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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE ARTES VISUAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA VISUAL - MESTRADO
ARMANDO DE AGUIAR GUEDES COELHO
CARLOS SENA: A TRAJETÓRIA DE UM ARTISTA NA
ARTE GOIANA (1980-1989)
GOIÂNIA
AGOSTO - 2009
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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE ARTES VISUAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA VISUAL - MESTRADO
ARMANDO DE AGUIAR GUEDES COELHO
CARLOS SENA: A TRAJETÓRIA DE UM ARTISTA NA
ARTE GOIANA (1980-1989)
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Faculdade de Artes
Visuais da Universidade Federal de
Goiás, como exigência parcial para
obtenção do título de mestre em Cultura
Visual, sob a orientação da prof. Dr.
Maria Elizia Borges.
UFG Campus 2
Goiânia - 2009
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2
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(GPT/BC/UFG)
Coelho, Armando de Aguiar Guedes.
G924c Carlos Sena [manuscrito]: a trajetória de um artista na arte
goiana (1980 1989) / Armando de Aguiar Guedes Coelho.
2009.
201f. : il., figs., color.
Orientadora:
Profª. Drª. Maria Elizia Borges.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás,
Facul
-
dade de Artes Visuais, 2009.
Bibliografia: f. 164-169.
Inclui lista de figuras.
Anexos.
1. Sena, Carlos 2. História da arte Goiana 3. Pintura 4.
Arte goiana Mercado 5. Artistas plásticos - Brasil I. Borges,
Maria Elizia.II. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
Artes Visuais III. Título.
CDU:
7.071.1(81)
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE ARTES VISUAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA VISUAL - MESTRADO
ARMANDO DE AGUIAR GUEDES COELHO
CARLOS SENA: A TRAJETÓRIA DE UM ARTISTA NA ARTE GOIANA
(1980-1989)
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Faculdade de Artes Visuais
da Universidade Federal de Goiás, como exigência parcial para obtenção do
título de mestre em Cultura Visual, sob a orientação da prof. Dr. Maria Elizia
Borges.
Banca Examinadora:
Profª. Drª. Maria Elizia Borges presidente da banca
Prof. Dr. Márcio Pizarro Noronha membro externo
Prof. Dr. Marcelo Mari membro interno
Profª. Drª. Priscila Rufinonisuplente externo
Profª. Drª. Miriam da Costa Manso suplente interno
Goiânia, 06 de agosto de 2009
4
Termo de Ciência e de Autorização para Disponibilizar as Teses e
Dissertações Eletrônicas (TEDE) na Biblioteca Digital da UFG
Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de
GoiásUFG a disponibilizar gratuitamente através da Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações BDTD/UFG, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a
Lei nº
9610/98,
o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura,
impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir
desta data.
1. Identificação do material bibliográfico: [ X ] Dissertação [ ] Tese
2. Identificação da Tese ou Dissertação
Autor(a): ARMANDO DE AGUIAR GUEDES COELHO
CPF:
791303131-04
Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [x]Sim [] Não
Vínculo Empre-
gatício do autor
Agência de fomento:
Sigla:
País:
BRASIL
UF:
CNPJ:
Título:
CARLOS SENA: A TRAJETÓRIA DE UM ARTISTA NA ARTE GOIANA
Palavras-chave: Carlos Sena; História da Arte Goiana; Pintura; Arte Goiana - Mercado; Artistas
plásticos Brasil
Título em outra língua:
CARLOS SENA: THE ARTIST STEPS INTO THE GOIÂNIA ART SCENE
Palavras-chave em outra língua:
Carlos Sena; Goiânia Art History; Painting; Goiânia Art Market
Área de concentração:
História, Teoria e Crítica da Arte e da Imagem
Data defesa: (07/08/2009)
Programa de Pós-Graduação:
Cultura Visual FAV - UFG
Orientador(a):
Maria Elízia Borges
CPF: E-mail:
Co-orientador(a):
CPF:
E-mail:
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Data: 07/09/2009 Assinatura do(a) autor(a)
1
Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste
prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre
disponibilizados.
5
Resumo
O trabalho “CARLOS SENA: A TRAJETÓRIA DE UM ARTISTA NA ARTE
GOIANA (1980-1989)” focaliza a presença profissional e a produção plástica do
artista Carlos Sena dentro do cenário das artes visuais goianienses dos anos
80. Presença esta marcada por exposições individuais e coletivas, prêmios em
salões de arte e membro de júris de seleção de trabalhos artísticos; e uma
produção intensa em pintura que, dividida em duas fases esteticamente
distintas, na primeira e na segunda metade da década de 80, revelaram um
artista dedicado com o mesmo afinco à busca pela supremacia técnica assim
como à entrega ao experimentalismo visual. Durante todo o período é
observado na iconografia de Carlos Sena elementos simbólicos que
dialogavam com diversos temas proeminentes do período; como sexualidade,
comunicação de massas e mercado de bens simbólicos. A leitura dessas
pinturas é realizada seguindo os parâmetros de análise de obras de arte
adotados por autores como Ferreira Gullar e Gaston Bachelard. O período de
produção das pinturas analisadas coincide com o momento de
profissionalização do fazer artístico em Goiânia, conduzindo então a uma
verificação das obras em conexão com a estrutura mercantil presente na arte
local da época. Este trabalho apresenta o cenário artístico goiano da década de
80 privilegiando a participação do artista Carlos Sena e ressaltando a
importância do mercado artístico goianiense durante o período.
Palavras-chave:
Carlos Sena - História da Arte Goiana Pintura Mercado de Arte Goiano
Goiás
6
Abstract
This research “CARLOS SENA: THE ARTIST STEPS INTO THE GOIÂNIA ART
SCENE (1980-1989)” focuses on Carlos Sena’s professional status and
productions of plastic arts in the goianiense visual arts community from the 80s.
He is known for his many group expositions and private art shows, festival
awards, and being an active member of the art jury at festivals. He is also well
known for his intense production in painting, which was divided into two phases.
The first phase being the first half of the 80s and the second being the other half
of the decade. This period revealed an artist who dedicated the same posture to
technician in drawing and painting as in experimental arts. During this time, it is
possible to observe into the Carlos Sena´s iconography, several symbolisms
which dialogue with several discussions from the period, as sexuality, mass
media, and symbolic power. The analysis of Sena´s paintings of this time
follows the analysis system adopted from the authors Ferreira Gullar e Gaston
Bachelard. It happened to be during his painting production in the 80s, that arts
career became a professional job in Goiânia, conducting the research to verify
the connection between the art work and market structure. This research
presents the Goiânia artistic scenario from the 80s that focuses on Carlos
Sena´s presence and artist market from the period.
Keywords:
Carlos Sena - Goiânia Art History Painting - Goiânia Art Market
7
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS..........................................................................................08
INTRODUÇÃO...................................................................................................09
CAPÍTULO I - A TRAJETÓRIA DE UMA BUSCA
1.1 De Mairí à Goiânia: Uma longa caminhada.................................................28
1.2 A arte da conquista......................................................................................41
1.3 O bom maldito: a opção pela arte................................................................63
CAPÍTULO IICONTEXTUALIZANDO A ÉPOCA
2.1 A notícia para todos.....................................................................................82
2.2 Goiânia: a cultura além do bacuri................................................................85
2.3 O cenário das artes plásticas em Goiânia, anos 80: uma
catalogação.......................................................................................................95
2.4 O mercado artístico goiano nos anos 80: um comércio
delirante...........................................................................................................123
CAPÍTULO III - DUAS FACES DE UMA DÉCADA
3.1 A fase formalista: algumas obras da primeira metade da década de
80.....................................................................................................................133
3.2 A fase experimental: algumas obras da segunda metade da década de
80.....................................................................................................................151
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................160
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................164
ANEXOS..........................................................................................................170
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 01- Jan Van Eyck, “O Homem de Turbante Vermelho”, 1433................13
Figura 02- Andy Warhol, “Ingrid Bergman; The Hat”, 1983……………………..14
Figura 03- Carlos Sena, “Diva”, 1984................................................................14
Figura 04- Enzo Cucchi, “Musica Ebbra”, 1982................................................17
Figura 05- Carlos Sena, “A Primeira” óleo sobre tela, 1985..............................17
Figura 06- Carlos Sena, “Posto em Cena”, óleo sobre tela, 1983.....................63
Figura 07- Carlos Sena, “Prancha VI com cocar Kraô”, assemblages, 1985....73
Figura 08- Andy Warhol, “Triple Elvis”, 1962……………………………………...74
Figura 09- Robert Rauschenberg, “The Bed”, 1955………………………...……75
Figura 10 - Carlos Sena, “É Fantástico”, 1985..................................................84
Figura 11 Carlos Sena, “Lotado Vista pelo ônibus”, 1979.........................135
Figura 12Carlos Sena, “Férias no Araguaia, 1979.......................................136
Figura 13 Carlos Sena, “As Moças da Sessão das Três”, 1981...................137
Figura 14 Carlos Sena, “Fantasiadolescente”, 1982....................................139
Figura15 Carlos Sena, “Posto em Cena”, 1983............................................141
Figura 16- Carlos Sena, “Uma certa fantasia...”, 1984....................................144
Figura 17- Carlos Sena, “Será Adrenalina ou Será Purpurina?”, 1984...........145
Figura 18- Carlos Sena “Diva”, 1984...............................................................146
Figura 19- Carlos Sena “Anima ou anima ”, 1984...........................................149
Figura 20 Carlos Sena, “Mulher com olhos de Galo de Briga”, 1984...........150
Figura 21- Carlos Sena “A Primeira” óleo sobre tela, 1985.............................153
Figura 22- Carlos Sena, “A Segunda”, 1985....................................................154
Figura 23- Carlos Sena, “Prancha I”, assemblage, 1985.................................155
Figura 24-Carlos Sena, “Prancha III”, 1985.....................................................156
Figura 25- Carlos Sena, “Jogo”, 1986..............................................................158
9
INTRODUÇÃO
No final de 1983, quando o nome de Carlos Sena adquiria mais
notoriedade na cena artística goiana, o escritor e jornalista José Sebastião
Pinheiro, em matéria de capa para o Caderno 2, do jornal O Popular, relata
uma condecoração do artista que conquistou a terra goiana: Carlos Sena foi a
revelação nas Artes Plásticas-1983, uma promoção que escolhe anualmente
Os Mais do Ano’” (O Popular, Caderno 2, 14/12/83). Sena, com 31 anos de
idade, recém-formado em Desenho e Plástica, pelo Instituto de Artes da UFG,
figurou então, em uma lista de personalidades como o escritor Bernardo Élis, a
marchand Célia Câmara e o político, deputado federal e ex-governador de
Goiás, Irapuan Costa Júnior. A notícia da escolha do jovem como a “revelação
da pintura”, em uma cidade tão orgulhosa de seus rebentos criativos, foi
recebida com certa desconfiança por alguns, afinal, Sena, além de ser muito
jovem, tinha nascido em outro estado.
Quem não o conhecia, queria primeiro saber quem era então esse
rapaz. Tanto que uma das colunistas do jornal O Popular, da década de 80,
Maria José, que sempre cobriu e divulgou artistas plásticos; ainda pouco
familiarizada com a presença Carlos Sena no circuito, ao comentar os eleitos
de “Os mais de 83”, em 9 de outubro de 83, cita (O Popular, Caderno 2,
09/10/83) alguns e o artista entra apenas como integrante na alcunha “e outros
mais”. Fato curioso, principalmente por Sena ter sido eleito como o “artista
revelação”, e a coluna de Maria José, sempre se empenhar na divulgação de
artistas e exposições. Não que essa omissão tenha algum fator de desconforto
pessoal da colunista com o artista, mais tarde a colunista vem apresentar
admiração pela arte de Carlos Sena (O Popular, Caderno 2, 23/12/84). Isso se
deve realmente ao fato de Sena, ser muito jovem na época, talvez o mais
jovem a ser eleito para essa distinção, e seu nome ainda estar seleto ao mundo
dos produtores e conhecedores das artes visuais goianas. Sua escolha para
“Os Mais de 83” só vem de fato à público em matéria de José Pinheiro, em
dezembro de 83. Seu nome figurando como a revelação da pintura ao lado de
10
Célia Câmara, a marchand do ano, e sem nunca ter exposto em sua galeria,
Sena, de repente incomoda o cenário artístico goiano. E a década de 80
estava começando.
Na história de vida do artista nota-se, em sua trajetória, uma divisão
bastante nítida entre seu período de busca de um lugar para se fixar, como
suas andanças por Minas Gerais e pela Capital Federal e o período que se
estabelece em Goiânia, no ano de 1973. Na cidade que se rendeu à sua
criatividade, Sena encontrou sua casa, seu lar, seus amigos e sua vida,
podendo desde então concentrar todas suas buscas ao encontro de si mesmo,
a introspecção, e a compreender a relação do ser humano com o mundo.
No texto do professor Saturnino Pesquero Ramon sobre sua exposição
“Uma Peça em Três Atos” podemos observar a seguinte passagem:
Carlos Sena nesta nova individual, consciente ou inconscientemente, fez a
escolha de encontrar-se a si mesmo na obra artística. Esta individual é uma
síntese do que foi até hoje sua produção; uma peça, um drama, uma
autobiografia, o relato de se projetar e se encontrar com todas as dolorosas
vicissitudes que pressupõe o destino humano, no seu titânico esforço de
individuação, tentando integrar o lado irracional, desacordam seus
fantasmas mais chocantes. (RAMON, 2003)
Saturnino Pesquero fez a análise desta série de obras de Sena por um
caráter psicológico e, desmembrando pensamentos sobre a temática de suas
pinturas, encontrou essa busca pessoal e interior do artista. Curiosamente, os
“fantasmas mais chocantes” a que o professor Pesquero se refere certamente
estão relacionados às imagens referentes à figura humana, que se encontram
nas obras desta exposição, várias vezes representadas por um indivíduo
andrógeno e de olhar intenso.
Sena talvez estivesse, no período, disposto a considerar-se um rebelde,
um anarquista, mas nunca indiferente aos acontecimentos que se
desdobravam a sua volta. Aos 30 anos de idade era uma antena captadora de
emoções e costumes, de realidades visuais e extra-sensoriais, que faziam do
artista um cronista visual de sua época. Os anos 80 apareciam com uma
11
guarnição recheada de revoluções comportamentais. Os punks
2
Já no início da década de 80, as pinturas de Carlos Sena são notadas
com distinção pelo meio artístico. Para alguns, suas telas apresentavam uma
bela composição, mas com deformidade na figura humana (O Popular,
Caderno 2, 23/01/82); e para outros, mostravam, em tradição surrealista, o
próprio artista em uma busca pessoal, de se encontrar ou simplesmente de se
deixar levar pelo universo lúdico de seu imaginário pessoal (O Popular,
Caderno 2, 23/12/824). Muitos jornalistas goianos, que escreviam sobre arte na
ocasião, viam nas pinturas de Sena algo de novo dentro do cenário goiano.
Isso, muito se deve, ao fato dos elementos iconográficos encontrados nas
obras, apresentarem uma posição crítica do artista sobre a massificação da
cultura e sobre a sociedade ávida por bens materiais. Isso tudo dentro de um
universo de realismo fantástico que tinha por protagonista a figura humana.
já chocavam
as grandes capitais brasileiras, explorando uma estética totalmente reversa e
agressiva aos costumes da sociedade (O Popular, Caderno 2, 27/11/82). O
rock brasileiro se consolidava divulgando a nova onda que pedia roupas de
cores extravagantes e acessórios contrastantes. Os homossexuais já
formavam grupos organizados nas grandes capitais, em defesa de seus
direitos (O Popular, Caderno 2, 02/5/82). Os jovens, descrentes com a política,
se organizavam em grupos de afinidade e o consumo de drogas crescia de
forma descontrolada em todas as grandes capitais (O Popular, Caderno 2,
05/05/82). A ditadura militar, presente desde a chegada dos militares ao poder
em 1964, perecia sob a vontade popular por uma volta à democracia (O
Popular, Caderno 2, 14/04/82). A possibilidade latente de uma nova República
gerou a organização de grupos de minoria que viam a época um momento
ideal para suas reivindicações.
Em suas pinturas, Sena misturava lembranças e fatos de seu cotidiano
para emoldurar uma busca interior. Quem é Carlos Sena? Essa pergunta foi
entoada, várias e várias vezes por ele, através de suas pinturas e desenhos, e
respondida também através de sua arte, mas sempre com outras perguntas e
mais outras. O sujeito oculto em questão não era sugerido por uma falta de
2
Movimento que surgiu em Londres, Inglaterra, em meados da década de 70, entre os adolescentes,
desempregados e estudantes. Os penteados para homens e mulheres incluíam cabelos curtos, em geral
com faixas raspadas; ou cabelos mais compridos, com gel, penteados para trás com as pontas espetadas e
tingidos de vermelho, verde, roxo ou amarelo. (CALLAN, 2007, p.258)
12
linearidade estética entre suas obras, não era isso. Sua iconografia estava
posta, assimilada, e Carlos Sena existia ali. Este sujeito oculto, a que tanto
Sena buscava, ou busca, talvez exista exatamente na personificação do ato de
buscar, pelo simples prazer da procura. Este encontro com o desconhecido,
fato tão presente em sua vida, desde que deixara Mairi, na Bahia, aos seis
meses de idade com os pais, atrás de novas realidades, é notado também
quando saí de Nanuque para Belo Horizonte, de Belo Horizonte para Brasília e
desta para Goiânia. A busca por esse “lugar”, por essa resposta diante suas
mais infindas questões, acreditamos que nunca foi encontrada, pois é o que
impulsiona o artista a criar. Esse caminho tortuoso, de artista e de pensador, é
percebido durante toda sua heróica passagem pela década de 80.
Compreender o indivíduo Carlos Sena é uma das preocupações deste
trabalho para desvendar suas escolhas no processo de construção singular de
suas obras. Na composição da forma, do volume, no uso da cor, do preto e das
pinceladas meticulosamente sobrepostas, observadas nas obras do início da
década de 80; assim como o seu processo de desconstrução da imagem, da
figura humana, com pinceladas expressionistas, a utilização de spray, do
estêncil e a inclusão de novos materiais, verificado nas telas da segunda
metade da década. Identificar suas fontes de criação se faz também
inegavelmente importante.
Em 1978, quando entra no Instituto de Artes da UFG, Sena tem seus
primeiros contatos com a obra de Jan Van Eyck
3
, através das aulas com o
professor Adelmo Café
4
, que mostrava aos alunos muitas imagens de arte
medieval, e muita coisa do começo do impressionismo.
Eu tive um professor então que é um ícone da arte local que foi o Adelmo
Café e a linha de interesse do Adelmo Café, a coisa que ele mais se afina
na história da arte, é com a arte medieval, e..., claro que ele tem uma visão
que avança até o século XX, mas o foco específico dele é a arte medieval e
3
Pintor holandês, do século XV, fundador da escola realista flamenga. Disponível em:
www.netsaber.com.br
4
Professor fundador da Escola de Arquitetura da Universidade católica de Goiás e professor concursado
do Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás. (MENEZES, 1998, p58)
13
o começo do impressionismo, então ele tinha uma quantidade muito grande
de imagens e logo eu me identifiquei com essas figuras.
5
Observamos que nas aulas com o professor Adelmo Café, Sena teve a
oportunidade de conhecer muitas imagens da arte medieval. Dentro de
seqüências de figuras, projetadas em slides, em tamanho grande, em uma sala
escura, o que transforma a imagem em um forte canhão de luz, Sena se
identifica com o artista Jan Van Eyck e logo passa a buscar mais informações
sobre este pintor holandês. Na investigação das obras de Van Eyck, Sena
assimilava a volumetria, toda a relação do claro com o escuro, mas
principalmente, a expressividade na representação do olhar.
Na reprodução da obra de Van Eyck “O Homem de Turbante Vermelho”
(figura 01) vemos as indicações de luz e sombra e os códigos de composição,
certamente o que mais interessava Sena na obra do artista. Podemos observar
também, nesta imagem, a relação do artista holandês com a representação do
olhar na figura humana.
Figura 01- Jan Van Eyck,
“O Homem de Turbante Vermelho”, 1433.
Disponível em: www.artreviw.com
5
Dados obtidos em entrevista gravada com o artista em abril de 2009. Entrevistamos Sena em dois
momentos distintos: setembro de 2008 e abril de 2009. Daqui para frente, referências às entrevistas serão
apresentadas com a denominação de Sena, nome artístico do artista. (SENA, 2009)
14
Outra referência do artista era a pop arte. Tendo contato com essa
produção desde os tempos em que morava em Belo Horizonte. Sena se
encantava com a iconografia dos artistas pop americanos, e via em sua
produção muito do que gostaria de dizer e explorar. Na reprodução da obra
“Ingrid Bergman; The Hat” (figura 02), de Andy Warhol, encontramos o desenho
estilizado, produzido através de serigrafia, com cores mais chapadas e
utilizando de uma iconografia voltada a personagens da cultura popular. Para
fazer uma relação visual com suas influências que parte da arte medieval e é
reorganizada pelos conceitos da pop arte do século XX, observamos em
seguida a reprodução da obra “Diva”, de Carlos Sena (figura 03). É possível
verificar nesta obra a aplicação desses códigos de luz e sombra e a herança na
expressividade do olhar das obras de Van Eyck, assim como a relação com os
ícones da cultura de massa encontrados no discurso da pop arte.
Figura 02- Andy Warhol, “Ingrid Bergman; The Hat”, 1983
Disponível em: www.gallerywarhol.com/andy-warhol-ingrid-bergman-hat-1983-FS-II.315.htm
Figura 03- Carlos Sena “Diva”, 1984, Óleo sobre tela 80 x 80 cm
Disponível em: catálogo da exposição “Uma Peça em Três Atos”
15
Já as obras de Carlos Sena produzidas na segunda metade da década
de 80 podem ser relacionadas com a produção da chamada transvanguarda
italiana
6
. Este movimento, que teve seu ápice na década de 80, surgiu dentro
do neo-expressionismo internacional dos anos 70. Na Alemanha, como
exemplo do neo-expressionismo podemos citar entre outros, Anselm Kiefer e
George Baseltiz, que dialogam com essa vertente. Nos Estados Unidos, para
citar alguns, temos os artistas Julian Schnabel e Jonathan Borofsky, que
também apresentam preocupações estéticas que dialogam com o movimento
italiano (OLIVA, 1982). As obras de Carlos Sena, verificadas dentro dessa
vertente, são relacionadas diretamente com a transvanguarda italiana por
apresentar elementos particulares dessa escola.
Na Itália, o desenvolvimento de uma tendência neo-expressionista é
tributária de sugestões inscritas na arte povera, sobretudo do destaque que
confere às forças primárias da natureza e à tematização do lugar do
homem como um elemento da natureza mais ampla. (Id., p.319)
As narrativas observadas nas obras de Carlos Sena, dentre todos os
períodos, sempre encontram seu predicado dentro dessa natureza primária do
ser humano. A dor, a angústia, o sexo e a luxúria, elementos selvagens da
natureza do homem, fazem parte do universo visual de sua obra. A diferença
com o neo-expressionismo se encontra aí. Os trabalhos reunidos na
transvangurada, mesmo que apresentem essas dicções distintas, e defendam
a vitalidade dessas diferenças como um valor, compartilham algumas
preocupações e orientações com o neo-expressionismo, observados nas
matizes gestuais da composição.
Na transvanguarda, de modo geral, os artistas realizam trabalhos
figurativos em que o corpo humano tem presença destacada. Os corpos
6
Tendência da arte italiana do final dos anos 70 surgida dentro do movimento neo-expressionista
internacional. (OLIVA, 1982, p.319)
16
que povoam essas telas ora se apresentam em primeiro plano de forma
vigorosa, ora se esvanecem dando lugar a figuras algo fantasmáticas.
(Ibid., p.319)
Uma das características das pinturas de Carlos Sena, da segunda
metade da década de 80, é exatamente a transmutação de suas figuras
humanas, que já carregavam esse ar fantasmático, para um ambiente sombrio
e carregado. A dualidade entre a crítica e a tragédia, verificada na obra de
Sena desde sua primeira fase, tece um paralelo com o deslocamento entre os
tons irônico e trágico observado nas obras dos italianos. As telas ligadas a
transvanguarda italiana são descritas da seguinte forma no livro “Trans avant
gard internacional” de Achile Bonito Oliva:
Construídas de modo geral com cores e pinceladas vigorosas abrigam,
volta e meia, zonas de escuridão, deixando entrever a tentativa de
equilibrar tendências opostas, na forma e no conteúdo. Contra a idéia de
plano e projeto, assim como de uma tendência a pensar a história da arte
como evolução linear, os artistas borram as hierarquias entre diferentes
linguagens, entre ‘alta’ e a baixa cultura, não conferindo privilégio a
nenhum estilo e recuperando, até mesmo, perspectivas descartadas.
(OLIVA, 1982, p.319)
É possível fazer a leitura dessa relação entre “alta” e baixacultura nas
obras de Sena quando observamos, em algumas de suas telas, a utilização de
técnicas do grafite associadas a resquícios de composição formal do desenho
e pintura, fazendo com que “as obras tendem à fragmentação e à combinação
eclética, de distintas referências” (Id., p.319). Vemos como exemplo de arte
transvanguarda a reprodução da pintura “Musica Ebbra” (figura 04) do artista
italiano Enzo Cucchi, que junto com os seguidores do movimento, tinham pela
relação do ser humano com o mundo, a idéia central.
17
Figura 04- Enzo Cucchi “Musica Ebbra, Oleo y aluminio sobre tela, 190×200 cm
Colección Guntis Brands, Suiza 1982.
Disponível em: http://www.almendron.com/blog/?tag=arte-contemporaneo&paged=3
Podemos reconhecer na reprodução da obra “A Primeira”, de Carlos
Sena, de 1985, preocupações compositivas que levam a estilização da figura
humana e o gestual presente na composição.
Figura 05- Carlos Sena “A Primeira”, óleo sobre tela, 1985.
Disponível em: catálogo da exposição “INTER(E)FERÊNCIAS”
18
Apesar de verificarmos referências à importantes escolas estéticas do
século XX, nos trabalhos da década de 80, Sena encontra no cinema sua maior
influência:
As minhas grandes influências na arte, não vem de outros pintores. Se
você me perguntar, quais os pintores que mais me influenciaram eu direi
que não são muitos. Eu gosto muito do Van Eyck, pré-renascentista
holandês. Não são muitos. Eu gosto mesmo é de gente do cinema. Eu
gosto muito do Feline
7
[Federico Feline], por exemplo. Eu acredito que o
Feline me influenciou mais do que qualquer um. A estranheza das figuras
dele, que falavam de uma certa pompa, mas que ao mesmo tempo falava
de uma certa decadência da espécie humana e tudo mais. Isso me
influenciou. Lembro de uma época em que as pessoas diziam que todas as
minhas mulheres, de minhas pinturas, eram homens, que eram travestis.
Eu ficava meio que “emputecido” com isso, eu ainda com minha
sexualidade não de toda resolvida, achava estranho esse tipo de
colocação. (SENA, 2009)
O diretor Federico Feline, com uma combinação única de crítica,
memória, sonhos, fantasia e desejo, em uma abordagem contemporânea de
hibridismos comportamentais, em seus filmes, não raramente apresentava o
ser humano em situações bizarras. Existe um termo “Felliniesco” que é
empregado para descrever qualquer cena que tenha imagens alucinógenas
que invadam uma situação comum (TULARD, 1996). É possível afirmar que as
pinturas de Carlos Sena, dentro de um universo, digamos “Felliniesco”,
dialogavam com o pensamento contemporâneo. Possuem características pós-
modernistas de produção visual ao mesclar várias correntes estéticas no
tratamento da composição e apresentar um discurso voltado aos próprios
interesses da arte, como a citação iconográfica de outros artistas e a postura
de ironia sobre o mental mercadológico do cenário visual da época. Estas
obras foram produzidas em um período da arte brasileira de negação a uma
postura antecedente em que o suporte da obra artística vinha sendo
extensivamente discutido. Questionado principalmente pela movimentação
7
Diretor de cinema italiano, ficou eternizado pela poesia de seus filmes, que mesmo quando faziam sérias
críticas a sociedade, não deixavam a magia do cinema desaparecer. (TULARD, 1996)
19
neoconcretista brasileira que seguia no fronte da vanguarda da década de 70,
integrado por artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark. Ainda na década de
70, em alguns meios artísticos, essas experimentações geravam diretrizes
mais radicais, e a pintura em tela como expressão artística relevante, era dada
como morta.
Já em 1984, alunos e professores de arte da Escola de Artes Visuais do
Parque Lage - EAV/Parque Lage, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, fazem a
pergunta crucial que então reconheceria as diversas produções artísticas
existentes naquele período. “Como vai você, Geração 80?”. Os curadores
dessa mostra, Marcus de Lontra Costa, Sandra Magger e Paulo Roberto Leal,
afirmam o caráter de sondagem do empreendimento, que visava trazer à tona a
produção variada que tinha lugar na década 80.
Não se trata de lançar manifestos, determinar modelos e/ou posturas
unívocas, mas de aferir algumas tendências artísticas que se manifestam
no momento. Está tudo aí, todas as cores, todas as formas, quadrados,
transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho,
geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas,
pós-modernos, neo-expressionistas. Parte considerável dos integrantes da
mostra do Parque Lage parecia compartilhar a produção de pintura em
ateliês coletivos que se sucediam na época. Casa 7
8
e o Ateliê da Lapa, por
exemplo, com o compromisso forte com a retomada da pintura. (COSTA;
LEAL; MAGGER, 1984)
Esta exposição torna-se uma referência importante para a compreensão
de algumas direções tomadas pelas artes visuais na década de 80. Nos textos
de apresentação para o catálogo da mostra (editado em número especial da
revista Módulo, de julho de 1984), os curadores e críticos são unânimes em
apontar a marca diferencial da nova geração, a despeito de sua diversidade
evidente. Diz Sandra Magger: "A nova arte reflete os novos caminhos da
8
Nome dado a um ateliê montado na casa número 7 de uma pequena vila na cidade de São Paulo que
reunia um grupo de jovens artistas, unidos por laços de amizade e por propósitos estéticos comuns.
Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez, Paulo Monteiro, Rodrigo Andrade e Nuno Ramos. (MORAIS, 1989,
p.89)
20
pintura da geração 80, distante da racionalidade da arte dos anos 70,
conceitual".
Os artistas da Casa 7, exploravam, em suas pinturas as trilhas abertas
pela arte abstrata do período posterior à Segunda Guerra, em suas vertentes
européia e norte-americana, alguns com uma relação muito forte com o neo-
expressionismo. Outros, se beneficiando mais diretamente da produção com as
novas figurações, como a pop arte e a transvanguarda. Nesta época, Carlos
Sena descartou em alguns momentos a pintura pela representação. Sua
concepção artística inicialmente trafegava por entre referências ao realismo
fantástico, mas já neste período, as diretrizes da transvanguarda italiana,
mesmo que de forma inconsciente pelo artista, davam o tom definitivo em suas
obras.
Para se fazer a leitura - uma das propostas deste trabalho - de algumas
das pinturas de Carlos Sena, da década de 80 foi preciso compreender as
tendências e as mudanças de proposição apresentadas pelo artista durante a
década. A leitura destas pinturas, que se contextualizam com o cenário artístico
goiano da década de 80 me proporcionou um maior contato com os códigos e
engrenagens que faziam movimentar o cenário das artes plásticas de Goiânia
de 1980 à 1989, e que foram particularmente distintos de outras épocas da
história da arte local. Como foi observado na mostra “Como vai você, Geração
80?”, a década de 80 abrigava composições artísticas dos mais diversos e
variados tipos. Mas em Goiânia não, o que mandava na arte local era a pintura.
Grande parte do que se produzia na cidade na época, tirando raras ocorrências
em escultura, voltava-se ao bidimensional. Uma produção relevante em
desenho e gravura é verificada, mas o que predominava nas mostras e
vernissages era o óleo sobre tela.
Esta pesquisa parte de uma organização cronológica da trajetória do
artista Carlos Sena desde sua infância até chegar em Goiânia. E em seguida,
uma análise mais acentuada abordando sua passagem como profissional das
artes dentro do cenário cultural goiano de 1980 à 1989. Este trabalho faz uma
reconstrução básica de sua infância e juventude, verifica a inserção do artista
no cenário artístico local, contextualiza a efervescente cena cultural de Goiânia
na época e por fim faz uma leitura de dezesseis obras de Carlos Sena, a
maioria pertencente às duas mais importantes exposições do artista no
21
período. “Uma Peça em Três Atos” e “INTER(Ê)FERENCIAS”, sendo todas as
obras produzidas na década de 80.
Para compreender melhor o processo de criação do artista e a
quantidade de obras que foram produzidas nesta época foi necessário uma
busca continua e insana no sentido de levantar e resgatar o paradeiro de suas
pinturas, o que foi impossível, pois Sena produziu mais de 500 telas durante a
década. Portanto, para esta pesquisa, foi possível examinar a olho nu somente
as obras que se encontram em acervo de museus da cidade de Goiânia. Para
as demais, fui obrigado, infelizmente, a observar as pinturas somente por
reproduções e catálogos. Em um segundo momento foi realizado duas visitas
ao artista onde duas entrevistas foram realizadas (ver anexo, p.171). Na
primeira, ocorrida em 2008, conversamos sobre arte em geral, sobre suas
influências, e sobre o cenário artístico goiano. A segunda entrevista, realizada
em 2009, foi focada mais na história do artista, no intuito de construir uma
narrativa sobre sua trajetória. Priorizando sua infância, juventude e também
sobre sua relação com familiares, amigos e sobre a difícil inserção dentro de
um cenário fechado como é o das artes plásticas.
Detalhes específicos em relação ao contexto da época se fizeram
importantes no sentido de clarear acontecimentos do passado e assim
enriquecer a pesquisa e sua contextualização. A leitura das obras foi realizada
parcialmente por observações com a obra in loco, e por reproduções das
pinturas, como já observado anteriormente. A dificuldade da leitura com a obra
in loco, se deu por a maioria das telas se encontrarem em coleções
particulares, dentro e fora do estado, mas a preocupação do contato visual com
a obra sempre se fez importante para não comprometer a verificação de
detalhes e adicionar a dimensão como elemento da composição. Portanto,
todas as obras que foram possíveis serem observadas em estado presente,
receberam a visita deste pesquisador.
No primeiro capítulo deste trabalho apresento a história do artista desde
a saída de sua cidade natal Mairi, na Bahia, até, já como artista goiano, realizar
sua retrospectiva no ano de 1989. É ressaltada sua relação com a arte e com
seu talento durante a infância, a busca pela teoria e pelos acontecimentos
artísticos na adolescência, assim como, na fase adulta, sua relação com o meio
artístico e com o mercado de arte. Para reconstituir a história da vida do artista
22
tive que recorrer, em vários momentos, às entrevistas que realizei com Carlos
Sena. Neste processo de reconstrução de sua história de vida, comentários
das entrevistas vêm intercalados com fatos descritos em textos jornalísticos e
com informações encontradas em dados biográficos do artista verificados e
catálogos, currículos e dicionários da arte de Goiás. Não se trata de se utilizar
do método da História Oral, mas de recorrer aos informes dados pelo
entrevistado e compará-los com as demais fontes.
A evolução de seu pensamento artístico e o aparecimento de novas
questões estéticas, já na fase profissional, também é ressaltado durante o
processo. Ainda no primeiro capítulo prossigo apresentando a consolidação do
nome do artista no cenário goiano, com particularidades de sua personalidade
em relação ao meio e ao mercado e suas dificuldades e glórias na relação com
o cenário cultural da cidade. Apresentando fatos encontrados em uma série de
textos jornalísticos, vou reconstruindo aspectos do cotidiano do artista no
período, tentando assim resgatar o mental da época e de seus personagens.
Tenho consciência sobre as limitações da fonte jornalística aqui utilizada.
Todavia, tive que recorrer imprescindivelmente a elas, dada a falta de literatura
específica das artes visuais de Goiânia referente ao período. Temos apenas o
livro do artista Amaury Menezes, Da Caverna ao Museu: Dicionário das Artes
Plásticas em Goiás, de 1998; o livro da crítica Aline Figueiredo, Artes Plásticas
no Centro-Oeste, de 1979; e algumas dissertações defendidas no Mestrado em
Cultura Visual da Faculdade de Artes da UFG.
De uma forma indireta, ao recorrer aos artigos jornalísticos do jornal O
Popular, que cobria a parte cultural da cidade, pode-se levantar quais eram os
autores destes textos. Destacamos para o momento: Miguel Jorge, Maria José,
Arthur Resende, Brasigóis Felício, Conceição Rodrigues, Lucileide Rodovalho,
Eduardo Jordão, entre outros. Encerro o primeiro capítulo fazendo um paralelo
entre as duas mais importantes exposições de Carlos Sena na década, “Uma
Peça em Três Atos” e “INTER(Ê)FERENCIAS”. No intuído de chegar ao
aspecto mais importante de sua produção do período, marcado pela dedicação
na construção de uma estética seguido de um processo de questionamento e
de desconstrução da mesma.
O segundo capítulo é iniciado com a relação do artista Carlos Sena com
o contexto sócio/político da época, apresentando fatos ocorridos no Brasil e no
23
mundo e a relação iconográfica do artista com as informações e as mídias de
comunicação de massa. O capítulo prossegue na contextualização do cenário
das artes goianas apresentando seu processo de constituição até atingir a
formalização de um cenário artístico na década de 80. Em seguida é
apresentado o cenário artístico goiano na forma de catalogação dos
acontecimentos ocorridos durante o período: exposições individuais e coletivas,
salões, salões novos-valores, museus, galerias, espaços culturais que
movimentavam o cenário artístico goiano e artistas de outros centros que
mostraram suas obras na cidade. O segundo capítulo se encerra em uma
análise sobre o mercado de arte goianiense que ditou as regras da produção
visual da cidade, principalmente na década de 80. Para a realização deste
capítulo, partimos de dados levantados no arquivo do jornal O Popular, em
edições publicadas entre os anos de 1980 e 1989. Fez-se uma pesquisa
exaustiva de campo durante seis meses diários. Foi durante o processo de
levantamento bibliográfico sobre a participação do artista plástico Carlos Sena
no meio artístico goianiense, em uma procura por textos sobre exposições e
coletivas, que a escassez de fontes de pesquisa sobre a cena cultural da
cidade de Goiânia, durante a década de 80, foi observada e de imediato
apareceu a necessidade de uma organização dos fatos ocorridos. Pela
natureza do tema, a busca pelas informações inclinava-se para os catálogos de
exposições, que foram encontrados nos arquivos do Museu de Arte de Goiânia,
e de forma mais abrangente, nos textos jornalísticos dos diários da cidade.
Já em 1980, os dois principais jornais da cidade eram o O Popular e o
Diário da Manhã. Para dar início a este levantamento visitei o arquivo dos dois
jornais no intuito de averiguar o espaço que ambos davam à cobertura de
exposições de arte, e assim, poder optar por um só veículo pelo fato da
quantidade de informações que oferecem uma década. Estes dois jornais
diários registraram com eficiência os principais acontecimentos culturais da
cidade; assim como, cada jornal a sua maneira, possuía uma visão particular
sobre os fatos. Os dois jornais despertaram meu interesse para realização
desta pesquisa, pela qualidade e quantidade de suas documentações, porém,
pelo material dos dois diários tratarem do mesmo assunto, foi necessário optar
por um só jornal. Existe, claro, a vontade de tratar as diferenças na abordagem
do tema “arte goiana” entre as duas publicações, mas este foco cabe a um
24
trabalho futuro. Por enquanto me restrinjo a elucidar e quantificar as
exposições pertencentes ao período e averiguar a inserção do artista Carlos
Sena dentro deste cenário artístico.
O Diário da Manhã seria uma interessante opção por fazer uma
cobertura jornalística da área cultural de forma mais democrática. O jornal O
Popular por sua vez, contava com edições especiais sobre cultura e nomes
fortes da intelectualidade local como Brasigóis Felício
9
e Miguel Jorge
10
O jornal O Popular possui uma estrutura bastante organizada de
documentação de suas edições anteriores. Para acessar qualquer matéria que
tenha saído no jornal dos dias atuais até o ano de 1992 o centro de
documentação oferece uma pesquisa digital, rápida e com a possibilidade de
imprimir o texto desejado. Já de 1992 regressando até sua primeira edição de 3
de abril de 1938 a pesquisa é possível através dos arquivos microfilmados e
sem a vantagem de poder imprimir os textos desejados.
em sua
redação. A opção pelo jornal O Popular se fez estrategicamente mais
interessante, principalmente, por ser a Casa Grande Galeria de Arte, a galeria
mais atuante do período, um espaço pertencente à Organização Jaime
Câmara, empresa que engloba o jornal O Popular. Portanto, foi visivelmente
constatado a dedicação do jornal às coberturas dos eventos desta galeria.
Para dar início à investigação foi necessário encontrar um meio de
captar as imagens das matérias e notas jornalísticas que encontraria pela
frente para que eventuais dúvidas futuras fossem sanadas com mais
organização e facilidade. A solução se deu pela fotografia digital. Portanto,
cada nota de coluna, texto crítico, ou reportagem, foi fotografada digitalmente
de modo que o texto possa ser lido e as fotos ilustrativas possam ser
conferidas. Foi durante o processo de pesquisa no centro de documentação
que apareceram os contratempos. O que se veio a descobrir, analisando a
documentação da época, é que nem sempre o documento é preservado de
maneira correta. Em várias ocasiões surgiram microfilmes com textos borrados,
9
Escritor e jornalista goiano membro da AGL Academia Goiana de Letras.
10
Graduado em Letras e Direito pela Universidade Católica de Goiás, Miguel Jorge foi um dos criadores
do Grupo de Escritores Novos (GEN), que propunha uma nova postura na literatura goiana. Autor de
vários livros, Miguel Jorge foi presidente do Conselho Estadual de Cultura de Goiás, membro da
Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA),
membro da AGL Academia Goiana de Letras e editor do Suplemento Cultural do jornal O Popular entre
1977 a 1983. (MENEZES, 1998, p.192)
.
25
cortados ou manchados, problemas comuns que ocorrem durante a
microfilmagem, muitas vezes também o próprio exemplar já estava danificado
impossibilitando assim qualquer tentativa de averiguação; além disso, foi
verificado que algumas poucas edições não constavam no arquivo. Esta
catalogação realizada visou cobrir todas as exposições noticiadas pelo jornal, o
que acredito que chegamos bem perto, mas não posso afirmar que este
levantamento esteja totalmente completo. Sabemos que em toda cena cultural
existem as exposições e eventos artísticos marginais, e estes possivelmente
não vieram a ser citados pelo jornal O Popular.
Com a leitura diária das edições de janeiro de 1980 à dezembro de 1989
detive-me mais atentamente à investigação dos cadernos culturais, que no
jornal O Popular encontramos o paralelo no Caderno 2 e no Suplemento
Cultural. Este segundo, circulando somente nos anos 70 e no início dos anos
80. Ao separar o Caderno 2 de todo o restante do jornal nos deparamos com a
matéria de capa, que é reservada para o evento ou a notícia a qual o editor
chefe considera de maior importância ou de maior interesse público. Nas capas
do Caderno 2 da época foi possível encontrar matérias sobre o falecimento de
personalidades, textos sobre comportamento juvenil, chamadas para grandes
festivais de música, lançamentos de livros, aberturas de exposições de arte,
artigos analíticos sobre o êxodo rural, sobre problemas na agricultura da região
e até mesmo lançamentos de carros esportivos. Em seu interior, o Caderno 2
abrigava as colunas sociais de Arthur Resende e Maria José que sempre
davam notas informais sobre a noite dos vernissages, escritores autografando
seus livros e alguns comentários ácidos sobre determinados eventos, tudo isso
acompanhado das notícias do dia-a-dia da alta sociedade de Goiânia.
Ao folhear as páginas do caderno desta editoria foi possível encontrar
rias seções. A seção Serviçoque mais tarde se torna a seção Acontece, a
qual apresentava as opções de lazer durante a semana, como filmes, shows,
teatro e exposições. Encontravam-se também as “micro-seções” de música,
dança, artes plásticas, teatro, literatura e cinema que continham pequenos
textos informativos e alguns textos críticos sobre eventos que não ganhavam o
destaque da primeira página. No jornal de domingo, foi interessante notar a
seção Opinião que funcionava como um espaço aberto para textos de vários
autores que comentavam sobre assuntos variados. Hoje podemos notar uma
26
estrutura semelhante na diagramação do jornal, com pequenas mudanças de
colunistas e editorias. A diferença que se percebe nas edições atuais,
lembrando que esta análise aborda somente textos sobre artes e eventos, se
dá pela linha editorial mais conservadora. As edições da década de 80 tendiam
a uma postura mais liberal e artigos de abordagem mais crítica. Na seção
Opinião observava-se textos se referindo à “panelas” culturais,
conservadorismo comportamental, comentários emocionais sobre eventos mal
organizados e vários assuntos que hoje só se discute em fanzines, blogs, sites
e revistas especializadas. Hoje, o jornal, especificamente no caso dos textos
que abordam a cultura da cidade, segue uma linha mais conservadora e menos
aberta a informalidades textuais.
Importante fonte de pesquisa em O Popular foi o Suplemento Cultural
que saía como um encarte do jornal. O suplemento era editado pelo escritor e
crítico de arte Miguel Jorge e publicado, algumas vezes, junto ao jornal de
sábado, outras vezes encartado no jornal de domingo. Tinha grande parte da
linha editorial voltada à literatura, mas com considerável cobertura nas artes
plásticas. Durante todo o processo de pesquisa foram selecionadas matérias
sobre eventos ligados a artes plásticas e notícias que auxiliariam no processo
de construção do imaginário sociocultural do período o qual Sena estava
inserido. Como, por exemplo, algumas matérias sobre comportamento, artigos
que falam da influência da mídia televisiva na sociedade e planos econômicos
empregados pelo governo federal que refletiram de alguma forma no mercado
artístico brasileiro da década de 80.
Foi possível notar que a cobertura jornalística, não raro, se confundia
com nomes de galerias e artistas, mas nada que comprometesse a pesquisa
na certeza que, no decorrer da análise, os detalhes por si só iriam se
consolidando. Em alguns casos, como o da Galeria Frei Confaloni
11
11
Frei Giuseppe Nazareno Confaloni nasceu em Grotte di Castro, Viterbo, na Itália. Veio para o Brasil
em 1950, fixando residência na cidade de Goiás, se mudando para Goiânia em 1952. Foi inegavelmente o
mais importante professor da Escola Goiana de Belas Artes (EGBA) e, juntamente com Elder Rocha
Lima, idealizou e criou a Escola de Arquitetura da UCG, onde lecionou desenho e plástica até seu
falecimento no ano de 1977 na cidade de Goiânia. (Id., p.200)
, do Clube
Jaó, por ser homônima da galeria de artes do Estado, a Galeria Frei Nazareno
Confaloni, do Museu Zoroastro Artiaga, necessitou de uma alteração em sua
referência para evitar qualquer confusão durante o processo de configuração
27
do cenário artístico da época. Optei por utilizar o nome Galeria de Artes Jaó ao
me referir à Galeria Frei Confaloni do Clube Jaó, já que esta alcunha reduzida
já vinha sendo usada nas matérias do jornal com o mesmo intuito de distinção
entre os dois espaços.
Por fim, o último capítulo é dedicado a leitura de algumas obras que
foram produzidas durante a década de 80, com o propósito, além de fazer uma
leitura poética das obras, apresentar essa mudança estilística que foi
significativa e crucial para todo o desenrolar da trajetória de Carlos Sena
durante os anos entre 1980 e 1989. Utilizando para este fim o aporte teórico
dos autores Ferreira Gullar e Gaston Bachelard.
Como considerações finais, são apresentados os efeitos colaterais
positivos e negativos do cenário artístico goiano dos anos 80, afetado pelos
ganhos comerciais e principalmente pelo consumo de arte goiana. Consumo
tal, que como veremos à frente, tinha se tornado uma “moda de costume”; e
verificando a postura e a atitude do artista Carlos Sena perante estes
acontecimentos que interferiram na formação do pensamento artístico do
período. A pesquisa também apresenta marcas e caminhos abertos pelo artista
que viriam influenciar toda uma nova geração, que encontrou no
experimentalismo e nas novas mídias a retomada da arte goiana dando
seqüência a tradição da cidade de possuir uma produção visual de qualidade e
seguir contribuindo dentro do cenário artístico nacional.
28
1. A TRAJETÓRIA DE UMA BUSCA
Eu só vou me sentir bem de fato, integrado no lugar,
quando eu escolho esse lugar,
esse lugar é Goiânia.
Carlos Sena
1.1 De Mairi à Goiânia: uma longa caminhada
Cada vida é única, indivisível e intransmissível. E com essa perspectiva
é que apresento um breve relato na trajetória de vida do artista plástico Carlos
Sena, que de tão rica e recheada de detalhes minuciosos, mereceria uma
destrinchada e aprofundada busca pela sua história como um todo. Como este
trabalho não se propõe ser uma biografia, pois para tal, a metodologia
abarcaria horas de conversas com familiares, amigos e desafetos; o que venho
apresentar é um relato construído com informações de currículos, catálogos,
compilações e textos sobre a carreira e as cidades pelas quais Sena passou;
assim como, e de forma mais abrangente, utilizando a entrevista cedida pelo
artista para evidenciar detalhes de sua memória visual. Sempre lembrando que
o direcionamento deste trabalho visa à compreensão da fase de Carlos Sena
como profissional na área das artes plásticas, seu processo de inserção no
cenário artístico goiano e os fatos que contribuíram para tal. Acontecimentos da
infância e fatos ocorridos na adolescência recebem um tratamento na ordem
fiel com os fatos, mas sem mergulhar nas entranhas e amarrações que a
história oferece.
Durante a busca pelo passado do artista me surpreendeu a origem de
sua cidade natal
12
12
Pesquisa no site da Prefeitura Municipal de Mairi, que apresenta fotos do centro histórico da cidade.
Disponível em: www.nacconp.cnt.br/prefeitura/mairi.
. Carlos Sena Passos nasceu em Mairi, em 1952, cidade no
29
interior da Bahia, localizada à 284 km a Noroeste de Salvador. O município tem
suas raízes na bandeira de Gabriel Soares de Souza. O bandeirante, no ano de
1591, partiu do rio Jaguaripe da bacia hidrográfica do Paraguaçu em direção a
Jacobina em busca de ouro e prata à serviço da Coroa Portuguesa montando
então seu primeiro acampamento na região. Esta cidade baiana começou
como um abrigo de passagem, mas hoje, Mairi, é uma cidade histórica, com
casas no estilo colonial. Sua primeira edificação foi a Capela de Santa Cruz de
Monte Alegre, erguida por monges liderados por Frei Apolônio de Todi e datada
de 1795. A região possui uma memória peculiar que remete a tribos indígenas,
como os Maracás e Paiaiás, e a cidade, povoada por imigrantes portugueses e
italianos, em 1926, foi sobressaltada pelos revoltos da Coluna Prestes que
levaram roupas, dinheiro e animais de montaria (Id.,10/05/2009). Esse passado
de índios, imigrantes e revolucionários, emprega ao município fatos históricos
que se traduziram, no decorrer dos anos, em ritos e festas populares.
Carlos Sena é diretamente descendente dos primeiros imigrantes
portugueses que chegaram a Mairi. Seu avô paterno, Teotônio Almeida
Passos, nasceu e cresceu na região. Fazendeiro em uma época sem
facilidades tecnológicas, dedicou a sua vida na lida com o gado, passando para
os filhos os segredos da profissão. O pai de Carlos Sena, Geová Almeida
Passos, entregou-se desde a infância a vida rural. Vaqueiro, nordestino
tipicamente encourado, trabalhava com gado como ninguém. Geová, aos 18
anos, apesar de sua destreza no campo, não sabia ler e nem escrever. Foi
quando Teotônio Almeida contratou uma professora para alfabetizar os filhos, e
assim possibilitar um futuro melhor para a família, que via a cidade crescer e o
comércio com outras regiões se proliferar. Izaurí Sena, professora contratada
por Teotônio, então com 16 anos de idade, inicia as lições diárias para os
irmãos Passos. Todos se empenhavam no processo de aprendizado, mas não
como se empenhava Geová. O rapaz, entre os irmãos, era o que mais se
dedicava às aulas e aos ensinamentos da professora (SENA, 2009).
Foi então que, entre uma lição e outra, Izaurí, ao ver o esforço e a
mocidade latente deste jovem que cresceu sob o sol forte e no exercício
pesado do trabalho com o gado, se apaixona por Geová, iniciando um amor
juvenil com o moço trabalhador. E esse amor vem se confirmar em casamento
dois anos depois. Izaurí Sena Passos, mãe de Carlos Sena, é descendente de
30
uma das famílias mais antigas de Mairi. A família Sena remonta aos tempos do
Brasil Colônia, antes mesmo da fundação da cidade. O pai de Izaurí, avô de
Carlos Sena, era um empreendedor. Possuía fazenda de gado, e era dono de
um estabelecimento comercial logo na entrada da pacata cidade. O armazém
da família Sena vendia de tudo em Mairi, de feijão a granel, a utensílios para
casa.
De laços estreitos com a cidade baiana, alimentado pela história da
família e pelos relatos constantes dos irmãos mais velhos, Carlos Sena não
viveu sua infância na Bahia. No início da década de 50, uma forte crise
econômica assolou o Nordeste do Brasil. Acometido pelo fenômeno
meteorológico El Nino em 1951 (MELO, 1999), o nordeste brasileiro, além da
seca que se instalava, já vinha amargando um subdesenvolvimento causado
pela exploração das próprias elites nordestinas (ANDRADE, 1998). Em 5 de
novembro de 1952, nasce Carlos Sena Passos em meio a caótica situação
que se encontrava a região. Seis meses depois, Geová e Izaurí, já com sete
filhos, sendo o sétimo o pequeno Carlos ainda de colo, mudam-se em
caminhão pau-de-arara, com a família para Nanuque, Minas Gerais.
