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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO
COMPORTAMENTO
Reversões Repetidas de Discriminações Simples e Formação de
Classes Funcionais em Animais
T
HIAGO
D
IAS
C
OSTA
Belém, Pará
2008
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO
COMPORTAMENTO
Reversões Repetidas de Discriminações Simples e Formação de Classes Funcionais
em Animais
T
HIAGO
D
IAS
C
OSTA
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Teoria e Pesquisa do Comportamento (área de
Concentração: Psicologia Experimental) como parte
dos requisitos para a obtenção do grau de Doutor.
Orientador: Prof. Dr. Romariz da Silva Barros
Belém, Pará
2008
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iii
Este trabalho foi subvencionado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior,
através de bolsa de doutorado ao autor.
iv
Dedico este trabalho
A Katarina, minha esposa, por todo o amor, compreensão, carinho e por ter me
dado o privilégio de compartilhar a sua vida comigo.
A minha mãe, modelo de persistência, trabalho e inteligência que me fez chegar
onde estou. Obrigado por tudo Mãe.
Ao meu irmão André, grande orgulho da família.
Ao meu irmão Paulo, grande futuro da família.
Aos meus padrinhos, pelo suporte e exemplos de vida.
v
Agradeço a
Romariz Barros, mestre e amigo, pela paciência e pela orientação que fizeram de
mim um verdadeiro pesquisador e um ser humano melhor.
Olavo Galvão, pela amizade e pelos direcionamentos precisos em momentos
essenciais.
A Deisy e Júlio por todo o suporte e atenção despedida nestes últimos anos e por
terem me iniciado no caminho da Ciência.
A Maria de Jesus, pela amizade e orientação nos meus últimos anos São Carlenses.
Ao Didi, Patricia e Aline por toda a ajuda na coleta de dados.
Aos meus amigos Paulos, Delage e Goulart, pela companhia, pelo suporte e pela
ajuda nestes últimos quatro anos.
Aos meus amigos baianos Leo e Deman, pelas boas conversas, boas risadas e
ótimas histórias.
Aos meus queridos e saudosos amigos da UFSCar, Aninha, Camila, Vicente, Beto,
Erik e Aline pela mais pura e verdadeira amizade.
Aos queridos amigos da Escola Experimental de Primatas, Glauci, Juju, Miguel,
Rubi, Dilon e todos os outros que faziam meu dia mais rico.
Às minhas amigas Aline, Amanda, Gislaine, Liane, Mariana e Nilzabeth por terem
feito parte da minha vida.
A todas as pessoas que, diretamente ou indiretamente, foram responsáveis por este
momento.
vi
ÍNDICE
RESUMO .................................................................................................................................ix
ABSTRACT .............................................................................................................................. x
INTRODUÇÃO............................................................................................................. .......01
EXPERIMENTO I................................................................................................................... 16
MÉTODO......................................................................................................................... 20
Sujeitos.......................................................................................................................... 20
Equipamento ................................................................................................................. 21
Estímulos ...................................................................................................................... 22
Procedimento ................................................................................................................ 24
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 34
EXPERIMENTO II ................................................................................................................. 53
MÉTODO......................................................................................................................... 55
Sujeito ........................................................................................................................... 55
Equipamento ................................................................................................................. 55
Estímulos ...................................................................................................................... 55
Procedimento ................................................................................................................ 56
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 58
DISCUSSÃO GERAL............................................................................................................. 66
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 73
ANEXO 1 ................................................................................................................................ 81
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Equipamento de coleta do Experimento I ....................................................... ...23
Figura 2. Desempenho do sujeito Adam (M18) durante o treino de repetidas reversões de
discriminação simples simultânea com quatro escolhas ....................................................37
Figura 3. Desempenho do sujeito Tico (M25) durante o treino de repetidas reversões de
discriminação simples simultânea com quatro escolhas.....................................................39
Figura 4. Desempenho do sujeito M18 nas sessões de repetidas reversões de discriminação
simples simultâneas com seis escolhas...............................................................................41
Figura 5. Desempenho do sujeito M23 nas sessões de repetidas reversões de discriminação
simples simultâneas com seis escolhas...............................................................................45
Figura 6. Respostas do sujeito Adam (M18) na sessão anterior a reversão, durante a
reversão com quatro escolhas e nas tentativas de teste com os seis estímulos...................48
Figura 7. Respostas do sujeito Tico (M23) na sessão anterior a reversão, durante a reversão
com quatro escolhas e nas tentativas de teste com os seis estímulos..................................50
Figura 8. Desempenho do sujeito M18 nas sessões de repetidas reversões de discriminação
simples simultâneas com seis escolhas................................................................................61
Figura 9. Respostas do sujeito Adam (M18) na sessão anterior a reversão, durante a
reversão com quatro escolhas e nas tentativas de teste com os seis estímulos....................65
viii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Contingências em vigor e posição de cada estímulo durante as três fases do
experimento..........................................................................................................................27
Tabela 2. Contingências em vigor e posição dos estímulos durante Testes A1, B1 e C1....33
Tabela 3. Número de sessões realizadas e número de tentativas processadas (nesta ordem)
até obtenção do critério de precisão do desempenho em cada etapa do treino de
discriminação simples com duas escolhas............................................................................35
Tabela 4. Contingências em vigor e posição dos estímulos durante Testes A1, B1 e C1....58
ix
Costa, Thiago Dias (2008). Reversões Repetidas de Discriminações Simples e Formação
de Classes Funcionais em Animais. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em
Teoria e Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará. Belém, Pará. 85
pp.81
RESUMO
Aspectos metodológicos podem ser direta ou indiretamente responsáveis pela diferença
entre dados obtidos com sujeitos não-humanos e participantes humanos quando submetidos
a estudos sobre a formação de classes. O presente trabalho investigou o efeito do uso de
reversões repetidas de discriminações simples na aquisição de comportamentos
condizentes com a formação de classes funcionais de estímulos com Cebus apella em
cativeiro. No Experimento I, dois macacos-prego foram submetidos a treino de repetidas
reversões de discriminações simples simultâneas com seis pares de estímulos visuais em
um contexto de forrageamento. Respostas nos estímulos (caixas de madeira de cores
diferentes) designados como S+ eram consequenciadas por achar comida em seu interior.
Um tipo diferente de comida para cada uma das duas classes potenciais de estímulos foi
usado como reforço. Testes de formação de classes funcionais foram efetuados ao fim de
repetidas reversões: Os testes consistiram na reversão de contingência para quatro (dois de
cada classe potencial) dos seis estímulos (com os dois estímulos remanescentes ausentes) e
reinserção dos estímulos ausentes após precisão de desempenho na reversão. A primeira
escolha dos sujeitos frente ao par de estímulos reintroduzido era analisada: se a resposta
fosse condizente com as contingências revertidas, então era considerada uma evidência de
formação de classes. ltiplos testes foram efetuados, cada vez com um par diferente de
estímulos sendo removido. Em todos os testes o desempenho foi o previsto pela formação
de classes de estímulos. No Experimento II, um dos sujeitos foi submetido a um treino
onde a posição dos estímulos era alterada diariamente e os reforços específicos foram
suspensos: um terceiro reforçador foi utilizado como conseqüência para ambos os grupos
de estímulos. Depois de mudanças sucessivas nas contingências entre os dois grupos de
estímulos, os mesmos testes descritos no Experimento I foram realizados. Nestes testes,
entretanto, a posição das caixas também era alterada diariamente. O desempenho do sujeito
nos testes também indica formação de classes.
Palavras-chave: discriminações simples, reversões, classes funcionais, Cebus apella.
x
Costa, Thiago Dias (2007). Simple Discrimination Reversals and Functional Classes
Formation in animals. Doctoral Dissertation. Programa de Pós-graduação em Teoria e
Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará. Belém, Pará. 81 pp.
ABSTRACT
Methodological aspects may be direct or indirectly responsible for the difference between
data obtained with non-human subjects and human participants when submitted to studies
on class formation. The present study investigated the effect of the use of repeated
reversals of simple discriminations on the acquisition of behavior compatible with
functional class formation with captive Cebus apella. In Experiment I, two capuchin
monkeys (Cebus apella) were given simultaneous simple discrimination training and
reversals with six pairs of visual stimuli in the context of foraging. Responses to the stimuli
(differently colored wooden boxes) assigned as S+ were reinforced with food available in
the boxes. One different kind of food for each potential stimulus class was used as
reinforcer. After repeated reversals in the contingencies between the two stimulus groups,
tests for functional class formation were carried out. Each test consisted of a contingency
reversal with four (two of each potential class) out of the six stimuli (with the remaining
two stimuli kept absent) and later reinsertion of the absent stimuli, after highly accurate
performance on the reversed discriminations. The first choice response to the reintroduced
pair of stimuli was analyzed: if this response was consistent with the reversed
contingencies, this was considered as an evidence of class formation. Multiple tests were
carried out, each time with one different stimulus pair being removed. Evidence of class
formation was found in all tests. In Experiment II, one of the subjects was given
simultaneous simple discrimination training with shifts of the stimulus positions between
sessions and class-specific reinforcer was removed: a third reinforcer was employed in
both classes. The same tests described in Experiment I were conducted but with shifts of
stimulus positions between sessions and no class-specific reinforcer. Evidence of class
formation was found, again, in all tests.
Key-words: simple discriminations, reversals, functional classes, Cebus apella.
1
Os estudos sobre formação de classes de estímulos têm possibilitado à Análise do
Comportamento criar e ampliar um espaço teórico no qual podem ser tratados conceitos
classicamente estudados por teóricos cognitivistas, quais sejam: formação de conceitos,
abstração, relação significado-significante, comportamento simbólico entre outros
(Barros, Galvão, Brino e Goulart, 2005; Sidman, 1994).
Um modelo comportamental descritivo da formação de classes de estímulos foi
proposto por Sidman e Tailby (1982). Para estes autores, as relações condicionais
treinadas de formas específicas no contexto do procedimento de “matching-to-sample”
(MTS), podem também ser relações de equivalência se apresentarem três propriedades
formais: (1) reflexividade (relações condicionais dos estímulos com eles mesmos); (2)
simetria (relações condicionais bidirecionais entre dois diferentes estímulos) e (3)
transitividade (relações condicionais entre diferentes estímulos relacionados a um ou
mais de um estímulo comum). Assim, quando um organismo aprende a selecionar um
estímulo comparação B, condicional à presença de um estímulo modelo A (relação AB)
ou A na presença de B (relação BA), e a selecionar outro estímulo de comparação (C),
condicionalmente à presença do estímulo modelo A (relação AC), ou A na presença de C
(relação CA), se as relações entre estímulos forem relações de equivalência, ele
selecionará B condicionalmente a C (relação CB) e C condicionalmente a B (relação BC),
sem qualquer treino adicional, o que será uma evidência direta da propriedade de
transitividade. Quando ocorre a demonstração das propriedades citadas anteriormente,
pelo modelo descritivo, diz-se que os estímulos A, B, e C tornaram-se equivalentes entre
si, no sentido de que são intercambiáveis, substituíveis no contexto de relações
condicionais ao modelo.
2
A despeito de a documentação de equivalência de estímulos ser vasta na literatura
com participantes humanos
(
de Rose, McIlvane, Dube, Galpin, & Stoddard, 1988;
Sidman, Kirk & Willson-Morris, 1985; Sidman & Tailby, 1982), tem sido difícil
documentar o mesmo fenômeno em sujeitos não humanos. Um dos relatos iniciais desta
dificuldade foi de Sidman, Rauzin, Lazar, Cunningham, Tailby e Carrigan (1982),
empregando procedimentos de discriminação condicional com macacos rhesus, babuinos
e crianças. Depois de tarefas de emparelhamento ao modelo com duas escolhas, os
sujeitos passaram por testes a fim de se verificar a emergência da propriedade de
simetria. A maioria das crianças passou nos testes, enquanto que nenhum dos macacos
(rhesus ou babuínos) apresentou o mesmo desempenho. Discutindo seus dados, os
autores concluíram que o procedimento utilizado no estudo poderia não ser o ideal para
ensinar este tipo de tarefa a sujeitos não-humanos. Aparentemente, o treino MTS é
eficiente para gerar um desempenho condizente com a tarefa, mas não garante que os
sujeitos sejam capazes de responder de acordo com as propriedades de equivalência
durante os testes.
D’Amato, Salmon, Loukas e Tomie (1985), em uma série de experimentos com
procedimentos de MTS, também não encontraram resultados convincentes em todos os
testes de propriedades emergentes de classes de estímulos em macaco-prego (Cebus
apella) e pombos. Ainda que os macacos tenham demonstrado transitividade em um dos
experimentos, nenhum dos animais (macacos e pombos) demonstrou simetria. Kuno,
Kitadate e Iwamoto (1994) documentaram transitividade em somente um de quatro
pombos.
3
Além dos testes de transitividade, resultados negativos em testes de simetria têm
sido descritos como os mais comuns em sujeitos não humanos (Lionello-DeNolf &
Urcuioli, 2002; Richards, 1988; Sidman et al., 1982).
De forma geral, testes de simetria e transitividade têm sido negativos em boa parte
da literatura da área com sujeitos não-humanos (Dugdale & Lowe, 2000; Lipkens, Kop,
& Matthijs, 1988; Richards, 1988).
Algo em comum na maioria destes trabalhos é a constatação de que a aprendizagem
de relações condicionais, como ocorre em humanos, não possibilita necessariamente
desempenhos condizentes às propriedades definidoras de classes equivalentes em sujeitos
não-humanos. Aparentemente, nestes trabalhos, somente relações “se... então” são
aprendidas. Isso não parece garantir, entretanto, que as relações condicionais
estabelecidas durante o treino apresentem as propriedades de simetria e transitividade.
