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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA E
SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA
PPG - ASA
Plantas medicinais na comunidade ribeirinha de Nossa Senhora
de Aparecida (Silves, AM): um estudo etnobotânico
JOSÉ FERREIRA FRANÇA
MANAUS
2006
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA E
SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA
PPG - ASA
JOSÉ FERREIRA FRANÇA
Plantas medicinais na comunidade ribeirinha de Nossa Senhora
de Aparecida (Silves, AM): um estudo etnobotânico
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Agricultura e sustentabilidade na
Amazônia da Universidade Federal
do Amazonas, como requisito para
a obtenção do título de Mestre em
Agricultura e sustentabilidade na
Amazônia, área de concentração
Plantas Úteis e Potenciais usos.
Orientadora: Prof
a
Dr
a
Maria Sílvia de Mendonça
MANAUS
2006
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iii
JOSÉ FERREIRA FRANÇA
Plantas medicinais na comunidade ribeirinha de Nossa Senhora
de Aparecida (Silves, AM): um estudo etnobotânico
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Agricultura e sustentabilidade na
Amazônia da Universidade Federal
do Amazonas, como requisito para
a obtenção do título de Mestre em
Agricultura e sustentabilidade na
Amazônia, área de concentração
Plantas Úteis e Potenciais usos.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. MARIA SÍLVIA DE MENDONÇA (ORIENTADORA)
Universidade Federal do Amazonas
Profº. Drº GERMANO GUARIM NETO (TITULAR)
Universidade Federal do Mato Grosso
Profº. Drº. GLENN HARVEY SHEPARD JR. (TITULAR)
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
Profº. Drº. ARI DE FREITAS HIDALGO (SUPLENTE)
Universidade Federal do Amazonas
Profº. Drº. JUAN DAVID REVILLA CARDENAS (SUPLENTE)
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
iv
DEDICO
A meus Pais, pelos ensinamentos de vida que
tem passado a mim e a meu irmão por todos
esses anos.
A todos os moradores da comunidade Nossa
Senhora de Aparecida, por manterem um forte
vínculo de união entre seus membros.
v
AGRADECIMENTOS
À meu Deus Jeová, por ter me concedido vida e saúde;
Aos meus pais CARLOS e LIEIDE e irmão, ELIAS, pelo apoio e compreensão por
mais de sete anos de vida acadêmica entre graduação e pós graduação na Universidade
Federal do Amazonas, que em todos os momentos foram um baluarte para meus momentos de
fraqueza e desânimo;
Ao meu filho, VITOR HUGO, pela ausência no período de coleta dos dados de
campo;
A minha namorada, EMELLINE MORAES, pelo carinho e compreensão;
A orientadora e amiga Professora Doutora MARIA SÍLVIA DE MENDONÇA, pela
paciência, carinho e profissionalismo que tem me passado durante anos de convivência.
A amiga SUZY CRISTINA PEDROZA, pela força e ajuda, pelo auxílio no trabalho de
campo, pela ajuda na confecção das tabelas e gráficos e pela amizade que tanto prezo.
A Prof
a
. Dr
a
. MARIA GRACIMAR PACHECO DE ARAUJO, pelos conselhos que
tanto me orientaram em minha vida acadêmica e profissional;
A Prof
a
. TEREZA CRISTINA, pela a amizade e orientação durante meu estágio
docência.
A amiga CRISTINA, pelos ensinamentos e auxílio nas correções gramaticais;
A amiga FERNANDA BORGES, pela amizade e sugestões ao trabalho;
Ao amigo ROGÉRIO AÑES, pelas correções, sugestões e ensinamentos que tanto me
guiaram durante minha jornada acadêmica;
A toda equipe do LABAF, pela ajuda em todas as etapas da Dissertação;
Ao Prof. Dr. GERMANO GUARIM NETO e ARI HIDALGO por comporem a banca
examinadora, bem como as sugestões ao trabalho;
vi
A UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS pelo papel que exerce perante a
sociedade como centro de ensino superior, formando cada vez mais profissionais capacitados;
Ao CNPq pela bolsa concedida, que permitiu o desenvolvimento da pesquisa;
A TODOS que direto ou indiretamente contribuíram para o sucesso do trabalho;
MEU MUITO OBRIGADO!
vii
AGRADECIMENTO ESPECIAL
A todos os comunitários de Nossa Senhora de Aparecida, especialmente a DONA NEIDE,
DONA VERA, SEU CARLOS, DONA MOCINHA E SEU FELIPE pela hospedagem e
carinho com que nos receberam.
viii
RESUMO
A Amazônia, considerada como tendo a maior diversidade de espécies vegetais do planeta, é
também a maior reserva de plantas medicinais, utilizadas principalmente pelas populações
tradicionais. Enfocando espécies vegetais usadas para fins terapêuticos realizou-se estudo
etnobotânico na comunidade de Nossa Senhora de Aparecida, localizada a 85 quilômetros da
sede do município de Silves-AM, e cerca de 260 quilômetros de Manaus, formada em sua
maioria por moradores advindos de diversas regiões do Estado do Amazonas. Para coleta dos
dados seguiu-se recomendações adotadas por Amarozo (1996). Foram realizadas entrevistas
com questionários semi-estruturados com perguntas abertas e fechadas, e em alguns casos,
quando permitido pelo informante, utilizou-se o gravador como forma de assegurar a
confiabilidade dos dados. Das 120 espécies coletadas na comunidade, 111 foram identificadas
e estão distribuídas em 60 famílias botânicas. As famílias mais representativas foram:
Lamiaceae (9 espécies), Euphorbiaceae (8 espécies), Anacardiaceae, Caesalpiniaceae,
Fabaceae, Lauraceae, Myrtaceae e Rutaceae (4 espécies). Quanto ao hábito de crescimento
das espécies, 38,33% são do tipo arbóreo, 36,67% herbáceo e 14,17% arbustivo. As partes das
plantas mais utilizadas foram as folhas, com 39,07% e as cascas, 20,53%. Das 193 citações de
preparo dos medicamentos, o chá com 52,85%, foi o mais citado, seguido de cataplasma,
13,99% e banho, 6,74%. As cinco espécies medicinais mais citadas foram: mastruz
(Chenopodium ambrosioides L.), capim cheiroso (Cymbopogon citratus D. C Stapf), salvinha
(Hyptis crenata L.), corama (Kalanchoe pinnata (Lamarck) Persoon), hortelãnzinho (Mentha
piperita L.). A forte relação que entre ser humano e as plantas são evidenciados nos
múltiplos usos que os comunitários fazem das plantas medicinais que, em alguns casos, são a
única forma de tratamento e cura.
Palavras-chave: Etnobotânica; Saber medicinal; Fitoterapia; Amazonas, Brasil.
ix
ABSTRACT
Amazônia is considered to have the greatest vegetal species diversity of the planet, is also the
biggest medicinal plants reserve, used mainly by traditional populations. Ethnobotany study
was done to focus the vegetal species usage in therapeutical ends at “Nossa Senhora de
Aparecida” community, located 85 kilometers far from the city of Silves-AM, and about 260
kilometers far from Manaus, formed manly for inhabitants from many regions of the Amazon
State. For data collection was followed the recommendation suggested by Amarozo (1996).
Interviews with semi-structured data and open and closed questions had been carried out
through, and in some cases, when allowed by the informer, the tape recorder was used to
assure the data trustworthiness. From 120 species collected at the community, 111 had been
identified and are distributed in 60 botany families. The more representative families had
been: Lamiaceae (9 species), Euphorbiaceae (8 species), Anacardiaceae, Caesalpiniaceae,
Fabaceae, Lauraceae, Myrtaceae e Rutaceae (4 species). With relationship to the habitat of
growth of the species 38,33% are tree type, 36.67% are herbaceous and 14.17% are shrub.
The leaves were the more cited used plant parts with 39,07% and the bark was 20,53%. From
193 citations of medicines preparation, tea was the most cited (52,85%), followed by
cataplasm (13,99%) and bath (6,74%). The five most cited medicinal species were: mastruz
(Chenopodium ambrosioides L.), capim cheiroso (Cymbopogon citratus D. C Stapf), salvinha
(Hyptis crenata L.), corama (Kalanchoe pinnata (Lamarck) Persoon), hortelãnzinho (Mentha
piperita L.). The strong relation that exist between human being-plant is evidenced in the
multiple uses that the communitarians make of the medicinal plants and in some cases are the
only mean of treatment and cure.
Key-words: Ethnobotany; medical cognize; phytotherapy; Amazon, Brazil.
x
SUMÁRIO
iii
v
vi
viii
ix
1.
INTRODUÇÃO
3
2.
REVISÃO DE LITERATURA
5
2.1.
AS PLANTAS MEDICINAIS
5
2.2.
AS PLANTAS MEDICINAIS NA AMAZÔNIA
7
2.3.
IMPORTÂNCIA DA ETNOBOTÂNICA
8
2.4.
POPULAÇÕES TRADICIONAIS E COMUNIDADES RIBEIRINHAS
AMAZÔNICAS
9
2.5.
OS QUINTAIS E AS PLANTAS MEDICINAIS
14
3.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
17
3.1.
ÁREA DE ESTUDO
17
3.2.
ESCOLHA DA ÁREA
18
3.3.
ESCOLHA DA POPULAÇÃO
18
3.4.
COLETA DOS DADOS
18
3.5.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA DE CAMPO
22
3.6.
COLETA E IDENTIFICAÇÃO DO MATERIAL BOTÂNICO
23
3.7.
ANÁLISE DOS DADOS
24
3.8.
CÁLCULO DO NÍVEL DE FIDELIDADE
25
3.9.
CLASSIFICAÇÃO DAS INDICAÇÕES
25
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
26
4.1.
ASPECTOS HISTÓRICOS
26
4.2.
ASPECTOS FÍSICOS, GEOGRÁFICOS E POPULACIONAIS
27
4.3.
O RIO ANEBÁ
28
4.4.
A COMUNIDADE DE NOSSA SENHORA DE APARECIDA
29
4.5.
VIDA COMUNITÁRIA
32
4.6.
PRODUÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA COMUNIDADE
33
4.7.
RELIGIOSIDADE NA COMUNIDADE
35
4.8.
TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO
36
4.9.
OS INFORMANTES
36
4.9.1.
IDADE E SEXO DOS INFORMANTES
36
4.9.2.
LOCAL DE ORIGEM DOS INFORMANTES
37
4.9.3.
TEMPO DE RESIDÊNCIA NA COMUNIDADE
39
4.9.4.
GRAU DE INSTRUÇÃO E RELIGIÃO
40
4.9.5.
OCUPAÇÃO, RENDA FAMILIAR E NÚMERO DE FILHOS
40
4.9.6.
USO DAS PLANTAS MEDICINAIS PELA COMUNIDADE:
41
4.9.6.1. FAMÍLIAS BOTÂNICAS
48
4.9.6.2. TRATAMENTO ATRAVÉS DAS PLANTAS
MEDICINAIS
51
4.9.6.3. USO DAS PLANTAS MEDICINAIS APLICAÇÃO
TERAPÊUTICA
52
4.9.6.4. PARTES DAS PLANTAS UTILIZADAS
70
4.9.6.5. FORMA DE PREPARO DOS MEDICAMENTOS
71
4.9.6.6. VEL DE FIDELIDADE
72
xi
4.9.6.7. ASSOCIAÇÕES DIVERSAS
79
4.9.6.8. CLASSIFICAÇÃO DAS ENFERMIDADES CITADAS
PELOS COMUNITÁRIOS COM AS
ENFERMIDADES DO CÓDIGO INTERNACIONAL
DE DOENÇAS, E AS PLANTAS MEDICINAIS
UTILIZADAS
84
4.10.
INTERAÇÃO COMUNIDADE NATUREZA
88
4.10.1. INTERAÇÃO RIBEIRINHO NATUREZA
88
4.10.2. ASPECTOS DE ETNOINFORMAÇÃO E
ETNOCONSERVAÇÃO
90
4.10.3. ANIMAIS E DERIVADOS ORGÂNICOS PARA FINS
MEDICINAIS
93
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
95
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
97
xii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 -
Idade e sexo dos informantes da comunidade N
a
S
a
de
Aparecida
37
TABELA 2 -
Freqüência de origem dos informantes, dos pais e dos avós da
comunidade N
a
S
a
de Aparecida
38
TABELA 3 -
Tempo de residência dos informantes na comunidade N
a
S
a
de
Aparecida
39
TABELA 4 -
Grau de instrução dos informantes da comunidade N
a
S
a
de
Aparecida
40
TABELA 5 -
Ocupação dos informantes da comunidade N
a
S
a
de Aparecida
41
TABELA 6 -
Lista das espécies vegetais, nome vulgar, nome científico,
família, hábito e origem encontrados na comunidade Na Sa de
Aparecida
43
TABELA 7 -
Famílias botânicas e freqüência absoluta e relativa das espécies
vegetais encontrados na comunidade N
a
S
a
de Aparecida
48
TABELA 8 -
Princípios ativos e ações das três famílias mais freqüentes na
comunidade N
a
S
a
de Aparecida
50
TABELA 9 -
Relação entre o hábito, freqüência absoluta, freqüência relativa
e freqüência acumulada das plantas medicinais encontradas na
comunidade N
a
S
a
de Aparecida
50
TABELA 10 -
Relação das pessoas citadas pelos informantes da comunidade
N
a
S
a
de Aparecida, tratadas com uso das plantas medicinais
52
TABELA 11 -
Frequência das aplicações terapêuticas citadas pelos
informantes da comunidade N
a
S
a
de Aparecida
52
TABELA 12 -
Frequência das formas de uso utilizado pelos comunitários de
N
a
S
a
de Aparecida
55
TABELA 13 -
Relação dos nomes vulgares, partes usadas, preparos,
aplicações e forma de uso pelos comunitários de N
a
S
a
de
Aparecida
57
TABELA 14 -
Nível de fidelidade, porcentagem de concordância quanto aos
usos principais (CUP) das plantas medicinais encontradas na
comunidade N
a
S
a
de Aparecida, município de Silves, AM,
2006.
74
xiii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 -
Localização da comunidade Nossa Senhora de Aparecida
17
FIGURA 2 -
Simbologia representando a entrevista com o informante alvo,
modificado de Añez, 1999
19
FIGURA 3 -
Pesquisador entrevistando uma “comunitária” da comunidade
N
a
S
a
de Aparecida
22
FIGURA 4 -
Preparação do material botânico na comunidade N
a
S
a
de
Aparecida, para posterior identificação
24
FIGURA 5 -
Rio Anebá na época da cheia, comunidade N
a
S
a
de Aparecida
28
FIGURA 6 -
Comunidade N
a
S
a
de Aparecida. A vista de uma propriedade
rural na época da cheia; B vista da mesma propriedade na
época da seca
29
FIGURA 7 -
Comunidade N
a
S
a
de Aparecida. A rodovia AM 363; B
residência à margem da rodovia; C residência à margem do
Rio Anebá; D roça de mandioca; E posto de saúde; F
escola na comunidade
31
FIGURA 8 -
Comunidade N
a
S
a
de Aparecida. A hortelãnzinho (Mentha
piperita L.) usado contra cólica de criança recém-nascida; B
alguns participantes do mutirão de limpeza na sede da
comunidade; C trabalho familiar no roçado
33
FIGURA 9 -
Comunidade N
a
S
a
de Aparecida. A vista de uma residência
com muitas espécies frutíferas; B canteiro suspenso (giral)
feito de pneu automotivo; C comunitário fabricando farinha
para o consumo familiar; D mãe e filha no preparo do beiju
34
FIGURA 10 -
Igreja da comunidade de N
a
S
a
de Aparecida
35
FIGURA 11 -
Origem dos informantes da comunidade N
a
S
a
de Aparecida:
(A) informantes, (B) pais, (C) avós
38
FIGURA 12 -
Percentual relativo do aprendizado do uso de plantas medicinais
pelos informantes da comunidade N
a
S
a
de Aparecida
42
FIGURA 13 -
Partes das plantas utilizadas pela comunidade N
a
S
a
de
Aparecida
70
FIGURA 14 -
Formas de preparo citadas pelos informantes da comunidade N
a
71
xiv
S
a
de Aparecida
FIGURA 15 -
Aplicações terapêuticas mais citadas pelos informantes da
comunidade N
a
S
a
de Aparecida
80
FIGURA 16 -
Avó fazendo a assepsia no neto contra a picada de insetos na
comunidade N
a
S
a
de Aparecida
88
xv
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 -
Formulário roteiro da entrevista obtenção dos dados dos
informantes
20
QUADRO 2 -
Dados específicos da planta
21
QUADRO 3 -
Ficha de campo
23
1
1. INTRODUÇÃO
O emprego dos vegetais como alimento, medicamento ou cosmético se perde na
história do homem. Os estudos da arqueologia demonstram que mais de 3.000 anos as
ervas eram utilizadas para esses fins. A fitoterapia, ou terapia pelas plantas era conhecida e
praticada pelas antigas civilizações. Pode-se afirmar que o hábito de recorrer às virtudes
curativas de certos vegetais é uma das primeiras manifestações do esforço do homem para
compreender e utilizar a natureza.
O conhecimento tem subsistido por milênios e nos países tanto desenvolvidos como
em desenvolvimento, as plantas medicinais o utilizadas. Nos primeiros, as plantas não
constituem matérias-primas para a produção industrial de derivados químicos puros, como são
utilizadas como fitoterápicos. Nos países em desenvolvimento, fazem parte de extratos ou
compostos fitoterápicos utilizados no tratamento das mais diversas enfermidades.
O uso das plantas medicinais tem se perpetuado através das gerações pelos povos
amazônicos. O uso de espécies vegetais com poder curativo é considerado em muitas regiões
a única forma de cura de enfermidades, devido principalmente à falta de assistência médica e
distâncias dos grandes centros urbanos, sendo importante que este conhecimento tradicional
repassado de geração em geração não se perca, mantendo assim a herança cultural adquirida
muitas vezes através de erros e acertos. Muitos estudiosos acreditam que as utilidades acerca
das plantas medicinais continuarão a ser obtidas através desses conhecimentos tradicionais,
enquanto outros acreditam que os resultados definitivos dependem do progresso da ciência,
como dos procedimentos técnicos de extração.
Borrás (2003) salienta que as dificuldades de acesso, confiança na medicina
tradicional, o alto poder de toxidade de muitos medicamentos, tudo isto associado com o alto
custo dos mesmos, faz com que as pessoas das mais diferentes classes sociais recorram ao uso
das plantas medicinais como forma de cura para suas enfermidades.
2
Para Ming (1996), o Brasil será dependente das importações de fitoterápicos, se não
houver mais incentivos para as pesquisas com plantas medicinais, mesmo sendo o país com a
maior diversidade florística do mundo e sua população possuindo um rico conhecimento da
medicina tradicional.
O crescente estudo de trabalhos com enfoques etnobotânicos tem elevado o
conhecimento das espécies vegetais utilizadas para fins terapêuticos, contribuindo para
melhoria da qualidade de vida dos povos amazônicos, bem como para a conservação dos
ecossistemas naturais.
