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Carolina Silva Oukawa
Edifício Copan:
uma análise arquitetônica com inspiração na disciplina alise
musical
Dissertação apresentada à Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de
Mestre em Arquitetura e Urbanismo
Área de Concentração:
Projeto de Arquitetura
Orientador: Prof. Dr. Anália Maria
Marinho de Carvalho Amorim
São Paulo
2010
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AUTORIZO A REPRODÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER
MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A
FONTE.
E-MAIL: musarq@gmail.com
Oukawa, Carolina Silva
O93e Edifício Copan : uma análise arquitetônica com inspiração
na disciplina análise musical / Carolina Silva Oukawa.
São Paulo, 2010.
211 p. : il.
Dissertação (Mestrado - Área de Concentração: Projeto de
Arquitetura) - FAUUSP.
Orientadora: Anália Maria Marinho de Carvalho Amorim
1. Projeto de arquitetura 2. sica 3. Edifício Copan
I. Título
CDU 043:72.011.22.37
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À Dona Ilka Roth,
minha primeira orientadora.
Agradecimentos
A meus pais e meu irmão, pelo amor, formação, apoio e tantas outras coisas;
À professora Anália Amorim, minha orientadora, pela confiança que teve em mim;
À professora Adriana Lopes Moreira, do Departamento de Musica da ECA-USP, pela co-
orientação dedicada e imprescindível, embora não sendo oficialmente inscrita;
À professora Klara Kaiser por, além de tudo, aceitar participar da banca;
Aos professores Antonio Alexandre Bispo e Elliot Antokoletz, pela orientação inspiradora
no início e na reta final da pesquisa;
Ao professor Carlos Lemos, por ter me ajudado sem saber;
Aos professores Júlio Katinsky, Helena Ayoub e Maria Luiza Correa, pelo empurrão inicial
na Maranhão e aos professores Maria Cecília Loschiavo, Antonio Carlos Barossi, Jonas
Malaco, Alexandre Delijaicov e Milton Braga, pelo incentivo desde os tempos da
Graduação;
Aos professores do Departamento de Música da ECA-USP, Rogério Costa, Amílcar Zani,
Marco Antonio da Silva Ramos e Fernando Henrique Iazzetta, que me apresentaram
conceitos fundamentais para que eu pudesse imaginar esta pesquisa;
A Neusa Abe, Iracema, Lucas e Paola, da biblioteca da FAU;
Aos colegas da classe de Analise Musical III de 2008;
Aos pesquisadores Edson Tani, Silvio Moreira e Jane Vital, por me apontarem novos rumos
para o pensamento e para as relações de arquitetura e música;
Ao síndico do Copan, Sr. Affonso Celso Prazeres de Oliveira e funcionários do
condomínio: Ezequiel, Severino, Charles, Francisco e e ainda ao Sr. Oliveira da Silva
Marques, por me receberem e guiarem nas inúmeras visitas;
A Gabi e Mari Tamari, Ricardo, Rodrigo e Renata, moradores do Copan, por me abrirem as
portas de suas casas;
Ao Rodher, amigo querido desde a Graduação, pelo incentivo e suporte irrestrito a esta
pesquisa;
Ao Marcos Kiyoto, pela ajuda que foi muito além do tratamento dos desenhos;
À Dina Roldan, pela inspiração desde os primórdios desta pesquisa;
Ao Michel Vale, pela ajuda, companheirismo e amizade que só crescem;
À Monica Levy Andersen, pelo incentivo e a prontidão com que leu alguns capítulos deste
trabalho;
Ao Pedro Nakamura, por ter conseguido alguns milagres;
A Andrea Boller e Maria Teresa, pela atenção e o apoio mais que bem-vindo nos momentos
finais;
E ainda: à Ana Paula Cury, Andrea Camargo, Bruno Menegatti, Fábio Manzione, Família
de Tani e Isoda, Karen Yokoyama, Luiz Imenes, Maria Cecília de Oliveira, Mariana
Mercaldi, Marina Borges, Nicolas Leo, Pingado Sociedade Ilustrativa, Rafael Borges,
Virgínia Bessa, Verônica Zamaloa e Wanda Ribeiro, pelas conversas, apoio e amizade.
Resumo
Esta pesquisa investiga a contribuição da análise musical, disciplina
consolidada no estudo de música, ao desenvolvimento de uma disciplina
analítica em arquitetura. Para tanto, empreendeu-se a análise do Edifício
Copan (1951), de Oscar Niemeyer, a partir dos parâmetros musicais adotados
por Stefan Kostka (2006). Por meio da análise de um exemplar arquitetônico,
procurou-se apontar a procedimentos inerentes à análise arquitetônica de
modo geral, propondo-se a elaboração de parâmetros mais sensíveis do que
os verificados até o presente.
Abstract
This research examines the contribution of the Musical Analysis, a
traditional discipline in the study of music, to the development of an
analytical discipline on architecture. To do so, an analysis of Copan Building
(1951), built by Oscar Niemeyer, has been done based on musical parameters
adopted by Stefan Kostka (2006). Through this architectural case study, this
report aimed at pointing the general procedures involved in the architectural
analysis out, suggesting the development of more sensitive parameters than
those found so far.
Sumário
Lista de Figuras p.x
Introdução p.1
Capítulo 1 Breve introdução aos conceitos e procedimentos básicos
da análise musical p.5
1.1 Das disciplinas de estruturação musical à disciplina análise musical
versus a lacuna de disciplina analítica em arquitetura p.5
1.2 Parâmetros e estratégias para a análise musical p.9
Capítulo 2 Da análise musical à análise arquitetônica p.20
2.1 Edifício Copan: uma análise arquitetônica p.20
2.2 Adendo: Possíveis associações de aspectos musicais à arquitetura a
partir da análise do Edifício Copan p.123
Capítulo 3 Desvendando a análise: algumas diretrizes para uma
análise arquitetônica a partir do percurso analítico do
Edifício Copan p.127
3.1 Percurso da Análise Arquitetônica empreendida p.127
3.1.1 Quadro sinóptico da análise do Edifício Copan p.134
3.2 Generalização dos parâmetros p.135
3.2.1 Quadro sinóptico para a análise arquitetônica p.136
Conclusão p.137
Bibliografia p.141
Apêndices
Apêndice A: Análise Musical: Primeiro movimento da Música para
cordas, percussão e celesta, de Béla Bartók (1936) p.145
Apêndice B: Projeto de pesquisa de Mestrado – Arquitetura e Música:
Relações de criação e análise entre projeto e composição a
partir do Stretto em Steven Holl e Béla Bártok p.168
Apêndice C: Processos produtivos em arquitetura e música: associações
por oposição p.186
Apêndice D: Relato de disciplina cursada: CMU0309 – Contraponto IV
2007, professor Rogério Costa p.189
Apêndice E: Primeiro texto sobre a relação entre arquitetura e música
(dezembro de 2002) p.191
Anexos
Anexo A: Disciplinas obrigatórias das Graduações em música e
arquitetura e urbanismo da USP p.193
Anexo B: Lista de Plantas consultadas (acervo FAU-USP) p.198
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x
Lista de Figuras
1
Figura 1 – Edifício Copan (Foto: Marcos Kiyoto) p.22
Figura 2 Situação: área total destinada ao empreendimento p.24
Figura 3 – Fragmento de planta original do Térreo (Bloc 1952:120) p.24
Figura 4 – Ensaio volumétrico: fachadas Norte e Sul (Bloc 1952:120-1) p.25
Figura 5 – Ensaio volumétrico. Ilustração publicada como versão final do projeto
(Bloc 1952:135). p.25
!
Figura 6 – Implantação p.26
Figura 7 – Disposição dos Blocos de apartamentos na Lâmina p.29
Figura 8 – Disposição dos Corpos estruturais na Lâmina p.29
Figura 9 – Junta de dilatação entre Corpos 2 e 3 p.30
Figura 10 – Junta de dilatação entre Corpos 1 e 2 p.30
Figura 11 – Fachada Norte p.31
Figura 12 – Fachada Leste p.31
Figura 13 – Fachada Sul p.32
Figura 14 – Fachada Oeste p.32
Figura 15 – Entrada Bloco E p.34
Figura 16 – Entrada Blocos C e D p.34
Figura 17 – Entrada Lojas p.34
Figura 18 – Entrada Bloco A p.34
Figura 19 – Entrada Cinema p.35
Figura 20 – Lojas da Rua Un p.35
Figura 21 – Rua Unaí e base dos edifícios p.35
Figura 22 – Escada-apêndice p.37
Figura 23 – Elevação Norte
2
p.38
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1
Os desenhos do projeto (exceto croquis) o adaptações a partir do acervo da FAU-USP. Figuras sem
citação de fonte são de autoria própria.
2
As Figuras de 23 a 27 foram elaboradas pelo arquiteto Marcos Kiyoto de Tani e Isoda especialmente
para este trabalho.
!!
!
Figura 24 – Elevação Leste p.38
Figura 25 – Elevação Sudeste
p.39
Figura 26 – Elevação Sudoeste p.39
Figura 27 – Corte Longitudinal p.40
Figura 28 – Corte longitudinal dos pavimentos da Base p.41
Figura 28A – Ampliação p.41
Figura 28B – Ampliação p.41
Figura 29 – Base, elevação Leste: Rua Vila Normanda p.42
Figura 30 – Base, elevação Norte: Rua Unaí p.42
Figura 31 – Base, elevação Norte: Rua Unaí (continuação) p.43
Figura 32 – Base, elevação Norte: Rua Araújo p.43
Figura 33 – Subsolo 2 p.45
Figura 34 – Subsolo 1 p.46
Figura 35 – Anotações a partir da planta do Subsolo 2 p.48
Figura 36 – Anotações a partir da planta do Subsolo 1 p.48
Figura 37 – Pilar original p.49
Figura 38 – Pilar com reforço estrutural p.49
Figura 39 – Vagas inclinadas p.49
Figura 40 – Rampa do Subsolo 1 ao Subsolo 2 p.49
Figura 41 – Subsolo com teatro p.50
Figura 42 – Térreo (Galvão 2004: 15) p.51
Figura 43 – “Ilha” de lojas p.54
Figura 44 – Parede de elemento vazado sobre entrada da garagem sobre Rua Araújo
(Foto: Marcos Kiyoto Isoda) p.54
Figura 45 – Portaria do Bloco B p.54
Figura 46 – Sobreloja p.55
Figura 47 – Esquema da escada rolante não construída p.58
Figura 48 – Rebaixo da escada rolante p.58
Figura 49 – Torção no piso p.58
Figura 50 – Sobreloja: percurso iniciado a partir do Bloco F p.61
Figura 51 – Sobreloja: percurso iniciado a partir do Bloco A
p.61
!
xii
Figura 52 – Exemplos da variedade de caixilhos no pavimento Sobreloja p.63
Figura 53 – Exemplos de sala iluminada (Foto: Marcos Kiyoto Isoda) p.63
Figura 54 – Diminuição do pé-direito p.64
Figura 55 – Corte transversal p.64
Figura 56 – Estrutura da platéia do cinema p.64
Figura 57 – Corte do Foyer não construído p.65
Figura 58 – Planta do Foyer p.66
Figura 59 – Foyer com “paliteiro p.69
Figura 60 – Chegada da escada ferradura ao Foyer (Foto: Marcos Kiyoto) p.70
Figura 61 – Pilar contendo junta de dilatação entre corpos 1 e 2 (Foto: Marcos Kiyoto) p.70
Figura 62 – Varanda coberta (Foto: Marcos Kiyoto) p.70
Figura 63 – Terraço original (Bloc 1952: 121) p.71
Figura 64 – Terraço de acordo com planta da prefeitura p.72
Figura 65 – Terraço de acordo com planta da prefeitura p.73
Figura 66 – Pavimento tipo p.76
Figura 67 – Bloco A
3
p.77
Figura 68 – Bloco B p.78
Figura 69 – Bloco C p.79
Figura 70 – Bloco D p.80
Figura 71 – Blocos E e F originais p.81
Figura 72 – Bloco E construído (1º ao 12º pavimento) p.82
Figura 73 – Bloco E construído (13º ao 32º pavimento) p.82
Figura 74 – Bloco F p.83
Figura 75 – Rampas do Bloco B p.85
Figura 76 – Esquema da circulação vertical do Bloco B p.85
Figura 77 – Janelas na circulação das áreas comuns do Bloco B p.85
Figura 78 – Configuração original do pavimento tipo (Bloc 1952: 120) p.86
Figura 79 – Fachada Sul (Kon 2004: 80-81) p.89
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3
A descrição dos apartamentos, conteúdo das legendas de Figura 67 a 74, foi extraída de Galvão,
pp.31-35.
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xiii
Figura 80 – Fachada Norte (Kon 2004: 6-7) p.90
Figura 81 – Dimensões e detalhes comparativos entre os brises Sul e Norte p.92
Figura 82 – Detalhe de fixação (console) p.93
Figura 83 – Brise, fixação e caixilho p.93
Figura 84 – Esquema da distribuição de vidros retos e curvos ao longo da Lâmina p.95
Figura 85 – Exemplos de esquadrias que compõem os panos de vidro p.96
Figura 86 – Independência entre caixilho e estrutura p.97
Figura 87 – Relação entre alvenaria e estrutura em quitinete do Bloco B p.99
Figura 88 – Croqui da disposição dos pilares dos Blocos E e F p.100
Figura 89 – Transição (Cobertura do Terraço) p.102
Figura 90 – Corte contendo viga de transição e cobertura do cinema p.103
Figura 91 – Detalhe da transmissão de carga na viga de transição p.104
Figura 92 – Cobertura da Lâmina: Terraço-Mirante p.106
Figura 93 – Cobertura da Lâmina: Segundo piso do Terraço-Mirante p.107
Figura 94 – Cobertura da Circulação B p.108
Figura 95 – Tubulação e junta de dilatação p.108
Figura 96 – Vista Aérea a partir da Cobertura damina p.108
Figura 97 – Anotações a partir da planta da Transição p.110
Figura 98 – Croqui do contato entre viga trapézio e laje externa do piso de Transição p.110
Figura 99 Vigas calha da cobertura do cinema p.111
Figura 100 –u desenhado pelamina nos Blocos B e A e circulações verticais p.114
!
Figura 101 – Céu desenhado pela Lâmina entre as circulações de B e E p.114
Figura 102 – Comparação entre desenho de céu e desenho formado pela relação entre
a laje da sobreloja e o pilar curvo p.116
!
Figura 103 Céu desenhado pelamina entre as circulações de B e F p.118
Figura 104 – Ferragens de portas e janelas p.121
!
1
Introdução
É curioso constatar quantos estudantes de Arquitetura se
interessam por música e também quantos jovens músicos
resolvem fazer o curso de Arquitetura
(Bispo 1999: 25).
1
Existem, comprovadamente, relações entre arquitetura e música. Há vasta
bibliografia em torno do assunto, que sugere diversas abordagens possíveis, a maioria
ainda em estágio inicial de aprofundamento. Esta pesquisa optou por estudar a
relação analítica entre as duas artes.
Em um primeiro momento, constatou-se que a disciplina analítica em música é
algo consolidado, enquanto a análise em arquitetura não chega a constituir, de fato,
uma disciplina. Essa constatação, da existência da análise musical, somada ao estudo
dos conceitos musicais e métodos envolvidos na disciplina, conduziu a uma
percepção de que a disciplina analítica em arquitetura seria algo útil e desejável.
Somos obrigados a constatar que a análise arquitetônica está ainda
numa fase muito mais incipiente e primária que a musical. É até
mesmo uma disciplina que falta no estudo da Arquitetura e do
Urbanismo. Ela poderia vir a ser muito útil na compreensão do fato
urbano e no seu domínio e manipulação criadora, visando a
melhoria da qualidade de vida, uma vez que diz respeito à
harmonia da cidade e dos seus habitantes
(Bispo 1999: 60).
Apostando-se na pertinência das relações entre as duas artes, o passo seguinte
deveria ser verificar se a metodologia da análise musical poderia realmente fornecer
princípios para a análise arquitetônica.
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1
Antonio Alexandre Bispo é arquiteto formado pela FAU-USP em 1973. Possui também formação
como musicólogo, regente e pesquisador cultural. Autor de textos que abordam a relação analítica entre
arquitetura e música, entre outros. Atualmente, preside a Academia Brasil-Europa de Ciência da
Cultura e da Ciência (ABE), com sede na Alemanha e é professor extraordinário da Faculdade de
Filosofia da Universidade de Colônia, onde ministra disciplinas de Estética e Etnomusicologia.
!
2
O método escolhido para a verificação consistiu na própria realização de um
percurso analítico em arquitetura, procurando seguir, inicialmente, a estruturação
básica do percurso analítico em música. Para tanto, foi eleito como objeto da análise o
Edifício Copan, de autoria de Oscar Niemeyer, construído entre as décadas de 1950 e
1960 no centro de São Paulo. A escolha fundamenta-se no fato de o Copan ser uma
obra de porte significativo, por sua presença urbana, complexidade programática e
ainda pela relevância indiscutível de sua arquitetura e de seu autor, fatores que,
reunidos, contribuem para validar a tentativa de desenvolvimento de um percurso
analítico generalizável em arquitetura. Assim, a partir da análise de um exemplar
arquitetônico, puderam ser apontadas características inerentes à análise arquitetônica
de modo geral, dando início a um esboço do que poderia ser uma disciplina analítica
em arquitetura.
Por se tratar de uma dissertação de Mestrado defendida na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo que, embora estabeleça relações com fatores externos à
arquitetura, propõe um estudo neste campo específico do conhecimento, houve um
esforço para priorizar arquitetos e urbanistas e não músicos como o público alvo
deste trabalho. A estrutura da dissertação procurou levar em conta o fato de que esse
público seja composto por arquitetos interessados nas questões e possibilidades de
uma análise em arquitetura, porém não necessariamente estudiosos de música. Assim,
o texto procurou criar um caminho tão independente e direto quanto possível para
tratar de arquitetura, por mais que a inspiração para a análise arquitetônica tenha
origem nos procedimentos da análise musical.
Desta maneira, o capítulo de abertura apresenta apenas brevemente alguns
conceitos básicos da análise musical como disciplina estruturada, evidenciando a
insuficiência da disciplina analítica em arquitetura. É preciso ter em mente que o foco
!
3
da análise musical constitui os materiais e métodos empregados na criação da obra.
Independente do maior ou menor conhecimento dos termos musicais apenas
brevemente apresentados, recomenda-se que o leitor procure compreender a maneira
estruturante como atuam os parâmetros analíticos estabelecidos a partir deste foco.
No segundo capítulo, será apresentada a análise arquitetônica do Edifício
Copan. Este capítulo possui um adendo, no qual são apresentadas algumas
associações livres entre arquitetura e música identificadas durante a pesquisa e que
puderam ser de certa maneira confirmadas na análise do Copan.
O terceiro capítulo expõe os bastidores da análise arquitetônica empreendida,
ou seja, os pontos estruturantes do percurso, assim como aqueles apontados para a
análise musical no capítulo de abertura. O texto justifica e aprofunda apontamentos e
parâmetros utilizados na análise do Edifício Copan. Realiza-se, então, o trabalho de
levantar e identificar procedimentos que poderiam ser gerais para uma análise
arquitetônica a partir da análise do Copan, diferenciando esses procedimentos gerais
dos “locais”, a fim de alcançar procedimentos básicos de análise arquitetônica.
A conclusão reafirma a defesa da necessidade da análise arquitetônica, seu
potencial de ampliar a compreensão de parâmetros razoavelmente conscientes
envolvidos no processo de criação e as possibilidades de desdobramento e expansão a
partir do enfoque adotado neste texto. Importante explicitar que este trabalho não
pretende impor um único método possível de análise arquitetônica, e sim defender a
elaboração de parâmetros mais sensíveis e objetivos para uma disciplina analítica em
arquitetura.
É importante observar como coexistem, neste texto, duas possíveis abordagens
da relação entre arquitetura e música: a primeira, metodológica, investiga a
contribuição da disciplina análise musical a uma disciplina analítica em arquitetura. É
!
4
no que consiste o eixo da investigação. A outra, associativa, busca identificar relações
gerais entre arquitetura e música e tem o potencial de alimentar o estudo
metodológico. É o que prevalece no conteúdo do adendo ao capítulos dois, além de
em parte da conclusão.
Os apêndices e anexos ao final do texto procuram elucidar o percurso da
investigação e as influências diretas da análise musical e associações entre arquitetura
e música às motivações do trabalho, por meio de relatos, ensaios, documentos e
exemplo de análise musical empreendido ao longo da pesquisa.
!
5
Capítulo 1
Breve introdução aos conceitos e procedimentos básicos da análise musical
1.1 Das disciplinas de estruturação musical à disciplina análise musical versus
a lacuna de disciplina analítica em arquitetura
O ensino de estruturação musical, tal como está estabelecido nas Graduações em
Música das universidades brasileiras,
1
contempla os estudantes de todos os cursos
oferecidos: composição, regência, licenciatura, instrumento e canto, dentre outros. As
disciplinas de estruturação tais como harmonia, contraponto e percepção musical
apesar de ditas “teóricas” são eminentemente práticas, uma vez que são ministradas a
partir de pequenos exercícios composicionais, orientados por princípios inicialmente
unilaterais e restritos, a exemplo do que diz Arnold Schoenberg sobre o ensino de
harmonia:
(...) no ensino da harmonia, sesem dúvida útil derivar a essência dos
encadeamentos unicamente da essência dos acordes, excluindo os
fatores rítmicos, melódicos etc. Porque seria tão grande a
complexidade que se originaria se todas as possibilidades das funções
harmônicas fossem combinadas com todas as possibilidades rítmicas e
temáticas que impediria uma visão de conjunto, tanto para o professor
como para o aluno (...). Para o encadeamento de acordes o é preciso
muito mais do que evitar os movimentos não melódicos (...). Eu parto
de frases muito simples, cujo objetivo cresce à medida que se
disponha de novos meios, desde as cadências mais simples, passando
pelas modulações, num progressivo exercício das habilidades
adquiridas. A vantagem desse método é que o aluno, em certo sentido,
come desde o primeiro momento [grifo nosso] (Schoenberg 1999:
50-51).
!
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1
Início da cada de 1970. Dentro desta pesquisa, cabe apenas mencionar que a inserção do curso de
música atrelado às escolas de comunicação e artes foi amplamente questionada, conforme exposto em
BISPO, op. cit. p. 25. Necessário dizer também que o objeto central de estudo do curso de Graduação do
Departamento de Música da ECA-USP é a música erudita do Ocidente, à qual se referem os parâmetros
da disciplina análise musical.
!
6
Em Schoenberg, fica claro também que a separação sistemática das disciplinas de
estruturação contribui para potencializar seu aspecto de auxiliares introdutórias aos
estudos musicais ditos teóricos. Conforme o aluno adquire o domínio de cada uma delas
isoladamente, o curso desemboca na disciplina análise musical. “A análise musical está
associada a procedimentos de descoberta envolvidos na busca pela compreensão de
estruturas musicais” (Moreira 2008: 223). Nesse contexto, disciplinas como percepção
musical, harmonia e contraponto complementam-se e segundo a professora Adriana
Lopes da Cunha Moreira:
2
A análise musical representa a apropriação da obra musical como
objeto de estudo. O propósito da análise musical é suplementar a
percepção auditiva de uma obra, assim como focalizar elementos que
viabilizem, ampliem e aprofundem sua compreensão. Tendo o estudo
da percepção musical tanto como um subsídio quanto como uma
finalidade do estudo da análise musical, consideramos a composição, a
análise musical e a interpretação como processos intrinsecamente
dependentes e auxiliares. Esses meios estabelecem um relacionamento
de troca de informões imprescindível, mantenedor de sua
sustentação, permanência e renovação.
3
Importante, neste contexto, é ressaltar a adoção de limites na abordagem de um
estudo analítico. Stefan Kostka, autor de estudo introdutório da análise musical,
4
opta
por não ensiná-la por meio do estudo de história da música ou explorar estilos de
compositores individualmente. Propõe-se que o estudante, ciente da contextualização
histórica e estilística, foque o uso do material musical e das técnicas de composição
5
de
maneira generalizante e, posteriormente, analise o emprego destes em obras
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
2
Adriana Lopes da Cunha Moreira é professora do Departamento de Música da ECA-USP,
responsável pelas disciplinas Percepção Musical I a VIII e Análise Musical III.
!
3
Informação extraída do programa da disciplina Análise Musical III, no 1° semestre de 2007.
4
O livro Materials and techniques of twentieth-century music (2006) de Stefan Kostka constitui a base
bibliográfica da disciplina Análise Musical III, no curso de Música da USP. Trata-se de uma referência
adequada para a análise arquitetônica empreendida no Capítulo 2, por reportar à produção musical do
século XX, período em que tamm foi projetado e construído o Edifício Copan.
5
“No attempt is made in the text to teach music history per se or to explore in detail the styles of
individual composers. Instead, the emphasis is on musical materials and compositional techniques
(Kostka 2006: xv).
!!
!
7
consideradas relevantes de cada compositor, formativas de seu estilo individual, por sua
vez inserido no contexto histórico.
A disciplina análise musical assim delimitada aborda, portanto, aspectos da
música. Dados externos à música (históricos, geográficos, sociais, políticos, da
bibliografia do compositor, entre outros) são considerados conforme sua incidência na
formação e manifestação da linguagem musical em questão. Desta maneira, “Sem que
exista qualquer perda de sua autonomia, a análise musical relaciona-se com áreas de
estudo como a teoria da música, a teoria da composição, a estética musical, a crítica, a
história da música, a composição e a performance musical” (Moreira 2008: 225). Para o
estudo de história, por exemplo, a grade curricular dos cursos (nacionais e
internacionais) de Graduação em Música conta com a seqüência de disciplinas de
história da música – História da Música (Ocidental), História da Música Brasileira,
História da Ópera, dentre outros. Sem pretender investigar agora os resultados práticos
desses arranjos curriculares na formação do estudante, partiremos, para esta pesquisa, do
estudo da análise musical proposto por Kostka.
Embora a questão da introdução aos Fundamentos da Arquitetura não seja o tema
da presente dissertação, cabe um parêntese sobre como ela ainda está para se resolver. O
próprio João Batista Vilanova Artigas, por ocasião da transferência do curso de
Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP para o campus da Cidade
Universitária, deixa registrada sua preocupação quanto à existência de um ponto de
partida:
Marcar o Objetivo: Através de uma série de exercícios bem
planificados (com calma e coletivamente) levar o aluno a armar-se da
noção de diversidade de organização espacial possível. Não procurar
forçar uma ‘criatividade’ a partir do nada’ (...). O vício principal está
em escolher temas tanto quanto possível inéditos ou pouco
explorados. Isto reflete a intenção de forçá-lo a ‘criar’ sem experiência
(Artigas 1998: 35).
!
8
A questão de uma insuficiência da disciplina analítica em Arquitetura pode ser
identificada não apenas neste exemplo de Artigas, no âmbito do ensino de projeto de
arquitetura no ateliê, mas também e de modo mais evidente no ensino de história da
arquitetura, ao que se restringem as tentativas de prática de uma análise arquitetônica.
Essas tentativas acabam restritas a pormenores, ao invés de sugerir um percurso que
propicie uma visão sistêmica do material que constitui a primeira expressão do arquiteto,
o projeto. O contato com projetos de arquitetura na disciplina de história ainda se dá por
meio de material gráfico insuficiente à percepção espacial das obras, ou de eventos
isolados da bibliografia de arquitetos.
Retomando-se a afirmação de Bispo, de que não existe propriamente uma
disciplina de análise arquitetônica,
6
vê-se que o argumento poderia ser, de certa forma,
confirmado pelas publicações – livros e revistas especializadas – nas quais não se
encontram material suficiente ao procedimento analítico do projeto, que seriam os
desenhos bidimensionais completos (plantas, cortes e vistas, no mínimo) suficientes para
a compreensão tridimensional do objeto, em escala ou simplesmente legíveis.
A falta de uma disciplina de análise arquitetônica pode comprometer tanto o
desempenho da crítica arquitetônica como a prática do projeto, uma vez que ambas
dependem de um domínio consciente da linguagem do projeto de arquitetura. A ausência
de parâmetros claros para o exercício do projeto não de regras fixas, mas de princípios
generalizáveis – facilitaria a ocorrência de atitudes subjetivistas, conforme definidas
pelo professor Rodrigo Lefèvre
7
.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
6
O Anexo A contém as grades curriculares das disciplinas obrigatórias oferecidas em 2010 pelas
Graduações em sica e em Arquitetura e Urbanismo da USP. Nele, podem-se constatar o percurso das
disciplinas de estruturação musical (harmonia, contraponto e percepção) em direção à análise musical e a
ausência de uma disciplina analítica no curso de arquitetura e urbanismo.
7
subjetivismo: conjunto de atitudes e ões que, exercidas ou executadas de certas formas, tendem a
deixar sempre desconhecida a subjetividade, fazendo com que ela atue na escolha e no desenrolar da ação,
permanecendo inconsciente” (Lefèvre 1977: 8).
!
9
Para complementar o ensaio analítico desta pesquisa, além da motivação
metodológica da análise musical, é preciso considerar o fato de que uma disciplina de
análise arquitetônica deve apoiar-se em parâmetros próprios da arquitetura,
8
para os
quais a disciplina análise musical, da maneira como está estruturada hoje, não apresenta
nenhuma referência significativa. Justamente por tudo isto, as associações livres entre
parâmetros e procedimentos das duas artes não pretendem preencher uma eventual
“tabela de correspondências”, nem realizar nenhum tipo de “tradução literal”. Elas
apenas evidenciam que suspeitas suficientes para se iniciar uma investigação a
respeito da possibilidade e da profundidade de uma motivação do estudo analítico em
música em relação a um estudo analítico em arquitetura, de acordo com o que apontou
Lefèvre:
(...) se tomarmos uma teoria como um objeto, sim, poderá haver de
novo a possibilidade de destrinc-la para procurar os elementos da
cultura à qual ela corresponde, para procurar todos os aspectos
diferentes, para procurar mesmo o seu futuro, para procurar o como
ela foi produzida, o para que ela é usada e o que tem sido necessário
para conservá-la. Mas isso implica não tomar uma teoria como
verdade absoluta: implica to-las como meios, necessariamente,
entre outros para o desenvolvimento do conhecimento [grifo nosso]
(Lefèvre 1977: 42).
1.2 Parâmetros e estratégias para a análise musical
Conforme mencionado na Introdução do presente trabalho, esta seção deve
conter termos do vocabulário musical não necessariamente conhecidos pelos
arquitetos e urbanistas, a quem se destina este trabalho. No entanto, deve-se reforçar o
lembrete de que, mais importante do que o conhecimento dos termos, é a
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
8
Lefèvre propõe a análise dos processos de produção da arquitetura da elaboração do projeto e da
produção material da arquitetura.
!
10
compreensão da base metodológica que orienta os passos do processo analítico, tal
como tem se desenvolvido no estudo da música.
A primeira consideração diante de um trabalho de análise, independente de
qual seja o objeto analisado, diz respeito à estruturação deste objeto, de modo que as
ferramentas adotadas para a análise sejam coerentes com os procedimentos que
nortearam a criação e o modo de produção do mesmo. Este princípio é expresso em
diversos momentos e permeia o texto em que Márcia Schuback
9
realiza uma costura
entre o pensamento do poeta Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e o músico
Anton Webern (1883-1945), artistas alemães pertencentes a períodos distintos, mas de
idéias bastante consonantes. Goethe afirma que “na arte e na ciência, da mesma
maneira que no fazer e no agir, tudo depende de se apreender com pureza os objetos e
de se trabalhar de acordo com a sua natureza” (Goethe, apud Schuback 1999: 30). Ao
que Webern corresponde dizendo que “à base de toda arte, e assim também da
música, encontram-se medidas de com-posição. Desse modo, lidar com essa matéria
como queremos pode ser tomar como ponto de partida uma certa fundamentação
dessa medida de composição” (Webern, apud Schuback 1999: 29).
