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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO
PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MICHELE ABUCHE COYUNJI
PAISAGEM E TEMPORALIDADE: EXPRESSÃO NATURAL E HUMANA NA
LAGUNA DE MARICÁ - RJ.
Nitei
2009
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2
MICHELE ABUCHE COYUNJI
PAISAGEM E TEMPORALIDADE: EXPRESSÃO NATURAL E HUMANA NA
LAGUNA DE MARICÁ - RJ.
Dissertação apresentada no Programa de
Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Escola de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal
Fluminense, como requisito para
obtenção do grau de mestre. Área de
Concentração: Adequação Ambiental.
ORIENTADOR: PROF. DR. WERTHER HOLZER
Nitei
2009
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MICHELE ABUCHE COYUNJI
PAISAGEM E TEMPORALIDADE: EXPRESSÃO NATURAL E HUMANA NA
LAGUNA DE MARICÁ -RJ.
Aprovada em março de 2009.
Dissertação apresentada no Programa de
Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Escola de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal
Fluminense, como requisito para
obtenção do grau de mestre. Área de
Concentração: Adequação Ambiental.
BANCA EXAMINADORA
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Prof. Dr. WERTHER HOLZER – Orientador
Universidade Federal Fluminense
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Profª. Drª. MARIA LAÍS PEREIRA DA SILVA
Universidade Federal Fluminense
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Profª. Drª. LIGIA MARIA TAVARES DA SILVA
Universidade Federal da Paraíba.
Nitei
2009.
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AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Werther Holzer pela orientação e significativa
contribuição para o meu processo de crescimento profissional;
Aos meus pais Jane e João Coyunji pelo amor e apoio
incondicional;
Ao meu tio Hermes pelo incentivo e confiança,
A professora Drª. Maria de Lourdes P. Machado Costa pela
participação no exame de qualificação;
A professora Drª.Maria Laís Pereira da Silva participação no
exame de qualificação e na banca examinadora;
A professora Drª. Ligia Maria Tavares da Silva pela presença na
banca examinadora.
5
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo o estudo da relação entre a atuação antrópica e o
espaço natural, que é expressa através da paisagem. Para tanto, tem como objeto
de estudo a Área de Proteção Ambiental de Maricá (APA de Maricá), localizada no
complexo lagunar do município de Maricá, RJ. Trata-se de uma área com
significativo potencial natural relacionada ao contexto urbano municipal, que tem
sido vista como local para expansão da malha urbana. Portanto, analisa a forma
como esta paisagem é percebida, para então, identificar como a integração entre
mudanças naturais e culturais interfere nas condições sócio-ambientais.
Consequentemente, parte da análise do conceito de paisagem e sua vertente natural
e cultural, assim como a interação entre meio natural e urbano. Considera, tamm,
a percepção ambiental, a fim de identificar como os diferentes setores sociais
envolvidos com a APA de Maricá a apreendem e se relacionam com esta, tendo em
vista os traços que indicam o processo de transformação desta paisagem.
Palavras chave: Paisagem natural. Paisagem cultural. Qualidade sócio-ambiental.
Adequação ambiental. Atuação antrópica.
6
ABSTRACT
This research intents the study of the relation existing between human actions and
natural environment. The local studied is the Area of Environment’s Protection of
Maricá, localized in the Maricá’s lagoon, in the municipal district of Maricá -RJ. This
area contents an expressive natural potential that is related to the municipal urban
context, and so is seen as a local for urban expansion. The research analyses the
way that this landscape is apprehended to identify the effects of the connection
between natural and cultural changes in the environment. Therefore, it inquires into the
conception of landscape, natural landscape, cultural landscape, and also the
interaction between natural and urban space. It considers the environment’s
perception to identify how the different segments of the society are related to the
area, considering the aspects that indicate the changes in this landscape.
Key-words: Natural landscape. Cultural landscape. Social and environmental quality.
Environmental adjustment. Human actuation.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig. 1 Mapa de localização do município de Maricá, f. 48.
Fig. 2 Divisão do município em distritos, f. 49.
Fig. 3 Mapa da biblioteca de Lisboa, datado do período de 1573/1578, f. 52.
Fig. 4 Mapa da biblioteca de Lisboa, datado do período de 1573/1578, f. 52.
Fig. 5 Planta da Vila de Maricá (1837), f. 52.
Fig. 6 Limites da Vila de Maricá (1837) , f. 53.
Fig. 7 Limites da Vila de Maricá (1837) , f. 53.
Fig. 8 Antiga estação de trem, f. 54.
Fig. 9 Antiga estação de trem, f. 54.
Fig. 10 Mapa da Fazenda de São Bento da Lagoa, f. 56.
Fig. 11 Rodovia Amaral Peixoto, década de 60, f. 56.
Fig. 12 Mapa viário de Marica, 1951, f.57.
Fig. 13 Praça de Maricá, f. 58.
Fig. 14 Casa de Câmara e Cadeia; atual sede da Casa de Cultura, f. 58.
Fig. 15 Rua Domício da Gama, durante a década de 60, f. 58.
Fig. 16 Matriz de Nossa Senhora do Amparo, f. 58.
Fig. 17 Entorno imediato da Matriz de Nossa Senhora do Amparo, f. 58.
Fig. 18 Mapa dos loteamentos implantados no município, f.62.
Fig. 19 Mapa com o recorte espacial e as áreas visitadas no trabalho de
campo, f. 66
Fig. 20 Distribuição da população no Estado, f. 67.
Fig. 21 Distribuição da população na rego das Baixadas Litorâneas, f. 67.
Fig. 22 Distribuição da população em Maricá, f. 69.
Fig. 23 Escolaridade da população de Mariem relação ao Estado do Rio de
Janeiro, f.70.
Fig. 24 Evolução da taxa de analfabetismo em Maricá, f. 70.
Fig. 25 Mapa com a divisão do Plano Diretor de Regionalização Região
Metropolitana, f. 72.
Fig. 26 Distribuição das unidades ambulatoriais em Maricá em 2007, f. 73.
Fig. 27 Repasses públicos da Uno e do Estado para Maricá, f. 75.
Fig. 28 Composição das Receitas Tributárias de Maricá, f. 76.
Fig. 29 Mapa com os tipos de uso do solo segundo o IQM Verde, f. 80.
8
Fig. 30 Mapa com a localização da APA de Maricá e Serra da Tiririca, f. 80.
Fig. 31 Mapa das áreas de abrangência da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica no Estado do Rio de Janeiro, f. 83.
Fig. 32 Mapa do sistema viário de Maricá, f. 85.
Fig. 33 Vista da RJ-106, f. 86.
Fig. 34 Vista da RJ-106, f. 86.
Fig. 35 Acesso secundário ao Município, f. 86.
Fig. 36 Carta Náutica das Lagoas de Maricá, f.90.
Fig. 37 Mapa da formação da Laguna de Maricá desenvolvido por Lamego
(1974), f. 91.
Fig. 38 Complexo lagunar visto a partir de Itapeba, no trecho da Lagoa de
Araçatiba, f. 93.
Fig. 39 Barra em processo de abertura, f. 95.
Fig. 40 Foto aérea da Barra da aberta, f. 95.
Fig. 41 Vista do Canal da Costa, f.95.
Fig. 42 Vista do Canal de Ponta Negra, f. 96.
Fig. 43 Mapa com as comunidades pesqueiras tradicionais do sistema lagunar
de Maricá, a partir de informações da SERLA em 1986, f. 99.
Fig. 44 Vista panorâmica de Zacarias, do Morro da Ponta da Pedra, na direção
do Oeste, f.101.
Fig. 45 Canal de São Bento na década de 90, f.101.
Fig. 46 Mapa da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 102.
Fig. 47 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 102.
Fig. 48 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 103.
Fig. 49 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 103.
Fig. 50 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 103.
Fig. 51 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 103.
Fig. 52 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 104.
Fig. 53 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 104.
Fig. 54 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 105.
Fig. 55 Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, f. 105.
Fig. 56 Mapa com a localização da APA de Maricá, f. 108.
Fig. 57 Projeto grupo empresarial Madri Lisboa/IDB para a Fazenda de São
Bento da Lagoa, f. 114.
9
Fig. 58 Mapeamento do Plano de Manejo da APA de Maricá, f.117.
Fig. 59 Imagem de satélite da APA de Maricá, com a localização de Zacarias,
f. 122.
Fig. 60 Edificações encontradas em Zacarias, f. 123.
Fig. 61 Edificações encontradas em Zacarias, f. 123.
Fig. 62 Edificações encontradas em Zacarias, f. 123.
Fig. 63 Edificações encontradas em Zacarias, f. 123.
Fig. 64 Zacarias, localizada no início da APA de Maricá, f. 123.
Fig. 65 Zacarias, localizada no início da APA de Maricá, f. 123.
Fig. 66 Imagens da APA de Maricá, em seu trecho inicial, f. 124.
Fig. 67 Imagens da APA de Maricá, em seu trecho inicial, f.124.
Fig. 68 Imagens da APA de Maricá, em seu trecho inicial, f.124.
Fig. 69 Imagens da APA de Maricá, em seu trecho inicial, f.1204.
Fig. 70 Cerca que delimita a.APA de Maricá, f. 124.
Fig. 71 Imagem de satélite perspectivada da APA de Maricá, f. 126.
Fig. 72 Imagem da APA de Maricá, f. 126.
Fig. 73 Vista da Rua Zero, na Barra de Maricá, nas imediações da APA de
Maricá, f. 127.
Fig. 74 APA de Maricá, vista a partir da Ponta do Fundão, f. 127.
Fig. 75 Ilha Comprida, em São Paulo, f. 127.
Fig. 76 Complexo lagunar de Maricá, f. 127.
Fig. 77 APA Litoral Norte, f. 127.
Fig. 78 APA de Marapendi, Rio de Janeiro, f. 127.
Fig. 79 Imagens de Zacarias, f. 130.
Fig. 80 Imagens de Zacarias, f. 130.
Fig. 81 Comunidade de Zacarias, f. 131.
Fig. 82 Comunidade de Zacarias, f. 131.
Fig. 83 Comunidade de Zacarias, f. 131.
Fig. 84 Comunidade de Zacarias, f. 131.
Fig. 85 APA de Maricá, f. 132.
Fig. 86 APA de Maricá, f. 135.
Fig. 87 Localização do trecho da Barra de Maricá percorrido durante o trabalho
de campo, f. 142.
Fig. 88 Ponte do Boqueirão, f. 142.
10
Fig. 89 Lagoa da Barra, f. 142.
Fig. 90 Lagoa da Barra, f. 143.
Fig. 91 Praia da Barra, f, 143.
Fig. 92 Barra de Maricá, no trecho ao lado da APA, f. 143.
Fig. 93 Barra de Maricá, no trecho ao lado da APA f. 143.
Fig. 94 Edificações encontradas na Barra de Maricá, f. 143.
Fig. 95 Edificações encontradas na Barra de Maricá, f. 143.
Fig. 96 Edificações encontradas na Barra de Maricá, f. 144.
Fig. 97 Edificações encontradas na Barra de Maricá, f. 144.
Fig. 98 Edificações residenciais da Barra de Maricá, f. 144
Fig. 99 Edificações residenciais da Barra de Maricá, f. 144.
Fig. 100 Trecho da APA em São José de Imbassaí, f. 144.
Fig. 101 Trecho da APA de Maricá em São José de Imbassaí, f. 145.
Fig. 102 Trecho da APA de Maricá em São José de Imbassaí, f. 145.
Fig. 103 Trecho da APA de Maricá em São José de Imbassaí, f. 145.
Fig. 104 Trecho da APA de Maricá em São José de Imbassaí, f. 145.
Fig. 105 Sede da Companhia Vidreira, f. 145.
Fig. 106 Lagoa e vias de acesso da APA de Maricá, f. 146.
Fig. 107 Lagoa e vias de acesso da APA de Maricá, f. 146.
Fig. 108 Edificações encontradas nas vias de acesso da APA de Maricá, f. 146.
Fig. 109 Edificações encontradas nas vias de acesso da APA de Maricá, f. 146.
Fig. 110 Edificações encontradas nas vias de acesso da APA de Maricá, f. 147.
Fig. 111 Edificações encontradas nas vias de acesso da APA de Maricá, f. 147.
11
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 Quadro cronológico com principais marcos do histórico da formação e
evolução urbana do município de Maricá, f. 65 – 66.
Quadro 2 Quadro histórico da Fazenda de São Bento, f. 120 – 121.
Tab. 1 Parcelamento de terras no município de Maricá, f. 61.
Tab. 2 Taxa de crescimento da população residente, segundo as regiões de
governo e municípios, f. 68.
Tab. 3 Taxa de Analfabetismo da população de 5 anos ou mais de idade, f. 70
- 71.
Tab. 4 mero de instituições de ensino em Maricá, f. 71 – 72.
Tab. 5 Distribuição de unidades ambulatoriais em Maricá em 2007, f. 72 - 73.
Tab. 6 Estabelecimentos de saúde em Maricá, f. 73.
Tab. 7 Contribuições do Produto Interno Municipal, f. 74 - 75.
Tab. 8 PIB municipal em 2005, f. 75.
Tab. 9 Percentual das áreas, por tipo de uso do solo, segundo os municípios
do Estado do Rio de Janeiro em 1994, f. 78.
Tab.10 Grupos de entrevistados durante o trabalho de campo, f. 126.
12
SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................Pág. 14
1. Conceitos referentes à paisagem e a interação entre meio natural e construído......
...........................................................................................................................Pág. 19
1.1. Entendendo a paisagem..................................................................Pág. 19
1.1.2 Paisagem como problema...................................................Pág. 28
1.1.3.Mercantilização da Paisagem..............................................Pág. 29
1.2. Paisagem natural e paisagem cultural.............................................Pág. 31
1.3. Percepção ambiental.......................................................................Pág. 34
1.4. Paisagem e Urbanismo....................................................................Pág. 40
2. Apresentação da área de estudo...................................................................Pág. 48
2.1. Caracterização do município de Maricá...........................................Pág. 48
2.2 Aspecto Histórico..............................................................................Pág. 50
2.2.1 Conjuntura atual..................................................................Pág. 62
2.3 Perfil sócio-econômico......................................................................Pág. 66
2.4 Aspectos Naturais.............................................................................Pág. 76
3.5 Características urbanas....................................................................Pág. 83
2.6. Caracterização do recorte espacial - A Restinga e a Área de Proteção
Ambiental de Maricá (APA de Maricá)....................................................Pág. 88
2.6.1. O sistema lagunar e o processo de abertura da Barra.......Pág. 93
2.6.2. A Restinga e a cidade de São Bento da Lagoa..................Pág. 98
2.6.3 A Área de Proteção Ambiental de Maricá..........................Pág. 107
3. Considerações sobre o trabalho de campo: análise e conclusões..............Pág. 122
3.1 Zacarias: a luta pela permanência e preservação do lar.....Pág. 128
3.2 Mercantilização X preservação: a percepção de outros
moradores..................................................................................Pág. 131
13
3.3 Um olhar externo: a experiência dos turistas.......................Pág. 134
3.4 Educação Ambiental: o caminho para a preservação da APA de
Maricá.........................................................................................Pág. 135
3.5 Percorrendo a APA de Maricá.........................................................Pág. 142
Considerações finais........................................................................................Pág. 151
Referências......................................................................................................Pág. 156
Obras citadas........................................................................................Pág. 156
Obras consultadas.................................................................................Pág. 162
Apêndice..........................................................................................................Pág. 164
Entrevistas com os moradores de Zacarias..........................................Pág. 166
Entrevistas com moradores do Centro e Barra de Maricá a favor do
empreendimento na APA de Maricá................................................... ..Pág.174
Entrevistas com moradores do Centro e Barra de Maricá contra o
empreendimento na APA de Maricá.....................................................Pág. 179
Entrevistas com turistas........................................................................Pág. 184
Entrevistas com estudantes de Ensino Médio......................................Pág. 186
Entrevistas com estudantes universitários............................................Pág. 196
14
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a correlação entre paisagem e
atuação antrópica, e como esta inter-relação se expressa espacialmente. Para tanto,
aborda-se a conceituação do termo paisagem, sua vertente natural e cultural, a
forma como o homem visualiza a paisagem, assim como a interação dos processos
naturais e urbanos. Por conseguinte, parte da concepção de paisagem, natureza e
meio urbano, a fim de identificar a interação entre atuação antrópica e o ambiente.
Desta forma, tem como meta identificar como a correlação entre estes
processos interfere na qualidade sócio-ambiental, e, logo, como o urbanismo pode
ser aplicado de forma integrada à preservação ambiental.
A fim de estabelecer um embasamento teórico conceitual para o
desenvolvimento da pesquisa, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre paisagem,
o que inclui seu conceito e formas de percepção, além de informações sobre o
recorte espacial estabelecido, para então realizar o estudo de caso.
A localidade escolhida para o estudo de caso é o complexo lagunar do
município de Maricá, localizado na Região das Baixadas Litorâneas do estado do
Rio de Janeiro.
Trata-se de uma área com significativo potencial natural que tem apresentado
crescimento com relação à expansão urbana, o que expressa a inter-relação entre
os processos naturais e antrópicos e, consequentemente, o impacto sobre o
ambiente.
Portanto, a hipótese que direciona a pesquisa é: Pode-se correlacionar
Urbanismo à preservação ambiental e à qualidade de vida na localidade de estudo?
Para tanto, as questões levantadas envolvem conceito de paisagem e suas
vertentes natural e cultural, a concepção social proveniente do senso comum de
paisagem como expressão do ambiente natural, interação entre processos naturais
15
e antrópicos e impacto da atuação antrópica sobre a qualidade sócio-ambiental.
Além disso, têm-se questões referentes ao local de estudo, como o processo de
mudança da paisagem local, a importância do complexo lagunar e de sua interação
com os ambientes de restinga e de mata atlântica, assim como suas várias
manifestações paisagísticas, para o município e para a população; a relação dos
moradores e usuários com a área, e como os moradores absorvem as
transformações da paisagem.
Portanto, o texto apresenta os conceitos básicos para a fundamentação e
orientação da exploração de campo, seguindo-se com a caracterização do
município, caracterização do recorte espacial, e apresentação do trabalho de campo.
A relevância do tema proposto deve-se à identificação dos aspectos que
indicam a relação entre os processos da paisagem natural e a correlação com a
interferência humana, e como esta última pode gerar impactos sobre a paisagem,
sobre a qualidade ambiental e de vida, e, logo, sobre o próprio homem, já que este
se encontra integrado à paisagem.
No caso da área de estudo, isto se expressa pelo intenso crescimento
populacional desvinculado de uma identidade e correlação com o local, visto que a
procura pela localidade se deve aos seus traços naturais, que, no entanto, são
modificados por esta ocupação.
Objetiva-se, portanto, identificar traços destes processos no espaço e a
relação com seus usuários em um recorte espacial do complexo lagunar,
considerando as peculiaridades naturais e culturais de seus subdistritos, e como isto
interfere na qualidade sócio-ambiental. Desta forma serão estudados os processos
urbanos e sua interação com as características naturais, e as formas de apropriação
do sítio.
A metodologia empregada parte da pesquisa bibliográfica sobre paisagem,
incluindo conceituação; sua vertente natural e cultural, percepção ambiental e a
relação entre os processos urbanos e o meio, para então seguir com o
desenvolvimento da fundamentação teórica e temática a ser abordada.
Após a fundamentação teórica, a dissertação teve seguimento com a coleta
de dados sobre o local de estudo, o que inclui informações iconográficas e
históricas; assim como informações referentes às condições sócio-econômicas,
ambientais, e infra-estrutura, o que ocorreu através de consulta bibliográfica e a
16
órgãos governamentais para o desenvolvimento da caracterização da área de
estudo.
A fim de viabilizar a realização da pesquisa, tornou-se necessário estabelecer
um recorte espacial dos subdistritos que compõem o complexo lagunar, que se
trata de uma área extensa, o que levou a escolha da Área de Proteção Ambiental de
Maricá, a APA de Maricá.
A escolha da APA de Marideve-se a sua expressão enquanto paisagem
natural, e junto a isto, tem-se a relação entre meio natural e atuação humana
decorrente da proposta em processo de tramitação para construção no local.
Portanto, esta proposta, que tem como meta a ocupação de uma área de
preservação ambiental, exemplifica a interação entre paisagem natural e cultural
assim como os impactos desta no âmbito sócio-ambiental.
Para tanto, tornou-se necessário, tamm, a coleta de informações sobre a
proposta para implantação deste empreendimento, através de jornais e órgãos
governamentais.
A pesquisa ainda envolveu a participação em reuniões com membros da
comunidade e pescadores, que tem por objetivo a preservação da APA de Marie
manutenção da comunidade pesqueira no local. Dentre estas reuniões, tem-se os
encontros promovidos pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) para o
desenvolvimento de um plano de manejo para a APA, e reuniões promovidas por
pesquisadores e pela Associação Comunitária de Cultura e Lazer dos Pescadores
de Zacarias (ACCLAPEZ).
Após a elaboração do embasamento teórico e delimitação da área a ser
analisada, a dissertação teve continuidade com o trabalho de campo, que constou
no percurso da APA em pontos diferenciados, em sub-distritos diferentes e em suas
imediações, logo, as áreas analisadas foram: a comunidade de Zacarias, que se
insere dentro da APA e trecho da APA após esta, a Barra de Maricá, que fica
adjacente a Zacarias; além de outro trecho da APA que fica em São José de
Imbassaí e a área limítrofe a APA. A escolha dos pontos a serem percorridos
objetiva identificar as peculiaridades das formas de interação entre os processos
naturais e antrópicos, já que se trata de uma área extensa.
Seguiu-se com o levantamento fotográfico e pesquisa com os moradores e
freqüentadores através da aplicação de métodos qualitativos, o que incluiu a
realização de entrevistas.
17
Os grupos selecionados para o desenvolvimento da entrevista foram:
moradores da comunidade de Zacarias, moradores de outros sub-distritos do
município, turistas e estudantes de ensino médio e graduação. A escolha destes
grupos objetiva identificar como moradores da área e de áreas vizinhas relacionam-
se com a APA, e a imagem que apresentam desta.
Objetiva-se, portanto, identificar se a população tem conhecimento da
existência de áreas de preservação no município, ou seja, se conhecem a APA de
Maricá e qual a. importância atribuída a esta. Para tanto, escolheu-se grupos de
faixas etárias diversas, assim como diferentes formas de relação com o local de
estudo, ou seja, se são moradores, freqüentadores, turista, veranistas.
Conseqüentemente, foram entrevistados 10 moradores da comunidade de
Zacarias, 21 moradores do Centro e da Barra de Maricá, 4 turistas; 48 alunos de
ensino médio e 25 universitários.
Junto à entrevista foi desenvolvido um exercício a partir de imagens, com
base na metodologia desenvolvida por Lynch (2006), onde foram apresentadas aos
entrevistados imagens da APA de Mari e de locais parecidos para que estes
apontassem aquelas que representam o local de estudo. Este exercício tem por
objetivo identificar como os diferentes grupos de entrevistados percebem a
paisagem em questão e como se relacionam com esta.
O trabalho de pesquisa teve prosseguimento com a realização de entrevista
com alunos do município, englobando alunos de nível médio e superior, a fim de
identificar como estes seguimentos visualizam e se relacionam com a paisagem em
questão, e, portanto, qual o uso que atribuem a esta, além de identificar se estes já
estiveram na área e conhecem as propostas para mudança desta paisagem e o que
consideram sobre isto.
Esta parte do trabalho de campo tem como meta constatar se a população
maricaense sabe da existência da APA, se a conhece e que importância atribui a
esta e se tem conhecimento da proposta para edificação na mesma, ou seja como
estas informações são difundidas no âmbito municipal.
O desenvolvimento do trabalho de campo objetivou a caracterização da área
de estudo e identificação das características que expressem a transformação da
paisagem e o reflexo desta sobre cotidiano social, ou seja, o modo como a
população identifica as transformações espaciais. Após a coleta das informações foi
18
elaborado o texto da dissertação incluindo as conclusões decorrentes do trabalho de
campo.
Os procedimentos metodológicos referentes ao trabalho de campo serão
retomados no capítulo 3, no qual o apresentados os resultados da pesquisa de
campo.
A seguir, tem-se o primeiro capítulo da dissertação com os conceitos
referentes à paisagem, que fundamentaram o desenvolvimento da pesquisa e,
consequentemente, o trabalho de campo.
19
1. CONCEITOS REFERENTES À PAISAGEM E A INTERAÇÃO ENTRE MEIO
NATURAL E CONSTRUÍDO
Neste capítulo serão levantados os conceitos fundamentais para a realização
da pesquisa. Através da revisão bibliográfica são abordados temas referentes ao
ambiente natural e sua relação com o espaço construído, assim como a percepção
ambiental e a correlação entre paisagem e urbanismo.
1.1 ENTENDENDO A PAISAGEM
O termo paisagem remete à noção de natureza, de local preservado das
ações antrópicas, todavia, inclui o espaço construído, e, portanto, a natureza
modificada pela atuação humana, o que também constitui paisagem. Neste estudo,
objetiva-se identificar esta dialética entre a paisagem e a ação do homem, e como
isto se expressa espacialmente e socialmente.
Para tanto, torna-se necessário compreender o que é a paisagem e como o
homem se insere e relaciona com esta, para então entender o impacto desta
interação sobre o ambiente.
O conceito de paisagem é analisado segundo abordagens diversificadas, pois
é objeto de estudo de diferentes disciplinas, o que remete a necessidade de atuação
e estudo da paisagem segundo enfoque interdisciplinar.
A conceituação tradicional de paisagem refere-se a esta como espaço de
terreno que se abrange num lance de vista
1
(DICIONÁRIO DIGITAL AURÉLIO), o
que, desta forma, é considerada como algo externo ao homem, e que exige visão de
conjunto. Contudo, trata-se de um sistema complexo, dinâmico e fragmentário, visto
que sua totalidade não pode ser compreendida com o olhar. Quanto a este sistema
1
Este conceito de paisagem é encontrado em dicionários.
20
que constitui a paisagem, pode-se mencionar Emídio (2006), que, com relação à
visão da paisagem, considera que:
A visão da paisagem é uma constante descoberta, pois depende do quê, do
como, do quando e do quanto se vê, variando por causa de deslocamentos
físicos, freqüência e luminosidade durante os diferentes períodos do dia.
Entretanto, para o observador, a paisagem, formada por elementos
abióticos e bióticos, apresenta-se de forma fracionada – parte de uma
dimensão maior -, e a sua totalidade não é visualizada com um simples
olhar. Por conseguinte, o homem apreende partes isoladas da paisagem,
pois tende a desconsiderar o todo (EMÍDIO, 2006, p. 57).
Constata-se, então, que a paisagem inclui o meio e os seres vivos, assim
como a inter-relação entre estes. Portanto, engloba os processos naturais, o homem
e suas ações. No que tange a correlação entre os elementos da paisagem, Emídio
(2006) explicita que:
Em todo caso, não ignoremos que a paisagem esconde muitas outras
realidades que não podem ser percebidas pelo simples olhar. Ela tem fortes
componentes estéticos, particularmente visuais, porém está ligada a um
universo cultural que ultrapassa os meros horizontes físicos do mundo
natural. A paisagem são os povos, os costumes, as atrações e repulsas, os
modos de ser e muito mais. Em síntese, a paisagem, como recurso
ambiental e patrimonial, é o cenário da vida e do cotidiano do seres que
povoam a biosfera. A paisagem é, pois, uma realidade, sempre presente no
espírito humano e onipresente na realidade ambiental (EMÍDIO, 2006, p.
20).
Sauer (1998), ao estabelecer o conceito de paisagem cultural, considera uma
diferenciação entre paisagem natural e paisagem cultural, onde a paisagem natural
é decorrente das características originais da paisagem que não sofreram
modificações pela atuação do homem, ao passo que a paisagem cultural é resultado
da expressão de traços culturais sobre o meio. Logo, trata-se de uma associação de
formas físicas e culturais, onde os trechos da paisagem são caracterizados por suas
peculiaridades culturais. (SAUER In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p. 43).
Portanto, Sauer (1998) associa as formas naturais do ambiente ao modo
como estas são utilizadas pelo homem, em função de suas atitudes e preferências.
Conforme o autor:
As ações do homem se expressam por si mesmas na paisagem cultural.
Pode haver uma sucessão dessas paisagens com uma sucessão de
21
culturas. Elas se derivam em cada caso da paisagem natural, com o homem
expressando seu lugar na natureza como um agente distinto de
modificação. De especial importância é aquele clímax de cultura a que
chamamos civilização. A paisagem cultural então é sujeita à mudança pelo
desenvolvimento da cultura ou substituição de culturas. A linha de dados a
partir da qual a mudança é medida, tornando-se a condição natural da
paisagem. A divisão de formas em naturais e culturais é a base necessária
para determinar a importância da área e o caráter da atividade humana
[grifo meu] (SAUER In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p. 43).
Tuan (1980) define paisagem da seguinte forma: “A paisagem é um arranjo de
aspectos naturais e humanos em uma perspectiva grosseira; os elementos naturais
são organizados de tal forma que proporcionam um ambiente apropriado para a
atividade humana.” (TUAN, 1980, p.140). Junto a isto, para o autor, a paisagem
parte de uma ordenação da realidade através de uma visão vertical, referente a um
sistema natural que fomenta bases para a vida humana; havendo, ainda, uma visão
horizontal, que conforma espaço para ão pessoal e cenário para contemplação.
(TUAN, 1980, p.152).
A paisagem constitui uma unidade, é continua, e, logo, se diferencia do lugar,
visto que este atribui função e identidade específica a determinados trechos da
paisagem. (HOLZER, 1994, p. 55).
O advento do conceito de paisagem, no ocidente, é atribuído, segundo alguns
autores, ao Renascimento, porém, Cauquelin (2007) retoma as origens da paisagem
no contexto da Grécia Antiga. Nesta não havia uma conceituação de paisagem, pois
o homem se considerava integrado ao meio, e o lugar constituía suporte de
apropriação do mundo, conforme a autora:
Não dúvida de que a natureza o era figurada na forma da paisagem.
Se ela aceitava ser representada concretamente, era em termos de
ordenamento, de distribuição organizada. Potência atuante nos objetivos
animados e inanimados, a metáfora que se encarregava dela para torná-la
inteligível era de ordem antropomórfica (CAUQUELIN, 2007, p. 45).
Segundo Cauquelin (2007), com a formação da cidade grega, estabeleceu-se
uma divisão entre campo e cidade, e logo entre o homem e o ambiente, o que
resultou na necessidade do homem de se proteger do meio, e, consequentemente,
configurou a noção ocidental de paisagem enquanto externa ao homem. Por
conseguinte, a cidade grega era fechada conformando a paisagem que era
percebida, onde a natureza se encontrava no exterior. (CAUQUELIN, 2007, p. 45).
22
Com relação a esta concepção de paisagem como externa ao homem, Leite (1994)
destaca que:
De modo geral, as civilizações da antiguidade estiveram tão profundamente
impregnadas pelo sentido de sobrevivência e adaptação às condições
naturais, que sua paisagem, na maior parte das vezes, era caracterizada
como um conjunto de objetos selecionados e dispostos de forma a
satisfazer às necessidades essenciais do corpo e as exigências da religião.
O aspecto técnico dominava e de certa forma até anulava o aspecto
estético, e o resultado era, frequentemente, uma paisagem fechada para o
mundo exterior (LEITE, 1994, p.32 e 33).
na Idade Média, em seu âmbito teocêntrico, a natureza, e em
conseqüência a paisagem, como forma de representação, era vista como elemento
de fundo para temas religiosos, como um aspecto icônico, simbólico, acentuando o
distanciamento entre homem e paisagem. (SEGAWA, 1996, p. 25).
No Renascimento a paisagem passa a ser expressa na pintura através do
advento da perspectiva, sendo, a partir de então, vinculada ao campo artístico,
enquanto forma de representação. Todavia, Tuan (1980), considera que a pintura de
paisagem expressa a escola do pintor e sua visão e experiência individual,
constituindo, portanto, uma representação pouco vinculada à realidade externa.
(TUAN, 1980, p. 140).
Ainda em se tratando da perspectiva e representação da paisagem, pode-se
citar Ronai (1977), que considera que os lugares constituem sistemas e pontos de
vistas estratégicos expressos pela perspectiva, o que, desta forma, atribui uma
condição de obra de arte à paisagem (RONAI, In: Hérodote, 1977, p. 13). Conforme
o autor:
Certos eixos, ângulos, distâncias, configurações, certos lugares, são
constituídos em sistemas: os famosos “pontos de vista” estratégicos,
reproduzidos pela perspectiva. Assim foram recenseadas paisagens-tipo,
as paisagens-matriciais. Esta paisagedade
2
restrita se organiza em torno
de posições: [...] Ela coloca a paisagem como obra de arte, como
monumento, e aplica critérios quase acadêmicos de admissibilidade no
museu universal das paisagens valorizadas (RONAI, 1977, p.13).
2
A paisagedade, termo desenvolvido por Ronai, estabelece uma codificação do espaço, de forma
que este possa ser compreendido. Trata-se da apreensão da paisagem segundo uma visão, uma
representação. Segundo este conceito, a paisagem não pode ser analisada diretamente.
23
O advento da representação da paisagem na pintura pode ser atribuído aos
holandeses (Cauquelin, 2007, p. 35 - 36), que a empregaram enquanto forma de
registro e conhecimento dos traços típicos de sua colônia no nordeste brasileiro. Em
relação à obra dos holandeses de representação da paisagem, Segawa (1996)
considera que:
Não foram espanhóis, tampouco portugueses, que se empenharam em
reconhecer a nova terra de forma sistêmica, e sim os holandeses, em sua
permanência no Nordeste do Brasil entre 1624 e 1654. A mais importante
documentação sobre o Brasil do século 17 foi realizada pela elite dos
homens trazidos por Johann Moritz von Nassau-Siegen (1604-79), quando
governador geral da Nova Holanda (1637-44) (SEGAWA, 1996, p.53).
A representação da paisagem tamm está articulada ao movimento
paisagista inglês do século XIX, decorrente da demanda por áreas livres proveniente
da revolução industrial, e que tinha como influência a pintura de paisagem para a
composição de jardins, em especial as pinturas de Claude Lorrain.
Consequentemente, culminou em um estilo de paisagismo, o paisagismo inglês ou
pitoresco, que objetivava a elaboração de paisagens com aspecto natural, mesmo
que envolvendo o emprego de elementos construtivos artificiais, além disso utilizou
formas curvas e assimétricas, desvinculando-se do estilo anterior, o paisagismo
francês. Sobre o paisagismo inglês, pode-se citar Franco (1997): “No século XIX as
formas curvas da natureza são enfatizadas na literatura e no pictorismo inglês, em
decorrência da aversão de alguns setores intelectuais às máquinas, formas urbanas
deterioradas, e ao processo que as gerou a industrialização”. (FRANCO, 1997,
p.82).
Todavia, a conceituação da paisagem se articula primeiramente à literatura,
em decorrência de uma demanda científica e mercantilista pela descrição dos
elementos do Novo Mundo, durante o movimento imperialista do século XIX.
Novamente, pode-se mencionar Cauquelin (2007):
A arte, muito bem, mas qual? Parece que, para as duas descobertas da
montanha ou do litoral, a literatura foi a primeira. Poemas, meditações,
relatos de viagem, abriram caminho. A pintura vai no enlaço. Ela abre uma
segunda vez o caminho e leva a partilhar a vio da imagem descrita pela
língua. Uma vez representada em desenho e cor, a paisagem que suscitava
a emoção dos escritores adquire certa realidade. Ela existe. A prova: eu
estava lá, sentada diante de meu cavalete (CAUQUELIN, 2007, p. 93).
24
Com relação à expressão literária da paisagem, destaca-se a obra de
Alexander Von Humboldt, que com o Movimento Romântico, vinculou literatura à
descrição científica, considerando a paisagem natural enquanto estrutura
homogênea, o que resultou na inserção da concepção de paisagem na conjuntura
científica. Em sua obra, tamm pode ser identificada uma abordagem do impacto
da atuação do homem sobre o meio, e logo, noções sobre preservação ambiental.
Ricotta (2003), ao se referir a obra de Humboldt, analisa que:
Tanto no Ansichten como no Kosmos, o “tratamento” [grifo do autor]
muitíssimo imagético dedicado à linguagem propõe uma nova dimensão
interpretativa dos fenômenos naturais ou da Natureza propriamente dita.
Aqui, a Natureza, em sua totalidade, é “tudo o que é perceptível” [grifo do
autor]. (Allles Wahrnehmbare) como “plenitude da vida” [grifo do autor].
(Lebensfülle) e, como tal, deve ser conhecida e reunida segundo o “trânsito”
[grifo do autor]. (Verkehr) entre aquilo que a alma (Gemüt) apreende do
mundo e aquilo “que ela devolve das suas profundezas [grifo do autor].
Essa nova interpretação semântica da Natureza terá sido, por sua vez,
fundamental para o “tratamento” [grifo do autor] visual da linguagem, que
cuida de transformar as descrições naturalistas em “pintura da natureza”
[grifo do autor] (RICOTTA, 2003, p. 20).
Desta forma, a pintura da paisagem se desarticula desta conceituação
científica, e, por conseguinte, a paisagem passa a ser vista como elemento científico
e como elemento artístico.
No que tange à descrição literária dos elementos da paisagem, pode-se
considerar que, no caso do Brasil, a expansão imperialista se vincula ao
conhecimento e à exploração das potencialidades naturais da colônia, o que pode
ser exemplificado pela implementação de jardins botânicos com finalidade de cultivo
de espécies nativas e aclimatação de espécies exóticas de valor econômico para a
metrópole, o que exigia descrição e representação destas espécies. (SEGAWA,
1996, p. 56).
A abordagem científica da paisagem tamm se deve ao desenvolvimento da
Geografia enquanto disciplina, o que se deu com o enfoque da paisagem como
objeto de estudo. Nesta, pode-se destacar as formas de interpretação da paisagem
estabelecidas pelas suas vertentes: para a Geografia Francesa, paisagem está
articulada a uma apropriação cultural específica a cada região; para a Geografia
Alemã, a paisagem é compreendida a partir de seus elementos morfológicos; ao
25
passo que para a Geografia Cultural Norte-Americana, paisagem é vista como um
sistema que inclui a atuação antrópica, resultado de associações físicas e culturais.
A intervenção do homem no meio deve-se a expressão de idéias abstratas
em busca da paisagem ideal, o Éden, o que se iniciou com os preceitos católicos
medievais e movimento literário e artístico dos séculos XVI, XVII, XVII e XIX. Pode-
se citar Leite (1994), que, quanto a esta busca por uma paisagem idealizada,
destaca que: “A paisagem, reflexo da relação circunstancial entre o homem e a
natureza, pode ser vista como a tentativa de ordenar o entorno com base em uma
imagem ideal.”. (LEITE, 1994, p. 29).
