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depois de dois anos que a menina faleceu eu tive André, o pai dele tava desempregado, mas
ele disse: ”não, a gente dá um jeito, tudinho”. Aí tudo bem.
P – Vocês planejaram essa gravidez?
E - Não, mas depois a gente quis, né? Lógico. Mas, também aconteceu muita
coisa boa, Antônio começou a trabalhar. Aí pronto, eu tive ele, foi muito bom quando eu tive
ele. Mas depois que.... aí, depois começou as brigas entre eu e o pai dele, era muita briga
mesmo, briga mesmo de ir as tapas mesmo eu e ele. Aí, a gente viu que num dava mais certo,
só que ele não queria me deixar, disse que num ia me deixar assim, disse que se me deixasse
ia levar o menino, aí eu disse que não. Ele chegava a bater em mim mesmo. Eu tive que ir na
casa da minha ex-sogra conversar com ela, pra ela conversar com ele, pra gente se separar
numa boa. Aí, meu pai, que agora já é falecido, disse: “eu vou levar você pra São Paulo,
quando chegar lá você arruma um emprego, aí se organiza”. Só que ele pensava que ia ser
bom pra mim, mas... não foi, porque eu fiquei longe de André, eu ia levar ele, mas depois foi
descoberto, o pai dele soube.
P – A senhora ia levar André para São Paulo?
E - Eu ia levar André comigo, num levei porque o pai dele disse que não, que não
ia deixar, tá entendendo? Aí, no caso, eu ia tá levando ele escondido. Aí, quando ele
descobriu, ele disse que eu não ia levar. Aí, teve uma vez que ele foi roubou o menino de mim
de madrugada, a gente morava num barraquinho de tábua, ele foi roubou o menino de mim, eu
fui pro juiz, foi a maior confusão na minha vida. Ele já tinha dois anos quando eu e o pai se
separou. Aííííííí (fala mais alto), eu fui passar uns tempo em São Paulo, ele ficou uns dias com
mãe, mas depois o pai dele - a família, né? - ficou sabendo que eu tinha ido embora, e levou
André pra morar com ele. De dois anos até agora ele mora com a tia dele Ana, irmã de
Antônio. Aí eu fui trabalhar lá, mas só que eu pensei que ia ser uma coisa, mas foi outra
diferente.
Aí, quando eu voltei pra cá, eu fui logo lá vê André, tudinho. E eu sei que André,
ele é meio revoltado...
Aííí (fala mais alto), quando eu voltei, eu ia buscar, ele passava o fim de semana.
P – Quanto tempo a senhora passou em São Paulo?
E - Três anos. Aí eu ia pegar ele, aí ficava o final de semana com ele. O pai dele
nunca queria que eu passasse mais tempo com ele, assim... uma semana, ele num queria, só
final de semana. Aí, eu ia pegar e ia levar, ia pegar e ia levar.
Quando teve a formatura de ABC de André, eu já tava aqui, só que ninguém me
avisou que ia ser a formatura, quer dizer, me avisaram, só que não disseram assim... vai ser tal
dia, aí eu não sabia, aí eu não fui, aí quando eu soube já tinha tido.
Aí, a tia dele disse pra mim que deu uma crise de choro nele, porque ele viu as
mães todinhas lá e num me viu.
Ele sempre falou: “eu queria que minha mãe e meu pai ficassem juntos”. Aí, eu
acho que ele tinha essa revolta, e do jeito que ele tem crise de choro lá - quando ele tá lá -
quando ele ia pra mim ele também dava. Uma vez a gente fez o aniversário dele de nove anos,
todo mundo lá animado tudinho, fiz tudo direitinho, fiz um bolinho, fiz os pratinhos, André
não quis saber de nada, deu uma crise de choro nele, ele chorava e brabo, brabo. Minha mãe
pegava ele, todo mundo acalentava ele, e ele não queria. E, até hoje, eu não sei porque foi
aquela crise de choro. E eu pergunto a ele, e ele não me responde.
P – Como é sua relação com André?
E -
Eu me sinto mal. Porque eu acho que ele é muito assim... afastado. Eu num
sou muito, num converso muito com ele. Só que assim... eu gosto demais, tá entendendo? Só
que na época, quando ele veio morar comigo, ele ficou mais solto, porque não tinha ninguém
pra ficar prendendo ele. Porque, quando ele tava com quinze anos, ele queria porque queria
voltar pra ficar comigo. Aí, eu disse que tudo bem, porque eu queria, mas só que no fundo, no