As afirmações acima indicam que, embora a análise musical seja uma
disciplina consolidada no ensino da música, não se pode perder de vista o fato de que
a música – assim como todas as artes e processos criativos – é um organismo vivo, em
constante transformação. Assim, a ferramenta analítica também precisa ser algo
flexível, quanto maior a proximidade entre o objeto analisado e o momento da análise.
“Uma ferramenta que se pretenda absoluta, abrangente e auto-suficiente (...) acaba por
criar inúmeros problemas para o exame das obras” (Costa 2005: 323).
10
É impossível
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
9
rcia Sá Cavalcante Schuback é filósofa e professora de filosofia na Södertörns Univerisyt College,
na Suécia.
10
Em 2007, o Professor Rogério Luiz Moraes Costa foi o responsável pelas disciplinas harmonia e
contraponto no Departamento de Música da ECA-USP.
!
11
que exista, portanto, um roteiro único para a análise musical. Essa necessária
flexibilidade deve ser levada em conta quando se abordam os parâmetros analíticos,
que não podem liquidá-la, nem tampouco ser liquidados por ela.
No entanto, existem algumas diretrizes para o estudo da análise musical. Os
parâmetros propostos por Stefan Kostka (2006) são válidos para a chamada música
erudita do Ocidente, no contexto da produção musical do século XX. O primeiro
capítulo apresenta o contexto da dissolução da principal força organizadora da música
dos três séculos precedentes, o sistema tonal diatônico (Kostka 2006: 1). Este
processo de dissolução, que também pode ser interpretado como expansão,
transformou os parâmetros musicais pré-estabelecidos e a maneira como se
relacionam, além de introduzir parâmetros novos. De modo geral, Kostka introduz os
parâmetros fazendo referência às transformações ocorridas a partir da música tonal.
Neste primeiro capítulo, o autor aponta para aspectos não tonais presentes na
estrutura da música ainda predominantemente tonal, indicando que, da mesma
maneira em que houve um processo de consolidação do tonalismo, há todo um
processo de dissolução gradual do sistema. Uma dessas relações estruturantes que são
transformadas diz respeito à maneira como as progressões harmônicas tonais
estruturais (além das progressões harmônicas de prolongamento), base da música
tonal diatônica, foram saturadas por cromatismos e às relações que se constituem a
partir dessa mudança na matéria-prima da composição.
O primeiro parâmetro abordado após essa contextualização trata das
formações escalares
11
. Kostka apresenta as variadas formações exploradas pelos
compositores do século XX. Além da escala cromática, são mencionadas como
ampliação das possibilidades das escalas diatônicas as escalas pentatônicas,
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
11
A escala constitui-se da seleção e organização de determinado material de alturas (notas musicais) e
representa uma das fontes de matéria-prima para a composição instrumental, comparável à paleta de
cores do pintor.
!
12
hexatônicas, os modos diatônicos e outros tipos de escalas de sete sons que não
haviam sido usadas durante o período tonal, escalas octatônicas, escalas microtonais e
conjuntos de notas (Kostka 2006: 22-37).
Os capítulos seguintes tratam das dimensões vertical e horizontal da música.
No âmbito da dimensão vertical, Kostka discorre sobre acordes e simultaneidades,
levando adiante o tema da expansão das possibilidades de estruturação musical. Por
meio da investigação da sonoridade de outras formações escalares (que não apenas as
tonais diatônicas), surgem novas relações de intervalos (além das relações por terças e
quintas, estruturantes do sistema tonal), que se desdobram em simultaneidades
sonoras inclassificáveis dentro do padrão tonal, do que decorreu a necessidade de
ampliação da base teórica musical, para a chamada teoria pós-tonal. Aliás, pode
ocorrer com frequência que uma sonoridade particular esteja aberta a mais de uma
interpretação.
12
Enquanto isso, na dimensão horizontal, são estudadas melodia e vozes
condutoras. Em relação à melodia, devem-se observar seu contorno, linearidade (ou a
incidência de movimentos angulosos), fluência, movimento, direcionamento, aspectos
da relação intervalar entre as notas que a constituem e a maneira como essas notas se
articulam (se ligadas ou separadas), além do âmbito melódico (distância entre a nota
mais grave e a mais aguda); a presença e posição de ápice ou ápices nas frases; o uso
ou não de recursos de repetição, retorno, sequência e inversão (que conferem à
melodia um maior ou menor grau de unidade motívica); padrões rítmicos
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
12
It is frequently the case that a particular sonority is open to more than one interpretation(Kostka
2006: 66). A afirmação é feita pelo autor em relação aos chamados poliacordes, mas caracteriza um
fenômeno recorrente na análise da sica do século XX em diante. Neste capítulo, Kostka expõe as
possibilidades de construção de acordes, desde extensões dos acordes formados por terças, a
formações por segundas, quartas, acordes mistos e conjuntos de notas (Kostka 2006: 46-66).
!
13
constitutivos da melodia; e a relação da melodia com a estrutura harmônica.
13
O
movimento e a inter-relação entre as vozes condutoras estão ligados diretamente ao
estudo do contraponto.
14
Neste tópico, devem-se observar as relações de paralelismo
entre as vozes e tratamento de dissonâncias.
15
No capítulo sobre progressão harmônica e tonalidade, Kostka parte
diretamente do referencial tonal para se referir à idéia contida no termo “progressão
harmônica”, válida no contexto da tonalidade, mas que é substituída pela idéia de
sucessão de acordes, na qual as relações entre acordes não são pré-determinadas. Ao
colocar o parâmetro harmonia, Kostka também discorre sobre a ocorrência e relações
presentes em outros tipos de centralidade sonora, distintos do tonalismo diatônico.
Ao tratar do ritmo, Kostka enumera uma série de técnicas empregadas na
música do século XX que possuem, como principal característica, a propriedade de
elevar o tratamento rítmico ao mesmo patamar de complexidade alcançado, durante o
período tonal, pelo tratamento dos parâmetros que envolvem mais diretamente o
material constituído de alturas. A esta complexidade de procedimentos
composicionais,
16
sobrepõe-se em importância a percepção musical, de acordo com a
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
13
Notamos, com freqüência, uma inter-relação entre parâmetros. Neste caso, entre melodia e ritmo e
entre melodia e harmonia.
14
Ainda sobre a inter-relação entre parâmetros, é válido considerar a afirmação de Benjamin Thomas,
autor de estudo sobre o contraponto na obra de J. S. Bach. Ele diz que quase toda sica é, em certo
grau, contrapontística. Mesmo a musica que costuma ser estudada por seu conteúdo ‘harmônico’ é
geralmente da mesma forma linear em sua concepção e efeito. A distinção normalmente feita entre
harmonia (os acordes ou o aspecto vertical) e contraponto (o aspecto linear, as maneiras como vozes
independentes se inter-relacionam) é uma convenção pedagógica que não condiz com a prática
musical. Na maior parte da música polifônica, pode-se dizer que há tanto a direção [control] vertical
como a horizontal estão presentes (assim como muitos outros elementos) (Benjamin 1986: 1).
“(uma das) verdades básicas sobre as vozes condutoras (...) afirma que o contraponto é ameaçado
sempre que as vozes se movem em movimento paralelo. Isto é especialmente verdadeiro quando os
intervalos entre as vozes são mantidos com exatidão(Kostka 2006: 91).
15
Aqui o termo “dissonância” é empregado ainda de acordo com os preceitos tonais, embora o conceito
de dissonância também seja expandido na música do século XX. Quanto a isso, Kostka diz: “Esse livre
tratamento da dissonância, chamado ‘emancipação da dissonância’ por Schoenberg, é utilizada em
grande parte das composições do século XX (...)(Kostka 2006: 91).
16
Ao final do capítulo, é feita uma listagem dessas técnicas, que foi traduzida e complementada com
exemplos pela professora Adriana Lopes Moreira a seguir: “síncopas; mudanças na indicação trica,
ou [a] métrica mista; indicações métricas não tradicionais (usando 5, 7 etc. como números superiores
nas indicações métricas, ou [b] métrica assimétrica; meros superiores fracionários nas indicações
!
14
afirmação de Kostka, de que “em muitos dos exemplos discutidos (...), será necessário
estabelecermos uma distinção entre a maneira segundo a qual o ritmo é escrito e a
maneira como ele é percebido auditivamente. Em todos os casos iremos considerar o
ritmo ouvido como o ritmo verdadeiro” (Kostka 2006: 116).
Em relação à forma, Kostka afirma que “Todas as estruturas formais e
procedimentos encontrados nos períodos tonais foram preservados durante o século
XX. Isso significa que, na música do século XX subsistem sonatas e rondós, cânones
e fugas, variações seccionais e contínuas, e as formas binária e ternária (...)” (Kostka
2006: 140). A manutenção de estruturas tradicionais, ou mesmo sua expansão,
legando-as a conceitos, no entanto, não impediu o surgimento de novas estruturas, que
também devem ser consideradas a exemplo das formas abertas, como a forma
momento, ou a forma móbile (ou móvel), em que o intérprete decide a respeito da
organização formal da peça, com base em indicações registradas na partitura pelo
compositor. A forma arco reflete o interesse que muitos compositores tiveram em
vários tipos de simetria. O termo designa “qualquer estrutura formal que pode ser lida
de maneira semelhante de trás para a frente. Algumas formas convencionais, tais
como a ternária e o rondó a sete partes são exemplos de forma arco, mas o termo é
normalmente reservado para estruturas formais menos convencionais” (Kostka 2006:
146).
Também entre os parâmetros referentes aos materiais musicais estão as
influências externas que têm afetado a música do século XX, chamadas citações e
alusões. “Essas influências têm principalmente três origens: (1) o passado
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
métricas, ou [e] Indicação trica fracionária; métrica complexa como 4+2+3 por 8, ou [d] métrica
complexa); [c] rítmica aditiva; [f] polimetria; - mesma indicação métrica com barras de compasso
não coincidentes, indicações tricas diferentes com barras de compasso coincidentes e indicações
métricas diferentes com barras de compasso não coincidentes diferem da [g] polidivisão; [h]
ametria; [i] notação proporcional; [j] valores adicionados; [k] ritmo não retrogradável; [L]
modulação de andamento; [m] politempo; [n] ritmo serializado; [o] isorritmo (Kostka 2006:
135).”.
!
15
neoclassicismo, citação; (2) o presente música folclórica, jazz; (3) o não familiar
música de outras culturas” (Kostka 2006: 157). “Alguns compositores têm se voltado
(...) para a música folclórica, o jazz, a música de outras culturas e têm adaptado estes
novos materiais e técnicas às suas próprias necessidades [grifo nosso]. Estas
tendências constituem fator importante à grande diversidade de estilos encontrada na
música do século XX” (Kostka 2006: 172).
Prosseguindo em sua listagem de parâmetros para análise, (...) Kostka
discorre sobre timbre e textura, “dois aspectos da música que têm recebido muita
atenção dos compositores do século XX”.
Timbre significa cor sonora, e pode se referir à cor sonora de um
instrumento individual ou de um grupo instrumental. Temos
observado que, em ambos os casos, os limites timbrísticos foram
expandidos durante o século XX. (...) Podemos dizer que textura
se refere à relação entre as partes (ou vozes) em algum momento
de uma composição; faz referência especialmente às relações entre
ritmos e contornos, mas também abrange aspectos como espaço e
dinâmica. Com alguma freqüência a linha divisória entre o timbre
e a textura é pouco clara, especialmente quando um grupo muito
numeroso está envolvido (Kostka 2006: 222).
A partir da definição de timbre e textura, o autor enumera as possibilidades de
exploração destes recursos, considerando, em momentos distintos, a música acústica e
a música eletrônica. No primeiro caso, é feita uma lista de descobertas timbrísticas
para cada grupo de instrumentos musicais – sopro, cordas, percussão e piano –
chegando ao âmbito da orquestração. Também a estrutura das formações orquestrais
padrão do período tonal ganha flexibilidade “de acordo com a concepção do
compositor e a maneira como a peça deve soar” (Kostka 2006: 232). Surgem obras
!
16
escritas para uma formação bastante específica, como a Música para cordas,
percussão e celesta (1936), do compositor Húngaro Béla Bartók
17
.
A música eletrônica ampliou ainda mais as possibilidades de material
timbrístico, a exemplo da Música Concreta, que se refere ao uso de “todos os sons
disponíveis no mundo ‘natural’, incluindo os instrumentos musicais, vozes, motores,
gotas d’água, carvão queimando, ou quaisquer outros sons que o compositor queira
usar” (Kostka 2006: 246).
De modo geral, considerações sobre timbre, textura e ritmo são especialmente
importantes para a música dos séculos XX e XXI, uma vez que(...) Na ausência das
forças tonal e temática, outros elementos [os substituem] na elaboração de
composições, a fim de determinar uma forma (...)”. Um exemplo disto é o fato de que,
“em várias composições do século XX, o principal elemento determinante da forma é
a textura, geralmente com grande participação da dinâmica, do timbre e dos registros”
(Kostka 2006: 239).
Até aqui, foram mencionados os capítulos que, predominantemente, abordam
os materiais musicais. Kostka dedica alguns capítulos também a algumas técnicas de
composição, que representam diversas possibilidades de se trabalharem os
parâmetros, favorecendo ora um, ora outros. Neste estudo, cabe apenas nomeá-las:
Neoclassicismo, Atonalismo, Serialismo clássico, Serialismo após 1945, Música
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
!
17
Béla Bartók (1881-1945) foi o principal compositor estudado na primeira etapa desta pesquisa de
Mestrado, devido principalmente à apropriação que o arquiteto norte-americano Steven Holl faz de
uma de suas obras, a Música para cordas, percussão e celesta, para projetar a Casa Stretto, no
subúrbio de Dallas, em 1991 (Collins & Holl 1996). Uma análise do primeiro movimento da Música
para cordas, percussão e celesta, desenvolvida no Departamento de Música da ECA-USP em conjunto
com a classe da disciplina de Análise Musical III de 2008, ministrada pela professora Adriana Lopes
Moreira, encontra-se disponível no Apêndice A desta dissertação.
!
!
17
aleatória, Minimalismo.
18
Tanto os materiais quanto as técnicas apresentadas seguem
o princípio da flexibilidade já exposto. A esse respeito, Kostka afirma que:
No século XX, essas verdades não são convenções seguidas à risca,
mas meras ferramentas ou abordagens dentre as disponíveis ao
compositor
. (...) Ao compositor cabe criar uma obra consistente,
estilisticamente unificada no interior de seu próprio universo. Ao
estudante [e também ao analista musical] cabe tentar compreender
este universo, bem como a interação entre os diferentes aspectos da
composição (Kostka 2006: 91).
O estudo analítico tem como pontos de partida e apoio básicos a descrição.
Dados o objeto e os parâmetros, é preciso descrever tudo o que possa ser identificado
e percebido como estruturador da criação, seja ela musical ou arquitetônica, a partir
da observação do material disponível sobre a obra a ser analisada. No caso da música,
conta-se, basicamente, com a observação da partitura e, principalmente, com a escuta
do material audível gravações, concertos, execuções da peça pelo próprio analista,
realizadas tantas vezes quanto possível, integral ou parcialmente, conforme a
necessidade de se compreender auditivamente a obra. O percurso, aliás, evidencia a
importância da percepção musical ao processo analítico. Ela “será parte integrante do
processo de análise, por constituir o ponto de contato entre o som musical e o
intelecto do analista” (Moreira 2008: 224).
Os parâmetros previamente estabelecidos orientam essas primeiras incursões.
Inicialmente, o analista musical busca apreender as informações relativas a um
parâmetro por vez. Em seguida, conforme a peça se torna mais familiar, torna-se
possível estabelecer e aprofundar relações entre os parâmetros. Assim, o primeiro
passo para a análise é um processo predominantemente descritivo que se reveste,
gradualmente, de propriedades analíticas, com base na observação dos materiais, sua
inter-relação e a percepção dos fenômenos que atuam na obra. De maneira alegórica,
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
!
18
Estas técnicas são abordadas, respectivamente, nos capítulos 9, 10, 13, 14 e 15.
!
18
podemos dizer que o analista tem a sensação de ter desmontado a obra, observado
separadamente detalhes de cada um de seus elementos formadores, verificado como
esses elementos interagem entre si e montado a obra novamente. A obra continua
intacta, mas a compreensão de seu funcionamento, por parte de quem analisou, foi
ampliada.
Desde o primeiro momento, podem cooperar também algumas informações
adicionais sobre a peça analisada adicionais porque encontradas em fontes externas
às que contém o material e técnicas de que, estritamente, a peça é composta. Dados
levantados e sistematizados por musicólogos e historiadores sobre as principais
técnicas composicionais do período em que a peça foi composta, do maior ou menor
engajamento político do compositor, de suas principais fontes materiais, e mesmo o
conhecimento prévio de técnicas constitutivas da linguagem própria daquele músico –
constituem uma bibliografia que alimenta e geralmente é reiterada pelo que se pode
extrair da prática analítica.
Com base na coleta de informações e nos dados observados, o analista musical
deve desenvolver uma narrativa, que irá constituir um texto de análise, com o intuito
de passar adiante as informações que coletou. A própria obra analisada fornece as
ênfases que deverão servir como eixo estruturador do texto. O texto forma ao
processo da análise, ao reconstituir o percurso gradual do mais puramente descritivo
ao mais puramente analítico, realizando uma verdadeira “costura” entre estes dois
âmbitos a exemplo da descrição inicial, que decorre do recorte deduzido pelo
analista, sem contar a própria escolha da obra a ser analisada.
Por todo o exposto acima, pode-se afirmar que “a análise serve para
tomarmos, subjetivamente ou intersubjetivamente, uma posição sobre determinada
obra (Costa 2005: 323), de tal maneira que uma análise que possa ser considerada
!
19
"não mais como teoria, mas como ação, como fazer musical paralelo”. Lembrando
que, “para se considerar a análise como fazer musical é necessário tratá-la também
como descoberta… como reinvenção do enunciado… [que] dialoga com os mais
diversos planos sensíveis, norteando-se pelos seus mecanismos perceptivos” (Ferraz
apud Costa 2005: 323). São estes os princípios que motivam a análise arquitetônica
desenvolvida no capítulo seguinte.
20
Capítulo 2
Da análise musical à análise arquitetônica
2.1 Edifício Copan: uma análise arquitetônica
Para mim, (...) cada arquiteto deve elaborar a sua arquitetura,
desprezando regras já superadas, sempre atento à sua finalidade, à
beleza e às fantasias que uma obra de arte deve exibir. Esquecendo
os que ainda discutem estilos e modos diferentes de ver a
arquitetura” (Niemeyer. In. Corona 2001: 9).
Oscar Niemeyer é o arquiteto brasileiro de maior expressão dos séculos XX e
XXI. Sua obra é caracterizada por uma liberdade extrema, na qual a invenção da
forma é oferecida como instrumento para a transformação social.
Uma arquitetura voltada para esta transformação pode existir se
comprometida com a realidade, tanto quanto possível. Ao se referir ao traço, ao gesto
gerador da forma, Niemeyer diz que “essa fase inicial exige por antecipação que o
arquiteto se integre nos problemas tão variados do trabalho a executar. A natureza do
terreno, o ambiente em que está inserida a construção, o sentido econômico que ela
representa, a orientação etc.” (Niemeyer. In. Corona 2001: 20).
O grande desafio é o de se alimentar desses dados da realidade, das
possibilidades técnicas às condições sociais, como princípios para a construção de
projeto e produção da arquitetura, e não como limitadores. Niemeyer critica o
funcionalismo pretendido pela arquitetura contemporânea, feita por arquitetos
modernos como ele, que “[recusa] a liberdade de concepção com seu rigorismo
estrutural opressivo”. Propõe, em contrapartida, a criação orientada pelos dados
técnicos – mas, acima de tudo, regida pela busca da beleza e da poesia.
Nesse contexto, a técnica do concreto armado é eleita por ele como a que
melhor se presta para conferir liberdade e invenção à arquitetura. A partir do concreto
21
armado, amplia-se o repertório formal e potencial de invenção para além do ângulo
reto e permite-se a separação entre estrutura e vedos: as paredes libertam-se da
obrigatoriedade da função estrutural, o que pode ser traduzido em espaços inusitados,
fluidos e, sobretudo, leves.
1
Para ele, com o concreto armado, toda forma sonhada é
possível de ser construída.
Dentro das amplas possibilidades formais que a técnica oferece, Niemeyer
expressa preferência clara pela curva a “curva estruturada, feita com curvas e retas”
e pela forma abstrata, “solta no espaço à procura do espetáculo arquitetural”
(Niemeyer. In. Xavier 2003: 142-44).
A invenção estende-se à vontade política de transformar a sociedade. “[A]
mudança da sociedade uma] reforma de base indispensável para a arquitetura mais
humana que desejamos. (...) Reclamá-la [é] a única atitude a tomar, se estamos
realmente interessados no problema social” (Niemeyer. In. Xavier 2003: 145). Deste
modo, as formas são pensadas e inseridas na realidade do presente orientadas por um
ideal futuro, considerando que, “(...) um dia, o mundo será mais justo e a vida (...)
levará [a arquitetura] a uma etapa superior, não mais limitada aos governos e às
classes dominantes, atendendo a todos, sem discriminação” (Niemeyer 2006). Ferreira
Gullar traduz esta atitude nos seguintes versos: “com seu traço futuro/Oscar nos
ensina/que o sonho é popular” (Gullar. In. Corona 2001: 15).
Estas características encontram-se expressas das mais variadas maneiras no
Edifício Copan, apesar das incongruências nos processos de materialização e de
conclusão do projeto.
2
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1
No poema Lição de Arquitetura”, escrito por Ferreira Gullar para Oscar Niemeyer em 1976, os
últimos versos dizem, justamente: “Oscar nos ensina/que a beleza é leve”. (Gullar. In. Corona
2001:15).!
2
Ou de sua inconclusão, conforme conteúdo tratado neste capítulo. Na dissertação de Daniela Viana
Leal, o capítulo que
! compreende uma análise do Edifício Copan traz o título “Copan projeto sem
fim” (Leal 2003:125).
!
22
Figura 1 – Edifício Copan
23
O Edifício Copan surgiu no contexto da expansão da verticalização em São
Paulo, no início da década de 50 do século XX. O projeto iniciou-se em 1951,
concebido por Oscar Niemeyer a partir de um programa complexo, de uso misto, que
requeria um edifício residencial de 900 apartamentos e uma galeria de uso comercial
no térreo e sobreloja, com teatro e cinema. O programa previa também um edifício
anexo que deveria abrigar um hotel com 600 apartamentos. Tratava-se de um
programa recorrente no período em que o projeto foi concebido.
O empreendimento foi lançado no mercado sob forte campanha publicitária,
que promovia deliberadamente o vínculo entre o novo complexo de edifícios e a
figura do arquiteto autor do projeto, na promessa de uma nova referência
arquitetônica no centro da cidade.
3
O complexo seria implantado em um lote com
frente para a esquina da Avenida Ipiranga com a Rua Araújo, delimitado também pela
Rua Vila Normanda
4
e, nos fundos, por lotes vizinhos [Figura 2].
Os trinta e dois andares do edifício residencial foram dispostos sobre uma base
bojuda de geometria irregular, cuja projeção ocupou toda a área do terreno. A base
abrigaria o estacionamento e os programas complementares. A geometria do edifício
residencial é regular: a planta foi riscada a partir de círculos e resulta em uma lâmina
curva de largura constante que descreve uma forma próxima da letra “S” com raios
mais abertos.
5
A lâmina foi separada da base por um piso de transição.
6
A torre do
hotel foi posicionada no alinhamento com a Avenida Ipiranga com o gabarito um
pouco inferior ao do edifício principal [Figura 5].
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
3
A campanha fazia referência às comemorações do quarto centenário de São Paulo.
4
O terreno (ou parte dele) havia sido ocupado pelo conjunto de edificações denominado Vila
Normanda, de modo que foi mantida uma rua particular com o mesmo nome.
5
Após estudos volumétricos [Figura 4], chegou-se a esta configuração [Figura 5]. Nota-se que curvas
iniciais eram mais acentuadas.
6
Neste trabalho, o termo Lâmina será usado em referência ao edifício residencial. O termo Base refere-
se à base que abriga os programas complementares. O edifício anexo, nas poucas vezes em que é
mencionado, será chamado de torre, com sua respectiva base.
24
Figura 3 – Fragmento de planta original do Térreo
Figura 2 Situação: área total destinada ao empreendimento
25
Figura 4 – Ensaio volumétrico: fachadas Norte e Sul
Figura 5 – Ensaio volumétrico. Ilustração publicada como versão nal do projeto
26
Figura 6 – Implantação
Limites do lote
Norte
Rua Araújo
Avenida Ipiranga
Rua Unaí (entre o Copan e o edifício do Bradesco)
Leste
Vila Normanda
Sul
lotes vizinhos com frente para Avenida São Luís e Rua da Consolação
Oeste
lotes vizinhos com frente para Rua da Consolação e Rua Araújo
27
Entre o hotel e a base do edifício residencial, foi desenhada uma rua (atual
Rua Unaí) que, além de ligar a Rua Araújo à Rua Vila Normanda, uniria o térreo dos
dois edifícios, com um programa comum de galeria comercial e praças internas. A
circulação do piso no nível da rua nas adjacências contaria, ainda, com o fato de a
Rua Vila Normanda oferecer acesso à Avenida São Luís [Figura 6].
Oscar Niemeyer confiou o comando da obra e da sede paulistana de seu
escritório ao arquiteto então recém-formado Carlos Alberto Cerqueira Lemos. Foi ele
quem coordenou o projeto executivo, considerando as alterações que incidiram sobre
o programa original durante a obra. Mais adiante, Lemos tornou-se o arquiteto
responsável pela obra do Copan, que perdeu todos os vínculos com o arquiteto autor
do projeto.
7
Mudanças de administrador e financiador durante a obra
8
incidiram também
sobre o programa do edifício anexo, que passou de hotel para sede do banco
Bradesco. Lemos foi autorizado a conceber este projeto e produziu um desenho fiel às
proporções indicadas nos croquis de Oscar.
9
O prisma da torre do banco também é apoiado por uma base que, como a base
do Copan, ocupa o lote até o limite. A rua particular entre os dois edifícios (Rua Unaí)
foi desenhada a partir das curvas da Lâmina, que são seguidas pela Base, produzindo
uma relação de paralelismo na implantação dos dois edifícios pela base curva de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
7
“No ano de 1954 o autor do projeto era identificado apenas por ‘Oscar Niemeyer Filho Arquiteto’. No
ano de 1958, os autores passaram a ser ‘Oscar Niemeyer Filho e Carlos Lemos Arquitetos’ e a partir de
1963 surge apenas o nome de ‘Carlos Alberto Cerqueira Lemos Arquiteto’” (Galvão 2007: 46).
!
8
“A Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo lança em 1952 o Maciço Turístico Copan, que
seria administrado pela Intercontinental Hotels Corporation, de Nova York, empresa filiada a Pan-
American World Airways. As vendas foram confiadas ao BNI (Bando Nacional Imobiliário S. A.) e a
construção ficou a cargo da CNI (Companhia Nacional de Indústria e Construção). A Companhia Pan-
Americana não consegue realizar o projeto, e o empreendimento passa primeiramente ao BNI, que logo
em seguida sofre intervenção federal, passando então à construtora responsável, a CNI, que também
por dificuldades financeiras abre mão do empreendimento em favor do Banco Brasileiro de Descontos
(Bradesco), que finalmente realiza a obra” (Xavier 2007: 91).
!
9
Isto o correu quando em um momento em que a construção da Lâmina de apartamentos estava
quase concluída (Leal 2003: 136-7).
28
ambos. Segundo esta implantação, dos 10.572m
2
totais do terreno, 6.006,35m
2
foram
reservados ao Copan.
10
Após a execução, o térreo do edifício do banco foi fechado para a rua interna,
ao contrário do que previa o projeto do hotel e à revelia do arquiteto Carlos Lemos
(Galvão 2004: 13). Deste modo, apenas o Copan é acessível pela Rua Unaí, enquanto
a base do Banco configura-se como um fundo de lote. Outras alterações significativas
do programa original durante a obra serão relatadas mais adiante.
A lâmina residencial comporta seis blocos independentes, com acessos
distintos para cada um deles [Figura 7]. Os blocos, nomeados por letras de A a F,
distribuem-se sequencialmente ao longo da extensão do “S”. Estruturalmente, o
edifício foi dividido em quatro corpos, nomeados por números de 1 a 4 [Figura 8],
separados por juntas de dilatação que quase sempre coincidem com a divisão dos
blocos [Figuras 9 e 10].
As Figuras de 11 a 21 revelam a relação do Copan com o entorno do ponto de
vista do transeunte. As imagens de cada uma das quatro faces da Lâmina [Figuras 11
a 14] e da Base [Figuras 15 a 21] foram capturadas do passeio público. Neste
trabalho, as fachadas serão nomeadas de acordo com sua orientação geográfica
aproximada Norte, Sul, Leste e Oeste.
11
As fachadas podem ser classificadas como
de proporção quadrada (Norte e Sul, com relação aproximada de 1:1 entre as medidas
de base e altura) e de proporção linear (Leste e Oeste, com relação aproximada de 1:6
entre base e altura).
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
10
O que hoje corresponde efetivamente ao Copan é o edifício residencial, com a respectiva base.
11
A orientação em uma mesma face da Lâmina é variável, conforme a curvatura. A escolha dos nomes
neste trabalho procurou facilitar a referência do leitor, preferindo a adoção dos pontos cardeais aos
colaterais (que, segundo uma análise a partir das direções da rosa-dos-ventos, poderiam ser os mais
adequados). Um fator determinante à escolha foi a consideração de Carlos Lemos sobre a fachada tida
como principal. Segundo ele, Niemeyer teria considerado a média das fachadas nesta face como sendo
a Norte (Galvão 2004: 12).
29
Esquema da divisão dos
Corpos a partir dos Blocos
Corpo 1 – Bloco A e parte de B
Corpo 2 – restante do Bloco B
Corpo 3 – Blocos C e D
Corpo 4 – Blocos E e F
Figura 7 – Disposição dos Blocos de apartamentos na Lâmina
B
A
E
D
C
F
Figura 8 – Disposição dos Corpos estruturais na Lâmina
2
1
4
3
30
Figura 9 – Junta de dilatação entre Corpos 2 e 3
Figura 10 – Junta de dilatação entre Corpos 1 e 2
31
Figura 11 – Fachada Norte
Figura 12 – Fachada Leste
32
Figura 13 – Fachada Sul
Figura 14 – Fachada Oeste
33
A primeira imagem [Figura 11] mostra a textura homogênea conferida pelo
brise-soleil
12
às curvas da face Norte, a fachada que mais se relaciona com a cidade,
sendo a que mais caracteriza o Edifício Copan.
13
Seguindo pela Rua Unaí, que separa
o Copan do Bradesco, chega-se à face Leste [Figura 12], uma empena com poucas
aberturas que abriga o Bloco A, visível apenas desde a Rua Vila Normanda. A
fachada Sul, apesar tão extensa quanto a Norte, é bem pouco visível da rua. É possível
enxergá-la parcialmente de alguns pontos do começo da Rua da Consolação [na
Figura 13, tem-se o trecho da Lâmina relativo ao Bloco A e parte de B]. A fachada
Oeste, da empena com ainda menos aberturas que a anterior e que corresponde à
extremidade do Bloco F, é bastante visível a partir da esquina da rua da Consolação
com a Rua Araújo [Figura 14, na qual também é possível visualizar parte da fachada
Sul]. As duas fachadas mais delgadas revelam a escada caracol acoplada à fachada
Sul, que corresponde à circulação de emergência.
