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UNIVERSIDADEFEDERALDOPIAUÍ
CENTRODECIÊNCIASDAEDUCAÇÃO
PROGRAMADEPÓSGRADUAÇÃOEMEDUCAÇÃO
MESTRADOEMEDUCAÇÃO
WELBERT FEITOSAPINHEIRO
DETAMBORILAISAÍASCOELHO:AEDUCAÇÃODOS
MESTRESESCOLAAOGRUPOESCOLAR(1935A1970)
TERESINA PIAUÍ
2007
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2
WELBERT FEITOSAPINHEIRO
DETAMBORILAISAÍASCOELHO:AEDUCAÇÃODOS
MESTRESESCOLAAOGRUPOESCOLAR(1935A1970)
Dissertação apresentada ao Programa de sGraduação em
Educação, do Centro de Ciências da E ducação, da Universidade
Federal do Piauí – UFPI,  como exigência parcial para obtenção do
títulodeMestreemEducação.
Orientadora: Prof.Dr.AntôniodePáduaCarvalhoLopes
TERESINA PIAUÍ
2007
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3
P654d PINHEIRO,WelbertFeitosa.
DeTamborilaIsaíascoelho:aeducaçãodos mestres
escolaaogrupoescolar(1935a1970) /WelbertFeitosa
Pinheiro. Teresina:2007.
167fls.
Dissertação(MestradoemEducação) UniversidadeFede
raldoPiauí.
1. Ensino.2. ProcessoEnsinoAprendizagem.3.Professor
Leigo.I.Título
C.D.D.371.1
4
WELBERT FEITOSAPINHEIRO
DETAMBORILAISAÍASCOELHO:AEDUCAÇÃODOS
MESTRESESCOLAAOGRUPOESCOLAR(1935A1970)
Dissertação apresentada ao Programa de sGraduação em
Educação, do Centro de Ciências da E ducação, da Universidade
Federal do Piauí – UFPI,  como exigência parcial para obtenção do
títulodeMestreemEducação.
Teresina(PI),09defevereir ode2007.
_______________________________________________________
Prof.Dr.AntôniodePáduaCarvalhoLopes Orientador
UniversidadeFederaldoPiau í  UFPI
______________________________________________________
ProfºDr.FranciscoAlcidesdoNascimento
UniversidadeFederaldoPiau í UFPI
______________________________________________________
ProfªDrªAntôniaEdnaBrito
UniversidadeFederaldoPiau í UFPI
5
AGRADECIMENTOS
Na concretização deste tr abalho, sintome feliz por realizar algo que pudesse
contribuir tanto para o meu enriquecimento cultural como para a História da Educação do
EstadodoPiauí.
Foramváriosdiasealgunsmesesemqueestiveaconhecerosfundamentosteóricos
deescritores que deram embasamento a minhapesquisa,bem como as liçõesextrdas das
aulasdosprofessoresdoProgramadePósgraduaçãoemEducação,daUniversidadeFederal
doPiauí,a quemagradeçopelacontribuiçãonaminhaformaçãoacadêmica.
Ao Professor Dr. Antônio de Pádua Carvalho Lopes, por ter acreditado na
viabilidade do meu objeto de pesquisa e, também, pelas sugestõ es e disponibilidade em
orientarestetrabalho.
Àternuradaminhairmã,CristianeFeitosaPinheiro,poremváriosmomentosterlhe
tirado o seu tempo  para ler o meu trabalho e pedir as sugestões que t anto auxiliaram no
enriquecimentodapresenteDissertação,bemcomoagradecerlhepelarevisãocuidadosado
texto.
Aosmeuspais,BrazPinheiro(inmemorian)eAldenoraFeito sadaRochaPinheiro,
porestaremsemprejuntosanós,incentivandoeorandodesdeosprimeirosanosdecontato
comomundodaescrita.
Aomeuirmão,WellingtonFeitosaPinheiro,peloapoiodadonashorasdecorreria
paraaorganizaçãodotrabalho,bemcomopelapreocupaçãoquetinhatodasasvezesqueeu
saíadePicosemedirigiaaTeres ina.
À minha esposa, Lavinha Nanc y Borges de Sousa Pinheiro, pelo incentivo e,
principalmente, pela paciência e compreensão durante todo o processo de feitura da
Dissertaçãoe,t ambém,tersuportadoaminhaau sêncianosdiasemqueestiveforadonosso
convíviofamiliar.
Aomeufilho,TiagodeSousaPinheiro,umamigoqueDeusmedeue,aomesmo
tempo ,vontadedelutarmaisa indaparaobtençãodetãosonhadarealização.
Àminhatia,HelenaPinheiro,quecomseus80anosmetrouxeasprimeirasnotícias
dasociedadeedoprimeiromestreescolaqueseestabeleceunacidadedeIsaíasCoelho.
6
À professora Maria Delzuíta de Andrade de Sousa Marques, da cidade de Isaías
Coelho,quecomasuaajudamuitasetapasdoprocessoeducacionalpuderamviràtona.
À professor a Neli Carvalho, da cidad e de Isaías Coelho, por ter me ajudado a
encontraradocumentaçãonecessáriaaodesenvolvimentodapesquisa.
À professora, Amparo Barbosa, da cidade de Isaías Coelho, que se dispôs a me
ajudaralo calizaradocumentaçãonoarquivodoGrupoEscolarDanielGomes.
Aos exalunos que gentilmente dedicaram horas do seu dia para comigo
conversaremsobreseupassadoescolar,asaber,ossrs.Messias,Joaqu imeAlbanízia.
Aosisaiascoelhensesque,gentilmentepermitiramoacessoaoálbumdefotografias
parailustraçãodapesquisa.
Aos colegas da 12ª turma do Programa de sgraduação em Educação, da
UniversidadeFederaldoPiau í,pelaprontaacolhidaeamizade.
Atodosquediretaeindireta mentecontribuíramparaarealização destetrabalho.
Valeuapena”!!!
7
Sedetudoficaumpouco,
masporquenãoficaria
umpoucodemim?Notrem
quelevaaonorte,nobarco,
nosanúnciosdejornal,
umpoucodemimemLondres,
umpoucodemimalgures?
naconsoante?
nopoço?
CarlosDrummonddeAndrade
8
RESUMO
PINHEIRO, Welbert Feitosa. De Tamboril a Isaías Coelho: mapea ndo a educação dos
mestresescolaaogrupoescolar(19351970).160f.Dissertação(MestradoemEducação)–
UniversidadeFederaldoPiau í,Teres ina,2006.
Opresenteestudoanalisouoprocessoeducacionaldesenvolvidonumacidadeint erioranado
Estado do Piauí, Isaías Coelho, entreos anos de 1935 a 1970. Pro curouse compreender a
sociedadeeomodusvivendidepessoasqueseestabeleceramnestemunicípio,bemcomoas
marcas deixadas por elas nos espaços. A pesquisa procurou, ainda, mapear os primeiros
passosdaeducação marcadospelos mestresescolaepelasprofessorasleigasqueestiveram
frenteàEscolaIsoladaeEscolaReunidadoantigopovoadoTamboril,nosespaço sdacasa
escolaedosalãoescola. Logoemseguida,destacouseapresençadoGrupoEscolarD aniel
Gomes,nadécadade1970,nocenáriourbanísticodacidadedeIsaíasCoelho.Aanáliseda s
fontesdocumentaisedasfontesoraispermitiuumamelhorcompreensãodasociedadeeda
educaçãoaíefetivada.Combasenosapo rtesteóricosdeJacquesLeGoff,PeterBurke,Agnes
Heller,EcléaBosi,JimSharpe,PaulT hompsoneMauriceHalbwachsedaescassaliteratura
existente sobre a temática, procurouse ter um olhar mais crítico do objeto de estudo. A
pesquisa aprofundouse em espaços sociais, econômicos, po líticos, religiosos, culturais e
educacionais,adotandose,paratanto,ahistóriaoral,queviabilizouoresgatetantodahistória
localquantodatr ajetóriaeducacionalemIsaíasCoelho. Concluise,comestapesquisa,que
em meio às várias dificu ldades de se ter um lugar para as práticas educativas, a cidade
vivenciou diferentes espaços para suas escolas e diferentes tipos de docentes. Além da
presençadosmestresescola,percebeuse,ainda,outrascategoriasdedocentesqueforamas
professorasleigaseaspr ofessorasnormalistas.Comessaúltimacategoria,umnovohorizonte
marcouoprocessoeducacionallocal.A demandadealunosfoicrescente,aolongodoperíodo
estudado, conforme foi co nstatado e registrado no corpo da Dissertação. Tevese, e ntão, a
ampliação das oport unidades de acesso à escola, mesmo com as constantes faltas de
investimentonotocanteaosaspectosestruturaise,também, nafaltadeincentivofinanceiro
paraqueoutrosprofessor espudessemministraraulasemIsaíasCoe lho.Comosurgimento do
grupoescolarDanielGomesem1970,pôdeseconstatarumamaioraproximaçãoentr eescola
esociedade,umavezqueho uvemaiordemandadealunoseaprópriaconsolidaçãodarede
escolar blica nacidade. Percebeuseisto devido estainstituição deensino tr azer consigo
todoumaparatode instituiçãoblica,comossímbo los nacionais,prédiopróprioeamplo
para as atividades escolares, quadro de professores efetivos e um corpo técnico
administrativo. Assim,passouseateru maescolaprimáriapúblicaaptaafuncionardeacordo
comospadrõesdeumaescolamo derna.Comasnovasinstalaçõesdogrupoescolar,fugiuse
domodelodaEscolaIsoladaedaEscolaReunida.Marcouse,comisso,uma novafasena
escolaridadeisaiascoelhense.
Palavraschave: Sociedade piauiense. Processo educacional. Isaías Coelho. Mestresescola.
Casaescola.Salãoescola.Grupoescolar.
9
RÉSUMÉ
PINHEIRO, Welbert Feitosa. De Tambo ril à Isaías Coelho: En planifiant l'éducationdes
maïtresécole au gro upe scolaire (19351970). 167 f. Dissertation (Diplôme d'études
approfondies dans Éducation) – Université Fédérale du Piauí, de Teresina, de 2007.
LePr ésenteét ude a analysé leprocessusscolaireveloppéd ansune villeprovincialede
l'ÉtatduPiauí,IsaíasCoelho,entrelesannées1935à1970.Ils'estcherchéàcomprendrela
société et modus vivendi de personnes qui se sont établies dans cette ville, ainsi que les
marques laissées par elles dans les espaces. La recherche a cherché, encore, planif ier les
premièresétapesdel'éducationmarquéesparlesmaïtresécoleetparlesenseignanteslaïques
quiont étédevantà l'École Isolée et à l'ÉcoleRéuniede l'anciennevilleTambor il,dansl’
espacesdela« CasaEscola»etdu« Salão Escola».Tout desuite,s'estdétachéelaprésence
deGrupoScolaireDanielGomes,dansladécenniede1970,danslescénariourbanístedela
villed'IsaíasCoelho.L'analyse desso urcesdocumentairesetdessourcesverbalesapermis
une meilleure compréhension de lasociété et de l'éducation là accomplie. Avec le soutien
théoriquesdeJacquesLeGoff,dePeterBurke,d'AgnesHeller,d'EcléaBosi,deJimSharpe,
de Paul Thompson et Maurice Halbwachs et de l'insuffisante littérature existante sur la
thématique,s'estcherchéàavoirunregardpluscritiquedel'objetd'étude.Larecherches'est
approfondie dans des espaces sociaux, économiques, politiques, religieux, culture ls et
scolaires,ens'adoptant,pourdetellefaçon,l'histoireverbale,quiaviabilisélesauvetagede
telle façon de l'histoire localecombien de la tr ajectoire scolairedans Isaías Coelho. Ilse
conclut,aveccetterecherche,quidansmoyenauxplusieursdifficultésd’avoirunlieupour
lespratiqueséducatives,lavilleavécuintensémentdedifférentsespacespourleursécoleset
différentstypesdeprofesseurs.Outrelaprésencedelesmaïtresécoles,ils'estperçu,encore,
autres catégories de professeurs qui ont été les enseignantes laïques et les enseignantes
normalistas.Aveccettedernièrecatégorie,unnouvelhorizonamarquéleprocessusscolaire
local. L'exigence d'élèves a été croissante, au long de la période étudiée,  comme il a été
constaté et enregistré dans le corps de la Dissertation. Il a eu, alors, l'élargissement des
occasionsd'accèsà l'école, mêmeaveclesconstantsmanquesd'investissementrelatifàaux
aspectsstructurelset,aussi,audéfautd'incitationfinancièrepourlaquelleautresenseignants
puissentdonner des leçonsenIsaías Coelho. Avec lebourgeonnementdu groupe scolaire
DanielGomesen1970,s'estpuconstateruneplusgrandeapprocheentreécoleetsociété,vu
qu'ilayeuplusgrandeexigenced'élèveset laconsolidationellemêmedufiletscolairepublic
danslaville.S'estperçuececicetteinstitutiond'enseignementapporteriltoutunappareil
d'institution pu blique, avec les symboles nationaux, immeuble propre et suffisant pour les
activitésscolaires,tableaud'enseignantsefficacesetuncorpstechniqueadministratif.Ainsi,il
s'estétéàremplacerparuneécoleprimairepubliqueapteàfonctionnerconformémentaux
normesd'uneécolemoderne.Aveclesnouvellesinstallationsdugroupescolaire,ils 'estfuidu
modèledel'ÉcoleIsoléeetdel'ÉcoleRéunie.Ils'estmarqué,aveccela,unenouvellephase
dans la scolarité isaiascoelhense.
MotsClés : Société Piauiense. Processus scolair e. Isaías Coelho.  MaïtresÉcoles. Maison
Ècole.SalonÈcole.Groupe scolaire.
10
LISTADEILUSTRAÇÕES
Ilustração01. ProcissãodeSenhoraSantana 37
Ilustração02.HabitantesdeTamborilemdiadefestadapadroeira 38
Ilustração03.MapadalocalizaçãogeográficadacidadedeIsaíasCoelho 39
Ilustração04.MapadalocalizaçãogeográficadacidadedeIsaíasCoelho40
Ilustração05.Festadevaqueiros 43
Ilustração06.AcelinoPinheiro 47
Ilustração07.Dr. IsaíasRodriguesCoelho 60
Ilustração08.RuaDanielGomes 61
Ilustração09.Vicent eCarlos73
Ilustração10.HelenaPinheiro 77
Ilustração11.BrazPinheiro 84
Ilustração12.LusiaReisSantos 94
Ilustração13.ListadealunosmatriculadosnaEscolaIsoladadeTamboril 97
Ilustração14.AldenoraFeitosadaRochaPinheiro 101
Ilustração15.JoaquimPereiradaRocha 102
Ilustração16.ElisaCoelhoMauriz 105
Ilustração17.Registrodefreqüênciadiáriadaturmade1953 107
Ilustração18.MariaDelzuitaAndradedeSousaMarques 108
Ilustração19. Port arianomeandoMariaDelzuítaAndradedeSousaMarques 109
Ilustração20.BoletimMensal daEscolaIsoladaT amborildemarçode1956 120
Ilustração21.MariadoCarmoFialho 130
Ilustração22.MariaVilaniPinheiro 130
Ilustração23.FolhadoLivrodeRegistrodePontodoPessoaldoGrupoEscolar
DanielGomes 131
Ilustração24.GrupoEscolarDanielGomes(fachadageral) 132
Ilustração25.GrupoEscolarDanielGomes(fachadadafr ente) 133
Ilustração26.AlbaníziaSantanaPortela 134
Ilustração27.AlunosdoGrupoEscolarDanielGomes 139
11
LISTADEQUADROS
Quadro01. QuadrodematculasdaEscolaIsolad adeTamboril de1947a1970117
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 13
1.DOPOVOADOÀCIDADE:ANTECEDENTESHISTÓRICOS(18871970)34
1.1AgênesedopovoadoTamboril................................................................ 34
1.2Avidaentrealavouraeapecuária............................................................40
1.3Osurgimentodasfeirasedocomércio...................................................... 44
1.4Tecendoavidaprivada.............................................................................. 47
1.5SurgimentopolíticodeIsaíasCoelho........................................................ 56
1.6Primeirasmarcasescolares.. ..................................................................... 62
2.RAÍZESHISTÓRICASDAEDUCAÇÃOEMISAÍASCOELHOPI:OS
PRIMEIROSEDUCADORES(19351947) ........................................................... 65
2.1Trajetóriadomodelodeensinomest reescola:dePort ugal aoBrasil.......65
2.2Achegadadosmestr esescolaaIsaíasCoelho(19351966)..................... 72
2.3Aéticadomestreescola.. .......................................................................... 75
2.4Omestreescola:entrepráticasesaberes.................................................. 77
2.5Emterrademestreshomens,apr esençademulheres.............................. 84
2.6Aculturaescolarnotempodomestreescola........................................... 86
13
3.DAESCOLAISOLADAÀESCOLAREUNIDADETAMBORIL(1947
1970).............................................................................................................................91
3.1Eaescolaeranacasadaprofessora...:acasaescola................................91
3.2Dacasaescolaaosalãoescola:ondeestavaadiferença? ........................103
3.3Escolarural:espaçodasprofessorasleigas...............................................114
3.4Vascu lhandolivros:ainspeçãoescolar....................................................116
3.5EscolaReunidadeTamboril:umtrampolimparaogrupoescolar..........121
4.OGRUPOESCOLARDANIELGOMES:DAMODERNIZAÇÃOURBANAÀ
MODERNIZAÇÃOESCOLAR(1970)..................................................................124
4.1OgrupoescolarnoPiauí:dosinteressesso ciaisaosinteressespolíticos.124
4.2OGrupoEscolarDanielGomes:suasorigens.........................................129
4.3AculturaescolarnoGrupoEscolarDanielGomes: novoespaço,novas
regras...........................................................................................................................138
4.4AatuaçãodoGrupoescolarDanielGomesnasociedadeisaiascoelhense143
CONCLUSÃO...........................................................................................................146
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 150
ANEXOS.................................................................................................................... 157
14
INTRODUÇÃO
[...]Acidadeseembebecomoumaesponjadessaondaquer efluidas
recordaçõesesedilata...(CALVINO,1990,p.14).
OmergulhonasnarrativasfeitasporMarcoPolo,quandodescreveasváriascidades
visitadas em suas missões diplomáticas a serviço do imperador Kublai Khan, no livro As
cidades invisíveis, de Calvino (1990), suscita no leitor a lembrança das dificu ldades e
semelhançasexistentesnas cidadesinterioranasdasmaislongínquasparagensdoBrasil.
Numadaspassagensdo livro,o narradorcolocaasuapercepçãodassimilitudesentre
ascidadesdescritaspelovenezianoMarcoPoloaoimperadordosTártaros.
KublaiKhanperceberaqueascidadesdeMarcoPoloeramtodasparecidas,
comoseapassagemdeumaparaaoutranãoenvolvesseumaviagem,mas
uma mera troca de elementos. Agora, para cada cidade que Marco lhe
descrevia, a mente do Grande Khan partia por conta própria, e,
desmontando a cidade pedaço por pedaço, ele a reconstruía de outra
maneira, substituindo ingredientes, deslocandoos, invertendoos
(CALVINO,1990,p.43).
Assimcomoascidadesd escritasporMarcoPoloeramdesconhecidaspeloimperador
e precisaram, para se materializar, serem apresentadas pelo narrador para saírem de sua
condição de invisibilidade e terem existência, a presente pesquisa objetiva a reconstrução
históricadasociedadeedaeducaçãoemumacidadedointerior doEstadodoPiauí,Isaías
Coelho, remontando ao tempo da chegada dos prime iros habita ntes, ainda no povoado
Tamboril,em1935,atéoanode1970.Estaéumacidadetambémlongínqua,inexplor adae
invisível.
Comestequadrodesubmersãonainvisibilidade,acidadedeIsaíasCoelhopossuias
suasgrandezas,assuaspeculiaridades,osseusenredos,enfim,asuaHistória.Afinal,segundo
Calvino(1990, p.1415):
15
a cidadenãocontaoseupassado,elacontémcomoaslinhasdamão,escrita
nosângulosdasruas,nasgradesdasjanelas,noscorrimãosdasescadas,nas
antenas dosraraios, nos mastrosdas bandeiras, cada segmentoriscado
porarranhões,serra delas, entalhes,esfoladuras.
AssimcomoaludiuCalvino( 1990),acercadossegmentosriscadosporintermédiode
arranhões,serrade las,entalhes,esfoladuras,otemponãoconseguiuapagardamemóriado
cidadão de Tamborilperíodos que foram tão importantes para cada um dos que tiveram a
oportunidadedevivenciálos.Construiuse,agora,umnovotexto.
Intertextualizandoostraçosdeixadospelotemponogrupo,nasliçõesdeHalbwachs
(1990),comostraçosdeixadospelotemponosângulosdosespaçosdeAscidadesinvisíveis
deCalvino (1990),percebeuseque cadasegmento dacidadeficouregistradopelasmarcasdo
homem.Acadamomentoquesequisesseencontraressasmarcas,bastariaolharosvestígios
presentesnosespaçosdacidade.
Assimcomoascidadesinvisíveisprecisaramsermontadascomoumquebracabeças,
para assumir nova formas, o povoado fo iaos poucostomando novos contor nos atravésda
reescrita efetuada pela memó ria dos velhos habit antes dessa comunidade. Para Rolnik
(2004,p.1617), nacidadeescrita,
odesenhodasruasedascasas,daspraçasedostemplos,alémdecontera
experiência daqueles queosconstruíram, denota oseu mundo. É por isto
que as forma s e tipologias arquitetônicas, desde quando se definiram
enquanto hábitat permanente, podem ser lidas e decifradas, como se lê e
decifraumtexto.
A leitura que este trabalho pode fazer dos espaços e da própria cotidianidade de
Tamboril nos coloca fre nte a um texto que procura elucidar muitos fatos vividos que
ficaramperdidosnotempoeque,agora,buscasedecifrar.
“Acidadeéantesdemaisnadaumímã”, comodizRolnik(2004,p.13),oscidadãos
sãodiariamenteatraídospelosencantosqueelapossui.Ecomoumcampomagnético”,ela
temacapacidadedetatuar na memóriacoletiva não osespaçosrurais ou urbanos, mas,
também,todootecido social,comsuastramas,suasideolog ias,seussímbolos,enfim,todo
aparatoquecercaohomememsociedade.
16
Terrecuperadooprocessohist óricodestepovoado,apartirdasquestõestriviaisdo
diaadiadohomemcomootrabalho,opensamento,acultura,areligiosidade,apotica,a
educaçãoeoutrostornouseimportanteparaainterpretaçãoquesefeznessetrabalho.Embora
reconheçase,nodizerdeDomingues(1996,p.12/13):
rarassãoaspessoasque,caminhandopelasruasantigasdesuacidade,serão
capazes de reconstruir sua história através da observação dos velhos
edifícios que permanecem em pé. Poucos o aqueles que conhecem a
história de sua família, de seus sofrimentos e lutas, de suas derrotas e
vitórias.Maséesseconhecimentodenossoprópriopassadoquesuscitao
desejo de um conhecimento ma is amplo, que nos leve à consciência de
nossopapeldentrodasociedadeemquevivemos.
Comosevê,at ipologiaarquitetônicanosespaçosdacidade“denotaomundo”dos
sujeitos que se encontram inseridos na sociedade. Cada rua, beco, pedras que comem o
caminhoparaosroçadoseaçudes,praças,igreja,escolaedemaisespaço sassumemumvalor
singular.Na localidadeTamboril,osespaçosruraisficarampresentesnamemóriadesdeos
encontros na capela, no juazeiro que servia de ponto para os feira ntes se est abelecerem e
venderem os seus produtos, nos alpendres e salas onde os mestresesco la exerciam o seu
ofício,enfim,e mcadaespaçorural/urbanoficaramasmarcasdessegrupo.Acadadiscurso
coletado nas entrevistas a referência feita a u m tempo onde houve a presença de um
documento/monumento. Discorrendo sobre isto, assim se manifestou Nascimento (2002,
p.172):
as pessoas têm as suas lembranças narradas. Não podemos revivêlas
porquenãocompartilhamosda cidadeporelasdescritas;partilhamossimde
uma cidade onde a relação entre a memória e o esquecimento pode ser
objetivadapormeiodeumdiscurso.Nãopodemosesquec er,entretanto,que
o espaço de uma rua ou de uma praça funcionam como detonadores das
lembranças etambémcomodocumento/monumento.
Os espaços de sociabilidade, os mestresescola, as professoras leigas e as
normalistas serviram como ingredientes para a construção do documento histórico e,
consequentemente, a sua t ransformação em monumentos. Visto assim, a memória coletiva
17
ajudouatrazerelementosqueseencontravamnoesquecimentoecolocouossobreumanova
reescritadopassado.
Ao conceituar o termo monumento como sendo “tudo aquilo que pode evocar o
passado, perpetuar a recordação”, Le Goff (2003,p.526) coloca em pauta uma importante
questãoacercadevaloresprese ntesnumacidadequealémdeterumarepresentatividadepara
o lugar tiveram, também, valores imensuráveis. Ao referir  aos monumentos dest a região,
onde se localizou o município, observouse que eles serviram, ainda, como pontos de
referênciapara uma ligação com outrastantas lembranças do sociale, com isso, ajudou a
nortearareconstruçãoda trajetóriadestepovo. 
Comoumlegadoàmemóriacoletiva”,paraLeGoff(2003,p.526),taismonumentos,
quepassaramparaoplanodocumental,estãointimamenterelacionadoscomcadaindivíduo,
que comungou dos mes mos acontec imentos e souberam compartilhar com as gerações
vindourasépocasdistintasnahistóriasocialdacidadedeI saíasCoelho.
Ancorandoaslembrançasnacidade,ondesepermitiuo seuregist rohistórico,buscou
seo significado de cada pa ssagem do ensino, de uma etapa para outra do  seu processo,
fazendocomquease vidênciassetornassemmaistidas.Umpoucodetudoquefoi extraído
daslembrançaspassouaterumsentindopróprio. AludindoaCalvino(1990,p.79)emumdos
diálogo s dolivroAscidadesinvisíveis,onarradorenfoca que:
MarcoPolodescreve umaponte,pedraporpedra.–Masqualéapedraque
sustentaaponte?–perguntaKublaiKhan.–Apontenãoésustentadapor
est aouaquelapedra–respondeMarco,maspelacurvadoarcoqueestas
formam. Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois
acrescenta:  Por que falar das pedras? Só o arco me interessa. Polo
responde: Sempedrasoarconãoexiste.
A metáfo ra presente nas “pedras da ponte” e no arco que sustentava a ponte” de
Calvino(1990)foramelucidativosparaacompreensãodosentidoquecadafonteteveparaa
construçãodaDissertação.Aoat ravessaracidade,pelaconduçãodostestemunhosvivosda
histór iadeIsaíasCoelho,percebeusequeaspequenascoisastinhamu msentindo muito
grandeparaos seus habitantes. Acreditase que muitos fatostenham sido esque cidos pelos
entrevistados, poisamemóriaéfeitadelembrançaseesquecimentos.
“Lançar uma ponte entre o passado e o presente e rest abelecer essa continuidade
interrompida”,conformea ssinalaHalbwachs(1990,p.81),foiofeitocomtodasasimagensda
18
memória de exalunos, exprofessores e demais pessoas da comunidade que sabem da
importânciadosacontecimentosvividos. Aoterrestabelecido o passado, percebeuse que a
ponte construída”, agora, tem uma representação simbólica muito grande de marcas,
dificuldades,segredos,tempoeducacionalpróprioeque“aspedras”quederamsustentaçãoà
cidade ainda permanecem nos espaços públicos e comungam com o cenário urbano. No
tocanteasimbologiadoarcoquesustentaaponte”,emCalvino(1990),entendesecomoo
toquedohomememmoldaromeioemquevive.Osustentáculoparaqueumacidadese
transforme,ganhenovasformas,novoscontornos,novosrumos,enfim,istofoipossívelser
feito,comapoionasre miniscênciasdohomemqueseestabeleceunestaregião.
É em torno do estudode Heller (1984,p.20), sobre o cotidiano, para quem “a vida
cotidiana nãoestá‘fora’da história,masno‘centro’doacontecerhistórico:éaverdadeira
‘essênciadasubstânciasocial’” que foi possível trazeracotidianidade depessoasco muns
paraot exto.
Entendendo o cotidiano sobre este enfoque tornouse possível o delineamento do
perfil históricoeducacional de Tamboril. E foi com a recuperação de episódios
hetero gêneosemépocasdiferentesque foipossíveltrazer aspráticassociais,dentre elas, a
educaçãoparaocentrodo“acontecerhistórico”.
Com suportenosestudosdeHeller(1984)ocotidianodepessoassimplesdeTamboril
passouaestar nocentrodosgrandesacontecimentoshistóricos.ParaHeller(1984,p.17),
avidacotidianaéavidadohomeminteiro;ouseja,ohomemparticularna
vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua
personalidade. Nela, colocamse em funcionamento” todos os seus
sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades
manipulativas,seussentimentos,paixões,idéias,ideologias.
Notase que ninguém escapa ao cotidiano. O homem na cotidianidade assume
múltiplos papéis na sociedade. Buscouse, no homem de Ta mboril, suas lembra nças do
cotidiano,desuasorigens,davidaprivada,doslocaisdaspráticaseducativas,subsídiospara
que se pudesse compreender o seu tardio encontro com a educação escolar e, bem como,
mostrar elementos que fizeram parte do cenário rural, lembrando que, para Burke ( 1992,
p.11):“todaaatividadehumanainteressaàHistór ia”,ouseja,“tudotemumpassadoquepode
emprincípioserreconstruídoerelacionado aorestantedopassado”.
19
A“históriadavidacotidiana”,també massumeimportâncianosestudosdeBurke
(1992,p.23), paraquem,outrorarejeitadacomotrivial,ahistóriadavidacotidianaéencarada
agora,poralgunshistoriadores,comoaúnicahistóriaverdadeira,ocentroaquetudoomais
deveserrelacionado”.
As raízes educacionais de Isaías Coelho ficaram nas mãos de mestresescola
oriundosdecidadespróximascomoSimplícioMendes,Conceiçãodo Canindédentreoutras
e, também, da própr ia comunidade e da loca lidade Mocambo pertencente ao povoado,
contratadospelosfazendeirosecomerciantesloca isparaaeducaçãodeseusfilhos,emsuas
própriasresidências,semaingerênciadopoderpúblico.Posteriormente,comaimplantação
daEscolaIsoladadeTamboril,aeducaçãoescolarpassouàsmãosdeprofessorasleigas,
contratadaspelapre feituradeSimplícioMendesPi,umavezqueopovoadopertenciaaeste
município.
Os espaços onde foram desenvolvidas as práticas educativas,  tanto nas casas
familiaresimprovisadasparataisatividadesquantonosa lãoescoladepropriedadeprivada do
comerciante Acelino Pinheiro, receberam as marcas e inflncia da sociedade local e a
influenciou.
Evidenciousequeaeducação desenvolvidanopovoadoTamboril,desdeasuagênese,
nãofoia lgofácildentroda conjunturaemqueocorreu,hajavistaasprecáriascondiçõesem
queforamefetuadasasaulas,bemcomoàestruturaruraldomeioonde aeducaçãoencontrou
guarida.Buscouse,assim,oentendimentodo processoeducativoeprocurouseencontraro
quecontribuiuparaolentoetardioencontrodapopulaçãodeTamboril comoensinoprimário
público.
Orecortecronológicoque pontuouapesquisa,paraefeitodaanálise,estendesede
1935a1970.Noanode1935,segundofontesorais,chegouaTamboriloprimeiromestre
escola,posteriormente,outrosmestresescolaforamsendocontratados,expandindo,assim,o
ensino. Oreco rtefinalre fereseao ano de 1970, início dasatividades escolaresdo Grupo
Escolar Daniel Gomes, por simbolizar para o município o seu pr ocesso de consolidação
escolar, com prédio próprio e moderno para os padrões do período, com um quadro de
professores fixos e distribuídos por série, além de com ele, darse início ao processo de
estruturaçãodeumaredeescolar.
Há de se destacar que, embora est e recorte te mporal seja evidenciado como eixo
central dapesquisa,a lguns recuosforamfeitos,duranteapesquisa,nosaspectossociais, uma
vezqueparaexp licarasorigenseducacionais,tevesequ eremeteroolharao anode1877,
20
data dasprimeiras notíciasque setevedopovoamentodeTamboril, empreendido pelo Sr.
DanielGomesPinheiro easuafamília,oriundosdeBrejoSecoCe.
Noquetangeaorecorteespacial,ce ntrouseoobjetodeestudonacidadedeIsaías
CoelhoPi, espaço social marcado pela presença dos mestresescola a  partir de 1935. 
Posteriormente, em 1947, no âmbito do seu pro cesso educacional, estabeleceuse a Escola
IsoladadeTa mboril,conduzidaporumaprofessoranoespaçodasuacasaescola.Em1963,
surgiu a Escola Reunida de Tamboril e, com a consolidação do ensino primário, foi
implantadooGrupoEscolarDanielGomesem1970. 
A escolha da temática da pesquisa justificase pela necessidade de se conhecer e
registraro pro cesso históricodacidadede IsaíasCoelho e, consequentemente, co nhecer as
etapas de formação educacionalde umgrupo populacionalpiauiense. Nessa perspectiva, a
pesquisaidarsuportesparaaHistóriadaEduca çãodoEstadodoPiauíe,emvirtudedisso,
ajudálaamontarummapadesuaeducação.
Procurou sedirecionaraanálisedoobjetopeloviésdaHistóriaNovaquecontribuiu,
comsuaspro postas,noalargamentodasfontesnocampododocumentohistórico,marcando
umaoposiç ãoàhistóriapositivistadoséculoXIX.ComaHistóriaNova,abriuseumleque
de opção  de documentos de todas as variedades possíveis. Isto torna possível reconstruir
determinadotempoeespaçoatravésdamemóriaindividual ecoletivaeencont rararespeito
dotempoeespaçoestudados,vestígiosdiversosdeumadeterminadasociedade.ParaLe Goff
(1998,p.28):
a história nova ampliou o campo do documento histórico; ela substitui a
história[...]fundadaessencialmentenostextos,nodocumentoescrito,por
umahistóriabaseadanumamultiplicidadededocumentos:escritosdetodos
os tipos, documentos figurados, produtos de escava ções arqueológicas,
documentos orais, etc. Uma estatística, uma curva de preços, uma
fotografia,umfilme, ou,para umpassado mais distante,umpólenfóssil,
uma ferramenta, um exvoto o, para a história nova,  documentos de
primeiraordem.
Muitasforamàsdificuldadesparaseencontrarasfontesdocumentaisprimárias,pois
ascondiçõesemqueessasinstituiçõesdeensinofuncionarameramprecáriasenãohouve,na
localidade, preocupação com a conservação de documentos escritos. A par dessa
problemática, recorreuse às fontes orais que deram embasamento para a construção da
Dissertação.
21
Ométododahistóriaoralviabilizouoregistrodosrelatosdessepovo,umavezque
essafavoreceuaentr adaemcenadodiscursodosoprimidos,dosexcluídos, deindivíduosque
ficaramàmargemdasociedade.Estemétodofoibastanteeficaznaconstruçãodahistóriade
Tamboril,poispossibilitourecupera rasreminiscênciasguardadasnamemóriaindividual.
Possibilitou,ainda,darvozàquelesquesilenciosamenteficaramesquecidoseque, agora,
puderamparticipardahistóriaatravésderelatostriviaisdocotidianoedeimagenssoc iaisqu e
impregnaram amemóriado homemdestepovoado.
Foi extraindo, principalmente, das fontes orais, a matér iaprima para se construir a
histór ia, que se processou o alargamento das fontes neste estudo. Isso trouxe, também, a
história para dentro da comunidade propiciando o enco ntro entre gerações diferentes,
fazendo ainda com que não se canonizasse os “líderes do grupo e passasse a incluir, no
processo der econstruçãohistórica,gentesimplesqueesteveàmargemdahistória,masque
deformaalgumadeveriaficarforadela.
Thompson(1992,p.09)defineométododahistóriaoralcomosendo“ainterpretação
dahistóriaedasmutáveissociedadesecu lturasatravésdae scutadaspessoasedoregistrode
suas lembrançase experiências.”Foi com a escuta detestemunhasda história de Tamboril
que se deter acesso a dados de diferentes épocas. Apar dos depoimento s coletados, as
vozes do passado, que se e ncontravam no anonimato puderam ser transfo rmadas em
documentosescritos.
Eisagrandecontribuição da históriaoralemouvira populãomenos favorec ida,
despertando nelas o reconhecimento de seu lugar e de sua importância na comunidade.
SegundoThompson(1992,p.44):
ahistória oraléuma históriaconstruídaemtornodepessoas.Elalançaa
vidaparadentrodaprópriahistóriaeissoalarga seucampodeação.Admite
heróisvindosnãosódentreoslíderes,masdentreamaioriadesconhecida
do povo. Estimula professores e alunos a se tornarem companheiros de
traba lho. Trazahistóriaparadentrodacomunidadee extraiahistóriad e
dentro da c omunidade. Ajudaos menos privilegiados, e especialmente os
idososaconquistardignidadeeautoconfiança.Propicia ocontato–e,pois,
acompreeno–entreclassessociaiseentreger ações.Eparacadaumdos
historiadoreseoutrosquepartilhemdasmesmasintenções,elapodedarum
sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em
suma ,contribuiparaformarsereshumanosmaiscompletos.
22
Combasenoe ntendimentodeT hompson(1992),percebeusequeasnarrativasorais
dos atores sociais deste município tiveram imp ortância no r egistro do passado. Algumas
testemunhas do período em foco trouxeram acontecimentos passados como se, naquele
instante, tivessem assistindo etapa por etapa de sua vida. Alguns até embargaram a voz,
noutros,lembrançaspontuadasdesaudosismos,risos,olhoslacrimejando,reticências,medo,
inquietações, enfim,sentimentososmaisvariadospossíveis.
Foi através das narrativas orais deste povo, que se conseguiu fazer a sua H istória.
Aspectos corriqueiros da cotidianidade, presentes no diaadia do grupo passaram a ter
valo r.Contudo,umadasgr andesvantagensdet ertrabalhadocomométododahistóriaoralé
queaspessoasidosasforampersonagensquecontribuíramcominformaçõestãovaliosasque
semelasnão seteriachegadoatéaconcretizaçãodapesquisa.
Foramemboaparteosidososdestacomunidadequetrouxeramassuasvid asparao
centrodosacontecimentose,comisso ,contribuíramparaquehouvesseumaligação entreo
velhoeonovo.Nest aconexãoentrepassadoepresenteteveseadevidacaut elaparaquenão
se invadisse abrupt amente os tempos particu lare s.  Pois, sabiase que estavam em jogo os
valo res, os princípios, os sentimentos, as angústias, as dores, as tristezas, os co stumes das
vidas que surgiam ao s poucos e, ao mesmo tempo, desapareciam durante os inúmeros
depoimentoscoletados,tantoosinformaisquantoosformais.
