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LEILIANY NEGRÃO DE MOURA
Comportamento do Papagaio-do-mangue
Amazona amazonica: gregarismo, ciclos
nictemerais e comunicação
sonora
Belém
2007
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LEILIANY NEGRÃO DE MOURA
Comportamento do Papagaio-do-mangue Amazona amazonica:
gregarismo, ciclos nictemerais e comunicação
sonora
Dissertação apresentada ao Departamento de
Psicologia Experimental da Universidade
Federal do Pará, como parte dos requisitos para a
obtenção do Título de Mestre em Teoria e
Pesquisa do Comportamento.
Área de Concentração: Ecoetologia
Orientador: Profa. Dra. Maria Luisa da Silva.
Belém
2007
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COMISSÃO EXAMINADORA
Profa. Dra. Maria Luisa da Silva
Universidade Federal do Pará
Departamento de Biologia
Programa de Pós Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Orientadora
Prof. Dr. Jacques M. E. Vielliard
Unicamp
Departamento de Zoologia
Membro
Profa. Dra. Regina Célia Souza Brito
Universidade Federal do Pará
Departamento de Psicologia Experimental
Programa de Pós Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Membro
Profa. Dra. Celina Magalhães
Universidade Federal do Pará
Departamento de Psicologia Experimental
Programa de Pós Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Suplente
i
"É preciso aprender a estimar os animais
antes de apreender um
animal de estimação"
Sidnei Olivio
ii
A meus pais, Ruderico e Socorro
A meus irmãos Luana, Júnior e Zeneide
iii
AGRADECIMENTOS
É muito difícil agradecer a todos que contribuíram de alguma forma para que este trabalho,
mas gostaria de lembrar daquelas pessoas que foram fundamentais em sua realização.
• Prof. Dr. Maria Luisa da Silva, por ter me orientado durante esses dois anos de mestrado;
• Prof. Dr. Jacques Marie Edme Vielliard (UNICAMP), por todas as sugestões e contribuições
fornecidas ao meu projeto;
• Amigos: Ana Paula B. Assumpção, Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues, Batista, Camilo
Araújo, Eder Amoras Melo, Edna Alvarenga dos Santos, Edson Shimpo, José Leonardo Lima
Magalhães, Karine de Freitas Pereira, Marcelo Gomes da Silva, Neusa Renata Emin de Lima,
Paulo Cesar Rodrigues Costa, Paulo Yuji e Vitor Luiz de Souza Lima, que se revezaram ao
longo do trabalho, auxiliando-me em todas as etapas do estudo, e Laura Tavares Miglio e
Hinglia Moura Rabelo, que com certeza sempre desejaram que tudo desse certo, fornecendo
energias positivas;
• Estagiários: Alison Pureza Castinho, Dnilson Oliveira Ferraz, Eliane Reis Oliveira, Isabela
Carvalho Brcko, José Alvarez Júnior, Lívia Isadora Guimarães, Thiago Augusto Pedroso
Barbosa, pelo apoio e ajuda prestada durante os trabalhos de campo, e Soraya Alonso Sidou,
que além da ajuda no campo, me acompanhou durante os momentos finais da dissertação;
iv
• Professores: Willian Lee Berdel Martin, por ter me ensinado estatística; Celina Magalhães,
cuja disciplina, apesar de tardia, me ajudou a corrigir minha metodologia; Regina Célia Souza
Brito, que além de ter sido uma ótima professora, corrigiu com paciência minha qualificação,
fornecendo grandes contribuições a esta dissertação;
• Assistentes de Campo: Raimundo Santos Oliveira, que me ajudou com prontidão a encontrar
os ninhos de papagaios em Santa Bárbara e emprestou uma e algumas vezes até duas de suas
bicicletas para a realização do trabalho; Danielson Aleixo, pelo auxílio nos monitoramentos
dos papagaios e pela vontade que sempre teve em aprender tudo, que você consiga um dia ser
ornitólogo; Luis Carlos do Nascimento, por ter me guiado pelos mangues da Prainha em
busca de ninhos;
• Tatyana Pinheiro Magalhães, que ofereceu a casa de seus avós em Santa Bárbara em um
momento crítico, quando não tínhamos onde ficar; E a seus avós: dona Luzia Azevedo
Repolho e seu Júlio Oliveira Repolho, que nos acolheram em sua casa como se fossemos da
família;
• Seu Jorge Araújo de Lima, que construiu a casa na Prainha, nos dando assim mais
tranqüilidade durante as viagens e que teve a paciência de me acompanhar durante uma das
viagens de campo, quando ninguém podia ir comigo;
• Á dona Ana Celia Emin Heitor, seu Sebastião Heitor e seus familiares, por terem deixado
sua casa se tornar parada obrigatória durante as viagens para a Prainha, nos fornecendo
lanches deliciosos;
v
• Pedro da Costa Lima, o “seu Pedrinho”, que dirigiu pra gente nas maiorias das viagens;
• Minha avó: Maria Zeneide Gomes Negrão, que nas horas em que mais precisei estava
sempre pronta para me ajudar;
• Aos meus irmãos: Ruderico Gomes de Moura Júnior e Zeneide Negrão de Moura, que
apesar da distância me deram muito apoio durante todo o tempo que fiquei em Belém; e
Luana Negrão de Moura, que durante o tempo em que permaneceu em Belém me
acompanhou em vários momentos críticos e foi muito amiga quando eu precisei.
• Aos meus pais: Maria do P. Socorro Negrão de Moura e Ruderico Gomes de Moura,
obrigada por fazerem parte da minha vida e me darem tantos momentos felizes e por todos os
“paitrocínios” necessários durante o mestrado.
