POLÍTICAS PÚBLICAS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Vozes e Vieses da Educação Inclusiva
40
que foram produzidos os discursos que os permeiam e, primordialmente, a que
conceitos estão relacionados. Além disso, chama atenção para a relação não antagônica
entre discursos e práticas, pois os mesmos são constitutivos da realidade social.
Em suma, “o discurso é um objeto simbólico e histórico que pode ser analisado”
(GARCIA, 2007. P.138) e, deste modo, é preciso observar a mudança discursiva,
compreender a reconfiguração e/ou ressignificação de conceitos, de discursos e práticas
discursivas na produção de sentidos na realidade educacional e social.
Escolhemos a base epistemológica de caráter desconstrucionistas
15
para subsidiar
nosso olhar para o objeto desse estudo. A escolha por não trabalhar com o método
dialético, também está provocando grandes balanços conceituais na forma de pensarmos
a pesquisa. Isto, porque, por mais que sempre tenhamos desejado lançar vôos diferentes
até aqui, sempre realizamos atividades de pesquisa numa abordagem muito
estruturalista. Tudo muito amarrado, definido. Isso se explica pelo fato de termos um
espírito de aventura, na vida profissional e pessoal, menos zero. Entretanto, neste
momento, sinto-me atraída pelos novos caminhos, descobertos nos últimos anos,
contudo, receosa em assumi-los... No entanto, neste momento, resolvi assumir e
aprender outras formas de compreender a realidade, procurar me libertar de muitas
amarras e tentar, além do discurso, enxergar o mundo e os fatos com outras lentes...
Dessa forma, para mim, pensar o objeto deste estudo nesta perspectiva está
sendo um exercício ousado e radical, implicando na ressignificação de conceitos e
práticas, além de mudança de “óculos”. Adaptar-se a novos óculos, com lentes e
refrações diferentes não é tranqüilo, entretanto, depois de ajustado, o mundo se abre,
enxergamos outras formas e detalhes, cores com tonalidades e definições diversas etc.
Existe, porém, o risco de se escolher óculos e lentes equivocadas e os efeitos serem
opostos. No entanto, isso é parte do processo e das escolhas.
15
O termo desconstrucionismo é um desdobramento dos estudos de Derrida, filosofo Francês, que em 1967 iniciou
sua tarefa de criticar os estudos hegemônicos que prevaleciam naquela época, como o estruturalismo. É uma tentativa
de romper com o pensamento metafísico ocidental. Segundo Skliar (2005, P. 20), “a desconstrução consiste em
desfazer um sistema de pensamento, o que se nos revela dominante. (...) Desconstruir é, de certo modo, um gesto, um
ser chamado por alguma coisa, por uma obra, por um autor, por um livro, uma passagem, uma palavra, um conceito,
uma escrita. È um gesto afirmativo, é um dizer sim.” Para Derrida (2001. P. 66) “a desconstrução é um gesto de
afirmação, um sim originário que não é crédulo, dogmático ou de consentimento cego, otimista, confiado, positivo.”
“A desconstrução não é um método de pensamento – nem um método, nem um pensamento – nem sequer é uma
crítica, mas um acontecimento, um ato de justiça.” (SKLIAR, 2005. P. 23). A desconstrução, também, prevê a
reconstrução. A construção a partir de um outro sentido, de um outro olhar. O caráter desconstrucionista pretendido
neste estudo encontra-se comprometido com a tentativa de buscar um contato com o objeto do estudo livre do
compromisso de consolidá-lo, mas no sentido de buscar desconstruir os conceitos já eminentes em nossa experiência
com a área, buscando enxergá-los de um outro ponto de partida. Assim, pretendíamos entendê-lo através de seus
brancos, de suas contradições, sem, com isso, sentir o medo da destruição e morte, mas focando nosso pensamento
sempre na construção de outro olhar sobre o objeto, da referência ausente.