A fachada Norte é não apenas a mais visível e reconhecida, mas também a que
abriga, na Base, quatro dos cinco acessos da rua ao interior da galeria e a rampa
principal do estacionamento, com saída para a Rua Araújo. Os acessos de pedestre
surgem como portais entre os lambris de madeira que revestem parte desta fachada
[Figuras 15 a 19]. Nela, encontram-se também vitrines e lojas que se voltam apenas à
própria rua [Figura 20]. A Figura 21 mostra o paralelismo entre a base dos edifícios
residencial e do banco. A única passagem da rua para a galeria localizada fora da
fachada Norte encontra-se na fachada Leste [Figura 19], onde também fica a rampa
secundária do estacionamento. Estas são as duas fachadas da Base que mantém
relação com a rua. As demais fazem divisa com lotes vizinhos.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
12
Brise-soleil é uma expressão francesa cuja tradução literal seria quebra-sol. Como o termo não
traduzido é corrente no jargão da arquitetura, optou-se por mantê-lo neste texto sem tradução ou ainda
abreviado como brise.
13
Na fonte consultada, foi a única fachada da qual se encontraram desenhos do projeto.
34
Figura 15 – Entrada Bloco E Figura 16 – Entrada Blocos C e D
Figura 17 – Entrada Lojas Figura 18 – Entrada Bloco A
35
Figura 19 – Entrada Cinema Figura 20 – Lojas da Rua Unaí
Figura 21 – Rua Unaí e base dos edifícios
36
Neste percurso pelo entorno imediato do Copan, destaca-se também uma
escada de 10 metros de altura que parte da cota rua, exatamente da esquina da Rua
Araújo e Avenida Ipiranga, ponto de alargamento da calçada que configura uma
espécie de praça. Dali, a escada segue direto até o Terraço (pavimento mais elevado
da base) sem acessar nenhum dos pavimentos intermediários [Figura 22]. Esta escada
constitui um apêndice, um corpo destacado do prédio tanto pela fragilidade da
conexão do topo com o pavimento de destino (apenas por um patamar) quanto pela
aparente desconexão formal: apesar das curvas desenhadas pela estrutura do corrimão
de concreto, o conjunto poderia estar inscrito em um volume quase cúbico, que se
contrapõe enfaticamente à sinuosidade generalizada da Base em planta e em corte,
acompanhando as curvas de nível do terreno.
14
Nas elevações gerais [Figuras 23 a 26] é possível observar a proporção real
entre Base e Lâmina. Em corte [Figura 27], tem-se as relações proporcionais a partir
do todo que considera o subsolo. Vê-se que, acima do subsolo, a altura da Base varia
conforme as cotas do terreno: o ponto mais alto, na extremidade do Bloco F (Rua
Araújo), encontra-se 4 metros acima do ponto mais baixo, na extremidade do Bloco A
(Rua Vila Normanda). Sendo assim, a altura total da Base varia em torno de 12 a 16
metros. a altura da Lâmina de 32 andares fica em torno de 104 metros, o que ao
conjunto uma altura total perto de 130 metros. A torre do banco possui 18 andares e
tem cerca de 42 metros a menos do que o conjunto do Copan.
Mesmo tendo altura similar à das construções do entorno, o Copan não é um
edifício invisível na paisagem urbana. A forma inusitada das curvas em um contexto
de edifícios ortogonais destaca a percepção do edifício no contexto em que está
inserido.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
14
A desconexão formal pode justificar-se pelo fato da escada ter sido desenhada pelo arquiteto Carlos
Lemos, durante a obra. Neste texto, a escada será chamada de “escada-apêndice”.
37
Figura 22 – Escada-apêndice
38
Figura 23 – Elevação Norte
Figura 24 – Elevação Leste
39
Figura 26 – Elevação Sudoeste
Figura 25 – Elevação Sudeste
40
Figura 27 – Corte Longitudinal
41
Figura 28 – Corte longitudinal dos pavimentos da Base
28A 28B
Figura 28AAmpliação
Figura 28B – Ampliação
42
Figura 29 – Base, elevação Leste: Rua Vila Normanda
Figura 30 – Base, elevação Norte: Rua Unaí
43
Figura 31 – Base, elevação Norte: Rua Unaí (continuação)
Figura 32 – Base, elevação Norte: Rua Araújo
44
No corte longitudinal [Figura 27] estão indicadas as partes que compõem o
edifício: Base, Transição, Lâmina e Cobertura. A Base é composta pelos pavimentos
Subsolo (2 pisos), Térreo, Sobreloja, Foyer, Terraço e Transição (ou Cobertura do
Terraço). A Lâmina contém o pavimento tipo dos trinta e dois andares de
apartamentos residenciais (duas versões) e a Cobertura da Lâmina compreende os
pavimentos Terraço-Mirante, Segundo piso do Terraço-Mirante e Cobertura-
Heliponto.
15
O Copan foi construído sobre fundações diretas, contrariando a tendência da
época, da utilização de estacas Franklin (Galvão 2007: 24). Cada um dos pilares
curvos
16
que atravessam todos os pavimentos da base é sustentado por um bloco de
fundação. A carga de cada bloco é distribuída, em média, por 30 estacas.
17
O pilotis é
composto de duas fileiras paralelas, que acompanham a projeção do “S” da Lâmina.
Ainda durante a obra, no final da década de 1950, houve um recalque
diferencial da estrutura, que atingiu os corpos 1 e 2. A solução adotada para o reforço
extravasa a cota da fundação, invadindo o espaço do Subsolo 2. Trata-se de um
acréscimo estrutural, também em concreto armado, que envolveu o pilar curvo
original. Para apoiar as extremidades desse novo embasamento dos pilares, foram
enterradas estruturas chamadas “caixões”. O reforço dos pilares pode ser constatado
em todas as versões da planta do Subsolo consultadas.
O Subsolo 2 chega a ultrapassar a área da Base, quando o muro de arrimo no
perímetro parece ultrapassar esses limites para o que seria a projeção da calçada
18
.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
15
De modo geral, a compreensão dos pavimentos da Base, tanto individualmente quanto relacionados
entre si, foi tão truncada [ver exemplo na nota 29], que optou-se por grafá-los com as iniciais
maiúsculas, para que pudessem ser mais facilmente identificados no texto. !
16
“No Copan está presente a ideia do pilotis característico da arquitetura moderna: que define a
construção solta no terreno, a liberação solo urbano, a fusão do lote público com o espaço privado. No
entanto, aqui aparece a proposição do ‘pilotis ocupado’, com um programa de comércio e serviços no
térreo, o que leva a uma nova resolução formal” (Barbara 2004: 274-5). !
17
Dados obtidos a partir da observação de desenhos. !
18
No trecho da Rua Unaí, que pertence ao lote original, entre edifício residencial e hotel. !
45
Figura 33 – Subsolo 2
46
Figura 34 – Subsolo 1
47
A rampa de saída da garagem fica na extremidade correspondente ao Bloco A,
voltada para a Rua Vila Normanda. De frente para ela, uma zona de pilares de
seções variadas, que corresponde a estrutura da platéia. O piso do Subsolo 2 é
praticamente plano por toda a extensão do pavimento. No entanto, o pé-direito sofre
variações, tornando-se maior conforme se caminha da projeção do Bloco A para o
Bloco F, acompanhando o desnível de quatro metros da implantação. Desta maneira, a
partir da projeção do Bloco B, forma-se um mezanino que origem ao Subsolo 1. O
acesso aos elevadores do Bloco B em diante será feito desta nova cota. O Subsolo 1,
portanto, não ocupa, em planta, toda a área correspondente à Base. A rampa de acesso
principal ao estacionamento, com entrada pela Rua Araújo, chega a este primeiro
pavimento subterrâneo e apenas em outro ponto da planta uma nova rampa
conectando a circulação dos automóveis ao pavimento inferior. Aos finais de semana,
a saída pela Vila Normanda é fechada e o tráfego se apenas pela Rua Araújo. Ao
todo, o estacionamento comporta 221 vagas. duas cotas predominantes no piso do
Subsolo 1, com diferença de 1,25 metro entre os patamares. Algumas vagas de
estacionamento encontram-se nos trechos em que a ligação entre os dois níveis é feita
por planos inclinados.
As Figuras 37 a 40 indicam as estruturas dos elevadores que constituem os
acessos independentes aos Blocos. O acesso ao Bloco B tem uma configuração
bastante distinta dos demais, ocupando a área que mais se destaca sobre o mezanino,
enquanto os outros permanecem de certa maneira ocultos pela estrutura que envolve
os elevadores. Cada Bloco possui dois elevadores principais e um secundário com
entradas separadas, apesar da localização de ambas na mesma estrutura.
19
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
19
Trata-se dos acessos denominados “social” e de serviço”. Somente no Bloco B essas quantidades
aumentam para três e dois, respectivamente. Também ao contrário do que acontece nos demais Blocos,
a plataforma de elevadores é a mesma para os dois tipos de acesso.!
48
Figura 35 – Anotações a partir da planta do Subsolo 2
Figura 36 – Anotações a partir da planta do Subsolo 1
49
Figura 37 – Pilar original Figura 38 – Pilar com reforço estrutural
Figura 40 – Rampa do Subsolo 1 ao Subsolo 2Figura 39 – Vagas inclinadas
50
Figura 41 – Subsolo com teatro
51
Figura 42 – Térreo
52
Além da garagem, o Subsolo abriga funções de armazenagem (almoxarifado
da manutenção na projeção do Bloco F, depósito de reciclagem na projeção do
cinema, reservatórios de água), sanitários, vestiários e refeitório. Para otimizar o
aproveitamento da área para as vagas de automóveis, estes equipamentos e
infraestruturas foram distribuídos na periferia do pavimento. Destacam-se, ainda, os
volumes de quatro lojas do térreo que se prolongam para o piso imediatamente
inferior, ao contrário do que ocorre com as demais. Apesar de ocuparem o espaço do
subsolo na cota do Subsolo 1, não há acesso do piso subterrâneo a estas “sublojas”.
Em uma das plantas referentes ao Subsolo 1 que puderam ser consultadas,
ainda consta o teatro que não foi construído e que teria 630 lugares [Figura 41].
Embora todos os seis blocos da Lâmina sejam acessíveis do Subsolo, é no
Térreo que estão, efetivamente, os acessos da cidade ao edifício. A galeria de lojas
atua como um prolongamento da rua, de acordo com os preceitos da arquitetura
moderna. O projeto original previa que o piso fosse revestido de pedra portuguesa,
continuando o revestimento que a calçada tinha na época (Leal 2003: 129). O piso
construído foi revestido de granilite, material que pede juntas de dilatação, mas que
não apresenta emendas, o que produz, de qualquer forma, uma idéia de continuidade.
A estratégia para integrar os pisos internos e externos conta com a presença de
pilotis
20
e expressa-se principalmente no fato de que a circulação da galeria toda
possui um declive que acompanha rigorosamente o a topografia do terreno, sem
degraus nem patamares. Por conta disso, as fachadas de quase todas as
aproximadamente 70 lojas precisaram receber degraus. As entradas conduzem o
pedestre a um corredor principal, onde fica claro o sentido da declividade. Em
determinado momento, esse corredor bifurca-se, formando uma ilha de lojas (Galvão
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
20
Ver nota 16. !
53
2007: 26). Parte das lojas encontra-se atualmente desocupada – entre elas, o espaço do
cinema
21
e um conjunto voltado para a Rua Vila Normanda, próximo à portaria do
Bloco A.
22
O acesso ao teatro não construído seria feito pelo Térreo através da única
entrada da fachada Norte que não se vincula à portaria de nenhum bloco.
23
As portarias dos blocos de apartamentos, que no Subsolo correspondem aos
volumes de circulação vertical destacados entre os pilares do estacionamento, no
Térreo encontram-se como que embutidas nos volumes curvos que abrigam as lojas.
Os acessos, através de portas com esquadrias de ferro envidraçadas, acompanham o
alinhamento da fachada das lojas e desembocam no saguão de espera dos elevadores,
no interior do volume. Os Blocos A, C, D e E têm entradas voltadas para trechos
iniciais da galeria, bastante próximas da rua.
24
A portaria do Bloco F tem uma entrada
mais distante da rua e se distingue por possuir uma escada curva para o pavimento
imediatamente superior, da Sobreloja, o que confere ao saguão um pé-direito duplo. A
portaria do Bloco B, apesar de localizada mais ao fundo do lote tem caráter de entrada
principal do edifício. De fato, esta é a entrada utilizada pela administração do
condomínio para conduzir os visitantes à Cobertura da Lâmina. O acesso encontra-se
voltado para o corredor de circulação mais extenso da galeria, com a fachada toda
envidraçada, sendo que o vidro segue o declive do piso, sem que se façam necessários
degraus. O saguão, com os cinco elevadores enfileirados, tem pé-direito duplo.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
21
O auditório originalmente projetado para o cinema foi ocupado em 2000 por um templo religioso e
encontra-se interditado desde 2008 pela prefeitura (CONTRU Departamento de Controle do Uso de
Imóveis) (Salvo 2009).!
22
As lojas mais próximas às extremidades estão quase todas desocupadas. Segundo Carlos Lemos, há
um erro no projeto, que consiste no fato de não haver saída da galeria para a Rua Araújo. Ele diz que:
“O Copan sofre deste problema, pois tem uma entrada central e a galeria se espalha à esquerda e à
direita e morre numa parede. Aquelas lojas nunca deram certo. Abre e fecha, abre e fecha. Tem lojas
que nunca foram inauguradas mesmo depois de quarenta anos. Se tivesse uma abertura para a [Rua]
Araújo seria outra coisa, porque encurtaria caminho da [Rua] Araújo para a [Avenida] São Luiz”
(Galvão 2004: 11).!
23
O teatro também pode ser visto em corte na Figura 57.!
24
A nomenclatura atribuída às entradas na legenda das Figuras 15, 16 e 18 foi determinada por essa
relação de proximidade.
54
Figura 43 – “Ilha” de lojas
Figura 45 – Portaria do Bloco B
Figura 44 – Parede de elemento vazado sobre en-
trada da garagem sobre Rua Araújo
55
Figura 46 – Sobreloja
56
Próximo à portaria B, alinhado ao limite Sul do lote, encontram-se as escadas
de saída e a entrada do cinema.
25
Na extremidade do Bloco F, uma parede de
elemento vazado através da qual se pode ver a rampa da entrada da garagem. As lojas
apresentam circulações verticais internas, escadas caracol que chegam a um espaço
particular que funciona como depósito independente para cada uma. A cota desses
depósitos corresponde ao pavimento Sobreloja.
O pavimento Sobreloja também possui piso inclinado, paralelo ao piso do
Térreo em quase toda a sua extensão. O declive é visível no corte longitudinal que
consta no jogo de plantas de aprovação da prefeitura.
26
No desenho, no entanto,
interrupções que dificultam a leitura da continuidade inusitada de que é composto o
pavimento como um todo. Além de, em corte, acompanhar a declividade do Térreo, a
planta da Sobreloja rebate a distribuição espacial do piso inferior (lojas e corredor da
galeria), com a diferença de que as aberturas das sobrelojas correspondentes às lojas
do térreo são discretas, feitas de portas e janelas pequenas. Sem a transparência das
vitrines das lojas e das portarias de acesso aos blocos de apartamentos, os volumes
das sobrelojas, embora sabidamente ocos, configuram maciços arredondados quando
vistos do corredor.
27
A administração do condomínio está localizada no pavimento Sobreloja, na
extremidade do lote correspondente ao Bloco F. O acesso é feito pela mencionada
escada curva, que parte da portaria deste bloco e chega a um pequeno saguão, comum
à administração, à saída de uma escada de emergência
28
e a uma porta de acesso
29
ao
corredor de sobrelojas mencionado acima.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
25
Trata-se da entrada que foi construída. A entrada originalmente prevista seria pelo Foyer, conforme
será exposto mais adiante.
26
Mostrado na Figura 28.
27
Na planta [Figura 46] o indicação das aberturas das sobrelojas para o corredor; no entanto, o
padrão é de uma janela e uma porta para cada sobreloja.
28
Escada que tem origem no pavimento Transição, como será exposto mais adiante.
57
Iniciando-se o percurso desta maneira, pela entrada do Bloco F, tem-se um
corredor na mesma projeção do corredor da galeria do Térreo. Este corredor pode ser
percebido como uma rua escura e deserta, ladeada por fundos de lote impressão
reforçada pelos depósitos e cozinhas das lojas correspondentes, do pavimento
inferior.
30
Embora quase não se possa ver, boa parte das células às margens do
corredor está ocupada por esse uso privado, o que torna a circulação restrita às
funções de apoio às lojas e de serviço de manutenção do prédio. Este primeiro trecho
de corredor abre-se, à esquerda, em um saguão que possui uma varanda sobre um dos
acessos da rua para a galeria.
31
Vista da rua, a varanda indica a existência de um piso
plano. No entanto, o corredor principal de circulação corresponde a uma rampa em
declive, como dito no início, praticamente paralela ao piso da galeria do Térreo. O
que acontece nessa área, entre o corredor inclinado e a varanda plana, é uma
acentuada torção no piso. Essa torção faz a concordância entre o corredor e a varanda
sem que haja um degrau ou patamar. Apenas próximo à fachada é que o piso se torna
plano como o que se da rua. Observando-se a fachada pelo lado de fora neste
ponto, é possível enxergar como a sobreloja da direita encontra-se em uma cota mais
alta do que a da esquerda.
Retomando-se o corredor inclinado, após mais um trecho de caminhada entre
sobrelojas, chega-se a um saguão mais amplo que o anterior (também acessível sem
degraus, embora a torção do piso seja bem mais suave), no qual se encontra uma nova
varanda na fachada Norte, de frente para a Rua Unaí.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
29
Esta porta, que passa a maior parte do tempo trancada, possui uma placa indicativa com o texto
“acesso ao Foyer”, o que demonstra que se desconsidera o fato de que o Foyer, na realidade e de
acordo com as plantas e cortes, corresponde a um outro pavimento. A falta de precisão com a
nomenclatura indica o quanto é difícil a percepção da relação entre os pavimentos da base do Edifício
Copan, em especial entre os pisos intermediários, da Sobreloja e do Foyer.
30
Segundo Leal, o projeto original previa, para os pavimentos Sobreloja e Foyer, a instalação de lojas.
Estes pavimentos foram ocupados por escritório e seu estado atual é de subocupação (Leal 2003: 143).
31
Entrada “Bloco E”, Figura 15.
58
Figura 49 – Torção no piso
Figura 48 –Rebaixo da escada rolante
Figura 47 – Esquema da escada rolante não construída
59
Desta varanda, que corresponde em planta à projeção da entrada que contém
as portarias dos Blocos C e D, é possível observar a esquina da Rua Araújo com a
Avenida Ipiranga, semiencoberta pela escada apêndice (que liga a rua ao Terraço).
Como o teto é plano e o piso decai ao longo do percurso, o pé-direito ali torna-se
maior em relação ao saguão anterior, de modo que o espaço configura uma espécie de
“respiro” ao corredor de circulação. As sobrelojas não interferem nesse grande espaço
de estar, no sentido de que não portas ou aberturas voltadas diretamente para ele,
ao contrário do que acontece no corredor. A varanda possui uma frente praticamente
plana, mas o piso, em planta, desenvolve uma série de curvas que dão movimento à
fachada, vista por um observador a partir da rua.
No piso da curva que mais avança, encontra-se um rebaixo de 10 centímetros
na que, em planta, corresponde a um plano retangular. Este retângulo é todo revestido
de assoalho de madeira e rodeado por um degrau revestido de granilite.
32
equipamento de iluminação cênica voltado para esse rebaixo, o que indica que a área
pode ter sido usada, em algum momento, como palco. O rebaixo corresponde ao vão
onde seriam instaladas as escadas rolantes previstas no projeto original, posicionadas
ao lado a portaria do Bloco C, no Térreo, ligando todos os pavimentos não
subterrâneos da Base. O retângulo está presente também no teto do Térreo, revestido
de madeira, porém pintado de branco.
A continuação da descida por mais portas de sobrelojas leva à junta de
dilatação que separa os Corpos 2 e 3. Junto a ela, encontra-se uma parede de elemento
vazado, através da qual se vislumbra a continuação do espaço, e uma porta trancada.
Um pouco antes desta interrupção, um conjunto de três degraus,
33
o oposto da
solução adotada para criar variação de cota em praticamente todo o piso Sobreloja até
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
32
O degrau possui 5 centímetros de altura para o lado de fora do rebaixo e 15 centímetros para o lado
de dentro.
33
Esses degraus medem, aproximadamente, 17x60 centímetros.
60
então. Neste último trecho, entre o saguão e este “fim de linha”, o direito se torna
cada vez mais alto, enquanto as paredes que delimitam o corredor aproximam-se uma
da outra cada vez mais. Das paredes, destacam-se pilares de diferentes seções, que o
pé-direito agigantado faz com que pareçam muito delgados. Alguns pilares estão
apenas próximos das paredes sem tocá-las. Outros surgem delas, como que pilastras.
Dentre eles, alguns de seção arredondada. Estes pilares não constam nas plantas
consultadas, que exibem apenas as duas fileiras paralelas do pilotis, que transpassa
toda a base e que acompanha a curva do “S” da torre. Percebe-se que, em toda a
extensão, o corredor possui esse tipo de pilar “adicional”, que se torna mais frequente
no trecho em que o corredor se afunila. Uma outra intervenção foi feita em um dos
pilares curvos do pilotis no saguão maior, que ficou mais largo que os demais e com
seção quadrada, aparentemente para abrigar uma caixa de força. Esta modificação
estende-se até o Térreo.
34
Para se verificar a continuidade do pavimento após a interrupção provocada
pela parede de elemento vazado, é necessário recorrer a uma outra entrada. No piso
Térreo, na extremidade do Bloco A (portanto, na outra extremidade da Lâmina),
uma entrada por uma das lojas do conjunto atualmente desocupado.
35
Por esta porta,
bem próxima à portaria do Bloco A, tem-se acesso a uma escada em forma de
ferradura que chega ao piso da Sobreloja.
O percurso com início nesta outra extremidade do lote corta várias salas, até
desembocar em uma sequência de patamares que se conectam por conjuntos de três a
quatro degraus. As salas mais próximas à Rua Vila Normanda são bastante
iluminadas, devido às grandes janelas de formatos variados.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
34
O pilar quadrado consta em pranchas do Térreo, porém não consta nas pranchas do piso Sobreloja.
35
Esta entrada não constitui um acesso oficial. Pertencem a um único proprietário (que não possui
vínculos com a administração do Copan) esse conjunto de lojas do Térreo, grande parte da área da
Sobreloja (toda a área inacessível pela entrada do Bloco F) e o Foyer propriamente dito. Toda essa área
encontra-se, atualmente, à venda.
61
Figura 50 – Sobreloja: percurso iniciado a partir do Bloco F
Figura 51 – Sobreloja: percurso iniciado a partir do Bloco A
62
De modo geral, o pavimento Sobreloja apresenta uma variedade de desenho de
esquadrias de ferro e soluções de abertura. Conforme se caminha para o interior do
lote, surgem ambientes formados por sucessivos patamares. A partir desses
ambientes, podem ser acessados outros ainda mais internos, que envolvem o auditório
do cinema. Estes ambientes apresentam pé-direito variável, em função da declividade
da platéia: a estrutura da platéia encontra-se totalmente saliente sob a laje [Figura 56].
Este trecho do pavimento Sobreloja conta, portanto, com três graus de
clausura: dos ambientes mais iluminados e arejados quanto mais próximos à divisa do
lote, passando aos intermediários e chegando àqueles que fazem divisa com o cinema.
O nível de iluminação e o pé-direito decaem proporcionalmente, seguindo essa
ordem. Também se pode descrever este espaço como sendo a justaposição de
ambientes mais alongados (corredores) e mais amplos (saguões).
Também aclive no piso e rebaixamento do pé-direito conforme se caminha
no outro eixo, no sentido da interrupção da circulação (o “fim de linha” de quando se
partiu do Bloco F). Próximo a este ponto, um respiro de ventilação que vai até o
pavimento Transição (ou Cobertura do Terraço) e também providencia luz natural a
essa área. Isto bem próximo ao fundo do lote (limite Sul).
De frente para a Rua Unaí, na fachada Norte, uma outra varanda, fechada
por caixilho e grade, de onde se a base da torre do banco. O piso desta varanda
possui, em planta, um desenho marcado por chanfros. Esta varanda está posicionada
sobre a entrada da galeria que não possui vínculo com a portaria de nenhum Bloco.
Neste trecho do pavimento Sobreloja acessível pela base do Bloco A, a
variação de cotas é toda resolvida por degraus, ao contrário do trecho acessível pela
base do Bloco F, no qual o desnível do piso é resolvido predominantemente por
rampas.
63
Figura 53 – Exemplo de sala iluminada
Figura 52 – Exemplos da variedade de caixilhos no pavimento Sobreloja
64
Figura 54 – Diminuição do pé-direito no trecho de patamares que acompanha o volume de sobrelojas cor-
respondente à ilha de lojas do Térreo.
Figura 55 – Corte transversal
partindo da Rua Unaí à extremidade Sudeste do lote, onde se localiza a
estrutura da platéia. (Dos ambientes iluminados aos enclausurados)
Figura 56 – Estrutura da platéia do cinema
65
Figura 57 – Corte do Foyer não construído, como acesso principal do cinema. O corte também mostra o
acesso ao Teatro, previsto no início do projeto.
66
Figura 58 – Planta do Foyer produzida a partir do levantamento de desenhos existentes e de vericações in loco
67
O piso Foyer ocupa uma área reduzida em planta, se comparado aos demais
pavimentos da Base.
36
Sua projeção toma os corpos 1 e 2. Em corte, vê-se que se trata
do primeiro pavimento predominantemente plano da Base e que se encontra entre o
piso Sobreloja e o Terraço. É importante notar como a cota do Foyer equivale àquela
ocupada pelo pavimento Sobreloja no Bloco F.
O Foyer corresponderia, de acordo com o projeto original, à entrada principal
do cinema. Trata-se de um piso praticamente livre de vedação, no qual o pilotis
encontra-se solto e totalmente visível. Uma das fileiras do pilotis está localizada na
varanda que se estende por quase toda a face Norte do pavimento. Paralelo aos pilares
curvos, encontra-se o caixilho, de modo que a outra fileira do pilotis está disposta no
interior do edifício. Mesmo tratando-se de uma varanda coberta, muita luz natural
disponível.
A única variação na cota ocorre na extremidade do pavimento que em planta
está mais afastada da entrada do Bloco A. Ali, um patamar cuja extensão
corresponde ao trecho não avarandado do Foyer. Neste ambiente, além das duas
fileiras de pilares curvos, diversos pilares de seção retangular variável, dispostos
de maneira aparentemente desordenada. Não foi possível prever a que corresponderia
essa sustentação, já que a planta do Terraço, o pavimento imediatamente superior, não
oferece indícios de que pudesse haver demanda por esse tipo de solução estrutural.
O que se pode concluir dessa observação, sabendo que Niemeyer praticamente
não esteve presente no Canteiro de obras nem na elaboração do projeto e das
inúmeras interferências administrativas durante o processo, é que o projeto de alguns
trechos tenha permanecido inconcluso. Este “paliteiro” pode ser comparado à
estrutura do pavimento tipo da Lâmina, como demonstrado adiante. De qualquer
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
!
36
Na reconstituição da planta do Foyer, o houve intenção de coletar as dimensões exatas do espaço
construído. O objetivo do levantamento para esta análise foi tentar compreendê-lo em linhas gerais,
isoladamente e em relação aos os demais pavimentos, especialmente a Sobreloja.
68
modo, tanto este conjunto do Foyer, como os pilares de seção variada e estruturas
“inexplicáveis” da Sobreloja, possuem um caráter residual na construção que sugere a
inconclusão do projeto da arquitetura do Edifício Copan.
37
Como foyer do cinema, o piso seria acessível pela escada rolante não
executada. Com as interferências no projeto original durante a obra e a mudança da
entrada principal do cinema para o Térreo, o acesso ao pavimento acabou ficando
bastante restrito e se pela Sobreloja através de duas escadas: a escada em forma de
ferradura (aquela da extremidade do Bloco A, que atende apenas Térreo, Sobreloja e
Foyer) e uma outra, reta (próxima ao “fim de linha”, que atende os mesmos pisos).
Além dessas duas escadas, um elevador, bem próximo à extremidade do Bloco A
que realiza a ligação do Térreo ao Foyer.
38
O próprio cinema exerceria uma função
secundária de circulação vertical, ao promover a ligação entre o pavimento de entrada
(Foyer) e os de saída (Sobreloja e Térreo).
Imediatamente acima do piso do Foyer, encontra-se o Terraço, o primeiro
pavimento que ocupa toda a área da Base em que o piso é inteiramente plano.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
37
Apesar de os primeiros esboços terem sido feitos no Rio de Janeiro, para a montagem das plantas
de prefeitura a serem submetidas à aprovação da Prefeitura de São Paulo, foram feitas as chamadas
‘viradas’. Ao longo de 48 horas, praticamente ininterruptas, Lemos, Niemeyer e outros profissionais se
revezavam para desenvolver toda a parte cnica necessária para cumprir as exigências municipais. Um
calculista era encaminhado ao escritório para dar consultoria imediata a respeito de algumas questões
construtivas. Não é difícil perceber como muita coisa foi improvisada naquele momento(Leal 2003:
137). Sobre a produção de Niemeyer em São Paulo, Leal afirma também que: “A forma de trabalho à
distância do escritório satélite e seu modo operacional bastante específico levanta a questão a respeito
de como se deu a produção da arquitetura de Niemeyer sem sua equipe tradicional, seus calculistas e
companheiros de idéias” (Leal 2003: 10).
38
Este elevador encontra-se fora de uso. É possível que ele tenha sido instalado para acessar também o
pavimento Terraço, imediatamente acima do Foyer.
69
Figura 59 – Foyer com “paliteiro”
70
Figura 60 – Chegada da escada ferradura ao
Foyer
Figura 61 – Pilar contendo junta de dilatação entre
Corpos 1 e 2
Figura 62 – Varanda coberta
71
Figura 63 – Terraço original
72
Figura 64 – Terraço, de acordo com planta da prefeitura, ainda contendo acessos não executados, por
escada rolante a partir da galeria e por rampas, sendo uma a partir do Foyer e outra na calçada, no ponto em
que foi construída a escada apêndice.
73
Figura 65 – Terraço, de acordo com planta da prefeitura, contendo acesso não executado, por escada rolante
74
De acordo com o projeto original, o Terraço seria um dos principais
pavimentos da Base, se não o principal, do ponto de vista do espaço público do
edifício. Assim como o Térreo, o Terraço promoveria a integração entre edifício e
cidade, porém de maneira mais enfática, ao considerar a criação de grandes estruturas
de circulação com a exclusiva finalidade de ligar o pavimento à rua. Além disso,
haveria a integração deste Terraço com o do hotel através de uma passarela entre os
dois edifícios, como mostra a planta divulgada antes do início das obras [Figura 63].
“O público do hotel poderia ter acesso facilitado ao cinema e demais dependências do
conjunto comercial, da mesma forma que o público morador do edifício residencial,
ou apenas frequentador da galeria, teria acesso ao restaurante e às demais
dependências do hotel” (Xavier 2007: 103). O Terraço construído perdeu muito da
qualidade urbanística idealizada por Niemeyer,
39
devido a alterações do programa no
decorrer da obra que, inevitavelmente, incidiram no projeto, provocando o
cancelamento do uso público do pavimento.
Durante a construção, a passarela que ligaria o Copan ao edifício do Bradesco
acabou não sendo concretada.
40
Posteriormente, o piso todo foi comprado e ocupado
por uma empresa. Além de fechar com grades o acesso à escada-apêndice, a empresa
avançou o caixilho, de modo a envolver os pilares curvos, comprimindo a fachada.
