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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO TECNOLÓGICO
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ANA PRADO
OS SENTIDOS DA TRANSFORMAÇÃO:
“cultura, arte e espaço urbano em Santa Teresa -RJ”
NITERÓI
2006
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ANA PRADO
OS SENTIDOS DA TRANSFORMAÇÃO:
“cultura, arte e espaço urbano em Santa Teresa -RJ”
Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em
Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para a obtenção do grau de mestre. Área
de Concentração: Urbanismo.
Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Sánchez
Niterói
2006
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P896 Prado, Ana
Os sentidos da transformação: cultura, arte e espaço
urbano em Santa Teresa - RJ / Ana Prado. Niterói: [s.n.],
2006.
202f.: il., 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)
Universidade Federal Fluminense, 2006.
Orientador: Prof. Fernanda Sánchez.
1. Santa Teresa (Rio de Janeiro, RJ). 2. Multiculturalismo.
3. Arte moderna Sec.XX - Brasil. I.. Sánchez, Fernanda. II. .
Título.
CDD 981.53
ANA PRADO
OS SENTIDOS DA TRANSFORMAÇÃO:
“cultura, arte e espaço urbano em Santa Teresa - RJ”
Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em
Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para a obtenção do grau de mestre. Área
de Concentração: Urbanismo.
Apresentada em dezembro de 2006
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Fernanda Sánchez - Orientadora
PPGAU - Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. Pablo Benetti
FAU - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Profª Drª Maria Lais Pereira da Silva
PPGAU - Universidade Federal Fluminense
Niterói
2006
AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Fernanda Sánchez – minha orientadora e amiga, pela competência,
atenção e estímulo ao trabalho apresentado.
A Joaquim da Matta – meu marido, pela inestimável ajuda na revisão e formatação
do trabalho e pela paciência ao acompanhar todo o processo.
À Profª Drª Maria Laís Pereira da Silva – pelas várias dicas e orientações
bibliográficas durante o curso.
À Profª Drª Vera Rezende – pelos primeiros passos deste trabalho.
Á Profª Drª Elizabete Rodrigues de Campos Martins – pela sua tese de doutorado
sobre Santa Teresa, que muito contribuiu para o desenvolvimento da dissertação.
Ao Prof. Dr. Pablo Benetti (UFRJ) – pelo incentivo ao mestrado.
Aos entrevistados – Adil Tiscati, Fernanda Oliveira, João Vergara, Julio Castro,
Leonardo Guimarães, Newton Goto e Renata Bernardes – pelas contribuições nas
entrevistas que muito somaram ao trabalho.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................11
2. A CONFIGURAÇÃO DE UMA HISTÓRIA DO ESPAÇO URBANO ...................17
2.1 O Bairro e A Cidade ...........................................................................................17
2.2 Dos Salões Literários À Arte Pública .................................................................30
Santa Teresa um modus vivendi........................................................................30
Os recentes caminhos da arte e cultura.............................................................34
3. OS EVENTOS E SUA ESPACIALIZAÇÃO ........................................................40
3.1 O Evento Arte de Portas Abertas.......................................................................40
A experiência do Arte de Portas Abertas ...........................................................40
Distribuição espacial dos ateliês e dos artistas..................................................70
ADPA: processos culturais, processos espaciais...............................................78
3.2 Interferências Urbanas e Ações Coletivas de Arte.............................................85
As interferências na urbe ...................................................................................85
O a(r)tivismo nos coletivos de arte.....................................................................97
Algumas idéias sobre as Interferências e os a(r)tivismos na urbe ...................103
4. VISÕES E REPRESENTAÇÕES NO BAIRRO................................................110
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................127
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................134
7. APÊNDICES ....................................................................................................140
7.1 Quadro 1 – Relação dos Ateliês e Artistas do ADPA .......................................140
7.2 Quadro 2 – Edições do Prêmio Interferências Urbanas ...................................160
7.3 Quadro 3 – Resumo das Ações Coletivas de Arte...........................................163
7.4 Quadro 4 – Visões dos Atores Entrevistados Segundo Eixos Temáticos. .......171
7.5 Mapa 1 – Zoneamento Santa Teresa...............................................................179
7.6 Mapa 2 – Distribuição das Áreas Ocupadas pelos Ateliês...............................180
8. ANEXOS ..........................................................................................................181
8.1 Anexo 1 – Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural .......................181
8.2 Anexo 2 – Santa Teresa Território Turístico e Sustentável..............................187
8.3 Anexo 3 – Audiência Pública na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro ...188
8.4 Anexo 4 – Discurso do Ministro Gilberto Gil.....................................................196
8.5 Anexo 5 – Manifesto de Fundação da Chave Mestra ......................................199
8.6 Anexo 6 – Reportagem Publicada no JB On Line............................................200
8.7 Anexo 7 – Mensagem Eletrônica da AMAST para Moradores.........................201
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Leandro Joaquim, Lagoa do Boqueirão e Aqueduto da Carioca 1795....................................18
Figura 2 Thomas Ender, Vista do Convento Santa Teresa e do Aqueduto...........................................19
Figura 3 Edouart Hildebrant, Fonte da Carioca 1844 ............................................................................20
Figura 4 Área de Planejamento 1...........................................................................................................29
Figura 5 Emilio Cardoso Ayres – caricatura do Salão Mundano da Marechala ....................................32
Figura 6 Candidato do entorno distribui terra da União .........................................................................38
Figura 7 Frente e verso da 1ª Edição do Arte de Portas Abertas..........................................................43
Figura 8 - 2ª edição Arte Portas Abertas................................................................................................44
Figura 9 Miguel Paiva charge sobre a violência em Santa Teresa anos 90..........................................45
Figura 10 Mídia após surgimento do Arte de Portas Abertas ................................................................46
Figura 11 Projeto Jovens Aprendizes ....................................................................................................50
Figura 12 Fayga Ostrower – litografia 1980...........................................................................................51
Figura 13 Mídia da exposição de Paulo Roberto Leal ...........................................................................54
Figura 14 Processo de fixação de imagem no sistema Pin Hole...........................................................56
Figura 15 Sistema Pin Hole....................................................................................................................57
Figura 16 Regina Alvarez – Foto sistema Pin Hole ...............................................................................57
Figura 17 Capa do 1º catálogo do Prêmio Interferências Urbanas .......................................................58
Figura 18 Capa catálogo Galeria do Poste ............................................................................................60
Figura 19 Capa do primeiro catálogo do Arte de Portas Abertas foto de Regina Alvarez.....................61
Figura 20 Capa catálogo exposição intercâmbio Rio - Paris .................................................................62
Figura 21 Capa do catálogo registro do casario Rua Joaquim Murtinho...............................................63
Figura 22 Casa Rua Joaquim Murtinho datada de 1916 .......................................................................64
Figura 23 Casa Rua Joaquim Murtinho 1916 fachada e planta.............................................................65
Figura 24 - I Encontro de Coletivos de Arte Chave Mestra ...................................................................67
Figura 25 Casarão da UNEI durante o Arte de Portas Abertas de 2004...............................................68
Figura 26 Coletiva de artistas no casarão da UNEI...............................................................................68
Figura 27 Distribuição geográfica dos artistas: Área A – Lapa e Glória até Curvelo.............................74
Figura 28 Distribuição geográfica dos artistas: Área B – Lgo Curvelo até Lgo. Guimarães..................75
Figura 29 Distribuição geográfica dos artistas: Área C – Guimarães até Áurea / Valentim ..................75
Figura 30 Distribuição geográfica dos artistas: Área D – Largo das Neves até Oriente .......................76
Figura 31 Distribuição geográfica dos artistas: Área E – Castelo do Valentim até Mauriti Santos .......77
Figura 32 Distribuição geográfica dos artistas – todas as áreas ...........................................................77
Figura 33 Programação do Segundo Festival de Inverno .....................................................................80
Figura 34 Mapa do Segundo Festival de Inverno ..................................................................................80
Figura 35 Muro de Sabão.......................................................................................................................87
Figura 36 Cristo Luminoso .....................................................................................................................88
Figura 37 A sombra................................................................................................................................89
Figura 38 Preserve o vira lata de Beatriz Pimenta.................................................................................90
Figura 39 O grande banco de José Tanuri ............................................................................................91
Figura 40 Compro Arte de Osvaldo Ferreira..........................................................................................92
Figura 41 T1 i-móvel de Alexandre Vogler.............................................................................................93
Figura 42 O Q ROLA VC. V ...................................................................................................................93
Figura 43 O metrô está chegando de Bruno Lopes...............................................................................95
Figura 44 O beijo na santa de Daniel Valentim......................................................................................96
Figura 45 O mar a escada e o homem Felipe Barbosa e Rosana Ricaldi.............................................97
Figura 46 Menossi para prefeito - grupo Nova Pasta ..........................................................................101
Figura 47 Enxurrada de letras do grupo Poro......................................................................................102
Figura 48 Xilografura do grupo Espaço Coringa..................................................................................103
Figura 49 Fumacê do descarrego do grupo RRadial no Rio de Janeiro..............................................105
Figura 50 Fumacê do descarrego do Grupo RRadial em Paris outubro 2005 ....................................105
Figura 51 Ocupação Prestes Maia Esqueleto Coletivo .......................................................................106
Figura 52 Máscaras, Imaginário Periférico, para o projeto Coletivações ............................................108
Figura 53 Projeto do novo Hotel Santa Teresa....................................................................................123
RESUMO
Esta dissertação apresenta uma abordagem que relaciona a esfera da arte - cultura
e as mais recentes transformações do bairro Santa Teresa no Rio de Janeiro
tomando como estudo de caso o projeto Arte de Portas Abertas e seus
desdobramentos. Busca-se investigar os parâmetros que regem a vida urbana, a
relação cultura - espaço tempo onde se inscreve o evento no âmbito das
chamadas revitalizações urbanas. Para realizar a análise parte-se de três
elementos-chave: imagem, diversidade cultural e arte contemporânea, identificados
ao longo das edições do evento. Mostra-se os diversos elos entre tais elementos e o
conjunto de iniciativas deles decorrentes direta ou indiretamente - em Santa
Teresa, inscrevendo-os, desse modo, em processos mais amplos de reestruturação
urbana em suas dimensões social, cultural e política mas também econômica. O
trabalho se desenvolveu com base no levantamento das quinze edições do Arte de
Portas Abertas até 2005, do Prêmio Interferências Urbanas e do Encontro de
Coletivos de Arte. As vinculações de tais iniciativas com as modalidades de
intercâmbio dinâmico entre artistas e público, característico das novas articulações
da arte contemporânea, revelam possibilidades renovadas de produção de vínculos
sociais voltados à reestruturação urbana do bairro.
Palavras-chave:
Imagem.
Diversidade Cultural.
Arte Contemporânea.
Cultura e Processos Espaciais.
ABSTRACT
This paper presents an approach to art and culture and their relationship to the most
recent changes in the district of Santa Teresa in Rio de Janeiro, Brazil. It takes the
study case of the Project Arte de Portas Abertas and its developments. It aims at
investigating the parameters that govern urban life, such as the relationship between
culture, space and time where the event takes place, in the scope of urban revival.
For the analysis we took three key elements: image, cultural diversity and
contemporary art, identified in many of the projects editions. Associated to Local
Development systems in an endogenous process, as in the case of the initiatives in
Santa Teresa, these elements are integrated to social, cultural, political and
economical dimensions. The work was based on the fifteen editions of the Project
Arte de Portas Abertas up to 2005, the four editions of Urban Interferences and the
1st Meeting of Art Collectives. The interconnections of these initiatives to the
procedures of a dynamic interchange between artists and the public, characteristic of
the new articulations in contemporary art, contribute to the urban restructuring of the
district.
Key words:
Image.
Cultural diversity.
Contemporary art.
Culture and Space Processes.
1. INTRODUÇÃO
A abordagem na esfera da cultura e sua relação com as mais recentes
transformações do bairro Santa Teresa no Rio de Janeiro pautou-se no interesse de
investigar o projeto Arte de Portas Abertas, evento que acontece desde a década de
1990 e ocorre anualmente no bairro, onde os artistas abrem seus ateliês para a
visitação pública.
O Arte de Portas Abertas é um evento de práticas artísticas, voltado mais
especificamente para as artes visuais, que foi estabelecendo relações com os
espaços públicos e aparentemente criou convivências sociais intervindo nos
diferentes modos de produção local.
O interesse em analisar os parâmetros que regem a vida urbana, a relação
cultura-espaço-tempo, onde se inscreve o evento Arte de Portas Abertas e outras
iniciativas sócio-culturais locais, no âmbito das chamadas revitalizações urbanas
pode vir a contribuir para o entendimento das transformações do bairro e seu efetivo
alcance.
As revitalizações urbanas e todas as demais denominações de prefixo “re”,
renovação, reabilitação, requalificação, regeneração, entre outras, percorrem a
agenda urbana do mundo globalizado. Tais denominações estão relacionadas a
leituras diferenciadas do espaço e de sua problemática, podendo ser entendidas
como uma reestruturação funcional, arquitetônica e sócio-cultural inserida num
conjunto de programas e projetos, públicos ou de iniciativa autônoma, que incidem
sobre as relações sociais e os tecidos urbanos. (VAZ, JACQUES, 2001)
No momento presente da história das transformações das cidades, quando
estas passam a ser geridas como mercadoria, tendência identificada nas últimas
12
duas décadas de ascensão neoliberal, críticas e questionamentos vêm sendo
levantados. Liderado pela ofensiva liberal-conservadora que associa incorporadores,
corretores, banqueiros, todos ancorados na mídia, políticos, planejadores urbanos e
agentes culturais promovem uma articulação de consenso a respeito da necessidade
de gerir a cidade como negócio (ARANTES, 2002, p. 62) e vendê-la como um
produto. (SÁNCHEZ, 2003, p. 491)
Com o fim da era do crescimento, o planejamento urbano perde seu caráter
de evidência e racionalidade moderna. As revitalizações urbanas incorporam a
crença economicista de expansão e as parcerias entre setor público e iniciativa
privada passa a ser a fórmula salvadora, questionada por Otília Arantes (2002, p.62)
por ocasionar a multiplicação de réplicas de requalificações por todo o mundo.
Associada a estas requalificações e vinculadas ao elogio mercadológico, a
produção cultural se evidencia fomentando a chamada “cultura de eventos”.
Concorrendo para sua espetacularização prioriza-se a cultura como mercadoria,
associada à lógica do imediatamente rentável. (JAMESON
1
, 1991 apud PALLAMIN,
Vera, 2002)
Santa Teresa mesmo sem figurar na agenda do poder público como uma
possível área de renovação urbana a incorporar os princípios das recentes
estratégias urbano-culturais, potencializa de forma autônoma ações sócio–culturais,
que vêm promovendo transformações significativas no cotidiano da população.
Com escassos investimentos públicos foram alguns grupos e atores locais
apoiados pelo setor privado que contribuíram para o fortalecimento da tradição
cultural e a recuperação da imagem do bairro. Associados ao prestígio dos artistas
promoveram a revitalização do comércio local e as atividades turísticas, além de
incentivar a recuperação de um número significativo de imóveis. Tais iniciativas
também favoreceram processos de valorização ou desvalorização imobiliária das
diferentes regiões do bairro.
Sem invalidar o êxito destas iniciativas muitos problemas permanecem ainda
sem solução. A preocupação com o bairro que move este trabalho está centrada
principalmente na análise das iniciativas sócio-culturais, mais especificamente no
evento Arte de Portas Abertas e seus desdobramentos, em especial o Prêmio
1
JAMESON, Frederic. Pós-modernismo, a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática,1996 (1ª ed.
1991).
13
Interferências Urbanas e as Ações de Coletivos de Arte na sua relação com o uso do
espaço público alinhado aos processos de estetização contemporâneos.
Por serem iniciativas ligadas às artes de um modo geral se instala um
consenso de que atividades artísticas de toda a natureza, associadas aos recursos
naturais e arquitetônicos do bairro e aos interesses econômicos podem trazer
benefícios positivos para a população tais como: geração de emprego, ampliação
dos negócios, melhoria da qualidade de vida. Mas será que de fato estas iniciativas
estão atuando de forma significativa e eficaz no desenvolvimento local? Será que a
cultura na forma do seu refinamento ostensivo é, de fato, o caminho para a
recuperação da vitalidade do bairro de Santa Teresa?
Para responder a estas perguntas foi necessária uma pesquisa que consistiu
no levantamento das principais e significativas iniciativas sócio culturais com fins
artísticos, educativos e sociais, traçando um perfil das ações, a natureza das
mesmas, as articulações entre atores e suas estratégias espaciais. Também
entrevistas qualitativas junto às principais lideranças, assim como uma pesquisa
bibliográfica no campo das artes visuais buscaram identificar sua evolução e
interfaces com as transformações urbanas nas últimas décadas.
O cruzamento dessas informações possibilitou uma análise pormenorizada da
interferência das artes visuais no cotidiano do bairro de Santa Teresa, na percepção
social das mudanças e nos possíveis cenários e desdobramentos sócio-espaciais
dos processos estudados.
O trabalho de pesquisa da Elizabete Martins, tomado como importante
referência para este estudo, proporciona um levantamento inédito de fontes
desvendando como o bairro foi sendo histórica e socialmente construído: (MARTINS,
2002)
... aqui, Santa Teresa exibe o contorno de uma paisagem na qual o
ambiente natural investido pelo olhar da cultura se mostra indissociável na
construção mútua da forma urbana e de sua experiência como espaço de
vida coletiva.
Ela identifica um processo de construção, destruição e reconstrução típico da
noção de civilização que deram as peculiaridades dos movimentos de continuidade,
oposições e mudanças que foram constituindo o “lugar Santa Teresa”. Este
procedimento de um fazer e desfazer, noção permeada com a chegada da vida
14
moderna, com o efêmero de práticas e juízos estéticos fragmentados permitiu
compreender o novo papel das artes e da cultura neste espaço urbano.
Em se tratando das transformações na modernidade deste “lugar Santa
Teresa”, a reflexão da cidade sob o olhar dos situacionistas
2
, um dos primeiros
grupos a criticar o movimento moderno em arquitetura e urbanismo vem se somar no
entendimento desta dinâmica de um espaço de vida coletiva descrito por Elizabete
Martins (2002).
Cabe lembrar que a Internacional Situacionista (IS) foi um movimento
formado por um grupo de artistas, pensadores e ativistas que lutavam contra o
espetáculo, a cultura espetacular e a espetacularização em geral, ou seja, contra a
não – participação, alienação e a passividade da sociedade (JACQUES, 2003).
Nos anos setenta e oitenta quando as cidades começaram a ser geridas
como negócio, David Harvey (1992) identifica este processo como uma prerrogativa
do mundo capitalista para as cidades cujos gestores assumem um comportamento
empresarial e mercadológico em relação ao desenvolvimento econômico.
Críticas a este modelo são abordadas por Otília Arantes quem se preocupa
com o senso comum econômico, ou seja, com a fabricação de consensos em torno
do crescimento econômico a qualquer preço (ARANTES, 2002).
A problematização da relação entre as fortes iniciativas locais com o
crescimento econômico norteado pela relação direta entre configuração espacial
urbana, produção de um consenso dos atores locais em torno a um modelo de
desenvolvimento e a produção ou reprodução do capital foi de fundamental
importância para a construção dos caminhos e procedimentos metodológicos desta
pesquisa.
Assim, partindo de um levantamento das mais recentes manifestações
culturais que permeiam o evento “Arte de Portas Abertas” a partir da década de
1990, buscamos relacionar dois campos vitais para Santa Teresa arte e espaço
urbano na tentativa de esboçar as mudanças e as possíveis tendências de
crescimento para o bairro.
Por meio do levantamento das quinze edições do Arte de Portas Abertas
(Quadro 1 Relação dos Ateliês e Artistas do ADPA, p.140) traçamos o processo de
2
Internacional Situacionista (IS) movimento contestador surgido em 1957 na França, cuja atuação foi marcante
em todo processo de luta política, ideológica e cultural que culminou nos acontecimentos de 1968. Guy Debord
foi seu pensador mais influente que publicou em 1967 o livro A Sociedade do Espetáculo.
15
evolução do evento, as estratégias territoriais dos circuitos culturais e econômicos,
os discursos e formas sedimentados nas representações culturais expostas e sua
relação com o público. Também foi considerado o levantamento das quatro edições
do Prêmio Interferências Urbana (Quadro 2 – Edições do Prêmio Interferências
Urbanas, p.160) e do Encontro de Coletivos de Arte da Chave Mestra (Quadro 3 –
Resumo das Ações Coletivas de Arte, p.163) entendidos como representativos das
relações sociais produtoras de significados e significantes. A arte urbana como
prática crítica, ao contrapor-se às narrativas pré-montadas (museus, galerias)
percorre vias de interrogação sobre a cidade, sobre como esta vem sendo
socialmente construída, representada e experienciada. (PALLAMIN, 2002)
Para aprofundar a compreensão da realidade vivida nesse espaço urbano nos
utilizamos da história oral como fonte de dados, através das entrevistas com os
cinco principais representantes de instituições não governamentais, que atuam como
agentes locais na implantação de projetos culturais: Viva Santa, Associação de
Artistas Visuais de Santa Teresa - Chave Mestra, Associação de Moradores -
AMAST, Cine Santa, Cama e Café e Lunuz, além de alguns artistas atuantes no
bairro.
As entrevistas, com cerca de duas horas de duração foram organizadas
segundo seis eixos temáticos: imagem, diversidade cultural, movimentos artísticos,
propostas para o bairro, segurança e legislação urbana local, apresentadas
resumidamente no Quadro 4 – Visões dos Atores Entrevistados Segundo Eixos
Temáticos., p.171. As idéias traçadas possibilitaram ativar a correlação dos
discursos, relacionando as ocorrências estéticas e o novo plano simbólico de
construção do espaço público em Santa Teresa.
Apresentamos esta pesquisa em três capítulos além desta introdução e das
considerações finais. No primeiro capítulo “A configuração de uma história do
espaço urbano” procuramos desenvolver em dois subitens, um breve histórico
relatando as transformações do bairro, com a passagem de um espaço natural para
um espaço urbano de características peculiares no contexto da cidade do Rio de
Janeiro. No primeiro subitem “O bairro e a cidade” relacionamos características
históricas no entendimento da formação do bairro, sua relação com a cidade desde
o período do Império traçando passagens que constituíram o bairro como área de
proteção ambiental. No segundo subitem, “Dos salões literários às ações coletivas
de arte” traça-se uma historia da evolução das atividades culturais, processo que se
16
inicia mais marcadamente com os salões literários que deram ao bairro um
destacado ambiente cultural no séc. XIX, na cidade do Rio de Janeiro até as atuais
iniciativas no campo das artes visuais no rastro do discurso da arte contemporânea.
No segundo capítulo, “Os eventos e sua espacialização” também
organizamos dois subitens discorrendo acerca do levantamento das quinze edições
do Arte de Portas Abertas, as quatro edições do Prêmio Interferências Urbanas e o
1º Encontro de Coletivos da Chave Mestra.
No primeiro subitem deste capítulo, quanto ao evento “Arte de Portas Abertas”
fizemos um levantamento de todas as edições até o ano de 2005 descrevendo sua
evolução e relações com as propostas e atividades surgidas ao longo desses dez
anos. Identificamos sua distribuição geográfica relacionando o crescimento do
número de ateliês a cada edição (Quadro 1 Relação dos Ateliês e Artistas do
ADPA, p.140 e
Mapa 2 Distribuição das Áreas Ocupadas pelos Ateliês, p.180) resumidas
em seis gráficos apresentados ao final deste capítulo, as reconfigurações ao longo
do tempo e a inferência de algumas possíveis tendências.
O segundo subitem refere-se às quatro edições do Prêmio Interferências
Urbanas e ao Encontro de Coletivos de Arte apresentados de uma forma
resumida nos Quadros 2 e 3 respectivamente.
Traçamos o perfil dos artistas no campo das artes visuais buscando entender
o processo de transformação que o bairro vem sofrendo desde os anos 90 onde
rebatem, entre outros processos urbano-metropolitanos, as pautas e agendas para a
inserção dos lugares no novo mapa do mundo. Buscando definir valores e
orientações para as ações de renovação as quais, contudo, no contexto analisado,
assumem também feições próprias.
No terceiro capítulo “Visões e representações do bairro” analisamos e fizemos
o cruzamento das informações buscando pormenorizar os discursos dos
entrevistados (Quadro 4) com as informações levantadas nos capítulos anteriores,
na direção de perceber as convergências e divergências dos projetos para o bairro,
no uso do espaço urbano, na diversidade cultural e nas práticas artísticas que
acompanham as atuais tendências da arte contemporânea.
2. A CONFIGURAÇÃO DE UMA HISTÓRIA DO ESPAÇO URBANO
2.1 O Bairro e A Cidade
Na segunda metade do século XVIII, o eixo do “caminho das águas”, ou seja,
do aqueduto (Figura 1) juntamente com a construção dos Arcos Novos (atual Arcos
da Lapa), obra realizada durante o governo do Gomes Freire de Andrade, o conde
de Bobadela, que governou a cidade do Rio de Janeiro por cerca de trinta anos
(1733 a 1764), dá ao maciço da Tijuca novas representações (MARTINS, 2002)
Começa o aqueduto da Carioca em uma grande rocha pela qual corre a
água; chama-se a este lugar a e Água, e ali se construíram três tanques
de pedra para reservatórios. Vem ter nestes reservatórios o aqueduto
descoberto chamado Silvestre. Prolonga-se o encanamento pelas encostas
dos Morros do Cosme Velho e Laranjeiras, e no lugar chamado Segundo
Dois Irmãos, que são duas pirâmides triangulares, muda de direção, passa
do lado direito para o lado esquerdo da estrada. Aqui vem ter ao mesmo
aqueduto o encanamento da Lagoinha. Continua o aqueduto como uma
enorme serpente estendida ao longo da estrada, mostrando-se ora mais
elevado ora mais baixo, conforme o declive do terreno; se em certo ponto se
submerge no centro da terra, em outro surge, notando-se de espaço em
espaço torneiras de metal, que fornecem água aos habitantes da
vizinhança. No lugar dos Dois Primeiros Irmãos que são duas pirâmides de
pedra iguais as que mencionamos, desviam-se as águas para o outro
lado da estrada; correm (...) por meio de uma dupla ordem de arcaria de
volta inteira, a qual mede uma altura máxima de 17,6 m. acima do nível do
solo, chegam ao morro de Santo Antônio, e dali ao chafariz da Carioca,
tendo percorrido mais de 8 quilômetros de extensão (AZEVEDO
3
, 1969;
CORRÊA,1939 apud MARTINS, 2002)
3
AZEVEDO, de Moreira, O Rio de Janeiro sua história, monumentos, homens notáveis, usos e curiosidades. Rio
de Janeiro: Livraria Brasiliana Editora, 1969, tomo I, p. 539-546; CORRÊA, Armando de Magalhães, “Terra
carioca, fontes e chafarizes”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1939, p. 13-14.
18
Figura 1 Leandro Joaquim, Lagoa do Boqueirão e Aqueduto da Carioca 1795
O aqueduto uma inflexão na arquitetura urbana e passa a ser a principal
obra pública do séc. XVIII. Mais tarde com a construção do convento das carmelitas
a pedido do governador Gomes Freire cujas obras foram concluídas em 1750,
dedicada à Santa Teresa de Ávila e fundada pelas irmãs Jacinta e Francisca
(CARVALHO
4
, apud MARTINS 2002) as proximidades da ermida do Desterro
tornaram-se um novo lugar de afastamento social (Figura 2). A edificação imprimiu
sua presença à paisagem conferindo ao morro e aos seus arredores seu nome
definitivo: Santa Teresa.
4
CARVALHO, Lia de Aquino, Santa Teresa: a cidade na montanha. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de
Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentos e Informação Cultural, Divisão de
Editoração, 1990, Bairros Cariocas, v.2.
19
Figura 2 Thomas Ender, Vista do Convento Santa Teresa e do Aqueduto
Com a chegada da família imperial em 1808 para o Rio de Janeiro, a cidade
sofre certo impacto social e cultural colonial, com conseqüências na história da
gestão do território e sobre o paradigma da arquitetura e do urbanismo.
Em particular a ocupação do morro Santa Teresa passa a ter um novo sentido
interligando cada vez mais o maciço da Carioca e a floresta da Tijuca às
transformações da cidade.
D. João VI preocupado com a crise de abastecimento de água que na época
assolava a cidade determina através de decreto em 9 de agosto 1817 a proibição de
desmatamento da Floresta da Tijuca (ABREU
5
, apud MARTINS, 2002):
5
Minuta do decreto que proíbe que se cortem as árvores, madeiras, lenha e matos em todo terreno que rodeia
as nascentes do rio Carioca, 1817. Biblioteca Nacional, Manuscritos, I 28, 32-4. Apud ABREU, Maurício, A
cidade, a Montanha e a Floresta p. 100. In: ABREU, Maurício de (org.) Natureza e sociedade no Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de
Documentação e Informação Cultural, Departamento Geral do Patrimônio Cultural. Coleção Bairros Cariocas;
volume 21, 1992.
20
coutar de madeiras, lenhas e mato todos os terrenos pelo alto da Serra que
rodeiam as nascentes da água do Carioca, e ao longo do Aqueduto desde a
ultima nascente até o morro de Santa Teresa (...) (ficando) (...) igualmente
coutado o espaço de três braças de terreno de cada um dos lados do
Aqueduto.
Esta deliberação normatiza a primeira área de proteção ambiental da cidade,
envolvendo a proteção da vegetação do corte e do uso dos terrenos situados ao
longo da vertente por onde descia todo manancial de água e representa um dos
marcos iniciais da história das políticas públicas de preservação na cidade.
Figura 3 Edouart Hildebrant, Fonte da Carioca 1844
Uma conseqüência direta da decisão de D. João VI foi a transformação do
bairro em um local ideal para cavalgadas e passeios pelos membros da Corte,
dando origem a representação de um lugar aristocrático em relação à outros lugares
da cidade Debret relata um pouco esta visão em seu livro Viagem Pitoresca e
Histórica ao Brasil (DEBRET
6
, 1972 apud MARTINS,2002).
a viagem ao Corcovado tornou-se um passeio para a Corte, os estrangeiros
e o resto da população ativa, que a isso consagrava o domingo. Com efeito,
esse trajeto, admirável pela variedade do solo, apresenta a cada passo
deliciosas paradas, algumas das quais, procuradas por suas nascentes e
6
DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo: Martins/ Editora da USP, 1972, tomo
II, p. 276. .
21
pela frescura de suas folhagens, são continuamente freqüentadas por
grupos numerosos que ai passam de bom grado o dia inteiro.
O uso desses caminhos e a influência de uma representação de um lugar
saudável aceleram o processo de urbanização de Santa Teresa e à medida que se
generaliza a área passa a atrair um população interessada na construção de
residências. Surgem pequenas propriedades semi-urbanas, chácaras, entendidas
por Paulo Santos (SANTOS
7
, 1977 apud MARTINS, 2002) da seguinte maneira:
Nenhum outro tipo de edifício exprimiu com tanta autenticidade a vida íntima
da gente carioca e o caráter regional de sua arquitetura como a “casa de
chácara”, referida por alguns viajantes como a “casa de campo”, cujo
programa abrangia : casa, senzala, jardim, horta, pomar, poço de água
nativa com cacimba, galinheiro, chiqueiro, estrebaria, com vaca, burro e o
cavalo; estrumeira, cocheira com carro rústico e a sege ou traquitanda; e
toda a série de bichos caseiros : cachorro, gatos, papagaios, viveiros de
pássaros, até mico cada um desses elementos sendo considerado não
como acessório, mas como peça de um sistema, que persistiu vivo e
funcionando até princípios do presente século, e o surgimento da idade
industrial, introduzindo novos valores, acabara por destruir.
Mas essas chácaras vão se adaptando ao novo meio e se misturam com
motivos dos quatro cantos do mundo. Historiando o processo Lucio Costa reitera:
(COSTA
8
,
1975 apud MARTINS, 2002)
Em torno às casas de chácara, onde se juntaram à varanda hindu, já
abrasileirada, os motivos trazidos dos quatro cantos do mundo, também se
reúnem as plantas que crescem por toda a parte onde aportaram as naus
portuguesas, e que, no fundo dos quintais, sobem aos poucos pelas abas
dos morros, misturando-se à mata que desce pela encosta abaixo.
Pouco a pouco, as chácaras situadas ao longo do caminho do aqueduto
foram sendo identificadas pelo nome de seus importantes proprietários, estes nomes
mantiveram-se a posteriori na nomenclatura urbana de Santa Teresa registradas nas
placas como nomes das suas ruas ou largos. A primeira chácara recobrindo o lado
sul do sopé para o alto do maciço era conhecida como chácara da Bica:
[Sua origem] foi uma sesmaria que passou ao capitão-mor Antônio Ramos
dos Reis onde fez casa de vivenda e a capela de Santa Teresa, cujo morro
e propriedades seus herdeiros em 19 de abril de 1762 venderam a José
Velloso do Carmo, que por escritura pública de 2 de setembro do mesmo
7
SANTOS, Paulo – Quatro Séculos de Arquitetura. Barra do Pirai, Rio de Janeiro: Fundação Educacional
Rosemar Pimentel, 1977, p.29.
8
COSTA, cio. Documentação necessária. In: Arquitetura Civil II. São Paulo, AUUSP e MEC-IPHAN, 1975, p.
91-93
22
ano fez dela doação ao Conde de Bobadella para patrimônio das religiosas
de Santa Teresa. (FAZENDA
9
, 1910 apud MARTINS, 2002)
Mais tarde por volta de 1856 influenciado pela elevação do nível econômico
dos habitantes da cidade derivada da cultura de comercialização, a riqueza gerada
impulsionou o desenvolvimento urbano e com isto a transformação do morro Santa
Teresa. Em meados do séc. XIX era conhecido como bairro eclético da burguesia
carioca.
“O Ecletismo era a cultura arquitetônica própria de uma classe burguesa
que dava primazia ao conforto, amava o progresso (especialmente quando
melhorava suas condições de vida), amava as novidades, mas rebaixava a
produção artística e arquitetônica ao nível da moda e do gosto”.
10
A influência eclética começou a ser percebida de forma mais evidente quando
da implantação das casas nos lotes, rompendo radicalmente com a herança
arquitetônica do século precedente. Ditados por preceitos higienistas, sobretudo
após as epidemias que atingiram o Rio de Janeiro na década de 50, os lotes
deixaram de ter sua parte frontal inteiramente ocupada pela construção. O piso dos
edifícios foi elevado em relação ao nível do solo, originando o porão alto, o qual se
abria para a rua através de aberturas protegidas por gradis. Com a introdução dos
porões, a construção afastou-se também de uma das laterais do lote, onde foram
criadas pequenas varandas com escada lateral para vencer o desnível da rua ao
piso da casa (Figura 22 Casa Rua Joaquim Murtinho datada de 1916, p.64),
adornada por um pequeno jardim (MARTINS, 2002).
Nesta breve descrição dos primórdios do surgimento do bairro Santa Teresa
dois pontos marcantes vão contribuir para o desenvolvimento local. Um diz respeito
à área de proteção ambiental e ou outro à construção das casas de chácaras e dos
casarões ecléticos que vão desenhar o perfil arquitetônico e urbano da região.
Com base nesta formação fincada no maciço da Tijuca, ainda com grandes
áreas de vegetação e com presença de um número considerável de casarões
ecléticos, os moradores através de um forte movimento local, se contrapondo às
ameaças dos empreendimentos imobiliários das empresas Gomes Almeida e Sérgio
9
FAZENDA, Vieira. Antiqualhas e memórias do Rio de Janeiro. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, vol 147, 1910, p.557.
10
PATETTA, Luciano – Considerações Sobre o Ecletismo na Europa. Apud FABRIS, Annateresa (org.) –
Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo : Nobel, editora da Universidade de São Paulo, 1987, p. 13.
23
Dourado
11
(ANEXO 3, p.188), pois muitas casas haviam sido demolidas dando
lugar à construção de prédios multifamiliares, pressionaram o poder público. O
resultado foi que em 09 de Janeiro de 1984 através da Lei nº 495 o bairro é
transformado em Área de Proteção Ambiental (APA)
12
, lei regulamentada uma ano
depois pelo Decreto 5.050 de 23 de abril de 1985. As áreas de proteção ambiental
são categorias de Unidades de Conservação instituídas pelo Plano Diretor:
O SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
instituído pela Lei 9.985, de 18 de julho de 2000 e regulamentado pelo
Decreto 3.834, de 5 de junho de 2001 define as UCs como “espaços
territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder
Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção”.
O Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro (Lei Complementar
16/92) definiu oito categorias de Unidades de Conservação e que vinham
sendo adotadas pela SMAC até então. Porém, a partir da instituição do
SNUC, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente vem adequando suas
categorias de Unidades e são estas as atualmente utilizadas:
Ø Área de Proteção Ambiental APA - área em geral extensa, com certo
grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos
ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-
estar das populações humanas e tem como objetivos básicos proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais...
13
Assim Santa Teresa vizinha à majestosa floresta da Tijuca torna-se
novamente um lugar preservado, mas agora não com o objetivo de proteger o
manancial aqüífero, mas sim proteger o espaço urbano construído com suas
particularidades estéticas e culturais, num contraponto ao desenvolvimento urbano
da cidade como um todo, tornado-se um ambiente interessante e de características
peculiares em relação a outros bairros.
Hoje por força de um crescimento substancial que novos usos de forma
irregular aos velhos casarões e também pelo crescimento desordenado das favelas,
assim como certo aquecimento econômico por conta do turismo está em plena
discussão os rumos do Decreto Lei nº495. Cabe lembrar que no ano de 2006 o
Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro estava em fase de revisão e muitas
11
Informação citada pelo arquiteto Alfredo Brito e registrada no documento Audiência publica sobre a legislação
urbanística em Santa Teresa realizada na Câmara dos Vereadores em 17 de junho de 2005
12
RIO DE JANEIRO (Município). Decreto 5.050, de 23 e 24 de abril de 1985. Regulamenta a Lei 495 de 9 de
janeiro de 1984, que transformou o bairro de Santa Teresa em Área de Proteção Ambiental (APA). Diário
Oficial do Município, Rio de Janeiro, RJ, ano XI nº76, parte IV.
13
Instituto Pereira Passos (IPP), Áreas Protegidas. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/ipp/
24
questões com relação à APA tem sido motivo de discordâncias entre os próprios
moradores, que se dividem a favor e contra as mudanças e entre os empresários,
donos dos estabelecimentos comerciais.
Estas discordâncias são frutos das transformações que determinadas áreas
estão sofrendo. Em particular, os restaurantes com perfil de freqüentadores
visitantes têm gerado um aumento de fluxo de pessoas ao bairro que variam
conforme o dia e horário. Segundo pesquisa feita pelo Instituto Theoros
14
, nos finais
de semana durante o dia os freqüentadores são estrangeiros e a noite cariocas que
passam por Santa Teresa antes de se dirigir aos bares da Lapa. Neste fluxo o Largo
do Guimarães, mais precisamente na Rua Paschoal Carlos Magno sofreu certa
valorização, por ser a área de maior concentração de restaurantes com preços
praticados pelos estabelecimentos incompatíveis com a população residente.
Além dos restaurantes, lojas de souvenires para atender a demanda na
procura de produtos artesanais por parte dos turistas também estão em evidência. À
noite com o fluxo aumentado, os camelôs se instalam associado ao perfil das
pessoas que freqüentam, em sua maioria são jovens moradores do bairro e de
outras regiões da cidade. O Largo do Guimarães é uma forte referência local, que
também abriga uma livraria/café chamada Largo das Letras e o cinema Cine
Santa.
É importante ressaltar aqui o trabalho do Instituto Theoros que produziu uma
pesquisa sobre controle de impacto de manejo de visitação, suporte para o projeto
Santa Teresa Território Turístico Sustentável (ANEXO 2, p.187) fornecendo
diretrizes para formulação de uma metodologia de manejo de visitação e controle de
impactos no espaço urbano. Os dados desse trabalho entre outros se refere aos
níveis de impactos desejados tanto pelos moradores como pelos empresários. Vale
a pena apontar aqui alguns resultados desta pesquisa:
15
Impactos negativos temidos pelos moradores: congestionamento; falta de
vagas; aumento dos preços dos serviços; lotação do bonde; sujeira
principalmente durante os eventos Arte de Portas Abertas e carnaval;
atração de assaltantes aumentando a criminalidade.
Impactos positivos esperados pelos moradores: divulgação do bairro;
benefícios econômicos – “dinheiro”; movimento – os moradores dizem que a
14
Instituto Theoros de pesquisa e planejamento em turismo, em agosto de 2004 faz parceria com a Lunuz e
passa a integrar o projeto Santa Teresa Território Turístico Sustentável, responsabilizando-se pelo Controle
de Impacto da Visitação no Bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ. Disponível em:
http://www.santateresa.tur.br/
15
Cf. nota 14.
25
visitação torna o ambiente mais agradável; conservação do patrimônio;
aumento de policiamento afastando a criminalidade em geral; geração de
postos de trabalho – venda de artesanato, emprego, trabalhos informais.
A expectativa dos empresários, a maioria deles ligada aos estabelecimentos
de alimentação e ao artesanato é traduzida pelo aumento do volume de clientes e
dizem que não há “nada de ruim no turismo”.
Impactos negativos esperados pelos empresários: aumento do lixo; atração
de ambulantes; atração de infratores em geral; movimentação
descontrolada.
Impactos positivos esperados pelos empresários: conservação do
patrimônio; aumento da circulação de renda; aumento de postos de
trabalho.
Tomando como referência esta amostra, que busca relacionar as percepções
entre as duas forças estruturantes do bairro, percebemos que os moradores
demonstram uma preocupação mais abrangente com a questão dos visitantes, mas
não totalmente destoante dos empresários. O que não significa que correntes
diversas não tenham discordâncias sobre o assunto, seja pela falta de conhecimento
ou por questões de lutas políticas local.
É importante lembrar que a legislação atual, praticamente não permite a
maioria dos serviços hoje prestados pelos estabelecimentos comerciais. Segundo a
Lei 495, art. 185 são esses os serviços permitidos:
26
Art. 185 Os usos e atividades de serviços são tolerados nos seguintes
logradouros:
Rua Aarão Reis; Rua Almirante Alexandrino (do início até a Rua Santa
Cristina e da Rua Carlos Brandt até a Rua Doutor Júlio Otoni); Rua
Aprazível; Rua Benjamim Constant; Rua Cândido Mendes; Rua Carlos
Brandt; Rua Dias de Barros; Rua Doutor Júlio Otoni; Rua Eduardo Santos;
Rua Felício dos Santo; Rua Fonseca Guimarães; Rua Francisco Muratori;
Rua Hermenegildo de Barros; Rua Joaquim Murtinho (da Rua Francisco
Muratori até o seu final); Rua José de Alencar; Rua Laurinda Santos Lobo;
Rua Monte Alegre; Rua Murtinho Nobre; Rua Paschoal Carlos Magno (do
início até a Rua Felício dos Santos) Rua Paula Matos; Rua Prefeito João
Felipe; Rua Professor Júlio Koeler Rua do Oriente, Rua Santa Cristina; Rua
Santo Amaro; Rua Sílvio Romero; Rua Taylor (da Rua Conde de Lages até
o seu final); Rua Terezina; Rua do Triunfo; Largo do Triunfo; Rua Visconde
de Paranaguá;
§ - Nos logradouros relacionados no caput deste artigo são tolerados
somente os seguintes usos e atividades de serviço:
- Pessoais:
Vestuário - alfaiataria, costureira/ modista; cerzideira/ bordadeira,
- Hospedagem: Pousada; Hospedaria; Pensionato; Pensão (com ou sem
hospedagem)
- Comunitários e Sociais: asilo e recolhimento; associação comunitária;
centro social urbano; creche; instituição beneficente
- Cultura: biblioteca/arquivo; galeria de arte; museu/centro cultural
- Profissionais e Técnicos: atelier de atividade artística; escritório e
consultório de profissional liberal; escritório técnico
16
Mas como toda legislação muitas questões impeditivas levam ao cidadão
buscar alternativas, assim a maioria dos restaurantes tem a autorização de licença
para funcionamento como serviço de hospedagem / pensão.
Outro ponto determinante na proteção ambiental destacada na lei é o que
está previsto no art. 19:
O licenciamento de demolições e de obras em edificações existentes que
venham a alterar fachadas, telhados ou quaisquer partes externas das
mesmas, fica sujeito à autorização prévia da Diretoria de Patrimônio Cultural
e Artístico da Secretaria Municipal de Educação e Cultura.
17
Sobre este aspecto muitas edificações, por dificuldades financeiras de seus
proprietários e ou por espólio de famílias que não mais habitam o bairro, não
conseguem reformar o imóvel conforme as exigências da prefeitura.
Também cabe observar quanto ao parcelamento do solo, as construções, e
seus usos e atividades que estão sujeitos à Zona Especial 3 (ZE-3) descrita no
artigo 183 desta mesma lei, nas três áreas em que ela é subdividida (Mapa 1
16
Cf. nota 12.
17
Cf. nota 12.
27
Zoneamento Santa Teresa, p.179). Nesta somente o uso como residencial
unifamiliar é permitido:
ZONA ESPECIAL – 3 (ZE-3)
Art. 182 A Zona Especial 3 (ZE-3), delimitada pelo eixo 15, compreende
a Área de Preservação Ambiental (APA) criada pela Lei n
o
495, de 9 de
janeiro de 1984 e corresponde ao bairro de Santa Teresa dentro dos limites
da XXIII Região Administrativa, sujeitando-se seus usos, atividades,
ocupações, edificações, construções e parcelamentos do solo às condições
estabelecidas nesta Seção.
Art. 183 - A Zona Especial 3 (ZE-3), para fins de zoneamento, fica dividida
em 3 (três) áreas A, B e C, delimitadas nos anexos 15A, 15B e 15C e
classificados respectivamente como ZR1, ZR-3 e ZE-1.
§ l° - Na área A, classificada como Zona Residencial 1 (ZR-1), o uso
adequado é o residencial permanente unifamiliar.
§ 2 º - Na área B, classificada como Zona Residencial 3 (ZR-3), o uso
adequado é o residencial permanente (uni e multifamiliar) não sendo
permitido hotel-residência.
§ - Na área B, classificada como Zona Residencial 3 (ZR-3), não serão
permitidos grupamentos de edificações, exceto quando se tratar de 2 (duas)
unidades residenciais unifamiliares.
§ - Na área B, classificada como Zona Residencial 3 (ZR-3), situada
acima da curva de nível de 100 m (cem metros) somente serão permitidas 2
(duas) unidades residenciais por lote.
§ 5º - Na área C, classificada como Zona Especial 1 (ZE-1), serão
obedecidos os art. 163 a 167 e 170 deste Regulamento.
§ - Nas edificações de uso residencial unifamiliar situadas nas áreas A e
B, classificadas respectivamente como Zona Residencial-1 (ZR-1) e Zona
Residencial – 3
(ZR-3), será permitida a construção de edícula destinada a dependência de
serviço das edificações, com até 2 (dois) pavimentos a ser computada no
cálculo da taxa de ocupação e da área total da edificação (ATE).
18
Todas estas restrições imprimiram sem dúvida nenhuma a preservação
arquitetônica, que garantiu até hoje a permanência de um grande número de
casarões ecléticos principalmente ao longo da Rua Joaquim Murtinho (Figura 21
Capa do catálogo registro do casario Rua Joaquim Murtinho, p.63).
Os mecanismos legais por um lado garantiu que naquele momento houvesse
uma descaracterização do ambiente urbano, mas hoje não acompanha uma série de
demandas e necessidades que podemos constatar com a “Agenda 21 local de Santa
Teresa”
19
. Nela algumas recomendações no que diz respeito ao patrimônio
arquitetônico e urbanístico foram apontadas, e uma delas fala da revisão urbanística
18
Cf. nota 12.
19
Agenda 21 Local é um conjunto de diagnósticos e recomendações para o desenvolvimento sustentável
elaborado com a participação de toda a comunidade pela ONG Viva Santa.
28
e edilícia, criação de linhas de financiamento e incorporação das favelas à malha
formal do bairro.
20
Recomendações:
Revisar a legislação urbanística e edilícia de Santa Teresa, visando o
respeito e a valorização das características e peculiaridades do bairro, e
aspirações dos moradores.
Garantir a participação de representantes da comunidade no processo de
revisão da legislação e de sua implantação futura, beneficiando-se do
previsto no Estatuto da Cidade.
Propiciar a criação ou aplicação de linhas de financiamento visando: a
preservação e valorização do patrimônio arquitetônico e urbanístico; a
ocupação e revitalização adequada dos vazios urbanos; a permanência da
população residente hoje no bairro.
Criar e instalar escritório técnico na XXIII Região Administrativa para
orientar moradores e empreendedores e colaborar, junto aos órgãos
competentes, na fiscalização e controle da legislação urbanística e edilícia
referente ao bairro.
Estimular a incorporação à estrutura formal do bairro das comunidades de
favela, evitando tanto a sua expansão quanto à sua degradação.
Santa Teresa está inserida na área de planejamento 1 (AP-1) que congrega
15 bairros e 6 regiões administrativas. O bairro pertence à XXIII Região
Administrativa e possui uma população de 41145 habitantes.
21
20
CF. nota 19.
21
Instituto Pereira Passos. Fonte IBGE. Censo Demográfico 2000 - base de informações por setor censitário.
Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/ipp/
29
Figura 4 Área de Planejamento 1
Segundo o IPP a AP-1 é uma área que compõe fortes elementos
estruturantes com a presença de vários equipamentos, tais como instituições,
transporte, lazer, saúde, educação, além de abranger o centro histórico da cidade,
mas seus problemas têm causado dentre outras coisas uma perda da população
residente e de atividades econômicas;
XXIII SANTA
TERESA
São Cristovão
Portuária
Centro
Rio
Comprido
Paquetá
30
Os principais problemas da AP 1 são:
Segregação de usos com restrições ao residencial, situação que, ao longo
dos anos, gerou uma cultura de desestímulo à moradia nessa área, apesar
de suas vantagens;
Perda de população residente e de atividades econômicas, resultando na
degradação da área (bairros periféricos ao Centro);
Existência de áreas críticas de segurança, relacionadas principalmente aos
corredores viários próximos às favelas;
Ocupação dos espaços públicos por atividades econômicas e ambulantes;
Existência de população de rua, principalmente no Centro;
Grande quantidade de ônibus, vans e automóveis que circulam e
estacionam no Centro;
Falta de manutenção dos espaços públicos e uso inadequado desses
espaços pela população (lixo);
Áreas vazias e subtilizadas remanescentes de obras viárias, de
urbanizações não concluídas ou por esvaziamento econômico;
Expansão das favelas.
22
Com base nestes dados as diretrizes urbanísticas previstas no relatório do
IPP, apontam para a intensificação da oferta de equipamentos culturais, de
entretenimento, de turismo e hotelaria para Santa Teresa, reafirmando seu potencial
no tocante ao turismo e à cultura
.
2.2 Dos Salões Literários À Arte Pública
Santa Teresa um modus vivendi
(...) Há, entretanto outras ruas, que nascem íntimas, familiares, incapazes
de dar um passo sem que todas as vizinhas não saibam. As ruas de Santa
Teresa estão nestas condições. Um cavalheiro salta no Curvelo vai a até
o França, e quando volta todas as ruas perguntam que deseja ele, se as
suas tenções são puras e outras impertinências íntimas. Em geral, procura-
se o mistério da montanha para esconder um passeio mais ou menos
amoroso. As ruas de Santa Teresa é descobrir o par e é deitar a rir
proclamando aos quatro ventos o acontecimento (...)
João do Rio (RIO, 1908).
O ar bucólico, os casarões de estilo eclético e outras moradias de aspectos
surpreendentes, localizadas em lugares inimagináveis aos olhos do visitante, as ruas
de paralelepípedo, outras ainda em pedra de mão e o bondinho que desliza pelos
trilhos constituem elementos importantes da paisagem construída do bairro de Santa
Teresa.
22
Instituto Pereira Passos. Relatório sobre o Plano Diretor Decenal - subsídios para sua revisão, 2005.
Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/ipp/
31
Implantado em parte da floresta da Tijuca, sempre foi um lugar cobiçado por
aqueles que se interessava por uma melhor qualidade de vida devido à facilidade de
acesso aos cursos de água naturais. O bairro foi responsável pelo abastecimento de
água da cidade do Rio de Janeiro desde os seus primórdios durante muito tempo.
Santa Teresa celebra em sua história importantes passagens que no
processo de construção, destruição e reconstrução deram idéia de modernidade e
implementaram o desenvolvimento de uma paisagem onde elementos naturais
associados a elementos arquitetônico-urbanísticos promoveram um espaço de
características singulares em relação aos demais bairros da cidade.