Dube, McIlvane, Callahan e Stoddard (1993) afirmam que duas interpretações
possíveis para o freqüente sucesso na demonstração de equivalência com humanos e as
dificuldades em fazer o mesmo com não humanos. A primeira interpretação relaciona a
diferença de desempenho acima citada à diferenças qualitativas entre processos
comportamentais de humanos e não humanos. A equivalência, neste caso, requereria
associações ou redes neurais que seriam desenvolvidas somente no sistema nervoso
central humano.
A segunda interpretação relaciona a diferenças entre métodos, procedimentos e
testes que seriam inapropriados para estudar tal processo em sujeitos não humanos. Desta
forma, deve-se levar em conta, ao se desenvolver um procedimento apropriado, que a
4
equivalência envolve pré-requisitos comportamentais que humanos, mas não animais de
laboratório, possuem em sua história pré-experimental. Esta última interpretação favorece
a pesquisa analítico-comportamental sobre o assunto.
Na busca de procedimentos mais apropriados para documentar a formação de
classes de estímulos em sujeitos não-humanos, deve se considerar que a formação de
classes de estímulos não é, entretanto, um fenômeno restrito ao contexto de
discriminações condicionais. De fato, independentemente do procedimento empregado,
quando estímulos distintos controlam a mesma classe de respostas, afirma-se que eles
pertencem a uma mesma classe de estímulos. Tais estímulos seriam, assim,
intercambiáveis e substituíveis funcionalmente (Goldiamond, 1966). Desta forma, o
símbolo em forma de placa de trânsito com a palavra "PARE" e a luz vermelha presente
em um semáforo poderiam ser considerados estímulos membros de uma mesma classe,
na medida em que eles estariam controlando, no motorista experiente, uma mesma classe
de respostas: ações que levem à parada do veículo no cruzamento onde os estímulos são
apresentados.
A formação de classes de estímulos também pode ser observada em procedimentos
de discriminação simples (de Rose, et al., 1988; Sidman, Wynne, Maguire, & Barnes,
1989; Vaughan, 1988); em procedimentos empregando responder seqüencial (Green,
Sigurdardottir, & Saunders, 1991); em tarefas de categorização (Schaeffer & Ellis, 1970);
e equivalência adquirida (Honey & Hall, 1988, Urcuioli & Lionello-DeNolf, 2005). Além
disso, outros trabalhos (por exemplo Manabe, Kawashima, & Staddon, 1995; Savage-
Rumbaugh, 1984) sugerem possíveis relações emergentes sem, contudo, permitir testar as
propriedades de equivalência nos termos propostos por Sidman e Tailby (1982).
5
Dada a importância da questão, muitos têm sido os esforços para a demonstração de
equivalência de estímulos em sujeitos não humanos. O objetivo principal da maioria
desses estudos, nos últimos anos, tem sido identificar e descrever aspectos metodológicos
que possam ser, direta ou indiretamente, responsáveis pelas diferenças de resultados
encontradas entre espécies, antes que se possa afirmar categoricamente que existiriam
diferenças intransponíveis entre o desempenho humano e o de outros animais, que
tornariam impossível a formação de classes de estímulos por estes últimos.
Através de adaptações do procedimento tradicional de MTS, evidências de
equivalência de estímulos têm sido descritas em três diferentes espécies não-humanas
(Frank & Wasserman 2005, com pombos; Kastak, Schusterman, & Kastak, 2001;
Schusterman & Kastak, 1993, com leões marinhos; Manabe, et al., 1995, com periquitos).
De forma geral, as principais semelhanças metodológicas encontradas nestes trabalhos
foram a quantidade de treino empregado, a maneira de inserção de estímulos novos em
testes e, com exceção de Schusterman e Kastak (1993), a utilização de outros testes de
emergência que não os das propriedades definidoras no formato proposto por Sidman e
Tailby (1982).
Schusterman e Kastak (1993) publicaram dados positivos em testes de propriedades
emergentes de equivalência com um leão-marinho em tarefas de pareamento ao modelo.
Os autores submeteram o sujeito a um treino extenso de relações condicionais AB com
30 pares de estímulos. Em seguida, foram realizados testes de simetria BA utilizando 12
desses 30 pares de estímulos. Como não foram encontradas evidências de simetria, foi
efetuado treino das relações simétricas. Então as relações condicionais BC foram
treinadas e testes de simetria CB foram realizados. Nesse caso, foram encontradas fortes
6
evidências de simetria. Então testes de transitividade AC e simetria da transitividade CA
foram efetuados com resultados positivos. Por fim, Testes de equivalência com os 18
pares de estímulo remanescentes (dos 30) foram efetuados. Os autores argumentam que o
treino inicial com relações de simetria explicitamente reforçadas poderia ter facilitado o
desempenho do sujeito em tarefas subseqüentes com novos estímulos.
Um exemplo da constatação de formação de classes de estímulos com o emprego
de procedimentos que não permitem a execução de testes padrão de emergência é o
trabalho de Manabe, et al. (1995). Três periquitos foram, em um primeiro experimento,
submetidos a um treino de emissão de uma vocalização de freqüência alta na presença de
um determinado estímulo colorido (e.g. na presença de um estímulo colorido C1, emitir
“chamado C1”) e a emitir uma vocalização de freqüência baixa na presença de um
estímulo de outra cor (se C2, então “chamado C2”). Em um segundo experimento, os
sujeitos eram submetidos a um procedimento de MTS onde os modelos eram formas
geométricas (F1 e F2) e as comparações eram os estímulos coloridos C1 e C2. Quando
um dos modelos era apresentado, o sujeito devia emitir qualquer vocalização para que as
comparações surgissem. Assim, dado F1, o sujeito deveria emitir uma vocalização para
produzir C1 e C2. Bicar em C1, neste caso, era reforçado.
Ainda que nenhum tipo específico de chamado fosse exigido para produzir as
comparações depois que o modelo era apresentado, dois pássaros, na medida em que
foram adquirindo as relações condicionais entre os estímulos visuais, passaram a emitir o
“chamado C1” na presença de F1 e o “chamado C2” na presença de F2.
7
Em um terceiro experimento, foram utilizados dois dos três sujeitos experimentais,
incluindo o animal que havia falhado na tarefa de pareamento cor/forma. A tarefa
consistia em emitir, na presença de C1, o “chamado C1” e na presença de C2 o “chamado
C2” para produzir duas novas comparações (F3 e F4). Após a aprendizagem das
discriminações C1-F3 e C2-F4, os sujeitos foram submetidos a um treino de pareamento
por identidade. Na presença dos estímulos modelo F3 e F4, qualquer vocalização
produzia as comparações F3 e F4. Responder no estímulo comparação F3 dado o modelo
F3 era reforçado e vice-versa. Os resultados mostraram que ambos os animais emitiam o
“chamado C1” diante ao modelo F3 e o “chamado C2” na presença de F4.
Mesmo que os dados apontem para uma clara demonstração de desempenhos
vocais emergentes, com estímulos arbitraria e indiretamente relacionados se tornando
substituíveis no controle das respostas vocais, nenhum teste de emergência das
propriedades definidoras de classes de estímulos equivalentes nos termos propostos por
Sidman e Tailby (1982) foi conduzido. De qualquer forma, os resultados demonstram
duas classes de respostas (vocalizações) sendo controladas por estímulos muito distintos
entre si (formas e cores).
Adicionalmente, Frank e Wasserman (2005) encontraram fortes evidências de
simetria em um estudo com pombos usando o procedimento de MTS sucessivo (go/no-
go). Em um primeiro experimento, relações condicionais arbitrárias AB foram treinadas
junto com relações condicionais por identidade AA e BB. Testes de simetria
subseqüentes encontraram fortes evidências da propriedade. No experimento seguinte, o
pareamento arbitrário AB foi treinado na ausência de pareamento por identidade e
nenhuma evidência de simetria foi encontrada em testes subseqüentes. Num terceiro
8
experimento, o pareamento arbitrário foi inicialmente feito na ausência de pareamento
por identidade e, como os testes de simetria replicaram os resultados do experimento
anterior, foi efetuado o treino MTS por identidade junto com a retomada do pareamento
arbitrário AB. Quando os testes de simetria foram refeitos, foram encontradas evidências
de simetria para um dos dois sujeitos. O estudo sugere que o treino de MTS por
identidade junto com o MTS arbitrário parece favorecer a obtenção de simetria, mas
ainda não há clareza, em termos de controle de estímulos, sobre como um repertório pode
interferir no outro.
Barros (1998) afirma que a definição formal de equivalência proposta por Sidman e
Tailby (1982) permitiu que grande parte da imensa massa de dados produzidos nos anos
subseqüentes fosse bastante comparável entre si, mas foi um tanto restritiva. De fato, uma
vez que o modelo descritivo vigente se baseava na verificação das propriedades de
equivalência através do emprego de procedimentos de MTS, nem todos os estudos acima
descritos podiam ser enquadrados naquela definição. Ainda na década de 80, Lipkens et
al. (1988) já sugerem a utilização de outros procedimentos além do MTS para o estudo de
formação de classes de estímulos em animais.
Vaugham (1988) foi o primeiro a discutir o estudo de formação de classes de
estímulos equivalentes em sujeitos não-humanos utilizando um procedimento sem a
demonstração explícita das propriedades definidoras de equivalência nos termos
propostos por Sidman e Tailby (1982). Os estímulos empregados neste trabalho foram 40
slides com figuras de árvores que foram aleatoriamente divididos em dois subconjuntos
de 20 cada e apresentados em seqüência randômica aos sujeitos. Seis pombos
experimentalmente ingênuos foram submetidos a um treino de reversões repetidas de
9
discriminação simples (RRDS) sucessiva. Assim, no início do treino, os estímulos
pertencentes ao Subconjunto 1 tinham função de S+ enquanto os estímulos do
Subconjunto 2 tinham função de S-. Quando um estímulo pertencente ao grupo designado
como positivo era apresentado, bicar duas vezes na chave de resposta, em um intervalo de
dois segundos, era reforçado com comida. Em contrapartida, se uma resposta fosse
emitida na presença de um estímulo S- neste período de dois segundos, o estímulo
continuava sendo apresentado por mais dois segundos. Não responder na presença de um
estímulo designado como S- por dois segundos encerrava a tentativa. Quando os sujeitos
aprendiam esta discriminação, a contingência era revertida (membros do Subconjunto 1
passavam a exercer a função de S- e membros do Subconjunto 2 se tornavam S+).
Novamente, assim que os sujeitos aprendiam a nova discriminação, a contingência
voltava a ser revertida. As reversões foram realizadas diversas vezes. Cada pombo
recebeu aproximadamente 800 sessões de treino.
Observando os resultados depois de reversões repetidas, o autor descreveu
mudanças no responder, na presença de todos os estímulos, tão logo os primeiros
estímulos programados na nova condição eram apresentados. Assim, ao ser submetido à
reversão das contingências para os slides apresentados no começo de uma sessão, o
sujeito passava a reverter as discriminações para os demais membros.
Através desse trabalho, Vaugham (1988) mostrou que pombos eram capazes de
classificar um grande grupo de estímulos em dois subgrupos funcionalmente
equivalentes, baseados somente no compartilhamento das histórias de reforçamento dos
estímulos. Para o autor, esta seria uma demonstração da efetividade deste procedimento
em produzir classes de estímulos equivalentes em sujeitos não-humanos, conhecida como
10
classes funcionais de estímulos. O autor sugere que, matematicamente, as classes de
estímulos funcionais formadas em seu trabalho diferem das classes de estímulos
equivalentes obtidas via procedimentos de MTS somente pela forma de demonstração das
propriedades definidoras de equivalência. Ao invés da demonstração de relações de
simetria e transitividade, as classes em seu estudo poderiam ser constatadas pela partição
do conjunto de estímulos.
Sidman (1994, 2000), discutindo o trabalho de Vaugham (1988), afirma que,
matematicamente, a formação de classes funcionais implicaria na formação de classes de
equivalência. Sidman et al.(1989) demonstram que, em sujeitos humanos, esta igualdade
seria válida. Utilizando treino de RRDS, classes funcionais foram obtidas. Além disso,
dois, de um total de três sujeitos, apresentaram as propriedades de simetria e de
transitividade no formato do procedimento de MTS de maneira coerente com as classes
de estímulos formadas via procedimento de RRDS.
De fato, nos últimos 15 anos, Sidman (1994, 2000) tem proposto a ampliação do
modelo de classes de equivalência. A equivalência, neste novo modelo, continua a ser
compreendida como resultado do contato direto com contingências de reforçamento, mas
acrescenta-se a especificação de que das classes de equivalência participam todos os
elementos (estímulos discriminativos, respostas ou reforçadores) que são arbitrária e
positivamente relacionados nessas contingências. Assim, estímulos antecedentes,
respostas e reforçadores, quando positivamente relacionados em uma contingência de
reforçamento consistente, tornam-se substituíveis. A principal implicação desta expansão
do modelo de equivalência é a abertura das possibilidades de procedimentos que podem
ser utilizados para estudar o fenômeno que não somente o MTS. Entre as possibilidades
11
descritas pelo autor, está o procedimento de repetidas reversões de discriminações
simples descrito por Vaugham (1988).
Sidman (2000) defende a importância teórica de se esclarecer experimentalmente se
classes funcionais de estímulos apresentam ou o as mesmas propriedades formais das
classes de estímulos equivalentes. O autor acredita que, se esta igualdade não for
confirmada, a definição comportamental derivada do modelo matemático que subjaz a
teoria da formação de classes de estímulos equivalentes, embora não pudesse ser
totalmente rejeitada, sofreria um profundo empobrecimento em termos de sua
aplicabilidade como instrumento teórico.
