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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
DA PIRÂMIDE INVERTIDA À PIRÂMIDE MULTIDIRECIONAL- a discursividade
jornalística no Último Segundo
MÁRCIA DANIELLA SOUZA DOS SANTOS
MANAUS
2010
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1
MÁRCIA DANIELLA SOUZA DOS SANTOS
DA PIRÂMIDE INVERTIDA À PIRÂMIDE MULTIDIRECIONAL- a discursividade
jornalística no Último Segundo
Orientador: Prof. Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira
MANAUS
2010
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação
em Ciências da Comunicação (PPGCCOM), da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM), como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
Ciências da Comunicação, área de concentração em
Ecossistemas Comunicacionais, linha de pesquisa 1-
Ambientes Comunicacionais Midiáticos
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2
Ficha Catalográfica
(Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)
S237d
Santos, Márcia Daniella Souza dos
Da pirâmide invertida à pirâmide multidirecional - a
discursividade jornalística no Último Segundo / Márcia Daniella
Souza dos Santos. - Manaus: UFAM, 2010.
131 f.; il. color.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) ––
Universidade Federal do Amazonas, 2010.
Orientador: Prof. Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira
1. Texto jornalístico 2. Análise de discurso 3.
Discursividade jornalística. I. Oliveira, Evandro Cantanhede de
II. Universidade Federal do Amazonas III. Título
CDU 070.41:81’322.5(043.3)
3
Márcia Daniella Souza dos Santos
Da pirâmide invertida à pirâmide multidirecional-
a discursividade jornalística no
Último
Segundo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em
Ciências da Comunicação (PPGCCOM), da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciências da Comunicação
Aprovada em 26 de abril de 2010
Banca examinadora
_____________________________________ - Presidente
Prof. Dr. Evandro Cantanhede de Oliveira
- Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
_______________________________________- Membro
Prof.Dr. Sérgio Augusto Freire de Souza-
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
_______________________________________- Membro
Prof. Dr.Walmir de Albuquerque Barbosa
-Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
4
Todos os direitos desta dissertação são reservados à sua autora e ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade Federal do Amazonas. Partes desta
dissertação só poderão ser reproduzidas para fins acadêmicos ou científicos.
Esta pesquisa contou com auxílio de bolsa de estudo da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e foi desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Comunicação no período de 2008 a 2010.
5
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar aos meus pais, Luiz e Marluce, pelo constante e
incondicional incentivo.
Digo obrigada ao meu noivo Alberto, pela imperturbável compreensão nos momentos
mais difíceis e pelo belo desenho que acompanha a epígrafe.
Não existem palavras suficientes para agradecer ao meu orientador, professor doutor
Evandro Cantanhede de Oliveira, que me acompanhou sempre com gentileza e dedicação.
Agradeço a todo corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Comunicação (PPGCCOM) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em especial ao
professor doutor Gilson Monteiro, cujo sonho de implantar o primeiro Mestrado em Ciências
da Comunicação da Região Norte permitiu que eu realizasse o meu sonho de cursar um
Mestrado sem sair do meu Estado.
Minha gratidão também à professora doutora Luiza Elayne Azevedo, pela constante
gentileza e disponibilidade em auxiliar os mestrandos.
Preciso agradecer muito ao professor doutor Walmir de Albuquerque Barbosa por todo
incentivo ao longo da minha formação acadêmica e no decorrer do mestrado.
Um agradecimento especial também ao professor doutor rgio Augusto Freire de
Souza, por um dia ter me dito que “pode existir uma forma diferente de pensar na academia e
no mundo”.
Minha profunda gratidão também vai para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
Amazonas (FAPEAM), pela concessão de uma bolsa-auxílio, sem a qual eu não teria
conseguido concluir este trabalho.
Por fim, agradeço aos meus companheiros de jornada, meus colegas de Mestrado, que
compartilharam comigo angústias e aprendizados.
6
Para Rita & Pedro e José & Mariana, lançadores de sementes
nordestinas que me tornaram uma árvore em terras amazônicas.
7
Saiu o semeador a semear. Semeou o dia todo e a noite o
apanhou ainda com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranqüilo sem pensar na colheita porque muito
tinha colhido do que outros semearam.
Cora Coralina
Ilustração: Alberto Fermin
8
Resumo
A pirâmide invertida começou a ser utilizada como padrão de redação jornalística pelos norte-
americanos no final do século XIX. O modelo é reproduzido pelos jornais impressos até hoje
e faz parte do processo de constituição da discursividade jornalística. A partir da cada de
1990 do século XX, com o desenvolvimento da Internet e a concepção da
World
Wide Web
,
jornais impressos migraram para o ambiente virtual e também novos tipos de informativos
surgiram, caso do
Último Segundo
,
corpus
desta pesquisa, sendo o objeto de análise a
pirâmide invertida. Esta pesquisa investigou o que ocorreu com o modelo e com a
discursividade jornalística ao serem transpostos para a Internet. Para isso, foi realizada a
análise de 31 matérias noticiosas coletadas diariamente durante o mês de julho de 2009. A
análise foi realizada tendo como base o modelo de produção do discurso proposto por Orlandi
(2001), conforme os princípios e procedimentos da Análise de Discurso de linha francesa.
Inicialmente, a pesquisa observou se o texto jornalístico presente no
Último Segundo
ainda
seguia o modelo da pirâmide invertida. Também foi averiguada a mudança de sentido da
discursividade jornalística- originalmente constituída e formulada para o ambiente impresso e
agora presente na
Web
- que foi gerada por sua circulação em um suporte com propriedades
digitais.
A investigação resultou em uma constatação: a existência de uma pirâmide aberta e
multidirecional.
Palavras-chave
Texto jornalístico. Pirâmide invertida. Análise de discurso. Discursividade jornalística.
Pirâmide multidirecional.
9
Abstract
The inverted pyramid began to be used as a journalistic writing model by North Americans at
the end of the 19th century. The model is reproduced by newspapers until today and it makes
part of the constitution process of the journalistic discoursivity. From the 1990’s of the 20th
century, after the Internet development and the World Wide Web conception, newspapers
migrated to virtual environment and new kinds of journals appeared, as the
Último Segundo.
It was taken as the corpus of this research
and the inverted pyramid was considered the object
of the analysis. This research investigated what had occurred with the model and the
journalistic discoursivity after they were transposed to the Internet. To do that, it was analysed
the 31 news collected daily during the month of July 2009. The analysis was performed based
on the production of discourse model proposed by Orlandi (2001), according to the principles
and procedures of French Discourse Analysis. Initially, the research observed if the
journalistic text present in the
Último Segundo
are still using the inverted pyramid model. The
change of the journalistic discoursivity meaning- originally constituted and formulated for the
printed environment and now present in the Web- was also investigated and it was generated
by circulation in a digital properties support. The inquiry resulted in a finding: the existence
of an open and multidirectional pyramid.
Key-words
Journalistic text. Inverted pyramid. Discourse analysis. Journalistic discoursivity.
Multidirectional pyramid.
10
Lista de Figuras
Figura 1: Relato de fatos --------------------------------------------------------------------------42
Figura 2: Relato animado -------------------------------------------------------------------------42
Figura 3: Relato documentado -------------------------------------------------------------------42
Figura 4: Pirâmide invertida----------------------------------------------------------------------43
Figura 5: Relato cronológico ---------------------------------------------------------------------43
Figura 6: Combinação de procedimentos-------------------------------------------------------43
Figura 7: Pirâmide invertida (Beltrão)-----------------------------------------------------------45
Figura 8: Pirâmide normal (Beltrão)-------------------------------------------------------------45
Figura 9: “Cozinha”--------------------------------------------------------------------------------46
Figura 10: “Suíte” ----------------------------------------------------------------------------------46
Figura 11: Texto-legenda -------------------------------------------------------------------------46
Figura 12: O desenvolvimento da notícia na pirâmide deitada
------------------------------77
Figura 13: Níveis da pirâmide deitada-----------------------------------------------------------78
Figura 14: Efeito Champanhe --------------------------------------------------------------------79
Figura 15: Primeira Interface do
Último Segundo
---------------------------------------------83
Figura 16: Interface do
Último Segundo
em 2002 ---------------------------------------------84
Figura 17: Interface do
Último Segundo
em 2009 ---------------------------------------------84
Figura 18: Manchete na interface inicial do
Último Segundo
--------------------------------87
Figura 19: Manchete principal e manchetes secundárias no
Último Segundo-
-------------98
Figura 20: Exemplo da interface em que foram postadas as matérias analisadas----------98
Figura 21: Interface da página digital do Diário do Amazonas -----------------------------100
11
Figura 22: Duas páginas da edição impressa do Diário do Amazonas---------------------102
Figura 23: Detalhe da área superior de matéria no Estado de São Paulo
on-line
---------104
Figura 24: Detalhe da área inferior de matéria no Estado de São Paulo
on-line
---------105
Figura 25: Interface de matéria noticiosa no Portal G1 utilizando hipertextualidade---106
Figura 26: Detalhe de postagem de matéria jornalística no portal de notícias R7-------107
Figura 27: Detalhe da interface de notícias na Folha de São Paulo
on-line
--------------108
Figura 28: Comentários em matéria jornalística do
Último Segundo--
--------------------110
Figura 29:
Links
em matéria jornalística do
Último Segundo
-------------------------------111
Figura 30: Sessão “Leia também” de matéria jornalística do
Último Segundo-----------
112
Figura 31: Matéria com menos de 1.500 caracteres no
Último Segundo
------------------113
Figura 32: Horário de postagem e atualização de matéria do
Último Segundo
----------114
Figura 33:
Links
para corrigir matérias e entrar em contato com
Último Segundo
------115
Figura 34: Detalhe de anúncio publicitário em matéria do
Último Segundo--------------
116
Figura 35: Pirâmide aberta e multidirecional -------------------------------------------------118
12
Lista de Quadros
Quadro 1: Comparação entre o meio impresso e a Internet-----------------------------------67
Quadro 2: Comparação entre propriedades das discursividades analógica e digital
------
101
13
Sumário
Introdução------------------------------------------------------------------------------------------15
1
Historicidade da estrutura do texto jornalístico noticioso -
----------------------------
21
1.1 Primórdios do jornalismo impresso ---------------------------------------------------------22
1.2 A importância do telégrafo -------------------------------------------------------------------23
1.3 Pragmatismo norte-americano----------------------------------------------------------------24
1.4
Sobre o meio e Macluhan ---------------------------------------------------------------------26
1.5 O jornalismo antes da pirâmide invertida---------------------------------------------------27
1.6 A influência do positivismo no jornalismo-------------------------------------------------29
1.7 Surge a pirâmide invertida no texto jornalístico impresso -------------------------------31
1.8
A pirâmide invertida chega ao Brasil--------------------------------------------------------34
1.9
Estrutura técnica da pirâmide invertida no jornalismo impresso ------------------------38
1.10
A pós-modernidade e sua influência no jornalismo-------------------------------------48
2 Impactos da Internet no jornalismo-
-------------------------------------------------------
-51
2.1 Propagação da Internet e da
World Wide Web--
--------------------------------------------51
2.1.1 Globalização e capitalismo -----------------------------------------------------------------52
2.2
Web
2.0 e
Web
3.0------------------------------------------------------------------------------53
2.3 A Internet e a visão sistêmica-----------------------------------------------------------------54
2.4
Ideologia no Ciberespaço ---------------------------------------------------------------------59
2.5
Hipermídia --------------------------------------------------------------------------------------62
2.5.1 Noções de hipertexto na
Web----
---
--------------------------------------------------------
64
2.6
Primeiras experiências de jornalismo
on-line
----------------------------------------------68
2.7 O texto jornalístico na
Web
- argumentos a favor e contra a pirâmide invertida-------72
2.7.1 A favor... --------------------------------------------------------------------------------------72
14
2.7.2 Contra... ---------------------------------------------------------------------------------------74
2.8 Consenso e dissenso sobre a questão da estrutura do texto jornalístico na
Web --
----80
3 Caracterização do Último Segundo e parâmetros de análise---
------------------------
82
3.1 O
Último Segundo-
----------------------------------------------------------------------------82
3.2
Conteúdo ----------------------------------------------------------------------------------------86
3.3
Manual de Redação ---------------------------------------------------------------------------88
3.4 Análise de Discurso de linha francesa ------------------------------------------------------91
4 Análise do Corpus ----
--------------------------------------------------------------------------
98
4.1 Definição das discursividades jornalísticas-------------------------------------------------99
4.2 Propriedades das discursividades jornalísticas analógica e digital---------------------101
4.2.1 Discursividade analógica------------------------------------------------------------------102
4.2.2 Discursividade digital----------------------------------------------------------------------104
4.3 A discursividade jornalística no
Último Segundo
----------------------------------------108
4.3.1
A interatividade nas matérias jornalísticas do
Último Segundo ---
------------------109
4.3.2
A hipertextualidade nas matérias jornalísticas do
Último Segundo---------------
--110
4.3.3 O espaço ilimitado no
Último Segundo -
------------------------------------------------111
4.3.4 Menor extensão textual no
Último Segundo -------------------------------------------
-112
4.3.5 Sincronia temporal no
Último Segundo
--------------------------------------------------114
4.3.6
Correção multidirecional no
Último Segundo---------------------------------------
---114
4.3.7
Modelo livre do
Último Segundo --------------------------------------------------------
115
4.4 A pirâmide invertida relacionada à discursividade no
Último Segundo---------------
116
Conclusão------------------------------------------------------------------------------------------120
Anexos
----------------------------------------------------------------------------------------------
124
Referências-
---------------------------------------------------------------------------------------
126
15
Introdução
Desde os primórdios do jornalismo impresso, quando um leitor abria um jornal seus
olhos corriam pelas páginas em busca de informações interessantes. Para encontrá-las, ele
recorria às manchetes. Aquelas que chamavam mais sua atenção, o estimulavam a continuar a
leitura das informações anunciadas. No processo de leitura da informação que o interessava,
ele passava então para o
lead,
o parágrafo inicial do texto jornalístico, que tinha e ainda tem a
função de oferecer uma síntese que satisfaça a pessoa que o lê, mesmo que ela não leia os
demais trechos da matéria. Todos esses elementos eram e ainda são estruturados dentro
daquilo que se conhece por pirâmide invertida.
O
lead
é um dos elementos do modelo da pirâmide invertida que começou a ser
utilizado pelos jornalistas norte-americanos entre o final do século XIX e início do XX. Trata-
se do primeiro elemento da pirâmide e apresenta detalhes mais interessantes da notícia. Após
o
lead,
são apresentados ao leitor os demais parágrafos da matéria jornalística, em ordem
decrescente de relevância, daí o nome do modelo ser pirâmide invertida. Esse modelo consiste
em começar o texto noticioso com fatos culminantes, prosseguir a redação do segundo
parágrafo com fatos ainda ligados ao parágrafo inicial, continuar o texto com pormenores
interessantes e, por fim, encerrá-lo com detalhes dispensáveis.
Levou pouco tempo para que o modelo da pirâmide invertida, então aprovado pelos
norte-americanos que pregavam o objetivismo no jornalismo, chegasse à América do Sul e
fosse adotado também pelos jornalistas brasileiros. Durante décadas, o modelo da pirâmide
invertida foi reproduzido pelos jornais impressos nas matérias noticiosas. A estrutura desse
modelo faz parte do processo de constituição da discursividade jornalística e reproduz o
sentido do que vem a ser o texto jornalístico no meio impresso, seu primeiro ambiente de
circulação.
16
Com o passar dos anos, o papel deixou de ser o único meio de circulação do texto
jornalístico. As novas mídias, entre elas as digitais, mudaram esse panorama. A Internet e a
concepção da
World
Wide Web
1
,
criada no início da década de 1990 do século passado,
fizeram com que veículos jornalísticos impressos também se interessassem pela nova mídia,
ou seja, pelo meio digital. E esse interesse vem aumentando nos últimos anos, que o
jornalismo está cada vez mais presente na Internet, como destaca Pinho (2003, p.58) ao
afirmar que "Hoje, com o maior espaço existente de circulação via redes de computadores, a
Internet não deixa de representar também um novo e promissor campo de renovação para as
práticas e as técnicas do jornalismo". Nesse processo é promovido também o deslocamento de
conceitos da prática jornalística, tais como a questão da subjetividade, a leitura, o próprio
jornalismo, a notícia, o papel do jornalista, o processo de comunicação e a questão da autoria.
Conforme essa ideia, são necessárias reformulações para que ocorra o deslocamento em
qualquer meio, no caso desta pesquisa, o digital. À medida em que aqueles que trabalham
com o jornalismo no ambiente digital percebem novas possibilidades, criam novas
linguagens, outras formas de fazer jornalismo. Tanto é que, além das versões
on-line
de
jornais tradicionais que migraram para a Internet, o jornalismo na
Web
também está presente
nos portais de conteúdo, criados dentro do ambiente virtual. Por esse motivo, a pesquisa foi
realizada no primeiro jornal
on-line
produzido no Brasil pelo portal IG, o
Último Segundo,
criado em 2000
.
No IG e nos demais portais brasileiros é possível encontrar
links
que
conduzem os usuários a diversas categorias de serviços e assuntos, entre eles as notícias
atualizadas rapidamente, que podem estar ligadas ou não ao assunto que o usuário da Internet
está buscando.
1
A World Wide Web, também conhecida apenas por Web, foi desenvolvida pelo programador inglês Tim
Berners-Lee. Por ser uma aplicação para compartilhamento de informações permitiu que a Internet alcançasse
uma abrangência mundial.
17
Assim, quando o internauta quer se informar, ele navega pelos
sites
em busca de
notícias, da mesma forma que o leitor dos jornais impressos tradicionais procura uma banca
para obter um exemplar. No entanto, a estrutura de acesso à informação na Internet é
diferenciada, uma vez que é o internauta que traça o percurso de leitura por meio dos
links
2
.
Dessa forma, é possível compreender a Internet como um ambiente dinâmico, no qual o ato de
chegar ao conteúdo textual demanda ligações hipertextuais
3
, uma característica do ambiente
digital.
Outro elemento que caracteriza a Internet é o “tempo real”, um determinante
ideológico no ciberespaço
4
.
Com base nessas considerações é possível compreender que a
Web,
o aplicativo para
compartilhamento de informações na Internet, é um ambiente bem diferente do suporte
impresso, o primeiro a ser utilizado para a circulação da discursividade jornalística.
Este trabalho investigou, segundo os princípios da Análise de Discurso de linha
francesa, como a discursividade jornalística presente na
Web
modificou o processo de
produção do discurso jornalístico digital, uma vez que a circulação em um meio diferente do
impresso altera também as propriedades de constituição e formulação desse discurso. Essas
alterações nas propriedades de constituição e formulação também levaram a uma modificação
na própria formulação da pirâmide invertida no ambiente da
Web
.
A circulação é um processo determinante do sentido e a discursividade jornalística, que
também circula via
Web,
possui outra materialidade apesar de sua historicidade ainda estar
ligada à constituição da discursividade jornalística veiculada no meio impresso, caracterizado
pelo modelo da pirâmide invertida para textos noticiosos. Diante dessas ilações iniciais, as
questões norteadoras foram as seguintes:
A estrutura da pirâmide invertida está sofrendo
2
Links são palavras ou símbolos em destaque que indicam ligações entre páginas da Internet.
3
O hipertexto é composto por um conjunto de documentos, assim como também é constituído por um conjunto
de conhecimentos, que são conectados por meio de links. Isto é, a informação é apresentada ao leitor na tela do
computador, mas ele pode "saltar" para outras informações por meio dos links.
4
Ciberespaço é considerado o conjunto das redes de computadores interligadas e toda atividade existente nesse
espaço. (PATACO; CONCEIÇÃO JUNIOR, 2006)
18
modificações devido às características próprias do ambiente virtual e do modelo inerente ao
hipertexto? A mudança de circulação da discursividade jornalística, com suas outras
formulações, está alterando suas propriedades e sua constituição?
Para encontrar as respostas a esses questionamentos, o trabalho foi dividido em quatro
capítulos. No primeiro deles, foi realizado um resgate da historicidade do modelo da pirâmide
invertida no meio impresso, como forma de compreender os sentidos discursivos que estão
vinculados ao modelo. Para isso, foi necessário recorrer a pesquisas de estudiosos do
jornalismo norte-americano, onde a pirâmide invertida surgiu no final do século XIX, entre
eles Bond (1962), Emery (1965) e Hohenberg (1962) e Tebbel (1978). Também recorreu-se
aos estudos de historiadores brasileiros que abordaram a chegada do modelo ao Brasil, como
Bahia (1990) e Sodré (1999).
Porém, para esclarecer a historicidade da pirâmide invertida, foi necessário no primeiro
capítulo deste trabalho abordar o desenvolvimento de novas tecnologias, com destaque para a
importância da invenção do telégrafo; e prestar esclarecimentos sobre as correntes filosóficas
vigentes na época da criação da pirâmide invertida e que influenciaram no seu surgimento.
Ainda no primeiro capítulo da dissertação é apresentada a estrutura técnica de
elaboração da pirâmide invertida, assim como outros modelos textuais utilizados no
jornalismo impresso. O capítulo inicial é encerrado recorrendo a teóricos como Lyotard
(1993) para uma discussão sobre a influência do pós-modernismo no jornalismo
contemporâneo e seu impacto nos modelos textuais jornalísticos.
No segundo capítulo da dissertação, foram abordados os impactos da Internet no
jornalismo. No entanto, antes de apontar esses impactos foi necessário discutir sucintamente
aspectos históricos da criação da Internet e da
Web,
assim como discutir a influência do
capitalismo e da globalização nesse processo com base nos estudos de Castells (2004), Lévy
(2000) e Santos (2001). Outro aspecto fundamental discutido no segundo capítulo deste
19
trabalho é a visão sistêmica da Internet, baseada nos estudos da teoria sistêmica sociológica de
Luhmann (1980), (2005) e (2009) e de autopoiese de Capra (2006).
Ainda no segundo capítulo desta pesquisa, foram investigados os aspectos
hipermidiáticos da Internet, além de serem apresentadas noções teóricas sobre o hipertexto. A
ideologia no ciberespaço é também abordada. Parte-se inicialmente dos estudos de Althusser
(1985) que norteiam a visão da Análise de Discurso sobre ideologia. Em seguida, ideias de
autores como Castells (2000), Harvey (2008) e Moretzsohn (2000) auxiliaram no
entendimento sobre a ideologia no ciberespaço.
É também nesse capítulo que é feito um quadro comparativo entre a Internet e o suporte
impresso, e são discutidos quais foram os impactos do surgimento da Internet e da criação da
Web
na prática dos jornalistas e na produção dos textos jornalísticos. O segundo capítulo da
dissertação é encerrado com a abordagem das primeiras experiências de jornalismo
on-line
e o
seu desenvolvimento, incluindo um debate, com auxílio de teóricos estrangeiros e brasileiros,
sobre argumentos contra e a favor da pirâmide invertida em textos jornalísticos digitais.
O terceiro capítulo da dissertação é dedicado a caracterização do
Último Segundo
, jornal
on-line
que foi analisado. O capítulo apresenta um pouco da história do
Último Segundo
e
oferece explicações sobre o conteúdo jornalístico e aspectos do seu manual de redação
relevantes para a análise. Ainda nesta terceira parte do trabalho são feitos esclarecimentos
sobre o dispositivo teórico que norteou a pesquisa, a Análise de Discurso de linha francesa.
Com base em pesquisadores como Pechêux (1995) e (2002), Gallo (1992), Brandão (2002),
Possenti (2004), Freire (2006) e Orlandi (2001) e (2003) é feito um pequeno resgate histórico
na Análise de Discurso francesa e são apresentados os aspectos teóricos que conduziram a
análise.
O quarto capítulo da dissertação inicia com a elaboração do dispositivo analítico, por
meio da definição das discursividades jornalísticas presentes nas estruturas impressa, chamada
20
aqui de analógica; e digital, presente na
Web.
Em seguida, foi necessário caracterizar com
auxílio de um quadro comparativo cada uma das propriedades dessas discursividades.
Depois da definição das propriedades das discursividades jornalísticas, foi possível
observar as propriedades da discursividade digital no
Último Segundo.
Os estudos de Orlandi
sobre a constituição, formulação e circulação da discursividade nortearam a análise que
ocorreu nas 31 matérias jornalísticas veiculadas no
Último Segundo
durante o mês de julho de
2009, sendo uma matéria coletada por dia entre às 6h e 12h.
Na última parte da análise, foi possível constatar como a circulação interferiu na
constituição e formulação da discursividade jornalística digital que, por sua vez, modificou o
padrão da pirâmide invertida na Internet, apontando para um novo modelo: pirâmide aberta e
multidirecional.
21
1 Historicidade da estrutura do texto jornalístico noticioso
Abordar a técnica de elaboração do texto jornalístico nos dias de hoje implica, de
alguma forma, em discutir também elementos que fazem parte da historicidade desse tipo de
redação. Antes que chegasse às telas dos computadores, sendo exibido em tempo real nos
sites noticiosos da Internet, o texto jornalístico percorreu um longo caminho. Uma trajetória
com um desenvolvimento técnico, influenciado muitas das vezes pelas descobertas de novas
tecnologias, por exemplo: o advento do telégrafo até o surgimento da Internet.
A cada invenção tecnológica que surgia, o jornalismo buscava também formas de
reformular a produção do seu conteúdo para os novos ambientes de circulação, ou seja, as
técnicas passavam por um processo de adequação ao ambiente tecnológico que estava
surgindo. Porém, para entender esse processo, é necessário antes diferenciar técnica de
tecnologia. Para isso, recorre-se a Santaella (2008, p.152-153). Segundo ela,
A técnica se define como um saber fazer, referindo-se a habilidades, a uma
bateria de procedimentos que se criam, se aprendem, se desenvolvem. [...]