• E, a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para este trabalho!
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................. ix
LISTA DE TABELAS............................................................................................................. xii
RESUMO.................................................................................................................................. xiii
ABSTRACT............................................................................................................................. xiv
1. INTRODUÇÃO GERAL................................................................................................. 1
1.1. OS PSITACÍDEOS........................................................................................................ 1
CAPÍTULO I - MONITORAMENTO DE PAPAGAIOS E SEU CICLO
NICTEMERAL........................................................................................................................
5
1.1. COMO ESTIMAR A ABUNDÂNCIA DE PSITACÍDEOS?...................................... 5
1.2. A INFLUÊNCIA DO CICLO NICTEMERAL NA VIDA DOS ANIMAIS................ 6
1.2.1. Ritmicidade biológica em aves.......................................................................... 8
1.3. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 9
1.4. OBJETIVO GERAL...................................................................................................... 10
1.5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................ 10
2. METODOLOGIA................................................................................................................ 11
2.1. POPULAÇÃO ESTUDADA......................................................................................... 11
2.1.1. Classificação da espécie..................................................................................... 11
2.1.2. Características gerais........................................................................................ 12
2.1.3. Distribuição geográfica..................................................................................... 13
2.2. ÁREA DE ESTUDO..................................................................................................... 15
2.3. PROCEDIMENTO: OBSERVAÇÕES E CONTAGEM DE INDIVÍDUOS NO
DORMITÓRIO............................................................................................................ 18
3. RESULTADOS.................................................................................................................... 22
3.1. CENSO E MONITORAMENTO DE PAPAGAIOS NO DORMITÓRIO................... 22
3.1.1. Validação das contagens.................................................................................... 22
3.1.2. Padrões de comportamento de vôo.................................................................. 22
3.1.3. Flutuação sazonal do número de indivíduos................................................... 24
vii
3.1.4. Flutuação sazonal do número de indivíduos sozinhos, casais, grupos de
três ou mais indivíduos..................................................................................... 26
3.1.5. Verificação da coesão dos grupos sazonais...................................................... 27
3.1.6. Influência de fatores abióticos na eficiência das contagens......................... 30
3.2. CICLOS NICTEMERAIS............................................................................................. 31
4. DISCUSSÃO........................................................................................................................ 45
4.1. CENSO E MONITORAMENTO DE PAPAGAIOS NO DORMITÓRIO................... 45
4.1.1. Método de contagens......................................................................................... 45
4.1.2. Padrões de comportamento de vôo.................................................................. 45
4.1.3. Flutuação sazonal do número de indivíduos, fatores climatológicos e
período reprodutivo.......................................................................................... 46
4.2. CICLOS NICTEMERAIS............................................................................................. 49
5. CONCLUSÕES.................................................................................................................... 52
CAPÍTULO II - COMUNICAÇÃO VOCAL....................................................................... 54
1.1. ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO SONORA............................................................ 54
1.2. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 57
1.3. OBJETIVO GERAL...................................................................................................... 58
1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................ 58
2. METODOLOGIA................................................................................................................ 59
2.1. POPULAÇÃO ESTUDADA......................................................................................... 59