Observousequeacidadeseencontraimpregnadademarcasdeixadaspelohomemem
cadacontorno.Vistadestaforma,acidadeescritaéumdocumentovivoquesetransforma,
se movimenta, se oculta, que tem os seus mistérios guardados consigo, que co nta o seu
passadoetemacapacidadedeatrairaspe ssoaspara juntodela.Poisacidade,assimcomo
deixaemseusângulosos“arranhões”,“serradelas”,“ent alhes”,“esfoladuras”,nohomemda
localidadeTamboriledepoisIsaíasCoelhonãofoidiferente.
Este homem foi capaz de modificar o meio e, ao mesmo tempo, sofrer as suas
influências.Emmeioàsentrevistas,percebeuseque,comasreminiscênciasqueemergiama
cada resposta dada, foi como se abrisse uma fissura e, mostrasse, em alguns momentos o
homem/cidade.
Thompson( 1992,p.337),dissertando,ainda,sobreométododahistóriaoralcolocou
as testemunhasdahistórianãomaiscomosujeitospassivosperanteosacontecimentos,mas
agentes históricos participativos do  seu próprio pro cesso. Assim, para ele, “a história oral
devolveahistóriaàspessoasemsuasprópriaspalavras.Eao lhesdarumpassado,ajudaas
tambémacaminharparaumfuturoconstrdoporelasmesmas.”
23
Utilizouse,também,como suporte teór icoas liçõesdeSharpe(1992), emtornoda
“históriavistadebaixo”.Vêdebaixojápo ssibilitaumaleituracomparativacomalgoquese
encontra num ponto superior e, neste caso, o que foi posto em evidência e acatado co mo
instru mentoparanortearapesquisaseconce ntrana históriadepessoas comuns.Estassim,
esclareceramaomododelasaslacunaseossilênciosqueodiscurso oficial,centradonavida
pública, oriundo dos gabinetes não conseguiu elucidar. Ter tido uma compreensão mais
aguçadaatravés da história deste povo foi uma conquista bastante significativa. Conforme
Sharpe(1992,p.5354),“ahistóriavistadebaixoabreumaposs ibilidadedeumasíntesemais
rica da compr eensão histórica, de u ma fusão da história da experiência do cotidiano das
pessoascomatemáticadostiposmaistradicionaisdahistória”.
Ahistó riavistadebaixoéumasubversãoàordemdodiscursodominante. Ro mpe
seaordemestabelecidapelatradiçãohistórica,centradanavisão“decima”.Comavisãode
baixo”, chamada também de “porãosótão” da sociedade, viabiliza a possibilidade de
esclarecer, como diz Sharpe (1992,p.59), “histórias mortas e condenadas a permanecer na
escuridão”.Aodiscorrersobreahistóriavistadebaixo,emqueamesmapermite,ainda,que
umgruposereconhacomoatoresprincipaisdasuahistória,Sharpe(1992,p.59)assimse
manifesta:
aquelesqueescrevemahistóriavistadebaixonãoapenasproporcionaram
um campo de trabalho que nos permite conhec er mais sobre o passado:
também tornaram claro que existe muito mais, que grande parte de seus
segredos, que poderiam ser conhecidos, ainda eso encobertos por
evidênciasinexploradas.Dessemodo,ahistóriavistadebaixomantémsua
aurasubversiva.
Buscar as evidências inexploradas” foi o feito durante as pesquisas r ealizadas.
Procurou,assim,todasasevidênciashistóricaspresentesnocotidianoenosespaçospúblicos
isaiascoelhenses. E, com isto, permitiuse que  se lançassem para dentro da história
acontecimentos que o discurso oficial jamais iria acatar. Os suportes da “história vista de
baixo” deu para aqueles que viveram nas sombras da história e que “sofreram privações”
sociais,ecomicaseeducac ionais,odireitodepo dersairdoanonimatoeocuparemoseu
lugarnahistór ia.
CombasenaleituradeSharpe(1992),foipossívelconhecerasociedadeeoprocesso
peloqualpassouohomemdeTamborile,també m,traçarahistóriadaeducaçãolocalde
24
1935a1970.Foramexprofessoreseexalunosquepossibilitaram,comseusdepoimentos,a
reconstrução destahistória.ConformeSharpe(1992,p.59):
a importância da história vista de baixo é mais profunda do que apenas
propiciaraoshistoriadoresumaoportunidadeparamostrarqueelespodem
ser imaginativos e inovadores. Ela proporciona também um meio para
reintegrar sua história aos grupos sociais que podem ter pensado têla
perdido,ouquenemtinhamconhecimentodaexistênciadesuahist ória.
Assim, foi possível perceber que o homem desse povoado desempenhou um
importante papel na sociedade e na história da educação da cidade, pois conforme Sharpe
(1992,p.60),“[...]osmembrosdasclasses inferior es foramagentes, cujasaçõesafetaram o
mundo(àsvezeslimitados)emqueelesviviam”.
“Cada geração tem,  de sua cidade, a memória de acontecimentos que permanecem
como pontos de demarcação em uma história, como afirma Bosi (1994,p.418), assim,
buscouse nas etapas da construção histórica do povoado Tamboril o conhecimento e a
compreensãodosaspectossociais,políticos,econômicoseeducacionaisvividosdesdeas
primeirasdécadasdoséculoXXatémeadosde1970.
O estudo da memória ajudou a [... ] registrar a voz e, atr avés dela, a vida e o
pensamentodeseresquejátrabalharamporseuscontemporâneosepornós”,conformeBosi
(1994,p.37).Écomestaafirmativaquesepôdeper ceberqueasvozesesquecidasdopovoado
e da cidade não  ficaram soterradas pelo tempo,as lembranças registradasna memória dos
maisvelhosdestegr upoadquirira masuaalforriaeentraramparaumdestaquenahistór ia.
Oportunizouse,comisso,visualizarcomoseformoueseestruturoucadaperíodo
do processo  histórico e educacional. Assim, fo i possível captar, de cada geração, além do
modus vivendi os lentos passos pelo qual passou a educação local até a consolidação do
ensinoprimáriopúblico.
Para que a sociedade de Tamboril pudesse ser mais bem explicada, usouse da
memória coletiva des se grupo, para com isso, salvaguardar o seu passado e, sobretudo,
reveláloàsgeraçõespresentesefuturas.ParaLeGoff( 2003,p.469):
a memória coletiva é não somente uma conquista; é também um
instrumentoeumobjetodepoder.Sã oa ssociedadescujamemóriasocialé,
25
sobretudo,oral,ouqueestãoemviasdeconstituirnumamemóriacoletiva
escrita,aquelasquemelhorpermitemcompreenderestalutapeladominação
darecordaçãoedatradição,estamanifestaçãodamemória.
Amemóriacoletivafazpartedetodososgrupossociais,sejamelesdesenvolvidosou
emviasdedesenvolvimentoe,comoobjeto depoder,foicapazdeesclarecerpontosobscuros,
osvazioshistóricos,no tocanteàssuasorigensetodooesclarecimentosobreamaneira como
sedeuaeducação,queodiscursoo ficialnãoconseguiuesc lare cercomtamanhaprecisão.
Comosepercebe,atravésdamemóriadeumpovo,opassadopodeserrecriado.Àluz
disto, Bosi( 1994,p.90)assimseposiciona:
a meria é a faculdade épica por excelência. Não se pode perder, no
desertodostempos,umasógotadaáguairisadaque,nômades,passamosdo
côncavo deu maparaoutra.Ahistóriadevereproduzirsedegeraçãopara
geraçã o,gerarmuitasoutras,cujosfiossecruzam, prolongandoooriginal,
puxadosporoutrosdedos.
Oestudodamemóriarevelounosaimportânciadosfatospassadosqueumageração
vivenciou.Taisfatostrouxeramems inarrativasoraisqueforamtecidastalqualumateia.E
foi este tecido social que se compactou em meio às dificuldades, aos conflitos sociais, à
própriasituação emqueseencontravaomeio ondesesituouohomemdestacomunidade,na
microrr egião do Alto Médio Canindé; e que conseguiu trazer com o apoio na memória a
matériaprimaparaamontagemdasuaHistória.
Resistiràsmudançastemporaise,assim,transmitiroenredohistóricoaumanova
geraçãotalvezpossaseragrandepreocupaçãoemtornodamemória.Entretanto,nãohácomo
senegarquemesmoporser“mutávelesofrervariaçõesquevãodaênfaseedaent onaçãoa
silêncios e disfarces”, conforme assinala Meihy (2002,p.52), os atores sociais de Isaías
Coelho poss ibilitaram, com as entrevistas dadas, a consubstanciação dos relatos em
documento.
Dar sentido a ordemsocial vigente”, no perío do em estudo, conformeCruikshank
(2001,p.153),foiapreocupaçãoquepermeoua pesquisa.Bu scouserestauraropassadode
umacidade.Não opassadoindividual de um int egrant e destegrupo,mas, sobretudo,desta
individualidade em relação aos outros e a pró pria cidade como um todo. Foi com este
26
conjunto que a D issertação ganhou corpo. Vale dest acar que não se privilegiou nenhum
membrodestegrupoparaseencontrarempresentesaotexto,porquestõespoticopartidárias,
ideológicasouporafinidades.
Combasenestabuscadefatospassadosconseguiusedarsentidoamuitasquestões
do diaadia que o homemdesta comunidade não tinha como desvendar, mas que, agora,
munidodetodososlevantamentosfeitoscomapesquisa,teráum materialqueo ajudará a
explicaromotivodes eencontrar,ainda,emmeioàsmuitasdificuldadesnoquedizre speito
aosocial,aopolítico,aoeconômicoeaoeducacional.
Duranteoperíododelimitadoparaapesquisa,1935a1970,aspessoasdacomunidade
foram capazes de revelar, através da memória, os processos de transformação que a
sociedadepassoue,também,t rouxeramvestígiosdeumtempolo ngínquo.Essestraços,ora
relatados pelos entrevistados, ainda estão presentes na loca lidade, desde os aspecto s
arquitetônicos, que ainda convivem no presente, at é à sua cotidianidade. Conforme afirma
Halbwachs(1990,p.127):
assim quando numa sociedade que setransformou subsistem vestígios de
queexistiaantes,aquelesqueaconheceramemseuesta doprimeiropodem
tambémdetersuaatençãosobreessestraçosantigosquelhesdãoacessoa
umoutrotempoeaumoutropassado.Poucassãoassociedadesnasquais
tenhamos vivido,seja em que tempo for que não subsistam, ou que pelo
menos não tenham deixado algum traço de si mesmas nos grupos mais
recentesondeestamosmergulhados:asubsistênciadessestraçosbastapara
explicarapermanênc iaeacontinuidadedoprópriotemponestasociedade
antiga,equ enossejapossível,aqualquermomento,nelapenetraratravés
dopensamento.
“Conservaropassadodentrodopresenteouint roduz iropresentenopassado”, como
diz Halbwachs ( 1990,p.88), foi o fe ito nas entrevistas que envolveram os participantes da
histór ia da educação isaiascoelhense, do período em foco. Para isso, somente a memória
marcadapelotempovividoconseguiuestabelecerumquadrodeanalogias,poisamemória
coletivadepessoasdacomunidadeisaiascoelhenseresgatoudointeriordogrupoeexplicitou
osfatospassadose,àsvezes,amesmamemóriafoicapazdeocultarascoisasquedeveriam
tersidoreveladas,noentanto,ficaramporserditas.ParaHalbwachs(1990, p.88):
27
amemóriacoletiva[...]é ogrupovistodedentro,eduranteumperíodoque
nãoultrapassaaduraçãomédia davidahumana,quelheé,frequentemente,
bem inferior. Ela apresenta ao grupo um quadro de si mesmo que, sem
dúvida,sedesenrolanotempo,já quesetratade seupassado, mas detal
maneiraqueelesereconhecesempredentrodessasimagenssucessivas.A
memóriacoletivaéumquadrodeanalogias,eénaturalque elaseconvença
queogrupopermanece,epermaneceumesmo,porqueelafixasuaatenção
sobreogrupo,eoquemu dou,foramasrelaçõesouc ontatosdogrupocom
osoutros.
Vêo grupo dedentro”.Isto só foipossíveldevido aosregistrosque a memóriase
encarregou de fazer. As imagens da sociedade que se desenharam nos espaços blicos
duranteépo casdiferentesatravessaramacidade e,assim, pôde ser montado um qu adrode
particularidades, com caract erísticas pró prias, do meio em que se encontra localizada.
Somenteoindivíduoquepercorreuestesespaços, tantopúblicosquantoprivados,foicapazde
sereconhecerenquantointegrantedaquelaestruturasocial.
Afora o conhecimento da sociedade como umtodo, a pesquisa ce ntra seu olhar na
educação empreendida em Tamboril, seus espaços e seus agentes. E é nesse lócus onde a
memóriacoletiva guarda ascenas do cotidiano vivido no interio r da escola, bem como os
aspecto s evidenciadospelacultur aescolar.
Apresençadeuma escolaemqu alquercomunidadeporsisó já representa um
documento.Mesmoquetodososregistrosdocumentadosetodososmó veispertencentesa
ela fossemdestruídos,ter seia como efetuaroregistro atravésda memóriacoletiva de ex
alunos e exprofessores. Éoqueseefetivanapresente pesquisa.Como não havia maisos
espaço s escolares, onde foram realizadas as aulas, no antigo povoado, recorreuse aos
indivíduos deste grupo para que fosse feito a montagem de todo o aparato histór ico e
educacional.
Muitos fatos transcorridos no espaço da casaescola, do salãoescola e do Grupo
EscolarDanielGomesficaramesquecidosnotempo.Algunsdelesforamdestruídose,com
isso,asfontesdocumentaisdoperíodoemestudofo ra mtornadasletr asmortas.Felizmente,
pôdeserecorreràspessoasquevivenciaramessesespaços/tempoescolaresparareconstruir,
atravésdamemóriacoletiva,oregistrodefatospassado s. 
Sabesequeamemóriaco letivadessacomunidadesedesenvolveuemumespaçoe
que a mente humana foi capaz de guardar, às vezes, nos nimos detalhes, as tão ricas
memórias.SegundoHalbwachs(1990,p.143):
28
assim, não há memória coletiva que o se desenvolva num quadro
espacial. Ora, o espaço é uma realidade que dura: nossas impressões se
sucedem, uma à outra, nada permanece em nosso espírito, e não seria
possível compreender quepudéssemos recuperar o passado,  se ele nãose
conservasse,comefeito,nomeiomaterialquenoscerca.Ésobreoespaço,
sobreonossoespaço –aquelequeocupamosporonde semprepassamos,ao
qual sempre temos acesso, e que em todo o caso, nossa imaginação ou
nossopensamento éacadamoment ocapazdereconstruir–que devemos
voltarnossaatenção;ésobreelequenossopensamentodevesefixar,para
quereapareçaestaouaquelacategoriadelembranças.
PercebeseemHalbwachs(1990)anecessidadedepreservaçãodosespaços,poiseles
sãoosdetonadoresdaslembranças.Otempofazcomqueaslembrançasreg istradaspela
memóriaindividual,ema lgunsmomento s seapaguem.Emváriosmomentos, osentrevistados
deIsaíasCoelhofizera malusãoaumfatomarcanteeaosespaçospúblicosparae xtraíremas
reminiscênciasqueestavamsendoesquecidas pelamemória.
Para Ha lbwachs (1990), a memória é, por excelência, coletiva e tem por  base
resguardaracontinui dadehistóricapresenteemcadatempo.Assim,comoumfiocondutor
de lembranças, ela permitiu a resistência de elementos que se formaram no bojo dessa
estrutura acentuada por aspectos tipicamente rurais. Tais elementos como a tradição, os
costumeslocaisetodososarranjo smateriaisquederamcorpoaopovoadoeàcidadeserviram
como bússolaatravés dos quais foipossívelo encontro coma matriz, ondetudo começou.
Combasenisso, Halbwachs(1990,p.137),assimseposicionou:
as pedras e os materiais não vos resistiram. Mas os grupos resistirão, e,
deles, é com a própria resistência, senão das pedras, pelo menos de seus
antigosarranjosnaqualvosesbarreis.[...]Oqueumgrupofez,umoutro
podedesfazêlo.Masodesígniodosantigoshomenstomoucorpodentrode
umarranjo material, quer dizer deuma coisa, ea força da tradição local
veiodacoisa,daqualeraaimagem.
Notase,atravésdofragmento,quemesmo sendobanidosdocenáriodeuma cidade
todas “as pedras e os materiais” simbolicamente aludidos por Halbwachs (1990), terseía
comodarprolongamentoàsuahistó ria,devidoacoisasqueseformaramatravésdaação
dogrupo,quemoldaramaoseuestilo,todososelementosquelhesserviramcomobasepara
asuaformaçãohumanaecultural.
29
Muitaslembrançasdostemposvividosvieramcomrapidez,outrastantas,nãoforam
possíve isconservar,talvezotempotenhaajudadoaapagarou,quemsabe,comobemilustra
Pollak(1989,p.6),aorelatarsobreaexistência,namemóriade“zonasdesombra,silêncios,
nãoditos”a[...]angústiadenãoencontrarumaescrita,deserpunidoporaquiloquesediz,
ou,aomenos,deseexpora male ntendidos.”Eé,porisso,quenotranscorrerdapesquisa
puderamserusadastodasasfontes,oraiseescritas,métodoseteoriasparaseaproximar
dasverdadeshistóricas.Verdadesessasindispensáveisparaquerompessecomosobstáculos
dos nãoditos,dossilêncios,dasdúvidasedaslacunas.
ParaFélix(1998,p.45),intertextualizandoasliçõesdePollak(1989)eacalourandoa
discussão,assimsemanifesta:
est udarmemória,entretanto,éfalarnãoapenasdevidaedeperpetuaçãoda
vidaatravésdahistória;éfalar,também,deseureverso,doesquecimento,
dossilêncios,dosnãoditos,e,ainda,deumaformaintermediáriaqueéa
permanênciadememóriassubt errâneas entreoesquecimentoeamemória
social. E, no campo das memórias subterrâneas, é falar também nas
memórias dos excluídos, daqueles que a  fronteira do poder lançou à
marginalidadedahistória,aumoutrotipo deesquecimentoa oretirarlheso
espaço oficial ou regu lar da manifestaçã o do direito à fala e ao
reconhecimentodapresençasocia l.
Em alusãoaosindivíduosquefizerampartedasociedadedeTamboril,observouse,
contudo,queoseudiscursotidoanteriormentecomosendomarginalizadoocupa,agora,
umlugarprivilegiadonaHistór ia,hajavistaque  aeles foi negado pelaordem do discurso
oficialod ireitoàvoz.Percebese,agora,comaconstruçãohistóricaqueesteindivíduosaiu
da condição de porão social da marg inalidade e foi dado a eles o dire ito de contar a sua
própriaH istória.
UmadaspropostasquefoiabsolvidadeCalvino(1990,p.107108)foiavisibilidade
quetrazemsi“acapac idadederemfo covisõesdeolhosfechados,defazerbrotarcorese
formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de
pensarporimagens.”
É neste “pensar por imagens” que as narrativas fe itas conseguiram dar mais
visibilidade a cada etapa do processo histórico e educacional de Tamboril. Vêse que o
povoado saiu do estado de invisibilidade e se materializou através das lembranças, das
30
fotografias,diáriosdeclasseedoslivrosquefizeramosespaçosescolaress etransformarem
emrepartiçõespúblicaseespaçosefetivosparasuaspráticaspedagógicas.
Aadoçãodahistóriaoralcontribuipara quehouvesseumencontroentreopassadono
povoado Tamboril com imagens tipicamente rurais e o presente marcado pelos aspectos
urbanos. Neste encontro entre gerações tornouse possível compreender os porquês do  seu
estado atual.  Mas isto somente se concretizou devido ao s relatos de pessoas idosas da
comunidadeque deram informaçõesdetempo s longínquos e, com isso, viabilizou extrair a
histór iadedentrodapró prialocalidade.
ParachegaràproduçãodaDissertação,precisousepassarporváriasetapas.Apriori,
foifeitoumlevantamentodetodasasnotíciasacercadopovoamentoondeselocalizoua
cidade de Isaías Coelho, na região de Altos Piauí e Canindé. Para tanto, ut ilizouse de
conversasinformais,compessoasqueviveramoperíododeincidênciadoobjetodepesquisa.
Emseguida,foramfeitososregistrosdetodososdiálogosemfichasmanuais.
Neste momento da pesquisa tevese um panorama geral de como ocorreram as
primeiras marcas históricase  educacionais.Para checaras marcasdopassado, verificouse
nos espaços da cidade se havia algo que comprovasse a veracidade dos dados coletados.
Foram encontrados escombros da antiga capela, que segundo relatos orais, havia sido
construídapelo primeirohabitantequeseestabeleceunessasterras,noanode1888.Outras
averiguações foram feitas com o fito de se chegar às verdades históricas. Procuraramse,
assim,o utrosespaçosdesociabilidadee,paraisso,encontrouseojuazeiro,árvorequeserviu
delocalparaaprimeirafeira,noanode1947.
Emumasegundaetapa,procedeuseàsentrevistas,comperguntassimplesediretas,
envolvendo todos os aspectos da sociedade. Procurousedeixar os entrevistados à vontade
paraquenão sesentissemin ibidoscomo gravador.ParaThompson(1992,p.254):
serb emsucedidoaoentrevistarexigehabilidade. Porém,hámuitosestilos
diferentes de entrevistas, que vão desde a que se faz sob a forma de
conversa amigável e informal até o estilo mais formal e controlado de
perguntas,eobomentrevistadoracabapordesenvolverumavariedadedo
todo que,paraele,produz osmelhores resultadoseseharmonizaco m
suapersonalidade.
Posteriormente, foram feitas as transcrições das entrevistas seguidas da
interpretação das mesmas, cruzandoas e pr oblematizandoas com as fontes documentais
31
disponíveise,aomesmotempo,dialogandocomosteóricosparaquesepudessealcançaros
objetivostraçados durantetodooprocessodeprodução.
Durante o desenvolvimento da pesquisa rias fontes foram utilizadas, a lém das
fontesorais,paraummelhorentendimentodasociedadeedoprocessoeducacional.Desdea
documentação preservada no Arquivo Público Estadual Casa Anísio Brito, como o Diário
Oficial onde se publicou a emancipação do município, at é à documentação encontrada no
GrupoEscolarDanielGomes.
No Grupo Escolar Daniel Gomes, foram encontrados os Livros de Registro de
Matrículade1947a1968eode1969a1970,oLivrodeRegistrodeFreqüênciaDiária,o
Livr odePrestaçãodeContaseoLivrodeRegistrodePonto.
Além dessas fontes, utilizouse de textos existentes acerca dos municípios
piauienses.For amutilizados,também,livrosdalit eraturabrasileiraeestrangeiraefoto grafias
dearquivosparticulares.ConformeLopes(2001,p.81),
a história se faz a  partir de qualquer traço ou vestígio deixado pelas
sociedades passadas e que, em muitos casos, as fontes oficiais o
insuficientes para compreender aspectos fundamentais: é difícil, por
exemplo, senão impossível, penetrar no cotidiano da escola de outras
épocas somente através de legislação ou de relatórios escritos por
autoridadesdoensino.
Comestasafirmaçõesqu ebraseofetichedadoaodocumentoescrito,poisomesmo
por si só não diz tudo acerca do objeto pesquisado, necessitouse, no entanto, ampliar as
fontes para que houvesse uma melhor interpretação da rea lidade e m que o cidadão se
encontrava inserido.Paratanto,usousedo método da histór iaoral uma vezquenãohavia
registrodessepovoe,também,aspectosdaculturaescolardesenvolvidosduranteoprocesso
educacional.
Amparando senasfontes,foramfeito s ocruzamentoeaproblematização dasmesmas,
evidenciando,comisso,umaalisecríticadomaterialcoletado,ratificandoopensamentode
Lopes(2001,p.93),paraquem,
ocruzamentoeconfrontodasfontespoderátambémajudarnocontroleda
subjetividade do pesquisador. É uma operação indispenvel. (...)
problematizar o problema à luz da literatura que ele é pertinente, propor
32
questões, buscar as fontes, rever a literatura diante dos dados obtidos,
checar asquestõesereformulalasseforocaso,voltaràsfontesaquese
esgotemoproblemaeasfontes.
Durante o processo de feitura do texto foram feitas as checagem tanto do material
encontrado no Grupo Escola r Daniel Gomes quanto das narrativas orais para que
houvesse,nãoumacompr eensãodosfatos,mas,também,oqueanarrativadeveriacont er,
a exatidão, que para Calvino (1990,p.71) é dentre outros “a evocação de imagens visuais
tidas,incisivas,memoráveis.”Constatou sequeestapropostaficoubemdelineadanocor po
daDissertação,poishámúltiplasimagensquesecorporificou comasleiturasfeitas.
ADisse rtaçãoencontrasedivididaemquatrocapítulos inc luindo, ainda, umaparte
introdutória e uma conclusiva. Na introdução procurouse apresentar a cidade e, assim,
mostrarqueemboraestemunicípioseencontresituadolongedodiscursooficialdoEstado,
possuiasuaHistória.Emborativessesidonegadoaelesodireitodevisibilidade,apesquisa
procurousedirecionarnosentidodemater ializála.Enfocouse,também, apro blemáticaeo
objetivo do estudo, os espaços em que foramdesenvolvidas as práticas educativa s.  Foram
feitos levantamentos no tocante aos recortes temporais e cronológicos, apresentaramse os
teóricos que deram suportes para analisar a pesquisa como um todo. Enfim, procurouse
nortear a pesquisa baseando no método da história oral que foi o viéis de melhor
direcionamento.Abordousesobreasfontesdocumentaisqueserviramparadarembasamento
e solidificar o trabalho, localizadas no Arquivo Público do Estado, no arquivo do Grupo
EscolarDanielGomesdeIsaiasCoelho enosarquivosparticulares.
Noprimei rocapítulo,abordouseasociedadedeTa mborilcomseusaspectosrurais,
naprimeirametadedoséculoXX.Oestudofeitoprocurouevidenciaraspectoslocaisparaque
houvesseumamelhorcompreensãodoensinoruralneleinserido.Par atanto,reco nstituiuseo
modelo da vida dos primeiros habitantes do povoado Tamboril que influenciou o modelo
educacionalpraticadopelo s primeiroseducadores.
Registrouse o cotidiano de pessoas simples de Tamborile, depois da emancipação
política, da cidade de Isaías Coelho. Foi com base na cotidianidade que se de extrair
aspecto speculiaresdavidadiáriapresentesemcadacidadãoquepercorr euosespaçosdesta
cidade. Foram enfocados, ainda, os espaços blicos que serviram como “detonadores das
lembranças” para os atores sociais. A prese nça da feira que fez com que houvesse um
aceleramentonoprocessodeurbanização.
33
Abordouse,também,queacidadedeIsaíasCoelhosurgiucomoum novodiscurso,
voltadaparaaredefiniçãodoscontornosurbanos,paraacriação deinstituições públicas,para
achegadadenovosprofessorese,enfim,paraasuamodernização.
Em seguida, no segundo capítulo, abordouse a trajetória do mestr eescola, de
PortugalaoBrasil,comenfoqueemsua pre sençanopovoadoTamboril. Emcadaparagemas
marcasdestehomemescolaqueimplantouummo delodeprofessorlocaleintro duziuum tipo
deculturaescolar.EmTamborilregistrouseapresençadosmestresescolanaprimeiraetapa
daeducaçãodopovoado,entreos anosde1935a1966,ondesetraçaoperfildesseeducador ,
o seu método de ensino, o uso da palmatória, enfim, toda a cultura escolar desenvolvida
duranteasuapr áticaescolaremTambor il.
No terceiro capítulo enfocouse o período compreendido entre o s anos de 1947 a
1970, onde se dá o ensino primário blico. Registrouse a presença da casaescola
improvisadadaprofessoraLusiaReisSantos,nocenárioruraldeTamboril.Foinest acasa
escola so b a denominação Escola Isolada de Tamboril, com um caráter unidocent e e
multisseriado, queocorreramosprimeirospassosparaaampliaçãodoacessoaoensino.Há
deseregistrarquenestaescolaaprofessoratentavaconciliarosafazeresdomésticoscoma
docência.
Comaimplantaçãodaescolanacasadaprofessoraaospoucosademandadealunos
foi au mentando. O espaço da sala de au la que foi reservado para as atividades escolares
abraçou não só alunos do povoado, mas também alunos das localidades Carreiras, Lages,
Tabuleirinho,Poções,Casasvelha,Jenipapeiro,Simõesdentreoutras.
Aseguir,alugouseumsalão,nocentrodeTamboril,depropriedadedocomerciante
AcelinoPinheiro.ComaemancipaçãopolíticadeIsaíasCoelhoem1963,aEscolaIsoladade
Tamboril foi elevada à categoria de Escola Reunida M oura . As professoras que
ingressaram no salãoescola foramElisaCo elho Mauriz, Odo ricaCarvalho, MariaDelzuita
AndradedeSousaeMariaVilaniPinheiro.
Finalmente, no capítulo quarto, analisouse o Grupo Escolar Daniel Gomes, no
cenário urbanístico da cidade de Isaías CoelhoPi, onde se enfocou a sua origem, a
caracterização do espaço, as práticas pedagógicas e a cultura escolar nele praticadas.
Evidenciouse, neste novo espaço, a consolidação do ensino primário público. Este novo
modelodeinstituiçãoescolartrouxeparaacidadeaspectosdemodernização,hajavistaque,
agora, terseia uma arquitetura adequada ao espaço urbano.  Com esta nova estrutura
necessitouse de uma ampliação no corpo docente e, consequentemente, a contratação de
funcionáriosparaocorpotécnico.Oquadrodeprofessoresfoicomposto,no início,po rMaria
34
DelzuitaAndradedeSo usaMarques,MariaDoraliceVieira Moura,Maria VilaniPinheiroe
MariadoCarmoFialho,primeiranormalistaaensinarnac idade,or iundadePicosPi.
Na conclusão, foram feita s as considerações em torno da sociedade e do modelo
escolarimplantadonestacidade. Encontraram se,assim,asrespostassuf icientesparamostrar
queestepovo,mesmovivendonacontramãodoprogresso,vivenciouetapasimportantíssimas
na sua construção histórica. Foram dados enfoques nas três categorias da docência
presenciadosnosespaçosescolarescomoomestreescola,aprofessoraleigaeaprofessora
normalista.
Sintetizouse a conjuntura social em que o homem da cidade de Isaías Coelho
encontravase inserido. Foram feitos enfoques do descaso do poder público para com as
cidades interioranas do Estado do Piauí. Foram abordadas, também, as deficiênc ias e as
lacunas que os espaços escolares deixaram nos exalunos. Registrouse o propósito a que
haviachegadoapesquisade(re)interpretaçãodarealidadesocialeeducacionale,assim,fazer
comqueseentendaecompreendao quantofoidifícilsolidificaroensinopúblico.
35
1. DOPOVOADOÀCIDADE:ANTECEDENTESHISTÓRICOS(18771970)
Contarémuito,muitodificultoso.opelosanosquesejápassaram.Mas
pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balancê de se
remexerem dos lugares. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido?
Agora, acho que nem não. São tantas horas de pessoas, tantas coisas em
tantostempos,tudomiúdorecruzado.(ROSA,1986,p.159)
1.1. A gênesedopovoadoTamboril
Asprimeirasnotíciasacercadopovoame ntonacidadedeIsaíasCoelho¹remontamà
segunda metade do século XIX, ao ano de 1877, quando chegam à microrregião do Alto
MédioCanindéoSr.DanielGomesP inheiroesuafamília,oriundosdeBrejo Seco,noCeará.
Comapermanêncianessalocalidadeeodesejodeestabelecersedefinitivamente,em
1888,DanielGomesPinheirosentiuanecessidadedealiconstr uirumacapela.Próximoaos
Talhados²,foiedificadootemploondeosseusfamiliaresfaziamsuasorações.Comavinda
de novas famílias para o povoado Tamboril³, a comunidade local resolveu escolher para
padroeiraNossaSenhoraSantana.Segundoosr.Joaqu imPereiraRocha(30.08.2005),
_______________
¹NomedadoaopovoadoTamborildepoisdesera lçadoacondiçãodemu nicípioatrasdaLei2.549
de 09 de dezembro de 1963, em homenagem ao Dr. Isaías Rodrigues Coelho (18901960). A
instalaçãosedeu em19 deabril de1964,comapossedoprimeiroprefeito,NelsonLopes Buenos
Aires.
²Local,nopovoado,ondesesituavamospoçosdeáguaqueosfamiliaresusavamtantoparabebere
colocar na comida como para lavar roupas. No povoado Tamboril existiam vários talhados,
despenhadeiros pedregosos muito altos. Naquelas pedras lisas e disformes era o local onde as
mulheres batiam as roupas e colocavamnas no quoradouro, em meio aos garranchos que se
encrostavamnaspedras.Eracor rente,nessalocalidade,queasmelhoreseasmaisdoceságuasdesse
povoadoest avamnostalha dos.
³Nomedadoà cidadedeIsaíasCoelhoquandonelaseestabeleceramoSr.DanielGomesPinheirocom
asuafamília.Conformerelatosdessacomunidade,onomeTamborilfoiumahomenagemqueDaniel
GomesPinheirofezaumafrondosaárvorequenasceuemsuapropriedadeemBrejoSecoCe.
36
[...] essa capela era no pé dos talhados. Ainda hoje tem uns restos de
paredes.[...]Temumcemitériopróximoàcapelaeagentefreqüentavaesta
capela nos novenários. Os encarregados dessa igreja era o sr. Henrique
Pinheiro com Dona Mariana. E tinha os filhos, a Donona, a Ternura. E
ainda hoje existe os familiares desse povo. [...] Quem tinha a chave da
capelaeraDonaMariana.[...]ostrabalhoseramdirigidosporelesmesmos.
[...]depoisfoiquecomodecorrerdotempovinhamospadresefaziamas
reuniõescomopovoeaífoicriadoosdirigentesdecelebraçãoecontinuou
aindanaserasde1960.[...]Eunãoseiprecisamenteoprimeiropadreque
celebrouu mamissanessacapela,masseiquequandoeuchegueiaquidava
assistência o cônego Antônio C ardoso. Ele morava em Oeiras e vinha
celebraraqui.Depoisforamoutrospadres.Quandoseinstalouanovaigreja
tinha o padre Raimundo F rota que foi quem lançou a  pedra fundamental
dessanovaigreja.Eleeracearense.
Aofalarsobreacapelalocal,donaHelenaPinheiro,naturaldeIsaíasCoelho,lembrou
aspeculiaridadesdotemploeocostumedoshabitantesnosdiasdecelebrações.Conformea
donaHelenaPinheiro(10. 07.2005):
a capela foi construída em 1888, por Daniel Gomes Pinheiro. [...].Ana
Gomes Pinheiro eMarianaPinheirocuidaram dacapela.[...].De frente
tinha três portinhas, na lateral duas janelas e uma porta, [...] era no
cimento.[... ]Noaltarer asenhoraSantanaeSãoJoaquim.Emépocade
festacadaumlevavasuacadeirinha.otinhabanco;nãotinhabancada.
VinhaospadresdeSimplícioMendesparacelebrarmissaemTamboril,
nacapelinha.Vinhaumavezpora no.[...]PadreCardosoepadr eSilva.
Muitosanos!!!.Nafrentedaca pelaexistiaocruzeiro.Sótinhamissauma
vezporano.[...]Duranteasemana,atiaMarianaabriaacapelaparaos
terços das 6:00 horas. Tinha os dias do teo. De preferência era aos
domingos.
Nosdoisfragmentosdas narrativasorais,notocanteaosaspectosreligiososdacapela,
forampercebidoselementoscomunsentr easlembrançasdo sentrevistadosquefizeramcom
quehouvesseu mmelhorentendimentoe,aomes motempo,umareconstruçãodesteespaço
religiosoondeosmoradoressereuniamparaassuasorações.Percebeuse,noentanto,várias
semelhançasentreo sdepoimentosdosentrevistadosquepossibilitouumareconstituiçãode
maiorprecisãoemtornodessacapela.SegundoHalbwachs(1990,p.34):
paraquenossa memóriaseauxiliecomadosoutros,nãoba staqueelesnos
tragamseusdepoimentos:énecessárioaindaqueelanãotenhacessadode
37
concordarcomsuasmemóriasequehajabastantepontosdecontatoentre
uma e as outras para que a lembrança que nos recordam possa ser
reconstruída sobre um fundamento comum. Não é suficiente reconstituir
peçaporpeçaaimagemdeumacontecimentodopa ssadopara seobteruma
lembrança.Énecessárioqueestareconstituiçãoseopereapartirdedados
oudenoçõescomunsqueseencontramta ntononossoespíritocomonodos
outros, porque elas passam incessantemente desses para aquele e
reciprocamente,oquesóépossívelsefizera mecontinuamafazerpartede
uma mesma sociedade. Somente assim podemos compreender que uma
lembrançapossaseraomesmotempo reconhecidaereconstruída.
Ficou evidente nos depoimentos que foram vários os pontos de contato entre as
lembranças da capela: “as pessoas encarregadas pelo templo católico”, “os padres que
celebravam as missas nos festejos de Santana”, “os novenários”, enfim, o s elementos que
permeara m os frag mentos levaram a um fundamento comum: a capela serviualém de um
espaço paraasoraçõesaossantosdedevoçãocomo,também, umlugardesocialização onde
estegruposereuniaemalgumasocasiões.
Alémdotemplocatólicoed ificado,outratradiçãonointeriordoEstadodoPiauí,era
as famílias manterem oratórios em suas residências, como sinônimo de religiosidade. No
povoadonãofoidiferente,muitascasastinhamporcostumeconservaremoratóriosqueeram
verdadeiros re licários. Como não existiam padres para celebrarem as missas, aparecendo
somente nos festejo s de Santana e nos dias 08 e 25 de dezembro de cada ano, os fiéis
realizavam,freqüente mente,assuasorações,próximasaosseusoratórios.Nointeriordesses
oratórios, encontravamse imagens do s santos de ma ior devoção dos proprietários da
resincia,ao s quaisacendiamvelaserezavamdurantehoras.ConformeMott(1997.p,166):
asfamíliasumpouco maisabastadaspossuíamumquarto especial,oquarto
dos santos. Seu tamanho variava, e às vezes era apenas u ma nesga de
espaçodebaix odeescadaqueconduziaaosótãoouaposentoparacustódia
de imagens. Não eram poucos os que conservavam as imagens em seus
própriosaposentos.Todasasalegriasetristezaseram relatadasentrepreces
aos bentos simulacros bem guardados em um nicho de madeira forte,
torneadoeenvernizado,comtrêsfacesdevidro.Asimagens,fossemelas
doS anto Cr isto,fossem de sant os dadevoçãopessoal,conservamse,não
raro,atravésdasgerações.
AescolhadapadroeiraNossaSenhoradeSantanadeveseao fatodequehaviauma
zeladoranaantigacapela,conhecidaporAna,queadoravaes sasanta.Osfiéisdopovoado
38
faziam suas preces naquela capela e tinham para co m ela maior apreço. Só existiam duas
imagensnoaltar,adeNossaSenhoraSantanaeaimagemdeSãoJoaquim. 