Ainda em relação a esta visão ideal de paisagem, pode-se destacar Tuan
(1980), conforme o autor:
Certos meios ambientes naturais têm figurado de maneira proeminente nos
sonhos da humanidade de um mundo ideal: a floresta, a praia, o vale e a
ilha. A construção do mundo ideal é uma questão de remover os defeitos do
mundo real. [grifo meu] A geografia fornece necessariamente o conteúdo do
conhecimento topofílico. Os paraísos têm uma certa semelhança familiar
porque os excessos da geografia (muito quente ou muito frio, muito úmido
ou muito seco) são removidos. Em todos eles abundam as plantas e
animais úteis e amigos do homem. Os paraísos também diferem em suas
respectivas excelências: alguns são pastagens abundantes, outros são
florestas mágicas, ilhas perfumadas ou vales nas montanhas (TUAN, 1980,
p. 286 - 287).
Essa atuação no meio também se deve à necessidade social por ordenação
espacial, refletindo a própria estruturação social. (PAES-LUCHIARI In: Geofraphia,
Revista da Pós-Graduação em Geografia da UFF, 2005, p. 53).
A paisagem reflete os valores sociais referentes ao contexto cultural, histórico,
político, religioso e econômico. Em conseqüência, cada sociedade, em um dado
momento histórico, apresenta uma paisagem, havendo, assim, uma sucessão de
paisagens.
Visto que paisagem é composta por constantes processos naturais e
culturais, esta é caracterizada pela temporalidade e mutação permanente. Pode-se,
então, considerar que o homem estabelece uma relação com a paisagem de
constante formação e transformação. Com relação a esta mutação permanente,
Rossi (1995) estabelece: “Assim, a união entre o passado e o futuro está na própria
idéia da cidade, que a percorre tal como a memória percorre a vida de uma pessoa e
26
que, para concretizar-se deve conformar a realidade, mas tamm conformar-se
nela.”. (ROSSI, 1995, p.200).
A conceituação de natureza a define como contendo elementos em seu
estado natural, que não sofreram alterações pela atuação antrópica. Entretanto, tem-
se enraizada socialmente, a noção de paisagem como natureza e antagônica à
cidade, que, por sua vez, é vista como fonte dos males sócio-ambientais. Segundo
Tuan (1980): Quando uma sociedade alcança um certo nível de desenvolvimento e
complexidade, as pessoas começam a observar e apreciar a relativa simplicidade da
natureza”. (TUAN, 1980, p. 118).
De acordo com Meinig (2002), uma visão antiga na qual o homem tende a
se separar da natureza. Dessa forma, todo observador apresenta uma tendência de
remover o homem da cena visualizada em sua memória visual, a fim de restaurar a
natureza em seu estado primitivo. (MEINIG In: Espaço e Cultura, 2002, p. 36).
Para Mckibben (1990), com a idéia de natureza e cidade enquanto elementos
segregados, o homem constituiu um mundo pós-natural, onde há uma necessidade
superficial por natureza expressa através de um anseio por áreas que não
apresentem traços de trabalho humano. (MCKIBBEN, 1990, p. 67).
Camargo (2005), considera que O conceito de natureza é um produto
social. E, sendo ou não exterior, o fato da exterioridade da natureza é o bastante
para legitimar a dominação da mesma.”. (CAMARGO, 2005, p. 30).
Paisagem abrange meio ambiente ao constituir subsistência à vida; habitat ao
abrigar seres vivos e espaço ao conter lugares específicos a determinados fins.
Neste contexto, constata-se que paisagem engloba elementos naturais, objetos,
seres vivos e as inter-relações entre estes, unindo processos naturais e artificiais, o
que inclui o próprio homem, portanto, paisagem e ambiente construído o
estruturas intrínsecas. Consequentemente, é espaço natural e é espaço antrópico
simultaneamente, e expressa os traços dos grupos culturais nela encontrados,
dessa forma, cada paisagem apresenta uma configuração específica, característica
das peculiaridades culturais de seus habitantes e usuários.
Emídio (2006), com relação à interação entre ação antrópica e natureza,
considera que:
Disso decorre que, na condição de representante do dinamismo existente
na relação homem, atividade e natureza, que se modifica constantemente
27
de acordo com o tempo, a paisagem tanto pode evoluir de forma natural e
lenta como de forma acelerada em virtude da atuação do homem, que gera
esse processo de modificar e adaptar o ambiente às suas necessidades,
com o objetivo de organizar funções e usos no espaço, definindo lugares da
vida. Com esse fim garantir sua sobrevivência no planeta o homem
desenvolveu mecanismos de ação voltados para o domínio da natureza,
que a partir de então, concerte-se em paisagem [grifo meu] (EMÍDIO, 2006,
p. 52 e 53).
Para Cosgrove (1998) a paisagem é considerada como um conceito cultural
ocidental desenvolvido no Renascimento, e, portanto, uma forma de ver o mundo e
uma forma de representação deste e a da interação humana com este. Trata-se de
uma visão do mundo através da experiência humana. O autor define a paisagem
como:
Assim a paisagem está intimamente ligada a uma nova maneira de ver o
mundo como uma criação racionalmente ordenada, designada e
harmoniosa, cuja estrutura e mecanismo são acessíveis à mente humana,
assim como ao olho, e agem como guias para os seres humanos em suas
ações de alterar e aperfeiçoar o meio ambiente. [grifo meu] Neste sentido,
paisagem é um conceito complexo de cujas implicações desejo especificar
três: (i) um foco nas formas visíveis de nosso mundo, sua composição e
estrutura espacial; (ii) unidade, coerência e ordem ou concepção racional do
meio ambiente; (iii) a idéia de intervenção humana e controle das forças que
modelam e remodelam nosso mundo. Tal intervenção, deve ser ressaltado,
não é indiferente, exploradora ou destrutiva, mas uma relação que
harmoniza a vida humana com a ordem ou modelo inerente da própria
natureza (COSGROVE In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p.99).
Para Meinig (2002) a paisagem pode ser classificada em categorias, sendo
elas: paisagem como natureza, devido a seus aspectos naturais; paisagem como
habitat, ao constituir abrigo para os seres, o que inclui o homem; paisagem como
artefato, enquanto produto da atuação humana; paisagem como sistema,
proveniente da interação de seus processos; paisagem como problema, em virtude
dos impactos ambientais; paisagem como riqueza, que se refere ao valor atribuído
aos seus elementos pela sociedade, paisagem como ideologia ao expressar
mbolos de valor cultural; paisagem como história ao concentrar traços culturais de
diferentes períodos históricos; paisagem como lugar por apresentar lugares
específicos a determinados fins e paisagem como estética, decorrente dos valores
estéticos atribuídos pela simbologia cultural. (MEINIG In: Espaço e Cultura, 2002, p.
47 - 54).
28
No que se refere à relação das diferentes manifestações sociais com a
paisagem, como um conceito, a paisagem não está presente em todas as culturas,
pois as sociedades interpretam a paisagem em função de suas singularidades e do
uso que fazem desta. (HOLZER, 1994, p. 65).
Portanto, a paisagem é suporte de expressões naturais e antrópicas, e
representa momentos históricos e singularidades culturais, caracterizando-se por
sua constante transformação.
Dessa forma a paisagem pode ser compreendida como paisagem natural e
cultural, onde esta última é constituída pela interação de fatores naturais e culturais.
A paisagem cultural é objeto de estudo da geografia cultural, logo, pode-se citar o
geógrafo Berque (1998), para quem a paisagem é decorrente da interação entre
homem e o meio. Segundo ele:
A paisagem é uma marca [grifo do autor], pois expressa uma civilização,
mas também é uma matriz [grifo do autor] porque participa dos esquemas
de percepção e de ação ou seja, da cultura que canalizam, em um
certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza
e, portanto, a paisagem do seu ecúmeno. E assim, sucessivamente, por
infinitos laços de co-determinação (BERQUE In: CORRÊA; ROSENDAHL,
1998, p.84 - 85).
1.1.2 Paisagem como problema
Tanto as modificações naturais quanto as antrópicas implicam em impactos
ambientais, no entanto, a interferência humana pode acarretar impactos
irreversíveis, cujos danos afetam não o meio como a própria qualidade de vida.
Conforme Emídio (2006):
A paisagem reflete o equilíbrio ecológico ou atesta seu desequilíbrio. Nesse
sentido, ela pode representar um fator de estímulo à conservação do
entorno ou um alerta contra a degradação, ou ainda, um chamado à sua
recuperação. A paisagem pode, assim, ser um sensor da qualidade
ambiental (EMÍDIO, 2006, p. 21).
Consequentemente, tem-se, o surgimento do conceito de paisagem enquanto
problema, o que ocorreu na década de 70, em virtude do movimento ecológico,
levando à conscientização acerca da problemática ambiental, escassez e uso
inadequado dos recursos naturais. De acordo com Sirkis (1999): “No início do
29
movimento ambientalista, havia uma tendência a encarar as cidades como centros
de todos os males ambientais e sociais do mundo industrializado. Os ambientalistas
lutavam, basicamente, pela proteção da natureza” (SIRKIS, 1999, p.195).
Conforme Meinig (2002), a paisagem é vista como problema a partir de um
enfoque ambientalista, em decorrência dos impactos da atuação do homem sobre o
meio, havendo, também, a concepção dos profissionais que atuam sobre o espaço,
que consideram um problema de design, objetivando a alteração da paisagem
segundo princípios de funcionalidade e estática. (MEINIG, 2002, p.40).
1.1.3 Mercantilização da Paisagem
Outra forma de concepção do conceito de paisagem é a associação da
paisagem à função de capital, ou seja, a mercantilização da paisagem.
Para Ronai (1977), o homem também atribui função de capital à paisagem,
através do valor de troca e fetichização de seus elementos, onde a paisagem é
restringida a determinados setores sociais, expressando, dessa forma, os valores
culturais vigentes. (RONAI In: Hérodote, 1977, p. 17). De acordo com Ronai:
Efeito de uma mudança de escala nas estratégias de poder, cenografia
pré-montada, rede de regimes de desfrute estético, a paisagedade ao
espaço o status de objeto estético no momento em que a lógica do
mercado investe na totalidade do espaço. Através dos modelos de
consumo, observamos a transição da paisagem-obra de arte para a
paisagem-mercadoria (RONAI, 1977, p.17)
Trata-se de um processo mercadológico de difusão e venda de conceitos,
onde os locais da paisagem passam a ser valorizados ideologicamente e
financeiramente através de demandas criadas para determinados momentos de
expansão do mercado imobiliário.
Por conseguinte, a paisagem é inserida no contexto do sistema capitalista
global, devendo, portanto, atender a condição de objeto de consumo e de constante
reinvenção de conceitos, o que, em conseqüência, culmina em um processo
continuo de restrição da paisagem e do que estes conceitos difundem como ideal de
qualidade de vida.
30
Neste âmbito, os setores responsáveis pela comercialização da paisagemo
se restringem ao capital privado, pois o Estado tamm se insere neste contexto ao
atender as demandas deste capital privado.
Quanto a esta mercantilização da paisagem, pode-se mencionar Camargo
(2005), que se posiciona da seguinte maneira:
O imaginário ocidental, a respeito da relação da sociedade com seu meio
natural, foi e é componente fundamental para o estabelecimento do atual
modelo de uso dos recursos da natureza. Esse fenômeno veio sendo
construído a partir das revoluções técnico-científicas dos séculos XVI e
XVII, e se estabeleceu como fundamento do paradigma clássico cartesiano-
newtoniano. Nesse sentido, o alicerce do sistema capitalista se atrelou a
idéias como o determinismo dos ciclos naturais, como a fragmentação da
natureza e como o espaço absoluto, entre diversas outras questões que se
associaram à acumulação de capital (CAMARGO, 2005, p. 19).
Atualmente este processo de comercialização da paisagem é expresso por
empreendimentos que se baseiam na ocupação de extensas áreas localizadas em
regiões costeiras. Estes se fundamentam no ideal de qualidade de vida a partir da
proximidade da natureza, mesmo que isto implique em impactos ambientais, e
remete à questão da concepção de cidade e meio natural como estruturas
contrárias, onde a cidade concentra os males sócio-ambientais.
Junto a isto, destaca-se que as características consideradas como problemas
a serem evitados nos espaços urbanos são conseqüências de momentos anteriores
deste mesmo mecanismo mercadológico, e que, por conseguinte, geram a demanda
por comercialização de novas paisagens, e de procura por novos mercados
consumidores.
No entanto, a forma de exploração do suporte natural tem sido a mesma
apesar da constante demanda por inovações e de aspectos característicos
atribuídos à qualidade de vida. Desta forma, resultam em núcleos independentes e
desarticulados do contexto em que se inserem, onde os espaços construídos e
naturais encontram-se desintegrados.
Visto os aspectos que definem a paisagem, segue-se com uma abordagem
das vertentes natural e cultural da paisagem.
31
1.2 PAISAGEM NATURAL E PAISAGEM CULTURAL
A paisagem é classificada como natural e cultural por alguns autores, neste
caso a paisagem natural seria a paisagem em seu estado original, inalterada pelo
homem, já a paisagem cultural seria resultado de expressão de determinada cultura,
logo, é decorrente da ação humana, desta forma, a paisagem urbana seria uma
paisagem cultural. Quanto a esta classificação do termo paisagem, Emídio (2006),
descreve:
Tradicionalmente, a geografia diferencia a paisagem natural e a paisagem
cultural. A primeira refere-se à combinação de elementos formados pela
própria natureza interagindo entre si, tais como topografia, vegetação, solo,
rios e lagos, entre outros, enquanto a paisagem cultural humanizada
inclui todas as modificações feitas pelo homem no ambiente natural,
visando à apropriação para seu uso (EMÍDIO, 2006, p. 66).
Como já mencionado anteriormente, paisagem cultural foi definida pela
Geografia Cultural, que associa as características espaciais de determinado trecho
da paisagem a um grupo cultural que nela se encontra. Sobre a Geografia Cultural,
Leite (1994) afirma que:
[...] A Geografia Cultural, proposta por Carl Sauer, tinha como preocupação
central a análise das formas que a cultura de um povo cria na organização
de seu ambiente. A região seria então considerada como uma categoria
espacial e socialmente diferenciada, que respondia diretamente às
necessidades de reprodução cultural da sociedade (LEITE, 1994, p.24).
O geógrafo Berque (1998) define Geografia Cultural da seguinte forma:
“Entendo aqui a geografia cultural como o estudo do sentido (global e unitário) que
uma sociedade à sua relação com o espaço e com a natureza, relação que a
paisagem exprime concretamente.” (BERQUE In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998,
p.84).
Com relação aos objetivos da Geografia Cultural, Cosgrove (2000) considera
que:
A geográfica cultural estabelece para si tarefa similar. Apesar de toda a
divergência teórica, metodológica e de material perceptível em seus textos,
os geógrafos culturais compartilham o mesmo objetivo de descrever e
32
entender as relações entre a vida humana coletiva e o mundo natural, as
transformações produzidas por nossa existência no mundo da natureza e,
sobretudo, os significados que a cultura atribui à sua existência e às suas
relações com o mundo natural (COSGROVE In: CORRÊA; ROSENDAHL,
2000, p.34).
Além dos aspectos culturais, a paisagem cultural também envolve fatores
temporais, e, para a Geografia Cultural a imaginação constitui o meio através do
qual o homem delineia a paisagem cultural. Conforme Corrêa e Rosendahl (2000):
A imaginação é considerada aquilo que dá significado ao mundo, pois é por
meio dela que o ser humano inicialmente realiza as transformações que
condicionam sua existência na natureza. [grifo meu] A imaginação não
resulta apenas dos sentidos nem apenas do intelecto, e seu papel não se
vincula puramente à produção nem à reprodução social. Através das
metáforas, a imaginação atribui novos significados aos diversos aspectos
naturais e sociais da realidade (CORRÊA; ROSENDAHL, 2000, p.12 - 13).
Mainig (2002) caracteriza a paisagem como um depósito de dados sobre as
sociedades que a criaram em seus respectivos contextos históricos, portanto,
paisagem é conseqüência das atitudes humanas sobre esta. (MEINIG In: Espaço e
Cultura, 2002, p. 43).
Deste modo, os lugares da paisagem são derivados das diferentes formas de
expressão cultural e seus símbolos. Pode-se, novamente, citar Cosgrove (2000),
que quanto à relação entre o homem e o espaço natural, discorre que:
[...] Reconhecemos que os seres humanos são parte da natureza,
constituem-se das mesmas matérias, regem os mesmo ritmos e processos,
estão em comunicação direta com ela através da existência corpórea,
sentidos e paixões. Reconhecemos tamm que o intelecto e a razão
permitem separação e distinção conceituais entre o mundo humano e o
mundo da natureza. Ao satisfazer esses dois aspectos, o ser humano
interfere no mundo natural, altera-o, e, nesse processo, transforma a si
próprio. Para nós humanos, não um mundo natural que exista para si
mesmo, ou, pelo menos, se a idéia é pensada, nosso entendimento desse
mundo é mediado pela consciência de que, desta forma, o transformamos
em resultado da cultura [grifo meu] (COSGROVE In: CORRÊA;
ROSENDAHL, 2000, p.35).
Cosgrove e Jackson (2000) observam que a paisagem passa a ser estudada
enquanto imagem cultural, através de vários meios de representação, revelando
significados que os grupos humanos atribuem a áreas e lugares, que por sua vez,
33
podem ser relacionados a outros aspectos da existência humana. Junto a isto,
através do estudo da evolução do conceito de paisagem, constata que os
significados da paisagem mudam de acordo com o uso e percepção atribuídos a
esta com a passagem do tempo. (COSGOVE; JACKSON In: CORRÊA;
ROSENDAHL, 2000, p. 18).
Trata-se, portanto, da interação de fatores naturais, ambientais e padrões
sociais. Conforme Leite (1994):
A evolução histórica dos conceitos e dos processos de projeto da paisagem
mostra uma permanente procura de formas que expressem a integração e a
compatibilidade entre as manifestações econômicas, técnicas, científicas e
artísticas da sociedade. Intervenções na paisagem são o resultado de um
processo dinâmico de expressão do imaginário social, que reflete de perto
certos padrões estéticos e culturais, cuja origem dificilmente pode ser
situada em cada um desses campos de conhecimento isoladamente
(LEITE, 1994, p. 30).
Dessa forma, a paisagem natural é o suporte sobre o qual as características
sociais, culturais, e o tempo configuram a paisagem cultural, que por sua vez, se
encontra em mudança ao longo da história da humanidade e seus processos
culturais.
Sauer (1998) definiu paisagem geográfica como o resultado da ação da
cultura, ao longo do tempo sobre a paisagem natural. (CORRÊA; ROSENDAHL,
1998, p. 7). Segundo o autor:
Não podemos formar uma idéia da paisagem a não ser em termos de suas
relações associadas ao tempo, bem como suas relações vinculadas ao
espaço. Ela está em processo constante de desenvolvimento ou dissolução
e substituição. É nesse sentido uma apreciação verdadeira de valores
históricos que fez com que os geomorfólogos ligassem a paisagem física
atual ao passado nas suas origens geológicas e a partir daí chegassem a
conclusões passo a passo. No sentido corológico, entretanto, a modificação
da área pelo homem e a sua apropriação para o seu uso são de importância
fundamental. A área anterior à introdução de atividade humana é
representada por um conjunto de fatos morfológicos. As formas que o
homem introduziu são um outro conjunto. [grifo meu] Podemos chamar as
primeiras, com referência ao homem, de paisagem natural, original. No seu
todo, ela não existe mais em muitas partes do mundo, mas sua
reconstrução e compreeno são a primeira parte da morfologia formal
(SAUER In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p.42).
34
Pode-se considerar que a paisagem cultural está em constante
transformação, sendo constituída pelo cotidiano sócio-cultural de seus diferentes
grupos, logo, é, tamm, heterogênea. Novamente, menciona-se Sauer (1998):
A paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem natural por um
grupo cultural. A cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem
cultural o resultado. [grifo meu] Sob a influência de uma determinada
cultura, ela própria mudando através do tempo, a paisagem apresenta um
desenvolvimento, passando por fases e provavelmente atingindo no final o
término de seu ciclo de desenvolvimento. Com a introdução de uma cultura
diferente, isto é, estranha, estabelece-se um rejuvenescimento da paisagem
cultural ou uma nova paisagem se sobrepõe sobre o que sobrou da antiga.
A paisagem natural é evidentemente de fundamental importância, pois ela
fornece os materiais com os quais a paisagem cultural é formada. A força
que modela, entretanto, está na própria cultura (SAUER In: CORRÊA;
ROSENDAHL, 1998, p.59).
Tendo relacionado os conceitos de paisagem natural e cultural, será estudada
a noção de paisagem, aborda-se a forma como a paisagem é percebida por seus
usuários, o que leva ao estudo da percepção ambiental.
1.3 PERCEPÇÃO AMBIENTAL
Diante da complexibilidade e mutação permanente da paisagem, sua
percepção é peculiar a cada observador, variando com sua escala de observação,
deslocamento, hierarquia e seleção de observação, o que constitui a imagem da
paisagem percebida individualmente. Esta apreensão tamm se vincula à
experiência individual, assim como a fatores culturais e à relação do indivíduo com
os locais da paisagem, que, por sua vez, espacializa lembranças e experiências
cotidianas. Para Berque (1998):
Do ponto de vista da geografia cultural, que procura, ao contrário, definir essa
relação, não é suficiente (embora seja necessário) explicar o que produziu a
paisagem enquanto objeto. É preciso compreender a paisagem de dois
modos: por um lado ela é vista por um olhar, apreendida por uma
consciência, valorizada por uma experiência, julgada (e eventualmente
produzida) por uma estética e uma moral, gerada por uma política, etc
(BERQUE In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p.86).
35
Emídio (2006) considera a percepção ambiental como uma escala da
paisagem, para a autora:
Além da escala espacial - que indica a extensão (tamanho) e resolução
(representação espacial) – e da escala temporal (período determinado), não
se deve desconsiderar a existência da escala de percepção, aquela por
meio da qual cada espécie animal – incluindo o homem percebe a
paisagem em função de suas características ecológicas (EMÍDIO, 2006, p.
65).
Trata-se de um processo cognitivo, onde a vivência espacial é vinculada a
fatores fenomenológicos, psicológicos, afetivos e simbólicos, nos quais os indivíduos
procuram segurança e equilíbrio na paisagem. Isto pode ser exemplificado por meio
da diferença da experiência do morador e do visitante referente à determinada
paisagem. Para Leite (1994): “A forma pela qual a paisagem é projetada e
construída reflete uma elaboração filosófica e cultural que resulta tanto da
observação objetiva do ambiente, quanto da experiência individual ou coletiva com
relação a ele” (LEITE, 1994, p. 29).
A percepção envolve aspectos culturais, onde estímulos de reação e a
cognição constituem os valores dos elementos culturais, portanto o observador
apreende mais detalhadamente objetos familiares, que remetem a significados
dentro de seu repertório sócio-cultural. Desta forma, a cultura resulta de diferentes
formas de percepção, isto é, a peculiaridade da percepção individual sobre o mundo,
que decorre de uma seleção e ordenação dos elementos apreendidos. Neste ponto,
pode-se considerar a correlação entre a percepção ambiental e a fenomenologia,
que, por sua vez, tem como base a essência que os objetos apresentam para os
indivíduos, assim como a experiência de vida. Quanto a isto, Lynch (2006)
estabelece que:
A paisagem também desempenha um papel social. O ambiente conhecido
por seus nomes é familiar a todos oferece material para as lembranças e
símbolos comuns que unem o grupo e permitem que seus membros se
comuniquem entre si. [...] A organização simbólica da paisagem pode ajudar
a diminuir o medo e a estabelecer uma relação emocionalmente segura
entre o homem e seu ambiente total (LYNCH, 2006, p.143 - 144).
Conforme Tuan (1980), que se apropriou do termo topofilia para expressar a
associação de sentimentos com o lugar, meio ambiente e lugar estabelecem
36
vínculos com acontecimentos emocionalmente fortes que são percebidos como um
mbolo. O autor acrescenta que:
O fato das imagens serem extraídas do meio ambiente não significa que o
mesmo as tenha determinado, nem necessitamos acreditar [...] que certos
meios ambientes possuem irresistível poder de despertar sentimentos
topofílicos. O meio ambiente pode não ser a causa direta da topofilia, mas
fornece o estímulo sensorial que, ao agir como imagem percebida, dá forma
às nossas alegrias e ideais. Os estímulos sensoriais o potencialmente
infinitos: aquilo a que decidimos prestar atenção (valorizar ou amar) é um
acidente do temperamento individual, do propósito e das forças culturais
que atuam em determinada época (TUAN, 1980, p. 129).
Portanto, a percepção compreende visão, experiência anterior do observador
e memória. O conjunto de imagens individuais constitui o imaginário coletivo sobre a
paisagem, desenvolvendo a identidade social e noção de lugar na sociedade. A
identificação desta imagem coletiva expressa a forma como a população se
relaciona com determinados trechos da paisagem. Quanto a isto, Emídio (2006)
discorre que:
Contudo, a paisagem possui uma identidade visual, contendo espaços e
tempos distintos: o passado e o presente relacionando-se também a
categoria de lugar [grifo do autor]. Sentir-se parte de um determinado
território e da sua paisagem significa tanto torná-lo o seu lugar de vida,
como estabelecer uma identidade com eles, construindo laços afetivos
referências e valores pessoais (EMÍDIO, 2006, p. 42 - 43).
Ainda em se tratando da espacialização da experiência sócio-cultural nos
elementos da paisagem, Camargo (2005) considera que:
O espaço vivido, característico da corrente humanista, relaciona-se com a
dimensão da experiência humana dos lugares ou com a maneira como o
sujeito percebe o objeto. [...]. Por isso, a leitura do mundo real relaciona-se
com a subjetividade de como os grupos humanos se organizam em cada
espaço específico. O cotidiano, tem, assim, sua leitura baseada na intuição
obtida, associada à experiência dos habitantes locais (CAMARGO, 2005, p.
100 - 101).
Novamente, menciona-se Tuan (1980), que, quanto à percepção ambiental,
acredita que esta se relaciona com os aspectos culturais, segundo o autor:
“Raramente é possível relacionar como causa e efeito, características ambientais
37
como preferências perceptivas: a cultura influi”. (TUAN, 1980, p. 285 - 286). O autor
considera tamm que as imagens ambientais identificadas decorrem do interesse
que os indivíduos apresentam em diferentes momentos de seu contexto cultural,
segundo ele:
As imagens da topofilia são derivadas da realidade circundante. As pessoas
atentam para aqueles aspectos do meio ambiente que lhes inspiram
respeito e ou lhes prometem sustento e satisfão no contexto das
finalidades de suas vidas. As imagens mudam à medida que as pessoas
adquirem novos interesses e poder, mas continuam a surgir do meio
ambiente: as facetas do meio ambiente, previamente negligenciadas são
vistas agora com toda claridade (TUAN, 1980, p. 137).
Constata-se que uma relação entre a morfologia da paisagem e os
mbolos do imaginário coletivo, assim como as singularidades destes símbolos
frente à identidade cultural de grupos e indivíduos, associando a paisagem a
aspectos subjetivos. Conforme Cosgrove (1998):
[...] Todas as paisagens são simbólicas, apesar da ligação entre o símbolo e
o que ele representa (seu referente) pode parecer muito tênue. [...] Muito do
simbolismo da paisagem é menos aparente do que qualquer um desses
exemplos. Mas ainda serve ao propósito de reproduzir normas culturais e
estabelecer valores de grupos dominantes por toda uma sociedade
(COSGROVE In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p.106).
Em se tratando aos símbolos da paisagem o autor acrescenta:
Tais paisagens simbólicas não são apenas afirmações estáticas, formais.
Os valores culturais que elas celebram precisam ser ativamente
reproduzidos para continuar a ter significado. Em grande parte isto é
realizado na vida diária pelo simples reconhecimento dos edifícios, nomes
dos lugares e etc. Mas frequentemente os valores inscritos na paisagem
o reforçados por ritual público durante cerimônias maiores ou menores
(COSGROVE In: CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p.115).
Para Lynch (2006), a imagem ambiental é produto da relação entre seus
elementos e dos indivíduos com estes, exprimindo significado específico para cada
observador. Segundo ele:
Uma imagem ambiental pode ser decomposta em três componentes:
identidade, estrutura e significado. É conveniente abstraí-los para a análise,
38
desde que não se perca de vista que sempre aparecem juntos. Uma
imagem viável requer, primeiro, a identificação de um objeto, o que implica
sua diferenciação de outras coisas, seu reconhecimento enquanto entidade
separável. A isso se dá o nome de identidade, o no sentido de igualdade
com alguma coisa, mas com o significado de individualidade ou unicidade.
[grifo meu] Em segundo lugar, a imagem deve incluir a relação espacial ou
paradigmática do objeto com o observador e os outros objetos. Por último,
esse objeto deve ter algum significado para o observador, seja ele prático
ou emocional. O significado também é uma relação, ainda que bastante
diversa da relação espacial ou paradigmática (LYNCH, 2006, p. 9).
Rossi (1995), em seu estudo sobre a cidade, conclui que a paisagem urbana
inclui o aspecto cultural, e, logo, a leitura espacial inclui os traços da expressão
humana atrelados ao meio físico. Segundo o autor:
A hipótese da análise do conteúdo social, aplicada com particular atenção à
topografia urbana, desenvolve-se assim até nos proporcionar um
conhecimento mais complexo da cidade; trata-se de avançar por
integrações ulteriores ao modo que alguns fatos elementares possam ser
dispostos através da análise acomporem fatos mais gerais. Também a
forma dos fatos urbanos adquire uma interpretação bastante convincente
através do conteúdo social; nele, há motivos e razões que têm grande papel
na estrutura urbana (ROSSI, 1995, p. 37).
Com relação aos estudos sobre a paisagem, destacam-se a Teoria da Gestalt
e as obras de Kevin Lynch e Gordon Cullen, desenvolvidas na década de 60, que
tratam da análise percepcionista da paisagem, mais precisamente da paisagem
urbana. Trata-se, portanto, da percepção ambiental, que decorre da correlação entre
os aspectos psicológicos, sociais e ambientais expressos espacialmente e a forma
como estes são apreendidos. Quanto à percepção ambiental, Emídio (2006)
descreve:
Surgiu tamm a percepção ambiental, uma teoria interdisciplinar ligada à
psicologia. Para ela, o comportamento social é influenciado pela maneira
como o ambiente é percebido, ou seja, a interpretação da imagem da
paisagem pode ser feita de formas diferentes, variando de pessoa para
pessoa. Já suas qualidades resultam na organização de elementos que
advém da criatividade do homem no uso dos espaços públicos e
particulares, conferindo dinâmica social à paisagem (EMÍDIO, 2006, p. 106 -
107).
Lynch (2006) considera a percepção ambiental como um processo bilateral
entre a paisagem observada e o observador, decorrente da singularidade da
observação individual, conforme o autor:
39
As imagens ambientais são o resultado de um processo bilateral entre o
observador e seu ambiente. Este último sugere especificidades e relações,
e o observador com grande capacidade de adaptação à luz de seus
próprios objetivos seleciona, organiza e confere àquilo que vê. A imagem
assim desenvolvida limita e enfatiza o que é visto, enquanto a imagem em
si é testada, num processo constante de interação, contra a informação
perceptiva filtrada. Desse modo, a imagem de uma determinada realidade
pode variar significativamente entre observadores diferentes (LYNCH, 2006,
p.7).
Desta forma, a percepção ambiental se relaciona à expressão da identidade
do indivíduo e como este interage com o espaço, ou seja, qual a importância da
paisagem para seu usuário, e como este a compreende.
Com relação à identidade sócio-espacial, constata-se que o conjunto de
imagens individuais sobre determinado lugar da paisagem constitui, como já citado
anteriormente, a imagem coletiva, remetendo ao que Lynch denomina de
imaginabilidade da paisagem, para o autor:
Pode haver uma imagem pública de qualquer cidade que é a sobreposição
de muitas imagens individuais. Ou talvez exista uma série de imagens
públicas, cada qual criada por um mero significativo de cidadãos. Essas
imagens de grupo são necessárias sempre que se espera que um indivíduo
atue com sucesso em seu ambiente e coopere com seus cidadãos. Cada
imagem individual é única e possui algum conteúdo que nunca ou
raramente é comunicado, mais ainda assim ela se aproxima da imagem
pública que, em ambientes diferentes, é mais ou menos impositiva, mais ou
menos abrangente (LYNCH, 2006, p.51).
Lynch (2006) considera que a paisagem apresenta função social ao reunir
mbolos e lembranças comuns a um grupo de pessoas, estabelecendo interação
entre seus componentes. (LYNCH, 2006, p. 143).
Para Rossi (1995), a paisagem é constituída pela expressão da memória
coletiva, resultando em uma imagem predominante que caracteriza o espaço.
Conforme o autor:
Ampliando a tese de Halbawachs, gostaria de dizer que a própria cidade é a
memória coletiva dos povos, e como a memória está ligada a fatos e a
lugares [grifo meu], a cidade é o “locus [grifo do autor] da memória coletiva.
Essa relação entre o locus” [grifo do autor] e os citadinos torna-se, pois, a
imagem predominante, a arquitetura, a paisagem; e, como os fatos fazem
parte da memória, novos fatos crescem juntos na cidade. Nesse sentido, e
40
de todo positivo, as grandes idéias percorrem a história da cidade e a
conformam.
[...] Enfim, a memória coletiva se torna a própria transformação do espaço,
a cargo da coletividade; uma transformação que é sempre acondicionada
por aqueles dados materiais que se opõem a essa ação (ROSSI, 1995,
p.198).
A percepção da paisagem envolve a assimilação de uma seqüência de
imagens derivadas da observação dos lugares da paisagem, estas imagens podem
proporcionar surpresas e emoções aos indivíduos, o que constitui a visão serial.
Quanto a esta seqüência de imagens da paisagem, Leite (1994) descreve que:
Em 1790, Archibald Alison publicou Ensaios sobre a natureza e os
princípios do bom gosto [grifo do autor], em que propôs a teoria da
associação com base na Escola Pitoresca. Para ele, o prazer estético o
estava nas qualidades intrínsecas dos objetos percebidos, mas em
seqüências de idéias que, conectadas por algum tipo de encadeamento,
deveriam ser capazes de produzir associações e despertar emoções
(LEITE, 1994, p. 40).
Constata-se que o homem atua sobre a paisagem conforme a sua
experiência, buscando exprimir e se identificar com os mbolos de seu contexto
cultural. Pode-se, então, citar Leite (1994): “O que está representado na paisagem é
decorrência da interação entre a sociedade e a natureza da interpretação, individual
ou coletiva, dos processos de estruturação do território.. (LEITE, 1994, p. 50).
Conclui-se que a percepção do ambiente resulta de um processo individual
atrelado à peculiaridade de observação, experiência, assim como a uno de
aspectos culturais, sociais, históricos e físicos, resultando em significados
específicos a pessoas e grupos sociais. Visto isto, segue-se com uma correlação
entre a paisagem e a forma de atuação sobre esta, atrelando-a ao urbanismo.
1.4 PAISAGEM E URBANISMO
Como um sistema cujos elementos se encontram em constante interação, a
paisagem é composta por mudanças decorrentes da atuação natural e do homem.
Contudo, tem-se a concepção de natureza segregada dos processos humanos, o
que gera uma atuação no meio desarticulada dos fatores naturais, e resulta em
impactos ambientais.
41
Objetiva-se, com este estudo, identificar a correlação entre urbanismo e os
processos naturais da paisagem, e os impactos desta interação sobre o ambiente, o
que tona necessária à compreensão da correlação entre urbanismo e meio natural.
Neste contexto, tem-se a constituição da paisagem urbana, através da
interação de fatores ambientais e culturais, para Emídio (2006), a paisagem urbana
seria:
A paisagem urbana é, concretamente, um produto formado por um conjunto
de três fatores relacionados e situados no tempo, pois tanto a sociedade
como as estruturas físicas sobre as quais se organiza variam seu
comportamento com o passar dos anos. São eles:
Sítio: a situação geográfica do assentamento.
Sociedade: o agente que cria e constrói a paisagem em resposta às suas
necessidades.
Edificações, malha viária e espaços livres: os elementos que definem a
paisagem urbana (EMÍDIO, 2006, p. 81 - 82).
Desta maneira, a qualidade ambiental da paisagem urbana se deve à
correlação entre atuação antrópica e a natureza, conforme Emídio (2006):
Paisagem é o resultado de relações estabelecidas entre os componentes
bióticos e abióticos do ambiente, onde o homem, em especial, imprime sua
marca e registra no tempo e no espaço dimensões da história -, com
significados econômicos e sociais, além dos ecológicos e culturais.
Contudo, não se pode esquecer que ele se insere nesse contexto não
apenas como um ser participativo, mas também perceptivo, pois seus
estados mental e emocional são igualmente invocados. E mais, essa
interação entre homem e ambiente é evidenciada na paisagem pela
qualidade ambiental refletida na qualidade de vida, quando incorporadas as
diretrizes de sustentabilidade e superados os conflitos com a natureza [grifo
meu] (EMÍDIO, 2006, p. 164).
Para Camargo (2005) o homem constitui parte da natureza, portanto, o
ambiente é produto da evolução de processos culturais junto aos naturais. Segundo
ele:
O homem e a natureza são um só, uma só dinâmica, uma só realidade, pois
o homem faz parte do meio natural e, principalmente, é natureza. O atual
padrão ecológico planetário é, então, uma conseqüência direta da evolução
conjunta que a sociedade possui, dinamizando o seu ambiente e a si
mesmo (CAMARGO, 2005, p. 220).
42
Todavia, a concepção de meio urbano e natural enquanto entidades
divergentes e segregadas acarreta a separação entre os processos urbanos e as
características do suporte físico, e consequentemente, prejudica a qualidade
ambiental e de vida. Com relação a isto, Spirn (1995) destaca que:
A compreensão de que a natureza é ubíqua, um todo que envolve a cidade,
tem implicações poderosas na forma como a cidade é construída e mantida,
bem como na saúde, segurança e bem-estar de cada morador.
Infelizmente, a tradição colocou a cidade contra a natureza. E a natureza
contra a cidade. A crença de que a cidade é uma entidade separada da
natureza, e até contrária a ela, dominou a maneira como a cidade é
percebida e continua a afetar o modo como é construída. [grifo meu] Esta
atitude agravou e até causou muitos dos problemas ambientais urbanos:
água e ar poluídos; recursos dilapidados ou irrecuperáveis; enchentes mais
freqüentes e mais destrutivas; demandas crescentes de energia e custos de
construção e manutenção mais elevados do que os anteriores à
urbanização; e, em muitas cidades, uma feiúra generalizada. Os problemas
urbanos atuais não são diferentes, em essência, daqueles que afetavam as
cidades antigas, a não ser quanto ao grau, à toxidade e à persistência de
novos contaminantes, e à extensão de terra que está agora urbanizada.
Com o crescimento das cidades, essas questões se tornaram mais agudas.
Todavia, continuam a ser tratadas como fenômenos isolados, e o como
fenômenos interligados resultantes de intervenções humanas corriqueiras, e
a ser exacerbadas por uma consideração pelos processos naturais. A
natureza tem sido vista como um embelezamento superficial, como um luxo,
mais do que como uma força essencial que permeia a cidade (SPIRN,
1995, p.21).