O bairro em suas práticas sociais tinha por tradição a abertura das
residências aos salões literários, fato que atraiu no ano de 1837 o Barão de Mauá
que transformou sua residência em um destacado ambiente cultural, onde estiveram
presentes importantes figuras do Império (MARTINS, 2002).
Em 1886 o dico homeopata Joaquim Murtinho, proprietário da indústria
Mate Laranjeiras mais tarde Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas (1896),
Ministro da Fazenda (1899) e maior acionista da Companhia Ferro Carril Carioca,
adquire em leilão um casarão da Rua Murtinho Nobre, atual Parque das Ruínas
(MARTINS, 2002). Na virada do século este passa a ser um dos endereços mais
conhecidos da cidade, pois a prática semanal de abertura de residências era muito
comum entre políticos importantes.
Com sua morte, a herdeira e sobrinha Laurinda Santos Lobo ganha
notoriedade como referência na vida cultural da cidade, pois em seus salões
literários passam personagens célebres do meio artístico e cultural, como o
compositor Heitor Villa-Lobos. Com essa prática ela desencadeou um processo,
pode-se dizer de “democratização cultural” e sua residência passou a ser conhecida
por “Salão Mundano da Marechala” (Figura 5), como ela era tratada pelo cronista e
amigo João do Rio. Com a “Marechala” Santa Teresa passa a ser um dos bairros
mais conhecidos da belle époque carioca e o palacete na Rua Murtinho Nobre
tornou-se um dos três endereços mais citados na bibliografia social da cidade
(MARTINS, 2002).
32
Figura 5 Emilio Cardoso Ayres – caricatura do Salão Mundano da Marechala
A influência européia a partir de meados do séc. XIX, que norteou a ocupação
do bairro de Santa Teresa contribuiu para a mudança da paisagem natural,
arquitetônica e urbanística, até então tipicamente colonial. A abertura das vias de
comunicação e o parcelamento das chácaras desenharam o perfil da população que
por aqui se instalava, em sua maioria de classes mais abastadas que vinham em
busca de uma vida mais tranqüila consolidando assim a forma física do bairro
(MARTINS, 2002).
No governo Pereira Passos Santa Teresa recebe o primeiro projeto turístico
do Brasil, a estrada de ferro Cosme Velho Corcovado. Associado à valorização do
ambiente natural, das águas, das florestas, do clima, o bairro passaria a atrair a
instalação de importantes hotéis, que estimularam o desenvolvimento dos bondes e
de intercâmbios com outras áreas urbanizadas: Rio Comprido, Catumbi, tima,
Lapa, Gloria, Catete, Laranjeiras e Cosme Velho. (MARTINS,2002)
Com essas melhorias a hotelaria passa a desempenhar um papel substancial
no desenvolvimento e na transformação de Santa Teresa. Muitos hotéis fizeram
história na cidade, em especial o Hotel Internacional que no seu apogeu abrigou
Isadora Duncan e Nijinsky mostra que o bairro sempre teve presença significativa de
artistas. Em 1930 em decadência devido o crescimento da cidade em direção ao
mar, o edifício em condições precárias atraiu o casal húngaro Arpad Szvenes e a
33
portuguesa Maria Helena Vieira da Silva que transformaram o hotel em um grande
atelier de pintura, quase uma escola de artes plásticas. Neste hotel eles receberam
pintores, músicos poetas e literatos artistas brasileiros entre os quais Cícero Dias,
Djanira, Milton da Costa, Emeric Mercier, Heitor dos Prazeres e Carlos Scliar
(MARTINS, 2002).
O bairro particularmente na segunda guerra mundial, tornou-se refúgio
favorito de artistas europeus, muitos deles estimulados por Portinari residente em
Paris desde 1929, que fugiam do conflito. Mais tarde um outro edifício na antiga
Rua Mauá, hoje Rua Pascoal Carlos Magno, abriga a Pensão Mauá que veio a
desempenhar na década de 1950 o papel do antigo Hotel Internacional. No
estabelecimento, hoje ocupado pelo Colégio São Tomás de Aquino foi instalado um
edifício de dois pavimentos, construído num lote em declive, o que permitiu a criação
de um porão e um terceiro andar, na parte baixa da pensão. Não se tem noticias da
data exata, mas neste porão funcionou a molduraria do pintor japonês Tadashi
Kaminaga. A pintora Djanira uma das inquilinas sublocava seu espaço para outros
moradores, oferecendo-lhe pensão. Entre os inquilinos e comensais, estavam
Emeric Marcier, Inimá de Paula, Milton Dacosta e o poeta Manuel Bandeira
(MORAES, 2005).
Assim, a imagem natural de hospitalidade construída em Santa Teresa
conjugou-se à função residencial, cuja estruturação se imbricou ao desenvolvimento
dos hotéis e ao aprimoramento de seus usos. Inicialmente o bairro atraía pela
comodidade e amplitude dos espaços de suas arquiteturas, implantadas numa
geografia de exuberante natureza que permitia a contemplação. Com o
aprimoramento técnico subseqüente os hotéis ganharam em conforto, e tornaram-se
efetivos espaços de sociabilidade. Em outras palavras, incorporaram ao sentido
transitório de sua essência original, o da permanência, afetando inclusive — e
modernizando — a própria idéia da função residencial (MARTINS, 2002).
Aos poucos não somente os hotéis, mas os casarões e outras residências
passam a incorporar uma ambiência favorável à instalação de uma vida onde a arte
se vê intrinsecamente ligada à crônica do cotidiano.
Tudo isto vem acompanhado por alguns paralelos em escalas internacional e
nacional de uma profunda transformação nas artes e na cultura percebido no Brasil,
sobretudo por meio do movimento modernista que teve seu marco simbólico na
“Semana de 22”.
34
Os recentes caminhos da arte e cultura
Para melhor entender o espírito dos modos de vida colocados em ação pela
modernidade, que trouxeram transformações diferenciadas nas formas tradicionais
de ordem social nos valemos do que Marx disse sobre a modernidade: (MARX
23
,
1973 apud HALL 2003, p.14).
...um permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas
as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos... Todas as
relações fixas e congeladas, com seu cortejo de vetustas representações e
concepções são dissolvidas, todas as relações recém-formadas envelhecem
antes de poderem ossificar-se. Tudo que é sólido se desmancha no ar...
As sociedades modernas são por definição sociedades de mudança
constante, rápida e permanente. David Harvey nos fala também dessa modernidade
como: (HARVEY, 1992, p.22)
...uma implacável ruptura com todas as condições históricas precedentes,
caracterizada por um interminável processo de rupturas e fragmentações
internas.
Nesse ambiente de transformações, os usos dos espaços em Santa Teresa
cada vez mais vão adquirindo novas identidades e aquele lugar antes ocupado por
residências conjuga-se a uma outra função, a do trabalho. Mas não do trabalho
embrutecido imposto pela lei inexorável da produção capitalista, mas neste caso o
trabalho lento e silencioso promovido pelo artista. O trabalho que permite
compartilhar e que caminha de uma produção imaterial à produção material
traduzida no objeto da arte.
Santa Teresa então segue atrelada e compelida a acompanhar as fortes
exigências de uma metrópole na periferia do capitalismo em tempos da chamada
“globalização” e chega à década de 90 com os problemas típicos de um bairro
dentro de uma cidade metropolitana. Os problemas sociais oriundos de uma
crescente favelização do seu entorno, coloca o bairro em desafios nunca antes
imagináveis.
Ao mesmo tempo novas formas de organização nas artes visuais vão
surgindo. A arte passa a não ocupar somente o espaço museificado, mas se
23
MARX, K. e ENGELS, F. The Communist Manifesto. In. Revolution of 1948. Harmondsworth: Pequim Books
1973.
35
expande e ocupa o espaço da cidade, invertendo muitas vezes significados
anteriores. Sintetizando estes sentidos nos remetemos ao conceito de imaginação
públicaapresentado por Josefina Ludmer
24
que a define como uma força coletiva
que se traduz no trabalho social de construção do presente e nas tendências atuais
das artes.
A imaginação pública fabrica, elaboram “regimes de significação”, modos de
fazer e pensar (sobretudo, de ver) que produzem presente. O blico é tudo
o que circula e o que está fora e dentro é social e privado ao mesmo tempo
e rompe com muitas oposições e binarismos.
Josefina Ludmer também fala da “cidade como cenário do presente” e neste
sentido podemos entender que a imaginação pública fabrica em Santa Teresa um
presente identificado pelos modos de dizer e pensar voltado para as artes.
Giulio Argan busca relacionar a criação da obra de arte como uma produção
necessária ao espaço urbano e trata da questão da “história da arte como história da
cidade”. (ARGAN, 1993)
A obra de arte determina um espaço urbano: O que a produz é a
necessidade, para quem vive e opera no espaço, de representar para si de
uma forma autêntica ou distorcida a situação espacial em que opera”.
O pensamento Giulio Argan é uma proposta à restituição do indivíduo à
capacidade de interpretar e utilizar o ambiente urbano de maneira diferente daquela
imposta pelo projeto.
(...) a cidade moderna deve realizar a passagem da dureza das coisas à
mobilidade e mutabilidade das imagens.
Ele sinaliza a necessidade de participação dos artistas visuais na construção
e na gestão do ambiente urbano. Também destaca a necessidade de transformação
das artes visuais em urbanismo, ou seja, em visualização do espaço urbano.
(ARGAN, 1993, p.220)
24
Esta definição foi referenciada de uma mini entrevista que Josefina Ludmer concedeu à Flora Süssekind e que
foi apresentada por Heloisa Buarque de Hollanda no curso “Da noção de cultura pós moderna à idéia de
cultura em processo” segundo semestre de 2004 realizado no PACC-UFRJ.
36
Os (as) artistas deveriam ter a chance de participar dos processos de
planejamento propriamente dito, o que significa que os responsáveis devem
dar-lhes a possibilidade de intervenção no contexto real e efetivo,
aceitando-os (as) como parceiros ativos.
Hoje parece que de alguma maneira a questão levantada por Josefina
Ludmer e Giulio Argan corresponde ao que os artistas incorporaram ao seu trabalho.
Trazendo para fora o que estava dentro, invertendo papéis e ocupando espaços não
institucionais projetando-se na cidade por meio de uma programação cultural da qual
emergem como protagonistas.
O princípio sico e indispensável dessa arte é a criação de obras artísticas
do tipo sitespecific produzidas exclusivamente para determinado lugar, figurando
como paradigma para quase todos os empreendimentos na área urbana.
No caso de Santa Teresa dois projetos respondem a esta participação ativa
dos artistas no espaço urbano. Um deles é o “Prêmio Interferências Urbanas”
surgido em maio de 2000 e o outro o 1º Encontro de Coletivos Chave Mestra,
organizado em 2004.
Os atuais movimentos artísticos promovem essas novas formas de atuação
com o intuito de abrir espaços, estimulando a comunicação incentivando as pessoas
e a participação do público. A intervenção urbana dialoga com o espaço da cidade e
introduz inflexões poéticas, questionamentos sexuais, sociais, políticos ou estéticos
na arena pública. Incorpora-se na “arte pública” a espontaneidade, o diálogo com o
local, quebra do protocolo “sério” da arte convencional, participação do público,
temporalidade volátil, ênfase nas sensações e interpretação aliadas a um não à
“monumentalidade”.
Hoje artistas como os dos coletivos de arte transgridem os códigos de
urbanidade e produzem interferências urbanas cuja dinâmica de trabalho,
referenciamos aqui através do manifesto do grupo Coro de São Paulo e que traduz
muito bem o espírito do movimento neste novo cenário das artes:
37
Quem trabalha em coletivo já tem disponibilidade intrínseca de troca e
respeito ao outro.
Quem trabalha em coletivo pensa a coletividade.
O coletivo possibilita a compreensão de diferentes e novas formas de
organizações.
Redes colaboradoras só existem na coletividade, mais informação, mais
conhecimento, mais experiências e mais arte circulam.
A arte fortalecida no coletivo pode ter seu potencial amplificado e mais
amplamente difundido. Extraído do manifesto CORO
25
Flavia Vivacqua e Sofia Panzarini
O manifesto afirma o potencial social da arte, pelo aspecto da necessidade da
arte como pela relação com o trabalho coletivo, diferentemente das formas
tradicionais de expressão artísticas individualistas. Ver e atuar nesse padrão
possibilita a interação com a história e as peculiaridades locais específicas, pois os
artistas pesquisam, documentam e incentivam os discursos atuais com a população.
Um exemplo de ação coletiva de arte desenvolvida durante o 1º Encontro de
Coletivos Chave Mestra é a do grupo Entorno de Brasília. O trabalho Terras da
União (Figura 6) foi literalmente distribuído em saquinhos plásticos gravados com a
imagem de personagem fictício, identificado como candidato do "Entorno", ao
mesmo tempo em que o público era convidado a não votar no candidato (esta ação
aconteceu uma semana antes das eleições de 2004).
25
O CORO é uma rede de artistas que aglutina coletivos de arte em atividade no Brasil. Refletindo sobre as
questões do trabalho coletivo e compreendendo que aglutinações estão se dando socialmente nas micro e
macro estruturas do globo. O CORO teve origem em São Paulo pelo Horizonte Nômade, começou a se
articular em meados de 2003 a partir de um levantamento dos coletivos brasileiros na busca de unir artistas
que trabalham em ações coletivas pelo país. Disponível em:
http://br.groups.yahoo.com/group/coro-coro/
38
Figura 6 Candidato do entorno distribui terra da União
As ações coletivas podem ser realizadas sob aspectos políticos, sociais e ou
estéticos, a depender do artista e das motivações locais, mas sua atuação está
voltada principalmente para ações diretas de encontro e embate com o público e o
espaço, em geral por meio de intervenções abertas que chamam a atenção para
paisagens esquecidas das cidades remetendo a estratégias situacionistas
26
. Os
situacionistas buscavam uma religação afetiva com os espaços desvitalizados.
(JACQUES, 2003, p. 22)
Nesse religar afetivo considerando a questão dos espaços urbanos, como
bem lembra Claudia Büttner (2002, p.85) pode estar uma forma de arte a ser
assimilada em público e que representa, sobretudo o próprio cidadão no espaço
público e que parece ser uma das funções mais importantes da arte pública numa
democracia; “não é o aspecto artístico do resultado que define o trabalho e sim o
processo participativo”.
26
Internacional Situacionista (IS) movimento contestador surgido em 1957, cuja atuação foi marcante em todo
processo de luta política, ideológica e cultural que culminou nos acontecimentos de 1968. Guy Debord era seu
pensador mais influente e que publicou em 1967 o livro A Sociedade do Espetáculo
39
Essa visão coloca a importância do conteúdo para os processos de
integração e adaptação da arte em contato com a população local. Podemos afirmar
que a “arte pode ser necessária”, ela dispõe de certa força comprovada pela sua
capacidade de reagir diante de novas circunstâncias. Ultrapassando o seu caráter
espetacular, a função da arte que se resumia tradicionalmente em monumentos e
símbolos, acaba sendo redefinida diante da opinião pública (BÜTTNER, 2002, p77).
O “Arte de Portas Abertas, Projeto Interferências Urbanas e as Ações
Coletivas de Arte estão combinados com as questões essenciais do mundo
contemporâneo e apontam para alguns possíveis traços da sociedade urbana e não
mais para objetivos comuns a grandes grupos, antes representados pela utopia
socialista, mas para aquilo que Foucault chamou de micro poderes. A luta social
passa agora pelas inúmeras esferas constituídas por campos profissionais ou por
coletivos específicos. (COCHIARALE, 2003)
3. OS EVENTOS E SUA ESPACIALIZAÇÃO
3.1 O Evento Arte de Portas Abertas
A experiência do Arte de Portas Abertas
Em 1996 um grupo de artistas, mobilizado pela necessidade de contestar a
imagem negativa do bairro que então se manifestava pela mídia como inseguro
27
resolve, sob inspiração de outro evento que acontecia em Cambridge na Inglaterra,
Open Studios
28
, abrir seus ateliês para visitação pública, organizado no evento “Arte
de Portas Abertas”.
A idéia de se contrapor ao que a mídia explorava do bairro vem acompanhada
de uma história que remete às transformações do espaço urbano em outros
períodos. Evidenciamos aqui o espírito que desde o Império os proprietários de
importantes casarões tinham em abrir suas residências para os chamados salões
literários. Estes eram eventos em que participava toda a intelectualidade brasileira,
que o bairro era o preferido das classes mais abastadas e por aqui se
encontravam importantes figuras do Império e mais tarde da República.
Um pouco mais adiante outro fenômeno merece destaque: o papel
substancial que a hotelaria desempenhou no desenvolvimento e na transformação
de Santa Teresa, bem como na consolidação da imagem “serrana” do bairro.
Esta imagem está associada à prática de alugar ou adquirir mansões e
palacetes para hotéis, que se intensificou quando os então bairros do Catete,
27
A imagem de insegurança em Santa Teresa está ligada as mais de 12 favelas que circundam o bairro.
28
Open Studios é um evento semelhante ao “Arte de Portas Abertas” onde os artistas abrem seus ateliês,
organizados por uma estrutura institucional associativa tal qual a Chave Mestra (Associação dos Artistas
Visuais de Santa Teresa).
41
Botafogo e Jardim Botânico na zona Sul; Andaraí Pequeno na zona Norte; e Santa
Teresa nas vizinhanças do centro da cidade passaram a ser servidos pelos bondes
no final do séc. XIX (MARTINS, 2002).
Os proprietários, quase sempre estrangeiros, conseguiram com isto
apresentar aos hóspedes mais conforto livrando-os do ruído do trânsito e do barulho
nos mercados e nas ruas centrais.
A partir de meados da década de 1930 até o final da década seguinte ocorre
a saída de antigos moradores do bairro para a orla, que se constituía no
desenvolvimento dos bairros balneários cariocas, quando acontece um desinteresse
do capital imobiliário em relação às áreas verdes, próximas à floresta.
Seduzidos pela publicidade que cercava a área marítima, moradores de Santa
Teresa fechavam suas antigas residências a fim de “experimentar” a novidade de
residir no lugar da moda na cidade. Esse movimento migratório foi marcado também
pelo ingresso, em Santa Teresa, dos moradores de menor poder aquisitivo, expulsos
dos bairros da orla justamente pela valorização econômica ali registrada.
O perfil da população foi se alterando e os casarões e casas familiares
passam a ser ocupados mais pontualmente por artistas, que vinham em busca de
espaços mais amplos e tranqüilos a preços mais accessíveis para aluguel e compra
de imóveis.
Assim Santa Teresa deixa de se constituir como o lugar predileto para os
serviços de hotelaria. Importantes hotéis passam a ser ocupados por um outro perfil
de público a exemplo do Hotel Internacional cujos proprietários e artistas Arpard
Szenes e Maria Vieira da Silva abrem espaço para receber e fixar ali ateliês de
artistas renomados.
Esse espírito continuou em períodos posteriores em outros hotéis como é o
caso da Pensão Mauá pela qual passaram Cícero Dias, Djanira entre outros.
Paralelamente tem início o processo de favelização do bairro, que passa a
abrigar um contingente cada vez mais numeroso de população pobre atraídos pelas
oportunidades de trabalho na construção civil na cidade que se evidencia na década
de 40.
Essa transformação foi alterando gradativamente a imagem do bairro e na
década de 90 o conflito social instaurado pela nova dinâmica do tráfico de drogas
ocupa de forma mais dramática as áreas periféricas do mesmo.
42
Insatisfeitos com a imagem negativa do bairro alguns moradores liderados por
Renata Bernardes, da ONG “Viva Santa”
29
, iniciam em 1995 um trabalho de
pequenas ações, tais como mutirão de limpeza junto às comunidades das favelas,
reuniões com moradores para solucionar problemas do cotidiano do bairro. Estas
ações tinham a intenção de constituir outras representações, que a associação de
moradores se encontrava esvaziada e inoperante. Uma das principais questões
levantadas por este grupo de moradores, que tinha em torno de 15 pessoas,
segundo Renata Bernardes, era a questão de segurança (informação verbal).
30
Nesta mesma época começa a ser desenvolvido o programa Favela Bairro
31
no Morro dos Prazeres, uma das principais favelas inseridas no bairro Santa Teresa.
Por se tratar de um projeto social, inicia-se uma nova fase na interlocução com o
poder público e uma série de reuniões com arquitetos, urbanistas, representantes da
Prefeitura e da comunidade, promovem discussões regulares e mais ampliadas
sobre questões que afetavam o bairro como um todo. Também segundo Renata
Bernardes, naquele momento se caracteriza mais efetivamente para o poder público
uma série de preocupações que os moradores vinham tendo com a questão de
segurança e de conservação do bairro, mas sem resultados em termos de
contrapartida ou solução tanto por parte da Prefeitura como pelo Estado (informação
verbal).
Mas este grupo de moradores continuou se perguntado o que poderia ser
feito. No inicio de ano de 1996 devido ao assassinato de uma moradora, a situação
de medo se agrava e esse mesmo grupo de moradores, inconformados com a
situação e com a imagem negativa que o bairro constituía, permanecem
promovendo reuniões e buscando soluções para estas questões.
Até que um dia em conversa informal, Clara Artaud que havia chegado
recentemente da Inglaterra e era artista e moradora de Santa Teresa trouxe a idéia
do projeto Opens Studios, de abertura de ateliês para o público, tal como acontecia
em Cambridge.
29
A ONG Viva Santa surgiu em 1995 organizada por um grupo de pessoas inspirada em outra ONG Viva Rio
com o objetivo de propor ações para revitalizar a imagem do bairro Santa Teresa e somente em 1997 é
constituída juridicamente.
30
Informação verbal extraída da entrevista com Renata Bernardes, 2005. Quadro 4 – Atores entrevistados.
31
Favela Bairro Programa de urbanização de favelas da cidade do Rio de Janeiro que se compõe de projeto e
obras de infra-estrutura, construção de creche, pavimentação, contenção, iluminação pública, áreas de lazer e
regularização fundiária.
43
A idéia logo seduziu o grupo e imediatamente organizaram a edição do
“Arte de Portas Abertas”, que aconteceu nos dias 12 e 13 de outubro de 1996
(Figura 7). Num trabalho boca a boca o evento contou com a abertura de dezesseis
ateliês de artistas convidados, que faziam parte do círculo de amizade deste mesmo
grupo organizador. No início alguns artistas tiveram resistência em abrir seu atelier
com medo, devido aos problemas de segurança pelo qual o bairro passava.
Figura 7 Frente e verso da 1ª Edição do Arte de Portas Abertas
44
Mas o sucesso foi tanto e os artistas ficaram o entusiasmados que segundo
o presidente da Chave Mestra, Julio Castro (informação verbal) logo no mês
seguinte em novembro, promoveu-se a edição do ADPA (Figura 8).
Figura 8 - 2ª edição Arte Portas Abertas
45
Logo a imagem do bairro sai da exclusividade das ginas policiais e passa a
ocupar também o espaço de cultura dos principais jornais cariocas (Figura 9 e Figura
10). Trata-se, no plano simbólico e político, de uma disputa de imagens construídas
socialmente (SÁNCHEZ, 2003).
Figura 9 Miguel Paiva charge sobre a violência em Santa Teresa anos 90
46
Figura 10 Mídia após surgimento do Arte de Portas Abertas
Estas duas primeiras edições foram o suficiente para desencadear a
participação de outros atores. Surge agregado ao evento, na edição em maio
de 1997 o “roteiro gastronômico” e o “serviço de vans”, este último com o objetivo de
levar o visitante a percorrer todos os ateliês do circuito.
Em novembro de 1997, na edição surge um outro fenômeno, que
demonstra a preocupação em trazer para o bairro outras referências de arte.
Pela primeira vez se promove um intercâmbio do movimento artístico de
Santa Teresa com artistas de outros países através do programa “Mostras
Especiais”, criado pelos organizadores, começando por Lisboa e Paris. Cinco
artistas portugueses e dez franceses participam do roteiro instalado em dois espaços
do bairro descritos no mapa-convite do evento da seguinte forma:
47
Centro Cultural Laurinda Santos Lobo
“Portas Abertas à Arte Portuguesa” - panorama da arte portuguesa
contemporânea, com pinturas de Inez Teixeira, Maria Tomás, Urbano e
Antônio Hernandez Vaz e tapeçarias de Inês Carvalho.
Galeria HB 195
“Montmartre visita Santa Teresa” coletiva de artistas que participam do
evento Galeries & Ateliers Ouverts de Montmartre. Pinturas, gravuras e
técnicas mistas de Isabelle de Pavant, Frédéric Ardiet, DaphMassenet,
Sophie Pons de Pavanta, Dominique Pons, Josette Trublard, Stéphan
Jeanneau, Jean Pierre Guillard, Hernando Herrera e Rié Yagura.
Além destes, também foi incorporado na mostra o Museu Chácara do Céu e o
Museu Casa de Benjamim Constant, interagindo com espaços culturais existentes
no bairro, com exposição de seus acervos, e importantes apoiadores como o
Consulado Geral da França, Air France e Pincéis Tigre.
Nesta dinâmica um aumento de ateliês integrados ao projeto se evidencia,
mas também um grande número de espaços fora do circuito oficial começa a
aparecer, atuando de forma paralela ao evento. Desde o início o evento Arte de
Portas Abertas tem como proposta abrir para o blico o atelier do artista, mas para
aqueles que tivessem seu ateliê instalado no bairro pelo ao menos seis meses.
Este critério permite certa regularidade na produção do artista, preocupação cada
vez maior por parte dos organizadores, no sentido de poder oferecer ao visitante um
evento com boa qualidade na produção das artes visuais. Cabe lembrar que os
espaços fora do circuito oficial nem sempre são de características que atendam os
critérios do evento, e surgem com produtos de venda voltados mais para o
artesanato.
Acompanhando esta preocupação, colocando o evento numa discussão frente
às novas demandas da cultura no mundo globalizado, em maio de 1998, na
edição, se promove um debate intitulado: “O Poder da Cultura – a cultura no
coração do desenvolvimento” - a experiência de revitalização do bairro de Santa
Teresa através da arte, à luz do tema da Conferência da Unesco realizada em abril
de 1998 em Estolcomo.
32
O debate que foi aberto ao público em geral teve a participação de
importantes representantes da arte e cultura carioca; Helena Severo Secretária
Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, Regina Zappa - editora do Caderno B do
Jornal do Brasil, Frederico Morais- Crítico de Arte, Fayga Ostrower artista plástica
32
Mapa convite da 5ª edição do Arte de Portas Abertas.
48
e Pedro Leitão Presidente do Viva Santa. Infelizmente não se tem registro das
falas dos debatedores. Mas em se tratando de cultura ressaltamos aqui alguns
direitos traçados na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural
33
proclamada pela UNESCO, tema da palestra. É uma reafirmação dos vários direitos
baseados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outros instrumentos
universalmente reconhecidos. Os dois Pactos Internacionais de 1966 relativos
respectivamente aos direitos civis e políticos e aos direitos econômicos, sociais e
culturais e diz o seguinte:
A cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos
espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma
sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras,
os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as
tradições e as crenças.
Destacamos que a cultura nos termos acima estava sendo entendida pelos
artistas neste caráter mais abrangente, à medida que por meio dela,
compreendendo aqui o campo das artes visuais, estruturou-se o caminho para
evidenciar os modos de vida locais, em contraponto à imagem de insegurança que
permeava o bairro antes do Arte de Portas Abertas, principalmente dos anos 80 e 90
para cá.
Neste mesmo documento a UNESCO proclama o seguinte princípio:
Artigo 2 – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural
Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável
garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades
culturais a um só tempo plural, variadas e dinâmicas, assim como sua
vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação
de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade
civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a
resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparável de um
contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios
culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a
vida pública.
34
O conjunto de princípios delineados sobre a diversidade cultural também é
colocado em destaque quando se incorpora diferentes ações, como é o caso do
33
Declaração universal sobre a diversidade cultural proclamada pela UNESCO - definição conforme as
conclusões da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais (MONDIACULT, México, 1982), da Comissão
Mundial de Cultura e Desenvolvimento (Nossa Diversidade Criadora, 1995) e da Conferência
Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o Desenvolvimento (Estocolmo,1998). Disponível em:
http://www.unesco.org.br/areas/cultura/divcult/dcult/mostra_documento
34
Cf. nota 33.
49
roteiro gastronômico, que hoje vem se evidenciando independente do Arte de Portas
Abertas, mediante o aumento de restaurantes de cozinha típica brasileira e
internacional. Mas esta diversidade também pode ser evidenciada com as ações de
intercâmbio numa tendência a entrar em sintonia com valores culturais
contemporâneos e globalizados.
O evento vai se consolidando e os artistas cada vez mais percebem a
necessidade de interagir com o meio social e atuar além das artes e das letras,
reforçando o conceito de cultura e de diversidade cultural definido pela UNESCO,
favorecendo a inclusão de outros grupos sociais.
Como conseqüência na edição em novembro de 1998, se cria o projeto
“Jovens Aprendizes”, em parceria com a ONG “Viva Santa”
35
, 25 alunos das escolas
públicas do bairro são selecionados para fazerem um estágio durante três meses em
16 ateliês, recebendo bolsas-auxílio patrocinadas por uma instituição bancária.
Banco Boa Vista.
36
. A partir desta iniciativa se consolida um grupo de estudantes
que vai acompanhar o Arte de Portas Abertas em quase todas as edições seguintes.
O projeto “Jovens Aprendizes” (Figura 11) atuou durante várias edições, mas
na edição seguinte os jovens são incorporados como “guias aprendizes”,
fazendo atividade de orientação do público visitante aos ateliês durante o evento. Os
estágios nos ateliês continuam até o ano de 2004, quando foi interrompido por
motivo de mudanças na organização do evento. Mas a atividade de guia permanece
até o último evento em julho de 2005. Por ele passaram cerca de 80 jovens entre 12
e 18 anos. Da turma inicial de 25 alunos, se mantiveram no projeto 16 alunos até
2004.
35
Jovens Aprendizes é uma iniciativa dos artistas participantes do Arte de Portas Abertas para alunos das
escolas públicas do bairro com o objetivo de oferecer estágios de curto prazo nos ateliês, promovendo um
primeiro contato dos jovens com o ofício da arte, elaborado em parceria com a ONG Viva Santa.
36
Mapa convite da 6ª edição.
50
Figura 11 Projeto Jovens Aprendizes
Ainda na 6ª edição uma importante exposição é realizada “Paisagens da
Alma” litografias (Figura 12) de Fayga Ostrower, falecida em setembro de 2001
37
,
que havia participado do debate na edição anterior ganha destaque nesta edição.
A exposição apresenta trabalhos de litografias e serigrafias, gravuras que segundo
Carlos Martins está na gênese do abstracionismo:
Suas gravuras, desenhos e aquarelas ampliaram as possibilidades do fazer
artístico. Fayga está na gênese do abstracionismo no país; um de seus
grandes méritos foi o de propor-se ousadamente, no início dos anos 50, a
uma prática em que as "estruturas de espaço" e "problemas de forma" eram
mais importantes do que a figura, até então um dogma na arte brasileira.
Atuou também como educadora, sendo constantemente solicitada para
cursos, palestras e conferências. Por vários anos, lecionou teoria da arte, e
suas preocupações nessa área do conhecimento foram reunidas nos vários
livros que publicou. (...)
38
Destacamos aqui alguns dos livros que Fayga Ostrower publicou: Criatividade
e Processos de Criação, Acasos e Criação Artística, Universos da Arte, A Grandeza
Humana, entre outros
39
, que abordam a questão da arte e da criação artística.
Muito atuante foi presidente da Associação Brasileira de Artes Plásticas entre
1963 e 1966; entre 1978 a 1982 presidiu a comissão brasileira da International
37
Fayga Ostrower. Disponível em: http://bienalsaopaulo.globo.com/busca_artista.asp
38
MARTINS, Carlos. Fayga Ostrower. Rio de Janeiro. Ed. Sextante, 2001. Extraído da apresentação.. Disponível
em: http://www.faygaostrower.org.br/livros.php
39
Instituto Fayga Ostrower. Disponível em: http://www.faygaostrower.org.br/livros.php
51
Society of Education through Art, INSEA, da UNESCO, além de ganhadora de vários
prêmios.
Figura 12 Fayga Ostrower – litografia 1980
Na edição em maio de 1999, outro debate é promovido com o tema “Artes
Visuais x Visualidade?” Discussão atual e bastante adequada para aquele momento
levando em consideração as novas tendências de comunicação das artes visuais e
que contou com a participação de importantes críticos de arte: Ferreira Gullar
40
poeta e crítico de artes plásticas, Paulo Sergio Duarte
41
professor de história da arte
e pesquisador do Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESAP) da Universidade
Candido Mendes e também professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e
Avatar Moraes
42
artista plástico e professor de linguagens visuais e historia da
tecnologia na PUC-RJ. Não temos registro deste debate, mas levando em
consideração o tema e as críticas às novas expressões da arte contemporânea
manifestadas publicamente por Ferreira Gullar, pontuamos a seguir um pequeno
trecho do texto “Argumentação contra a morte da arte” como forma de elucidar os
possíveis caminhos deste debate:
40
GULLAR, Ferreira (n.1930, São Luiz, Maranhão) poeta e crítico de artes plásticas. Disponível em:
http://portalliteral.terra.com.br/ferreira_gullar/
41
DUARTE, Paulo Sérgio. Disponível em: http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.convidados/
42
MORAES, Avatar. Disponível em: http://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/dad/gra/
52
Pois bem, se é indiscutível que toda forma (ou conjunto de formas) tem
expressão, não é menos certo que essa possibilidade indeterminada de
expressões conduz à gratuidade e à anulação do trabalho artístico. Claro,
se qualquer forma traçada sobre uma tela expressa alguma coisa, não
importa mais nem o talento nem o conhecimento técnico: todo mundo é
artista e ninguém o é. Se toda forma é expressão e se a arte, agora livre de
qualquer definição ou princípio, não é mais que forma expressiva, então não
se pode mais distinguir entre uma obra de arte e outra qualquer coisa, outro
qualquer objeto. O urinol, que Duchamp enviou a uma exposição de arte,
torna-se o símbolo da estética atual: o diferença qualitativa entre um
desenho de Klimt e um borrão de tinta, entre uma escultura de Brancusi e
um caco de telha, uma obra de Rodin e um urinol. Só que ninguém preferiria
colocar em sua sala, em lugar de uma obra de Rodin, um urinol comprado
na loja da esquina.
43
Parece-nos que as questões levantadas por Ferreira Gullar nos colocam
frente à discussão da não materialidade da arte versus os formatos tradicionais das
artes visuais. Esta discussão desenhava de alguma maneira a preocupação dos
artistas de Santa Teresa com relação a outros formatos de expressão, como é o
caso do uso dos espaços públicos para manifestações artísticas, que veio a se
consolidar mais tarde dentro do Arte de Portas Abertas.
Na edição em novembro de 1999 é a questão do patrimônio e memória
que vai ser o tema do debate; Arte, Patrimônio e Memória. Lembramos que a
declaração da UNESCO aborda em seu artigo sétimo a questão do patrimônio.
Artigo 7 – O patrimônio cultural, fonte da criatividade.
Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve
plenamente em contato com outras. Essa é a razão pela qual o patrimônio,
em todas suas formas, deve ser preservado, valorizado e transmitido às
gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações
humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e
estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.
44
O debate teve a participação de representantes de entidades públicas,
através da restauradora Maria Luisa Soares
45
, na época chefe do laboratório de
restauração da Casa de Rui Barbosa; Viviane Matesco crítica de arte; Armando
Mattos
46
artista plástico trabalha com arte educação, projetos institucionais e
participou da exposição “Onde está você geração 80no Centro Cultural Banco do
Brasil em 2004; Carlos Vergara artista plástico e Luciano Figueiredo artista plástico.
43
GULLAR, Ferreira. A expressividade da forma. Argumentação contra a morte da arte. Rio de janeiro. Reyan,
1993, pp 53-56. Disponível em:
http://portalliteral.terra.com.br/ferreira_gullar/porelemesmo/
44
Cf. nota 33.
45
SOARES, Maria Luisa. Na época chefe do laboratório de restauração da Fundação Casa de Rui Barbosa.
46
MATTOS, Armando. Disponível em: http://www.revistamuseu.com.br/
53
Carlos Vergara
47
é um artista de expressão participou em 1965 de uma exposição
marcante no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, “Opinião 65”. Esta
exposição reuniu o que existia de mais inteligente na arte brasileira onde
participaram artistas como; Waldemar Cordeiro, Antonio Dias, Rubens Gerchman,
Tomoshige Kusuno, Hélio Oiticica e Roberto Magalhães. Luciano Figueiredo
48
é
designer, cenógrafo e artista plástico, participa intensamente da vida cultural do país.
Expõe nas bienais de São Paulo, em 1967, e de Salvador, em 1966. A partir de
1969, realiza cenários para shows e espetáculos de vanguarda. Em 1986 edita o
livro de Hélio Oiticica “Eu aspiro ao Grande Labirinto”, e neste mesmo ano assume a
direção do Instituto Nacional de Artes Plásticas da Funarte.
Infelizmente não se tem registro do debate, mas face às características
arquitetônicas do bairro, o tema foi muito apropriado, e estabelece com as diretrizes
da UNESCO a preocupação com as políticas públicas no sentido da preservação do
patrimônio arquitetônico, assim como a preocupação com a restauração dos
trabalhos de importantes artistas da nossa época.
Esta preocupação aliada ao sucesso de público que o Arte de Portas Abertas
estabeleceu no calendário cultural carioca, possibilitou projetá-lo gradualmente num
âmbito mais abrangente. Como conseqüência nesta edição foi montada no Parque
das Ruínas a exposição “Des-mov-em e Armagens”, com o espírito de preservação
da memória, do artista plástico falecido Paulo Roberto Leal
49
(Figura 13) um dos
idealizadores da famosa exposição “Como vai você geração 80”, que ocupou o
Parque Lage em 1984 e influenciou parte dos artistas revelados naquela data.
Também como resultado, a viabilização de investimento no restauro de sua obra que
permanece resguardada por um cleo criado por Roberto Pontual e pelos artistas
Manfredo Souzaneto e Armando Mattos, amigos da família.
47
VERGARA, Carlos. Disponível em: http://www.cvergara.com.br/pt/percurso/
48
FIGUEIREDO, Luciano. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia
49
LEAL, Paulo Roberto (n. Rio de Janeiro, RJ, 1946 f. idem, 1992) catálogo da XV Bienal de São Paulo.
Disponível em: http://bienalsaopaulo.globo.com/
54
Figura 13 Mídia da exposição de Paulo Roberto Leal
Acompanhando o sucesso do evento o modelo propõe oferecer ao visitante
além da abertura de ateliês outros serviços que vão se incorporando num formato
típico de grandes eventos. O roteiro gastronômico que desde a primeira edição vai
num crescente, a partir da edição se soma mais de 25 espaços permanecendo
nesta dia até a 15ª edição em julho de 2005. Vale lembrar que a gastronomia é
também uma manifestação cultural, e que no caso de Santa Teresa além de
restaurantes especializados em frutos do mar, feijoada e comida nordestina, outras
cozinhas internacionais vão sendo incorporadas no roteiro, como a japonesa,
francesa, alemã, italiana, mexicana entre outras. Hoje independente do Arte de
Portas Abertas, existe um roteiro gastronômico consolidado no roteiro turístico o
ano todo.
Também nesta edição por iniciativa de alguns artistas surge uma ação
chamada "Arte na Rua" onde são realizados trabalhos de arte nas ruas do bairro
durante o evento. Aqui se tem o prenuncio da arte urbana que mais tarde na
55
edição em maio de 2000 se consolida com o Prêmio Interferências Urbanas”,
projeto que durante quatros edições incorporou no “Arte de Portas Abertas” criação
de trabalhos de arte pública e cuja importância para o bairro e para o meio das artes
visuais é descrita por Julio Castro
50
:
Quatro edições com trinta e oito propostas de intervenção realizadas
fizeram do Prêmio Interferências Urbanas um espaço de ações artísticas
significativas e referentes no Brasil. Arte pública e efêmera praticada como
foco de reflexão de um lugar, fruto de um contexto muito particular em Santa
Teresa, quando artistas e moradores convergem em idéias e ações de
parcerias a favor de uma reconstituição do tecido social. É possível
novamente pensar a arte como produção coletiva e associativa. Dos
espaços internos se ganham as ruas, as praças, não como monumentos
solenes, mas na captura de instantes fugidios e provocadores.
Nessa trajetória construída percebe-se a retomada de um fluxo de
consciência do artista em relação ao seu papel social, transformando Santa
Teresa num campo de experiências contundentes e renovadoras. O Prêmio
Interferências Urbanas também surge num momento em que os salões
tradicionais nos mostram que não mais atendem às demandas da produção
artística e não pautam - com algumas exceções - valorizar o trabalho do
artista. Além disso, como iniciativa independente, esse projeto tem a força
de não estar sujeito às circunstâncias institucionais que são alheias às reais
necessidades da produção cultural e onde muitas vezes o marketing
sobrepõe-se à produção do artista. Foco de resistência e risco na busca de
sentido poético da arte na vida.
O que o Julio Castro nos revela é que o artista contemporâneo tem um papel
social, e que neste projeto o artista cria experiências visuais e sensoriais com
possibilidades transformadoras no tecido urbano pautadas numa forma coletiva de
atuar, potencializando positivamente a relação entre o público e os moradores.
A história do projeto “Prêmio Interferências Urbanas” ganha força em 2001
tendo sido selecionado para participar do seminário Rumos Itaú Cultural Design e no
módulo de discussões “A cidade como espaço museográfico”, painel
complementado pelo projeto “ArteCidade” na Bienal do Mercosul. Em 2003 o projeto
é convidado a participar do “Fórum Social Mundial em Porto Alegre” por iniciativa da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em seminário sobre arte pública.
Continuando com o objetivo de ampliar a discussão artístico-cultural no
campo das artes visuais, na edição é a vez da fotografia. O debate “Fotografia
Hoje” contou com a participação com da fotógrafa Denise Cathilina
51
, Fernando
Cochiarale
52
, Alfredo Grieco
53
e Nadja Peregrino
54
. Também foi montada a
50
Texto publicado no catálogo da quarta edição do Prêmio Interferências Urbanas
51
CATHILINA, Denise. Fotógrafa, artista plástica e professora da EAV / Parque Lage.
52
COCHIARALE, Fernando. Curador e crítico de arte.
56
exposição “Pelo Buraco da Agulha”, sob a curadoria da Denise Cathilina,
homenagem a fotografa Regina Alvarez
55
:- Coletiva “Pin Hole”
56
(Figura 14, Figura
15, Figura 16) e Coletiva Fotografia Digital. Regina Alvarez é fotógrafa e moradora
de Santa Teresa, cuja exposição foi citada na época, na Folha de São Paulo,
reafirmando o prestígio do trabalho:
Mostra de Fotografia apresenta imagens artesanais
A carioca Regina Alvarez é a fotógrafa homenageada na exposição Pelo
Buraco da Agulha”, em cartaz no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, no
Rio. Na mostra, a artista apresenta 27 trabalhos criados nas décadas de 70
e 80. Regina usou a técnica milenar do pinhole”, ou câmera de orifício, que
não possui visor, objetiva e pode ser feita com uma lata. Foi ela também
que preparou a emulsão fotográfica para imprimir as fotos, obtendo efeitos
nas imagens, como a curvatura das bordas e a distorção das imagens. “Os
primórdios da fotografia sempre me fascinaram e resolvi aprofundar meus
estudos. Com o “pinhole” passei a documentar meu cotidiano com latas e
caixas”, afirma.
Artista plástica, Regina andou pelo Brasil mostrando os processos
alternativos de fotografia.
57
Figura 14 Processo de fixação de imagem no sistema Pin Hole
53
GRIECO, Alfredo. Doutor em artes pela USP e professor da PUC/RJ.
54
PEREGRINO, Nadja. Pesquisadora e curadora de fotografia.
55
Regina Alvarez possui obra relevante na área de fotografia experimental utilizou a “Pin Hole” em muito de seus
trabalhos e teve sua obra restaurada e exposta na 9ª edição do Arte de Portas Abertas.
56
Pin Hole é uma câmara de fotografar, chamada estenopeica, aquela que não utiliza elementos óticos, ou seja,
não forma a sua imagem baseada na refração da luz. A imagem é resultado de um percurso sem interferências
determinando que a sua profundidade de campo seja infinita. É um sistema baseado nos princípios
elementares da óptica que possibilita realizar imagens que correspondem a um regresso, aos inícios da
fotografia e em que o espírito criativo será propiciador de resultados interessantes. Disponível em:
http://pinhole.no.sapo.pt/historia.html
57
Texto produzido pela jornalista Ana Maria Guariglia da Folha de São Paulo em 25/05/2000. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/fol/cult/ult25052000044.htm
57
Figura 15 Sistema Pin Hole
Figura 16 Regina Alvarez – Foto sistema Pin Hole
Na 10ª edição em novembro de 2000 a “arte pública” entra em cena de
forma definitiva. O “Prêmio Interferências Urbanas” na sua segunda edição dentro do
Arte de Portas Abertas ganha fôlego. Patrocinado com investimentos das empresas
Transurb, Furnas e Petrobrás, é lançado o primeiro catálogo (Figura 17) registro dos
trabalhos premiados na edição anterior, e uma exposição dos projetos premiados no
Atelier Arte Sumária (naquela época este espaço era muito conhecido no bairro pela
programação regular de exposição de arte e música instrumental).
O debate “Arte Pública” tema desta edição tem a participação de Gloria
Ferreira, doutora, professora da EAV–UFRJ e curadora independente e Luiz Camillo
Osório
58
, professor de estética na UNIRIO. Este último além de crítico de arte assina
a coluna de crítica da arte do jornal O Globo e em 2000 lançou o livro sobre Flavio
Carvalho
59
(primeiro performer brasileiro, cuja influência foi fundamental para a
58
OSORIO, Luiz Camillo. Crítico de arte e autor do livro “Razões da Crítica”, lançado pela editora Jorge Zahar
em 2005.
59
OSORIO, Luiz Camillo. Flavio de Carvalho. São Paulo: Ed. Cosac & Naify, 2000. Disponível em:
http://www.vitruvius.com.br/livros/
58
produção experimental dos anos 60 nas artes plásticas
).
Mais recentemente lançou o
livro “Razões da Crítica” em que ele discute o papel da crítica na atualidade. Gloria
Ferreira é crítica de arte, curadora e em 2005 lançou o livro “Trilogias conversas
entre Nelson Felix e Gloria Ferreira”
60
que se somam os textos de Rodrigo Naves,
Paulo Venâncio, Paulo Sergio Duarte, Agnaldo Farias entre outros autores.
Figura 17 Capa do 1º catálogo do Prêmio Interferências Urbanas
A presença desses críticos sem dúvida nenhuma coloca o evento Arte de
Portas Abertas no referencial de um movimento de arte atual e preocupado com a
produção artística mais recente, buscando reflexões na direção de consolidar o
evento como um espaço que responda às demandas da arte contemporânea.
Chegamos na 11ª edição em junho de 2001 e a partir desta o evento passa
a ter somente uma edição anual. Com ele mais um espaço expandido das
programações paralelas surge por meio do “Projeto Registro”. Este projeto vem se
somar à perspectiva de preservação de memória iniciada na oitava edição.
Buscando interagir com outros lugares, cria uma ponte entre Rio e Niterói, com a
60
FERREIRA, Gloria. Trilogias. São Paulo: Ed. Pinakotheke, 2005.
59
exposição do registro fotográfico de 20 trabalhos de arte efêmera realizados por
artistas visuais da Galeria do Poste
61
. O investimento na permanência de trabalhos
que trazem em seu âmago a proposta do efêmero e o reconhecimento da
importância de iniciativas independentes como esta foi o que determinou além da
exposição, a produção do Catálogo Galeria do Poste (Figura 18).
Durante o evento Arte de Portas Abertas da 1 edição o “Prêmio
Interferência Urbanas” chega à sua terceira edição com dez premiações e mais uma
exposição dos projetos.
O debate agora se volta mantendo ainda questões da arte contemporânea
para a produção artística independente com o tema “Ação Independente no Cenário
das Artes Visuais”.
Participam desse encontro Newton Goto, artista de Curitiba que nesta edição
escreve a apresentação no catálogo do evento “Arte ao Redor”, publicado em
2001; Ricardo Pimenta, artista plástico e coordenador da Galeria do Poste; Ricardo
Macieira arquiteto e na época presidente da RioArte, hoje atual Secretário das
Culturas do Município do Rio de Janeiro; e Ricardo Basbaum, artista plástico e
coordenador do Espaço Agora Capacete
62
, que tem em seu currículo a investigação
de diversas formas de linguagem, aproximando campo artístico e campo
comunicativo, realizando performances, ações, intervenções, textos, manifestos,
objetos e instalações.
61
Galeria do Poste é uma proposta artística independente das instituições governamentais e das prioridades
comerciais coordenado por Ricardo Pimenta onde são criados trabalhos de arte efêmera num poste no bairro
do Gragoatá em Niterói-RJ.
62
Em 1999 Ricardo Basbaum, Eduardo Coimbra e Raul Mourão criam o AGORA / CAPACETE Agência de
Organismos Artísticos, que apresenta em seu primeiro evento as exposições de Laura Lima e Raul Mourão, na
Fundição Progresso, Rio de Janeiro.
60
Figura 18 Capa catálogo Galeria do Poste
Uma novidade é incorporada ao projeto, que a esta altura consegue
patrocínio da BR Distribuidora para produção do primeiro catálogo (Figura 19) dos
trabalhos dos artistas participantes do evento. Pela primeira vez oblico tem
acesso à produção dos artistas, documentada em forma de catálogo, que
anualmente passa a ser produzido promovendo uma qualidade substancial para a
organização e divulgação do evento.
61
Figura 19 Capa do primeiro catálogo do Arte de Portas Abertas
foto de Regina Alvarez
Também nesta 11ª edição, como resultado de uma oficina dirigida para jovens
de Santa Teresa é feita uma parceria com a SAMP Sociedade dos Amigos do
Morro dos Prazeres e seis áreas, praças e acessos ao morro receberam tratamento
gráfico em painéis, orientado por 12 grafiteiros do Rio de Janeiro. Ao vivo é
produzido um painel grafitado no muro de contenção na Rua Gomes Lopes, acesso
principal ao morro dos Prazeres.
Estamos agora na 12ª edição em julho de 2002 e nesta se continuidade
ao intercâmbio com artistas de outros países. Desta vez é Santa Teresa Belleville
(Atelier D`Artistes de Belleville). Doze artistas brasileiros e doze artistas franceses
fazem participação mútua nos ateliês dos eventos do Rio e de Paris com exposição
coletiva simultânea paralela chamada Rio - Paris Urbanos e Diferentes.
Em Paris os artistas cariocas participaram do evento Portas Abertas dos
Ateliês dos Artistas de Belleville. No Rio os artistas franceses participaram do Arte
62
de Portas Abertas, da exposição que foi aberta no Casarão dos Prazeres
63
e de um
catálogo (Figura 20), fruto do apoio das prefeituras de Paris e Rio de Janeiro que
viabilizou a publicação para a exposição. Este trabalho se frutificou e hoje a Chave
Mestra mantém intercambio anual com os Atelier D`Artistes du Belleville.
Figura 20 Capa catálogo exposição intercâmbio Rio - Paris
O Prêmio Interferências Urbanas entra na quarta e última edição.
Continuando a preocupação de registro da produção dos artistas, um novo catálogo
dos trabalhos premiados na edição anterior é produzido.
Também nesta 12ª edição surge o “Projeto Coleção”, que propõe formar uma
coleção de obras de artistas que participaram do evento anterior, selecionados pelo
crítico de arte Fernando Cochiarale
64
.
O evento Arte de Portas Abertas a cada ano propõe temas, discussões,
projetos, sempre com o objetivo de se inserir na dinâmica da diversidade cultural,
atento às demandas e necessidades do bairro e das artes visuais.
Assim na 13ª edição em outubro de 2003 o “Projeto Registro”
65
destaca o
conjunto arquitetônico da Rua Joaquim Murtinho, construído entre os anos 10 e 20
do século passado, na Belle Epóque carioca. A partir da pesquisa desenvolvida pela
63
Casarão dos Prazeres é um espaço restaurado pela Prefeitura do Rio dentro da favela Morro dos Prazeres.
64
Cf. nota 52.
65
Projeto Registro - ligado ao Arte de Portas Abertas propõe a preservação da memória.