Sentindonecessidadedeumsinoeumasinetaparaacapela,umafiel,aSra.Mariana
Pinheiro, a“MamãeVelha”comoerachamada,comosseu sesforçosconseguiucomprálose
os doouparaacapela.
Ilustração 01:ProcissãodeSenhoraSantana(s/d),padroeiradeIsaíasCoelho
Fonte:ArquivoparticulardeMariaCelinaAraújodeMouraCarvalho
Todos os anos, nos dias 25 e 26 do mês de julho, comemo ra mse os festejos da
Padroeira de Nossa Senhora Santana. Os fiéis aguardam durante o ano todo para a
homenagearem e prestarem a elaassuasvenerações. Durant eo s festejosreligiosos,muitas
atividades são realizadas, dentre elas, quermesses, missas, procissões, novenas, leilões,
confissão, comunhão, batizados, co nsagração, benzimentos de imagens, terços, rosários,
crucifixosetambémcasamentos.
Somente em 1952 foi constrdo, no centro do povoado, um templo católico que
continuou a se chamar Igreja de Nossa Senhora de Santana. As mesmas imagens, bem
comoosinoqueseencontravamnacapelalocalizadapróximaaosTalhado sforamremovidas
para a nova. Até hoje os festejos da padroe ira de Senhora Santana, como mu itos
isaiascoelhensesachamam,émotivodegrandemobilizaçãodefiéis evendedoresambulantes
quechegamdascidadesvizinhasedospovoadospertencentesaIsaíasCoelho.
Referindoseaos espaçosreligiosos, Halbwachs(1990,p.157)assimdisserta:
39
uma igreja é como u m livro do qual somente um p equeno número, pode
soletraredecifrartodososcar acteres.Dequalquermodo,comopraticamos
o culto e como recebemos ensino religioso no interior desses edifícios,
todosospensamentosdogrupotomamaformadosobjetossobreosquais
elesconcentram. 
Vêse, assim, que os espaços de religiosidade deste grupo tiveram uma conotação
ímparparaestescidadãos.Aocomparara igrejaaum livro,Halbwachs(1990)conso lidao
seupensamento,poissomenteparaalgunst antoacapelaquantoaigrejativeramumse ntido
maior.Nasentrevistas,percebeuse,emmembrosdestacomunidade,queaimportânciadestes
temp los católicos, com poucas imagens e adornos religiosos, revest iamse de uma
significaçãomuitogrande.
Ilustração 02.HabitantesdeTamb orilemdiadefestadapadroeira(s/d),próximosàCapeladeNossa
SenhoradeSantana,construídaem1888.
Fonte:ArquivoparticulardeHelenaPinheiro
Acidadede IsaíasCoelho ocupava, no início,umaextensão territorialde 531 km²,
distantedacapitaldoEstadodoPiauí,Teresina,cercade315kmem linharetaou388por
rodovia. Conforme o art. 2º da lei nº 2.549, de 09 de dezembro de 1963, a c ircunscrição
40
territoria l do município ficou constituída das datas Limoeiro e Poções, desmembrados do
municípiode SimplícioMendes
4
.
Ilustração 03.MapadacidadedeSimplícioMendesPiondeselocalizavaopovoadoTamboril(1905)
Fonte: SimplícioMendes:históriaenotáveis,deJoséMendesdeSousaMoura,2001,pág.43
________________
4
Situada,namicrorregiãoAltoMédioCanindé,localizadaa40KmdacidadedeIsaíasCoelhoPiea
390quilômetrosdacapitaldoEstadodoPiauí,foiacidadedaqualIsaíasCoelhoseemancipou.
41
Ilustração 04.Mapadamicr orregiãodoAltoMédio Canindéapósaemancipaçãopolíticadascidades
deCampinasdoPiauí,SantoInáciodoPiauíeIsaíasCoelho.
Fonte:SimplícioMendes:históriaenotáveis,deJoséMendesdeSousaMoura,2001,pág.44
1.2.Avidaentrealavouraea pecuária
Situada numa área de sertão, a cidade de Isaías Coelho caracterizase pela e norme
quantidadedeplantasqueduranteoanomodificamsedevidoaumcurtoperíododechuvas
queassolamareg ião.Podesedestacarcomoflorapró priaomandacaru,xique xique,juazeiro,
ingazeira, macambira, aroeira, angico, birro, pauferro, umbuzeiro, pereiro, juá, jatobá,
mufumbo,candeia, imburana, marmeleiro e a carnaúba,geralmente utilizadapara servirde
apoioàsparedesecoberturasdascasasdetaipa,dentreoutrasvegetaçõesquefazem partedo
cenárioloca ledãoaestemunicípioaspectospeculiares.
OsagricultoresdeTamborilsobreviviamdasplantaçõesnasroças.Colhiamfeijão, 
arroz,milhoemandiocaqueeram, posteriormente,conservadosempaióisfeitosdemadeira,
latasdequerosene,tubose,emseguida,guardadosparaeventuaisnecessidades.Alémdisso,
cultivavam doalgodão. ConformeesclareceudonaHelenaPinheiro(10.07.2005):
42
aspessoasviviamunicamentedaagricultura,doalgodão,milho,feijão.Do
arroz,menos.Elesla vravammuitoalgodão.Deminhalembrança,só.[...].
Osagricultoresestocavamacolheitaemsuascasas,empaióisdemadeira,
altodochão.Conservavaosprodutos,assim.Ofeijãoconservavanaar eia
paranãodarbicho edepoisareava.[...]nãotinhadepósitoscomohojetêm.
Era desse jeito. O algodão era vendido para [...] Itainópolis e Picos. [...]
pegavamoalgodãodecaminhão.
As estocagens dos produtos extraídos das roças foram feitas da maneira mais
rudimentar possível, como se constatou nos recortes da memória. Para seter tais cereais,
duranteo anointeiro,utilizaramsedestesmec anismosdeproteção.Osagricultoresrecorriam,
ainda,àceradecarnaúbaparavedaremosobjetosqueconservavamosprodutosagríco las.
Alguns agricultores da região vendiam uma parte dos produtos agrícolas, na feira
local,paraquepudessemcomodinheiroadquiridocompraroutrosalimentosquealavoura
localnãoconseguiafornecer.
Jáo algodão, produto de grandeaceitação no mercado,cobiçadopor atravessadores
que vinham de Paulistana,  Itainópolis, Picos, Simplício Mendes recebia tratamento
diferenciado,poisa vendaoscilavadepreçoduranteoanotodo.Omotivodaoscilaçãoera
devido a vários fatores, dentre eles, a procura pelas instrias no Pernambuco e no Rio
GrandedoNorte.Osprincipaiscultivadoresdoalgodãoforamossrs.Laudimiro,JoãoGago,
Julinhoeoutros.Conformeosr.JoaquimPereiradaRocha(30.08.2005):
eraumavidaumtant odifícil. Aquiseexploravaalavourademilho,f eijão,
arroz,algodão.[...]Omêsdedezembroparaplantar.[...]ofeijãoseplanta
atéosdefevereiro,massempreosmaiscedoparasituarédezembro.
Nasdécadasde30,40e50houvemuitaexploraçãodoalgodãoeplantouse
muito algodão. [...] Quem mais plantou algodão foram vários lavradores
aqui do interior, por exemplo, na região de Fazenda  Nova, Queimada
Gra nde.[.. .]Quem maisplantava era oLaudimiro, eu,oJoãoPinheiro,o
Justiniano, Messias. [...] O pessoal que comprava o algodão vinha de
ItainópolisePicos.Tinhaosr.EnéasMaia,ValentinDantaseoutros,né.
Depoisfoienfraquecendoporqueentrouobicudoeacaboucomoalgodão
e ficouquasenozero.Entãoeraumacoisamuitodifícil.[.. .]Essesgêneros
alimentícios [...] passouse a comprar de Itainópolis e Picos aos
atra vessadores.
Outroprodutodeaceitaçãonomercado localequemoviaapequenaeconomiaeraa
pelebovina,ovinaecaprinaqueeramcompradaspelossrs.JoãoPinheiro,JoséPassos,Luiz
ArraeseAcelinoPinheiro.
43
A carnaúba também foi outro elemento que contribuiu para o crescimento da
economia no povoado e era encontr ada com facilidade nas vastasterrasqueco mpunhama
região.Acar naúbafoiamadeirarudimentareindispe nsávelaohomemdointeriordoEstado
doPiauínaedificação dasprimeirascasasdetaipa
5
.
Em Tamborilnãofoidiferente,aindahojeseencontram ca sasqueutilizamacarnaúba
emváriaspartesdaconstrução.Foiumprodutopropulsor paraoaceleramentodaeconomia
local,poisalémdaceraqueeravendidaparaoutraslocalidades,tinhaseamatériaprimapara
afeitur adoartesanatolocal.Nas liçõesdeCaste loBranco( 1942.p,66):
quemfalaemcarnahuba,hoje,pensaimmediatamentenac era,productode
possibilidadesincalculáveis,quefigura comoumdosprincipaesesteiosda
exportaçãodeváriosEstadosnordestinos,inclusiveesobretudooPiauhy.
Paraosprimitivoscolonizadores,ellasignificavamuitomais:eraaestaca
abundanteemaravilhosa menteadequadapar aaconstruçãodecurraes,nas
chapadas de flora rachitica, onde além da carnahuba, muitas vezes só s e
encontravam talos e cipós. Da carnahuba, ainda, fizeram seus ranchos e
suascasas,aproveitandodesdeotroncoparavigas,esteioseparedes,atéa
palha, para cobertura do tecto e divisões interiores. Da carnahuba, ainda
fizeram esteiras, chapéus de palha, cofos, vellas, peneiras, corda e uma
infinida de deoutrosartigosdepreciosautilidade.
Além da agricultura, a pecuária foi pr aticada na localidade, através da criação de
gados,caprinos,ovinos,suínoseavesqueeramdepropriedadetantodefazendeiroscomode
pequenosagricultores.Segundoosr.JoaquimPereiraRocha(30.08.2005):
os fazendeiros que mais tinham gado era Antônio Marques, Cicinato,
Joaquim Coelho Ferreira, Ernestino Marques, Celecino. Era m os maiores
fazendeiros, depois teve outros que já foram a vaqueiros deles que
passaramaserfazendeiros,também.
________________
5
As primeirascasasedificadasnopovoado,utilizavamaaroeira,oangicoeacarnaúbaparalinhas,
est acasecobertur a.
44
Ilustração 05.Festadevaqueiros(s/d),eventotípicodeTamboril
Fonte:ArquivoparticulardeMariaCelinaAraújodeMouraCarvalho
OgadoqueeravendidopelosfazendeiroseagricultoresdeTamboriledaslocalidades
circunvizinhas seguiam uma longa rota até o destino final. Constatouseque, em finais da
décadade1940etodaadécadade1950,comprado resdegado,oriundosdeAraripinaPeede
Cajueiro, povoado pertencente ao município de JaicósPi, firmavam negócios com os
fazendeirosdopovoado.Osprincipaiscompradoreseramossrs.RaimundoSeverino, Chico
Modesto e Ozéias, da cidade de AraripinaPe, o Sr. Isacão do povoado Cajueiro, além de
outrosqueestiveramnaquelalocalidade.Segundoosr.JoaquimPereiraRocha(30.08.05),
eulembrode algunsquecompravamogadoaqui.OFranciscoAgostinhoe
váriaspessoasdefora,porexemplo,boiadeirosquevinhamdePernambuco.
O Isacão, o cabra dos Cajueiros. [.. .] O gado que era compradoaqui era
transportadodepéetocadocomapessoaa dianteacavaloc omumacargae
outros nã o usavam carga era mesmo no alforje, comida , né. E esse
Tangerino,chamadoTangerino,tocavadepé,commuçuracanascostas.
Amercadoriamóvel,queeraogado,saíad eTamboriler ompiaaschapadas.Sendo
tocadospor vaqueiro s até chegarà cidadedePaulist anaPi. Daí atravessavaaSerraVelha,
povoado de Paulistana, entrava no município de SimõesPi e subiaa Serra do AraripePe,
tantopelaladeiradoBomJardim,pertencenteaSimõesquantopelaFazendaVerde(Simõe s)
45
de propriedade do coronel Procópio Modesto. Dali o gado ía para AraripinaPe e era
comercializadonoscurraisdegado.
1.3. Osurgimentodasfeirasedocomércio
Com a demanda de produtos dos setor es agrícola e pecuário foram surgindo as
primeirasfeirasqueeramrealizadasaosdomingo s, embaixodeumatípicaárvoredareg ião,
um de juazeiro. A primeira feira foi instalada em24 de setembro de 1947,  nessa feira
concentravam se os habitantes do então povoado T amboril espalhados pelas vastas regiões
pertencentes às Fazendas Nacionais
6
. Ali, acomodavamse e aglutinavamse para
comercializarosseusprodutos.Nosrelatosdosr.JoaquimPereiraRocha(30.08.2005):
Eu conheci Isaías Coelho com p oucas casas. Aí começou uma feira
exploradapeloscomerciantesdeSimplícioMendes,Itainópolis eseinstalou
umafeira.[...]Essa sprimeirasfeiraselasforaminstaladasdebaixodeum
pédejuaz eiro.Aindahojeexisteessejuazeiro.Nabeiradoriacho[Riacho
dasCarreiras], logo do lado dacidade para o cemitério. Existelá o local
onde eram instaladas as feiras.No dia de domingo.[...] comercializavam
vendasdebatatas, feijão,milho,fruta seoutrosqueapareciam.Todomundo
quetinhaas coisinhasvendiam lá,também.  [...]Eunãoestoulembrado o
anoemquefoitransferidaafeira,masseiquefoiinstaladanumacasade
palha, assim do tipo de um galo. [...] As feiras sempre aglomeravam
muita gente. [...] Vinham das localidades Riacho Fundo, Porcos, Poções,
OlhoD`ÁguaPequeno,SãoDomingo,quenessetemponãoera,ainda,nem
povoado, Queimada Grande, CanaBrava, Recreio, Limoeiro. Todos
vinhamparaaqui.
Ratificandotalinformação,donaHelenaPinheiro(02.07.2005)enfocouque:
_______________
6
EramasvastasterrasquepertenciamàUnião.SituadasnaregiãodeAltosPiauíeCanindé,assuas
origensremontamaoprocessodepovoamentodoEstadodoPiauí.
46
as feiras foram criadas debaixo de uma àrvore chamada juazeiro. Muito
grande.Vendiadetudolá,oscereais,arapadura,odoce,omel,oqueijo,a
mant eiga, a cera de abelha. Me lembro muitobem. Eu era nova. [...] As
pessoas vinham de todas as localidades. [...] de Simões, casas velhas,
Carreiras, Mocambo, Mirador, Poço da pedra, Poções, vizinho ao Rio
Canindé,La jes.[...]P osteriormente,afeirafoiparaocentrodopovoado.
Saiu de baixo do pé de juazeiro e, então, fizeram de palha de carnaúba.
Todomundosepassouparalá.Nosdomingos.Hojeé nassegundasfeiras.
[...]Nessabarracaaumentoumaisgente.Apopulaçãoaumentou,né.[...]A
barracafoiconstruídapelosfeirantesdeTamboril,né.
Comosevê,comatransferênciadafeiraparaumacasadepalhanocentrodacidade
é que realmente começou a absorver uma quant idade maior de pessoas de outras
comunidades,comopôdeserconstatadotambémpelasdeclaraçõesdosr.JoaquimPereirada
Rocha.
Acasadepalhaserviucomo umentrepostocomercialparaaspessoasquevinhamtanto
paravenderquantoparacomprar.Havia,aoredordapa lhoça,umvaivémdepessoascomo
objetivo de adquirirem os produtos necessários à alimentação diária. As feiras deram ao
pequenonúcleodepovoamentocrescimento,nosentidodeaceleraroprocesso deurbanização
emodernizaçãodaredesocia l.Ondefoiconstruídaacasadepalhafunciona,atualmente, o
MercadoPúblicoMunicipal.
O centro dos acontecimentos do povoado se resumia próximo às feiras e durante os
festejosdeSantana,aforaisto,avida seguiaasuamarchadelentidão.Deacordocomadona
Helena(10.07.2005),
no centro de Tamboril acontecia de tudo. Desde o vaivém de pessoas,
principalmente durante as feiras e os festejos de Santana. Lá as pessoas
conversavam debaixo das poucas árvores frente das casas. Era um tempo
bom! Que pena não volta mais...[...] Um humilde povoado. [...] Eram
poucascasas.
As fe iras tinham um papel importantíssimo p ara a localidade, pois forneciam
elementos indispensáveis para a comunidade e serviam como ponto de encontro  tanto de
pessoas que r esidiam no povoado quanto daquelas que moravam afastadas, no Recreio,
Mucambo,PoçodaAroeir a,Tanqueeoutras.Duranteasfeiras,aspoucasvielaslocalizadas
aoredordapalhoçaeramtomadasporjumentosecavalos.Essesanimaisficavamamarrados
47
pelocabrestonosjuazeiros,nascercasdasroçasmaispróximas,espalhadospe losarredores
deTamboril.
ParaHalbwachs(1990,p.68),algumasvezes,épreciso ir muito longe,paradescobrir
ilhasdepassadoconservadas”.Embasadonosquadroscoletivosdamemóriadosha bitantesda
comunidade Tamboril, percebeuse que o  passado ficou conservado mesmo tendo sido
vivenciadohámuitosanos.Istoficouevidenciadonosfragmentosdamemóriadosr.Joaquim
Pereira da Rocha, em que as reminis cências dos espaços das feiras trouxeram em si um
conjuntodeele mentos que contribuiupara ligar a outrostantos.Co misso,permitiuquese
pudesseterum mapeamentodecomo foramrealizadasasfeir asea suaimportânciapara a
população. 
Aos poucoso cenário rural foi cedendo lugar e mudançassignificativas no cotidiano
ocorriam.Todo soscaminhosdedesenvolvimentopareciamlevarparaomercadocomelea
cidadeencontro u fôlegoparasemantercomoaglomeradohumano.ParaRolnik (2004,p.30),
é a partir de um certo momento da história que as cidades passam a se
organizaremfunçãodomercado,gerandoumtipodeestruturaurbanaque
não só opera uma reorganização do seu espaço interno, mas també m
redefine todo o espaço circundante, atraindo para a cidade grandes
populões.
Áproporçãoque ocomérciofoi alcançandoumamaiordinamização,asáreaspróximas
aomercado públicocomeçaramasevalorizargradualmente.Apossibilidadedopovoadose
transformar em município dava a quem possuía pro priedades a certeza da valorização
imediatadosseusimóveis.SegundoCorrêa(2005,p.16):
os proprietários de terras atuam no sentido de obterem a maior renda
fundiáriadesuaspropriedades,interessandoseemqueestastenhamouso
que seja o mais remunerador possível, especialmente uso comercial ou
residencial de status. Estão particularmente interessados na convero da
terraruralemterraurbana,ouseja,têminteressenaexpansãodoespaçoda
cidadenamedidaemqueaterraurbanaémaisvalorizadaquearural.
O primeiro comerciante de Tamboril foi o “majo r” Acelino Pinheiro. No seu
estabelecimento,entreasdécadasde1920e1940,comercializavasedetudoumpouco,desde
48
a venda de produtos agrícolas como feijão, arroz, milho, algodão a medicamentos e uma
grandequantidadedetecidos.OcomercianteAcelinoPinheiroadquiriaosseusprodutospara
aposteriorrevenda,nacidadedeFlorianoPie,algumasvezes,compravaosemRecifePe.
Ilustração 06.Sr.AcelinoPinheiro(18921966),primeirocomercianteemTamboril eresponsávelpela
contrataçãodoprimeiromestreescoladopovoado
Fonte:ArquivoparticulardeHelenaPinheiro
1.4.Tecendoavida privada
Cidadezinhaqualquer
Casasentrebananeira s
mulheresentrelaranjeiras
pomaramor ca ntar.
Umhomemvaidevagar.
Umcachorrovaidevagar.
Umburrovaidevagar.
Devagar...asjanelasolham.
Etavidabesta,meuDeus.
49
(ANDRADE,1999,p.51)
O poema de Drummond (1999) retrata bem a vida cotidiana nos pequenos espaços
rurais. Muitas das características que identificam os povoados e cidades espalhadas pelos
váriosinterior esdoBrasilestãopresentesem Cidadezinhaqualquer.
EmTa mboril,ocotidiano nãodiferiamuitodeoutrospovoadospeloPiauíafo ra. O
homemdestalocalidadeestavavoltadoparaaspectosdazonarural,dentreelesalabutacom
osanimais,comasroças,orit mofrenéticoembuscadeáguaparaoconsu modiário,abusca
pelacaça,enfim,alent idãoquemarcavaoseudiaadia.ParaHeller(1989,p.30)o ritmo
fixo, a repetição, a rigorosa regularidade da vida cotidiana” concatenam a mo notonia  do
homemquevivenospequenoscentrosinterioranos.
No tocante à cotidianidade, continua Heller (1989,p.23), o fato de se nascer já
lançado na cotidianidade continua significando que os homens assumem como dadas as
funções da vida cotidiana e as exercem paralelamente.” Percebese, as sim, que ninguém
escapa a cotidianidade. Ela está presente em todos os lugares e “dá o tom” marcado pela
cadênciadome io.
Sefoidifícilparaoadultovivercomasadversidadesdomeioemqueseencontravam
inseridos,  para as crianças desta comunidade era a inda mais complicado, pois desde cedo
erampreparadasparaotrabalhonaroçaenalidacomosanimaise,quandosobravatempo,
encontravamnanaturezaelementosparaassuasbrincadeirasdemeninoedemenina.Nessa
cidade, as crianças, nas décadas de 1930 a 1970, não tinham acesso aos brinquedos
eletrônicosqueasociedadecontemporâneaproporciona.
Abicicletaeraandaremlombosdejumentoeemlombosdebode,subiremárvoresà
procuradafrutamaismadura,correratrásdeanimais,separar omelhorvisgoparacapturaros
pássaros, pegar a baladeira e a capanga com pedras para procurar passarinhos, armar a
arapuca,iràprocuradeumbeijaflorpararetirardeleseucoraçãoedepoiscomêloparadar
àquelecaçadorboaspontarias,irescondidodospaisparatomarbanhodemoradonospoços
dosTalhadose,devezemquando ,subtrairasfrutasdasroçasmaispróximas,brincarcomos
cascos dos bois e das ovelhas e montar os currais nas areias do Riacho das Carreiras
7
.
ConformedonaHelenaPinheiro(10.07.2005), 
_______________
7
Riacho que corta  a cidade de Isaías Coelho. O seu nascedouro fica na localidade das Carreiras.
Dura nteosmeseschuvosos,aságuasficamcorrendodiasedias.EsseRiacho,nosprimeirosanosdo
séculoXXatéachegadadaáguacanalizada,foiusadotantocomoáguaparabeberquantocomoágua
para lavar roupas. As águas que ficavam ancoradas devido às chuvas eram usadas para irrigar
50
canteirosevazantes.Oriacho servia,ainda,paraascriaaseadultostomarembanhosese divertire m
nasareiaslímpidasqueficavamnasencostasdasroçasvizinhas.
ainfânciaerasimples.Tudocomsimplicidade.[...]timidez.[...].Nãoera
avançadacomoadehoje.[...].Abrincadeiradosmeninoserajogarbolae
asmocinhaserabrincadeira  simples.[...]Brincavam umascom as outras.
Tinha o realecho. Elas dançavam com o realecho. Juntavam bastante
meninos para fazer a festa com o realecho. [...]. Os afazeres domésticos
eramoborda doàmãoeàmáquina.Seentretiamnosbordados.[...]Existia
o crochet e o tricot. [...]. Isso com a idade de 15 anos. As crianças se
comportavammuitobemnopovoadoporqueosfilhossempretemiamaos
pais. [...]. Eles tinham medo dos pais não é por que os pais fossem
carrascos.[...]. Eraaobediência, atimidez.Existiapaz.
A presença da figura dos pais na vida das crianças, em Tamboril, teve grande
significaçãonasuaeducação,marcadapelaobediênciaeorespeito. 
Omundodessascriançassofr eutantoinflnciassociaisqua ntodomeioemque se
encontravaminseridas.Noquadrodelembrançasdopassado,ascriançasassumiamatividades
compatíveiscomasuaidade.
As imagens da infância para dona H elena foram inconfundíveis e trouxeram
significações de uma fase que jamais poderá ser vivida de novo. E m um dos trechos da
entrevistaeladiz“ainfânciaerasimples”.Oteordestafraseaosernarradapelaentrevistada
teveumquêamaisdevalor, poisotempodasimplicidadeconcatenavaavidanomeiorural
deTamboril.
Percebese que havia, no interior deste grupo, dentre outras co isas aspect os que se
perduraramdegeraçãoageração.Hábitosqueconseguiramr esistiràcontinuidadedotempo.
Todoocenárioondeogruposeencontravaficouretidonaslembrançasdecrianças,jovense
adultos. 
Paraseobteráguadebebereraprecisosedesloca ratéosTalhadosondeencontravam
águanospoços.Amarravaseumacordaemumalataeaempurravaemdireçãoao fundodo
poço, em seguida puxavase a lata com água através de um carretel, tudo de forma
rudimentar. Ascrianças, depossedosjumentos,transportavamaáguaemancoretasqueeram
cheiasatravésdeumfunilesedirigiamparaassuascasasparaabastecere mospotes.Havia,
também,ohábitoderecolheraságuasdaschuvasparabeberem,devidoàdificuldadedese
adquiriráguaparaoconsumo.Hádesedestacarquemuitascrianças,noperíododaschuva s, 
emIsaíasCoelho, ajudavamseuspaisnocultivoda terraparaoplantio.SegundodonaHelena
Pinheiro(10.07.2005),
51
agenteadquiriaáguadoRiachodasCarreira s,quecirc ulavaopovoado.[...]
No inverno chegava muita água e só depois secava. [...] P ara beber só
atra vés depoços.[...]Selocalizavampertodopovoado.[...]Tinhapoços
cavadosedemineração.Águamuitoboa.Nostalhadostinhaoscaldeirões.
Quando chegava o inverno enchia de água. [...] água para lavar, tomar
banho,beber.Águadoce,né.
Poderseiamaisumavez aproximarTamboril deumadasoutrascidadesinvisíveisde
Calvino(1990),Isaura,“cidadedosmilpo ços”que,assimcomoestepovoado,utilizavase
das“veiassubterrâneas”deáguadoce.Notocanteàbuscapelaágua,conformedepoimentos
depessoasdacomunidade,haviaumverdadeirofrenesidecrianças, jovenseadu ltosrumo
aospoçosdeágua, nosTalhados. 
Para a obtenção da água utilizavamse, também, latas e cabaças que eram
transportadas com o auxílio de uma rodilha de pa no nas cabeças e usa ndo uma vara
atravessando os ombros; e amarravamse duas latas ao modo de uma balança de pesar
produtos.ParaCalvino(1990,p.24):
a cidadese estendeu exclusivamenteaté os lugares em que os habitantes
conseguiramextrairáguaescavandonaterralongosburacosverticais:oseu
perímetro verdejante reproduz o das margens escuras do lago submerso,
uma paisagem invisível condicionada a paisagem visível, tudo o que se
moveàluzdosoléimpelidopelasondasenc lausura dasquequebramsobo
céucalcáriodasrochas.
ComestequadrodescritoporCalvino(1990),entreapaisageminvisíveleapaisagem
visível,percebeuse,assim,maisumavezqueasdific uldadespelasquaispassa mascidades
interioranas, invisíveisaospoderespúblicos, ficamcondicionadaseternamenteàsclausuras
impostas tanto pelo falta da presença do Estado quanto pelo meio em que se encontram
inseridas.
Jáasmeninas,desdecedo,erampreparadasparaosafazeresdomésticos:aprendiama
cozinhar,autilizaravassouranolabordiário,airemlavarasroupasnospo ços,atrabalharem
nacosturaartesanalfazendocoisascomobordado s, marcas,varandasderedes,aprendiamo
crocheteotricot,aprendiam,também,ospontosdecruz, marcaematiz.Deacordo comFalci
(1991,p.4142), aodescreverosaspectoscaracterísticosdascriançasnosertãopiauiense,
52
[...]asociedadeimpunhasuamarcasocialàscriançasdesdeo“tempode
nascer”. [...] Assim, o “andar em carneiro”, o andar livre pelas matas, o
depenarpassarinhos,seriamreflexosdarealidadesocialrural...Maistarde
eleserádonodefazenda,teráquesabermontarparaandarporhorasedias
entre uma cidade e outra e exerceria, também, um papel ativo na
est rutura çãodestamesmarealidade.
Utilizavamse das águas do Açude Velho nas residências tanto para tomar banho
quanto para lavar os objetos domésticos. Co mo para se adquirir água era muito difícil,
próximo ao açude havia pessoas que fabricavam de maneira rud imentartelhas e tijolos de
alvenaria,irrigandoobarrocomaságuasdomesmo. Durantemuitosanos,essereservató rio
deáguaserviudeespaço delazeredesubsistênciaparaapopulaçãolocal.
Quando o inverno chegava, o Açude Velho, construído na década de 1950,
literalmentesangravaparaasroçasvizinhaseasestacasquecortavamoaçudeficavamtodas
encobertasdandoacertezadequeoanointeirohaveriadeteráguaparaabastecerascasas.
Conforme o sr. Joaquim Pereira Rocha (30. 08.2005), o Açude Velho foi construído pela
prefeitura de Simpcio Mendes. [...] As águas do açude eram utilizadas para beber, para
servidãodecasa,parafabricaremtijolos”.
Aspoucasresidênciasdo povoado Tamboril foramalgumasedificadas de taipa. No
lugardasvigasquehojesecolocanosedifícios,naépocausavamseváriasestacasdepaus
sendoenvaradasasparedesdeum ladoedooutroedepoisenchidascom barro.Otetoera
compostodevár ioscaibro sfeitosdebirrooumarmeleiroparaseguraraslinhas,queeramde
carnaúba,ecobriamdepalhadecarnaúba.Ochãoeranaterrapura. Jáemoutraspoucascasas
utiliza vamse o tijolo de alvenariae a telha, mas conservavam as linhas de carnaúbae os
caibrosdebirrooumarmeleiro.
A família, nesse povoado, era bastante tradic ional. Pautada em princípios éticos e
morais e,sobretudonarigidezexercidapelopatriarcanaconduçãodaeducaçãodosfilhos.
Essa foi a marca que os primeiros núcleos familiares deixaram na construção formal da
sociedadeisaiascoelhense.Ali,ainstituiçãofamiliareralidaerespaldadanossobrenomes
quecadaenteherdou.ParadonaHelenaPinheiro(10.07.2005),
orelacionamentodospa iscomosfilhosemTamboril,nascadasde30,
40, 50, era tudo em paz, porque os filhos obedeciam aos pais. [...] Era
debaixodaordemdospa is.[...]Muitorespeito.Nemfumavamempresença
53
dospa is.[...]Otratamentodopaiparaofilhoeparaafilhaeratudoigual.
[...]Opairepresentavaochefedafamília.Muitorespeito.[...]Eraumvulto
degrandevalor.
No contexto socialemqueestiveraminseridasessas famílias,distantesdosgrandes
centros urbanos e vivendo em uma região castigada pela seca, estabeleciam normas
consuetudináriasquetinham,entreasfamílias,forçadelei.ParaCasteloBranco(1942,p.69),
a vida do campo, a  consciência do desamparo, a cer teza de contar
unicamente consigo, em todas as luctas, desenvolveram no piauhyense o
sentidodeliberdade,decoragem,deautonomia.Suamoral,entretanto,ou
justamente por isto, pouco evoluiu; tem pontos de honra exagerados e
intransigentes. Honest íssimo, respeitando como ninguém os direitos dos
outroshomens.Háumpactoinconscienteesagradoentreossertanejos.A
vidadosdesertos,eternamenteinsegura,forçouoatanto.Seusradosou
suas choupanas o invioláveis. Podem ficar ao abandono dias e dias:
ninguémousarároubálas.
Opoderdopatriarcaeraexercidonãosósobreosseusfamiliares,massobretudona
grandequantidadedeagregadosqueseestabeleciamnasresidênciasdessesfazendeiros.São
oportunasascolocaçõesfeitaspor Brandão(1995,p.100101)emtornodosagregadosedos
coresidentes:
Osagregados,queserviam nafazenda,alguns mantinhamrelaciona mento
mais pr óximo com as demais mora dores, mas outros, embora tivessem
“fogo”, lavoura efilhos na propriedade, levavam vida mais autônoma. A
relaçãoentreosenhoreosagr egadosbaseavasenadependênciahomema
homem. Eles eram protegidos do senhor a quem prest ava m serviços de
garantia da integridade física  e pessoal e de defesa  dos domínios. As
pessoas coresidentes nas diversas fazendas e sítiosdeum mesmosenhor
formavamgruposdetrabalhoquandoaatividaderequeriamaiornúmerode
braços,comoavaquejada,farinhada,moagemdecanaelavoura.
Em torno dos fazendeiros havia ta mbém pessoas que eram dependentes
financeiramentedaproteçãodo“coronelou“major”.Emtroca,essesagregados ficaramà
mercêdosinteressesdesses,também,chefespoticosquepermaneciamcomgranderespaldo
naregião.ConformedonaHelenaPinheiro(10.07.2005):
54
meupai,eumelembroquetinhatrêsagregadosquec uidavamdocriatório
dogadoedasovelhas.[...]Osagregadoserampagosatrasdocriatório.
Tiravam a sua porcentagem no criatório. Era a parte deles. Não era em
dinheiro. Meu pai agradava muito. Tudo era agradado. Meu pai cuidava
bemdaspessoasquecuidava docriatóriodele.Eraumtempodefelicidade,
defartura.Observeimuitafarturanacasa paterna.Nuncafaltavanada.[...]
Nas outras poucas casas do povoado Tamboril existia fartura. Ninguém
passavanecessidade,o.Eraumlugaratrasado,naqueletempo,mas que
todomundoviviaindependente.Omaispobreviviaindep endentenassuas
casinhas.Muitapazemuitosossego.
As fazendas localizadas nas vastas áreas que pertenciam anteriormente àsFazendas
Nacionaisequepassaramaodoniodeparticularespelostítulosdepossedados peloEstado
estavam,amaioriadelas,próximasariachoselagoas.Osriachosquecortavamasfazendas
eramodasCarreiras,doMocambo,doOlhoD`Água,dasCasasVelhas;bemcomoaslagoas
situadasnessaspropriedades,aLagoaComprida,daPedra,daMelancia,daAreiaedoSurrão.
Oriachodedestaquenac idadedeIsaíasCoelhoéoRiachodasCarreiras.Comas
suascheias noperíodo de inverno,deixa nas sua s encostaspoçasde águaqueajudamaos
proprietários vizinhos no  processo  das vazantes. Esseriacho, vale destacar,  servia também
paraabastecerasresidênciaslocaisdeáguapotável,poiseraolo caldemaisfácilacessopara
seobterágua.Casocontrário,somenteseobteriaáguanospoços.
Haviatrêspoçospertencentesaproprietáriosparticulares, odeEvêncioPereir aRocha,
LeonícioVieiradeMouraeJoséRodriguesdeSousa,u macacimbapertencenteàcomunidade
que fora tirada de uma propriedade do sr. Estevão Pinheiro e a cacimba pertencente ao
comercianteAcelino Pinheiro.
Destacaseosrelatosdo sr. JoaquimPereiraRocha(30.08.2005)sobreoR iachodas
Carreiras:
O Riacho das Carreiras fornecia água para as pessoas utilizar em nas
residênciase,alémdisso,depoisdoinvernoficavamáguasancoradaseas
pessoas que tinham propriedades próximas ao riacho utilizavam as águas
paraaguaremasvazantes.
Outrotipodereservatóriodeáguaencontradoe mTambo ril,geralmentelocalizadonos
55
Talhados, era uma gr ande quantidade de caldeirões
8
. Desses caldeirões, os habitantes
utiliza vamdaáguaparabeber,comer,tomarbanhoelavarroupas.Situavamseemd iferentes
lugares, destacaramse os que fica m por trás do Mo rro de Tantan, Latadinha, por trás da
antigacapela,oCa ldeirãodasFlores,oCaldeirãodosMartins,oCaldeirãodaPedraBranca
dentreoutros.
Há de se destacar, ainda, que em Tamboril não houve preocupação do Estado em
eletrificar a zona urbana do povoado. Durante décadas a população iluminou as suas
resinciasutilizandosedelamparinasembebidasemquerosene.So menteempoucascasas
usavaseopetroma x.
As imagens da cotidianidade ainda estão muito tidas. Os quadros rurais parecem
ainda mu ito impregnados pelas lembranças dos espaços/tempos. Adentrando nos espaços
atravésdamemóriadocidadãodestacomunidadepercebeusequeaprópriaarquiteturaficou
congelada,nãoabandonouasformasantigas. 
Aindaconvivemcomamalhaurbanaimagensdeumpassadomuitopresentes.Desde
asuaarquiteturaatéoscochichosdebaixodasárvores,asconversasnasesc adariasdaigreja
quecolocamo homem emdiacomos fatoslocais,as cadeiras nascalçadasao entardecer.
Enfim, o cotid iano impregnando a vida de singularidades próprias desse grupo. Segundo
dissertaMagaldi(1999,p.16),
a arquiteturadascidadescompõe,deummodogeral,umconjuntodedados
quepermitemumaaproximaçãorealdopresentecomopassado.Écomo
resultado do esf orço feito pelas permanências e transformações que as
sociedadesconstroem,aolongodotempo,asuaimagem.
Estas imagens que foram construídas pelo tempo deixaram vestígios nos espaços
públicosdacidadee,combaseneles,foipossívelrevelaroquehaviaportrásdecadauma.
_______________
8
Reservatórios deágua que s ealojavam duranteosperíodos dechuva entre as rochas e queforam
utilizadospeloshabitantes deTamboril, duranteosperíodos quenão choviam. NosTalhados deste
povoadohaviamuitosburacosnaspedrase,comisso,anaturezapermitiaqueaságuasficassemdiase
atémesesnessesreservatórios.
56
Registraseque,duranteosprimeirosanosdoséc.XX,asdistânciasentre ospovoados
ecidadesdointeriorpiauienseeramrompidasatravésdetransportesfeitosemanimais,pois
nãohaviaestradassuficientesqueviabilizassemotráfegodeveículos.
EmTamboril,localizadonacontramãodase stradasquecruzamaspequenasegrandes
cidades do país, o que havia eram estradas carroçais, fato que ainda permanece até hoje.
Duranteosmeseschuvosos eraimpraticávelromperessasest radasquedãoacessoàcidadede
PicoseàscidadesdeSimplícioMendes, C ampinasdoPiauí,ConceiçãodoCanindé,SãoJoão
doPiauí,PatosdoPiauí,JacobinadoPiauíeItainópolis.
OacessoaTa mboril,nasdécadasde1930a 1970,nosperíodoschuvosos,erafeito
atravésdeumaestradacarroçal querompiaasmataspelafazendadaMariaPreta,pertencente
ao município de JaicósPi e percorrendo alguns quilômetros saíase na fazendaPalma, em
Cajueiro,povoadotambé mdeJaicósP i,da íemdianterompiaseaschapadasatéchegarno
antigo povoadoGambá,hojecidadedeVeraMendesPi.
