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Aureni da Silva Magalhães Marvila
Causalidade e explicação em português:
contribuição ao ensino produtivo da língua
Rio de Janeiro
2010
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades
Instituto de Letras
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1
Aureni da Silva Magalhães Marvila
Causalidade e explicação em português:
contribuição ao ensino produtivo da língua
Tese apresentada, como requisito parcial
para obtenção do título de Doutora, ao
Programa de Pós-Graduação em Letras,
da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Área de Concentração: Língua
Portuguesa.
Orientador: Prof. Dr. Helênio Fonseca de Oliveira
Rio de Janeiro
2010
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CEHB
M391 Marvila, Aureni da Silva Magalhães.
Causalidade e explicação em português: contribuição ao ensino
produtivo da língua / Aureni da Silva Magalhães Marvila. – 2010.
168 f.
Orientadora: Helênio Fonseca de Oliveira.
Tese (Doutorado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Instituto de Letras.
1. Língua portuguesa – Sintaxe - Estudo e ensino - Teses. 2.
Língua portuguesa – Português escrito – Teses. 3. Língua portuguesa
– Composição e exercícios – Teses. 4. Língua portuguesa – Verbos -
Estudo e ensino – Teses. I. Oliveira, Helênio Fonseca de. II.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Letras. III.
Título.
CDU 806.90-56(07)
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese
__________________________ __________________
Assinatura Data
2
Aureni da Silva Magalhães Marvila
Causalidade e explicação em português:
contribuição ao ensino produtivo da língua
Tese apresentada, como requisito parcial
para obtenção do título de Doutora, ao
Programa de Pós-Graduação em Letras,
da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Área de Concentração: Língua
Portuguesa.
Aprovada em 25 de março de 2010.
Banca Examinadora:
_____________________________________
Prof. Dr. Helênio Fonseca de Oliveira (Orientador)
Instituto de Letras da UERJ
______________________________________
Profª. Drª. Maria Teresa Gonçalves Pereira
Instituto de Letras da UERJ
______________________________________
Prof. Dr. Claudio Cezar Henriques
Instituto de Letras da UERJ
______________________________________
Profª. Drª. Rosane Santos Mauro Monnerat
Instituto de Letras da UFF
______________________________________
Profª. Drª. Lygia Maria Gonçalves Trouche
Instituto de Letras da UFF
Rio de Janeiro
2010
3
DEDICATÓRIA
A todos aqueles que sempre valorizaram meus estudos: família, amigos,
companheiros de profissão.
A todos os meus eternos alunos, aos quais sempre desejei facilitar o bom
desempenho da Língua.
A todos os que consideram a Língua um instrumento de expressão e de
comunicação do pensamento.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, em primeiro lugar, pela realização de meus estudos linguísticos.
Ao Prof. Dr. Orientador, pela ajuda e pela credibilidade em todas as etapas
deste trabalho.
Ao meu esposo, pelo incentivo e pela compreensão.
A minha família e aos amigos, pela força durante o Curso.
Aos professores e colegas de Curso, pelo profissionalismo e pela competência.
Aos colegas de trabalho, principalmente pelo auxílio e pela força, em relação à
etapa final desta jornada. Em especial, aos colegas Tomaz, Danielle e Rosa.
A todos que colaboraram, direta ou indiretamente, para a realização e
conclusão desta pesquisa, em particular, ao casal Gladsson e Marcela e ao André.
5
Feliz daquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina
6
RESUMO
MARVILA, Aureni da Silva Magalhães. Causalidade e explicação em português:
contribuição ao ensino produtivo da língua. 2010. 168 f. Tese (Doutorado em Língua
Portuguesa) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
Este estudo apresenta um levantamento de estruturas sintáticas causais e
explicativas e sua correlação, respectivamente, com os modos narrativo e
argumentativo de organização do texto, evidenciando a frequência de tais
construções nos respectivos gêneros textuais: notícia, crônica, editorial e redação de
vestibular. Para a coleta de dados, analisam-se 400 (quatrocentos) textos, 100 (cem)
de cada gênero supramencionado. Há o confronto de conectivos que, na tradicional
escolar, representam formas de expressão da causalidade (sentido restrito) e da
explicação, repensando-se aspectos da descrição e do ensino de Língua
Portuguesa, com vistas à proficiência discursiva na modalidade escrita. Aponta
como principais resultados: a) a existência de três grupos de conectivos explicativos:
os exclusivamente causais, os exclusivamente explicativos e os que exercem dupla
função; b) a correlação entre os três modos verbais e a explicação, e, no caso da
causalidade, uma correlação apenas com os modos verbais Indicativo e Subjuntivo;
c) uma correspondência entre causalidade (no sentido estrito) e narração, e entre
explicação e argumentação; d) a relação entre Factualidade e as estruturas causais,
e entre o ato de fala chamado Justificativa e as orações explicativas, expressando
não apenas ordens, pedidos, convites, opiniões e perguntas. Conclui que o estudo
dos conectivos causais e explicativos deve estimular a reconstrução do
conhecimento e a observância dos elementos verbais (disponíveis na língua) que
são responsáveis pela construção dos sentidos. Além disso, que o ensino de Língua
Portuguesa deve estar centrado em uma abordagem produtiva, mais funcional, não
essencialmente classificatória e conteudista, de forma que a gramática, com a
contribuição de estudos do discurso, promova o desenvolvimento de habilidades e
competências de produção de textos. Não se propõe com isso que a tradição
escolar seja descartada. Ao contrário, é mais uma reflexão, no caso, intradisciplinar,
com vistas à construção de uma prática didático-pedagógica em língua materna.
Palavras-chave: Ensino produtivo. Conectivos causais. Narração. Factualidade.
Conectivos explicativos. Argumentação. Justificativa.
7
ABSTRACT
This study presents an assessment of causal and explicative syntactic
structures and their respective correspondence with the narrative and argumentative
modes of text organization, evidencing the frequency of such constructions in the
following textual genres: news, chronicle, editorial and students’ writing in college
entrance exams (vestibular). For data gathering, we have analyzed 400 (four
hundred) texts, 100 (one hundred) of each aforementioned genres. A comparison is
made with connectives which, according to traditional educational practices,
represent ways of expressing cause (restrict sense) and explanation, and thus we
rethink aspects of Portuguese language description and teaching, with the purpose of
improving proficiency in written discourse. The principal findings are: a) the existence
of three groups of explicative connectives: those which are solely causal, those which
are solely explicative and those that comprise both functions; b) the correlation
among the three verb moods and explanation, and, in the case of causality, the
correlation only with Indicative and Subjunctive verb moods; c) the relationship
between causality (in the strict sense) and narration, and between explanation and
argumentation; d) the relationship between factuality and causal structures, and
between the act of speech called Justification and explicative sentences, expressing
not only orders, requests, invitations, opinions and questions. We conclude that the
study of casual and explicative connectives should stimulate the reconstruction of
knowledge and the analysis of verbal elements (available in the language), which are
responsible for the construction of meanings. In addition, the teaching of Portuguese
language should focus on a productive approach, more functional, not essentially
based on classifications and contents, so that grammar, with the contribution of
discourse studies, may foster the improvement of skills and competences in text
writing. We do not propose, with this study, that traditional school teaching should be
disregarded. On the contrary, this is only another approach, in this case,
intradisciplinary, with the purpose of constructing a didactic-pedagogical practice for
Portuguese language as mother tongue.
Keywords: Productive teaching. Casual connectives. Narration. Factuality. Explicative
connectives. Argumentation. Justification.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1 – Gênero textual Dissertação de Vestibular, conectivos explicativos e o
modo argumentativo de organização do discurso....................................30
Gráfico 1 – Gênero textual Dissertação de Vestibular, conectivos explicativos e o
modo argumentativo de organização do discurso....................................31
Quadro 1 – Características semântico-discursivas dos tempos verbais....................39
Quadro 2 – Tradutores de causalidade e de explicação............................................44
Quadro 3 – Reclassificação de conectivos tradutores de causa e de explicação......47
Quadro 4 – Identificação de conectivos em corpora.................................................49
Quadro 5 – Emprego de pois e porque......................................................................59
Tabela 3 – Gênero textual Editorial, conectivos explicativos e o modo argumentativo
de organização do discurso...................................................................120
Gráfico 3 – Gênero textual Editorial, conectivos explicativos e o modo argumentativo
de organização do discurso...................................................................121
Tabela 2 – Gênero textual Crônica, conectivos causais e o modo narrativo de
organização do discurso........................................................................122
Gráfico 2 – Gênero textual Crônica, conectivos causais e o modo narrativo de
organização do discurso........................................................................123
Tabela 4 – Gênero textual Notícia, conectivos causais e o modo narrativo de
organização do discurso........................................................................123
Gráfico 4 – Gênero textual Notícia, conectivos causais e o modo narrativo de
organização do discurso........................................................................124
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................11
1 A ESTATÍSTICA A SERVIÇO DOS ESTUDOS GRAMATICAIS .........................24
1.1 O processo de utilização do SCP (Simple Concordance Program) ............25
1.2 O Coeficiente de Correlação de Pearson ......................................................28
1.3 Correlação entre os conectivos explicativos e o modo argumentativo de
organização do discurso ..............................................................................32
1.4 Correlação entre os conectivos causais e o modo narrativo de organização
do discurso ....................................................................................................35
1.5 Correlação entre os modos verbais e os conectivos causais e os
explicativos.....................................................................................................39
2 HIPÓTESES, DESCOBERTAS E PRINCIPAIS RESULTADOS..........................43
2.1 Lista de conjunções em gramáticas normativas...........................................44
2.2 Os conectivos exclusivamente explicativos, os exclusivamente causais e
os que exercem dupla função........................................................................46
2.3 Aspectos morfossintático-semânticos e discursivos de alguns conectivos
causais e explicativos .....................................................................................48
2.3.1 O caso de JÁ QUE........................................................................................... 52
2.3.2 A locução POR + INFINITIVO
..........................................................................57
2.3.3 O uso de ATÉ PORQUE
.................................................................................. 57
2.3.4 POIS e PORQUE............................................................................................. 58
3 SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS...........................................................................61
3.1 Extratos dos corpora e alguns comentários..................................................65
3.2 A ausência de conectivos causais e explicativos..........................................86
4 APLICAÇÃO DIDÁTICA........................................................................................89
10
4.1 A ótica discursiva, a tradição escolar e o livro didático................................89
4.1.1 Como os livros didáticos lidam com as noções de causalidade e de
explicação................................................................................................91
4.2 Uso inadequado de conectivos em redações................................................ 94
4.3 Atividades didáticas para um ensino produtivo.............................................99
4.3.1 Desenvolvendo habilidades para a produção de textos..................................101
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 104
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 107
APÊNDICE A – Tabela e gráfico de gênero textual do modo argumentativo de
organização do discurso....................................................................... 120
APÊNDICE B – Tabelas e gráficos de gêneros textuais do modo narrativo de
organização do discurso....................................................................... 122
ANEXO ACorpus imaturo, subgênero Dissertação de Vestibular......................125
ANEXO BCorpus maduro, subgênero Editorial..................................................130
ANEXO CCorpus imaturo, subgênero Crônica ................................................. 144
ANEXO DCorpus maduro, subgênero Notícia................................................... 152
11
INTRODUÇÃO
A motivação para a elaboração dessa tese, em continuidade à pesquisa de
Mestrado, se justifica pela confluência de pensamento com os que acreditam que o
ensino da língua materna deve ir além de simples técnicas e/ou regras para sua
compreensão e processo de composição textual. Sendo assim, precisamos oferecer
meios que garantam ao aluno/falante uma produtiva apreensão dos conteúdos
ensinados, através de reflexões, análises e construções, visando a aplicações em
sua atividade sócio-comunicativa.
Uma vez que a estrutura do idioma oferece variadas formas de expressão do
pensamento, torna-se oportuno mais um estudo sobre as construções sintáticas que
exprimem, através de modos de organização do discurso, diversos valores
semânticos. Isso não significa que a forma estaria outra vez sendo privilegiada, em
detrimento do conteúdo. Antes, objetivamos, principalmente, propor mais uma
reflexão acerca dos moldes tradicionais de estudo e ensino de língua portuguesa, de
maneira que a abordagem sintática privilegie os aspectos morfossintático-
-semânticos e os discursivos. Pois acreditamos que assim teremos, no mínimo, uma
melhora em compreensão textual e na qualidade da expressão escrita.
O propósito inicial dessa pesquisa era tão somente comprovar cientificamente
a correlação entre causalidade (sentido restrito) e narração, e entre
argumentação e explicação, porquanto Oliveira
1
já dizia que
...existe uma correlação entre a causalidade, no sentido restrito (aquela expressa
pelas conjunções causais) e o modo narrativo de organização do discurso:
causalidade, nesse sentido, implica uma “cronologia”; o fato-causa tem de ocorrer
antes do fato-consequência. Isso pressupõe fatos que se sucedem no tempo, o que
é próprio da narrativa... Ao contrário, é próprio do modo argumentativo o ato de
justificar com argumento(s) a enunciação de uma sequência que funciona como
tese.
Eis a razão por que pensávamos em identificar todas as palavras e
expressões por meio das quais é possível expressar causalidade (lato sensu), até
mesmo porque é sabido que existe uma afinidade semântica entre os conectivos
causais e os explicativos. Entretanto, surgiu a necessidade de delimitarmos qual
seria o “foco maior” para esta pesquisa. Então, decidimos explorar não só as
1
OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Descrição do Português à Luz da Linguística do Texto. Rio de Janeiro:
UFRJ/CEP, 2001b, p. 72.
12
conjunções e as palavras afins que aparecem explicitamente, ligando orações ou
porções maiores de texto, mas também a preposição por + infinitivo.
No decorrer do levantamento das ocorrências, vimos que mereciam um
razoável grau de atenção algumas expressões como tendo em vista (que) e por
esse (este) motivo, tradutoras, respectivamente, de explicação e causa,
considerando que, no caso específico da primeira, altera o paradigma semântico de
que apenas preposições ou locuções prepositivas são causais. Sobre ambos os
casos, não possuem status de locução prepositiva e/ou conjuntiva, isto é, não são
itens lexicais, parecendo-nos que se trata de casos fronteiriços entre vocábulos
independentes (dois, três, quatro) e locução conjuntiva.
Em consonância com Oliveira, salientamos que,
No que se refere aos conceitos de modos de organização do discurso, tipos de
textos e gêneros textuais, também (acréscimo nosso) adotaremos aqui a
terminologia de Patrick Charaudeau, ligeiramente adaptada, a saber, ficaremos com
os termos modos de organização do discurso e tipos de textos, tais quais ele os
emprega na Grammaire du Sens et de I’Expression de 1992, e tomaremos gêneros
textuais, que aparece com mais de um sentido em seus trabalhos, como
subcategorias dos tipos de textos. Às subcategorias dos gêneros chamaremos
subgêneros (2003, p. 41).
O “foco menor” compreende: as preposições e as locuções prepositivas que
são essencialmente tradutoras de causalidade, exceto, como acabamos de dizer,
no caso de a preposição por aparecer ligando orações reduzidas de infinitivo; a
preposição por + sintagma nominal sempre de valor causal; o porque advérbio
interrogativo de valor causal. Todos esses casos foram considerados “irrelevantes”,
e, como não pretendemos explorá-los, mesmo sendo tradutores de causa, um dos
valores semânticos em estudo, decidimos não anexar, ao final, textos em que eles
apareceram.
Nos anexos, por amostragem, de acordo com o gênero textual em pauta,
serão encontrados, na íntegra, os textos em que os casos, principalmente os
excêntricos, aconteceram. Aproveitamos para informar que os textos citados neste
trabalho, seguindo o agrupamento por espécie de gênero textual, foram compilados,
em ordem numérica ascendente. Não obstante, a título de exemplificação.
Também não enfocaremos: as orações reduzidas de gerúndio e de particípio;
as construções assindéticas, inclusive as do tipo ponto + maiúscula, por possuírem
valor causal ou explicativo flutuante, sem esquecer a afinidade semântica com as
13
orações temporais, aditivas, finais, etc., semelhantemente ao que ocorre com as
reduzidas de gerúndio e de particípio. Esses casos nem serão exemplificados.
Inicialmente, tínhamos três hipóteses: primeiramente, que haveria, nos
corpora argumentativos, bem mais conectivos tradutores de explicação do que de
causalidade, e, nos corpora narrativos, o inverso; em segundo lugar, que, apesar
da ocorrência de causalidade no modo narrativo, e de explicação no
argumentativo, o predomínio não seria tão significativamente menor. A terceira e
última suposição era que, em ambos os casos, haveria alta correlação entre
argumentação e explicação e entre narração e causalidade.
Em linhas gerais, confirmou-se a intuição linguística, pois, mesmo não sendo
tão expressiva a correlação, em termos matemático-estatísticos, existe, sim, a
relação entre os modos narrativo e argumentativo de organização do discurso e os
valores semânticos de causalidade (sentido restrito) e de explicação,
respectivamente.
Assim foi cumprida a primeira etapa para elaboração deste trabalho:
(a) definição do corpus; (b) levantamento de ocorrências; (c) inclusão dos corpora
maduros; (d) escolha e início de aplicação das ferramentas para a pesquisa. A
segunda etapa aconteceu da seguinte forma: (a) definição do “foco maior”;
(b) sistematização das ocorrências e conclusão da aplicação de ferramentas da
Informática e de métodos matemático-estatísticos; (c) análise de dados;
(d) confronto com a tradição escolar; (e) sugestão de temas para composição dos
capítulos.
A fim de que comprovássemos a correlação entre causalidade (sentido
restrito) e narração e, entre argumentação e explicação, precisávamos definir
quais gêneros textuais, em maior ou menor grau de incidência, serviriam para
representar os modos narrativo e argumentativo, lembrando que
...os textos podem ser objeto de uma categorização em gêneros (publicitários,
científicos, de informação, de instrução, etc.), e não devem ser confundidos com
Modos de Organização, já que um mesmo gênero pode resultar de um ou de vários
modos de organização de discurso e do emprego de várias categorias de língua
(CHARAUDEAU, 2008, p. 68).
14
Oliveira informa que
Charaudeau distingue tipos tipos de textos (publicitário, noticioso, didático, científico
etc.) de modos de organização do discurso (descritivo, narrativo, argumentativo e
enunciativo, sendo o último o que “gerencia” os outros três). Embora possa haver,
segundo ele, certa correlação entre um tipo de texto e determinado modo de
organização discursiva – por exemplo, editoriais tendem a ser argumentativos –, não
se devem confundir as duas noções, pois cada tipo textual pode, em princípio,
utilizar qualquer modo de organização do discurso. O texto publicitário é um bom
exemplo disso: podemos anunciar um produto descrevendo-o, contando uma
história, geralmente breve, argumentando com suas “virtudes” etc. (CHARAUDEAU,
1992 apud Oliveira, 1996, p. 137.)
Para compor os corpora, analisamos um total de 400 (quatrocentos) textos.
De início, pensávamos em verificar as formas de expressão da causalidade e da
explicação em redações de alunos. Foram analisadas 200 (duzentas) produções,
sendo os cem primeiros textos fornecidos pelo Professor-Orientador, em 2006,
quando iniciamos o Curso. De seu banco de textos, cedeu-nos gentilmente 100
(cem) cópias de dissertações de vestibular do processo seletivo UERJ-2003,
numeradas de 201 a 301. Essa numeração original foi mantida, o que pode ser
constatado quando da citação dos referidos textos. Os outros cem fazem parte do
acervo de um colégio militar, o Colégio Naval, em Angra dos Reis/RJ, e se referem a
crônicas produzidas, em 2005, por alunos das turmas de terceiro ano do Ensino
Médio. A enumeração desse último grupo, bem como os da coletânea de textos do
corpus maduro, recebeu os números de 001 a 100.
Nossa intenção era realizar a análise de dados somente com base nos
primeiros textos descritos, os pertencentes ao corpus imaturo. Mas fomos
orientados a verificar as referidas formas de expressão na modalidade escrita
divulgada pela mídia impressa (um corpus maduro), por representar a linguagem
chamada “de prestígio”. Ou seja, observaríamos o padrão sintático das estruturas
causais e explicativas, na forma linguística reconhecida por “padrão”, que também
não deixa de ser um retrato da língua em uso.
Assim, para a composição dos corpora maduros, com o auxílio da Internet,
coletamos os outros 200 (duzentos) textos, sendo 100 (cem) editoriais e 100 (cem)
notícias do jornal O Globo Online, a fim de aproveitar a versão já digitalizada. Os
editoriais foram publicados nos períodos de fevereiro a dezembro de 2005 e de
janeiro a abril de 2006, sendo que uns apresentam um caráter mais institucional, e
outros, uma posição individual. As notícias versam sobre assuntos variados, desde
15
política e economia a ciência, saúde, cultura, educação, etc., com matérias
nacionais e internacionais. Foram publicadas entre os meses de fevereiro e
dezembro de 2008.
A proposta de redação do Vestibular UERJ-2003 era produzir um texto, em
prosa, dissertativo-argumentativo, de no mínimo quinze e no máximo trinta linhas,
que apresentasse elaboração própria, estrutura completa e coerente, sendo redigido
em língua culta padrão. O tema foi: “Os defeitos podem ser muito sérios, os erros,
muito graves, as crises, muito profundas – e o que parece imaginação, às vezes, se
revela apenas mentira”.
A respeito do texto produzido pelos alunos do colégio militar, foi solicitada a
composição de uma crônica, de no mínimo quinze linhas, cuja história versasse
sobre um fato marcante ou pitoresco. Atribuiu-se uma pontuação ao texto, porque
equivaleria a um trabalho bimestral da disciplina Literatura.
Ainda sobre os textos que compuseram os corpora imaturos, fez-se a
digitação das versões originais, acompanhada de sua conferência, para garantir a
fidedignidade das informações, inclusive por causa de alguns casos interessantes e
que foram considerados nesta pesquisa. Por exemplo, a constatação de orações
coordenadas sindéticas explicativas introduzidas pelo porque, nos corpora
maduros, não precedidas pela vírgula, ocorrendo o contrário quando esse mesmo
conectivo introduz orações subordinadas adverbiais causais.
Os manuscritos tanto das crônicas quanto das dissertações de vestibular estão
disponíveis em nosso arquivo particular para consultas. Anexamos, apenas em
formato digital, esse corpus utilizado inicialmente, para que os interessados
possam reproduzir os resultados obtidos aqui, garantindo, assim, mais
confiabilidade.
Usaremos o termo sequência, referindo-se tanto a uma oração quanto a, em
certos casos, um conjunto de orações, ou até mesmo, a um parágrafo do texto,
entendendo o parágrafo como uma unidade de extração por possuir mais contexto
do que as sentenças. Consideramos não só trechos como também parágrafos,
literalmente falando, para análise e composição de extratos dos corpora. Nesse
aspecto, Silva (2009, p. 127) faz referência ao denominado Mr. Paragraph, dizendo
que
16
Numa perspectiva discursivo-funcional, Longacre reconhece no discurso uma
estrutura gramatical e afirma que essa estrutura pode ser decomposta em partes,
tendo o parágrafo o status de unidade intermediária entre a sentença e o discurso (o
todo) e por isso guardando semelhanças com os dois níveis contíguos.
Em relação ao conceito linguístico-gramatical da categoria denominada
conjunções, tratá-la-emos aqui por conectivos, haja vista que optamos pelo termo
geral (hiperônimo), especificamente falando sobre porque e sinônimos,
considerando-os “...certas palavras e expressões que ‘ligam’ termos da oração,
orações, períodos e até fragmentos de texto relativamente longos”
(OLIVEIRA, 2001b, p. 63). Ou seja, são elementos de ligação em constituintes
textuais, nos níveis intra, interoracional e interfrástico.
Ressaltamos que, quanto a outros grupos de palavras com que também
exprimimos causa e explicação, por exemplo, por esse motivo e tendo em vista,
respectivamente, decidimos chamá-los de expressões. Isso com base num
princípio metafórico denominado graus de soldamento, de Azeredo, conforme texto
original do verbete “formação de palavras” da Enciclopédia Mirador, cuja menção
acabou não sendo publicada. Aproveitamos para formalizar nosso agradecimento
por ele nos permitir utilizar essa inédita abordagem neste trabalho.
Segundo Perini (2001, p. 139), conjunções seriam apenas as “palavras” que a
gramática escolar chama de ‘conjunções subordinativas’. E acrescenta:
Uma conjunção pode ser apresentada graficamente como uma palavra (que,
quando) ou como um grupo de palavras (visto que, se bem que, sempre que).
Conjunções desse último tipo funcionam de certo modo como palavras únicas, pois
suas partes não têm independência sintática; e, a se levar em conta apenas a
sintaxe, poderiam ser grafadas sem espaço, como uma única palavra. No entanto, a
ortografia reflete o fato de que as partes dessas conjunções têm alguma
independência fonológica, pois conservam cada uma seu acento tônico próprio.
Azeredo (2004, p. 145-6) as considera tanto introdutores subordinativos
quanto coordenativos, sendo que estes ligam os termos; aqueles, os introduzem.
Em acordo com Beaugrande e Dressler, Fávero (1992, p. 54) reconhece que existe
a interdependência semântica das frases, denominando “conectores frásicos” os
elementos linguísticos por meio dos quais podemos exprimir diversos valores, entre
eles, o da causalidade.
Salienta (Ibid., p. 58) que “Algumas relações causais são do tipo lógico, isto é,
o conteúdo expresso pelo consequente será verdadeiro se o conteúdo do
17
antecedente o for. É o que se denomina condicionalidade factual ou real.”, ao que
chamamos de uma relação de causa e efeito, por exemplo, o que se expressa em
‘A água ferveu e não derramou porque as bolhas de vapor arrebentaram’. E
acrescenta (loc. cit.): “Estabelecem-se, porém, nas línguas naturais relações de
causalidade que não só as do tipo lógico, em que se aventa uma causa para uma
determinada consequência” (grifo nosso).
Para a autora, “A relação de causalidade (condição necessária ou suficiente) é
expressa pelas construções que a gramática chama de causais, conclusivas e
consecutivas” (loco citato). Seria o caso de um enunciado do tipo ‘A água ferveu e
derramou, porque a panela estava mais cheia’.
No primeiro caso, a conjunção porque introduz a causa; no segundo, o papel
dela é o de introdutora de argumentos, sendo que se observam entoações distintas:
um final descendente, no primeiro, e, no segundo, um final ascendente. Sobre essa
particularidade, Oliveira, fazendo referência a Koch, comenta:
A primeira assertiva (acréscimo nosso) apresenta a entoação com final
descendente característica de quem narra, observando-se na segunda a entoação
com final ascendente, que costuma estar associada a um envolvimento pessoal do
falante com seu discurso. Quem argumenta, por estar empenhado em persuadir o
interlocutor, tende a mostrar-se enfático, veemente, às vezes patético, atitudes que
nada têm da tranquilidade do narrador e se manifestam na fala sob a forma de uma
entoação de final ascendente. A corrrelação entre tais atitudes e os modos
argumentativo e narrativo de organização do discurso não é uma regra infalível – é
possível narrar emocionado bem como argumentar tranquilamente – mas existe
certa correlação entre argumentação e engajamento do locutor e entre narração e
não engajamento. (2001b, p. 73)
No que concerne à dependência sintático-semântica das conjunções
explicativas e das causais, Garcia informa que
As explicativas (pois, porque) relacionam orações de tal sorte que a segunda
encerra o motivo ou explicação (razão, justificativa) do que se declara na primeira.
Em virtude de afinidade semântica entre motivo e causa, porque, explicativa,
confunde-se com porque, subordinativa causal... (2003, p. 44)
Numa visão bloomfieldiana, que atualmente não se adota mais, de considerar
que semântica não é gramática, Macambira afirma que
As orações unidas por conjunções coordenativas causais (explicativas) podem
também, quase sem exceção, ser apresentadas sob a forma de orações
subordinadas... Só é possível considerar porque e outras causais como explicativas,
partindo-se de argumentos extralingüísticos, geralmente muito pessoais e portanto
anticientíficos. Toda explicativa é causal, porque denota a causa; e toda causal tem
de ser explicativa, pois está explicando qual é a causa...O critério semântico é
inferior ao mórfico e ao sintático, porque não ensina a descobrir por meios
18
lingüísticos a divisão das conjunções. Para determinar se a conjunção é
coordenativa, cumpre saber se a oração é independente, ou vice-versa; para
determinar se é subordinativa, se a oração é dependente, ou vice-versa. Como a
subordinativa pode ser nocional, e por isto carecer de conjunção subordinativa, é
óbvio que o analista não encontra em que se agarrar para estabelecer a distinção
(1999, p. 70 seq.).
Mas Carone, com base nos estudos de Vogt (1989), esclarece:
...há motivos que levam a confusões entre a causal e a explicativa, por mais
diferentes que sejam, na vida, a causa e a explicação (aquela é anterior ao fato, e
esta nós buscamos a posteriori). O primeiro é que a explicativa é, “lateralmente”,
uma causal. Alguns chegam a dizer que ela exprime uma relação de causa “mais
frouxa”; essa avaliação qualitativa, porém, não é estritamente sintática. O verdadeiro
problema é que ela não exprime uma causa referencial daquilo que é dito no
enunciado...mas a causa do ato e da atitude do locutor ao produzir seu
enunciado. Em outras palavras, não é a causa do “dictum”, mas do “modus”
do falante, visto que gerou o seu julgamento sobre o fato exposto (grifos
nossos). Por esse motivo é que Vogt...assinala seu valor argumentativo
(2001, p. 73).
Vários estudiosos sistematizaram padrões sintáticos de estruturas causais e
explicativas. Citamos os trabalhos de Garcia (2003), Charaudeau (1992), Bechara
(2001a, 2001b), Vogt (1980), Koch (1992), Brito (2003), Souza e Silva (2001), Val
(1999), Oliveira (2001a, 2001b, 2005b), Oliveira & Monnerat (2005), Henriques
(2008), Azeredo (2000, 2004), Paiva (1993), entre outros.
Dentre as propostas de diferenciação das conjunções causais e explicativas,
destacamos as de Henriques e de Oliveira & Monnerat, por privilegiarem tanto o
comportamento sintático quanto o semântico, e, no caso de Oliveira & Monnerat,
numa perspectiva também discursiva, que é o nosso enfoque. Além disso, a
exposição didática dos autores também merece destaque.
Henriques chama atenção para o fato de que
Não devemos confundir a estrutura explicativa com a causal (que também emprega
as conjunções pois & porque). Na verdade, a distinção entre ambas é mais clara no
aspecto semântico (a oração explicativa é sempre a conseqüência da oração A) ou
no seu caráter fonológico (a entonação da oração A é ascendente e termina por
pausa). Exemplos: - O carro tem
algum problema, [pois está soltando fumaça.]
EXPLICATIVA - O carro está soltando
fumaça (,) [pois tem algum problema.]
CAUSAL (2008, p. 104).
Oliveira & Monnerat (2005, p. 94) assim apresentam a diferença:
Façamos, então, um parêntese para distinguir as explicativas das causais.
Comparemos... frase (1) com a de número (10)... (1) A criança chorou porque
apanhou da mãe... (10) A criança chorou, porque seus olhos estão vermelhos. No
primeiro caso, “apanhar da mãe” é realmente a causa de “a criança ter chorado”,
que é a sua conseqüência. O mesmo já não se pode dizer da segunda frase, em que
“porque seus olhos estão vermelhos” é a justificativa, a explicação do ato de fala
19
anterior, funcionando como argumento para “provar” a tese de que “a criança
chorou”. Além disso, há uma distinção, entre as duas orações, de caráter fonológico.
Em (10), a entonação da primeira oração é ascendente e termina por breve pausa,
marcada na escrita, por pontuação (aspecto que Henriques também aborda) –
acréscimo nosso.
Tratando especificamente da noção de causalidade (sentido restrito), os
autores (Ibid., p. 90-1), em referência a Koch (1992), apresentam paráfrases de um
enunciado (1), cujas construções evidenciam a relação de causa e consequência,
sempre a causa a antecedendo, na ordem natural dos acontecimentos:
(1) A criança chorou porque apanhou da mãe.
(2) Como apanhou da mãe, a criança chorou.
(3) A criança apanhou tanto da mãe que chorou.
(4) Por ter apanhado da mãe, a criança chorou.
(5) Se a criança apanhou da mãe, ela chorou.
Depois, mencionam outras possibilidades de a exprimirmos, por exemplo, com
a inversão da ordem natural dos acontecimentos, que se configura em (1), por meio
de frases simples cujos verbos denotam causa e/ou consequência,
respectivamente: (6) Os tapas da mãe causaram/motivaram/ocasionaram o choro
da criança; (8) O choro da criança decorreu dos (deveu-se aos, derivou dos)
tapas da mãe. E chamam nossa atenção para a construção (5), “...que pode ser
parafraseada por: “Chorou porque apanhou da mãe”.
Oliveira expõe a distinção entre conjunções explicativas e causais numa ótica
discursiva,
Concluindo: - A conjunção causal “liga” orações ou conjuntos de orações que
exprimem fatos (e não opiniões, ordens, perguntas etc.), sendo o segundo desses
fatos, causa do primeiro. – A conjunção explicativa, ao contrário, introduz uma
oração ou conjunto de orações que justifica o fato de se ter falado ou escrito a
oração (ou conjunto de oraçôes) anterior. A respeito da construção “A porque B”, “A
pois B” etc. (com conjunção explicativa) podem-se fazer as seguintes observações:
a) “A” exprime uma opinião, ordem, pergunta, tese etc. Se exprimir um fato, este
assumirá o status discursivo de tese por ser visto pelo falante como questionável. B)
Quando “A” é uma tese, “B” é um argumento orientado para essa tese. c) Como “B”
justifica o fato de se ter falado ou escrito “A”, é possível nessa construção
subentender-se, antes da conjunção, “e eu digo isso“, “e eu ordeno isso”, “e eu peço
isso”, “e eu pergunto isso” etc. (2001b, p. 73)
Com base nos propósitos desta pesquisa, ratificamos a importância da
sistematização de critérios por meio dos quais o aluno/falante diferencie causa de
20
explicação. É de suma importância, além disso, que “...adquira também certos
padrões de estruturas frasais de que a língua possa dispor para expressar de várias
maneiras a mesma ideia claramente concebida e suas relações com outras”
(GARCIA, 2003, p. 77).
Adotando a terminologia de van Dijk, ao tratar dos mecanismos de coesão
sequencial strictu sensu, Fávero menciona, entre outras, as noções de
causalidade e de explicação ou justificação, sendo que a primeira se referindo
novamente a um operador do tipo lógico; a segunda, a um operador do discurso
com que “...introduz-se uma explicação ou, uma justificação (acréscimo nosso) de
um ato anteriormente realizado (1995, p. 33 seq.)”, e não, uma relação de causa e
consequência.
Sobre estes recursos de sequenciação por conexão, a autora ainda esclarece:
Os operadores do tipo lógico têm por função o tipo de relação lógica que o
escritor/locutor estabelece entre duas proposições (não devem ser confundidos com
os operadores lógicos propriamente ditos, porque as línguas naturais têm sua
própria lógica, diferente da lógica formal). Os operadores discursivos têm por função
estruturar, através de encadeamentos, os enunciados em textos, dando-lhes uma
direção argumentativa, isto é, orientando o seu sentido em dada direção (loc.cit).
As palavras e expressões que estamos denominando neste trabalho
conectivos correspondem ao que Charaudeau
2
denomina ‘relatores lógicos’,
quando trata da argumentação e sua relação discursiva com algumas categorias
gramaticais:
Manteve aqui, todavia, esse termo [relatores lógicos] para enfatizar o fato de que os
processos linguísticos de articulação lógica são categorias da língua típicas da
organização argumentativa da linguagem, ainda que, como as demais, se possam
colocar a serviço de outros modos de organização do discurso... A tradição
gramatical não trata da questão das relações lógicas tal qual é abordada aqui.
Ilari e Geraldi advertem que algumas das tradicionais classificações
2
O texto em língua estrangeira é: Ce terme a néanmoins été retenu ici pour signaler que les procédes
linguistiques d’articulation logique sont des catégories de la langue qui relèvent de l’organisation argumentative
du langage, méme si celles-ci, comme les autres catégories de langue, peuvent se mettre au service d’autres
modes d’organisation du discours...La tradition grammaticale ne traite pas la question des relations logiques en
tant que telle (CHARAUDEAU, 1992, p. 493 seq.).
21
morfossintáticas da língua realmente não dão conta das condições de uso da língua
e que existem “...categorias descritivas que dizem respeito menos à sintaxe ou ao
conteúdo objetivo das frases, e mais ao seu possível uso na interação dos locutores
(2001, p. 80-1)” . Inclusive reconhecem que há conectivos, sejam coordenativos
sejam subordinativos, com que estabelecemos “...uma relação entre argumentos e
conclusões... (loc. cit.), entre outros, o pois e o já que.
Porém, ressaltam que
O recurso às noções da semântica argumentativa enseja uma explicação para fatos
diante dos quais as classificações tradicionais ou mesmo algumas análises
semânticas mais cuidadosas se revelam insuficientes (op. cit., p. 83).
Em função disso, a presente pesquisa analisa, sob um enfoque discursivo, os
elementos linguístico-gramaticais tradutores de causa e de explicação, por exemplo,
o fato de as conjunções pois e já que tanto justificarem enunciações quanto ações.
No caso das conjunções visto que e uma vez que, a alta frequência com que são
usadas para justificar ações. Logo, existem conectivos que são sintaticamente
subordinativos, mas, semanticamente traduzem justificativas, portanto, explicativos.
Observamos também que, além de ações, ordens, pedidos, convites e perguntas,
eles podem justificar opiniões, exclamações, desejos, recomendações e crenças,
etc.
São explorados outros dados relevantes: em primeiro lugar, a correlação entre
os modos verbais do indicativo, do subjuntivo e do imperativo e o ato de explicar, de
justificar, e entre os dois primeiros modos (indicativo e subjuntivo) e o ato de relatar
fatos. Em segundo, que há os conectivos exclusivamente causais, os
exclusivamente explicativos e, dentre eles, os que exercem dupla função.
O desenvolvimento deste estudo foi organizado em quatro capítulos: no
primeiro, demonstramos a utilização da estatística para confirmar a correlação
existente entre causalidade (no sentido restrito) e narração e, entre
argumentação e explicação; no segundo, apresentamos os principais resultados
da pesquisa, confirmando hipóteses e descobertas; no terceiro, sistematizamos a
análise de dados. No quarto e último, apresentamos algumas reflexões sobre a
aplicabilidade pedagógica dos resultados obtidos, visando ao ensino da língua
portuguesa.
22
Em princípio, propomos que, no estudo dos conectivos que na tradição
escolar representam formas de expressão da causalidade, no sentido amplo
3
, não
se observem apenas critérios sintáticos. Devemos também considerar elementos
semântico-discursivos, repensando aspectos da descrição e do ensino de
Português, em prol de uma maior proficiência linguística, em especial, na
modalidade escrita da língua. Com uma abordagem mais funcional, pautada no
reconhecimento e na (re)elaboração de diferentes construções de causa e de
explicação, teremos uma efetiva contribuição ao ensino produtivo da língua,
porque, como disse Garcia,
...A articulação das orações (ou enunciados) exige faculdade de análise, de
discriminação, de raciocínio lógico, enfim. O autor deve ter presente ao espírito a
concorrência de fatores e elementos diversos (termos, agrupamentos de termos,
orações..., grau de relevância das idéias segundo o ponto de vista, etc.). Deve
procurar dar a cada um desses elementos e fatores, assim como ao seu conjunto,
uma estrutura e disposição que estejam de acordo não apenas com as normas
sintáticas mas também com a hierarquia entre eles, combinando-os de maneira que
expressem o pensamento com a necessária clareza, objetividade, precisão e relevo
(2003, p. 71).
Enfim, julgamos interessante e necessário abordar didaticamente, além dos
conceitos já mencionados nesta introdução, outros aspectos discursivos que, sem
dúvida, contribuirão para o ensino produtivo da língua. Contudo, temos consciência
da necessidade de ajustes nos enfoques e na aplicação didática, de acordo com o
nível de escolaridade em questão.
Discriminamos alguns deles
4
: enunciado, proposição, lógica, discurso/discurso
relatado, paráfrase, conectividade, tese, opinião, argumento/argumento relatado,
verbo dicendi, argumentação (convencimento ou persuasão), juízo de valor,
apreciação, ponto de vista, modalização, objetividade, não engajamento,
subjetividade, engajamento, ato de fala, assertiva/não assertiva, enunciação,
explicação, justificativa (de ordem / de pedido / de pergunta / de convite /
3
Cf. CHARAUDEAU, 1992, p. 525 seq., e AZEREDO, 2002, p. 224 seq. Ou seja, para este, causais, explicativas
e consecutivas; para aquele, as três acima e as conjunções que, para Azeredo, são da consequência, ou do
resultado: consecutivas, conclusivas e finais.
4
Para o trabalho com tais assuntos, a sugestão é que, em sala de aula, se incentive a consulta ao gênero textual
verbete de dicionário. A maioria desses conceitos são mencionados, por exemplo, no Dicionário de análise do
discurso, de Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau (2004). Outras estratégias podem ser utilizadas: a
elaboração de glossários, para facilitar a apreensão de novos termos; a identificação das concepções em
variados textos (verbais, não verbais e mistos); etc.
23
de opinião / de exclamação / de desejo / de recomendação / de crença / de ação /
de enunciação), ação relatada, fato-causa/fato-consequência, factualidade,
causalidade (sentidos amplo e restrito), narração, etc.
Ressaltamos que essa proposta de abordagem a partir dos conteúdos em
pauta – construções de causa (no sentido restrito) e de explicação, em especial as
introduzidas por porque e sinônimos, contempla o ensino de Língua Portuguesa,
considerando principalmente os aspectos semântico- -discursivos. Isso porque
...tradicionalmente, o ensino de língua portuguesa ainda apresenta uma metodologia
calcada em simples metalinguagem de classificação e regras gramaticais. Muito
pouco se faz em prol de um ensino mais produtivo dos conteúdos trabalhados
em sala de aula, baseado em critérios discursivos e pragmáticos (grifos
nossos). Em decorrência disso, há grande dificuldade por parte do aluno em
conceber a língua como algo dinâmico e suscetível a diversas formas de
organização, a depender da intenção que o emissor manifesta ao comunicar. O
aluno, muitas vezes, não consegue ampliar sua análise gramatical para um âmbito
mais discursivo, mais pragmático, e chega a se sentir desmotivado, já que não vê
aplicabilidade para o conteúdo aprendido... Também pretendemos (acréscimo
nosso) discutir e propor alternativas de abordagem mais discursiva dessas
construções, descrevendo os efeitos de sentido de seu emprego em textos nas
diversas situações de uso (SILVA et. al., 2006, não paginado.).
