
estabelecimento de imigrantes nas colônias começa em 1878 e vai até o início dos anos
1890. A explicação de como foram construídas as tabelas encontra-se no Anexo
Metodológico, assim como a tabela completa, no Anexo de Tabelas.
209
LIMA, Antónia Pedroso de. Op. cit. p. 43.
210
CUCHE, Denys. Op. cit. p.196-197
211
BORDIEU, Pierre. Op.cit. p. 198
212
WOORTMANN, Ellen F. Op. cit. p.210.
126
TABELA 13 INFLUÊNCIA DA LINHAGEM PATERNA NA ESCOLHA DOS
PRENOMES
Coorte
Casais
Sexo da Criança
Influência da linhagem Paterna
Pai Avô Avó Tio (a) Total
# % # % # % # % # %
1878-
1900
91
Menino
16 4,6 50 14,4 4 1,1 28 8,0 348 100
Menina
2 0,7 0 0 40 13,1 27 8,8 306 100
1901-
1910
103
Menino
18 5,1 79 22,3 5 1,4 32 9,0 354 100
Menina
8 2,1 4 1,1 68 17,8 34 8,9 382 100
1911-
1920
96
Menino
5 2,1 52 21,6 1 0,4 22 9,2 241 100
Menina
1 0,4 1 0,4 35 15,1 15 6,5 232 100
1878-
1920
290
Menino
39 4,1 181 19,2 10 1,1 82 8,7 943 100
Menina
11 1,2 5 0,5 143 15,5 76 8,3 920 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVO DAS PARÓQUIAS DE SÃO
SEBASTIÃO, Nª SRA DA PIEDADE E SÃO JOSÉ.
TABELA 14 – INFLUÊNCIA DA LINHAGEM MATERNA NA ESCOLHA DOS
PRENOMES
Coorte
Casais
Sexo da Criança
Influência da linhagem materna
Mãe Avô A Tio (a) Total
# % # % # % # % # %
1878-1900
91
Menino
1 0,3 56 16,1 0 0 60 17,2 348 100
Menina
5 1,6 2 0,7 52
17,0
45 14,7 306 100
1901-1910
103
Menino
2 0,6 64 18,1 3
0,9
13 3,7 354 100
Menina
11 2,9 7 1,8 64
16,8
35 9,2 382 100
1911-1920
96
Menino
1 0,4 40 16,6 2
0,9
7 2,9 241 100
Menina
7 3,0 3 1,3 38
16,4
18 7,8 232 100
1878-1920
290
Menino
4 0,4 160 17,0 5
0,5
80 8,5 943 100
Menina
23 2,5 13 1,4 154
16,7
98 10,7 920 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVO DAS PARÓQUIAS DE SÃO
SEBASTIÃO, Nª SRA DA PIEDADE E SÃO JOSÉ.
As tabelas 13 e 14 mostram que uma parcela bastante significativa dos prenomes
masculinos e femininos, ou seja, mais da metade (60% para os meninos e 57% para as
meninas), foi escolhida em função dos avós, pais e tios. Observando os meros acima,
127
percebemos que, embora exista uma distribuição regular de meninos e meninas
batizados com os prenomes dos avôs paternos e maternos, algumas diferenças podem
ser notadas. Para os meninos, com exceção da primeira coorte, as duas demais
evidenciam a maior influência do avô paterno. Apesar de prevalecer um equilíbrio entre
as linhagens, a via masculina geralmente era mais privilegiada, como veremos a seguir,
o primeiro filho do sexo masculino na maior parte das vezes recebia o prenome do avô
paterno. O costume de garantir a perpetuação da linhagem pelo nome fazia com que o
lado do pai fosse o primeiro a ser lembrado. Assim, este costume poderia estar ligado ao
próprio modelo de sociedade que o grupo estava reconstruindo. Se um casal viesse a ter
um único filho homem, este deveria portar um prenome herdado do lado do chefe da
casa. Por outro lado, para as meninas a preferência recaía sobre o lado da mãe. Pela
tabela acima, podemos observar que, com exceção da segunda coorte, a avó materna é
mais requisitada do que a paterna. Privilegiar a escolha do prenome do avô paterno para
os meninos e o da avó materna para as meninas parece se constituir num padrão clássico
de transmissão dos nomes de batismo, encontrado em diversas regiões da Europa.
213
O costume de transmitir os prenomes dos avós se manteve latente em boa parte
da Europa até pelo menos o século XIX. A ideia de que o prenome é um patrimônio
simbólico familiar, ou mesmo a necessidade de marcar a posição do indivíduo no
interior da linhagem, conforme já mencionamos, ajuda a explicar esse fenômeno.
Entretanto, a crença na reencarnação parece ser um componente peculiar na explicação
dessa prática. Nas sociedades camponesas a concepção de mundo estava estreitamente
ligada à terra.
“Cada indivíduo descrevia um arco de vida, mais ou menos longo, segundo a
duração de sua existência: saía da terra através da concepção e a ela voltava através da
morte. Sob a terra estava a morada dos mortos, a reserva da alma à espera de uma
reencarnação, essas almas dos ancestrais que ‘renderam o espírito’ e um dia renasceriam
num de seus netos. Aliás, não perdurou por muito tempo o hábito de dar às crianças o
nome dos avós como que para melhor assegurar a continuidade da família?”
214
Até o início da Grande Emigração, a maior parte da Europa ainda era
predominantemente agrária. Como discutimos no capítulo anterior, na Itália, a
expectativa de vida era relativamente baixa. Assim, muitas vezes, o momento em que
muitos avós estavam morrendo coincidia com o nascimento dos netos. Aliás, muitos
213
Ver: SANGOÏ, Jean-Claude. Op. cit. 1999, BURGUIÉRE, André. Op. cit. 1980. POPPEL, F. Van,
BLOOTHOOFT, G.,GERRITZEN, D., VERDUIN, J. Op. Cit. ZONANBEND, Françoise. Op. cit.
214
GÉLIS, Jacques. Op. cit. p. 311.
128
avós nem chegavam a conhecê-los. Nessa sociedade, a própria morte parece se
constituir num meio imprescindível para manter ativa a cadeia dos nomes dos
ancestrais. Assim, esse modo de viver extremamente instável, que oscilava entre a vida
e a morte, teria contribuído para a manutenção dessas crenças, ligadas ao próprio ciclo
da natureza. No mundo rural, embora a crença na reencarnação tenha sofrido um
desgaste ao longo do tempo, o costume de nomear as crianças a partir dos avós
permaneceu bastante forte e se tornou uma tradição que só iria decair no século XX.
215
Por outro lado, merece destacarmos que, apesar de essa sociedade ser bastante
influenciada pela Igreja, as práticas mágicas herdadas dos cultos agrários que faziam
uma estreita vinculação entre a vida e a morte humana com os eventos da natureza se
mostravam bastante fortes. Assim,como dissemos, a concepção de mundo trazida
pelos camponeses do Vêneto mesclava as tradições ligadas ao campo, que na sua maior
parte eram de origem pagã, com elementos do catolicismo. Esse misticismo se manteve
latente e se revela nas diversas práticas e crenças do mundo rural. Embora, a maior parte
dos imigrantes enxergasse na repetição dos nomes principalmente a tradição sendo
seguida, que por sua vez vinculava a uma genealogia comum da terra de partida, nela
está embutido uma série de significados que explicam as crenças e o imaginário da
sociedade emissora.
Conforme discutimos acima, existiam determinadas convenções ou “regras” para
a escolha dos prenomes, assim os tios (tanto do lado paterno como materno) seriam
escolhidos após os avós. Observando as tabelas 13 e 14, vemos que, para a primeira
coorte, os tios e tias maternos(as) tiveram seus nomes escolhidos com maior
intensidade. Uma possível explicação seria que, nessa coorte, muitos casais escolheram
nomes duplos para seus filhos, combinando o prenome de um tio (a) com outra
referência. De outra forma, como a imigração rompeu com muitos laços familiares da
terra de partida, os nomes duplos, retirados de diferentes membros da linhagem, poderia
ser uma maneira de reforçar as relações familiares que teriam sofrido um desgaste com
mudança de local.
Outra observação que podemos destacar é uma diminuição nas duas coortes
seguintes, da influência dos tios, tanto paternos como maternos, nos nomes das crianças
batizadas. Esses números podem estar ligados à própria dinâmica da população,
especialmente a partir da segunda geração. Como muitos casais, por motivos de ordem
215
POPPEL, F. Van, BLOOTHOOFT, G.,GERRITZEN, D., VERDUIN, J. Op. Cit.
129
econômica, migravam para outras regiões, na paróquia em estudo, eles batizaram apenas
os primeiros filhos, que geralmente recebiam os prenomes dos avós. Assim, temos
apenas uma parte do ciclo familiar. Por outro lado, a possibilidade de os prenomes
dos tios serem menos utilizados nos filhos das gerações nascidas no Brasil, em função
da própria mobilidade populacional. Por estarem fisicamente mais distantes, para os
primeiros filhos foi mantido o costume de dar os prenomes dos avós, mas para os
demais, foram escolhidos outros, que não os dos tios.
A escolha dos nomes dos membros do grupo familiar, especialmente dos
ancestrais, é um componente que explica a importância da linhagem e da organização da
família no mundo camponês. O nome constituiria em um meio de guardar uma relação
comum entre os membros dispersos de uma parentela.
216
Por outro lado, ele também
representa uma marca daquela família, “o padrão de uso dos nomes não só define os que
pertencem à família, mas também os que a ela não pertencem, ainda que façam parte do
mesmo grupo doméstico”.
217
Ao perpetuar de geração em geração, no interior da mesma
linhagem determinado prenome, este se transforma em um emblema de pertencimento,
um brasão de reconhecimento.
218
Certamente, o costume de atribuir aos netos os prenomes dos avós no grupo
italiano também remete ao desejo desses indivíduos de manter vivas determinadas
tradições que simbolicamente os ligavam à sociedade de origem, e que também era um
signo de pertencimento do que era “ser italiano”. Como dissemos, os casais tinham
muitos filhos, assim, em virtude da prole numerosa, o casal teria que escolher diferentes
nomes de batismo para as crianças, no qual muitos parentes poderiam ser
homenageados. Uma alternativa para manter a tradição e ao mesmo tempo inovar,
seriam os nomes adaptados, nas versões masculina ou feminina. Essa opção poderia ser
utilizada quando todos os avós tinham sido referenciados e, também, servia para
enriquecer o estoque dos prenomes familiares em uso.
Entre os italianos, os nomes dos pais não foram muito utilizados. O uso do
prenome do pai ou da mãe, geralmente, ocorria de forma combinada ou para os últimos
filhos acrescidos da palavra filho ou secondo. O sexto filho de Paolo Marchiorato e
Maddalena Caretta, por exemplo, foi nomeado Paolo Secondo (uma referência ao pai),
também, de três meninos do casal de imigrantes Andrea Mosele e Elisabett
216
ZONANBEND, Françoise. “Le nom de personne”. Op. cit. p. 8.
217
WOORTMANN, Ellen. Op. cit. p. 211-212.
218
ZONANBEND, Françoise. “Le nom de personne”. Op. cit. p. 12.
130
Mazzuchetto,
219
os três portaram o nome do pai (Andrea Antonio, João Andrea e
Andrea). Assim como em outras regiões da Europa, onde eram os padrinhos que
escolhiam os nomes de batismo, o nome do pai ou da mãe foi pouco utilizado.
Entretanto, em outros lugares, como nas paróquias puritanas da Nova Inglaterra em
Hingham, a maior parte dos primeiros filhos recebia os prenomes dos pais. Segundo
Daniel Scott Smith e Glória Main, esse fenômeno refere-se a uma convenção teológica.
Como no puritanismo as pessoas se tornavam membros efetivos da Igreja após o
batismo, e esse era feito na vida adulta, nomear o(a) primeiro(a) filho(a) com os nomes
dos pais poderia ser uma forma de reivindicar um direito não herdado no batismo, da
proteção divina para as crianças.
220
Entre os italianos, parece não haver uma explicação
que justifique o menor uso dos prenomes de batismo dos pais. Seria uma forma de
perpetuar os nomes dos outros parentes no interior daquela família, que os pais, ao
contrário dos avós e dos tios, acompanhariam o indivíduo pela maior parte de sua vida?
Ou ainda, como eram os próprios pais que escolhiam o nome da criança, prevaleceria a
vontade de honrar outras pessoas, que não a si mesmo? Talvez, o próprio costume de
atribuir preferencialmente prenomes de pessoas falecidas, como veremos a seguir, tenha
contribuído para a baixa utilização dos nomes de batismo dos pais.
3.3.2 Nomes dos padrinhos, bisavós e outros parentes
Além dos tios, avós e pais, influências de outros parentes (incluindo o
parentesco espiritual) também estiveram presentes na escolha dos nomes de batismo do
grupo em estudo, conforme a tabela abaixo:
219
Por não ter encontrado o registro de matrimônio do casal, estou levando em consideração apenas os
três meninos encontrados na documentação paroquial, não que esse seja o número total de meninos.
220
SMITH, Daniel Scott. Op. cit. e MAIN, Glória L. Op. cit. p. 12-13.
131
TABELA 15 – INFLUÊNCIA DOS PADRINHOS, BISAVÓS E OUTROS PARENTES
NA ESCOLHA DOS PRENOMES.
Coorte
Casais
Sexo da Criança
Influência dos Compadres Outro
Parente
Bisavô (ó) Total
Padrinho Madrinha
# % # % # % # % # %
1878-1900
91
Menino
28 12,4 - - 26 7,5 20 5,8 348 100
Menina
- - 22 7,2 27 8,8 12 3,9 306 100
1901-1910
103
Menino
23 6,5 - - 14 4,0 11 3,1 354 100
Menina
- - 20 5,2 23 6,0 3 0,8 382 100
1911-1920
96
Menino
5 2,1 - - 19 7,9 3 1,2 241 100
Menina
- - 8 3,5 13 5,6 1 0,4 232 100
1878-1920
290
Menino
56 5,9 - - 59 6,3 34 3,6 943 100
Menina
- - 50 5,4 63 6,8 16 1,7 920 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVO DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO, Nª
SRA DA PIEDADE E SÃO JOSÉ.
Seguindo o modelo proposto para as práticas de nomeação, após reverenciar os
avós, para os últimos filhos seriam escolhidos prenomes dos tios, como citamos acima,
dos santos, da moda, mas também dos padrinhos e outros parentes, como primos,
irmãos falecidos etc. Conforme mencionamos anteriormente, o parentesco espiritual,
muitas vezes, tinha por função estreitar laços entre famílias. Nesse sentido, a escolha do
mesmo nome do padrinho ou madrinha da criança reforçaria esse vínculo. Pitt Rivers,
ao investigar a respeito das funções práticas e ideológicas do compadrio no sul da
Espanha, enfatiza a conexão entre a instituição com o nome dado à criança. Segundo o
autor, o ritual de aquisição do nome cristão marca o início da personalidade social do
indivíduo, sendo este herdado do padrinho ou madrinha, é com ele que haveria uma
maior identificação.
221
Na concepção da Igreja, sendo o batismo um segundo
nascimento, o qual necessitava novos pais, o ato de dar o nome do padrinho seria uma
forma de concretizar a paternidade espiritual.
222
Entre os imigrantes italianos e ítalo-brasileiros, os pais espirituais geralmente
eram escolhidos entre os parentes, vizinhos ou amigos. A escolha dos avós para
221
BLOCH, M. & GUGGENHEIM, S. “Compadrazgo, baptism and the simbolism of a second birth”.
Man, New series. Vol.16, n° 3 (Sep,1981). Pp376-386 disponível em < www.jstor.org/stable/2801290
>.
p. 378
222
BURGUIÉRE, André. “Um nom pour soi” Op. cit. p. 31.
132
apadrinhar um neto não foi tão comum, a maior parte dos padrinhos era pessoa da
mesma faixa etária dos pais. Pelos dados da tabela acima percebemos que o compadrio,
com exceção da primeira coorte, não exerceu grande influência nos nomes das crianças.
Aliás, uma questão permanece em aberto, o declínio do uso dos prenomes dos padrinhos
seria um indício do desgaste desse costume que teria se iniciado, na Itália, antes mesmo
de os imigrantes partirem, ou seria mesmo um hábito pouco praticado na sociedade de
origem?
223
Talvez, o próprio fato de serem os pais os responsáveis pela escolha do
prenome da criança tenha contribuído para a baixa influência do costume. Uma questão
difícil de ser respondida é se os padrinhos que tiveram os nomes dados aos seus
afilhados foram escolhidos por causa dos nomes que seriam transmitidos às crianças,
uma vez que a análise de algumas famílias mostrou que para a escolha dos pais
espirituais não havia “regras” estritas como para os nomes. Entretanto, alguns casos
merecem ser destacados.
Em 1891, um casal de imigrantes, Giovanni Mores e Maria Ridotto, escolhe para
madrinha de sua filha a brasileira Inocência Carneiro Torres, colocando o seu nome na
menina batizada. Alguns anos depois, em 1894, o casal novamente escolhe um membro
da família Torres, para apadrinhar seu filho, dessa vez, um menino. Entretanto, o
padrinho Campolin Alves de Almeida Torres o pode comparecer ao batismo e
procuração ao seu sobrinho Francisco de Freitas para substitui-lo. Mesmo assim, o
casal homenageia o padrinho brasileiro, colocando seu prenome no menino. No mesmo
ano de 1894, outro casal, Fortunato Rossa e Maria Marquetto, também escolheu o
mesmo brasileiro para apadrinhar seu filho, e também coloca o prenome Campolin na
criança. Assim, no mesmo ano duas crianças foram batizadas por um mesmo padrinho
brasileiro e receberam um idêntico prenome. Talvez, ao colocar o mesmo nome de
batismo de uma pessoa socialmente importante e o escolher para padrinho, os
imigrantes enxergavam como uma estratégia para efetivar sua inserção social.
Conforme já destacamos anteriormente, as terras da família Torres circundava boa parte
da colônia Antônio Rebouças. Também as crianças batizadas nasceram no período do
recém-estabelecimento de muitas famílias vindas da Itália. Foi nesse período inicial que
tivemos as maiores taxas de crianças batizadas por padrinhos não italianos (Ver tabela
5). Os dois casais que escolheram o padrinho brasileiro, provavelmente se instalaram
223
Essa é apenas uma hipótese, uma vez que a bibliografia disponível não permitiu resposta a esta
pergunta.
133
em Campo Largo no final da década de 1880, pois aparecem pela primeira vez na
paróquia batizando um filho em 1890.
A menor influência dos prenomes dos padrinhos talvez possa ser explicada pelo
próprio fato de estes geralmente ser da mesma faixa etária dos pais, como a tradição da
escolha dos nomes recaía sobre aqueles de pessoas mais velhas ou falecidas. Aliás,
alguns casais deram a seus filhos, especialmente ao primeiro, não o nome dos avós, mas
sim dos bisavós. A tabela anterior mostra que na primeira coorte essa opção foi
significativa, principalmente para os meninos. Na verdade, esses números são parciais,
uma vez que somente em parte dos casos foi possível recuperar os prenomes dos
bisavós. A maior parcela dos dados se refere a uma colônia específica (Campina) que
obtivemos por meio da genealogia das famílias pioneiras.
224
É provável que a opção
pela escolha dos prenomes dos bisavós, em algumas ocasiões, reflita o costume de dar o
nome de um falecido a criança, que, na maioria dos batismos, o bisavô estava
morto e enterrado na Itália. Exemplo disso foram os dois primeiros filhos (Luigi e
Giuseppe) de Fioravante Camillo e Antonia Maria Simonetto, que receberam os nomes
dos dois bisavós paternos.
Além dos bisavós, nomes de outros parentes (vivos ou mortos) também foram
escolhidos. Como encontramos uma variedade de influências (primos, esposa ou marido
falecido(a) do casamento anterior, ou com outro grau de parentesco que não foi possível
definir qual), todas essas referências foram incluídas em uma categoria. Em alguns
casos poderiam ser escolhidos pelo apreço do casal por aquele nome, para combinar
com outro prenome de família, pela trajetória de vida daquele indivíduo (no caso de
falecido) ou até mesmo para estreitar um laço de amizade com aquela pessoa. Um
exemplo a ser citado são os três netos de Constante Beraldo e Catterina Bonato, que
foram todos batizados como Afonso, provavelmente uma referência a algum parente.
Assim como os bisavós, nomes de outras pessoas falecidas também eram escolhidos.
Em 28 de agosto de 1885 selaram a união matrimonial dois viúvos: Alessio de Tomasi e
Antonia Filipetto Fabris, sendo que o primeiro filho do casal, uma menina, recebeu o
mesmo nome da esposa falecida do noivo (Cattarina). De maneira similar, para a
primeira filha de João Toresin e Angela Cequinelli, foi colocado o nome de Anneta,
224
Ver a parte II da obra: AGGIO, Osmar. Op. cit. O autor pesquisou nas paróquias da Itália a origem das
famílias pioneiras, por isso foi possível também observar a influência dos bisavós. As crianças batizadas
com os prenomes dos bisavós, que na maioria das vezes estavam mortos e enterrados na Itália, se
concentraram sobretudo nas duas primeiras coortes. É importante destacar que, para evitar “pulverização”
dos dados, a influência de todos os bisavós (independentes de serem do lado paterno ou materno) foi
colocada em sua só categoria.
134
provavelmente, uma forma carinhosa de homenagear Anna, a esposa morta de João. Os
dois casos citados são indicadores do respeito à precedência, característica comum das
sociedades camponesas da Europa pré-industrial. O ato de dar o prenome da esposa
falecida à criança do novo casamento pode ser entendido como uma obrigação, um
débito natural para com os mortos.
225
Além de nomes de parentes, alguns acontecimentos na trajetória do grupo
parecem motivar o uso de certos prenomes. Conforme mencionamos no capítulo 2, em
1906, na colônia Campina, houve uma epidemia de tifo. Na família de Ricardo
Magaton, todos adoeceram, tendo o rapaz falecido aos 21 anos de idade.
226
Na ocasião
foi realizada uma promessa a N.ª Sr.ª da Saúde, pedindo a cura dos enfermos e o fim da
epidemia, a qual teria cessado após o pedido. Nos anos seguintes, verifica-se um
aumento do uso do prenome Ricardo. Exemplo decorrente desse caso pode ser citado o
sétimo filho de Luigi Maso e Angela Fraccaro. Antes de Ricardo Magaton falecer, ele
tinha sido padrinho do quinto filho do casal, que foi chamado de Ermínio. Ocorre que,
ao filho do casal que nasceu após a morte de Ricardo, em 1906, foi escolhido esse
prenome. Dar o nome de uma pessoa falecida que tinha entrado para a família pelo
parentesco espiritual seria uma forma de homenagear o morto, mas também poderia ser
uma maneira de sublinhar uma promessa feita pela comunidade. Aliás, o uso desse
prenome por parte de determinadas famílias, mesmo não sendo parente do falecido,
também poderia ser uma forma de marcar a memória coletiva sobre o ocorrido,
especialmente da geração posterior.
3.3.3 Os nomes dos irmãos falecidos
Ao longo do processo de reconstituição das famílias, um fato recorrente sempre
nos chamou atenção, muitos casais tinham dois filhos que portavam o mesmo prenome.
A suspeita inicial, que se concretizaria nas evidências posteriormente encontradas,
referia-se a crianças falecidas.
227
Como na paróquia não havia o livro de óbitos, tornou-
se necessário recorrer a outros documentos, como os registros cartorários e os registros
225
Ou nos termos propostos por Bartolomé Clavero, a Antídora que constitui na forma de intercâmbio
obrigado de agradecimentos materiais. CLAVERO, Bartolomé. Antídora: Antropologia Católica de la
Economia Moderna. p.16
226
Ver: AGGIO, Osmar. Op.cit.
227
Tais práticas parecem ser bastante comuns nas sociedades ditas tradicionais. Louis HENRY
desenvolveu, inclusive, uma metodologia para avaliar os sub-registros de óbitos de crianças na França a
partir da repetição dos prenomes de batismo numa mesma família. HENRY, Louis, Téchniques
d’analyse en démographie historique. Paris: INED, 1980. pp. 141-142.
135
da Caixa Mortuária. Entretanto, as fontes referentes às mortes se mostraram
fragmentárias e lacunares.
228
De qualquer forma, foi possível recuperar parte das
informações sobre os óbitos de crianças. A tabela a seguir mostra a frequência do uso
dos prenomes dos irmãos falecidos, que tiveram seus óbitos encontrados, nas fichas de
família “M”.
TABELA 16 – INFLUÊNCIA DOS IRMÃOS FALECIDOS.