Enquanto a técnica é um saber fazer, cuja natureza intelectual se caracteriza por
habilidades que são introjetadas por um indivíduo, a tecnologia inclui a técnica,
mas avança além dela. tecnologia onde quer que um dispositivo, aparelho ou
máquina for capaz de encarnar, fora do corpo humano, um saber técnico, um
conhecimento científico acerca de habilidades técnicas específicas.
Neste trabalho, respeitando a diferença feita por Santaella, a tecnologia, assim, será
entendida conforme Castells (2000), que a considera como a utilização dos conhecimentos
científicos, de maneira a especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira
reproduzível. Essa forma de reprodução, a qual ele se refere é que se constitui em técnica.
Essas considerações permitem o entendimento de que a técnica pode ser alterada ao
longo dos anos, conforme os avanços tecnológicos ocorrem. Além disso, segundo Bunge
22
(1980), é na técnica que são aplicados os conhecimentos científicos para projeção de artefatos
e planejamento de ações práticas dentro de um grupo social.
Sendo assim, é possível compreender após a diferenciação entre técnica e tecnologia,
que foi justamente a técnica jornalística que sofreu, sobretudo, alterações em decorrência das
tecnologias que surgiram nos séculos XIX e XX. O fazer jornalístico foi, dessa maneira,
influenciado pelos paradigmas tecnológico e científico que estavam em evidência à época. A
técnica de redação jornalística que conhecemos hoje foi concebida nesse período.
Bem antes de ter a forma que foi batizada de pirâmide invertida, por conta da maneira
decrescente de redigir os parágrafos conforme sua importância noticiosa, o texto jornalístico
era bem diferente do que pode ser visto nos jornais impressos da atualidade. É possível, então,
apresentar a história da técnica do texto jornalístico considerando dois momentos, um antes e
um depois da pirâmide invertida, dada a importância que esse modelo possui para a redação
jornalística.
1.1 Primórdios do jornalismo impresso
Ainda no início do século XIX, países como os Estados Unidos e a Inglaterra estavam
vivendo uma verdadeira corrida para revolucionar as técnicas de imprensa e iniciar uma
produção em massa de periódicos. Com isso, os editores também buscavam aumentar a
circulação desses jornais. Era uma consequência do capitalismo industrial e os norte-
americanos avançaram rapidamente (SODRÉ, 1999).
Nessa corrida pelo aperfeiçoamento das técnicas de impressão, os donos de empresas
jornalísticas nos Estados Unidos acabaram revolucionando também as técnicas de produção
dos periódicos, que começaram a chegar mais rápido às mãos de seus leitores. Segundo Sodré
(1999, p.3), isso levou a imprensa a buscar “[...] sucessivos inventos, conduzindo à velocidade
23
na impressão, acompanhando o enorme e crescente fluxo de informações, devido ao telégrafo,
ao cabo submarino e, depois, ao telefone e ao rádio”.
De todos esses inventos, o que teve maior influência no aumento da velocidade de
produção das notícias foi o telégrafo. Essa invenção foi fruto de quase um século de estudos e
foi baseada em experiências para transmissão de mensagens à distância, que já estavam
acontecendo, desde o final do século XVIII e início do século XIX, com os telégrafos óticos,
espécies de semáforos que transmitiam mensagens por códigos.
Ainda na primeira metade do século XIX, as experiências com telégrafos elétricos já
estavam sendo realizadas em países como a Alemanha, Espanha, Rússia, Inglaterra e Estados
Unidos. Com o advento da eletricidade, modelos mais práticos de telégrafo surgiram. Entre
eles estava o de Samuel Morse, que foi melhorado e largamente utilizado na segunda metade
do século XIX. Era uma nova tecnologia que chegava para impor mudanças no processo de
produção jornalística.
1.2 A importância do telégrafo
Bahia (1990, p.214) destaca que o poste telegráfico era a imagem da imprensa do final
do século XIX e início do século XX. Imagem esta que simbolizava a rapidez das notícias
transmitidas aos leitores e significava um avanço tecnológico que ampliou o conceito de
informação: “Para a imprensa, o sistema telegráfico que torna a notícia veloz, imediata, tem
um impacto semelhante ao do linotipo, que substitui a composição manual pela mecânica”.
5
5
para lembrar, a máquina linotipo, a qual Bahia comparou o telégrafo em importância na história da
imprensa, representou uma revolução nas técnicas de impressão, quando surgiu na década de 1890, por abolir a
composição manual que era feita letra por letra. Os tipos, que representavam as letras, foram fundidos em
chumbo para formar linhas, que quando colocadas em uma espécie de bandeja formavam frases inteiras,
garantindo maior rapidez na impressão dos periódicos.
24
O telégrafo teve importância semelhante ao da linotipo para a atividade jornalística no
século XIX porque permitiu que o resultado da captação dos repórteres chegasse mais rápido
às redações de jornais.
6
Após a experiência de Morse, uma rede de cabos telegráficos foi
distribuída pelos Estados Unidos e, anos mais tarde, essa tecnologia modificaria a forma de
transmissão das notícias, tornando o trabalho de repórteres mais prático, uma vez que não
dependeriam apenas de transportes como navios e trens.
O telégrafo atendia ao anseio do homem norte-americano que buscava soluções para os
problemas e possuía pensamento pragmático. Para entender a importância do surgimento do
telégrafo e seus impactos no jornalismo norte-americano, é necessário também recorrer ao
conceito de Pragmatismo, filosofia vigente nos Estados Unidos naquela época.
1.3 Pragmatismo norte-americano
O pragmatismo nasceu nos Estados Unidos e foi uma corrente muito marcante entre a
segunda metade do século XIX e o século XX. Para Valetim (2003), o pragmatismo surgiu
para defender uma filosofia da prática, privilegiando a experiência em detrimento da filosofia
contemplativa, idealista e intelectualista. Segundo a ela, o desenvolvimento do pragmatismo
se deu principalmente nos Estados Unidos, se estendendo também para a Grã-Bretanha e
outros países europeus. Entre seus fundadores estavam Charles Sanders Peirce, William
James e John Dewey. que se observar que o pragmatismo de Peirce não é igual ao de
James e Dewey. Tanto é que Peirce resolveu denominar a sua filosofia de pragmaticismo.
Aqui, tomam-se mais as ideias de James e Dewey sobre o Pragmatismo.
6
A atividade telegráfica, que revolucionou a imprensa daquela época, teve início quando Samuel Morse, na
tarde do dia 25 de maio de 1844, transmitiu uma mensagem em código para um assistente que estava distante
dele. Esta data foi decisiva para o progresso no processo de transmissão de notícias a longas distâncias, o que até
então era feito via correio ferroviário e poderia levar dias. Mais informações sobre este episódio ver: Emery
(1965)
25
Influenciado por outras correntes filosóficas europeias, o pensamento pragmatista surge
nos Estados Unidos, na segunda metade do século XIX, momento em que o país estava
vivenciando o desenvolvimento do capitalismo industrial. É o que destaca Souza (2004, p.19)
ao afirmar que
Recém saído da sangrenta guerra civil, o país experimenta um momento de
reconstrução, calcado sobre ideais liberais, tão caros à filosofia inglesa. Nada
mais adequado para um contexto como esse que uma filosofia e uma educação
que viessem contribuir com soluções práticas, que auxiliassem como
instrumentos para os indivíduos, na solução de seus problemas vitais mais
urgentes.
Sendo assim, é possível a compreensão de que ao destacar o valor prático da
experiência, o pragmatismo estimulou o homem norte-americano a buscar caminhos mais
viáveis e práticos para suas atividades e entre elas estava o jornalismo. O pragmatismo
influenciou a indústria e a economia nos Estados Unidos de forma determinante, como
também esclarece Souza (2004, p.38):
Sendo elaborado como uma filosofia de perspectiva utilitária, o pragmatismo
representa bem o pensamento americano. Podemos até mesmo relacionar o
desenvolvimento econômico e industrial dos Estados Unidos, sobretudo no final
do século XIX e início do século XX, com as idéias pragmatistas que se
incorporam em sua cultura, seja pela educação, seja pela política, entre outros
segmentos da vida social.
Esse resgate das ideias do pragmatismo norte-americano permite a contextualização do
momento em que o telégrafo surge como uma solução prática para um problema que atinge as
empresas jornalísticas na época, história essa que será abordada adiante. Graças ao telégrafo,
os norte-americanos revolucionaram as técnicas de produção das notícias, uma vez que os
jornais tiveram que se adequar ao novo recurso tecnológico. Para Ferreira (2003, p.67) é o
telégrafo que possibilita a transmissão das primeiras informações
on-line
na história da
imprensa porque:
26
Com este advento, o fluxo das informações noticiosas passou a ser quase
instantâneo e uma nova fase no jornalismo foi inaugurada. Com esta nova fase o
ritmo de produção e difusão das notícias mudou para sempre. O telégrafo podia
entregar notícias quase instantaneamente [...]
O telégrafo provocou uma revolução no jornalismo e levou ao surgimento do modelo da
pirâmide invertida, mas antes de abordar como era o texto jornalístico antes da criação dessa
estrutura, é necessário esclarecer que este trabalho, em seus demais capítulos, se desviará de
Macluhan quanto à sua ideia de que “o meio é a mensagem”.
1.4 Sobre o meio e Macluhan
Ao discutir a importância do papel do telégrafo nas alterações que ocorreram na redação
do texto jornalístico, entre o final do século XIX e início do século XX, não como não
recordar de Macluhan (1964) quando afirmava que o meio é a mensagem
.
A partir dessa ideia,
ele acreditava que toda tecnologia criava um ambiente humano totalmente novo, sendo que
esse ambiente não era um envoltório passivo, mas se constituía em um envoltório ativo. No
entanto, é necessário esclarecer que para este trabalho houve um deslocamento da ideia de
Macluhan; sendo o meio não somente a mensagem, mas também a possibilidade de uma
explosão de sentidos em decorrência do ambiente que o permite existir.
Dentro dessa visão, Castells acredita que a ideia de Macluhan não pode ser aplicada à
era da informação. Ele esclarece que: [...] a Galáxia de Macluhan era um mundo de
comunicação de mão-única, não de interação. Era, e ainda é a extensão da produção em
massa, [...] e, apesar do gênio de Macluhan, não expressa a cultura da era da informação”.
(CASTELLS, 2000, p.366). Primo e Träsel (2006, p.3) também defendem que é necessário
27
um certo desvio da teoria de Macluhan quando se aborda o jornalismo na atualidade. Para
eles:
Enquanto fenômeno midiático, o jornalismo mantém íntima relação com os
canais tecnológicos, seus potenciais e limitações. Como processo complexo, a
alteração do canal repercute de forma sistêmica sobre o processo
comunicacional como um todo. A produção e leitura de textos em jornal
impresso e online se transforma em virtude dos condicionamentos do meio. Isso
não é o mesmo que defender algum tipo de determinismo tecnológico
(perspectiva que se desvincula de outros condicionamentos sociais, políticos,
culturais, etc.), nem adotar impunemente a máxima macluhaniana de que o meio
é a mensagem. Mas aceitar que o meio também é mensagem. Se a relação entre
o homem e técnica é recursiva, o processo comunicacional (ou mais
especificamente o jornalístico) demanda rearticulações a partir das estruturas
tecnológicas em jogo.
As especificidades do jornalismo em relação às mídias digitais da atualidade, assim
como os aspectos da Internet e da era da informação, aos quais se refere Castells, serão
explorados nos demais capítulos deste trabalho. Por agora, será dada continuidade à discussão
sobre os primórdios do texto jornalístico. Por isso, é necessário ressaltar que antes do início
das atividades telegráficas, o texto jornalístico nos Estados Unidos, assim como em toda a
Europa, ainda seguia um estilo mais literário. Eram textos longos, escritos de maneira
rebuscada e opinativa.
1.5 O jornalismo antes da pirâmide invertida
Nos primeiros cinquenta anos do século XIX, a redação das notícias ainda estava longe
da busca pela objetividade que começaria a ser discutida na última metade daquele século e
acabaria se tornando marcante no século XX. O historiador dos meios de comunicação nos
Estados Unidos, Tebbel (1978, p.463) recorda que no século XIX, os textos dos jornais
americanos eram apresentados da seguinte forma:
28
Pessoas e fatos eram tratados de uma maneira mais intransigente, porque havia
muito menos esforço no sentido da justiça e da precisão. As reportagens eram
impressionistas, subjetivas e muitas vezes coloridas pela própria personalidade
do repórter, livremente manifesta no uso do “Eu”, ainda predominante na
reportagem britânica e em algumas européias.
Somente em 1833, ocorreu uma primeira tentativa de praticar um jornalismo mais
imparcial, embora atualmente se saiba que isso não é possível. Mendonça (2004) destaca
que Benjamin Day, proprietário do
New York Sun,
tentou dar início ao critério da
objetividade, ao desvincular seu jornal dos partidos políticos e passar a dar prioridade às
notícias sobre crimes e processos jurídicos. Com isso, o
New York Sun
inaugurou a fase da
imprensa popular e foi seguido por seus concorrentes, entre eles o
New York Herald.
Em 1835, o
Herald
fez as primeiras experimentações para romper com o estilo de
escrita rebuscado, então vigente, e tornar a coleta e publicação de notícias mais dinâmica. Seu
proprietário era James Gordon Bennett (o pai, que na última metade do século XIX foi
sucedido pelo filho de mesmo nome). O empresário acreditava que era preciso priorizar as
novidades para conquistar os leitores.
O lema de Bennett era registrar os fatos e escrevê-los
sem o uso de palavras e expressões difíceis.
7
Embora fosse um inovador e tivesse tentado investir em textos menos prolixos, Bennett
ainda estava distante de utilizar o modelo que veio a ser conhecido como pirâmide invertida.
Esse editor também ainda não fazia uso das perguntas “o quê”, “quem”, “onde”, “quando”,
“como” e “por quê”, que se tornaram, entre o final do século XIX e início do século XX,
características marcantes do
lead,
o primeiro parágrafo do texto jornalístico noticioso.
A invenção do
lead
é atribuída a um escritor, poeta e jornalista nascido em uma colônia
britânica, na Índia. Seu nome era Rudyard Kipling e teria passado uma temporada nos Estados
Unidos entre o final do século XIX e início do século XX. Quando retornou para a Índia, se
7
Mais informações sobre a experiência jornalística de Bennett ver: Tebbel (1978)
29
tornou editor de um jornal e ao escrever uma fábula infantil sobre um pequeno elefante que
chega à “idade dos porquês”, Kipling encerrou a estória assim: “Eu tenho seis criados
honestos que me ensinaram tudo que sei; seus nomes são quê e por quê e quando, e como e
onde e quem”.
Lucchesi (2002) procura desvendar o recado de Kipling por trás dessa estória e entender
o porquê do
lead.
Segundo ele, Kipling deixa claro que, para que haja o entendimento de uma
notícia, é imprescindível o cumprimento mínimo das seis questões. Se isto não ocorrer, a
clareza e a eficiência da informação poderiam ser comprometidas. Os norte-americanos
compreenderam o recado de Kipling e trataram de aprimorar a técnica e utilizá-la.
Saber a origem do
lead
é fator relevante para este trabalho, uma vez que ele é o primeiro
parágrafo da pirâmide invertida. No entanto, antes de discutir a estrutura desse modelo textual
jornalístico, é necessário abordar a sua história no meio impresso.
Porém, para entender a história da pirâmide invertida no meio impresso, é preciso
também situar o contexto científico da época em que o conceito de pirâmide invertida chega
ao jornalismo. Além das novas tecnologias, o positivismo, idealizado por Auguste Comte,
teve importante papel nas mudanças que ocorreram na técnica de redação jornalística.
1.6 A influência do positivismo no jornalismo
As revoluções científicas desempenham papel determinante nas alterações que ocorrem
em sociedade. Isto significa que a elaboração de novas teorias pode desencadear mudanças
nas regras que regiam uma determinada atividade. É o que explica Kuhn (1992, p.26), quanto
diz que “[...] uma nova teoria por mais particular que seja seu âmbito de aplicação, nunca ou
quase nunca é um mero incremento ao que é conhecido. Sua assimilação requer a
reconstrução da teoria precedente e a reavaliação dos fatos anteriores”.
30
É exatamente esse tipo de reação que o positivismo provocou no jornalismo do final do
século XIX e início do século XX. Quando essa corrente filosófica surgiu ocorreu a
disseminação da ideia de que era possível fazer ciência de forma neutra e que a noção de
objetividade poderia ganhar maior repercussão. É o que esclarece Cupani (1989) ao afirmar
que foi com o advento do positivismo, principalmente o comteano, que a noção tradicional de
objetividade se consolidou. Ele explica também que essa noção de objetividade estava
atrelada ao respeito aos fatos, que eram entendidos como ocorrências que deveriam ser
atestadas na observação sistemática, e não serem baseadas em suposições.
Antes de assimilar o ideal positivista, o jornalismo era uma espécie de arremedo dos
livros. Porém, os ideais positivistas começaram a ser compreendidos por quem fazia a
imprensa no final do século XIX e início do século XX. É por esse motivo que o conceito de
objetividade jornalística, que ajudou posteriormente ao aparecimento da pirâmide invertida
em território norte-americano, tem relação com o pragmatismo, o positivismo e as ideias de
Kipling. Voltando ao positivismo, Rocha (2007, p.1) destaca que
O surgimento do conceito de objetividade deu-se no bojo da supremacia do
pensamento positivista, no último quarto do século XIX, nos Estados Unidos
[...] Esta nova metodologia científica disseminou a idéia de que a subjetividade
humana e tudo que lhe dissesse respeito estariam condenados a ser considerados
irracionais ou negativos.
Com a alteração do paradigma e a contribuição da tecnologia, estava pronto o cenário
propício para uma reforma na redação jornalística que seria baseada na noção de objetividade.
Tendo como argumento a necessidade de separar a opinião da notícia, as ideias positivistas
foram se consolidando cada vez mais no jornalismo. Rocha (2007, p.2) explica que
Baseadas na crença de uma inconfundível fronteira entre a opinião e a notícia,
foram desenvolvidas, a partir de então, técnicas prescrevendo um estilo
redacional impessoal, caracterizado pela ausência de qualificativos e pela
ocultação do jornalista através da atribuição da informação às fontes e da crença
31
de que a apresentação das partes ou dois ‘dois lados da moeda’ e o uso das aspas
assegurariam a imparcialidade jornalística.
Foi nesse contexto paradigmático que a pirâmide invertida surgiu no meio jornalístico
impresso. O modelo está relacionado ao pragmatismo, ao positivismo e as ideias de Kipling
de fazer jornalismo; mas é também, como será discutido adiante, resultado de uma imposição
tecnológica e de ocorrências históricas.
1.7 Surge a pirâmide invertida no texto jornalístico impresso
A técnica da pirâmide invertida e o esboço do que seria mais tarde o
lead
nasceram em
solo norte-americano, mais especificamente entre os anos de 1861 e 1865, em plena Guerra
Civil americana, quando os estados do norte do país estavam em conflito com os estados do
sul. Essa é uma das teorias para a criação da pirâmide invertida e do sumário, que seria uma
espécie de antecessor do
lead.
Além das circunstâncias de guerra, o telégrafo, como já foi explicado, teve papel
importante para mudanças na produção jornalística do século XIX. Antes dele, as notícias dos
correspondentes levavam dias para serem transmitidas às redações de jornais da época porque,
como ressalta Mendonça (2004), eram enviadas de navio, trem e até mesmo cavalo. Após o
advento do telégrafo, esse panorama mudou e os correspondentes, entre eles os que estavam
em áreas de conflito, puderam fazer uso da nova tecnologia. Segundo Mendonça (2004), o
New York Times
se tornou, em 1861, o primeiro jornal a publicar uma notícia na forma de
pirâmide invertida.
Emery (1965) afirma que a Guerra Civil foi determinante para que ocorressem
modificações nas técnicas de redação dos textos jornalísticos noticiosos, tendo como aliado o
telégrafo. Também estudioso da história da imprensa americana, Tebbel (1978), concorda que
32
as atividades dos correspondentes durante a Guerra Civil norte-americana auxiliaram no
avanço das técnicas de produção de notícias, por conta do uso do telégrafo, e foram decisivas
para a criação de um modelo de redação semelhante ao da pirâmide invertida, impulsionando
também o advento do sumário que, segundo ele, era bem semelhante ao atual
lead
. Para ele:
[...] a guerra contribuiu consideravelmente para o progresso tecnológico dos
jornais. Ao usar o telégrafo como principal veículo de transmissão das notícias,
os correspondentes aprenderam a escrever de uma maneira mais concisa, uma
vez que esta transmissão custava caro. Havia uma redação muito menos florida e
exposições menos incoerentes do que antes da guerra, embora as reportagens
estivessem ainda longe do estilo moderno. Mas eram muito mais legíveis e isso
significava um grande passo para o jornalismo de massa no pós-guerra. [...] O
telégrafo produziu também a invenção dos títulos sumários, isto é, o primeiro
parágrafo, que continha quem, o quê, quando, onde e o porquê de um fato, ainda
hoje uma forma-padrão. Esse sistema surgiu face à incerteza dos
correspondentes de que todo o seu despacho viesse a ser transmitido pelo
precário sistema telegráfico e assim procuravam assegurar-se de que os fatos
essenciais fossem transmitidos, embora o restante da reportagem pudesse ser
cortado. (TEBBEL, 1978, p. 242)
Fontcuberta (apud NOBLAT, 2004) também destaca que uma prévia do que foi
chamado mais tarde de
lead
e o modelo da pirâmide invertida surgiram por conta das
dificuldades de comunicação dos jornalistas que cobriam a Guerra Civil norte-americana.
Segundo ele, havia um grande número de jornalistas e poucas linhas de transmissão
telegráfica. Por conta disso, os operadores de telégrafo estabeleceram que cada repórter
poderia ditar primeiramente um parágrafo, o que fosse considerado mais importante de sua
matéria. “Uma vez transmitido um único parágrafo de cada matéria, era transmitido o segundo
de cada uma delas, e depois o terceiro, e assim por diante. Estaria aí, segundo Fontcuberta, a
origem da fórmula de hierarquizar as informações, a tal da ‘pirâmide invertida’” (NOBLAT,
2004, p.98)
É justamente esse temor pelo corte de informações da matéria que marca uma outra
teoria para o surgimento da pirâmide invertida na redação do texto jornalístico impresso.
Estudiosos da influência do jornalismo norte-americano no Brasil, como Silva (1991),
33
afirmam que as agências de notícias norte-americanas foram as responsáveis pela criação e
difusão do modelo de redação na forma de pirâmide invertida, assim como pela introdução do
lead
em outros países. Segundo Silva, a agências produziam um texto e o enviavam para
inúmeros jornais de várias partes do mundo. Seguindo critérios editoriais individuais, ao
receber o material enviado pela agência, cada jornal avaliava de forma diferenciada a
importância e o espaço que seria destinado às notícias. Esse procedimento teria motivado as
agências a redigir o texto na forma de pirâmide invertida. Ele destaca que:
As agências precisaram criar a fórmula da pirâmide invertida para que cada
jornal pudesse fazer os cortes necessários nos textos para adaptá-los as suas
necessidades sem perderem as informações fundamentais. Daí a colocação dos
dados em ordem decrescente de importância. O corte poderia ser feito “pelo pé”,
numa operação rápida, sem perda de substância informativa. Daí, generalizou-se
na imprensa americana, como maneira mais simples de dar a cada leitor a
mesma opção que as agências davam aos jornais: interromper a leitura em
qualquer ponto do texto de acordo com seu interesse pelo assunto, tendo
recebido as informações fundamentais desde que lido o primeiro parágrafo.
(SILVA,1991, p.110)
Sendo assim, as agências pregavam a redação de um texto objetivo que priorizasse as
informações mais importantes em suas primeiras linhas. Kunczik (2002) afirma que a partir
dos anos 1890, os norte-americanos estabeleceram um modelo de jornalismo informativo em
substituição a forma narrativa e o tom emocional. Nesse modelo, a objetividade era uma meta
normativa da atividade dos jornalistas e, naquela época, ainda não havia a discussão sobre os
limites da objetividade. Foi assim que a pirâmide invertida foi ganhando cada vez mais espaço
nas páginas dos jornais.
Por conta dessa generalização da fórmula da pirâmide invertida, Tebbel (1978) afirma
que os jornais norte-americanos das décadas de 1910 e 1920 já se concentravam mais em
notícias objetivas, redigidas no estilo mais claro, que segundo ele, foi criado, primeiramente,
pelos correspondentes da Guerra Civil. Por outro lado, apesar de afirmar que a Guerra Civil
norte-americana desencadeou as primeiras elaborações de textos jornalísticos nos moldes da
34
pirâmide invertida, Emery (1965) destaca também que o aparecimento, nos primeiros anos do
século XX, das Associações Americanas de Imprensa- espécies de agências de notícias, ou
como ele prefere qualificar, organizações dedicadas à coleta rápida e disseminação de
notícias- foi um acontecimento de grande importância na história do jornalismo, que teve
influência sim na disseminação do padrão da pirâmide invertida no jornalismo.
Teria sido assim, enviando seus textos a outros países, que as agências de notícias norte-
americanas promoveram a difusão do modelo da pirâmide invertida mundo afora. Silva
(1991) garante que foram as agências as grandes responsáveis pela introdução do modelo no
Brasil, estimulando o uso do
lead.