Asdoençaseramnamaiorpartedoscasoscuradasatravésdotratament ocomervase
raízesdomato,bemcomoatravésdegarrafadasfeitasdeplantaslocais.Vêsequenãohavia
nem médico e nem posto de saúde para as eventuais necessidades. Em outr as casas, as
crend icespopularespermearamasa bedoriaempíricadessehomemdopo voadoTambor il.
Somente na cidade mais próxima, Simplício Mendes, havia o médico de grande
respaldoemtodooPiauí,omédicoIsaíasRodriguesCoelho(18901960).Jáem Tamboril ,o
sr. E vêncio Pereirada Rocha(19191987) fazia às vezesdeum médico e dentistapráticos
que,mesmonãot endoo títuloacadêmico,mu itasvezesextraíadentesequandodefraturase
acidentescolocoubraçosepernasnolugar,usando,aoinvésdegesso,talosdecarnaúbacom
tiras de sola e medicava os pacientes com penicilina e outros ant ibióticos. O  sr. Evêncio
exercia o seu ocio também nas localidades vizinhas. Segundo dona Helena Pinheiro
(10.07.2005),“as doençaseramtratadasem Simplício Mendescom o Dr. I saíasCoelho.  O
transporte para ir era de animal. Não tinha carro, naquela oportunidade. [...] Todos se
tratavamem SimplícioMendes. Co mmuitadificuldade”.
57
1.5.SurgimentopolíticodeIsaíasCoelho
O Grande Khan contempla um império recoberto de cidades que pesam
sobre o solo e sobre os homens, apinhado de riquezas e de obstruções,
sobrecarregado de ornamentos e incumbências, complicado por
mecanismosehierarquias,inchado,rijo,denso.Éoseuprópriopesoque
est áesmagandooimpério”,pensaKublai,eemseussonhosa goraaparecem
cidades leves como pipas, cidades esburacadas como rendas, cidades
transparentes como mosquiteiros, cidadesfibradefolha, cidadeslinhada
mão, cidadesfiligrana que s e vêem através de sua espessura opaca e
fictícia.
(CALVINO,1990,p.6970)
Como se percebe nas leituras deste fragmento,Kublai Khansonhou com diferentes
cidadese,emcadauma,haviapeculiaridadesqueasdist inguiam,apesardeseremparecidas.
Ametáforado“peso”quecadacidadeteméachavequepossibilitaoacessoaelas.Deuma
cidadeparaoutraodesejo dedecifrálas.
Assingularidadesdecadacidadesãoabsorvidaspelaspessoasqueconvivemnoseu
cotidiano. Cada traço arquitetônico traz em si as marcas de um tempo que impregnam o
cenário rural o u urbano de uma comunidade. O que faz com que um núcleo humano se
transformeemumacidade/documentoéapró priacapacidadequetemdeatrairpessoaspara
oseucampomagnético”,comoafirmaRolnik(2004,p.12).
Ecomoumímãacidadepossuiosseusencantos,osseussegredos,assuaslendas,as
suastradições,osseus costumes,osseusolharesfugidios,enfim,emcadaesquinadasruasas
sombrasdeumtempo.Énestassombrasondesepercebeasmudançasnasociedade. 
Emcadacidadeadjetivadanotrecho emepígrafedeAscidadesinvisíveis,porKublai
Khan,poderseíaassociaralgoaomunicípioqueagorasurgia,IsaíasCoelho.Porforçadalei
nº2.549,de09dedezembrode1963acidaderecebiaasuaemancipaçãopotica.Situadaa
40kmdomunicípiomãe,SimplícioMendesPi.
AssimcomoascidadessurgiramcomoumsonhoparaoGrandeKhan,estemunicípio
surgiu do desejo  que os seus habitantes tinham de ter o  sonho realizado, pois com a
emancipaçãopolíticapo derseíaincorpor araocenáriourbanoasinstituiçõespúblicas.
A cidade surgiu como um novo discurso. Voltada, agora, para a redefinição dos
contornosurbanos,paraamodernização,paraachegadadeprofessores,paraapresençade
58
edifíciosquetrariamconsigoasmarcasdoEstadocomoaPrefeituraMunicipal,oMercado
Público,a DelegaciadePocia,oPostodeSaúde eoutros.
Emrelaçãoaoprocesso eleitoralaindaemTamboril,opovoadorecebiaasprincipais
lideranças partidárias vindas de Simplício Mendes. Para acalourar a disputa pelo voto, os
candidatosaprefeitomandavam compormúsicasparaseremcantaroladaspeloseleitoresmais
ferrenhos.
Nodiamarcadoparaocorreremase leições,vinhaumaurnadeSimp lícioMendespara
opovoado.Notranscorrerdodiaaglomeravamseváriaspesso asnaspoucasvielasquehavia.
Eraumdiasingular,poisalémdoseleitorescolocaremassuasmelhoresroupasparavotar,
significavaummotivodefestaparaaqueleshabitantes.Adisputaeleitoraleramarcadapela
tranqüilidade,nãohaviabrigasparainviabilizaroprocessoeleitoral.
Cabe ressaltar, ainda, o pouquíssimo grau de instrução daqueles eleitores, pois nas
primeiras décadas do sécu lo XX inexistiam escolas em Tamboril. Uma marcaoriundadas
velhas oligarquias presentes no processo eleitoral foi o voto de cabresto. Conforme o sr.
Joaquim Pereira Rocha, “havia muito movimento, na época das ele ições. O pessoal das
fazendasvinhamacavaloparavotar.Eraumgrupodecavaleiros.Tomavamumascachaças.
Haviamuitafarra,viu”.
Configurouse, nessa estrutura social, uma relação de poder permeada pelas elites
agrárias. Esse quadro social marcado pelo poderio dos fazendeiros e comerciantes locais
estabeleceu o domínio emtodosos segmentos da cidadedeIsaías Co elho.Alémdo poder
materialqueosfazendeirosecomerciantespossuíam,firmouse,atravésdasaliançasentreos
grupos familiares do povoado, um poder político local que se fortalec ia e almejava uma
representação na mara Municipal da cidade de Simplício MendesPi. Conforme a dona
HelenaPinheiro(10.07.2005):
ospr incipaischefespolíticosdopovoadoTamborileraomeupai,Acelino
Pinheiro,oEvêncioPereiradaRocha,oLeonícioVieiradeMoura,esseera
deSimplícioMendes emoravaem T amboril.Na minhalembrançaera  só
esses. [...] Eles tinham muita influência napolítica de SimplícioMendes.
[...] Em época de eleição, os políticos sempre andavam no povoado. O
Arnaldo Carvalho, que foi prefeito de Simplício Mendes, ele era muito
amigodemeupai.Então,eleencarregavaonegóciodevotaçãoameupai.
Enaépocadeeleiçãoeleentregavatudoatéosentidodaalimentaçãodos
eleitores. Nessa época, usava dar comida aos eleitores. Iam votar e
chegavam com a barriga cheia. Minha mãe, R aquel Pinheiro, era quem
cuidavadoseleitoresdosenhorArnaldo.EletinhamuitovotoemTamboril.
[...]Eumelembronaserasde1940e1950.
59
Comosevê,naslembrançasdedonaHelena,osgruposdominantesdacomunidadede
Tamboril puderam ser colocadas em evidência histórica. Constatouse que “o negócio da
votação”queaentrevistadaenfocafoiumadasmarcasdaeleiçãolocal.Ochefepoticoda
região ficava encarregado portudo, inclusive a comida para os eleitor es. Em contrapartida
recebiaosbenefíciosdopolítico.
Observase,ainda,quedonaHelenalembroudeduasdécadasdaseleiçõesade1940e
1950 em que a cidade de S implício Mendes s e beneficiava dos votos dos cidadãos de
Tamboril. Outra marca que fica evidente, nos depoimentos, foi o voto de cabresto  nesta
comunidade.
Com a candidatura dos vereadores pertencentes a Tamboril à Câmara Municipal de
Simpcio MendesPi, passo use a definir uma no va postura política. Ho uve, pela primeira
vez, representantes do Poder Legislativo re ivindicando a emancipação potica, bem como
melhoriasparaoshabitantesdeTambo ril.Umdosvereadoresaocuparporváriasvezesuma
cadeira no legis lativo de Simplício Mendes foi o sr. Leonício Vieira de Moura. Eleito
durante os mandatos de 21.04.1948 a 30.01.1951, 31.01.1951 a 30.01.1955, 31.01.1955 a
30.01.1959, 31.01.1959 a 29.03.1962 e 31.01.1963 a 30.01.1967, defendeu a emancipação
políticadeTamborilduranteoperíodoqueestevenocenáriopotico,poisjáhaviacondições
estruturaisdetornaro povoadoindepe ndentedacidadedeSimplícioMendes.
Outrovereadorquesemant evefavorávelàemancipaçãopolíticadeTamborilfoiosr.
OtílioManoelRodrigues.Eleitoparaomandatode31.01.1959a29.03.1962epresidenteda
CâmaraMunicipaldeSimplícioMendesde29.03.1962a30.01.1963.Ajudouasolidificaro
processodeemancipaçãodeTamboril.
Osmoradoresdopovoadocomeçaramareivindicarodireitodeveremasuaterr anatal
emancipada.Comascredenciaisexigidasparaasuaemancipaçãopolíticatevenapessoado
exdeputado estadualNelson Moura
9
, da cidade de Simplício Mendes e do exprefeito
Ney Madeira Moura
10
, da cidade de Simplício Mendes, os também defensores da sua
autonomiaadministrativa.Masfoisomenteem09dedezembrode1963,comaleinº2.549,
queocorreuaelevaçãoàcategor iadecidadedeIsaíasCoelhoPi.
________________
9
ExDeputadoEstadualdoPiauínosanosde1963a1966.NaturaldacidadedeSimplícioMendes
Pi..Oprojetodeleidaemancipação deIsaíasCoelho foidesua autoria.
10
ExPrefeitodeSimplícioMendesPi,nosa nosde1963a1967,1973a1977eviceprefeitode 1989a
1992.FoiumdosprincipaisdefensoresdaemancipaçãopolíticadomunicípiodeIsaíasCoelho.
60
O novo município , de acordo com o artigo 6º da mesma lei, constituiria termo
judiciário da Comarca de Simplício Mendes, onde se encontrava um Cartório de Registro
Civil, naformadeorganização judiciáriadoEstadodoPiauí.
O topônimo a ser dado a Tamboril dividiu a população local, pois uma parte dos
habitantesqueriaqueopovoadorecebesseonomedeDanielGomes,emalusãoaocearense
queprimeiro seestabeleceu nesta localidade; já umao utraparteabraçoua idéiadedar ao
novo município o nome de Isaías Coelho, em homenagem ao médico Isaías Coelho que
prestouosseusserviçosnacidadedeSimplícioMendes,bemcomoàspessoasquesaíamde
Tamboril à procura de tratamento médico. Segundo relatos da dona Helena Pinheiro
(10.07.2005):
foipelopessoaldacidade.UnsqueriamDanielGomesPinheiro,queerao
grande chefe. Outros; Isaías C oelho. A maior parte venceu quef oi Isaías
Coelhoederamonome.Então,veioaordemdeTeresina.[...]Foidadoo
nome deIsaíasCoelhoporqueteve maioria.Verdade.[...]O meu desejo
era que f osse Daniel Gomes Pinheiro por que era o chefe da família de
Tamboril.[...]minhapreferência .[...]Eraomaisvelhoquechegouaqui.
Percebeuse nos recortesdamemóriaemtornoda poticaqueaescolhanãofoiamais
apropriada para a entrevistada. Isto se evidencia quando e la deixa bem claro nas sua s
declarações “foi pelo pessoal da cidade”e “por  que teve maioria”, mas a preferência pelo
nome de Daniel Gomes Pinheiro teria, pois, uma explicação plausível, uma vez que foi o
primeirohome maseestabelecernar egiãoondehojeselocalizaestacidade.Ratificandoeste
tipodequestãosobreamemóriapotica,assimexpressaBosi(1994,p.453):
namemória política, osjuízosde valor intervêm com maisinsistência. O
sujeitonãos econtentaemnarrarcomotestemunhahistóricaneutra”.Ele
quertambémjulgar,marcandobemoladoemqueestavanaquelaalturada
história, ereafirmandosuaposiçãooumatizandoa.
A testemunha que presenciou os fatos não se conteve em colocar em evidência
histór icaapenasasinformaçõesemtornodaescolhadonomeparaacidade,foimaisalém,
apresentou a sua preferência de que o nome do município se  chamasse Daniel Gomes
Pinheiro.
61
Ilustração 07.Dr.IsaíasRodriguesCoelho(20.10.1890/21.01.1960)
Fonte:LivroFamíliaCoelhoRodrigues:passadoepresente,deAbimaelClementinoFerreira de
Carvalho
Orespeitoconstruídoe mtornodafiguradoDr.IsaíasRodriguesCoelhodeveseaos
seusconhecimentosnaMedicina,emumaépocaemque nãohaviar ecursoslaboratoriaise
clínicos,etambém,àcoragemehumildadeemseestabelecernointeriordoEstadodoPiauí,
especificamentenopovoadoCaridade,hojemunicípiodeSimplícioMendesP i.Louvávelde
suaparteemrenunciaraosencantosdasmetrópolesefincarassuasraízesnumapacatacidade
piauiense.
Alémdisso, o Dr.IsaíasCoelho comandavaapo lítica localdacidade de Simplício
Mendes. Notase, pela literatura emtorno dele, que havia por trás do médico tambémum
articuladorpolítico,bemcomoumcoronelqueditouasregrasnaquelacidade.Deacordocom
Carvalho (1987,p.408), “na potica local era uma espécie de fiel da balança: ganhavam
sempreaseleiçõesaque lesqueco ntavamcomoseuapoio”.
ParaMoura(2001,p.59):
62
embora fosse um político de militância discreta. Dr. Isaías Coelho era
querido e respeitado pelas corr entes política s que disputavam o poder
municipal. Tinha, entretanto, maior aproximação com os partidários do
PSD,quenãotomavamqualquerdecisãosemantesconsulloerecebero
seuaval.
ComacriãodomunicípiodeIsaíasCoelho,apreocupaçãofoiafiliãopartidária,
para depois elegerem os representantes poticos tanto para o Executivo quanto para o
Legislativo. Na disputa eleitoral de 15 de março de 1964, pela Prefeitura, duas siglas
participaramdopleito:aUDNeoPSD.Apolarizaçãopolíticaficourestritaadoiscandidatos,
ocandidatodaUDN,osr.NelsonLopesBuenosAirese ocandidatodoPSD,osr.Otílio
ManoelRodrigues.
FoieleitooprimeiroprefeitodacidadedeIsaíasCoelho,osr.NelsonLopesBuenos
Aires, do Partido UDN que assumiu a prefeitura em 19 de abril de 1964. Enquanto o
legislativo municipal foi composto pelos seguintes vereadores: José Rodrigues de Alencar,
CarlindoJosédaRocha,EuclidesRodriguesdeSousaeLíbanoMartinhoVeraquepassaram
aocuparumacadeiranaCâmaraMunicipal deIsaíasCoelho.
Com aaprovaçãodoProjetodeLeinº07,de06deoutubrode1964,oprefeitofoi
autorizadoadarnomesàspoucasruasqueexistiam,emtornodaIgrejadeNossaSenhorade
Santana.AprimeiraruarecebeuonomedeDanie lGomes. Aoutrar uarecebeuonomede
AntônioMarques,emalusãoaumdosfazendeirosdaépoca.
Ilustração 08.TrechodaR uaDaniel Gomes(s/d)
Fonte:ArquivoparticulardeFranciscodasChagasPassos
63
1.6.Primeirasmarcasescolares
Somentefoipossívelefetuaroregistrodasimagensdasprimeirasmarcaseducacionais
emIsaíasCoelhoatravésda memória coletivadosseushabitantes.Foramosexalunosque
trouxeram as primeira s notícias da cultura escolar evidenciada no povoado e que foi
direcionadapelosmestresescolaresponsáveispelaimplantaçãodaculturaletradanoantigo
povoado.
Assim, nesse primeiro momento do processo educacional, os fazendeiros e
comerciantes locaisresponsabilizaramsepelainstrução,financiando oensinodeprimeiras
letrasparaosseusfilhos.IssoocorreuatravésdacontrataçãodemestresescoladeSimplício
MendesPie,também,daprópriacomunidade,quefirmaramcontratosdetrabalhoportempo
determinadoparaensinaremosf ilhosdefazendeirosecomerciantesaler,escrever,contare
liçõesdecivismoehistória.
OsmestresescolaqueseestabeleceramnopovoadoTamborilmarcaramo inícioda
educaçãoescolar local.Semteremas credenciaisacadêmicaspara t alofício, pontuaramas
suas práticas pedagógicas utilizando métodos didático s próprios. Esses homensescola
conseguiram,comousodacartilhadeABCedatabuada,desenvolversuasatividades.
Portadores de limitações, esses autodidatas que percorriam o interior do Estado  do
Piauí, fizeram com que as crianças se familiarizassem com a leitura, a escrita e as quat ro
operações matemáticas. A pequenapopulação local necessitava desses conhecimentos para
uma participação efetiva na vida social, todavia, o ingresso no mundo da escrita foi um
privilégio depoucosemTamboril, noperíodoemestudo.Somenteosfilhosdosfazendeirose
comercianteslocaistiveram,inicialmente,oacessoaessesaber.
Pornãohaverumaest ruturacapazdecriarcondiçõesqueviabilizasseaconstruçãode
uma un idade escolar em Tamboril, a educação ficou durante anos a cargo dos mestres
escola.So mentenadécadade1930chegouaprimeiraprofesso rapública,donaLusiaReis
Santos, professora leiga oriunda da cidade de JaicósPi, que teve seus serviços pagos pela
PrefeituraMunicipaldeSimpcioMendes.Iniciouseaampliaçãodoacessoàescola,com
uma participação maior da população local, uma vez que mais crianças tiveram acesso às
primeiras letras. Segundo a filhadeLusiaReis Santos, donaI olanda Reis(12.07.2005),“a
minhamãetinhaodom de ensinar.Ela falava para a gente que o estudoelevaaspessoas.
Infelizmente a minha  mãe dedicou muitos anos ao magistério, mas não conseguiu se
aposentarcomoprofessora”.
64
As aulas min istradaspela professora Lusia Reis Santos aco nteceram na sua própria
resincia.NaescoladedonaLusiaReisSantos,osalunosassistiamàsaulasfardadose,de
acordocomexalunos,existiaapalmatóriaeerautilizadaquandodeterminadoalunoerrava
aslições.ConformedepoimentosdedonaIolandaReis,asuamãepermaneceuemTamboril
atéoanode1951,quantodalipartiuparaacidadede Simplício Mendes.
Acasaescola,localondefuncionavamasaulas,fo iumar esidênciafamiliaradaptada
parareceberosalunos.Aqueleespaçodepropagaçãodeconhecimentosfoidirecionadopor
umaúnicaprofessoraqueestabeleciaasnormasdis ciplinares. Sobocomandodaprofessora
Lusia Reis Santos, o mo delo casaescola não foi suficiente para atender à quantidade de
criançasexiste ntes,sendo,contudo,naépoca,umgrandeavançonaeducaçãolocal.
Comoau mentodaclientela,ospaisuniramseeresolveram solicitarumsalãopara
receberemmaiscrianças.Osalãoescola,depropriedadedo“major ”AcelinoPinheiro, teve
osaluguéispagospelaPrefeituraMunicipaldeSimp lícioMendes.Localizavasepróximoao
comérciodosr.JoãoPinheiro,nocentrodopovoado.Essesalãoescola,sobadenominação
EscolaIsolada, herdouo modelodaspráticasestabelecidasnacasaescoladedonaLusiaReis
Santos. Houve, nesse salãoescola, crianças com diferentes idades e avanço escolar
hetero gêneo,assumindoumcunhomultisse riado.
Ae ntãoEscolaI soladadeTamborilpermaneceuem funcionamentoatéàelevação
dopovoadoàcategoriademunicípiodeIsaíasCoelhoPi.Comacriãodomunicípioatravés
daLeinº2.549de09dedezembrode1963,publicadanoDiárioOficialdoEstadodoPiauí,
em 16 de dezembro de 1963,  o artigo 5º dessa lei elevaa EscolaIsolada de Tamboril à
categoriade Escola s Reunidas,comadenominação de Moura . Segundo Lopes(2001,
p.117):
Escolasreunidasera,eno,aetapaprimeira,emuitasvezesduradoura,da
const ituiçãodeumgrupoescolar,emb oranãofossenecessária.Omodelo
escolas reunidas terminou de uma etapa da constituição dos grupos,
const ituindose em uma alternativa definitiva de escola, por ser menos
onerosa, e intermediária entre a casaescola e o grupo escolar. Daí a
dominânciadessemodelo durantetodaaprimeira fasedeimplantaçãodos
gruposescolar es.
AEscolaReunidadeTamborilnadat rouxedemudançasparaopovoado,somenteo
ingresso de outra professora leiga, a srª. Maria Vilani Pinheiro para ajudar a professora
MariaDelzui taAndradedeSousaMarques.Aforaisso,nadamudounoquadroescolar.O
65
que se esperava da e levação à Escola Reunida eram mudanças estruturais,  no entanto, as
averiguaçõesfeitasnosdo cumentosdaantigaEscolaIsolada,comoosboletinsmensaiseos
livros de registro de matrícula indicam que não houve alterações na organização  e
financiamento da escola.Mesmo depois do novo rótulo, as professoras aindacontinuavam
especificandoonomedeEscolaIsoladadeTamboril,tantonoiníciodaaberturadapágina
paraprocessaremasmatrículas,quantonostermosdeencerramentodosmesmos.Eomesmo
aconteciacomosboletinsmensaisqueinformavamasituaçãoemqueseencontravaaescola
eonúmerodeevasãoescolar.
O conhecimento dos aspectos sóciopolíticoeconômicoculturais do município de
IsaíasCoelhotornaseimportanteparaquesetenhamelhorcompreensãoeentendimentode
como foram o s primeiros pas sos rumo ao início da educação escolar local. A par disso,
constatouseapresençadehomensemulheresquefincaramasbasesdoprocessoeducacional
emhorizontesrurais.Sabese,noentanto,quetaismestresescolascombinaramasasperezas
domeiocircundantecomassuaspráticaspedagógicas.Nessareconstruçãohistórica, muitodo
queestavaguardadonamemóriadosseushabitantesfoirevelado.Tudomiúdorecruzado”
comodisseJoãoGuimarãesRosa,emseulivroGrandeSertão: Veredas.
66
2.RAÍZESHISTÓRICASDAEDUCAÇÃOEMISAÍASCOELHOPI:OS
PRIMEIROSEDUCADORES(19351947)
[...]. Soletrei, anos e meio, meant e car tilha, memória e palmatória. Tive
mestre, Mestre Lucas, no Curralinho, decorei gramática, as operações,
regradetrês, a geografia e estudo pátrio. Em folhas grandes de papel,
com capricho tracei bonitos mapas. Ah, não é por falar: mas, desde o
como, me achavam sofismado de ladino. [...]. Mest re Lucas. Ele me
olhou, u mtempo– erahomemdetãojusta regra,edeovisívelcorreto
parecer,que nãopoupava ninguém:àsvezestevediade daremtodos os
meninoscomapalmatória;emesmoassimnenhumdenósnãotinharaiva
dele.
(ROSA,1986,p.7)
2.1. Trajetóriadomodelodeensinomestreescola:dePortugalaoBrasil
Entendendo o modelo educacional português, terseá uma  melhor  compreensão de
como se deu a apropr iação da instrução no Brasil. Assim, de acordo com as posições
levantadasporNóvoa(1987,p.417):
asituaçãoeducativaemPortugal,noqueserefereaoensinodaleituraeda
escrita,caracterizaseatémeadosdeSetecentosporumagrandediversida de
(a situação no ensino secundário, per doesenos o anacronismo da
expressão, ébastante diferente devido à acção dos jesuítas). Assituações
escolaressãomuitodistintas,estandosujeitas,namaiorpartedoscasos,a
uma negociação pontual entre os mestres e os pais das crianças (e/ou a s
comunidades) ou entre os mestres eas autoridades locais, com quemo
celebrados verdadeiros contratos de trabalho. Um únic o denominador
comum:todaaacçãoeducativaésupervisionadapelaIgreja.
Acriaçãoeexpansãodeescolasdelereescrevernanaçãolusitanaveioaospoucos
firmar a  participação de mestresescola no comando do ensino. Segundo voa ( 1987,
p.418),citandoumaestatísticade1552deLisboa:
Na Época Moderna os mestresescola eram relati vamente numerosos,
contrariamente ao que costuma afirmarse: uma estatística da cidade de
Lisboa de 1552 menciona a existência de trinta escolas de ler e escrever,
67
onde hácinco ouseismilcrianças;em1620 estenúmero elevavasejáa
sessentaMestresqueensinavamalereescrever meninos.
Agênesedaprofissãodocente,emPortugal,estáligadaaomestreescola.Entretanto,
nasuaconceituação,eratidocomoprofissionaldebaixaformaçãoeducacional.Numtextode
João de Barro, de 1540, mencionado por Nóvoa (1987,p.418), há o perfil destes homens
escolaqueseestabeleciamemvilasecidades:
Umadascoisasmenosolhadaquehánestesreinos,éconsentiremtodasas
nobresvilasecidades,qualqueridiotaenãoa provadoemcostumesde bom
viver, pôrescola de ensinar meninos. E um sapa teiroque éo mais baixo
ofíciodosmecânicos:nãopõetenda,semserexaminado.Eeste,todoomal
quefaz,édanarasuapeleenãoocabedalalheio,ema usmestresdeixam
osdiscípulosdanadosparatoda asuavida.
“Abaixo,poisomestreescola!”,essafrasedeumtextode1904,deManuelAntunes
Amor,citadoporvoa(1987,p.418), sintetizaoquantoomestreescolafoiumpr ofissional
indesejávelemPortugal,mesmoestandoligadoàetapainicialdaprofissiona lizaçãodocente.
Registraseque,alémdominguadosaberqueposs uía,nãogozavadenenhumaregaliasocial.
ParaNóvoa(1987,p.418):
o mestreescola dos séculos XVI e XVII, indivíduo sem nenhu ma
preparaçãoparaoexercíciodaa ctividadedocentee comumestatutosócio
econômicomuitoba ixo,iráserumantepassadoindesejávelparasucessivas
geraçõesdeprofessoresdoensinoprimárioque,acadainstante,procurarão
exorcizarestefantasma,ligadoàgênesedasuaprofissão.
ComaestatizaçãodoensinoemPortugaleasreformasimplantadaspeloMarquêsde
Pombal,noanode1772,oEstadoportuguêsavocaocontro leeacoordenaçãodasatividades
escolarese “assimsetransferiuo mister daeducação, do sacerdócioesuperintendênciada
Igreja para a burocracia e superintendência do Estado. O estado fezse MestreEscola”
(Nóvoa,1987, p.419).
Ao assu mir a responsabilidade pela escolarização, o Estado português obrigou os
mestres, públicos e privados, a obterem uma habilitação legal para o ensino que se
68
consolidava com u m exame público. Este exame era um do s requisitos para o  indivíduo
ocuparumavaganadocênciae,consequentemente,exerceroseuofício. 
Se,porvent ura,umindivíduofossepegoministrandoaulassemascredenciaisdadas
pelo Estado portuguêsera punido com o crime deprevaricação.Conformevoa(1987,
p.420):
umpreceitolegalvaiser decisivo(...)nadisposiçãodaReforma de1772
que obriga todos os mestres, públicos e privados, a possuírem uma
habilitaçãolegalpa raoensino,aqualéconcedidaapósumexamepúblico.
Estalicençavaifuncionarcomosuportelegalparaoexercíciodaactividade
docente, é a arma mais importante que os mestres vão utilizar para
confirma remasuacondiçãodeespecialistaedepr ofissãodeensino.
Areformade1772pr aticamenteexpulsouomestreescola,emPortugal,doprocesso
educacional, pois some nte os mestresrégios poderiam e nsinar. Mesmo assim, conforme
Nóvoa(1987),osmestresescolapassaramaexerceroofícionaclandest inidade.
Foi somente no final do século XVIII, marco importantíssimo para o processo
educacional em Portugal, que os mestresescola aos pouco vão cedendo lugar para o
aparecimento dos mestresrégios de ler, escrever e cont ar. Tudo isso se deve às reformas
introduzidas pelo Marquês de Pombal e no bojo de tais mudanças, trouxe a instituição do
subsídioliterário,que objetivava impulsionaro ensinotantonametpole lusitanaquanto
nascolôniaspertencentesàextensãodoterritórioportuguês.ParaNóvoa(1987,p.420):
osmestresrégiosvãoreclamara suacondiçãodeespecialistasdoensinoea
suadependênciaexc lusivadoaparelhodeEstadonosentidodeobstarema
uma intervenção das populações na coisa educativa”. Às comunidades
locais,peloseulado,vãofirmarqueosmestresrégiosopagoscomoseu
dinheiro (através da cobrança do subsídio literário) e que, portanto, estes
têmquelhesprestarcontas.
Assim,comapoionosenfoquesdadosaoiníciodoprocessoeducacionalemPortugal,
ainstruçãorepassadanacolôniabrasileirafoientreguenasmãosdosclérigoscatólicosentre
osanosde1549a1759,parapromoveremadilataçãodaféeaconseqüentecatequizaçãodas
almas.
69
Osjesuítasforam,deacordocomasliçõeshistóricas,osprimeirosresponsáveispela
educaçãorealizada no Brasil.Respaldadospela máquinalusitana, bemcomo pelosco lonos
queaquiestiveram.NaspalavrasdeBrzezinski(1987,p.20):
As “escola s de ler e escrever”, no entanto, serviam apenas como
instrumentodecatequeseecomobasedeorganizaçãodosistemadeensino,
vez que os jesuítas tinham, como objetivo fundamental, a expansão do
ensino nos colégios e seminários para formar as elites, o que foi sendo,
progressivamente,realizado.Respeitandoaforteescalahierárquica de seu
plano pedagógico os seminários preparavam eclesiásticos e os colégios
eramdestinadosaosleigos.
Ressaltase que durante as etapas de desenvolvimento das sociedades, em épocas
distintas,fezsenecessár iocompr eenderdequemaneirasurgiu,seestruturoueseproliferou
asatividadesdocentes.ConformeNóvoa(1987,p.415):
omodocomoafunçãodocenteseseparoudoconjuntodasoutrasfunções
desempenhadaspelasfamíliasepelascomunidades,tendosidoconfiadaa
umgrupodeindivíduosquepassaramateraresponsabilidadedeensinaràs
crianças um certo número de conhecimentos, de técnicas e de
comportamentos(edetransmitiratravésdelesoselementos,eosvaloresde
uma dada cultura), é um dos capítulos mais apaixonantes da História da
Educação.
Ainda segundo as lições de voa (1987,p.417), a caract erização sociológica dos
mestresescola não é muito fácil, devido à grande hetero geneidade dos indivíduos que
exerciamactividadesdocentes”.Assim,continuaNóvoa(1987, p.417418),
haviaumpoucodetudo:Ar teoque,para lelamenteaoseuofícioensinam
ascriançasalere,porvezes,aescrever(...),Particularesque,sobretudonas
cidades, dão lições privadas nas casas dos nobres e dos burgueses ricos,
frequentemente a troco de uma simples refeição; Trabalhadores que,
impedidos de exercer actividades desgastantes do ponto de vista físico,
recebemcriançasemsuascasas.Homensligadosavidareligiosa,membro
deumacongregaçãoreligiosaouajudantesdospárocos.
70
Apesardaheterogeneidadedosme stresescolaabordadosporNóvoa( 1987,p.417),no
exercício daatividade docente, eles for am, semdúvida,umant epassado que, através deles,
formouseu mmodelodeprofessorlo cal,ouseja,surgiuumanovageraç ãodeprofissionais
doensino.
NoPiauí, tivemosumapresençasignificat ivademestresescolaemváriaslocalidades.
Issosedeveao fatodospoderespúblicosnãoasseguraremaocidadãocondiçõesnimasde
educação,ficandoo setoreducacionalentreguenasmãosdainiciativaprivada.
Umregistromarcanteso breaeducaçãono Piauí oitocentista foi bem elucidado por 
Costa Filho (2006), que registra a educação desenvolvida numa escola do sertão e,
consequentemente, a estada de mestresescola itinerantes contratados por fazendeiros para
alfabetizaremosseusfilhos.TalcoincidênciaocorreuemTamboril,ondesetevetambéma
educaçãoentreguenasmãosdainiciativaprivada.Discorrendosobreoencargoeducacional
nasmãosdosfazendeiros,CostaFilho(2006,p.143)afirmaque:
a prática foi institucionalizada pelos fazendeiros. Quando seus filhos
atingiamidadeescolar, ocorriaocontratodosserviçosde ummestreesc ola.
Também ao contratante cabia providenciar uma casa para acomodar o
professoreservirdeespaçoparaasaulas.Geralmenteeraumaconstrução
detaipa,chãodeba tidoecoberturade palha.Osmóveisresumiamseauma
grande mesa, com um imenso banco de madeira sem encosto, onde as
criançasseacomodavamparareceberemasaulas.Nomeiodasala,sentado
ou recostado à rede armada, o mestre tomava as lições dos alunos que
ficavamempéousentadosemuma cadeiraaolado. 
Percebese que, ent re 1850 e 1889, os fazendeiros piauienses, para verem os seus
filhosletrados,tiveramqueassumiro encargopelaeducaçãonaslocalidadesonderesidiam.
NoPiauí,apráticadeavocaraeducaçãoparaas mãosda iniciativaprivad a foicomumem
muitosnúcleosdepovoamentoespalhadospeloEstadoafora,privando,comisso,asdemais
pessoasdacomunidadeaterem acessoaoconhecimentoondeocorriaainstitucionalizaçãodo
saberporpartedosfazendeiros.
Como se de constatar, através dos registros acima, nacont ratação de um mestre
escolaasdespesasnãoseresumiam somenteaopagamentosobreosserviçosprestadospor
ele,mas,também,ocontratantedeveriadarcondiçõesdeacomodaçõ esparaquesesentisse
atrdopelanovalocalidade.
71
Em Tamboril ocor reu algo semelhante, pois como era difícil aparecer um mestre
escola na região, os fazendeiros e comerciantes abriam precedência para alguns poucos
amigosefamiliarespró ximos.Nopovoado,osmestresescolaqueporláe stiveram,segundo
depoimentosdeexalunos,foramverdadeirasautoridadesdura nteoperíododaescolarização.
Para Costa Filho (2006,p.148149)os mest resescola foram por toda a Província “a
maior manifestação educacional”, além de repassarem o ensino de primeiras letras e de
práticas cotidianas necessárias à vida no meio rural” ensinavam ainda “os valores e os
princípiosdasoc iedadedosertãonordestino”.
Percebeuse,pelalit eraturaexistente,queofenômenodosmestresescolaseespalhou
pelosmaislongínquosrincõesdoEstadodoPiauí.ConformeasliçõesdeMelo(1983,p.139
140), asnotícias maisremotasacercada instrução noEstadodoPiauí remontamao  século
XVIII, e ficaram a cargo dos mestresescola. Nesses re latos, abordase a presença dos
mestresescolanacidadedeCampoMaiorPi enassuaslocalidadespróximas:
Oficialmente se sabe que o século XVIII não houve qualquer escola no
Piauí. A afirmação não é bem exata. Não houve Escola Pública, mas os
mestresescola foram muitos. E m C ampo Maior e seus arredores,
documentos de mea dos doséculo, chamama atenção para o número dos
que,mesmomal,sabiamlereescrever.Équeainstruçãoeraumaespécie
de exigênciaculturaldaépoca.Osricos mantinham emsuas fazendasum
mestreescolaque,emhorasvagastambéminstruíaosservidoresadultosda
fazenda. Em qua se uma centena de documentos do cartório de Campo
Maior,a grande maioria dos que fizeram qualquer forma de remações,e,
entreelesencontramosroceiros,vaqueiros,etc.Ainstruçãosedava nacasa
dafazendaporgentecontratadaparaisto,ounapovoação,ondeovigário,
emsuacasaparoquialensinavaa  gramática,liçõesdelati meFrancêsea
doutrina cristã. Os filhos de ricos iam completar seus estudos na Ilha do
Maranhão,naBahiaeàsvezesemPortugal.
Nasaf irmaçõesdeMelo(1983),viusequesóquemtinhacondiçõesdearcarcomo
ônusdaeducaçãoeramosfazendeiros,poisalémdeseremportadoresdepoderlocaleram,
ainda,r esponsáveisemintroduzirmestresescolaitinerantesnassuasdependências.Poderse
ía, no entanto, terse uma explicação para a institucionalização da educação por part e dos
fazendeiros.
Umrecortedeveserfeitonotocanteaosmestresescolaqueexerceramoseuociona
cidadedeEsperantinaPi,poistalqualacapitulaçãoquetiveramemPortugal, naliteraturade
Pereira(1996),encontrasenassuasnarrativasreminiscênciasdemestresescola que,também,
72
começaram a sair do cenário educacional piauiense, devido à chegada de professoras
contratadaspeloEstado. ParaPereira(1996,p.5556):
Alutatravadaentreosmestresparticulareseaspr ofessorasdogovernofoi
dura e sem trégua, na disputa pelo campo, na sede da vila. Na grande
batalhaquese travouforamrechaçadososquedependiam dodinheirinho
minguado, arrancadoquaseàforça,daquelagentedepoucoshavereseque,
defendendoabolsaopinavapeloensinogratuito.Levadosàbancarotaos
professoresdevarandaforamreduzidos atalcondiçãodedesvantagemque,
àsvistasdaserapecúriaqueoslançounaruadaamargura,nãopuderam
competircomquemtinhacostaslargaseforradaspelos cobr esdogoverno.
Entrementes, convém assinalar que houve tenaz resistência por parte dos
mestresdaterra,osquaisporfalta dosmeios desubs istência, terminaram
por capitular. Capitularam, é bem da verdade, mas não se verificou o
extermínio da classe, porquanto, para evitálo, os que foram batidos nas
primeirasescaramuçasdaincruentarefrega,buscaramquartelnointeriordo
município, cuja cidadela às vistas do governo não alcançavam. 
Abandonando o reduto onde porfiaram a todo custo, passaram a disa rnar
minino na ra, e, se as professoras deplomadas os tinham na conta de
réprobos ou simples parias, em compensação, como coisa alentada, a
matutada os chamava como se fossem eles grandes luminares das letras,
doutor adosnavelhaSalamanca.
Percebese, no fragmento, que a presença dos mestresescola, pelos mais diversos
grotões do Piauí,  além de ter sido marcada pela insistência em permanecer exercendo a
docência,emconfrontocoma“professoradogoverno”,também,a“matutada”dosinteriores
os consideravam comodoutoresdasletras.
A pre sença do mestreescola foi marcante, também, em uma das cidades de maior
representaçãopoticaeeconômicadoEstadodoPiauí,acidadedePicos.Ali,bemcomona
suamicrorregião,queabraçaumcinturãodecidadesaoseuredor,tambémt eveapresença
desses homensescola. Leal( 1989,p.1617)abordaapresençado mestreescolanopovoado
TrêsMorrinhos,no municípiodePicos,nofinaldadécadade1930:
.