Coorte
Casais
Sexo da Criança
Influencia dos irmãos
falecidos
Total
# % # % # %
1878-1900
91
Menino
20 5,8 - - 348 100
Menina
- - 8 2,6 306
100
1901-1910
103
Menino
14 4,0 - - 354
100
Menina
- - 10 2,6 382
100
1911-1920
96
Menino
6 2,5 - - 241
100
Menina
- - 9 3,8 232
100
1878-1920
290
Menino
40 4,2 - - 943
100
Menina
- - 27 2,9 920
100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO, CASAMETOS DAS PARÓQUIAS DE SÃO SEBASTIÃO, Nª
SRA DA PIEDADE (CAMPO LARGO – PR) E SÃO JOSÉ (SANTA FELICIDADE, CURITIBA – PR). LIVROS
DE ÓBITO DO CARTÓRIO DE REGISTROS CIVIS DE CAMPO LARGO, LIVRO DA CAIXA MORTUÁRIA
DA COLÔNIA CAMPINA (CAMPO LARGO – PR).
***
A tabela acima foi construída com base nas informações das famílias
reconstituídas que apresentavam duas ou mais crianças batizadas com o mesmo
prenome. Assim, cruzando as informações dos batismos com aquelas referentes aos
óbitos percebemos que maioria dos casais que tinham um filho falecido o homenageava
colocando seu nome em um irmão que nascesse depois. É claro que esses dados não
correspondem ao total de crianças que receberam os mesmos nomes dos irmãos
falecidos, mas sim uma amostra. Além dos números mencionados na tabela, foram
encontrados mais 36 casos (22 meninos e 14 meninas).
229
Embora não tenha sido
228
Os livros de óbito do Cartório Civil de Registros de Campo Largo apresentam uma grande lacuna.
Entre os anos de 1908 e 1922, não há nenhum registro de óbito. Também o livro de registros da Caixa
Mortuária, só foi encontrado para uma das colônias.
229
Esses números não se limitam apenas às famílias reconstituídas. Na demografia história, as chamadas
Fichas M referem-se aqueles casais em que o início da observação é marcado pela data do casamento.
136
localizado o registro de óbito, por analogia aos demais, é muito provável que estas
também se refiram a nomes recebidos a partir dos irmãos mortos.
A prática de dar o mesmo nome do irmão falecido ao filho subsequente se
mostrou significativa. Alguns estudos mostram que, particularmente nas regiões
mediterrânicas da Europa, dar o prenome de um parente falecido para a criança era
considerado uma obrigação.
230
Nas regiões da Europa onde eram os padrinhos que escolhiam os prenomes das
crianças, estes não tinham a obrigação de dar os nomes dos falecidos.
231
Entretanto, a
maioria das famílias que perdiam um filho colocava o mesmo nome do falecido na
criança que nascesse na sequência, principalmente quando esta era do mesmo sexo. Na
Itália, como eram os pais quem escolhiam os nomes e não os padrinhos, esse costume se
mostrou ainda mais intenso do que em outras regiões. Mas qual a razão? André
Burguière sugere que essa prática não se relaciona apenas à perpetuação do nome da
pessoa falecida, mas também era uma forma de reforçar um prenome que fazia parte do
estoque familiar. Entretanto, a nosso ver, há outros elementos envolvidos.
Na concepção de mundo camponesa, a ideia do ciclo da vida associado à terra,
conforme mencionado, parece ter uma estreita relação com essa prática. Somando a
essas crenças, dar o mesmo prenome do irmão falecido teria a finalidade de “refazer” o
indivíduo no interior da linhagem, colocando o mesmo nome em um novo
nascimento.
232
Esse costume coloca em evidência a concepção de comunidade, típica do
mundo camponês, que não abrangia somente os vivos, mas também os mortos. Basta
lembrarmos que, na Itália, até pelo menos o final do século XIX, a morte de crianças
prematuramente ainda era corriqueira. Portanto, a convivência com a morte fazia parte
do cotidiano do mundo camponês.
Os nomes dos falecidos também podem evidenciar a crença na reencarnação,
oriunda dos cultos agrários, que, embora refutada pela Igreja, se manteve presente no
mundo rural.
as fichas E referem-se àqueles casais em que o início da observação refere-se ao primeiro filho batizado
na paróquia. Ver: FLEURY, Michel & HENRY, Louis. Nouveau Manuel de dépouillement et
d’exploitation de l’état civil ancién. 3ème.ed. Paris: INED, 1985. 115-182.
230
SANGOÏ, Jean-Claude. 1999. Op. cit. Ver também : HENRY, Louis, Téchniques d’analyse en
démographie historique. Paris: INED, 1980. pp. 141-142.
231
Em Pays de Sault, Na França, como eram os padrinhos quem escolhiam os prenomes das crianças,
muitas vezes, eles não eram obrigados a dar os nomes dos falecidos. BURGUIÈRE, André. Prénome et
parente. Op.cit. 34.
232
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. “ Lê nom <refait>”. Op. cit. p. 99-100.
137
A tradição do culto aos mortos foi uma das práticas fundamentais de
quase todas as religiões, mesmo as mais primitivas. Inicialmente, o culto aos
mortos esteve ligado aos cultos agrários e aos da fertilidade da terra. O defunto
como as sementes, eram enterrados com vista a uma futura ressurreição ou
nascimento. Como as sementes, esperavam a volta a uma nova vida. Por isso, a
ideia central da festa dos mortos é a mesma dos ritos agrários e da fecundidade:
retorno a vida que deve surgir de algo oculto e misterioso, da morte, como a
planta surge das sementes inertes.”
233
Por outro lado, na liturgia cristã, o nascimento espiritual de uma criança que
recebe juntamente com a água do batismo seu nome, anularia a morte do portador de
seu prenome que o precedeu.
234
Ao utilizar o mesmo nome, a criança falecida teria um
representante legítimo na terra capaz de assegurar seu descanso no mundo dos mortos, e
de zelar pelo seu espírito.
“Na cultura cristã, o nome de batismo tinha uma dupla função propiciatória.
Aquela de assegurar à criança a saúde e a felicidade no mundo, mas também uma
boa morte e a vida eterna: era o nome de batismo inscrito no “livro da vida” que
se encontrava no u, e era a maneira como poderia ser reconhecido, quando
evocado nas orações”.
235
Assim, os nomes dos mortos, dados aos novos nascimentos, também seriam
formas de os vivos intercederem, com suas rezas e orações, na salvação de suas almas.
Também, essa seria parte da explicação da Igreja Católica sobre a insistência na escolha
de nomes cristãos, eliminando assim do estoque onomástico prenomes de origem pagã,
ou que lembrassem personagens do mundo pagão. Entre os colonos italianos, havia a
crença de que o culto aos mortos era uma forma de afirmação da vida para além da
morte. Entendiam que os falecidos estavam, de certo modo, unidos aos seus familiares,
por isso eram muito lembrados nas orações, missas e também nos nomes.
236
A perpetuação dos prenomes dos falecidos também pode estar associada às
devoções e funções denotativas do poder simbólico do nome. Baptista Cavallin e Maria
Alessi tiveram 12 filhos. O sexto filho do casal foi batizado como Antonio, uma
provável referência ao santo, já que nasceu em 14 de junho. O menino vem a falecer, e o
filho subsequente, recebe o nome do irmão falecido, mas ele também vem a falecer e o
último filho do casal é novamente chamado de Antonio. O que teria feito o casal não
desistir do nome, mesmo depois de duas mortes? Seria a crença no poder do prenome,
233
FOCHESSATO, Iloni. Op. cit. p. 11.
234
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. “ Lê nom <refait>”. Op. cit. p. 100.
235
FINE, Agnes In NADALIN, Sérgio Odilon. NADALIN, Sérgio Odilon. “Construção e
‘Desconstrução’ de uma cultura imigrante: atribuição de nomes de batismo, parentesco e compadrio.
Séculos XIX e XX”. (Projeto de Pesquisa) CNPQ Processo 301564/2007-8. p. 5.
236
FOCHESSATO, Iloni. Op. cit. p. 27. O autor, em sua pesquisa realizada na década de 1970 em
Veranópolis, Flores da Cunha e Garibaldi no Rio Grande do Sul, constatou que a maior parte das missas
encomendadas pelos descendentes de italianos era para os fiéis defuntos e para as almas do purgatório.
138
que era o mesmo do santo? Uma promessa? A força da tradição? O desejo de perpetuar
esse prenome? Ou mesmo a própria insensibilidade em relação à morte? Na verdade,
poderia ser qualquer uma das opções, ou mesmo, todas elas juntas. Em algumas
famílias, a prática de transmitir os mesmos nomes dos irmãos foi rigidamente seguida.
Olivo Bertoja e Dominga Cunico tiveram 15 filhos, quatro morreram e todas as crianças
tiveram seus nomes lembrados nos filhos que nasceram na sequência. O desejo de
“refazer” o morto na linhagem dos vivos também poderia aparecer de maneira dupla. A
terceira criança de Beato Boaron e Angela Ansolin, o menino primogênito, foi nomeado
de Antonio Santo, uma referência aos dois avós. Entretanto, o menino vem a falecer, e
quando nascem o oitavo e nono filho do casal (gêmeos) foram colocados os nomes de
Antonio e Santo João. Ao mesmo tempo que foi referenciado o irmão falecido, também
o foram, os avós.
237
3.3.4 Nomes dos avós: vivos ou mortos?
Seguindo o modelo proposto para as práticas de nomeação, conforme a tabela
12, as “regras” colocavam que para os primeiros filhos deveriam ser dados os nomes
dos avós. Entretanto, em algumas famílias, esse costume não era assim seguido. Os pais
davam os nomes dos avós aos filhos “do meio”, ou aos últimos. Qual seria o motivo?
Ao analisar alguns casos, observamos que estes casais nomeavam seus filhos a partir
dos avós, depois que eles estivessem mortos. Conforme mencionamos em outras
partes desta dissertação, os imigrantes eram oriundos de diferentes regiões do Vêneto.
Seriam então portadores de tradições diferentes? Talvez, na origem desse costume,
quando se escolhiam os nomes a serem dados às crianças, os avós em sua maior parte já
estavam mortos. Isso se explica pelas próprias condições de vida do mundo camponês
na Europa pré-industrial. Com o passar do tempo, à medida que as condições de vida
material foram melhorando, a expectativa de vida teria aumentado. Assim, o hábito de
dar aos primeiros filhos os nomes dos avós se tornou uma tradição. Os camponeses
passaram a honrar os avós, nos primeiros filhos que nascessem, independente de
estarem vivos ou mortos. Entretanto, como se explica aqueles casais que escolhiam
os nomes dos avós falecidos? Na Idade Média, havia a crença de que não era bom
237
O costume de dar nomes dos irmãos falecidos, conforme aponta a historiografia, se insere na longa
duração. Na genealogia que consta no Anexo 5, podemos perceber como numa mesma prole alguns
prenomes se repetem, sendo referentes a crianças falecidas.
139
atribuir a um bebê o nome de um vivo, seria como que fazê-lo entrar prematuramente no
mundo dos ancestrais, e isso não seria bom para a criança.
238
As crenças ligadas à
perpetuação do nome dos mortos atravessaram séculos; especialmente em algumas
famílias, esse costume se manteve de maneira tão intensa que acabou por se tornar uma
tradição de família, ou melhor, daquela linhagem. Eram atribuídos os nomes dos avós
somente depois de mortos.
Na colônia Campina, para o segundo filho de Venceslao Bianco e Clara
Nicolato que nasceu em 22 de maio de 1900, foi colocado o prenome do avô paterno
Fortunato, que falecera pouco mais de dois meses antes do nascimento da criança.
Desde o mundo antigo, acreditava-se que a alma do falecido permanecia na terra até a
decomposição completa do corpo. Talvez essa crença tenha contribuído para o costume
de dar o nome do parente falecido à criança que nascesse logo depois de sua morte. Mas
qual seria o significado dessas crenças para o camponês; essas práticas eram feitas de
forma consciente em relação aos seus significados, ou apenas era tradição sendo
seguida? Embora o significado desses costumes tenha se perdido ao longo do tempo, a
manutenção dessas tradições aos olhos do grupo era sinônimo de pertencimento, um
signo cultural que lembrava os membros falecidos da linhagem e que não deveriam ser
esquecidos.
Sobre os nomes dos falecidos, um caso muito interessante é do imigrante
Bernardino Lorenzo Carlesso, que teve 10 filhos (entre os nascidos na Itália e no
Brasil).
239
Ele foi homenageado em sete de seus netos, sendo seis nascidos após sua
morte trágica, uma vez que Bernardino cometeu suicídio em 16 de agosto de 1912.
Parece que a tragédia não afetou a decisão dos pais de dar o nome do avô que falecera
prematuramente. Nesse caso, a tradição, ou mesmo o desejo de perpetuar um nome de
família, um patrimônio da linhagem, se manifestou com mais força do que as próprias
ingerências da Igreja, pois na concepção católica, o suicida é proscrito da eclésia, não
sendo merecedor do paraíso. É um claro exemplo de desobediência a norma eclesial.
Certamente o desejo de manter a memória do falecido, em vários netos, assim se
processou, para reforçar um costume que marca o pertencimento àquelas práticas
culturais, características do grupo. Dessa maneira, nesse caso específico, percebemos
que a fidelidade à tradição, ao costume, ou seja, a identidade etnocultural se sobrepôs à
religião.
238
KLAPISCH-ZUBER, Christiane. “ Lê nom <refait>”. Op. cit. p. 100.
239
Dos 10 filhos, dois morreram crianças, os demais casaram e tiveram filhos.
140
Embora os registros de óbitos utilizadas neste trabalho sejam problemáticas,
sendo parciais e com lacunas, foi possível construirmos uma tabela para quantificar
quantos avós tiveram seus nomes dados aos netos, quando estavam vivos ou quando
haviam falecido.
240
TABELA 17 - CRIANÇAS QUE RECEBERAM PRENOMES DOS AVÓS
VIVOS OU FALECIDOS.
Coorte
MENINOS MENINAS
Avô
Vivo
Avô
Falecido
N. I. Total
Avó
Viva
Avó
Falecida
N. I. Total
# % # % # % # % # % # % # % # %
1878-
1899
58 54,7 25 23,6 23 21,7 106 100 50 54,4 21 22,8 21 22,8 92 100
1900-
1910
64 44,7 41 28,7 38 26,6 143 100 67 50,7 33 25,0 32 24,3 132 100
1911-
1920
40 43,5 21 22,8 31 33,7 92 100 42 57,5 11 15,1 20 27,4 73 100
1878-
1920
162 47,5 87 25,5 92 27,0 341 100 174 53,1 76 23,3 77 23,6 328 100
LIVROS DE ÓBITO DO CARTÓRIO DE REGISTROS CIVIS DE CAMPO LARGO, LIVRO DA CAIXA
MORTUÁRIA DA COLÔNIA CAMPINA (CAMPO LARGO – PR).
Pela tabela acima verificamos que uma parcela significativa das crianças recebeu
o prenome dos avós depois de morto. Se os casos não identificados (N.I.) tivessem
proporções próximas às percentagens apresentadas para as outras duas colunas, os
números relativos aos avós falecidos provavelmente seriam da ordem de 35% dos
meninos e 30% das meninas. Como foi notado nas tabelas anteriores, as “regras” são
sempre mais rígidas para os meninos do que para as meninas. Alguns autores,
historiadores e antropólogos
241
sugerem que as regras de transmissão dos nomes nas
populações tradicionais seriam menos rígidas para as mulheres em função do seu
próprio status desvalorizado. Assim, a elas seria permitido inovar, escolher prenomes
alheios aos membros da família. No nosso caso em estudo, a tradição bastante ancorada
na família e na linhagem se mostrou mais forte para os meninos que reproduz a próprio
sistema patriarcal característico da Europa mediterrânica.
240
Para a construção dessa tabela, para saber se ao avô estava vivo ou falecido, levamos em consideração
informações encontradas em diferentes referências: registros cartorários de óbitos, registro de casamento,
registros da caixa mortuária, informações contidas em algumas genealogias, entre outras. Aqueles
avôs/avós que não foi possível saber se estavam vivos ou falecidos no momento em que tiveram seus
nomes dados aos seus netos, incluímos na categoria “Não Identificados”.
241
SCHNAPPER, Dominique. Op. cit. p. 17.
141
Além da diferença de gênero, numa leitura geral da tabela 17, percebemos que o
costume de dar o nome dos ancestrais somente depois de falecido vai diminuindo ao
longo do tempo. Parece que as gerações posteriores, especialmente aquelas nascidas no
Brasil, passaram a dar os nomes dos avós, independente de estarem vivos ou mortos.
Essas mudanças nas formas de nomear seria resultado do impacto dos novos ajustes
demográficos? Como o casamento na colônia italiana passou a ser antecipado, e os
casais tinham muitos filhos, a maior parte dos avós estaria ainda viva no momento em
que se completava a prole. Assim, para dar continuidade às tradições, se escolhia logo o
nome dos avós, independente de estarem vivos ou mortos, especialmente para os
primeiros filhos, de modo a garantir a perpetuação daquele patrimônio simbólico. É
claro que isso é apenas uma hipótese, seria necessária uma pesquisa mais aprofundada
sobre a idade ao morrer dos avós, o que no momento não condições de fazer, devida
as lacunas na documentação.
3.4 Nomes e o calendário litúrgico
No capítulo 2 desta dissertação foi tratado sobre o papel da religiosidade
imigrante como fator de identificação coletiva do grupo italiano. Assim, nas práticas de
nomeação esta também tem um papel significativo. Entre as populações católicas da
Europa, os nomes dos santos, desde muitos séculos, tem sido uma fonte inspiradora para
a escolha do nome de batismo. Os nomes retirados do calendário litúrgico, ou
escolhidos por outro motivo religioso, podem ser tanto resultado de devoções pessoais,
ou mesmo estar ligado à influência da Igreja. Na colônia italiana, a autoridade do padre
também poderia influenciar os pais da criança a ser batizada, na escolha do nome. Entre
os imigrantes e descendentes de italianos de Campo Largo, muitos nomes se referiam
aos patronos da Igreja, mas nem todos foram escolhidos em função deles.
Provavelmente, a difusão desses prenomes remonte à própria influência da Igreja
Católica na cristianização dos nomes próprios, processo que se intensificou no período
pós-reformas religiosas do século XVI.
O Concílio de Trento prescrevia que a criança deveria receber um nome de
batismo cristão,
242
um nome piedoso que evocasse as virtudes do seu portador, assim
como seria um símbolo de fidelidade a Deus. Conforme mencionamos, para a Igreja,
242
DUPÂQUIER, Jacques. Op.cit. p. 5.
142
o prenome tinha um valor pedagógico: a criança tinha que imitar as qualidades de seu
patrono.
243
Na verdade, a tentativa de impor a supremacia dos nomes cristãos vem desde
pelo menos o século XII, mas esse processo só vai se intensificar a partir do século
XVI. Especialmente nas áreas da Europa Ocidental pouco atingidas pelo protestantismo,
o uso dos nomes dos santos se deu de maneira intensa.
244
A utilização de certos prenomes por determinada família também serve para o
estudo das devoções particulares. No nosso grupo em estudo, a prática relacionada ao
uso de nomes de santos podia ser o resultado da afirmação de devoções familiares, de
promessas realizadas ou até mesmo da influência do padre. Os nomes devocionais
podiam ser o resultado de uma troca
245
, uma forma de estabelecer um contrato com o
sagrado: o nome do santo em troca de suas bênçãos, ou de sua proteção para o indivíduo
durante toda sua vida. Nessa direção podemos perceber um “princípio de
reciprocidade”, um ato de dar que implica um ato de receber. A tabela a seguir mostra a
influência dos santos nos nomes das crianças, nas famílias reconstituídas.
TABELA 18 – INFLUÊNCIA DOS SANTOS NOS NOMES DAS CRIANÇAS.
Coorte
Casais
Sexo da Criança Influência dos Santos Total
# % # %
1878-1900
91
Menino
19 5,6 348 100
Menina
4 1,3 306
100
1901-1910
103
Menino
23 6,5 354
100
Menina
5 1,3 382
100
1911-1920
96
Menino
10 4,2 241
100
Menina
4 1,7 232
100
1878-1920
290
Menino
52 5,5 943
100
Menina
13 1,4 920
100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVO DAS PARÓQUIAS DE SÃO
SEBASTIÃO, Nª SRA DA PIEDADE E SÃO JOSÉ.
243
SANGOÏ, Jean-Claude. 1999. Op.cit. p. 5.
244
De acordo com ARTIGAUT citado por SANGOÏ, em Castres, na França, 90% dos prenomes
masculinos tinham uma origem religiosa. SANGOÏ, Jean-Claude. 1999. Op.cit. p. 5.
245
Ou no sentido maussiano: uma dádiva.
143
Ao elaborar a tabela sobre as influências nas escolhas dos prenomes das
crianças, uma das dificuldades foi estabelecer um critério sobre a relação entre o nome e
o santo, que muitas crianças poderiam receber nomes devocionais independente de
elas terem nascido no ou próximo ao dia do patrono religioso. Assim, resolvemos adotar
como referência o fato de aquela criança ter sido batizada próxima ao dia do patrono
religioso. Entretanto, é de nosso conhecimento que muitos casais escolhiam para seus
filhos muitos nomes devocionais, mesmo quando não coincidia a data de nascimento da
criança com o dia do santo que se queria honrar. Talvez, por esse motivo, a influência
dos santos na tabela acima não tenha se mostrado maior. Em 1936 um casal de
descendentes de italianos batizou seus filhos gêmeos de Pedro e Paulo. Poderia ser uma
referência aos santos, que foram martirizados no mesmo dia? Entretanto, eles não
nasceram próximo ao dia dos padroeiros (em 29 de junho), mas sim em abril. É notório
que para os meninos a escolha dos nomes dos patronos religiosos foi mais frequente que
para as meninas. Uma possível explicação seria o fato de que a maior parte das santas
são as diferentes devoções a Nossa Senhora (Maria), enquanto para os meninos um
maior rol de santos festejados entre os italianos. Entretanto, como mencionamos em
situações anteriores, as “regras” sempre se mostraram mais rígidas para o gênero
masculino.
Além da relação com o calendário litúrgico, muitos dos padroeiros das colônias
tinham seus nomes dados a muitas crianças. Na verdade, a escolha de determinado santo
como padroeiro reflete as próprias devoções das aldeias de origem de que são
provenientes muitas famílias de imigrantes. Nossa Senhora do Carmo é padroeira da
colônia Antonio Rebouças, é justamente nessa região que foram batizadas a maior parte
das meninas nomeadas como: Carmem, Carmella, Carmelita e Carmelina. No núcleo
colonial de Mariana, que tem como padroeira Nossa Senhora da Anunciação, também
está concentrada a maior parte das meninas nomeadas como Núncia ou Anunziata.
para os meninos, encontramos muitos João Batista na Campina, que tem este santo
como patrono, e assim como a maioria dos Sebastião nasceu na colônia sede da
paróquia (Rondinha), que tem como padroeiro São Sebastião.
Alguns prenomes que foram os mais utilizados pelo grupo ao longo de todo o
período analisado, como Antonio, João ou Giovanni, Jose ou Giuseppe, entre os
meninos, representam o maior número de casos em que a relação entre a data de
nascimento e o santo do dia. A tabela a seguir mostra a frequência dos nomes utilizados
em relação ao calendário litúrgico durante todo o período, para todas as crianças.
144
TABELA 19 – RELAÇÃO ENTRE O NOME DA CRIANÇA E O
CALENDÁRIO LITÚRGICO (1878-1937).