Então, o modelo chegou ao Brasil para ficar e fazer parte
da história da imprensa brasileira.
1.8 A pirâmide invertida chega ao Brasil
Ao contrário dos Estados Unidos, que iniciou a fase empresarial do jornalismo na
primeira metade do século XIX, a imprensa do Brasil se mostrou mais preparada para essa
fase entre os últimos cinco anos do século XIX e o início do século XX. É o que destaca
Sodré (1999, p.261) ao afirmar que Nos fins do século XIX estava se tornando evidente,
assim, a mudança na imprensa brasileira: a imprensa artesanal estava sendo substituída pela
imprensa industrial”.
Essa industrialização da imprensa também provocou mudanças na forma dada ao
conteúdo dos periódicos. A possibilidade de usar o telégrafo também foi determinante nas
modificações técnicas na imprensa brasileira. Como salienta Sodré (1999), até 1874 as
notícias do exterior chegavam ao Brasil por meio de correio, mas, nesse ano, a agência
telegráfica Reuter-Havas se instalou no Rio de Janeiro e abriu novas possibilidades de
35
transmissão de notícias e, consequentemente, permitiu o contato com as formas de produção
jornalística de outros países.
Bahia (1990) destaca que foi apenas no século XX que o jornalismo brasileiro começou
a priorizar a notícia e deixou um pouco de lado o tom literário muito marcante na imprensa do
Brasil Imperial. Naquele período, sobretudo durante o governo de Dom Pedro II, as redações
de jornais eram ocupadas principalmente por literatos que adotavam redação em estilo bem
diferente do modelo da pirâmide invertida. Romero (apud SODRÉ, 1999, p.184) explica
como era a imprensa na época do império, o tempo das gazetas: “No Brasil, mais ainda do que
noutros países, a literatura conduz o jornalismo”. Ou seja, o jornalismo no Brasil Imperial era
feito por literatos e ainda não havia a norma de redação objetiva, que seria conhecida no
século XX.
Após a Proclamação da República, que ocorreu sob influência dos princípios do
positivismo, o tom literário ainda estava muito presente nas redações dos jornais brasileiros e
esse estilo perdurou nos primeiros anos do século XX. Edmundo (apud SODRÉ, 1999)
descreve os jornais brasileiros do início do século XX como ainda um reflexo das gazetas da
monarquia, com poucas páginas de texto, priorizando artigos opinativos escritos de forma
rebuscada e cheios de clichês, além de possuírem uma diagramação sem harmonia. O
historiador afirma também que os jornais daquele período não utilizavam recursos como
manchetes, subtítulos e outros processos jornalísticos que eram conhecidos em países da
Europa.
8
O predomínio desse estilo literário na imprensa começou a ser quebrado por volta
das décadas de 1910 e 1920, quando ficaram mais evidentes os progressos nos processos de
elaboração de conteúdo e de produção jornalística. Os jornais se tornaram menos literários e
passaram a priorizar o aspecto noticioso, ou seja, passaram a abordar mais os fatos que as
8
Mais informações sobre características dos jornais brasileiros no início do século XX ver: Sodré (1999) e
Bahia (1990)
36
opiniões sobre eles. No entanto, no início da década de 1920, ainda era marcante a imitação
do estilo dos jornais europeus, uma vez que a Europa tinha então grande influência na
formação cultural dos brasileiros. De acordo com Bahia (1990), naquela época o perfil
predominante na imprensa era o do jornal europeu. Foi somente no final da década de 1920
que alguns dos grandes jornais brasileiros passaram a conhecer melhor o processo mais
dinâmico e mais objetivo do jornalismo norte-americano.
9
Na década de 1940, as modificações técnicas sob influência do jornalismo norte-
americano estavam mais visíveis nos jornais brasileiros. No entanto, Cunha (apud SILVA,
1991) assegura que não é possível afirmar que no final da década de 1930 e início da de 1940,
o
lead
ou lide (de forma aportuguesada)
,
então famoso nos Estados Unidos, fosse
largamente utilizado no Brasil. Isto teria acontecido plenamente entre o final da década de
1940 e início da década de 1950, depois que jornalistas brasileiros retornaram de cursos nos
Estados Unidos e estágios em jornais norte-americanos, dispostos a promover reformas e
tornar o jornalismo brasileiro mais dinâmico.
10
Após a Segunda Guerra Mundial, a tendência de seguir os padrões americanos só
aumentou no país. Segundo Bahia (1990, p.266), na década de 1950, a “palavra reforma sopra
como uma rajada de vento dentro das redações para restaurar e fortalecer o poder da notícia”.
Por isso, entre os anos 1950 e 1960, o jornalismo brasileiro ainda estava vivendo um
processo de assimilação do modelo norte-americano. Noblat (2004, p.88) destaca que no final
dos anos 1950, os adjetivos foram expurgados dos textos para favorecer a almejada (porém
limitada) objetividade. “Começamos a copiar a linguagem dos jornais americanos. E nela não
havia lugar para adjetivos. Porque o adjetivo implica juízo de valor”.
Conforme essas considerações, é possível compreender que a influência do jornalismo
norte-americano no Brasil cresceu ainda mais a partir da segunda metade do século XX,
9
A respeito do aumento da influência norte-americana sobre o jornalismo brasileiro ver: Silva (1991)
10
Sobre este episódio também ver: Silva (1991)
37
apesar das críticas promovidas pelos jornalistas mais antigos que ainda pregavam o uso do
estilo europeu. Porém, era preciso inovar, uma vez que meios eletrônicos como o rádio e a
televisão estavam competindo com o meio impresso na divulgação das notícias. Os
veículos de comunicação eletrônicos representavam uma novidade que desafiou os jornais a
investirem na inovação.
11
Como afirma Bahia (1990, p.266), as agências de notícias ajudaram muito os jornais
brasileiros nesse processo de inovação: “[...] As agências são as primeiras a dar as notícias e
muitas vezes suas sugestões ajudam os editores em decisões sobre títulos,
lead
ou
editoração”.
Porém, é preciso destacar que esse movimento de renovação na imprensa brasileira
também foi estimulado pelo capitalismo, além de ter sido influenciado pelos ideais
positivistas discutidos anteriormente. De acordo com Sodré (1999), as relações capitalistas
exigiam alterações na imprensa e é assim que o folhetim foi substituído pelo colunismo e pela
reportagem, o artigo político deu lugar à tendência da entrevista, e a doutrinação foi preterida
em favor da informação.
Foi em meio a essa conjuntura, que procedimentos como a redação dos textos
jornalísticos noticiosos na forma da pirâmide invertida, a elaboração do primeiro parágrafo
dentro dos moldes do
lead,
e a utilização de manuais de redação - que padronizavam o ato de
escrever dos jornalistas- se disseminaram Brasil afora e eram bastante comuns no cotidiano
dos jornais brasileiros na década de 1960, tendo sido assimilados por editores e repórteres.
11
A respeito deste período ver : Capelato (1988)
38
1.9 Estrutura técnica da pirâmide invertida no jornalismo impresso
Como foi explicado, a pirâmide invertida é uma técnica de redação jornalística que
vem sendo utilizada pelos jornalistas por quase cem anos, considerando a hipótese de que as
agências de notícias norte-americanas criaram esse modelo. Se for considerada a outra
hipótese, de que o método nasceu ainda durante a Guerra Civil norte-americana, entre 1861 e
1865, a técnica teria quase 150 anos. Mas de que forma é estruturado esse modelo? Por que
é considerado relevante para a redação de textos jornalísticos noticiosos? Existem outros
modelos?
Vários teóricos do jornalismo impresso respondem a essas perguntas. Alguns são
partidários confessos do modelo da pirâmide invertida, outros são tolerantes com ele desde
que esteja restrito apenas ao universo das notícias factuais. Entre os defensores do uso da
pirâmide invertida em notícias factuais está o norte-americano Hohenberg (1962)
12
que
qualificou a pirâmide invertida como a mais antiga, conveniente e útil das estruturas
noticiosas. Na opinião dele, a pirâmide invertida é o modelo textual com mais chances de
atrair a atenção do leitor e deve ser usado pelos jornais. Para Hohenberg (1962, p. 170), a
redação na forma da pirâmide invertida é a mais adequada para a notícia de fatos, facilitando a
busca do leitor por informações: “O leitor não precisa vadear (sic) através de colunas de prosa
imaginativa para descobrir o que aconteceu, É imediatamente informado. Dessa maneira, o
jornalismo consegue o seu principal efeito dramático”.
No final da cada de 1960, a forma de escrever os fatos em ordem decrescente de
importância também foi qualificada como clara, correta e concisa por Amaral (1969). Ele
explicou que o texto jornalístico noticioso deve necessariamente ser redigido de forma que os
12
Outro autor norte-americano que defendeu o uso da pirâmide invertida no mesmo período foi Bond (1962).
Segundo ele, uma boa reportagem deve relatar os acontecimentos de forma atual, clara e rápida, priorizando
elementos como novidade, variedade, ritmo e objetividade. Para isso deve ser dividida em três partes, na forma
de uma pirâmide invertida: título, primeiro parágrafo (lead) e restante da história.
39
fatos principais estejam no início do texto, vindo logo a seguir os fatos intermediários e, por
fim, informações mais dispensáveis, que não comprometem a leitura do texto em caso de
cortes. Por esse motivo, Amaral esclarece que nos textos jornalísticos a regra a observar é
diferente da empregada em textos literários, nos quais os escritores deixam o clímax para o
final do livro. Para ele, o uso da pirâmide invertida é válido não somente para conquistar a
atenção dos leitores, mas também é um modelo adequado no caso da diagramação exigir uma
súbita redução da matéria por conta de problemas de espaço na página, o que facilitará o
trabalho do editor. Sobre o assunto, Amaral (1969, p.65-66) coloca que:
O emprego da pirâmide invertida tem suas razões. A primeira delas está
relacionada diretamente com o leitor. Os fatos mais importantes lhe são
ministrados em altas doses, quase ao mesmo tempo, a fim de que sua atenção
não seja desviada da informação e ele se mantenha preso à mesma. Se o redator
conseguir mantê-lo agarrado às primeiras linhas da notícia, conseguiu seu
objetivo. Ocorrem, então, dois fatos: se o leitor realmente não se interessa por
aquele tipo de informação, vai em busca de outra, mas tomou conhecimento
dela; se se interessa, vai lê-la até o último parágrafo. A segunda razão da
pirâmide invertida relaciona-se com a oficina. Se a matéria, embora diagramada
na redação, estoura na oficina (quer dizer, se o espaço que lhe foi dedicado pelo
diagramador, de acordo com o tipo empregado, resultou menor) o secretário de
oficina só terá o trabalho de cortar as últimas palavras ou frases, sem o temor de
desvirtuar-lhe o sentido, sem tocar-lhe na compreensão. Se o sistema da
pirâmide invertida não fosse observado, o secretário teria que ler toda a matéria
e descobrir no contexto, aquilo de somenos importância.
É possível compreender, conforme as considerações desses estudiosos do jornalismo,
que a pirâmide invertida já era uma estrutura bastante apreciada nas décadas de 1960 e 1970.
A importância do primeiro parágrafo no modelo da pirâmide invertida é destacada por vários
teóricos do jornalismo. O começo do texto, segundo eles, é determinante para instigar ou não
a leitura dos demais parágrafos da matéria. Hohenberg (1962), por exemplo, afirma que não
nada que substitua o bom começo da notícia e o bom jornalista sabe o valor do
lead,
aprendendo desde cedo a utilizar seus macetes. Como destacou Sodré (1999), todos os
jornalistas norte-americanos iniciantes sabem que devem começar o texto jornalístico
noticioso com o
lead
e essa técnica também foi plenamente assimilada pelos jornalistas
40
brasileiros.
É exatamente nessa ampla disseminação do modelo que Hohenberg enxergava
uma desvantagem. O problema é que a maioria dos jornalistas acaba seguindo uma receita
padronizada e não prioriza o aspecto da originalidade. Esse seria então, segundo ele, um
aspecto negativo do uso excessivo do
lead
e do modelo da pirâmide invertida. O
aconselhável, portanto, seria aliar a essas regras, fatores como a criatividade.
Sendo assim, é possível entender que não basta ao primeiro parágrafo da pirâmide
invertida concentrar os elementos básicos da ocorrência. Como afirmou Beltrão (1969, p.109)
o
lead
“[...] deve incluir o clímax, ou seja, o ponto nevrálgico do acontecimento, o da
questão”. Ainda ele garante que é preciso também ter cuidado com o prosseguimento da
matéria, isto é, com os demais parágrafos da pirâmide invertida, que Beltrão chama de corpo
da notícia e define como a documentação que inclui detalhes da informação, antecedentes do
fato e as suas consequências.
Essas considerações permitem a compreensão da importância da pirâmide invertida para
o texto jornalístico. No entanto, assim como é possível apontar vantagens no modelo, é
possível também indicar desvantagens. Gregorio (1966) caracterizou os pontos positivos e
negativos da pirâmide invertida. Entre as vantagens, ele enumerou que:
a)
o sistema de elaboração em forma decrescente de importância representa o método
normal como um fato importante passa de boca em boca, ou seja, as pessoas contam
umas para as outras o aspecto mais relevante.
b)
a pirâmide invertida chama a atenção do leitor para a notícia.
c)
o modelo satisfaz o leitor mais apressado, permitindo que ele avance ou não na
leitura, de acordo com seu interesse pelo assunto.
d)
a redação em pirâmide invertida facilita o ajuste da matéria jornalística no momento
de fechamento da edição, caso seja necessário cortar parágrafos.
41
Entre as desvantagens da pirâmide invertida, Gregorio aponta os seguintes
inconvenientes:
a)
o modelo induz o leitor a ler menos, reduz sua curiosidade e o habitua a
superficialidade.
b)
desencadeia no jornalista um estilo mecânico e estereotipado, um estilo de escrever
sem atrativo e elegância.
c)
o jornalista pode ser levado a escrever um primeiro parágrafo muito extenso na
tentativa de integrar todas as respostas às perguntas principais do
lead.
Dessa forma, é possível entender que as vantagens e desvantagens do modelo da
pirâmide invertida existem e não podem ser ignoradas pelo jornalista. Cabe a ele discernir
sobre os pontos positivos e negativos do modelo. Vivaldi (1973) também destacou os prós e
contras da pirâmide invertida. Uma das grandes desvantagens do modelo, de acordo com ele,
pode ser a negligência com o final do texto, uma vez que este poderá ser cortado. Na opinião
de Vivaldi, o trabalho jornalístico deve exigir um cuidado especial não apenas com o primeiro
parágrafo de uma matéria, mas também com o último, porque, um bom jornalista não deveria
jamais depreciar o final do seu texto.
Essa preocupação com o final do texto, manifestada por Vivaldi, decorre do fato, já
explicado, de que, no modelo da pirâmide invertida, as informações menos relevantes são
colocadas no final para que não haja prejuízo no conteúdo informativo, caso seja necessária
uma supressão no texto no momento de diagramar a página. Diante desse quadro, ele entende
que a pirâmide invertida continuará sendo usada nos textos noticiosos, no entanto, defende
que o argumento do corte de linhas não é motivo suficiente para empobrecer os parágrafos
finais, principalmente na modalidade das reportagens especiais.
Por outro lado, Vivaldi consegue perceber também os benefícios da pirâmide invertida
na redação de notícias factuais. Segundo ele, não vida de que o modelo tem vantagens
42
Fato ou ocorrência
mais interessante
ou chamativa
Mais detalhes do
mesmo
Mais detalhes
complementares
Mais dados
Final
na redação de textos noticiosos porque facilita a rapidez no momento do repórter redigir sua
matéria; favorece a redação dos títulos que antecedem os primeiros parágrafos do texto;
facilita o trabalho do diagramador, se houver necessidade de redução do texto; e, por fim,
permite que o leitor se intere da notícia em poucos segundos ou minutos, ao ler apenas os
primeiros parágrafos.
Essa reflexão conduz à ideia de que a estruturação da pirâmide invertida, de maneira a
antecipar o acesso dos leitores à informação mais relevante da notícia, cumpre o papel de
informar, mas não é o único modelo a disposição dos jornalistas, embora seja considerado o
mais adequado para notícias factuais. Refletindo sobre a pirâmide invertida e outras
possibilidades de estruturação do texto jornalístico impresso, Vivaldi (1973) também discutiu
os modelos jornalísticos muito utilizados nos Estados Unidos, entre eles o
fact-story
(relato de
fatos)
,
o
action-story
(relato animado)
,
e o
quote-story
(relato documentado). É possível
visualizar os modelos a partir das figuras a seguir, que representam os três tipos de relatos.
Etc. Etc.
O relato de fatos possui redação que segue o modelo da pirâmide invertida e prioriza os
aspectos mais objetivos das ocorrências. Por sua vez, o relato animado apresenta redação
Fato ou ocorrência
fundamental ou
noticiosa
Fato ou ocorrência
que segue em
importância
Fato terceiro
de
menos
relevância
Fato
quarto
Fato, ocorrência
ou notícia relevante
Citação
complementar
Outro fato ou dado
de menor interesse que
o primeiro
Citação
esclarecedora
Figura 1: Relato de fatos
Figura 2: Relato animado
Figura 3: Relato documentado
43
Clímax da notícia
Resto do
relato
Começo
--------------
Desenvolvimento
Culminação
Relato
cronológico
vibrante, movimentada que prioriza os aspectos mais atrativos e impressionantes, porém,
assim como na pirâmide invertida, prossegue os parágrafos em ordem decrescente de grau de
interesse dos fatos. Por fim, o relato documentado apresenta redação de informações com
dados objetivos, acompanhados cada um de citações que os complementam ou esclarecem.
Vivaldi (1973) também faz uma comparação entre a pirâmide invertida e a pirâmide
normal, que ele qualifica de relato cronológico, muito usado em criações literárias e que era o
modelo mais utilizado nos primórdios do jornalismo. Ele afirma que é possível fazer uma
combinação entre o dois tipos de relatos, elaborando uma redação que começa nos moldes do
lead
com clímax e prossegue cronologicamente. Para utilizar essa combinação de
procedimentos é necessário o cuidado de respeitar os limites que existem entre uma criação
literária e a redação jornalística. Segundo Vivaldi, a única diferença entre uma criação
literária e o trabalho jornalístico é que a primeira pode ultrapassar a fronteira entre fantasia e
realidade, e o segundo deve se deter apenas ao que é real. A seguir a visualização dessas
estruturas.
No Brasil, esses modelos utilizados por jornalistas europeus e norte-americanos também
são bastante usados, mas sofreram algumas adaptações. Beltrão (1969) elaborou modelos
gráficos que representam cinco técnicas de redação jornalística que os brasileiros utilizavam
Figura 4: Pirâmide invertida
Figura 5: Relato Cronológico
Figura 6: Combinação de procedimentos
Lead com culminação
44
às vésperas da década de 1970 e que hoje ainda podem ser vistas em qualquer jornal impresso.
Entre elas a própria pirâmide invertida, a pirâmide normal, a “cozinha”, a “suíte” e o texto-
legenda.
Beltrão (1969) definiu a pirâmide invertida como uma construção na qual os incidentes
mais substanciais encabeçam o texto e são seguidos de fatos e detalhes menos interessantes
em ordem decrescente. A pirâmide normal também foi qualificada por Beltrão como uma
construção em ordem cronológica de ocorrências, no entanto, ele sugere que seja colocada
uma “cabeça” e o clímax seja repetido no corpo da matéria. Em sua opinião, a pirâmide
normal também pode ter eficiência jornalística, principalmente nas grandes reportagens, por
despertar a curiosidade do leitor.
Esta técnica, cuja eficiência como atração para o leitor é provada pelo tempo,
baseia-se na narrativa simples dos contos populares. Faz com que o leitor fique,
ao fim de cada parágrafo, imaginando o que acontecerá depois. Tem a forma de
uma pirâmide: apresenta o ambiente, os protagonistas, o clímax e vai formando
incidente após incidente até chegar à conclusão na base. É muito empregada nos
semanários, nas histórias-de-interesse humano, nas grandes reportagens.
(BELTRÃO, 1969, p.115).
Dessa forma, é possível compreender então que existe uma diferença entre a
reportagem, enquanto gênero jornalístico, e a notícia. Assim como a notícia, a reportagem
possui interesse coletivo, no entanto, como explica Beltrão, ela pode ser oferecida ao público
em formato especial, que não o da pirâmide invertida. Nesse caso, ele recomenda que
reportagens de rotina, ou seja, notícias factuais, sejam redigidas na forma da pirâmide
invertida; as reportagens especiais, aquelas que podem ser vistas facilmente nas revistas
atuais ou em edições de domingo dos jornais diários, podem utilizar outras estruturas textuais,
porque oferecem oportunidade para um desenvolvimento mais amplo. Nas figuras a seguir,
feitas sob a concepção de Beltrão, é possível visualizar as diferenças entre as pirâmides
normal e invertida.
45
CLÍMAX
Figura 7: Pirâmide invertida Figura 8: Pirâmide normal
Por sua vez, a “cozinha”, ainda segundo Beltrão (1969), é uma técnica que consiste em
dar uma redação nova a uma notícia já conhecida, ou seja, o jornalista “cozinha a notícia”
reescrevendo-a. Para isso, o repórter pode alterar a disposição de fatos na tentativa de dar um
tom de novidade ao texto. Esse recurso, de acordo com Beltrão, é muito utilizado por
empresas jornalísticas que publicam mais de uma edição diária. É possível apelar para a
“cozinha” também quando se reescreve uma matéria que foi publicada por outros jornais,
desde que não estejam protegidas por
copyright.
a “suíte” é a técnica de redação utilizada para continuar ou repetir uma notícia que
foi publicada. Assim como na “cozinha”, a forma pode ser alterada, mas é necessário
acrescentar novos detalhes da notícia. Conforme explica Beltrão (1969, p. 116), nessa técnica
“[...] atualizam-se velhas notícias, baseando-se a cabeça em aspecto ou ângulo diferente da
ocorrência ou no próximo desenvolvimento esperado do fato. Usa-se frequentemente a suíte
como recurso para não passar recibo de ‘furo’”. Sendo o furo” uma matéria que os jornais
concorrentes podem publicar.
Por fim, a última técnica de redação jornalística é o texto-legenda, que nada mais é que
um texto explicativo de uma fotografia ou ilustração. Nesse texto estarão todos os elementos
básicos de uma notícia, ou seja, as perguntas do
lead.
Beltrão aponta que o texto-legenda se
C
A
BEÇA
CLÍMAX
C
A
BEÇA
46
CLÍ MAX
CLÍ MAX
CLÍMAX
CLÍMAX
diferencia da simples legenda, que é colocada abaixo das fotos, por possuir um título e contar
uma história.
Segundo a concepção de Beltrão, essas três técnicas de redação jornalística podem ser
visualizadas da seguinte forma:
Todas essas estruturas de redação jornalística eram válidas nas décadas de 1960 e
1970 e ainda continuam sendo utilizadas hoje. Folheando qualquer jornal diário da atualidade
é possível encontrar o modelo da pirâmide invertida facilmente. É o que afirma Lage (2004,
p.16), ao explicar que
Do ponto de vista da estrutura, a notícia se define no jornalismo moderno como
o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ou interessante; e
de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante. [...] não se trata
exatamente de narrar os acontecimentos, mas de expô-los.
Portanto, ainda há realmente um predomínio da técnica da pirâmide invertida nas
notícias factuais. Nessas reportagens de rotina, os repórteres também utilizam o
lead.
Em
contrapartida, nas reportagens especiais, aquelas que podem ser encontradas nos cadernos de
fim de semana, a estrutura textual é mais livre e alguns repórteres se aventuram em ser mais
C
A
BEÇA
C
A
BEÇA
~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~
Figura 9: “Cozinha”
Figura 10: “Suíte” Figura 11: Texto-legenda
47
criativos e menos padronizados. Essa diferença também é esclarecida por Lage (2004, p. 46-
47), quando diz que [...] a reportagem não cuida da cobertura de um fato ou de uma série de
fatos, mas do levantamento de um assunto conforme ângulo preestabelecido. [...] O estilo da
reportagem é menos rígido do que o da notícia: varia com o veículo, o público, o assunto”.
Noblat (2004) pensa da mesma maneira ao expor que a notícia é um relato mais ou
menos breve sobre um fato, enquanto a reportagem é um relato mais extenso, abrangente e
contextualizado. Também Noblat prega que o
lead
padrão viveu mais do que deveria,
porque foi inventado em uma época na qual era necessário uniformizar os textos dos jornais,
como forma de não misturar informação e opinião, ou seja, priorizar a objetividade. Para
Noblat, a pirâmide invertida fez com que os textos jornalísticos se tornassem mais diretos e
objetivos, porém, muito parecidos uns com os outros. Segundo ele, já está mais do que na
hora de mudar esse padrão, sem, no entanto, deixar de priorizar os fatos mais relevantes da
notícia.
Pois digo: viva a diferença! Textos bem escritos não podem e não devem ser
iguais. Nem parecidos. Se forem, não serão bons textos. [...] Objetividade é
preciso. O lead não pode estar no pé da matéria, por exemplo. Mas quase
sempre ele está no título e nos subtítulos que muitos jornais utilizam para
chamar a atenção dos leitores. (NOBLAT, 2004, p.98)
Fazer a diferença no texto. Essa é a palavra de ordem no jornalismo impresso
contemporâneo. O ato de questionar o modelo da pirâmide invertida e de sugerir a
aposentadoria do
lead
padrão é uma influência do pós-modernismo no jornalismo. Por esse
motivo, para entender o que está nos bastidores da crítica ao modelo da pirâmide invertida é
necessário discutir o impacto do pós-modernismo no jornalismo.