24
1 A ESTATÍSTICA A SERVIÇO DOS ESTUDOS GRAMATICAIS
Com o auxílio de um aplicativo, o Simple Concordance Program
5
, e de
elementos da Matemática e da Estatística, operacionalizamos conceitos gramaticais
adquiridos. Por exemplo, a constatação da preferência pelo uso dos conectivos pois
e porque, mesmo nos gêneros textuais que representam a linguagem de prestígio,
formal, dita culta.
O computador e os métodos matemático-estatísticos, com rapidez e precisão,
nos serviram como auxiliares na avaliação das relações entre as variáveis
linguísticas dos corpora. O SCP e o Coeficiente de Pearson significaram para nós
muito mais que um recurso tecnológico informatizado e operacional de coleta e
contabilização de termos, cálculo de frequências, constituição de tabelas e gráficos,
etc. Acima de tudo, ambos serviram, nesta pesquisa, como instrumentos de
comprobação científica de nossa intuição linguística.
Abrimos um parêntese para relatar que, no início da constituição da base de
dados, estávamos utilizando o aplicativo WordSmithTools, o primeiro que testamos
para esse fim. Mas, em um determinado momento, verificamos que ele não nos
oferecia o recurso de extrair os conectivos em questão de maneira contextualizada,
o que estamos chamando de sequências, inclusive com a indicação das linhas em
que aparecem. Isso o Simple Concordance Program o faz. Por essa razão,
substituímos o anterior por este.
Após a definição dos itens lexicais a serem pesquisados, iniciamos a leitura
dos textos, ainda na versão “original” (corpus imaturo manuscrito, corpus maduro
digitalizado no Word), não só para nos inteirarmos das temáticas e abordagens
tratadas nos corpora, mas também para fazermos uma varredura inicial, em se
tratando do objeto de nossa investigação. Depois é que iniciamos a aplicação do
SCP. Assim, os textos não foram lidos somente com o auxílio do computador.
A partir dos dados de frequência (base para a análise quantitativa) e
ambientes de ocorrência, chegamos aos resultados, identificando quais dos
conectivos causais e explicativos foram empregados pelo aluno/falante (corpus
5
Slides disponíveis em http://web.bham.ac.uk/a.reed/textworld/scp/index.html.
25
imaturo) e pela imprensa escrita (corpus maduro). Coube a nós a tarefa de analisar
todas as ocorrências de uso do porque e sinônimos (análise qualitativa),
estabelecendo suas diferenças morfossintáticas e semântico-discursivas.
Passamos a fornecer informações que julgamos essenciais à utilização dos
aplicativos e ao entendimento de suas finalidades, com vista aos propósitos da
pesquisa. Faremos também a interpretação linguística dos números apresentados,
comentando sobre o tipo de correlação encontrada entre os conectivos e os modos
narrativo e argumentativo de organização do discurso.
1.1 O processo de utilização do Simple Concordance Program (SCP)
A Informática se tornou uma aliada para o desenvolvimento desta pesquisa,
constituindo-se uma ferramenta para esse estudo. Explicaremos como foi o passo a
passo no processo de utilização do SCP.
Para fins de operacionalização, já na versão digitalizada, os textos foram
convertidos a um formato chamado “txt”, para que deles fossem extraídas as
informações com que construiríamos a base de dados terminológicos. Com o
acionamento do menu Wordlist, gerou-se a lista de todas as palavras, em ordem
alfabética, e a quantidade de vezes que aparecem em cada grupo de gêneros
textuais que compõem nossos corpora. Podemos localizar todo e qualquer item
gramatical que estiver em análise. Para essa pesquisa, interessavam-nos as
conjunções, as locuções conjuntivas e prepositivas e as expressões que denotam,
na tradição escolar, causa e explicação.
As palavras (termos simples) são listadas, independente da categoria
gramatical a que pertencem. Com isso, para analisarmos, por exemplo, a palavra
como, tivemos de verificar, em cada contexto, se se tratava de uma conjunção
(aditiva, comparativa, conformativa, modal e causal – a noção que nos interessa),
de uma preposição, de um advérbio de modo (interrogativo ou não), de um advérbio
de intensidade, de um pronome relativo, de uma interjeição, de um substantivo ou,
de um verbo.
No caso da preposição por + infinitivo, não nos interessavam, por exemplo, os
26
casos em que, no contexto, o infinitivo não constituísse uma oração reduzida,
quando a ele fosse atribuído sujeito próprio ou, quando não traduzisse causa.
Ao acionarmos o menu Concordance, tanto os termos simples quanto os
sintagmáticos, as unidades fraseológicas (colocações, combinatórias recorrentes
em determinada área), definições ou contextos definitórios, contextos e exemplos
podem ser notificados. Ele foi, na verdade, o carro-chefe de nosso levantamento,
porque, ao incluirmos, no menu keys, os termos simples (conjunções) e no menu
phrase, os termos compostos (locuções conjuntivas e prepositivas e expressões)
em questão (porque e sinônimos), tivemos a localização deles e o registro da
quantidade de vezes que apareciam. Inclusive, quando foi o caso dos textos que
não apresentavam sequer um deles: ao inseri-los, na caixa da Keyword, registrou-
-se a não ocorrência, como foi o caso, por exemplo, de porquanto.
Em relação às locuções e/ou expressões do tipo na medida em que, visto
como, uma vez que, etc., foram notificadas em contextos nos quais apareceram
suas terminações. Quando as palavras que e como (conforme descrito acima)
foram inclusas, além de verificarmos se compunham esses termos compostos,
vimos se se tratava, em relação à primeira, de conjunção – integrante ou de caráter
nocional, o que nos interessava, principalmente, se explicativa – introdutora de
oração, de pronome relativo, de interjeição, de advérbio de intensidade ou de
preposição.
Notificamos casos relevantes, como o do porque explicativo, realçado pela
palavra até, e evidenciamos contextos em que ele figurava ora como advérbio
interrogativo – apesar de expressar causalidade, foi considerado irrelevante –, ora
como pronome relativo, ora como substantivo. Nesse ínterim, em acordo com o que
foi considerado “foco menor” neste trabalho, quando da localização de locuções
prepositivas tipicamente causais, do tipo por causa de, por motivo de, em virtude
de, devido a, etc., também foram consideradas “irrelevantes”. Tais expressões são
introdutoras de sintagmas preposicionais, só tendo, portanto, significância
intraoracional, o que reduz significativamente sua relevância na presente pesquisa,
voltada mais para o nível textual (ainda que microtextual).
Quando da inclusão do conectivo que na caixa da Keyword, deparamo-nos
com a expressão tendo em vista (que), sempre tradutora de explicação, que
recebeu grau máximo de importância. Através do Wordlist pudemos identificar
27
também os núcleos temáticos centrais dos textos, visto que os nomes substantivos
se evidenciam na listagem. Com isso, localizamos os termos compostos, aqui
chamados expressões, do tipo por esse (este) motivo, por essa causa, por essa
razão que. A princípio, foram indicadas como totalmente irrelevantes. Mas
ganharam importância por serem recorrentes em nossos corpora. Assim efetuamos
toda a análise, sendo-nos possível também diferenciar, de acordo com os
contextos, os conectivos que exprimem somente causa, os que apenas traduzem
explicação e aqueles que assumem essa dupla função.
Não foram utilizados todos os recursos que o aplicativo Simple Concordance
Program oferece, como, no menu Statistic, a lista de itens por ordem alfabética ou
ordem de frequência ascendente ou descendente, pois apenas assinala a
quantidade de vezes que se empregou uma referida palavra ou termo gramatical.
Há também o recurso com que estudamos os sufixos e prefixos, útil para pesquisas
no campo da estrutura lexical.
A respeito da contagem proporcional ao número de palavras do texto,
sabemos que se trata de uma prática geralmente efetuada com o programa Word,
acionando-se o menu Ferramentas / Contar palavras. Isso o SCP também realiza.
Contudo, entendemos que isso representava pouca ou nenhuma relevância
estatística neste trabalho. A relação entre a quantidade dos conectivos causais e
explicativos com o tamanho dos textos dos corpora em análise acabaria fugindo a
toda e qualquer proposta de contribuição ao ensino produtivo da língua. Isso
porque, primordialmente, devemos estimular o aluno/falante ao reconhecimento e
ao uso de variadas formas de expressão do pensamento. Além do mais, a repetição
indevida ou o uso excessivo de qualquer palavra, no caso, de um mesmo conectivo,
quer causal quer explicativo, em detrimento de outros do mesmo valor semântico,
constitui-se uma falha, algo que deve ser evitado, como o queísmo. Logo, a busca
de uma proporcionalidade dos conectivos em estudo e da quantidade de palavras
dos textos, a nosso ver, comprometeria a análise da proficiência linguística do
aluno/falante.
Todos os resultados de busca gerados pelo SCP foram salvos em nosso
arquivo pessoal e estão disponíveis para fins de consulta. O projeto criado também
se encontra gravado, podendo ser utilizado novamente. Basta que peçamos para
abri-lo.
28
1.2 O Coeficiente de Correlação Linear de Pearson
Com o auxílio de um profissional da área matemática, utilizamos a medida
denominada Coeficiente de Correlação Linear
6
, desenvolvida pelo teórico Karl
Pearson (1857-1936).
A utilização dessa ferramenta se justifica porque pretendíamos comprovar,
em termos científicos, o que nossa intuição linguística dizia a respeito da relação
entre os conectivos causais e os explicativos e os modos de organização do
discurso narrativo e argumentativo, respectivamente.
Não aprofundaremos a exposição teórica deste elemento matemático-
-estatístico, fornecendo somente as informações básicas para o entendimento da
aplicação linguística, baseada nos resultados obtidos, de forma que a correlação
seja compreendida, uma vez confirmada.
Em primeiro lugar, julgamos importante informar que o Coeficiente de
Correlação de Pearson é um instrumento por meio do qual medimos o grau de
relação linear (visualização através de uma reta) entre duas variáveis. Ele é
normalmente representado pela letra r, e sua fórmula de cálculo é
(
)
(
)
()
()
()
()
[]
∑∑
=
2
2
2
2
iiii
iiii
yynxxxn
yxyxn
r
(1)
Os conectivos passaram a ser chamados de variáveis. São elas: as
conjunções, as locuções conjuntivas e as expressões causais e explicativas; as
locuções prepositivas e a preposição por + sintagma nominal, sempre causais; a
preposição por + infinitivo, causal ou explicativa.
Como podemos observar, acabaram sendo inclusas palavras, locuções e
expressões que, em princípio, foram classificadas como “foco menor”. E continuam
sendo, porém, sob o aspecto qualitativo desta pesquisa, haja vista nosso propósito
inicial: comprovar a correlação entre causalidade (sentido estrito) e narração, e
6
Módulo 3 do CEDERJ sobre Elementos de Matemática e Estatística – Regressão e correlação.
29
entre argumentação e explicação.
Quanto a esse fato, vale salientar que fizemos a recontagem de todos os
conectivos causais e explicativos encontrados, já que a princípio havíamos
deixado de fora os termos acima descritos, e que, dentre outros, também foram
considerados “irrelevantes”. Por exemplo, o porque advérbio interrogativo, de valor
causal.
Com base em princípios estatísticos, para que uma correlação seja
representativa, as amostras não devem ser pequenas, pois, até relações não (tão)
significativas só podem ser comprovadas por grandes amostras. Em outras palavras,
quanto maior o tamanho da amostra (para nós, a quantidade de conectivos), mais
confiável o resultado da análise. Se a amostra fosse pequena, o resultado não seria
estatisticamente tão significante.
Uma vez que foram recorrentes os conectivos representados tanto pelas
locuções prepositivas e pela preposição por + sintagma nominal, ambas causais
(uma de nossas variáveis em estudo), como pela preposição por + infinitivo, causal
ou explicativa, decidimos incluí-las no cômputo.
Para efetuação dos cálculos, foram elaboradas as tabelas numeradas de 1 a 4,
de acordo com o subgênero textual e o modo de organização do discurso em
análise. A título de exemplificação, apresentamos na sequência apenas a primeira
das quatro tabelas. Elas forneceram os dados numéricos necessários à aplicação da
fórmula, com a distribuição da quantidade de conectivos causais e explicativos
encontrados, em cada grupo de 10 (dez) textos, representados pelos números de
1 (um) a 10 (dez).
É necessário explicitarmos os elementos constituintes da fórmula segundo a
qual se calcula o coeficiente:
Σ representa o somatório entre o produto da quantidade das variáveis de
cada grupo de textos.
i
representa a distribuição dos 100 textos em 10 grupos de 10.
i
x representa a variável explicativa, quando da análise dos corpora
argumentativos; a variável causal, quando da análise dos corpora
narrativos.
30
i
y representa a variável causal, quando da análise dos corpora
argumentativos; a variável explicativa, quando da análise dos corpora
narrativos.
n
representa o número de observações que, neste corpus, é no máximo
10.
Assim ficou a primeira tabela:
Tabela 1 – Gênero textual Dissertação de Vestibular, conectivos explicativos e o
modo argumentativo de organização do discurso.
i EXPLICATIVOS
i
x
CAUSAIS
i
y
ii
yx
2
i
x
2
i
y
1 8 0 0 64 0
2 6 0 0 36 0
3 7 0 0 49 0
4 11 1 11 121 1
5 12 0 0 144 0
6 10 0 0 100 0
7 8 0 0 64 0
8 12 2 24 144 4
9 11 1 11 121 1
10 6 1 6 36 1
91=
i
x
5=
i
y
52=
ii
yx
879
2
=
i
x 7
2
=
i
y
Vamos então calcular o coeficiente de correlação relativo à tabela 1.
10=n
52=
ii
yx
7
2
=
i
y
879
2
=
i
x
5=
i
y
91=
i
x
()
43,0
34,151
65
22905
65
45509
65
257082818790
455520
57109187910
5915210
22
===
==
=
=
xx
xxx
xx
r
31
Para verificar a correlação linear, são gerados gráficos que permitem a
visualização dos pontos que descrevem uma reta, ou se aproximam dela. Haverá
sempre uma tendência de eles se concentrarem na reta, cujo objetivo é mostrar a
suposta linearidade das variáveis envolvidas. Mas, quando uma correlação é não
linear, os pontos terão como “imagem” uma curva.
Para este momento, apresentamos, a título de demonstração, o gráfico
referente à tabela 1.
Gráfico 1, referente à Tabela 1.
Para que entendamos o que significam os resultados numéricos, é necessário
dizer que o Coeficiente de Correlação Linear de Pearson assume apenas valores
entre -1 e 1. Sendo assim,
se o coeficiente for igual a 1, teremos uma correlação perfeita, descrita
pelas variáveis, e seu gráfico será uma reta ascendente. Isto é, se a
ocorrência de um dos conectivos em questão aumentar, a do outro também
o fará, numa correlação considerada perfeita e positiva entre as variáveis.
se o coeficiente for igual a -1, teremos uma correlação perfeita, porém
descendente, ou seja, negativa, entre as duas variáveis. Ao contrário, se a
quantidade de um dos conectivos for aumentada, a quantidade do outro
diminuirá, havendo uma correlação perfeita, mas, negativa entre as
variáveis. O gráfico, nesse caso, será uma reta descendente. Havendo a
possibilidade de traçarmos uma reta, significa que existe linearidade.
32
Segundo a teoria, quanto mais próximos os resultados estiverem de
1 ou -1, mais forte será a associação linear entre as duas variáveis.
se o coeficiente for 0 (zero), não haverá correlação linear, o que significa
que as duas variáveis não dependem linearmente uma da outra, podendo
haver outro tipo de relação. Neste gráfico, os pontos não permitem a
visualização de uma reta. De acordo com os especialistas no assunto, esse
resultado deve ser investigado por outros métodos de mensuração. Aqui,
não haveria linearidade, podendo existir baixíssima relação entre os
conectivos causais e explicativos e os modos de organização do discurso
narrativo e argumentativo, respectivamente.
se o coeficiente estiver entre os valores 0,3 e 0,6 (alguns estabelecem
esses valores de 0,3 a 0,7), há uma correlação (que poderá ser positiva ou
negativa), todavia, relativamente fraca entre as variáveis. Na prática, existe
um predomínio considerável, entretanto, necessariamente, não teríamos
mais conectivos causais na narração, nem haveria uma maior incidência de
conectivos explicativos na argumentação.
se o coeficiente estiver entre os valores 0 (zero) e 0,3, existe correlação,
todavia, muito fraca entre as variáveis, e dizem os doutos no assunto que,
nesse caso, nada poderemos concluir sobre a relação entre as variáveis
que estiverem em estudo.
Nos apêndices A e B encontram-se as outras três tabelas e seus respectivos
cálculos e gráficos. A seguir, a aplicação linguística dos resultados obtidos, em se
tratando da correlação entre as variáveis e os modos de organização do discurso em
estudo.
1.3 Correlação entre os conectivos explicativos e o modo argumentativo de
organização do discurso
Tradicionalmente, o ensino das conjunções não é associado aos modos de
organização do discurso, muito menos, a gêneros textuais. Sabemos que a
tradição escolar acaba resumindo a prática de produção escrita a uma proposta de
33
redação denominada dissertação que, apesar de significar sequência de opiniões,
nem sempre as apresenta, começando pela falta e/ou escassez de construções por
que evidenciemos a noção de causalidade (sentido amplo). Geralmente é mais
exposição.
Oliveira relembra que
O termo dissertação da trilogia tradicional apresentava o problema de referir-se a
uma gama excessivamente variada de textos, o que levou alguns autores... a falar
em duas categorias de dissertação: a argumentativa (sequência de ideias destinada
a persuadir o sujeito alvo da argumentação) e a expositiva (exposição de um
assunto sem o tom polêmico da primeira). Pode-se dizer dissertação
argumentativa e dissertação expositiva ou simplesmente texto argumentativo e
texto expositivo. A dissertação expositiva é muito comum em livros didáticos,
enciclopédias etc. Nesse tipo de texto, o autor, com a autoridade do especialista,
dirige-se a um destinatário leigo, ficando excluída a possibilidade de contestação,
por se considerar que o destinatário dará ao autor uma espécie de ‘crédito de
confiança’ que eliminará o clima de polêmica necessário à existência da
argumentação (2001b, p. 35).
Quanto a características desse modo argumentativo, Azeredo informa que
Algumas conjunções, as explicativas, por exemplo, (acréscimo nosso) estão
exclusivamente a serviço da construção do raciocínio lógico, tanto que são
conectivos característicos dos textos dissertativos de opinião (grifo nosso);
outras indicam basicamente relações circunstanciais próprias do discurso narrativo,
as causais, por exemplo (acréscimo nosso), mas podem assumir
cumulativamente papéis relacionados à construção do discurso de opinião
grifo nosso (2008, p. 323).
Ressaltamos, porém, que as dificuldades discentes com a produção escrita
evidenciam a necessidade de se estabelecerem tanto estratégias de recepção e
produção de textos, quanto de resolução de provas, de percepção de
pressupostos, subentendidos, teses, argumentos e estratégias argumentativas,
de compreensão e aplicação de conceitos. E isso, a partir dos mais variados tipos
de textos, sem que signifique usá-los como pretextos.
Conforme Marcuschi,
...é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é
impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Em outros termos,
partimos da idéia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero
textual. (2003, p. 22).
Exemplificando, no gênero denominado jornalístico, existe o subgênero
chamado editorial, geralmente organizado sob o enfoque argumentativo, havendo,
34
por isso, uma maior preocupação opinativa.
Portanto, no modo argumentativo de organização do discurso, o papel da conjunção
explicativa é o de introdutora de argumentos, como o da conclusiva é introduzir
teses, sejam miniteses de nível microestrutural, teses de maior “porte”, ou até
mesmo a tese principal do texto... (OLIVEIRA, 2001b, p. 72).
Como podemos ver, já havia sido notificada a relação desse modo de
organização do discurso com os conectivos da explicação. E,
Não custa lembrar que a estrutura textual argumentativa liga-se a uma tese, esta
filosoficamente entendida como “o primeiro momento do processo dialético”
(dicionário do Aurélio). A tese constitui-se de uma proposição que expressa aquilo
de que alguém deseja convencer o outro (ou seja, “o primeiro momento do processo
dialético”), usando para tanto uma série de proposições, de conhecimento comum
sobre o mundo – a lei de passagem (acréscimo nosso), e buscando persuadir o
interlocutor do seu ponto de vista, pela tessitura de um raciocínio lógico, trabalhado
sobre valores comungados por ambas as partes – locutor e interlocutor... A
argumentação é a arte da palavra por excelência, já que, como forma de persuasão,
só tem existência no ato de comunicação que a constrói. E o argumento se define
como “raciocínio pelo qual se tira uma conseqüência ou dedução” (Aurélio). A série
de proposições sobre supostas verdades constitui, portanto, os argumentos que se
ordenam numa estrutura com vistas a um objetivo. As supostas verdades encerram
conhecimento do mundo, leis sociais e outros preceitos aceitos pela sociedade
(OLIVEIRA et. al., 2001, p. 65).
Precisamos, então, estimular a prática argumentativa e a (re)construção do
conhecimento, para o exercício do raciocínio, da prática da experimentação, da
solução de problemas e do desenvolvimento de outras competências cognitivas
superiores, em cumprimento e consonância às finalidades da disciplina Língua
Portuguesa previstas nos PCNs.
Procedamos à aplicação linguística dos corpora compreendidos no modo
argumentativo. No apêndice A, encontram-se a tabela, os cálculos e o respectivo
gráfico do subgênero Editorial.
Subgênero Dissertação de Vestibular – Aplicação linguística do
resultado 0,43
Todo resultado representa a intensidade da relação linear entre as duas
variáveis, porque o tamanho da variável indica a força da correlação.
Nesse corpus, identificamos que existe uma correlação fraca, sinônimo de
moderada, porém ascendente e linear, dos conectivos explicativos, em relação aos
35
causais, no subgênero do modo argumentativo de organização do discurso. Embora
não seja perfeita, é positiva, por isso vemos a imagem de uma reta ascendente.
Por conseguinte, neste corpus imaturo, confirma-se a terceira hipótese:
podemos ter mais tradutores de explicação do que de causalidade na
argumentação, e vice-versa: mais tradutores de causalidade do que de explicação
na narração, sem que isso implique alta correlação entre tais conectivos e esses
modos de organização do discurso.
Subgênero Editorial – Aplicação linguística do resultado -0,495
A relação linear entre explicação e causalidade nos editoriais foi
confirmada, contudo, sendo negativa, o que significa uma reta descendente. Na
visualização do gráfico referente a este subgênero textual, vemos que nem todos os
pontos passaram pela reta porque, no contexto, a quantidade de pontos
apresentados de forma linear (os que permitem a imagem da reta) é maior do que os
demais. Como dissemos anteriormente, o fato de termos podido traçar uma reta
resulta em confirmação da linearidade.
Ocorre a seguinte correlação: à medida que empregamos mais conectivos
explicativos, proporcionalmente, usamos menos conectivos causais. Logo, no
modo argumentativo de organização do discurso, outra vez, agora no corpus
maduro, confirmamos a terceira hipótese: existirá mais explicação que
causalidade.
Concluída a aplicação linguística dos resultados da correlação referente aos
textos argumentativos, passemos às outras duas aplicações, referentes aos textos
de cunho narrativo.
1.4 Correlação entre os conectivos causais e o modo narrativo de organização
do discurso
Ao produzirmos um texto em que predomine o modo de organização do
discurso denominado narração, fundamentalmente, além de relacionarmos
36
personagens, considerando tempo e espaço, surge a necessidade de se
apresentarem ações. Assim, passamos a relatar fatos, sejam eles reais,
imaginários ou de ambos os tipos ao mesmo tempo.
Naturalmente, nesse encadeamento de fatos e/ou ações, expõem-se
situações, que devem ser organizadas de modo progressivo e verossímil,
através de raciocínios dedutivos, obedecendo-se a um princípio lógico. Dessa
forma, fazem-se necessárias enunciações que apresentem indicadores
circunstanciais de causa. Em razão disso, acreditamos que a forma de expressão
de causalidade deve ser também considerada mais um elemento constitutivo
desse modo. Ela não mais significaria uma “mera” marca linguística, mas, e
principalmente, um princípio discursivo.
Sabemos que é possível narrar um acontecimento ou transformá-lo em um
simples relato. Ou seja, teríamos apenas um conjunto de fatos ou acontecimentos,
sem a articulação necessária para transformar-se em texto narrativo. Todavia, o que
pretendemos destacar, no momento, é a factualidade como objeto constitutivo do
ato de narrar, implicando a noção de causalidade.
A autora Oliveira (2003, p. 74) reafirma essa ideia, relacionando-a ao modo
narrativo de organização do discurso:
O conceiro de causalidade está muito ligado ao modo narrativo. Se narrar é relatar
fatos que teriam ocorrido num mundo (real ou fictício) em ordem cronológica, pouco
importando se são textualizados em ordem linear, em flash-back, in media res, etc.,
e se há uma ordem cronológica entre causa e efeito (aquela tem de ocorrer antes
deste), é natural que causalidade e narração estejam intimamente ligadas (grifo
nosso).
Falando sobre a relação existente entre modos de organização do discurso e
composição textual, Revaz (1997, p. 19) informa que os “Especialistas e
profissionais da imprensa estão de acordo quanto a considerar certos gêneros do
discurso jornalístico como narrativos; por exemplo, a notícia”.
Para Carneiro,
Ela (a notícia) o é, realmente, mesmo quando relata opiniões ou quando anuncia um
fato futuro. No primeiro caso, um discurso (narrativo) contém outro (argumentativo).
No segundo, anuncia-se algo planejado para acontecer num futuro quase sempre
próximo. Os verbos do texto nesse caso ficam no futuro do presente simples, no
futuro composto formado com o presente do indicativo de ir seguido de infinitivo, ou
ainda em construções indicativas de “futuridade” com os verbos dever, poder,
pretender, planejar etc. acompanhados de infinitivo, ao invés de ficarem no pretérito,
como seria de esperar... (2001, p. 27)
37
Azeredo, ao tratar da noção de causalidade, ressalta que
Do ponto de vista do discurso, causa ou efeito não é, portanto, um valor inerente a
um fato na sua relação com o outro, mas uma possibilidade de sentido segundo a
necessidade de compreensão – e de verbalização – do evento que se está
testemunhando. O emprego do conectivo tem a função de explicitar esse valor,
balizando a compreensão da respectiva oração (2008, p. 323).
Segundo Carneiro (op. cit. p. 28), toda notícia é, antes de tudo, um relato de
fatos, o que não significa que nela não possa ocorrer, em um determinado trecho,
um relato de opinião. Isso acontecendo, não implica menos narratividade que o
restante da matéria, porque, embora relatemos que “... alguém externou
determinada opinião, algo está sendo narrado”.
Adiante acrescenta: “o ato de narrar que é um ato discursivo praticado numa
situação comunicativa concreta, que envolve, entre outros fatores, o perfil do
remetente e o do destinatário... (loc. cit., p. 30)”.
A seguir, a aplicação linguística dos corpora compreendidos no modo
narrativo. No apêndice B, estão anexadas as tabelas, acompanhadas dos cálculos,
e os gráficos dos subgêneros Crônica e Notícia.
Subgênero Crônica – Aplicação linguística do resultado 0,036
Pelo resultado obtido, não houve relação linear entre as variáveis neste
corpus imaturo. Visualizando o gráfico, vemos que a posição dos pontos não nos
permite traçar uma reta, o que implica a inexistência da linearidade. Não obstante,
existe uma correlação que não é linear, com marcas de sinuosidade, o que está
representado pela imagem das curvas. Matematicamente significa que, em
quaisquer circunstâncias, é possível encontrarmos correlação entre as variáveis.
Já dissemos que, com um coeficiente entre os valores 0 (zero) e 0,3, existe
relação entre elas, muito embora, bastante fraca. Para alguns teóricos, apenas
fraca. Esclarecendo: é (muito) pouco provável que tenhamos bem mais conectivos
causais do que explicativos, nos corpora narrativos, e, nos corpora
argumentativos, o contrário. Entretanto, não podemos negar uma certa relação,
ainda que mínima.
Paradoxal e estatisticamente falando, uma “relação inexistente” pode
representar um resultado significante, pois, quanto menor for a relação entre duas
38
variáveis, maior deverá ser o tamanho da amostra para que comprovemos a
significância da correlação. Então, precisaríamos aumentar consideravelmente o
tamanho desse corpus imaturo (talvez duplicá-lo) e investigar os dados por outros
meios, um outro coeficiente, por exemplo.
Tanto por falta de tempo hábil, não o fizemos, como também porque não foi
negada a correlação, matemática e linguisticamente. Apesar de, pelo resultado, as
duas variáveis não dependerem linearmente uma da outra, a relação que existe
entre elas é apenas não linear.
Subgênero Notícia – Aplicação linguística do resultado -0,12
De acordo com o resultado, temos novamente um valor inexpressivo para
acusar linearidade. Portanto, ao traçarmos o gráfico referente ao subgênero Notícia,
formaram-se as curvas que se referem à frequência das variáveis.
Chamamos a atenção para o fato de que, nos gráficos dos subgêneros
textuais narrativos, Crônica e Notícia, em função do comportamento não linear das
variáveis, surgiu a “Série 2”. Observamos que as setas apontam, ora para a Série de
número 1, ora para a Série de número 2, o que significa que, no caso do gráfico
referente ao corpus imaturo/crônica, para cada grupo de aproximadamente
13 (treze) variáveis explicativas, houve (nove) causais. Já no gráfico referente ao
corpus maduro/notícia, para cada grupo de 10 (dez) variáveis explicativas
ocorreram também 9 (nove) causais.
Conforme descrito na aplicação linguística anterior a esta, há uma correlação,
contudo, de não linearidade. A variância entre o emprego das variáveis foi
considerável, numa relação de muita sinuosidade, também nesta parte do corpus
narrativo, porém, maduro.
Sendo assim, em geral, semelhantemente ao que aconteceu com os corpora
do modo argumentativo de organização do discurso e com a primeira parte do
corpus narrativo, no caso, imaturo, ratifica-se, em linhas gerais, a terceira hipótese:
a correlação entre os modos narrativo e argumentativo e os conectivos causais
e explicativos.
39
1.5 Correlação entre os modos verbais e os conectivos causais e explicativos
A correlação entre os três modos verbais (indicativo, subjuntivo e imperativo)
e a explicação, e entre a causalidade (sentido estrito) e apenas os modos
indicativo e subjuntivo também chamou nossa atenção durante a análise dos
corpora.
Oliveira et. al. (2001a, p. 45-6) apresentam um quadro com o resumo dos
principais usos dos tempos verbais. Nele, discriminam as características semântico-
-discursivas dos tempos verbais, relacionando-os à descrição e à narração.
Segundo os autores, ser-nos-á possível “... não só avaliar o valor do emprego de
cada tempo como variar a sua expressão linguística na construção do mesmo
tempo verbal”. Sintetizaremos essa exposição no quadro abaixo.
Quadro 1 – Características semântico-discursivas dos tempos verbais
Tempo e modo verbal Funcionalidade
Presente, pretérito imperfeito e
futuro do presente (simples) do
indicativo.
Indicar a coincidência temporal entre o
enunciado e a enunciação.
Presente, pretérito imperfeito,
futuro do presente (simples) e
pretérito perfeito (composto) do
indicativo.
Expressar um ato habitual, uma ação repetida.
Presente (histórico), pretérito
perfeito simples e os pretéritos
imperfeito e mais-que-perfeito
do indicativo.
Indicar que a ação do enunciado é anterior à
enunciação (ocorrida no passado).
Presente, futuro do presente
(simples e composto) e futuro
do pretérito simples, do
Indicar que a ação do enunciado é posterior à
enunciação (ocorrida no futuro).
40
indicativo, e presente e pretérito
perfeito do subjuntivo (Quando
haja completado o serviço, eu
lhe pagarei.).
Presente, futuro simples (do
presente e do pretérito), do
modo indicativo, e o modo
imperativo.
Traduzir uma exortação (ordem, pedido).
Presente, futuro do pretérito
(simples e composto) e futuro
do presente (simples), do
indicativo, e o presente, os
pretéritos perfeito (Ainda que
não tenha chegado a tempo,
merece louvor.), imperfeito e
mais-que-perfeito (Talvez não
tivesse estudado o suficiente.)
do subjuntivo.
Retratar algo possível, provável e/ou duvidoso.
Em outro momento, Oliveira (2001b, p. 41), falando sobre a significação dos
tempos verbais, destaca os tempos do modo indicativo em relação aos do
subjuntivo, “... visto que o emprego dos tempos do indicativo é motivado
semanticamente, ao passo que o dos do subjuntivo obedece, muitas vezes, a
critérios mais sintáticos que semânticos”. Quanto ao modo imperativo, também sob
o ponto de vista semântico-discursivo, localiza seu emprego em textos instrucionais.
Por exemplo: manuais de instrução, receitas culinárias, folhetos explicativos etc.
Trata-se, pois, de uma série de ações, dispostas em ordem cronológica, a serem
praticadas pelo leitor, com vista a um resultado prático qualquer. Direta ou
indiretamente, portanto, esse tipo de texto dá ordens, contendo por isso verbos no
imperativo... ou num dos seus equivalentes...o infinitivo...o presente do indicativo
seguido de “se”, o presente do indicativo precedido de um pronome de
tratamento...opção esta (acréscimo nosso) mais coloquial, o que a torna menos
freqüente em textos instrucionais escritos (op. cit., p. 49).
O autor (op. cit., p. 45.), com base em Weinrich, divide os tempos verbais em
tempos do mundo narrado e do mundo comentado, (cf. WEINRICH, 1968).
41
Comparando a terminologia de Weinrich com a da nossa tradição escolar, lembra
que “os tempos da narrativa são aqueles cujos nomes (na NGB) contêm a palavra
“pretérito” e os do comentário são o presente e o futuro do presente”.
A explicação para isso é que, embora exista uma relação entre o tempo cronológico
e o tempo verbal, essa relação não é tão rigorosa quanto pareceria à primeira vista.
Na verdade, os pretéritos (perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito e até mesmo o
futuro do pretérito) não exprimem apenas a idéia de “passado” (ou de um futuro
em relação a um passado no caso do futuro do pretérito); servem também para
indicar que se trata de narrativa, talvez mais do que para exprimir “passado”
grifo nosso. Explica-se isso pelo fato de que narrar é relatar acontecimentos, reais
ou fictícios. Ora, os reais só podem ser relatados depois que aconteceram e os
fictícios têm de ser tratados, por um compromisso da ficção com a verossimilhança,
como se fossem reais e, portanto, como se já tivessem ocorrido... Quanto ao
presente e ao futuro do presente, ao contrário, são usados segundo Weinrich, no
chamado comentário, que é o ato de comentar, de emitir julgamentos de valor, de
analisar (op. cit., p. 44 seq.).
Dessa exposição de Oliveira acerca da teoria weinrichiniana, destacamos:
presença de maior engajamento nos tempos do comentário e de distanciamento
nos da narração; pode haver, concomitantemente, “... narratividade com
engajamento e presentificação.”; a descrição funciona como “pano de fundo” da
narração; não devemos “... confundir descrição de ações com narração
propriamente dita.”; o emprego metafórico dos tempos verbais retrata tempos da
narração no comentário e vice-versa; não se traduz perspectiva com os pretéritos
perfeito e imperfeito do indicativo; remetemo-nos a um momento posterior ao tempo
básico da narrativa com o emprego do futuro do pretérito do indicativo; com o
emprego do mais-que-perfeito, exprimimos fatos anteriores ao tempo básico da
narração; “Em português, os tempos do comentário são em menor número que os
da narrativa. O único tempo zero do comentário é o presente, e o futuro é o tempo
com perspectiva prospectiva”.
Conforme relembra a autora Oliveira (2003, p. 66), “Sabemos que a frase
narrativa prototípica é aquela cujo sujeito é um personagem e cujo verbo exprime
ação e se encontra no pretérito perfeito”. Mas também reconhece que “Toda ação é
um fato, mas nem todo fato é ação (op. cit., p. 72)”. Enfim, poderiam ser
mencionadas outras abordagens envolvendo os tempos verbais e, em especial, o
modo narrativo de organização do discurso.
Nesta pesquisa, entre outras percepções, gostaríamos de enfocar a
correlação entre os modos verbais e os conectivos causais e explicativos,
partindo do pressuposto de que, assim como existem tempos verbais, e seus
42
respectivos modos, por meio dos quais configuramos o ato de narrar (sinônimo de
relatar acontecimentos) e o ato de comentar (sinônimo de emitir juízo de valor),
fazemos uso, na efetivação desses atos, de palavras e expressões que corroboram
na estruturação do pensamento.
Evidenciamos a correlação entre causalidade (sentido estrito) e explicação e
os modos verbais, com algumas particularidades. O modo indicativo predominou
no corpus argumentativo maduro (Editorial) e no imaturo (Dissertação de
Vestibular). Houve também o emprego do modo subjuntivo, mas, numa escala bem
menor, principalmente no corpus imaturo. O uso do modo imperativo quase não
ocorreu, aparecendo geralmente numa das estruturas de equivalência semântica,
conforme descreve Oliveira (2001b, p. 49), e no corpus maduro, conforme
demonstrado em:
Lula precisa ter consciência de que o risco de desestabilização do governo foi
gerado no PT e próximo do gabinete dele, numa conexão entre sindicalistas,
negocistas e traficantes de interesses dentro da máquina pública, tudo lastreado
numa operação de avassalador aparelhamento do Estado. A defesa de Lula está,
repita-se, na depuração do governo desses interesses, no seu afastamento em
relação ao PT e na seqüência de medidas para desaparelhar o Estado, como a
tomada na quinta-feira para reduzir a cota de cargos de confiança à disposição de
nomeações meramente políticas e fisiológicas. O resto é pisar em terreno
desconhecido e perigoso (Editorial 056).
Semelhantemente aconteceu no corpus narrativo maduro (Notícia) e no
imaturo (Crônica), com relação a uma considerável ocorrência do modo indicativo.
Porém, houve mais empregos do subjuntivo neste modo de organização do
discurso, em comparação às ocorrências desse modo verbal no modo
argumentativo, ou seja, onde predomina a explicação. Realmente não houve
emprego algum do modo imperativo no corpus narrativo, maduro e imaturo, o da
causalidade (no sentido restrito).
43
2 HIPÓTESES, DESCOBERTAS E PRINCIPAIS RESULTADOS.
Como vimos, há conjunções e locuções conjuntivas que ora figuram no campo
semântico da causalidade (sentido restrito), ora aparecem como elementos que
traduzem explicação. Incluímos as locuções do tipo por + infinitivo
7
que, pela
tradição escolar, sempre possuem valor causal, em nossos corpora maduros e, em
um grupo dos imaturos – dissertações de vestibular, modo argumentativo –,
descobrimos que tais locuções também podem ser explicativas.
De acordo com Oliveira, numa ótica discursiva, será possível estabelecer essa
diferença. E acrescenta:
Porque e seus sinônimos podem ser classificados como explicativos ou como
causais, dependendo da frase, do texto e da situação comunicativa. A afinidade
entre as duas categorias é óbvia. O simples fato de termos de explicar critérios para
distingui-las já é um índice do parentesco semântico existente entre elas. Existe, no
entanto, uma diferença entre os dois tipos...(2001b, p. 70).
Para Fávero,
...somente a adoção de critérios sintáticos, semânticos e pragmáticos poderá
contribuir para solucionar estas [e outras] (acréscimo nosso) questões, pois parece
irrefutável que o estudo das relações interfrásticas pressupõe um nível mais amplo
que o da frase e só pode ser feito dentro de uma lingüística textual (1992, p. 61).
Seguindo a linha denominada semântico-discursiva, nossa proposta começa
com a reclassificação desses conectivos (porque e sinônimos), distribuindo-os em
(1) exclusivamente causais; (2) exclusivamente explicativos e (3)
bifuncionais.
Vale salientar que essa classificação se justifica a partir das ocorrências de
conectivos tradutores de causa e/ou de explicação nos corpora analisados.
Entrariam outros, como que, porquanto, na medida em que, pois que, posto que,
visto como, etc., conforme listagem nos compêndios gramaticais e em livros
didáticos.
7
Embora as gramáticas tradicionais só considerem como conectivos oracionais as conjunções e os pronomes
relativos, que introduzem orações desenvolvidas quanto à forma, a noção de conectivos interfrásticos deve
englobar, também, sob um enfoque textual, as preposições e locuções prepositivas responsáveis pelo
relacionamento de proposições, como ocorre freqüentemente nas reduzidas de infinitivo, além de outros
elementos, como advérbios, locuções adverbiais, etc., que operam o encaminhamento de enunciados (KOCH,
Dificuldades na leitura/produção de textos: os conectivos interfrásticos, p. 87, in CLEMENTE, Ivo, KIRST,
Marta, Linguística aplicada ao ensino de português, 1992.
44
Mediante o propósito desta pesquisa, elencaremos somente os que
efetivamente foram encontrados, após uma análise morfossintática e,
principalmente, semântico-discursiva.
2.1 Lista de conjunções em gramáticas normativas
O estudo do período composto tem se restringido, pela tradição escolar, ao âmbito
da classificação de orações e períodos, em função do tipo de orações que os
constituem. Paralelamente fornece-se ao aluno uma lista de conjunções
coordenativas e subordinativas, às vezes em ordem alfabética, divididas em
subtipos: aditivas, conclusivas, explicativas (acréscimo nosso), temporais, causais
(grifo nosso), condicionais... Muitas vezes não é explicitado ao aluno que esses
nomes de subtipos identificam relações mais gerais que se estabelecem entre
proposições e que elas podem ser do tipo lógico-discursivas. Pelos resultados
obtidos, inclusive nesta pesquisa (acréscimo nosso), pode-se concluir que apenas
o ensino descritivo de tais relações não tem sido suficiente para um uso mais
produtivo dessas mesmas articulações nos textos por parte dos alunos (Oliveira et.
al., 2001a, p. 24).
Como assinala Carone, geralmente as gramáticas organizam os conectivos
com base em seus valores lógico-semânticos, fornecendo “...um exemplário de
ocorrências (2001, p. 17)” que nem sempre se enquadra no sentido expresso pelo
conectivo, quer causal, quer explicativo.
A título de exemplificação e, a partir de teóricos e gramáticos referenciados em
nossa bibliografia, montamos um quadro sinóptico das palavras gramaticais que,
tradicionalmente, aparecem como tradutoras de causa (sempre em sentido amplo)
e de explicação.
Quadro 2 – Tradutores de causalidade e de explicação
CAUSALIDADE EXPLICAÇÃO
conjunção e locução conjuntiva
porque, pois (depois de verbo),
pois que, porquanto, que = (porque),
por isso (que) [ver ‘Observação’,
abaixo], já que, uma vez que, visto
conjunção e locução conjuntiva
que = (porque), porque, pois, porquanto,
visto que, uma vez que = tempo finito,
como, já que, como, por isso (que) [ver
‘Observação’, abaixo].
