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capitais recebendo a maior parte de recursos governamentais para provê-las de infra-
estrutura. A industrialização e as condições tecnológicas da produção concentraram os
instrumentos, a energia e a mão de obra nestes centros (principalmente São Paulo e Rio
de Janeiro), e atraíram grandes correntes migratórias provenientes de regiões, onde
havia escassez de infra-estrutura para a produção e, consequentemente, de empregos
(um exemplo são as correntes migratórias que vinham do nordeste com destino a São
Paulo e Rio de Janeiro). LODDER (1978).
Na virada do milênio o Brasil se apresentava com 81,2% da população vivendo
nas cidades - segundo o IBGE (2000) - sem, contudo, ter ampliado a oferta de infra-
estrutura para acomodar a numerosa população carente, que ao longo do tempo buscou
oportunidades melhores junto aos grandes centros urbanos. A ineficácia ou até a falta de
políticas públicas para proporcionar condições melhores para esta população fez surgir
as periferias carentes. As periferias das cidades grandes e médias se tornaram locais
desprovidos de serviços básicos e condições dignas de moradias: favelas, invasões,
violência, degradação ambiental, falta de oportunidades, falta de água, luz, esgoto e
acessibilidade têm sido o diagnóstico destes lugares. Nas cidades brasileiras pode-se
perceber claramente a segregação dos mais humildes, para quem o poder público
sempre reservou as piores localizações na cidade.
O poder público optou por investir em infra-estrutura para a produção industrial
de massa e no setor terciário. Suas políticas e sua legislação sempre foram voltadas à
cidade legal
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, feita para as classes mais favorecidas, e por outro lado, constatou-se o
desprezo pela parte chamada de cidade real
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, que trata da realidade de milhares de
pessoas que se encontram à margem das ações do Estado. As práticas arcaicas de gestão
urbana resultaram em baixa oferta de serviços públicos com a qualidade esperada.
Degradação ambiental, sérios problemas de transporte e circulação viária, além dos
inúmeros problemas fundiários e a falta de moradia adequada, tudo isso contribui para o
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Cidade legal é um termo utilizado por Raquel Rolnik para se referir à parte da cidade onde existe infra-
estrutura adequada, onde as leis urbanísticas são cobradas pela prefeitura e respeitadas pelos moradores e
as residências possuem escritura pública, registrada em cartório como manda o Código Civil.
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Cidade real é uma expressão utilizada por Raquel Rolnik para se referir às desigualdades presentes nas
cidades brasileiras, onde se pode observar que em parte da cidade existe urbanização adequada, serviços e
benfeitorias, as leis urbanísticas são aplicadas e fiscalizadas e as camadas sociais que a habitam podem
pagar o preço de um edifício – comercial ou residencial – devidamente regularizado perante a lei, por
outro lado, a outra parte – geralmente a periferia – convive com a falta de serviços públicos, de infra-
estrutura urbana, de locais para lazer e problemas ambientais. Nesta parcela da cidade, as autoridades
municipais raramente cobram dos habitantes o rigor da legislação urbanística, e, é comum a existência de
terrenos “grilados” em situação de posse, sem escritura e com diversas outras irregularidades que trazem
insegurança para a população. Este contraste muitas vezes ignorado pelo Poder Municipal, é o que vem
sendo chamado de cidade real.