2.2. ÁREAS DE ESTUDO................................................................................................... 61
2.2.1. Santa Bárbara do Pará...................................................................................... 61
2.2.2. Baía de Marapanim........................................................................................... 63
2.3. PROCEDIMENTO....................................................................................................... 65
2.3.1. Gravações das vocalizações e observações de comportamento..................... 65
2.3.1.1. Santa Bárbara................................................................................................. 66
2.3.1.2. Vila de Prainha............................................................................................... 67
2.3.2. Análise bioacústica............................................................................................. 68
2.3.3. Experimento de play-back................................................................................. 72
2.3.4. Análises estatísticas............................................................................................ 73
3. RESULTADOS.................................................................................................................... 74
3.1. REPERTÓRIO VOCAL DA POPULAÇÃO DE SANTA BÁRBARA....................... 74
viii
3.2. GRITOS DE CONTATO EMITIDOS EM VÔO.......................................................... 85
3.2.1. Chamados individuais....................................................................................... 85
3.2.2. Dialetos populacionais....................................................................................... 87
4. DISCUSSÃO........................................................................................................................ 89
4.1. REPERTÓRIO VOCAL................................................................................................ 89
4.1.1. Chamado de contato em vôo e reconhecimento individual............................ 90
4.1.2. Chamado de contato pousado........................................................................... 92
4.1.3. Chamados hostis................................................................................................ 93
4.2. CHAMADOS INDIVIDUAIS E DIALETOS POPULACIONAIS.............................. 96
5. CONCLUSÕES.................................................................................................................... 99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 101
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Papagaio-do-Mangue Amazona amazonica..................................................... 12
Figura 1.2 - Distribuição geográfica de Amazona amazonica............................................. 14
Figura 1.3 - Mapa de localização da Ilha dos Papagaios, município de Belém, PA........... 15
Figura 1.4 - Ilha dos Papagaios........................................................................................... 16
Figura 1.5 - Ilha dos papagaios com ponto de observação.................................................. 18
Figura 1.6 - Gráfico demonstrativo da porcentagem de indivíduos sozinhos, casais, trios,
grupos de quatro e de cinco indivíduos contados durante as visitas................................... 23
Figura 1.7 - Gráfico demonstrativo do valor da média do número de papagaios por mês
com os números de visitas (N) inseridos em suas respectivas colunas...............................
25
Figura 1.8 - Gráfico demonstrativo dos valores da média do número de indivíduos
sozinhos e casais contados em todas as visitas.................................................................... 26
Figura 1.9 - Gráfico demonstrativo dos valores da média do número de trios, grupos de
quatro e de cinco indivíduos contados em todas as visitas.................................................. 27
Figura 1.10 - Dendrograma para o período de estudo, utilizando como parâmetros o
número total de indivíduos contados por visita e os seguintes agrupamentos: indivíduos
sozinhos, casais, trios, grupos de quatro e de cinco indivíduos........................................... 28
Figura 1.11 - Porcentagem do valor da média de chegada dos papagaios do dormitório
em intervalos de minuto em minuto antes e depois do ocaso.............................................. 32
Figura 1.12 - Número de papagaios avistados em relação ao ocaso................................... 33
Figura 1.13 - Papagaios chegando ao dormitório............................................................... 34
Figura 1.14 - Correlação entre a porcentagem de papagaios que chega ao dormitório
depois do ocaso e a temperatura.......................................................................................... 36
Figura 1.15 - Correlação entre a porcentagem de papagaios que chega ao dormitório
depois do ocaso e a umidade...............................................................................................