Considerando que a maioria dos estudos da área tem usado a discriminação
condicional para treino e posterior teste das propriedades definidoras de equivalência,
seria um avanço metodológico fundamental sabermos mais sobre formação de classes
funcionais. Primeiramente, quais os fatores que facilitam ou dificultam a formação das
classes funcionais de estímulos. Ao mesmo tempo, desenvolver procedimentos que
possam testar a emergência de relações que deveria teoricamente ser observada em
classes de estímulos equivalentes.
Mesmo que classes equivalentes e classes funcionais tenham sido colocadas sob a
mesma “rubrica” (Sidman, 2000 pág 142) são muitas as críticas e questões levantadas a
respeito do uso do procedimento de reversões repetidas.
Hayes (1989) aponta que, no estudo de Vaugham (1988), além de não terem sido
conduzidos explicitamente testes das propriedades das classes de estímulos equivalentes,
o procedimento de reversões poderia ser entendido como um treino das relações de
12
simetria. Como no trabalho de Vaughan (1988), as tentativas com os estímulos eram
apresentadas em ordem variada, todas as relações poderiam ser diretamente reforçadas, já
que o estímulo apresentado na tentativa anterior poderia estar exercendo algum tipo de
controle condicional sobre a resposta na próxima tentativa. Mesmo tendo usado um
grande número de membros em cada classe, a critica feita por Hayes ainda seria válida,
considerando o vasto treino pelo qual passaram todos os sujeitos (Galvão, 1993). A
despeito da convincente demonstração de classes de estímulos em não-humanos e do
trabalho de Sidman et al. (1989), Hayes (1989) defende que classes funcionais não
deveriam ser confundidas com classes de equivalência.
A questão sobre a diferença entre classes funcionais e classes de equivalência
parece ter sido em grande parte resolvida com o trabalho de Kastak et al. (2001).
Utilizando dois leões-marinhos como sujeitos, os autores demonstraram, no Experimento
1, a formação de classes funcionais de estímulos através do procedimento de RRDS. Um
conjunto de 20 estímulos visuais (letras e números) foi dividido em dois subconjuntos de
10 estímulos cada (o conjunto de letras e o conjunto de números). Em um procedimento
de discriminação simples simultâneo com duas escolhas, cada tentativa incluía a
apresentação de um estímulo de cada subconjunto. Quando os estímulos pertencentes ao
subconjunto de letras eram designados como positivos (S+), os estímulos do conjunto de
números eram S- e vice-versa. Cada sessão experimental tinha 40 tentativas. Em cada
tentativa, responder no estímulo S+ (por exemplo, letra) era consequenciado com um
sinal sonoro e um pedaço de peixe. Responder no estímulo negativo (por exemplo,
número) era consequenciado com sinal vocal “não” e com o final da tentativa. Quando os
sujeitos aprendiam esta discriminação, as contingências eram revertidas de forma que os
13
estímulos pertencentes ao subconjunto de letras tornavam-se S- enquanto que os
estímulos pertencentes ao subconjunto de meros tornavam-se S+. Novamente, quando
os sujeitos aprendiam a discriminação, as contingências eram revertidas.
Reversões entre as funções de letras e números foram realizadas repetidas vezes
durante seis fases experimentais. Em cada fase, alguma mudança no arranjo experimental
era efetuada (por exemplo, uso de múltiplos S- para um mesmo S+, reforçamento
específico para as classes potenciais, reversões intra ou inter-sessões, etc). Desta forma,
nas fases com reforços específicos, o responder nos estímulos do subconjunto de letras,
quando estes eram S+, era consequenciado com um tipo de peixe. Responder nos
estímulos do subconjunto de números, quando estes eram designados como positivos, era
consequenciado com um outro tipo de peixe.
Ambos os sujeitos demonstraram indícios de formação de classes de estímulos
funcionais. Após terem experimentado a reversão das contingências com alguns membros
de cada subconjunto, os dois sujeitos alteraram seu responder para os demais membros.
Isso se deu, entretanto, somente nas fases experimentais que previam o uso de
reforçadores específicos.
No Experimento 2, os autores resolveram testar se as classes funcionais
estabelecidas em um procedimento de RRDS poderiam ser ainda observadas em tarefas
de discriminação condicional através do procedimento de MTS. Apresentando um
estímulo modelo de uma das classes (por exemplo, uma letra) e comparações de ambas as
classes (uma letra e um número), os autores descreveram a transferência das mesmas
relações estabelecidas no procedimento de discriminação simples em um contexto de
14
discriminação condicional. Posteriormente à adaptação ao novo procedimento de MTS,
os sujeitos foram submetidos a testes de propriedades definidora de classes equivalentes
com sucesso.
Por fim, no Experimento 3, um novo par de estímulos foi inserido ao contexto
experimental através do procedimento de MTS. Depois que as relações condicionais
foram estabelecidas (cada estímulo novo relacionado a um estímulo conhecido), o
procedimento de RRDS voltou a ser adotado. Quando os estímulos inseridos às classes de
equivalência apareceram no contexto de RRDS, os sujeitos foram capazes de discriminá-
los como parte das classes funcionais em vigor. Assim, ambos os sujeitos foram capazes
de incluir um novo par de estímulos às classes existentes via MTS e continuaram a
tratar estes estímulos como membros das classes funcionais quando o procedimento de
repetidas reversões de discriminações simples foi empregado.
Lionello-DeNolf, Canovas, de Souza, Barros e McIlvane (2008), empregando
RRDS em crianças com desenvolvimento normal e autistas com repertório verbal
mínimo, relatam que o procedimento foi eficaz na formação de classes funcionais com
todas as crianças com desenvolvimento normal e com algumas autistas. Esses resultados
sugerem que o procedimento de RRDS pode vir a ser uma ferramenta promissora quando
as variáveis críticas a ele forem melhor compreendidas com sujeitos não verbais.
Com a demonstração experimental de Kastak, et al. (2001) de que classes
funcionais e de equivalência são, na verdade, o mesmo fenômeno comportamental
acessado via procedimentos diferentes, resta saber quais seriam, entretanto, as variáveis
críticas no procedimento de RRDS que permitiriam um treino eficiente das relações, com
15
um número mínimo de sessões e de reversões, permitindo o estabelecimento de classes
funcionais de estímulos em outros sujeitos não verbais.
Desta forma, considerando a necessidade de se estudar procedimentos alternativos
para se obter corriqueiramente a formação de classes de estímulos em organismos não
verbais, o objetivo deste trabalho é explorar este fenômeno de acordo com o modelo de
partição, tradicionalmente apontado como modelo de classes funcionais. Utilizando o
procedimento de RRDS, o presente trabalho teve duas frentes de estudo em dois
diferentes experimentos.
O Experimento I investigou o uso de procedimentos menos arbitrários para
macacos-prego do que os procedimentos usuais que se caracterizam pela apresentação de
formas não representacionais bidimensionais em telas sensíveis de computador (por
exemplo, Goulart, Galvão, & Barros, 2003). Desta forma, este experimento buscou
procedimentos que se aproximem mais de repertórios ecologicamente relevantes como o
de busca de alimento, ou forrageio, na formação de classes funcionais em macacos-prego
(Cebus apella).
O Experimento II, por sua vez, buscou refinar o conhecimento obtido no
Experimento I, através de controles experimentais para determinar quais propriedades
dos estímulos estavam, de fato, controlando o comportamento de escolha dos sujeitos
durante as tarefas de forrageio.
16
EXPERIMENTO I
O Procedimento de RRDS tem sido descrito como um meio para produzir classes
funcionais de estímulos em sujeitos não-humanos, até o presente momento, com leões-
marinhos (Kastak et al., 2001) e com pombos (Vaughan,1988). Numa tentativa de
replicar estes dados com Cebus apella, Goulart et al. (2003) utilizou estímulos
bidimensionais (caracteres arbitrários), apresentados na tela de um computador. Três
conjuntos de dois estímulos cada foram empregados em um procedimento de RRDS
(A1/A2, B1/B2, C1/C2). Cada sessão tinha, no máximo, 72 tentativas ou 25 minutos de
duração. Inicialmente, foi realizado o treino de discriminações simples simultâneas com
cada conjunto de estímulos isoladamente. Cada tentativa começava com a apresentação
de um par de estímulos, por exemplo, do conjunto A. Um deles, por exemplo A1, era
definido pelo experimentador como correto (S+) e o outro, A2, como (S-). Respostas a
S+ eram registradas pelo monitor sensível ao toque e conseqüenciadas com uma pelota de
comida e intervalo entre tentativas. Respostas a S- eram conseqüenciadas apenas com
intervalo entre tentativas. Quando o desempenho do sujeito atingisse o critério de 6
tentativas corretas consecutivas, a discriminação era considerada como treinada e então a
função dos estímulos era invertida (A1 passava a ser S- e A2 passava a ser S+, em
turnos). O mesmo procedimento foi repetido com os estímulos dos conjuntos B e C.
Na fase seguinte, todos os estímulos eram apresentados em uma mesma sessão.
Mas, mais uma vez, somente um par de estímulos era apresentado em cada tentativa. Três
estímulos, um de cada conjunto, funcionavam como S+ e os outros três como S-. Ou seja,
quando A1 era S+, B1 e C1 também funcionavam como S+ e A2, B2 e C2 funcionavam
17
como S-. Essas funções eram invertidas conjuntamente, de forma que, na reversão, A2,
B2 e C2 passavam a funcionar como S+ ao mesmo tempo.
Por fim, no teste de formação de classes, a sessão tinha início com a apresentação
de dois conjuntos de estímulos, durante 20 tentativas, com as funções dos estímulos
revertidas quando comparada a sessão anterior. Quando o critério de aprendizagem era
alcançado nestas tentativas, o conjunto restante era apresentado.
Os autores não tiveram dados conclusivos a respeito de formação de classes
funcionais. Mesmo depois de 37 sessões de reversão, o sujeito apresentou um
desempenho condizente com formação de classes em somente um dos seis testes
conduzidos.
Como o desempenho do sujeito não alcançou o critério ainda em algumas fases de
treino, um Experimento II foi conduzido para garantir que o desempenho do sujeito
estivesse estável em todas as discriminações (A1+A2-, B1+B2-, C1+C2- e suas
reversões) antes dos testes. Entretanto, mesmo depois de 63 sessões de reversão, os dados
dos testes não foram conclusivos para formação de classes.
Neste sentido, o uso de procedimentos experimentais menos arbitrários pode ser
útil, empregando aspectos ecologicamente relevantes da espécie para maximizar as
possibilidades de sucesso nas tarefas de discriminação.
Um destes aspectos relevantes à filogenia do Cebus apella é o comportamento de
forrageio. De acordo com Sampaio (2004), o macaco-prego, em ambiente natural,
despende 50% de seu tempo entre forrageio e o consumo do alimento encontrado. Dentre
18
as espécies do gênero, o Cebus apella é conhecido por usar habilidades manipulativas e
por sua força durante o forrageio para explorar recursos que normalmente não estão
disponíveis para outras espécies de primatas (Fernandes & Aguiar, 1993). Esses animais
também utilizam proto-instrumentos que os habilitam a abrir frutos encapsulados
batendo-os contra as árvores (Ferrari & Lopes, 1995; Ottoni & Mannu, 2001; Peres,
1991; Visalberghi, 1987).
Outra característica marcante nesta espécie é sua capacidade de ajustar seu
comportamento de forrageio às variações sazonais no clima e disponibilidade de recursos
(Brown & Zunino, 1990; Phillips, 1995; Siemers, 2000), o que lhes confere uma alta
capacidade em se adequar a diferentes tipos de habitats (Fragaszy, Visalberghi, &
Robinson, 1990). De fato, é bem documentado na literatura o aumento do tempo de
procura por determinados alimentos como tubérculos e insetos durante a estação das
secas e a mudança do padrão de forrageamento por frutas na estação das chuvas (Rimoli,
2001; Siemers, 2000; Terborgh, 1983).
Sua capacidade em alternar padrões de forrageamento é acompanhada pela
habilidade em discriminar locais onde ou não alimentos. Em um estudo com Cebus
apella em ambiente natural foi demonstrada a capacidade destes animais em discriminar
o local onde a comida fica localizada com somente uma experiência (Garber & Paciulli,
1997). Nesse estudo, 13 plataformas foram montadas ao longo da reserva onde os
animais viviam. Duas vezes ao dia, bananas eram dispostas em cinco das 13 plataformas,
enquanto que bananas de plástico eram colocadas nas demais. As bananas verdadeiras
eram depositadas no mesmo conjunto de plataformas durante cinco dias, quando, após
este período, mudavam para um segundo conjunto de plataformas por mais cinco dias e
19
para um terceiro conjunto por mais cinco dias. Observaram-se novos padrões de busca a
cada mudança no conjunto de plataformas, mas a primeira experiência em uma nova
plataforma contendo as frutas verdadeiras era suficiente para garantir que aquela
plataforma fosse visitada novamente no dia seguinte. Em um segundo momento do
experimento, caixas amarelas eram colocadas nas plataformas que continham as bananas
verdadeiras. Depois de seis tentativas, alguns animais passaram a visitar somente as
plataformas com as caixas, independentemente de onde elas estivessem.
De acordo com Potì (2000), estes padrões de busca sofisticados são possíveis por
que o Cebus apella utiliza, durante o forrageamento, o que ele chamou de quadros de
referência ou dicas para determinar onde um alimento específico se encontra. Entre esses
quadros de referência, o macaco-prego pode utilizar marcos ou objetos (referência
externa) para especificar a posição do alimento como árvores, montanhas, pedras e rios.