Nesta manhã, eu não conduzia o meu estilingue (bala deira), porém, sim,
levavameracaixacontendoomaterialescolar.Foicomaquelea rmamento
que tomei chegada à ca sa onde a escola iria funcionar.[...] Além do
professorea lunos,estavamali,também,ospaisdosrespectivosalunos,que
porsuasvezesfaziamasrecomendações.Eramomentodesilêncioemuito
respeitoeparadarmaissignificadoaoevento,foiexibidaumacarrancuda
palmatóriaquepareciadormirsobreàmesadoprofessor.[...]Nãofoium
ano letivo, foi somente um s de aula e, mesmo assim, eu já havia
73
aprendido muitas palavras, pois procurei a proveitar todo ensinamento do
nossodedicadomestre.
Muitos povoados e cidades do interior do Estado do Piauí também absorveram a
presença do mestreescola. Em cada aglomerado humano do Piauí ficou o registro desses
homensescola.Comautilização demétodosrudimentaresdeeducação,modelaramoperfil
culturaldecriançaseadultosqueseestabeleceramnosertãopiauiense.
Soboamparodecomerciantesefazendeiros,osmestresescolaselaramcontratosde
prestaçãodeserviçoscomoobjetivodeministraremaulasparaseusfilhos.Aestadadeum
mestreescolaemumadeterminadacomunidadedespertavaointeressedeoutrasfamíliaspara
tambémcolocaremosseusfilhosnomundodaculturaescrita.
2.2.AchegadadosmestresescolaaIsaíasCoelho(19351966)
A educação em Tamboril foi alicerçada inicialmente pela presença esporádica de
mestresescolaquesenotabilizarampeloensinodeprimeirasletras.Apermanênciaporum
curtoperíododetempodessesautodidatasdosertãode veseaofatodoisolamentoemque
este povoado se encontrava, distante dos gra ndes centr os urbanos e pelo  fim do contrato
estabelecido entre o mestreescola e fazendeiros e comerciantes locais. Findo o prazo de
estadadomestreescolajuntoàfamíliaqueocontratava,queseconcluíaapósàalfabetização
dascrianças,esteíaexerceroseuofícioemoutrasparagens.
Em 1935, chega a Tamboril, o riundo de Simplício Mendes, o mestre Propécio
Portela, contratado  pelo “major” Acelino Pinheiro, comerciante que lançou as bases do
processo  educacionalemTamboril, para a alfabetização de seus filhos Helena Pinheiro e
Cristóvão Pinheiro.O mestreescolaPro pécio Portela foi indicado ao sr. Acelino Pinheiro
pelopoticodacidadedeSimplícioMendes,ArnaldoFerreiradeCarvalho.
AlémdosmestresescolaquevinhamdeoutrascidadesparatrabalharememTamboril,
destacaseaprese nçademestreslocais,dentreelesossenhor esVicenteCarloseJoaquim
Rocha,profissionaisrarosparaaépocaemapreço.PrincipalmentenoEstadodoPiauí,pois
nos seus micropólos de povoamento, no início do século  XX, tudo era transportado em
lombos de animais, inclusive seus professor es. A presença destes homensescola na
74
comunidadeTamboril,alémdetersidoum marconaeducação,possibilitouoencontrodos
indivíduos com a escrita. Em vista disto, segundo dados coletados nas entrevistas, o
contratanteprocuravadaraomestreescolaasmelhorescondiçõespossíveisparaoexercício
do ofício . Nos relato s de Pereira (1996,p.21), em estudo feito sobre a educação em
Esperantina:
alémdetudo,naqueletempo,ummestreeraumverdadeiroachadoequem
tivesseasortedeterumàmão,nuncaousavadesgostálo,nemquefosse
porforçadeummotivoforte.Aomestredavasecartabrancae,contrariálo
comasupressãodetaisprerrogativas,seriaumatemeridade.
Acartabrancadada aos autodidatasdo sertão,pelos fazendeiros ou comerciantes,
justificavase, pois nas diversas paragens do interior piauiense e, também no povoado
Tamboril,houveumaausênciadoEstadonoprocessoeducacionalqueficoupormuitotempo
dependendo dos interesses poticos do município ao qual era vinculado. E, no caso do
povoadoTamboril,ficouaoartriodasoligarquiasdacidadedeSimplício MendesPi.
Ilustração 09.Vic enteCarlos(19181991)(exmestreescolanopovoadoTamboril)
Fonte:ArquivoparticulardeMariadeSousaRocha
Assim, em vista do descaso para com a educação no povoado Tamboril, assume o
controledaeducaçãolocalo poderprivado.Poderessequetransfere,paraosmestresescola,
75
opapeldeagenteresponsávelpelaspráticaseducativas.Eramhomensescolaque, detentores
dapasta educacional,assumiam ocontroledosaber,numespaçosocialdeanalfabetos.
Notase, contudo, que a contratação dos mestresescola pelos pais do povoado
Tamborilatendianãoapenasaointeressedeumasófamília,masterminavasendoestendido
às outras famílias, muitas vezes do mesmo tronco familiar. Nas palavras da exaluna
AlbaníziaSantanaPortela(19. 12.2005):
naépocadaescolaemcasa[...]noanode1966[...]estudavamcomigo[... ]
umafaixade20alunos,poraí.Eu era muitocriança,.[...]Estudavam
comigo osprimos Francisco,Dejanira, Socorro, Gracílio. Tinha, também,
os outros primos: a Juraci, a Francilina, né, a Carmosita e o José Neto.
A estada dos mestres de varanda que se fixaram no povoado Tamboril e suas
localidades vizinhas de morava somente o tempo necessário para o aprendizado  da escrita,
leituraedoscálculosmatemáticos.Masoutrofatoreradeterminanteparaapermanênciado
mestreescola nalocalidade,oacolhimentodadopelocontratante,ouseja, asacomodações
onde iria ficar durante o período em que fosse repassar os ensinamentos. De acordo com
Albanízia(19. 12.2005):
assistiaaulasemcasa,.Meupaicolocavaprofessorpa rticularemcasae
passava2a3mesesdandoaula,né.Foramvários.Teveosr.JoséAnacleto,
jáfalecido.T eveaprofessoraSantinha,também.Teve maisoutrosque eu
não estou lembrada mais. [...]. Eu lembro que eles vinham da cidade de
ConceiçãodoCanindé.[...].Osprofessoresqueforamcontratadosficavam
naprópriaresidênciademeuspais[...].noMocambo.
Vêse que os mestresescola foram como “aves de arribação”, conforme Pereira
(1996,p.1819), logo apóso fim do contrato firmado com asfamílias de possese les,assim
comoasaves,
prevendo dias amargos e difíceis, rufla m as asas e levantam vôos, em
demandadeoutrasplagas,buscandomelhorespousos.Adiferençaéqueas
aves voam ao deusdar á,  enquanto o mestre, antes de tr ansferirse em
76
definitivo, ía pessoa lmente fazer uma ligeira averiguação e, só depois de
sondar o local, era  que, caso a coisa lhe agradasse, tra tava de engatar o
compromissocomopessoaldolugar.Ajustadasascondições,voltavapara
casa, pondose à espera do aviso de que tudo estava em dia e de
conformidade com as exigências que ele fiz era, a fim de evitar a
precipitação de um passo em falso e também para que a muda não
redundasseemfracasso.
Motivo de nota no quetangea esta primeira etapa da educação emTamboril foi a
obediênciadosexalunos, em saladeaula,napresençadestesmestres.Nasdeclaraçõesdaex
aluna, a dona Albanízia, todos os alunos que assistiam às aulas dos mestresescola, na
localidadeMocamboeramdisciplinados.Talvezissosede vesseaoavaldadopelospaispara
quepuxassenosensinamentos.
Registrase que, na localidade Mocambo , o ônus do ensino não foi diferente do
povoadoTamboril,poisaeducaçãoestavaentreguenasmãosdeparticulares,semoamparo
econômico e e strutural da cidade de Simplício Mendes. As aulas eram dadas ao redor de
mesas onde não se tinha um ambiente adequado para absorver uma quantidade maior de
alunos. SegundoAlbanízia(19.12.2005):
olocal dasaulaseranasala,. Lánacasademeuspaistinhaumasala
bemampla,né.Edavaparaficartodomundoassistindoàsaulasdireitinho.
Ao redor da mesa outros sentados nas cadeiras, por aí. [...]. Não tinha
quadroparaoprofessorescrever.[...].Era todomundocalmo, obedec iam,
.Comoeraumaquantidadedepoucosalunosdavaparapegarmuito bem,
prestarbematenção.
Observasequehaviaumaprecariedadeno espaçoondeforamrealizadasasaulas,pois
isto se evidencia quando a entrevistada dec lara  que não existia nem quadro para serem
colocadososconteúdos.
2.3. A éticadomestreescola
A instituição familiar, responsável pela escolarização dos filhos, no povoado
Tamboril, assumiuo encargo de promovera educação local. Assim, segundonosesclarece
Ferro(1996,p. 91):
77
observase[...] de formaenfática, aresponsabilidade das famílias sobrea
escolarização dos filhos. Em muitos casos, as primeira s letr as eram
ensinadasnopróprioambientedomésticoporpais,parentesouprofessores
contratados pela família. Em outros casos, famílias se agrupavam para a
contrataçãodeprofessorparaoensinoaosseusfilhos.Tratavasedeespécie
deeducaçã osobaorientaçãoeresponsabilidadefamiliardireta.
O quadro educacional a que Ferro  (1996) fez referência existia, também, na
comunidadeestudada.Asfamíliasqu etinhammelhorescondiçõesfinanceiras,sequisesseter
ofilhoestudando,contratavamummestreescolaedavamcondiçõesparaqueeleficassena
localidade.
Osmestr esescoladopovoadoTamborilrecebiamumat oparticularquedavaaeles
poder simbó lico detransformar e civilizaros meninos e meninasque não tinham,ainda,o
contatocomaescrita,anumeração,ahistóriaeocivismo.
Figura social relevante nas comunidades onde exercia o seu mister, exaltado pelas
habilidades do ofício, os mest resescola do povoado Tamboril tingiram a realidade
educacionaldestepequenomicrocosmodosistemaeducacionalbrasileirodeumaformabem
particular.Temido,respeitado,uma autoridade localqueestabeleceu novasco nfiguraçõese
deu ao povoado Tamboril a fo rmação cultural para algumas crianças, cujos pais eram
possuidoresdeumpodersocialeecomico.
Opadrãoéticodomestreescoladescritopelaexaluna,donaHelenaPinheiro,trazia
em si as condições indispensáveis ao exercício da profissão: a consciência e o senso de
responsabilidade. Ao se pronunciar sobre o sr. Propéc io como sendo “homem de boa
conduta”,evidenciaseaboacondutaéticadestemestreescola,poisasaçõesdesteprofessor
nãoserianadamaisdoque“umcomportamentoadequadoaoscostumesvigentes,eenquanto
vigentes,istoé,enquantoestescostumestivessemforçaparacoagirmoralmente,oqueaqui
querdizer,socialment e”,conformediscorreValls(1994,p. 10).
78
Ilustração 10.HelenaPinheiro( exalunadomestreescolaPropécioPortela)
Fonte:ArquivoparticulardeHelenaPinheiro
Com isso,observousequeosmestresescola que por Tamboril estiveramsouberam
respeitar os costumese os valores deste grupo.A palmatória foi algo que aos poucos foi
sendo utilizado pelos mestresescola da região, mas não se percebeu, no início, com os
mestresque estiveramnopovoado.Somentemaistardefoiqueapalmatór iaapareceunacasa
escoladeLusiaReisSantos.
2.4. Omestreescola:entrepráticasesaberes
AentrevistacomaexalunadomestrePropécioPortela,HelenaPinheiro,foipontuada
porinstantesde sorrisos, lágrimasesu spir os. Ao mesmo tempo que descreviaas açõesdo
velhomestre,deulheu mavisão româ ntica,diversadaquelae xpostaporSampaio(1996),em
queo smestresesco laassumiramcaracterísticasdiferentes,umavezqueutilizavam,nassuas
açõespedagógicas,castigosdosmaisvariadospossíveisno“desarnamento”dosgarotosque
freqüentavamasaulas,conformepodemo snotarnestapassagemdos re latosdePereira(1996,
p.25):
79
entre os castigos que o famoso BoladeOuro costumava aplicar, quero,
abreviando a coisa, destacar o seguinte: conforme a gravidade da falta
cometida–quasesempreliçãomastigadaouumtrasladofeito–o discípulo
relapso era posto dejoelhos em cima de montinhos decaroços de milho,
comosolhosvendadosporgrotescosóculosdecabaça,ouentão,casofosse
épocadacanículaeosolestivesseabrasador,eramandadoparaoterreiro,
ondeficavadescalçonomeiodaareiaquente,tendoaindaumacadeira na
cabeça,sobreaqualMestreBelarminocolocavaumapedrabemcrescida,
ou em falta da pedra, qualquer objeto pesado. E s e o sujeito era mesmo
tapado, sendo incapaz de resolver direito a lição de leitura e a escrita,
Mestre Belarmino punhao de quatropés no meio da sala, a fim de ser
cavalgado por um discípulo mais aberto, que o esporeava com os
calcanharesnosvazios,mostrandoaosoutrosaquempassava,queopobre
coitadoeramesmoburro.
NasnarrativasautobiográficasdeBugyjaBritto(1977,p.25),encontrase,nocapítulo
dedicado ao seuavôpaterno,umadas passagens em que o mestreescolaaplicavaalémda
tradicional palmatória, um objeto de flandres amarrado na mão esquerda, com o fito de
eliminarestamão paraosafazeresdoofícioeparaosváriosmisteresquepodiaserusada.
Beneditocomeçaraaos8anos[...].Eracanhoto.Incapazdeescrevercoma
mãodireita,tevedesercastigadopelomestreescola.Alémdapalmatória,
este outrosuplício:um objetode flandres, emforma cônica,atavaamão
esquerdaafim destanãopoderserusada.Nofim, eleaprenderaausara
mão direita e, como nunca abandonou a ação da esquerda para vários
mister es, inclusive para escrever, foi um cidadão que ficou manejando,
indistintamente,ec omdesembara ço,asduasmãos.
Osrelatosacercadosmestresescolanomanuscritoint ituladoHistóriaverdadeirade
um menino de escola que se transformou no livro Cazuza, trazem a caracterização dos
mestresescola como alguém temido, frio, feroz, um verdadeiro carrasco à procura de sua
presa.Mas,nolivroCazuza, deViriatoCorrêa(1984),aaçãopedagógicadosme stresescola
nãodestooudosdemais apreciadosanteriormente.Oscastigossofridospelosalunos faziam
comquee lesperdessemoestímuloparafreqüentarasaulas.Emalgumaspassagensdolivro
deCorrêa(1984,p.2934),podemosnotarorepúdio,opavoràescola,bemcomoàspráticas
disciplinaresaplicadaspelomestredevaranda,conformefragmentosabaixo:
80
Escola,realmente,nãopodiaseraquilo.Escolanãopodiasera quelacoisa
enfadonha, feia, triste, que metia medo às cr ianças. opodia ter aquele
aspecto de prisão, aquele rigor de ca deia. [...] A escola inteira falava
horrorizadadedoissuplícios.Umdeleseraficaroalunode joelhossobre
grãos de milho. O outro, a ‘orelha de bur ro’. À cabeça do menino
colocavamse duas enormes orelhas de papelão e faziase o desgra çado
passearpelasruas,vaiadopeloscompanheiros.
Nasmaisvariadasfontesdeseencontraroperfildessesprimeirosprofessoresque
estabeleceramcomasociedadelocalocompromissodeensinaraler,escrever,contare,em
algumasregiões,oensinodealgumofício.Essesforamosfinsparaquaisosmestresescola
foram contratados, sobretudo porque as necessidades do meio rural em que estiveram
inseridos, nãoexigiamalgo maisdoqueisso.
Asdescriçõesdaviolênc iapedagógicautilizadaporummestreescola,nolivroMeus
verdesanos,deJoséLinsdoRego(1980,p.214),éassimfeita:
omestreeraumnegrovindodosertão,homemdecalibre,homemquenão
abriaabocaparasorrir.Apalmatóriaeraasuavaradecondão.Fazialuz
nosmeninosàcustadesurrasedebolos.CadaletraqueBaltasaraprendeu
deviaterlhecustadoumadúzia.
Tão oportuna é a colocação feita acerca dos me stresescola por  Magalhães (1998),
uma vez que alude aos mestr esescola como sendo a instância que represe ntava
simbolicamente o aparato educacional do Estado. E que tais professores, no ensino das
primeiras letras, desenvolveram, por seuspróprios meios, materiaisdidáticose métodosde
ensino, conhecidos por sua eficácia tanto no que diz r espeito à alfabet ização dos meninos,
quanto no que diz respeito à rígida disciplina em sala de aula. Conforme Magalhães
(1998,p.42):
esses mestresescola, autodidata s do sertão, não obstant eàs li mitações de
ordempessoal ematerial,prestaram inestimáveisserviçosà educação das
camadasmenosfavorecidas,paraasquaisrepresentavamaúnicainstância
educativapossível.
81
Osmestresescola,comtodasascredenciaisdadaspelosfazendeirosecomerciantes,
foramresponsáveispelaconstruçãodeumarealidadeeducacional.Detiveram,comisso,no
espaço  das práticas educativas, uma coerção simlica, que consiste, segundo Tardif
(2003,p.137):
nos comportamentos punitivos reais e simbólicos desenvolvidos pelos
professores em interação com os alunos na sala de aula. Esses
comportamentossãoestabelecidosaomesmotempopelainstituiçãoescolar,
que lhes atribui limites variáveis de acordo com a época e o contexto, e
pelosprofessores,queosimprovisamemplenaaçãorealizadanomomento:
olhar ameaçador, trejeitos, insultos, ironia, apontar com o dedo, etc. Ela
consiste,também, nosprocedimentosadotadospelasinstituiçõesescolares
para controlaras clientelas:exclusão,estigmatização,isolamento,seleção,
transferência,etc.
Os mestresescola que estiveram na cidade de Isaías CoelhoPi assumiram perfis
diversos. Na entrevista da exaluna, dona Helena Pinheiro (10.07.2005), sobre o mestre
escola,conferelheumavisãoromântica,asaber:
Osr.Propécio vestiasesempre debra nco.Mandavaa  gentetratarbemas
pessoas. Pediaparaagente nãopassar entreos mais velhos.Pediaparaa
gentecolocarosbraçossobreamesaparaacaligrafianãosairtorta.Eraum
homem íntegro, honesto, bem diferente de outrosprofessoresquea gente
ouviafalar,queusavamatépalmatória,pelasbandasdoMucambo14.Osr.
Propécioeraumhomembom.
Indagadasobreolocalondeforamrealizadasasaulas,HelenaPinheiro(10.07.2005),
comseus80anos,descreveuopequenocômodoondeaconteceram asaulas:
AsaulaseramnacasadeTiaMar ianaeocômodoreservadoparaasaulas
eranosfundos,emumlocalseparadodacasa.Asparedeseramemtijolos
cru,acoberturadocômodoeradaquelastelhasdealvenaria.Doisbancos
de madeira atravessados. No meio, a  mesa do professor esua cadeira de
couro.Existia, também,  uma pequena lousa que o professor copiava os
números eas letras do abecedário. otinha recreio, havia umapequena
sinetasobrea mesadoSr.Propécio.Algumastabuadasea lguma scartilhas
sempresobreamesadele [...]tempodainocência.
82
Comosepercebe,HelenaPinhe irodetalhoupormenoresdoespaçoondeaconteceram
as aulas, na casa da senhora Mariana Pinheiro. Era um localsimp les, mas que teveuma
significação particular para os exalunos que porláestiveram. “Tempo de inocência”, esta
fraseporsisóresumetudo,desdeaimpor tânciadoespaçoescolaratéàsmarcasdeixadaspela
culturaescolar.ParaHalbwac hs(1990,p.133):
olugarocupadoporumgruponãoécomoumquadronegrosobreoqual
escrevemos,depoisapagamososnúmerosefiguras.[...]olugar recebeua
marcadogrupo,eviceversa.[...]cadaaspecto,cadadetalhedesselugar em
si mesmo tem um s entido que é inteligível apenas para os membros do
grupo.
Compreendese que cada coisa enumerada por dona He lena assumia um lugar
privilegiado nas suas lembranças. Durante as descrições, observouse que as imag ens do
cômodo,dosmóveisescolares,dasineta,dastabuadasedascartilhastinhamumvalor,não
umvalormonetário, masovalordasubjetividadepresentenasualembrança.
Ométodoutilizadope lagrandemaioriadosmestr esescolaparaaalfabetizaçãodos
alunoseraasoletração.Soletr ar,soletraresoletrar, errarjamais.A práticarotineiratanto das
liçõesquantodatabuadanãopoderiaserdesafinada.Osomqueeracantado,foiassimque
donaHelenaPinheiro(10.07.2005)sereferiuaoaprendizadodasprimeirasletras.Aprender
baseado  emproced imentosdestanatureza foi o feito emtodaetapa iniciald a educação no
povoado. Vale de stacar que mesmo utilizando métodos didáticos baseados e m processos
rudimentares, o s exalunos passaram até a escrever cartas com desenvo ltura, como o
informadopordonaHelenaPinheiro:
aprender a ler  e escrever  [...] foi a gra nde novidade. [...]. Tempo da
inocência. Eu e o CristóvãoPinheiro, nós íamos comtodo o entusiasmo.
LeôncioPinheiroquelevavaenahoracertaíanosbuscarparacasa.[...] Eu
não me lembro quanto tempo eu assisti aulas na casa de tia Mariana.
Aprendi o ABC e a tabuada. [...]. As primeiras letras foram lá, posso
afirmar. [...]. Não mechega a lembraa de outras pessoas que assistiam
aulas comigo. Eu era muito criança. [...]. A preocupação de meu pai era
adiantar os filhospegando as primeira s letras. Era muitoatrasado olocal
onde a gente morava, foi quando ele contratouseuPropécio Portelapara
vim lecionar. [...]. Aprendi a fazer o meu nome e entender as primeiras
letras. Já fazia o ditado e meus bilhetinhos. [.. .]. Chegueia escrever [...].
para minhas primas aí em Itainópolis [...]. Socorro Fialho, Raimundo
83
Fialho.  Escrevia para a s Carreiras onde morava a família Coelho, Dona
Quininha,SeuCelé.Erampessoasamigasqueagentecorrespondia.
Saber escrever um bilhete dentro das circunstâncias em que viviam não era para
qualquerum. Somentea lgumaspoucaspessoastiveramacessoàescrita.Nãofoi fácil,pois
parasecontratar um mestreescola requeriaalém de condições, informação referenteàboa
condutadestemestre.
Um papel vazado, em forma de c írculo, era a técnica que os mestresescola de
Tamborilusavamquandochamavam oa lunoparatomaralição.Ébemoportunaadescrição
feita por Fontes Ibiap ina (s/d,p.1314), escritor piauiense, no seu livro O Casório da
Pafunça, sobreumaescolanaroça:
Professor
Agoravocêsvãoler,bemalto,atabuadanacasade multiplicarpor
dois.
Todososalunos(cantando)
Duasvezesu mdois.
Duasvezesdois,quatro.
Duasvezestrês,seis.
Duasvezesquatro,oito.
Duasvezescinco,dez,noveforaum naregradedezvaium.
Duasvezesseis,doze,novef oratrês,naregradede zvaium,ume
dois,três.
[... ]
Professor
Agoravaiseroargumentodaleitura.
(Todososalunosempé,emcírculo.Oprofessorvaiapontandopara
cadaum)
Professor
Soletrecavalo!
Aluno
Cacá,vavá,vavá...
Professor
Adiante!
Aluno
Ca cá,vavá,loló,cavalo.
Professor(entregando apalmatóriaaoaluno eapontandoparaoque
errou):
Dêumbolonestecorno,pra ele aprendersolectrar!
(Oalunodáumbolonooutro.)
Professor
Soletremorada!
Aluno
84
Mómó,rará,rará...
Professor
Adiante
Aluno
Momó,rará,dadá–morada.
Professor
PassalheumbolopuxadoaCambito,queépraestecornoaprender
soletrar.
Éevidentequenoprocessoensinoaprendizagemaassimilaçãodeconteúdosedados
numéricos era algo mecâ nico, residia tão somente na memorização, deco rar era o lema.
Compreender o  espaço onde ocorreram as aulas, significa entender o contexto onde foi
exercidaadocênciapelosmestr esescola.
2.5.Emterrademestreshomens,apresençademulheres
Além dos mestresescola homens, também passaram po r Tamboril, no período em
foco,mestrasmulheres,dentreelas,destacaramseasenhoraLeoníliaMendesdeCarvalho,
conhecidanaregiãopelocognomeLulu”easenhora Santinha.
O sr. Braz Pinheiro(09.09.2005) , relembrando o lugarondeocorreramas práticas
educativassobadireção,agora,deumamulherdisse:
EladavaasaulasnacasadasCarreiras,dafazendadofinadoCelé.[...].Eu
eranovinhoemeupaimebotoupa raestudarlá,nasCarreir as.[...].Látinha
umasalagrandeenósassistiaaulaslá, nessasala,etinhaumamesaeumas
cadeiras.Erasomenteissoaí.Olocaleraissoaí.Não existiaoutracoisa.
Nãoexistiaquadro,não.”
Nestapassagemrelatadape loexaluno,evidenciouseocaráterprivadodaeducação
desenvolvida nopovoadoTamboril, nasprimeiras décadas do séculoXX, entreos anosde
1935 a 1966, pois o mesmo assistia às aulas na fazenda do senhor Celecino Coelho,
conhecido por Celé, um dos fazendeiros da região. É importante ressaltar que o sr. Braz
Pinheiro sóteve acessoaessasaulasdevidoaofato deseupai,osenhorAcelinoPinheiro,ser
amigodessefazendeiroe,t ambém,oúnicocomerciantedalocalidade, quejáhaviacontratado
85
um mestreescola, o sr. Propécio Portela, que servira aos filhos de pessoas de condição
abastadanalocalidade.
Quando questionado sobre a localidade de onde vinha a mestraesco la para dar as
aulas,nasCarreir as,notousemaisumavezasdificuldadesparaseconseguiralguémquese
propusesseaalfabetizarascrianças,poisopovoadonãotinhacomomanterumaescolapara
todas as pessoas da comunidade. Cabia, pois, um investimento do município mãe, que era
Simpcio Mendes, em criar condições para que houvesse a de mocratização do ensino.
Entretanto,o que se notou foi o contrário, o ensino ficou entregue nas mãos da iniciativa
privada.Conformeosr.BrazPinheiro (09.09.2005),ela vinhaacavalo.Não existiacarro,
naquela época, e ela vinha mo ntada num cavalo. [...] A professora vinha dar as aulas e
voltava,aossábados,paraoMumbaça.C hegavanasegundafeiranovamentedevolta”.
Ilustração 11.BrazPinheiro(exalunodamestraescolaLeonília)
Fonte:ArquivoparticulardeBrazPinheiro
Comapresençada mestraescola,dona“Lulu”,contratadapelo fazendeiroCelecino
Coelho, para ensinar aos seus a ler e a escrever, outros filhos de pessoas chegadas ao
fazendeiropuderamteracessoaessasaulas,comofoiocasodoexaluno,osr.BrazPinheiro.
Osr.Braz Pinheiro(09.09.2005) enumeroualgunscolegasqueassistiramaulascomele:“Era
TeresinhaCoelho,RaimundoCoelho, ArmandoCoelho,euemaisalgunsalunosqueeunão
merecordobem.[...]Nóstínhamos aulaspelamanhã”.
Durante os momentos em que o exaluno, o sr. Braz Pinheiro, lembravase dos
espaço sete mposondeeramdesenvolvidasasaulas,resgatousedasuamemóriaocoletivo
vivenciadoporaquelesalunos easmarcasdeumaculturaescolarartesanalevidenciadacomo
umacolchaderetalhosquese constituíaetomavaformasaospoucos.
86
No interior da fazenda do sr.  Celecino Coelho, desenvolveuse uma etapa muito
importantedoprocessoeducacionallocal,poisnessafazenda,comotambém,nacasadaDona
Mariana,ondeomestreescolaPropécioPortelaestevedandoassuasaulasparaosfilhosdo
sr.AcelinoPinheiro,encontramseasraízesdaeducaçãodo povoadoTamboril.Naspalavras
dosr.BrazPinheiro(09.09.2005)forampo ntuadosoqueeraministr adopelamestraescola,a
dona“Lulu”:
s chegávamos lá e ía estudar aquele ABC ou aquela cartilha e ela ía
agrumentar, .Aquelesalunosqueestavammaisadiantados,né,naleitura;
enoABCeraomesmo,também.Era mpoucososalunos,né.Oagrumento
era assim, fazia uma reunião e lá ela  ía fazer uma interrogação sobre o
assunto,né.S óisso.
Aosereferiràvelhamestra,osr.BrazPinheiro(09.09.2005)fezalgumasalusõ esàs
características significativas da conduta ética da mulher que marcou uma parte da história
educacionaldeTamboril.
Ela era uma jovem, assim, morena, muito delicada, educada e era uma
professora boa para s. Não nos maltratava, . [...]. O tempo dela foi
pouco lá nas Carreiras. [...]. A professora não usava a palmatória. Não
existiaapalmatória.
Muitascoisas foramrelatadaspelo sr. Braz Pinheiro (09.09.2005),masas saudades
daquele tempo ficaram evidenciadas no seu discurso, mesmo com as dificuldades em
freqüentar asau las,poistinhaque percorrer cercade 3 kmparachegar àsCarreiras, lugar
ondeeramministradasasaulas.Oexalunotinha,também,asaulasdamestraescola“Lu lu”
como um divertimento bom, devido à localidade não oferecer condições estrut urais de se
estabelecerumaescolaeinexistirumaparatosocialquedesseàcomunidadelocalcondições
deentretenimento.Efoicomodiscursodoexalunoquesepôdenotarasmarcasdeixadaspo r
esseespaçoqueimpregnouneleumasingularidadeparticular.
Ali,marcoumu itacoisaporqueeraumdivertimentoqueeutinha,ira.
Eu me sentia felizporquanto sentia aquela saudade de meuspais, . Eu
87
nunca tinha saído de casa, . E a primeira vez que eu saí foi para as
Carreirasaondesemuitodesseeram2ou3Km.
Eununcatinhasaídodecasa”.Comessaspalavras,percebeseumarupturacomos
espaço s dafamíliaeaconstruçãodeumaautonomiaporpartedoexaluno BrazPinheiro.
2.6.Aculturaescolarnotempodomestreescola
Entendendoaculturaescolar,nodizerdeJulia(2001,p.10),comosendo,
umconjuntodenormasquedefinemconhecimentosaensinarecondutas
ainculcar,eumconjuntodepráticasquepermitematransmissãodesses
conhecimentos e a incorporação desses comporta mentos; normas e
práticas coordenadas a finalidadesquepodem variarsegundoas épocas
(finalidadesreligiosa s, sociopolíticasousimplesmentedesocialização).
Combasenofr agmentoacima,aspráticaseducativasqueforamdesenvolvidaspelos
mestresescolaemT amborilapoiaramseemnormasprédefinidas.Hajavistaqueaosmestres
de varandaera dado o apoio necessário para praticaremosensinamentos e repassaremaos
filhosdoscontratantesainculcaçãodecondutascondizentescomosbonscostumes.
A normatização era a regra para alguns mestresescola que se estabeleceram na
localidadeMucambo,pertencenteaopovoadoTamboril. Nasdeclaraçõesdadaspelaexaluna
Albanízia SantanaPortela, ao recordar os momentosem queassistiuàs aulasdos mestres
escola, o  sr. Jo sé Anacleto e dona Santinha, lembrouse da forma concatenada das
assoletrações do alfabeto berrado e a disc iplina estabelecida através de castigos e da
famigeradapalmatória.SegundoAlbanízia(19.12.2005):
ensinavamaler,escreverecontar.[...].Elesensinavamaassoletrar,.Na
épocadobeabá.Eatabuada,queeranahoradapalmatória.[...].Naquela
época tinha a pa lmatória, . Aqueles alunos que não queriam muito, os
mais inteligentes caprichavam, . Eles botavam para bater mesmo a
palmatóriana mãodoaluno.[...].Quemosoubesseficavadecastigoe
levava palmatória. [...]. Era engraçado.[...]. Os professores eram bem
88
rígidos. Eles botavam de castigo por que eles estavam sendo pa go par a
botaraturmaparaaprender,né.[...].Ospaispediamparapuxarmesmoe
elesobedeciam.Tinhamquefaz ermesmo.
Fatorrelevante é que acultura escolardesenvolvidadurante o pro cesso educativo,
em Tamboril, está intimamente associada à cultura dominante. O poder local fora
monopo lizadoporumreduzidogrupodetentordocomércioedapropriedaderural. Nesse
núcleo populacional, a família pat riarcal desempenhou papel de destaque, pautada e m
princípioséticose morais. Haviaum p adrão,repassado por estasfamílias, que modelavao
comportamento individual no convívio social. Nesta comunidade, onde as pessoas viviam
segundonorma sconsuetudinárias,quebrarumadelassignificavadescumprirumalei.Osseu s
habitantes viviam de maneira rudimentar e estabeleciam re lações de forma amigável,
sujeitavamse a determinados princípios, valores ou normas morais. Segundo Sánchez
Vasquez(1997,p.56):
o costume opera como um meio eficaz de integrar o indivíduo na
comunidade,defortalecerasuasociabilidadeedefazercomqueseusatos
contribuamparamanter–enãoparadesagrega r–aor demesta belecida.O
indivíduoageentãodeacordocomasnormasaceitasporumgruposocial
ou por toda a comunidade, sa ncionadas pela opinião e sustentadas pela
fiscalizaçãoatentadosdemais.
Apardo abecedário,dalógicamate máticaedasliçõesdecivismoehistória,osalunos
adquiriam o manejo  da cultura escrita. Vêse que o processo de alfabetização era árduo,
contudo, os conhecimentos absorvidos davam àqueles meninos e meninas de Tamboril, a
cert ezadadecodificaçãodesig noslingüísticoseaindaacompreensãodomeionaformão
dasuaidentidadecultural.Assim,conformesalientaGalvão(1998,p.125):
o conhecimento escolar proporcionava à criança um questiona mento das
suasreferências aindacalcadasnasocializaçãoprimáriae,poucoapouco,a
incorporação de informações que a faziam compreender o mundo d e
maneira diferente. A aquisição do conhecimento fornecia ao aluno,
independente da intencionalidade da ação escolar, parâmetros que lhe
permitiam olhar o que o cercava e o que até então fora construído como
“mapa” dereferênciasdenovasformas.
89
AosmestresescoladopovoadoTamborilfoidadoomisterdetransmitirumconteúdo
cultural–ler,escrevereco ntar–aumgrupodecrianças,porumcurtoperíododetempoe
que,àsvezes,nãoultrapassavaseismeses.
AexalunaAlbanízia(19.12.05)ressalto ubemoquantoosmestresesco la,alémdos
ensinamentos da leitura, escrita e dos aprendizados matemáticos, ensinavam aos alunos a s
práticasdecivismoede boascondutas.Conformedeclaraçõesdaexaluna:
oprofessorJoséAnacletoeraumsenhorbemalto,forte,alegre,né.Muito
distintoele,educadíssimo.AprofessoraSantinhaeraalegre,bemanimada,
baixaeforte.[...].Elesdavambonsexemplos. Quandoíacomeça rasaulas
elesdava mbomdia,botavaagentepararezare,àsvezes,cantavamoHino
Nacional,doPiauí.OJoséAnacletogostavamuitodecolocar agentepara
cantaroHinodoPiauíe,geralmente,agenterezavatodososdias.
AestadadosmestresescolanestacomunidadedeuaopovoadoTamboril,emespecial
àsfamílias,acertezadeveremosseusfilhosaospoucossubstituindoabaladeira,oanzol,a
petecafeitadeco uro,aenxada,asarapucasparapegarpassarinhos,asidasclandestinasaos
poçosparaos rotineirosbanhos,asbonecasfeitasdesabugosdemilho,asbruxinhasdepano,
pelos cadernos,ascartilhas,astabuadaseoslápis.
Tudoagoraassumiaaresdiferentes.Oespaçodastravessurasfoisubstituídoporout ro.
Compromissoqueatéentãoagurizadanãotinha,masquepo ucoapoucopassouafazerparte
do seu cotidiano. Dar a lição era uma frase que agora fazia parte do vocabulário daquela
gurizada.
Para muitas daquelas crianças, a tomada das lições pelo mestreescola era algo
assustadore,àsvezes,avozdoalunoficavaembargadadevidoaomedodoerroquemuitos
tinha mdiantedoprofessor.
Um fator de destaque que se evidenciou tanto no povoado Tamboril como nas
localidadespróximasforamosdoismodelosdemestresescolaquepercorreramessaregião.
Cada um com características próprias no plano de desenvolvimento de suas práticas
educativas.Constatouse,comisso,emu mprimeiroplano,ummodeloflexíveldemestres
escola que r epassava as primeiras noções da escrita, leitur a e conhecimentos matemáticos
baseado s no bom trato para com os alunos e sem lançar mão do uso de castigos e da
palmatórianosseusensinamentos.
90
OmodocortêsdosmestresescoladeTamborilfoimuitobemilustradonaspalavras
da exaluna, Helena Pinheiro, ao se referir ao mestreescola, o sr. Propécio Po rtela, como
sendo“umhomemdeboaco nduta”ecomotalnãoutilizavademeiosagressivosparaatingir
os objetivospedagógicosde pr odução de conheciment os. A exaluna, nas suasdeclarações
afirmou,ainda,que “nempalmatória existia”. Observase,com isso,  a maneiraelegante de
conduçãodosensinamentos.
Nesta trajetória constatouse também, que a mestraescola, a senhora Leonília, que
ministrouaulasemTamboril,foioutroexemplodestaconduta.Naspalavrasdoexaluno,o
sr. Braz Pinheiro, a mestraescola era “muito delicada, educada e boa” e para ratificar o
caráterflexível,oexalunodeclarou,ainda,queasenhoraLeonília“nãomaltr atavaosaluno”
e“nãoexistiaapalmatória”.
Um outro modelo de mestresescola que esteve na região foi o modelo rígido.
Evidenciouse tal modelo nas localidades circunvizinhas em que a rigidez era a norma.
Pairava com esse modelo um medo generalizado. Todas as ações desenvolvidas por esses
mestresescolaqueseguiamo modelorígidotinhamcomométododeensinootradicionaluso
decastigosedafamigeradapalmatór ia.
Era,comisso, umaformadefazervalerasuaautoridade.E essemodelo,jápadrãoem
várias regiões do Estado do Piauí, fezse presente na localidade Mocambo pois,  segundo
declarações da exaluna Albanízia Santana Por tela, os mestresescola José Anacleto e
Santinharecebiamoavaldospaisdosalunospara“puxarmesmo”.