O trabalho teve como objetivo enfocar as plantas medicinais utilizadas pela
comunidade Nossa Senhora de Aparecida, através de um estudo etnobotânico. A comunidade
está localizada no município de Silves AM. Foram utilizados métodos quantitativos, onde o
pesquisador apresenta um valor de uso para cada espécie medicinal utilizada pelos
comunitários, e métodos qualitativos, descrevendo a vida e o cotidiano, bem como sua relação
com as plantas medicinais.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. AS PLANTAS MEDICINAIS
As primeiras informações detalhadas sobre plantas medicinais e seus usos provêm da
China, 2.500 a 3.000 a.C., onde o imperador Sheng-Nung utilizou seu corpo para sentir os
efeitos produzidos por inúmeras plantas, escrevendo o tratado de mais de 300 espécies,
chamado PEN TSAO, livro das ervas (BRAGANÇA, 1996).
Schulz et al. (2002) afirmam que em muitos trabalhos sobre os produtos naturais, as
plantas medicinais eram utilizadas desde a antiguidade para cura de inúmeras doenças.
Métodos populares de cura, praticados pelos povos da região do Mediterrâneo e do Oriente,
encontraram expressão no primeiro compêndio de plantas medicinais Européias no século I
d.C.
Low et al. (1999) falando sobre os povos antigos citam que quando a dor e a doença
os atacavam eles tinham poucas escolhas além de recorrer às plantas. Baseados no método de
experiência e erro, muitos tratamentos fitoterápicos tinham eficácia admirável e com o passar
do tempo essa medicina passou a ser qualificada como supertição.
No Brasil, os alemães J. B von Spix e Carl F. P. von Martius fizeram no século XIX,
notas do uso de plantas pelos indígenas. muito antes, no século XVII, no Nordeste do
Brasil, os holandeses Guilherme Peso e George Marggraf coletaram plantas e registraram
usos conhecidos pelos nordestinos (ALBUQUERQUE, 2002).
Leitzke (2003) afirma que uma relação muito próxima que se estabelece entre os
informantes e as plantas medicinais. O conhecimento popular coexiste paralelamente com os
da medicina oficial, porém está baseado nos seus próprios valores e na herança cultural e
legitimado pela população.
O conhecimento quanto às formas de uso das plantas medicinais tem sido transmitido
de geração a geração; no entanto algumas pessoas que utilizam e comercializam sentem a
4
necessidade de buscar informações científicas sobre os produtos que comercializam e os
utilizam como forma de valorizar e comprovar o potencial medicinal das espécies, além de
garantir a segurança contra possíveis intoxicações (SILVA, 2004).
A destruição de ecossistemas naturais e a conseqüente extinção de espécies têm
alcançado níveis alarmantes. Neste sentido, o conhecimento popular sobre o uso das espécies
vegetais nativas pode contribuir para a conservação desses ecossistemas, no que diz respeito à
adoção de práticas de manejo e sugestões de uso alternativo da vegetação nativa. Muitos
trabalhos na área etnobotânica têm sido realizados nos últimos anos (SIQUEIRA 1982;
HANAZAKI et al. 2000; BEGOSSI et al. 2000; AMOROZO 2002) no intuito de se conhecer
a relação estabelecida entre as comunidades humanas e a vegetação.
Atualmente, atenção especial está sendo dada ao estudo das plantas medicinais, uma
vez que, várias espécies têm seus efeitos comprovados no tratamento de diversas doenças
(GUARIM NETO, 1996).
A maioria dos habitantes dos países pobres e em desenvolvimento, quando adoecem,
recorre aos curandeiros tradicionais em busca de solução para seus problemas de saúde. A
literatura indica que para cerca de 80% da população a atenção primária de saúde é sinônimo
de medicina tradicional (COSTA, 1989).
A flora amazônica constitui uma das mais importantes fontes de matéria-prima para a
indústria fitoterápica brasileira, representando apreciável potencial econômico devido à
riqueza de diversidade de espécies disponíveis, muitas com princípios ativos ainda
desconhecidos (VIEIRA, 1992; DI STASI 1996).
Le Cointe (1947), autor de um utilíssimo dicionário sobre plantas úteis da Amazônia,
informações sobre as propriedades curativas de certas espécies, na sua obra, constituindo-
se como uma das mais importantes fontes de referências para pesquisadores de diversas áreas
da biologia e química.
5
de ser mencionado também o trabalho de Cavalcante & Frikel (1973) sobre a
farmacopéia dos índios Tiriyó, resultante de colaboração entre um antropólogo e um botânico.
De La Cruz-Mota & Guarim Neto (1996) apontam que a interação do homem com a
natureza ocorre entre dois sistemas. Um é do próprio homem, o outro é o ambiente do
homem, formado por fatores abióticos, bióticos e socioculturais. Daí a importância em se
conhecer a origem deste homem, como se processa saúde-doença, enfocando o espaço que as
plantas medicinais ocupam na cultura da sociedade estudada.
Schultes (1975) mostrou que plantas com origem na Amazônia são domesticadas por
tribos indígenas (Noroeste da Amazônia), algumas pouco conhecidas, outras muito
conhecidas tanto por seu valor alimentício quanto uso medicinal, como por exemplo o
guaraná (Paullinia cupana Kunth.) e a coca (Erythroxylum coca L.). Portanto, a Amazônia
tem sido uma interessante fonte de diversas plantas domesticadas e geralmente populações
adaptadas (ou tradicionais) são quem melhor conhecem essas plantas.
A intensa migração de nordestinos, principalmente para o Estado do Amazonas
durante os dois ciclos econômicos, concorreu para uma aclimatação de várias espécies não
amazônicas na região, entre elas, Ocimum basilicum L., Aloe vera (L.) Burm. f., Zingiber
officinales Rosc., etc. Houve então paralelamente uma fusão do conhecimento sobre estas
plantas resultando em uma Farmacopéia Cabocla, que mistura espécies botânicas regionais
com plantas nativas da região Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, além da Europa, Ásia e
África. Este processo ocorreu de maneira tão lenta através dos tempos, que até hoje chamam-
se de amazônicas a maioria das plantas encontradas na região (BORRÁS, 2003).
2.3. IMPORTÂNCIA DA ETNOBOTÂNICA
De acordo com Albuquerque (2002), a palavra etnobotânica foi criada e usada pela
primeira vez por Harshberger em 1895.
6
Para muitos autores a etnobotânica é considerada como o campo científico que estuda
as inter-relações que se estabelecem entre o ser humano e as plantas através do tempo e em
diferentes ambientes, enquanto Ford (1986) entende como o estudo das inter-relações diretas
entre homens e plantas.
A preocupação com o desvendamento da revitalização do conhecimento dos povos
que habitam e manejam os ecossistemas naturais tem sido registrada mundialmente por
muito tempo sob a forma de trabalhos etnobiológicos, visto que a etnobiologia, através do
método etnográfico, restaura o saber popular sobre o manejo dos ecossistemas e da
biodiversidade neles encontrada, repassado transgeracionalmente através da fala, do corpo,
dos mitos, das práticas e dos símbolos, contribuindo assim, para a socialização dos saberes
regionais, relacionando o valor cultural do uso dos recursos naturais aos grupos humanos de
onde provém este saber (SOUZA, 1998).
Albuquerque (2002) menciona que as propostas e implicações da etnobotânica são
mais abrangentes e possibilitam a descoberta de substâncias de origem vegetal com aplicações
médicas e industriais, o conhecimento de novas aplicações para substâncias conhecidas, os
estudos de drogas vegetais e seus efeitos no comportamento individual e coletivo dos usuários
quanto a determinados estímulos culturais ou ambientais; o reconhecimento e preservação de
plantas economicamente importantes em seus respectivos ecossistemas; a documentação do
conhecimento tradicional e conservação dos recursos naturais dos ecossistemas tropicais.
A prática etnobotânica recebeu diferentes enfoques com o passar do tempo, cada qual
refletindo a formação acadêmica dos pesquisadores envolvidos. Sendo de natureza
interdisciplinar, permite agregar colaboradores de diferentes ciências, com enfoques diversos,
como o social, cultural, da agricultura, da paisagem, da taxonomia popular, da conservação de
recursos genéticos, da lingüística e outros (MING et al. 2002).
Os estudos etnobotânicos contribuem em especial para o desenvolvimento planejado
7
da região onde os dados foram coletados (BEGOSSI et al. 2002).
Elisabetsky (2002) relata que algumas vezes a argumentação da ciência para com a
cultura popular é de que a cultura popular identifica sintomas, mas não caracteriza ou entende
as doenças como os estudiosos caracterizam, e que tais informações populares não servem de
base para ajudar a desenvolver novos medicamentos. Entretanto, o que torna o conhecimento
tradicional de interesse para a ciência é que se trata do relato verbal da observação sistemática
de fenômenos biológicos feito por pessoas, que muitas vezes são iletradas, mas que
seguramente são tão perspicazes como alguns cientistas. A ausência de instrução formal, não
é sinônimo de ausência de conhecimento.
Segundo Prance (1997), a região amazônica é detentora de amplo conhecimento
tradicional constituindo uma ferramenta na conservação dos ecossistemas naturais, que
contribui não para as comunidades locais como também para o planeta, porém o acelerado
processo de aculturação promove a perda desse conhecimento.
2.4. POPULAÇÕES TRADICIONAIS E COMUNIDADES RIBEIRINHAS AMAZÔNICAS
Populações tradicionais são definidas como:
“populações de pequenos produtores que se constituíram no período colonial,
freqüentemente nos intertícios da monocultura e dos ciclos econômicos. Com
isolamento relativo, essas populações desenvolveram modos de vida particulares
(DIEGUES, 1996: 14).
Ainda Diegues (1996) entende que as populações tradicionais possuem um modo de
vida específico, uma relação única e profunda com a natureza e seus ciclos, uma estrutura de
produção baseada no trabalho da própria população, com utilização de técnicas
prioritariamente baseadas na disponibilidade dos recursos naturais existentes dentro de
fronteiras geralmente bem definidas, adequando-se ao que a natureza tem a oferecer, e
8
também manejando quando necessário. Em tais populações, ocorre uma constante
transmissão de conhecimentos através das gerações como forma de perpetuar a identidade do
grupo.
O conceito de população tradicional é um conceito bastante discutido entre os
pesquisadores, não existindo definição universalmente aceita. Entretanto vem sendo
amplamente empregado como autodenominação de populações rurais quando na exigência de
seus direitos a território e políticas públicas que atendam as suas especificidades e respeitem
seus conhecimentos, sua cultura e suas práticas (COLCHESTER, 2000; CASTRO, 2000).
O complexo cultural amazônico compreende um conjunto tradicional de valores,
crenças, atitudes e modos de vida que delinearam a sua organização social em um sistema de
conhecimentos, práticas e usos dos recursos naturais extraídos da floresta, rios, lagos, várzeas
e terras firmes, responsáveis pelas formas de economia de subsistência e de mercado. Dentro
desse contexto desenvolveram-se o homem e a sociedade amazônica, ao longo de um secular
processo histórico e institucional.
O conhecer, o saber, o viver e o fazer na Amazônia equatorial e tropical inicialmente
foi um processo predominantemente indígena. A esses valores foram sendo incorporados por
via de adaptação, assimilação, competição e difusão, novas instituições, técnicas e motivações
transplantadas pelos seus colonizadores e povoadores, entre eles: portugueses, espanhóis,
outros europeus, com algumas contribuições africanas e asiáticas, além de novos valores aqui
aportados por imigrantes nordestinos e de outras regiões brasileiras.
O termo “ribeirinho” refere-se aquele que anda pelos rios. O rio constitui a base de
sobrevivência dos ribeirinhos, fonte de alimento e via de transporte, graças sobretudo às terras
mais férteis de suas margens. Os primeiros estudos sobre caboclos / ribeirinhos aparecem nos
anos cinqüenta, com os trabalhos pioneiros de Galvão (1951), Wagley (1952) e Sternberg
(1956).
9
Nos anos setenta, houve aumento no número de trabalhos referentes aos caboclos
ribeirinhos, analisando sobretudo os efeitos dos grandes projetos nas comunidades ribeirinhas
(MORAN, 1974).
As populações tradicionais não-indígenas na Amazônia caracterizam-se, sobretudo,
por suas atividades extrativistas, de origem aquática ou florestal terrestre, onde vivem em sua
maioria, à beira de igarapés, igapós, lagos e rzeas. Quando as chuvas enchem os rios e
riachos, esses inundam lagos e pântanos, marcando o período das cheias que, por sua vez,
regula a vida dos ribeirinhos. Wagley (1952) sugere que a crença em diversos seres
sobrenaturais tem influência sobre as atividades de caça e pesca.
A idéia de comunidade é freqüentemente associada a uma configuração espacial
física: o bairro, o povoado, os moradores de uma bacia ou ribeirinhos. Essa visão de
comunidade, que ignora as diferentes relações sociais existentes não é a ideal quando o
objetivo é a promoção do desenvolvimento (LEROY, 1999). No Brasil o sucesso do termo
comunidade se deve muito a Igreja Católica progressista, onde na Amazônia, o termo chega a
substituir a de aldeia, de povoado e acaba por nomear qualquer coletividade local (LENÁ,
1999).
Um aspecto importante na definição de comunidades tradicionais é a existência de
formas de manejo dos recursos naturais determinados pelo respeito aos ciclos naturais, nunca
explorando os recursos além do limite da capacidade de sua recuperação natural. Essas
formas de exploração se revelam não somente economicamente viáveis, mas principalmente
detentora de conhecimentos herdados pelos comunitários de seus antepassados (DIEGUES,
1996).
Uma comunidade pode ser considerada tradicional quando se caracteriza pela:
Dependência da natureza, dos ciclos naturais dos recursos naturais renováveis a partir
do qual constroem seu modo de vida;
10
Conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos transferido para as gerações
seguintes:
Noção do território onde a comunidade se reproduz econômica e socialmente;
Ocupação deste território por várias gerações;
Importância das atividades de subsistência, mesmo que esta gere algumas
“mercadorias” e contato com o “mercado”;
Reduzida acumulação de capital;
Importância da unidade familiar, doméstica ou comunal;
Importância das simbologias;
Utilização de tecnologias simples e de baixo impacto sobre o meio ambiente;
Auto-identificação, ou identificação feita por outros, com uma cultura distinta das
outras (DIEGUES, 1994).
De acordo com Diegues (1996), essas comunidades tendem a apresentar baixa
densidade populacional, principalmente nas regiões tropicais, e fraco poder político. Como,
em geral, essas populações desenvolveram estilos de vida baseados em relações de
proximidade com a natureza apresentam baixos padrões de consumo e não têm outras
fontes de renda é de fundamental importância para a sua sobrevivência o uso sustentável
dos recursos naturais, de forma a não esgota-los. A manutenção daquele estilo de vida
favorece a preservação dos recursos naturais e da biodiversidade neles contida.
A transmissão de conhecimento nas comunidades tradicionais é um procedimento
feito oralmente e por este método é perpetuado nas novas gerações, sendo então chamado de
transmissão vertical. O conhecimento é passado no dia a dia durante diversas atividades que
são efetuadas pelos grupos. Ao longo do tempo esse conhecimento, vai se estratificando ou,
seja, dependendo da função da pessoa no grupo, dominando um determinado tipo de
conhecimento sobre o uso das plantas. Existem também aqueles que possuem um saber
11
especializado como os pajés, rezadores, benzedores e as parteiras, que de alguma forma
possuem um papel diferente daquele do dia a dia, no grupo (AMOROZO, 1996).
A construção do saber tradicional possui inúmeras peculiaridades. É um saber
alicerçado na vivência dos indivíduos, nas suas relações pessoais, sociais e também com o
ambiente. Pode-se afirmar que o conhecimento tradicional é fruto do trabalho e das
descobertas de um grupo, o que justifica sua riqueza e diversidade. No caso de comunidades
rurais,
O mundo camponês cria e recria estilos, formas e sistemas próprios de saber, de
viver e de fazer, de reproduzir frações da vida, da sua ordem social e da reprodução
da vida camponesa. Para cada tipo de atividade do ciclo rural, um repertório
próprio de conhecimentos, cuja rusticidade apenas esconde segredos e saberes de
uma grande complexidade (BRANDÃO, 1986: 15).
Pretrere Jr. (1992) e Furtado (1993), falando sobre as comunidades ribeirinhas da
Amazônia, afirmam que estas são compostas em sua grande maioria por moradores que
dividem o tempo entre a agricultura e a pesca artesanal, sendo essa a sua maior fonte de
proteína animal. Essa pesca é de subsistência, mas eventualmente, a produção excedente é
comercializada, principalmente no período de seca. Esse pescador é usualmente classificado
como pescador-lavrador ou polivalente.
2.5. OS QUINTAIS E AS PLANTAS MEDICINAIS
Quintal é o termo usual para as áreas de terrenos contíguos ao domícílio familiar, onde
se realizam diversas atividades, que abrangem desde o cultivo de uma variada gama de
espécies de plantas, a criação de animais de pequeno porte, a execução de tarefas artesanais
ou complementares aos afazeres domésticos, até atividades de socialização e lazer.
12
Os quintais exercem uma grande importância na introdução e aclimatação de espécies
exóticas a novos ambientes, exemplificando o caso da batata e outras solanáceas: levadas para
a Europa por volta de 1580, foram primeiro cultivadas em lotes próximos às residências, e
cerca de cem anos após sua chegada, se havia transformado em cultura básica para as
populações pobres de diversas partes do Velho Continente (NIÑEZ, 1984).
Os comunitários cultivam as plantas medicinais por adaptação ao local onde vivem, ou
seja, por necessidade e dificuldade de acesso a medicamentos farmacêuticos. Estas plantas se
encontram em diversas localidades, nos quintais, na mata próxima a residência e até mesmo
dentro da residência.
Na maior parte do mundo, como em Bangladesh, fazendo parte da cultura do país, os
quintais são cultivados pelas mulheres, e estão localizados ao redor das casas nas pequenas
propriedades rurais, e funcionam como despensas naturais para o preparo das refeições diárias
(OAKLEY, 2004). Servem também como fonte de medicamentos para cura dos mais diversos
males que afligem a família, através das plantas medicinais, e fica sobre responsabilidade das
mulheres toda a tarefa ligada ao desenvolvimento e manutenção dos quintais, incluindo a
preparação da terra, sua limpeza, a colheita e o armazenamento de sementes.
Martins (1998) aconselha a olharmos com mais atenção para os quintais, pois é nele
que encontraremos a maioria das plantas medicinais cultivadas por ser um local mais próximo
da residência, de fácil acesso e reservado para tal. E uma pequena diferença entre os
quintais do meio rural e o do meio urbano, apenas a quantidade de plantas medicinais é que
varia de um lugar para o outro por causa de variações ligadas às pessoas e suas necessidade
pessoais como seu espaço físico reservado para isso.