48
1.10 A pós-modernidade e sua influência no jornalismo
Com o aumento do uso da televisão após a década de 1950 e o surgimento de uma
sociedade baseada no consumo, graças ao crescimento da indústria, o jornalismo impresso se
espetacularizou para sobreviver à concorrência com os veículos eletrônicos. A notícia se
tornou definitivamente mercadoria e, como destaca Rublescki (2009), ocorreu uma crise
profissional do jornalismo porque desapareceram as fronteiras entre a prática jornalística e a
publicidade.
Na segunda metade do século XX teve início a ruptura com muitas das ideias da
modernidade e do período contemporâneo. É quando a pós-modernidade começa a surgir
enquanto ainda vigora o modernismo. Lyotard (1993, p. 3) afirma que o saber muda de
estatuto a partir do final dos anos 1950, quando as “[...] sociedades entram na idade dita pós-
industrial e as culturas na idade dita pós-moderna”. Para ele, o que ocorre na pós-
modernidade é uma espécie de mercantilização do saber.
Rublescki (2009, p.3) destaca que a discussão que girava em torno da ética na
modernidade, passa a se concentrar em volta da estética na pós-modernidade: “No moderno,
falava-se em controle, manipulação. Em tempos de liquidez pós-modernista fala-se em
sedução”.
Como foi discutido anteriormente, antes do pragmatismo e do positivismo não se tinha
ideia do que era realmente um jornal, por isso todo tipo de assunto figurava nas páginas sem
uma ordem ou padrão, assim como textos não possuíam um modelo próprio e tinham
linguagem semelhante a dos romances. É possível dizer então que essas duas correntes
filosóficas do modernismo ajudaram a desencadear o paradigma da objetividade no
jornalismo.
49
O modernismo pregava a especialização do jornalismo e a pós-modernidade chega para
quebrar esse posicionamento. É por conta do advento do pós-modernismo que o jornalismo
iniciou um processo de transformação, conforme explica Savianirey (2001, p. 31):
A configuração do pós-modernismo a partir da hipótese de uma quebra radical,
de uma ruptura, com a ocorrência do desgaste do alto modernismo, no final dos
anos 60, [...] está presente em vários segmentos da atividade humana [...]
Contudo, uma das áreas fortemente marcadas por rupturas e transformações
intensas nos últimos 20 anos, e ainda não bem dissecada, é a do jornal impresso,
podendo-se afirmar ter ocorrido aí uma quebra radical em relação às convenções
vigentes ao longo dos anos 50 e 60, período caracterizado pelo alto-
modernismo.
Dessa forma, o pós-modernismo surge e instiga uma reforma no jornalismo. A visão
pós-moderna faz com que a proposta da subjetividade ressurja, ainda que dissimulada. A pós-
modernidade prega que é possível relativizar o padrão de jornalismo vigente no modernismo,
mas não dita que tudo é possível nas páginas dos jornais. Ainda é preciso seguir uma certa
ordem. Por conta disso, aparecem as sugestões de alguns teóricos do jornalismo que defendem
o uso de outros modelos de redação que são diferentes da pirâmide invertida e foram
apresentados. Esse cenário permite que a objetividade, tão defendida na vigência do
modernismo, possa ser deixada- ao menos um pouco- de lado, se o mercado capitalista assim
preferir. Para Marshall (2001, p.3),
Acossado diretamente por este ‘novo’ paradigma cultural e pela ordem do
mercado, o jornalismo pós-moderno transforma-se em um amálgama estético e
capitalista, um instrumento-meio dos objetivos diretos ou indiretos do sistema e
da lógica ultraliberal. O jornalismo sofre mutações radicais e passa a ser
constituído e normatizado pela ética da liberdade capitalista pós-moderna. [...] A
imprensa passa, consequentemente, a falar a linguagem do capital.
Sendo assim, é possível compreender que a prática jornalística na pós-modernidade é
orientada por um capitalismo que hoje, sobretudo, é calcado no conhecimento. Os critérios de
objetividade, que nortearam o surgimento da pirâmide invertida no século XIX, estão sendo
50
questionados na contemporaneidade. Como ressalta Marshall (2001, p.12), “[...] neste novo
jornalismo, não mais limites, parâmetros ou referências. A linguagem incorpora, em
dimensões variáveis, a densidade e a linguagem características da persuasão publicitária
”.
Todo esse processo de mutação, no qual o jornalismo ultrapassa a fronteira com a
publicidade, ocorre de fato sob a égide do pós-modernismo. É nesse contexto que surgiram
as novas tecnologias informáticas, a partir da cada de 1970. Marshall (2001, p.1) destaca
também que “[...] na virada do século XX para o século XXI, o universo da comunicação e da
informação está radicado no espaço da pós-modernidade: livre-mercado, livre-competição,
marketização, estetização, virtualidade [...]”. Dessa maneira, é possível considerar que parte
desse novo movimento de renovação no jornalismo também se deve ao surgimento de um
novo veículo de comunicação, uma rede mundial e virtual de computadores. Veículo esse que
já nasce pós-moderno, na última década do século XX.
Assim como os ventos da inovação sopraram nas redações jornalísticas nas décadas de
1950 e 1960 por conta do advento do rádio e da televisão, um verdadeiro tornado invadiu os
jornais na década de 1990. Era a Internet que chegava para desafiar os veículos de
comunicação tradicionais. Mais que isso, a rede mundial de computadores não apenas
estimulou os repórteres dos jornais impressos a repensarem os seus textos, também provocou
impactos na atividade jornalística e apresentou aos jornalistas um novo campo de atuação, o
jornalismo
on-line
. Esse é o assunto do próximo capítulo.
51
2 Impactos da Internet no jornalismo
Ao longo da última metade do século XX ocorreu o desenvolvimento da Internet, a rede
mundial de computadores. O fato pode ser considerado um marco tecnológico que
desencadeou mudanças e alterações em quase todas as atividades humanas, entre elas o
jornalismo. Com a criação de aplicativos para compartilhamento de informações, como a
World Wide Web,
na década de 1990, aconteceu a expansão do uso da Internet, o que
representou uma verdadeira revolução da tecnologia da informação.
A Internet não surgiu de repente, ela é fruto de um longo processo de estudos na área da
tecnologia da informação.
13
Ao abordar o evento, Castells (2000) explicou que no final do
século XX a humanidade estava vivendo uma espécie de intervalo histórico, que transformaria
sua cultura, por meio de um novo paradigma tecnológico organizado em torno da tecnologia
da informação. Ele destaca que o surgimento da Internet representou um evento histórico com
impactos semelhantes ao da Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, uma vez que
provocou reflexos na economia, na sociedade e na cultura.
2.1 Propagação da Internet e da World Wide Web
A propagação da Internet pelo planeta só foi possível graças ao surgimento da
Web
14
em
1995
.
Segundo Dertouzos (2000) e Castells (2004) foi a
Web
que fez com que a rede se
tornasse um fenômeno cultural amplo por conta da facilidade no compartilhamento de
informações.
A partir daquele ano ocorreu o que Castells (2004) qualifica de internacionalização da
Internet e o que Lévy (2000) chamou de “um rastilho de pólvora”, a propagação da
Web
entre
13
Sobre a história da Internet ver: Leão (2001), Dertouzos (2000) e Castells (2004)
14
Sobre a história da criação da World Wide Web ver: Leão (2001), Dertouzos (2000) e Castells (2004)
52
os usuários da Internet. A rápida disseminação do uso da Internet e da exploração dos
recursos do aplicativo
Web
também foram uma consequência da globalização da sociedade
capitalista.
2.1.1 Globalização e capitalismo
O processo de globalização é explicado por Santos (2001) como a representação, de
certa forma, do ápice da internacionalização do mundo capitalista. Segundo este pesquisador,
“No fim do culo XX e graças aos avanços das ciências, produziu-se um sistema de técnicas
presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as
demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária”
(SANTOS, 2001, p.23).
Esse sistema de técnicas que é a globalização é visto por Santos (2001) como uma
arquitetura delineada pela técnica da informação, por meio da informática e da eletrônica. De
acordo com ele, a técnica da informação é que permitiu a comunicação entre as outras
técnicas existentes, assegurando que em todos os lugares houvesse uma convergência de
momentos e simultaneidade de ações.
Sendo assim, foi em meio ao contexto da globalização que a Internet se consolidou e,
nos primeiros anos do século XXI, novos recursos foram agregados à
Web,
apresentando aos
usuários uma nova geração de serviços
on-line,
batizada de
Web
2.0. Por esse motivo, é
necessário esclarecer esses conceitos e abordar qual a importância deles para o jornalismo.
53
2.2 Web 2.0 e Web 3.0
Em meio às dúvidas que ainda pairam sobre o processo de deslocamento do texto
jornalístico para a Internet, a própria
Web
não é mais a mesma do final dos anos 1990. A
partir dos anos 2000 teve início a discussão do conceito de
Web
2.0 e, atualmente, se fala
em
Web
3.0.
A
Web
2.0 pode ser entendida como uma segunda geração de serviços na Internet, o
que, segundo Encarnação e Rodrigues (2007), representa uma revolução social que fez com
que a
Web
não se restringisse a ser apenas uma ferramenta para consultar informações, mas
também se tornasse uma ferramenta para criação e compartilhamento de conteúdos publicados
pelos internautas.
Por esse motivo, Encarnação e Rodrigues (2007) afirmam que a fase em que não era
fácil alguém sem conhecimentos técnicos publicar conteúdos na Internet pode ser chamada de
Web
1.0. De acordo com eles, a
Web
2.0 é mais aberta à participação dos usuários e entre suas
principais ferramentas estão os
wikis
(
sites
editáveis de forma compartilhada com os
usuários), os
blogs
(que no princípio eram diários
on-line,
agora são usados para divulgação
de opiniões e até mesmo conteúdo jornalístico), e
sites
de gestão de fotos e vídeos (onde
ocorre compartilhamento de arquivos de vídeos, áudios e imagens).
As discussões e debates sobre a
Web
2.0 ainda estão acontecendo, porém teóricos
afirmam que a formação da
Web
3.0 já começou e representará a próxima geração de serviços
na Internet. Segundo Encarnação e Rodrigues (2007, p.5):
Apesar de a Web 2.0 ainda ser algo recente, e ainda não descoberto por muitos
utilizadores, se fala nas tecnologias que vão fazer parte da próxima geração
daquilo a que poderemos chamar de Web 3.0. Actualmente, nada é concreto,
mas existem uma série de “tecnologias candidatas” que procuram tornar-se nas
próximas fontes de uma nova revolução, principalmente a Web Semântica em
colaboração com a Inteligência Artificial. No entanto existem também outras
possibilidades, e apenas com o passar do tempo e com a adopção destas
tecnologias por partes dos utilizadores e através da sua popularidade se saberá
54
quais serão as tecnologias dominantes da próxima geração, que foi exactamente
o que aconteceu no processo que levou ao aparecimento da Web 2.0.
Sendo assim, é possível compreender que a
Web
3.0 ou
Web
Semântica poderá fazer
parte de uma geração de serviços cada vez mais personalizada. Será a Internet de cada pessoa.
Quando um indivíduo iniciar seus trabalhos em um computador conectado à
Web
3.0, ela
reconhecerá esse usuário porque quanto mais ele navegar, mais a
Web
Semântica conhecerá
suas preferências.
Após a caracterização da
Web,
onde atualmente é praticado o jornalismo
on-line
, se faz
necessário também caracterizar o sistema em que esse processo ocorre, a Internet. Além disso,
é fundamental também discutir outros aspectos da Internet, que é uma hipermídia que explora
o hipertexto, conceito que será melhor esclarecido neste capítulo. Outro fator relevante para
compreender a Internet como suporte jornalístico é a abordagem da ideologia presente no
ciberespaço. A partir de agora, será iniciada a discussão que aborda a Internet enquanto
sistema, hipermídia e meio ideológico.
2.3 A Internet e a visão sistêmica
A Internet é um sistema social de distribuição de informações, que utiliza recursos de
tecnologia da informação e possui abrangência mundial. Porém, antes de se falar
propriamente do sistema Internet, é necessário definir-se o que vem a ser o conceito de
sistema utilizado neste trabalho.
Segundo CNPq/Inpe (1973) as interpretações de sistema são bastante antigas e ocorriam
desde a época dos filósofos pré-socráticos, sendo a ênfase a da explicação da realidade. Ao
longo dos séculos, o foco do estudo dos sistemas passou pela experimentação e também pelo
uso das técnicas matemáticas. Entre os teóricos que discutiram o tema ao longo dos tempos
55
estão Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Descartes, Leibniz, Spinoza, Kant, Marx,
Hegel e Nietzsche.
Porém, as primeiras discussões teóricas sobre uma teoria geral de sistemas são
atribuídas a Ludwig Von Bertalanffy, ainda na primeira metade do século XX. Era uma visão
funcionalista de sistema e para ele, “Um sistema [...podia...] ser definido como um complexo
de elementos em interação” (BERTALANFFY, 1975, p. 84). Essa afirmação quer dizer que o
sistema se comporta como um todo, no qual seus elementos dependem uns dos outros.
Isto nos leva a concepção do CNPq/Inpe (1973) que permite vislumbrar melhor o que
seja sistema na ótica funcionalista. O sistema, para essa instituição, era considerado como um
conjunto de partes que se interagem de modo a atingir um determinado fim, de acordo com
um plano ou princípio. Essa concepção de sistema vem amparada pela ideia de que a
representação de sistema é calcada por um conjunto de procedimentos, doutrinas, ideias ou
princípios, logicamente ordenados e coesos com intenção de descrever, explicar ou dirigir o
funcionamento de um todo.
Após abordar algumas concepções funcionalistas de sistema, é necessário esclarecer que
além dessa interpretação, existem outras, entre elas a construtivista e é essa que interessa a
este trabalho. A concepção de sistema aqui adotada está afim com o pensamento
construtivista operativo de Luhmann (1980), (2005) e (2009), autor de uma teoria sistêmica
sociológica, para quem todo sistema está circundado por um meio com o qual se delimita.
Mas, para o sistema existir é necessário que haja uma ação, uma observação, processo que vai
permitir identificá-lo. Porém, em que se constitui o sistema propriamente dito para Luhmann?
Para ele:
Uma das características importantes dum sistema é uma relação com a
complexidade do mundo. Por complexidade deve entender-se a totalidade das
possibilidades que se distinguem para a vivência real [...] Os sistemas
constituem uma diferença entre interior e exterior, no sentido duma diferença em
complexidade ou ordem. O seu ambiente é sempre excessivamente complexo,
56
impossível de abarcar com a vista e incontrolável; em contrapartida, a sua ordem
própria é extremamente valiosa na medida em que reduz a complexidade; e
como ação inerente ao sistema admite comparativamente, algumas
possibilidades. (LUHMANN,1980, p.39)
Luhmann adota posicionamento a partir de outros autores, entre eles Bateson, Neumann
e Wiener. Porém, ele não apresenta um conceito acabado. Embora Luhmann ensaie uma
conceituação, ele mesmo aborda a dificuldade de conceituar sistema ao afirmar que:
“Geralmente, é comum responder que o sistema é indefinível, indeterminável; e que, em
última instância, nesse
in
encontra-se a substância do sistêmico”. (LUHMANN, 2009, p.89).
Na tentativa de explicação do que seria sistema para Luhmann, Marcondes Filho, no
prefácio do livro de Luhmann (2005), diz que o estudioso concebe sistema como uma
estrutura complexa que realiza sua reprodução de forma exclusivamente interna e registra
sinais que são emitidos pelo ambiente circundante. Nesse momento, existe o acoplamento
estrutural através das irritações do meio ao sistema. É possível entender então que o sistema
não existe sozinho porque existem as irritações, ou melhor dizendo, os estímulos. Ou seja, o
homem só pode conceber uma realidade como sistema quando ele a observa e passa a
perceber como seus elementos estão estruturados e funcionam. Na verdade, ele constrói essa
realidade sistêmica.
A opção por seguir a concepção de Luhmann sobre sistema se justifica porque,
diferentemente de outros autores, ele trabalha com o conceito de autopoiesis, que é explicado
por Mathis (s/d, p. 3-4): “Autopoiesis
significa que
um sistema complexo reproduz os seus
elementos e suas estruturas dentro de um processo operacionalmente fechado com ajuda dos
seus próprios elementos”
Capra (2006) esclarece ainda mais o conceito de autopoiese em uma percepção
ecológica, baseada em estudos de Francisco Varela e Humberto Maturana, afirmando que o
termo significa autocriação e é um padrão geral de organização comum a todos os sistemas
57
vivos, seja qual for a natureza dos seus componentes. Para Capra (2006, p.89), a autopoiese
pode ser definida como uma rede de processos de produção, cuja função de cada componente
consiste “[...] em participar da produção ou da transformação de outros componentes da rede.
Desse modo, toda a rede, continuamente, ‘produz a si mesma’. Ela é produzida pelos seus
componentes e, por sua vez, produz esses componentes”. A afirmação dele conduz ao
entendimento de que as redes autopoiéticas estão constantemente se regenerando para se auto-
organizarem, ou seja, são redes auto-reguladoras.
Segundo Capra (2006), foi o sociólogo Luhmann quem definiu o conceito de autopoiese
social, na qual os processos sociais da rede autopoiética são também processos de
comunicação. “Os sistemas sociais usam a comunicação como seu modo particular de
reprodução autopoiética. Seus elementos são comunicações que são produzidas e
reproduzidas por uma rede de comunicações e que não podem existir fora dessa rede”.
(LUHMANN apud CAPRA, 2006, p. 172).
Por sua vez, ao abordar os processos comunicativos, Luhmann (2005) qualifica os
meios de comunicação como um dos sistemas de funcionamento da sociedade moderna.
Segundo ele, assim como outros sistemas sociais, os meios de comunicação -entre eles é
possível incluir a Internet- tiveram suas capacidades reforçadas por conta da autonomia
autopoiética do sistema.
Essas considerações permitem o entendimento de que a Internet funciona como um
sistema social autopoiético, sistema esse que é interativo e integra os sistemas de
comunicação que o antecederam, numa espécie de convergência de mídias, conforme explica
Nicolau (2008, p.3):
A rede de comunicação que a internet estabeleceu no ciberespaço tem, por um
lado, proporcionado a convergência das mídias tradicionais, como rádio, jornal,
revista e televisão em um plano de convivência dialogal e dinâmico; por outro,
faz interface com diversos suportes midiáticos tais como celulares, palms,
notebooks que acompanham o tempo todo o usuário. Enquanto essas mídias
58
tradicionais constituíram-se em um modelo essencialmente linear de
comunicação, [...] ou mesmo em um modelo circular a partir de
retroalimentações estabelecidas por cartas e telefonemas, as mídias da atualidade
baseiam suas atuações, cada vez mais em diálogos constantes, participações e
ações interativas.
Por sua vez, Stockinger (2002) esclarece que o sistema social é um sistema vivo, que
comunica, por meio da produção e processamento de informações. Essas considerações
conduzem ao entendimento de que como um sistema social novo, a Internet apresentou ao
mundo uma nova forma de compartilhamento de informações. Os subsistemas que a integram,
assim como o meio que a circunda e influencia, se formaram dentro desse contexto.
Com o intuito de ilustrar melhor o conceito de Internet enquanto sistema recorre-se à
ideia de Palácios (2003, p.7-8), para quem
[...] a Internet, no contexto do Ciberespaço, é melhor caracterizada não como um
novo medium, mas sim como um sistema que funciona como ambiente de
informação, comunicação e ação múltiplo e heterogêneo para outros sistemas.
Sua especificidade sistêmica seria a de constituir-se, para além de sua existência
enquanto artefacto técnico ou suporte, pela junção e/ou justaposição de diversos
(sub)sistemas, no conjunto do Ciberespaço enquanto rede híbrida. Portanto, ao
mesmo tempo em que funciona como um sistema (ou sub-sistema)
na rede
híbrida, a Internet, em seu conjunto, funciona também como ambiente
compartilhado (de comunicação, informação e ação) para uma multiplicidade de
outros (sub)sistemas sociais e também, evidentemente, para agentes cognitivos
(humanos).
É possível compreender, então, que a Internet é um sistema social que permite a
existência de subsistemas sociais, ambientes que existem paralelamente na rede virtual.
Segundo Nicolau (2008, p.3), a Internet, enquanto dia interativa, se configura em sistema
social de estrutura complexa, pois “[...] é aberto à influência ambiental com intenso poder de
adaptação a partir da capacidade de acumulação de conhecimento coletivo e diversidade de
perfis individuais”
Partindo dessa reflexão, os processos de comunicação na
Web,
entre eles o jornalismo,
podem ser considerados como subsistemas desse sistema social que é a Internet. É o que
59
esclarece Stockinger (2002, p.4), ao afirmar que “a comunicação no ciberespaço pode ser
abordada, ela própria, como (sub-) sistema, como um campo de ação
sui generis
”.
Sendo assim, após o entendimento de que a Internet é um sistema social e de que o
jornalismo
on-line
pode ser considerado como um subsistema na
Web
, é necessário esclarecer
qual é a ideologia que envolve esse processo. Para isso, é preciso abordar com mais
propriedade a ideologia no ciberespaço. Essa necessidade se justifica, uma vez que a ideologia
se faz presente em todas as relações sociais, inclusive na Internet.
2.4 Ideologia no Ciberespaço
Não como separar as relações humanas da ideologia, uma vez que esta se apresenta
em todos os campos sociais. Neste trabalho, a ideologia é entendida conforme o conceito
trabalhado na Análise de Discurso de linha francesa, a qual é estudada como a constituição
histórica e social das relações de produção e de poder.
Sendo assim, ideologia aqui é
compreendida como a história da acomodação das relações de poder e definição de lugares
sociais. Como explica Orlandi (2003, p.46), “a ideologia faz parte, ou melhor, é a condição
para a constituição do sujeito e dos sentidos. O indivíduo é interpelado em sujeito pela
ideologia para que se produza o dizer”.
Essa visão de ideologia é baseada nos estudos de Althusser, para quem a ideologia é
indissociável de qualquer prática, assim como ela existe por meio dos sujeitos e para eles:
“[...] toda ideologia representa, em sua deformação necessariamente imaginária, não as
relações de produção existentes (e as outras relações delas derivadas) mas sobretudo a relação
(imaginária) dos indivíduos com as relações de produção e demais relações daí derivadas”.
(ALTHUSSER, 1985, p.88).
60
O que Althusser coloca é que a ideologia interpela os indivíduos em sujeitos. Para ele, a
ideologia funciona de forma a recrutar os indivíduos e transformá-los em sujeitos por meio do
que ele chama de interpelação.
A existência da ideologia e a interpelação dos indivíduos enquanto sujeitos são
uma única e mesma coisa [...] a ideologia sempre/já interpelou os indivíduos
como sujeitos, o que quer dizer que os indivíduos foram sempre/já interpelados
pela ideologia como sujeitos, o que necessariamente nos leva a uma última
formulação: os indivíduos são sempre/já sujeitos. (ALTHUSSER, 1985, p.97-
98).
Assim como em qualquer ambiente de relações sociais, esses sujeitos interpelados pela
ideologia também estão no ciberespaço. Diferentemente de outros sistemas de comunicação,
como o rádio, a TV e o próprio jornal impresso, a Internet possibilitou mais ainda um
processo de interação que envolve tanto quem cria um
site
quanto quem o acessa. Todos os
indivíduos encontram hoje na Internet a possibilidade de divulgarem opiniões e trocar
informações. Esse processo leva apenas alguns segundos e está ao alcance de usuários em
todo o planeta.
Como foi discutido anteriormente, a Internet surge em meio ao Pós-Modernismo, que
segundo Harvey (2008) aceita o que é fragmentário, efêmero, descontínuo e caótico. Além
disso, Castells (2000) ressalta que a Internet
e a
Web
se desenvolveram em meio a uma
ideologia libertária. Gomes (2001, p.11) complementa o pensamento de Castells ao afirmar
que: “Grande parte do desenvolvimento da rede [...] deve-se a uma ‘ideologia internet’,
baseada principalmente sobre os princípios fundamentais da acessibilidade universal, do
pluralismo democrático de opiniões e da incontrolabilidade por poderes centrais”.
É possível compreender, então, que a Internet surge em meio a uma ideologia que prega
a ampliação da participação de todos e a não restrição à conexão. Foi assim que diversas
atividades sociais, culturais, políticas e econômicas se interessaram pelo ciberespaço. Essa
migração de atividades para o espaço virtual acabou desencadeando o deslocamento de
61
conceitos como tempo, espaço e de autoria de informações que são divulgadas na Internet. É o
que explica Reis (2000), ao afirmar que atualmente o espaço é cibernético, a realidade é
virtual, o tempo de resposta em uma atividade de comunicação é real, e os indivíduos, que
antes recebiam passivamente as informações, agora interagem e até mesmo as produzem.
No ciberespaço, o leitor também pode ser autor. É o que previu Castells (2000, p.51) ao
colocar que: “As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem
aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a
mesma coisa”.
Também não mais porque esperar tanto por uma resposta, uma vez que na
Web
a
troca de informações pode ser em tempo real. A efemeridade, ou melhor dizendo, o anseio
pelo tempo real, é um aspecto ideológico que está presente no ciberespaço. “O tempo real [...]
autoriza usar o mesmo momento a partir de múltiplos lugares; e de todos os lugares a partir de
um só deles. E, em ambos, os casos, de forma concatenada e eficaz”. (SANTOS, 2001, p.28).