Osmestresescoladessalocalidaderecebiamosinalverdedospaisparautilizaremos
castigoscorporaiscomopartedesuadidáticaedodesenvolvimentodoaprendizado.Aex
alunailustra,ainda,nassuasdeclarações,quemesmoe lessendoeducad íssimos,d istintose
animados”,todososalunosdeveriamsecomportardemodo“calmoecomobediência”eque
seoalunonãoseinteressasseparaaprender,omestresescolacolocavapara“ficardecastigo
elevavapalmatória”.
Assim,notaseavariedadedemestresescolaqueestiveramemTamboril.Emcada
modelo, oregistrodeumamarca:odescaso dopoderpúblico.Apesardaslimitaçõesdeação
dos mestresescola,fo ra melesquer epassaramas primeirasnoçõesdomundodaescritaeque, 
deumaformaoudeoutra,procuraramalfabetizaraspequenascriançasdopovoadoTamboril
edaslocalidadespróximasproporcionandoaelasoacessoaomundodaleitura,daescritae
damate mática.
91
Embora se tratasse de uma comunidade católica, não houve a supervisão da Igr eja
Católicanaspráticasdosmestresescola,comoo queocorreuemPortugal, conformeliçõesde
Nóvoa(1987, p.417), ondetodaaaçãoeducativaerapassadape locrivodaIgreja.
Mesmoe xistindo umacapela, no povoado,asaulasnãochegaramaser ministradas
nesselocalenãoteveagerênciadaaçãoeducativaatravésdepadresepárocos.Oquesepôde
constatar,porém,équeosmestresescolaerampessoasdadasapráticasreligiosascatólicas,
como bem deixou claro em suas declarações a exalu na, Albanízia Santana Portela, ao se
referiraomestreescola,JoséAnacleto,poisomesmo,afirmavaaexaluna,“botavaagente
pararezar”.
Inferese dos mestresesco la que estiveram na cidade de Isaías Co elhoPi,
característicasqueosdiferemdasabordadasnoiníciodotrabalho.O papeldesempenhadopor
eles nafo rmaçãoeducacionaldacomunidadeisaiascoelhensefoimodeladopelasco ndições
sóciopolíticoeconômicasemqueviviamaquelasfamílias.
EstaprimeiraetapadoprocessoeducacionaldeTamborilfoimuitosig nificativa,pois
comosedeperceber,atravésdasfontesorais,opovoadonãotinhaumaestr uturacapazde
seterumaparatoescolar.Osmestresescola, mesmocomas suaslimitaçõesecomosseus
métodos horrendosdetransmissãodesaberes,nãopodiamir mais longedoqueforam.
Acreditasequeosesforçosdestesmestresescolaforamalémdo quepoderiamchegar.
Viajandonote mpoepensandoopovoadonadécadade1930, logo sepercebeque não foi
fácil. Estes autodidatas do  sertão foram heróis do seu tempo. Implantaram um modelo de
educaçãodentrodospadrõesmoldadospelomeio.
Ancorandose nos depoimentos de exalunos dos mestresescola percebeuse que a
sociedade local necessitava do início da implantação da rede esco lar pública. Para isso, a
presença da escola, numa residência particular da fa mília Reis Santos, marcou uma outra
etapanoprocesso educacionalescolardopovoadoTamboril.
92
3.DAESCOLAISOLADAÀESCOLAREUNIDADETAMBORIL(19471970)
Minha escolaprimária...
Escolaantiga deantigamestra.
Repartidaemdoisperíodos
Paraamesma meninada,
Das8às11,da1às4.
Nemrecreio,nemexames,
Nemnotas,nemf érias.[...]
Nãohaviachamada
Esimoritual
Deentradas,compassadas. 
Bença,mestra...[...]
Acasadaescolaindaéamesma.
Quantasaudadequandopa ssoali!
RuaDireita,nº13.
Portadaruapesada,
Escoradacom amesmapedra
Danossainfância.
Portadomeio, semprefechada.
Corredordelajes
Eumcheirinhoderabugem
DoscachorrosdeSamélia.
Àdireita saladeaulas.
Janelasderótulas
Mesorraescura
Toda manchadadetinta
Dasescritas.
Altosnaparede,doisretratos:
Deodoro,Floriano.
(CORALINA,1985,p.7577)
3.1.Eaescolaeranacasadaprofessora...:a casaescola
Antes de dissertar sobre a casaescola da exprofessora Lusia Reis Santos (1911
1996), fazse necessário mergulhar nas memórias escolares registradas no poema de Cora
Coralina.
Comosevê,nãosetratadeumaescolaqualquer.Acadalinhadopoema,umamarca
inconfundíveldeespaço s etemposímpares.Na memória da autora, o respeito  marcante à
93
mestra fica e videnciado na passagem onde pontua a entrada compassada dos a lunos e a
reverênciaatravésdabênçãodadaaopr imeiroencontrocomamestr a.
Notase, nas lembranças de Coralina, não apenas um simples saudosismo, mas,
sobretudo, descrições do espaço onde ocorreram as prática s educativas dirigid as pela sua
mestraatéàconvinciafamiliarpresentesduranteoprocessodeensinoaprendizagem.
Há de se destacar que o convívio no âmbito das instituições escolares marca os
indivíduos e solidifica a constituição ética e moral de cada um que integra o espaço das
práticaspedagógicas.SegundoRego(2003, p.350351)citando Charlot(1996):
As lembranças da escola estão, em parte, relacionadas ao significado da
escola para cada um, fruto, entre outros aspectos, não s omente das
expectativas depositadas nesta instituição, mas também do tipo de escola
quesefreqüentouedasexperiênciasvivenciadas.Assim,aavaliaçãosobre
o papel dessa instituição na formação de cada indivíduo sempre será
singular, já que dependerá da qualidade das experiências vividas e dos
efeitosqueestastiveramemcadasujeito.
A escola freqüentada pela escritora Cora Coralina deixou nela uma ressonância
singularqueimpregnouasuavidaedeuao seupoemaamelodiaqueotemponãomaisserá
capazdetrazerdevolta. ParaBos i(1994,p.408):
Háfatosquenãotiveramressonânciacoletivaeseimprimiramapenasem
nossasubjetividade.Eháfatosque, emboratestemunhadosporoutros,só
repercutiram profundamente em s; e dizemos: ‘Só eu senti, só eu
compreendi.’
Reportando seaTamboril,fixousenaquelalocalidade,entreosanosde1933a1951,
oriundadacidadedeJaicósPi,asrª.LusiaRei sSantos.Comopropósit odeministraraulas
paraosalunos,criouem1947umaescolaprimária.Apartirdachegadadaprofessora,pela
primeiravezacidadedeSimplícioMendesPiassumiuoencargopelainstruçãopúblicaem
Tamboril.
O modelo casaescola, embora obsoleto, vigorou durante anos em Tamboril. Haja
vistaquenessasprimeirasdécadasdoséculoXXnãoexistia,ainda,umaglomeradoemque
pudessesercriadaumaescolacomu maestruturaadequadaparaaspráticaseducativas.
94
Vár iosfatorespo demserapontados,dentreeles,ainviabilidadede seterprofessores
quedesejassemmorarnumalocalidadetãoco ntramãodosgrandescentrosurbanos.Parase
chegar a Tamboril, no período em apreço, entre 1947 e 1970, enfrentavamse diversas
dificuldades, pois não havia veículos trafegando por aquelas estradas. Somente através de
animaiséqueseconseguiachegarao povoado.
OimprovisofoiamáximadaescoladedonaLusiaReisSantos.Foinesselocuso nde
se fez escola e a velha mestra conseguiu desenvolver normas, costumes, va lores,
comportamentosepráticasescolares.
O espaço cedido pela família Reis Santos para a escolade donaLusiaReis Santos
estavalocalizadonazonarur al,próximoaoRiachodasCarreiras.Eraumacasafamiliarque
fora t ransformada em uma escola improvisada. O modelo casaesco la foi marcado pela
presença de uma única professora que dirigia e executava o processo educacional numa
localidademarcadapelasadversidadesdomeio,bemcomopelodesa mparodopoderpolítico
doEstadodoPiauí.
Na escola, a exprofessora Lusia Reis Santos desempenhava um duplo papel:
conciliava as atividades domésticas com as atividades de ensino. A oferta do ensino na
casaescoladependiamenosdaparticipaçãoadministrativadacidadedeSimpcioMendesdo
quedosesforçosdaprofessoraLusiaReisSantosedasuafamília.
Apresençadainstruçãopúblicanacasaescolaabraçounaprimeiraturmade1947
uma quantidade de 50 alunos de várias idades e de diferentes localidades próximas de
Tamboril.Noanode1948passouainstruirumaquantidadede66alunosdesériesdiferentes,
em1949aescolaabsorveu60alunose,por fim,em1950ocorreuumregistrode50alunos
para se dedicarem às práticas educativas, conforme Livro de Registro de  Matrícula da
EscolaIsoladadeTamboril.
AvelhaescoladaexprofessoraLusiaReisSantoscumpriu,dentrodaslimitaçõesque
lheforamimpostas,nãoopapelderepassarosrudimentaresconhecimentoseducacionais,
mas foi no espaço reservado para as finalidades educativas da casa da professora que se
desenvolveramaculturaescolare,também,acolagemdesingularidadesdeixadasemcad a
alunoqueassistiramàssuasaulas.
Asaulasiniciavamàs7:00horaseíamatéàs11:00horas,comumintervaloparao
recreio às 9:00 horas. Conforme depoimentos de exalunos da professora Lusiínha, era
costume,antesdoiníciodasaulas,rezarem ecantarem oHinoNacionalBrasileiro.
95
Ilustração 12.LusiaReisSantos(19111996),primeiraprofessora daEscolaIsoladade
Tamboril
Fonte:ArquivoparticulardeIolanda Reis
Um dos primeiros alunos que ingressou na casaescola da professo ra Lusia Reis
Santosfoiosr.BrazPinheiro.Aofalarsobreaimportânciadasaulasministradasnaescola
daprofessoraLusiínha,oexalunoafirmouque:
Essaescolatevemuitarepresentaçãoparamim,porqueeuaprendi.Aprendi
a escreveromeunome,tirarumasduasoperaçõesdecontaefoiótimo.Nós
gostávamos da forma como ela dava a s aulas porque ela tratava a gente
muitobem.Erapacientedemaiscomosseusalunos.
Saberescreveropróprionomeetirarasquatrooperaçõesmatemáticasnumaescolado
sertão era apoderarse de mecanismos para ter condições de votar e, também, de não ser
passadoparatraznasprestaçõesdecontasligadasaocomércioenaspráticasquerequeria m
os conhecimentosnuméricosnassomas,nasubtração,nadivisãoenamultiplicação.
96
O exaluno, sr. Braz Pinheiro (09.09.2005), destacou também a importância dos
desfilesdodiaSet edeSet embro:
Eu estu dava de manhã para o meiodia, porque eu tinha quetrabalhar na
roçaeajudaromeupai.Masoquemaismemarcouduranteoperíodoque
estiveassistindoàsaulasdaprofessoraLusiínhaeraquandochegavaodia
Sete deSetembro.Nósformavaaquelepelooemfrente dacasacomum
tamborzinhobatendoecantando.Faziaaquelavoltaarrudiandoacasa.Era
muitobom!...
Lembrandosedasuavidaescolar,osr.BrazPinheiro elenco uonomedecolegasque
estudaramcomelenoanode1947.Asaudadedaescolademonstradanaentrevistapelosr.
BrazPinheiro(09.09.2005)ficou patentenasdeclaraçõesdadas:
Quando nós se reunia ali, naquela sala, para receber instrução daquela
professora, , ficávamos satisfeitos. [...]Eu não me lembro do nome de
todososalunosporqueerammuitos,masassistiamàsaulascomigooJosé
Campos, Isabel Campos, Maria Campos e Joaquim Campos, do povoado
Tamboril; Joaquina, José Santana e Cícero, do Tabuleirinho. As minhas
irmãsAnaPinheiroeMariaPinheiro.
Nosr elatosfeitospelosr.BrazPinheiro(09.09.2005),duranteaentr evista,percebeu
sequeaprofesso raLusiaReisSantosdesempenhouo ociodadocênciapautadanaéticaena
moral:
AdonaLusiínhafoiumapr ofessoraquemoralizavaosseusalu nosetra tava
bem, ficávamos satisfeitos. Nossos pais, também, tinham cuidado de
mandara genteparaaquela escola porquesabiaque agenteestavatendo
êxit onaquelesestudos.[...].Agentegostavadasaulasdaprofessora.o
judiava da gente. Respeitava a gente.Era uma pessoa muito calma e nós
gostava dasaulasdela.
Constatase nos quadros da memória escolar do  sr.Braz Pinheiro que, além da
preocupaçãodospaisnaeducaçãodosfilhos,haviauminteressedosfilhosemparticipardas
aulas.Aidaparaaescolanãoeraforçada.Outroelementoder egistrofoiamaneiracomoos
alunosrespeitavamaprofessora.Vêsequeoqueesteexalunodeclarouacercadaescolade
donaLusiaReisSantosfoicomosefosseumtesouroguardadoeque, agora,cadapeçatem
97
umvalor .Souza(2000,p.41),parafraseandoHannaArendt ,emt ornodamemóriadeesco la,
informaque:
Antes de tornar as crianças felizes, antes de proporcionar seu
desenvolvimento,suafunçãoédizeraosherdeirosoqueseseudedireito,
é legar posses do passado para o futuro. Sem testamento cultural e sem
escola–queindique,selecioneenomeie,quetransmitaepreserve,quefale
onde se encontram os tesouros e qual o seu valor – não pode existir
continuidade consciente do tempo, e portanto, em termos humanos, nem
passadonemfuturo.
“Legar posses do passado”, segundo Souza (2000), foi o que os exalunos, ex
professora e integrantes da comunidade fizeram. Ao terem todos os aparatos da cultura
escolaretodososvestígiosdosespaço sedacotidianidadeconservadosnamemóriae,agora,
reescritos no presente, tornouse mais fácil compreender como estes atores sociais
conseguiram transpor as barreiras do impossível, que foi ter o ens ino primário público
consolidadonacidadedeIsaíasCoelho.
98
Ilustração13.ListadealunosmatriculadosnaEscolaIsoladadeTamborilnoanode1947
Fonte:ArquivodoGrupoEscolarDanielGomes
99
Além dos alunos de Tamboril, outros alunos que mo ravam próximos ao povoado
freqüentaramacasaescola,poisnaquelaépocaeraoúnicolocalondehaviaumaprofessorae
umespaçoespecíficoparaaspráticaseducativas.Conformeosdepoimentosdoexalunoda
professora, o sr. Messias Rodrigues Carvalho (30.08.2005), além de Tamboril, vinha de
outraslocalidadesporpertoassistiraulasdedonaLusiínha,doTabuleiro,vinhadasLajes,das
Carreiras, os filhos de seu Celé das Carreiras, Armando e Teresinha e também de outras
localidades”.
No quetangeàsdisciplinasquea exprofessoraministravaconstatouse, através da
fala do sr. Messias (30.08.2005), que o ensino religioso fazia parte das atividades
desenvolvidas no interior dessa esco la. Segundo os seus relatos, além do ABC, da
matemáticacomsuasquatrooperações,ocat ecismoeraensinadoeodiaparaagenteassistir
asaulasdereligiãoera nos sábados.”
Osmétodosdeensinodesenvo lvidospelae xprofessoraLusiínha,duranteoprocesso
educativo,seguiaumapráticaconvencionaldemanuseiodaescr itaedeaspectoscaligráficos.
Nosrelato s dosr.Messias(30.08.2005):
Tempo do ABC, né. Tinha o agrumento”, naquele tempo, a professora
mandava a gente escrever o ABC, ela fazia bem c oisadinho as letras no
papel,nóscobriamaisativoetinhaodiadeassoletrarasletras.[...].Para
casa fazia, também, o ABC com a letrinha apagadinha para nós cobrir,
sabe?Agenteavivava maisaletra,nodiaseguintevinhacomaquilofeito.
Umadas práticasutilizadas,também,nacasaescola,eraousodapalmatóriadurante
oprocessodeensinoaprendizagem,quenãoeraaprofessoraquemanuseavaa“armada
punição”. Esseinstrumentohorrendo paraosalunosdeTa mborilficavaàdisposiçãodoaluno
que conseguisse assimilar com desenvolturao aprendizado. Daí, com o uso da palmatória,
ocorriamaspalmadaseficazesparaaquelesalunosquenãoabsorviamosensinamentos.Nas
memóriasdosr.Messias(30.08.2005):
Pegava dois alunos, botava o nome de qualquer, por exemplo, fulano e
fulano,aíosdoisalunosíamparapertodaprofessora,depoispediaparaa
gente assoletrar,aí euassoletrava, se eu assoletrasse erra do ela não dizia
nada,aío outroassoletrava, se ooutroassoletrassecertoaquelepegavaa
palmatóriaedavaaspalma das.outrapalavra,seeua certasse,eudava as
100
palmadasnelequejáhaviamedadoaspalmadas,eraassimo“agrumento”
queagentechamava. 
Comosevê,oargumentoestavaassociadoàpalavracastigo. Sóemestarpertoda
professoraeemfrenteaváriosalunos,aquelemomentosetransformavae mtortura,mesmo
queoalunosoubessesoletrar, oclimademedofaziacomqueerrasseasoletração.
No tocante à palmatória, há de se perceber que embora as professoras leigas não
manuseasse mesteinstrumentodepunição,poisficavaaoarbítriodafo rçadocolega,nãot ira
delaacumplicidadereferenteaosatospunitivos.
Apesar disso,havia nacasaescola afetividade entre osalunosque freqüentavamas
aulas, po is além do aspecto familiar repassado pela casa, uma boa part e dos alunos que
freqüentavamaescoladedonaLusiínhaeramfilhosdepessoassenãopertencentesàmesma
linhagem familiar, amigos de longas datas. Nos quadros da me mória do exaluno as
lembranças foram tomando corpo à proporção que ele foi estabelecendo uma r elação com
outroselemento squefaziampartedocontexto emqueestavainserido.ParaosenhorMessias
(30.08.2005):
Aquela turma era todos amigos, né. A gente só brigava fora da aula, no
caminho,nasestradas, masdebrincadeira.Naaulaeratudoamigo.Tinha
meus primos assistindo a s aulas comigo, Augusto Pinheiro de Carvalho,
GersonPinheirodeCarvalho,LourivalPinheiro de Carvalho,CíceroJosé
deSousa,JoséRodrigues,EremitaCarvalho,Venâncioeoutrosque nãome
lembroagora.
eusenti,eucompreendi”,conformeBosi(1994,p.408).Comisso,vêsequeas
passagensdasent revistasque,às vezes,podenãotersignificânciaparaumoutrogrupo,nesta
comunidade teve valor subjetivo. Foi com as reminiscências coletadas que se conseguiu
mapeartodooseuprocessoescolar.
AimportânciadaprofessoraLusiínhaparaaeducaçãodeTamborilfoimarcante,pois
além de ter sido a primeira a chegar nesta comunidade conseguiu edificar, com todos os
problemasestruturais,umaculturaescolarcomfeiçõespróprias.
Um outro exaluno de do na Lusiínha, Joaquim Pereira Rocha (30.08.2005), o sr.
QuincasRocha,comoéconhecido, assimrelembraaprofessora:
101
Ela era uma mulher simples. Ela era educada. Tratava a gente bem. Eu
mesmofuiumapessoaqueelametratavamuitobem,atépasseiaensinar
alunos que foram dela. Eu gostava muito das aulas dela. Ela ensinava
direitinho.
O sr. Messias(30.08.2005), embora confirmeo  perfil aprese ntado pelo sr. Quincas
Rocha,emtornodaexprofessora,ressaltouaspráticaspunitivasquefaziampartedacultura
escolardacasaescoladaprofessora:
Euachavaela boa.Elaeraumpoucocarrasco,maselaeraboa.Foipouco
tempo com ela. [. ..]. Quando a gente não sabia das coisas ela explicava,
ensinava. Era ruim no dia dos “agrumentos” porque não era ela, era o
adversário d’agente. Se a gente lesse errado, soletrasse errado, aí a
palmatória comia, mas não era a professora que surrava nós, era o
acompanhante d’agente. [...].  Alguma coisa que eu sei, que aprendi, eu
agradeçoaelaporquefoiaprimeira quemeensinou,poiseunãosabiao
queeraumA,umB.
Omaterialescolar utilizado pelosalunosduranteasaulaseraonimo possível,pois
considerandoqueacasaescolaeraumaescoladealfabetização,eoqueseaprendiaestava
resumidoàsquatrooperaçõesmatemáticas,leituraeescrita,nadamaiscomumdoqueaquelas
criançasfreqüentaremasaulasapenascomlápisgrafite,cartilhaecaderno. Conformeoex
alunoMessias(30.08.2005)agentelevavaolápis,cartilhadoABC,enodiadaprovaera
aquelepapelgra ndeparafazeraprova,masnóséquecomprava,comodinheirodenossos
pais”.
Aescolaem Tamboril também proporcionouaosestudantesumadiversãoàparte,pois
nãohaviaoutrotipodeencontrosocialmaisfreqüente.Conformerelatosdeumaexaluna,a
senhoraAldenoraFeitosada RochaPinheiro(05.09.2005):
Nopovoadonãotinhadivertimentonenhum.otinhafestas.Afest aque
tinhaerabrincarderodaànoite,cantar.[...].Ah!Foibomdemaisassistiràs
aulas porque a gente não via outra coisa. Nã o existia outro divertimento.
Eramtodoscrianças.Eodivertimentoeracomasaulas.Ensinavaagente
tudo,arezar,cantar.Eraassimmesmo...
102
Ao descrever o local onde aconteciam as práticas educativas, na casaescola
improvisada da professora Lusia Reis Santos, a exaluna, a senhora Aldenora Feito sa da
RochaPinheiro(05.09.2005),expôsque:
Eraumaportaeumajanela.Umapequenasalasemladrilhos,semnada,no
barro puro. Na frente, o mar ido de dona Lusia R eis Moura, TioEstevão,
const ruiuumalatadacobertadecapimcompalhadecarnaúba.agente
ficavabrincandonorecreio,debaix odalatada.
Amparando senasdeclaraçõesdaexaluna,notasequeoambientedacasaeramuito
simples.Oprópriolocalondeselocalizavaaescola,dooutroladodo Riac hodasCarreiras,
distante do centro do povoado, permitiu um melhor esclarecimento do quanto o processo
escolarfoi marcadopordificuldades.
Ilustração 14.AldenoraFeitosadaRocha Pinheiro(exalunadaEscolaIsoladadeTamboril)
Fonte:ArquivoparticulardeAldenoraFeitosadaRochaPinheiro
Um exaluno da professora Lusia Reis Santos passou a ministrar aulas de caráter
alfabetizanteparaa lunosdaco munidade,duranteoturnodanoite.Tratavasedoexprofessor
JoaquimPereiradaRocha,osr.QuincasRocha,naturaldacidadedePatosPi, comapenas
103
o 4º ano primário, dedicouse ao magistério em Tamboril, atividade que dese mpenhou
paralelaàpráticadalavoura.
SegundorelatosfeitospelosenhorJoaquimPereiradaRocha(30.08.2005)acercado
períodoemqueesteveensinandoemTamboril,declarouque:
Valeuapenatersidoprofessorporqueagentesabequeestáconstruindoum
passoafrenteparaavidanacomunidade.[...]oquemaismemotivoufoio
interesse para o desenvolvimento do povoado, para que houvesse eno
pessoascapacitadasnacomunidade.
Ilustração 15.JoaquimPereiradaRocha(exprofessordaEscolaIsoladadeTamboril)
Fonte:ArquivoparticulardeJoaquimPereiradaRocha
As aulas do exprofessor Joaquim Pereira da Rocha foramministradas no turno da
noite.Aprincípio,osalunosassistiramàsaulasnoantigosalãoe,posteriormente,passousea
dar as aulas em um modo de sua residência, localizada próximo à feira local. Segundo
relatosdeexalu nosedepessoasdeTamboril,asaulasera màluzde lamparinas,pois não
havia energia elétrica no povoado. No que tange aos ensinamentos repassados pelo sr.
Joaquim Pereira da Rocha, registrase que eram ensinadas as rudimentares lições
alfabetizantes.
104
ConformeentrevistafeitacomoexprofessorJoaquimPereir adaRocha(30.08.2005)
acercadométodoqueutilizavaparadarassuasaulas,falouque:“ométodomaispráticoque
euensinavaera fazercom que o aluno chegasseaconhecer aHistória,oporquê então vai
aprenderaler,paraquê?eporquê?”.
Ao falarsobreoperíodoemqueest eveassistindoàsaulasdoexprofessor Joaquim
PereiradaRocha,oexaluno,osr.BrazPinheiro (09.09.2005),pos iciono usesobreasmarcas
singularesdeixadaspelosespaçosondeeramrealizadasasaulas:
OquemaismarcouquandoassistiaàsaulasdeQuincaRochafoiqueeume
sentia feliz. Era uma diversão que a gente tinha. Eu morava fora do
povoado, do outro lado doRiachodas Carreiras. Quandochegava a hora
onde nós nos reuníamos naquele salão e depois na casa era ótimo. Uma
diveromaravilhosa.
Como se vê, para o sr. Braz Pinheiro, as aulas com o exprofessor Quincas Rocha
significavam além de aprendizagem, horas de diversão, uma vez que aquele era também
espaço deencontros,ondeainfânciapodiaservivenciadasemasobrigaçõesdiáriasimpostas
pelasatividadesdalavour aedapecuária.
Durante a entrevista com o sr. Joaquim Pereira da Rocha, constatouse que outro
motivoparaoseuingressonadocênciafoiofato denãohaverout rapessoa,nalocalidade,
quesepropusesseadaraulas.Éimportantesalientarqueasaulasqueosr.JoaquimPereirada
Rochaministrava,nopovoado,for ampagaspelaPr efeituraMunicipaldeSimplícioMendes
Pi. Não foram muitos meses. Mas conforme declarações dos seus exalunos, o tempo
dedicado à Esco la Isolada de Tamboril foi da sda da professora Lusia Reis Santos, no
segundosemest rede1950,atéàchegadanaescoladaprofessoraleigaElisaCoelhoMauriz,
em1951.
3.2.Dacasaescolaaosalãoesco la:ondeestavaadiferença?
Comoaumentodademandadealunoseocrescentedesenvolvimentodopovoado
Tamboril,houve,então,anecessidadedetransferiraescolaparaumespaço maisadequado
paraoseufuncionamento.
105
Surgiu,então,aiiaporpartedospaisdosalunos,queeramo smaisintere ssadosem
vêem os seus filhos assistindo aulas e aprendendo a cultura letrada, em a lugar um salão
escolaquepudesse absorverosalunosdeTamborile, também,dosarredoresdo povoado,
poisjáexistiaumfluxomaiordecriançasnaslocalidades.
Para solucionar a problemática e m torno de um espaço que pudesse a bsorver os
alunos,  a Prefeitura de Simpcio Mendes assumiu o encargo pelos aluguéis de um salão
situadonocentro dopovoadoequealifuncionou duranteduasdécadas,de1950eade1960.
A Escola Isolada de Tamboril assumia, agora, uma nova configuração,  embora
permanecessecomos mesmosproblemas:faltadematerialdidáticoemobiliário adequados,o
caráter unidocente e multisseriado. Essa nova fase rompeu com alguns aspect os da casa
escola,umavezqueessesalãosóerautilizadoparaasaulas.
ComofuncionamentodaEscolaIsoladadeTamboril,nosalão,ocorreuumaprocura
maior pela esco la, agora, sob o comando da professora Elisa Coelho Mauriz, oriunda da
cidadedeSimplícioMendes.Nestaescoladesenvolveuse maisumaetapadaescolarização
local.
AEscolaIsolada, ondeaprofessoraElisaCoelho Maurizministravaassuasaulas,não
tinha nenhum tipo de conforto.  Conforme declarações do exaluno, o sr. Messias
(30.08.2005),sobreosaspectosfísicosdessesalãoescola:
Era aproximadamente uns 12 metros de comprimento por 5 metros de
largura. Era rebocado e o piso era de barro batido, não tinha piso de
cimento,não.Tinhaduasportasnafrente,dessasportasabertasnomeioe
uma porta atrás. O salão tinha cadeiras, uma mesa e bancos, uma dureza
terrível,etinhaumquadronegro.
Esse novo local onde ficou localizada a Escola Isolada de T amboril deu uma
motivação diferente ao s estudantes que freqüentaram as aulas da professora Elisa Coelho
Mauriz. Segundo o sr. Messias (30.08.2005): “naquela época, a Escola Isolada já r ecebia
alunos alémde T amboril. Deoutr as localidades como das Carreiras,Poções,Tabuleirinho,
vindosdavoltadoriacho...”
TalqualaescoladaprofessoraLusiínha,antesdoiníciodasaulas,os alunoscantavam
oHinoNacionalBrasileiro.Era,contudo,alémdemarcasdecivismo,u maspectodacultura
escolarqueaescoladeixouregistradaemcadaalunoqueestevepresenteduranteoprocesso
106
de ensino aprendizagem. Constatouse, ainda, que era de rotina a pr ática de os alunos
rezarem antese nofinaldasaulas.
Ilustração 16.ElisaCoelhoMauriz(exprofessoradaEscolaIsoladadeTamboril)
Fonte:ArquivoparticulardeHeloísa MouraLuz
Omaterialescolarutilizadopelosalunos, nosalãoescola,duranteoperíodo emque
a pr ofessora Elisa Coelho Mauriz esteve à frente dessa escola foi algo que a exaluna, a
senhoraAldenoraFeitosadaRochaPinheiro (05.09.2005)abordou:
Com a professora Elisa Mauriz passouse a usar livros, somente para
alguns.EulembroqueeraumlivroquetinhaabandeiradoBrasilnacapae
eraescrito“NossoBrasil”.Do1ºa4ªséries.Umlivrosóparaserdividido
emtodasasséries.Eladividiaolivro.Estudamoscomeleatéaprofessora
DeuzuítachegaremTamboril.
Aindasobreousodolivrodidáticoduranteoprocessodee nsino aprendizagem,oex
aluno Messias (30.08.2005), informou que: “a gente tinha livro com a pr ofessora Eliza
Mauriz.Eraolivrou meolivro dois.Nesselivrot inhafiguras.Tinhaotaldovocabulário.
Tinhaodiadovocabulário.Euapanhavaparacaramba.Eueraruimnaquilo”.
AodiscorrersobreaprofessoraElizaCoelhoMaurizeamaneiracomoeladavasua s
aulas,oexalunoMessias(30.08.2005)destacouque:“eram aulasboas,normalmesmo.As
107
aulaseramde7:00horasàs11:00horaseàtardenãotinha.Acheiboaasaulasdela.Elanão
eramuitoagressivaeeraporqueos alunos perturbavamesmo”.
A professora Elisa Coelho Mauriz desempenhou as atividades docentes na Escola
IsoladadeTamborilno períodode26demarçode1951a15demarçode1953,conformeo
dispostonoLivroRegistrodeMatrículadaEscolaIsolada deTamboril.
De março a maio de 1953,  conforme o Livro de Registro de Freqüência Diária, 
assumiuaEscolaIsoladaaexprofessoraOdoricaRodriguesdaSilva,naturaldacidadede
SimpcioMendes.RecebeuaEscolaIsoladadeTamborilnasmesmasco ndiçõesdasoutras
professoras.
DuranteosmesesemqueaprofessoraOdor icaRodriguesdaSilvaestevenaEscola
Isolada o uso da palmatória também foi adotado. De acordo com o exaluno Messias
(30.08.2005):
Existiaapalmatória.Elausavano diado“agrument o”.Chamavafulanoe
fulano, vemaqui. Pedia paraa gente assoletrar um nome, aía professora
mandavaagenteler,qualquernome,porexemplo,onomegoiaba.Messias
assoletrava,aíeuassoletravaerradoe, depois,mandavaooutro,seooutro
assoletrasse certo, era o aluno que ía me bater, tantas palmadas com a
palmatória.
Umfato destacado pelo sr.Messias (30.08.2005), como positivo,foi apaciênciada
velhamestra:
Para mim ela foi muito boa. Ensinava um bocado de coisas. E tinha
paciência. Eu era meio safado”, mas ela tinha muita paciência de me
ensinar,nãoseiseeraporquenaqueletempoeueraumfilhosempai,sem
mãe,seilá,né.Sóseiqueelameensinoumuito.Eugosteimuitodela.
AolembrardotempoemqueassistiaàsaulasdedonaOdorica,aexaluna,asenhora
AldenoraFeitosada RochaPinheiro (05.09.2005),exs asdificuldades existentesnaquela
escoladevidoàsdiferençasdeidadesentr eoscolegasdeturma:
ComdonaOdoricaf omospara acartilha.Eueramuitomaisnovadoqueos
outro.Osoutrosjáest ava mmaisadiantados.[...].Eramuitodifícilporque
108
nãotinha materialescolar.Aprofessorasofriamuitoparaensinaragente.
[...] os meus irmãos assistiam às aulas comigo, Henrique Feitosa Rocha,
MariadoSocorroFeitosaRochaeEvilásioFeitosaR ocha,alémdeoutros
colegas de sala como Graci, filha de tio Leôncio, Chiquinho Pinheiro,
ValdeciPinheiro,JoãoVandesemuitosoutros.
Umdado importante, no âmbito do pro cesso educacional desenvolvido pe la Escola
Isolada de Tamboril, foi o registro de freqüência diária dos alunos, encontrado, ainda a
salvopelote mpo,ondesepodeevidenciaro controlefeitopelaprofessora.Nessediáriofazia
se necessário, a priori, elencarem os alunos do sexo masculino em um lado da folha de
registroe,aseguir,naoutrafolhacolocavamseos nomesdasalunasdo sexofeminino.
Outro aspecto constatado no registro de freqüência diária era que, ressalvadas as
presençasefaltasquenormalmenteeramfeitas,haviaespaçopararegistr odamovimentação
mensal, onde eram at ribuídas as médias aos alunos, assim como o aproveita mento,
comportamento,aplicaçãoeoutros, cujomododelançamentoficavaacr itériodaprofessora.
Ilustração 17.Registro defreqüênciadiáriadaturmade1953
Fonte:ArquivodoGrupoEscolarDanielGomes
109
Haviaumca mporeservado noregistrodefreqüênciadiáriaparaaprofessoraregistrar
osdiaslet ivosdomês.ChamaaatençãonodiáriodeclasseutilizadopelaEscolaIsoladade
Tamboril a não presença de um espaço para o docente efetuar o controle dos conteúdos
ministrado s emsaladeauladuranteoanoletivo.
Natrajetória do processo educacionaldeTamboril, chegou à localidade,oriundado
municípiodeSimplício Mendes,em16 de julho de 1953,aexprofesso raM ariaDelzta
AndradedeSousaMarques.AconvitedoexprefeitodeSimplícioMendes,osr.Arnaldo
FerreiradeCarvalho,ingressounaentãoEscolaIsoladadeTamboril.Atravésdaportarianº
X517foiadmitidaparadesempenharasfunçõesdeprofessoradeletrasnaescolado povoado
deSimplícioMendes.AreferidaportariafoiexaradanoprocessonºX3608,de16dejunho
de1953elavradopeloSecretárioGeraldoEstadodoPiauí.Comela,oensinoa ssumiuuma
novaroupagem.
Ilustração18.MariaDelzuitaAndradedeSousaMarques(exprofessoradaEscola Isoladade
Tamboril,daEscolaReunida deTamboriledoGrupoEscolarDanielGomes)
Fonte:ArquivoparticulardeMariaDelzuitaAndradedeSousaMarques
110
Ilustração 19. Portarianomeando MariaDelzuítaAndradedeSousaMarquesaprofessoraem
Tamboril
Fonte:ArquivoparticulardeMariaDelzuítaAndradedeSousaMarques
Umfatoderegistro acercadaprofessoraDelzuítaéqueamesmapresenciouastrês
etapaspelasquaispassouoensinoprimárioblicoemTamboril.DeiníciorecebeuaEscola
111
Isolada, depois passou pela Escola Reunida e por último o Grupo Escolar Daniel Gomes.
Somentedeixoudeexerceromagistérioem19desetembrode1986, quandoseaposentou.
AEscolaIsoladacontinuounomesmosalão.Aestruturaondeocorreramaspráticas
educativas,emnadamudou.AdescriçãofeitapelaprofessoraDelzuíta(30.08.2005)acerca
dosalão,evidenciaosmesmostraçosjádescritosporexalunos:
Umalongahistória.Eraumamesinhameiogrande.Osalunosrodea dosali,
tudosentadoembancos.Daalfabetizaçãoatéà4ªrie.Eramult isseriado.
Todos reunidos na mesma sala. [...]. Nessa sala era ladrinho o chão. O
quadrinhoqueagentepassavaoexercício.Eraumacoisaassim...
As aulas sob a direção da professora Delzu íta começavam às 7:30 ho ras e se
estendiam até às 11:00 horas, com intervalo para o recreio que acontecia às 9:00 horas e
terminava às 9:30 horas. Conforme a professora, a quantidade de alunos que assistiam às
aulaseraemtor node35a40alu nos, funcionandosomentenoturnodamanhã.
Aspecto considerável durante os anos em que ministrou aulas no salão residiu na
disparidadede idadedosalunosqueassistiamàsaulasnomes moespaço,comumamesma
professora. Posicionandose sobreisso, a exprofessora Delzuíta (30.08.2005)afirmou que:
“havianesse salãoalunosdeidadesd iferentesass istindoàsaulascomigo.De7anosdeidade
até15,16,17e18anos.Eramuitocomplicado.”
Aofalarsobreaaprendizage mdosseusalunos,aprofessoradeixouclaroqueoque
maislhemarcouforam osesforçoseinteressesdosalunosemaprender.Deacordocomaex
professora Delzuíta (30.08.2005), “os alunos da Escola Isolada tinham muito  interesse, daí
aonde vinha a força da aprendizagem que se tornava os alunos, naquele tempo, bem
preparados.Masporqueisto?Erape laforçadevontadedosalunos”.
HádesedestacarqueduranteoperíodoemqueaprofessoraDelzuítaesteveàfrente
da Escola Isolada ocorr eu uma demanda maior pela escola, visto que da chegada da
professora em 1953, atéàemancipação poticaque ocorreraem 09 de dezembro de 1963,
houve um lapso tempor al que marcou o povoado, pois a sociedade local já passava por
mudanças significat ivas, uma vez que o povoadorecebiacada vez mais pessoas devido às
feiraslocaise, também,aprocurapelaescolaridade.
Acadaanocresciaaquantidadedealunosqueaescolarecebia.Paraaexprofessora
Delzuíta(30.08.2005),“alé mdaspesso asdoTamboril,vinhampesso asdeoutras localidades,
112
distante um quilômetro, dois quilômetros. Vinham gente do interior à pé, com certeza.
VinhamdasLajes, doTabuleir inhoedeoutraslocalidades”.
Mesmo a comunidade tendo  saído da condição de u m povoado, mantiveramse o s
aspecto s rurais. As mudanças na malha urbana só foram sentidas depois da construção de
instituições que tornaram repartições blicas de verdade e, ainda, o alarga mento e
pavimentaçãodasruas.