63
arquiteta Cristina Mello
66
, que levantou informações documentais sobre o casario de
Santa Teresa foi publicado um documento-catálogo (Figura 21) que apresenta o
casario da Rua Joaquim Murtinho (Figura 22 e Figura 23), o maior conjunto de
arquitetura eclética do Rio de Janeiro.
66
Cristina Mello é professora da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense.
Figura 21 Capa do catálogo registro do casario Rua Joaquim Murtinho
64
Figura 22 Casa Rua Joaquim Murtinho datada de 1916
65
Figura 23 Casa Rua Joaquim Murtinho 1916 fachada e planta
A estrutura de organização do evento muito não mais atendia às
expectativas dos cerca de 50 ateliês. A partir da 13ª edição a insatisfação dos
artistas se evidencia, causada por um mal estar determinado pelo formato não
participativo dos mesmos na organização do evento. No ano de 2003, devido a falta
de justificativa para o atraso na organização do ADPA, um grupo de artistas resolve
se reunir e cobrar dos organizadores uma definição de prazo para o seu início,
que todo ano o mesmo acontecia no mês de julho. Estavam insatisfeitos pelo fato de
não terem sido comunicados pelo atraso e por não participarem das decisões,
principalmente desde que o evento assumiu um formato mais profissional, com
grandes patrocinadores.
No mês de junho deste mesmo ano, os artistas que se sentiam excluídos e
desrespeitados resolvem se reunir regularmente buscando novo modelo de
organização. Em março de 2004 fundaram a Associação dos Artistas Visuais de
Santa Teresa Chave Mestra (nome criado no contraponto para a abertura de
ateliês com participação democrática dos artistas), ou seja, “a chave que abre todas
as portas”. Esta transição não foi tão fácil já que a produtora anterior Roberta
66
Alencastro não concordava com qualquer forma de organização que colocasse em
questão as decisões tomadas por ela, além de se posicionar como proprietária do
evento. Mas a Chave Mestra como representante legal da maioria dos artistas
resolve registrar a marca “Arte de Portas Abertas” e isto põe fim a qualquer
possibilidade de utilização do nome em eventos paralelos.
Na 14ª edição em setembro de 2004 a Chave Mestra assume a organização
do evento e logo no seu primeiro ano conta com mais de 70 artistas associados.
Com a nova organização algumas mudanças foram implantadas, no sentido de criar
outras formas de divulgação e participação dos artistas no mercado da arte, e na
vida do bairro, que podemos identificar no trecho do Manifesto
67
produzido pela
associação abaixo:
Unidos podemos potencializar a força do Arte de Portas Abertas para os
projetos que temos e ainda outros que poderão ser estruturados. Divulgar
nossos trabalhos, ser centro de informações, central de idéias e ponte de
inserção no circuito de arte. Unidos podemos programar um calendário de
atividades que beneficie todos os artistas e todo o bairro. Então, o Arte de
Portas Abertas será o clímax, a celebração de um trabalho contínuo, forte,
associativo e independente.
Neste processo houve um resgate de alguns fundadores que haviam se
afastado por motivos de incompatibilização com a organização anterior. Com a
Chave Mestra esses artistas retornam como também se abre espaço para uma
interlocução com entidades importantes, como é o caso da ONG Viva Santa,
fundadora do Arte de Portas Abertas. Muitas dificuldades se reproduzem como
conseqüência deste conflito principalmente na mídia, caminho adotado pela
produção anterior para dificultar a implantação da associação. Mas a Chave Mestra
caminha e aos poucos vai criando corpo e força.
Fazendo novas parcerias em forma de patrocínio, esta 1edição do Arte de
Portas Abertas é histórica, no sentido da consolidação das mudanças e na retomada
de projetos de aspectos substanciais para o bairro, como é o caso de arte pública
nas ruas de Santa Teresa.
Tomada como uma importância e acompanhando as novas inserções nas
artes visuais, a arte pública é incorporada novamente ao evento através de debates
67
Manifesto distribuído aos artistas quando da assembléia geral para fundação da Chave Mestra em
27/10/2003.
67
e discussões no 1º Encontro de Coletivos Chave Mestra
68
(Figura 24), tendo a
participação de coletivos de São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Ceará, Bahia e Rio
de Janeiro e com o objetivo de para pensar a arte coletivamente. Mais a frente
trataremos especificamente deste evento.
Figura 24 - I Encontro de Coletivos de Arte Chave Mestra
O pensamento que envolve a forma de atuar em coletivos está ligado às
vanguardas e revoluções que desde o início do século XX atuam no campo das
artes e na vida social. Desapegado do progressismo dos modernos os coletivos
atuam de forma independente, apenas vinculado a um ativismo na elaboração
criativa de conceitos para se atuar – interferir - fazer pensar uma determinada
situação, promovem discussões e criam espaços de artes de interlocução direta com
o público.
Ainda na 14ª edição duas exposições aconteceram. Fruto de articulações com
a UNEI
69
(Figura 25) proprietário do imóvel, um casarão datado do final do século
XIX é sede do evento. Nele se promoveu uma exposição coletiva com artistas
selecionados pela Chave Mestra e a exposição Coleção Portas Abertas (Figura 26),
acervo de trabalhos dos participantes do evento em 2002, além dos debates no
encontro de coletivos
70
. Por sua arquitetura eclética e por nunca ter sido aberto ao
68
Encontro de Coletivos foi um evento patrocinado pela Chave Mestra durante o 14ª ADPA que propôs
através de debates e de ações no espaço publico discutir e pensar arte coletivamente.
69
UNEI União dos Economiários Inativos da Caixa Econômica Federal, instituição que congrega ex
funcionários da Caixa.
70
Cf. nota 68
68
público, este espaço colocou a UNEI e a Chave Mestra numa parceria importante a
serviço do bairro.
Figura 25 Casarão da UNEI durante o Arte de Portas Abertas de 2004
Figura 26 Coletiva de artistas no casarão da UNEI
A perspectiva de transformar os usos, antes definidos exclusivamente como
residenciais, permitiu e vislumbrou a possibilidade de se estender esta parceria em
outros formatos consolidando ali no casarão um espaço permanente de atividades
para a arte, cultura e ações sociais. Assim, hoje está em andamento um projeto de
ocupação, do qual outras instituições foram convidadas a participar, como as ONGS
69
LUNUZ e Cama e Café
71
, para juntas em parceria com a UNEI, Caixa Econômica
Federal e Chave Mestra elaborarem um projeto de restauração e um programa de
atividades para o casarão.
Continuando a 14ª edição, uma segunda exposição intitulada Trabalho
Manual é organizada homenageando a artista plástica Magliani. Associada da
Chave Mestra, gaúcha, morou em Santa Teresa, com passagens por São Paulo
tendo retornado recentemente para o bairro. Pintora expressionista já expôs na
Bienal de São Paulo e participou de várias exposições pelo Brasil.
No morro dos Prazeres, retomando a atividade de grafite, o painel da Rua
Gomes Lopes é renovado, num trabalho em parceria com a Coligação de Favelas
72
.
Finalmente chegamos à 1 edição em julho de 2005, último evento
registrado neste trabalho. Um ano após a sua fundação a Chave Mestra conquistou
um corpo mais sólido, com a abertura da sua sede, mesmo que alugada, num
espaço agregado ao Hotel Mauá Bela Vista
73
. Desta maneira a associação dinamiza
suas atividades e numa progressão contribui para a reutilização de espaços
fechados agregando o trabalho de arte à hotelaria, aliás, reproduzindo o que antes já
havia acontecido com o Hotel Internacional
74
, numa ação bem vinda pelos os
proprietários do hotel, artistas e moradores das adjacências.
Uma mudança significativa foi introduzida nesta edição, a criação de uma
revista mais completa, substituindo o catálogo que vinha sendo publicado desde a
11ª edição, criando espaço ampliado de divulgação para cada artista (uma gina
inteira com imagens e textos), além de ser distribuída a preço de custo (dois reais),
de forma a dar maior acessibilidade de informações aos visitantes. O objetivo foi
atingir um público maior, atendendo uma demanda de divulgação tanto no meio
artístico como junto às instituições culturais, hotéis do bairro e da cidade.
Acompanhando a preocupação de colocar o evento Arte de Portas Abertas e
os artistas num espaço reconhecido para o mercado da arte, nesta edição foi
incorporado ao evento um texto de apresentação para cada artista produzido por
dois críticos de arte, Alberto Kaplan e Daniela Labra. Esta ação foi pautada com o
objetivo de oferecer ao artista uma análise do seu processo de trabalho, contribuindo
71
Ong responsável pelo serviço de hospedagem nas residências em Santa Teresa
72
Coligação de Favelas – entidade representativa de todas as favelas do bairro Santa Teresa.
73
Hotel Mauá Bela Vista é um hotel tradicional de Santa Teresa, datado do final do século XIX e que como
tantos outros sofreu com as transformações do bairro e hoje é quase um hotel residência.
74
Cf. informação no capítulo 1, p.30 deste documento.
70
para o seu desenvolvimento, além de servir de orientação ao público na dinâmica
deste ofício fazer arte.
Um novo projeto se incorpora nesta edição o Foto Cross
75
. Coordenado
pelo fotógrafo Renan Cepeda, o evento é uma maratona de fotografia em que os
participantes têm que fazer 36 fotos sobre 12 temas em 12 horas. Para cada tema é
dada uma premiação do melhor, além de menção honrosa escolhida por um júri. O
objetivo é estimular e evocar a criatividade do cidadão carioca para produção de
imagens sobre temas do dia-a-dia, incorporando o pensamento fotográfico ao
cotidiano, gerando posicionamentos políticos, com exercício de cidadania dentro de
sua comunidade.
Distribuição espacial dos ateliês e dos artistas
Após a apresentação das diversas ações que acompanham o Arte de Portas
Abertas, vamos nos deter agora numa análise da produção dos artistas ao longo
destas quinze edições, assim como na distribuição espacial dos ateliês no bairro.
Por meio do levantamento de todas as edições a o ano de 2005
(15ª edição), produzimos um quadro resumo (p.140) mostrando a participação de
todos os artistas neste período, as cnicas utilizadas por cada artista e a área em
que cada atelier está inserido.
As áreas foram demarcadas seguindo um critério de divisão identificado pelas
principais ruas e ou largos de acesso ao bairro (
Mapa 2 Distribuição das Áreas Ocupadas pelos Ateliês, p.180). Dividimos
em cinco áreas, a saber: Área A Acesso pela Lapa e pela Glória até o Largo do
Curvelo, incluindo a Rua Joaquim Murtinho; Área B Acesso do Largo do Curvelo
até o Largo do Guimarães incluindo toda a vertente que cobre a Rua André
Cavalcanti até a Rua Fonseca Guimarães, Triunfo e Filadélfia; Área C Acesso
entre a Rua Almirante Alexandrino, começando pelo Largo do Guimarães, e a Rua
Paschoal Carlos Magno compreendendo toda a vertente até a Rua Aarão Reis e
pela parte mais alta até a Rua Aprazível; Área D Acesso pela Rua Paula Matos,
passando pela Rua do Oriente até o entroncamento da Rua Aarão Reis; Área E
Acesso do entroncamento da Rua Aarão Reis com a Rua Almirante Alexandrino,
75
As imagens da premiação estão no site da Chave Mestra. Disponível em:
http://www.chavemestra.com.br/projetos_photo.php?areaid=4
71
onde se localiza o Castelo Valentim
76
, aa Rua Mauriti Santos direção ao Cosme
Velho.
Para melhor entendimento, apresentamos gráficos que demonstram a
distribuição espacial dos artistas / ateliês durante as quinze edições. Como resultado
da análise deste material sistematizado é possível perceber, por exemplo, que a
edição teve um aumento significativo de participação de artistas em todas as áreas e
isto se deu em conseqüência da abertura do evento, naquele momento, para
espaços que aglutinavam grupos de artistas. Nesta edição em particular, os próprios
organizadores do evento propuseram abertura de espaços para artistas que tinham
seu atelier distante das áreas mais movimentadas.
Mas na edição seguinte aconteceu um decréscimo na participação de artistas.
Baseado nas informações da autora deste trabalho, que participa do evento desde a
sétima edição, esta variação aconteceu devido aos critérios da organização, os
quais favoreciam principalmente os artistas que tinham ateliê no bairro e que
possuíam uma produção mais voltada para a arte contemporânea. Renata
Bernardes confirma isto na sua entrevista (informação verbal):
77
O Arte de Portas Abertas desde o inicio tinha regras de participação, o
artista precisava ter ateliê e produção constante, tanto é que na época
duas pessoas o foram aceitas uma que morava na Gloria e outra que
realmente não tinha uma produção, os trabalhos eram sempre os mesmos.
No segundo momento teve uma tentativa de elitização. O Premio
Interferências Urbanas começou a ter mais peso que os artistas, e eu
achava errado. Na medida em que ficou uma coisa cara o evento passou a
acontecer uma vez por ano. Começou a não dar certo e o evento eletizou e
teve o rompimento, as pessoas começaram a abrir a revelia, um
movimento paralelo. Vários artistas começaram a sentirem preteridos. Esse
negócio de depurar muito, acho que não dá certo.
A questão da feitura dos trabalhos de arte e os critérios que permeavam sua
inserção no evento passaram a constituir uma preocupação para os organizadores,
mediante a tendência de crescimento de artistas que acorriam ao bairro para
divulgação dos seus trabalhos sejam ele de “artesania” ou de “arte”.
Aqui vale um parêntese, pois muito que existe uma discussão entre os
artistas no que diz respeito às diferenças e nuances entre arte e artesanato.
76
Castelo Valentim é uma construção do tipo eclética.
77
Informação verbal extraída da entrevista com Renata Bernardes, 2005. Quadro 4 - Atores entrevistados.
72
Existe uma linha muito tênue na definição do que seja arte e artesanato.
Octavio Paz traça um belo relato num texto intitulado “O Uso e a Contemplação”
78
,
em que ele descreve a artesania como uma mediação:
Suas formas não estão regidas pela economia da função, mas pelo prazer,
que sempre é um gasto e que não tem regras. O objeto industrial não tolera
o supérfluo - a artesania se satisfaz nos adornos. Sua predileção pela
decoração é uma transgressão da utilidade... A persistência e a proliferação
do adorno na artesania revelam uma zona intermediária entre a utilidade e a
contemplação estética. Na artesania um contínuo vaivém entre utilidade
e beleza; esse vaivém tem um nome: prazer. As coisas são agradáveis
porque são úteis e belas. ... O prazer que nos a artesania brota de uma
dupla transgressão: ao culto da utilidade e à religião da arte...
Nossa relação com o objeto industrial é funcional; com a obra de arte, semi-
religiosa; com a artesania, corporal.
Parece-nos que em sua análise a artesania ocupa um lugar entre a força do
objeto industrial e sua utilidade, e a arte que transforma os objetos em ícones, daí a
afirmação de Otavio Paz em falar do culto à religião da arte. Ele vai além e afirma
que na verdade não existe uma relação com o objeto e sim um contato, e que o
caráter transpessoal da artesania exprime sensações aonde o corpo é participação:
Sentir é, perante tudo, sentir algo ou alguém que não sejamos “nós”.
Sobretudo sentir com alguém, inclusive para sentir-se a si mesmo, o corpo
procura outro corpo. Sentimos através dos outros. A artesania é um sinal
que exprime à sociedade não como trabalho (técnica), nem como símbolo
(arte, religião), mas como vida física compartilhada.
Ao falar de vida compartilhada nos remetemos diretamente às novas
manifestações artísticas de arte efêmera, produzida pelos coletivos de arte que, por
sinal, estão no contexto da arte contemporânea. Então perguntamos: Onde reside
de fato a diferença entre a produção do artesanato e da arte contemporânea?
Nos atuais movimentos artísticos o contato com o público e a ocupação dos
espaços de rua, mediante a organização de um coletivo tem sido uma premissa.
Aquele ícone do objeto museificado não mais atende as necessidades desse artista
que agora pensa por si próprio, sem a necessidade de um curador e sem os ditames
de um mercado de arte traçado para atender a uma pequena parcela da população.
Neste contexto fica muito difícil separar, se pensarmos o objeto artesanal e o
relacionarmos somente sob este aspecto das sensações, pois os trabalhos de ordem
78
PAZ, Octavio. O uso e a contemplação. Historia Geral da Arte: artes decorativas, Espanha: Ed. Prado, 1995,
p.7 -11.
73
efêmera também evocam este espaço das sensações, mas vão além desta
percepção.
Ainda tomando as idéias de Octavio Paz, que eleva o objeto artesanal num
significado de cumplicidade com os sentidos, tornando-o difícil de desprender-nos
dele, ele afirma: é como por um amigo na rua.
Talvez aí esteja uma das diferenças traçada entre os dois campos. O trabalho
de arte contemporânea, onde aqueles de características efêmeras estão inseridos,
se desprende totalmente do objeto. O objeto é apenas o meio e não o fim, ele é
detonado, descartado, quebrado, volúvel e tudo mais, ele permanece enquanto dura
uma ação e não mais que isso.
Precisamos ter cuidado para não cair do outro lado e ficar com o conceito
e sem a arte. Novamente retomamos as críticas de Otavio Paz: “a religião artística
moderna gira sobre si mesma sem encontrar a via de saúde: vai da negação do
sentido pelo objeto à negação do objeto pelo sentido”.
Transitamos nestas questões ambíguas que de fato nos conduzem à
dificuldade de práticas, quando colocadas no espaço urbano de Santa Teresa. Face
às carências de mercado, de espaços de exposição, associado a uma baixa
demanda no consumo da arte, o artista local se compelido entre uma produção
digamos de sentido intelectual e de objetos para consumo.
Mas estes conflitos vão dando um movimento no comportamento das
participações dos artistas durantes as edições. Assim, podemos observar no Gráfico
F (p.77), que na edição existe um pico de participação, 95 artistas ao todo, e que
nesta edição uma série de artistas assume como trabalho apresentado cnicas de
“instalação”, “arte contemporânea”, o que caracteriza a tendência aos trabalhos em
termos conceituais, dos quais Duchamp foi defensor: “a arte como um sinal de
inteligência que se intercambiam o sentido e o sem-sentido” (PAZ, 1995). Nas
edições seguintes ocorre um decréscimo que tende a se estabilizar a partir da 13ª
edição.
Na 13ª edição a Chave Mestra (Associação de Artistas Visuais de Santa
Teresa) assume a organização do evento e no esforço de agregar e discutir essas
questões produziu antes do evento encontros com o objetivo de clarear estes
entendimentos e definir critérios mais abrangentes que representassem o desejo da
maioria, quanto à definição de critérios para a seleção dos trabalhos e dos artistas
que participariam do evento.
74
Ainda com dificuldades no enquadramento desses fazeres da arte, o critério
de seleção privilegiou os trabalhos entendidos de boa qualidade e de produção
regular - sem ser em série, típico do objeto industrial - que permeavam o design e
outros objetos de arte, além dos tradicionais, escultura, pintura, fotografia, cerâmica,
até os trabalhos de instalação. A necessidade de que o artista possuísse ateliê no
bairro no mínimo seis meses antes do evento, também é um critério importante, pois
evita assédio a espaços de última hora. Sob o olhar dos organizadores, estes
critérios garantem a possibilidade da produção da revista do evento, com boa
qualidade, oferecendo ao público uma produção mais bem delineada de maneira
que possa ser acompanhada anualmente por seus visitantes. Assim percebemos
ainda no Quadro 1 certo equilíbrio no número de artistas, equilíbrio este que
permaneceu até a 15ª edição.
Com relação à distribuição espacial dos ateliês/artistas, percebemos uma
concentração nas áreas A e C. Isto se deve à sua ocupação mais densa, com
poucos terrenos vazios, onde estão localizadas as maiorias dos casarões ecléticos.
A - Lapa e Glória até Lgo Curvelo
0
5
10
15
20
25
30
10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª
edições
artistas
Figura 27 Distribuição geográfica dos artistas: Área A – Lapa e Glória até Curvelo
Na área B, que é central e onde se localizam a maioria dos restaurantes e
serviços, padaria, bazar, loja de artesanato não concentração de ateliês, como
também geograficamente a mesma área é pequena se desenvolvendo ao longo do
trilho do bonde pegando parte da vertente da Rua André Cavalcanti.
75
B - Lgo Curvelo até Lgo. Guimarães
0
2
4
6
8
10
12
14
16
10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª
edições
artistas
Figura 28 Distribuição geográfica dos artistas: Área B – Lgo Curvelo até Lgo. Guimarães
C - Guimarães até Áurea / Valentim
0
5
10
15
20
25
30
4ª 10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª
edições
artistas
Figura 29 Distribuição geográfica dos artistas: Área C – Guimarães até Áurea / Valentim
A área D possui uma ocupação bastante significativa de ateliês, é uma área
densa, porém mais distribuída, pois sua evolução se ao longo do trilho do bonde,
do largo das Neves, passando pela Rua do Oriente.
76
D - Largo das Neves até Oriente
0
5
10
15
20
25
30
10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª
edições
artistas
Figura 30 Distribuição geográfica dos artistas: Área D – Largo das Neves até Oriente
A área E, menos densa, possui poucos ateliês por ser geograficamente mais
distante da área central do bairro. Desenvolve-se ao longo da Rua Almirante
Alexandrino até o acesso ao Cosme Velho, bem no pé da floresta da Tijuca, é
próxima às áreas com maior número de favelas, cuja região ainda possui lotes
vazios, mas também com muitos casarões ecléticos, principalmente na parte
próxima ao Castelo Valentim.
77
E - Castelo do Valentim até Mauriti Santos
0
2
4
6
8
10
12
14
10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª
edições
artistas
Figura 31 Distribuição geográfica dos artistas: Área E – Castelo do Valentim até Mauriti Santos
No Gráfico “Participação dos Artistas por Área” visualizamos melhor a
evolução da espacialidade do conjunto durante as quinze edições, e verificamos que
nas áreas A e C são as de maior concentração de ateliês / artistas, evidenciando o
maior número de participantes na sétima edição.
Participação dos artistas por área
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
10ª 11ª 12ª 13ª 14ª 15ª
edições
artistas
E - C. Valentim até
Mauriti Santos
D - Largo das Neves
até Oriente
C - Guimarães até
Áurea / Valentim
B - Lgo Curvelo até
Lgo. Guimarães
A - Lapa e Glória até
Lgo Curvelo
Figura 32 Distribuição geográfica dos artistas – todas as áreas
78
As variações na espacialidade do evento e na quantidade de participantes
(ateliês e artistas) parecem estar diretamente relacionadas às condições gerais para
a realização dos mesmos. Novamente percebeu-se que estas condições revelam um
interessante processo de construção e reconstrução da natureza do evento, dos
critérios para inclusão ou exclusão dos participantes, das representações acerca da
arte contemporânea e dos limites entre arte e artesanato assim como, não menos
importante, das relações dos artistas com a vida do bairro.
ADPA: processos culturais, processos espaciais
Lado a lado com algumas reflexões extraídas da análise da evolução do Arte
de Portas Abertas há outros aspectos de análise que podem ser extraídos do
levantamento que registra o processo.
Neste sentido pormenorizando as informações coletadas percebemos
sinteticamente três pontos principais que evidenciam as idéias centrais que se
desenvolveram ao longo das quinze edições.
Logo de início foi a questão da imagem do bairro que impulsionou o
surgimento do evento. Conforme já destacamos nos capítulos anteriores, tal imagem
na época se evidenciava pelos aspectos da insegurança na vida dos moradores do
bairro, e a potencial reversão da imagem negativa foi o que motivou o surgimento do
evento.
Com a consolidação do evento, e com o desdobramento por ele causado,
provocando o surgimento de ações em outros campos da cultura, como foi o caso do
Festival de Inverno
79
organizado pela ONG Viva Santa, a questão da diversidade
cultural se manifesta e passa a fazer parte dos debates se traduzindo em elemento
necessário e promotor das diversas ações.
Por fim as questões da transformação da arte contemporânea, na esfera da
renovação dos valores culturais da contemporaneidade, expressaram-se na abertura
para os espaços públicos, estreitando uma comunicação com o público não
especializado.
Aqui vamos abrir um parêntese para destacar o Festival de Inverno por se
tratar de um evento que veio a reboque do Arte de Portas Abertas e que aconteceu
em duas edições.
79
Festival de Inverno - evento de arte e cultura que aconteceu em Santa Teresa nos anos de 1997 e 1998.
79
Depois do encontro com a arte, quando organizou o Arte de Portas Abertas, a
ONG Viva Santa, em 1977, reconhecendo a presença no bairro de músicos e
dançarinos, poetas e literatos, cineastas e fotógrafos, cinéfilos e teatrólogos,
promoveu o I Festival de Inverno de Santa Teresa. O sucesso foi tanto que no ano
seguinte em 1988, com mais recursos e patrocínio do Olavo Monteiro de Carvalho
80
foi promovido a segunda e última edição deste festival.
Este foi um evento que surgiu da demanda que o Arte de Portas Abertas
provocou, pois mobilizou bares, restaurantes e comercio em geral. Segundo a
Renata Bernardes o sucesso foi tanto que começou a vir gente do Amazonas, Porto
Alegre extrapolando a idéia inicial de se conter dentro do bairro (informação
verbal):
81
Infelizmente o evento tomou a proporção do que hoje acontece com o bloco
Carmelitas, extrapolou a capacidade de absorção do bairro, coisa que
nunca aconteceu com o Arte de Portas Abertas. Eram muitos camelôs, não
se conseguia chegar perto do bonde palco e a SETRIO (Serviço de Trânsito
do Rio de Janeiro) não dava conta. Então vimos que não tínhamos condição
de segurar um festival daquele tamanho.
O festival aconteceu durante uma semana e para se ter idéia do tamanho do
evento mostramos nas Figura 33 e Figura 34 o mapa com a localização dos
espaços, restaurantes e uma pequena amostra da programação.
Observa-se que a gama de atividades da programação atendeu diversos
campos das artes, contou com poesia, literatura, música, artes plásticas, artes
cênicas, cinema e fotografia e participação de nomes expoentes com o da Beatriz
Resende, Fernando Cocchiarale, Renam Cepeda, Maria Cistina Gatti entre outros.
Assim o evento destacou uma diversidade cultural demonstrando o potencial do
bairro, com participação ativa de seus moradores e visitantes, contribuindo naquele
momento para a mudança da imagem, e definitivamente entra na capa da Revista
Programa e RioShow, respectivamente do Jornal do Brasil e O Globo.
80
Olavo Monteiro de Carvalho é empresário e morador do bairro
81
Informação verbal extraída da entrevista com Renata Bernardes. Quadro 4 - atores entrevistados
80
Figura 33 Programação do Segundo Festival de Inverno
Figura 34 Mapa do Segundo Festival de Inverno
Esses três pontos imagem, diversidade cultural e transformação da arte
contemporânea, com algumas sinergias entre os mesmos, vêm se somar à produção
81
social do lugar Santa Teresa, entendido pelos artistas como memória revisitada, o
que sugere certa interpretação que associa a memória histórica do tecido urbanístico
e paisagístico com uma necessária releitura do seu tecido social. Tal associação
parece destacar-se da recorrente interpretação da memória restrita àquela da
recuperação dos monumentos tradicionais e, desse modo, contribui em direção à
produção do novo, do diferente.
Vale entender que a construção de imagens no espaço urbano, hoje está
ligada diretamente ao que chamamos de city marketing, sendo um instrumento
amplamente utilizado nas chamadas revitalizações urbanas. Nesta lógica a busca
por um espaço sustentável permeia uma referência ainda que simbólica e a imagem-
síntese fica encarregada de re-apresentar as cidades para o mundo (SANCHEZ,
2001).
Entretanto, os riscos de produção de imagens-síntese dos lugares é
justamente a simplificação das leituras do lugar, secundarizando conflitos ou,
sobretudo, obscurecendo a multiplicidade de leituras do lugar vivido em prol de uma
síntese construída sob aparente consenso.
Foram esses fatores, ainda que de forma não planejada, numa escala local,
que parecem ter mobilizado a organização do evento. A necessidade de re-
apresentar para a cidade e o país, aquilo que na verdade pulsava em seu interior,
e contava com elementos fundamentais para o caldo cultural - uma rica arquitetura
eclética num espaço vivenciado por artistas, moradores e amantes do lugar.
Assim essa imagem passa a se constituir com o nome bairro das artes e
representa uma resposta direta àquilo que era exposto na mídia:
A imagem de Santa era do lugar mais perigoso do mundo, os jornais
diziam:“Rios de sangue corre em Santa Teresa” e nós moradores sabíamos
que não era verdade (informação verbal).
82
Sua imagem que antes acompanhava somente as ginas policiais, agora
também se destaca nas páginas de cultura dos jornais, produzindo certo
deslocamento simbólico na produção social da identidade do bairro.
Será que a imagem-síntese das artes é uma simplificação escamoteada da
imagem do lugar? Será que tal síntese, por constituir-se numa super-simplificação
da realidade, obscurece ou secundariza outras imagens e leituras do lugar, que
82
Informação verbal extraída da entrevista com Renata Bernardes. Quadro 4 - atores entrevistados.
82
passam pela emergência e pelo reconhecimento dos conflitos e demandas dos
setores sociais menos favorecidos, ou mesmo daqueles que não se reconhecem na
imagem produzida sobre o lugar? Ou, pelo contrário, será que de fato a imagem-
síntese o é o resultado de uma história cultural construída ao longo do tempo, na
qual diversos grupos sociais se reconhecem por identificarem verossimilhança com
suas trajetórias e apropriações territoriais? Em outras palavras: quais atores sociais
se beneficiam mais dessa imagem do bairro e por quais razões?
Neste contexto podemos entender que Santa Teresa em suas
particularidades, estabelece no tempo e no espaço lutas sociais que são
reproduzidas nas condições materiais de existência. Isto fica mais claro quando
observamos as transformações que advêm tanto da modernidade no processo de
destruição e reconstrução como da capacidade dos seus moradores de construírem
espaços e ambientes de vanguarda. Exemplo são os antigos salões literários que
abrigavam a intelectualidade brasileira, e mais tarde na década de 90 do culo
passado, com o surgimento do Arte de Portas Abertas, quando o mesmo espírito de
vanguarda se reconstrói, abrindo as portas dos ateliês dos artistas, movimentando a
vida cultural local.
Na modernidade em que o evento foi construído uma diferença substancial se
expressa em relação aos salões literários, o público não é mais e somente a
intelectualidade, mas também o cidadão comum, de várias classes sociais.
O bairro narrado pelo seu patrimônio arquitetônico e pelas relações sociais
entre seus moradores ao longo do tempo, tem na construção da imagem síntese de
bairro das artes, uma bagagem formada por sua história social, arquitetônica e
geográfica que abrigou práticas como as de alugar ou adquirir mansões e palacetes
para hotéis, muito comum desde o final do século retrasado. Os hotéis
representavam naquela época uma instituição e em seus salões lançavam-se novas
dança e onde tinham lugar as primeiras apresentações das bandas estrangeiras que
chegavam à cidade, os grandes bailes, inclusive os bailes carnavalescos. Os salões
constituíam, na prática social, lugares destinados à sociabilidade, um bom endereço
para encontros, conversas, prazeres lúdicos e reuniões formais e informais,
refletindo o sentido de tolerância, do prazer e da promoção. (MARTINS, 2002)
Se alguns grupos sociais de Santa Teresa buscam reconduzir suas condições
materiais de existência, quando congregam um evento como o Arte de Portas
Abertas acreditamos que, através da memória, imagens que conectam o presente
83
com o passado criam uma identidade local dando um sentido de pertencimento à
vida social constituída dessas práticas de prazer. Onde, não podemos dizer que se
trate de uma imagem simplificadora ou redutora. Então qual a contribuição efetiva
desta imagem das artes para os moradores?
A contribuição vem quando esta imagem se reverte numa dinâmica que
incentiva práticas na busca de soluções dos problemas sociais e na melhoria das
condições do espaço urbano. Efeitos deste comportamento podem ser sentidos
quando algumas lideranças e instituições locais atuam em atividades sócio-culturais
com resultados efetivos e de importante contribuição. É o caso da “Agenda 21 Local
de Santa Teresa”, documento produzido pela ONG “Viva Santa”, que identifica
através de uma ampla pesquisa com participação de vários segmentos do bairro, as
prioridades para o desenvolvimento sustentável de Santa Teresa
83
.
Também a criação do projeto “Santa Teresa Território Turístico Sustentável”
(Anexo 2, p.187) busca agregar os interesses da comunidade para promover o
desenvolvimento econômico e social integrado, aliado à conservação do patrimônio
natural e cultural de Santa Teresa, para implantação de um pólo turístico. Aqui cabe
uma ressalva analítica: se que a transformação do bairro num polo turístico vai
efetivamente canalizar políticas blicas para as principais demandas no que se
refere à habitação, saneamento, educação/saúde, segurança... Ou vai demarcar
territórios “protegidos” para os turistas e visitantes, deixando outros territórios do
bairro à margem de tal reestruturação?
Tal tendência é aquela verificada em diversos estudos nacionais e
internacionais que se referem à gentrificação dos espaços renovados pela cultura, a
demarcação de fronteiras para separar os circuitos turísticos das demais áreas do
bairro e, com isso, o abandono das políticas públicas mais abrangentes tende a se
agudizar. Esta é a crítica encontrada na literatura que talvez ajude a pensar os
limites e possibilidades deste viés de reabilitação do bairro e, quem sabe, suas
possibilidades ou traços diferencias em relação a outras experiências.
Ainda mais recentemente em 17 de junho de 2005 foi organizado um encontro
pela vereadora Aspásia Camargo, na Câmara dos Vereadores abrindo espaço para
discussão da “Legislação Urbanística e Ambiental” sobre o bairro Santa Teresa. O
evento teve a participação de representantes da Secretaria Municipal de Urbanismo,
83
Agenda 21 local de Santa Teresa documento produzido pela ONg Viva Santa, nov.2002
84
IPP, Secretaria das Culturas além da presença de arquitetos, moradores e entidades
que atuam no bairro (Anexo 3 – Audiência Pública na Câmara de Vereadores do Rio
de Janeiro, p.188).
Neste cenário também vem se agregar, a nova cena da arte contemporânea,
que se abre para o uso do espaço urbano como espaço de exposição e de produção
de obras artísticas que promove a interatividade com o público em geral.
Quando do surgimento desta nova forma de trabalho artístico, muitos
questionamentos críticos foram feitos pelo meio das artes, quanto à legitimidade de
uma arte apresentada fora de seus ambientes protetores. Mas ao longo do tempo a
crítica mostrou-se satisfeita e os trabalhos do tipo sitespecific - criados
especificamente para determinado ambiente, ganhou espaços cada vez mais em
todas as cidades do mundo e aos poucos foi se cristalizando o entusiasmo pela arte
das instalações. (BÜTTNER, 2002)
O Prêmio Interferências Urbanas vem nessa vertente e traz para o bairro uma
atitude de comunicação, que vai mais além do abrir portas. Cria como um espaço de
arte, uma linguagem catalisadora de participação ativa, transmitindo conteúdos e
atitudes na tarefa de transformar indivíduos apolíticos em cidadãos comunicativos e
responsáveis. Quando uma interferência do tipo “Preserve o vira-lata” (Figura 38),
em forma de outdoor é colocada no vidro dos ônibus do bairro, além de nos remeter
a uma figura comum às ruas do bairro, enfatiza o espaço urbano mais para a
convivência de pedestre do que para veículos em alta velocidade.
Imagem, diversidade cultural e a nova cena da arte contemporânea foram os
elementos chaves que conduziram o Arte de Portas Abertas. Neles transitamos e
refletimos acerca de uma série de situações até então não observadas e que agora
podemos reavaliar com mais precisão, sob o entendimento dos mecanismos que
desencadearam e que tornaram o evento uma referência para outros lugares do
Brasil e do mundo.
As dinâmicas sócio-culturais deram a chance de construir uma identidade
local, ou seja, uma imagem, talvez nunca antes percebida por seus moradores, mas
que na contraposição com a violência possibilitou a percepção da importância de
garantir neste lugar uma melhor qualidade de vida urbana. Fazia-se necessário
tomar a frente dos acontecimentos e o momento não poderia ter sido outro, em
meados da década de 90. Os questionamentos da época fervilhavam com a pós
85
modernidade e a fragmentação do indivíduo, processos também aqui evidentes,
esclarecendo que não seria mais possível a idéia do homem unificado.
A globalização atravessa fronteiras integrando e conectando comunidades e
organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo em
realidade e em experiência mais interconectado. A compressão espaço tempo
determina uma aceleração dos processos de forma que se sente que o mundo é
menor e as distâncias mais curtas. Todo sistema de representação escrita, pintura,
desenho, fotografia, simbolização através da arte ou dos sistemas de
telecomunicações passam a traduzir seus objetos tridimensionais em duas
dimensões (HALL, 2003, p.70).
Percebemos no Arte de Portas Abertas um esforço em acompanhar estas
transformações globalizadoras, produzindo imagem atrelada à diversidade cultural e
às artes, no entanto sem perder a dimensão temporal de sua história. Nele novas
relações espaço-tempo se estabelecem e intercâmbios com artistas de outros
lugares do mundo proliferam, uma produção local reconhece a potencialidade do
espaço urbano e explora as oportunidades de romper com os meios tradicionais de
exposição dos trabalhos artísticos. Muitos de seus participantes venceram
fronteiras e hoje fazem parte de um circuito seleto no mercado de arte.
3.2 Interferências Urbanas e Ações Coletivas de Arte
As interferências na urbe
Chegamos aqui a uma análise mais pormenorizada do Prêmio Interferências
Urbanas, que se consolidou em maio de 2000. Antes dessa data, como uma prévia,
de forma autônoma, alguns artistas fizeram pequenas intervenções nas ruas do
bairro às quais deram o nome de Arte na Rua.
Foram quatro edições do projeto que estão resumidas no Quadro 2 Edições
do Prêmio Interferências Urbanas, p.160, conforme organização seqüencial dos
catálogos produzidos para cada edição.
O Prêmio Interferências Urbanas foi criado dentro do evento Arte de Portas
Abertas e teve como objetivo viabilizar a produção de obras de caráter efêmero e
86
experimental, usando o espaço público como meio para de exibição dos trabalhos
de arte.
Um catálogo foi produzido a cada edição, mas apresentado na edição
seguinte, pois a arte de caráter efêmero só pode ser registrada após a sua ação.
Assim, no catálogo da primeira edição, publicado em novembro de 2000, uma
entrevista como o artista plástico Carlos Vergara
84
marca o momento e a importância
que o projeto trouxe para o bairro.
... e não é só isto, esta coisa de arte na rua, intervenções urbanas, reafirma
uma vocação de Santa Teresa de ser um espaço a pé. Um espaço de
caminhar. Eu acho que isto mais uma vez mostra a miopia da Prefeitura de
não incentivar este tipo de coisa, da promoção, num bairro que pode ter
uma função importante para o Rio de Janeiro. Quer dizer, nos roteiros que
você tem do Rio para o turista, um deles é caminhar em Santa Teresa, que
é bairro caminhável, onde você pode andar a pé, sem trânsito de alta
velocidade, onde o tempo se coaduna com o tempo do olhar, que é um
tempo mais lento. É isto que se devia reforçar.
Em toda edição é formada uma comissão julgadora para a seleção dos
projetos. Nesta primeira edição Carlos Vergara, curador e crítico de arte, Fernando
Cochiarale e o artista plástico Ronaldo Rego Monteiro foram os responsáveis pela
seleção dos trabalhos.
Na entrevista Carlos Vergara analisa que a maioria dos trabalhos teve um
gesto artístico tímido, e que houve uma distância entre a proposta e a realização.
85
Mas alguns trabalhos se destacaram nesta edição, como é o caso do muro de
sabão em barra (Figura 35) de Andréia Bernardi, Felipe Barbosa e Rosana Ricaldi,
pois reforçam o caráter efêmero. Num vazio deixado pelo desabamento de uma casa
é construído um muro de sabão que nos impede de ver o que está por trás (o sabão
utilizado foi da marca Rio, que tem a figura de Cristo impresso nas barras). Julio
Castro
86
se refere ao muro como algo estranho que e se integra à paisagem, ao
mesmo tempo em que tem uma coisa que provoca.
A celebre frase escrita por Karl Max, em meados do séc. XIX, “tudo que é
sólido se desmancha no ar” evoca um pouco essa situação de estranheza. A
efemeridade do muro, sem dúvida nenhuma nos leva à reflexão e se o trabalho
84
VERGARA, Carlos. Extraída da entrevista concedida a Julio Castro e Roberta Alencastro publicada na página
de apresentação do catálogo da primeira edição do Prêmio Interferências Urbanas.
85
VERGARA, op. cit.
86
Comentário do Julio Castro na entrevista com Carlos Vergara publicada no catálogo da primeira edição do
Prêmio Interferências Urbanas.
87
permanecesse mais tempo, provavelmente bolhas de sabão iriam surgir quando em
contato com a chuva.
Figura 35 Muro de Sabão
Outro trabalho que se destacou foi o do artista Ducha, com uma intervenção
luminosa, na qual a luz vermelha é projetada sobre o Cristo Redentor à noite (Figura
36) ampliando a experiência para além dos limites do bairro, sendo um dos trabalhos
que segundo Carlos Vergara se sobrepôs ao gesto tímido, referenciado por ele na
entrevista
87
. Na verdade ele utilizou gelatina vermelha sobre os refletores. Podemos
nos perguntar, porque ele não utilizou a luz azul? Cristo morreu na cruz e sua
representação simbólica é um corpo de sangue, corpo marcado tanto pelo
sofrimento físico, como pelo esforço e pelo trabalho dignificado pelas ações que ele
87
VERGARA, op. Cit.
88
perpetuou para a humanidade. Esta evocação lançada na magnitude da estatua de
Cristo, talvez seja a potência da realização deste trabalho.
Figura 36 Cristo Luminoso
Destaque também para o trabalho de Lia do Rio (Figura 37) que nos remete à
experiência do tempo quando ela fixa no chão a sombra de um poste de época no
Largo das Neves. Nada mais poético do que este momento, a fixação de uma
imagem que provavelmente se repetiram tantas e tantas vezes em outras épocas.
89
Figura 37 A sombra
A segunda edição em novembro de 2000 culmina com o aniversário de 250
anos do bairro Santa Teresa e Gloria Ferreira escreve um belo texto de abertura do
catálogo:
88
... Apoiando-se no patrimônio e na memória do lugar, os artistas o reativam
através de seus trabalhos: espaços a serem atravessados, experimentados,
tanto física quanto mentalmente. Efêmeros, com uma escala que incorpora
o contínuo urbano, criam, através da dimensão temporal, uma situação de
ativa exploração poética do espaço real. Interferindo na vida, com uma
atuação fora do sistema de exposição, geram condições para absorção da
arte por um público não especializado, igualmente comprometido com o
destino da comunidade.
A seleção dos projetos premiados foi realizada por uma comissão formada
por Everardo Miranda (arquiteto), Gloria Ferreira, doutora e professora da UFRJ e
88
FERREIRA, Gloria. Catálogo da segunda edição do Prêmio Interferências Urbanas, 2000.
90
Luiz Camillo Osório
89
. O destaque agora fica por conta do trabalho Preserve o vira
lata da artista Beatriz Pimenta, que escolhe o vira lata ícone de modelo publicitário
fixado nos ônibus que circulam no bairro, enfatizando a circulação e convivência
como condição primeira do espaço urbano
90
(Figura 38).
Figura 38 Preserve o vira lata de Beatriz Pimenta
Também O grande banco (Figura 39) de José Tanuri evoca esta
problemática, quando ele coloca um banco de tamanho inatingível, não sendo
possível sua utilização, no meio do Largo do Guimarães.
89
OSORIO, Luiz Camillo. Crítico de arte e autor do livro “Razões da Crítica”, lançado pela editora Jorge Zahar
em 2005.
90
Cf. nota.98
91
Figura 39 O grande banco de José Tanuri
O trabalho de Osvaldo Ferreira de Carvalho, Compro Arte (Figura 40) circula
pelas ruas do bairro com um caminhão e alto falantes, distribuindo filipetas,
oferecendo o serviço de comprar arte, manifesta em sua ação certo destino que a
arte pode ter enquanto mercadoria.
Chegamos à terceira edição, em junho de 2001, com a comissão de seleção
formada por Ligia Canongia, crítica de arte e curadora independente, Marcio
Doctors, crítico de arte, e Lygia Pape
91
, artista e pesquisadora que nasceu em 1929
e faleceu em 2004.
A obra de Pape destaca-se pelo caráter reflexivo e experimental, à frente de
seu tempo. Estudou com Fayga Ostrower e Ivan Serpa no início dos anos 1950,
quando se aproximou da arte concreta, com simplificação formal e utilização da
gestalt e como princípio de composição.
Desta vez Newton Goto é quem faz o texto de apresentação do catálogo com
recortes instantâneos das dez propostas premiadas.
Nesta edição dois trabalhos se destacam: o “T1 i-móvel” (Figura 41) de
Alexandre Vogler e “O Q ROLA VC. V” (Figura 42), de Ronald Duarte.
91
PAPE, Lygia. Disponível em: http://www.mac.usp.br/projetos/seculoxx/modulo3/frente/pape/
92
Figura 40 Compro Arte de Osvaldo Ferreira
Vogler cria uma casa móvel sobre rodinhas de rolimã, num micro ambiente
construído de tijolo, madeira, cobertura de fibra, marcada com uma faixa de
sinalização numa similaridade com os ambientes criados pela população que habita
as ruas. Newton Goto se refere a este trabalho como um veículo formado por um
pedaço de transladado de arquitetura, um penetrável. Uma quase casa fragmentária
nômade, conduzível entre os casarios e ruas
92
.
Ronald Duarte, com trabalho provocador propõe a lavagem com água
vermelha em três das principais ruas de acesso ao bairro, com uso do caminhão
pipa. Esta é uma metáfora de sangue e violência urbana fazendo alusão ao CV de
comando vermelho com o título do trabalho “O Q ROLA VC. V”, uma forma de
protesto que suscita reflexões. Mas por sua provocação, o pigmento que está
sujando temporariamente os bens públicos, particulares e calçadas cria atrito, a
polícia aparece e o espaço público e privado novamente vem à tona.
92
GOTO, Newton. Catálogo da terceira edição do Prêmio Interferências Urbanas.
93
Figura 41 T1 i-móvel de Alexandre Vogler
Agora estamos na quarta e última edição do Prêmio Interferências Urbanas,
em julho de 2002, que por dificuldade de patrocínio não foi realizado nas edições
seguintes do Arte de Portas Abertas.
.
Figura 42 O Q ROLA VC. V
94
Mas nessa edição oito trabalhos foram selecionados pela comissão formada
pelos artistas plásticos David Cury, Luciano Figueiredo e Julio Castro. David Cury
93
é artista plástico e mestre em artes visuais pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ, numa entrevista dada ao Portal Imprensa declara que:
"A arte na atualidade é um agente de provocação contínua de reflexão
sobre o mundo em formação. Dada essa dinamicidade, o artista
contemporâneo se empenha em refutar valores estáveis, em contestar
noções tradicionais que pudessem fornecer a falsa idéia de um mundo
estável ao espectador”.
David Cury assina o texto de apresentação do catálogo e mais que uma
análise dos trabalhos passeia pelas polêmicas e críticas feitas aos membros do júri
pelos artistas que não foram selecionados. Certo desconforto foi causado pelo fato
do regulamento permitir até dez projetos e ao final terem sido selecionados oito,
devido à capacidade financeira da premiação nesta edição.
Mas entre polêmicas vale observar o trabalho, O metrô está chegando (Figura
43) de Bruno Lopes Lima que faz uma alusão a um canteiro de obras no meio do
Largo do Guimarães revelando uma face impossível em Santa Teresa, uma obra do
metrô. Muito bem humorada, reafirma a condição da obra destacando o nome da
construtora São Sebastião nos tapumes construídos iguais ao de qualquer obra que
encontramos pela cidade.
Outro trabalho ganhador do prêmio júri popular foi o Beijo na Santa” (Figura
44) de Daniel Valentim, é instigante, alegre e poético, pois projeta a partir do bonde
em movimento, imagens de beijos nas fachadas do bairro. Este é um sentimento
acolhedor, que a noção de pertencimento a este lugar de características o
peculiares, quando o beijo passa pelos casarios ecléticos deslizando no tempo da
passagem do bonde.
93
DAVID, Cury. Trecho extraído da entrevista concedida a Eugenio Rego da Universidade do Piauí. Disponível
em:
http://portalimprensa.uol.com.br/new_focaonline_data_view.asp?code=202
95
Figura 43 O metrô está chegando de Bruno Lopes
96
Figura 44 O beijo na santa de Daniel Valentim
Igualmente poético é o trabalho do Felipe Barbosa e Rosana Ricalde, O mar,
a escada e o homem” (Figura 45) uma poesia de Augusto dos Anjos, impressa em
baixo relevo nos degraus da escadaria que liga a Rua do Oriente à Rua Cardeal
Dom Sebastião Leme. Que privilégio descer por esta escada e desvendar a cada
momento a nau que a poesia evoca:
Olha agora, mamífero inferior,
À luz da epicurista ataraxia,
O fracasso de tua geografia
E do teu escafandro esmiuçador!
Ah! Jamais saberás ser superior,
Homem, a mim, conquanto ainda hoje em dia,
Com a ampla hélice auxiliar com que outrora ia
Voando ao vento o vastíssimo vapor.
Rasgue a água hórrida a nau árdega e singre-me!
E a verticalidade da Escada íngreme:
Homem, já transpuseste os meus degraus?
E Augusto, o Hércules, o Homem, aos soluços,
Ouvindo a Escada e o Mar, caiu de bruços
No pandemônio aterrador do Caos!
A poesia de Augusto dos Anjos é caracterizada por Ferreira Gullar como
apresentando aspectos da poesia moderna, vocabulário prosaico misturado a termos
poéticos e científicos; demonstração dos sentimentos e dos fenômenos não através
97
de signos abstratos, mas de objetos e ações cotidianas; a adjetivação e situações
inusitadas, que transmitem uma sensação de perplexidade.
94
Figura 45 O mar a escada e o homem Felipe Barbosa e Rosana Ricaldi
Dessa perplexidade, que se transforma em provocação e em tantos outros
sentimentos extraímos o reconhecimento daquilo que as trinta e oito propostas
realizadas nas quatro edições fizeram no âmbito do Prêmio Interferências Urbanas:
um espaço de ações artísticas significativas. Tais ações corroboram para a
reconstituição do tecido social do bairro e fortaleceram a produção coletiva e no
mínimo associativa que os artistas se esforçam para manter.
O a(r)tivismo nos coletivos de arte
Passada as mudanças que marcaram o rumo do “Arte de Portas Abertas”
com a formação da Chave Mestra, Associação dos Artistas Visuais de Santa Teresa
um segundo momento de arte pública foi incorporado na 14ª edição.
Preocupada em manter espaços para as ações artísticas no bairro de Santa
Teresa, a Chave Mestra promove o 1º Encontro de Coletivos. O objetivo foi discutir e
pensar a arte de forma coletiva, indo um pouco mais além das interferências
urbanas, que tinha na sua essência a identificação do trabalho como via autoral.
94
ANJOS, Augusto. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos
98
As ações coletivas de arte não se configuram por seus integrantes, o autor da
obra é o coletivo e não o artista e age num contexto de intervenção pública. Os
coletivos não são cooperativas e nem associações necessariamente, mas podem
ser ao mesmo tempo, o importante é que a sua forma de atuação é independente,
buscam patrocínios, oferecem cursos ou outras alternativas no campo das artes para
se manterem.
O encontro de coletivos teve a participação de onze grupos de vários locais
do Brasil, cujas propostas disponibilizamos no Quadro 3 – Resumo das Ações
Coletivas de Arte, p.163. Além dos debates e depoimentos foi apresentado o Banco
de Dados da Rede Coro, como também ações de arte por todo o bairro.
Mas o que é a Rede Coro? São coletivos em rede e ocupação, cuja iniciativa
é formada por artistas, unindo outros artistas que trabalham coletivamente no Brasil.
Teve origem em São Paulo pelo Horizonte Nômade (coletivo de arte). Começou a se
articular em meados de 2003, a partir do levantamento de coletivos brasileiros e
iniciativas autônomas realizado por Flavia Vivacqua, desde 2000. Essa articulação
se deu basicamente pela internet circulando um questionário sobre as ações de
cada coletivo, os detalhes sobre como se organizam e produzem seus trabalhos e
como pensam a coletividade, formando assim um banco de dados sobre coletivos de
arte de todo o Brasil.