Meninos
Referência Prenome # %
São Pedro Pedro 19 6,6
Santo Angelo Angelo 2 1,3
Santo Antonio de Pádua Antonio 39 25,8
São José/São José Operário José/Giuseppe 21 13,9
São João Batista
João
Batista/Giovannibaptista 27 17,9
São Sebastião Sebastião/Sebastiano 9 6,0
São Miguel Arcanjo Miguel 3 2,0
São Bartolomeo Bartolomeo 1 0,7
Natal Natal/Natalio/Salvador 6 4,0
São Bernardo Bernardo 2 1,3
São Paulo Apóstolo Paulo 4 2,6
São Valentin Valentin/Valentino 7 4,6
São Jeronimo Jeronimo 1 0,7
São Marcos Marco 2 1,3
Santo Agostinho Agostinho 2 1,3
São Braz Braz 3 2,0
São Francisco de Assis Francisco 2 1,3
São Lourenço Lourenço/Lorenzo 1 0,7
Total 151 100
Meninas
São Valentin Valentina 2 2,0
Sta Maria Madalena Madalena 3 3,0
Santa Cecília Cecília 7 7,0
Nª Srª da Anunciação Anunziata/Nunzia 5 5,0
Santa Catterina de Gênova Catterina 10 10,0
Nossa Senhora Maria 35 35,0
Santo Antonio Antonia 8 8,0
Nª Srª do Carmo Carmelina
13 13,0
Carmela
Carmelita
Carmen
Assunção de Nª Srª Assunta 3 3,0
Sta Teresinha do menino
Jesus Teresinha 4 4,0
Natal Natalia 3 3,0
Santa Ana Anna 4 4,0
Santa Rosa Rosa 2 2,0
Total 99 100,0
FONTE: LIVROS DE BATISMO, PARÓQUIA DE SÃO SEBASTIÃO (CAMPO LARGO – PR)
Na tabela acima, observamos que novamente o número de casos foi maior para
os meninos. A necessidade de reiterar a proteção para o homem estaria de acordo com o
próprio modelo de sociedade patriarcal que o grupo reconstituía, em que a importância
da linhagem tinha caráter essencial, especialmente a via masculina. Sendo ele o
continuador da cadeia de gerações, dar um nome dotado de um grande poder simbólico
145
como dos principais patronos da Igreja poderia ser uma forma de garantir
prioritariamente para ele uma ligação sagrada. Mesmo que essa prática fosse feita de
maneira inconsciente, fazia parte do habitus do grupo. Santo Antonio, São João
Baptista, São Pedro e São José foram os santos mais cogitados. Os chamados “santos
juninos” encabeçam o topo da lista, e esses estão entre os mais comuns como padroeiros
das capelas nas colônias italianas do Sul do Brasil. Também esses santos representam os
modelos de virtudes propagados pela Igreja: São José o arquétipo dos valores paternais;
São João Baptista que significa Deus é propício”, pois veio à luz em idade avançada
dos pais; Pedro, “terra sólida”, exemplo de perseverança e pai da Igreja; e Antonio
pregador, perseverante e exemplo de humildade.
246
No início da colonização havia um protecionismo exagerado atribuído aos
santos. Na verdade, essas atribuições herdadas da terra de origem remetem ao próprio
modelo de sociedade, à religiosidade tradicional dos camponeses, à falta de assistência
médica e à vida instável que se levava, sujeita sempre à oscilação do ciclo da natureza.
Assim, recorrer ao sobrenatural poderia ser uma forma de garantir a proteção, bem
como obter respostas para determinados eventos que não se conseguiam explicar. As
devoções foram tão variadas quanto as necessidades de proteção dos imigrantes. Essas
crenças, impregnadas de misticismo, típico do mundo agrário, aliadas as recomendações
da Igreja, também impactavam na escolha do nome. Se a criança que nasceu no dia ou
próximo ao dia do santo portasse seu nome, teria garantida a proteção dele. Segundo
uma pesquisa feita pelo padre Antonio Galioto, na diocese de Caxias do Sul, no Rio
Grande do Sul, 469 capelas tinham por padroeiro algum santo, como 188 tinham Nossa
Senhora como padroeira e 21, o Cristo Redentor.
247
A maior parte dos santos escolhidos
para ser padroeiro de uma capela, ou mesmo de uma paróquia, referia-se ao mesmo
patrono das comunas de origem dos imigrantes, ou seja, uma forma de presentificar os
elementos simbólicos da sociedade original.
Nas pinturas internas da paróquia de São Sebastião, finalizada no ano de 1936,
podemos destacar essa estreita vinculação entre o portador do prenome e as imagens
pintadas. Embaixo de cada pintura foi gravado nome da família que contribuiu com a
pintura. Da mesma forma merecem destaque as pinturas de anjos que levam o nome de
crianças da época (vivas e falecidas).
246
ALVES, J. Os santos de cada dia. 9ª ed. São Paulo : Paulinas , 2004.
247
GALIOTO, Antonio. Op. Cit. p.311-312.
146
Figura 13 Figura 14
Pintura de Santo Antônio Abade Papa Giulio I
Figura 15: São Bernardo, Santa Angela, São Jorge e São Paulo
Fugura 16: Imagem de Anjo
147
Figura 17: São Pedro
Figura 19: Santo Antônio de Pádua
***
Figura 18: Detalhe da cúpula
da Igreja com um dos 4
evangelhistas
148
Entre os santos mais cultuados, encontramos Santo Antonio de Pádua. Da
mesma forma, é este o que teve mais crianças batizadas em sua homenagem. O
interessante é que a referência ao patrono não se limitou a meninos, mas também
meninas que nasceram no dia 13 de junho, foram batizadas como Antonia. Parece que a
recomendação da Igreja pós-tridentina, que proibiu a feminilização ou masculinização
dos nomes de santos e santas, não era cumprida. A Igreja pregava que as filhas tinham a
necessidade de imitar as virtudes femininas das santas, como os meninos as virtudes
masculinas dos santos, da proibição.
248
Mas o que teria levado os casais a batizarem
meninas a partir dos santos? Seria uma devoção particular das famílias a eles?
Independente da opção feita, uma vez isso que não podemos precisar, o fato é que as
escolhas realizadas se ligam a um costume do grupo, faz parte da tradição e de sua
identidade.
Determinados prenomes, retirados do calendário litúrgico como Assunta ou
Anunziata, são específicos de determinadas áreas da Itália. Em 16/03/1920 nasceu a
segunda filha de Redenzio Brugnolo e Santa Garzaro, a menina foi chamada Maria
Anunziata, uma referência à avó paterna e a outra à santa, que é festejada no dia 25 de
março e que também é padroeira da colônia onde o casal residia. Assim, sua
perpetuação pelo grupo indica uma clara fidelidade ao passado, às origens. Além dos
santos algumas datas, como o Natal, inspiraram os pais na escolha dos nomes. Em 25 de
dezembro de 1899, nasceu um filho de João Ceccato e Maria Cosmo, que foi chamado
de Natal Diogo. No imaginário dos colonos, por ter a criança nascido no dia do
nascimento do Senhor, esta deveria portar um prenome que se referisse ao evento.
Embora essa prática não seja exclusiva dos italianos, também serve para reforçar a ideia
do prenome como uma marca religiosa. Sendo a religiosidade um elemento de
identidade no grupo em estudo, os nomes herdados das referências religiosas também se
tornam um elemento de etnicidade.
248
BURGUIÈRE, André. Op. cit. p.40.
149
3.4 Outras referências
A análise das famílias reconstituídas nos mostrou a influência de diferentes
elementos nas escolhas dos prenomes (bisavós, avós, tios, padrinhos, irmãos falecidos,
santos do dia). Entretanto, em uma parte dos prenomes dados às crianças, na amostra de
famílias utilizada, não conseguimos identificar uma possível razão para tal escolha.
Todos esses casos indeterminados, de origem desconhecida, foram inseridos na
categoria “outras influências”, conforme a tabela a seguir:
TABELA 20 – OUTRAS INFLUÊNCIAS NAS ESCOLHAS DOS PRENOMES
Coorte
Casais
Sexo da Criança Outras influências Total
# % # %
1878-1900
91
Menino
60 17,2 348 100
Menina
77 25,2 306
100
1901-1910
103
Menino
54 15,2 354
100
Menina
100 26,1 382
100
1911-1920
96
Menino
68 28,2 241
100
Menina
79 34,0 232
100
1878-1920
290
Menino
182 19,3 943
100
Menina
256 27,8 920
100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVO DAS PARÓQUIAS DE
SÃO SEBASTIÃO, Nª SRA DA PIEDADE E SÃO JOSÉ.
Observando os dados acima duas características são evidentes. Primeiro em
relação à diferença de gênero. Como nas demais tabelas analisadas ao longo deste
capítulo, percebemos que as “regras” sempre foram mais rígidas para os meninos que
para as meninas, ou seja, a “exogamia” dos nomes femininos é reiterada. Seria uma
valorização maior do gênero masculino, característico das sociedades patriarcais, que se
expressava também nas práticas de nomeação? Provavelmente, foi sobre as mulheres
que o uso de prenomes retirados da moda, de personagens da literatura, ou mesmo
inventados, se manifestou primeiro. Como os valores camponeses, muitas vezes,
150
vinham impregnados dos valores aristocráticos,
249
predominavam a hegemonia
simbólica masculina e a subordinação feminina.
250
Nas sociedades tradicionais as regras
de transmissão do patrimônio simbólico, geralmente, seguiam as mesmas do patrimônio
material. Como, em geral, eram os homens os herdeiros das possessões materiais da
família, é sobre estes que a atribuição dos prenomes deveria se manter mais rígida.
Além da diferença de gênero, verificamos que para a última coorte, em relação
às demais, um aumento de nomes escolhidos a partir de outros referenciais. Seria
resultado do próprio tamanho das famílias? Como eram muitos os filhos, escolhiam-se
os prenomes dos antepassados aos primeiros, enquanto aos demais seriam buscados
outros prenomes, abrindo espaço, inclusive, para a inovação, a moda, ou mesmo nomes
de uso corrente na sociedade receptora, evidenciando assim um estreitamento dos
contatos culturais e a diluição da fronteira etnocultural. O casal João Massochetto e
Catterina Gadens, casados em 05 de julho de 1913, escolheu para os primeiros filhos os
nomes dos avós, para os dois nascimentos seguintes foram escolhidos prenomes
pautados por outros referenciais (Desidério e Orlindo). Da mesma forma Angelo
Micheletto e Maria Costa, casados em 31 de julho de 1915, para as primeiras filhas
escolheram os prenomes das duas avós, já para as demais meninas Agnes, Narcisa,
Emma e Doralise atribuíram nomes de pouco uso no grupo. Seria uma forma de
individualizar as crianças com um nome pouco utilizado, uma vez que várias outras
meninas da região onde o casal morava portavam “nomes tradicionais”. Por outro lado,
poderia ser referência a um parente distante ou mesmo a uma amiga, que não foi
possível evidenciar na nossa documentação.
Alguns casos “saltam aos olhos” pelo seu caráter inusitado. José Peruzzolo e
Antonia Bisetto, casados em 25 de maio de 1918, batizaram nove filhos na paróquia e
para todos eles (Idalina, Abílio, Mercede, Oreste, Maria Genaide, Lídia, Amadeo,
Rodolpho e Lauro) o relacionamos a nenhuma das categorias anteriormente
mencionadas. Entretanto, se alguns prenomes foram buscados na moda ou em um
referencial distante que não conseguimos localizar, muitos deles, independente da
influência, passam a fazer parte do estoque de prenomes da família. Em 1921, o oitavo
filho de Vitório Scapin e Maria Zanin, e o sétimo filho de Noé Mazzuchetto e Adelaide
Scapin foram batizados como Zepherino. Independente do motivo pelo qual o primeiro
249
Como discutido no capítulo 2. Subpcapítulo “Valores camponeses”.
250
LIMA, Antónia Pedroso de. Op. cit. p. 52.
151
menino foi assim nomeado, acabou por influenciar o nome do primo que nasceu
naquele mesmo ano. Dois outros casos são interessantes para ser destacados, porque,
mesmo não sendo prenome de um parente próximo, estes são reafirmados na prole do
casal. A primeira filha de Evangelista Ceccato e Angela Rosera foi nomeada Diomira,e,
provavelmente por motivo de falecimento da menina, a terceira filha do casal recebe o
mesmo prenome. Da mesma forma, a segunda criança e primogênita de Antonio Fabris
e Elisa Marchiorato, que é chamada de Iolanda. A quarta criança do casal,
provavelmente pelo mesmo motivo do casal anterior, também recebe esse prenome.
251
Alguns prenomes pouco utilizados até um certo período passam a ser escolhidos e
incorporados à tradição onomástica da família. Conforme Antónia Pedroso de Lima, “na
escolha de um ou outro nome para atribuir ao recém-nascido estão, portanto, envolvidas
várias dimensões: afetos, identidades, relações, tradições familiares e estéticas que
devem ser articuladas com o projeto familiar que partilham e os valores em que se
apóiam”. Assim, certos prenomes, independente do motivo de sua escolha, estão
carregados de valores, que assumem um significado todo especial a quem atribui, e que
pelo fato de não se adequar aos “modelos” dificulta para o pesquisador o entendimento
das razões pelas quais os pais atribuem aquele prenome.
3.5 O nome do primeiro filho
De acordo com o modelo proposto para as práticas de nomeação no
grupo italiano (tabela 11), aos primeiros filhos seriam atribuídos os mesmos prenomes
dos avós. Para verificar quais as maiores influências na escolha do nome do primeiro
filho e da primeira filha, foram elaboradas duas tabelas, uma para os meninos e outra
para as meninas para uma posterior comparação.
251
LIMA, Antónia Pedroso de. Op. cit. p. 52.
152
TABELA 21 – ESCOLHA DO PRENOME DO PRIMEIRO FILHO
MENINO
1878-1899 1900-1910 1911-1920 Total
# % # % # % # %
Avô paterno 21 27,0 41 37,3 32 38,1 94 34,3
Avô materno 11 14,1 24 21,8 9 10,7 44 16,0
Pai 4 5,1 4 3,6 1 1,2 9 3,3
Tio Materno 2 2,6 2 2,4 4 1,5
Tio Paterno 6 7,7 6 5,5 6 7,1 18 6,6
Santo 1 1,3 2 1,8 1 1,2 4 1,5
Padrinho 4 5,1 1 0,9 5 1,8
Bisavô 10 12,8 4 3,6 6 7,1 20 7,3
Avô paterno e
materno
0 0 2 1,8 3 3,6 5 1,8
Avô e pai 0 0 1 0,9 1 1,2 2 0,7
Avô Materno +
Paterno
5 6,4 8 7,3 6 7,1 19 6,9
Avô Materno + Pai 0 0 1 0,9 0 0 1 0,3
Avô Paterno + Pai 0 0 4 3,6 1 1,2 5 1,8
Avô Paterno + tio 1 1,3 0 0 0 0 1 1,8
Avô Materno + tio 1 1,3 0 0 0 0 1 1,8
Avô paterno +
padrinho
2 2,6 0 0 0 0 2 0,7
Pai + santo 0 0 1 0,9 0 0 1 0,3
Avô paterno e
materno+pai
1 1,3 1 0,9 0 0 2 0,7
Outro 9 11,5 10 9,1 18 21,1 37 13,5
Total 78 100 110 100 84 100 274 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVO DAS PARÓQUIAS DE
SÃO SEBASTIÃO E Nª SRA DA PIEDADE (CAMPO LARGO – PR) E SÃO JOSÉ
(CURITIBA – PR).
TABELA 22 – ESCOLHA DO PRENOME DA PRIMEIRA FILHA
MENINA
1878-1899 1900-1910 1911-1920 Total
# % # % # % # %
Avó paterna 17 25,0 24 25,8 29 32,6 70 27,8
Avó materna 13 19,1 17 18,3 19 21,3 49 19,4
Mãe 0 0 1 1,1 2 2,2 3 1,3
Tia Materna 0 0 9 9,7 3 3,3 12 4,8
Tia paterna 5 7,4 5 5,4 7 7,9 17 6,7
Santa 0 0 2 2,2 2 2,2 4 1,6
Madrinha 3 4,4 3 3,2 0 0 6 2,4
Bisavó 4 5,9 0 0 1 1,1 5 2,0
Avó paterna e
materna
1 1,5 1 1,1 1 1,1 3 1,2
Avó e Mãe 1 1,5 1 1,1 0 0 2 0,8
Avó paterna +
materna
5 7,4 9 9,7 4 4,5 18 7,1
Avó materna + tia 1 1,5 1 1,1 0 0 2 0,8
Avó paterna + mãe 0 0 1 1,1 0 0 1 0,4
Tia paterna +
materna
0 0 2 2,2 0 0 2 0,8
Avó paterna +
madrinha
0 0 1 1,1 1 1,1 2 0,8
Pai 0 0 1 1,1 0 0 1 0,4
Outro 18 26,5 15 16,1 22 24,7 55 21,8
Total 68 100 93 100 89 100 252 100
FONTE: REGISTROS DE BATISMO E CASAMENTO, ACERVO DAS PARÓQUIAS DE
SÃO SEBASTIÃO E Nª SRA DA PIEDADE (CAMPO LARGO – PR) E SÃO JOSÉ
(CURITIBA – PR).
153
Os dados das tabelas acima mostram que em sua maior parte os primeiros
meninos e as primeiras meninas receberam o prenome de um dos avós. Somando todas
as categorias (seja de maneira simples ou combinada), que referenciaram um dos avós,
temos 66,8% para os meninos e 58,3% para as meninas. Se considerarmos somente a
primeira criança, independente do sexo, a influência dos avós aparece em 72,3% dos
casos para homens e 58,7%, para as mulheres, ou de maneira simples ou combinada
com outra referência (ver a tabela 5.A do Anexo 4). Novamente, as “regras” se
mostraram mais rígidas para o gênero masculino. Por ser o homem o sucessor da
linhagem, era sobre ele que incidiria uma menor flexibilidade na escolha do prenome do
primogênito. Nas sociedades camponesas, a transmissão dos prenomes dos avós ao
primeiro filho teria por função essencial legitimar aos olhos de todos, especialmente dos
irmãos mais jovens, os direitos exclusivos do primogênito sobre a linhagem.
252
Assim
era para ele que haveria uma maior concentração de nomes dentro do repertório
onomástico conhecido. Nessa direção, novamente percebemos que as maiores taxas de
influências alheias à família eram para as mulheres.
Entre os meninos, conforme aponta a tabela 21, a prática de atribuir ao primeiro
filho o nome do avô paterno aumenta ao longo das coortes. O grupo italiano,
especialmente a partir da segunda geração, passa a honrar com mais frequência o avô do
lado pai. Em contrapartida, verifica-se o declínio do uso do nome dos bisavós aos
primeiros nascimentos. Essa mudança poderia ser resultado do declínio do uso dos
prenomes dos parentes falecidos, conforme mencionamos anteriormente, que poderia
estar ligado aos próprios ajustes demográficos. Os pais escolhiam ao primeiro filho o
nome do avô, especialmente o paterno, independente de este estar vivo ou morto no
momento do nascimento da criança. Em alguns casos, a regra de escolher o prenome do
avô paterno para o primeiro e do avô materno para o segundo se mostrou mais forte do
que aquela de escolher ao primogênito o prenome do avô falecido. Domingo Cosmo e
Angela Zampieri colocaram em seu primeiro filho o prenome do avô paterno (João) que
estava vivo no momento de seu nascimento, enquanto o nome do avô materno que
estava falecido foi escolhido para o segundo menino (Plácido). Esse caso ilustra o
típico das práticas de nomeação entre os italianos: ao primeiro filho, normalmente se
escolhia um prenome do lado do pai.
252
SANGOÏ, Jean Claude. Op. cit. 1985. p. 6.
154
Em alguns casos o primogênito recebia um nome de batismo duplo que
conciliava os nomes dos dois avós. O filho primogênito de Antonio Fedalto e Maria
Maddalena Simonetto foi batizado como José Luiz, uma referência aos dois avós (José,
do lado paterno, que estava falecido no momento do batismo) e Luiz o nome do avô
materno. A escolha de um prenome duplo ao primogênito poderia ser uma forma de
solidificar laços de sangue entre as duas linhagens, fundir dois estoques familiares de
prenomes, ou mesmo uma forma de resolver tensões. Dar um nome também traduzia
um poder simbólico, exercido pelos pais do batizando, talvez, em parte, influenciada
pelos desejos da mãe.
253
Sendo assim, em alguns casos específicos, especialmente
naqueles em que foi escolhido o nome do avô materno, ou deste combinado com o avô
paterno, ou ainda de uma outra referência, poderíamos aventar que seria resultado do
próprio poder da mãe na família.
Os desejos maternos na escolha do prenome dos filhos parecem ter incidido com
mais força nas meninas. Observando a tabela 21, percebemos que a avó paterna foi
privilegiada na escolha dos prenomes da primeira filha, mas a diferença para com a avó
materna é menor, se comparada aos meninos. Percebe-se que uma maior inclinação
dos prenomes das primeiras filhas para a linhagem materna, embora a maior parte dos
dados ainda mostre uma superioridade da linha paterna. Exemplo disso refere-se à
influência do tio. Como para os meninos tivemos 18 primeiros nascimentos
referenciando o lado do pai contra quatro do lado da mãe, para as meninas essa
diferença cai (são 17 meninas que tiveram seu nome escolhido a partir da tia paterna e
12 da tia materna). Também os nomes combinados entre as duas avós figuram
praticamente na mesma proporção que para os meninos e parecem ter razões muito
próximas para sua escolha.
A diferença maior entre as tabelas 21 e 22 se refere ao número de meninos e
meninas primogênitos (as) que receberam o prenome pautado por outros referenciais,
que não foi possível detectar qual. Para as mulheres, observa-se que a quantidade foi
maior do que para os homens, reforçando a ideia inicial de que as “regras” seriam
menos gidas para elas, em função de sua própria condição de subordinação na
organização social do grupo. Conforme mencionamos anteriormente, se as regras de
transmissão de bens simbólicos (como os nomes de batismo) seguem as mesmas dos
bens materiais, sendo normalmente os homens os herdeiros, era sobre eles que a
253
NADALIN, Sérgio Odilon. 2004. Op. cit. p. 4
155
tradição se fazia de maneira mais forte. Entretanto, embora numa escala menor que as
meninas, à medida que as gerações vão se sucedendo parece que um afrouxamento
dessas convenções para a escolha dos nomes de batismo. Na última coorte, por
exemplo, um aumento de primogênitos batizados a partir de outros referenciais que
não a família. Seria resultado de um estreitamento dos contatos culturais com a
sociedade receptora que estava impactando também nos nomes?
Essa tendência de escolher prenomes pautados por outros referenciais que não a
família e a religião, especialmente aos últimos filhos da prole, se mostrou evidente
dentro de uma mesma família. Os casais dos quais pudemos acompanhar as práticas de
nomeação de todos os filhos na paróquia (ver tabela 2.A) confirmam o modelo inicial
sobre as “regras” para a escolha dos prenomes. Aos primeiros filhos (sejam meninos ou
meninas) na maior parte dos casos eram escolhidos os mesmos prenomes dos avós,
como aos últimos os pais estariam mais livres para escolher outros prenomes que
poderiam ser retirados de membros mais distantes da família, nomes devocionais, de
personagens históricos, de pessoas importantes ou mesmo da moda. Após terem
referenciados seus diversos parentes (vivos ou mortos) para os primeiros filhos, à
medida que iria se caminhando para o final da prole, as “regras” estariam mais flexíveis
possibilitando aos pais escolher outros prenomes, podendo, inclusive, inovar. Atitudes
como essas podem ser indicativas de que a “fronteira etnocultural” estava sendo
deslocada. Segundo Barth, as fronteiras não são imutáveis, são concebidas como uma
demarcação social suscetível de ser constantemente renovada pelas trocas.
254
Finalizando, as práticas de nomeação revelaram que desde ao nascer, as crianças
são integradas na família e no grupo ao receberem um símbolo da sua identificação
social e étnica. Assim, o ato de nomear vem carregado de intencionalidade, os
imigrantes e seus descendentes escolhem prenomes retirados de um determinado
estoque onomástico porque querem dar continuidade a uma tradição da família, da
linhagem ou do grupo, além do desejo de preservar a memória das gerações anteriores.
Conforme discutimos ao longo deste capítulo, os pais quando escolhiam determinado
prenome para seus filhos, o faziam para alcançar um objetivo. Os dados obtidos pela
sistematização das fontes paroquiais nos mostraram que a maior parte das crianças foi
nomeada a partir de dois signos fundamentais no processo de reconstrução dos
elementos culturais da sociedade ancestral: a família e a religiosidade. Embora as
254
CUCHE, Denys. Op.cit. p. 201
156
práticas tenham se transformado ao longo do tempo, provavelmente em função dos
contatos culturais estabelecidos com o grupo brasileiro, estas foram bastante
significativas para demonstrar as permanências das referências simbólicas e culturais do
mundo camponês italiano.
157
Considerações Finais
Na segunda metade do século XIX a Itália vivia um contexto de crise social e
econômica. Para muitos camponeses deserdados ou que não tinham mais condições de
manter sua propriedade, a emigração surgiu como uma verdadeira válvula de escape
para os problemas enfrentados. De outra forma, migrar era a única maneira de tentar
salvar aquele modo tradicional de viver que permanecia quase inalterado culos e
que o avanço do sistema capitalista de produção vinha desestruturando. Certamente a
decisão de mudar para um local totalmente novo trouxe à mente também a necessidade
de romper com os laços de pertencimento com a terra natal que os uniam tantas
gerações.