Quanto à posição do homem frente ao meio natural e construído, Tuan (1980)
destaca que:
Como artefato a cidade reflete um propósito humano. O meio ambiente de
uma grande metrópole, para a maioria das pessoas que nela vivem, é um
fato tão irredutível às necessidades individuais das pessoas como são os
fatos da natureza. [...] As atitudes em relação ao selvagem e ao campo, na
medida que são verbalizadas e conhecidas, são respostas sofisticadas
sobre o meio ambiente e se originam na cidade. Estas atitudes pressupõem
a existência e o reconhecimento de tipos de meio ambiente e de um grau de
liberdade para escolher entre eles. As atitudes, para com todos os três tipos
de meio ambiente têm sido desde o início ambivalentes. Selvagem
simbolizou caos, a morada de demônios e pureza. O jardim e a fazenda
representavam a vida idílica, mas mesmo o Éden teve sua serpente;
propriedades rurais levam à melancolia; a fazenda era para os campônios.
A cidade simbolizava a ordem, liberdade e glória mas também mundanismo,
corrupção das virtudes naturais e opressão. [grifo meu]. No Ocidente, o
Romantismo Naturalista do século dezoito foi logo seguido dos horrores da
Revolução Industrial; ambos conduziram a opinião pública a acentuar os
méritos do campo e da natureza, em detrimento da cidade. As imagens se
invertem de modo que o selvagem representa a ordem (ordem ecológica) e
a liberdade, enquanto a cidade central é caótica, uma selva governada por
pátrias sociais (TUAN, 1980, p. 287 - 288).
43
Segundo Leite (1994 B) as práticas do urbanismo não têm como base o
conjunto de características naturais e sociais dos lugares, mas partem de uma
reprodução de modelos parciais que reduzem a natureza ao urbano, e, logo, não
integram os aspectos naturais e construídos. Frente a isto, os problemas cotidianos
das cidades decorrem da visão de urbanização como produto e não como processo,
onde as transformações nos âmbitos econômico, político, social e cultural resultam
em projetos urbanos que se apóiam na diferenciação, na contraposição entre o
natural e o construído. (LEITE In: SOUZA et al, 1994, p. 104 - 141). A autora explica
esta segregação entre os processos urbanos e o suporte natural da seguinte forma:
Natureza e cidade separam-se da consciência social, do valor da vida, da
miséria criada e agravada por um processo de urbanização que, ao não
definir as funções desempenhadas pelo natural e pelo construído, reduzem-
nos à mesma dimensão, estabelecendo e perpetuando uma grosseira
confusão entre causas e efeitos do próprio processo urbano (LEITE In:
SOUZA et al, 1994, p. 142 -143).
Quanto às práticas urbanas, Sirkis (1999) se expressa do seguinte modo:
“Domar a natureza é o primeiro procedimento que temos de um processo de
urbanização. [...] Essa relação de conflito e submissão entre a cidade e seu berço
natural povoa o senso comum” (SIRKIS, 1999, p. 17).
Ainda segundo Spirn (1995), pode-se considerar espaço urbano e natural
enquanto um sistema único com elementos em interação, que une fatores
ambientais e sociais. Para a autora:
[...] O valor da natureza na cidade só pode ser plenamente apreciado
quando todo o ambiente natural urbano é visto como um único sistema
interativo. Apenas quando os valores sociais e os processos naturais são
reconhecidos, as prioridades podem ser estabelecidas, e os valores
complementares e conflitantes, ser resolvidos ou conciliados. Apenas então
a forma urbana pode refletir totalmente os valores inerentes à natureza,
bem como os outros valores sociais (SPIRN, 1995, p.286 - 287).
A intervenção antrópica sobre o ambiente segue razões não culturais e de
sobrevivência, mas também fatores produtivos, sem considerar a correlação destes
com o meio e os impactos sobre este. Neste aspecto, cita-se Leite (1994):
44
É inegável que a organização do território brasileiro, atinge, atualmente, os
mais altos veis de especialização regional, com concentração de
atividades industriais, comerciais e habitacionais em algumas áreas
superlotadas. Parece cada vez mais distante a possibilidade de reorganizar
o território sem repensar o modelo ecomico, a localização das atividades
industriais, o tipo de urbanização, a função dos espaços não urbanizados,
as necessidades específicas dos grupos sociais. Construir a paisagem
dentro das regras de um jogo de relações que favoreça uma maior
diversidade de estilos de vida, implica, exatamente, enfrentar as
contradições do capitalismo, entender o conflito entre as inovações e o
estabelecido. [grifo meu] Isso pode ser feito baseando-se na
compreensão dos processos, naturais ou não, que levem ao exaurimento
ou à degradação da paisagem, simultaneamente com a compreensão das
razões sociais, econômicas e políticas que levam à adoção de
determinadas práticas de utilização do território. Em essência, implica
entender o modo como se materializam localmente as relações
econômicas, políticas e culturais resultantes das condições gerais de
evolução da sociedade; tal entendimento pode ser alcançado a partir, por
exemplo, das “desigualdades” [grifo do autor] da paisagem (LEITE, 1994, p.
88).
Quanto aos processos urbanos, Leite (1994) acredita que a qualidade de vida
decorre da inter-relação entre processos sócio-culturais, econômicos e ambientais,
para a autora:
A experiência concreta da paisagem, porém, mostra que o foi posvel
obter nenhum tipo de harmonia entre natureza, cultura e sociedade,
partindo de abstrações teóricas, porque não existe nenhum padrão
universal de urbanização, de especialização do território, de necessidades
básicas para a qualidade de vida, quando se trata de integrar processos
sociais, econômicos, culturais e naturais. O território seorganizado por
meio de vários processos simultâneos, mas não necessariamente
interligados; somente quando esses processos se tornarem
contextualizados, adquirindo, portanto, uma dimensão ambiental, é que se
poderá assim considerá-los (LEITE, 1994, p. 110 - 111).
Segundo Franco (2001) a atuação antrópica interfere na capacidade de
resiliência da natureza, fazendo com que tanto o conceito de impacto quanto o de
poluição sejam considerados como antrópicos, mesmo que resultando em efeitos
naturais como, por exemplo, inundações, secas, terremotos e outros fenômenos de
grande porte . Essa interferência humana quando superior à capacidade de
resistência de um ecossistema, pode levar a um processo de morte ou extinção.
(FRANCO, 2001, p. 28 - 29).
45
Por conseguinte, com o passar dos tempos, os movimentos de readaptação
da natureza e da sociedade frente a esta atingem maiores proporções. (BENJAMIN,
1993, p. 10).
Com a atuação humana promovendo uma nova configuração de paisagem,
desenvolveu-se, após a Revolução Industrial, a conscientização acerca das
conseqüências da interferência do homem sobre o ambiente, levantando-se
aspectos como a poluição e diminuição de áreas verdes, por exemplo, resultando
em uma demanda por medidas sanitaristas.
Conforme Boff, o homem se caracteriza por seu poder de dominação, que se
materializa na sua relação com a natureza caracterizada pela atuação antrópica
frente ao meio, considerando-se em posição superior aos demais elementos
naturais. Esse processo se intensificou a partir do momento em que o homem
passou a empregar o desenvolvimento técnico como instrumento para tal finalidade.
(BOFF, 1995, p. 114 - 115).
Para Franco (1997), a conservação ambiental constitui um convívio
harmônico entre homem e natureza, gerando o mínimo impacto possível, e, logo,
sem esgotar os recursos ambientais, permitindo a vida das gerações futuras.
Portanto: Toda ação no território deve partir de critérios de conservação ambiental,
nos quais os padrões de qualidade de vida devem estar ligados ao equilíbrio entre a
ação antrópica e os processos naturais; [...]” (FRANCO, 1997, p.139).
Junto a isto, Franco (2001) acrescenta que: “A análise urbana, assumindo o
olhar ambiental, de estar centrada na conservação das condições ecológicas
adequadas às distintas comunidades, enfatizando suas relações com a diversidade
social e biológica” (FRANCO, 2001, p. 76).
Lovelock (2006), considera a Terra como um sistema, denominado Gaia,
sendo este um organismo vivo que se auto regula. Neste contexto o homem atua
como um microrganismo patogênico, embora devesse se integrar com o meio
através de uma relação de simbiose para estabelecer um relacionamento benéfico
entre homem e ambiente. Logo, as conseqüências do avanço industrial e
crescimento econômico, assim como o incremento da densidade populacional,
ameaçam o planeta e o próprio homem. Para Lovelock:
Nenhuma das aflições ambientais com que nos defrontamos atualmente – a
destruição das florestas tropicais; a degradação das terras e dos mares; o
46
avultamento da ameaça do aquecimento global; a destruição da camada de
ozônio; e a chuva ácida - seria um problema perceptível para uma
população global de 50 milhões de habitantes. Mesmo para 1 bilhão de
pessoas, essas poluições provavelmente poderiam ser contidas. Mas em
nosso número atual mais de 6 bilhões de pessoas e em nosso atual
modo de vida, elas são insuportáveis. Se não forem controladas, elas nos
matarão em grande número, além de outras espécies, e mudarão o planeta
de modo irreversível (LOVELOCK, 2006, p.155).
Para Boff, que considera o homem e os demais seres como integrantes de
um sistema de elementos correlacionados, interdependentes e complementares, a
questão ambiental, e logo, a sustentabilidade deve ser considerada segundo um
aspecto holístico onde a preservação parte de uma articulação entre ambiente e
aspectos culturais, e, portanto, a ciência e técnica devem ser empregues em favor
da natureza. (BOFF, 1995, p. 32).
Segundo ele, o homem se insere em um conjunto, uma teia de relações que
envolve seres, organismos e fenômenos, logo, não há uma separação entre
natureza, história e o homem. Deste modo, os problemas ambientais não se
expressam somente a deterioração ambiental, mas tamm, nos aspectos sociais,
neste caso, representados pela diferença entre populações ricas e pobres (BOFF,
1995).
Mckibben (1990) tamm considera o homem enquanto integrado ao meio, e,
por conseguinte, suas atuações constituem elementos naturais, já que o homem é
integrante da natureza; e simultaneamente, artificiais, já que são decorrentes de
produção antrópica. Desta forma, esta interferência humana modificou o ambiente, o
que pode ser identificado, por exemplo, pelas alterações climáticas e diminuição de
áreas verdes, entre outros aspectos. (MCKIBBEN, 1990, p. 70).
No que tange a relação entre espaço natural e cultural, Tuan (1980) descreve:
”O meio ambiente natural e a visão do mundo estão estrategicamente ligadas: a
visão do mundo, se não é derivada de uma cultura estranha, necessariamente é
construída dos elementos conspícuos do ambiente social e físico de um povo.”
(TUAN, 1980, p. 91).
Conclui-se que o urbanismo enquanto meio de expressão cultural humana no
espaço físico, deve partir da inter-relação harmônica com o suporte natural, o que
passa pela consideração acerca das peculiaridades naturais do sítio, emprego de
materiais em acordo com o impacto ambiental e disponibilidade, entre outras
medidas, podendo-se destacar, também o atendimento as demandas sociais.
47
Após o estudo dos conceitos norteadores da pesquisa, parte-se para o
próximo capítulo, no qual será apresentada a localidade a ser estudada e, em
seguida, o recorte espacial a ser analisado.
48
2. APRESENTAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Neste capítulo objetiva-se a caracterização do município de Maricá, a fim de
contextualizar a área de estudo e sua relação no âmbito municipal. Para tanto,
apresenta-se um breve histórico da cidade, caracterização sócio-econômica e
ambiental, para então seguir com a apresentação do recorte espacial.
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARICÁ
Localizada no Estado do Rio de Janeiro, Marifaz fronteira com o Oceano
Atlântico e com os municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tang e
Saquarema. A cidade pertence à Região das Baixadas Litorâneas, que engloba
tamm os municípios de Araruama, Armão dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo
Frio, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio Bonito, Rio das
Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim.
Figura 1: Mapa de localização do município de Maricá.
Fonte: COYUNJI, 2006, p. 08.
49
O município tem uma área total de 363,9 quilômetros quadrados,
correspondentes a 6,7% da área da Região das Baixadas Litorâneas e 0,8% do
Estado do Rio de Janeiro, e sua população em 2007, de acordo com dados do
IBGE, era de 105.294 habitantes.
Segundo Machado (1977) os limites do município foram modificados entre
1840 e 1943, conforme o autor:
- O decreto nº. 211, de 25 de maio de 1840 alterou as linhas divirias do
município de Maricá, de Itaipu e Itaboraí;
- O decreto nº. 670, de 29 de outubro de 1855, estabelece, no art. 1º., novos
limites entre os municípios e freguesias e Nossa Senhora de Nazaré, em
Saquarema, e Nossa Senhora do Amparo, em Maricá;
- O decreto-lei nº. 641, de 15 de dezembro de 1938 alterou a divisa de
Maricá com o município de São Gonçalo, que passou a ter início na ponta
de Itaipuaçu, no Oceano Atlântico, subindo o Morro Alto do Moirão, e daí
pelo espigão do Morro dos Telégrafos até a Serra da Tiririca;
- O decreto-lei estadual nº. 1.056, de dezembro de 1943 altera a parte que
confina com o município de Saquarema: a linha de divisa passou a ser o
ponto de encontro das Serras do Espraiado e do Mato Grosso, seguindo
pela cumiada desta última até o ponto mais próximo e fronteiriço do Rio
Grande de Jaconé; descendo por este até a sua foz na Lagoa de Jaconé;
daí continuando em linha reta até a barra da referida Lagoa (MACHADO,
1977, p. 35).
O município encontra-se dividido em quatro distritos: 1º Maricá, Ponta
Negra, Inoã e Itaipuaçu. Cada distrito se subdivide em sub-distritos, que são
equivalentes a uma divisão em bairros.
Figura 2: Divisão do município em distritos.
Fonte: COYUNJI, 2006, p. 09.
50
O distrito de Maricá se divide em dezesseis sub-distritos: São Bento da
Lagoa, Zacarias, Retiro, Camburi, Caxito, Itapeba, Ubatiba, Centro, Araçatiba, Barra,
Jacaroá, Caju, Condado, Pilar, Silvado, São José de Imbassaí.
O distrito de Ponta Negra se divide em onze sub-distritos: Manoel Ribeiro,
Pindobal, Jardim Interlagos, Guaratiba, Bambuí, Cordeirinho, Ponta Negra, Vila do
Bananal, Engenho Velho, Espraiado, Jaconé.
O distrito de Inoã se divide em seis sub-distritos: Bambu, N. Sra. da
Conceição, Cassorotiba, Itaitindiba, Vila de Inoã, Pedra de Inoã.
O distrito de Itaipuaçu se divide em cinco sub-distritos: Vila de Itaipuaçu,
Itaocaia, Jardim Atlântico, Lagoa Brava, Cajueiros.
2.2 ASPECTO HISTÓRICO
Como nos demais municípios do litoral fluminense, a presença de grupos pré-
históricos em Maricá pode ser constatada através de sambaquis, que segundo
pesquisas arqueológicas, datam 8.000 anos. Estes sambaquis foram encontrados
em uma área que se estende de Niterói a Cabo Frio. (SOCHACZEWSKI, 2004, p.
11).
O município, assim como o litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo, abrigava
índios tamoios, além de ser local de incursões de povos de aldeias vizinhas como a
dos índios da Aldeia de São Barnabé, localizada no município de Itaboraí.
(MACHADO, 1977, p. 29).
Segundo Gomes (2002) as restingas fluminenses eram habitadas por índios
Tamoios e Goitacás, onde os Tamoios ocupavam as áreas de lagunas e enseadas,
enquanto os Goitacás habitavam as planícies de restingas. (GOMES, 2002, p.31).
Destaca-se o aspecto geomorfológico do município, que apresenta um
complexo lagunar que compõe a bacia hidrográfica contida no limite municipal. Este
complexo é formado pelas lagoas de Maricá, Barra, do Padre e Guarapina, que são
interligadas e ligadas ao mar, e, por conseguinte, tem-se a formação de uma faixa
de restinga.
Consequentemente, a ocupação do município de Maricá ocorreu em um
momento inicial de forma livre, durante o século XVI, nesta faixa litorânea arenosa
costeira, em Ponta Negra e às margens das lagoas. Devido às características
51
geográficas do sítio, retilíneo, inóspito e de difícil acesso às embarcações, esta área
passou a ser utilizada como refúgio por aventureiros e foragidos da justiça, que
tiveram como base para subsistência a atividade pesqueira. (MARTINS, 1986, p. 6).
Junto a esta ocupação, tem-se a expansão colonial portuguesa, no ano de
1574, através do sistema de Capitanias Hereditárias e seu processo de distribuição
das terras em sesmarias, que ocorreu até 1830. (MACHADO, 1977, p. 21). Quanto a
esta ocupação, Sochaczewski (2004) menciona, ainda, a presença de tribos
indígenas neste período, conforme o autor:
O povoamento efetivo de Mari foi iniciado no século XVI, a partir da
chamada “Descoberta do Brasil” [grifo do autor] por Portugal. Desde então,
refletiam-se na economia da cidade os interesses maiores da Coroa e da
província do Rio de Janeiro. Corsários franceses, atraídos pelo pau-brasil,
passaram a freqüentar o litoral brasileiro, tendo recebido apoio de tribos
nativas. Tamoios ocupavam a zona de lagunas e enseadas, de Angra dos
Reis a Cabo Frio, enquanto os goitacazes dominavam as planícies de
restingas. Isoladamente, pois eram inimigos, tamoios e goitacazes
enfrentavam Portugal em lutas violentas, como aliados dos franceses,
principalmente no território do Norte da Capitania de São Vicente
(SOCHACZEWSKI, 2004, p. 14).
Em Maria área ocupada pelo sistema de sesmarias era a faixa litorânea
compreendida entre Itaipuaçu e a lagoa de Maricá. Essa ocupação se consolidou
através do cultivo da cana-de-açúcar, embora não tão expressivo quanto no norte
fluminense. Além deste cultivo, plantava-se, tamm, mandioca, milho, feijão, arroz,
anil e cochonila. Segundo Sochaczewski (2004):
[...] A primeira distribuição aconteceu onde hoje fica Itaipuaçu, beneficiando
Antonio Mariz (ou de Mariz), em 8 de janeiro de 1534. Deste ano até 1750
foram feitas 35 cessões mais importantes de sesmarias em Maricá, a
maioria acompanhando a orla da lagoa de Maricá e atingindo Inoã e
Itaipuaçu, na direção de Itaipu. Neste mesmo lugar foi construída a primeira
capela da região, dedicada a Nossa Senhora do Amparo
(SOCHACZEWSKI, 2004, p. 17).
Em 1635, os primeiros núcleos de povoamento tiveram origem na Fazenda
São Bento, desenvolvido por frades beneditinos em São José de Imbassaí, e em
1975 foi construída a Capela de São José do Imbassaí.
52
Figura 5: Planta da Vila de Maricá
em 1837.
Fonte: ARQUIVO NACIONAL.
Carta Cartographica da Província
do Rio de Janeiro, Major Henrique
Luis de Niemeyer Bellegarde,
1837.
Figuras 3 e 4: Mapa da biblioteca de Lisboa, datado do período de 1573/1578.
Fonte: Prefeitura Municipal de Maricá.
A colonização dessas localidades foi interrompida por febres palustres, já que
se tratava de uma área rodeada por brejos decorrentes da relação entre o complexo
lagunar e o mar, o que culminou com o deslocamento populacional para a outra
margem da lagoa, na busca de área mais salubre. Consequentemente, tem-se um
incremento populacional, que levou Maricá a se separar das cidades do Rio de
Janeiro, Cabo Frio e Vila de Santo Antônio de Sá, originando a Vila de Santa Maria
de Maricá, estabelecida por Alvará de 26 de maio de 1814, em homenagem a rainha
de Portugal. A igreja de Nossa Senhora do Amparo servia de paróquia para este
núcleo desde 1687. (LAMEGO, 1974, p. 142).
No entanto, devido às exigências da coroa
portuguesa, a instalação da Vila ocorreu em
27 de agosto de 1815. (MACHADO, 1977, p. 34).
Embora o município estivesse envolvido
com localidades vizinhas devido ao cultivo de
cana-de-açúcar, sua situação geográfica resultou
em difícil acesso e logo, relacionamento com os
centros mais próximos, como Cabo Fio, Niterói e
Rio de Janeiro, pois se localizava fora da estrada
litorânea que ligava estas vilas e cidades onde o
comércio principal era realizado. Entretanto, a
restinga teve papel relevante na ocupação do
norte fluminense. (MARTINS, 1986, p. 9).
53
Figuras 6 e 7: Limites da Vila de Maricá em1837.
Fonte: ARQUIVO NACIONAL. Carta Cartographica da Província do Rio de Janeiro, Major
Henrique Luis de Niemeyer Bellegarde, 1837.
As restingas fluminenses constituíram os caminhos ao longo dos quais se deu
o conhecimento e ocupação desta parte do território, sendo ainda, percurso para os
tropeiros. Maritinha posição de ligação entre as áreas vizinhas produtivas e os
centros de exportação dos produtos agrícolas, o Rio de Janeiro, além de abastecer
os mercados de Niterói e do Rio de Janeiro com estes e através da pesca, que
apresentava papel expressivo na economia local. Posteriormente, com a
implantação da Estrada de Ferro Maricá, essa produção se intensificou.
Sobre essa ligação entre as áreas vizinhas ao município, Machado (1977)
descreve:
No início, era grande a dificuldade de comunicação. O único caminho
disponível era o margeamento pelas restingas, seguindo-se o litoral,
acompanhando o oceano. Tal itinerário dificultava muito o relacionamento
com a metrópole e com outros centros. Para que se fizesse a permuta de
produtos, a dificultosa incursão pela árida restinga incluía a transposição de
serras e brejos. [...] [grifo meu]
Bastante famoso era o trajeto para Cabo Frio, que seguia o esquema
Maricá, Saquarema, Araruama e São Pedro da Aldeia, pela restinga,
passando-se antes por ponta Negra, chamada de Iriritiba e, ainda Mariatiba.
pelos anos 1820 esse trajeto sofrido começou a ser substituído pela
trilha feita em direção à garganta de Inoã, que passou a ser chamada
“Estrada do Baldeador” [grifo do autor], pois que se fazia uma baldeação no
Rio das Pedras, na fazenda de Santa Bárbara (MACHADO, 1977, p. 57).
No que tange a importância da restinga na ocupação deste território e suas
áreas vizinhas, assim como o papel da pesca para a economia local, Sochaczewski
(2004) descreve: “A restinga funcionava como rota dos tropeiros, que passavam por
Maricá e chegavam até Cabo Frio com as mais variadas mercadorias. Nela, a pesca
manteve-se como atividade mais importante e chegou a ter papel predominante na
economia do município.” (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 29).
54
A partir de 1815, a introdução do cultivo de café, junto à produção de cítricos
e outros neros alimentícios de pequena lavoura destinados a abastecer os
mercados e Niterói e do Rio de Janeiro, promoveu uma maior inserção de Maricá na
zona de influência da Cidade do Rio de Janeiro, o que gerou demanda por melhoria
das condições de acessibilidade ao município. (MARTINS, 1986, p. 11 - 13).
Segundo Machado (1977): “Ao lado do transitório cultivo de café, na mais
duradoura cultura da cana-de-açúcar e, mesmo, da pecuária, Maricá sempre
desenvolveu a agricultura de subsistência, não para o sustento dos sitiantes
locais, como para o abastecimento da então Praia Grande (Niterói) e do Rio de
Janeiro”. (MACHADO, 1977, p. 26).
Consequentemente, em 1887, por iniciativa dos próprios moradores, levantou-
se a necessidade de implantação de uma estrada de ferro, o que acarretou, em 25
de novembro 1888, na inauguração do trecho inicial da Estrada de Ferro Maricá, que
ligava Alcântara a Rio do Ouro. Em 1889, foi inaugurado o trecho que chegava até
Itapeba, e em 1901 foi inaugurado o trecho que vai até Manoel Ribeiro. Em 1933 a
Estrada de Ferro Maricá foi expandida até Cabo Frio, relacionando-a com a Central
do Brasil. (MACHADO, 1977, p. 58).
A implantação da Estrada de Ferro Maricá acentuou a relação com estes
mercados, não só em ser tratando do abastecimento destes produtos agrícolas
como também da pesca.
Figuras 8 e 9: Antiga estação de trem.
Fonte: Revista Maricá Já, Guia Turístico 2003, 2004.
Devido a este incremento comercial e a implantação da Estrada de Ferro,
Maricá passou à condição de cidade, através decreto estadual nº. 18, de 27 de
dezembro de 1889. (SOCHACZEWSKI, 2004, p.25).
55
A inserção da estrada de ferro acarretou urbanização do núcleo central, a Vila
de Santa Maria de Maricá e seu parcelamento, o que permitiu acesso para migração
de moradores de Niterói e do Rio de Janeiro, que se direcionaram para a atividade
agrícola em Maricá. No entanto, com o fim do ciclo produtivo do café e cítricos, os
campos foram abandonados. A falta de atividade agrícola, a malária e a
acessibilidade aos grandes centros próximos levaram à inversão deste processo,
principalmente no pós-guerra, com a industrialização destes centros. (MARTINS,
1986, p. 14 - 15). Quanto a este processo, pode-se mencionar Sochaczewsk (2004),
segundo o autor:
A população de Maricá manteve-se quase estável durante a maior parte do
culo XX. Durante os anos 1940, o declínio agrícola levou desemprego a
toda a região, provocando um movimento migratório na direção de favelas
do Rio e de Niterói, e de bairros populares de o Gonçalo e da Baixada
Fluminense. Trabalhadores que não deixaram o município nesta época
passaram a viver da construção civil e da extração de areia, ou ainda de
uma agricultura de subsistência. Outros incorporaram-se como mão-de-obra
em Niterói e São Gonçalo (SOCHACZEWSKI, 2004, p.79).
Este período foi marcado pela intensificação da atividade pesqueira e da
indústria extrativa mineral, visto que a exportação de gêneros agrícolas perdeu
mercado com a Segunda Guerra Mundial. Simultaneamente, tem-se o início do
processo de urbanização através do parcelamento da terra. Segundo Sochaczewsk
(2004): “Os primeiros loteamentos estabelecidos em Maricá visavam à venda de
terrenos a camadas populares e fizeram parte de uma rápida transformação do
município, que de rural passaria a predominantemente urbano”. (SOCHACZEWSKI,
2004, p. 29).
Em relação a esta ocupação do território maricaense, pode-se mencionar
Martins (1986), conforme a autora:
No caso de Maricá, a urbanização iniciada por causa do fornecimento de
produtos agrícolas (abastecimento/comércio) vai ser visivelmente
intensificada, já que este município passou a ser considerado área de
expansão (moradia/lazer) [grifo meu] da Cidade do Rio de Janeiro daí o
processo de urbanização de Maricá, nesta fase, caracterizou-se mais pela
difusão geográfica de valores e comportamentos urbanos, influenciado pela
proximidade com o Rio e pela maneira de elaboração dos parcelamentos
urbanos que formaram a malha dispersa de lotes envolvendo os núcleos
propriamente urbanos de Maricá sem provocar o crescimento propriamente
dito destes núcleos, quer dizer, sem provocar uma concentração geográfica
de uma população e de atividades econômicas agrícolas em um ambiente
56
urbano, que seus núcleos pouco cresceram e suas atividades ainda o
caracterizavam como um município tipicamente rural (MARTINS, 1986, p.
18).
Na década de 1940 Marideixou de ser um município predominantemente
rural, vinculando-se à periferia urbana do Rio de Janeiro” (MARTINS, 1986, p. 21).
Pode-se destacar, ainda neste período, a formação de uma elite local voltada para o
desenvolvimento do setor de transporte e parcelamento de terras promovido por
Jacinto Caetano e Lucio Tomé Feteira, respectivamente.
Neste período, precisamente em 1943, a Companhia Vidreira do Brasil, a
COVIBRA adquiriu a Fazenda São Bento da Lagoa, passando a extrair areia, que
era transportada pela Estrada de Ferro Maricá até a sede da COVIBRA em Neves,
município de São Gonçalo. A madeira extraída da antiga fazenda era empregue
como lenha para os altos-fornos da companhia. (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 28).
Figura 10: Mapa da Fazenda de São Bento da Lagoa.
Fonte: SIQUEIRA, 2007, p. 12.
A atração da população para os grandes
centros aumentou com a retirada da estrada de
ferro em 1946 (GUICHARD, 2001, p. 25) e
implantação da Rodovia Amaral Peixoto, a RJ-
106 , na década de 1950, o que também levou ao
aumento do parcelamento e do preço das terras
maricaenses.
Até 1955 o parcelamento de terras ocorreu
de forma intensa, período em que a Diretoria de
Saneamento da Baixada Fluminense realizou a
drenagem das terras do município para o combate à malária, o que incluiu a
abertura do canal de Ponta Negra em 1951. (GOMES, 2002, p. 55 56). Estas
medidas sanitaristas promoveram a disponibilização de terras para o uso agrícola
Figura 1
1
: Rodovia Amaral
Peixoto, década de 60.
Fonte: Prefeitura Municipal de
Maricá.
57
que posteriormente foram urbanizadas. Com isto, Maricá tornou-se local de veraneio
de uma população proveniente de Niterói e do Rio de Janeiro. (MARTINS, 1986, p.
26).
Figura 12: Mapa viário de Marica, 1951.
Fonte: BAHIENSE, 2003, p. 09.
Com relação a esta expansão no parcelamento, destaca-se Mello e Vogel
(2004). De acordo com os autores:
De 1950 a 1955, este processo teve o seu primeiro grande pique,
contabilizando um total de 21 loteamentos, correspondentes a superfície de
28,8 milhões de metros quadrados. Entre 1970 e 1975 surgiram mais de 30
loteamentos, com uma área total de 28,4 milhões de metros quadrados. De
1976 a 1980 foram 35 os novos loteamentos, cobrindo uma área de 10,6
milhões de metros quadrados (MELLO; VOGEL, 2004, p. 229)
Neste momento, teve início o processo de especulação imobiliária e formação
de estoque de terras urbanas. (GUICHARD, 2001, p. 29).
A urbanização decorrente dos loteamentos se deve a atuação de proprietários
de terras locais, imobiliárias, construtoras e financeiras, ficando o capital estatal
direcionado para o provimento de infra-estrutura e serviços básicos. Em
conseqüência, o baixo custo da terra em Maricá, a inexistência de códigos
urbanísticos e a beleza do potencial natural do local permitiram a atuação de
agentes imobiliários do Rio de Janeiro, Niterói, e até mesmo de fora do país.
(MARTINS, 1986, p. 61 – 62).
Após este período o processo de parcelamento de terras em Maricá
apresentou queda devido à crise econômica que predominava no contexto nacional
58
naquela época, e à transferência da Capital Federal do Rio de Janeiro para Brasília.
Esta crise do setor imobiliário se estendeu até a década de 60, quando novamente
tem-se um crescimento intenso, decorrente do novo ciclo desenvolvimentista
brasileiro. Quanto a isto, Guichard (2001), descreve:
Durante os anos 50 e 60, Mariparticipou timidamente do boom veranista
da Região dos Lagos. Mesmo com toda a ação dos agentes imobiliários e
do Estado, as classes médias e a elite do Rio e de Niterói optaram por
veranear em outros recantos de praia e serra, com maior infra-estrutura e
mais badalados. Mesmo com a proximidade, a tranqüilidade e a beleza
natural, o conjunto de atrativos do município não era valorizado na época
pelo setor social em questão.
A falta de dinamismo local pode ser verificada tamm na baixas taxas de
crescimento da população no período de 40 a 50, se comparado aos
demais municípios, o que caracteriza um fenômeno de êxodo [...] um dos
resultados é que nos anos 60 Maricá sofre uma forte retração no mercado
de terras local (GUICHARD, 2001, p. 29).
Figuras 13, 14 e15: Praça de Maricá, a Casa de Câmara e Cadeia; atual sede da Casa de Cultura
e Rua Domício da Gama, durante a década de 60.
Fonte: Prefeitura Municipal de Maricá.
Figuras 16 e 17: Matriz de Nossa Senhora do Amparo e seu entorno imediato, na década de 60.
Fonte: Prefeitura Municipal de Maricá.
O processo de ocupação se intensificou na década de 1970, com a
inauguração da Ponte Presidente Costa e Silva, a Ponte Rio Niterói em 1974, o
que promoveu a expansão de capital imobiliário para a Região dos Lagos, através
de loteamentos destinados ao veraneio. (GUICHARD, 2001, p. 29). Junto a isto,
59
tem-se a inauguração da Ponte do Boqueirão em 31 de janeiro de 1977, através de
um convênio entre a Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro (FUNDREM), a Prefeitura Municipal de Maricá e o DNOS.
(FUNDREM, 1979, p. 19), o que permitiu acesso às praias do município.
Martins (1986) destaca que o desenvolvimento do sistema viário favoreceu o
processo de ocupação via parcelamento da terra, conforme a autora:
A ampliação da acessibilidade provocou inúmeras conseqüências na
produção do espaço, acelerando o processo de urbanização de toda a
Região dos Lagos Fluminenses, incluindo o de Maricá e ajudando a
introduzir os processos de proletarização e terceirização deste município.
Ela foi o fator que permitiu a penetração do capital imobiliário neste local,
transformando-o na mais importante fração do capital atuante ali,
particularmente na época do 2º “boom[grifo do autor] imobiliário, ou seja,
na década de 70. Inicialmente ela foi incrementada através das estradas
abertas pelos próprios agentes loteadores, mais foi implementada pelo
Estado através da criação da Ponte Rio - Niterói, passando este agente a
arcar com o ônus da implementação do sistema viário nestes lugares,
deixando o campo livre para o setor privado investir maciçamente na
produção de loteamentos urbanos, e assim fazendo, reciclar mais
rapidamente seus capitais (MARTINS, 1986, p. 94 – 95).
Inicialmente, Mari servia de ligação aos municípios vizinhos como
Saquarema, Cabo Frio e outros, passando posteriormente a ser procurado pela
população que não tinha acesso a estes municípios. (FUNDREM, 1979, p. 35). Este
fato tamm se articula a relação do município com a Rodovia Amaral Peixoto, que
não passa pelo centro da cidade, e a divide, fazendo com que o sistema viário e
circulação dos moradores dos subdistritos cortados pela rodovia caracterizem-se
pela travessia da estrada.
A partir de então, tem-se um novo momento de crescimento imobiliário em
Maricá, quando o parcelamento reduz a atividade pesqueira e agrícola, além de
englobar áreas antes destinadas à reserva por incorporadoras. Por conseguinte, a
migração proveniente dos grandes centros próximos se intensifica, e parte dos
residentes de veraneio passa a se fixar no município. Portanto, Maricá começa a
apresentar traços de cidade dormitório. (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 35). Conforme
Martins (1986):
Este município foi ocupado posteriormente por uma população que o
tinha o mesmo poder aquisitivo daquela que veraneava nos locais mais
atrativos da Região dos Lagos Fluminenses. De certa forma, Mari foi
60
reservada para mais tarde quando as condições de acessibilidade
tornassem este lugar mais acesvel a uma população de mais baixos
recursos que aquela que se destinava a parte oriental da Região dos Lagos
Fluminenses, ou seja, para quando a classe média metropolitana possuísse
um poder aquisitivo suficiente para ocupá-la (MARTINS, 1986, p. 43).
Este segundo momento de incremento no parcelamento de terras deve-se,
ainda, a atuação do Estado que além de se responsabilizar pelas despesas com
infra-estrutura urbana, forneceu financiamento para agentes loteadores, favorecendo
a atuação destes no município. Desta forma, o preço da terra aumentou e o
parcelamento da terra atingiu novas localidades do município, chegando a ocupar a
restinga de Maricá. (MARTINS, 1986 p. 72 - 73).
No quadro econômico, a produção agrícola passou a ter como base produtos
cítricos (FUNDREM, 1979, p. 148) e a função pesqueira cedeu lugar para a
construção civil, absorvendo, até mesmo, a mão-de-obra resultante da substituição
da área de moradia dos pescadores por loteamentos. Além disto, os loteamentos
impediam a abertura das barras sazonais, o que prejudicou a atividade pesqueira.
Neste período, devido ao incremento do número de loteamentos, a
arrecadação proveniente do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) tornou-se
expressiva em Maricá. (MARTINS, 1986 p. 43).
Em se tratando da distribuição dos loteamentos no território de Maricá,
Martins (1986) descreve os períodos de implantação destes no 1º, 2º e 3º distritos da
seguinte forma:
A malha urbana de Maricá variou em função do deslocamento da
concentração do nº. total de loteamentos realizados e de suas respectivas
superfícies parceladas de acordo com a sua localização nos três distritos
que compunham este município para cada um dos períodos de evolução
dos parcelamentos da terra maricaense. [grifo meu] Assim, na década de 40
foram organizados loteamentos somente no 1º distrito, significando o
crescimento da Cidade de Santa Maria de Maricá. Nos anos 1950/1955
equivalentes ao “boom[grifo do autor] imobiliário, esta atuação desviou-
se para o 3º distrito seguido de perto pelo e com uma pequena
participação do distrito quanto ao nº. de loteamentos e quantidade de
terras parceladas. Na fase do declínio dos anos 1956/1969 continua a ação
dos agentes loteadores focalizada no 3º distrito, mas o 1º distrito segue logo
após a este, verificando-se uma nova tendência de crescimento na periferia
da Cidade de Santa Maria de Maricá. E, neste último período, passou a ser
o 3º distrito predominantemente o mais procurado pelos agentes loteadores,
vindo bem abaixo do e distrito (com 32% do número total de
loteamentos e 8% da área total parcelada no distrito, 29% e 23% no 2º
distrito e 39% e 69% nos respectivos totais do distrito) (MARTINS, 1986,
p. 71).
61
A partir da década de 1970 Maricá apresentou características demográficas
mínimas necessárias para fazer parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro,
que, por sua vez, foi criada oficialmente em 15 de março de 1975. Neste momento, a
FUNDREM estabeleceu Planos Diretores para os municípios da Região, sendo que
o de Maricá foi o primeiro a ser desenvolvido, a fim de conter as medidas municipais
que levariam a uma acentuada expansão urbana. Em 23 de dezembro de 1977 o
Plano Diretor Urbano de Maricá foi aprovado na Câmara Municipal. (MARTINS,
1986, p. 108 - 110).
No final da década de 1970 e início da década de 1980, quando ocorreu a
crise econômica nacional, o processo de urbanização via parcelamento da terra
sofreu uma retração em virtude da diminuição do poder aquisitivo da população
brasileira e da restrição aos créditos que o Estado oferecia a estes setores.
Entretanto, na década 1980 o município apresentou maior integração com a Região
Metropolitana através de uma nova fase de urbanização que atraiu a força de
trabalho metropolitana. Neste momento a faixa litorânea era o novo foco de atuação
dos agentes loteadores. (MARTINS, 1986 p. 73 – 75).
O processo de parcelamento da terra no município pode ser ilustrado através
da tabela a seguir, extraída do Projeto Lagoa Viva:
Ano
Área loteada
(Km²)
% da área do
Município
mero de
lotes
até
1950
2,4 6 2717
51/60 5,6 14 7855
61/70 5,8 14,5 6464
71/74 2,2 5,5 2678
75/80 13 32,5 21336
Total 29 72,5 41050
Tabela 1: Parcelamento de terras no município de Maricá.
