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...por fazer, mais ou menos a esmo, uma lista das ideias que lhe forem ocorrendo. É
o estágio preliminar da análise ou divisão. Em seguida, procure arrumar essas ideias
em ordem adequada, de acordo com as afinidades comuns, pondo no mesmo grupo
as que se coordenam, e subordinando-as a um termo de sentido mais amplo... No
decorrer da redação do texto e como consequência de imprevistas associações de
ideias, podem impor-se novas alterações nesse plano primitivo, plano rascunho ou
plano provisório, que, servindo, preliminarmente, apenas ao autor, não deve ser
considerado como um leito de Procusto, como um molde rígido, mas sim como um
roteiro maleável, remanipulável, sujeito a acomodações e reajustamentos ao texto...
É certo que a elaboração do plano...toma algum tempo; mas não é tempo perdido...
(GARCIA, 2003, p. 363 seq.).
Não podemos esquecer também sua preocupação com os gêneros não
literários, chamados por ele de “técnicos”, e a distinção entre dissertar e
argumentar:
Nossos compêndios e manuais de língua portuguesa não costumam distinguir a
dissertação da argumentação, considerando esta apenas “momentos” daquela. No
entanto, uma e outra têm características próprias. Se a primeira tem com propósito
principal expor ou explanar, explicar ou interpretar idéias, a segunda visa sobretudo
a convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte. Na dissertação,
expressamos o que sabemos ou acreditamos saber a respeito de determinado
assunto; externamos nossa opinião sobre o que é ou nos parece ser. Na
argumentação, além disso, procuramos principalmente formar a opinião do leitor ou
ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é que
estamos de posse da verdade. Na dissertação podemos expor, sem combater idéias
de que discordamos ou que nos são indiferentes (GARCIA, op. cit., p. 380).
Ainda com Garcia, encerramos este item com ele próprio demonstrando para
nós de que forma o ensino dos conectivos contribuirá cada vez mais para que
diminuam, senão acabem, as impropriedades relacionadas à falta de domínio no
emprego adequado das conjunções, e de suas circunstâncias e relações, na
produção textual de nossos alunos.
Portanto, em vez de “mandar” o estudante descobrir e classificar, num período,
termos e orações..., deveríamos rumar em sentido contrário: das ideias que se têm
em mente para os termos e orações capazes de traduzi-las. Por exemplo: em lugar
de pedir ao aluno que classifique uma oração causal apontada num texto, seria mais
rendoso sugerir-lhe que traduzisse a ideia de causa em estruturas sintáticas
equivalentes, que não precisariam ser obrigatoriamente apenas orações
subordinadas. Mas, para isso, torna-se indispensável, antes de mais nada, definir ou
conceituar claramente o que é causa, o que é motivo, o que é explicação, depois dar
o vocabulário...e os padrões com que indicar a mesma circunstância. Em seguida,
por associação natural das ideias, surgirá oportunidade de mostrar a relação entre
causa e consequência, e os moldes frasais adequados à sua expressão... O método
é assim, como que irradiante nas suas implicações: de um centro de interesse
(causa, por exemplo) se passa a outro... Esse critério justificaria, por exemplo, que
se incluíssem num capítulo sobre expressão das circunstâncias informações que, de
outro modo, lhe seriam estranhas, como é o caso de breves noções sobre raciocínio
dedutivo... Através desse processo de exposição, o estudante não sente que esteja
fazendo análise sintática (e, de fato, não está), mas se vai servindo dela,
suavemente, sem nomenclatura complicada, para assimilar as principais formas de