Ao cruzarem o Atlântico movidos pela fuga da miséria e pelo desejo de se
tornarem senhores de si, os imigrantes se depararam com uma situação inédita. Ao
estabelecer contato com um mundo desconhecido (não territorial mas principalmente
cultural) e se instalar em uma sociedade estranha a sua, esses indivíduos se viram
perdidos, pois os elementos socioculturais que caracterizavam a aldeia natal haviam
ficado para trás. À medida que os imigrantes foram se enraizando, muitos desses
elementos que caracterizavam o Vêneto foram recriados, enquanto outros foram
transformados em função da nova realidade. É claro que a (re)criação dos valores
herdados da sociedade original não aconteceu de maneira instantânea. Num primeiro
momento os imigrantes se preocuparam em se inserir economicamente e estabilizar suas
vidas, mas, à medida que os anos foram se sucedendo, como estratégia de construção da
etnicidade, houve a necessidade de recriarem a paisagem que caracterizava o Vêneto
nas colônias em Campo Largo.
Essa necessidade surgiu principalmente em função da diferença constatada com
o outro grupo que eles estavam em contato (os brasileiros). A constatação da diferença é
fundamental em qualquer situação interétnica para a produção de um sentimento de
pertencimento grupal. Assim, ao reiterarem a diferença com os outros grupos em que
estavam em contato ao longo dos tempos e das gerações, os imigrantes e seus
descendentes instalados nas colônias italianas de Campo Largo foram criando sua
identidade coletiva.
Para a construção da identidade coletiva foram acionados alguns elementos ou
valores que foram elevados à categoria de signos ou sinais diferenciadores. Tais signos
que analisamos ao longo desta dissertação (a família e seus vínculos, a religiosidade e
158
os prenomes de batismo) estão conectados entre si e, o nosso ver, foram elementos
muito importantes na definição do que é ser “italiano”. Para esses camponeses vênetos,
que ao se estabelecerem no Sul do Brasil se transformaram em colonos ítalo-brasileiros,
o pertencimento estava ligado à ideia de preservação ou continuação das crenças, dos
costumes e comportamentos que caracterizavam a aldeia natal, ou seja, uma forma de
presentificar o Vêneto. Dessa maneira, tivemos por objetivo discutir como o grupo em
questão mobilizou diversos recursos para reconstruir o mais próximo possível a vida
camponesa que eles levavam antes de migrar. É óbvio que com a diferença de que na
nova sociedade, no seu imaginário, estariam livres da exploração dos ricos (os grandes
proprietários de terras).
Como dissemos, embora a imigração tenha provocado um profundo corte na
trajetória do grupo, muitos elementos presentes no arcabouço cultural e simbólico foram
transportados e reelaborados na sociedade de adoção, enquanto outros foram
transformados em função da nova realidade. Em relação a esse último podemos destacar
alguns relacionados à família. Vimos que na Itália pré-imigração em certas regiões as
famílias aplicavam uma série de controles para restringir a prole e proteger o
patrimônio. Assim, a idade média ao casar, por exemplo, era mais elevada e
consequentemente a fecundidade tenderia a se reduzir. Também o índice das pessoas
que não contraíam casamento era relativamente alto. Com a mudança de local e a
abundância de terras na sociedade de adoção esses comportamentos foram
transformados. Nas colônias em Campo Largo, a idade média ao primeiro casamento
calculada foi relativamente baixa, o que favorecia a constituição de uma prole
numerosa. A mudança de comportamento certamente está relacionada à articulação
terra/demografia e também a uma forma de reprodução da vida camponesa, pois em
uma sociedade que se apoiava no trabalho familiar, a expansão ou não do patrimônio
dependeria do número de braços disponíveis para o trabalho.
Se a imigração transformou alguns comportamentos como aqueles relacionados
a idade ao casar e o tamanho da prole, determinadas características herdadas da
sociedade original permaneceram ativas. Exemplo disso podem ser a escolha dos
cônjuges que, em muitos casos, eram oriundos das mesmas regiões da Itália, e os
casamentos por troca. Esses comportamentos podem ser entendidos como parte da
produção da identidade etnocultural. Na mesma direção podemos apontar os inúmeros
vínculos criados pelo compadrio entre as famílias de imigrantes e descendentes, bem
como a criação de uma instituição (a Caixa Mortuária) que tinha por base as
159
solidariedades familiares e de vizinhança para o enfrentamento das adversidades como
doenças, morte etc. Esses elementos mostram como o grupo que se formou se constituía
em uma comunidade bastante ativa. É claro que a associação com os brasileiros e
mesmo com outros grupos também ocorreu ao longo de todo o período, tanto nos
matrimônios como no compadrio. Essas associações podiam estar ligadas a fenômenos
diversos como a solidificação de relações de amizade e vizinhança, a troca de favores
ou mesmo indícios de que a fronteira etnocultural estava sendo deslocada.
O processo de recriação de uma paisagem vêneta teve início ainda nos
primórdios da colonização quando o grupo passou a reivindicar constantemente a
presença de um sacerdote que residisse na colônia e prestasse os devidos atendimentos
espirituais. Conforme destacamos ao longo do texto, a religiosidade trazida pelos
imigrantes era bastante diversa daquela praticada pelos luso-brasileiros e se constituiu
em um importante elemento de diferenciação, daí a constante insistência por parte dos
colonos para ter seu sacerdote e sua própria sede paroquial. Além do mais, o padre era
um personagem imprescindível na organização social dos imigrantes, sendo um
verdadeiro guia na vida desses camponeses.
Junto com o modelo de religiosidade trazida pelos imigrantes, que era
impregnada dos padrões clericais, foi transportado todo um conjunto de imagens,
crenças, superstições e imaginários que mesclavam o catolicismo com práticas pagãs
herdadas dos antigos cultos agrários. Esse hibridismo se expressou nos tão comuns
pedidos de bênçãos, nos inúmeros poderes atribuídos aos santos, nas crenças presentes
nos nomes dados as crianças, bem como no seu poder simbólico, entre outros. Essa
associação entre a vida terrena e o sagrado intermediado pela figura do padre estava
ligada à necessidade de se obter proteção diante da instabilidade do ciclo da vida.
Observa-se também que na maioria das vezes essas necessidades estão ligadas à esfera
produtiva e à proteção contra as doenças.
Todo esse conjunto de crenças, costumes, imaginários e também a tradição
estiveram presentes nas práticas de transmissão dos nomes de batismo no grupo italiano.
No mundo camponês, nas sociedades ditas tradicionais, os nomes são pensados como
um patrimônio simbólico e um signo de pertença aquela família ou grupo social. No
nosso estudo, a análise das práticas de nomeação nas famílias reconstituídas revelaram
que a família e a religiosidade se constituíram nos principais repertórios para a escolha
dos prenomes dados às crianças. Mais que a reverência aos membros da linhagem e aos
patronos religiosos, percebemos que havia uma certa hierarquia, ou melhor, como
160
designamos, existiam “regras” para a escolha dos prenomes em uma mesma família.
Assim, aos primeiros seriam escolhidos preferencialmente os prenomes dos avós
(fossem meninos ou meninas) e aos filhos subsequentes seriam escolhidos os nomes dos
padrinhos, santos do dia, tios, outros parentes ou ainda prenomes retirados da moda,
inventados, adaptados ou de uso corrente na sociedade brasileira. Esse ordenamento
visava primeiramente garantir a perpetuação dos prenomes da linhagem, pois se um
casal viesse a ter poucos filhos, os avós deveriam ser os primeiros a serem
reverenciados. Por outro lado, é importante mencionar os resquícios de crenças e o
imaginário embutidos por trás dessas práticas. Por exemplo, a escolha dos prenomes
dos membros falecidos da linhagem tendo em vista a crença na reencarnação, a escolha
dos nomes dos santos como uma dádiva, entre outras.
Também é importante destacar que essas “regras” estão de acordo com o próprio
modelo de sociedade que o grupo estava reconstruindo, em que predominava a
hegemonia simbólica masculina. Em relação à comparação dos gêneros foram as
meninas que receberam a maior parte dos prenomes de influências alheias à família e à
religião. Por prevalecer uma organização patriarcal em que a autoridade estava
concentrada nos homens, é compatível que as regras de transmissão do patrimônio
simbólico também se mostrassem mais rígidas para eles do que para elas.
Embora a documentação paroquial tenha apresentado limitações para a análise
das formas de nomear as crianças no momento do batismo, entendemos que os
prenomes dados estão de acordo com códigos culturais específicos que fazem a ponte
com o mundo ancestral deixado para trás. Também, essas práticas trazem no bojo
basicamente dois elementos (a família e seus vínculos e a religiosidade) que são dos
mais importantes para a definição do pertencimento grupal desses imigrantes italianos e
seus descendentes. Neste trabalho não tivemos por objetivo esgotar as diferentes
possibilidades de análise que esse tema pode oferecer. Muito pelo contrário, questões
como o uso que o indivíduo faz do prenome ao longo da vida nos ambientes público e
privado, o processo de “aculturação” dos prenomes, o impacto do estreitamento dos
contatos culturais entre grupos imigrantes e brasileiros nos sistemas de nominação, o
processo de desuso dos prenomes familiares e devocionais, entre outras questões são
diversas possibilidades de estudo desse tema, inclusive com abordagens
interdisciplinares. Terminando este texto, esperamos ter contribuído para a
historiografia sobre imigração italiana e de outros grupos étnicos pela temática dos
nomes de batismo.
161
Fontes Primárias escritas
GENEALOGIA DAS FAMÍLIAS ZANIN E CARLESSO CEDIDA PELO PADRE
ANGELO CARLESSO PRIMO;
JORNAL GAZETA PARANAENSE de 26 de maio de 1889;
Livros de batismo e casamento da Paróquia de São Sebastião – Rondinha (Campo Largo
- Paraná);
Livros de batismo, casamento e óbito da Paróquia Nossa Senhora da Piedade (Campo
Largo – Paraná);
Livros de casamento da Paróquia de São José – Santa Felicidade (Curitiba – Paraná);
Livros de óbitos do Cartório de Registros Civis de Campo Largo – Paraná (Cartório
Leandro);
Livro de Registro de Óbito da Caixa Mortuária da Colônia Campina (Campo Largo –
Paraná);
Livros de Registros de Entrada de imigrantes pelo Porto de Paranaguá (Departamento
de Estado do Arquivo Público do Paraná – DEAP);
Livro do Tombo I da Paróquia de São Sebastião (1906-1971);
RELATÓRIO do presidente da província do Paraná. João José Pedrosa. 1880.
disponível em <www.pr.gov.br > acesso em 23/01/2009;
RELATÓRIO do presidente da província do Paraná. Francisco Liberato de Mattos.
1858. disponível em <www.pr.gov.br > acesso em 23/01/2009;
RELATÓRIO do presidente da província do Paraná. Candido da Cunha. 1888.
disponível em <www.pr.gov.br > acesso em 23/01/2009.
Fontes orais
Entrevista realizada com o Arcebispo Emérito da diocese de Curitiba, D. Pedro Fedalto
(1926 - ) em 23 de dezembro de 2008.
Sites
<http://www.stg.brown.edu/projects/tratte/doc/TLNAME1.html>
162
The Online Catasto is a World Wide Web searchable database of tax information for the
city of Florence in 1427-29 (c. 10,000 records). It is based on David Herlihy and
Christiane Klapisch-Zuber, Principal Investigators, Census and Property Survey of
Florentine Dominions in the Province of Tuscany, 1427-1480.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros, artigos, teses e dissertações
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Gráfica Planeta, 2005.
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ANEXOS
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ANEXO 1
Limites territoriais da Paróquia de São Sebastião, Campo Largo - Paraná
“No dia 5 de abril de 1937 Rvmo. Arcebispo Dom Attico Ensilio da Rocha emanou o
seguinte decreto:
Pela presente, attendendo a necessidade de uma junção parochial regular, e seguindo as
preocupações canonicas, depois de ouvido o parecer dos Revmos. Consultores
archidiciocesanos e usando de nossa jurisdição ordinaria, havemos por bem elevar a
cathegoria de Parochias amaviveis (can. 454 § 3) as obras capellas curadas de São
sebastião de Rondinha e S. José de Santa Felicidade, cujos limites confirmamos e
ratificamos conforme se descreve em seguinte:
A parochia de São Sebastião de Rondinha assim se limita: Pela estrada que partindo da
estrada macadamizada vae ao passo de Fabiamos, no arraio das Costas, dahi por este
arraio abaixo até o pequeno rio Rinção; por este Rio abaixo ate o Rio Verde, dahi pelo
Rio Verde acima ate encontrar os limites da parochia de Orleans, até o Rio Passauna,
dahi pelo Rio Passauna abaixo, ate encontrar os limites da freguesia de Thomas Coelho;
por estes limites em direção de Campo Largo, ate encontra o corrego dos Fedaltos; por
este corrego abaixo ate a estrada do Rio Verde, seguindo esta estrada ate a ponte do
mesmo Rio Verde, dahi pelo Rio Verde abaixo ate o corrego que vindo da Colonia
Mariana, vai ate o rio Amocafe; dahi por este rio acima ate onde desagua um arraia que
vem da propriedade do Sr. Otto Vaz Chem; dahi por este arraia acima, continuando
pelos limites da referida propriedade e pela estrada do Rio Verde, ate o ponto de partida
na estrada macadamizada.
Dado e passado nesta cidade archipiscopal de Curityba sob o nosso igual e o sello
Nossas ... aos 2 de Abril de 1937.’’
“Com este decreto a Egreja de Rondinha esta elevada a Parochia, mas vem a perder
cinco capellas: S. João Baptista de Campina, S. Benedito de Salgadinho, S. Antonio e S.
João do Capão, e S. Anna de Figueredo. Ficam tambem escluidas da nova parochia 120
familias, que estão registradas no livro de batismo deste archivo, assim divididas, 38
familias da colonia de Campina, 55 familias italianas do centro de Rondinha, 30
familias brasileiras de Rondinha, mais algumas familias de Mariana e Rebouças. Os
excluidos ficaram muito malcontentes e repetidas vezes foram do Sr. Arcebispo a se
queixar, mas debalde. Os padres de S. Carlos não puderam fazer nada, porque não
foram convidados a presentar as divisas e proprio ponto de vista, nem tampouco
consultados, mas foram aceitadas as divisas como foram apresentadas pelo P. de Campo
Largo, P. Aloisio Domanski. Resentemente a parochia é em forma de retangulo com o
comprimento de 18km por 5 km e compreende as capellas de Mariana, Timbituba,
Rebouças e Ferraria.”
FONTE: Livro do Tombo da Paróquia São Sebastião 1906-1971.
174
ANEXO 2
CASAMENTOS POR TROCA
Riccardo Brugnolo com Rosa Garzaro casaram-se em 25.04.1914
Redenzio Brugnolo com Santa Garzaro casaram-se em 10/05/1919
Ambos moradores da colônia Rio Verde. Ricardo e Redenzio, filhos de Giuseppe
Brugnolo e Maria Ghiotto, e Santa e Rosa, filhas de Luigi Garzaro e Angela Cruzara
............................
Angelo Ceccatto com Angela Gadens casaram-se em 09/02/1918
Antonio Gadens com Rosa Ceccatto casaram-se em 24/05/1919
Ambos moradores da colônia Rondinha. Angelo e Rosa, filhos de Giovanni Ceccatto e
Maria Cosmo e Antonio e Angela, filhos de Giovanni Gadens e Maria Dominga
Cemim.
............................
Jose Magaton com Fiorinda Aggio casaram-se em 20/02/1909
Pedro Magaton com Mariana Aggio casaram-se em 19/07/1919
Ambos moradores da colônia Campina. Jose e Pedro, filhos de Giovanni Magaton e
Giovanna Brossolato e Fiorinda e Mariana, filhas de Guilherme Aggio e Maria
Fraccaro.
............................
Domingo Cosmo com Angela Zampieri casaram-se em 16/09/1899
Luigi Zampieri com Angela Cosmo casaram-se em 16/06/1906
Ambos moradores em Rondinha. Domingo e Angela, filhos de Giovanni Cosmo e Santa
Favrim, e Luigi e Angela, filhos de Plácido Zampieri e Luigia Ghiotto.
............................
175
Jose Marochi com Angela Rigoni casaram-se em 01/09/1904
Jacob Marochi com Angelina Rigoni casaram-se em 10/11/1906
Ambos moradores da colônia Timbituva. Jose e Jacob, filhos de Francisco Marochi e
Rosa Ferrari, e Angela e Angelina, filhas de Antonio Rigoni e Dominga Basso.
............................
Cristino Rigoni com Catterina Cunico casaram-se em 02/05/1903
Estevam Rigoni com Maria Cunico casaram-se em 18/05/1889
Ambos moradores da colônia Timbituva. Cristiano e Estevam, filhos de Antonio Rigoni
e Dominga Cunico, e Maria e Catterina, filhas de Cipriano Cunico e Maria Rodighero.
Obs: Dominga e Cipriano eram parentes (provavelmente primos)
............................
Luigi Rinaldim com Catterina Crovador casaram-se em 06/02/1910
Ângelo Rinaldim com Angela Crovador casaram-se em 24/06/1907
Ambos moradores da colônia Rio Verde. Luigi e Ângelo, filhos de Antonio Rinaldim e
Daniela Fregonese, e Catterina e Angela, filhas de Giuseppe Crovadore e Grazioza
Mores.
............................
Carlos Mazzuchetto com Maria Zampieri casaram-se em 10/05/1889
Giovanni Mazzuchetto com Pellegina Zampieri casaram-se em 22/06/1889
Ambos moradores da colônia Timbituva. Carlos e Giovanni, filhos de Luigi
Mazzuchetto e Giovanna Pionesana, e Maria e Pellegina, filhas de Plácido Zampieri e
Luigia Ghiotto.
FONTE: Livros de Casamento das paróquias de São Sebastião, Sra. Da Piedade e
São José.
176
ANEXO 3
ANEXO METODOLÓGICO
Organização das tabelas para tratamento dos dados
O Anexo metodológico tem por objetivo fazer uma explanação de como foram
construídas as tabelas que serviram de base para o tratamento dos dados utilizados nessa
dissertação, especialmente do terceiro capítulo.
TABELA 1.A
Influências nas escolhas dos prenomes dos filhos (as) de imigrantes e descendentes
de italianos de Campo Largo - PR
O objetivo dessa tabela foi organizar as prováveis influências na escolha dos
prenomes das crianças. Para organizar essa tabela foram utilizadas somente as fichas de
família (M), ou seja, aquelas relativas aqueles casais que foi obtido o casamento em
uma das três paróquias pesquisadas no período de 1878 a 1920 e cujos filhos foram
batizados no período de 1878 a 1937. O total de fichas utilizadas foi de 290, o que
correspondeu a igual números de casais.
A tabela foi organizada da seguinte forma, da esquerda para a direita:
coortes: levam em consideração aqueles casais que realizaram seu matrimônio
naquele espaço de tempo e cuja descendência é seguida nos registros de batismo
ao longo do período estudado. As coortes foram organizadas em períodos
médios de uma década, exceção é feita à primeira, que incorpora um recorte
temporal maior, pois as famílias vão se estabelecendo nas colônias ao longo
dessa coorte. Dividimos dessa maneira, para equiparar o número de famílias por
coorte.
de casais: corresponde a quantidade de casais para cada coorte, que tiveram
no mínimo um filho.
Sexo da criança: na tabela, estamos analisando separadamente menino e menina.
A análise das fichas de famílias com as prováveis influências na escolha dos
prenomes, possibilitou-nos organizar a tabela em 8 partes. As quatro primeiras partes
foram subdivididas, enquanto as quatro últimas permaneceram com uma única coluna
na tabela.
177
Influência da linhagem paterna: congrega as categorias pai, avô, avó e tio(a)
para ser utilizadas tanto para meninos como para meninas, ou seja, também
encontramos meninas recebendo prenomes a partir do nome do pai e do avô,
assim como meninos sendo nominados através da avó. Para os tios não
encontramos essa relação (meninos nominados através da tia, e vice-versa para
as meninas), dessa maneira não fizemos duas colunas separadas.
Influência da linhagem materna: segue a gica do grupo anterior, congrega as
categorias mãe, avô, avó e tio(a) para ser utilizadas tanto para meninos como
para meninas, ou seja, também encontramos meninos recebendo prenomes a
partir do nome da mãe e da avó, assim como meninas sendo nominados através
do avô. Para os tios não encontramos essa relação (meninos nominados através
da tia, e vice-versa para as meninas), dessa maneira não fizemos duas colunas
separadas.
Influência dos irmãos falecidos: nesse grupo consta as crianças nominadas a
partir de um irmão ou irmã falecido(a) antes de seu nascimento. Embora não
tenhamos encontrado nenhum menino nominado através da versão masculina do
prenome da irmã falecida, ou vice-versa, para as meninas. Na organização da
tabela, as categorias irmão e irmã (falecidos) poderiam ser utilizadas para ambos
os sexos.
Influência dos compadres. Nesse grupo consta as crianças, cujo prenome foi
dado em função do padrinho ou madrinha de batismo. Assim como no grupo
anterior, como não foi encontrado nenhum menino nominado através da versão
masculina do prenome da madrinha, ou vice-versa, para as meninas. Na
organização da tabela as categorias padrinho e madrinha também poderiam ser
utilizadas para ambos os sexos.
Santo do dia: essa categoria congrega as crianças que tiveram seu nome
escolhido em função do dia do santo. Não estamos considerando apenas se a
criança nasceu exatamente no dia do santo ou santa, mas também aquelas cuja
data de nascimento ou batismo está relativamente próxima.
178
Outro parente: esse grupo congrega diversos tipos de parentes tais como: primos
ou primas mais velhos (as), tios-avô ou tias-avó, cônjuge falecido (em caso de
viuvez), ou outros cujo grau de parentesco não foi possível determinar. Não
foram criadas categorias dentro desse grupo, pois teríamos que ampliar muito o
rol de opções, inclusive criar sub-categorias que tinham apenas alguns casos.
Bisavô: esse grupo foi criado pelo seguinte motivo: para uma das colônias (a
Campina) temos disponível um livro escrito por Osmar Aggio sobre a história da
colônia, em que constam a genealogia das famílias fundadoras, desde a Itália
(inclusive, o autor pesquisou nas paróquias italianas de onde vieram essas
famílias). Ao verificar essas genealogias, foi constatado a relação entre o nome
da criança e do bisavô. É claro que, não foi feita a distinção de qual lado à
criança herdou o prenome (se é avô materno ou paterno da mãe ou do pai).
Nesse casos os bisavôs, na maior parte, eram falecidos e muitos estavam
enterrados na Itália. Também queremos deixar claro que, essa variável foi
possível determinar para uma parte das famílias, ou seja, de uma colônia, não
temos informação na documentação paroquial dos bisavós para as outras
colônias, a não ser em alguns casos em que conseguimos recuperar quatro
gerações no período estudado.
Outros: no último grupo foram enquadrados todos aqueles prenomes que não foi
possível inserir em nenhum dos demais grupos. Poderiam ser nomes de moda do
período, inspirados em lugares, coisas ou sentimentos, referências a personagens
históricos ou bíblicos, nomes de reis ou papas, nomes fantasiosos, inventados ou
reinventados, ou simplesmente nomes de uso recorrente no grupo, mas que
simplesmente não foi encontrado nenhuma explicação para sua escolha.
Subtotal e total: a quantidade final não corresponde nem ao número de
indivíduos nem ao número de prenomes (nomes combinados foram contados
separadamente). Essa decisão foi tomada pelo fato de que tivemos um número
considerável de casos em que era possível mais de uma influência. Por exemplo,
quando uma criança recebia um prenome qualquer como Antonio, e tanto seu
179
avô paterno como materno também tinham esse prenome, quem os pais queriam
referenciar? O avô paterno, o materno ou os dois? Como não podemos ter
precisão nesses casos, optamos em enquadrar o mesmo prenome da mesma
criança, em duas categorias diferentes. È devido a esses casos, sob risco de
duplicar a contagem, que não podemos atribuir ao total e subtotal o número total
de prenomes.
TABELA 2.A
Influência na escolha do primeiro e último filho(a)
O objetivo dessa tabela é comparar como foram escolhidos o primeiro e o último
menino e a primeira e última menina, de uma amostra de casais.
A tabela foi criada utilizando-se da mesma estrutura da 1.A, porém a amostra de
casais foi diferente. Para acompanhar o nome dado ao primeiro(a) e último filho(a),
selecionamos apenas casais em que ao nascer a última criança registrada na paróquia, a
mulher tinha uma idade média de 40 anos. Essa opção, embora não rigorosa do ponto de
vista demográfico, está embasada nas observações de Altiva Balhana Pilatti sobre a
colônia italiana de Santa Felicidade (Curitiba PR), que também podem ser aplicadas
para o nosso grupo. Segundo a autora, em populações que não fazem controle de
natalidade a idade média da mulher ao último nascimento situa-se por volta dos 40 anos,
independente da sua idade ao casar.
