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elaboração faz referência, em um só tempo, ao campo pulsional e ao campo da
representação, esse último, onde o impasse pelo fenômeno da repetição se insere e
aponta suas conseqüências teóricas e clínicas reverberando até a elaboração teórica de
Freud em Além do princípio de prazer (1920).
Laplanche e Pontalis (2001) destacam que a expressão “elaboração” designa o
“trabalho realizado pelo aparelho psíquico com o fim de dominar as excitações que
chegam até ele (...). Este trabalho consiste em integrar as excitações no psiquismo e em
estabelecer entre elas conexões associativas” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 143)
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.
Trata-se justamente da inscrição das quantidades de excitação no aparelho psíquico, na
ordem da representação. Nessa perspectiva de trabalho para dominar as excitações, o
conceito de pulsão se encontra intimamente relacionado; ele é mesmo definido como
exigência de trabalho ao psíquico (Freud, 1905)
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.
Ora, o que se revela aqui é que o trabalho psíquico, a elaboração que a pulsão
exige do psiquismo é o de transformar sua energia, sua força, sua Drang, em
representação. O psiquismo nesse prisma é, conforme procuramos apontar acima, um
aparelho de representação. Assim, se a repetição revela-se como impasse ao
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Laplanche e Pontalis destacam que Freud utiliza ao longo de sua obra os termos Verarbeitung e
Durcharbeiten. Eles destacam também que os tradutores franceses optaram por traduzir Durcharbeiten
por élaboration (assim no Brasil, em português, elaboração). O “Vocabulário de psicanálise” (2001), no
entanto, opta pelo neologismo “perlaboração” para traduzir Durchabeiten e “elaboração psíquica” para
traduzir Verarbeitung. Os autores observam que o termo elaboração (Verarbeitung) designa um trabalho
do aparelho psíquico que consiste em “dominar as excitações que chegam até ele (...), em integrar as
excitações no psiquismo e em estabelecer entre elas conexões associativas” (Laplanche e Pontalis, 2001,
p. 143). O termo perlaboração (Durcharbeiten), os autores o compreende como “o processo pelo qual a
análise integra uma interpretação e supera as resistências que ela suscita (...), a perlaboração é favorecida
por interpretações do analista” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 339). O que queremos dizer é que,
Durcharbeiten se aproxima do termo Verarbeitung, e ambos designam em certo sentido um trabalho do
aparelho psíquico para integrar as excitações no psiquismo. Os próprios autores do “Vocabulário de
psicanálise” (2001) quando explicação termo perlaboração (Durcharbeiten) escrevem: “Durcharbeiten
seria uma espécie trabalho psíquico (Verarbeitung)” (Laplanche e Pontalis, 2001, p. 339, grifo nosso).
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As origens do conceito de pulsão podem ser remontadas ao “Projeto para uma psicologia cientifica”
(1895). Freud não utiliza o termo pulsão como conceito, é claro, mas há vários indícios que torna possível
entrevê-lo.
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Ana Maria Rudge (1998) argumenta mesmo que encontramos nesse texto é o mito da constituição da
pulsão sexual.