Muitos especialistas consideram os quintais rurais importantes reservatórios de
germoplasma, constituindo um meio de escape ou refúgio para a manutenção de muitas
variedades de plantas raras, exóticas, ornamentais e medicinais, pouco utilizadas na
13
agricultura comercial. A estrutura, arranjos e finalidades dos quintais, bem como sua
formação estão entrelaçados com a história da família que ocupa a propriedade. Assim podem
ser destacados três aspectos importantes dos quintais:
1. Como espaços para introdução de espécies e conservação da diversidade genética de
plantas nativas e introduzidas;
2. Como uma forma de melhorar a qualidade da dieta e o orçamento doméstico de
famílias de baixa renda;
3. Como espaços de socialização e convivência e locais de contato imediato com
plantas, com potencial para a educação ambiental.
14
“...quando cheguei aqui era mato,
não tinha nem a estrada, a picada,
da Mil até Itapiranga” ( Dona Neide,
referindo-se a chegada na comunidade)
15
Itacoatiara
-AM
Sílves-AM
N
a
S
a
de Aparecida
AAAparecida
3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
3.1. ÁREA DE ESTUDO
Os estudos foram realizados na Comunidade Nossa Senhora de Aparecida, município
de Silves, localizada a 85 Km da sede do município, e cerca de 260 quilômetros de Manaus
(FIGURA 1).
0 750 1500 m
- 5 8,550
- 2,80 0
- 2,85 0
- 58,600- 58,650
- 2,80 0
Estrada da Várzea
Rio Ane
Comunidade Nossa Senhora de Aparecida
FIGURA 1 - Localização da Comunidade Nossa Senhora de Aparecida.
Silves-AM
O
L
N
S
16
3.2. ESCOLHA DA ÁREA
A escolha da área de estudo foi feita levando em consideração a geografia,
biogeografia, valor ecológico e histórico-cultural, bem como a facilidade de acesso. Apesar da
proximidade da sede do município e da capital do estado, as comunidades mantêm muitas
práticas tradicionais e forma de vida em equilíbrio com a natureza. Também a escolha da área
se deu pelo fato da comunidade ter residências tanto ao longo da rodovia, como em um
pequeno trecho do Rio Anebá.
3.3. ESCOLHA DA POPULAÇÃO
Foram estabelecidos alguns critérios para a escolha dos informantes, como:
Maiores de 18 anos (AMOROZO 1996) pois a idade influi no acúmulo de
conhecimento);
Residentes na comunidade;
Disponibilidade para participar da pesquisa;
Estar na residência no momento da visita.
Tendo a comunidade de Nossa Senhora de Aparecida 41 residências, optou-se por
realizar a pesquisa em todas elas. Destas, 31 foram visitadas, sendo entrevistadas 31 pessoas,
selecionadas como informante alvo dentro de cada família. Algumas residências se
encontravam fechadas; outras seus moradores estavam ausentes por motivo de trabalho.
Houve três que não se adequaram aos critérios estabelecidos.
3.4. COLETA DOS DADOS
Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico sobre a região e visitas aos
órgãos públicos e outras entidades do município de Silves em busca de dados sobre a
17
comunidade.
A coleta das informações desenvolveu-se com base nos pressupostos e recomendações
de Martin (1995), Alexíades (1996), Amorozo (1996), Di Stasi (1996), Ming (1996), De-La-
Cruz-Mota (1997). Os dados coletados obedeceram às seguintes etapas:
Contato com os habitantes;
Realização da entrevista com uso de gravador;
Formulário de entrevista, conforme (QUADRO 1), na etapa pré-teste;
Observação participativa (efetuada no cotidiano da comunidade);
Itinerário percorrido junto aos participantes.
As entrevistas foram do tipo semi-estruturadas com perguntas abertas e fechadas,
quando relativas aos dados pessoais do informante (QUADRO 1).
Adotou-se o método utilizado por Añez (1999) onde o número amostral dos
informantes baseou-se somente nos informantes alvos que foram as pessoas indicadas pelos
moradores, a dona de casa, o chefe de família, a pessoa com maior grau de conhecimento das
plantas medicinais dentro da comunidade. Conforme ilustrado na FIGURA 2 essa simbologia
se fez necessário para identificar o informante entre seus amigos e familiares, pois em alguns
casos quando foi procurado o informante, vizinhos e parentes se aproximavam, e todos
participavam do diálogo.
FIGURA 2 - Simbologia representando a entrevista com o informante alvo, modificado de
Añez, 1999.
Informante
Crianças
Vizinhos
Pesquisador
?
18
QUADRO 1 Formulário-roteiro da entrevista obtenção dos dados dos informantes
Data: ....................... Informante n
o
...................................... Horas ..................................
Nome: ...........................................................Idade:.................. Sexo: ..............................
Local da entrevista: ...........................................................................................................
Residência: ........................................................................................................................
Onde você nasceu? ...........................................................................................................
De onde eram seus pais? ..................................................................................................
E seus avós? .....................................................................................................................
Tem filhos? ................................................... Quantos ?..................................................
Existe algum parente na Comunidade? ................... Quais?............................................
Quanto tempo mora na Comunidade?...............................................................................
Ocupação na Comunidade:................................................................................................
Religião:............................................................................................................................
Até onde estudou?............................................................................................................
Qual a renda mensal?........................................................................................................
Conhece alguma planta que serve para fazer remédio?....................................................
Onde podem ser encontradas?..........................................................................................
Com quem aprendeu a usar as plantas medicinais?..........................................................
Ensina alguém sobre as plantas medicinais? .................Quem?.......................................
Há quanto tempo utiliza as plantas medicinais como medicamentos?.............................
Conhece alguém que se curou usando remédio feito com plantas?.................................
Quais as formas de preparar um remédio caseiro?...........................................................
Dessa maneira, com perguntas abertas, sempre com um enfoque principal planta-
remédio-cura, foi introduzido o assunto e o entrevistado teve livre diálogo para responder.
As informações foram oralmente relatadas, registradas e gravadas pelo pesquisador, sendo a
conversa sempre guiada pelo enfoque principal.
A partir do questionamento do conhecimento e forma de uso das plantas medicinais,
novas perguntas foram elaboradas a fim de conhecer a parte utilizada, sua aplicação
terapêutica e os dados ecológicos sobre a espécie (QUADRO 2).
19
QUADRO 2 Dados específicos da planta
Data:....................Informante...................................Entrevista n
o
......................................
N
o
da planta:...................................................................
Nome da planta:.................................................................................................................
Possui outro (s) nome (s)?..................................................................................................
Para que serve?...................................................................................................................
Qual a parte usada?............................................................................................................
Qual a forma de uso?.........................................................................................................
Qual a quantidade usada?...........................................Quantas vezes ao dia?....................
Como prepara?..................................................................................................................
Pode ser usada com outra planta?..................................... Qual?......................................
Esta planta pode fazer algum mal?....................................................................................
É planta cultivada ou nasce sozinha?.................................................................................
Onde a planta é encontrada?..............................................................................................
Qual a época de coleta?.....................................................................................................
Possui leite? (látex)...........................................................................................................
Possui fruto?.....................................................................................................................
Época de floração?............................................................................................................
As entrevistas foram realizadas através de diálogos, em que os entrevistadores
direcionaram a conversa para responder os itens de dois formulários estruturados, um com
dados etno-sociais e outro com dados etnobotânicos (FIGURA 3). Esta forma de entrevista foi
adotada para desenvolver uma relação de amizade com os entrevistados, além de dar espaço
para as pessoas falarem a respeito de suas vidas e de suas idéias, tornando-se também menos
cansativo que os tradicionais questionários fechados. Segundo Posey (1987a) quanto mais
aberta for a pergunta no questionário, maior liberdade do informante em responder segundo
sua própria lógica e saber.
20
FIGURA 3 - Pesquisador entrevistando uma “comunitária” da
Comunidade N
a
. S
a
. de Aparecida.
3.5. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA DE CAMPO
Em esforço de conhecimento da área de estudo, foram realizadas visitas, tanto na
época da cheia do rio Anebá, quanto na época seca, constatando as diferentes situações e
mudanças no modo de vida dos comunitários. Na ocasião foram feitas anotações e registros
fotográficos.
O trabalho de campo compreendeu o período de Junho de 2005 a Novembro de 2005,
seguindo a seguinte seqüência:
Contato com a presidente da comunidade, explicando o objetivo da pesquisa e as
intenções do pesquisador, como forma de gerar algum benefício pra comunidade ao
final da pesquisa;
Apresentação do pesquisador aos moradores, destacando a importância da pesquisa
para a comunidade e agendamento das entrevistas;
Após o término das entrevistas do dia e a coleta das plantas cultivadas nos quintais,
eram agendadas as entrevistas seguintes;
21
Participação do pesquisador em algumas atividades cotidianas, como a fabricação de
farinha e beijú, participação nos mutirões de limpeza da sede da comunidade, dos
banquetes realizados pelos comunitários, das festividades comunitárias e religiosas,
como também das refeições diárias em família ou em grupo.
Visitas à escola e locais de reuniões e entretenimento dos comunitários, com a
finalidade de se familiarizar com as atividades cotidianas dos comunitários.
3.6. COLETA E IDENTIFICAÇÃO DO MATERIAL BOTÂNICO
A coleta do material botânico foi realizada em conjunto com os informantes por
ocasião das entrevistas e através do itinerário percorrido junto aos informantes. Muitas coletas
foram feitas nos quintais ou área próximas as residências.
A coleta consistiu de partes da planta ou plantas inteiras, quando de pequeno porte. O
material coletado, preferencialmente fértil, foi prensado no local e etiquetado com as
informações sobre a planta e o local de coleta (QUADRO 3).
QUADRO 3 Ficha de Campo
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
N
o
...................................... Data.............................
Coletor...................................................................
Nome vulgar...........................................................
Nome científico......................................................
Local.......................................................................
Hábito.....................................................................
Tipo de solo............................................................
Presença de látex....................................................
Cor: Flor................... Fruto....................................
Época de floração e frutificação.............................
Outras informações.................................................
O material etiquetado e prensado foi armazenado em um local seco e arejado para sua
posterior secagem em estufa (FIGURA 4). As plantas que se encontrava em locais mais
distantes, como a capoeira ou mata, foram coletados em outras datas.
22
FIGURA 4 - Preparação do material botânico na Comunidade
N
a
. S
a
. de Aparecida, para posterior identificação.
As espécies vegetais coletadas foram identificadas com ajuda de literatura específica,
identificador botânico e através de comparações com as coleções do Herbário da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
(INPA). Todo material identificado foi depositado no acervo do Herbário da UFAM e do
INPA.
3.7. ANÁLISE DOS DADOS
Os dados obtidos foram analisados através do cálculo de freqüência absoluta e
relativa, utilizando o programa STATISTICA (versão 5.0) de 1998. Foram apresentados
tabelas e gráficos produzidos no programa EXCEL a fim de subsidiar estudos posteriores,
mostrando que uma ou outra forma podem ser utilizadas em estudos etnobotânicos.
3.8. CÁLCULO DO NÍVEL DE FIDELIDADE
Com base no trabalho de Amorozo & Gely (1998) foi calculado o nível de fidelidade
(NF) das espécies citadas. O nível de fidelidade serve para quantificar a importância da
23
espécie para uma finalidade principal. Para cada espécie foi calculada a porcentagem de
concordância quanto aos usos principais (CUP). A CUP é dada por NF x FC, onde NF é igual
à razão entre o número de informantes que citaram o mesmo uso principal (I
p
) e o número de
informantes que citaram qualquer uso para a espécie (I
u
):
100%x
I
I
NF
u
p
Poderá ocorrer o mesmo valor do NF para espécies mencionadas por número diferente
de informantes. Será aplicado um fator de correção (FC), que é a razão entre o número de
informantes citando a espécie (I
u
) e o número de informantes citando a espécie mais citada. O
fator de correção tem a função de neutralizar a maior ou menor popularidade da espécie.
Portanto:
p
u
I
I
FC
3.9. CLASSIFICAÇÃO DAS INDICAÇÕES
As afecções citadas pelos informantes foram agrupadas dentro das categorias de
doenças preconizadas pelo CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (1999).
24
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. ASPECTOS HISTÓRICOS
A história do município de Silves está intimamente associada a do município de
Itapiranga, por já terem formado uma mesma unidade administrativa, com as atuais
respectivas sedes se alternando no decurso do tempo como sede do município que então
englobava a ambos. O povoamento da região tem seu marco inicial da fundação da Missão do
Saracá, por Frei Raimundo, da Ordem das Mercês, 1660. Em 1663, sangrentas lutas são
travadas entre os colonizadores portugueses e os indígenas perto da foz do rio Urubu, até a
chegada, no final desse ano, de Pedro da Costa Favela, que ai desembarca parte de sua tropa
para a manutenção da ordem. Em 1759 a já aldeia de Saracá é elevada a vila, com a
denominação de Silves e como sede do município de igual nome. O município é extinto em
1833 e restabelecido em 1852. Em 1922, a sede do município é transferida, para Itapiranga,
sendo este povoado elevado a vila. Em 27.02.1925, pelo decreto Estadual n
o
23, a sede do
município retorna a Silves. Em 1930, o município é anexado ao de Itacoatiara, mas é
restabelecido em 1935. Em 1938, o município passa a denominar-se Itapiranga, com sede na
vila do mesmo nome, então elevada a cidade. Nesse mesmo ano o município tem sua estrutura
administrativa definida com dois distritos: Itapiranga e Silves. Em 29.12.1956, pela Lei
Estadual n
o
117, separam-se em municípios autônomos, Itapiranga e Silves. Em 10.12.1981,
pela Emenda Constitucional n
o
12, Silves perde partes de seu território, em favor dos novos
Municípios de Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo.
25
4.2. ASPECTOS FÍSICOS, GEOGRÁFICOS E POPULACIONAIS
Localização: situado na mesorregião n
o
03, microrregião n
o
009 e código municipal 0400,
classificação do IBGE (1998). Dista da Capital do Estado 200 Km em linha reta e 250 Km por
via fluvial.
Área territorial: 3.671 Km
2
.
Altitude: 60 m acima do nível do mar.
Temperatura: max. 36
o
C e min. 23
o
C.
Coordenadas cartesianas: situa-se a latitude sul 3
o
76” e a longitude 58
o
23’ 19” a oeste de
Greenwich.
População: pelo Censo do IBGE (1998), o total de habitantes é 7.785 (4.179 homens e 3.606
mulheres), sendo 3.363 na zona urbana e 4.422 na zona rural.
Aspectos econômicos
Agricultura: com peso relativo da ordem de 20%, para a formação econômica do setor, tem
na mandioca sua principal cultura vindo a seguir abacaxi, arroz, cana-de-açucar, feijão, fumo,
juta e milho. Entre as culturas permanentes destacam-se banana, cacau, laranja, limão e
guaraná, além do cupuaçu, graviola e tangerina.
Pecuária: em termos locais a pecuária encontra-se bastante desenvolvida, concorrendo com
peso da ordem de 77% para formação econômica do setor primário, destacando-se a criação
de bovinos, vindo a seguir a criação de suínos. A produção de carne e leite destina-se ao
consumo local e à exportação.
Pesca: desenvolvida em bases artesanais, com sua produção voltada para o consumo familiar.
26
4.3. O RIO ANEBÁ
O Rio Anebá se localiza a margem direita do Rio Urubu (FIGURA 5). Segundo alguns
ribeirinhos desde sua nascente até a foz, o encontro com o Urubu, percorrem cerca de 150
Km. Apesar de ter apenas 4 residências da comunidade N
a
S
a
de Aparecida às margens do Rio
Anebá, a vida e o cotidiano de toda a comunidade são influenciados pela subida e descida de
suas águas. Nos meses de Janeiro a Junho, a época mais chuvosa, os comunitários se dedicam
a agricultura e a caça, e nos meses mais secos de julho a Dezembro quando as águas do rio
diminuem ao ponto de em alguns lugares formarem canais estreitos e rasos, a pesca se torna a
principal atividade para muitos comunitários, mesmo aqueles que moram a alguns
quilômetros do Rio (FIGURA 6A e 6B).
FIGURA 5 - Rio Anebá na época da cheia, Comunidade N
a
. S
a
.
de Aparecida.
27
FIGURA 6 Comunidade N
a
. S
a
. de Aparecida. A -Vista de uma propriedade rural na época da
cheia. B - Vista da mesma propriedade na época da seca.
4.4. A COMUNIDADE DE NOSSA SENHORA DE APARECIDA
A comunidade de Nossa Senhora de Aparecida se situa a 85 Km da sede do município
de Silves, tendo a rodovia AM 363 (Estrada da Várzea) como via de acesso, não pavimentada
(FIGURA 7A). E dista cerca de 260 km da capital, Manaus, e tem como principal via de
acesso à rodovia AM-010, que liga Manaus à Itacoatiara.
Atualmente a comunidade de N
a
S
a
de Aparecida têm 41 residências, onde sua maioria
encontra-se ao logo da rodovia AM 363 (FIGURA 7B), e uma minoria de residências as
margens do rio Anebá (FIGURA 7C).
A principal atividade de subsistência é o plantio de mandioca para fabricação de
farinha (FIGURA 7D). Poucos cultivam outras espécies como, cupuaçu, banana e tucumã.
Alguns possuem hortas e criam galinhas e patos. A base alimentar é a farinha, a caça e
também a pesca nos meses de Julho a Janeiro, quando as águas do Rio Anebá estão mais
baixas, formando pequenos poços ao longo do seu percurso.
A sede da comunidade possui um posto médico com dois consultórios, sendo um
médico e outro odontológico, uma mini-farmácia, com capacidade para realizar pequenos
B
A
28
tratamentos médicos e odontológicos (FIGURA 7E). O posto médico ainda conta com uma
assistente social e um zelador. Atualmente o atendimento médico e odontológico na
comunidade é feito todas as quartas feiras pela manhã, onde um médico, um dentista, uma
enfermeira e duas técnicas de enfermagem, todos contratados pela prefeitura de Silves,
prestam atendimento aos comunitários.
A comunidade conta ainda com um galpão que funciona como centro comunitário,
onde festas e reuniões são realizadas. Uma pequena igreja de alvenaria e madeira. Uma nova
igreja esta em construção no sistema de mutirão.
Na comunidade funciona uma escola com cerca de 140 alunos que vai da série do
primário até a série do ensino fundamental, atendendo não a comunidade de Nossa
Senhora de Aparecida como também as comunidades vizinhas (FIGURA 7F). Está prevista a
ampliação da escola pela prefeitura de Silves. Apenas uma professora reside na comunidade, e
os demais professores moram em Silves, de onde vêem todos os dias durante a semana. As
aulas são ministradas apenas no período da manhã, dentro ou fora das salas de aula. A
prefeitura de Silves disponibiliza um ônibus que faz a rota entre Silves e a comunidade Nossa
Senhora de Aparecida, para levar e trazer alunos e professores todos os dias da semana.