255
Inicialmente foram utilizados o mesmo número
de coortes da tabela 1.A, mas como obtemos números pequenos e os dados ficaram
“pulverizados”, optamos por fazer apenas três coortes.
Essa tabela contou com a observação de 75 casais, e assim como a tabela 1.A
tratamos os prenomes duplos separadamente.
3. Tabela sobre a influência na escolha do segundo e penúltimo filho (a) (Tabela
3.A)
Foram utilizados os mesmos critérios da anterior (2.A), a diferença é que nessa
tabela, o objetivo dessa foi comparar como foram escolhidos o segundo e o penúltimo
menino e a segunda e penúltima menina, de uma amostra de casais.
255
PILATTI BALHANA, Altiva. “Nupcialidade e fecundidade”. In ____________ Um mazolino di fiori
vol. II .(org) Westphalen, Maria Cecília. Curitiba : Imprensa Oficial do Paraná, 2002. p. 185
180
Essa tabela contou com a observação de 68 casais, e assim como a tabela 1.A e
2.A tratamos os prenomes duplos separadamente. O número menor se justifica pelo fato
de em alguns casos o segundo e o penúltimo menino, ou segunda e penúltima menina,
coincidir com o primeiro (a) e último (a) menino (a).
4. Tabela sobre a influência na escolha do primeiro filho e primeira filha (Tabela
4.A)
O objetivo dessa tabela concentrou-se em observar como os pais escolheram
apenas o nome do primeiro filho e da primeira filha. Como nessa tabela nosso interesse
se centrou no nascimento do primeiro menino e da primeira menina pudemos aproveitar
um número maior de fichas M.
Organizamos o recorte cronológico de casamentos em três coortes. A
organização dessa forma foi para tentar um equilíbrio entre o número de casais para
cada coorte.
Nessa tabela estamos considerando o número de indivíduos e não de prenomes,
por isso os nomes combinados foram alocados em categorias separadas. O número de
categorias foram incluídas conforme recorrência na nominação do primeiro (a) filho (a)
e ficaram assim distribuídas:
1. Avô paterno: quando o menino recebeu o prenome do avô paterno.
2. Avô materno: quando o menino recebeu o prenome do avô materno.
3. Pai: quando menino recebeu o prenome do pai.
4. Tio Materno: quando o menino recebeu o prenome de um tio do lado da mãe.
5. Tio Paterno: quando o menino recebeu o prenome de um tio do lado do pai.
6. Santo: quando o menino recebeu o nome de um santo do dia (ver também a
explicação no item 1).
7. Padrinho: quando o menino recebeu o prenome do seu padrinho de batismo
8. Avô Paterno + Paterno: quando o menino recebeu nome combinado que
referenciava os dois avós.
9. Avô Materno + Pai: quando o menino recebeu nome que combinava os
prenomes do avô materno e do pai.
10. Avô Paterno + Pai: quando o menino recebeu nome que combinava os
prenomes do avô paterno e do pai.
181
11. Avô Paterno + tio: quando o menino recebeu nome que combinava os prenomes
do avô paterno e de um tio, seja materno ou paterno.
12. Avô Materno + tio: quando o menino recebeu nome que combinava os
prenomes do avô materno e de um tio, seja materno ou paterno.
13. Avô paterno + padrinho: quando o menino recebeu nome que combinava os
prenomes do avô paterno e do seu padrinho de batismo.
14. Pai + santo: quando o menino recebeu nome que combinava os prenomes do
pai de um santo do dia.
15. Bisavô: quando o menino recebeu o prenome de um bisavô (independente se é
do lado do pais ou da mãe, ver a explicação no item 1)
16. Outros: nessa categoria foram incluídos todos aqueles que não se encaixaram
em nenhuma das categorias anteriores, ou que não encontramos nenhuma
explicação para a escolha de tal nome.
17. Avô paterno e materno: nessa categoria entram os casos em que os avôs (paterno
e materno) tinham o mesmo nome. Dessa forma, a influência poderia ter uma
dupla razão, mas como estamos contando indivíduos e não nomes, estes não
poderiam ser duplicados.
18. Avô e pai: segue a lógica aplicada ao item 17, foram incluídos nessa categoria
casos em que um dos avôs e o pai tinham o mesmo nome que foi dado a criança.
Observação: nas categorias 8,9,10,11,12,13 e 14 que são relativas a nomes
combinados não estamos considerando a ordem, pois com exceção da 8, são
números pequenos.
Para as meninas a explicação é a mesma utilizada para os meninos com exceção
de algumas categorias:
A categoria Pai refere-se a menina que recebeu a versão feminina do prenome
do pai e a categoria Mãe quando a criança recebeu o prenome igual de sua mãe.
Também temos a categoria que combina o nome das tias paterna e materna, que
não encontramos o equivalente para os meninos. Também as categorias 9, 11 e 14
encontrados para os meninos, não ocorreu o equivalente a essas categorias, para as
meninas, e categoria 18, refere-se a casos que a menina recebia o prenome que era o
mesmo da mãe e de uma das avós.
182
5. Tabela sobre a influência na escolha do prenome da primeira criança,
independente do sexo (Tabela 5.A)
Essa tabela foi organizada para verificar como os pais escolhiam o nome do
primeiro filho, independente de ser menino ou menina. As categorias foram
organizadas conforme aquelas utilizadas na tabela 4.A, utilizando somente aquelas
em que apareceram pelo menos uma vez, e distinguiu prenomes simples de
combinados. Dessa forma, os subtotais e o total referem-se a indivíduos. Assim
temos 290 primeiros filhos do igual número de casais que realizaram seu
matrimônio nas paróquias pesquisadas no período de 1878-1920, e que tiveram ao
mínimo um filho. Também nesta tabela, foi feita a separação por gênero e em três
coortes conforme a anterior.
183
ANEXO 4
TABULAÇÃO DOS DADOS REFERENTES AS PRÁTICAS DE NOMEAÇÃO
ENTRE IMIGRANTES E DESCENDENTES DE ITALIANOS DE CAMPO LARGO
– PARANÁ, POR COORTES (1878-1920)
TABELAS 1.A, 2.A, 3.A, 4.A, 5.A
TABELA 1.A: Influência na escolha dos prenomes dos filhos, nas famílias
reconstituídas, em função do casamento.
TABELA 2.A : Influências na escolha dos prenomes do primeiro e último filho (a)
TABELA 3.A: Influências na escolha dos nomes do segundo e penúltimo filho (a)
TABELA 4.A: Escolha do nome para o primeiro filho (a)
TABELA 5.A: Escolha do nome da primeira criança de cada casal, independente do
sexo
184
Coorte
Cas
ais
Sexo da
Criança
Influência Paterna Influência Materna
Influência dos
irmãos falecidos
Influência dos
Compadres
Santo do
dia
Outro
parente
Bisavô Outros
Total
Pai Avô Avó
Tio
(a)
Mãe Avô Avó
Tio
(a)
Irmão Irmã Padrinh
o
Madri
nha
1878-1900
91
Menino
16 50 4 28 1 56 - 60 20 - 28 19 26 20 60 348
Menina
2 - 40 27 5 2 52 45 - 8 22 4 27 12 77 306
1901-1910
103
Menino
18 79 5 32 2 64 3 13 14 - 23 - 23 14 11 54 354
Menina
8 4 68 34 11 7 64 35 - 10 - 20 5 23 3 100 382
1911-1920
96
Menino
5 52 1 22 1 40 2 7 6 - 5 - 10 19 3 68 241
Menina
1 1 35 15 7 3 38 18 - 9 - 8 4 13 1 79 232
1878-1920
290
Menino
39 181 10 82 4 160 5 80 40 - 56 - 52 59 34 182 943
Menina
11 5 143 76 23 13 154 98 - 27 - 50 13 63 16 256 920
Fonte: livros de batismo e casamento das paróquias deSão Sebastião, Nª Srª da Piedade e São José.
Total refere-se a influências e não ao número de pessoas ou prenomes
Obs: Os prenomes combinados foram contados separadamente (como se fossem dois prenomes) Ex: João Antonio (1 para avô paterno e 1 para avô materno)
TABELA 1.A Influência na escolha dos prenomes dos filhos, nas famílias reconstituídas, em função do casamento. (1878-1920)
185
Coorte
Sexo
Ordem
Nasc.
Influência Paterna Influência Materna
Influência dos
irmãos falecidos
Influência dos
Compadres
Santo do
dia
Outro
parente
Bisavô
Outros Total
Pai Avô Avó
Tio
(a)
Mãe Avô Avó
Tio
(a)
Irmão Irmã Padrinho Madrinh
a
1878-
1900
32
Menino
Primeiro
2 14 - 1 - 6 - - - - 4 - - 1 8
-
34
Último
3 2 - 3 - 2 - - 5 - 2 - 2 5 - 9 34
Menina
Primeiro
- - 11 3 - - 5 - - - 2 - 3 5 3 32
Último
- - 0 2 1 - 2 4 - 4 - 3 - 1 - 15 32
1901-
1910
29
Menino
Primeiro
1 19 - 3 - 6 - - - - 2 - - 1 1 2 35
Último
2 1 - 5 1 2 - - 1 - 3 - 1 3 - 12 31
Menina
Primeiro
- - 13 1 2 - 8 1 - - 2 - - 1 6 34
Último
- - 0 1 1 - 1 3 - 2 - 2 - 2 - 17 29
1911-
1920
16
Menino
Primeiro
2 11 - 1 - - - - - - - - 1 - 2 15
Último
- - - - - 1 - - - - - - 1 - 14 16
Menina
Primeiro
- - 7 - 1 5 - - - - 1 1 - 3 16
Último
- - - - - - - 1 - 2 - 2 - - - 12 17
total
75
Menino
Primeiro
5 42 - 5 - 12 - - - - 6 - - 3 9 4 84
Último
5 3 - 8 - 5 - - 7 - 5 - 3 9 - 35 80
Menina
Primeiro
- - 32 6 3 - 18 1 - - - 4 1 5 6 10 83
Último
- - 0 3 2 - 5 8 - 7 - 7 3 - 44 79
Fonte: livros de batismo e casamento das paróquias deSão Sebastião, Nª Srª da Piedade e São José.
Obs: os nomes combinados foram contados separadamente (como se fossem dois prenomes)
TABELA 2.A
Influências na escolha dos prenomes do primeiro e último filho(a)
186
Fonte: livros de batismo e casamento das paróquias deSão Sebastião, Nª Srª da Piedade e São José.
Sexo
Orde
m Nasc.
Influência Paterna Influência Materna Influência dos irmãos
falecidos
Influência dos Compadres
Santo do
dia
Outro
parente
Bisavô
Outros Total
Pai Avô Avó Tio (a) Mãe Avô Avó Tio (a) Irmão Irmã Padrinho Madrinha
1878-1900
26
Menino
Segundo
2 6 - 3 - 3 - - - - 2 - 1 4 1 4 26
Penúltimo
1 1 - 1 - 5 - 3 - - 2 - 3 3 - 7 26
Menina Segundo
- - 2 5 2 - 2 2 - 2 - 2 - 1 - 9 27
Penúltimo - -
2 4 - - 2 1 - 1 - 2 - - - 14 26
1901-1910
29
Menino
Segundo
1 6 - 2 - 8 - - - 6 - 1 3 - 2 29
Penúltimo
2 2 - 4 - 1 - 2 3 - 1 - 2 4 - 10 31
Menina Segundo
1 - 4 2 - - 10 3 - - - 3 - 3 - 3 29
Penúltimo
2
-
2 3 - - 2 6 - - - - - 1 - 13 29
1911-1920
15
Menino
Segundo
- 1 3 1 5 - - - 2 - - 1 - 2 13
Penúltimo
- - 2 1 - - 1 - - 1 - 2 2 - 4 13
Menina Segundo
- - 6 3 1 1 3 1 - - - - - 1 - 3 17
Penúltimo
- - 1 1 1 - - 3 - 1 - - 1 - 8 15
total
68
Menino
Segundo
4 12 - 8 1 16 - - - - 10 - 2 8 1 10 68
Penúltimo
5 3 - 7 1 6 - 6 3 - 4 - 7 9 - 21 70
Menina Segundo
- - 12 10 3 1 15 6 - 2 - 5 5 - 15 74
Penúltimo - - 5 8 1 - 4 9 - 2 - 2 1 1 - 35 68
TABELA 3.A
Influências na escolha dos nomes do segundo e penúltimo filho (a)
187
TABELA 4.A Escolha do nome para o primeiro filho (a)
MENINO
MENINA
1878-1899 1900-1910 1911-1920 Total 1878-1899 1900-1910 1911-1920 Total
Avô paterno 21 41 32 94 Avó paterna 17 24 29 70
Avô materno 11 24 9 44 Avó materna 13 17 19 49
Pai 4 4 1 9 Mãe - 1 2 3
Tio Materno 2 2 4 Tia Materna - 9 3 12
Tio Paterno 6 6 6 18 Tia paterna 5 5 7 17
Santo 1 2 1 4 Santa 2 2 4
Padrinho 4 1 5 Madrinha 3 3 6
Bisavô 10 4 6 20 Bisavó 4 1 5
Avô paterno e
materno
- 2 3 5 Avó paterna e
materna
1 1 1 3
Avô e pai - 1 1 2 Avó e Mãe 1 1 - 2
Avô Materno +
Paterno
5 8 6 19 Avó paterna +
materna
5 9 4 18
Avô Materno +
Pai
- 1 - 1 Avó materna +
tia
1 1 - 2
Avô Paterno + Pai - 4 1 5 Avó paterna +
mãe
- 1 - 1
Avô Paterno + tio 1 - - 1 Tia paterna +
materna
- 2 - 2
Avô Materno + tio 1 - - 1 Avó paterna +
madrinha
- 1 1 2
Avô paterno +
padrinho
2 - - 2 Pai - 1 - 1
Pai + santo - 1 1
Avô paterno e
materno+pai
1 1 - 2 Outro 18 15 22 55
Outro 9 10 18 37
Total 78 110 84 274 Total 68 93 89 252
Fonte: livros de batismo e casamento das paróquias deSão Sebastião, Nª Srª da Piedade e São José.
188
TABELA 5.A
Escolha do nome da primeira criança de cada casal, independente do sexo
MENINO MENINA
1878
-
1899
1900
-
1910
1911
-
1920
Total
1878
-
1899
1900
-
1910
1911
-
1920
Total
Avô paterno
16
28
16
60
Avó paterna
8
11
11
30
Avô materno
4
14
6
24
Avó materna
4
8
8
20
Pai
2
1
-
3
Mãe
-
1
1
2
Tio Materno
-
-
1
1
Tia Materna
-
1
2
3
Tio Paterno
1
1
1
3
Tia pate
rna
2
3
6
11
Santo
2
2
3
7
Santa
1
1
2
Padrinho
2
1
3
Madrinha
2
-
2
Avô Materno +
Paterno
5
4
3
12
Avó paterna e
materna
-
-
1
1
Avô materno e
paterno
-
2
3
5
Bisavó
1
2
-
3
Avô e pai
-
1
1
2
Avó paterna +
materna
4
6
2
12
Avô + Bisavô
-
-
1
1
Av
ó + tia
-
-
1
1
Avô paterno e
materno + pai
1
1
2
Avó + madrinha
1
1
1
3
Avô + pai
-
1
1
2
Tia paterna +
materna
1
1
Avô + padrinho
5
-
-
5
Avó + outro
1
4
1
6
Avô + tio
-
1
-
1
Avó + Bisavó
1
-
-
1
Pai + santo
1
1
-
2
Outro
9
13
7
29
Padrinho + o
utro
1
-
-
1
Total
33
52
41
127
Avô + outro
2
2
4
Outro
7
5
13
25
Total
49
63
50
163
Fonte: livros de batismo e casamento das paróquias de São Sebastião, Nª Srª da Piedade e São José
189
Anexo 5: Genealogia das famílias Zanin e Carlesso
190
191
192
193
194
195
196
197
198
199
200
Anexo 6
Frequência prenomes masculinos dos imigrantes italianos instalados nas colônias
de Campo Largo
Abram 1 Cristiano 3 Leopoldo 1
Abramo 4 Daminao 1 Lorenzo 3
Achille 2 Dante 1 Luigi 32
Agostinho 1 David 3 Marco 3
Alessandre 2 Diligente 1 Massimiliano 3
Alfonso 1 Domenico 21 Matteo 5
Amante 1 Elia 3 Melchuior 1
Andrea 4 Eliseu 1 Michel 3
Angelo 24 Emilio 3 Modesto 1
Anselmo 2 Ermelao 1 Nicodemo 1
Antonio 54 Ermenegildo 1 Nicola 3
Apostolo 2 Ernesto 2 Nicolato 1
Arnoldo 1 Eugenio 2 Paolo 5
Augusto 1 Eurico 1 Pasquale 1
Baptista 11 Evangelista 1 Pellegrino 1
Beato 1 Fedele 1 Pietro 31
Benevento 1 Felipe 1 Pio 2
Benjamino 2 Ferdinando 2 Placido 2
Bernardino 1 Ferracio 1 Pompeo 1
Bernardo 3 Ferrucio 1 Primo 1
Berriggio 1 Fortunato 5 Ricardo 2
Bonafede 1 Francesco 31 Rinaldo 1
Bortolo 6 Genaro 3 Rodesindo 1
Braggio 1 Georgio 1 Santo 16
Bruno 2 Giacinto 3 Sebastiano 8
Caetano 3 Giacomo 8 Silvestre 1
Calisto 2 Giovanni 58 Silvio 2
Camilo 2 Girolamo 6 Stefano 1
Candido 2 Giuseppe 57 Tarquineo 1
Carlo 4 Goisué 1 Tomasio 1
Catterino 1 Gregorio 1 Umberto 2
Celeste 1 Guglielmo 3 Umberto 2
Cesare 1 Inocente 4 Valentin 3
Cipriano 1 Isidoro 1 Victorio 3
Cleto 1 Julio 2 Virgilio 1
Clodomiro 1 Lazaro 1 Total:107 531
Fonte : Livro de registros de desembarque de imigrantes entrados pelo Porto de
Paranaguá (DEAP)
201
Anexo 7
Frequência prenomes femininos dos imigrantes italianos instalados nas colônias
de Campo Largo
Adria 1 Elinoce 1 Lucrezia 2
Agata 1 Elisa 6 Luigia 22
Alessandra 1 Elisabetta 9 Madalena 8
Amalia 3 Emilia 2 Margherita 5
Angela 42 Ernesta 1 Maria 109
Angelina 3 Esperanza 1 Mariana 6
Anna 17 Eugenia 1 Melchiora 1
Antonia 12 Eva 1 Nicoleta 1
Beatrice 1 Felicita 1 Nicoleta 1
BellaVicenza 1 Filomena 2 Oliva 3
Belocia 1 Filomena 2 Onesta 1
Bendetta 1 Flora 1 Orsola 1
Bertha 1 Fortunata 1 Palmira 2
Bettilda 1 Gemilda 1 Paola 3
Brodocina 1 Gemma 2 Paschua 4
Candida 2 Geronoma 1 Pellegrina 1
Carlotta 4 Giacoma 2 Perina 2
Carmina 1 Giacomina 1 Regina 18
Carolina 3 Gioconda 2 Rita 2
Catterina 34 Giovanna 15 Rosa 19
Cecilia 1 Giuditta 3 Rosina 2
Chiara 8 Giuseppa 2 Santa 10
Claudina 2 Giuseppa 1 Secondina 1
Clementina 2 Giuseppina 5 Stella 1
Constantina 2 Giustina 1 Teresa 17
Constanza 1 Grazioza 6 Valentina 3
Corina 2 Irene 2 Veronica 2
Cosma 1 Irma 1 Virginea 5
Cristina 1 Isolina 1 Vitoria 1
Domenica 12 Italia 2 Total:91 504
Dorotea 2 Lucia 9
Fonte : Livro de registros de desembarque de imigrantes entrados pelo Porto de
Paranaguá (DEAP)
202
Anexo 8
Contagem dos 10 prenomes femininos mais frequentes ano a ano (1878-1937) Números absolutos e relativos.