Em uma série de manipulações experimentais com Cebus apella (Garber & Paciulli,
1997; Janson, 1998; Potì, 2000), concluiu-se que dicas externas como marcos foram
utilizadas pelos macacos-prego para procurar por alimento mesmo quando estes animais
viviam em cativeiro.
Em outro trabalho com macacos-prego em cativeiro, De Lillo, Aversano, Tuci e
Visalberghi (1998) afixaram caixas nos tetos das gaiolas de cada animal. Em cada uma
das sessões experimentais, as caixas eram arranjadas em configurações distintas (em
linha, em circulo ou em matriz). Os resultados demonstram a habilidade destes animais
em emitir comportamentos de forrageio de maneira organizada e flexível em
configurações como linhas, círculos e matrizes.
20
Todas estas habilidades descritas experimentalmente no Cebus apella constituem
uma adaptação crítica para este tipo de animal que precisa localizar não comida, mas
também parceiros sexuais, predadores e possíveis grupos rivais em um ambiente que
apresenta diferentes configurações de acordo com a estação climática do ano.
O presente trabalho teve como objetivo, desta maneira, empregar o procedimento
de RRDS em Cebus apella em cativeiro. Mas este procedimento foi utilizado em um
contexto que, em alguma medida, se assemelha a situações de busca de alimento. Assim,
o repertório de forrageio da espécie poderia favorecer o bom desempenho na tarefa.
Esperou-se, desta forma, facilitar a formação de classes funcionais em um ambiente
controlado mais próximo ao de laboratório.
Reforços específicos foram empregados para facilitar a formação de classes de
estímulos (Sidman, 2000; Kastak et al., 2001) e como forma de aproximar o contexto
experimental à vigência de estações climáticas no contexto natural
1
.
MÉTODO
Sujeitos
Foram utilizados dois macacos-prego, da espécie Cebus apella. O sujeito Adam
(M18) era um macho adulto, com 5 anos e 7 meses no início do experimento, que
havia sido submetido história prévia de treinos de DSMS e de DCI com um conjunto de
estímulos bidimensionais (Rico, 2006) e um conjunto tridimensional (Souza & Fonseca,
1
No contexto natural, o sujeito dispõe de diferentes tipos de alimento dependendo da
estação climática vigente.
21
2006). O sujeito Tico (M23) era um infante de 3 anos e seis meses no início do
experimento, também com história de treino de discriminação condicional via
procedimento de matching to sample.
Ambiente Experimental
Os animais foram alojados em grupos de 4 a 5 animais em gaiolas-viveiro, com
medidas de 2,50 X 2,50 X 2,50 m e constituídas por tubos e tela de ferro galvanizado
sobre uma base de alvenaria, tendo metade de suas áreas coberta por um telhado. Anexas
a uma das laterais da gaiola-viveiro, encontravam-se cinco gaiolas de contenção (0,60 X
0,50 X 0,50 m), usadas para separar os animais não só para receberem a comida, mas
para contê-los durante a limpeza das gaiolas, visitas do veterinário e para o manejo
experimental. Os sujeitos M18 e M23 viviam em gaiolas-viveiro diferentes e junto com
outros animais da mesma espécie.
Os sujeitos eram alimentados duas vezes ao dia. O acesso à água era livre. A dieta
dos sujeitos era composta por frutas, legumes e, uma vez por semana, por complexo
vitamínico adicionado a 150 ml de leite.
Equipamento
O aparato experimental consistia de seis caixas de madeira, pintadas de cores
diferentes, medindo 0,32 x 0,17 x 0,14 m cada. Réplicas de frutas fabricadas em cera
(mamão, coco, pinha, maça, melancia e carambola) foram acopladas na parte superior de
cada caixa e protegidas por uma cúpula plástica. Na parte frontal superior de cada caixa,
havia uma abertura, protegida por uma pequena cortina para impossibilitar que o sujeito
tivesse acesso visual ao conteúdo da caixa. A abertura dava ao sujeito acesso ao interior
22
do recipiente. Na parte traseira inferior da caixa havia uma outra abertura que permitia ao
experimentador depositar alimento em uma cuia encaixada em seu interior. As caixas
eram afixadas num suporte de madeira, medindo 1,75 x 1,27 m. Este suporte foi
construído de modo a ser facilmente acoplado às gaiolas-viveiro dos animais e
possibilitar seu acesso às caixas (Figura 1).
Estímulos
Discriminativos: As caixas de madeira foram arbitrariamente divididas em dois
grupos. O Grupo 1 foi constituído pela Caixa Azul (A1), pela Caixa Amarela (B1) e pela
Caixa Preta (C1), enquanto que o Grupo 2 foi constituído pela Caixa Vermelha (A2),
Caixa Verde (B2) e Caixa Lilás (C2). As caixas foram dispostas no suporte de madeira
em seis posições distintas de forma a ficar a 77 cm de distância horizontal uma da outra e
a 48 cm de distância vertical (Figura 1). O número de caixas a ser usada variava de
acordo com a fase do experimento, mas a posição que elas ocupavam no suporte
continuava a mesma em todas as etapas experimentais.
23
Figura 1. Equipamento de coleta do Experimento I.
24
Reforçadores: Um teste de preferência (Fisher, Piazza, Bowman, Hagopian,
Owens, & Slevin, 1992) foi realizado com cada sujeito experimental para determinar que
estímulos reforçadores seriam empregados. Após o teste, dois itens alimentícios foram
selecionados como reforçadores específicos: biscoito de água e sal e cereal de chocolate.
Todos os itens alimentícios escolhidos para fazerem parte do teste tinham como
característica em comum o fato de serem secos e não sujarem demasiadamente o
equipamento.
Procedimento
Procedimento Geral
As sessões experimentais ocorriam uma vez ao dia, de segunda a sexta-feira,
aproximadamente uma hora antes de sua segunda e principal refeição, o que tornava
desnecessário a manutenção dos sujeitos em esquema de privação.
As sessões experimentais foram conduzidas utilizando um procedimento de
reversões repetidas de discriminações simples.
Antes de cada sessão, todos os animais da gaiola-viveiro eram alocados nas gaiolas
de contenção com exceção do sujeito experimental, que ficava solto no espaço amplo da
gaiola-viveiro. Durante cada tentativa, o equipamento, que inicialmente se encontrava
afastado, era colocado rente à gaiola-viveiro permitindo o acesso do sujeito às caixas. Ao
final de cada tentativa, o equipamento era afastado. O intervalo entre tentativas foi, em
média, de 15 segundos e variava de acordo com o tempo que o experimentador
necessitava para recolocar os reforços dentro das caixas. Ao recolocar as comidas no
25
interior das caixas, o pesquisador colocava a mão no interior de cada uma das caixas
presentes no aparato, apesar de deixar comida apenas nas caixas S+, de maneira que o
fato do experimentador inserir a mão em uma determinada caixa não funcionava como
um preditor de que havia comida no seu interior.
Quando quaisquer caixas do Grupo 1 (A1, B1 e C1) eram designadas como S+,
respostas de exploração nestas caixas foram consequenciadas por encontrar cereal de
chocolate em seus interiores. Quando as caixas do Grupo 2 (A2, B2 e C2) eram
designadas como S+, biscoito foi o reforçador.
Foi considerada resposta ao estímulo a inserção da mão do sujeito dentro da caixa,
não sendo considerada como resposta de escolha olhar a caixa ou tocá-la pelo lado de
fora. Quando o sujeito respondia somente nas caixas designadas como S+ e se afastava
do equipamento, um outro reforçador era oferecido como bônus por um experimentador
no lado da gaiola oposto ao equipamento. O bônus era mais um reforçador igual a
contingência em vigor, a saber; um cereal de chocolate quando os estímulos do Grupo 1
eram S+ e um pedaço de biscoito quando os estímulos do Grupo 2 eram S+. Responder
em qualquer um dos estímulos S-, mesmo que após a resposta a todos os S+, era
conseqüenciado com o fim imediato da tentativa e a não apresentação do bônus.
O registro das respostas de escolha dos sujeitos durante as sessões foi manual,
utilizando um protocolo de coleta específico para cada fase experimental (ANEXO 1).
Além disso, uma filmadora foi utilizada para registrar cada sessão experimental, de
maneira que a precisão do registro manual podia ser avaliada.
26
Cada sessão experimental tinha, no máximo, 20 tentativas. A sessão era encerrada
quando o sujeito atingia o critério de aprendizagem ao final da vigésima tentativa. O
critério de aprendizagem, para todas as fases experimentais, consistia na apresentação de
seis respostas corretas consecutivas. Por resposta correta entende-se a exploração das
caixas designadas como S+ afastando-se do equipamento em seguida sem explorar as
caixas designadas como S-.
Quando a sessão experimental se encerrava, o equipamento era retirado, mas o
experimentador ainda interagia com o sujeito por alguns minutos oferecendo a ele mais
seis pedaços dos alimentos que foram previamente utilizados como reforçadores na
sessão. Em cada sessão, apenas um tipo de reforçador estava em uso.
A Tabela 1 mostra o mero de estímulos empregado e a posição de cada um nas
diversas fases do experimento.
27
Tabela 1
Contingências em vigor e posição de cada estímulo durante as três fases do experimento.
Fase 1. Duas escolhas
Contingência 1.1.
A1+
B2-
1.2.
B2+
B1-
1.3.
B1+
A2-
1.4.
A2+
A1-
Posição
A1
B2
B1
B2
A2
B1
A1
A2
Fase 2. Quatro escolhas
Contingência 2.1.
A1, B1+
A2, B2-
2.2.
A2, B2+
A1, B1-
Posição
A1
A2
A1
A2
B1
B2
Fase 3. Seis escolhas
Contingência 3.1.
A1, B1, C1+
A2, B2, C2
3.2.
A2, B2, C2+
A1, B1, C1-
Posição
A1
A2
C1
A1
A2
C1
C2
B1
B2
28
Fase 1. Treino de discriminação simples com duas escolhas
A Fase era composta por quatro etapas. Em cada uma delas, somente duas caixas
eram apresentas ao sujeito por sessão experimental.
Respostas na caixa S+ eram consequenciadas por achar cereal de chocolate em seu
interior quando a caixa em questão pertencia ao Grupo 1 ou por achar biscoito quando a
caixa pertencia ao Grupo 2. A resposta no estímulo designado como positivo também era
consequenciada pela emissão de um prompt auditivo (um assovio) que indicava a
disponibilidade do bônus. Se, após a resposta ao S+ e a apresentação do prompt, o sujeito
se afastasse do equipamento, um bônus era oferecido no outro lado da caixa. Repostas no
S- encerravam a tentativa no momento em que ocorriam e não eram seguidas de
apresentação de bônus.
Caso o critério de precisão de desempenho fosse alcançado (seis respostas corretas
consecutivas), o S+ era retirado, o S- era designado como S+ e um novo estímulo era
designado como S- e, então, uma nova etapa de treino se iniciava no dia seguinte. Caso o
critério não fosse alcançado na sessão, uma outra sessão, com a mesma contingência, era
realizada no dia seguinte. Este procedimento de retirada do antigo S+ foi originalmente
descrito por Rico (2006), com o intuito de minimizar os erros em tarefas de repetidas
reversões de discriminações simples.
Nesta fase do experimento, somente quatro caixas, duas de cada grupo, foram
utilizadas (A1, B1, A2 e B2). A ordem e posição na qual elas eram apresentadas foram
descritas na Tabela 1.
29
Fase 2.Treino de discriminação simples simultânea com quatro escolhas
Nesta fase do Experimento, as quatro caixas utilizadas na Fase 1 (A1, B1, A2 e B2)
foram apresentadas simultaneamente ao sujeito em cada tentativa. Quando os estímulos
A1 e B1 tinham a função de S+, A2 e B2 eram designados como S- e vice-versa.
Uma resposta correta para esta fase do experimento era pegar os alimentos nas duas
caixas designadas como positivas e se afastar do equipamento. Quando isso ocorria, o
sujeito recebia um bônus do outro lado da gaiola. Qualquer resposta nas caixas que
tinham função de S- encerrava a tentativa sem a apresentação do bônus.
Ao final de dez sessões de sucessivas reversões das contingências, foram analisados
indícios de formação de classes. Essa análise foi principalmente baseada na resposta de
escolha seguinte ao primeiro acerto em cada sessão. Foi considerado indício de formação
de classes quando, após o primeiro acerto, a próxima resposta de escolha era emitida ao
S+ da mesma classe potencial do S+ ao qual o sujeito respondeu no primeiro acerto. Para
dar um exemplo, considere-se que o par vigente como S+ numa sessão prévia tenha sido
A1 e B1. Na sessão de reversão, o par vigente então era A2 e B2. Suponha-se que, após
responder algumas vezes a A1 e B1 (S+ da sessão anterior), o sujeito responda a B2+
(primeiro acerto). Se a próxima resposta fosse a A2+ (e não a A1 ou B1), isso era tomado
como indício de formação de classes. Em dez sessões de reversão havia, portanto, nove
ocasiões como essa para se avaliar indícios de formação de classes. Quanto mais a
probabilidade de resposta a S+ após o primeiro acerto se afastar do nível de acaso, mais
fortes são as evidências de classes. Além disso, a análise considerou a manutenção do
responder aos S+ ao longo da sessão após o primeiro acerto.
30
Fase 3. Treino de discriminação simples simultânea com seis escolhas
Nesta fase experimental, todas as seis caixas (A1, B1, C1 e A2, B2, C2) eram
apresentadas simultaneamente ao sujeito, sendo que três delas eram designadas como
positivas e três como negativas. Quando as caixas do Grupo 1 (A1, B1, C1) tinham a
função de S+, o reforço era cereal de chocolate. Quando as caixas do Grupo 2 (A2, B2,
C2) eram positivas, o reforço foi biscoito. Foi considerada uma resposta correta a
exploração das três caixas designadas como S+ para aquela sessão e o afastamento do
equipamento sem colocar a mão dentro de nenhuma das caixas negativas. Quando isso
ocorria, o sujeito recebia um bônus do outro lado da gaiola. Responder a qualquer
momento em qualquer uma das caixas com função de S- encerrava a tentativa e sem a
apresentação do bônus.