29
A
B
C
E
F
D
FIGURA 7 - Comunidade N
a
. S
a
. de Aparecida. A Rodovia AM -363; B Residência a margem da
Rodovia C Residência a margem do Rio Anebá; D Roça de mandioca; E Posto de
saúde; F Escola da comunidade.
30
4.5. VIDA COMUNITÁRIA
Na comunidade de N
a
S
a
de Aparecida, as relações de parentesco são bastante
evidentes, o que é percebido principalmente nos sobrenomes, no tratamento entre si e na troca
dos saberes. É prática comum na comunidade as mulheres mais jovens quando gestantes,
cultivarem seu próprio canteiro de plantas medicinais, com o auxílio das mais experientes.
Selecionam as espécies mais utilizadas para crianças recém nascidas como: amor crescido,
hortelãzinho, corama entre outras (FIGURA 8A).
Outro fato notável da união dos comunitários evidencia-se quando alguém captura
uma caça grande, como uma anta, e divide com os vizinhos ou convida-os para um banquete.
Também o empréstimo” de porções de farinha, ou seja, quando a farinha do vizinho acaba,
este faz um tipo de empréstimo até que sua produção esteja pronta para dar de volta. Outro
aspecto de união se evidencia quando alguém da comunidade fica doente e todos se
compadecem procurando ajudar, nem que seja apenas prestando solidariedade, ou
acompanhando alguém mais idoso, com maior experiência no assunto.
O mutirão realizado mensalmente na sede da comunidade, com a finalidade de limpar
a sede e seus arredores também é prova de que reina na comunidade um espírito de união
(FIGURAS 8B e 8C).
31
FIGURA 8 Comunidade N
a
. S
a
. de Aparecida. A - Hortelanzinho (Mentha
piperita L.) usado contra cólicas de criança recém-nascida. B -
Alguns participantes do multirão de limpeza na sede da
comunidade. C Trabalho familiar no roçado.
4.6. PRODUÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA COMUNIDADE
Na comunidade de Nossa Senhora de Aparecida, tradicionalmente como muitas
comunidades ribeirinhas, as mulheres cuidam das atividades domésticas e os homens provêm
o sustento da casa, através da roça e do pescado. Em geral a comunidade apresenta residências
com terrenos pequenos com muitas fruteiras e outras culturas que fazem parte da dieta
alimentar (FIGURA 9A). Algumas hortaliças são cultivadas em girais suspensos e usadas
principalmente como tempero para comida (FIGURA 9B).
A pesca é mais freqüente nos meses de estiagem, quando a fartura de peixe no rio
Anebá é maior, principalmente do tucunaré (Cichla spp.), espécie que ocorre com maior
B
A
C
32
freqüência em muitos rios da Amazônia. A pesca para alimentação é realizada tanto pelos
homens quanto pelas mulheres.
Nos meses mais chuvosos, a escassez de peixes faz com que os comunitários se
dediquem mais à roça. Na maior parte das residências visitadas observou-se que o trabalho é
familiar, onde todos ajudam na roça, dos mais jovens aos mais idosos. O principal cultivo é o
da “maniva” (ou mandioca) para produção de farinha e beijú, sendo a farinha o principal
produto na dieta alimentar na região (FIGURAS 9C e 9D).
Para complementar a dieta alimentar da família, muitos comunitários, principalmente
nos meses mais chuvosos saem à procura de carne de caça. Paca, Caititu, Queixada e Anta são
os animais mais abatidos.
FIGURA 9 Comunidade N
a
. S
a
. de Aparecida. A - Vista de uma residência com
muitas espécies frutíferas. B Canteiro suspenso (Giral) feito de
pneu automotivo. C - Comunitário fabricando farinha para o
consumo da família. D - Mãe e filha no preparo do beiju.
B
C
D
A
33
4.7. RELIGIOSIDADE NA COMUNIDADE
A maioria dos moradores de N
a
S
a
de Aparecida professam o catolicismo, de maneira
que tem por datas festivas as que comemoram o “Santo”, como a comemoração de N
a
S
a
de
Aparecida, que tem seu apogeu no dia 15 de Outubro. Essa é a data que os comunitários
escolheram para comemorarem a sua maior festa. A comunidade possui outras comemorações
de santos, eventos folclóricos e desportivos.
Na festa de N
a
S
a
de Aparecida realizam uma procissão todos os anos no dia 11 de
Outubro, quando a santa é retirada da casa de um dos moradores (Seu Nestor) e levado até a
igreja na sede da comunidade, sempre acompanhada dos fiéis fazendo orações e entoando
cânticos. É nesta época festiva que a maior parte dos moradores se junta para fazer os arranjos
da festa, tendo cada morador um papel importante na perpetuação desta tradição. A
comunidade possui uma pequena igreja feita de alvenaria e madeira (FIGURA 10).
FIGURA 10 - Igreja da Comunidade de N
a
. S
a
. de
Aparecida.
34
4.8. TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO
O conhecimento das populações tradicionais é transmitido de geração em geração. É
um saber passado pelas relações de parentesco e vivência. As crianças aprendem com os
adultos, quando os acompanham nas atividades diárias. Alguns conhecimentos são passados
para os mais jovens, por considerarem que maior necessidade, como, quais os recursos
extraídos da natureza que podem ser utilizadas contra picada de animais peçonhentos, etc.
Outros conhecimentos como a cura de enfermidades com o uso das plantas são repassados a
homens, mulheres e crianças com maior aptidão para o assunto.
As conversas foram registradas em pequenas cadernetas e microgravadores com a
prévia autorização dos entrevistados, seguindo a metodologia adotada por Lima (1996).
Poucos entrevistados tiveram a entrevista gravada.
A técnica de entrevista é considerada por Viertler (2002) mais flexível, onde o tipo de
linguagem empregada pode ser mais ou menos aberta às peculiaridades culturais do
informante. A técnica de pesquisa qualitativa deve ser complementada com abordagens de
cunho quantitativo e vice-versa.
4.9. OS INFORMANTES
4.9.1. IDADE E SEXO DOS INFORMANTES
A média de idade dos informantes corresponde a 45 anos, tendo uma variação entre 18
a 74 anos. Do total de 50% dos informantes estão abaixo dos 45 anos de idade (18 44) e a
outra metade acima (46 74). Conforme a TABELA 1, a faixa etária dos informantes que
apresentou maior representatividade abrange duas categorias, 28 a 37, e 38 a 47, ambas com 7
informantes cada (23%). A faixa etária com menor freqüência corresponde também a duas
categorias, 58 a 67, e 68 a 74, tendo 3 informantes cada (10%).
35
Do total dos 31 entrevistados, 58% eram do sexo feminino (18) e os demais 42% do
sexo masculino (13). Na TABELA 1 observa-se que não houve grande diferença entre o sexo
dos informantes. O fato é que as mulheres estavam mais presentes no momento das visitas, e
alguns homens atribuíam as “mulheres a sabedoria sobre plantas medicinais”. Esta mesma
afirmação foi encontrada por Jorge (2001) em seu trabalho realizado nas comunidades de
Poço e Praia do Poço, Santo Antônio de Leverger Mato Grosso, fazendo menção ao sexo
feminino com maior representatividade nas entrevistas.
4.9.2. LOCAL DE ORIGEM DOS INFORMANTES
A TABELA 2 evidencia que 29,03% dos entrevistados são naturais de um município
próximo, Itacoatiara, enquanto que 58,09% são oriundos de outras partes do Estado do
Amazonas, 3 entrevistados (9,69%) são de outros estados, e apenas 1 entrevistado (3,23%)
não sabia onde nascera.
Conforme a TABELA 2 e FIGURA 11, fazendo uma breve comparação da origem dos
informantes com a origem de seus avós, houve uma migração de seus antepassados para a
região de estudo, trazendo consigo sua cultura e costumes tradicionais, isto talvez explique a
grande quantidade de espécies exóticas utilizadas pela comunidade para cura de doenças e
TABELA 1 Idade e sexo dos informantes da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Faixa etária
Mulheres
Homens
Freq. Abs.
Freq. Rel.
18 - 27
4
1
5
16,13%
28 - 37
4
3
7
22,58%
38 - 47
4
3
7
22,58%
48 - 57
4
2
6
19,35%
58 - 67
1
2
3
9,68%
68 - 74
1
2
3
9,68%
Total
18
13
31
100,00%
36
alimentação. Dos entrevistados 87,09% (27) são oriundos da região amazônica, e apenas
9,67% de outras regiões. Enquanto que apenas 51,61% (16) de seus avós eram da região
amazônica, e 32,26% (10) de outras regiões, e com 16,13% (5) de origem não conhecida
pelos entrevistados.
TABELA 2 Freqüência de origem dos informantes, dos pais e dos avós da Comunidade N
a
As de Aparecida.
Naturalidade/
Informantes
Freq.
Perc.(%)
Naturalidade/
Pais
Freq.
Perc.(%)
Naturalidade/
Avós
Freq.
Perc.(%
)
Itacoatiara AM
9
29,03
Borba AM
8
25,81
Borba AM
7
22,58
Borba AM
8
25,81
Itacoatiara AM
7
22,58
Itacoatiara - AM
4
12,90
Nova Olinda AM
2
6,45
Maranhão
2
6,45
Ceará CE
2
6,45
Urucará AM
2
6,45
Nova Olinda AM
2
6,45
Maranhão
2
6,45
Atumã AM
1
3,23
Urucara AM
2
6,45
Pará PA
2
6,45
Campo Maior PI
1
3,23
Bahia BA
1
3,23
Urucara AM
2
6,45
Amazonas
1
3,23
Fortaleza CE
1
3,23
Bahia BA
1
3,23
Fortaleza CE
1
3,23
Itapiranga AM
1
3,23
Crato CE
1
3,23
Itapiranga AM
1
3,23
Manicoré AM
1
3,23
Fortaleza CE
1
3,23
Manaus AM
1
3,23
Parintins AM
1
3,23
Manicoré AM
1
3,23
Manicoré AM
1
3,23
Silves AM
1
3,23
Maués AM
1
3,23
Silves AM
1
3,23
Urucurituba AM
1
3,23
Parintins AM
1
3,23
Porto Seguro BA
1
3,23
Viçosa CE
1
3,23
Viçosa CE
1
3,23
Não sabe
1
3,23
Não sabe
2
6,45
Não sabe
5
16,13
Total Global
31
100%
31
100%
31
100%
FIGURA 11 Origem dos informantes da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida: (A)
informantes, (B) Pais e (C) avós.
27
3
1
0
5
10
15
20
25
30
Amazonas Outros Não sabe
A
24
5
2
0
5
10
15
20
25
Amazonas Outros Não sabe
B
16
10
5
0
5
10
15
20
Amazonas Outros Não sabe
C
37
4.9.3. TEMPO DE RESIDÊNCIA DOS INFORMANTES NA COMUNIDADE
A TABELA 3 mostra que o tempo de residência dos informantes na comunidade de N
a
S
a
de Aparecida variou de 3 meses a 26 anos, sendo que a comunidade tem apenas 13 anos
que foi criada. E 70,97% dos informantes vivem no local entre 7 e 26 anos.
Trabalhos similares realizados no Estado do Mato Grosso como os de Añez (1999),
Jorge (2001), Santana (2002) e Leitzke (2003) verificaram que quanto mais tempo de moradia
tem o informante, mais conhecimento da flora local possui, e isto se torna de fundamental
importância para a coleta de dados etnobotânicos, referindo-se ao conhecimento da flora
local e de seu uso potencial. Em N
a
S
a
de Aparecida os informantes que tinha o maior tempo
de moradia no local foram os que mais informações a cerca do ambiente e das plantas
medicinais passaram ao pesquisador. Ming (1996) e Amorozo (1996) relatam que o
conhecimento do local onde vive uma população é determinado pelo tempo de residência
desta população.
TABELA 3 Tempo de residência dos informantes da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Tempo de Residência (anos)
Freq. Absoluta
Freq. Relativa (%)
< 2
2
6,45
2 6
7
22,58
7 11
14
45,16
12 16
4
12,91
17 21
2
6,45
22 26
2
6,45
Total
31
100
38
4.9.4. GRAU DE INSTRUÇÃO E RELIGIÃO DOS MORADORES DA COMUNIDADE
DE N0SSA SENHORA DE APARECIDA
Na TABELA 4, observou-se que 45,16% (14) dos informantes concluiu o primeiro
grau, e os que não concluíram representaram 19,35% (6). Os sem instrução formal somaram
8 informantes, representando 25,81% do total da amostra. O grau de instrução diminui
conforme aumenta a faixa etária dos informantes. Dados semelhantes também foram
encontrados por Jorge (2001) e Leitzke (2003).
TABELA 4 Grau de instrução dos informantes da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Grau de instrução
Freq. Absoluta
Freq. Relativa (%)
Sem instrução formal
8
25,81
Primeiro grau incompleto
6
19,35
Primeiro grau completo
14
45,16
Segundo grau completo
3
9,68
Total
31
100
Dos 31 informantes 28 professam ser católicos, enquanto que apenas 3 informaram ser
adventistas. Jorge (2001) e Leitzke (2003) nos estudos em Mato Grosso verificaram também
que a maioria dos informantes professava o catolicismo.
4.9.5. OCUPAÇÃO, RENDA FAMILIAR E NÚMERO DE FILHOS
A TABELA 5 evidencia que 19 informantes (61,29%) têem como principal ocupação
à agricultura, e 9 (29,04%) dividem as tarefas de caseiros, donas de casa, operador de
motosserra e professora, enquanto que apenas 3 (9,68%) são aposentados. A maioria dos
entrevistados é mulher, totalizando 58, 06%. Mesmo os que estão aposentados realizam
pequenas atividades como: trabalho no roçado, caça e pesca.
39
TABELA 5 - Ocupação dos informantes da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Ocupação
Freq. Absoluta
Freq. Relativa
Agricultores
19
61,29
Aposentados
3
9,68
Caseiros
3
9,68
Donas de casa
4
12,9
Operador de motoserra
1
3,23
Professora
1
3,23
Total Global
31
100
A média do número de filhos dos 31 entrevistados é 5 filhos para cada família nuclear.
Segundo Wolf (1970) a família nuclear é composta exclusivamente pelos cônjuges e por sua
prole. Somando apenas os informantes que tinham filhos (26) essa média sobe para 6 filhos
por família nuclear. E da soma de todos os filhos, metade (50%) era do sexo feminino. Dos
informantes, 22 (70,97%) tinham renda mensal de até um salário mínimo (R$ 300,00 ), e 9
(29,03%) entre R$ 300,00 e R$1000,00.
4.9.6. USO DAS PLANTAS MEDICINAIS PELA COMUNIDADE
A manipulação das plantas medicinais para fins terapêuticos vem sendo transmitida
principalmente de pai para filho, conforme indicado pela FIGURA 12. 64% dos informantes
aprenderam com os pais, e o restante 36% com outras pessoas. Também a maioria dos
informantes repassa para seus filhos o conhecimento sobre as plantas medicinais. Cerca da
metade dos informantes afirmam ter conhecido algum parente, vizinho ou amigo que se curou
com medicamentos provenientes de alguma planta medicinal. Na TABELA 6 estão listados as
espécies vegetais citadas pelos informantes que são usadas como medicinais pela comunidade
N
o
S
a
de Aparecida.
40
Outros (TV,
Rádio, Livros
etc.)
26%
Vizinhos
10%
Pais, Avós
64%
FIGURA 12 Percentual relativo do aprendizado do uso de plantas medicinais pelos
informantes da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
43
TABELA 6 Lista das espécies vegetais, nome vulgar, nome científico, família, hábito e origem, coletados na da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Nome vulgar
N. científico
Família
Hábito
Origem
Abacateiro
Persea americana C. Bauh.
Lauraceae
Árvore
Américas
Abacaxizeiro
Ananas comosus (L.) Merril
Bromeliaceae
Erva
Abiuzeiro
Pouteria sp.
Sapotaceae
Árvore
Peru
Açaizeiro
Euterpe precatoria Mart.
Arecaceae
Palmeira
Amazônia
Alfavaca
Ocimum basilicum L.
Lamiaceae
Arbusto
Ásia e África
Algodão roxo
Gossypium barbadense Lann.
Malvaceae
Arbusto
Ásia
Amapá doce
Brosimum potabile Ducke
Moraceae
Árvore
Amazônia
Amor crescido
Portulaca pilosa L.
Portulacaceae
Erva
Andes
Anador
Justicia sp.
Acanthaceae
Erva
América Tropical
Andiroba
Carapa guianensis Aubl.
Meliaceae
Árvore
América Tropical
Angelim pedra
Dinizia excelsa Ducke
Mimosaceae
Árvore
Amazônia
Anil
Indigofera tinctoria L.
Fabaceae
Arbusto
Índia
Arruda
Ruta graveolens L.
Rutaceae
Erva
Mediterrâneo
Assacú
Hura crepitans L.
Euphorbiaceae
Árvore
Amazônia
Avenca
Veneris capillus L.
Polypodiaceae
Erva
Azeitoneira
Eugenia jambolana Lam.
Myrtaceae
Árvore
Índia
Babosa
Aloe vera (L.) Burm. f.
Liliaceae
Erva
África do Sul
Batatinha roxa
N/I
N/I
Erva
Boldo grande/ folha grossa
Plectranthus barbatus Andrews
Lamiaceae
Erva
Boldo pequeno
Vernonia condensata Baker
Asteraceae
Arbusto
Bota
N/I
N/I
Trepadeira
Amazônia
Breu branco
Protium heptaphllum (Aubl.) Marchand
Burseraceae
Árvore
Amazônia
Buchinha ou cabacinha
Luffa operculata (L.) Cogniaux
Cucurbitaceae
Trepadeira
Amazônia
Caapeba
Pothomorphe peltata (L.) Miq.
Piperaceae
Erva
Amazônia
Caferana
Tachia grandiflora Maguire & Weaver
Gentianaceae
Arbusto
América do Sul
Cajueiro
Anacardium occidentale L.
Anacardiaceae
Árvore
América do Sul
Cajuí
Anacardium giganteum Bent. Ex. Engler
Anacardiaceae
Árvore
Amazônia
Camapu
Physalis angulata L.
Solanaceae
Erva
América do Sul
Capim cheroso/ capim santo
Cymbopogon citratus D. C Stapf
Poaceae
Erva
44
Continuação da TABELA 6
Nome vulgar
N. científico
Família
Hábito
Origem
Captiú
Siparuna guianensis Bubl.
Monimiaceae
Arbusto
Amazônia
Carapanaúba
Aspidosperma excelsum Benth.
Apocynaceae
Árvore
Amazônia
Casca doce
N/I
N/I
Árvore
Amazônia
Casca trava
N/I
N/I
Árvore
Amazônia
Castanheira
Bertholletia excelsa H. B. K.
Lecythidaceae
Árvore
Amazônia
Castanhola
Terminalia catappa Linn.
Combretaceae
Árvore
Índia
Cavalinha
Equisetum sp.