Ano Maria Rosa Teresa Angela Ana Antonia Catarina Joana Luiza Madalena Outros Total
# % # % # % # % # % # % # % # % # % # % # % # %
1879 1 50,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 50,0 0 0,0 0 0,0 2 100
1880 1 100,0
0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 100
1881 1 33,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 66,7 3 100
1882 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 100,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 100
1883 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 100,0
0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 100
1884 2 66,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 33,3 3 100
1885 1 33,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 66,7 3 100
1886 1 16,7 1 16,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 16,7 1 16,7 1 16,7 0 0,0 0 0,0 1 16,7 6 100
1887 1 16,7 0 0,0 0 0,0 1 16,7 0 0,0 1 16,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 50,0 6 100
1888 7 30,4 1 4,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 4,3 0 0,0 1 4,3 0 0,0 1 4,3 12 52,2 23 100
1889 6 26,1 4 17,4 0 0,0 3 13,0 0 0,0 0 0,0 1 4,3 0 0,0 1 4,3 0,0 8 34,8 23 100
1890 13 31,0 1 2,4 1 2,4 2 4,8 0 0,0 3 7,1 2 4,8 0 0,0 5 11,9 1 2,4 14 33,3 42 100
1891 5 12,5 2 5,0 0 0,0 3 7,5 1 2,5 2 5,0 1 2,5 0 0,0 4 10,0 1 2,5 21 52,5 40 100
1892 3 7,9 5 13,2 2 5,3 1 2,6 3 7,9 1 2,6 1 2,6 1 2,6 0 0,0 1 2,6 20 52,6 38 100
1893 11 17,2 0 0,0 1 1,6 10 15,6 2 3,1 3 4,7 3 4,7 4 6,3 1 1,6 1 1,6 28 43,8 64 100
1894 8 14,8 7 13,0 2 3,7 5 9,3 0 0,0 0 0,0 2 3,7 0 0,0 1 1,9 1 1,9 28 51,9 54 100
1895 11 28,9 1 2,6 2 5,3 1 2,6 0 0,0 3 7,9 2 5,3 1 2,6 0 0,0 1 2,6 16 42,1 38 100
1896 3 12,5 1 4,2 0 0,0 2 8,3 0 0,0 2 8,3 1 4,2 0 0,0 0 0,0 3 12,5 12 50,0 24 100
1897 4 9,5 0 0,0 1 2,4 6 14,3 1 2,4 3 7,1 0 0,0 1 2,4 0 0,0 1 2,4 25 59,5 42 100
203
1898 7 14,0 5 10,0 2 4,0 1 2,0 2 4,0 0 0,0 2 4,0 0 0,0 4 8,0 1 2,0 26 52,0 50 100
1899 8 18,2 3 6,8 3 6,8 4 9,1 2 4,5 2 4,5 2 4,5 3 6,8 1 2,3 2 4,5 14 31,8 44 100
1900 13 20,3 6 9,4 2 3,1 1 1,6 0 0,0 1 1,6 2 3,1 5 7,8 2 3,1 3 4,7 29 45,3 64 100
1901 2 6,1 1 3,0 1 3,0 1 3,0 0 0,0 1 3,0 4 12,1 1 3,0 1 3,0 0 0,0 21 63,6
33 100
1902 5 11,1 1 2,2 0 0,0 4 8,9 6 13,3 0 0,0 4 8,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 25 55,6 45 100
1903 17 27,4 3 4,8 2 3,2 7 11,3 2 3,2 2 3,2 2 3,2 0 0,0 4 6,5 3 4,8 20 32,3 62 100
1904 7 16,3 2 4,7 2 4,7 5 11,6 3 7,0 3 7,0 2 4,7 0 0,0 4 9,3 1 2,3 14 32,6 43 100
1905 5 11,1 1 2,2 3 6,7 0 0,0 2 4,4 0 0,0 1 2,2 2 4,4 1 2,2 1 2,2 29 64,4 45 100
1906 9 20,5 1 2,3 3 6,8 5 11,4 4 9,1 0 0,0 3 6,8 0 0,0 0 0,0 0 0,0 19 43,2 44 100
1907 6 11,5 2 3,8 1 1,9 5 9,6 1 1,9 1 1,9 5 9,6 0 0,0 4 7,7 0 0,0 27 51,9 52 100
1908 7 18,4 1 2,6 3 7,9 0 0,0 2 5,3 1 2,6 1 2,6 2 5,3 2 5,3 1 2,6 18 47,4 38 100
1909 8 14,8 6 11,1 2 3,7 2 3,7 1 1,9 3 5,6 3 5,6 3 5,6 1 1,9 1 1,9 24 44,4 54 100
1910 10 18,9 5 9,4 3 5,7 3 5,7 1 1,9 1 1,9 2 3,8 1 1,9 0 0,0 0 0,0 27 50,9 53 100
1911 9 21,4 2 4,8 1 2,4 0 0,0 0 0,0 2 4,8 1 2,4 2 4,8 2 4,8 2 4,8 21 50,0 42 100
1912 11 21,6 4 7,8 2 3,9 1 2,0 0 0,0 3 5,9 1 2,0 5 9,8 3 5,9 1 2,0 20 39,2 51 100
1913 14 28,6 0 0,0 4 8,2 0 0,0 1 2,0 3 6,1 0 0,0 5 10,2 0 0,0 2 4,1 20 40,8 49 100
1914 11 16,4 6 9,0 3 4,5 1 1,5 1 1,5 8 11,9 2 3,0 0 0,0 4 6,0 1 1,5 30 44,8 67 100
1915 8 16,0 3 6,0 4 8,0 2 4,0 2 4,0 5 10,0 1 2,0 1 2,0 3 6,0 0 0,0 21 42,0 50 100
1916 10 17,9 5 8,9 2 3,6 3 5,4 0 0,0 3 5,4 4 7,1 1 1,8 4 7,1 0 0,0 24 42,9 56 100
1917 9 16,7 3 5,6 4 7,4 2 3,7 1 1,9 2 3,7 2 3,7 2 3,7 1 1,9 2 3,7 26 48,1 54 100
1918 10 17,5 2 3,5 1 1,8 6 10,5 1 1,8 3 5,3 2 3,5 1 1,8 1 1,8 0 0,0 30 52,6 57 100
1919 10 20,4 4 8,2 4 8,2 2 4,1 2 4,1 3 6,1 2 4,1 1 2,0 1 2,0 0 0,0 20 40,8 49 100
1920 8 12,7 4 6,3 1 1,6 1 1,6 0,0 3 4,8 2 3,2 4 6,3 3 4,8 1 1,6 36 57,1 63 100
1921 5 8,6 2 3,4 2 3,4 1 1,7 2 3,4 1 1,7 2 3,4 1 1,7 3 5,2 0 0,0 39 67,2 58 100
204
1922 14 20,0 2 2,9 2 2,9 1 1,4 2 2,9 1 1,4 5 7,1 1 1,4 5 7,1 0 0,0 37 52,9 70 100
1923 10 15,2 4 6,1 2 3,0 3 4,5 0,0 6 9,1 3 4,5 2 3,0 2 3,0 0,0 34 51,5 66 100
1924 14 22,2 4 6,3 1 1,6 2 3,2 2 3,2 0,0 2 3,2 0,0 3 4,8 1 1,6 34 54,0 63 100
1925 14 17,7 3 3,8 1 1,3 1 1,3 0 0,0 2 2,5 1 1,3 1 1,3 3 3,8 2 2,5 51 64,6 79 100
1926 13 21,0 2 3,2 0 0,0 1 1,6 2 3,2 3 4,8 2 3,2 1 1,6 3 4,8 2 3,2 33 53,2 62 100
1927 13 20,3 6 9,4 1 1,6 3 4,7 2 3,1 0 0,0 0 0,0 1 1,6 1 1,6 2 3,1 35 54,7 64 100
1928 8 13,1 4 6,6 2 3,3 1 1,6 1 1,6 2 3,3 3 4,9 2 3,3 0 0,0 1 1,6 37 60,7 61 100
1929 11 25,0 1 2,3 2 4,5 0 0,0 2 4,5 0 0,0 1 2,3 0 0,0 1 2,3 0 0,0 26 59,1 44 100
1930 6 15,0 2 5,0 2 5,0 1 2,5 1 2,5 1 2,5 0 0,0 0 0,0 1 2,5 0 0,0 26 65,0 40 100
1931 11 19,6 1 1,8 5 8,9 1 1,8 3 5,4 5 8,9 2 3,6 1 1,8 0 0,0 0 0,0 27 48,2 56 100
1932 7 17,9 0 0,0 0 0,0 2 5,1 1 2,6 1 2,6 1 2,6 2 5,1 0 0,0 0 0,0 25 64,1 39 100
1933 10 23,8 2 4,8 4 9,5 1 2,4 0 0,0 1 2,4 1 2,4 1 2,4 1 2,4 1 2,4 20 47,6 42 100
1934 6 9,1 4 6,1 3 4,5 4 6,1 1 1,5 3 4,5 2 3,0 2 3,0 1 1,5 0 0,0 40 60,6 66 100
1935 7 17,1 3 7,3 2 4,9 1 2,4 1 2,4 3 7,3 2 4,9 0 0,0 5 12,2 0 0,0 17 41,5 41 100
1936 13 24,1 3 5,6 4 7,4 2 3,7 1 1,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,9 30 55,6 54 100
1937 9 19,6 0 0,0 6 13,0 2 4,3 2 4,3 2 4,3 0 0,0 0 0,0 1 2,2 0 0,0 24 52,2 46 100
Total
454
18,0 136 5,4 101 4,0 117 4,6 64 2,5 102 4,0 92 3,6
63
2,5 89 3,5
42
1,7 126
9
50,2 2529 100
Fonte: Registros de batismo da paróquia de São Sebastião (Rondinha – Campo Largo, PR)
205
Anexo 9
Contagem dos 10 prenomes masculinos mais frequentes ano a ano (1878-1937). Números absolutos e relativos
Ano Antonio Pedro João Angelo Augusto Domingo Francisco Batista Luis José Outros Total
# % # % # % # % # % # % # % # % # % # % # % # %
1879
1 33,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 66,7 3 100
1880
1 50,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 50,0 2 100
1881
0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 100,0
2 100
1882
0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 100,0
0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 100
1883
3 100,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 100
1884
1 16,7 0 0,0 1 16,7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 16,7 3 50,0 6 100
1885
2 28,6 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 28,6 3 42,9 7 100
1886
0 0,0 0 0,0 2 28,6 0 0,0 0 0,0 1 14,3 1 14,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 42,9 7 100
1887
1 9,1 1 9,1 3 27,3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 9,1 3 27,3 2 18,2 11 100
1888
5 29,4 2 11,8 3 17,6 1 5,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 5,9 0 0,0 1 5,9 4 23,5 17 100
1889
10 27,8 1 2,8 6 16,7 3 8,3 1 2,8 1 2,8 1 2,8 3 8,3 2 5,6 3 8,3 5 13,9 36 100
1890
7 12,7 2 3,6 13 23,6 3 5,5 0 0,0 0 0,0 3 5,5 2 3,6 1 1,8 7 12,7 17 30,9 55 100
1891
4 8,9 2 4,4 6 13,3 2 4,4 0 0,0 1 2,2 3 6,7 1 2,2 1 2,2 5 11,1 20 44,4 45 100
1892
6 9,5 2 3,2 10 15,9 4 6,3 2 3,2 2 3,2 0 0,0 2 3,2 2 3,2 5 7,9 28 44,4 63 100
1893
6 10,3 2 3,4 6 10,3 5 8,6 0 0,0 0 0,0 1 1,7 1 1,7 3 5,2 4 6,9 30 51,7 58 100
1894
3 3,9 6 7,9 12 15,8 4 5,3 1 1,3 2 2,6 2 2,6 6 7,9 3 3,9 5 6,6 32 42,1 76 100
1895
3 7,5 3 7,5 2 5,0 4 10,0 0 0,0 1 2,5 2 5,0 1 2,5 1 2,5 9 22,5 14 35,0 40 100
1896
3 11,5 0 0,0 5 19,2 3 11,5 0 0,0 1 3,8 0 0,0 1 3,8 1 3,8 2 7,7 10 38,5 26 100
1897
5 8,2 6 9,8 11 18,0 2 3,3 1 1,6 0,0 1 1,6 5 8,2 3 4,9 8 13,1 19 31,1 61 100
1898
3 8,6 0 0,0 3 8,6 3 8,6 0 0,0 3 8,6 0,0 1 2,9 2 5,7 7 20,0 13 37,1 35 100
206
1899
11 20,4 3 5,6 6 11,1 5 9,3 0 0,0 1 1,9 1 1,9 1 1,9 1 1,9 4 7,4 21 38,9 54 100
1900
11 15,1 3 4,1 8 11,0 6 8,2 0 0,0 4 5,5 3 4,1 4 5,5 4 5,5 3 4,1 27 37,0 73 100
1901
6 10,5 6 10,5 4 7,0 0 0,0 0 0,0 2 3,5 2 3,5 3 5,3 4 7,0 6 10,5 24 42,1 57 100
1902
7 11,7 0 0,0 10 16,7 1 1,7 0 0,0 1 1,7 3 5,0 2 3,3 3 5,0 14 23,3 19 31,7 60 100
1903
8 14,0 2 3,5 5 8,8 7 12,3 0 0,0 2 3,5 1 1,8 2 3,5 3 5,3 2 3,5 25 43,9 57 100
1904
8 13,6 1 1,7 7 11,9 9 15,3 2 3,4 1 1,7 3 5,1 2 3,4 2 3,4 7 11,9 17 28,8 59 100
1905
13 22,4 0 0,0 4 6,9 3 5,2 0 0,0 2 3,4 2 3,4 1 1,7 4 6,9 6 10,3 23 39,7 58 100
1906
2 5,7 1 2,9 7 20,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 2,9 3 8,6 3 8,6 4 11,4 14 40,0 35 100
1907
6 11,1 1 1,9 6 11,1 0 0,0 1 1,9 1 1,9 2 3,7 2 3,7 3 5,6 5 9,3 27 50,0 54 100
1908
10 17,9 6 10,7 8 14,3 0 0,0 2 3,6 2 3,6 1 1,8 2 3,6 1 1,8 5 8,9 19 33,9 56 100
1909
10 14,9 6 9,0 6 9,0 2 3,0 1 1,5 0 0,0 2 3,0 2 3,0 1 1,5 7 10,4 30 44,8 67 100
1910
6 14,3 2 4,8 4 9,5 0 0,0 2 4,8 0 0,0 1 2,4 2 4,8 2 4,8 4 9,5 19 45,2 42 100
1911
3 7,3 3 7,3 9 22,0 0 0,0 0 0,0 2 4,9 2 4,9 3 7,3 2 4,9 1 2,4 16 39,0 41 100
1912
9 14,8 1 1,6 8 13,1 3 4,9 0 0,0 0 0,0 3 4,9 1 1,6 2 3,3 9 14,8 25 41,0 61 100
1913
7 17,1 2 4,9 9 22,0 0 0,0 1 2,4 0 0,0 2 4,9 2 4,9 3 7,3 3 7,3 12 29,3 41 100
1914
9 14,8 1 1,6 9 14,8 3 4,9 0 0,0 3 4,9 6 9,8 2 3,3 0 0,0 4 6,6 24 39,3 61 100
1915
8 15,1 1 1,9 3 5,7 1 1,9 0 0,0 1 1,9 0 0,0 0 0,0 7 13,2 6 11,3 26 49,1 53 100
1916
7 14,6 3 6,3 9 18,8 2 4,2 1 2,1 0 0,0 1 2,1 1 2,1 2 4,2 7 14,6 15 31,3 48 100
1917
10 16,1 3 4,8 4 6,5 5 8,1 1 1,6 1 1,6 3 4,8 2 3,2 3 4,8 3 4,8 27 43,5 62 100
1918
6 10,5 2 3,5 6 10,5 4 7,0 3 5,3 1 1,8 0 0,0 0 0,0 5 8,8 6 10,5 24 42,1 57 100
1919
5 13,5 0 0,0 4 10,8 1 2,7 2 5,4 0 0,0 3 8,1 0 0,0 2 5,4 1 2,7 19 51,4 37 100
1920
4 9,5 2 4,8 6 14,3 1 2,4 1 2,4 1 2,4 3 7,1 0 0,0 1 2,4 5 11,9 18 42,9 42 100
1921
9 13,4 2 3,0 8 11,9 2 3,0 2 3,0 1 1,5 2 3,0 0 0,0 3 4,5 3 4,5 35 52,2 67 100
1922
8 11,4 2 2,9 6 8,6 3 4,3 3 4,3 3 4,3 0 0,0 1 1,4 7 10,0 7 10,0 30 42,9 70 100
207
1923
6 9,8 1 1,6 8 13,1 2 3,3 1 1,6 0 0,0 0 0,0 4 6,6 3 4,9 6 9,8 30 49,2 61 100
1924
16 22,9 1 1,4 9 12,9 3 4,3 2 2,9 0 0,0 0 0,0 3 4,3 4 5,7 2 2,9 30 42,9 70 100
1925
13 14,3 3 3,3 13 14,3 6 6,6 0 0,0 1 1,1 2 2,2 2 2,2 1 1,1 4 4,4 46 50,5 91 100
1926
11 13,9 3 3,8 12 15,2 4 5,1 5 6,3 2 2,5 1 1,3 1 1,3 2 2,5 4 5,1 34 43,0 79 100
1927
5 10,6 3 6,4 7 14,9 3 6,4 1 2,1 0 0,0 1 2,1 1 2,1 4 8,5 3 6,4 19 40,4 47 100
1928
5 9,1 2 3,6 10 18,2 3 5,5 0 0,0 0 0,0 2 3,6 1 1,8 0 0,0 1 1,8 31 56,4 55 100
1929
5 12,2 1 2,4 5 12,2 0 0,0 1 2,4 2 4,9 0 0,0 0 0,0 2 4,9 6 14,6 19 46,3 41 100
1930
5 19,2 1 3,8 2 7,7 1 3,8 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 11,5 14 53,8 26 100
1931
4 12,1 1 3,0 4 12,1 0 0,0 1 3,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 6,1 0 0,0 21 63,6 33 100
1932
11 18,3 1 1,7 8 13,3 2 3,3 1 1,7 0 0,0 0 0,0 2 3,3 1 1,7 1 1,7 33 55,0 60 100
1933
2 3,9 4 7,8 6 11,8 4 7,8 1 2,0 2 3,9 0 0,0 1 2,0 0 0,0 4 7,8 27 52,9 51 100
1934
7 14,0 3 6,0 0 0,0 5 10,0 0 0,0 1 2,0 1 2,0 1 2,0 2 4,0 1 2,0 29 58,0 50 100
1935
4 10,8 0 0,0 1 2,7 3 8,1 3 8,1 1 2,7 0 0,0 1 2,7 1 2,7 5 13,5 18 48,6 37 100
1936
3 6,4 4 8,5 2 4,3 0 0,0 1 2,1 2 4,3 4 8,5 1 2,1 1 2,1 0 0,0 29 61,7 47 100
1937
7 14,6 3 6,3 4 8,3 1 2,1 1 2,1 2 4,2 0 0,0 2 4,2 2 4,2 0 0,0 26 54,2 48 100
Total 351
13,2
111
4,2
330
12,4
129
4,8
45
1,7
54
2,0
73
2,7
82
3,1
113
4,2
224
8,4
1150
43,2
2662
100
Fonte: Registros de batismo da paróquia de São Sebastião (Rondinha – Campo Largo, PR)
208
ANEXO 10: FREQUÊNCIA TOTAL DOS PRENOMES SIMPLES FEMININOS
(1878-1937).
1878-1899
1900-1910
1911-1920 1921-1930 1921-1937 1878-1937
Adelaide 1 Ada 1 Adelaide 1 Adelaide 3 Adelaide 4 Ada
1
Agnes 1 Adelaide 1 Adelina 3 Adelina 2 Adele 1 Adelaide
10
Aloisia 2 Adélia 1 Agata 1 Adinse 1 Adeliane 1 Adele
1
Alvira 2 Agata 1 Agnes 1 Adria 2 Alba 1 Adélia
1
Amabile 3 Agnes 1 Alba 1 Agnes 1 Albina 1 Adeliane
1
Amalia 5 Albina 3 Albertina 1 Alba 1 Alice 1 Adelina
5
Angela 40 Aldesira 1 Albina 3 Albertina 1 Ambrosina 1 Adinse
1
Angelica 4 Amabile 4 Amabile 10 Albina 8 Amelia 1 Adria
2
Angelina 1 Amalia 6 Amalia 2 Albisia 1 Ana 9 Agata
2
Anna 11 Ambrosina 1 Amantina 1 Aline 1 Angela 13 Agnes
4
Antonia 24 Amorina 1 Amélia 7 Alisse 4 Anneta 1 Alba
3
Anunziata 3 Anna 22 Ana 8 Amabile 5 Antonia 15 Albertina
2
Arcangela 1 Angela 32 Angela 18 Amalia 2 Arlete 1 Albina
15
Augusta 1 Angelina 2 Antonia 35 Ana 14 Attilia 1 Albisia
1
Aurelia 1 Antonia 12 Anunziata 5 Anastacia 1 Balduina 1 Aldesira
1
Barbara 1 Anunziata 2 Arminda 1 Anatalia 1 Carmelina 1 Alice
5
Brigida 1 Assídia 1 Arsídia 1 Angela 14 Carmella 2 Aline
1
Carlotta 1 Assunta 1 Arzira 1 Angelica 1 Carmem 5 Aloisia
2
Carmina 1 Aurora 1 Attília 1 Anneta 1 Carolina 1 Alvira
2
Carola 2 Benedita 1 Augusta 1 Antonia 16 Catharina 8 Amabile
22
Carolina 7 Beatrice 1 Aurélia 1 Anunziata 2 Celestina 1 Amalia
15
Catterina 21 Brigida 1 Carmelita 2 Arsilinda 1 Clara 2 Amantina
1
Cecília 4 Carmella 1 Carmella 3 Assunta 1 Clarina 1 Ambrosina
2
Clara 1 Carla 1 Carola 1 Aurélia 1 Claudina 1 Amelia
1
Clarinda 2 Carlotta 3 Carlotta 1 Aurora 2 Constantina 1 Amélia
7
Clelia 1 Carolina 5 Carolina 1 Benvinda 1 Crescencia 1 Amorina
1
Clementina 1 Catharina 15 Corona 3 Bernadete 1 Dominga 4 Ana
64
Constança 1 Catherina 12 Catharina 5 Carlotta 3 Dosolina 1 Anastacia
1
Domingas 12 Cecilia 2 Catherina 12 Carmelita 1 Edit 2 Anatalia
1
Dussolina 3 Clara 1 Celestina 1 Carmella 1 Elena 6 Angela
117
Edelvina 1 Cristina 1 Celeste 1 Carmem 1 Elisabett 1 Angelica
4
Egidia 1 Dominga 9 Clara 1 Carolina 10 Elvira 6 Angelina
3
Elisa 1 Doratea 1 Cristina 1 Catharina 5 Emília 2 Anna
25
Elisabetta 6 Dussolina 1 Daniela 1 Catherina 14 Ermínia 1 Anneta
2
Elvira 1 Elena 3 Dionísia 2 Cecília 8 Eugenia 2 Antonia
102
Emilia 1 Elisa 3 Diomira 2 Clara 1 Eva 1 Anunziata
12
Enrica 1 Elizabeth 8 Dominga 9 Clarinda 1 Fabina 1 Arcangela
1
Ermenegilda 3 Elisabetta 9 Domenica 1 Claudia 2 Gemma 3 Arlete
1
Erminia 2 Emma 1 Doratea 1 Clementina 2 Geraldina 1 Arminda
1
Ernesta 1 Emília 7 Dosolina 3 Clotilde 1 Grazioza 1 Arsídia
1
Esperança 2 Ermínia 6 Eliza 3 Constantina 1 Ida 2 Arsilinda
1
Estella 1 Ermede 1 Elena 14 Dalila 2 Idalina 4 Arzira
1
Eugenia 1 Ernesta 2 Elvira 4 Darsyna 1 Idelphina 1 Assídia
1
Fedenziana 1 Ermenegilda 1 Elisabetta 6 Davina 2 Ignes 8 Assunta
2
Filomena 1 Escolática 3 Emília 7 Dinora 1 Inetta 1 Attilia
2
Floria 1 Eugenia 3 Ermínia 2 Diolina 1 Iolanda 1 Augusta
2
Francisca 4 Faustina 1 Filomena 1 Diomira 2 Irene 6 Aurélia
3
Genovepha 4 Filomena 2 Francisca 1 Dominga 3 Isolina 2 Aurora
3
Geralda 1 Fiorinda 1 Gaetana 1 Doralise 1 Ivone 1 Balduina
1
Germania 1 Floria 1 Genovefa 4 Edit 2 Joana 4 Barbara
1
Gilvia 1 Genovepha 5 Gemma 1 Edyr 1 Jolina 1 Beatrice
1
209
Grazioza 1 Giacoma 1 Giacoma 1 Efigenia 1 Jorgina 1 Benedita
1
Ida 1 Guistina 1 Giuseppina 1 Egidia 1 Josepha 1 Benvinda
1
Inocencia 1 Grazioza 1 Giuditta 1 Elena 5 Josephina 4 Bernadete
1
Irene 3 Helena 11 Grazioza 2 Eleonora 2 Judith 4 Brigida
2
Isabella 1 Iolina 1 Ida 2 Elisabett 3 Julia 1 Carla
1
Jacoba 1 Isabel 2 Idalina 5 Elisabetta 5 Laura 4 Carlotta
8
Joconda 1 Itália 3 Ignes 1 Elisia 1 Laurita 2 Carmelina
1
Joanna 17 Jacoba 2 Iolanda 1 Eliza 5 Leandrina 1 Carmelita
3
Josepha 1 Jacomina 1 Iracema 3 Elvira 5 Leoni 1 Carmella
7
Joseppina 9 Joana 9 Irda 1 Emília 7 Leonida 5 Carmem
6
Justina 1 Joaquim 1 Irene 2 Ermenegilda 1 Licanora 1 Carmina
1
Laura 1 Jole 1 Isolina 2 Ermínia 1 Lidia 1 Carola
3
Letizia 1 Jolanda 1 Itália 1 Ernesta 1 Lizia 1 Carolina
23
Lidia 1 Josepha 1 Jacomina 4 Ester 1 Lourdes 7 Catharina
92
Lucia 10 Josephina 9 Joana 22 Estrela 1 Lucia 2 Cecilia
14
Luiza 20 Juditta 2 Josepha 2 Etelvina 5 Luigia 1 Celeste
1
Madalena 16 Justina 1 Josephina 7 Filomena 1 Luigina 1 Celestina
2
Margarida 2 Libera 1 Judith 9 Florina 1 Luiza 5 Clara
6
Maria 94 Lídia 1 Justina 2 Fortunata 1 Madalena 2 Clarina
1
Mariana 1 Lucia 7 Laura 2 Francisca 2 Maphalda 1 Clarinda
3
Marta 2 Luigia 2 Laurita 1 Gaetana Margarida 2 Claudia
2
Narcisa 1 Luiza 15 Leonida 1 Gemma 2 Maria 63 Claudina
1
Natalina 2 Madalena 8 Lia 1 Genaide 1 Mariana 1 Clelia
1
Noemia 1 Margarida 4 Lidia 1 Genovefa 1 Marichina 1 Clementina
3
Oliva 6 Margherita 1 Lucia 1 Gerolina 1 Marina 1 Clotilde
1
Orsola 1 Maria 89 Luigia 6 Gilcira 1 Matilde 1 Constança
1
Orsolina 1 Mariana 4 Luiza 16 Giolina 1 Mercede 2 Constantina
2
Palma 1 Marina 1 Madalena 8 Giulia 2 Nadir 1 Corona
3
Paolina 1 Matilde 2 Margarida 1 Guilhermina 1 Natália 1 Crescencia
1
Pasqua 4 Narcisa 3 Margherida 3 Ida 4 Natalina 1 Cristina
2
Pazienza 1 Natalina 1 Maria 100 Idalina 3 Nayr 2 Dalila
2
Pedrina 1 Natália 1 Mariana 1 Ignes 1 Noemia 1 Daniela
1
Pierina 1 Nuncia 1 Narcisa 1 Ilda 3 Olga 1 Darsyna
1
Regina 4 Oliva 4 Natália 1 Iolanda 6 Olivia 3 Davina
2
Rosalina 1 Orsola 1 Oliva 2 Iracema 4 Onilda Dinora
1
Rosa 37 Orsolina 2 Orsola 2 Irda 2 Onorina 1 Diolina
1
Sabrina 1 Paolina 1 Orsolina 1 Irene 8 Orsola 2 Diomira
4
Santa 4 Pasqua 1 Ottília 1 Isaura 1 Pasqua 2 Dionísia
2
Stella 4 Pazienza 1 Paulina 1 Isolina 2 Raquel 1 Domenica
1
Teresia 16 Pierina 1 Pedrinha 1 Itália 3 Regina 1 Dominga
37
Valentina 2 Regina 6 Regina 8 Ivete 1 Regina 1 Doralise
1
Victoria 2 Rosa 23 Rosa 33 Jacomina 3 Rita 1 Doratea
2
Virginia 5 Rosaria 3 Rosalina 1 Julia 2 Rosa 13 Dussolina
7
90 572 Rosalina 1 Santina 4 Joana 9 Rosalina 1 Edelvina
1
Sabrina 1 Santa 4 Josephina 9 Rossina 1 Edit
4
Santina 1 Silvia 1 Judith 3 Santa 1 Edyr
1
Santa 8 Theresa 26 Justina 1 Santina 2 Efigenia
1
Sílvia 3 Ubaldina 1 Laura 4 Silene 1 Egidia
2
Tania 1 Victória 2 Laurinda 1 Silvia 1 Elena
28
Torana 1 Virgínia 1 Laurita 6 Sofia 2 Eleonora
2
Theresa 20 101 538 Lavinia 1 Tarsilla 1 Elisa
4
Uttília 1 Leoni 1 Teresa 24 Elisabetta
30
Verônica 1 Leonida 2 Teresina 7 Elisia
1
Victória 3 Leonilda 1 Teresinha 5 Eliza
8
Vicenza 1 Lidia 1 Valdiria 1 Elizabeth
8
Virgínia 6 Lilia 1 Veronica 1 Elvira
16
109 469 Lourdes 12 Vitalina 1 Emília
24
Lucia 4 Zoraide 1 Emma
1
210
Luigia 2 109 344 Enrica
1
Luiza 20 Ermede
1
Madalena 8 Ermenegilda
5
Margerida 8 Ermínia
12
Margherita 4 Ernesta
4
Maria 108 Escolática
3
Mariana 2 Esperança
1
Marina 2 Ester
1
Mercede 6 Estrela
1
Narcisa 2 Etelvina
5
Natália 4 Eugenia
5
Nayr 4 Eva
1
Nemessis 1 Fabina
1
Olga 1 Faustina
1
Olinda 2 Fedenziana
1
Oliva 4 Filomena
5
Olivia 1 Fiorinda
1
Onilda 1 Floria
2
Orsola 2 Florina
1
Orsolina 1 Fortunata
1
Palmira 1 Francisca
7
Paulina 1 Gaetana
2
Pedrina 2 Gemma
6
Pelegrina 1 Genaide
1
Regina 8 Genovefa
14
Rosa 30 Geralda
1
Rosalina 1 Geraldina
1
Rosaria 1 Germania
1
Saha 1 Gerolina
1
Santina 4 Giacoma
2
Sidalia 1 Gilcira
1
Stella 2 Gilvia
1
Teodora 1 Giolina
1
Teresinha 1 Giuditta
1
Theresa 15 Giulia
2
Valentina 2 Giuseppina
1
Virgínia 1 Grazioza
5
Vitória 1 Guilhermina
1
147 607 Guistina
1
Helena
11
Ida
9
Idalina
12
Idelphina
1
Ignes
10
Ilda
3
Inetta
1
Inocencia
1
Iolanda
8
Iolina
1
Iracema
7
Irda
1
Irda
2
Irene
19
Isabel
2
Isabella
1
Isaura
1
Isolina
6
Itália
7
211
Ivete
1
Ivone
1
Jacoba
3
Jacomina
8
Joanna
63
Joaquim
1
Joconda
1
Jolanda
1
Jole
1
Jolina
1
Jorgina
1
Josepha
4
Joseppina
38
Judith
18
Julia
3
Justina
5
Laura
10
Laurinda
1
Laurita
9
Lavinia
1
Leandrina
1
Leoni
2
Leonilda
9
Letizia
1
Lia
1
Libera
1
Licanora
1
Lidia
5
Lilia
1
Lizia
1
Lourdes
19
Lucia
24
Luigia
11
Luigina
1
Luiza
77
Madalena
43
Maphalda
1
Margharida
24
Maria
454
Mariana
9
Marichina
1
Marina
4
Marta
2
Matilde
3
Mercede
8
Nadir
1
Narcisa
7
Natália
7
Natalina
4
Nayr
6
Nemessis
1
Noemia
2
Nuncia
1
Olga
2
Olinda
2
Oliva
16
Olivia
4
Onilda
1
212
Onorina
1
Orsola
8
Orsolina
5
Ottília
1
Palma
1
Palmira
1
Paolina
4
Pasqua
8
Pazienza
2
Pedrina
3
Pedrinha
1
Pelegrina
1
Pierina
2
Raquel
1
Regina
27
Rita
1
Rosa
136
Rosalina
5
Rosaria
4
Rossina
1
Sabrina
2
Saha
1
Santa
17
Santina
11
Sidalia
1
Silene
1
Silvia
5
Sofia
2
Stella
6
Tania
1
Tarsilla
1
Teodora
1
Teresina
7
Teresinha
6
Theresa
101
Torana
1
Ubaldina
1
Uttília
1
Valdiria
1
Valentina
4
Verônica
2
Vicenza
1
Victória
6
Virginia
13
Vitalina
1
Vitória
1
Zoraide
1
Fonte: Registros de batismo da paróquia de São Sebastião (Rondinha – Campo Largo,
PR)
213
ANEXO 11: FREQUÊNCIA TOTAL DOS PRENOMES SIMPLES MASCULINOS
(1878-1937).