37
Figura 1.16 - Média percentual de indivíduos que chega ao dormitório considerando-se
a luminosidade..................................................................................................................... 38
Figura 1.17 - Quantidade média de luz durante o ocaso em relação aos fatores abióticos,
nebulosidade e pluviosidade................................................................................................ 39
x
Figura 1.18 - Porcentagem do valor da média dos papagaios que saem do dormitório em
intervalos de minuto em minuto antes e depois da aurora................................................... 40
Figura 1.19 - Número de papagaios avistados em relação à aurora.................................... 41
Figura 1.20 - Papagaios ao amanhecer no dormitório......................................................... 42
Figura 1.21 - Média percentual de indivíduos que sai do dormitório considerando-se a
luminosidade........................................................................................................................ 44
Figura 1.22 - Quantidade média de luz durante a aurora em relação aos fatores
abióticos, nebulosidade e pluviosidade............................................................................... 44
Figura 2.1 - Ninhos de papagaios em pupunheiras.............................................................. 59
Figura 2.2 - Manguezal da Baía de Marapanim onde estão localizados os ninhos da
espécie Amazona amazonica...............................................................................................
60
Figura 2.3 - Árvore da espécie Avicennia germinans com cavidade................................... 60
Figura 2.4 - Imagem de satélite do Município de Santa Bárbara com a localização dos
ninhos de papagaios.............................................................................................................61
Figura 2.5 - Imagem de Satélite da Baía de Marapanim com o ponto da Vila de Prainha,
onde as gravações das vocalizações foram realizadas......................................................... 63
Figura 2.6 – Pontos de observações dos papagaios em Santa Bárbara: A – área fechada;
B – área aberta..................................................................................................................... 66
Figura 2.7 - Exemplo de sonograma com duas notas diferentes......................................... 68
Figura 2.8. Exemplo de sonograma com duas frases iguais, cada uma constituída de três
notas..................................................................................................................................... 69
Figura 2.9. Sonograma de parte do canto do Rouxinol Icterus croconotus, um exemplo
de som puro......................................................................................................................... 70
Figura 2.10. Sonogramas demonstrativos de como foram feitas as medições de
freqüência e duração dos chamados de contato de vôo nos indivíduos da população de
Santa Bárbara (A) e nos indivíduos da população do estuário de Marapanim (B)............. 71
Figura 2.11. Sonograma de chamado de contato em vôo.................................................... 75
Figura 2.12 - Sonograma de chamado de contato pousado do tipo I................................... 76
Figura 2.13. Sonograma de chamado de contato pousado do tipo II: Frase 1..................... 77
Figura 2.14. Frase 2............................................................................................................. 77
Figura 2.15. Frase 3............................................................................................................. 77
xi
Figura 2.16. Frase 4............................................................................................................. 77
Figura 2.17. Frase 5............................................................................................................. 78
Figura 2.18. Frase 6............................................................................................................. 78
Figura 2.19. Frase 7............................................................................................................. 78
Figura 2.20. Frase 8............................................................................................................. 78
Figura 2.21. Frase 9............................................................................................................. 78
Figura 2.22. Frase 10...........................................................................................................79
Figura 2.23. Frase 11...........................................................................................................79
Figura 2.24. Frase 12...........................................................................................................79