45
como e visto que (início de período),
dado que (início de período), como
(= porque), como e se (início de
período = já que), posto que, desde
que (verbo da oração principal no
futuro).
preposição e locução prepositiva
a, de, desde, por, per, em vista de,
por causa de, em virtude de, em
vista de, devido a, em consequência
de, por motivo de, por razão(ões) de
= tempo infinito, à mingua de, por
falta de, fato de, por + substantivo,
por + infinitivo (oração substantiva),
etc.
preposição e locução prepositiva
Ø
Observação: Por isso que aparece geralmente na lista de conjunções
conclusivas e consecutivas. Trata-se de um caso fronteiriço entre dois vocábulos
independentes (preposição + pronome) e locução conjuntiva, sendo que por possui
sempre valor causal. Quando precedido da conjunção “e”, que assume o papel de
conjunção, o grau de soldamento passa a zero. Por essa razão, não deve ser
considerada uma locução. Pode ocorrer acompanhado da partícula “mesmo”,
tornando-se uma variante enfática de por isso.
Nota-se, no quadro acima, a confluência daqueles conectivos que figuram em
ambos os campos semânticos, mas observamos não se distinguem aqueles que
são exclusivamente causais dos que são exclusivamente explicativos, sem falar nos
“equívocos”, por exemplo, no caso do já que, que sempre aparece nos livros
didáticos como tradutor de causa (no sentido amplo).
Convém lembrar também algumas expressões encontradas no corpus, que
não constituem itens lexicais, e que também possuem valor causal (foi o motivo de,
por isso mesmo – variante enfática de por isso, etc.) ou explicativo: tendo em vista
(que), tendo em vista + sintagma nominal, haja vista (que), etc.
46
Observação: Haja vista que é locução conjuntiva e haja vista (sem que) é
locução prepositiva, já que se une a sintagmas nominais para formar um sintagma
preposicional (embora a tradição escolar se omita quanto a esse fato).
Observemos estes exemplos:
(1) Ele é flamenguista, haja vista que está usando uma camisa vermelha e
preta.
(2) Ele é flamenguista, haja vista sua camisa vermelha e preta.
Em (1) temos uma estrutura que contém uma oração precedida de haja vista
que, locução que tem, por isso, valor de conjunção, ou seja, trata-se de uma
locução conjuntiva.
A frase (2), ao contrário, tem uma estrutura semelhante à de (3), a seguir:
(3) Ele é flamenguista, malgrado sua camisa verde e grená.
Haja vista (sem que) comporta-se da mesma forma que malgrado,
acertadamente classificado pela tradição escolar como preposição acidental,
classificação que, por conseguinte, também vale para haja vista.
Da mesma forma que Paiva
...pensamos que, no ensino, em vez de se priorizar a classificação pura e simples
dos conectivos, cuja importância é secundária, o aluno deve se levado a perceber as
diversas possibilidades de expressão linguística ao seu alcance, determinadas pelas
diferenças sintáticas das conjunções que são concomitantes com mudanças
contextuais, situacionais e argumentativas” (1993).
2.2 Os conectivos exclusivamente explicativos, os exclusivamente causais e
os que exercem dupla função.
“Os conectivos causais têm grande afinidade semântica com os explicativos,
tanto que há conjunções comuns às duas listas (OLIVEIRA & MONNERAT, 2005,
p. 93 seq.)”. Por essa razão, após a análise dos corpora, resolvemos constituir uma
listagem com os conectivos exclusivamente explicativos, os exclusivamente causais
e os que exercem dupla função.
Contudo, por si só, essa listagem, sobretudo por existirem os bifuncionais, não
é suficiente para sanar a dificuldade que os alunos têm para distinguir as duas
47
categorias. Com a finalidade de dirimir esse tipo de dúvida, sugeriremos alguns
critérios de classificação, de natureza semântico-discursivos, sem eliminar os de
cunho morfossintático, de forma que, no processo ensino-aprendizagem de Língua
Portuguesa, não se repita a prática de um estudo gramatical meramente
classificatório. Antes, de alguma forma contribuamos para o ensino produtivo da
língua.
Quadro 3 – Reclassificação de conectivos tradutores de causa e de explicação
porque e similares Valor
explicativo
Valor
causal
pois + +
porque + +
por + infinitivo + +
já que +
haja vista (que) +
uma vez que +
tendo em vista + SN +
visto que +
como +
até / só / isso porque +
Observações:
1. O conectivo que parece mesmo só ocorrer em contextos de informalidade,
inclusive nos enredos literários. Dentre os conectivos, trata-se do único que,
intuitivamente, apesar de também não ter sido encontrado em nossos corpora,
podemos assegurar que sempre será explicativo.
2. Afirma Oliveira que a locução conjuntiva na medida em que, “...viva no
48
português formal real da atualidade (muito usada, por exemplo, na mídia impressa),
embora ausente no ‘capítulo’ de Conjunções de todos ou quase todos os livros
didáticos... é, na verdade, explicativa, correspondendo, portanto, a porque, uma
vez que e sinônimos, sendo usada para introduzir argumentos” (2005b, p. 94).
3. A fim de que o aplicativo SCP pudesse reconhecer algumas locuções
verbais, inserimos algumas possibilidades de constituição, a partir das que são
compostas pelos verbos que, tradicionalmente, são conhecidos como auxiliares: por
ter, por ser, por estar, por haver. Localizamos outras, quando da busca pela
preposição por.
4. Henriques lembra que, segundo Bechara, “...se deve evitar a locução posto
que como causal (é concessiva), a despeito de sua presença muito comum como
sinônima de “porque” em textos jornalísticos... (2008, p. 130)”. Não identificamos
nenhum emprego dela nos duzentos textos deste gênero, em editoriais e notícias.
Provavelmente essa orientação já é praticada por parte da redação de jornais.
2.3 Aspectos morfossintático-semânticos e discursivos de alguns conectivos
causais e explicativos
Algumas conjunções estão exclusivamente a serviço da construção do raciocínio
lógico, tanto que são conectivos característicos dos textos dissertativos de opinião;
outras indicam basicamente relações circunstanciais próprias do discurso narrativo,
mas podem assumir cumulativamente papéis relacionados à construção do discurso
de opinião (AZEREDO, 2008, p. 323).
“Nos registros formais, tanto orais quanto, principalmente, escritos, empregam-
se os conectivos visto que, visto como, uma vez que, dado que, na medida em que,
porquanto... (op. cit., p. 324)”. Assim como Oliveira (2005b, p. 94), Azeredo
menciona a locução conjuntiva na medida em que, mas também não representa a
tradição escolar.
Porém, como pode ser visualizado no quadro 5, em nossos corpora,
prevaleceu o emprego dos conectivos pois (155 ocorrências) e porque (83
ocorrências) nos discursos narrativo e opinativo, tanto na prosa formal quanto na
produção dos vestibulandos e dos alunos formandos do ensino médio.
49
Com a coleta de dados, estes foram os outros conectivos causais e/ou
explicativos encontrados: por + infinitivo (56 vezes), já que (24 vezes), como (12
vezes), até porque (5 vezes), visto que (3 vezes), haja vista que (2 vezes), tendo em
vista + SN (2 vezes), uma vez que e e por isso (apareceram apenas uma vez), isso
porque (2 vezes). Quanto a esse último registro, acreditamos tratar-se de mais um
caso fronteiriço entre a coesão referencial e a sequencial, como acontece com o (e)
por isso.
Elaboramos um outro quadro, discriminando o subgênero textual e os
conectivos que foram identificados.
Quadro 4 – Identificação de conectivos em corpora
conectivos editorial dissertação
de vestibular
notícia crônica
por + infinitivo + + + +
como + Ø + +
que + + + +
haja vista que + + Ø Ø
uma vez que Ø Ø Ø +
tendo em vista+ SN + Ø Ø +
até porque + Ø + Ø
visto que Ø Ø Ø +
e por isso Ø Ø Ø +
isso porque Ø Ø + Ø
Observamos que, nas colunas correspondentes a redações escolares, é
grande o número de zeros (Ø), implicando que o professor deveria levar o aluno a
fazer exercícios em que fosse desenvolvido o hábito de empregar essas formas. A
50
seguir, algumas particularidades das conjunções encontradas.
Por + infinitivo de valor causal representa a maioria absoluta, pois, do total de
vezes que apareceu, só assumiu valor explicativo em 13 delas, sendo que, desse
total, 10 vezes foi registrado em editoriais (de caráter opinativo), apenas 1 vez numa
notícia e 2 vezes no gênero dissertação de vestibular. De todos os conectivos, foi o
único a ser empregado em todos os textos dos corpora, tanto expressando causa
quanto explicação. Nos editoriais (22 vezes), observamos a presença marcante
dessa “causalidade”. Nesses textos foi onde também encontramos o maior número
de ocorrências da preposição por + infinitivo com valor explicativo (10 vezes). Nas
dissertações de vestibular, apenas 2 vezes; nas notícias, somente 1 vez. Só nas
crônicas não encontramos sequer uma ocorrência desse conectivo traduzindo
explicação.
Já que (o segundo conectivo em número de ocorrências), aparece uma única
vez no subgênero editorial e chamou-nos bastante a atenção, pelo fato de se tratar
de um gênero textual de caráter opinativo. Isso talvez revele a administração da
própria imagem do autor/da redação, evitando o chamado engajamento. O mesmo
supomos ter acontecido com o uso excessivo de construções com por + infinitivo de
valor causal, partindo do princípio discursivo de que causa “...é uma possibilidade
de sentido segundo a necessidade de compreensão – e de verbalização – do
evento que se está testemunhando. O emprego do conectivo tem a função de
explicitar esse valor... (AZEREDO, op. cit., p. 323)”.
Como, apesar de não ter sido registrado apenas no corpus composto por
textos pertencentes ao subgênero dissertação de vestibular, apareceu num total de
13 vezes, sendo o terceiro conectivo mais utilizado. Nos dois grupos de textos da
prosa formal, notícias e editoriais (5 vezes), manteve-se o padrão sintático de esse
conectivo sempre preceder a oração a que se refere. Já nas crônicas, representante
do corpus imaturo, registramos um comportamento sintático irregular: algumas
ocorrências em que esse conectivo não inicia o período, num padrão estrutural
diferente daquele que as gramáticas normativas apresentam. Porém, sempre antes
da oração em referência.
Quanto aos conectivos visto que, uma vez que, haja vista que e tendo em vista
+ SN, em todas as ocorrências, sempre traduzindo explicação, ainda que em
relatos. No caso dos dois primeiros, justificando tanto enunciações quanto ações. O
51
mesmo ocorreu com pois (explicativo) e já que. Ou seja, sempre justificam algo,
nem que seja uma ação, ou, um ato, não necessariamente de fala. Talvez por esse
motivo geralmente aparecem nas gramáticas normativas como causais.
Visto que e uma vez que são usados mais frequentemente para justificar uma
ação relatada na oração (ou conjunto de orações), por isso, ‘justificativas de
conteúdo’. Quando justificam uma enunciação da oração (ou conjunto de orações)
precedente (ordem, pedido, convite, pergunta, opinião, “exclamação”, entre outras),
serão ‘justificativas de enunciações’. Informamos que justificativa aqui significa
‘demonstração de validade de uma ação’.
Quanto ao fato de as conjunções uma vez que (uma vez) e visto que (três
vezes) terem aparecido, no subgênero crônica, justifica-se porque a tradição escolar
geralmente as apresenta como causais, relacionadas, portanto, ao modo narrativo.
Ressaltamos que, em nenhuma das quatro ocorrências, se trata de justificativa, o
que possivelmente revela a imaturidade linguístico-discursiva do aluno produtor. Na
verdade, o estudante usou a conjunção sempre para introduzir a oração, apesar de
ela ser explicativa. Subordinada e coordenada são, portanto, categorias da
semântica, ao passo que explicativa e causal o são da sintaxe. Além disso, pode ter
sido uma tentativa de dar um cunho de mais formalidade ao texto, considerando
também as ocorrências de haja vista que (Dissertação de Vestibular) e de tendo em
vista + sintagma nominal, o que também se confirma com as ocorrências de visto
que e de uma vez que.
Até porque apareceu somente 5 vezes, em textos do corpus maduro, sempre
precedido de ponto ou de vírgula, com valor explicativo.
Abrimos um parêntese para informar que, muito embora tenham sido
considerados elementos de “foco menor”, os sintagmas nominais e as locuções
prepositivas, sempre causais, foram bastante recorrentes em nossos corpora, só
não aparecendo no gênero textual dissertação de vestibular, onde o predomínio foi
do pois. Entre esses indicadores de causa encontramos: devido a, por causa de,
por conta de, por falta de, por pressão de, por vontade, por uma razão / por uma
série de razões / por razões, por coincidência. Foram 45 ocorrências, aparecendo
21 vezes no gênero notícia, 15 vezes no gênero editorial e 9 vezes no gênero
crônica.
52
Como Garcia já assinalou,
Podemos expressar as circunstâncias de causa de vários modos. O processo mais
comum é o de nos servirmos de adjuntos ou orações adverbiais. Mas há outros, por
exemplo, estruturas de frase que encerram relação de causal, como:
substantivos...verbos...conjunções...preposições e locuções:...por causa de, em vista
de, em virtude de...(2003, p. 78)
Observamos, mediante o número de ocorrências destas últimas categorias
gramaticais, que o aluno/falante foi o usuário da língua que menos utilizou outras
formas de expressão de causalidade. Isso nos mostra mais uma vez que os
estudos gramaticais não devem estar desarticulados da abordagem discursiva, em
especial, quando se pretende contribuir efetivamente para um ensino mais produtivo
de português.
2.3.1 O caso de JÁ QUE
Já que é sempre explicativo, mas na tradição escolar não há como interpretá-
lo dessa forma, visto que isso implicaria considerá-lo coordenativo, o que de fato ele
não é. O problema da gramática tradicional, sob esse aspecto, é atrelar os valores
semânticos de explicativo e causal, respectivamente, às categorias sintáticas
da coordenação e da subordinação. Na verdade, esse conectivo é sempre
subordinativo e sempre explicativo, o que o torna atípico. Mas só se percebe isso
quando se opta por uma anáise semântico-discursiva.
Como demonstra Azeredo (2000, p. 97-107), já que introduz sempre uma
assertiva em que o falante acredita que o ouvinte crê, fazendo uso argumentativo
dessa crença, semelhantemente ao que ocorre em “Já que você tem tanto prestígio
com o prefeito, convença-o a nos fazer o empréstimo.” (adaptado de uma questão
de concurso). Isso significa que tal conectivo funciona sempre como um argumento
ou justificativa, o que o caracteriza como explicativo.
O que pode ocorrer é que a causa de uma enunciação ou causa de uma
ação propriamente dita seja utilizada como argumento para justificar seu efeito, de
cuja existência (ou de cuja legitimidade) se possa ter duvidado. Neste caso, e
somente neste, já que, por coincidência, introduzirá a assertiva referente à causa,
53
porém o uso do conectivo em tal construção não se deve ao fato de ele exprimir a
causa, e sim, ao de funcionar como justificativa. Logo, até nesses casos, ele deve
ser classificado como explicativo, e não como causal.
Um exemplo semelhante aparece em “Já que todos saíram, desisto do
negócio.” (BECHARA, 2001, p. 325). O fato de “todos terem saído” exprime
realmente a causa de o falante haver desistido do negócio, mas só foi possível
empregar esse conectivo porque “a saída de todos” é uma justificativa para a
mencionada desistência. O conectivo nesse caso inicia, na verdade, a “justificativa
de uma ação não verbal”, a de “deixar de participar do referido negócio”. A causa
(todos saíram) foi usada como argumento, logo, a conjunção é explicativa.
Nesse exemplo, a causa é ‘pano de fundo’. Em ‘primeiro plano’, figura a
explicação. Sobre isso, Dooley & Levinson (2007, p. 117) esclarecem: “Os termos
PRIMEIRO PLANO e PANO DE FUNDO descrevem partes de um texto que,
respectivamente, ampliam ou não ampliam a estrutura básica da representação
mental”. Mais adiante acrescentam:
EXPLICAÇÃO ou comentário esclarece o que está acontecendo, e possivelmente o
porquê (tanto na contextualização interna quanto na externa). Às vezes, os
acontecimentos são narrados como pano de fundo (grifo nosso), especialmente
se fora da sequência de tempo com os eventos propriamente ditos... (op. cit. p. 121).
Segundo eles (op. cit, p. 122), a contextualização externa seria a construída
pelos “...aspectos da situação sob os quais o texto é produzido: quem o contou a
quem, quando, onde etc....”.
Na sequência, dizem:
Geralmente, a parte de primeiro plano de um texto não é marcada apenas por ser
assim. Numa narrativa, por exemplo, a linha da história ou eventos normalmente não
levam um marcador; sentenças de pano de fundo são mais comumente
marcadas quanto ao seu tipo específico de informação secundária. Porém,
sentenças de todos os tipos podem ser DESTACADAS como carregando
informação de importância especial, ou do primeiro plano ou de pano de
fundo... Certos indicadores dizem claramente que uma determinada oração faz
parte de pano de fundo; sem esse sinal, ela seria interpretada como de
primeiro plano. A conjunção já que é deste tipo, embora não ocorra
frequentemente em narrativa (grifo nosso). O grego Koinê tem um elemento
semelhante, mén, que ocorre em narrativa; ele pode indicar que uma ação é de
pano de fundo com respeito aos eventos subsequentes (op. cit., p. 125).
Abramos um espaço para mencionar que, em nossa coleta de dados, ao
contrário do que afirmaram os referido autores, o conectivo já que foi
54
consideravelmente mais frequente no modo narrativo de organização do discurso,
nos subgêneros notícia e crônica, com nove ocorrências cada. No subgênero de
cunho argumentativo dissertação de vestibular, encontramos menos ocorrências
(apenas seis), ao passo que, apenas uma ocorrência deste conectivo foi registrada
no outro subgênero deste modo, o editorial.
Azeredo
8
, ao apresentar os conectivos que servem para assinalar a causa,
descrevendo o uso do já que, afirma que ele “...introduz a oração adverbial (grifo
nosso) colocada antes ou depois da principal. Mas, independente da posição, como
no enunciado “O socorro às vítimas será feito com helicópteros, já que as estradas
estão interditadas.”, sempre será explicativo.
Neste exemplo, o conectivo já que introduz a causa, que outra vez foi usada
como argumento, o que justifica o ato de “socorrer as vítimas com helicópteros”. A
única diferença é que houve a inversão, por causa da possibilidade de a oração
introduzida pelo já que poder vir antes ou depois da principal. Quando colocada
antes, inferimos que o fato em questão já é “...conhecido do interlocutor. Sendo
assim, esse tipo de causa – sinônimo de motivo (acréscimo nosso), é utilizado
como uma evidência que não fica sujeita à sua contestação (AZEREDO, 2008,
p. 325)”.
Ilustrando esse fato, realizamos uma entrevista informal – gentilmente
concedida – , com um amigo professor de Ciências Físicas e Biológicas, Nehemias
Taylor Reynaud. Lembramo-nos de que ele, como falante experiente, não
aconselhava o emprego do já que. Então, decidimos consultá-lo acerca do real
motivo de ele assim pensar. Gostaríamos de saber se teria lido em algum manual
tal orientação (o que foi negado), informando-nos o que sua intuição linguística
dizia. Acreditávamos que, de alguma forma, a resposta dele traria uma contribuição
a esta pesquisa, em especial, com relação ao uso desse conectivo.
A partir do exemplo que deu: “Já que você está aposentado (alguém dizendo
para ele), pode pegar as crianças no colégio para mim.”, confirmou-se a
intencionalidade discursiva explicitada por Azeredo: uma evidência, sem direito a
contestação. Para o entrevistado, repasse-se uma responsabilidade, sem que se
8
AZEREDO, 2004, p. 224.
55
pudesse “revidá-la”.
Ao tratar da noção de causalidade (sentido amplo), apesar de o referido
autor
9
apresentar uma descrição bastante abrangente acerca do assunto, não nos
permite concluir que o conectivo já que sempre será explicativo, semanticamente,
muito embora, sob o ponto de vista sintático, continue subordinativo.
Em contrapartida, Oliveira & Monnerat (2005, p. 93) assim o reconhecem ao
informarem que, “Quando a tese precede o argumento, este pode ser introduzido
por uma conjunção explicativa: porque, pois, visto que, já que, uma vez que, haja
vista que, na medida em que etc...”, muito embora não tenham categoricamente dito
que, no caso dos conectivos já que, visto que, uma vez que, haja vista que e na
medida em que, serão exclusivamente explicativos.
É oportuno fazermos menção ao estudo semântico-argumentativo de Vogt
(1980) sobre as conjunções que pertencem à área semântica da causa/explicação,
entre elas, já que. Nele, o autor já afirma, semelhantemente a Carone (2001), que
essa conjunção é coordenativa o que tampouco é exato, muito embora privilegie o
assunto sob a ótica morfossintática, A questão é que, para a tradição escolar, tratar-
-se-ia de um conectivo de subordinação, o que é fato, mas as gramáticas dão a
entender, direta e indiretamente, que ele seria sempre causal. Esse conectivo,
como vimos, é ao mesmo tempo explicativo (no plano semântico) e subordinativo
(no sintático), combinação impossível nos limites da gramática escolar, a qual, por
isso, não consegue dar conta desse fato da língua. Não seria nenhum absurdo, por
uma questão de coerência, admitir, caso se optasse pela classificação de orações
nos moldes tradicionais, a existência de uma oração “subordinada adverbial
explicativa”. Consideramos secundário esse tipo de taxionomia, mas, para quem se
preocupa com ele, não há por que rejeitar o “novo” tipo de oração. Por essa razão,
propomos que, nesse pormenor, não fiquemos limitados à classificação tradicional.
Também não pretendemos limitar a análise dos conectivos em questão ao ato
de determinar se uma conjunção tem valor causal e/ou explicativo. Mas,
independente da classificação meramente sintática, típica de conjunção
subordinativa, em se tratando de já que – aproveitamos para incluir porque, uma
vez que, visto que, etc. – e das típicas conjunções coordenativas pois, que,
9
Id. Iniciação à sintaxe do português. 6 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 100-102.
56
porquanto, etc., que contribuamos para um ensino produtivo, com efetiva prática de
aspectos semânticos e discursivos.
Recentemente, o aspecto semântico de conectivos foi abordado numa das
questões do Processo de Seleção para o Mestrado da UERJ, 2009/2010, em que o
candidato teria de classificar o já que, do seguinte enunciado: “Já que você tem
tanto prestígio com o Diretor, defenda junto a ele a nossa posição”. De modo geral,
os candidatos limitaram-se a repetir o que diz a tradição escolar, apesar de já ser
bastante divulgada, em cursos de graduação (ainda não ocorrendo, no ensino
médio) uma classificação semântico-discursiva dos conectivos. Boa parte deles
confundiu a mobilidade das orações com dupla classificação semântica.
Poucos discorreram sobre o aspecto semântico e, quando o fizeram, foi no sentido
de reconhecerem a afinidade semântica com os outros valores (explicação,
consequência, condição, conclusão e finalidade). Todavia, raros candidatos
chegaram ao cerne da questão, envolvendo o emprego de já que, exclusivamente
explicativo. Mais rara ainda foi a identificação da ironia presente no enunciado e
suas devidas pressuposições, o que ratifica a reflexão linguística num prisma
meramente descritivo, sem nenhum sinal de uma abordagem semântica e/ou
argumentativa para uns, discursiva e/ou enunciativa para outros. Por exemplo,
Guimarães (1987, p. 39) ressaltou, em seu estudo sobre a semântica das
conjunções do português, que “Não podemos deixar de registrar...que um estudo
enunciativo desta conjunção (o pois, e acrescentamos o já que) já aparece em
Vogt”.
Sobre como adequaríamos a tradição escolar a essa questão, considerando
que a nomenclatura gramatical não reconhece uma “oração subordinada adverbial
explicativa”, muito menos sendo introduzida por já que, sugerimos uma revisão nos
exemplos constantes em compêndios gramaticais e livros didáticos. Isso, em nome
do bom senso, de forma que tenhamos pelo menos um exemplário de casos mais
simples, transparentes, não “complicados”, com exercícios didaticamente coerentes
a respeito do fenômeno em discussão.
57
2.3.2 A locução POR + INFINITIVO
Contrariando nossa expectativa inicial, conforme ocorrências observadas em
nossos corpora, a preposição por seguida de infinitivo pode, em certos casos,
exprimir explicação, não se limitando, pois, ao valor causal. Isso comprova, mais
uma vez, a existência de construções semanticamente explicativas, porém
sintaticamente subordinativas. A construção com preposição + infinitivo faz parte
sempre de uma oração reduzida, o que a torna inconfundivelmente subordinada.
Embora tenha havido, no caso dessa construção, um predomínio de
expressão da causalidade (no sentido restrito), esse é mais um conectivo que
exerce dupla função, no efetivo uso da língua, assim como pois e porque. O valor
semântico típico da preposição por é, obviamente, o causal, daí sua predominância.
Para fins didáticos, proporíamos que se evitassem, nos exemplos e nos
exercícios, casos em que essa construção funcione como explicativa, embora o
fenômeno realmente exista. Satisfar-se-á a curiosidade do aluno que mostrar
interesse por esse detalhe, sem, porém, dar importância ao fato. Afinal, qualquer
descrição linguística pedagógica é sempre incompleta, cabendo ao professor decidir
sobre o que informar e o que omitir.
2.3.3 O uso de ATÉ PORQUE
Azeredo (2008, p. 324) afirma que “Entre as conjunções causais (grifo nosso),
apenas porque pode ser precedida de um vocábulo focalizador ou de realce como
, até (ou mesmo), justamente etc”.
Mais uma vez, a causalidade foi tomada somente no sentido amplo, visto que
não encontramos nenhum registro da conjunção porque realçada que não fosse
explicativa.
Logo, deparamo-nos com um outro caso de subordinação sintática e
coordenação semântica explicativa. Também registramos o alto grau de
58
argumentatividade operacionalizado com o emprego desse conectivo, o que
poderia ser explorado com a análise linguístico-gramatical produtiva.
2.3.4 POIS e PORQUE
Não restam dúvidas de que pois e porque são sinônimos. Podem ser ora
explicativos, ora causais, o que significa que, em temos sintáticos, são
coordenativos (quando explicativos) e subordinativos (quando causais). Aqui, sim,
explicativo realmente implica “coordenativo” e causal de fato significa
“subordinativo”. No caso de já que, ao contrário, essa relação não é biunívoca.
O simples fato de a oração introduzida por já que poder ora pospor-se ora
antepor-se à principal é quanto basta para caracterizar subordinação. Cabe aqui a
ressalva de que, atualmente, uma construção do tipo “Porque não lhe agrada o
campo, trata o mundo rural com desprezo” é no mínimo excêntrica. É claro que em
outras fases da história da língua essa anteposição já foi normal, mas hoje soa
como sintaxe clássica. Não diremos arcaica, porque não é o caso, mas algo como
seiscentista.
Principalmente por serem bifuncionais, pois e porque assumem valores
semântico-discursivos de causa e de explicação, o que não necessariamente
estaria atrelado a estruturas de subordinação ou coordenação na constituição
discursivo--argumentativa do texto.
Azeredo (2007, p. 251) lembra que, enquanto usamos os conectivos portanto e
logo para introduzir a conclusão que tiramos de um fato ou ideia, as conjunções
“...pois e porque introduzem não só uma relação de causa e efeito (acréscimo
nosso), mas também o próprio fato (e)....também...iniciam um argumento para
uma tese/opinião ou uma atitude expressa na oração anterior -
grifo nosso”.
Assim, se a subordinação é uma relação oracional, e a coordenação e segmentação
são relações textuais, a orientação argumentativa é o modo de organização do texto
cuja materialidade são a coordenação e a segmentação. Coordenação,
segmentação e subordinação, cada uma a seu modo, constituem aspectos do
funcionamento discursivo. Por outro lado tanto subordinação, coordenação como
segmentação convivem com a polifonia da enunciação e a intertextualidade. Isto
mostra como a dialogia interna percorre todo o texto, independentemente da
representação de unidade textual ou oracional (GUIMARÃES, 1987, p. 195).
59
Com a ressalva aos aspectos semântico-discursivos, incluindo os
morfossintáticos, quantificamos a preferência pelo emprego dos conectivos pois e
porque no quadro abaixo.
Quadro 5 – Emprego de pois e porque
GÊNERO
TEXTUAL
POIS
EXPLICATIVO
POIS
CAUSAL
PORQUE
EXPLICATIVO
PORQUE
CAUSAL
Dissertação 57 0 25 2
Editorial 23 1 11 7
Crônica 30 33 5 8
Notícia 10 2 12 13
O pois é mais frequentemente explicativo que causal, assim como o porque,
numa escala um pouco menor, independente de se tratar de linguagem tida por de
prestígio, no caso dos editoriais e das notícias. Dentre os sinônimos de porque,
realmente foi o mais utilizado entre os exclusivos do estilo formal.
Um fato meramente morfossintático que observamos tem a ver com um
comportamento “irregular” na pontuação, envolvendo o emprego da vírgula e as
orações introduzidas por esses conectivos. A tradição escolar diz que ela é
tipicamente empregada nos casos de “...separação de oração coordenada que não
seja aditiva (AZEREDO, op. cit., p. 522)”.
Registramos casos “curiosos”: a) pois, porque e até porque explicativos
iniciando oração – ocorrências no corpus maduro (em notícias e editoriais);
b) porque explicativo não precedido de vírgula – ocorrências no corpus maduro (em
editoriais); c) pois e porque causais precedidos de vírgula – ocorrências no corpus
maduro (em notícias e editoriais); d) pois virgulado de valor causal – ocorrência no
corpus maduro (em notícias); e) já que explicativo não precedido de vírgula –
ocorrências no corpus maduro (em notícias); f) preposição por + infinitivo
explicativa não precedida da vírgula – ocorrências no corpus maduro (em notícias e
editoriais); g) preposição por + infinitivo causal precedida da vírgula – ocorrências
no corpus maduro (em notícias e editoriais).
Como vimos, há registros de alterações sintáticas na pontuação, envolvendo
os conectivos causais e explicativos, sem que estejamos falando de uma produção
60
imatura, o que talvez não implique, salvo melhor juízo, “mera” falha de revisão por
parte dos jornais impressos.
Na coleta de dados, identificamos, de um lado, a não ocorrência de alguns dos
conectivos apresentados nos compêndios gramaticais como tradutores de causa e
de explicação. De outro, a predominância de determinados conectivos (como o
pois e o porque). O interessante é que, por conselho de professores de redação, ou
porque alguns manuais de redação assim orientam, devemos evitar o uso excessivo
do pois = porque, assim como o fazem quando nos alertam sobre o queísmo, por
exemplo. É evidente que a orientação se refere ao mau emprego, porque o uso de
pois, ou de qualquer outro conectivo, banaliza o texto, deixando-nos a impressão de
que a produção textual pertence a um principiante.
Isso nos mostra mais uma vez a necessidade de repensarmos a teoria e a
prática da produção pela estrutura morfossintática e semântico-discursiva.
61
3 SISTEMATIZAÇÃO DE DADOS
Para fins de sistematização dos resultados, fez-se a seleção de alguns
trechos, aqui chamados de extratos. Foram transcritas as sequências textuais que
continham conectivos causais ou explicativos, após a conversão do formato txt para
o formato word, não só porque já havíamos constituído a base de dados, mas
também porque deveríamos manter um padrão de formatação no corpo deste
trabalho.
Relembramos que, em vez do uso do recurso do Word Editar/Localizar,
utilizamos o aplicativo Simple Concordance Program, com o qual verificamos os
contextos e as particularidades de porque e sinônimos. Por exemplo, os comos e
outras palavras e construções pertencentes tanto ao “foco maior” quanto ao “foco
menor” desta pesquisa. Isso porque a referida ferramenta seleciona não somente
termos simples, como o pois e o porque, geralmente considerados conjunções-base
para a expressão de causalidade (sentido amplo), cabendo a nós a tarefa de
diferenciar os empregos morfossintático-semânticos e discursivos.
A propósito, antes de iniciarmos a exposição dos agrupamentos de trechos
onde foram encontrados porque e sinônimos, gostaríamos de mencionar algumas
noções que julgamos essenciais à compreensão de nossa análise de dados, em
especial, à classificação desses conectivos como explicativos ou causais.
Tivemos de considerar não só o conceito de sequências mas também seus
tipos, propostos inicialmente por Adam, citados em Charaudeau & Maingueneau
(2004): narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal, sendo que este
último tipo foi substituído por Marcuschi (2003) pelo denominado injuntivo. Segundo
eles,
...ela (a teoria das sequências) considera que existe, entre a frase e o texto, um nível
intermediário de estruturação, aquele dos períodos e das macroproposições. Um
pequeno número de tipos de sequência de base guia os empacotamentos
prototípicos de proposições que formam as diversas macroproposições..., segundo o
tipo de sequência correspondente. (Charaudeau & Maingueneau, ibid., p. 444
verbete sequência).
Pudemos observar que, em alguns casos, apesar de predominar um
determinado modo de organização do discurso, houve trechos/elementos
pertencentes a um outro, estando, porém, a serviço do primeiro, o predominante.
62
Exemplificando: uma sequência narrativa estruturada em forma de justificativa,
apresenta conectividade de explicação, logo, argumentativa.
Confirmamos que toda opinião é passível de questionamento; fatos, não.
Sendo que algo dito que possua valor factual, ou seja, que exprima um fato,
discursivamente, serve de argumento para a ação. E mais: que toda opinião
relatada ou relato relatado implica um fato. Por isso tem-se de estabelecer uma
fronteira entre causal e explicativa que justifica ação.
No ato de argumentar relatando, apresentamos uma informação/tese, isto é,
uma opinião, porém, não suscetível de ponderação. O contrário acontece com o
argumento que é do próprio enunciador, tratando-se de uma opinião que é
argumentada, ou seja, colocada em forma de argumento, com relação a uma tese,
a uma causa, a uma ideia ou, a um ponto de vista.
Sobre as modalidades de recepção do argumento, Breton (1999, p. 33)
lembra que todos nós temos “...previamente um ponto de vista próximo da
opinião...proposta, salvo no caso de uma novidade absoluta ou de um campo de
conhecimentos especializado”.
Toulmin (2001, p. 187) esclarece, antes de elencar três outros testes que nos
permitem reconhecer “...se um argumento é ou analítico ou substancial,” entre eles,
o teste do evidente por si mesmo:
... uma vez que se empregue a garantia correta, qualquer argumento pode ser
apresentado na forma “dados; garantia; logo, conclusão”, e, portanto, com a garantia
correta, qualquer argumento torna-se formalmente válido. Ou seja, se se escolhem
as palavras adequadas, qualquer argumento pode ser expressado de tal modo que
sua validade seja evidente simplesmente por sua forma: isto é igualmente verdade
qualquer que seja o campo do argumento – nada muda...qualquer premissa pode
ser usada numa inferência que seja montada de modo a ter validade
formalmente evidente (idem, ibidem, p. 171, grifo nosso).
Sabemos que o conhecimento se situa no campo da objetividade e da
verdade. A opinião, no da subjetividade. Mas, se o objetivo do texto era informar,
por exemplo, uma notícia, a tendência seria que se primasse pela objetividade,
ainda que não haja dúvidas quanto a ser impossível imparcialidade total.
Segundo Breton,
No campo jornalístico, a distinção entre informação e opinião é essencial e
determina os imperativos deontológicos do jornalista. Ele não faz o mesmo trabalho
quando informa o público ou quando lhe dá, como comentarista ou cronista, sua
“opinião” sobre os fatos (op. cit., p. 43).
63
Assim, estabelece-se uma causalidade flexível, com o uso de um argumento
causal, havendo a possibilidade de adesão à opinião proposta. Na tese que ora
formulamos, entre outras coisas, ratificamos que é próprio do modo argumentativo
de organização do discurso a apresentação de justificativa, assim como é próprio do
modo narrativo a apresentação da causa das coisas.
Mas, lembra-nos Breton que
Um elemento do raciocínio pode assim ser isolado e qualificado como sendo um
“fato”, suscetível, então, de observação, de testemunho, de prova...O enunciado de
um fato em argumentação depende, no entanto, da narrativa e de suas regras de
composição, pois a argumentação não tem a pretensão de dizer a verdade dos
fatos, mas de partilhar uma narrativa provisória para fazer que dela derive uma
convicção (op. cit., p. 101).
Ao enumerar os tipos de argumentos de Perelman, conceitua o chamado
“argumento causal” (pertencente ao grupo da dedução):
Ele consiste em transformar a opinião que se quer sustentar em uma causa ou em
um efeito de alguma coisa sobre a qual exista um acordo. Se a opinião que se quer
defender é que os serviços de informação de um determinado país são excelentes,
pode-se transformar esta opinião em causa do fato (grifo nosso) que o governo
do país parece sempre agir em função de excelentes informações (op. cit., p. 127).
Na sequência diz-nos:
O argumento causal é de uso extremamente corrente. Ele permite criar um vínculo
nos dois sentidos, seja porque o acordo prévio se apresenta como a causa da
opinião que é sustentada, seja porque a opinião é ela mesma a causa de uma
consequência sobre a qual um acordo prévio foi estabelecido - grifo nosso
(op. cit., p. 128).
Também chama nossa atenção para a diferença entre “argumento causal” e
“atribuição causal”, visto que devemos ter
..cuidado para não confundir o argumento de causalidade, elemento do
encaminhamento dedutivo, e o mecanismo da atribuição causal, objeto de uma
literatura abundante. A atribuição causal é um procedimento cognitivo que
consiste para um ator em forjar para si uma representação da causa do
fenômeno dado... Este mecanismo de explicação do real se distingue da
argumentação propriamente dita – grifo nosso (op. cit., p. 129).
64
Enfim, tudo que for colocado a serviço da defesa de uma tese ou de uma
opinião deve ser considerado “argumento”. São valores e pontos de vista, juízos de
valor. Portanto, até uma informação pode assumir feição de justificativa. Vogt (1980,
p. 127) defende e ideia de que “...todo discurso, por sua própria existência, é um
argumento para aquilo que afirma...”.
Pois,
A menos que a asserção tenha sido feita de modo totalmente irrefletivo e
irresponsável, normalmente teremos alguns fatos que poderemos oferecer para
apoiar nossa alegação; se a alegação é desafiada, cabe a nós recorrer àqueles
fatos e apresentá-los como o fundamento no qual se baseia nossa alegação
grifo nosso. É claro que pode acontecer de o desafiador não concordar conosco
quanto à correção daqueles fatos... (TOULMIN, op. cit., p. 139).
Charaudeau & Maingueneau (2004, p. 25 – Verbete Ação), fazendo referência
a uma teoria psicológica da ação, apresentam o seguinte ponto de vista:
Em certas perspectivas psicológicas, a ação é definida em termos de sua finalidade
(“metas”), o que a inscreve em um quadro de intencionalidade e a estrutura em
“plano de ação”, e como fenômeno de regulação, que a inscreve em um quadro
intersubjetivo a partir da existência de uma interatividade (ação-reação).
No verbete “ações/eventos (em narratologia)”, dizem que
Para circunscrever a intencionalidade ds ações humanas, além de metas ou
finalidades, consideradas em relação ao fim da ação, é necessário distinguir, quanto
a seu início, os motivos e as causas. Quando se trata de causa e efeito, o
antecedente, logicamente disjunto do consequente, pode ser descrito
independentemente dele... Ao contrário, existe sempre ligação entre a ação de um
agente e aquilo que o leva a agir, a saber, seu motivo. Esse motivo (ou razão para
agir) não pode ser pensado senão a partir da ação. A distinção entre causa e motivo
não significa que, desde que um ator humano esteja presente, tudo é motivação
pura: as fronteiras entre causalidade e motivação são muito fluidas. (op.cit., p. 28)
Oliveira (2003, p. 74) afirma: “Para uma intenção de ação ser lida como a
própria ação, basta que o texto não diga o contrário”. Assim, ao analisar fatos
descritos, identificamos alguns que retratam realmente a existência de “intenções
de ações” que significam, por inferência, a efetiva prática de tais ações, num menor
grau de factualidade.
E por isso tivemos de considerar os chamados “atos de fala”. Segundo
Azeredo, trata-se da
...unidade comunicativa por excelência. Por meio dele um enunciador converte em
discurso uma intenção, de sorte que a frase que o realiza é ao mesmo tempo um
modo de dizer e um modo de agir, de que são exemplos típicos os atos de despedir-
se..., de desculpar-se...e de agradecer... (2008, p. 74).
65
Relembramos também, com Charaudeau & Maingueneau (op. cit., p. 73), as
cinco categorias de atos de linguagem / fala searlianos: assertivos (se permitem
comprovações), diretivos (expressam e/ou sugerem procedimentos),
compromissivos (indicam predisposição a algo), expressivos (verbalizam
sentimentos) e declarativos (criam ou modificam estados de coisas).
Em se tratando da modalidade apreciativa, apesar da distinção entre o ato de
apreciar do ato de opinar (CHARAUDEAU & MAINGUENEAU, op. cit., p. 50 –
Verbete Apreciação), sempre estaremos no contexto argumentativo, logo, com as
estruturas explicativas a serviço da expressão.
Finalmente, Oliveira et. al. (2001a, p. 26 seq.), demonstrando como seria uma
abordagem produtiva dos conectivos do grupo da causalidade (sentido amplo), e aí
incluem-se os que nos interessam neste trabalho (causais e explicativos),
esclarecem que
As explicativas (orações) relacionam-se não com o conteúdo da outra oração, mas
sim com o ato de fala (opinião, ordem, pergunta, etc....), realizado na oração
anterior. Em outras palavras é como se alguém dissesse: “João não está em casa” e
eu afirmo isso e justifico, baseando-me no fato de que as luzes encontram-se
apagadas. Em todas essas articulações, tem-se um ato afirmativo e uma justificativa
em forma de um outro ato de fala. (Estamos considerando a noção de ato de fala,
dentro de uma concepção ampla do discurso, que se refere à (sic) qualquer
atividade comunicativa produtora de efeitos de sentido, a qual engloba os
enunciados produzidos pelos interlocutores e o processo de sua enunciação...
3.1 Extratos dos corpora e alguns comentários
Para demonstrar a sistematização dos resultados, de descobertas e de
curiosidades, precisávamos de segmentos textuais que contivessem elementos
suficientes para, no contexto, favorecer a definição do valor semântico em questão.
Para tal, em determinados momentos, agrupamos pequenos fragmentos de textos
dos corpora, por representarem um mesmo emprego, uma mesma significação e
análise, e, principalmente, por excentricidade.
Informamos primeiramente que os exemplos foram reunidos em dois lotes:
Lote 1 – casos em que se estabelece a relação TESE-ARGUMENTO = OPINIÃO;
Lote 2 – casos em que se estabelece a relação TESE-ARGUMENTO =
FATO-CAUSA. Utilizamos o “expoente”
E
para indicar que o valor semântico do
66
conectivo é de explicação. Para sinalizarmos que a palavra ou expressão traduz
causa, o “expoente”
C
. Em segundo lugar, que somente algumas sequências foram
acompanhadas de comentários, os quais tanto podem apresentar novas
abordagens quanto retomar informações e conceitos já mencionados.