O tempo real, para Santos (2001, p.83), representa uma mudança histórica que
proporciona o conhecimento instantâneo do que acontece no mundo. “Hoje vivemos um
mundo da rapidez e da fluidez. Trata-se de uma fluidez virtual, possível pela presença dos
novos sistemas técnicos, sobretudo os sistemas da informação, e de uma fluidez efetiva [...]”.
Sendo assim, é possível compreender que as noções de espaço e de tempo mudam em
função desses aspectos, como explica Castells (2000, p.403): “Tanto o espaço quanto o tempo
estão sendo transformados sob o efeito combinado do paradigma da tecnologia da informação
e das formas e processos sociais induzidos pelo processo atual de transformação histórica”.
Isto significa que, ideologicamente, o espaço virtual também é real e se constitui em um
espaço de fluxos. O ciberespaço não existe fisicamente, porém existe e funciona no plano das
ideias. Já o tempo, no ciberespaço, não é regido por uma lógica linear, mas sim por um fluxo
contínuo que faz diferença na troca de informações, em termos de velocidade, tornando-a
62
simultânea. “A cultura da virtualidade real, associada a um sistema multimídia
eletronicamente integrado [...] contribui para a transformação do tempo em nossa sociedade
de duas formas diferentes: simultaneidade e intemporalidade”. (CASTELLS, 2000, p.486).
Assim, é possível entender que o espaço de fluxos e o tempo intemporal, esclarecidos
por Castells, são componentes ideológicos na Internet. A ideologia no ciberespaço é a da
efemeridade, a da simultaneidade, ou como ele afirma, a da cultura da virtualidade real. Para
ele: “O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura,
que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente
transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai se tornando realidade”.
(CASTELLS, 2000, p.397-398)
A capacidade de divulgar ideias de forma veloz é indissociável na prática das atividades
sociais que estão presentes na
Web,
e entre elas está o jornalismo
.
Como destaca Moretzsohn
(2000), a rapidez é uma condição de sobrevivência das atividades no ciberespaço e, no caso
do jornalismo, a lógica do tempo real é imprescindível, uma vez que radicaliza ainda mais a
“corrida contra o tempo” que sempre fez parte do processo de produção jornalística.
Após caracterizar ideologicamente a Internet e compreender de que forma a ideologia
da efemeridade atinge o jornalismo, também é necessário expor os aspectos do sistema
Internet enquanto uma hipermídia, afim de depois ser possível destacar seus impactos na
prática jornalística.
2.5 Hipermídia
O desenvolvimento de computadores pessoais (PCs) ou microcomputadores
15
auxiliou
muito na disseminação do uso da Internet mundo afora. Porém, um dos maiores aliados da
15
Sobre a história do desenvolvimento dos microcomputadores ver: Castells (2000)
63
rápida ampliação da rede de computadores foi o desenvolvimento das interfaces gráficas, que
havia permitido o surgimento da multimídia, e possibilitou que a Internet se tornasse uma
hipermídia interativa. Esse processo é explicado por Bugay e Ulbricht (2000, p.41). Para eles:
A evolução e a popularização do computador, bem como o desenvolvimento das
interfaces gráficas, tornou possível ter a apresentação de vários tipos de mídia
(texto, imagens, animações, vídeos e sons), a Multimídia. Esta, mesmo
possibilitando utilizar vários tipos de mídia em conjunto, ainda não permite a
interação do usuário. a hipermídia fornece ao usuário ferramentas de
interação, permitindo navegar dentro do documento não mais apenas de forma
linear, mas sim de forma interativa: ao clicar em um botão, o computador
responde mostrando uma imagem, um vídeo ou um som, por exemplo.
Essas considerações auxiliam no entendimento de que a Internet, por ser uma
hipermídia, alcançou rapidamente todo o planeta. A
Web
também teve papel importante nessa
rápida expansão, por ser a parte da rede baseada no hipertexto. Leão (2001, p.23) afirma que
“A
Web
baseia-se numa interface gráfica e permite o acesso a dados diversos (textos, músicas,
sons, animações, filmes, etc.) através de um simples “clicar” no mouse. Devido à facilidade
que sua interface oferece, a
Web
vem crescendo de uma forma vertiginosa”.
Sendo assim, é possível entender que a hipertextualidade é uma característica
importante da Internet. Na
Web,
as informações estão ligadas de forma reticular, ou seja,
formam uma teia, uma rede. Ao abordar a noção de hipertextualidade na tecnologia da
informação, Lévy (1993, p.33) afirma que:
Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os
nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos,
sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser
hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma
corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em
estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto, significa portanto
desenhar um percurso em uma rede, que pode ser tão complicada quanto
possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira.
64
Por isso, para desenhar esse percurso em rede, para construir
sites
e
links
é preciso saber
explorar os recursos hipertextuais. Para percorrer as
home pages
também é necessário
conhecer o ambiente hipertextual. Abordar o conceito de hipertexto é um passo relevante para
a compreensão dos impactos que esse recurso causou em atividades como o jornalismo.
2.5.1 Noções de hipertexto na Web
Com o objetivo de definir a forma de escrita não linear em um sistema de informática, o
norte-americano Theodore Nelson foi o primeiro estudioso a utilizar o termo hipertexto, ainda
na década de 1960. De acordo com Leão (2001), esse pesquisador tinha como sonho manter
os pensamentos em sua estrutura multidimensional e não-sequencial.
Como foi citado por Lévy, é possível definir o hipertexto como uma forma de escrita
não-sequencial, ou seja, um texto que se espalha em ramificações e oferece ao leitor a
possibilidade de escolher caminhos de leitura, sendo melhor aplicado em telas interativas
(NELSON apud BELLEI, 2002).
Isto que dizer que o hipertexto além de envolver a noção de texto, é mais que um texto,
tanto é que para Leão (2001), ele, em geral, é composto por blocos de informações e por
vínculos eletrônicos que são chamados de
links
e fazem a ligação entre os elementos. Antes
da utilização dos computadores e dos avanços da interface gráfica, o hipertexto existia no
ambiente impresso, porém de forma mais restrita. Um exemplo são as notas de referência em
artigos acadêmicos, que conduzem o leitor para uma informação que está fora da linearidade
do texto. Os próprios jornais impressos também recorrem a elementos hipertextuais, entre eles
o “olho”, espécie de caixa informativa que é colocada em meio ao texto, de forma não-
sequencial, para chamar a atenção para um trecho da matéria.
65
Somente após o advento da Internet e a evolução da computação gráfica, toda a
potencialidade do hipertexto foi evidenciada e explorada na forma do que ficou conhecido
como navegação. Foi possível entender em que realmente consiste o hipertexto. Para vy,
(1993, p.37):
A reação ao clique sobre um botão (lugar da tela de onde é possível chamar um
outro nó) leva menos de um segundo. A quase instantaneidade da passagem de
um nó a outro permite generalizar e utilizar em toda sua extensão o princípio da
não linearidade. Isto se torna a norma, um novo sistema de escrita, uma
metamorfose da leitura, batizada de navegação.
Essas considerações permitem a compreensão de que o ambiente hipertextual se
configura em conjuntos de informação que estão conectadas por meio dos
links,
ou seja, por
ligações, que Bugay e Ulbricht (2000) chamam de ponteiros sinalizados. Segundo eles, a
navegação na Internet é baseada nesses ponteiros, que conduzirão o leitor pelo ambiente
hipertextual de forma célere.
Assim, a estrutura do hipertexto na
Web
apresenta ao internauta um cenário de leitura
multilinear e interativa, que é o internauta que definirá seu percurso de leitura. É o que
explica Bellei (2002, p.45): “o que caracteriza estruturalmente o hipertexto não é a sequência
linear de blocos de significado [...] mas a possibilidade de trajetórias de leitura multilineares,
indicadas pelas setas e tornadas possíveis pelas linguagens de programação [...]”.
É possível entender então que a hipertextualidade, explorada em sua real potencialidade
na
Web,
apresentou ao mundo uma maneira mais atrativa e interativa de acesso a conteúdos.
O novo meio oferece destaque também à função do leitor, ou melhor, do internauta, uma vez
que este escolhe a sequência da leitura, sequência esta que pode até mesmo ser diferente da
que foi planejada por quem construiu o hipertexto. Lévy (2000, p.57) faz esclarecimentos
sobre esse processo ao afirmar que:
66
O navegador participa, portanto, da redação do texto que lê. Tudo se dá como se
o autor de um hipertexto constituísse uma matriz de textos potenciais, o papel
dos navegantes sendo o de realizar alguns desses textos colocando em jogo cada
qual à sua maneira, a combinatória entre os nós. [...] Não apenas irá escolher
quais links preexistentes serão usados, mas irá criar novos links que terão um
sentido para ele e que não terão sido pensados pelo criador do hipertexto.
Tudo isso leva à reflexão sobre as características da Internet. Para compreender melhor
os aspectos que fazem com que a Internet seja considerada pelos teóricos como um suporte
mais atrativo e interativo que o meio impresso, recorre-se aos estudos de Pinho (2003).
Segundo ele, a internet é bastante distinta dos meios de comunicação tradicionais em aspectos
como linearidade, fisiologia, instantaneidade, dirigibilidade, interatividade, acessibilidade,
custos de produção e de veiculação. Pinho defende que é preciso ter conhecimento dos
aspectos que diferenciam a Internet de outros meios, para que seja possível utilizá-la
adequadamente como instrumento de informação. As diferenças apontadas por Pinho podem
ser visualizadas, na página a seguir, no quadro comparativo (quadro 1) entre os aspectos da
Internet e do meio impresso.
67
ASPECTOS
MEIO IMPRESSO
INTERNET
Linearidade
Linear
Não- linear
Fisiologia
Leitura no papel com controle de
distância em relação aos olhos
Leitura na tela, forçando os
olhos a se ajustarem ao que é
visualizado
Instantaneidade
Não imediata
Imediata
Dirigibilidade
Restrições de espaço e tempo e
determinação do que é e não é
notícia
Sem restrições de espaço e
tempo e ausência de filtros de
informação
Interatividade
Limitada
Ilimitada
Acessibilidade
Disponível a cada 24 horas
Disponível 24 horas por dia
Custos de produção e de
veiculação
Elevados
Irrisórios
Quadro 1: Comparação entre o meio impresso e a Internet. Fonte: Pinho (2003)
O quadro comparativo conduz ao entendimento de que a Internet é um ambiente mais
interativo que o impresso por conta da hipertextualidade. Textos produzidos para a
Web
possuem a desvantagem de não estarem nas mãos, como é o caso do meio impresso, no
entanto, podem chegar aos leitores de forma instantânea, em tempo real, sem restrições de
espaço e, até mesmo, sem que haja uma edição rígida da informação. Além disso, esses textos
podem estar disponíveis a qualquer momento, e os custos para sua veiculação são bem mais
baixos do que a impressão de um veículo
on-line.
A possibilidade de interagir com os conteúdos é um dos principais atrativos para os
internautas. Como afirma Dizard Júnior (2000, p.24), a Internet já não é mais apenas um
brinquedo tecnológico de fanáticos por computadores: “A rede se expandiu em 50% a cada
ano durante a década de 90, impulsionada pelo interesse dos usuários comuns de
computadores na
World Wide Web
e nas demais ferramentas da Internet”.
68
Por conta desse crescente interesse das pessoas pela Internet, várias atividades
comerciais, políticas, econômicas e sociais, entre elas o jornalismo, logo perceberam que os
recursos disponíveis na Internet, como o ambiente hipertextual, seriam fundamentais para que
continuassem a ter clientes (no caso do jornalismo, leitores e anunciantes).
Foi assim, que as empresas jornalísticas constataram que para se manterem em
funcionamento no novo cenário midiático, que estava surgindo na década de 1990, era
necessário entrar na rede e também saber utilizar seus recursos. A
Web
e o ambiente
hipertextual chegaram às redações dos jornais para provocar uma verdadeira revolução na
atuação dos profissionais e na produção jornalística.
2.6 Primeiras experiências de jornalismo on-line
Com a chegada da Internet, jornais impressos de todo o planeta perceberam que a nova
mídia representava um desafio às suas atividades. Houve quem decretasse o fim da
modalidade jornalística impressa, à semelhança do que ocorreu na década de 1950 com o
advento do rádio e da televisão. Por outro lado, houve também quem enxergasse na Internet
um potencial jornalístico a ser explorado.
Antes da abertura oficial da Internet em meados de 1995, um jornal norte-americano, o
San Jose Mercury News
se tornou o pioneiro no oferecimento de notícias por meio de um
provedor
on-line
em 1994.
16
Poucos anos depois, na passagem do século XX para o XXI, a
maioria dos jornais de grande porte nos Estados Unidos já estava na rede, como destaca
Dizard Jr (2000).
16
Mais sobre a história das primeiras experiências de jornalismo on-line nos Estados Unidos ver: Dizard Jr
(2000)
69
As experiências norte-americanas de jornalismo
on-line
logo despertaram a atenção de
empresas jornalísticas de outros países. No Brasil não foi diferente e os jornalistas locais
também quiseram experimentar a nova mídia.
Ao chegar ao Brasil, em 1995, a
Web
surpreendeu os jornalistas em função de seu
caráter dinâmico e os instigou a entrar na rede. Segundo Monteiro e Simone (2001), a
primeira aventura jornalística brasileira
on-line
ocorreu em maio de 1995. Inspirado no
exemplo norte-americano, o Jornal do Brasil, sediado no Rio de Janeiro, foi o primeiro jornal
impresso brasileiro a disponibilizar sua edição no ambiente virtual da
Web.
Para destacar esse
fato, atualmente o periódico exibe em sua edição
on-line
o
slogan
“JB online- O primeiro
jornal brasileiro na internet”.
Após a experiência do Jornal do Brasil, outros grandes periódicos brasileiros também
ingressaram na Internet.
17
Segundo Johnson (2006)
,
47 dos 373 jornais diários brasileiros
estavam na Internet em fevereiro de 1997. Após a virada do século, o número de veículos
on-
line
aumentou no Brasil. De acordo com Monteiro e Simone (2001), funcionavam no Brasil,
em 2001, 124 jornais
on-line
, entre jornais impressos que migraram para a
Web,
criando
versões digitais, e veículos que nasceram na rede, como os informativos dos portais de
conteúdo. No ano seguinte, Adghirni (2002) apontou que existiam no Brasil 192 jornais
digitais incluídos em um universo de aproximadamente 400
sites
de notícias. Não foi possível
levantar quantos
sites
de notícias e jornais
on-line
existem atualmente, uma vez não terem
sido encontrados estudos mais atualizados sobre o assunto. Porém, é possível estimar que esse
número já tenha crescido devido o interesse das empresas jornalísticas pelo meio digital.
Porém, nem sempre esse interesse vem acompanhado de um estudo para o
deslocamento ao novo meio. De acordo com Johnson
(2006, p. 12),
os jornais brasileiros
iniciaram a migração para a Internet, na década de 1990, de forma impul
siva,
começando
“[...]
17
Mais informações sobre a história das primeiras experiências de jornalismo on-line no Brasil ver: Johnson
(2006)
70
a operar na Internet por causa da crença de que havia um mercado para os jornais eletrônicos
e porque eles queriam garantir um lugar no novo meio”
.
Isto quer dizer que nenhum dos periódicos da época procurou identificar as verdadeiras
necessidades para implementação de um negócio eletrônico. A atitude inicial dos jornais,
diante da nova mídia, foi então a de apenas adaptar o conteúdo impresso ao ambiente virtual
da
Web
, sem levar em conta, como destaca Alves (2006, p.94), as características da nova
mídia que possui mais imediatismo e interatividade. Para ele:
Em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as
empresas tradicionais a encararam como uma nova ferramenta para distribuir
conteúdos, originalmente produzidos em outros formatos. Na melhor das
hipóteses, via-se a presença na Internet como uma extensão ou um complemento
do produto tradicional. Assim, esta primeira década do jornalismo digital foi
caracterizada por este pecado original: a simples transferência do conteúdo de
um meio tradicional para outro novo, com pouca ou nenhuma adaptação.
Porém, em meio às primeiras experiências ainda confusas de migração de jornais
impressos para a Internet, também ocorreu o despertar de interesse em fazer jornalismo na
própria
Web.
Por esse motivo, cerca de cinco anos depois do lançamento das primeiras
versões
on-line
de jornais brasileiros, surgiu o primeiro informativo com origem direta na
Internet brasileira, ou seja, um jornal
on-line
que foi criado especificamente para o ambiente
virtual. Em 2000, segundo Adghirni (2002), foi lançado o
Último Segundo
, informativo
noticioso do
site
IG, que é considerado o primeiro jornal digital que nasceu dentro da Internet
brasileira, tentando respeitar a linguagem do meio. Tanto é que Monteiro e Simone (2001)
destacam que o lançamento do
Último Segundo
marca o rompimento com o costume que
estava em vigor de apenas adaptar versões jornalísticas impressas para a
on-line
. Sendo assim,
o
Último Segundo
inaugurou um novo modelo de jornalismo
on-line
no Brasil. É o jornalismo
que está presente atualmente nos portais de conteúdo, como o próprio IG, o Terra, o UOL,
entre outros.
71
Desde o surgimento do
Último Segundo,
as discussões sobre a linguagem jornalística na
Internet estão em evidência. Como afirma Johnson (2006), a
Web
possui características como
o imediatismo, a interatividade e recursos multimídia, e por esse motivo requer a criação de
um produto totalmente novo, ou seja, não basta adaptar o produto impresso para ser lido na
tela do computador. Os jornais tradicionais, que apenas transferiam suas versões impressas
para a
Web,
começaram a perceber que esse modelo não era ideal e também iniciaram
experiências de produção direta na internet, um exemplo é a Folha Online de São Paulo.
Para resumir os aspectos da primeira década de jornalismo
on-line
recorre-se a
Mielniczuc (2002), para quem é possível identificar três fases distintas: a transpositiva, a
metafórica, e a do webjornalismo ou, como é denominado aqui, jornalismo
on-line
. Como
foi explicado, a fase transpositiva era caracterizada pela reprodução de partes de jornais
impressos com atualização a cada 24 horas em média. Já a fase da metáfora representou as
primeiras tentativas de usar os recursos da rede, embora os produtos ainda estivessem muito
relacionados ao modelo do impresso. A terceira fase, denominada por Mielniczuc de
webjornalismo, ocorre quando os sites jornalísticos se desvinculam da ideia de fazer versões
de jornais impressos para a Internet e passam a explorar as potencialidades da
Web
na
elaboração de produtos jornalísticos hipermidiáticos.
Apesar de terem ocorrido alterações técnicas na produção do jornalismo
on-line,
o
conflito ainda existe, como bem lembra Johnson (2006), pois mesmo depois de mais de uma
década de migração dos primeiros jornais impressos para a Internet, a indústria jornalística
continua a questionar como pode ajustar os procedimentos que eram utilizados na redação
impressa ao novo suporte tecnológico, que é a Internet. Por conta desses questionamentos, é
necessário expor os argumentos favoráveis e contrários ao uso do modelo da pirâmide
invertida na Internet.
72
2.7 O texto jornalístico na Web- argumentos a favor e contra a pirâmide invertida
2.7.1 A favor...
O primeiro a defender a utilização da pirâmide invertida na
Web
foi o norte-americano
Jacob Nielsen, estudioso da usabilidade na
Web
, no artigo “Pirâmide invertida no
ciberespaço” de 1996. Naquela época, ele chegou a afirmar que, na
Web
, a pirâmide invertida
seria importante porque estudos haviam comprovado que os internautas não rolavam as
páginas
.
Os usuários, segundo Nielsen, muito frequentemente só liam a parte superior dos
textos. Em 2003, Nielsen fez uma complementação a essa ideia e afirmou que a prática da
experiência de acesso às páginas da
Web
já havia tornado os usuários mais familiarizados com
a rolagem das páginas. Por outro lado, ele ainda continuava a defender que a pirâmide
invertida deveria ser utilizada.
Ainda no artigo de 1996, Nielsen reconhecia que fazer jornalismo na
Web
é diferente de
fazer jornalismo impresso, uma vez que o hipertexto oferece recursos que vão além da
elaboração de um texto linear, típica do impresso. A recomendação dele, diante dessas
constatações, foi de que os jornalistas ao escreverem para a
Web
optassem por textos mais
curtos, que não exigissem a necessidade de rolar ginas. Para ele, cada página deveria ser
estruturada como uma pirâmide invertida, e todo o trabalho se pareceria com um conjunto de
pirâmides flutuando no ciberespaço.
Em outro artigo de 1997, “Como os usuários lêem na
Web
”, Nielsen destacou que quem
vai escrever para a
Web
tem que empregar um recurso que ele denominou de texto
escaneável. Para isso, ele destaca que é necessário fazer uso de palavras-chave realçadas
(
links
com destaque em cor diferenciada), escrever somente uma ideia por parágrafo, utilizar o
73
estilo da pirâmide invertida, e usar metade ou menos das palavras que usaria em um texto
convencional.
Alguns teóricos brasileiros contemporâneos, como Pinho (2003) e Ferrari (2008),
também sustentam que o uso de elementos que compõe o modelo da pirâmide invertida, como
o
lead
, torna-se importante na
Web
por conta do fato de que os internautas não apreciam o ato
de rolar páginas, o que os leva a ler em geral apenas os primeiros parágrafos de um texto.
Ao analisar a produção do texto jornalístico para a
Web
, Ferrari (2008, p.49) defende
que o
lead
continue sendo usado em matérias jornalísticas na Internet, levando em
consideração que ele é um “[...] conceito tradicional do jornalismo que não pode ser
esquecido na
Web
- ao contrário, deve ganhar força”. Segundo ela, o jornalismo
on-line
, por se
apresentar em um espaço dinâmico como a
Web
, precisa das características presentes no
lead.
Na opinião de Moura (2002, p.55), o
lead
é importante em textos jornalísticos na
Web
:
“[...]
é preciso ter em mente que o leitor do veículo virtual é apressado e, se não temos um
bom lide e uma boa amarração de idéias para dar continuidade até finalizar a reportagem de
uma notícia [...] perdemos o freguês, que vai clicar em outro link e vai embora.”
Para Ferrari, o texto jornalístico na
Web
precisa ser sintético e encorajar o internauta a
continuar a leitura. Ela explica que “Ao escrever
on-line
, é essencial dizer ao leitor de forma
rápida qual é a notícia e por que ele deve continuar lendo aquele texto. Daí a importância de
recorrer à velha fórmula ‘quem fez o quê, quando, onde e por quê’”. (FERRARI, 2008, p.49)
No entanto, Ferrari reconhece que a Internet apresentou aos jornalistas novas formas de
escrever e recursos de hipermídia a serem explorados, como os recursos de
links
para áudios,
vídeos, e fotos:
A Web permite ao usuário decidir em que ordem quer ler ou apenas visitar um
site. Isso deve [...] obrigar aos jornalistas a encontrar outras formas de contar
histórias na Internet, diferentes dos grandes blocos de textos. [...] Já é possível
encontrar matérias divididas em diversas notas, com clipes de áudio e vídeo,
gráficos e mapas na Web (FERRARI, 2008, p.76)
74
Moura (2002) pensa da mesma forma que Ferrari ao afirmar que cada vez mais recursos
de áudio e vídeo são incorporados à rede com o objetivo de fazer com que o internauta
apressado não tenha tanto trabalho em ficar lendo longas explicações.
É por esse motivo, que Pinho (2003) também alerta que não é bom haver a mera
transposição do modelo do texto jornalístico impresso para o ambiente
on-line
e salienta a
importância da reflexão sobre o texto jornalístico na
Web
. Segundo ele, o texto para a nova
mídia digital, principalmente a informação e o conteúdo jornalístico, precisam ser bem
estudados, uma vez que escrever para o mundo
on-line
é diferente de escrever para um meio
impresso. No entanto, apesar de avaliar que o meio digital tem diferenças em relação ao meio
impresso, Pinho concorda com Nielsen e afirma que, embora existam críticas, a pirâmide
invertida deve ser utilizada na
Web
para garantir a concisão e a correta apresentação de dados
das matérias jornalísticas.
2.7.2 Contra...
Entre os teóricos contrários a utilização da pirâmide invertida em textos jornalísticos na
Web
está Ward (2006). Ele aconselha que as matérias jornalísticas digitais sejam divididas em
blocos. Com relação aos modelos em forma de pirâmide, Ward se apresenta favorável apenas
à pirâmide em formato normal e critica a forma invertida. Ele afirma que a pirâmide invertida
posiciona as informações em um bloco de seções interligadas rigidamente estruturadas, o que
funciona em jornais impressos, mas, segundo ele, não é adequado para textos em ambiente
on-line.
Nas suas palavras:
O modelo funciona muito melhor na posição normal, com a base mais larga para
baixo. Essa forma de pirâmide, de cima para baixo, reflete tanto a importância
quanto a quantidade do que será escrito. Na posição invertida, apenas a
importância é refletida (a parte maior no topo). (WARD, 2006, p.114)
75
Mielniczuc (2002) avalia que características específicas do jornalismo
on-line
não
favorecem o uso da pirâmide invertida. Entre essas características está a hipertextualidade,
explicada, e que faz com que o texto jornalístico na
Web
se apresente de forma mais
fragmentada, o que não ocorre no jornal impresso no qual a pirâmide invertida é usada. A
multimidialidade (possibilidade do uso de sons, fotos e vídeos) é outra característica citada
por Mielniczuc como aspecto que dispensa o uso da pirâmide invertida na Internet. Para ela:
Cada célula informativa da narrativa jornalística hipertextual pode ser
constituída por um texto escrito, um som, ou uma imagem, que estão em posição
de equilíbrio, enquanto células informativas, umas em relação às outras. [...] Ao
contrário do que acontece na pirâmide invertida, onde o mais importante está no
topo, aqui o mais importante está lado a lado (ocupando um espaço
tridimensional e nem sempre visível na tela) com outras informações.