95
Esse primeiro encontro promovido aqui no Rio, no casarão da UNEI, teve
participação de importantes nomes de profissionais que atuam e refletem sobre
esses novos processos de arte e cultura. A presença da professora Dra. Heloisa
Buarque de Holanda da UFRJ, do professor Mauro Rego Costa da UERJ e da
crítica de arte Daniela Labra deram ao debate importantes contribuições nas
reflexões sobre estes processos, somado aos relatos de cada coletivo e suas
experiências.
É importante destacar que a professora Heloísa Buarque de Holanda é
coordenadora do PACC, Programa Avançado de Cultura Contemporânea. O PACC
é um programa de ensino, pesquisa e documentação vinculado ao Fórum de Ciência
e Cultura - FCC / UFRJ que abriga contribuições interdisciplinares produzidas nos
centros de pesquisa da UFRJ e de outras entidades acadêmicas e culturais e
95
Banco de Dados da Rede Coro está disponível em: www.corocoletivo.org
99
organizações da sociedade civil, no país e no exterior.
96
Autora de vários livros,
recentemente foi responsável pela organização do livro Cultura e Desenvolvimento
97
que em seu texto de apresentação afirma o seguinte:
Seguramente, o é mais possível pensar as manifestações estéticas e
culturais sem articulá-las às questões básicas do desenvolvimento
econômico e social. Por toda parte emergem novos territórios culturais e
disseminam-se novas dinâmicas de criação e intervenção que rapidamente
se articulam como respostas a interpelações aos efeitos contraditórios dos
processos neoliberais da cultura e da informação.
Observamos que neste contexto, os coletivos de arte vêm em resposta a
esses processos, produzindo este novo território e com dinâmicas que buscam
fortalecer o individual pelo coletivo.
Transitando entre os debates e as ações dos coletivos, somente algumas e
não a totalidade das onze ações foram ilustradas a seguir, mas o resumo com todas
as ações está apresentado no Quadro 3, p.163. As intervenções artísticas marcaram
as atividades por todo o bairro, como é o caso da citada ação do grupo Entorno
(Figura 6).
Outro bom trabalho foi o do grupo Nova Pasta, formado por um artista,
Túlio Tavares e que assina o seguinte manifesto:
98
A(r)tivismo é brincadeira?
O Ar(r)ivismo é sério?
Com quantos umbigos se faz um grupo?
Um(b)iguismo?
A(r)tivismo é um híbrido de arte + ativismo e ar(r)ivismo (procedimento de
quem quer vencer a qualquer custo na vida). Mais que um bem humorado trocadilho
é uma critica, com o uso da palavra Um(b)iguismo, que faz referência ao
individualismo no mercado da arte. O trabalho apresentado, na sala de exposições
no Cultural Laurinda Santos, se referia à criação de um personagem chamado
“Menossi” (Figura 46) candidato a prefeito da Bienal, que aos olhos do blico leigo
identifica o evento como retrospectivo da vida desse personagem, mas na verdade é
uma figura fictícia, cuja história é inventada e criada para confundir. Os espaços
continham fotos, textos e vídeos além de um livro de visitantes onde todo mundo
96
PACC. Informação disponível em:
http://www.pacc.ufrj.br/pacc.php
97
HOLLANDA, Heloisa Buarque. Cultura e Desenvolvimento: RJ: Aeroplano, 2004.
98
Extraído dos Anais do Primeiro Congresso Internacional de A(r)ivismo, publicado em outubro de 2003 numa
pequena brochura. Disponível em: http://www.inconsciente.tk/
100
assinava ao sair, exatamente tal qual qualquer exposição. A ação levanta a questão
da autoria e da estrutura do mercado, ponto sensível nesta nova articulação das
artes quando se trata da propriedade intelectual.
Vale pontuar as reflexões de Jacques Rancière,
99
que aponta para a
impessoalidade da criação anunciada pela revolução técnica, radicalizando a noção
de autoria que transformou a arte em uma negociação entre proprietários de idéias e
de imagens.
Figura 46 (a) Menossi para prefeito - grupo Nova Pasta
99
Jacques Rancière é professor na Universidade de Paris 8 e autor de "O Dissenso" (ed. 34). Escreve
regularmente na seção "Autores". A questão abordada nesta citação foi extraída do texto intitulado Autor
morto ou artista vivo demais?” publicado na folha de São Paulo em 6/3/2003. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0604200305.htm
101
Figura 46 Menossi para prefeito - grupo Nova Pasta
Numa outra vertente o trabalho do grupo Poro, Enxurrada de letras (Figura
47) caminha para uma linguagem mais poética fixando adesivos de letras nas saídas
dos dutos de drenagens pluviais, que muitas vezes acontecem em níveis bem mais
altos em relação à rua, ou em calçada criando a sensação de que as letras
estivessem fazendo o mesmo percurso das águas de chuva.
102
Figura 47 Enxurrada de letras do grupo Poro
O uso do espaço público para resgate da xilogravura como meio tradicional e
popular de produção gráfica é a proposta do grupo Espaço Coringa & Atelier
Piratininga com o projeto Lambe Lambe. O objetivo é realizar uma ação coletiva
envolvendo artistas, poetas e cidadãos, tendo a xilogravura (Figura 48) como foco de
interesse e a cidade como seu contraponto. Elaborar imagens e ou textos,
distribuindo cartazes produzidos em tipografia, criando em suas diversas etapas um
campo favorável para a reflexão, intercâmbio de experiências artísticas, aprendizado
e segundo os organizadores do grupo;
Resgatar um meio tradicional e popular de produção gráfica, atualizando-o
ao propor uma outra finalidade de utilização.
Ampliar a visibilidade da gravura artística, valendo-se de recursos de
comunicação simples e acessíveis.
Contribuir para a discussão sobre a cidade através de uma ação efetiva,
sobretudo nas áreas mais degradadas, favorecendo uma ação
restauradora, que venha a restabelecer a vitalidade destes locais.
Permitir o acesso imediato, direto, gratuito e diário do grande público com a
arte, ao expô-la nas ruas da cidade.
103
Promover a interação da arte com o meio ambiente urbano (arquitetura,
publicidade, veículos, objetos utilitários, etc.), ampliando consideravelmente
as possibilidades de leituras das mesmas.
Permitir que uma mesma “exposição de arte” ocorra simultaneamente em
diversos locais da cidade e mesmo em outras cidades, posto que de cada
imagem produzida foi feita uma tiragem de, no mínimo, 100 exemplares.
100
Figura 48 Xilografura do grupo Espaço Coringa
Assim os coletivos vão permeando de ações políticas, poéticas, estéticas e
sociais, dando significado ao espaço público e interagindo com o público.
Algumas idéias sobre as Interferências e os a(r)tivismos na urbe
Observamos que no Prêmio Interferências Urbanas como nos Coletivos de
Arte as ações transitam da linguagem poética, a crítica política até questões do uso
de técnicas tradicionais de arte no espaço urbano entre outras.
O bairro neste contexto figura como elemento principal e restaurador em
relação aos antigos espaços museificados das relações sociais do qual a arte está
intimamente ligada, e neste sentido Santa Teresa sai à frente de tudo o que mais
100
Extraído do resumo das ações coletivas. Quadro 3.
104
acontece em termos de produção artística em espaço público na cidade do Rio de
Janeiro.
Os movimentos de arte efêmera, ou seja, sitespecific, produzido para
determinado local percorre o mundo globalizado desde a década de 70. Inicialmente
era o seu caráter único, de modo que não pudesse ser transportados ou transferidos
para outros contextos, o que consequentemente redundava em sua destruição após
o término da exposição.
O efêmero potencializado na sua maior condição permeia toda produção
artística contemporânea e se agudiza a ponto de trabalhos como o de Arthur Barrio,
em maio de 1970 que permanece 4 dias e 4 noites, nome do trabalho,
perambulando pela cidade do Rio de Janeiro numa experiência de deriva.
101
.
Referenciados pelos situacionistas
102
, os coletivos de arte chamam a atenção
de paisagens escondidas e evocam um re- ligare afetivo com os espaços públicos.
Não é um revivel, segundo Luiz Camilo Osório
103
uma vontade de inserção na
vida; há uma articulação entre arte e política, mas é outro contexto, outra realidade.
Nestas transformações muitas das ações e ou intervenções foram sendo
reutilizadas em novos espaços, inclusive em outras cidades do mundo como é o
caso do trabalho do grupo RRadial que construiu uma grande chaminé de ferro e fez
o trabalho “Fumacê do Descarrego. Com o objetivo de utilizar as tradições brasileiras
e promover um grande descarrego pelas ruas da cidade, nos moldes de uma festa
de sincretismo religioso, seja ele católico, umbanda, candomblé, ervas aromáticas
típicas de defumação de ambientes são queimadas na chaminé, a qual é
transportada sobre a carroceria de uma pick-up. Como a chaminé pode ser
construída de qualquer tamanho e formato, se adaptando às condições locais, não é
imprescindível transportá-la para outros lugares, em cada lugar se adapta uma
chaminé, apenas se transportam as ervas, o que sempre causa um reboliço na
alfândega.
101
Informação extraída da reportagem intitulada “A explosão do (a)rtivismo”, de Juliana Monachesi para a Folha
de São Paulo em 6/3/2003. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0604200305.htm
102
Movimento surgido em Paris nos anos 60, liderado por Guy Debord, que propunha uma revitalização do
urbano pela arte; por meio da “psicogeografia”, os situacionistas buscavam uma religação afetiva com os
espaços desvitalizados.
103
Cf. nota 101.
105
Este trabalho percorreu cidades na Alemanha e mais recentemente participou
do projeto “Coletivações”
104
e foi o maior sucesso pela situação inusitada, pois em
qualquer lugar pode-se precisar de um descarrego para “limpeza espiritual” (Figura
49 e Figura 50).
Figura 49 Fumacê do descarrego do grupo RRadial no
Rio de Janeiro
Figura 50 Fumacê do descarrego do Grupo RRadial
em Paris outubro 2005
Com a visão de se transpor para outros lugares, sem a perda da qualidade da
proposta, muito pelo contrário, arregimentando um público maior e difundindo as
idéias centrais, percebe-se mais do que entretenimento os trabalhos assumem
também questionamentos políticos sociais na cidade.
Em especial as ações desenvolvidas pelos grupos de São Paulo têm
chamado a atenção. Um forte movimento de coletivos de arte ocuparam juntamente
com o MSTC (Movimento Sem Teto do Centro) o prédio Prestes Maia, na área
central da cidade, em manifesto à insensibilidade do poder público com o problema
da falta de moradia. Intervenções de arte como o do grupo Esqueleto Coletivo
104
Coletivações é um projeto organizado pelos artistas Ana Prado, Julio Castro, Flávia Vivacqua, Adalgisa
Campos e Abigail Nunes na ONG Arte e Ofício, para o Ano-Brasil na França. O projeto promoveu no período
de 1 a 15 de outubro de 2005 uma série de intervenções na cidade Paris durante a Nuit Blanche, além de
exposição e fórum de debates na universidade de Saint Denis 8.
106
(Figura 51) e ajuda humanitária contribuiriam para reflexão daquele espaço até
então abandonado, pois os artistas pesquisaram a história local, documentaram e
incentivaram discursos atuais com a comunidade. Neste trabalho o é o aspecto
artístico que o definiu, mas sim o processo participativo.
Figura 51 Ocupação Prestes Maia Esqueleto Coletivo
Os coletivos de arte vêm atuando marcadamente nos últimos cinco anos e
promovem uma resistência aos métodos tradicionais de comunicação de arte.
Buscam outros canais alternativos e principalmente atuam de forma coletiva. Seu
potencial está no processo de fortalecer o indivíduo pelo coletivo. Esta é a diferença
principal entre os trabalhos produzidos pelas interferências urbanas em relação aos
coletivos de arte.
Isto se reflete também em diferentes formatos de criação artística, tendendo
de certa maneira no caso dos coletivos para ações muito mais de iniciativas sociais.
Às vezes se questiona, mas precisa ser artista para criar estas intervenções? Pode-
107
se dizer que necessariamente não. Muitas vezes o artista é o iniciador do processo e
seus aliados e públicos em geral assumem a corrente que vai se desencadeando de
uma idéia inicial, não sendo possível ao longo do processo identificar seu
idealizador.
Mas fica a pergunta: como o artista sobrevive com este tipo de trabalho? Os
artistas enfrentam um desafio de executarem seu trabalho num campo experimental
situado entre a participação ativa da sociedade, colocações propriamente artísticas e
a documentação do real. Assim as tentativas vão desde a abordagem de eventuais
parceiros, passando pela elaboração artística das contribuições até a oferta de
participar de novas estruturas de percepção. (BÜTTNER, 2002)
Esta auto-gestão elimina o curador, figura centralizadora no sistema das
artes, que ao contrário dos coletivos, atua de forma rizomática e nômade marcando
sua diferença no cenário das artes.
No Rio o grupo Imaginário Periférico atua nesta linha, no seu corpo podemos
assim dizer existem mais de duzentas pessoas, em sua maioria do subúrbio e
periferia da cidade. Seus trabalhos o voltados preferencialmente para zonas
menos privilegiadas de infra-estrutura em geral e em locais de grande circulação de
público. Atuam de forma bem humorada como, por exemplo, no trabalho produzido
para o projeto Coletivações
105
levado para Paris. O projeto mesmo tendo sido
aprovado oficialmente pelo Ministério da Cultura para a amostra paralela, teve
dificuldades de patrocínio e não conseguiu custear as passagens dos artistas
participantes.
O grupo Imaginário Periférico lança mão dessa dificuldade e, imediatamente
utiliza o recurso da fotografia para levar as imagens de seus participantes. Produz
máscaras sobre papel fotográfico impressas com a fotografia em tamanho real do
rosto de cada participante. Para ele, não bastava levar as máscaras, quem as
usaria? Bem, além dos artistas presentes na Nuit Blanche o público em geral foi
convidado a participar utilizando as máscaras. Foram produzidas cerca de 100
máscaras e o resultado foi positivo, incorporando um público maior e dando um
caráter mais interativo entre os artistas e o público em geral (Figura 52).
105
Cf. nota 105
108
Figura 52 Máscaras, Imaginário Periférico, para o projeto Coletivações
A cada momento e situação existem soluções e alternativas para se promover
e se comunicar com o público. Muitas vezes as ações transitam da performance
para a dança, ou para o teatro, mais que uma multiplicidade são na verdade
trabalhos transdisciplinares, pois nenhum exclui o outro, todos atuam ao mesmo
tempo.
A respeito da transdisciplinaridade vale evocar a Declaração de Veneza
106
,
que no simpósio promovido pela UNESCO em março de 1986, faz referência a este
termo no item três e que segundo Pierre Weill
107
é uma resposta à crise de
fragmentação em vários campos do conhecimento:
Recusando qualquer projeto globalizador, qualquer sistema fechado de
pensamento, qualquer nova utopia reconhecemos ao mesmo tempo, a
urgência de uma pesquisa verdadeiramente transdisciplinar em intercâmbio
dinâmico entre as ciências "exatas", as ciências "humanas", a arte e a
tradição. De certa forma, esta abordagem transdisciplinar es inscrita em
nosso próprio cérebro, através da interação dinâmica entre seus dois
106
Declaração de Veneza é um documento que sintetiza as discussões do Simpósio sobre “A ciência e as
fronteiraras do conhecimento: prólogo do nosso passado cultural” promovido pela UNESCO em 7 de março de
1986. Disponível em:
http://www.unipazrj.org.br/veneza.htm
107
WEILL, Pierre. Rumo à transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento. São Paulo. Summus
Editorial, 1993.
109
hemisférios. O estudo conjunto da natureza e do imaginário, do universo e
do homem poderia, assim, melhor aproximar-se do real e permitir-nos
enfrentar melhor os diferentes desafios de nossa época.
Em tudo que discorremos neste texto, percebemos que os coletivos de arte
são expressões vivas e abertas da arte contemporânea atuando como resposta aos
sistemas fechados de pensamento, buscando transitar entre arte, filosofia, ciência e
tradições do saber.
Mas qual a relação destas formas de atuação em arte com o espaço de Santa
Teresa? Precisamos antes de tudo entender que a falta de políticas públicas de
desenvolvimento, impulsionam muitas vezes mecanismos de atuação que
incorporam noções de sustentabilidade, endogenia, e autonomia, nas quais formas
cooperativas, associativas e de micro e pequenas unidades empresariais ganham
destaque à escala local.
Vínculos dessas noções com o espaço em Santa Teresa o evidentes. O
próprio surgimento da Chave Mestra e de outros organismos, como é o caso dos
coletivos de arte que atuam de forma mais autônoma, não deixam dúvida.
Este sistema endógeno, que se inicia no próprio local, também é uma
característica dos sistemas de Desenvolvimento Local
108
(DEL) e, portanto a ele
estão vinculadas também as dimensões sociais, culturais e políticas junto à
dimensão econômica.
Outro aspecto que cabe destacar em Santa Teresa é que nesta tendência
endógena de ações, ao contrário de outros projetos de “renovação urbana pela
cultura” que foram produzidos “de fora para dentro”, os eventos culturais de Santa
emergem da própria mobilização de atores locais e da própria história da
constituição de redes de atores. Isto é muito diferente de produzir um megaevento
inédito no lugar ou construir um grande museu como âncora de um projeto de
renovação.
108
CRUZ, José Luiz Viana, Trabalho, renda e desenvolvimento local: algumas questões, apresentado numa
reunião de estudo sobre desenvolvimento local organizado pelo SERE - Serviços de Estudos e
Desenvolvimento Sustentável em março de 2005
4. VISÕES E REPRESENTAÇÕES NO BAIRRO
Este capítulo propõe realizar uma reflexão sobre as diversas falas dos
entrevistados, sob uma abordagem que procura organizá-las em eixos temáticos.
Tais falas dos sujeitos, apoiadas em valores e representações acerca da cultura e
suas interfaces com o espaço urbano constituem motores que de alguma maneira
impulsionam as ações de arte e cultura em curso no bairro.
Os eixos temáticos escolhidos foram frutos de uma análise de questões que
surgiram ao longo da dissertação e estão divididos em seis temas: imagem,
diversidade cultural, movimentos artísticos, propostas para o bairro, segurança e
legislação local.
No que tange à construção da imagem do bairro vale lembrar sua relação
com as esferas da comunicação, da informação e da produção do espaço: “o
capitalismo na sua fase atual se realiza produzindo um novo espaço, as demandas
do capital frente às cidades não o apenas as de produção, mas também as
referentes à informação e comunicação” (SANCHEZ, 2001, p. 155). Neste contexto
os processos de comunicação reunidos ao redor da produção da imagem da cidade,
seus atores e discursos tecidos em precisas correlações de poder, levam à
configuração de um novo ethos ou código social, um conjunto de valores que
estimula formas de ser e de viver nas cidades de hoje (SANCHEZ, 2001, p.157). O
esforço de análise, portanto, caminha na direção do reconhecimento deste ethos do
bairro, em seus elos com as dinâmicas e eventos culturais.
Um marco importante na transformação da imagem do bairro que se
desenvolve em meados da década de 90 é o evento Arte de Portas Abertas. Ele
surge como fruto de um movimento de atores locais, na contramão do pensamento
delineado em outros locais fundamentado nos conceitos de city marketing. Emerge
111
como uma força que impulsiona certa revitalização local, objetivo das primeiras
edições conforme nos descreve Renata Bernardes
109
, coordenadora da ONG Viva
Santa (informação verbal):
Desde antes do Arte de Portas Abertas que tenho uma preocupação com a
imagem do bairro. Ele surgiu fruto desta preocupação, pois sentia
necessidade de revitalizar o bairro com atividades culturais no contraponto
da imagem negativa de violência da época (1996). Era um projeto de
revitalização, não era para projetar os artistas.
Aqui observamos o movimento inicial gerador de um processo que mais tarde
se desenvolve em direção à construção de um aspecto cultural da vida urbana que
Julio Castro bem coloca (informação verbal):
110
A arte reconhecida no espaço urbano que é hostil, mas que exibe uma coisa
que foi construída e mostra um aspecto cultural no qual o homem constrói
na sua relação com a sociedade, sendo a arte a mola mestra.
A dimensão da arte começa a se sobrepor à simples imagem de revitalização
do espaço urbano e um novo procedimento em relação ao “Arte de Portas Abertas“
se inicia ligado mais estritamente às questões da arte, visto por Julio Castro como
um espaço de oxigenação em relação à produção artística;
O Arte de Portas Abertas veio ganhando contorno a cada edição, trouxe
uma dinâmica que foi se renovando com uma oxigenação em relação à
produção da arte. Eu vejo como um espaço para olhar a produção artística,
ver a arte, andar no bairro numa dinâmica em que arte dá o tom.
111
Em se tratando de movimentos artísticos, mais especificamente das artes
visuais faz algum tempo que certo rompimento com as formas tradicionais de
expressão vem tomando corpo, até então muito presente e quase somente
apresentados em espaços museificados e dominados por seleções de curadores
pautados exclusivamente no mercado da arte.
Neste processo, o trajeto seguido pela arte foi gradativamente negando tudo
que se relaciona de forma mais direta com o conceito de estética tradicional e à idéia
daquilo que é permanente e durável, ou seja, à moldura na pintura, à escultura no
109
Informação verbal extraída da entrevista com Renata Bernardes, 2005, ver Quadro 4 – Atores entrevistados.
110
Informação verbal extraída da entrevista com Julio Castro, 2005, ver Quadro 4 – Atores entrevistados.
111
Cf. nota 110.
112
pedestal, à exposição em espaços convencionais como museus e galerias.
(ARANTES
112
, P)
É importante entender que desde o começo do século a definição de arte tem
sido explodida por todos os lados. Duchamp como diz Ricardo Rosas
113
acendeu um
pavio que viria detonar muita coisa dali para frente e o Brasil não escaparia deste
conflito. A arte do ponto de vista estético deixa de ser o fim e passa a ser o meio
provocando certo desapego ao “status da arte propriamente dito e uma
conseqüente entrega à vida. A renuncia à arte não significa a negação total dos
procedimentos estéticos, mas uma passagem para o papel do artista como pensador
e criador de estratégias de ação. Daí então a importância do conceito, desta mesma
herança conceitual de que parte da arte brasileira é tão rica.
No Brasil, diferentemente de outros países, no que diz respeito à arte
conceitual, mesmo que artistas como Hélio Oiticica tenham ido à Mangueira e criado
o Parangolé nos anos 60 (JACQUES, 2001), ou Cildo Meirelles com inserções em
circuitos ideológicos, entre outros, tais intervenções não foram exploradas além do
ponto em que pararam, segundo Ricardo Rosas (ibid). Ainda segundo Rosas, as
ações conceituais mais politicamente incisivas no Brasil não tiveram continuidade,
ao contrário de outros lugares, onde a arte conceitual ativista permaneceu
florescendo, com diversas nuances dos anos 60 até hoje. Por aqui, segundo ele, os
anos 70 e 80 assistiram ações de vários coletivos como Viajou Sem Passaporte,
3Nós3 ou Tupi Não Dá, mas esse liame se perdeu em algum lugar dos anos 80 e
tais formações só retornariam em meados dos anos 90.
Estes processos são percebidos pelos artistas e de certo modo propiciam
contextos culturais para a geração de novas expressões e ações artísticas. o é à
toa que neste período surge o Arte de Portas Abertas, mesmo que em seu primeiro
momento tenha sido fruto apenas da necessidade de renovação urbana em Santa
Teresa. Mas aos poucos a cada edição o introduzidas novas formas de
interlocução com os diferentes matizes que o ambiente da arte vem desenvolvendo.
Newton Goto, artista de Curitiba que acompanhou durante um determinado
tempo o processo dos movimentos artísticos de Santa Teresa aponta para questões
112
ARANTES, Priscilla. Fronteiras líquidas: o artista construtor de espaços-afetos. Disponível em:
http://www.canalcontemporaneo.art.br/tecnopoliticas/archives/2005_11.html
113
ROSAS, Ricardo. Notas sobre o atual estado de coletivismo artístico no Brasil. Disponível em:
http://www.rizoma.net/interna.php?id=229&secao=artefato
113
contidas no discurso da arte contemporânea e que interferem de forma significativa
na vida urbana (informação verbal):
114
...Santa Teresa tem uma característica bem singular, os eventos aqui se
manifestam com estratégias muito específicas, muito próprias, que têm um
sentido público, mas têm lógicas próprias de funcionamento
,
com diferentes
formas de mediação dessa relação da arte com o público.
As particularidades do bairro são desenhadas pela situação geográfica e pela
manutenção de um sítio histórico resistente às grandes transformações típicas das
mega-cidades. O espaço público aqui nos remete a memórias e o artista entra como
um catalisador de um conjunto de idéias e valores com vida própria e independente
que fazem parte do seu novo papel, como destaca Goto com um olhar muito
especial sobre este assunto:
... antes o que se evidenciava era do artista esperar ser mapeado, esperar
receber a leitura sobre o seu trabalho. Hoje o artista quando faz o seu
trabalho, aquilo e uma proposta e ela vem com um conjunto de idéias e
valores, com um pensamento, vem com uma reflexão e essa reflexão pode
se afirmar sem precisar de um aval ou de ser escolhido por ninguém, ela se
afirma, não é achada.
A ação do artista parte do pressuposto de sua própria avaliação e se afirma
mediante a interlocução com o público. Desta forma o artista se aproxima cada vez
mais da vida social do bairro, participando com interferências e criações coletivas
que podem trazer à tona a história local ou propiciar novos espaços na cena cultural.
não se engane, ativismo aqui é uma etiqueta plastificada para leitores
ávidos por novas tendências com um quê de rebeldia inofensiva. Criação
coletiva aqui diz muito mais respeito ao funcionamento e propagação das
novas “indústrias criativas” e seu trabalho flexível, que à contestação da
autoria ou militância política. (ROSAS, 2005)
115
Dos anos 90 para cá as criações coletivas de arte passam a ocupar esta cena
e surgem mais intensamente ocupando espaços nunca antes adotados pelo circuito
tradicional para exibição de seus trabalhos.
O Arte de Portas Abertas é o resultado dessas criações coletivas de
participação mais ativa do artista entremeado com o espaço urbano e não podemos
nos esquecer que hoje ele é coordenado por uma associação de artistas, a Chave
114
Informação verbal extraída da entrevista com Newton Goto, 2005, Quadro 4 – Atores entrevistados.
115
CF. nota 113.
114
Mestra que desde o início conclama em seu manifesto de fundação a vocação do
bairro para a cultura como promoção de integração social.
116
“O Arte de Portas Abertas é o que é porque uma centena de pessoas
trabalha Arte em Santa Teresa”. E um fim de semana por ano é apenas uma
pequena parte do nosso potencial. Podemos fazer de Santa Teresa um
bairro realmente de arte todo o ano que confirme sua vocação para a
cultura, promovendo ainda mais a integração social da arte com nossa
comunidade.
Esta é a base para a organização da Chave Mestra - ASSOCIAÇÃO DOS
ARTISTAS VISUAIS DE SANTA TERESA. Unir. Transformar a associação
informal decorrente do Arte de Portas Abertas em um vínculo permanente e
produtivo.
Unidos podemos potencializar a força do Arte de Portas Abertas para os
projetos que temos e ainda outros que poderão ser estruturados. Divulgar
nossos trabalhos, ser centro de informações, central de idéias e ponte de
inserção no circuito de arte. Unidos podemos implementar um calendário de
atividades que beneficie todos os artistas e todo o bairro. Então, o Arte de
Portas Abertas será o clímax, a celebração de um trabalho contínuo, forte,
associativo e independente”.
Assim em Santa Teresa o pioneirismo do Arte de Portas Abertas estimula o
surgimento de outras atividades sócio-culturais, como é o caso do “Cama e Café”,
uma rede de hospedagem estilo bed and breakfast, coordenada por João
Vergara
117
. Esta rede foi criada com o apoio da Ong DIALOG dentro do projeto
“Iniciativa Jovem”, incubadora de “empreendedorismo sustentável”
118
, patrocinada
pela SHELL, que estimula ações de empreendedorismo feitas por jovens para Santa
Teresa. Vale ressaltar que o “Cama e Café” é a primeira rede de hospedagem deste
tipo no Brasil e que também foi premiada pela PUC-RJ como o melhor plano de
negócios formulado por jovens empreendedores. O objetivo da rede é abrir as
residências dos moradores de Santa Teresa para hospedagens turísticas nacionais
e internacionais. Como conseqüência desta iniciativa e também sob a coordenação
de João Vergara, surge a LUNUZ e como diz o próprio Vergara (informação verbal):
119
...é uma associação sem fins lucrativos de pessoas que pensam em efetivar
e traduzir em ações reais, práticas objetivas e mensuráveis de criar um
116
Manifesto Chave Mestra, documento produzido para a primeira assembléia da associação em 2003.
117
Informação verbal extraída da entrevista com João Vergara. Quadro 4 – Atores entrevistados.
118
Empreendedorismo sustentável es ligado ao campo do desenvolvimento econômico local (DEL) que
constitui atividades de geração de trabalho e renda e incorpora noções de sustentabilidade, endogenia e
autonomia nas quais formas associativas, de micro e pequenas unidades empresariais ganham destaque à
escala local. CRUZ, José Luiz Viana, Trabalho, renda e desenvolvimento local: algumas questões.
Apresentado numa reunião de estudo sobre desenvolvimento local organizado pelo SERE Serviços de Estudos
e Desenvolvimento Sustentável em março de 2005.
119
Informação verbal extraída da entrevista com João Vergara, ver Quadro 4 - Atores entrevistados.
115
mundo melhor, propõe ir além da inclusão social e da responsabilidade
ambiental ligada estritamente à questão da hospedagem.
A LUNUZ surge para complementar a rede de hospedagem e lança o projeto
“Santa Teresa Território Turístico Sustentável” em parceria com o Sebrae/Rj e o
Cama e Café. O principal objetivo é consolidar o charmoso bairro carioca de Santa
Teresa como um ambiente onde turista e moradores estejam integrados com os
anseios da comunidade e os benefícios a ela gerados permaneçam em harmonia,
preservados para as gerações futuras. Iniciado em 2003 o projeto agrega a
participação da comunidade, atividades de capacitação de profissionais para o
turismo, estratégias de marketing para a busca do turista que se deseja para Santa
Teresa e uma pesquisa de controle de impacto turístico desenvolvida pelo Instituto
Theoros
120
. Segundo João Vergara a LUNUZ vem para ampliar a área de atuação,
sempre pensando no terceiro setor, mantendo o Cama e Café como uma rede de
moradores que tem visões em comum, pois vários deles são de famílias de
importância histórica para o bairro e isso agrega uma grande rede social (informação
verbal).
Outra iniciativa resultado do mesmo trabalho do projeto “Iniciativa Joveme
também premiada pela instituição como projeto inovador de empreendedorismo é o
“Cine Santa”. Com uma proposta inovadora, mais do que abrir uma sala de cinema o
Cine Santa surgiu por conta da experiência pessoal da Fernanda Oliveira
121
, que
mudou sua vida quando pela primeira vez aos treze anos foi ao cinema. Mais tarde
quando começou a trabalhar na locadora do “Estação Botafogo”, Fernanda percebeu
que o cinema enquanto ferramenta artística, enquanto arte, enquanto ação de
empreendimento cultural pode transformar pessoas, pode transformar deformações,
pode mudar formações (informação verbal). A partir daí, segundo Adil Tiscati
122
produtor executivo do Cine Santa é que surge o slogan criado por Fernanda Oliveira
que define muito bem a proposta do Cine Santa: “Cultura e Cidadania através do
Cinema”. Ainda segundo Adil Tiscati o Cine Santa tem dois objetivos (informação
verbal):
120
Cf. nota 14.
121
Informação verbal extraída da entrevista com Adil Tiscati e Fernanda Oliveira, 2006. Quadro 4 - atores
entrevistados
122
Cf. nota 121
116
O primeiro é tentar provocar nas pessoas o que aconteceu com a Fernanda,
esse impacto da arte cinematográfica e de quanto ela pode penetrar no
indivíduo. O segundo é tornar a ida ao cinema um hábito cultural, da pessoa
consumir cultura, tal como compra comida, vai a restaurante, entender que
comprar cultura é tão importante quanto comprar comida, esse é um
conceito nosso.
Mas como qualquer iniciativa cultural, as dificuldades de patrocínio são
muitas. Depois de algumas peregrinações, sem resultados concretos na captação de
recursos, Fernanda Oliveira e Adil Tiscati resolvem colocar a mão na massa e
assumem a implantação do projeto com os próprios recursos. Em sua primeira fase
usa as ruas do bairro para projeção de filmes e mais tarde, numa parceria com a
Igreja Anglicana
123
, localizada próxima ao Largo do Guimarães, passam a projetar
filmes “cults” dentro da igreja, mais exatamente, sobre o altar. Aqui podemos
desdobrar esta questão, pois pra de inusitado a intervenção espacial vem
expressar a contramão daquilo que vem acontecendo na cidade do Rio de Janeiro,
quando grandes espaços de cinema, tradicionais e de arquitetura de época são
fechados para abrigar espaço de “culto” das igrejas evangélicas. Hoje avançando na
sua proposta e novamente inusitado, sai da Igreja, onde fez grande sucesso
124
e
passa a ocupar parte do prédio da Região Administrativa – RA, local onde antes sua
maior área era ocupada por um posto policial. Ali é aberta uma sala de cinema com
cinqüenta lugares, com ar condicionado e projetores de 35mm e 16mm, onde o
espectador tem acesso visual às máquinas. Aos poucos o posto policial vai sendo
deslocado para os fundos do prédio e uma nova área é ocupada com o Cine Galeria,
espaço de exposições regulares, agregando ao cinema as outras formas de arte.
Também outra iniciativa começa a fazer uso deste espaço: a REST Rede de
Empresários de Santa Teresa, que usa um pequeno trecho da recepção para
colocar ali orientações ao público, turista e moradores sobre todos os serviços
oferecidos no bairro.
Percebemos que tal qual o Arte de Portas Abertas, coordenado pela Chave
Mestra que abre as portas dos ateliês para exposição pública, oferecendo uma
fluidez entre arte e espaço urbano, espaço privado e espaço público, promovendo
uma troca, do dentro e fora e vise-versa, no Cama e Café lança-se o da mesma
123
Diferentemente de outras igrejas, a Igreja Anglicana por meio de sua dirigente, Reverenda Inamar, permitiu o
uso do espaço de culto para a iniciativa do Cine Santa.
124
No site Cine Santa existem várias manifestações do público parabenizando a iniciativa do cinema no bairro.
Disponível em: www.cinesanta.com.br
117
proposta: o morador abre sua casa para receber o turista oferecendo a mesma
fluidez, de generosidade e de troca com o outro, de sobreposição do espaço privado
e espaço público. Ambos, afirmam experiências sociais e geram sociabilidades
múltiplas, associadas à criação das referências do lugar e, portanto, da sua
identidade. Igualmente o Cine Santa, mais do que abre, provoca uma ruptura cultural
num lugar sagrado, trazendo para o morador certo sentimento de integração com
aquele espaço, antes somente utilizado para fins religiosos. A possibilidade de
convergência entre morador, cinema e igreja promovem uma leitura inusitada do
espaço arquitetônico, subverte a semântica do re-ligare do culto religioso tradicional
e propõe uma re-ligação dos moradores, uma integração por meio da fruição
artística, simultaneamente da arte, do cinema e da arquitetura.
O Cine Santa, em sua nova estruturação, mais uma vez rompe com um
formato amalgamado, de uma estrutura de poder instalada durante muito tempo e
bem no coração do bairro. A edificação da Região Administrativa localizada no Largo
do Guimarães, que até então era mais conhecida por causa do posto policial, e aqui
não podemos deixar de frisar que tal localização tem suas razões, face aos
constantes problemas relacionados à violência urbana, hoje passa a ser mais
conhecido como Cine Santa.
Tomando estes processos de mudança, aqui exemplificados com a abertura
dos novos espaços de convivência que se refazem num continuum entre as
dimensões privada, coletiva e pública dos espaços, podemos analisar que algo de
diferente ocorre em Santa Teresa, no que diz respeito a tais iniciativas em sua
ligação aos movimentos sócio-culturais. Parece possível comparar à idéia do artista
como condutor das suas reflexões e agente construtor de espaços para
apresentação do seu trabalho, ao morador que abre sua casa para hospedagem
também entendido como o condutor de uma transformação que vem se dando
lentamente, de dentro da sua casa trazendo para fora o reconhecimento de um lugar
bom para se viver. O Cine Santa também cria seu espaço de participação coletiva,
quando oferece desconto preferencial na entrada para moradores do bairro e
quando participa neste ano de 2006 do maior festival de cinema da América Latina,
o FestRio, representando sua integração com o que acontece de mais atual no
Brasil.
Mas que conseqüências advêm destas iniciativas? Bem, João Vergara,
coordenador do “Cama e Café” acredita que a rede de hospedagem tem um grande
118
potencial de articulação social e que abre espaço para outras formas de interlocução
com o morador, que em reuniões expõe seus medos e ou opiniões sobre o que
acontece em determinada área do bairro, favorecendo o debate de propostas e
discussões. Julio Castro, diretor presidente da Chave Mestra acredita que a arte
reconhecida no espaço urbano de Santa Teresa exibe uma natureza distinta,
resultado de processos sociais construídos, e isto estabelece uma relação com o
meio, com o bairro enquanto território social, dando mais vigor à arte propriamente
dita. Adil Tiscati e Fernanda Oliveira acreditam que quando o projeto é bom e ganha
adesão de diversos grupos sociais do bairro, significa que esses grupos se replicam,
mostrando que aquela idéia é do bairro. Tal esforço corrobora no sentido de trazer
mais público de fora para o cinema.
Percebemos que algo em comum transita nas três falas, a relação dos seus
ofícios com o espaço do bairro. Esta é uma relação muito direta e se analisarmos
mais atentamente, à medida que cada uma destas ações se consolida no espaço
urbano, uma rede de serviços surge como subsídio ao público que ora acorre ao
bairro, promovendo certo aquecimento econômico local. Assim, questões de
geração de trabalho, emprego e renda são fortemente ligados a estas iniciativas.
Neste campo é preciso recuperar aquilo que vem sendo denominado
“Desenvolvimento Econômico Local” DEL que tem por objetivo promover o
desenvolvimento econômico à escala local e regional na perspectiva das novas
relações competitivas do capitalismo apresentadas no artigo de José Luiz Viana
Cruz
125
. Aqui cabe a colocação de trechos destacados do artigo, que esclarecem
qual o caminho que estas iniciativas locais estão tomando.
Do ponto de vista da articulação dos fundamentos e das estratégicas, das
propostas e das práticas, que disputam espaço no campo do DEL, no Brasil,
podemos distinguir duas grandes tendências.
Nota-se que aqui o autor assinala a disputa de fundamentos e orientações
diferenciados no campo do desenvolvimento econômico local. Assim, ao contrário de
haver um único sentido, como o uso corrente e banalizado do conceito, é indicada
as diferenças e uma investigação em qual das orientações podem ser mais bem
125
CRUZ, José Luiz Viana. Trabalho, renda e desenvolvimento local: algumas questões. Apresentado numa
reunião de estudo sobre desenvolvimento local organizado pelo SERE - Serviços de Estudos e
Desenvolvimento Sustentável em março de 2005
119
situados os processos estudados. As dinâmicas e processos associados à primeira
tendência são assim definidos por Viana:
A primeira identificada com os fatores de ponta da dinâmica competitiva,
comandada pelo mercado, ou market led, pelos grandes capitais e grandes
corporações, que imprime um ritmo bastante intenso às inovações, gerando
fusões, aquisições e associações.... Integração que pode se dar através dos
sistemas produtivos e de inovação locais, constituindo-se, portanto, em uma
estratégia de desenvolvimento local...
A visão sistêmica da competitividade, geradora de vantagens
concorrenciais, constitui, portanto, um elemento-chave das concepções de
DEL. Ele responde pela dinamização da produtividade e da capacidade de
inovação...
Saliente-se que este conjunto de processos constitui sistema de atualização
ou refuncionalização do próprio desenvolvimento capitalista e baseiam-se na
constituição de parcerias e coalizões com interesses localizados, muitos deles com
atores externos ao local. Quanto à segunda tendência, o autor aponta:
A segunda tendência, apesar de incorporar as inovações técnicas e alguns
elementos do mercado, provém de uma crítica mais profunda às propostas
market led. Busca desenvolver estratégias apoiadas na promoção e
emancipação das classes, grupos e segmentos sociais historicamente
penalizados pelo desenvolvimento capitalista. Preocupa-se com elementos
utópicos de construção de formas e relações de produção e consumo
alternativos aos predominantes no capitalismo. Suas origens podem
também ser encontradas nas práticas espontâneas de auto-organização e
autogestão de empresas e organizações econômicas dos trabalhadores. É
o campo onde se situam as concepções, propostas e ações que se
consideram comprometido com a construção da economia solidária e da
economia dos setores populares. Estas valorizam formas associativas,
solidárias, de organização de cooperativas e empreendimentos, por parte
dos trabalhadores assalariados e autônomos. Assume a dimensão política e
elabora esboços de uma economia em novas bases.
Essa perspectiva orienta um conjunto menor de ações do poder público,
estando mais presente nas propostas e ações de movimentos sociais e
classistas, de algumas ONGs e Universidades. A escala local, nessa
estratégia, é trincheira de resistência e locus de construção de práticas
alternativas ao novo padrão capitalista e às políticas neoliberais; é, ainda,
campo de construção de um poder local mais democrático,
A segunda tendência, dentre as duas orientações de DELs é a que parece
traduzir melhor os processos que vêm ocorrendo em Santa Teresa. Sem uma
elaboração estratégica as diversas concepções são comprometidas com uma
economia solidária, em todas a integração social nas formas de cooperativas e ou de
associações são valorizadas e dão corpo a uma economia local em novas bases. As
práticas alternativas de participação, de trocas de mercadorias que alimentam uma
cadeia produtiva fortalecem o desenvolvimento local.
120
Neste ponto parece encontrar-se a nossa resposta à pergunta sobre as
conseqüências dessas iniciativas sócio-culturais. A promoção, mesmo que
fragmentada, de um aquecimento na economia local, onde cada uma das
instituições, Chave Mestra, Cama e Café, LUNUZ e Cine Santa, atuando em seus
campos específicos, congregam ações que parecem estar orientadas em direção
bastante distinta a qualquer concepção de renovação urbana nos moldes do
planejamento estratégico e seus correlatos: os grandes projetos urbanos, as
grandes operações fundiárias e imobiliárias, a arquitetura espetacular, os museus de
grife e o city marketing, como processos e instrumentos de uma vertente cultural
ditada pelas regras do mercado.
Mas não se pode deixar de refletir sobre algumas preocupações a respeito da
escala local, a exemplo do que Carlos Antônio Brandão (2003, p.1) discute no seu
manifesto anti-localista, do qual se transcreve um pequeno trecho;
Negando completamente a natureza das hierarquias (impostas em variadas
escalas) de geração e apropriação de riqueza, segundo este “pensamento
único”, que desvirtua os estudos da dimensão espacial do desenvolvimento
capitalista, teria ocorrido o fim das escalas intermediárias e das mediações
entre local e global.
Muitas das diversas abordagens de clusters, sistemas locais de inovação,
incubadoras, distritos industriais, etc. possuem tal viés. A banalização de
definições como “capital social”, redes, “economias solidária e popular”; o
abuso de toda sorte de empreendorismos, voluntariados, micro iniciativas,
“comunidades solidárias”; a crença em que formatos institucionais idéias
para promoção do desenvolvimento necessariamente passem por
cooperativas, agências, consórcios, comitês, etc., criou uma cortina de
fumaça nas abordagens do tema.
Esta endogenia exagerada” das localidades crê piamente na capacidade
das vontades e iniciativas dos atores de uma comunidade empreendedora e
solidária, que tem autocontrole sobre seu destino, e procura promover sua
governança virtuosa lugareira. Classes sociais, ação pública, hegemonia,
etc. seriam componentes, forças e características de um passado
totalmente superado, ou a ser superado.
Este contraponto de Brandão é pertinente porque nos alerta para a
necessidade de não perder a dimensão da importância das ações públicas, trazendo
para discussão o papel dessas ações e não simplesmente isolá-las, dando
autonomia total ao indivíduo ou a corpos associativos. É interessante ver como este
sentimento de isolamento aparece nas falas dos agentes locais, a exemplo da fala
do Adil Tiscati
126
(informação verbal):
126
Informação verbal extraída da entrevista com Adil Tiscati e Fernanda Oliveira 2006. Quadro 4-atores
entrevistados
121
Aliás, estou totalmente descrente do poder blico, hoje aos quase
cinqüenta anos não conheço nenhuma corrente política que tenha uma
visão do coletivo. Essa lente do voto contamina tudo. O que eu acredito é
nisso que está acontecendo em Santa Teresa, metade quer e metade não
quer. As metades buscam seus caminhos, seus instrumentos para fazer
valer a sua opinião
127
. E consequentemente tem o risco da ruptura, mas
tem também o risco do consenso. Eu acho que o que está acontecendo é
certo consenso. Mas acho também se depender do estado nada acontece.
Eu acredito mais naquela história do Charles do Morro dos Prazeres, que
ele fala em vez de ONG é ING (indivíduo não governamental). Então eu sou
um indivíduo não governamental.
Julio Castro também se refere à participação do poder público como inócua
(informação verbal):
O Município com relação à parte cultural, no caso a Secretaria das Culturas
não colabora, não nos ajuda, não tem um papel de parceria, diferentemente
da Região Administrativa que atua mais próximo das reivindicações locais.
De uma maneira geral o Município não reconhece o que a gente constrói,
não há uma contrapartida, muito pelo contrário, a gente cada vez que
produz precisa partir do zero sem nenhum recurso.
João Vergara vai um pouco mais além e acha que mesmo sem a participação
do poder público é importante atuar na direção de convencê-los da nossa
importância (informação verbal);
Tem uma questão num universo maior, da gestão estratégica da cidade, de
dar a Santa a importância que ela tem. Acho que as instâncias públicas não
reconhecem, ou seja, não compartilham da mesma visão que nós
moradores. Mas acredito um pouco que é nosso papel de convencer o
município ou o estado e acho que estamos nesta direção.
Aqui se abre um parêntese para relatar que é cobrada por parte da Prefeitura,
uma taxa pelo uso do espaço público, de cerca de R$400,00 (quatrocentos reais),
para que o evento Arte de Portas Abertas aconteça, demonstrando claramente o não
reconhecimento por parte do poder público de um trabalho de dez anos feito por
artistas e moradores do bairro.
Esse quadro de desinteresse dos cidadãos pelo poder público tem suas
razões, mas Santa Teresa mesmo assim exibe uma força talvez causada pelas suas
peculiaridades de beleza e tradição histórica que provoca quase sempre embates
locais, com base em forças e interesses de grupos que m em comum as ligações
afetivas com o bairro.
127
Adil Tiscati se refere a recente discussão no bairro sobre o Plano Diretor com possíveis mudanças na
legislação local a APA e sobre a demolição do Hotel Santa Teresa.
122
Neste sentido vale lembrar alguns aspectos da legislação em vigor, o qual o
bairro está submetido no caso a Área de Proteção Ambiental (APA) que divide os
interesses de grupos e moradores a exemplo do que Renata Bernardes aponta para
questões delicadas, no que diz respeito à ocupação dos espaços em Santa Teresa:
....antes ela (APA) protegeu, mas hoje é impeditiva, ajuda a favelizar. Os
donos dos casarões não têm condições de manter e abandonam o imóvel.
A legislação não permite uso multifamiliar, e só resta o uso por empresas.
Mas os moradores desejam que o bairro se mantenha residencial, dado
identificado na Agenda 21. É necessário que a mudança seja feita com
cuidado e que sejam identificadas as áreas com muito critério.
Augusto Ivan
128
também se refere a esta questão e assinala que
um dos problemas de Santa Teresa é que não se pode fazer modificações
internas nos casarões existentes, transformando-os de unifamiliares a
multifamiliares. É necessário pensar na possibilidade de se fazer essa
mudança de uso como forma de dar sustentação aos imóveis preservados.
Adil Tiscati se refere a essa questão como algo que precisa ser discutido e
levado em consideração junto às atividade econômicas, sem perda de qualidade de
vida (informação verbal):
Eu enquanto empreendedor empresário do bairro, que hoje pago minhas
com o dinheirinho que sai do Cine Santa Teresa, e ao mesmo tempo como
morador quero continuar andando de chinelinho pela rua. Procuro entender
a legislação naquilo que ela tem de positivo para garantir esse bem estar.
Mas ao mesmo tempo também não sou radical, se tiver uma padaria,
atuando no local certo, na forma certa, sem macular o cotidiano do bairro,
não acho que isto seja tão pernicioso assim. Então acho que esta discussão
mostrou que o bairro está dividido meio a meio, vai ter que haver consenso
não adianta posturas radicais, isto só pode levar as rupturas. Acho que
possibilidade da legislação contemplar a todos, porque o que todo mundo
quer é o bem estar do bairro. Não conheço ninguém que queira que aqui
encha de carros ou que queira acabar com o bonde. A divergência maior é,
podemos ter uma atividade econômica mais emergente do que temos e até
onde isto pode prejudicar o bairro? Vamos discutir isso.
Um conflito bem atual colocou em evidência essas discordâncias, posto que a
instituição antagônica a este processo de reestruturação, a Associação de
Moradores de Santa Teresa - AMAST se manifestou publicamente através de abaixo
assinado, no dia 11 de novembro de 2006 contra a reforma do Hotel Santa Teresa,
128
Informação citada pelo subsecretario de urbanismo da cidade do Rio de Janeiro Augusto Ivan registrada no
documento Audiência Publica sobre a legislação urbanística em Santa Teresa realizada na Câmara dos
Vereadores em 17 de junho de 2005.
123
comprado por um grupo hoteleiro Francês. Para pontuar o discurso colocamos aqui
um trecho do texto publicado no panfleto distribuído nesta data.
Queremos a Santa Teresa de sempre. Não caímos nesta conversa de
“revitalização”. Este papo é um “kaô” manjado. É sempre o mesmo, em
Búzios, Parati, Ilha Grande (...) tentam diminuir a nossa auto-estima e dizem
oferecer uma saída para um novo mundo moderno com glamour das
grifes...
Dentre outras coisas o que desencadeou este processo foi a demolição da
fachada posterior do hotel, articulada de forma equivocada por parte dos atuais
proprietários, que mediante manifestações dos moradores procurou recuperar a
situação e contratou os serviços de consultoria do arquiteto Alfredo Brito. Hoje o
projeto está aprovado pelo DGPC e a obra segue na implantação de um hotel cinco
estrelas que terá 45 suítes, restaurante, espaço de galeria e cachaçaria, entre outros
espaços. Segundo Alfredo Brito (informação verbal prestada no dia da apresentação
do projeto para a comunidade) que culminou na mesma data da manifestação dos
moradores no dia 11 de novembro de 2006, o projeto na verdade recupera a
cobertura original anterior à que foi demolida e mantêm as linhas gerais do volume
anterior.
Também vale pontuar que para além de polêmicas o grupo hoteleiro
Exclusive estará investindo R$ 8 milhões na obra do hotel e mais R$ 2 milhões na
construção de um restaurante de luxo e a expectativa é que o comércio local
cresça.
129
Figura 53 Projeto do novo Hotel Santa Teresa
129
RABELO, Ludmila. Santa Teresa dá a partida para virar uma nova Lapa. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 6 de
outubro de 2006. Disponível em: http://jbonline.terra.com.br/cidade/mat061006.htm
124
Em resposta à reportagem citada acima, a AMAST representada pelo seu
atual presidente arquiteto Paulo Saad encaminhou carta
130
(Anexo 7 Mensagem
Eletrônica da AMAST para Moradores) por correio eletrônico aos moradores,
contrária às informações, questionando a legitimidade da obra, mas com
ponderações justas com relação aos procedimentos de demolição.
Mais do que se contraporem nos parece que neste caso o interessante seria
unir idéias e enfrentar os problemas em parceria com o Hotel, no sentido de
contribuir mais objetivamente para o bairro e consequentemente para os moradores.
É evidente que o bairro passa por um momento de transição e que esses
conflitos demonstram além de interesses contrários, mas também preocupações
com o encaminhamento dos processos de transformação. Talvez não se tenha muito
claro o caminho, um processo está em andamento, sempre com a percepção que
todos desejam o bem estar e a preservação de um espaço que garanta a qualidade
de vida.