LOTE 1 – Relação TESE-ARGUMENTO = OPINIÃO
pois
(1) “Defeito, característica comum a todos nós, afinal quem é perfeito? Essa, com
certeza, é uma pergunta fácil de se responder, POIS
E
sabemos que ninguém é
perfeito.” (Dissertação 207)
(2) “No atual governo de transição, por exemplo, entramos e uma crise que é
tratada como natural, POIS
E
a esquerda chegou ao poder.” (Dissertação 229)
(3) “É possível que petistas continuem repetindo o bordão. POIS
E
o presidente não
passou a negar aquilo pelo qual pedira desculpas e se declarara traído? Porém,
depois de mais um relatório preliminar da CPI dos Correios, divulgado na terça-feira,
essa tática de dissimulação autista talvez já não satisfaça o mais ingênuo e crédulo
dos militantes petistas, descendente direto da finada Velhinha de Taubaté.”
(Editorial 004)
COMENTÁRIO:
Observemos que uma situação foi avaliada como sendo “possível”, mas não
há como atribuir valor factual a “ser possível”. Podemos perguntar, por exemplo,
qual é a causa de uma coisa ser perigosa, mas não há como perguntar a causa de
algo ser possível. Teremos de perguntar sempre qual é a causa de aquilo ser visto
como possível.
A segunda oração não é causa da primeira. É justificativa, podendo-se dizer
“e eu digo isso...” porque...] : “É possível que petistas continuem repetindo o bordão
[e eu digo isso] porque (pois, visto que etc.)
E
o presidente não passou a negar aquilo
pelo qual pedira desculpas.”
Precisamos reconhecer um ato de fala chamado JUSTIFICATIVA, que tem a
ver com a administração de nossa imagem (ethos maingueniano, face de Brown e
Levinson).
67
(4) “Há o grave risco de a absolvição de Romeu Queiroz ser apenas a primeira, se a
bancada pluripartidária que agiu para livrá-lo continuar ativa. O deputado mineiro
também recebeu ajuda do regionalismo, POIS
E
até o governador tucano Aécio
Neves agiu, de forma injustificável, para salvá-lo.” (Editorial 009)
COMENTÁRIO:
Já vimos que todo fato, quando posto em dúvida, funciona no texto como
opinião. O redator precisou argumentar para “provar” que realmente o deputado
“recebeu ajuda do regionalismo”. Percebemos, pelo contexto (ou, mais exatamente,
pelo cotexto), que não se trata de um fato óbvio: “O deputado mineiro também
recebeu ajuda do regionalismo, [e eu digo isso] (porque, visto que etc.) pois até o
governador tucano Aécio Neves agiu, de forma injustificável, para salvá-lo”.
(5) “Está fora de discussão que o problema de proporcionar um mínimo de
tranqüilidade à população é policial. E que a repressão exige mais competência do
poder público em geral. Mas não só. POIS
E
se quisermos pensar não apenas na
segurança do presente, mas também na esperança de um futuro melhor, temos de
buscar meios de fazer com que a violência deixe de ser uma herança inexorável nas
comunidades carentes, geralmente à mercê do narcotráfico.” (Editorial 014)
COMENTÁRIO:
Expressões como Mas não só. Pois
X”, Mas não é só. Pois “X” e similares
significam o seguinte: Mas não é só nesses argumentos que eu fundamento minha
tese. Pois existe também o argumento “X”.
(6) “Sua carreira, é claro, não se desenvolveu no vazio, movida apenas por uma
vontade sobre-humana e por suas habilidades de excelente tático (e péssimo
estrategista, que ganhou batalhas e perdeu todas as guerras). O sérvio que
restabeleceu no continente os campos de concentração e o genocídio é produto da
indiferença dos EUA e da Europa que só no fim dos anos 90, por iniciativa tardia
C
mas decisiva dos EUA, enfrentaram o arruaceiro dos Bálcãs. Que não se vá com ele
o projeto do tribunal internacional para criminosos do seu porte. POIS
E
(JUSTIFICATIVA DE UMA ORAÇÃO OPTATIVA) se com a morte Milosevic burlou a
justiça, também é fato que estava privado de liberdade quando morreu — como
deveriam estar seus cúmplices foragidos Radovan Karadzic e Ratko Mladic.”
(Editorial 094)
68
COMENTÁRIO:
Trata-se de um tipo novo (até aqui) de conjunção explicativa, semelhante
(mas não exatamente igual) à que justifica um verbo no imperativo.
(7) “...espera-se que o descaso do governo não manche o evento, POIS
E
(JUSTIFICATIVA DE UM DESEJO) o mesmo trará dinheiro para o país através do
turismo...” (Crônica 004)
COMENTÁRIO:
Como vimos acima, orações optativas, que são diferentes de enunciados com
verbo no imperativo, representam desejo, implicando explicação.
(8) “... não que ele estivesse interessado na aula, POIS
E
seu corpo presente entrava
em oposição com sua mente ausente...” (Crônica 020)
COMENTÁRIO:
A segunda oração não é causa da primeira. É justificativa, podendo-se dizer
“e eu digo isso...” porque...
(9) “...tínhamos um restinho das férias, e que férias, POIS
E
(JUSTIFICA UMA
EXCLAMAÇÃO) a última semana era a de Carnaval...”. (Crônica 026)
(10) “..outros diziam que estavam “safos”, POIS
E
(ARGUMENTO RELATADO)
tinham vários amigos...”. (Crônica 030)
(11) “...pediu a João, dono da oficina, que pudesse liberar seu pai no domingo,
POIS
E
(EXPLICAÇÃO RELATADA, e não, causa de pedir) era final da Copa do
Brasil...” (Crônica 057)
(12) “...disse que só estava dando uma escalpelada no gato, POIS
E
(JUSTIFICATIVA DE AÇÃO RELATADA) estava muito calor.” (Crônica 058)
(13) “Eu estava espantado, POIS
E
(JUSTIFICATIVA DO ESPANTO) jamais poderia
achar que meu amigo...”. (Crônica 059)
(14) “A vida de todos mudou (JUÍZO DE VALOR), POIS
E
(JUSTIFICATIVA,
podendo-se dizer “e eu digo isso...” porque...] agora os alunos conheciam novos
conceitos...”. (Crônica 063)
69
(15) “Aprendi a não reclamar dos dias “ruins” de hoje, POIS
E
(JUSTIFICATIVA para
“não reclamar”, e não, causa de “aprender”) estes podem ser muito piores amanhã.”
(Crônica 072)
(16) “...então veio a outra Van e não a peguei, POIS
E
(JUSTIFICATIVA DE AÇÃO)
não acreditava que ela conseguiria passar...”. (Crônica 073)
(17) “Segundo peemedebistas, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) tem
interesse na troca de comando no ministério, POIS
E
(ARGUMENTO RELATADO)
isso poderia tirar seu filho Fernando Sarney da mira da PF. O filho do ex-presidente
é suspeito de ter movimentado mais de R$ 2 milhões às vésperas da eleição de
2006, que teriam favorecido a campanha da irmã Roseana ao governo do
Maranhão.” (Notícia 018)
COMENTÁRIO:
O conectivo introduz um argumento, com a presença do futuro do pretérito,
tempo verbal muito comum em discursos relatados.
(18) “O Mirage foi o primeiro megaresort a mudar a paisagem na Strip. À época, um
empreendimento considerado astronômico, POIS
E
(ARGUMENTO RELATADO)
precisava faturar US$ 1 milhão ao dia para atingir seu break-even (igualar resultados
para os acionistas).” (Notícia 043)
(19) “Várias organizações internacionais denunciaram os impedimentos das
autoridades birmanesas para conceder vistos ao pessoal humanitário, POIS
E
(ARGUMENTO RELATADO) o regime alega que não precisa de voluntários
estrangeiros.” (Notícia 049)
(20) “Apesar disso, o governo da Austrália prometeu hoje mais US$ 24 milhões para
as vítimas, que será divido igualmente entre o fundo de emergência da ONU e um
grupo de ONGs. Segundo cálculos das Nações Unidas, são necessários pelo menos
US$ 178 milhões para atender os 1,5 milhão de vítimas durante os próximos três
meses. O ministro de Assuntos Exteriores australiano, Stephen Smith, recomendou
que o regime birmanês suspenda as restrições à entrada de voluntários
estrangeiros, POIS
E
(ARGUMENTO RELATADO), mudando sua atual postura, as
vítimas poderiam receber muito mais assistência da comunidade internacional.”
(Notícia 049)
COMENTÁRIO:
Trata-se da justificativa de uma recomendação. Não é opinião relatada, haja
vista que a fala do enunciador do argumento está no futuro do pretérito: “poderiam”.
Então, temos uma opinião expressa, sinônimo aproximado de tese.
70
(21) “- Eu não tenho dúvidas de que teremos uma decisão histórica no STF e o
Brasil vai poder ficar em paz com a sua história, POIS
E
(ASSERTIVA) só ficaremos
em paz com a nossa história quando o Brasil reconhecer, como tem (sic) feito alguns
países, que aqui torturador não tem vez - sustento.” (Notícia 092)
COMENTÁRIO:
O trecho “...teremos uma decisão histórica no STF e o Brasil vai poder ficar
em paz com a sua história” é uma opinião, tanto que o parágrafo começa com “Eu
não tenho dúvidas de que...”, o que prova que essa asserção suscita
questionamentos (cf. CHARAUDEAU, 2008, p. 201).
porque
(1) “O mesmo processo pode ocorrer em momentos de crises nas mais diversas
possíveis, quando nos deparamos sem perspectivas de mudanças e de atitudes
diante dos problemas surgidos. Principalmente PORQUE
E
jamais imaginamos que
aquilo pudesse acontecer.” (Dissertação 202)
(2) “Dessa maneira, devemos estar atentos, porque
E
as conseqüências negativas do
defeito, erro, da crise e imaginação podem nos atingir direta e indiretamente.”
(Dissertação 273)
(3) “Os investidores que inspiraram o projeto e convenceram a Petrobras a assumi-lo
se inclinam por Itaguaí, entre outras razões, PORQUE
E
(OPINIÃO RELATADA)
acreditam que ali já existe infra-estrutura adequada para uma indústria com essas
caraterísticas, incluindo a proximidade com o Porto de Sepetiba.” (Editorial 002)
(4) “PORQUE
E
é típica a leniência com que são tratados eventos desta natureza,
desencadeados por corporações que integram a base eleitoral do governo — por
piores que sejam os efeitos do movimento. No caso da Anvisa, os grevistas, como
seria de se esperar, asseguram que não foi afetado o abastecimento de
medicamentos essenciais, o que o Ministério da Saúde confirma. Mas a realidade é
bem diferente, como reportagens demonstram à fartura. De resto, se uma greve
assim não tivesse sérias repercussões negativas, seria de se perguntar se o
trabalho que foi suspenso — e os trabalhadores que o executam — não tem
utilidade.” (Editorial 098)
COMENTÁRIO:
O conectivo porque, depois de ponto, geralmente é explicativo. O curioso é
que está inclusive no início do parágrafo. Preferimos ficar com Garcia (2001, p. 86):
“...Abrindo com essa conjunção ‘porque’ um novo parágrafo, quis o Autor ressaltar
as idéias de causa, explicação ou motivo do que acabara de declarar...”.
71
(5) “O dia seguinte seria muito importante para mim, PORQUE
E
a escolha que iria
fazer poderia mudar completamente minha vida.” (Crônica 021)
(6) “Ela vai dormir, PORQUE
E
(JUSTIFICATIVA DE UMA AÇÃO), no dia seguinte, a
“batalha”continua.” (Crônica 046)
(7) “- Foi uma trabalheira cruzar as listas que tínhamos. Tivemos que fazer o
levantamento das vendas com todas as gravadoras. Depois, foi surpreendente
descobrir que Padre Marcelo Rossi foi o mais vendido, que Xuxa tem quatro discos
nesta lista e Roberto Carlos, nenhum. Ele sempre vendeu discos, mas os números
eram regulares a cada lançamento. Já Marcelo Rossi foi um estouro quando
apareceu - comenta Luiz André Alzer. - Outra lista trabalhosa foi a "As 10 maiores
bilheterias do cinema nacional", PORQUE
E
só existem números a partir de 1993,
quando houve a retomada do cinema no Brasil. Conseguimos confirmar com a
Ancine e descobrimos que, dessa época para cá, só "Dois filhos de Francisco" entra
na lista.” (Notícia 042)
(8) “McCain já havia sido convidado ao evento da NAACP no ano passado, mas
recusou, segundo ele PORQUE
E
(DISCURSO RELATADO) sua campanha a
presidente naquela época estava quase desativada.” (Notícia 063)
COMENTÁRIO:
Temos uma justificativa. Apesar da falta do verbo dicendi, podemos dizer
que se trata de discurso indireto, porque a preposição acidental segundo faz um
pouco esse papel: “segundo” é sempre “segundo disse Fulano”). Para distinguir
explicativas de causais, é fundamental identificar o enunciador da sequência
introduzida pelo conectivo.
(9) “- Os japoneses estão todos alvoroçados. Eles estão numa expectativa muito
grande e uma briga para ter acesso ao Anhembi. Nós estabelecemos como
prioridade as pessoas mais idosas PORQUE
E
(JUSTIFICATIVA DE UMA AÇÃO)
nutrem desde o passado aquela referência à figura do imperador - diz Heimei
Yoshioka, organizador do evento.” (Notícia 068)
(10) “Essa foi a medida mais radical adotada por padres diante da insegurança que
afeta principalmente as igrejas do Centro, ainda mais no período da noite e nos
finais de semana, quando a região fica praticamente deserta. A Igreja do Sagrado
Coração de Jesus, também localizada na região central, fechou seis de suas oito
portas e foi totalmente gradeada. O padre João Alberto Araújo explica que a medida
foi necessária para ordenar o acesso à igreja PORQUE
E
(JUSTIFICATIVA DE
OPINIÃO) a proximidade com os terminais de ônibus transformou o local em galeria
de passagem, aumentando o perigo para quem assistia à missa.” (Notícia 073)
72
COMENTÁRIO:
Ao dizer que “a medida foi necessária”, emitiu-se um juízo de valor (opinião),
cuja marca linguística é o adjetivo necessária. A sequência “porque a proximidade
com os terminais de ônibus transformou o local em galeria de passagem...” é uma
explicação (argumento para uma tese). Notemos que, no próprio verbo, o ato de
justificar se estabelece: “O padre João Alberto Araújo explica...”.
(11) “A maior carga de aulas teóricas vai fazer com que o curso básico de
habilitação para carro simples na Auto-Escola Brasília suba de R$ 450 para R$ 740 -
aumento de 64%. Mesmo com o aumento, Júnior acredita que o número de novos
clientes não deve diminuir nos próximos meses PORQUE
E
(OPINIÃO) a habilitação
é um documento obrigatório.” (Notícia 088)
COMENTÁRIO:
Temos a justificativa de uma crença (“acredita”), portanto de uma opinião.
(12) “- Vim apressada, PORQUE
E
(JUSTIFICATIVA DE AÇÃO), com as novas
regras, eu precisaria de 45 horas-aula de curso teórico, mais 20 horas de prática de
direção veicular. Pela resolução anterior, precisaria só de 30 horas de aulas teóricas,
mais 15 horas de curso de prática de direção. Pelas contas que o meu pai fez, eu
gastaria R$ 400 com o modelo atual e o dobro com o que vai vigorar a partir de
janeiro. Como tenho um irmão, Filipe, que também está tentando se habilitar, pelas
novas regras meu pai não iria gastar menos de R$ 1,6 mil com nós dois. É muito
dinheiro - disse ela.” (Notícia 088)
COMENTÁRIO:
A causa aí é usada como justificativa, o que, aliás, é muito comum. No
dia a dia, estamos sempre justificando nossos atos com a explicitação da causa
deles, o que retrata um problema teórico em discussão: o de como distinguir a causa
como argumento da causa pura e simples.
(13) “- A despesa maior será só com auto-escola mesmo. PORQUE
E
as taxas
cobradas para a habilitação, que hoje são de R$ 155,08, serão corrigidas apenas
pelos índices da inflação, cerca de 6%.” (Notícia 088)
COMENTÁRIO:
O vocábulo “só” não tornou causal a conjunção porque seu escopo é “com
auto-escola”.
73
haja vista (que)
(1) “Em contrapartida, defeitos, erros, crises e imaginação, em excesso passam a
incomodar, HAJA VISTA QUE
E
podem ser grandes impecílios à convivência em
sociedade.” (Dissertação 279)
(2) “Infelizmente, o tema não parece sensibilizar o Congresso Nacional, HAJA
VISTA QUE
E
a medida provisória que criava a Super-Receita acabou caducando por
falta de quórum no Senado para votá-la em tempo hábil. A Super-Receita é uma
tentativa válida de se ampliar a arrecadação para o sistema previdenciário sem
necessidade de se elevar (sic) as alíquotas de contribuição, já muito altas.”
(Editorial 016)
já que
(1) “Tal problema se sanado, poderia quem sabe, mudar o mundo, mudar a história;
JÁ QUE
E
(ARGUMENTO CONSENSUAL) a intolerância, a incapacidade de
reconhecer os próprios erros e a acomodação por parte das pessoas as tornam
incapazes de fazer algo para mudar.” (Dissertação 207)
(2) “Neste segundo caso ocorreu uma cruel forma de exploração JÁ QUE
E
(ARGUMENTO CONSENSUAL) a sociedade os via como animais, seres inferiores e
essa exploração existiu por anos...” (Dissertação 280)
(3) “No caso do PTB, é indiscutível a ação de indicados do partido no Instituto de
Resseguros do Brasil, IRB, e nos Correios para arrecadar fundos com empresários
privados. Na prática, trata-se de desvio de dinheiro público para outros e obscuros
fins, JÁ QUE
E
essas comissões costumam ser recuperadas pelos empresários na
forma de preços superfaturados cobrados ao Estado.” (Editorial 038)
(4) “Era uma noite de festividade (OPINIÃO DE CONOTAÇÃO AFETIVA) JÁ QUE
E
a
nossa amada força militar conseguiu, enfim, depois de anos de lutas bravias,
derrotar as milícias...” (Crônica 019)
(5) “...disse para eu não ir, JÁ QUE
E
(INTRODUTOR DE ARGUMENTO RELATADO,
JUSTIFICANDO OPINIÃO – OU SUGESTÃO – DE OUTREM), como não tinha
ninguém para me acompanhar, teria que ir sozinho.” (Crônica 025)
(6) “...e só estava afim (sic) de permanecer em casa com alguém ao lado, JÁ QUE
E
(JUSTIFICATIVA DE UM DESEJO, e não, causa do desejo) não havia alguém senão
ela. (Crônica 042)
(7) “Assumi o serviço às 17h, JÁ QUE
E
(JUSTIFICATIVA DE AÇÃO) todos temos
que praticar o treinamento físico...”. (Crônica 064)
74
(8) “Ao ser questionado se a Vivo manterá este nível de margem Ebitda alcançado
no trimestre, Lima não quis se comprometer com resultados, JÁ QUE
E
(ARGUMENTO RELATADO) a empresa não divulga previsões (guidance) sobre o
futuro, mas disse que " tem o objetivo de mantê-la elevada", diante dos
investimentos que são necessários no setor.” (Notícia 011)
(9) “Com a informação, os advogados de Dantas protocolaram há três meses junto
ao governo americano pedido de providências contra a investigação, JÁ QUE
E
(ARGUMENTO RELATADO) houve diálogos com funcionários de empresas
sediadas nos EUA, e a interceptação de e-mails contraria as leis daquele país.”
(Notícia 019)
(10) “Placodermes costumam ser descritos como "dinossauros dos mares" JÁ QUE
E
(ARGUMENTO RELATADO) dominaram oceanos e lagos por quase setenta milhões
de anos.” (Notícia 028)
(11) “A medida será adotada para reduzir os custos da companhia com combustíveis
JÁ QUE
E
(JUSTIFICATIVA DE OPINIÃO) o MD-80, um modelo mais antigo de
avião, é pouco econômico. Essas aeronaves são utilizadas pela companhia
principalmente em rotas ligando seu hub (centro de distribuição de vôos) em
Milwaukee às cidades de Los Angeles, São Francisco e Seattle. A companhia não
esclareceu se a freqüência nessas rotas será diminuída, se elas serão abandonadas
ou se utilizará seus 25 Boeings 717 - também ultrapassados - para operá-las.”
(Notícia 045)
(12) “A experiência de viajar por esse país pouco conhecido do Oriente Médio, é
bom esclarecer, será acompanhada de alegrias, mas também percalços. O Iêmen
fica distante (são 14 horas de vôo do Brasil até Dubai, escala obrigatória para
Sanaa); as cidades são pobres; as ruas, sujas, e o trânsito é o caótico - os sinais
são raros, o que vale são as buzinas, e a frota é muito velha, o que inclui os ônibus
que transportam turistas. A rede terrorista al-Qaeda mantém um braço iemenita
responsável pelo ataque, em setembro, à embaixada americana em Sanaa, o que
fez com que o já minguado fluxo de turistas estrangeiros ao país se reduzisse ainda
mais. Mas, creia, o Iêmen valerá todos os dias da viagem por suas cidades e
montanhas. Embora a tradição islâmica imponha às mulheres um dos mais pesados
códigos de vestimentas do Oriente Médio, esse rigor não se estende às turistas. E a
população é gentil com os visitantes. A capital conta com hotéis cinco estrelas e
agências de viagens, que oferecem passeios guiados, JÁ QUE
E
(JUSTIFICATIVA
DE AÇÃO) a locomoção por conta própria é difícil.” (Notícia 078)
por + infinitivo
(1) “Dentro deste conceito estão os médicos que POR SEREM
E
(JUSTIFICATIVA DE
OPINIÃO) médicos e lidarem com a vida do ser humano não deveriam cometer
erros, pois
E
podem ser causadas mortes, pessoas podem ficar defeituosas...”
(Dissertação 226)
75
(2) “Defeito, será que ele é bom ou ruim? O defeito só é bom POR nos FAZER
PENSAR
E
(JUSTIFICATIVA DE OPINIÃO) nas coisas que achamos estar erradas...”
(Dissertação 282)
(3) “Confirmada a participação de policiais na maior chacina da história do estado,
aumenta ainda mais a responsabilidade do poder público. Não se trata apenas de
punir com rigor os culpados de um crime grave. É necessário ir além, POR ele NÃO
SER
E
um fato isolado é preciso limpar a corporação policial, recuperar sua
credibilidade. O assassinato indiscriminado de 30 pessoas na Baixada Fluminense,
tudo indica em retaliação ao acertado enquadramento disciplinar de policiais,
ultrapassou os limites.” (Editorial 001)
COMENTÁRIO:
Trata-se de um caso (curioso) de por + INFINITIVO com valor explicativo
(mas é claro que subordinativo – reduzidas desse tipo são sempre estruturas
subordinadas).
Até aqui acreditávamos que essa construção fosse sempre causal. Este seria
um contraexemplo. Porém, o conteúdo semântico de “necessário” (modalização
deôntica cf. NEVES 2002b e KOCH 2004) soluciona esse “mistério”. Modalidade
aqui deve ser entendida como o ato ilocutório por meio do qual exprimos nossa
atitude em relação aos enunciados que produzimos.
Com isso, manifestamos um grau máximo de engajamento com o que
acabamos de dizer, de forma que essa modalização discursiva torna nosso
argumento não passível de contestação. Nesse caso, o que temos não é a
descrição do ato (punir com rigor) propriamente dito. Antes, o que será obtido se
houver a realização desse ato.
(4) “Calcula-se que morem em favelas cerca de 20% da população do município, ou
aproximadamente um milhão de pessoas, quando, em 1950, segundo o IBGE,
estavam nessa situação apenas 7% dos cariocas. A expansão das favelas é visível.
Para constatá-la, há muito não se requer mais pesquisadores e levantamentos
técnicos. A degradação em curso na área da Avenida Brasil, por exemplo, é
dramática e veloz. E até mesmo didática, POR MOSTRAR
E
(JUSTIFICATIVA DE
AÇÃO) como o crescimento das favelas é capaz de gerar hoje a miséria de amanhã,
ao expulsar empresas e afugentar investimentos.” (Editorial 029)
(5) “Se o Planalto nada apresentou de concreto, ficou no discurso pró-mudanças, a
minirreforma de Bornhausen se mostrou equivocada POR INTERVIR
E
(JUSTIFICATIVA DE AÇÃO) onde não deve e deixar de lado o que precisa ser
alterado, como é o caso da punição dos corruptores de políticos.” (Editorial 030)
76
COMENTÁRIO:
O fato de a minirreforma de Bornhausen intervir onde não deve não é causa
de ela se mostrar equivocada. É a causa de o redator dizer que ela se mostra
equivocada, o que prova tratar-se realmente de um exemplo de por + infinitivo com
valor explicativo, ainda que subordinativo.
(6) “Dos hotéis-cassinos enfileirados na Fremont, o Golden Nugget contribui para a
história da cidade (OPINIÃO = JULGAMENTO DE VALOR) POR TER
E
(JUSTIFICATIVA DE AÇÃO) abrigado as temporadas de Frank Sinatra. Além disso,
o cassino tem uma piscina inacreditável conjugada a um aquário de tubarões, que
permite que você deslize num toboágua passando no meio do tanque dos tubarões.
Há 16 tubarões e quatro arraias convivendo ali harmoniosamente com o olhar
curioso dos hóspedes do hotel. Para evitar que os tubarões se reproduzam são
mantidos apenas machos ou fêmeas de uma ou outra espécie. Eles vivem em
cativeiro cerca de 30 a 35 anos. Ah, é possível jogar na piscina também....e, num
dos corredores do hotel, esta à mostra a maior pepita de ouro em exibição no
mundo, que foi encontrada na Austrália em 1980. O camarim de Frank Sinatra é
mantido até hoje com móveis e decoração da época, mas que não fica aberto ao
público (somente sob consulta) e Kenny Rogers - ex-diretor de entretenimento da
casa antes de se tornar cantor famoso.” (Notícia 043)
uma vez que
(1) “Havia um clima de intenso desgaste entre os alunos, UMA VEZ QUE
E
era
período de provas.” (Crônica 045)
COMENTÁRIO:
Houve uma ligeira impropriedade, pois o contexto pede causal, mas o aluno
usou uma explicativa.
tendo em vista + SN
(1) “Pior ainda, talvez, é a hipótese de Evo, como é universalmente conhecido,
vencer nas urnas e não ser confirmado pelo Congresso, como prevê a Constituição.
Poderia ser o estopim de uma guerra civil, que para muitos parece inevitável,
TENDO EM VISTA
E
a polarização das forças políticas e as profundas divergências
entre as províncias ricas, com aspirações autonomistas, e as mais pobres, com
ressentimentos históricos.” (Editorial 008)
77
COMENTÁRIO:
Morfossintaticamente, temos um sintagma nominal. Todavia, devemos
considerar essa expressão (não locução) como outra forma de exprimir explicação.
(2) “TENDO EM VISTA
E
(JUSTIFICA A AÇÃO DA SOCIEDADE) essa aproximação
de atos considerados abomináveis, a sociedade reagiu...” (Crônica 061)
visto que
(1) “Chegou fevereiro, de início não era uma notícia boa, VISTO QUE
E
tínhamos, eu
e minha turma inteira, que voltar ao Colégio...” (Crônica 026)
(2) “É bastante compreensível, VISTO QUE
E
, indo, há uma reciprocidade...”.
(Crônica 031)
(3) “Estava andando pelas ruas próximas de casa para arejar a cabeça, VISTO
QUE
E
tinha antes feito várias tarefas árduas.” (Crõnica 047)
até porque / só porque
(1) “Outra aberração é o Banco Popular, um apêndice do Banco do Brasil e que
serviu apenas para abrigar um aparelho petista, produzir prejuízos e irrigar o caixa
das agências de publicidade de Marcos Valério. Essa face de ambigüidades do
governo fica ainda mais nítida quando, ao lado do êxito na luta contra a inflação —
mesmo que se possa criticar alguma overdose nos juros básicos — se constata o
crescimento constante dos gastos públicos primários. O fato é preocupante, ATÉ
PORQUE
E
, faça-se justiça, trata-se de uma distorção herdada da gestão FH. Essas
despesas, que em 1998 eram de 19,5% do PIB, chegaram a 21,6% em 2002 e este
ano devem atingir 22% do PIB. Explica-se por que a carga tributária, que no início da
era FH situava-se em aproximadamente 28% do PIB, atinge hoje 36%, índice
asfixiante. Ou seja, o imprescindível superávit primário tem sido financiado pelo
contribuinte e cortes nos investimentos públicos.” (Editorial 037)
COMENTÁRIO:
A explicativa “até porque” introduz uma justificativa, semelhantemente ao
argumento introduzido pelo “aliás” da “argumentação sub-reptícia” de que fala
Ingedore Koch (2000, p.33). O “até” tem a ver com o fenômeno da escalaridade a
que se refere a Semântica Argumentativa de Ducrot e Anscombre, em que algo é
“...apresentado como se fosse desnecessário...quando, na verdade, é por meio dele
78
que se introduz um argumento decisivo, com o qual se dá o “golpe final”, resumindo
ou coroando todos os demais argumentos.”
(2) “ATÉ PORQUE
E
as CPIs continuarão a operar, será inevitável o escândalo
ocupar lugar de destaque na campanha. E mesmo que as comissões já tivessem
encerrado os trabalhos, há cassações a deliberar no plenário — para ajudar a
manter o escândalo na agenda político-eleitoral. É natural e mesmo desejável que a
ética na política — ou a falta dela — seja discutida na campanha. Como se
constatou, o PSDB e o PFL também deixaram impressões digitais nos esquemas
ilícitos. Um mal com essa extensão não pode ser esquecido.” (Editorial 068)
(3) “A CPI dos Correios tem mapeado a rota de abastecimento do propinoduto com
dinheiro público, e o assunto será explorado sem parcimônia pela oposição. ATÉ
PORQUE
E
teve repercussões nas proximidades do presidente.” (Editorial 079)
(4) “- Nossa relação com o Minc é ótima (OPINIÃO), ATÉ PORQUE
E
ele marchou
conosco em vários momentos e é muito fácil dialogar com ele. Mas nós sabemos
exatamente o que significará sentar-se naquela cadeira, seja quem for. O problema
não é nome nem perfil, é a opção do governo - disse o diretor de campanhas do
Greenpeace, Marcelo Furtado, após frisar que o futuro ministro será cobrado da
mesma forma que Marina foi.” (Notícia 052)
(5) “Aos turistas, a festa do consumismo fica direcionada às inúmeras lojas de
pashminas. Prepare-se para a arte da negociação. Em geral, o valor final é um terço
do pedido pelo comerciante. Com tempo, é divertido barganhar, ATÉ PORQUE
E
os
simpáticos vendedores sabem se comunicar em inglês. Atração irresistível são as
lojas de bijuterias e jóias em prata. Algumas oferecem preciosidades de antigas
tribos para colecionadores. Diante da beleza de Sanaa antiga, o visitante tem o
impulso de fotografar não apenas os prédios, mas a população vestida de modo tão
peculiar. É preciso cuidado para não ser indelicado: a maioria das mulheres não
gosta de ser fotografada, e deixa isso claro virando de costas. Algumas não se
importam, mas se estão com os maridos, são eles que autorizam a foto, e se
aborrecem quando os flagrantes são feitos sem permissão. Porém, sempre acabam
permitindo, e até posam, se houver um cumprimento prévio e um sorriso do visitante.
Já as crianças adoram ser fotografadas, e sempre correm até o viajante para
conferir a imagem no visor da câmera. Elas adoram ganhar lembrancinhas, como
canetas e lápis de cor. Fora da cidade antiga, Sanaa é um caos urbano.”
(Notícia 078)
(6) “- A despesa maior será só com auto-escola mesmo. PORQUE
E
(O “só” não
tornou causal a conjunção, porque seu escopo é “com auto-escola”) as taxas
cobradas para a habilitação, que hoje são de R$ 155,08, serão corrigidas apenas
pelos índices da inflação, cerca de 6%.” (Notícia 088)
79
LOTE 2 – Relação TESE-ARGUMENTO = FATO/CAUSA
pois
(1) “Esquecem que a sociedade já deu provas de não aceitar a volta da inflação, em
nome do que seja. Até mesmo do crescimento, POIS
C
a opinião pública sabe que
inexiste desenvolvimento sustentado com alta de preços. Engatilha-se um tiro de
fuzil no próprio pé da administração petista.” (Editorial 028)
COMENTÁRIO:
Neste contexto, “opinião pública e sociedade” funcionam como sinônimos
aproximados. O fato de a sociedade saber que inexiste desenvolvimento sustentado
com alta de preços é causa de ela não aceitar a volta da inflação, portanto da alta de
preços, nem mesmo em nome do crescimento.
(2) “...ele sentia que tinha acordado com um sério caso de azar, POIS
C
(OPINIÃO
RELATADA), ao se levantar, deu uma topada no pé da cama...” (Crônica 005)
(3) “Estávamos com fome, POIS
C
(OPINIÃO RELATADA) deixamos de almoçar...”
(Crônica 006)
(4) “A Até hoje, o governo desconhece o impacto do programa, POIS
C
(OPINIÃO
RELATADA) não sabe quantos alunos efetivamente são alfabetizados. Em 1992, a
taxa de analfabetismo brasileira era de 17,2%. Nesse período de 15 anos, a maior
redução ocorreu no Nordeste: de 32,7% para 19,9%.” (Notícia 002)
(5) “Antes do anúncio das medidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu
com lideranças empresariais. Também participaram do encontro o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os
empresários saíram otimistas do encontro, POIS
C
, para eles, ficou claro que o
governo vai fazer o que for possível para manter o crescimento econômico do país.
Segundo eles, não foram adiantadas, por Lula nem pelos seus ministros, as medidas
anunciadas nesta tarde. Os empresários, contudo, reclamaram da alta taxa de juros
do país, que na quarta foi mantida em 13,75% ao ano.” (Notícia 099)
porque
(1) “Há quem diga que errar é bom para aprendermos, mais a realidade dos erros é
bem dura, e nós não vemos por aí ninguém feliz PORQUE
C
(OPINIÃO RELATADA)
errou.” (Dissertação 277)
80
(2) “Os investidores que inspiraram o projeto e convenceram a Petrobras a assumi-lo
se inclinam por Itaguaí, entre outras razões, PORQUE
C
(OPINIÃO RELATADA)
acreditam que ali já existe infra-estrutura adequada para uma indústria com essas
caraterísticas, incluindo a proximidade com o Porto de Sepetiba.” (Editorial 002)
(3) “Venceu o prazo para mudanças na legislação eleitoral com vistas a 2006. Mas o
perigo continua. E não apenas PORQUE
C
há quem conspire para atropelar a
Constituição e reabrir esse prazo. Agora, outra tese gestada no imediatismo acaba
de aparecer no horizonte: a do aumento do mandato presidencial para cinco anos,
sem reeleição.” (Editorial 003)
COMENTÁRIO:
O fato de o perigo continuar, apesar da conotação subjetiva (avaliativa)
dessa asserção, é visto como causa de haver “quem conspire para atropelar a
Constituição” e reabrir o prazo. O “perigo” está sendo visto pelo redator como um
fato, ou seja, “Algo ser um perigo” está sendo tratado textualmente como um fato.
Notemos que, apesar de se tratar de um editorial, esta sequência é narrativa.
Mas, observemos que “Venceu o prazo para mudanças na legislação eleitoral
com vistas a 2006.” é uma sequência narrativa (mundo narrado), tanto que o verbo
está no pretérito perfeito. Já em “Mas o perigo continua.”, o verbo no presente
(mundo comentado), tratando-se do modo descritivo de organização do discurso.
Esse processo narrativo-descritivo está ligado a uma atitude discursiva de
objetividade, criando “ambiente” textual para que se fale de causalidade. É claro
que tal processo descritivo-narrativo está a serviço do argumentativo (temos um
editorial, gênero em que costuma predominar a argumentação), mas a forma não é
de modo argumentativo de organização do discurso, daí ser causal a conjunção.
Como vimos, o fato de o perigo continuar é visto pelo redator como causa de haver
“quem conspire para atropelar a Constituição” e reabrir o prazo.
(4) “...confesso que estava ali PORQUE
C
(OPINIÃO RELATADA) gostava da
companhia deles...” (Crônica 011)
(5) “Marcelo começou a caçoar de mim PORQUE
C
(RELATO RELATADO) eu
sempre era o último...” (Crônica 011)
(6) “- Na primeira vez que ele foi chamado à CPI, nosso objetivo era justamente
trazer provas que permitissem a nós podermos ter elementos para a investigação
feita contra o Daniel Dantas, que é acusado em outra vara criminal da prática de
interceptação indevida junto com Kroll. Naquele momento, o delegado Protógenes
foi muito reduzido na sua resposta PORQUE
C
(RELATO RELATADO) muitas
questões estavam sob segredo de Justiça - completou.” (Notícia 020)
81
(7) “- E olha que eu achava que ela tinha sido a primeira... Outra coisa que me
surpreendeu foi descobrir que inconstitucionalissimamente não é a maior palavra da
língua portuguesa. É apenas a décima maior. Outra é que os mexicanos bebem
mais Coca-Cola do que os norte-americanos. Quem diria! - exclama Mariana. - Alzer
e eu somos fanáticos por listas. Ele até já colecionava algumas, e foi quem deu a
idéia de escrevermos o livro. Fiquei empolgada de cara (FATO PSICOLÓGICO),
PORQUE
C
adoro pesquisar, comparar dados, escarafunchar mesmo.” (Notícia 042)
COMENTÁRIO:
Sabemos que fenômenos físicos ou fatos propriamente ditos têm causa.
Entretanto, um fato psicológico também é fato. No trecho, “adorar pesquisar” é
causa de ficar empolgada.
(8) “Os pesquisadores afirmaram que os esqueletos e seu DNA estavam bem
preservados PORQUE
C
(DISCURSO RELATADO) a sepultura teria sido envolvida
por argila e, posteriormente, por espessas camadas de areia e sal.” (Notícia 074)
COMENTÁRIO:
Apesar do futuro do pretérito, trata-se de causa, pois os enunciadores desse
discurso são os pesquisadores, não o jornalista. Mas esses pesquisadores estão
apontando a causa de o DNA estar bem conservado. É relato relatado, digamos
assim, e não, justificativa relatada.
Só porque / Isso porque
(1) “Na igreja, com estilo romano e tijolos de barro, foram realizados casamentos,
batizados. As celebrações do local ficaram na memória das pessoas da região. Mas
o que o que se vê hoje é bem diferente. O prédio só está de pé PORQUE
C
alguns
andaimes sustentam a estrutura.” (Notícia 082)
COMENTÁRIO:
Novamente o vocábulo “só” contribui para que se trate de causal; parece que
“só” implica factualidade.
(2) “BRASÍLIA - A reformulação das regras para os cursos de formação de
condutores fez crescer de forma significativa a procura de candidatos pelas auto-
escolas de Brasília nas últimas semanas do ano. Isso PORQUE
C
a partir do dia 1 de
janeiro o curso teórico, atualmente com 30 horas-aula, passará a ter 45, no mínimo.
Já o curso de direção veicular, hoje com carga horária de 15 aulas de uma hora,
será composto de 20 horas-aula.” (Notícia 088)
82
(3) “- Há uma corrida pelas auto-escolas nesta reta final do ano. Isso PORQUE
C
os
cursos de formação ficarão mais complicados.” (Notícia 088)
COMENTÁRIO:
O fato de as orações causais virem precedidas de ponto (apesar de o
pronome “isso” ter vindo antes da conjunção) representa para uns um erro; para
outros, uma extravagância – “desvio estilístico”. Preferimos novamente ficar com
Garcia (2001, p. 86), considerando o comportamento sintático um realce de cunho
discursivo.
por + infinitivo
(1) “Por ESTAREM
C
(OPINIÃO RELATADA) tão inseridos em nossa sociedade,
passamos a ver os erros e os defeitos como normalidades.” (Dissertação 235)
(2) “Um erro, ou um defeito pode ter uma grande influência na vida de uma pessoa,
como o cidadão que por necessidade assaltou um loja e foi preso, como o rapaz que
teve relações sexuais com a menina e a engravidou, POR não TER
C
(OPINIÃO
RELATADA) se protegido, a garota que se alcolizou e acabou tendo um coma
alcólico.” (Dissertação 276)
(3) “À medida que tramita o lote inicial de indicações para cassação formuladas
pelas CPIs dos Correios e do Mensalão, é previsível que aumentem as pressões
para a retirada de nomes da lista. O primeiro teste foi a passagem da relação de 13
deputados pela Corregedoria da Câmara. POR ELA ESTAR
C
sob controle de um
seguidor de Severino Cavalcanti, o deputado Ciro Nogueira, do PP piauiense,
justificava-se o temor quanto ao destino que teria o relatório. Por pressão da opinião
pública
C
, o lobby do perdão prévio foi contido e o parecer pela manutenção do texto
recebido das CPIs saiu vitorioso, mesmo que por apenas um voto.” (Editorial 031)
COMENTÁRIO:
Com a paráfrase do último trecho, justificava-se o temor quanto ao destino
que teria o relatório. Ou seja, o fato de a relação dos 13 estar sob controle de um
seguidor de Severino é causa de o temor quanto ao destino do relatório se justificar.
Não é causa de o redator dizer que esse temor é justificável.
(4) “Não resta portanto outro caminho ao governo do que contestar. Mesmo que não
fosse por razões fiscais, a decisão do Congresso deveria ser repelida POR IR
CONTRA
C
a ética pública.” (Editorial 041)
83
(5) “O balanço de quase dois meses da crise política instalada pelas denúncias do
deputado Roberto Jefferson demonstra que o ex-aliado do governo sabia do que
falava. O mensalão existia e a cúpula do PT caiu, POR ESTAR
C
envolvida no
propinoduto montado por Delúbio Soares e Marcos Valério. O ex-ministro José
Dirceu é candidato incontestável a novo alvo da evolução dos acontecimentos, mas
as suspeitas sobre a participação do presidente Lula no caso não têm passado de
suposições.” (Editorial 055)
(6) “De repente, sua esposa sente dores de parto e sua bolsa estoura, POR ela
TER
C
(OPINIÃO RELATADA) pressão alta...” (Crônica 007)
(7) “...o capataz, sem piedade, chicoteou Kangalê POR TER
C
(OPINIÃO
RELATADA) parado de trabalhar.” (Crônica 009)
(8) “...e, POR ESTAR
C
(CAUSA DE FATO PSICOLÓGICO = FATO) com medo, não
tive noção da minha força...” (Crônica 011)
(9) “...carregar a culpa POR TER CAUSADO
C
(CAUSA DE FATO PSICOLÓGICO =
FATO) sua morte é ainda pior.” (Crônica 011)
(10) “CARACAS - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, informou na terça-feira
que demitiu o cônsul venezuelano em Houston POR VIOLAR
C
(OPINIÃO
RELATADA) regras ao abrir novos escritórios. A manobra deve colocar ponto final
em uma polêmica surgida depois de os EUA terem reclamado da atitude do
diplomata.” (Notícia 008)
(11) “O presidente expulsou o embaixador americano da Venezuela em setembro.