Nanuque, naquele tempo, fazia parte de uma região que voltava sua
economia para a extração e comercialização de madeira. A cidade abrigava
uma enorme serraria holandesa de nome “Serraria Bralanda”, com muitos
operários que movimentavam bastante o mercado local e gerava muito
progresso. Seu Geová, nascido e criado no trato com o gado, não se adaptou
com a vocação da região, e para sustentar a família, o vaqueiro imigrante, que
desde a infância aprendera a zelar de animais, foi ser magarefe
13
13
Aquele que mata e esfola reses nos matadouros. (FERREIRA, 1988, p.301)
.
Posteriormente, Geová vai trabalhar como açougueiro, que possibilitava melhor
remuneração. Dona Izaurí, nesta época, já mãe de dez filhos e com a prole
completa, dedica sua vida ao lar e aos cuidados com as crianças. Vemos hoje,
a dedicação que Dona Izaurí teve com os filhos, quando os observamos em
suas posições profissionais atuais. “Um é professor de Direito, outro é
professor de Biologia, outros se tornaram comerciantes (SENA, 2009),
seguindo a tradição do avô paterno.
31
Sena então passa sua infância em Nanuque, mas sempre ouvindo
histórias sobre seus avós e seus primos em Mairi. A vontade de conhecer a
cidade natal, oriunda das conversas familiares, ficou incubada durante sete
anos até sua volta ao Nordeste. Somente um acontecimento familiar, como o
falecimento de seu avô paterno, o velho vaqueiro Teotônio Almeida, ocasionou
o regresso de toda a família à Mairi. Esse período de retorno, mesmo que curto
(Sena ficou na cidade dos 7 aos 8 anos de idade), foi de grande importância na
formação de sua memória visual. Como vinha formulando imagens mentais da
cidade através da história oral da família, aos 7 anos, ainda muito criança, seu
retorno o fez vislumbrar tudo o que vinha sendo comentado e construído em
sua criatividade infantil. Ao se deliciar com a possibilidade tátil de viver a
história, que só existia até então pelas conversas dos adultos, esse período de
um ano em que passa em Mairi deflagra o êxtase da consolidação da imagem,
como numa necessidade de visualizar algo idealizado. Passado esse tempo de
um ano no Nordeste, retorna à Nanuque. Só veria as ruas de Mairi novamente
dez anos depois.
Esse período entre sua primeira estada em Mairi até a sua volta com 18
anos de idade, se apresenta bastante simbólico, pois levanta a questão do
exercício da memória visual do artista. Enquanto garoto, sua motivação durante
a primeira estada na cidade natal girava em torno da idealização do lugar.
com 18 anos, e tendo vivido um ano na região durante a infância, sua relação
com o espaço era outra. Durante os quinze dias que passara na cidade, Sena
desfrutou desse momento de revisão. A motivação aflorava em torno da
memória, como ele mesmo relata:
Só fui retornar à Mairi quando tinha 18 anos de idade e fiquei na cidade
durante uns 15 dias. Fiquei muito impressionado com a memória que tinha
em relação a cidade, eu conhecia as praças, as ruas, as casas, as
pessoas, sabia exatamente onde moravam todos eles e o quanto isso era
forte em mim e o quanto eu era nordestino e o quanto eu era baiano. (Id.,
2009)
Apesar de sua forte ligação com Mairi, Carlos Sena cresceu mesmo foi
em Nanuque. Com aproximadamente 20 mil habitantes, durante seu período de
32
morada, comparada com Mairi, Nanuque era uma cidade de tamanho
respeitável. Sua infância no interior de Minas Gerais foi com os irmãos e
poucos amigos da escola. Seu desenvolvimento junto à família só foi
diferenciado pela prédisposição para desenhar e criar. Com a verve artística
começando a fluir, a necessidade de obter outros modos de entretenimento e
informação, que Nanuque parecia não suprir, fez do jovem Sena um
empreendedor de novas brincadeiras. Vendo que possuía talento para o
desenho e noção de cores e de construção de imagem, criou alegorias de
festas populares quando fazia os irmãos mais novos, Nicanor, Xisto e Marcos
Luiz usarem as fantasias criadas por ele nos desfiles de datas comemorativas.
Claro que se tratando de festas populares, imaginamos que no Nordeste esse
ritual era mais intenso. Em Mairi, Sena presenciou as festas das Pastorinhas”,
e a “Festa do Boiesta ultima, ele hoje observa, que era na verdade um
mutirão para plantar feijão. Lembra das procissões litúrgicas, da festa de São
João, muito rica em adereços e fantasias, e do Carnaval de rua com muitos
blocos, que na época se chamavam ternos. Sena reconhece que em
Nanuque acontecia um outro tipo de festividade, outro tipo de manifestação da
cultura popular. “Em Nanuque existia o carnaval de rua, o Carnaval dos clubes,
os blocos de índio, as festas de São Benedito. Eram várias festividades, mas
cada região possuía sua característica”. (Ibid., 2009)
A mudança de Mairi para Nanuque foi decisiva na formação da
personalidade de Sena. A socialização em uma nova comunidade é um
processo difícil e complicado. Mesmo tendo sido criado na cidade mineira
desde os 6 meses de idade, suas amizades se restringiam aos irmãos e aos
poucos que despertavam maiores afinidades.
Em Nanuque eu vou ter uma vida muito solitária, por não ser exatamente
integrado nesse contexto, sendo assim o meu olhar mais de espectador,
apesar de contribuir algumas vezes com as roupas, cartazes, adereços. Eu
era alguém por fora desses ritos. (SENA, 2009)
Esse processo solitário e introspectivo o qual passou o artista foi o que
possivelmente estimulou a criação de brincadeiras e espaços que reuniam
outras crianças. Sua família, primos, tios e avós ficaram na Bahia. A não ser
33
uma tia de Carlos Sena, a tia Otelina, irmã de seu pai, que morava perto de
uma praça em Nanuque onde se armava o “Circo Guaraní. Durante certa
época, aos 9 anos de idade, logo que chegou de sua primeira viagem à Mairi,
Carlos Sena foi morar com a tia Otelina, desfrutando assim da proximidade de
sua nova morada com o circo.
Por uma temporada eu morei com minha tia. Meu pai tinha dez filhos, ele
cedeu um desses então para uma tia minha que era costureira. Ela morava
perto de uma praça onde montava-se circos, parques de diversões, essa
coisa toda, e eu ficava por baixo da lona todas as noites. Gostava muito
daquela fantasia, daquela representação, daquele rito todo do circo.
Posteriormente vou fazer um circo no fundo da casa de meus pais quando
retorno pra lá.
(SENA, 2009)
Neste momento, podemos arriscar a dizer que, o universo simbólico que
encontramos nas pinturas de Carlos Sena da década de 80 são memórias e
idealizações que surgiram desde sua formação. Os acontecimentos que viriam
a seguir ajudaram a consolidar uma iconografia que encontramos em suas
obras até os dias de hoje. Mais para frente, veremos em seu trabalho como
artista profissional, uma forte ligação com o universo do circo, principalmente
do cinema, do palco, dos filmes de Charles Chaplin, de Federico Fellini, de tudo
que remete de forma intensa essa atmosfera da apresentação, do figurino e
dos holofotes.
Ao voltar para casa dos pais, Sena fez de sua vontade de continuar
participando desse universo circense, uma reunião com seus irmãos e amigos
para concretizar a idéia de montar um pequeno circo, podendo assim se
aproximar daquele mundo que então o despertara. Pois tinha sido ali, no “Circo
Guarani” que ele se encantara com os artistas fantasiados, maquiados, e
vestidos de lantejoulas.
Eu tinha 9 anos de idade e nós fizemos um circo. Nós pegamos muita
banca de feirante para montar as arquibancadas e o palco. Roubamos
muitos esteios de construção para fazer os mastros, muito lençol e cobertor
para fazer a lona do circo. Era um circo que cobrava ingresso. Tinha
34
também um cinema, que era entre uma casa e outra. Nós cobríamos com
portas em um beco e colocávamos entrada e saída, criávamos uma parede
no fundo vazada, cortinas que abriam, e tinha uma caixa de luz. Eu fazia os
filmes para serem projetados, iluminados atrás por uma vela, aqueles
pesinhos montados em seqüência na manivela e dublava as vozes para
passar nesse cinema. Lembro também de eu e meus irmãos termos criado
uma cidade, montamos em alvenaria várias casas, o cinema era uma
dessas casas, e também fizemos uma outra com casas de papelão mesmo,
de caixas, construíamos essas cidades para brincar.
(Id., 2009)
Sena revela sua vocação para o desenho já na infância. Seu pai, assim
que reconheceu sua aptidão, o recomendou a migrar para uma cidade grande.
Sena conta que seu pai constantemente lhe dizia que ele não era uma figura
para morar no interior, porque ele era artista. Sendo o sétimo filho em uma
família de dez irmãos, foi o único a despertar para o lado da criação. Seus
irmãos não possuíam maiores afinidades com o fazer artístico, mas
embarcavam nas aventuras criativas propostas por ele, principalmente os
irmãos mais novos. Sena exercia certa liderança sobre os irmãos por conta do
talento artístico. O que acontecia também sobre as outras crianças da rua. As
pessoas sempre o viam com distinção, com uma diferença, isso tudo por conta
do potencial de desenhar. Embora seus irmãos não desenvolvessem a mesma
vocação, embarcavam em todas essas obras:
No circo éramos todos artistas, também no desfile mirim de Sete de
Setembro que a gente fazia, todos vestiam as fantasias, ou no Bumba meu
Boi, todos saíamos a noite com as lanternas acesas, fazíamos e todos
embarcavam nessa, todos os meninos da rua. (SENA, 2009)
A consciência de ser artista, de ter a vocação, Carlos Sena possui desde
pequeno. Mesmo aos 5 anos de idade já se falava, em sua casa, que a criança
Carlos era um artista porque começara a desenhar muito cedo. Isso
despertou sua vontade e sua compulsão para desenhar todo o momento. Ao
passo que ia surgindo os comentários e as brincadeiras por parte da família e
amigos, Sena ia canalizando as emoções e transferindo para o desenho. Ainda
criança, chegou a desenhar uma história inteira do Tarzan, com começo, meio
35
e fim, folha por folha e transformou isso em rolo para um mecanismo manual
de projeção à luz de velas, chegando até a cobrar ingresso para passar o
filme”.
Seu talento para o desenho ultrapassava o reconhecimento dos pais e
de toda família. Desde a infância a arte apresentava bons resultados
econômicos para o artista. Já aos 11 anos de idade começa a comercializar
seus trabalhos. Na adolescência surgiam encomendas para que Sena
desenhasse cadernos inteiros contando alguma história. Escolas o contratavam
para criar storyboards em cursos de novelistas, ganhava criando cartazes para
Dia das Mães, Dia da Árvore e estava pronto para qualquer outra necessidade
em que fosse requisitado o ofício do desenho. Com o dinheiro, o garoto Carlos
comprava roupas e brinquedos. Como eram dez irmãos, e as despesas da
numerosa família não acarretava luxos e agrados, só gastava com brinquedos
com o que ganhava vendendo desenhos. Existiam as festas de Sete de
Setembro, que eram repletas de fantasias e muita alegoria, nessas datas,
pedidos e encomendas sempre surgiam para ele. Por exemplo, pintava todas
as bandeiras do estado para a festa da prefeitura ou produzia alguma alegoria
para um bloco de Carnaval.
A vida do jovem Carlos em Nanuque, mesmo entre nove irmãos e
produzindo seus adereços e brincadeiras, era solitária. O único refúgio que
encontrava e que o transportava para um outro lugar se encontrava nos filmes,
mas no cinema de verdade, o que ele fazia com desenho iluminado à luz de
vela era só brincadeira entre as crianças. Sena gostava era da sala escura, do
barulho do projetor, da grande tela. Assistia a todos os filmes em cartaz, desde
Chaplin a enredos de cowboys. Freqüentava tanto as matinês de domingo que
acabou ficando amigo do filho do dono da sala de projeção, que também era
dono de madeireira, em Nanuque, e dono de outros cinemas na cidade. A partir
deste momento se viu com passe livre para as sessões. Começou a assistir os
filmes de camarote, todas as noites, não somente nas matinês de domingo,
mas sempre. Acompanhava tudo e via tudo. É neste momento que o mundo da
película e das divas, francesas, italianas e americanas, entra de forma
definitiva em sua vida e depois em sua arte.
Com 18 anos de idade, Carlos Sena começa a visitar, com certa
freqüência, sua irmã Aldair que morava em Belo Horizonte. Até então, a única
36
capital que o artista conhecia era Vitória, no Espírito Santo, esta, por se
localizar mais perto de Nanuque. Aldair, casada com Walter, que vem de uma
família abastada de Belo Horizonte, desfrutava de uma vida tranqüila e sempre
incentivava Sena a se mudar para capital e ir morar com ela. O artista, ainda
muito jovem, vislumbrava a possibilidade de cursar uma faculdade de arte e por
de mais, sentir o ritmo de uma cidade grande. Não estava acostumado com a
programação de circuitos culturais e sua vida artística se resumia aos seus
desenhos e a produção de pequenos trabalhos para a comunidade de
Nanuque. Mas a vida na capital já vinha exercendo um fascínio sobre o jovem
que se despede do interior e, como que seguindo os conselhos do pai, vai
embora para a cidade grande. Com 19 anos de idade então, Carlos Sena
chega a Belo Horizonte.
À medida que eu fui visitando Belo Horizonte fui estreitando mais a
possibilidade de me fixar ali, para fazer uma faculdade e depois uma
faculdade de artes. Eu achava que iria diretamente para esse canal, mas
não foi assim tão prontamente não.
(Ibid., 2009)
Era o ano de 1970, e em Belo Horizonte existia uma “ebulição” artística
por conta do movimento das neovanguardas e da arte contemporânea que já
se apresentavam pelo mundo desde a década de 60 e estavam sendo
assimilados pelos artistas do Sudoeste brasileiro.
Na Europa as ações dos artistas neo-realistas, junto às rebeliões estudantis
nos anos 60 representaram o apogeu da atitude radical das neovanguardas
artísticas, e nos EUA essa atitude inseriu-se no contexto da pop art. Foram
os artistas pop que fizeram os primeiros happenings e as primeiras
propostas de desmaterialização, rejeitando a action painting e retomando
uma vertente neodadaista marcada pelos questionamentos conceituais de
Duchamp e Man Ray. (RIBEIRO, 1997, p. 246)
Organizavam-se, em Belo Horizonte, encontros de artistas e estudiosos,
para discutir as novas tendências. Dentro dos debates, manifestações e
exposições envolta dos conceitos neovanguardistas, se encontrava muito
37
discutida a vertente americana do movimento, representada pela pop arte.
Segmento artístico, que mais tarde, veio a ser estudado por Carlos Sena e
utilizado como base de defesa em sua dissertação de mestrado sobre Arte
Publicitária e Produção Simbólica na Escola de Comunicação e Arte da USP
em São Paulo em 1998.
A pop art visava também a inserção da arte na cultura popular urbana e na
cultura de massa propiciadas pela sociedade de consumo. Apropriando-se
de ícones de devoção popular, objetos kitsh, usados no cotidiano ou
produzidos pela cultura de massa, os artistas pop propunham a criação de
uma nova figuração, voltada para a experiência cotidiana do homem
urbano. (Id., 1997, p. 246)
Quando Sena chegou na capital de Minas Gerais, o governador da
época, Israel Pinheiro, estava inaugurando o Palácio das Artes. O novo espaço
para exposições abrigava uma grande galeria, um teatro e uma loja de
artesanato. Sena então se depara com a abertura do Palácio das Artes. O
meu primeiro contato com a arte de verdade, foi com a arte contemporânea.
Isso foi decisivo para minha vida(SENA, 2009).
Na inauguração do Palácio das Artes, foi apresentada a coletiva O
Processo Evolutivo da Arte em Minas, coordenada por Mari’Stella Tristão,
com obras dos artistas que se destacaram na arte mineira desde os tempos
do mestre Ataíde até a nova vanguarda. Em seguida foi organizada a
Semana de Vanguarda, coordenada por Frederico Morais, ocupando o
espaço da grande galeria, com a mostra Objeto e Participação, e
expandindo-se pelo Parque Municipal, ruas, avenidas, serras e ribeirões da
cidade, durante a polêmica manifestação Do Corpo à Terra.
(RIBEIRO,
1997, p.260).
O maior contato com o circuito das artes da cidade de Belo Horizonte,
por parte de Sena, se deu neste momento. Com parte das obras da exposição
instaladas pelas ruas, facilitando o acesso do público e com à grande mostra
no novíssimo espaço mineiro. Como um aficionado por arte, também chegou a
38
visitar uma ou outra galeria, mas o que realmente o entusiasmou foi a
exposição de arte contemporânea do Palácio das Artes. Sena também gostava
de freqüentar as feiras de artesanato locais que, segundo ele, “comparada com
o interior era algo extraordinário”. Como era muito jovem e não conhecia bem a
cidade, sua vida em Belo Horizonte ficou muito ligada a da irmã Aldair, e nos
finais de semana desfrutava dos passeios organizados pelo cunhado Walter.
Junto com o casal, Sena conheceu todo o entorno de Belo Horizonte, todas as
cidades barrocas mineiras e adquiriu um contato maior com a cultura
tradicional e com o passado histórico do Brasil.
Durante este período na capital mineira produziu poucas telas.
Dedicava-se aos estudos do curso de segundo grau. Tirando os passeios ao
Palácio das Artes e as visitas às cidades barrocas da região, seu contato com a
história da arte foi o de uma pessoa comum, sem muito acesso.
Em Belo Horizonte, o meu aprofundamento em relação à história da arte, já
que minha família não era conectada exatamente com isso e eu não tinha
uma formação teórica específica e nem convivia com ninguém do meio, o
meu contato era sempre de espectador, então eu não tinha esse contato.
(SENA, 2009)
Essa busca pela história da arte, veio acontecer mais tarde, quando o
artista já morava em Goiânia. Neste período de Belo Horizonte Sena ainda era
muito jovem. Com 19 anos, não tinha uma iniciação teórica que o levasse a
desenvolver essa procura.
Eu conhecia um ou outro artista que saía nas revistas da época tipo
Manchete’ e ‘O Cruzeiro’, claro que eu ficava sabendo da existência de um
Van Gogh, um Gauguin, um Bosch, essas figuras vão aparecendo durante
a trajetória de qualquer indivíduo, e da minha também. (Id., 2009)
O artista lembra que certa vez, seu cunhado Walter tomou a iniciativa de
lhe comprar um livro sobre os impressionistas, reconhece que esse presente,
foi seu primeiro livro de arte.
39
Em 1972, o artista se muda para Brasília à convite de uma outra irmã
que morava na cidade. Maria de Lourdes, a caçula das mulheres, estava
recém-casada. Com a distância que ficara dos irmãos, pois foi morar com o
marido em Brasília logo após o casamento, convida Sena para se mudar para
capital do país e assim ter um parente, um familiar por perto, minimizando a
distância e a saudade da família.
Sena chega à capital do país em 1972 e neste período o artista dá início
à uma extensa produção em pintura. Em Brasília, Sena retoma o fazer artístico
visando um processo de sobrevivência pelo seu ofício. O que já vinha fazendo
desde o período de Nanuque, mas de forma esporádica, assim como em Belo
Horizonte. Na Capital Federal, pinta em período integral aperfeiçoando o
desenho, a pincelada e o domínio das cores e da composição. Este período de
Brasília está relacionado a uma postura do artista de viver do ofício que
dominava, e essa atitude deu vazão a horas de disciplinada dedicação ao
aperfeiçoamento da técnica. Sena encontra na “Feira de Artesanato da Torre
de Televisão”, em Brasília, uma oportunidade inicial para mostrar seus
trabalhos, receber uma resposta do público sobre sua arte e tentar algum
retorno financeiro com suas telas, como afirma neste trecho da entrevista:
Só depois que eu vou para Brasília é que retomo essa conexão de produzir
algo artístico. E para sobreviver disso, eu vou trabalhar na Feira de
Artesanato da “Torre da Televisão”, vou pintar quadros. Em Nanuque, eu já
tinha começado a fazer meus quadros. Desde a adolescência começo a
pintar, vou aperfeiçoando a técnica com o passar dos anos, mas era uma
atividade esporádica. Em Belo Horizonte também pintei alguns, também
esporadicamente, mas já em Brasília eu vou fazer isso amiudemente, fazer
para viver, e com a técnica que sabia fazer. (SENA, 2009)
Em Brasília, Sena se dedica intensamente ao exercício de pintar à óleo
sobre tela, mas dentro de sua visão crítica, o artista reconhece essa fase como
um período amador. Diz que seguia caminhos que hoje enxerga como parte de
um processo, de uma busca de identidade, de uma procura por seu universo
pictórico. Lembra de telas que se enveredavam por motivos paisagísticos e
temas neste sentido:
40
Em Brasília eu começo fazer esse exercício de pintar óleo sobre tela e tudo
mais, mas como amador. Uma paisagem com um pouco de sol, uma outra
serve algo que ilustra o índio em uma canoa, uma outra é o Jesus Cristo e
uma outra é o vazo de flor, por aí
. (SENA, 2009)
O artista apregoa a estes trabalhos uma visão mais de artesão, mesmo
exercendo um domínio técnico. Para ele, todo este período foi importante para
processar o fazer artístico, mas que, até então não existia o foco centrado de
artista.
Perguntado se existia algum preconceito, por parte dele, em mostrar
obras em feira, o artista disse o seguinte:
Não, até quem vem do interior, tirando uma passagem ali de três anos
numa cidade grande, isso é uma conquista. Opa, olha, eu estou pintando e
as pessoas estão comprando sabe, quadros meus e tudo mais, estou
assinando, você acha legal. Tanto que quando eu mudo para Goiânia, vim
passear em um final de semana e resolvi me fixar por aqui, eu me mudei
com esse intuito, existia uma feira de artesanato então na Praça Cívica, a
Feira Hippie. Nesse tempo era na Praça Cívica, e a minha primeira
tentativa era levar os meus quadros para lá, para vender. (Id., 2009)
A estada em Brasília também foi importante para a construção de seu
pensamento artístico/teórico. Sena recorda que visitou alguns salões de arte na
época. Nesse momento, lembra que teve seu primeiro contato com a obra de
Siron Franco.
Amplia-se a minha visão sobre arte contemporânea em Brasília, porque
quando eu estava , aconteceu o Salão Global da Primavera
14
. O vencedor
desse salão foi o Siron Franco. Meu primeiro contato com a obra do Siron
então é neste momento. (SENA, 2009)
14
Salão de arte brasiliense de alcance nacional. Siron Franco ganha o Prêmio de Viagem, que consistia de
uma permanência de seis meses no México. Seria a primeira vez que Siron deixaria o Brasil. Disponível
em: www.sironfranco.com/portu/histórico
41
Durante este período na Capital Federal, até mesmo pela curta
distância, Carlos Sena estreitou sua relação com a cidade de Goiânia. Visitava
a capital de Goiás sempre que podia, vinha fazendo amigos e observava que
em Goiânia existia um número significativo de pessoas que compartilhavam de
seus interesses artísticos. A vontade de se transferir para a cidade então surge
e se fortalece a cada visita aos amigos goianos. Sena, que já vendia seus
trabalhos na “Feira da Torre de TV” em Brasília, encontra na “Feira Hippie”, da
Praça Cívica, uma possibilidade de se sustentar com sua arte, caso viesse a se
mudar. Foi em 1973, então, que Carlos Sena decide mudar-se para Goiânia,
uma cidade com ar mais acolhedor e com um estilo de vida mais próximo de
suas origens do interior.
1.2 A arte da conquista
Era o ano de 1973, e o meio artístico goiano passava por um momento
de ascensão com as fronteiras abertas por Siron Franco no cenário nacional. A
cidade estava crescendo em um ritmo acelerado e “a população local
praticamente se multiplicava durante a década de 70(SOUZA, 1996, p.38).
Os anos 70 foram os anos da afirmação das artes em Goiás, sobretudo das
artes plásticas, que ganhou salões, galerias, mercados e prêmios
importantes. Foram fundamentais para o reconhecimento de artistas como
Cleber Gouveia, Maria Guilhermina, D.J. Oliveira, Siron Franco, Roos, Iza
Costa com suas gravuras em cores, Vanda Pinheiro, que vinham lutando a
algum tempo em busca de um caminho definitivo. Foram os anos que
deram à luz a muitos valores novos como Gomes de Souza, Neusa Perez,
Omar Souto, Carlos Dacruz, Malaquias, Fernando Costa Filho e outros.
Para Antônio Poteiro, que começou quase no fim da década, foi um tempo
de glórias, com elogios unânimes da crítica, tornando-se um nome
nacional; Roos, com seu álbum o Clã, atacando de gravura, atingiu sua
maturidade artística. Siron Franco apareceu, firmou-se nacionalmente e
mereceu invejáveis e cobiçados elogios de Rubem Braga, vendeu muito, foi
a Europa e se constituiu como a estrela maior da pintura local nos anos 70.
(O Popular, Caderno 2, 05/01/80)
42
A jovem capital parecia oferecer uma vida tranqüila e com
oportunidades. Um movimento artístico interessante e com produções de boa
qualidade. Goiânia, no início dos anos 70, tinha um ritmo de cidade interiorana,
pacata e ainda sem os efeitos colaterais da explosão populacional ocorrida da
segunda metade da década em diante; e com a vantagem de ter as benesses
de uma capital, que para um apreciador de arte, Goiânia já oferecia algumas
exposições e um bom salão de arte, como por exemplo, o “Salão da
Caixego”
15
. Carlos Sena chega então à cidade, com 21 anos de idade, decidido
a se fixar, se sustentar com sua arte e se preparar para o ingresso em uma
faculdade de artes. Em Goiânia, nessa época, só existia o Instituto de Artes da
Universidade Federal de Goiás.
16
Sena chega na cidade decidido a se fixar, e já se organiza para terminar
seu curso de segundo grau, que se arrastava desde Minas Gerais. Como já
vinha de uma experiência em Brasília, pintando quadros e expondo na “Feira
da Torre”, quando chega em Goiânia, tenta vender suas telas na “Feira
Hippie”
Antes em Goiânia, existia também a Escola
Goiana de Belas Artes, fundada em 1953, que foi incorporada pela
Universidade Católica de Goiás em 1959. Mas em 1972, esta escola de artes
se encerra passando a dedicar-se ao ensino da arquitetura.
17
. Sena lembra que, apesar de vender uma tela ou outra, o retorno
financeiro não cobria suas despesas que vinham do pagamento de seus
estudos e de um cursinho pré-vestibular. Neste momento, procurando uma
maneira de ganhar dinheiro com o oficio que dominava, o artista embarca na
produção de camisetas pintando estampas de artistas da cultura popular.
Criava estampas com motivos de artistas famosos da época, como cantores e
ícones do cinema americano. Como sua técnica de desenho e de pintura já era
desenvolvida, não demorou, para que o artista criasse uma clientela.
15
Os Salões da Caixego (Concurso Nacional de Artes de Goiás) foram, sem dúvida, os mais importantes,
sob o ponto de vista de projeção nacional. Realizados durante quatro anos (1974 a 1977), o conjunto das
obras premiadas e adquiridas é a parte mais importante do atual acervo do Museu de Arte Contemporânea
de Goiás. (MENEZES, 1998, p.50)
16
Criado em 1962 por Antônio Henrique Peclat, Henning Gustav Ritter e Maria Guilhermina, o Instituto
de Belas Artes de Goiás foi incorporado pela Universidade Federal de Goiás em 1963 se tornando o
Instituto de Artes da UFG, passando a denominar-se em 1997, Faculdade de Artes Visuais. (Id., 1998, pg.
42)
17
Feira livre localizada na Praça Cívica, no setor central de Goiânia, comumente conhecida por vender
em suas bancas materiais diversificados.
43
Existia essa feira na Praça Cívica, a Feira Hippie, e a minha primeira
tentativa era levar os meus quadros para lá, para vender, mas o mar não
estava tão para peixe assim. O que eu sabia fazer era pintar, era criar
figuras, então eu vou pintar camisetas. Eu vou virar um artesão mesmo, de
camisetas, até fazer o meu vestibular. Durante um tempo eu ganhei grana e
montei uma boutique para vender moda, à princípio unisex. Depois se criou
o foco para moda feminina, porque quem consome mesmo são as
mulheres. Em seguida eu abro mão disso, porque eu ia fazer vestibular e ia
tentar outra coisa. (SENA, 2009)
Durante este período, Carlos Sena se organizava para acompanhar os
eventos artísticos locais. Recorda de ter presenciado dois “Salões da Caixego”.
Lembra que, novo na cidade, e em processo de formatação de seu estilo de
pintura, não existia por parte dele, ainda, a motivação de se inscrever ou
participar de salões de arte. Apesar que, aos 17 anos, morando em Nanuque,
fora premiado em 1°, 2°, 3° e 4° lugares na “II Feira de Arte” da cidade. Mas em
Goiânia, uma cidade grande perto da pequena Nanuque, Sena procurou seguir
passos mais comedidos. Acompanhava tudo a distância, com o olhar de
espectador. Hoje, enxerga que o “Salão da Caixego” foi uma promoção
importante para a criação de uma nova safra de artistas, recorda ter visto muita
pintura e desenho de qualidade e reconhece que a movimentação artística
criada pelo salão foi importante para época. O “Salão da Caixego”, segundo o
artista, realizou as funções que o “Salão Flamboyant”
18
Em 1978, Carlos Sena é aprovado no vestibular para o curso de
Licenciatura em Desenho e Plástica e inicia sua trajetória como aluno do
Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás. Assim que ingressa na
universidade, Sena fecha as portas de seu comércio de roupas femininas e
cessa a produção de camisetas. No mesmo ano ganha, com trabalho em
pintura, o Prêmio Incentivo no “2° Concurso Estudantil da UFG”. Já no segundo
ano do curso de licenciatura em 1979, se dedicando fervorosamente a
produção em ateliê, recebe o convite para ser monitor no Instituto de Artes, o
apresentou nos anos
2000. Que era mostrar o que tinha de mais arrojado nas artes plásticas do país.
18
O Salão Flamboyant (Salão Nacional de Arte de Goiás), de iniciativa privada, teve seis edições (2001 a
2006). Era realizado na área externa do Flamboyant Shopping Center, na cidade de Goiânia, Goiás. fonte:
Catálogo do 6° Prêmio Flamboyant.
44
que lhe garantiu um salário e o pagamento de suas despesas. A partir daí,
como poderemos observar, Sena amarra uma participação atrás de outra em
salões, mostras, coletivas e individuais que só iria ganhar pequeno intervalo no
final da década de 80.
Ainda no ano de 1979, tira 2° lugar em Pintura no “8° Festival de Música
e Artes Plásticas da UFG”, é selecionado no “I Salão Goiano de Artes”,
participa da “Coletiva Bolsa Arte, na “Casa dos Contos de Ouro Preto” e
integra a “Mostra Brasileira de Arte em Maputo”, em Moçambique (MENEZES,
1998). Em 1980, recebe a notícia do prêmio de 1° lugar em pintura no “I Salão
Goiano” e premiado também no “IX Festival de Música e Artes Plásticas, da
UFG” (Id., 1998). Com o importante prêmio no Salão Goiano, Sena dá então
seus primeiros passos dentro da comunidade artística local. Em 1981, participa
da “Mostra de Artes Goiás/Brasil”, em Santiago, no Chile, e do “V Concurso
Estudantil de Artes”, que vinha sendo reconhecido, já em suas quatro edições
anteriores, como uma boa iniciativa por parte da Universidade em destacar e
lançar novos valores das artes no mercado goiano. O artista então tira o
primeiro prêmio em pintura, com Marília Guimarães premiada em gravura e
Sival Veloso em escultura. (O Popular, Caderno 2, 03/10/81)
Os nomes dos três jovens são apresentados ao mercado goiano e o
meio artístico local, ávido por pintura, volta os olhos para o novo pintor, que
apresentava uma técnica apurada. Antes mesmo da mostra dos premiados no
“V Concurso Estudantil de Artes”, Sena recebe o convite para participar de uma
exposição coletiva em Brasília com os artistas Maria Guilhermina
19
19
Maria Guilhermina foi aluna do escultor Henning Gustav Ritter. Participou da 5° Bienal Internacional
de São Paulo. Foi professora concursada e co-fundadora do Instituto de Artes da UFG. (MENEZES,
1998, p. 181)
, Runi Silva,
Noé Luis e Gilveder Rebouças, na Galeria Rodolfo Amoedo, patrocinada pela
Funarte (O Popular, Caderno 2, 30/08/81). Sua inclusão na fechada cena
cultural goianiense começa a ser pautada por pinturas com temas inovadores e
contemporâneos. Essas primeiras apresentações e o bom acolhimento de sua
arte pelo público parecia então já anunciar sua seleção no “I Salão Regional de
Arte” promovido pela Prefeitura de Goiânia. Este salão teve em sua comissão
julgadora críticos de renome nacional como, Alberto Beuttenmüller, de São
Paulo; Aline Figueiredo, de Mato Grosso; Frederico Morais, do Rio de Janeiro;
45
João Evangelista de Andrade Filho, de Brasília; e Miguel Jorge, de Goiânia (O
Popular, Caderno 2, 17/10/81). Todos filiados à “Associação Brasileira de
Críticos de Arte ABCA”
20
Como nomes importantes da arte local não foram premiados, e alguns
nem selecionados no “I Salão Regional de Arte”, criou-se uma revolta por parte
de um grupo que se traduziu em desabafo proferido pelo artista plástico goiano
Omar Souto, questionando a validade e a eficiência do júri na escolha das
obras. O escritor e jornalista Brasigóis Felício apresenta no jornal O Popular,
uma entrevista com Omar, onde o artista expõe toda sua insatisfação:
, menos João Evangelista. Esta seleção foi
importante, principalmente pela reação de alguns artistas locais. Reação esta
que ilustra uma postura existente no cenário artístico de Goiânia na época.
Omar Souto, um pintor que vem conseguindo obter crescente prestígio nos
meios artísticos nacionais, não ficou satisfeito com o que viu durante o I
Salão Regional de Arte apesar de ter sido premiado com a aquisição de
dois de seus trabalhos. [...] Omar ressalta que não mais participará de
salões, por ter concluído, através deste Salão Regional de Arte, que essas
iniciativas cometem injustiças flagrantes, havendo, inclusive, o risco de se
traumatizar artistas que estão fazendo um trabalho fecundo, re-criador e de
alta qualidade. [...] Alem disso destaca Omar Souto comenta-se nos
meios artísticos que um pintor de Anápolis, Vitor G. das Graças Santos,
recusado no festival do Gremi
21
20
ABCA: Sociedade civil, cultural, autônoma e não lucrativa, tem por objetivo promover a aproximação
e o intercâmbio entre os profissionais que atuam na área da crítica de arte, aí amplamente incluídos os
profissionais da crítica, pesquisadores, historiadores, teóricos, ensaístas, jornalistas, jornalistas culturais e
produção artística e da teoria da arte. Disponível em: www.abca.art.br
, foi premiado neste salão, o que dá ensejo
a uma indagação: os goianos são muito rigorosos com seus artistas, ou os
críticos de prestígio nacional é que estão sendo muito generosos? [...]
Quero destacar aqui o valor da atuação de Miguel Jorge em sua posição no
júri de defender os artistas goianos. [...] Omar Souto ainda destaca que não
tece essas críticas por ressentimento pessoal, já que foi unanimente
premiado, não tendo um voto sequer contra o seu trabalho. E arremata:
Não mando mais trabalhos para nenhum salão. Este tipo de iniciativa pode
ser muito perigoso, com críticos subjetivos demais, como aconteceu aqui.
Um bom artista, como Dacruz, Gomes ou Cléa, não pode correr o risco de
21
Importante festival de cultura da cidade de Inhumas, em Goiás, que concede prêmios nas áreas de
música, literatura e artes plásticas. (O Popular, Caderno 2, 26/09/84)
46
ver seu trabalho, exaustivamente premiado e reconhecido, comparado com
o de iniciantes. (O Popular, Caderno 2, 21/10/81)
É possível notar através desse depoimento que existia um grupo
fechado dentro das artes goianas, onde, alguns artistas, se viam protegidos em
detrimento de outros. Quem não fizesse parte do grupo, como foi possível
conferir, corria o risco de ser criticado abertamente no jornal, como fez Omar
Souto, com o artista anapolino Vitor G. das Graças Santos. A posição de Carlos
Sena, como um artista jovem e promissor, não devia ser fácil, principalmente
em seu caso, que vinha de outro estado. Os novos valores da cidade sofriam
essa rejeição por parte de alguns artistas já estabelecidos. A conclusão que se
tira desse episódio é que se este salão de arte, encontrasse em seu quadro de
comissão julgadora, só críticos goianos, ao invés dos renomados críticos
brasileiros, talvez muitos dos novos valores presentes na mostra não estariam
ali, como o caso de Carlos Sena. Talvez não, mas Vitor G. das Graças Santos,
com certeza não estaria.
Coincidentemente ou não, menos de um mês depois da bronca entoada
pelo artista Omar Souto, Brasigóis Felício, assina um texto na sessão Opinião
do jornal O Popular, que soou como uma resposta aos comentários de Omar.
A referência que se faz a Goiás, em Artes Plásticas, é, invariavelmente,
Siron Franco. Quando se diz literatura goiana, se diz Bernardo Élis. É
preciso sair, urgente, das conceituações simplistas, que reduzem a arte e a
criação literária a este ou aquele nome, como se fora deles, tudo o mais
fosse o silêncio. [...] Artistas de talento, donos de obra vigorosa, temos de
sobra. Escritores e poetas notáveis, temos a mancheia, como queira Castro
Alves. [...] Mas em Goiás temos os donos de tudo, tanto na cultura dos
Tônico Toqueiro
22
22
Fazendeiro e patrono do Vila Nova Futebol Clube. Disponível em: www.prefeituraburitialegre.com.br
da vida, quando não dos pseudoletrados: os donos do
conto, da poesia, do folclore, da história e das academias e arcádias. Só
quem é amigo do rei tem acesso às edições, aos privilégios e
oportunidades. Para ser amigo tem que compactuar no cambalacho. Ático
Vilas Boas da Mota lembrou, em boa ocasião, que, na literatura de Goiás,
estamos vivendo a fase do Mito de Sísifo. A dificuldade do dito chistoso (e
verdadeiro) do Ático está em poucos, dentre os nossos escribas (e
47
fariseus), saberão o que venha a ser isto de Mito de Sísifo. (O Popular,
Caderno 2, 01/11/81)
Vemos por esse texto de Felício, que a insatisfação com algumas
atitudes de representantes da cultura local, permeava por todos os cantos. Mas
se existia insatisfação é porque pulsava uma vontade de produção e o crítico
de arte e escritor Miguel Jorge, editor do Suplemento Cultural do jornal O
Popular entre 1977 e 1983, todo final de ano costumava fazer uma
retrospectiva da cultura goiana, evidenciando as boas atuações dos artistas
consagrados e destacando o aparecimento de novos valores. Em texto de
retrospectiva do ano de 1981 Miguel Jorge discorre:
Pode-se falar ainda em um outro valor novo na pintura: Carlos Sena,
conseguindo uma linguagem plástica moderna, atual, recorrendo aos
Fatos e Fotos. Falta-lhe, no entanto, uma maior intimidade com a
figura humana, sentir mais, ou colocar mais movimentação e
expressão em suas figuras. (O Popular, Suplemento Cultural, 23/01/82)
Apesar de parecer que o artista Carlos Sena, busca em suas
composições exatamente a deformação da figura humana, e a introspecção de
seus personagens perante a vida, o seu nome constar em evidência em uma
retrospectiva de artistas do ano soou como uma boa distinção.
O ano de 1982 começa com a participação de Sena na coletiva “Sete
Artistas no Palácio da Cultura” realizada em Goiânia; com sua seleção no “V
Salão Nacional do Rio de Janeiro”, assim como no “XIV Salão Nacional de Belo
Horizonte”. A classe artística goiana, com o ego fragilizado e com os nervos
ouriçados pelas brigas em público travadas por colegas de profissão, pensou
em uma iniciativa que visava unir os artistas plásticos da cidade, reunindo os
diferentes grupos; juntando descontentes com ouriçados, novos valores com
celebridades. No ano de 82, funda-se em Goiânia, pelo artista plástico Carlos
Dacruz, o projeto Uniart “União dos Artistas” (O Popular, Caderno 2, 07/10/82).
Tinha como propósito prático organizar uma grande exposição, que seria
realizada todos os anos, com vários artistas plásticos da cidade. Mais de 80
48
nomes figuraram nesta exposição, entre eles estava o artista Carlos Sena. O
projeto, muito bem intencionado, realizou sua primeira mostra intitulada
“Artenossa - Um panorama das artes plásticas em Goiás” (Id., 07/10/82), no
Centro Municipal de Cultura, que hoje tem por nome Museu de Arte de Goiânia,
MAG.
Muitos artistas que ali expuseram, não apareceram mais na mídia ou
simplesmente pararam de produzir. Sena não, e não tinha porquê, um mês
antes da grande mostra “Artenossa”, o artista tinha sido selecionado para o
importante “V Salão Nacional de Artes Plásticas do Rio de Janeiro”.
Organizado pela Funarte, o Salão, entre os mais importantes do país, sempre
reunia em suas seleções, renomados artistas brasileiros em uma grande
mostra no Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro. Um fato curioso, é que a
organização deste “V Salão Nacional”, de 1982, ao escolher a comissão
julgadora para a seleção dos trabalhos artísticos, não incluiu nenhum nome de
crítico credenciado pela ABCA (O Popular, Suplemento Cultural, 04/09/82). A
ABCA, não satisfeita, enviou um manifesto de reprovação para a instituição em
13 de agosto de 1982, assim como, para todo seu quadro de críticos
associados. O crítico de arte goiano Miguel Jorge, credenciado e filiado à
ABCA, publicou o manifesto em 4 de setembro de 1982, no Suplemento
Cultural. Acho necessário reproduzir a carta, pois, ao tempo da data de
notificação ao Salão, ainda não tinham sido selecionados os artistas para a
mostra.
Os salões de arte e a ausência de críticos no Júri.
A associação Brasileira de críticos de arte, seção nacional da Association
Internacionale des Critiques d’Art, vem à blico manifestar sua inteira
desaprovação contra os critérios adotados pelos organizadores do V Salão
Nacional de Artes Plásticas, da FUNART, e do 6° Salão Carioca de Arte, do
Instituto Municipal de Arte e Cultura, no tocante a formação de comissões
julgadoras designadas para ambas as promoções, majoritariamente
integrada por artistas plásticos. Retroagimos por assim dizer à sombria
época do primado absoluto da poderosa Academia Imperial de Belas Artes,
quando artistas referendados pelo poder arrogavam-se o direito de julgar
49
com parcialidade à produção de seus colegas, manifestando a prevalência
de facções e tendências antagônicas.
Jamais havia ocorrido com tal radicalismo o fenômeno da constituição
de comissões julgadoras de exposições de arte nas quais inexiste
representatividade efetiva de setores profissionalmente habilitados ao
exercício da crítica de arte. Não se discute, em caráter particularizado, a
competência individual das pessoas que aceitaram fazer parte destas
comissões, no campo de suas atividades específicas, mas sim o fato de as
habilitações que possuem não se aplicarem à tarefa que aceitaram realizar.
Assim, a ABCA, entidade de vinculação internacional à prática
profissional da crítica de arte, que congrega a maioria dos críticos de arte
atuantes no Brasil, vem publicamente registrar sua apreensão quanto aos
critérios adotados este ano, tanto no V Salão Nacional de Artes Plásticas
quanto no 6° Salão Carioca de Arte. Aproveita ainda para alertar os artistas
da inconveniência de terem sua produção avaliada, julgada, selecionada ou
considerada para premiação por júris que não possuem qualificação
especifica do exercício da crítica de arte profissional. É tempo de eliminar
no Brasil, ao menos no setor da produção estética, o privilégio da
prevalência de critérios amadorísticos e adventícios na avaliação do mérito
profissional alheio.
A Diretoria - Rio de janeiro, 13 de Agosto de 1982. (Id., 04/09/82)
Sete edições depois da carta publicada por Miguel Jorge, foi possível
conferir, na coluna de Maria José, publicada no Caderno 2 do jornal O Popular,
de 11 de setembro de 1982, uma notícia sobre o Salão Nacional em que a
colunista divulga, além da quantidade de obras e de artistas goianos
selecionados, entre eles Carlos Sena, o nome do júri de seleção. Na coluna de
Maria José, (11/09/82) deste referido dia, constavam os seguintes nomes na
comissão julgadora do Salão: Walmir Ayala, Vicente de Pércia, Ana Letícia
Quadros, Marcelo Nitscher, Adriano Aquino e Fábio Magalhães. Sendo Vicente
de Pércia e Fábio Magalhães, membros da Associação Brasileira de Críticos de
Arte. Em uma atitude rápida da organização do Salão Nacional, os dois críticos
credenciados foram incluídos a tempo antes da seleção das obras.
Carlos Sena então, com suas obras expostas no MAM-RJ, começa o
ano de 1983 ao lado de grandes nomes da arte nacional. O ano de 83 para
50
Sena seria decisivo. Com apenas 31 anos de idade é agraciado com o “Prêmio
Revelação nas Artes Plásticas” promovido pelo jornal Folha de Goiás. Esse
prêmio, que acontecia todos os anos, escolhia os “Mais de Goiás”, em diversas
áreas (O Popular, Caderno 2, 12/12/83). O jovem, artista revelação, se fez
presente ao lado de personalidades de peso como Bernardo Élis, como o
escritor do ano; Célia Câmara (diretora da Casa Grande Galeria de Arte), como
a marchand do ano; Irapuan Costa Junior, como o político do ano, entre outros
(Id., 09/10/83). É contemplado com o “2° Prêmio de Pintura” e com o “Prêmio
Aquisição pelo Melhor Conjunto de Obras”, no Salão do Cinqüentenário de
Goiânia realizado no Centro Municipal de Cultura, hoje Museu de Arte de
Goiânia (MENEZES, 1998, p. 87). A obra “Posto em Cena” (figura 06), foi o
trabalho de Sena premiado e adquirido pelo Museu de Arte de Goiânia. Uma
das obras mais comentadas do artista que faz referência direta a ícones da arte
local.
Fazia parte da temática das pinturas de Carlos Sena, essa conexão
simbólica com os acontecimentos em sua volta. Muitos vêem em sua obra um
diálogo com o cotidiano às vezes colunável, outras vezes uma relação com
uma postura marginal. Voltando a Miguel Jorge, o crítico encontra nas obras de
Sena essa relação com os ícones, com as personalidades, traduzida pelo
jornalista na referência aos “Fatos e Fotos” (O Popular, Caderno 2, 21/10/81).
Sena tinha uma visão particular sobre o cenário artístico goianiense. Via com
certa ironia as singularidades do meio. Mas não passava de uma leitura crítica.
O artista, para não dizer que nunca, mas rara vezes em sua história,
apresentou atitudes, diríamos, mais emocionais, com relação a um integrante
do movimento da cidade. Respeitado no meio, é possível verificar no quadro de
exposições coletivas (p. 105) que expôs com todos, ou quase todos os artistas
locais da época, o que era consideravelmente raro.
Claro que existiam as grandes exposições como a “Artenossa”,
anteriormente citada, que fez com que todos mostrassem com todos; mas em
coletivas pequenas, onde formavam grupos de quatro ou dez artistas, já era
mais complicado. Era muito comum, artistas se unirem por afinidades, não se
fechando em um grupo coeso, mudando um ou outro artista, mas alguns nunca
se misturavam. Estas uniões não eram construídas por uma unidade estética e
sim por uma questão de relações pessoais, como podemos observar em
51
coletivas com artistas que sempre expunham juntos. Como é o caso de Siron
Franco, Cleber Gouveia e Omar Souto, que possuíam obras que seguiam
escolas distintas; ou então no caso dos artistas Dinéia Dutra, Gomes de Souza
e Carlos Dacruz, onde existia a mesma ocorrência.
23
Sena, a respeito destas
observações, comenta sobre seu trânsito livre pelos diferentes grupos de
artistas da cidade:
Sobre os artistas locais, até hoje, as pessoas falam que são panelinhas, o
grupo da lá, o grupo daqui, então tem uma certa rivalidade interna entre
eles, comigo isso nunca aconteceu. Eu, até hoje, tenho essa coisa que
alguns ficam impressionados. Quando vou fazer uma exposição e quero
que vinte artistas participem, e pessoa, a obra para expor, na galeria da
Universidade Federal ou em qualquer outro espaço, nunca um artista disse
não. Vou fazer a curadoria e vou chamar fulano, beltrano, e nunca ninguém
disse não para mim. Então eu transito nos diversos grupos e tudo mais,
com muita facilidade e com muito respeito entre eles, isso começa desde
cedo. (SENA, 2009)
O Popular, Caderno 2, “Uma coletiva com Zécèzar, Gomes, Dinéia, Sena e Dacruz”, ilustração de
texto de José Sebastião Pinheiro, de 14/12/83.
Reprodução de Foto de Walter Soares retirada do acervo do jornal O Popular, Goiânia.
23
Ver quadro de catalogação de coletivas p.109 a 116.
52
Para exemplificar essa mobilidade do artista na época, talvez
conquistada pela necessidade ávida de produção, remetemos à vernissage de
14 de dezembro de 1983, em que Sena abre uma coletiva na Galeria de Artes
Jaó, com os artistas Zécèzar, Gomes de Souza, Dinéia Dutra e Dacruz. Nesta
exposição o artista mostra pinturas a óleo sobre tela, onde o discurso de suas
obras expostas se volta ao lirismo e a sensibilidade (O Popular, Caderno 2,
14/12/83). Dois dias depois, Carlos Sena abre uma coletiva no Shopping
Flamboyant, em Goiânia, como os artistas Selma Parreira, Fernando Costa
Filho e Roos Oliveira, intitulada de “Eu e mais três”. O artista mostra nessa
exposição trabalhos em papel, dentro de uma pesquisa experimental de
exploração do material, utilizando o suporte como elemento de composição (O
Popular, Caderno 2, 16/12/83). Um discurso visual bem diferente da mostra do
dia anterior.
O Popular, Caderno 2, “Eu e Mais Três”, de 11/12/83.
Editoria: Paulo Berings. Reprodução fotográfica retirada do arquivo do jornal O Popular, Goiânia.
53
Em meados de 1983, Sena participou de uma coletiva com os artistas
Alcione Guimarães, Neusa Peres, Heliana Almeida e Fernando Costa Filho, na
Associação Médica de Goiás, dentro do “Encontro de Psicanálise”. Esse
encontro foi organizado por psicanalistas de Goiás e do Brasil para discutir
“assuntos ligados à psicanálise e as artes, campos da revelação do ser
humano estreitamente ligados e unir as duas formas de expressão, uma
através da palavra e a outra pela pintura”, como conta Conceição Rodrigues
em sua reportagem da mostra publicado em O Popular. Sobre as obras de
Sena expostas a jornalista faz o seguinte comentário: “no trabalho de Carlos
Sena predominam as figuras irreais, geralmente femininas, altamente
detalhadas com vários elementos de fundo que compõem as telas, geralmente
sombrias, tons pasteis e com grande predominância negra e sépia (Id.,
07/10/83).
O Popular, Caderno 2, “O Mistério da Criação na Pintura de Carlos Sena”, ilustração de texto de
Brasigóis Felício, sobre a exposição “Uma Peça em Três Atos”, de 25/12/84.
Reprodução fotográfica retirada do arquivo do jornal O Popular, Goiânia.
54
A relação da obra de Carlos Sena com universo da psicanálise é notada
por outros autores. Em decorrência da emblemática exposição “Uma Peça em
Três Atos”, realizada em dezembro 1984, organizada por Sena e pela
marchand e proprietária da Arte Antiga Galeria, Marina Potrich, para mostrar a
mais nova série de pinturas do artista; o professor de psicologia da
Universidade Católica de Goiás, Saturnino Pesquero Ramon escreveu um texto
de apresentação para o catálogo da exposição “Uma Peça em Três Atos” em
que faz os seguintes comentários: “Carlos Sena é um dos poucos artistas
brasileiros que, de forma sistemática, como Dalí, optou por fazer do próprio
inconsciente o objeto e a fonte de inspiração da sua obra artística”. (RAMON,
2003)
Notamos nesta breve passagem do texto que o professor Pesquero
Ramon, já de início, situa a obra de Carlos Sena dentro de um universo onírico
e inconsciente, atribuindo uma semelhança de ocorrências simbólicas entre as
pinturas de Sena a produção plástica do pintor espanhol surrealista Salvador
Dalí. Pesquero prossegue no texto sugerindo que esta exposição de Sena se
traduz em uma síntese da vida do artista até então, e reconhecendo sempre o
esforço do mesmo para com o contato com seu inconsciente:
Esta individual é uma síntese do que foi até hoje sua produção artística:
uma peça, um drama, uma autobiografia, o relato de se projetar e se
encontrar com todas as dolorosas vicissitudes que pressupõe o destino
humano, no seu titânico esforço de individuação, tentando integrar o lado
irracional, desacordam seus fantasmas mais chocantes. (Id., 2003)
A expressão “fantasmas chocantes” que o professor Pesquero coloca,
provavelmente está relacionada à sua interpretação sobre a identidade da
figura humana apresentada nas telas: “Carlos, consciente ou
inconscientemente, fez esta escolha: encontrar-se a si mesmo na obra
artística”, diz o professor. Pesquero associa o artista como personagem de
todo o prazer e sentimento apresentados na narrativa das pinturas. Em outro
texto publicado na coluna de Maria José, do jornal O Popular, sobre a mesma
exposição, a colunista, arrisca a seguinte interpretação das obras
apresentadas:
55
A mostra, que tem por título, “Uma Peça em Três Atos”, é de uma coleção
de óleo sob tela, de onde é extraído todo o misticismo existente no espelho,
seu brilho, o reflexo do objeto que se põe à sua frente para ver a si mesmo.