Buscando refletir outras questões, a segurança também é um ponto sensível,
pois muitas vezes a mídia com o uso da sua força desloca a atenção para uma
imagem muito ampliada dos problemas locais, que não são diferentes do restante da
cidade. Adil Tiscati, novamente faz um relato que demonstra sua menor
preocupação com as questões de segurança e violência urbana e mais com
propostas de soluções para os problemas existentes no bairro (informação verbal):
Eu sempre relativiso a violência e como convivo com isto muito tempo
(sou músico e vivo na noite) tendo a achar que as pessoas exageram um
pouco. Não que eu não veja os assaltos...eu vejo, às vezes acontece na
frente do cinema assaltarem um gringo. Mas não acho que a violência seja
o grande problema da ‘urbe’. Eu acho que se nós trabalharmos para
diminuir as questões que levam à violência, já é uma ação positiva.
...agora então que eu vivo perto daqueles PMs percebo que eles não estão
acostumados com a cidadania do bairro, porque ninguém os trata como
patrão ou com medo deles, os trata como cidadão normal e eles se
aborrecem com isso.
...agora que vejo de mais perto como eles agem, com repressão, mais
reforça a idéia de que é por um outro caminho, não sei bem qual é. Então
esse assunto da segurança eu não valorizo muito. Só porque tem assalto no
Curvelo você tem que botar um poste com uma câmera?
131
130
“A destruição do Hotel Santa Teresa: o cinismo como método e a mentira como arma”. AMAST. Carta enviada
por correio eletrônico aos moradores do bairro em 10 de outubro de 2006.
131
Em 2005 foram colocadas em alguns pontos do bairro câmeras de observação nos postes em Santa Teresa,
em locais estratégicos, controlados pela Polícia Militar.
125
A questão da segurança sempre dá muito pano pra manga e é fruto de
constantes manifestações contra o descaso do poder público. Projetos e propostas
feitos pela associação de moradores e por outras formas de organização autônomas
estão sempre surgindo
132
. Não cabe aqui entrar nos meandros desta discussão, mas
cabe relativizar o quanto os problemas com segurança afetam as iniciativas
culturais. Mais do que vê-lo como um problema isolado, de uma maneira geral, os
atores locais buscam soluções como é o caso do surgimento do Arte de Portas
Abertas, criado para mudar a imagem negativa de insegurança que se perpetuava
na mídia. Também iniciativas como a do Cine Santa, que desconto de 50% no
cinema para o morador do bairro e privilegia dar emprego para este mesmo
morador:
Nós temos duas propostas: uma no que diz respeito a dar emprego para
pessoas que operam no Cine Santa privilegiando quem mora no bairro. Nós
achamos que pode diminuir a violência. Se eu preciso de alguém para ficar
na bombonière do cinema vendendo bala, vou chamar alguém de Santa e
vou tentar pagar a ela o melhor que eu possa. Falo para todo mundo da
rede empresarial, vamos dar mais emprego para o pessoal, ninguém quer
barrar quem vem de fora, mas se você coloca uma pessoa humilde que
mora do lado, você diminui as chances dessa pessoa amanhã cometer um
desatino, te roubar. E quando você aproxima essa convivência, obviamente
você cria afeto, respeito, amizade, cidadania. Outra coisa que a gente faz
é se todos os restaurantes dessem desconto para o morador, como a gente
você ia ter maior quantidade de blico, maior fidelidade (informação
verbal).
133
Também vemos esta preocupação no depoimento de Julio Castro quando ele
fala da construção de uma relação com a sociedade tendo como meio a arte e
identificando o Arte de Portas Abertas como um espaço de não violência, pela
própria natureza das belezas do bairro e também pela sua história.
132
A Associação de Moradores de Santa Teresa (AMAST) criou o Conselho de Segurança de Santa Teresa e
durante dois anos abriu espaço de discussão com representantes das principais entidades públicas (PMRJ,
Polícia, Civil, Guarda Municipal). Também mais recentemente foi criado um grupo chamado “Movimento Basta”
que atua não somente em Santa Teresa mas que tem atuação em outros bairros ao redor que desenvolveu
projeto de segurança pública para o bairro. Este projeto foi apresentado no seminário “Bairro Santa Teresa” em
11 de julho de 2006 promovido pela associação Comercial do Rio de Janeiro e o SEBRAE.
133
Informação verbal extraída da entrevista a Adil Tiscati. Quadro 4 – atores entrevistados.
126
Agente fala de um não ao consumo, de um não à aceleração da vida, não à
violência, as coisas se costuram de uma forma eficiente, acho que o projeto
Arte de Portas Abertas evidencia a isso pela própria natureza que Santa
tem.
Nos contrapontos apresentados neste capítulo, percebemos que tanto no que
diz respeito à imagem, movimentos culturais e artísticos, segurança ou no que se
refere à legislação local, nas manifestações expostas de cada entrevistado existe
uma preocupação direcionada para a solução dos problemas, todos se colocando
como agente responsável por este processo, atuando na área que lhe cabe. A
preocupação com o desenvolvimento local é evidente e precisa ser mais cristalizada,
mas a participação do poder público também precisa ser mais efetiva.
Hoje ainda é necessário um esforço por parte dos agentes locais para que o
resultado destes processos em Santa Teresa tenham capacidade de gerar
empregos, educação, cuidar do patrimônio e promover iniciativas culturais que
contemplem o desejo da maioria em manter o bairro como um lugar bom de viver e
morar. Ao mesmo tempo é necessário aprofundar as experiências de articulação das
diferentes redes sociais, capazes de dar emergência a sujeitos coletivos que cobrem
uma presença mais efetiva do poder público no bairro.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procuramos mostrar neste trabalho os sentidos da transformação do bairro
Santa Teresa, mais especificamente a partir da década de 90, momento em que
surge o evento intitulado “Arte de Portas Abertas”, suas interfaces e desdobramentos
buscando responder a questão principal. Será que estas iniciativas como estão
atuando de forma significativa e eficaz no desenvolvimento local? Será que a cultura
na forma produzida pelos atores, coletivos e eventos locais é, de fato, o caminho
para a recuperação da vitalidade do bairro de Santa Teresa? Tal vitalidade se traduz
em melhorias urbanas para todos os grupos sociais?
Foi um exercício delicado que exigiu articular vários papéis, que a autora
deste trabalho é artista plástica participante do “Arte de Portas Abertas” desde 1999,
arquiteta, pesquisadora e moradora do bairro.
Com incertezas sobre o que estava acontecendo e preocupados com o
destino das mudanças no bairro, buscou-se neste trabalho registrar e identificar
manifestações artísticas e sócio-culturais que fossem representativas de um
processo de transformação que vem marcando este espaço urbano, fincado ao lado
do centro financeiro da cidade do Rio de Janeiro.
Após as análises das várias etapas do Arte de Portas Abertas e das
entrevistas com os principais representantes de iniciativas locais como o Cama e
Café, Cine Santa e Viva Santa, percebe-se que o melhor atributo que confere
riqueza e interesse às questões colocadas acima é o que chamamos de “processo”.
128
No sentido mais restrito, processo, segundo Antônio Houaiss
134
significa:
Ação de proceder
Ação continuada, realização contínua e prolongada de alguma atividade;
seguimento, curso, decurso.
Seqüência contínua de fatos ou operações que apresentam certa unidade
ou que se reproduzem com certa regularidade; andamento,
desenvolvimento, marcha.
Modo de fazer alguma coisa; método, maneira, procedimento.
Nesta ação de proceder, ou seja, ação continuada de atividades com certa
unidade em direção ao desenvolvimento local é que os atores e moradores vêm
dando significado e mantendo uma regularidade no sentido de garantir em Santa
Teresa aquele lugar bom de viver.
Julio Castro
135
ao dizer que o projeto Arte de Portas Abertas é uma eterna
construção, reforçado por não ter uma proposta fechada sem fórmula e que os
artistas vão descobrindo a maneira de realizar conforme as coisas vão se tornando
viáveis pelos caminhos que se apresentam (informação verbal) reflete
procedimentos que talvez estejam delineados nas raízes históricas que marcaram o
espírito de preservação que acompanha o bairro desde as suas primeiras
formações, quando da chegada da família imperial no Rio de Janeiro em que se
começou a constituir a arquitetura eclética no Rio de Janeiro.
Foi na passagem de períodos onde o glamour espacial e social que
permaneceu até 1920, que Santa Teresa cedeu lugar para os novos bairros
balneários ao longo da orla marítima, sobretudo Copacabana. Como conseqüência
nos anos 30 o bairro sofre com discussões e polêmicas entre profissionais de
arquitetura, em torno da validade do estilo eclético como representante da
identidade nacional (MARTINS, 2002).
Este estilo da arquitetura foi repugnado na criação do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – SHPAN. O barroco, então, representa o
passado do país e a “Nova Arquitetura” o Brasil “moderno”.
Sem dúvida nenhuma que este comportamento se transformou ao longo do
tempo, marcado sobretudo pelo esforço de seus habitantes que ressaltaram a
dimensão monumental deste ambiente, e através de mecanismos políticos buscaram
soluções na direção da preservação.
134
HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2001.
135
Informação verbal extraída da entrevista com Julio Castro. Quadro 4 – Atores entrevistados
129
Também intelectuais e políticos das primeiras décadas do século XX viram
Santa Teresa tornar-se durante a segunda guerra o porto seguro, como Vieira da
Silva e Arpad Szenes e de tantos outros artistas brasileiros que a eles juntaram-se, a
exemplo de Djanira e Heitor dos Prazeres. Estes pintores oriundos de um meio
social humilde e das favelas que despontam naquela ambiência social e intelectual
eclética e ali conseguem atingir o apogeu como artista e contribuem para
caracterizar Santa Teresa como território de contrastes (MARTINS, 2002).
Estes contrastes e conflitos, assim como os que aconteceram no momento da
criação da área de proteção ambiental, impedindo a especulação imobiliária. A
discussão sobre a revisão do decreto nº. 495 (APA) que divide interesse entre
moradores e empresários, somada à preocupação com a gentrificação da área,
contribuem para a formação de novas identidades culturais relacionadas aos
processos de globalização pelos quais as cidades atuais vêm passando.
Destacamos como definição de identidade cultural- aquilo que Stuart Hall
(2003, p.8) chama de aspectos de nossas identidades que surgem de nosso
“pertencimento”, a culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e nacionais.
Entretanto segundo ele a globalização (na forma da especialização flexível e da
estratégia de criação de “nichos” de mercado) explora a diferenciação local, numa
nova articulação entre o “global” e o “local” na direção de produzir novas
identificações entre as duas correntes. (HALL, 2003, p.77)
Neste sentido cabe refletir se o processo em que Santa Teresa se encontra
não é senão aquele do campo do capitalismo global, entendido como um processo
de ocidentalização (ROBINS
136
, 1991 apud HALL, 2003, p.78) e sua última forma de
globalização contida nas imagens, artefatos e identidades da modernidade ocidental,
produzidos pelas indústrias culturais das sociedades “ocidentais” que dominam a
rede global (HALL, 2003, p.79).
Há, porém, alguns achados desta pesquisa que nos permitem afirmar que o
caso de Santa Teresa não se limita a uma simples réplica da pauta cultural em voga
nos processos de modernização urbana. Aqui não foi seguido um modelo pronto,
nem foi instalado um grande equipamento cultural para servir de âncora aos
processos de renovação urbana. Ao contrário, os equipamentos parecem ter surgido
a partir da afirmação de certos processos e as correlatas necessidades dos grupos
136
ROBINS, Kevin. Tradition and translation: national culture in its global context. In corner, J. Harvey, S (orgs),
Enterprise and Heritage: Crosscurrents of National Culture. Londres: Routledge, 1991.
130
sociais quanto a espaços expositivos, performances de rua ou espaços para
reuniões que marcaram durante algum tempo a presença intelectualidade carioca no
bairro.
Deste modo, os atores e processos relacionados à transformação do bairro
por meio da cultura parecem estar identificados com dois movimentos simultâneos:
de dentro para fora do lugar e de fora para dentro. Aos poucos vai se definindo uma
rica articulação transescalar, onde o local não entra apenas como a micro-escala
que reproduz uma tendência global. São os atores em seus múltiplos vínculos com o
território urbano que vão construindo sua pauta cultural e nela construindo o
diferencial dos processos locais. Ao mesmo tempo, estes mesmos atores parecem
conscientes e interessados em manter e produzir vínculos fortes com outras escalas,
no que se refere às tendências mundiais da arte contemporânea. Assim, tampouco
se fecham para consagrar uma provinciana idéia de que tudo aquilo que é de base
local é por si só bom para o bairro e para seus grupos sociais. Mas quais os
exemplos desse movimento em duas mãos?
No sentido de dentro para fora, como exemplo deste processo está a iniciativa
do projeto “Santa Teresa Território Turístico Sustentável” (Anexo 2, p.187)
implementado por agentes locais, o que nos parece uma fecunda preocupação de
troca com a citada rede global e que tende a promover a exportação de mercadoria
constituída nos valores estéticos e sócio-culturais do bairro.
No outro sentido, de fora para dentro o movimento da Chave Mestra que se
preocupa em constituir no bairro um espaço de discussão e de implementação das
mais recentes inflexões no campo da arte contemporânea, como a arte efêmera e as
organizações dos artistas em coletivos de arte. Aqui vale a pena ressaltar dois
trechos do discurso do Ministro Gilberto Gil na abertura da 27ª Bienal de Arte
(Anexo 4, p.196)
137
de São Paulo que este ano teve como tema “Como Viver Junto”,
discurso que representa o que existe de mais atual no pensamento do poder público
no campo da arte e da cultura.
O primeiro trecho reforça o que falamos acima no movimento de fora para
dentro, ou seja, arte do mundo para o Brasil:
137
VIVACQUA, Flavia. Discurso do Ministro Gilberto Gil de abertura da 27ª Bienal de Arte de São Paulo.
Disponível em: [email protected]. Acesso em 10 de outubro de 2006.
131
A partir de hoje estaremos reunidos outra vez em torno da produção da arte
contemporânea. Desde muito a arte de todo o Mundo freqüenta o Brasil e
marca esse evento que é a Bienal Internacional de São Paulo. Ela foi uma
das exposições periódicas que fez da arte moderna um fenômeno global.
Mas ela não viveu só de seu esplendor inicial, de suas certezas modernistas
da primeira hora, a Bienal sempre soube se refazer a cada edição, dando
abertura às manifestações esteticamente inovadoras, abrindo espaço à arte
que até hoje vive um processo constante de superação.
O segundo trecho nos remete e reforça a importância da arte viva, de hoje
para hoje, fora dos museus e do papel do artista como figura poderosa da cultura:
Espero que, agora inaugurada, essa exposição seja mais uma vez um salto
em direção ao desconhecido, um momento de percepção dos limites
irracionais de tudo aquilo que nossa civilização produziu e fixou como
tradição. Vivamos nesta casa algo além do que nossas expectativas bem
informadas sobre a cultura já nos deram, uma arte viva que ainda não
adormeceu na sonolência emparedada dos museus, nos arquivos mortos e
empoeirados. Experimentemos a partir de hoje a arte que permite à nossa
humanidade continuar viva. A arte que não sabemos se irá durar, uma arte
de hoje para hoje, que deve ser experimentada em sua urgência e
intensidade atual. Uma arte verdadeiramente nossa contemporânea.
O motivo maior dessa exposição é a arte e os artistas, figuras da cultura que
hoje estão mais poderosos do que nunca, que estão novamente ganhando
o seu espaço no processo cultural de produção simbólica, por mais que a
força de instituições, de negociações de prestígio e de dinheiro ainda
pareça estar à frente dos valores estéticos de nossa sociedade. As novas
tecnologias têm possibilitado um mundo que é bem mais poroso em seu
tecido de relações de dominação e controle. Estamos em momento de
abertura, são redes que o podem capturar os homens como peixes, elas
tecem vínculos e tramam afetos para além de um mundo doméstico e de
comportamentos programados. A revolução digital que se propaga provocou
fissuras que podemos penetrar com nossa imaginação, abriu portas de
nossa percepção que se mantinham fechadas, novas maneira de pensar
a política e a cultura.
Nesses procedimentos de dentro e fora e vice versa, instituídos numa teia
global nos parece ser a possibilidade mais real no sentido de chamar a atenção dos
representantes do poder público, governo federal, estadual e municipal para os
problemas que ainda afligem os moradores, como a questão do tráfico de drogas
que permeia as favelas do entorno e os reflexos destes conflitos no dia a dia do
morador, como os assaltos às residências e roubos de carro.
Também os problemas da má conservação do mobiliário urbano, tais como as
luminárias antigas, que hoje foram substituídas em quase sua totalidade por
luminárias de padrão igual às utilizadas na cidade como um todo, descaracterizando
o ambiente urbano que se compunha com os casarios ecléticos, mas que também
sofrem pela falta de preservação de suas fachadas.
132
Para finalizar cabe ressaltar a importância da rede de atores apresentada
neste trabalho nas entrevistas qualitativas e que representam alguns grupos sociais,
mas que não são os únicos que atuam no bairro. Tomando como exemplo a REST
(Rede Empresários de Santa Teresa) que no início deste trabalho ainda estava em
fase de formação e instituições de finalidades sociais, a Fundação Darcy Ribeiro,
Ação pela Cidadania, COFAST (Coligação de Favelas de Santa Teresa) entre outras
que precisariam ser pesquisadas, para se somar ao universo dos diversos campos
transdisciplinares pelos qual o bairro Santa Teresa atua.
Os processos analisados permitem tecer considerações positivas acerca das
transformações urbanas no bairro de Santa Teresa por meio da cultura, sobretudo
por considerar que os caminhos ali perseguidos parecem valorizar mais os
processos dos agentes do que os modelos prontos, o que singularidade e força
ao potencial transformador de tais processos.
Como foi visto, a partir do evento Arte de Portas Abertas, novos atores e
redes foram se agregando e hoje definem diferentes elos em prol da transformação
e melhorias do bairro. As formas coletivas de arte, as interferências urbanas
permeando de ações políticas, poéticas, estéticas e sociais, o cinema, as
hospedagens e outras atividades vão dando significado ao espaço público e
interagindo com o público.
Porém, não podemos concluir com uma visão simplista ou reducionista de
que por esta via os principais problemas de Santa Teresa deverão se resolver.
Se a imagem negativa constituiu um problema a ser enfrentado, as iniciativas
locais conseguiram reverter tal quadro e o bairro ressurge como destino de circuitos
culturais e de lazer alternativos àqueles de caráter mais massivo e mercadológico.
Entretanto, os problemas estruturais como a violência, a desigualdade, o
desemprego e as condições precárias da habitação em áreas informais não parecem
estar equacionados, por mais sólidas que sejam as redes sociais de caráter local.
Tais problemas exigem uma atuação forte do estado e suas políticas públicas
e o fato de Santa Teresa constituir um bairro com coletivos estruturados e redes com
propostas criativas não exime as responsabilidades sociais e urbanas do poder
público no que se refere ao enfrentamento de seus maiores problemas.
A diferença em relação a outros bairros, a favor de Santa Teresa é que o
fortalecimento dos nculos sociais dos coletivos e das redes locais tem provocado
uma atitude da sociedade civil mais vigilante e exigente no sentido de cobrar das
133
autoridades uma presença mais forte na região. Neste sentido, dos caso analisados
podem ser extraídos importantes elementos para o entendimento de novas formas
de articulação entre sociedade, política e cultura em seus elos com as
transformações urbanas.
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WEILL, Pierre. Rumo à transdisciplinaridade: sistemas abertos de conhecimento.
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7. APÊNDICES
7.1 Quadro 1 – Relação dos Ateliês e Artistas do ADPA
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
01 a 9 Maria Gloria Marinho Pintura em Seda Rua Murtinho Nobre, 66
01 a 9 Bia Oradovschi Pintura em Seda Rua Murtinho Nobre, 66
01 b 17 Newton Cavalcanti Pintura/Gravura Rua Almtº Alexandrino 296
01 b 3 Razec Tozan Escultura Rua Cândido Mendes
01 c 7 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea 80
01 c 7 Roberto Sá Escultura Rua Áurea 80
01 c 7 Renato Sá Pintura Rua Áurea 80
01 c 10 Ferchejo Pintura/Escultura Rua do Aqueduto 177
01 c 6 José Andrade Escultura/ Cerâmica / Gravura Rua Leopoldo Fróes 83
01 c 11 C. Cultural Laurinda S. Lobo Exposições Rua Monte Alegre 306
01 c 15 Maria Verônica Martins Aquarela/Guache/ Acrílica Rua Monte Alegre 356
01 c 15 Frank Shaeffer Pintura Rua Monte Alegre 356
01 c 14 Pedro Wrede Pintura Rua Monte Alegre 395 A
01 c 13 Renam Cepeda Fotografia/Design/Pintura/ Rua Monte Alegre 470
01 c 13 Léo Caraffa Fotografia/Design/Pintura/ Rua Monte Alegre 471
01 c 4 Cristina Felício Santos Pintura/ Barrogravura Rua Paschoal Carlos Magno 27
01 c 4 Wanda Martins Pintura/Escultura Rua Paschoal Carlos Magno 27
01 c 12 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina 14
01 d 8 Rubens Saboya Escultura/Design Rua do Oriente 234
01 d 2 Delfina Renck Reis Escultura Papier Maché Rua Miguel de Paiva 712
01 d 16 DZ9 - Robson Camilo Design/Pintura/ Gravura Travessa Oriente 16
01 d 16 DZ9 - Julio Castro Design/Pintura/ Gravura Travessa Oriente 16
01 d 16 DZ9 - Freddy Dodeles Design/Pintura/ Gravura Travessa Oriente 16
01 e 5 Jemile Diban Pintura/Desenho/ Escultura Rua Almtº Alexandrino 1410
01 e 1 De Castro Pinto Pintura Rua Prefeito João Felipe 402
02 a 24 Malu Santiago Pinturas, Esculturas e Gravuras Ladeira de Sta. Teresa, 40
02 a 24 Eraldo Motta Pinturas e Objetos Ladeira de Sta. Teresa, 40
02 a 24 Mario Garcia Esculturas Ladeira de Sta. Teresa, 40
02 a 25 Eric Collete "Desenhos" Objeto Rua Hermenegildo de Barros, 111
02 a 25 Diogo Assis Esculturas Rua Hermenegildo de Barros, 112
02 a 21 Bia Oradovschi Marinho Atelier Toque de Seda Rua Murtinho Nobre, 66
02 a 21 Glória Marinho Marinho Atelier Toque de Seda Rua Murtinho Nobre, 67
02 a 22 João Carlos Favoretto Pinturas Rua Murtinho Nobre, 75
02 a 23 Fundação Castro Maia Museu Chácara do céu Rua Murtinho Nobre, 75
02 b 20 Newton Calvacanti Pinturas e Gravuras Rua Almte. Alexandrino, 296
02 b 26 Razec Tozan Esculturas Rua Candido Mendes, 480
02 b 27 Marcia Cisneiros Pinturas e Aquarelas Rua Candido Mendes, 89
141
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
02 b 28 Célia Shiavo Objetos em Cerâmica Rua Santa Cristina, 53
02 c 6 Henry C. Melo Pinturas a Óleo s/ Tela Rua Aarão Reis, 151
02 c 7 Carlos Machado Esculturas em Ferro Rua Almte. Alexandrino, 1298
02 c 7 Raisa Gois Pinturas Rua Almte. Alexandrino, 1299
02 c 19 Ferchejo Pinturas e Escultura Rua Almte. Alexandrino, 660
02 c 19 Marcos Araujo Pinturas Rua Almte. Alexandrino, 661
02 c 9 Clara Arthaud Esculturas Pinturas Rua Áurea, 80
02 c 9 Roberto Sá Esculturas / Pinturas Rua Áurea, 81
02 c 9 Jorge Venegas Pinturas Rua Áurea, 82
02 c 12 Janda Praia Pintura, Mosaicos e Gravuras Rua Constante Jardim, 12
02 c 13 Luís Marchesini Fotos, Folha de Sta Teresa Rua Constante Jardim, 21
02 c 18 Sueli Farhi Intervenções no espaço Rua Fonseca Guimarães 39 b
02 c 8 Zé Andrade Esculturas, Pinturas e Desenhos Rua Leopoldo Fróes, 83
02 c 8 Joel Borges Xilogravuras Rua Leopoldo Fróes, 84
02 c 14 C. Cultural Laurinha S. Lobo Arte Video Rua Monte Alegra, 306
02 c 14 Isa Albuquerque Arte Video Rua Monte Alegra, 306
02 c 14 Henrique Gandra Arte Video Rua Monte Alegra, 306
02 c 10 Maria Verônica Martins Aquarelas, Guaches e Acrílicas Rua Monte Alegre, 356
02 c 10 Frank Schaeffer Pinturas Rua Monte Alegre, 357
02 c 11 Renan Cepeda Fotos Rua Monte Alegre, 470
02 c 11 Léo Garrafa Pinturas e Design Rua Monte Alegre, 470
02 c 17 Cristina Felicio dos Santos Barrogravuras e Pinturas Rua Pachoal Carlos Magno, 22
02 c 17 Vanda Martins Pinturas Rua Pachoal Carlos Magno, 23
02 c 16 Daniel Colombo Tapeçarias Rua Pachoal Carlos Magno, 5
02 c 15 Helena Souto de Oliveira Cerâmicas Rua Teresina, 14
02 d 35 Neide Viegas Aguilar Pinturas Óleos / Tela Rua Dom Sebastião Leme, 291
02 d 35 Max Sterenberg Pinturas Óleos / Tela Rua Dom Sebastião Leme, 291
02 d 34 Marcílio Barroco Esculturas e Mascáras Rua Eduardo Santos, 161
02 d 32 Delfina Renck Reis Esculturas em Papi eMarché Rua Miguel de Paiva, 712
02 d 31 Rubens Saboya Esculturas e Objetos Utilitários Rua Oriente, 234
02 d 30 Rubens Maia Desenhos e Aquarelas Rua Oriente, 266
02 d 29 Tvlio Pinturas Rua Oriente, 432
02 d 33 DZ9 Pinturas, Gravuras e Design Travessa Oriente, 16
02 d 33 Robson Camilo Pinturas, Gravuras e Design Travessa Oriente, 16
02 d 33 Julio Castro Pinturas, Gravuras e Design Travessa Oriente, 16
02 d 33 Fredy Doceles Pinturas, Gravuras e Design Travessa Oriente, 16
02 d 33 Marco Silva Pinturas, Gravuras e Design Travessa Oriente, 16
02 e 1 Alan Slawinski Esculturas Rua Alice, 1658
02 e 1 Carmen Slawinski Pinturas Rua Alice, 1659
02 e 5 Jamile Diban Esculturas, Pinturas e Desenhos Rua Almte. Alexandrino, 1410
02 e 3 Marcia Limani Pinturas e cerâmicas Rua Almte. Alexandrino, 3116
02 e 2 Zezus Esculturas em madeira Rua Júlio Otoni, 555
02 e 4 De Castro Pinto Pinturas Rua Prefeito João Felipe, 402
03 a 30 Malu Santiago Pintura/Escultura/Gravura/
Desenho
Ladeira Santa Teresa, 40
03 a 30 Eraldo Motta Pintura/Relevo/ Desenho Ladeira Santa Teresa, 40
03 a 30 Mario Garcia Escultura Ladeira Santa Teresa, 40
03 a 26 Paulo Alcântara Pintura/Desenho/Mácaras Rua Dias de Barros 29
03 a 26 Beatriz Pimenta Pintura/Instalação/ Gravura Rua Dias de Barros 29
03 a 24 Eric Collette Desenho/Objeto Rua Hermenegildo Barros 111
03 a 24 Diogo Assos Escultura Rua Hermenegildo Barros 111
03 a 24 Paulo Borges Pintura Rua Hermenegildo Barros 111
03 a 25 Carmem Thompson Pintura/Escultura Rua Hermenegildo Barros 189
03 a 34 Maria Tereza F.Costa Pintura Rua Joaquim Murtinho 491
03 a 34 Luciana Diláscio Neves Pintura Rua Joaquim Murtinho 491
03 a 34 Felipe Süssekind Pintura Rua Joaquim Murtinho 491
03 a 34 Alexandre Volgler, André
Amaral
Pintura Rua Joaquim Murtinho 491
142
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
03 a 34 Roosivelt Pinheiro, Bruno
Duarte
Pintura Rua Joaquim Murtinho 491
03 a 34 Adriano Melo Pintura Rua Joaquim Murtinho 491
03 a 34 Marcio do Vale Pintura/Gravura Rua Joaquim Murtinho 491
03 a 27 Maria Gloria Marinho Pintura em Seda Rua Murtinho Nobre, 66
03 a 27 Bia Oradovschi Pintura em Seda Rua Murtinho Nobre, 66
03 a 28 Favoretto Pintura Rua Murtinho Nobre, 75
03 a 29 Museu Castro Maia Pintura/Gravura Rua Murtinho Nobre, 93
03 b 21 Newton Cavalcanti Pintura/Gravura Rua Almtº Alexandrino 296
03 b 23 Razec Tozan Escultura Rua Cândido Mendes
03 b 22 Célia Schiavo Objeto/Escultura Rua Santa Cristina, 53
03 c 10 Henry C. Melo Pintura Rua Aarão Reis 151
03 c 12 Sergio Silveira Pintura/Colagem Rua Almtº Alexandrino 1106
03 c 11 Carlos Machado Escultura de ferro Rua Almtº Alexandrino 1298
03 c 17 Jaime Fernando Souza Pintura a óleo Rua Almtº Alexandrino 660
03 c 17 Marcos Araújo Pintura a óleo Rua Almtº Alexandrino 660
03 c 17 Ferrari Pintura acrílica Rua Almtº Alexandrino 660
03 c 17 Antonio Duarte Fotografia Rua Almtº Alexandrino 660
03 c 13 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea 80
03 c 13 Roberto Sá Escultura Rua Áurea 80
03 c 13 Renato Sá Pintura Rua Áurea 80
03 c 16 Ferchejo Pintura/Escultura Rua do Aqueduto 177
03 c 16 Janda Praia Pintura/Mosaico/Gravura Rua do Aqueduto 177
03 c 18 Daniel Colombo Arte textil Rua Felício dos Santos
03 c 20 Gean pietro Zagni Escultura Rua Filadélfia
03 c 19 Suely Farhi Intervenções Rua Fonseca Guimarães
03 c 36 Messias dos Santos Pintura Naif Rua Monte Alegre 209
03 c 37 CC Laurinda - Tawfik retrospectiva Rua Monte Alegre 306
03 c 15 Maria Verônica Martins Aquarela/Guache/ Acrílica Rua Monte Alegre 356
03 c 15 Frank Shaeffer Pintura Rua Monte Alegre 356
03 c 14 Renam Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre 470
03 c 14 Léo Caraffa Design/Pintura/ Escultura Rua Monte Alegre 471
03 c 35 Luciana Rennó Pintura Rua Paschoal Carlos Magno 12
03 c 35 Ipojucan Fotografia Rua Paschoal Carlos Magno 12
03 c 35 Ronaldo Gorini Fotografia Rua Paschoal Carlos Magno 12
03 c 31 Cristina Felício Santos Pintura/ Barrogravura Rua Paschoal Carlos Magno 27
03 c 31 Wanda Martins Pintura/Escultura Rua Paschoal Carlos Magno 27
03 c 32 Rubens Maia Desenho/Aquarela/ Xilogravura Rua Teresina 12
03 c 33 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina 14
03 d 40 Rubens Saboya Escultura/Design Rua do Oriente 234
03 d 38 Tulio Pintura Rua do Oriente 432
03 d 43 Marcilio Barroco Escultura/ Mascaras Rua Eduardo Santos 161
03 d 39 Delfina Renck Reis Escultura Papier Maché Rua Miguel de Paiva 712
03 d 45 Alberto Kaplan Aquarela/Pintura/Escultura Rua Paraíso 7
03 d 44 De Michelli Pintura a óleo Rua Paula Mattos 174
03 d 44 Vittore Pintura a óleo Rua Paula Mattos 174
03 d 42 Ronaldo Miranda Pintura/Serigrafia Rua Progresso 81
03 d 41 DZ9 - Robson Camilo Design/Pintura/ Gravura Travessa Oriente 16
03 d 41 DZ9 - Julio Castro Design/Pintura/ Gravura Travessa Oriente 16
03 d 41 DZ9 - Freddy Dodeles Design/Pintura/ Gravura Travessa Oriente 16
03 d 41 DZ9 - Marco Silva Design/Pintura/ Gravura Travessa Oriente 16
03 e 8 Aliedo Kammar Pintura/Desenho Largo França, 4
03 e 1 Alan Slawinski Escultura Rua Alice 1658
03 e 2 Zezus Escultura Rua Alice 1658
03 e 1 Carmem Slawinski Pintura Rua Alice 1659
03 e 9 Jemile Diban Pintura/Desenho/ Escultura Rua Almtº Alexandrino 1410
03 e 4 Jorge Venegas Pintura Rua Almtº Alexandrino 3105
143
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
03 e 6 Marcia Limani Pintura/Cerâmica Rua Almtº Alexandrino 3116
03 e 6 Jaqueline de Barros Cerâmica Rua Almtº Alexandrino 3116
03 e 3 D`Anestis Pintura Rua Julio Otoni 419
03 e 3 Verõnica Pércia Pintura Rua Julio Otoni 419
03 e 7 De Castro Pinto Pintura Rua Prefeito João Felipe 402
03 e 5 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
04 a 28 Malu Santiago Pintura/Escultura/Gravura/Desenh
o
Ladeira de Santa Teresa, 40
04 a 28 Mário Garcia Escultura e Cerâmica Ladeira de Santa Teresa, 40
04 a 25 Paulo Alcântara Escultura, Desenho e Pintura Rua Dias de Barros, 29
04 a 23 Eric Collete Bico de Pena Rua Hermenegildo de Barros, 111
04 a 24 Carmem Thompson Pintura e Escultura Rua Hermenegildo de Barros, 189
04 a 29 AlexandreVogler Pintura Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
04 a 29 Roosivelt Pinheiro Pintura Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
04 a 29 Bruno Duarte Pintura Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
04 a 31 Nilton Pinho Pintura, Escultura e Desenho Rua Joaquim Murtinho, 496
04 a 30 Martha Pires Ferreira Desenho a Bico de Pena e
Aquarela
Rua Joaquim Murtinho, 756
04 a 26 Maria Glória Marinho Escultura, Desenho e Pintura Rua Murtinho Nobre, 66
04 a 27 Favoretto Pintura Rua Murtinho Nobre, 75
04 a 22 Juliano Guilherme Pintura Contemporânea Rua Visconde de Paranaguá, 16
04 a 22 Andrea Tavares Pintura Contemporânea Rua Visconde de Paranaguá, 16
04 b 19 Helcio Barros Desenho Rua Almte. Alexandrino, 306
04 b 21 Razec Tozan Escultura Rua Cândido Mendes, 480
04 b 20 Celia Schiavo Objeto e Escultura Rua Santa Cristina, 53
04 c 9 Henry C. Melo Pintura Hiper Realista Rua Aarão Reis, 151
04 c 11 Sérgio Silveira Pintura, Colagem e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 1106
04 c 10 Carlos Machado Escultura em ferro Rua Almte. Alexandrino, 1298
04 c 13 Carlos Antunes Pintura Rua Aurea, 118
04 c 14 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea, 79
04 c 14 Roberto Sá Escultura e Pintura Rua Áurea, 79
04 c 18 Gian Pietro Zagni Escultura em Bronze e Resina Rua Filadélfia, 18
04 c 15 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinda Santos Lobo, 148
04 c 12 Andrade Caricatura Rua Leopoldo Froes, 83
04 c 12 Janda Praia Mosaico Rua Leopoldo Froes, 83
04 c 34 Messias Santos Pintura Naif Rua Monte Alegre, 209
04 c 17 Maria Verônica Martins Aquarela, Guache e Acrílica Rua Monte Alegre, 356
04 c 17 Frank Schaeffer Pintura Rua Monte Alegre, 356
04 c 16 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
04 c 16 Léo Garrafa Design, Pintura e Escultura Rua Monte Alegre, 470
04 c 32 Cristina Felício dos Santos Pintura e Barrogravuras Rua Pachoal Carlos Magno, 27
04 c 32 Wanda Martins Pintura e Relevo Rua Pachoal Carlos Magno, 27
04 c 33 Helena Souto de Oliveira Cerâmica Rua Teresina, 14
04 d 36 Rubens Saboya Escultura e Design Rua do Oriente, 234
04 d 40 Marcílio Barroco Esculturas e Mácaras Rua Eduardo Santos, 161
04 d 42 Márcio Tristão Escultura Rua Paula Mattos, 46
04 d 37 Delfina Renck Reis Escultura em Papier Marché Rua Miguel de Paiva, 712
04 d 35 Neide Viegas Pinturas a Óleo s/ Tela Rua Oriente, 386
04 d 43 Alberto Kaplan Arte Contemporânea Rua Paraíso, 7
04 d 39 Ronaldo Miranda Pintura e Serigrafia Rua Progresso, 81
04 d 39 Martha Pires Ferreira Desenho a Bico de Pena e
Aquarela
Rua Progresso, 81
04 d 41 José Luiz Ribeiro Escultura Travessa Fluminense, 14
04 d 38 Robson Camilo Design, Pinturas e Gravuras Travessa Oriente, 16
04 d 38 Julio Castro Design, Pinturas e Gravuras Travessa Oriente, 16
04 d 38 Fredy Dodeles Design, Pinturas e Gravuras Travessa Oriente, 16
04 d 38 Franklin Charnaux Design, Pinturas e Gravuras Travessa Oriente, 16
04 e 1 Alan Slawinski Esultura Rua Alice, 1658
144
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
04 e 1 Carmem Slawinski Gravura Rua Alice, 1658
04 e 8 Jemile Diban Pintura, Desenho e Escultura Rua Almte. Alexandrino, 1410
04 e 6 Trama Carioca Oficina Têxtil Rua Almte. Alexandrino, 2926
04 e 6 Sonia Ritter Oficina Têxtil Rua Almte. Alexandrino, 2926
04 e 6 Gilda Joppert Oficina Têxtil Rua Almte. Alexandrino, 2926
04 e 5 Cecilia Ottoni Pintura Rua Almte. Alexandrino, 2946
04 e 2 Jorge Venegas Pintura Rua Almte. Alexandrino, 3105
04 e 4 Márcia Limani Pintura e Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 3116
04 e 4 Jaqueline de Barros Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 3116
04 e 7 De Casrto Pinto Pintura Rua Prefeito João Felipe, 402
04 e 3 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
05 a 29 Malu Santiago Pintura, Escultura, Gravura e
Desenho
Ladeira de Santa Teresa, 40
05 a 29 Mario Garcia Escultura Cerâmica Ladeira de Santa Teresa, 40
05 a 29 Francisco Monitel Escultura Cerâmica Ladeira de Santa Teresa, 40
05 a 29 Ana Maria Moura Pintura e Cerâmica Ladeira de Santa Teresa, 40
05 a 29 Rogério W. S. Pintura Ladeira de Santa Teresa, 40
05 a 18 Paulo Alcântara Escultura, Desenhos e Pintura Rua Dias de Barros, 29
05 a 30 Huno Pintura Contemporânea Rua Francisco Muratori, 138
05 a 21 Eric Collete Bico de Pena e Ponta Seca Rua Hermenegildo de Barros, 111
05 a 20 Carmen Thompson Pintura e Escultura Rua Hermenegildo de Barros, 189
05 a 19 Regina Marconi Pintura e Desenho Rua Hermenegildo de Barros, 193
05 a 31 Alexandre Vogler Pintura e Objeto Contemporâneo Rua Joaquim Murtinho, 491
05 a 31 Roosivelt Pinheiro Pintura Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
05 a 31 André Amaral Pintura e Objeto Rua Joaquim Murtinho, 491
05 a 31 Bruno Duarte Lins Pintura Rua Joaquim Murtinho, 491
05 a 26 Elisa Romana Galeffi Pintura Rua Murtinho Nobre, 156
05 a 27 Atelier Céramo Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
05 a 27 Dorothee Ledermann Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
05 a 27 Thaïs de Siervi Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
05 a 24 Maria Glória Marinho Pintura s/ seda Rua Murtinho Nobre, 67
05 a 25 Favoretto Pintura Rua Murtinho Nobre, 75
05 a 28 Fabio Borges Pintura Rua Pinto Martins, 8
05 a 22 Juliano Guilherme Pintura Contemporânea Rua Visconde de Paranaguá, 16
05 a 22 Andrea Tavares Pintura Contemporânea Rua Visconde de Paranaguá, 16
05 a 23 Fernando Simões Pintura Rua Visconde de Paranaguá, 37
05 a 23 Raquel Korman Pintura Rua Visconde de Paranaguá, 37
05 b 17 Helcio Barros Desenho Rua Almte. Alexandrino, 306
05 b 16 Celia Shiavo Objeto e Escultura em Cerâmica e
Resina
Rua Santa Cristina, 53
05 c 15 Ricardo Fasanello Fotografias Ladeira do Meireles, 110
05 c 15 Anne François de Serilly Pintura Ladeira do Meireles, 110
05 c 36 Clara Arthaud Escultura Ru Áurea, 80
05 c 36 Roberto Sá Escultura Ru Áurea, 80
05 c 36 Tawfik Pintura e Desenho Ru Áurea, 80
05 c 10 Henry C. Melo Pintura Hiper Realista Rua Aarão Reis, 151
05 c 12 Sérgio Silveira Pintura, Colagem e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 1106
05 c 11 Carlos Machado Esculturas em ferro Rua Almte. Alexandrino, 1298
05 c 14 Carlos Antunes Pintura Contemporânea Rua Áurea, 118
05 c 34 Gian Pietro Zagni Escultura em Bronze, Mármore e
Resina
Rua Filadélfia, 18
05 c 37 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinha Santos Lobo, 148
05 c 13 Andrade Caricatura 3D - Diversos Materiais Rua Leopoldo Froes, 83
05 c 32 Messias Santos Pintura Naif Rua Monte Alegre, 209
05 c 39 Maria Verônica Martins Aquarela, Guache e Acrílica Rua Monte Alegre, 356
05 c 39 Frank Schaeffer Pintura Rua Monte Alegre, 356
05 c 38 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
05 c 38 Léo Garrafa Pintura e Design Rua Monte Alegre, 470
145
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
05 c 33 Cristina Felício dos Santos Pinturas e Borrogravura Rua Paschoal Carlos Magno, 27
05 c 33 Vanda Martins Pintura e Escultura Rua Paschoal Carlos Magno, 27
05 c 35 Helena Souto de Oliveira Cerâmica Rua Teresina, 14
05 c 35 Jaqueline de Barros Cerâmica Rua Teresina, 14
05 d 47 Marcílio Barroco Escultura e Máscaras Rua Eduardo Santos, 161
05 d 42 Vera Leoni Pintura em Porcelana Rua Miguel de Paiva, 646
05 d 41 Rubens Saboya Escultura e Design Rua Oriente, 234
05 d 40 Neide Viegas Pintura Óleo s/ Tela e Xilogravura Rua Oriente, 386
05 d 45 Luana Fé Pintura Rua Oriente, 5
05 d 51 Alberto Kaplan Pintura e Escultura
Contemporânea
Rua Paraiso, 7
05 d 50 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
05 d 52 Dsin Viana Pintura Rua Progresso, 125
05 d 52 Sebastião Shanti Pintura e Escultura Rua Progresso, 125
05 d 46 Ronaldo Miranda Pintura e Serigrafia Rua Progresso, 81
05 d 46 Martha Pires Ferreira Desenho e Aquarela Rua Progresso, 81
05 d 49 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
05 d 48 José Luiz Ribeiro Escultura Travessa Fluminense, 14
05 d 43 Robson Camilo Pintura, Gravura e Design Travessa Oriente, 16
05 d 43 Julio Castro Pintura, Gravura e Design Travessa Oriente, 16
05 d 43 Fredy Dodeles Pintura, Gravura e Design Travessa Oriente, 16
05 d 43 Marco Silva Pintura, Gravura e Design Travessa Oriente, 16
05 d 43 Magliani Pintura, Gravura e Design Travessa Oriente, 16
05 d 44 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Papier Marché Travessa Oriente, 16
05 e 1 Alan Slawinski Escultura Rua Alice, 1658
05 e 1 Carmen Slawinski Pintura Rua Alice, 1658
05 e 9 Jemile Diban Pintura, Desenho e Escultura
Figurativos
Rua Almte. Alexandrino, 1410
05 e 4 Marcia Limani Pintura e Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 2785
05 e 6 Letícia Pintura Figurativa Rua Almte. Alexandrino, 2785
05 e 5 Trama Carioca Oficina Têxtil Rua Almte. Alexandrino, 2926
05 e 5 Sonia Ritter Oficina Têxtil Rua Almte. Alexandrino, 2926
05 e 5 Gilda Joppert Oficina Têxtil Rua Almte. Alexandrino, 2926
05 e 8 Reynaldo Guarany Pintura e Design Rua Eliseu Visconti, 401
05 e 2 Maria Helena Salles Pintura em Tecido Rua Dr. Julio Otoni, 294
05 e 2 Ricardo Correia de Araújo Escultura Rua Dr. Julio Otoni, 294
05 e 7 De Castro Pinto Pintura Rua Prefeito João Felipe, 402
05 e 3 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
06 a 27 Malu Santiago Pintura Ladeira de Santa Teresa, 40
06 a 27 Francisco Montiel Pintura e Cerâmica Ladeira de Santa Teresa, 40
06 a 27 Ana Maria Moura Pintura Ladeira de Santa Teresa, 40
06 a 28 Fabio Borges Pintura e Cerâmica Rua Dias de Barros, 33
06 a 17 Eric Collete Bico de Pena e Gravura Rua Hermenegildo de Barros, 111
06 a 17 Maria Claudia Tostes Cerâmica Rua Hermenegildo de Barros, 111
06 a 16 Carmen Thompson Pintura e Escultura Rua Hermenegildo de Barros, 189
06 a 48 Regina Marconi Pintura e Desenho Rua Joaquim Murtinho, 886
06 a 26 Atelier Céramo Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
06 a 26 Dorothee Ledermann Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
06 a 26 Thaïs de Siervi Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
06 a 20 Maria Glória Marinho Pintura em Seda Rua Murtinho Nobre, 66
06 a 21 Favoretto Pintura Rua Murtinho Nobre, 75
06 a 19 Cristiana Miranda Fotografia Rua Taylor, 58
06 a 19 Adriana Heemann Desenho Rua Taylor, 58
06 a 19 Ivan Toledo Pintura Rua Taylor, 58
06 a 18 Fernando Simões Pintura Rua Visconde de Paranaguá, 37
06 a 18 Rachel Korman Pintura Rua Visconde de Paranaguá, 37
06 a 18 Zemog Objeto Rua Visconde de Paranaguá, 37
06 a 23 Eric Nielsen Pintura e Gravura Rua Visconde de Paranaguá, 63
146
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
06 b 13 Helcio Barros Desenho Rua Almte. Alexandrino, 306
06 b 14 Nadan Guerra Escultura Rua Almte. Alexandrino, 306
06 b 14 Paula Erber Gravura Rua Almte. Alexandrino, 306
06 b 22 Eraldo Motta Pintura, Escultura e Objeto Rua Benjamin Constant, 121
06 b 25 Elisa Romana Galeffi Pintura e Desenho Rua Côrrea de Sá, 3
06 b 24 Celia Schiavo Escultura em Cerâmica e Resina Rua Santa Cristina, 53
06 b 24 Vanda Martins Pintura e Escultura Rua Santa Cristina, 53
06 b 15 Paulo Alcântara Pintura, Escultura e Máscaras Travessa Santos Lima, 3
06 c 32 Clara Arthaud Escultura Ru Áurea, 80
06 c 32 Roberto Sá Escultura Ru Áurea, 80
06 c 32 Tawfik Pintura e Desenho Ru Áurea, 80
06 c 9 Sérgio Silveira Desenho Rua Almte. Alexandrino, 1106
06 c 8 Carlos Machado Esculturas em ferro Rua Almte. Alexandrino, 1298
06 c 11 Paulo Ferrai Pintura Rua Almte. Alexandrino, 141
06 c 12 Carlos Antunes Pintura e Escultura
Contemporânea
Rua Áurea, 118
06 c 30 Gian Pietro Zagni Escultura Rua Filadélfia, 18
06 c 33 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinha Santos Lobo, 148
06 c 10 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
06 c 29 Messias Santos Pintura Naif Rua Monte Alegre, 209
06 c 35 Maria Verônica Martins Aquarela, Guache e Acrílica Rua Monte Alegre, 356
06 c 35 Frank Schaeffer Pintura, Guache e Gravura Rua Monte Alegre, 356
06 c 34 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
06 c 34 Léo Garrafa Pintura e Design Rua Monte Alegre, 470
06 c 31 Helena Soute de Oliveira Cerâmica Rua Teresina, 14
06 d 44 Marcílio Barroco Escultura e Máscaras Rua Eduardo Santos, 161
06 d 38 Rubens Saboya Escultura e Design Rua Oriente, 234
06 d 36 Neide Viegas Pintura Rua Oriente, 386
06 d 37 Henry C. Melo Pintura Rua Oriente, 386
06 d 37 Marcos Salles Escultura Rua Oriente, 386
06 d 42 Luana Fé Pintura Rua Oriente, 5
06 d 47 Alberto Kaplan Pintura e Aquarela
Contemporânea
Rua Paraiso, 7
06 d 46 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
06 d 39 Lidia Peychaux Desenho e Pintura Rua Paulo de Azevedo, 59
06 d 43 Ronaldo Miranda Pintura e Gravura Rua Progresso, 81
06 d 45 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
06 d 40 Robson Camilo Pintura, Gravura, Escultura e
Design
Travessa Oriente, 16
06 d 40 Julio Castro Pintura, Gravura, Escultura e
Design
Travessa Oriente, 16
06 d 40 Ivana Curi Pintura, Gravura, Escultura e
Design
Travessa Oriente, 16
06 d 40 Joana Lyra Pintura, Gravura, Escultura e
Design
Travessa Oriente, 16
06 d 40 Marco Silva Pintura, Gravura, Escultura e
Design
Travessa Oriente, 16
06 d 40 Magliani Pintura, Gravura, Escultura e
Design
Travessa Oriente, 16
06 d 41 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Papier Marché
Travessa Oriente, 16
06 e 1 Alan Slawinski Escultura Rua Alice, 1658
06 e 1 Carmen Slawinski Pintura Rua Alice, 1658
06 e 7 Jemile Diban Pintura, Desenho e Escultura Rua Almte. Alexandrino, 1410
06 e 7 Emyr Rezende Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 1410
06 e 4 Marcia Limani Pintura e Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 3116
06 e 6 Reynaldo Guarany Pintura e Design Rua Eliseu Visconti, 401
06 e 5 Trama Carioca Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
06 e 5 Sonia Ritter Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
06 e 5 Gilda Joppert Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
06 e 2 Maria Helena Salles Pintura Rua Dr. Julio Otoni, 294
147
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
06 e 2 Ricardo Correia de Araújo Escultura Rua Dr. Julio Otoni, 294
06 e 3 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
07 a 26 Malu Santiago Pintura Ladeira de Santa Teresa, 40
07 a 26 Ana Maria Moura Pintura e Desenho Ladeira de Santa Teresa, 40
07 a 26 Mário Garcia Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
07 a 16 Regina Marconi Pintura e Desenho Rua Dias de Barros, 2
07 a 17 Fabio Borges Pintura e Cerâmica Rua Dias de Barros, 83
07 a 17 Denise Torbes Pintura e Cerâmica Rua Dias de Barros, 83
07 a 17 Edineuza Bezerril Pintura e Cerâmica Rua Dias de Barros, 83
07 a 23 Eric Collete Desenhos e Objetos Rua Hermenegildo de Barros, 111
07 a 23 Maria Claudia Tostes Cerâmica Rua Hermenegildo de Barros, 111
07 a 22 Carmen Thompson Pintura e Escultura Rua Hermenegildo de Barros, 189
07 a 21 Foto in Cena Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