Desta vez, Chávez evitou alimentar a tensão, culpando o cônsul POR AGIR
C
(OPINIÃO RELATADA) sem ter recebido autorização formal nem mesmo da
Embaixada da Venezuela em Washington.” (Notícia 008)
COMENTÁRIO:
Temos, neste último caso, um uso especial da preposição, a serviço da
regência do verbo “culpar”: culpar alguém por alguma coisa.
(12) “TAIPEI - O ex-presidente de Taiwan Chen Shui-bian, de 58 anos, foi preso
nesta terça-feira sob denúncias de envolvimento com corrupção, enriquecimento
ilícito e lavagem de dinheiro. Depois de mais de seis horas de depoimento, o ex-
presidente foi detido para evitar, segundo a promotoria, que "conspire com outros
acusados para ocultar provas". Conhecido POR DEFENDER
C
(OPINIÃO
RELATADA) a independência da ilha em relação à China, Chen, que governou
Taiwan de 2000 a 2008, reconheceu em agosto deste ano que enviou ao exterior
milhões de dólares depositados em contas bancárias de parentes. O dinheiro seria
procedente, segundo ele, de doações políticas não declaradas.” (Notícia 009)
84
COMENTÁRIO:
Trata-se de um uso especial da preposição, a serviço da regência do
particípio “conhecido”, com valor de adjetivo: Fulano é conhecido por suas
trapalhadas; A Joana é conhecida por não pagar a gente viva etc.
(13) “Além de Jackson, outras pessoas criticaram Obama POR ABORDAR
C
a
questão dos pais ausentes em muitas famílias negras e pedir aos homens negros
que se envolvam mais com suas famílias.” (Notícia 061)
(14) "Dou graças a Deus por este momento tão belo e agradeço a todos vocês POR
COMPARTILHÁ-LO
C
conosco. Estes são meus filhinhos, meu orgulho, minha razão
de viver, minha luz, minha lua, minhas estrelas", disse Ingrid com a voz embargada
pelo choro.” (Notícia 062)
COMENTÁRIO:
As construções “criticar alguém” e “agradecer alguém” por fazer alguma coisa
têm valor causal. A ressalva é: se não se trata de uma fórmula de regência, é algo
próximo. Para uma fórmula desse tipo ser de regência, é preciso que esteja
devidamente “solidificada” como tal. Logo, temos um caso especial da preposição
por + infinitivo, com razoável grau de “soldamento”.
(15) “O ministro não participou da luta armada, mas foi preso POR PERTENCER
C
ao
Partido Comunista do Brasil, o antigo Partidão, e ATUAR
C
como advogado na
defesa de amigos perseguidos pelo regime. Detido no governo Médici, passou uma
semana nas dependências do DOI-Codi em São Paulo.” (Notícia 092)
como
(1) “As duas sondagens colocam pela primeira vez Serra à frente de Lula já no
primeiro turno. Mas também retratam o fortalecimento do governador paulista
Geraldo Alckmin, que nas duas pesquisas deu um salto de seis pontos. COMO
C
tem
grande potencial de crescimento, por ser
C
pouco conhecido fora de São Paulo, ele
aumentou o cacife na disputa interna tucana.” (Editorial 011)
COMENTÁRIO:
Observamos que o fato de “se ter grande potencial de crescimento” é visto
como um fato. Ou seja, temos uma chamada visão factual particularizante
(OLIVEIRA, 2001b, p. 74). A seguir, o fato de “ser pouco conhecido fora de São
85
Paulo” é uma opinião relatada, que funciona também como fato-causa.
(2) “Graças ao excelente desempenho das exportações brasileiras, a balança
comercial do país tem registrado saldos elevados, gerando um excedente de dólares
que em parte tem sido comprado pelo Banco Central no mercado para reforçar as
reservas cambiais. COMO
C
(FATO-CAUSA) as reservas cambiais já estão em
patamar suficiente para reduzir a percepção de risco da economia brasileira, o
Tesouro Nacional e o Banco Central resolveram agora recomprar títulos da dívida
externa brasileira que venceriam até 2010, numa operação de até US$ 20 bilhões. É
uma decisão acertada, pois
E
além de reduzir a dívida pública externa, pode
contribuir para uma diminuição dos juros no Brasil.” (Editorial 086)
(3) “COMO
C
(FATO-CAUSA) iria pagar na próxima semana, ele anotou no
espelho...” (Crônica 008)
(4) “...COMO
C
(FATO-CAUSA) a “mijada” sempre desce a escada, por falta de
culpado, agasalha-se o mais moderno.” (Crônica 010)
(5) “...COMO
C
(FATO-CAUSA) o ar-condicionado não estava funcionando direito e
as janelas são lacradas, não deu para liberar o cheiro insuportável...” (Crônica 012)
(6) “Hoje é um dia especial para a comunidade da Urca. Armando Gomes (foto) está
completando 92 anos. Para quem não ligou o nome à pessoa, trata-se do seu
Gomes, proprietário do Bar Urca. Cheio de atividade, seu Gomes ainda carrega o
título de comerciante mais antigo da cidade do Rio de Janeiro. Este português
chegou ao Brasil com 2 anos e está há 78 anos à frente de um balcão. Sendo que
desde 1939 no da casa de número 205 da Rua Cândido Gaffrée. Como
C
(FATO-CAUSA) não pára de trabalhar, o comerciente comemorou a sua festa de
aniversário lançando mais um quitute no cardápio do restaurante, a casquinha de
frutos do mar. Com um detalhe: a casquinha é comestível. Parabéns ao seu
Gomes.” (Notícia 035)
(7) “Na época, a unidade era comandada pelo coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra, que no mês passado foi declarado responsável por crimes de tortura pelo juiz
Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível da capital paulista. COMO
C
a sentença
foi apenas declaratória, o militar continua solto.” (Notícia 092)
COMENTÁRIO:
Apesar de ter assumido valor causal, em todas as ocorrências, acreditamos
que se trata de um caso especial: talvez seja explicativo somente com assertivas.
86
* por + sintagma nominal (valor causal)
(1) “A Semana da Crítica é a mais antiga mostra paralela do Festival de Cannes e
tem como vocação descobrir novos talentos. POR ESTE MOTIVO
C
(também foi
encontrada a variante por esse motivo (Notícia 070), seleciona apenas filmes de
estréia ou no máximo as segundas obras de cineastas.” (Notícia 040)
COMENTÁRIO:
Observemos o grau de soldamento dessa expressão (uma outra forma de
exprimir causalidade, um equivalente de por isso), bem como de outras expressões
encontradas nos corpora (por exemplo, na sequência “_ Eu fui fazer teste de
natação e POR ISSO
C
me atrasei.” (Crônica 064), em que a expressão por isso é
antecedida pela conjunção “e” (a razão do baixo grau de soldamento), não nos
permitindo dizer que se trata de locuções conjuntivas.
Sendo assim, insistimos em dizer que, nos casos apresentados (assim como
ocorre com tendo em vista, haja vista...), são expressões de valores específicos de
explicação e de causa, já que as palavras que as constituem conservam sua
independência morfossintática e semântica.
É interessante também não esquecermos que o núcleo do sintagma nominal
por este motivo (equivalente de por isso, um caso fronteiriço entre conjunção e
preposição + pronome) é precisamente a palavra motivo, sinônimo aproximado de
causa, fato que o torna relevante nesta pesquisa.
3.2 A ausência de conectivos causais e explicativos
Uma vez comprovada a correlação entre os modos narrativo e
argumentativo do discurso e a causalidade (lato sensu), uma categoria
fortemente associada à racionalidade, seria natural encontrarmos pelo menos uma
ocorrência de conectivos causais e explicativos em cada texto dos corpora em
análise. Entretanto, verificamos que, em alguns deles, independente do subgênero
em questão, não foi empregado nenhum conectivo pertencente a tais valores
semânticos.
87
Concomitante à ausência desses conectivos, evidenciamos tanto um alto grau
de subjetividade e de maior engajamento (no caso dos editoriais, das
dissertações de vestibular e das crônicas), quanto uma postura de aparente
não engajamento (nas notícias), se compararmos os relatos e as exposições que
constituem os respectivos textos.
Como observam Silva et al (2006), no que concerne aos gêneros textuais dos
corpora maduros:
...a notícia busca, simplesmente, convencer o leitor de que um determinado fato
é verídico e, com isso, a estratégia argumentativa mais usada é aquela tratada
por Charaudeau como lógica (causal). Já o editorial estabelece uma relação de
explicação, pois tem como objetivo central persuadir/seduzir o leitor através da
exposição de idéias (grifo nosso).
Charaudeau (2008, p. 208) comenta, ao relacionar categorias do discurso e
tipos de textos: “...os textos de imprensa – embora seja necessário fazer uma
distinção por gênero – utilizam principalmente o descritivo e o narrativo, vindo o
argumentativo somente em contra-ponto (sic)”. Um pouco antes, ressaltou:
É claro que o sujeito argumentante, apesar da consciência da relatividade da
verdade, continua a fazer o jogo do verdadeiro e da universalidade das explicações,
e isso porque seu engajamento em face dessa verdade depende do olhar de um
outro (op. cit. p. 206).
Acrescenta:
Admitimos que argumentar é uma atividade que inclui numerosos procedimentos,
mas o que distingue esses procedimentos daqueles de outros modos de discurso é
precisamente o fato de que se inscrevem numa finalidade racionalizante e fazem o
jogo do raciocínio que é marcado por uma lógica e um princípio de não contradição.
Os procedimentos de outros modos (Descritivo, Narrativo) se inscrevem numa
finalidade descritiva e mimética das percepções do mundo e das ações humanas
(op. cit. p. 207).
Há gêneros textuais em que o predomínio da objetividade, no caso das
notícias e das crônicas, é esperado, sem esquecer a ideia de que crônica´seja um
gênero objetivo, para alguns, é questionável. Em outros, um discurso mais
subjetivo, como nos editoriais e nas dissertações de vestibular. Mas, quer pelo uso,
quer pela omissão, recursos expressivos da língua, estratégias argumentativas
e construções textuais podem ser notificados, como um retrato do sujeito da
enunciação. Não podemos esquecer que a linguagem é, por natureza, subjetiva.
88
Portanto, arriscamos dizer que essa falta de “conjunções” causais e/ou
explicativas, por exemplo, nas crônicas (076, 079, 086, 088, 097, etc.), nas notícias
(012, 013, 016, 057, 067, etc.), nas dissertações de vestibular (212, 215, 218, 221,
231, etc.) e nos editoriais (015, 018, 039, 042, 071, etc.) tem a ver com a
administração da própria imagem de cada enunciador.
Informamos que tais textos foram anexados, em ordem numérica. Estão
disponíveis no final deste trabalho, em caráter de amostragem, da seguinte forma:
(A) – corpus imaturo Dissertação de Vestibular; (B) – corpus maduro Editorial;
(C) – corpus imaturo Crônica; (D) – corpus maduro Notícia.
89
4 APLICAÇÃO DIDÁTICA
Antunes (2003, p. 96-99), ao falar da abordagem gramatical, destaca que os
“...princípios que fundamentam uma compreensão funcional e discursiva da
gramática têm, também, as suas implicações pedagógicas”. Sugere que levemos
para a sala de aula uma gramática que seja relevante, funcional, contextualizada,
que desperte interesse, que prestigie mais de uma norma e que represente o uso.
Garcia (2003, p.75) também nos alerta para esse fato, uma vez que
A experiência nos ensina que os defeitos mais comuns revelados pelas redações de
colegiais resultam, na maioria das vezes, de uma estruturação inadequada da frase
por incapacidade de estabelecerem as legítimas relações entre as idéias. Quando se
restringem a períodos coordenados, as falhas são menos graves, mas a
coordenação...nem sempre é o processo sintático que mais convém adotar. Mesmo
nas situações simples, temos de recorrer com freqüência ao processo de
subordinação. Ora, é exatamente aí que os principiantes atropelam as palavras e
desfiguram as mútuas relações que elas entre si devem manter.
Por essa razão, sem que anulemos a validade do conhecimento sistêmico da
língua, formulamos esse estudo dos conectivos causais e explicativos,
apresentando nossa contribuição aos trabalhos de todos aqueles que defendem a
reflexão, o domínio e a produção linguístico-discursiva em língua materna.
4.1 A ótica discursiva, a tradição escolar e o livro didático
Geraldi (2002, p. 71) ressalta que “O ensino tradicional de língua portuguesa
investiu, erroneamente, no conhecimento da descrição da língua, supondo que a
partir deste conhecimento cada um de nós melhoraria seu desempenho no uso da
língua”.
Considerando a categorização para os conectivos que somente funcionam
como causais (no sentido restrito), os que têm valor explicativo e aqueles que
podem ser tanto causais quanto explicativos, a princípio, pensaríamos em apenas
estabelecer critérios para diferenciar os que exercem dupla função: pois, porque,
por + infinitivo.
90
Mas, a ênfase de nossa proposta não é de cunho terminológico. Por isso
apresentaremos uma sugestão de abordagem para o estudo dos conectivos
exclusivamente causais, dos exclusivamente explicativos e dos que exercem essa
dupla função. Também serão enumeradas habilidades de produção textual que
podem ser desenvolvidas em termos didáticos, adequando-se aos respectivos
níveis de ensino.
Atualmente, a LDB determina que o Ensino Médio constitui a etapa final da
Educação Básica...Propõe-se,...formação geral, em oposição à formação específica;
o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e
selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular idéias, em vez do simples
exercício de memorização. Com relação à disciplina “Língua Portuguesa” algumas
considerações específicas devem ser realizadas. O estudo da língua materna
aponta para uma reflexão sobre o seu uso na vida e na sociedade. Cabe, então, à
escola promover a ampliação progressiva do conhecimento trazido pelo educando, a
fim de que este se torne capaz de interpretar os diferentes textos que circulam
socialmente, de assumir a palavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes
orais e escritos – nas mais variadas situações...Daí, as práticas lingüísticas devem
partir da competência, do desempenho dos alunos até aquele momento para permitir
a conquista de novas habilidades – particularmente daquelas associadas aos
padrões da escrita –, sempre considerando que a razão de ser das propostas de uso
da fala e da escrita é a interlocução efetiva...Sendo a finalidade da escola levar o
falante a interagir através da linguagem – o que significa realizar uma atividade
discursiva –, é imprescindível que ele tenha consciência de que, na troca verbal, diz-
se algo a alguém, de uma determinada forma, em um determinado contexto histórico
e em determinadas circunstâncias de interlocução. Assim, um discurso manifesta-se
lingüisticamente por meio de textos, que, por sua vez, pertencem a categorias, a
gêneros do discurso, cuja produção vincula-se às intenções comunicativas, gerando
usos sociais que os determinam...Devemos, inclusive, ter em mente que, em relação
a textos escritos, a escola constitui, para muitos alunos, o único lugar onde a eles os
educandos têm acesso, Por isso, as atividades escolares devem oferecer-lhes uma
rica convivência com a diversidade de textos que caracterizam as práticas sociais,
privilegiando gêneros que aparecem com maior freqüência na realidade social e no
universo escolar. Enfim, o ensino de Língua Portuguesa deve visar a um saber
lingüístico amplo, tendo a comunicação como base das ações (GAVAZZI &
EDUARDO, 2005a, p. 83-85).
Antunes, tratando de questões gramaticais de relevância não só para a
compreensão do funcionamento da língua em textos, mas também para a produção
deles, menciona a importância de palavras e expressões relacionais:
...marcam o encadeamento entre partes do texto, sejam orações, períodos,
parágrafos, que expressam algum tipo de relação semântica entre essas partes de
texto. Tais relações podem ser de causa, de tempo, de condição, de oposição, de
adição, entre outras, e vão sinalizando a direção que se pretende dar para o que de
diz. O reconhecimento dessas relações e de sua função (lógica, argumentativa,
discursiva) no texto constitui um saber da mais alta relevância para administrar as
possibilidades de organização do texto. São elementos sinalizadores – pistas – para
irmos encontrando a direção argumentativa, inclusive do texto. Esse saber seria bem
mais útil que, simplesmente, saber dizer se a conjunção é coordenativa ou
subordinativa... (op. cit., p. 133).
91
Travaglia, com base na proposta garciana de sempre partirmos “...da noção
para a expressão, e não em sentido inverso... (GARCIA, 2003, p. 75)”, sugere-nos
que
...por exemplo, pode-se promover o estudo dos recursos disponíveis na língua para
expressar: quantidade..., tempo, comparação, ordem, desejo,
justificativa/explicação e causalidade no sentido restrito (acréscimo nosso), a
relação causa-conseqüência, oposição (contrajunção), disjunção (alternância),
conjunção (adição), intensidade, ênfase, modalidades (certeza, ordem,
possibilidade, obrigação, dúvida, necessidade, volição etc.), expressão de
informação nova e informação velha (dada)... grifo nosso)...Também aqui cada
tópico pode ser abordado por meio de atividades de “gramática de uso”, “gramática
reflexiva”, “gramática teórica” e “gramática normativa”; todavia, como o que está em
jogo é a instrução de sentido, nossa sugestão é que as atividades sejam sobretudo
de gramática reflexiva, com alguns elementos de normativa, quando for o caso e de
gramática de uso. (TRAVAGLIA, 2003, p. 96-97).
Segundo Dias (in DIONÍSIO & BEZERRA, 2003, P. 126), convivemos
atualmente com
duas tendências no tratamento das classes gramaticais em livros didáticos. Alguns
livros, de linha mais conservadora, especificam a temática das classes de palavras,
mesmo que associada a estudo de um texto. Outros, de linha inovadora, não
especificam os tópicos relativos às classes gramaticais. Nestes, a gramática só
aparece nos exercícios, muitas vezes sem mesmo a informação de que naquele
momento uma palavra está sendo abordada no seu aspecto gramatical.
Em se tratando dessas duas tendências, veremos, a seguir, em linhas gerais,
uma exposição acerca de como têm sido abordados didaticamente os conectivos
causais e os explicativos.
4.1.1 Como os livros didáticos lidam com as noções de causalidade e de explicação
Conforme registram Oliveira & Monnerat (2005, p. 90),
Na análise das conjunções, tem sido prática pedagógica constante o estudo desses
conectivos em listas, por ordem alfabética, o que, na verdade, leva à simples
“decoreba”, sem que sejam focalizados os traços lingüisticamente relevantes no
estudo dessas formas lingüísticas. Assim, separam-se as orações em coordenadas
e subordinadas, sendo que as coordenadas sindéticas e as subordinadas adverbiais
são nomeadas e acordo com a conjunção que as encabeça. Esse tipo de trabalho
tem sido criticado, recentemente, por professores e lingüistas preocupados com um
ensino mais produtivo de língua materna, capaz de formar competentes alunos-
produtores de textos. Em outras palavras, alunos que, nessa situação específica,
possam refletir sobre as possibilidades semântico-discursivas das marcas
lingüísticas que deverão utilizar. Os parâmetros Curriculares Nacionais também
apontam para um estudo de língua mais afinado com os pressupostos da Análise do
Discurso e da Lingüística Textual, quando, por exemplo, no tópico “Prática de
análise lingüística”, se referem à “análise de marcas lingüísticas específicas”,
92
características, muitas vezes, de determinados gêneros textuais, dentre os quais são
destacados os marcadores temporais, os operadores lógicos, os operadores
argumentativos etc.
Ratificamos, quase na totalidade dos livros didáticos analisados, uma
abordagem ainda bastante tradicional quanto às noções de causalidade e de
explicação, começando pelo fato de que tais conceitos até se confundem. No caso
do primeiro, geralmente é enfocado no sentido amplo; o segundo, tomado como
sinônimo perfeito do primeiro (causa / motivo / razão).
Destacamos também que a exposição teórica e as atividades propostas
geralmente supervalorizam terminologias e classificações sintáticas. Até se intitulam
“Gramática no texto”, “Gramática textual”, “A língua em foco”, “Construindo o
conceito”, “As orações coordenadas na construção do texto”, “As orações
subordinadas na construção do texto”, “Semântica e discurso”, “A conjunção na
construção do texto”, etc. Mas, o que vemos é, além dos equívocos e das
imprecisões conceituais, a repetição de uma prática linguística que prima pelo
reconhecimento e pela memorização de terminologias. Pois
...há que se observar que o título de “gramática textual” não condiz com o tipo de
atividade proposta nos exercícios, que, como vimos, está toda fundamentada numa
gramática de frase. Um título como esse pode seduzir pela novidade que aponta:
uma integração entre texto e gramática. Mas isso não se efetiva. Defendemos a
posição segundo a qual cabe ao livro didático até ir além da própria gramática
tradicional para oferecer ao aluno uma visão ampla do fenômeno gramatical.
Certamente conceitos como referência e designação, empregados no estudo do
substantivo, alcançariam um maior nível de abstração e aprofundamento num livro
de lingüística. Além disso, eles adquirem aspectos específicos em diferentes teorias
semânticas. Mas acreditamos que há um nível de exploração da gramática
adequado para levarmos ao aluno do nível de ensino fundamental e médio
acréscimo nosso (DIAS, in DIONÍSIO & BEZERRA, 2003, p. 135).
Por causa disso, na introdução desta pesquisa, sugerimos que, para o ensino
produtivo das noções de causalidade e de explicação e suas relações com os
modos narrativo e argumentativo de organização do discurso, promovamos a
construção de alguns conceitos correlatos, por exemplo, os que aparecem
negritados no corpo deste trabalho.
Em alguns poucos livros didáticos encontramos a correlação das conjunções
com a produção de texto, com a articulação das ideias, de modo que o estudo dos
conectivos esteja a serviço da construção da coerência e da coesão textual.
93
Todavia, ainda muito preso ao nível oracional: “As conjunções são responsáveis por
relações entre as orações: de tempo (quando), causa (porque), inclusão
(mas...também), in TERRA & CAVALLETE, 2006, p. 139, 8º ano.
Destacamos a apresentação da conjunção porque meramente como causal
(no sentido amplo), não só na obra supramencionada. Também aparece assim
abordada em: AMARAL, 2005; CEREJA & MAGALHÃES, 1998a, 1998b; TERRA &
CAVALLETE, 2005; MESQUITA, 2007; CARVALHO, 2006; FERREIRA, 2007;
PASCHOALIN & SPADOTO, 2008; PASQUALE, 2008; etc. A questão é que
também figura como tradutora de explicação, quase sempre não se definindo o
contexto para distingui-la entre um emprego e outro.
Dentre as “incoerências”: os conectivos que, já que, visto que e uma vez que
sempre citados como causais; o pois, nunca causal; a indicação de uso da
conjunção pois que / posto que como causais; etc.
Isso não significa que não tenhamos encontrado enfoques interessantes, e por
que não dizer produtivos, funcionais: a correlação entre textos narrativos e as
conjunções que expressam tempo, finalidade, causa, consequência; a correlação
entre textos argumentativos, chamados dissertativos, e as conjunções por meio das
quais expressamos contraste e oposição; a correlação entre as conjunções
coordenadas sindéticas e os textos narrativos e dissertativos: as aditivas, com
predomínio no modo narrativo de organização do discurso, e as adversativas,
conclusivas, alternativas e explicativas, com predomínio no modo argumentativo; a
correlação entre as conjunções subordinadas adverbiais e os textos narrativos e
dissertativos: principalmente as tradutoras de tempo, causa, consequência e as
demais, que funcionam como operadores lógicos e argumentativos; alerta (sem
desconsiderar as atividades de memorização) para o fato de que mais importante
do que saber classificar uma oração de acordo com o valor semântico da conjunção
por que é introduzida, quer coordenada quer subordinada, é perceber o seu sentido
lógico, enunciativo, discursivo, argumentativo, pragmático, ideológico, etc.; a
proposta de desenvolvimento de habilidades de leitura (com repercussão na escrita)
e suas operações: justificação e conclusão, explicação e demonstração, etc.
Juntamente com Travaglia,
Parece que todos estão de acordo com a proposição de que o objetivo maior do
ensino de Língua Portuguesa, como língua materna, no Ensino Médio e
94
Fundamental, é a formação de usuários competentes da língua, capazes de, em
situações específicas de interação comunicativa, produzir textos (orais e/ou escritos)
que sejam adequados à produção de determinados efeitos de sentido para a
consecução de dada intenção/objetivo específico de comunicação; e, ao mesmo
tempo, capazes de compreender textos...que recebem, estabelecendo/percebendo
sentido(s) adequado(s) à forma como cada texto se apresenta construído, ao
contexto sócio-histórico-ideológico e à situação imediata de comunicação em que
ele está sendo utilizado como meio ou instrumento para a comunicação
(TRAVAGLIA, 2003, p. 96-97).
Vários estudiosos da língua merecem destaque por suas contribuições ao
estudo de conectivos, assuntos afins e o ensino produtivo de português: Garcia
(2003), Koch (1992), Travaglia (1996, 2003), Guimarães (1987), Ilari (1985),
Antunes (2003, 2007), Clemente & Kirst (1992), Fávero (1992), Oliveira (2001b,
1996), Oliveira & Monnerat (2005b), Oliveira et. al. (2001a), Silva et. al. (2006), etc.
Quanto à relação estabelecida entre os conectivos e a prática da produção de
textos, ressaltamos as reflexões e propostas de cunho didático dos seguintes
autores: Garcia (2003), Abreu (2001, principalmente o capítulo Articulação sintática
do texto – Uso dos operadores argumentativos), Koch (1992), Val (1999), Oliveira
(1996, 2001b), Oliveira et. al. (2001a) e Oliveira & Monnerat (2005b).
São muitas as iniciativas ou propostas que visam à dimensão semântica,
textual ou discursiva. Como Mendonça (in DIONÍSIO & BEZERRA, 2003, p.126),
Acreditamos que, tomando-se a língua como discurso, os recursos gramaticais
assumem a função de elementos que contribuem para o estabelecimento das
relações de sentido em um texto a partir das intenções de falantes situados em
determinado contexto social. Assim, a sistematização de aspectos gramaticais por
meio da reflexão metalingüística adquire um valor essencial: contribuir para a
percepção do modo como os elementos lingüísticos são selecionados e combinados
no processo de textualização (seja na leitura, seja na produção). Isso significa situar
os tópicos gramaticais na perspectiva não só formal ou normativa, mas semântico-
pragmática do funcionamento textual.
4.2 Uso inadequado de conectivos em redações
No clássico sobre produção textual, Comunicação em prosa moderna: aprenda
a escrever, aprendendo a pensar., Garcia (2003, 301 seq.) afirma que escrever com
eficácia só será possível com o exercício do raciocínio, do espírito de observação
dos fatos e do aprender a pensar. Assim, em termos lógicos, faz-se necessário:
1. validarmos nossas declarações; 2. apresentarmos inferências plausíveis e
comprováveis; 3. raciocinar de forma tanto indutiva quanto dedutiva. Mas,
95
Nas aulas de Língua Portuguesa, muitas vezes, ao corrigirmos os textos dos alunos,
percebemos que, eles confundem “causa” e “conseqüência” (relação semântica
aparentemente simples) pelo fato de essa relação poder ser veiculada através de
diferentes tipos de estruturas lingüísticas e de poder vir introduzida por uma grande
variedade de conjunções...O estudo de conectivos, segundo essa perspectiva
(semântico-discursiva), sobre ser mais operacional, contribui, também...para uma
prática linguística mais produtiva, por ser mais reflexiva, levando os alunos a
perceberem, efetivamente, a razão de suas escolhas nos textos produzidos
(OLIVEIRA & MONNERAT, 2005, p. 92, 97).
Carone (2001, p. 74), ao tratar das confusões entre a causalidade (sentido
restrito) e a explicação implicando uso indevido em redações, exatamente por
causa desse cruzamento, cita o caso do pois que, assim como outras conjunções,
está “...migrando de uma área semântica, como acontece com o posto que
(acréscimo nosso) para outra, em sentido inverso”. E acrescenta:
A conjunção pois, que se define, em todas as provas lembradas por Vogt..., como
nitidamente explicativa, é muitas vezes usada como causal... Que fazer? “Corrigir” o
texto? Não. Aceitar simplesmente um fato da língua, cuja força maior que a nossa:
migração das conjunções, que um dia poderá completar-se, admitindo até a inversão
da ordem das orações. O que importa é não perder de vista o arranjo dos pares
functivos e a nova carga lógico-semântica que as conjunções vão assumindo no
campo que invadem. A concessiva posto que não está sendo usada como causal? E
não é verdade que porém, tão fortemente adversativa, um dia já foi causal na
vida?
10
Visão vogtiniana à parte, ficamos com a ótica discursiva de Oliveira,
começando pelo critério básico de distinção entre pois que é explicativo ou causal,
do que é conclusivo:
A conjunção pois é conclusiva quando vem no meio ou no final da oração, contexto
em que significa “portanto”. No início da oração, significa “porque” e é explicativa ou
causal. Exemplo: O André não toca nenhum instrumento; a única atividade possível
para ele na banda é, pois
, tocar tambor. = “...a única atividade possível para ele na
banda é, portanto
, tocar tambor”. A única atividade possível para o André na banda
é tocar tambor, pois
ele não toca nenhum instrumento. = “...porque ele não toca
nenhum instrumento”...Na argumentação...as conjunções explicativas introduzem
argumentos e as conclusivas introduzem teses. Por isso podemos reescrever “O
André não toca nenhum instrumento, portanto
a única atividade possível para ele é
tocar tambor” comoA única atividade possível para o André é tocar tambor, porque
ele não toca nenhum instrumento”, ou seja, a seqüência “TESE porque
ARGUMENTO” pode ser parafraseada, como vimos, como “ARGUMENTO portanto
TESE”, entendendo-se que porque e portanto nessas fórmulas representam
respectivamente as conjunções explicativos (sic) e conclusivas em geral (OLIVEIRA,
2001b, p. 78).
10
Fato que se assemelha a cruzamentos semântico-argumentativos que ocorreram, por exemplo, com o mas, cf.
artigo De “magis” a mas: uma hipótese semântica (Vogt, 1980, p. 103-128) que, por ter relação com mais
,
compara; por se relacionar com o só
, restringe, seguindo outro destino, de acordo com anotações oliveirianas:
“O cabrito mais
a onça”.
96
Vimos que há uma evidente relação das noções de causalidade e de
explicação associadas à narração e à argumentação, respectivamente. Portanto,
ao serem apresentados os aspectos referentes a essas composições, julgamos
necessário enfatizar a diversidade no uso de elementos linguístico-discursivos para
a constituição de estruturas causais e explicativas. Principalmente porque devemos
sempre buscar uma produção textual de qualidade e elegância. Dessa forma, não
apenas seriam observados aspectos estruturais, mas também temáticos,
estilísticos, discursivos, situacionais. Não podemos esquecer aqueles relacionados
com a textualidade: coerência, coesão, não contradição, adequação vocabular,
progressão textual, concisão e clareza.
Existem muitas outras orientações (para alguns autores, conselhos) a fim de
que alcancemos um certo nível de produção. Por exemplo, evitar: o emprego
excessivo do que, o chamado queísmo; a repetição indevida de palavras; a
repetição de palavras com as mesmas terminações muito próximas umas das
outras, produzindo o chamado eco, a dupla adversativa, etc.
Quanto aos modos de organização do discurso em evidência neste trabalho, o
narrativo e o argumentativo, a orientação dos PCN para o ensino de produção de
texto e as tendências presentes no livro didático de português, destacamos alguns
aspectos. Primeiramente, que o rompimento da tendência que associava o domínio
de regras gramaticais à proficiência na escrita foi positivo em parte, haja vista que
nem sempre “escrever corretamente significa escrever bem”. Todavia, acreditamos
que a gramática sustenta o texto.
... não estamos propondo um “nunca mais” à gramática, mas um estudo amplo e
variado, adequado ao propósito imediato que se tem em mente, a competência
comunicativa do aluno, isto é, a sua capacidade de usar cada vez mais recursos da
língua de forma adequada a cada situação de interação comunicativa, realizando-se,
então, a chamada “educação linguística”... (OLIVEIRA & MONNERAT, op. cit.,
p. 100).
Em relação à abordagem redacional encontrada nos livros didáticos que
tomamos como referência, observamos que, em geral e dentre outras coisas,
adotam a tipologia de base clássica
...da narração, descrição, e argumentação, que, dentro do panorama das discussões
atuais sobre tipologias de textos, representam simples características estruturais de
seqüências textuais que podem figurar nos diversos gêneros de texto. Essa
97
apresentação das seqüências como se fossem gêneros é responsável pelo
surgimento de um gênero específico, de existência restrita ao âmbito da escola – a
redação escolar –, desvinculada, portanto, das práticas sociais de linguagem. A
orientação consta basicamente dos temas presentes nos textos das unidades e da
explicitação das características lingüísticas das seqüências presentes em
fragmentos de textos. As instruções introduzem e conceituam, gradativamente, as
diferentes estruturas textuais e os elementos que as integram. Com efeito, narração,
descrição, diálogo e dissertação/argumentação ocupam grande parte das atividades
de produção... (REINALDO, in DIONÍSIO & BEZERRA, op. cit., p. 97).
Oliveira, ratificando o trinômio da tradição escolar, explicita que, enquanto o
narrativo significa sequência de fatos,
O termo dissertação tem para o professor de Português o significado de “seqüência
de opiniões”. Para os professores das demais disciplinas, dissertar sobre um item do
conteúdo programático é discorrer sobre ele. Numa prova, por exemplo, “questão
dissertativa” é aquela em que se espera do estudante que produza um pequeno
texto. Isso levou alguns autores a falar em dois tipos de dissertação, a
argumentativa e a expositiva, o que elevaria para quatro os tipos textuais...
(OLIVEIRA, op. cit., p. 33).
Como registra Charaudeau, sobre a prática do modo narrativo,
Por um lado, este modo é objeto, sob diversas formas, de numerosos estudos
teóricos, desde as antigas correntes da crítica literária até as correntes modernas da
semiótica da narrativa. Por outro lado, uma longa tradição escolar, que persiste na
didática moderna, fez dele seu principal objeto de ensino...trata esse objeto
essencialmente de três maneiras: a) por uma prática de exercícios que consiste
em redigir, sob forma escrita e numa situação de comunicação não autêntica, um
texto que é concebido para descrever ou contar acontecimentos... b) por uma
classificação de textos ditos narrativos, tomada de empréstimo aos gêneros da
história literária, gêneros que, como se sabe, se apóiam em critérios de ordens
diferentes (tanto de forma quanto de conteúdo) ...c) por uma pedagogia da
explicação de texto que constrói um discurso argumentativo sobre uma narrativa
literária (ou qualquer outra forma literária), discurso para o qual se exigem
qualidades de estilo (quase literárias). Além do mais, essa explicação deve tratar, ao
mesmo tempo, da forma e do conteúdo. Há aí uma mistura de tipos de atividades
discursivas, em virtude da situação particular do exercício, pois este não faz
diferença entre categorias de língua, categorias de discurso e situação de
comunicação (CHARAUDEAU, 2008, p. 151-152).
Acerca da produção de cunho argumentativo, Charaudeau ressalta que
A tradição escolar nunca esteve muito à vontade com essa atividade da linguagem
(a argumentação), em contraste com o forte desenvolvimento do Narrativo e do
Descritivo. Se as instruções oficiais recomendam que se desenvolvam as
capacidades de raciocínio dos alunos, nada é dito sobre o modo de se chegar a isso
(op. cit., p. 201).
Um último aspecto gostaríamos de destacar: o fato de Garcia ser o precursor
da proposta de cumprimento de etapas para a elaboração textual, o que geralmente
não aparece na visão processual de escrita que predomina na maioria dos livros
didáticos. Segundo ele, é necessário que o aluno/falante comece
98
...por fazer, mais ou menos a esmo, uma lista das ideias que lhe forem ocorrendo. É
o estágio preliminar da análise ou divisão. Em seguida, procure arrumar essas ideias
em ordem adequada, de acordo com as afinidades comuns, pondo no mesmo grupo
as que se coordenam, e subordinando-as a um termo de sentido mais amplo... No
decorrer da redação do texto e como consequência de imprevistas associações de
ideias, podem impor-se novas alterações nesse plano primitivo, plano rascunho ou
plano provisório, que, servindo, preliminarmente, apenas ao autor, não deve ser
considerado como um leito de Procusto, como um molde rígido, mas sim como um
roteiro maleável, remanipulável, sujeito a acomodações e reajustamentos ao texto...
É certo que a elaboração do plano...toma algum tempo; mas não é tempo perdido...
(GARCIA, 2003, p. 363 seq.).
Não podemos esquecer também sua preocupação com os gêneros não
literários, chamados por ele de “técnicos”, e a distinção entre dissertar e
argumentar:
Nossos compêndios e manuais de língua portuguesa não costumam distinguir a
dissertação da argumentação, considerando esta apenas “momentos” daquela. No
entanto, uma e outra têm características próprias. Se a primeira tem com propósito
principal expor ou explanar, explicar ou interpretar idéias, a segunda visa sobretudo
a convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte. Na dissertação,
expressamos o que sabemos ou acreditamos saber a respeito de determinado
assunto; externamos nossa opinião sobre o que é ou nos parece ser. Na
argumentação, além disso, procuramos principalmente formar a opinião do leitor ou
ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é que
estamos de posse da verdade. Na dissertação podemos expor, sem combater idéias
de que discordamos ou que nos são indiferentes (GARCIA, op. cit., p. 380).
Ainda com Garcia, encerramos este item com ele próprio demonstrando para
nós de que forma o ensino dos conectivos contribuirá cada vez mais para que
diminuam, senão acabem, as impropriedades relacionadas à falta de domínio no
emprego adequado das conjunções, e de suas circunstâncias e relações, na
produção textual de nossos alunos.
Portanto, em vez de “mandar” o estudante descobrir e classificar, num período,
termos e orações..., deveríamos rumar em sentido contrário: das ideias que se têm
em mente para os termos e orações capazes de traduzi-las. Por exemplo: em lugar
de pedir ao aluno que classifique uma oração causal apontada num texto, seria mais
rendoso sugerir-lhe que traduzisse a ideia de causa em estruturas sintáticas
equivalentes, que não precisariam ser obrigatoriamente apenas orações
subordinadas. Mas, para isso, torna-se indispensável, antes de mais nada, definir ou
conceituar claramente o que é causa, o que é motivo, o que é explicação, depois dar
o vocabulário...e os padrões com que indicar a mesma circunstância. Em seguida,
por associação natural das ideias, surgirá oportunidade de mostrar a relação entre
causa e consequência, e os moldes frasais adequados à sua expressão... O método
é assim, como que irradiante nas suas implicações: de um centro de interesse
(causa, por exemplo) se passa a outro... Esse critério justificaria, por exemplo, que
se incluíssem num capítulo sobre expressão das circunstâncias informações que, de
outro modo, lhe seriam estranhas, como é o caso de breves noções sobre raciocínio
dedutivo... Através desse processo de exposição, o estudante não sente que esteja
fazendo análise sintática (e, de fato, não está), mas se vai servindo dela,
suavemente, sem nomenclatura complicada, para assimilar as principais formas de
99
expressão capazes de traduzir a mesma ideia que tenha em mente (GARCIA,
op. cit., p. 75-76).
4.3 Atividades didáticas para um ensino produtivo
Deve haver sempre um paralelo entre a tradição gramatical e uma prática que
se denomina “produtiva”, principalmente por causa de sua abordagem funcional,
com a gramática a serviço, dentre outras coisas, da produção de textos. Pois, acima
de tudo, precisamos “...considerar a língua como um instrumento de comunicação,
de socialização e de desenvolvimento da capacidade argumentativa do
aluno/falante (acréscimo nosso), cujo saber decorre de suas necessidades de
dimensão individual e social” (SILVA et al, 2006).
A modalidade escrita da língua deve ser praticada sob o enfoque de uma
metodologia de ensino produtivo, oportunizando tanto o reconhecimento de outras
formas de expressão do pensamento quanto a aquisição de novos hábitos
linguísticos.
A seguir, algumas estratégias que poderão ser transformadas em atividades,
sem visar à mera identificação de palavras e expressões que traduzem as ideias de
causa e explicação. Antes, que se desenvolvam habilidades e competências de
produção de textos, incentivando-se o chamado saber textual.
11
Por exemplo,
atividades como as propostas por Oliveira & Monnerat (2005, p. 98):
A respeito da relação tese-argumento, podemos propor...exercícios com frases sem
a conjunção, para o aluno preencher as lacunas com uma conclusiva ou uma
explicativa, identificando a tese e o argumento; reescritura de frases, em que ele
tenha de substituir a construção TESE porque (e sinônimos) ARGUMENTO por
ARGUMENTO portanto (e sinônimos) TESE e vice-versa; identificação, em textos,
de teses e argumentos de extensão maior, que não se limitem a nível da frase,
subentendendo entre esses constituintes textuais conjunções explicativas ou
conclusivas, conforme o caso.
Conforme dissemos anteriormente, pretendíamos sugerir alguns critérios de
abordagem semântico-discursiva, como forma de contribuir com o ensino produtivo
das conjunções explicativas e causais, segundo o resultado a que chegamos. Isto é:
a existência daquelas que sempre assumirão valor semântico de explicação ou de
11
Segundo Azeredo, 2002, p. 41, aquele “relativo ao domínio dos procedimentos de construção dos
textos”.
100
causa, e outras que traduzirão tanto um quanto o outro sentido, por isso
reconhecidas como tradutoras de dupla função.
Começando a falar sobre as conjunções e expressões exclusivamente
explicativas ou exclusivamente causais, supomos que a “mera” classificação do
respectivo valor semântico nada acrescentaria à análise. O aluno já teria a
informação de que se trata de um conectivo de valor causal (como, por exemplo),
de valor explicativo (já que, uma vez que, visto que...) ou de dupla função (pois,
porque, por + infinitivo).
Sendo assim, pensamos em como promover a aquisição de novas habilidades
a partir desse conhecimento. Primeiramente, valendo para todos os casos, teríamos
de estabelecer no enunciado se a relação tese-argumento implica opinião ou
fato-causa. Em segundo lugar, inclusive para os que exercem dupla função, se o
fato expresso traduz uma relação lógica de causa e efeito ou, se apresenta uma
relação discursiva ou argumentativa.
Somente para os explicativos e os bifuncionais: se o conectivo introduz uma
assertiva, uma justificativa (ordem, pedido, pergunta, convite, exclamação, desejo,
espanto, opinião, etc.), um argumento relatado ou, uma justificativa de ação; se o
argumento apresentado é consensual ou não consensual; se a opinião possui
conotação afetiva ou não; se o argumento representa algum grau de
escalaridade ou não, etc.