Uma das plantas de prefeitura consultadas [Figura 64] mostra um acesso ao
Terraço por uma rampa gigantesca e sinuosa próxima à entrada não executada do
cinema (pelo Foyer), além da escada rolante. Nesta mesma planta, no lugar da escada-
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
39
“O Oscar imaginou um jardim elevado, ‘para recuperar o chão’, como ele dizia” (Lemos. Apud.
Barbara 2004: 278).
40
“Quando a laje desse nível foi fundida, a situação legal e financeira da obra estava complicadíssima,
nas mãos da sociedade condominial. Os condôminos estavam concentrados apenas em concluir o
edifício de apartamentos [e não se preocuparam] em manter a integridade do projeto do conjunto
original (...). Por isso, a laje do (...) Copan foi fundida sem a ponte. De toda forma, não faria sentido
haver esse tipo de ligação depois das modificações programáticas por que passou o edifício do hotel
transformado em sede bancária” (Leal 2003: 137). Mesmo assim, ao projetar o banco, Lemos procurou
manter a cota do terraço sobre a base do hotel. Segundo ele, ao menos inicialmente, o banco teria
instalado, neste terraço, o restaurante dos funcionários. (Galvão 2004: 13).
75
apêndice, fazendo a ligação Térreo-Terraço, também se encontra uma rampa.
41
a
Figura 65 apresenta a escada-apêndice executada, mas também mantém a escada
rolante. Trata-se da versão encontrada que mais corresponde ao que foi construído. O
pavimento Terraço encontra-se atualmente desocupado e fechado para visitação por
tempo indeterminado. Deste modo, não foi possível verificar se houve outras e quais
teriam sido as demais modificações de projeto ocorridas.
O mais importante, diante das informações que puderam ser coletadas, é
perceber como o Terraço configura um pavimento plano, o primeiro pavimento plano
que toma toda a área da Base, concluindo uma das funções que podem ser
interpretadas como função da Base, de trabalhar o terreno bruto para receber a
Lâmina regular dos apartamentos. No Térreo inclinado, a circulação da galeria
acompanha as curvas do terreno e degraus resolvem a entrada para o piso plano das
lojas. A Sobreloja acompanha a inclinação do Térreo, porém de maneira mais
independente, combinando rampas com o uso deliberado de degraus.
42
Conforme o
pé-direito se torna suficiente, o Foyer é introduzido como primeiro pavimento da Base
predominantemente plano, embora isto seja viável devido à ocupação de apenas
uma área parcial da projeção do lote. A relação entre Sobreloja e Foyer é tensa,
devido à sobreposição de planos e ao estreitamento e interrupção dos ambientes em
torno do vazio do cinema. Somente no Terraço, o conflito parece ter sido resolvido,
com o piso todo plano, como deve ser o pavimento tipo da torre de apartamentos.
A laje da Cobertura do Terraço arremata o conjunto chamado de Base. Sobre
ela, que constitui um pavimento descoberto, será pousada a Lâmina.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
41
Segundo Carlos Lemos, a rampa proposta por Niemeyer seria inexequível, o que teria demandado
que o próprio Lemos fosse incumbido de substituí-la pela escada apêndice [ver nota 14]. A rampa
ainda constava nas primeiras fotos de divulgação do empreendimento [Figura 5] (Galvão 2004: 13).
42
É provável que os degraus também sejam resultado da inconclusão do projeto arquitetônico, poiso
constam nas plantas consultadas, assim como os pilares da Sobreloja e Foyer, dispostos nitidamente
fora de qualquer padrão. De modo geral, a fragmentação do espaço nestes dois pavimentos também
contribui com o caráter de resíduo.
76
Figura 66 – Pavimento tipo
77
Figura 67 – Bloco A (escala 1:100)
Bloco A
02 apartamentos no andar tipo
Total de 64 apartamentos de 2 dormitórios
84,13m2 de área útil
programa: sala de estar/jantar, 01 banheiro social, 02 dormitórios, cozinha,
área de serviço, 01 dormitório de empregada e 01 banheiro de empregada
03 entradas, sendo uma para hall de elevadores, uma para o elevador de
serviço e uma para escada de emergência
Bloco B (página seguinte)
20 apartamentos no andar tipo
Total de 640 apartamentos, sendo 448 quitinetes (24,67m2 ) e 192 de 01
dormitório (32,37m2)
Programa das quitinetes: sala multifuncional, banheiro e cozinha
Programa dos apartamentos de 01 dormitório: sala de estar/jantar, dor-
mitório, cozinha e banheiro
78
Figura 68 – Bloco B
(escala 1:100)
79
Figura 69 – Bloco C (escala 1:100)
Bloco C
02 apartamentos no andar tipo
Total de 64 apartamentos de 03 dormitórios
122,48m2 de área útil
Programa: sala de estar/jantar, 01 banheiro social, 03 dormitórios, cozinha,
área de serviço, 01 dormitório de empregada e 01 banheiro de empregada
02 entradas, sendo uma para o hall social de elevadores e uma para o hall
do elevador de serviço
80
Figura 70 – Bloco D (escala 1:100)
Bloco D
02 apartamentos no andar tipo
Total de 64 apartamentos de 03 dormitórios
161,23m2 de área útil
Programa: sala de estar/jantar, 02 banheiros sociais, 03 dormitórios,
cozinha, área de serviço, 01 dormitório de empregada e 01 banheiro de
empregada
02 entradas, sendo uma para o hall social de elevadores e uma para o hall
do elevador de serviço
81
Figura 71 – Blocos E e F originais (escala 1:100)
82
Figura 73 – Bloco E construído (13º ao 32º pavimento)
Figura 72 – Bloco E construído (1º ao 12º pavimento)
83
Figura 74 – Bloco F (escala 1:100)
Bloco E (página anterior)
04 apartamentos por andar do 1o ao 12o andar e 06 apartamentos por
andar do 13o ao 32o andar
Total de 168 apartamentos, sendo 144 quitinetes (variando entre 27,56m2,
28,31m2 30,46m2, 38,31m2, 38,58m2 de áreas úteis) e 24 apartamentos
de 01 dormitório (59m2 e 69m2 de áreas úteis).
Programa das quitinetes: sala multifuncional, banheiro e cozinha
Programa dos apartamentos de 01 dormitório: sala de estar/jantar, dor-
mitório, cozinha e banheiro
Bloco F
05 apartamentos por andar tipo
Total de 160 apartamentos, sendo 96 quitinetes (25,98 m2 29,85 m2 e
36,48 m2 de áreas úteis e apartamentos de 01 dormitório com 53,43 m2 e
62,15 m2 de áreas úteis. Programa das quitinetes: sala multifuncional,
banheiro e cozinha
Programa dos apartamentos de 01 dormitório: sala de estar/jantar, dor-
mitório, cozinha e banheiro
84
Como já foi dito, os blocos que compõem a Lâmina são independentes entre si
e contam com as entradas principal e secundária. Todas essas entradas são acessíveis
a partir da Base, tanto do Térreo (contando com serviço de portaria) como do
Subsolo. O saguão que recebe os elevadores nos pavimentos tipos é essencialmente
compacto. Nos Blocos A, C e D, o comprimento do saguão dos elevadores é
delimitado pela dimensão das próprias máquinas, e a largura, pela abertura da porta de
entrada dos apartamentos. No Bloco B, a circulação ocupa uma área maior e constitui
um percurso em si. Ainda assim, é o princípio da circulação compacta que rege o
projeto. Como foi mencionado anteriormente, o Bloco B é o único que tem um
volume anexo, destacado da Lâmina, para toda a circulação vertical (principal e de
emergência), posicionado praticamente no centro da fachada Sul. O patamar que
recebe os elevadores fica em cota intermediária à dos apartamentos, de modo que o
elevador serve a dois andares em uma única parada, dando maior velocidade ao
percurso. A ligação entre patamar e piso dos apartamentos é feita por rampas
generosas de largura variável, em torno de três metros.
A iluminação natural e abertura proporcionadas pelas janelas – um rasgo
próximo ao teto, em proporção de fita, no patamar de chegada dos elevadores, e uma
abertura retangular em uma das fachadas, no trecho que une volume anexo e Lâmina
– conferem às rampas caráter de calçada.
Os andares intermediários que não possuem parada de elevadores e não
atendem nenhum pavimento correspondem a um piso técnico. Mesmo nestes pisos, a
janela em proporção de fita se apresenta. A rampa que liga o patamar aos pisos dos
apartamentos não é contínua, de modo que esses patamares técnicos não são
acessíveis. Com isso, o pé-direito é duplo nos trechos da rampa.
85
Figura 75 – Rampas do Bloco B
Figura 77 – Janelas na circulação das áreas comuns do Bloco B
Figura 76 – Esquema da circulação vertical do Bloco B
86
Figura 78 – Conguração original do pavimento tipo
87
O corredor na cota dos apartamentos, embora desprovido de janelas, mantém a
largura aproximada das rampas. No percurso, é possível verificar a presença da junta
de dilatação entre os corpos 1 e 2. Trata-se da única junta de dilatação que não
coincide com uma divisão de blocos. O corredor é finalizado de maneira abrupta, por
uma parede que representa a fronteira com o Bloco A. Uma planta de 1952 indica
que, em um primeiro momento do projeto, os Blocos A e B haviam sido pensados
como um único bloco de quitinetes,
43
de modo que o corredor se estenderia até o final
da Lâmina.
A Figura 78 mostra a configuração original do pavimento tipo e apresenta
mais algumas diferenças com relação ao que foi executado. Nela, a posição das
quitinetes e dos apartamentos de um dormitório do Bloco B está trocada com relação
às fachadas (Norte e Sul) e as rampas de ligação com os elevadores são
acompanhadas por escadas. O que hoje corresponde aos Blocos C, D, E e F aparece
ocupado por apartamentos de três e quatro dormitórios, acessíveis por quatro
prumadas de elevadores e com frente para as duas fachadas curvas da Lâmina, sendo
que a fachada Sul concentrariam prioritariamente as áreas de serviço embora alguns
dormitórios também tenham aberturas para esta face. Na versão construída, as
unidades que corresponderam a esta solução foram as dos Blocos A, C e D. Nos
demais Blocos, as unidades possuem frente para uma única fachada.
Se alguma tipologia sofreu prejuízos consideráveis com as modificações da
planta original até a obra acabada, seriam elas as dos Blocos E e F. O motivo não se
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
43
Segundo Xavier, o programa das quitinetes foi viabilizado graças ao sistema de ventilação por
exaustores, que permitia que os banheiros fossem locados no interior da construção, sem perda de área
útil de fachada. A autora afirma que a intervenção dos empresários envolvidos na construção do Copan
contribuiu para que a lei que permitia o uso do recurso em residências fosse aprovada. Aentão, o
sistema era autorizado somente para hotéis, o que fazia com que muitos empreendimentos da época
fossem aprovados como hotel e, posteriormente, convertidos em edifício de quitinetes (Xavier 2007:
92-94). O sistema de exaustão foi instalado aproveitando-se os fossos de elevadores. Segundo Galvão,
o mecanismo encontra-se há algum tempo desativado (Galvão 2007: 37). Mesmo sem a ventilação
forçada, os dutos conectados aos fossos realizam a exaustão.
88
deve à redução na quantidade de dormitórios, atribuída à questões de demanda de
mercado deduzidas no decorrer da obra,
44
e sim à maneira como os espaços foram
distribuídos, de maneira aparentemente aleatória. A circulação externa aos
apartamentos, na área comum destes blocos, ilustra bem as dimensões desse prejuízo.
Ela destoa completamente da solução compacta adotada nos demais, em especial os
trechos de corredor que conduzem à saída de emergência, pela escada caracol.
45
Assim como o volume de circulação do Bloco B, também estão deslocados do
corpo principal do edifício de apartamentos as escadas caracol de emergência dos
blocos A, E e F. Estes quatro volumes de circulação pontuam a fachada Sul do
Edifício Copan. O volume da circulação do Bloco B é claramente o principal. Ele
divide a fachada ao meio, de modo que a circulação de emergência do Bloco A fica na
extrema direita (após a curva convexa) e a do Bloco F na outra ponta (após a curva
côncava). A escada de emergência do Bloco E divide ao meio o setor entre B e E. A
cobertura da circulação de B é mais alta conforme se aproxima da extremidade de F
[Figura 79].
Enquanto a fachada Sul concentra os elementos verticais, a fachada oposta
enfatiza a horizontalidade. A única circulação vertical localizada nesta face é a escada
apêndice, que não ultrapassa a altura da Base, de modo que não necessidade de
qualquer tipo de intervenção nas curvas da fachada principal da Lâmina. Ao todo, são
92 brises, havendo três brises por andar. Apenas os pavimentos tipo 15 e 23 não
possuem brise [Figura 80].
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
44
Quando o Bradesco assumiu [a obra], os proprietários dos apartamentos maiores (...) estavam quase
todos inadimplentes. Como os apartamentos menores encontravam-se com as quitações em dia, os
administradores do Bradesco preferiram subdividir os apartamentos maiores em unidades mais
populares para facilitar a venda e garantir os pagamentos, alterando assim a planta original.
45
No Bloco E, chega a haver sobras de espaços completamente enclausurados, indicados em algumas
plantas como “administração”, cuja real finalidade não pode ser identificada. A possibilidade de
servirem como duto de ventilação foi descartada, por haver uma planta na qual a exaustão se encontra
toda resolvida pelo aproveitamento dos vãos da circulação vertical.
89
Figura 79 – Fachada Sul
90
Figura 80 – Fachada Norte
91
O brise constitui uma estrutura independente. A solução adotada para
contraventá-la foi conectar essa sucessão de pórticos que a compõem à estrutura
principal (da Lâmina) por meio de consoles em forma de trapézio. Os elementos
horizontais são brancos e os verticais, cinzas,
46
sendo que os elementos verticais
encontram-se recuados em relação aos horizontais. Tanto a cor quanto a solução
estrutural e o recuo do elemento vertical contribuem para conferir leveza à fachada.
47
A repetição dos elementos horizontais produz homogeneidade. À distância, as
linhas como que se fundem uma na outra, dando lugar a um plano visual branco e
leve, porque vazado e permeável. A interrupção do brise em dois pavimentos quebra o
plano ao lançar duas faixas que se estendem de uma extremidade a outra. Segundo
Carlos Lemos, Niemeyer teria removido o brise por motivos meramente
composicionais (Galvão 2004: 12).
48
Na fachada Sul, retomando a divisão pontuada pelos elementos de circulação
vertical, tem-se que, entre as circulações B e F, a fachada é coberta por brise. No
entanto, enquanto na face Norte o brise como que flutua devido ao recuo do elemento
vertical, na face Sul os elementos verticais, menos espaçados entre si do que na outra
face, aparecem alinhados aos horizontais pelo lado externo, formando não uma
sucessão de elementos horizontais, mas uma trama [Figura 81]. A trama do brise
recobre uma série de fechamentos de elemento vazado, cujo uso é recorrente na
fachada Sul, no trecho de C a F e em parte de A.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
46
Cores correspondentes ao revestimento de pastilha de vidro.
47
A leveza da fachada é mantida também no período noturno. Embora na ausência da iluminação do
sol o brise o seja percebido com nitidez como um elemento único horizontal, ele exerce o efeito de
um véu ao deixar vazar a luz difusa do interior dos apartamentos.
48
Nos primeiros desenhos do projeto o brise ainda não havia sido incorporado ao projeto. Nas Figuras
4 e 5, apresentadas no começo deste capítulo, apenas a última apresenta o brise. Importante notar na
figura como o brise surge interrompido em dois pontos, recurso que se estende à fachada do edifício
do hotel.
92
Figura 81 – Dimensões e detalhes comparativos entre os brises Sul e Norte
93
Figura 82 – Detalhe de xação (console)
Figura 83 – Brise, xação e caixilho
94
No Bloco A, sem a presença do brise, o elemento vazado que resguarda as
áreas de serviço ao longo dos trinta e dois pavimentos desenha uma faixa que
contribui para marcar a verticalidade.
De modo geral, no projeto do Edifício Copan, o elemento vazado foi adotado
como uma espécie de véu para resguardar a alvenaria recuada do alinhamento da
fachada.
49
A trama do brise nos Blocos de C a F reforça ainda mais a proteção contra
olhares ao interior dos apartamentos. Tanto é assim, que o brise acabou favorecendo a
realização de modificações não permitidas. As paredes de elemento vazado deste
trecho foram complementadas em quase sua totalidade por caixilhos. Em algumas
intervenções mais agressivas, o elemento foi completamente removido e substituído
por outro tipo de fechamento, não vazado, como alvenaria e esquadrias. No Bloco A,
onde não há brise, a fachada sofreu bem menos intervenção.
Na fachada Sul, os caixilhos são em geral pequenos, como vitrôs das áreas de
serviço. A principal exceção são os grandes panos de vidro das 14 quitinetes do Bloco
B.
50
É na fachada Norte, no entanto, que os panos de vidro constituem um padrão. A
única variação refere-se ao grau da curva correspondente à posição de cada
apartamento. Assim, os caixilhos vão de totalmente retos a convexos e côncavos.
A
variação de curvatura incide no número de folhas de correr. O resultado foi a criação
de mais de um padrão de esquadria para a mesma fachada. A delimitação de trechos
retos ou curvos não possui relação com as divisões de blocos nem de corpos [Figura
84].
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49
Houve ampla utilização do elemento vazado na arquitetura moderna brasileira, “tendo sido
exploradas suas qualidades de sombra e ventilação e como elemento definidor da fachada (...)”
(Barbara 2004: 229).
50
O pano de vidro é outra característica da arquitetura moderna. Esta solução causou polêmica na
ocasião da encomenda do edifício do banco. Segundo Carlos Lemos, foi uma exincia do [presidente
do banco] que a fachada não constituísse um pano de vidro. Este foi um ponto em que Lemos não
conseguiu manter a máxima fidelidade às linhas gerais da fachada proposta por Niemeyer para o antigo
hotel, ao contrário do que foi possível em relação ao gabarito (Galvão 2004: 13).
95
Figura 84 – Esquema da distribuição de vidros retos e curvos ao longo da Lâmina
96
Figura 85 – Exemplos de esquadrias que compõem os panos de vidro
97
Figura 86 – Independência entre caixilho e estrutura
98
Os consoles que ligam a estrutura do brise à estrutura principal foram
dispostos nos pontos de cruzamento dos elementos horizontais e verticais, de três em
três fiadas, o que corresponde ao pé-direito dos apartamentos. Desta maneira, o
desenho dos caixilhos praticamente segue as linhas horizontais do brise. De cima para
baixo, tem-se um parapeito de vidro fixo, uma faixa de caixilho de correr e uma
bandeira de basculante. “Como o brise não permite que se olhe para baixo, os
apartamentos altos puderam receber esquadrias de piso ao teto sem tornarem-se
vertiginosos” (Barbara 2004: 229). Isto representa uma forma de se conter o efeito da
verticalidade, do ponto de vista do observador no interior da Lâmina. Um efeito
análogo teria sido a adoção de vidro leitoso no peitoril das quitinetes do Bloco B, na
fachada Sul, que não requer a proteção do brise.
51
Na ausência de brise, o vidro
leitoso também evita que se veja o interior dos apartamentos.
O brise constitui uma estrutura ordenada. Embora o espaçamento entre os
elementos verticais seja variável, ele segue precisamente o padrão determinado pelas
curvas da Lâmina. A estrutura interna aos apartamentos não segue, necessariamente, o
mesmo padrão. As linhas verticais de sustentação do brise nem sempre correspondem
à modulação da esquadria. Apenas nos Blocos A e B a correspondência é total. Na
outra metade da Lâmina, essa relação está associada à divisão dos corpos. Assim, o
brise parte da extremidade do Bloco F em concordância com a estrutura da Lâmina e
entra em defasagem no quarto pilar da sequência. A concordância é retomada
novamente no da divisa entre os corpos 4 e 3, que corresponde à divisa entre os
Blocos E e D. Dali em diante, há uma nova defasagem, que atravessa os Blocos D e C
(ou seja, o Corpo 3), resolvendo-se na divisa entre corpos 3 e 2. Essa defasagem
confirma a independência estrutural entre brise e caixilho.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
51
Em se tratando da função original do brise, de impedir a incidência direta dos raios solares [ver nota
12], tem-se que ele se faz necessário na fachada predominantemente Norte e dispensável na fachada
predominantemente Sul.
99
Figura 87 – Relação entre alvenaria e estrutura em quitinete do Bloco B
100
Figura 88 – Croqui da disposição dos pilares dos Blocos E e F
101
Importante observar como a estrutura da própria esquadria é independente da
estrutura principal [Figura 86]. Trata-se de um recurso utilizado na totalidade dos
caixilhos, encontrado também nos fechamentos da Base. Essa relação entre estruturas
caracterizada por independência contribui para que, mesmo sem o apuro do desenho
da tipologia e o estrutural, os apartamentos apresentem-se como estruturas facilmente
adaptáveis a arranjos alternativos à proposição da planta construída. Um projeto
estrutural mais de acordo com o preceito moderno da independência entre estrutura e
vedação
52
teria flexibilizado ainda mais a disposição da planta em alguns trechos da
Lâmina. Nas quitinetes do Bloco B, por exemplo, pilares espaçados a cada 1,5
metro, seguindo o contorno da alvenaria [Figura 87].
A solução estrutural da Lâmina é consideravelmente delgada, quando
analisadas as relações proporcionais de sua volumetria. Segundo Paulo Mendes da
Rocha, o que possibilita que uma lâmina de 32 andares e mais de 100 metros de
extensão e apenas 18 metros de largura se estabilize é a dobra proporcionada pelas
curvas do “S”.
Se [Niemeyer] fizesse [a lâmina estreita] toda vertical não seria um
problema para as técnicas de hoje, o grande problema é a questão do
vento. Dobrar daquele jeito resolve isso. Portanto aquelas curvas
nãom nada a ver com montanhas do Brasil ou as curvas da
mulher amada. Não seria possível fazer de outra forma (Rocha;
Colombo; Cariello 2006).
É a estrutura de transição que, além de apoiar a estrutura ordenada do brise, irá
filtrar o paliteiro que constitui a estrutura principal da Lâmina, concentrando a carga
dispersa nos diversos pilares do pavimento tipo nas duas fileiras do pilotis que
perpassa a Base.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
52
Essa ressalva havia sido feita por Niemeyer nos documentos para aprovação do projeto na Prefeitura
de São Paulo. No memorial descritivo apresentado durante o processo, Niemeyer refere-se à alvenaria,
item requerido pela Prefeitura, da seguinte maneira: Terão função exclusiva de vedação, o
transmitindo nem recebendo carga” (Niemeyer. Apud. Leal 2003: 129).
102
Figura 89 – Transição (Cobertura do Terraço)
103
Figura 90 – Corte contendo viga de transição e cobertura do cinema
104
Figura 91 – Detalhe da transmissão de carga na viga de transição
105
A estrutura de transição encontra-se pousada no pavimento Cobertura do
Terraço, também denominado Transição. Consiste em um volume feito a partir de um
trapézio extrudado horizontalmente sob toda a extensão da Lâmina.
Essa laje de transição era mais que oportuna porque o sistema
estrutural dos apartamentos era muito compartimentado, era um
paliteiro de colunas que não deveria descer até o chão. Então eles
imaginaram essa laje de transição como uma grande mesa onde está
apoiado o prédio (Lemos. Apud. Barbara 2004: 278).
A aresta superior do trapézio é delimitada pela estrutura do brise. A aresta
inferior corresponde aos limites externos às duas fileiras do pilotis, que denunciam a
presença da lâmina no interior da base [Figura 91].
Dentro do volume, acessível por meio de portinholas dispostas na lateral da
estrutura, distribuem-se vigas que seguem a forma do trapézio e que são espaçadas
entre si por medidas variáveis.
53
A seção da viga trapézio não chega a ser totalmente
fechada, de modo a viabilizar a circulação entre os ambientes formados no interior da
estrutura. A dimensão dessas aberturas, assim como a largura das vigas, também é
variável.
54
O teto desses ambientes possui o desenho das nervuras da laje do piso da
Lâmina. O pé-direito mínimo é constante e tem altura suficiente
55
para que o acesso à
infraestrutura guardada no interior dessa grande viga possa receber manutenção.
Passam nesta área todos os tubos de hidráulica que abastecem os pavimentos de 1 a
16,
56
além de toda a tubulação de esgoto e elétrica.
57
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
53
Em visita ao interior da estrutura, puderam ser medidos alguns os correspondentes a esses
espaçamentos entre uma viga e outra, que variaram entre 3,10 e 4,85 metros.
54
As aberturas de passagem tinham cerca de 0,80 metro de largura. A largura da própria viga variava
entre 1,20 e 1,65 metro no trecho visitado.
55
Sob as nervuras, o pé-direito mede 1,72 metro. Nos trechos de laje, sobe para 2,44 metros. Nestes
trechos, pode-se observar que parte da madeira do escoramento ainda da época da concretagem o
chegou a ser removida.
56
Tubulação de água fria e água quente. O restante dos pavimentos é abastecido por reservatórios da
cobertura da Lâmina. Os registros são identificados por etiquetas metálicas que contém informações
como a deste exemplo, colhido in loco: ÁGUA FRIA COZINHA / BLOCO D / FINAL 1 / FECHA 1º
AO 16º.
57
Foi construída uma canaleta de concreto com seção útil de 0,45 x 0,50 metro para abrigar a passagem
de eletrodutos.
106
Figura 92 – Cobertura da Lâmina: Terraço-Mirante
107
Figura 93 – Cobertura da Lâmina: Segundo piso do Terraço-Mirante
108
Figura 94 – Cobertura da Circulação B
Figura 96 – Vista Aérea a partir da Cobertura da Lâmina
Figura 95 – Tubulação e junta de dilatação
109
O complemento a esta central de infraestrutura dá-se na Cobertura da Lâmina.
No Terraço-mirante encontram-se as casas de máquinas dos vinte elevadores,
reservatórios complementares aos dos subsolos, tubulação de água fria e água quente
que abastecem os pavimentos de 17º ao 32º. Na primeira cota dessa cobertura,
encontra-se ainda a residência do zelador do edifício. O piso do Terraço-Mirante é
interrompido pelo volume das construções, de modo que não se pode contornar o
perímetro todo. Do alto do edifício, tem-se uma ampla vista aérea da cidade. Por
conta dela, principalmente, o acesso ao pavimento é liberado ao público geral, ainda
que com restrição de horário e acompanhamento de funcionário do condomínio.
58
É possível transitar pelo Segundo piso do Terraço-Mirante, onde, além da
vista aérea e da continuação da infraestrutura, destaca-se a cobertura da circulação
vertical do Bloco B. A volumetria deste corpo de circulação não corresponde à
anunciada na fachada Sul: a linha inclinada não chega a constituir um maciço e se
abre dando acesso a um pequeno terraço sobre a laje plana, de onde também se tem
acesso à vista aérea da cidade. Acima deste pavimento, encontra-se a Cobertura-
Heliponto, que além do heliponto, comporta inúmeras antenas.
O ponto mais alto e o mais baixo da Lâmina conectam-se pela infraestrutura,
pela visualidade e pela circulação. Embora permeado de infraestrutura, o Terraço-
Mirante constitui o oposto do confinamento dos ambientes do interior da estrutura de
transição sob a Lâmina. Possui, ainda, caráter distinto ao do espaço externo ao
trapézio no pavimento Transição, onde também tubulação de infraestrutura. Esta
cota exterior encontra-se em uma aproximadamente 40 centímetros mais elevada em
relação à interior.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
58
Este mesmo acesso torna-se totalmente aberto à cidade em um momento de comemoração pública:
no Ano Novo, a subida à cobertura é feita pelos elevadores do Bloco B durante cerca de uma hora. É
formada uma fila que não faz distinção entre moradores e público geral.
110
Figura 97 – Anotações a partir da planta da Transição
Figura 98 – Croqui do contato entre viga trapézio e laje externa do piso de Transição
111
Figura 99 – Vigas calha da cobertura do cinema
112
O volume de circulação do Bloco B divide a Cobertura do Terraço em duas
grandes áreas ao ar livre. Uma delas é a que recebe a circulação de emergência da
maior parte dos blocos: as escadas caracol dos Blocos E e F e o fluxo dos Blocos C e
D. Em C e D, o percurso é realizado por escadas no interior da Lâmina e desemboca,
por meio de uma escada reta moldada em alvenaria, em uma espécie de passarela.
59
Toda essa circulação é direcionada à extremidade Oeste do lote.
60
Nesta mesma extremidade, há um recuo variável de aproximadamente 10
metros entre o lote vizinho e o início da empena da Lâmina. Por este espaço, é
possível acessar uma espécie de terraço sobre a entrada da garagem da Rua Araújo,
resguardado por um parapeito de concreto.
Do outro lado do volume de circulação do Bloco B, que só pode ser transposto
devido a portas na própria cota do piso, encontra-se a saída da ventilação da Sobreloja
e Foyer, uma estrutura de elemento vazado com aspecto improvisado. Logo atrás, está
a estrutura da cobertura do cinema, a presença que mais caracteriza esse trecho. Esta
estrutura se eleva aproximadamente até cinco metros da cota do piso e, em planta,
quase tangencia a Lâmina, no ponto em que fachada de ambas é mais pronunciada.
Mesmo sem acesso ao cinema propriamente dito e sem os cortes necessários
para a compreensão desta construção e sua relação com o restante do edifício, as
visitas aos pavimentos da Base e vistas aéreas permitiram verificar que a laje que foi
efetivamente construída para cobrir o cinema não segue o padrão arredondado
sugerido pelo corte disponível [Figura 90]. Sua geometria é ligeiramente angulosa,
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
59
Na planta [Figura 50a] é possível conferir a indicação dessa circulação elevada, que originalmente
captaria também a circulação de emergência de E e F, o que o ocorreu. Consta que a área tenha sido
usada pelos funcionários durante muito tempo como quadra poliesportiva. No trecho cortado pelas
passarelas, também se encontram situadas algumas caixas de passagem de elétrica, que constituem
prismas de arestas de 2,00m, aproximadamente .
60
Trata-se da escada que chega ao pavimento Sobreloja, mencionada na nota 28.
113
semelhante à representação de uma concha. Os veios funcionam nitidamente como
vigas calhas, resolvendo a captação das águas pluviais. [Figura 99].
Apenas na extremidade do lote é que se a escada caracol do Bloco A, a
princípio oculta pela curva convexa da Lâmina. Desse ponto, é possível observar que
uma parcela do piso contíguo à cobertura do cinema, de onde parte uma escada de
ferro para a própria cobertura, ocupa uma cota aproximadamente dois metros abaixo
da predominante. Toda essa área encontra-se na extremidade Leste do lote e é
protegida por um gradil que serve de parapeito para um terraço com vista para a Rua
Vila Normanda.
A Lâmina também se encontra um pouco recuada desta face do lote. O recuo é
ocupado por um volume curvo que se desenvolve a partir do trapézio na base da
empena. Este volume tem aproximadamente três metros de altura e dialoga com as
curvas da fachada da Base. Sua finalidade não pode ser identificada.
Da circulação de emergência dos Blocos A e B não se acessa a Cobertura do
Terraço e segue-se direto para o pavimento Térreo. Mesmo no trecho dos demais
Blocos, a circulação de emergência constitui uma eventualidade. Na prática, a única
circulação existente no pavimento Transição é aquela referente à manutenção do
Edifício.
O pavimento Transição é o lugar de onde se tem a visualização mais próxima
da fachada Sul da Lâmina, que da rua só é visível através de frestas entre os lotes com
frente para a Rua da Consolação.
61
Mesmo de perto, a imagem que se pode ter da
fachada Sul a partir de uma cota mais baixa é fragmentada. Não espaço suficiente
para observar todas as partes do conjunto a partir de um mesmo ponto de vista.
Assim, essa observação precisa ser feita em movimento, a cada passo do percurso.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
61
Conforme mencionado no início do capítulo e expresso na Figura 13.
