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Experiências outras se seguiram – inclusive com outras crianças – e me
inquietaram em relação à freqüência dos relatos referentes aos contos de fadas nos
discursos das crianças no consultório, e que assim, alertaram-me para uma análise
mais aprofundada acerca desse tema, e sobre a repercussão dessas narrativas no
sujeito. Um estudo que ligasse o conceito e as características do mito, e que fosse,
então, articulado com a narrativa que veio a ser chamada de contos de fadas, no século
XVII, fez-se necessário. O mito parece funcionar como uma espécie de esteio desse
gênero literário. Desse modo, foi utilizado nesse trabalho, alguns autores consagrados
da antropologia, da mitologia e do folclorismo, como Lévi-Strauss, Mircea Eliade,
Wladimir Propp, Jan de Vries, entre outros. Esse tema, nessa dissertação, constituirá
todo primeiro capítulo intitulado de “Mitos, contos de fadas e ficção”, que, em parte,
fundamentará, posteriormente, a clínica.
Antes de discorrer mais detidamente sobre as questões da clínica, um outro
tema também foi problematizado, e que, de certa forma, já introduz o saber
psicanalítico. Alguns conceitos, aparentemente, elementares, como os de literatura, de
narrativas orais e escritas - as palavras faladas e as palavras escritas – se fizeram
importantes, também, nessa dissertação e impuseram, grosso modo, um melhor
desenvolvimento conceitual. E, tocar em temas que envolvem a palavra, a fala, enfim, a
narrativa, sem trazer alguns elementos introdutórios da lingüística, faria desse capítulo
seguinte, o segundo capítulo, por deveras, incompleto. Nele também serão enfocados
os aspectos lingüísticos abordados na psicanálise, principalmente, nos conceitos
estabelecidos pela escola de Jacques Lacan. Para fundamentar esse capítulo, intitulado
de “Literatura, narrativa e Psicanálise”, autores como Cecília Meireles, Benjamim,
Massaud, Brockmeier e Harré, Février, Ivan Corrêa, Gandulla e, obviamente, Freud, se
fizeram essenciais.
Por fim, no terceiro capítulo que foi intitulado de “Contos de fadas e elementos da
Psicanálise com criança”, discorreu-se sobre a clínica, destacando duas vertentes
conceituais. A primeira vertente que realça a repetição, a compulsão à repetição, a
transferência e seu manejo, que serão, conceitualmente, pormenorizadas e articuladas
com pequenos fragmentos ilustrativos de falas de alguns casos clínicos. Na segunda
vertente, faz-se uma descrição do conceito da Aufhebung Freudiana, descoberto por