O critério de precisão do desempenho era a apresentação de seis respostas corretas
consecutivas, ou seja, seis tentativas onde o sujeito explorava as caixas S+ e se afastava
do equipamento obtendo o bônus sem explorar qualquer nenhuma das caixas S-. Mais
uma vez, se o critério não era alcançado dentro das 20 tentativas, a sessão era repetida no
dia seguinte. Quando o critério era alcançado, a sessão era encerrada imediatamente e
uma nova sessão, com contingências revertidas, era programada para o dia seguinte.
Foram programadas sucessivas reversões das condições experimentais e foram
analisados indícios de formação de classes nesta fase nas últimas seis sessões
experimentais. O procedimento para análise dos indícios de formação de classe era
semelhante ao descrito para a fase anterior, exceto que, nesta fase, as duas respostas de
31
escolha seguintes (e não apenas uma) ao primeiro acerto eram consideradas. Esta fase foi
encerrada quando os indícios de formação de classes se tornaram freqüentes.
Fase 4. Testes de formação de classes funcionais
Nesta fase, cada teste de formação de classes de estímulos ocorria com um par de
caixas (uma de cada grupo) por vez. As funções de cada grupo eram revertidas quando
comparadas ao dia anterior, enquanto duas caixas, uma de cada grupo, estavam ausentes.
A sessão tinha início, portanto, com até 20 tentativas de discriminações simples
simultâneas com quatro escolhas. Foi considerada uma resposta correta, a escolha das
duas caixas designadas como positivas para aquela sessão e o afastamento do sujeito em
relação ao equipamento sem colocar a mão dentro de nenhuma das caixas com função de
S-. Quando isso ocorria, o sujeito recebia um bônus do outro lado da gaiola. Responder
em qualquer caixa designada como S- descontinuava a tentativa sem a apresentação do
bônus.
Dado o critério de seis respostas corretas consecutivas em uma sessão, as duas
caixas restantes eram, então, imediatamente re-introduzidas e a primeira escolha entre
estas duas caixas era analisada: se a resposta fosse condizente com as contingências
revertidas (ainda que as duas caixas não tivessem sido apresentadas durante as tentativas
de reversão precedentes), então isso era considerado uma evidência de formação de
classes; se a resposta fosse condizente com as contingências em vigor quando da última
exposição àquele par de estímulos (ou seja, contingências não revertidas e inconsistentes
com as contingências de reforçamento agora vigentes), isso era considerada como
32
evidência negativa de formação de classes. Em ambos os casos, a sessão continuava até
que seis respostas consecutivas fossem apresentadas ou 20 tentativas tivessem sido
completadas. Assim como nas demais fases do experimento, o responder na caixa
designada como S+ (do par reinserido no contexto experimental) era conseqüênciado por
achar comida em seu interior. Respostas na caixa designada como S- descontinuavam a
tentativa.
Entre um teste e outro, um treino de discriminação simples com seis escolhas,
conforme descrito na Fase 3, era programado. Um outro teste, então, era programado para
a próxima sessão se a anterior tivesse sido concluída com seis respostas corretas
consecutivas.
Seis testes foram empregados, cada um com um par diferente de estímulos sendo
removido, como descrito a seguir, na Tabela 2. A Tabela 2 mostra a contingência e a
posição dos estímulos no Teste C1, Teste B1 e Teste A1. Os demais testes (Teste A2, B2
e C2) eram feitos da mesma maneira, mas com as contingências revertidas. Assim, se
durante o Teste C1, os estímulos designados como positivos eram A1, B1 e C1, a única
diferença deste teste para o Teste C2 era a contingência em vigor. No Teste C2 a posição
dos estímulos era a mesma do Teste C1, mas a contingência em vigor designava como S+
os estímulos A2, B2 e C2.
33
Tabela 2
Contingências em vigor e posição dos estímulos durante Testes A1, B1 e C1.
A1 B1 C1
Reversão Teste Reversão Teste Reversão Teste
Contingência B1, C1+
B2, C2-
A1, B1, C1+
A2, B2, C2-
A1, C1+
A2, C2-
A1, B1, C1+
A2, B2, C2-
A1, B1+
A2, B2-
A1, B1, C1+
A2, B2, C2-
Posição
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
34
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Treino de discriminação simples com duas escolhas
Como indicado na Tabela 3, o critério de 6 tentativas corretas consecutivas em 20
tentativas foi atingido para todos os conjuntos de estímulos.
O procedimento de retirada do antigo S+ do contexto experimental parece ter sido
efetivo para minimizar possíveis erros durante as reversões repetidas das discriminações
simples programadas para esta fase.
De acordo com a Tabela 3, um número mais elevado de tentativas processadas até
se atingir o critério de aprendizagem somente foi observado nas sessões iniciais. Uma
possível explicação para este dado é a inexistência, no procedimento do presente estudo,
de uma fase de modelagem da resposta de exploração às caixas. Além disso, a
aprendizagem da tarefa de explorar uma das caixas e se afastar do equipamento ocorreu
durante a etapa de discriminação (A1+/ B2-). Assim, esta tarefa foi sendo aprendida
durante o treino de discriminação simples com duas escolhas, o que explicaria o
desempenho de ambos os sujeitos ter se tornado mais preciso a partir da terceira sessão
de treino.
Através dos registros visuais provenientes da filmagem das sessões, foi possível
verificar a eficiência do prompt auditivo para indicar a disponibilidade do bônus. Para
ambos os sujeitos, o comportamento de se aproximar ao segundo experimentador e assim
obter o bônus parece ter ficado sob controle do assovio no final da segunda sessão
experimental. Este recurso, entretanto, foi utilizado somente nesta fase experimental. Sua
retirada foi feita de forma gradual. Nas últimas sessões desta fase, o uso do prompt foi
35
restringido ao início das sessões, sendo descontinuado à medida em que sessão ia
chegando ao final. Este processo não parece ter, entretanto, interferido na precisão do
desempenho dos animais na tarefa.
Tabela 3
Número de sessões realizadas e número de tentativas processadas (nesta ordem) até
obtenção do critério de precisão do desempenho em cada etapa do treino de
discriminação simples com duas escolhas.
Sujeito (A1+ / B2-) (B2+/ B1-) (B1+/ A2-) (A2+/ A1-) Total
M18 2 (29) 2 (27) 1 (9) 1 (10) 6
M23 2 (32) 1 (8) 1 (8) 1 (8) 5
Treino de Discriminação Simples Simultânea com Quatro Escolhas
O sujeito M18 passou por 10 sessões de treino da discriminação A1-B1/A2-B2
(Figura 2). O desempenho menos preciso foi observado na segunda sessão experimental,
na qual houve a primeira reversão das contingências com quatro escolhas. A porcentagem
de acerto para esta sessão foi de 25% e somente cinco respostas corretas foram emitidas.
Esta sessão foi a única nesta fase experimental em que respostas erradas foram
observadas distribuídas durante todas as tentativas. A partir da sétima sessão
experimental as respostas erradas eram concentradas no início de cada sessão e não eram
mais observadas nas tentativas finais.
36
Mesmo com os erros mais concentrados no início de cada sessão, a precisão do
desempenho do sujeito M18 variou muito nestas dez sessões experimentais. Na terceira
sessão, sua precisão foi de 71,4%. Nas três sessões que se seguiram, entretanto, a
precisão do desempenho não passou de 40%, voltando a subir nas quatro últimas sessões.
Através da análise dos registros visuais, sessões experimentais com baixa precisão
parecem apresentar três padrões de resposta distintos. O primeiro, exemplificado pela
segunda sessão, é o que foi denominado neste trabalho de padrão aleatório: o sujeito
explora com igual probabilidade as diferentes caixas sem demonstrar estar sob controle
das contingências em vigor. O segundo padrão de resposta é o extensivo: o sujeito
explora as caixas designadas como S+ para aquela sessão, mas também explora uma
caixa S-, o que encerra aquela tentativa. Este padrão de procura é melhor representado
pela quinta sessão. Por fim, ainda pode ser observado um padrão de resposta que,
aparentemente, foi mantido pela história do sujeito na sessão anterior. Neste tipo de
sessão, o sujeito escolhe insistentemente as caixas designadas como positivas na sessão
experimental do dia anterior. Esse padrão pode ser visto na quarta sessão.
A despeito no número de erros apresentado pelo sujeito, indícios de formação de
classes de estímulos puderam ser observados nas últimas quatro sessões experimentais.
Nestas sessões, quando o sujeito escolhia um estímulo designado como S+, ele escolhia
em seguida o estímulo pertencente à mesma classe potencial. Da mesma forma, quando a
resposta de explorar uma caixa designada como negativa não era reforçada, o sujeito não
apresentava resposta de procura pelo outro estímulo também designado como negativo na
tentativa seguinte.
37
Figura 2. Desempenho do sujeito Adam (M18) durante o treino de repetidas reversões de
discriminação simples simultânea com quatro escolhas. Para cada sessão, são
apresentadas as contingências em vigor, bem como a precisão do desempenho expressa
pelo numero de tentativas concluídas sem erro por total de tentativas (ac./tot.) e
respectivo percentual (% de ac.). Também são apresentadas as seqüências de respostas a
S+ e S- para cada uma das 20 tentativas de uma sessão. Os quadrados o preenchidos
com as cores dos estímulos selecionados pelo sujeito em cada tentativa. Respostas
corretas em cada tentativa são representadas, na ordem em que ocorreram, na coluna
correspondente à tentativa, na área destinada à respostas à S+. Respostas em S- são
apresentadas, na cor em que ocorreram, na última posição de cada coluna, na área
designada a respostas a S-. A ordem das respostas é apresentada de cima para baixo.
Sessão Contingências ac./tot. % de ac.
Tentativas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1314 1516 17 181920
1
+
-
14/18 77,7
S+
S-
2
+
-
5/20 25
S+
S-
3
+
-
10/14 71,4
S+
S-
4
+
-
7/20 35
S+
S-
5
+
-
6/15 40
S+
S-
6
+
-
6/19 31,5
S+
S-
7
+
-
7/9 77,7
S+
S-
8
+
-
16/20 80
S+
S-
9
+
-
8/9 88,8
S+
S-
10
+
-
9/15 60
S+
S-
38
O sujeito M23 foi submetido a 11 sessões de treino nesta fase experimental (Figura
3), uma sessão de treino a mais quando comparado ao sujeito M18. Isso se deu devido ao
fato de a décima sessão ter ocorrido no início de um feriado prolongado. Assim, o
experimentador decidiu realizar mais uma sessão nesta fase, depois do feriado, antes de
iniciar uma nova fase.
O sujeito M23 também apresentou variações na precisão do desempenho durante
toda a fase com quatro escolhas. Apesar de atingir as seis tentativas corretas consecutivas
em cada sessão, o número de erros manteve-se alto ao longo de toda a fase experimental.
Durante a coleta de dados com este sujeito, o segundo experimentador, que ficava
do outro lado da gaiola viveiro e oferecia o bônus, não era sempre o mesmo. Assim, o
desempenho do sujeito parecia variar muito de acordo com o segundo experimentador
presente no contexto experimental. De forma geral, quando este segundo experimentador
era novo no contexto experimental, o desempenho do sujeito tornava-se menos preciso.
Na medida em que o segundo experimentador continuava o mesmo por algumas sessões
experimentais, o desempenho do sujeito passava a ser mais preciso, voltando a cair
quando um novo experimentador participava da coleta.
Por mais que não tenham sido programadas manipulações de variáveis para
verificar esta hipótese, este dado fez com que houvesse a preocupação, a partir deste
momento, de manter sempre a mesma dupla de experimentadores.
39
Figura 3. Desempenho do sujeito Tico (M23) durante o treino de repetidas reversões de
discriminação simples simultânea com quatro escolhas. Para cada sessão, são
apresentadas as contingências em vigor, bem como a precisão do desempenho expressa
pelo numero de tentativas concluídas sem erro por total de tentativas (ac./tot.) e
respectivo percentual (% de ac.). Também são apresentadas as seqüências de respostas a
S+ e S- para cada uma das 20 tentativas de uma sessão. Os quadrados o preenchidos
com as cores dos estímulos selecionados pelo sujeito em cada tentativa. Respostas
corretas em cada tentativa são representadas, na ordem em que ocorreram, na coluna
correspondente à tentativa, na área destinada à respostas à S+. Respostas em S- são
apresentadas, na cor em que ocorreram, na última posição de cada coluna, na área
designada a respostas a S-. A ordem das respostas é apresentada de cima para baixo.
Sessão Contingências ac./tot. % de ac.
Tentativas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1314 1516 17 181920
1
+
-
10/20 50
S+
S-
2
+
-
8/9 88,9
S+
S-
3
+
-
11/20 55
S+
S-
4
+
-
10/15 66,6
S+
S-
5
+
-
4/20 20
S+
S-
6
+
-
13/19 68,4
S+
S-
7
+
-
8/18 44,4
S+
S-
8
+
-
8/10 80
S+
S-
9
+
-
12/20 60
S+
S-
10
+
-
6/12 50
S+
S-
11
+
-
8/14 57
S+
S-
40
Mesmo que o critério de seis respostas corretas consecutivas não tenha sido
alcançado na sétima sessão, a primeira resposta do sujeito em um estímulo designado
como positivo foi acompanhado pela escolha do outro estímulo S+.