114
Figura 101 – Céu desenhado pela Lâmina entre as circulações de B e E
Figura 100 – Céu desenhado pela Lâmina nos Blocos B e A e circulações verticais
115
O trecho que engloba os Blocos A e B é relativamente mais livre. A fachada
contém apenas uma circulação de emergência (a escada caracol do Bloco A) e a curva
convexa sem brise expõe de uma vez todo o conteúdo da fachada. O vidro e o ferro
dos caixilhos no alinhamento da fachada, somados ao rufo metálico que protege o
topo de cada janela, compõem uma superfície brilhante que parece coberta de
escamas. A fachada sem brise não resguarda o conteúdo dos apartamentos, de modo
que a cor dos ambientes é lançada à superfície da curva. As janelas do volume de
circulação do Bloco B apontam em direção ao Bloco A. Observado deste ponto de
vista, ele adquire a forma arredondada que de fato possui e que é planificada pela
visão frontal ou muito distante que se tem a partir da Rua da Consolação. A sucessão
de janelas compridas contribui para a sensação de movimento sugerida pela curva.
Quanto mais se aproxima do volume de circulação do Bloco B, a curva convexa da
Lâmina começa a ocultar a extremidade, de modo que o Bloco A e a respectiva
escada de emergência são retirados do campo visual.
Do outro lado, a visualização é ainda mais fracionada. O percurso afunilado
entre a torre de circulação de B e o trecho da Lâmina correspondente ao Bloco C é de
uma verticalidade pronunciada e produz um desenho de céu confinado entre as
porções edificadas. Tem-se a impressão de que inversão do sentido da gravidade,
tamanha a força com que o olhar é capturado para o alto.
Conforme se caminha em direção ao Bloco F, desenvolve-se a curva côncava
que, dependendo do ponto de vista do observador, pode ser percebida como reta. O
trecho entre as circulações de E e B apresenta essa ambiguidade visual. A curva
parece se acentuar quanto mais o olhar se aproxima das torres de circulação,
especialmente na faixa em que estabelecem conexão com a Lâmina.
116
Figura 102 – Comparação entre desenho de céu e desenho formado pela relação entre a laje da sobre-
loja e o pilar curvo
117
As variações da curva observadas neste trecho assemelham-se muito ao
fenômeno que ocorre em escala menor, quando se olha para o pilar curvo da base que
recebe a varanda curva da Sobreloja. Em planta, é possível ver como um dos pilares
serve como ponto de partida e chegada ao desenho da curva. Conforme é dado um
passo para o lado ou mesmo um simples movimento de cabeça, o que se vê da relação
entre a curva e o pilar, delimitado pela superfície da laje da varanda e o ar do espaço
que a circunda, transforma-se completamente [Figura 102].
O trecho entre E e F é reto, embora as duas torres espiraladas das escadas
caracol e o efeito da trama do brise impeçam que ele seja percebido como um plano
estático. De alguns pontos, também é possível observar o conjunto formado pelas
linhas horizontais retas e curvas e as faixas verticais entre F e B. Neste recorte, tem-se
um ângulo formado por curvas, que é interrompido pelo Bloco B. Visto de um pouco
mais de distância, o trecho dito ambíguo, entre E e B, tende à reta.
Esses espaços criados a partir da implantação da Lâmina, expressos em
projeto por meio das plantas e confirmados pelos desenhos formados no céu,
evidenciam a maneira sutil com a que curva se presta a evitar uma aproximação
excessiva das edificações do entorno, ao mesmo tempo em que busca uma integração
com a cidade. “A lâmina curva não deseja estar solta, sozinha: ela é amparada por
outros edifícios. O prédio do hotel (atual Bradesco) tem essa função, a de já criar uma
vizinhança, compondo um conjunto que se acomoda e se funde à massa edificada do
entorno” (Barbara 2004: 274). Carlos Lemos foi categórico ao afirmar que a forma de
“S” adotada para a Lâmina teria sido determinada a partir dos limites do fundo do
lote, nesta face Sul (Bargmann 2006). No entanto, o que se percebe não é uma
reiteração dos limites irregulares do lote, e sim a sua quase anulação.
118
Figura 103 – Céu desenhado pela Lâmina entre as circulações de B e F
119
A curva confere forma ao espaço que envolve a construção e ao mesmo tempo
propõe uma outra verticalidade, não pautada pelo princípio da ortogonalidade que
parece necessariamente vinculado à expansão vertical das grandes cidades. Assim, a
diferenciação do Copan na paisagem vai além da relação entre linhas curvas e
ortogonais. Essa distinção acontece, principalmente, devido ao potencial de geração
de espaços que é próprio da forma curva. A presença desta forma nas diversas escalas
e circunstâncias do projeto, pode conferir à curva o caráter de motivo gerador da obra
como um todo.
Mesmo nos elementos mais superficiais, no entanto, encontram-se princípios
que permeiam o todo da construção. A ideia de unidade foi trabalhada no emprego de
revestimentos, como na supramencionada ideia original do piso da galeria em pedra
portuguesa, como prolongamento da calçada. A pastilha de vidro confere unidade ao
brise e às partes que o constituem, ao considerar cores diferentes para os elementos
horizontais e verticais. De modo geral, tanto nas áreas comuns como no interior dos
apartamentos, foram utilizados acabamentos e revestimentos comuns à arquitetura do
período em que a obra foi executada (Leal 2003: 129). Mesmo que não tenha havido,
portanto, um projeto dessas peças específico para o Copan, é possível identificar
alguma correspondência formal nas ferragens escolhidas para portas e janelas [Figura
104].
62
Por meio do revestimento, também são apontadas características estruturantes
que distinguem Base e Lâmina e reafirmam sua complementaridade.
A Base não parece ter sido pensada para ser compreendida. O revestimento de
madeira que, originalmente, reveste toda a área não envidraçada da fachada, mascara
a percepção da posição das lajes no interior.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
62
Teria havido ainda, na etapa de projeto executivo, o desenho do mobiliário. Na época desta pesquisa,
no entanto, pode ser acessada apenas a listagem que acusava a existência dessas plantas.
120
A Base também não foi feita para ser leve. Ela é o próprio solo que sustenta o
edifício. O lambri de madeira se estende da fachada externa às fachadas internas, das
lojas da galeria, e contribui com a idéia de peso. Mesmo com as aberturas das
entradas e dos caixilhos de vidro, ela pode ser percebida como um grande maciço
marrom. O trecho em que essa sensação é mais atenuada é o da grande varanda de
curvas da Sobreloja, quando a Base mais se abre para a cidade. Ali, no entanto, estão
à mostra as fileiras do pilotis, que em quase todo a extensão dos pavimentos Térreo e
Sobreloja encontram-se embutidas na alvenaria. O vazio imprevisto, ao envolver o
pilotis, acaba por evidenciar a percepção da massa de pilares curvos.
Em contraposição, a Lâmina é leve e, em sua face mais reconhecida, é
estruturalmente clara. Mesmo que não totalmente devassável e decifrável, a fachada
principal é constante, ordenada pelo brise. O brise representa a dimensão cartesiana
na curva, com sua sucessão de pórticos que, a princípio, nada têm de curvos. A idéia
do pórtico é reafirmada pela distinção do elemento vertical e horizontal no emprego
do revestimento das pastilhas de vidro. O pilotis recebeu a mesma pastilha de vidro
cinza do elemento vertical do brise.
As fachadas menores organizam o entendimento do espaço ao recorrer à
dimensão da ortogonalidade, demarcando os limites da curva por meio de retângulos
forma mais familiar na cidade, que poderia pertencer a qualquer outro edifício. Os
retângulos de concreto são revestidos da mesma pastilha utilizada no brise horizontal.
Diante da presença de revestimento em toda a estrutura, fica claro que
Niemeyer utiliza o concreto armado como recurso para criar formas. Assim, nesse
contexto da defesa da técnica do concreto armado, tem-se que a aparência do concreto
bruto, explorada por arquitetos modernos (em especial pela Escola Paulista) é, para
ele, um aspecto secundário.
121
Figura 104 – Ferragens de portas e janelas
122
O Edifício Copan, a partir da oportunidade contida no programa solicitado e sob
os preceitos da arquitetura moderna, parece ter sido pensado para ser o próprio
edifício-cidade. A unidade da Lâmina em “S” é feita da justaposição de seis edifícios
autônomos, os Blocos de apartamentos, independentes entre si. Além das residências,
o conjunto abriga as funções de comércio e serviço, no seu embasamento. Embora na
execução tenham ocorrido perdas consideráveis, como a do terraço público, deve-se
considerar que traços da proposta original parecem ter resistido. O edifício é
particular, mas não impenetrável: por meio da galeria, a cidade invade a implantação
da construção. A Cobertura da Lâmina também pode ser visitada. Assim, mesmo sem
a construção integral da proposta, os ideais motivadores da concepção do projeto
fazem-se presentes de maneira concreta e sensível. O Copan é um potente discurso
arquitetônico sobre as tensões de contraste e complementaridade, que afirma que é
possível construir sem reproduzir não no sentido formal, mas projetando um
futuro que não seja o presente.
A verticalização da metrópole concretiza uma paisagem ortogonal que,
aparentemente, nivela o território, impondo ao terreno a regra da topografia plana. A
arquitetura do Copan contraria duplamente esta regra, ao lançar ao alto uma
verticalidade não ortogonal, forma que permite que a lâmina delgada se estabilize, e
ao deitar um embasamento que recebe o plano horizontal do andar tipo sem arruinar a
topografia, o chão da cidade.
As sucessivas curvas redesenhadas pelos brise-soleil na fachada principal
propõem uma outra percepção da verticalidade, em um contexto cada vez mais
saturado de linhas verticais. A Lâmina curva, inserida no contexto em que prevalece a
ortogonalidade, acaba por conquistar um espaço de fato, da porção do ar que a
123
envolve, pois a curva impede que se aproximem dela outros volumes construídos e
isto sem hostilizá-los.
Com esta arquitetura livre, do limite feito de espaço, Niemeyer conecta-se à
realidade que pretende transformar. Ao se inserir na malha urbana, a arquitetura do
Copan parece sugerir a dissolução do lote, no centro da cidade consolidada sob os
princípios do loteamento.
2.2 Adendo: Possíveis associações de aspectos musicais à arquitetura a partir
da análise do Edifício Copan
De fato, se na música usamos de termos e conceitos emprestados
da arquitetura, falando de estruturas, intervalos estruturais, tensões,
pontos de apoio, repousos, textura, construção, materiais
construtivos etc., então também deveríamos poder usar na análise
urbana de conceitos musicais e nela empregar conceitos tais como
melodia, modulação, harmonia, contraponto, instrumentação e
orquestração. Não se trata aqui de uso apenas literário desses
termos, mas sim de possíveis caminhos metodológicos de análise,
baseados numa afinidade existente entre a música e a arquitetura,
(...) Tentar levar adiante esse todo é um procedimento altamente
complexo, mas que mereceria ser tentado sistematicamente, uma
vez que as analogias o muitas e profundas. De resto, se usamos
métodos e conceitos emprestados da organização espacial na
análise da organização temporal, então deveríamos também tentar
o inverso (Bispo 1999: 57-9).
Esta seção expõe brevemente algumas associações entre arquitetura e música
identificadas ao longo da pesquisa e, de certa maneira, confirmadas na análise do
Edifício Copan. Trata-se de associações livres, que constituem esboços de possíveis
relacionamentos entre parâmetros musicais e arquitetônicos. Em vez de se buscarem
conclusões, o objetivo é imaginar como essas relações podem ser desenvolvidas e
exploradas, como meios de ampliação do olhar analítico em arquitetura.
124
Nesse sentido, levantou-se a possibilidade de se analisarem aspectos da
arquitetura a partir do parâmetro musical da textura.
1
Seria possível afirmar que a
fachada principal do Edifício Copan, em um primeiro momento considerando Base e
Lâmina, constitui uma textura de melodia acompanhada: uma base harmônica
densa, que permite que a linha melódica (a Lâmina), simples mas bem desenhada, soe
livre e destacada.
As estruturas de Base e Lâmina poderiam ser analisadas em separado, ainda
sob o parâmetro da textura, ao se considerarem os pavimentos como vozes. A Lâmina,
feita de sucessivas repetições do pavimento tipo, apresentaria uma textura
monofônica. Quanto à Base, a partir da relação entre as vozes (pavimentos) expressa
no corte apresentado no início do capítulo [Figuras 28, 28A e 28B], seria possível
identificar uma textura polifônica ou contrapontística.
A Análise do Copan revelou que uma das relações estruturantes entre o
pavimento Terraço e o Térreo consiste no fato de o Terraço (horizontal) expressar a
correção do Térreo (inclinado) para receber o andar tipo da Lâmina de apartamentos.
Estes dois pavimentos estruturalmente não paralelos, em sua concepção original
teriam características semelhantes quanto ao uso e ocupação, exercendo ambos a
função de pisos públicos. Mesmo que isto tenha sido perdido, ambos são conectados
entre si por uma circulação exclusiva para este fim, por meio da escada-apêndice,
além da escada rolante não construída.
De modo geral, tanto o projeto quanto a análise da circulação vertical
requerem uma compreensão contrapontística do espaço. Trata-se de conectar dois ou
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
!
1
“As discussões a respeito das texturas musicais tradicionais geralmente classificam-nas em três
categorias principais: (1) Monofônica uma única linha, às vezes dobrada à oitava; (2) Homofônica
significando: (a) melodia com acompanhamento, ou (b) textura por acordes; (3) Contrapontística
[ou Polifônica] linhas relativamente independentes, podendo ser: (a) imitativa, ou (b) livre” (Kostka
2006: 236).
!
125
mais pavimentos buscando alguma consonância entre os mesmos, ao menos no ponto
em que ocorre a conexão. Ao se relacionarem os pisos, é preciso também procurar
uma solução dentre as várias possíveis para o próprio elemento constituinte da
circulação vertical, que pode adquirir as mais variadas formas.
Ainda no corte da Figura 28, pode-se encontrar um outro indício da polifonia
na arquitetura do Copan: a sobreposição dos pisos da Base produz uma tensão
semelhante a um stretto, o estreitamento entre as vozes produzido pela sobreposição
dos sujeitos em uma fuga. A percepção do stretto é acentuada sob a projeção dos
Blocos A e B, especialmente no estreitamento gradual do pé-direito na sobreposição
da Sobreloja pelo Foyer.
A observação do relacionamento entre os pavimentos como vozes de uma
composição musical pode ser sustentada também quanto ao que ocorre no estudo de
percepção musical. No ditado a quatro vozes, um dos exercícios desta disciplina, é
evidente como a percepção das vozes intermediárias dá-se com mais dificuldade em
relação à percepção das vozes externas. Foi exatamente o que ocorreu com a
percepção dos pavimentos da Base.
Observando o Copan de variados ângulos, puderam ser identificados aspectos
comparáveis aos timbres, que fornecem uma idéia do que seria a orquestração da
obra. Uma possibilidade seria analisar o conjunto de timbres das fachadas. A fachada
Norte, com o brise-soleil, teria um timbre rugoso, na compressão das linhas paralelas
durante a tensão da curva em perspectiva, ao mesmo tempo em que entoa a melodia
solista, da curva. Com essas características timbrísticas e orquestrais, a fachada Norte
poderia soar como um naipe de violinos. Tendo a curva como motivo gerador da
peça, a fachada Sul traria os sopros, no trecho de timbre límpido dos panos
envidraçados dos Blocos A e B, apoiados pelas violas nos brises dos Blocos de C a F
126
e a percussão nos elementos vazados. Os volumes de circulação trariam os
violoncelos e contrabaixos.
Uma abordagem dos timbres em uma escala reduzida poderia referenciar o uso
dos revestimentos e acabamentos e os efeitos potencialmente criados. Um exemplo
seria abordar as diferenças qualitativas entre os volumes formados pelas lojas do
Térreo (com a transparência e cores das vitrines, variedade de cores e formas dos
letreiros das lojas combinados com o lambri de madeira) aos volumes rebatidos na
Sobreloja, formas mais puras, de alvenaria e pintura lisa.
Aspectos como estes descritos da maneira acima, mais do que insumos a uma
análise arquitetônica, parecem fornecer matéria-prima à composição musical. Isto
seria realmente possível, à exemplo do caminho inverso proposto pela professora
Alessandra Campanna, da Universidade de Milão, que aborda a música como ponto
de partida para a criação em arquitetura (Campanna 2009: 257). No caso da análise de
arquitetura, associações como estas podem servir para evidenciar e trazer à
consciência a percepção de relações de equilíbrio e proporção e sua manifestação e
coerência nas diversas escalas do projeto.
!
!
127
CAPITULO 3
Desvendando a análise: algumas diretrizes para uma análise arquitetônica a
partir do percurso analítico do Edifício Copan
3.1 Percurso da Análise Arquitetônica empreendida
A construção é uma espécie de enigma que impõe uma reflexão
sobre como e por que aquilo foi feito daquele modo. Não como um
mistério insondável, mas algo a ser decifrado com um teor educativo
fundamental.
Paulo Mendes da Rocha (Wisnik; Rocha 2006)
1
Com base na constatação de que a disciplina análise musical poderia inspirar
metodologicamente uma análise arquitetônica e tendo escolhido o objeto a ser
analisado, o passo seguinte seria identificar os parâmetros e materiais norteadores do
percurso.
Inicialmente, os materiais consistiram de desenhos do projeto e bibliografia
princípio, textos de arquitetos pesquisadores do Edifício Copan), além da previsão de
visitas ao próprio local da obra. Foram examinadas todas as quarenta e quatro
pranchas disponíveis para consulta na biblioteca da FAU-USP, com o objetivo de
verificar sua suficiência e, eventualmente, providenciar as informações faltantes para
uma compreensão integral do projeto. As pranchas consistiam exclusivamente de
desenhos para aprovação na prefeitura, sendo: plantas de todos os pavimentos
(contendo algumas vezes mais de uma versão para os mesmos pavimentos); cortes
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1
em entrevista na qual fala sobre a obra de Niemeyer.
!
128
gerais (transversal e longitudinal), uma fachada, detalhe de modificações e, ainda, três
pranchas do projeto estrutural.
2
De imediato, verificou-se que as plantas apresentavam ambiguidades que
poderiam ser eliminadas por meio de visitas. Também foi visto que seria necessário
desenhar todas as elevações secundárias do edifício, que a prancha que se referia à
fachada trazia apenas a elevação Norte. Verificou-se, ainda, uma insuficiência de
cortes. Os poucos desenhos existentes indicavam a existência de uma relação
inusitada entre os pisos. A bibliografia consultada forneceu mais algumas
informações sobre o projeto.
3
Paralelamente, foi empreendido o esforço de se identificarem parâmetros
iniciais para a análise arquitetônica a ser empreendida iniciais porque constatou-se
que somente ao percorrer esta primeira tentativa de análise poderiam ser identificados
parâmetros mais concretos. Assim, deste primeiro levantamento, estabeleceram-se
linhas guias bastante generalizantes e, a partir delas, foi depreendida uma listagem
sumariamente organizada de tópicos, ainda como protótipos de parâmetros. Estas
linhas guias foram chamadas de Relações proporcionais, Relações de cheios e vazios,
Padrões identificados e Relações de público e privado.
A listagem de candidatos a parâmetros que a seguiu inicia-se sob orientação
cronológica, ao introduzir dados anteriores ao projeto que, embora se tratem de dados
inerentes à obra, são os primeiros a serem considerados no processo de criação
arquitetônica. Estes dados seriam os relativos ao Programa, Endereço da
implantação, e alguns Fatores externos à obra: nome e eventual informação
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
2
A lista completa das pranchas consultadas encontra-se no Anexo 2.
3
O arquiteto Walter Galvão catalogou 1.189 pranchas doadas pelo condomínio do Edifício COPAN à
FAU. Como o processo de doação ainda não se concluiu, o material não pode ser liberado para
consulta durante esta pesquisa. Assim, muito da compreensão inicial do projeto deveu-se ao conteúdo
disponibilizado na dissertação de Galvão.
!
!
129
biográfica do autor do projeto; dados sobre a encomenda do projeto (cliente e
financiadores); e breve contextualização histórica.
Os itens relacionados a seguir, que serão chamados no texto de tópicos,
referem-se mais diretamente ao objeto a ser analisado e partem de relações mais
amplas, do objeto com a cidade, em direção às relações internas ao próprio objeto.
Foram eles:
Implantação – considerar acessos da cidade ao edifício, curvas de
nível e variação de cotas.
Fachadas – apontar para a expressão do edifício e relacionamento com
o entorno. Aqui seria o caso de considerar, por exemplo, a orientação e
o gabarito, no contexto da visibilidade do edifício a partir da rua e das
volumetrias resultantes.
Pavimentos ou Pisos criados expandir a dimensão horizontal
apontada na implantação (sobre o solo da cidade) para a análise do
interior do edifício. Aqui, caberia analisar as dimensões e contornos
resultantes da localização dos pavimentos em planta (sua projeção em
relação à implantação) e os contornos que delimitam espaços internos,
além de identificar tipologias (caso haja padrões).
Circulação percorrer novamente cada pavimento, procurando
observar os percursos de Circulação Horizontal, que conecta espaços
em uma mesma cota. Examinar a relação entre os espaços conectados e
encontrar a interface desta circulação com a Circulação Vertical,
responsável pela conexão entre Pavimentos. Consultar, além das
plantas, desenhos que contenham cortes. Observar, ainda, as
características inerentes à própria peça que constitui esta circulação
!
130
(elevadores, rampas, escadas – reta, caracol, rolante, com patamar,
função de emergência ou principal), sua aparência, materiais
empregados e solução estrutural que a constitui. Verificar as relações
criadas por meio das circulações nos âmbitos comum e particular.
Estrutura observar prioritariamente a expressão plástica da estrutura,
a partir dos materiais e formas que a constituem.
Infraestrutura assim como no caso da estrutura, observar sua
expressão plástica, se aparente. Se oculta, identificar o espaço que
ocupa no edifício e as soluções adotadas para ocultá-la.
Caixilhos retomar a observação das fachadas a partir do interior do
edifício, na relação das aberturas com os espaços internos, além de
identificar as relações do espaço privado com a cidade. Assim como no
caso da circulação vertical, observar também a constituição e
estruturação do próprio elemento caixilho.
Acabamentos ou Elementos de superfície analisar os detalhes de
acabamento (cores, brilhos e texturas de ferragens, revestimentos etc.)
e sua possível conexão formal com as escalas mais amplas da obra.
As visitas ao Copan serviram para complementar a compreensão do espaço,
por meio dos recursos de uma percepção arquitetônica, e foram realizadas em
conjunto com o estudo dos desenhos disponíveis. A partir de uma ênfase em começar
por descrever o espaço, surgiram, desde o primeiro instante, observações analíticas.
No caminho inverso, o levantamento de materiais não se encerrou em uma etapa
descritiva. Conforme a compreensão avançava, foi surgindo a necessidade de
complementação do material enquanto, por outro lado, o resultado de alguns
levantamentos podia ser descartado, por não fornecer fatores relevantes para a análise.
!
131
A visita de número um voltou-se para a observação de um nível mais imediato
da relação do edifício com o entorno da implantação e das fachadas, da maneira
como podem ser percebida pela maioria das pessoas, pelo que se da rua. Foi feito
um levantamento do gabarito das construções do entorno e dos ângulos a partir dos
quais o Copan se fazia visível. Desta maneira, a primeira menção às fachadas no texto
da análise ainda é predominantemente descritiva.
Uma segunda visita consistiu em uma visualização à distancia, a partir de um
dos edifícios vizinhos com vista para a face do Bloco A. Nesta oportunidade,
tornaram-se mais claras as relações entre os edifícios do Copan e do banco, além
daquela relação específica entre a Lâmina e a Base do próprio Copan. No entanto,
surgiram dúvidas quanto à ocupação do piso da Cobertura do Terraço avistado que
começaram a ser respondidas em uma nova visita, ao próprio pavimento de Transição.
Visitas a alguns apartamentos (dos Blocos A, B e F) e à área comum do bloco
C permitiram que se tivesse uma melhor percepção do espaço a partir do interior do
edifício. Essas visitas, somada a uma visita à cobertura, foram especialmente
esclarecedoras a respeito dos brise-soleil da fachada Norte e Sul desde aspectos
estruturais, já que não havia quase desenhos dessas estruturas – aos efeitos que
incidem nas fachadas e no interior dos apartamentos.
As visitas aos pavimentos Sobreloja e Foyer foram fundamentais para
complementar o que podia ser lido pelo material gráfico, em especial na relação entre
os dois pisos, na projeção do Bloco A e nas varandas que se formam na fachada
principal. Somente após esta primeira rodada de visitas, que consolidaram a etapa
predominantemente descritiva do processo, é que o texto analítico pode começar a ser
desenvolvido. Como, apesar do esforço do início, os parâmetros ainda não estavam
!
132
claros, foi feita uma opção por desenvolver a abordagem dos tópicos listados por
meio de “rondas” consecutivas.
A cada ronda, as linhas guias e tópicos listados no início confirmaram-se (ou
não) como parâmetros. Os parâmetros foram abordados e retomados ao longo da
narrativa, sendo que o caráter avançava do mais descritivo ao mais analítico.
Realizou-se, assim, a construção do texto.
No mesmo momento em que o texto encontra o fluxo analítico, pode-se
recorrer novamente à bibliografia de apoio, geralmente com dados complementares à
análise: do contexto da metropolização de São Paulo no período que correspondeu à
etapa de projeto do Copan; do programa proposto para o empreendimento e sua
relação com a arquitetura realizada no período; do desenvolvimento do mercado
imobiliário; e da produção de Oscar Niemeyer. Nesse momento, foram consultados
também alguns textos que pudessem contribuir para aprimorar os parâmetros. Com a
imagem do próprio objeto mais concretamente formada, neste retorno pelos fatores
classificados como externos à linguagem, pode-se ter uma ideia mais clara do que
seria pertinente ou não constar no texto de análise, de modo a evitar a
contextualização excessiva ou a omissão de aspectos relevantes.
A revisão dos parâmetros produziu uma série de modificações do que havia
sido estabelecido inicialmente. À lista nomeada como linhas guias verificou-se que
faltava um parâmetro relacionado ao Lugar, que inicialmente havia sido mencionado
como Endereço da implantação sem que, no entanto, constasse de maneira mais nítida
entre linhas guias ou tópicos. O tópico referente às Relações proporcionais foi
rebatizado como Escala e proporção, enquanto o tópico Padrões identificados passou
a chamar-se Padrão e variações.
!
133
Neste momento, verificou-se que se poderia efetuar um cruzamento entre as
duas listagens que haviam sido chamadas de linhas guias e tópicos, de modo a
constituir um quadro sinóptico. O quadro foi montado a partir das relações
identificadas na análise do Copan, com os tópicos reformulados dispostos em coluna e
as linhas guias (já considerando o novo item do lugar) em linha. Essa montagem
permitiu que alguns parâmetros fossem melhor definidos e que as relações fossem
revistas.
Primeiro, identificou-se que as linhas guias de fato atuavam como o nome
sugeria, como princípios mais gerais do que a atuação mais objetiva dos tópicos,
bastante vinculados à ideia de materialidade da arquitetura. As linhas guias estariam
mais diretamente ligadas à criação e os tópicos, à construção.
Entre os parâmetros constituídos como linhas guias, foram identificados,
ainda, dois grupos. O primeiro, de Escala e proporção, Cheios e vazios e Padrão e
variações seria um grupo mais próximo de forma e plasticidade, contendo princípios
de harmonia e equilíbrio, matéria e espaço e movimento. Estes, aliás, poderiam ser
seus respectivos sufixos. O segundo grupo, formado pelos parâmetros Público e
privado e Lugar, teriam características vinculadas ao uso e ocupação do território.
Da coluna de tópicos, verificou-se que o primeiro da lista, da implantação,
apresentava uma afinidade direta com o segundo grupo, em especial com o parâmetro
Lugar. O último da lista, referente aos acabamentos e elementos de superfície, não
funcionava bem no cruzamento com as linhas guias, e sim quando cruzado com os
outros tópicos da coluna, exceto o primeiro, da implantação. Isto sem que chegasse a
se configurar como linha guia. Este tópico precisou ser reformulado e redistribuído no
quadro sinóptico.
QUADRO SINÓPTICO DA ANÁLISE DO EDIFÍCIO COPAN
FORMA E PLASTICIDADE USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO
LINHAS GUIAS
TÓPICOS
ESCALA E PROPORÇÃO
harmonia e equilíbrio
CHEIOS E VAZIOS
matéria e espaço
PADRÃO E VARIAÇÕES
movimento
PÚBLICO E PRIVADO LUGAR
PROGRAMA E IMPLANTAÇÃO
- Base ocupa 1/1 da área do lote.
- Lâmina ocupa em torno de 3/5 da
área do lote.
- O tema da curva cria superfícies
côncavas e convexas e modela o
espaço que envolve o edifício.
- A rua curva (Unaí) é paralela à base
do Copan e do edifício anexo.
- Programa do edifício de
apartamentos demanda o pavimento
tipo.
- Programa determina uso semi-
público no Térreo (comércio e
serviço).
- O acesso privativo aos
apartamentos é feito através de
portarias.
- Projeto original previa ocupação
pública do Terraço.
- Térreo acompanha a topografia
- Há 5 acessos de pedestre, 2 de
automóveis (sendo um pela rua
particular) e uma escada. (fechada
com grade) Há acessos previstos
em projeto, porém não executados.
- O lote faz divisa com rua, rua
particular e lotes vizinhos.
FACHADA
- Fachada Norte: 32 andares. A
Lâmina possui brise horizontal com
interrupções a 1/2 da altura,
seguida por outra, de 1/4.
- Fachada Sul concentra elementos
de circulação vertical dispostos na
mesma razão dos brises (1/2 e1/4).
- Fachadas menores têm proporção
de 1/6.
- Base “maciça”, não apresenta recuo
de lotes vizinhos, porém encontra-se
recuada com relação ao lote na
esquina da Av. Ipiranga e R. Araújo.
- Base forma curvas revestidas em
madeira.
- Lâmina apresenta profundidade
emoldurada pela malha dos brises.
- Padrão da curva;
- Padrão do brise (horizontal);
- Padrão dos elementos de circulação
vertical;
- Materiais padrão: pastilha de vidro,
pano de vidro, elemento vazado;
- Cores: elemento vertical: cinza;
elemento horizontal: branco.
- Fachada Norte é a mais visível e
a mais conhecida, configura-se
como fachada principal. Fachada
Oeste também é visível. Fachadas
Leste e Sul são menos visíveis.
- Orientação das fachadas é
aproximada. Os aptos têm
orientação que variam com a curva.
- Gabarito dentro da media do
entorno.
- Visualização a partir da edificação
varia. Fachada Norte tem o brise
como “moldura”.
- Edifício destaca-se na paisagem
- Base só possui duas fachadas.
PAVIMENTOS OU PISOS
CRIADOS
- Pavimentos da base em geral
ocupam toda a área do lote.
- Relação entre área e altura é
variável nas duas direções. Há
pavimentos inclinados (Base).
- Há pavimento tipo (Lâmina) com
pequena variação (Bloco E)
- Há variação da projeção da área
entre pavimentos da Base. Na
Lâmina, algumas unidades
atravessam trechos curvos, outras
(nas extremidades) são ortogonais.
- Base possui uso semi-público.
Lâmina possui uso privado.
- Áreas comuns na Lâmina são
destinadas à circulação.
- Revestimento do piso integraria
exterior e interior da edificação
(pedra portuguesa, projeto original).
- Piso nas áreas comuns revestido
em granilite.
CIRCULAÇÃO
- Diferentes escalas de circulação
vertical (“local”, no interior das lojas
e nas rampas que servem apenas
dois pisos no Bloco B; “geral”, como
no caso dos elevadores. E “média”
como a que liga os pavimentos da
Base.
- Circulação no interior da Lâmina
cria concavidade. Circulação externa
à Lâmina cria massa.