Fonte: FARIA, 1996.
Tamanha intensificação no processo de ocupação resultou em degradação
ambiental no município, o que promoveu a substituição da atividade agrícola pela
pecuária e da pesca pela construção civil.
Segundo Guichard (2001), mesmo com a crise econômica da década
de 1980, este período foi caracterizado no município pela inserção de moradores
62
oriundos de Niterói e do Rio de Janeiro, além de veranistas, o que resultou em
significativo crescimento populacional que se intensificou na década de 1990, em
especial entre os anos 1996 e 2000. (GUICHARD, 2001, p. 32 e 33). Abaixo, tem-se
o mapa desenvolvido por Bretãs (2004), que ilustra as áreas parceladas no
município:
Figura 18: Mapa dos loteamentos implantados no município.
Fonte: BRETÃS, 2004, p.14.
2.2.1 Conjuntura atual
Na década de 2000 ocorreu duplicação da RJ-106 pelo Estado, o que não
envolveu capital municipal, e intensificou o processo de migração.
Em 2001 Maripassou a ser incluindo na Microrregião dos Lagos, junto com
mais oito municípios da Região das Baixadas Litorâneas, pelo Plano de
Desenvolvimento Econômico e Social da Secretaria de Estado de Planejamento e
Controle. Segundo Sochaczewsk (2004):
A lei estadual nº. 1.227, de 1987, aprovou o Plano de Desenvolvimento
Econômico e Social 1988/1991 e estabeleceu divisões regionais.
Posteriormente várias leis complementares alteraram esta divio, movendo
63
municípios entre as regiões. A Lei Complementar . 97, de 2/10/2001,
retirou o Município de Maricá da RMRJ, incluindo-o na Microrregião dos
Lagos, [grifo do autor] composta por mais oito municípios da Região das
Baixadas Litorâneas (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 68).
No entanto, mesmo fazendo parte da Região das Baixadas litorâneas, e
apresentando potencial turístico, Maricá mantém uma correlação com a Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. Este fato se deve ao seu papel de cidade
dormitório, visto que a proximidade dos grandes centros, custo da terra mais
acessível e as características naturais que transmitem o ideal de tranqüilidade e
segurança atraem uma população que trabalha em Niterói e no Rio de Janeiro.
O governo do Estado estabeleceu uma divisão turística, nesta Maricá; junto
com os municípios de Araruama, Arraial do Cabo, Barra de São João, Búzios, Cabo
Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Macaé, Quissamã, Rio das Ostras, São
Pedro da Aldeia e Saquarema; localiza-se na Costa do Sol, o que levou a
administração municipal a investir no setor turístico com a imagem de “Portal da
Região dos Lagos”. (SOCHACZEWSKI, 2004, p.68 - 69).
Devido à expansão de loteamentos, a economia local tem sido baseada em
aluguéis e na construção civil, portanto, quanto à arrecadação municipal, destacam-
se as arrecadações provenientes do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU).
Em 2006 foi anunciada a implantação do Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro (Comperj) com a finalidade de aumentar a exploração petrolífera da bacia de
Campos. Trata-se de um empreendimento decorrente da parceria entre Petrobras,
grupo Ultra e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
que está previsto para entrar em operação em 2012. (TCE, 2007, p. 86).
Os pontos escolhidos para a implantação do Comperj foram os municípios de
Itabor e São Gonçalo por apresentarem uma localização estratégica e infra-
estrutura portuária, pois concentra os terminais de Angra dos Reis, Ilha d’Água e Ilha
Redonda, além de infra-estrutura dutoviária e rodo-ferroviária. Junto a isto, situam-se
próximos do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CENPES), na Ilha do Fundão.
Consequentemente, Itaboraí abrigará a unidade de produção de petroquímicos
básicos, enquanto em São Gonçalo serão instalados a Central de Escoamento da
produção e o Centro de Integração. (TCE, 2007, p. 86)
Para tanto, em municípios próximos serão localizados centros de capacitação
profissional que oferecerão cursos gratuitos. Estes municípios o: Niterói, São
64
Gonçalo, Itaboraí, Guapimirim e Magé, Tanguá, Maricá, Rio Bonito, Silva Jardim,
Cachoeiras de Macacu e Casimiro de Abreu, que formam o consórcio Conleste, a
fim de definir estratégia e atuação conjuntas frente aos possíveis impactos sociais
provenientes da implantação do Complexo. (TCE, 2007, p. 86 - 87)
Portanto, Maricá passou a constituir, em 2003, Zona Limítrofe Comperj, o que
levou em 2007 a recebeu royalties na porcentagem de 1,85%. (TCE, 2007, p. 133)
Segundo o Estudo Sócio-Econômico desenvolvido pelo Tribunal de Contas do
Estado do Rio de Janeiro (TCE) em 2007, Zona Limítrofe se caracteriza da seguinte
forma.
Por Zona Limítrofe entende-se o conjunto dos municípios contíguos àqueles
que integram a zona de produção principal, bem como municípios que,
embora não atendendo ao critério da contigüidade, possam ser social ou
economicamente atingidos pela produção ou exploração do petróleo ou do
gás natural, segundo critérios adotados pelo IBGE (TCE, 2007, p.128).
Com o processo de implantação do Comperj, o mercado imobiliário vem
atuando no município através da promessa de crescimento que este complexo
petroquímico pode acarretar ao local, o que tende a elevar o custo da terra em
Maricá.
Em 2002, devido à determinação da Constituição Federal quanto à
participação popular na gestão territorial, a prefeitura municipal convidou setores da
sociedade e particulares para discussões sobre a revisão do Plano Diretor Urbano
municipal. (GOMES, 2002, p. 71). Contudo, somente em 10 de outubro de 2006 a
Lei Complementar nº. 145 estabeleceu o Plano Diretor de Maricá, já que o Plano
Diretor Urbano realizado pela FUNDREM data de 1977.
No contexto atual, Sochaczewski (2004) classifica Maricá como um “espaço
periurbano” (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 47), devido à presença de loteamentos
irregulares, autoconstrução, especulação imobiliária e falta de infra-estrutura. Ainda
de acordo com o autor:
Diferentemente da migração para as cidades médias do interior, onde
trabalhadores altamente qualificados se estabelecem completamente, a
migração para o entorno metropolitano (espaços periféricos e perirubanos)
é feita principalmente por moradores que mantém o vínculo profissional
anterior, fazendo da nova moradia uma expansão residencial da metrópole
(SOCHACZEWSKI, 2004, p. 47).
65
Gomes (2002) considera este fato decorrente da integração de fatores como a
melhoria das condições de acessibilidade ao município, baixo custo da terra e falta
de fiscalização, o que culmina em ocupação irregular de áreas ambientalmente
frágeis e, em conseqüência, impactos ambientais; tais como: poluição,
desmatamento, queimadas, erosão e sedimentação de corpos hídricos. (GOMES,
2002, p. 66).
A seguir, mostra-se um quadro cronológico que relaciona os principais marcos
do histórico da formação e evolução urbana do município de Maricá:
Ano
8000 anos Sambaquis revelam a presença de grupos pré-históricos.
Século XVI Ocupação livre de Ponta Negra e das Lagoas.
1574 Divisão em sistema de sesmarias.
1635 Estabelecimento da Fazenda de São Bento.
1675 Construção da Capela de São José de Imbassaí.
1775 Maricá é elevada à categoria de Freguesia.
1814 Estabelecimento Vila de Santa Maria de Maricá.
1815 Instalação oficial da Vila de Santa Maria de Maricá.
1815 O principal cultivo passa da cana-de-açúcar para o café.
1888 Inauguração do trecho inicial da Estrada de Ferro Maricá.
1889 Maricá passa à condição de cidade.
Década de
1940
Parte significativa da População maricaense migra para os
grandes centros vizinhos.
1943 COVIBRA compra a Fazenda de São de São Bento.
Década de
1950
Implantação a Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106).
1951 Abertura do Canal de Ponta Negra.
1950-1955 Período de intenso parcelamento da terra em Maricá.
Década de
1960 Declínio do processo de parcelamento.
Década de
1970
Maricá é inserida na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e
deixa de ser predominantemente rural.
1974
Construção da Ponte Presidente Costa e Silva e incremento no
processo de parcelamento.
1977 Inauguração da Ponte do Boqueirão.
1977
O Plano Diretor Urbano de Maricá realizado pela FUNDREM foi
aprovado na Câmara Municipal.
Década de
1980
Crise econômica nacional resulta em retração no processo de
parcelamento.
Década de
2000
Duplicação da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106).
2001 Maricá é inserida na Microrregião dos Lagos.
2003 Maricá passou a constituir Zona Limítrofe do Complexo
66
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
2006 Estabelecimento do Plano Diretor de Maricá.
2007 Maricá passou a receber royalties provenientes do Comperj.
Quadro 1: Quadro cronológico com principais marcos do histórico da formação e evolução
urbana do município de Maricá.
Tendo visto o histórico de formação e evolução urbana do município de
Maricá, continua-se com a caracterização da área de estudo, e em conseqüência,
com o âmbito municipal em que se insere, através da reunião de informações acerca
de sua infra-estrutura social e urbana.
Neste contexto, apresenta-se o recorte espacial em estudo, que engloba a
APA de Mari em seu trecho inicial, isto é a comunidade de Zacarias, e suas
imediações no sub-distrito de Barra de Maricá; além de outro trecho da APA
localizado no sub-distrito de São José de Imbassaí e suas imediações. Estas
localidades encontram-se ilustradas no mapa a seguir:
Figura 19: Mapa com o recorte espacial e as áreas visitadas no trabalho de campo.
2.3 PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO
2.3.1 População
A ocupação da área de estudo apresenta uma peculiaridade, por se tratar de
uma área de preservação ambiental, apenas seu trecho inicial é ocupado, o que se
deve à existência de uma colônia de pescadores cuja relação com o ambiente teve
67
origem através da subsistência. suas imediações apresentam dinâmica
populacional associada ao contexto municipal.
Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Maricá apresentou no ano 2000, 76.737 habitantes com proporção de 99,6 homens
para cada 100 mulheres. Em 2004 a estimativa foi de 92.227 habitantes e densidade
demográfica de 253 pessoas por km². (TCE, 2007, p. 9). E em 2007, segundo o
IBGE a população de Maricá era de 105.294 habitantes.
A distribuição da população no Estado do Rio de Janeiro e na região das
Baixadas Litorâneas ocorre conforme gráficos a seguir:
2%
2%
2%
4%
5%
5%
5%
34%
41%
REGIÃO DA COSTA VERDE
REGIÃO CENTRO SUL
FLUMINENSE
REGIÃO NOROESTE
FLUMINENSE
REGIÃO DAS BAIXADAS
LITORÂNEAS
REGIÃO DO MÉDIO
PARAÍBA
REGIÃO SERRANA
REGIAÕ NORTE
FLUMINENSE
REGIÃO METROPOLITANA
SEM A CAPITAL
CAPITAL
Figura 20: Distribuição da população no Estado e na região das Baixadas Litorâneas.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2005, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento.
2%
3%
3%
3%
4%
6%
8%
8%
8%
10%
12%
13%
20%
IGUABA GRANDE
CASIMIRO DE ABREU
ARMAÇÃO DE ZIOS
SILVA JARDIM
ARRAIAL DO CABO
RIO DAS OSTRAS
RIO BONITO
CACHOEIRAS DE MACACU
SAQUAREMA
SÃO PEDRO DA ALDEIA
MARI
ARARUAMA
CABO-FRIO
Figura 21: Distribuição da população no Estado e na região das Baixadas Litorâneas.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2005, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento.
68
No período de 1991 a 2000, Mari teve uma taxa média geométrica de
crescimento de 5,71% ao ano, contra 1,17% na Região das Baixadas Litorâneas e
1,30% no Estado do Rio de Janeiro. A taxa de urbanização municipal era de 82,6%
da população, ao passo que na Região das Baixadas Litorâneas essa taxa
correspondia a 99,5% no ano de 2007. (TCE, 2007, p. 9)
Neste contexto, destaca-se a expressivo crescimento populacional municipal
tanto no âmbito regional como estadual. Tal fato pode ser vinculado à migração de
moradores da região metropolitana para Maricá, a mesmo veranistas que
passaram a residir no município.
Por conseguinte, pode-se mencionar a relação do município de Maricá com
os municípios da Região Metropolitana, em especial Niterói e Rio de Janeiro. As
características de Mari propiciam que esta constitua cidade dormitório para os
municípios mencionados, o que se deve à proximidade dos grandes centros, à
tranqüilidade e segurança, cuja ausência tem afastado os moradores dos grandes
centros, além dos aspectos naturais ainda preservados que são vinculados à
qualidade de vida, e o custo mais acessível dos imóveis frente à Região
Metropolitana.
Segundo a Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro
(CIDE), a população residente de Maricá cresceu de 1940 a 2000 segundo a tabela
a seguir:
TAXA DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO RESIDENTE, SEGUNDO AS REGIÕES DE GOVERNO E
MUNICÍPIOS.
ESTADO DO RIO DE JANEIRO - 1940-2000
Regiões de Governo
1940-
1950
1950-
1960
1960-
1970
1970-
1980
1980-
1991
1991-
1996
1996-
2000
1991-
2000
e municípios
Estado
2,61 3,68 2,97 2,30 1,15 0,92 1,75 1,28
Região Metropolitana
3,61 4,36 3,52 2,44 1,03 0,76 1,63 1,14
Maricá
0,04 0,26 1,97 3,26 3,29 5,31 6,16 5,68
Tabela 2: Taxa de crescimento da população residente, segundo as regiões de governo e
municípios.
Fonte: Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro – CIDE
De acordo com o censo de 2000, a população distribuiu-se no território
municipal conforme gráfico a seguir:
69
15%
39%
46%
MANOEL
RIBEIRO
MARICÁ
INOÃ
Figura 22: Distribuição da população em Maricá.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2005, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento.
Segundo o Tribunal de Contas, Mari apresenta 65.117 eleitores, o que
equivale a cerca de 66% da população. Ainda conforme esta fonte, Maricá apresenta
43.443 domicílios, sendo que 53% destes são ocupados. Dos 20.454 domicílios o
ocupados, 73% apresentam uso ocasional, o que indica uso turístico do município.
(TCE, 2007, p. 9)
2.3.2 Educação
Neste tópico reúne-se dados relacionados às condições do sistema
educacional municipal, o que se torna relevante à pesquisa que o trabalho de
campo envolve entrevistas com estudantes.
Segundo o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Maricá teve em
2004, 24.772 alunos matriculados, e em 2005, o mero foi de 24.959 alunos (TCE,
2005; p.89), ao passo que em 2006 o número passou para 24.473 alunos
matriculados, o que expressa uma redução de 1,9% do número de estudantes.
(TCE, 2007, p.51).
Em 2005 o município apresentava 12 creches, 42 pré-escolas, com 245 e
2.989 estudantes, respectivamente; 61 estabelecimentos de ensino fundamental,
com 17.069 alunos; sendo 17 estaduais, 32 municipais e12 particulares. Além disto,
apresentava 13 estabelecimentos de ensino médio com 4.469 matrículas, sendo
78% na rede estadual. (TCE, 2005, p. 89).
O quadro abaixo corresponde à escolaridade da população do município em
comparação com o Estado:
70
Figura 23: Escolaridade da população de Maricá em relação ao Estado do Rio de Janeiro.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2005, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento.
Em se tratando da taxa de analfabetismo Mari apresentou a seguinte
evolução:
Figura 24: Evolução da taxa de analfabetismo em Maricá.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2007, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento.
Segundo o senso do IBGE em 2000, a taxa de analfabetismo no município
pode ser lustrada na tabela abaixo:
Taxa de Analfabetismo da população de 5 anos ou mais de idade
Municípios,
distritos 15 anos ou mais
e situação Total 5 a 9
10 a
14 Total
15 a
19
20 a
24
25 a
29
30 a
34
35 a
39
40 a
49
50 a
59 60 anos
do domicílio anos
anos anos anos anos anos anos anos anos ou mais
Total Estado....... 9,27 39,34
2,99 6,64 2,05 2,80 3,45 4,34 4,57 6,01 10,18 17,29
Urbana.................. 8,76 38,89
2,86 6,10 1,90 2,53 3,08 3,87 4,08 5,42 9,32 16,24
Rural.................... 22,01
48,47
5,45 20,58
5,40 9,27 12,58 15,92 17,40 22,71 34,13 46,85
Maricá................... 11,05
39,07
3,09 8,72 2,08 3,71 4,65 6,53 6,27 8,25 13,45 21,83
71
Urbana.................. 10,86
39,12
3,29 8,51 2,07 3,77 4,72 6,65 6,53 8,10 12,88 20,41
Rural..................... 11,97
38,84
2,16 9,71 2,12 3,44 4,32 6,00 5,12 8,94 16,40 29,18
Maricá....................
9,59
36,62
2,80 7,44 1,86 3,10 3,58 4,31 4,74 7,19 10,85 19,65
Urbana.................. 9,03
36,55
2,65 6,84 1,62 2,86 3,17 3,87 4,45 6,40 10,00 18,01
Rural...................... 13,42
37,02
3,77 11,60
3,37 4,66 6,15 7,30 6,61 12,69 17,23 33,33
Inoã........................
11,63
41,33
3,41 8,95 2,47 4,09 5,59 7,38 6,62 8,65 13,77 21,14
Urbana...................
12,09
42,06
3,96 9,43 2,69 4,62 6,40 8,21 7,72 9,33 14,34 20,27
Rural...................... 9,99
38,91
1,46 7,21 1,66 1,87 2,87 4,59 3,05 6,27 11,43 24,31
Manoel
Ribeiro....... 13,09
37,92
2,87 11,33
1,52 4,13 4,59 9,16 9,18 9,82 19,56 29,61
Urbana...................
12,34
37,05
3,06 10,49
1,59 3,67 4,22 9,00 8,83 9,38 16,85 27,72
Rural...................... 17,21
42,95
1,59 15,86
1,15 6,36 6,67 10,16 11,19 12,30 32,39 38,94
Tabela 3: Taxa de Analfabetismo da população de 5 anos ou mais de idade.
Fontes: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Censo Demográfico de
2000 e Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro - CIDE.
A partir dos dados acima, constata-se que Mariapresenta uma significativa
taxa de analfabetismo diante do contexto do estado, embora tenha apresentado uma
queda entre as décadas de 70 e 2000. Junto a isto, identifica-se, tamm, que o
nível de escolaridade predominante se situa numa faixa de 4 a 7 anos.
Destaca-se que apenas em 2006 o município passou a abrigar uma instituição
de ensino superior, Universidade Severino Sombra, visto que até então, não
apresentava instituições de ensino superior, e logo, é a única Universidade
encontrada no município.
De acordo com dados do IBGE, em 2006 Mari apresentava o seguinte
número de instituições de ensino:
Ensino fundamental 59
Ensino fundamental - escola pública
estadual 17
Ensino fundamental - escola pública
federal 0
Ensino fundamental - escola pública
municipal 29
Ensino fundamental - escola privada -
2006
13
Ensino médio 15
Ensino médio - escola pública estadual 6
Ensino médio - escola pública federal 0
Ensino médio - escola pública municipal
1
Ensino médio - escola privada 8
Ensino pré-escolar 45
Ensino pré-escolar - escola pública
estadual
7
Ensino pré-escolar - escola pública
federal 0
Ensino pré-escolar - escola pública 24
72
municipal
Ensino pré-escolar - escola privada 14
Tabela 4: Número de instituões de ensino em Maricá.
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2007.
2.3.3 Saúde
Segundo o Plano Diretor de Regionalização do Estado, Mariestá inserido
na Região Metropolitana II que é composta tamm por outros seis municípios:
Nitei, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, Rio Bonito e Casimiro de Abreu. Esta região
está dividida em quatro microrregiões: METRO II.1, METROII.2, METRO II.3 e
METRO II.4. A Microrregião METRO II.1 é composta por dois municípios: Niterói e
Maricá. Estas duas cidades apresentam uma população de 535.021 habitantes e
constituem dois módulos assistenciais: METRO II.1.1 ,Niterói, e METRO II.1.2 ,
Maricá.
Figura 25: Mapa com a divisão do Plano Diretor de Regionalização Região Metropolitana.
Fonte: Secretaria Estadual de Saúde
Maricá apresenta um hospital municipal conveniado ao Sistema Único de
Saúde (SUS), e segundo o Tribunal de Contas, tem-se a seguinte distribuição de
unidades ambulatoriais:
Centro de saúde 11
Clínica / ambulatório especializado 8
Consultório isolado 2
Hospital especializado _
Hospital geral 2
73
Tabela 5: Distribuição de unidades ambulatoriais em Maricá em 2007.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2007, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento
De acordo com o IBGE, Mari apresentou em 2006 o número de
estabelecimentos de saúde distribuído da seguinte forma:
Estabelecimentos de Saúde total 29
Estabelecimentos de Saúde pública total 20
Estabelecimentos de Saúde pública federal 2
Estabelecimentos de Saúde pública estadual 18
Estabelecimentos de Saúde privado total 9
Estabelecimentos de Saúde privado com fins
lucrativos 8
Estabelecimentos de Saúde privado sem fins
lucrativos 1
Estabelecimentos de Saúde privado SUS 4
Estabelecimentos de Saúde com internação total 3
Estabelecimentos de Saúde sem internação total 22
Tabela 6: Estabelecimentos de saúde em Maricá.
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2006.
38%
12%
23%
23%
1%
3%
CLÍNICA MÉDICA
CLÍNICA CIRÚRGICA
CLÍNICA OBSTÉTRICA
CLÍNICA PEDIÁTRICA
CLÍNICA PSIQUIÁTRICA
FORA DA POSSIBILIDADE
TERAPÊUTICA
Figura 26: Distribuição das unidades ambulatoriais em Maricá em 2007.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2007, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento
2.3.4 Economia
Em relação ao setor econômico a área de estudo apresenta papel relevante já
que nesta se desenvolveu uma atividade que constituiu dos principais eixos
Policlínica 2
Posto de saúde 8
Unidade de apoio à diagnose e terapia 4
Outras unidades 4
74
econômicos municipais: a pesca, e posteriormente, a construção civil, tamm de
significativa expressão em Maricá.
Nos últimos anos quando o quadro econômico do município apresentou
queda na produção agrícola, houve um desvio da mão-de-obra para os municípios
de Niterói e Rio de Janeiro. Significativa parcela da população que trabalha no
município vincula-se a atividades informais, subsistência e pesca. Visto que o
crescimento demográfico municipal é caracterizado por uma população de classe
média que não objetiva se estabelecer no município, esta se torna a principal
subempregadora da população residente (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 44).
Sochaczewski (2004) ilustra a situação econômica do município da seguinte
forma:
Dados estatísticos organizados pelo CIDE comprovam a predominância, em
Maricá, dos setores de comércio e serviços, com pouca participação da
construção civil, e, em menores partes, da pecuária, da pesca e do
artesanato, setores dos quais muitas famílias dependem para sobreviver,
mas que já tiveram maior influência na atividade econômica – ou seja,
participam do PIB familiar porém são fracas na totalização do PIB do
Município. A receita pública municipal depende principalmente da
arrecadação de impostos do setor imobiliário, e de repasses externos. A
Viação Nossa Senhora do Amparo destaca-se como maior empresa,
inclusive quanto à geração de empregos. Em termos socioeconômicos,
Maricá caracteriza-se por oferecer poucos postos de trabalho, e voltados à
mão-de-obra não especializada (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 43 – 44).
Segundo o Tribunal de Contas do Estado, o PIB da cidade de Maricá pode ser
ilustrado no quadro abaixo:
Setor econômico Ranking do ano
Valor
PIB
Transportes 29 29 31 31 31 31 16 288
Serviços
industriais de
utilidade pública 32 32 32 33 33 30 39 751
Pib a preços
básicos
30 31 32 33 32 33
528
632
Outros serviços 37 35 28 37 37 40 50 114
Instituições
financeiras 29 29 30 30 32 28 5 607
Indústria de
transformação 45 49 51 52 43 36 25 099
Extração de
outros materiais 9 13 15 15 16 18 1099
Construção civil 19 22 23 23 21 23 122 283
Comunicações 29 26 22 22 22 22 32 705
Comércio 29 31 32 31 34 30 22 283
75
Aluguéis 27 28 28 28 27 24 125 058
Agropecuária 81 82 81 81 81 76 1822
Administração
pública
25 28 22 28 27 24 99 350
2000 2001
2002 2003
2004
2005
Em 2005
(r$ mil)
Total
dos
setores 542 535
Imputação de intermediação financeira _ 13 903
Tabela 7: Contribuições do Produto Interno Municipal.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2007, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento
Já o IBGE fornece a seguinte tabela com PIB municipal em 2005:
Valor adicionado na agropecuária
3.295
Valor adicionado na Indústria 68.551
Valor adicionado no Serviço 560.072
Impostos - 35.155
PIB a Preço de mercado corrente 667.074
Tabela 8: PIB municipal em 2005.
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
Com relação à receita municipal, as transferências da União, Estado,
realizadas entre o ano 2001 e 2006, podem ser ilustradas da seguinte forma:
Figura 27: Repasses públicos da União e do Estado para Maricá.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2007, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento
76
A receita tributária municipal neste período apresentou aumento de 156% na
arrecadação de Imposto sobre Serviço (ISS), assim como acréscimo de 78% na
receita de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e de 178% no Imposto sobre
Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). (TCE, 2007, p. 114). O que pode ser
exemplificado no gráfico a seguir:
Figura 28: Composição das Receitas Tributárias de Maricá.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-econômico,
2007, Mari. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento
Constata-se que o PIB municipal tem como valores mais expressivos, os
vinculados à construção civil e aos aluguéis, o que se vincula com a taxa de
crescimento populacional vista anteriormente, e ainda explica o aumento nas taxas
de arrecadação de INSS, IPTU e ITBI.
2.4 Aspectos Naturais
Visto que o recorte espacial analisado é uma Área de Proteção Ambiental,
este tópico tem como objetivo caracterizar o contexto ambiental desta área.
Maricá apresenta clima tropical úmido, com verão quente e chuvoso e inverno
sub-seco. A temperatura média anual de 23ºC, com precipitações variando entre
1100 e 1500 mm ao ano. Predominam os ventos alísios do nordeste e sudeste.
(COYUNJI, 2006, p. 14). As precipitações concentram-se nos meses de dezembro a
77
fevereiro, sendo dezembro o mês com maior índice pluviométrico e julho o mês mais
seco. (MELLO; VOGEL, 2004, p. 82).
O relevo do município de Marié formado por uma faixa de restinga ao sul,
ao longo da orla, ao passo que a leste, norte e oeste encontram-se colinas e
maciços. As serras, que são maciços gnáissicos de origem tectônica, apresentam de
100 a 600m de altura, formando pontões rochosos em Itaipuaçu e Ponta Negra. O
relevo tamm é formado por vales decorrentes da erosão sobre os maciços e a
baixada litorânea, proveniente das oscilações marinhas. (BAHIENSE, 2003, p. 17).
Lamego (1974) descreve o relevo e a decorrente formação da laguna,
conforme o autor:
A primeira, murada a leste pelo espigão da Ponta Negra forma a lagoa de
Guarapina, alimentada pelos rios Doce e Bananal. Apoiando-se em tais
projeções colinosas é que a restinga ensacou a lagoa do Padre, e, logo a
seguir, numa profunda penetração, a da Barra da qual se passa a de São
José do Imbassou Maricá propriamente dita. Finalmente, a oeste dessa
lagoa, a grande cobertura empantanada que assinalamos ia limitar-se
contra o paredão serrano que, do Falso Paço de Açúcar ruma para nordeste
e forma o Alto do Moirão, o morro do Telégrafo e a serra da Tiririca.
Desde a Ponta Negra até a grande baía note-se pois que, todas essas
angras endicadas pelas restingas e transformadas em lagunas nada mais
o que fossas tectônicas entre espigões do maciço litorâneo, ramificados
para o mar em pequenas cristas dirigidas para o sul e o sudoeste e que
originam bacias de altos declives (LAMEGO, 1974, p. 57).
No que tange à hidrografia, os limites municipais coincidem com a bacia do
complexo lagunar, com exceção da lagoa de Jaconé. Portanto, todos os rios do
sistema lagunar de Maricá, que nascem nas serras que circundam o município,
estão contidos em seu território, distribuídos em três sub-bacias principais: as dos
rios do Vigário, Ubatiba e Caranguejo, com exceção de alguns pequenos córregos
que deságuam na laguna de jaconé que pertence aos municípios de Maricá e
Saquarema. O sistema lagunar é composto por quatro lagoas interligadas, a lagoa
de Maricá, do Padre, da Barra e Guarapina, totalizando 38 km². (GOMES, 2002, p.
33).
O sistema hidrográfico também é composto pela lagoa Brava, localizada em
Itaipuaçu, atualmente isolada do sistema, e ligada à lagoa de Maricá pelo canal de
São Bento. Apresenta, tamm, o córrego Bananal e o córrego Pacheco, além dos
canais de São Bento, da Costa e de Cordeirinho. (GOMES, 2002, p. 37).
78
Quanto à cobertura vegetal, a floresta ombrófila densa compunha a formação
original do solo na maior parte do município, enquanto formações pioneiras cobriam
as colinas e maciços costeiros, que corresponde a áreas de restinga e de
acumulação dos cursos d'água. Contudo a ocupação do território, com a expansão
urbana, uso agrícola e agropecuária reduziram essa área de cobertura vegetal a
30%. A vegetação formada por floresta ombrófila densa remanescente, que constitui
vegetação de mata atlântica, se concentra na Serras da Tiririca, do Macaco, do
Caju, do Silvado, do Espraiado, do Mato Grosso e de Jaconé, na Ponta do Fundão,
Ilha Cardosa e Morro do Mololô. A vegetação característica de restinga pode ser
encontrada na Área de Proteção Ambiental de Maricá (APA de Maricá) e a
vegetação de brejo se localiza em pontos isolados de alagamento dos baixos cursos
de rios e margens de lagoas. (BAHIENSE, 2003, p. 22).
Lamego (1974) descreve a cobertura vegetal da faixa de restinga: “A flora das
restingas, por conseguinte, apresenta uma sucessão florística progressiva a partir do
mar, até os limites onde uma vegetação-clímax, isto é que atinge o máximo possível,
uniformiza-se em extensivos cerradões.” (LAMEGO, 1974, p. 101).
A Fundação Cide, identifica os elementos da cobertura vegetal do município
na seguinte tabela:
Floresta
Ombrófila
Formações
Vegetação Área Área
densa pioneiras secundária urbana agrícola
Estado 16,6 4,3 15,5 4,2 9,4
Maricá 24,7 5,8 18,3 14,2 0,5
Pastagem
Área Corpos Afloramento Não
Não
classificado
degradada
d'água
rochoso e campos
de sensoriado
altitude
44,5 1,2 2,3 0,5 1,3 0,1
24,3 0,3 11 0,6 0 0
Tabela 9: Percentual das áreas, por tipo de uso do solo, segundo os municípios do Estado do
Rio de Janeiro em 1994.
Fonte: Mapeamento Digital do Estado do Rio de Janeiro. GEROE/CIDE.
Ainda em se tratando da cobertura vegetal, pode-se mencionar a publicação
da Fundação Cide, o IQM Verde de 1994 e o IQM Verde II de 2001. Nestes foi
realizada a comparação entre as áreas cobertas pelos remanescentes da cobertura
vegetal e as áreas ocupadas pelos diferentes tipos de uso do solo, resultando no
79
Índice de Qualidade de Uso do Solo e da Cobertura Vegetal (IQUS). (TCE, 2007, p.
16).
No primeiro levantamento, realizado em 1994, foi constatado que Mari
apresentava o uso do solo distribuído em 25% de floresta ombrófila densa, 6% de
formações pioneiras, 18% de vegetação secundária, 14% de área urbana, 24% de
pastagens e 11% de corpos d'água. Consequentemente, Maricá se encontrava
inserido no cluster D1 - NATIVO I. Trata-se de um agrupamento com grandes áreas
de formações originais, seguidas por um padrão homogêneo de áreas urbanas,
pastagens e vegetação secundária. (TCE, 2007, p. 17).
No entanto, em 2001 ocorreu redução das formações florestais para 6%, das
formações pioneiras para 2%, e de vegetação secundária para16% do território
municipal. Em conseqüência, a área urbana cresceu, atingindo 19% do território
maricaense, ao passo que a área de campo e pastagem passou para 46%. Desta
forma, o município passou a ser classificado como inserido no cluster C2 -
RODEIO/VERDE II, que é caracterizado por altos percentuais de campo e
pastagem. Neste grupo tamm se encontram outros municípios da Região das
Baixadas Litorâneas, sendo eles: Araruama, Armação dos Búzios, Rio das Ostras,
São Pedro da Aldeia e Saquarema. Além destes municípios, tem-se um da Região
Costa Verde, outro da Região Centro- Sul Fluminense, dois do Médio Paraíba e dois
da Região Metropolitana. (TCE, 2007, p. 17).
O IQM Verde tem como objetivo a identificação de Corredores Prioritários
para a Interligação de Fragmentos Florestais (CPIF), ou Corredores Ecológicos, que
orientam a escolha de áreas de reflorestamento. De acordo com o IQM Verde
Maricá necessitaria implantar 760 hectares de corredores ecológicos, o que equivale
a 2,0% da área total do município. (TCE, 2007, p. 17).
Abaixo, tem-se o mapa com os tipos de uso do solo encontrados no território
municipal, onde os corredores ecológicos propostos pelo IQM Verde estão marcados
em vermelho:
80
Figura 29: Mapa com os tipos de uso do solo segundo o IQM Verde.
Fonte: Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Sócio-
econômico, 2007, Maricá. Rio de Janeiro: Secretaria-Geral de Planejamento.
Em se tratando da fauna maricaense, riquíssima inicialmente, que foi descrita
por Charles Darwin e John Luccock, devido ocupação atual da área, encontra-se
reduzida, principalmente as espécies de porte médio, enquanto as aves, mesmo
tendo seu número reduzido, apresentam-se em maior quantidade. A redução das
espécies animais atingiu até a atividade pesqueira, o que tamm se deve a
abertura dos canais de São Bento e Ponta Negra. (GOMES, 2002, p. 46 e 47).
Além de praias, lagoas, cachoeiras e restingas, Maricá apresenta uma
Unidade de Proteção Integral, o Parque Estadual da Serra da Tiririca (PEST), e uma
Unidade de Uso Sustentável, a Área de Proteção Ambiental de Maricá (APA de
Maricá).
Figura 30: Mapa com a localização da APA de Maricá e Serra da Tiririca.
81
O Parque Estadual da Serra da Tiririca, que foi estabelecido pela Lei Estadual
nº. 1.901 de 29 de novembro de1991, sendo posteriormente delimitado pelo Decreto
Estadual nº. 18.598 de 19 de abril de 1993, localiza-se nos distritos de Inoã e
Itaipuaçu, além de parte do território do Município de Niterói. (MARICÁ, 2006, p.
103). O parque apresenta uma parte continental e uma parte marinha (RIO DE
JANEIRO, 1993).
A criação do parque teve como meta a proteção da fauna, da flora e das
belezas cênicas; amenização climática, recarga natural do lençol freático, redução
da erosão, e, para assegurar o direito de acesso da população ao ecossistema em
questão. Junto a isto, a criação do parque pode ser atribuída ao movimento
ambientalista e comunitário das cidades de Niterói e Maricá, e tamm está
relacionada à expansão do parcelamento urbano em seu entorno, em especial na
região oceânica de Niterói, que tendia a englobar a área do parque. (SIMON, 2004).
De acordo com Simon (2004): “O PEST é um produto do movimento
ambientalista local que, em nome da conservação da biodiversidade, dos processos
ambientais, dos habitats da fauna e da flora e dos recursos hídricos existentes,
transformou espaços históricos sociais em espaços da conservação.” (SIMON,
2004).
Localizado em um trecho que compreende os municípios de Niterói e Maricá,
seu relevo inclui o Morro do Elefante, o Alto Mourão, o Costão de Itacoatiara, o
Morro do Telégrafo, o Morro do Catumbi, o Morro do Cordovil, o Morro da Penha e o
Morro da Serrinha. Sua cobertura vegetal compreende a Floresta Ombrófila Densa,
correspondente a Mata Atlântica Baixo-Montana ou Submontana. (BARROS et al).
Assim como a Floresta Atlântica a vegetação da Serra da Tiririca passou pelo
processo de degradação decorrente da ocupação iniciada no período colonial. Na
primeira metade do século XX, a localidade foi utilizada para o cultivo de banana e
citricultura, o que prejudicou a cobertura vegetal, cuja regeneração natural foi
possibilitada com a diminuição do uso agrícola do solo. Este ambiente abriga
patrimônio genético representativo da fauna e flora do Estado que inclui espécies em
extinção. (IEF, 2008).
A APA de Marifoi criada através do Decreto Estadual nº. 7.230 de 23 de
abril de 1984. A. Área de Proteção Ambiental do Sistema Lagunar inclui as lagoas
de Maricá, da Barra, do Padre, de Guarapina e de Jaconé, a lagoa Brava, suas
82
margens, a Ilha Cardosa e o canal da Costa. (MARICÁ, 2006, p. 103). Logo,
constitui uma faixa de restinga com 500 hectares: que se estende de Zacarias ao
Morro do Mololô, incluindo parte da Ponta do Fundão. Sua ocupação tem resultado
em impactos ambientais decorrentes de extração mineral, disposição inadequada de
lixo e desmatamento.
A APA também abriga a comunidade de pescadores de Zacarias, segundo
Bahiense (2003):
Existe, ainda, dentro da APA, uma comunidade de pescadores originária de
apenas duas famílias e estabelecida na localidade de Zacarias há gerações.
Estima-se que vivem no aldeamento cerca de 150 pessoas (levantamento
FEEMA de 1995), que não possuem a propriedade da terra que ocupam, na
margem da Lagoa de Mari, nem o Termo de Permissão de Uso da Faixa
Marginal de Proteção, expedido pela SERLA (BAHIENSE, 2003, p. 24).
A área da APA de Maricorresponde a duas propriedades privadas, sendo
elas: a de Lúcio Tomé Feteira, que engloba toda a área de restinga e corresponde à
aproximadamente de 90% da área da APA; e a dos herdeiros de Déa Philigrete de
Oliveira Batista, que inclui a Ilha Cardosa e equivale a cerca de, 10% da área da
APA. (GOMES, 2002, p.72).
Em 2000, o Governo do Estado do Rio de Janeiro através de Decreto
Estadual 26.057 criou o Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica /
RJ, com o objetivo de implementar a Reserva da Biosfera da Mata Atntica, que,
por sua vez, tem como meta a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e os
ecossistemas associados a esta no Estado. (A RESERVA DA BIOSFERA DA MATA
ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2003, p. 22).
Neste contexto a APA de Maricá, assim como o Parque Estadual da Serra da
Tiririca, estão inseridas na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, pois apresentam
características de ecossistema associado à mata atlântica com Formações
Pioneiras, que são as Áreas com Influência Marinha (A RESERVA DA BIOSFERA
DA MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2003, p. 45).
O mapa a seguir ilustra as áreas de abrangência da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro, onde se pode identificar que engloba
parte significativa do território maricaense:
83
Figura 31: Mapa das áreas de abrangência da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado
do Rio de Janeiro.