É como se fosse um espetáculo teatral com evoluções de começo, meio e
fim. De busca, de frustrações, de encontro, de realizações. É a dialética
presente no surrealismo do artista. O seu espelho mostra tal qual é o seu
mundo e dele se pode absorver o aspecto mágico dentro de uma firmeza
de textura, com um equilíbrio perfeito e uma linguagem salutar digna dos
grandes artistas.(O Popular, Caderno2, 23/12/84)
É significativa essa observação da colunista relativa à presença do
elemento espelho nas obras do artista. Esse elemento, que sutilmente é
sugerido na obra “Anima ou anima”, ao estar presente na composição,
remeteria a figura humana ao próprio artista. Como podemos reparar na
reprodução da pintura (figura 19, p.149), existe a citação ao objeto espelho,
que então, nas outras obras, pela idéia, seria todo o espaço da tela. Em “Anima
ou anima”, o artista estaria entregando essa reflexão quando se nota uma
inscrição em primeiro plano, sugerindo as anotações em espelho feitas com
batom. O objeto espelho, que é invisível, irrefreável, através dessa
sobreposição, salta a tela em uma manobra de composição perspicaz.
Portanto, se juntarmos a leitura dos trabalhos desta exposição feitas pelo
professor Saturnino Pesquero mais a interpretação da colunista Maria José,
podemos crer que, pelo menos, em certo nível de interpretação, a identidade
da figura humana apresentada nas pinturas, remete ao próprio artista.
Em 1984, Carlos Sena é convidado a participar do projeto “Arte na Rua”
promovido pelo MAC, São Paulo (MENEZES, 1998, p.87). Alguns meses antes,
em 27 de maio de 1984, a colunista Maria José, já uma apreciadora declarada
das pinturas de Sena, faz uma viajem até Brasília para conferir uma
retrospectiva reunindo 40 obras produzidas pelo artista. Maria José, conta em
sua coluna como foi essa mostra realizada na Galeria Goeldi, no Distrito
Federal:
Obteve grande repercussão no meio artístico e social a exposição do artista
plástico goiano Carlos Sena, realizada na última semana, no Salão de
56
Honra da Galeria Goeldi, no Distrito Federal. Na mostra, Carlos expôs seus
quarenta melhores trabalhos, dos últimos cinco anos. A iniciativa do evento
partiu da Funarte, por reconhecer no jovem artista goiano, grande potencial
e talento.(O Popular, Caderno 2, 27/05/84)
Tendo conquistado a admiração de todos, as “mulheres”, ou melhor, as
figuras humanas de Sena ganham liberdade para circular fora das telas. No
início de 1984, a arte goiana chega às confecções. A grife Dijon, especializada
em moda masculina, lança em janeiro de 84 a sua coleção de verão com
camisetas que vinham estampadas com trabalhos de artistas goianos, entre
eles, trabalhos do artista Carlos Sena (O Popular, Caderno 2, 08/01/84). Então,
neste ano, não seria de todo impossível cruzar com alguém pelas ruas e se
deparar com uma das “Divas” estampadas em suas camisetas. No
movimentado Arroz Néon Vídeo-Bar
24
, comandado pelo poeta e agitador
cultural PX da Silveira, ponto de encontro de intelectuais da cidade, era
organizado, na mesma época, um leilão de obras de arte que reuniu 35
trabalhos de vários artistas de Goiânia (Diário da Manhã, Revista da Manhã,
08/02/84). Sena, cedendo uma pintura para este leilão, passa a freqüentar, de
forma esporádica o local, convivendo então com artistas de todos os
segmentos da criação. Músicos, poetas, atores e artistas plásticos davam o
tom do ambiente, que durante a sua existência sempre promoveu a discussão
de novas idéias e a experimentação de novas mídias, como a arte em vídeo,
por exemplo. No mesmo ano, sai a lista de seleção das obras que iram compor
o “V Salão de Artes Plásticas de Goiânia”. Com a comissão julgadora composta
por Adovaldo Fernandes Sampaio, Adelmo Café, Joaquim Thomaz Jayme,
Miguel Jorge e Neusa Morais. Carlos Sena é selecionado para a mostra, não
figurando entre os premiados.
25
No final do ano de 1985, o artista é selecionado na categoria pintura,
com a obra “Diva no divã”, para participar do “VIII Salão Nacional de Artes
Plásticas do Rio de Janeiro”. A mostra, mais uma vez foi realizada no Museu
de Arte Moderna, do Rio de Janeiro, e ocorreu no período de 13 de dezembro
24
Bar e Restaurante de propriedade do poeta e agitador cultural PX da Silveira. (FARIAS, 2005, p. 263)
25
Dados coletados no arquivo do Museu de Arte de Goiânia MAG. (Catálogo do V Salão de Artes
Plásticas de Goiânia de 1984)
57
de 85 à 2 de fevereiro de 86.
26
A exposição “INTER(Ê)FERENCIAS” foi uma atitude de renovação por
parte de Carlos Sena, de reestruturação. O que se percebe neste período é
que o universo visual das obras da primeira metade da década tinha alcançado
seu topo, como se já concluísse sua função visual. E essa atual fase viria a
processar o inverso, a questionar o passado, na ação de desconstruí-lo.
“INTER(Ê)FERENCIAS” mostrou obras de Carlos Sena e do artista Ênio Porto,
que explorava técnicas da arte do grafite, com a utilização de máscaras de
estêncil e jatos de tinta automotiva. Essa exposição, que será comentada com
maiores detalhes no decorrer do trabalho, marcou uma linha divisória na
carreira de Sena que já era um artista com o espaço conquistado nas artes
goianas.
Neste período Sena já vinha se concentrado na
produção de uma arte mais experimental, que se confirma com a exposição
“INTER(Ê)FERENCIAS”, de agosto de 1985 (O Popular, Caderno 2, 29/08/85).
Não seria estranho se o artista pusesse a prova, para análise de júri, essa nova
produção. Caso isso tenha ocorrido, a seleção para o “Salão Nacional” serviu
como bom parâmetro para que o artista soubesse que suas novas produções
estavam dialogando com o pensamento artístico contemporâneo.
Temos por esta mostra a definição do ponto de partida para
compreender a produção que o artista realiza na atualidade. Toda sua relação
com os elementos da cultura popular que observamos desde seus trabalhos do
início dos anos 80, juntamente com a pesquisa na adição de objetos da cultura
regional e indígena em suas pinturas da segunda metade da década de 80,
possibilitou o salto para ocorrências de objetos e instalações artísticas que
vemos em seus trabalhos do final da década de 90 e início dos anos 2000.
Hoje, em 2009, vemos uma volta do artista ao bidimensional, mas sempre
dentro da pesquisa em torno da massificação da imagem, e da utilização de
ícones da cultura popular.
As “Divas” de Carlos Sena, do início da década de 80, marcaram tanto o
imaginário do cenário artístico goiano, que o artista, mesmo em uma pesquisa
que o levava à outros caminhos, não foi possível se desvincular de suas
“mulheres”. Em 1986, Sena foi convidado para participar da exposição
26
Id.. (Catálogo do VIII Salão Nacional de Artes Plásticas de 1985)
58
“Coletiva de Maio”, organizada pela Félix Galeria de Arte, que promovia
anualmente a reunião de trabalhos de pintores goianos que tinham por tema
central a mulher. Essa exposição coletiva, composta pelos artistas Carlos
Sena, Siron Franco, Tai Hsuan-An, Diva Goulart, Omar Souto, Fernando Costa
Filho, Antônio Poteiro, Amaury Menezes, Sáida Cunha, Leonam Fleury, Selma
Parreira, Roos e Sanatan, era dedicada à celebração do Dia das Mães e tinha
por objetivo exatamente o diálogo entre obras de diferentes técnicas e estilos,
mas com todas voltadas ao tema mulher. (O Popular, Caderno 2, 06/05/86)
Enquanto as “mulheres” de Sena ilustravam as mães na Félix Galeria,
no mesmo mês, outras telas da mesma série, ilustravam o sexo na exposição
“Erótica” realizada no Salão Marrom do Hotel Bandeirantes, em 11 de maio de
1986. Uma nota de O Popular, da sessão Acontece, sem autor, e de mesma
data, explica: “A mostra é composta por quadros que abordam, com a
linguagem peculiar de cada artista, a temática erótica”. Junto com Carlos Sena,
apresentaram trabalhos nesta exposição: Amaury Menezes, Antônio Poteiro,
Dacruz, D.J. Oliveira, Fernando Costa Filho, Gomes de Souza, Leonam Fleury,
Roos, Sáida Cunha, Selma Parreira, Vanda Pinheiro e Siron Franco.
27
Ainda no mesmo ano, Sena organiza na Multiarte Galeria, sob a
coordenação de PX da Silveira, uma mostra individual. Em reportagem não
assinada, do jornal Diário da Manhã, “A Arte Contra o Descartável”, de 25 de
novembro de 1986, o artista em entrevista, faz considerações sobre a ausência
de uma crítica de arte realmente especializada em Goiás. Comenta sobre a
máfia das galerias que a cada dia se rendia mais ao poder do mercado que
passava por uma explosão comercial. Na matéria, Carlos Sena prossegue
alertando sobre a necessidade de criação de um processo educativo do público
com o objetivo de despertar neste, a verdadeira apreensão da arte. Ele
também sugere a criação de uma entidade onde os artistas possam se
organizar para combater a exploração de um ou de outro filão de arte (Diário da
Manhã, 25/11/86).
Observando as duas exposições, vemos que eram, praticamente, os mesmos
artistas.
27
Dados coletados no arquivo do MAG. Folder da exposição “Erótica”, contendo listagem dos
expositores, 1986.
59
Os trabalhos apresentados por Sena nesta exposição na galeria de PX
da Silveira, seguiam sua temática de referência à figura feminina “a mulher
retratada com cores fortes, traços bem delineados e em clima hollywoodiano”
(O Popular, Caderno 2, 30/11/86). Em dezembro de 86, Sena é selecionado
para o Salão Nacional de Artes Plásticas de Brasília. (MENEZES, 1998)
No ano de 1987 foi realizado mais um projeto “Galeria Aberta”
organizado por PX da Silveira, onde enormes painéis eram pintados em
fachadas de prédios no Centro de Goiânia. Dentro de uma proposta de levar a
arte ao povo, PX já havia realizado um “Galeria Aberta”, em 1984, com obras
de artistas e poetas estampados em outdoors da cidade. Este evento marcou o
início de uma série de projetos organizados por PX, como o dos painéis
pintados em prédios. Em seqüência foram realizadas pinturas em laterais de
ônibus e reproduções em grande escala da obra de Omar Souto, na Rodovia
dos Romeiros. A proposta apresentada pelo produtor do evento consistia em
levar a arte goiana ao encontro da grande população (FARIAS, 2005). Em
entrevista para esta pesquisa Carlos Sena (2009) fez o seguinte comentário
sobre esses eventos:
O projeto é de uma figura da cidade
28
28
Referência direta ao poeta e produtor cultural PX da Silveira. SENA, 2009.
, que era dono de uma galeria de
artes na época, e cria uma série de estratégias de popularizar ainda mais a
arte local, e tinha estes artistas promovidos para vender em sua galeria.
Foram vários projetos que ele fez e me convidou e que eu recusei. Um
desses projetos era pintar quadros nos ônibus da Transurb. O quadro era
pintado do lado de lá e não do lado em que o público vê no ponto de
ônibus. Eram quadros desfilando nas ruas e tudo mais e eu não via sentido
nesse tipo de intervenção e no que isso melhoraria a vida das pessoas. Em
relação ao Galeria Aberta, eu achava que era algo que apenas poluía a
cidade, que não tinha uma conexão, não tinha um propósito maior, que não
ocupava espacialmente, de uma forma legal, a cidade, que não verificava o
espaço, não tinha um sentido. Era apenas pegar uma obra que o artista
pendurava na galeria e reproduzir em escala gigantesca no meio da cidade.
É uma reprodução que com o tempo acabaria, geraria restauração,
acabaria em restauração.
60
Estes eventos da “Galeria Aberta”, além de levar a arte de encontro ao
povo, certamente ajudaram no processo de popularização e comercialização
da arte goiana que, já no final da década de 80, tinha se transformado em um
modismo de consumo das elites. Contrário aos caminhos que a arte goiana
estava tomando, muito voltada ao mercado e sendo utilizada para fins políticos,
Carlos Sena, querendo se afastar de todo esse esquema, volta sua produção
para causas filantrópicas. Em 1988, um grupo de artistas visuais do Centro-
Oeste brasileiro se reuniu, durante o 4º Festival de Inverno da Chapada dos
Guimarães, e lançou, em uma grande exposição de arte, o Movimento Nacional
de Artistas pela Natureza (Cartaz do Movimento Nacional de Artistas pela
Natureza, 1988). Já naquela época, pintores, escultores e fotógrafos se
posicionavam contra a degradação do Cerrado e da Amazônia. Carlos Sena
participa dessa exposição junto com outros artistas goianos e de diversas
partes do Brasil, entre eles: Tomie Ohtake, Ana Letícia, Glauco Rodrigues,
Renina Katz, Humberto Espíndola, Anna Carolina, Carlos Scliar, Siron Franco,
Adir Sodré, Gervane de Paula, Nilson Pimenta, Rubens Matuck, Miriam Pires,
Gomes de Souza, Selma Parreira, Fernando Costa Filho, Sanatan e Iza Costa.
Todos esses artistas redigiram e assinaram a "Carta”, que em um de seus
trechos diz: "Se é uma utopia o que queremos, então que ela seja aqui, no
Coração da América do Sul, no meio do Mato Grosso, uma forma de não nos
omitirmos, mas darmos uma contribuição real para a harmonia de toda a Terra
(www.diariodecuiaba.com.br. Acesso em:06/2009). Em 7 de dezembro do
mesmo ano, Sena doa algumas pinturas para o Leilão de Obras de Arte em
Prol do Instituto Damiana da Cunha, que desenvolvia trabalho de profilaxia e
apoio a drogados e aidéticos. (O Popular, Caderno 2, 07/12/88)
Em dezembro de 1988, é aberta a “I Bienal de Artes de Goiás” só tendo
aceitado inscrições nas categorias de pintura, desenho e gravura. (Catalogo da
I Bienal de Arte de Goiás, 1989). No intuito de criar mais um local direcionado
as artes e receber a “I Bienal de Artes de Goiás” o então governador Henrique
Santillo inaugura o Museu de Arte Contemporânea de Goiás, o MAC-GO, em 8
de dezembro do mesmo ano. Carlos Sena participa da Bienal Goiana na
categoria desenho (O Popular, Caderno 2, 10/12/88). Logo após participar da
grande mostra do Estado de Goiás que se prolongou até janeiro de 1989, Sena
61
abre em março, no Museu de Arte de Goiânia, uma grande individual em
retrospectiva sobre sua carreira. Como consta em matéria no O Popular, de 23
de março de 1989:
A retrospectiva mostra trabalhos do artista, desde o início de sua carreira,
passando por diversas fases de sua produção, nesta mostra Carlos Sena
recria seu atelier no ambiente da sala de exposição, segundo o artista, em
suas obras, ele utiliza a figura humana com tendência ao realismo absurdo.
(O Popular, Caderno 2, 23/03/89)
No final de 1989, Sena ainda realiza duas coletivas, uma na Veiga Valle
Galeria de Arte (Cartaz da Veiga Valle Galeria de Arte, 1989) e a outra
decorrente da I Semana de Atividades Culturais do Instituto de Artes da UFG,
expondo com Selma Parreira, Heliana Almeida, Nilse Bernardes e Vânia Ferro
(O Popular, Caderno 2, 18/11/89), encerrando assim suas atividades na
década de 80.
Em meados de 1989, as “Divas” de Sena dão um último brilho na capa
do Caderno 2, de O Popular (O Popular, Caderno 2, 30/05/89). O professor
Adelmo Café e o artista plástico Elder Rocha Lima, parecendo ouvir as preces
do artista sobre a necessidade de educar o público a observar obras de arte,
organizaram um curso promovido pela Casa Grande Galeria, que tinha por
objetivo a educação visual para pessoas que freqüentam galerias ou para
quem gosta de arte e não compreende os mecanismos que envolvem a obra.
Outro objetivo do curso era também criar um colecionador mais consciente. A
matéria de Margareth Gomes “Arte de ver a Arte”, no jornal O Popular de 30 de
maio de 1989, apresenta informações sobre o novo curso. Sua reportagem
recebe ilustração de uma obra de Carlos Sena.
Pelo currículo artístico aqui apresentado, pôde-se perceber o processo
de inserção do artista Carlos Sena dentro do contexto cultural goiano, e como,
no decorrer dos acontecimentos, o artista foi conquistando espaço em outros
centros como Cuiabá, Brasília e Rio de Janeiro. Verificamos que a seqüência
de acontecimentos que culminaram em sua inserção, também direcionaram
suas atitudes, influenciando o artista à uma nova abordagem em sua
construção visual.
62
O Popular, Arte de Ver a Arte”, capa do Caderno 2 , texto de Margareth Gomes, de 30/05/89.
Reprodução fotográfica retirada do arquivo do jornal O Popular, Goiânia. Imagem ilustrativa: obra
“As moças da sessão das três” de Carlos Sena - ver (figura 13, p.133)
63
1.3 O bom Maldito: a opção pela arte
Podemos dizer também que Carlos Sena teve uma passagem heróica
pela cena artística goiana dos anos 80. Heróica mais no sentido moderno, de
busca pelo novo, que no sentido clássico grego, onde os heróis tinham uma
meta de realização. Não há porque crer que Sena, a princípio, tivesse em
mente um projeto de transgressão da forma. O artista estava em sintonia com o
movimento nacional e internacional principalmente pelo suporte, pela retomada
da pintura abandonada pelas proposições visuais da geração de 60 e 70.
Observando a obra “Posto em Cena” (figura 06), por exemplo, é complicado
defender que esta pintura a óleo, de desenho realista e de técnica apurada de
veladura, camada sobre camada de tinta sutilmente pincelada, onde não é
possível ver o gestual do pincel, possui alguma ocorrência de transgressão da
forma em sua técnica de construção.
Figura 06- Carlos Sena, “Posto em Cena”, óleo sobre tela, 1983, fonte: acervo MAG
64
O professor Pesquero quando relacionou a pintura de Sena com o
movimento estético surrealista, certamente se ateve à observação da técnica
de execução, que promove o detalhe, a forma e a luz, em conjunção com o
universo fantástico constituído pela relação dos elementos. Podemos também
aludir que, se a técnica de construção da obra era voltada ao movimento do
início do século, o discurso simbólico revelava questões fundamentais do
pensamento contemporâneo. A narrativa crítica, construída com a utilização de
símbolos remetentes ao cenário artístico goiano, a vida dos coquetéis, a mídia
e uma referência às salas de estar dos colecionadores goianienses, emprega
na obra o discurso contemporâneo da arte voltada à si mesma. A arte
pensando a arte, o seu meio e promovendo discussões entorno das estruturas
que a compõe. Podemos observar em várias obras de Sena, do início da
década de 80, construções visuais que se apropriavam da iconografia de
outros artistas, proferindo uma leitura crítica sobre o mercado de arte, a moda
dos colecionadores, e o comportamento social que os sustentava.
Tem aquele quadro que está no acervo do MAG intitulado de “Posto em
Cena” que fala desse modismo de arte que eu captava na época. Então era
uma galeria de arte que tinha um quadro do Siron, um quadro do Cleber, e
eu ponho uma moldura em volta da minha figura e eu também participo
dessa moda dos quadros, sabe..., então eu também estou nas galerias,
estou nas casas chiques e tudo mais... Com esse quadro que eu ganho o
prêmio do Salão do Cinqüentenário de Goiânia de 1983. (SENA, 2009)
Vemos na (figura 06) duas representações de telas em plano de fundo
para a cena das figuras humanas. A referência que o artista faz às obras de
Siron Franco e Cleber Gouveia são apropriações de suas iconografias. Sena
comenta sobre esta ocorrência:
Claro que aquilo não era uma reprodução de nenhuma obra de Siron e nem
do Cleber. Essas obras não existem! Eu me aproprio da iconografia do
Siron e do Cleber, e crio o self-service. Eu fiz uma série. Tenho um quadro
que cita o Omar Souto, tenho um até com Valdelino. (Id., 2009)
65
Acho necessário, dentro deste processo de focalizar as transgressões
estéticas de Carlos Sena, remeter à exposição de 1983 “Eu e mais Três” que o
artista, junto com Selma Parreira, Fernando Costa Filho e Roos Oliveira,
realizaram no Flamboyant Shopping Center, em Goiânia. Os artistas
apresentaram a mostra como um manifesto em defesa da arte produzida em
papel. O título da exposição “Eu e mais três”, fazia alusão ao ego dos artistas
da cidade. As obras apresentadas por Sena quebravam a formalidade de suas
pinturas, revelando uma postura de transgressão do suporte. Como afirma
Conceição Rodrigues, em texto no jornal O Popular, Quatro valores goianos
despertando consciências”, de 16 de dezembro de 1983: “a proposta surgiu
inicialmente como uma forma de curtição em cima do falso estrelismo, uma
coisa quase anarquista”.
Outro aspecto é a escolha da mídia. O papel é sem dúvida um suporte
mais barato, assim transformando a obra mais acessível ao público. O fato
também de a exposição ter sido realizada em um shopping center, força esse
distanciamento entre a massa popular e as obras de arte a se quebrar. Mas, do
ponto de vista estético, o principal aspecto que faz necessário a referência a
esta exposição, são as obras de Sena apresentadas na mostra. Para
exemplificar como eram estes trabalhos, recorro a outro trecho da reportagem
de Conceição Rodrigues:
Carlos Sena age sobre o papel baseado nos princípios mais primários.
Numa abordagem nova e usando elementos que lhe são familiares, joga
nesta série com formas renovadoras, com planos, elementos e figuras.
Rasgando ou furando o papel é, inclusive, uma forma de o artista quebrar o
tabu da apresentação do trabalho, que pode estar rasgado ou furado, mas
esteticamente o artista está seguro dentro de uma harmonia de
composição. (O Popular, Caderno 2, 16/12/83)
Quando Sena fura ou rasga o papel, como registrado na matéria da
jornalista, ele está utilizando o suporte como elemento de composição. Esta
relação de pensar a obra junto com o suporte se traduz em uma postura
voltada a experimentação, deixando transparecer às novas pesquisas estéticas
que o artista vinha se voltando.
66
Em outro texto de 11 de dezembro de 1983, noticiando a mesma
exposição, sob a editoria do jornalista Paulo Beringhs, o jornal O Popular,
publica a seguinte especificação sobre estas obras:
Carlos Sena, numa abordagem bastante nova e usando elementos
familiares, jogará de forma renovadora nesta coleção, com planos,
elementos e figuras, valorizando os personagens, em planos brancos
trabalhados sutilmente com linhas, texturas e rasgões. (O Popular, Caderno
2, 11/12/83)
No mesmo período desta mostra, Sena realizava uma outra exposição
com os artistas Zécèzar, Gomes de Souza, Dinéia Dutra e Carlos Dacruz, na
Galeria de Artes Jaó. Como que para ilustrar sua busca artística da época, que
se encontrava em dois pólos distintos, entre a militância estética e a
sobrevivência como artista, essa exposição declara seu transito entre o
engajamento e o lirismo. A mostra “Eu e mais três”, no espaço de um shopping
center, e com um discurso inovador, contrastava com a mostra na Galeria de
Artes Jaó, onde Sena apresentou obras em suporte formal.
Na mostra da Galeria, o artista propõem um discurso mais apaziguador,
e expõem obras que já vinham adquirindo sucesso comercial. No texto de José
Sebastião Pinheiro (O Popular, 14/12/83), sobre a mostra artística da Galeria
Jaó, Carlos Sena dá o seguinte depoimento para o jornalista:nestas obras
estou mais preocupado com a sensibilidade, deixando de lado problemas de
engajamento, de denúncias. Meu único compromisso é apenas com a
sensibilidade”.
Sena declara para o jornalista que “é preciso ser mais lírico nessa
época, mais fantasioso. Mais que nunca torna-se necessário estimular a
fantasia e essa é a minha contribuição como artista para o público”. Vemos que
neste depoimento, o artista se contrapõe a sua postura engajada. Este
comentário se faz importante para ilustrar essa fase divisória pela qual Sena
passava. Um conflito que o dividia entre o continuísmo de uma estética já
estabelecida e a experimentação. Essa dualidade anuncia um período de
transição do artista. Relevante para compreender os acontecimentos que se
sucedem em sua produção no decorrer da década.
67
O Popular, Caderno 2, 16/12/83 “Quatro Valores Goianos Despertando Consciências”, ilustração de
texto de Conceição Rodrigues sobre a exposição “Eu e Mais Três” Reprodução de foto de Paulo
José retirada do arquivo do jornal O Popular, Goiânia.
Carlos Sena começa os anos 80 como referência de uma pintura
formalista. Expõe com os melhores e mais renomados artistas da região.
Ganha salões, ganha prêmios, e ganha a “cidadania goiana”, como verificamos
em nota na coluna de Maria José (O Popular, 27/05/84): “obteve grande
repercussão no meio artístico e social, a exposição do artista plástico goiano
Carlos Sena, realizada na última semana, no Salão de Honra da galeria Goeldi,
no Distrito Federal”. Sua produção plástica encontra entre os goianos um
significado. Mas não foi tão fácil assim. Apesar de produzir obras de qualidade
deve ter trabalhado muito para conseguir espaço e notoriedade. Imigrante,
sentiu na pele a resistência do fechado cenário cultural de Goiânia, dominado
por figuras especificas em cada área da criação e que mandavam e escolhiam
os próximos novos valores. Apesar das artes plásticas e a literatura goiana
68
terem vindo colecionando prêmios e espaço na mídia durante o período, a
cultura em geral, junto com seus coadjuvantes, passavam por uma fase em
que grupos se dividiam e que uma guerra interna de egos e por espaço se
travava nas páginas dos jornais da cidade. Problemas ligados à política
cultural, a falta de dinheiro para as produções, falta de espaços, e alguns
poucos nomes sendo reverenciados à desprezo de uma maioria, davam a
tônica de desgosto da época. Sena chega em Goiânia num período em que
políticos eleitos falavam “curtura” (Id., 23/07/83) ao invés de “cultura”, e essa
cultura equivocada chegava a pontos cômicos com piadas constantemente
feitas pelos intelectuais incrédulos com o descaso dos governantes. Se dizia
nas mesas de bares que “em Goiás, cultura era só a do bacuri” (Ibid.,
06/08/83).
Os cinemas da cidade estavam sucateados, cinemas que exibiam filmes
de arte, clássicos locais como o Cine Rio fechavam as portas (O Popular,
Caderno 2, 14/11/80). A arte cinematográfica se voltava ao domínio de, no
máximo, uns dois produtores e diretores, que produziam com o dinheiro do
bolso, ou de um raríssimo incentivo governamental (Id., 13/12/83). Músicos se
viam escravos dos bares noturnos e da indiferença de seus freqüentadores
(Ibid., 27/03/82). Escritores dependiam de poucas gráficas para editar seus
livros, muitas vezes editados com o próprio dinheiro de seus autores (O
Popular, Caderno 2, 05/12/82). O teatro sofria com a ausência de espaços, e
os que tinham eram dominados pelas produções que vinham do Rio de Janeiro
e de São Paulo (Id., 18/04/82). Artistas Plásticos dependiam da aprovação das
poucas galerias existentes do início da década e se viam relegados as feiras
livres ou a espaços concedidos por clínicas, hospitais e bancos (Ibid.,
11/12/82). A síndrome da terra “agropecuária” parecia ser mais forte que a
vontade de alguns e as poucas iniciativas que movimentavam a cultura da
cidade eram agarradas e defendidas com fervor pela oprimida classe artística.
Certamente, não foi fácil para o artista Carlos Sena conseguir se impor e
apresentar sua arte em Goiânia, como não era fácil para qualquer um que
viesse de outro estado. Para ilustrar essa problemática, cito alguns trechos do
texto de José Sebastião Pinheiro “Ou acabam as ‘Panelas Culturais’ ou
continua o marasmo do setor em Goiás”, em que o jornalista, em tom de
69
revolta, descreve as dificuldades de se embrenhar no cenário cultural
goianiense:
Fica difícil até pensar culturalmente em Goiás, principalmente quando se
sabe que há certas correntes fortemente arraigadas a atitudes altamente
radicais, seja no que diz respeito à forma como levam à frente os projetos,
seja com relação à pouca ou quase nenhuma aceitação de novos valores
nas rodas que se têm como representativas da cultura do Estado. (O
Popular, Caderno 2, 18/10/81)
Quando Pinheiro se refere a “certas correntes fortemente arraigadas a
atitudes altamente radicais”, ilustra com clareza a dificuldade e a resistência
que um artista, ou um escritor, ou qualquer produtor de cultura, encontrava
caso apresentasse uma proposta que não seguisse os padrões estéticos já
preestabelecidos. Em outro trecho do texto de Pinheiro ele afirma: “Se os
goianos sentem isso, o mesmo acontece com os valores de fora que escolhem
Goiás para exercerem suas atividades artísticas”. Sena escolheu Goiás para
exercer sua atividade artística e, certamente, descobriu que suas ambições
estéticas ousadas teriam de esperar a confirmação de seu nome no “panteão”
da arte local, para poder assim alçar vôos maiores.
A exposição “Uma peça em três atos”, de Carlos Sena, fecha o ano de
1984 com sucesso de público, e com todas as obras vendidas. Sena é alçado
ao topo das artes goianas, e confirma todas as indicações e premiações que
ganhara desde então. Com 32 anos de idade, o jovem artista ganha fama,
status e o respeito dos colegas de profissão. Somente há dois anos saído da
universidade, de repente se fazia presente ao lado de nomes fortes da arte
goiana, como Siron Franco, Cleber Gouveia, D.J. Oliveira e Iza Costa. Seu
esforço e seu talento estavam finalmente ocupando o espaço que almejava.
Com vários prêmios alcançados, exposições em alguns dos melhores museus
e galerias do país e do exterior, Carlos Sena podia então seguir com sua arte
aclamada e desfrutar da gratificante posição de artista inserido e
comercializado.
Sena então decide mudar sua estética, sua proposição lírica e deixar a
experimentação aflorar. Mesmo estando em acordo com a filosofia dos novos
70
artistas brasileiros da década de 80, em que vários artistas apoiaram o
ressurgimento da pintura como forma de renovação às tendências conceituais
da década de 70, Carlos Sena opta por subverter o suporte clássico da tela.
Inicia uma série de obras que viriam em 1985, quebrar o ciclo de uma estética
que estava apoiada na composição formalista, no desenho detalhado, no
volume e na veladura.
Nos anos 80, a situação econômica brasileira favorecia uma pequena
parcela da população, com a inflação a patamares hediondos, o salário mínio
era consumido mês a mês pela fragilidade da moeda, os preços dos produtos
se elevavam e mesmo com as correções ficava muito aquém das necessidades
dos cidadãos. A mão-de-obra por conseqüência era barata, e quem ganhava
dinheiro no Brasil eram os donos dos negócios. Essa pequena parcela com
poder aquisitivo vivia uma euforia aos bens de consumo. “Todos queriam ser
empresários, ser homens de negócios, e a maneira fina de se vestir era dessa
forma. Para este propósito de moda social existiam as revistas Casa Vogue, e
para se mostrar antenado com as tendências, os chiques liam a revista
Interview” (SENA, 2009). Carlos Sena, ao lembrar do período em que estas
revistas tratavam de comportamento e de moda, reconhece uma falha de
interpretação visual comumente ocorrida durante a época:
Existia essa moda, ancorada pela Interview e Vogue, que é aquela fina
revista. Do ponto de vista das artes plásticas o conteúdo dessas revistas
faziam parte de um sistema completamente dominado pela cultura de
massas, a crítica perdeu muito peso nessa década de 80, teve um
“emburrecimento” geral, então não precisava falar sobre arte , você tinha
era que fazer arte e a arte era apenas visual. (Id., 2009)
As duas revistas dedicadas às artes plásticas, durante estes anos, eram
a revista Galeria e o Guia das Artes. Em um comentário sobre as duas
publicações, Sena recorda que “por serem as únicas revistas sobre o assunto o
artista que aparecesse em uma delas estava consagrado e quem não
aparecesse estava fora”, o artista faz menção a importância destas duas
revistas durante a época, assim como a escassez de publicações sobre o
71
assunto, “era uma norma, todo e qualquer artista tinha que se interar, de tudo e
de quem estava aparecendo ali, os emergentes, os Leonilson
29
, as Catunda
30
Foi através dessas publicações que Carlos Sena ficou conhecendo os
trabalhos do artista Hélio Oiticica. Ele ficou bastante interessado na pesquisa
do artista, e certamente esse direcionamento observado na obra do carioca,
uma pesquisa espacial que levava a pintura a sair do bidimensional para o
tridimensional e depois para o espaço, fortaleceu, de certa forma, sua intenção
de discutir a relação da obra com o suporte, e tempos depois, da obra com o
espaço expositivo. O conceito por trás da concepção visual gerou o interesse
no artista, e a arte puramente plástica que se produzia em Goiânia deixa aos
poucos de fazer sentido para ele. Sena buscava, a partir dali, os conceitos e
proposições que iriam além da visualidade.
”.
Paralelamente a suas pinturas, e a forte presença de suas obras no
cenário artístico goiano, o artista, experimentalmente, em sua casa, deu início a
trabalhos em que juntava objetos de artesanato, da cultura popular e da cultura
de massas. Voltando à obra “Posto em Cena” (figura 06, p.63) notamos a
relação que este trabalho possui com os conceitos da Pop Arte americana. Um
dos exemplos é a representação visual da revista Interview, um ícone da
cultura de massa utilizado como referência pop por Sena já em 1983. Nos
novos trabalhos da fase experimental, o artista não apresenta mais os
elementos da cultura popular pela pintura. Ele traz os próprios elementos para
dentro da obra, adicionando o próprio o objeto à composição.
Essa radicalidade vista na Arte Pop em relação a utilização de
elementos da cultura de massa interessa a Sena, principalmente, no que diz
respeito ao conceito proposto pela crítica intensiva a massificação da imagem e
a abertura para outras possibilidades construtivas advindas da liberdade do
suporte, do espaço criativo, e da experimentação de novas mídias. Na obra
“Prancha VI com cocar Kraô” (figura 07), notamos sua necessidade de
libertação do bidimensional, ao utilizar o cocar de índio da tribo Kraô como
elemento de composição da obra. É possível observar neste trabalho, uma
29
José Leonilson Bezerra Dias, artista brasileiro ligado a transvanguarda italiana. Nasceu em Fortaleza,
em 1957. (FARIAS, 1994)
30
Leda Catunda, artista paulista nascida em 1968. Integrante da importante mostra “Como vai você,
Geração 80”, que resgatou a pintura nas artes plásticas brasileiras dos anos 80. É na atualidade uma das
mais importantes artistas plásticas brasileiras. (CHIARELLI, 1998)
72
forte influência do artista pop/neo-expressionista americano Robert
Rauschenberg, entusiasta desta postura de união de objetos com a tela de
pintura, ação a qual cunhou o termo combine painting
31
O salto de Sena, do bidimensional para uma inicial relação com o
espaço, funda-se nessa constelação básica de referências. A pop arte, o neo-
expressionismo e por que não nas experimentações espaciais de Oiticica, que
possui em sua cronologia visual um esmiuçado caminho que parte do plano
para esta exploração espacial. Na obra de Carlos Sena, esse encontro com o
objeto puramente tridimensional só vem aparecer de fato em meados da
década de 90. Na segunda metade da década de 80 o artista ainda se dedica
às experimentações em tela, tendo por base a bidimensionalidade, e portanto,
o diálogo como neo-expressionismo se apresenta mais próximo a este período
de sua produção. Apesar de encontrarmos essas influências na obra do artista,
ele não reconhece a relação de sua obra com estes movimentos ou com algum
artista propriamente dito. Ao comentar sobre seu trabalho produzido nos anos
80, ele se via à parte desses processos. Certamente seu comentário se referia
as obras do início dos anos 80, pois as relações com os movimentos citados
são verificadas na produção da segunda metade da década.
para designar suas
criações de técnica mista.
As duas grandes tendências do período são a transvanguarda italiana e o
neo-expressionismo, isso no mundo todo inclusive no Brasil, inclusive em
Goiás. Claro que adaptado a uma outra realidade tropical e colorista. Não
era tão agressivo, digamos, como o alemão, ou tão nova figuração como
seria o italiano. Essas questões foram digeridas e adaptadas aqui, e a bola
da vez era isso. Todo mundo que queria estar na crista da onda navegava
nestas duas tendências. No meu caso nunca quis estar afinado com
tendência alguma porque minha questão era muito particular.(SENA, 2008)
Quando o artista discorre sobre alguma influência em seu trabalho, ele
se atém a assimilações iconográficas e simbólicas. Dentro do processo
construtivo, faz rápida menção a um possível diálogo com a transvanguarda
31
Pintura combinada com outros objetos, realizada por Robert Rauschenberg, a partir de, 1953.
(MORAIS, 1989, p.147)
73
italiana, encontrado na relação com a figura humana como elemento central.
Apesar de não ligar diretamente sua obra a nenhum movimento, Sena cita a
importância de Siron Franco para sua geração.
Uma coisa que, na época, eu não aceitava era que as pessoas falassem de
uma certa influência de Siron Franco na minha pintura. Afinal eu estava
procurando meu próprio caminho, um caminho à margem e tudo mais. Mas
também lidando com essas imagens e lidando com as imagens do Siron da
época, você percebe várias coisas que ele avançou na pintura dele e que
não só eu, mas toda minha geração tomava aquilo como padrão, tomava
como medida. As minhas influências, então, são da minha vivência pessoal,
ligadas a meu passado, ao cinema, a Hollywood, essa coisa toda, e a
realidade local. (SENA, 2009)
Figura 07- Carlos Sena, “Prancha VI com cocar Kraô”, assemblages, 1985,
Acervo: MAG
Observamos na postura artística de Carlos Sena uma predisposição a
manifestação artística pop, muito mais voltada às ações de Rauschenberg do
74
que às massificações da imagem propostas por Andy Warhol. Na obra “Triple
Elvis” (figura 08), de 1962, por exemplo, notamos o tratamento que Warhol dá
para suas questões de massificação da imagem. Rauschenberg, um dos
fundadores do Neodadaísmo e da Arte Pop, foi considerado um artista que
possibilitou o até então inconcebível encontro entre a Arte Pop e o
expressionismo abstrato (Id., 2009). Vemos nesta nova fase de Carlos Sena,
essa busca pela abstração, com cores sujas e composição expressionista,
junto com a inserção de elementos da cultura popular, apresentando essa
ligação referencial às proposições do artista americano Rauschenberg. Na obra
“The Bed” (figura 09), de 1955, podemos observar a combine painting,
assemblages, de Rauschenberg em síntese plástica, e o funcionamento dessa
combinação de objetos tridimensionais em uma tela, em um plano.
Figura 08- Andy Warhol, “Triple Elvis”, 1962. Disponível em: www.worldgallery.co.uk
75
Figura 09- Robert Rauschenberg, “The Bed”, 1955.
Disponível em: www.moma.org
Não só adicionando objetos à composição em tela, mas também
utilizando spray e máscaras, pode-se observar na obra “Prancha VI com cocar
Kraô” (Figura 07, p.73) a utilização de recursos da arte marginal, como o grafite
e o estêncil
32
32
É um desenho ou ilustração que representa um número, letra, símbolo tipográfico ou qualquer outra
forma ou imagem figurativa ou abstrata, que possa ser delineada por corte ou perfuração em papel,
papelão metal ou outros materiais. Muito utilizado pela arte do grafite, o estêncil obtido é usado para
imprimir imagens sobre inúmeras superfícies, do cimento ao tecido de uma roupa. (RAMOS, 1994)
. O estêncil, bastante utilizado na Arte Pop dominou as ruas das
grandes capitais, (inclusive em Goiânia, na segunda metade da década de 80),
por suas máscaras de contorno possibilitar uma maior rapidez na execução das
intervenções. A arte produzida pela técnica do grafite e estêncil, na primeira
76
metade da década de 80, principalmente na cidade de Nova Iorque, nos
Estados Unidos, e no Brasil na cidade de São Paulo, ainda era considerada
como exemplos de estética marginal, por serem bastante utilizados nas ruas
das grandes capitais por artistas para divulgar frases de protesto e marcar
territórios de gangues de adolescentes. Mais adiante, a técnica do grafite
também foi explorado por artistas como um meio destes mostrarem sua arte
nas ruas, que sem acesso as galerias, faziam dos muros da matriz urbana sua
galeria de exposição. Por ser considerado dano ao patrimônio particular ou
público, estes grafites eram proibidos e rechaçados pelas comunidades mais
conservadoras.
Em nota publicada na coluna de Arthur Resende (O Popular, 13/04/80),
intitulada de “Rabiscar Muros Também é Arte”, podemos ter uma idéia de como
grande parcela dos goianos, associados a filosofia do jornal, pensava sobre a
prática do grafite naquele período:
Parece que um novo meio de comunicação veio pra ficar, se bem que de
início mais direcionado para as mensagens de cunho político-social. Trata-
se do graffitti, arte de desenhar nos muros dos outros, de preferência bem
localizados, alguma coisa chocante, reivindicante, obscena, e até mesmo
poética. Fora do Brasil, o graffitti revelou alguns desenhistas e muitos deles
vivem hoje desse trabalho, que já virou profissão. Nos Estados Unidos, a
única maneira de conseguir diminuir o número de coisas bobas sendo
escritas nos subways foi oficializar o spray como forma artística de
expressão, com concursos e prêmios para os vencedores, incentivando
assim o lado criativo. No caso “A Amazônia é Nossa?”, que se vê em vários
pontos da cidade, viria acompanhado de um desenho sugestivo e o Lids
Macongo, sugeriria obviamente, traços bem espaciais. Já que vão rabiscar
mesmo, pelo menos o façam com mais arte.
Sena mostra com essas ações uma intenção mais voltada a
conceitualização em relação à criação artística, e sua postura, já não condizia
com as necessidades do mercado. Em meados de 1985 sua produção para a
próxima individual estava quase pronta, e o artista não via a hora de mostrar
suas novas criações. A experiência do artista na utilização do suporte como
elemento de composição da obra o levou a uma pesquisa intensa de
77
experimentação. O texto da jornalista Conceição Rodrigues Quatro valores
goianos despertando consciências” (O Popular, Caderno 2, 16/12/83), o artista,
em depoimento para a matéria, já deixava transparecer sua preocupação em
pesquisar novos materiais: “se não batalharmos em função de outros materiais
diante dessa crise toda, a obra de arte vai se fechando cada vez mais dentro
de uma elite(Id., 16/12/83). Quando diz sobre a obra de arte ir se fechando
dentro de uma elite” Sena se refere ao domínio da pintura, produzida a óleo
sobre tela, dentro do mercado goiano, a qual sempre atinge preços elevados
pelo alto custo dos materiais. Podemos notar que desde então, o artista vinha
pesquisando uma série de possibilidades de composição que encontra no
spray, na técnica de máscara do estêncil e na utilização de elementos da
cultura popular e regional, uma nova forma de conceber seu trabalho.
A grande virada da arte é a incursão do objeto para além das categorias
que já estavam oficializadas tipo pintura, desenho, gravura e escultura. O
objeto artificial, o objeto industrial, aquilo que não merecia nem o rótulo de
objeto. Afinal o que merecia esse rótulo era a obra de arte e com a
revolução industrial veio esse objeto de série, de séries infinitas, que
suprime o original que só tem cópias, e essa inserção dele pelo duchamp e
depois corroborado pelo dadaísmo, pela pop arte e pelo dub realismo. Essa
trajetória do objeto do século XX foi o viés que me interessou para entender
a arte do meu tempo, porque ela é tão pluralista... porque que ela é tão
diversificada... porque ela abriu milhões de possibilidades novas. E isso é
mais atraente do que você ser uma figura sabedora do seu ofício, para o
resto da vida, batendo ali na mesma tecla, parece que você não está
conectado exatamente com o seu tempo histórico, e não partilha dos
anseios que são de todo mundo.(SENA, 2008)
Em 29 de agosto de 1985, Carlos Sena abre uma exposição conjunta
com o artista Ênio Porto intitulada “INER(Ê)FERENCIAS”. Pinturas, desenhos e
assemblages de Sena estavam sendo mostradas na Galeria Bauhaus, na
cidade de Goiânia. Esta exposição funciona como um marco na carreira do
artista, que dentro de sua nova produção, selecionou uma série de obras como
a “Prancha VI com cocar Kraô” (figura 07), que sugeriam uma transição aos
resultados em que o artista estava alcançando com sua pesquisa estética. Em
78
algumas pinturas dessa mostra, a figura humana ainda se faz central, mas o
tratamento do desenho e das pinceladas ganham um gestual mais
expressionista associados, em algumas telas, com a interferência no suporte
com cortes e apropriações de objetos.
Esta exposição, que funcionaria como uma apresentação à comunidade
artística local, dos novos caminhos adotados pelo artista, foi recebida com mal
agrado pelos admiradores de sua fase anterior. Perguntado se a cena artística
tinha estranhado suas novas proposições, Sena busca a memória e faz a
seguinte recordação:
Olha (risos), foi mais drástico que isso, foi mais do que estranho na
verdade. Eu tive uma época meio maldita em Goiânia, depois de ter
experimentado ser o docinho, o futuro da arte, o bajulado, o que o povo
puxava o saco, convidado para todas as festas. Depois dessa exposição
das interferências eu fico maldito, eu fico maldito por uma série de coisas.
Para começar a exposição é interditada no dia do vernissage, teve uma
briga de galeristas e tudo mais. Isso culmina com o fechamento da
exposição, com as obras vendidas. A galeria é interditada na frente do
público. Assim... é um impacto muito forte de repente você ser mal falado
depois de experimentar ser bem falado. Tudo aconteceu da seguinte forma.
Como uma amiga minha ia inaugurar uma galeria e me chamou para
inaugurar, eu achei muito bacana, mas não queria fazer algo que já estava
posto, que ela apenas ganhasse grana comigo, eu queria levar uma parte
mais comercial, mas que conectasse com aquele experimentalismo que eu
estava fazendo, com o pixar da pena do índio, com o spray, com essas
obras. Claro que foi a parte comercial que foi interditada, e a outra parte
serviu para me amaldiçoar. Então assim, é um longo caminho de volta a
tentar recuperar a confiança do público e continuar vendendo obras durante
esse período. (SENA, 2009)
A cena cultural goianiense não era muito receptiva a novidades estéticas
e sempre se portou com excessivo conservadorismo às novas propostas que
por ventura eram apresentadas. Verificamos na obra “A primeira” (figura 05 e
21; p.17 e 153), essa nova abordagem na pintura apresentada por Sena para a
79
referida exposição. É possível notar nessa tela a expressividade da pincelada e
a desconstrução da figura humana.
Vemos que Sena procurou prenunciar um desenvolvimento contínuo,
abandonando aos poucos sua iconografia anterior e apresentando sua nova
proposta em uma escala de sucessão. Nesta obra, notamos a figura humana
como elemento central e resquícios de sua técnica volumétrica, mesmo que
presente na composição da face da figura. Apesar de ser visível essa
preocupação de mostrar os passos dados na direção de sua nova proposta,
essa exposição soou, aos olhares dos mais afoitos, como uma radicalização
geral por parte do artista. Em um pequeno trecho encontrado em texto, sem
autor, sobre a exposição “INTER(Ê)FERENCIAS”, no jornal O Popular
(29/08/85), podemos conferir o seguinte comentário sobre as obras de Carlos
Sena nesta exposição: “Sena apresenta trabalhos produzidos de maneira
catártica, incluído até colagens”. Mesmo tendo atingido o respeito pelos
companheiros de profissão, com suas pinturas no início da década, e ter
conquistado prêmios e notoriedade, Sena foi recebido com críticas duras pela
comunidade artística, como ele próprio reconhece nesta passagem:
Quando eu resolvo fazer essa arte mais experimental foi punk, as pessoas
achavam que eu tinha pirado, que eu tinha enlouquecido. Me perguntavam
o por quê de ter feito aquilo, me perguntavam se, por acaso, eu já tinha o
nome firmado para poder arriscar inserir no mercado qualquer coisa que eu
fizesse. (SENA, 2008)
Podemos dizer que as exposições “Uma Peça em Três Atos” e
“INTER(Ê)FERENCIAS” marcaram o céu e o inferno do artista no decorrer da
década de 80. A alçada triunfante de Sena nas artes goianas foi em grande
estilo, com uma coleção de pinturas voltadas ao primor técnico e de imaginário
singular, sua arte caiu no gosto do público. Já, sua segunda fase pictórica, o
período experimental, o distanciou do mercado da época, mas o direcionou ao
pensamento artístico contemporâneo.
Para esta pesquisa conversei com várias pessoas sobre a obra de
Carlos Sena, e as pinturas do primeiro período sempre estão entre as obras
lembradas. Essas obras atingiam um público jovem, não através de exposições
80
e mostras de salões, mas decorando paredes de casas e apartamentos. Como
Sena comercializava muitas telas, não era raro encontrar uma de suas
pinturas. Foi em uma dessas conversas, que encontrei a proprietária da obra
“Será Adrenalina ou Será Purpurina?(figura 17, p.145), de 1984, que optou em
não se identificar, mas reconheceu que a tela, entre outras de seu
apartamento, é a que mais chama a atenção dos jovens. Sena, com essas
obras, que falavam do tempo presente, com elementos novos, que
apresentavam a vida da cidade, a vida da noite, dos shows, gerou e ainda gera
novos apreciadores de arte.
Antes de iniciar esta pesquisa, não conhecia as obras do artista
do período experimental. Os contatos que tive com seu trabalho sempre
tendiam a ser do período formal. O encontro com as pinturas e assemblages de
sua fase “transgressora”, se deu na forma de uma grande descoberta. Muitas
perguntas foram respondidas, tais como: onde estaria a verve contestadora do
artista?. Sempre reconheci em Sena um defensor da experimentação visual e
da liberdade de criação. Como estudioso da obra do artista, reconheço em todo
o período pós “INTER(Ê)FERENCIAS” a conquista da liberdade que Sena
sempre buscou. Observo essa fase como um período de preparação de
terreno, de abertura de mentes e, principalmente, um alerta aos apreciadores
de arte de Goiânia sobre o que estaria por vir, no caso: A Geração 90, que é
composta por artistas que abandonam a plasticidade dominante da arte goiana
dos anos 80, e se encontram na produção voltada às questões do pensamento
estético da arte contemporânea.
Essas duas exposições são fundamentais para compreender o
posicionamento de Carlos Sena inserido no cenário artístico goiano e sua
postura em relação com o universo da arte goiana. Notamos que toda sua
visão crítica sobre o cenário e o mercado de artes da cidade, se traduziu em
exclusão desse meio, confirmando então sua trajetória pela busca do novo.
Partindo da relação com as questões do cenário artístico local, voltado mais a
plasticidade, até encontrar seu espaço na produção de uma arte direcionada ao
conceito. Ao discurso por trás da imagem.
81
Carlos Sena em foto para o catálogo da exposição INTER(E)FÊRENCIAS
Reprodução de foto de Milton de Freitas Cury, 1985.
82
2. CONTEXTUALIZANDO A ÉPOCA
Falta um processo educativo do público goiano
para a verdadeira apreensão da arte”
Carlos Sena
2.1 A notícia para todos
Sena começa a década de 80 com a atitude e a arte voltada a
profissionalização. Suas obras, de poética moderna, seguiam em concordância
com as manifestações artísticas produzidas no Brasil. O êxito em salões
nacionais, comprova essa relação com pensamento artístico do momento. É
possível perceber que Sena captava a energia que fluía pela década,
assimilava os comportamentos, as idéias e as transformações. Muitos de seus
trabalhos, como podemos conferir anteriormente, sugerem um diálogo com
diversas questões que estavam em pauta no período. Os anos 80 se definiram
por diversas manifestações tanto de ruptura como de retomadas estéticas, e
alguns artistas mais jovens engendraram suas poéticas na procura de uma
síntese entre os diversos repertórios visuais da cultura de massa e da cultura
popular, tanto nacional como estrangeira.
Sena faz parte desse momento de reorganização das informações pelo
qual passava o Brasil e o mundo. Artistas de todos os cantos passaram a
operar esses novos repertórios, tanto comportamentais quanto visuais, que se
encontravam presentes na cultura de massa e que chegavam aos montes
através dos meios de comunicação. Para compreender essa relação da obra
de Carlos Sena com esses elementos presentes na cultura de massa se faz
providencial rememorar alguns acontecimentos da década e assim se
aproximar do mental que dava a tônica do período. Temas como sexualidade,
dominação cultural, referências ao modelo capitalista de sociedade de
consumo, massificação da cultura, enfim, toda a sorte de acontecimentos e
fatores que se encontravam no centro das discussões da época.