Equisetaceae
Erva
Cebola brava
Amaryllis belladona L.
Amaryllidaceae
Erva
Chichuá
Salacia megistaphylla Standi
Hippocrateaceae
Trepadeira
Chicória
Eryngium foetidum L.
Apiaceae
Erva
Cidreira
Lippia alba (Mill) N. E. Br.
Verbenaceae
Arbusto
Cipó alho
Mansoa alliacea (Lam.) A. H. Gentry
Phytolaccaceae
Trepadeira
Cipó ambé
Philodendron tortum M. L. C. Soares & Mayo
Araceae
Trepadeira
Cipó cravo
Tynnanthus fasciculatus Miers
Bignoniaceae
Trepadeira
Cipó tuíra
Bonamia ferruginea (Choisy) Hallier f.
Convolvulaceae
Trepadeira
Amazônia
Copaíba
Copaifera multijuga Hayne
Fabaceae
Árvore
Amazônia
Coirama
Kalanchoe pinnata (Lamarck) Persoon
Crassulaceae
Erva
Crajirú
Arrabidaea chica (Humb. & Bonpl.) B. Verl
Bignoniaceae
Trepadeira
Amazônia
Cumarú
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
Fabaceae
Árvore
Amazônia
Embaúba branca
Cecropia leucocoma Miq.
Cecropiaceae
Árvore
Amazônia
Erva de passarinho
Strutanthus flexicaulis Mart.
Loranthaceae
Erva
Eucalypto
Eucalyptos sp.
Myrtaceae
Árvore
Austrália
Fava
Vataireopsis speciosa Ducke
Fabaceae
Árvore
Amazônia
Gergelim
Sesamum indicum L.
Pedaliaceae
Erva
Índia
Goiabeira
Psidium guajava L.
Myrtaceae
Árvore
América tropical
Graviola
Annona muricata L.
Anonaceae
Árvore
Antilhas
Guaribinha
Phlebodium decumanum (Willd) J. Smith
Polypodiaceae
Erva
Horiza
Hyptis mutobilis (Rich.) Brig.
Lamiaceae
Erva
45
Continuação da TABELA 6
Nome vulgar
N. científico
Família
Hábito
Origem
Hortelã / folha grossa
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
Lamiaceae
Erva
Ásia
Hortelanzinho
Mentha piperita L.
Lamiaceae
Erva
Europa
Ipê
Tabebuia sp.
Bignoniaceae
Árvore
Amazônia
Jaca
Artocarpus integrifolia L.
Moraceae
Árvore
Ásia
Jamacarú
Cereus giganteus (Engel) Brit et Rose
Cactaceae
Arbusto
Nordeste do Brasil
Bambú
Spilanthes acmella (L.) Murray
Asteraceae
Erva
Amazônia
Japana
Pfaffia glomerata (Sprengel) Pedersen
Amaranthaceae
Erva
Amazônia
Jatobá
Hymenaea coubaril L.
Caesalpiniaceae
Árvore
Amazônia
Jenipapo
Genipa americana L.
Rubiaceae
Árvore
América Tropical
Jucá
Caesalpinia ferrea Mart.
Caesalpiniaceae
Árvore
Amazônia
Laranjeira
Citrus aurantium L.
Rutaceae
Árvore
Sudeste da Ásia
Limeira
Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle
Rutaceae
Árvore
Sudeste da Ásia
Limoeiro
Citrus limon (L.) Burn. f.
Rutaceae
Árvore
Sudeste da Ásia
Macaxeira
Manihot esculenta Crantz
Euphorbiaceae
Arbusto
América Tropical
Malvarisco
Lamium album Lann.
Lamiaceae
Arbusto
Amazônia
Mamona
Ricinus communis L.
Euphorbiaceae
Arbusto
Cosmopolita
Mangarataia
Zingiber officinale Rosc
Zingiberaceae
Erva
Índia
Mangericão
Ocimum gratissimum L.
Lamiaceae
Erva
Mediterrâneo
Mangueira
Mangifera indica L.
Anacardiaceae
Árvore
Índia
Marcela
N/I
N/I
Erva
Marcelarana
N/I
N/I
Erva
Marupá
Simaruba amara Aublet
Simarubaceae
Árvore
Amazônia
Massaranduba
Manilkara huberi Standley
Sapotaceae
Árvore
Amazônia
Mastruz
Chenopodium ambrosioides L.
Chenopodiaceae
Erva
México
Mata pasto
Senna alata (L.) Roxb.
Caesalpiniaceae
Arbusto
Amazônia
Menda junta
Alternanthera micrantha R.E Fries
Amaranthaceae
Erva
Amazônia
Miratã ou muirapuama
Ptychopetalum olacoides Benth.
Olacaceae
Árvore
Mucura-caá
Petiveria alliacea L.
Phytolacaceae
Arbusto
Amazônia
Murucí
Byrsonima sp.
Malpighiaceae
Árvore
Amazônia
46
Continuação da TABELA 6
Nome vulgar
N. científico
Família
Hábito
Origem
Mururé
Brosimum acutifolium Huber
Moraceae
Árvore
Amazônia
Panquile
N/I
N/I
Erva
Paricarana
Parkia multijuga Benth.
Mimosaceae
Árvore
Amazônia
Pata de vaca
Bauhinia monandra Kurz.
Caesalpiniaceae
Trepadeira
Sudeste da Ásia
Pau rosa
Aniba rosaedora Ducke
Lauraceae
Árvore
Amazônia
Pinhão branco
Jatropha curcas L.
Euphorbiaceae
Arbusto
Andes
Pinhão roxo
Jatropha gossypiifolia L.
Euphorbiaceae
Arbusto
Andes
Pirarucu-caá
Bryophyllum calycimum Salisb.
Crassulaceae
Erva
Pitanga
Eugenia catharinensis D. Legrand.
Myrtaceae
Arbusto
América tropical
Pobre velho
Costus spicatus (Jacq.) Sw.
Costaceae
Erva
Amazônia
Preciosa
Aniba canelilla (H. B. K.) Mez.
Lauraceae
Árvore
Amazônia
Puxuri
Licaria sp.
Lauraceae
Árvore
Amazônia
Quebra pedra
Phyllantus niruri L.
Euphorbiaceae
Erva
América tropical
Quina quina
Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum.
Rubiaceae
Árvore
Amazônia
Rinchão
Stachytarpheta cayennensis (Richard) Vahl
Verbenaceae
Erva
Amazônia
Sacaca
Cróton sacaquinha Croizat
Euphorbiaceae
Erva
Amazônia
Salvinha / salva de marajó
Hyptis crenata L.
Lamiaceae
Arbusto
Amazônia
São João-Caá
Unxia camphorara L.f.
Asteraceae
Erva
Amazônia
Saracuramirá / saracura
Ampelozizyphus amazonicus Ducke
Rhamnaceae
Trepadeira
Amazônia
Seringueira
Hevea brasiliensis (Willd.ex Adr.Juss.) M. Arg.
Euphorbiaceae
Árvore
Amazônia
Siganinha
N/I
N/I
Erva
Sucuba
Himathanthus sucuuba (Spruce ex. Mull. Arg.) Woodson
Apocynaceae
Árvore
Amazônia
Tabaco do mato
Nicotiana sp.
Solanaceae
Erva
América do Sul
Taperebá
Spondias mombim L.
Anacardiaceae
Árvore
América Central
Tiririca
Scleria platensis Lindl.
Cyperaceae
Erva
Amazônia
Trevo roxo
Hyptis atrorubens Poit.
Lamiaceae
Erva
Uchí torrado
Endopleura uchi (Huber) Cuatrec.
Humiriaceae
Árvore
Amazônia
Ucuúba
Virola surinamensis (Rol.) Warb.
Myristicaceae
Árvore
América do Sul e Central
Unha de gato
Uncaria tomentosa (Willd. ex. Roem & Schult.) DC.
Rubiaceae
Trepadeira
América do Sul
47
Continuação da TABELA 6
Nome vulgar
N. científico
Família
Hábito
Origem
Urtiga vermelha
Urtiga urens L.
Urticaceae
Erva
Brasil
Urubu-caá
Aristolochia macroura Gomes
Aristolochiaceae
Trepadeira
Urupê
N/I
N/I
Erva
Vassourinha
Scoparia dulcis L.
Schrophulariaceae
Erva
Vindica
Alpinia nutans Rosc
Zingiberaceae
Erva
Japão
48
4.9.6.1. FAMÍLIAS BOTÂNICAS
Das 120 espécies citadas pelos informantes foram identificadas 60 famílias, e as
famílias que somaram maior número de espécies foram Lamiaceae com nove espécies
(7,50%), Euphorbiaceae com oito espécies (6,67%), Anacardiaceae, Caesalpiniaceae,
Fabaceae, Lauraceae, Myrtaceae e Rutaceae com quatro espécies (3,33%). E nove espécies
(7,50%) não foram identificadas. Jorge (2001), Santana (2002) e Leitzke (2003), encontraram
resultados semelhantes, quanto às famílias botânicas mais citadas, não na mesma ordem
apresentada pela TABELA 7.
TABELA 7 - Famílias botânicas e freqüência absoluta e relativa das espécies vegetais
encontradas na Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Família
Freq. Absoluta
Freq. Relativa
Lamiaceae
9
7,50%
Euphorbiaceae
8
6,67%
Anacardiaceae
4
3,33%
Caesalpiniaceae
4
3,33%
Fabaceae
4
3,33%
Lauraceae
4
3,33%
Myrtaceae
4
3,33%
Rutaceae
4
3,33%
Asteaceae
3
2,50%
Bignoniaceae
3
2,50%
Moraceae
3
2,50%
Rubiaceae
3
2,50%
Amaranthaceae
2
1,67%
Apocynaceae
2
1,67%
Crassulaceae
2
1,67%
Mimosaceae
2
1,67%
Phytolacaceae
2
1,67%
Polypodiaceae
2
1,67%
Sapotaceae
2
1,67%
Solanaceae
2
1,67%
Verbenaceae
2
1,67%
Zingiberaceae
2
1,67%
Acanthaceae
1
0,83%
Amaryllidaceae
1
0,83%
Anonaceae
1
0,83%
Apiaceae
1
0,83%
Araceae
1
0,83%
Arecaceae
1
0,83%
49
Continuação da TABELA 7
Família
Freq. Absoluta
Freq. Relativa
Aristolochiaceae
1
0,83%
Bromeliaceae
1
0,83%
Burseraceae
1
0,83%
Cactaceae
1
0,83%
Cecropiaceae
1
0,83%
Chenopodiaceae
1
0,83%
Combretaceae
1
0,83%
Convolvulaceae
1
0,83%
Costaceae
1
0,83%
Cucurbitaceae
1
0,83%
Cyperaceae
1
0,83%
Equisetaceae
1
0,83%
Gentianaceae
1
0,83%
Hippocratiaceae
1
0,83%
Humiriaceae
1
0,83%
Lecythidaceae
1
0,83%
Liliaceae
1
0,83%
Loranthaceae
1
0,83%
Malpighiaceae
1
0,83%
Malvaceae
1
0,83%
Meliaceae
1
0,83%
Monimiaceae
1
0,83%
Myristicaceae
1
0,83%
Olacaceae
1
0,83%
Pedaliaceae
1
0,83%
Piperaceae
1
0,83%
Poaceae
1
0,83%
Portulacaceae
1
0,83%
Rhamnaceae
1
0,83%
Schrophulariaceae
1
0,83%
Simarubaceae
1
0,83%
Urticaceae
1
0,83%
N/I
9
7,50%
Total
120
100,00%
N/I = não identificadas
Souza et al (1991) e Furlan (1998) salientam que a base dos estudos farmacológicos é
a extração e identificação dos princípios ativos das plantas em busca da ação dos metabólitos
secundários no organismo humano. Na TABELA 8 são citados alguns dos princípios ativos e
sua ação encontrados nas famílias mais citadas. Estas informações dão suporte a pesquisas de
base científica, fortalecendo os estudos etnobotânicos e sugerindo estudos futuros.
50
TABELA 8 Princípios ativos e ões das três famílias mais freqüentes
na Comunidade N
a
As de Aparecida.
Euphorbiaceae
Alcalóide
Analgésica, sedativa, anestésica,
calmante
Lamiaceae
Flavonóides
Antiinflamatória, fortalecimento
dos vasos capilares
Fabaceae,
Caesalpiniaceae,
mimosaceae
Tanino
Adstringente, antidiarréico,
vasoconstritora
A TABELA 9 demonstra o hábito das espécies vegetais citadas pelos informantes.
Dentre as 120 espécies citadas (incluindo as nove não identificadas pelo pesquisador), 38,33%
(46 espécies) são do tipo arbóreo, seguida de 36,67% de hábito herbáceo (44), 14,17%
arbustivas (17), 10% de trepadeiras (12) e uma palmeira equivalendo a 0,83% das espécies
citadas.
TABELA 9 - Relação entre o hábito, freqüência absoluta, freqüência
relativa e freqüência acumulada das plantas medicinais
encontradas na Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Hábito
Freq. Absoluta
Freq. Relativa (%)
Freq. Acumulada (%)
Árvore
46
38,33
38,33
Erva
44
36,67
75,00
Arbusto
17
14,17
89,17
Trepadeira
12
10,00
99,17
Palmeira
1
0,83
100,00
Total
120
100,00
100,00
51
Añez (1999) também teve como resultado de seu trabalho o porte herbáceo em
primeiro lugar, seguido de arbóreo e arbustivo. Jorge (2001) também encontrou o porte
herbáceo em primeiro lugar, porém o arbóreo estava em 3º lugar com 17,90% das citações.
4.9.6.2. TRATAMENTO ATRAVÉS DAS PLANTAS MEDICINAIS
As populações tradicionais em muitos casos valem-se do uso de medicamentos a partir
das plantas medicinais. Quando alguém adoece, a primeira providência é fazer um chá ou uma
infusão de uma planta ou de parte de uma planta, para que os efeitos desta cure ou alivie os
sintomas da doença. As citações abaixo fazem parte das declarações dos informantes de
Nossa Senhora de Aparecida.
Quando eu vejo que muito gripado, muito forte, eu boto pra ferver um punhado
de folha do limão, e quando for no outro dia a gente ensopa a cabeça da pessoa de
manhã cedo. Serve pra soltar aquele muco lá de dentro”.
“O sumo do hortelã grande serve pra garganta inflamada, a gente pega a água, pega
a folha e mete dentro, a folha fica molezinha, misgalha ele assim e põe no pano e
espreme, ai então toma com mel”.
“A japana a gente faz o banho, serve pra febre e pra gripe”.
“Pra quem tá com hepatite, pega a folha do crajiru junto com a folha da tangerina e o
jambú, e faz o xarope”.
52
Na comunidade N
a
S
a
de Aparecida, quando se perguntou aos entrevistados se
conhecem alguma pessoa que havia se curado de uma doença maligna com o uso de uma
planta qualquer, 15 informantes, o correspondente a 48,39% responderam que sim, enquanto
o restante 16 informantes (51,61%) não sabiam ou não se lembravam de tal fato.
A TABELA 10 lista o percentual e a relação das pessoas citadas pelos entrevistados
que foram tratados com uso das plantas medicinais.
TABELA 10 Relação das pessoas citadas pelos informantes da Comunidade
N
a
S
a
de Aparecida, tratadas com plantas medicinais.
Pessoas citadas pelos informantes
Freq. absoluta
Freq. relativa
Vizinhos
4
12,90%
Filhos
3
9,67%
Amigos
3
9,67%
Ela mesma
1
3,23%
Enteada
1
3,23%
Irmão
1
3,23%
Pai
1
3,23%
Não conhecia
17
54,84%
Total
31
100,00%
4.9.6.3. USO DAS PLANTAS MEDICINAIS APLICAÇÃO TERAPÊUTICA
Algumas plantas podem ser utilizadas para diversos problemas de saúde, enquanto
outras para apenas para um problema. também aquelas que podem ser utilizadas toda, ou
apenas suas partes em conjunto ou não com outras plantas. Conforme visualizado na
TABELA 11 os comunitários utilizam denominações próprias pra definir alguns dos
problemas que os afligem.
TABELA 11 - Freqüência das aplicações terapêuticas citadas pelos
informantes da Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Aplicações terapêuticas
Frequência
Percentual
Dor de estômago
23
6,97
Inflamações
20
6,06
Gripe
17
5,15
Dor de cabeça
13
3,94
53
Continuação da TABELA 11
Aplicações terapêuticas
Frequência
Percentual
Febre
13
3,94
Corte
10
3,03
Diarréia
10
3,03
Fígado
9
2,73
Anemia
8
2,42
Câncer
8
2,42
Diabete
8
2,42
Ferida
8
2,42
Calmante
7
2,12
Tosse
7
2,12
Garganta
6
1,82
Malária
6
1,82
Baque
5
1,52
Rins
5
1,52
Bronquite
4
1,21
Cólica
4
1,21
Prisão de ventre
4
1,21
Reumatismo
4
1,21
Úra
4
1,21
Picada de cobra
4
1,21
Coração
3
0,91
Dor de dente
3
0,91
Enjôo
3
0,91
Inchaço
3
0,91
Inflamação do útero
3
0,91
Inflamação interna
3
0,91
Próstata
3
0,91
Sara tudo
3
0,91
Verme
3
0,91
Vomitório
3
0,91
Abortivo
2
0,61
Afta
2
0,61
Cicatrizante
2
0,61
Cólica criança
2
0,61
Dor de ouvido
2
0,61
Emagrecer
2
0,61
Estancar o sangue de corte
2
0,61
Estimulante sexual
2
0,61
Ferida brava
2
0,61
Fortificante
2
0,61
Gases
2
0,61
54
Continuação da TABELA 11
Aplicações terapêuticas
Frequência
Percentual
Gastrite
2
0,61
Hepatite
2
0,61
Inflamação de garganta
2
0,61
Mal olhado
2
0,61
Nervosismo
2
0,61
Pano branco
2
0,61
Pulmão
2
0,61
Regular menstruação
2
0,61
Sinusite
2
0,61
Úlcera
2
0,61
Impigie
2
0,61
Alergia
1
0,30
Amarelão
1
0,30
Ameba
1
0,30
Asma
1
0,30
Azia
1
0,30
Banho - pingos na água
1
0,30
Carne crescida
1
0,30
Catarro intestinal
1
0,30
Catarro no peito
1
0,30
Cicatrizar operação
1
0,30
Circulação
1
0,30
Coqueluche
1
0,30
Costela desviada
1
0,30
Curuba
1
0,30
Dar sono
1
0,30
Desmentidura
1
0,30
Dor no corpo
1
0,30
Dores em geral
1
0,30
Elefantíase
1
0,30
Endireitar coluna
1
0,30
Esporada de arraia
1
0,30
Ferida na boca
1
0,30
Fratura
1
0,30
Hemorragia
1
0,30
Hemorragia de parto
1
0,30
Hemorróidas
1
0,30
Intoxicação
1
0,30
Lepra
1
0,30
Limpar bexiga
1
0,30
Limpeza ocular
1
0,30
55
Continuação da TABELA 11
Aplicações terapêuticas
Frequência
Percentual
Manchas na pele
1
0,30
Nariz entupido
1
0,30
Papeira
1
0,30
Picada de inseto
1
0,30
Piorréia (dente)
1
0,30
Pneumonia
1
0,30
Pressão alta
1
0,30
Problemas pulmonares
1
0,30
Quebrante
1
0,30
Queda de cabelo
1
0,30
Queimadura
1
0,30
Rasgadura
1
0,30
Rouquidão
1
0,30
Sífilis
1
0,30
Tirar frio
1
0,30
Tuberculose (franqueza do pulmão)
1
0,30
Tumor no olho
1
0,30
Urina solta
1
0,30
Veia entupida
1
0,30
Total
330
100
Classificou-se o modo de uso em interno, externo, ou ambos. O uso interno foi
informado por 72,64% dos entrevistados, 26,75% informaram o uso externo e apenas dois
informantes (0,61%) informaram os dois usos para o tratamento de uma enfermidade
(TABELA 12).
