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execução e de ordem.
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O Clero desenvolvia papel de ensino, cuidava dos
registros notariais com o auxílio dos escravos, de recursos e terra doados pela
Coroa. No entanto, os próprios jesuítas entraram em contradição com relação aos
princípios de liberdade e igualdade entre índios e negros. Os índios podiam ser
livres e catequizados, inaptos ao trabalho servil, mas os negros-escravos aptos ao
trabalho, tinham que ser mantidos em escravidão.
Há traços pesarosos do descaso das autoridades, da falta de lei, da
ausência mesmo de justiça e humanidade no nosso Brasil colonial. Os negros, os
índios e os colonos mais pobres sofriam toda sorte de injustiças.
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Foram os
interesses externos, e não os do Brasil, que organizaram e constituíram a
sociedade e a economia brasileira.
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A vinda da família real em 1808, deu origem a mais cargos. O comércio
se intensificou, mas não a ponto de ingresso no capitalismo industrial, porque
faltava a seriedade, a ética nas transações comercias e a perseverança nos
tratos.
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Ao lado das condutas criminosas, um tipo de “malandragem” cultural,
incapaz de ser expurgada, que acompanha os negócios, os contratos, os acordos,
que vai se estender em maior ou menor grau até os nossos dias. A
industrialização é impedida pela autarquia agrária. A corte se indispõe com a
classe comercial, que pretendia a separação do Brasil de Portugal, com a
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FAORO.Os donos...,op.,cit.p.228.
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“Um viajante francês, ao percorrer o litoral pernambucano, viu além dos escravos,
dos quais não queria falar porque “não passam de gado”, os lavradores entregues aos donos da
terra e dos engenhos em nada que os proteja, a lei ou a força armada. A paisagem se cobria de
senhores de engenho, lavradores (“espécie de rendeiros”) e moradores, categoria, a última, fruto
do declínio da empresa açucareira. À ostentação do senhor se opõe a vida incerta do lavrador
que pode ser expulso, a qualquer tempo, sem indenização, composto seu capital de escravos e
gado, abrigada a família em “miserável cabana”. Os moradores - “em geral mestiços de
mulatos, negros livres e índios” – são paupérrimos – eles formam a plebe dos campos, com sua
cultura de mandioca para magro sustento, retraídos ao trabalho assalariado que os degradaria à
condição de escravos. Isolados nos ranchos, não conhecem a vida comunitária que aos seus
avós integrava, numa constelação de valores perdida. Deles sairá o cliente do crime e o germe de
jagunço. “Os senhores de engenho procuram as suas mulheres para seu gozo; dizem-nas muito
galantes, mas destas seduções resultam vinganças e punhaladas. Os senhores de engenho que
usam do direito de despedir os seus moradores, porque lhe pagam pouco e mal, e
frequentemente os roubam, tremem ao tomar esta perigosa medida em um país sem polícia.”
(FAORO. Os donos...,op.,cit.p.252).
342
PRADO JUNIOR. Caio. Formação...,op.,cit.p.32.
343
FAORO.Os donos...,op.,cit.p.291.