De fato, indícios de formação de classes para este sujeito puderam ser observados
nas seis últimas sessões desta fase.
Ao final desta fase experimental, a precisão do desempenho dos sujeitos era
freqüentemente alta após algumas tentativas com as contingências revertidas. O
desempenho de ambos os sujeitos, após algumas reversões, apresentou indício de
formação de classes (ver duas primeiras tentativas das sessões 7 e 8, Figura 2; Tentativa
3, sessão 9, Figura 3). O desempenho de M23, entretanto, não está tão claramente
condizente a formação de classes quanto ao apresentado por M18.
Treino de Discriminação Simples Simultânea com Seis Escolhas
O sujeito M18 passou por 12 sessões de treino de discriminação simples
simultânea com seis escolhas. O desempenho menos preciso do sujeito M18 nesta fase foi
observado na primeira sessão (Figura 4).
41
Sessão Contingências ac./tot % de ac.
Trials
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1314 1516 17 181920 2122 23 24 25
1
+
-
8/18 44,5
S+
S-
2
+
-
7/9 77,8
S+
S-
3
+
-
6/12 50
S+
S-
4
+
-
7/8 87,5
S+
S
-
5
+
-
8/13 61,5
S+
S
-
6
+
-
7/11 63,7
S+
S-
7
+
-
9/12 75
S+
S-
8
+
-
10/13 79,2
S+
S-
9
+
-
6/6 100
S+
S-
10
+
-
6/6 100
S+
S-
11
+
-
7/10 70
S+
S-
12
+
-
6/6 100
S+
S
-
Figura 4. Desempenho do sujeito M18 nas sessões de repetidas reversões de
discriminação simples simultâneas com seis escolhas. Para cada sessão, o apresentadas
as contingências em vigor, bem como a precisão do desempenho expressa pelo numero
de tentativas concluídas sem erro por total de tentativas (ac./tot.) e respectivo percentual
(% de ac.). Também são apresentadas as seqüências de respostas a S+ e S- para cada uma
das 20 tentativas de uma sessão. Os quadrados são preenchidos com as cores dos
estímulos selecionados pelo sujeito em cada tentativa. Respostas corretas em cada
tentativa são representadas, na ordem em que correm, na coluna correspondente à
tentativa, na área destinada à respostas à S+. Respostas em S- são apresentadas, na cor em
que ocorreram, na última posição de cada coluna, na área designada a respostas a S-.
42
Esta queda de desempenho pode estar relacionada à inserção de C1 e C2 (caixas
preta e lilás) no contexto experimental. Responder na presença de seis caixas ao invés de
quatro pode ter determinado algumas das dificuldades iniciais encontradas nesta fase.
Além disso, nenhum dos sujeitos havia tido qualquer contato com os estímulos C1 e C2
até este momento.
Passada esta variação de desempenho inicial, entretanto, a precisão do desempenho
passou ser maior e mais estável durante o restante das sessões desta fase.Tal qual ocorreu
durante o treino com quatro escolhas, é possível observar que o desempenho do sujeito
M18 durante o treino com seis escolhas foi se tornando mais preciso à medida que ele era
submetido a repetidas reversões das contingências. Assim, o número de tentativas para
atingir o critério de 6 corretas consecutivas diminuiu a ponto de haver 3 sessões sem erro
(ver sessões 9, 10 e 12 na Figura 4). De fato, após a oitava sessão, passou a ser freqüente
a observação de respostas condizentes com a formação de classes funcionais. (Ver, por
exemplo, Figura 4, sessão 8, tentativa 2)
No procedimento de RRDS, na sessão anterior a uma reversão, as respostas dos
sujeitos ao conjunto de estímulos designado, para aquele momento, como positivo são
reforçadas. Quando o grupo positivo torna-se negativo na sessão seguinte, é esperado que
a precisão dos sujeitos caia nas primeiras tentativas. Entretanto, se cada estímulo fosse
tratado como um problema independente, a precisão do sujeito deveria se manter baixa
nas tentativas seguintes. Isso se daria uma vez que a maioria das respostas que os sujeitos
emitissem para cada estímulo seria, agora, incorreta. Se, entretanto, classes funcionais
(abrangendo os membros de cada conjunto de estímulos) se formam via procedimento
43
RRDS, a exposição a um membro do conjunto deve influenciar a resposta dada aos
demais membros do mesmo conjunto. Assim, se tomarmos a oitava sessão do sujeito
M18 como exemplo (Figura 4), explorar a caixa lilás deveria indicar, se houvesse
formação de classes, que responder nos demais membros do grupo seria igualmente não
reforçado. Da mesma forma, indicaria que, se os estímulos de um conjunto são negativos
agora, os estímulos do outro conjunto são positivos. Responder nos estímulos do outro
conjunto na tentativa seguinte seria, assim, a resposta esperada nesta hipótese.
O desempenho de 100% de acerto encontrado nas sessões 9, 10 e 12 pode ser
explicado da mesma forma. Como a primeira resposta do sujeito foi emitida em um
estímulo designado como S+ para aquela sessão e, conseqüentemente, reforçada, esta
resposta predizia a escolha dos demais estímulos. Esta explicação seria plausível,
contudo, se assumíssemos a possibilidade deste sujeito ter formado classes de estímulos a
medida que era inserido em sessões de RRDS.
Outra possível explicação para este fenômeno está no arranjo experimental diário
da sessão. Para prender os demais animais que vivem na gaiola-viveiro juntamente com o
sujeito experimental, os experimentadores usavam o mesmo alimento utilizado como
reforço naquela sessão. O sujeito experimental invariavelmente tinha acesso a este
alimento durante o processo. Este estímulo reforçador, desta forma, pode ter controlado
condicionalmente as respostas de escolha, estabelecendo, portanto uma relação
condicional diretamente treinada entre o alimento que o animal tinha acesso antes da
sessão e a caixa a ser escolhida na primeira tentativa. A exclusão dessa possibilidade de
explicação dos dados é importante para a manutenção da defesa dos dados aqui relatados
44
como evidências de formação de classes. Isso será objeto do segundo experimento deste
trabalho.
O sujeito M23 passou por 11 sessões de treino de discriminação simples
simultânea com seis escolhas (Figura 5). A diferença entre os desempenhos do sujeito
M18 e do M25 foi a quantidade de erros durante as sessões experimentais. M25 escolhia
freqüentemente um estímulo negativo depois de já ter explorado todos os estímulos
positivos. Esse padrão de resposta fez com que o experimentador programasse no
contexto experimental um time-out de 40 segundos a partir da sétima sessão. Desta
forma, quando o sujeito respondia em um estímulo negativo, além da suspensão no
bônus, o intervalo entre tentativas era acompanhado por um time-out de 40 segundos.
O emprego do time-out parece ter sido eficiente para diminuir o número de erros
apresentados por este sujeito a partir da décima sessão. Para testar esta hipótese, mais
uma sessão experimental foi programada antes da realização dos testes finais. Mais uma
vez, na décima primeira sessão, o número de erros se limitou a dois em oito tentativas.
M23 também demonstrou indícios de formação de classes funcionais. Esses
indícios são mais freqüentemente encontrados no meio da fase experimental, entre a
quinta e a sétima sessão, voltando ainda a ocorrer na décima sessão (ver, por exemplo,
Figura 5, sessão 5, tentativas de 1 a 4).
45
Sessão Contingências ac./tot.
% de
ac.
Tentativas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1314 1516 17 181920 2122 23 24 25
1
+
-
12/20 60
S+
S-
2
+
-
14/25 56
S+
S-
3
+
-
12/17 70
S+
S-
4
+
-
7/14 50
S+
S-
5
+
-
8/13 61,5
S+
S-
6
+
-
6/8 75
S+
S-
7*
+
-
10/18 55,5
S+
S-
8
+
-
10/17 58,8
S+
S-
9
+
-
10/16 62,5
S+
S-
10
+
-
7/8 87,5
S+
S-
11
+
-
6/8 75
S+
S-
Figura 5. Desempenho do sujeito M23 nas sessões de repetidas reversões de
discriminação simples simultâneas com seis escolhas. Para cada sessão, o apresentadas
as contingências em vigor, bem como a precisão do desempenho expressa pelo numero
de tentativas concluídas sem erro por total de tentativas (ac./tot.) e respectivo percentual
(% de ac.). Também são apresentadas as seqüências de respostas a S+ e S- para cada uma
das 20 tentativas de uma sessão. Os quadrados são preenchidos com as cores dos
estímulos selecionados pelo sujeito em cada tentativa. Respostas corretas em cada
tentativa são representadas, na ordem em que correm, na coluna correspondente à
tentativa, na área destinada à respostas à S+. Respostas em S- são apresentadas, na cor em
que ocorreram, na última posição de cada coluna, na área designada a respostas a S-.
*Emprego de time-out.
46
Testes de formação de Classes Funcionais
O objetivo dos testes de formação de classes era constatar se, após a reversão das
contingências para quatro dos seis estímulos, os sujeitos também reverteriam a
discriminação quando os estímulos ausentes fossem reintroduzidos, confirmando ou não
as evidências de formação de classes anteriormente obtidas.
Os dados de todos os testes do sujeito M18 foram positivos para a formação de
classes funcionais de estímulos (Figura 6). No teste A1 (Azul), por exemplo, a
contingência do dia anterior designava o subconjunto 2 como S+ (caixas Vermelha,
Verde e Lilás). No dia do teste, a sessão começava com as caixas Azul (subconjunto 1) e
Vermelha (subconjunto 2) ausentes do contexto experimental e as demais com
contingências revertidas. Assim, os estímulos do conjunto 1 passavam a ter a função de
S+ enquanto que as caixas do conjunto 2 passavam a ter função de S-. Quando o sujeito
aprendeu a tarefa, o que ocorreu na sexta tentativa, as caixas ausentes foram reinseridas
no contexto experimental. O sujeito, então, escolheu, entre as caixas reinseridas, a caixa
que pertencia ao grupo designado como S+ durante a reversão (caixa Azul). Já que na
sessão anterior, a função destes estímulos estava invertida, responder no estímulo com
função de S+ na sessão de teste seria mais favoravelmente explicado se assumíssemos
que foram estabelecidas classes de estímulos resultantes do treino ao qual o sujeito foi
submetido na Fase 3. Esta seria a explicação mais parcimoniosa uma vez que a única
razão para o sujeito escolher a caixa designada como S+ nesta sessão seria o fato dele
estar sob controle da experiência prévia com os demais estímulos pertencentes a mesma
47
classe. Desta forma, assim como foi descrito em Vaugham (1988), quando alguns
membros do subconjunto de caixas 1 se tornaram discriminativos para responder,
respostas no membro remanescente também deveriam mudar de forma apropriada.
48
Figura 6. Respostas do sujeito Adam (M18) na sessão anterior a reversão, durante a
reversão com quatro escolhas e nas tentativas de teste com os seis estímulos.
Teste Sessão anterior Reversão Sessão de teste
A1
(Azul)
S+
S-
A2
(Vermelho)
S+
S-
B1
(Amarelo)
S+
S-
B2
(Verde)
S+
S-
C1
(Preto)
S+
S-
C2
(Lilás)
S+
S-
49
O mesmo resultado ocorreu com todos os demais testes para este sujeito. Em todos
os testes, o sujeito invariavelmente respondia nos estímulos re-introduzidos de forma
condizente a contingência de reforçamento em vigor.
A Figura 7 mostra o desempenho do sujeito Tico (M23) durante as sessões de teste.
Assim como o sujeito M18, o sujeito M23 realizou todas as tarefas de teste com precisão.
A reversão de alguns membros de cada conjunto controlou a mudança da função
discriminativa dos demais membros em todos os testes realizados.
No teste B1, foi registrada uma resposta a um S- na quinta tentativa. Isso não
invalida, todavia, o dado de que a primeira resposta ao estímulo re-inserido no contexto
experimental se deu de forma condizente à formação de classes funcionais. Além disso,
como pode ser observado na Figura 7, a resposta ao S- se deu ao final da tentativa,
quando todos os estímulos designados como S+ já haviam sido escolhidos.
Assim, o uso de repetidas reversões de discriminações simples simultâneas parece
ser um modelo promissor para o estudo de formação de classes de estímulos funcionais
em Cebus apella. Entretanto, tão importante quanto a utilização deste procedimento, foi o
arranjo experimental no qual ele foi introduzido. Realizar a coleta de dados na gaiola
viveiro em um contexto de forrageio parece ter sido uma variável determinante para a
obtenção de dados consistentes como os aqui apresentados. Como foi dito
anteriormente, macacos-prego são conhecidos por mudarem seu padrão de forrageamento
de acordo com as estações do ano e esta habilidade parece ter sido uma variável
ecologicamente relevante durante a coleta.
50
Figura 7. Respostas do sujeito Tico (M23) na sessão anterior a reversão, durante a
reversão com quatro escolhas e nas tentativas de teste com os seis estímulos.
Teste Sessão anterior Reversão Sessão de teste
A1
(Azul)
S+
S-
A2
(Vermelho)
S+
S-
B1
(Amarelo)
S+
S-
B2
(Verde)
S+
S-
C1
(Preto)
S+
S-
C2
(Lilás)
S+
S-
51
Ainda que os resultados do presente estudo sugiram que se obteve a formação de
classes funcionais, é necessário verificar se o mesmo desempenho pode ser obtido com
variações das posições dos estímulos e o uso de reforçador único para ambas as classes
potenciais. A primeira manipulação poderá afastar possíveis explicações alternativas dos
dados por controle proprioceptivo que tenha determinado ao sujeito percorrer uma
determinada trajetória fixa na busca de comida no aparato, o que o levaria a responder
sempre nas caixas do mesmo conjunto após responder a uma primeira caixa desse
conjunto. A segunda manipulação, o uso de reforçador único para ambos os conjuntos,
poderá afastar possíveis explicações alternativas do comportamento dos sujeitos,
recorrendo ao controle condicional pela comida apresentada antes da primeira tentativa,
conforme descrito anteriormente.