Umadasatividadesextraclassedesenvolvidasduranteotempoemqueaprofessora
Delzuita(30.08.2005)direcionouaEscolaIsoladafoiaparticipaçãodosalunosnosdesfiles
dodiaSetedeSetembrodecadaano.Naquelemomentoocorriaaapresentaçãodosalunosà
sociedadeloca l.Conformeaspalavrasdaexprofessora:
No dia Sete de S etembro os alunos desfilavam pelas ruas. E depois que
chegou Chiquinho, filho de Leôncio, ajudou aqui. Chiquinho cooperava
muito. Tinha os tambores, essas coisas assim,que os alunos mesmos
tocavam,batiamesaíammarchando.Etudodavacertonofinal.
NoquedizrespeitoàindisciplinanoespaçodaEscolaIsolada,duranteosanosem
queforamrealizadasasaulasnosalão, praticamenteeraminexistentes,poishaviaumrespeito
enormeaosprofessoresquesehabilitavamemassumirocomandodaescola,emboraalgumas
peraltagensocorressem.SegundoaexprofessoraDelzuíta(30.08.2005) :
Nãohaviaindisciplina,naquelaépoca.Nãoécomoosalunosdehoje,não.
Eramalunosobedientes,viu?Interessados.Portanto, eumesintorealizadae
gosteimuitodemeusalunos,gra çasa Deus.Atéhojesãopaisdefamílias,
maseugostodetodos,porsinalsoucomadredemuitosqueforammeusex
alunos.
Alémdorespeito queosa lunostinhamporela,asociedadelocalnutrialheadmiração.
O manejo de classe foi uma d as coisas que os seus exalu nos mais apontaram. Conforme
relatosdeseuexaluno,osr.Messias(30.08.2005):
Tenhomuitassaudadesdaqueletempo,porqueaprendialgumacoisa.Foia
minhaúltimaprofessora. Oque euaprendi dela, eu guardei.Façominhas
113
quatrooperaçõesdeconta.Euagradeçoaela,né?Termineimeuprimário.
Agradeço a todas as outras professoras, mas mais a ela que foi que me
ensinou mais coisas. [...]. Todasas vezes que eu passopor ela eu brinco
comelaedigoqueagradeçoa lgumacoisaqueaprendiaela.[...].Escrevo
umacartaeaprendicomela.Paramimfoiumaboaprofessora.
A exaluna Aldenora Feitosa da Rocha Pinheir o (05.09.2005), ao recordar os
momento s em que esteve como aluna da Escola Isolada,  tendo a dona Delzuít a como sua
educadora, falouque:
Foimuitobomoperíodoqueeuassistiaasaulascomaprofessor aDelzuíta,
porsinal,elaeracomosefosseumaintegrant edafamíliadagente.Muito
boa.EmTamborilelacasouse comosenhorBenigno.Eaindahojeelaé
uma pessoa muitor espeitada em Isaías Coelho. Seaposentou,mais ainda
hojeéreferêncianaeducaçãolocal.Eumelembroquequandoelachegou
noTamborilelafoimorarnacasadosenhorJoãoPinheiro,aídepoiselafoi
mor arconosco,na casademeuspais.
AosereportarsobreasdisciplinasministradaspelaexprofessoraDelzuíta,bemcomo
os colegas de sala de aula, a senhora Aldenora Feitosa da RochaPinheiro (05.09.2005) se
emocionouaorelataraquelepassado :
FoimuitobomoperíodoqueeuestudeinoTamboril.Termineioprimário
com a professora Delzuíta. [...]. Era muito difícil a professora , naquela
época, todas as disciplinas eram dadas por ela, depois foi que chegou a
professora Maria Vilani Pinheiro para cooperar  com ela. [...]. Eu assistia
aulas com muita gente, C reusa, de Leonício, Ca tarina Campos, Maria do
SocorroFeitosadaRocha,ValdeciPinheiroeoutros.
Tantonacasaescoladaprofes soraLusiaReisSantos,comonosalãoescoladaEscola
Isolada,osalunosfreqüentavamasaulasfardados.E,assim,fardados,osalunosconduziam
escritos no bolso dessa farda as iniciais da escola E.I.T. (Escola Isolada de Tamboril).
Símboloqueidentificavaaescoladaquelacomunidade. Paraosr.Messias(30.08.2005):
114
Ospais,naqueletempo,tinhamquecomprarafarda.Tinhaquec ompraro
calçadinho, ochinelinho. Afa rdaeraumacamisinhabrancaeacalçaera
azul, com a camisinha escrivida no bolso, escrito E.I.T. Tinha u ma
gravatinha.Paraasaulas,osalunostinhamqueircomafarda.Acalçanão
eracomprida,eraumcalção.
Hádesedestacar queaE scolaIsoladadeTamboril funcionouduranteosanosde1947
a1970.Embora,emfinaisdadécadade1960,tenhasidoconstruídooGrupoEscolarDaniel
Gomes,naadministraçãodoexprefeitodeIsaíasCoelho,osr. OtílioManoelRodrigues.
Ascondiçõesemque funcionavamasaulas naEscolaIsolada deTamboril,emum
espaço pequeno,nãofizeramqueocorressealgopedagogicamentediferenteemelhorparaos
alunos.  A inferioridade desse tipo de escola em re lação ao grupo escolar era visível,
ressalvando ,éclaro,ogerenciamentohumanodaescolaempr eendidoporbonseducadores,
que fizeram o possível para educar as crianças locais, mesmo enfrentando dificuldades.
SegundoSouza(2000,p.130),asEscolasIsoladasassumiramo seguinteperfil:
As Escolas Isoladas compreendiam estabelecimentos de ensino primário
inferiores aos grupos escolares tendo em vista a organização didático
pedagógica, as condições de trabalho dos professores e a qualidade do
ensino.
O quadro acima most ra o quanto a educação escolar em Tamboril demorou a se
consolidar,abuscaporrespostasnessecampodeveseaváriosmotivosdentreeles,operfil
socialdessacomunidade,quenãopossuíaumgraudeescolaridadecapazdeexigirdopoder
públicoasbenessesqueoEstadodevedaraocidadão;outrofatordedemorafoiopoucocaso
das administrações que estiveram fre nte à prefeitura de Simplício Mendes, que não
viabilizaramoprocessoeducacionale mTambo ril.
ManteremfuncionamentoumaEscolaIsoladanãoonerava tantooscofrespúblicosdo
município de Simplício Mendes, pois notase que os gastos com esse salãoescola eram
mínimos, tanto no aspecto de ma nutenção quanto em pagamento a uma única professora.
Coubeesperaraté1970paraquesepudesseverconsolidadooensinoprimárionalocalidade,
comaimplantaçãodoGrupoEscolarDanielGomes.
O quadro em que se configurou a instrução escolar em Isaías Coelho nos anos do
modelo casaescola e salãoescola ficou na memória coletiva de todos os alunos que
115
vivenciaramnosespaçosdaEscolaIsoladaaspráticaseducativasd irigidaspe laspr ofessoras.
Essasimagensespaciaisguardadas peloscidadãosisaiascoelhensespenetraram,sobremaneira,
aconsciênc iadecadamembrodasociedadequedeumaformaoudeoutraestavaminseridos
naquelesespaços.NasliçõesdeHalbwachs(1990,p.133):
Quandoum grupo estáinseridonumapartedoespaço,eleatransformaà
sua imagem, ao mesmo tempo em que se sujeita e se adapta às coisas
materiais que a ele resistem. Ele se fecha no quadro que construiu. A
imagemdomeioexterioredasrelaçõesestáveisquemantémconsigopassa
ao primeiro plano da idéia que faz de si mesmo. Ela penetra todos os
elementosdesuaconsciência, comandae regulasua evolução.Aimagem
das coisas participa  da inércia destas. Não é o indivíduo isolado, é o
indivíduocomo membrodo grupo, éopróprio grupoque,dessamaneira,
permanece sub metidoà influência da natureza material eparticipa deseu
equilíbrio.[...]As imagens espaciais desempenhamumpapelna memória
coletiva.
Asmudançasqueseprocessaramnosintegrantesdogrupoqueadentraramosespaços
escolares de Tamboril ficaram evidentes nos depoimentos coletivos apresentados nas
entrevistas.ComobemabordouHalbwachs(1990,p.133),estecidadão“sefechanoquadro
que construiu”, por que ele se reconhece como indivíduo que foi capaz de  sofrer
transformaçõese,também,afetaromeioemqueestavainserido”.
3.3.Escolarural:espaçodasprofessorasleigas
O compromisso assumido pe las professoras da Escola Isolada de T amboril, em
desempenharasatividadesdocenteseadireçãode ssainstituiçãodeensino,excediaoslimites
de uma escala normal d e trabalho. Notase, pelos depoimentos de exalunos e da ex
professoraDelzuíta,queajornadadetrabalhoaserviçodaescolaextrapolavaemtodosos
sentidos.
AmotivaçãoqueosdocentesdaEscolaIsoladatinhamparaexerceroofíciodevese
aofatodaconfiançaeadmiraçãoqueospaisnutriamporessaspessoas,dotadasdeumsaber
escolar superior aos que moravam no povoado. Com o devido respeito depositado nesses
116
docentes, desenvolveuse, paulatinamente, no meio rural de Tamboril, o ingresso no
conhecimento da cultura escrita. Cultura que pôde transformar, desde cedo, os indivíduos
marcadospelasadversidadesdomeioemqueestavaminseridos. 
Um fator  de destaque notado durante as entr evistas feitas em torno do processo
educacionaldeTamborilfoiamaneiracomoosexalunossereferiramàEscolaIsolada,pois
aelaosmesmosa ludiamcomoseaescolafossedepropriedadedaprofesso ra,ratificandoas
liçõesdeLoiolaSousa( 2002,p.83),paraquem“aresponsabilidadedaofertaemanutençãoda
escolarizaçãonazonaruralacargodasprofessorasfaziaco mqueelasfossemconcebidaspela
populaçãolocalcomoproprietáriasdasEscolasIsoladas”.
A sistemática educacional implantada na localidade Tamboril era insuficiente, pois
não atendia de maneira satisfatória a comunidade, contudo, em meio às precariedades
existentesconstruiuseummodelodeeducação.Garantiuse,comisso,oingressodealunos
naescolaque,vivendonazonarural, jamaisteriamcondiçõesdeseestabelecerememoutro
centromais desenvo lvido. Aestruturaçãodo ensino em Tamboril coubeàsprofessorasque
porTamborilestiverameque imp lantaramasõeseducativasquemelhorseadequaramà
realidadelocal.Segu ndoLoiolaSousa(2002,p.76):
A impornciadaaçãodasprofessorasnasEscolasIsoladasdomeiorural
para aestruturaçãodosistema de ensinopúblicobrasileirose deu nãosó
pelapossibilidadedegarantiraeducaçãoescolar,mesmoinsuficiente,para
umapopulaçãohistoricamenteexcluídadosserviçoseducativosoferecidos
peloEstado,mas, sobretudopelacapacidadedestetipodeescolaassegurar
sistematicamenteaoferta letivaanoaa no.
No espaço da Escola Isolada de Tamboril a docência ficou a cargo de professoras
leigasquedesempenharamasatividadeseducacionaisduranteosanosde1947a1970,bem
comonosanosiniciaisdoGrupoEscolarDanielGo mes.ConformeAlmeida(2001,p.83):
Os professores rura is [...] pessoas marcadas pela distinção, talvez por
assumirem u ma posição de singularidade e superioridade cultural que
acabava lhes diferenciando dos demais habitantes. Por mais precár ia que
fosse sua formação, eram portadores de saberes que iam além dos
conhecimentosempíricosprópriosdomundorurale,justamenteporisso,a
relaçãoquese estabelec ia entreeles eacomunidade nãoeraumarela ção
entreiguais.
117
Nos depoimentos dados pelos exalunos da Esco la Isolada de Tamboril, notouseo
respeito que eles tinham à professora que direcionava esse modelo de escola. A marca da
singularidade e da superioridade das professoras fica evidenciada no bojo da sistemática
educativadeTamboril,mesmocomasprecáriascondiçõesdetrabalhoeaausênciadeuma
formaçãoespecíficaparaoocio dadocência.
O fato é que a Escola I solada de Tamboril foi se tornando obsoleta fr ente às
transformaçõesdalocalidade.Urgiaque,emplenadécadade1970,fosseinstaladoumgrupo
escolar em Isaías Coelho, pois havia passado sete anos da sua emancipação potica e
necessitavasedeumespaçomaisadequadoemodernoparaaspráticaseducativas.
3.4.Vasculhandolivros:ainspeçãoescolar
Durante o período em que o modelo Escola Isolada esteve presente no processo
educacionalde Tamboril, houve inspeção e controle do ensino ali estabelecido.  De acordo
com o Livro de Matrículas de alunos redigido de próprio punho pelas professoras que
estavam à frente da es cola constatouse desde o termo de abertura até o termo de
encerramento, que o r egistro efetuado de alunos passava pelo aval do Presidente do
ConselhoPopulardeInstruçãoque,naocasião,ficounaresponsabilidadedosr.Joaquim 
Mendesde Oliveira,dacidade de SimpcioMendes, bemcomo a r ubricae a numeração
ordenadadasfolhasdesselivro .
Ver ificase que no decorrer da sistemática educativa houve o controle da Escola
IsoladadeTamborilfeitoporuminspetordeensino,encontrandosenolivrode Registrode
Matrícula,nasfolhasdenº4enº5,ovistofeitopeloinspetorMiltonChaves,quandovisitou
aEscolaIsolada,em09 deabrilde1948.
Nasexposiçõesfeitaspo rLopes(2001,p.111):
Esta inspeção técnica’ deveria ser exercida, essencialmente, pelos
inspetores doensino.Estesdeveriamfazerviagensdeinspeçãopelointerior
doestado,alémderealizarainspeçãodasescolasdacapital.Aidéiaeraque
funcionassem, principalmente, como ‘olhos’ da Diretoria da Instrução
Pública nas, então definidas como arcaicas casasescolas do interior do
118
Estado, já que os grupos escolares possuíama figura do diretor, a lém de
localizaremsenacapital.
A cada fechamento de matrícula efetuada pe la professora da Escola Isolada d e
Tamborileralavradoumtermoedatado.Nessetermo,faziasereferênciaaoPreside ntedo
ConselhoPopulardeInstrução.Logoabaixodosnomesdosalunos,aprofessor alavravaasua
assinatura.Comomaisumaformadeco ntroledaEscolaIsolada,aprofessorapreenchiaum
boletimmensaldeacompanhamentodosalunoseencaminhavaaoórocompete nte.
Em data de 13 de sete mbro de 1956,emum dosboletins mensais,há o registro de
vistor iafeitaporu minspetoretambémaassinaturadoPresidentedoCo nselhoPopularde
Instrução que, na época, era o cupado pe lo Delegado de Polícia de Tamboril, o sr. João
AntônioPinheiro.
QUADRO01
QuadrodematrículasdaEscolaIsoladadeTamborilde1947a1970
ANO
ALUNOS
MATRICU
LADOS
ALUNOS DO
SEXO
MASCULINO
ALUNOS
DO SEXO
FEMININO
TIPO DE
CLASSE PROFESSORA
1947 50 28 22 multisseriado Lusia Reis
Santos
1948 66 38 28 multisseriado Lusia Reis
Santos
1949 60 32 28 multisseriado Lusia Reis
Santos
1950 50 27 23 multisseriado Lusia Reis
Santos
1951 49 28 21 multisseriado Elisa Coelho
Mauriz
1952 37 21 16 multisseriado Elisa Coelho
Mauriz
1953 33 12 21 multisseriado Odorica R.Silva
(15.03.53) a
maio de 1953) ,
Maria Delzuíta
119
A.Sousa
(30.07.1953 ao
términodoano)
1954 33 17 16 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1955 32 15 17 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1956 39 17 22 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1957 29 15 14 multisseriado Delzuíta
A.Sousa
1958 35 14 21 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1959 46 20 26 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1960 33 13 20 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1961 38 20 18 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1962 80 29 51 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1963 64 23 41 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1964 79 25 54 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1965 56 23 33 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1966 53 26 27 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1967 47 21 26 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1968 40 18 22 multisseriado Maria Delzuíta
120
A.Sousa
1969 54 21 33 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
1970 52 15 37 multisseriado Maria Delzuíta
A.Sousa
Fonte:LivrodeRegistrodeMatrículadaEscolaIsoladadeTamboril(1947a1970)
Nos boletinspreenchidospela professora da E scolaIsoladadeTamborilco nstavam
dadosreferentesàprofessora,comsuascredenciais,classederegência,turnoeassinatura,
bem como o quadro elencando os alunos matriculados durante o mês, os alunos que
passavamparaomêsseguinte,osdiaslet ivosdomês,totaldos comparecimentosdosalunos,
freqüência média e matrícula efetiva. Como não havia zeladora na Escola Isolada de
Tamboril,esseespaçoeradeixadoembranco.Abaixodafolhadoboletimmensaleralavrado
ovistoda autoridadeescolar.
121
Ilustração20.BoletimMensal daEscolaIsoladadeTamboril(marçode1956)
Fonte:ArquivodoGrupoEscolarDanielGomes
122
NocabeçalhodoboletimmensaleraespecificadoonomeEstadodoPiauí:Secretaria
de Estado de Educação  e Saúde. Havia, ainda, um espaço para as observações que a
professora poderia fazer em caso de alguma ocorrência durante o processo de ensino
aprend izagem.
Os boletins mensais eram preenchidos em quatro vias. A primeira viaera remetida
diretamenteàSecretariadeEducaçãopelaviamaisrápidaeastrêsoutrasseriamdestinadas
respectivamenteaoagentedeestatística, aocoletorouexatoreaoarquivodaescola.
No manuseio dos livros constatouse também que o poder aquisitivo dos pais dos
alunos que freqüentaram a Escola Isolada de Tamboril era dos mais variados possíveis.
Constatouse tal a firmativa devido ao cuidado que tinham as professoras da escola em
colocarem a filiação dos alunos no Livro de Registro  de Matrícula. Em vista disso , foi
evidenciadoumquadrodiversificado deprofissõesdospais,dentreelasdestacaramseade
fazendeiros,comerciantes,lavradores,vaqueir os,funileiro, caminhoneiro,hoteleiro,pedreir o,
carpinteiro,policialreformado,coletor,ferreiro,mestreescola,sapateiro,juizdepazeoutros.
Algumasconsideraçõesdevemserfeitas acercadoníveldeescolarizaçãodospaisdos
alunos da Escola I solada de Tamboril. Conforme se constatou, uma boa parte deles sabia
rudemente ler, escrever e contar. Sabese, com base nas entr evistas feitas, que não
freqüentaram escolas, mas alguns receberam os ensinamentos de mestresescola em outras
partesdoPiauí.
3.5.EscolaReunida deTamboril:umtrampolimparaogrupoescolar
Com a emancipação política do povoado, a Escola Isolada, que funcionava nessa
localidadefoielevadaàcondiçãodeEscolaReunidaMouraFé,porfor çadaleinº2.549,de
09 de dezembro de 1963, sancionada pelo governador Petrô nio Portela. Segundo a ex
professoraDelzuíta(30.08.2005):
A Escola Reunida aconteceu, com certeza. Ela tomou outro cater. A
diferençaquehouvefoiquea rranjaramoutraprofessoramunicipal,quefoi
aprofessoraMariaVilaniPinheiro,aíelaentrou.NaturaldeTamboril.Ela
entroudepoisdemuitotempo.Eudividiaasdisciplina scomela.Eufiquei
como3º e4ºanoseelacomaalfabetização,1ºe2ºanos.
123
O modelo Escola Reunida que funcionou em Isaías Coelho, na prática, não
representou algo diferente da Escola Isolada, e isso ratifica o defendido por Lopes (2001,
p.118): “[...] As Escolas Reunidas eram a simples junção de três ou mais escolas em um
mesmo espaço sob uma mesma direção, mantendo inicialmente, a mesma organização
pedagógicadacasaescola”.
Não ocorreu, em Isaías Coelho, a junção de outr as Escolas Isoladas, mas o
aproveitamento do mesmo salãoescola para funcionamento daEscola Reunida. Ressa ltase
quenãohavianemporteiroe,nemtampouco,zeladora.SegundoaexprofessoraDelzuíta,a
limpeza desse salãoescola era feito por uma pessoa que já t rabalhava com ela em sua
resincia.
Rompesearegra,poisoestabelecimentodaEscolaReunidaficousomenterestritoao
textodaleinº2.549,de09dedezembr ode1963que,noseuartigo5º,elevouaatualEscola
Isolada do povoado Tamboril à condição de Escola Reunida, com a denominação Escola
ReunidaMouraFé.
SegundoLopes(2001,p.120),dissertandosobreasEsco lasReunidas:
[...]asEscolasReunidasrevelaramse,poiscomoummodeloalternativo e
intermediárioentreascasasescolaseosgrupos escolares,sejanotipode
prédioemqueeraminstaladas,sejanaorganizaçãopedagógicadotrabalho
docente.
ParaassistiràsaulasnaEscolaReunidaMouraFéeranotóriaaparticipaçãodealunos
oriundosdelocalidadescircunvizinhas, apesardomunicípio de Isaías Coelho já haversido
emancipado e contar com bastantes pessoas de outras localidades morando na cidade. O
trajetoparasechegarà escolaerapercorrido em lombosde animais e, muitosdosalunos,
vinhamapépelasmalhasdasest radascarroçais.Segundo oexalunoMessias(30.08.2005):
Era difícil a vida. A gente morava no interior. Tinha que vim de lá
comidoumapipoca,sejaoquefor,porqueaquinãotinhamerenda,sótinha
águadebeber,entãoeramuitodifícil.Seagentetivesseumanimal,agente
vinha montado,senãoagentevinhadepé3 quilômetros.Agentesaíado
Tabuleirinho6:00horasparaassistiràsaulasechegavaaquiatrasado.
124
Comosevê,mesmodiantedasdificuldadesdeacessoàescolaedepermanênciana
mesma,umavezquenoperíodoemtelanãohaviaamerendaescolar,osalunossentiamse
motivadosafreqüentála.
Masograndepassorumoàexpansãodoensinoprimáriopúbliconomunicípiosóveio
mesmo com a construção e aparelhamento do grupo escolar Daniel Gomes. Logo foram
surgindonovosprofissionaisdaeducação.Emtorno,agora,deumanovapropostadeensino.
Osurgimentodesta escola num meio aindacomtonalidadesrurais marcoucadaaluno que
presenciou as práticas educativas e fez com que se moldasse uma cultura escolar própria
concatenadapelacadênciaemqueestavam inseridos.
125
4. O GRUPO ESCOLAR DANIEL GOMES: DA MODERNIZAÇÃO URBANA À
MODERNIZAÇÃOESCOLAR(1970)
A notíciaveio desupetão: íam meterme na escola. Jáme haviam falado
nisso,  em horas de zanga, mas nunca me convencera de que realizasse a
ameaça. A escola, segundo informaç ões dignas de crédito, era um lugar
para onde se enviavam as crianças rebeldes. Eu me comportava direito:
encolhido emorno, deslisavacomosombra.  Asminhasbrincadeiras era m
silenciosas.E nem me afoitava a inc omodar as pessoas grandes com
perguntas.Emconseqüência,possuíaidéiasabsurdas, apanhadas emditos
ouvidos na cozinha, na loja, perto dostabuleiros de gamão. A escola era
horrível –eeunãopodianegála,comonegaraoinferno.
(RAMOS,1994,p.104)
4.1.Ogrupoescolarno Piauí:dosinteressessociaisaosinteressespolíticos
Com o advento dos grupos escolares, notabilizouse um novo modelo no campo
educativo,consubstanciandosenãonoâmbitoorganizacional, mas, sobretudo,noperfil
diferentedaspráticaseducativas.Esseespaçoatribuiu,ainda,competênciasparaqueos seus
atorespudessemdesempenharassuasfunçõesdeacordocomasnor masexigidasparaoreal
cumprimentodasatividadeseducativas.
Foinodecor rerdasestratégiasdeatuaçãodogrupoescolar,queforamestabelecidas
outraspráticaspedagógicasesociaispelosprofissionaisdoensino,poisdiferentementedas
escolas isoladas, tinhase, agora, um aparato educativo mais sofisticado e que exigia uma
novafórmuladesefazereducação.NasliçõesdeFariaFilho(1996,p. 51):
OsGruposEscolares,oprocessodeorganizaçãodosmesmos,significavam,
portanto, não apenas uma nova forma de organizar a educação mas,
fundamentalmente, uma estratégia de atuação no campo do educativo
escolar, moldando práticas, legitimando competência s, propondo
metodologias, enfim, impondouma outra prática pedagógica e social dos
profissionais do ensino através da produção e divulgação de novas
representaçõesescolares.
126
Comoestabelecimentodonovomodelogrupoescolarnocenáriodeu macidade,deu
seumatributo institucionalàescolaprimária. Pois, apartirde então, passousea ter um
conjuntodecaracteresprópriosepeculiaresanor tearemessainstituição. A especificid ade
assumida pelo grupo escolar foi marcada por um conjunto de caracteres que moldou os
ensinamentos nesse novo espaço de conhecimentos e saberes. Nas lições de Souza
(2004,p.153):
Dura nteboapartedoséculoXX,osgruposescolaresconstituíram nopaís
est abelecimentos de ensino que conferiam uma identidade institucional à
escola primár ia. Essa identidade foi constituída c om base em vários
elementos,podendos edestacar:aescolarizaçãodecriançasa partirdos7
anosdeidade,oedifícioescolar, oensinodossabereselementares,práticas
associadas à transmissão desses saberes e, principalmente, o exercício do
magistério primário marcado por um éthos profissional der ivado da
formação em nível secundário na Escola Normal e do processo de
profissionalizaçãodocente.
No Piauí, a criação dos grupos escolares remonta ao início  do século XX.  Vale
ressaltar que o poder público considerou mais o neroso para os seus cofres tal empreitada,
resolvendo,comissomanteremfuncionamentoasantigasescolasreunidas.
A permanência das escolas reunidas era algo que, segundo o discurso oficial, não
acarretava um ônus tão pesado para serem mantidas. Mas, conforme se pode notar, o que
realmenteestavaacontecendoeraaprot elaçãodeumadecisãoinevitável,poisainstalãode
gruposescolaresrepresentavaumempreendimentomodernizadorparaoEstado.
AgênesedosgruposescolaresnoPiauímarco uoiníciodeumanovafasenosistema
escolar,poisaimplantaçãodeunidadesescolareseravistacomoelementodemodernização
da educação. O ponto alto dessa nova fase na educação ocorreu com a criação de uma
estrutura escola r adequada para as práticas educativas do ensino primário na cidade de
ParnaíbaPi.NasliçõesdeLo pes(2001,p.100149):
Criados legalmente pela reforma de 1910, os grupos escolares foram
inicialmente propostos em 1905. No discurso reformista que então era
gest ado. Eles aparecem como elemento modernizador do sistema escolar
piauiense, superando o modelo considerado antiquado da casaescola,
buscando tornar a escola ‘uma repartição pública de verdade’. [...]. O
processo de criação dos grupos escolares, que vinham gradativamente se
const ituindonoPiauí,temnacriaçãodoGrupoEscolarMirandaOsório,em
127
1922, na cidade de Parnaíba, o marco de uma  nova fase. Este foi, se
excluirmos a Escola Modelo, o primeiro grupo escolar implantado no
est ado.
A inserção dos grupos escolares nas redes urbanísticas do Estado foi ocorrendo de
forma lenta, uma vez que os grupos escolares caminharam paralelamente com as Escolas
Isoladas, Escola Mode lo e as Escolas Reunidas. E nquanto que nos interiores piauienses,
entendidosaquicomozonarural, oensinoprimáriopúblicocontinuouentregueaocomando
deprofessoresqueutilizavamassuasresidênciaspararecepcionaremosalunosdiariamente.
ParaLopes(2001,p.109):
Dessemodo,tidocomomodelourbano,onerosoedesenvolvidodeescola,
o grupo escolar conviveu, sendo minoritário, com as escolas isoladas,
escolasreunidaseaescolamodelo.Estaúltima,porsuaestreitavinculação
com a Escola Normal, objetivava servir de referência pedagógica para o
conjuntodasescolas, colocandoseàparte,mesmo em relaçãoaosgrupos
escolares.
Comareformadainstruçãoblicaocorridaem1910,omodelogrupoescolarfoi
eleitoomaiseficazparao ensinoprimáriopiauiense.Sóqueaoinvésdeocorreramudança
automáticaemtodasascidadesdoEstadodoPiauí,dosmodelosarcaicosdascasasescolae
salõesescola para os grupo s escolares, viuse, na ressalva feita, a continuidade do modelo
anteriormenteimp lantado.
Outro aspecto deve ser considerado: o poder político local que influenciou na
implantaçãodetalmodeloescolar.Imagineseointeressequehouvenissotudo,poisdavaà
localidadeu mnovostatus.ConformeaspalavrasdeLopes(2001,p.109):
A refor ma de 1910 colocou, definitivamente, como central a criação de
gruposescolares,apresentandoos,poiscomootipodeescolamodernaque
adequavase à superação do que era definido como atraso da educaçã o
primária piauiense. Restringia, contudo, estas escolas à capital e cidades
mais populosas.  Esta medida vinculava este tipo de escola ao espaço
urbano,sendoumdospametr os,inclusive,paraacaracterizaçãodograu
de desenvolvimento deuma cidade. Apesar disso, os seus custos e o não
priorizáloadiariaasuaimplantação,sendo,pois,estetipodeescolaeleita
como a maisconveniente,sem, no entanto,convircomopadrãoaoPiauí.
128
Ficapatentequenãohaviavontadepoticapo rpartedopoderpúblicoemmodernizar
aeducaçãonoPiauí.Éclaroqueareferênciaaoespaçour bano,comoumitemparaoingresso
desse novo modelo escolar, limitou a ação do poder público em expandir, na época, tal
empreitada. Pensar o s microaglomerados piauienses, no início  do sécu lo XX, diminuía as
possibilidades, uma vez que as poucas cidades e povoados estavam quase sempre nazona
rural.
A organização formal do ensino em grupos escolares não acarretaria custos
exorbitantes para os cofres blicos, todavia terseía um aparato mais organizado e
modernizadorparaoEst ado.A priori,necessitariadeumgastonoquetangeàedificaçãode
escolas mais sofisticadas e equipadas dentro de um plano de modernização, que pudesse
abraçarumcontingentemaiordealunos.Terseía,também,u marepartiçãocomumquadro
compostodeumcorpodocenteeumcorpotécnicoadministrativoparacumprirasdemais
exigências nesse tipo  de estrutur a. Contudo, a organização estatal não viabilizava tal
empreendiment o,tentavamanterumaeducaçãoescolardeformahipertrofiada.
Paraquehouvesseumaadequação aodiscursomodernizantedeentão,omunicípiode
Isaías Co elho prec isaria passar por algumas mudanças que pudessem consolidar a sua
elevaçãoàcategoriadecidade.Paraisso,urgiaquesefizessemastransformaçõesnecessárias
paradarem àcidadehábitosurbanos.
Foi pensando a cidadedeIsaías Coelhodo lugar onde seencontrava localizada, na
região de Altos Piauí e Canindé, é que se de traçar o seu perfile, consequentemente, o
discurso modernizador que seobjetivavaparaela. Para atingireste discurso ecolocá lona
ordem oficial não foi fácil, para isso fezse necessário alocar o termo  modernização em
relaçãoaopassadoeaopresentedacomunidade.
Apartirdessarelação,terseíaoencontrocomonovo.Todavia,paraconsolidartal
mudançafoiprecisoveronovoespaçoquesurgiae,comisso,asuadinamizaçãoqueser ia
umdos pressupostos para mudara vidacotidiana das pessoas que circulavamdiariamente
pelasruasdacidade.Somentedessaformafoipossívelummelhorentendimentoacercado
processo demodernizaçãoquefo iimpostopelodiscursooficial.Comamparonasentrevistas,
váriasleituraspuderamserfeitasdosespaçosurbanossemancipaçãopolítica.Percebeuse
que quase nada foi acrescentado aos quadros sociais que pudesse, a princípio, chamar a
atençãoparaumar enovaçãodasestruturasdasociedade.
Notouse, assim, que a sociedade convivia com duas paisagens comungando da
mesma co tidianidade. Uma que já estava inserida no diaadia deste grupo e a outra que
chegava de fo rma tímida, quase imperceptível. dese notar, através dos discursos dos
129
habitantes,algunsaspectosmodernizantes,emboraoprocessodeurbanizaçãocaminhassea
passoslentos.
Apresençadealgumasinstituiçõese,bemcomo,apavimentaçãoderuasepraçasjá
representava algo de moderno para a cidade. Registrase a construção da Delegacia de
Polícia,naadministraçãodoprefeitoNélsonLopesBuenosAires(19641967),comofitode
inibirapráticadecrimese,conseqüentemente,simbolizavaapresençadoEstadoatravésde
seusagentes.
Oartigo6ºdaleiquecriouomunicípiodeIsaíasCoelhoviabilizouaexistênciadeum
CartóriodeRegistroCivil,naformadaLeideOrganizaçãoJudiciáriadoEstadodo Piauí.
Todavia,acidadeficoucomotermojud iciáriodacidadedeSimpcioMendesPi.
O Posto de Saúde que foi construído na administração do prefeito Otílio Manoel
Rodrigues,em1970,trouxeumaalternativaparaalgumtipodetratamentoquenãofosse tão
complicado.Hádeselembrarqueantesdesercriadoomunicípio,asdoençaseramtratadas
nascidadesdePicosPi, SimplícioMendesPieoutras.
Masaincorporaçãodemaiorsignificânciaparaacidade,comcerteza,foioGrupo
EscolarDanielGomesquetrouxeparaomunicípioa lémdeprogresso,poisrepresentavaa
cert eza deoscidadãos teremumensino primário público,aspectosqueo colocavam como
elementomodernizadordoprocessoeducacionaldacidade. 
Ensinomodernofoiapalavradeordem.ComoGrupoEscolarDanielGomesocorreu
apresençadenovosprofessoresregendoemumespaçoamplo,modernoeseriado. Rompiase
comocaráterunidocenteemultisseriadodopassadoquerepresentouaEscolaIsoladade
Tamboril.
O novo discurso arquitetônico estava presente no prédio da Prefeitura Municipal.
Construída na administração do prefeito Otílio Manoel Rodrigues, em 1970 abriu as suas
portas para a comunidade isaiascoelhe nse e representou, tamm, um aspecto de
modernização.
OMercadoPúblicofoi outrolocalquesofreumudançasnecessáriasnasuaestrutura,
contribuindo com o trabalho dos comerciantes locais e dos municípios próximos, como
Conceição doCanindé,SimplícioMendes,Itainópoliseoutros.
Amodernizaçãodaredeescolarfoiimportanteparaoensinoblicodomunicípio, 
pois trouxe uma unidade de ensino primário, a princípio, pequena, mas que dava aos
contornosurbanosnovosares.Apresençadeprofessorasnormalistasfoioutromotivoqueo
transformavaemmodernonadécadade1970.
130
4.2.OGrupoEscolarDanielGomes:suasorigens
O nome dado ao primeiro grupo escolar da cidade de Isaías Coelho foi uma
homenagemaosr.DanielGomesPinheiro,primeirohabitanteaseestabelecernalocalidade.
Criado pela elevação da Escola Isolada de Tamboril que tinha como corpo do cente as
professoras Maria Delzuíta Andrade de Sousa e Maria Vilani Pinheiro, que passaram a
integrar automaticamente,em1970,oquadrodeprofessoresdogrupoescolar.
Edificado na administração do prefeito Otílio Manoel Rodrigues (19671971), essa
unidadeescolarconsolidouoensinoprimáriolocal,hajavistaqueacomunidade,comele,
passouaserdetentor adeum aparatoescolarmaisestruturado.
De acordo com o Livro Registro de Ponto do Pessoal do Grupo Escolar Daniel
Gomes,asatividadesescolarescomeçaramaserdesenvolvidasem11desetembrode1970.A
lavraturadotermo deaberturadoreferido livro foifeita peladiretorado grupoescolar,a
professoraMariaDelzuítaAndradedeSousaMarques.Oquadrodefuncionáriospassoua
assinarolivro apartirdodia14desetembrode1970,conformepercebemosasa ssinaturasde
próprio punho pelas professoras Maria Delzuíta Andrade de Sousa Marques, Maria V ilani
Pinheiro, MariadoCarmoFialhoeMar iaDoraliceVieiradeMoura.
A priori, uma escola do porte de um grupo escolar necessitava para o seu real
funcionamentodeumcorpodocenteetécnicocapazdesolidificarainstruçãolocal. Maspara
corporificar tudo  isso foi preciso contratar profissionais da educação em outra cidade para
compor o quadro docente, po is a quantidade de professores era, ainda, insuficiente para
atenderademandadealunos.Naoportunidade,chegouaomunicípio,oriundadacidadede
PicosPi,aexprofessoraMariadoCarmoFialho,queficouresponsávelporministraraulas
na3ªe4ªsériesdo ensinoprimário.
Ao se referir ao corpo docente que coms as primeiras turmas do Grupo Escolar
DanielGomes,aexdiretora,adonaDelzuíta(30.08.2005),afirmouque:
Asprofessorasquecomeçarameramleigas,depoisfoiquec hegouaMaria
doCarmoFialho,dacidadedePicos,queeranormalista.Asoutras,Maria
VilaniPinheiro, Gabina, Maria Doralice eram todas leigas, mas foram as
leigasmelhoresdasquetinhaocursonor mal.
131
Comessedepoimento,percebeseoquantoasprofessoras,mes mosendoleigas,eram
competentesnodesempenhodesuasatividadesdocentes.
Ilustração 21.ProfªMariadoCarmoFialho(19431987)
Fonte:ArquivoparticulardeMariaOneideFialhoRocha
Ilustração 22.ProfªMariaVilaniPinheiro(19461988)
Fonte:ArquivoparticulardeGildêniaP inheirodaCosta
132
Destacase que ingressaram na escola, em 197 0, as professoras Maria Doralice
Vieira de Moura e Maria do Carmo Fialho, esta possuía as credenciais exigidas para
ministraraulasemumgrupoescolar,poistinhaocursonormal.Daíforamsurgindooutras
professoras no ano de 1971,conforme Livrode Registrode Ponto doPessoaldoGrupo
Escolar Daniel Gomes do mês de março desse ano, a saber, Gabina Marques Coelho,
Francisco Gomes Pinheiro, Alcione Marques Coelho , Teresinha P inheiro Muniz e outras,
alémdazeladoraMariaTerezadeJesus.
Ilustração 23.FolhadoLivrodeRegistrodePonto do Pessoal GrupoEscolarDanielGomes,em 1970
Fonte:ArquivodoGrupoEscolarDaniel Gomes
A distribuiçãodosturnos,noiníciodogrupoescolar,ficoudaseguinteforma:Maria
DelzuítaAndradedeSousaMarques eMariadoCarmoFialhoficaramministrandoaulaspela
manhã,asprofessorasMariaVilaniPinheiro,MariaDoraliceVieiradeMourae,também,a
professora Maria Delzuíta de Sousa Andrade Marque, no turno da tarde. O corpo técnico
133
administrativo foi compostopela  diretora Maria Delzuíta deSousaAndrade Marques,pela
zeladora Maria Teresa de Jesus, co nhecida por Bibi e pelo po rteiro, o sr. José da Silva
Passos.Adir etor apassouaserpagapeloEstadoeosdemaisfuncionários,peloMunicípio.