Para os causais e os bifuncionais: se existe uma causa para o fato, e, se ela é
física, psicológica, etc.; se a opinião relatada implica uma relação de
causa-consequência; se a opinião relatada funciona também como fato-causa, etc.
A questão que consideramos crucial foi o estabelecimento da fronteira entre
uma “justificativa de ação” e uma “causa propriamente dita”. O princípio geral a ser
considerado é: se o enunciador teve a intenção de se justificar, se o ato de fala
praticado é uma justificativa, sem dúvidas, teremos uma conjunção que introduz
uma justificativa de ação. Mas, se o ato de fala praticado foi o de meramente
narrar ou relatar um fato, trata-se de um conectivo introdutor de causa.
101
4.3.1 Desenvolvendo habilidades para a produção de textos
Como sabemos, a tendência atual é avaliar habilidades e competências de
forma que se promova não apenas a retenção de conceitos, definições,
terminologias, informações. Antes, que o aluno/falante reconstrua todo o
conhecimento adquirido.
Nossa intenção com esta pesquisa é também contribuir para um ensino
produtivo, de forma que promovamos o desenvolvimento de competências e
habilidades de compreensão e, principalmente, de produção de textos. Assim, como
afirma Koch (1992, p. 97-98), os alunos se conscientizarão, entre outras coisas,
...do modo de funcionamento dos conectores interfrásticos, tornando-se aptos a
utilizarem-nos adequadamente nos textos que produzem e a detectarem as relações
estabelecidas por intermédio deles, nos textos que lêem, permitindo-lhes depreender
o seu sentido global. Este será, sem dúvida, um passo importante no
desenvolvimento da capacidade textual dos alunos, em língua materna.
Buscamos, finalmente, oferecer elementos para que se descubram novas
formas de ver o ensino da língua, neste caso, a abordagem dos conectivos causais
e dos explicativos. Além disso, promover uma relação direta entre o reconhecimento
deles e a prática dos respectivos modos de organização do discurso em que
predominam (narrativo e argumentativo). Por essa razão, apenas elencamos
algumas estratégias a partir das quais será possível praticar princípios teóricos
relacionados às noções de causalidade e explicação. São elas:
a) Identificação, na estrutura textual, das relações de fato (enunciado de fato),
causa, explicação, consequência, opinião, argumento, tese, etc.
b) Reconstrução textual, obedecendo à sequência lógica de informações.
c) Reorganização textual, com base na sequência lógica dos fatos, em mais de
um universo de discurso.
d) Transformação de tese em argumento, e vice-versa.
e) Leitura, análise estrutural e elaboração de gêneros textuais de cunho
argumentativo: artigo de opinião (carta do leitor), editorial, etc., e de gêneros
102
textuais de cunho narrativo: notícia, crônica narrativa, crônica argumentativa, etc.
f) Reelaboração de editoriais, com baixo índice de argumentatividade, e de
notícias, com alto nível discursivo de engajamento.
g) Reconhecimento da relação existente entre o emprego de conectivos
causais e explicativos e a pontuação.
h) Reconhecimento da função coesivo-enunciativa dos elementos de ligação,
principalmente daqueles que expressam causa e explicação.
i) Reconhecimento das correlações entre: causa e explicação e os modos
narrativo e argumentativo de organização do discurso; modos narrativo e
argumentativo de organização do discurso e os gêneros textuais (crônica/notícia,
dissertação escolar/editorial, etc.); os modos narrativo e argumentativo de
organização do discurso e os tempos e modos verbais; a intencionalidade
comunicativa/discursiva e a narratividade/argumentatividade; os princípios da
produtividade, gramaticalidade e exemplaridade e os conectivos causais e
explicativos.
j) Reconhecimento da diversidade de natureza sintático-semântica dos
conectivos que expressam causa e explicação.
k) Elaboração de estruturas sintáticas paralelas, com a manutenção do sentido
original do texto.
l) Reelaboração de estruturas sintáticas, alterando-se: o sentido original, o
enfoque enunciativo-discursivo.
m) Identificação de análises textuais que (não) exemplificam uma tese
defendida.
n) Identificação de opiniões e argumentos que (não) fundamentam uma tese
defendida.
o) Identificação de causas/consequências que (não) correspondem ao fato
enunciado.
p) Inversão (a)gramatical de construções causais e explicativas.
q) Identificação das inserções de outros modos de organização do discurso
103
(o narrativo e o descritivo, por exemplo) naquele que estiver em estudo (o
argumentativo, por exemplo).
Como lidarmos com aspectos gramaticais determinará a aquisição e/ou o
desenvolvimento de habilidades linguístico-textuais com que demonstremos
competências de naturezas distintas, relacionadas ao uso e (re)conhecimento da
língua[gem].
Um último registro, feito num primeiro momento em que propusemos uma
abordagem de estudo dos conectivos relacionada à produção textual:
Ao se observarem mecanismos sintático-semântico-pragmáticos, serão criadas
alternativas de estruturas frasais para um mesmo conteúdo, o que não deixaria de
ser uma prática sintática, porém, não tão tradicional, e, ao que parece, mais
produtiva, principalmente para o desenvolvimento das atividades de leitura e
produção de textos. [...] A prática sintática deve ir além de terminologias para que
haja significação e se ofereçam ao aluno/falante mecanismos para uma verdadeira
apreensão de sentidos, através de reflexões, análises e elaboração de novas
estruturas (MAGALHÃES, 2005, p. 130).
104
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a utilização dos recursos tecnológico e matemático-estatístico, tornou-se
possível comprovar impressões de nossa intuição linguística, como usuários da
língua, professores e pesquisadores.
A coleta de dados e a aplicação linguística dos resultados obtidos através do
uso do aplicativo Simple Concordance Program e do Coeficiente de Correlação
Linear de Pearson mostram que podemos desenvolver práticas linguísticas em
novos códigos e suas tecnologias.
Vale salientar que, com base nos dados quantitativos, não visávamos
meramente apresentar um levantamento de conjunções em seus respectivos
gêneros e modos de organização textuais, mas, e principalmente, subsidiar essa
reflexão acerca do ensino de Língua Portuguesa.
Ao estimular a elaboração de novas abordagens sobre aspectos linguístico-
-gramaticais, considerando os vários exemplos já existentes, favorecemos a
reconstrução do conhecimento e dos sentidos expressos, a partir dos elementos
verbais. Para tal, ressaltamos a necessidade de uma aplicação adaptada de
estudos semântico-discursivos aos níveis de ensino médio e fundamental, a fim de
que realmente promovamos o desenvolvimento de habilidades e competências de
produção de textos.
O ensino dos conectivos causais e explicativos apenas deixará de ser limitado
ao nível da frase, estendendo-se para o nível discursivo. Também será
desenvolvida a admissão de outras possibilidades de expressão das noções de
causalidade e de explicação, o que se efetivará não só com as conjunções
explicativas e causais que a tradição escolar vem difundindo, mas também com
outras palavras e expressões por meio das quais isso se torna possível.
Acreditamos que a tradição descritiva da língua não deve ser mais a âncora
dos estudos da modalidade escrita em língua materna, relembrando também a
necessidade de revisão, principalmente de alguns tópicos abordados na gramática
105
normativo-descritiva. Por exemplo, o caso da noção de causalidade, tratada em
sentido amplo e, no da explicação, como sinônimo de causa, motivo, razão, sem
que isso signifique abandono da tradição escolar. Para nós, toda a terminologia
tradicional apresentada pela gramática normativo-descritiva pode e deve ser
aproveitada, mas, sempre como meio, e não, como fim em si mesma.
O ensino gramatical se constitui um desafio de como trabalhar conteúdos, de
forma integral e, acima de tudo, produtiva. Sendo assim, as capacidades a serem
desenvolvidas devem ir além dos conteúdos pragmáticos, importando as noções
que tenham aplicação prática, isto é, que sejam funcionais. Lembramos que a
modalidade linguística presente na mídia impressa, em geral, se constitui um
oportuno objeto de investigação, assim como a própria produção escolar.
Este foi mais um momento de reflexão intradisciplinar sobre gramática e
escrita, com a apresentação de uma proposta de análise da teoria de produção
textual pela chamada “gramática”, significando competência linguística do
aluno/falante.
Com a sugestão não apenas de identificação, mas, e principalmente, de
compreensão e (re)elaboração de estruturas causais no discurso narrativo e de
estruturas explicativas no modo de organização textual argumentativo,
demonstramos os moldes um ensino produtivo de português. Inclusive, com a
possibilidade de análise e produção de diversos (sub)gêneros textuais.
Ampliou-se também a tradicional descrição de aspectos gramaticais a partir
de orações, geralmente de cunho literário, para uma análise que as observa num
contexto discursivo e situacional bem mais amplo de suas ocorrências. Além disso, a
prática classificatória das chamadas orações coordenadas sindéticas explicativas e
das orações subordinadas adverbiais causais foi aprofundada em seus valores
semânticos e, em seus empregos discursivos.
Sabemos que somente o domínio de estruturas linguísticas possibilita a
produção textual, e, pelo fato de o ensino de língua portuguesa geralmente
privilegiar as abordagens descritiva e normativa, tem passado despercebida a
importância da Sintaxe como estratégia de escrita.
Por fim, esta é mais uma proposta de análise dos recursos linguísticos,
envolvendo os seguintes aspectos: a teoria gramatical (descritiva e normativa) que
106
seria imprescindível a um desempenho linguístico proficiente do aluno/falante;
exemplos de abordagem a partir de conteúdos morfossintático-semâticos e
discursivos, por exemplo, que estimulariam a reconstrução dos conhecimentos, a
observância dos elementos verbais (disponíveis na língua) que são responsáveis
pela construção dos sentidos; a reestruturação nos currículos dos ensinos
fundamental e médio, para que cumpramos as finalidades previstas para a disciplina
Língua Portuguesa; a real necessidade de produção de material didático sobre itens
gramaticais tão relevantes quanto os relacionados às noções de causalidade e
explicação, sempre na perspectiva da compreensão e, principalmente, da produção
textuais.
Sugerimos, então, um outro enfoque no processo ensino-aprendizagem de
gramática, com uma abordagem produtiva, mais funcional, não essencialmente
classificatória e conteudística, com a contribuição dos estudos do discurso.
107
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120
APÊNDICE A – Tabela e gráfico de gênero textual do modo argumentativo de
organização do discurso
Tabela 3 - Gênero textual Editorial, conectivos explicativos e o modo argumentativo
de organização do discurso.
i EXPLICATIVOS
(
i
x )
CAUSAIS
(
i
y )
(
ii
yx )
(
2
i
x
) (
2
i
y
)
1 6 3 18 36 9
2 3 8 24 9 64
3 4 7 28 16 49
4 5 4 20 25 16
5 2 5 10 4 25
6 3 4 12 9 16
7 5 11 55 25 121
8 10 2 20 100 4
9 8 2 16 64 4
10 3 5 15 9 25
49=
i
x
51=
i
y 218=
ii
yx
297
2
=
i
x
333
2
=
i
y
Calculando:
10=n
218=
ii
yx
333
2
=
i
y
297
2
=
i
x
51=
i
y
49=
i
x
121
()
495,0
05,644
319
414801
319
729569
319
2601333024012970
24992180
51333104929710
514921810
22
=
=
=
=
=
=
=
xx
xxx
xx
r
Gráfico 3, referente à Tabela 3.
122
APÊNDICE B – Tabelas e gráficos de gêneros textuais do modo narrativo de
organização do discurso
Tabela 2 – Gênero textual Crônica, conectivos causais e o modo narrativo de
organização do discurso.
i CAUSAIS
(
i
x )
EXPLICATIVOS
(
i
y )
ii
yx
2
i
x
2
i
y
1 12 1 12 144 1
2 14 3 42 196 9
3 3 10 30 9 100
4 4 7 28 16 49
5 9 4 36 81 16
6 6 7 42 36 49
7 11 10 110 121 100
8 5 5 25 25 25
9 2 1 2 4 1
10 1 0 0 0 0
67=
i
x
48=
i
y
327=
ii
yx
632
2
=
i
x
=
2
i
y 350
Calculando:
,
10=n
327=
ii
yx
350
2
=
i
y
632
2
=
i
x
48=
i
y
67=
i
x
123
036,0
82,1479
54
2189879
54
11961831
54
2304350044896320
32163270
48350106763210
486732710
22
===
=
=
=
xx
xxx
xx
r
Gráfico 2, referente à Tabela 2.
Gênero Textual Crônica, Conectivos
Causais e o Modo Narrativo
0
5
10
15
13579
Causais
Explicativos
Série1
Série2
Tabela 4 – Gênero textual Notícia, conectivos causais e o modo narrativo de
organização do discurso.
i CAUSAIS
(
i
x )
EXPLICATIVOS
(
i
y )
ii
yx
2
i
x
2
i
y
1 6 0 0 36 0
2 3 3 9 9 9
3 2 1 2 4 1
4 4 1 4 16 1
5 7 7 49 49 49
6 4 7 28 16 49
124
7 5 3 15 25 9
8 3 7 21 9 49
9 7 5 35 49 25
10 9 0 0 81 0
50=
i
x
34=
i
y
163=
ii
yx
294
2
=
i
x
192
2
=
i
y
Calculando:
10=n
163=
ii
yx
192
2
=
i
y
294
2
=
i
x
34=
i
y
50=
i
x
12,0
79,579
70
336160
70
764440
70
1156192025002940
17001630
34192105029410
345016310
22
=
=
=
=
=
=
=
xx
xxx
xx
r
Gráfico 4, referente à Tabela 4.
Gênero Textual Notícia,
Conectivos Causais e o Modo
Narrrativo
0
2
4
6
8
10
13579
Causais
Explicativos
Série1
Série2
125
ANEXO A – Corpus Imaturo, subgênero Dissertação de Vestibular.
Dissertação 202
Sentido inverso
Quando nos propomos a fazer algo, pensamos sempre no melhor.
Dificilmente, levamos em consideração a possibilidade do erro. Raramente,
percebemos que alguma coisa pode sair com algum defeito, diferente da forma
como planejamos, anteriormente.
Neste sentido, quando nos deparamos com uma situação inesperada,
porém, certamente inevitável, as conseqüências são mais desastrosas. Não
trabalhar com a possibilidade do erro nos torna mais vulneráveis à decepção, o que
dificulta uma possível reação em condições adversa.
O mesmo processo pode ocorrer em momentos de crise, nas mais
diversas possíveis, quando nos deparamos sem perspectivas de mudanças e de
atitudes diante dos problemas surgidos. Principalmente, porque jamais imaginamos
que aquilo pudesse acontecer. A falsa realidade produzida em nossa imaginação
impede-nos de enxergar tais crises, nas ocasiões em que estas chegam sutilmente,
e somente nos permitem notá-las em períodos críticos, quando as dificuldades
aumentam.
Desta forma, o inesperado e o medo passam a inibir um projeto que,
independente de sua natureza, reformulado e/ou com um pouco mais de
persistência poderia resultar em êxito. O erro, o defeito ou a crise deixam de ser
vistos como um elemento capaz de mover o ser humano no sentido do progresso e
passa a agir no sentido inverso.
Dissertação 207
Defeito, característica comum a todos nós, afinal quem é perfeito? Essa,
com certeza, é uma pergunta fácil de se responder, pois sabemos que “ninguém é
perfeito”. Muitas vezes essa frase é utilizada como uma espécie de desculpa, para
justificar um erro, um defeito, os quais, às vezes, são julgados como impossíveis de
serem resolvidos, mudados.
“Eu nasci assim, vou ser sempre assim, vou morrer assim”, a famosa
“Síndrome de Gabriela”, uma das “Síndromes” mais sérias e, com certeza, uma das
causadoras de inúmeros problemas na sociedade. Tal problema se sanado, poderia
quem sabe, mudar o mundo, mudar a história; já que a intolerância, a incapacidade
126
de reconhecer os próprios erros e a acomodação por parte das pessoas as tornam
incapazes de fazer algo para mudar. Há ainda o fator crise, existe crise em toda a
parte, nos cercando por todos os lados, a crise pode até ser um “mal necessário”,
mas não um mal constante, existem vários tipos de crise, algumas necessárias e
importantes ao amadurecimento e crescimento como pessoa, como ser humano,
porém existem ainda as crises que vêm para destruir, e essas sim, devem ser
exterminadas e vencidas. Apesar delas (crises), há ainda a imaginação que vem
acompanhada, muitas vezes pela mentira.
Viver num mundo tão errado, com tantas crises, defeitos e até mesmo
imaginação é realmente uma tarefa muito difícil, talvez uma das mais dificieis, porém
somos todos seres humanos e por isso passíveis de erro, mas não podemos
justificar tais erros na célebre frase “Errar é humano”. Devemos estar atentos a
fatores como erros, defeitos e etc, que são tão sérios e passam, por muitas vezes
despercebidos; os maiores problemas que temos poderiam ser resolvidos a partir da
percepção de fatores que são, às vezes, julgados insignificantes.
Dissertação 212 Ø
A ciência esta baseada pela controvérsia, na qual aparece o erro, recurso
a imaginação humana, estimule para almejar a busca de erro e encontrar resultados
satisfatórios.
Todo método cientifico esbara na dialética, paradoxa claro e objetivo da
realidade, tendo como exemplo o incentivo ao selvagem mundo capitalista pela
mídia, constituindo por uma grande parcela de desprovidos históricamente de seus
direitos e deveres básicos, e uma monstruosa e pequena parcela de industriais e
banqueiros, isto é, jóias do monopólio assalariado, homens estranguladores do
pobre. No entanto, podemos tirar a seguinte idéia sobre o sistema propagado pela
globalização, intercâmbio simultâneo e com disparidades sociais e econômicas no
mundo historicamente subdesenvolvido, onde encontramos coca-cola misturada
muita das vezes a países abaixo da subsistência.
A partir daí é que a pequena parcela do mundo capitalista deveria
repensar através de uma imaginação tão criativa a busca; para solucionar os
desniveis sociais e econômicos refletidos não só pela globalização, e sim pela
intolerância gerada mediante o lucro.
Dissertação 215 Ø
“ As consequências do erro”.
O ato de descobrir ou de simplesmente experimentar merece máxima
atenção.
Principalmente quando consideramos possibilidades de erros.
Ao fazemos experimentações onde modificamos o modo de vida de uma
criança, por exemplo, podemos esbarrar em situações que provoquem marcas
profundas.
Quando fazemos suposições de pensamentos julgando-nos capazes de
conhecer o que se passa na mente do outro geralmente caímos em graves erros
com consequências gravíssimas.
Experimentar é preciso. Sobretudo se visa a melhoria de vida e a
adaptação ao meio em que se vive. Está claro também que em toda experimentação
127
há a necessidade de correr riscos.
Porém há casos em que o objeto de pesquisa deve ser bem manejada
com bastante cuidado. Ou corremos o risco de perdemos uma ótima chance de
descoberta para sempre.
Dissertação 218 Ø
Hoje em nossa sociedade a maior parte da população é carente. Seja de
condições básicas para sobrevivência como alimentação, saneamento, seja de
educação, transportes adequados. Portanto necessita do mínimo que acreditamos
ser o necessário para termos uma vida digna.
Em meio a tantos erros e crises que estamos expostos diariamente, temos
ainda na busca pela cultura, no estudo da sociedade, na análise, científica dos fatos
a esperança de mais a frente encontrarmos um porto com maior estabilidade e
segurança.
Sendo que para que tenhamos sucesso em nossa busca, não devemos
como a tempos é feito trabalhar em cima do erro que ocorreu, da crise que já está
instalada, claro é necessário elimina-la, mais necessário também acima de tudo
previnir para que estas se quer venham a acontecer.
Dissertação 221 Ø
O caos da sociedade
momentos em que tudo parece dar errado são graves os
problema políticos, econômicos, e as vezes nem em imaginação se pensa de forma
otimista.
A crise assola, a população fica apática e tensa, mas sempre pode
piorar, a vida pode se tornar um caos em meio a tantas perturbações.
Um erro pode ser fator decisivo por tornar pessoas em grandes
fracassados e isso se já não nos sentirmos.
Psicologicamente todo e qualquer problema afeta várias ações pessoas
podem perder o ânimo e tempo pelas pertubações sentidas.
Portanto, tem de haver sempre a preocupação em todos os momentos
tantos problemas podem apagar a bela linda pontinha de esperança e transformar
sonhos em pesadelos que parecem intermináveis, tornando todo o ambiente, tudo o
que vemos e sentimos em crises e falhas.
Dissertação 226
Avaliando Profissões e Situações
Tudo na vida deve ser bem escolhidos para que não haja problemas
futuros, assim são as profissões, algumas delas não podem ocorrer erros ou falhas,
ainda que “errar é humano”
Dentro deste conceito estão os médicos que por serem médicos e lidarem
com a vida do ser humano não deveriam cometer erros, pois podem ser causadas
mortes, pessoas podem ficar defeituosas e com base nisto é uma profissão onde
erros inadimissíveis. Porém na are da politica, lá onde estão nossos representantes
se eles não forém dignos de seus cargos e cientes da situação de um todo, não a si
próprios poderiam ser causadas crises, e sim a nós que vos colocamos la e muita
128
das vezes as crises não são razoáveis, exemplo disto são as crises de saúde e fome
que estão em alta nos dias de hoje. Contornando mais uma vez iremos as indústrias
que estipulam preços as suas mercadorias, que adquiridas por nós devem ser
perfeitas direito muitas vezes não respeitados algo que ao invés de ser dado de ser
reclamado, para assim haver uma satisfação geral.
Para que nada disso ocorra, pensar e refletir estudar e avaliar, devem se
tornar habitos comuns para uma bela escolha e uma convivência harmonica.
Dissertação 231 Ø
Muitos cientistas afirmam que a ciência apenas evolue através da busca
de soluções para problemas ou crises vividos por uma sociedade ou toda a
humanidade. Esta é uma verdade quase total, e pode trazer algumas conseqüências
perigosas.
Ao dependermos de crises e idéias que os contornem para nos
desenvolvermos, estamos admitindo que isto desenvolvimento, no mínimo, depende
de condições aleatórias, como a sorte e as coincidências. Não tenho a pretensão de
denegrir a imagem de cientistas que, após incessantes pesquisas, acabaram por
descobrir algo ao acaso (como Einstein, por exemplo).Mas as conseqüência de
algumas crises podem ser muito danosas para dependermos,delas.
Como exemplo posso citar uma possível crise energética ocasionada pelo
fim das fontes de petróleo. E fácil imaginar o que algo assim pode causar. É
igualmente fácil lembrar que existem alternativas à utilização deste combustível, mas
por que esperarmos até a chegada da crise? Não sabemos se as alternativas, são
perfeitamente aplicáveis, e estaremos mais uma vez dependentes da capacidade de
improvisação ou de sorte de criarmos ou descobrirmos uma nova alternativa.
Embora seja reconhecido que existem diversos interesses envolvidos
nesta questão, este foi um exemplo prático.
Não se pode negar que for parte da sabedoria saber utilizar a sorte e o
acaso em prol de nossos objetivos, o mesmo se aplica à capacidade humana de
improvisar. Porém, depender de erros para acertar pode ser muito perigoso.
Dissertação 276
EMPECILHOS
Vivemos no século XXI e muitos afirmam que erro, a crise, a imaginação e
o defeito são importantes para a Ciência. Mas sabemos que estes aspectos acabam
por prejudicar o pleno desenvolvimento da mesma.
No primeiro momento devemos enfatizar que a Ciência é construída para
beneficiar a humanidade e alavancar o progresso social. Sendo assim deve ser
veloz e ao ser passível de erros e crise acaba por retardar toda a experiência
científica. O que dificulta, por exemplo, a cura para doenças que nós assolam.
Numa segunda análise podemos citar o caráter empírico da Ciência em
tempos remotos. Sendo assim, a imaginação permeava as conclusões científicas em
detrimento da razão, o que ocasionava resultados sem comprovação científica.
Somente com o Iluminismo é que a razão e a comprovação passaram a permear o
129
campo das ciências em busca da verdade,
Não podemos esquecer também que a Ciência não pode depender dos
defeitos para solucionar às questões. Deve antes estar baseada no acerto para
evitar fatos inesperados.
Em virtude dos fatos mencionados podemos concluir que a Ciência é
prejudicada por fatores como: erros, crises, imaginações e defeitos. Devemos
portanto criar mecanismos para que a Ciência possa sempre progredir para chegar a
verdade dos fatos.
Dissertação 277
Errar pra que
Há quem diga que errar é bom para aprendermos, mais a realidade dos
erros é bem dura, e nós não vemos por ai ninguém feliz porque errou.
Um indivíduo se atrazou para chegar no serviço e quando está proximo do
ponto de onibus o perde chegando assim duas horas atrazado e encontra seu chefe
com uma carta de demissão na mão.
Quando chega em casa em torno do meio dia e vai comunicar a sua
família, é interrompido pelo seu filho de dezoito anos para comunicar que sua
namorada está gravida e desiste de fazer o comunicado.
Já pela noite na sua cama após ter falado com sua mulher sobre o
problema se pega a pensar nos erros e conclui: Se ele não cometece o erro de se
atrazar, seu chefe não cometece o erro de mandalo embora e seu filho não
cometece o erro de engravidar a namorada, tudo ficaria bem.
Errar é fatal e as consequências podem ser terríveis como o de não
passar no vestibular ou piores como no caso do personagem do texto.
Dissertação 279
se controlar para conviver.
O ser humano, é composto por diferentes e consideráveis características,
com seus defeitos, erros, passando constantemente por graves crises e
imaginações. Como solucionar todos esses problemas cotidianos?
Há quem diga, que cada pessoa possui a sua personalidade, composta
por características particulares, ou seja, que não são comuns a todos os indivíduos.
Aliás, é devido a isto que realmente vivemos na diversidade, e se faz necessário
aprender a respeitar à condição de cada um, mesmo não condizendo as suas
opiniões.
Em contrapartida, defeitos, erros, crises e imaginações, em excesso
passam a incomodar, haja vista que podem ser grandes impecílios à convivência
em sociedade. Todavia, se agrava pelo fato de que os problemas recaem
significativamente, sobre a pessoa que carrega consigo esta exagerada
personalidade.
Assim sendo, para solucionar o problema é importante rever a conduta
que se deve ter na convivência em sociedade, a diversidade nos impõe essa
condição, a fim de que possamos sem exageros convivermos uns com os outros.
130
ANEXO B – Corpus maduro, subgênero Editorial.
Editorial 001
Terça-feira, Abril 05, 2005 O Globo
Oportunidade
Confirmada a participação de policiais na maior chacina da história do estado,
aumenta ainda mais a responsabilidade do poder público. Não se trata apenas de
punir com rigor os culpados de um crime grave. É necessário ir além, por ele não
ser um fato isolado: é preciso limpar a corporação policial, recuperar sua
credibilidade. O assassinato indiscriminado de 30 pessoas na Baixada Fluminense,
tudo indica em retaliação ao acertado enquadramento disciplinar de policiais,
ultrapassou os limites.
Tudo isso é óbvio e já foi dito em outras ocasiões. Mas apesar dos clamores,
normais nessas circunstâncias, o que se costuma observar é um Estado incapaz de
tomar as decisões drásticas que a situação requer.
Antes de mais nada é preciso admitir e entender o que está em questão. Os
protagonistas da barbárie da semana passada em Nova Iguaçu e Queimados irão se
juntar a inúmeros outros que usam a farda e o distintivo como escudo para cometer
crimes. Mas não se está diante de um fato comum. A chacina estabeleceu um marco
nas arbitrariedades cometidas por policiais. E é sempre possível algo mais grave vir
a acontecer. Tudo depende de como o Estado reagirá.
O problema é que, apesar da manifesta boa intenção de autoridades e de muitas
promessas veementes de punição, tem-se a impressão de que a banda podre da
polícia é invencível. Prisões são feitas, expulsões efetuadas, mas, cedo ou tarde,
surge novo escândalo causado por maus policiais.
Daí a intervenção na corporação precisar ser ampla e contar com apoio federal. É
extensa a lista de desencontros entre os Palácios Guanabara e do Planalto
causados por desavenças político-partidárias. Mas há temas-chave — e a
segurança da população é um deles — em que projetos pessoais têm de ficar em
segundo plano. Agora mesmo, a anunciada vinda da Força Nacional para o Rio é
uma oportunidade para os dois governos trabalharem de fato juntos nessa área
131
estratégica.
O desafio de sanear a polícia é tão grande quanto imprescindível — o que também
não é novidade. Mas são décadas de desmandos e de condescendência de
governantes. O resultado é o que se vê.
Editorial 002
Sexta-feira, Dezembro 16, 2005 O GLOBO
Todos por um
O Rio de Janeiro já tem um pólo gás-químico em funcionamento, que expandirá
indústrias já existentes e deve atrair várias outras para a região metropolitana. E
está por se decidir mais um grande investimento neste setor: uma refinaria de
petróleo que terá sua produção voltada para insumos petroquímicos.
A escolha do estado para abrigar essa refinaria se deve à proximidade das fontes de
matéria-prima (será processado óleo pesado, extraído da Bacia de Campos) e dos
centros consumidores.
Mas a microlocalização da refinaria vem sendo motivo de disputa, que poderia ser
até saudável se não resvalasse para o plano político. O governo estadual tem
preferência por uma localidade em Campos, no Norte Fluminense, base política
original da governadora Rosinha e do seu secretário e marido Anthony Garotinho,
pré-candidato à Presidência da República.
Os investidores que inspiraram o projeto e convenceram a Petrobras a assumi-lo se
inclinam por Itaguaí, entre outras razões, porque acreditam que ali já existe infra-
estrutura adequada para uma indústria com essas caraterísticas, incluindo a
proximidade com o Porto de Sepetiba.
Prefeitos da Baixada que no momento são adversários políticos do casal Garotinho
têm feito pressão junto ao presidente Lula, para que o governo federal influencie sua
controlada Petrobras a optar por Itaguaí.
Existe o risco de a disputa, resvalando para o plano político, inibir os investidores.
Se a escolha recair em Itaguaí e isso for interpretado como derrota da governadora,
órgãos estaduais responsáveis pelo licenciamento da obra poderiam ter má vontade
com o projeto, onerando-o até a ponto de inviabilizá-lo. Mas a opção por Campos
não deve ser feita apenas por causa desse temor.
Na verdade, é justo que o governo estadual se proponha a conceder benefícios para
que uma região como o Norte Fluminense, que tem menos oportunidade de atrair
grandes projetos propulsores de desenvolvimento, possa compensar suas
deficiências. No entanto, qualquer que seja a decisão dos investidores, ela precisa
132
ser respeitada e comemorada pelo Estado do Rio de Janeiro como um todo.
Editorial 003
Quarta-feira, Dezembro 28, 2005 O GLOBO
Manter as regras
Os escândalos do mensalão e do propinoduto petista serviram como uma espécie
de senha para a retomada de projetos de reforma política. Mas como sempre
acontece quando questões estratégicas são tratadas de forma açodada, o país corre
o risco de o Congresso fazer uma reforma equivocada.
Venceu o prazo para mudanças na legislação eleitoral com vistas a 2006. Mas o
perigo continua. E não apenas porque há quem conspire para atropelar a
Constituição e reabrir esse prazo. Agora, outra tese gestada no imediatismo acaba
de aparecer no horizonte: a do aumento do mandato presidencial para cinco anos,
sem reeleição.
Se, antes, a crise servia para justificar a reforma política, nesse caso o que
impulsiona os defensores dessa mudança na arquitetura político-administrativa
brasileira são questões paroquiais, de interesse de tucanos e petistas.
Principalmente dos primeiros, onde há disputa pela primazia em concorrer ao
Planalto. Se o próximo presidente for do PSDB, os preteridos em 2006 se acalmarão
com a certeza de uma chance em 2011, argumenta-se.
Ora, o país precisa de um período de estabilidade na regulação eleitoral, para deixar
o sistema adaptar-se às regras aprovadas há relativamente pouco tempo. Em pelo
menos dois períodos de eleições gerais (oito anos), a cláusula de barreira e a
verticalização deverão melhorar a qualidade do quadro partidário, ao alijar legendas
nanicas e de aluguel e forçar negociações sérias de alianças, a partir de projetos e
idéias, sem propinodutos e similares. O que não impede que, nesse meio tempo, se
aperfeiçoe a legislação com o endurecimento das penas para os crimes eleitorais e
se torne mais rígida a fidelidade partidária.
Apenas um presidente se submeteu ao teste da reeleição: Fernando Henrique. É
pouco para se avaliar a norma. Na prática, como nos EUA, o mandato é de oito
anos, com um recall no quarto. Se o presidente, governador ou prefeito demonstrar
competência, recebe a segunda parte do mandato. Caso contrário, não.
Como estaria hoje o humor de boa parte da sociedade diante da perspectiva de ter
de esperar o final de 2007 para avaliar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva,
visivelmente desgastado pelos escândalos recentes? Quanto mais se estenda um
governo avariado, pior para qualquer país.
Editorial 004
Sexta-feira, Dezembro 23, 2005 O GLOBO
Alerta geral
133
Petistas, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente, adotam a conhecida
tática de político apanhado em delito: negar sempre, mesmo diante da mais
contundente prova, do mais demolidor depoimento. Tem sido até enfadonha a
cantilena da fantasiosa falta de provas do mensalão, sempre acompanhada da
tentativa de desqualificar o crime de uso de caixa dois na política, já muito
apropriadamente tachado de "coisa de bandido" pelo ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos.
A tática já havia ultrapassado a fronteira entre o terreno da esperteza e o campo do
cinismo há muito tempo. Desde o início dos trabalhos da CPI dos Correios, com a
revelação das constantes e sugestivas visitas de políticos ou de assessores e
familiares — caso do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha — à agência do
Banco Rural em Brasília, elo do valerioduto.
A comprovação da festança com dinheiro ilegal, crime indiscutível, ganhou o reforço
da confissão pública do marqueteiro do PT, Duda Mendonça, de que recebera num
paraíso fiscal, em dinheiro também sujo, pelos serviços prestados à campanha de
vários candidatos do partido, inclusive Lula.
É possível que petistas continuem repetindo o bordão. Pois o presidente não passou
a negar aquilo pelo qual pedira desculpas e se declarara traído? Porém, depois de
mais um relatório preliminar da CPI dos Correios, divulgado na terça-feira, essa
tática de dissimulação autista talvez já não satisfaça o mais ingênuo e crédulo dos
militantes petistas, descendente direto da finada Velhinha de Taubaté.
O que o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio, revelou reforça com traços mais
fortes e nítidos os contornos do grande esquema de bombeamento de recursos
públicos e privados, de forma ilegal, para o propinoduto destinado a atrair políticos
para a base parlamentar do governo e anabolizar com altas dosagens de dinheiro
vivo decisões importantes no Congresso.
Se havia alguma dúvida de que o aparelhamento petista do Banco do Brasil (leia-se:
Henrique Pizzolato, diretor de marketing do banco, depois afastado) foi peça-chave
na malha de financiamento espúrio do esquema, agora não existe mais.
Soterra-se, espera-se que de vez, outra versão inverossímil, a dos financiamentos
levantados pelo publicitário Marcos Valério, sócio do tesoureiro do PT, Delúbio
Soares, no propinoduto, como fonte dos recursos desse grande golpe contra a
moralidade pública. Estava mesmo certo o vice-presidente José Alencar, com sua
experiência de empresário, ao não levar a sério esse álibi tosco — ou rudimentar.
Os levantamentos da CPI — ainda a serem detalhados — confirmam que o artifício
do adiantamento de recursos do Banco do Brasil para as agências de publicidade de
Marcos Valério, por meio da subsidiária Visanet, era uma gazua manejada por
Pizzolato — com autorização de Gushiken, defende-se ele — para fazer escoar
dinheiro público, e de acionistas do banco, para o propinoduto.
A farsa dos empréstimos já havia sido demolida. A ausência de registros da
operação nos livros contábeis das agências de Marcos Valério — só feitos
posteriormente — e o descasamento entre a obtenção dos créditos junto ao BMG e
134
Banco Rural, segundo informações de Valério, e a liberação do dinheiro na outra
ponta do propinoduto, em Brasília, já tinham desmoralizado essa versão de
conveniência do publicitário e traficante de interesses mineiro e o PT.
Agora, com o maior detalhamento das transferências feitas pelo aparelho do PT
incrustado no Banco do Brasil para o propinoduto, sob o disfarce de adiantamentos
às agências de publicidade, a história dos empréstimos fica mais clara. Eles não
existiram como operação bancária usual. Serviram apenas para lavar o produto do
assalto praticado no BB.
Sabia-se de uma primeira operação de R$ 35 milhões, pagos pela Visanet/BB à
agência DNA, dos quais R$ 10 milhões fizeram uma escala no BMG antes de se
transformarem num "crédito" de R$ 9,9 milhões, remetidos por Valério ao PT. O
novo relatório da CPI esquadrinhou um negócio semelhante. Ao todo, calcula por
enquanto o relator da CPI, do Banco do Brasil saíram no mínimo R$ 19,7 milhões
para o valerioduto.
Já não fazia mais sentido a ladainha petista da inexistência do mensalão. Afinal, a
periodicidade é o que menos importa no fluxo do propinoduto. Sabe-se agora que
até transferências semanais existiram.
Fica confirmado o crasso erro da absolvição do deputado mineiro Romeu Queiroz,
intermediário de pagamentos ilegais ao PTB. O relatório serve também de alerta
para a Câmara levar a sério os demais processos de cassação. Não é admissível
que o mapa da corrupção político-eleitoral em fase de montagem na CPI dos
Correios passe pelo Congresso sem produzir efeitos proporcionais à dimensão do
escândalo que ele revela.
Editorial 008
Domingo, Dezembro 18, 2005 O GLOBO
Risco Bolívia
A candidatura de Evo Morales, que se as pesquisas estiverem certas será eleito hoje
presidente da Bolívia, arrastou o país andino para uma encruzilhada.
O deputado e líder cocaleiro — favorito não só do presidente Hugo Chávez, da
Venezuela, mas também de Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil — já anunciou a
intenção de nacionalizar as refinarias bolivianas, se for eleito. Para os eleitores, isso
é promessa de campanha, que, no entanto, se vier a ser cumprida, não garantirá
aos bolivianos um futuro pacífico e risonho. Para a Petrobras, que administra as
refinarias, e portanto para os interesses do Brasil, que investiu pesadamente na
Bolívia para garantir o abastecimento de gás, é ameaça gravíssima.
Pior ainda, talvez, é a hipótese de Evo, como é universalmente conhecido, vencer
nas urnas e não ser confirmado pelo Congresso, como prevê a Constituição. Poderia
ser o estopim de uma guerra civil, que para muitos parece inevitável, tendo em vista
a polarização das forças políticas e as profundas divergências entre as províncias
ricas, com aspirações autonomistas, e as mais pobres, com ressentimentos
históricos.
135
Evo despertou a admiração dos despossuídos do seu país — um dos mais pobres
da América Latina — tanto pelas idéias incendiárias como pela biografia de menino
sem futuro que se tornou um dos mais importantes líderes políticos bolivianos.
Embora por suas posições radicais ele seja em parte responsável pela instabilidade
política, os seguidores acreditam que a chegada à Presidência de um índio aimara
representaria o fim de 180 anos de opressão e exploração. Para a elite sua provável
eleição é quase certeza de um violento processo de fragmentação nacional. Já a
classe média aos poucos se deixa embalar por suas promessas de uma Bolívia
menos corrupta e mais justa, vendo em sua liderança a possibilidade de mudanças
sem ruptura.
Se Evo for levado pelas realidades da Presidência a deslocar-se para o centro, é
possível que as expectativas da classe média se concretizem. Caso persista na rota
da radicalização, o Brasil, apesar das simpatias declaradas de Lula, muito
provavelmente será chamado a desempenhar o papel de mediador. O partidarismo
açodado de Lula será um complicador.
Editorial 011
Sexta-feira, Dezembro 16, 2005 O GLOBO
Riscos eleitorais
As duas mais recentes pesquisas eleitorais — do Ibope, sob encomenda da
Confederação Nacional da Indústria, e do DataFolha — agravam as perspectivas
sombrias das pretensões reeleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
tornam mais dura a disputa entre os tucanos José Serra, prefeito de São Paulo, e
Geraldo Alckmin, governador do estado, pela preferência no PSDB para concorrer
ao Planalto em 2006.
As duas sondagens colocam pela primeira vez Serra à frente de Lula já no primeiro
turno. Mas também retratam o fortalecimento do governador paulista Geraldo
Alckmin, que nas duas pesquisas deu um salto de seis pontos. Como tem grande
potencial de crescimento, por ser pouco conhecido fora de São Paulo, ele aumentou
o cacife na disputa interna tucana.
Lula, por sua vez, parece retroceder para a faixa de 30% do eleitorado, nicho
tradicional petista — pelo menos era dessa dimensão o voto cativo no partido antes
do escândalo do mensalão e do propinoduto. Ferido o PT no órgão vital da ética,
ninguém sabe ainda qual o real resíduo desse eleitorado fiel, pois o escândalo
continua a ter desdobramentos.
Intrincados — e perigosos para o país — são os prováveis desdobramentos de uma
persistente perda de substância eleitoral do presidente da República. O risco está no
fortalecimento das teses populistas existentes no governo e no PT. Caso o cenário
das pesquisas se repita, a tendência é o aumento das pressões para atos de
irresponsabilidade fiscal e monetária.
Será um erro capital, um suicídio político de Lula e do PT, pelo recuo que provocará
136
no país. Se forem por essa via, o presidente e os petistas arruinarão o que
construíram até agora. Os defensores dessa alternativa se esquecem que inflação
baixa transformou-se em patrimônio da sociedade.
Não fosse o populismo um caminho equivocado em si, as pesquisas mostram um
fato crucial: Lula perde espaço também no eleitorado de renda baixa. Ou seja, o
Bolsa Família não "compra" votos, como alguns devem apostar. Talvez por uma
razão: seriam de outra natureza as causas da corrosão das pretensões eleitorais de
Lula. O desgosto com a crise ética do PT e a ineficiência administrativa do governo
parecem soterrar o manejo político-eleitoral do assistencialismo.
Editorial 015 Ø
Terça-feira, Dezembro 06, 2005 O GLOBO
Face do terror
A violência que estrangula a população está há algum tempo numa assustadora
tendência de agravamento. Numa visão retrospectiva, cada crime grave tem sido
superado por um mais selvagem. Mesmo quando há momentos de certa trégua, a
paz relativa é quebrada, e sempre de forma dramática.
O cardápio dos crimes é variado. Há delitos em que são nítidas as impressões
digitais da banda podre da polícia. Há outros, relacionados diretamente ao tráfico de
drogas. Por exemplo, os tiroteios que ameaçam milhares de pessoas obrigadas a
trafegar em vias de acesso à cidade.