83
Os anos 80 foram marcados pela influência das novelas da Rede Globo
na moda, no comportamento e no gosto popular do brasileiro. O cinema
nacional estava conquistando espaço no exterior com os filmes “Dona Flor e
seus dois maridos”, “Chica da Silva” e a “Dama do Lotação”. Caetano Veloso
como o grande ídolo da música popular, entre a magreza e o brilho das penas
de pavão, aparecia em especial televisivo promovendo o “desbunde”. A
estética punk, oriunda da Inglaterra e dos Estados Unidos foi se proliferando
por entre os jovens do Brasil. E em uma tradução tropicalista, as cores fortes e
os cabelos revoltosos da nova onda ganhavam espaço na moda nacional,
atingindo não só os jovens como também as crianças. Inúmeras matérias sobre
o perigo das drogas e sobre o comportamento destrutivo da juventude
brasileira eram publicadas por revistas e jornais de todo o país. O
comportamento e a estética de parte dos adolescentes geravam intenso debate
sobre a dominação cultural norte americana. Grupos marginalizados pela
sociedade encontravam na década a motivação para se expressar. As
reivindicações das associações de grupos homossexuais das grandes cidades
ganhavam espaço na mídia do Brasil. O transexual Roberta Close tinha
presença constante na televisão, e levava aos lares de todo o país a questão
da escolha da sexualidade, assim como a operação de mudança de sexo. Os
habitantes das grandes cidades já começavam a observar uma grande
quantidade de sem-tetos e o aumento de crianças passando fome, pedindo
esmolas e vivendo nas ruas.
O poder de comunicação da mídia televisiva é observado neste período.
Os programas apresentados na televisão reestruturavam o comportamento, a
moda e os costumes dos brasileiros. Nesta época, a economia do país passava
por uma grave recessão, a moeda nacional sofria com o poder comercial do
dólar americano, e a inflação no Brasil atingia níveis difíceis de serem
controlados. A grande maioria da população passava por dificuldades
financeiras, a classe média se empobrecia e somente um pequeno grupo
desfrutava das riquezas do país. Com a falta de dinheiro que assolava os
brasileiros, a televisão se transformou no grande entretenimento do povo.
Na época, os Estados Unidos e a Europa presenciavam uma revolução
comportamental por parte de sua juventude que se via marginalizada pela
sociedade que se voltava cada vez mais aos ganhos financeiros. O sentimento
84
de paz e amor alimentados nas décadas anteriores é substituído pela revolta e
pela descrença na sociedade capitalista do final dos anos 70. Essa atitude de
romper com a tradição e com os costumes, observado em outras nações, se
encaixou perfeitamente neste período pelo qual passava o Brasil. O possível
fim da ditadura e a perspectiva da retomada da democracia fez com que
grupos de minorias se organizassem e levantassem a voz.
Toda essa movimentação, esse furor comportamental que estava
ocorrendo no Brasil e no mundo é constantemente mostrado pela televisão
brasileira que no período serviu para divulgar todas essas questões. O papel
da mídia televisiva, além do entretenimento, mas como um veículo de
comunicação para as massas, pode ser visto como responsável pela
introdução de uma cultura colonizadora, mas pode também ser observado
como mecanismo de divulgação de revoluções comportamentais, atualizando a
população com os novos acontecimentos. Carlos Sena, certamente tinha essa
consciência que a televisão era o grande portal de comunicação do brasileiro
com os acontecimentos da época. A obra do artista “É Fantástico” (figura 10),
de 1985, se apropria do nome e da iconografia da vinheta de apresentação de
um programa de televisão, assim como faz referência a mídia em suas
nuances de informação e dominação.
Figura 10 - Carlos Sena, “É Fantástico”,
óleo sobre tela e recorte, 1985, acervo: MAG
85
Observamos que esta pintura faz parte de sua fase experimental.
Podemos reparar a utilização do suporte como elemento de composição. A tela
é recortada podendo visualizar a parede ao fundo assim como parte do chassi.
Talvez possamos arriscar que esse recorte seja uma alusão a essa janela para
o mundo a qual a televisão se propunha. E a figura humana, dentro de um
círculo fechado, uma referência à dominação da mídia televisiva sobre o
indivíduo. O fato é que a importância da televisão na década de 80 vai muito
além do mero entretenimento. Foi através dela que o brasileiro ficou sabendo
da existência do vírus da AIDS, assistiu o índio Raoni reivindicando a
demarcação da reserva da tribo Caiapó, observou, em transmissão ao vivo, a
queda do Muro de Berlin, e tomou conhecimento do falecimento do artista
plástico Andy Warhol.
Os trabalhos de Carlos Sena discutidos nesta pesquisa foram
produzidos em meio a esse bombardeio de informações proferidos pela mídia.
Suas pinturas desse período são particularmente carregadas de elementos
simbólicos. Porém, as camadas de interpretação de suas imagens são
variadas, principalmente pelo fato de sua poética valer-se da fusão entre a
realidade e a fantasia. Portanto o risco de qualquer afirmação interpretativa
existe. A rápida contextualização da época talvez elucide algumas citações, por
outro lado, pode apresentar uma tentativa equivocada de interpretação de um
discurso puramente onírico e casual. Esta pesquisa, em todo instante, tende à
primeira proposição.
2.2 Goiânia: a cultura além do bacuri
Goiânia é uma cidade que nasceu pelo desenho, pelo papel. Seu projeto
inicial surgiu a partir de uma demanda de ordem política e econômica, tendo se
inserido num movimento que, no âmbito local, buscava articular as regiões
produtivas do estado, principalmente as regiões Sul e Sudoeste e, no âmbito
nacional, buscava adequar o país a um novo ritmo de produção capitalista.
(OLIVEIRA, 2006)
86
O arquiteto e professor de Teoria e História da Arquitetura, Gustavo
Neiva Coelho, faz o seguinte comentário sobre a fundação de Goiânia no texto
“A Mudança da Capital e as Artes em Goiás”, de 1998.
A fundação de Goiânia e a conseqüente mudança da capital aconteceram
em um momento especial de efervescência da política cultural brasileira. É
o momento imediatamente posterior à Semana de Arte Moderna, quando
todos os segmentos da cultura brasileira estão se dedicando a novas
experiências, e o lema de ‘modernidade e progresso’, do governo Vargas,
promete colocar o Brasil no mesmo patamar de desenvolvimento em que já
se encontra o primeiro mundo da Europa e América do Norte. (COELHO,
1998, p.35)
A concepção urbanística da cidade foi marcada pela contradição entre o
planejamento e o descontrole do Estado. “A cidade desenvolveu-se como um
espaço de memórias e projetos, desejos e decepções, descontinuidades e
continuidades, colocando em funcionamento um território de trocas, vozes e
conflitos sociais” (OLIVEIRA, 2006, p.22). Ou seja, mesmo a ocupação do solo
da cidade estando submetida a uma rígida legislação, o elevado número de
sua população e, particularmente, dos estratos sociais mais carentes, forçavam
uma ocupação ilegal a qual o Estado não pôde controlar. O processo de
exclusão social ou de segregação espacial a que são submetidas parcelas de
moradores de uma cidade, “está relacionado ao contexto sócio-econômico e
histórico da sociedade” (Id., 2006, p.22), e a cidade de Goiânia, aos poucos, ia
se encaixando nesse contexto. Nesse sentido, as cidades planejadas se
equiparam às de crescimento espontâneo, instituindo uma espécie de
universalização de problemas urbanos. O que se pode ver hoje é o
“rompimento com a idéia de cidade harmônica pela introdução de uma nova
realidade urbana: a da cidade polifônica, e o que era um ‘sonho’ se transformou
na ‘caminhada ao caos’(Ibid., 2006, p.22), em que novos sujeitos entram em
cena reivindicando seu espaço social.
A volta para Goiás de arquitetos recém-formados, principalmente no Rio de
Janeiro, trazem para o centro de discussão os novos caminhos tomados
87
pelo modernismo, tanto no que se refere à arquitetura, quanto ao que se
estava propondo com relação às artes plásticas. (COELHO, 1998, p.35)
Observando este contexto, nota-se que grande parte da produção
artística manifestada desde a fundação da cidade até a década de 70 se
desenvolvia dentro do otimismo progressista. Começando pela produção
artesanal e decorativa, vemos que a reverência às formas e aos elementos
regionais era predominante. Já na alçada do circuito das exposições existiam
os artistas que se pautavam na teoria da história da arte e nas informações
vindas de grandes centros, demonstrando assim a existência de uma
intelectualidade local que se mostrava atenta aos novos caminhos do
pensamento estético. Alguns utilizavam dos novos conceitos e permeavam as
novas tendências com o imaginário do campo, com constantes citações às
belezas do cerrado, à arquitetura colonial e à produção agrícola e pecuária.
Merece destaque especial a presença de Paulo Fogaça que, após
desenvolver sua formação artística no Rio de Janeiro, retorna à terra
goiana, em 1975, passando a ocupar posição pioneira na introdução de
novas linguagens. Certamente sua arte representa um novo e procedente
enriquecimento na oficina goiana. Aliás, Fogaça é o único artista, em Goiás,
a desenvolver propostas experimentais. Abordando diretamente uma
problemática relativa ao Centro-Oeste, suas serigrafias, objetos e
audiovisuais, apóiam-se em argumentações referentes ao planalto goiano,
propondo novas reflexões, através de elementos do mundo rural.
(FIGUEREDO, 1979, p.86)
Dentro deste cenário de exaltação aos elementos regionais e a
temáticas religiosas, podemos incluir os artistas DJ Oliveira, Cleber Gouvêia,
Antônio Poteiro, Omar Souto, Amaury Menezes, Paulo Fogaça, Iza Costa,
Maria Guilhermina, Alcione Guimarães, Cléa Costa, Juca de Lima, Nazareno
Confaloni, Neusa Moraes, Diva Goulart, Elder Rocha Lima e outros mais. É
possível reconhecer neste grupo a reverência à “alta cultura” e em alguns
casos, elementos regionais que eram concebidos dentro de uma técnica
modernista como notamos na obra de Iza Costa.
88
Goiânia desponta como cidade exibidora de um grupo artístico de
indiscutível penetração local. Consegue manter um grande número de
artistas, a cidade é rica e há vontade de formar uma tradição, e já que é tão
jovem um fato qualquer é notícia e vira história. Tudo vem acontecendo
nestes 28 anos efervescentes da segunda metade do século. Surgiram as
escolas, os artistas, e estes, como professores, formam outros artistas. Os
recém-formados acabam ficando no próprio estado, produzindo, dando
aulas, concorrendo em salões locais, montando ateliês. (Id., 1979, p.87)
A perspectiva de modernidade e progresso rezada pelo governo Vargas
e todo o plano de urbanização do interior do Brasil refletiu na produção cultural
do estado de Goiás, que mirava São Paulo e Rio de Janeiro como patamar de
desenvolvimento. Acreditava-se nessa produção como cartão de visitas de um
projeto de sucesso. Nota-se que a festa de inauguração da nova capital
recebeu o nome de Batismo Cultural apresentando para a população a revista
mensal de cultura Oeste-Revista Mensal como Maria Elízia Borges explica em
seu texto “Legitimação de um ideário artístico: as publicações culturais e os
percursos do ensino de história da arte na Faculdade de Artes Visuais/UFG”.
A Oeste-Revista Mensal teve sua primeira edição lançada em 5 de julho de
1942, sob a direção de Zecchi Abrahão. Este número foi criado
especificamente para o Batismo Cultural da cidade de Goiânia e nasceu
com o objetivo de contribuir para propagar o Estado Novo. Havia um
espaço destinado para os jovens escritores goianos, para que os mesmos
pudessem publicar textos e expressarem seu culto à modernidade do
Estado de Goiás mediante a instalação da nova capital do estado.
(BORGES, 2007, p134).
Como o Estado se mostrava interessado com o incentivo à cultura, as
produções tendiam a crescer de acordo com o crescimento da capital. Maria
Elizia Borges em seu texto, descreve a estrutura da Oeste-Revista Mensal, e
como produções culturas disputavam espaço com textos direcionados a política
na capital:
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A Oeste-Revista Mensal apresentava publicações que vinham “intercaladas
com textos literários de jovens escritores goianos, como poemas e contos;
com textos históricos que enalteciam aspectos da riqueza regional; com
textos que exaltavam políticos locais, tais como o interventor do estado,
Pedro Ludovico Teixeira, e o então Presidente da República, Getúlio
Vargas. (Id., 2007, p.135)
É curioso notar que dois anos após o lançamento do primeiro número da
revista a publicação “reduziu consideravelmente o espaço dado à literatura
regional e continuou dando ênfase à política estadual, nacional e internacional”
(COSTA, 1994, p.135). A propaganda moderna de progresso adotada pelos
políticos na época resolve então mostrar suas verdadeiras ambições e sem a
devida consideração à cultura local. A arma política de obtenção e manutenção
do poder utilizou a cultura e os jovens produtores como propaganda ideológica.
Fato que reflete até os dias atuais.
Amaury Menezes em seu livro “Da Caverna ao Museu: Dicionário das
Artes Plásticas de Goiás”, (1998), faz o seguinte comentário sobre essa
mobilização em favor da cultura, então promovida pela utopia da cidade
planejada:
Assim, nesse clima de renascimento e renovação, desejando conhecer o
que se fazia lá fora e tentado mostrar uma face contemporânea do Estado,
foi realizado, no ano de 1954, o I Congresso Nacional de Intelectuais, que
reuniu em Goiânia, importantes nomes da intelectualidade nacional e
estrangeira como Pablo Neruda, do Chile; Fernando Corrêa Silva, de
Portugal; René Depestre, do Haiti, além de dezenas de nomes brasileiros
procedentes de vários Estados e do interior de Goiás.
A exposição do Congresso Nacional de Intelectuais foi realizada em
fevereiro de 1954, em Goiânia. Organizada pelos professores da EGBA -
Escola Goiana de Belas Artes em parceria com outros nomes da
intelectualidade local contou com uma exposição comemorativa que foi
planejada pelo núcleo da EGBA composto por Luiz Curado, Frei Nazareno
Confaloni e Gustav Ritter. “Centenas de cartas foram expedidas aos principais
pintores do país solicitando apresentação de trabalhos (LACERDA, 1954,
90
p.103). Frei Nazareno Confaloni e o professor Luiz Curado, que ficaram
encarregados da concepção visual do programa da exposição, apresentaram o
cartaz com o motivo Carajás reverenciando sua cerâmica. Como consta nos
registros históricos o cartaz alcançou belo efeito. Fazia parte da pauta do
Congresso a preservação da arte nacional e da expressão artística popular.
E foi assim que o folclore de Goiás se evidenciou na apresentação das
mais belas peças de cerâmica popular, nas figuras de santos e peças de
presépio de modestos santeiros como foi Sebastião Epifânio e como é
Maria Beni (de Pirenópolis), nos ex-votos vindos de Trindade. (Id., 1954,
p.103).
Junto com a mostra de arte popular foi organizada a exposição com os
artistas convidados dos estados de São Paulo, Rio, Paraná, Pernambuco, Rio
Grande do Sul e Ceará.
A exposição contou também com os trabalhos dos organizadores, pois a
EGBA apresentou trabalhos de professores e alunos catalogados
juntamente à representação de São Paulo. Por todos os Congressistas a
exposição foi considerada o ‘ponto alto do Congresso’. Ao todo se
encontravam 720 peças entre gravuras, óleos, esculturas e desenho. (Ibid.,
1954, p.103)
A Exposição Nacional de Artes Plásticas, por ocasião do I Congresso
Nacional de Intelectuais contou com vários artistas reconhecidos
nacionalmente como o caso de: Abelardo da Hora, Bruno Giorgi, Carlos Scliar,
Cícero Dias, Clovis Graciano, Danúbio Villamil Gonçalves, Darel Valença Lins,
Djanira, Georgina Alburquerque, Geraldo de Barros, Gomide, Guido Viaro, H.
Gustav Ritter, Inimá de Paula, José Antônio da Silva, Marcelo Grassman, Maria
Helena Vieira da Silva, Nazareno Confaloni, Mario Gruber, Mario Zanini, Mestre
Vitalino, Newton Rezende, Orlando Teruz, Osvaldo Goeldi, Quirino
Campofiorito, Rebolo, Renina Katz, Samico, Sergio Millet, Vasco Prado, Volpi,
W. Virgolino, Zé Caboclo e Zé Rodrigues. Entre os artistas de Goiânia citamos:
Antônio H. Peclát, José Amaral Neddermeyer, José Edilberto Veiga, Jorge
91
Félix, Henning Gustav Ritter, Frei Nazareno Confaloni, Luiz Curado entre
outros.
Participaram ainda da exposição o fotógrafo Joaquim Craveiro Sá e os
seguintes artistas populares de Goiás: Antônio Cassiano, Antônio de Sá, Celso
José Nascimento, Fiinho Cardoso, Hilda Andrade, João da Glória, José do
Nascimento, Ladislau Siqueira, Maria Bruno, Maria de Beni, Maria Luiza
Nascimento Santos, Sebastião da Silva Jesus e Sebastião Epifânio.
(LACERDA, 1954, p.104)
Com o passar do tempo, a utopia progressista inicial e a esperança de
ver o resultado social do projeto urbanístico foram se dissolvendo. Grande
parte da cultura produzida em Goiânia, desde a sua fundação até a década de
70, teve laços afetivos com o sentimento de otimismo oriundo da propaganda
progressista da mudança da capital. Desde então, aparecem os artistas que
produziam dentro de um paradigma de introspecção e de uma busca interior,
mas também voltados a arte internacional e aos conceitos ligados a evolução
estética presente na cronologia da história da arte. Obras que dialogam com o
lado obscuro da vida humana m surgir a partir da década de 70 e de certa
forma driblavam o otimismo modernista e exteriorizavam a angústia do
indivíduo. Temos, nesta vertente, alguns artistas como Carlos Sena, Siron
Franco, Ana Maria Pacheco e Diia Dutra. Em meados da década de 70, o
que era um “sonho” se transformou na “caminhada ao caos” como acentuou
anteriormente Aristides Moysés.
A Arte Déco, estilo que se apresenta como oficial nos anos 30 e 40, traz
para os edifícios públicos, monumentos e mobiliário urbano conceitos até
então desconhecidos dos goianos. É essa visão de modernidade que vai
desencadear um processo de discussão e conseqüente avanço cultural no
sentido de tentar aproximar Goiânia dos grandes centros culturais
brasileiros. (COELHO, 1998, p.35)
No final da década de 70 e início de 80, o “sonho” tinha se tornado um
pesadelo, a simbologia progressista e a exaltação dos elementos regionais já
não traduziam mais a vida na cidade. A desorganização da estrutura social de
Goiânia causada pela explosão populacional, que saltou de 389.784 em 1970
92
para 817.343 mil habitantes em 1980 (SOUZA, 1996), já não podia ser
ignorada, o que, por conseqüência, promoveu a atenção aos “detritos sociais
do urbano” termo cunhado por Aristides Moysés para designar a década de 70
e 80 na história da capital do estado de Goiás. O cenário das artes plásticas
goianas dos anos 80 era cercado então por toda essa problemática da cidade
em expansão.
Se existiu uma cena nas artes plásticas em Goiânia nos anos 80 sua
movimentação remonta à meados dos anos 40, por uma atitude inicial do
arquiteto, escultor e compositor Dr. José Amaral Neddermeyer que reuniu
escritores, artistas plásticos e músicos criando a Sociedade Pró-Arte de Goiaz,
dando início as primeiras experiências no ensino da arte na cidade (MENEZES,
1998, p.39). Já nos anos 50, os integrantes da Sociedade Pró-Arte,
Neddermeyer, José Edilberto Veiga e Jorge Félix, se unem aos artistas Antônio
Henrique Peclat, Henning Gustav Ritter, Frei Nazareno Confaloni e Luiz Curado
com o intuito de criar uma escola de arte. Neddermeyer vem a falecer em 1951,
antes de ver o projeto ser realizado. Os restantes, sob a liderança de Luiz
Curado, fundam, em 1952, a Escola Goiana de Belas Artes. (Id., 1998, p.40-41)
Nos anos 60, os primeiros contornos de um cenário artístico começam a
esboçar com o aparecimento da primeira galeria de arte. A pioneira das
galerias de arte em Goiânia foi a Alba Galeria, inaugurada em 1963 pela artista
plástica Maria Guilhermina, como conta a crítica de arte Aline Figueiredo em
seu livro Artes Plásticas no Centro-Oeste, de 1979, “as galerias foram
introduzidas em Goiânia pelos artistas. Em 1963, Maria Guilhermina toma a
iniciativa e abre a Alba Galeria, que dois anos depois passaria a se chamar
Galeria Azul, funcionando até 1973(FIGUEREDO, 1979, p.86). A Alba Galeria,
ou melhor, Galeria Azul, funcionou dez anos ininterruptos, apresentando
trabalhos de artistas locais e de outros estados. Em 1971, os artistas DJ
Oliveira e Siron Franco abrem a Galeria Vila Boa para mostrar seus trabalhos e
de outros artistas em coletivas e individuais. DJ Oliveira, em entrevista ao
jornalista Eduardo Jordão, de 1980, para a matéria “Os Anos 70”, se
esquecendo da Galeria Azul, comenta:
Por volta de 1964, para se fazer uma exposição de quadros tinha-se de
utilizar o saguão de um edifício recém construído, e ainda não habitado, ou
93
alugar salas, a alto custos e curto período. Não havia quem escrevesse um
artigo sobre o trabalho, ainda que razoáveis como agora (1980). O público
era sempre os mesmos, ‘gatos pingados’ e não se vendia nada. Só nos
anos setenta é que apareceram as primeiras galerias, tais como as
entendemos agora, em suas objetivas e sérias funções.
(O Popular,
Caderno 2, 05/01/80)
Nos anos 70 então, outras galerias vêm aparecer. O artista Washingnton
Honorato Rodrigues, conhecido como Wash, em 1975, abre a Arte Goiana
Galeria. Em seguida são abertas a LBP Galeria, a Paulo Araújo Galeria e a
Casa Grande Galeria de Arte. Nesta época, vários artistas goianos já estavam
sendo premiados por salões nacionais. O cenário artístico goiano ganhava
força com a criação do Salão da Caixego, realizado em Goiânia, mas aberto à
inscrições de obras de todo território nacional. Críticos e artistas de outros
estados passam a freqüentar a cidade por ocasião do Salão. O meio artístico
local adiciona essa troca de informação gerando uma evolução criativa que
vinha a ser julgada pelo Salão ao lado de trabalhos de todos os cantos do país.
Marchands e novos colecionadores locais aparecem em meio a essa
movimentação. Goiânia, durante a década de 70, então já ensaiava o que viria
a ser a explosão mercadológica da arte local nos anos 80.
Entre 1973 e 1977, a primazia na animação das artes goianas coube aos
anuais Concursos Nacionais de Artes Plásticas, promovidos pela Caixa
Econômica do Estado de Goiás (CAIXEGO), os quais, no mínimo,
trouxeram um confronto nacional ao artista goiano. Dispondo de grandes
recursos e resolvendo investir na propaganda cultural, a CAIXEGO partiu
daí para um acervo, visando um futuro museu. O ‘Salão da CAIXEGO’,
como o apelidaram em Goiânia, estreou em 1973 com o nome de Concurso
Estadual de Artes Plásticas. No ano seguinte, animada com os resultados
do primeiro, a CAIXEGO ampliou o salão para o plano nacional. Aparecem
os Concursos Nacionais de Artes Plásticas que foram até o número quatro.
Infelizmente essas promoções foram silenciadas em 1978. Embora
conseguisse mobilizar apenas um pequeno número de artistas de fora, de
importância nacional, e apresentando-se inteiramente convencional (não
94
mostrou ao público goiano exemplos de manifestações experimentais), o
salão chegou a exercer uma pequena ação descentralizadora no circuito de
arte. Mas devemos dizer que o salão da CAIXEGO não chegou a ser
brilhante e pouco significou na balança artística nacional. Trazia um
regulamento amadorístico que impunha regras ultrapassadas e, por isso
mesmo, não foi um abridor de caminhos e nem lançou propostas de estudo
em torno da região. Sua contribuição foi apenas no âmbito estadual.
(FIGUEREDO, 1979, p.87)
Realmente a importância do Salão da Caixego se deu em âmbito
regional, como coloca Figueiredo. Para o estado de Goiás, foi importante na
constituição de uma cena artística, criando motivação na produção, gerando
novos artistas e despertando um interesse de futuros negociadores de arte. O
Salão da Caixego possuía a falha de aceitar somente inscrições em pinturas,
gravuras e esculturas. Excluindo a grande pesquisa artística experimental que
vinha sendo produzida no Brasil desde os anos 60, voltou a produção local
para as mídias tradicionais e por conseqüência, forjando o domínio da pintura
na arte goiana dos anos 80.
Na década de 80, o número de artistas goianos, querendo mostrar seus
trabalhos, se multiplicava a cada ano. O mercado se profissionalizava e sua
demanda gerou a criação de inúmeras galerias na cidade. Como nunca visto
antes em Goiânia, e possivelmente, demorará a se ver ocorrência semelhante,
a cidade nos anos 80, com pouco mais de 800 mil habitantes, chegou a abrigar
24 galerias de arte. E mesmo com várias galerias surgindo no decorrer da
década, os espaços não abrigavam a demanda de arte produzida. Foi possível
verificar 28 estabelecimentos comerciais e instituições que abriam espaço em
seus locais, criando galerias de arte em suas dependências ou cedendo
espaços para exposições. Será possível observar mais adiante no texto, na
catalogação de coletivas e individuais realizadas em Goiânia de 1980 à 1989,
que bares, restaurantes, pizzarias, saguões de hotel, centro de línguas,
shopping centers, ateliês dos próprios artistas, clínicas, instituições financeiras,
e até mesmo hospitais, eram utilizados para abrigar exposições de arte.(Id.,
1979, p. 87)
95
Pelo já colocado no capítulo 1, observa-se que o artista Carlos Sena
soube apropriar-se devidamente destes espaços, e integrou-se de forma
natural dentro do cenário artístico da cidade. Utilizando tanto os espaços
oferecidos por galerias e museus, como espaços culturais criados em
estabelecimentos comerciais.
2.3. O cenário das artes plásticas em Goiânia, anos 80: uma catalogação
Ao organizar os dados encontrados no jornal O Popular, com o objetivo
de configurar o cenário das artes plásticas de Goiânia dos anos 80, período de
inserção do artista Carlos Sena na cidade; apresento neste momento o
levantamento das informações obtidas através das verificações das edições do
jornal de janeiro de 1980 à dezembro de 1989.
Os museus de arte existentes hoje em Goiânia, com exceção do Museu
Zoroastro Artiaga, administrado pelo Governo do Estado de Goiás, o qual, no
início dos anos 80 abrigava a galeria de arte Galeria Frei Confaloni; foram de
fato constituídos durante a década de 80. Sob o mandato do prefeito Índio do
Brasil Artiaga Lima, em 1981, a Biblioteca Municipal de Goiânia, localizada na
Praça Universitária, foi totalmente reformada para abrigar o Palácio da Cultura,
importante espaço de exposições na década de 80. No mesmo ano, é
inaugurado o Centro Municipal de Cultura, localizado nas dependências do
Bosque dos Buritis. Em 1982, dentro do Centro Municipal de Cultura, que
oferecia, cursos livres em todas as áreas das artes, é criado o Museu de Arte
de Goiânia MAG, que veio a se constituir como o pólo de grande parte da
movimentação artística da década. Estes dois museus citados, então fazendo
parte da área administrativa da prefeitura. O Governo do Estado veio inaugurar
um museu direcionado para as artes visuais somente em 1988. O Museu de
Arte Contemporânea de Goiás - MAC foi criado pelo então governador do
estado, Henrique Santillo, em dezembro de 1988, inaugurando o museu com a
I Bienal de Artes de Goiás. A seguir, apresento dois quadros de catalogação,
sendo o primeiro contendo o levantamento de todas as galerias e espaços
culturais citados pelo jornal durante o período e o segundo quadro contendo o
96
levantamento de todas as exposições individuais de artistas goianos noticiadas
pelo jornal de 1980 a 1989.
Para atingir o propósito de reconstituição do cenário artístico visual
goianiense da década de 80, façamos valer então os levantamentos listados
33
por esta pesquisa que apresentam exposições individuais e coletivas de
artistas goianos, assim como, as galerias, os salões, os salões de novos
valores e retrospectivas. Acontecimentos verificados em Goiânia entre 1980 e
1989. Para iniciar, apresentamos, em ordem cronológica, a presença de
artistas e críticos, de outros estados e países que mostraram suas obras, ou
palestraram, na cidade, como também a presença, em Goiânia, de marchands
de outros centros, que vinham para a Capital de Goiás atrás de novos talentos.
- A PRESENÇA EM GOIÂNIA DE CRÍTICOS, ARTISTAS, E MARCHANDS,
DE OUTRAS LOCALIDADES:
1980
O crítico Carlos Von Schmit vem a Goiânia à convite de Célia Câmara,
marchand da Casa Grande Galeria, e visita ateliês de vários artistas
goianos.
O artista paulista Cláudio Tozzi expõe na Casa Grande Galeria de Arte.
A cidade recebe o crítico de arte Alberto Beutenmüller, que faz visitas a
ateliês de artistas goianos.
1981
O crítico Victor Musgrave vem a Goiânia e convida o artista Antônio
Poteiro para participar da Bienal de São Paulo no pavilhão de “Arte
Incomum”.
O crítico de arte Walmir Ayala vem a Goiânia e faz a apresentação da
exposição individual de Gomes de Souza para a galeria Macunaíma, no
Rio de Janeiro.
33
Referência de método de listagem de levantamentos: (BORGES, 1999, p.107-112)
97
1982
O artista paulistano Newton Resende expõe na Casa Grande Galeria de
Arte.
O artista e escritor Millôr Fernandes chega em Goiânia para prestigiar a
exposição de Newton Resende.
Exposição no Centro Municipal de Cultura abre mostra com obras do
acervo da Paulo Figueiredo Galeria de Arte, de São Paulo,
apresentando trabalhos dos artistas, Amélica Toledo, Antônio Dias,
Baravelli, Cláudio Tozzi, Cristina Parisi, Esteban Granero, Flávio
Bassani, Gilberto Salvador, Glauco Pinto de Morais, Helga Miethke,
Hipólito Rocha, Jeanete Musatti, José Roberto Aguillar, Lúcio Maria
Morra, Marcos Concilio, Mira Schendel, Newton Mesquita, Rubens
Gerchman, Sergio Rabinovitz e Wesley Duke Lee.
O artista paulistano Glauco Pinto de Moraes expõe na Casa Grande
Galeria de Arte.
1983
O artista gaúcho Cleber Machado realiza exposição na Casa Grande
Galeria de Arte.
A Casa Grande Galeria de Arte realiza a exposição do artista cearense
Ademir Martins.
1984
A Galeria Frei Confaloni apresenta a exposição “Gravura Búlgara
Contemporânea”.
Artista, empresário, colecionador e ex-presidente do Museu de Arte
Moderna de São Paulo, o paulistano Aparício Basílio, abre exposição na
Casa Grande Galeria de Arte.
1985
Obras dos artistas Aldemir Martins, Carlos Bracher, Bustamante Sá,
Candido Portinari, Carybé, Clovis Graciano, Darsi, Djanira, Grudzinski,
Heitor dos Prazeres, Humberto Espíndola, Inimá de Paula, Manabu
Mabe, Marcelo Grassman, Rebolo, Scliar, Tarsila do Amaral, Teruz e
Volpi são mostradas pela MultiArte Galeria.
98
O crítico de arte Jacob Klintowitz e o artista João Câmara chegam a
Goiânia para palestrar no Festival de Música e Artes Plásticas
promovido pela UFG.
Burle Marx realiza exposição de pinturas desenhos e litografias na
MultiArte Galeria.
O artista gaúcho Glênio Bianchetti abre exposição na Casa Grande
Galeria de Arte.
O artista carioca Ivanir Geraldo Viana abre exposição na Casa Grande
Galeria de Arte.
MultiArte Galeria mostra esculturas do artista português Antônio Santos
Lopes.
1986
A Galeria da Aliança Francesa abre exposição do artista francês
Adolphe Appia.
Itaú Galeria abre mostra dos artistas alagoanos, Fernando Lopes,
Solange Lopes, Pierre Chalita, Vicente Ferreira, Maria Amélia Vieira,
Dalton Costa e Lelan.
A MultiArte Galeria abre mostra com obras de Alfredo Volpi.
A artista mineira Gui Hackner abre exposição de aquarelas na Galeria
de Arte Bauhaus.
O artista plástico Waldomiro de Deus realiza individual no MAG.
O escultor gaúcho Cleber Machado cria escultura para o Castro’s Park
Hotel.
O artista baiano Aderbal Moura abre individual na MultiArte Galeria.
A Oficina Galeria de Arte é inaugurada com exposição do carioca
Rubens Gerchman, mostrando litografias, desenhos e pinturas do
artista.
Os artistas mineiros, Brasileiro Lacerda, Cristiano Damasceno, Dirceu
Mendes, Heleno Nunes, Lúcia Marques, Luiz Evandro, Marcelo A. B.,
Sãnzio Menezes e Savoi mostram em coletiva na Galeria Bauhaus.
O Museu de Arte de Goiânia mostra individual do gaúcho Carlos Alberto
Savoi.
99
O artista plástico gaúcho Carlos Scliar mostra pinturas, litografias e
serigrafias na Oficina Galeria de Arte.
O paulistano Irany Calheiros, o baiano José Tiago e o matogrossense
Nilson Pimenta, abrem coletiva de arte primitiva no Palácio da Cultura.
É aberta a mostra de arte em papel na 104 Galeria de Arte, com obras
dos artistas Aldemir Martins, Alfredo Volpi, Glauco Pinto de Moraes,
Qualha, Nelson Porto, R. Burle Marx, R. Miranda, Roberto M. Coelho,
Sebastião dos Reis e Silvana Soriano.
1987
O artista paulistano Douglas Marques de Sá mostra individual de
pinturas na Casa Grande Galeria.
A Itaú Galeria abre exposição dos artistas Anna Maria Badaró e Egas
Francisco.
A crítica de arte Aline Figueiredo vêm a Goiânia para participar de mesa
redonda com Adelmo Café, Glacê Freitas e Silvio Zamboni no Encontro
de Artistas Plásticos do Centro-Oeste.
O artista e comediante cearense Chico Anysio expõe na Sala Tia
Amélia, no saguão do Teatro Goiânia.
O artista paulistano Pedro Lopes abre mostra individual no MAG.
A paulistana Marta H. Jakoby mostra individual de escultura no Gabinete
de Arte Vanda Pinheiro.
O artista J. Marcondes de São Paulo apresenta suas pinturas na Galeria
de Arte Bauhaus.
A MultiArte Galeria apresenta a mostra “11 Caminhos” com obras do
artista espanhol Blanco Y Couto; dos mineiros Henry Vitor e Tomzé; dos
paulistanos, Sarro, Jorge Franco, Otoni Gali Rosa, Elvio Santiago e
Vilela; e dos cariocas Cazarré e Christina Motta.
A Casa Grande Galeria abre exposição coletiva com obras do carioca
Rubens Gerchman; e dos paulistanos, Bernardo Cid, Rebolo e
Guilherme de Faria.
O argentino Daniel Panizzo mostra suas pinturas na Félix Galeria.
A Itaú Galeria promove a mostra “Raízes Luso Brasileiras” com o
português Camol.
100
1988
O escultor mineiro Almeeides abre exposição na Sala Tia Amélia.
O assessor de galerias de São Paulo Antônio Zago, chega a Goiânia e
faz visitas a ateliês atrás de artistas para expor em São Paulo.
O artista plástico capixaba, Kleber Galveas, abre exposição de pinturas
no Palácio da Cultura, em Goiânia.
Rinaldo José da Silva, artista plástico pernambucano, mostra seus
trabalhos na Itaú Galeria.
1989
A Casa Grande Galeria de Arte organiza a mostra “Mulheres
Contemporâneas” em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, além
de trabalhos de artistas goianas se encontravam obras das artistas
paulistanas, Lena Prado e Graciela Rodrigues; e da artista carioca,
Neves Pinto.
A Casa Grande Galeria abre mostra de pinturas e desenhos do artista
plástico espanhol José Zaragoza.
O Museu de Arte Contemporânea de Goiás realiza a exposição
Estampes D’Aujourd’oui”, com 34 gravuras dos artistas franceses Pierre
Alechinski, Jean Helion, Jean Lê Gac, Claude Viallat, Titus Carmel e do
artista chileno radicado na França, Roberto Matta.
Waldomiro de Deus abre individual na Itaú Galeria.
A artista paulistana Adriana Rocha abre individual na Félix Galeria de
Arte.
O artista norte-americano e professor da Universidade da Califórnia, em
Berkeley, Robert Kaputof realiza palestra em Goiânia sobre os conceitos
da vídeo-arte.
- GALERIAS DE ARTE
34
Galeria
Local
Casa Grande Galeria de Arte
Setor Central / depois Setor Sul
Paulo Araújo Galeria de Artes
Setor Central
Galeria de Arte Jaó
Setor Jaó
Galeria Frei Nazareno Confaloni
Setor Central / depois Setor Sul
Arte Antiga Galeria
Setor Marista/ depois Setor Oeste
Galeria Bittar
Setor Central
34
Das galerias de arte citadas, somente a Galeria Frei Nazareno Confaloni consta como sendo um espaço
público, de administração do Governo do Estado de Goiás. As demais galerias são particulares.
101
Galeria Rosa Choque
não consta
Mutiarte Galeria
Setor Bueno/depois Setor Oeste
Petite Galery
Setor Oeste
Época Galeria de Arte
não consta
Galeria de Arte Bauhaus
Setor Oeste
Vanda Pinheiro Gabinete de Arte
Setor Oeste
Giotto Galeria de Arte
Setor Oeste
Engenho & Arte Galeria
Setor Bueno
Félix Galeria de Arte
Setor Oeste
Atelier 104 Galeria de Arte
Setor Sul
Oficina Galeria de Arte
Setor Oeste
Carrossel
Setor Central
Arte-Arte Galeria
Setor Coimbra
Astral-tonelogia Galeria de Arte
Setor Central
Kuryala Sala de Artes
Setor Oeste
Ipê Galeria de Arte
Setor Oeste
Veiga Valle Galeria de Arte
não consta
Cora Coralina Galeria de Arte
não consta
- ESPAÇOS CULTURAIS
35
Espaço Cultural
Local
Chicago Centro de Línguas
Setor Central
Galeria de Arte da Pizzaria Don Giovanni
Setor Oeste
Salão Marrom do Hotel Bandeirantes
Setor Central
Zero Bar
Setor Oeste, Pça. Tamandaré
Aroeira Chope
não consta
Aliança Francesa
Setor Oeste
Superintendência do INAMPS
Setor Central
Arroz de Neon Vídeo Bar
Setor Oeste
Flamboyant Shopping Center
Jardim Goiás
Itaú Galeria
Setor Central
Alambique Bar
não consta
AABB
Setor Central
Galeria do Teatro Goiânia, em 1988 recebe o
nome Sala Tia Amélia
Setor Central
Agrobanco Galeria de Artes e Cultura
Setor Oeste
Galeria da Caixego
Setor Central
Cuevas Restaurante e Galeria de Arte
Setor Oeste
Apia Clínica
não consta
Bar Don Quixote
Setor Oeste, Pça. Tamandaré
Bar Botteko
Setor Oeste, Pça. Tamandaré
Picasso Galeria e Pizzaria
não consta
Associação Médica de Goiás
Setor Oeste
Associação Comercial do Estado de Goiás – Acieg
Setor Aeroporto
Faculdade de Direito da UFG
Setor Universitário
Instituto de Artes - UFG
Campus Samambaia
Escola de Artes Veiga Valle
Setor Vila Nova
Sesc
Setor Aeroporto
Centro Cultural do Soares Center
Setor Campinas
Salão de Artes Belcar
não consta
35
Entre os espaços culturais, conferimos a Superintendência do INPAMS, a Galeria do Teatro Goiânia, a
Faculdade de Direito da UFG, o Instituto de Artes da UFG e a Escola de Artes Veiga Valle como sendo
espaços públicos ligados a órgãos governamentais.
102
- EXPOSIÇÕES
36
Artista
INDIVIDUAIS DE ARTISTAS GOIANOS
Galeria/Museu/Espaço
Cultural
Trabalhos
Data da
Notícia
Siron Franco
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
01/01/80
T.Lacerda
Chicago Centro de Línguas
Pinturas
01/01/80
Robim MacGregor
Salão Marrom do Hotel
Bandeirantes
Pinturas
01/01/80
Elifas
Atelier do Artista
Esculturas
01/01/80
Yêda Schmaltz
Galeria de Artes Jaó
Desenhos
23/08/80
Jorge Braga
Zero Bar
Caricaturas
12/09/80
Toninho
Aroeira Chope
Pinturas
04/10/80
Iza Costa
Galeria de Artes Jaó
Gravuras
12/10/80
Roos
Arte Antiga Galeria
Pinturas
18/12/80
Amaury Meneses
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
01/02/81
Siron Franco
Palácio Municipal da Cultura
Pinturas
14/03/81
M. Cavalcante
Paulo Araújo Galeria
Pinturas
25/04/81
Sanatan
Arte Antiga Galeria
Pinturas
25/04/81
Cleber Gouveia
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
04/06/81
Selvo Afonso
Galeria Frei Nazareno
Confaloni
Pinturas
04/07/81
Iza Costa
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
27/08/81
Maria Guilhermina
Aliança Francesa*
Esculturas
15/10/81
Tai Hsuan-An
Galeria Frei Nazareno
Confaloni
Pinturas
18/11/81
D.J. Oliveira
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
22/11/81
Roos
Arte Antiga Galeria
Pinturas
27/11/81
Maria Guilhermina
Caixa Econômica Federal
(Shopping Center Flamboyant)
Esculturas
12/12/81
Siron Franco
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
18/12/81
Noé Luis
Galeria Frei Nazareno
Confaloni
Pinturas
13/04/82
Juca de Lima
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
15/05/82
Sanatan
Salão de Artes Belcar
Pinturas
27/05/82
Cleber Gouveia
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
06/07/82
Amaury Menezes
Casa Grande Galeria de Arte
Aquarelas
19/08/82
Alcione
Palácio Municipal da Cultura
Pinturas
04/08/82
Vânia Ferro
Galeria Frei Confaloni
Pinturas
09/10/82
Iza Costa Palácio Municipal da Cultura Desenhos 26/11/82
Oswaldo Verano
Galeria Frei Nazareno
Confaloni
Pinturas
10/12/82
Marcos Resende
Superintendência do INAMPS
Pinturas
11/12/82
Celso Cóppio
Galeria de Artes Jaó
Pinturas
11/12/82
Roos
Galeria de Artes Jaó
Pinturas
15/12/82
Omar Souto
Palácio Municipal da Cultura
Pinturas
16/12/82
Simas
Galeria Frei Confaloni
Pinturas
24/04/83
Sánatan
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
28/04/83
Juca de Lima
Arroz de Neon Vídeo Bar
Desenhos
29/05/83
Octo Oliveira
Atelier Livre de Desenho e
Pintura de Dacruz e Gomes de
Souza
Pinturas
02/07/83
Mauricio Hippie
Arroz de Neon Vídeo Bar
Pinturas
Objetos
Fotografias
03/07/83
Selvo Afonso
Palácio Municipal da Cultura
Desenhos
03/07/83
Célio Braga
Itaú Galeria
Pinturas
06/08/83
Vânia ferro
Flamboyant Shopping Center
Pinturas
11/09/83
Léo Pincel
Arroz de Neon Vídeo Bar
Pinturas
Desenhos
Objetos
Vídeo-Arte
09/10/83
36
Entre as exposições individuais apresentadas o artista Carlos Sena aparece evidenciado em caixa alta,
negrito e sublinhado.
103
Vanda Pinheiro
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
27/10/83
Celso Cóppio
Galeria de Artes Jaó
Pinturas
20/11/83
Naura Timm
Palácio Municipal da Cultura
Desenhos
15/12/83
Eduardo Jordão
Arroz de Neon Vídeo Bar
Pinturas
18/12/83
Arte Antiga Galeria
CARLOS SENA
Pinturas
20/12/83
Ático Vilas Boas
Arroz de Neon Vídeo Bar
Desenhos
26/01/84
Gomes de Souza
Arroz de Neon Vídeo Bar
Happening
16/02/84
Eduardo Jordão
Arte Antiga Galeria
Pinturas
10/03/84
Paulo Resende
Alambique Bar
Fotografias
Vídeo
14/03/84
Célio Braga
Flamboyant Shopping Center
Pinturas
16/03/84
Elder Rocha Lima
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
22/04/84
Mauro Ribeiro
AABB
Pinturas
27/04/84
Dina Cogolli
Flamboyant Shopping Center
Esculturas
05/05/84
D.J. Oliveira
Multiarte Galeria
Pinturas
01/07/84
Vânia Ferro
Flamboyant Shopping Center
Pinturas
15/07/84
Iza Costa
Mutiarte Galeria
Gravuras
26/08/84
Cléa Costa
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
13/10/84
Alcione Guimarães
Multiarte Galeria
Pinturas
21/10/84
Rosa Berardo
Galeria do Teatro Goiânia
Fotografias
30/10/84
Vânia Ferro
Itaú Galeria
Pinturas
08/11/84
Gomes de Souza
Multiarte Galeria
Pinturas
09/12/84
M. Cavalcante
Multiarte Galeria
Pinturas
07/04/85
Roos
Casa Grande Galeria de Arte
Desenhos
07/04/85
Odalva Guimarães
Salão Marrom do Hotel
Bandeirantes
Pinturas
28/04/85
Diva Goulart
Multiarte Galeria
Pinturas
05/05/85
Eduardo Jordão
Petite Galery
Pinturas
09/06/85
Fernando Costa Filho
Félix Galeria de Arte
Pinturas
Desenhos
13/06/85
Selvo Afonso
Itaú Galeria
Desenhos
23/07/85
Sanatan
Félix Galeria de Arte
Pinturas
10/08/85
Galeria de Arte Bauhaus
CARLOS SENA
Pinturas
Assemblages
29/08/85
Naura Timm
Multiarte Galeria
Pinturas
30/08/85
Odette Eid
Galeria de Arte Jaó
Esculturas
Objetos
24/09/85
Dacruz
Multiarte Galeria
Pinturas
12/10/85
Elder Rocha Lima
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
15/10/85
Iza Costa
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
12/11/85
Omar Souto
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
24/11/85
Rosa Berardo
Galeria do Teatro Goiânia
Fotografias
30/11/85
Leonam Fleury Salão Marrom do Hotel
Bandeirantes
Pinturas 15/12/85
Sancler
Atelier do artista
Pinturas
05/03/86
M. Cavalcate
Multiarte Galeria
Pinturas
20/03/86
Roos
Engenho & Arte Galeria
Desenhos
21/03/86
Mariinha
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
13/04/86
Selma Parreira
Multiarte Galeria
Pinturas
08/05/86
Esther Barbosa
Oriente
Agrobanco Galeria de Artes e
Cultura
Pinturas
22/05/86
Mauro Ribeiro
Itaú Galeria
Pinturas
31/07/86
Luis Augusto
Jungmman (Girafa)
Félix Galeria de Arte
Pinturas
Desenho
02/08/86
Gomes de Souza
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
21/09/86
Sebastião Prates
Itaú Galeria
Pinturas
02/10/86
Fé Córdula
Félix Galeria de Arte
Pinturas
03/10/86
Octo Marques
Museu de Arte de Goiânia
Pinturas
Desenhos
Aquarelas
05/10/86
Vânia Ferro
Galeria de Arte Bauhaus
Pinturas
12/10/86
Marco Rodrigues
Agrobanco Galeria de Artes e
Cultura
Pinturas
19/10/86
Gilvan Cabral
Casa Grande Galeria de Arte
Esculturas
19/10/86
104
Sival Veloso
Galeria de Arte Bauhaus
Esculturas
28/10/86
Edney Antunes
Félix Galeria de Arte
Pinturas
29/10/86
Cléa Costa
Multiarte Galeria
Pinturas
30/10/86
Bhino
Palácio Municipal da Cultura
Desenhos
01/11/86
D.J. Oliveira
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
02/11/86
Omar Souto
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
23/11/86
Multiarte Galeria
CARLOS SENA
Pinturas
30/11/86
Elder Rocha Filho
Félix Galeria de Arte
Pinturas
30/11/86
Dalva
Arte Antiga Galeria
Pinturas
03/12/86
Tai Hsuan-An
Multiarte Galeria
Pinturas
14/12/86
Sérgio Alcanfor
Atelier 104 Galeria de Arte
Desenho
25/04/87
Tião Taveira Agrobanco Galeria de Artes e
Cultura
Esculturas 30/04/87
Elder Rocha lima
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
17/05/87
Eduardo Jordão
Palácio Municipal da Cultura
Pinturas
19/05/87
Aguinaldo Coelho
Giotto Galeria de Arte
Pinturas
20/05/87
Tai Hsuan-An
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
18/10/87
Amaury Menezes
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
22/11/87
Roos
Félix Galeria de Arte
Desenhos
15/04/88
Almeeides
Galeria do Teatro Goiânia
agora Sala Tia Amélia
Esculturas
15/04/88
Gomes de Souza
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
26/04/88
Iza Costa
Multiarte Galeria
Pinturas
03/05/88
Gilvan Cabral
Casa Grande Galeria de Arte
Esculturas
05/06/88
M. Cavalcante
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
21/06/88
Omar Souto
Projeto Galeria Aberta de
autoria de Px da Silveira:
consiste em 14 grandes painéis
na Rodovia dos Romeiros que
liga Goiânia a Trindade
Painéis
10/07/88
Sergio Bleik
Galeria Frei Confaloni
Pinturas
31/08/88
Miriam Pires
Palácio da Cultura
Esculturas
24/09/88
Liete Sobrosa
Machado
Galeria da Caixego
Pinturas
11/12/88
Siron Franco Casa Grande Galeria de Arte Pinturas
Guaches
18/12/88
René Brunes Cuevas Restaurante e Galeria
de Arte
Pinturas 29/12/88
Iza Costa
Multiarte Galeria
Desenhos
20/01/89
Agoncílio Xavier da
Silva
Casa Grande Galeria de Arte
Esculturas
22/02/89
Museu de Arte de Goiânia -
MAG
CARLOS SENA
Pinturas
Desenhos
Assemblages
Instalação
23/03/89
Aguinaldo Coelho
Félix Galeria de Arte
Pinturas
02/06/89
Maria Guilhermina Paulo Araújo Galeria de Arte Pinturas
Esculturas
18/06/89
Deck
Arte Antiga Galeria
Pintura
16/08/89
Patrícia Amorim
Saguão da Apia Clínica
Colagens
16/08/89
Maria Antonieta
Nasser Leone
Galeria de Arte Bauhaus não consta 31/08/89
Siron Franco
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
14/09/89
Omar Souto
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
03/10/89
Elder Rocha Lima Casa Grande Galeria de Arte Pinturas 26/11/89
Tai Hsuan-An
Casa Grande Galeria de Arte
Pinturas
10/12/89
Reinaldo Jardim
Veiga Valle Galeria de Arte
Esculturas
24/12/89
Alfredo Faria
Cora Coralina Galeria de Arte
Pinturas
28/12/89
105
- EXPOSIÇÕES COLETIVAS
37
DE ARTISTAS GOIANOS
38
Artistas
Galeria/
Museu/
Centro
Cultural
Trabalhos
Data da Notícia
Omar Souto,Enéas, Juca de Lima, Agostinho
de Souza, Caramuru, Siron Franco, Rosalino
e Roos
Paulo
Araújo
Galeria
Pinturas 01/01/80
Maria Guilhermina, Neusa Moraes, Naura
Timm, Neusa Peres, Cléa Costa, Vanda
Pinheiro, Saída Cunha, Heliana, Iza Costa,
T.Lacerda
Galeria de
Arte da
Pizzaria
Don
Giovanni
Esculturas 11/04/80
Fernando Costa Filho, Nata, Enéas Silva,
Sanatan, M.Cavalcante, Malakyas e Ático
Vilas Boas
Galeria de
Artes Jaó
Pinturas
18/12/80
Agostineli, Ascanio MMM, Cleber Machado,
Gustav Ritter, Marilia Kranz, Neusa Moraes,
Antônio Poteiro, Sonia Ebling, Vasco do
Prado
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Esculturas
08/06/80
Zé César, Moema e Selma Galeria de
Artes Jaó
Gravuras 22/11/80
A.Tallon, Angelos Katenas, Ellen Carneiro,
Enéias H. Burchard, Iza Costa, Omar Souto,
Maria Guilhermina, Neusa Moraes, Peclat Di
Chavanes, Sáida Cunha, Sanatan, Vânia
Ferro, Waldecy Di Lima e Yashira
Paulo
Araújo
Galeria de
Artes
não consta
09/12/80
Yêda Shmaltz, Px da Silveira, Goiamérico
Felício, Ático Vilas Boas, Zina Brill e Uldra
Cedro
Aroeira
Chope
Poema-Cartaz
13/12/80
CARLOS SENA
Palácio
Cultura da
Prefeitura
, Marília Guimarães e Sival
Veloso
Pintura
Gravura
Escultura
03/10/81
CARLOS SENA
SEPAC
, Marília Guimarães
Pintura
Gravura
21/10/81
Siron Franco, Cleber Gouveia, Omar Souto e
Maria Guilhermina
Palácio
Municipal
da Cultura
Pinturas
Esculturas
13/03/82
Brasileu, Fé Córdula, Divino Jorge, Cléa
Costa, Elma Carneiro, Agostinho de Souza,
Siron Franco, Dacruz, Gomes de Souza,
Antônio Poteiro, Maria Guilhermina, Enéas
Silva, Reinaldo Barbalho, Amaury Menezes,
Cleber Gouveia, Maria Ciça, Angelos Katenas,
Alcione, Juca de Lima, Dinéia Dutra, Ático
Vilas Boas, Yashira, Vanda Pinheiro,
Fernando Thommen, Neusa Moraes, Sánatan,
Neusa Peres,
CARLOS SENA
Centro
Municipal
de Cultura
que depois
virou o
Museu de
Arte de
Goiânia -
MAG
, Roos, Selma
Parreira, Fernando Costa Filho, Edney, Omar
Souto, Zé César, D.J. Oliveira, Rog Pincel,
Noé, Ulisses, M.Cavalcante, Oneide Coelho,
Américo Poteiro, Maria Célia, Napoleão,
Elyeser Szturm, Sérpio Alcanfor, Runi, Paulo
Talarico, Valdelino, Oto, Malakias, Daniel, Tai,
S. Prates, Jodo Lima, Sebastião dos Reis,
George Abrado, Rui Veiga, Helena Beatriz,
José Renato, Cirineu, João Lima, Wagner
Luz, Ramón de Jesus, Wash, Novaes, Alan
Kardec, Nata, Evani Katenas, José Renato
não consta
07/10/82
Gomes de Souza, Fiorentino, Iza Costa,
Cirineu, Jorge Abraão, Suzana, Caetano
Somma, Fé Cordula, Inácio Rodrigues, Diva
Goulart, Fidélis, Moema Roriz, Castro, Elvert,
Marcos, Heliana Almeida, Alcione Guimarães,
Naura Timm, Lia Werner, Cleber Gouveia,
Dinéia Dutra, Reinaldo Barbalho, Fernando
Costa Filho, CARLOS SENA
Palácio
Municipal
da Cultura
, Amaury
Pinturas 09/10/82
37
Em algumas exposições coletivas constavam obras de artistas de outros centros, estes artistas aparecem
nesta catalogação com seus nomes destacados em negrito e itálico. O nome do artista Carlos Sena aparece
em caixa alta, negrito e sublinhado.