- Escadas retas, escadas caracol,
rampas de inclinação regular e
irregular, elevadores.
- Elevadores privados, galeria
semipública.
- Circulação fluida da rua para a
galeria pela topografia.
ESTRUTURA
- Estrutura pesada e visível na base
e delgada e oculta na Lâmina.
-“Fachada estrutural” do brise.
- Pilotis volumoso na Base pontua o
espaço. Na Lâmina, espaço é
liberado pela estrutura delgada.
- Transição: maciço com vazios.
- Pilotis: há padrão (Base). Estrutura
semiaparente. Lâmina: padrão
irregular. Correspondência máxima
entre Blocos e Corpos.
- Concreto armado não aparente
- Estrutura aparente e volumosa
nas áreas públicas.
-Estrutura oculta e delgada nas
áreas privadas.
- Recalque diferencial durante a
obra nos Corpos 1 e 2 demandou
reforço estrutural aparente no
Subsolo.
INFRAESTRUTURA
- Infraestrutura dividida. Ex.
Hidráulica 1/2 na cobertura e 1/2 no
pavimento Transição.
- Oculta, ocupa vazio na transição.
- Aparente na Cobertura do Terraço e
Terraço-Mirante.
- Tubulação concentrada nas áreas da
Transição, Terraço-Mirante e Subsolo.
- Expressão da solução da
infraestrutura: oculta.
- Pilar curvo do pilotis adquiriu
forma retangular aparentemente
para conter caixa de força.
- Conta com infraestrutura urbana
consolidada (Centro de SP).
ACABAMENTOS E ELEMENTOS DE SUPERFÍCIE
CAIXILHOS E VEDOS
- Face Norte: 100% caixilho e brise.
- Faces Leste e Oeste: predominam
concreto e alvenaria (empena).
- Face Sul: mescla (caixilho amplo,
vitrô, brise, elemento vazado)
seguindo proporção delimitada pela
circulação vertical.
-Volumes curvos gerados pela
alvenaria no Térreo (transparente) e
Sobreloja (opaco).
-Espaço resguardado entre elemento
vazado e alvenaria maciça em
trechos da face Sul.
- Caixilho independente da estrutura,
tanto da estrutura principal como da
estrutura do brise.
- Há padrão do pano de vidro na
fachada Norte e parte da Sul,
modulado em função das curvas.
- Elemento vazado e brise
resguardam o interior dos
apartamentos, criando graus de
visibilidade da fachada.
- Brise como moldura e proteção do
contra luz direta.
- Há grade em algumas áreas do
Térreo.
!
135
O Programa, tomado na primeira listagem como um dado anterior ao projeto,
para efeito da montagem do quadro, foi posicionado duplamente entre o lugar e a
implantação, por ser aparentemente passível de relacionamento tanto com os itens de
coluna quanto com os da linha. Também de maneira um pouco deslocada do
cruzamento sugerido pelo quadro, foram verificadas as possibilidades de relação entre
tópicos retirados da coluna. Um exemplo seria a relação entre estrutura e fachada,
quando se considera a “fachada estrutural” do brise da face Norte.
Toda essa redistribuição de tópicos e parâmetros foi feita em paralelo com o
próprio preenchimento do quadro a partir da sistematização dos dados do Copan. Com
o percurso da análise em andamento, puderam cooperar um com o outro a análise e a
montagem do quadro sinóptico.
Finalmente, foi identificado um parâmetro que não se encontrava previsto no
levantamento inicial e que deve, necessariamente, ser considerado. Trata-se da
Relação entre projeto de arquitetura e arquitetura construída. No caso do Edifício
Copan, a análise deixou claro que essa relação é algo que permeia diversos âmbitos da
obra.
3.2 Generalização dos parâmetros
A partir da análise do Copan, tornou-se mais evidente a possibilidade de se
generalizarem parâmetros para a análise arquitetônica. Foi esboçado um novo quadro
sinóptico contendo essas generalizações. O conteúdo do quadro deve ser trabalhado
em conjunto as informações definidas neste capítulo como externas ao projeto e,
ainda, levando em conta a observação da relação entre projeto de arquitetura e
arquitetura construída.
QUADRO SINÓPTICO PARA A ANÁLISE ARQUITETÔNICA
FORMA E PLASTICIDADE USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO
LINHAS GUIAS
TÓPICOS
ESCALA E PROPORÇÃO
harmonia e equilíbrio
CHEIOS E VAZIOS
matéria e espaço
PADRÃO E VARIAÇÕES
movimento
PÚBLICO E PRIVADO LUGAR
PROGRAMA E IMPLANTAÇÃO
- Proporção da projeção horizontal
da área construída sobre área total
do lote
- Relação de espaços construídos e
seu negativo: espaço aéreo na
envoltória da edificação
- Demanda do programa por tipologias
- Gradação de público/privado a
partir de demandas do programa
- Delimitação da qualidade dos
acessos – público/privado
- Relação da edificação com a
topografia
- Quantidade e qualidade dos
acessos – pedestre, autos, carga
etc.
- Relação com a rua, o lote e
divisas
FACHADA
- Relação entre as dimensões das
fachadas e entre elementos
compositivos
- Gabarito
- Recuos, volumetrias
- Elementos vazados, maciços e
proeminências
- Elementos compositivos
- Horizontalidade/verticalidade
- Repetição de elementos
- Espaçamento e freqüências
- Hierarquia entre fachadas:
principal, secundária etc.
- Graus de visibilidade da fachada
- Orientação
- Relação do gabarito com o
entorno
- Visualização da edificação
- Contribuição do edifício na
configuração do lugar
PAVIMENTOS OU PISOS
CRIADOS
- Ocupação de áreas por
determinados pavimentos em
relação à área da implantação
- Dimensões e contornos dos
pavimentos
- Relação de pés direitos com a
projeção do pavimento
- Variações de pé direito
- Ocorrências de pavimento tipo
- Variação da projeção entre
pavimentos
- Diferenciação de usos públicos e
privados entre pavimentos
- Relação entre áreas comuns e
privativas no pavimento
- Penetração do lugar na edificação
CIRCULAÇÃO
- Áreas ocupadas, alturas e
distâncias percorridas através dos
elementos de circulação
- Volumes formados pelos
equipamentos de circulação
- Relação dos elementos de
circulação com a volumetria do
edifício
- Horizontais, verticais, inclinadas - Hierarquias e delimitações de
usos
- Relação da rua com a edificação
- Percurso do usuário para acessar
a edificação
ESTRUTURA
- Relações de proporção entre
elementos estruturais e o volume da
edificação
- Forma dos elementos estruturais e
espaços criados por esses elementos
- Regularidade e modulação de vãos
e espaçamentos de elementos
estruturais
- Expressão da solução estrutural
adotada: aparente ou oculta
- Relação entre escala e expressão
da estrutura e seu caráter público
- Relação da fundação com o solo
- Expressão do elemento estrutural
adotado na fundação em função
das condições geográficas
INFRAESTRUTURA
- Distribuição da infraestrutura na
edificação
- Ocorrências de vazios, shafts, dutos
na edificação
- Expressão plástica da infraestrutura
ou dos elementos utilizados em seu
ocultamento
- Ocorrência de padrões e
agrupamentos (compatibilização) de
redes na edificação
- Expressão da solução da
infraestrutura: aparente ou oculta
- Expressão de infraestrutura nas
áreas públicas da edificação
- Presença de redes de
infraestrutura urbana e sua
conexão com a edificação
ACABAMENTOS E ELEMENTOS DE SUPERFÍCIE
CAIXILHOS E VEDOS
- Dimensões das áreas vazadas ou
maciças na edificação
- Relações entre elementos opacos e
transparentes
- Geração de volumes e espaços
pela vedação
- Independência entre caixilho e
estrutura
- padrões de desenho de caixilhos
- Graus de público/privado entre
ambientes criados pelos vedos
desde o mais exterior ao mais
interior
- Relações visuais e de conforto
criadas por diferentes graus de
transparência no invólucro da
edificação
- Graus de transponibilidade
criados pelos elementos de
vedação
- Expressão da edificação para o
entorno em função da solução
adotada para vedação
!
137
Conclusão
O projeto de arquitetura, assim como toda atividade verdadeiramente artística,
constitui um poderoso instrumento de análise da realidade (da sociedade, da
economia, da história, da política e, principalmente, da cidade), além de ser um
instrumento que pode interferir concretamente (de modo mais ou menos radical) no
contexto no qual a obra é introduzida. Isto possibilita que o exercício analítico
empreendido pelo arquiteto ao conceber e inserir sua arquitetura no mundo possa ser
refeito pelo analista das mais variadas áreas do conhecimento. Tamanha é a abertura,
que um procedimento inicialmente analítico da arquitetura pode acabar apontando
definitivamente para os fatores que rodeiam e permeiam a obra em questão.
Todo esse tipo de estudo complementar é muitíssimo valioso para o
conhecimento, e o potencial de desdobramentos possíveis a partir da arquitetura é
muito vasto e estimulante. Entretanto, nada disso justifica que a análise da própria
obra permaneça em segundo plano. O esforço analítico deste trabalho teve como
objetivo proporcionar um espaço no estudo da arquitetura para que também a obra
arquitetônica possa ser conscientemente analisada.
A disciplina análise musical fornece sugestões metodológicas que podem
orientar, em certa medida, o desenvolvimento de uma disciplina analítica em
arquitetura. No entanto, a análise arquitetônica deve considerar a elaboração de
parâmetros que se estendem para além do que pode ser inicialmente sugerido pela
análise musical. Estes parâmetros são, principalmente, aqueles que dizem respeito aos
processos de produção, tanto do projeto de arquitetura quanto do canteiro de obras.
!
138
Nestes processos, é imprescindível que o arquiteto atue em conjunto com outros
profissionais.
Como exemplo de complemento à análise arquitetônica realizada nesta
dissertação, um método indicado seria o proposto pelo professor Rodrigo Lefèvre
para a análise da produção do projeto de arquitetura, em texto que originalmente se
dirige à análise dos processos de projeto em exercícios do próprio curso de Graduação
da FAU-USP.
1
Segundo Lefèvre, ao tornar conscientes as motivações individuais e a
maneira como elas se manifestam na elaboração de um projeto, a análise não
potencializa como viabiliza o trabalho em equipe: existiria um autêntico trabalho
de equipe se o grupo é composto de sujeitos, de individualidades o tanto quanto
possível conscientes de si mesmas, individualmente e na relação com outros sujeitos e
com a realidade. O trabalho em equipe de fato pressuporia, portanto, que o sujeito
apresentasse
aos membros da equipe e às gentes implicadas nos resultados de seu
trabalho, todos os objetivos, intenções, procuras pretendidos e todas
as condições de partida, circunstâncias, passado etc. possíveis de
serem esclarecidos; senão, os membros da equipe e as pessoas
implicadas se distanciarão das proposições, diretivas e orientações
sintéticas feitas por um indivíduo da equipe, agirão às cegas e
aplicarão todos, cnicas etc., talvez bem aplicadas em si, mas
erradas em relação ao trabalho. Uma equipe de trabalho deve definir
no início, e redefinir, a cada passo, os objetivos gerais do trabalho, a
sua linha e a metodologia geral e procurar definir, a cada passo, as
diversas linhas de tarefas a serem executadas e os métodos
particulares” (Lefèvre 1977).
O método proposto pelo professor aponta diretamente para uma análise do
processo durante a produção, um exercício que tenderia a “liberar as potencialidades
internas de cada um e desenvolvê-las com a ajuda e a participação dos outros
membros da equipe” (Lefèvre 1977). No entanto, o texto não deixa de levantar
parâmetros para uma análise do processo de produção do projeto de arquitetura de
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1
ver capítulo 1, nota 6.!
!
139
modo geral, sempre no sentido de se buscar um trabalho em equipe que constitua,
efetivamente, uma produção coletiva.
A transformação da posse individual dos meios de trabalho, do
conhecimento em particular todos, conhecimento anterior,
experiência anterior,cnicas etc. – em posse coletiva pode liberar,
no homem, hoje, suas enormes capacidades de produção e de
criação. E novas relações humanas poderão ser criadas para um
enorme desenvolvimento da produção, seja material, seja
intelectual, num trabalho de equipe (Lefèvre 1977).
Uma principais motivações a um estudo desse tipo seria investigar o que
ocorre com a presença da arte no processo de produção da arquitetura. Em um
percurso genérico, tem-se que o projeto de arquitetura, enquanto concepção a partir
do traço do arquiteto no croqui, é facilmente considerado arte. Durante a produção,
esse caráter de arte é, de certo modo, perdido. Inicialmente, é submetida à questões
técnicas, vinculadas aos projetos complementares e à viabilidade construtiva da ideia
original. Em seguida ou mesmo paralelamente o próprio processo da construção,
no canteiro de obras, ao qual o caráter de arte dificilmente encontra-se associado. A
arte é retomada apenas no momento em que se tem a obra pronta.
2
Diante desta realidade, faz-se necessário que uma disciplina analítica em
arquitetura constitua um meio para que o projeto de arquitetura alimente e seja
alimentado pelas práticas produtivas, procurando imprimir o caráter de arte ao
processo todo. Assim orientado, o potencial de transformação mútua entre projeto e
execução aponta para um fim mais importante que a Arquitetura, segundo o próprio
Oscar Niemeyer, no âmbito das relações e da própria vida humana (Niemeyer. In.
Corona 2001: 127).
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
2
Em música, essas relações acontecem de outra maneira. Um ensaio sobre isto pode ser encontrado no
Apêndice C.
!
140
Ao analista da arquitetura, que se coloca como cientista no meio do que se
pretende arte, cabe considerar a relação entre arte e ciência como o limiar proposto
por Goethe e Webern, que se expressa neste trecho da fala de Schuback:
O exercício do entendimento, a fundamentação de toda ciência
depende da imaginação em momentos decisivos. O traço mais
comum que se pode encontrar entre a ciência matemática e a
ciência histórica não é tanto o ideal de exatidão, mas a imaginação
de um mundo exato, de um mundo dos fatos, capaz de atravessar
incólume todo o oscilar de interpretações e prescindir de todo
testemunho. Nesse sentido, a pretensão de que o entendimento
nada possui de imaginação talvez seja a única grande fraqueza do
entendimento. E como toda fraqueza, quer sempre esconder-se, a
ciência, com seu ideal de exatidão, finge não ser imaginação a
imaginação que deveras sustenta (Schuback 1999: 8-9).
Para mim, tal esforço imaginativo é uma questão de sobrevivência, diante do
desafio de dar continuidade a esta pesquisa.
!
141
Bibliografia
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La progressión en la música Del siglo XX. Barcelona: Idea Books, 2006.
ARTIGAS, João Batista Vilanova. Caderno dos riscos originais: projeto do edifício
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BARGMANN, Luiz; BUENO, Clara; MORAES, Rose. Edifício COPAN. Vídeo.
Videofau, FAU-USP, 2006.
BENJAMIN, Thomas. Counterpoint in the Style of J. S. Bach. NY: Schirmer
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BISPO, Antonio Alexandre. Brasil/Europa & Musicologia: aulas, conferências,
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BLOC, André. L’architecture d’ aujourd’hui. Periódico. 1952.
CAMPANNA, Alessandra. Music and Architecture: A Cross between Inspiration and
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CORONA, Eduardo. Oscar Niemeyer: uma lição de arquitetura (apontamentos de
uma aula que perdura há 60 anos). São Paulo: FUPAM, 2001.
COSTA, Rogério Luiz Moraes. Apontamentos sobre o estudo da harmonia: por uma
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Apêndice A
Análise Musical: Primeiro movimento da Música para cordas, percussão e celesta,
de Béla Bartók (1936)
1
A Música para cordas, percussão e celesta é revolucionária em vários aspectos
da composição musical e, segundo Olivier Messiaen
2
, pode ser considerada a mais alta
expressão do gênio de Béla Bartók (In. Barbier 1994). Foi escrita sob encomenda do
maestro Paul Sacher, em comemoração aos dez anos da Orquestra Semi-profissional de
Câmara da Basiléia. Concluída em 1936, pertence a um período em que o compositor
mais se dedicou à escrita de câmara, que coincide com os últimos anos em que
permaneceu na Europa, antes de estabelecer-se nos Estados Unidos, por ocasião da
Segunda Guerra Mundial.
A peça, considerada uma das obras mais intensamente organizadas e econômicas
do compositor, constitui-se de quatro movimentos, como em uma organização clássica
3
.
No entanto, o uso de técnicas clássicas da escrita musical na composição de cada
movimento parece justificar-se por uma intenção de metamorfosear e expandir as
mesmas, tendência que, como vimos, caracterizou todos os parâmetros da música do
1
Análise desenvolvida em 2008 com a classe de Análise Musical III Cesar Masano Cavaloti, Daniel
Reginato, Denis Hallai, Diego Scarpino Pacioni, Fabio Manzione, Kooityiro Kawazoe, Rafael Amaral e
Renato Spinosa. O texto foi apresentado na etapa de qualificação como trabalho programado. (De acordo
com a versão do projeto de pesquisa que encontra-se disponível no Apêndice B). Esta análise deverá ser
reelaborada ao longo do primeiro semestre de 2010, sob orientação da professora Adriana Lopes Moreira,
de acordo com as teorias do analista Elliot Antokoletz. Professor da Universidade do Texas, Antokoletz
esteve no Brasil no final de 2009, a convite do professor Rodolfo Nogueira Coelho de Souza, responsável
pela disciplina A Música de Béla Bartók”, oferecida aos alunos de pós-graduação em Música da ECA-
USP. Segundo Coelho de Souza, “Antokoletz foi o pesquisador que conseguiu desvendar a sistematização
teórica do método composicional de Bartók e tem continuado a estudar as diversas facetas da produção
desse compositor”.
2
Olivier Messiaen (1908-1992), compositor francês.
3
dentro do padrão rápido-lento-rápido-lento, de modo que cada movimento tem uma personalidade
distinta. (Roosa 2002: 87).
146
século XX. Bartók, como compositor da primeira metade do século, pertence à geração
pioneira desse tipo de experiência.
Para os propósitos desta dissertação, focaremos o olhar no primeiro movimento,
que analisaremos a seguir, e que foi composto como uma ampliação do procedimento
composicional da fuga (portanto, explorando as possibilidades de se trabalhar o
stretto)
4
.
De modo geral, Bartók promove na Música para cordas, percussão e celesta
“uma integração do elemento folclórico” um de seus principais temas de investigação
“ao puramente artístico” (Sadie 2001:803). Uma outra característica recorrente na
obra do húngaro é o emprego da Seção Áurea
5
como elemento estruturador da
composição.
Bartók compôs a Música para cordas, percussão e celesta para a seguinte
formação
:
4 violinos
*
2 violas*
2 violoncelos*
2 contrabaixos*
Tímpano*
Prato*
Celesta*
4
O segundo movimento foi composto a partir da forma sonata; o terceiro, de um noturno; o último, de
um rondó; alguns outros aspectos dos demais movimentos serão mencionados ao longo da análise do
primeiro, na medida necessária para a compreensão mais ampla da estrutura da composição. (Aqui ainda
cabe um comentário de que a fuga não é uma forma, mas um procedimento composicional).
5
Também “proporção áurea”, “regra de ouro”, “divina proporção” (Frei Luca Pacioli, 1440-1516),
“segmento áureo”, “retângulo de ouro”; exporemos matematicamente o conceito mais adiante.
*
Instrumentos que participam do primeiro movimento.
147
Gran cassa*
Piano
Harpa
Xilofone
Tambor Piccolo
A distribuição dos instrumentos no palco é simétrica
6
, com os naipes de cordas
no perímetro, unidos pelos contrabaixos de ambos os naipes (que criam um arco na arte
de trás); a percussão, harpa, piano e celesta ocupam o centro.
Figura 1 iIlustração da disposição do palco, que antecede a partitura. Não chega a ser uma
bula tão complexa como as de outros compositores contemporâneos, mas é um traço de que
todo tipo de indicação é cada vez mais necessário à música a partir do século XX, quando o
significado das convenções pouco a pouco se enfraquece.
Ao considerarmos, então, o primeiro movimento da Música para cordas,
percussão e celesta uma fuga, obtivemos o seguinte sujeito:
Figura 2 – sujeito (violas)
6
Importante notar, na obra de Bartók, a presença constante da simetria em oposição à Proporção Áurea.
Roosa alude constantemente a este contraponto, que caracteriza conforme a seguir: Desde meados da
década de 20, Bartók desenvolveu uma grande atenção em torno da simetria – em alturas, ritmo e
estrutura formal, assim como um interesse renovado pelo contraponto. (Roosa 2002: 87)
148
Nesta obra, conforme demonstraremos a seguir, teremos relações muito
singulares na construção da fuga, que serão demonstradas a partir do vocabulário
apresentado acima.
Encontra-se também, e isto não apenas no primeiro movimento como na peça
toda, o emprego da Seção Áurea. Esta regra de proporção, aliada a outras leis
matemáticas, é uma das medidas geradoras das formas da natureza. Está associada ao
conceito de percepção da beleza e da harmonia, tendo sido usada na criação artística ao
longo de toda a história, a exemplo das pirâmides egípcias e da pintura renascentista.
Matematicamente, a Seção Áurea é expressa pela seguinte relação:
a=b+c
sendo
a/c=c/b=1,61803399... “phy(número “supra-racional”)
A Seqüência de Fibonacci, definida por Leonardo Fibonacci entre os séculos
XXII e XXIII, constitui-se em uma aproximação da Seqüência Áurea. Para obtê-la,
deve-se começar por zero de maneira que o número seguinte seja sempre a soma dos
dois antecedentes. Assim, tem-se:
(0, 1,) 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610...
Quanto mais altos os valores, mais a relação se aproxima de phy. Entre os
números 89 e 55, a aproximação já é de três casas decimais (1,618)
Especula-se que a Música para cordas, percussão e celesta tenha sido a primeira
oportunidade na qual Bartók faz uso deliberado da Proporção Áurea como recurso de
149
composição. Pode-se analisar essa busca do número áureo como a busca de uma
organicidade como a encontrada na natureza ou, ainda, como a organicidade das
músicas folclóricas, elemento de constante presença nas pesquisas e experiências
musicais do compositor.
7
No entanto, atribui-se também a Bartók uma atitude
relativamente não teórica diante da composição. (Sadie 2001:808). Fatores como este
devem servir à ponderação ao se definir um percurso ou eixo para análise,
considerando-se também o que diz o antropólogo e simbologista Robert Lawlor: “As
leis que governam a criação das coisas são as mesmas que permitem sua compreensão”.
(Lawlor 1982:80).
Observando-se a peça como um todo e descendo ao nível do detalhe, foram
encontradas inúmeras ocorrências de números da Seqüência de Fibonacci
aparentemente estruturadoras da composição. Assim, decidiu-se inicialmente não se
descartar para a análise esse tipo de relação, mas sim considerá-la como uma “pista” na
investigação das leis que governam a criação da peça.
Em linhas gerais, pode-se identificar o uso da Seqüência de Fibonacci como
elemento estruturador deste primeiro movimento pelo número indicador dos compassos:
05 – início da exposição do sujeito pelos violinos 3 e 4
08 – fim da exposição do sujeito pelos violinos 3 e 4.
13 – início da exposição do sujeito pelo violino 2.
21 início da transição entre a exposição inicial e a retomada do sujeito,
7
O arquiteto e músico Edson Tani identificou, ao analisar diversas fachadas de residências caiçaras no
nordeste do Brasil, uma profusão de relações de proporções áureas na composição arquitetônica. Esta
pesquisa encontra-se, no momento, em fase de sistematização e vem sendo divulgada por meio de
palestras.
150
em cânone, pelas vozes da extremidade dobradas (compasso 27).
34 – entrada da percussão (tímpanos).
55 – último antes do ápice.
89 – primeiro compasso do segundo movimento.
Pode-se dizer que, a rigor, este primeiro movimento apresenta uma forma
ternária (A, A’, A’’ mais coda) com as seguintes delimitações:
Tabela 1 – Forma
Em A, temos a apresentação de um tema que condensa o material utilizado ao
longo da peça toda
8
. Neste primeiro movimento, o tema é apresentado como o sujeito
em uma fuga
9
, sendo que todas as 6 vozes expõem o sujeito, uma após a outra, sempre
esperando o fim da exposição do sujeito por uma voz, para iniciar em outra, na seguinte
ordem: violas I e II , violinos III e IV, violoncelos I e II, violino II, contrabaixo I e II, e
8
O motivo do sujeito da fuga é retomado nos demais movimentos da peça.
9
Isto é, como uma fuga do século XX: sem a rigidez formal de períodos anteriores, conforme descrito
anteriormente, mas com características que remetem a ela.
Seções
Delimitações das seções
Material escalar
A (tema e exposições,
como em uma fuga)
c. 1 a 30
Sobreposição de escalas cromáticas
ascendentes
A’ (desenvolvimento
de partes do tema)
c. 31 a 64
de caráter composto (encaminhamento do
uso das sobreposições de escalas até o uso
de regiões cêntricas - a partir do ápice da
peça [c. 56])
A’’ (espécie de
recapitulação do tema,
usado, desta vez, de
forma invertida)
c. 65 a 81
escala cromática descendente:
(a) Grande escala de C até Db [c. 65 até 69];
(b) sobreposição de escalas descendentes [c.
69 a77];
(c) sobreposição da escala cromática asc. e
desc. de A [c. 78 até 81];
Coda (feita a partir de
fragmentos do tema)
c. 82 ao fim (88)
Sobreposição da escala cromática asc. E
desc. de A
151
finalmente o violino I. Considera-se que esta primeira seção (A) termina justamente
quando o violino conclui a última exposição do sujeito, no compasso 30. Tem de ser
ressaltada uma pequena ligação que entre a penúltima exposição do tema, pelos
contrabaixos e a última exposição, pelos violinos. Essa ligação estende-se entre os
compassos 21 e 26, em que, pela primeira vez, o tema não está sendo executado por
nenhuma voz
10
.
Após esses 30 compassos de exposição do tema em 6 vozes, temos a seção A’.
Esta é criada a partir do sujeito, que agora não aparece integralmente, mas cujos
elementos aparecem sendo desenvolvidos
11
. Esse desenvolvimento culmina no ápice do
compasso 56, ápice esse que rapidamente se dilui, até que haja um rápido silêncio geral
no compasso 64, onde consideramos que essa seção (A’) termina.O violino 1 não
demora a quebrar esse silêncio, iniciando uma espécie de recapitulação do sujeito, agora
invertido, iniciando uma nova seção (A’’).
Figura 3 – Sujeito invertido com entradas em stretto
10
Essa ligação corresponderia ao interlúdio de uma fuga clássica.
11
Essa é outra característica que podemos remeter à fuga, algo análogo à seção chamada episódio, em que
o compositor se utiliza de partes do sujeito para compor uma nova seção.
152
novas exposições do sujeito em vozes diferentes, mas não como na primeira
seção. Agora, as vozes não respeitam o término da exposição do sujeito por outra voz
para expô-lo, as entradas estão mais estreitas
(stretto). O sujeito é exposto em inversão
até a entrada da celesta, no compasso 78, quando o violino I e o violino IV expõem o
sujeito de maneira simultânea, o primeiro de forma normal e o outro preservando a
forma invertida.
Figura 4 – Entrada da linha da celesta e exposição simultânea (início da melodia) do
sujeito pelo violino 1 (invertido) e violino 4.
Esse procedimento segue até o término da exposição do tema em 81, quando
cessa também a celesta. Logo após, no compasso 82, inicia-se a coda, com fragmentos
153
do sujeito apresentados tanto na forma normal quanto na invertida e em entradas em
stretto.
Figura 5 – Coda – Entradas em stretto a partir do compasso 82, até o uníssono,
anunciado no compasso 85 e levados adiante nos compassos seguintes.
Assim termina o movimento, no compasso 88.
É possível afirmar que, além do uso do contraponto como principal técnica na
composição da peça, existe uma curva gradativa da dinâmica, que, proporcionalmente à
textura, fica cada vez mais densa, até que o movimento chegue ao seu ápice e, dele, faça
seu caminho contrário (Tabela 2).
154
Tabela2 – Densidade (Dinâmica e Textura)
155
Vale ressaltar que esta curva refere-se apenas à intensidade de dinâmicas e
densidade de textura, que será justificada com a enumeração a seguir, de compassos
onde as expressões de dinâmica são colocadas.
Na primeira seção da obra, que vai até o compasso 33, o tema principal é
exposto integralmente por todos os naipes de cordas, e a dinâmica regente nesse trecho
é pp, sendo que todos os naipes estão utilizando a surdina como complemento do
timbre.
De modo geral, no primeiro movimento da Música, os dois naipes de cordas
(que ocupam lados opostos no palco) tocam como um único naipe, enquanto os outros
instrumentos produzem um contraste (contraponto). Nos demais movimentos, os naipes
de cordas atuam em oposição um ao outro, tendo os demais instrumentos mais
integrados às cordas. (Roosa 2002 : 87)
Apenas no compasso 27, no qual o tema é exposto pela última vez na íntegra,
oitavado pelos violinos I e II e contraposto por violoncelos e contrabaixos, é que Bartók
altera pela primeira vez a expressão de dinâmica para p, ainda com a surdina.
Essa oitavação no trecho compreendido entre os compassos 27 e 33, é uma
ferramenta que contribui no encaminhamento da textura para o compasso 34. Nele, as
violas voltam a expor parte do tema, seguidas aos poucos por todos os outros naipes e
desta vez sem a surdina, mas ainda na dinâmica p. Neste stretto, as cordas estão
acompanhadas pelo tímpano, que até então está apenas com a função de dobra para o
contrabaixo. Este trecho tem duração até o compasso 37, onde é colocada a expressão
mp espr.. A partir daí até 45, a textura continua contrapontística, do mesmo modo como
no início, mas deixa de ter o caráter de fuga e passa a ter antecedentes e conseqüentes
156
enfatizados por contrabaixos e violoncelos, violas e violinos III e IV; ainda seguindo a
curva de dinâmica, em 40 é colocada a dinâmica cresc. seguida depois pela dinâmica f
sempre cresc.
No compasso 46, a intenção de encaminhamento para o ápice começa a ser feita
de forma mais clara; o percurso ganha intensidade com a participação do prato no
compasso 51, e a ocorrência de um ff (52), seguido por outro cresc. (53), além da
entrada do rulo feito pelo tímpano, que acaba por culminar em 56, quando todos os
instrumentos chegam a um fff, reforçado pelo ataque no bumbo.
Observa-se, nesta seção, que a textura torna-se menos polifônica e mais
heterofônica, ou seja, com as vozes caminhando no mesmo sentido, mas não exatamente
com as mesmas notas.
No trecho culminante, que pode ser delimitado entre os compassos 56 e 64,
Bartók começa a diminuir a densidade consideravelmente passando de um fff do
compasso 56 para f em 58, mf em 61 e 62 até chegar a um p em 64 onde todos os
instrumentos cessam pela primeira vez. De 65 a 68 é feita uma seção de sequências
reais, na qual a textura é bastante rarefeita e contrastante em relação à seção anterior.
157
Figura 6 Sequências reais Nas sequências reais, retoma-se a partir de uma nova
altura não apenas o mesmo desenho” (contorno melódico) da figura anterior, como mantém-se
todas as proporções intervalares e rítmicas idênticas.
Já em 69, a textura volta a ser polifônica e as surdinas são incorporadas
novamente ao timbre das cordas, que até no compasso 77, fazem uma seção que prepara
a entrada da celesta.
Figura 7 Retorno da textura polifônica (entradas em stretto com anacruse em c.68) e
da surdina (indicada por con sord em c.69)
O compasso 78 é aquele em que Bartók trabalha pela primeira vez uma textura
que não é apenas polifônica, a textura por camadas. Nesta seção, que vai até o compasso
81, são de fácil percepção as três camadas trabalhadas: o ostinato, feito pela celesta,
158
acompanhado pelos violinos II e III, violas e violoncelos em pedal, e violinos I e IV
contrapondo-se, em uma dinâmica pp, todos já com surdina.