TABELA 12 Freqüência das formas de uso de plantas utilizado
pelos Comunitários de N
a
As de Aparecida.
FORMAS DE USO
FREQÜÊNCIA
PERCENTAGEM
Interno
240
72,64
Externo
88
26,75
Interno/Externo
2
0,61
Total
330
100
56
A TABELA 13 mostra a relação das plantas indicadas, a parte do vegetal usado, o
modo de preparo, o uso dos medicamentos e se são ingeridos (internos), ou aplicados
(externos). As 120 espécies catalogadas foram indicadas para 109 tipos diferentes de
afecções, segundo a classificação dos informantes para doenças.
As cinco espécies medicinais mais citadas pelos comunitários para o tratamento das
enfermidades foram, o mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), capim cheiroso
(Cymbopogon citratus D. C. Stapf), salvinha (Hyptis crenata L.), corama (Kalanchoe pinnata
(Lamarck) Persoon), hortelanzinho (Mentha piperita L.), sendo estas encontradas na maioria
dos quintais das casas. O limoeiro (Citrus limon (L.) Burn. F.), abacateiro (Persea americana
C. Bauh.), laranjeira (Citrus aurantium L.), açaizeiro (Euterpe precatoria Mart.), mangueira
(Mangifera indica L.), são espécies frutíferas bastante usadas pelos comunitários como
medicinais. A carapanauba (Aspidosperma excelsum Benth.), sucuba (Himathanthus sucuuba
(Spruce ex. Mull. Arg.) Woodson), ipê (Tabebuia sp.), mururé (Brosimum acutifolium
Huber), quina-quina (Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum.) são espécies encontradas nas
matas próximas a comunidade, sendo muito utilizadas pela população local. As demais
informações sobre os aspectos descritivos da tabela serão apresentadas no decorrer do
trabalho.
57
TABELA 13 Relação dos nomes vulgares, partes usadas, preparos, aplicações e formas de uso pelos comunitários de N
a
S
a
de Aparecida.
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Abacateiro
Folha
Chá
Anemia
I
Anemia
I
Semente
Anemia
I
Rins
I
Abacaxizeiro
Folha
Bater e aplicar
Inflamações
E
Chá
Hepatite
I
Abiuzeiro
Fruto
Suco
Limpar bexiga
I
Açaizeiro
Raiz
Bater e deixar de molho
Anemia
I
Chá
Anemia
I
Amarelão
I
Murchar no fogo
Úra
E
Bater e deixar de molho
Anemia
I
Alfavaca
Folha
Deixar de molho no sereno (banho)
Gripe
E
Dor de cabeça
I
Raiz
Chá
Urina solta
E
Algodão roxo
Semente
Tirar o óleo, 5 gotas
Hemorragia de parto
I
Catarro intestinal
I
Garganta
I
Tirar o óleo da semente, 5 gotas
Catarro no peito
I
Folha
Chá
Garganta
I
Amapá doce
Leite
Tirar o leite e bater (três vezes)
Tuberculose (fraqueza do
pulmão)
I
Câncer
I
Fortificante
I
Casca
Chá
Inflamação de garganta
I
Amor crescido
Ramo
Bater e tirar o sumo
Inflamação interna
I
58
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Ramo
Xampu
Queda de cabelo
E
Chá
Diarréia
I
Inflamações
I
Emagrecer
I
Anador
Ramo
Chá
Febre
I
Dor de estômago
I
Dor de cabeça
I
Andiroba
Semente
Tirar o óleo
Corte
E
Baque
E
Óleo
Aplicar
Tumor no olho
E
Semente
Tirar o óleo
Baque
E
Semente
Cozinhar e deixar no sal para tirar o óleo
Desmentidura
E
Angelim pedra
Casca
Chá
Malária
I
Infusão
Inflamação do útero
I
Anil
Folha
Pilar e aplicar
Baque
E
Arruda
Folha
Deixar de molho com álcool
Dor de cabeça
E
Chá
Sara tudo
I
Quebrante
I
Dor de estômago
I
Infusão
Sara tudo
I
Assacú
Resina
Extrair a resina e aplicar
Lepra
E
Avenca
Folha
Infusão
Problemas pulmonares
I
Rouquidão
I
Tosse
I
Azeitoneira
Casca
Infusão
Dor de estômago
I
Dor no corpo
I
59
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Babosa
Folha
Raspar a goma
Queimadura
E
Corte
E
Batatinha roxa
Raiz
Bater para soltar a goma, tomar com água
Hemorróidas
I
Boldo grande/ folha grossa
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Regular menstruação
I
Fígado
I
Boldo pequeno
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Fígado
I
Bota
Casca
Ralar e aplicar
Corte
E
Breu branco
Resina
Secar a resina, queimar e inalar
Dor de cabeça
I
Buchinha ou cabacinha
Bucha
Deixar de molho no cereno (pedacinho)
Vomitório
I
Infusão
Inflamação interna
I
Caapeba
Folha
Folha
Tirar o sumo
Inchaço
E
Tirar o sumo
Baque
E
Caferana
Raiz
Chá
Malária
I
Cajueiro
Folha
Chá e gargarejar
Ferida na boca
E
Pseudofruto
Cortar e aplicar
Esporada de arraia
E
Casca
Ferver e Lavar a ferida
Ferida
E
Chá
Ferida
I
Cajuí
Casca
Infusão
Inflamação do útero
I
Camapu
Raiz
Chá
Calmante
I
Capim cheroso/ capim santo
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Febre
I
Dor de cabeça
I
Calmante
I
Gases
I
Cólica
I
60
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Captiú
Folha
Chá
Coração
I
Veia entupida
I
Coração
I
Carapanaúba
Casca
Chá
Inflamações
I
Fígado
I
Febre
I
Abortivo
I
Malária
I
Pilar, tirar o sumo e aplicar
Cicatrizante
E
Macerar (Insumo)
Febre
I
Inflamações
I
Abortivo
I
Fígado
I
Malária
I
Casca doce
Casca
Chá
Dor de estômago
I
Diarréia
I
Enjôo
I
Fígado
I
Macerar (Insumo)
Diarréia
I
Fígado
I
Dor de estômago
I
Casca trava
Casca
Macerar (Insumo)
Corte
E
Castanheira
Óleo
Pingar duas gotas no ouvido
Dor de ouvido
E
Casca do ouriço
Chá
Diabete
I
Castanhola
Fruto
Comer a castanha
Pano branco
E
Impigie
E
Hemorragia
E
61
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Cavalinha
Ramo
Infusão
Inflamações
I
Rins
I
Regular menstruação
I
Próstata
I
Cebola brava
Bulbo
Chá
Vomitório
I
Chichuá
Casca
Infusão
Reumatismo
I
Ralar e deixar de molho
Anemia
I
Inflamações
I
Chicória
Raiz
Chá
Dor de estômago
I
Semente
Colocar dentro do olho
Limpeza ocular
E
Cidreira
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Dar sono
I
Calmante
I
Febre
I
Mal olhado
I
Cipó alho
Casca
Deixar de molho (banho)
Dor de cabeça
E
Gripe
E
Cipó ambé
Ramo
Tirar a água
Picada de cobra
E
Cipó cravo
Casca
Chá
Dor de cabeça
I
Banho
Dor de cabeça
E
Cipó tuíra
Folha
Chá
Diabete
I
Copaíba
Casca
Tirar o óleo, fazer “murrão”
Tirar frio
E/I
Dor de cabeça
E/I
Febre
E
Óleo
Pingo no café
Febre
I
Gripe
I
Banho - pingos na água
E
62
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Corama
Folha
Chá
Dor de cabeça
I
Inflamação do útero
Gripe
I
Esmigalhar e fazer compressa
Dor de cabeça
E
Inflamações
E
Carne crescida
E
Crajirú
Folha
Chá
Inflamações
I
Cumarú
Casca
Chá
Manchas na pele
I
Embaúba branca
Casca
Chá
Circulação
I
Pressão alta
I
Erva de passarinho
Ramo
Chá
Câncer
I
Diarréia
I
Eucalipto
Casca
Chá
Tosse
I
Febre
I
Asma
I
Bronquite
I
Diabete
I
Fava
Casca
Fazer o pó e aplicar
Impigie
E
Gergelim
Semente
Socar, tirar o leite de um copo de semente
Diabete
I
Goiabeira
Broto
7 guia Chá
Diarréia
I
8 guia Chá
Diarréia
I
Graviola
Casca
Chá
Câncer
I
Raiz
Câncer
I
Guaribinha
Folha
Chá
Reumatismo
I
Raiz
Coqueluche
I
Horiza
Folha
Banho criança
Gripe
E
63
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Hortelã / folha grossa
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Gripe
I
Inflamação de garganta
I
Cólica
I
Tosse
I
Hortelanzinho
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Cólica criança
I
Ipê
Casca
Chá
Inflamações
I
Câncer
I
Úlcera
I
Bronquite
I
Gastrite
I
Cerne
Inflamações
I
Câncer
I
Úlcera
I
Bronquite
I
Gastrite
I
Jaca
Broto
Chá
Vomitório
I
Diarréia
I
Jamacarú
Ramo
Xarope
Gripe
I
Jambú
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Fígado
I
Japana
Folha
Banho criança
Gripe
E
Febre
E
Chá
Cólica
I
Jatobá
Folha
Chá
Próstata
I
Macerar (Insumo)
Próstata
I
Casca
Chá
Rins
I
Fortificante
I
64
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Jenipapo
Fruto
Suco
Anemia
I
Jucá
Vagem
Ralar, pó com álcool
Corte
E
Chá
Ferida
I
Ralar e fazer o pó
Ferida
E
Ralar, aplicar com álcool
Corte
E
Xarope
Inflamações
I
Pulmão
I
Laranjeira
Folha
Chá
Calmante
I
Dor de estômago
I
Limeira
Folha
Chá
Gripe
I
Calmante
I
Limoeiro
Folha
Chá
Gripe
I
Tosse
I
Sumo
Lavar
Corte
E
Fruto
Suco
Gripe
I
Macaxeira
Raiz
Ralar e aplicar
Inchaço
E
Malvarisco
Folha
Xarope
Tosse
I
Inchaço
I
Assar e tirar o sumo (aplicar)
Dor de dente
E
Mamona
Óleo
Tirar o óleo da semente
Prisão de ventre
I
Mangarataia
Rizoma
Esmigalhar e fazer compressa
Corte
E
Mangericão
Parte aérea da planta
Infusão
Febre
I
Mangueira
Casca
Chá
Inflamações
I
Ferida brava
I
Infusão
Piorréia (dente)
I
Macerar (Insumo)
Inflamações
I
Ferida brava
I
65
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Marcela
Inflorescência
Chá
Calmante
I
Inflamações
I
Azia
I
Marcelarana
Folha
Macerar (Insumo)
Mordida de cobra
E
Esmigalhar e fazer compressa
Curuba
E
Marupá
Casca
Infusão
Inflamações
I
Ferida
I
Massaranduba
Resina
Aplicar
Úra
E
Mastruz
Folha
Chá
Tosse
I
Gripe
I
Verme
I
Macerar (Insumo)
Pneumonia
I
Esmigalhar
Baque
E
Corte
E
Ferida
E
Mata pasto
Folha
Esmigalhar e fazer compressa
Pano branco
E
Menda junta
Folha
Esmigalhar, pilar e fazer compressa
Fratura
E
Miratã ou muirapuama
Folha
Chá
Estimulante sexual
I
Raiz
Chá
Nervosismo
I
Bater e colocar de molho
Nervosismo
I
Mucura-caá
Folha
Chá
Febre
I
Verme
I
Banho criança
Gripe
E
Esmigalhar e fazer compressa
Dor de cabeça
E
Banho
Mal olhado
E
Raiz
Raspar e aplicar
Dor de dente
E
Chá
Verme
I
66
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma de Uso
Murucí
Casca
Pilar, torrar o pó e aplicar
Afta
E
Mururé
Casca
Chá
Inflamações
I
Reumatismo
I
Resina
Aplicar
Inflamações
E
Duas gotas no café
Reumatismo
I
Três gotas no café
Sara tudo
I
Panquile
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Paricarana
Casca
Chá
Inflamações
I
Infusão
Inflamações
I
Pata de vaca
Folha
Chá
Diabete
I
Elefantíase
I
Pau rosa
Óleo
Aplicar
Dor de dente
E
Pinhão branco
Semente
Pilar, tirar o leite e aplicar
Estancar o sangue de corte
E
Ferida
E
Pilar, tirar o leite e gargarejar
Garganta
I
Fruto
Assar e comer
Garganta
I
Folha
Banho
Sinusite
E
Gripe
E
Pinhão roxo
Semente
Pilar, tirar o leite, aplicar e gargarejar
Estancar o sangue de corte
E
Ferida
E
Garganta
E
Folha
Banho
Gripe
E
Deixar de molho no sereno (banho)
Gripe
E
Dor de cabeça
E
Pirarucu-caá
Folha
Chá
Papeira
I
Enjôo
I
67
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma De Uso
Pitanga
Folha
Banho
Febre
E
Chá
Diabete
I
Pobre velho
Folha
Chá
Rins
I
Preciosa
Casca
Chá
Dor de estômago
I
Diarréia
I
Calmante
I
Puxuri
Folha
Chá
Dor de estômago
I
Fígado
I
Quebra pedra
Folha
Chá
Rins
I
Quina quina
Casca
Chá
Diabete
I
Dor de estômago
I
Macerar (Insumo)
Diabete
I
Dor de estômago
I
Malária
I
Febre
I
Inflamação interna
I
Rinchão
Folha
Chá
Prisão de ventre
I
Folha
Banho
Prisão de ventre
E
Sacaquinha
Folha
Chá
Emagrecer
I
Salvinha / salva de marajó
Parte aérea da planta
Esmigalhar e fazer compressa
Nariz entupido
E
Folha
Chá
Dor de Estômago
I
Enjôo
I
Dor de estômago
I
Prisão de ventre
I
São João Caá
Folha
Chá
Ameba
I
Cólica
I
68
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma De Uso
Saracuramirá / saracura
Casca
Raspar, bater e tirar o leite
Estimulante sexual
I
Fígado
I
Diarréia
I
Sífilis
I
Pilar a casca
Intoxicação
I
Rasgadura
I
Seringueira
Leite
Aplicar
Contra ura
E
Siganinha
Folha
Pilar e aplicar
Picada de cobra
E
Sucuba
Casca
Macerar (Insumo)
Pulmão
I
Inflamações
I
Câncer
I
Bronquite
I
Tosse
I
Leite
Pilar a casca e aplicar
Cicatrizante
E
Tabaco do mato
Folha
Pilar e aplicar
Alergia
E
Folha
Pilar e aplicar
Contra úra
E
Picada de inseto
E
Taperebá
Casca
Tirar o pó da casca queimada
Cólica criança
I
Macerar (Insumo)
Corte
E
Ralar e aplicar
Cicatrizar operação
E
Tiririca
Parte aérea da planta
Chá
Diarréia
I
Trevo roxo
Folha
Chá
Dores em geral
I
Garganta
I
Assar e tirar o sumo (aplicar)
Dor de ouvido
E
Uchí torrado
Casca
Macerar (Insumo)
Dor de estômago
I
Gases
I
Ucuúba
Resina
Aplicar
Afta
E
69
Continuação da TABELA 13
Nome vulgar
Parte usada
Preparo
Aplicação
Forma De Uso
Unha de gato
Folha
Chá
Costela desviada
I
Endireitar coluna
I
Urtiga vermelha
Folha
Chá
Câncer
I
Urubu-caá
Folha
Chá (1 folha)
Dor de estômago
I
Urupê
Folha
Esmigalhar e aplicar
Picada de cobra
E
Vassourinha
Raiz
Chá
Hepatite
I
Malária
I
Vindica
Folha
Chá
Coração
I
Por de molho durante a noite, banhar a
cabeça
Sinusite
E
Gripe
E
70
4.9.6.4. PARTES DAS PLANTAS UTILIZADAS
A comunidade utiliza todas as partes das plantas, no preparo de seus medicamentos.
As partes mais indicadas são as folhas com 39,07% do total dos usos com fins terapêuticos;
a casca (20,53%), raízes (7,95%), sementes (5,96%) são as mais representativas (FIGURA
13). Nos trabalhos de Somavilla (1998), Souza (1998), Jorge (2001) e Leitzke (2003) as
folhas também foram as partes da planta mais utilizadas para preparo de medicamentos.
39,07%
5,96%
7,95%
20,53%
0,66%
0,66%
0,66%
0,66%
0,66%
4,64%
3,31%
3,31%
3,31%
1,99%
1,99%
1,32%
0,66%
0,66%
0,66%
0,66%
Folha Casca Raiz
Semente Ramo Fruto
Óleo Resina Leite
Parte aérea da planta Broto Bucha
Bulbo Casca do ouriço Cerne
Inflorescência Pseudofruto
Rizoma Sumo
FIGURA 13 - Partes das plantas utilizadas pela Comunidade N
a
S
a
de Aparecida, para
preparo dos medicamentos.
Plantas como a babosa (Aloe vera (L.) Burm. f.), manjericão (Ocimum gratissimum
L.), salvinha (Hyptis crenata L.) e tiririca (Scleria platensis Lindl.) são usados toda parte
aérea da planta, e na maioria dos casos arrancados com a raiz. De outras plantas como a
goiabeira (Psidium guajava L.) e a jaca (Artocarpus integrifolia L.) são utilizados apenas os
71
brotos, o taperebá (Spondias mombim L.) os nós e entrenós dos galhos e para a castanheira
(Bertholletia excelsa H. B. K.), a casca do ouriço.
4.9.6.5. FORMAS DE PREPARO DOS MEDICAMENTOS
Obteve-se um total de 71 formas diferentes de preparo de medicamentos. Entre as
formas de preparo mais citadas estão o chá (52,85%), cataplasma (13,99%), banho (6,74%),
esmigalhar e fazer compressa (4,66%) e outras formas de uso somaram (21,76%) (FIGURA
14). O chá também foi a forma de preparo mais citada para Loureiro (1999) e Jorge (2001).