07 a 21 AC Junior Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
07 a 21 Dalton Valério Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
07 a 21 Débora 70 Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
07 a 21 André Vilaron Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
07 a 21 Mickele Petrucelle Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
07 a 27 Alexandre Vogler Pintura, Objeto, Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
07 a 27 Bruno Lins Pintura, Objeto, Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
07 a 27 André Amaral Pintura, Objeto, Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
07 a 27 Roosivelt Pinheiro Pintura, Objeto, Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
07 a 27 Geraldo Marcolini Pintura, Objeto, Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
07 a 18 Dorothee Ledermann Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
07 a 18 Thaïs de Siervi Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
07 a 19 Maria Glória Marinho Pintura em Seda Rua Murtinho Nobre, 66
07 a 20 Favoretto Pintura Rua Murtinho Nobre, 75
07 a 25 Ivan Toledo Pintura Rua Taylor, 58
07 a 24 Fernando Simões Pintura Rua Visconde de Paranaguá, 37
07 b 13 Helcio Barros Desenhos e Pinturas Rua Almte. Alexandrino, 306
07 b 14 Nadan Guerra Escultura em Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 306
07 b 12 Elisa Galeffi Pintura e Instalação Rua Côrrea de Sá, 3
07 b 28 Celia Schiavo Papel Artesanal e Escultura Rua Santa Cristina, 53
07 b 28 Eraldo Mota Relevos Pictórios e Objetos Rua Santa Cristina, 53
07 b 11 Paulo Alcântara Pintura, Escultura e Máscaras Travessa Santos Lima, 3
07 c 8 Sérgio Silveira Desenho e Pintura Rua Almte. Alexandrino, 1106
07 c 15 Paulo Ferrari Pintura Rua Almte. Alexandrino, 141
07 c 10 Carlos Antunes Pintura e Escultura
Contemporânea
Rua Áurea, 118
07 c 35 Paula Erber Gravura Rua Áurea, 76
07 c 35 Ana Prado Pintura e Desenho Rua Áurea, 76
07 c 35 Ana Tannus Escultura e Mosaico Rua Áurea, 76
07 c 35 Lucas Reis Pintura Rua Áurea, 76
07 c 35 Cecília de Castro Pinto Pintura Rua Áurea, 76
07 c 33 Rachel Arthaud Escultura Rua Áurea, 80
07 c 34 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea, 80
07 c 34 Roberto Sá Escultura Rua Áurea, 80
07 c 34 Tawfik Pintura e Desenho Rua Áurea, 80
07 c 32 Janda Praia Mosaico Rua Felício dos Santos, 14
07 c 32 Jaime Benchimol Cerâmica Rua Felício dos Santos, 14
07 c 33 Rachel Korman Pintura Rua Felício dos Santos, 62
07 c 33 Zemog Objeto Rua Felício dos Santos, 62
07 c 29 Alexandre Alves Pintura Rua Fonseca Guimarães, 13
07 c 29 Quinha Portella Gravura Rua Fonseca Guimarães, 13
148
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
07 c 36 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinha Santos Lobo, 148
07 c 9 Zé Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
07 c 31 Cecília Amorim de Freitas Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
07 c 38 Maria Verônica Martins Aquarela, Guache e Acrílica Rua Monte Alegre, 356
07 c 38 Frank Schaeffer Pintura, e Gravura Rua Monte Alegre, 356
07 c 37 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
07 c 37 Léo Garrafa Pintura e Design Rua Monte Alegre, 470
07 c 30 Helena Souto de Oliveira Cerâmica Rua Teresina, 14
07 d 47 Marcílio Barroco Escultura e Máscaras Rua Eduardo Santos, 161
07 d 41 Rubens Saboya Escultura e Design Rua Oriente, 234
07 d 40 Henry C. Melo Pintura Rua Oriente, 386
07 d 40 Marcos Salles Escultura Rua Oriente, 386
07 d 40 Neide Viegas Pintura Rua Oriente, 386
07 d 40 Arcy Dourado Desenho e Pintura Rua Oriente, 386
07 d 45 Luana Fé Pinturas e Aquarela Rua Oriente, 5
07 d 50 Marcius Tristão Escultura Abstrata em Metal Rua Paula Matos, 46
07 d 44 Lidia Peychaux Pintura Rua Paulo de Azevedo, 59
07 d 46 Martha Pires Ferreira Desenho e Aquarela Rua Progresso, 81
07 d 46 Ronaldo Miranda Pintura e Serigrafia Rua Progresso, 81
07 d 48 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
07 d 42 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Papier Marché Travessa Oriente, 16
07 d 42 Alberto Kaplan Pintura e Aquarela
Contemporânea
Travessa Oriente, 16
07 d 43 Robson Camilo Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
07 d 43 Julio Castro Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
07 d 43 Ivana Curi Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
07 d 43 Joana Lyra Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
07 d 43 Magliani Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
07 d 39 Gisele Ribeiro Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
07 d 39 Bia Jabor Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
07 d 39 Carmen Riquelme Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
07 d 39 Nathalia Nery Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
07 d 39 Cristiana Duarte Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
07 d 49 José Luiz Ribeiro Escultura Travesssa Fluminense, 14
07 e 1 Alan Slawinski Escultura e Design Rua Alice, 1658
07 e 1 Carmen Slawinski Pintura Rua Alice, 1658
07 e 7 Jemile Diban Pintura, Desenho e Escultura Rua Almte. Alexandrino, 1410
07 e 7 Emyr Rezende Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 1410
07 e 4 Marcia Limani Pintura e Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 3116
07 e 6 Reynaldo Guarany Pintura Contemporânea e Design Rua Eliseu Visconti, 401
07 e 5 Sonia Ritter Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
07 e 5 Gilda Joppert Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
07 e 2 Maria Helena Salles Pintura Rua Dr. Julio Otoni, 294
07 e 2 Ricardo C.A Escultura Rua Dr. Julio Otoni, 294
07 e 3 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
08 a 23 Malu Santiago Pintura Ladeira de Santa Teresa, 40
08 a 23 Ana Maria Moura Pintura e Desenho Ladeira de Santa Teresa, 40
08 a 23 Mário Garcia Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
08 a 18 Regina Marconi Pintura e Desenho Rua Hermenegildo de Barros, 189
08 a 21 Eric Collete Desenhos e Objetos Rua Hermenergildo de Barros,
111
08 a 20 Carmen Thompson Pintura e Escultura Rua Hermenergildo de Barros,
189
08 a 19 AC Junior Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
149
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
08 a 19 Dalton Valério Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
08 a 19 Débora 70 Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
08 a 19 André Vilaron Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
08 a 19 Mickele Petrucelle Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
08 a 24 Alexandre Vogler Arte Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
08 a 24 Bruno Lins Arte Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
08 a 24 André Amaral Arte Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
08 a 24 Roosivelt Pinheiro Arte Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
08 a 24 Geraldo Marcolini Arte Contemporânea Rua Joaquim Murtinho, 491
08 a 16 Maria Glória Marinho Pintura em Seda Rua Murtinho Nobre, 66
08 a 17 Favoretto Pintura Rua Murtinho Nobre, 75
08 a 22 Ivan Toledo Pintura Rua Taylor, 58
08 a 22 Adriana Heemann Desenho Rua Taylor, 58
08 b 14 Helcio Barros Pintura Rua Almte. Alexandrino, 306
08 b 15 Nadam Guerra Escultura em Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 306
08 b 25 Razec Tozan Escultura e Reciclagem Rua Cândido Mendes, 480
08 b 26 Celia Schiavo Escultura e Interferência / papel Rua Santa Cristina, 53
08 b 26 Eraldo Mota Relevos Pictórios Rua Santa Cristina, 53
08 b 13 Paulo Alcântara Pintura, Escultura e Máscaras Travessa Santos Lima, 3
08 c 11 Sérgio Silveira Desenho e Pintura Rua Almte. Alexandrino, 1106
08 c 12 Carlos Antunes Pintura e Escultura
Contemporânea
Rua Áurea, 118
08 c 33 Ana Prado Pintura e Desenho Rua Áurea, 76
08 c 33 Fernado Suarez Escultura e Pintura Rua Áurea, 76
08 c 33 Cristina Felício dos Santos Barrogravura e Pintura Rua Áurea, 76
08 c 33 Ana Tannus Escultura e Mosaico Rua Áurea, 76
08 c 32 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea, 80
08 c 32 Roberto Sá Escultura Rua Áurea, 80
08 c 32 Tawfik Pintura e Desenho Rua Áurea, 80
08 c 33 Lucas Reis Pimtura Rua Áurea, 80
08 c 31 Rachel Korman Arte Contemporânea Rua Felício dos Santos, 62
08 c 31 Zemog Arte Contemporânea Rua Felício dos Santos, 62
08 c 27 Alexandre Alves Pintura Rua Fonseca Guimarães, 13
08 c 34 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinha Santos Lobo, 148
08 c 10 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
08 c 29 Cecília Freitas Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
08 c 30 Paulo Ferrari Pintura Rua Monte Alegre, 340
08 c 30 Heloísa Pires Ferreira Gravura Rua Monte Alegre, 340
08 c 30 Henry C. Melo Pintura Rua Monte Alegre, 340
08 c 30 Martins Escultura e Objeto Rua Monte Alegre, 340
08 c 30 Arcy Dourado Desenho e Pintura Rua Monte Alegre, 340
08 c 30 Liliane Braga Cerâmica Rua Monte Alegre, 340
08 c 36 Maria Verônica Martins Aquarela, Guache e Acrílica Rua Monte Alegre, 356
08 c 36 Frank Schaeffer Pintura, e Gravura Rua Monte Alegre, 356
08 c 35 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
08 c 35 Léo Carafa Pintura e Design Rua Monte Alegre, 470
08 c 28 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
08 d 41 Henri Carriès Pintura Rua do Oriente, 5
08 d 48 Alberto Kaplan Pintura e Aquarela
Contemporânea
Rua do Paraíso, 7
08 d 43 Marcílio Barroco Escultura e Máscaras Rua Eduardo Santos, 161
08 d 47 Marcius Tristão Escultura Abstrata em Metal Rua Paula Matos, 46
08 d 40 Lidia Peychaux Pintura Rua Paulo de Azevedo, 59
08 d 42 Martha Pires Ferreira Bico-de-Pena e Aquarela Rua Progresso, 81
08 d 42 Ronaldo Miranda Pintura e Serigrafia Rua Progresso, 81
150
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
08 d 45 Neyder Pintura Rua Santo Alfredo, 22
08 d 44 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
08 d 38 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Travessa Oriente, 16
08 d 39 Robson Camilo Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
08 d 39 Julio Castro Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
08 d 39 Ivana Curi Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
08 d 39 Paula Erber Gravura, Escultura, Design e
Pintura
Travessa Oriente, 16
08 d 37 Gisele Ribeiro Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
08 d 37 Bia Jabor Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
08 d 37 Carmen Riquelme Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
08 d 37 Nathalie Nery Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
08 d 37 Cristiana Duarte Arte Contemporânea e Design Travessa Poti, 41
08 d 46 José Luiz Ribeiro Escultura Travesssa Fluminense, 14
08 e 2 Alan Slawinski Escultura e Design Rua Alice, 1658
08 e 2 Carmen Slawinski Pintura Rua Alice, 1658
08 e 1 Jefferson Svoboda Arte Contemporânea Rua Alice, 413
08 e 9 Jemile Diban Pintura, Desenho e Escultura Rua Almte. Alexandrino, 1410
08 e 9 Emyr Rezende Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 1410
08 e 6 Marcia Limani Pintura e Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 3116
08 e 3 Maria Helena Salles Pintura Rua Dr. Julio Otoni, 294
08 e 3 Ricardo C.A Escultura Rua Dr. Julio Otoni, 294
08 e 4 Cristiane Marchal Rothmüller Pintura Rua Dr. Julio Otoni, 555
08 e 8 Reynaldo Guarany Pintura Contemporânea e Design Rua Eliseu Visconti, 401
08 e 7 Gilda Joppert Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
08 e 7 Angela Calvão Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
08 e 5 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
09 a 33 Malu Santiago Pintura, Desenho e Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
09 a 33 Ana Maria Moura Pintura, Desenho e Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
09 a 33 Mário Garcia Pintura, Desenho e Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
09 a 28 Regina Marconi Pintura e Desenho Rua Hermenegildo de Barros, 193
09 a 32 Eric Collete Desenho e Objetos Rua Hermenergildo de Barros,
111
09 a 30 Roberto Vommaro Pintura e Desenho Rua Hermenergildo de Barros,
176
09 a 30 Rejane Melo Pintura e Desenho Rua Hermenergildo de Barros,
176
09 a 29 Carmen Thompson Pintura e Escultura Rua Hermenergildo de Barros,
189
09 a 34 Lucas Reis Pintura e Desenho Rua Joaquim Murtinho, 273
09 a 34 Silvestre Pintura e Desenho Rua Joaquim Murtinho, 273
09 a 35 Bruno Lins Pintura, Objeto e Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
09 a 35 André Amaral Pintura, Objeto e Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
09 a 35 Roosivelt Pinheiro Pintura, Objeto e Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
09 a 35 Geraldo Marcolini Pintura, Objeto e Instalação Rua Joaquim Murtinho, 491
09 a 26 Maria Glória Marinho Pintura em Tecido Rua Murtinho Nobre, 66
09 a 27 Favoretto Pintura Rua Murtinho Nobre, 75
09 a 31 Fernando Simões Pintura Rua Visconde de Paranaguá, 37
09 b 22 Helcio Barros Pintura Rua Almte. Alexandrino, 306
09 b 23 Nadam Guerra Escultura em Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 306
09 b 24 Rasek Tosan Escultura Rua Cândido Mendes, 480
09 b 25 Celia Schiavo Interferência Sobre papel artesanal
Rua Santa Cristina, 53
09 b 25 Eraldo Mota Escultura/Pintura/Fotografia/Desen
ho
Rua Santa Cristina, 53
09 b 36 Paulo Alcântara Pintura, Escultura e Máscaras Travessa Santos Lima, 3
09 c 11 Cristina Isidoro Fotografia Rua Aarão Reis, 77
09 c 11 Lidio Parente Fotografia Rua Aarão Reis, 77
151
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
09 c 11 Rodrigo Méxas Fotografia Rua Aarão Reis, 77
09 c 18 Cristiana Miranda Fotografia Rua Almte. Alexandrino, 1191
09 c 10 Silvio de Moura Dias Pintura Rua Almte. Alexandrino, 1298
09 c 20 Fernado Suarez Escultura e Pintura Rua Aprazível, 86
09 c 17 Carlos Antunes Pintura e Escultura
Contemporânea
Rua Áurea, 118
09 c 16 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea, 80
09 c 16 Roberto Sá Escultura Rua Áurea, 80
09 c 21 Rachel Korman Pintura/Fotografia/Desenho/Objeto Rua Felício dos Santos, 62
09 c 21 Zemog Pintura/Fotografia/Desenho/Objeto Rua Felício dos Santos, 62
09 c 21 Adriana Tavares Pintura/Fotografia/Desenho/Objeto Rua Felício dos Santos, 62
09 c 15 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinha Santos Lobo, 148
09 c 19 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
09 c 38 Cecília Freitas Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
09 c 14 Lucia Meneghini Pintura e Escultura Rua Monte Alegre, 374
09 c 13 Paulo Ferrari Pintura, Escultura em Cerâmica Rua Monte Alegre, 395
09 c 13 Henry C. Melo Pintura, Escultura em Cerâmica Rua Monte Alegre, 395
09 c 13 Liliane Braga Pintura, Escultura em Cerâmica Rua Monte Alegre, 395
09 c 12 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
09 c 37 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
09 d 43 Henri Carriès Pintura Rua do Oriente, 5
09 d 50 Alberto Kaplan Pintura e Aquarela
Contemporânea
Rua do Paraíso, 7
09 d 45 Marcilio Barroco Máscaras e Esculturas Rua Eduardo Santos, 161
09 d 49 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
09 d 42 Lidia Peychaux Pintura Rua Paulo de Azevedo, 59
09 d 44 Ronaldo Miranda Pintura e Gravura Rua Progresso, 81
09 d 48 Neyder Pintura, Desenho e Gravura Rua Santo Alfredo, 22
09 d 48 Gilda Goulart Pintura, Desenho e Gravura Rua Santo Alfredo, 22
09 d 47 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
09 d 46 Solange Gonçalves Gravura Rua Santo Alfredo, 54
09 d 40 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Travessa Oriente, 16
09 d 41 Robson Camilo Gravura e Design Travessa Oriente, 16
09 d 41 Julio Castro Gravura e Design Travessa Oriente, 16
09 d 41 Ivana Curi Gravura e Design Travessa Oriente, 16
09 d 41 Paula Erber Gravura e Design Travessa Oriente, 16
09 d 39 Gisele Ribeiro Objeto, Instalação e Design Travessa Poti, 41
09 d 39 Bia Jabor Objeto, Instalação e Design Travessa Poti, 41
09 d 39 Carmen Riquelme Objeto, Instalação e Design Travessa Poti, 41
09 d 39 Nathalie Nery Objeto, Instalação e Design Travessa Poti, 41
09 d 39 Cristiana Duarte Objeto, Instalação e Design Travessa Poti, 41
09 e 2 Alan Slawinski Escultura, Design e Pintura Rua Alice, 1658
09 e 2 Carmen Slawinski Escultura, Design e Pintura Rua Alice, 1658
09 e 1 Jefferson Svoboda Pintura e Cerâmica Rua Alice, 413
09 e 4 Marcia Limani Cerâmica e Pintura Rua Almte. Alexandrino, 3116
09 e 3 Olga Almeida Pintura Rua Dr. Julio Otoni, 373
09 e 8 Rodrigo Moraes Pintura e Arte Digital Rua Eliseu Visconti, 401
09 e 7 Gilda Joppert Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
09 e 7 Angela Calvão Oficina Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
09 e 9 Reynaldo Guarany Pintura Rua Eliseu Visconti, 455
09 e 6 Ana Prado Pintura Rua Prefeito João Felipe, 515
09 e 5 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
10 a 33 Malu Santiago Pintura, Desenho, Gravura e
Escultura
Ladeira de Santa Teresa, 40
10 a 33 Ana Maria Moura Pintura, Desenho, Gravura e
Escultura
Ladeira de Santa Teresa, 40
10 a 33 Mário Garcia Pintura, Desenho, Gravura e
Escultura
Ladeira de Santa Teresa, 40
10 a 15 Regina Marconi Escultura em Cerâmica, Pintura e Rua Hermenegildo de Barros, 193
152
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
Desenho
10 a 32 Eric Collete Desenho Rua Hermenergildo de Barros,
111
10 a 34 Ana Durães Pintura e Objeto Rua Joaquim Murtinho, 772
10 a 30 Alexandre Alves Pintura, Gravura, Escultura e
Desenho
Rua Murtinho Nobre, 156
10 a 30 Juliana Freitas Pintura, Gravura, Escultura e
Desenho
Rua Murtinho Nobre, 156
10 a 30 Rafael Kuwer Pintura, Gravura, Escultura e
Desenho
Rua Murtinho Nobre, 156
10 a 30 Juliana Samuel Pintura, Gravura, Escultura e
Desenho
Rua Murtinho Nobre, 156
10 a 31 Cesar Pastore Desenho Rua Murtinho Nobre, 156
10 a 28 Maria Glória Marinho Pintura em Tecido Rua Murtinho Nobre, 66
10 a 29 Favoretto Pintura, Desenho e Objeto Rua Murtinho Nobre, 75
10 b 25 Helcio Barros Pintura e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 306
10 b 26 Nadam Guerra Escultura em Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 306
10 b 27 Celia Schiavo Cerâmica, Interferência/papel,
Pintura
Rua Santa Cristina, 53
10 b 27 Eraldo Mota Cerâmica, Interferência/papel,
Pintura
Rua Santa Cristina, 53
10 b 35 Paulo Alcântara Pintura, Escultura e Máscaras Travessa Santos Lima, 3
10 c 12 Cristina Isidoro Fotografia Rua Aarão Reis, 77
10 c 12 Lidio Parente Fotografia Rua Aarão Reis, 77
10 c 21 Cristiana Miranda Fotografia Rua Almte. Alexandrino, 1191
10 c 23 Fernado Suarez Escultura e Pintura Rua Aprazível, 86
10 c 20 Carlos Antunes Pintura e Escultura Rua Áurea, 118
10 c 19 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea, 80
10 c 19 Roberto Sá Escultura Rua Áurea, 80
10 c 19 Rubens Saboya Escultura Rua Áurea, 80
10 c 24 Rachel Korman Pintura, Fotografia e Objeto Rua Felício dos Santos, 62
10 c 24 Zemog Pintura, Fotografia e Objeto Rua Felício dos Santos, 62
10 c 24 Adriana Tavares Pintura, Fotografia e Objeto Rua Felício dos Santos, 62
10 c 18 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinha Santos Lobo, 148
10 c 22 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
10 c 37 Cecília Freitas Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
10 c 17 Maria Verônica Martins Pintura e Desenho Rua Monte Alegre, 356
10 c 17 Frank Schaeffer Pintura e Desenho Rua Monte Alegre, 356
10 c 16 Lucia Meneghini Pintura Rua Monte Alegre, 374
10 c 15 Liliane Braga Escultura Cerâmica/Pintura/
Desenho
Rua Monte Alegre, 395
10 c 15 Paulo Ferrari Escultura em Cerâmica, Pintura e
Desenho
Rua Monte Alegre, 395
10 c 14 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
10 c 13 Esdson Meirelles Fotografia Rua Monte Alegre, 482
10 c 36 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
10 d 43 Maria Nepomuceno Objeto Lgo das Neves, 12
10 d 40 Henri Carriès Pintura Rua do Oriente, 5
10 d 49 Alberto Kaplan Aquarela e Pintura Rua do Paraíso, 7
10 d 44 Marcilio Barroco Máscaras e Esculturas Rua Eduardo Santos, 161
10 d 47 Sandra Porto Pintura e Gravura Rua Paula Matos, 144
10 d 48 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
10 d 41 Rosana Ricalde Pintura, Objeto e Instalação Rua Progresso, 125
10 d 41 Felipe Barbosa Pintura, Objeto e Instalação Rua Progresso, 125
10 d 42 Ronaldo Miranda Pintura e Gravura Rua Progresso, 81
10 d 46 Neyder Pintura, Desenho e Gravura Rua Santo Alfredo, 22
10 d 46 Gilda Goulart Pintura, Desenho e Gravura Rua Santo Alfredo, 22
10 d 45 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
10 d 38 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Travessa Oriente, 16
10 d 39 Julio Castro Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
153
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
10 d 39 Ivana Curi Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
10 d 39 Paula Erber Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
10 d 39 Magliani Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
10 e 2 Alan Slawinski Escultura, Design e Pintura Rua Alice, 1658
10 e 2 Carmen Slawinski Escultura, Design e Pintura Rua Alice, 1658
10 e 3 Dominique Jardy Pintura Rua Alice, 1658
10 e 4 Mario Maia Escultura Rua Alice, 1658
10 e 1 Jefferson Svoboda Pintura e Cerâmica Rua Alice, 413
10 e 6 Marcia Limani Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 3116
10 e 5 Olga Almeida Pintura Rua Dr. Julio Otoni, 373
10 e 11 Reynaldo Guarany Pintura Rua Eliseu Visconti, 401
10 e 9 Gilda Joppert Arte Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
10 e 9 Angela Calvão Arte Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
10 e 10 Rodrigo Moraes Pintura e Arte Digital Rua Eliseu Visconti, 455
10 e 8 Ana Prado Pintura Rua Prefeito João Felipe, 515
10 e 7 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
11 a 28 Malu Santiago Pintura, Desenho, Gravura e
Escultura
Ladeira de Santa Teresa, 40
11 a 28 Ana Maria Moura Pintura, Desenho, Gravura e
Escultura
Ladeira de Santa Teresa, 40
11 a 28 Mário Garcia Pintura, Desenho, Gravura e
Escultura
Ladeira de Santa Teresa, 40
11 a 12 Regina Marconi Escultura, Pintura e Foto -
Aquarela
Rua Hermenegildo de Barros, 193
11 a 27 Eric Collete Desenho Rua Hermenergildo de Barros,
111
11 a 29 Ana Durães Pintura e Objeto Rua Joaquim Murtinho, 772
11 a 26 Alexandre Alves Pintura, Gravura, Escultura e
Desenho
Rua Murtinho Nobre, 156
11 a 26 Juliana Freitas Pintura, Gravura, Escultura e
Desenho
Rua Murtinho Nobre, 156
11 a 26 Rafael Kuwer Pintura, Gravura, Escultura e
Desenho
Rua Murtinho Nobre, 156
11 a 24 Maria Glória Marinho Pintura em Tecido Rua Murtinho Nobre, 66
11 a 25 Favoretto Pintura e Desenho Rua Murtinho Nobre, 75
11 b 22 Nadam Guerra Escultura em Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 306
11 b 23 Celia Schiavo Cerâmica, Interferência/papel,
Pintura
Rua Santa Cristina, 53
11 b 23 Eraldo Mota Cerâmica, Interferência/papel,
Pintura
Rua Santa Cristina, 53
11 b 30 Paulo Alcântara Pintura, Escultura e Máscaras Travessa Santos Lima, 3
11 c 9 Ricardo Fasanello Fotografia e Pintura Rua Aarão Reis, 97
11 c 9 Isabel Löfgren Fotografia e Pintura Rua Aarão Reis, 97
11 c 20 Marcia Limani Cerâmica e Pintura Rua Aprazível, 86
11 c 17 Carlos Antunes Pintura e Escultura Rua Áurea, 118
11 c 16 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea, 80
11 c 16 Roberto Sá Escultura Rua Áurea, 80
11 c 16 Rubens Saboya Escultura Rua Áurea, 80
11 c 21 Rachel Korman Fotografia e Objeto Rua Felício dos Santos, 62
11 c 21 Zemog Fotografia e Objeto Rua Felício dos Santos, 62
11 c 15 Regina Alvarez Fotografia Rua Laurinha Santos Lobo, 148
11 c 19 Cristiana Miranda Fotografia Rua Leopoldo Fróes, 321
11 c 18 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
11 c 32 Cecília Freitas Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
11 c 14 Frank Schaeffer Pintura/Gravura/Aquarela/Guache/
Acrílica
Rua Monte Alegre, 356
11 c 14 Maria Verônica Martins Pintura/Gravura/Aquarela/Guache/
Acrílica
Rua Monte Alegre, 356
11 c 13 Lucia Meneghini Instalação Rua Monte Alegre, 374
11 c 12 Liliane Braga Escultura, Pintura e Foto - Rua Monte Alegre, 395
154
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
Aquarela
11 c 12 Paulo Ferrari Escultura, Pintura e Foto -
Aquarela
Rua Monte Alegre, 395
11 c 11 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
11 c 10 Esdson Meirelles Fotografia Rua Monte Alegre, 482
11 c 31 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
11 d 35 Henri Carriès Pintura Rua do Oriente, 5
11 d 36 Marcilio Barroco Máscaras e Esculturas Rua do Oriente, 5
11 d 42 Sandra Porto Pintura e Gravura Rua Paula Matos, 144
11 d 43 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
11 d 37 Rosana Ricalde Pintura, Objeto e Instalação Rua Progresso, 125
11 d 37 Felipe Barbosa Pintura, Objeto e Instalação Rua Progresso, 125
11 d 38 Ronaldo Miranda Gravura e Pintura Rua Progresso, 81
11 d 40 Neyder Pintura e Objeto Rua Santo Alfredo, 22
11 d 41 Gilda Goulart Pintura, Desenho e Gravura Rua Santo Alfredo, 22
11 d 39 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
11 d 33 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Travessa Oriente, 16
11 d 34 Julio Castro Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
11 d 34 Ivana Curi Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
11 d 34 Paula Erber Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
11 d 34 Maria Lúcia Magliani Pintura, Desenho, Gravura e
Design
Travessa Oriente, 16
11 e 2 Alan Slawinski Escultura/Design/Pintura e
Iluminação
Rua Alice, 1658
11 e 2 Carmen Slawinski Escultura, Design, Pintura e
Iluminação
Rua Alice, 1658
11 e 1 Jefferson Svoboda Escultura, Pintura e Cerâmica Rua Alice, 413
11 e 3 Olga Almeida Pintura Rua Dr. Julio Otoni, 373
11 e 8 Reynaldo Guarany Pintura Rua Eliseu Visconti, 401
11 e 6 Gilda Joppert Arte Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
11 e 6 Angela Calvão Arte Têxtil Rua Eliseu Visconti, 455
11 e 7 Rodrigo Moraes Pintura Rua Eliseu Visconti, 455
11 e 5 Ana Prado Pintura Rua Prefeito João Felipe, 515
11 e 4 Ester Bloch Pintura Rua Prof. Mauriti Santos, 395
12 a 3 Malu Santiago Pintura, Desenho e Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
12 a 3 Ana Maria Moura Pintura, Desenho e Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
12 a 3 Mário Garcia Pintura, Desenho e Escultura Ladeira de Santa Teresa, 40
12 a 8 Carlos Vergara Gravura e Cenografia Rua Dias de Barros, 43
12 a 8 Marcos Flaksman Gravura e Cenografia Rua Dias de Barros, 43
12 a 7 Bianca Leão Gravura Rua Hermenegildo de Barros, 187
12 a 34 Dalton Valério Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
12 a 34 Débora 70 Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
12 a 34 Mickele P. Pucarelli Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
12 a 34 Dri Simões Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
12 a 34 Nando Pinheiro Fotografia Rua Hermenergildo de Barros,
193
12 a 1 Ana Durães Pintura e Objeto Rua Joaquim Murtinho, 777
12 a 1 Pat Can Pintura e Objeto Rua Joaquim Murtinho, 777
12 a 2 Oru Am Pintura Rua Joaquim Murtinho, 868
12 a 5 Alexandre Alves Pintura e Gravura Rua Murtinho Nobre, 156
12 a 5 Danielle Choukroun Pintura e Gravura Rua Murtinho Nobre, 156
12 a 5 Rafael Kuwer Pintura e Gravura Rua Murtinho Nobre, 156
12 a 5 Pierre Chandelier Pintura e Gravura Rua Murtinho Nobre, 156
12 a 4 Maria Glória Marinho Pintura em Tecido Rua Murtinho Nobre, 66
12 a 6 Fernando Simões Pintura Rua Visconde de Paranaguá, 37
155
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
12 b 10 Nadam Guerra Escultura em Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 306
12 b 9 Celia Schiavo Cerâmica, Composição/papel,
Pintura
Rua Santa Cristina, 53
12 b 9 Eraldo Mota Cerâmica, Composição/papel,
Pintura
Rua Santa Cristina, 53
12 b 11 Paulo Alcântara Pintura, Escultura e Máscaras Travessa Santos Lima, 3
12 c 30 Lidio Parente Fotografia e Intalação Rua Aarão Reis, 77
12 c 30 Cristina Isidoro Fotografia e Intalação Rua Aarão Reis, 77
12 c 31 Ricardo Fasanello Fotografia e Pintura Rua Aarão Reis, 97
12 c 31 Isabel Löfgren Fotografia e Pintura Rua Aarão Reis, 97
12 c 38 Carlos Antunes Pintura e Escultura Rua Áurea, 118
12 c 36 Clara Arthaud Escultura Rua Áurea, 80
12 c 36 Roberto Sá Escultura Rua Áurea, 80
12 c 36 Rubens Saboya Escultura Rua Áurea, 80
12 c 37 Rachel Korman Fotografia, Escultura, Pintura e
Objeto
Rua Felício dos Santos, 62
12 c 37 Béatrice Desrousseaux Fotografia, Escultura, Pintura e
Objeto
Rua Felício dos Santos, 62
12 c 37 Zemog Fotografia, Escultura, Pintura e
Objeto
Rua Felício dos Santos, 62
12 c 37 Abigail Nunes Fotografia, Escultura, Pintura e
Objeto
Rua Felício dos Santos, 62
12 c 37 Analu Prestes Fotografia, Escultura, Pintura e
Objeto
Rua Felício dos Santos, 62
12 c 12 Gilda Joppert Arte Têxtil Rua Filadélfia, 26
12 c 12 Angela Calvão Arte Têxtil Rua Filadélfia, 26
12 c 41 Cristiana Miranda Pintura Rua Leopoldo Fróes, 321
12 c 40 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
12 c 39 Getulio Damado Escultura Rua Leopoldo Fróes, s/n
12 c 14 Cecília Freitas Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
12 c 35 Frank Schaeffer Pintura, Aquarela, Guache e
Acrílica
Rua Monte Alegre, 356
12 c 35 Maria Verônica Marins Pintura, Aquarela, Guache e
Acrílica
Rua Monte Alegre, 356
12 c 33 Liliane Braga Escultura, Pintura e Foto e
Aquarela
Rua Monte Alegre, 395
12 c 33 Darko Karadjitch Escultura, Pintura e Foto e
Aquarela
Rua Monte Alegre, 395
12 c 33 Paulo Ferrari Escultura, Pintura e Foto e
Aquarela
Rua Monte Alegre, 395
12 c 33 Regina Marconi Escultura, Pintura e Foto e
Aquarela
Rua Monte Alegre, 395
12 c 33 Annie Barel Escultura, Pintura e Foto e
Aquarela
Rua Monte Alegre, 395
12 c 32 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
12 c 13 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
12 d 22 Fábia Schnoor Cerâmica Ladeira Frei Orlando, 37
12 d 15 Ana Prado Pintura Rua do Oriente, 222
12 d 19 Henri Carriès Pintura Rua do Oriente, 5
12 d 24 Alberto Kaplan Pintura Rua do Paraíso, 7
12 d 20 Felipe Barbosa Objeto, Pintura, Fotografia, e
Escultura
Rua do Progresso, 125
12 d 20 Minika Woltering Objeto, Pintura, Fotografia, e
Escultura
Rua do Progresso, 125
12 d 20 Pierre Peignot Objeto, Pintura, Fotografia, e
Escultura
Rua do Progresso, 125
12 d 21 Ronaldo Miranda Gravura e Pintura Rua do Progresso, 81
12 d 29 Luciano Mendonça Design Rua Miguel Resende, 557
12 d 29 Aline Ventura Design Rua Miguel Resende, 557
12 d 23 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
12 d 20 Rosana Ricalde Objeto, Pintura, Fotografia, e
Escultura
Rua Progresso, 125
12 d 26 Neyder Pintura e Objeto Rua Santo Alfredo, 22
12 d 26 Christophe Gosselin Pintura e Objeto Rua Santo Alfredo, 22
156
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
12 d 27 Gilda Goulart Gravura, Desenho Rua Santo Alfredo, 22
12 d 28 Sandra Porto Pintura, Gravura e Objeto Rua Santo Alfredo, 22
12 d 28 Elli Drouilleau Pintura, Gravura e Objeto Rua Santo Alfredo, 22
12 d 25 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
12 d 16 Ivana Curi Design Travessa Oriente, 16
12 d 17 Julio Castro Pintura, Desenho e Gravura Travessa Oriente, 16
12 d 17 Christophe Cottin Pintura, Desenho e Gravura Travessa Oriente, 16
12 d 17 Paula Erber Pintura, Desenho e Gravura Travessa Oriente, 16
12 d 17 Maria Lúcia Magliani Pintura, Desenho e Gravura Travessa Oriente, 16
12 d 18 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura Travessa Oriente, 16
12 e 44 Alan Slawinski Escultura, Design, Pintura e
Iluminação
Rua Alice, 1658
12 e 44 Carmen Slawinski Escultura, Design, Pintura e
Iluminação
Rua Alice, 1658
12 e 45 Jefferson Svoboda Escultura, Pintura e Iluminação Rua Alice, 413
12 e 43 Valter Lano Escultura e Relevo Rua Almte. Alexandrino, 3170
12 e 42 Reinaldo Guarany Pintura Rua Eliseu Visconti, 401
13 a 8 Fernando José Suarez Escultura Rua Hermenegildo de Barros, 163
13 a 1 Awena Jones Objeto Rua Joaquim Murtinho
13 a 1 Marco Resende Objeto Rua Joaquim Murtinho
13 a 5 Eduardo Costa Desenho Rua Murtinho Nobre, 156
13 a 6 Alexandre Alves Pintura Rua Murtinho Nobre, 156
13 a 7 Dorothee Ledermann Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
13 a 7 Thäis Siervi Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
13 a 4 Maria Glória Marinho Pintura em Tecido Rua Murtinho Nobre, 66
13 a 2 Ana Durães Pintura e Objeto Rua Joaquim Murtinho, 777
13 a 3 Oru Am Pintura Rua Joaquim Murtinho, 868
13 b 16 Ateliê Santa Sucata Design e Pintura Ladeira do Castro, 205
13 b 16 Jac Carrara Design e Pintura Ladeira do Castro, 205
13 b 16 Roberto Barciela Design e Pintura Ladeira do Castro, 205
13 b 15 Bebel Franco Pintura e Assemblage Ladeira do Castro, 209
13 b 15 Regina Toledo Piza Pintura e Assemblage Ladeira do Castro, 209
13 b 12 Ana Maria Moura Pintura, Desenho, Escultura e
Gravura
Rua Almte. Alexandrino, 306
13 b 12 Malu Santiago Pintura, Desenho, Escultura e
Gravura
Rua Almte. Alexandrino, 306
13 b 13 Hélcio Barros Pintura e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 306
13 b 14 Nadam Guerra Videoarte e Escultura Rua Almte. Alexandrino, 356
13 b 9 Pedro Grapiúna Escultura Rua Almte. Alexandrino, 54
13 b 11 Luca de Castro Pintura e Desenho Rua Andres Belo, 16
13 b 10 Celia Shiavo Netto Pintura/Desenho/Relevos e
Composições
Rua Santa Cristina, 53
13 b 10 Eraldo Motta Pintura/Desenho/Relevos e
Composições
Rua Santa Cristina, 53
13 b 10 Vanda Martins Pintura/Desenho/Relevos e
Composições
Rua Santa Cristina, 53
13 b 17 Paulo Alcântara Instalação, Objeto e Escultura Travessa Santos Lima, 3
13 c 31 Liliane Braga Objeto Rua Aarão Reis, 14
13 c 31 Chico Higino Objeto Rua Aarão Reis, 14
13 c 39 Carlos Antunes Pintura, Escultura e Instalação Rua Áurea, 118
13 c 38 Casa Um Objeto Rua Felício dos Santos, 62
13 c 38 Zemog Objeto Rua Felício dos Santos, 62
13 c 19 Lidio Parente Fotografia Rua Fonseca Guimarães, 29
13 c 19 Santí M. Fotografia Rua Fonseca Guimarães, 29
13 c 37 Ivana Curi Design Rua Laurinha Santos Lobo, 152
13 c 37 Nicolau Vinciprova Design Rua Laurinha Santos Lobo, 152
13 c 41 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
13 c 40 Getulio Damado Escultura Rua Leopoldo Fróes, s/n
13 c 21 Cecília Freitas Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
13 c 21 Fabia Schnoor Cerâmica Rua Monte Alegre, 313
157
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
13 c 36 Frank Schaeffer Pintura Rua Monte Alegre, 356
13 c 36 Maria Verônica Marins Pintura Rua Monte Alegre, 356
13 c 35 AC Junior Fotografia Rua Monte Alegre, 374
13 c 34 Mengarelli Pintura Rua Monte Alegre, 412
13 c 33 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
13 c 32 Cristiana Isidoro Fotografia Rua Monte Alegre, 77
13 c 18 Célia Pattacini Infoarte/Pintura/Fotografia/Foto -
Aquarela
Rua Paschoal Carlos Magno, 90
13 c 18 Ni da Costa Infoarte/Pintura/Fotografia/Foto -
Aquarela
Rua Paschoal Carlos Magno, 90
13 c 18 Regina Marconi Infoarte/Pintura/Fotografia/Foto -
Aquarela
Rua Paschoal Carlos Magno, 90
13 c 18 Sandra Porto Infoarte/Pintura/Fotografia/Foto -
Aquarela
Rua Paschoal Carlos Magno, 90
13 c 20 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
13 d 29 Ana Prado Pintura Rua do Oriente, 222
13 d 23 Ronaldo Miranda Pintura Rua do Progresso, 81
13 d 30 Rute Casoy Painéis em Tecido Rua Miguel de Paiva, 603
13 d 26 Sérgio Verástegui Video - instalação Rua Paraíso, 54
13 d 24 Roosivelt Pintura Rua Paula Matos, 121
13 d 25 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
13 d 28 Trimano Desenho Rua Progresso, 40
13 d 27 Flávio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
13 d 22 Julio Castro Pintura, Desenho e Gravura Travessa Oriente, 16
13 d 22 Maria Lidia Magliani Pintura, Desenho e Gravura Travessa Oriente, 16
13 d 22 Paula Erber Pintura, Desenho e Gravura Travessa Oriente, 16
13 e 44 Alan Slawinski Pintura, Iluminação, Escultura e
Design
Rua Alice, 1658
13 e 44 Carmen Slawinski Pintura, Iluminação, Escultura e
Design
Rua Alice, 1658
13 e 45 Claudia Tavares Fotografia Rua Alice, 1658
13 e 46 Jefferson Svoboda Pintura e Cerâmica Rua Alice, 413
13 e 43 Cristina Moretti Escultura, Relevo e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 3170
13 e 43 Mario Barata Escultura, Relevo e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 3170
13 e 43 Valter Lano Escultura, Relevo e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 3170
13 e 42 Reinaldo Guarany Pintura e Design Rua Eliseu Visconti, 401
14 a 24 Beatriz Pimenta Fotografia Rua Dias de Barros, 29
14 a 24 Crhristina Bocayuva Fotografia Rua Dias de Barros, 29
14 a 30 Jean Baptiste Déchery Pintura Rua Gonçalves Fontes, 39
14 a 28 José Geraldo Furtado Cerâmica Rua Hermenegildo de Barros, 163
14 a 27 Dorothee Ledermann Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
14 a 27 Thäis Siervi Cerâmica Rua Murtinho Nobre, 330
14 a 23 Rejane Melo Pintura Rua Joaquim Murtinho, 786
14 a 26 Alexandre Alves Pintura Rua Murtinho Nobre, 156
14 a 25 Favoretto Pintura e Desenho Rua Murtinho Nobre, 75
14 a 29 Cristina Felicio dos Santos Pintura e Borrogravura Rua Visconde de Paranaguá, 71
14 b 33 Bebel Franco Pintura Ladeira do Castro, 209
14 b 33 Maria Regina Toledo Piza Pintura Ladeira do Castro, 209
14 b 31 Helcio Barros Pintura Rua Almte. Alexandrino, 306
14 b 32 Ana Maria Moura Pintura, Desenho, Escultura e
Gravura
Rua Almte. Alexandrino, 306
14 b 32 Malu Santiago Pintura, Desenho, Escultura e
Gravura
Rua Almte. Alexandrino, 306
14 b 21 Pedro Grapiúna Escultura em Ferro Reciclado Rua Almte. Alexandrino, 54
14 b 20 Celia Schiavo Pintura sobre papel artesanal e
Relevo
Rua Santa Cristina, 53
14 b 20 Vanda Martins Pintura sobre papel artesanal e
Relevo
Rua Santa Cristina, 53
14 b 22 Lucas Reis Pintura Rua Teresópolis, 62
14 c 10 Paula Erber Gravura Rua Aarão Reis, 151
14 c 11 Birgit Chistiane Seyfarth Cerâmica Rua Aarão Reis, 87
158
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
14 c 9 Anauê Tupan Escultura e Vitral Rua Almte. Alexandrino, 1293
14 c 9 Nátalia Gerschovich Escultura e Vitral Rua Almte. Alexandrino, 1293
14 c 19 Smael Pintura Rua Almte. Alexandrino, 630
14 c 16 Carlos Antunes Pintura e Escultura Rua Áurea, 118
14 c 15 Fernando José Suarez Escultura e Pintura Rua Áurea, 80
14 c 34 Santí Montsalvatge Fotografia Rua Fonseca Guimarães, 29
14 c 18 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
14 c 17 Getulio Damado Arte Popular (Escultura) Rua Leopoldo Fróes, s/n
14 c 14 Frank Schaeffer Pintura, Aquarela, Guache e
Acrílica
Rua Monte Alegre, 356
14 c 14 Maria Verônica Marins Pintura, Aquarela, Guache e
Acrílica
Rua Monte Alegre, 356
14 c 13 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
14 c 12 Edson Meireles Fotografia Rua Monte Alegre, 482
14 c 37 Thelma Innecco Cerâmica Rua Paschoal Carlos Magno, 19
14 c 35 Célia Pattacini Pintura, Infonorte e Foto -
Aquarela
Rua Paschoal Carlos Magno, 90
14 c 35 Ni da Costa Pintura, Infonorte e Foto -
Aquarela
Rua Paschoal Carlos Magno, 90
14 c 35 Regina Marconi Pintura, Infonorte e Foto -
Aquarela
Rua Paschoal Carlos Magno, 90
14 c 36 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
14 d 35 Ana Prado Pintura Rua do Oriente, 222
14 d 42 Wanderley Figueiredo Design Rua do Oriente, 5
14 d 45 Ronaldo Miranda Pintura e Serigrafia Rua do Progresso, 81
14 d 46 Marcilio Barroco Esculturas e Máscaras Rua Eduardo Santos, 161
14 d 39 Ruth Casoy Painéis em Tecido Rua Miguel de Paiva, 603
14 d 48 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
14 d 43 Sergio Amadei Design Rua Progresso, 103
14 d 44 Trimano Desenho Rua Progresso, 40
14 d 47 Flavio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
14 d 40 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura em Papel
Marché
Travessa Oriente, 16
14 d 41 Julio Castro Gravura, Pintura, Desenho e
Objeto
Travessa Oriente, 16
14 d 41 Magliani Gravura, Pintura, Desenho e
Objeto
Travessa Oriente, 16
14 e 7 Sergio Bopp Pintura Rua Almte. Alexandrino, 1458
14 e 8 Jemile Diban Pintura, Escultura e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 1458
14 e 5 Constança da Assunção Origami Rua Almte. Alexandrino, 2875
14 e 4 Maria Manso Escultura Rua Almte. Alexandrino, 2926
14 e 2 Cristina Moretti Escultura, Relevo e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 3116
14 e 2 Mario Barata Escultura, Relevo e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 3117
14 e 2 Valter Lano Escultura, Relevo e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 3118
14 e 3 Nilton Pinho Pintura, Objeto e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 3118
14 e 1 L. Sampaio Fotografia e Pintura Rua Dr. Júlio Otoni, 260
14 e 1 Sergio Pell Fotografia e Pintura Rua Dr. Júlio Otoni, 260
14 e 6 Reinaldo Guarany Pintura e Design Rua Eliseu Visconti, 401
14 e 6 Carlos Miranda Pintura e Design Rua Eliseu Visconti, 401
15 a 25 Beatriz Pimenta Fotografia Rua Dias de Barros, 29
15 a 25 Crhristina Bocayuva Fotografia Rua Dias de Barros, 29
15 a 24 Alexandre Alves Pintura Rua Francisco Muratori, 38
15 a 24 Edson Silveira Cerâmica e Gravura Rua Francisco Muratori, 38
15 a 30 Jean Baptiste Déchery Pintura Rua Gonçalves Fontes, 39
15 a 28 José Geraldo Furtado Instalação Rua Hermenegildo de Barros, 163
15 a 28 Sandra Porto Objeto, Gravura e Pintura Rua Hermenegildo de Barros, 163
15 a 26 Maria Glória Marinho Aquarela em seda e Papel Rua Murtinho Nobre, 66
15 a 23 Valter de Gaudio Pintura e Fotografia Rua Joaquim Murtinho, 616
15 a 21 Rejane Melo Pintura Rua Joaquim Murtinho, 786
15 a 22 Almir Soares Objeto Rua Joaquim Murtinho, 786
159
Ed.
Área
Ateliê
Artista Técnica Endereço
15 a 27 Favoretto Pintura e Desenho Rua Murtinho Nobre, 75
15 a 29 Cristina Felicio dos Santos Borrogravura Rua Visconde de Paranaguá, 71
15 b 35 Lucia Vignoli Pintura Ladeira do Castro, 205
15 b 35 Nena Balthar Desenho e Instalação Ladeira do Castro, 205
15 b 35 Thäis Siervi Cerâmica Ladeira do Castro, 205
15 b 34 Bebel Franco Pintura Ladeira do Castro, 209
15 b 34 Maria Regina Toledo Piza Pintura Ladeira do Castro, 209
15 b 31 Ana Maria Moura Pintura e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 306
15 b 31 Malu Santiago Pintura, Gravura e Cerâmica Rua Almte. Alexandrino, 306
15 b 32 Helcio Barros Pintura e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 306
15 b 33 Nadanm Guerra Arte Viva, Fotografia e Escultura Rua Almte. Alexandrino, 356
15 b 19 Pedro Grapiúna Escultura em Ferro Reciclado Rua Almte. Alexandrino, 54
15 b 18 Luca de Castro Desnho e Pintura Rua Andres Belo, 16
15 b 20 Lucas Reis Pintura Rua Teresópolis, 62
15 c 9 Paula Erber Gravura Rua Aarão Reis, 151
15 c 10 Cristiane de Souza Martins Cerâmica Rua Aarão Reis, 87
15 c 8 Anauê Tupan Design Rua Almte. Alexandrino, 1293
15 c 8 Nátalia Gerschovich Vitral Rua Almte. Alexandrino, 1293
15 c 14 Paulo Rubens Fonseca Fotografia Rua Áurea, 117
15 c 15 Carlos Antunes Pintura, Escultura e Instalação Rua Áurea, 118
15 c 13 Fernando J. Suarez Pintura e Escultura Rua Áurea, 80
15 c 36 Santi Montsalvatge Fotografia Rua Fonseca Guimarães, 29
15 c 16 Getulio Damado Arte Popular (Escultura) Rua Leopoldo Fróes, 15
15 c 17 Andrade Escultura Rua Leopoldo Fróes, 83
15 c 12 Frank Schaeffer Pintura Rua Monte Alegre, 356
15 c 12 Maria Verônica Marins Pintura (Aquarela, Guache e
Acrílica)
Rua Monte Alegre, 356
15 c 11 Renan Cepeda Fotografia Rua Monte Alegre, 470
15 c 39 Thelma Innecco Cerâmica Rua Paschoal Carlos Magno, 19
15 c 37 Célia Pattacini Infoarte Rua Paschoal Carlos Magno, 90
15 c 37 Ni da Costa Pintura Rua Paschoal Carlos Magno, 90
15 c 37 Regina Marconi Pintura e Fotoaquarela Rua Paschoal Carlos Magno, 90
15 c 38 Helena Souto Cerâmica Rua Teresina, 14
15 d 40 Ana Prado Pintura Rua do Oriente, 222
15 d 44 Wanderley Figueiredo Design Rua do Oriente, 5
15 d 48 Marcilio Barroco Esculturas e Máscaras Rua Eduardo Santos, 161
15 d 41 Ruth Casoy Painéis em Tecido Rua Miguel de Paiva, 603
15 d 51 Kaplan Pintura Rua Paraíso, 7
15 d 50 Marcius Tristão Escultura Rua Paula Matos, 46
15 d 45 Sergio Amadei Design Rua Progresso, 103
15 d 46 Ronaldo Miranda Pintura e Gravura Rua Progresso, 81
15 d 47 Flavio Papi Maquetes Rua Santo Alfredo, 40
15 d 49 José Luiz Ribeiro Escultura Travessa Fluminense, 14
15 d 42 Delfina Renck Reis Pintura e Escultura em Papel
Marché
Travessa Oriente, 16
15 d 43 Julio Castro Gravura Travessa Oriente, 16
15 e 6 Sergio Bopp Pintura Rua Almte. Alexandrino, 1458
15 e 7 Jemile Diban Pintura, Escultura e Desenho Rua Almte. Alexandrino, 1458
15 e 4 Andrea Canto Pintura Rua Almte. Alexandrino, 2829
15 e 3 Constança da Assunção Origami Rua Almte. Alexandrino, 2875
15 e 2 Cris Moretti Escultura em Ferro Rua Almte. Alexandrino, 3170
15 e 2 Mario Barata Ferro, Bico de Pena Rua Almte. Alexandrino, 3170
15 e 1 Luis Fernando Fotografia Rua Dr. Júlio Otoni, 260
15 e 1 Sergio Pell Fotografia e Objeto Rua Dr. Júlio Otoni, 260
15 e 5 Carlos Miranda Design de Móveis Rua Eliseu Visconti, 401
15 e 5 David Farias Pintura Rua Eliseu Visconti, 401
15 e 5 Reinaldo Guarany Pintura Rua Eliseu Visconti, 401
160
7.2 Quadro 2 – Edições do Prêmio Interferências Urbanas
Item
Artistas
Nome do
Trabalho
Propostas Local da ação
1ª EDIÇÃO
1
Ana Paula Cardoso,
André Amaral,Arthur
Leandro, Clara Zúñiga,
Edson Barrus, Geraldo
Marcolini, Roosivelt
Trancado a Sete
Chaves
Propõe a desterritorialização do espaço do
atelier por meio de um espaço lacrado
Largo do Curvelo
2
Andreia Bernardi,
Felipe Barbosa,
Rosana Ricaldi
Sem Título -
Barras de Sabão
No vazio deixado por um desabamento, é
construído um muro com barras de sabão. O
trabalho evoca questões relacionadas ao
mostrar a ao encobrir. Como divisor de
espaços, nos impede de ver ao mesmo
tempo em que se mostra a nós. A imagem do
Cristo, impressa em todos os seus "tijolos",
torna-se tão vulnerável quanto seu suporte, o
sabão, e tão sólida como o muro que se
impõe como um monumento.
Rua do Oriente
3
Chang Chai, João
Wesley
Nos Trilhos da
Cor
Noção de contínuo espacial a partir do
fragmento. O Bonde é evocado
imageticamente quando percorremos um
trecho da linha no qual o espaço entre os
trilhos foi marcado com a cor amarela.