Fonte: (A RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
2003, p. 20 e 21.
2.5 Características urbanas
2.5.1 Infra-estrutura
O município de Maricá caracteriza-se pelo seu limitado sistema de infra-
estrutura, e, conseguintemente, o recorte espacial tamm. Portanto, pode-se
mencionar que o serviço de abastecimento de água ocorre na Barra de Maricá, e
recentemente passou a atender a comunidade de Zacarias, no entanto, torna-se
necessários solicitar este serviço; em o José de Imbassaí tem-se o sistema
individual. o serviço de coleta de esgotos é realizado através do sistema
individual em todos os trechos do recorte em estudo.
O abastecimento de água é realizado pela empresa CEDAE, e atende aos
sub-distritos Centro e Barra de Maricá, situados no Distrito, as demais localidades
utilizam sistema individual com poços. A captação e tratamento ocorrem no próprio
município, através da estação de tratamento localizada no Rio Ubatiba.
84
O Governo Estadual desenvolveu um projeto a fim de estender até Mario
sistema Imunana-Laranjal, que abastece os municípios de São Gonçalo e Niterói, a
fim de solucionar problemas de abastecimento de água na região. No entanto, ao
expandi-lo para a região oceânica de Niterói sua capacidade para abastecer Maricá
ficou comprometida e o município não foi contemplado.
Guichard (2001) caracteriza o abastecimento de água no município da
seguinte forma:
O abastecimento de água [grifo dou autor] é restrito aos bairros do centro
e a orla marítima, mesmo assim a água entra no máximo três vezes por
semana, restringido para 1 vez na época do verão devido a chegada dos
veranistas, que correspondia a 395 dos domicílios em 1991. Como a maior
parte das localidades fica distante do Centro, apenas 15,5% das residências
com luz elétrica são abastecidas de água pela CEDAE. A solução para a
ausência de rede de abastecimento de água é mais uma vez individual, a
maior parte das casas possui posso artesiano, que pode ser uma dádiva
caso a água seja de qualidade, mas os poços ficam sujeitos ao nível de
contaminação do lençol freático. Além disso, é comum a diminuição do nível
de base no verão, o que provoca o “esgotamento do poço” [grifo dou autor],
ou seja, a seca. As soluções vão desde a limpeza ou aprofundamento do
poço, até a necessidade de abertura de um outro. Esta solução
“individualizada” [grifo dou autor] para o abastecimento d’água, leva este
novo morador a necessidade de consumo de água mineral, como fonte de
água potável, e a compra de água, para os usos gerais através de carro
pipa, armazenando-a em cisterna (GUICHARD, 2001, p. 89).
Quanto ao fornecimento de energia elétrica, é a empresa privada Ampla que
atua no município. Todavia, o fornecimento apresenta falhas nos períodos de maior
movimento. A iluminação pública concentra-se mais no Centro de Maricá que nos
sub-distritos e ao longo da RJ-106.
Em relação ao sistema de esgotamento sanitário, o município possui sistema
coletor do tipo separador absoluto (FUNDREM, 1978, p.138) e tratamento em uma
parte do Centro de Maricá, que ocorre em uma estação localizada no município, e
tem como destino final a lagoa. Para as demais localidades a administração
municipal exige o uso do sistema fossa, filtro e sumidouro. Entretanto, não há
fiscalização efetiva para controlar o despejo dos efluentes.
A coleta de resíduos sólidos urbanos contempla a maior parte dos domicílios,
os demais queimam ou descartam o lixo em terrenos vazios Como destino final dos
resíduos coletados tem-se o aterro do Morro do Céu em Nitei e do Caxito em
Maricá, além de uma usina de compostagem.
85
Em se tratando da drenagem pluvial, Maricá apresenta sistema rudimentar na
parte central, sendo empregue o sistema unitário que mistura águas pluviais e
esgoto.
2.5.2 Sistema viário
A área de estudo caracteriza-se pela proximidade de eixos rodoviários
intermunicipais, como a RJ-106, além da RJ-102. Junto a isto, o acesso à APA de
Maricá pode ser realizado pela Estrada do Boqueirão e Ponte do Boqueio, que
ligam o Centro de Maricá à Barra de Maricá.
O sistema viário de Maricá é composto pela RJ-104 que vai até Tribobó, e a
Rodovia Amaral Peixoto, a RJ-106 que corta o município e constitui seu acesso
principal. Apresenta, ainda, a Estrada Real e a estrada de Cassorotiba que foi
estabelecida durante o Império e seu acesso atual se a partir de Venda das
Pedras, e a RJ-114 que liga o município a Itaboraí. Tem-se, tamm, a Estrada
Nitei - Rio das Ostras, ou RJ-102, que é uma via litorânea que segue a restinga de
Itaipuaçu a Ponta Negra e a RJ-110 localizada a leste das lagoas, que permite
acesso a Ponta Negra.
O antigo acesso principal à Vila de Santa Maria de Maricá, hoje constitui
acesso secundário ao município, localizado no sub-distrito Flamengo, e é utilizado
como acesso dos ônibus das empresas locais.
Figura 32: Mapa do sistema viário de Maricá.
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. ESTUDO
SOCIOECONÔMICO 2005, MARICÁ, Secretaria-Geral de Planejamento, Rio de Janeiro.
86
Figuras 33, 34 e 35: Vistas da RJ-106 e acesso secundário ao Município em 2007.
Fonte: acervo particular.
Quanto às vias de circulação interna, na parte central do Distrito Sede
encontram-se vias pavimentadas, ao passo em que nos demais ainda há a presença
de vias não pavimentadas.
O sistema viário nos sub-ditritos mistura circulação de veículos, pedestres e
ciclistas, havendo intenso uso de bicicletas e problemas com relação à capacidade
das ruas do Centro de Maricá em conter a demanda de vagas de parada de
automóveis, principalmente nos períodos de maior movimento.
2.5.3 Transporte
Ao que se refere ao sistema de transporte municipal, pode-se considerar que
a área de estudo apresenta acesso limitado, visto que apenas uma empresa de
transporte disponibiliza linha de ônibus para a Barra de Maricá. Todavia, o transporte
alternativo vem suprindo esta demanda.
Em relação ao sistema de transportes, Maricá apresenta duas empresas de
ônibus: a Viação Nossa Senhora do Amparo e a Costa Leste MariTransportadora
Turística. A Viação Amparo realiza viagens intermunicipais enquanto a Costa leste
se restringe a alguns sub-distritos.
Contudo, devido à presença de uma única empresa realizando ligações
intermunicipais, tem-se o desenvolvimento de transporte alternativo através do
emprego de vans, que teve início em 1997 (GUICHARD, 2001, p. 90).
87
2.5.4 Morfologia e uso do solo
A morfologia da área de estudo apresenta aspecto diferenciado nos trechos
estudados, visto que Barra de Maricá e São José apresentam uma ocupação mais
densa que a comunidade de Zacarias, onde predomina a tipologia residencial.
Ao que se refere ao aspecto morfológico, Mari se caracteriza por seus
traços naturais como o complexo lagunar, praias, restinga e o relevo. Junto ao
aspecto natural, o município tamm é identificado pela ocupação linear ao longo da
Rodovia Amaral Peixoto, a RJ-106, que ao cortar os distritos fragmenta a malha
urbana.
Não predomínio de determinada tipologia específica, nem expressivo
número de edificações provenientes de ocupação mais antiga. O uso predominante
é o residencial, assim como prevalece aspecto horizontal em virtude do gabarito
máximo de até quatro pavimentos.
Os usos comercial e de serviços localizam-se nas partes centrais dos sub-
distritos e ao longo da RJ-106, a presença de lojas de materiais de construção ao
longo desta ilustra a vocação para a indústria da construção civil na cidade.
2.5.5 Equipamentos
O município apresenta praças, o Hospital Municipal Conde Modesto Leal,
postos de saúde, clínicas particulares, igrejas, terminal rodoviário, agências
bancárias, escolas públicas e particulares, além de uma Universidade Particular.
Tem-se, também, a Casa de Cultura de Maricá, Anfiteatro, Biblioteca Municipal e
Casa do Futuro, além de cursos de idiomas, informática e de danças.
Em geral os equipamentos localizam-se no Centro de Maricá, os demais sub-
distritos apresentam-se em processo de ampliação de serviços e comércio.
2.5.6 Condições de habitação
Além da característica peculiar apresentada no item anterior que se deve à
localização de uma comunidade pesqueira, às condições de habitação do recorte
espacial refletem às características do município. Logo, em se tratando das
88
condições de habitação identifica-se uma heterogeneidade, pois o município ainda
abriga casas de veraneio, assim como relevante número de moradores provenientes
da Região Metropolitana, logo, apresenta loteamentos edificados e em fase de
implementação, formados por edificações unifamiliares destinadas a padrão de
renda médio. Abriga, ainda, edificações de população de baixa renda,
principalmente nas áreas e sub-distritos periféricos.
Após a apresentação, de forma resumida, do Município de Maricá, segue-se
com uma breve caracterização da restinga e da APA de Maricá, assim como a
ocupação desta parte do território.
Em síntese, o município é caracterizado por seus aspectos naturais, pois
concentra a Serra da Tiririca, APA de Maricá, o complexo lagunar e a restinga e as
praias. Dentre as demais características do município, pode-se mencionar o precário
sistema de infra-estrutura, visto que o abastecimento de água e coleta de esgoto se
restringem ao núcleo central, sendo os demais sub-ditritos servidos pelo sistema
individual, para o qual não efetiva fiscalização da administração municipal. Outro
aspecto característico de Maricá e o limitado serviço de transporte, pois esse serviço
é praticamente controlado por uma única empresa.
Junto a isto, o crescimento demográfico municipal tamm é expressivo, o
que neste caso expressa o processo que se vincula ao parcelamento urbano
municipal desde a década de 50, a partir da qual o município passou a abrigar
moradores de outros municípios, principalmente da região metropolitana.
O sistema viário municipal tamm apresenta um aspecto peculiar, que é
composto pela RJ-106, que divide o município e constitui via de ligação entre os
sub-distritos ao mesmo tempo em que liga a região das baixadas litorâneas às
regiões vizinhas.
2.6. Caracterização do recorte espacial - A Restinga e a Área de Proteção
Ambiental de Maricá (APA de Maricá)
Tendo visto a caracterização do município de Maricá, apresenta-se o recorte
espacial objeto deste estudo. Trata-se da Área de Proteção Ambiental de Maricá
(APA de Maricá), que engloba a restinga de Maricá.
Maricá apresenta uma bacia hidrográfica que é contida nos limites municipais,
nesta concentra-se a Laguna de Maricá, que, por sua vez subdivide-se nas lagoas
89
do Padre, da Barra, da Guarapina e de São José. Logo apresenta uma significativa
faixa de restinga. Pode-se, então, citar Lamego (1974):
A começar de oeste e em continuação a uma vasta depressão já
parcialmente dessecada em pantanais e alagadiços e enxugada pelo canal
de São Bento, a maior dessas lagoas, a de São José, estende-se da foz do
delta do Mumbuca ao mar. Próximo a sua margem oriental no extremo norte
fica a cidade, nos limites da planura sedimental por aquele rio e por areias
de uma velha praia. Ao sul, a lagoa de São José une-se à Barra e esta à do
Padre, que pelo canal do Cordeirinho junta-se à Guarapina que termina em
Ponta Negra (LAMEGO, 1974, p. 48.).
Já Mello e Vogel (2004) descrevem a Laguna de Maricá da seguinte forma:
As “observações biogeográficas e hidrobiológicas [grifo do autor]
descrevem, para Maricá, um sistema de seis lagunas, encostadas na
planície litorânea, ao longo da costa que se estende por cerca de 20
quilômetros, em linha reta, formando sua borda meridional. São elas, na
direção do leste, a Lagoa Brava; o Lago Grande (da Lagoa de Maricá), que
às vezes se chama Lagoa se São José; o Lago do Bacupari; a Lagoa da
Barra; o Lago do Padre e a Lagoa de Guarapina, antigamente Gurupina, e,
mais antigamente ainda,Gururupirá (MELLO; VOGEL, 2004, p. 81 - 82)
Em se tratando da definição de laguna, Azevedo (1984), conceitua laguna da
seguinte maneira:
Lagunas são ecossistemas formados em depressões, abaixo do nível do
mar, e dele separados, por cordões litorâneos. Estes cordões podem isolá-
las totalmente do oceano, formando lagunas ou semi-fechadas, ou
simplesmente permanecerem em contato permanente com o mar através
de canais. [grifo meu] Por estas características, estes ecossistemas podem
atender imeras finalidades que vão desde a utilização como simples
reservatórios, inerentes a proliferação de uma flora e uma fauna
características (nestes casos atendendo sobretudo aos anseios de colônias
de pescadores artesanais); de utilizações para explorações minerais e, até
no atendimento, à indústria turística incorporando, conjuntamente, a
expansão imobiliária (AZEVEDO In: SIMPÓSIO SOBRE RESTINGAS
BRASILEIRAS, 1984, p. 123.).
90
Figura 36: Carta Náutica das Lagoas de Maricá.
Fonte: FARIA, 1996.
Quanto à formação da Laguna de Maricá, Perrin (1984), descreve que a costa
fluminense é formada por praias que elevam as reentrâncias da costa, e cordões
arenosos, barreiras ou restingas que fecham lagunas e baías. As barreiras são
apoiadas em pontas rochosas que se estendem até o mar e as serras, como a
saliência de São Bento a oeste da lagoa de Maricá. (PERRIN In: SIMPÓSIO SOBRE
RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 65).
As falésias que formam as lagunas de Maricá são provenientes da penúltima
transgressão, a transgressão máxima, onde o mar encontrava a rocha alterada. Na
regressão posterior a areia decorrente colmatou a Enseada de Itaipuaçu, entretanto,
os entrances da costa e da saliência de são Bento não foram preenchidos pelos
sedimentos marinhos. a última Transgressão-holocêntrica com cordões arenosos
resultou em diques sobre a praia de Itaipuaçu e em uma restinga que represa
lagunas, sendo dupla até Barra, na Ponta Fundão e simples depois deste trecho.
Todavia, as lagunas da Barra, Padre e Guarapina foram represadas depois da
laguna de Maricá por um cordão mais recente. (PERRIN In: SIMPÓSIO SOBRE
RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 72 - 73).
A enseada de Itaipuaçu, em cujo setor mais baixo se encontrava a lagoa
Brava, foi constituída por deposição de areia durante a regressão posterior à
penúltima transgressão, quando o oceano se retirou. (PERRIN In: SIMPÓSIO
SOBRE RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 68 - 69).
Portanto, a morfogênese do território formou-se a partir da penúltima
transgressão, na qual o mar se encontrava em contato direto com as rochas
litorâneas, o que se expressa pelas falésias justapostas na lagoa de Maricá. O
material arenoso proveniente da ação das ondas sobre as rochas depositou-se
formando as áreas de restingas. Na última transgressão Holocênica formou-se uma
91
barreira composta por dois cordões arenosos que represaram a lagoa de Maricá.
Nesta formação a área da APA de Mariconforma a planície que foi colmatada
durante a regressão anterior à transgressão Holocênica. A parte interna da APA
apóia-se em uma pré-cadeia rochosa paralela a Serra do Mar, encoberta pelos
depósitos arenosos, no trecho próximo ao mar localiza-se a dupla barreira cujos
cordões arenosos correspondem à transgressão Holocênica. (FEEMA, 1988).
Conforme Dieter (1984) as lagunas intra-cordões associadas e os trechos de
costa com duplos cordões formaram-se a partir de cordões litorâneos. Essas
lagunas são parcial ou completamente preenchidas por sedimentos. (DIETER In:
SIMPÓSIO SOBRE RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 77.).
Lamego (1974) atribui essa formação geográfica ao relevo formado pelo que
o autor denomina “espigões” que se estendem de sudoeste e para sul do território
municipal. Estes espigões provenientes do maciço litorâneo conformam enseadas
enclausuradas na laguna e originam bacias de altos declives. Há, também, a
formação de barras de areias que conformam pontais no interior das lagunas. Esses
pontais são formados em mares rasos a partir de correntes litorâneas que os
nivelam com o continente, e devido à existência de areias soltas em abundância que
são movimentadas pela água. Além disso, o complexo lagunar recebe as águas
provenientes dos rios, o que tende a aumentar seu volume, e logo, formar pantanais
e charcos. (LAMEGO, 1974, p. 57 - 58).
Figura 37: Mapa da formação da Laguna de Maricá desenvolvido por Lamego (1974).
Fonte: LAMEGO, 1974, p. 53.
92
Segundo Gomes (2002), o Falso Pão-de-Açúcar e a Ponta Negra, que
delimitam a restinga, serviram de pontos de apoio para a formação de cordões
arenosos, sendo que o cordão arenoso que se estende da Ponta do Fundão até
Ponta negra é mais recente, o que significa que as lagunas da Barra, Padre e
Guarapina foram represadas depois da laguna de Maricá. Os cordões arenosos
duplos concentram antigos brejos. Conforme a autora:
Antes da formação da restinga de Maricá, na era Cnozóica, período
terciário, as ondas do oceano Atlântico arrebentavam aproximadamente
onde são hoje as praias das Amendoeiras, Araçatiba, Ponta Grossa,
Boqueirão, Ponta da Preguiça, Jacaroá, Guaratiba, que foram antigas
baías, enseadas, ou eram barradas pelas colinas e falésias que hoje
margeiam as lagunas. A ponta do fundão e ilha Cardosa eram ilhas
costeiras (GOMES, 2002, p. 35)
Quanto à composição mineral, o Sistema Lagunar de Marié formado por
reentrâncias, saliências e colinas, apresentado elementos minerais como feldspatos,
argila, fluoritas e turfeiras. (AZEVEDO In: SIMPÓSIO SOBRE RESTINGAS
BRASILEIRAS, 1984, p. 125.).
Com relação ao clima do sistema lagunar, Azevedo (1984) descreve: ”O
regime climático é mais úmido em Maricá, com pluviometria anual de 1.300 mm,
menor evaporação e menos submetida à ação de um dos principais ventos, que é o
nordeste em virtude de seu relevo mais acidentado (a350 mm)”. (AZEVEDO In:
SIMPÓSIO SOBRE RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 125.).
Neste complexo lagunar há uma relação entre as lagoas e entre estas e o
mar. Mello e Vogel (2004) ilustram esta relação:
Em todos os casos, porém, o ponto crucial é a relação com o mar. Não
simplesmente porque lhe devem, de um modo ou de outro, sua formação,
mas porque seu ciclo evolutivo [grifo do autor] depende da comunicação
que com ele sejam capazes de manter. Para algumas, essa comunicação é
permanente, pois suas respectivas barras ainda não se fecharam. Outras,
no entanto, estão limitadas a um tipo intermitente de comunicação.
Segregadas do mar, restabelecem o contato com ele, quando em virtude
das cheias resultantes do deságüe da cordilheira, rompem a fita arenosa
para verter o excesso no oceano, ocasião em que tornam a abrir-se,
também, à penetração de marés (MELLO; VOGEL, 2004, p. 67)
93
2.6.1. O sistema lagunar e o processo de abertura da Barra
O complexo lagunar maricaense propicia o desenvolvimento da pesca, o que
tornou esta uma das principais atividades do município. Para Lamego (1974), foram
os pescadores que iniciam a ocupação do sítio. (LAMEGO, 1974, p. 234). Segundo
ele:
A maior parte destas pescarias, efetuadas nas lagunas ou nas proximidades
da praia, revelam a importância do pescador das restingas como fator
econômico e biológico, não somente para a população do Rio de Janeiro,
mas para toda a zona servida por esse Entreposto. Notável entre todas é a
produção de Maricá, com mais de um terço do total fluminense, embora o
valor monetário de sua exportação de peixe, seja inferior ao de Cabo Frio
onde espécies melhores são colhidas (LAMEGO, 1974, p. 237).
Portanto, o sistema lagunar abrigava uma população que praticava a pesca
não como atividade econômica, mas também como meio de subsistência,
constituindo a cultura da região, o que envolve conhecimento empírico sobre a
pesca e relação entre o mar e a lagoa. Junto a estes, tamm havia os
atravessadores, que eram responsáveis pela venda do pescado.
A laguna encontra-se relacionada ao mar, sendo as baixadas drenadas para
os lagos costeiros, o que ocorre de forma problemática em alguns momentos devido
ao lento escoamento das águas que descem das vertentes, o que leva à formação
de áreas alagadiças junto às lagoas. (FUNDREM, 1979, p. 116).
Figura 38: Complexo lagunar visto a partir de Itapeba, no trecho da Lagoa de Araçatiba, em
2008.
Fonte: Acervo particular.
Essas enchentes sazonais culminavam em febres palustres e prejudicavam a
atividade pesqueira. Consequentemente tem-se o processo de abertura da “barra”,
que consiste na abertura de um canal entre a lagoa da Barra e o mar,
restabelecendo a ligação entre estes a fim de promover a manutenção da salinidade
94
e a circulação de peixes. A abertura da barra, que inicialmente ocorria através de um
canal perene, era desenvolvida periodicamente pelos pescadores, durante o período
das chuvas, o que caracteriza a cultura desta população. (MELLO; VOGEL, 2004, p.
87 - 88).
A abertura da barra sazonal depende de fatores como lua, chuvas, marés,
ventos e correntes marinhas. Objetiva assegurar que a comunicação estabelecida
entre a lagoa e o mar dure tempo suficiente para alcançar os resultados esperados.
(MELLO; VOGEL, 2004, p. 355)
A FUNDREM (1979) levantou as características do complexo lagunar que
culminam nas enchentes sazonais, que seriam:
A Superintendência Estadual de Rios e Lagoas SERLA, através de
contínua observação do sistema lacustre de Maricá, constatou que o
escoamento através dessas lagunas com mais de 20 km paralelamente ao
mar, o se processa com facilidade devido principalmente a : extensão do
percurso, os estrangulamentos naturais; os assoreamentos; a Lagoa do
Padre (rasal), a própria barra de ponta Negra, com soleira em costa alta e
entulhada de pedras (FUNDREM, 1979, p. 130).
Gomes (2002) descreve o processo de abertura da barra, segundo a autora:
No regime antigo, ou de enchentes, o ecossistema passava por fazes
sazonais conforme a pluviosidade, sendo a barra aberta naturalmente pela
força das águas, barra nativa, ou manejada pelas mãos dos pescadores, a
qual era chamada “barra de emergência” [grifo do autor], regulando as
cheias e dando entrada à água do mar (GOMES, 2002, p. 48).
Esta característica da laguna de Maricá e a abertura da barra foram descritas
por Lamego (1974):
A estes fatores geológicos é que deve a Maricá suas apreciáveis lavouras
de cana e maior número de engenhos de açúcar e de aguardente do que os
outros municípios do mesmo quadro geográfico litorâneo, bem como as
grandes pastagens nas extensas varjarias marginais à laguna. Entretanto, a
eles também se devem as periódicas inundações que devastam essas
preciosas planícies, somente aliviadas pela intermitente abertura de um
canal no cômoro da lagoa da Barra. [grifo meu]
Canal precário e continuamente obstruído pelo mar que de novo o fecha,
recompondo a restinga, o que levou o Departamento de Baixada a talhar na
rocha da Ponta Negra uma saída perene, judiciosamente aproveitando o
exemplo da natureza que nesta costa só permite embocadutas estáveis em
pontos rochosos (Lamego, 1974, p 57 - 58):
95
Figuras 39 e 40: Barra em processo de abertura, e foto aérea da Barra aberta.
Fonte: MELLO; VOGEL, 2004, p. 243.
Além do processo de abertura de barras, os pescadores tamm utilizam
outras técnicas de manejo do sistema lagunar, que variam de acordo com lugar no
sistema lagunar e com as características locais e do pescado que se deseja
capiturar. Dentre essas técnicas pode-se mencionar a pesca-de-galho e a pesca-de-
parcel, o que requer conhecimento sobre a dinâmica lagunar e dos hábitos dos
peixes. (GOMES, 2002, p. 53).
A fim de solucionar o
problema do aumento do nível de
água da lagoa, a administração
municipal implementou dois canais:
o canal da Costa e o de Ponta
negra, sendo este último, realizado
em 1951 e projetado por Saturnino
Braga, tendo como base o
saneamento da lagoa Rodrigo de
Freitas. Neste período estava sendo
realizado o projeto de saneamento
desta região da baixada litorânea fluminense (MELLO; VOGEL, 2004, p. 142).
O projeto para abertura do canal de Ponta Negra estava associado à
implantação de uma rodovia litorânea, a RJ-110, possível de ser realizado desde
que não fossem abertas barras sazonais no cordão da costa. (MELLO; VOGEL,
2004, p. 228). Mello e Vogel (2004) descrevem o funcionamento destes canais,
segundo os autores:
Figura
4
1
: Vista do Canal da Costa
em 2005
.
Fonte: acervo particular.
96
Desse modo, veio acrescentar-se a drenagem dos pântanos, à retificação e
desobstrução de canais e à abertura de escoadouros para as águas
estagnadas, o Canal de Ponta Negra. Com ele o sistema passa a ter duas
ligações a céu aberto com o mar, pois no seu extremo ocidental, já existia o
Canal da Costa. Desses dois, o primeiro cumpre, como inlet , uma função
inversa à do último, que é do tipo outlet . Através do Canal de Ponta Negra
se dá, diariamente, a entrada e saída de água salgada ao passo que as
águas doces e salobras excedentes o ou deveriam ser esgotadas pelo
Canal da Costa (MELLO; VOGEL, 2004, p. 84).
Em 1975, a SERLA iniciou um Programa de Obras de Emergência, que
incluía abertura permanente da Barra de Maricá; aterro da Ponte Preta e melhoria da
barra de ponta Negra. (FUNDREM, 1975, p. 131).
Junto a abertura do canal de
Ponta Negra, o DNOS realizou a
dragagem do canal de Cordeirinho,
que liga a laguna do Padre à
Guarapina a fim de promover o
escoamento da água para o canal de
Ponta Negra. A superficie deste canal
que apresentava 3Km passou a
apresentar 0,18Km, e, em
consequencia, a laguna do Padre
passou a constituir um rasal, e as
terras nas margens norte e sul desta laguna foram descobertas. (GOMES, 2002, p.
59).
A abertura do canal de Ponta Negra dificultou o processo de abertura de
barras de emergência pelos pescadores. Visto que as lagunas se encontram acima
do nível do mar, e as lagoas da Barra e Maricá estão acima do nível da lagoa da
Guarapina, as águas fluem para fora do sistema, onde somente a lagoa da
Guarapina é beneficiada pela entrada de água do mar. (GOMES, 2002, p. 56).
Portanto, somente parte do sistema lagunar foi beneficiado, fazendo com que as
comunidades de pescadores entrassem em conflito. (MELLO; VOGEL, 2004, p. 26).
Segundo Mello e Vogel (2004):
Figura
4
2
: Vista do Canal de Ponta Negra
em
2005.
Fonte: acervo particular.
97
Finalmente, o Canal de Ponta Negra não se tornou crucial apenas pela
influência que exerceu sobre os aspectos hidrobiológicos, resultantes da
relação entre superfície, volume e salinidade. Sua existência também
interferiu de forma decisiva na morfologia social da região. [grifo meu]
Beneficiou os assentamentos contíguos, pois “bastava um gururu-pirá ou
guarapino colocar suas redes no canal para colher o peixe que saía e
entrava” [grifo do autor] .Assim, alterava-se, junto com a composição das
águas, a densidade moral das posições sociais, entre os pescadores de
Maricá. Uma dupla inversão, portanto: onde a água era “doce” [grifo do
autor] passou a ser “salgada” [grifo do autor], e quem fazia esteiras virou”
[grifo do autor] pescador. Quem era pescador, no entanto, ou se
conformava com a magra e desvalorizada captura de acarás e bagres,
coniplementando seus minguados recursos com a fabricação de esteiras,
ou mudava de profissão. De 1951 em diante, o peixe começou a faltar. Em
dezembro de 1954, os veranistas tinham de comprar camarão enlatado
para o almoço no armam da vila. Apesar das terríveis dificuldades para
sobreviver, os povoados pesqueiros da restinga - Zacarias, Guaratiba,
Ponta Negra e Barra de Maricá - contavam, ainda nessa época, cerca de
800 famílias de pescadores (MELLO; VOGEL, 2004, p. 89).
Azevedo (1984) ao analisar as condições geoquímicas das lagunas constatou
que os canais não realizam a renovação das águas. (AZEVEDO In: SIMPÓSIO
SOBRE RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 134.).
Após a abertura dos canais, seguiu-se com um desequilíbrio do sistema
lagunar e uma mortandade de peixes nos anos seguintes, o que levava a
necessidade de dragagem dos canais e os pescadores a constantes aberturas de
barras de emergência que obtiveram pouco resultado. Dessa forma, essa catástrofe
ambiental passou a ser divulgada na mídia atraindo pesquisadores e gerando
organização de movimentos sociais em Maricá. Conforme Gomes (2002):
Com a entrada do mar por Ponta Negra, a laguna de Guarapina passou a
ser a de maior salinidade, enquanto a Maricá praticamente o recebe
influência do mar. Segundo estudos da SERLA, (1997), a diminuição do
espelho e lâmina d’água não foi compensada com ganhos na qualidade da
água, havendo um contínuo processo de deterioração do corpo hídrico
(GOMES, 2002, p. 58).
Guerra et al (2005), em relação à ligação do sistema lagunar com o mar
através do canal de Ponta Negra, constatou:
O Sistema Lagunar de Maricá apresenta uma única via de comunicação
com o oceano, através do canal de Ponta Negra, fazendo com que haja
entrada limitada de água do mar no sistema. Através dos dados físico-
químicos obtidos, podemos observar que a influência da água do mar se dá
de forma decrescente de Guarapina para Maricá, sendo que esta última, já
98
não se apresenta sob tal influência, visto que não foi detectada salinidade
no local (GUERRA et al, 2005, p.13).
A drenagem destas áreas prejudicou as condições para a realização da pesca
e, ao mesmo tempo, fomentou disponibilidade territorial para o avanço do
parcelamento urbano através de loteamentos, fazendo da faixa litorânea o local mais
visado por este avanço. Consequentemente, a população que vivia da pesca e
subsistência foi deslocada, tanto de seu local de moradia quanto de trabalho, o que
fez com que parcela significativa desta mão-de-obra se inserisse na construção civil.
2.6.2. A Restinga e a cidade de São Bento da Lagoa
A laguna abriga uma significativa área de restinga, que se localiza em uma
faixa situada no leste do Estado do Rio de Janeiro e se estende de Jacarepaguá até
Cabo Frio, sendo interrompida por afloramentos de gnaisses e pequenos rios.
(ARAÚJO; HENRIQUES In: SIMPÓSIO SOBRE RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984,
p. 168.).
De acordo com Maciel (1984), restinga pode ser caracterizada como:
A palavra restinga indica um tipo de depósito marinho, que se apresenta em
forma de ngua de areia, fechando enseadas ou formando paralelamente à
costa uma barragem, separando uma laguna do oceano. No sentido
botânico o termo vegetação de restinga” [grifo do autor], quando
encontrado na literatura, pode estar sendo utilizado para englobar diversas
comunidades ou seja, as da praia, ante-duna, duna, cordões arenosos,
depressões entre cordões, mares de lagoas e até manguezais (MACIEL In:
SIMPÓSIO SOBRE RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 285.).
Em Maricá, a restinga se encontra entre o oceano Atlântico e as lagoas, em
uma área de 31 km de praia, que tem início no Falso Pão-de-Açúcar, no limite do
município de Niterói, e se estende até a Ponta Negra. A restinga apresenta zonas de
características diversificadas, a primeira, próxima ao mar, é formada por praias e
dunas, com vegetação rasteira, além de outra zona perto das lagoas, com
vegetação verde, típica de solo mais rico. (FUNDREM, 1975, p. 135).
As restingas constituíram caminho para acesso ao norte fluminense, e,
portanto, conhecimento não deste trecho do território como tamm da faixa
litorânea, o que culminou na implantação da rodovia Niterói - Campos bordejando as
99
lagunas de Maricá, Saquarema e Araruama, que atravessa a planície de restingas
desde Campos Novos até proximidades de Macaé. (LAMEGO, 1974, p. 272 - 275).
A restinga de Maricá abrigava comunidades de pescadores, já que esta era
uma das principais atividades econômicas do município, que abastecia os mercados
de Niterói e Rio de Janeiro.
As primeiras comunidades estabelecidas na restinga tinham como base a
pesca lagunar, onde os instrumentos eram confeccionados a partir dos elementos
encontrados no meio, trata-se do Muxango, que é o povo das áreas de restinga e
lagunas. Longe dos primeiros núcleos urbanos, essas comunidades utilizaram o
incremento dos meios de transporte e estradas para a venda do pescado. (GOMES,
2002, p.32)
As principais comunidades pesqueiras localizavam-se em Zacarias, Barra de
Maricá, São José de Imbassaí, Araçatiba, Guaratiba, Cordeirinho e Bambuí.
(FUNDREM, 1979, p. 149), havendo também a comunidade de Itapeba, Vila e Ponta
Negra (GOMES, 2002, p.86), como pode ser ilustrado no mapa abaixo:
Figura 43: Mapa com as comunidades pesqueiras tradicionais do sistema lagunar de Maricá, a
partir de informações da SERLA em 1986.
Fonte: GOMES, 2002, p. 86.
No entanto, quando o parcelamento da terra atingiu a restinga, algumas
comunidades de pescadores foram retiradas, o que resultou na diminuição da
atividade pesqueira, desviando essa mão-de-obra para construção civil, então em
expansão.
100
Gomes (2002) realizou levantamento dos cleos de comunidades
pesqueiras tradicionais existentes, que se encontram na área mais de 150 anos,
e tinham como base a pesca artesanal. Consequentemente, constatou-se que estes
núcleos remanescentes se encontram em Araçatiba, São José de Imbassaí, Itapeba,
Zacarias, Vila, Barra de Maricá, Guaratiba, Bambuí, Cordeirinho e Ponta Negra.
(GOMES, 2002, p. 98). A autora caracteriza a comunidade de Zacarias:
A comunidade de Zacarias é a mais expressiva comunidade pesqueira do
entorno do ecossistema lagunar de Maricá. Localizada na Área de Proteção
Ambiental de Maricá, ocupando uma faixa de cerca de 100m de largura,
entre o Boqueirão, a ponta do Capim e a estrada que corta a APA,
formando um arco ao longo da margem da lagoa. Tal comunidade se acha
“protegida” [grifo do autor] da especulação imobiliária, do avanço da
urbanização, usufruindo do fluxo turístico para obterem renda, com a venda
do pescado ou explorando os bares que acolhem os turistas que afluem
para disputar da belíssima paisagem das serras que circundam o município
e o pôr do sol na lagoa. Garantidos por lei em seu território, conseguem
preservar suas bases de pesca, mantendo a atividade pesqueira tradicional.
Poucos dos antigos “ranchos” [grifo do autor] ainda se conservam com as
velhas telhas coloniais ou de calha, paredes de estuque, sem cercas
marcando o território (GOMES, 2002, p. 117).
De acordo com Mello e Vogel (2004), Zacarias se beneficiava de sua posição
no sistema lagunar e com a abertura das barras sazonais, junto a isto se localiza nas
margens de um viveiro natural, o que favorece a atividade pesqueira:
Zacarias é nome de uma praia às margens da Lagoa de São José – o Lago
Grande, numa enseada que se estende da Ponta da Pedra à Ponta do
Capim, uma língua de areia rasa, suavemente arqueada laguna a dentro,
onde forma duas coroas submersas. E Zacarias chama-se, também, a
aldeia dos pescadores que vivem nesse lugar, a maioria deles portadores
de sobrenome Marins (MELLO; VOGEL, 2004, p. 225).
Essa comunidade apresentava segundo Gomes (2002) 150 pescadores em
2002, e encontra-se organizada em uma Associação de Moradores, que vem
atuando para a manutenção da comunidade diante dos empreendimentos que têm a
restinga como local de implantação. (GOMES, 2002, p. 118).
101
Figura 44: Vista panorâmica de Zacarias, do Morro da Ponta da Pedra, na direção do Oeste.
Fonte: MELLO; VOGEL, 2004, p. 229.
Outro aspecto relacionado ao parcelamento de terras na restinga foi a
aquisição da Fazenda São Bento da Lagoa, em 1943, pela Companhia Vidreira
Nacional, a COVIBRA, que extraiu areias da restinga, e utilizou o local para o
transporte para as mesmas. (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 28). Como resultado desta
aquisição, a população de pescadores da localidade foi retirada, passando a residir
à beira do canal de São Bento após a retificação deste e resultante ligação da lagoa
Brava com a lagoa de Maricá. (GOMES, 2002, p. 106).
Em 1976 foi desenvolvido o
projeto da Cidade de São Bento da
Lagoa, destinado a uma população
de 90 mil habitantes em uma área de
25 milhões de metros quadrados,
com edificações de até 22
pavimentos, localizado entre o mar e
a lagoa, no primeiro e terceiro
distritos do município. Tal
empreendimento deve-se à
iniciativa do empresário português Lúcio Thomé Feteira, associado ao grupo
Westinghouse. Feteira também foi responsável por significativo número de
loteamentos do município. (MELLO; VOGEL, 2004, p. 176).
Figura
4
5
:
Canal de São Bento na década de 90
.
Fonte: acervo particular.
102
Figura 46: Mapa da Cidade de São Bento da Lagoa.
Fonte: MÓDULO, 1975, p. 64 – 65.
A área destinada ao empreendimento tinha início na borda sul da lagoa de
Maricá, limitada a oeste pelo canal de São Bento, e a leste pela Ponta do Fundão,
tendo como vias de acesso a RJ-106 ao norte e a RJ-102, tamm em fase de
projeto naquele momento e que atravessaria a cidade longitudinalmente. O projeto
foi desenvolvido pela empresa C&S planejamento Urbano ltda. com consultoria do
arquiteto Lucio Costa. (FUNDREM, 1979, p. 26).
Figura 47: Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa.
Fonte: MÒDULO, 1975, p. 66 – 70.
103
Figuras 48, 49 e 50: Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa.
Fonte: MÒDULO, 1975, p. 66 – 70.
Este empreendimento tinha como meta atender a uma população equivalente
a quatro vezes a do município e de dezesseis vezes a da sede urbana municipal, o
que levou a administração municipal a recorrer a FUNDREM para análise do Plano
Diretor de Urbanização da Cidade de São Bento da Lagoa. (FUNDREM, 1979, p.
27).
Figura 51: Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa.
Fonte: MÒDULO, 1975, p. 68 – 69.
104
Figuras 52 e 53: Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa.
Fonte: MÒDULO, 1975, p. 68 – 69.