38
Para averiguação de quais eram os artistas goianos ver: (MENEZES, 1998)
106
Menezes, Sanatan, Neusa Peres e Dacruz
Angelos Katenas, Maria Guilhermina e Neusa
Moraes
Palácio
Municipal
da Cultura
Esculturas
21/10/82
Talarico e Mariozan
Simultanea
mente no
bares Zero
Bar, Don
Quixote e
Botteko
Cartuns
23/10/82
Rogério Costa, Léo Pincel, Ênio, Paulinho,
Rodrigo Veiga, Roberval Veiga e José Renato
Sede dos
grupos
Foxtrot e
Antro
Fotografias Esculturas
Pinturas
Desenhos, Ilustrações
Gravuras
10/12/82
Alcione Guimarães, Neusa Peres, CARLOS
SENA
Associação
Médica de
Goiás
, Heliana Almeida e Fernando Costa
Filho
Pinturas
Gravuras
07/01/83
Zuleide, Dalva Lima, Eny Rezende, Roberto
Machado, Yashira e Nonato
Picasso
Galeria e
Pizzaria
Desenhos Aquarelas
05/02/83
Alcione Guimarães, Cléa Costa, Dinéia Dutra,
Diva Goulart, Eny Resende, Evandra Rocha
Lima, Evany Katenas, Heliana Almeida, Iza
Costa, Lia Werner, Lourdinha Pacheco,
Mairone Barbosa, Maria Célia, Maria Ciça,
Maria Guilhermina, Naura Timm, Neusa
Moraes, Neusa Peres, Ro Imolesi, Rosary
Esteves, Runi Silva, Sáida Cunha, Selma
Parreira, Sueli Lima, Vanda Pinheiro, Virginia
Guimarães, Yara Araújo e Yashira
Palácio
Municipal
da Cultura
Pinturas
Gravuras Esculturas
Fotografias
05/03/83
Elder Rocha Lima e Elder Rocha Lima Filho Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas 25/03/83
Mariza Pesquero, Maria Veiga, Zé César,
Amphilophio, Heliana Almeida, Evany
Katenas, Cléa Costa, Maria Guilhermina,
Angelos Katenas, Neusa Moraes, Cleber
Gouveia e Peclat de Chavannes
Faculdade
de
Educação
da
Universidad
e Federal
de Goiás
Pinturas
Gravuras
Esculturas
01/05/83
Samuel Fernando, Rosangela Imolesi, Yara
Araújo, Zuleide, Mairone, Márcia Salles,
Wânia Bastos, Marilia Guimarães, Ivone Lira,
Fernando Simon e Neusa Peres
Palácio
Municipal
da Cultura
não consta
22/05/83
Carlos Roberto Corrales e Edna Corrales
Galeria Frei
Confaloni
Pinturas
Desenhos
22/05/83
Glauco Kerdy, Rosangela Imolesi e Selvo
Afonso
Itaú Galeria
Pinturas
Desenhos
06/08/83
Amaury Menezes, D.J. Oliveira e Sáida Cunha
Galeria
Bittar
Pinturas
Aquarelas
10/09/83
Amaury Menezes, Omar Souto, Juca de Lima
e Valdelino Lourenço
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
25/09/83
Alcione Guimarães, Neusa Peres, CARLOS
SENA
Associação
Médica de
Goiás
, Heliana Almeida e Fernando Costa
Filho
Pinturas
Gravuras
07/10/83
Dacruz, Gomes e Dinéia Dutra
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
Gravuras
22/11/83
CARLOS SENA Flamboyant
Shopping
Center
, Selma Parreira, Fernando
Costa Filho e Roos
Pinturas
Desenhos
Gravuras
11/12/83
CARLOS SENA Galeria de
Artes Jaó
, Dinéia Dutra, Zé César,
Gomes de Souza e Dacruz
Pinturas
Gravuras
14/12/83
D.J. Oliveira, Siron Franco, Amaury Menezes,
Roos e Élder Rocha Lima
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Desenhos 20/12/83
Cleber Gouveia, Antônio Poteiro, Vanda
Pinheiro, Eiron, Selma Oarreira, Maria
Guilhermina, Gomes De Souza, D.J. Oliveira,
Leilão de
Arte no
Arroz Néon
diversos
09/02/84
107
Iza Costa, Fernando Costa Filho, Fé Córdula,
Da Cruz, Américo, Juca De Lima, Oto Oliveira,
M. Cavalcante, Eddie Esteves, Eduardo
Jordão, Ático Vilas Boas, Hetto Noda,
Leonardo Campos (Leo Pincel), Sanatan,
CARLOS SENA
Vídeo Bar
, Dinéia Dutra, Roos, Diva
Goulart, Yashira, J. Lima, Eneas, Wash E
Mário Lopes.
Organizado
por PX da
Silveira e
por Gomes
de Souza
Maria Eugenia Curado, Avelino Neto, João
Rosa, Marco Rodrigues e Alexandre Liah
Rosa
Choque
Galeria de
Arte
Pinturas
Desenhos
15/04/84
Baltazar de Moura, Alfredo, Vilson Cardoso e
Dek
Palácio
Municipal
da Cultura
Pinturas
Esculturas
01/06/84
Antônio Poteiro, Omar Souto, Amaury
Menezes, Souza Neto, Valdelino Lourenço e
Gomes de Souza
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
Aquarelas
Cerâmicas
03/06/84
D.J. Oliveira, Omar Souto, Gomes de Souza,
Dacruz, Selma Parreira, M. Cavalcante,
Yashira e Taquinho
Outdoors
espalhados
por Goiânia
Pintura sobre folha de
outdoor
02/11/84
Siron Franco, Cleber Gouveia, Antônio
Poteiro, Omar Souto, Sanatan, Waldelino
Lourenço e Sá Nunes
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Míni Pinturas (para
presentes natalinos)
22/12/84
Aldemir Martins, Bracher, Bustamante Sá,
Cândido Portinari, Carybé, Clóvis
Graciano, Darsi, Djanira, D.J. Oliveira,
Grudzinski, Heitor dos Prazeres, Humberto
Espindola, Inimá de Paula, Iza Costa,
Manabu Mabe, Marcelo Grassman, Rebolo,
Scliar, Siron Franco, Tarsila do Amaral,
Teruz e Volpi
Multiarte
Galeria
Pinturas
Desenhos
Gravuras
21/04/85
Juca de lima, Omar Souto, Antônio Poteiro, M.
Cavalcante, Iza Costa, Vanda Pinheiro, Sáida
Cunha, D.J. Oliveira, Amaury Menezes,
Cleber Gouveia, Tai Hsuan-An, Gomes de
Souza, Fé. Córdula, Cléa Costa, Sebastião
dos Reis e Carlos Dacruz
Época
Galeria de
Arte
Pinturas 25/04/85
Evany Katenas e Angelos Katenas
Saguão do
Teatro
Goiânia
Gravuras
Esculturas
11/05/85
Edney Antunes e César
Engenho &
Arte Galeria
Pinturas
19/05/85
Maria Guilhermina, Sebastião Prates, Noé
Luis, Runi Silva, Enéas Silva e Evaristo Pedro
Caetano
Associação
Comercial
do Estado
de Goiás –
Acieg
Pinturas
Esculturas
28/06/85
Juca de Lima, D.J. Oliveira, Cléa Costa,
Cleber Gouveia, Antônio Poteiro, Iza Costa e
Vânia Ferro
Engenho &
Arte Galeria
Pinturas 05/07/85
Nonato, Luiz Mauro e Di Paiva Multiarte
Galeria
Pinturas 05/07/85
CARLOS SENA Galeria de
Arte
Bauhaus
e Enio Porto Pinturas
Desenhos
Assemblages
29/08/85
Clube da Objetiva:
Rosary Esteves, Silvia de Souza, Maria Sóffa,
Alba Valeria, Terezinha Almeida Waqued,
Diógenes Borges Cardoso, Paulo Resende,
Celso Abreu, Álvaro José Vallim, Syllas Jr.,
Alaor Evaristo Alves, Dermerval de Paiva,
Tomaz de Aquino, Joel Cardoso, Antônio
Divino, Roberto Cintra Campos e Eduardo
Marcos
Flamboyant
Shopping
Center
Fotografias 28/09/85
Nonato, Luis Mauro, Djódio, Di Paiva, Alcione
Guimarães, Célio Braga e Bené
Palácio
Municipal
da Cultura
Pintura
Escultura
Desenho
29/09/85
Miriam Pires, Norma Caiado e Valdelino
Lourenço
Galeria de
Arte
Bauhaus
Pinturas
Objetos
Cerâmicas
27/11/85
Omar Souto, Siron Franco, Élder Rocha Lima,
Amaury Menezes, Antônio Poteiro, Roos, Cléa
Casa
Grande
Míni Pinturas (para
presentes natalinos)
15/12/85
108
Costa, Valdelino, Juca de Lima, Cleber
Gouveia, D.J. Oliveira e Glênio Bianchetti
Galeria de
Arte
Glauco Pinto de Moraes, Farnese,
Bianchetti, Siron Franco, Cleber Gouveia,
Elder Rocha Lima, Amaury Menezes, Omar
Souto, Juca de Lima, D.J. Oliveira, Selma
Parreira, Roos, Ivanir Geraldo Vianna,
Rubens Gerchman, Rebolo, Aldemir
Martins, Bernard Cid, Dinéia Dutra, Aparício,
Neusa Moraes, N. Santaella e Gilvan Cabral
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
Desenhos
Gravuras
Esculturas
02/02/86
Rosary Esteves e Suzi Simon
Félix
Galeria de
Arte
Fotografia em baixo
relevo associada ao bico
de pena
16/04/86
Siron Franco, Antônio Poteiro, Cleber
Gouveia, D.J. Oliveira, Omar Souto, Maria
Guilhermina, Juca de Lima, Neusa Moraes,
Iza Costa, Sáida Cunha, Vanda Pinheiro,
Amaury Menezes, Roos, Cléa Costa e Elder
Rocha Lima
Agrobanco
Galeria de
Artes e
Cultura
Pinturas
Esculturas
04/05/86
Siron, CARLOS SENA
Félix
Galeria de
Arte
, Tai, Diva Goulart,
Omar Souto, Fernando Costa Filho, Antônio
Poteiro, Amaury Menezes, Sáida Cunha,
Leonam Fleury, Selma Parreira, Roos e
Sanatan
Pinturas
06/05/86
Amaury Menezes, Antônio Poteiro, CARLOS
SENA
Salão
Marrom
Hotel
Bandei-
rantes
, Dacruz, D.J. Oliveira, Fernando Costa
Filho, Gomes de Souza, Leonam Fleury,
Roos, Sáida Cunha, Selma Parreira, Vanda
Pinheiro e Siron Franco
Pinturas 11/05/86
Nonato, Di Paiva, Dijódio e Luis Mauro
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
10/05/86
Deolinda Moreira, Yvone Lyra, Mairone
Barbosa, Márcia Sales, Maura Regyna de
Melo Franco, Reinaldo Barbalho, Zenar
Mundim e Tião Taveira
Museu de
Arte de
Goiânia –
MAG
Pinturas
Esculturas
25/05/86
Noé Luiz, Malaquias e Wagner Reis
Itaú Galeria
Pinturas
01/07/86
Siron Franco, Cleber Gouveia, Antônio
Poteiro, Omar Souto, Iza Costa, Glênio
Bianchetti, Gomes de Souza, Roos, Amaury
Menezes, Cléa Costa, Marcos de Sá,
Cardoso, Edney Antunes, Aldemir Martins,
Glauco Pinto de Moraes e Rebolo
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
Gravuras
13/07/86
Juca de Lima, Roos, Omar Souto, Élder
Rocha Lima, Gomes de Souza, Antônio
Poteiro, Edney Antunes e Cardoso
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
05/09/86
Iza Costa, Tomi Ohtake, Manabu Mabe,
Burle Marx, Alcione Guimarães, Cleber
Gouveia e Leo Pincel
Multiarte
Galeria
não consta 12/10/86
Simas, Omar Souto, Sanatan, J.G. Machado,
Éber Vaz, Irineu e João de Paula
Galeria de
Arte Frei
Confaloni
não consta 19/10/86
Norma Caiado, Reinaldo Barbalho, Simas e
Sival Veloso
Carrossel Pintura
Desenho
Escultura
Cerâmica
30/11/86
Roos, D.J. Oliveira e Sarro
Época
Galeria de
Arte
Pinturas
30/11/86
Irany Calheiros, José Tiago, Nilson Pimenta
e Sá Nuñes
Palácio
Municipal
da Cultura
Pinturas
04/12/86
D.J. Oliveira, Iza Costa, Antônio Poteiro, Tai
Hsuan-An, CARLOS SENA
Multiarte
Galeria , Siron Franco,
Cleber Gouveia, Selma Parreira, Burle Marx,
Volpi, Roos, Cléa, Sanatan, Fernando Costa
Filho, Eliéser Szturm, Gomes de Souza, Sá
Nunes, Leo Pincel, Aguinaldo Coelho, M.
Cavalcante, Eduardo Jordão, Alcione,
Agostinho, Vila Chaves, Samuel, Suzana,
Marcelo Grassmann, Sáida Cunha, Dinéia
Dutra, Djanira, Guilherme Faria, Salvador
Pinturas
Desenhos
Gravuras
Aquarelas
Esculturas
06/12/86
109
Dali, Tarsila do Amaral, Volpi, Amaury
Menezes, Dina Cogolli, Jaime Alejandro,
Miriam Pires, Elifas e Américo
Aldemir Martins, Volpi, Amaury Menezes,
Antônio Poteiro, Cléa Costa, D.J. Oliveira,
Glauco, Qualha, Maria Eugenia Curado,
Nelson Porto, Burle Marx,
R. Miranda, Roberto M. Coelho, Sebastião
dos Reis, Siron Franco e Silvana Soriano
Atelier 104
Galeria de
Arte
Gravuras
Desenhos
Aquarelas
11/12/86
Sérgio Bleik e Lustosa
Sesc
Pinturas
16/12/86
Célio Braga, Gomes de Souza, Amaury
Menezes, Marco Rodrigues, Dacruz, M.
Cavalcante, Edney Antunes, Esther Oriente,
Fé Córdula e Iza Costa
Agrobanco
Galeria de
Artes e
Cultura
Míni Pinturas (para
presentes natalinos)
18/12/86
Juca de lima, Omar Souto, Antônio
Poteiro,Dinéia Dutra, Roos, D.J. Oliveira,
Amaury Menezes, Cleber Gouveia, Tai
Hsuan-An, Gomes de Souza, Carlos Dacruz,
Marco Rodrigues e Cardoso
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Míni Pinturas e Aquarelas
(para presentes
natalinos)
19/12/86
Selma Parreira e Zé César Atelier de
Zé César,
Selma
Parreira e
Leonam
Fleury
Gravuras 21/12/86
Alcione Guimarães, Beatriz, Carmelita, Cléa
Costa, Dina Cogolli, Dinéia Dutra, Elizeth
Horbylon, Evany, Ivone Lyra, Iza Costa,
Mairone Barbosa, Márcia Sales, Maria Veiga,
Maura Regyna, Miriam Pires, Norma Caiado,
Sáida Cunha e Selma Parreira
Arte-Arte
Galeria
Desenhos
Esculturas
Gravuras
08/04/87
Maria Magalhães e Norma Caiado
Palácio
Municipal
da Cultura
Pinturas
Cerâmicas
28/04/87
Enauro de Castro, Cleber Gouveia, CARLOS
SENA,
Félix
Galeria de
Arte
Tai Hsuan-An, Diva Goulart, Fernando
Costa Filho, Antônio Poteiro, Sáida Cunha,
Elder Rocha Lima, Selma Parreira, Roos e
Sanatan.
Pinturas
05/05/87
Omar Souto, Caramuru, Dacruz, Chico
Anysio, Dinéia Dutra, Benedito Pedreiro,
Neuza Moraes e Zuleide
Saguão do
Teatro
Goiânia –
agora Sala
Tia Amélia
Pinturas
Gravuras
14/05/87
Siron Franco, Cleber Gouveia, Roos, Vanda
Pinheiro, Iza Costa, Sáida Cunha, Amaury
Menezes, Washington Rodrigues, Ana Maria
Pacheco, Cirineu de Almeida, Elder Rocha
Lima, Laerte Araújo, Neusa Moraes, Maria
Guilhermina, Leonam Fleury, Reinaldo
Barbalho, Antônio Poteiro, Narcisa, Dina
Cogolli, Gomes de Souza, Dacruz e Alcione
Guimarães
Galeria Frei
Confaloni
não consta
06/06/87
Leides César, Neusa Garcia e Tiana Thomé
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Arte Hagiológica (Arte
Sacra) em terracota
07/06/87
Dina Cogolli, Narcisa Cordeiro e Maura
Regyna
Palácio
Municipal
da Cultura
Pinturas
Esculturas
30/08/87
Roos, Siron Franco, Antônio Poteiro, Selma
Parreira, Gilvan Cabral, Dinéia Dutra,
Aparício, Greshiman, Bernard Cid, Rebolo,
Guilherme de Faria
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Desenho
Gravuras
Esculturas
25/09/87
Elder Rocha Filho, Pedro Alvim, Sérgio
Bessa, José Guilherme Brenner, Eduardo
Cabral, Eloísa Gurgel e Renato Pelet
Museu de
Arte de
Goiânia –
MAG
Pinturas
Técnica Mista
10/11/87
Sá Nunez e Camol
Itaú Galeria
Pinturas
24/11/87
Simas e Ribamar
Astral-
tonelogia
Galeria de
Arte
Pinturas
Desenhos
Serigrafias
02/12/87
Misodê, Baltazar, Wagner Reis, Amaury
Menezes, Divino Jorge, Luis Tolosa, Runi
Itaú Galeria
Míni Pinturas (para
presentes natalinos)
10/12/87
110
Silva, Dina Cogolli, Narcisa Conteiro, Reinaldo
Barbalho, Lecilda Lemos, Sinval Veloso,
Sussumo Harada, Kenyuaça, Noé Luiz,
Valdelino e Enéas Silva
Dacruz, Gomes de Souza e M. Cavalcante Agrobanco
Galeria de
Artes e
Cultura
Pinturas 20/12/87
Juca de lima, Omar Souto, Antônio
Poteiro,Dinéia Dutra, Roos, D.J. Oliveira,
Amaury Menezes, Cleber Gouveia, Tai
Hsuan-An, Gomes de Souza, Carlos Dacruz,
Marco Rodrigues e Cardoso
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Míni Pinturas (para
presentes natalinos)
25/12/87
Grupo de Grafiteiros Pincel Atômico: Edney
Antunes e Nonato
Dando
início à
ação no
muro da
Casa
Grande
Galeria de
Arte e em
seguida
vários
pontos da
cidade
Grafites
29/12/87
Iza Costa, Omar Souto, Amaury Menezes,
Selma Parreira, Carlos Dacruz, D.J. Oliveira,
Tai Hsuan-An, Mauro Ribeiro, Siron Franco,
Cleber Gouveia e Vanda Pinheiro
Projeto
Galeria
Aberta de
autoria de
Px da
Silveira:
enormes
painéis com
obras de
artistas
goianos
pintados em
diversas
fachadas de
prédios do
centro da
cidade
Painéis
19/06/88
Simas, Yashira, Fernando Carpaneda,
Agoncílio Xavier da Silva, Luis Tolosa,
Carmelita Maria Leite, Ana Maria L.A.
França, Dilma Pereira Jorge, Eurípedes
Santana, Eny Resende, Rogério Fabiano
Dezouzart Drummond, Leilda Maria Lemos,
Gudrun Rademacher, Valnice Lopes da
Silva, Sayonara Gomes de Oliveira e
Ronaldo Barbosa de Lima
Kuryala
Sala de
Artes
Pinturas
Esculturas
30/06/88
Edney Antunes e Nonato
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Grafite em suportes
moveis
28/08/88
Elder Rocha Lima, Vânia Bueno, Tai Hsuan-
An, Alfredo Faria, Allan Kardec, Márcia
Metran, Laerte Araújo, Silvio de Freitas,
Narcisa Cordeiro e Fernando Simon
Museu de
Arte de
Goiânia –
MAG
Pinturas 04/09/88
Projeto: Fragmentos de uma subcultura –
Marcelo Solá, Wladimir Safatle, Cássia
Queiroz e mais outros 17 artistas
Espaços
culturais da
cidade
Happenings
11/09/88
Márcia Metran, Elyeser Szturm, Enauro de
Castro, Shell, Marcos Soares, Liosmar
Martins, Sônia Paiva, Ralph Gehre, Jonas
Barros e Zé César
Palácio
Municipal
da Cultura
não consta
07/12/88
Antônio Poteiro, Amaury Menezes, CARLOS
SENA
Arte Antiga
Galeria , D.J. Oliveira, Iza Costa, Fernando
Costa Filho, Omar Souto, Roos, Siron Franco
Simas, Sancler, Tai, Selma Parreira, Juca de
Lima, Sanatan, Cleber Gouveia, Xavier, Ana
Maria e Antônio Vieira
Leilão de pinturas e
esculturas
07/12/88
Siron Franco, Tai, Iza Costa, Antônio Poteiro,
Gomes de Souza, Selma Parreira, Valdelino,
Cláudio Tozzi, Omar Souto, Diva Goulart,
Multiarte
Galeria
Leilão de pinturas
07/12/88
111
Elder Rocha Lima e Octo Marques
Nazareno Confaloni, Gustav Ritter, D.J.
Oliveira
Museu de
Arte
Contemporâ
nea de
Goiás –
MAC/sala
Pioneiros
Pinturas
Esculturas
10/12/88
Dinéia Dutra, Octo Marques
Museu de
Arte
Contemporâ
nea de
Goiás –
MAC/sala
Homenage
m Póstuma
Pinturas
Gravuras
10/12/88
Cleber Gouveia, Antônio Poteiro, Iza Costa,
Vanda Pinheiro, Amaury Menezes e Siron
Franco
Museu de
Arte
Contemporâ
nea de
Goiás –
MAC/sala
Referencial
Goiano
Pinturas
Esculturas
10/12/88
Alexandre Liah, Amaury Menezes, Anahy
Jorge, Antônio Paulo, Antunes, Divino Jorge,
Ilka Canabrava, Juca de Lima, Lady César,
Lecilda Lemos, M. Martins, Mauro Ribeiro,
Nelze Bernardes, Neusa Gracia, Neusa
Moraes, Noé Luiz, Sebastião Prates, Sápda,
Tianinha, Vânia Ferro, Waldelino Lourenço,
Washington e Zuleide Souto
Itaú Galeria
Míni Pinturas (para
presentes natalinos)
11/12/88
Ailso, Amaury Menezes, Cleber Gouveia, D.J.
Oliveira, Elder Rocha Lima, M. Cavalcante,
Omar Souto, Siron Franco, Sanatan, Roos e
Diva Goulart
Multiarte
Galeria
Pinturas
29/12/88
Siron Franco, Leonam Fleury, Selma Parreira,
Fernando Costa Filho, Rattes, Antônio
Poteiro, Cleber Gouveia e Sanatan
Ipê Galeria
de Arte
Pinturas 29/12/88
Amaury Menezes, Antônio Poteiro, CARLOS
SENA
Veiga Valle
Galeria de
Arte
, Chico Menezes, Cleber Gouveia,
Dacruz, Dek, Diva Goulart, Enauro de Castro,
Fernando Thomen, Gibran, Gomes de Souza,
Iza Costa, Leonam Fleury, M. Cavalcante,
Omar Souto, Roos, Sanatan, Selma Parreira,
Siron Franco, Tai, Vânia Ferro, Valdelino,
Lady.
Pinturas ??/??/89
Cléa Costa, Vanda Pinheiro, Diva Goulart, Iza
Costa, Selma Parreira, Neusa Moraes, Tiana
Thomé, Neusa Garcia, Leides César, Juçara
César, Saída Cunha, Ana Maria Cordeiro,
Nelze Bernardes, Norma Caiado, Alcione
Guimarães e sala especial em homenagem a
Dinéia Dutra
Casa
Grande
Galeria de
Arte
Pinturas
Gravuras
Esculturas
08/03/89
Tai, Siron Franco, Agostinho, Prates, M.
Cavalcante, Sáida Cunha, Diva Goulart, Iza
Costa, Roos, Fernando Costa Filho, Gomes
de Souza, Deck, Vânia Ferro, Sanatan e
Antônio Poteiro
Projeto
Galeria
Aberta de
autoria de
Px da
Silveira:
painéis dos
artistas
goianos
pintados
nos ônibus
que fazem
as linhas da
cidade
Painéis 23/03/89
Nancy Safatle e Nelai Baltar
Galeria Frei
Confaloni
Pinturas
16/08/89
Iza Costa, Gomes de Souza, Elder Rocha
Lima, Agnaldo Coelho, Carlos Dacruz, Alcione
Guimarães, Ailso Braz Corrêa, Washington
Honorato, Roos, Alexandre Liah, M.
Centro
Cultural do
Soares
Center
Pinturas
31/08/89
112
Cavalcante e Eduardo Jordão
Antunes Arantes, Di Souza, Valdir Alberto e J.
Valente
Itaú Galeria
Pinturas
Esculturas
24/09/89
Selma Parreira, CARLOS SENA
I Semana
de
Atividades
Culturais do
Instituto de
Artes da
UFG.
, Heliana
Almeida, Nilse Bernardes e Vânia Ferro
Pinturas
17/11/89
- SALÕES DE ARTE EM GOIÂNIA
Nome do
salão
Júri de
Seleção
Local da
Mostra
Artistas
Premiados
Artistas
Selecionados
Data da
Notícia
I Salão
Regional de
Arte
(artistas do
Centro Oeste)
somete
pinturas
gravuras e
desenho
Alberto
Beuttenmüller,
de São Paulo;
Aline
Figueiredo, de
Mato Grosso;
Frederico de
Morais, do Rio
de Janeiro;
João
Evangelista de
Andrade Filho,
de Brasília, e
Miguel Jorge
de Goiânia.
Centro
Municipal de
Cultura do
Bosque dos
Buritis
Adir Sodré
de Souza -
MT-pintura;
Alcides
pereira dos
Santos
MT-pintura;
Daniel
Silva
Santos
GO-
Pintura;
Dinéia
Dutra GO-
gravura;
Gidel Alves
Feitosa
GO-
pintura;
Gervane
Ferreira de
Paula MT-
pintura;
José
Antônio G.
de Souza
GO-
pintura;
Omar
Souto
GO-
Pintura;
Napoleão
GO-
Pintura;
Paulo
Fogaça
GO-
pintura;
Nilson
Pimenta
MT-
pintura;
Paulo
Teixeira
DF-
gravura;
Ragnar
Alcione GO;
CARLOS
SENA
Dacruz GO;
GO;
Cléa Costa
GO;
Diva Goulart
GO;
Elder Rocha
Lima – DF;
Evandra
Rocha da
Silva GO;
Francisco
Galeno –DF;
Hildo Felício
GO;
Inácio Ferreira
GO;
Lourenço
Bianchetti
DF;
Marcio Aurélio
Santos MT;
Nelson Junior
–DF;
Olindo Aldrigo
GO;
Raçh Tadeu
Gehre DF;
Reinaldo
Barbalho
GO;
Sebastião dos
Reis GO;
Selvo Afonso
GO;
Valdelino
Lourenço
GO.
17/10/81
113
Largeblad
DF-
desenho;
Selma
Parreira
GO-
Gravura;
Teresinha
Moreira
DF-
pintura;
Vitor das
Graças
GO-
pintura.
Salão de Artes
Plásticas do
Cinqüentenário
de Goiânia
Cleber
Gouveia,
Adelmo Café,
Aécio de
Oliveira, todos
de Goiânia.
Palácio
Municipal da
Cultura
Neusa
Moraes,
CARLOS
SENA,
não consta
Marcos
Antônio
Soares,
Evany
Katenas,
Américo
Batista de
Souza
23/10/83
Festival de
Música e Artes
Plásticas do
Estado de
Goiás
Adelmo Café,
CARLOS
SENA
Teatro Goiânia
de 08 a 18 de
maio de 1984 , Tai
Hsuan-An,
Kim Ir Sem P.
Leal, Roberto
Cintra
Campos,
Maria de
Lurdes
Pacheco e
Thomas Hoag,
todos de
Goiânia.
Sinval
Veloso,
Elizeth
Horbilon,
Enauro de
Castro e
Wilson
Jorge
Cpelio de
Paula Braga,
Cláudio
Borges
Caixeta,
Elizeth
Horbilon,
Elyeser
Szturm, Eny
Silva
Resende,
Marcos
Antônio
Soares, Maria
das Dores
Pontes
Marques,
Maria
Filomena
Gouveia,
Miriam Baeta,
Nelisa, Sônia
Maria Silva e
Wilson Jorge
I Salão
Nacional de
Artes Plásticas
de Goiânia
Miguel Jorge,
Adovaldo
Fernandes
Sampaio,
Joaquim
Jaime, Neusa
Moraes e
Adelmo Café,
todos de
Museu de Arte
de Goiânia
MAG
Iza Costa,
Nelson
Jorge Cúri,
Paulo
Sérgio
Bastos
Andrade,
Fernando
Augusto
Elder Rocha
Lima Filho,
Lia Werner, Di
Paiva, Célio
Braga,
F.Pacheco,
Elder Rocha
Lima, Marco
Rodrigues,
31/10/84
114
Goiânia.
dos Santos
Nelto,
Selma
Parreira,
Cassiano
Pereira
Nunes,
Elder
Rocha
Lima,
Raimundo
Nonato,
Silvia
Cestari
Cunha,
Virginia
Guimarães
e Mauro
Ribeiro
Francisco
Galeno, Adir
Sodré,
Anselmo
Rodrigues,
Edney
Antunes,
Gomes de
Souza, Diva
Goulart,
Alcione,
Simas, Vânia
Ferro, Virginia
Guimarães,
Luis Mauro,
Nonato,
Selma
Parreira, Eny
Resende,
Eliezer
Szturm, Enio
Porto,
CARLOS
SENA,
M.Cavalcante,
Mariinha,
Eduardo
Jordão, Dina
Cogolli, Tião
Taveira,
Baltazar,
Diódio, Wilson
Cardoso,
entre outros
II Salão
Nacional de
Artes de
Goiânia
Radha
Abramo, de
São Paulo;
Tancredo
Araújo, do Rio
de Janeiro;
Yara Araújo
Souza, Px da
Silveira e Cléa
Costa, de
Goiânia.
Museu de Arte
de Goiânia
MAG
Mariza
Carpes
(SC), Luiz
Henrrique
Schwaske
(SC),
Francisco
de Fátima
Galeno
Carvalho
(DF),
Estela
Pereira
Sandrini
(PR),
Amaury
Menezes
(GO),
Alcione
Guimarães
(GO),
Elmiz
Fonseca
Magalhães
(não
consta),
não consta 02/10/85
115
Evilásio
Pinheiro
Chaves
(não
consta) e
Gomes de
Souza
(GO)
I Bienal de
Artes de Goiás
Frederico de
Morais, do Rio
de Janeiro;
Stella Barros,
de São Paulo;
Miguel Jorge,
Brasigóis
Felício e
Amaury
Menezes, de
Goiânia.
Museu de Arte
Contemporânea
de Goiás em
inauguração
Melhor
obra Adir
Sodré,
prêmio
secretaria
da cultura
Omar
Souto,
prêmio
estímulo
Luiz
Mauro,
prêmio
bienal de
aquisição
Paulo
Humberto,
Gervane
de Paula e
Edney
Antunes e
prêmio
caixego de
aquisição
Ana Dorsa,
Ricardo
Homem e
Branca de
Oliveira
CARLOS
SENA
23/11/88
participa com
pintura
- HOMENAGENS RETROSPECTIVAS
Artista Galeria/Museu/Centro
Cultural
Trabalhos Data da Notícia
Henning Gustav
Ritter
39
Sala Nazareno
Confaloni/Museu
Estadual
Esculturas desenhos
aquarelas
05/12/80
Frei Nazareno
Confaloni
Multiarte Galeria
Pinturas
20/11/84
Frei Nazareno
Confaloni
Museu de Arte de
Goiânia MAG
Pinturas
16/11/86
Dinéia Dutra
40
Museu de Arte
Contemporânea de Goiás
Gravuras
10/12/88
Octo Marques
41
Museu de Arte
Pinturas
10/12/88
39
Escultor, nascido em Hamburgo/Alemanha, foi um dos fundadores da Escola Goiana de Belas Artes e
co-fundador do Instituto de Artes da UFG. Faleceu em Goiânia em 1979. (MENEZES, 1998, p.222)
40
Pintora e gravadora goiana, diplomada pelo Instituto de Artes da UFG, discípula de D.J. Oliveira, veio
a falecer prematuramente em agosto de 1988. (Id., 1998, p.104)
41
Pintor, gravador e desenhista goiano autodidata, tornou-se conhecido como ilustrador tendo colaborado
com a revista carioca Vida Doméstica e com o jornal Estado de São Paulo. Veio a falecer em abril de
1988. (Ibid., 1998, p.207)
116
Contemporânea de Goiás
- EXPOSIÇÕES DE NOVOS VALORES
Artistas
Galeria/Museu/Centro
Cultural
Trabalhos
Data da Notícia
Antinarbe, Célio de
Paula, Elda, De
Oliveira, Irlenise,
Mariza, Pesqueiro,
Malakyas, Ulisses,
Fé Córdula, Quintin,
Guará, Meire, Nata,
Vânia Ferro, Yaweh
Museu Zoroastro Artiaga
Pinturas
Gravuras
13/04/80
Osvaldo Maranhão
Cavalcante Jr,
Eliezer Sturm,
Napoleão e
Rosangela Imalesi
Aguiar
Casa Grande Galeria de
Arte
Pinturas
17/08/81
Alcione O.
Guimarães, Baltazar
M. Nascimento,
Rosangela Imolesi
Aguiar, Josélio
Maranhão, Galeno,
Ivanor F. Mendonça,
Daniel S. Santos,
Vilson C. Santos,
Maria Josefina M.P.
Coelho, Maria Lúcia
Vaz e Rogério Costa
Palácio da Municipal da
Cultura
Pinturas
Esculturas
Desenhos
20/02/82
Fernando Thommen
Dias, Terezinha
Lacerda, Dek,
Gilberto Botelho
Moutinho, Zuleide
Souto Paiva e M.
Cavalcante
Palácio Municipal da
Cultura
Pinturas
30/04/82
José Renato de
Oliveira, Mônica
Pina, Maria Lúcia
Nogueira, Maria
Lúcia Vaz e Sônia
Maria
SESC
Pinturas
Gravuras
Desenhos
11/12/82
Formandos do curso
de 82 do Instituto de
Artes da UFG
Salão de Artes Belcar
Não consta
11/12/82
Suzana Eliza,
Tolentino, Francisco
Galeno, Antônio
Ernestino, Nonato,
Georges Andraus,
Marcos Rodrigues e
Batazar Moura
Casa Grande Galeria de
Arte
Pinturas
Esculturas
28/08/84
Edney Antunes,
José Geraldo de
Paiva (Di Paiva),
Antônio Carlos Elias,
Sá Nunes, Divino
José Custódio
(Diódio), Ana Maria
Casa Grande Galeria de
Arte
Pintura
Escultura
Cerâmica
27/08/85
117
Cordeiro
José Elverth
Ferreira, Jo
Rodrigues Del
Bianco, Luis Mauro
de Deus, Joyce da
Silva Carvalho, Raul
Vicenzio, Delvane
Fidélis Pereira,
Abrão Lins Nunez,
Paulo Silvano dos
Santos e Gilvan
Cabral*
Casa Grande Galeria de
Arte
Pinturas
Desenhos
Esculturas
22/09/85
Antônio Paulo
Rodrigues, Siápda e
Wagner Reis
Flamboyant Shopping
Center
Pinturas
Esculturas
22/05/86
Antônio Paulo,
Glória Maria, Jorge
Adalberto Girôn
Moreno, Iracema
Mariana Muller,
Walter Luis, Jean
Carechio, Irineu
Coutinho, Bhino
Gonçalves de
Castro, Olair Carmo,
Maria Irene Nunes
dos Santos e Neize
Bernardes
Casa Grande Galeria de
Arte
Pintura
Desenho
Gravura
Esculturas
08/08/86
Edir Monteiro.
Eduardo Cabral,
Eloiza Gurgel,
Glênio Lima e Sônia
Paiva
Multiarte Galeria Pinturas
Objetos
19/03/87
Jeane Gaitai, Júlio
sar de Souza
Valente, Luci Gomes
da Fonseca, Paulo
Henrique Corrêa,
Valdir Alberto das
Dores, Diomar Alves
Lustosa, Saulo
Nunes Marques,
Márcia Metran de
Melo, José Alvez
Ferreira Jr, José
Cláudio Del Duque e
Carlos Dias de
Medeiros
Casa Grande Galeria de
Arte
Pinturas
Esculturas
Técnica Mista
02/08/87
Márcia Metran,
Cohepálo, Saulo
Nunes Marques,
Waldir Alberto,
Cardoso de Morais,
Di Sousa, Shell,
Valente, Irene
Nunes, Luci, Nelze
Bernardes e Del
Duque
Saguão do Teatro
Goiânia agora Sala Tia
Amélia
Pinturas
Desenhos
Esculturas
Técnica Mista
16/09/87
Luci Gomes da
Casa Grande Galeria de
Pinturas
16/08/88
118
Fonseca (Luci
Madeira), Paulo
Henrique Corrêa
(Cohepálo), Valdir
Alberto das Dores,
Saulo Nunes
Marques, Márcia
Metran de Melo,
José Alvez Ferreira
Jr, José Cláudio Del
Duque
Arte
Esculturas
Técnica Mista
não consta
Casa Grande Galeria de
Arte
Pintura
Desenho
Escultura
22/08/89
- SELEÇÃO DE NOVOS VALORES DA CASA GRANDE GALERIA DE ARTE
Artistas
Júri de Seleção
Promoção
Data da Notícia
Osvaldo Maranhão
Cavalcante Jr,
Eliezer Sturm,
Napoleão e
Rosangela Imalesi
Aguiar
Vanda Pinheiro,
Cleber Gouveia,
Adelmo Café e
Miguel Jorge
Casa Grande Galeria
de Arte
17/08/80
Suzana Elis,
Tolentino, Francisco
Galeno, Antônio
Ernestino, Nonato,
Georges Andraus,
Marcos Rodrigues e
Batazar Moura
Siron Franco, Cleber
Gouveia, Omar
Souto, Vanda
Pinheiro e Antônio
Poteiro
Casa Grande Galeria
de Arte
09/08/83
Edney Antunes,
Sérgio Alcanfor, José
Geraldo de Paiva (Di
Paiva), Kleber Jesus
Nunes, Luiz Otávio
Marques, Antônio
Carlos Elias, Enauro
de Castro, Divino
José Custódio
(Diódio), Ana Maria
Cordeiro e Carlos
Manoel dos Santos
Vanda Pinheiro,
Antônio Poteiro, Juca
de Lima, Américo e
Amaury Menezes
Casa Grande Galeria
de Arte
21/08/84
José Elverth Ferreira,
José Rodrigues Del
Bianco, Luis Mauro
de Deus, Joyce da
Silva Carvalho, Raul
Vicenzio, Delvane
Fidélis Pereira, Abrão
Lins Nunez, Paulo
Silvano dos Santos e
Gilvan Cabral
Cleber Gouveia,
Amaury Meneses,
Adelmo Café, Omar
Souto e Brasigóis
Felício
Casa Grande Galeria
de Arte
01/09/85
Antônio Paulo, Glória
Maria, Jorge
Adalberto Girôn
Moreno, Iracema
Mariana Muller,
Walter Luis, Jean
Elder Rocha Lima,
Roos e Adelmo Café
Casa Grande Galeria
de Arte
08/08/86
119
Carechio, Irineu
Coutinho, Bhino
Gonçalves de Castro,
Olair Carmo, Maria
Irene Nunes dos
Santos e Neize
Bernardes
Jeane Gaitai, Júlio
César de Souza
Valente, Luci Gomes
da Fonseca, Paulo
Henrique Corrêa,
Valdir Alberto das
Dores, Diomar Alves
Lustosa, Saulo
Nunes Marques,
Márcia Metran de
Melo, José Alvez
Ferreira Jr, José
Cláudio Del Duque e
Carlos Dias de
Medeiros
Elder Rocha Lima,
Roos e Brasigóis
Felício
Casa Grande Galeria
de Arte
02/08/87
- ARTISTAS GOIANOS TRABALHANDO COM EMPRESAS E INSTITUIÇÕES
Empresa/Instituição
Acontecimento
Data da Notícia
Empresa de Turismo do
Estado
Siron convidado para criar o
cartaz de divulgação das
cavalhadas de Pirenópolis.
14/04/82
Colégio Maria Auxiliadora
D.J. Oliveira convidado para
pintar o mural da fachada
externa do colégio a pedido
de Irmã Marli.
17/04/82
Prefeitura de Goiânia
Adquiriu a tela “Descida da
Cruz” para o Museu de Artes
do Bosque dos Buritis.
08/05/82
Organização Jaime Câmara
Siron Franco, em happening
na AV. Tocantins, pinta painel
em homenagem ao jornalista
Jaime Câmara.
02/10/82
Federação Goiana de
Basquete FGB
Siron Franco cede a obra “O
Adolescente” para sorteio em
coquetel social da Federação
Goiana de Basquete
10/12/82
Universidade Federal de
Goiás UFG
Cleber Gouveia, Neusa
Moraes, Ângelus e Evany
Katenas, Maria Guilhermina,
Peclat e Cléa ilustram os
cartões de Natal produzidos
pela universidade.
11/12/82
Colégio Maria Auxiliadora
D.J. Oliveira finaliza o mural
do Colégio Maria Auxiliadora.
16/04/83
Loteria Federal
Antônio Poteiro é convidado
para ilustrar os bilhetes das
extrações especiais da
Loteria federal.
26/01/84
Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos
Omar Souto é convidado a
emprestar a sua arte a
próximos selos da instituição.
26/01/84
120
Encol Engenharia
Siron Franco e Bernardo Élis
são homenageados cedendo
seus nomes a dois edifícios
residenciais construídos pela
Encol. Art 1: Siron Franco e
Art 2: Bernardo Élis
19/07/86
Estado do Tocantíns Siron Franco é convidado a
criar a bandeira do Estado do
Tocantíns
O5/03/89
Secretaria de Cultura do
Estado de Goiás
Cria o Centro Cultural Marieta
Teles Machado reunindo o
Cine Cultura, a Biblioteca
Pública Estadual, o Arquivo
Histórico Estadual e a galeria
Frei Nazareno Confaloni
15/06/89
Através dos dados apresentados, podemos verificar que a cidade dá um
salto quantitativo nas atividades das artes plásticas. Observado as exposições
individuais e coletivas notamos que a pintura era o meio expressivo mais
comum utilizado pelos artistas. Apesar do aumento anual de novas galerias;
bares, restaurantes, centros de língua, shopping centers, e outros
estabelecimentos comerciais continuavam a abrir espaços para exposições.
É possível observar que em 1980 foram realizadas 9 individuais; 13 em
1981; 13 em 1982; 13 em 1983; 17 em 1984; 17 em 1985; 26 em 1986; 7 em
1987; 11 em 1988 e 15 em 1989. O elevado número de individuais verificadas
no ano de 1986 tem relação direta com a ebulição cultural momentânea
fomentada pela Lei Sarney e vigorada no mesmo ano. A Lei Sarney concedia
incentivo fiscal a quem investisse ou patrocinasse produções de cunho cultural.
Notamos a presença marcante de alguns artistas como no caso de Iza Costa
com sete individuais durante a década, Siron Franco com cinco individuais e
Omar Souto com cinco individuais. O artista Carlos Sena, foco de nosso
estudo, teve a oportunidade de realizar quatro exposições individuais (1983,
1984, 1986 e 1989), que apresentaram pinturas das quais tratamos na
dissertação. Temos conhecimento que Sena chegou a realizar uma exposição
individual no Salão Marrom, do Hotel Bandeirantes, anterior a da Arte Antiga
Galeria de 1983, mas não foi possível encontrar documentação sobre esta
mostra.
As obras premiadas nos salões nacionais e regionais organizados pela
Prefeitura de Goiânia, foram constituindo o acervo do MAG Museu de Arte de
121
Goiânia. Muitos artistas goianos possuem obras neste museu, foram
verificados 9 trabalhos de Carlos Sena nesta coleção. A criação do MAG
(1982) e do Museu de Arte Contemporânea, MAC (1989), propiciaram a
institucionalização de um espaço voltado para as Artes Visuais, em Goiânia.
Dentre as galerias particulares, podemos ressaltar o papel importante da
Arte Antiga Galeria, de propriedade da marchand Marina Potrich. Com várias
coletivas e individuais realizadas durante a década, a galeria de Potrich lançou
novos artistas no mercado, priorizando trabalhos de qualidade técnica e que
dialogavam com a arte nacional. A marchand, possuía boas relações com
colecionadores de todo o país e tinha para seu núcleo de comercialização
obras de Carlos Sena, João Câmara, Siron Franco, Rubem Valentim, dentre
outros artistas. Hoje a Arte Antiga Galeria funciona, em Goiânia, com o nome
Galeria Marina Potrich.
Outra galeria importante no cenário artístico goiano era a Casa Grande
Galeria de Artes, que dentro de um processo mais empresarial, não só realizou
dezenas de exposições de artistas goianos e de outros centros, como
proporcionou a vinda de críticos de grandes pólos artísticos do país, na cidade.
O mercado ascendente local, era visto como uma boa oportunidade de
realização de negócios e contatos, isso proporcionou uma relação dinâmica
entre artistas de fora com as galerias da cidade. A estrutura da Casa Grande
Galeria, foi decisiva para a profissionalização da arte goiana durante a década
de 80. Realizando exposições e encontros desde meados dos anos 70, esta
galeria, que tinha em sua direção a marchand Célia Câmara, serviu como
parâmetro profissional para o mercado artístico local que estava em ascensão.
A Casa Grande Galeria de Arte, hoje, funciona como Fundação Jaime Câmara.
Podemos também verificar a presença do poeta e produtor cultural PX
da Silveira. Proprietário do Arroz Néon Vídeo Bar, que abriu as portas para
exposições e eventos artísticos, criou a Multiarte Galeria e concebeu e
organizou todas as etapas do projeto Galeria Aberta. PX foi um dos grandes
responsáveis pela popularização da arte goiana. Sua atuação no meio artístico
local foi intensa e marcante, gerou grandes adesões favoráveis a suas causas
assim como críticas, mas contribuiu para a cena cultural da cidade em todas
suas instâncias. Dando espaço para jovens artistas mostrarem seus trabalhos,
estreitando a relação entre as diversas expressões de arte e fomentando o
122
aparecimento de novas mídias, como a vídeo-arte, por exemplo. É, certamente,
uma das figuras mais importantes no que diz respeito a movimentação,
promoção e articulação da arte de Goiânia da década de 80.
Observando os salões de arte realizados em Goiânia nos anos 80,
podemos observar que entre todos somente a I Bienal de Arte de Goiás partiu
de iniciativa do Governo do Estado. O Festival de Música e Artes Plásticas do
Estado de Goiás foi uma iniciativa da Universidade Federal de Goiás, os
demais salões foram organizados pela prefeitura da cidade. Outro detalhe
observado é predominância de um júri local na comissão de seleção das obras,
o que não ocorria nos salões de arte promovidos pela Caixego, realizados nos
anos 70. Em poucas ocasiões vieram críticos de outros centros artísticos. Isso
muito se deu pela necessidade de afirmação de uma arte local, que vinha se
deparando com um crescimento no setor. Essa particularidade gerou uma
tendência a determinados estilos de composição assim como criou grupos de
proteção por parte de alguns artistas, excluído novos valores da arte local em
eventos institucionais.
Os novos valores possuíam duas janelas de inserção. Uma era o Salão
Valores Novos promovido pelo Governo de Estado. A outra era o Salão de
Novos Valores promovido pela Casa Grande Galeria de Arte. Dentre os artistas
que apareceram nestas promoções, vemos hoje, constituídos como
profissionais da arte local e alguns à nível nacional, nomes como Vânia Ferro,
M. Cavalcante, Eliezer Sturm, Nonato, Edney Antunes, Di Paiva, Enauro de
Castro entre outros.
Vemos nas listagens acima que vários artistas da cidade cederam obras
ou executaram trabalhos para empresas particulares e instituições. Estas
ocorrências deram início na década de 80, principalmente com a popularização
da arte local durante a época. A cidade começava a absorver a produção dos
artistas locais muitas vezes em beneficio próprio. Absorviam a arte goiana
também em beneficio ideológico, político e/ou propagandista. Pode-se notar
que entre os artistas da cidade, Siron Franco era o mais requisitado.
2.4 O mercado artístico goiano nos anos 80: um comércio delirante
123
As primeiras galerias de arte em Goiânia foram criadas por artistas.
Estes, voltados ao ofício da produção de arte, não possuíam efetivamente
mecanismos necessários para a comercialização e negociação do objeto
artístico. O saldo comercial era muito baixo e os locais permaneciam abertos a
duras custas. É possível notar que o mercado de arte goiano só veio a se
formalizar quando marchands e comerciantes habilitados abriram suas
primeiras galerias nos anos 70. É pela inauguração da LBP Galeria, do
jornalista Lourival Pereira Batista, pela criação da Paulo Araújo Galeria, do
comerciante de livros Paulo Araújo, e principalmente através da figura de Maria
Célia Câmara no comando da Casa Grande Galeria de Arte.
Estabeleceu uma estrutura mais empresarial na arte goiana com a criação
da Casa Grande Galeria de Arte, que o mercado de arte da cidade é
realmente constituído. [...] A iniciativa de instalação das primeiras galerias
de arte em Goiânia foi de alguns artistas com espírito empreendedor que
buscavam, acima de improváveis vendas, a criação de um espaço
adequado à realização de exposições, já que naquela época praticamente
não havia a comercialização de obras de arte. (MENEZES, 1998, p. 53-54)
Nos anos 80 o mercado de arte em Goiânia vai ganhando espaço e se
consolidando como um mercado profissional e ascendente. Como afirma
Regina Fleury, diretora da Casa Grande Galeria de Arte no final da década ,
para reportagem de Ricardo Santana: “em Goiás o mercado vem crescendo
sensivelmente ano a ano, os pintores são unânimes em dizer que nosso
mercado deu um grande salto em termos de vendas nos últimos cinco anos
(O
Popular, Caderno 2, 29/04/89). Na mesma matéria, a marchand Marina Potrich,
da Arte Antiga Galeria, afirma que:
O goiano é um bom consumidor de arte, Goiânia tem um ótimo
desempenho de mercado, sendo uma das cidades possuidoras do maior
número de galerias por habitante, e os artistas goianos são os que mais
estão se privilegiando desta efervescência da arte em Goiás. (Id., 29/04/89)
124
Observando os espaços onde se realizaram as exposições individuas e
coletivas é possível constatar o aumento de galerias de arte particulares em
Goiânia no decorrer da década de 80. Apresento abaixo um gráfico para ilustrar
essa proliferação de galerias de arte. Não consta nessa demonstração, galerias
ligadas a órgãos governamentais e nem a espaços culturais de empresas e
estabelecimentos comerciais.
Segundo alguns marchands da cidade, existiam dois tipos de pessoas
que compravam arte em Goiânia. São aqueles que compravam como um
investimento e para colecionar ou os que se utilizavam da arte meramente
como um complemento para decoração. Amaury Menezes, em seu livro “Da
Caverna ao Museu: Dicionário das Artes Plásticas em Goiás” (1989) não
reconhece a presença do colecionador na cidade:
Os preços das obras em Goiânia eram bem mais baixos do que nos centros
maiores, isso acentua a característica de um mercado que, em sua grande
parte, era composto de apreciadores, quase inexistindo a figura do
colecionador ou do investidor. (MENEZES, 1998, p.53)
O pintor Gomes de Souza comenta que “a supremacia do mercado
goiano estava relacionada principalmente ao preço mais acessível das obras”
125
(O Popular, Caderno 2, 29/04/89). Posição que não era compartilhada por
Regina Fleury, da Casa Grande Galeria de Arte, que via “o preço do artista
goiano relativamente alto em comparação com outros do Brasil” (Id., 29/04/89),
mas a marchand reconhece que mesmo observando o preço elevado, o
comprador goiano procurava muito mais as obras dos artistas da cidade.