Adicionalmente, o procedimento aqui descrito não permitiu definir quais as
propriedades dos estímulos que estavam, de fato, controlando o comportamento de
escolha do sujeito. Cada estímulo tinha, pelo menos, três aspectos que poderiam estar
controlando individualmente ou em conjunto, o comportamento do sujeito: a cor da caixa,
a fruta afixada na parte superior de cada caixa e a posição em que cada caixa se
encontrava. Entre as hipóteses levantadas através dos registros visuais das sessões, a
posição e a cor das caixas parecem ter sido propriedades que mais controlaram o
comportamento de escolha dos sujeitos, além do possível controle condicional exercido
pelos reforçadores específicos.
Desta maneira, um segundo experimento foi programado com um dos sujeitos
experimentais onde a posição das caixas foi modificada diariamente. Além disso, o uso
52
de reforçadores específicos foi suspenso. Um terceiro reforçador foi utilizado para ambos
os grupos de estímulos.
53
EXPERIMENTO II
O procedimento de reversões sucessivas de discriminações simples é
classicamente usado para o estudo de formação de classes funcionais (Kastak et al., 2001,
Vaugham, 1982). No primeiro experimento aqui apresentado, adotou-se um
procedimento pioneiro para treino de discriminações simples simultâneas conjugadas no
qual o repertório de busca de alimento (forrageio) dos sujeitos é útil na aquisição das
discriminações. O procedimento partiu do princípio de que, em um contexto de forrageio
em ambiente natural, fontes de alimento como as árvores estão sempre no mesmo lugar.
Assim, os estímulos empregados durante o trabalho estavam sempre na mesma posição.
Outra característica do experimento foi o uso de dois tipos de reforçadores específicos na
tentativa de simular um ambiente onde diferentes conjuntos de árvores oferecem
diferentes tipos de alimento.
Como descrito anteriormente, os dados produzidos pela aplicação desse
procedimento são promissores no que diz respeito a documentar a formação de classes
funcionais, mas essas duas características do procedimento (posição dos estímulos e
reforçadores específicos) deixam perguntas que ainda ficaram sem ser respondidas. O
fato dos estímulos estarem sempre na mesma posição teria facilitado o sucesso da
execução da tarefa? O responder obtido no experimento seria meramente produto de uma
responder seqüencial determinado por uma possível trajetória fixa percorrida pelo sujeito
em função das posições fixas dos estímulos? Qual seria o papel dos reforçadores
específicos nesta tarefa? Estariam os reforçadores específicos facilitando o processo de
54
formação de classes ou estariam exercendo controle condicional sobre as respostas de
escolha das caixas?
O experimento a seguir, é uma tentativa de responder a essas perguntas. Duas
variáveis (a posição dos estímulos e o uso de reforçador único) foram manipuladas
simultaneamente. A decisão em adotar duas mudanças experimentais simultâneas foi
baseada na hipótese de que estes aspectos, posição fixa e o uso de reforçadores
específicos, não foram determinantes para a obtenção do padrão de responder que se
observou no experimento anterior. Em outras palavras, é possível que o mesmo padrão de
respostas seja obtido na ausência de ambos os elementos acima citados. De forma geral,
caso o desempenho do sujeito se mantivesse neste segundo experimento, tal dado
comprovaria que o uso de posições fixas e reforçamento específico não constituíram um
artefato que poderia ter simulado a formação de classes de estímulos.
55
MÉTODO
Sujeito
Um dos dois sujeitos do Experimento I, o sujeito M18 (Adam), foi empregado
neste segundo estudo. Adam estava com 5 anos e 10 meses no início do experimento.
Equipamento e Ambiente Experimental
O equipamento de coleta utilizado no segundo experimento e o ambiente
experimental foi exatamente os mesmos dos descritos no Experimento I (Figura 1).
Estímulos
Discriminativos: Os estímulos discriminativos são os mesmos empregados no
Experimento I. Entretanto, a posição de cada estímulo variava a cada sessão
experimental.
Reforçadores: Somente um estímulo reforçador foi utilizado, pedaços de pipoca
doce, e era comum para ambos os grupos de estímulos.
56
Procedimento
Procedimento Geral
Quando quaisquer caixas do Grupo 1 (A1, B1 e C1) eram designadas como S+,
respostas de exploração nestas caixas eram consequenciadas por encontrar pedaços de
pipoca em seus interiores. Diferentemente do Experimento I, o mesmo reforçador foi
utilizado quando as caixas do Grupo 2 (A2, B2 e C2) eram designadas como S+.
Respostas em qualquer um dos estímulos S- eram seguidas pelo fim imediato da
tentativa sem a apresentação do bônus. Além disso, respostas em S- também eram
seguidas por um time-out de 15 segundos (em média), além do intervalo entre tentativas
de mais 15 segundos.
Cada sessão experimental tinha, no máximo, 20 tentativas. A sessão era encerrada
quando o sujeito apresentava seis respostas consecutivas ou ao final da visima
tentativa.
Fase 1. Treino de discriminação simples com seis escolhas
O Experimento II teve início com sessões de RRDS com seis escolhas. Quando o
critério de seis respostas corretas consecutivas era obtido, a sessão se encerrava.
No dia seguinte, uma nova sessão experimental era programada com
contingências revertidas. Além disso, a posição dos estímulos era alterada. As caixas
eram posicionadas de maneira distinta da sessão anterior de forma que pelo menos dois
57
estímulos designados como S+ na nova sessão não ocupassem o mesmo lugar dos
estímulos designados como S+ na sessão anterior. A posição das caixas não era alterada
entre tentativas, somente no início de cada sessão experimental.
Foram programadas sucessivas reversões das condições experimentais e foram
analisados indícios de formação de classes nesta fase nas últimas seis sessões
experimentais. Esta fase foi encerrada quando os indícios de formação de classes se
tornaram freqüentes, ou seja, pelo menos três indícios de formação de classes na últimas
seis sessões. Os mesmos critérios para avaliação dos indícios de formação de classes
descritos no estudo anterior foram aqui adotados.
Fase 2. Testes de formação de classes funcionais
O teste de formação de classes funcionais se deu da mesma maneira descrita no
Experimento I (Fase 4). A diferença fundamental entre os testes era a variação da posição
dos estímulos e o uso de reforçador único.
Seis testes foram empregados, cada um com um par diferente de estímulos sendo
removido, como descrito a seguir na Tabela 4, que mostra a contingência e a posição dos
estímulos no Teste C1, Teste B1 e Teste A1.
58
Tabela 4
Contingências em vigor e posição dos estímulos durante Testes A1, B1 e C1.
A1 B1 C1
Reversão Teste Reversão Teste Reversão Teste
Contingência B1, C1+
B2, C2-
A1, B1, C1+
A2, B2, C2-
A1, C1+
A2, C2-
A1, B1, C1+
A2, B2, C2-
A1, B1+
A2, B2-
A1, B1, C1+
A2, B2, C2-
Posição
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A2
B2
C2
Reversão Teste Reversão Teste Reversão Teste
Contingência B2, C2+
B1, C1-
A2, B2, C2+
A1, B1, C1-
A2, C2+
A1, C1-
A2, B2, C2+
A1, B1, C1-
A2, B2+
A1, B1-
A2, B2, C2+
A1, B1, C1-
Posição
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
A1
A2
C1
C2
B1
B2
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O sujeito M18 foi submetido a 26 sessões de treino de discriminação simples
simultânea com seis escolhas (Figura 8). O critério de seis respostas corretas consecutivas
foi atingido em todas as sessões experimentais, ou seja, o sujeito foi submetido a 25
reversões das contingências nesta fase. A precisão de desempenho do sujeito variou
muito, de 85,7 a 40%, durante toda a fase experimental. Entretanto, ele se tornou mais
estável a partir da vigésima sessão.
59
Entre as propriedades dos estímulos no segundo experimento (cor das caixas e
frutas afixadas acima de cada uma), o sujeito parece ter ficado sob controle da cor das
caixas. Esta hipótese foi levantada de acordo com os erros apresentados pelo sujeito nesta
fase. A partir da vigésima sessão, a maioria dos erros apresentados pelos sujeitos ocorreu
nas tarefas de discriminação entre a caixa azul e a lilás. Os estímulos azul e lilás
pertencem a grupos distintos de estímulos. Assim, escolher um deles seguido pela escolha
do outro resulta em uma resposta incorreta. Após a 20º sessão, a probabilidade de o
sujeito escolher o estímulo azul depois do lilás foi 0.78. O esperado de uma resposta
incorreta ao acaso seria de 0.2. Desta forma, a maioria dos erros que ocorreram depois da
escolha da caixa azul, se deu com a caixa lilás e vice-versa.
Como as frutas afixadas acima de cada caixa diferiam enormemente uma da outra
(uma carambola e um pedaço de mamão), a propriedade cor da caixa parece estar
controlando mais o comportamento do sujeito.
Esta aparente linha de confusão envolvendo a discriminação entre os estímulos
azul e lilás ainda aparece de forma mais acentuada nas ultimas duas sessões desta fase.
Na vigésima quinta sessão, a primeira resposta ocorre no estímulo lilás, mas a resposta
seguinte ocorre no azul. Na tentativa seguinte, entretanto, o sujeito não erra mais.
Da mesma forma, o sujeito deixa de errar depois da segunda tentativa da sessão
seguinte, 26
a
sessão (Figura 8). O erro da segunda tentativa, mais uma vez, envolve a
escolha do estímulo lilás. Após esta tentativa, o sujeito não errou mais.
Nas duas últimas sessões desta fase, foram obtidos indícios de formação de
classes. A experiência que o sujeito teve com alguns membros de um grupo de estímulos
60
nas primeiras tentativas alterou seu responder na presença dos membros remanescentes
daquele grupo. Na 25
a
sessão (Figura 8), o sujeito passa a emitir respostas corretas depois
da primeira tentativa. Na 26
a
sessão (Figura 8), isso se deu depois da segunda tentativa.
No final desta fase, o sujeito estava respondendo apropriadamente depois de algumas
tentativas após a reversão das contingências (ver, por exemplo, sessão 20, Figura 8).
61
Sessão Contingências ac./tot % de ac.
Trials
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1314 1516 17 181920 2122 23 24 25
1
+
-
5/10 50
S+
S-
2
+
-
7/9 77,7
S+
S-
3
+
-
7/15 46,6
S+
S
-
4
+
-
6/15 40
S+
S-
5
+
-
6/8 75
S+
S-
6
+
-
6/11 54,5
S+
S-
7
+
-
6/13 46,1
S+
S-
8
+
-
6/10 60
S+
S
-
9
+
-
6/8 75
S+
S
-
10
+
-
6/11 54,5
S+
S-
11
+
-
6/7 85,7
S+
S-
12
+
-
6/12 50
S+
S
-
Figura 8. Desempenho do sujeito M18 nas sessões de repetidas reversões de
discriminação simples simultâneas com seis escolhas. Para cada sessão, o apresentadas
as contingências em vigor, bem como a precisão do desempenho expressa pelo numero
de tentativas concluídas sem erro por total de tentativas (ac./tot.) e respectivo percentual
(% de ac.). Também são apresentadas as seqüências de respostas a S+ e S- para cada uma
das 20 tentativas de uma sessão. Os quadrados são preenchidos com as cores dos
estímulos selecionados pelo sujeito em cada tentativa. Respostas corretas em cada
tentativa são representadas, na ordem em que correm, na coluna correspondente à
tentativa, na área destinada à respostas à S+. Respostas em S- são apresentadas, na cor em
que ocorreram, na última posição de cada coluna, na área designada a respostas a S-.
62
Sessão Contingências ac./tot % de ac.
Trials
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1314 1516 17 181920 2122 23 24 25
13
+
-
6/15 40
S+
S-
14
+
-
11/13 84,6
S+
S
-
15
+
-
6/10 60
S+
S
-
16
+
-
6/9 66,6
S+
S
-
17
+
-
6/13 46,1
S+
S-
18
+
-
6/10 60
S+
S-
19
+
-
6/9 66,6
S+
S-
20
+
-
7/10 70
S+
S-
21
+
-
8/11 72,7
S+
S-
22
+
-
9/17 52,94
S+
S-
23
+
-
10/16 62,5
S+
S-
24
+
-
6/9 66,6
S+
S
-
Continuação da Figura 8
63
Sessão Contingências ac./tot % de ac.
Trials
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1314 1516 17 181920 2122 23 24 25
25
+
-
6/7 85,7
S+
S-
26
+
-
6/8 75
S+
S-
Testes de formação de classes funcionais
O objetivo dos testes de formação de classes era, assim como no primeiro
experimento, constatar se, após a reversão das contingências para quatro dos seis
estímulos, o sujeito também reverteria a discriminação quando os estímulos ausentes
fossem reintroduzidos. Os dados de todos os testes do sujeito M18 foram positivos para a
formação de classes funcionais de estímulos (Figura 9). A Figura 9 mostra, para cada
teste, o desempenho do sujeito na sessão do dia anterior, a reversão com quatro estímulos
no dia do teste e seu desempenho quando os estímulos ausentes eram reintroduzidos no
contexto experimental.
Assim, no caso do teste A1, a sessão anterior ao teste tinha como contingência
vigente os estímulos vermelho, verde e lilás como positivos. O critério de seis respostas
corretas consecutivas foi alcançado, nesta sessão, na décima tentativa. Quando isso
ocorreu, a sessão foi encerrada. A sessão seguinte teve início com quatro estímulos
Continuação da Figura 8
64
somente, dois de cada grupo. A contingência era revertida quando comparada à sessão
anterior e, desta forma, os estímulos amarelo e preto eram positivos enquanto que verde e
lilás eram negativos. O critério nesta sessão foi alcançado em seis tentativas.