(MIELNICZUC, 2002, p.11)
Mielniczuc também afirma que a instantaneidade do texto jornalístico
on-line
faz com
que as matérias estejam em construção constante, uma vez que é possível acrescentar novas
informações em tempo real. Além disso, outras características do texto jornalístico
on-line
,
que Mielniczuc define como interatividade e personalização, não são compatíveis com o
modelo da pirâmide invertida, no qual o redator define os aspectos mais relevantes da notícia.
O jornalista não é mais o único a determinar o que é o mais importante na
narrativa do fato noticioso (fato que ocorre na hora de escrever o texto e
apresentá-lo no formato da pirâmide invertida). A participação do leitor nesta
escolha cresce e ele passa a acontecer com maiores possibilidades
comparativamente com o impresso – na hora da leitura, da navegação pelo
hipertexto. (MIELNICZUC, 2002, p.12)
Totalmente contrário ao uso da pirâmide invertida na
Web,
Canavilhas (2006) provocou
polêmica ao defender o uso do que ele batizou de “pirâmide deitada” como modelo ideal para
o texto jornalístico
on-line
. Segundo ele, as características hipertextuais da Internet, onde o
espaço para escrita é ilimitado, tornam desnecessário o uso de um modelo que foi criado por
76
conta da possibilidade de cortes no texto para adequação ao espaço do meio impresso. Ele
afirma o seguinte:
[...] consideramos que a técnica em causa está intimamente ligada a um
jornalismo muito limitado pelas características do suporte que utiliza o papel.
Usar a técnica da pirâmide invertida na Web é cercear o webjornalismo de uma
das suas potencialidades mais interessantes: a adopção de uma arquitectura
noticiosa aberta e de livre navegação. (CANAVILHAS, 2006, p.7)
Sendo assim, essas considerações conduzem ao entendimento de que, para Canavilhas, é
fundamental para o texto jornalístico na
Web
utilizar um modelo que explore o recurso da
hipertextualidade, o que implica em uma nova linguagem para o jornalismo
on-line.
Ainda,
nas palavras dele:
Se no papel, a organização dos dados evolui de forma decrescente em relação à
importância que o jornalista atribui aos dados, na Web é o leitor quem define o
seu próprio percurso de leitura. A técnica da pirâmide invertida, preciosa na
curta informação de última hora, perde a sua eficácia em webnotícias mais
desenvolvidas, por condicionar o leitor a rotinas de leitura semelhantes às da
imprensa escrita. (CANAVILHAS, 2006, p. 12)
Por conta de todos esses argumentos é que Canavilhas propõe o modelo da pirâmide
deitada, no qual as informações são oferecidas aos leitores em maior quantidade e distribuídas
de forma horizontal e não vertical, como no impresso. A notícia vai de um nível com menos
informação a outros sucessivos veis que possuem informações mais aprofundadas sobre o
mesmo tema. O autor da proposta reforça que, assim como no modelo da pirâmide invertida,
o leitor pode abandonar a leitura em qualquer ponto sem deixar de compreender a notícia. A
diferença, conforme Canavilhas, é de que na “pirâmide deitada” o leitor pode escolher entre
seguir somente um eixo de leitura ou navegar de forma livre no interior da notícia.
O desenvolvimento da notícia em forma de pirâmide deitada”, na concepção de
Canavilhas, pode ser visualizado na figura 12.
77
-
--
-
informação + informação
Figura 12: O desenvolvimento da notícia na pirâmide deitada
Em relação à sua ideia de “pirâmide deitada”, Canavilhas (2006) também explica que
não uma organização dos textos em função da importância informativa. O que ocorre, na
verdade, são indicações das pistas de leitura. Essas pistas estão distribuídas em quatro níveis
O quê
Quem
Quando
Onde
Como
Por que
+ Por que
+ O que
+ Quem
+ Quando
+ Onde
+ Como
+++
arquivo
externos
arquivo
externos
+++
arquivo
externos
++
+
arquivo
externos
+++
arquivo
externos
+++
arquivo
externos
+++
78
de leitura denominados de unidade base, nível de explicação, nível de contextualização e nível
de exploração. A visualização desses quatro níveis de leitura que compõem a pirâmide deitada
pode ser feita na figura 13.
A figura 13 apresenta os quatro níveis de leitura e para entender melhor a concepção de
Canavilhas é necessário esclarecer que a unidade base corresponderia a um
lead
que responde
às perguntas o quê, quando, quem e onde. O nível de explicação responderia às perguntas por
quê e como. Já o nível de contextualização oferece mais informações sobre todas as perguntas
que podem ser disponibilizadas tanto em formato textual, como em fotos, vídeos, áudios,
infográficos e animações. Por fim, o vel de exploração vai fazer a ligação da notícia com
outros arquivos de interesse, inclusive externos.
O modelo da pirâmide deitada, segundo seu idealizador, exige uma nova postura do
profissional jornalista, que devesaber explorar os recursos que a hipertextualidade oferece.
De acordo com ele:
A pirâmide deitada é uma técnica libertadora para utilizadores, mas também
para jornalistas. Se o utilizador tem a possibilidade de navegar dentro da notícia,
fazendo uma leitura pessoal, o jornalista tem ao seu dispor um conjunto de
recursos estilísticos que, em conjunto com novos conteúdos multimédia,
permitem reinventar o webjornalismo em cada nova notícia. (CANAVILHAS,
2006, p.16)
Unidade base Explicação Contextualização Exploração Figura 13: Níveis da pirâmide deitada
79
Além da pirâmide deitada e da pirâmide normal, outra teoria que defende um modelo de
redação jornalística diferente da pirâmide invertida na
Web
é o “Efeito Champanhe” ou “Taça
de Champanhe”, que é mais recomendada para textos longos. No Brasil, essa teoria é citada
no manual de redação do
Último Segundo
, que será discutido adiante. Com relação ao “efeito
champanhe”, o manual informa que o modelo de redação foi idealizado pelo consultor na área
de jornalismo, Mario García, e deve ser usado em textos longos na
Web.
O “efeito
champanhe” consiste em despertar a atenção do leitor a cada 21 linhas de texto.
O consultor que criou esse modelo defende que as telas de computador podem
comportar 21 linhas de texto sem necessidade de rolagem da página. Por esse motivo, ao
atingir essa quantidade de linhas, o redator precisa utilizar um gancho que atraia a atenção do
leitor para dar continuidade à leitura, rolando a página. A representação gráfica mais próxima
do que seria o “efeito champanhe” está na figura 14.
Lembrando que a quantidade de partes com 21 linhas não é limitada. O principal
objetivo do “efeito champanhe” é fazer com que o leitor tenha a mesma sensação de quem
bebe uma taça de champanhe que ao ser esvaziada é imediatamente preenchida novamente,
21 linhas
21 linhas
Final do texto
Figura 14: Efeito champanhe
80
fazendo com que a bebida retorne à borda. A forma de fazer isso no texto seria guardar partes
relevantes da história para cada grupo de 21 linhas.
Essa proposta de nova técnica batizada de “efeito champanhe” provocou
questionamentos no meio jornalístico a respeito da necessidade de aguardar 21 linhas para
colocar um “gancho”, ou seja, a informação mais atrativa. Salatiel (2007) fez uma análise
sobre o impasse e chegou à conclusão de que, na
Web,
algumas matérias podem ser escritas
ainda com base no
lead
e na pirâmide invertida, mas outras que pedem um tratamento
diferenciado, caso do “efeito champanhe”. Ele considera:
Interessante como o manual do IG se contradiz. Primeiro afirma que o conceito
de pirâmide invertida ‘não se aplica em textos para serem lidos nas telas de
computador’, para em seguida dizer que o efeito champanhe ‘só se aplica para
textos analíticos, comentários e opinativos, porque os textos noticiosos nunca
podem ter mais de 1500 caracteres’. Ou seja, em matérias quentes, caso da
maior parte das notícias na Web, use a pirâmide invertida. Curtas e completas.
Para matérias frias, analíticas e reportagens especiais, dilua as informações em
blocos e segure o leitor em subtítulos. Ao final do texto, como no final de cada
capítulo de novela, deixe um ‘rabo’ para que o leitor siga os links e continue a
leitura. (SALATIEL,2007, s/p)
Em resumo, pelo que foi discutido até aqui é possível afirmar que ainda restam muitas
dúvidas sobre qual modelo textual é o mais apropriado para a
Web.
Os estudiosos concordam
em alguns pontos, porém discordam em vários. Por esse motivo, antes de encerrar este
capítulo é necessário resumir o que é consenso e está estabelecido como correto; e o que é
dissenso entre os teóricos e ainda não foi solucionado.
2.8 Consenso e dissenso sobre a questão da estrutura do texto jornalístico na Web
No
que eles concordam...
A Internet é um meio diferenciado do impresso e, por tanto, o texto jornalístico precisa
ser repensando quando é escrito para o meio
on-line
81
É preciso utilizar textos breves, uma vez que o internauta não aprecia a rolagem de
páginas em excesso.
No que eles discordam...
Para alguns, a pirâmide invertida ainda é válida no meio digital
Para outros, ela precisa ser abolida o mais rápido possível.
Ainda em meio a essas dúvidas sobre o uso da pirâmide invertida na Internet, o próximo
capítulo abordará a caracterização do
Último Segundo
e definirá os parâmetros de análise,
com a construção dos dispositivos teórico e analítico, baseados na Análise de Discurso de
linha francesa.
82
3 Caracterização do Último Segundo e parâmetros de análise
Após discutir nos primeiros capítulos a historicidade da pirâmide invertida e os
impactos da Internet na redação de textos jornalísticos, é necessário agora caracterizar o jornal
on-line
no qual será realizada a análise. Para isso, inicialmente será feito um pequeno
histórico desse informativo
.
3.1 O Último Segundo
O
Último Segundo
é o jornal do
Internet Group
, grupo que atualmente integra os portais
IG, IBest e BrTurbo, pertencente à empresa Brasil Telecom. Portanto, para fazer uma
abordagem precisa desse informativo, é necessário, primeiramente, realizar esclarecimentos
sobre o grupo que teve início com o portal IG.
O IG é um portal que oferece acesso gratuito, foi criado no final de 1999 e lançado entre
9 e 10 de janeiro de 2000 com a sigla significando “Internet Grátis”. Em 2001, o significado
da sigla passou a ser “
Internet Group
”. De acordo com Santos (2002), o lançamento do IG foi
bastante discutido na época por conta do oferecimento de acesso gratuito à Internet e pelo
investimento de U$ 120 milhões, custeado pelos fundos de investimento AGP e Opportunity.
Em seu planejamento, durante o ano de 1999, o IG tinha como proposta inicial somente
a disponibilização do acesso gratuito à Internet. Santos (2002) destaca que em outubro
daquele ano foi acrescentada ao projeto a ideia de oferecer também conteúdo. Assim,
começou a ser projetado o
Último Segundo.
Ela coloca que:
Na verdade, o IG começou com o jornal Último Segundo, que é um dos dois
sites de conteúdo jornalístico do portal IG e o seu mais importante produto; o
outro é o site Babado, cujo enfoque está centrado em notícias sobre TV e
celebridades [...] O Último Segundo começou a ser planejado em outubro de
1999. Em 27 de dezembro daquele ano estreou de forma experimental, antes
83
mesmo de o serviço de acesso gratuito ser lançado no dia 10 de janeiro de 2000.
(SANTOS, 2002, p.45-46)
A estreia do
Último Segundo
ocorreu sob o
slogan
“O jornal da Internet”, porém em
2001, esse
slogan
foi trocado para “O jornal líder de audiência na Internet”. Santos (2002)
explica que isso ocorreu por conta do aumento da audiência do jornal. Hamilton (2002) afirma
que o
Último Segundo
pode ser considerado o “carro chefe” do portal IG e concorda com
Santos: “Em pouco mais de um ano de existência, o Último Segundo ganhou o prêmio I-Best
(espécie de Oscar da Internet brasileira) e se tornou o jornal online de maior audiência no
país” (HAMILTON, 2002, p.5). Atualmente, a interface inicial do
Último Segundo
não
apresenta nenhum tipo de
slogan,
apenas é apresentado o título do informativo. Nas figuras 15
e 16 podem ser visualizadas as primeiras interfaces do jornal
Último Segundo,
extraídas da
pesquisa de Santos (2002):
Figura 15: Primeira Interface do Último Segundo com o slogan “O jornal da Internet” em 2000
Fonte: Santos (2002)
84
A figura 17 mostra a interface inicial do
Último Segundo
em 2009, sem a exibição de
slogans
e apresentando outro projeto de
web design
.
Figura 16: Interface do Último Segundo
com o slogan “O jornal líder de
audiência na Internet” em 2002
Fonte: Santos (2002)
Figura 17: Interface do Último
Segundo em 2009
85
Por todas as afirmações anteriores, o
Último Segundo
pode ser considerado o primeiro
jornal
on-line
brasileiro a produzir notícias exclusivamente para a Internet. O IG se tornou um
portal pioneiro por ter lançado esse informativo, que não se restringe a veicular matérias de
agências, mas também produz suas próprias matérias. É o que destaca Santos (2002, p. 46), ao
afirmar que:
A natureza da opção feita pelo grupo - oferecer conteúdo próprio, acesso, além
de outros serviços gratuitos - torna o IG pioneiro no Brasil e, de certa forma,
singular dentre os demais portais da mesma categoria no país, não só por ser um
produto de uma empresa de comunicação que já nasceu totalmente voltada para
a Internet, mas principalmente por não se limitar a disponibilizar informações
oriundas de agências associadas, como boa parte dos portais o faz. O IG produz
seu próprio conteúdo jornalístico, cujo pilar de diferenciação é atualização
constante.
Atualmente, o
Último Segundo
é produzido por uma equipe de aproximadamente 30
jornalistas, que estão divididos em uma estrutura hierárquica similar a de um jornal impresso,
ou seja, repórteres, redatores, editores, chefe de reportagem, redador-chefe, diretor de
jornalismo e tradutores, além de colunistas, colaboradores e
free lancers
. Diferentemente da
mídia tradicional, o
Último Segundo
não tem um horário de fechamento, isto é, a redação
trabalha 24 horas. É o que Moura (2002, p.46) explica: “Os plantões são essenciais, pois o
leitor de um
Globo On Line
ou do
Último Segundo
quer acessar um desses jornais e encontrar
novidades instantâneas do Brasil e do mundo”.
Os repórteres do
Último Segundo
não produzem apenas na redação, há cumprimento de
pautas externas nas ruas e o trabalho não é diferente de como acontece em outras dias.
Acontecem reuniões de pautas e os repórteres o orientados por pré-pautas de matérias que
serão destaque no jornal nas próximas horas.
Além do conteúdo produzido por sua equipe de repórteres, o
Último Segundo
publica
textos jornalísticos de agências de notícias nacionais e internacionais, entre elas a
British
86
Broadcasting Corporation
(BBC), a
New York Times
,
Reuters
, a Agência Estado,
Associated
Press
(AP) e
Agence France Presse
(AFP).
De acordo com o diretório “
Tudo sobre o Último Segundo”
, que está presente no
informativo, a atualização de matérias é feita das “[...] formas mais diversas. Mas o conceito é
velocidade de atualização, o tempo todo e toda hora. Ser o portal mais ágil e veloz na
atualização de seus conteúdos”. (TUDO SOBRE O ÚLTIMO SEGUNDO, 2009, s/p)
3.2 Conteúdo
O
Último Segundo
pode ser acessado por meio de
links
nos portais IG, IBest e BRTurbo
ou diretamente no endereço www.ultimosegundo.ig.com.br. A interface gráfica inicial do
Último Segundo
apresenta na faixa superior um título sem
slogan
e um
link
para o buscador
do portal IG. Logo abaixo uma linha horizontal com
links
para as editorias “Esportes”,
“Brasil”, “Mundo”, “Economia”, “Blogs-opinião”, “Cultura e Diversão”, “Tecnologia”,
“Educação” e “Multimídia”.
Abaixo da linha de editorias, o jornal apresenta a manchete composta por um antetítulo
(ou chapéu) em fonte menor e vermelha e um título em fonte maior com destaque (ver figura
18). A seguir há, em média, de seis a sete
links
com antetítulos e títulos para outras matérias
do dia.
87
Figura 18: Manchete na interface inicial do Último Segundo
Além disso, o
Último Segundo
possui diretórios que restringem o conteúdo do
informativo de acordo com o interesse do internauta, entre eles estão o de “Vídeos”,
“Imagens”, “Últimas Notícias”, “Manchetes anteriores”, “Mais lidas”, “Brasil”, “Mundo”
“Economia” e “Esportes”. Todos os diretórios oferecem em média entre quatro e cinco
assuntos por vez, conforme a atualização.
O
Último Segundo
também possui uma coluna vertical, localizada na tela à esquerda do
usuário. Essa coluna é dividida em três diretórios: conteúdo, sites e serviços. Este trabalho se
deteve apenas no diretório de conteúdo, onde estão localizadas as matérias jornalísticas. O
diretório de conteúdo possui
links
para “Previsão do Tempo”; “Trânsito”; “Cotações”;
“Simulador” (de investimentos); “Galerias de Fotos” (sobre as notícias); “Vídeos” (sobre as
notícias); “Giro
Último Segundo”
(gravações de deo com
flashes
de notícias feitas por
repórteres direto da redação ou por colunistas e comentaristas); acesso para oito colunistas;
“As mais lidas da semana” (em média cinco matérias); para os textos das agências BBC
Brasil e NY Times” (são apresentados em interface gráfica igual a do
Último Segundo
); e
“Poupa Clique” (serviços financeiros)
88
3.3 Manual de Redação
O
Último Segundo,
como foi mencionado, possui um manual de redação
on-line
que
orienta a elaboração dos textos que são postados no
site.
Na apresentação do manual
,
é
definido que ele se “[...] baseia nos princípios do bom jornalismo, em convenções
experimentadas em serviços
online
e na experiência de seus profissionais de conteúdo”.
(MANUAL DO ÚLTIMO SEGUNDO, 2009, s/p)
O manual é dividido em oito partes: introdução, princípios editoriais, nova ortografia,
layout
, edição, redação, princípios de comportamento, bibliografia. Neste trabalho, são
discutidos apenas os itens edição e redação.
No item “Edição” do manual é ressaltado que a edição da
home page
do
Último
Segundo
precisa de dinamismo e deve ser elaborada de forma a oferecer uma surpresa ao
internauta cada vez que ele visitar a página. O manual recomenda também o máximo cuidado
com os
links,
que devem ser averiguados antes da postagem.
Quanto à manchete principal, o manual indica que ela é a notícia considerada de maior
relevância no momento da edição e utiliza o maior corpo de fonte entre todos os textos
exibidos. As regras são semelhantes às aplicadas em um jornal impresso, com a especificidade
da manchete possuir apenas uma linha.
O item “Redação” do manual do
Último Segundo
é subdividido em três partes:
tratamento da informação, regras da redação de A a Z, e titulação. Em “Tratamento da
informação” são apresentados critérios que o jornal utiliza para não publicar informações
erradas ou distorcidas e conteúdo ofensivo ou preconceituoso. Além disso, o item expõe
procedimentos em caso de dúvidas, retificações e direito de resposta.
Na seção “Regras de Redação de A a Z” são apresentadas em ordem alfabética
explicações sobre termos e procedimentos jornalísticos. Dada a grande extensão do item,
89
neste trabalho são discutidos apenas os subitens que se referem ao escopo de pesquisa e que
tenham relação com a pirâmide invertida.
Na letra L, não uma explicação específica para
lead,
o primeiro parágrafo do modelo
tradicional da pirâmide invertida. A explicação se encontra na letra T, no item “Texto -
Desburocratização do lead”
:
O Último Segundo adota a desburocratização, ou descongelamento, do lead
proposto pelo americano Rick Zahler. Ele combate o fato de o jornalista pegar
eventos dinâmicos e congelá-los. No jornalismo, em geral, a sequência do tempo
simplesmente vira "ontem" ou "hoje". Lugares são apenas a origem da
informação, com data. A ideia é pôr as coisas em movimento. A saber:
O Quem se converte em personagem.
O Que é a história.
O Onde é o cenário da ação.
O Por Que se torna motivação ou causa.
O Como se converte em narrativa, ou a forma como todos os elementos
se encaixam.
Neste sentido o lead fica assim:
O Quem é o personagem.
O Que é a história.
O Onde é o lugar da ação.
O Como e o Por Que são o desenrolar da ação. Pode-se, então, misturar
informação e narrativa. As notícias deixam de ser somente dados e ganham
significados. Isso exige maior esforço de reportagem e maior curiosidade por
parte do jornalista. (MANUAL DO ÚLTIMO SEGUNDO, 2009, s/p)
O esclarecimento
sobre como o Último Segundo trata o lead demonstra que existem alterações
no texto em comparação ao texto jornalístico da mídia imprensa, na qual o tempo verbal predominante
no corpo da pirâmide invertida é o pretérito. Como o Último Segundo é atualizado em fluxo contínuo,
em tempo real, o tempo verbal não pode ser o pretérito.
Em relação à “Pirâmide Invertida”, o manual afirma o seguinte:
Técnica clássica e mais comum na construção da notícia. Escreve-se primeiro o
lead (que responde as questões básicas: que, quem, quando, onde e como) e, nos
parágrafos seguintes, escreve-se todas as outras informações relativas ao fato,
mas em ordem decrescente de importância de maneira que, à medida que os
fatos são relatados, eles serão cada vez menos essenciais. A base da notícia, que
seria a base da pirâmide, deve estar na parte de cima, ao contrário da narrativa
literária ou dramatúrgica. Ver Efeito Champanhe. (MANUAL DO ÚLTIMO
SEGUNDO, 2009, s/p)
90
Ao seguir a recomendação de ver o item “Efeito Champanhe”
18
, é possível encontrar a
seguinte explanação no manual:
O conceito de pirâmide invertida, aquele que orienta o jornalista a escrever
textos com as informações principais no começo do texto e inserir na sequência
as informações de menor importância, não se aplica em textos para serem lidos
nas telas de computador. Para os textos longos do Último Segundo vale o efeito
champanhe, definido pelo consultor Mário Garcia. Ele ensina como usar o efeito
champanhe:
Como as telas do computador, em média, comportam 21 linhas sem
necessidade do uso do scroll é preciso trocar o conceito de pirâmide invertida
para o conceito de taça de champanhe.
A cada 21 linhas o redator precisa manter o leitor interessado para que
este tenha vontade de rolar a tela e continuar a ler.
Quem gosta de champanhe sabe que a cada vez que o copo se esvazia é
muito bom reabastecê-lo, ver a espuma chegar de novo às bordas.
Esta metáfora se aplica quando se escreve para ser lido em computador.
A cada 21 linhas o redator precisa encontrar um gancho atrativo para o
parágrafo seguinte, que force o leitor, pela curiosidade, pela necessidade de
entender e conhecer mais, a continuar a leitura.
O redator deve guardar partes significativas da história, da análise ou do
comentário para cada grupo de 21 linhas.
O redator deve ter em mente que precisa continuar a atrair a atenção do
leitor a cada 21 linhas.
Atenção: no Último Segundo este conceito se aplica para textos
analíticos, comentários e opinativos porque os textos noticiosos nunca podem ter
mais de 1500 caracteres. (MANUAL DO ÚLTIMO SEGUNDO, 2009, s/p)
Após a comparação entre os itens “Pirâmide Invertida” e “Efeito Champanhe” é
possível afirmar que há uma certa contradição nas afirmações do manual
19
. Pelo que é
possível entender, o
Último Segundo
recomenda a utilização do efeito champanhe para textos
longos e não para textos mais curtos, de até 1.500 caracteres, que é o caso das matérias
noticiosas. Nesse caso, o
Último Segundo
ainda faz uso da pirâmide invertida? Que
textualidade jornalística é a veiculada nesse informativo? Que discursividade está presente
nesse processo? É o que a análise responderá a seguir. No entanto, antes de analisar as 31
matérias-manchetes selecionadas no
Último Segundo
durante o período de 31 dias, é
18
Sobre “Efeito Champanhe”: ver também capítulo 2 deste trabalho
19
Sobre essa contradição ver também capítulo 2 deste trabalho
91
necessário abordar o dispositivo teórico que norteou a pesquisa, a Análise de Discurso de
linha francesa.
3.4 A Análise de Discurso de linha francesa
séculos, a linguagem vem sendo estudada por diferentes perspectivas. No ocidente,
os gregos foram os primeiros a se preocuparem com ela, passando pelos romanos, franceses,
alemães, suíços, americanos, entre outros. Mas é necessário, aqui, que se detenha em alguns
estudiosos para mostrar sucintamente como surgiu a Análise de Discurso.
Nas primeiras décadas do século XX, Ferdinand Saussure propôs-se a estudar a
linguagem estabelecendo algumas dicotomias, entre elas a da língua e fala. Ele destacou, no
entanto, que o objeto da linguística seria a língua e não a fala. Para Saussure, a língua era
social e a fala individual e, por isso, ele acreditava que não era possível estudar a fala porque
esta seria a fala de cada pessoa.