Em 1986 o então Presidente da República José Sarney assina a Lei
Sarney de fomentação a cultura. A Lei Sarney concedia incentivo fiscal a quem
investisse ou patrocinasse produções de cunho cultural. O poeta, produtor e
galerista PX da Silveira, comenta na matéria de Ricardo Santana, de 1989, a
relação do mercado de arte goiano com a Lei Sarney. Ressaltando a
desinformação dos produtores sobre o decreto de incentivo fiscal:
A desinformação no meio artístico goiano com relação a legislação fiscal é
muito grande. Os artistas plásticos, geralmente, não se envolvem com
estas questões e alguns nem fazem imposto de renda, as obras de arte
também andam sendo usadas para a lavagem de dinheiro, quem tem um
dinheiro não declarável, compra um quadro, põe na parede e pronto. (Ibid.,
29/04/89)
Ricardo Santana em seu texto “Pintando com a Lei” observa que o
mercado de arte goiano em 1989 ainda estava crescendo, mesmo que de uma
forma muito instável comparada a primeira metade dos anos 80. O jornalista
descreve que a arte produzida em Goiânia, ao caminhar junto com a
comercialização, estava caindo na subjetividade (O Popular, 29/04/89). Marina
Potrich declara na mesma matéria, que “no mercado goiano sobressaía aquele
que comprava telas para usar na decoração de casa e escritórios, e isso se
devia ao trabalho desenvolvido pelos decoradores”.
Para iniciar qualquer comentário sobre o mercado de arte goiano dos
anos 80 é necessário antes de tudo explicar que tipo de obras eram oferecidas.
Sabemos que a pintura dominava a cena das artes de Goiânia. Enquanto
objeto comercial, a pintura se mostra bem mais viável mercadologicamente do
que a escultura, por exemplo, pois sua relação com o espaço é mais sutil e
menos complexa. Foi observado também, que em períodos de recessão, a
prática do desenho foi acentuada, por sua produção necessitar de materiais
126
mais baratos e o valor final da peça facilitar sua comercialização. Quem
adquiria uma obra estava mais preocupado com o deleite de um prazer
estético.
Não consigo encontrar uma explicação mais adequada para justificar o
despontar de um mercado de arte como o de Goiânia, consolidado pelo
surgimento e atuação de algumas dezenas de galerias, quando a cidade
possui apenas algumas livrarias, dando a falsa impressão de que é
pequeno o movimento literário e editorial do Estado. (MENEZES, 1998,
p.53)
Partindo de um comentário proferido por Carlos Sena, que via a
produção dos anos 80 com tendências mercantilistas, vamos analisar o
mercado de arte goiano deste período pela relação
artista/galeria/decoradores/colunas sociais, que numa ação em conjunto,
movimentaram o cenário artístico goiano dos anos 80 forjando a associação da
obra de arte com o status social. Uma moda de consumo de pinturas de
artistas locais promoveu o mercado de arte da cidade, e trabalhos produzidos
com intuito mercantilista se proliferaram e se constituíram na grande maioria
das obras produzidas no período. Carlos Sena faz a seguinte observação sobre
esta ocorrência:
A geração 80 é diretamente vinculada ao mercado de arte, à moda de
comprar quadro, à moda da pintura em si, que não é nem uma moda da
arte. Foi um “boom” universal da pintura. A arte dos anos 80 procura
agradar ao gosto, combinar com o ambiente, com o tapete, com o sofá, e
com quem pode pagar. Então, é claro que ela é menos eficaz em termos de
transformação do pensamento do que a arte do presente. (SENA, 2009)
A pergunta que se faz é: como seria possível conceber um trabalho
sabendo que este seria mais propenso a ser comercializado? A pesquisadora
Laura Buarque, em sua pesquisa “Sucesso e Poder, O Outro Lado da Obra de
Arte” descreve os procedimentos que levam um trabalho artístico ser bem
sucedido comercialmente. Para tal, Buarque inicialmente faz a diferenciação
entre mensagens estéticas e mensagens persuasivas (retórica). A obra
127
comercial entra então na categoria de persuasão. Como um mecanismo de
facilitar a assimilação da obra pelo comprador. A pesquisadora reconhece que
os artifícios retóricos não funcionam apenas na língua verbal, mas podem ser
encontrados na linguagem visual. Para a construção de um trabalho comercial
ela comenta que é preciso aliar o contexto sócio cultural de quem vai consumi-
lo com a apresentação dos códigos visuais do trabalho; “se vale de signos de
valor iconográfico comum ao imaginário da população para associar a
conotação de premissas retóricas compartilhadas pela comunidade, recurso
este, usado também pela publicidade” (GADELHA, 1985).
Esse comentário sugere que, por trás da obra comercial, existem
relações que se desencadeiam como frutos da assimilação de mensagens por
parte de uma determinada cultura. Pierre Bourdieu, em seu livro “A Economia
das Trocas Simbólicas” também faz essa diferenciação entre essas duas
práticas. Bourdieu (1974) divide a produção de bens simbólicos entre “o campo
de produção erudita e o campo da indústria cultural. A diferença básica entre
os dois modos de produção se refere a quem se destina os bens culturais
produzidos. Assim, o campo de produção erudita destina a produção de seus
bens a um público de produtores de bens culturais, enquanto o campo da
indústria cultural os destina aos não produtores de bens culturais, ou seja, a
população em geral.
Segundo Bourdieu, as obras produzidas pelo campo de produção erudita
são obras puras, abstratas e esotéricas. Por tais características, as obras do
campo de produção erudita são acessíveis a um público reduzido e a sua
recepção depende do nível de instrução dos receptores, ou seja, exige que os
receptores tenham o manejo prático e teórico de um código refinado, sendo
necessária também, a própria disposição dos mesmos em adquirir tal código.
Já a recepção dos produtos no sistema da indústria cultural é
relativamente independente do nível de instrução dos receptores.
Diferentemente do sistema de produção erudita, o sistema da indústria cultural
por estar submisso a uma demanda externa (subordinados aos detentores dos
instrumentos de produção e difusão), obedece aos imperativos da concorrência
pela conquista de mercado, ao passo que a estrutura de seu produto decorre
das condições econômicas e sociais de sua produção. Laura Buarque aborda
as mesmas questões que Bourdieu, diferenciando somente o foco das
128
produções mercantilistas, Bourdieu quando se refere ao sistema da indústria
cultural, tende a se ater as produções visuais voltadas para a mídia e com um
caráter mercadológico explícito. A diferença da colocação de Buarque se dá
pela referência a uma “pseudoprodução erudita” quando encontra duas
vertentes de produção de obras de arte, uma voltada à mensagens estéticas e
outra voltada à mensagens persuasivas. Contudo, podemos associar a
produção de mensagens visuais persuasivas observadas por Buarque com o
sistema da indústria cultural citado por Bourdieu. Ambas ocorrências se voltam
para a necessidade mercadológica.
Em suma, o que os dois autores colocam é a posição entre o legítimo e
o ilegítimo que se impõe no campo dos bens simbólicos recobrindo a oposição
entre dois modos de produção: de um lado, o modo de produção característico
de um campo que fornece a si mesmo seu próprio mercado e que depende,
para sua reprodução, de um sistema de ensino que opera ademais como
instância de legitimação; de outro, o modo de produção característico de um
campo de produção que se organiza em relação a uma demanda externa,
social e culturalmente inferior. (id., 1974)
Para compreender a ocorrência de mensagens persuasivas em
produções visuais se faz necessário o entendimento de mensagens
persuasivas juntamente com as diversas formas de retórica. Para Buarque, a
mensagem persuasiva encontra técnicas para persuadir o fruidor, utiliza um
aparelho sígnico já extremamente decodificado, sugere valores já aceitos pela
cultura levando o observador para a afirmação destes valores obsoletos, sem o
esforço interpretativo. (GADELHA, 1985)
Boa parte dos trabalhos artísticos produzidos em Goiânia, na década de
80, passa pela questão da produção de mensagens persuasivas. Essas
ocorrências são frutos de uma sociedade de massa onde mecanismos de
legitimação do artista-obra subentendem as relações de poder. Nas artes
plásticas, o fator condicionante de reconhecimento da obra de arte na
sociedade de massa, encontra-se representado pelo sistema comercial. Então,
quanto mais o artista era consumido pelos “colecionadores” em Goiânia, devido
muitas vezes a influências por parte de decoradores e das colunas sociais,
mais sua obra era tida como de qualidade, e o artista era tido como o novo
”gênio” local. Esse fato é diretamente relacionado com a necessidade das
129
galerias possuírem em seu quadro de artistas nomes de grande
comercialização. Outro fator que levava um artista a ser consumido, era sua
arte ser elogiada nas colunas sociais e matérias dos jornais locais. Essa
ocorrência acontecia com freqüência nos cadernos de cultura. As colunas
sociais, direcionadas a alta sociedade de Goiânia, reportavam o êxito de
determinadas exposições, assim como quem se encontrava nos vernissages e
quem eram os colecionadores. A divulgação gerava uma relação de valor entre
a obra e o comprador. Dependendo de quem comprasse um trabalho de um
artista, a obra deste produtor de arte poderia ser, ou não, valorizada no
mercado local, como podemos conferir no comentário da diretora da Casa
Grande Galeria na época, Regina Fleury: “existem pessoas que vêm à sua
galeria na abertura da exposição e perguntam ‘quem comprou?’ determinada
obra de um artista, e dependendo de quem tivesse adquirido a peça, a pessoa
compraria ou não” (O Popular, Caderno 2, 29/04/89). Segundo a galerista, isto
deve-se à falta de conhecimento que se tem da arte.
O jornalista Ricardo Santana, (O Popular, Caderno 2, 29/04/89) no texto
“Quem comprou?”, descreve como funcionava essas relações de valores que
ocorriam no mercado de arte goiano na época, reconhecendo um
provincianismo existente por parte dos consumidores de arte: “diversas
pessoas ainda adquirem obras de arte por terem uma visão provinciana de que
uma determinada escultura ou pintura pode dar mais status, ou deixá-las mais
chiques”.
A relação da obra de arte com o status social em Goiânia, durante a
época, é observada em várias ocasiões. Uma delas se dá pelas coberturas
jornalísticas já citadas, outra, pela dedicação dos decoradores em utilizar obras
de artistas goianos nos projetos. Também foi possível verificar que, o mercado
de arte goiana, já no final da década de 80, cresceu devido ao interesse de
aquisição de obras por emergentes sociais. Marúcia Abreu, dona de um
antiquário, afirma na matéria de Santana que “a maioria das pessoas que
entram em sua loja e compram um vaso ou uma escultura o fazem por achar
que aquela peça vai lhe dar mais status junto ao seu círculo de amizades” (Id.,
29/04/89). Foi para tentar reverter um pouco esse quadro que a Casa Grande
Galeria promoveu o curso “A Arte de Ver a Arte”, anteriormente comentado
nesta pesquisa.
130
A moda da pintura goiana gerou uma curiosa estrutura de dependência
entre artista, galeria, coluna social e decorador. O artista dependia da galeria
para mostrar seus trabalhos e a galeria dependia de artistas de êxito comercial.
O artista e a galeria dependiam do decorador para alavancar seu nome entre
os compradores e assim conseguir bons negócios, já o decorador dependia
dos artistas e das galerias para se manter informado dos novos “gênios” do
circuito e fazer bons negócios. A coluna social, por sua vez, divulgava os fatos
para quem realmente comprava as obras.
Os jornais tinham uma enorme importância no processo de legitimação e
integração de artistas no cenário das artes plásticas da cidade e também junto
aos mecanismos de mercado, interferindo e influenciando no gosto e na
preferência da elite consumidora. Fato que se encaixa dentro dos preceitos do
sistema da indústria cultural seguindo a análise de Bourdieu comentada
anteriormente.
Foi possível notar durante toda a pesquisa no jornal O Popular, o
crescente mercado da arte local durante a década assim como a instalação de
uma “moda” de consumo de arte goiana. É importante frisar que quase todo o
movimento comercial das galerias estava restrito aos artistas de Goiás.
“Pintores de outros estados realizavam exposições em Goiânia, eram bem
recebidos, bem divulgados, os vernissages eram concorridos, mas as vendas
eram pequenas” (MENEZES, 1998, p.53). Percebe-se que o mercado de arte
local era auto-suficiente, e o que era produzido em Goiânia era consumido na
cidade. Este fato deve-se muito ao êxito de artistas goianos no território
nacional, principalmente de Siron Franco que estava sempre aparecendo na
mídia. Em 1982, por exemplo, a Rede Globo de Televisão produz a minissérie
Avenida Paulista e usa quadros de Siron para compor os cenários da série. O
programa do mesmo canal, Fantástico, chegou a dedicar matéria jornalística
sobre possíveis falsificações da obra de Siron no Brasil. O dono da Rede Globo
tinha se tornado um dos maiores colecionadores de obras do artista. Várias
ocorrências de êxito profissional eleva o nome de Siron Franco, por certo
período, como a nova revelação da pintura nacional.
Por esses e outros motivos, o artista goiano se torna celebridade em sua
cidade natal, e mesmo pessoas que não eram ligadas ao cenário das artes
plásticas sabiam da existência do artista. Não digo que a moda da arte em
131
Goiânia tenha se constituído por conta da figura de Siron, o que observo é que
sua presença contribuiu para que essa moda se instalasse. Em meados dos
anos 80, a elite goiana estava tão voltada para a arte que uma empresa de
construção da cidade chegou a criar uma série de prédios residenciais
batizando-os com nomes de artistas locais. Segundo o artista plástico Gomes
de Souza, em comentário proferido em 1989, “o mercado de arte goiano
cresceu principalmente com a ‘explosão de Siron Franco’. No vácuo de Siron
veio toda uma leva de artistas, que agora começam a despontar” (O Popular,
Caderno 2, 29/04/89).
Outro fator, talvez decisivo para a instalação da moda da arte goiana dos
anos 80, foi a série de projetos denominados Galeria Aberta, que tinha por
idealizador o poeta e produtor cultural PX da Silveira, proprietário da MultiArte
Galeria. Esses eventos tinham por objetivo popularizar os trabalhos de alguns
artistas da cidade transpondo as pequenas produções em telas para
espetaculosos painéis que poderiam ser observados por toda a massa popular
que transitasse pelos bairros centrais. O primeiro projeto produziu outdoors
com as obras dos artistas. O segundo projeto apresentava as pinturas nas
laterais de ônibus da cidade. O terceiro, e mais espetacular de todos, realizou
enormes painéis em fachadas de grandes prédios, localizados no centro da
cidade. O quarto e último projeto realizou painéis do artista plástico Omar
Souto por todo o trajeto entre as cidades de Goiânia e Trindade, estrada
conhecida como Rodovia dos Romeiros. (FARIAS, 2005)
Vendia-se muita pintura de artistas locais nos anos 80, e o mercado não
conseguiu evitar o aparecimento de uma produção comercial. Mas o fato de a
obra vender bem não está diretamente relacionado com uma ausência de valor
artístico. O comércio encontrava-se além do nível qualitativo das obras. Carlos
Sena vendia bem nos anos 80, assim como Siron Franco, Cleber Gouveia, e
outros artistas que apresentavam poéticas visuais de qualidade.
Mas como o mercado era favorável e a demanda era crescente,
estariam eles na aplicação de técnicas e mensagens persuasivas? A resposta
Carlos Sena a esta questão pode ser entendida pela sua incursão na arte
experimental. Vemos através dessa postura, que o artista reconhecia que essa
crescente mercantilização. A validade social de toda a produção da arte goiana
132
dos anos 80 estava correspondendo a elementos de negação da própria arte e
tendia a um processo de vulgarização.
Apesar do domínio do mercado em relação à produção artística da
cidade, o cenário das artes plásticas em Goiânia, nos anos 80, promoveu uma
movimentação singular. Nunca se produziu e nunca se vendeu tanta pintura na
cidade como nos anos 80. Artistas viviam de seu ofício e giravam a economia
de galerias, lojas de materiais e de produtores de telas e chassis. Foi criado um
interesse para as questões da cultura e o frisson do cenário da época, de certa
forma, fez com que um número significante de pessoas se voltasse ao fazer
artístico. Apareceram jovens artistas de talento, desde os que compartilhavam
das questões propostas aos que criticavam o pensamento do período. Os
trabalhos que viriam representar a geração 90 da arte goiana se formalizaram
dentro de um questionamento à estética dominante da década anterior,
produzindo assim uma nova relação com a imagem e criando novas
possibilidades visuais.
3 - DUAS FACES DE UMA DÉCADA
133
Eu acho o espelho vulgar,
intrigante, misterioso
e eterno.
Carlos Sena, 1984
3.1 A fase formalista: algumas obras da primeira metade da década de 80
Este capítulo é dedicado a análise de algumas obras do artista Carlos
Sena. Nesta primeira parte, como introdução às obras da década de 80,
podemos observar duas obras do final da década de 70 e oito pinturas que
fazem parte da produção do artista da primeira metade da década de 80. Estas
obras serão comentadas dentro de uma proposta de análise utilizada por
Ferreira Gullar em vários trabalhos críticos do autor. Gullar comenta, em um
desses trabalhos, que “a crítica pode abordar a obra de arte de diversas
maneiras; como manifestação estilística ou como fato sociológico e histórico,
como expressão de tendências artísticas” (GULLAR, 2003, p.11). Uma das
formas de análise utilizada pelo autor e que escolhemos como parâmetro de
interpretação das obras de Carlos Sena, desse primeiro período, se dá pela
abordagem da obra enquanto materialidade significante; experiência sensorial,
sensual e afetiva. Quando tentamos, à vezes situá-la cultural e historicamente,
ou vê-la como continuidade ou ruptura do processo artístico, procuramos
sempre apoiar tais avaliações na obra enquanto experiência fenomenológica
(BACHELARD, 1998).
Ver não é apenas a apreensão da materialidade da obra; é também
penetrar na tessitura de significados na qual cores, linhas, formas,
transparências e texturas são veículos. Esses elementos constituem uma
totalidade semântica cuja significação é intraduzível em qualquer outra
linguagem.
(GULLAR, 2003, p.11)
134
Para conseguirmos alcançar o discurso da obra, no mais próximo de sua
plenitude, recorremos a uma passagem de texto de Gaston Bachelard, a qual
apresenta diretrizes que somadas as indicações de Gullar, nos auxiliarão por
todo esse processo de mergulho nas pinturas de Sena durante todo esse
capítulo, além de corrigir alguns excessos de interpretação.
É necessário estar presente, presente a imagem no minuto da imagem. Se
há uma filosofia da poesia, ela deve nascer e renascer por ocasião de um
verso dominante, na adesão total a uma imagem isolada, muito
precisamente no próprio êxtase da novidade da imagem. A imagem poética
é um súbito realce do psiquismo, realce mal estudado em causalidades
psicológicas subalternas.
(BACHELARD, 1998)
Dentro da seqüência de obras que vamos enveredar pelas
interpretações, quando tivermos de mencionar a relação entre uma imagem
poética nova e um arquétipo adormecido no fundo do inconsciente, como
afirma Bachelard em seu texto, é necessário explicar a priori que essa relação
não é propriamente causal. O autor reitera essa afirmação com o seguinte
comentário:
Dizer que a imagem poética foge à casualidade é sem dúvida, uma
declaração grave. Mas as causas alegadas por psicólogos e por
psicanalistas jamais podem explicar bem o caráter realmente inesperado da
imagem nova, nem tampouco a adesão que ela suscita numa alma alheia
ao processo de sua criação. (Id., 1998)
Portanto, muitas alegações que encontraremos no texto a seguir, que
envolvem a figura do artista em associação com elementos de sua pintura,
fazem parte de uma caminho de interpretação que não é o único e, portanto,
não definitivo. Como coloca Bachelard, (1998, p.2) “a imagem poética não está
sujeita a um impulso”. Mesmo que reconheçamos signos datados em alguns
trabalhos de Sena, sua poética não é o eco de um passado. É antes o inverso.
“Com a explosão de uma imagem, o passado que ressoa desses ecos, vão
repercutir e morrer. Em sua novidade, em sua atividade, a imagem poética tem
135
um ser e um dinamismo próprios”. Vemos que a imagem poética, segundo
Bachelard, procede de uma ontologia direta, e é essa ontologia, mesmo dentre
as variadas interpretações, é que desejamos que se evidencie.
Antes de apresentar as obras da década de 80, faço valer uma
verificação à dois trabalhos produzidos no ano de 1979. É possível conferir
nestes trabalhos elementos que serão intensamente discutidos pelo artista no
decorrer de toda sua produção.
Figura 11Carlos Sena, “Lotado Vista pelo ônibus”,
nanquim sobre duratex, 1979 Acervo: MAG
Foi possível analisar pessoalmente neste trabalho monocromático
“Lotado Vista Pelo Ônibus” (figura 11), a presença da figura humana já dentro
das preocupações do artista. Vemos que o título da obra já indica sua leitura.
Na representação das pessoas em um ponto de ônibus, a figura é
representada em traços rápidos somente sugerindo a forma e a ação. É curioso
observar nesta obra, a primeira, ou uma das primeiras relações do artista com
o objeto espelho, neste caso com o reflexo. A citação ao reflexo aparece na
figura humana representada em tamanho maior e sugerida pelo desenho em
tom escuro, dissolvido, como sugerindo uma sombra. Podemos perceber nesta
136
obra o interior do ônibus citado pelo título, e uma referencia a dois espaços de
ação presente numa única paisagem.
Figura 12– Carlos Sena, “Férias no Araguaia”,
nanquim sobre duratex, 50 x 40 cm, 1979,
acervo: MAG
Observando a obra “Férias no Araguaia” (figura 12), vemos que os
elementos da cultura popular e regional, principalmente da cultura indígena já
se mostravam presentes em 1979. Nesta obra é possível reparar a intenção de
Carlos Sena em apresentar o problema da aculturação dos índios brasileiros,
que vinham assimilando a cultura do homem branco. Nota-se pela
representação de elementos tais como os óculos e o radio de pilha que a
hibridização cultural, observada em suas obras da segunda metade da década
de 80, já fazia parte da narrativa visual do artista.
Partindo dos métodos de análise utilizados por Gullar e sob a regência
disciplinar de Bachelard vamos então aos trabalhos de observação de algumas
obras de Carlos Sena da primeira metade da década de 80, escolhidas para o
início deste capítulo. Nestas pinturas produzidas a óleo sobre tela, em técnica
de veladura, o gestual do desenho desaparece. A sugestão da forma
137
observada anteriormente na obra “Lotado Vista pelo Ônibus” (figura 11), cede
lugar a um desenho detalhado, gerando uma composição sólida e configurando
a representação humana com todas suas nuances de luz e sombra.
Eu fazia uma pintura que era uma das mais clássicas possíveis, veladura
renascentista, trinta, quarenta camadas de tinta sobrepostas, e no final
tinha que ficar muito lisa e muito perfeita. O perfeccionismo era umas das
questões que eu perseguia. (SENA, 2008)
Figura 13Carlos Sena “As Moças da Sessão das Três”, óleo sobre tela, 1981
Acervo: MAG
Nesta obra de 1981, “As Moças da Sessão das Três” (figura 13), vemos
em um primeiro momento uma referência a mídia, ao jornal. Em seguida,
percebe-se uma evidente relação do artista com o universo do cinema. Pelo
138
título da obra e pelos elementos da composição. A figura feminina aparece em
destaque fazendo a conexão com o título As Moças da Sessão das Três.
Vemos a figura em primeiro plano com uma gargantilha em pérolas, cabelos
arrumados e luvas de seda. A segunda moça se funde por uma pequena, mas
expressiva pincelada continua em tom escuro produzindo a projeção do tema.
Nota-se que o lugar, o espaço, é retratado por Carlos Sena quase sempre
dividido, intercalado. As duas figuras humanas, não estão ali, elas estão nos
jornais. As moças da sessão das três existem em duas dimensões poéticas. No
universo onírico do artista e nas telas do cinema. Esta homenagem de Sena
aos ícones dos filmes de Hollywood, questiona a estrutura linear do tempo. O
filme em cartaz, sugerido por uma imagem dissolvida, revela a palavra “Hoje.
O “Hoje” da pintura, não se classifica mais como um advérbio ele se torna
atemporal e continuo.
Quase sempre, figura humana observada nas pinturas de Sena, se
apresenta em uma dimensão paralela. Na obra “Lotado Vista pelo Ônibus”
(figura 11), a imagem da ação, se encontram em um outro espaço, do lado de
fora. Em “As Moças da Sessão das Três”, as duas mulheres em primeiro plano
aparecem como uma projeção. Nas demais obras que veremos a seguir, a
figura humana nunca é apresentada diretamente, o espaço é falso e o ícone é
a representação de um reflexo.
Na minha primeira exposição tinha a obra “As Moças da Sessão das Três”
que estavam em frente ao cartaz de “O Vento Levou”. Que é uma
referência minha, da minha infância. Peguei a seção do cinema do jornal
que estava escrito “Hoje no cinema...” e disse, o hoje é atemporal, você
pega aquela cena do passado e traz para o presente. Isso o tempo inteiro
apareceu, até com outras figuras como a Rita Hayword, por exemplo. Vai
aparecer essa conexão com as divas mesmo. E até hoje aparece. Ainda
pego figuras ligadas ao cinema e crio imagens com isso. Nunca perdi essa
conexão. (SENA, 2009)
139
Figura 14Carlos Sena, “Fantasiadolescente”, óleo sobre tela, 1982
Acervo: MAG
Nesta obra “Fantasiadolescente” (figura 14), de 1982, a figura feminina
aparece como tema central. Vemos a preocupação com o volume na
composição da imagem da mulher em relação aos demais elementos. O que
era clássico e rodeado de glamour na obra de 1981, nesta pintura o tema já
passa a procurar a decadência e a condição vulgar do indivíduo. A notícia que
mostrava as sessões de cinema, nesta pintura parece remeter a oura nota.
Classificados de mulheres de programas talvez. Ao reparar a figura humana
deitada em uma cama, observamos, em associação com o título da obra, que
essa fantasia adolescente, também se projeta por entre os anúncios dos
jornais. Mídia que se encontra representada sob a mulher e forrando a cama
como um lençol. Elementos de sedução e fetiche, ganham importância na
composição. O que é possível verificar em outras pinturas no decorrer da
década. O jornal, elementos de comunicação de massa, aparece amarrando a
narrativa da obra. E os títulos das obras, vão continuamente dando o tom na
atmosfera visual das pinturas de Sena.
140
É uma pertinência poética titular um trabalho, eu gosto de dar títulos, e a
vida inteira as pessoas disseram que meus títulos são muito caretas, são
muito românticos e tudo mais. Talvez pelo trabalho não ter partido como um
desdobramento do título, o título é algo que agregou-se ali. Como passar a
idéia de uma figura que tinha muito fogo na alma, e tinha muita alma.
(SENA, 2008)
Em “Posto em Cena” (figura 06 e 15), de 1983, elementos distintos
aparecem para nortear a leitura da obra e acompanhar a narrativa apresentada
pela composição. Ao observar essa pintura, o olhar faz um caminho triangular.
Vemos em primeiro lugar a figura em pé. Seu busto emoldurado cria uma
seqüência geométrica levando o olhar ao que parece ser duas representações
de pinturas de Siron Franco e Cleber Gouveia. Descemos então o foco para a
outra figura humana. Sentada e entretida, ela se amarra ao ponto de
observação inicial por uma linha. A estrutura corporal das figuras humanas,
nesta pintura, é animalesca. A roupa, enquanto pele, sugere selvageria. Logo
vemos que o personagem sentado se relaciona com uma publicação, um signo
midiático. É possível verificar certa tendência estilística no visual das duas
figuras humanas presentes na obra. A representação do cabelo, da
maquiagem, das luvas e da postura corporal. Elementos que encontraremos
nas pinturas de Sena em todo decorrer da década.
Ao observar a obra como um todo, vemos que o suporte é uma tela
emoldurada. A pintura possui representações de outras obras. O personagem e
seu estilo, elementos da iconografia de Carlos Sena, geometricamente
enquadrado, se torna uma tela dentro da tela. O espaço da ação então é
fragmentado. Temos o espaço do observador, o lugar poético da ação e a
dimensão mágica criada pela narrativa visual que leva o a figura humana
enquadrada, a participar desse jogo de quatro pinturas. Temos ainda a
dimensão filosófica do personagem em posição de leitura, que talvez, seja a
única figura representada de fato. Sendo os elementos ao seu redor, suas mais
ousadas idealizações.
141
Figura15 – Carlos Sena, “Posto em Cena” (com moldura),
óleo sobre tela, 1983. Acervo: MAG
Podemos notar que Carlos Sena brinca com a literalidade das
expressões. Estes seres noturnos, mitológicos, em uma morfologia entre o
humano e o animal; remete a um cotidiano selvagem. A figura sentada lê a
revista Interview conhecida pelas dicas em moda, comportamento, fotos de
celebridades e sobre a vida social. Um universo artístico glamourizado dos
vernissages engendra o discurso para dois artistas goianos que, na época da
produção da obra, eram os dois grandes nomes das artes plásticas em Goiás.
A referência a Siron Franco e a Cleber Gouveia é sugerida pela representação
de duas telas adornadas pela iconografia encontrada na obra dos dois artistas.
A representação destas telas, envolve os artistas citados por Sena em um
enredo social que remonta a ocorrências do cenário artístico goiano da época.
142
Surgiu então a necessidade de desvendar o processo criativo de Sena e
descobrir se as narrativas apresentadas na tela antecediam sua execução. Ao
ser perguntado sobre este processo o artista diz o seguinte:
Uma pintura para mim ela não começa no branco de uma tela, ela começa
com uma primeira camada de pintura, então já sabendo que o branco vai
me levar para uma relação mais gráfica do desenho eu pinto a tela de uma
cor que desbloqueia completamente. De uma cor me sugere que ali eu faço
uma figura, aqui um plano, ou uma textura de uma forma x, e ela se dá em
um processo natural com o próprio fazer do trabalho. (SENA, 2008)
42
Carlos Sena apresenta nesta obra uma trama recheada de simbolismos.
Revela visão crítica sobre as peculiaridades do cenário artístico goiano e da
vida social da cidade. Notamos pelo comentário do artista, a presença na
pintura de um espaço metafísico, intercalando a própria obra com o discurso
visual nela apresentado. Dentro de uma narrativa visual crítica, as dimensões
observadas anteriormente nesta obra, ganham valores de ambição. Voltamos
então à primeira dimensão: o espaço real, do objeto, da tela. A segunda: a
inclusão da obra do artista entre os grandes nomes da arte local. Uma terceira
dimensão aparece na relação com as outras obras do museu onde a pintura
“Posto em Cena” se encontra, junto com obras dos próprios artistas citados,
alcançando assim o objetivo da narrativa com a inclusão de Sena no meio por
ele almejado.
O universo proposto por Carlos Sena possui um lugar, uma zona
espacial de existência. A atmosfera deste espaço vai ganhando ares mais
tensos de acordo com os anos, e vai se tornando mais frio e mais emocional.
Apesar do universo visual se apresentar libidinoso nas obras que veremos a
seguir, a atmosfera da composição detalhada com cores frias. O que parece
afligir este ser feminino que nela habita. A noite predomina e a luz sobre o
corpo é artificial. Flashes, globos, lanternas, lâmpadas de espelhos de
banheiro. É essa luz que revela a personagem.
A claridade da luz artificial apresenta a matéria de uma forma diferente
da luz natural e cria sombras específicas. Esta mulher das pinturas, quando
42
SENA, 2008.
143
não está sob os holofotes está na escuridão. Sem meios termos. A relação
entre a luz e a sombra extrapola a razão do volume e se confunde com a
“alma” desta figura noturna do artista. O brilho aparece como elemento a ser
perseguido e Sena, de repente, se encontra no papel da mídia para a sua
heroína. Ela só se permitem existir quando é “retratada”.
O domínio da técnica por Carlos Sena o possibilita criar relances que
misturam a naturalidade da figuração com movimentos ilusórios de fantasia. As
zonas de escuridão, a angústia e a particular representação envolvendo o
corpo humano cria tensões dramáticas onde forças primárias da natureza
humana, contrastam com um vazio interior de uma figura humana triste,
indiferente ou decepcionada.
A personagem destas pinturas possui a qualidade de sofrer em
introspecção. Olha com indiferença para o observador, como quem está sendo
vítima de uma indelicadeza. Quando me refiro a figura humana destas obras
como sendo a representação de um mesmo personagem, é por ter assimilado
a interpretação do professor Saturnino Pesquero, que como vimos
anteriormente, conecta a figura humana da obra com o reflexo de seu criador,
sendo esta. então, uma projeção lúdica do artista.
Vemos em "Uma Certa Fantasia” (figura 16), a noiva, em um sugestivo
vestido vermelho, caminhando em direção a escuridão e empunhando um
buquê como arma. Oferece o olhar, como se um fotógrafo cerimonial
testemunhasse sua tragédia ou a sua fantasia impossível. No fundo, em
imagem fantasmagórica, aparece seu rosto, como na forma de um presságio.
Uma máscara cobre seu olhar. Um semblante recortado. Uma proto-
fotomontagem, dentro do universo realista fantástico da obra. Mas, como
verificaria Bachelard, “um estado de alma tão particular que o devaneio coloca
o sonhador fora do mundo próximo, diante de um mundo que traz o signo do
infinito” (1998, p.189). O infinito nesta obra existe pela mimese da personagem
que gera uma representação contínua da figura com a repetição do ícone
humano.
144
Figura 16- “Uma certa fantasia...” – 1984 Óleo sobre tela 80 x 80 cm
fonte: catálogo da exposição “Uma Peça em Três Atos”
A imagem em primeiro plano se apresenta como um ícone do humano.
Mas a figura em segundo plano, eleva essa representação a uma relação com
a narrativa. Para o observador existe essa intercalação de relações entre a
figura humana/sua representação/e a representação da mesma. O ícone
humano nessa obra ganha um ícone narrativo adicionando a sua figura valor
discursivo. Realçando a imensidão do sujeito e perpetuando o personagem
pela sua complexidade e profundidade. “Como o imenso não é um objeto, uma
fenomenologia do imenso nos remeteria à nossa consciência imaginante” (Id.,
1998, p.190).
Sena nesta obra, não só alude a simbolismos sociais. Como a noiva que
não pode casar de branco ou pela representação do olhar triste a uma sorte de
vicissitudes que se encontram nas relações conjugais. Ele, com pincéis e
tintas, reproduz um gesto de colagem, tecnológico, de tratamento de foto, de
efeito visual, de sobreposição de imagem. Podemos encontrar uma alusão às
145
interferências visuais quando o artista compõe essa máscara e faz deste
elemento uma condição da narrativa. A montagem representada nessa obra
remete a diferentes interpretações. Seria a omissão de uma maquiagem
borrada? De olhos de lágrimas? Uma máscara social?
Na obra Será Adrenalina ou Será Purpurina?”(figura 17) nota-se
símbolos referentes ao universo dos artistas noturnos, dançarinas, stripers,
crooners, drag queens. Temos o reflexo, o brilho das lantejoulas, a lâmpada
queimada do camarim da boate e a lágrima escurecida pelo rímel exagerado. O
triste mundo de entreter o público e se aquietar no escurecer das luzes.
Figura 17- Será Adrenalina ou Será Purpurina? -1984- Óleo sobre tela 80 x 80 cm
fonte: catálogo da exposição “Uma Peça em Três Atos”.
146
O artista se desdobra em pinceladas sobrepostas contínuas para obter o
volume, a iluminação e o contraste necessários para traduzir este ser noturno.
A figura da mulher, que possivelmente se encontra em frente a um espelho,
mal pode expressar seus sentimentos. A lágrima solitária, que não chega a
brilhar como as purpurinas, é representada pela cor escura, visualmente
borrada pela maquiagem carregada. O brilho das luzes da penteadeira reflete
de forma opaca nos olhos da figura entristecida. O reflexo do espelho sugere
uma relação mimética com a imagem. Mesmo que visualmente só se mostre a
unidade, sabe-se que o seu duplo está oculto ali, podendo ser tanto o próprio
artista quanto um outro observador. Mas a figura é uma representação
feminina, e Sena se afirma nos anos 80 como um renovador da representação
da mulher na pintura goiana.
Figura 18- Carlos Sena “Diva”, 1984, Óleo sobre tela 80 x 80 cm
fonte: catálogo da exposição “Uma Peça em Três Atos
147
Na obra “Diva” (figura 03 e 18), a posição da mulher representada
remete a um gestual simbólico. O ombro levantado, o olhar indiferente, a
postura elegante e blasé da “Diva”, realça maneirismos de relações sociais. É
uma postura de defesa talvez, de não querer se entregar, ou se abrir, para
evitar futuros sofrimentos. Estes elementos simbólicos atentam para os
diferentes contextos de vida, de passado e de perspectivas futuras que
envolvem o ser humano. A solidão, a tristeza e a angustia são sentimentos
reais, assim como a paixão, a felicidade e o deslumbramento. O maneirismo
gestual funciona como instrumentação para esconder estes sentimentos. E
Sena se utiliza desses códigos para compor a narrativa desta obra. Esse gesto
corporal observado em “Diva” também será observado na obra “Anima ou
Anima”(figura 19). Na primeira ele sugere proteção na segunda o mesmo gesto
denota sensualidade.
Os títulos das obras de Carlos Sena fazem parte da composição do
tema da pintura. Direciona o olhar e a interpretação, assim como ocorre nas
obras realizadas dentro da vertente transvanguarda. Em “Diva” vemos esta
figura que mergulha em sua própria subjetividade sem se envolver com o
ambiente externo, o qual considera desprezível. O olhar indiferente se faz
provocador. Assim como no meio artístico, e na comunidade queer, os meios
sociais de refinado apuro cerimonial tendem a ver a atitude blasé como
sofisticação. Afinal, a Diva não quer perder sua “aura”, ela é única e especial.
Apesar desta sofisticação, não parece ter saído de uma das páginas da revista
Interview. O glamour alavancado por Sena nesta pintura, remete a uma atitude
mais intensa e verdadeira. Sua crítica à massificação da cultura envolve
exatamente este posicionamento a favor da verdade comportamental
apresentada pelo sofrimento e pela peleja da vida, em detrimento da moda de
costume construída pelas revistas e pela televisão.
A obra “Diva” é tão explícita que não precisamos ter acesso a uma outra
dimensão para notar que a figura, delicadamente maquiada e bem vestida, está
de coque. O que se vê em segundo plano não é uma lua, divas não saem ao
relento, ficam sob os holofotes. O fino penteado é circunscrito dentro do
canhão de luz, gerando uma forma embrionária, como que sugerindo seu
nascimento para o palco e para o espetáculo. A fina seda que envolve seu
braço como uma luva e o leve batom vermelho, oferecem a mínima e suficiente
148
cor quente na obra, necessária para que a composição não se perca na
frigidez.
Carlos Sena, nesta obra, joga com seu domínio de luz e sombra criando
no plano uma perspectiva totalmente forjada pelo contraste. Tendo por vetorial
o subconsciente, elabora planos geométricos sugeridos pela natureza da
relação entre a musa e a iluminação. O olhar entediado emoldurado pelo
excesso de pancake reverbera em ondas através dos cabelos da Diva. Ecoa
na luz do holofote se multiplicando na atmosfera do palco e da vida.
Na pintura “Anima ou Anima” (figura 19, p.149) a proposta de articulação
entre a estética e a ética foge ao modelo difundido pelo padrão burguês, pois
ela não é oferta generosa de respostas, de catarse. A capacidade de
elaboração temática de Sena extrapola tal modelo que os níveis de
interpretação de seus códigos variam de acordo com a profundidade de
interpretação. Esta obra pode ser oferecida como denúncia ao preconceito,
expondo as feridas de nossa trama social, trazendo à tona as contradições da
moral burguesa. Mas a palavra denúncia possui um teor político que não faz
parte do universo poético do artista. Suas obras tendem muito mais ao
voyeurismo do que à analise social, Sena revela esse mundo porque o acha
curioso e fascinante. Podemos ressaltar nesta pintura a relação inter-racial
traduzida como uma união pela exclusão entre núcleos sociais. Mas se
reconhecermos a simbologia do espelho na obra, a análise da relação entre os
personagens favorece ainda mais o discurso comportamental.
O elemento espelho é sugerido pelo rabisco de batom. Portanto, se há o
espelho, também o reflexo. Observando as obras anteriores vemos este
elemento claramente citado na obra “Será Adrenalina ou Será Purpurina”
(figura 17), e tanto em “Uma Certa Fantasia...” (figura 16), quanto em “Diva”
(figura 03 e 18) vemos uma expressão de contemplação na representação dos
códigos do olhar. Como se o personagem estivesse encarando o observador
da pintura. Estariam eles se autocontemplando?
Se a tela é o espelho, então pode-se deduzir que o artista desenvolveu
todo este universo onírico com suas dimensões e atmosfera gélida para ele
mesmo habitar. E com todo o poder sobre o seu mundo, se fragmenta ao
prazer de seus sentimentos. O auto-retrato idealizado trafega em forma e
sentido por todos os cantos do desejo com o respaldo da liberdade criativa.
149
Figura 19- Carlos Sena “Anima ou anima ” (tamanho grande), 1984,
Óleo sobre tela 80 x 80 cm, fonte: catálogo da exposição “Uma Peça em Três Atos
Em dissertação defendida no programa de pós-graduação em Cultura
Visual pela FAV, em 2007, Adair Marques (2007, p.98) faz o seguinte
comentário sobre a obra de Sena:
Em seus trabalhos, são facilmente identificadas imagens de figuras
grotescas, extravagantes, que se destacam por traços de dubiedade,
erotismo e sensualidade mesclados com um glamour que faz referências a
imagens dos ícones de cinema de Hollywood, mas, concomitantemente,
espelham sua debilidade e decadência.
Adair remete a uma passagem do livro de José Amícola “Camp &
posvanguarda - manifestaciones culturales de um siglo fenecido” de 2000, e
verifica o artista dentro de uma atitude provocadora. Reconhece em seu
150
trabalho que essas construções, imagens e sentidos desencadeiam idéias e
estímulos provenientes de territórios marginais que passam a ser parte da
cultura e, no caso específico de Carlos Sena, da ‘Cultura/Arte Erudita’”.
Na obra “Mulher com olhos de Galo de Briga” (figura 20) vemos o
advento da maquiagem extravagante em composição com um chapéu da
década de 30. O pós-modernismo reconhece a relatividade temporal. Dentro de
seus princípios a história da iconografia mundial é um grande armazém
esperando para ser reutilizado. A maquiagem carregada, comum na década de
80, compõem o visual desta figura que não consegue se enquadrar nos limites
propostos pelo porta-retrato. Sena mostra nessa obra que as fronteiras são
subjetivas, que o limite é uma convenção. Sutilmente a representação dos
cabelos aparece invadindo uma outra dimensão, rompendo a estrutura do
espaço delimitado.
Figura 20 Carlos Sena, “Mulher com olhos de Galo de Briga”, óleo sobre tela, 1984, 80 x 80 cm
fonte: catálogo da exposição “Uma Peça em Três Atos”
151
O rompimento dos limites e a quebra de parâmetros são atitudes
combatidas de imediato pelo núcleo da sociedade. Com a intenção de manter
uma determinada ordem e preservar o costume e a tradição, a sociedade se
fecha para toda manifestação que possa vir afetar a estrutura imposta. Nesta
obra, que o artista define o gênero da figura, a sutileza na transgressão cola a
obra como uma metáfora. A mulher, com os olhos pintados, está pronta para a
briga, como sugere o título da pintura. A personagem parece não caber mais
naquela vida enquadrada e com limites, simbolicamente apresentada pelo
porta retratos. A maquiagem carregada, os olhos amendoados e a “boca de
boneca” são detalhes observados em todas as representações humanas de
Sena desta fase estética. Estes elementos fazem referência as máscaras
circenses, as fantasias e indumentárias que o artista guarda na memória desde
sua infância.
Carlos Sena possui uma iconografia particular. A estrutura formal de
suas pinturas dialoga com a nova figuração e com o realismo mágico e
fantástico observados no Brasil nas obras de Ismael Néri, Roberto Magalhães
entre outros. Destas pinturas de Sena aqui apresentadas, todas da primeira
metade da década de 80 compõem seu momento introspectivo e de poesia
pura e limpa. Notamos nestas obras a aplicação de uma técnica em que a
preocupação com os detalhes, volumes e com a unicidade estrutural
conseguida pela veladura, se fazem primordiais no processo de composição
destas pinturas. Poucas ocorrências de cores quentes e o gestual oculto pelas
pinceladas sobrepostas dão o tom das obras do artista da primeira metade da
década de 80. Pode-se reconhecer esse período como a fase formalista de
Carlos Sena.
3.2 A fase experimental: algumas obras da segunda metade da década de
80
Como podemos conferir anteriormente, as obras de Carlos Sena que
apresentam a desconstrução da figura humana, foram mostradas pela primeira
vez na exposição “INTER(E)FÊRENCIAS”, realizada no ano de 1985. Este
caminho de desconstrução de uma iconografia tão cautelosamente construída
152
no decorrer da década gerou saltos radicais e expressivos. A inserção de
objetos da cultura popular e regional pediu uma composição mais
expressionista, e mais tensa. O artista encontra na utilização do spray e na
scara de estêncil, junto com uma pintura mais nervosa, essa tensão que
procurava. A visita à abstração ocorreu durante esse período e o suporte
mesmo sem perder sua hegemonia é constantemente questionado.
Vemos nestas obras da fase experimental do artista a mais pura
expressão da arte livre. Desprendida do mercado e voltada à conceitualização.
Como numa resposta ao meio dominado pela indústria cultural, o artista se
desnuda e apresenta ao público uma série de obras carregadas de expressão
gestual. Esta pesquisa, durante todo seu desenrolar, procurou apresentar esse
diálogo que Sena travava com o cotidiano do meio artístico através de suas
pinturas, e estas obras que serão apresentadas a seguir, é um esbravejar de
tudo o que foi processado durante a década e estava entalado em seu
discernimento crítico. É curioso observar esse caminhar, pois, ao
acompanharmos toda sua construção formal do primeiro período, algumas
obras da segunda fase ainda se apresentam marcantes em relação à produção
anterior. Uma mudança brusca e radical é observada em algumas obras. A
expressividade latente da nova produção encerra o puro e limpo ato do primor
detalhista da fase anterior, o que faz estas obras do segundo período ainda
carregar seu poder estético e ainda possuir o fôlego da ruptura. Ruptura esta,
que além de se ausentar do circuito mercadológico, fez o próprio artista
enterrar o seu passado formal e desenvolver todo um novo pensamento
estético.
Estas obras que serão aqui apresentadas foram realizadas durante um
processo de desconstrução ao qual o artista se entregou e que ajudou a
formular a arte que vem desenvolvendo hoje em dia. Fato que se inicia em
1983 em decorrência da mostra “Eu e mais Três”, em que o artista já mostrava
inclinação à experimentação. Nas obras a seguir, será possível verificar essa
ação seqüencial que levou Sena a transitar entre a nova figuração e o
expressionismo abstrato. Para a análise dessas obras, que tendem a dialogar
com diferentes escolas artísticas, continuaremos fazendo valer as observações
de Gullar e Bachelard, quando elementos iconográficos se mostrarem válidos
de descrição.
153
Da exposição “INTER(E)FÊRENCIAS”, apresentaremos aqui três obras.
“A Primeira” (figura 21), “A Segunda” (figura 22) e “Prancha VI com Cocar Kraô
(figura 07, p.73). Na obra, “A Primeira”, vemos uma relação entre a fase
formalista e a fase experimental do artista. Esse diálogo entre as duas
diretrizes de composição apresenta uma obra distinta, onde a figura humana
ainda se faz presente, mas sua forma vai aos poucos sendo dissolvida pela
expressividade da composição. Nesta obra observamos esse processo do
artista, no ato de zerar todas as convenções da arte tradicional em traços
incisivos e livres. Juntamente com o uso inusitado da cor, constrói um
imaginário singular, algo como um futurismo carnavalesco, mas apartado de
qualquer regra obediente a cânones preestabelecidos. Sena rompe sua relação
com a representação volumétrica surrealista nesta obra. O personagem
presente, observado em todas suas pinturas do início da década, quebra o
espelho, quebra a reflexão e se entrega a emoção pura do ato expressivo.
Figura 21- Carlos Sena “A Primeira” óleo sobre tela, 1985. (coleção particular)
154
Em “A Segunda” (figura 22), a figura humana já se apresenta quase que
totalmente submergida pela composição expressiva, somente a face da figura é
reconhecível. Dois elementos ao centro, fazem a sugestão de corpos
orgânicos, mas a predominância é do movimento e da trepidação. Devemos
essa relação com o movimento futurista italiano, ligada mais pela aparente
trepidação da vida, do que pela desconstrução da imagem. A ênfase dada pelo
artista ao “apagamento” da identidade do homem, sem traços corporais
distintivos, somente a face perceptiva, pode ser entendida dentro da
complexidade da relação do homem com o novo cotidiano das cidades em
desenvolvimento, assim como a visão do individuo dissolvido na massa
populacional.
Figura 22- Carlos Sena, “A Segunda”, óleo sobre tela, 1985.
fonte: Catálogo “INTER(Ê)FERENCIA
155
Como poderemos observar na obra “Prancha VI com Cocar Kraô” (figura
07, p.73), da mesma exposição, as preocupações experimentais de Sena não
se ligavam a um movimento específico. O artista se utilizava de códigos de
composição para expressar essa fase de transformação pela qual suas
observações sobre os acontecimentos ganhavam formas mais radicais. Suas
imagens, que se apresentavam estáticas e introspectivas, agora se cercam
dessa movimentação futurista. A figura humana, ainda que presente, é
envolvida por uma atmosfera enevoada obtendo um senso cinemático de
instabilidade e dimensão.
Estas duas pinturas da nova fase de Carlos Sena, por outro lado,
mostram sua relação intensa com a representação humana. O personagem
ainda apresenta as faces nitidamente delineadas, nas quais os detalhes
externos são reunidos para criar grandes zonas abstratas. Áreas compostas
por cores escuras e frias, paleta comumente usada em sua fase anterior. As
linhas diagonais que aparecem na obra “A Segunda”, e que criam essa
movimentação, uma trepidação na atmosfera da pintura, também alcança uma
relação com a plumária carnavalesca da obra “A Primeira”, gerando uma
organização de elementos que observamos formalizados na “Prancha VI com
Cocar Kraô” (figura 07, p.73). Tanto nas obras “A Primeira“ como em “A
Segunda”, as cores fortes entram como elemento de luz. Perdurando a
atmosfera sombria e fantasmagórica, elemento presente em inúmeras pinturas
do artista da década de 80.
Figura 23- Carlos Sena, “Prancha I”, assemblage, 80 x 80 cm , 1985
Acervo: MAG
156
Algumas obras, que não entraram na exposição
“INTER(E)FÊRENCIAS”, mas que ilustram essa passagem do artista pela
abstração, dialogam com o processo de composição do trabalho “Prancha VI
com Cocar Kraô” (figura 07, p.73). Estes trabalhos partem de uma mesma série
produzida no ano de 1985.
É possível observar na obra “Prancha I” (figura 23), este processo de
união de elementos da cultura popular. Rolos de filmes de cinema e confetes
de carnaval. Elementos unidos por linhas horizontais e verticais produzidas por
spray. Estes sprays de tinta automotiva, utilizados também nas técnicas do
grafite, confere uma união simbólica entre cultura marginal e popular. Essas
colagens, máscaras e grafites apontam, dentro desse jogo de união simbólica,
para uma expressividade autoral, que não se inclina ao devir. Trafegando
sempre em direção à experimentação, rumo a um suposto momento de
realização plena da forma plástica. Nota-se que o artista pretendia essa relação
com a abstração. Uma busca por caminhos distintos à figuração. Observando
este trabalho a olho nu, é possível porem verificar uma face humana sugerida
pela organização dos confetes, formando um rosto que, como nas penumbras
observadas em outras obras, salta sutilmente o plano e indo de encontro ao
observador.
Figura 24-Carlos Sena “Prancha III”, spray sobre duratex, 80 x 80 cm , 1985
Acervo: MAG
157
Vemos que na série de “pranchas” a proposta era um distanciamento da
figura humana. A representação do homem desaparece no trabalho “Prancha
III" (figura 24) assim também observado no trabalho “Prancha VI com Cocar
Kraô” (figura 07, p.73). Neste “Prancha III” o artista se atém ao plano, não
inserindo objetos, e nem remetendo a cultura regional. É possível observar a
composição em torno dos elementos cinematográficos e da arte marginal. No
caso especifico desta série, o artista concede a produção de cataclismos com o
processo de composição em técnica mista. Promovendo uma nova busca para
a representação de sua memória associando a nova produção a sua
iconografia. Sena revela simbolismos de seu próprio imaginário, apresentado
elementos comuns á sua temática, mas em outro contexto, em outra forma de
se referenciar. Se a negação da figura humana é contemplada neste trabalho e
em outros da mesma série, o conceito já convencional de estranhamento,
observado anteriormente, se preserva e não se compromete pela abstração.
A utilização das formas e das cores nestes trabalhos, talvez funcione de
maneira mais eficaz que os semblantes humanos em uma narrativa de
expressão de tormento. Uma vez que, tanto a concepção no campo formal
quanto na composição abstrata, a narrativa possui uma mesma origem: o
próprio imaginário do artista. Nesta série “Pranchas”, o foco se dá pela
revelação da permanência da simbologia do cinema, dialogando em franco
embate com o grafite da arte marginal. E o artista, com esta postura, reafirma a
si mesmo e à sua maneira de encarar sua produção.