1878-1899
1900-1910
1911-1920 1921-1930 1931-1937 1878-1937
Abramo 2 Achiles 1 Achiles 1 Abel 2 Affonso 1 Abel
2
Achile 1 Adamo 2 Adão 1 Abele 1 Agostinho 2 Abele
1
Agostinho 1 Adélio 2 Adolfo 2 Abilio 1 Alberto 2 Abilio
1
Alessandro 1 Affonso 4 Agostinho 1 Achille 1 Albino 3 Abramo
2
Alessio 1 Agostinho 4 Alberto 2 Adolfo 2 Alceo 2 Achile
4
Aloisio 1 Alberto 3 Alfonso 4 Affonso 2 Alexio 3 Adamo
2
Amadeo 2 Albino 2 Alísio 1 Agostinho 6 Alfredo 1 Adão
1
Ambrosio 4 Alessio 3 Amadeo 1 Alberto 4 Alsibiades 1 Adélio
2
Andrea 6 Amadeo 1 Amante 1 Albino 1 Alsides 1 Adolfo
4
Angelo 45 Ambrósio 2 Ambrósio 2 Alessandre 1 Alvino 1 Affonso
7
Antonio 86 Andrea 1 Angelo 20 Alessandro 3 Amadeu 2 Agostinho
14
Arcangelo 2 Angelo 22 Antônio 68 Alfredo 1 Ambrósio 1 Alberto
11
Arnaldo 1 Aníbal 1 Armando 1 Amadeo 1 Andre 1 Albino
6
Attilio 1 Antônio 76 Arnaldo 1 Amadeus 1 Andre 1 Alceo
2
Augusto 5 Arcângelo 1 Arturo 1 Ambrósio 3 Anelto 1 Alessandre
1
Aureliano 1 Arturo 1 Attílio 4 Anacleto 2 Angelo 15 Alessandro
4
Ausilio 2 Attílio 1 Augusto 9 Anastacio 1 Antenor 5 Alessio
4
Baptista 29 Augusto 8 Baptista 11 Andrea 2 Antonio 38 Alexio
3
Bartolomeo 5 Baptista 21 Basilio 1 Angelo 27 Ardolino 1 Alfonso
4
Basilio 1 Basílio 1 Bartolomeu 2 Antonio 83 Ari 1 Alfredo
2
Bemianino 1 Bernardo 7 Bernardo 6 Apostolo 1 Aristeu 1 Alísio
1
Benavento 2 Benavento 1 Bernardino 2 Arcangelo 1 Aristide 1 Aloisio
1
Bento 1 Benjamim 2 Bemianino 1 Ari 1 Arlindo 2 Alsibiades
1
Bernardo 1 Bernardino 1 Bortolo 1 Aristide 1 Armelindo 1 Alsides
1
Bernardino 2 Bortolo 1 Blasio 1 Arlindo 6 Aroldo 1 Alvino
1
Braz 1 Caetano 1 Bruno 1 Arnaldo 1 Arsidio 2 Amadeo
8
Campolim 3 Cândido 2 Camillo 2 Arvelindo 2 Arsil 1 Amante
1
Carlo 2 Camillo 3 Carlos 18 Attilio 8 Attilio 1 Ambrosio
12
Carolo 2 Carlos 8 Cipriano 2 Augusto 15 Augusto 9 Anacleto
2
Catterino 1 Cesare 1 Claudino 2 Baptista 15 Baptista 8 Anastacio
1
Cecílio 1 Celeste 1 Constantino 1 Bartolomeo 1 Beato 3 Andrea
11
Celeste 2 Cipriano 5 Cristiano 1 Basilio 2 Benjamim 1 Anelto
1
Celestino 1 Clarindo 1 David 2 Belmiro 1 Bento 1 Angelo
129
Cesare 1 Clementino 1 Daniel 2 Bemianino 1 Bernardino 1 Aníbal
1
Cipriano 1 Constante 3 Daniele 1 Benavento 1 Bernardo 2 Antenor
5
Christiano 1 Constantino 2 Domingo 7 Benjamim 1 Braz 1 Antonio
351
Contante 2 David 1 Domenico 2 Bento 1 Camilo 1 Apostolo
1
Daniel 1 Daniel 2 Egídio 1 Bernardino 1 Cândido 1 Arcangelo
2
David 1 Daniele 2 Elias 4 Bernardo 3 Carlito 1 Arcangelo
1
Desiderio 2 Dall'Elmo 1 Enrique 1 Bonafede 2 Carlos 5 Arcângelo
1
Diogo 1 Desidério 1 Epaminondas 1 Bortolo 1 Catharin 1 Ardolino
1
Domingo 17 Diogo 1 Eugenio 4 Brasilino 1 Christao 1 Ari
2
Eduardo 1 Dionísio 1 Envangelista 2 Bruno 1 Cipriano 1 Aristeu
1
Elia 1 Domingo 11 Federico 2 Cândido 2 Claudio 1 Aristide
2
Emanuel 4 Elia 1 Felisberto 1 Carlo 9 Constante 1 Arlindo
8
Emilio 2 Emanuel 1 Fernandes 2 Casemiro 1 Daniel 1 Armando
1
Ernesto 2 Emílio 2 Ferdinando 2 Celestino 1 David 1 Armelindo
1
Estevam 1 Ermínio 1 Fioravante 3 Claudino 1 Domingo 5 Arnaldo
2
Eurico 1 Ermenegildo 1 Florin 1 Constante 1 Edoardo 2 Aroldo
1
Evangelista 2 Ernesto 3 Florindo 4 Constantino 1 Egidio 1 Arsidio
2
Faustino 1 Estevão 1 Florenço 1 Custodio 1 Elia 1 Arsil
1
Federico 2 Eugenio 5 Fortunato 5 Darci 1 Elídio 1 Arturo
2
Ferdinando 2 Eurico 1 Francisco 23 David 1 Eloi 1 Arvelindo
2
214
Fernando 1 Evangelista 4 Gaetano 1 Desiderio 1 Emétrio 1 Attilio
15
Fiorindo 2 Fausto 2 Gaspar 1 Domingo 9 Ernesto 1 Augusto
45
Florenço 1 Faustino 1 Germano 1 Edgar 1 Ernesto 1 Aureliano
1
Fortunato 5 Federico 7 Giovani 8 Eduardo 1 Evangelista 1 Ausilio
2
Francisco 19 Fedele 1 Giuseppe 7 Elia 1 Faustino 2 Baptista
82
Gabriel 2 Ferdinando 3 Giulio 1 Emanuel 1 Fausto 1 Bartolomeo
5
Geraldo 1 Fiorindo 3 Girolamo 3 Emilio 2 Ferdinando 1 Basilio
5
Guerrino 2 Fioravante 2 Guido 1 Enrique 2 Florindo 1 Beato
3
Ido Etorre 1 Filides 1 Guliehmo 1 Ermindo 1 Formoso 1 Belmiro
1
Inocente 1 Fortunato 7 Honesto 1 Ermínio 1 Fortunato 2 Bemianino
3
Jacinto 3 Francisco 18 Ignácio 1 Ernesto 4 Francisco 8 Benavento
4
Jacob 4 Gaetano 2 José 38 Estevam 1 Frederico 2 Benjamim
4
Jacomo 1 Giacomo 1 Jacob 1 Eugenio 2 Genesio 1 Bento
3
Jeronimo 1 Giacinto 1 Jeronimo 1 Evangelista 1 Grasito 1 Bernardino
7
João 97 Giovani 1 João 59 Evaristo 1 Guilherme 4 Bernardo
18
Joaquim 1 Guiuseppe 3 Joaquim 3 Faustino 1 Henrique 1 Blasio
1
Jocondo 1 Godofredo 1 Jorge 3 Feliciano 1 Ivaldo 1 Bonafede
2
José 69 Gulielmo 2 Jovino 1 Ferdinando 1 Jaco 1 Bortolo
3
Luciano 1 Ignácio 1 Julho 1 Fermino 1 Jacob 1 Brasilino
1
Luis 25 Irídio 1 Lauro 1 Fioravante 2 Januario 1 Braz
2
Marco 3 Isidoro 5 Luigi 4 Fiorindo 1 Jeronimo 1 Bruno
2
Maria 4 Jacob 9 Luiz 23 Fortunato 4 João 25 Caetano
1
Mariano 1 Jacomo 5 Marcelino 1 Francisco 8 Joaquim 1 Camillo
6
Massimiliano 1 Jeronimo 2 Marco 3 Gaetano 4 Jocimar 1 Campolim
3
Michel 3 João 61 Mario 1 Giorge 2 Jorge 2 Cândido
5
Modesto 1 José 60 Matteo 4 Giorgio 2 Jo 11 Carlito
1
Napoleao 2 Laurindo 2 Matheus 1 Giovani 4 Julho 1 Carlo
42
Natal 6 Leão 1 Natal 2 Giuseppe 3 Jurandir 1 Carolo
2
Nicolao 1 Leone 1 Olímpio 1 Guerrin 1 Landino 1 Casemiro
1
Noé 4 Ludovico 1 Olinto 1 Guilherme 5 Laurindo 1 Catharin
1
Olivo 2 Luigi 4 Olivo 1 Ignacio 3 Lauro 2 Cecílio
1
Paulo 6 Luiz 22 Orestes 1 Isidoro 2 Leonel 1 Celeste
3
Pedro 33 Marcelo 1 Ovídio 1 Ivo 1 Leoneldes 1 Celestino
2
Pio 1 Marco 3 Paolo 1 Jacinto 1 Leonildo 2 Cesare
2
Placido 2 Massimiliano 1 Paulo 1 Jacob 6 Leonor 1 Christao
1
Primo 1 Matteo 1 Pedro 18 Jacob 1 Luis 9 Cipriano
9
Raimundo 1 Melchiore 1 Pietro 1 Jeronimo 3 Marco 1 Clarindo
1
Ricardo 1 Michel 1 Pierino 1 João 76 Maria 1 Claudino
3
Rodolfo 1 Miguel 1 Placido 1 Joaquim 2 Mario 2 Claudio
1
Romano 4 Miro 1 Primo 1 Jordalino 1 Massimiliano 1 Clementino
1
Salvador 2 Natal 3 Prodocimo 1 Jordão 1 Miguel 1 Constante
7
Santo 10 Olivo 2 Riccardo 7 José 36 Mordino 1 Constantino
4
Sebastiao 5 Orlando 1 Rodolfo 1 Joseph 1 Narcisio 1 Cristiano
1
Sperandio 1 Orsolo 1 Sante 2 Landilino 1 Natalio 1 Custodio
1
Stefano 2 Paolo 1 Santo 4 Lauro 3 Nelson 3 Dall'Elmo
1
Umberto 7 Paulo 6 Sebastião 6 Leonelo 1 Novair 1 Daniel
6
Valentino 2 Pedro 24 Simão 1 Leonildo 1 Odair 1 Daniele
3
Vicente 4 Placido 6 Silvano 1 Lino 1 Orlando 2 Darci
1
Virginio 2 Pietro 1 Silvio 1 Lorenso 1 Osvaldo 1 David
6
Vittorio 7 Primo 5 Stefano 1 Luis 26 Ovidio 1 Desiderio
4
Zacaria 1 Prodocimo 1 Umberto 1 Manoel 1 Paulin 1 Diogo
2
102
68
1 Querino 1 Valentin 1 Marco 1 Paulo 2 Dionísio
1
Rafaele 1 Valentino 1 Marcolino 1 Pedro 11 Domenico
2
Raimundo 2 Victor 1 Marcolino 1 Reinaldo 1 Domingo
50
Riccardo 2 Victório 6 Maria 1 Roberto 1 Edgar
1
Rodolfo 1 107
50
3 Mariano 1 Romeo 1 Eduardo
4
215
Romano 1 Matteo 1 Rubens 1 Egídio
2
Santino 1 Miltao 1 Sante 4 Elia
8
Santo 6 Natal 2 Sebastião 1 Elídio
1
Sebastião 6 Nelson 1 Seraphino 1 Eloi
1
Stefano 2 Olindo 2 Severino 2 Emanuel
6
Thomas 2 Olivo 2 Silvio Emétrio
1
Umberto 1 Orestes 3 Simeon 1 Emilio
4
Ursolino 1 Orlando 1 Teodoro 1 Emílio
2
Valentino 4 Osvaldo 1 Theodorinho 1 Enrique
3
Vascolo 1 Otavio 2 Thiago 2 Envangelista
2
Victor 2 Pasquale 1 Ulisse 1 Epaminondas
1
Victório 8 Paulino 1 Unvalso 1 Ermenegildo
1
Virgínio 1 Paulo 2 Valdemar 1 Ermindo
1
Virgolino 1 Pedro 15 Valentin 4 Ermínio
2
124 54
5 Persilio 1 Vicente 1 Ernesto
11
Piero 1 Victor 1 Estevam
3
Pietro 3 Vitalino 1 Eugenio
11
Primo 2 127
32
6 Eurico
2
Raimundo 2 Evangelista
8
Riccardo 2 Evaristo
1
Rodesindo 1 Faustino
5
Rodolfo 1 Fausto
3
Romolo 1 Fedele
1
Rosario 1 Federico
11
Santo 10 Feliciano
1
Savino 1 Felisberto
1
Sebastião 6 Ferdinando
9
Silvestre 1 Fermino
1
Silvio 4 Fernandes
2
Teodoro 1 Fernando
1
Valentin 2 Filides
1
Valentino 2 Fioravante
7
Venceslao 1 Fiorindo
6
Victor 3 Florenço
2
Vidal 1 Florin
1
Virginio 4 Florindo
5
Vitalino 1 Formoso
1
Vitorino 2 Fortunato
23
Vittorio 7 Francisco
73
148
55
2
Frederico
2
Gabriel
1
Gaetano
7
Gaspar
1
Genesio
1
Geraldo
1
Germano
1
Giacinto
1
Giacomo
1
Giorge
4
Giovani
13
Girolamo
3
Giulio
1
Giuseppe
13
Godofredo
1
Grasito
1
216
Guerrin
3
Guido
1
Guilherme
9
Gulielmo
3
Henrique
1
Honesto
1
Ido Etorre
1
Ignacio
5
Inocente
1
Irídio
1
Isidoro
7
Ivaldo
1
Ivo
1
Jacinto
4
Jacob
22
Jacomo
6
Januario
1
Jeronimo
8
João
317
Joaquim
6
Jocimar
1
Jocondo
1
Jordalino
1
Jordão
1
Jorge
5
José
211
Joseph
1
Jovino
1
Julho
2
Jurandir
1
Landilino
1
Landino
1
Laurindo
3
Lauro
6
Leão
1
Leone
1
Leonel
1
Leoneldes
1
Leonelo
1
Leonildo
3
Leonor
1
Lino
1
Lorenso
4
Luciano
1
Ludovico
1
Luigi
13
Luiz
100
Manoel
1
Marcelino
1
Marcelo
1
Marco
11
Marcolino
2
Maria
6
Mariano
2
Mario
3
Massimiliano
3
Matteo
7
Melchiore
1
217
Michel
4
Miguel
2
Miltao
1
Miro
1
Modesto
1
Mordino
1
Napoleao
2
Narcisio
1
Natal
13
Natalio
1
Nelson
4
Nicolao
1
Noé
4
Novair
1
Odair
1
Olímpio
1
Olindo
2
Olinto
1
Olivo
7
Orestes
4
Orlando
4
Orsolo
1
Osvaldo
2
Otavio
2
Ovidio
2
Paolo
2
Pasquale
1
Paulin
1
Paulino
1
Paulo
15
Pedro
103
Persilio
1
Pierino
1
Piero
1
Pietro
8
Pio
1
Placido
9
Primo
9
Prodocimo
2
Querino
1
Rafaele
1
Raimundo
5
Reinaldo
1
Riccardo
12
Roberto
1
Rodesindo
1
Rodolfo
4
Romano
5
Romeo
1
Romolo
1
Rosario
1
Rubens
1
Salvador
2
Santino
1
218
Fonte: Registros de batismo da paróquia de São Sebastião (Rondinha – Campo Largo,
PR)
Santo
34
Savino
1
Sebastiao
24
Seraphino
1
Severino
2
Silvano
1
Silvestre
1
Silvio
5
Simão
2
Sperandio
1
Stefano
5
Teodoro
2
Theodorinho
1
Thiago
2
Thomas
2
Ulisse
1
Umberto
8
Unvalso
1
Ursolino
1
Valdemar
1
Valentin
7
Valentino
9
Vascolo
1
Venceslao
1
Vicente
5
Victor
7
Victório 14
Vidal 1
Virginio 7
Virgolino 1
Vitalino 2
Vitorino 2
Vittorio 14
Zacaria
1
310
2662
219
ANEXO 12: FREQUÊNCIA TOTAL DOS PRENOMES COMBINADOS
FEMININOS (1878-1937).