Figura 8 Textura em camadas: ostinato (celesta) pedal (cordas) e reexposição do
sujeito (violinos I e IV)
A curva chega à sua conclusão no que seria a última seção, que vai de 82
a 88, quando a textura fica novamente rarefeita, e as cordas desacompanhadas da
celesta – discursam pela última vez, com a dinâmica ppp, até terminarem num lá
uníssono de violinos I e II, chegando ao fim deste primeiro movimento.
159
Figura 9 textura homofônica Uníssono no final da coda no primeiro movimento.
Observar também, como é reduzido o número de linhas de vozes neste trecho final.
A partir da análise do sujeito, apresentado nos primeiros quatro compassos da
obra, é possível extrair toda a organização de alturas presente no seu desenvolvimento –
o uso de uma escala cromática no âmbito de oito semitons:
la – lab – si – do – do# – ré – mib – mi
O sujeito, organizado através de seu fraseado em quatro motivos, é construído
sempre na forma de arco, e portanto organizado em grupos intervalos recorrentes que
auxiliam na formação do mesmo arco.
Figura 10 – Contorno melódico
Este contorno melódico, combinado a uma análise da duração das notas, indica
que o ápice do motivo inicial encontra-se exatamente na seção áurea do arco. Este
elemento celular terá ressonância na concepção estrutural de toda a peça.
Observa-se que a peça é construída com a sobreposição de segmentos de escala
cromática (sempre no âmbito citado acima), a partir da entrada de cada instrumento e
sua tessitura. Esse procedimento é bem evidente na primeira parte da fuga, onde os
sujeitos são apresentados pelos instrumentos de cordas em seis entradas, por
conseqüência, seis distintos agrupamentos de segmentos de escala cromática:
1ª entrada: (viola) Material escalar – de A até E;
160
2ª entrada: (violino) Material escalar – de E até B;
3ª entrada: (cello) Material escalar – de D até A;
4ª entrada: (violino) Material escalar – de B até F#;
5ª entrada: (contrabaixo) Material escalar – de G até D;
6ª entrada: (violino) Material escalar – de F# até C#;
Observa-se, assim, que as entradas pares e ímpares, se tomadas como dois
grupos separados, acabam constituindo dois ciclos de quintas, um ascendente, outro
descendente. (A, D, G e E, B, F#).
Organizando-se as entradas através de suas respectivas extensões, nota-se
também que o compositor utilizou-se das sobreposições das escalas para que as mesmas
juntas resultassem em uma grande escala cromática que se complementam a partir de G
até C#:
12
Instrumentos
Comp. de Entrada
C2 C3 C4 C5
Violino
26
F#
------
C#
Violino
12
B
------
F#
Violino
1
E
------
B
Viola
4
A
------
E
Cello
8
D
------
A
Contrabaixo
16
G ------
D
Tabela 3 Escala crotica resultante
Ora, o trítono é o intervalo que corresponde ao ponto médio da oitava, ao se
tomar a escala cromática de doze tons como parâmetro. Alissa Roosa, a partir do
trabalho de análise bartokiana de Lendvai, atribui ao compositor uma simpatia pelo
12
Nota-se que a relação entre os extremos é de um trítono, intervalo escolhido como elemento unificador
e estrutural da peça, embora melodicamente ele não esteja presente na construção do sujeito.
161
conceito de dualidade que, segundo esta autora, pode ser interpretado como contraponto
(Roosa 2002: 87). A simetria expressa no conceito de ponto médio teria um caráter dual
em relação à proporção áurea (assimétrica). Sob este prisma, pode se identificar uma
dualidade no uso do intervalo de trítono combinado à proporção do ciclo de quintas
reflexo da dualidade presente na coexistência de parâmetros diatônicos (escala de sete
tons) e cromáticos (escala de doze tons). É uma referência à escala cromática contida na
gama da oitava dividida nos sete graus da escala diatônica. Como visto no início do
capítulo, essa dupla interpretação dos semitons da oitava terá relação direta com a
expansão das possibilidades harmônicas.
Prosseguindo a análise, através da observação dos motivos, tem-se que o germe
da construção melódica está presente na utilização recorrente de grupos cromáticos
mais uma vez o cromatismo que são organizados em função do direcionamento da
frase, que se dá a partir de um trítono – mais uma vez o trítono – ou uma segunda maior
(prioritariamente), e com menor freqüência a partir de uma terça menor e quarta justa
intervalos considerados consonantes dentro da lógica tonal, mais próximos da
fundamental na série harmônica.
No primeiro motivo observam-se dois agrupamentos cromáticos (o primeiro de
duas notas, e o segundo de três notas padrão muito comum durante a peça,
recompondo a sequência de Fibonacci, de 2, 3 e 5) separados por uma segunda maior.
No segundo motivo observam-se três agrupamentos (o primeiro de duas notas, e o
segundo e terceiro de três notas). no terceiro e quarto motivo, observam-se apenas
dois agrupamentos (ambos de três e duas notas), separados por uma segunda maior e
162
antecedidos de uma terça menor. Pode-se dizer, assim, que o primeiro motivo é
estruturador e gerador dos demais, que seriam prolongamentos dele.
Figura 11 – Material melódico dos motivos
Outro procedimento com o tratamento da escala cromática no âmbito restrito de
oito semitons ocorre na reexposição do sujeito da fuga [violinos III e IV, comp. 68],
porém com a inversão dos intervalos do tema principal. Essa inversão também ocorre na
direcionalidade da escala cromática que passa a ser descendente. Naturalmente, os
grupos cromáticos são mantidos por frases:
Figura 12 – Inversão dos motivos
Neste procedimento, o compositor mantém a escolha de sobreposição de escalas
cromáticas nos instrumentos que formam a teia contrapontística, porém em stretto.
Como é caso das frases do violoncelo e da viola, que são formadas por outra grande
escala cromática a partir de outras menores [de ré5 até lá2].
O resultado sonoro, proveniente principalmente da construção de arco que o
compositor escolhe para conferir expressividade à peça, é obtido através de frases que
freqüentemente caminham em direção a um trítono, mas também não raro, possuem seu
163
ápice em uma terça maior ou menor (caso mais freqüente), sensação essa neutralizada
pela métrica e a sobreposição de escalas cromáticas (e seus respectivos centros).
Ritmicamente, logo de início, pode-se notar que o movimento faz uso de três
importantes recursos métricos usados na música do século XX: métrica mista, métrica
assimétrica e métrica aditiva. O uso da métrica mista pode ser explicado através das
freqüentes alterações das fórmulas de compasso (66 vezes), sendo utilizadas, ao todo, 8
fórmulas de compasso diferentes, todas tendo como base a :
Tabela 4 – fórmulas de compasso
As fórmulas 5/8, 7/8, 11/8 demonstram o uso da métrica assimétrica, por
possuirem numeradores não divisíveis por 2 ou 3.
13
A métrica aditiva (assim como em
parte a métrica mista) está fortemente associada ao sujeito, e está presente somente
quando o mesmo (ou parte dele) está presente, sugerindo assim uma associação entre o
sujeito e a métrica (além das outras associações existentes de altura, etc.): Todas as
entradas do sujeito ocorrem em uma anacruse para um compasso de fórmula diferente
(métrica mista) e as três frases que o compõem estão subdivididas por linhas
pontilhadas (métrica aditiva).
13
Kostka lista como assimétricas também as fórmulas 8/8 e 10/8, embora ambas sejam divisíveis por 2.
164
A peça tem como pulso a colcheia, o que é explicitado pelo uso exclusivo de
compassos com base 8. Apesar deste fato, os valores utilizados não são apenas aquele
presentes no sujeito (
e ). Outros valores são utilizados:
Tabela 5 – Durações encontradas e respectivos compassos em que aparecem pela primeira vez
165
A utilização dos diferentes durações parece estar associada a uma idéia de
contraponto rítmico (afinal, trata-se de uma fuga), resultando num dinamismo entre as
vozes, comprovado pelo fato que, todas as colcheias até o compasso 52 estão
preenchidas com ataques de notas (o mesmo se repete dos compassos 69 a 81).
somente 3 momentos em que todas as vozes estão em silêncio: nos compassos 64
(depois do clímax), 82 (antes da parte final) e 86 (antes da última frase).
O sujeito possui 35 colcheias (quando desconsideramos os diversos
prolongamentos da última nota deste), sendo a sempre anacruse. Levando-se em
consideração o fato de que a série de Fibonacci começa com o zero seguido da repetição
do número “1”, é possível estabelecer o paralelo onde o primeiro “1” seria a anacruse e
o segundo na cabeça do compasso. Sendo assim, o sujeito conclui sua exposição na 34ª
colcheia contada a partir do segundo “1”, atingindo termo da série, este também um
número importante na peça com a entrada dos tímpanos no compasso de também
número 34. Analisado isto, fica esclarecido o supermetro do sujeito de (8/8 + 12/8 + 8/8
+ 7/8) = 35/8, que, tomando apenas os primeiros compassos, é repetido 4 vezes
consecutivamente.
Deve-se observar que a nota de maior duração da obra é sustentada pelo valor
correspondente a 34 colcheias, justamente quando a celesta entra e é tocada pelo mesmo
tempo de 34 colcheias.
Por fim, lançando-se um olhar para a estrutura geral do primeiro movimento da
Música para cordas, percussão e celesta, podemos analisá-lo como um grande arco
com ápice na Seção Áurea, circunscrito na forma ternária A A’ A’’ e construído a partir
166
de procedimentos do contraponto característicos da fuga. Esta macroestrutura em arco
manifesta-se pelos diversos ângulos da composição, tanto quando se observa a peça a
partir de cada um desses domínios como quando observamos cada um deles
internamente. Esse tipo de construção, em que macro e micro-cosmos são análogos, é
próprio das estruturas orgânicas presentes na natureza.
O ápice do arco deste movimento é bastante visível do ponto de vista da
densidade da dinâmica e da textura, por exemplo, (Tabela 2) sendo que, descendo-se ao
nível exclusivo da microestrutura, a dinâmica evidencia também o arco dos motivos que
constituem o sujeito.
O contorno melódico do motivo que inicia e estrutura o sujeito desenha
exatamente um arco e, combinado a uma análise da duração das notas, indica que o
ápice da frase encontra-se exatamente na seção áurea da figura. Este primeiro motivo é
o elemento celular a partir do qual são gerados os outros três que compõem o sujeito e
será justamente o maior beneficiado pelo uso do procedimento da fuga, ao ser tornado
evidente pelo recurso do stretto; facilmente identificado através da escuta, pode ser
considerado uma expressão de como o arco foi utilizado como elemento gerador da
composição.
167
Figura 13 – Entradas em stretto a partir do compasso 82, com fragmentos do sujeito com e sem
inversão configurando arcos
Também no âmbito melódico, mas considerando o relacionamento entre
vozes, tem-se que o uso do trítono impulsiona e ao mesmo tempo é impulsionado pelo
desenho do arco inserido em uma malha contrapontística (novamente o procedimento da
fuga), de maneira que o resultado sonoro é obtido através de frases que freqüentemente
caminham em direção a um trítono (ápice do arco, em relação contrapontística). O
trítono, intervalo ausente na construção da linha melódica do sujeito, torna-se, pelo
contraponto combinado ao contorno melódico em arco, um elemento unificador e
estrutural da peça.
Bibliografia
BARBIER, Pierre-E. Bartók – Musique pour cordes, percussion et celesta. 1994. Encarte
de CD.
RTOK, Béla. Music for String Instruments, Percussion and Celesta. NY: Boosey &
Hawkes, 1964.
_______Music for String Instruments, Percussion and Celesta. NY Philharmonic. CD.
Regência: Leonard Bernstein, 1961.
KOSTKA, Stefan M. Materials and techniques of twentieth-century music. 3 ed. Upper
Saddle River: Prentice-Hall, 2006.
LAWLOR, Robert. Sacred Geometry Philosophy and Practise. Thames and Hudson,
1982.
ROOSA, Alissa L. Composing buildings, constructing music: the analysis and application
of Béla Bártok’s Music for string instruments, percussion and celesta to Steven
Holl’s Stretto House. Part II of a dissertation. Kent: Kent State University, 2002.
SADIE, Stanley. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. 2nd ed, 2001.
168
Apêndice B
Projeto de pesquisa de Mestrado – Arquitetura e Música: Relações de criação e análise
entre projeto e composição a partir do Stretto em Steven Holl e Béla Bártok
!
Resumo
Esta pesquisa procura investigar as relações entre Arquitetura e Música a partir dos
processos de criação (considerando-se o termo “projeto” para Arquitetura e “composição”
para Música) e de análise. Baseia-se principalmente na tese de Alissa L. Roosa (1962-) e nos
textos de A. A. Bispo (1949-).
Na primeira etapa, investigam-se os elementos e processos de criação em
Arquitetura e Música; este capítulo apóia-se na parte II da dissertação de Roosa, que tratou
do relacionamento do arquiteto Steven Holl (1947-) com a Música para cordas, percussão e
celesta (1936), do compositor Béla Bártok (1881-1945), no projeto da Stretto House (1991).
Inicialmente, a pesquisa expõe e amplia alguns conceitos básicos de Arquitetura e Música
relacionados por Roosa, com ênfase no elemento musical do stretto. Em seguida, partindo
desta definição musical de stretto e de seu uso na obra de Béla Bártok, é introduzida sua
possível aplicação/dimensão no projeto de Arquitetura, de acordo com o que Roosa
identifica no projeto da Stretto House.
Na segunda etapa, de investigação dos processos analíticos em Arquitetura e
Música, tem-se como base a obra do Professor A. A. Bispo, que pesquisa a possibilidade de
contribuições do fazer da análise musical à análise de Arquitetura e Urbanismo. A partir
desta defesa, toma-se o elemento stretto, apresentado e desenvolvido no capítulo anterior,
para identificar e analisar exemplos de stretto na Arquitetura e Urbanismo da cidade de São
Paulo.
169
O terceiro capítulo apresentará o projeto de uma intervenção urbana de pequeno
porte na cidade de São Paulo, desenvolvido a partir do elemento stretto transposto da
Música para Arquitetura, com objetivo de verificar uma possível aplicação do stretto à
análise de Arquitetura e Urbanismo.
Introdução e Justificativa
“A importância da música no estudo da Arquitetura fica evidente nas aulas de História da Arte
e Estética de Flávio Motta, Sérgio Ferro e Julio Katinsky, nas quais as projeções de slides de
obras de arte são acompanhadas por música. Numa dessas aulas ficou impressionantemente
claro como, por exemplo, a sica de um Dave Brubeck pode contribuir para a percepção de
novos aspectos das imagens apresentadas de obras da arquitetura contemporânea de São
Paulo.” (BISPO 1999:25-26)
Aspectos construtivos comuns da Arquitetura e da Música ultrapassam o próprio
vocabulário específico das disciplinas de cada Arte. Além dos empréstimos terminológicos
verificados no campo da análise, no que diz respeito ao “fazer” dessas artes, apesar dos
valores utilitários bastante distintos dos produtos de cada uma, novamente um
intercâmbio de palavras e idéias. “Projeto” e “composição”, atribuições respectivamente de
arquitetos e músicos, são, ambos, processos de criação que pressupõem “princípios
construtivos”.
Observações a respeito dessa possível interdisciplinaridade que une as duas artes
surgem com certa freqüência quando se transita pelos meios arquitetônico e musical, sem
que haja, no entanto, aprofundamento ou rigor metodológico e científico.
O Professor Dr. A. A. Bispo, arquiteto formado pela FAUUSP em 1973 e livre-
docente do departamento de musicologia da Universität zu Köln, Alemanha, é uma das
referências mundiais na tentativa de uma aproximação sistemática das duas Artes em
questão. Em sua obra, é recorrente o tema do empréstimo justificado de conceitos e
instrumentos da análise musical à análise de Arquitetura e Urbanismo.
170
“De fato, se na sica usamos de termos e conceitos emprestados da arquitetura,
falando de estruturas, intervalos estruturais, tensões, pontos de apoio, repousos,
textura, construção, materiais construtivos etc., então também deveríamos poder usar
na análise urbana de conceitos musicais e nela empregar conceitos tais como
melodia, modulação, harmonia, contraponto, instrumentação e orquestração. Não se
trata aqui de uso apenas literário desses termos, mas sim de possíveis caminhos
metodológicos de análise, baseados numa afinidade existente entre a música e a
arquitetura, como a procuramos estudar no curso de Estética”. (BISPO 1999: 57-58)
Procurando adotar essa mesma linha, o objetivo desta pesquisa é contribuir para uma
sistematização das relações entre Arquitetura e Música. O ponto de partida escolhido é o
conceito musical de stretto, de acordo com a abordagem arquitetônica de Steven Holl no
projeto da Stretto House (a partir do stretto em Bártok) e tendo em vista a seguinte
afirmação de Bispo:
“(...) tentar levar adiante esse método é um procedimento altamente complexo, mas que
mereceria ser tentado sistematicamente, uma vez que as analogias são muitas e
profundas. De resto, se usamos métodos e conceitos emprestados da organização
espacial na análise da organização temporal, então deveríamos tamm tentar o
inverso.” (BISPO 1999:59)
A idéia, então, é apropriar-se do stretto como pivô na transposição de elementos
musicais para o âmbito da Arquitetura a partir da leitura de Roosa de como isto foi feito por
Steven Holl na Stretto House.
Importante ressaltar que essa transposição não é, desde o início, literal; nem deve
desconsiderar uma expansão para elementos “vizinhos” ao stretto por exemplo, outros
elementos e características formais da fuga, contexto em que o stretto, conforme a definição
básica a seguir, é garantidamente presente. Assim sendo, uma eventual expansão, no caso da
presente pesquisa, não visa a dar conta de uma transposição quantitativa de termos, e sim
apenas complementar o potencial de trabalho com o elemento stretto.
Breve definição de stretto, o stretto em Bela Bártok e a leitura de Steven Holl
Stretto
171
1. A superposição das entradas de um sujeito (tema) de fuga. As entradas em stretto podem
estar separadas por qualquer intervalo e podem ser modificadas por inversão, aumentação,
diminuição ou mesmo por movimento retrógrado
1
.
Durante a exposição formal no começo de uma fuga, o sujeito é apresentado por
cada uma das vozes sem sobreposição: a voz seguinte começa depois que a anterior
concluiu a apresentação do sujeito (Figura 1).
Figura 1. Exposição do sujeito no início da fuga (padrão).
Stretto (Figura 2) refere-se a uma seção da fuga na qual o sujeito entra sobreposto: o
segundo começa antes da conclusão do primeiro. Um dos efeitos característicos gerado por
esse recurso é uma intensificação da densidade da textura. Como o tempo para completar a
exposição é comprimido, consegue-se também um efeito de aceleração do andamento
daquele trecho. A dramaticidade também é intensificada, que o material gerador
primordial da fuga, o sujeito, é apresentado por várias vozes simultaneamente
2
.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1
Extraído de ISAACS, A. e MARTIN, E. (organização). Dicionário de Música. RJ: Zahar Editores, 1985,
p.368. Para garantir uma padronização terminológica, escolhemos adotar “sujeito em vez de tema” (no
original, mantido entre parêntesis). Há ainda a definição romântica para stretto, que, a princípio, por seu caráter
mais pontual e menos estrutural, é considerada secundária neste trabalho. Ela diz o seguinte: “Instrução usada
para indicar a aceleração ou intensificação de uma passagem, especialmente na música de Chopin e outros
compositores românticos”.
2
Autoria e fonte dos diagramas: Siglind Bruhn.
In.http://www.earsense.org/Earsense/WTC/Vocabulary/stretto.html
!
172
Figura 2. Uso extremo do stretto.
Assim, tem-se que o stretto serve a um contexto essencialmente contrapontístico.
Um dos usos mais característicos do stretto na literatura musical está nas fugas do
Cravo bem temperado, de Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Béla Bártok, compositor húngaro da primeira metade do século XX, alia a técnica do
contraponto ao trabalho com as proporções da seção áurea e elementos do folclore musical
do leste europeu. Sua Música para cordas, percussão e celesta constitui-se de quatro
movimentos. Em linhas bem gerais, o primeiro é uma fuga, cujo sujeito reaparece transposto
no último movimento, rítmica e melodicamente estruturado a partir de danças búlgaras; os
movimentos centrais são, respectivamente, um scherzo em forma sonatafinalizado por um
stretto – e um noturno em seis seções separadas uma da seguinte por uma frase do sujeito da
fuga inicial. As partes melódicas e rítmicas ao longo dos quatro movimentos distribuem-se
tanto entre a percussão quanto entre os demais instrumentos, apresentados no título que,
em si, expõe o material timbrístico do qual a peça é feita.
Steven Holl “compõe” a Stretto House também em quatro “movimentos”. A idéia de
apropriar-se da criação musical de Bártok como ponto de partida para sua própria criação
arquitetônica surgiu da conversa com um de seus alunos, estudante de música. Holl estava
buscando uma estrutura que fluísse como a água presente no terreno (que veio a abrigar a
Stretto House), quando esse aluno mencionou o stretto como a “sobreposição de uma frase
173
musical por outra”. Tendo conhecimento da recorrência do stretto na Música para cordas,
percussão e celesta de Bártok, Holl acabou elegendo a peça como base para criação do novo
projeto
3
.
O stretto é facilmente identificado em uma primeira observação da Stretto House.
Sua expressão mais imediata encontra-se na clara sobreposição das várias curvas que
constituem a cobertura. Este aspecto bastante externo evidencia o que resulta no interior: os
ambientes da casa como que fluem um para o outro.
A partir do stretto, Holl expandiu o relacionamento de sua Arquitetura com a Música
de Bártok através de questões de proporção (a proporção áurea, bastante explorada por
Bártok, também foi apropriada por Holl no projeto), do regionalismo (folclore) sempre
presente em Bártok (Holl também constrói, analogamente, com características regionais
4
) e
do contraponto, da maneira como se entende em Música: Holl procura equilibrar peso e
leveza (em uma analogia também ao modo como Bártok trabalhou o contraste de percussão
e cordas) o que resulta num jogo contínuo entre material e luz
5
.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
3
ARNARDÓTTIR, Halldóra e MERINA, J. Sanchez. http://storiesofhouses.blogspot.com/2006/04/stretto-
house-in-dallas-by-steven-holl.html, acesso: 19/03/08.
4
“The concrete block and metal recall Texas vernacular.” (GAROFALO 2003: 70-73) No entanto, “Holl
…ends up with a house very different from the Texas Vernacular. This appears to be similar to the process
Bártok took in developing a theory of composition: an interest in folk music lead to pentatony, which lead to
intervallic symmetry theories, which resulted in something very different from folk music” (ROOSA 2002:
204).
5
“Holl devised a way of describing the similarity between composition this way:
material X sound / time = material X light / space
In other words, Holl believes that working with light for an architect is analogous to the experience of working
with sound (…) for a composer (…) Within the realm of time, instrumentation and sound may achieve ‘music’
while within the realm of space, building materials and the use of light may achieve an architectural structure.
(ROOSA 2002: 215-216).
!
174
Na planta (Figura 3) é possível ver como cada bloco de concreto constitui o núcleo de
cada uma das quatro partes da casa. A elevação (Figura 4) demonstra o uso do vidro (luz)
contrapondo-se ao concreto (matéria).
Outra manifestação contrapontística é aquela encontrada na relação entre plantas e
cortes: se a planta é ortogonal, a elevação e cortes são curvos.
Apenas na casa de hóspedes (Figura 5), separada da casa principal pelo rio que corta o
terreno, dá-se uma inversão (a planta torna-se curva e as elevações e cortes, planos), similar
à inversão do sujeito no primeiro movimento da música de Bártok.
Figura 3. Planta do Térreo – ortogonalidade
6
.
Figura 4. Elevação leste – curvas
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
6
Fonte das imagens: Figuras 3 e 4: GAROFALO, p.74 e 76; Figura 5: ROOSA, p.202.
175
Figura 5. Elevação e planta da Casa despedes inversão
Entende-se, portanto, uma vocação ou potencial do stretto como elemento de
transposição pertinente à sistematização das relações entre Arquitetura e Música. Esta
vocação/potencial é o que pretendemos verificar e aprofundar através da identificação,
observação e análise de trechos e/ou obras de Arquitetura construídas e sua inserção na
cidade de São Paulo, acompanhadas do projeto arquitetônico de uma intervenção de
pequeno porte em cada objeto analisado. Os objetos e procedimentos deste trabalho serão
apresentados mais adiante.
Quanto à viabilidade da realização deste trabalho em paralelo à faculdade de Música, é
importante salientar que a grade horária flexível da graduação em Música na ECAUSP e a
ocorrência de alunos que procuram a Música como segundo curso têm possibilitado o
desenvolvimento de pesquisas de mestrado interdisciplinares concomitantes à graduação
7
.
Nesses casos, a interdisciplinaridade tem sido favorecida pelo acesso direto às duas áreas de
conhecimento em estudo.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
7
BESSA, Virgínia de Almeida. “Um bocadinho de cada coisa”: a trajetória da obra de Pixinguinha.
Dissertação defendida em março de 2006 no departamento de História da FFLCH/USP;
THOMAZ, Leandro Ferrari. Aplicação de uma plataforma de realidade virtual acústica em
orquestração musical espacial. Dissertação defendida em março de 2007 na POLI/USP;!
176
Síntese da bibliografia fundamental
1.
BÁRTOK, Béla. Music for String Instruments, Percussion and Celesta. NY: Boosey &
Hawkes, 1964.
Partitura a ser analisada no departamento de música da ECAUSP, acompanhada de
gravação
8
. Fundamental para compreensão do processo de análise proposto por Roosa.
2.
BISPO, Antonio Alexandre. Brasil/Europa & Musicologia: aulas, conferências,
discursos de A. A. Bispo. Colônia: ed. H. Hülskath-ISMPS e.V. 1999.
Obra fundamental para compreensão e desenvolvimento de um processo analítico
que identifique, evidencie e relacione processos comuns de Arquitetura e Música, no
contexto apontado pelo autor:
“Somos obrigados a constatar que a análise arquitetônica está ainda numa fase muito
mais incipiente e primária que a musical. É até mesmo uma disciplina que falta no
estudo da Arquitetura e do Urbanismo. Ela poderia vir a ser muito útil na compreensão
do fato urbano e no seu domínio e manipulação criadora, visando a melhoria da
qualidade de vida, uma vez que diz respeito à harmonia da cidade e dos seus
habitantes.
(BISPO 1999:60)
3.
INTERNATIONALEN MUSIKINSTITUTS DARMSTADT. Musik und Architektur.
Org.
METZGER, Christoph. Saarbrücken: PFAU-Verlag, 2003.
Documento resultante do seminário Musik und Architektur, realizado em Darmstadt
em 2002, este texto indicado por Bispo reúne trabalhos de nove profissionais, entre
arquitetos-músicos e músicos-arquitetos. Fundamental para conhecimento e compreensão do
estado das discussões que buscam um relacionamento entre essas duas Artes. Além do
embasamento teórico, algumas exposições apresentam casos de projetos de arquitetura e
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
8
Ver bibliografia geral – gravações.
177
intervenções urbanas que partem de elementos musicais e que, portanto, merecem ser
estudados no planejamento e execução das etapas finais desta pesquisa.
4.
ROOSA. Alissa L. Composing buildings, constructing music: the analysis and
application of Béla Bártok’s Music for string instruments, percussion and celesta to
Steven Holl’s Stretto House. Part II of a dissertation. Kent: Kent State University. 2002.
Obra fundamental para o estudo da relação entre Música e Arquitetura estabelecida
pelo arquiteto Steven Holl a partir do stretto em Béla Bártok no projeto da Stretto House. O
texto de Roosa inclui o material gráfico do projeto, imprescindível à análise, além de trazer
um apanhado das teorias de Holl, aprofundadas na bibliografia de autoria do próprio
arquiteto
9
.
5.
Material gráfico de representação dos objetos escolhidos para estudos de caso: a Praça
Roosevelt e o Edifício Copan.
Assim como a partitura e gravação são necessárias à compreensão da obra de Bártok
e os desenhos contidos em Roosa à compreensão do projeto da Stretto House no início da
pesquisa, torna-se imprescindível o estudo do material gráfico de representação dos objetos
escolhidos para estudo de caso. (Praça Roosevelt e Edifício Copan, conforme justificado
mais adiante). Este material, de acordo com o cronograma da pesquisa, está em fase de
levantamento.
Objetivo
A partir do elemento musical do stretto, da maneira como foi identificado e
trabalhado por autores e artistas como ponte interdisciplinar da música para a arquitetura e
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
9
Ver bibliografia geral.
178
ainda através de procedimentos de análise e projeto que busquem verificar as premissas, o
objetivo desta pesquisa é contribuir para uma sistematização das relações entre
Arquitetura e Música, facilitando a compreensão de ambas as Artes.
Plano de trabalho e cronograma de execução
Além da orientação oficial, este trabalho conta com a co-orientação importantíssima
da professora Adriana Lopes da Cunha Moreira, responsável pela seqüência de disciplinas
de Percepção Musical e pela disciplina Análise Musical III no departamento de música da
ECAUSP; com orientações do próprio Professor A. A. Bispo, consultado presencialmente
entre junho e julho de 2007; com apoio de professores do departamento de música e da FAU
que se identificam com os objetivos desta pesquisa e que se disponibilizaram para eventuais
atendimentos;
!
com apoio de pesquisadores indivíduos e grupos e profissionais com
interesse interdisciplinar nas áreas envolvidas. Entrevistas com esses profissionais não
constituem o foco do trabalho, mas não estão descartadas.
A pesquisa está organizada em três etapas de trabalho além da dissertação, a saber:
Etapa 1 – Estudo / análise
-conceito de stretto
-stretto na Música para cordas, percussão e celesta de Bártok
-stretto a partir de Bártok na Stretto House de Steven Holl
-identificação de objetos para estudo de caso nas etapas seguintes e levantamento de
material gráfico.
Etapa 2 – Análise
- análise de stretto ou possibilidades de stretto em São Paulo: os casos da Praça
Roosevelt e do Edifício Copan.
Etapa 3 – Projeto como ferramenta de análise (concomitante à Etapa 2)
179
-a partir do material levantado na Etapa 2, realizar a verificação simultânea das
premissas levantadas na Etapa 1.
Dissertação
A dissertação será redigida ao longo de todo o processo, como constante registro e
análise do mesmo.
Atividades
2007 (concluído)
2008 / 1° sem
2008 / 2° sem
2009 / 1° sem
(Etapa 1)
Estudo inicial a partir
de Roosa (análises de
Holl e Bártok) e de
Bispo. Levantamento
De premissas (Etapa1)
-definição de um
foco na
abordagem das
relações entre
arquitetura e
música;
-Análise da
partitura
(Música para
cordas, percussão e
celesta);
-Pré-definição de
Estudos de caso;
-conceito de stretto;
-Levantamento de
Material gráfico de
Estudos de caso
p/ Etapas 2 e 3;
Revisão Bibliográfica
Análise arquitetônico-
urbanística (Etapa 2)
(Etapa 2)
Projeto de arquitetura
(Etapa 3)
(Etapa 3)
Dissertação
ao final do sem.:
exame de
qualificação
ao final do sem.:
defesa
Disciplinas cursadas e
monitorias (detalhes
abaixo)
-AUP5866
-AUP5801
-AUT5832
-CMU0510
-CMU030 8!!!
-CMU030 9!
-CMU0398
-!EDF0285
-AUP5814
-AUP0608
(monitoria PAE)
-AUP0146
(monitoria PAE
– a confirmar)
Disciplinas cursadas, em andamento e monitorias:
AUP5866 Arquitetura, Tecnologia e Ambiente Construído (2007/1 – FAU, pós)
AUP5801 Produção Arquitetônica e Meio Ambiente (2007/2 – FAU, pós)
AUT5832 Pedagogia Aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo (2007/2FAU, pós)
180
CMU0510 Análise Musical III (2007/1 – ECA, graduação)
CMU0308!‐!Contraponto!III!(2007/1 – ECA, graduação)!