A série “Pranchas”, funciona como um espaço de reflexão do artista
sobre sua arte. Dentre todas as obras observadas, produzidas na década de
80, esta série se apresenta como um processo livre em que a experimentação
atingiu resultados plásticos que se mostraram possíveis, abrindo uma nova
fronteira para seu processo criativo. No entanto, por mais que os sentidos da
produção pictórica indiquem a riqueza na pluralidade de expressão de um
imaginário próprio, na organização de elementos gráficos e gestuais, as
produções dos anos seguintes voltaram a forma e a reverência à figura
humana.
Este fato é observado na obra “É Fantástico” (figura 10, p.84), de 1986.
O artista nesta obra resgata a figura humana, mas prossegue na
experimentação, e na utilização do suporte como elemento de composição.
158
Esta obra, retorna o artista à composição clássica da figura. O nu feminino
confere todas as proporções da representação humana clássica, mas
configurado dentro de um universo geométrico. A tela recortada evidencia a
silhueta da figura, dialogando o perfil libertado, não só com os elementos da
composição, mas com a sombra proporcionada pelo vazado. O recorte da tela,
a subtração de grande parte do plano, retira junto a relação com o
bidimensional. Adicionando o espaço, a sombra e a dimensão infinita do vazio,
a obra ganha a dimensão do espaço, (espaço muitas vezes reivindicado nas
pinturas da primeira metade da década). Essa exploração dos limites do
bidimensional possibilitou a “abertura” física para os trabalhos que viriam
aparecer nas décadas seguintes.
Para finalizar essa visita às obras de Carlos Sena produzidas na
segunda metade da década de 80, apresento mais uma tela, realizada em
1986, que tem por título “Jogo” (figura 25).
Figura 25- Carlos Sena “Jogo”, óleo sobre tela, 100x100cm, 1986, Acervo: MAG
159
Se as primeiras telas de Carlos Sena de sua fase experimental serviram
como contraponto à pintura da primeira metade da década, e sua pesquisa do
espaço compositivo assim como na abstração, produziu obras significativas;
sua visita ao óleo sobre tela, às dimensões estabelecidas pelo suporte, e à
figura humana, sempre se fez possível. O que podemos observar é que, esse
trânsito entre as concepções espaciais, entre as combinações de objeto e
técnicas, gerou uma abordagem mais mística na representação da forma.
Nesse território redefinido menos preso aos preceitos iniciais, mais
confiante na própria experimentação visual, e portanto, tendente a explorar
mais as possibilidades estéticas da pintura, o artista se sente livre dos dogmas
de sua obra já assimilada. Essa nova situação se apresenta fundamentalmente
positiva para a aplicação de uma nova formalização da figura humana. Vemos
na pintura “Jogo” (figura 25) uma demonstração do artista sobre a subtração do
volume em sua obra. Este trabalho apresenta-se simbolicamente importante
para fechar esta pesquisa, pois o artista, se utilizando de todo seu imaginário e
técnica, demonstra visualmente em uma única cena, tudo o que tentamos
ressaltar sobre sua pintura dos anos 80. Esse “Jogo” apresentado é o embate
entre seus dois momentos artísticos. Distintos e próximos, esses dois períodos
que envolvem a construção e a desconstrução da figura humana são
visualmente representados pela relação entre os dois personagens presentes.
Ao observar a figura representada em vermelho, percebemos sua
unidade com o plano da tela. Esta ausência de volume da figura é observada
pela dureza da sugestão da sombra na unidade corporal. A face possui um
volume escultórico, duro e chapado. Se existe um volume na figura de pé, este
volume é irreal. Esta imagem contrasta com a figura sentada, concebida dentro
dos padrões clássicos do artista. Sua face recebe o tratamento de fusão entre
o claro e o escuro, e os adornos são meticulosamente construídos em
unidades esféricas. Esta figura se relaciona com a imagem de pé, por um
“jogo”, representado por uma linha tênue que alude às diferenças formais de
composição.
160
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reverenciado ou maldito, Carlos Sena foi um artista que fez de sua
trajetória um caminho de encontro com a arte. Desde sua primeira viagem, aos
seis meses de idade em caminhão pau-de-arara, até sua exposição em 1989,
revivendo todo seu processo artístico durante a década de 80, muita água
passou, ou melhor, muita tinta. Sua vida durante a infância é repleta de
curiosos acontecimentos, sua adolescência é marcada pela busca de seu lugar
no mundo e sua fase adulta se dá pela experiência desse lugar encontrado.
Sena chegou em Goiânia aos poucos, visitou, observou e se decidiu. Em
menos de uma década já era um artista goiano.
Durante a década de 80, o cenário das artes visuais de Goiânia foi
bastante movimentado. Artistas vinham do interior, e de outros pontos do país,
fixando residência na cidade e batalhando um lugar ao sol neste mercado que
se mostrava bastante promissor. Artistas jovens surgiam cada ano com os
Salões de Novos Valores e o interesse pela arte local crescia
proporcionalmente ao avanço do artista Siron Franco no cenário nacional. As
matérias observadas no jornal O Popular revelaram um curioso momento na
história da cidade onde os artistas plásticos conseguiam sobreviver sem o
auxílio de políticas culturais assistencialistas, que eram praticamente
inexistentes, em cunho regional, na primeira metade da década.
Muitos fatores levam a presumir que o cenário artístico goianiense da
década de 80 resumia-se na mercantilização da obra de arte. Realmente, um
favorável período econômico vivido por uma pequena parcela da sociedade
alimentou o cenário de forma decisiva e Carlos Sena desfrutou muito bem
desse período. O artista produziu mais de 500 telas nos anos 80 e todas foram
vendidas. Durante um bom tempo Sena foi agraciado pelo mercado e sua arte
foi consumida por toda a sociedade a qual o artista não se acanha em criticar.
Mas por outro lado, mesmo estando inserido neste contexto e se envolvendo
de forma intensa com o comércio de arte, Sena apresentava em suas telas
todo um repertório irônico sobre o cenário artístico da cidade, sobre as galerias
freqüentadas pela alta sociedade, e o mercado de arte local.
161
A trajetória de Carlos Sena é composta por realizações e conquistas e
sua arte segue em paralelo como um reflexo lúdico dos acontecimentos. Ao ler
textos de jornalistas, professores e críticos da cidade, foi possível observar as
inúmeras tentativas de enquadrar suas imagens em leituras psicanalíticas e
estéticas. Neste trabalho procuramos a todo instante uma verificação de
elementos presentes em suas pinturas. Mas o que podemos tirar de certeza de
todas essas análises e observações é que Sena criou um universo iconográfico
próprio. Suas figuras humanas, suas “Divas”, sendo ou não o reflexo fantástico
do artista, são reconhecíveis e distinguíveis. O artista criou um imaginário que
se enraizou na arte goiana, e como foi possível constatar em conversas com
interessados, é que ao falar de Carlos Sena, a imagem de suas “mulheres”
sempre vem à lembrança. Certamente, dentre todas suas conquistas durante a
década de 80, a inserção de sua iconografia no imaginário da cidade foi a
maior. É muito comum mostrar para alguém uma imagem de uma obra de
Sena desse período, e a pessoa lembrar ter visto essa obra em algum lugar.
Na verdade o que ocorre é a relação iconográfica. A pessoa já viu uma obra de
Sena desse período, em algum museu, ou em alguma residência, e faz essa
relação visual com a obra citada. Essa experiência foi realizada e isso é um
fato que realmente acontece.
As mulheres de cabeças alongadas, ou “cabeçudas” como dizem alguns,
representaram a figuração feminina na arte goiana por entre os anos. As
tradicionais exposições do Dia das Mães, na Época Galeria, sempre contavam
com uma das mulheres de Sena. Estas damas, às vezes da noite, às vezes
deitadas na cama nuas, queira alguns ou não, eram mulheres goianas. O
artista dominou a representação feminina e dominou o semblante da tristeza. O
desespero em suas pinturas, em sua maior expressividade, era apenas
representado por uma lágrima. Estes personagens, a que tanto nos referimos,
parecem ter alma, e uma alma forte. Ao contemplar uma dessas obras, o olhar
da figura, pressupõe toda a narrativa da imagem. Para um olhar dizer tanto se
faz necessária uma licença poética para encontrar alma nessa massa de tinta
sobreposta. Divagações à parte, as pinturas da primeira metade da década, a
fase de confirmação profissional do artista, foram as obras que levaram esta
pesquisa a ser realizada.
162
Inicialmente foi, por mim, observado uma distinção comportamental nas
figuras humanas presentes nas pinturas de Sena, as quais me fizeram associar
o artista com a arte marginal. Neste primeiro momento tinha o artista como
sendo o Plínio Marcos da pintura goiana, e a observação da técnica se fazia
eclipsada pela iconografia da obra. Esta relação pareceu ingênua à princípio e
no mais, fora dos propósitos. Afinal essas obras que até então eram
observadas, se consistiam em pinturas que prezavam a construção formal e
sem o menor resquício de subversão. Confesso que não foi um momento fácil.
Afinal estas imagens, diziam tanto sobre um universo de exclusão, renegado
pela sociedade, que de algum modo, por trás daquela técnica magistral,
haveria a possibilidade de encontrar essa relação do artista com uma postura
artística de rompimento com os valores tradicionais. Foi então que apareceram
as obras da segunda metade da década de 80.
Parafraseando Ferreira Gullar (1995, p.13): “O hábito, que nos é
imprescindível para viver, contraditoriamente embota o fio das lâminas da vida
e da arte”. A própria arte já é, ela mesma, uma ruptura com o hábito, uma
linguagem contundente que nos aguça a capacidade de perceber e sentir.
Apesar disso, nos habituamos com ela e, de repente, já não reagimos a seus
estímulos. Sena percebeu a necessidade de descondicionar sua relação com
as linguagens que antes o atingia. Sua imersão experimental foi um processo
de renovação de seu olhar crítico e de sua capacidade de percepção.
Todo o processo angustiante de ruptura é observado em suas idas e
voltas à figuração, ao óleo sobre tela e ao plano. Este período me pareceu já
prenunciado pela forma que jogava com os elementos das composições da
primeira fase. As críticas visuais, as sugestões de quebra do espaço e do
tempo, a narrativa por entre todos os elementos presentes nas obras de seu
primeiro período já mostravam uma vontade de se fazer libertar. Mas junto com
a desconstrução de sua arte, Sena também desconstruiu seu mercado
artístico. A fase de excelência comercial passa, assim que apresenta suas
novas proposições estéticas. A facilidade comercial de suas obras foi
sucumbida por sua introdução, no mercado goiano, de trabalhos artísticos que
não são de agrado comercial. De 1985 em diante, Sena é amaldiçoado pelo
comércio de arte local e sua fase maldita lhe perseguiu por um tempo generoso
por entre os fins da década de 80.
163
Há que considerar que esse período de maldição vem precedido de um
momento de êxtase profissional e financeiro. Sena vinha de um momento
frutífero. Sua arte estava sendo consumida e sua iconografia estava por todos
os cantos. Suas novas obras eram esperadas com entusiasmo pelos
compradores. Ter uma de suas mulheres nas paredes de casa era um desejo
real por parte da alta sociedade. Portanto muita gente se decepcionou ao ver
que o momento de consumir aquela arte limpa e formalista, tinha passado.
A obra de Carlos Sena da nova fase partia de uma linguagem figurativa,
que não desprezava o vínculo com a realidade e se valia dela para imprimir
“realidades” à suas experimentações. Mesmo nos trabalhos onde exclui a
figura humana, encontramos resquícios de formas orgânicas que lembram
faces e corpos. Essa capacidade de reinventar foi o que deu o tom trágico do
fim de sua produção em pintura.
Hoje o artista cria em suportes diversificados e em sua produção
bidimensional se faz valer de mecanismos tecnológicos. Sena segue criando
dentro do pensamento contemporâneo. As tecnologias, as novas proposições,
tudo que for passível de ser utilizado pelo artista para compor seu imaginário
visual é absorvido como possibilidade factual. As novas obras, as novas
mídias, discussões estéticas contemporâneas fazem parte de suas
preocupações atuais, mas sempre concebendo a iconografia dos novos
trabalhos dentro de seu imaginário pessoal. As divas, o cinema, a noite, o
glamour decadente e claro, em companhia a estes já citados, os elementos da
cultura popular. Tanto nas obras da década de 80 quanto nas manipulações
visuais que vemos hoje Sena preserva a relação com o ícone.
A produção de Carlos Sena, da década de 80, mesmo em suas
embarcações experimentais, celebrou de fato foi a pintura, como corpus de
conhecimento diversificado. O que podemos perceber é que a tela foi
explorada pelo artista em todas suas possibilidades. A arte produzida por Sena
durante todos estes anos verificados, narrou, criticou, divulgou, retratou, foi
cortada, colada, adicionada e totalmente explorada. Os anos 80 foram os anos
da pintura para o mundo, para o Brasil, para Goiânia e para Sena. O artista,
inserido na arte goiana, construiu, desconstruiu e forjou uma obra intensa,
consistente e repleta de simbolismos. Alguns deles ainda ocultos, mas prontos
para serem descobertos.
164
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Entrevistas
SENA, Carlos. Goiânia. 11 de abril de 2008.
SENA, Carlos. Goiânia. 07 de março de 2009.
170
Anexos
(entrevistas e matérias de jornal)
171
- TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA COM ARTISTA PLÁSTICO CARLOS
SENA REALIZADA EM 11 DE ABRIL DE 2008
A - Qual sua relação com a arte outsider e a influência que ela
proporciona em sua obra?
S - Quando eu me posiciono como um outsider dos anos oitenta, não é por
estar inserindo em um movimento underground, mas é por estar a margem
daquilo que estava se socializando nos anos oitenta. Nos anos oitenta
acontece uma estabilização muito grande na economia mundial e o mercado
de pintura fica efervescente no mundo todo, inclusive no Brasil inclusive em
Goiás. As duas grandes tendências do período são, a transvanguarda italiana e
o neo-expressionismo. Era a bola da vez no mundo todo, inclusive no Brasil
inclusive, em Goiás. Claro que adaptado a uma outra realidade tropical e
colorista não era tão agressivo, digamos,como o alemão, ou tão nova figuração
como seria o italiano. Essas questões foram digeridas e adaptadas aqui, e a
bola da vez era isso todo mundo que queria dizer estar na crista da onda
navegava nestas duas tendências. No meu caso nunca quis estar afinado com
tendência alguma porque minha questão era muito particular. Por isso que eu
falo que eu era um artista a margem, outsider, porque me interessava pintar
como um mestre clássico. Eu fazia uma pintura que era uma das mais
clássicas possíveis, veladura renascentista, trinta, quarenta camadas de tinta
sobrepostas, e no final tinha que ficar muito lisa e muito perfeita, o
perfeccionismo era umas das questões que eu perseguia, então eu não era
exatamente afinado com as tendências.
Em relação ao grafite, por exemplo, Keith Haring nos EUA, Alex Vallauri
no Brasil, então era se copiado por gerações a fio. Antes de essa onda surgir
aqui em Goiânia o Siron já tinha grafitado o muro da Galeria Casa Grande, em
Goiânia que hoje é chama-se Jaime Câmara, ele produz esse grafite aqui
depois o Ênio Porto começa a fazer isso em telas, mas tenho consciência que
ele sabia da onda internacional mesmo sabendo que a comunicação aquela
época era muito ruim, ele tinha contato com artistas mais ligados aos
acontecimentos internacionais. Por amizade a esta figura especifica
resolvemos dividir uma exposição e ele assimilou muito da minha pintura, a
pintura dele ficou mais comportada, era mais punk, e a minha assimila o grafite.
Eu levo vários elementos da chamada cultura popular para brigar com essa
pintura mais eruditizadaque eu fazia, eu agrego cocar de índio, estatuetas da
cultura popular, papagaios e pipas. Uma serie de objetos que era da cultura
popular e pixo como um grafite.
O Museu de Arte de Goiânia tem um trabalho que acho muito simbólico
neste abordagem que chama-se “Pixxxxxxxxx nos curuminhos ” fazendo alusão
ao som produzido pela lata do spray ao realizar-se o ato da grafitagem). Claro
que isso foi um grande choque na cidade porque no ano anterior eu tinha feito
minha primeira exposição oficial. Ela não foi de fato a primeira porque já tinha
feito uma outra individual anterior no Hotel Bandeirantes, mas em galeria foi a
minha primeira. Na galeria Arte Antiga que depois virou galeria Marina Potrich.
E foi uma exposição muito bem recebida, foi um sucesso em termos de
aceitação de público e de mercado. Daí eu fiquei a bola da vez. Isso coincide
com duas incursões minhas no cenário nacional. Quando minha arte foi citada
172
na revista Veja e na IstoÉ..., então nesta época foi como se eu tivesse virado a
promessa do futuro, aquele que iria ocupar o lugar sagrado da arte goiana. E
um ano depois você pega tudo isso e pixa, grafita e taca fogo. Então isso foi
recebido com muito impacto e com muita estranheza, não entro em detalhes
em exatamente com o que aconteceu, mas a exposição foi interditada pela
Justiça Federal, e as obras impedidas de chegar as mãos das pessoas. Uma
rie de complicações. Foi uma virada muito radical.
A - Você sentia muita resistência no âmbito da arte local por se colocar
sempre em choque com a vontade e opiniões do circuito?
S - De início era exatamente o oposto, eu era o querido pelos colegas, pelos
professores. Pelo circuito que começa a me assimilar como promessa. Durante
uma época eu viro o querido mesmo, uma figura bem quista e respeitada, até
apesar de ser muito novo. Mas quando eu resolvo fazer uma arte mais
experimental, foi punk. As pessoas achavam que eu tinha pirado que eu tinha
enlouquecido. Me perguntavam o porquê de ter feito aquilo, me perguntavam
se por acaso eu já tinha o nome firmado para poder arriscar inserir no mercado
qualquer coisa que eu faça, etc.
A - Em suas obras do início da década de 80, de construção mais
clássica, nota-se elementos de um glamour decadente, simbologias do
universo outsider. Confere?
S - Tem uma frase que diz assim “Decadence Avec Elegance. Um mundo
muito decadente é claro, é um glamour sim, mas é um glamour decadente. As
minhas grandes influências na arte elas não vem de outros pintores. Se você
me perguntar quais os pintores que mais te influenciam, direi que não são
muitos não, eu gosto muito do Van Eyck pré-renascentista holandês. Não são
muitos. Eu gosto mesmo é de gente do cinema. Eu gosto muito do Feline por
exemplo. Eu acredito que o Feline me influenciou mais do que qualquer um. A
estranheza das figuras dele que falavam de uma certa pompa, que você está
chamando de glamour, mas que ao mesmo tempo falava de uma certa
decadência da espécie humana e tudo mais. Isso me influenciou. Lembro de
uma época em que as pessoas diziam que todas as minhas mulheres eram
homens, que eram travestis, e eu ficava meio que emputecidocom isso, eu
ainda com minha sexualidade não de toda resolvida e achava estranho esse
tipo de colocação. Mas hoje eu escaneandoas imagens para você eu percebi
que era verdade. Elas estavam lá.
Uma outra coisa que na época eu não aceitava era que as pessoas
falavam de uma certa influência de Siron Franco na minha pintura. Afinal eu
estava procurando meu próprio caminho, um caminho à margem e tudo mais .
Mas também lidando com essas imagens e lidando com as imagens do Siron
da época você percebe várias coisas que ele avançou na pintura dele e que
não só eu mas toda minha geração tomava aquilo como padrão toma isso
como medida. As minhas influências então é da minha vivencia pessoal,
ligados à meu passado, ligados ao cinema, ligados a Hollywood essa coisa
toda, e a realidade local. Como vinha falando, a comunicação perto da de hoje
era de se desejar, só em meados dos anos oitenta que aparecem dois veículos
173
fortes como as revistas Galeria e Guia das Artes, é que é a medida para se
saber o que estava rolando lá fora, mas era tudo girava meio que em torno da
arte local. Como o mercado estava muito bom ela era muito autofágica, ela era
feita aqui e digerida por aqui, e isso de certa forma te esgotava a não permitir
vôos maiores e até a tentativa de arrebentar com esse consumismo local e
abrir espaço para um outro tipo de investigação é que me fez, em determinado
momento, romper de fato com isso. Isso vai acontecer algumas vezes de fato
na minha vida, essa fase experimental que vínhamos comentando não foi o
único momento.
No final dos anos noventa quando o mercado fica muito ruim para arte,
mas que coincide com minha entrada na faculdade, coincide com minha
entrada na faculdade (como professor), em que eu tinha um salário, eu
poderia novamente fazer uma arte mais experimental, eu estava envolvido com
uma geração que estava ali querendo emergir, como o Divino Sobral, o Paulo
Veiga, o Juliano Morais, o Marcelo Solá, o Gilmar Camilo, todos eles eram
muito novos e claro que convivendo com pessoas que já tinham outros anseios
outras expectativas e que estavam tentando se inserir por outros canais que
não a oficialidade do mercado, que podia fazer algo mais experimental, e que
eu também me sentia tentado a fazer. Então eu começo a trabalhar com o
refugo da sociedade de consumo com imagens de cartazes e de flyers, já no
final da década de oitenta inicio da década de noventa. Em meus quadros as
figuras acabam, meus planos ficam pretos, os elementos substanciais da
pintura viram coisas reais, explorando a veracidade dos elementos. A linha se
torna uma linha de verdade, a massa é uma massa de verdade, é um toco de
madeira pintado, é um barbante colorido que desprega do quadro e vai ao
infinito.
Eu tive uma fase literalmente experimental, e começo a inserir este
trabalho também em outros circuitos, em ambientes de show de música, ou
como intervenção em espaços não necessariamente ligados ao mercado, mas
instituições, em holls de bibliotecas fazendo instalações, isso vai me levar a
desdobrar e me aproximar cada vez mais dessa relação com os mass mídia e
com outra maneira de processar a imagem. Antigamente o único espaço que
você via a imagem era nos quadros e nas esculturas, e estes tinham seus
circuitos específicos. E hoje em dia somos bombardeados por milhôes de
imagens à disposição exaltando a descartabilidade, a substituição cada dia
mas veloz. Então congelar esse momento sempre me atraiu.
Eu começo então a fazer uma série de trabalhos mais experimentais,
depois eu vou fazer o mestrado exatamente dentro dessa linha de
investigação. Então eu achei ótimo, não precisar mais me preocupar com essa
coisa que é o mercado de arte, acreditava estar fazendo só pelo deleite de
criação para só em um determinado momento, ao meu desejo, mostrar , tirar
do atelier e tudo mais . Foi que, para minha surpresa muita coisa foi assimilada
por bons colecionadores de arte contemporânea que eu nem estava atento a
este circuito.
Bem, num determinado momento eu sabia que ele existia, quis
experimentar, minha realidade local me caiu como uma bomba, a pressão
sobre mim foi terrível e aquilo me confundiu muito, mas eu não desisto da
minha pesquisa e anos mais tarde eu consigo, de uma certa forma, dar vazão a
outras formas de imaginação de produção que não fosse aquela que estava ali
174
programada sistematizada para o resto da vida. Mas até hoje as pessoas falam
assim, quando você vai voltar a pintar? E suas mulheres?
A - Me fale mais sobre esta sua relação com a arte da embalagem e em
conseqüência a utilização desta pela pop arte.
S - A grande virada da arte é a incursão do objeto para além das categorias
que já estavam oficializadas tipo pintura, desenho, gravura e escultura. O
objeto artificial, o objeto industrial aquilo que não merecia nem o rótulo de
objeto. Afinal o que merecia esse rótulo é a obra de arte e com a revolução
industrial veio esse objeto de série, de séries infinitas, que suprime o original
que só tem cópias, e essa inserção dele pelo duchamp e depois corroborado
pelo dadaísmo pela pop arte e pelo dub realismo. Essa trajetória do objeto do
século vinte foi o viés que me interessou para entender a arte do meu tempo,
porque ela é pluralista, porque que ela é diversificada. Porque ela abriu milhões
de possibilidades novas. E isso é mais atraente do que você ser uma figura
sabedora do seu oficio, para o resto da vida, batendo ali na mesma tecla.
Parece que você não está conectado exatamente com o seu tempo histórico, e
não partilha dos anseios que são de todo mundo. Meu trabalho recente busca
novamente uma acomodação do colecionismo particular. Os anteriores, pelo
colecionismo público. Até mesmo porque de sua característica mais
experimental. Mas ao conviver com seu trabalho dentro de sua casa, você
achar que não pode viver sem ele e ter a posse do objeto e comprar e pagar e
tomar conta dele. Isso também é atraente. Eu não acho o mercado de todo
ruim não, ele é bacana. Por incrível que pareça, eu trabalho com computador
hoje em dia. Claro que o meu trabalho sempre foi muito “masturbatório”,
sempre teve minha mão presente e fazedora da obra. A repetição do gesto a
compulsão do fazer. Tem um determinado momento que você é mais
contaminado com essa história de duchamp e a arte conceitual. Que a idéia é a
obra, é bacana, é experimental e sensório, mas eu acho interessante a idéia de
você fazer com a mão, você seduzir pela visualidade. O meu trabalho, ele
nunca se propôs ser interativo, que é uma onda muito do momento. De você
partilhar com o outro, de o outro também construir a sua obra. O meu não,
sempre foi uma onda de artista visual. Eu faço para os olhos. E a primeira coisa
que o trabalho tem é que te seduzir pela visão, e depois ele pode agregar ali o
teu o universo de possíveis desdobramentos e interpretações.
A - Essa virada acometida pela arte, toda esse novo direcionamento do
olhar e de como se pensar a obra, estaria adicionando a intuição no fazer
artístico? No caso das proposições de Jean Dubuffet, parece estar
adicionando o inconsciente. Você possui uma obra da década de oitenta
Anima ou anima” (figura 19, p.144). Esta possui essa relação com o
intuitivo. Onde o inconsciente se encontra hoje?
S - Anima ou animaé uma casal que acabou de transar, estão se olhando no
espelho, ele está muito suado, ela está descabelada, animacom a idéia do
jogo e da alma. Eu concordo mais com a segunda colocação sua de Jean
Dubuffet, de criar desdobramentos novos de criar o conceito de art brut, de
incorporar na arte elementos que aí vamos chamar de outsider, da questão da
margem, de tudo que foi instituído por séculos de tradição e aí colocar a arte
175
dos drogados, das crianças, dos velhos, de pessoas de idade avançada, dos
primitivos, e tudo mais. E acho que ainda que seja na pintura... [Henri]
Rousseau é um bom exemplo disso, de alguém que estava inserido dentro do
circuito de academias, que, porém, com uma imaginação estupenda e tudo
mais, ou digamos o [Antônio] Poteiro também está bem dentro dessa história,
mas se você considera extremos tão radicais, então tudo é possível também.
Desde então você pode não considerar tendências, mas considerar a sua
particularidade mesmo ou o teu universo único. E acho mesmo que a
criatividade não acontece não só na pintura, a criatividade pode lidar com
vários meios e várias formas de desdobramento.
A - Será que a intuição se distanciou do fazer artístico?
S - Eu acho que sempre fui muito intuitivo a minha vida inteira. E tenho muito
disso ainda, claro. Obvio que você é levado a desenvolver trabalhos mais
racionalistas, emfim. Eu tenho um jogo de dominó que são feitos com fichas de
métodos de desenho que a cada ficha é uma aula, uma ficha para luz e sombra
uma ficha para perspectiva, então aquela idéia de que se você praticar o
método formalista passo a passo no futuro você tem todo o domínio do
desenho. Ao invés de fazer isso eu desenho então as pedras do Dominó ali e
faço aquilo como um jogo, e você ao se recusar participar do jogo, ao se
rebelar você acaba criando uma outra possibilidade de desdobramento. Então,
eu tenho momentos sim, onde a trabalhos mais pontuais onde a razão
transparece mais que a intuição. Mas o geral em mim é a intuição.
No meu tempo de pintor eu nunca tive problemas do tipo “o que eu vou
pintar?”. Querer ter uma idéia diferente. Esses eram problemas dos meus
colegas. Querer fazer algo superdiferente, e levar dias pensando naquela idéia
superdiferente, eu nunca pensei nisso. Uma pintura para mim, ela não começa
no branco de uma tela, ela começa com uma primeira camada de pintura.
Então, já sabendo que o branco vai me levar para uma relação mais gráfica do
desenho, eu pinto a tela de uma cor que desbloqueia completamente. De uma
cor me sugere que ali eu faço uma figura, aqui um plano, acolá..., ou uma
textura de uma forma x, e ela se dá em um processo natural no próprio fazer do
trabalho. No final, por ser um espectador privilegiado, o artista é o espectador
privilegiado por ser o primeiro observador da obra, o primeiro a racionalizar
sobre a obra. Então aquilo que é completamente abstrato ele vai procurar
dentro do seu mundo dentro da sua vivência. O universo simbólico que ele
possa projetar ali e agregar uma possível interpretação e dirigir a interpretação
do espectador por esse viés.
É uma pertinência poética títular um trabalho. Eu gosto de dar títulos, e a
vida inteira as pessoas disseram que meus títulos são muito caretas, são muito
românticos e tudo mais. Talvez pelo trabalho não ter partido como um
desdobramento do título. O tulo é algo que agregou-se ali, como passar a
idéia de uma figura que tinha muito fogo na alma, e tinha muita alma, e chegou
em um ponto que estava esgotado e alguém quer retirar mais dali. Você acaba
achando, como em “Anima ou anima para traduzir isso, que alguns
interpretarão, ou então fica como um paradoxo com o que ele quer dizer com
isso e tudo mais.
176
- TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA COM ARTISTA PLÁSTICO CARLOS
SENA REALIZADA EM 07 DE MARÇO DE 2009
A - Sena, eu gostaria que você falasse um pouco sobre sua infância em
Mairi.
S - Eu nasci em Mairi e mudei e migrei com seis meses de idade em caminhão
pau-de-arara para Minas Gerais. Quando eu tinha sete anos meu avô morreu
então meus pais voltaram para Mairi onde então eu fiquei até os oito anos de
idade. Aos oito anos então retornamos para essa cidade mineira chamada
Nanuque que fica no nordeste de Minas Gerais e só fui retornar a Mairi quando
tinha dezoito anos de idade e fiquei na cidade durante uns 15 dias, e fiquei
muito impressionado com a memória que tinha em relação a cidade, eu
conhecia as praças, as ruas, as casas, as pessoas, sabia exatamente onde
moravam todos eles e o quanto isso era forte em mim e o quanto eu era
nordestino e o quanto eu era baiano. Foi um resgate interessante, porque eu
vou ficar até os dezenove anos de idade nessa cidade mineira chamada
Nanuque.
A - Como foi esse período da sua vida em Nanuque? Você saiu com seis
meses de idade de Mairi, então, já em Nanuque como você se relacionava
com as festas religiosas da cidade e as celebrações cotidianas como
aniversário, natal, etc.?
S - Nanuque é uma cidade que tem uma grande serraria. É uma cidade
basicamente de operários, mas uma cidade grande, quando eu passei por ali
tinha mais de 20 mil habitantes, hoje tem mais de 50 mil habitantes, um
contraste com Mairi, que só agora tem 12 mil habitantes, na minha época tinha
bem menos, uma cidade parecida com Goiás Velho. Tanto em Mairi quanto em
Nanuque essa presença da cultura popular, da cultura religiosa, os ritos as
diversas festas foi muito marcante, de fato sempre fui muito ligado a
visualidade dessas festividades todas, aos ritos, as músicas, as danças, que no
Nordeste isso é muito forte né, então eu via muito pastorinhas, mutirões de
uma festa chamada Boi que no fundo era um mutirão de plantar feijão, diversas
procissões litúrgicas, um São João muito rico, um Carnaval com muitos blocos
que na época chamava ternos também, isso em Mairi, em Nanuque era um
outro tipo de festividade de cultura popular, mas me lembro muito bem do
Carnaval de rua dos clubes de Nanuque, e é onde eu conheço também o
Carnaval dos clubes, os blocos de índio, as festas de São Benedito, mas
comparado com Mairi, era um outro tipo de festividade. Em Nanuque eu vou ter
uma vida, assim, muito solitária, por não ser exatamente integrado nesse
contexto, sendo assim o meu olhar mais de espectador, apesar de contribuir
algumas vezes com as roupas, cartazes, adereços, eu era alguém por fora
desses ritos. Eu só vou me sentir bem de fato, integrado no lugar, quando eu
escolho esse lugar, esse lugar é Goiânia.
177
A - Na sua infância, tenho a informação que você, assim que despertou
seu lado artístico, você montava maquetes de circos e cinemas.
S - Ah sim, essa é uma história muito rica. Eu morava perto de uma..., por uma
temporada eu morei com minha tia, meu pai tinha dez filhos e eu..., ele cedeu
um desses (risos) então para uma tia minha que era costureira, morava perto
de uma praça onde montava-se circos, parques de diversões, essa coisa toda,
e eu ficava por baixo da lona todas as noites, gostava muito daquela fantasia,
daquela representação, daquele rito todo do circo, e posteriormente eu vou
fazer um circo no fundo da casa de meus pais quando eu retorno para lá...
A - Isso ainda na infância?
S - Sim, ainda na infância. Eu tinha nove anos de idade e nós fizemos um circo,
nós pegamos muita banca de feirante para montar as arquibancadas, o palco,
roubamos muitos esteios de construção para fazer os mastros, muito lençol e
cobertor para fazer a lona do circo, era um circo que cobrava ingresso. Tinha
também um cinema, o cinema era entre uma casa e outra, nós cobríamos com
portas em um beco e colocávamos entrada e saída, criamos uma parede no
fundo vazada, cortinas que abriam, e tinha uma caixa de luz, e eu fazia os
filmes para serem projetados, iluminados atrás por uma vela, aqueles pesinhos
montados em seqüência na manivela e dublava as vozes para passar nesse
cinema. Lembro também de eu e meus irmãos termos criado uma cidade,
montamos em alvenaria várias casas, o cinema era uma dessas casas, e
também fizemos uma outra com casas de papelão mesmo, de caixas,
construíamos essas cidades para brincar.
A - Você considera esse processo todo, essencial para chegar ao
desenvolvimento de seu trabalho?
S - É, porque assim! Então eu revelo essa vocação para o desenho muito cedo,
meu pai falava desde muito cedo que eu deveria ir, deveria migrar para uma
cidade grande, que eu não era uma figura para morar no interior porque eu era
artista, então, essa consciência de ser artista eu tenho desde a minha mais
remota infância, mesmo aos cinco anos de idade já se falava que eu era artista
porque eu começo a desenhar muito cedo, e eu vou então, ao passo que vai
surgindo esse tipo de brincadeiras com os irmãos, esse tipo de necessidade eu
vou canalizando, vou desenhar um filme do Tarzan e vou cobrar ingresso pra
passar o filme do Tarzan.
A - Então é nessa época, a época das maquetes, que o cinema aparece em
sua vida?
S - Aparece, eu freqüentava as matines de domingo, do cinema mesmo, o de
verdade. Assistia Chaplin e alguns filmes de cowboy americano e
posteriormente vou ficar amigo de um filho de dono de madeireira, que tinha
um outro cinema, o maior cinema da cidade na época, e que tinha o camarote
do dono, então assim, da minha juventude eu vou passar indo todas as noites
ao cinema, então a minha memória de cinema é enorme, é muito grande. Mas
assim, além de desenhar os filmes para as brincadeiras começaram a surgirem
178
pedidos para que eu desenhasse cadernos inteiros contando uma história
qualquer e eu vendia esses cadernos, posteriormente as escolas então
descobriram, cursos de novelistas essa coisa toda descobriu então que eu era
desenhista então eu vivia atendendo muitos pedidos para desenhar cartazes
comemorativos para Dia das Mães, Dia da Arvore.
A - Isso já na adolescência?
S - Desde a infância! Eu começo assim, desde os 11 anos de idade começo a
me sustentar com meu trabalho, a sobreviver dele. Mas me sustentar assim, a
comprar as minhas roupas os meus brinquedos com o que eu ganhava fazendo
em desenho. Existiam as festas de Sete de Setembro, que eram muito
fantasiadas, muita alegoria e muito pedidos também, tipo, pinte todas as
bandeiras do estado, ou produza tal alegoria, em fim, coisas do gênero.
A - Essa relação que você tinha com o cinema, com as festas e com esse
lado lúdico do circo; algum outro irmão seu, ou alguém da sua família,
dividia isso com você? Vocês realizavam isso juntos? Quantos irmãos
eram? Como era sua relação com sua família?
S - Nos éramos, até há uns três meses atrás , nos éramos dez irmãos, agora
que eu perdi o primeiro deles, agora somos nove irmãos, e eu sou o sétimo
filho, tinha que ser né, o artista tem que ser o sétimo. Mas então, não, eles não
tinham maiores afinidades com isso não, na verdade..., canalizaram..., meus
irmãos hoje em dia são professores também, doutores até, um é professor de
Biologia, outro é professor de Direito, são mais por aí, outros lidam com
comércio..., mas como eu sou o sétimo filho tinha três abaixo de mim ainda, e
eu exercia um certa liderança sobre eles por conta ali do meu talento artístico e
ademais também sobre a outra molecada da rua também, as pessoas sempre
me viam com uma distinção, com uma diferença por conta desse meu potencial
de desenhar. Embora eles não desenvolvessem a mesma coisa que eu eles
embarcaram em todas essas obras, no circo éramos todos artistas, também no
desfile mirim de Sete de Setembro que a gente fazia, todos vestiam as
fantasias, ou no Bumba meu Boi, todos saíamos a noite com as lanternas
acesas, fazíamos e todos embarcavam nessa, todos os meninos da rua.
A - Essa distinção pelo comportamento e pela apreciação do cinema foi o
que te levou para Belo Horizonte? Explique essa mudança para Belo
Horizonte.
S - Eu mudo para Belo Horizonte a princípio..., eu tinha uma irmã que casou,
casou assim com uma família muito abastada e tudo o mais, e tinha uma vida
muito boa em Belo Horizonte, e eu começo a visitá-la amiudemente, ir do
interior para capital me fez ficar fascinado pela cidade grande e tudo mais, foi a
segunda capital que eu venho a conhecer, a primeira foi Vitória, no Espírito
Santo, que era mais perto de Nanuque e depois então que eu vou a Belo
Horizonte, e a medida em que eu fui a visitando fui estreitando mais a
possibilidade de me fixar ali para fazer uma faculdade e depois uma faculdade
de artes, eu achava que iria diretamente para esse canal, mas não foi assim
tão prontamente não, por que assim que eu estava concluindo o segundo grau
179
uma outra irmã minha casou-se e mudou-se para Brasília e estava sentindo
solitária, porque enfim era uma família muito grande e ela precisava de alguém
ali para ajudar e fazer companhia e me apregoou todas as vantagens que teria
Brasília e eu saio de Belo Horizonte e vou para Brasília e...
A - Em Belo Horizonte, quando você mudou para lá, em qual ano foi isso?
1978?
S - Não, 78 eu começo a faculdade aqui. 73 eu cheguei a Goiânia, em Belo
Horizonte eu cheguei em 1970.
A - Como que foi sua vida lá, a vida cultural, você desfrutando dessa
possibilidade de acesso a cultura que Belo Horizonte oferecia?
S - Eu vinha então de uma família interiorana, muito simples, ex-imigrantes e
tudo mais, e que de repente eu tive acesso às casas muito abastadas, o meu
cunhado casado com essa irmã tinha amigo assim, deputados federais, coisas
assim, então, claro que é assim, a minha incursão nas casas mineiras e em
clubes era em outro nível, eu me deparava com outra realidade, esse cunhado
meu gostava muito de visitar as cidades do entorno, então eu conheci todas as
cidades barrocas mineiras por ali, então eu tenho um contato mais próximo
dessa cultura chamada tradicional, mas também com a feira de artesanato
local onde comparado com o interior isso era algo assim extraordinário, ou
com uma ou outra galeria que eu sabia que tinha arte porque eu era sempre
aficionado, mas é quando eu estou em Belo Horizonte que é inaugurado o
Palácio das Artes de Belo Horizonte, e que já inaugura com arte
contemporânea, foi assim, o meu primeiro contato com a arte de verdade foi
com a arte contemporânea. Sabe, isso foi decisivo para minha vida.
A - Durante essa época em Belo Horizonte você já estava trabalhando
com arte?
S - Não, eu estava só estudando. Só depois que eu vou para Brasília é que eu
retomo essa conexão de produzir algo artístico pra sobreviver disso, eu vou
trabalhar na feira de artesanato da “torre da televisão”, vou pintar quadros, pela
primeira vez..., em Minas Gerais eu começo a fazer já..., desde a adolescente
eu começo a pintar os meus quadros, eu vou aperfeiçoando a técnica com o
passar dos anos, mas era uma atividade esporádica e em Belo Horizonte
também pintei alguns, também esporadicamente, mas já em Brasília eu vou
fazer isso amiudemente, fazer para viver, e com a técnica que eu sabia fazer.
A - Qual foi a primeira vez que você entrou em contato com as obras de
Jan Van Eyke, que você já comentou admirar. Isso aconteceu em Belo
Horizonte?
S - Não, isso vai acontecer posteriormente. Em Belo Horizonte, o meu
aprofundamento em relação a história da arte, já que minha família não era
conectada exatamente com isso e eu não tinha uma formação específica e
nem convivia com ninguém do meio o meu contato era sempre de espectador
conforme eu estou te narrando, então eu não tinha esse contato, o meu
180
cunhado uma vez tomou a iniciativa de comprar pra mim um livro muito bom
sobre os impressionistas, foi a primeira vez que de fato..., quer dizer, eu
conhecia um ou outro que saía nas revistas da época tipo “Manchete” e “O
Cruzeiro”, claro que eu ficava sabendo da existência assim de um Van Gogh,
um Gogan, um Bosch, essas figuras vão aparecendo durante a trajetória de
qualquer indivíduo, e da minha também. Agora, de fato, assim, enquanto
escola e movimento o meu primeiro contato foi com o impressionismo, o Van
Eyke..., isso só vai acontecer quando eu entro na faculdade de artes aqui em
78, eu tive um professor então que é um ícone da arte local que foi o Adelmo
Café e a linha de interesse do Adelmo Café, a coisa que ele mais se afina na
história da arte é com a arte medieval, e..., claro que ele tem uma visão que
avança até o século vinte, mas o foco específico dele é a arte medieval e o
começo do impressionismo, então ele tinha uma quantidade muito grande de
imagens e logo eu me identifiquei com essas figuras. Posteriormente eu vou ...,
era ditadura, você não tinha acesso a muita informação mesmo, o
conhecimento é mais enciclopédico, você compra uma enciclopédia do mundo
dos museus e tudo mais, isso fazia parte da vida de estudante.
A - Voltando a Brasília, você começou a desenvolver sua técnica em
pintura já em Brasília? E como foi sua relação com esse cidade? Você já
mostrava trabalhos lá?
S - Em Brasília eu fazia então ..., eu começo fazer esse exercício de pintar óleo
sobre tela e tudo mais, mas como amador ..., uma paisagem com um pouco de
sol , uma outra serve algo que ilustra o índio em uma canoa, um outro é o
Jesus Cristo, e um outro é o vazso de flor, uma visão mais de artesão mesmo
ali no domínio técnico, foi importante para processar a técnica, mas claro que
não tinha um foco centrado de artista não. Amplia-se a minha visão sobre arte
contemporânea em Brasília, porque quando eu estou lá, quando eu estava em
Brasília aconteceu o Salão Global da Primavera o qual quem saiu vencedor
desse salão foi o Siron Franco, meu primeiro contato com a obra do Siron
então é neste momento, e uma viagem que eu faço neste período coincide
também com a participação do Siron na Bienal Internacional de São Paulo,
alias, é anterior a isso, coincide com a participação do Humberto Espíndola,
depois posteriormente é que eu vejo a que o Siron participou. Eu tenho essa
conexão, eu vou viver o período, eu vou sair da feira de artesanato que vai ser
a minha primeira atividade que eu vou desenvolver em Goiás pintando, vou
pintar camisetas, caras de astros pop da época...
A - Em Brasília você fazia isso?
S - Não, eu só fazia telas.
A - Mas em Brasília você chegou a colocar algum trabalho em feira?
S - Sim, eu tenho até fotografia. Participei para me sustentar com aquilo que eu
desenvolvia, para ter a possibilidade de terminar o curso de segundo grau que
eu ainda estava fazendo, e fazer um cursinho para prestar vestibular, eu queria
fazer a faculdade de artes, fazer esse exercício.
181
A - Você tinha preconceito em mostrar obra em feira?
S - Não, até quem vem do interior, tirando uma passagem ali de três anos
numa cidade grande, isso é uma conquista, opa, olha, eu estou pintando e as
pessoas estão comprando sabe, quadros meus e tudo mais, estou assinando,
você acha que é legal, tanto que quando eu mudo para Goiânia, vim passear
em um final de semana e resolvi me fixar por aqui, eu me mudei com esse
intuito. Existia uma feira de artesanato então na Praça Cívica, a Feira Hippie,
que hoje em dia desceu, mas antes era lá em cima. Nesse tempo era na Praça
Cívica, e a minha primeira tentativa era levar os meus quadros para lá, para
vender, mas o mar não estava tão para peixe assim, mas o que eu sabia fazer
era pintar, era criar figuras eu vou pintar então camisetas, eu vou virar um
artesão mesmo de camisetas até fazer o meu vestibular, daí, durante um
tempo eu ganhei grana e montei uma boutique para vender moda à princípio
unisex depois criou o foco para moda feminina mesmo porque quem consome
são as mulheres, depois eu abro mão disso porque eu ia fazer vestibular e ia
tentar outra coisa, e desde o início, logo no primeiro salão que acontece na
faculdade, eu já ganho o salão e o circuito artístico local que não era muito
longo, mais estava em expansão devido aos anos 80 que vai ser muito
profícuo, me descobre muito cedo, eu também sou convidado a ser monitor,
então tenho um salário também desde o segundo ano.
A - Quando você veio para Goiânia deve ter se deparado com o Salão da
Caixego, que era o salão forte da época. O que você tem a dizer sobre
este salão?
S - Eu vi dois Salões da Caixego na época, eu não vi o primeiro talvez por
desinformação, ou falta de contato com o meio, não estava afinado ou
conectado com o meio naturalmente no início, então eu perdi o primeiro, mas
eu vi o segundo e vi o terceiro. A exposição do segundo foi na Avenida Goiás
onde ali foi a Câmara e o terceiro foi no Pathernon Center já onde hoje é o
Mac, era apenas o vão, a garagem, mas foi ali que rolou.
A - A crítica de arte Aline Figueiredo reconhece o Salão da Caixego como
sendo muito convencional, um salão que não propunha mudanças para o
cenário local, tanto que eles não aceitavam escultura na ficha de
inscrição. Este salão trouxe mudanças para o cenário local?
S - Olha, a minha visão desse salão, assim, a distância, e não diretamente
envolvido com ele, porque eu nunca tive a pretensão de entrar no salão, eu já
estava afastado nesse tempo, canalizado para outras coisas, mas a minha
visão desse salão é de um salão de pinturas e de um salão de desenho, mas
era sim muito arrojado para a época, sabe, assim, para iniciar, digamos que ele
fez as funções do Salão Flamboyant em outro período, numa outra época, de
mostrar o que havia de arrojado no país. Então a Aline, ela pode ter essa visão
mais precisa porque ela participava por dentro desse contexto, mas eu não, o
que eu vi, eu estava muito contente, muita pintura bonita, muito desenho,
aquilo movimentado permitiu que aparecesse uma safra nova de artistas locais
e isso para mim era bacana.
182
A - Alí então, poderia se dizer, que nascia a importância dos salões de
arte dentro da arte goiana?
S - Eu acho que sim, embora eles nunca tenham passado de uma terceira
edição, o único salão que conseguiu superar isso foi da iniciativa privada, que
foi o Flamboyant que teve seis edições, todos eles tiveram esse momento
assim, esse espasmo né, de ter o primeiro, o segundo, e o terceiro e acabou.
A - E na década de 80 temos como exemplo o Salão do BEG, correto? Que
ocupa o lugar do Salão da Caixego?
S - Não acho que tinha o mesmo impacto não, porque assim, se existia essas
diferenças que uma especializada como a Aline Figueiredo pode detectar no
início desse Salão da Caixego e eu não detectei, pois não era diretamente
interessado nisso, na época do Prêmio Beg essas diferenças eram bastante
latentes, porque se você comparar o salão do Beg com outros salões de arte, e
ai eu já tenho conhecimento disso, pois eu transitava neles, deixava muito a
desejar, era uma coisa muito focada para a região, para o local e tudo mais,
enquanto o da Caixego não, que mesmo imprimindo uma visão tendenciosa
era uma visão nacional.
A - Então, o advento do salão ficou enraizado dentro da cultura das artes
plásticas em Goiás. O que mudou em sua carreira depois que você foi
premiado no Salão do Cinqüentenário de Goiânia, no ano de 1983, com a
obra “Posto em Cena”?
S - Olha, mudou alguma coisa..., assim..., a Aracy Amaral, hum..., quer dizer,
isso me deu fôlego para tentar vôos maiores, mas antes do Salão do
Cinqüentenário eu entrei no Salão Nacional do Rio de Janeiro em 1982, que
tinha mais de 300 concorrentes, só selecionaram cinco do Centro-Oeste, mas
eu entrei, junto com Adir Sodré, junto com algumas figuras aqui da região.
Quando eu faço essa participação, saí uma matéria na revista IstoÉ elogiando
minha pintura, a sofisticação da técnica, essa coisa toda apesar de o premiado
no Salão Nacional foi o Cleber Gouveia, mas eu tive essa distinção, e foi legal,
colecionador do Rio quis comprar minhas obras, isso repercutiu de uma
maneira na mídia local, então eu de um aluno promissor passei então a ser um
jovem talento fixado, e na seqüência em 83 eles me dão também um prêmio de
“Os mais de 83”, e de repente vem tudo junto, esse de “Os mais de 83” foi bem
relevante, pois o prêmio de Literatura foi para o Bernardo Élis, da economia
Irapuan Costa Junior, e aí, e aí foi ..., do esporte, disso, daquilo, da moda, das
artes plásticas para esse jovem talento que tinha aparecido, tudo isso veio tudo
muito junto com esse Salão do Cinqüentenário de Goiânia onde eu ganho
então o primeiro lugar em pintura e o melhor conjunto de obras, e aí eu me fixei
e tentei mais vôos, mandei quadros para salões, como para Belo Horizonte, fui
selecionado para uma exposição aqui outra ali, não sei por qual desses vieses
que a Aracy Amaral estava fazendo um mapeamento da geração 80, que
precede o “Como vai você, geração 80?” e é a versão paulista do fato, mas
quase coincidente, e chama-se “Arte na Rua”, que era convidar artistas para
pintar em escala outdoor e para expor nas ruas do Rio de Janeiro, São Paulo e
Brasília, ela me convida para isso, então era cerca de cento e cinqüenta
183
artistas num catálogo, e a revista Veja em matéria sobre o evento, destaca
somente três, assim pegou um em cada cidade da mostra, e me pegou e me
deu uma foto muito grande, daí em diante eu fico fixado dentro da cultura local
como um fenômeno, e todo mundo quer comprar o meu trabalho e isso
coincide com a economia bastante promissora dos anos 80, e com uma série
de questões que ao longo dos anos oitenta que torna ..., que estabiliza a
balança comercial e que dá um “boom” da pintura no mundo e eu estava
definido pela pintura que estava sendo reconhecida participo dessa onda.
A - Então neste período você já começa a produzir para a exposição “Uma
peça em três atos”?
S - É, foi com a Marina Potrich essa exposição.
A - E como ela foi recebida pelo público e pela crítica?
S - Olha, ela foi muito bem..., crítica na verdade, nós ainda vivemos..., você
sabe disso por que você faz critica e eu também, e que na verdade somos
artistas plásticos, não é. O Divino Sobral também que é artista plástico também
faz, pela carência de quem faça em nosso local, de uma cidade que tem menos
de um século, onde todos os papeis ainda devem ser ocupados por pessoas
que focam exatamente isso. Ainda não é nossa realidade, o artista aqui faz um
pouco de tudo, faz curadoria, faz crítica, faz o escambau”, o processo enfim,
estar de acordo com o todo. Mas até hoje nós não temos de fato crítico
especializado e na época também não, então tínhamos aí uns dois críticos ou
três, que se apoiavam como críticos de arte, mas na verdade não criticavam
nada, nunca se debruçou para pesquisa. Na hora que se precisava de alguém
pra processar uma crítica não havia quem de fato que merecesse esse nome...,
se faz apresentações de catálogos, e eu nunca tive essa preocupação de que
eles falassem sobre mim não, inventava uma pessoa qualquer que escrevesse
bem e que fosse sensível e convidava essa pessoa para escrever sobre o meu
trabalho.
A Mas esta exposição foi muito bem aceita pelos os artistas locais e
pelo público em geral. Confere?