150 metros com tinta
PVA sobre asfalto
entre os trilhos do
bonde
4
Clara Cavendish,
Juliano Guilherme,
Nilton Pinho, Tom
Sideral
Lute pela arte
Construção de um ringue de luta no Largo
das Neves destinado a manifestações
artísticas.
Largo das Neves
5 Ducha
Sem Título -
folhas de gelatina
vermelha sobre
refletores do
Cristo redentor
Intervenção de caráter luminoso, na qual a
cor vermelha é projetada sobre o Cristo
Redentor.
Cristo Redentor
6 João Modé
Sem Título-vinil
sobre diversas
superfícies
Frases e imagens decalcadas em diversos
pontos do percurso urbano.
Vários locais do
bairro
7 Lia do Rio
Sem Título - tinta
pva sobre asfalto
O poste, a sombra, a memória da sombra, o
movimento da terra.
Largo das Neves
8 Marcelo Caldas
Grande Torre
Branca de Luz
A torre se integra ao ambiente arquitetônico
do bairro funcionando como uma luminária
gigante.
Largo Curvelo
9
Marcio ramalho, Jarbas
Lopes, Marssares
Morro dos
Prazeres
Uma galinhada se integra à comunidade no
preparo da refeição. A produção é filmada e
exibida numa tenda dentro do morro.
Morro dos Prazeres
161
Item
Artistas
Nome do
Trabalho
Propostas Local da ação
10 Zemog
Sem Título -
bacias de
alumínio e
espelhos
Espelhos fixados no fundo de bacias refletem
a paisagem e o que se desloca por ela.
Largo Guimarães
2ª EDIÇÃO
1 Ana Durães
Suite Souvenir-
A paisagem na
paisagem
Propõe a reprodução fotográfica de uma
paisagem vista de Santa Teresa, um
panorama fragmentado
Rua Alm. Alexandrino
12 Beatriz Pimenta
Preserve o vira-
lata
A escolha do vira-lata como ícone, além de
destacar uma figura comum às ruas do
bairro, enfatiza o espaço urbano projetado
mais para a circulação e convivência de
pedestres do que para veículos em alta
velocidade.
vinil adesivo sobre
pára-brisa de ônibus
13 Ducha
Sem título - velas
e bueiro
Iluminar com velas o interior de um bueiro
remetendo à prática de oferenda religiosa,
comum às ruas do bairro.
Rua Alm. Alexandrino
14
Felipe Barbosa e
Rosane Ricalde
Largo das Neves
s/nº
No centro da praça do Largo das Neves,
mais elevada em relação à área que a
circunda, os artistas, levados pela tentativa
de dialogar com limitação do olhar,
construíram uma casa com as paredes
seccionadas.
Largo das Neves
15 Geraldo Marconi Via Aristotélica
O trabalho transcreve nos paralelepípedos o
primeiro capítulo dos Argumentos Sofísticos
de Aristóteles.
Rua Joaquim
Murtinho
16 João Modé Essência
Com o objetivo de relacionar cheiros com a
memória afetiva de cada um, o artista
borrifou essência de perfumes nos muros e
paredes do bairro, repetindo sempre a
mesma essência para cada cor que esses se
revestissem.
vários locais do bairro
17 José Tanuri Sem título
Um banco de jardim de altura exagerada é
instalado no centro do Largo do Guimarães
Largo do Guimarães
18 Osvaldo Carvalho Compro arte
Através da distribuição de folhetos e da
circulação de um caminhão pelas ruas do
bairro que anuncia a compra de arte, o
projeto transmite a idéia da banalização da
obra de arte como produto comercial.
vários locais do bairro
19 Roosivelt Pinheiro Sem título
O trilho como percurso de referência dentro
do bairro, enfatiza demarcando com cal os
interstícios dos trilhos.
entre o Largo do
Curvelo e o Largo do
Guimarães
162
Item
Artistas
Nome do
Trabalho
Propostas Local da ação
20 Terence Dihel
Nem tudo é
passageiro
Do bonde é feito um cabo de guerra. Os
grupos que medem suas forças se vestem
com uniformes semelhantes aos de
empresas de transporte coletivo.
Largo do Guimarães
3ª EDIÇÃO
21 Alexandre Vogler T1 i-móvel
Com uma proposta de imóvel ambulante o
artista utiliza telha de fibra, tijolos, faixas de
sinalização e rodas de rolimã
obra itinerante
22 Bob N O Arauto
O artista utiliza livro, microfone, caixa de som
e carrinho numa performance itinerante
obra itinerante
23 Edwiges Henriques Era uma vez....
Escada de madeira e cordas em frente a
clinica Saint Roman Psiquiátrica.
Rua Alm. Alexandrino
1354
24 Fabiana Santos Híbridos Poéticos
Fios de cobre como casulos ou ninhos
colocados em arvores e ou trepadeiras
Travessa do Oriente
25
Felipe Barbosa e
Rosana Ricalde
Rapunzel
Corda pintada e tecido em fita colocado na
torre do colégio CEAT
CEAT- Rua Alm.
Alexandrino 4098
26 João Modé Sem título
Balões transparentes e pedaços de papel
escritos com desejos do público e depois
largados no ar.
Largo Guimarães
27
José Tanuri, Lena
Amorim
Caixa Preta
Contêiner de ferro tipo exportação pintado de
preto e placa de metal impressa.
Largo das Neves
28 Otávio Avancini Troco
Moedas fixadas pelo magnetismo num
objeto escultórico, dentro da estação do
Curvelo, local onde já foi uma birosca muito
conhecida no bairro
Largo do Curvelo
29 Ronald Duarte O Q ROLA VC. V
Caminhão pipa com água corante vermelha
circula pelas ruas do bairro, numa metáfora à
violência urbana.
Ruas Alice, Paula
Matos e Joaquim
Murtinho
30 Thiago Rocha Pita
Abismo sob
abismo
Um espelho sobre uma rampa projetada no
ar, na beira de um abismo coloca a pessoa
num mergulho sobre a imagem de si mesmo.
Rua Alm. Alexandrino
próximo ao final do
bonde
4ª EDIÇÃO
31 Bruno Lopes Lima
O metrô está
chegando
Simulação de um canteiro de obra do metrô
com tapume com pé de cimento, tela plástica,
fiação elétrica , lâmpada e placa da
construtora São Sebastião
Largo do Guimarães
e Largo das Neves
32 Carmen Slawinski
Alice e o Barão
na Cidade
Maravilhas
Iluminação colorida com gelatina do túnel que
liga a rua Alice à Rua Barão de Petrópolis
Túnel da Rua Alice
33 Daniel Valentim Beijo na Santa
Projeção de slides de beijos a partir do bonde
em movimento
Percurso do bonde
163
Item
Artistas
Nome do
Trabalho
Propostas Local da ação
34
Felipe Barbosa e
Rosane Ricalde
O Mar, a Escada
e o Homem
Impressão da poesia de Augusto dos Anjo
sem em cimento com moldes de madeira na
escada que liga a Rua do Oriente à Rua Dom
Sebastião Cardeal Leme
escada da Rua do
Oriente
35 Fernanda Gomes s/título
Mil moedas de um real são espalhadas pelo
percurso das Ruas Murtinho Nobre e Monte
Alegre, convidando o público a caminhar e
procurar as moedas escondidas entre os
trilhos, muros e etc.
Ruas Murtinho Nobre
e Monte Alegre
36 Lívia Flores
Inserção de
Retrovisão
Espelhos retrovisores de bicicleta fixados a
muros e paredes por ruas e escadarias,
refletindo a paisagem local.
vários locais do bairro
37 Luiz Cesar Monken s/ título
Lençóis brancos de algodão, caixas de luz
branca por trás com fotografias.
Largo do Guimarães
38 Ronald Duarte Fogo Cruzado
Estopa, querosene e fogo nos interstícios dos
trilhos.
Largo do Guimarães
7.3 Quadro 3 – Resumo das Ações Coletivas de Arte
I Encontro Chave Mestra de Coletivos
Intervenções Urbanas
Dias 24, 25 e 26 de setembro
Santa Teresa – Rio de Janeiro
1. Grupo UM
Nome: Não é o que você pensa.
Espaço: Muro da casa da UNEI, Rua Monte Alegre 294
Tempo: todo o evento
Não é o que você pensa
de Nadam Guerra e Domingos Guimaraens
Como olhar o mundo de modo livre?
Podendo ver todos os mundos possíveis e não só os modelos já fixados na nossa mente?
Como ver o mundo além do previsível e do óbvio?
Como criar um olhar criativo?
Como exercitar um olhar não utilitário, que possa aprender a ver o cada momento?
Como não saber antes de ver?
164
Neste trabalho, seis perguntas para seis jogos de espelhos e lentes: Quem sou eu? Quem é você?
Quem é Ele? Quem somos nós? Quem sois vós? Quem são eles? E quem sabe a resposta está
enganada.
Descrição técnica: Seis jogos de espelhos e lentes presos a seis placas de madeira
Dimensões do trabalho: cada peça: 36x48, montados em uma extensão aproximada de 7 metros ao
longo do muro.
Materiais utilizados: Madeira pintada, espelho, lente e CD.
2. Projeto Subsolo
Nome:
Espaço: Lg. das Neves
O Projeto Subsolo é um coletivo formado pelas artistas Ana Angélica, Janaina Garcia e Roberta
Macedo, que propõe uma discussão acerca da inserção da imagem na arte contemporânea.
Proposta de Intervenção
Será construída, no Largo das Neves, uma câmera escura de formato octogonal, A câmera obscura,
como também é chamada, ocupará a parte central da praça e terá um ou quatro furos, formando de
uma a quatro imagens no seu interior.
A câmera será construída por meio de oito tapumes de 2,10x 1,10. de 6 mm de espessura, e será
vedada com massa corrida. Pintada por fora de preto (isso ainda não está definido), o visitante terá
acesso ao seu interior por uma porta seguida de cortina preta, impedindo a entrada de luz. Dentro da
câmera obscura o visitante poderá ver toda a ação que acontece no seu exterior (em frente ao
buraquinho por onde entra a luz), ao contrário e invertida. A formação da imagem dentro de uma
câmera fotográfica obedece aos mesmos princípios da formação da imagem dentro da câmera
obscura.
Durante o evento estará acontecendo, ainda, uma oficina de fotografia com a câmera do buraco da
agulha em um laboratório montado no espaço da Iniciativa Jovem, localizado à rua Progresso, 67.
Neste local, o Projeto Subsolo estará disponibilizando papel fotográfico e latinhas para que o público
em geral realize fotografias com uma câmera artesanal.
3. ZOX
Nome: oratórios aleatórios
Espaço: aleatório
Tempo: em processo
Ao discutirmos a respeito das possíveis intervenções que pretendíamos mandar em projetos
percebemos um obstáculo, não conhecíamos o lugar aonde agiríamos e os trabalhos pré idealizados
165
nos pareciam frios. Planejamento, nesse caso, nos cheira falta de fé. Acreditamos que caminhando
no local o “trabalho” se apresenta a nós.
Traremos abaixo uma proposta de ação sugerida pelo grupo ZOX para os dias de estada no Morro de
Santa Tereza.
Durante esse segundo semestre de 2004 estamos trabalhando na construção de pequenos “oratórios
aleatórios” experimentais (esses oratórios podem vir a ser uma nave) usando materiais diversificados
como arame, madeira, lata, vidro, tijolo, velas, etc.… As velas seriam o material principal com o qual
teríamos que gastar, o resto pode ser sucata, apesar de que provavelmente teremos que acabar
comprando um pouco de arame ou coisa do gênero.
Provável lista de materiais para “oratórios experimentais”:
tijolo – areia (praia) – madeira – arame – garrafa – saquinho de papel – vela
OBS. Os santos ficam a critério da simpatia de cada indivíduo
4. Braço
Nome: Dimensíveis III - translação / coleta
Espaço:
Tempo: em processo
Pendências: especificar local/horário/maneira para entrega das caixas com objetos
Em carta enviada aos artistas de Santa Teresa o grupo os convidará a participar da ação Dimensíveis
III - translação / coleta. Nesta carta instruções guiarão a continuidade do processo (veja mais abaixo a
descrição das etapas anteriores do projeto).
Grupo Braço
Adalgisa Campos, Carolina Costa, Flávia Vivacqua, Sofia Panzarini
Dimensíveis I - coleta / processamento / reclassificação, realizou-se em abril de 2004 durante a
mostra ONDE FICA do Esqueleto Coletivo, na Galeria do Sesc Paulista em São Paulo. A ação
consistiu na instalação ao longo das calçadas de dispositivos de colet a de objetos / detritos
depositados pelos passantes, segundo critérios definidos pelo grupo. O material coletado foi
submetido então ao processamento no interior da galeria, através de registro fotográfico e sonoro e
de catalogação dos objetos. Estes objetos foram então postos à disposição do público para sua
reclassificação segundo novos critérios, seguida do registro dos novos conjuntos produzidos a partir
dos mesmos elementos recombinados. A ação teve como resultado uma coleção de 117 objetos e
uma série de registros dos mesmos.
Dimensíveis II - reprocessamento / troca, realizada em julho de 2004 durante a mostra
REVERBERAÇÕES no Sesc Vila Mariana em São Paulo, propôs proceder a um novo registro destes
objetos e sua inserção num circuito diferente do que os originou. O participante foi convidado a
conversar sobre um dos objetos. Da conversa, um aspecto do objeto foi destacado, uma palavra
escolhida e anotada e o participante foi convidado a realizar um desenho a partir desta palavra. O
166
desenho passou a integrar o conjunto de registros, e em troca o participante recebeu o objeto
desenhado, devidamente embalado.
Dimensíveis III - translação / coleta acontecerá de 24 a 26 de setembro de 2004, durante o 1º
encontro de coletivos CHAVE MESTRA em Santa Tereza - Rio de Janeiro. Os participantes
receberão a cópia de um desenho produzido na fase anterior acompanhado de uma caixa de acetato
vazia. Será convidado a devolver a caixa contendo um novo objeto, escolhido pelo participante, que
corresponda ou responda ao desenho que recebeu.
www.horizontenomade.com/braco
5. Transição Listrada
Nome: Santa Tereza-Terezinha
Espaço: todo o bairro
Tempo: durante o evento
Projeto foi pensado a partir das relações urbanas/geográficas/afetivas dos integrantes da transição
listrada com sua cidade de origem (Fortaleza) e a cidade do encontro de coletivos (Rio de Janeiro).
A estrutura geográfica da cidade de Fortaleza se constitui de forma bem plana, apenas com
interferência de algumas dunas e morros próximos à costa. Um desses morros é chamado Santa
Terezinha, que possui uma população de baixa renda e é cercado por favelas. No morro já houve
uma movimentação cultural mais intensa, impulsionada por bares e restaurantes, onde artistas e
boêmios da cidade costumavam se reunir. A percepção urbana criada por esse espaço nos remete
(integrantes do grupo) ao bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, por várias questões:
proximidade do nome, estrutura geográfica da cidade, ocupação espacial, referenciais simbólicos.
O trabalho a ser feito no encontro de coletivos acontece com a produção de cartões postais e a
edição de uma pequena publicação:
1. O cartão postal possui uma imagem da vista do morro Santa Terezinha em Fortaleza com a frase
"Vista de Santa". No verso do impresso estariam informações relativas ao lugar da fotografia em
Fortaleza.
2. A publicação vai ter informações relativas aos acontecimentos do morro Santa Terezinha em
Fortaleza.
Todo esse material vai ser disponibilizado gratuitamente em pontos já utilizados para a distribuição de
material impresso em Santa Teresa e panfletado em alguns momentos durante o encontro.
6. Espaço Coringa & Ateliê Piratininga
Nome: Projeto Lambe Lambe
Espaço: muros do bairro e também Lapa, Catumbi, Catete, Glória e Riachuelo.
167
O nosso objetivo é realizar uma ação coletiva envolvendo artistas, poetas e cidadãos, tendo a
XILOGRAVURA como foco de interesse e a CIDADE como seu contraponto. Elaborar imagens/e ou
texto, distribuindo cartazes produzidos em tipografia, criando em suas diversas etapas um campo
favorável para a reflexão, intercâmbio de experiências artísticas, aprendizado e ainda:
- Resgatar um meio tradicional e popular de produção gráfica, atualizando-o ao propor uma outra
finalidade de utilização
- Ampliar a visibilidade da gravura artística, valendo-se de recursos de comunicação simples e
acessíveis.
- Contribuir para a discussão sobre a cidade através de uma ação efetiva, sobretudo nas áreas mais
degradadas,
favorecendo uma ação restauradora, que venha a restabelecer a vitalidade destes locais.
- Permitir o acesso imediato, direto, gratuito e diário do grande público com a arte, ao expô-la nas
ruas da cidade.
- Promover a interação da arte com o meio ambiente urbano (arquitetura, publicidade, veículos,
objetos utilitários, etc.), ampliando consideravelmente as possibilidades de leituras das mesmas.
- Permitir que uma mesma “exposição de arte” ocorra simultaneamente em diversos locais da cidade
e mesmo em outras cidades, posto que de cada imagem produzida será feita uma tiragem de, no
mínimo, 100 exemplares.
As colagens serão realizadas em espaços que permitam este tipo de ação: muros já utilizados para
cartazes lambe lambe, construções degradadas, terrenos baldios ou espaços que previamente
autorizem a colagem.
mais informações no site www.artebr.com/lambelambe
Artistas Participantes do Projeto Lambe Lambe
Ana Elisa Dias Baptista, Ana Calzavara, Ana Teixeira, Andre Chiodo , Camilo Tomé, Carl Lacharité,
Cláudia Braga, Cleiri Cardoso, Cristina Maria Mira, Cris Rocha, Cristina Rogozinsky, Elisa Bracher,
Elisete Alvarenga, Ernesto Bonato, Fabricio Lopez, Fernando Vilela, Flávia Fernandes, Flávia Ribeiro,
Flávio Castellan, Gilberto Tomé, Giancarlo Ragonese, Gustavo Rates, Jerônimo Soares, Kika Levy,
Laurita Salles, Leticia Tonon, Margot Delgado, Maria Villares, Mylène Gervais, Paula Erber, Paulo
Penna, Regina Carmona, Saulo di Tarso, Silvia Mecozzi Sonia Guggisberg, Yili Maria, Ulysses
Boscolo, Valérie Guimond, Victor Rique.
Contatos
Atelier Piratininga / Ateliê Espaco Coringa
Rua Fradique Coutinho 934 - Vl. Madalena
fone: 3816-6891 / 3813-8741
e-mail: [email protected] / espacocoringa@espacocoringa.com.br - www.espacocoringa.com.br
Site do projeto: www.artebr.com/lambelambe
7. Esqueleto Coletivo
Nome: Escambo
168
Espaço: Lg. das Neves ou praça da Hermenegildo Barros
Tempo:
Pendências: definir horário
Escambo
“Troca de objetos ou serviços sem fazer uso de moeda”.
(Dicionário Aurélio)
Um espaço aberto para manifestações espontâneas, uma feira de trocas na rua onde tudo pode ser
negociado com valores em construção.
Uma ação artística interativa e mutante, na qual o olhar se confunde com o querer e com uma nova
forma de diálogo, esta é a proposta do Esqueleto Coletivo para o Santa Teresa de Portas Abertas.
Na semana do evento montaremos áreas de troca de objetos diversos em diferentes espaços a
serem definidos durante o processo de convivência do grupo com o lugar e as pessoas.
Convidamos todos os envolvidos a levar objetos para troca. Trabalhos de arte, livros, discos, selos,
brinquedos, roupas, antiguidades, fotografias, adesivos, cartas, plantas, produtos naturais,
massagem, corte de cabelo, narração de estória ... O Esqueleto Coletivo está aberto para propostas.
A feira terá uma identidade visual criada a partir de cartazes para divulgação (a ser espalhados pela
região), camisetas e adesivos que estarão disponíveis para a troca. Haverá também um painel de
classificados para quem quiser trocar objetos específicos.
Escambo propõe um olhar diferente sobre o valor das coisas, na troca sem moeda o principal é o
diálogo que constrói a história e os sentimentos ligados ao objeto, bem como o desejo do sujeito,
para além de suas necessidades. O objetivo é trazer o valor das pessoas à tona, em detrimento do
valor das coisas, pois o parâmetro do “preço” é subjetivo.
Feira de Troca - Áreas de troca, inscrições, quantidade dos eventos e divulgação a combinar com os
organizadores do Arte de Portas Abertas.
Incluir outros coletivos e pessoas interessadas para participar da ação.
8. Nova Pasta
Nome: Menossi para Prefeito da Bienal
Espaço: Centro Cultural Laurinda Santos Lobo
Lançamento do cd “Menossi Para Prefeito da Bienal”
Sobre o Cd: 43 músicas produzidas em CD duplo.
Participaram 50 pessoas, entre artistas plásticos, teóricos e intelectuais, jornalistas, músicos, poetas,
rappers, repentistas e djs. Os participantes a partir do conceito tiveram liberdade para criar. Projeto
realizado durante três anos e meio com pessoas residentes em diversos pontos do país, no Chile e
Inglaterra.
Participação:
André Nicolau Santos, Alex Flemming, Alexandre Ruger, Antônio Reis Junior, Bijari, Bizorrinho,
Britney Spears, Bruna Tavares, Carolina Carvalho, Carolina Marielli Barreto, Catty Purdy, Daniel
Lima, Daniela Bussono, Eduardo Verderame, Eduardo Suplicy, Esqueleto Coletivo, Fernando
Catatau, Flávio Tavares, Gil Inoue, Gleison Meneguci, Juliano Scaendiuzzi, Luciana Costa, Luiz
169
Carlos Tavares, Marcos Vilas Boas, Milene de Stefan Feo, Paula Cauchick, Mariana Cavalcante,
Marjori Longo, Milton Neves, Mozart Mesquita, Nova Pasta, Nicolau Sevcenko, Numa Leme Ramos,
Oswaldo dos Teclados, Patroniq, Peetssa, Profeta Miguel do Juazeiro, Renan Costa Lima, Ricardo
Basbaum, Ricardo Oliveira, Ricardo Ramalho, Rodrigo Araújo, Roger Barnabé, Sebastião Cirílo,
Sergio Castelane, Silvio Tavares, Suia Dubiele, Tom Zé, Túlio Tavares, Zeca Baleiro.
Menossi por Ricardo Ramalho
Menossão está monitorando seus movimentos. Ele está atrás de você, do seu lado, à sua frente.
Goste ou não, ele é o Big Brother. Ele conhece seus segredos, ele pode te ferrar antes do almoço.
Com Alexandre Menossi você tem problemas, sem saber. Ele é o mestre das causas perdidas, o
senhor das pendências e do contratempo. Mas ele também pode te ajudar. Seu nome é um cartão de
visita, seus contatos abrem portas, sua influência pode limpar seu nome, ele vai com a sua cara.
Menossi vende. O melhor de tudo: Alexandre Menossi é você mesmo.
9. Imaginário Periférico
Nome: Gentileza Gera Gentileza
Colagem de pequenos cartazes com os dizeres GENTILEZA GERA GENTILEZA - com a caligrafia do
Profeta, em baixo, um pequeno texto agradecendo a gentileza dos artistas de participarem nos
eventos periféricos como também o convite para a participação em santa Tereza.
10. Projeto de Arte ENTORNO
Nome: Embaixada de Brasília no Rio de Janeiro
Candidato do ENTORNO distribui Terra da União
Espaço: Lg. do curvelo
Como parte do evento “I Encontro de Coletivos Chave Mestra” o propõe a intervenção Terra da
União. Em uma barraca de feira montada em praça pública no bairro de Santa Tereza o candidato do
ENTORNO faz distribuição de Terra da União. Terra vermelha trazida diretamente da capital federal
será disponibilizada para a população do Rio de Janeiro.
O evento conta com a participação de quatro integrantes do ENTORNO que virão de Brasília
exclusivamente para a distribuição das terras.
11. Chave Mestra
representante: Beatriz Pimenta e Christina Bocayuva
Nome: Fechaduras
Espaço: muro da região administrativa, Lg. dos Guimarães
Tempo: Todo o evento
Três Impressões fotográficas circulares de 1 metro de diâmetro a partir de foto de fechadura do
portão do Convento das Carmelitas. Nestas fotografias aparece a palavra Brasil de cabeça para
baixo.
Esta intervenção foi selecionada através de edital dirigido aos artistas associados da Chave Mestra
170
Extras
Intervenções promovidas pelos artistas paralelas à programação organizada pela Chave Mestra
A. Flávia Vivácqua
Nome: TRAVESSIA
Espaço: trajeto carioca – lg. das neves
Tempo: noite de sábado
A performer caminha com figurino que inclui dos faróis de milha acima da cabeça. Os faros estarão
ligados por bateria de carro.
Sobre o percurso: O travessia deverá acontecer a noite, sobre os trilhos do "bonde de Santa Teresa".
O Percurso que será percorrido a pé, sugiro a noite de sábado dia 25/09/04, parte do ponto inicial do
bonde, atravessando os arcos da lapa e seguindo em direção ao largo das neves.
B. Colher
Nome: Transeuntes
Espaço: ruas do bairro
Tempo: intervenções surpresa
O grupo faz intervenções dançando por entre os transeuntes
C. Grupo UM (Julia Traub e Joana Traub)
Nome: Oficina Molotov
Espaço: ruas
Performance de rua político-carnavalesca. Grupo caracterizado / disfarçado de (pseudo)
revolucionários. Todos com perucas, óculos escuros, calças jeans ou camufladas, camisas sociais ou
camufladas. Existe um personagem central que é chamado El comandante, que recita a maior parte
do texto, junto a ele existem duas assistentes. Podem haver coadjuvantes também caracterizados
podendo estar com máscaras balaclava, com o rosto de George Bush, Sadam Russein, Bin Laden...
figuras emblemáticas relacionadas às políticas internacionais atuais.
D. Grupo UM (Tissa Valverde e Grupo UM)
Nome: Maior peça panfletária do mundo II
Espaço: ruas
Tempo: durante todo o evento
A intervenção é a panfletagem durante o evento. Panfletos com diversas frases curtas e insólitas.
171
7.4 Quadro 4 – Visões dos Atores Entrevistados Segundo Eixos Temáticos.
Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
plástico
João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
20/04/2005 26/04/2005 16/08/2005 28/08/2005 18/11/2005 28/09/2006
Sobre a imagem do bairro
Pensa que o Arte de Portas
Abertas faz o contraponto
positivo com a imagem
negativa de insegurança e de
violência do bairro.
Mas quem mora e gosta do
bairro se preocupa com as
dificuldades locais, mas isto
não impede a sua
permanência, muito pelo
contrário isto traz pessoas
interessantes que estão em
busca de uma vida mais
tranqüila e que de um modo
geral lutam para a melhoria
das condições de
habitabilidade do bairro.
Desde antes do ADPA que ela
tem uma preocupação com a
imagem do bairro. O ADPA
surgiu fruto desta
preocupação, pois sentia
necessidade de revitalizar o
bairro com atividades culturais
no contraponto da imagem
negativa da época (1996) Era
um projeto de revitalização do
bairro, não era para projetar os
artistas.
No olhar do estrangeiro
(aquele que não mora em
Santa Teresa) percebo que
existem duas imagens. A
problemática da violência
urbana continua existindo,
mas hoje tem também a arte
reconhecida no espaço urbano
que é hostil, mas exibe uma
coisa que foi construída e que
mostra um aspecto cultural, o
qual o homem constrói na sua
relação com a sociedade, da
arte sendo a mola mestra.
Santa Teresa tem uma
característica bem singular, os
eventos aqui se manifestam
com estratégias muito
específicas, muito próprias,
que tem um sentido público,
mas tem lógicas próprias de
funcionamento, com diferentes
formas de mediação dessa
relação da arte com o público.
Santa Teresa tem várias
famílias de importância
histórica, e esta história é
incorporada também ao
pensamento de um futuro
melhor. Pensar as redes
sociais, na cultura que vive
nas pessoas, e isto é questão
muito humana, que está um
pouco reprimida.
No que tange a questão da
imagem do bairro, a gente
sempre parte da idéia do cinema
ser a tela do bairro, ou seja, o
cinema tem que refletir a
imagem que eu e ela temos do
bairro, que é de certa forma o
perfil dessa coisa cultural,
histórica e artística.
172
Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
plástico
João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
20/04/2005 26/04/2005 16/08/2005 28/08/2005 18/11/2005 28/09/2006
Sobre a diversidade cultural e outras iniciativas no bairro
Santa Teresa tem uma “alma
cultural” o que a diferencia de
outros bairros. Pensa que este
aspecto hoje está intimamente
ligado a questão do turismo e
que existem várias ações
locais tentando implementar a
participação desses atores
numa rede de
desenvolvimento. Mas isto
ainda não está muito claro e
existe certa resistência por
parte de um grupo de
moradores.
Desde a Eco 92 tínhamos
idéia de fazer um trabalho
sobre o meio ambiente e
desenvolvimento sustentável
em Santa Teresa. Assim em
2002 o Fundo Nacional do
Meio Ambiente financiou a
primeira agenda local, a
Agenda 21 que ajudou a
refletir sobre o processo de
desenvolvimento do bairro. A
agenda propôs descobrir o
que o morador queria para o
futuro do bairro (visão do
morador).
O Arte de Portas Abertas tem
uma conversa entre várias
instituições como: Cama e
Café, Lunuz , Rede Comercio
(REST), Cine Santa Teresa
(produção de cinema) e isto
provoca pelo movimento da
sociedade civil uma postura
mais atuante da própria
Região Administrativa. Neste
sentido o poder público vem
para nos dar suporte atuando
com o seu papel. Como por
exemplo, o monitoramento da
guarda municipal no bairro,
que é fruto da reivindicação do
comércio.
Pensa que a Chave Mestra é
um coletivo que tem uma
dinâmica própria e rara, pois
incorpora pessoas que não
são do mesmo grupo de
sintonia estética e crítica.
A cultura é coisa mais aberta,
escancarada,, é como fazer
uma pintura ou escultura. Mas
tem umas pessoas, que nas
reuniões de grupo do Cama e
Café colocam outras coisas
como o medo, ou alguma
historia de Santa Teresa, ou
acham do que está
acontecendo no Largo das
Neves, e acho que este é um
potencial de articulação social,
pois são todos nossos
vizinhos.
O projeto que a Fernanda criou,
aliás, o conceito que ela criou
para o cinema, era muito mais
que o cinema que passaria
filmes todo dia. Ela criou o
slogan “Cultura e Cidadania
através do Cinema”. Aos treze
anos foi levada pela primeira vez
ao cinema. Ela reputa este
acontecimento como
transformador na vida dela.
Então ela criou o conceito de
que o cinema enquanto
ferramenta artística, enquanto
arte, enquanto ação de
empreendimento cultural pode
transformar pessoas, pode
transformar deformações, pode
mudar formações; daí este
slogan. Então este conceito
permeia todo o trabalho que a
gente faz
173
Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
plástico
João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
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Sobre os atuais movimentos artísticos
O Arte de Portas Abertas é de
uma generosidade
impressionante, pois o artista
abre seu ateliê e expõe seu
trabalho mostrando uma
dimensão humana que a meu
ver é a força transformadora
do bairro.
O Arte de Portas Abertas além
das aberturas dos ateliês
contribui também quando abre
espaço para os artesão das
comunidades mostrarem seu
trabalho, como é o caso do
“Comunidart”. Acha que tanto
o “interferências urbanas”
como as ações de coletivos
têm pouca participação da
comunidade, e que talvez
precise interagir mais.
Algumas atividades culturais,
como o bloco das carmelitas,
precisa ser revisto o bairro não
tem condições de absorver a
população que vem para o
evento, as ruas ficam
fechadas, e o barulho durante
os ensaios são fontes de
reclamações. Ao contrário o
Arte de Portas Abertas é
sempre bem visto pela
comunidade.
O Arte de Portas Abertas veio
ganhando contorno a cada
edição, tem um jeito diferente,
seja pela composição dos
espaços , seja por idéias com
projetos paralelos, trouxe uma
dinâmica que foi renovando,
certa oxigenação com relação
a produção de arte, a própria
cidade reconhece isto, em
função do público visitante. Eu
vejo como um espaço criado
para olhar a produção
artística, ver a arte, andar no
bairro, uma dinâmica em que a
arte é que dá o tom.
Nos anos 80 e 90 o panorama
que se evidenciava era do
artista esperar ser mapeado,
esperar receber uma leitura
sobre o seu trabalho. Hoje o
artista não tem que esperar
nada, o artista quando faz o
seu trabalho, aquilo já é uma
proposta e ela vem com um
conjunto de idéias, e valores,
com o pensamento, vem com
uma reflexão e essa reflexão
pode se afirmar sem precisar
de um aval ou de ser
escolhido por ninguém, ela se
afirma, não é achada ela se
propõe.
O Arte de Portas Abertas é um
evento que anda com as
próprias pernas, que tem força
e é conhecido em diversos
outros estados e municípios.
Tentam replicá-lo de alguma
maneira como modelos de
ação artística e social, acho
que ele é um marco nos dois
sentidos.
Apesar de achar o bairro uma
fonte de ações culturais, muitos
artistas fazendo coisas legais,
eu compreendo como ação
aquilo que efetivamente
acontece com alguma
regularidade, como objetivos
muito claros. Acho muito
interessante que o cara pegue
seu instrumento, pare no largo
do Guimarães e toque sua
música, vai ser legal, ela pode
transmitir alegria, pode contribuir
com essa imagem do bairro de
artista etc. super válido. Agora
se aquela ação quiser
efetivamente transformar alguma
coisa do coletivo do bairro, ela
vai ter que ser mais profissional.
Infelizmente não vejo muitas
ações no bairro que tenham esta
característica, com exceção dos
já existentes ADPA, Cama e
café, Cine Santa, Viva Santa.
174
Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
plástico
João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
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Propostas para o bairro
Propõe ateliês abertos
permanente conforme
conveniência dos artistas, de
forma que qualquer visitante
tenha a possibilidade da porta
aberta. Isto teria um fluxo mais
continuo todo mundo se
beneficiaria, o comercio, os
moradores.
Precisa de intervenções
urbanas que propiciem uma
melhoria da ambiência como
também
melhoria na interlocução do
poder público com a
comunidade tanto na esfera
municipal como estadual.
Várias propostas já foram
implementadas por parte da
associação, no entanto os
representantes do poder
público não voltam com
respostas aos problemas.
O Fórum de Santa Teresa
criado junto com a Agenda 21
tem setenta e oito
representantes e se reúne
uma vez ao ano.
Revitalização dentro de uma
linha de desenvolvimento
sustentável, que respeite a
maneira de ser do morador,
para que não se transforme
num Pelourinho. Também
propõe a criação de um caixa
único para o bairro com as
taxas de locação pagas para a
Prefeitura, hoje é grande o
número de filmagens no
bairro.
Acha que o turismo
sustentável é o que pode
impulsionar e dar condições
para o desenvolvimento, pois
os moradores querem
mudanças, mas com
qualidade de vida. Em se
tratando de turismo sempre
haverá uma área mais
Enquanto proposta o que
fazemos é uma eterna
construção não temos uma
proposta fechada, não existe
uma fórmula. A gente vai
descobrindo isso, na maneira
de propor, realizar, na medida
em que as coisas vão se
tornando viáveis pelos
caminhos que se apresentam.
Paralelo a isto o que temos
como resultado desta
construção é uma proposta de
política cultural que já é forte e
sólida dentro do bairro.
Além do Cama e Café que é
uma rede de residentes que
orienta a atividade turística, ou
seja o turismo entra em Santa
pela porta das casas dos
moradores. A Lunuz, que é
uma associação de pessoas
que pensam em efetivar e
traduzir em ações reais,
práticas objetivas e
mensuráveis de criar um
mundo melhor, propõe ir além
da inclusão social e da
responsabilidade ambiental
ligada estritamente a questão
da hospedagem. O projeto da
Lunuz é ampliarmos nossa
área de atuação como projeto
Santa Teresa Território
Turístico Sustentável que
incorpora a participação da
comunidade, atividades de
capacitação de profissionais
para o turismo, estratégias de
marketing para a busca do
turista que queremos para
Nós temos duas propostas: uma
no que diz respeito a dar
emprego para pessoas que
operam no Cine Santa
privilegiando quem mora no
bairro. Nós achamos que pode
diminuir a violência. Se eu
preciso de alguém para ficar na
bombonière do cinema
vendendo bala, vou chamar
alguém de Santa e vou tentar
pagar a ela o melhor que eu
possa. Falo para todo mundo da
rede empresarial, vamos dar
mais emprego para o pessoal,
ninguém quer barrar quem vem
de fora, mas se você coloca uma
pessoa humilde que mora do
lado, você diminui as chances
dessa pessoa amanhã cometer
um desatino, te roubar. E
quando você aproxima essa
convivência, obviamente vo
cria afeto, respeito, amizade,
cidadania. Outra coisa que a
gente faz lá é se todos os
175
Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
plástico
João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
20/04/2005 26/04/2005 16/08/2005 28/08/2005 18/11/2005 28/09/2006
valorizada, onde haverá uma
maior concentração de
serviços para atender as
demandas e isto é inevitável,
inclusive a valorização dos
imóveis.
Santa Teresa e pesquisa de
controle de impacto turístico.
restaurantes dessem desconto
para o morador, como a gente
dá você ia ter maior quantidade
de público, maior fidelidade.
Segurança
Um evento de arte
permanente poderia contribuir
para a melhoria da segurança,
pois parte do problema é
devido às ruas ficarem ermas
e acho que isto obrigaria a
prefeitura e o estado a atuar
mais efetivamente..
O estado não participa de
nada, não existe nenhuma
política pública.
A base que estrutura esse
movimento é a história. A
passagem de vários símbolos,
lugar de resistência, refúgio de
vários personagens dessa
história. Agente fala de um
não ao consumo, de um não a
aceleração da vida, não a
violência, as coisas se
costuram de uma forma
eficiente, acho que o projeto
ADPA ele dá evidencia a isso
pela própria natureza que
Santa tem..
Eu sempre relativiso a violência
e como convivo com isto a muito
tendo (sou músico e vivo na
noite), tendo a achar que as
pessoas exageram um pouco.
Não que eu não veja os
assaltos, eu vejo lá , as vezes
acontece na frente do cinema,
assaltar um gringo, Mas não
acho que a violência seja o
grande problema da urb. Eu
acho que se nós trabalharmos
para diminuir as questões que
levam à violência, eu acho que
você faz uma ação positiva.
Agora então que eu vivo perto
daqueles PMs percebo que eles
não estão acostumados com a
cidadania do bairro, porque
ninguém os trata como patrão ou
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Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
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João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
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com medo deles, os trata como
cidadão normal e eles se
aborrecem com isso. Agora que
vejo de mais perto como eles
agem, com repressão, mais
reforça a idéia de que é por um
outro caminho, não sei bem qual
é. Então esse assunto da
segurança eu não valorizo
muito. Só porque tem assalto no
Curvelo você tem que botar um
poste com uma câmera?
Sobre a legislação local APA, APAC e a participação das instituições públicas.
A APA (área de proteção
ambiental) e APAC (área de
proteção cultural) é uma boa
iniciativa e demonstra a
preocupação com a
preservação do patrimônio e
cultura local. Porém existem
muitas dificuldades, pois na
teoria existe, mas na prática
as coisas não acontecem.
Um órgão como DGPC,
demonstra intenções e um
raciocínio semelhante aos dos
moradores, mas não
Propõe mudanças na
legislação, antes ela protegeu,
mas hoje é impeditiva, ajuda a
favelizar. Os donos dos
casarões não têm condições
de manter e abandonam o
imóvel. A legislação não
permite uso multifamiliar, e
resta o uso por empresas. Mas
os moradores desejam que o
bairro se mantenha
residencial, dado identificado
na Agenda 21. É necessário
que a mudança seja feita com
No que diz respeito ao bonde
o estado não dá suporte ao
que é reivindicado. O
município com relação à parte
cultural, no caso a Secretaria
das Culturas não colabora,
não nos ajuda, não tem um
papel de parceria,
diferentemente da Região
Administrativa que atua mais
próximo das reivindicações
locais. De uma maneira geral
o município não reconhece o
que a gente constrói, não há
A instância municipal do bairro
é a RA. Se pensar agora estou
feliz com a atual administração
da RA, coordenada pelo
Cristiano (deveria sempre ser
uma pessoa dedicada, que
tivesse vivenciando e andando
por Santa e hoje acho que é).
Tem uma questão num
universo maior, da gestão
estratégica da cidade de dar a
Santa a importância que ela
tem. Acho que as instâncias
públicas não reconhecem, ou
Eu enquanto empreendedor
empresário do bairro, que hoje
pago minhas com o dinheirinho
que sai do Cine Santa Teresa, e
ao mesmo tempo como morador
quero continuar andando de
chinelinho pela rua, Procuro
entender a legislação naquilo
que ela tem de positivo para
garantir esse bem estar. Mas ao
mesmo tempo também não sou
radical, se tiver uma padaria,
atuando no local certo, na forma
certa, sem macular o cotidiano
177
Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
plástico
João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
20/04/2005 26/04/2005 16/08/2005 28/08/2005 18/11/2005 28/09/2006
conseguem implementar as
ações necessárias para o
cumprimento adequado da
legislação. Muitas vezes o
órgão não está organizado o
suficiente para cumprir o seu
papel. A região administrativa
(RA) é um exemplo, tudo é
muito lento. A prefeitura
lançou um caderno que
contém todas as informações
e legislações sobre o bairro do
Jardim Botânico, no entanto
para Santa Teresa isto ainda
não foi implementado com a
justificativa de falta de verba.
cuidado e que sejam
identificadas as áreas com
muito critério.
uma contrapartida, muito pelo
contrário, a gente cada vez
que produz precisa partir do
zero sem nenhum recurso.
seja, não compartilham da
mesma visão que nós
moradores. Mas acredito um
pouco que é nosso papel de
convencer o município ou o
estado e acho que estamos
nesta direção.
do bairro, não acho que isto seja
tão pernicioso assim. Então
acho que esta discussão
mostrou que o bairro está
dividido meio a meio, vai ter que
haver consenso não adianta
posturas radicais, isto só pode
levar as rupturas. Acho que há
possibilidade da legislação
contemplar a todos, porque o
que todo mundo quer é o bem
estar do bairro. Não conheço
ninguém que queira que aqui
encha de carros ou que queira
acabar com o bonde. A
divergência maior é, podemos
ter uma atividade econômica
mais emergente do que temos e
até onde isto pode prejudicar o
bairro?
Vamos discutir isso.
Com relação a participação do
poder público se refere da
seguinte maneira: Aliás estou
totalmente descrente do poder
público, hoje aos quase
cinqüenta anos, não conheço
178
Leonardo Guimarães*
Presidente AMAST- Ass.
Moradores Santa Teresa
Renata Bernardes
Ong Viva Santa
Julio Castro Diretor
Presidente da Chave Mestra
Newton Goto** artista
plástico
João Vergara Coordenador
do Cama e Café, e da Lunuz
Adil Tiscati***
Produtor executivo do Cine
Santa
20/04/2005 26/04/2005 16/08/2005 28/08/2005 18/11/2005 28/09/2006
nenhuma corrente política que
tenha uma visão do coletivo.
Essa lente do voto contamina
tudo. O que eu acredito é nisso
que está acontecendo em Santa
Teresa, metade quer e metade
não quer. As metades buscam
seus caminhos, seus
instrumentos para fazer valer a
sua opinião. E
consequentemente tem o risco
da ruptura tem o risco também
do consenso... Mas acho
também se depender do estado
nada acontece. Eu acredito mais
naquela história lá do Charles do
Morro dos Prazeres, que ela fala
em vez de ONG é ING (indivíduo
não governamental). Então eu
sou um indivíduo não
governamental.
* Leonardo Guimarães foi presidente da AMAST na gestão 2004/2006, período em que foi feita a entrevista. O atual presidente gestão 2006/2008 é o arquiteto Paulo Saad.
** Newton Goto é morador de Curitiba e durante seus estudos de mestrado na EBA (RJ), participou ativamente de várias atividades em Santa Teresa. Criador de um
organismo chamado EPA – Expansão Pública do Artista, que discute sobre arte e produções coletivas.
*** A coordenação do Cine Santa é da Fernanda Oliveira e a parte executiva é do Adil Tiscati. Por motivos de disponibilidade de tempo a primeira entrevista foi feita com Adil e
uma semana depois com a Fernanda. O projeto do cinema é da Fernanda, porém como ela própria diz, o Adil é a pessoa que conseguiu colocar em prática a idéia por ter
um perfil executivo. Adil e Fernanda são casados e as informações de um de outro são complementares, portanto não foi registrada aqui a entrevista da Fernanda, por se
tornar contundente, mas foram inseridas algumas informações julgadas j importante no decorrer do texto.
179
7.5 Mapa 1 – Zoneamento Santa Teresa
180
7.6 Mapa 2 – Distribuição das Áreas Ocupadas pelos Ateliês
8. ANEXOS
8.1 Anexo 1 – Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural
A Conferência Geral,
Reafirmando seu compromisso com a plena realização dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais proclamadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outros instrumentos
universalmente reconhecidos, como os dois Pactos Internacionais de 1966 relativos respectivamente,
aos direitos civis e políticos e aos direitos econômicos, sociais e culturais,
Recordando que o Preâmbulo da Constituição da UNESCO afirma “(...) que a ampla difusão da
cultura e da educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são indispensáveis para a
dignidade do homem e constituem um dever sagrado que todas as nações devem cumprir com um
espírito de responsabilidade e de ajuda mútua”,
Recordando também seu Artigo primeiro, que designa à UNESCO, entre outros objetivos, o de
recomendar “os acordos internacionais que se façam necessários para facilitar a livre circulação das
idéias por meio da palavra e da imagem”,
Referindo-se às disposições relativas à diversidade cultural e ao exercício dos direitos culturais que
figuram nos instrumentos internacionais promulgados pela UNESCO[1],
Reafirmando que a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos espirituais e
materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange,
além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores,
as tradições e as crenças[2],
Constatando que a cultura se encontra no centro dos debates contemporâneos sobre a identidade, a
coesão social e o desenvolvimento de uma economia fundada no saber,
Afirmando que o respeito à diversidade das culturas, à tolerância, ao diálogo e à cooperação, em um
clima de confiança e de entendimento mútuos, estão entre as melhores garantias da paz e da
segurança internacionais,
Aspirando a uma maior solidariedade fundada no reconhecimento da diversidade cultural, na
consciência da unidade do gênero humano e no desenvolvimento dos intercâmbios culturais,
182
Considerando que o processo de globalização, facilitado pela pida evolução das novas tecnologias
da informação e da comunicação, apesar de constituir um desafio para a diversidade cultural, cria
condições de um diálogo renovado entre as culturas e as civilizações,
Consciente do mandato específico confiado à UNESCO, no seio do sistema das Nações Unidas, de
assegurar a preservação e a promoção da fecunda diversidade das culturas,
Proclama os seguintes princípios e adota a presente Declaração:
IDENTIDADE, DIVERSIDADE E PLURALISMO
Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade
A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na
originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que
compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural
é, para o nero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse
sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em
beneficio das gerações presentes e futuras.
Artigo 2 – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural
Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável garantir uma interação
harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um tempo plurais, variadas e
dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a
participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz.
Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a resposta política à realidade da diversidade
cultural. Inseparável de um contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios
culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a vida pública.
Artigo 3 – A diversidade cultural, fator de desenvolvimento
A diversidade cultural amplia as possibilidades de escolha que se oferecem a todos; é uma das fontes
do desenvolvimento, entendido não somente em termos de crescimento econômico, mas tamm
como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatória.
DIVERSIDADE CULTURAL E DIREITOS HUMANOS
Artigo 4 – Os direitos humanos, garantias da diversidade cultural
A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito à dignidade humana.
Ela implica o compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em
particular os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones. Ninguém
pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos garantidos pelo direito
internacional, nem para limitar seu alcance.
Artigo 5 – Os direitos culturais, marco propício da diversidade cultural
183
Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, que são universais, indissociáveis e
interdependentes. O desenvolvimento de uma diversidade criativa exige a plena realização dos
direitos culturais, tal como os define o Artigo 27 da Declaração Universal de Direitos Humanos e os
artigos 13 e 15 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Toda pessoa
deve, assim, poder expressar-se, criar e difundir suas obras na língua que deseje e, em partícular, na
sua língua materna; toda pessoa tem direito a uma educação e uma formação de qualidade que
respeite plenamente sua identidade cultural; toda pessoa deve poder participar na vida cultural que
escolha e exercer suas próprias práticas culturais, dentro dos limites que impõe o respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais.
Artigo 6 – Rumo a uma diversidade cultural accessível a todos
Enquanto se garanta a livre circulação das idéias mediante a palavra e a imagem, deve-se cuidar
para que todas as culturas possam se expressar e se fazer conhecidas. A liberdade de expressão, o
pluralismo dos meios de comunicação, o multilingüismo, a igualdade de acesso às expressões
artísticas, ao conhecimento científico e tecnológico inclusive em formato digital - e a possibilidade,
para todas as culturas, de estar presentes nos meios de expressão e de difusão, são garantias da
diversidade cultural.
DIVERSIDADE CULTURAL E CRIATIVIDADE
Artigo 7 – O patrimônio cultural, fonte da criatividade
Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve plenamente em contato
com outras. Essa é a razão pela qual o patrimônio, em todas suas formas, deve ser preservado,
valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações
humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo
entre as culturas.
Artigo 8 – Os bens e serviços culturais, mercadorias distintas das demais
Frente às mudanças econômicas e tecnológicas atuais, que abrem vastas perspectivas para a criação
e a inovação, deve-se prestar uma particular atenção à diversidade da oferta criativa, ao justo
reconhecimento dos direitos dos autores e artistas, assim como ao caráter específico dos bens e
serviços culturais que, na medida em que são portadores de identidade, de valores e sentido, não
devem ser considerados como mercadorias ou bens de consumo como os demais.
Artigo 9 – As políticas culturais, catalisadoras da criatividade
As políticas culturais, enquanto assegurem a livre circulação das idéias e das obras, devem criar
condições propícias para a produção e a difusão de bens e serviços culturais diversificados, por meio
de indústrias culturais que disponham de meios para desenvolver-se nos planos local e mundial.
Cada Estado deve, respeitando suas obrigações internacionais, definir sua política cultural e aplicá-la,
utilizando-se dos meios de ação que julgue mais adequados, seja na forma de apoios concretos ou
de marcos reguladores apropriados.
184
DIVERSIDADE CULTURAL E SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL
Artigo 10 – Reforçar as capacidades de criação e de difusão em escala mundial
Ante os desequilíbrios atualmente produzidos no fluxo e no intercâmbio de bens culturais em escala
mundial, é necessário reforçar a cooperação e a solidariedade internacionais destinadas a permitir
que todos os países, em particular os países em desenvolvimento e os países em transição,
estabeleçam indústrias culturais viáveis e competitivas nos planos nacional e internacional.
Artigo 11 – Estabelecer parcerias entre o setor público, o setor privado e a sociedade civil
As forças do mercado, por si sós, não podem garantir a preservação e promoção da diversidade
cultural, condição de um desenvolvimento humano sustentável. Desse ponto de vista, convém
fortalecer a função primordial das políticas públicas, em parceria com o setor privado e a sociedade
civil.
Artigo 12 – A função da UNESCO
A UNESCO, por virtude de seu mandato e de suas funções, tem a responsabilidade de:
a) promover a incorporação dos princípios enunciados na presente Declaração nas estratégias de
desenvolvimento elaboradas no seio das diversas entidades intergovernamentais;
b) servir de instância de referência e de articulação entre os Estados, os organismos internacionais
governamentais e não-governamentais, a sociedade civil e o setor privado para a elaboração
conjunta de conceitos, objetivos e políticas em favor da diversidade cultural;
c) dar seguimento a suas atividades normativas, de sensibilização e de desenvolvimento de
capacidades nos âmbitos relacionados com a presente Declaração dentro de suas esferas de
competência;
d) facilitar a aplicação do Plano de ão, cujas linhas gerais se encontram apensas à presente
Declaração.
LINHAS GERAIS DE UM PLANO DE AÇÃO PARA A APLICAÇÃO DA DECLARAÇÃO
UNIVERSAL DA UNESCO SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL
Os Estados Membros se comprometem a tomar as medidas apropriadas para difundir
amplamente a Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade Cultural e fomentar sua
aplicação efetiva, cooperando, em particular, com vistas à realização dos seguintes objetivos:
1. Aprofundar o debate internacional sobre os problemas relativos à diversidade cultural,
especialmente os que se referem a seus vínculos com o desenvolvimento e a sua influência na
formulação de políticas, em escala tanto nacional como internacional; Aprofundar, em particular, a
reflexão sobre a conveniência de elaborar um instrumento jurídico internacional sobre a diversidade
cultural.