O desenvolvimento da proposta para a cidade de São Bento da Lagoa levou a
expulsão da comunidade de pescadores Zacarias, promovendo conflito entre os
moradores, já que alguns resistiram e permaneceram no local enquanto outros
aceitaram a transferência para outra localidade próxima, que foi denominada Vila
dos Pescadores ou Bairro Zacarias, e passaram a trabalhar na construção civil,
vinculados à companhia de Lucio Tomé Feteira. (MELLO; VOGEL, 2004, p. 165
167). Conforme Mello e Vogel (2004):
Desse ponto de vista, a história recente de Zacarias trouxera consigo o
fracionamento do grupo, distinguindo “os que se renderam”, “os que se
venderam”, e “os que lutaram”.[grifo do autor] Com a segmentação espacial
havia-se pois instaurado uma oposição moral. Oposição rebatida no terreno
sob a forma de dois assentamentos com o mesmo nome, mas não com o
mesmo valor (MELLO; VOGEL, 2004, p. 167 - 168).
A FUNDREM, ao levantar os aspectos referentes ao projeto, considerou que:
trata-se de uma área com relevante potencial natural a ser preservado e a infra-
estrutura disponível no município não apresentava capacidade para atender a
demanda gerada pelo projeto, cabendo ao empreendedor apresentar os projetos
complementares. Junto a isto, levantou-se, tamm a necessidade de obras de
dragagem e aterro hidráulico das margens da lagoa de Maripara implantação do
projeto, o que egixiria autorização dos órgãos responsáveis, sendo eles:
Departamento Nacional de Obras de Saneamento, Departamento Nacional de
Portos e Vias Navegáveis, Mintério da Marinha, Ministério da Fazenda, Secretaria de
Obras e Serviços Púbcos, Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA),
Fundação Estadual de Engenharia do Meio-Ambiente (FEEMA), e Secretaria da
Indústria e Comércio (FLUMITUR). A FUNDREM também considerou que o
105
empreendimento atrairia população desempregada de áreas vizinhas ao gerar
emprego em sua fase de implementação e empregos informais depois de
implementado, o que fomentaria demanda por áreas para habitações de interesse
social. (FUNDREM, 1979, p. 28-33).
Figuras 54 e 55: Projeto da Cidade de São Bento da Lagoa.
Fonte: MÒDULO, 1975, p. 68 – 71.
Diante deste levantamento a Prefeitura Municipal aprovou o plano diretor,
entretanto, exigiu apresentação de projetos complementares de infra-estrutura.
(FUNDREM, 1979, p. 30).
Os pescadores se opuseram ao empreendimento e atribuíram a esse a
mortandade de peixes que vinha ocorrendo, o que os levou a recorrer, em 1978, a
ações coletivas e isoladas contra a empresa. Junto a estes outros moradores e
veranistas também se manifestaram contra a construção da cidade de São Bento da
Lagoa, o que resultou em uma ação popular:
Um mês depois, apreciando a ação popular impetrada pelo vice-presidente
da Saplam, um juiz federal determinou a suspensão de licenças para novos
loteamentos e edificações, junto à lagoa, por considerar que estava
ocorrendo “um verdadeiro massacre ecológico” [grifo do autor].
Por negligência e omiso, eram responsabilizados os governos federal,
estadual e municipal, além de três companhias loteadoras. Na esfera
municipal, o prefeito; na estadual, a Fundrem, a Feema e a Ceca; no âmbito
federal, o IBDF, a Sudepe, o DNOS e a Embratur respondiam às acusações
de culpa no “cataclisma ecológico” [grifo do autor]. No domínio não-
governamental, figuravam como rés a Sociedade de Explorações Agrícolas
e Industriais (Seia), isto é, Lúcio Thomé Feteira, além de Augusto B.F. do
Valle, corretor, e J. Pimenta S.A. (MELLO; VOGEL, 2004, p. 192).
106
No entanto, foi concedida novamente licença para loteamento da área, mas o
empreendimento não foi executado.
Na década de 1970, a divulgação do município de Maricá pela mídia
promoveu um incremento da atividade turística e da implantação de loteamentos,
assim como da atividade especulativa. Em conseqüência ocorreu uma urbanização
predatória. Conforme Mello e Vogel (2004):
Entretanto, a descoberta de tais qualidades, pela região metropolitana,
devia-se a uma novela de televisão, que projetara o cenário de lagoas e
restingas em escala nacional. Para alguns órgãos da imprensa, esta subida
ao estrelato televisivo foi a desgraça de Maricá. A avidez da procura
despertou a cobiça dos especuladores. Estes começaram a multiplicar
loteamentos, numa atividade febril. As areias da restinga começaram a ser
retalhadas por uma urbanização predatória, que degradava os “valores
ecológicos[grifo do autor], descaracterizava a paisagem e destruía a base
econômica do município. A maioria dos empreendimentos imobiliários não
tinha sequer fundamento legal, colocando no mercado “terrenos fantasmas”,
[grifo do autor] talhados na “propriedade legítima do poder público” [grifo do
autor] (MELLO; VOGEL, 2004, p. 177).
A construção da Ponte do Boqueirão, em 1977 tamm contribuiu para este
processo de loteamento na restinga ao promover o acesso às praias do município.
Quanto ao loteamento da área de restinga, destaca-se Lamego (1974),
segundo ele: muito que a restinga da Maricá se transformou em atração
turística. Encontra-se, em grande parte, ocupada por assentamentos característicos
do urbanismo de veraneio, vez por outra perturbado por alguma súbita mortandade
de peixes”. (LAMEGO, 1974, p 91).
O loteamento da restinga culminou em impactos sobre o meio, visto que as
normas urbanísticas e o código de obras locais não eram respeitados. Junto a isto,
tem-se cálculo estrutural em desacordo com o tipo de solo, escoamento rápido do
lençol freático, que é superficial na localidade, devido ao bombeamento das águas
para o consumo residencial, infiltração dos efluentes dos esgotos depositados nos
solo pelas fossas sépticas, e até mesmo, despejo direto de dejetos não tratados na
lagoa. (MARTINS, 1986, p.102).
Nesta época, destaca-se o Plano Diretor de Maricá, proposto pela FUNDREM
e aprovado na Câmara Municipal em 1977, que tinha por objetivo conter a ocupação
da restinga. Conforme Mello e Vogel (2004), tais medidas englobaram:
107
O Plano Diretor de Maricá, proposto pela Fundrem, foi, logo no começo do
ano, foco de acesa polêmica. Esta se desencadeou em virtude de uma
emenda, encaminhada pela Comiso de Justiça da Câmara Municipal e
aprovada em plenário.
A emenda tinha por objetivo salvaguardar direitos adquiridos para a
construção em lotes inferiores a 900m², limite mínimo estabelecido pelo
Plano. A maioria dos loteamentos aprovados na restinga, entretanto
admitiria 480m² como área mínima para cada lote. Naquele momento,
porém, restavam disponíveis para novos projetos, subordinados à lei
do Plano Diretor Urbano – 30% da restinga. [grifo meu]
Era, no entanto, preciosamente para esta que se voltavam os principais
interesses políticos, preocupados com o caráter restritivo das normas do
Plano para essa área. Três delas, em particular, deixaram, a “classe
política” [grifo do autor] em polvorosa: 1) a redução da taxa de ocupação
50% para 30%; 2) a fixação do gabarito máximo para as construções, na
quadra da praia, em apenas 1 (um) pavimento; 3) o aumento em mais 17m,
além dos 33m fixados pela Marinha, do limite da área non edificanti , ao
longo da costa (MELLO; VOGEL, 2004, p. 189).
Em 1984 a SERLA estabeleceu a Faixa Marginal de Proteção do Sistema
Lagunar de Maricá, que tem largura entre 33 e 150m. Todavia, não controle da
ocupação da faixa marginal de proteção, que abriga não só residências, como
tamm estradas e edificações comerciais administrativas, como, por exemplo, o
Fórum Municipal, localizado na Praia de Araçatiba. (GOMES, 2002, p. 77 - 78).
2.6.3 A Área de Proteção Ambiental de Maricá
Em 1984, quando a área ainda era propriedade de Lucio Tomé Feteira, foi
criada a Área de Proteção Ambiental de Maricá através do Decreto nº. 7.230 que a
delimitou como contendo a Ilha Cardosa, a Restinga de Maricá e a Ponta do
Fundão. Além disso, estabeleceu que:
“Art. 3º- Na Área de Proteção Ambiental instituída no artigo anterior são
proibidas as seguintes atividades:
I - o parcelamento da terra para fins urbanos;
II - o desmatamento, a extração de madeira e vegetação característica e a
retirada de espécimes vegetais;
III - a caça, ainda que amadorística, e o aprisionamento de animais;
IV - a alteração do perfil natural do terreno” (RIO DE JANEIRO, 1984, p. 1).
Segundo o Atlas das Unidades de Conservação do Estado do Rio de Janeiro,
a Área de Proteção Ambiental é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável,
e, como tal, objetiva compatibilizar a conservação da natureza com o uso
108
sustentável, podendo ser propriedade pública ou privada. Admite-se a visitação
pública, contudo, a realização de pesquisa científica é condicionada à aprovação
pelo órgão responsável pela unidade. A gestao da APA é realizada através de
Conselho Consultivo presidido pelo órgão gestor da unidade. A APA é definida da
seguinte forma: “Tem como objetivo básico proteger a diversidade biológica,
disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais. É, em geral extensa, com alguma ocupação urbana e/ou rural,
dotada de atributos de excepcional valor para a qualidade de vida e bem-estar das
populações humanas”. (SEMADS, 2001, p.19).
Franco (1997) caracteriza área de proteção ambiental da seguinte forma:
A APA – Área de Proteção Ambiental – destaca-se das demais unidades de
preservação por ter como objetivo a experimentação de formas concretas
de desenvolvimento sócio-econômico, em harmonia com os preceitos
ecológicos e as normas de preservação ambiental. Em suma, o processo de
gestão direcionado pela criação de um espaço ideal para as práticas de
Desenvolvimento sustentável.
De acordo com o artigo da Lei nº. 6.902/81, o Poder Executivo poderá
disciplinar atividades, dentro dos princípios constitucionais do direito de
propriedade, que harmonizam o desenvolvimento e a conservação dos
recursos naturais. A APA, portanto, é uma unidade de conservação que visa
à proteção da vida silvestre e à manutenção de bancos genéticos e
espécies raras da biota regional, bem como dos demais recursos naturais,
por meio da adequação e orientação das atividades humanas na área,
promovendo a melhoria da qualidade de vida da população. (FRANCO,
1997, p.110).
A seguir, tem-se um mapa com a localização da APA de Maricá:
Figura 56: Mapa com a localização da APA de Maricá.
Fonte: MELLO; VOGEL, 2004, p. 153.
109
Com a criação da APA de Marifoi instituída uma Comissão de Estudos de
Implantação da APA formada por representantes da Fundação Estadual de
Engenharia do Meio Ambiente (Feema), da Prefeitura de Maricá e da FUNDREM.
Consequentemente, em 1986, a Feema apresentou uma proposta de critérios para a
utilização do solo na área da APA, que foi aprovada pela FUNDREM. Trata-se do
Plano Diretor para a Área de Proteção Ambiental de Maricá desenvolvido pela CECA
e aprovado pela Deliberação CECA nº. 1.352 de 29 de agosto de 1988 (FEEMA,
1988).
Esse Plano Diretor restringiu o uso da APA proibindo o parcelamento da terra,
para fins urbanos; desmatamento, extração de madeira e vegetação característica e
a retirada de espécies vegetais; caça e o aprisionamento de animais; e alteração do
perfil natural do terreno, como no Decreto nº. 7.230. Além disso, definiu como
atribuição da CECA fiscalizar a retirada de areia do local. (FEEMA, 1988).
Entre as medidas do Plano Diretor da APA tem-se o zoneamento desta que a
dividiu em Zona de Vida Silvestre (ZVS), Zona de Uso Restrito (ZUR) e Zona de Uso
Urbano (ZUU). A Zona de Vida Silvestre engloba áreas naturais destinadas à
manutenção das características naturais do meio ambiente, onde a atuação humana
é permitida apenas para recuperação de trechos em estado de degradação. A Zona
de Uso Restrito é destinada à atividade de lazer e uso recreacional, e de uso
comercial exclusivamente turístico, assim como a ocupação por residências. Nesta,
os parâmetros construtivos são: lotes com dimensões entre 1500m² a 3500m²,
número máximo de dois pavimentos e 70 a 80% da área do lote não deve ser
impermeabilizada. A Zona de Uso Urbano destina-se ao abrigo da comunidade
pesqueira já instalada no local. (FEEMA, 1988).
O Plano Diretor da APA tamm definiu que, por se tratar de uma Área de
Interesse Especial, os projetos de loteamento e desmembramento deveriam
depender de prévio exame e anuência do Estado para aprovação pelos municípios,
segundo estabelecido a Lei Federal nº. 6.766/79. (FEEMA, 1988).
No período em que este Plano Diretor foi desenvolvido, a Feema constatou
que embora grande parte do ecossistema de restinga tivesse sido
descaracterizada e, até mesmo destruída pelos empreendimentos imobiliários, o
trecho compreendido na APA encontrava-se bem preservado. A ocupação da área
110
concentrava-se no núcleo de Zacarias, que abrigava a comunidade de pescadores.
(FEEMA, 1988).
Em 1989, a realização de loteamento na Área de Proteção Ambiental levou o
Conselho Urbanístico Municipal a recorrer ao Instituto Brasileiro de Administração
Municipal (IBAM). Isto se deve ao estabelecimento da Lei municipal 773/88, que
permitiu o loteamento da APA, contrariando a norma estadual, o Decreto-Lei
7.230/84 que proíbe o parcelamento do solo para uso urbano em áreas de
preservação ambiental. Consequentemente o IBAM declarou que a administração
municipal não poderia permitir o loteamento da localidade, pois cabia a União e aos
Estados a competência legislativa em se tratando de proteção ambiental. Junto a
isto, a norma estadual tem como base a legislação federal, neste caso a Lei Federal
nº. 6.766/79. (IBAM, 1989).
O IBAM também considerou que o Plano Diretor da Área de Proteção
Ambiental de Maricá desenvolvido pela CECA, ao estabelecer o zoneamento da
área e permitir o uso urbano, estaria em desacordo com a legislação federal e
estadual, que proíbem qualquer atividade ou instalação humana em áreas de
proteção ambiental. (IBAM, 1989).
Em virtude da construção em áreas que compõem a faixa marginal de
proteção do complexo lagunar, a Sociedade dos Amigos das Praias e Lagunas de
Maricá (SEPLAN), presidida pela Drª. May Terrel Eirin, iniciou uma ação popular
para conter a ocupação da área. Trata-se do processo nº. 1630580, de 7 de março
de 1995, que teve como réis a União Federal, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) que responde pelo Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF), Superintendência de Desenvolvimento da Pesca
(SUDEPE) e Secretaria Especial de Meio Ambiente; o Estado do Rio de Janeiro, que
responde pela CECA e Secretaria de Meio Ambiente (SMA) e Fundação Estadual do
Meio Ambiente (FEEMA), Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SELA), o
Município de Maricá e a Sociedade de Explorações Agrícolas e Industriais S/A,
assim como todos os ocupantes e invasores da faixa marginal de proteção do
complexo lagunar, e determinou:
3.3.1 DECLARO ILEGAIS todas as ocupações, construções e
loteamentos contidos na faixa marginal de proteção – FMP, do COMPLEXO
LAGUNAR DE MARICÁ, demarcada pela SERLA através da Portaria
SERLA nº. 140 de 06/02/84, com a delimitação estabelecida em seu anexo
111
e traçada nas plantas respectivas, arquivadas na SERLA, - 3.3.2
DECLARO ILEGAIS todas as ocupações, construções e loteamentos
contidos nas áreas ressecadas do COMPLEXO LAGUNAR DE MARICÁ,
aprovado pelo Decreto . 2.418, de 16/2/79 para o interior das lagoas.
3.3.3 DECLARO ilegais todos os atos administrativos dirigidos à
autorização e legalização das ocupações, construções e loteamentos
realizados nessa área, porque em desacordo com a legislação vigente, a
partir de 15/07/65, data da edição do Código Florestal. 3.3.4 DECLARO
NULOS todos os registros e atos notoriais relativos a ocupações,
construções, vendas e alienações a qualquer título, inclusive os referentes
aos LOTEAMENTOS posteriores a 24/0878, data da concessão da liminar,
na FHP. – 3.3.5 CONDENO O ESTADO DO RIO DE JANEIRO e seus entes
encarregados da proteção ambiental, sua longa manus, a SERLA e a
FEEMA, de acordo com a competência legal de cada um. -3.3.5.1 – a
DEMARCAR, EM 120 (CENTO E VINTE) DIAS, a linha de novo PAL do
COMPLEXO LAGUNAR DE MARICÁ, considerando o limite médio das
enchentes ordinárias, ex. vi do art. 14, do Código de Águas. 3.3.5.2 a
DEMARCAR, EM 2 (DOIS) MESES, nova FMP, considerando as condições
atuais necessárias à proteção do ecossistema do COMPLEXO LAGUNAR
DE MARICÁ, respeitando os limites estabelecidos no artigo 2º letras a e b e
III, do Código Florestal (Lei nº. 4.771/65), com o limite mínimo de 33 metros,
ex vi do art. 68, b, da Lei nº. 37/77, partindo da linha do novo PAL a ser
demarcada, nos termos do item anterior e a partir dessa demarcação. A
área contida na nova FMP, para efeito desta sentença será denominada
ÁREA A 3.3.5.3 a implantar dentro de 1 (UM) ANO, a contar do término
do prazo do item 3.3.5.2. no terreno arrecadado pela União Federal
referente à área ressecada por obras do extinto DNOS, que estiver fora da
nova FMP, que será denominada área B: (ou inexistindo tais áreas, em
terras municipais), programa (s) de assentamento das famílias carentes,
desalojadas da ÁREA A, consideradas como tais aquelas cadastradas pelo
município, objeto do CADASTRAMENTO de fls. 1397/1575, e/ ou as que
ocupam a FMP (áreas A e B) mais de um ano antes da data desta
decisão. na hipótese de, demarcada a nova FMP, não sobejar área
para a UNIÃO FEDERAL, o projeto será implantado na área C, ou seja,
aquela contida na atual FMP após deduzidas as áreas de domínio da União
e da nova FMP a ser demarcada. – 3.3.5.4 A DEMOLIR em 10 DIAS após o
término do prazo do item 3.3.5.3., tudo o que estiver dentro da nova FMP
ÁREA A, ex vi do art. 58 e 60, do Código de Águas, respeitando apenas as
colônias de pescadores de Ponta Negra, Zacarias e Cordeirinho, existentes
no local antes da demarcação da FMP, com as famílias já cadastradas
ficando proibido o ingresso de novas famílias nas colônias (RIO DE
JANEIRO, 1995, fls. 2 e 3).
O processo também determinou que a CERJ e CEDAE não poderiam
implantar serviços de água e energia nas áreas A e C enquanto estas não
estivessem legalizadas pela União Federal e pelo município, e proibiu a extração
ilegal de areia na APA, cuja fiscalização ficou a cargo da CECA.
Outra medida estabelecida pelo processo foi determinar que na área B
fossem destinados terrenos para programas habitacionais do Estado do Rio de
Janeiro, a fim de atender as famílias carentes removidas da área A.
Junto a isto, estabeleceu, ainda, que as instalações industriais, postos de
gasolina e garagens, oficinas em geral e residências não despejassem esgotos in
112
natura em riachos, córregos e rios, para que, em um prazo de 90 dias, o tratamento
de esgoto fosse realizado de forma adequada.
Em 2006, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ)
estabeleceu a indicação legislativa nº. 804/2006, com o objetivo de destinar recursos
do Fundo Estadual de Controle Ambiental (FECAM) para a revitalização do
complexo lagunar de Maricá - Guarapina. De acordo com a indicação:
Art. - Fica o Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro autorizado a
destinar recursos do FECAM Fundo Estadual de Controle Ambiental para
investimentos visando a revitalização do complexo lagunar de Maricá-
Guarapina e sua bacia hidrográfica. Os investimentos visam:
a) Dragagem das lagoas que compõe o complexo lagunar Maricá -
Guarapina: laguna de Maricá (18,21km); Barra (8,12 km), Guarapina
(6,44km) e Padre (2,10km), e das três sub-bacias principais : sub-bacias do
rio do vigário, do rio Ubatiba e do rio Caranguejo
b) Construção de uma estação de tratamento de esgoto na região das sub-
bacias mencionadas.
d) Inclusão do Município de Maricá no Programa Estadual de Controle do
Lixo Urbano - Pró-Lixo, com recursos para reciclagem e destinação final
adequada;
e) Recuperação e proteção das nascentes locais;
f) Regulamentação fundiária, elaboração de Plano de Manejo, e
demarcação, com marcos de concreto, da Área de Proteção Ambiental de
Maricá (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
2006, p. 1 - 2).
Na conjuntura atual, a restinga de Maricá apresenta-se consideravelmente
ocupada e sua cobertura vegetal encontra-se comprometida. Sochaczewski (2004)
descreve tamm que a ocupação da restinga e da APA de Maritorna-se efetiva
devido à falta de fiscalização, segundo o autor:
Na restinga de Maricá, contudo, embora as tentativas de obtenção de
licença para loteamentos venham sendo impedidas pela ação de
ambientalistas, o vazio de fiscalização tem permitido sua ocupação por
moradias isoladas, desde casebres a casas luxuosas. Este movimento não
é ilegal, visto que parte da área ter sido constituída em APA, como
ameaça as manchas de vegetação nativa que resistem à ação antrópica
(SOCHACZEWSKI, 2004, p. 77).
Maciel (1984) ilustra o processo de modificação da restinga pela atuação
humana. Conforme a autora:
A visão que os viajantes tinham da restinga quando olhavam do oceano era
a de uma floresta densa e contínua, chegando até a praia. Antes da
formação das vilas e povoados, ao que tudo indica, o haviam moitas”
113
[grifo do autor] nem “avenidas[grifo do autor]. Estas surgiram depois que o
gado foi solto, por volta de 1660 e as árvores foram abatidas para todos os
fins, inclusive para derreter gordura de baleia.
[...] Hoje, falar em fauna da restinga é mencionar algumas espécies que têm
de se deslocar daqueles ecossistemas, quando se vêm acuados por ações
antropogênicas, indo sobreviver, em outras áreas (MACIEL In: SIMPÓSIO
SOBRE RESTINGAS BRASILEIRAS, 1984, p. 296 - 297.).
Segundo Holzer, Crichyno e Lopes (2005), o parcelamento das áreas de
restinga ocorre com a substituição da vegetação nativa, tanto em áreas públicas
como privadas, o potencial da vegetação não é considerado, sendo substituída por
espécies exóticas. Junto a isto, este tipo de parcelamento resulta em:
Destas constatações surgiu a necessidade de estudar os modelos de
parcelamento classicamente utilizados na ocupação do litoral. O padrão
brasileiro de parcelamento do solo nas áreas litorâneas, segue, pelo menos
a partir da década de 1940 - quando começa a valorização social das áreas
praianas, e consequentemente o custo da terra aumenta progressivamente
- um padrão uniforme, que atende principalmente aos interesses dos
especuladores imobiliários. Este padrão, do parcelamento em "tabuleiro de
xadrez" [grifo do autor], com quadras retangulares, os lados menores
voltados para o mar, lotes habitualmente com 360m², ocupa todo o nosso
litoral. Nesta concepção de parcelamento não se valoriza a paisagem em
toda a sua complexidade: restinga com diversos extratos de vegetação se
justapondo e se superpondo; diversos ambientes, lagunares, de brejos,
dunas, se interconectando de forma complexa, costões rochosos e
mangues. [grifo meu] Na verdade adota-se um tipo de parcelamento que
reduz a área a uma forma geométrica simples, se possível um imenso
retângulo, subdividido em retângulos menores, onde a paisagem que
viabiliza a venda do produto também é simplificada: a faixa da praia (a areia
apenas) e o mar (HOLZER; CRICHYNO; LOPES, 2005, p.11).
Em se tratando da ocupação da faixa litorânea em Maricá, Lins-de-Barros
(2005) descreve:
A ausência de um planejamento com limites de proteção da orla adequados
resultou na ocupação desordenada ao longo de praticamente todo o arco
praial, com construções posicionadas próximas ao perfil ativo da praia. Tal
situação somada às características naturalmente frágeis do litoral de Maricá
resultou em graves danos sobre as construções da orla após as fortes
ressacas que atingiram o litoral sul e sudeste do Brasil nos anos de 1995,
1996 e 2001. Os prejuízos financeiros em função das destruições,
desvalorização imobiliária e das obras realizadas após a tempestade
ocorrida em maio de 2001 atingiu uma cifra de aproximadamente R$ 3
milhões (LINS-DE-BARROS, 2005, p.8).
APA de Maritem sido cogitada como objeto de um empreendimento de
grande porte. Conforme Sochaczewski (2004):
114
A exuberância natural descrita pelos cronistas e naturalistas do culo XVI
a XIX não existe mais. A vegetação de restinga atual es reduzida, e
confinada, a pequenas manchas isoladas remanescentes ou na APA, sendo
ainda mais crítica a situação da fauna. Ciclicamente, busca-se discutir e
aprovar projetos que tragam emprego e renda aos habitantes de Maricá,
entre os quais a construção de conjuntos hoteleiros ou resorts[grifo do
autor] na restinga, o que tem se mostrado uma questão paradoxal. Esses
projetos emperram quando tentam resolver a questão do saneamento
básico, e não conseguem equilibrar a construção de redes de água e
esgoto com a sustentabilidade da região. Como a restinga é sensível e
por isso, por definição, área não-edificável -, qualquer construção afetaria
seu equilíbrio e, conseqüentemente, sua beleza natural, que é justamente o
ponto atrativo do turista [grifo meu] (SOCHACZEWSKI, 2004, p. 42 – 43).
O empreendimento em questão, planejado para ocupar a Fazenda de São
Bento da Lagoa, na APA, com uma área de 840 hectares, foi desenvolvido pelo
grupo empresarial Madri Lisboa/IDB, de capital português e espanhol, em parceria
com os grupos Dico, Avantis, Vancouver e Cetya. O empreendimento prevê a
implantação de eco-resort, spa, condomínios de edificações unifamiliares e
multifamiliares, centro empresarial, vila de pescadores, resort de praia e de golfe,
uma ilha desportiva, com atividades diversas, marina com capacidade para mil
barcos, quebra-mar e canal ligando a lagoa ao mar.
Figura 57: Projeto grupo empresarial Madri Lisboa/IDB para a Fazenda de São Bento da Lagoa.
Fonte: SIQUEIRA, 2007, p. 25.
115
Com o desenvolvimento deste projeto para a ocupação da APA de Maricá, em
2006, a área foi cercada, restringindo o acesso a esta e a RJ -102, até mesmo para
os moradores da comunidade pesqueira de Zacarias.
Em março de 2007 a Secretaria de Estado do Ambiente estabeleceu o regime
de gestão compartilhada de 18 Unidades de Conservação que eram geridas pela
Feema. Estas unidades passaram a ser administradas pelo Instituto Estadual de
Florestas (IEF). Por conseguinte o IEF tamm passou a ser responsável pela
elaboração e revisão de Planos de Manejo e suporte aos conselhos gestores destas
unidades. Logo, a APA de Maricá tornou-se área administrada pelo IEF. (GOVERNO
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2007).
Em outubro de 2007, a Secretaria de Estado do Ambiente convocou uma
audiência pública para apresentação do zoneamento ecológico da Área de Proteção
Ambiental de Maricá. Trata-se da Deliberação CECA/CN nº. 4.854, de 19 de julho de
2007, que aprovou o plano de manejo da área de proteção ambiental da APA de
Maricá.
Esta deliberação dividiu a APA em Zonas de Preservação da Vida Silvestre
(ZPVS), Zonas de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) e Zonas de Ocupação
Controlada (ZOC). (FEEMA, 2007).
A Zona de Preservação da Vida Silvestre (ZPVS) é destinada à salvaguarda
da biota nativa, à garantia da perenidade dos recursos hídricos, assim como das
paisagens, belezas cênicas, da biodiversidade e de sítios arqueológicos. Nesta não
é permitido o uso da área para implantação de projetos turístico-hoteleiros,
condomínios, e edificações, com exceção de intervenções indispensáveis à
recuperação, pesquisas científicas, atividades educacionais e fiscalização da APA. A
Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) é reservada à preservação de
espécies nativas endêmicas ou ameaçadas de extinção que se encontram em
estado vulnerável de degradação ambiental devido à ação antrópica. Pode admitir
em áreas sem vegetação, o uso moderado e auto-sustentado dos recursos naturais.
a Zona de Ocupação Controlada (ZOC) apresenta certo nível de degradação
ambiental, e, portanto, apresenta menores possibilidades de preservação, o que
possibilita condições favoráveis à expansão moderada das áreas urbanas
consolidadas. (FEEMA, 2007).
Segundo esta deliberação, para a aprovação de projetos de urbanização na
APA deve-se apresentar licença ambiental expedida pela Feema:
116
“Art. 4º – Nenhum projeto de urbanização poderá ser implantado na APA de
Maricá sem a licença ambiental expedida pela FEEMA, que exigirá:
a) Adequação ao Plano de Manejo da área;
b) Implantação de sistema de coleta e tratamento de esgotos;
c) Sistema de vias públicas com implantação de galerias de águas pluviais;
d) Implantação de áreas verdes, com plantio de espécies nativas da
restinga, para manutenção da paisagem e da fauna local.
e) Implantação de projeto de recuperação de áreas degradadas no interior
da APA e nas bacias de contribuição à Lagoa de Maricá.
f) Adequação a legislação ambiental vigente, mesmo quando localizado em
zona apropriada.
g) Justificativas técnicas para fins de pesquisa científica, educação
ambiental, uso turístico e hoteleiro.
h) A garantia de integridade da paisagem local e a proteção dos corpos
d'água” (FEEMA, 2007).
Estabelece tamm critérios para a edificação, sendo que a taxa de ocupação
varia nas diferentes ZOCs entre 40, 50 e 70% e o mero de pavimentos de 2 a 4,
com exceção da Colônia de Pescadores de Zacarias, que deve seguir os parâmetros
urbanísticos estabelecidos pela legislação municipal. Segundo a deliberação:
Os projetos turístico-urbanísticos e de implantação de condomínios
localizados no interior da APA, nas ZOCs, deverão atender aos seguintes
requisitos:
a) as obras que exigirem movimento de terra deverão ser executadas
segundo projeto que assegure:
1 – a proteção dos corpos d’água contra assoreamento e erosão;
2 a proteção e a preservação dos fragmentos de vegetação nativa nelas
situadas.
b) a implantação de empreendimentos somente ocorreapós a instalação
dos dispositivos de tratamento de esgotos aprovados no licenciamento
ambiental, sendo esta obrigação intransferível aos futuros proprietários;
c) as áreas objetos de implantação de empreendimentos manterão uma faixa
não edificável, com afastamento daquelas caracterizadas como de
preservação permanente, nunca inferior a 15 (quinze) metros,
d) as formações de vegetação de restinga arbórea não deverão ser objeto de
supressão, bem como as Áreas de Preservação Permanente o deverão
sofrer intervenções,
e) deverá ser, ainda, comprovada a viabilidade locacional e técnico-
operacional para implantação dos seguintes equipamentos urbanos:
1- rede de abastecimento de água povel;
2- rede de drenagem de águas pluviais e de esgoto sanitário;
3- estação de tratamento de esgotos (ETE)“ (FEEMA, 2007).
A seguir, tem-se o mapeamento do Plano de Manejo da APA de Maricá.
117
Fig. 58: Mapeamento do Plano de Manejo da APA de Maricá.
Fonte: RIO DE JANEIRO, 2007.
Esta deliberação, ao estabelecer as Zonas de Ocupação Controlada e os
parâmetros construtivos, restringiu a área a ser ocupada a 10% da área total da APA
de Maricá, já que segundo o Plano Diretor Municipal é permitida a edificação em até
20% do território da APA. Estes 10% equivalem a cerca de 800 mil metros
quadrados. Inicialmente, a empresa responsável pelo empreendimento objetivava a
construção de uma área de 2,2 milhões de metros quadrados. (DIÁRIO OFICIAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 26 de julho de 2007).
Ainda em outubro de 2007 a Prefeitura Municipal anunciou a demarcação de
uma área para a comunidade pesqueira dentro da localidade delimitada para o
empreendimento, objetivando a permanência dos pescadores no local. Para tanto,
prevê cadastramento dos moradores a fim de evitar invasões. Junto com
representantes da comunidade pesqueira a administração municipal acertou o
desenvolvimento de uma proposta para a construção de um bairro a ser realizada
pela associação de moradores e comunidade de pescadores. A proposta será
avaliada pela secretarias de Meio Ambiente, Urbanismo e de Desenvolvimento
Social da Família e do Trabalho. Esta proposta prevê implementação de
urbanização, sistema de tratamento de água e esgotos, área de lazer, cais para os
118
pescadores, posto de saúde e Casa do Pescador. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
MARICÁ, 2007).
Em entrevista ao Jornal Diário Econômico , em 17 de outubro de 2007, os
responsáveis pelo empreendimento para a APA de Marideclararam que o projeto,
com realização prevista em um prazo de 10 anos, objetiva a melhoria e preservação
das características ambientais através do equilíbrio das áreas de reserva natural,
residencial, desportivas e turísticas. (SILVA In: Jornal Diário Econômico, 2007).
Os empresários responsáveis acreditam que com a implantação do Comperj
ocorrerá a favelização da área, e apresentam como medidas compensatórias:
saneamento básico municipal, dragagem do complexo lagunar e geração de 40 mil
empregos em um prazo de dez anos. (OS NOVOS resorts do litoral. Jornal O Globo,
Rio de Janeiro, 10 de junho de 2007. Caderno Rio, p. 18.).
No entanto, em relação a medidas compensatórias, o plano de manejo
estabelecido através da Deliberação Ceca nº. 4.854 de 19 de julho de 2007, que
aprova o Plano de Manejo para a APA de Mari determina que: “Art. 13 Os
recursos provenientes das medidas compensatórias decorrentes da implantação de
empreendimentos de qualquer natureza serão destinados exclusivamente para os
procedimentos de implantação e administração da APA de Maricá.”. (RIO DE
JANEIRO, 2007). Portanto, as medidas apresentadas pelos responsáveis pelo
empreendimento não poderiam conformar medidas compensatórias segundo o
Plano de Manejo.
Este empreendimento tem gerado divergentes visões entre os setores sociais,
pois parte dos moradores e os empresários locais acreditam que o projeto i
proporcionar crescimento econômico para o município, geração de empregos,
valorização de seus imóveis através do aumento do preço da terra e evitar a
“favelização”, que é como estes identificam habitações populares e a comunidade de
pescadores, além de resolver a questão do roubo de areia.
parte dos moradores se opõe levantando aspectos como a preservação da
área e seu patrimônio natural, o impacto do empreendimento que causará a
salinização das águas, diminuição do espelho d’água, desestabilização da faixa
arenosa de restinga. Além disto, consideram o patrimônio cultural expresso nos
traços de populações pré-históricas e indígenas e, tamm, os impactos sobre a
infra-estrutura mediante a limitada capacidade do município neste aspecto, e
destacam que a mão-de-obra empregue não irá absorver população maricaense.
119
Tem-se, também, a comunidade de pescadores de Zacarias, representada
pela Associação Comunitária de Cultura e Lazer dos Pescadores de Zacarias
(ACCLAPEZ), que pode ser prejudicada.
Aqueles que são favoráveis ao empreendimento também argumentam que:
construções irregulares, barraqueiros, despejo de entulho e lixo, presença de
gado que utiliza a área como pastagem, roubo de areia e espécies nativas além de
queimadas. (OS NOVOS resorts do litoral. Jornal O Globo, Rio de Janeiro, 10 de
junho de 2007. Caderno Rio, p. 18.).
Além dos empresários responsáveis pelo empreendimento e dos setores
políticos e sociais, o projeto tem sido discutido por ambientalistas, pesquisadores e
Organizações não Governamentais (ONGs).
Em janeiro de 2008 ocorreu, em Maricá, o Fórum Social Mundial 2008 (WSF
2008). O Fórum foi composto por vinte eventos realizados em todo o país e cento e
dez a nível mundial. Neste Zacarias abrigou atividades que atenderam a um público
de outros estados e países. Dentre os temas tratados, aqueles referentes ao
município voltaram-se para o empreendimento planejado pelo grupo Madri
Lisboa/IDB do Brasil e o impacto sobre a comunidade de pescadores de Zacarias,
assim como o COMPERJ. O Fórum resultou na realização da Carta de Maricá, que
estabelece:
Constatou que essa área de conflito sócio ambiental é de dimensões
internacionais, onde o grupo Madri Lisboa/IDB do Brasil dedicado à
especulação imobiliária, ameaça destruir uma área de preservação
ambiental, cujos recursos naturais são patrimônio da humanidade, para nela
implantar um mega resort associado a outros empreendimentos, reflete
nossa clara oposição ao modelo neoliberal preconizado pelo Fórum
Econômico Mundial, a quem atribuímos a principal responsabilidade pelo
desequilíbrio global que ameaça todas as formas de vida;
– Cumpriu a importante função de exemplificar como o avanço do processo
de degradação da natureza está associado à degradação da vida humana e
de tudo o que lhe é mais importante, resultando no agravamento dos
conflitos que começam assumir características de guerra social;
Comprometendo-se a:
NO PLANO LOCAL E REGIONAL
Promover a luta pela preservação da restinga de Marica como patrimônio
inalienável da humanidade;
Promover uma ampla campanha pela criação da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável da Restinga e do Complexo Lagunar de
Marica que tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo
tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e
a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos
naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e
aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente,
desenvolvido por estas populações, em conformidade com o texto da lei do
120
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza SNUC nº.
9.985, de 18 de julho de 2000 e decreto nº. 4.340, de 22 de agosto de 2002;
Promover ampla investigação nos processos de licenciamento nas áreas
lagunares de Marica;
– Promover campanha de denúncia contra os danos a serem causados pela
entrada em operação e produção da Bacia de Santos, que levará o
aeroporto de Marica a servir de base operacional de uso contínuo, com
sobrevôos da APA, alertando ainda quanto ao risco da construção de um
cais metálico (píer) na orla marítima, aumentando ainda mais a poluição
ambiental nessa região;
Promover a participação crítica e ativa da sociedade no processo de
elaboração das agendas 21 dos municípios ameaçados pelo projeto de
construção do COMPERJ (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro),
repudiando esse tipo de empreendimento que, além dos danos irreversíveis
de agravamento da escassez de água e à biodiversidade na região, ferem
normas internacionais de proteção e gerenciamento de áreas costeiras;[...]
(FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, 2008).