Outras
21,76%
Cataplasma
13,99%
Chá (infusão,
maceração)
52,85%
Esmigalhar e
fazer
compressa
4,66%
Banho
6,74%
FIGURA 14 Formas de preparo das plantas medicinais citadas pelos informantes da
Comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
72
4.9.6.6. NÍVEL DE FIDELIDADE
A TABELA 14 apresenta o nível de fidelidade das indicações para uma mesma
afecção. Foram incluídas nestes cálculos todas as plantas, pois todas apresentaram N F
25%.
Das 120 espécies citadas, 112 tiveram o nível de fidelidade (NF) maior ou igual a
40%. Destas apenas oito apresentaram uma concordância de uso principal (CUP) maior ou
igual a 50%, o que corresponde a 7,1% das espécies citadas.
O capim cheiroso (Cymbopogon citratus D. C. Stapf), hortelanzinho (Mentha piperita
L.) e a salvinha (Hyptis crenata L.), apresentam a maior concordância de uso principal
(CUP) com 75%, sendo as três indicadas para dores de estômago. A carapanauba
(Aspidosperma excelsum Benth.), também têm seu uso relacionado ao aparelho digestivo,
apresentando um valor de CUP superior a 60%.
O amor crescido (Portulaca pilosa L.), casca doce (N/I), Jucá (Caesalpinia ferrea
Mart.) e a laranjeira (Citrus aurantium L.) apresentam CUP igual a 50%. As duas primeiras
estão relacionadas a doenças infecciosas e parasitárias, e as seguintes a lesões externas e
sistema nervoso respectivamente.
As duas espécies mais citadas, com oito citações cada, foram a carapanauba
(Aspidosperma nitidum Benth.), tendo como principal uso o tratamento do fígado com CUP
de 62,5%, e o mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), para cura de lesões, com CUP de
37,5%.
Para Almeida; Amorozo (1998), o tamanho da amostra pode influenciar no valor da
CUP. Ao verificar o valor do nível de fidelidade (NF), do Hortelãnzinho (Mentha piperita L),
amor crescido (Portulaca pilosa L.), abacateiro (Persea americana C. Bauh.), cajueiro
(Anacardium occidentale L.), crajirú (Arrabidaea chica (Humb & Bonpl.) B. Verl.) entre
73
outros, se observa que todos são de 100%. Segundo Jorge (2001), o nível de fidelidade igual
a 100% indica que existe uma consistência cultural de uso destas espécies na comunidade
estudada. Apenas o Hortelanzinho tem CUP superior a 50%.
Conforme Jorge (2001) e Somavilla (1998), o aumento do número de indicações
terapêuticas, é decorrência do aumento do número de informantes citando a espécie, e isto
poderá diminuir o índice de concordância.
74
TABELA 14 Nível de fidelidade, porcentagem de concordância quanto aos usos principais (CUP) das plantas medicinais encontradas na
comunidade N
a
S
a
de Aparecida, município de Silves, AM, 2006.
Nome vulgar
(I
u
)Informantes
citando o uso
da espécie
N
o
de uso citado
Principal uso *
(I
p
)Informante
citando o uso
principal
NF (%)
FC
CUP (%)
Capim cheiroso/ capim santo
7
8
Dor de estômago
6
85,7
0,875
75
Hortelazinho
6
2
Dor de estômago
6
100
0,75
75
Salvinha / salva de marajó
7
4
Dor de estômago
6
85,7
0,875
75
Carapanaúba
8
6
Fígado
5
62,5
1
62,5
Amor crescido
4
5
Inflamação
4
100
0,5
50
Casca doce
5
5
Diarréia
4
80
0,625
50
Jucá
5
4
Corte
4
80
0,625
50
Laranjeira
4
2
Calmante
4
100
0,5
50
Abacateiro
3
2
Anemia
3
100
0,375
37,5
Açaizeiro
4
3
Anemia
3
75
0,5
37,5
Boldo pequeno/ do Chile
4
2
Dor de estômago
3
75
0,5
37,5
Cajueiro
3
3
Ferida
3
100
0,375
37,5
Cidreira
4
5
Calmante
3
75
0,5
37,5
Corama
7
6
Inflamação
3
42,8
0,875
37,5
Crajirú
3
1
Inflamação
3
100
0,375
37,5
Hortelã / folha grossa
5
7
Gripe
3
60
0,625
37,5
Mastruz
8
7
Corte
3
37,5
1
37,5
Mucura-caá
5
6
Verme
3
60
0,625
37,5
Pinhão branco
6
5
Estancar o sangue de corte
3
50
0,75
37,5
Saracuramirá / saracura
5
6
Fígado
3
60
0,625
37,5
Algodão roxo
4
4
Garganta
2
50
0,5
25
Anador
3
3
Dor de cabeça
2
66,7
0,375
25
Andiroba
3
4
Pancada
2
66,7
0,375
25
Arruda
4
4
Qualquer tipo de doença
2
50
0,5
25
Babosa
2
3
Queimadura
2
100
0,25
25
Boldo grande/ folha grossa
4
3
Fígado
2
50
0,5
25
Captiú
3
2
Coração
2
66,7
0,375
25
75
Continuação da TABELA 14
Nome vulgar
(I
u
)Informantes
citando o uso
da espécie
N
o
de uso citado
Uso principal*
(I
p
)Informante
citando o uso
principal
NF (%)
FC
CUP (%)
Copaíba
2
4
Febre
2
100
0,25
25
Embaúba branca
2
2
Pressão alta
2
100
0,25
25
Fava
2
1
Impinja
2
100
0,25
25
Goiabeira
2
1
Diarréia
2
100
0,25
25
Ipê
5
5
Bronquite
2
40
0,625
25
Japana
2
3
Gripe
2
100
0,25
25
Jatobá
3
3
Próstata
2
66,7
0,625
41,66667
Limoeiro
5
4
Gripe
2
40
0,625
25
Mangueira
3
3
Inflamação
2
66,7
0,625
41,66667
Miratã ou muirapuama
3
2
Estimulante sexual
2
66,7
0,375
25
Mururé
5
3
Reumatismo
2
40
4,875
195
Paricarana
2
1
Inflamação
2
100
0,25
25
Pinhão roxo
4
5
Gripe
2
50
0,5
25
Puxuri
3
2
Fígado
2
66,7
0,375
25
Quina quina
5
5
Dor de estômago
2
40
0,625
25
Sucuba
6
7
Inflamação interna
2
33,3
0,75
25
Trevo roxo
4
3
Dor de ouvido
2
50
0,5
25
Abacaxizeiro
2
2
Inflamação
1
50
0,25
12,5
Abiuzeiro
1
1
Hepatite
1
100
0,125
12,5
Alfavaca
2
3
Gripe
1
50
0,25
12,5
Amapá doce
3
4
Tuberculose
1
33,3
0,375
12,5
Angelim pedra
1
2
Malária
1
100
0,125
12,5
Anil
1
1
Pancada
1
100
0,125
12,5
Avenca
1
2
Problemas pulmonares
1
100
0,125
12,5
Azeitonera
2
2
Dor de estômago
1
50
0,25
12,5
Batatinha roxa
1
1
Hemorróida
1
100
0,125
12,5
Bota
1
1
Corte
1
100
0,125
12,5
76
Continuação da TABELA 14
Nome vulgar
(I
u
)Informantes
citando o uso
da espécie
N
o
de uso citado
Uso principal*
(I
p
)Informante
citando o uso
principal
NF (%)
FC
CUP (%)
Breu branco
1
1
Dor de cabeça
1
100
0,125
12,5
Buchinha ou cabacinha
2
2
Inflamação
1
50
0,25
12,5
Caapeba
2
2
Pancada
1
50
0,25
12,5
Caferana
1
1
Malária
1
100
0,125
12,5
Cajuí
1
1
Inflamação do útero
1
100
0,125
12,5
Camapu
1
1
Calmante
1
100
0,125
12,5
Casca trava
1
1
Corte
1
100
0,125
12,5
Castanheira
2
2
Diabetes
1
50
0,25
12,5
Castanhola
3
3
Impinja
1
33,3
0,375
12,5
Cavalinha
2
4
Rins
1
50
0,25
12,5
Cebola brava
1
1
Vomitório
1
100
0,125
12,5
Chichuá
2
3
Anemia
1
50
0,25
12,5
Chicória
2
2
Limpeza ocular
1
50
0,25
12,5
Cipó alho
2
2
Gripe
1
50
0,25
12,5
Cipó ambé
1
1
Picada de cobra
1
100
0,125
12,5
Cipó cravo
1
1
Dor de cabeça
1
100
0,125
12,5
Cipó tuíra
1
1
Diabetes
1
100
0,125
12,5
Cumarú
1
1
Manchas na pele
1
100
0,125
12,5
Erva de passarinho
1
2
Câncer
1
100
0,125
12,5
Eucalipto
4
5
Asma
1
25
0,5
12,5
Gergelim
1
1
Diabete
1
100
0,125
12,5
Graviola
1
1
Câncer
1
100
0,125
12,5
Guaribinha
1
1
Coqueluche
1
100
0,125
12,5
Horiza
1
1
Gripe
1
100
0,125
12,5
Jamacarú
1
1
Gripe
1
100
0,125
12,5
Jambú
2
2
Fígado
1
50
0,25
12,5
Jenipapo
1
1
Anemia
1
100
0,125
12,5
77
Continuação da TABELA 14
Nome vulgar
(I
u
)Informantes
citando o uso
da espécie
N
o
de uso citado
Uso principal*
(I
p
)Informante
citando o uso
principal
NF (%)
FC
CUP (%)
Limeira
1
2
Calmante
1
100
0,125
12,5
Macaxeira
1
1
Inchaço
1
100
0,125
12,5
Malvarisco
2
3
Tosse
1
50
0,25
12,5
Mamona
1
1
Prisão de ventre
1
100
0,125
12,5
Mangarataia
1
1
Corte
1
100
0,125
12,5
Mangericão
1
1
Febre
1
100
0,125
12,5
Marcela
3
3
Inflamação
1
33,3
0,375
12,5
Marcelarana
1
2
Picada de cobra
1
100
0,125
12,5
Marupá
2
2
Inflamação
1
50
0,25
12,5
Massaranduba
1
1
Contra úra
1
100
0,125
12,5
Mata pasto
1
1
Pano branco
1
100
0,125
12,5
Menda junta
1
1
Fratura
1
100
0,125
12,5
Murucí
1
1
Afta
1
100
0,125
12,5
Panquile
1
1
Dor de estômago
1
100
0,125
12,5
Pata de vaca
1
2
Diabete
1
100
0,125
12,5
Pau rosa
1
1
Dor de dente
1
100
0,125
12,5
Pirarucu-caá
1
2
Papeira
1
100
0,125
12,5
Pitanga
2
2
Diabete
1
50
0,25
12,5
Pobre velho
1
1
Rins
1
100
0,125
12,5
Preciosa
3
3
Calmante
1
33,3
0,375
12,5
Quebra pedra
1
1
Rins
1
100
0,125
12,5
Rinchão
1
1
Prisão de ventre
1
100
0,125
12,5
Sacaquinha
1
1
Emagrecer
1
100
0,125
12,5
São João-Caá
1
2
Ameba
1
100
0,125
12,5
Seringueira
1
1
Contra úra
1
100
0,125
12,5
Ciganinha
1
1
Picada de cobra
1
100
0,125
12,5
Tabaco do mato
3
3
Picada de inseto
1
33,3
0,375
12,5
78
Continuação da TABELA 14
Nome vulgar
(I
u
)Informantes
citando o uso
da espécie
N
o
de uso citado
Uso principal*
(I
p
)Informante
citando o uso
principal
NF (%)
FC
CUP (%)
Taperebá
3
3
Corte
1
33,3
0,375
12,5
Tiririca
1
1
Diarréia
1
100
0,125
12,5
Uchí torrado
1
2
Dor de estômago
1
100
0,125
12,5
Unha de gato
1
2
Endireitar coluna
1
100
0,125
12,5
Urtiga vermelha
1
1
Câncer
1
100
0,125
12,5
Urubu-caá
1
1
Dor de estômago
1
100
0,125
12,5
Urupê
1
1
Mordida de cobra
1
100
0,125
12,5
Vassorinha
1
2
Hepatite
1
100
0,125
12,5
Vindica
1
3
Gripe
1
100
0,125
12,5
Assacú
1
1
Lepra
1
100
0,125
12,5
Jaca
1
2
Vomito
1
100
0,125
12,5
Ucuúba
1
1
Afta
1
100
0,125
12,5
NF = Nível de Fidelidade; FC = Fator de Correção; CUP = Porcentagem de concordância quanto aos usos principais.
Principal uso * = principal uso da espécie considerado pelos informantes.
79
4.9.6.7. ASSOCIAÇÕES DIVERSAS
Na comunidade N
a
S
a
de Aparecida a associação de diversas plantas medicinais
utilizadas para cura de enfermidades é chamada de “composição” ou mesmo “xarope”
(TABELA 15). O termo composição também foi utilizado nos trabalhos de Jorge (2001) e
Leitzke (2003) realizado nas comunidades de Poço e Praia do poço em Santo Antônio de
Leveger, e na cidade de Sorriso, ambas em Mato Grosso. Outras regiões como as estudas por
Ming (1995), as composições são denominadas de “garrafadas”.
Observou-se que na comunidade de N
a
S
a
de Aparecida, em alguns casos, os
informantes fazem as composições relacionando o uso medicinal de várias plantas que tem a
mesma propriedade terapêutica, crendo que a junção dos vários vegetais diferentes melhora
seu poder de cura. A maioria destas composições utiliza o álcool como diluente.
A sucuba é bom pra muitos tipos de doença, bota um pedacinho de casca, junto com
jucá, a casca de manga comum(Informante referindo a cura dos mais diversos tipos
de inflamações).
Nas composições foram citadas 7 formas de uso diferentes para 72 aplicações
terapêuticas (TABELA 15). As mais citadas conforme FIGURA 15 foram, gripe (10), tosse
(6) e baque (5).
80
10
6
5
4
55
0
10
20
30
40
50
60
Gripe Tosse Pancada Corte Outras
FIGURA 15 - Aplicações terapêuticas das composições de plantas medicinais
mais citadas pelos informantes da Comunidade N
a
S
a
de
Aparecida.
81
TABELA 15 Composição de plantas medicinais, forma de uso e aplicação das plantas encontradas na comunidade N
a
S
a
de Aparecida.
Composição
Forma de uso
Aplicação
1 polegada da casca da castanheira + 1 polegada da casca do ouriço
Chá
Diabete
1 polegada de casca de sucuba + 1 polegada de casca de manga + raiz da xicória
+ 1 limão cortado em cruz + 1 vagem de jucá + 1 pedacinho de mangarataia
Xarope
Garganta
Tosse
Vagem do Juca + Álcool
Cataplasma
Corte
Vagem do Juca + pedaço da cabacinha
Banho
Gripe
Mal estar
Borra de café + suco de limão
Macerar (Insumo)
Diarréia
Canela + gema de ovo + folha de laranja
Xarope
Tirar fraqueza do
estômago
Casca da castanha + casca do ouriço
Chá
Diabete
Casca da piranheira + cajurana
Chá
Diabete
Casca da sucuba + báge do juca + casca de manga
Xarope
Tuberculose
Casca de abiu + raiz do açaí
Chá
Hepatite
Casca de caju + folha de manga + folha da corama + mangarataia
Chá (deixar apurar)
Gripe
Casca de manga + casca do juca + casca da sucúba
Xarope
Inflamações
Bronquite
Tosse
Casca doce + folha da muirapuama + casca do jatobá + casca da quina quina +
álcool
Cataplasma
Corte
Cipó alho + folha de alfavaca + folha de pinhão roxo
Deixar de molho no cereno banho
Gripe
Dor de cabeça
Dente de alho + sebo de Holanda
Cataplasma
Secura
Dente de alho + suco de limão
Chá
Gripe
Folha da Cidreira + dente de alho
Chá
Dor de estômago
Mal olhado
Folha da corama + folha do algodão roxo ou branco
Chá
Menstruação
Folha da graviola + folha da salvinha + casca de laranja
Xarope
Gripe
Tosse
82
Continuação da TABELA 15
Composição
Forma de uso
Aplicação
Folha da japana + folha da arruda + folha do mangericão
Banho criança
Febre
Gripe
Folha de crajirú + folha de tangerina + folha de jambú
Chá
Hepatite
Folha de algodão + rezina de breu branco + óleo de copaíba
Inalar a fumaça
Dor de cabeça
Folha de algodão roxo + casca do coco queimado
Chá
Hemorragia de parto
Folha de algodão roxo + mel de abelha
Chá
Inflamação de
garganta
Folha de araticum + folha de graviola
Chá
Dormir
Folha de arruda + folha de gergelim
Chá
Sara tudo
Folha de caapeba + banha de porco
Cataplasma
Pancada
Folha de cambará + folha de mangericão + raiz de mangarataia
Xarope
Tosse
Folha de cambará + folha de mangericão + raiz de mangarataia
Xarope
Tosse
Folha de laranja + folha de salvinha
Chá
Dor de estômago
Folha de manga + folha de elcalypto + casca de cajú + casca do jucá + folha de
corama
Xarope
Gripe
Folha de mastruz + gemada
Xarope
Pancada
Folha de mastruz + leite
Macerar (Insumo)
Verminoses
Folha de mastruz + leite
Macerar (Insumo)
Limpar o pulmão
Folha de menda junta + folha de mastruz + banha de sucuriju
Cataplasma
Fratura
Folha de oriza + folha de japana + folha de mucura-caá
Banho
Gripe
Folha de pirarucu-caá + banha de sucuriju ou banha de porco
Cataplasma
Inchaço
Pancada
Folha de salvinha + folha de limão + folha de hortelãzinho + folha de
mangericão
Banho criança
Mal estar
Folha de tangerina + folha de jambo
Chá
Hepatite
Folha de trevo roxo + mel de abelha
Chá
Inflamação de
garganta
Continuação da TABELA 15
83
Composição
Forma de uso
Aplicação
Folha de vassourinha + folha de mastruz
Cataplasma
Inchaço
Pancada
Folha de vindicá + folha de captiú
Chá
Coração
Folha de vindicá + folha de limão + folha de mangericão
Macerar (Insumo) banho
Gripe
Folha do jambú + folha do boldo
Chá
Fígado
Leite de Amapá + folha de mastruz
Xarope
Tuberculose
Leite de Amapá + folha de mastruz + mel de abelha
Xarope
Gastrite
Óleo de andiroba + Folha de mastruz
Macerar (Insumo) aplicar
Pancada
Corte
Desmentidura
Óleo de andiroba + minhoca torrada
Cataplasma
Desmentidura
Fratura
Babosa + mel + vinho
Xarope
Câncer
Ferida
Raíz da mangarataia + folha da corama + suco do limão + dente de alho +
açúcar
Xarope
Gripe
Tosse
Raiz da pupunha + palha do côco + folha de vindica
Xarope
Anemia
Ramo da envirataia + folha de mucura-caá + álcool
Chá
Reumatismo
Ramo da quebra pedra + folha de mangarataia
Chá
Rins
Ramo de Babosa + mel de abelha + vinho branco
Xarope
Câncer
Semente de cumarú + álcool
Bater e colocar no álcool - Inalar
Dor de cabeça
Suco de limão + sal
Cataplasma
Rochidão (pancada)
Suco
Diarréia
84
4.9.6.8. CLASSIFICAÇÃO DAS ENFERMIDADES CITADAS PELOS COMUNITÁRIOS
COM AS ENFERMIDADES DO CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS, E AS
PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS.