S - Sim, foi muito bem aceita. Os artistas locais, que..., até hoje as pessoas
falam que são panelinhas né, o grupo da lá, o grupo daqui, então..., tem uma
certa rivalidade interna entre eles, comigo isso nunca aconteceu, eu até hoje
tem essa coisa que alguns ficam impressionados..., que quando eu vou fazer
uma exposição e quero que vinte artistas participem, e pessoa, obra para
expor na Universidade Federal e nunca um artista disse não, sabe..., vou fazer
a curadoria e vou chamar fulano, beltrano, beltrano e nunca ninguém disse não
para mim, e eu transito nos diversos grupos e tudo mais, com muita facilidade e
com muito respeito entre eles, isso começa desde cedo. Assim, quando eu
estava ali aparecendo eu fui convidado por dois grupos que em si pareciam
que eram oponentes, que de um lado tinha assim, Fernando Costa Filho,
Selma Parreira, e de outro lado tinha, Gomes de Souza, Da Cruz, Dinéia
[Dutra], parece que eles eram meio rivais, meio opositores, um grupo me
convidou para uma exposição, que na ocasião estava sendo inaugurado o
184
Shopping Flamboyant e o outro me convidou para fazer exposição em uma
galeria que tinha inaugurado no clube Jaó. Então abro a exposição numa noite
e abro a outra exposição na noite seguinte. E tudo numa boa, me dando bem
com os dois grupos e vendo minhas obras em uma exposição e não outra
também. Isso causou interesse em um marchand de quadros, a primeira que
trabalhou comigo. Ela me procurou, me convidou para trabalhar com ela e nos
ficamos trabalhando dois anos antes de eu me arriscar fazer uma individual,
então quando eu arrisco já era uma realidade, quando eu abro minha
exposição, na noite do vernissage estava tuda completamente vendida, ela já
estava vendida.
A - Esse período de 80 a 85, você consolida seu nome dentro do cenário
artístico goiano e em menos de um ano você organiza a exposição
“Interferências, onde você praticamente abraça o experimentalismo de
uma forma bem radical, conte um pouco sobre esse processo.
S - É isso. Eu tenho aquele quadro que es no acervo do MAG intitulado de
“Posto em Cena” que fala desse modismo de arte que eu captava na época.
Então era uma galeria de arte que tinha um quadro do Siron, um quadro do
Cleber, e eu ponho uma moldura em volta da minha figura e eu também
participo dessa moda dos quadros, sabe..., então eu também estou nas
galerias, estou nas casas chiques e tudo mais... Com esse quadro que eu
ganho o prêmio do Salão do Cinqüentenário de Goiânia de 1983 que eu chamo
de “Posto em Cena”... e essa era uma expectativa, dois anos depois era uma
realidade total, eu era o da moda, e ser da moda tinha um peso muito grande,
porque assim..., quem estava posto aqui na cidade e que era consagrado, e
todo artista novo da cidade era imediatamente comparado naturalmente com
esse, era o Siron Franco. Então assim, quem não gostava do Siron Franco
esperava que você o superasse sabe..., que tirasse o lugar dele, que fizesse
mais sucesso do que ele, porque gostava mais do seu trabalho, e você mesmo
se policiava dizendo que não tinha nenhuma influência dele, o que era
impossível.
A - Na obra “Posto em Cena” existe estas duas citações, de Siron Franco
e Cleber Gouveia.
S Sim, mas claro que aquilo não era uma reprodução de nem uma obra de
Siron e nem do Cleber.
A- Então aquelas duas obras não existem?
S - Não existem! Eu me aproprio da iconografia do Siron e do Cleber, e crio o
self-service. Eu fiz uma série..., eu tenho um quadro que cita o Omar Souto,
tenho um até com Valdelino. É uma série que correu o Salão e foram esses
quadros que ganharam o melhor conjunto de trabalho.
185
A Voltando a obra “Posto em Cena”, que é bem curiosa, pois além das
citações de Cleber e de Siron ainda menciona a revista “Interview”, que
tratava exatamente do que estava no auge da moda. Era uma crítica ao
que estava na moda?
S - Porque, assim..., Eram os anos 80 e existia..., assim como existia a euforia
aos bens de consumo porque a economia favorecia, existia claro esses yuppies
né...(risos), então todo mundo queria ser um empresário, um homem de
negócios, e a própria maneira de vestira era dessa forma, então tinha aquele
Casa Voge, lia a “Interview” para ser fino, aparecia naquelas festas.
A - Festas em casas que eram repletas de Cleber e de Siron, certo?
S - Perfeito, eles eram a grande moda local nessa história toda.
A - Então você organiza a exposição “Interferências, a qual você
apresenta obras de cunho mais experimental. Todos aqueles que
gostavam de sua obra começam a questionar, achar estranho e sua
experimentação?
S - Olha (risos), foi mais drástico que isso (risos), foi mais do que estranho na
verdade. Assim..., assim como existia essa moda, ancorada pela Interview e
Voge que é aquela fina revista, do ponto de vista das artes plásticas é uma
sistema de completamente dominado pela cultura de massas, a crítica perdeu
muito peso nessa década de 80, teve um “emburrecimento” geral, então não
precisava falar sobre arte , você tinha era que fazer arte, a arte era apenas
visual, os dois veículos de arte eram a Revista Galeria e o Guia das Artes,
quem aparecesse lá estava consagrado, quem não aparecesse estava fora.
Então era uma norma, todo e qualquer artista tinha que se inteirar de tudo o
quem estava aparecendo ali, os emergentes, os Leonilsons, as Catundas, por
esses canais que eles apareciam, por esses canais também que eu fico
conhecendo o Hélio Oiticica..., e isso da uma mudada na minha cabeça..., os
“Parangolés”, os “Penetráveis”, os “Bólides” e tudo mais e eu começo a fazer
experimentalmente isso em minha casa. Eu junto muita coisa de artesanato, da
cultura popular, da cultura de massas, isso que era apenas uma citação no
caso da revista Interview nesse período eu vou me apropriar disso trazer para
obra e vou “grafita-lo” com spray. Eu tenho, por exemplo, a obra “Pixxxxxxx nos
curumins”, é assim mesmo que chama “Pixxxxxxxx” um som de spray, é uma
“sprayada” nos índios pequenininhos, tenho outra que é a obra “Prancha VI”
com cocar Kraô”, um com confetes de Carnaval que está lá no MAG. São
manifestações de cultura popular.
186
A - Observando essas obras, desta fase, vemos que algumas estão no
acervo do MAG, e é possível notar películas de filmes reproduzidas nas
telas, uma mascara de película que refere a filmes de cinema. Você
sempre deixando esse lado lúdico da diva, do cinema, da vida noturna, da
sala escura, aparecer em suas obras. São elementos que você nunca
abandonou?
S Isso me acompanha até hoje, essa referência, essa conexão com o
cinema. Na minha primeira exposição tinha a obra “As Moças da Sessão Das
Três” que estavam em frente ao cartaz de “O Vento Levou”. Que é uma
referencia minha da minha infância. Peguei a sessão do cinema do jornal que
estava escrito “Hoje no cinema...” e disse, o hoje é atemporal, você pega
aquela cena do passado e traz para o presente, aquela coisa. Isso o tempo
inteiro apareceu, até com outras figuras como a Rita Hayword, por exemplo.
Vai aparecer essa conexão com as divas mesmo. E até hoje aparece. Ainda
pego figuras ligadas ao cinema e crio imagens com isso. Nunca perdi essa
conexão.
A Já no final da década de oitenta aconteceram os eventos Galeria
Aberta e a Bienal de Arte Incomum. Como você vê estes dois eventos.?
S Eu, na verdade, eu tive uma época..., meio maldita em Goiânia, depois de
ter experimentado ser o docinho, o futuro da arte, o bajulado, o que o povo
puxava o saco, convidado para todas as festas e depois dessa exposição das
interferências eu fico maldito, eu fico maldito por uma série de coisas. Para
começar a exposição é interditada no dia do vernissage, teve uma briga de
galeristas e tudo mais. Isso culmina com o fechamento da exposição, com as
obras vendidas. A galeria é interditada na frente do público. Assim..., é um
impacto muito forte de repente você ser mal falado depois de experimentar ser
bem falado. Tudo aconteceu da seguinte forma. Como uma amiga minha ia
inaugurar uma galeria e me chamou para inaugurar, eu achei muito bacana,
mas não queria fazer algo que já estava posto, que ela apenas ganhasse grana
comigo, eu queria levar uma parte mais comercial, mas que conectasse com
aquele experimentalismo que eu estava fazendo, com o pixar da pena do
índio, com o spray, com essas obras. Claro que foi a parte comercial que foi
interditada, e a outra parte serviu para me amaldiçoar. Então assim, é um longo
caminho de volta a tentar recuperar a confiança do público e continuar
vendendo obras durante esse período.
A Aí aparece o projeto Galeria Aberta que tem um caráter mais
publicitário, que seguia um caminho bem distante do que você pretendia
na época.
S Eu não diria publicitário, eu diria um caráter mais populista. O projeto é de
uma figura da cidade que era dono de uma galeria de artes na época, e cria
uma série de estratégias de popularizar ainda mais a arte local, e tinha estes
artistas promovidos para vender em sua galeria. Foram vários projetos que ele
fez e me convidou e que eu recusei. Um desses projetos era pintar quadros
nos ônibus da Transurb. O quadro era pintado do lado lá e não do lado em que
o público vê no ponto de ônibus. Eram quadros desfilando nas ruas e tudo mais
187
e eu não via sentido nesse tipo de intervenção e no que isso melhoraria a vida
das pessoas um quadro passando em movimento. Eu não quis. Me convidou
para diversas coisas e eu não quis. Uma delas também foi o Galeria Aberta. E
eu achava que era algo que apenas poluía a cidade, que não tinha uma
conexão, não tinha um propósito maior, que não ocupava espacialmente legal
a cidade, eu não verificava o espaço, um sentido. Era apenas pegar uma obra
que o artista pendurava na galeria e reproduzir em escala gigantesca no meio
da cidade. É uma reprodução que com o tempo acabaria, geraria restauração,
acabaria em restauração, e lavar dinheiro, e essas coisas são maravilhosas
quando envolve o meio político e eu estou fora sabe. Eu não precisava daquele
crítico, mas eu precisava de pessoas para nortear o bom sentido que eu queria
dar para minha vida. Então logo eu já fico maldito com essa figura. Lá na
frente, ele mesmo vai ter a idéia da Bienal de Arte Incomum, que é a
mesmíssima pessoa né, que é a idéia da Bienal do Incomum. Nesse momento
eu já era da Universidade Federal de Goiás e eu vou em uma primeira reunião
e chamo atenção de que não poderia ser esse nome, Bienal de Arte Incomum.
Se fosse Bienal Incomum de Arte estaria tudo legal, porque a arte
contemporânea ela é de fato muito incomum em si. Agora, você chamar de
Bienal de Arte Incomum com incomum associado a arte eu estou me referindo
a um tipo especifico de arte, a arte dos outsiders, a arte dos loucos, a arte do
poteiro, de pessoas que tem idade avançada, aquilo que Jean Dubuffet
chamou de Arte Brut, enfim, falo de Arte Incomum no sentido proposto por
Walter Zanini.
A Na Bienal de Arte Incomum aparecem alguns nomes que mais tarde
se firmariam como os artistas da geração 90 da arte goiana.
S Sim, claro. Embora eles não tenham mudado a nomenclatura a coisa toda
tocou para frente e eu era o único que estava ali me opondo às idéias
extraordinárias daquele mentor. Naturalmente, todo mundo aderiu, porque..., é
assim mesmo, o povo precisa de grana, precisa se virar, e..., vamos todo
mundo pintar um boi? e vai todo mundo pintar o boi por qualquer troco que for
e..., vamos pintar o ônibus? vamos pintar o ônibus. Vamos pintar o prédio?
Vamos pintar o prédio. Vamos fazer a Bienal de Arte Incomum? Mesmo errada
não tem problema porque todo mundo quer participar. Claro que no meio
daquilo tudo teve obras bacanas, óbvio que teve obras bacanas e claro que, se
assim..., se abrir espaço para salão e tudo mais novos artistas emergirão
sempre. Mas poderiam ter emergido de uma maneira mais certa, mais correta.
A Pegando estes artistas novos que surgiram com a Bienal de Arte
Incomum, e revendo sua postura artística do final dos anos 80, você se vê
como um mentor intelectual dessa geração?
S Eu acho que isso é um folclore criado pelo Marcos Caiado, um dia ele me
falou isso e eu levei o maior susto, sabe... Ele me falou assim, “... porque você
era um líder, um mentor de uma geração que emergiu, mas do mesmo jeito
que emergiu você os excluiu, porque eu vi o Enauro (Enauro de Castro)
despedaçado em suas mãos...” (risos) eu tomei o maior susto com isso porque
eu acho que cada um tem o direito de ir e vir para onde quiser. Eu nunca quis
ser líder de nenhum grupo.
188
A Sim, mas como você já estava inserido dentro do cenário, já tinha as
exposições realizadas, a experiência, tinha um pensamento já constituído
sobre a arte brasileira, talvez você ocupasse esse papel de interlocutor,
se é que eu posso colocar assim.
S Olha, nem sei Armando. O que eu sei é o seguinte. Nos anos noventa,
assim que eu entro para dar aula na Faculdade de Artes Visuais me falaram
assim, “... faça uma exposição para comemorar o dia do artista, clássico né,
que é dia 8 de maio e tudo mais, “... você pode fazer uma exposição para o dia
8 de maio...” eu falei assim, posso, faltavam 15 dias mas falei posso, e aí,
nesses quinze dias eu fiz uma seleção, quem são os artistas mais importantes
do ponto de vista das galerias?, se uma galeria X for fazer uma missa de dez,
quais os dez que ela coloca?, ai as galerias fizeram uma curadoria, eu
apresentei então esse mercado de artes locais, junto com o clube da fotografia
local curado por Rosary Esteves, junto com a história e trajetória da arte
goiana, dos pioneiros até chegar em mim conectado com a escola Gustav
Ritter, Confaloni, até chegar em Carlos Sena, mas os alunos da Faculdade de
Artes Visuais. Então, para essa exposição eu convidei os jovens artistas que eu
convivia com eles numa de irmandade, dividindo sonhos e fantasias. Esse
pessoal era o Grupo Rinoceronte de teatro, é nesse grupo que estava o Divino
Sobral, o Gilmar Camilo, e outros que não eram do grupo de teatro mas eram
amigos, como o Juliano de Morais, o Marcelo Solá, é dessa época que eu os
conheço, mas eles nunca participaram dessas exposições que eu organizei, O
Juliano sim, mas o Solá nunca participou, eu ainda não tinha intimidade para
chamar-lo. O Juliano eu conhecia desde menino. O Paulo Veiga também
expunha ali. No caso do Divino Sobral, a primeira exposição da vida dele vai
ser essa que eu organizo na FAV. Do Paulo Veiga também, do Gilmar Camilo
também, do Juliano não era a primeira, ele já estava em uma terceira ou quarta
exposição, mas estava ali. Por conta disso eu acho que ligaram que eu estava
em contato com esses jovens artistas. Como eu vi que tinha essa exposição no
ano seguinte e num terceiro ano, teve três edições, criou-se expectativa que eu
ali criava espaço para algo novo, que nesse período não existia essa onda.
Então era uma idéia legal, do novo aparecer nessa exposição que ocupava
literalmente toda a FAV, todos os corredores, o pátio, as rampas, os ateliês e
tudo mais. Foi a primeira vez que Goiás de fato viu arte contemporânea, viu
instalações, foi nessas exposições.
A - É curioso que este grupo, não sei se eu deveria chamar de grupo, mas
esses artistas, a geração 90, traz muito do que você propôs na exposição
INTER(R)REFERÊNCIAS, que foi a experimentação, um salto do
bidimensional para o tridimensional com uma pesquisa mais espacial.
S Olha, nessa relação na recíproca é verdadeira, se eu os influenciei de
alguma forma, porque alimentei o sonho, e para quem está começando é
importante você fomentar alguma coisa, só o tempo e com a continuidade, com
propostas, as pessoas com seus compromissos. E eles não vão se firmar o
nome por conta dessa oportunidade, mas por conta do desenvolvimento a
partir daí e tudo mais então..., muitos nem lembram dessa experiência e de ter
passado por ela. Talvez tenha sido importante ter alimentado no início, agora,
para mim, que tinha de alguma forma me afinado com essa vocação mais
189
contemporânea, de desenvolver uma linguagem que fosse do meu tempo de
fato, já que o tempo inteiro, quando eu era o auge do sucesso, eu desenvolvia
uma técnica do passado, embora com um imaginário do presente, com uma
técnica, a gente poderia dizer pós-moderna, que era pegar alguma coisa do
passado e fazer significar no presente, e de repente eu rompo com isso nas
minhas intervenções, mas que dá aquele efeito bumerangue, então quando eu
vou encontrar esse grupo (Grupo Rinoceronte), que tinha muito sonho, muita
expectativa de criar possibilidades novas, aquilo me revigora, eu me animei
com eles, a conquista deles também assim serviu para que eu usasse como
parâmetro em busca daquilo que eu tinha certeza, mas estava sozinho, e que
agora tinha mais pessoas que participavam disso. Embora não tivesse um foco
comum que todos fossem por ali. Cada qual ia seguindo seu caminho.
A É um grupo que sempre teve uma visão bem crítica sobre a Faculdade
de Artes e sobre o que era produzido dentro da Faculdade de Artes.
S É, a coisa era por aí sim, quando entro como professor da Faculdade de
Artes a maioria dos professores estavam se aposentando. Eu sou o primeiro
professor depois da ditadura a entrar ali naquela escola. Entrou um ou outro
durante a ditadura, mas a grande maioria deles era do início da escola. Isso
significava que quase todo mundo tinha pelo menos 30 anos de casa, ou
alguns tinham morrido, mas o corpo docente estava bastante envelhecido, as
técnicas também, as informações, tudo estava muito obsoleto nessa hora, e eu
entro assim, oba! O professor que era novidade, o professor que vai salvar a
pátria, e eu nem poderia salvar porque a coisa estava empestiada. Mas
assim..., mesmo assim é legal, é nesse momento que eu encontro com
Leonardo Romano pegando suas primeiras turmas, o Paulo Veiga entrando
para dar aula e pegando suas primeiras turmas, que estavam ali fomentando
algumas possibilidades novas que depois foi definido também em focos
específicos, agora, por incrível que pareça, quem falava de arte, quem se
interessava por arte e tentava fazer uma intervenção mais precisa, mais
conectada com o presente não estava na escola, que é o caso dos artistas do
Grupo Rinoceronte. Então eu ficava muito feliz de ter conexão com eles. por
que assim..., era por ali que eu tinha a conexão com o novo, com a
possibilidade de transformação. Claro que esses artistas, que vão emergir de
fato nos anos 90, somados a outros, tão talentosos quanto, como o Solá e o
Pitágoras que não eram exatamente ligados a esse grupo, mas que são todos
autodidatas, continuam seguindo a tradição de Goiânia ser uma terra de
artistas autodidatas. A escola, durante toda sua trajetória, colocou
pouquíssimos artistas no mercado, claro que o propósito maior dela de fato é
se formar artista, agora, o que não quer dizer que não tenha aparecido artista
ali durante sua trajetória.
A Essa sua experiência na vida acadêmica, primeiro como professor,
depois como mestre, modificou alguma coisa em seu trabalho, na sua
produção?
S Ah! Modificou sim, é obvio. Definiu melhor esse foco. Assim..., ser
professor é uma miséria né, em todos os sentidos, mas eu sou apaixonado, eu
não consigo viver sem isso, eu preparo uma aula para os alunos e se não
190
fizerem eu mato eles. (risos), gosto da coisa por que sou um masoquista, mas
assim, em todos os sentidos não é legal para o artista. Assim..., se ele é um
artista, ele canaliza muito das suas potencialidades para o aluno, o aluno
enxerga desse tamanho (fazendo sinal com os dedos) e o professor alarga
para uma dimensão maior, e o cara vai até ali onde o professor falou e não
consegue estender, um ou outro consegue estender esse leque. E você se doa
tanto que você se esgota e então a sua produção já cai mesmo. Mas a partir do
momento que eu tinha um salário de professor e a garantia de aposentadoria,
essa coisa toda, eu pude continuar fazendo meu trabalho apenas
experimentalista, que não servisse para decorar a sala de ninguém, que não
servisse para livre especulação do mercado, aquela hierarquizada por idade,
então vou fazer um trabalho que ninguém vai comprar mesmo. Mas é um
trabalho que eu posso ter exposto em um centro cultural, em um museu, na
rua, etc. Mas é isso, experimentar mais isso, mas de repente a própria vida vai
te mostrando caminhos que começa a cooptar esse seu experimentalismo. Eu
começo a participar de uma ou outra exposição que forçaram a barra que eu
devia participar, então eu peguei as minhas coisas feitas com latinha de
cerveja, com a cultura popular, etc., e começo a despertar interesse em
grandes colecionadores e eles começam a comprar. O Gilberto Chateaubriant
veio a minha casa comprar trabalhos meus e tudo mais, então..., ai você
retorna ao circuito, mas já é outro circuito, é de uma outra maneira, não é um
jogo fácil, não é o mercado local que está ditando as normas, enfim. Não é tão
enriquecedor, mas você vai fazendo aquilo que você acredita.
A Por curiosidade, na década de 80, você tinha alguma relação com o
pessoal da música ou da literatura, existia esse intercâmbio entre as
diferentes artes ?
S Tinha sim, talvez por coincidência, porque a cidade não era tão grande
assim, até hoje Goiânia é bem gueto né, você tem o Who is Who?, e assim
todo mudo se conhece, quem é da cultura?, aí todo mundo se conhece, quem
é da literatura?, aí todo mundo se conhece, então acaba tendo isso né, a
cidade está com mais de um milhão de habitantes, mas a coisa acaba assim
em pequenos nichos. Então, era menor, claro, nos anos 80, e você acabava
conhecendo. Então eu namorava uma garota que a irmã dela namorava um
sico, o Luis Carlos, e através dele conheci o Walter Mustafé, a Maria
Eugenia, o Fernando Perilo, e conheci um circuito que é da música. Um amigo
seu te convida para fazer a ilustração de um livro e de repente você começa a
conhecer a Ieda Shmaltz , Erdeno e você começa a conhecer o circuito da
literatura, ou do pessoal que começa a experimentar com cinema, ou das
danças, e você é convidado para fazer algumas cenografias, como no caso eu
fiz, então acaba tendo isso, apesar de que a gente não pode dizer exatamente
que era uma efervescência artística, mas existia uma certa ebulição.
191
A Como que você vê hoje a situação das artes plásticas em Goiás, em
Goiânia que é mais forte, em relação ao início dos anos 2000. Que com o
Salão Flamboyant a cena estava bastante agitada e parece que hoje ela
deu uma estagnada, uma decaída?
S Pois é, assim, voltamos aquela questão que de fato nada que cria de fato é
pressão. No caso do Salão Flamboyant, era da iniciativa privada, então ela tem
todo o direito de encerar. Agora, o Estado não se preocupar com isso, um
governo que não da continuidade ao plano de gestão que o antecedeu. Que
pode ser que tenham descoberto muitos defeitos da gestão, mas para arte
tinha sido um momento muito bom, para cultura de uma maneira em geral, um
momento muito bom para o patrimônio e para diversas questões, o FICA, ou o
Centro Cultural Oscar Niemayer. Havia uma ebulição positiva, porque na época
a cidade tinha o terceiro maior salão de arte do país, estavam construindo um
grande centro cultural, junto com o festival de cinema internacional, de repente
parou, e da uma freada e tudo se fecha, não era prioridade do próximo governo
e então todas as questões se esfriam. E, claro que toda uma geração de
novíssimos, emergiu de 2000 para cá essas pessoas precisam consolidar
novamente os seus trabalhos, é muito difícil você criar de fato espaço para o
novo. E você não consegue se afirmar com menos de uma década o seu
nome, então é um trabalho aí que na verdade ele é amputado, eu acho que os
novos são os mais penalizados nessa história que qualquer outro. É meio que
paliativo, mas, nesse momento, por incrível que pareça, a Universidade Federal
está em uma expansão muito grande, com um programa chamado Reúne, para
ampliar cursos e fundar unidades novas, e nesse pacote todo resolveu investir
no Centro Cultural da Praça Universitária, é um grande espaço que vai ter uma
sala multiuso, para teatro, música, artes plásticas, cinema, duas grandes
galeria de arte, uma para exposições transitórias, outra para guardar o acervo
permanente da universidade do qual eu sou o organizador desse acervo,
também dirijo esse espaço, estou engajado nessa reforma toda, nessa
transformação toda do espaço, então, o momento não esta bom para peixe,
mas eu sempre acredito que vai melhorar e que vai ficar bom de novo e que vai
ter espaço para todo mundo e já está querendo se manifestar.
A A arte é muito importante para a comunidade que está a volta dessa
produção. Ela é capaz de modificar os costumes, abrir a cabeça das
pessoas, fazer as pessoas ampliarem seu campo de visão. Comparando o
comportamento dos habitantes de Goiânia na década de oitenta com hoje,
onde você vê uma melhora ou uma mudança nos costumes?
S Eu concordo com você que o bacana da arte é que de fato o contato com
ela é decisivo, porque ela te faz pensar, ela te transforma por isso. Ela te faz
refletir. Até o contato direto é mais eficaz do que qualquer reprodução. Então
há de criar espaço para que você tenha acesso à arte sim. E eu acredito que
esse é o papel de fato da cultura, por isso que eu me engajo nessa luta. A
cultura está diretamente vinculada a quem pesquisa a cultura, que é a
academia, que é a escola, que é a universidade. Então se não tem os artistas
certos no museu, será que foram pesquisados? Será que essa informação foi
processada de fato? Se fulano não vale tanto, será que lhe foi atribuída a
importância devida, para que haja o reconhecimento? Tudo isso é da
192
importância da universidade sim. Então só o fato de criar espaço para que
essas manifestações venham à público, o impacto disso já difícil de medir. Ao
longo do tempo, qual será o real impacto transformador na vida das pessoas.
Sabe-se que há essa transformação, e que o impacto em nossa vida nos
transforma para melhor. Não exatamente o mesmo caso da geração 80. A
geração 80 é diretamente vinculada ao mercado de arte, à moda de comprar
quadro, a moda da pintura em si, que não e nem uma moda da arte. Não é do
desenho, não é da escultura, não é de nenhuma outra possibilidade de arte
que não fosse pintura. Foi um “boom” universal da pintura.
A Como comentamos anteriormente, em suas pinturas dessa época
existia uma crítica a esse comércio desenfreado. Onde se encontrava o
artista Carlos Sena nessa indústria visual que foi a década de oitenta?
S Eu não acompanhava as tendências. A minha preocupação era..., eu
queria pintar como os grandes mestres, eu queria pintar como um gênio da
pintura. Eu queria era fazer algo bem feito, que alguém olhasse e achasse
bom, bonito e bacana. Eu queria era fazer isso, eu queria era fazer uma boa
pintura. Eu me sentia mal diante de uma exposição contemporânea que eu via
tamanho despojamento, eu não entendia direito digamos assim. Uma Catunda,
um Leonilson, era demais para minha cabeça, então, como uma figura que
estava procurando seu caminho, eu achava mais fácil ir por ali, e isso foi toda
minha geração, ou engajaram-se pela transvanguarda ou pelo neo-
expressionismo. Eu fiquei à margem, por isso que eu sou outsider, minha
preocupação era fazer algo para mim mesmo. Do meu jeito, no meu foco, e
como eu falei anteriormente, foi o tempo que me fez descobrir que isso é pós-
moderno, por que assim, o moderno é focado só no avanço, no futuro, o pós-
moderno não, é atemporal, é tudo estendido. Você pode ir lá atrás, pegar um
significante e dar outro significado no presente. Então, é obvio que isso era
uma visão até avançada, mas eu não tinha essa consciência não. Mas eu sei
que a arte dos anos 80 procura agradar ao gosto, combinar com o ambiente,
com o tapete, com o sofá, e com quem pode pagar, então é claro que ela é
menos eficaz em termos de transformação do pensamento do que a arte do
presente. Mesmo que ninguém consuma com facilidade um Solá, ele é mais
preciso para falar de seu tempo e o impacto dele é mais transformador do que
um “vaso de flor” dos anos 80.
A Então, para encerar, o que você achou de um acontecimento na última
Bienal de São Paulo (2008), que foi notícia nacional. Quando a curadora
do evento abriu o espaço do segundo andar da mostra para performances
e happenings. Pegaram uma garota pichando e culminou na garota indo
presa pela polícia?
S Olha, no início, assim que eu me posicionei a respeito, quando eu vi os
grupos dos pichadores entrando e detonando o prédio, todo mundo ficou com
raiva de mim, o intelectual, porque eu achei um arraso né, eu achei detonador,
eu achei que eles estraçalharam, que não tinha para ninguém e que a Bienal
era deles, como ação em si, como uma ação perturbadora. Mas falaram,
“não..., você dirige um espaço público, e essa não pode ser a sua posição,
imagina se você faz uma exposição e o povo vai lá e detona tudo na noite do
193
vernissage..,” sabe, mas isso tem que se resolver nas instancias legais, se
depredar realmente, aí já não é minha jurisdição. Agora assim, nem quando
você foi lá na galeria e destruiu o trabalho do Basbaum eu não fui lá intervir
não, achei que..., eu não concordo, eu não gosto desse tipo de ação, mas eu
não posso deixar de reconhecer que foi legitima.
A Mas no caso da Bienal, a ação dos pichadores cabia dentro da
proposta da curadoria. Eles não jogaram com essa possibilidade?
S O curador..., teve aquela curadora adjunta, que me falha o nome [Ana
Paula Cohen], mas o curador era o Ivo Mesquita. Que propôs então, essa
bienal do esvaziamento, com o segundo andar completamente esvaziado e
criou o mote em vivo contato, em vivo contato então se pressupõem que a
cidade está viva, que ela se manifesta, ali no caso não era grafite, era
pichação, mas é legitima. Na URB tem esse tipo de manifestação, então por
que alguém vai lá e pode fazer ginástica esticar no elástico e outro vem grafitar
e não pode. Então, de fato eu gostei da subversão, uma vez também que eu já
fui subversivo, eu já tive..., não citando..., mas eu já tive meu passado de jogar
cerveja na cabeça de crítico, essas coisas todas, que é sempre muito ruim,
para você e para o povo que te mete o pau demais, mas de qualquer maneira
você vai lá e da a cara para porrada e arrisca a tomar uma atitude. Então, essa
ação da Bienal, como estava aberto, e como atitude, eu achei que eles
arrasaram. Agora, se é proposta da Bienal, continuar com esse espaço vazio e
tudo mais, ela tem que administrar a intervenção, ela tem que fazer de uma
maneira que seja elegante, de uma maneira que não seja de fato tão
excludente como no caso da garota, que não foi julgada, que não cometeu de
fato um crime e a pena para isso é prestar serviços comunitários e ela fica
presa quarenta dias sem julgamento. Mas aí já são as mazelas da justiça e
tudo mais. Não quero nem entrar no mérito, porque ela foi pega de novo
assaltando um shopping. Mas o fato é que a Bienal não soube lidar com a
subversão, e por mais subversiva que seja, foi uma subversão criativa. Eu
acompanhei muito de perto todo o debate nacional, e as pessoas assinando
manifestos para que a soltassem e aproveitando para malhar essa Bienal do
Ivo. Claro que a gente não pode dizer que estava em aberto essa Bienal
porque, o pouco que estava ali, tinha coisas muito relevantes, como sempre
tem não é, tinha o Allan McCollum, tinha Dora Longo Bahia, tinham trabalhos
muito bons ali dentro. O que não tinha, e que o público se ressentiu, era
volume, foi quantidade sabe. A Bienal tem um formato, nunca fui partidário
dessa política do Ivo, porque num momento em que a Bienal está em crise e
não tem grana para fazer uma Bienal, ela tem uma fundação que capta e não
consegue administrar, com muita corrupção, desvia-se muito, aí contrata o
maior nome da crítica nacional, o Ivo Mesquita, curador do Metropolitan sabe,
do Moma, para poder fazer a Bienal e ele propõe uma alternativa “a bienal do
curador”, a Bienal é dos artistas, das delegações, das representações, dos
convidados, ela tem um formato. Então alguns intelectuais, meus amigos,
diziam assim, “porque deve se criar outras alternativas, porque está se
reproduzindo o modelo da Bienal de Veneza, ou da Documenta e tudo mais...”,
ora, são modelos que deram certo. Eu achei muito bom chegar na Bienal um
dia e ver Andy Warhol, ver um Beuys [Joseph Beuys], eu achei muito bom ter a
oportunidade de ter contato com a obra do Picasso, do Van Gogh, achei bom,
194
aí..., ao lado de gente nova, que eu tinha alguma informação deles e com
trabalhos novos, proporcionando outras descobertas. Essa quantidade, esse
massacre de arte era muito bom, você levava assim..., até a outra Bienal
processando, levava tempo para burro para cair a ficha, e que já dava um
ânimo novo e que era decisivo para influenciar os jovens que estavam vindo.
Retirar tudo isso e apresentar um andar vazio para mostrar a arquitetura do
Niemayer o custo se achava empobrecedor para quem sai... Sair do Rio
Grande do Norte e do Rio Grande do Sul, se deslocar até São Paulo para ver
meia dúzia de convidados e o andar vazio. Mas com essa política que,
qualquer um que quer fazer arte pode fazer”, esse não é um espaço qualquer,
a arte sempre foi elitizada, arte é dos artistas, e tem a hierarquia de quem é
quem nesses artistas, qualquer um não me interessa, eu quero ver os grandes
e os bons. Aí, quando aparece algo que foge do controle e eles boicotam..., eu
achei uma lástima. Como já estava achando a Bienal em si.
195
TEXTOS JORNALÍSTICOS QUE FAZEM REFERÊNCIA A CARLOS SENA
O Popular, Suplemento Cultural, 30/08/81
Texto de Miguel Jorge
Artistas Goianos em Brasília
A Funarte esta patrocinando uma coletiva de artistas goianos na Galeria Rodolfo Amuedo:
Maria Guilhermina (escultura), Runy Silva, Noé Luiz, Gilveder Rebouças e Carlos Sena
(pintura), contando também com a participação da Fundação Cultural de Goiás.
O Popular, Caderno 2, coluna: Arthur Resende, 03/10/81
Coletiva em Boa Hora
Reunindo os artistas Carlos Sena (pintura), Marília Guimarães (gravura) e Sival Veloso
(escultura), o Instituto de Artes da UFG promove uma coletiva desde ontem, aliás, no Palácio
da Cultura da Prefeitura. Os artistas foram recentemente premiados no V Concurso Estudantil
de Artes, e essa exposição representa para eles um grande incentivo, sem dúvida. A mostra
prosseguirá até o dia oito próximo e a coordenação esta a cargo de Milda Guimarães Ribeiro.
Ponham na agenda e visitem a mostra.
O Popular, Caderno 2, coluna: Maria José, 03/10/81
Artes e Artistas
O Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás está promovendo desde ontem uma
exposição dos trabalhos de Carlos Sena (pintura), Marília Guimarães Ribeiro (gravura) e Sival
Floriano Veloso (escultura), premiados no V Concurso Estudantil de Artes. A mostra encontra-
se no Palácio da Cultura, no Salão de Exposições, na Praça Universitária.
O Popular, Suplemento Cultural, 23/01/82
Texto de Miguel Jorge
1981:Um ano bom para as Artes Plásticas
...Pode-
se falar ainda em um outro valor novo na pintura: Carlos Sena, conseguindo uma
linguagem plástica moderna, atual, recorrendo aos Fatos e Fotos. Falta-lhe no entanto, uma
maior intimidade com a figura humana, sentir mais, ou colocar mais movimentação e
expressão em suas figuras...
O Popular, Caderno 2, 07/10/83
Texto de Conceição Rodrigues
07/10/83
Artes, psicanálise e a revelação do indivíduo.
...No trabalho de Carlos Sena predominam as figuras irreais, geralmente femininas, altamente
detalhadas com vários elementos de fundo que compõem as telas, geralmente sombrias, tons
pasteis e com grande predominância negra e sépia.
196
O Popular, Caderno 2, Seção: Acontece na Semana, 11/12/83
Carlos Sena
Eu e mais três” e a criação de vanguarda
Carlos Sena, numa abordagem bastante nova e usando elementos familiares, com técnicas
por ele dominada, como o óleo sobre tela, jogará de forma renovadora nesta coleção, com
planos, elementos e figuras, valorizando os personagens, em planos brancos trabalhados
sutilmente com linhas, texturas e rasgões. Traz cenas expressivas onde o drama e o humos se
misturam, compondo aspectos cotidianos irreais, sem grandes compromissos com a venda e
sim com o aspecto criativo em seus desenhos e pinturas.
O Popular, Caderno 2, 14/12/83
Texto de José Sebastião Pinheiro
Uma coletiva com Zécèzar, Gomes. Dinéia, Sena e Dacruz
...Carlos Sena, com uma intensa atividade artística, tendo na bagagem um sem número de
exposições e prêmios, destacando-se a Mostra Brrasileira de Arte (Maputo-Moçambique), a
Mostra de Arte Goiás-Brasil (Santiago-Chile) e prêmios como o de
Revelação nas Artes
Plasticas-1983”, uma promoção que escolhe anualmente “Os Mais do Ano”; segundo lugar em
Pintura (Prêmio: Viagem Itinerante com exposições nas Galerias Funarte) e prêmio Aquisição
em Pintura, além de ter sido um dos 17 artistas do Centro-Oeste, selecionado numa disputa de
208 concorrentes para o V Salão Nacional do Rio de Janeiro/1982.
...
As dez pinturas que escolheu para essa coletiva tentam mostrar o seu lado mais lírico:
“Neles estou mais preocupado com a sensibilidade, deixando de lado problemas de
engajamento, de denuncias. Meu único compromisso é apenas com a sensibilidade, É preciso
ser mais lírico nessa época, mais fantasioso. Mais que nunca, torna-se necessário estimular a
fantasia e essa é a minha contribuição como artista para o publico”.
O Popular, Caderno 2, 16/12/83
Texto de Conceição Rodrigues
Quatro valores goianos despertando consciências
A proposta surgiu inicialmente como uma forma de curtição em cima do falso
estrelismo, uma coisa quase anarquista. A idéia tomou forma e hoje, quem ouviu, mesmo que
por alto falar da exposição, não se esqueceu. Eu & Mais Três coloca novamente frente ao
publico goiano, um grupo dos mais destacados artistas plásticos da terra. Carlos Sena, Selma
Parreira, Fernando Costa Filho e Roosvelt Oliveira, quatro cabeças e propostas diferentes
dentro da arte do desenho, pintura e gravura, cada um mostrando sua forma de expressão,
numa verdadeira dissonância entre si.
Eu & Mais Três será instalada esta noite, a partir das 20:30 horas, num novo espaço
cedido pelo Flamboyant Shopping Center. A série de 40 trabalhos ficará exposta numa sala do
terraço do Shopping, “que não é uma galeria, mas que foi preparada carinhosamente por nós
para receber pessoas de todos os níveis, fugindo do tabu de não acesso às galerias,
consideradas hoje, até como coisa de elite. E, levados a comprarem ou simplesmente por
curiosidade, estaremos lá para conversar com as pessoas e aceitar seus questionamentos”,
salienta o grupo.
197
Ninguém desconhece que em Goiânia ainda persiste um preconceito muito grande
contra o papel e uma das propostas básicas dessa mostra é valorizá-
lo como suporte,
utilizado, seja no desenho ou na gravura. Partindo do principio de que todos esses artistas
trabalham com o papel, a exposição voltou-se para esse aspecto, embora tenham consciência
de que isso não funciona comercialmente devido ao preconceito. “Costumam achar que o
papel é perecível, como se nada neste mundo o fosse. Além disso, toda a documentação da
História está registrada no papel e isso prova que ele não é tão perecível assim, salienta
Fernando Costa Filho.
O que acontece, na opinião dos artistas, é que se vive atualmente o ciclo do óleo
sobre tela, por um lado por que toda formação artística tem sido em cima da pintura. O povo
está viciado a freqüentar galerias se forem apresentados trabalhos em óleo sobre tela, mas o
que está faltando, na opinião de Selma Parreira, é divulgação da criação sobre papel. “Todo
mundo que trabalha com papel nunca se engajou em um movimento em defesa disso e só
esporadicamente um ou outro leva seus trabalhos às exposições. Jamais se realizou uma
mostra em conjunto”. A função da gravura é justamente a de dar mais acesso à arte por um
numero maior de pessoas, mas poucos entendem esse aspecto. “A gravura é uma
reprodução, sofre preconceito ainda maior que o papel e é difícil fazer com que as pessoas
entendam que todas as cópias têm o mesmo valor artístico, que são originais reproduzidos a
partir de uma mesma matriz. Por outro lado, a gravura é a arte do momento, especialmente
frente a crise econômica que atravessamos”, diz a artista.
O grupo defende a tese de que embora a pintura seja tecnicamente mais requisitada, ao passo
que no papel a coisa parece mais imediatista; mais espontâneo, o desenho e a gravura não
podem ser menos valorizados, por que são também o registro de uma emoção, de uma época.
“A pintura pode ser a grande apoteose da arte diz Fernando Costa Filho a alquimia das
cores, mas os efeitos maravilhosos alcançados hoje sobre o papel são indiscutíveis. E essa
consciência deve partir, inclusive do próprio artista, porque se ele não está conscientizando
para as possibilidades do papel, ele também o menospreza”. Por outro lado, conforme lembra
Carlos Sena, “se não batalharmos em função de outros materiais distintos dessa crise toda, a
obra de arte vai se fechando cada vez mais dentro de uma elite”.
E, com a intenção de aproveitar todas as possibilidades do papel, seja furando-o ou
rasgando, Carlos Sena age sobre esse suporte baseado nos princípios mais primários. Numa
abordagem nova e usando elementos que lhe são familiares, joga nesta série com formas
renovadoras, com planos, elementos e figuras. Ele nos traz cenas expressivas onde drama e
humor se misturam, compondo aspectos cotidianos irreais. Faces expressivas e situações
incoerentes são características desta série de desenhos e pinturas, onde, numa tentativa de
mudança, colocando o homem como objetos principal e não estético do tema. Rasgando ou
furando o papel é, inclusive, uma forma do artista quebrar o tabu da apresentação do trabalho,
que pode estar rasgando ou furando, mas esteticamente o artista está seguro dentro de uma
harmonia de composição, valorizando a figura humana.
Aliado às propostas do grupo que integra a Eu & Mias Três, entra também um novo
item para reforçar a intenção de levar sua arte ao povo, como uma nova forma de expressar-
se, que é reproduzir o trabalho original, com todos os traços do artista em camisetas, algo que
vem sendo feito por inúmeros artistas no Brasil. Em tiragem limitada, as camisetas, em
modelos exclusivos, serão assinadas pelos artistas e comercializadas durante a exposição,
“esta, inclusive, representa mais uma das possibilidades de nossa arte ser consumida”,
asseguram.
O Popular, Caderno 2, 08/01/84
Texto de Lucyleide Rodovalho
A camiseta chega primeiro e ganha “status” no verão
O avanço do uso da camiseta no vestuário do brasileiro, as tendências de modelos e cores.
Lançamento de camisetas com trabalhos em silk-screen dos artistas goianos Fernando Costa
Filho, Selma Parreira e Carlos Sena, tendo como tema os pássaros e as figuras humanas.
Lançamento da griffe Dijon, especializada em moda masculina, que cria a linha verão com
modelos e cores da estação.
198
O Popular, Caderno 2, coluna: Maria José, 27/05/84
Artes e Artistas
Obteve grande repercussão no meio artístico e social, a exposição do artista plástico Carlos
Sena, realizada na última semana, no Salão de Honra da Galeria Goeldi no Distrito Federal.
Na mostra, Carlos expôs seus quarenta melhores trabalhos dos últimos cinco anos. A iniciativa
do evento partiu da FUNARTE, por reconhecer no jovem artista goiano grande potencial e
talento.
O Popular, Caderno 2, coluna: Maria José, 23/12/84
Carlos Sena
Cobriu-se de êxito o coquetel de abertura da exposição que o renomado artista plástico Carlos
Sena está realizando na Galeria Arte Antiga. A mostra, que tem por título “Uma Peça em Três
Atos”, é de uma coleção de óleo sobre tela, de onde é extraído todo o misticismo existente no
espelho, seu brilho, o reflexo do objeto que se põem à sua frente para ver a si mesmo. É como
se fosse um espetáculo teatral com evoluções de começo meio e fim. De busca, de
frustrações, de encontro, de realizações. É a dialética presente no surrealismo do artista.
Carlos, nesta coleção, traz à tona todo armazenado de seu subconsciente, o seu espelho
mostra tal qual é seu mundo e dele se pode absorver o aspecto mágico dentro de uma firmeza
de textura, com um equilíbrio perfeito e uma linguagem salutar digna dos grandes artistas.
A exposição prossegue até primeiro de jane
iro e segundo o crítico Saturnino Pesqueiro
Ramon, os amantes de uma arte humana, viva, criativa, substantiva, frutificantemente
chocante, terão a rara oportunidade de se sentir ao mesmo tempo, espectadores e autores
nesta individual fascinante.
O Popular, Caderno 2, 25/12/84
Texto de Brasigóis Felício
O mistério da criação na pintura de Carlos Sena
A Galeria Arte Antiga abriu, quinta-feira, a mostra individual de pinturas de Carlos
Sena, um jovem artista plástico baiano radicado em Goiás que vem se impondo com um
trabalho no qual a inventiva, a criatividade e sobretudo a individualidade de sua proposta são
facilmente perceptíveis. A mostra, que fica aberta à visitação do público até o dia 10 de janeiro,
confirma o pintor dono de seus recursos expressivos, que é Carlos Sena, um artista que
apresenta já um currículo respeitável, apesar de sua pouca idade. Sena tem 32 anos, é baiano
e foi criado em Minas Gerais. Licenciou-se em desenho e Plástica pelo Instituto de Artes da
UFG, e vem expondo desde 1972.
Uma peça em três atos é o nome que Carlos Sena deu a essa mostra individual de
pinturas, em que se percebe a influencia do surrealismo e a profunda ligação de sua arte com
os labirintos do inconsciente, como afirma o professor da UFG, Saturnino Pesquero Ramon:
“Carlos Sena, consciente ou inconscientemente, fez sua escolha encontrar-se a si mesmo na
obra artística. Essa individual é uma síntese do que foi até hoje a sua produção artística: uma
peça, um drama, uma auto-biografia, o relato de se projetar e se encontrar com todas as
dolorosas vicissitudes que pressupõem o destino humano, no seu: titânico esforço de
individuação, tentando integrar o lado irracional, desconhecido, sombrio da personalidade”.
Se o trabalho pictórico de Carlos Sena Impressiona pela qualidade da composição e
do desenho, chama mais ainda a atenção do espectador pela força expressional das figuras
humanas (a maioria deformada) que ele... cria, simbolizando a nossa humana condição de
estrangeiros, sobreviventes na aldeia global. Como
bem acentua o professor Saturnino
Ramon, “as telas de Carlos são como espelhos mágicos onde o artista enxerga e projeta o
mais recôndito do seu ser
. São como lâmpadas de Aladim que ao esfregar dos pincéis
desacordam seus fantasmas mais chocantes; Jung, empregando uma comparação do mundo
artístico, nos dirá que “uma personalidade sem integrar sua sombra será uma personalidade
199
sem volume e sem corpo”. Naturalmente, tudo dependerá do uso que fizermos de nossos sete
demônios (as forças inconscientes).
Para S
aturnino Ramon, o valor da obra de Carlos não se esgota neste particular
apontado; “Seu principal valor está na autenticidade e fidelidade ao estilo surrealista. Suas
figuras, têm o poder mágico de nos surpreender e cativar como surpreendem e transcendem
s
eu autor. A estranheza que nos causam confirmam sua origem profunda. Os atributos
hermafroditas dos personagens nos remetem aos mais arcaicos protótipos de representação e
identificação; o caráter fabuloso de suas associações nos falam de uma lógica inconsciente”.
Talvez o professor Saturnino, mesmo sendo um exegeta da alma humana, não tenha
penetrado de todo no ser e no significado das telas de Carlos Sena, mas seguramente
avançou muito em sua compreensão; se a mais não pode chegar, é porque o próprio pintor se
surpreende a cada minuto com suas criações, e ele próprio desconhece seus motivos.
O Popular, Caderno 2, 27/12/84
seção: Acontece Hoje
Carlos Sena
“... é um dos poucos artistas brasileiros que, de forma sistemática, como Dali, optou por fazer
do próprio inconsciente o objeto e a fonte de inspiração da sua obra artística...”
O Popular, Caderno 2, 29/08/85
seção: Acontece Hoje
Ênio Porto e Carlos Sena, Dois Pintores, Duas Técnicas.
Vernissage ênio porto e carlos sena dia 29/08/1985 às 20h na galeria de artes bauhaus.
Aborda as premiações recebidas pelos dois artistas plásticos e as técnicas utilizadas em seus
trabalhos. Sena apresenta trabalhos produzidos de maneira catártica, incluindo até colagens e
ênio porto apresenta trabalhos em spray e técnica mista.
O Popular, Caderno 2, 06/05/86
Texto de Brasigóis Felício
Exposição de maio de artistas goianos
A Félix Galeria de Arte abre hoje, às 21 horas, a exposição coletiva de maio, que promove
anualmente reunindo trabalhos de pintores go
ianos sobre o tema Mãe. Essa exposição
dedicada a homenagear as mães é realizada todos os anos (data de aniversário da própria
galeria), e vem se tornando uma tradição no panorama dos eventos ligados às artes plásticas
em Goiás.
Para a mostra que se abre hoje à visitação do publico, Maria Lúcia Félix escolheu
obras dos artistas Siron Franco, Carlos Senna, Tai-Hsuan-An, Diva Goulart, Omar Souto,
Fernando Costa Filho, Antônio Poteiro, Amaury Menezes, Saída Cunha, Leonam Fleury,
Selma Parreira, Roos e sanatan.
A relação dos artistas convidados a integrar essa exposição dedicada as mães inclui
alguns dos nomes mais representativos de nossas artes. Cada um com sua técnica e sua
visão do fenômeno criador interpreta o tema em telas que não foram preparadas adredemente
para este fim, apenas sendo utilizado um critério de escolha que impõe à exposição uma
unidade desejada. A visão que terá o observador será, pois, bastante elástica, pois cada
artista cria dentro de seus individuais processos, daí a variedade na unidade que acabará
resultando essa mostra.
200
O Popular, Caderno 2, 11/05/86
Seção Acontece Hoje
Exposição Erótica
Erótica
Será aberta amanhã, as 21 horas no salão Marrom do Hotel bandeirantes, uma
exposição coletiva denominada Erótica. A mostra é composta por quadros que abordam, com
a linguagem peculiar década artista, a temática erótica. Entre as obras a serem expostas estão
autores como Amaury Menezes, Antônio
Poteiro, Carlos Sena, DaCruz, D.J. Oliveira,
Fernando Costa Filho, Gomes de Souza, Leonam Fleury, Roos, Sáida Cunha, Selma parreira,
Vanda Pinheiro, Siron Franco e outros.
O Popular, Caderno 2, 26/10/86
Artistas goianos no Salão Nacional
Vários goianos obtiveram colocações destacadas no XX Salão Nacional de Artes Plásticas e
IX Salão Regional de Brasília, do qual participaram 66 artistas de todo país. Desses artistas
classificados para a exposição regional em Brasília, 12 são de Goiás, 24 de Brasília, 13 do Rio
de Janeiro, um do Paraná e sete de São Paulo. A posição de destaque conseguida por artistas
goianos em quase todos os salões de arte que se realizam no Brasil já é um fato rotineiro. Os
doze goianos classificados no Salão nacional de Artes Plásticas habilitam-se a prêmios em
dinheiro, concorrendo também na fase posterior, a mais duas láureas, viagem ao exterior e
viagem ao Brasil.
Foram os seguintes artistas goianos destacados pelo Salão Nacional de Artes Plásticas de
Brasília: Carlos Sena, Edney Antunes, Eliéser Szturm, Gomes de Souza, Luis Mauro de Deus,
Nonato, Siápda, Miriam Pires, José Geraldo, Marco Rodrigues e Pedro de Oliveira Barros.
Diário da Manhã, Revista da Manhã, 25/11/86.
A arte contra o descartável.
Abertura da exposição de Carlos Sena às 21h na Multiarte galeria. Faz considerações sobre a
crítica de arte e a máfia das galerias de arte, e ainda, do boom ocorrido no mercado artístico e
paralelamente a falta de um processo educativo do público para a verdadeira apreensão da
arte. Sena tem presente em seu trabalho, tanto na temática quanto na técnica, a preocupação
com a durabilidade sem perder a qualidade, por isso a sua despreocupação com modismos.
Aborda ainda, a necessidade da criação de uma entidade onde os artistas possam se
organizar para receber diversos tipos de ajuda e ainda combater a exploração deste ou
daquele filão de arte.
O Popular, Caderno 2, 30/11/86
Carlos Sena
A MultiArte Galeria expõe as obras de pintura do artista plástico Carlos Sena, onde a mulher é
retratada com cores fortes, traços bem delineados e em clima hollywoodiano.
O Popular, Caderno 2, 07/12/88
Texto de Valbene Bezerra
Obras de arte em leilão.
Leilão de obras de arte em prol do instituto damiana da cunha, que desenvolve trabalho de
201
profilaxia e apoio a drogados e aidéticos, dias 7 e 8 dez. 1988 às 20 h 30 min. Na arte antiga
galeria . Foram doadas telas e esculturas por artistas dentre eles: Poteiro, Amaury Menezes,
Carlos Sena, D.j. Oliveira, Iza costa, Fernando Costa filho, Omar Souto, Roos, Siron Franco,
Simas, Sancler, Tai, Selma Parreira, Juca de Lima, Sanatan, Cleber Gouveia, Xavier, Ana
Maria e Antônio Vieira.
O Popular, Caderno 2, 23/03/89
Arte de Carlos Sena em retrospectiva
Exposição de Carlos Sena no MAG até dia 31. Caracteriza-se por ser uma coletânea do
trabalho do artista, desde o início de sua carreira, passando por diversas fases e pela criação
do ambiente da sala de exposição, que se assemelha a seu ateliê. Segundo sena, em suas
obras, ele utiliza a figura humana com tendência ao realismo absurdo.
O Popular, Caderno 2, 30/05/89
Obra do artista Carlos Sena ilustra matéria de Margareth Gomes “Arte de ver a Arte”.
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