A partir de dados levantados por Siqueira (2007), tem-se o seguinte quadro
histórico da ocupação da Fazenda de São Bento, que engloba a APA de Maricá:
Ano
1635
Governo Rodrigo de Miranda Henriques doa a sesmaria aos beneditinos,
em 31 de outubro;
1675 Mosteiro São Bento compra a Sesmaria dos Mourões;
1675 Escritura de venda de D. Isabel Pedrosa ao Mosteiro de são Bento;
1848 Certidão da sesmaria de Frei Romano ratificando as terras;
1856
Declaração de terras que o Mosteiro de São Bento possui na freguesia de
Maricá;
1874
Realização da escritura de limites de terras entre o Mosteiro de São Bento
e Dona Bárbara Rosado Paraíso;
1880
Escritura no Rio de Janeiro da venda que o Mosteiro de São Bento realiza
para D. Maria Peliciana Custodia de Castro;
1881
Dona Jorgina Maria da Conceição, que obteve o domínio útil da fazenda
por aforamento, da Abadia de Nossa Senhora de Mont’Serrat do Rio de
Janeiro
1903
Escritura de venda por Dona Maria Jorgina de Conceição a Joaquim
Mariano Álvares de Castro Junior que citava a lagoa brava como domínio
útil;
1913
Registro no cartório do Rio de Janeiro da venda de terras do Mosteiro de
São Bento ao Coronel Joaquim Mariano de Castro Junior;
1919
Registro de titulo, realizado em Niterói, de propriedade do Mosteiroo
Bento;
1919
Escritura de venda feita pelo Mosteiro de São Bento ao Coronel Joaquim
Mariano Álvares de Castro Junior;
1943
Joaquim Mariano de Azevedo e Castro vende a fazenda São Bento de
Maricá a Companhia Vidreira do Brasil (COVIBRA);
1943
Diversas averbações na venda supracitada foram realizadas como para a
Comercio e Indústria Atlântico S/A COMINAT;
1948 COVIBRA arquiva a planta geral da Fazenda de São Bento;
121
1970
Venda da Cia. Vidreira do Brasil a SEAI - Sociedade de Exploradores
Agrícolas e Industriais S/A;
1972
Lucio Thomé Feteira compra da Cia. Urbanizadora São Bento da Lagoa, a
Sociedade de Exploradores Agrícolas e Industriais – SEAI;
1976
Lucio Thomé Feteira hipotecou a São Bento Urbanização e Turismo Ltda.,
a área que resolveram designar. “ventura property” para a construção
nesta de uma comunidade denominada Cidade de São Bento da Lagoa;
1978
É cancelada a hipoteca que grava o imóvel acima descrito e termo de
responsabilidade de preservação da floresta feita pelo Sr. Lucio Thomé
Feteira;
1984
Termo de obrigações SERLA arquivado em cartório em nome Lucio Thomé
Feteira;
1989
Lucio Thomé Feteira realiza promessa de Venda para CK ALMEIDA com
transferência de 50% em troca da realização de as obras de infra-estrutura
para divisão da área em lotes;
2000
Lucio Thomé Feteira vende a propriedade para Terra Ouro Terrenos e
Investimentos Ltda.;
2000
Terra Ouro Terrenos e Investimentos S/A averba ter conhecimento do
termo de responsabilidade da preservação da floresta e do termo de
obrigações.
Após a apresentação do recorte espacial, o próximo capítulo apresenta as
considerações estabelecidas através do trabalho de campo.
122
Figura 5
9
: Imagem de satélite da APA de
Maricá, com a localização de Zacarias.
Fonte: Google Earth.
3. CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO DE CAMPO: ANÁLISE E
CONCLUSÕES
Neste capítulo são apresentadas as considerações provenientes do trabalho
de campo realizado no local de estudo. Esta parte da pesquisa foi estruturada da
seguinte forma: visita a diferentes trechos da APA de Maricá, que envolvem sub-
distritos e ambiência diferenciados; registro fotográfico, realização de entrevistas
com os moradores da comunidade de Zacarias, localizada dentro da área em
questão; entrevista com moradores de outros sub-distritos, entrevista com alunos de
ensino médio da rede estadual e com alunos de graduação da universidade
particular encontrada no município.
O trabalho de campo começou
na comunidade de Zacarias,
localizada no trecho inicial da APA de
Maricá. Para tanto, seguiu-se a
metodologia de Lynch (2006), a fim
de identificar a imagem apreendida
através de diferentes formas de
percurso, que a visualização do
espaço apresenta peculiaridades de
acordo com o tipo de deslocamento,
isto é, o deslocamento a pé ou de
carro, por exemplo. Paralelamente a
isto, foi realizado o levantamento
fotográfico assim como a identificação dos elementos naturais e antrópicos que
compõem esta paisagem.
123
Procurou-se, também, identificar os setores sociais inseridos na paisagem,
como moradores, pescadores, entre outros, e relacionar os grupos a serem
entrevistados.
Constatou-se que a maioria das edificações encontra-se implantada em
centro de lote, isto é, espaço não construído entre as unidades, sendo que
algumas apresentam implantação justaposta às unidades vizinhas.
Figuras 60, 61, 62 e 63: Edificações encontradas em Zacarias em 2008.
Fonte: acervo particular.
Zacarias ocupa uma pequena parcela da APA de Maricá, e junto a este pode
ser observada extensa massa vegetal, apresentando, também vista para o mar e
para a lagoa. As ruas não são pavimentadas, não havendo, desta forma, delimitação
de circulação de pedestres e veículos.
Figuras 64 e 65: Zacarias, localizada no início da APA de Maricá, em 2008.
Fonte: acervo particular.
124
Após este trecho inicial que apresenta ocupação, a APA de Mari se
caracteriza por seu potencial natural e vegetação característica de restinga,
conforme ilustrado nas imagens a seguir:
Figuras 66, 67, 68 e 69: Imagens da APA de Maricá, em seu trecho inicial, em 2008.
Fonte: acervo particular.
Pôde-se identificar a delimitação da
área através das cercas. Na imagem ao lado
visualiza-se a cerca que delimita a área:
Ainda em se tratando da metodologia
desenvolvida para esta etapa da pesquisa, foi
estabelecida a estrutura da entrevista, que
engloba perguntas referentes à inserção do
entrevistado no local, isto é, se é morador,
visitante, ou trabalha no município, assim
como o tempo que conhece o município. Para
o caso daqueles que vieram de outros
municípios para Maricá, perguntou-se quais os fatores que levaram a escolha deste.
Na segunda parte da entrevista, têm-se perguntas referentes à infra-estrutura do
município, assim como questões sobre a APA de Maricá; a fim de identificar se os
Figura
70
:
Cerca que delimita a
.
APA de
Maricá em 2008.
Fonte: acervo particular.
125
entrevistados sabem da existência de áreas de proteção no município, se conhecem
a APA de Maricá, qual a imagem que apresentam desta, e se m conhecimento do
projeto para realização de empreendimentos para a área. E, no caso daqueles
cientes do projeto, pergunta-se o que consideram sobre este.
Ao final da entrevista, foi aplicado um exercício segundo a metodologia
utilizada por Lynch (2006). O exercício consiste na apresentação de fotos diversas,
que contém a APA de Maricá e outras localidades semelhantes aos entrevistados
para que eles identifiquem as imagens que ilustrem a área de estudo. Para aqueles
que não conhecem a APA de Maricá, pediu-se para identificar as imagens que
consideram como possíveis imagens da área. Com o exercício objetiva-se identificar
a imagem da APA de Marique os diferentes grupos de entrevistados apreendem,
correlacionando esta imagem à forma como estes se relacionam com o espaço da
APA, e, portanto, ao uso que atribuem a esta localidade.
Inicialmente, objetivou-se aplicar a entrevista com moradores da área e de
outros sub-distritos, pescadores, políticos favoráveis ao empreendimento e
responsáveis pela implantação, assim como lideranças sociais e movimentos contra
a implantação.
No entanto o posicionamento dos setores responsáveis pela implantação e
lideranças sociais foi identificado durante o levantamento de informações sobre a
área e da proposta para o empreendimento, através da pesquisa de notícias
publicadas em jornais e sites. Outra fonte de informações sobre os fatos que vêem
envolvendo a área de análise, foram as reuniões referentes ao plano gestor a ser
desenvolvido para a área, realizadas pelo IEF, e uma reunião realizada por
pesquisadores que trabalham com a área e o representante dos pescadores
realizada na sede da ACCLAPEZ. Consequentemente, identificou-se um setor social
envolvido e informado sobre a questão e sobre a importância da área, que tamm
apresenta relevante conhecimento do local, e objetiva a preservação da área.
Portanto este grupo tem acompanhado todo o processo. Em conseqüência, a
imagem que estes apresentam da APA é de paisagem natural com significativo
potencial natural e papel de equilíbrio ambiental, e que, logo, deve ser preservada.
Desta forma, os grupos selecionados para a entrevista foram os moradores
de Zacarias, de outras localidades do município, turistas e alunos de ensino médio
de um colégio da rede estadual de ensino e alunos de graduação da universidade
privada encontrada no município. A escolha destes grupos se deve ao objetivo de
126
identificar a imagem e a forma de ocupação da APA para diferentes seguimentos da
sociedade de Maricá. Junto a isto, objetiva-se identificar se a população conhece a
área e as propostas para a implantação do empreendimento de grande porte no
local, e como visualizam esta possibilidade.
Por conseguinte, escolheu-se os moradores de Zacarias que residem na APA,
moradores de regiões vizinhas como a Barra de Marie do Centro, que fica um
pouco mais afastado, a fim de identificar a relação com a APA em decorrência da
proximidade e interação com esta.
os estudantes foram selecionados por faixa etária e nível de instrução, a
fim de identificar se diferentes setores apresentam conhecimento sobre a área e
como se relacionam com esta.
A seguir, tem-se uma tabela relacionando os grupos entrevistados:
Grupos de entrevistados
Número de
entrevistados
Moradores de Zacarias 10
Moradores do Centro e
Barra 21
Turistas 4
Estudantes do Ensino
Médio 48
Universitários 25
Tabela 10: Grupos de entrevistados durante o trabalho de campo.
A seguir, tem-se as ilustrações selecionadas para a entrevista, que foram
apresentadas de foram aleatória, isto é, sem ordem pré-estabelecida:
Figura
7
1
: Imagem de satélite
perspectivada da APA de Maricá.
Fonte: Google Earth.
Figura
7
2
: Imagem da APA de Maricá.
Fonte: Google Earth.
127
Figura
7
3
: Vista da Rua Zero, na Barra
de Maricá, nas imediações da APA de
Maricá, em 2008.
Fonte: Acervo particular
Figura
7
4
: APA de Maricá, vista a partir da
Ponta do Fundão.
Fonte: SEMADS, 2001, p. 42.
Figura
7
5
: Ilha Comprida,
em São Paulo.
Fonte: Google Imagens.
Figura
7
6
:
Complexo lagunar de Maricá.
Fonte: Google Imagens.
Figura
7
7
:
APA Litoral Norte
.
Fonte: Google Imagens.
Figura
7
8
:
APA de Marapendi, Rio de
Janeiro.
Fonte: Google Imagens.
128
Prosseguindo a atividade, foi aplicada a entrevista elaborada para ser
realizada com os grupos selecionados. Portanto, em se tratando do perfil dos
entrevistados, pode-se dividi-los em sub-grupos, sendo estes: moradores de
Zacarias encontrados durante o percurso do trabalho de campo; moradores do
Centro de Maricá, que se mostraram a favor da implantação de empreendimentos na
APA de Maricá, moradores do Centro de Mari e Barra de Maricá favoráveis à
preservação da APA e turistas.
3.1 Zacarias: a luta pela permanência e preservação do lar
Durante o trabalho de campo foram entrevistados alguns moradores
encontrados na localidade, abordou-se aqueles que estavam trabalhando no local e
freqüentadores dos estabelecimentos encontrados, neste caso, os bares. Alguns
entrevistados, a princípio, não queriam participar da entrevista, entretanto, ao
observarem a aplicação do exercício a partir de fotos com outros entrevistados,
estes se interessaram pela entrevista.
Constatou-se que a maioria mora e nasceu no local, tendo origem na
comunidade pesqueira, isto é, alguns são filhos de pescadores e outros são
pescadores e trabalham na construção civil. Alguns entrevistados que não nasceram
na localidade, passaram a morar nesta após casamento com membros da
comunidade.
Em geral, os moradores de Zacarias apontaram como qualidade do local a
tranqüilidade e a beleza natural. Alguns se mostraram satisfeitos com a infra-
estrutura disponível, e apontaram mudanças recentes como instalação de água
encanada para aqueles moradores que solicitarem este serviço e transporte
alternativo. Aqueles que destacaram a demanda na melhora destes serviços vieram
de outros municípios. De acordo com estes entrevistados:
“A luz é precária, mas o transporte melhorou”.
(Moradora de Zacarias, veio de outro município e se casou com filho de
pescadores. Em relação à infra-estrutura).
“Tem que melhorar ainda mais a água, não tem para todo mundo”. (Morador
de Zacarias, que veio de outro município e se casou com filha de
pescadores. Em relação à infra-estrutura).
129
Quanto ao conhecimento da existência de área de preservação no município,
a maioria deste grupo de moradores de Zacarias não sabia dizer se conhecia a APA
de Maricá, ou nem mesmo identificou o significado de Área de Proteção Ambiental,
conhece a área como restinga, mas apresentou conhecimento sobre proposta para
implantação de empreendimento na área. Um dos entrevistados identificou a
importância da APA na seguinte resposta: “Sim, protege o meio ambiente(Morador
de Zacarias, sobre a importância da APA).
Em relação a isto, os entrevistados se mostraram preocupados com a
possibilidade de remoção da comunidade de Zacarias, mesmo que alguns
apontassem aspectos positivos do empreendimento, como aumento da renda
municipal e desenvolvimento do setor de turismo, por exemplo. Conforme um dos
entrevistados: “Vai acabar com os pescadores, vai entrar mais dinheiro, mas vai
acabar com a lagoa, vai acabar com tudo”. (Morador de Zacarias, sobre o resort) .
Esta preocupação em relação a possibilidade de retirada dos moradores
remete à experiência que os moradores mais antigos tiveram com o projeto para a
cidade de São Bento da Lagoa, que segundo Mello e Vogel (2004): O fato crítico
era a constatação de que o ambicioso empreendimento imobiliário e urbanístico não
se estabelecia num vazio demográfico. Implicava, ao contrário, a remoção
compulsória de algumas dezenas de famílias de pescadores, da localidade de
Zacharias”. (MELLO; VOGEL, 2004, p.185).
Com relação aos moradores mais antigos, filhos e netos de pescadores
constatou-se que a possibilidade de mudança desta paisagem pode levar a perda do
seu significado e de sua história, ou seja, prejudicaria a relação de vínculo
estabelecida com o espaço, e, portanto, a descaracterizaria identidade deste local
para os moradores. O que pode ser constatado na seguinte resposta: “Aqui é
tranqüilo, sempre foi assim, resort, eu não sei, nunca saí daqui, se lotear vai
complicar, acaba o sossego”. (Moradora de Zacarias, filha de pescadores. Sobre o
resort).
130
Figuras 79 e 80: Imagens de Zacarias em 2008.
Fonte: acervo particular.
Como ocorrera anteriormente com a possibilidade de remoção dos moradores
surge a ameaça de extinção do meio de sobrevivência, podendo-se, então, citar
Mello e Vogel (2004):
A urbanização intentada pela Companhia.[grifo do autor], em vista do
turismo, com sua estrada litorânea, inviabilizava as barras. À falta dessa
comunicação com o mar, a pescaria [grifo do autor] minguava, tornando-se
incapaz de sustentar a casa. Esta, por sua vez, vitimada pelo processo de
relocação praticado, estava fadado a afastar-se da lagoa [grifo do autor], ou
a desaparecer, pondo em xeque a sobrevivência da família.(MELLO;
VOGEL, 2004, p.36).
Durante a entrevista, os moradores que se estabeleceram em Zacarias após
o casamento com aqueles oriundos da comunidade pesqueira, levantaram a questão
do controle da ocupação da terra, visto que estes moram de aluguel, não sendo
permitido que construam na área. Segundo um dos entrevistados: “A única coisa
ruim é que eles não deixam construir aqui. As pessoas de fora não podem morar em
Zacarias”. (Morador de Zacarias, que veio de outro município e se casou com filha
de pescadores. Caracterizando a APA).
Quanto ao exercício com imagens, os moradores de Zacarias apresentaram
interesse em mostrar conhecimento do território, e identificaram a maior parte das
fotos da APA, apontando, inclusive pontos de referências, como proximidade de sub-
distritos, entrada para alguns sub-distritos, e também destacaram a mudança no
nível da Laguna, ressaltando que nas imagens o nível estava maior do que
atualmente.
Por conseguinte, para os moradores de Zacarias entrevistados a imagem
predominante da APA de Maricá é de local tranqüilo, havendo, tamm, o referencial
131
de casa, de tradição e tranqüilidade para se morar, onde a possibilidade de
construções de grande porte acabaria com essa tranqüilidade, descaracterizando a
localidade. A resposta de uma moradora, filha e neta de pescadores, confirma este
fato, segundo ela: “Não tem nada que eu não gosto, se aparecer algo diferente não
vou gostar”. (Moradora de Zacarias, filha de pescadores. Caracterizando a APA).
Figuras 81, 82, 83 e 84: Comunidade de Zacarias em 2008.
Fonte: acervo particular.
3.2 Mercantilização X preservação: a percepção de outros moradores
Em relação aos moradores do Centro de Marie Barra de Maricá, estes se
dividiram em dois subgrupos, sendo eles: aqueles a favor de implantação de
empreendimentos na APA e aqueles voltados para a preservação desta.
Constatou-se que parte dos moradores do Centro de Maricá entrevistados,
cujo perfil caracteriza-se pela vinda do Rio de Janeiro na década de 90 em busca de
tranqüilidade e fuga da violência, mostrou-se a favor do empreendimento, muitas
vezes destacando que este deve ser implementado em acordo com os aspectos
legais, o que pode ser exemplificado na resposta de uma entrevistada: “Vai ser bom
para o município, vai melhorar, trazer turismo, mas desde que construído de acordo
132
Figura 8
5
:
APA de Maricá
em 2008.
Fonte: acervo particular.
com a lei”. (Moradora do centro de Maricá, sobre a proposta para a construção na
APA).
Para estes, o empreendimento fomentará emprego para o município,
promoverá crescimento e renda com arrecadações de IPTU, valorização do preço da
terra em todo território municipal e trará recursos que serão disponíveis a todos os
moradores do município. Além disso, consideram que a área apresenta-se em
processo de favelização, isto é, vêem o bairro de Zacarias como área de ocupação
irregular e em expansão e temem que este movimento leve ao mesmo processo de
favelização do Rio de Janeiro e a violência decorrente. Abaixo, tem-se as
colocações feitas por estes entrevistados:
“Esses moradores não são mais pescadores, são pessoas que vêm do Rio
e trazem os parentes, está uma favela”.
“Pode ser se for preservada 90% da natureza e fiscalizada, pode ser a
melhor coisa, turismo, emprego e fiscalização”. (Moradores do centro de
Maricá, sobre a proposta para a construção na APA).
Portanto, o grupo, que procurou o município em busca de tranqüilidade,
identifica a APA de Maricá, a partir de sua experiência, ou seja, a percepção
ambiental ocorre a partir de vivências anteriores, conforme foi estudado no capítulo
1. Consequentemente, para estes a APA é considerada como possível área de
favelização, remetendo à imagem que possuem do Rio de Janeiro. Desta forma a
implantação de empreendimentos para
a área seria uma maneira de evitar o
que consideram como favelização de
toda a APA de Maricá. De acordo com
um dos entrevistados: “É melhor o
resort, que vai gerar imposto e trazer
turismo do que deixar tudo virar favela,
a prefeitura não cuida mesmo.”
(Morador do centro de Maricá, sobre a
proposta para a construção na APA).
Todavia, pode-se destacar que a
construção de empreendimentos como
este proposto para a APA, caracterizam-
133
se pela incremento no processo de favelização, à medida que geram demanda por
mão-de-obra não especializada, e que, por sua vez devido ao custo de transporte e
moradia, passa a se localizar nas imediações destes empreendimentos.
Junto a isto, este processo de atribuição de valor a paisagem através da
construção tamm se vincula à mercantilização da paisagem, que também parte de
um processo ideológico, onde o próprio conceito da proposta precisa ser vendido.
Em relação aos exercícios com fotografias, os que conhecem mais a área,
identificaram até os locais dentro da APA de Maricá ilustrados nas fotos, contudo, as
imagens de outras localidades parecidas causaram vida na identificação das
fotografias da APA de Maricá. Isto se deve ao fato da APA gerar uma idéia de
vegetação densa, ou seja, de paisagem natural, e, por conseguinte, sem traços de
atuação humana, logo todas as fotos com vegetação, mesmo de aspecto
diferenciado da APA de Maricá, foram apontadas como imagens desta. Um dos
entrevistados caracterizou a APA da seguinte forma: “É muito boa para área
turística, mas acho que vai virar favela, importante se tivesse preservação real”.
(Morador do centro de Maricá, sobre a proposta para a construção na APA).
Portanto, aqueles que consideram a APA como área de expansão de favela, e
acreditam que esta já está bem ocupada, em desacordo com este aspecto, seguiram
o critério da existência de vegetação densa para caracterizar a APA. aqueles que
não conheciam a área identificaram algumas fotos, e utilizaram este mesmo critério
para identificá-la, portanto, embora considerem uma área em acentuado processo
de ocupação, a imagem que estes apresentaram da APA de Maricá refere-se ao seu
aspecto natural representado pela idéia de presença de massas vegetais.
Constata-se que este grupo de entrevistados caracteriza a área de estudo
como uma paisagem natural, portanto, apresenta uma imagem de natureza
desvinculada do meio urbano, e, logo, sem função específica no contexto municipal.
Os moradores do Centro de Maricá favoráveis à preservação da APA de
Maricá, são, em sua maior parte, moradores que vieram de outros locais, trabalham
no município, o escolheram como local de moradia a partir de suas características
naturais, e consideram a infra-estrutura oferecida pelo município precária. Uma
moradora caracterizou a infra-estrutura do município da seguinte forma: “Que infra-
estrutura? Estou aqui cinco anos e não vejo”. (Moradora do centro de Maricá,
sobre a infra-estrutura do município).
134
Estes conhecem a APA de Maricá, inclusive identificaram sua localização e
estiveram na área, apresentando significativo conhecimento desta. Portanto, para
estes, a APA deve ser preservada, pois se trata de uma área com vegetação de
restinga e biodiversidade a ser mantida, sendo patrimônio ambiental. Alguns,
inclusive, descreveram espécies vegetais e animais da restinga. Estes entrevistados
consideram que:
“Tem árvores, árvores rasteiras, cactos, uma diversidade de flores, animais.
É uma área agreste onde se consegue ver de tudo”.
“Bonito, é algo que tem que ser preservado para manter o patrimônio
natural”. (Moradores do centro de Maricá, descrevendo a APA).
Consequentemente, no desenvolvimento do exercício com fotografias, o
grupo apresentou significativo conhecimento da área, e se mostrou interessado em
identificar os detalhes característicos do local, e das regiões vizinhas. Segundo
estes entrevistados:
“Com certeza, por causa de todo o ecossistema e a biodiversidade, deve
ser preservado, se vender para estrangeiro vai virar uma....”.
“Sim, para a preservação do meio ambiente, é o último pedacinho de
vegetação de restinga que tem, se o espanhol derrubar não vamos poder
mostrar para os nossos netos”. (Moradores do centro de Maricá, sobre a
importância da APA.).
Logo, a imagem que este grupo apresenta da APA de Maricá caracteriza-se
pelo seu potencial natural, constituindo uma paisagem natural a ser preservada,
conforme exemplificado nos trechos das entrevistas abaixo ilustrados:
“Vai acabar com a cidade”.
“Vai ser um choque cultural muito grande”.
“Errado porque a restinga deve continuar conforme é, principalmente
porque Piratininga era uma restinga, mas acabou”.
(Moradores do Centro de Maricá e um morador da Barra de Maricá, sobre o
resort).
3.3 Um olhar externo: a experiência dos turistas
Também foram entrevistados alguns turistas, que de forma geral descreveram
o município pelas características naturais, e como os moradores provenientes de
135
outros municípios, consideraram a infra-estrutura insatisfatória. Estes se dividiram
entre aqueles que conhecem a APA e atribuem importância à mesma e os que não
conhecem, e estes últimos, mesmo sem conhecer a APA descreveram como
acreditam que esta seria, segundo eles:
“Deve ser um lugar com fauna e flora, protegida, cercada, vigiada, com
pessoas para controlar”.
“É grande, muito arenosa, com plantas e animais pequenos, tem trilha,
áreas preservadas”. (Turistas descrevendo a APA de Maricá).
Em se tratando da proposta para
construção de um empreendimento de
grande porte na APA, os entrevistados
deste grupo tinham conhecimento sobre
a proposta e se dividiram entre aqueles
favoráveis ao resort e aqueles que
consideram como uma oportunidade de
crescimento econômico porém com
impactos ambientais, o que é ilustrado
das respostas abaixo.
“Tem duas vertentes, vai ser bom para o município por causa do turismo,
mas tamm tem o lado da preservação”.
“Não conheço as características, não posso dizer o impacto ambiental, mas
o social vai ser bom, vão aumentar emprego, mais gente, turismo e gerar
necessidade de infra-estrutura”. (Turistas sobre o empreendimento a ser
instalado na APA).
Em todos os grupos constatou-se que há dificuldade de identificação de
imagens de satélite, pois não é uma leitura familiar aos entrevistados, e em geral, as
imagens com vegetação mais densa causaram dúvidas para a identificação.
3.4. Educação Ambiental: o caminho para a preservação da APA de Maricá
A continuação da pesquisa deu-se com a aplicação de entrevistas com
estudantes do município. Para tanto, foram escolhidos dois grupos, incluindo uma
Figura
8
6
:
APA de Maricá
em
2008
.
Fonte: acervo particular.
136
turma de ensino médio do Colégio Estadual Elisiário Mata e uma turma de
graduação da Universidade Severino Sombra.
Escolheu-se estes dois grupos por se tratar de segmentos distintos, que,
portanto, podem apresentar experiências diferenciadas com relação à APA de
Maricá, além disso, objetiva-se identificar os setores em questão sabem da
existência de áreas de preservação, se conhecem a APA e a proposta para
construção nesta, assim como a imaginabilidade da APA para estes grupos.
Os alunos do ensino médio entrevistados comem uma faixa de 15 a 20
anos com poucas exceções, e se dividem entre aqueles que nasceram no município
e outros que vieram de outros municípios. Estes que vieram de outros municípios
indicaram como motivo a tranqüilidade de Maricá, embora esta característica tenha
sido citada pelos alunos que nasceram no município tamm.
Em relação às características que estes apreciam no município, foi
mencionada a beleza natural e as praias, ao passo que os aspectos desfavoráveis
citados referem-se aos serviços de infra-estrutura, à falta de atividades de lazer e
culturais e à falta de oportunidades de emprego. A seguir, tem-se algumas respostas
dos entrevistados:
“Porque é um lugar calmo e não é longe do Rio de Janeiro”.
“Eu gosto da tranqüilidade e porque tamm a grande violência ainda o
chegou aqui”.
“Gosto da tranqüilidade e da praia”.
“A tranqüilidade, mas essa tranqüilidade está acabando de uns tempos para
cá”. (Alunos do ensino médio, sobre o que gostam no município)
A maior parte dos entrevistados considerou a infra-estrutura disponível no
município insatisfatória, apenas um pequeno número de alunos considerou
adequados os serviços de infra-estrutura. O que pode ser exemplificado nas
respostas a seguir:
“A falta de condução para outras cidades, e emprego para os moradores do
lugar”.
“As ruas não são asfaltadas”.
“O custo de vida é caro, não temos variedades de lojas, supermercados ...”.
“O nosso município não tem nada para os jovens se divertirem”.
“As ruas esburacadas, ainda mais quando chove, fica toda alagada”.
(Alunos do ensino médio, sobre o que não gostam no município).
137
Nestas entrevistas destaca-se que um dos alunos entrevistados reside em
outro município, portanto, não conhece a APA de Maricá, e suas observações
restringem-se à infra-estrutura, que, por sua vez, considerou precária.
Quanto ao conhecimento da área, maioria dos entrevistados sabe onde se
localiza e já esteve na APA.
Em se tratando da importância da APA de Maricá, praticamente todos os
alunos destacaram que se trata de uma área importante devido ao seu potencial
natural, e às espécies que abriga, além de ressaltar a necessidade de preservação
ambiental, o que pode ser visto em algumas respostas citadas a seguir:
“Pelo menos alguma coisa tem que ser preservada para ajudar os animais”.
“Porque alguma coisa tem que ser preservada”.
“Porque é parte do nosso ambiente, e tudo faz parte de um equilíbrio
ecológico”.
“Porque é a área mais importante de Mari, tanto para quem mora lá,
quanto para todo o município”. (Alunos do ensino médio, sobre a
importância da APA).
Quanto à identidade da APA de Maricá para os alunos do ensino médio, estes
descreveram a área pela sua beleza, potencial natural, suas espécies peculiares e a
presença de vegetação; além de destacar a importância da APA enquanto
patrimônio natural a ser preservado. Para alguns, trata-se de uma área abandonada,
que deveria ser conservada. Poucos entrevistados descreveram a área como
deserta e perigosa, citando que esta é local para desmonte de veículos. As
características da APA enunciadas podem ser ilustradas nas respostas dos
estudantes, sendo algumas delas:
“Um lugar muito bonito, mas mal cuidado”.
“Um lugar que poderia ser melhor, mas não recebe o cuidado necessário e
nem o devido valor.
“Longo terreno arenoso cheio de dunas, bromélias, cactos e arbustos
típicos de praia banhado pela lagoa e o mar”.
“Um local com vegetação rasteira, areia da praia, bromélias e um pouco
abandonado e perigoso à noite”.
“Uma área de preservação ambiental, onde a própria população destrói”.
(Descrição da APA segundo os alunos do ensino médio).
Quanto à proposta para implantação de um empreendimento na APA de
Maricá, a maior parte dos entrevistados tem conhecimento para a proposta. E com
relação ao que consideram sobre esta possibilidade, os alunos se dividiram em três
138
subgrupos. Grande número de entrevistados se mostrou contra a construção na
APA, pois acreditam que esta deva ser preservada e destacaram a falta de ações da
administração municipal para a preservação desta área. Abaixo, cita-se algumas
respostas dos entrevistados:
“Vindo o resort para Maricá, acabará com a restinga, deslocará os
moradores que ali vivem, e o município vai acabar ficando super lotado,
sendo que Maricá não suporta tanto número de pessoas”.
“Eu acho que não deve ter essa implantação porque vai acabar com a única
área de preservação de Maricá.”
“Acho ruim porque a aparência da natureza é melhor do que essas obras. A
natureza da orla deve ser preservada”.
“Deve ser muito bem pensado e discutido, a primeira vista sou contra; pode
destruir um importante ecossistema, mas se for feito com responsabilidade
ambiental (coisa difícil) pode ser levado em frente”.
“Acho que não deveriam mudar nada na APA. Deveria ser preservada do
jeito que está, sem que ninguém construísse nada”.
“Uma falta de consideração com o meio ambiente”. (Estudantes de ensino
médio sobre o empreendimento planejado para a APA de Maricá).
Outra parte dos estudantes considera uma oportunidade de crescimento
econômico para o município e geração de emprego, embora considere que tamm
acarretará violência e prejudicará a restinga. Em relação aos entrevistados uma
pequena parcela se mostrou a favor da proposta sem destacar aspectos negativos.
A seguir, tem-se trechos das entrevistas que ilustram o posicionamento de alguns
alunos:
“Por uma parte vai trazer muitos empregos, mas o lugar onde vão construir
é impróprio.”
“Considero que deve haver conciliação entre a construção do resort e a
preservação da restinga”.
“Bom, porque vai trazer oportunidades de empregos. Ruim, porque vai
acabar com a restinga e a cidade vai crescer, trazendo mais violência”.
“Acho que vai trazer muita violência para a cidade”. (Estudantes de ensino
médio sobre o empreendimento planejado para a APA de Maricá).
Constatou-se que este seguimento social conhece a APA de Maricá, e a
imaginabilidade que apresenta da área deve-se ao seu valor enquanto patrimônio e
beleza natural. Consequentemente, apresenta conhecimento sobre os fatos que
envolvem a localidade atualmente e aponta a descaracterização da área se esta for
destinada à construção, ou seja, a perda da identidade da APA. Portanto, este grupo
de entrevistados, a partir de sua experiência e relação com este ambiente, acredita
139
que a interação entre este tipo de processo urbano e o suporte natural levaria a
destruição de seu potencial natural.
Após a entrevista com os estudantes de ensino médio, seguiu-se com a
aplicação da entrevista com alunos de graduação. Este grupo se situa em uma faixa
etária mais ampla, de 20 a 50 anos, portanto um grupo mais diversificado.
Assim como os alunos do ensino médio, os entrevistados se dividem entre
aqueles que sempre moraram no município e aqueles que se dirigiram para Mari
devido à tranqüilidade e à proximidade do Rio de Janeiro e Niterói.
Dentre as características positivas do município os estudantes destacaram a
beleza natural, as praias e principalmente a tranqüilidade, o que pode ser
identificado nas respostas a seguir:
“A calma do interior”.
“Das praias e toda natureza de maricá”.
“Do clima e da paisagem”
“A beleza das praias”
“A tranqüilidade que não se encontra nos grandes centros”. (Universitários,
sobre as caracteríticas que apreciam no município).
Em relação aos aspectos negativos os entrevistados mencionaram o descaso
político-administrativo, a infra-estrutura precária, a falta de oportunidades de
emprego e a falta de lazer. O que pode ser ilustrado nas respostas, sendo algumas
delas:
“Falta infra-estrutura, saneamento, água encanada, asfalto...”.
“As ruas de barro e cheias de buraco”.
“O abandono público”
“Falta de opção de lazer”
“Do abandono que se encontra o nosso município”. (Universitários, sobre as
caracteríticas que não apreciam no município).
Com relação à imaginabilidade da APA foram apresentadas respostas
sintéticas, e referem-se à APA pelo potencial e beleza natural, pelas espécies
encontradas, necessidade de preservação e tamm consideram uma área
abandonada pela administração municipal.
“Um local onde a natureza prevalece apesar do abandono das autoridades
com relação à fiscalização na área”.
140
“Uma área ambiental cujo objetivo é preservar a natureza”.
“Um local cheio de história e vida, no qual deve ser preservado para a
própria valorização da história”.
“Eu acho que poderia ser um pouco mais conservada”.
“Um lugar cheio de imeras belezas. História viva!(APA descrita pelos
universitários).
De forma geral, os entrevistados consideram a APA de Maricá um lugar
importante, mesmo aqueles que não conhecem e não conseguiram descrever o local
consideraram relevante e mencionaram a necessidade de preservação ambiental, o
que pode ser identificado na respostas a seguir:
“A biodiversidade no local é muito rica e importante para Maricá e é
necessária a conservação da fauna e flora da restinga”.
“É uma área de preservação ambiental e de riquezas ecológicas de nossa
cidade”.
“Está carregada da história do município”. (Universitários sobre a
importância da APA).
Quanto à proposta para o empreendimento a ser construído na APA, alguns
entrevistados não tinham conhecimento, e, portanto não opinaram. Os entrevistados
que conhecem a proposta, na maior parte, consideram uma chance de crescimento
econômico e geração de emprego para o município. Conforme ilustrado nas
respostas a seguir:
“Uma oportunidade de empregos, para uma cidade tão carente de
empregos”.
“Acho de suma importância para o crescimento financeiro da cidade e de
seus habitantes”.
“Considero que Marivai crescer muito, para o mercado de trabalho será
uma maravilha”.
“Vai trazer emprego e fazer circular muito dinheiro no município”.
“Importante economicamente para o Estado”. (Universitários sobre a
possibilidade de construção na APA).
Alguns entrevistados se mostraram contra e levantaram questões como a
incapacidade da infra-estrutura municipal em atender a população proveniente do
empreendimento e os prováveis impactos ambientais decorrentes deste tipo de
empreendimento. Foi citado, tamm, que o empreendimento não atenderá ao
mercado de trabalho municipal. A seguir, tem-se algumas respostas que ilustram a
posição deste grupo:
141
“Arriscado. Há um ecossistema em jogo”.
“Não acho válido para a cidade”.
“Tenho medo, pois o progresso também traz conseqüências. Aumento do
custo de vida, destruição ambiental, falta de infra-estrutura para novos
habitantes.”
“Sem qualificação de mão de obra maricaense de nada serve. Se o governo
não investir em moradores daqui, vai virar favela, pois até para ser faxineira
nesse resort com certeza vai ter que ter duas línguas, no mínimo o
português e o inglês”. (Universitários sobre a possibilidade de construção na
APA).
Poucos entrevistados declararam-se a favor do empreendimento desde que
se considere os aspectos legais e ambientais, que devem ser respeitados, isto é,
acreditam que trará crescimento cio-econômico para o município, contudo deve
ser conciliado com a preservação ambiental, segundo estes:
“Para o crescimento econômico da cidade, será um grande salto, gerando
emprego e aumentando o turismo. E se a mesma natureza que for
explorada também for preservada, sendo obedecidas às leis ambientais,
acho que conseguiremos viver em equilíbrio, homem e natureza”.
“Se houver um projeto de preservação do ecossistema do local, acho que
trará crescimento para Maricá, com a criação de empregos e aumento do
comércio no município”.
“Acredito que vai valorizar em alguns aspectos e desvalorizar em outros.
Vai valorizar na questão do turismo, a desvalorização será na questão
ambiental.”
“Eu considero bom e ruim. Bom pelo fato da geração de emprego e ruim
porque iria acabar com a área de proteção ambiental”. (Universitários sobre
a possibilidade de construção na APA).
Constata-se que para este grupo de entrevistados a identidade da APA de
Maricá é referente à sua beleza natural, entretanto, mesmo considerando uma área
importante e com potencial natural, acreditam que esta deva ser destinada à
construção para gerar incremento sócio-econômico para o município. Junto a isto,
constatou-se que este setor, embora tenha apresentado de forma geral
conhecimento da área, não está bem informado quanto às propostas atuais para a
ocupação da localidade, nem o interessado e engajado quanto os estudantes do
ensino médio.
Concluiu-se, portanto, que, em relação aos alunos de ensino médio, os
universitários encontram-se menos engajados com a questão, embora todos os
entrevistados sejam moradores do município. O que pode ser explicado pelo fato de
que significativa parte destes é proveniente de outro município e apresenta a idéia
142
Figura 8
7
: Localização do trecho da Barra de
Maricá percorrido durante o trabalho de
campo.
Fonte: Google Earth.
de que Maricomo cidade em desenvolvimento, além de enfocarem o mercado de
trabalho local, portanto acreditam que a instauração de empreendimentos trará
benefícios sócio-econômicos. Outro aspecto que pode ser relacionado a esta
questão, é o trabalho desenvolvido no Colégio Estadual Elisiário Mata, que trata da
APA de Maricá, desenvolvendo atividades no própria APA, o que gera maior
envolvimento estes alunos.
3.5 Percorrendo a APA de Maricá
Após as entrevistas o trabalho de
campo teve prosseguimento com o percurso
de dois trechos distintos da APA, que foram
selecionados por apresentarem momentos
diferentes de ocupação do território municipal
e constituem ambncias diferenciadas. Trata-
se dos trechos que envolvem os sub-distritos
Barra de Maricá e São José de Imbassaí.
O percurso teve início na área
adjacente à APA de Maricá, trata-se do sub-
distrito Barra de Maricá, que se encontra ao
lado da comunidade de Zacarias.
O acesso a esta parte da APA, onde se localiza a comunidade de Zacarias e
a Barra de Maricá, é realizado pela Estrada do Boqueirão e pela Ponte do
Boqueirão, situada entre a Lagoa da Barra e a APA de Maricá.