Noiníciodesuasatividadeseducativas,oGrupoEscolarDanielGomeseracomposto,
nasuaestruturafísica,dequatrosalasdeaulas,umadiretoria,umacantinaedoisbanheiros.
Assalasdeaulaeramcompostaspormobiliáriomaisadequadoparaosestudantes,carteiras
posicionadasde formaperfiladas,quadronegrodedimensõesmaisapropriadas,iluminação
própria e e xcelente e ntrada de ar. Para o recreio, havia espaços que outrora não havia na
EscolaIsolada.
Ilustração 24.GrupoEscolarDanielGomes(fachadager al)
Fonte:ArquivoparticulardeWelbertFeitosaPinheiro
134
Ilustração 25.GrupoEscolarDanielGomes(fachadadafrente)
Fonte:ArquivoparticulardeWelbertFeitosaPinheiro
Comaestruturapreparadaparareceberosalunospertencentesàsociedade localeos
estudantesdaslocalidadespr óximasàcidade,comoosvindosdoRecreio,PoçodaAroeira,
Mocambo, Morrinhos, Tabuleirinho, Moreira, R iacho Fundo e outras, configurouse u ma
postura educacional marcada pela prese nça de vários pr ofessores e a vigilância maior na
figuradocorpotécnicoadministrativo.
O grupo escolar Daniel Gomes além de ser um referencial para os alunos da
comunidade local era, também, um lo de acolhimento para o s alunos das localidades
próximas.Nasdeclaraçõesdaexa luna,AlbaníziaSantanaPortela(19.12.2005),queestudou
no grupo escolar, no ano de 1970, observouse o quanto esta inst ituição de ensino foi
importanteparaosalunosdacidadeedosinteriorespróximos.Nassuaspalavras:
Nasci na localidade Mocambo até então p ertencente à cidade de Isaías
Coelho.[...].Noanode1970passeiamorarnacidade, naépoca,nacasado
sr. João Pinheiro. [...].  Valeu a pena, com c erteza, estudar na cidade, no
grupo escolar, por que para mim foi uma coisa muito importante. Eu
mor avacommeuspais,,aíeutiveaoportunidadedeirparalá.Foimuito
bom para mim. [.. .]. Eu lembro que vinham alunos de outras localidades
assistirem aulas em Isa ías Coelho. [...]. Mas eram mais da cidade.
Arruma vamcasas deparentes, amigos,que era o meu caso, também, .
135
[...] muitos de outras localidades vinham de bicicleta, outros de animal
mesmo.
Ilustração 26.Alba nízia SantanaPortela(alunada1ªturmadoGrupoEscolarDanielGomes)
Fonte:ArquivoparticulardeAlbaníziaSantanaPortela
Asevidênciasdasdificuldadesqueosalunostinhamparaobteremoensinoprimário
sãopatentesnasdeclaraçõesdaexaluna.Contudo,ogrupoescolarmarcoumuitoosalunos
que fr eqüentaram as suas aulas, pois, conforme a mesma, a organização era a máxima
presentenaescola.Apesardeterfeitooprimeiroanodoensinoprimário,nogrupoescolar
DanielGomes, aexalunaratificouobomaproveitamentoqueteveduranteoanonaescola.A
dona Albanízia (19.12.2005) registra, também, a forte presença da exdiretora Delzuíta no
direcionamentodaescola.
Foi muitobom o grupo escolar.  Era uma escola mais organizada, né. Na
época [...] em 1970 [...] aumentou o número de alunos na região [...] a
professoraDelzuítafoimuitocompetenteeatécertotempoatrástrabalhava
naeducação.Era muitoorganizada[...]orientadora,respeitadorae, enfim,
tudodebomeuvianela.[...].Eufizsóoprimeiroano,.Noanoseguint e
eu já vim estudar aqui em Picos. [.. .] participei só um ano na escola da
cidade.[...]. Bastanteproveitosaasaulas,né.[...].Eugostavadeassistiras
aulasnogrupoescolar.Eusempregosteideestudar,.[...].Euerasempre
atuanteali.
136
Loca lizado na Rua Marcos Parente, S/N, próximo à Prefeitura Municipal de Isaías
Coelho, o gr upo escolar era um edifício com características singulares cuja arquitetura
sobressaíase das demais casas pr óximas, bem como assumiu aspectos de imponência em
meio à paisagem local. Nos contornos da rede urbana, essa escola t rouxe novas
configurações imobiliárias à cidade, devido ao planejamento racional dos espaços.
ConformeasliçõesdeVinãoFragoeEscolano(2001,p.28):
Não apenas o espaçoescola, mas também sua locali zação. A disposição
delenatramaurbanadospovoadosecidades,temdeserexaminadacomo
um elemento curricular. A produção do espaço escolar no tecido de um
espaçourbanodeterminadopodegerarumaimagemda escolacomocentro
de um urbanismo racionalmente planificado ou como uma instituição
marginaleexcrescente.
Oplanejamentoarquitetônicodeumainstitu içãoescolartrazemsiumaespéciede
discurso que se solidifica com um sistema de valores, ordem, disciplina e vigilância.
Assume, ainda, determinadas ideologias de grupos que se estabelecem no po der, pois na
maiorpartedoscasosháinteressespoticosquesãoinculcadospord iretoreseprofessores.
ParaVinãoFragoeEscolano(2001,p.26):
Oespaçoescolanãoéapenasum‘continente’emqueseachaaeducação
institucional, isso é, um cenário planificado a partir de pressupostos
exclusivamente formais no qual se situam os atores que intervêm no
processodeensinoaprendizagemparaexecutarumrepertóriodeões.A
arquiteturaescolar étambém porsimesmaum programa,umaespécie de
discursoqueinstituinasuamaterialidadeumsistemadevalores,comoos
de ordem,disciplina evigilância, marcosparaaaprendizagem sensoriale
motora e toda uma semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos,
culturaisetambémideológicos.
ApresençadoGrupoEscolarDanielGomestambéminterferiu nosetorimobiliário, 
pois os terrenos, casas e os pequenos roçados próximos a ele passaram a ser valorizados.
SegundoSouza(1998,p.64), citandoCosta(1983,p.117118):
137
Ainstalaçãodeumgrupoescolaremumacidadedointeriorrepresentava
muitomaisqueosimplescrescimentodarededeensino;emgeral,era fator
deur banização,funcionavacomoumpólodea tração,apontodeinterferir
nosetorimobiliáriodazonaurbanadaregião:os terrenosecasaspróximos
aogrupoescolareramosmaiscarosdacidade.
Emplenadécadade1970acarênciadeprofissionaisdaeducaçãoeragrandeemIsaías
Coelho, pois o grupo escolar ampliou a demanda de novos alunos em busca do ensino
primário.Notase,pelosregistroslocalizadosedepoiment osoraisdepessoasquevivenciaram
tal período, que não era fácil conseguir professores para ensinarem ali, não apenas pela
distânciadosdemaiscentrosurbanos,mastambémdevidoàdificuldadedesechegaraIsaías
Coelho,umavezqueaestradacarroçaldificultavaoacessodequalquerpessoaquepudes se
seestabelecere mterrasisaiascoelhenses.
Aorelatarsobreaexperiênciaquetevedirigindooprimeirogrupoescolardacidad e
deIsaíasCoelho, MariaDelzuítaAndradedeSousa(30. 08.2005),informouque:
Foi boaaexperiênciaporque eujátinha muitosanosdeensinoea í não
encontreitantasdificuldadesnão.Ascolegasdaescolaerampessoasboas.
Agenteseentendiabemeaídeutudocerto.[...].Valeuapenaestaràfrente
daEscolaIsoladadeTamboriledogrupoescolar.
Valeuapena”foiaconclusãoaquechegouaexprofessoraMariaDelzuítaAndrade
de Sousa Marques ao se referir ao tempo em que a educação esteve sob o pálio das suas
orientaçõespedagógicaset écnicas.Emalgunsmomentosdaentrevista,aprofessoraDelzuíta
(30.08.2005)deixouclaroqueosseusalunostinhamporelarespeito:
Muitasmarcasficaram.Muitas,muitas,muitasmesmo.Nãoforammarcas
ruins, não. Foram marcas boas por que meus alunos eram bons alunos,
esforçados.Tinhaunsque gostavamdebrincarcomoo Messias,masgraças
a Deus eu nunca fui desrespeitada dentro de uma sala de aula, graças a
Deus.Portanto,eugostomuitodemeusalunos,gostoecontinuoagost ar.
O grupo escolar em Isaías Coelho eliminou o caráter multisseriado das aulas
ministradas no modelo salão escola. Constatouse, nas a veriguações feitas no Livro de
138
RegistrodeMatrículasdaEscolaIsoladadeTamborilque,desdeoanode1947a1970,
haviaalunosde6anosdeidadejuntoscomalunosdeidadesvariandode7a14anos.Além
dessaproblemática,noespaçodaEscolaIsoladadeTamboril,oníveldeescolarizaçãodesses
alunos variavaentreo1º,2º,3ºe4ºanos.
A vida escolar isaiascoelhense modificouse sobremaneira com a criação do grupo
escolar.Oensinopassouaserdesenvolvidoemumespaçocompatívelcomasnecessidades
educacionaisdealunoseprofessores.Apalavradeordemagoraeraprogresso.
Anovaestruturaprecisavadeumconjuntodeeducado resparafacilitaroandamento
dasatividadesescolarese,também,daraelasumespaçoadequadoparapoderemcolocarem
práticatodasassuasatividadesescolaresesesentirem àvontadecomessanovainstituiçãoe,
apardasexperiênciasdesaladeaula,dirimirasdificuldadesdocotidianoda escola.
Aa mpliaçãodoquadrodedocentesedoquadrodediscentesnaescola,comcerteza,
favoreceuoaparecimentodenovosproblemasaseremdirimidosdeformacoletiva.Emvista
disso,eramrealizadasreuniõestantoentreosdocentescomoentreosdocenteseospaisde
alunos. Co nformeLoiolaSousa(2002,p.104):
Para as professoras provenientes das escolas isoladas, a escola construída
pelo poder público vai caracterizarse como o lócus por excelência onde
elassesentemfazendopar tedeu mainstituição,sendoreferênciaelocalde
traba lho produtores de sentimentos de pertença a  um grupo profissional.
Nessecaso,há as vantagensdepoderc ontarcomos(as)colegasdetrabalho
parafacilitarasuavidanocotidianoescolar,nãosódura nteasreuniõesde
professoresedeplanejamento dasaulas,mastambémnasdificuldades do
diaadia. Em contrapartida tem de administrar osconflitos nointerior da
escola.
Surgiu,noâmbito dessainstituição ,um aparatoburocráticoquenãosevianaescola
isolada:umadequadoprocessodeentregadediários,boletins,informativosaospais,reuniões
dedocentesecorpotécnico.
Hádeseregistrarque oGrupoEscolarDanielGomesfoialvodeinteressespolíticos
em estabelecerem, no âmbito dessa instituição, uma disputa pelo poder, evidenciada pela
nomeação de algumas diret oras que rezavam na cartilha” do representante do executivo
municipal.
Éoportunosalientarqueo funcionamentodogrupoescolarrequereuoaparecimento
deumcargodediretor.Essepapelfoifundamentalparaagestãodainstituição,umavezque
139
adiretora assumiriao controle,organização efiscalizaçãodassuasatividades.Para Faria
Filho(1996,p.125):
Oespaço dogrupoescolardenotanãoapenasmudanças oucontinuidades
naformadeconceberaeducaçãoescolaresuasrelaçõescomasociedad e
comoumtodo,mastambémoaparecimentoefortalecimentodeumanova
categoriaprofissional:odasdiretoras.Estas,mesmoquandoseocupavam
deumasa ladeaula, contavamcomumespaçoprópriopara otrabalho.Será
ainda neste espaço que estará projetada a preocupação com os aspectos
higiênicos de uma grande aglomeração humana e na distribuição de
banheiros e lavatórios, por exemplo – bem como de uma racional
distribuiçãoecontroledossujeitos.
4.3. A culturaescolar noGrupoEscolarDanielGomes:novoespaço,novasregras
Aculturaestabe lecidanointeriordessainstituiçãocontrapõese,emalgunsmomentos,
àculturapraticadanasociedadequeaproduziu.ParaPessanhaetal(2004, p.62):
Háumaespecificidadenavidainteriordaescolaqueautorizaaanálisede
umacultura escolar,masqueousodaexpressãoculturaescolarnãoimplica
consideraraexistênciadeumaculturaopostaoudesvinculadadaculturada
sociedadequeaproduziuefoiporelaproduzida.
No interior dessaescola, muitascoisas nãoforamregistradasem atasearquivosda
própriainstituiçãoe,nemtambém,emarquivosparticu lares,salvoosminguadosdocumentos
de registro de matrículas e boletins informativos.  Afora isso, somente a memória de ex
alunos, exprofessores,exdiretoresedocorpotécnico administrativopuderam informarsobre
a cultura escolar que se solidif icou nesse espaço. Assim, a par da metáfora aeronáutica da
caixapretadaescola,destacadaporJulia(2001,p.13) ,quesãoosregistrosguardadospor
quemvivenciouoperíodoemtalépoca,équesepodecompreenderoqueocorreunoespaço
particulardogrupoescolarDa nielGomes.DeacordocomPes sanhaetal(2004,p.63)apud
Júlia(2001):
140
A construção de umaculturaescolarexigiutrêselementos essenciais:um
espaçoespecífico,cursograduadosemníveisecorpoprofissionalpróprio.
Esses elementos constituem a base pa ra a análise das práticas que
permitiram a trans missãode conhecimentos ea inculcaçãode condutas e
valores.
Apresençadeumaescola, sejaelaondefor,trazemsi elementosquemarcamuma
geraçãodealunos.EmIsaíasCoelho,ogrupoescolarnãosó consolidouoensinoprimário
público, mas também, internalizou nos estudantes a “formação de bons hábitos, bons
costumesebonscomportamentos”,paraSouza(1998,p.138):
É no âmbito dessas unidades escolares onde encontramos os símbolos
sociaisemorais,quefazempartedacultura esc olardeumaescola.Muitos
desses símbolos marcaram uma  geração de alunos que presenciou a
utilização deles nas escolas e que povoou o imaginário de ca da aluno. E
cada objeto impregnou o ambiente escolar e, ao mesmo tempo,
internalizava as primeiras percepções individuais de estudantes que
vivenciaramtalperíodo.
Guard iãdeumaculturaprópria,aescolapassaaserresponsávelporaspectosteóricos
epráticosconstantesnasdisciplinas ministradase,também,pelaconservaçãodesímbolosque
atornau marepartiçãopública.
Ilustração 27.AlunosdoGrupoEscolarDanielGomes(1970)
Fonte:Arquivo particulardePetroníliaR odriguesTeixeira
141
ApresençadosmbolosnacionaiscomoabandeiradoBrasil,doPiauí,dacidadede
IsaíasCoelhoeraimprescindível;bemcomoacampainhaquetocavanoinícioenofimdas
aulas,oflanelógra fo,asfotografiasdelíderesilustres.Todosessesobjetos eoutrosadequados
aessetipodeinstituiçãodeensinofizerampartedaestruturaescolar.
Tudo eradelimitado,oshoráriosdecadadisciplinaescolar, asprofessorasem cada
sala,ahoradorecreioeasdiversasbrincadeirasdosalunos.Atividadesescolarescomhoras
marcadas,comoascópias,o sditados,osexercíciosdeclasse,tudoaoseutempo.ParaSouza
(1998,p.137):
Na escola, a criança internalizava as primeiras percepções cognitivas da
temporalidade,pautadasnaexatidão,naaplicaçãoeregularidade;noçõesde
um tempo cronometrado, útil, que era preciso aproveitar. Além disso,
aprenderalerorelógioesuasaplicaç ões.Oreplicardosino,aexemplodas
igrejasedossinosdasfábricas,marcaosprincipaismomentosdajornada
escolar: a entrada o r ecreio, a saída. O quadro de horário registra a
distribuição do tempo, a fragmentação das matérias e das atividades e
const itui uminstrumentodecontroledosalunosedosprofessores.Otempo
escolar se expressa também c omo tempo disciplinar: respeitar horários e
cumprilos,cadacoisaaseutempocerto,preciso.Dessa forma, acriança
aprendea concepçãoculturaldo tempoqueregulamenta avidasocial.
Opátiodogrupoescolarfoireservadoparaasmerendas,namorosebrincadeiras.Para
Souza(1998,p.138):
Por detrás dos muros, do portão, das paredes e jardins, a disposição e a
distribuição do espaço escolar refletem um projeto cultural. Esse projeto,
comvistasacivilizaremoralizarascriançase,porextensão,suasfalias,
configurousenosesquadrinhamentosdecadasalaecadacantodoedifício
escolar.Nointeriordoedifícioescolaconfiguraseumagramáticaespacial
na qual a distribuição do espaço corresponde aos usos e às funções
diferenciadas, à fragmentação e às especializações de atividades, à
disposiçãodeobjetos,aodeslocamentoeencontrodoscorpos,enfimatoda
uma geometria de inclusão e exclusão. A sala de a ula é a especificação
básicaumaparacadaanodocursopreliminardecada seção.Acadasala
corresponde um grupo de alunos de mesmo grau de adiantamento e um
professor.
Aescolafoiumimportantemelhoramento queintegrouacomunidade.Emvistad isso,
passouasacralizarasmanifestaçõesreferentesà scomemoraçõesda sdatascívicas efestas de
142
cunhooficial,tudoparaquesepreserveaidentidadenacionale,nadamaisoportunadoquea
participação da sociedade emtais manifestações. A escola, no entanto, com o aparato que
tem, ajudaaconservaramemóriacoletiva.ParaSouza (1998,p.265274):
Aofaz erdasdatascívicasumaa tividadeescolar,oEstadofezdaescolaum
instrumento de lembrança e de memória histórica. [...]. Os feriados
nacionais,queaescolapassouaguardar,instituemamemórianacional.P or
meiodascomemoraçõescívicas,aescolaajudouapreservarumamemória
coletiva construtora da identidade nacional. Esses rituais, marcados no
tempohistórico,constitu emumamanifestaçãodosmitos,umamaneirade
lembraraorigem,e,assim,reforçaracoexistênciadogrupoeoslaçosde
solidariedadesocial.
Segundo a exprofessora Maria Delzuíta Andrade de Sousa, ao discorrer sobre o
período que esteve na direção do Grupo Escolar Daniel Gomes, a data cívica que mais
entusiasmavaosalunoseraadodiaSetedeSetembro.Umdo smotivosparaaalegriados
alunos era o fato de saír em pelas ruas da cidade e manifestarem o orgulho de estarem
estudando nessa e scola. Nas palavras da professora Delzuíta (30.08. 2005): “os alunos do
DanielGomesdesfilavamnodiaSetedeSetembroeeracommaisentusiasmodoquequando
eranot empodaEscolaIsolada”.
Naspalavrasdaexalu naAlbanízia,oSetedeSetembroeraumd iaespecialparaos
alunos,  pois era naquela oportunid ade que eles, além de representarem a escola onde
estudavam, davam exemplos de civismo e cidadania. De acordo com a exaluna Albanízia
(19.12.2005): “no dia 07 de setembro desfilavase pelas ruas, sim. [...] Chamava muito a
atençãopor quenão tinhamuito movimento, então,erauma dataque ficavamarcadapara
todos,né”.
As outras dat as cívicas comemoradas eram marcadas por  intensa mo vimentação,
devido ao fato de que era nesses momentos de comemorações que ocorria uma maior
socializaçãoentreosalunosdasturmasquecompunhamogrupoescolar.Houve,duranteos
anosletivos,aparticipaçãodosalunosematividadesdirecionadasaosrituaisescolares, dentre
elespodemosdestacarohasteamentodabandeira,ocânticodoHinoNacionalBrasileiro,do
HinodoPiauí,doH inoàBandeira,bemcomooregistro deatividadespráticasdesenvolvidas
pelosalunosemalusãoaosvultoshistó ricosereligiososqueestãopautadosnosferiadosdo
calendárioanual.ConformeSouza(2004,p.137):
143
É preciso reconhecer a  grande imp ortância que esses rituais escolares
desempenharam na cultura escolar e na construção da identidade
institucionaldosgruposescolarescomoescolasprimárias.[...].Osexames
ritualizados e rígidos coroavam uma  cultura escolar erigida sobre os
princípiosdeseletividade.
Existiam também normas que deveriam ser cumpridas para o bom andamento das
aulas.Desdeoinstanteemqueosalunos estavamperfilados parae ntraremnasaladeaulaaté
às comemorações cívicas, todas marcadas por cânticos e rezas. I sso tudo fez parte da
organização des sa escola e foipreservado para que houvesseum funcionamento eficazem
todososseusaspectosescolares.Ofardamentofoioutroelementoque,naspalavrasdaex
aluna,constituíaumaexigênciadaescola.Segundoaexa lunaAlbanízia(19.12.2005):
Havianormasaseremcumpridasnogrupoescolar.[...].CantavaseoHino
Nacional Brasileiro e rezava, também, . A gente fazia a fila antes de
entrarnasaladeaula.[...].Ofardamentoti nhadeserigualzinho,nodiaa
dia, como mandava o figurino mesmo. [...]. Nas datas cívicas havia o
hasteamentodabandeira.Elesc hamavamtodomundo,né.Nahoraerafeito
o hasteamento da bandeira por alguns alunos. [...]. Cantávamos o Hino
Nacional,sim.Eralembradatodasasdatas.
Dentreosmateriais didáticosqueasprimeirasprofessorasutilizaram nassuasaulas
constatouse,deacordocomdepoimentosdeexpr ofessoraeexalunos,bemcomooregistro
decomprasde materiaiselencados no Livrode Prestação de Contado grupo  escolar nas
suasdiversasfolhas,destacamse:ousodecartolinas,pape lalmaço,cola,clipes,envelopes,
pincéisatômicos,dentreoutrosquefora mmanejadospela s professoras.
O ensino primário dese nvolvido na cidade de Isaías Coelho, com o surgimento do
grupo escolar, mantevese fiel aos programas conteudísticos e curriculares dos diversos
estabelecimentosdesseporteespalhadospeloEstadodoPiauí.Foi,portanto,umaescolaque
deveria seguir umpadrão, cujosensinamentosnãopoderiamdestoar dosoutrossimilares a
ela.
144
4.4. A atuaçãodoGrupoEscolarDanielGomesnasociedadeisaiascoelhense
Essanovaescolaencontrounoseiodasociedadeisaiascoelhensealegitimaçãoparao
desempenhodasatividadeseducativas.Nesseco ntexto,aunidadeescolarquefoiimplantada
objetivourompercomo modeloarcaicodaescolaisolada, bemcomoreconfigurarnesseoutro
lócus,umamaneiradiferentedesefazereducação.ApresençadaEscolaIsoladadeTamboril
na zona rural era uma outra agravante que dificultava o desenvolvimento do processo
educacionaldopovoado.
Os novosdelineamentos em que seconfigurarama arquiteturaurbana e acrescente
chegada de pessoas das localidades próximas para comporem a então sociedade
isaiascoelhensemarcaramumconjuntoqueestavasemodificandolentamente.Comacriação
dogrupoescolar,ocorreuàconsolidaçãodoensinopúblico,apopulaçãolocal passouaterum
locuscom maispossibilidadesdeingresso paratodasaspessoasdasociedade local.Agora,
com mais entusiasmo, as crianças e jovens da comunidade e das loca lidades vizinhas
percorriam as ruas da cidade desfilando com o seu fardamento  e material escolar rumo à
escolaprimária.
O Grupo Escolar Daniel Gomes além de suas funções de propagação de saberes,
assumiu nessa localidade, assim como nas diversas regiões do país, outros papéis sociais.
Servia, ainda, como um lugar privilegiado onde as pessoas da sociedade, em alguns
momento s,seencontravamparaasmais variadasatividadessociais.
Muitasforamasatividadesdesenvolvidasnointeriordogrupoescolardacidadede
Isaías Coelho.Aexaluna, Albanízia SantanaPor tela(19.12.2005),enumeroualgumasque
marcaramoperíodoemqueestudounoprimário:
Naescolasefaziaumasapresentações.Tinharecitaçõesdepoesias,naquela
época,elesbotavambastantepar aagentefazeressetipodeapresentação,
. Era de duas em duas ou até mais, né. E fazia esse tipo de
apresentaçãozinha. Outra atividade que se fazia era a quadrilha, . E les
formavamasquadrilhasnoSã oJoão.Issoeramuitobom.
Dentreasváriaslembrançasquemarcaramaexaluna,destacouseaa mizadequefez
noâmbito daescola.ParaAlbanízia(19.12.2005):
145
Oquemarcouforamàsrecordaçõesdoscolegasdeaula,né.[...]daamizade
que deixeipor lá, da escola [...] da diretora, né, que era uma pessoa que
brilhava.Paramimfoiumacoisaquemarcoumais,assim.Pelaorganização
daescola.[...].Eulembrodealgunscolegasdesaladeaula.TinhaaIolá, 
que era minhagrandeamiga,né,Martinízia,Marlei,Petronízia,Geovane,
Joaquim, Aparecida. São vários, mas agora eu não me recordo o tant o
assim.
ConformeBosi(1994,p.408),aosereferiraodesenvolvimentodamemóriacoletivaa
partirdelaçosdeconvinciaassimdisserta:
Uma memória coletiva se desenvolve a partir de laços de convivência
familiares,escolas,profissionais.Elaentretémamemóriadeseus membros,
que acrescenta, unifica, diferencia, corrige e passa a limpo. Vivendo no
interiordeumgrupo,sofreasvicissitudesdaevoluçãodeseusmembrose
depende de sua interação. Quando sentimos necessidade de guardar os
traçosdeumamigodesaparecido,recolhemosseus vestígiosapar tirdoque
guardamosdeleedosdepoimentosdosqueoconheceram.
Reportando às dec larações de dona Albanízia, vêse que os laços de convivência
escolaresforamimportantesparaaexaluna,poistaislembrançasestabeleceramumarelação
comaeducaçãocomoumtodo,umavezquecadacolegadesaladeauladeixounamemória
característicassingulares.Nessecaso,amemóriaficaimpregnadadevestígiosdeixadospor
essaspessoas,comsuasideologias,suasperaltagensesuasesquisitices,
Foi,também,nogrupoescolar,queoscidadãosdaco munidadeseencontravamnos
diasde eleiçõespara votaremnosseusrepresentantespoticos, nastrêsesferas blicas:a
Municipal, EstadualeFederal.NasliçõesdeLoiolaSousa(2002,p.104):
A construção do grupo escola r vai materia lizar a oferta dos serviços
educativosparaumaboaparceladapopulaçãoruraleconfigurasecomoa
primeira iniciativa mais ampla do Estado no cumprimento do seu papel
social. Para a comunidade, a presença desta instituição no meio rural
representamaisdoquelugarondeseaprendealer,escreverecontar...Ela
serevelatambémcomoespaçopúblicoemqueorealizadasreuniõesdas
associações, missas, atendimentos dicos, odontológico e vacinação,
espaço de lazer e esportivo, local de realização de gincanas, serestas,
quadrilhasjuninas,r euniõesdepais,festasdasmãesedos(as)professores
(as). Éta mbémlugarondeos(as)eleitores(as)daregiãoseencontrampara
votarnosrepresentantes municipais,estaduaisefederais.
146
Percebesequeosespaçosdeumaescolanãoserestringemsomenteparaosatoresque
fazem parte dela. Servem também como lócus utilizado pela sociedade para desenvolver
outrasatividadesquenãotemligaçãocomasuaculturaescolar.
Conformeoexposto,aconsolidaçãodoensinoprimárionacidade deIsaíasCoelhosó
pôdeserconfirmadalevandosee mcontatodaumaanálisedoprocessovivenciadodesdea
décadade1930,comapresençadosmestresescolanopovoadoTamboril,seqüenciadopelas
aulasmin istradasnasimpro visadasinstalaçõesdacasaesco ladapr ofessoraLusiaReisSantos
e, posteriormente, do salãoescola onde houve a presença das professoras Elisa Coelho
Mauriz, Odorica Rodrigues da Silva, Maria Delzuíta Andrade de Sousa Marques,  Maria
VilaniPinheiroe,també m,dapresençanoprocessoeducacionaldoprofessorJoaquimPereira
daRocha.ParaPessanhaetal(2004, p.66)apudMeserani(1998,p.6667):
Asinstituiçõesnãopodemseranalisadasisoladamenteporque,nodecorrer
desuashistórias,seestabeleceumaespéciedediálogoentreelas,diálogo
considerado mais doqueumatrocadefala entreosinterlocutores,‘como
um processo de autoconhecimento e de conhecimento do outro, um
exercíciodealteridadeparaaconsciênciadesiedooutro’.
Poresseprisma,passase,noentanto,averoGrupoEscolarDanielGomescomoum
pontodereferência naeducaçãoprimáriadacomunidade.As mudançasnoespaçocoletivo
provocaram,comojáfoisalientado,significativasdiferençasnavidadacidade.
147
CONCLUSÃO
[...]Narreia osenhor.Noquenarrei,osenhortalvezatéachemaisdo
queeu,aminhaverdade.Fimquefoi.
Aquiaestóriaseacabou.
Aqui, aestóriaacabada.
Aquiaestóriaacaba.
(ROSA,1986,p.531)
Asinformaçõescontidasnosquatrocapítulosemtornodaeducaçãoempreendidanos
espaço s deIsaíasCoelhoPi,duranteosanosde1935 a1970,registramnãoapenasaorigeme
aestruturaçãodomodeloeducacional trad icionalquealiseestabeleceu,mastambémomodus
vivendidasociedadelocal.
Quiçámuitascoisastenhamficadoparatr ás,talvezmuitascoisasficaramporserem
ditas, masa matériaprima para a reconstrução dasociedadeedaeducaçãoqueestavam
guardadas no Arquivo Público E stadual do Piauí, em arquivos particulares, no arquivo do
Grupo Escolar Daniel Gomes como, também, as lembranças guardadas pela memória
daquelesquevivenciaramtalépocafoicuidadosamenteanalisadaelidaàluzdeteóricosda
literaturahistór icacomo,PaulT hompson,JacquesLeGoff,PeterBurke, MauriceHalbwachs,
JimSharpe,AgnesHeller,EcléaBosi dentreoutrosquederamsuporteparaarealiz açãodesta
pesquisa.
Muitasinterrogações,dúvidaseinquietaçõesmarcaramodesenrolard essapesquisa,
enfim, de tudo a grande preocupação foi em estabelecer u ma análise histórica. Os fatos
narradosbasearamsetantonas fontesdocumentaisquantoemfontesoraisqueestiveram à
disposiçãodopesquisador.
Aochegaràconclusãodapesquisa,temseacertezadodevercumprido,o quefoialgo
abstrato, tornouse realidade. Mas de tudo um pouco ficou”, como escreveu Dru mmond
(s/d),desdeasprimeirasetapasdedesenvo lvimentodoprojetodepesquisa,passandopelas
intermiveisetapasdoprocessodeseleçãodoMestrado,atéàproduçãodaDissertação.
Muitas horas foram dedicadas à pesquisa, desde as visitas ao Arquivo blico do
Estado, às viagens feitas à cidade de Isaías Coelho,  as viagens ent re Picos e Teresina, as
orientações do professor Dr. Antônio de Pádua Lopes, as análises feitas na documentação
encontradanoGrupoEscolarDa nielGomes,asa nálisesnasfotografiasencontradase,enfim,
148
as longas entrevistas, co m exalunos, exprofessores e integrantes da comunidade que
vivenciaramtalépoca.
Oobjetodepesquisaoradesenvolvido passa agora para umâmb itodeabrangência
maior,tomouformaeadquiriuumaconotaçãomaior.Temse,agora,umquadrogeralsobrea
sociedadeetodasasetapaspelosquaispassouaeducaçãonacidadedeIsaíasCoelhode1935
a1970.
Oestudo em evidênciasituousenumaregiãocastigadapelas adversidadesdo meio
rural. Os perso nagens envolvidos na narrat iva, em alguns momentos das etapas de
desenvolvimento da sociedade, ficaram à margemdo processo histórico nacional, umavez
que configurava um modelo de cidade interiorana, aos moldes das Cidades Invisíveis, de
ÍtaloCalvino.
Hádeseressaltarque,nascidadesinterioranasdoEstadodoPiauíe,emespecial,em
IsaíasCoelho ,houveecontinuaapersistirumdescasoporpartedopoderpotico.Issofico u
tãoevidenteque,noprincípiodoprocessoeducacional,culminouummodeloprivadodese
fazer educação em que comerciantes e fazendeiros avocaram o encargo de comando da
educação local.  Cerceando, no entanto, o direito à educação à maioria da população que
moravanalocalidadeTamboril.
Ter feito enfoques relevantes sobre a sociedade e a educação de Isaías Coelho nas
condiçõesemqueessesatoresseencontravam inseridos, foi, sem sombra de vidas, uma
experiência ímpar. Pois, a par das condições rurais, os mestresescola e as professoras
conseguirammanter, mesmoemprecáriascondições,o seuprocessoeducacional.
Osdadoscolhidosemtornodasociedadeisaiascoelhenselevaramaconheceracultur a
desse povo e, bem como, entender melhor o seu processo educacional. Este capítulo da
dissertação foi importante por vários motivos, po is além de ter fornecido subsídios da sua
formaçãocultural mostrouo quanto estasociedade ficou foradosbenefícios sociaisdentre
eles,oencontrotardiocomomundodaescrita.
Somenteco mapresençadoprimeiromestreescola, noanode1935,foiquehouveo
manuseiocomaescrita.Notousequeessefoi o primeirotipodedocenteaseestabelecerno
povoado.Eissonãofoiemvão.Comacresce ntedemandadecriançasejovens,nopovoado,
maismestresescolaitinerantesestiveramemIsaíasCoelho,contribuindo,assim,paraquese
pudesseterhojeasolidificaçãodoensino primáriopúblico.
DizerqueosmestresescolaqueporIsaíasCoelhopassaramrepresentaramumgrande
atraso na educação ser ia, pois, cometer umagrande injustiça. Eles, s im, conseguira m com
todasasadversidadeslocaisimplantarummodelodeidentidade,conduta,moraledeéticana
149
educação local. Que fique bem c laro, que tanto o modelo mestreescola flexívelquanto o
rígidopresentesnaDissertaçãoforamresponsáveispelasprimeiraspráticaspedagógicasno
povoado.
Combasenosrelatosdeexalunosdosmestresescolanotouseque,semeles,muitos
queresidiamnopo voadoenaslocalidadespró ximasnuncairiamteracessoàescrita.Visto
assim, o s mestresescola conseguiram, mesmo durante um curto período de tempo, nas
localidadesondeforamcontratados,atingirosseusobjetivosnotocanteaoensinodaleitura,
escrita edoscálculosmatemáticos.
Notouse, durante a pesquisa, que os ensinamentos repassados pelos mestresescola
ajudaramaosalunosdopovoadonãosónosentidodeaprenderemasvoga is,consoantesea
tabuada de forma desconectada de um contexto, ao contrário, nas várias passagens das
entrevistasosexalunosd isseramquemuitosaprendiamaescrevercomdesenvolturaparaos
familiares em outras cidades. Além disso, estes homensescola, com os minguado s
conhecimentos do ofício conseguiram formar um modelo de professor local, contribuindo,
assim,paraaampliaçãodaculturadessepovo.
Outro tipo dedocente que contribuiu para a educação local foramas professoras
leigas.Estasnãotinhamocarát eritinerantedosmestresescola.Surgira mcomacasaescola
e,emseguida,o salão escola,comasdenominaçõesdeEscolaIsoladadeTambor ileEscola
Reunida de Tamboril. O modelo educacional diferia dos alpendres, daspráticas educativas
debaixo das árvores e, passavase com isso, a uma forma mais de mocratizada do ensino. 
Tinhamse horários definidos, normas disciplinares diferentes dos aplicados pelo mode lo
mestreescolaparadigmático,fardamento.Inaugurouseummodelopúblicodeensino.
OúltimotipodedocenteveiocomosurgimentodoGrupoEscolarDanielGomese,
come le,apresençadaprofessoranormalistaeaconsolidaçãodoensinopúblicopr imário,
comestruturaprópriaparafuncionarcomoumarepartiçãopública.Surgiu,assim, ummodelo
adequado para se trabalhar as práticas pedagógicas conforme a s diret rizes traçadas pelas
políticaspúblicasdaépoca.
Apesquisafo isecosturandotalqualumacolchaderetalhos.Avançandonosentidode
não só mapear aspectos sóciopoticoeconômicos da sociedade e de seu processo
educacional isaiascoelhense, mas,  sobretudo, mostrar os vazios, os inacabados, os espaços
improvisados,odescaso, um tempo quesomenteamemóriacoletiva foicapazde r esgatar,
hajavistaquenãosetinhamuitadocumentação paraquesepudessefazero registrodeuma
outraforma.
150
Percebeuse,duranteapesquisa,queosrelatosfeitosementrevistascomexalunose
exprofessores nos possibilitaram enxergar, nos pormenores, as deficiências e as lacunas
impreenchíveis que osespaçosondeera mrealizadasas práticaseducativas ficarampor ser
feitas.Mas,ofatoéqueasrespostasparaasdiversasindagações,duranteo desenvolverda
pesquisa,foramencontradas.
Perguntaslatentescomoporqueademoraemseterumensinoprimáriopúblicoem
Isaías Coelho? Por que tanta dificuldade em se encontrar professores para o exercício do
magistério nesta cidade? De que maneira formouse a identidade cultural do homem
isaiascoelhense?Quetipodematerialdidáticosupriaasnecessidadesdosprofes sores?Que
tipo de cultura escolar foi desenvolvida em cada etapa do processo educacional de Isa ías
Coelho?Foramfeitasemtodaapesquisadecampo,obtendoserespostassu ficientes.
EmnenhummomentodaDissertaçãoquis trazerumarealidadeextática.Aocontrário,
os relatos obtidos durante os meses de pesquisa tiveram um prosito, chegar a uma
(re)interpretaçãodarealidade socialeeducacio nal dacidade e,comisso, fazercomquese
entendaecompreendaoquantofoidifícilsolidificaroensinopúblico.
Efo icomestepropósitoquefoihistoriadaaeducaçãoisaiascoelhense.Paratanto,foi
feito um cruzamento de todos os discursos de exa lunos, exprofessores e pessoas da
comunidadeparaquesepudessechegarao retratodarealidadequeestiveraminseridos.
Assim, com a realização desta pesquisa, esperase ter contribuído para a ampliação
dos dados referentes ao mapeamento da História da Educação do Piauí, bem como ter
trazido suportes coletados através da memória coletiva das pessoas da comunidade, que
vivenciaram a época de evincia dos mestresescola, da Escola Isolada de T amboril, da
EscolaReunidadeTamboriledoGrupoEscolarDanielGomes.Fazendo,assim,comquese
tenhau mmaterialdeapoioparaoutraspesquisase mtornodeobjeto sdeestudossimilarese,
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