Para confirmar essa deterioração da segurança pública surge agora o primeiro ato
de terrorismo clássico cometido pelo tráfico contra a população. Fazer o maior
número de vítimas possível entre pessoas comuns é objetivo prioritário do terror. E
foi o que aconteceu no ataque ao ônibus da linha 350, Passeio-Irajá, semana
passada, em Brás de Pina.
Esse crime inominável, que carbonizou cinco pessoas, entre elas uma criança de um
ano de idade, e deixou mais de uma dezena de feridos, revelou outra faceta trágica:
a da cooptação de adolescentes pela criminalidade. Mesmo policiais experientes
baquearam diante da frieza do depoimento de uma adolescente de 13 anos ao
confessar a participação no ataque ao ônibus. Sem se comover, disse que a ordem
do chefe do tráfico local era matar todos queimados, em represália à morte de um
comparsa num confronto com a polícia.
A multiplicação do envolvimento de menores com o crime prova que o Estado
brasileiro não consegue romper a correia de transmissão da violência entre
gerações. E quanto mais jovem, mais sanguinário costuma ser o bandido. A tragédia
de Brás de Pina atesta a incapacidade do poder público de quebrar essa cadeia
sucessória na criminalidade.
Na essência do problema está a ausência de políticas públicas efetivas em campos
como saúde (planejamento familiar) e educação. Há, também, nesse pano de fundo,
deficiências na legislação penal, onde se destaca um Estatuto do Menor deslocado
da dura realidade das ruas.
137
O que mais será preciso acontecer para o Estado e a sociedade se mobilizarem de
forma radical contra a debacle social que não pára de destruir a vida nas regiões
metropolitanas brasileiras?
Editorial 018 Ø
Sexta-feira, Dezembro 02, 2005 O GLOBO
Poder paralelo
Barbárie, crime hediondo, ato de terrorismo, afronta à sociedade — são muitos e
muito indignados os epítetos com que as próprias autoridades classificam a ação
dos narcotraficantes em Brás de Pina, que na terça-feira atearam fogo a um ônibus
e mataram queimadas cinco pessoas, entre elas uma criança de 1 ano.
Nenhum adjetivo, na realidade, é adequado. A desenvoltura com que os bandidos
agem no Rio de Janeiro já produziu uma sucessão interminável de episódios
chocantes, mas raras vezes o horror chegou a tal ponto — e ao mesmo tempo
demonstrou de maneira tão flagrante como o Estado é ineficiente, inepto e omisso
na tarefa que só a ele cabe, de combater a criminalidade.
Por isso mesmo, não há como festejar o assassinato de quatro homens que
aparentemente estavam entre os perpetradores da atrocidade. O que a população,
que se sente mais indefesa do que nunca, quer e precisa não é que criminosos
sejam fuzilados depois de cometer crimes — pela polícia, por facções rivais ou por
quem quer que seja — mas que sua ação seja reprimida, que seja possível confiar
minimamente na proteção que deveria ser concedida pelo poder público. Esse
segundo episódio sangrento, pelo contrário, apenas deixa mais nítido que isso por
enquanto é absolutamente impossível.
Agora, como era de se esperar, vêm as promessas: ocupação pela polícia de morros
próximos, apuração rigorosa dos crimes, punição severa dos responsáveis e assim
por diante. O governo federal corre a oferecer ajuda e o estado e a prefeitura dizem,
naturalmente, que todo o possível será feito, sem que no entanto se fale do que é
realmente imprescindível — uma política de segurança integrada e cuidadosamente
planejada, que envolva os três níveis de administração pública.
Até agora, e mesmo depois dessa ação bárbara, o que se vê, em lugar de
articulação, é disputa, reivindicação de verbas. Em suma, jogo de empurra,
enquanto a cidade continua à mercê dos marginais e, entre uma e outra bala
perdida, na expectativa do próximo episódio de brutalidade. É deprimente que essa
visão, que se poderia julgar profundamente pessimista, deva ser classificada de
realista.
Editorial 028
Terça-feira, Novembro 15, 2005 O GLOBO
Suicídio eleitoral
Depois que o ministro Antonio Palocci se retirou de cena na sexta-feira, sob ataque
também do PT — uma manobra do partido de apoio à posição da chefe da Casa
138
Civil, Dilma Rousseff, contra a austeridade fiscal — o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva emitiu nota para reafirmar a manutenção da política econômica; ressaltar, mais
uma vez, que a política é de sua responsabilidade e tentar abafar o vozerio em torno
da saída de Palocci do governo.
Lula precisará, porém, fazer mais, se de fato deseja manter intacta a receita que
transformou a economia no único grande êxito da sua gestão. Mais do que isso, se
pretende salvar o governo e proteger seu futuro político.
A fragilidade de Palocci, causada pela sucessão de histórias que surgem do círculo
próximo do ministro nos tempos de prefeitura de Ribeirão Preto, tem sido
aproveitada dentro do governo e no PT para bombardeios sucessivos à política
econômica, sem que seja levado em conta que o alvo final é o próprio presidente e
suas chances de reeleger-se.
No centro da polêmica está um oportuno projeto de estabilidade fiscal a longo prazo,
em detalhamento por economistas do Ipea, sob a coordenação do ministro do
Planejamento, Paulo Bernardo, e com respaldo de Palocci. Os ataques a Palocci,
além de uma tentativa de acerto de contas da esquerda do PT com os "neoliberais"
da Fazenda, parecem ser uma corrida para abrir-se uma trincheira que dê algum
acesso ao Tesouro nacional nas eleições do ano que vem.
Como todas as atenções estarão voltadas em 2006 para o uso de caixa dois, e
qualquer tipo de ilegalidade financeira na campanha, a manipulação dos gastos
públicos com fins eleitoreiros deve ser o objetivo de muita gente próxima ao Palácio
do Planalto. Mesmo que a sabotagem da filosofia de responsabilidade fiscal que a
Fazenda tenta seguir de forma determinada ponha em risco o governo e as
pretensões eleitorais do presidente.
Esquecem que a sociedade já deu provas de não aceitar a volta da inflação, em
nome do que seja. Até mesmo do crescimento, pois a opinião pública sabe que
inexiste desenvolvimento sustentado com alta de preços. Engatilha-se um tiro de
fuzil no próprio pé da administração petista.
Editorial 031
Domingo, Outubro 09, 2005 O GLOBO
Biografia em jogo
À medida que tramita o lote inicial de indicações para cassação formuladas pelas
CPIs dos Correios e do Mensalão, é previsível que aumentem as pressões para a
retirada de nomes da lista. O primeiro teste foi a passagem da relação de 13
deputados pela Corregedoria da Câmara. Por ela estar sob controle de um seguidor
de Severino Cavalcanti, o deputado Ciro Nogueira, do PP piauiense, justificava-se o
temor quanto ao destino que teria o relatório. Por pressão da opinião pública, o
lobby do perdão prévio foi contido e o parecer pela manutenção do texto recebido
das CPIs saiu vitorioso, mesmo que por apenas um voto.
Mas o risco de tudo virar uma indigesta pizza foi apenas adiado. Agora, cabe à Mesa
da Câmara decidir o que fazer. Ela tem poderes amplos para qualquer coisa:
139
simplesmente encaminhar o relatório ao Conselho de Ética, a partir do que os
deputados indiciados não poderão mais se valer do recurso execrável de se auto-
inocentar pela renúncia; ou alterar a lista, como se temia ocorresse sob o comando
de Ciro Nogueira.
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, ex-ministro do governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, respeitável parlamentar comunista, chega ao mais importante momento da
sua carreira de político. Rebelo afirmou que reservaria o fim de semana para estudar
os processos.
Na verdade, não precisará gastar muito tempo nessa análise. Provavelmente, se
dedicará a refletir sobre o seu futuro.
Aldo Rebelo decepcionará o baixo clero, os parlamentares envolvidos no mensalão
e indicados à degola que tanto comemoraram de forma ostensiva a sua vitória na
eleição da presidência da Câmara? Ficará do lado de sua biografia ou não?
O presidente da Câmara tem de ser justo, é claro. E também não pode se apegar a
alianças políticas e a relacionamentos pessoais. Tampouco deve se submeter a
pressões. Afinal, está em questão a imagem do Congresso. Por isso, Rebelo, na
reunião decisiva que terá com os demais integrantes da Mesa na terça-feira,
precisará propor o envio do relatório ao Conselho de Ética sem mudanças. A
distribuição de dinheiro ilegal entre partidos e políticos pelo propinoduto do PT é fato
comprovado. Qualquer decisão que não leve isso em conta afetará de forma
irreversível a credibilidade do novo presidente da Câmara.
Editorial 037
Terça-feira, Setembro 27, 2005 O GLOBO
Dois governos
A pouco mais de um ano do fim, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva se consolida
como o governo das ambigüidades, por carregar as mesmas visões e práticas
contraditórias encontradas no PT.
Os conflitos vêm de longe. Enquanto correntes petistas se mantiveram fiéis a
propostas de política econômica cujo resultado seria a desestabilização do país,
Lula e auxiliares tiveram a sensatez de redigir a Carta ao Povo Brasileiro, na
campanha eleitoral de 2002, pela qual os princípios de macroeconomia seguidos por
qualquer país sério foram mantidos. Em contrapartida, o governo permitiu o
aparelhamento da máquina pública, por petistas e aliados, com resultados
desastrosos e conhecidos.
Para cada acerto o Planalto tem produzido um erro. Se o bom senso tem levado a
que se acumulem superávits primários nas contas públicas (sem contar os juros da
dívida interna) acima da meta de 4,25% do PIB — única forma benigna de se
resolver o problema da dívida — o outro governo Lula atua em sentido contrário e
cria novas empresas estatais. Como revelou O GLOBO, o governo já fundou 34
estatais, num grave retrocesso na tendência de redução da presença do Estado na
economia, iniciado no governo Sarney. O governo pode se defender alegando que
140
muitas dessas empresas derivam da expansão da Petrobras. A questão é saber se
todas seriam necessárias e se estão sendo utilizadas para os fins devidos. Pelo
menos uma dessas subsidiárias da Petrobras, como se noticiou, foi utilizada para
empregar um apaniguado do ainda ministro Luiz Gushiken.
Outra aberração é o Banco Popular, um apêndice do Banco do Brasil e que serviu
apenas para abrigar um aparelho petista, produzir prejuízos e irrigar o caixa das
agências de publicidade de Marcos Valério. Essa face de ambigüidades do governo
fica ainda mais nítida quando, ao lado do êxito na luta contra a inflação — mesmo
que se possa criticar alguma overdose nos juros básicos — se constata o
crescimento constante dos gastos públicos primários. O fato é preocupante, até
porque, faça-se justiça, trata-se de uma distorção herdada da gestão FH. Essas
despesas, que em 1998 eram de 19,5% do PIB, chegaram a 21,6% em 2002 e este
ano devem atingir 22% do PIB. Explica-se por que a carga tributária, que no início da
era FH situava-se em aproximadamente 28% do PIB, atinge hoje 36%, índice
asfixiante. Ou seja, o imprescindível superávit primário tem sido financiado pelo
contribuinte e cortes nos investimentos públicos.
O governo se beneficia de uma conjuntura externa especial, em que o mundo cresce
e o comércio se expande a altas taxas. Com isso, as exportações ajudam a puxar a
economia interna, aumentando a arrecadação. No período de doze meses
encerrado em julho, por exemplo, a Receita Federal arrecadou R$ 207,3 bilhões,
uma expansão de 14% em termos reais.
Não é segredo, esta conjuntura não será eterna. Haverá um momento em que Lula,
ou quem estiver no Planalto, terá de optar por um desses dois tipos de governo: o
perdulário e estatizante ou o que segue as regras da responsabilidade fiscal, e não
as cartilhas de uma visão ideológica das décadas de 50 e 60, aposentada pela
História.
Editorial 038
Quinta-feira, Setembro 15, 2005 O GLOBO
O começo
A cassação do deputado Roberto Jefferson confirmou as previsões. Detonador de
uma crise política já a esta altura histórica, Jefferson, ex-presidente do PTB,
deputado fluminense, tentou assumir o papel de mocinho no enredo do escândalo,
mas terminou punido, com justiça.
Foi por meio de Jefferson que começou a vir à tona o esquema de corrupção
montado pela cúpula do PT para que, com o auxílio técnico do especialista em
traficância financeira no mundo político Marcos Valério, o tesoureiro Delúbio Soares,
o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira e outros comprassem apoio parlamentar
para ampliar a base do governo no Congresso.
Mas, na verdade, Jefferson era parte do esquema, por presidir um dos partidos
escolhidos pelo PT para servir de barriga de aluguel a deputados dispostos a
comercializar o voto. A participação do deputado petebista no escândalo também se
deu pela via do aparelhamento da máquina pública, que, como todo aparelhamento,
141
tem objetivos espúrios.
No caso do PTB, é indiscutível a ação de indicados do partido no Instituto de
Resseguros do Brasil, IRB, e nos Correios para arrecadar fundos com empresários
privados. Na prática, trata-se de desvio de dinheiro público para outros e obscuros
fins, já que essas comissões costumam ser recuperadas pelos empresários na
forma de preços superfaturados cobrados ao Estado.
Nada teria sido denunciado pelo agora ex-deputado, se ele não houvesse se sentido
traído pelo então ministro da Casa Civil José Dirceu, no caso do funcionário do
segundo escalão dos Correios, Maurício Marinho, flagrado embolsando de um
empresário a "peteca" de R$ 3 mil, em nome do próprio Roberto Jefferson.
A decisão do plenário da Câmara fortalece a instituição do Poder Legislativo. Mas
também aumenta a responsabilidade do Congresso, no prosseguimento das
investigações pelas diversas CPIs. A mesma firmeza demonstrada no caso de
Jefferson precisa se repetir a cada passo, em cada comissão de inquérito. Sem que
seja concedido privilégio a ninguém. Somente assim os políticos recuperarão o
respeito que precisam ter da sociedade.
Editorial 039
Quinta-feira, Setembro 15, 2005 O GLOBO
Ponto final
O aparecimento do cheque do mensalinho pago ao presidente da Câmara dos
Deputados, Severino Cavalcanti, era inexorável — pelo conjunto da obra do
deputado do PP pernambucano. Nada mais coerente com o perfil do líder do baixo
clero do que a crônica do achaque relatada pelo empresário Sebastião Buani,
concessionário do restaurante Fiorella, da Câmara, obrigado a pagar propina ao
então primeiro-secretário da Casa para manter a concessão.
Severino tentou resistir. Deu negativas erráticas na semana passada, enquanto fazia
uma turnê por Nova York. Na volta ao Brasil, procurou proteger-se sob o guarda-
chuva do governo, tendo mantido uma conversa com Jaques Wagner antes de
tentar se explicar, sem êxito, numa entrevista coletiva no domingo.
Na conversa com o ministro, Severino teria pedido apoio, com o argumento de que
sem ele na Mesa da Câmara estaria aberto o caminho para o processo de
impeachment de Lula. A barganha — uma chantagem — foi desmentida. Mas,
coincidência ou não, o PT, até ontem pela manhã, antes de Buani apresentar o
cheque, cerrava fileiras na defesa de Severino ---- o PT do Campo Majoritário, por
óbvio.
O cheque de R$ 7.500 sacado em julho de 2002 por Gabriela Kênia Martins,
secretária de Severino, praticamente coloca um ponto final na curta e tumultuada
passagem do líder do baixo clero pelo posto de segundo homem na sucessão da
República. Ontem, durante parte do dia, ele ainda tentava o improvável, manter-se
no cargo. Enquanto o cheque era mostrado à imprensa, Severino se trancava em
142
casa.
De lá saíram duas versões inverossímeis. Uma dizia ser o cheque um empréstimo
que Buani teria feito à secretária. Risível. Buani garantiu não ser agiota, o que pode
ser comprovado facilmente. E por que Gabriela e Severino não deram essa
explicação tão logo o empresário anunciou a existência do cheque? Depois, o
dinheiro deixou de ser fruto de agiotagem para se transformar em repasse para a
campanha política de um filho de Severino já falecido. Sem comentários.
Seja qual for o desfecho do caso — licença, renúncia, cassação ou cada alternativa
a seu tempo ---- o affaire alerta para o risco das maquinações da baixa política como
a que conduziu Severino Cavalcanti à presidência da Câmara.
Editorial 042 Ø
Sexta-feira, Agosto 26, 2005 O Globo
Vale a palavra
O depoimento do advogado Rogério Buratti na CPI dos Bingos gerou uma
expectativa semelhante à que envolveu a ida de Roberto Jefferson à comissão dos
Correios e à passagem do ex-ministro José Dirceu pelo Conselho de Ética da
Câmara, no processo de cassação do mandato de Jefferson.
Ex-secretário de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto, acusado de traficar
interesses em Brasília e lavar dinheiro, Buratti foi preso na semana passada, e no
depoimento que prestou na sexta-feira ao Ministério Público, em Ribeirão, relatou a
suposta existência de um mensalão regional de R$ 50 mil destinado à prefeitura na
gestão do ministro da Fazenda.
Paga pela empreiteira Leão & Leão, dona de um contrato de recolhimento e manejo
de lixo no município, a comissão iria para os cofres petistas de Delúbio Soares.
Apesar dos convincentes desmentidos e dos esclarecimentos dados com a devida
rapidez por Palocci, o que diria ontem o ex-secretário, beneficiado pela lei da
delação premiada, era uma preocupante incógnita, dada a importância crescente do
ministro no fragilizado governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas Buratti, embora tenha repetido a história do mensalão, também reafirmou não
ter provas do pagamento da propina, apenas as confidências do amigo Ralf
Barquete, secretário de Fazenda de Palocci em Ribeirão, pretenso receptador do
dinheiro, e já falecido. Então, é a palavra de Buratti contra a de Palocci. Pela
credibilidade do ministro, vale a dele. Some-se a isso que, como Palocci ressaltou
na entrevista coletiva de domingo, apesar da extensa investigação conduzida pelo
MP, até hoje não há qualquer prova efetiva da participação do ministro no suposto
esquema — informação confirmada pelos promotores. O próprio Buratti, com a
experiência de também ter sido diretor da Leão & Leão, afirmou nunca ter
testemunhado Palocci tratar ou referir-se a esse mensalão regional. Com a principal
testemunha do caso morta, não se pode ter dúvidas sobre em quem acreditar.
Mas isso não significa relegar a plano inferior as investigações em andamento. Há,
143
tudo indica, um rico filão a ser explorado pelo MP no relacionamento incestuoso de
prefeituras, e não só do PT, com prestadoras de serviço, conhecidas financiadoras
de campanhas e de políticos por métodos escusos.
Editorial 071 Ø
Sábado, Janeiro 07, 2006 O GLOBO
Depois de Sharon
Com a saída de Ariel Sharon do cenário tornam-se sombrias as perspectivas, já de
hábito tão incertas, para a paz no Oriente Médio. Se é verdade que em Israel ele
conseguia conter os radicais religiosos, do outro lado perdia e continua a perder
força o presidente eleito da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e
crescem em poder os extremistas do Hamas. A violência contínua criou uma
situação de verdadeiro caos na Faixa de Gaza, que já torna muito improvável a
realização das eleições parlamentares marcadas para o próximo dia 25.
O que parecia estar virtualmente definido era o futuro político de Israel. Nas eleições
vindouras para o Knesset (o parlamento israelense) era franco favorito o Kadima,
partido recentemente criado por Sharon, que dominava amplamente as pesquisas
de opinião. Mas terá o Kadima futuro e eleitores sem esse líder forte como poucos?
Foi uma trajetória singular. O falcão Ariel Sharon lutou em todas as guerras de
Israel, bateu-se pelos assentamentos nos territórios ocupados como indispensáveis
para a segurança de seu país, adotou a política de demolição de casas de
palestinos, confinou seu velho inimigo Yasser Arafat a seu bunker em Ramallah e
determinou a construção do "muro de segurança". Mas numa reviravolta tão
inesperada quanto notável, vista como um prenúncio de paz praticamente inédito na
região, unilateralmente ordenou a retirada forçosa dos colonos israelenses da Faixa
de Gaza e de partes da Cisjordânia.
Pelo seu percurso igualmente beligerante, Arafat parecia ser como que um reflexo
de Sharon no espelho, e a animosidade e a intolerância dos dois com razão eram
consideradas grande obstáculo à paz — até que, com a morte de Arafat, um novo
Sharon começou a emergir.
A retirada dos assentamentos de Gaza não levaria automaticamente a um acordo
definitivo de paz; mesmo o processo de traçar as novas fronteiras de Israel ainda
não foi sequer esboçado. Mas era, ou parecia ser, um novo começo.
Antes visto como vilão, Ariel Sharon não chegou a mudar sua imagem para a de
herói com a tarefa crucial que não pôde completar. E cujo desfecho está agora
mergulhado em incerteza.
144
ANEXO C – Corpus imaturo, subgênero Crônica.
Crônica 004
O Rio sediará o Pan
O Rio de Janeiro foi escolhido para sediar o Pan-Americano de 2007.
Devido à proximidade do evento o governo está se mobilizando para terminar toda a
infraestrutura deste grande evento.
Ao meu ver falta muito a ser feito e muito pouco tempo para se concluir
os projetos. Com certeza, isso foi uma “jogada” por parte do governo para
superfaturar essas obras. Invés de ter se programado, o governo resolveu deixar
tudo para em cima da hora. Agora, operários trabalham durante vinte quatro horas
por dia para tentar finalizar os projetos.
Contudo, espera-se que o descaso do governo não manche o evento,
pois o mesmo trará dinheiro para o país através do turismo e gerará empregos para
a população.
Crônica 005
O dia de azar
Fernando se considerava um mulato de sorte com apenas 26 anos
estava para se casar com uma bela mulher, uma morena de corpinho violão. Depois
de um ano de namoro e seis meses de noivado finalmente ia se casar, apesar de
que nem conhecia o pai da noiva.
No dia do tão esperado casamento apesar do bom humor do Fernando
ele sentia que tinha acordado com um sério caso de azar, pois ao se levantar deu
uma topada no pé da cama, se cortou fazendo a barba e pegou um engarrafamento
a caminho da igreja.
Porém quando o casamento começou ele esqueceu essas ideias e se
concentrou no mais importante dia de sua vida. Ao final da cerimonia quando saia da
igreja um senhor de meia idade lhe barrou o caminho. No momento que Fernando
com um soriso no rosto se dirigiu ao velho, tomou um forte tapa no rosto e antes de
conseguir reagir tomou outro mais forte ainda, quando se recuperou do
atordoamento interrogou a esposa com o olhar que acanhado revelou que o velho
era seu pai. Plz! Que bela maneira de conhecer o sogro.
Muitas horas depois o casal já estava de volta a casa arrumando as
malas para a viagem de lua de mel que ocorreria as 5 horas da manhã do dia
145
seguinte ou seja daqui a 6 horas.
E apesar do cansaço e da necessidade de arrumar as malas a esposa
recém casado com seu ar matreiro conseguiu o que queria de seu marido.
Depois lá pelas três da manhã Fernando se levanta e se dirige ao
banheiro mais no caminho tropeça nas malas e se estatela no chão. Pronto.
Quebrou o nariz. Sangue e mais sangue escorre pelo rosto, enquanto ele e a esposa
escancam o sangramento e poem gelo para evitar o inchaço, tudo inutil, o nariz
cresceu tanto que parecia uma bola e quando olharam o relógio viram que ja era
quase 4:30 da manhã, tiveram que ir correndo até o aeroporto.
Chegando lá descobriram que não havia carregadores e Fernando se
virou para levar as malas até a area de espera e de la viram pela tela de
programação que o voo deles foi cancelado devido o mal tempo. Então Fernando
se lembra do dia e fala: Realmente eu acordei com um sério caso de azar.
Crônica 007
Um fato inusitado
João da Silva morado da favela da Rocinha por falta de opção,
consegue com muito sacrifício um carro usado antigo.
Naquela mesma noite, toca na rádio da polícia: “_Suspeita de
contrabando de droga em Botafogo, encaminhar viaturas e sentinelas para averiguar
o caso”.
Blits se instalam nas principais avenidas do bairro Policiais estão por
toda a parte a procura de pistas...
João nesse momento encontrava-se junto aos seus cinco filhos e
mais um outro que ainda estava no ventre de sua esposa a qual também se
encontrava presente, naquele humilde barraco.
De repente, sua esposa sente dores de parto e sua bolsa estoura,
por ela ter pressão alta, eles entram no carro e saem desesperadamente em
direção ao hospital central de Botafogo.
Os policiais querem parar João na Avenida principal, desesperado ao
ver sua esposa hipertensa desmaiar, ele acelera ainda mais, eles atiram e acertam
João na cabeça.
Enquanto isso, o verdadeiro traficante louro de olhos azuis, bem
apresentado passa com sua Bleizer novíssima por eles tranqüilamente sem ser
parado e quando os moradores da Rocinha ficam sabendo do fato inusitado,
começam uma rebelião.
A tropa especial da polícia sobe na favela para abafar a rebelião. Há
troca de tiro para todo lado, muitos inocentes estão mortos, inclusive os cinco filhos
de João e de sua esposa... ninguém sabe notícias.
Crônica 008
O empadão maldito
Era segunda de manhã, tinha acabado de chegar ao colégio depois de
três horas bem dormidas de viajem, estava com fome, e como se fosse conscidência
um aluno estava vendendo empadão no alojamento, não resistindo comprei, ao
começar a comer vi que o empadão era muito ruim, então dei para outro aluno,
146
como iria pagar na proxima semana, ele anotou no espelho do seu armario o meu
nome e a quantidade de dinheiro que devia.
Depois de uma semana, teve revista de armário para ver se tinha
alguma irregularidade, ao passar revista no armário do aluno que estava vendendo
empadão, viram o meu nome no espelho, como era proibido qualquer tipo de
comércio fui devidamente papirado.
Dois dias depois, fui julgado e tomei cinco impedimentos que somados
com outros cinco me deu varios dias a bordo, ficando preso sem ir para casa um
mês.
Depois destes acontecimento aprendi a não compra nada a fiado, e
nunca mais comi empadão.
Crônica 011
A ponte
Lembro-me bem daquele dia, era uma sexta. Há pouco estavamos
todos na porta do colégio, era mais um dia de aulas chatas, e o encontro dos alunos
na porta do colégio antes do toque do sinal, se tornava quase um ritual.
Sempre antes do início das aulas planejavamos o que iríamos fazer
naquele dia, antes, depois ou até mesmo durante a aula, matá-las já era algo
costumeiro para nós, não havia o menor problema, nós matavamos as aulas
daquele dia e voltavamos para o colégio ao término de todas elas, assim não
deixavamos suspeitas.
Naquela sexta-feira, decidimos que iríamos à ponte dos pescadores,
era uma ponte antiga, com mais ou menos oito metros de altura, de concreto meio
gasto e com algumas vigas expostas ao tempo. Achavamos que era divertido pular
daquela ponte, era engraçado ver os saltos diferentes de Marcelo, as cambalhotas
de Filipe ou os quase ornamentais saltos de João. Eu era sempre o último a pular,
gostava de ter certeza de que na de errado poderia acontecer, sinceramente, nem
gostava muito de saltar, sempre tive um certo medo, e quer saber a verdade, achava
aquilo meio idiota e arriscado, confesso que estava ali porque gostava da
companhia deles, sempre fui um cara tímido, quieto e até de certo modo receoso à
certas aventuras.
Era sexta-feira, estávamos matando aula, Felipe e João já haviam
pulado, restavam apenas eu e marcelo. Marcelo começou a caçoar de mim porque
eu sempre era o último, falava que só ia pular depois que eu pulasse, aquilo me
deixou ainda mais nervoso, e quando ele veio em minha direção querendo me
impurrar, eu gelei, começamos a lutar em cima daquela ponte velha, eu era mais
forte, e por estar com medo não tive noção da minha força, eu o empurrei...
Tinhamos quatorze anos naquela época, Marcelo era um grande
amigo, nossas famílias eram amigas, conviver com a sua perda tem sido difícil,
carregar a culpa por ter causado sua morte é ainda pior. Nós nunca mais fomos os
mesmos, sei que ele jamais me culparia, foi uma brincadeira, mas se eu pudesse
realizar um desejo impossível, não pensaria duas vezes, todos sabem muito bem o
que seria.
Crônica 012
147
A viagem
Viajar nunca foi muito fácil para mim, quando viajo de avião carro,
ônibus ou até mesmo de navio, eu passo mal, sinto enjôo, não consigo dormir e
algumas vezes minha pressão cai e fico tonto. Dentre todas as viajens que já fiz a
pior de todas foi a minha última. Como moro em São Paulo e estudo em Angra dos
Reis toda vez que vou para casa passo oito horas dentro de um ônibus, a viagem
naturalmente para mim não é boa e além disso a única empresa que faz a linha
Angra - São Paulo vai pela pior estrada que tem, o ônibus vai pela estrada Rio –
Santos, essa via tem muitas curvas o que faz-me sentir pior ainda para piorar o
ônibus da empresa não é nem um pouco confortável. Todos esses fatores já seriam
suficientes para a minha ida para casa ser um inferno, mas a última vez que fui para
casa teve um toque especial. Tomei o ônibus que sai as 15:00 horas, já no começo
da viagem uma criança começou a chorar e passou pelo menos umas duas horas
chorando, sentou-se ao meu lado um estrangeiro que pelo visto e pelo fedor não
tomava banho a uma semana. Na primeira cidade que paramos embarcou uma
outra criança acompanhada de sua mãe, um pouco antes do meio do caminho a
criança passou mal e vomitou no ônibos, como o ar condicionado não estava
funcionando direito e as janelas são lacradas e não da para abrir o cheiro que ficou
no ônibus era insuportável. Após uma longa e maldita viagem cheguei em casa e
para a minha sorte choveu o final de semana todo.
Crônica 021
A Escolha
Fui dormir tarde neste dia e a vontade de acordar logo era muito
maior do que o cansaço que sentia. O dia seguinte seria muito importante para mim
porque a escolha que iria fazer poderia mudar completamente minha vida.
Acordei durante a madrugada, pensando que o céu já estava claro,
porém frustrei-me ao ver que a escuridão da noite ainda estava presente. Com muita
dificuldade consegui dormir novamente.
Às 7 horas da manhã levantei-me num pulo e em minha face estava
estampada uma grande ansiedade pelo desenrolar daquele dia. Arrumei-me
rapidamente e saí de casa rapidamente embalado de nervosismo e indecisão.
Em meia hora cheguei ao local que poderia ser a minha felicidade ou
decepção: a Universidade. Eu estava prestes a escolher uma área da minha
profissão e era muito importante para mim.
Passados vinte anos deste acontecimento, agora vejo o quanto
ingênuo era, pois a coisa mais importante para minha vida eu já tinha: Minha família
e meus amigos. E essa escolha não era tão importante quanto isso.
Crônica 025
CRISES NA ADOLESCÊNCIA
Há sete anos atrás, com onze anos, eu era aquele garoto que achava
que já tinha crescido o suficiente e que podia fazer tudo o que quisesse e ir a
qualquer lugar independentemente da opinião dos meus pais.
Foi então, que numa tarde como outra qualquer, eu estava em casa
148
sem fazer nada e resolvi ir ao Shopping. Meu irmão, que era mais velho do que eu
dois anos, estava em casa e disse para eu não ir, já que, como não tinha ninguém
para me acompanhar e teria que ir sozinho. E então eu disse:
_Pode deixar que eu vou sozinho numa boa.
_Nossos pais não vão gostar nada disso - disse meu irmão.
Eu me achando o adulto responsável me vesti e fui para o ponto
ônibus.
Ao chegar no Shopping comprei coisas desnecessárias, como
qualquer outro adolescente faria, e fui para o fliperama para passar o tempo. Depois
lanchei e resolvi ir embora, feliz com as "bujingangas" que carregava. Fui até o ponto
de ônibus mais próximo, estava escurecendo e o ponto de ônibus estava deserto.
Não demorou muito e o ônibus chegou, eu fiz sinal para ele parar e no mesmo
instante um homem armado se aproximou mandou eu ficar quieto, pegou as minha
compras, minha carteira, me empurrou para dentro do ônibus e saiu correndo. E foi
assim que eu voltei para casa, de carona no ônibus e com uma mão na frente e
outra atrás. Quem mandou ser rebelde.
Crônica 026
O último Carnaval
Chegou fevereiro, de início não era uma notícia boa, visto que
tínhamos, eu e minha turma inteira, que voltar ao colégio para fazer uma segunda
chamada de inglês e, para isso, teríamos que passar uma semana lá. Porém, depois
dessa semana, tínhamos um restinho das férias, e que férias, pois a última semana
era a de Carnaval, o tão esperado e planejado Carnaval. Foi em Saquarema que eu
e um grupo de amigos decidimos passar esse clima de festa. Chegamos lá. A
primeira coisa que fizemos foi largar as malas na nossa casa alugada e ir para a
praia. Todas as noites íamos a cidade onde havia dois trios elétricos. Dançavamos.
Bebíamos. Conhecíamos pessoas novas, principalmente as garotas, já que
tínhamos outros interesses com elas e, muitas vezes, conseguíamos o esperado.
Infelizmente, no terceiro dia fiquei doente e no quarto tive que me separar dos meus
amigos e voltar para casa, mas quando iniciamos as aulas tudo que lembrávamos
era toda a diversão que tivemos e até hoje rimos dessa histórias.
Crônica 045
A grande mão
Estou triste. Aliás triste não, magoado. Uma mágoa comparável a dor
da perda de um ente querido. Observando os fatos, vejo que tenho motivos de sobra
para estar assim. Era mais um dia no estafante cotidiano daquele colégio interno.
Havia um clima de intenso desgaste entre os alunos, uma vez que era período de
provas. Até mesmo discussões mais sérias eram observadas. Foi nesse contexto de
extremo nervosismo que o desastre aconteceu. O amigo OMDE, amigo de longa
data, foi o personagem principal dessa tragédia.
Você deve estar se perguntando que fato pode ser tão grave. Abuso
de poder. Porém, para o diretor daquele Colégio, pedir a um calouro que ele faça
uma tarefa não se enquadra nesse artigo, mas no de trote. E trote é passível de
expulsão. Você já sabe o resultado.
149
Aqui começa a minha discussão. Até onde outro ser humano pode
interferir nas nossas vidas? Vivemos para pagar impostos, cumprir nossos deveres e
exercer nossos direitos. ONDE era um modelo exemplar de cumprimento dessas
metas, porém por um simples não, seu caminho foi desviado. Assim, esta é a
pergunta que não consigo achar uma resposta. Quem controla nossas vidas, Deus?
Crônica 061
A exposição da vida
Uma menina da alta sociedade de uma pequena cidade relacionava-
se ao mesmo tempo com dois homens, e isso foi exposto na internet.
No dia seguinte o pai da menina não conseguia olhar para o espelho
sua mãe apenas chorava e ela quase foi linchada pelos seus colegas de faculdade,
faculdade de direito onde se estuda até onde vai a liberdade do ser humano.
Um choque fatal atingiu essa família, pois a sociedade que coloca o
livro “O doce veneno do escorpião” como best-seller foi a mesma que renegou a
menina do interior, por que esses dois parâmetros? Pensa a menina nos seus
momentos de reflexão.
A sociedade não está pronta para aceitar a realidade, o caso de
Bruna Surfistinha ainda está distante da maioria das pessoas, mas uma menina do
interior está próximo de todos, poderia ser em qualquer lar.
Tendo em vista essa aproximação de ator considerados
abominados, a sociedade reagiu, mostrando que apesar de tudo ainda quer zelar
pelos valores da família.
Por fim a menina recorreu aos meios judiciais para reparar sua ferida
moral, enquanto isso sua família procura outra cidade para viver.
Crônica 076 Ø
Voltando para casa
Ao chegar no Rio, após uma exaustiva viagem Angra-Rio, me
aproximo de um taxi, que parecia estar esperando a minha volta.
O taxista, um senhor de idade, bem vivido, pergunta logo o
intinerário. Parecia estar trabalhando a muito tempo naquele dia. O individuo, que
não tive a oportunidade de perguntar o nome, apenas reclamava da vida e do
transito. Num momento de muito silêncio, tive a ingenuidade de puxar uma
conversa. Queria saber como estava o meu Flamengo, a violência, como foi a
novela essa semana. Com poucas palavras o homem para o carro num sinal na
entrada da Ilha, comenta que vive apenas para o trabalho e volta a reclamar de tudo
e de todos.
Aprendendo com meu erro, paro e reflito sobre a vida. Penso como
foi a semana, como será o meu fim de semana, como será o meu futuro. Em meio
de devaneios, percebo que o taxi está perto de casa. Rapidamente indico as ruas e
finalmente vejo minha bela residência.
150
O senhor fala o preço da corrida e pede que eu saia com certa
rapidez. Pago e saio do carro, vendo na porta de casa, os olhos de minha mãe,
esperando apreensiva ao meu regresso.
Ela vem ao meu encontro, me abrassa forte, enquanto vejo o taxi
descer rapidamente a rua. Naquele momento percebo que tive a melhor conversa da
minha vida, comigo mesmo.
Crônica 079 Ø
Saudade
De fato, um dos piores momentos do dia para um jovem estudante é
a ida matinal para a escola.
As faces amassadas pelo travesseiro, os livros pesando nas costas...
Costumava acompanhar este movimento sazonal com uma enorme preguiça e,
muitas vezes, sentiam inveja dos alunos do turno da tarde que tinham mais horas de
sono e até podiam dar-se o luxo de assistir os programas de desenho na TV, sem
falar na Xuxa!
Bons tempos aqueles... Mas confesso que custei a perceber que um
dia cresceríamos (a Xuxa nem tanto...) e todos acabariam acordando cedo! Caras
amassadas, pastas pesadas... Ah! Que saudade!
Crônica 086 Ø
Domingo de Sol
Numa tarde de domingo, dia 5 de fevereiro de 2005, eu estava indo
comprar pão com meu cachorro, chegando a padaria, eu vi uma familia não muito
grande, com três pessoas, sentada ao meio fio perto da entrada da padaria.
Entrei comprei meus pães e sai. O meu cachorro se assustou com
um carro na rua e pulou em cima de mim, rasgando totalmente o saco que estava
com os pães. Imediatamente a família que se encontrava próximo da entrada da
padaria, correram para catar os pães que estavam no chão. Eu meio assustado
pensei que eles iam me assaltar, foi quando o homem que parecia ser o mais velho
daquela família, juntou todos os pães e me deu. Foi naquela hora que percebi que a
forma como eu havia tratado aquela família, quando entrei na padaria, foi totalmente
fora dos padrões de que aquela família merecia, tratei-os com despreso, mas logo
voltei atrás e percebi que eles eram especiais e mereciam um pouco mais de mim,
foi quando voltei até eles e lhes ofereci um ótimo café da manhã, mas tenho certeza
que esse café que eu lhes ofereci, não chega nem perto do que realmente eles
merecem.
Crônica 088 Ø
Um dia após outro
Um belo dia acordei pensando que iria ser diferente dos outros porém
151
não foi o que aconteceu. Eu escovei os dentes, fiz barba, me arrumei e tudo isso em
25 minutos para descer para o “reunir” ainda correndo. Tomei o meu café com pão e
fui para a sala de aula onde dormir nas duas primeiras aulas. Mas quando pensei
que o dia seria igual aos outros a professora entrou na sala me dando duas
péssimas noticias: o primeiro é que teria um trabalho de língua portuguesa para
entregar em pouco tempo valendo nota na 3ª avaliação e a segunda é que a prova
do 2º bimestre teria a possibilidade de cair uma redação. Apesar de ter feito o
trabalho com o título: “Um dia após outro” terminei o dia com a nítida sensação de
ter produzido algo diferente.
Crônica 097 Ø
Meu 30ª serviço final de semana
Um jovem de estatura baixa e com um rosto nada amistoso ficou de
serviço e lamentava o seu destino: os serviços de finais de semana.
Em uma conversa amistosa e sincera este jovem relatou fatos acerca
de todos os serviços que o foram atribuídos e seus “defeitos”, sendo os “defeitos”
predominantes em relação aos fatos. Este jovem, pensativo, relatou com convicção
o orgulho que tinha em ver o “superior” relatar os seus méritos, no entanto, foi firme
ao falar sobre os maus exemplos que passavam em seu caminho, um exemplo disso
foram seus colegas irem para seus respectivos lares e rirem de seu destino tao
triste.
Alegria, temores e tristeza surgiam nesta alma, no entanto a
esperança de um futuro promissor leva-o a seguir em frente.
152
ANEXO D – Corpus maduro, subgênero Notícia.
Notícia 002
Analfabetismo: pior do que na Bolívia
O Globo 19/09/08
Brasil tem taxa de 10%: 14 milhões de jovens e adultos não lêem nem escrevem
A melhoria de renda e de emprego, assim como a queda na desigualdade, não está
sendo acompanhada, no governo Lula, por avanços na educação. Nessa área,
segundo dados da Pnad/2007 divulgados pelo IBGE, o país enfrenta um retrocesso.
O número de estudantes de 15 a 17 anos nas escolas caiu 1,6%. O Brasil tem mais
analfabetos que países como Bolívia e Suriname.
O governo Lula chegou ao quinto ano com 14,1 milhões de jovens e adultos
analfabetos no país, segundo a última Pnad. A pesquisa foi realizada em setembro
de 2007 e revelou que o país permanecia com uma taxa de analfabetismo de dois
dígitos - 10% (incluindo o Norte rural) - entre a população de 15 anos ou mais. Em
números absolutos, havia mais iletrados que a população da Suécia e da Noruega
juntas. De 2006 para 2007, a taxa brasileira caiu de 10,4% para 10%. No Nordeste,
19,9% da população permaneciam sem saber ler e escrever.
O ligeiro recuo na taxa nacional, porém, nada contribuiu para melhorar a posição do
Brasil num ranking latino-americano de 22 nações: o país ocupava a 15ª posição,
atrás de Bolívia (9,7% de analfabetos), Suriname (9,6%), México (7,6%), Paraguai
(6,3%), Chile (3,5%) e Argentina (2,4%). Em situação pior, estavam apenas
República Dominicana (10,9%), Jamaica (14%), El Salvador (14,5%), Honduras
(16,9%), Nicarágua (19,5%), Guatemala (26,8%) e Haiti (37,9%). Cuba tem a menor
taxa: 0,2%.
A comparação usou dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco).
- É preocupante. O número de analfabetos ainda está muito alto - disse o
representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny.
O IBGE calcula também o chamado analfabetismo funcional, que considera a
153
população com menos de quatro anos de estudo. No ano passado, 21,6% dos
brasileiros estavam nessa situação. No Nordeste, o índice alcançava 33,5%, ou seja,
mais de um terço da população.
O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da
Educação, André Lázaro, disse que o ritmo de redução é inferior ao desejado, mas
acentuou a tendência de queda: em 2004, a taxa era de 11,4% e caiu para 11,1%,
em 2005, e 10,4%, em 2006.
- É lenta, mas consistente.