CMU0309!‐!Contraponto!IV!(2007/2 – ECA, graduação)
CMU0398 Metodologia na Educação Musical (2007/2 – ECA, graduação)
EDF0285!‐!Introdução!aos!Estudos!da!Educação:!En foque!Filosóf ico!(2007/1!–!FEUS P,!
graduação)
AUP5814 Espaços Livres Públicos Coletivos Urbanos (FAU, pós – em andamento)
AUP0608 Fundamentos de projeto (monitoria PAE – em andamento)
AUP0146 Projeto II (monitoria PAE – a confirmar)
Material e métodos
Etapa 1 – Estudo / análise – em andamento.
-Estudar o conceito de stretto; analisar o stretto na Música para cordas, percussão e
celesta de Béla Bártok e o stretto na Stretto House de Steven Holl a partir de Béla Bártok.
Com base no material estudado, levantar premissas para uma transposição do conceito
musical de stretto ao âmbito da Arquitetura.
-Identificar stretto ou potencial de stretto em São Paulo, buscando uma aproximação
como a apontada por Bispo:
“Nem todas as cidades ou bairros da cidade são frutos de um desenvolvimento tal que
pudessem ser considerados como harmoniosos. (...) Nela há, no entanto, trechos e partes
"compostas", embora criadas sob diferentes critérios , aptas a serem mais facilmente
analisadas” (BISPO 1999:59)
-Realizar levantamento de material gráfico acerca dos possíveis objetos de estudo
identificados.
Materiais:
181
Gravação e partitura analisada da Música para cordas, percussão e celesta, desenhos
do projeto da Stretto House, textos acadêmicos, fotografias, matérias em publicações
especializadas, textos e entrevistas de Steven Holl a respeito de seus processos de trabalho,
em especial no projeto da Stretto House.
Etapa 2 – Análise
Definir e analisar stretto ou potencial de stretto identificados em São Paulo.
Apresentamos, a seguir, dois possíveis objetos para estudo de caso (ambos localizados
no centro de São Paulo) e procedimentos de trabalho, a serem confirmados no início da
Etapa 2:
1) Praça Roosevelt exemplo de obra “não composta”, de acordo com Bispo, se
considerarmos sua inserção “aberta” na cidade. A própria praça é, em si, um edifício; além
do elemento edificado, que constitui não só a praça, mas que ao longo do tempo tem
abrigado paralelamente diversos programas de uso, uma observação inicial indica a presença
de aspectos analisáveis mais diretamente também dos pontos de vista do Paisagismo (como
praça), do Desenho Urbano (aspectos de circulação viária eixo leste-oeste) e do
Planejamento Urbano (localização central, legislação de uso misto no entorno). Acredita-se
que esse conjunto de características aponte para um potencial muito amplo de trabalho para
o que se pretende desenvolver nas Etapas 2 e 3.
10
2) Edifício Copan exemplo de obra “composta”, objeto “fechado” em si (embora,
logicamente, relacione-se com o entorno; na presente etapa da pesquisa, ainda não se sabe
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
10
É importante esclarecer o que seriam essas abordagens interdisciplinares nesta pesquisa: ao se falar em
disciplinas como Paisagismo, Desenho Urbano, Planejamento e a mesmo Fundamentos Sociais da
Arquitetura, não se pretende desenvolvê-las e aprofundá-las; mas buscar, através delas, elementos que
potencializem ainda mais o aproveitamento do stretto como pivô da transposição proposta entre Música e
Arquitetura a partir da disciplina do Projeto de Arquitetura
.
182
ao certo se ou o quanto este entorno poderá participar como dado para análise; a respeito
disso, cabe mencionar que o Edifício Copan é praticamente vizinho da Praça Roosevelt).
Tentaremos, então, a seguir, estimar um possível procedimento padrão para a análise,
de acordo com a idéia de stretto de que dispomos até o momento:
O instrumento inicial para análise é o desenho. Com base no material gráfico obtido
(plantas, cortes, elevações e até desenhos de observação e fotografia), devem-se traçar novos
cortes, nos quais se acrescentem informações do entorno imediato. A partir desse novo
conjunto de material (o levantado mais o desenvolvido), devem-se observar as proporções
(como faz Alissa ao considerar a obra de Bártok), listando as mais recorrentes e relevantes
(no caso da obra “composta” isto faz, a princípio, mais sentido; o que não impede que se
encontrem proporções particulares nos trechos “não compostos” ou que se possa, numa
etapa seguinte, trabalhar a partir de algumas proporções). O conjunto de desenhos permite
também que se observe uma espécie de “perfil” contendo cada possível ocorrência de stretto
– ou potenciais de stretto, passíveis, portanto de intervenção na Etapa 3 concomitante.
No caso específico do Edifício Copan, como obra “composta”, talvez a pergunta
inicial a ser verificada por um procedimento analítico originado do stretto possa ser: “Existe
neste projeto um sujeito?” (como na fuga); então, em seguida: “O que é?”, “Onde está?”,
“Como se desenvolve?”
Materiais: premissas levantadas na Etapa1; textos e entrevistas com o Professor Dr.
A. A. Bispo; material gráfico que represente trechos e/ou obras de arquitetura construídas e
sua inserção na cidade de São Paulo.
Etapa 3 – Projeto como ferramenta de análise (concomitante à Etapa 2)
A partir do material levantado na Etapa 2, realizar a verificação simultânea das
premissas levantadas na Etapa 1.
183
Avançando na estimativa de um procedimento padrão de análise, teríamos, na Etapa 3,
as intervenções (projetos) como instrumento de verificação dos potenciais apontados na
Etapa 2. Por meio de estudos e esboços simples, mas abrangentes, ficariam expostas as
alternativas com maior vocação para um aprofundamento a seguir, em projeto. Deve-se ter
em mente, durante as etapas de análise e projeto, uma constante relação com os termos
musicais apontados e trabalhados na Etapa 1 – o que pode eventualmente incluir uma
reformulação dos mesmos.
Materiais: trechos e/ou obras de Arquitetura construídas e sua inserção na cidade de
São Paulo analisados e identificados como próximos/passíveis de stretto. (No momento,
portanto, os objetos de estudo devem ser a Praça Roosevelt e o Edifício Copan).
A dissertação deverá registrar e organizar os processos desenvolvidos e produtos
resultantes, apontando uma possível continuidade e ampliação da pesquisa.
Forma de análise dos resultados
Segundo os procedimentos de análise que procuramos definir no item anterior
(Materiais e métodos), temos as Etapas 2 e 3 em si como constantes verificadoras das
premissas levantadas na Etapa 1 e que, desta maneira, tornam-se sujeitas a reformulações,
quando necessário, até o final da Etapa 3. Em resumo, a idéia é de que o próprio projeto de
Arquitetura possa se afirmar como uma potencial ferramenta de análise de Arquitetura e
Urbanismo. Os resultados devem se encontrar expostos, por fim, na dissertação.
184
Bibliografia geral
RTOK, Béla. Music for String Instruments, Percussion and Celesta. NY: Boosey & Hawkes,
1964
11
.
BAKER, Geoffrey H. Le Corbusier : uma alise da forma. SP: Martins Fontes, 1998.
BISPO, Antonio Alexandre. Brasil/Europa & Musicologia: aulas, conferências, discursos de A.
A. Bispo. Colônia: ed. H.lskath-ISMPS e.V. 1999.
CLARK, Roger H. & PAUSE, Michael. Arquitectura: temas de composición. 2 ed.xico,
Barcelona: GG, 1997.
COLLINS, Brad, HOLL Steven. Stretto House (One House). NY: Monacelli Press, 1996.
DUDUCH, Jane Victal Ferreira. Configurações espaço-temporais: ensaio sobre as relações entre
arquitetura, pintura e música. Tese de doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, 1999.
GAROFALO, Francesco. Steven Holl. Londres: Thames & Hudson, 2003.
HOLL, Steven. House: Black swan theory. NY: Princeton Architectural Press, 2007.
________
Questions of perception: phenomenology of architecture. San Francisco: William Stout
Books, 2007.
______
Architecture spoken. NY: Rizzoli. 2007.
INTERNATIONALEN MUSIKINSTITUTS DARMSTADT. Musik und Architektur. Org.
METZGER, Christoph. Saarbrücken: PFAU-Verlag, 2003.
ISAACS, A. e MARTIN, E. (organização). Dicionário desica. RJ: Zahar Editores, 1985.
KOSTKA, Stefan M. Materials and techniques of twentieth-century music. 3 ed. Upper
Saddle River: Prentice-Hall, 2006.
LESTER, Joel. Analytic approaches to Twentieth Century music. NY: W. W. Norton, 1989.
LIBESKIND, Daniel. “Wie klingt Architektur?in. ZWEI Magazin des Jüdischen Museums
Berlin. 2, pp22-23, 2003.
MOLINO, Jean. Analisar. Trad. PASCOAL, Maria Lúcia. In: Analyse Musicale. Paris: Societè
Française d’Analyse Musicale. 3e. trimestre, Juin, 1989, pp.11-13.
PIANO, Renzo. Architettura & Musica: Renzo Piano building workshop. Milano: Edizioni
Lybra Immagine, 2002.
QUEIROGA, Eugenio. O lugar da praça: pracialidades contemporâneas na Megalópole do
Sudeste Brasileiro”. In. Souza, Maria Adélia (org.) Território brasileiro: usos e abusos.
Campinas: Territorial, 2003. pp.130-145.
ROOSA. Alissa L. Composing buildings, constructing music: the analysis and application of
Béla Bártok’s Music for string instruments, percussion and celesta to Steven Holl’s Stretto
House. Part II of a dissertation. Kent: Kent State University. 2002.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
11
Partitura analisada.
185
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. SP: Edusp, 1991.
_____ Style and idea. Berkeley: University of California Press, 1984.
WHITE, John. The analysis of music. 2ns edition. Metuchen: Scarecrow, 1984.
_____ Comprehensive musical analysis. Metuchen: Scarecrow Press, 1994.
Desenhos
Material gráfico de representação da Praça Roosevelt e Edifício Copan.
12
Gravações
Béla Bártok. Music for String Instruments, Percussion and Celesta. New York
Philharmonic. Regência: Leonard Bernstein, 1961.
Websites consultados
http://www.thefreedictionary.com/stretto
http://en.wikipedia.org/wiki/Stretto
http://www.earsense.org/Earsense/WTC/Vocabulary/stretto.html
http://www.bbc.co.uk/proms/2007/aboutmusic/p68_bartok.shtml#top
http://storiesofhouses.blogspot.com/2006/04/stretto-house-in-dallas-by-steven-holl.html
http://www.stevenholl.com/
http://ismps.de/Akademie/deutsch-materialien-abe.htm
(acessos em 17/03/2008)
!
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
12
Em fase de levantamento.
!
186
Apêndice C
Processos produtivos em arquitetura e música: associações por oposição
Entende-se que um percurso analítico dos processos de produção seja uma
demanda à princípio muito mais vinculada à arquitetura do que à música. A obra
arquitetônica possui uma expressão muito mais concreta e permanente, em
comparação à obra musical. O produto final da arquitetura é evidentemente “mais
material” do que aquele que mesmo a orquestra mais completa ou os equipamentos
sonoros mais potentes são capazes de realizar. Os valores utilitários dos produtos
também são rigorosamente distintos. Estes fatores, de materialidade, permanência e
utilidade, incidem diretamente na forma como os processos de produção estão
estruturados, tanto em uma arte, quanto em outra.
No caso da música, chama atenção como, ao contrário do que acontece com a
arquitetura, praticamente todos os envolvidos na produção da obra são músicos. O
compositor, que idealiza a obra e que pode muito facilmente ser associado ao
arquiteto, é músico. Também o é o regente, o primeiro intérprete da obra musical,
aquele que prepara a obra para a execução por meio dos ensaios. O regente é, por um
lado, como o arquiteto que estende seu olhar para além da prancheta, ao preparar o
cronograma e o planejamento da obra e o projeto executivo. Ao ensaiar uma
orquestra, o regente compatibiliza os projetos de todas os naipes (grupos) de
instrumentos e o ensaio é como o próprio projeto executivo, que sistematiza e
detalha as informações para o momento da execução. Por marcar presença na linha de
frente conduzindo a orquestra durante toda a execução, o regente assume também o
papel do mestre de obras.
!
187
É simples enxergar como, no passo seguinte, os músicos da orquestra atuam
como os “peões” (pedreiros, eletricistas, encanadores, pintores...) aqueles executam a
obra, por meio de sua própria força e do domínio de seus instrumentos de trabalho.
Enfim, tomando-se a orquestra como arquétipo do canteiro de obras da produção
musical, chega-se à constatação feita no início, de que, neste canteiro, todos são
músicos.
Este ponto evidencia o quanto o arquiteto encontra-se afastado das fases
propriamente executivas da produção da arquitetura. Ou, de outro ângulo, o quanto a
própria arte de afasta do canteiro de obras. Ela está presente na criação do projeto e
retorna quando se tem a obra pronta. Isto talvez explique um pouco por que os
estudos uma análise dos processos produtivos pareça muito mais necessária aos
arquitetos do que aos músicos, por mais que se possa levantar a questão do quanto
efetivamente resta de criação ao músico da orquestra, além do elemento virtuosístico
(técnico) que caracteriza o seu trabalho. Um outro aspecto considerável é o fato de
que, no processo da composição musical, a atuação do músico é solitária, o oposto do
que cada vez mais acontece no Projeto de Arquitetura, processo que envolve às vezes
não uma equipe, mas mais de uma equipe de profissionais, o que torna o processo
de produção muito mais complexo.
No caso do músico, deve-se lembrar que é comum ter o compositor também
na posição de regente ou de executor, ele mesmo, da própria composição. Ao
participar da produção final da obra projetada, o músico tem oportunidade de
conhecer diretamente os instrumentos de que dispõe para criar e até de analisar o
musicólogo, analista musical, geralmente também tem formação prática como músico
em algum nível. Em um processo desses, a realimentação entre o ato de criação, os
atos envolvidos na produção, a obra pronta, a análise e a crítica podem acontecer de
!
188
modo praticamente imediato. Os arquitetos estão muito distantes de desfrutar de um
privilégio como este.
Dentre o que se pode concluir dessas associações, está o fato de que os
músicos, por participarem ativamente do processo produtivo, encontram um nível
menor de tensão e de contradições no decorrer deste processo, além de terem uma
oportunidade concreta de se aprofundar nos processos formadores da própria música.
Desvendar o que tudo isto pode significar é o desafio proposto para trabalhos futuros,
ao se refletir a respeito de uma análise dos processos produtivos em música. Aos
arquitetos, são lançados dados que podem alimentar um debate sobre o que seria e
como poderia acontecer uma aproximação entre o ato de projetar e o de executar, e
por meio de que processos isto seria possível. Avançar um estudo nesse sentido seria
buscar a reinvenção da própria atividade no exercício da profissão.
!
!
189
Apêndice D
Relato de disciplina cursada
CMU0309 – Contraponto IV
2007, professor Rogério Costa
Durante este curso, que encerra a sequência de estudos em contraponto (deste
momento em diante, o contraponto é estudado no contexto geral da Análise Musical)
percebi haver uma distinção entre descrição e análise. A descoberta aconteceu
durante a execução do exercício proposto na disciplina, de lançar um olhar analítico
a partir do contraponto à produção musical do século XX. O conjunto de obras para
análise (de onde cada aluno escolheria uma peça para trabalhar individualmente) foi
o volume 3 do Mikrokosmos, obra para piano de Béla Bartók. Analisei a peça de
número 94.
Foi no percurso até a análise do contraponto que percebi que tinha que realizar
uma longa etapa descritiva, que passava por outros parâmetros da análise até chegar
ao contraponto. Assim, houve um levantamento do material escalar utilizado,
identificação de temas e contra-temas, verificação do material harmônico, uso das
figuras rítmicas, entre outros parâmetros, procurando relacionar cada aspecto aos
procedimentos composicionais próprios do compositor sob constante orientação do
professor em aula. Houve um amplo estudo da ocorrência da Proporção Áurea,
presente em Bartók em diversos níveis da composição.
Desde o início da Graduação eu observava como o estudo de análise musical
demandava que se debruçasse sobre a partitura, enchendo-a de anotações
sobrepostas. Decidi “importar” um recurso corriqueiro na arquitetura e passei a
trabalhar com folhas de papel manteiga, de modo que conseguia enxergar todos os
!
190
níveis da análise e ao mesmo tempo eleger qual ocuparia o primeiro plano em
determinados momentos do estudo. Este recurso me ajudou bastante e parece ter tido
alguma repercussão entre os músicos quando apresentei o trabalho à classe.
Pode soar desimportante ou meramente formalista, mas penso que encontra-se
uma pista para a investigação de aspectos tridimensionais da música e outras
possíveis relações entre música e arquitetura.
!
191
Apêndice E
Primeiro texto sobre a relação entre arquitetura e música (dezembro de 2002)
1
Ao se abordar a música, está se tocando em algo que está muito próximo do
estudante de arquitetura, por se tratar de algo essencialmente humano. Não quem
“não goste” de música, sem entrar no mérito dos “gêneros”. A música é uma
unanimidade, pode-se assim dizer. E está em todos os lugares! Seja por sons ou
ritmos.
O som é algo que percebemos involuntariamente. Ouvir não é como ver, que
para não ver basta fechar os olhos. Os ruídos compõem o ritmo, seja ele ordenado ou
caótico. E tudo isso não é alheio a nós.
Em nossas atividades, somos produtores de sons e ruídos. Temos mais ou
menos controle sobre eles. A voz, por exemplo, ao falarmos, possui um timbre
característico, único até. Conscientemente, aliada ao ritmo da própria fala e aos ruídos
ritmados da dicção, a voz é um instrumento sonoro de que dispomos naturalmente.
Temos ainda o ritmo do caminhar, dos nossos gestos e, avançando, o próprio
ritmo de nossas atividades, o ritmo de nossos pequenos rituais _acordar, escovar os
dentes, trabalhar... Até dormirmos. Este depende de uma série de fatores também
externos a nós. Seria um “ritmo social” (Talvez haja um “ritmo natural” anterior ou
dentro deste, por exemplo, relacionado ao dia: claro e ativo e à noite: escura,
descanso)... para “viajar” nessa questão dos ritmos. Resumindo: o ritmo de uma
semana, que se repete ao longo do mês, que se repete ao longo do ano, que se repete
ao longo do tempo que transcorre entre nascimento e morte.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1
publicado no jornal 1:1000 em março de 2004
!
192
Falei até aqui da “música involuntária”. Existe a “música voluntária”,
consciente, daquele que se dispõe a tomar a música, ou o conjunto desses sons,
ruídos, ritmos, produzidos involuntariamente como objeto de estudo e como criação, a
partir daí. Então faz sentido haver instrumentos musicais. Observa-se que do meio de
ruídos aleatórios é possível se extraírem sons puros. Os instrumentos musicais são a
forma mais acabada de consegui-los, de busca-los, melhor dizendo. A perseguição da
perfeição nada mais é que a busca pelo som puro, livre dos ruídos que não sejam
aqueles que caracterizam o timbre do instrumento explorado.
Inicia-se um caminho de investigação da realidade através do que se escuta.
A partir dela, é possível que se CONSTRUA conscientemente um produto, utilizando-
se dos instrumentos musicais e suas potencialidades. E os sons do cotidiano, em
partes, deixam de ser música, que a música passa a ser o fruto de um trabalho de
criação consciente e um objeto de estudo, não mais um produto do acaso. O acaso por
si não produz música enquanto algum ser humano não identificar nele e dele extrair
algo que soe como tal.
Assim parece que toda “ciência”, todo estudo, possui uma “natureza”
interdisciplinar. O fato de se recorrer a uma cobrança para que ela exista indica que
ela se perdeu e que o estudo, assim, não possui “essência”. Em vez de brigarmos por
interdisciplinaridade, devemos saber enxerga-las nas coisas, sem perde-la de vista.
A aproximação entre arquitetura e música se dá exatamente no ponto de
convergência, quando se reconhecem ambas como fruto da CRIAÇÃO E
CONSTRUÇÃO HUMANAS, por mais que elas tenham valores utilitários bastante
distintos. Certamente, tendo isso desenvolvido até aqui, tenho um ponto de partida
para pensar uma série de implicações da demonstração da proximidade entre música e
arquitetura.
!
193
Anexo A
Disciplinas obrigatórias das Graduações em música e arquitetura e urbanismo da
USP
Curso de Graduação em Música – ECA-USP - Disciplinas Obrigatórias
1º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CCA0279
Fundamentos da Expressão e Comunicação Humanas
4
0
60
CMU0230
Harmonia I
3
0
45
CMU0260
Piano Complementar I
1
0
15
10
CMU0272
Instrumento I
1
0
15
CMU0306
Contraponto I
3
0
45
CMU0347
História da Música I
2
0
30
CMU0402
Canto I
1
0
15
CMU0430
Canto Coral I
4
0
60
30
CMU0452
História da Ópera I
2
0
30
CMU0512
Percepção Musical I
2
2
90
20
Subtotal:
23
2
405
60
2º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CMU0231
Harmonia II
3
0
45
CMU0261
Piano Complementar II
1
0
15
10
CMU0307
Contraponto II
3
0
45
CMU0349
História da Música II
2
0
30
CMU0431
Canto Coral II
4
0
60
30
CMU0509
Introdução aos Estudos de Repertório Coral
2
2
90
CMU0513
Percepção Musical II
2
2
90
20
CMU0542
Fundamentos da Educação Musical
2
2
90
Subtotal:
19
6
465
60
3º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CMU0232
Harmonia III
3
0
45
CMU0350
História da Música III
2
0
30
CMU0432
Canto Coral III
4
0
60
30
CMU0514
Percepção Musical III
2
2
90
CMU0520
História do Repertório Coral: Criação, Interpretação e
Recepção
2
2
90
CMU0529
Fundamentos da Acústica Musical I
2
0
30
CMU0543
Tendências Pedagógicas na Educação Musical I
2
0
30
CMU0582
Atividades Acadêmico-Científico-Culturais I
1
1
45
45
Subtotal:
18
5
420
30
4º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CMU0233
Harmonia IV
3
0
45
CMU0351
História da Música IV
2
0
30
CMU0433
Canto Coral IV
4
0
60
30
CMU0515
Percepção Musical IV
2
2
90
CMU0521
Repertório Coral Através das Formas Fundamentais
2
2
90
!
194
CMU0544
Música na Educação Infantil
2
2
90
CMU0583
Atividades Acadêmico-Científico-Culturais II
1
1
45
45
CMU0657
Tendências Pedagógicas em Educação Musical II
2
0
30
Subtotal:
18
7
480
30
5º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CMU0326
Metodologia de Ensino de Música com Estágio Supervisionado
I
4
5
210
170
CMU0366
Análise Musical I
3
2
105
CMU0389
Grupo de Percussão I
2
0
30
20
CMU0440
Introdução à Regência Coral I
4
6
240
60
CMU0516
Percepção Musical V
2
2
90
CMU0522
Repertório Coral e Literatura: Escolhas Poéticas, Fontes
Literárias e Tradições Textuais
2
2
90
CMU0584
Atividades Acadêmico-Científico-Culturais III
1
1
45
45
EDM0402
Didática
4
0
60
0
20
Subtotal:
22
18
870
170
100
6º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CMU0327
Metodologia de Ensino de Música com Estágio Supervisionado
II
4
5
210
170
CMU0367
Análise Musical II
3
2
105
CMU0441
Introdução à Regência Coral II
4
6
240
60
CMU0517
Percepção Musical VI
2
2
90
CMU0585
Atividades Acadêmico-Científico-Culturais IV
1
1
45
45
CMU0658
Percussão Aplicada
2
0
30
20
EDA0463
Política e Organização da Educação Básica no Brasil
4
0
60
0
20
Subtotal:
20
16
780
170
100
7º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CMU0322
Música Brasileira I
2
0
30
CMU0442
Regência Coral I
4
6
240
60
CMU0510
Análise Musical III
3
2
105
CMU0545
Performance, ação educativa e sociedade
2
4
150
CMU0546
Análise e Produção de Materiais Didáticos I
2
4
150
CMU0586
Atividades Acadêmico-Científico-Culturais V
1
1
45
45
Subtotal:
14
17
720
60
8º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
CMU0301
Trabalho de Conclusão de Curso
0
3
90
CMU0323
Música Brasileira II
2
0
30
CMU0388
Folclore Brasileiro: Etnomusicologia
4
0
60
CMU0443
Regência Coral II
4
6
240
60
Subtotal:
10
9
420
60
!
!
!
195
Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo – FAU-USP - Disciplinas Obrigatórias
1º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
AUH0150
História e Teorias da Arquitetura I
4
0
60
AUH0308
História da Arte I
4
0
60
AUP0608
Fundamentos de Projeto
16
2
30
0
AUT0182
Construção do Edifício 1
4
0
60
AUT0258
Conforto Ambiental 1 -
Fundamentos
2
1
60
0
AUT0510
Geometria Aplicada à Produção
Arquitetônica
2
0
30
0
PCC0201
Geometria Descritiva
2
0
30
Subtotal:
34
3
60
0
2º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
AUH0152
História e Teorias da Arquitetura II
4
0
60
AUH0514
Fundamentos Sociais da Arquitetura
e Urbanismo I
4
0
60
AUP0146
Arquitetura - Projeto II
4
0
60
AUP0332
Comunicação Visual - Linguagens
8
1
15
0
AUP0650
Arquitetura da Paisagem
8
1
15
0
AUT0184
Construção do Edifício 2
4
0
60
AUT0260
Conforto Ambiental 2 - Ergonomia
2
0
30
0
AUT0512
Desenho Arquitetônico
2
0
30
0
PTR0101
Topografia
4
0
60
Subtotal:
40
2
66
0
3º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
AUH0154
História e Teorias da Arquitetura III
4
0
60
AUH0516
Fundamentos Sociais da Arquitetura
e Urbanismo II
4
0
60
AUP0148
Arquitetura - Projeto III
4
1
90
AUP0266
Planejamento de Estruturas
Urbanas
8
1
15
0
AUP0652
Planejamento da Paisagem
8
1
15
0
AUT0186
Construção do Edifício 3
4
0
60
AUT0514
Computação Gráfica
2
2
90
0
MAT0141
Cálculo
4
2
12
0
PHD0313
Instalações e Equipamentos
Hidráulicos I
4
0
60
Subtotal:
42
7
84
0
4º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
AUH0236
Estudos de Urbanização I
4
0
60
AUH0310
História da Arte II
2
0
30
AUP0268
Planejamento de Estruturas
Urbanas e Regionais I
4
0
60
AUP0334
Comunicação Visual do Edifício e da
Cidade
8
1
15
0
AUP0334
Comunicação Visual do Edifício e da
Cidade
8
1
15
0
!
196
AUP0446
Design do Objeto
8
1
15
0
AUT0188
Construção do Edifício 4
4
0
60
AUT0262
Conforto Ambiental 3 - Iluminação
4
1
90
0
Subtotal:
34
3
60
0
5º Período Ideal
Créd.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
AUH0238
Estudos da Urbanização II
4
0
60
AUH0412
Técnicas Retrospectivas. Estudo e
Preservação dos Bens Culturais.
4
0
60
AUP0150
Arquitetura - Projeto V
8
1
15
0
AUP0270
Planejamento de Estruturas
Urbanas e Regionais II
4
1
90
AUP0448
Arquitetura e Indústria
8
1
15
0
AUT0190
Construção do Edifício 5
2
0
30
AUT0516
Estatística Aplicada
2
0
30
0
PEF0522
Mecânica dos Solos e Fundações
4
0
60
PEF2601
Estruturas na Arquitetura I:
Fundamentos
4
0
60
MAT0141 - Cálculo
Requisito
Subtotal:
40
3
69
0
6º Período Ideal
Cré
d.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
AUH0240
História do Urbanismo
Contemporâneo
4
0
60
AUP0152
Arquitetura - Projeto VI
8
1
15
0
AUP0272
Organização Urbano e
Planejamento
8
1
15
0
AUT0192
Infra-estrutura Urbana e Meio
Ambiente
4
0
60
AUT0264
Conforto Ambiental 4 - Térmica
2
1
60
0
AUT0266
Conforto Ambiental 5 - Acústica
2
1
60
0
PEF2602
Estruturas na Arquitetura I I:
Sistemas Reticulados
4
0
60
Subtotal:
32
4
60
0
7º Período Ideal
Cré
d.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
AUH0156
História e Teorias da Arquitetura IV
4
0
60
AUP0154
Arquitetura - Projeto VII
8
1
15
0
AUP0274
Desenho Urbano e Projeto dos
Espaços da Cidade
8
1
15
0
AUT0268
Conforto Ambiental 6 - Integradas
4
1
90
0
AUT0518
Projeto dos Custos
4
0
60
0
PEF2603
Estruturas na Arquitetura III:
Sistemas Reticulados e Laminares
4
0
60
Subtotal:
32
3
57
0
8º Período Ideal
Cré
d.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
PEF2604
Estruturas na Arquitetura I V:
Projeto
4
0
60
Subtotal:
4
0
60
!
197
!
9º Período Ideal
Cré
d.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
1601101
Trabalho Final de Graduação I
4
2
12
0
AUT0520
Prática Profissional e Organização
do Trabalho
2
0
30
0
Subtotal:
6
2
15
0
10º Período Ideal
Cré
d.
Aula
Créd.
Trab.
CH
CE
CP
AACA
1601102
Trabalho Final de Graduação II
4
2
12
0
Subtotal:
4
2
12
0
!
198
Anexo B
Lista de Plantas consultadas (acervo FAU-USP)
FL 01 – “Terrenos adquiridos pela COPAN ao Conde Silvio Alvares Penteado”
FL 02 – Situação
FL 03 – Distribuição dos Corpos no edifício
FL 04 – Primeiro Subsolo: Corpo 3
FL 05 – Primeiro Subsolo
FL 06 – Primeiro Subsolo
FL 07 – Segundo Subsolo
FL 08 – Segundo Subsolo
FL 09 – Garagem do Segundo Subsolo
FL 10 – Térreo
FL 11 – Sobreloja
FL 12 – Sobrelojas
FL 13 – Terraço (sem título)
FL 14 – Sobreloja (parcial)
FL 15 – Andar tipo
FL 16 – Andar tipo
FL 17 – Andar tipo
FL 18 – Andar tipo
FL 19 – Andar tipo
FL 20 – Plantas Bloco “E”
FL 21 – Plantas do Bloco “F”
!
199
FL 22 – Situação, no edifício, dos blocos a serem modificados
FL 23 – Foyer
FL 24 – Terraço
FL 25 – Cobertura do terraço
FL 26 – Cobertura
FL 27 – Cobertura
FL 28 – Cortes
FL 29 – Corte longitudinal B-B
FL 30 – Corte longitudinal
FL 31 – Corte Longitudinal
FL 32 – Corte Transversal
FL 33 – Corte transversal A-A
FL 34 – Fachada
FL 35 – “Vazio do primeiro Subsolo” (sem título)
FL 36 – Casa do Aux. do Zelador: Corpo 1
FL 37 – Casa de Máquinas e Cx. D’água: Corpo 4
FL 38 – Parte inferior da Cx. D’água e da C. Maq.: Corpo 4
FL 39 – “Caixão Número 6”
FL 40 – “Caixão Número 6”
FL 41 – “Caixão número 24”
FL 42 – Planta: Andar Tipo do 1º ao 12º (Arquiteto Walter Galvão)
FL 43 – Planta: Andar Tipo do 13º ao 32º (Arquiteto Walter Galvão)
FL 44 – Planta Pavimento Térreo (Arquiteto Walter Galvão)
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