O diagnóstico feito pelos comunitários é realizado com base em sintomas e sinais
observados, e em muitos casos através de acertos e erros dos antepassados e das gerações
subseqüentes indicam uma determinada planta para cura de uma mal. A classificação utilizada é
bastante diversificada, não havendo uma padronização para os nomes das enfermidades.
Segue na TABELA 16 a comparação das doenças citadas pelos comunitários com a
classificação da medicina oficial contida no CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS
(CID).
85
TABELA 16 - Enfermidades pelo Código Internacional de Doenças, enfermidades citadas pelos comunitários e as plantas medicinais utilizadas
pela comunidade N
a
S
a
de Aparecida, município de Silves, AM, 2006.
Categoria das doenças
Enfermidades citadas pelos
informantes
Plantas citadas pelos informantes
DOENÇAS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR
E DO TECIDO CONJUNTIVO
costela desviada, desmentidura,
endireitar coluna, rasgadura
andiroba, azeitoneira, unha de gato, chichuá, mururé,
saracuramirá, trevo roxo
SINTOMAS, SINAIS E ACHADOS
ANORMAIS DE EXAMES CLÍNICOS E DE
LABORATÓRIO NÃO CLASSIFICADOS EM
OUTRA PARTE
Febre, dor no corpo
anador, capim cheroso, carapanaúba, cidreira, copaíba,
eucalypto, japana, mangericão, mucura caá, pitanga,
quina quina
DOENÇAS DO APARELHO GENITÁRIO
cólica menstrual, estimulante sexual,
limpar bexiga, próstata, regular
menstruação, ríns, urina solta
abacaxizeiro, abacateiro, alfavaca, boldo grande, capim
cheroso, cavalinha, cerveja, hortelã, japana, jatobá,
miratã, pobre velho, quebra pedra, são joão caá,
saracuramirá
LESÕES, ENVENENAMENTO E ALGUMAS
OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DE CAUSAS
EXTERNAS
baque, cicatrizante, cicatrizar
operação, corte, espora de arraia,
estancar o sangue do corte, fratura,
inchaço, intoxicação, queimadura,
picada de cobra, picada de inseto
andiroba, anil, caapeba, cajueiro, carapanaúba, cipó
ambé, babosa, bota, casca trava, jucá, limoeiro,
macaxeira, mangarataia, malvarisco, marcelarana,
mastruz, menda junta, pinhão branco, pinhão roxo,
saracuramirá, siganinha, sucuba, tabaco do mato,
taperebá, urupê
DOENÇAS INFECCIONSAS E
PARASITÁRIAS
ameba, ferida, ferida brava, hepatite,
sífilis, inflamações, inflamação de
garganta, inflamação do útero,
inflamações internas, lepra, malária,
papeira, verme, coqueluche
abiuzeiro, abacaxizeiro, amapá doce, amor crescido,
angelim pedra, assacú, buchinha, caferana, cajueiro,
cajuí, corama, carapanaúba, cavalinha, chichuá,
corama, crajiru, ipê, guaribinha, hortelã, jucá,
mangueira, marcela, marupá, mururé, mastruz, mucura
caá, paricarana, pinhão branco, pinhão roxo, pirarucu
caáquina quina, mangueira, saracuramirá, são joão caá,
sucuba, vassourinha
DOENÇA DO SANGUE E DOS ÓRGÃOS
HEMATOPOÉTICOS E ALGUNS
TRANSTORNOS IMUNITÁRIOS
anemia, diabetes, fortificante,
hemorragia
açaí, abacateiro, amapá doce, castanhola, chichuá,
jatobá, jenipapo
86
Continuação da TABELA 16
Categoria das doenças
Enfermidades citadas pelos
informantes
Plantas citadas pelos informantes
NEOPLASIAS (TUMORES)
Câncer
amapá doce, erva de passarinho, graviola, ipê, sucuba,
urtiga vermelha
DOENÇAS DO APARELHO DIGESTIVO
Afta, azia, catarro intestinal, cólica-
criança, dor de dente, dor de estômago,
fígado, gases, gastrite, piorréia (dente),
prisão de ventre, úlcera, vomitório
algodão roxo, anador, amor crescido, arruda,
azeitoneira, boldo grande, boldo pequeno, buchinha,
cajueiro, capim cheroso, carapanaúba, casca doce,
cebola brava, cerveja, chicória, cidreira, erva de
passarinho, hortelã, goiabeira, hortelanzinho, ipê, jaca,
jambú, laranjeira, mangueira, malvarisco, mamona,
marcela, mucura caá, muruci, panquile, pau rosa,
pirarucu caá, preciosa, puxurí, quina quina, rinchão,
salvinha, saracuramirá, taperebá, tiriríca, uchi torrado,
ucuúba, urubú caá
DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO
Asma, bronquite, catarro no peito,
garganta, gripe, nariz entupido,
pneumonia, problemas pulmonares,
rouquidão, sinusite, tosse, tuberculose
alfavaca, algodão roxo, amapá doce, avencá, capim
cheroso, cipó alho, copaíba, corama, eucalypto, horiza,
hortelã, ipê, jamacarú, japana, jucá, limeira, limoeiro,
malvarisco, mastruz, mucura caá, pinhão branco,
pinhão roxo, salvinha, sucuba, trevo roxo, vindicá
DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO
Circulação do sangue, coração,
elefantíase, hemorróida, pressão alta,
veia entupida
batatinha roxa, captiú, embaúba branca, pata de vaca,
vindica
DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO
Calmante, dor de cabeça, nervosismo
alfavaca, anador, arruda, breu branco, camapú, capim
cheroso, cidreira, cipó alho, cipó cravo, copaíba,
corama, laranjeira, limeira, limoeiro, marcela, miratã,
mucura caá, pinhão roxo, preciosa
DOÊNÇAS DA PELE E DO TECIDO
SUBCUTÂNEO
Alergia, impinja, manchas na pele,
pano branco, queda de cabelo, úra
açaizeiro, amor crescido, castanhola, cumarú, fava,
massaranduba, marcelarana, mata pasto, seringueira,
tabaco do mato
GRAVIDEZ, PARTO E PUERPÉRIO
Abortivo, hemorragia de parto,
algodão roxo, carapanaúba
DOENÇAS ENDÓCRINAS, NUTRICIONAIS E
METABÓLICAS
diabetes, emagrecer
amor crescido, castanheira, cipó tuíra, eucalypto,
gergelim, pata de vaca, pitanga, quina quina,
87
Continuação da TABELA 16
Categoria das doenças
Enfermidades citadas pelos
informantes
Plantas citadas pelos informantes
DOENÇAS DO OUVIDO E DA APÓFISE
MASTÓIDE
Dor de ouvido
castanheira, trevo roxo
DOENÇAS DO OLHO E ANEXOS
Carne crescida, limpeza ocular, tumor
no olho
andiroba, corama, chicória
88
4.10. INTERAÇÃO COMUNIDADE NATUREZA
4.10.1. INTERAÇÃO RIBEIRINHO NATUREZA
Observa-se a forte relação que entre os comunitários e a natureza, principalmente
com respeitos às práticas utilizadas para cura das enfermidades (FIGURA 16). Apenas os
casos mais graves são removidos para os centros médicos do município.
FIGURA 16 - Avó fazendo a assepsia no neto contra a picada de insetos.
Todos os moradores informaram pelo menos um tratamento utilizando as plantas
medicinais. A forma como adquiriram o conhecimento na maioria dos casos foi através dos
mais idosos, repassados dos mais velhos para os mais jovens, conforme os relatos:
“Eu era criança, tinha 8 anos em Manaus, me dei com uma velha, tinha uma senhora
chamada Gertrudes, uma índia Miranha, ela me ensinou muito remédio e queria
ensinar pra mim, porque sabia que eu tinha muita vontade.”
89
São através desses relatos que se observou o uso das espécies nativas, que embora os
comunitários fazem muitas referências, são as aclimatadas que se destacam quanto aos usos.
A grande diversidade de plantas que são utilizadas na medicina caseira leva os
comunitários a acreditar que:
“Tudo quanto é planta, casca de pau, serve pra remédio.”
“Todos os matos serve pra cura de doença”
Acreditam também que num futuro próximo, diante da necessidade de cura, as
plantas que hoje não tem nenhuma finalidade terapêutica possam ser usadas:
“O olho dessa Favera aqui; será que um dia a gente com necessidade não vai tirar
um remédio dela ?”
Outro fato notável do uso das plantas pelos comunitários, é conhecido por alguns
como “plantas da vida”, onde algumas espécies são utilizadas para todos os tipos de males.
“Arruda serve pra qualquer tipo de doença.”
“O leite de gergelim é bom pra qualquer tipo de doença.”
E para algumas enfermidades são atribuídas à cura misteriosa por meio das plantas.
“O chá da unha de gato é bom pra endireitar coluna.”
Algumas práticas e contra-indicações são adotadas no uso e na preparação dos
medicamentos.
“Se for pequinininho toma uma colher pequena, se for adulto toma uma colher de
sopa.”
90
“Cada vez que você toma um chá, que não sentir melhora tem que parar pra toma
outro.”
“Primeiro banha o corpo, depois passa pra cabeça..”
“Não pode tomar arruda mais de duas vezes ao dia, porque ela é muito forte.”
“O remédio também ele mata se toma demais.”
4.10.2. ASPECTOS DE ETNOCONHECIMENTO E ETNOCONSERVAÇÃO
O conhecimento das comunidades ribeirinhas sobre os aspectos ecológicos é
freqüentemente negligenciado. É preciso reconhecer a existência, entre as sociedades
tradicionais, de outras formas, igualmente racionais de se perceber a biodiversidade, além das
oferecidas pela ciência moderna (DIEGUES 2000).
Para Posey (1987b) e Toledo (1992), o uso de recursos naturais por populações locais,
de origem rural, é orientado por um conjunto de conhecimento acumulado, resultante da
relação direta de seus membros com o meio ambiente, motivada por um modo de vida que
ainda guarda acentuada dependência da natureza próxima. Por meio de observações atentas
aos ciclos naturais, da troca de informações entre os pares sociais e do legado cultural, estas
populações constroem seu modo de intervir na natureza. Compreender estas práticas é o
objetivo etno.
Se tirar a madeira ela morre Dona Neide, 59 anos, falando que não se coleta os
galhos, e somente as folhas do hortelã grande.
Ele não matava os bichos pra vender, era pra nós mesmo” Dona Mocinha, 68
anos, referindo-se a prática de conservação que seu marido fazia.
91
Primarck; Rodrigues (2001) declaram que a proteção do meio ambiente é uma tarefa
tanto local quanto global. Questões ambientais geralmente relacionadas à conservação na
natureza estão entre as mais críticas para a humanidade, em razão de os seres humanos
dependerem dos recursos extraídos do ambiente para garantir sua sobrevivência.
Ainda sobre a etnoconservação, alguns especialistas da área, como Diegues (2000)
consideram que os saberes tradicionais e as diferentes culturas de uma região, contribuem na
manutenção da biodiversidade dos ecossistemas; esses saberes são resultados de uma co-
evolução entre as sociedades e seus ambientes naturais, o que permitiu a conservação e o
equilíbrio entre ambos.
Os comunitários tem uma íntima relação com o ambiente que os cercam e absorvem a
todo instante os ensinamentos dos mais velhos e mais experientes, repassando seus
ensinamentos as gerações futuras, observando a relação das plantas com o ambiente ou etno-
habitats.
“Aqui tudo é areia, nóis planta as planta no tempo chuvoso, mas quando vem o
verão morre tudinho”
“O cipó tuíra só dá no mato”
“A quina quina, a carapanaúba, a andiroba, os cipó só dão no mato, nóis num
planta”
“O capim cheroso é plantado, ele não dá no mato, tira a batata e planta, e aí nasce”
E em alguns casos passa despercebido aos comunitários, determinadas fases de
plantas, embora sejam freqüentemente utilizadas por eles, como é registrado nos depoimentos
a seguir:
92
“O capim cheroso não dá nada, flor e nem fruto, é simples de tudo”
“Hortelã grande não dá fruto nem semente, só o filho”
“A japana não dá flor”
“Ela só dá flor, não dá fruto” Trevo roxo
Observa-se também a compreensão das etnoespécies até mesmo nos mais jovens.
“Tem dois tipo de mastruz, o da foia grossa, e o da foia piquena”
Evidencia-se também os aspectos etnoecológicos
“A sucuba não dá leite com o sol forte é que nem a seringueira, só dá pela manhã”
“Eu acho que toda espécie dá flô, porque se não tivesse não nascia”
“A corama nasce até da folha, que nem o jambu
Nos depoimentos são evidenciados termos que a comunidade usa para se referir a
forma de uso das plantas medicinais utilizadas nos tratamentos, como “insumo” o mesmo que
maceração.
“Nós faíz dois tipo de preparo, o chá e o insumo”
“Da carapanaúba faz o insumo, deixando dum dia pro outro”
93
4.10.3. ANIMAIS E DERIVADOS ORGÂNICOS PARA FINS MEDICINAIS
Alguns moradores citaram partes de animais silvestres que são utilizados só, ou junto
com partes vegetais para cura de algumas enfermidades. Bortolotto (1999), Loureiro (1999) e
Jorge (2001) também constataram o uso de partes de animais no tratamento de doenças.
Os comunitários descreveram também algumas composições terapêuticas que levam
partes de animais; folha de caapeba (Pothomorphe peltata (L.) Miq.) e banha de porco,
macera a folha e acrescenta a banha, pondo sobre o baque. Folha de mastruz (Chenopodium
ambrosioides L.) com gemada de ovo de galinha, faz-se o xarope e toma contra baque.
Mastruz com leite de gado contra verminoses e limpeza do pulmão. Folha de menda junta
(Alternanthera micrantha R. E Fries ), folha de mastruz e banha de sucuriju, pila as folhas e
acrescenta a banha, aplicar sobre a fratura. Folha de pirarucu-caá (Bryophyllum calycimum
Salisb.), banha de sucurijú e banha de porco, macera a folha e acrescenta as banhas, aplicar
sobre o ferimento, estanca o sangue e evita o inchaço. Óleo de andiroba (Carapa guianensis
Aubl.) com minhoca torrada, pilar a minhoca e acrescentar o óleo, contra desmentidura e
fratura.
“A andiroba com a minhoca torrada endireita desmentidura”
Foi descrita também a semente de cumarú (Dipteryx odorata Willd.) mais álcool, após
pilar a semente acrescentar o álcool e inalar em seguida agindo contra dor de cabeça. Suco de
limão (Citrus limonum (L.) Burn. f.) com sal, tanto para tomar o suco contra diarréia, como
para aplicar a composição em cima do baque. Folha de trevo roxo (Hyptis atrorubens Poit.)
mais mel de abelha, faz-se o chá contra inflamação de garganta. Leite de Amapá (Brosimum
potabile Ducke), folha de mastruz e mel de abelha, bater tudo e tomar contra a gastrite.
94
Babosa (Aloe vera (L.) Burm. f.), vinho e mel de abelha, faz-se o xarope contra o câncer e
ferida “brava”.
Pedra de anil em cima da ferida da Leishmaniose e óleo diesel aplicado em
cima do corte para estancar o sangue.
95
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo tempo de convivência na área pesquisada, e com base nos resultados obtidos
pôde-se considerar que a comunidade maneja os recursos naturais, tanto na época da vazante
do Rio Anebá, como na época seca, mostrando a interação com o meio em busca de prover
sua sobrevivência, evidenciado na fala do comunitário:
“Quando o anebá ta cheio nóis pesca mais, assim nóis vive melhô, mas quando ta
seco e o peixe é difícil nóis trabalha mais na roça, e alguns mata caça”.
Uma dificuldade que também foi encontrado por Leitzke (2003), é que na pesquisa
etnobotânica o tempo é o principal fator para compreender e interpretar o conhecimento, a
cultura, manejo e usos da flora e da fauna que cerca a comunidade, precisando de mais tempo,
anos de convivência.
A utilização de plantas com propriedades terapêuticas é o principal meio de cura que a
comunidade utiliza para os mais diversos males, tanto físicos como espirituais.
A maioria dos informantes foi do sexo feminino, mostrando mais conhecimento e
habilidade na manipulação dos vegetais. A faixa etária dos informantes variou de 18 a 74
anos. A maioria procede de outras regiões do estado. O tempo de residência dos informantes
está entre 3 meses a 26 anos e a ocupação dos comunitários se divide entre agricultores,
aposentados, caseiros, donas de casa, operador de motosserra e professora, e há uma média de
5 filhos para cada família.
Através das coletas qualitativas e coletas botânicas foram compiladas 120 espécies
vegetais com suas aplicações, distribuídas em 60 famílias.
O hábito arbóreo foi o mais freqüente, seguido do herbáceo e do arbustivo. As partes
mais utilizadas das plantas no preparo dos remédios são as folhas e a casca. Das 71 formas
96
diferentes de preparo, a mais citada foi o chá, com a indicação de uso interno predominando.
As plantas mais citadas foram a carapanaúba (Aspidosperma nitidum Benth.), capim
cheroso (Cymbopogon citratus d. c. Stapf), salvinha (Hyptis crenata L.) indicadas para o
aparelho digestivo, o mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) para lesões e a corama
(Kalanchoe pinnata (Lamarck) Persoon) doenças infecciosas e parasitárias. O capim cheroso,
hortelanzinho e a salvinha apresentaram o maior CUP.
Todos, jovens e adultos, conheciam pelo menos uma planta medicinal e sua utilização.
Para a comunidade, o principal meio de combate as doenças é a boa alimentação,
principalmente de alimentos extraídos da natureza. Tem também a que contribui pra cura
de doenças com plantas medicinais.
Este estudo permitiu observar como o homem ribeirinho se adapta ao meio onde vive
em diferentes épocas do ano, conseguindo manter uma intima relação com a natureza,
extraindo dela recursos úteis para sua sobrevivência, sem degradar o meio onde vive.
O conhecimento das plantas medicinais pela comunidade é evidenciado pelos
múltiplos usos que os informantes fazem. E o repasse desse conhecimento para as gerações
subseqüentes tem propiciado a sobrevivência e permanência dessas populações através dos
tempos.
97
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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