Figuras 88 e 89: Ponte do Boqueirão e Lagoa da Barra, em 2008.
Fonte: Acervo particular.
143
Este trecho encontra-se edificado, e assim, como a APA, localiza-se entre a
lagoa, que neste trecho é denominada Lagoa da Barra, e o mar.
Figuras 90, 91, 92 e 93: Barra de Maricá, no trecho ao lado da APA, em 2008.
Fonte: Acervo particular.
Assim como em Zacarias, as ruas não são pavimentadas e o uso
predominante é o residencial, havendo comércio local com bares e quiosques. Na
Barra de Maria ocupação é mais densa que em Zacarias, sendo encontradas,
tamm, edificações residenciais multifamiliares.
Figuras 94 e 95: Edificações encontradas na Barra de Maricá, em 2008.
Fonte: Acervo particular.
144
Figura
100
: Trecho da APA em São José de
Imbassaí.
Fonte: Google Earth.
Figuras 96 e 97: Edificações encontradas na Barra de Maricá, em 2008.
Fonte: Acervo particular.
Neste sub-distrito também são encontradas residências de veraneio, e
apresenta uma ocupação um pouco mais consolidada que o trecho próximo a APA
em São José de Imbassaí que apresenta um crescimento mais recente. No entanto,
as edificações implantadas próximas à Praia da Barra estão sujeitas às ações das
marés.
Figuras 98 e 99: Edificações residenciais da Barra de Maricá, em 2008.
Fonte: Acervo particular.
O trabalho de campo teve seqüência
com a visita a outro trecho da APA, no sub-
distrito de São José de Imbassaí. O acesso a
este trecho foi mais difícil devido às
condições das vias de acesso à APA. Esta
parte da área de estudo encontra-se ao lado
do canal de São Bento, e o acesso a esta se
da através da ponte dos Macacos.
145
Figuras 101, 102, 103 e 104. Trecho da APA de Maricá em São José de Imbassaí, em 2008.
Fonte: acervo particular.
Próximo ao início deste trecho da APA localiza-se a sede da Companhia
Vidreira, que foi desativada.
Figura 105. Sede da Companhia Vidreira em 2008.
Fonte: acervo particular.
Esta parte da APA de Marise caracteriza por seu aspecto natural, com
vegetação de restinga, tamm se localiza entre o complexo lagunar e a praia,
consequentemente, é vista como local de passagem, que suas vias constituem
acesso à praia e á lagoa.
146
Figuras 106 e 107. Lagoa e vias de acesso da APA de Maricá, em 2008.
Fonte: acervo particular.
Esta área da APA é considerada como perigosa, pois as vias de acesso à
praia apresentam vegetação mais densa, e a localidade também serve para
desmonte de veículos, e, por ser utilizada como local de passagem para a lagoa e a
praia, não foi possível realizar entrevistas no local.
Constatou-se que esta parte da área de estudo não apresenta áreas
edificadas, no entanto, seu entorno encontram-se edificado, e inclusive, a via de
acesso à APA apresenta uma ocupação significativa e recente, o que expressa a
tendência de incremento no parcelamento da terra, que não é peculiar a este sub-
distrito, trata-se de uma característica do município.
Figuras 108 e 109. Edificações encontradas nas vias de acesso da APA de Maricá, em 2008.
Fonte: acervo particular.
147
Figuras 110 e 111. Edificações encontradas nas vias de acesso da APA de Maricá, em 2008.
Fonte: acervo particular.
Verificou-se que a área apresenta problemas referentes à infra-estrutura, visto
que não apresenta serviço de fornecimento de água e coleta de esgoto, sendo
empregue o sistema individual, junto a isto as vias de acesso não são pavimentadas
e encontram-se sem manutenção.
Após o percurso de diferentes trechos da APA de Maricá e realização
entrevistas com os grupos selecionados, a pesquisa teve seqüência com a análise
dos aspectos identificados, o que foi relacionado nos parágrafos a seguir.
Retomando o conceito de paisagem abordado no capítulo 1, a tendência
do observador reconhecer a paisagem sem se inserir nesta, o que no caso da APA
de Maricá foi constatado através das entrevistas, visto que os entrevistados, em sua
maioria, a trataram como uma área a parte, visualizada a partir do exterior. Aqueles
que se inseriram na APA para caracterizá-la foram os moradores da comunidade de
Zacarias e alguns moradores do Centro de Maricá que freqüentam a área e a
consideram importante, ou seja, para estes esta paisagem constitui um lugar com
função específica.
Com relação à concepção de paisagem natural e cultural, a localidade foi
considerada pelos entrevistados como uma paisagem natural, e de forma geral,
desvinculada da paisagem cultural, ou seja, do entorno edificado e da malha urbana.
Portanto, este fato relaciona-se, conforme tratado no capítulo 1, à tendência de se
considerar a natureza e o espaço construído como estruturas segregadas, onde se
considera que os problemas sócio-ambientais originam-se no meio urbano.
A identidade da APA de Maricá é vinculada à idéia de paisagem natural,
enquanto recurso ambiental, e para alguns, de lazer, simbolizando para parte dos
entrevistados natureza a ser preservada, e para outra parte destes, local perigoso ou
148
em processo de ocupação intenso, todavia, até estes últimos apresentaram uma
imagem da localidade caracterizada através de seu aspecto natural.
No entanto, o que se pode constatar na APA de Marié que os problemas
levantados referem-se á sua correlação com a malha urbana. Seu entorno engloba
alguns sub-distritos que se encontram edificados, alguns apresentam, como no caso
de São José de Imbassaí, significativo incremento de áreas construídas, cujas
questões referentes à falta de infra-estrutura do suporte afetam a localidade, além
das questões que se referem à administração municipal, já que a área também foi
caracterizada como abandonada tanto ao que em relação à segurança como à
demanda por preservação ambiental.
Com relação à interação entre os processos urbanos e naturais, destaca-se
que a região em questão apresenta limitado sistema de infra-estrutura, isto é, como
o município apresenta serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto restrito
a parte central do distrito sede, a área habitada da APA de Maricá e as áreas
circundantes apresentam abastecimento de água restrito a algumas destas
localidades e sistema individual de tratamento de esgotos.
O que pode ser observado em relação à ocupação das áreas limítrofes a
APA, como a Barra de Maricá, é a ocupação das áreas próximas ao mar que sofrem
impactos com aumento da maré e ressacas, por exemplo, e em Itaipuaçu, próximas
de brejo, sujeitas a alagamentos.
Junto a isto, assim como em outras partes do município, o que se pode
identificar na forma de ocupação do solo é a falta de vínculos com códigos
urbanísticos e as condições naturais do sítio aliado à falta de fiscalização da
administração municipal. Consequentemente observa-se uma ocupação irregular
sem prévio planejamento que culmina em construções em faixas marginais de
proteção, contaminação do solo e recursos dricos pelo sistema individual de
esgoto, ou mesmo a falta deste e comprometimento da cobertura vegetal nativa.
Pode-se considerar, tamm, que os impactos decorrentes da atuação
antrópica no complexo lagunar devem-se ao despejo de esgoto nas lagoas, o que
altera a salinidade, assim como a extração irregular de areia, pecuária, mineração
de rios e aos loteamentos. (FARIA, 1996).
No caso de Zacarias, tem-se uma ocupação mais integrada ao meio,
proveniente da colônia tradicional de pescadores que através de atividades de
subsistência, vincula-se à preservação deste ambiente.
149
Por conseguinte, o que se pode observar é que o processo de ocupação do
entorno da APA remete ao processo de ocupação do próprio município, como foi
estudado no capítulo 2, e que é caracterizado por picos de intensificação do
parcelamento da terra, destacando-se a participação da população vinda da Região
Metropolitana. A este processo, associa-se à falta de infra-estrutura e recursos para
atender a este crescimento, e, considerando que a APA se insere no contexto
municipal, esta tamm sofre os impactos desta ocupação.
Desta forma, com as entrevistas e trabalho de campo, constatou-se que a
área apresenta problemas que se vinculam à falta de infra-estrutura e atuação da
administração municipal, junto a isto, identificou-se a necessidade de preservação
ambiental assim como a falta de conhecimento desta área.
Em se tratando da percepção do local, tem-se uma característica peculiar
encontrada no estudo, pois as referências bibliográficas que aplicaram a percepção
ambiental tratam de paisagem urbana, e, portanto, classificam elementos da malha
urbana. Já na área de estudo, tem-se uma predominância dos elementos naturais da
paisagem, e os elementos edificados encontrados dentro da área de estudo, na
comunidade de Zacarias, se encontram integrados ao suporte natural. Entretanto, foi
possível identificar os elementos característicos da bibliografia sobre a forma urbana
na paisagem em questão, amesmo, porque esta se encontra articulada ao seu
entorno.
Com relação à tendência de ocupação da área, constatou-se que esta se
vincula ao processo de ocupação municipal, onde os picos de parcelamento
tenderam a gerar demanda por novas áreas livres de Maricá, desta forma, a APA
passa a ser considerada como potencial para a edificação, conforme ocorrera
anteriormente com o projeto da Cidade de São Bento da Lagoa.
Trata-se de uma tendência que engloba a Região das Baixadas Litorâneas
como um todo, não é peculiar a área de estudo, e que tende a ocupar extensas
áreas com empreendimentos de grande porte. A singularidade da área em questão é
a falta de infra-estrutura que gera necessidade de grande investimento na área,
como foi visto na proposta para a Cidade de São Bento da Lagoa, e que a
inviabilizou.
O parcelamento da área, todavia, culmina na questão da restrição desta
paisagem a um determinado seguimento social, deixando de ser um patrimônio
municipal e de atender as funções de preservação do meio natural, e logo, equilíbrio
150
entre espaço natural e construído. Trata-se da mercantilização da área e
desarticulação do contexto municipal.
Pode-se então remeter ao que Ronai (1977) considera como mercantilização
da paisagem(RONAI, 1977, p.17) que esta se tornaria um produto a ser limitado
a determinados grupos; e tamm remete ao que Meinig (2002) define como e visão
da “paisagem como problema” (MEINIG, 202, p.40), que é vista por este setor
como um problema a ser resolvido, uma área vazia sem função, cuja solução estaria
no design.
151
CONSIDERÕES FINAIS
Neste estudo partiu-se da conceituação de paisagem enquanto espaço que
reúne elementos naturais e construídos, os agentes e suas inter-relações, isto é, as
relações com o espaço e entre si, que conformam, através de elementos culturais
articulados a fatores naturais, a paisagem. Desta forma, têm-se os conceitos de
paisagem natural, conformada pelos elementos naturais do meio e de paisagem
cultural, que, por sua vez, é decorrente da expressão da atuação antrópica no
ambiente.
Todavia, constata-se que socialmente, de forma geral, a tendência de se
considerar paisagem enquanto elemento natural e desarticulado do meio urbano.
Por conseguinte os problemas ambientais são atribuídos ao espaço urbano, gerando
uma contradição entre campo e cidade, o que leva à idealização do campo. Isto
remete ao próprio processo de conceituação da paisagem, que é e foi
historicamente vista como um espaço idealizado.
Consequentemente, o urbanismo pode ser considerado uma forma de
expressão antrópica sobre o meio, e, portanto, resulta em uma paisagem cultural.
Neste contexto, considera-se que os processos urbanos devem ser articulados de
forma harmônica aos elementos naturais, ou seja, pode ser relacionado à
preservação ambiental e à qualidade de vida.
No entanto, o que se pode observar, é que a concepção de espaço natural e
urbano segregados culmina em intervenções urbanas com impactos sócio-
ambientais negativos, cujas causas passam a ser atribuídas ao meio urbano.
É neste contexto que se pode relacionar a visão de paisagem enquanto
problema, tanto no que se refere aos impactos ambientais provenientes da interação
entre aspectos naturais e antrópicos como a noção de paisagem enquanto um
152
problema de design, que, deste modo deve ser ordenada e ajustada a determinados
padrões.
Outro aspecto atribuído à forma como a paisagem é utilizada culturalmente, é
a mercantilização da paisagem, o que se deve à valorização desta enquanto valor
de mercadoria, o que a segrega, e restringe a determinados grupos.
Em relação à visualização da paisagem, esta se vincula à percepção
individual sobre o meio, ou seja, é peculiar a cada observador, o que se deve à
experiência individual, à vivência, junto a aspectos sócio-culturais, simbólicos,
fenomenológicos e afetivos, portanto, os locais da paisagem apresentam
significados peculiares aos indivíduos, ou podem apresentar identidade comum a um
grupo, o que Lynch (2006) denominou imaginabilidade.
Aplicando estes conceitos à área de estudo, constatou-se que esta constitui
uma paisagem com significativa expressão natural e com uma característica cultural
peculiar, decorrente da ocupação por uma colônia de pesca tradicional. Ao mesmo
tempo, se localiza próxima a áreas parceladas, logo, em seu entorno se espacializa
a interação entre os processos urbanos e o suporte natural, e as conseqüências
desta inter-relação.
A fim de identificar os impactos sobre a qualidade sócio-ambiental resultante
da correlação entre processos naturais e antrópicos; constatou-se que esta
interação na área objeto de estudo ocorre através da ocupação pelo parcelamento
da terra nas localidades limítrofes, sendo elas: Barra de Maricá, São Jo de
Imbassaí e Itaipuaçu.
O que se observa neste processo de ocupação é a desarticulação entre os
elementos inseridos e o suporte, consequentemente, o município apresenta sistema
de infra-estrutura limitado a sua área central, isto é, abastecimento de água e
sistema de coleta de esgoto individual na maior parte do entorno da APA, além de
impactos provenientes da ocupação de faixa marginal de proteção de rios e lagoas,
além de áreas de brejo, por exemplo.
Esta ocupação exemplifica o processo de parcelamento do município, que
ocorreu com momentos de picos, onde diferentes áreas do município foram loteadas
de acordo com a demanda do contexto, isto é, qual a área era valorizada nestes
períodos e para qual finalidade, moradia ou veraneio.
Entretanto, dentro da APA de Maricá, tem-se uma ocupação mais integrada
aos aspectos naturais do sítio, realizada pela comunidade pesqueira, já que se trata
153
de um processo que teve início com a integração ao suporte para subsistência,
articulado a parâmetros legais que regulam a ocupação da área, que não apresenta
as mesmas características das áreas de expansão de loteamentos.
O atual contexto, onde esta Área de Preservação passa a ser considerada
como espaço potencial para implementação de empreendimentos de grande porte,
segue uma conjuntura que não se restringe ao âmbito municipal, é, portanto, um
processo que vem ocorrendo na Região das Baixadas Litorâneas. Após os períodos
de parcelamento da terra através de loteamentos nas décadas de 50 e 70, segue-se
com esta nova tendência, que pode levar a ocupação não da APA de Maricá
como de outras localidades do município que ainda apresentam características
naturais.
A área que já foi cogitada para ocupação de grande proporção anteriormente,
o projeto da Cidade de São Bento da Lagoa, que não foi realizado, apresenta
significado peculiar aos diferentes grupos sociais envolvidos, o que remete à forma
como esta paisagem é percebida, que, por sua vez, se vincula à experiência e
vivência individual.
Novamente, assim como no caso da cidade de São Bento a Lagoa, o
potencial natural da área torna-se um atrativo para a valorização e conseqüente
construção na mesma, embora contraditoriamente ameace a preservação de sua
riqueza natural. Além disto, esbarra na demanda por infra-estrutura para o
empreendimento e dificuldade de articulação entre esta demanda e a precariedade
dos serviços oferecidos pelo município.
Por conseguinte, torna-se necessário relacionar os grupos envolvidos com a
área de estudo e identificar como estes se relacionam com a localidade, ou seja, que
uso e importância atribuem a esta e qual a imagem resultante.
Estes setores sociais se dividem entre moradores da comunidade pesqueira
tradicional de Zacarias, moradores do município que consideram a área como
patrimônio natural a ser preservado e os moradores favoráveis a ocupação da área
para a promoção do crescimento municipal. Por conseguinte, a percepção desta
paisagem decorre da forma como é apropriada pelos diferentes grupos.
Os moradores da localidade visualizam a área como local tranqüilo para a
moradia, apresentando uma relação harmônica com o espaço, o que constitui um
referencial de lar. Desta forma, apresentam significativo conhecimento deste espaço,
154
já que há uma vivência e experiência intensa do local. No entanto, não identificaram
o termo Área de Proteção Ambiental e reconhecem a área como restinga.
Portanto, a alteração desta paisagem levaria à descaracterização desta e
destruição deste referencial.
Em relação aos moradores de outras localidades do município, estes se
dividem entre aqueles que conhecem a área e a identificam como contendo
potencial natural a ser mantido e aqueles que consideram área propícia para
ocupação. Estes moradores são, na maior parte, provenientes de outros municípios
e foram para Maricá em busca de tranqüilidade, proximidade dos grandes centros e
devido ao seu potencial natural.
Aqueles que objetivam a preservação da APA, a conhecem e apresentam
uma experiência deste local, apresentaram relevante conhecimento da mesma e
suas espécies. Portanto, identificam a importância sócio-ambiental da área e a
necessidade de preservação desta.
aqueles que acreditam no potencial para parcelamento da área, a
consideram como perigosa, inóspita, abandonada pela administração municipal e
em processo de favelização. Isto se deve à experiência anterior deste grupo que
deixou os grandes centros buscando tranqüilidade. Para este grupo, a implantação
de um empreendimento na APA seria uma oportunidade de crescimento econômico.
Portanto, um setor social que visualiza a paisagem natural desarticulada
do contexto da paisagem cultural, e, logo, do próprio município. Para estes a área só
apresenta importância se ocupada.
Em se tratando da entrevista realizada com estudantes do município, estes se
dividem entre os alunos do ensino médio e universitários. Os alunos de ensino
médio, devido ao trabalho desenvolvido pela instituição apresentam profundo
conhecimento da área, e, de forma geral, objetivam a preservação da área. os
alunos de ensino superior, se dividem entre aqueles que acreditam na necessidade
de preservação da mesma; aqueles que vêem o parcelamento desta como
oportunidade de crescimento econômico e aqueles que mesmo acreditando na
possibilidade de crescimento econômico citaram os impactos sócio-ambientais
decorrentes.
Concluiu-se que de forma geral a imagem predominante da APA é de espaço
natural, visto que mesmo aqueles que acreditam que esta deva ser parcelada, a
caracterizaram por seus aspectos naturais.
155
Com relação à proposta para a implementação de um empreendimento de
grande porte nesta área, considera-se que ocorreria a descaracterização da área,
desconsiderando a importância da manutenção de áreas verdes no meio urbano e
sua função para o equilíbrio ambiental. Junto a isto, considera-se também que
ocorreria a restrição desta paisagem a um determinado grupo passando a o mais
ser patrimônio de todos, e, desta forma, a experiência desta paisagem estaria
limitada. Portanto, exemplificaria o que foi mencionado anteriormente como
mercantilização da paisagem.
A proposta para construção na APA pode ser relacionada à concepção de
espaço natural e construído de forma desagregada, ou seja, não se reconhece a
importância da preservação de áreas naturais e a demanda por equilíbrio entre
espaço natural e construído. Neste contexto este espaço é visto como um problema
a ser solucionado através do design”, mesmo que através de uma intervenção
urbana desarticulada do potencial natural e desproporcional ao contexto sócio-
econômico.
Outra característica deste empreendimento é a tendência de atribuição de
uma nova identidade a um trecho dentro do contexto municipal, constituindo um
novo núcleo diferenciado e independente, que possibilita o isolamento de um
segmento social.
Ainda em relação à construção nesta área, destaca-se a demanda por infra-
estrutura, que a infra-estrutura disponível não contempla todo o município,
portanto sua capacidade é limitada para atender a um empreendimento de grande
porte, devendo-se considerar o impacto desta demanda sobre o meio, tanto ao que
se refere aos serviços como água e esgoto e a ligação viária desta localidade com o
resto do município, o que pode gerar impacto até mesmo na ligação de Maricá com
os municípios vizinhos.
Conclui-se que a correlação entre processos urbanos e o meio pode ser
aplicada de forma integrada à preservação ambiental, e neste caso, pode incluir a
preservação de áreas verdes, ou seja, a conservação da Área de Proteção
Ambiental de Maricá. Esta demanda se articula à identidade da localidade, isto é,
seu valor sócio-ambiental, que se vincula à necessidade de manutenção de áreas
verdes e integração entre meio natural e construído e ao que esta paisagem
representa para a sociedade a que atende.
156
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162
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de São Paulo, São Paulo, 1993. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/> . Acesso
em: 20 de agosto de 2007.
164
APÊNDICE
165
Dentre os questionários aplicados durante as entrevistas, selecionou-se uma
amostra, que foi inserida no apêndice a fim de complementar as informações
referentes aos trechos das entrevistas mencionadas no texto da dissertação.
Segue-se, então, com uma amostra composta de oito dos questionários
aplicados com os moradores de Zacarias, cinco dos questionários aplicados com
moradores de outras localidades municipais a favor da implantação do resort na
APA de Marie cinco dos moradores destes sub-ditritos contra a implantação do
resort e favoráveis à preservação ambiental.
Além dos seguimentos acima citados, as entrevistas selecionadas
englobaram também dois dos turistas inseridos na pesquisa; além de dez dos
estudantes de ensino médio entrevistados e dez dos estudantes universitários que
participaram da pesquisa.
A seguir, seguem-se listadas as respostas às entrevistas conforme a ordem
explicitada acima.
166
ENTREVISTA COM MORADORES DE ZACARIAS
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
X De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
10 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Casamento, marido de Zacarias, nascido aqui.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
É tranqüilo para morar.
7-. O que não gosta no município?
Há muito para fazer ainda, para melhor.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
X não
A luz é precária, mas o transporte melhorou.
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Sim. Para preservar, se for abrir mão, vão construir até virar favela.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Tem área de pescador e o resto é área ambiental.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Se não mexer com a restinga toda e com a gente, disseram que pode ser até 9%.
167
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70 X
3 - Há quanto tempo mora no município?
Sempre morei aqui.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Não tem nada mesmo.
7-. O que não gosta no município?
Não tem nada que eu não gosto, se aparecer algo diferente não vou gostar.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
X não
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Sim, se lotear vai complicar, acaba o sossego.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É complicado, é tanta coisa que não sei explicar como é.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
não
X
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Aqui é tranqüilo, sempre foi assim, resort, eu não sei, nunca saí daqui, se lotear vai
complicar, acaba o sossego.
168
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
X De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Sempre morei em Maricá.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Praia, lagoa.
7-. O que não gosta no município?
Gosto de tudo.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
Já vi o filme.
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai acabar com os pescadores, vai entrar mais dinheiro, mas vai acabar com a lagoa, vai
acabar com tudo.
169
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
14 anos, sempre morei aqui.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Praia.
7-. O que não gosta no município?
Não tem movimento.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
X
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Não sei.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
não
X
15 – O que considera sobre este empreendimento?
170
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
X
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 10 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Por causa da minha esposa, é daqui, é filha de pescador.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Do trabalho, foi onde achei sobrevivência.
7-. O que não gosta no município?
A única coisa ruim é que eles não deixam construir aqui. As pessoas de fora não podem
morar em Zacarias.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
Tem que melhorar ainda mais a água, não tem para todo mundo.
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Protege o meio ambiente.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Não mexendo com a população é bom, turismo, emprego.
171
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
X De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Sempre morei, nasci aqui.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Sou filha de pescador.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
7-. O que não gosta no município?
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Não mexendo com a população pode ser.
172
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
X De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Nasci aqui.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
É bom para morar.
7-. O que não gosta no município?
Gosto de tudo.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
X não
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
X
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Tem natureza.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É bonito.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai tirar agente, vai acabar com tudo, com a natureza.
173
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
X De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Desde que nasci.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
É calmo.
7-. O que não gosta no município?
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
X não
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
X
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
É bom para a natureza, as plantas.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Tem plantas, animais, lagoa e a praia.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai tirar os pescadores, vai acabar com a lagoa.
174
ENTREVISTA COM MORADORES DO CENTRO E BARRA DE MARICÁ A FAVOR
DO EMPREENDIMENTO NA APA DE MARICÁ
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Tem 15 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Eu não tive escolha, vim com meus pais.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
A tranqüilidade e a proximidade dos recursos de Niterói.
7-. O que não gosta no município?
A forma dos governos, Maricá tem muito a oferecer queo está sendo explorado.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Muito bom para área turística, mas tenho medo que vire favela, importante se tivesse
preservação real.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Linda, natureza muito bonita, dunas para a prática de esportes, mas pode virar favela.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Pode ser, se for preservada 90% da natureza e fiscalizada, pode ser a melhor coisa,
turismo, empregos e fiscalização.
175
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
X
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 17 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Por causa da tranqüilidade, da praia, meus filhos o alérgicos (região de praia), e por
causa da violência e tumulto das grandes cidades.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Do clima, das pessoas e do meu trabalho.
7-. O que não gosta no município?
A falta de capricho dos governantes.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
X não
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Se tem um órgão para cuidar é importante.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um lugar com áreas vedes, fiscalizado para não ser invadido e evitar o roubo de areia.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai ser bom para o município, vai melhorar, trazer turismo, mas desde que construído de
acordo com a lei.
176
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70 X
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 20 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Para fugir da violência do Rio, do tráfico, e porque é perto do Rio e de Niterói, e ainda era
um lugar pequeno.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Gosto da minha casa, da ilusão de tranqüilidade.
7-. O que não gosta no município?
Da desordem urbana, é uma cidade sem lei.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
É um fator de controle da desordem.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Matagal à beira mar.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Se feito dentro da lei, sou a favor. Esses moradores não são mais pescadores, são pessoas
que vêm do Rio e trazem os parentes, está uma favela.
177
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
X De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Tem 13 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Porque é calmo e perto do Rio.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Das praias, das lagoas.
7-. O que não gosta no município?
Da infra-estrutura.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
X
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Porque tem que preservar a natureza.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um lugar bonito, com plantas e animais.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai ser muito bom para Maricá, vai trazer mais emprego.
178
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Tem 10 anos que moro aqui.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Minha família quis vir para cá.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
As praias, as paisagens.
7-. O que não gosta no município?
As ruas, não tem opção para sair.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Tem um ecossistema importante.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É perto da praia, com muita areia, plantas e animais, é muito bonito.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Com o resort vem muito emprego e turismo.
179
ENTREVISTA REALIZADA COM MORADORES DO CENTRO E BARRA DE
MARICÁ CONTRA O EMPREENDIMENTO NA APA DE MARICÁ
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
X
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 10 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Por causa da praia.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Da natureza, das praias, da serra e da lagoa.
7-. O que não gosta no município?
O descaso com que as autoridades tratam o município.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
Falta muita coisa.
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Com certeza, por causa de todo o ecossistema e a biodiversidade, deve ser preservado, se
vender para estrangeiro vai virar uma ....
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Tem árvores, árvores rasteiras, cactos, uma diversidade de flores, animais. É uma área
agreste onde se consegue ver de tudo.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
180
Vai acabar com a cidade.
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
X
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 5 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Não escolhi.
5 – Trabalha no município?
Sim
X não
6 – O que gosta no município?
Gosto da serra, da parte da vegetação.
7-. O que não gosta no município?
Da cidade.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
Sim
não
X
Estou aqui há cinco anos e não vejo.
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Sim, para a preservação do meio ambiente, é o último pedacinho de vegetação de restinga
que tem, se o espanhol derrubar não vamos poder mostrar para os nossos netos.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Bonito, é algo que tem que ser preservado para manter o patrimônio natural.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai ser um choque cultural muito grande.
181
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
X
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 6 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Por causa da segurança.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
As belezas naturais.
7-. O que não gosta no município?
Desprezo pelas belezas naturais.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Para a preservação do meio ambiente para outras décadas.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Linda, exuberante e inóspita.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Errado porque a restinga deve continuar conforme é, principalmente porque Piratininga era
uma restinga, mas acabou.
182
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 5 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Meus pais escolheram.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Das praias.
7-. O que não gosta no município?
Da falta de lugares divertidos.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Porque é uma das poucas áreas verdes que tem aqui.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É um lugar lindo, com vegetação, perto do mar e da lagoa.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai acabar com a natureza e expulsar os pescadores.
183
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
X De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 8 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Porque é calmo e fica perto de Niterói.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Gosto da tranqüilidade.
7-. O que não gosta no município?
A infra-estrutura é ruim.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
É importante para a preservação do meio-ambiente.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Tem dunas, plantas, animais, é muito bonita.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Vai ser ruim, vai destruir a APA.
184
ENTREVISTA COM TURISTAS
1-
Morador
Veranista
Turista X
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
4 - Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Minha família mora aqui, gosto de Maricá mesmo, da praia, da calma.
7-. O que não gosta no município?
Da lama.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Pelo ecossistema.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É grande, muito arenosa, com plantas e animais pequenos, tem trilha, áreas preservadas.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Não conheço as características, não posso dizer o impacto ambiental, mas o social vai ser
bom, vão aumentar emprego, mais gente, turismo e gerar necessidade de infra-estrutura.
185
1-
Morador
Veranista
Turista X
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
X De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Da casa dos meus parentes.
7-. O que não gosta no município?
A praia poderia ser mais explorada para o turismo.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Deve ser um lugar com fauna e flora, protegida, cercada, vigiada, com pessoas para
controlar.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Tem duas vertentes, vai ser bom para o município por causa do turismo, mas também tem o
lado da preservação.
186
ENTREVISTA COM ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município?
18 anos
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
A tranqüilidade.
7-. O que não gosta no município?
A falta de condução para outras cidades e o emprego para os moradores do lugar.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Porque é nossa área ambiental e que devemos preservá-la.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Linda, mas precisa ser preservada.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Bom e ruim. Bom, porque vai trazer oportunidades de empregos. Ruim, porque vai acabar
com a restinga e a cidade vai crescer, trazendo mais violência.
187
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município?
6 anos e meio.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Porque é um lugar calmo e não longe do Rio de Janeiro (cidade).
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Da praia, da praça, da lagoa.
7-. O que não gosta no município?
A lama.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
É um tipo de vegetação rara em nosso estado.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um local com vegetação rasteira, areia da praia, bromélias e um pouco abandonado e
perigoso à noite.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Em parte bom, pois trará empregos e desenvolvimento para os jovens a se especializarem
na área de turismo e hotelaria para trabalhar e a parte ruim é que vai restringir o acesso à
praia e destruir parte da vegetação.
188
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? 4 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Pela tranqüilidade.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
As praias.
7-. O que não gosta no município?
A infra-estrutura.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Porque preserva a flora, a fauna únicas no município.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É uma faixa que separa o mar da lagoa.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
O empreendimento trará à cidade prosperidade, em contrapartida o risco e perigos que traz
para a urbanização da restinga.
189
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? 19 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
As praias e algumas paisagens.
7-. O que não gosta no município?
Falta de lazer à noite, lugares sujos pela manhã.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Preserva algumas plantas e lugares antigos.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Lugar deserto, onde é usado para desmontar carros usados. A vista para o mar é linda.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Será bom para o crescimento de Maricá, crescimento econômico e pessoas, mas irá
aumentar a violência.
190
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? 20 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Já morei em Niterói 1 ano, mas amo minha cidade.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
As praias, a tranqüilidade e as pessoas.
7-. O que não gosta no município?
As ruas que não são asfaltadas.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Porque é um dos lugares mais bonitos de Maricá.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É uma paisagem linda, com vários animais e ar puro.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Acho que não deveriam mudar nada na APA. Deveria ser preservada do jeito que está, sem
que ninguém construísse nada.
191
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? Há 19 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
As paisagens, as praias.
7-. O que não gosta no município?
A falta de respeito das pessoas em relação ao meio ambiente.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
X
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
não
X
Pois preserva a flora e a fauna de Maricá.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um lugar bonito que merecia a atenção dos ambientalistas.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Aparentemente parece ser responsável, porém eu acho que não deveriam ter isolado a
restinga já que é uma grande área ambiental que serviria como ponto de pesquisas para os
interessados da área ambiental, e poderia ser um ponto turístico.
192
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? 9 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Não escolhi, mudei-me com meus pais.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
A tranqüilidade.
7-. O que não gosta no município?
A má conservação da cidade.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Pois a preservação do meio ambiente é necessária.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um lugar bonito, mas mal cuidado.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Absurdo. Coloca em risco a cidade e trará conseqüências negativas à cidade. Sou contra a
implantação do resort.
193
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? Há 18 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
As praias, a tranqüilidade.
7-. O que não gosta no município?
O custo de vida é caro, não temos variedade de lojas, supermercados...
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Porque lá está localizado um enorme ecossistema.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
A APA de Maricá está abandonada, moradores estão tomando o local desordenadamente. A
fiscalização tem que ser maior.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Dever ser muito bem pensado e discutido, a primeira vista sou contra; pode destruir um
importante ecossistema, mas se for feito com responsabilidade ambiental (coisa difícil) pode
ser levado em frente.
194
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? 13 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Minha mãe quis, porque aqui é mais calmo que no Rio.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
As praias, a tranqüilidade.
7-. O que não gosta no município?
Mosquito, a falta de eventos.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Pelo menos alguma coisa tem que ser preservada, para ajudar os animais.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Lar de animais e plantas, lugar de vida, apesar de ser diferente de muitos “convencionais”.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Uma péssima idéia, apesar de que irá desenvolver Maricá, pois acabara com a
tranqüilidade, com a vinda de turistas, e acabará com o lar dos animais e plantas.
195
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
X De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município? 14 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Pois na época em que me mudei era bem mais calmo que o último lugar que morava.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
As paisagens.
7-. O que não gosta no município?
A falta de infra-estrutura, e falta de respeito das pessoas com a natureza.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Pois preserva a flora e a fauna existentes no local.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Não sei se há uma sede aqui em Maricá, mas as áreas de preservação são lugares
surpreendentes, que nos fazem conhecer a realidade das florestas.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Não gosto da idéia, pois se é um local preservado como eles gostariam de construir um
resort lá?
196
ENTREVISTA COM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
X De 50 a 60
Acima de
70
3 – Há quanto tempo mora no município?
2 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Quando vim morar em Maricá, ainda trabalhava em Niterói, escolhi esta cidade, pela
proximidade das duas cidades e pelo valor dos imóveis na época.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
A calma e a natureza.
7-. O que não gosta no município?
Falta de infra-estrutura, saneamento básico, água encanada, asfalto...
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
A biodiversidade no local é muito rica e importante para Maricá e é necessário a
conservação da fauna e flora da restinga.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Se houver um bom projeto de preservação do ecossistema no local, acho que trará
crescimento para Maricá, com a criação de empregos e aumento do comércio no município.
197
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
X De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 –Há quanto tempo mora no município?
44 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
As praias.
7-. O que não gosta no município?
Do abandono que se encontra o nosso município. Ex: falta de saneamento básico, ruas
asfaltadas decentemente; melhor atendimento hospitalar, etc.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
É a natureza de Maricá. E parte dela deve ser preservada.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Com maior divulgação.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Não acho válido para a cidade.
198
1-
Morador
Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
28 anos
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Das praias.
7-. O que não gosta no município?
O transporte.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
É uma área de proteção ambiental bem ampla.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Uma oportunidade de empregos, para uma cidade tão carente de empregos.
199
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 4 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Pela tranqüilidade.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
A tranqüilidade que não se encontra nos grandes centros.
7-. O que não gosta no município?
Não gosto... A falta de opção de lazer, falta de cinema, teatro, lugares para crianças
brincarem.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
X
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Está carregada da história do município.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um lugar cheio de história e vida, no qual deve ser preservado para a própria valorização
histórica do município.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Acredito que vá valorizar em alguns aspectos e desvalorizar em outros. Vai valorizar na
questão do turismo, já a desvalorização será na questão ambiental.
200
1-
Morador
Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
X De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Resido em Maricá há 47 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
A tranqüilidade e as praias.
7-. O que não gosta no município?
A falta de saúde, saneamento básico, cultural e administração municipal.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Considero-a como a nossa área de preservação (pulmão da cidade).
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
No momento, creio que procurando atuar.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Tenho medo, pois o progresso também traz conseqüências. Aumento do custo de vida,
destruição ambiental, a falta de infra-estrutura para os novos habitantes.
201
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Há 14 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Não foi escolha.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
A tranqüilidade e a paisagem.
7-. O que não gosta no município?
Falta de conscientização.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
não
X
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
É um local “como outro”, onde oferece a pureza da natureza.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Muito verde, uma área enorme de dunas, areia da praia, muito show, tem um pôr do sol
lindo.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Sem qualificação de mão-de-obra da população maricaense de nada serve. Se o governo
não investir em moradores daqui, vai virar favela, pois até para ser faxineira nesse resort
com certeza vai ter que ter duas línguas no mínimo o português e o inglês.
202
1-
Morador
Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
X De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
19 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Pela tranqüilidade.
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
Todas as coisas.
7-. O que não gosta no município?
A tranqüilidade.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um lugar ótimo, bem conservado.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Um empreendimento muito importante para o nosso município.
203
1-
Morador
Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
15 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Pela tranqüilidade do lugar.
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Das paisagens.
7-. O que não gosta no município?
Da superlotação nos feriados. A cidade não tem estrutura para abrigar tantos turistas.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
X não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
não
X
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Porque carrega um pouco de nossa história e porque o meio ambiente deve ser respeitado.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um lugar cheio de inúmeras belezas. História viva!!!
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Acredito que nenhum progresso deva ser conquistado com destruições de ambientes tão
essenciais para a vida.
204
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
X
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
Resido há 20 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
Por devido ser mais tranqüilo e menos poluído (muito bom para se morar).
5 – Trabalha no município?
sim
não
X
6 – O que gosta no município?
A natureza que ele nos oferece.
7-. O que não gosta no município?
Falta asfalto e saneamento básico.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
O cartão postal de Maricá.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Considero que Maricá vai crescer muito em termos de empreendimento, mercado de
trabalho e será uma maravilha.
205
1-
Morador
X Veranista
Turista
2- Faixa etária
Até 10 De 20 a 30
X De 40 a 50
De 60 a 70
De 10 a 20
De 30 a 40
De 50 a 60
Acima de
70
3 - Há quanto tempo mora no município?
27 anos.
4- Caso tenha vindo de outro município, porque escolheu morar em Maricá?
5 – Trabalha no município?
sim
X não
6 – O que gosta no município?
Do clima e da paisagem.
7-. O que não gosta no município?
Da organização político-administrativa.
8 Considera a infra-estrutura (serviços de fornecimento de luz, água, esgoto, coleta de
lixo, transporte, calçamento de ruas) oferecida pelo município satisfatória?
sim
não
X
9- Tem conhecimento da existência de áreas de preservação no município?
sim
X não
10- Sabe onde se localiza a APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
11-. Já esteve na APA de Maricá (Restinga)?
sim
X não
12- Considera a APA de Maricá (Restinga) um local importante? Por quê?
sim
X não
Para a conservação do meio ambiente.
13- Como você descreveria a APA de Maricá? No caso, se não conhece a APA de Maricá,
como acha que esta seria?
Um local agradável.
14 – Tem conhecimento do projeto para implantação de um resort na APA de Maricá?
sim
X não
15 – O que considera sobre este empreendimento?
Acho de suma importância para o crescimento financeiro da cidade e de seus habitantes.
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