Isto quer dizer que esse linguista não levava em consideração o aspecto do sujeito
relacionado à história. Por esse motivo, autores que o sucederam no estudo da linguística,
logo encontraram limitações nas ideias de Saussure. É o que explica Brandão (2002, p.9) ao
afirmar que: “Embora reconhecendo o valor da revolução lingüística provocada por Saussure,
logo se descobriram os limites dessa dicotomia pelas consequências advindas da exclusão da
fala do campo dos estudos lingüísticos”.
Foram outros estudiosos da linguagem, entre eles Benveniste e Bakhtin, que, também,
perceberam a limitação da dicotomia saussuriana. E Pêcheux (1995, p.60) colocou que:
“Saussure deixou aberta uma porta [...] essa porta aberta é a concepção saussuriana de que a
idéia pode ser, em todo seu alcance, subjetiva, individual”. Na visão dos estudiosos que
92
sucederam Saussure nas investigações linguísticas, como as pessoas nascem em meio à
linguagem, a fala também é social.
A partir da década de 1960, Benveniste dirigiu seus estudos para a questão da fala e da
subjetividade, com ênfase no ato enunciativo. Freire (2006, p.43) esclareceu esse
posicionamento: “Para Benveniste, a língua é uma realidade que somente se estabelece no ato
enunciativo, quando expressa sua relação com o mundo”. Isso que dizer que Benveniste
colocou o sujeito em evidência ao destacar que a língua entra em funcionamento quando é
utilizada individualmente pelo sujeito. Para ele, a subjetividade não pode ser deixada de lado
quando se estuda a linguagem e a enunciação é justamente a relação entre aquele que fala e a
língua.
Contemporâneo de Benveniste, Bakhtin é outro teórico que percebeu limitações na
dicotomia saussureana e considerava a importância da fala na linguagem. Para Brandão
(2002, p.9), Bakhtin
Palmilhando a trilha aberta por Saussure, [...] parte também do princípio de que
a língua é um fato social cuja existência funda-se nas necessidades de
comunicação. No entanto, afasta-se do mestre genebrino ao ver língua como
algo concreto, fruto da manifestação individual de cada falante, valorizando
dessa forma a fala. (BRANDÃO, 2002, p.9)
Além disso, ao contrário de Benveniste que enfatizava mais a subjetividade, Bakhtin
estudava a linguagem em uma perspectiva histórica, social e ideológica. Ou seja, para ele o
sujeito não é a única origem da sua fala, que na verdade é resultado da sua história, da sua
formação social e da ideologia que o interpela. Para Bakhtin, a palavra é o signo ideológico
por excelência, pois, produto da interação social, ela se caracteriza pela plurivalência. Por isso
é o lugar privilegiado para a manifestação da ideologia [...]” (BRANDÃO, 2002, p.10).
Esses deslocamentos nos estudos da linguagem, por meio do reconhecimento da
subjetividade, realizado por Benveniste, e do contexto sócio-histórico-ideológico, promovido
93
por Bakhtin, favoreceram a reflexão sobre a linguagem além da dicotomia que havia sido
proposta por Saussure nas primeiras décadas do século XX. Brandão (2002, p.12) afirma que:
“Estudiosos [...passaram...] a buscar uma compreensão do fenômeno da linguagem não mais
centrado apenas na língua [...] mas num nível situado fora desse pólo da dicotomia
saussureana. E essa instância da linguagem é o discurso”.
Sendo assim, é em meio aos estudos desenvolvidos por Benveniste e Bakhtin que, no
final da década de 1960 e início da década de 1970, surgiram, na França, as primeiras
discussões que dariam origem à Análise de Discurso, doravante denominada apenas AD. É o
que explica Orlandi (2001, p.20-21)
A Análise de Discurso francesa, que tem sua origem nos anos 60, surge em um
contexto intelectual afetado por duas rupturas. De um lado, com o progresso da
Lingüística, era possível não mais considerar o sentido apenas como conteúdo.
Isto permitia à análise de discurso não visar o que o texto quer dizer (posição
tradicional da análise de conteúdo face a um texto) mas como um texto
funciona. De outro, nesses mesmos anos, há um deslocamento no modo como os
intelectuais encaram a “leitura” [...] A leitura aparece não mais como simples
decodificação mas como a construção de um dispositivo teórico [...] A noção de
‘dispositivo’ tem, para mim, um sentido preciso que leva em conta a
materialidade da linguagem, isto é, sua não-transparência e coloca a necessidade
de construir um artefato para ter acesso a ela, para trabalhar sua espessura
semântica-lingüística e histórica- em uma palavra, sua discursividade.
Esse artefato para trabalhar a discursividade, ao qual se refere Orlandi, é a AD e foi
Pêcheux que propôs o estudo do discurso vinculado ao sujeito e relacionado à ideologia,
baseando-se em autores como Althusser (ideologia), Lacan (psicanálise) e Foucault (de quem
emprestaria o conceito de formação discursiva). Esse conceito foi explicado por Pêcheux
(1995, p.160) assim: “Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que numa formação
ideológica, dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura dada, determinada pelo
estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito [...]”
Diante dos estudos de Pechêux, Mazière (2007, p. 50) destacou que ele: “[...] vai
introduzir na AD uma outra lingüística, formal, a de Culioli, que não justapõe enunciação e
94
construção; uma filosofia acerca das ideologias, a de Althusser; outra abordagem de sujeito, a
de Lacan”.
Foi recorrendo a esses teóricos que Pêcheux chegou à conclusão de que o discurso é
efeito de sentido entre locutores (ORLANDI, 2003). Ele, baseado em Althusser, também
concluiu que “[...] os indivíduos são ‘interpelados’ em sujeitos-falantes (em sujeitos de seu
discurso) pelas formações discursivas que representam ‘na linguagem’ as formações
ideológicas que lhes são correspondentes” (PÊCHEUX, 1995, p. 161).
Sendo assim, a importância dos estudos de Pêcheux para a análise da discursividade é
inegável. É por isso que este trabalho seguiu a proposta dele, que definiu o lugar de trabalho
da AD não como o da descrição, mas sim o da interpretação. Nas palavras de Pêcheux (2002,
p. 53):
[...] toda descrição- quer se trate da descrição de objetos ou de acontecimentos
ou de um arranjo discursivo-textual não muda nada, a partir do momento em que
nos prendemos firmemente ao fato de que não metalinguagem’- es
intrinsecamente exposta ao equívoco da língua: todo enunciado é
intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar
discursivamente de seu sentido para derivar para um outro (a não ser que a
proibição da interpretação própria ao logicamente estável se exerça sobre ele
explicitamente). Todo enunciado, toda seqüência de enunciados é, pois,
linguisticamente descritível como uma série (léxico-sintaticamente determinada)
de pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar a interpretação. É nesse campo
que pretende trabalhar a análise de discurso.
Dessa forma, o lugar de trabalho da AD é a interpretação, mas é uma interpretação em
busca da compreensão, como destaca Gallo (1992, p.28):
A escolha do método de Análise do Discurso (A.D.), portanto se justifica por ser
um método que parte do texto (produto “ahistórico”), refaz a trajetória do sujeito
que produziu o texto, através das pistas que o texto oferece, passando
necessariamente pelas condições de produção do texto (o discurso), para
retornar finalmente ao texto e compreendê-lo. [...] Nesse sentido, a A.D. se
propõe menos a entender ou a interpretar e mais a compreender.
95
Todo esse processo explicado por Gallo é ideológico, uma vez que os sujeitos que estão
interpretando são indivíduos interpelados pela ideologia. Além disso, a AD faz uma reflexão
sobre “[...] a maneira como a linguagem está materializada na ideologia e como a ideologia se
manifesta na língua”. (ORLANDI, 2003, p. 16). É por isso que, para a AD, a linguagem não é
neutra, muito menos transparente; como destaca Brandão (2002, p.12):
A linguagem enquanto discurso não constitui um universo de signos que serve
apenas como instrumento de comunicação ou suporte de pensamento; a
linguagem enquanto discurso é interação e um modo de produção social; ela não
é neutra, inocente (na medida em que está engajada numa intencionalidade) e
nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestação da ideologia.
Após compreender o ponto de vista da AD sobre a linguagem, é necessário também
explicar como essa teoria define o discurso. Para isso, recorre-se a Possenti (2004, p.18):
O discurso é entendido, aqui, como um tipo de sentido- um efeito de sentido,
uma posição, uma ideologia- que se materializa na língua, embora não mantenha
uma relação biunívoca com recursos de expressão da língua. É pela
“exploração” de certas características da língua que a discursividade se
materializa.
Partindo desses pressupostos, o interesse desta pesquisa foi a discursividade jornalística
que, na perspectiva da AD, não possui a neutralidade e a objetividade pregadas nos manuais
que ensinam a redigir o texto jornalístico. Para entender melhor como funciona essa
discursividade jornalística foi adotado como ponto de partida o modelo de produção do
discurso proposto por Orlandi (2001, p.9) e que implica em três momentos de relevância:
1. Sua constituição, a partir da memória do dizer, fazendo intervir o contexto
histórico-ideológico mais amplo;
2. Sua formulação, em condições de produção e circunstâncias de enunciação
específicas e
3. Sua circulação que se dá em certa conjuntura e segundo certas condições.
96
Sendo assim, é possível entender que para a Análise do Discurso, “[...] os sentidos são
como se constituem, como se formulam e como circulam” (ORLANDI, 2001, p.12). Também
é possível compreender que toda prática de linguagem (isso inclui a discursividade
jornalística) é composta por uma memória histórica e ideológica do que vem a ser essa
prática- que no caso do discurso jornalístico é o modelo clássico da redação da pirâmide
invertida; o momento da enunciação ou formulação- que é quando o discurso é posto em
prática; e o momento da circulação- que é o “onde” no qual o discurso formulado vai circular.
Se ocorre uma alteração em qualquer uma dessas fases, uma mudança na produção do
sentido.
Orlandi (2003, p.33) oferece ainda mais esclarecimentos sobre os momentos de
produção do discurso:
A constituição determina a formulação, pois só podemos dizer (formular) se nos
colocamos na perspectiva do dizível (interdiscurso, memória). Todo dizer, na
realidade, se encontra na confluência dos dois eixos: o da memória
(constituição) e o da atualidade (formulação). E é desse jogo que tiram seus
sentidos.
É exatamente isso que ocorreu quando a discursividade jornalística- que possui
constituição, formulação e circulação para o ambiente impresso- foi deslocada para o
ambiente digital. Seguindo as recomendações de Orlandi, para que a análise fosse realizada
foi necessário observar os modos de construção, estruturação e circulação da textualidade do
Último Segundo
com o objetivo de encontrar a discursividade, uma vez que “Compreender
como um texto funciona, como ele produz sentidos, é compreendê-lo enquanto objeto
lingüístico-histórico, é explicitar como ele realiza a discursividade que o constitui”
(ORLANDI, 2003, p.70).
Foi por isso que, ao longo deste trabalho, abordou-se o processo de constituição ao
discutir a historicidade do texto jornalístico no meio impresso e na Internet. A fase de
97
formulação nos meios impresso e
on-line
também foi comparada no capítulo 2. Após todas as
ilações, foi possível inferir que o momento de circulação pode representar mudanças
significativas na discursividade. Essas alterações promoverão também mudanças na
formulação, que terá que ser reformulada diante de uma circulação diferente.
Ao surgirem na década de 1990, a Internet e a
Web
apresentaram um novo meio de
circulação ao texto jornalístico e, com o passar dos anos, as formulações da textualidade e da
própria discursividade jornalística podem ter sofrido alterações. Para entender como o texto
jornalístico se textualiza no jornal
on-line Último Segundo
e como a discursividade
jornalística está funcionando nesse jornal foi realizada a análise a seguir. Porém, é necessário
esclarecer que embora a análise parta dos textos veiculados no
Último Segundo,
ela se
remeterá ao campo discursivo. Gallo (1992, p.27) faz uma diferenciação entre discurso e texto
que contribui para a melhor compreensão do procedimento da AD.
Discurso, então, se define como prática lingüística de um sujeito em
determinadas condições de produção (sociais, políticas, históricas, etc). O texto
é, então, considerado como o produto de um discurso, é material ahistórico, mas
que no entanto conserva em si as pistas que remontam a materialidade histórica
que está na origem de sua produção, e que são atualizadas pelo sujeito em um
movimento de reprodução, transformação.
Dessa forma, para a AD, conforme também explica Orlandi (2003), o texto é apenas
uma das peças do processo discursivo, ou seja, é uma unidade que auxilia o analista a acessar
o discurso.
98
4 Análise do Corpus
O corpus desta pesquisa foi constituído de matérias-manchete (principais), como no
exemplo da figura 19, que foram utilizadas para analisar as propriedades da discursividade
jornalística. Foi feito um recorte, no período de 31 dias do mês de julho de 2009, de matérias
com
link
na área superior e com maior destaque na interface inicial. Foi coletada uma matéria
por dia, entre 6h e 12h da manhã, horário de Manaus, Amazonas. A análise ocorreu na área de
interface de matérias jornalísticas (ver figura 20).
Figura 19: Manchete principal e manchetes secundárias no Último Segundo
Figura 20: Exemplo da interface em que foram postadas as matérias analisadas
Manchete principal
(de matéria selecionada
para coleta)
Manchetes secundárias
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Matéria
jornalística
99
A construção do dispositivo analítico envolveu três fases. Na primeira, foram definidas
as discursividades jornalísticas ligadas a textos produzidos para serem lidos e que podem ser
definidas como analógica e digital. Em seguida, na segunda fase, foram delineadas as
propriedades dessas duas discursividades. Por fim, na última fase do dispositivo analítico foi
verificado como a circulação interferiu na constituição e formulação da discursividade
jornalística digital que, por sua vez, modificou o padrão da pirâmide invertida na Internet.
4.1 Definição das discursividades jornalísticas
Ao longo desta pesquisa foi possível observar que o texto jornalístico escrito, produzido
para leitura, circula atualmente em duas estruturas de maior relevância, a tradicional no
impresso, que também pode ser chamada de analógica; e a digital, caso do jornalismo
on-line.
Sendo assim, é possível colocar que essas discursividades jornalísticas também podem
ser definidas como analógica e digital. Na atualidade, são encontrados exemplos dessas duas
discursividades separadas e até mesmo unidas em um funcionamento híbrido.
Exemplificando: os jornais tradicionais que são encontrados nas bancas possuem
discursividade analógica se seus textos foram pensados e escritos para um suporte impresso;
um jornal que circula somente em meio
on-line
, como o
Último Segundo,
a priori possui
discursividade digital porque é pensado e escrito para esse meio.
No entanto, também é possível encontrar exemplos de jornais com discursividade
analógica circulando digitalmente. Um deles é o jornal Diário do Amazonas que expõe em
seus
sites
as páginas do jornal impresso, por meio do software
Virtual Paper
, desenvolvido no
Canadá
(ver figura 21). O programa faz uma publicação virtual da edição e permite ao
internauta folhear as páginas. Ou seja, embora esteja
on-line,
a discursividade da versão
digital do Diário do Amazonas é também analógica.
100
Figura 21: interface da página digital do Diário do Amazonas utilizando o Virtual Paper
No entanto, a circulação do analógico no digital produz um efeito de sentido diferente
do que ocorre na circulação do impresso. O contrário também é possível. Hoje é fácil
encontrar em veículos impressos referências a uma discursividade digital. Exemplos são
revistas semanais que em suas reportagens fornecem endereços de
links
para mais
informações ou acesso a vídeos, que poderão ser visualizados em suas
home pages
. É uma
discursividade digital embora esteja circulando em um meio analógico.
Também modelos realmente híbridos, caso do jornal Folha de São Paulo. Durante o
dia, esse jornal produz matérias que são postadas no meio digital em primeira versão,
seguidas de atualizações ao longo das horas. À noite, com base na produção realizada no
decorrer do dia, é fechada uma edição para a versão impressa que será vendida nas bancas no
dia seguinte.
Por sua vez, a versão impressa da Folha de São Paulo também já pode ser vista na
home
page
da Folha de São Paulo
on-line
, por meio de um
software
semelhante ao que o Diário do
Amazonas utiliza, o
Digital Pages
que foi desenvolvido por uma empresa paulista. Porém, ao
contrário do jornal amazonense que permite o acesso gratuito, a Folha de São Paulo cobra
uma assinatura de R$ 29,90 para o acesso. Após todas essas observações sobre a Folha de São
101
Paulo
On-Line
, é possível dizer, então, que está havendo um retorno da discursividade
analógica ao suporte digital utilizado pela Folha de São Paulo. Isso indica que, como no
exemplo desse jornal, as discursividades analógica e digital não estão separadas, uma vez que
as duas estruturas ainda se intercalam.
Todas essas considerações permitem o entendimento de que não é o suporte que define
a discursividade, mas sim as propriedades do discurso (GALLO, 1992). Por isso, nesta análise
foi necessário definir as propriedades das discursividades jornalísticas que estão presentes em
textos elaborados para serem lidos.
4.2 Propriedades das discursividades jornalísticas analógica e digital
Para esclarecer as diferenças entre as duas discursividades foi construído primeiramente
um quadro comparativo (quadro 2) entre a analógica e a digital, seguido de explicações
exemplificadas sobre as propriedades dessas discursividades, principalmente sobre a digital
que é o objeto de estudo desta pesquisa.
Discursividade analógica
Discursividade digital
Unidirecionalidade Interatividade
Linearidade Hipertextualidade
Espaço limitado Espaço ilimitado
Maior extensão textual Menor extensão textual
Assincronia temporal Sincronia temporal
Correção proprietária Correção multidirecional
Modelo pago Modelo livre
Quadro 2: Comparação entre propriedades das discursividades analógica e digital
102
4.2.1 Discursividade analógica
Unidirecionalidade: a discursividade da maioria dos jornais impressos tradicionais, ou
seja, analógicos, não permite um nível alto de interação. O discurso é unidirecional,
ocorrendo algum tipo de interação no máximo em áreas como “Cartas de Leitores”,
quando elas ainda existem. Um exemplo é o Diário do Amazonas que não possui mais
uma seção de cartas de leitores. O jornal possui apenas convites para encaminhar
sugestões e comentários via
e-mail,
sem que esses comentários sejam publicados
realmente no dia seguinte
.
Os convites são antecedidos por expressões como “seu
comentário”, “fale com a gente” ou “fale com o editor”, mas essa interação é limitada.
Linearidade: a discursividade jornalística analógica é linear por conta da elaboração do
jornal em uma sequência predeterminada e sem abertura para outras fontes de consulta.
Não grande exploração de hipertextualidade. Podem até ocorrer indicações de outras
fontes, mas no momento da leitura não é possível acessá-las. O jornal impresso é um
produto acabado, uma edição fechada. Como exemplo é possível observar a figura 22,
que apresenta páginas fechadas no Diário do Amazonas.
Figura 22: duas páginas da edição impressa do Diário do Amazonas
103
Espaço limitado: como já foi dito, o jornal impresso é uma edição pronta, com interação
limitada e sem abertura para outros produtos. Sua elaboração se restringe ao espaço em
centímetros das páginas impressas. Como exemplo é possível citar uma edição do
Diário do Amazonas em dias úteis que sempre se limita a no máximo 40 páginas
(incluindo caderno de classificados e caderno especial de esportes).
Maior extensão textual: embora haja uma limitação de espaço, os textos noticiosos de
jornais impressos são mais longos que os publicados em jornais
on-line,
se
considerarmos as categorias de notícias factuais e reportagens especiais
20
.
Normalmente, esses tipos de textos jornalísticos para suporte impresso ultrapassam o
limite de 1.500 caracteres e os textos digitais encontrados em informativos
on-line
, em
geral, estão abaixo dessa quantidade de caracteres
.
No entanto, nos jornais impressos
também é possível encontrar textos bem curtos, caso das notas. Na própria figura 22
também é possível observar a diagramação de matérias mais longas e mais curtas, assim
como notas, nas páginas da edição impressa do Diário do Amazonas.
Assincronia temporal: a discursividade jornalística do jornal impresso não circula em
tempo real. Não há simultaneidade entre a produção do material, publicação e leitura. A
discursividade está no pretérito, uma vez que as matérias foram produzidas no dia
anterior. O que é lido hoje em um jornal impresso é notícia de ontem.
Correção proprietária: quando um jornal impresso erra, a correção está somente em seu
poder e só ocorrerá no dia seguinte, ou seja, na próxima edição.
Modelo pago: na maioria dos casos, é preciso pagar para ler a edição impressa de um
jornal tradicional, mas já existem jornais que disponibilizam a edição impressa na
íntegra em suas
home pages,
como já foi citado o Diário do Amazonas. Também
casos de jornais impressos que são distribuídos gratuitamente para o blico, um
20
Mais detalhes sobre reportagem e notícia enquanto gêneros jornalísticos ver: capítulo 1
104
exemplo é o jornal “Metro” que o grupo Bandeirantes distribui em São Paulo. O jornal é
a edição brasileira de um informativo da empresa sueca Metro Internacional, que circula
em 21 países da Europa. Possui formato tablóide e apresenta ao leitor um resumo com
as principais notícias internacionais, nacionais e locais.
4.2.2 Discursividade digital
Interatividade: diferente da discursividade analógica, a digital envolve maior vel de
interação. Os leitores participam do processo de produção do discurso por meio da
elaboração de comentários postados em tempo real. Um exemplo desse procedimento
pode ser observado na interface de matérias noticiosas do Estado de São Paulo
on-line
,
que, após o texto da matéria, destina um espaço para os comentários. É o que pode ser
observado nas figuras 23 e 24, que mostram detalhes das áreas superior e inferior de
uma matéria jornalística no Estado de São Paulo
on-line
, que apresentam indicações de
comentários.
Figura 23: detalhe da área superior da interface de matéria jornalística no Estado de São Paulo on-line
Indicação da
quantidade de
comentários
105
Figura 24: detalhe da área inferior da interface de matéria jornalística no Estado de São Paulo on-line
Hipertextualidade: a discursividade digital não possui propriedade linear. É não-linear
por conta da exploração da hipertextualidade presente no suporte digital. Como foi
discutido no capítulo 2 deste trabalho, a hipertextualidade no ambiente da
Web
se
configura pela existência de conjuntos de informações que estão conectados, ou seja,
ligados por meio dos
links.
No mesmo capítulo, foi constatado que a estrutura do
hipertexto na
Web
proporciona ao internauta a possibilidade de uma leitura multilinear e
interativa, uma vez que é o internauta que escolhe a ordem que a leitura seguirá. Sendo
assim, a utilização dos recursos hipertextuais permite que os leitores participem da
produção do discurso, uma vez que eles constroem o próprio percurso de leitura. Se for
tomada como exemplo uma gina com matéria jornalística do portal de notícias G1 do
grupo Globo, é possível encontrar ao lado do
lead
três títulos de outras matérias
antecedidos da expressão “Saiba mais”. Todos os títulos são na verdade
links
para
outras matérias. O leitor tem a opção de continuar a leitura na mesma página ou partir
para outras. Em meio ao texto, também é possível encontrar frases ou expressões que
oferecem
links
para outras matérias. Isso pode ser observado na figura 25.
Comentários
sobre matéria
jornalística
106
Figura 25: Interface de matéria noticiosa no Portal G1 utilizando recursos de hipertextualidade
Espaço ilimitado: não limites definidos para a circulação da discursividade digital
jornalística, uma vez que o espaço na Internet é ilimitado.
Menor extensão textual: embora o espaço na Internet seja ilimitado, tendência de
produção de textos mais curtos em veículos jornalísticos
on-line.
Moura (2002, p. 49)
garante que por conta da
Web
ser mais dinâmica, “[...] as matérias são tratadas de forma
mais objetiva e simples. O leitor de uma tela de computador se assustaria ao dar de cara
de uma vez com uma grande massa de texto. Seria um convite a não ler mais.”
Na
própria figura 25 é possível observar que a extensão do texto da matéria é curta e não
chega nem mesmo aos 1.500 caracteres. Porém, ainda é possível encontrar, em muitos
portais de notícias e versões
on-line
de jornais impressos, textos longos e com bem mais
de 1.500 caracteres. Isso ocorre porque as discursividades analógica e digital ainda se
intercalam.
Links para
outras
matérias
Links para
outras
editorias
Matéria
noticiosa
Link em meio
ao texto
107
Sincronia temporal: a discursividade digital está relacionada à ideologia do tempo real,
da efemeridade. Os discursos possuem constituição, formulação e circulação
simultâneas e em sincronia temporal. De acordo com Moura (2002, p. 70), o lema dos
jornais
on-line
é divulgar a notícia rápido, pois quem informar primeiro poderá cativar o
leitor
.
“[...] o internauta é apressado porque está em uma realidade onipresente, na qual
tudo pode mudar a todo segundo. Aquele que, durante alguns minutos, conquistar a
atenção do internauta em seu site pode ser considerado um vitorioso na rede.” Em
portais de notícias como o G1 (Globo) e o R7 da Rede Record de Televisão, as matérias
são postadas assim que estão prontas e os textos estão sempre acompanhados da data e
da hora da postagem. Quem navega nesses portais, percebe que as atualizações ocorrem
muito rapidamente. Em questão de minutos, há uma matéria nova para ser lida. É
possível ver a indicação de publicação em tempo real na figura 26, que apresenta o
detalhe do horário de postagem de uma matéria jornalística no portal de notícias R7.