185
2. Avançar na definição dos princípios, normas e práticas nos planos nacional e internacional, assim
como dos meios de sensibilização e das formas de cooperação mais propícios à salvaguarda e à
promoção da diversidade cultural.
3. Favorecer o intercâmbio de conhecimentos e de práticas recomendáveis em matéria de pluralismo
cultural, com vistas a facilitar, em sociedades diversificadas, a inclusão e a participação de pessoas e
grupos advindos de horizontes culturais variados.
4. Avançar na compreensão e no esclarecimento do conteúdo dos direitos culturais, considerados
como parte integrante dos direitos humanos.
5. Salvaguardar o patrimônio lingüístico da humanidade e apoiar a expressão, a criação e a difusão
no maior número possível de línguas.
6. Fomentar a diversidade lingüística - respeitando a língua materna - em todos osveis da
educação, onde quer que seja possível, e estimular a aprendizagem do plurilingüismo desde a mais
jovem idade.
7. Promover, por meio da educação, uma tomada de consciência do valor positivo da diversidade
cultural e aperfeiçoar, com esse fim, tanto a formulação dos programas escolares como a formação
dos docentes.
8. Incorporar ao processo educativo, tanto o quanto necessário, métodos pedagógicos tradicionais,
com o fim de preservar e otimizar os métodos culturalmente adequados para a comunicação e a
transmissão do saber.
9. Fomentar a alfabetização digital” e aumentar o domínio das novas tecnologias da informação e da
comunicação, que devem ser consideradas, ao mesmo tempo, disciplinas de ensino e instrumentos
pedagógicos capazes de fortalecer a eficácia dos serviços educativos.
10. Promover a diversidade lingüística no ciberespaço e fomentar o acesso gratuito e universal, por
meio das redes mundiais, a todas as informações pertencentes ao domínio público.
11. Lutar contra o hiato digital - em estreita cooperação com os organismos competentes do sistema
das Nações Unidas - favorecendo o acesso dos países em desenvolvimento às novas tecnologias,
ajudando-os a dominar as tecnologias da informação e facilitando a circulação eletrônica dos
produtos culturais endógenos e o acesso de tais países aos recursos digitais de ordem educativa,
cultural e científica, disponíveis em escala mundial.
12. Estimular a produção, a salvaguarda e a difusão de conteúdos diversificados nos meios de
comunicação e nas redes mundiais de informação e, para tanto, promover o papel dos serviços
públicos de radiodifusão e de televisão na elaboração de produções audiovisuais de qualidade,
favorecendo, particularmente, o estabelecimento de mecanismos de cooperação que facilitem a
difusão das mesmas.
13. Elaborar políticas e estratégias de preservação e valorização do patrimônio cultural e natural, em
particular do patrimônio oral e imaterial e combater o tráfico ilícito de bens e serviços culturais.
14. Respeitar e proteger os sistemas de conhecimento tradicionais, especialmente os das populações
autóctones; reconhecer a contribuição dos conhecimentos tradicionais para a proteção ambiental e a
gestão dos recursos naturais e favorecer as sinergias entre a ciência moderna e os conhecimentos
locais.
186
15. Apoiar a mobilidade de criadores, artistas, pesquisadores, cientistas e intelectuais e o
desenvolvimento de programas e associações internacionais de pesquisa, procurando, ao mesmo
tempo, preservar e aumentar a capacidade criativa dos países em desenvolvimento e em transição.
16. Garantir a proteção dos direitos de autor e dos direitos conexos, de modo a fomentar o
desenvolvimento da criatividade contemporânea e uma remuneração justa do trabalho criativo,
defendendo, ao mesmo tempo, o direito público de acesso à cultura, conforme o Artigo 27 da
Declaração Universal de Direitos Humanos.
17. Ajudar a criação ou a consolidação de indústrias culturais nos países em desenvolvimento e nos
países em transição e, com este propósito, cooperar para desenvolvimento das infra-estruturas e das
capacidades necessárias, apoiar a criação de mercados locais viáveis e facilitar o acesso dos bens
culturais desses países ao mercado mundial e às redes de distribuição internacionais.
18. Elaborar políticas culturais que promovam os princípios inscritos na presente Declaração,
inclusive mediante mecanismos de apoio à execução e/ou de marcos reguladores apropriados,
respeitando as obrigações internacionais de cada Estado.
19. Envolver os diferentes setores da sociedade civil na definição das políticas blicas de
salvaguarda e promoção da diversidade cultural.
20. Reconhecer e fomentar a contribuição que o setor privado pode aportar à valorização da
diversidade cultural e facilitar, com esse propósito, a criação de espaços de diálogo entre o setor
público e o privado.
Os Estados Membros recomendam ao Diretor Geral que, ao executar os programas da UNESCO,
leve em consideração os objetivos enunciados no presente Plano de Ação e que o comunique aos
organismos do sistema das Nações Unidas e demais organizações intergovernamentais e não-
governamentais interessadas, de modo a reforçar a sinergia das medidas que sejam adotadas em
favor da diversidade cultural.
[1]
Entre os quais figuram, em particular, o acordo de Florença de 1950 e seu Protocolo de Nairobi de 1976, a
Convenção Universal sobre Direitos de Autor, de 1952, a Declaração dos Princípios de Cooperação Cultural
Internacional de 1966, a Convenção sobre as Medidas que Devem Adotar-se para Proibir e Impedir a
Importação, a Exportação e a Transferência de Propriedade Ilícita de Bens Culturais, de 1970, a Convenção para
a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural de 1972, a Declaração da UNESCO sobre a Raça e os
Preconceitos Raciais, de 1978, a Recomendação relativa à condição do Artista, de 1980 e a Recomendação
sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, de 1989.
[2]
Definição conforme as conclusões da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais (MONDIACULT,
México, 1982), da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento (Nossa Diversidade Criadora, 1995) e da
Conferência Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o Desenvolvimento (Estocolmo, 1998)
187
8.2 Anexo 2 – Santa Teresa Território Turístico e Sustentável
Consolidar o charmoso bairro carioca de Santa Teresa como um ambiente onde turistas e moradores
estejam integrados; onde os anseios da comunidade e os benefícios a ela gerados permaneçam em
harmonia, preservados a gerações futuras: este é o principal objetivo do projeto Santa Teresa:
Território Turístico Sustentável, desenvolvido pela organização sem fins lucrativos Lunuz, em
parceria com o Sebrae/RJ, a rede Cama e Café e mais de 15 outras instituições.
Iniciado em 2003, através de uma parceria entre o Sebrae/RJ e o Cama e Café, o projeto agrega uma
série de ações, elaboradas a partir das necessidades e interesses da comunidade, para promover o
desenvolvimento econômico e social integrado, aliado à conservação do patrimônio natural e cultural
de Santa Teresa, bairro marcado por irreverência, beleza natural, forte identidade cultural e
contrastes.
Este é o primeiro projeto da cidade trabalhado na metodologia GEOR (Gestão Estratégica Orientada
para Resultados), de planejamento participativo, inaugurando um novo modelo de gestão de projetos
de desenvolvimento local. A prática é também a única da cidade a integrar o Projeto URBE do Sebrae
Nacional (http://www.urbe.sebrae.com.br), sendo considerada por esta instituição o melhor projeto
piloto do Brasil.
No “STTTS”, instituições locais, órgãos públicos, entidades do terceiro setor e empresariado local se
reúnem para planejar, acompanhar e monitorar o desenvolvimento de ações firmadas sobre quatro
pilares estratégicos:
Conscientização, envolvimento e comprometimento da comunidade anfitriã, empresários
locais, poder público e terceiro setor, como alicerce básico de cooperação que guia todos os
agentes locais em direção à construção de um objetivo único e compartilhado: o desenvolvimento de
um território turístico sustentável.
Incremento da atratividade e desenvolvimento da oferta turística, para desenvolver a infra-
estrutura e a oferta de produtos e serviços oferecidos ao turista, tornando Santa Teresa um bairro
mais atraente ao visitante e mais desenvolvido para a comunidade;
Promoção de marketing turístico sustentável, para desenvolver a imagem, a comercialização e a
comunicação turística, sem descaracterizar a região;
Controle de impacto turístico, para que sejam sempre respeitadas a escala de visitação local e a
sua capacidade de carga turística, mensurando os efeitos positivos e negativos do turismo e
garantindo a qualidade de vida à comunidade. Fases 2003 / 2004
Nas primeiras fases de atuação, foram produzidos inventário turístico de Santa Teresa e um estudo
sobre a história do bairro, realizados cursos de capacitação para cerca de 150 profissionais ligados
diretamente à atividade turística, palestras sobre turismo sustentável para mais de 1.100 estudantes,
além do apoio a eventos locais e criação de roteiros turísticos arquitetônicos, culturais e sociais, entre
outros.
Uma grande conquista foi ter Santa Teresa como cenário do primeiro estudo de capacidade de carga
e manejo de visitação turística desenvolvido em áreas urbanas do Brasil. Produzida através de uma
188
parceria com o Instituto Theoros, a pesquisa envolveu todos os atores do processo, foi além de dados
quantitativos e levou em consideração fatores como a experiência do visitante e a minimização dos
impactos. O documento, disponível no site www.santateresa.org.br, será uma importante ferramenta
para garantir que o número de turistas não ultrapasse a capacidade de visitação do bairro e a
atividade turística traga somente benefícios à comunidade.
Fase 2005
Dezoito ações estão em andamento, focadas em educação patrimonial, controle de impacto turístico,
geração de renda e trabalho para a comunidade local, preservação do meio ambiente, divulgação de
Santa Teresa como destino turístico sustentável durante o ano todo, melhoria da infra-estrutura
urbana do bairro, desenvolvimento de sua oferta cultural, estímulo a práticas empreendedoras e
capacitação de profissionais ligados direta ou indiretamente ao turismo no bairro.
O resultado esperado é o o fortalecimento da imagem de Santa Teresa como destino turístico,
como também a inclusão da comunidade na cadeia produtiva de turismo, a geração de renda e
emprego, a integração entre diferentes classes sociais e a conscientização dos moradores sobre a
importância do patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e ambiental local. As iniciativas mostram-
se, portanto, como instrumentos efetivos para resultados concretos, que possam servir de modelo a
outras áreas do estado e, até mesmo, do país.
A Lunuz
A organização sem fins lucrativos Lunuz nasceu, no início de 2004, com a missão gerar valor a
comunidades, promover o desenvolvimento local e transformar paradigmas, através da excelência na
gestão de projetos com foco em turismo sustentável, cultura e qualidade de vida.
Desde a sua criação, atua no projeto Santa Teresa: Território Turístico Sustentável, exercendo um
papel fundamental na mobilização e articulação dos parceiros, na coordenação de diversas ações do
projeto e na distribuição e manutenção do fluxo de informações às pessoas envolvidas.
Mais informações: (21) 2558-8891 | mariana@lunuz.org.br
8.3 Anexo 3 – Audiência Pública na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro
GABINETE DA VEREADORA ASPÁSIA CAMARGO
RIO DE JANEIRO, 17 DE JUNHO DE 2005
LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E AMBIENTAL DO BAIRRO DE SANTA TERESA
Objetivos: dialogar sobre os problemas de Santa Teresa e as conseqüências da aplicação da
legislação urbanística e ambiental na visão das pessoas que têm trabalhado e vivido as questões do
bairro. Analisar a oportunidade para que a vereadora Aspásia possa apresentar na Câmara uma
189
proposta, seja de reformulação da lei em vigor, seja de uma nova lei que possa contribuir para
melhorar a situação atual.
Palestrantes: Aspásía Camargo, Vereadora pelo PV, Augusto Ivan, Sub-Secretário de urbanismo,
Mônica Bahia, técnica do Instituto Pereira Passos, Natália Lopes, da Secretaria de Meio Ambiente,
Alfredo Brito, professor da UFRJ e PUC e André Zambelli da Secretaria das Culturas.
Documentos distribuídos: fotocópia da Agenda 21 elaborada pelo Fórum da Agenda 21 de Santa
Teresa, Lei 495 que cria a APA de Santa Teresa e Decreto 5050 que regulamenta a lei.
Principais pontos abordados pelos expositores e demais participantes:
ASPÁSIA CAMARGO: destaca a democracia participativa como objetivo do seu mandato, sendo o
bairro de Santa Teresa um laboratório privilegiado de interlocução entre Câmara de Vereadores e
grupos organizados da sociedade. Apesar de Santa Teresa ter realizado a Agenda 21, elas não estão
conseguindo resultados práticos, donde a necessidade de organizar as Eclésías, núcleos menores e
mais diversificados para uma interlocução articulada. É necessário pensar como inserir as questões
relativas a Santa Teresa na dinâmica no Plano Diretor que esta sendo, no momento, revisado. Um
dos graves problemas do Rio de Janeiro é a dificuldade de se tomar decisões, pois a cidade é
gerenciada por três poderes que não se entendem e que, ora se ignoram, ora se superpõem e
competem entre si.
ALFREDO BRITO: a primeira dificuldade para construção da vida urbana é a promoção de sua
gestão democrática, fazendo com que os representantes da coletividade trabalhem em conjunto.
Santa Teresa tem um exemplo concreto que é a Agenda 21, com várias propostas para o seu espaço
urbano, mas sem nenhum resultado dentro da administração pública porque, na realidade, as
necessidades e os objetivos da administração pública muitas vezes se distanciam das necessidades
e exigências da população. Existe hoje uma possibilidade de superação desta situação através de
uma representante na mara que está se dispondo a ser a porta-voz das reivindicações de Santa
Teresa. O bairro de Santa Teresa obriga a um olhar específico devido a sua ordenação singular
herdada dos portugueses, de uma arquitetura que foi se adaptando e dialogando corretamente com a
encosta e que a legislação não atrapalhou. A legislação é racionalista e se dependesse da legislação
urbanística e edilícia de hoje teria sido inviável e desastrosa a ocupação do morro de Santa Teresa.
Em 1984, diante das ameaças dos empreendimentos imobiliários (Gomes Almeida, Sérgio Dourado),
houve forte mobilização popular e com a eleição de Sérgio Cabral para vereador foi possível fazer a
atual lei de criação da APA, regulamentada um ano depois. Hoje é necessário um aperfeiçoamento
da lei para enfrentar os problemas surgidos e o desafio é traduzir em lei um instrumento que ao
mesmo tempo permita defender e valorizar as qualidades de uma área urbana diferenciada e
promover seu desenvolvimento sustentável. Santa Teresa tem uma série de vazios urbanos que são
190
danosos, sendo necessário saber como ocupá-los em benefício do bairro, da cidade, da população e
da administração pública.
ASPÁSIA CAMARGO: quando as leis passam na Câmara, elas são puramente edilícias, não havendo
uma visão mais integrada da cidade, que faça jus ao que ela representa enquanto cidade de turismo,
cidade internacional, ponto de referência nacional e cidade que tem uma natureza excepcional e
única.
AUGUSTO IVAN: a cidade também tem vinte e um anos de história de instrumentos que se
sucederam ao longo do tempo no sentido de aperfeiçoar a questão da proteção do patrimônio local e
houve grandes avanços tanto para proteger como para deixar desenvolver, colocando a cidade até
mesmo na vanguarda em relação a outras cidades brasileiras no que diz respeito à regulamentação.
Santa Teresa desenvolveu um método próprio de autosustentar seu espaço. A legislação sozinha,
não resolve todos os problemas e é necessário haver entendimentos, discussões e políticas que
possam ser colocadas em prol do desenvolvimento do bairro de Santa Teresa.
ANDRÉ ZAMBELLI: o melhor exemplo de legislação de proteção e parceria com a comunidade é o da
Rua do Lavradio, onde os ocupantes da área perceberam a importância do patrimônio que tinham e
começaram a investir, junto com a Prefeitura, na melhoria local. É necessário transportar esse
exemplo para as demais áreas da cidade. uma evolução nos decretos levando a uma
incorporação, na legislação, de mecanismos de melhoria da condição dos espaços. Exemplo disto é a
lei de isenção ou redução de impostos, que funciona bem e que esta sendo melhorada graças a
entendimentos com a Secretaria da Fazenda. A legislação de isenção do IPTU se aplica a todo o
bairro de Santa Teresa, havendo uma relação de imóveis que são preservados e que têm o direito a
esse benefício. 0 problema é que, no momento em que o potencial beneficiário entra com um pedido,
é feita uma vistoria e são listadas as obras que devem ser feitas para se obter o benefício da isenção.
Isto, muitas vezes, é desvantajoso para o proprietário. o como fazer uma negociação coletiva,
pois a legislação no Brasil não prevê isto. Nos Estados Unidos e no Canadá existe o chamado
"Business Improvement District", pelo qual o governo abre mão de parte do imposto - territorial e
predial - de uma determinada área para um grupo organizado que queira investir no local. Trata-se de
um fundo administrado coletivamente pelos grupos locais. O governo faz a auditoria das contas e o
grupo empreendedor é responsável pelas melhorias e pela prestação de serviços corno recolhimento
do lixo, segurança, melhorias em iluminação, consertos de calçada, etc.
ASPÁSIA CAMARGO: acredita ser esta uma forma muito criativa de se promover o desenvolvimento
local, sendo necessário conhecer a legislação que regula esses BIDs.
AUGUSTO IVAN: um dos problemas de Santa Teresa é que não se pode fazer modificações internas
nos casarões existentes, transformando-os de unifamiliares a multifamiliares. É necessário pensar na
191
possibilidade de se fazer essa mudança de uso como forma de dar sustentação aos imóveis
preservados.
RENATA BERNARDES: alerta para o problema do financiamento, já que a Caixa Econômica só libera
financiamentos para moradias individuais e isto dificulta a conservação de unidades multifamiliares,
do tipo condomínio.
ALFREDO BRITO: cita o exemplo do Projeto Cores de Santa Teresa, que foi uma tentativa de
articular o capital privado, o poder público e os moradores numa solução patrimonial para o bairro. 0
projeto não visava recuperar o imóvel completo do proprietário, mas seu aspecto externo, o que
trouxe uni estímulo de melhores condições do espaço urbano.
NATÁLIA LOPES: a Secretaria do Meio Ambiente foi criada em 1994 e a Lei criando a APA de Santa
Teresa é de 84, ou seja, cria-se uma Área de Proteção Ambiental, quando não havia um órgão
ambiental para monitorar. A lei acabou sendo regulamentada na forma de uma Área de Proteção do
Ambiente Cultural. Apesar disto, a Secretaria de Meio Ambiente sempre se fez presente no bairro,
dentro das suas atribuições, que são de comando e controle, agindo de forma preventiva e com
preocupação social que não se pode tratar a questão ambiental sem focar a questão social. Santa
Teresa é uma das áreas da cidade onde a Secretaria tem feito investimentos grandes, com 800.000
de área de reflorestamento, recuperação de encostas e contenção da expansão das ocupações
irregulares, através da implantação de eco-limites. Ações de fiscalização são realizadas, através da
Patrulha Ambiental para qualquer caso de dano ambiental, reclamações como poluição sonora,
despejo de esgoto e desmatamento. A questão da ocupação irregular é mais complicada porque
quando está consolidada, a Secretaria do Meio Ambiente não tem como agir. A tendência atual, em
Santa Teresa, é a ocupação vertical, com expansão vertical da área construída, havendo uni limite
para a ação fiscalizatória e para a ação da Patrulha, pois estas construções se fazem rapidíssimas,
em um fim de semana. A Secretaria do Meio Ambiente não consegue atuar de maneira isolada. Além
do mais, é preciso atentar para o fato de que não basta elaborar boas leis, mas sim torná-las
aplicáveis.
ASPÁSIA CAMARGO: reconhece a necessidade de um Pacto Sócio-Ambiental na Cidade para se
enfrentar a chamada indústria da ocupação, que é muito eficiente do ponto de vista econômico.
Indaga se não é o caso de se substituir algumas legislações de comando e controle por Instrumentos
econômicos e fiscais, com incentivos que promovam a legalidade.
MONICA BAHIA: os dados dos Censos de 91 e 2000 e informações e conclusões de um estudo que
foi feito da Bacia do Rio Carioca, do qual o Bairro de Santa Teresa faz parte, mostram uma
diminuição de população no bairro, ou seja, perda de população da ordem de 2,5% (dois e meio por
cento). Por outro lado a população de favelas, como a Julio Otoni, cresceu nesse período, na ordem
de 35 a 40%. Ressalte-se, entretanto, que dito crescimento não se deu, na mesma proporção, em
192
área ocupada. Santa Teresa precisa ser bem focada pelo poder blico e pela população, por ser
justamente a área da fronteira entre a Floresta Atlântica da Tijuca e a malha urbana. Assim, a área de
proteção de Santa Teresa foi regulamentada em termos urbanísticos e edilícios, mas não levou muito
em consideração essa questão que o bairro está encravado numa área de fronteira entre a floresta e
a malha urbana. 0 estudo sobre a Bacia do Rio Carioca chama a atenção sobre a perda de floresta
desde os anos de 72 a1999, perda esta que vem sendo paulatina, embora, não constante, ou seja,
continua havendo a perda, mas com certa desaceleração, a partir do final da década de 80, graças ao
Programa de Reflorestamento da Prefeitura e à grande mobilização da população, capitaneada pela
Associação dos Moradores de Laranjeiras (AMAL). É importante, portanto, salientar as qualidades do
patrimônio construído, mas, sobretudo, as peculiaridades ambientais do bairro, incorporando-se na
revisão da legislação a importância dessa fronteira entre a floresta e malha urbana. Chama, ainda, a
atenção para o fato de que a criação de novos espaços para a classe média e alta, não implica em
contenção de áreas favelizadas, como mostram estudos que foram feitos pelo Instituto de Geografia
da UFRJ. Esses estudos comprovam que as ocupações das encostas pelas classes médias e altas
trazem consigo a ocupação pelas classes favelizadas.
ALICE AMARAL: a Lei 495 surge num momento em que havia necessidade, interesse e premência de
haver a proteção de Santa Teresa mas, naquele momento, não havia instrumento de proteção
ambiental no município e havia apenas um órgão de meio ambiente que era uma coordenação dentro
da Secretaria de Planejamento. Em 1985, quando foi regulamentada a lei de Santa Teresa, havia um
grupo de trabalho dentro da Secretaria, hoje de Urbanismo, que fez a revisão da legislação,
adaptando a legislação de uso e ocupação que vigorava para a área, a uma nova realidade, a
realidade de proteção, com foco no uso, na atividade, no gabarito, na taxa de ocupação. Isso foi um
grande ganho, apesar de levar, hoje, a uma série de restrições prejudiciais para o bairro. Em 1985 o
Conselho de Patrimônio tinha uma secretaria executiva, a Diretoria de Patrimônio. Nessa ocasião,
concomitantemente, estava sendo terminado o texto do Decreto 5050 e foi então colocado o artigo
que diz que todas as edificações e alterações têm que passar pela Diretoria de Patrimônio. Esse foi o
primeiro momento em que havia claramente, a obrigatoriedade de controle sobre obras e bens de
interesse para o patrimônio cultural. Santa Teresa não tem uma listagem de bens preservados pois
tudo em Santa Teresa tem que passar pelo crivo do atual DGPC.
É necessário colocar o bairro num contexto mais amplo de planejamento da região, das bacias para
as quais o bairro contribui, da questão da favelização e do acréscimo da população de baixa renda
que ocupa a área de forma progressiva. A legislação restringe a construção e o adensamento,
levando a alguns vazios que não podem ser ocupados, sendo, hoje, terrenos grandes que poderiam
ser construídos, pois estão no meio da malha urbana.
As casas preservadas são, em sua maioria, unifamiliares, de manutenção difícil. As deficiências de
serviços e de comércio de primeira necessidade são sempre apontadas pelos moradores, mas estes
193
empreendimentos acontecerão se houver viabilidade econômica, ou seja, aumento de demanda
que viria com o maior adensamento.
Uma outra questão diz respeito a possibilidade da reutilização dos prédios antigos. Existe uma minuta
de Projeto de Lei pronta na Secretaria de Urbanismo propondo medidas e normas específicas para
essas edificações pois a legislação edilícia em vigor não prevê a possibilidade de transformação de
edificações antigas, sejam elas preservadas ou não. A legislação sempre pressupõe a demolição do
que existe para a construção do novo. Quando o edifício está preservado, cria-se um impasse: ele
não pode ser demolido, mas também não pode ser adaptado. A idéia do Projeto de Lei é tentar abrir
mão de certas obrigações que se fazem para prédios novos e tentar restringir as obrigações para os
preservados, permanecendo aquelas que dizem respeito, especificamente, ao interesse do
patrimônio.
Quanto a experiência bem sucedida da Rua do Lavradio, a explicação se deve ao fato dela estar no
centro da cidade, que tem uma legislação muito benevolente que permite qualquer tipo de iniciativa,
enquanto que em Santa Teresa e outros bairros residenciais isso não acontece, porque a legislação é
muito mais restritiva e com grande peso do uso residencial. É um bairro com grande dificuldade de
circulação, onde o barulho incomoda devido a estrutura das casas. 0 Business Improvement Dístrict,
é uma coisa viável, mas altamente dependente do movimento da iniciativa privada.
RENATA BERNARDES: o grande problema de Santa Teresa é a questão de zoneamento que
determina o que pode e o que não pode fazer no bairro. Tudo que surgiu empreendimentos
comerciais, restaurantes, coisas que estão funcionando - são juridicamente ilegais, não têm alvará
para funcionamento. Uma outra questão é que o poder público não se apossou da Agenda 21, não a
tomou como um parâmetro. 0 poder público não tem uma visão de conjunto para o bairro, apesar das
intervenções pontuais. Não se deseja para Santa Teresa o mesmo que existe para a Rua do
Lavradio, pois o se quer permitir tudo em Santa Teresa. Santa Tereza foi deslocada da
Sub-Prefeitura do Centro, passando a fazer parte da Sub-Prefeitura da Tijuca e não se sabe as
razões para este fato. Quanto aos vazios, relata a existência de um terreno de cinco mil metros que
poderá virar mais uma favela no meio da Rua Almirante Alexandrino, na área do Vista Alegre. Para
finalizar sugere que a prefeitura aloque recursos para Santa Teresa provenientes das taxas que ela
cobra em cima das filmagens que são feitas no bairro.
THAIS CORRAL: o testemunho próprio sobre a expansão horizontal, para dentro da floresta, da
favela da Rua Julio Otoni e salienta a gravidade da questão social, que a principal atividade desse
contingente de população que se expande, é o tráfico de drogas, tornando o bairro perigoso. A
mudança da legislação favoreceria a instalação de negócios no bairro com a possibilidade de se criar
empregos para os jovens, hoje vulneráveis ao tráfico.
194
HELENA GALIZA: cita o Protocolo Internacional de Cooperação Técnica entre o governo francês, a
Prefeitura do Rio, a Prefeitura de Paris, a Caixa Econômica e o Ministério das Cidades para a
reabilitação integrada do Bairro de São Cristóvão, experiência que poderia ser replicada no bairro de
Santa Teresa. Cita ainda o projeto “Santa Teresa: Território Turístico Sustentável” apoiado pelo
SEBRAE. O Projeto enfatiza a questão social, onde a participação da Caixa Econômica se fará pela
reabilitação urbana, através de linhas de financiamento para transformação de imóveis unifamíliares
em multifamiliares, caso a legislação permita. A Caixa esta atuando não apenas na reabilitação
urbana e de financiamentos, como também tentando obter recursos de fontes não-reembolsáveis
para fazer estudos, inclusive a atualização do inventário de Santa Teresa e pesquisas sócio-
econômicas, para embasar vários outros aspectos e projetos para o bairro.
CARLA CABRAL: com o Plano Diretor de 92, surgiu o instrumento da APAC e, nas Disposições
Gerais, está escrito que as APAs, decretadas até aquela presente data, permaneceriam ou se
transformariam em APAC, dependendo de cada caso. Foi o que aconteceu em Santa Teresa que
virou APAC, apesar de não ter sido mudado o texto do decreto que a regulamenta como APA.
muito tempo que se discute no DGPC sobre a necessidade de uma revisão da Legislação de Santa
Teresa, trabalho a ser feito em conjunto por vários órgãos da Prefeitura.
CRISTIANO SILVA: como novo administrador, destaca os desafios e os trabalhos que vêm sendo
feitos, principalmente na rua Joaquim Murtinho, reparos em escadarias, além de um projeto piloto de
segurança com guardas municipais.
ASPÁSIA CAMARGO: chama a atenção do novo administrador para a urgência de se solicitar à
secretária Solange Amaral a liberação de verbas para a implementação do Bairrinho na favela da Rua
Júlio Otoni.
LEONARDO GUIMARAES: propõe a melhora da comunicação entre o poder blico e a comunidade
através da elaboração de uma cartilha explicativa de como funciona o poder público que atende o
bairro, publicação essa que explicitasse os meandros da administração e explicasse como o morador
simples se locomove e se comunica com o poder público. Sugere ainda a existência de um escritório
técnico na Região Administrativa para orientação aos moradores.
ROBERTO MAN: recomenda uma revisão na lei no que tange especificamente a investimentos na
área de hospedagem e gastronomia, que são grandes fontes de geração de prazer, qualidade de vida
e renda. A maioria dos alvarás de licenciamento, giram em torno de pensões e pousadas, que é uma
brecha que a lei oferece, mas que não é o ideal, sendo "humilhante" para ele ter investido 150 mil
reais e ter que dizer que seu restaurante é uma pensão. O comerciante é um alvo, não de fiscais
corruptos, como também de criminosos. É necessário maior compreensão e solidariedade com quem
tem coragem de abrir uma empresa hoje no Brasil diante da carga tributária pesadíssima atual.
195
ALFREDO BRITO: sugere constituir um grupo de trabalho e a organização de mais uma reunião com
o aporte de questões especificas para serem foco de regularização.
VÂNIA FARIAS: destaca a questão da circulação no bairro, da necessidade de melhorar o sistema de
transporte e a questão dos caminhões da COMLURB que causam grandes danos ao patrimônio,
levando a rachaduras na Igreja matriz. Além do mais, enfatiza a questão de o se conseguir fazer
uso dos casarões antigos para atividades educativas e culturais por entraves da legislação.
AUGUSTO IVAN: relata que a Secretaria de Urbanismo tem uma Coordenação de Regularização
Urbanística (CRU) através da qual se esta atuando junto às favelas, no sentido do controle e do
estabelecimento de regularizações. Esta coordenação esta cuidando das questões relativas a
remoção que será feita na favela localizada na Rua Alice.
ANDRÉ ZAMBELLI: destaca que um dos instrumentos que tem funcionado bastante na Prefeitura é a
Ouvidoria que recebe toda uma gama de reclamações e sugestões sobre as questões relativas às
áreas protegidas.
NATÁLIA LOPES: trabalha no Primeiro Escritório Técnico Regional da Secretaria de Meio Ambiente,
que atende a área de Santa Teresa, colocando o número de telefone a disposição para solicitações
diversas: 2224-8480.
ALICE AMARAL: chama a atenção para a existência dentro da Secretaria de Urbanismo de cinco
gerências de planos locais, que são descentralizadas por áreas de planejamento. A Gerência de
Planos Locais, do Centro, já vem trabalhando há algum tempo no levantamento da questão da
legislação de Santa Teresa - legislação, especificamente, urbanística e de patrimônio. Então, existe
um trabalho em andamento e a gerente se chama Maria Ernestina.
ASPÁSIA CAMARGO: lamenta que o tempo tenha sido curto para a exposição de todas as pessoas e
endossa a proposta de Alfredo Brito sobre a necessidade de mais uma reunião para um
aprofundamento do debate e definição dos pontos a serem modificados na legislação.
Participantes
1 - Augusto Ivan F. Pinheiro (aifp.sm[email protected].br)
2- Alice Amaral (alice.sm[email protected])
3- Mônica Bahia (mbs[email protected]v.br)
4- Natália Lopes (ncouto@rio.rj.gov.br)
5- André Zambelli (azam[email protected]v.br)
6- Alfredo Brito (
alfbritto@qbl.com.br)
7- Luis Carlos C. da Motta ([email protected].gov.br)
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8 - José Casio Ignara (ignaraj@cybernet.com.br)
9 - Roberto Mann (espirito[email protected])
10 - Ana Prado (anaprado[email protected].br)
11 - Thais Corral (thaisc@redeh.org.br)
12 - Renata Bernardes (renata@vivasanta.org.br)
13 - Jean Pierre Janot (jj[email protected].gov.br)
14 - Carla Cabral Alonso (c[email protected].gov.br)
15 - Helena Galiza (helena.gializa@caixa.gov.br)
16 - Cristiano Silva (cristi.f[email protected].br)
17- Vera Gerbassi (veragerbassi@yahoo.com.br)
18 - Vânia Farias (vania.farias@globo.com)
19 - Leonardo Guimarães (diretoria@amast.org.br)
20 - Virgilio de Souza (capitalcultural@uol.com.br)
21 - Jacqueline P. Carrara (iacarrara@hotmail.com)
22 - Sizenaldo Marinho (sizenaldo@ziomail.com.br)
23 - Luisa Barros Dias (luisabar.sm[email protected])
24 - Patrícia Carvalho (patriciacarvalho@andrea45123.com.br)
25 - Elza Santiago (cofastcom[email protected].br)
26 - Claudia Thaumaturgo (thauma@terra.com.br)
Gabinete:
Aspásia Camargo (aspasia.camargo@camara.rj.gov.br/ aspasiacamargo@uol.com.br)
Diomar.Silveira (diomar.silveira@camara.rj.gov.br/ diom[email protected].br)
Ana Batista da Costa (anab[email protected].br)
Mauricio Barreira (mauricio.barreira@camara.rj.gov.br/m[email protected])
Flavio Lazaro Carvalho (flavio.carvalho@camara.rj.gov.br/flavio@ondazui.orq.br)
Sônia Apolinário (sonia.silva@camara.rj.gov.br/soniapolinari[email protected]om.br)
Lucia Maggio Azevedo (lucia.azevedo@camara.rj.gov.br)
Franklin Mattos (franklin.mattos@camara.rj.gov.br / frank[email protected])
8.4 Anexo 4 – Discurso do Ministro Gilberto Gil
CERIMÔNIA DE INAUGURAÇÃO DA 27ª BIENAL DE SÃO PAULO
SÃO PAULO, 6 DE OUTUBRO DE 2006,
Quero constatar que estamos todos aqui sob um marco da arte mundial, e antes de mais nada
gostaria de prestar nossa homenagem a Oscar Niemeyer que comemorará conosco no próximo ano o
seu centenário, idade de uma longevidade para lá de produtiva. Foi ele quem legou-nos essa
arquitetura ambientalmente generosa, lugar da diversidade, que muito abriga a arte e a cultura
feita no mundo todo por indivíduos e povos. Diria que além de tudo essa 27ª Bienal marcará também
197
a abertura das comemorações que se estenderão pelo ano vindouro. Mais uma vez esse espaço
realiza sua vocação pública, desenhada desde a prancheta do grande arquiteto, permitindo a todos
um convívio democrático com a arte. O MinC e a Fundação Bienal juntos, com outros apoios e
parcerias, garantiram a abertura gratuita das catracas, dando direito à todos de circular livremente
pela exposição, realizando a afinidade deste projeto de Niemeyer com o homem Comum, com o
cidadão brasileiro.
A partir de hoje estaremos reunidos outra vez em torno da produção da arte contemporânea. Desde
muito a arte de todo o Mundo freqüenta o Brasil e marca esse evento que é a Bienal Internacional de
São Paulo. Ela foi uma das exposições periódicas que fez da arte moderna um fenômeno global. Mas
ela não viveu só de seu esplendor inicial, de suas certezas modernistas da primeira hora, a Bienal
sempre soube se refazer a cada edição, dando abertura às manifestações esteticamente inovadoras,
abrindo espaço à arte que até hoje vive um processo constante de superação. Manifestações de
experimentalismo que fazem a idéia de arte ser coisa viva (irredutível a obras, estilos e movimentos),
um fenômeno incerto e indefinível, que mobiliza toda a nossa inteligência e sensibilidade.
São muitos os que fizeram nossos olhos se abrirem para essa modalidade de inovação, pessoas
como Sérgio Miliet, Lourival Gomes Machado, Mário Pedrosa, Walter Zanine, Paulo Herkenhof foram
alguns dos que apontaram conceitos e tendências para as novas formas de arte, e deram meios para
que o público espectador das novidades refletisse sobre o significado do que estava surgindo. Quero
aqui lembrar todos os curadores, através dessas figuras, que trouxeram ao público brasileiro os
grandes artistas do século passado de Picasso a Andy Warhol, de Morandi a Joseph Beuys; obras
que marcaram e marcam até hoje a compreensão crítica de nosso meio cultural.
Os ecos dessas bienais sempre chegaram a mim através de grandes amigos como Lígia Clark e tive
com eles experiências que tocaram minha sensibilidade de uma maneira muito profunda. Todos
devemos uma parte de nossa percepção à esses homens e mulheres que foram visionários e nos
ensinaram que a arte nos permite experimentar um universo aberto ao ainda não-sabido. E isso
acontece mesmo quando uma obra conhecida volta à luz e é experimentada como diferente,
produzindo um deslocamento de sentido sobre sua própria história. Foram pessoas que nos
ensinaram a repensar o patrimônio simbólico do Brasil, pondo lada-a-lado mestres ocidentais,
mestres da arte popular, obras do cinema, da arquitetura, cerâmicas arqueológicas, grafismos
corporais indígenas, pinturas e performances.
Espero que, agora inaugurada, essa exposição seja mais uma vez um salto em direção ao
desconhecido, um momento de percepção dos limites irracionais de tudo aquilo que nossa civilização
produziu e fixou como tradição. Vivamos nesta casa algo além do que nossas expectativas bem
informadas sobre a cultura nos deram, uma arte viva que ainda não adormeceu na sonolência
emparedada dos museus, nos arquivos mortos e empoeirados Experimentemos a partir de hoje a
arte que permite à nossa humanidade continuar viva. A arte que não sabemos se irá durar, uma arte
de hoje para hoje, que deve ser experimentada em sua urgência e intensidade atual. Uma arte
verdadeiramente nossa contemporânea.
O motivo maior dessa exposição é a arte e os artistas, figuras da cultura que hoje estão mais
poderosos do que nunca, que estão novamente ganhando o seu espaço no processo cultural de
198
produção simbólica, por mais que a força de instituições, de negociações de prestígio e de dinheiro
ainda pareça estar à frente dos valores estéticos de nossa sociedade. As novas tecnologias têm
possibilitado um mundo que é bem mais poroso em seu tecido de relações de dominação e controle.
Estamos em momento de abertura, são redes que não podem capturar os homens como peixes, elas
tecem vínculos e tramam afetos para além de um mundo doméstico e de comportamentos
programados. A revolução digital que se propaga provocou fissuras que podemos penetrar com
nossa imaginação, abriu portas de nossa percepção que se mantinham fechadas, novas maneira
de pensar a política e a cultura.
Atravessamos hoje uma onda de ruptura com os sistemas de comunicação e de propriedade
restritiva, por mais que esteja tentando controlar a TV Digital, não se poderá manter a custo do atraso
modelo antiquado como o copyrigt e toda sorte de restrições aos usos culturais. O Youtube, em sua
breve história, gerou meios abertos de troca nos quais todos passam a ser programadores e
espectadores. Um banco de dados sobre arte, um universo de informações e de arquivos, permite-
nos acessar materiais raros ou produções recentes, conteúdos de vídeo-arte, instalações, fotos,
maquetes digitais de arquitetura, performances sonoras, clips musicais e tudo o mais.
Se a produção da arte e da cultura é hoje cada vez mais difusa, seus agentes simbólicos estão
espalhados em redes que atravessam as fronteiras geográficas de nossas circunscrições territoriais,
do centro e da periferia, que desenvolvem estratégias para romper as barreiras do consumo e as
restrições de propriedade comercial. Não é possível conter a arte dentro das paredes e dos espaços
codificados, ela essolta no mundo, confundida com a vida, uma arte que é toda biopolítica. Vejo
emergir com as novas gerações sentimentos de outrora, que me fazem lembrar um outro amigo de
projetos estéticos e antropológicos, que me fez ver e pensar nessa dimensão "supra-sensorial" da
vida, meu querido Hélio Oiticica. Imagino se ele estivesse entre nós, estaria a revolucionar a nossa
idéia de "Pontos de Cultura", inventando com Waly uma dimensão experimental de poesia e
plasticidade em alguma Refavela re-inventando suas proposições parangolés, bólides e penetráveis.
Para evocá-lo em minha viva voz e fazer ecoar o som de suas palavras, hoje, nesse espaço,
tornando-o repleto de sua contemporaneidade visionária, deixo no ar algumas frases suas escritas
em 1967 e que, naquela época, penetraram fundo em nossa consciência:
"... é a definitiva derrubada da cultura universalista entre nós, da intelectualidade que predomina
sobre a criatividade - é a proposição da liberdade máxima individual como meio único capaz de
vencer essa estrutura de domínio e consumo cultural alienado. Em "A Busca do Supra-sensorial",
todas esses problemas são postos e propostos: o velho da "volta ao mito", o da cultura nacional, a
supressão definitiva da "obra de arte" (transformada em consumo na estrutura capitalista), o da
criatividade no plano coletivo em oposição ao condicionamento vigente, o do uso das drogas
alucinógenas no plano coletivo (inclusive mostrando a grande diferença desta proposição aqui para a
de Timothy Leary e adeptos nos EUA), o dilatamento da consciência individual para o plano criativo, a
incomparável diferença da expressividade do negro em relação ao branco intelectualmente, criação
do mito brasileiro da miscigenação. Como se vê, o mito brasileiro da tropicalidade é muito mais do
que araras e bananeiras: é a consciência de um não-condicionamento às estruturas estabelecidas,
portanto altamente revolucionário na sua totalidade. Qualquer conformismo, seja intelectual, social,
199
existencial, escapa à sua idéia principal." Salve Hélio! Nossa homenagem a você, onde estiver,
"aquele abraço"!
Documento recebido em 10/10/06 por mídia eletrônica de Flávia Vivácqua (Coletivo Coro) para o e-group
corocoletivo. [email protected]
8.5 Anexo 5 – Manifesto de Fundação da Chave Mestra
Um manifesto para abrir portas
Santa Teresa é o bairro da arte
quem faz arte são os artistas
Os artistas de Santa Teresa
Temos diversidade, temos força, vitalidade
Temos profundidade e leveza
Temos muitas diferenças e muito mais em comum do que imaginamos
A Associação dos Artistas de Santa Teresa já existe. Dia 12 e 13 de outubro de 1996 acontecia o
primeiro Arte de Portas Abertas marcando o início da associação informal de artistas e moradores
que se uniram com o objetivo de realizar o evento e revitalizar o bairro. São 13 edições em 7 anos.
Feliz aniversário. Parabéns. Você ajuda transformar Santa Teresa neste bairro das artes, um campo
de experiências contundentes e renovadoras.
O Arte de Portas Abertas é hoje um dos eventos mais importantes no calendário artístico da cidade.
Um acontecimento grandioso que tem por base a abertura de nossos ateliês. E o evento cresce e se
aprimora a cada edição com vários projetos agregados. O Prêmio Interferências Urbanas, o Projeto
Jovens Aprendizes, Coleção Portas Abertas e o Projeto Registro são exemplos de iniciativas que
estão dando certo e que nos sinalizam a necessidade de uma atuação mais permanente.
O Arte de Portas Abertas é o que é porque uma centena de pessoas trabalha Arte em Santa Teresa.
E um fim de semana por ano é apenas uma pequena parte do nosso potencial. Podemos fazer de
Santa Teresa um bairro realmente de arte todo o ano que confirme sua vocação para a cultura,
promovendo ainda mais a integração social da arte com nossa comunidade.
Esta é a base para a organização da Chave Mestra - ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS VISUAIS DE
SANTA TERESA. Unir. Transformar a associação informal decorrente do Arte de Portas Abertas em
um vínculo permanente e produtivo.
Unidos podemos potencializar a força do Arte de Portas Abertas para os projetos que já temos e
ainda outros que poderão ser estruturados. Divulgar nossos trabalhos, ser centro de informações,
central de idéias e ponte de inserção no circuito de arte. Unidos podemos implementar um calendário
200
de atividades que beneficie todos os artistas e todo o bairro. Então, o Arte de Portas Abertas será o
clímax, a celebração de um trabalho contínuo, forte, associativo e independente.
Participe. Contamos com você.
Assembléia Geral para fundação da Chave Mestra – Associação dos Artistas Visuais de Santa Teresa
Auditório do Centro Cultural Laurinda Santos Lobo 27 /10/2003 19:00 h Rua Monte Alegre 306
Santa Teresa RJ
8.6 Anexo 6 – Reportagem Publicada no JB On Line
Rio, 06 de Outubro de 2006 - Matéria Publicada no JB On Line
http://jbonline.terra.com.br/cidade/mat061006.htm
Santa Teresa dá a partida para virar uma nova Lapa
O caminho está aberto para o bairro de Santa Teresa se tornar um novo pólo de boemia do Rio. Com
a decisão da 45ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio - que negou direitos aos antigos inquilinos
do Hotel dos Descasados - o grupo francês Exclusive pode concluir as obras do novo
empreendimento hoteleiro e dar partida em um ciclo de investimentos como nunca visto antes no
bairro.
Recentes investimentos em Santa Teresa trouxeram um clima de efervescência e renovação ao
bairro. Visitantes vão aos poucos retomando o prazer de freqüentar a noite local e moradores estão
cada vez mais empenhados em ações pela qualidade de vida do lugar. Até um plano de segurança
foi criado especialmente para o bairro. Se depender do potencial turístico, Santa Teresa tem tudo
para se transformar na próxima Lapa.
No lugar do prédio caindo aos pedaços do Hotel dos Descasados, surgirá o Hotel Santa Teresa, com
45 novas suítes, cada uma com decoração única. O lançamento será divulgado em 45 países através
da internet e promete apresentar Santa Teresa ao mundo. As mudanças na construção respeitarão às
regras de tombamento da prédio e da Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac) do bairro. Será
mantido o estilo colonial da construção antiga, a forma dos telhados, as paredes exteriores e
fachadas. Até as árvores centenárias do terreno serão mantidas. O grupo estrangeiro está investindo
R$ 8 milhões nas obra do hotel e mais dois milhões na construção de um restaurante de luxo. O Hotel
Santa Teresa será o primeiro investimento do grupo no Brasil. O bairro é rico historicamente - explica
François Delort, representante do Exclusive. - As construções preservadas lembram as cidades
européias. Além de prever a recuperação do potencial turístico do bairro, o investimento pretende
criar empregos indiretos para moradores das comunidades e provocar impacto na economia do
bairro, formando uma rede de turismo sustentável. A expectativa é que o comércio e em especial o
artesanato e ateliês de artistas cresçam, com os turistas interessados em cultura popular. João
Vergara, responsável pela rede de Hotéis Cama e Café, não vê os franceses como ameaça: O projeto
201
movimentará o bairro com um fluxo de pessoas de alto poder aquisitivo e bom nível cultural. Só temos
a ganhar.
8.7 Anexo 7 – Mensagem Eletrônica da AMAST para Moradores
From: Amast To: am[email protected]om.br Sent: Tuesday, October 10, 2006 5:54 PM
Subject: A destruição do Hotel Santa Tereza: o cinismo como método e a mentira como arma
A destruição do Hotel Santa Tereza:
o cinismo como método e a mentira como arma
Os eventos que ocorreram de 2004 até hoje envolvendo o Hotel Santa Tereza compõem uma página
obscura e indigna da história da nossa recente democracia. Direitos sociais, ambientais e urbanísticos
foram totalmente desrespeitados e nenhuma das nossas instituições foi capaz de garanti-los. Já em
2004, a nova proprietária do imóvel, subsidiária da empresa hoteleira Exclusive, usou de práticas
insidiosas com requintes de perversidade para forçar a expulsão dos antigos moradores, alguns com
mais de quinze anos de moradia. Cortaram luz e água, permitiram a retirada dos móveis e a entrada
de indivíduos estranhos e ameaçadores, além de outras manobras de assédio moral e físico. Este
comportamento, de tipo mafioso, já nos deu idéia de quem possam ser aqueles hoteleiros.
Desde 2004, não se tem conhecimento de nenhuma divulgação do que viria a ser o projeto
arquitetônico do novo Hotel. O projeto de demolição só foi conhecido em consulta profissional no
Departamento de Licenciamento e Fiscalização - DLF da Secretaria de Urbanismo em maio deste
ano. Mentira típica destes casos é a que diz que o princípio do projeto foi apenas eliminar as
intervenções contemporâneas. No caso do Hotel fica desmascarada pela demolição total ocorrida.
Outra desculpa mentirosa é a que "o hotel estava à beira do colapso". O laudo da Defesa Civil não diz
isto . Como acontece com os casarões antigos, o hotel necessitava de obras de restauro. Há 22 anos,
em 1984 e 85, criamos a Lei de Proteção Ambiental, lei da APA, de Santa Teresa. Movimento
pioneiro no Rio de Janeiro e no Brasil. Tão moderno que até hoje é admirado e copiado em todo o
país. Nada mais atual nem mais contemporâneo do que a preservação das construções de um bairro
histórico, consideradas valores do patrimônio público da cidade e da nação, sítio especial da
memória, da sua cultura e da sua gente. Neste conjunto arquitetônico e artístico era marcante, desde
1872 até março passado, a presença do Hotel Santa Tereza, que anteriormente fora casa grande e
senzala de antiga fazenda que ali funcionava antes mesmo de D. Pedro I imperar. A foto de Gutierrez,
de 1892, pertencente ao arquivo do Museu Histórico Nacional, mostra, sem dúvidas, que há má fé em
quem diz que o edifício do hotel estava "descaracterizado". Laudo do CREA-RJ e dezenas de fotos
de 2004, testemunho dos antigos moradores, mostram que é mais uma mentira dizer que o edifício do
hotel estava em "caindo aos pedaços". O Hotel era preservado pela Lei da APA, que não permite
construção ou demolição sem autorização do órgão responsável da Prefeitura – DGPC ou
Sedrepahc. Em 2004, o hotel foi tombado pela prefeitura. Isto ocorreu pela qualidade e representação
do edifício. Logo depois ele perdeu seu valor? Como? O tombamento é a preservação completa do
prédio, não apenas das fachadas e dos telhados. É preservar varandas e pátios, o entorno das
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árvores, portões e muros, pisos, forros, fundações, estruturas, elementos artísticos, decorativos e os
métodos construtivos do século XIX. Qualquer destruição destes bens históricos então passa a ser
crime cultural.
O Hotel Santa Tereza foi destruído pela empresa hoteleira francesa Exclusive. Entendemos que as
responsabilidades com relação à destruição deste nosso magnífico patrimônio histórico se devem a:
1) inexperiência dos arquitetos contratados quanto à matéria da restauração arquitetônica.
(Desde há muito temos excelentes profissionais de restauração arquitetônica e artística. Desde a
criação do instituto federal há mais de 60 anos, dos estaduais e dos municipais, nós brasileiros já
executamos dezenas de obras de restauro bem sucedidas. Entretanto, os novos proprietários do
hotel preferiram desconhecer este fato tão relevante para a nossa nacionalidade, nossa cultura e
nossas profissões).
2) ao absurdo procedimento realizado pelo Conselho de Patrimônio Municipal (que carece de
representação social e profissional). O Conselho aprovou o projeto, em oposição aos três pareceres
técnicos contrários que constam no Processo de Aprovação, sem nenhum debate ou justificação,
procedimento que levanta suspeitas;
3) a falta de conhecimento e a falta de responsabilidade da rede Exclusive ao permitir a demolição
com tratores, máquinas escavadeiras tipo "bulldozers", mesmo sabendo que era obrigada a
"desmontar" a construção para a obra de "re-montagem", conforme exigência expressa pelos técnicos
do DGPC – Sedrepahc.
Nós todos cariocas, especialmente os moradores e amigos dos bairros do Centro histórico do Rio
temos que lutar contra este absurdo crime contra o ambiente cultural. Não podemos ficar calados.
Nossa omissão pode ser interpretada como permissão para novos absurdos. O governo municipal
demonstrou não ter envergadura para tratar do assunto. Passou a ser um assunto da sociedade civil
como um todo. A AMAST estuda encaminhamento judicial para cobrar responsabilidades.
Sobre este tal recém-chegado francês, François, que teve a desfaçatez de criticar uma organização
social brasileira, com 28 anos de existência e conquistas históricas, nada a dizer sobre seu
comportamento desrespeitoso e ignóbil.
Paulo Oscar Saad
Presidente da AMAST
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