Lázaro criticou o governo de São Paulo, lembrando que o estado tinha o segundo
maior número de analfabetos no país, atrás somente da Bahia, mas não investia em
ações para combater o problema.
- São Paulo tem o segundo maior número de analfabetos, mas nenhum programa de
alfabetização de jovens e adultos - disse Lázaro.
O Brasil Alfabetizado foi lançado em 2003, quando a prioridade do governo Lula era
erradicar o analfabetismo na gestão do então ministro Cristovam Buarque. O
programa investirá R$300 milhões este ano para atender 1,3 milhão de jovens e
adultos. Segundo Lázaro, 30% das matrículas costumam ser de quem já sabe ler e
escrever.
Até hoje, o governo desconhece o impacto do programa, pois não sabe quantos
alunos efetivamente são alfabetizados. Em 1992, a taxa de analfabetismo brasileira
era de 17,2%.
Nesse período de 15 anos, a maior redução ocorreu no Nordeste: de 32,7% para
19,9%.
Não é preciso ir longe para ver que o analfabetismo vai demorar a acabar em
Pernambuco, onde os próprios órgãos oficiais calculam que há 100 mil crianças fora
da escola. Alberto Barbosa da Silva, de 13 anos e morador de Cabo de Santo
Agostinho, é uma delas. Já tentou estudar duas vezes, mas não conseguiu aprender
nada. Diz que não gosta de colégio. No ano passado, matriculou-se, mas só ficou no
colégio por um mês. Não sabe ler, escrever e nem mesmo assinar o nome. Sua tia,
Edite Barbosa da Silva, de 28 anos, parou de estudar ao 18. Cursou até a 4ª série:
sabe ler e escrever "mais ou menos".
No Nordeste, as taxas de analfabetismo chegam a 19,9%. Mas há municípios, como
Gameleira, onde 25% dos maiores de 20 anos não sabem ler nem escrever. No
meio rural, esse número chega a 57%.
Notícia 008
Chávez afasta cônsul da Venezuela em Houston e agrada os EUA
O Globo 11/11/2008
154
CARACAS - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, informou na terça-feira que
demitiu o cônsul venezuelano em Houston por violar regras ao abrir novos
escritórios. A manobra deve colocar ponto final em uma polêmica surgida depois de
os EUA terem reclamado da atitude do diplomata.
O consulado de Houston é importante para a Venezuela porque a cidade é um
centro aglutinador de grande parte dos negócios do país latino-americano no setor
petrolífero. Apesar das conturbadas relações mantidas entre os dois países, a
Venezuela continua a ser um dos maiores fornecedores do combustível para os
Estados Unidos, seu maior comprador.
O governo americano afirmou ter convidado os funcionários venezuelanos a
deixarem o país depois de uma nova base para o consulado em Houston ter sido
montada sem a autorização prévia dos EUA. Chávez frisou, no entanto, que os
venezuelanos não foram expulsos pelo governo americano.
- Nós afastamos o cônsul e esclarecemos a situação - afirmou Chávez em uma
entrevista concedida ao canal estatal de TV da Venezuela, segundo um comunicado
divulgado pelo Ministério da Informação.
O presidente expulsou o embaixador americano da Venezuela em setembro. Desta
vez, Chávez evitou alimentar a tensão, culpando o cônsul por agir sem ter recebido
autorização formal nem mesmo da Embaixada da Venezuela em Washington.
Desde a vitória nas eleições presidenciais americanas do democrata Barack Obama,
na semana passada, Chávez tem feito ofertas aos EUA para aliviar as tensões.
Apesar de analistas políticos afirmarem haver poucas chances de a postura mais
simpática durar muito, espera-se uma melhora nas relações durante um período
curto de tempo, enquanto os dois lados tentarem mostrar que não são o responsável
pelos conflitos.
Notícia 011
Lucro da Vivo salta quase trinta vezes, para R$ 129,8 milhões
O Globo 11/11/2008
SÃO PAULO - A operadora de celular Vivo fechou o terceiro trimestre de 2008 com
lucro líquido de R$ 129,8 milhões, volume quase trinta vezes maior que o ganho
apurado em igual período de 2007, de R$ 4,4 milhões. A melhora foi conseqüência
da aquisição da Telemig e também de um crescimento orgânico da receita e das
margens da companhia. Levando em conta os números do resultado combinado,
com a Telemig já considerada no terceiro trimestre do ano passado, o lucro
apresenta avanço de 204,7%, saindo de R$ 42,6 milhões para R$ 129,8 milhões.
Entre julho e setembro deste ano, a receita operacional líquida da Vivo foi de R$
4,078 bilhões, com um salto de 25,5% sobre o mesmo intervalo de 2007. Na
comparação que incorpora a Telemig, o crescimento foi de 13,7%. A empresa
fechou o mês de setembro com uma base de 42,27 milhões de clientes, o que revela
155
uma alta de 35% em 12 meses e de 20,6% considerando apenas o crescimento
orgânico.
Com relação às vendas, o destaque foi o desempenho da receita com dados e
Serviços de Valor Agregado (SVAs), que aumentou 40,6% (no resultado
combinado), para R$ 364,5 milhões.
Ao mesmo tempo, os custos e despesas operacionais da companhia mostraram
evolução mais modesta, saindo de R$ 2,415 bilhões no ano passado para R$ 2,761
bilhões este ano no resultado publicado, com alta de 14,3%. Nos números
combinados, a alta de despesas foi de 4,4%.
Desta forma, a Vivo teve lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização
(Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 1,316 bilhão no terceiro trimestre deste ano, um
salto de 57,9% sobre 2007 (e de 39,8% considerando a Telemig). A margem Ebitda,
que mede a relação entre este indicador e a receita líquida, atingiu 32,3%, um
avanço de 6,6 pontos em relação aos 25,7% do ano anterior (26,3% com Telemig).
De acordo com o presidente da empresa, Roberto Lima, a Vivo começa a mostrar
melhores resultados após resolver questões estratégicas como a adoção da
tecnologia GSM e o aumento da cobertura nacional. Atualmente, os clientes GSM já
representam 62% da base da empresa, ante pouco mais de 20% em setembro do
ano passado. Isso permite ganhos de escala em termos de custos de infra-estrutura,
a venda de aparelhos mais baratos, o uso mais intenso do celular por clientes em
viagens na Europa, por exemplo, e também a captura de tráfego de mais
estrangeiros no Brasil.
Já o aumento da cobertura, com a entrada em Minas Gerais e também nos estados
do Nordeste em que a empresa ainda não atuava - processo que ainda está em
andamento - eleva a base de clientes e também traz benefícios ligados ao serviço
de roaming.
Ao ser questionado se a Vivo manterá este nível de margem Ebitda alcançado no
trimestre, Lima não quis se comprometer com resultados, já que a empresa não
divulga previsões (guidance) sobre o futuro, mas disse que " tem o objetivo de
mantê-la elevada ", diante dos investimentos que são necessários no setor.
Ao longo deste ano, a Vivo deve realizar um investimento total de R$ 6,1 bilhões,
sendo R$ 2,7 bilhões ligados à Telemig, R$ 1,2 bilhão por conta da licença de
operação da tecnologia 3G e o restante em infra-estrutura. Apenas no terceiro
trimestre, os investimentos somaram R$ 868 milhões.
Notícia 012 Ø
Busca por Osama bin Laden será prioridade de Obama, diz jornal
O Globo 11/11/2008
156
RIO – O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, vai adotar uma estratégia mais
regional para a guerra do Afeganistão, o que incluiria conversas com o Irã, segundo
reportagem da edição desta terça-feira do jornal “Washington Post”. Obama também
pretende voltar a se concentrar nas buscas por Osama bin Laden, afirmou o “Post”,
citando assessores de segurança nacional do democrata. O futuro governo vai ainda
destacar a importância de dar continuidade ao combate aos talibãs baseados no
Paquistão – onde acredita-se que Bin Laden esteja escondido -, mas quer lembrar
que a luta contra os terroristas islâmicos começou em 11 de setembro de 2001 e
que o líder da Al-Qaeda continuará sendo a prioridade da política de segurança
americana.
“Esse é nosso inimigo e deve ser nosso principal alvo”, disse ao jornal um assessor
de Obama falando sobre Bin Laden”.
Crítico declarado da estratégia do governo Bush de priorizar a guerra no Iraque,
Obama também quer manter o compromisso firmado na campanha de mandar mais
tropas para o Afeganistão, onde o número de soldados americanos mortos atingiu
este ano o maior nível desde o início da ofensiva dos EUA, em 2001. A medida deve
agradar setores do Exército, que criticam, entretanto, sua proposta de ordenar o
retorno das tropas americanas no Iraque dentro de 16 meses.
A equipe de Obama ainda está avaliando os documentos confidenciais que o
presidente eleito recebeu na semana passada da CIA (Agência Central de
Inteligência), mas alguns pontos da estratégia do próximo governo já estariam
desenhados. O Irã, por exemplo, foi mantido à distância pelo governo Bush, mas
pode ser chamado na formulação de uma nova estratégia para o Afeganistão,
segundo um oficial de alta patente citado na reportagem do “Post”.
“Conforme olhamos para o futuro, seria útil termos um interlocutor” para explorar
objetivos comuns, disse essa fonte ao jornal sobre o Irã.
De acordo com esse funcionário, os iranianos “não querem extremistas sunitas no
governo do Afeganistão mais do que nós”. Segundo os assessores de Obama, o
presidente eleito deverá também apoiar as negociações entre o governo afegão e
integrantes “reconciliadores” do Talibã, um esforço recente ao qual o Departamento
de Estado americano tem sido indiferente.
Notícia 013 Ø
Articulista do ‘Washington Post’ aposta em Al Gore como secretário de Estado
O Globo 11/11/2008
RIO – A lista do primeiro escalão do futuro governo de Barack Obama deve começar
com Al Gore. Esta é a opinião de Richard Cohen, importante articulista do
“Washington Post”. Em editorial, Cohen afirmou que “se existe uma única indicação
que Obama poderia fazer para mostrar o quão dramaticamente as coisas vão mudar
em Washington esta seria a de Al Gore – ex-deputado, ex-senador, ex-vice-
157
presidente e atual Guardião do Planeta – como secretário de Estado”. O jornalista
acrescenta, com uma pitada de humor: “Para todos os outros aspirantes ao cargo,
sinto muito – esta é a uma verdade inconveniente”.
Para Cohen, Gore é o mais capacitado para conduzir e preparar os EUA para as
mudanças mundiais:
“Você pode imaginar uma anúncio mais forte para uma nova direção diante do
aquecimento global e da preocupação geral com o nosso explorado planeta? Gore
venceu o Nobel da Paz por seu trabalho nessa área (e um Oscar) e sua indicação
seria um sinal de uma significativa mudança em relação à indiferença da Era Bush,
que deu de ombros ao Tratado de Kyoto. Em um só golpe, os EUA emergeriam
como o líder das nações em um esforço para salvar o planeta de nós mesmos e
poderia se preparar para as conseqüências de um mundo transformado.”
“ Para todos os outros aspirantes ao cargo, sinto muito – esta é a uma verdade
inconveniente “
O democrata Gore votou a favor da Guerra do Golfo (contra o Iraque, que invadira o
Kuwait), em 1991, e contra a Guerra do Iraque (2003) – da mesma forma que
Obama.
Antes das primárias democratas para a Presidência, o nome de Gore era fortemente
citado como possível candidato à Casa Branca. Recentemente, Gore afirmou que os
EUA “precisam fazer um resgate de emergência da civilização humana”.
Para o cargo de secretário do Tesouro, Cohen joga as suas fichas em Lawrence
Summers, ex-reitor de Harvard. “Ele é um liberal, mas não um daqueles que
provocam alarme nos mercados”, escreveu.
Notícia 016 Ø
Estratégia: Obama apoiaria contato entre Cabul e rebeldes e buscaria auxílio
do Irã
O Globo 11/11/2008
WASHINGTON - O futuro governo Obama planeja explorar uma estratégia mais
regional na guerra no Afeganistão - incluindo possíveis conversas com o Irã - e olha
com simpatia o nascente diálogo entre o governo afegão e "elementos
reconciliáveis" do Talibã, de acordo com assessores para segurança nacional do
presidente eleito.
Segundo a edição do Globo desta quarta-feira, Barack Obama também pretende
renovar o compromisso de perseguir Osama bin Laden - uma prioridade que
acredita que o presidente George W. Bush menosprezou após anos de tentativas
fracassadas de capturar o líder da al-Qaeda. Criticando Bush durante a campanha,
158
acusando-o de se concentrar no Iraque às custas do Afeganistão, Obama também
pretende enviar mais tropas a Cabul.
Essa abordagem deve ser bem recebida por um certo número de funcionários do
governo que defendem um curso mais agressivo e criativo para o conflito em
deterioração. Os ataques talibãs e as mortes entre soldados americanos são os
mais altos desde que a guerra começou em 2001.
Alguns comandantes militares olham com cautela para o compromisso de Obama de
ordenar a retirada das tropas do Iraque em 16 meses - uma ordem que conselheiros
dizem que ele deverá dar já nas primeiras semanas no cargo. O almirante Michael
Mullen, chefe de Estado-Maior Conjunto, chamou tal cronograma de perigoso.
Outros desconfiam do futuro governo, que vêem como despreparado para as
guerras de contra-insurgência que vêm consumindo suas Forças Armadas nos
últimos sete anos.
Notícia 018
PMDB pressiona governo para reaver pasta da Justiça e dar em troca comando
do Congresso
O Globo 11/11/2008
BRASÍLIA - Com a polêmica sobre a Operação Satiagraha rondando a Polícia
Federal e o Ministério da Justiça, setores do PMDB vislumbram a possibilidade de o
partido voltar ao comando da pasta e pressionam o governo a demitir o ministro
Tarso Genro. Segundo reportagem de Maria Lima e Adriana Vasconcellos publicada
nesta quarta-feira no GLOBO, dirigentes do PMDB dizem que a intenção não é
ampliar seu espaço no governo, mas fazer uma troca, levando para o lugar de Tarso
o ministro da Defesa, Nelson Jobim - operação relacionada diretamente à eleição
dos novos presidentes da Câmara e do Senado.
Disposto a fazer o senador Tião Viana (PT-AC) presidente do Senado, Lula, que
pretende discutir a sucessão no Congresso quando chegar de viagem da Itália,
estaria disposto a aceitar a troca se, em contrapartida, o PMDB desistir de lançar um
candidato. A negociação facilitaria o acordo entre PT e o PMDB, que lançariam
Michel Temer (PMDB-SP) para suceder Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a
presidência da Câmara.
Segundo peemedebistas, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) tem interesse na
troca de comando no ministério, pois isso poderia tirar seu filho Fernando Sarney da
mira da PF. O filho do ex-presidente é suspeito de ter movimentado mais de R$ 2
milhões às vésperas da eleição de 2006, que teriam favorecido a campanha da irmã
Roseana ao governo do Maranhão.
Notícia 020
159
Itagiba diz que CPI dos Grampos está à disposição de Protógenes e critica
sigilo de Justiça
O Globo 11/11/2008
RIO - O presidente da CPI dos Grampos, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), afirmou nesta
terça-feira que a comissão está à disposição para ouvir a versão do delegado
Protógenes Queiroz, que coordenou a
Operação Satiagraha, responsável pela
prisão do banqueiro Daniel Dantas. Depois de passar as últimas semanas
submersa, a comissão retoma os trabalhos nesta quarta-feira.
- É importante o delegado Protógenes poder colocar seu ponto de vista. A CPI está
à disposição do delegado Protógenes para que ele venha e coloque a sua versão.
Se tiver a necessidade requerimentos, nós vamos votar requerimento nesse sentido
- disse Itagiba em entrevista à rádio CBN.
- Na primeira vez que ele foi chamado à CPI, nosso objetivo era justamente trazer
provas que permitissem a nós podermos ter elementos para a investigação feita
contra o Daniel Dantas, que é acusado em outra vara criminal da prática de
interceptação indevida junto com Kroll. Naquele momento, o delegado Protógenes
foi muito reduzido na sua resposta porque muitas questões estavam sob segredo de
Justiça - completou.
O parlamentar aproveitou para criticar o sigilo de Justiça que, segundo ele, "só
favorece ricos e poderosos".
- Segredo de Justiça que nós devemos começar a questionar. O segredo de Justiça
hoje só favorece aos ricos e poderosos. Não permitindo que as pessoas e a
imprensa de uma maneira geral tenham acesso a dados relativos a pessoas que
praticam crimes. É uma questão que deve ser enfrentada senão fica um
acobertamento da criminalidade do andar de cima - afirmou.
Itagiba comentou ainda o anúncio feito, na véspera, pelo ministro da Justiça, Tarso
Genro, de que o inquérito sobre Daniel Dantas está sendo refeito.
- Espero que 'refazimento' (sic) do inquérito seja para aprimorar provas contra
aquela organização criminosa de colarinho branco que se instalou no país. Espero
que seja para corrigir algum desvio, algum excesso ou alguma possibilidade que
esses indivíduos escapem dos crimes praticados - afirmou Itagiba, lembrando que já
existe um requerimento aprovado para que Tarso compareça à CPI para prestar
esclarecimentos.
- Ele deverá ser chamado em breve para prestar esses esclarecimentos. Não só ele
como a própria Polícia Federal - acrescentou.
Indagado sobre os próximos passos da CPI, o deputado respondeu:
- A CPI vai continuar na sua trilha de demonstrar vários tipos de grampos indevidos,
grampos ilegais, equipamentos que são utilizados. E desrespeito à lei, não só por
delegados de polícia, por promotores, mas mesmo pelos próprios juizes, que
160
autorizam as interceptações, não as fiscalizam, as concedem por prazo superior
àquela a lei permite, além de fazer com que toda essa questão seja publicada e
vazada.
A PF deverá indiciar o Protógenes por cinco crimes: quebra de sigilo funcional,
desobediência, usurpação de função pública, prevaricação, grampos e filmagens
clandestinas. A pena mínima prevista para os crimes é de três anos e meio. A
Superintendência da PF em Brasília, porém, nega que o delegado vá ser indiciado
ainda esta semana porque o inquérito não foi concluído.
Notícia 040 Ø
Mais dois curtas brasileiros são selecionados para Cannes, na Semana da
Crítica
O Globo 24/04/2008
RIO - Foram anunciados esta quinta-feira os filmes selecionados para a mostra
paralela do Festival de Cannes, a Semana Internacional da Crítica (15 a 23 de
maio). Dois curtas brasileiros estão na lista. "Areia", de Caetano Gotardo, dividirá as
honras da cerimônia de abertura com o longa "Les sept jours", filme franco-
israelense de Ronit e Shlomi Elkabetz. Outro curta brasileiro foi selecionado para a
mostra competitiva da Semana da Crítica: "A espera" de Fernanda Teixeira.
A Semana da Crítica é a mais antiga mostra paralela do Festival de Cannes e tem
como vocação descobrir novos talentos. Por este motivo, seleciona apenas filmes
de estréia ou no máximo as segundas obras de cineastas.
Notícia 042
Autores de 'Almanaque anos 80', Luiz André Alzer e Mariana Claudino lançam
'Os 10 mais', que traz 250 listas reveladoras
O Globo 11/06/2008
RIO - Depois do sucesso estrondoso do "Almanaque anos 80" e no rastro do
interativo "O jogo do Almanaque anos 80", a dupla Luiz André Alzer e Mariana
Claudino volta às livrarias com "Os 10 mais - 250 rankings que todo mundo deveria
conhecer" (Agir). No livro, os jornalistas reuniram listas diversas (música, esporte,
mundo, meio ambiente etc), que desmitificam uma série de "verdades" nas quais
sempre acreditamos. Uma delas é a de que a Mônica está na lista de "Os 10
personagens mais antigos da 'Turma da Mônica'". Aliás, essa foi uma das
descobertas que mais surpreenderam a autora.
- E olha que eu achava que ela tinha sido a primeira... Outra coisa que me
surpreendeu foi descobrir que inconstitucionalissimamente não é a maior palavra da
161
língua portuguesa. É apenas a décima maior. Outra é que os mexicanos bebem
mais Coca-Cola do que os norte-americanos. Quem diria! - exclama Mariana. - Alzer
e eu somos fanáticos por listas. Ele até já colecionava algumas, e foi quem deu a
idéia de escrevermos o livro. Fiquei empolgada de cara, porque adoro pesquisar,
comparar dados, escarafunchar mesmo.
" Foi surpreendente descobrir que Padre Marcelo Rossi foi o mais vendido, que Xuxa
tem quatro discos nesta lista e Roberto Carlos, nenhum "
Lista, parece coisa fácil de fazer. Mas ter como critério usar informações oficiais
torna o trabalho bem mais difícil. Assim, pesquisando, entrando em contato com
instituições e comparando informações obtidas a partir de diversas fontes, Luiz
André e Mariana chegaram ao resultado final. "Os 10 discos mais vendidos no
Brasil" foi uma das listas que quase não entraram no livro. A Associação Brasileira
de Produtores de Disco (ABPD) não tem os números de antes da década de 80
computados em seus arquivos.
- Foi uma trabalheira cruzar as listas que tínhamos. Tivemos que fazer o
levantamento das vendas com todas as gravadoras. Depois, foi surpreendente
descobrir que Padre Marcelo Rossi foi o mais vendido, que Xuxa tem quatro discos
nesta lista e Roberto Carlos, nenhum. Ele sempre vendeu discos, mas os números
eram regulares a cada lançamento. Já Marcelo Rossi foi um estouro quando
apareceu - comenta Luiz André Alzer. - Outra lista trabalhosa foi a "As 10 maiores
bilheterias do cinema nacional", porque só existem números a partir de 1993,
quando houve a retomada do cinema no Brasil. Conseguimos confirmar com a
Ancine e descobrimos que, dessa época para cá, só "Dois filhos de Francisco" entra
na lista.
O livro traz também listas encomendadas a celebridades e profissionais ligados a
esporte, música e televisão. Pedro Bial listou "Os 10 participantes mais interessantes
do 'Big Brother Brasil". Jean Wyllys, que ocupa o décimo posto na lista do
apresentador, também fez a sua: "As 10 melhores boates gays". O ex-jogador de
basquete Oscar Schmidt escreveu sobre "As 10 maiores desvantagens de ter 2,05
metros de altura" e Ana Maria Braga (acreditem!) compilou "Os 10 jogos de
videogame mais divertidos".
- Nós mandávamos três opções de listas, mas deixávamos as pessoas livres para
fazerem a sua própria. A da Ana Maria é bem atípica. Eu nem sabia que ela gostava
de jogar videogame - diverte-se Luiz André.
" Como leitora, eu adoraria ter uma lista minha no mesmo livro em que estão
Gilberto Braga e Nelson Motta, por exemplo. "
E não são só os famosos que podem personalizar suas listas. Para não deixar
ninguém com água na boca, Luiz André e Mariana liberaram uma versão do livro
que só pode ser comprada através de um site, produzido pela Agência Frog (que faz
todos os sites para a Ediouro, detendora dos direitos do selo Agir): nele, qualquer
um pode escolher seus "10 mais". E, de acordo com os autores, já tem muita gente
comprando para dar de presente, aproveitando o embalo do dia dos namorados. Na
capa do livro, uma tarja avisa: "inclui lista de..."
- É o primeiro livro no Brasil que permite esse tipo de participação do público. A
proposta torna possível unir três tipos de listas: as que pesquisamos, as dos
famosos e as personalizadas pelo leitor. Como leitora, eu adoraria ter uma lista
162
minha no mesmo livro em que estão Gilberto Braga e Nelson Motta, por exemplo.
Além do mais, tem cara de presente: para mãe, pai, namorado, mulher, amigos...
Criamos um site para explicar melhor o projeto, por onde as pessoas encomendam
suas listas. A questão da interatividade é uma tendência e vem ganhando cada vez
mais espaço na internet. Agora, ela chega ao mercado editorial e à literatura - diz
Mariana.
Notícia 043
Jogo, máfia e arranha-céus em pouco mais de cem anos na História de Las
Vegas
O Globo 07/08/2008
LAS VEGAS - "A diferença entre a antiga e a nova Las Vegas é que uma termina
onde começa a outra". Para espanto dos que o ouviam, o curador do Las Vegas
Convention and Visitors Authority, Paco Alvarez, explica, enquanto mostra fotos
históricas que a cidade de Las Vegas acaba nos limites entre o centro (Downtown),
onde fica Fremont Street, e onde começa Las Vegas Boulevard, a Strip. A maior
parte da Strip fica em Clark County.
- A Sahara Avenue divide o Clark County, com a Strip e Downtown, com a Fremont.
Sendo assim, fica combinado: a cidade de Las Vegas fica a duas milhas (3,6
quilômetros ao norte da Strip - cujo final é marcado pela torre do Stratosphere Hotel,
o quinto prédio mais alto nos Estados Unidos.
- Mas a Strip e a cidade cresceram juntas - pondera o pesquisador, nascido em
Vegas - E, como a Strip não pode mais crescer no sentido sul por causa do
aeroporto, a revitalização de Downtown e a expansão para novas áreas como Lake
Las Vegas, e Handerson a leste ou Boca Park, a oeste, é facilmente compreendida.
De fato, percorrendo a Strip (a pé, sempre a pé, entrando e saindo dos hotéis-
cassinos), percebe-se que Las Vegas cresce para o alto, enquanto se observa a
construção de novos complexos hoteleiros de arranha-céus com dezenas de
andares. Cercada de montanhas, a cidade espremida em um vale tem restrições
para construções. E as áreas citadas por Alvarez, Lake Las Vegas, Handerson e
Boca Park já formam um circuito off-strip, onde também sopram os ventos da
revitalização e do desenvolvimento.
Em Downtown, hoje estão sendo investidos US$ 24 bilhões no projeto de
revitalização:
- A idéia é fazer de Downtown, que fica no centro desta área cercada por
montanhas, uma área mais agradável para os pedestres caminharem, com um
163
ambiente boêmio, onde as pessoas podem passear e se esbarrar, num clima
amigável.
A Fremont Street foi fechada ao tráfego em 1994. Em 1995, a Freemont Experience
entrou em cena para atrair turistas também à noite. Um telão luminoso (as lâmpadas
já foram trocadas por leds) estende por cinco quadras propiciando um show de luzes
e sons. Em cartaz Fred Mercury e sua banda Queen, com "We are the champions".
O telão costuma transmitir os shows que acontecem nos palcos colocados ao longo
da Fremont. Com sorte, você também poderá assistir ao clipe de US - "I still havent
found what I`m looking for - gravado bem ali, em meio aos letreiros luminosos já
conhecidos mundo afora de hotéis-cassinos da 'clássica' Las Vegas, como o Golden
Nugget, 4 Queens, Binions's, e lojas de entretenimento para adultos.
Las Vegas foi fundada em 1905, após um leilão de terras. A região era uma fonte de
água para os espanhóis que exploravam a região. O leilão aconteceu exatamente
onde hoje está o Plaza Hotel e Cassino - numa das extremidades da Fremont Street.
Também foi ali naquela `praça` que surgiu o primeiro hotel da cidade: o Golden Gate
Hotel e Cassino em 1906.
O Mirage foi o primeiro megaresort a mudar a paisagem na Strip. À época, um
empreendimento considerado astronômico, pois precisava faturar US$ 1 milhão ao
dia para atingir seu break-even (igualar resultados para os acionistas).
- Dos tempos iniciais de Las Vegas, ainda existem os hotéis cassino Sahara, um dos
mais antigos e o The Frontier, o primeiro a ser aberto na Strip, o que derruba o mito
construído a partir dos filmes que retratam o crescimento da cidade nos anos 40, de
que Bugsy Siegel tenha sido o pioneiro com o Flamingo. Tem ainda o Hotel El
Cortez, que deu início à vocação turística da cidade. Em seguida vieram os
gangster, como o lendário Bugsy Siegel. O Flamingo veio depois - conta Paco
Alvarez.
Em Las Vegas ficção e realidade se misturam, dando vida às lendas difundidas pelo
cinema. O atual prefeito da cidade, Oscar Goodman, em seu terceiro mandato
(reeleito duas vezes, no cargo desde 1999), fez uma ponta no filme "Cassino"
interpretando o papel dele mesmo, como defensor de personalidades da máfia local
(antes de ser prefeito), como advogado do personagem de Robert de Niro. Bugsy
Siegel, o mafioso cujo nome esteve ligado a muitos cassinos que ainda resistem, foi
interpretado nas telas por Warren Beatty (Bugsy, 1991). Nos palcos dos hotéis
cassinos, muitos astros e estrelas do mundo pop construíram ali bens sucedidos
momentos de sua carreira: Frank Sinatra, Elvis Presley, Elton John, que ainda se
apresenta na cidade entre muitos outros artistas, comediantes, mágicos, produções
da Broadway, grupos como o Cirque du Soleil, que replica em diversos palcos da
cidade diferentes espetáculos.
Dos hotéis-cassinos enfileirados na Fremont, o Golden Nugget contribui para a
história da cidade por ter abrigado as temporadas de Frank Sinatra. Além disso, o
cassino tem uma piscina inacreditável conjugada a um aquário de tubarões, que
permite que você deslize num toboágua passando no meio do tanque dos tubarões.
Há 16 tubarões e quatro arraias convivendo ali harmoniosamente com o olhar
curioso dos hóspedes do hotel. Para evitar que os tubarões se reproduzam são
mantidos apenas machos ou fêmeas de uma ou outra espécie. Eles vivem em
cativeiro cerca de 30 a 35 anos. Ah, é possível jogar na piscina também.... e, num
dos corredores do hotel, esta à mostra a maior pepita de ouro em exibição no
164
mundo, que foi encontrada na Austrália em 1980. O camarim de Frank Sinatra é
mantido até hoje com móveis e decoração da época, mas que não fica aberto ao
público (somente sob consulta) e Kenny Rogers - ex-diretor de entretenimento da
casa antes de se tornar cantor famoso
Notícia 057 Ø
Morte assombrou Ingrid Betancourt no cativeiro na Colômbia
O Globo 04/07/2008
BOGOTÁ, Colômbia (Reuters) - Ingrid Betancourt iniciava cada dia de seu cativeiro
às 4h da madrugada - com frio e deprimida, mas acordada no escuro à espera de
ouvir as palavras de incentivo a serem ditas pela mãe dela, no rádio.
A refém era assombrada por pensamentos suicidas e por temores de que seria
morta. Com frequência acorrentada a uma árvore pelo pescoço, dentro de
acampamentos secretos montados em áreas de mata e tomados por insetos e lama,
Ingrid Betancourt perdeu o apetite.
Muitas das vezes em que comeu, ela vomitou.
"A morte é a companheira mais fiel de um refém", afirmou a repórteres na quinta-
feira. "Nós vivíamos ao lado da morte. E a tentação do suicídio sempre nos
acompanhou."
Mantida durante seis anos pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc), ela era a principal moeda de troca de um grupo de 44 reféns de destaque
que a mais antiga guerrilha da América Latina desejava usar para obter a libertação
de rebeldes presos.
Na quarta-feira, porém, essa cidadã franco-colombiana seqüestrada enquanto fazia
campanha para a Presidência da Colômbia foi repentinamente libertada quando os
militares conseguiram enganar os guerrilheiros, convencendo-os a libertar
Betancourt e mais 14 reféns.
Ciente de que outros reféns haviam sido mortos ao longo dos anos, em meio a esse
antigo conflito, a ex-candidata temeu por sua vida, com medo de que as Farc a
matassem ou que morresse em um choque com as forças do governo.
De forma semelhante à maioria dos reféns, ela disse que as mensagens de amigos,
parentes e simpatizantes divulgadas por rádio foram fundamentais para sua
sobrevivência e ajudaram a combater o tédio dos dias nos quais os guerrilheiros
obrigavam-na a recolher-se a sua rede de dormir às 18h.
O que fez com que prosseguisse mesmo nos momentos mais sombrios, contou,
foram as lembranças de sua família, e em especial as da filha e do filho.
Junto de seus filhos novamente, na quinta-feira, a ex-candidata, 46, prometeu grudar
neles e nunca deixar de cobri-los de beijos.
Os dois impediram-na de afogar-se no que descreveu como sendo um mar de
desesperança. "Em cada aniversário deles, eu lhes cantava 'Parabéns pra Você'.
Mesmo se trouxessem um biscoito ou a refeição tradicional de arroz e feijão, eu
fingia que se tratava de um bolo e comemorava o aniversário deles em meu
165
coração", escreveu certa vez Betancourt, do cativeiro.
"Eu sinto como se meus filhos estivessem com suas vidas em suspenso, esperando
que eu saísse dali."
A ex-candidata começou a fumar enquanto no cativeiro. Ela usava alguns dos
cigarros para obter produtos de primeira necessidade como um pedacinho de
sabonete ou remédios para sua dor de estômago.
A refém tomava banho completamente vestida para não ser vista nua pelos homens
encarregados de vigiá-la. Questionada sobre se havia sofrido algum tipo de violência
sexual, Betancourt respondeu: "Eu tive experiências dolorosas. Mas não quero falar
disso aqui, neste momento de alegria."
As tentativas dela de escapar renderam-lhe punições - ficar acorrentada pelos
pescoço, ficar sem comida ou caminhar entre acampamentos descalça.
Em uma carta escrita para sua mãe e divulgada no ano passado, a ex-candidata
afirmou: "Eu tentei manter minha cabeça acima da linha d'água. Mas, mãe, eu
comecei a desistir. O meu sofrimento diário e o sofrimento de todo mundo parecem
fazer da morte uma doce opção."
Notícia 067 Ø
Ratos invadem favela e amedrontam moradores
O Globo 21/04/2008
SÃO PAULO - A Favela Nova Esperança, parte do complexo Paraisópolis, na zona
sul da capital, está sob ataque dos ratos. Moradores já foram mordidos e estão
assustados. Eles passaram a dormir com a luz acesa para não serem incomodados
pelos roedores. A principal aposta para combater a praga tem demonstrado pouca
eficiência. Pelo menos um gato já fugiu da batalha. Outros estão sendo acusados de
fazer corpo mole.
Os primeiros barracos da Nova Esperança foram erguidos em 1996, segundo a
dona-de-casa Sebastiana de Oliveira, de 55 anos, uma das primeiras a chegar na
comunidade. Os ratos, entretanto, já tinham ocupado o terreno há muito tempo.
- Sempre teve muito rato por aqui. E cada ratão gigante... Meu marido cansou de
matar eles com estilingue. Ele ficava sentado na escada de casa só dando
estilingada nos bichinhos - conta Sebastiana.
O estilingue não é mais usado no combate aos roedores. Alguns moradores
apelaram para a distribuição de veneno em locais estratégicos.
- Mas acho que os ratos não se interessam mais pelo chumbinho - opina Viviane
Benigno dos Santos, de 29 anos.
Ela e algumas vizinhas apelaram, então, para a mais antiga arma anti-ratos.
- Todo mundo aqui cria um gatinho. O problema é que os ratos são tão grandes que
os gatos não dão mais conta - diz Sebastiana.
O bichano de Viviane é um exemplo claro. Ele fugiu de casa sem enfrentar os ratos
de frente. O controle dos roedores na Nova Esperança é parte de uma preocupação
166
maior dos moradores: evitar o contágio por leptospirose. A doença, transmitida pela
urina do rato, causa dor de cabeça, febre, hemorragias, vômitos e manchas na pele.
Não há vacina. Nenhum caso de leptospirose foi registrado entre os moradores.
- Eu não deixo as crianças saírem na chuva nem andar por aí sem o chinelo - conta
Maria da Piedade Ramos, de 33 anos.
Os cuidados não impediram a dona-de-casa de ter os dedos das mãos mordidos.
- Eu estava dormindo, com o braço estirado para fora da cama. Aí, senti um estalo
na ponta das mãos. Era um rato me mordendo. Fiquei com as duas mãos
dormentes, mas depois passou - relata Maria da Piedade.
A mulher sequer procurou o posto de saúde. Os ratos também inspiram cuidados
dentro de casa. Vanessa da Silva Fernandes, de 22 anos, não deixa nenhum
alimento aberto em cima da pia.
- Tem que ser tudo tampado e bem guardado. Os ratos já até rasgaram uma
embalagem de macarrão - diz a jovem.
A Subprefeitura de Campo Limpo diz que não foi procurada para fazer a
desratização do local. Um esgoto a céu aberto contribui para a reprodução dos
roedores. Resultado: em Paraisópolis, quando o gato sai - e quando ele não sai -, o
rato faz a festa.
Notícia 082
Catedral de Santo Amaro precisa de reformas urgentes
O Globo 14/11/2008
SÃO PAULO - A paróquia de Santo Amaro, na zona sul da capital, é a segunda mais
antiga do estado, ficando atrás apenas da paróquia de São Miguel. Apesar da
importância histórica, a catedral de Santo Amaro está em péssimo estado. Ela foi
fechada para a reforma, mas por enquanto só o telhado está sendo arrumado.
Em junho de 2007, uma parte do forro da catedral desabou. Ninguém se feriu, mas a
igreja foi interditada. Os sinais de degradação estão por todos os lados. Nas
paredes, infiltrações. Ação dos cupins no forro, no telhado e nas portas. O prédio
todo está comprometido. A catedral, inaugurada em 1924, está no local onde, no
século XVII, havia uma capela.
Na igreja, com estilo romano e tijolos de barro, foram realizados casamentos,
batizados. As celebrações do local ficaram na memória das pessoas da região. Mas
o que o que se vê hoje é bem diferente. O prédio só está de pé porque alguns
andaimes sustentam a estrutura.
- A sua estrutura está completamente comprometida. Ele não tem mais uma auto-
sustentação. Urgente, com toda certeza, não é algo que se pode esperar mais, é
para agora - afirma Padre Vander Maia, administrador paroquial.
O último desabamento foi há duas semanas. Em março deste ano, começaram as
obras para arrumar o telhado, mas também é preciso restaurar as paredes com os
afrescos, os altares e o piso. Um orçamento é de R$ 2,5 milhões. A Associação
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Cultural Santo Amaro tem só R$ 250 mil, que conseguiu com empresas, moradores
e com a direção da igreja católica em Santo Amaro. Um projeto para buscar recursos
da lei federal de incentivo à Cultura ainda vai ser encaminhado para Brasília. Se os
recursos não vierem, a obra pode até ser interrompida.
Notícia 088
Tirar carteira de motorista fica mais caro a partir de janeiro
O Globo 26/12/2008
BRASÍLIA - A reformulação das regras para os cursos de formação de condutores
fez crescer de forma significativa a procura de candidatos pelas auto-escolas de
Brasília nas últimas semanas do ano. Isso porque a partir do dia 1 de janeiro o
curso teórico, atualmente com 30 horas-aula, passará a ter 45, no mínimo. Já o
curso de direção veicular, hoje com carga horária de 15 aulas de uma hora, será
composto de 20 horas-aula.
O maior número de aulas significará também aumento no custo para a retirada da
Carteira Nacional de Habilitação - que pode variar de 20% a 70%, segundo
estimativas. As novas regras foram definidas em julho pela resolução 285 do
Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Em algumas auto-escolas da capital federal, o crescimento de alunos foi de 40%. É
o caso da Auto-Escola Defensiva que, em média, forma por mês cerca de 600
alunos. Esse número pulou para 840 em novembro e dezembro, segundo a gerente
administrativa Anne Regina Ramos:
- Há uma corrida pelas auto-escolas nesta reta final do ano. Isso porque os cursos
de formação ficarão mais complicados.
O presidente do Contran, Alfredo Peres da Silva, informou por meio da assessoria
de imprensa, que os alunos matriculados até 31 de dezembro deste ano estarão
enquadrados nas regras antigas. Entre as novidades da grade curricular, está a
inclusão no curso teórico das conseqüências do consumo de bebida alcoólica e de
drogas.
A explicação do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), para inclusão desse
tema está relacionada com o início da Lei Seca e a determinação de tolerância zero
com condutores alcoolizados.
Na Auto-Escola Brasília, o número de alunos triplicou nestes dois últimos meses do
ano. Segundo o diretor Alfredo Carneiro dos Santos Júnior, o número médio de
alunos saltou de 360 por mês para mais de 1050, o que levou à contratação de
novos instrutores práticos, teóricos, além da compra de três veículos.
A maior carga de aulas teóricas vai fazer com que o curso básico de habilitação para
carro simples na Auto-Escola Brasília suba de R$ 450 para R$ 740 - aumento de
64%. Mesmo com o aumento, Júnior acredita que o número de novos clientes não
deve diminuir nos próximos meses porque a habilitação é um documento
obrigatório.
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Júnior explica ainda que os conteúdos obrigatórios nos cursos de formação de
condutores eram dados rapidamente por causa da pequena duração da formação
teórica.
O objetivo das novas regras, segundo o Contran, é melhorar a formação dos
condutores e conseqüentemente reduzir o número de acidentes de trânsito.
Segundo a resolução, o curso teórico abordará, entre outros, temas relativos à
direção de veículos em situação de risco, equipamentos de segurança do condutor
motociclista, condução de motocicletas com passageiro e cargas, cuidados com as
vítimas de acidente de motocicleta.
Para os que desejam ter habilitação para motocicletas, a resolução passa a
determinar que o curso de prática de direção seja realizado em via pública, mas que
antes haja instrução em circuito fechado até o pleno domínio do veículo.
A designer Marcela de Holanda Peixoto, de 25 anos, ainda nem se matriculou em
uma auto-escola, mas nesta sexta estava se candidatando à sua primeira
habilitação. Ela foi uma das pessoas que lotou a loja do Detran, no Shopping Center
Recife. Era mais uma entre os 210 jovens que do meio-dia às 15h haviam corrido
aos postos avançados da autarquia para se candidatar à carteira de motorista. O
motivo: as novas regras para conseguir o documento. Pelos cálculos da candidata,
ela gastaria R$ 800, o dobro do que vai precisar reivindicando a habilitação até o fim
deste mês.
- Vim apressada, porque, com as novas regras, eu precisaria de 45 horas-aula de
curso teórico, mais 20 horas de prática de direção veicular. Pela resolução anterior,
precisaria só de 30 horas de aulas teóricas, mais 15 horas de curso de prática de
direção. Pelas contas que o meu pai fez, eu gastaria R$ 400 com o modelo atual e o
dobro com o que vai vigorar a partir de janeiro. Como tenho um irmão, Filipe, que
também está tentando se habilitar, pelas novas regras meu pai não iria gastar
menos de R$ 1,6 mil com nós dois. É muito dinheiro - disse ela.
Marcela conseguiu se inscrever para se candidatar à habilitação e, embora só vá
recebê-la no próximo ano (se passar nos testes), gastará a quantia que pretendia. A
diretora da Loja Detran do Shopping Recife, Cristina Machado, assegurou à usuária
que ela se beneficiará das regras antigas. E tirou uma dúvida comum a muitos dos
candidatos que apareceram nesta sexta:
- A despesa maior será só com auto-escola mesmo. Porque as taxas cobradas para
a habilitação, que hoje são de R$ 155,08, serão corrigidas apenas pelos índices da
inflação, cerca de 6%.
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