1878-1899 1900-1920 1921-1937 1878-1937
Agnes Maria 1 Albina Carolina 1 Adinse Albina 1 Adinse Albina 1
Aloisia Maria 1 Albina Regina 1 Aline Maria 1 Agnes Maria 1
Amabile Angela 1 Amabile Doratea 1 Amalia Dominga 1 Albina Carolina 1
Amabile Maria 1
Amabile Maria 1 Anastacia
Carmela 1
Albina Regina 1
Amalia Maria 1 Ana Carolina 1 Angela Emilia 1 Aline Maria 1
Amalia Oliva 1 Ana Catharina 2 Angela Italia 1 Aloisia Maria 1
AnaMaria
Anunziata 1
Ana Eugenia 1
Angela Santina 1 Amabile Angela 1
Angela Carolina 1 Ana Maria 1 Anna Constantina 1 Amabile Doratea 1
Angela Cattarina 1 Ana Rosa 1 Anna Leonilda 1 Amabile Maria 2
Angela Dussolina 1 Angela Amabile 1 Anna Leonilda 1 Amalia Dominga 1
Angela Madalena 1 Angela Catherina 1 Anna Maria 2 Amalia Maria 1
Angela Rosa 1 Angela Celeste 1 Anna Maria 2 Amalia Oliva 1
Angela Teresa 1 Angela Erminia 1 Antonia Adelia 1 Ana Carolina 1
Anna Catterina 1
Antonia Angela 2 Antonia
Bernadete 1
Ana Catharina 2
Antonia Carolina 1
Antonia
Catherina
1
Antonia Laura 1
Ana Eugenia 1
Antonia
Ermenegilda 1
Antonia Joana 1
Arsilinda Rosa 1
Ana Maria 1
Antonia Virginea 1
Antonia
Margherita
2
Assunta Cecília 1
AnaMaria
Anunziata 1
Arcangela Maria 1 Carlota Judith 1 Catharina Edithe 1 Ana Rosa 1
Aurelia Maria 1
Carmela Juditta 1
Cattarina Gemma 1
Anastacia
Carmela 1
Carola Maria 1 Catharia Maria 2 Cattarina Maria 1 Angela Amabile 1
Carolina Anna 1 Clara Amelia 1 Claudia Luiza 1 Angela Carolina 1
Carolina Maria 1
Catharina
Amabile
1
Clementina Laura 1 Angela Cattarina 2
Catterina Ana
Maria 1
Dominga Angela 2
Dalila de Lourdes 1
Angela Celeste 1
Cecilia Angela 1
Dominga
Verônica
1
Dalvina Maria 1 Angela Dussolina 1
Cecilia Joanna 1 Elena Delaide 1 Darsyna Maria 1 Angela Emilia 1
Clara Madalena 1 Elena Luiza 1 Dominga Maria 1 Angela Erminia 1
Clelia Catterina 1
Elena Maria 2 Dominga
Mercede 1 Angela Italia 1
Clementina
Joanna 1
Elisabetta Joana 1 Efigenia de
Lourdes 1 Angela Madalena 1
Constança Regina 1 Elvira Grazioza 1 Egidia Maria 1 Angela Rosa 1
Dominga
Madalena 1
Emilia Fiorinda 1 Erminia de
Lourdes 1 Angela Santina 1
Dominga
Valentina 1
Ernesta Antonia 1
Fabina Theresina 1 Angela Teresa 1
Edelvina
Francisca 1
Filomena Maria 1
Filomena Clara 1 Anna Catterina 1
Elisabett Antonia 1
Giacoma Joana 1 Francisca
Cattarina 1 Anna Constantina 1
Enrica Dussolina 1
Grazioza Maria 1 Gilcira de
Lourdes 1 Anna Leonilda 2
Esperança Maria 1 Izabel Rosa 1 Grazioza Maria 1 Anna Maria 4
Fedenziana Maria 1 Joana Ana 1 Ida Joanna 1 Antonia Adelia 1
Filomena Teresa 1 Josepha Joanna 2 Idalina Antonia 1 Antonia Angela 2
220
Francisca Elvira 1
Judith Santa 1
Idalina Maria 1
Antonia
Bernadete 1
Genovefa Luisa 1
Luiza Antônia 2 Idelphina
Josephina 1 Antonia Carolina 1
Genovepha
Antonia 1
Mariana Daniela 1
Ilda Gemma 1
Antonia Catherina 1
Inocencia Maria 1
Maria Antonia 5
Ines Theresa 1
Antonia
Ermenegilda 1
Joanna Maria 1 Maria Anunziata 1 Irene Laurita 1 Antonia Joana 1
Joseppina
Anunziatta 1
Maria Carolina 1
Italia Maria 1 Antonia Laura 1
Joseppina
Catterina 1
Maria Dominga 1 Jacobina
Inocencia 1
Antonia
Margherita
2
Joseppina Santa 1 Maria Dossolina 1 Joana Maria 1 Antonia Virginea 1
Justina Rosa 1 Maria Joana 2 Joana Theresa 1 Arcangela Maria 1
Letizia Narcisa 1 Maria Luiza 5 Josefa Edit 1 Arsilinda Rosa 1
Lidia Madalena 1
Maria Madalena 4 Josephina
Theresa 1 Assunta Cecília 1
Lucia Maria 1 Maria Margarida 1 Joseppina Maria 1 Aurelia Maria 1
Lucia Maria 1 Maria Mariana 1 Judith Inetta 1 Carlota Judith 1
Luiza Dominga 1 Maria Oliva 1 Laura Joseppina 1 Carmela Juditta 1
Luiza Joseppina 1 Maria Paolina 1 Laurita Maria 1 Carola Maria 1
Luiza Maria 1
Maria Pierina 1 Leandrina
Manuel 1 Carolina Anna 1
Luiza Maria 1 Maria Rosa 7 Lidia Joanna 1 Carolina Maria 1
Maraia Francisca 1
Matilde Catherina 1
Lilia Maria 1
Catharina
Amabile
1
Margarida Rosa 1 Natalia Maria 1 Lucia Dominga 1 Catharina Edithe 1
Maria Amelia 1 Nuncia Maria 1 Luigia Maria 1 Cattarina Gemma 1
Maria Angela 1 Pasqua Joseppina 1 Luiza Antonia 1 Cattarina Maria 3
Maria Antonia 4
Pazienza Eugenia 1 Margherida
Antonia 1
Catterina Ana
Maria 1
Maria Augusta 1 Regina Maria 1 Maria Anna 2 Cecilia Angela 1
Maria Catterina 1 Rosa Catherina 1 Maria Antonia 3 Cecilia Joanna 1
Maria Dominga 1 Rosa Elisabetta 1 Maria Anunziata 1 Clara Amelia 1
Maria Gerlda 1 Rosa Jacoba 2 Maria Aurora 1 Clara Madalena 1
Maria Irene 1 Rosa Madalena 1 Maria Benvinda 1 Claudia Luiza 1
Maria Jacoba 1 Santa Antonia 1 Maria Cecília 2 Clelia Catterina 1
Maria Joseppina 1
Santa Catherina 1
Maria clara 1
Clementina
Joanna 1
Maria Luiza 9 Teresa Emilia 1 Maria Clarina 1 Clementina Laura 1
Maria Madalena 6 Teresa Floria 1 Maria de Loudes 11 Constança Regina 1
Maria Madalena
Ermenegilda 1
Teresa Luiza 1
Maria Eleonora 1 Dalila de Lourdes 1
Maria Sabrina 1 Teresa Maria 4 Maria Genaide 1 Dalvina Maria 1
Maria Teresia 5
Virgínia
Madalena
1
Maria Giulia 1 Darsyna Maria 1
Natalina Maria 1 Maria Helena 1 Dominga Angela 2
Oliva Joconda 1
Maria Irene 2
Dominga
Madalena 1
Oliva Joseppina 2 Maria Laurinda 1 Dominga Maria 1
Oliva Rosa 1
Maria Lucia 3
Dominga
Mercede 1
Paolina Maria 1
Maria Luiza 2
Dominga
Valentina 1
Pasqua Grazioza 1
Maria Madalena 5
Dominga
Verônica
1
Pasqua Irene 1
Maria Margarida 1
Edelvina
Francisca 1
221
Pedrina Joseppina 1
Maria Mercedes 1
Efigenia de
Lourdes 1
Pierina Rosa 1 Maria Natalia 1 Egidia Maria 1
Regina Santa 1 Maria Nemessis 1 Elena Delaide 1
Rosa Antonia 1 Maria Raquel 1 Elena Luiza 1
Rosa Lucia 1 Maria Regina 1 Elena Maria 2
Rosa Maria 3 Maria Rosa 1 Elisabett Antonia 1
Rosa Pasqua 1 Maria Rosalina 1 Elisabetta Joana 1
Santa Anna 1 Maria Santa 1 Elvira Grazioza 1
Santa Luiza 1 Maria Virginia 1 Emilia Fiorinda 1
Stella Angela 1 Marina Nayr 1 Enrica Dussolina 1
Teresia Joanna 1
Mercede Maria 1
Erminia de
Lourdes 1
Valentina
Madalena 1
Nayr Amabile 1
Ernesta Antonia 1
Virginia
Ermenegilda 1
Olga Judit 1 Esperança Maria 1
Virginia Maria 1 Orsola Irene 1 Fabina Theresina 1
Palmira Maria 1 Fedenziana Maria 1
Pedrina Albina 1 Filomena Clara 1
Pelegrina de
Lourdes 1
Filomena Maria 1
Regina Rosa 1 Filomena Teresa 1
Rosa Antonia 1
Francisca
Cattarina 1
Rosa Fancisca 1 Francisca Elvira 1
Rosa Oliva 1 Genovefa Luisa 1
Santina Ines 1
Genovepha
Antonia 1
Santina Maria 1 Giacoma Joana 1
Silene Theresa 1
Gilcira de
Lourdes 1
Sophia Maria 1 Grazioza Maria 1
Stella Laura 1 Grazioza Maria 1
Theresa Elvira 1 Ida Joanna 1
Zaie Maria 1 Idalina Antonia 1
Zoraide Maria 1 Idalina Maria 1
Idelphina
Josephina 1
Ilda Gemma 1
Ines Theresa 1
Inocencia Maria 1
Irene Laurita 1
Italia Maria 1
Izabel Rosa 1
Jacobina
Inocencia 1
Joana Ana 1
Joana Maria 2
Joana Theresa 1
Josefa Edit 1
Josepha Joanna 2
Josephina Theresa 1
Joseppina
Anunziatta 1
Joseppina
Catterina 1
Joseppina Maria
1
222
Joseppina Santa
1
Judith Inetta
1
Judith Santa 1
Justina Rosa
1
Laura Joseppina
1
Laurita Maria
1
Leandrina Manuel
1
Letizia Narcisa
1
Lidia Joanna
1
Lidia Madalena
1
Lilia Maria
1
Lucia Dominga
1
Lucia Maria
2
Luigia Maria
1
Luiza Antônia 3
Luiza Dominga
1
Luiza Joseppina
1
Luiza Maria
2
Maria Francisca
1
Margarida Rosa
1
Margherida
Antonia
1
Maria Amelia
1
Maria Angela
1
Maria Anna
2
Maria Antonia 12
Maria Anunziata 2
Maria Augusta
1
Maria Aurora
1
Maria Benvinda
1
Maria Carolina 1
Maria Catterina
1
Maria Cecília
2
Maria clara
1
Maria Clarina
1
Maria de Loudes
11
Maria Dominga 2
Maria Dossolina 1
Maria Eleonora
1
Maria Genaide
1
Maria Geralda
1
Maria Giulia
1
Maria Helena
1
Maria Irene
3
Maria Jacoba
1
Maria Joana 2
Maria Joseppina
1
Maria Laurinda
1
Maria Lucia
3
223
Maria Luiza 16
Maria Madalena
15
Maria Madalena
Ermenegilda
1
Maria Margarida
2
Maria Mariana 1
Maria Mercedes
1
Maria Natalia
1
Maria Nemessis
1
Maria Oliva 1
Maria Paolina 1
Maria Pierina 1
Maria Raquel
1
Maria Regina
1
Maria Rosa 8
Maria Rosalina
1
Maria Sabrina
1
Maria Santa
1
Maria Teresia
5
Maria Virginia
1
Mariana Daniela 1
Marina Nayr
1
Matilde Catherina 1
Mercede Maria
1
Natalina Maria
2
Nayr Amabile
1
Nuncia Maria 1
Olga Judit
1
Oliva Joconda
1
Oliva Joseppina
2
Oliva Rosa
1
Orsola Irene
1
Palmira Maria
1
Paolina Maria
1
Pasqua Grazioza
1
Pasqua Irene
1
Pasqua Joseppina 1
Pazienza Eugenia 1
Pedrina Albina
1
Pedrina Joseppina
1
Pelegrina de
Lourdes
1
Pierina Rosa
1
Regina Maria 1
Regina Rosa
1
Regina Santa
1
Rosa Antonia
2
Rosa Catherina 1
Rosa Elisabetta 1
224
Rosa Fancisca
1
Rosa Jacoba 2
Rosa Lucia
1
Rosa Madalena 1
Rosa Maria
3
Rosa Oliva
1
Rosa Pasqua
1
Santa Anna
1
Santa Antonia 1
Santa Catherina 1
Santa Luiza
1
Santina Ines
1
Santina Maria
1
Silene Theresa
1
Sophia Maria
1
Stella Angela
1
Stella Laura
1
Teresa Emilia 1
Teresa Floria 1
Teresa Luiza 1
Teresa Maria 4
Teresia Joanna
1
Theresa Elvira
1
Valentina
Madalena
1
Virginia
Ermenegilda
1
Virgínia
Madalena
1
Virginia Maria
1
Zaie Maria
1
Zoraide Maria
1
248 323
Fonte: Registros de batismo da paróquia de São Sebastião (Rondinha – Campo Largo,
PR)
225
ANEXO 13: FREQUÊNCIA TOTAL DOS PRENOMES COMBINADOS
MASCULINOS (1878-1937).
1878-1899 1900-1920 1921-1937 1878-1937
Amadeo
Desiderio 1
Achiles
Francisco
1
Abele Paulino 1
Abele Paulino 1
Andrea Antonio 1
Achille
Constantino
1
Angelo Antenor 1
Achiles Francisco 1
Angelo
Ambrosio 1
Afonso
Francisco
1
Angelo Arlindo 1
Achille
Constantino
1
Angelo Antonio 2
Ambrosio João 1
Angelo Attilio 1
Afonso Francisco 1
Angelo Augusto 1
Angelo Antônio 6
Angelo João 1
Amadeo
Desiderio 1
Angelo Celeste 1
Angelo Inácio 1
Angelo
Valentino 1
Ambrosio João 1
Angelo celestino
1
Angelo Miguel 1
Antonio
Agostinho 1
Andrea Antonio 1
Angelo João 1
Angelo
Prodocimo
1
Antonio Angelo 1
Angelo Ambrosio 1
Angelo José 4
Antônio
Claudino
1
Antonio Carlos 1
Angelo Antenor 1
Antonio Angelo 1
Antônio
Clementino
1
Antonio Evaristo 1
Angelo Antônio 8
Antonio David 1
Antônio
Ferdinando
1
Antonio
Faustino 1
Angelo Arlindo 1
Antonio João 1
Antônio
Fioravante
1
Antonio Giorgio 1
Angelo Attilio 1
Antonio José 1
Antônio Gaetano 1
Antonio
Guilherme 1
Angelo Augusto 1
Antonio Luis 1
Antônio José 1
Antonio Jacó 1
Angelo Celeste 1
Antonio Paolo 1
Antônio Luiz 6
Antonio João 2
Angelo celestino 1
Antonio
Romano 1
Antônio
Prodocimo
1
Antonio
Pasquale 1
Angelo Inácio 1
Antonio
Sebastião 1
Antônio
Valentino
1
Antonio Pedro 1
Angelo João 2
Arcangelo
Gabriel 1
Augusto
Sebastião
1
Antônio
Raimondo 1
Angelo Jo 4
Attilio Fernande 1
Bernardino
Domingo
1
Apostolo Mosé 1
Angelo Miguel 1
Augusto
Fortunato 1
Bernardo Carlo 1
Ari Jacob 1
Angelo
Prodocimo
1
Augusto José 1
Bernardo
Domingo
1
Ari João 1
Angelo Valentino 1
Bartolomeo
José 1
Bruno Domingo 1
Aristide Baptista 1
Antonio
Agostinho 1
Basilio Pedro 1
Cesare Augusto 1
Arlindo Carlos 2
Antonio Angelo 2
Cecilio João 1
Constante
Antonio
1
Arlindo João 1
Antonio Carlos 1
Celeste Santo 1
Constante
Francisco
1
Augusto Antonio 1
Antônio Claudino 1
Cosntante José 1
Constante José 1
Bruno Jorge 1
Antônio
Clementino
1
Desiderio
Angelo 1
Constantino
Antônio
1
Catharin
Baptista 1
Antonio David 1
Domingo
Antonio 2
Cristiano
Antônio
1
Christao Antonio 1
Antonio Evaristo 1
Domingo
Emanuel 1
Daniel Angelo 1
Domingo
Agostinho 1
Antonio Faustino 1
226
Domingo
Fortunato 1
Desiderio João 1
Durval João 1
Antônio
Ferdinando
1
Domingo Primo 1
Domingo
Baptista
1
Edgar João 1
Antônio
Fioravante
1
Emanuel
Florencio 1
Domingo João 1
Fortunato
Antonio 1
Antônio Gaetano 1
Federico
Luciano 1
Domingo Primo 1
Francisco
Orlando 1
Antonio Giorgio 1
Ferdinando
Angelo 1
Ernesto Antônio 1
Guilherme
Nelson 1
Antonio
Guilherme 1
Ferdinando
Benvento 1
Eugênio Pedro 1
Jacob Federico 1
Antonio Jacó 1
Florindo Pedro 1
Federico
Bernardo
1
Jeronimo
Antonio 1
Antonio João 3
Florindo
Romano 1
Felisberto
Ubaldino
1
João Alessandre 1
Antonio José 2
Fortunato
Antonio 2
Ferdinando
Rafaelle
1
João Antonio 1
Antonio Luiz 7
Francisco
Antonio 1
Florenço
Augusto
1
João Avelindo 1
Antonio Paolo 1
Francisco
Jeronimo 1
Florindo Carlo 1
João Baptista 18
Antonio Pasquale 1
Francisco João 1
Florindo José 1
João Candido 1
Antonio Pedro 1
Francisco José 1
Francisco
Andrea
1
João Casemiro 1
Antônio
Prodocimo
1
Francisco Primo 1
Francisco
Cipriano
1
João Domingo 1
Antônio
Raimondo 1
Geraldo João 1
Francisco José 5
João
Evangelista 1
Antonio Romano 1
Jacinto
Napoleão 1
Jacob Vittorio 1
João Leonildo 1
Antonio
Sebastião 1
João Andrea 1
João Angelo 1
João Maria 1
Antônio
Valentino
1
João Antonio 4
João Antônio 1
Joaquim Luis 1
Apostolo Mosé 1
João Arcangelo 1
João Atillio 1
José Antonio 2
Arcangelo
Gabriel 1
João Aureliano 1
João Baptista 21
José Beato 1
Ari Jacob 1
João Baptista 13
João Cipriano 1
José Jurandir 1
Ari João 1
João Domingo 1
João Claudino 1
José Rubens 1
Aristide Baptista 1
João
Evangelista 1
João Florindo 1
José Silvestre 1
Arlindo Carlos 2
João Maria 4
João Joaquim 1
Lauro Antonio 1
Arlindo João 1
João Pedro 2
João Natal 1
Lauro Leonor 1
Attilio Fernande 1
João Pio 1
João Santo 1
Leonelo Santo 1
Augusto Antonio 1
João Vittorio 1
João Sebastião 1
Lino Luiz 1
Augusto
Fortunato 1
Jose Antonio 3
José Angelo 1
Luis Antonio 2
Augusto Jo 1
José Bemianino 1
José Armando 1
Luis Carlos 1
Augusto
Sebastião
1
José Francisco 1
José Bortolo 1
Luis Lorenso 1
Bartolomeo José 1
José João 1
José Caetano 1
Luiz Fernando 1
Basilio Pedro 1
José Paolo 1
José Camillo 1
Luiz Fioravante
Bernardo 1
Bernardino
Domingo
1
José Vittorio 1
José Federico 1
Mario Jocimar 1
Bernardo Carlo 1
Luis Angelo 1
José João 1
Massimiliano
Antonio 1
Bernardo
Domingo
1
Luis Fortunato 1
José Luiz 2
Nelson Primo 1
Bruno Domingo 1
Luis Jacinto 1
José Matteo 1
Olindo Angelo 1
Bruno Jorge 1
Luis Placido 1
José Primo 1
Olindo José 1
Catharin Baptista 1
227
Marco João 1
José Sebastião 1
Pedro Antonio 1
Cecilio João 1
Marco Virgineo 1
Ludovico
Jerônimo
1
Pedro João 1
Celeste Santo 1
Massimiliano
Noé 1
Luiz Agostinho 1
Pedro Paulo 2
Cesare Augusto 1
Michel Angelo 1
Luiz Cipriano 1
Redento Luiz 1
Christao Antonio 1
Michel Angelo 1
Luiz Jacob 1
Romolo
Sebastião 1
Constante
Antonio
1
Napoleao
Vitorio 1
Luiz Santo 1
Rosario Vitor 1
Constante
Francisco
1
Natal Diogo 1
Marcelino
Fortunato
1
Santo Augusto 1
Constante José 2
Natal João 1
Miro Laurindo 1
Santo Domingo 1
Constantino
Antônio
1
Natal José 1
Natal Diogo 1
Santo João 1
Cristiano Antônio 1
Pedro Achile 1
Orlando
Raimundo
1
Santo Paulo 1
Daniel Angelo 1
Pedro Amadeo 1
Paolo Carlo 1
Santo Tobias 1
Desiderio Angelo 1
Pedro Antonio 2
Pedro Alberto 1
Savino João 1
Desiderio João 1
Pedro Daniel 1
Pedro Francisco 1
Silvio Faustino 1
Domingo
Agostinho 1
Pedro João 1
Pedro Luiz 1
Unvalso José 1
Domingo
Antonio 2
Pedro Paulo 1
Pedro Matteo 1
Valdemar
Theodoro 1
Domingo
Baptista
1
Pedro
Sebastião 1
Pedro Paulo 1
Valentino
Antonio 1
Domingo
Emanuel 1
Santo Antonio 2
Primo Attilio 1
Vitorino Andrea 1
Domingo
Fortunato 1
Santo João 1
Primo Pedro 1
Domingo João 1
Santo Valentino 1
Ricardo Assidio 1
Domingo Primo 2
Sebastião João 1
Ricardo Eugênio 1
Durval João 1
Umberto
Emanuel 1
Sante Francisco 1
Edgar João 1
Umberto João 1
Sante José 1
Emanuel
Florencio 1
Umberto José 1
Santo Antônio 3
Ernesto Antônio 1
Valentino José 1
Santo Cipriano 1
Eugênio Pedro 1
Vittorio Antonio 1
Santo Emilio 1
Federico
Bernardo
1
Zacaria
Ambrosio 1
Santo Florindo 1
Federico Luciano 1
Valentino
Fortunato
1
Felisberto
Ubaldino
1
Vascolo
Godofredo
1
Ferdinando
Angelo 1
Victor Emanuel 1
Ferdinando
Benvento 1
Virgolino
Antônio
1
Ferdinando
Rafaelle
1
Florenço Augusto
1
Florindo Carlo 1
Florindo José 1
Florindo Pedro 1
Florindo Romano 1
Fortunato
Antonio 3
Francisco Andrea 1
Francisco 1
228
Antonio
Francisco
Cipriano
1
Francisco
Jeronimo 1
Francisco João 1
Francisco José 6
Francisco
Orlando 1
Francisco Primo 1
Geraldo João 1
Guilherme
Nelson 1
Jacinto Napoleão 1
Jacob Federico 1
Jacob Vittorio 1
Jeronimo
Antonio 1
João Alessandre 1
João Andrea 1
João Angelo 1
João Antonio 6
João Arcangelo 1
João Atillio 1
João Aureliano 1
João Avelindo 1
João Baptista 52
João Candido 1
João Casemiro 1
João Cipriano 1
João Claudino 1
João Domingo 2
João Evangelista 2
João Florindo 1
João Joaquim 1
João Leonildo 1
João Maria 5
João Natal 1
João Pedro 2
João Pio 1
João Santo 1
João Sebastião 1
João Vittorio 1
Joaquim Luis 1
José Angelo 1
Jose Antonio 5
José Armando 1
José Beato 1
José Bemianino 1
José Bortolo 1
José Caetano 1
José Camillo 1
José Federico 1
José Francisco 1
José João 2
José Jurandir 1
José Luiz 2
José Matteo 1
229
José Paolo 1
José Primo 1
José Rubens 1
José Sebastião 1
José Silvestre 1
José Vittorio 1
Lauro Antonio 1
Lauro Leonor 1
Leonelo Santo 1
Lino Luiz 1
Ludovico
Jerônimo
1
Luis Angelo 1
Luis Antonio 2
Luis Carlos 1
Luis Fortunato 1
Luis Jacinto 1
Luis Lorenso 1
Luis Placido 1
Luiz Agostinho 1
Luiz Cipriano 1
Luiz Fernando 1
Luiz Fioravante
Bernardo 1
Luiz Jacob 1
Luiz Santo 1
Marcelino
Fortunato
1
Marco João 1
Marco Virgineo 1
Mario Jocimar 1
Massimiliano
Antonio 1
Massimiliano
Noé 1
Michel Angelo 2
Miro Laurindo 1
Napoleao Vitorio 1
Natal Diogo 2
Natal João 1
Natal José 1
Nelson Primo 1
Olindo Angelo 1
Olindo Jo 1
Orlando
Raimundo
1
Paolo Carlo 1
Pedro Achile 1
Pedro Alberto 1
Pedro Amadeo 1
Pedro Antonio 3
Pedro Daniel 1
Pedro Francisco 1
Pedro João 2
Pedro Luiz 1
Pedro Matteo 1
Pedro Paulo 4
Pedro Sebastião 1
230
Primo Attilio 1
Primo Pedro 1
Redento Luiz 1
Ricardo Assidio 1
Ricardo Eugênio 1
Romolo
Sebastião 1
Rosario Vitor 1
Sante Francisco 1
Sante José 1
Santo Antonio 5
Santo Augusto 1
Santo Cipriano 1
Santo Domingo 1
Santo Emilio 1
Santo Florindo 1
Santo João 2
Santo Paulo 1
Santo Tobias 1
Santo Valentino 1
Savino João 1
Sebastião João 1
Silvio Faustino 1
Umberto
Emanuel 1
Umberto João 1
Unvalso José 2
Valdemar
Theodoro 1
Valentino
Antonio 1
Valentino
Fortunato 1
Valentino Jo 1
Vascolo
Godofredo
1
Victor Emanuel 1
Virgolino
Antônio
1
Vitorino Andrea 1
Vittorio Antonio 1
Zacaria
Ambrosio 1
242 359
Fonte: Registros de batismo da paróquia de São Sebastião (Rondinha – Campo Largo,
PR)
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