Logo após o sujeito ter alcançado o critério, os estímulos ausentes foram
reinseridos no contexto experimental com a mesma contingência. Os estímulos amarelo e
preto continuavam sendo designados como S+ enquanto que as caixas verde e amarela
continuam sendo S-. A primeira resposta aos estímulos reinseridos foi analisada. O fato
de o sujeito ter escolhido, entre os estímulos que voltaram a aparecer no contexto
experimental, a caixa azul foi considerado como indício de formação de classes. A caixa
azul havia sido designada como S- na sessão do dia anterior. Responder nela agora seria
melhor explicado pela experiência que o sujeito teve com os estímulos do mesmo grupo.
Assim, a experiência que o sujeito teve com as caixas amarela e preta teriam alterado a
função discriminativa do estímulo azul quando ele voltou a aparecer.
O sujeito apresentou o mesmo desempenho em todos os outros cinco testes
programados. Em todos eles, a primeira resposta emitida na presença dos estímulos
reinseridos foi condizente com a formação de classes (ver Figura 9).
65
Figura 9. Respostas do sujeito Adam (M18) na sessão anterior a reversão, durante a
reversão com quatro escolhas e nas tentativas de teste com os seis estímulos.
Teste Sessão anterior Reversão Sessão de teste
A1
(Azul)
S+
S-
A2
(Vermelho)
S+
S-
B1
(Amarelo)
S+
S-
B2
(Verde)
S+
S-
C1
(Preto)
S+
S-
C2
(Lilás)
S+
S-
66
DISCUSSÃO GERAL
Os resultados do Experimento I e do Experimento II documentam a
formação de classes funcionais em dois macacos-prego (Cebus-apella). A medida
empregada para verificar a formação de classes é possivelmente segura pela forma como
o teste é conduzido; o indício de formação de classes é baseado na primeira tentativa na
qual os estímulos aparecem juntos novamente depois da reversão. A probabilidade de o
sujeito escolher ao acaso a caixa correta entre as duas caixas reinseridas na primeira
tentativa de teste é de 0.50. Contudo, a probabilidade disso ocorrer seis vezes
consecutivas em seis testes diferentes é de 0,015. O conjunto dos dados obtidos nos seis
testes mostra um responder muito acima do nível de acaso.
O sujeito Adam (M18) precisou de 26 sessões para concluir a tarefa de
discriminação simples com seis escolhas no Experimento II. Quando comparado ao
Experimento I, isso representa mais que o dobro de sessões necessárias para realizar a
tarefa. Além disso, diferentemente do desempenho observado no Experimento I, a
precisão do sujeito M18 se torna um pouco mais estável a partir das seis últimas
sessões.
Este dado indica que a tarefa pode ter se tornado mais complexa quando
comparada ao estudo anterior. A explicação para esta diferença pode estar relacionada às
propriedades dos estímulos neste segundo estudo. Os estímulos do Experimento II
deixaram de ter duas das quatro propriedades que tinham no Experimento I: a posição e o
tipo de reforço encontrado no interior de cada grupo de estímulos. Isso significa dizer que
um número menor de dicas estava disponível ao sujeito para responder. Assim, para a
67
execução desta tarefa no Experimento II, o sujeito deveria estar sob controle das duas
propriedades restantes (a cor dos estímulos e as frutas de brinquedo afixadas em cima de
cada caixa).
Todavia, ainda que o sujeito tenha necessitado de mais sessões experimentais para
concluir esta fase quando comparado ao estudo anterior, a tarefa foi aprendida com êxito.
O sujeito discriminou entre um grupo e outro de estímulos a despeito da posição dos
mesmos ter variado de sessão para sessão. Além disso, a tarefa foi concluída sem a
utilização de reforços específicos.
Mesmo com 26 sessões de treino no segundo experimento, a quantidade de
sessões experimentais para alcançar o critério de aprendizagem no presente trabalho é
muito menor que outros descritos na literatura. O número elevado de sessões de treino
parece ser uma característica comum entre os que se predispõem a descrever formação de
classes funcionais em animais (Kastak, et al., 2001; Vaugham, 1988). Cada pombo do
trabalho de Vaugham recebeu aproximadamente 800 sessões até documentar a formação
de classe. Assumindo que o autor realizava 6 sessões semanais, em média, o experimento
deve ter tido uma duração de aproximadamente 3 anos. O leões-marinhos do trabalho de
Kastak, por sua vez, passaram por 160 sessões de treino, em média, cada um.
Ainda que o número de estímulos empregado nesses estudos tenha sido maior que
o do presente trabalho, o número de tentativas por sessão também foi. O trabalho de
Vaugham tinha 80 tentativas por sessão. Em outras palavras, os sujeitos desse trabalho
passaram por, aproximadamente, 64000 tentativas ao final do experimento. Cada sessão
experimental do trabalho de Kastak, et al. (2001) tinha 40 tentativas. Da mesma forma, os
68
sujeitos desse trabalho foram submetidos a, aproximadamente, 7400 tentativas de treino.
O número de tentativas apresentado por ambos os trabalhos é muito superior às 520
tentativas de treino do presente trabalho.
Os resultados do Experimento II permitem ainda compreender melhor que
propriedades dos estímulos estavam, de fato, controlando o comportamento de escolha
dos sujeitos no Experimento I. Além disso, permite compreender qual o papel da cor dos
estímulos e dos reforços específicos na realização de tarefas de RRDS em Cebus apella.
O Cebus apella, como a maioria dos primatas do Novo Mundo, possui visão de
cores polimórfica caracterizada por diferenças de nero. Em outras palavras, todos os
machos e uma parcela das fêmeas apresentam uma de três formas variantes de
dicromacia. Em qualquer das três variações, a dicromacia do Cebus apella macho implica
em uma percepção visual caracterizada pela incapacidade de discriminar entre certos
matizes normalmente discriminados por indivíduos tricromatas somente com base em
variações de comprimentos de onda (e.g., Jacobs, 2006).
A despeito disso, ambos os sujeitos atingiram o critério de discriminação neste
arranjo experimental, provavelmente porque outras propriedades dos estímulos além do
matiz, como brilho, podem ter assumido controle. De fato, o desempenho do sujeito M18
no segundo experimento sugeriu que a cor – caracterizada pela composição matiz, brilho
e saturação pode ser uma propriedade útil em tarefas de discriminação. Esta
propriedade é particularmente importante quando os estímulos têm sua posição
modificada sessão a sessão como aconteceu no segundo estudo.
69
Em situações nas quais o brilho e a saturação variam, como ocorre em ambiente
natural, é comum que um animal dicromata seja capaz de discriminar entre cores que
contenham matizes que de outra forma seriam indiscrimináveis para ele. Entretanto,
tendo em vista as constantes erros ocorridos entre os estímulos azul e lilás no segundo
experimento, é possível que esse par de estímulos tenha sido inadvertidamente definido
com cores indiscrimináveis para o M18. É plausível supor que os problemas de
discriminação entre os estímulos azul e lilás se devam a uma forma variante de
dicromacia que tornaria o animal insensível ao componente de comprimentos de ondas
longas que diferenciaria o azul do lilás.
Entretanto, a dicromacia destes animais acaba por impor limitações que podem
gerar linhas de confusão. Os constantes erros ocorridos entre os estímulos azul e lilás no
segundo experimento exemplificam este fenômeno. Cebus apella machos são
desprovidos de cones L. A ausência destas células fotoreceptoras torna o macaco-prego
insensível ao componente de comprimentos de ondas longas que diferencia o azul do lilás
gerando possíveis linhas de confusão.
Os resultados do segundo experimento também permitem compreender o papel do
reforçador específico em tarefas de RRDS. Kastak et al. (2001) documentaram que o
desempenho dos sujeitos submetidos a fases de RRDS com reforços específicos para cada
grupo de estímulos era bem melhor do que em fases que não tinham reforços específicos
programados. De forma semelhante, a retirada de reforçadores específicos também pode
explicar a diferença entre o número de sessões necessárias para concluir a fase de RRDS
com seis escolhas no primeiro e no segundo estudo.
70
Comparações com o estudo de Kastak et al. (2001) devem, entretanto, ser feitas
com ressalvas. A decisão em manipular duas variáveis simultaneamente no presente
estudo (posição dos estímulos e uso de reforçadores específicos), não permite atestar qual
o real papel dos reforçadores. Entretanto, mesmo não tendo condições de afirmar que a
retirada dos reforços específicos tornou a tarefa mais complexa, pode-se afirmar que ela
não tornou a tarefa mais fácil. De qualquer forma, o sujeito realizou a tarefa a despeito da
ausência de reforços específicos, mesmo sendo necessária uma maior quantidade de
treino para isso. De fato, o uso de reforçadores específicos pode facilitar mas não é
obviamente uma condição para a formação de classes (Sidman, 2000).
Resta ainda discutir outras possibilidades, que não a formação de classes de
estímulos, para o desempenho dos sujeitos nos Experimentos I e II. Uma vez que os
sujeitos não tinham acesso visual ao interior das caixas, poder-se-ia argumentar que as
respostas de escolha estivessem sendo controladas pelo cheiro dos reforçadores. Desta
forma, ao se aproximarem de um estímulo, os animais poderiam, através do olfato,
discriminar se havia um reforçador em seu interior.
Esta hipótese, contudo, foi descartada por dois motivos. O primeiro deles se
pelo próprio procedimento. Como as reversões eram diárias, os alimentos usados como
reforçadores estavam constantemente sendo depositados no interior de todas as caixas.
Isso, por si só, deixaria um cheiro residual de ambos os reforçadores nas caixas, o que
impossibilitaria qualquer discriminação. Além disso, o uso de informações olfativas
durante o forrageio parece ser uma adaptação para animais de hábitos noturnos, o que não
é o caso do Cebus apella (Bolen & Green, 1997). Em tarefas de achar comida escondida
em recipientes que não permitiam acesso visual ao seu interior, espécies de primatas de
71
hábitos noturnos escolhiam os recipientes que continham comida com uma precisão
muito acima do acaso, enquanto que o Cebus apella não.
Aparentemente, o emprego de um procedimento menos arbitrário envolvendo
variáveis ecologicamente relevantes como comportamento de forrageio parece ter sido
eficaz para o treino de RRDS. Entretanto, o emprego deste tipo de procedimento menos
arbitrário, mesmo sendo útil, possui deficiências que devem ser levadas em consideração
em futuros trabalhos. O fato da coleta ocorrer na gaiola viveiro do sujeito fazia com que
seu desempenho se alterasse muito dependendo de elementos como: qual macaco (se um
dominante ou outro animal) ficava preso na gaiola de contenção próxima ao
equipamento; o segundo experimentador que oferecia o bônus; as pessoas que, por
ventura, entravam na área dos viveiros dos animais; barulho de obras; pessoas que
olhavam a coleta pela janela; etc.
Mesmo que a presença de tantas variáveis estranhas não tenha comprometido o
desempenho geral dos dois sujeitos, faz-se necessário maior controle experimental. Tal
controle permitiria ao experimentador compreender melhor o fenômeno de formação de
classes neste contexto. Desta forma, em futuros trabalhos, seria interessante empregar
meios para minimizar as variáveis estranhas em ação tais como restringir o acesso ao
viveiro durante as sessões experimentais e empregar somente dois experimentadores
durante todo o procedimento.
De forma geral, a situação de treino de discriminações simples usada mostrou-se
efetiva para obter o desempenho rápida e precisamente. O próximo passo será a
adaptação do procedimento para possibilitar o estudo de formação de classe via
72
procedimento de MTS. Neste trabalho, uma das caixas de um dos subconjuntos (A1, por
exemplo) seria mostrada no centro do equipamento como estímulo modelo, enquanto as
demais estariam cobertas. Após a resposta ao modelo, as comparações (B1 e C2) seriam
reveladas. Tal procedimento permitira programar e realizar os testes de formação de
classes de estímulos no formato proposto por Sidman e Tailby (1982). Dados positivos
neste contexto iriam fortalecer a literatura que documenta classes funcionais e
equivalentes como sendo os mesmos processos comportamentais (Kastak et al., 2001;
Vaugham, 1988).
Se a equivalência de estímulos envolve pré-requisitos comportamentais que
humanos, mas não animais de laboratório, possuem em sua história pré-experimental, o
presente trabalho pode ter contribuído com a compreensão de alguns desses pré-
requisitos levando em consideração variáveis ecologicamente relevantes do sujeito em
questão.
O comportamento de forrageio pode envolver fenômenos muito mais complexos
que responder ao meio ambiente via receptores sensoriais. Uma vez que a orientação dos
receptores do macaco podem mudar entre um encontro e outro com a fonte de comida,
achar alimento de forma efetiva deve envolver a tendência de generalizar, classificar ou,
de alguma forma, responder de uma forma similar a objetos e eventos encontrados
previamente (Schusterman & Kastak, 2002). O presente trabalho mostrou que esta
habilidade pode e deve ser utilizada em contextos experimentais para o estudo de
formação de classes de estímulos.
73
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81
ANEXO 1
Tico ____/____/____
2.1
-
A1 B1
C1/
A2 B2
C2
Cereal
Obs
1- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
2- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
3- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
4- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
5- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
6- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
7- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
8- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
9- A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
10
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
11
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
12
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
13
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
14
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
15
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
16
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
17
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
18
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
19
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
20
A1
Ama
B1
Azul
C1
Preto
A2
VM
B2
Verde
C2
Lilás
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