Figura 26: detalhe de postagem de matéria jornalística no portal de notícias R7
Correção multidirecional: diferente da discursividade analógica, a discursividade digital
está relacionada a uma correção que não está concentrada apenas nas mãos do veículo
jornalístico, mas também é compartilhada com os leitores que, por meio dos
Indicação da data e
horário de postagem
108
comentários, participam da construção da matéria jornalística e até mesmo corrigem
dados e informações. Um exemplo é a Folha de São Paulo
On-Line
que, embora não
deixe um espaço para comentários, oferece aos leitores
links
para comunicar erros nas
matérias, como pode ser observado no detalhe da figura 27.
Figura 27: detalhe da interface de notícias na Folha de São Paulo OnLine
Modelo livre: A discursividade na Internet tem circulação livre, sem as restrições que
ocorrem no meio impresso. Grande parte dos
jornais on-line
não cobra assinaturas para
serem acessados, mas casos como o da própria Folha de São Paulo
On-Line
e do
Estado de São Paulo
On-Line
que cobram assinaturas para acesso a conteúdos
específicos dos seus
sites.
4.3 A discursividade jornalística no Último Segundo
Após terem sido definidas as propriedades das discursividades jornalísticas, a análise
prosseguiu com a identificação da discursividade digital no informativo
Último Segundo
, por
meio da observação de 31 matérias jornalísticas postadas entre os dias 01 e 31 de julho de
2009
.
Como foi discutido no capítulo 3, o
Último Segundo
é um informativo jornalístico que
nasceu no ambiente da
Web
e, por esse motivo, a inferência era de que as propriedades de
Detalhe do link para comunicar erros
109
sua discursividade fossem digitais. Considerando esse fato, foi necessário observar cada uma
das propriedades da discursividade digital para confirmar a hipótese. É necessário lembrar,
porém, que os textos das 31 matérias selecionadas não foram analisados na íntegra e nem
descritos. Conforme foi abordado no capítulo 3, os textos foram considerados aqui somente
uma das peças do processo discursivo, que auxiliou no acesso à discursividade. O trabalho
desta análise foi mais de interpretação e compreensão do que de descrição. Portanto, a análise
prosseguiu com a identificação das propriedades da discursividade no
Último Segundo
por
meio de interpretação. Todas as 31 matérias foram observadas, mas como os detalhes das
propriedades investigadas são recorrentes, apenas exemplos de algumas matérias foram
apresentados.
4.3.1 A interatividade nas matérias jornalísticas do Último Segundo
No
Último Segundo
, os leitores participam do processo de produção da discursividade
jornalística, uma vez que o informativo disponibiliza, na área inferior da interface das
matérias jornalísticas, um espaço para comentários. O texto das matérias também é antecedido
por
links
com as expressões “comentar”, “corrigir” e “fale conosco”. Ao final das matérias há
ainda um convite com a seguinte expressão em
link:
“Você tem mais informações? Envie para
Minha Notícia”. O “Minha Notícia” é o site de jornalismo colaborativo do portal IG.
Em todas as 31 matérias observadas foram encontrados esses elementos. No horário em
que foram coletadas, 16 delas possuíam comentários postados e as demais apresentavam o
convite para comentar com espaço disponível. Das 16 matérias com comentários, 11 delas
apresentavam entre um e dez comentários. Duas matérias possuíam entre 30 e 50 comentários,
duas apresentavam entre 60 e 90 comentários e uma estava acima dos 200 comentários no
momento de coleta.
110
Sendo assim, por conta de todos esses aspectos, é possível avaliar que o discurso é
constituído, formulado e circula de modo interativo nesse informativo. É possível observar
um exemplo desse procedimento na figura 28, que mostra a área de comentários da matéria
“Fundação de Sarney dá verba da Petrobras a empresas fantasmas”, postada às 04h22 (horário
de Brasília) do dia 9 de julho de 2009. A matéria foi coletada às 9h (horário de Manaus)
quando existiam 263 comentários postados. Inicialmente, é possível visualizar no máximo
dois relatos (dependendo do tamanho do texto) na caixa de comentários e para ver o restante,
usa-se a barra de rolagem.
Figura 28: comentários em matéria jornalística do Último Segundo
Como é possível observar, os leitores têm acesso à área de comentários para expressar
suas opiniões. Sendo assim, a discursividade da matéria jornalística é também construída por
eles de modo interativo.
4.3.2 A hipertextualidade nas matérias jornalísticas do Último Segundo
As matérias jornalísticas no
Último Segundo
utilizam elementos hipertextuais, o que faz
com que a discursividade em circulação esteja relacionada à construção de um percurso de
leitura pelo internauta. Ele decidirá se lerá a matéria na ordem em que esna página ou se
seguirá os
links
oferecidos em meio ao texto. No caso específico do
Último Segundo
foi
111
possível observar que o informativo utiliza o recurso de colocar uma série de
links
para outras
matérias logo após o
lead
. Das 31 matérias analisadas, 24 possuem
links
logo após o
lead
e
antecedendo o restante do texto da matéria. Também casos de frases com
link
no decorrer
do texto, como as encontradas em três das 31 matérias, e de
links
após a matéria, antecedidos
de expressões como “Entenda” ou “Leia também”. Foram encontrados
links
após os textos em
28 das 31 matérias analisadas. A figura 29 mostra como o
Último Segundo
explora a
hipertextualidade após o
lead
e em meio ao texto, na matéria postada em 11 de julho de 2009
às 08h25 e atualizada às 11h03 do mesmo dia
.
Figura 29: links em matéria jornalística do Último Segundo
4.3.3 O espaço ilimitado no Último Segundo
Por conta da hipertextualidade, discutida no item anterior, é possível afirmar que não há
limites definidos para a circulação da discursividade de uma matéria jornalística no
Último
Título
Lead
Links em meio ao texto
Links para outras
matérias
Continuação do texto
112
Segundo.
Todas as 31 matérias observadas no informativo possuem
links
que direcionam para
outros conteúdos, sendo alguns após o
lead,
outros após o texto e uns até mesmo em meio à
matéria, como foi determinado no item sobre a hipertextualidade no
Último Segundo.
Os
links
presentes em uma matéria conduzem a outras matérias, que por sua vez também possuem
links
que conduzem a outras informações e assim sucessivamente. Se forem observados, por
exemplo, os
links
da sessão “Leia também” da matéria “PT decide não prestar apoio
incondicional a Sarney; partido faz nova reunião hoje”, postada às 08h12 de 01 de julho de
2009 e atualizada às 09h41 do mesmo dia, é possível constatar que não como definir o
espaço de circulação da discursividade da matéria jornalística em questão. Ver figura 30.
Figura 30: sessão “Leia também” de uma matéria jornalística do Último Segundo
4.3.4 Menor extensão textual no Último Segundo
Conforme foi discutido no capítulo 3, o Manual de Redação do
Último Segundo
sugere
que matérias jornalísticas factuais não excedam o limite de 1.500 caracteres. Porém, entre as
matérias observadas, foi possível encontrar textos mais longos, o que comprova que as
discursividades analógica e digital ainda se intercalam na produção de textos no
Último
Segundo
. Das 31 matérias analisadas, apenas cinco possuíam textos abaixo dos 1.500
caracteres. Dez delas apresentavam textos entre 1.500 e 2.000 caracteres; três matérias
113
estavam com caracteres entre 2.000 e 2.500; quatro matérias possuíam entre 2.000 e 3.000
caracteres; nove apresentavam texto entre 3.000 e 4.000 caracteres; duas estavam com textos
entre 4.000 e 6.000 caracteres; e apenas um possuía texto acima dos 6.000 caracteres. Em
resumo, é possível considerar que a maioria das matérias, 18 delas, não ultrapassou os 2.500
caracteres e foram produzidas em um limite próximo ao sugerido pelo Manual de Redação do
Último Segundo
. Um exemplo de menor extensão textual no informativo é a matéria
visualizada na figura 31, que possui menos de 1.500 caracteres e foi postada no dia 10 de
julho às 07h47 e atualizada às 07h59 do mesmo dia.
Figura 31: matéria com menos de 1.500 caracteres no Último Segundo
114
4.3.5 Sincronia temporal no Último Segundo
Como foi abordado no capítulo 3, as matérias jornalísticas no
Último Segundo
são
postadas e atualizadas em tempo real, o que confere uma discursividade digital relacionada à
efemeridade. Em todas as 31 matérias analisadas foram encontradas as referências a horários
de postagem e/ou atualizações, o que comprova que o informativo posta e atualiza as matérias
em tempo real. No detalhe da figura 32, é possível observar uma matéria que foi postada
exatamente às 06h49 do dia 04 de julho de 2009 e atualizada 1 hora e 39 minutos depois em
tempo real.
Figura 32: horário de postagem e atualização de uma matéria jornalística do Último Segundo
4.3.6 Correção multidirecional no Último Segundo
Conforme foi detalhado no item sobre a interatividade no
Último Segundo,
o
informativo disponibiliza aos seus leitores um espaço para comentários, que podem contribuir
também para corrigir dados e informações nas matérias. Além disso, o
Último Segundo
também oferece
links
com as expressões “corrigir” e “fale conosco” que ficam localizados
acima do texto e podem ser utilizados pelos leitores para enviar correções diretamente aos
editores do informativo. Das 31 matérias observadas nesta análise, todas possuíam
links
para
correção abertos ao uso dos leitores, embora a interface das matérias não apresente um espaço
115
para visualização das correções ou sugestões enviadas. Nesse caso, os editores as recebem e
fazem alterações, caso haja necessidade, nas atualizações. O detalhe dos
links
para correção e
para contato com os editores pode ser visualizado na figura 33, referente à matéria postada às
11h52 do dia 24 de julho.
Figura 33: links para corrigir matérias e entrar em contato com editores do Último Segundo
4.3.7 Modelo livre do Último Segundo
O
Último Segundo
disponibiliza seu conteúdo gratuitamente e obtém lucros por meio de
venda de espaço publicitário para anunciantes, área na interface que recebe o nome de “links
patrocinados”. Na figura 19, apresentada no início deste capítulo é possível observar a
presença dos
links
publicitários na interface de uma matéria jornalística. Na interface de todas
as 31 matérias analisadas foram encontrados espaços ocupados por material publicitário, tais
como anúncios em movimento (semelhantes a vídeos), anúncios estáticos (sem movimento) e
vídeos. Na figura 34, é possível observar o detalhe de um anúncio da empresa OI na interface
da matéria postada no dia 31 de julho, às 07h14.
Link para
“Fale
conosco”
Link para
“Corrigir”
116
Figura 34: detalhe de anúncio publicitário na interface de matérias do Último Segundo
Outro aspecto que comprova o modelo livre do
Último Segundo
é o fato de que o
internauta pode compartilhar o conteúdo do informativo imprimindo notícias, enviando por
e-
mail
, recebendo e enviando as matérias pelo celular (nesse caso pagando taxa de R$ 0,31 mais
impostos por esse serviço). O
Último Segundo
também oferece a possibilidade de acompanhar
notícias pelo serviço RSS (
Really Simple Syndication
), que permite ao leitor receber
mensagens no computador ou celular assim que houver uma atualização no informativo. Para
isso é necessário a instalação de um programa chamado de agregador. Todas as matérias
analisadas possuem
links
com as expressões Imprimir”, “Enviar”, “IG Celular” e “RSS”, o
que também pode ser observado na figura 33, apresentada na página anterior.
4.4 A pirâmide invertida relacionada à discursividade no Último Segundo
Após identificar as propriedades da discursividade jornalística no
Último Segundo,
foi
possível concluir que o informativo possui discursividade digital, embora ainda existam
elementos ligados à discursividade analógica, como a ocorrência de textos acima dos 1.500
caracteres.
117
Como foi discutido no primeiro capítulo deste trabalho, a pirâmide invertida é um
modelo textual que também está relacionado à discursividade analógica e foi criado ainda no
final do século XIX. No capítulo 2, foram debatidas teorias que defendem a pirâmide
invertida na Internet e outras que a rechaçam. Depois de todas as considerações realizadas até
esta fase, foi necessário identificar se o
Último Segundo
utilizava a pirâmide invertida e de
que forma a constituição, formulação e circulação da discursividade interferiu nesse modelo.
A interpretação diante das evidências encontradas na análise é de que as matérias do
informativo não são mais produzidas dentro do modelo textual da pirâmide invertida,
composto por uma estrutura formada de
lead,
parágrafos com detalhes relevantes e parágrafos
com pormenores dispensáveis para finalizar a matéria. A maioria das 31 matérias analisadas,
24 delas, possui
links
após o
lead
e 28 delas também apresentaram
links
ao final do texto. A
presença desses aspectos hipertextuais demonstra que o modelo textual utilizado não é
fechado e sim aberto, por conta dos
links
e da interatividade.
A discursividade digital, intercalada em alguns momentos pela discursividade
analógica, na produção do discurso jornalístico no
Último Segundo
indica que o modelo
textual presente no informativo possui ainda influência da pirâmide invertida tradicional. No
entanto, por conta de todas as propriedades digitais que foram abordadas; tais como a
interatividade, a própria hipertextualidade, a correção multidirecional, a menor extensão
textual, o espaço ilimitado e a sincronia temporal; é possível afirmar que esse modelo é aberto
e multidirecional. Sendo assim, a conclusão deste trabalho é de que o
Último Segundo
sugere
como modelo textual uma pirâmide invertida aberta e multidirecional, cuja proposta de
estrutura pode ser visualizada na figura 35, a seguir.
118
Lead
Links
após o
lead
que
direcionam para outras
matérias e assuntos
Continuação do texto
Links
para outras matérias
e outros assuntos
Figura 35: Pirâmide aberta e multidirecional
Essa constatação aconteceu também por conta das informações sobre as questões
sistêmicas e a observação de que a Internet funciona como um sistema social autopoiético.
Sendo assim, quando um sujeito observa a realidade
on-line
do
Último Segundo
verifica que,
enquanto a pirâmide invertida era pautada pelo positivismo, pragmatismo e objetivismo, a
pirâmide multidirecional é pautada pelo pós-modernismo e subjetivismo.
Por isso, esse sistema, enquanto linguagem, apresenta uma ideologia pós-moderna. Na
ideologia presente na Internet, que é a ideologia da efemeridade e do tempo real, é permitida a
inclusão da subjetividade. Isto não que dizer que o jornalismo atual não continue a requerer o
objetivismo; no entanto, para a Análise de Discurso, não existe o distanciamento da
subjetividade.
119
Vale ressaltar que a observação deste trabalho foi calcada nos princípios e
procedimentos da Análise de Discurso de linha francesa e, por esse motivo, talvez seja
possível que em outras perspectivas metodológicas ocorram outras visões, proporcionando
conclusões diferentes da mesma realidade.
120
Conclusão
Ao longo deste trabalho foi possível compreender a relevância do debate sobre o
deslocamento, para o suporte digital, de um modelo de redação construído para o jornalismo
impresso ainda no século XIX, que é o caso da pirâmide invertida. Para isso, o resgate da
historicidade da criação do modelo, do desenvolvimento da pirâmide invertida no jornalismo
impresso tradicional, e da sua chegada ao ambiente virtual no final do século XX foi relevante
para reconstituir o cenário da materialidade histórica e da formação ideológica da época em
que o modelo surgiu.
O processo para entender os impactos da Internet no jornalismo incluiu também os
estudos a respeito das características da Internet, enquanto um sistema social e uma
hipermídia, e sobre a ideologia no ciberespaço. Esta investigação permitiu a compreensão de
que os suportes, nos quais são veiculados os textos jornalísticos, não são neutros e
influenciam na produção de sentidos.
Com o surgimento da Internet e da
Web
, a discursividade jornalística, inicialmente
analógica, sofreu deslocamentos, o que fez com que surgisse a discursividade jornalística
digital, que está presente com mais ênfase na rede. No entanto, esse deslocamento não é um
processo fechado e totalmente delimitado, porque, como foi evidenciado ao longo das
investigações desta dissertação, as duas discursividades ainda se intercalam nos jornais
on-
line
da atualidade
.
Assim como os jornais impressos tradicionais recorrem a elementos
característicos da discursividade digital na tentativa de promover inovações.
De acordo com os exemplos encontrados em alguns jornais brasileiros, que foram
apresentados no capítulo de análise, já há discursividade digital circulando em veículos
analógicos, assim como ainda discursividade analógica circulando em veículos digitais.
121
Esse processo de intercalação de discursividades também pode ser comprovado na análise de
matérias do
Último Segundo.
Uma importante constatação, com apoio da Análise de Discurso de linha francesa, é a
de que não é a materialidade que define o discurso, ou seja, não é o suporte que define a
discursividade, e sim as propriedades do discurso que está circulando. Isto que dizer que, no
caso específico desta pesquisa, não é porque um jornal está circulando no ambiente da
Web
que ele é
on-line.
Isto foi comprovado por meio dos exemplos de jornais que mantém na
Internet versões digitais que nada mais são do que
fac símiles
de suas versões impressas.
Esse não é o caso do
Último Segundo,
uma vez que ele é
o primeiro informativo
on-line
que nasceu diretamente na Internet brasileira e possui, em grande parte, características da
discursividade digital. A observação das matérias veiculadas nesse jornal
on-line
auxiliou no
esclarecimento da questão sobre a mudança de sentido que ocorre pela alteração na forma de
circulação do discurso jornalístico, originalmente constituído e formulado para circular no
ambiente impresso.
Na condição não apenas de método de análise, mas principalmente na condição de
teoria, a Análise de Discurso contribuiu na elaboração do trabalho, uma vez que direcionou a
análise para a interpretação em busca da compreensão a respeito do processo de produção do
discurso e sobre as propriedades das discursividades jornalísticas. Por conta disso, a pesquisa
alcançou seus objetivos de investigação ao encontrar as respostas para as problematizações
iniciais, que consideravam a possibilidade de estarem ocorrendo modificações no modelo da
pirâmide invertida no ambiente virtual e, por consequência dessa mudança de ambiente de
circulação, estar acontecendo a produção de um novo sentido do discurso jornalístico.
Sendo assim, foram confirmadas as hipóteses de que: o ambiente virtual, por conta das
características inerentes ao hipertexto, impôs novos elementos e recursos ao modelo clássico
da pirâmide invertida, modificando-o; e de que o processo de circulação do discurso
122
jornalístico no ambiente hipertextual da
Web
resultou na mudança de suas propriedades
constitutivas
Por conta das constatações realizadas no decorrer do desenvolvimento deste trabalho,
foi possível encontrar elementos que evidenciam a proposta de pirâmide aberta e
multidirecional como o modelo textual utilizado em matérias noticiosas do jornal
on-line
Último Segundo
. A conclusão é de que o modelo usado pelo informativo
Último Segundo
continua sendo uma pirâmide, com formato semelhante ao da invertida, porque ainda existem
elementos de propriedades da discursividade analógica na sua elaboração, porém, essa
pirâmide é aberta porque está no ambiente interativo e de modelo livre da
Web
;
e é
multidirecional porque é hipertextual e possui correção multidirecional, características
importantes da discursividade digital.
Embora este trabalho tenha encontrado as respostas que buscava, algumas questões
sobre o texto jornalístico na
Web
ainda estão abertas e podem ser exploradas em trabalhos
futuros. O que foi debatido nesta dissertação é referente a um jornalismo característico da
Web
2.0, mas como foi apresentado no segundo capítulo desta investigação, a
Web
3.0, ou
Web
Semântica (assim chamada porque organizaos dados para atender o usuário de forma
mais precisa), está começando a funcionar e será uma
Web
cada vez mais personalizada. O
que ocorrerá com o jornalismo
on-line
nessa nova conjuntura é questionamento relevante para
futuras pesquisas.
Além disso, as redes sociais como
Orkut, Facebook, Twitter, YouTube
, entre tantas
outras, estão cada vez mais em evidência e desafiam o jornalismo todos os dias. E não é
apenas um desafio simples: as redes sociais já pautam e até mesmo “furam” (passam na frente
em termos de divulgação) os jornais tradicionais e também os
on-line
. O que ocorre nas redes
sociais é um exemplo da discursividade digital em pleno funcionamento das propriedades de
interatividade, sincronia temporal e correção multidirecional. O que o jornalismo
on-line
está
123
fazendo diante dessa concorrência com as redes sociais também é tema importante e atual
para investigações acadêmicas.
Em meio a questões em aberto e diante das constatações as quais chegou esta
dissertação, uma das expectativas desta pesquisa é a de que sirva de contribuição bibliográfica
para outros pesquisadores e também como embasamento teórico para futuros estudos na área
do jornalismo digital e análise de discurso jornalístico. Espera-se também que este trabalho
possa contribuir, na condição de embasamento teórico, para a formação de estudantes de
jornalismo e também para a prática de quem já exerce esta profissão ou outra fundamentada
na escrita para veículos impressos e digitais.
124
Anexos
Relação de matérias analisadas com horário de postagem e de coleta
PT decide não prestar apoio incondicional a Sarney; partido faz nova reunião hoje
(01/07/2009 - 08:12 , atualizada às 09:41 01/07, coletada às 9h)
Corinthians empata com Inter e é campeão da Copa do Brasil (02/07/2009 - 00:00, atualizada
às 06:04 02/07, Redação iG Esporte
,
coletada às 6h)
Sarney oculta da Justiça Eleitoral casa de R$ 4 milhões (03/07/2009 - 08:05 - Agência Estado,
coletada às 8h)
Coreia do Norte lança sétimo míssil em um dia (04/07/2009 - 06:49 , atualizada às 08:28
04/07 - Redação com agências internacionais, coletada às 8h)
OEA suspende Honduras por causa do golpe de Estado contra Zelaya (05/07/2009 - 01:07 ,
atualizada às 02:24 05/07 - Redação com agências internacionais, coletada às 11h)
Zelaya pede às Forças Armadas que baixem as armas em Honduras (06/07/2009 - 01:30 ,
atualizada às 03:11 06/07 – EFE, coletada às 6h)
China declara toque de recolher em foco de violentos distúrbios (07/07/2009 - 06:57 ,
atualizada às 07:11 07/07 – EFE, coletada às 7h)
Receita abre consulta a lotes de restituição do Imposto de Renda de 2009 e 2008 (08/07 -
07:00 – Redação, coletada às 7h)
Fundação de Sarney verba da Petrobras a empresas fantasmas (09/07 - 04:22 - Redação
com agências, coletada às 9h)
G8 promete US$ 15 bilhões para garantir alimentos (10/07 - 07:47 , atualizada às 07:59 10/07
– AFP, coletada às 8h)
Secretaria de São Paulo investiga como menina pegou a "gripe suína" (11/07 - 08:25,
atualizada às 11:03 11/07 - Redação com Agência Estado, coletada às 10h)
Curso revela fraude em Fundação Sarney (12/07 - 08:03 - Agência Estado, coletada às 11h)
Nova lei ajuda candidatos com problemas na Justiça (13/07 - 07:17 - Congresso em Foco,
coletada às 9h)
Lucro do Goldman Sachs no segundo trimestre fica acima do esperado (14/07 - 09:59,
atualizada às 10:43 14/07 – Redação, coletada às 10h)
Avião iraniano cai com 168 pessoas a bordo (15/07 - 07:02 , atualizada às 08:23 15/07 -
Redação com agências internacionais, coletada às 8h)
125
Filho de Sarney é indiciado pela Polícia Federal por três crimes (16/07 - 07:41 - Agência
Estado, coletada às 9h)
Lucro do Bank of America cai menos que o esperado no segundo trimestre (17/07 - 08:29 ,
atualizada às 08:55 17/07 - Redação com agências, coletada às 8h)
Sinopse de imprensa: Eletrobrás financiou ONG de filho de Sarney (18/07 - 07:41 Redação,
coletada às 9h)
Sinopse de imprensa: Senado fez ''trem da alegria'' secreto (19/07 - 04:06 Redação, coletada
às 7h)
Em dia de alívio nos mercados financeiros, dólar recua e Bovespa opera em alta (20/07 -
09:37 , atualizada às 11:51 20/07 - Redação com agências, coletada às 11h)
"Gripe suína" já matou mais de 700 pessoas, diz OMS (21/07 - 07:02 - Redação com agências
internacionais, coletada às 8h)
CPI da Petrobras ameaça 'boom' do petróleo no Brasil, diz 'Financial Times' (22/07 - 05:17,
atualizada às 05:32 22/07 - BBC Brasil, coletada às 6h)
Taxa de desemprego cai a 8,1% no mês de junho, diz IBGE (23/07 - 09:04 , atualizada às
09:40 23/07 - Redação com agências, coletada às 9h)
Menos de um dia após alta, Alencar volta a hospital em São Paulo (24/07 - 11:52 Redação,
coletada às 11h)
Objeto atinge Massa, e piloto sofre forte acidente na Hungria
(
25/07 - 10:00, Agência Warm
Up
,
coletada às 10h)
Em comunicado, Ferrari informa que condição de Massa segue estável (26/07 - 05:30,
Agência Warm Up, coletada às 7h)
Massa melhora aos poucos e é capaz de mover braços e pernas
(27/07 - 06:57, Agência
Warm Up, coletada às 6h)
Médicos acreditam que Massa pode deixar hospital em até dez dias (28/07 - 06:27, Agência
Warm Up, coletada às 8h)
Atentado fere 48 na Espanha; ETA pode ter cometido crime (29/07 - 03:56, atualizada às
04:45 29/07 – EFE, coletada às 6h)
Inep divulga simulado do Enem; consulte (30/07 -00:13
Redação com Agência Brasil, coletada às 7h)
Desemprego na zona do euro é o maior em 10 anos; preços caem (31/07- 07:14, Reuters,
coletada às 8h)
126
Referências
ADGHIRNI, Zélia.
Jornalismo on line:
em busca do tempo real. 2002. Disponível em:
<http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/bitstream/1904/18685/1/2002_NP2ADGHI
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