Figura. 2.25. Sonograma de chamado de alarme em vôo do tipo I..................................... 81
Figura. 2.26. Sonograma de chamado de alarme em vôo do tipo II.................................... 81
Figura. 2.27. Sonograma de chamado de alarme em pousado............................................ 82
Figura. 2.28. Sonograma de chamado agonístico................................................................ 83
Figura. 2.29. Sonograma de afugentamento emitida por filhotes de uma semana, frase
1........................................................................................................................................... 83
Figura. 2.30. Sonograma de afugentamento emitida por filhotes de uma semana, frase
2........................................................................................................................................... 84
Figura. 2.31. Sonograma de afugentamento emitida por filhotes com mais de 3 semanas
e por uma fêmea que estava chocando os ovos e com um filhote....................................... 84
Figura 2.32. Sonogramas dos indivíduos de cada ninho..................................................... 86
Figura 2.33. Sonogramas de chamados de contato em vôo: A – indivíduo de Santa
Bárbara; B – indivíduo de Marapanim................................................................................ 87
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1 - Codificação dos dados referentes aos fatores abióticos.................................. 19
Tabela 1.2 - Comparação do número total de papagaios, trios, grupos de quatro e de
cinco indivíduos entre os agrupamentos formados na Análise de Conglomerados............ 29
Tabela 1.3 - Estatística descritiva dos horários referentes às atividades da espécie
Amazona amazonica no dormitório durante a tarde............................................................ 34
Tabela 1.4 - Referência de luminosidade a tarde em relação aos valores em lux............... 38
Tabela 1.5 - Estatística descritiva dos horários referentes às atividades da espécie
Amazona amazonica no dormitório durante a manhã......................................................... 42
Tabela 1.6 - Referência de luminosidade de manhã em relação aos valores em lux........... 43
Tabela 2.1 – Número de vocalizações de contato de vôo gravadas e número de
gravações analisadas............................................................................................................69
Tabela 2.2 – Comparação entre os chamados de contato em vôo dos indivíduos da
população de Santa Bárbara, levando em consideração os parâmetros freqüência e
tempo...................................................................................................................................
Anexo
2
Tabela 2.3 – Médias e desvios-padrão das freqüências (Hz) e durações (ms) das notas A
e B emitidas pelos indivíduos das duas populações............................................................ 88
xiii
RESUMO
Neste estudo foi realizado o censo de uma população de Papagaio-do-mangue Amazona
amazonica em um dormitório, a Ilha dos Papagaios, nos arredores de Belém, PA. Através das
contagens verificamos que o número total de papagaios, indivíduos sozinhos, casais, trios,
grupos de quatro e de cinco indivíduos apresentaram uma flutuação, indicando sazonalidade
reprodutiva, que influencia no número de indivíduos através da diminuição de sua
participação nos bandos que dormem na ilha durante seu período reprodutivo, já que a espécie
fornece cuidados parentais aos filhotes. Em relação ao ciclo nictemeral, avaliamos a
influência de fatores abióticos nos horários de deslocamentos dos indivíduos dessa população
no dormitório. Estabelecemos uma forma de registrar a freqüência de sua chegada ou saída de
minuto em minuto e relacionamos os dados obtidos com o horário do ocaso e da aurora.
Verificamos que a porcentagem média de indivíduos que chega e sai é significativamente
maior depois do ocaso e antes da aurora, respectivamente, e que as condições climatológicas
adversas influenciam significativamente na movimentação diária dos papagaios, mascarando
o real posicionamento do Sol, adiantando ou atrasando sua chegada e saída do dormitório.
Embora os Papagaios-do-mangue sejam aves diurnas, eles se deslocam em horários de pouca
luminosidade, e o fotoperiodismo é o sincronizador de suas atividades. Quanto sua
comunicação sonora, registramos 9 vocalizações em seu repertório vocal durante o período
reprodutivo, relacionadas a três categorias comportamentais diferentes. Verificamos ainda
diferenças inter-individuais em seu chamado de contato de vôo e dialetos vocais entre as
populações estudadas.
Palavras-chave: Comportamento animal, ciclo nictemeral, fatores climatológicos,
comunicação sonora.
xiv
ABSTRACT
In this study we carried through the Orange-winged-parrot Amazona amazonica census in a
roosting site, the Parrots Island, located next to Belém, Pará. With the countings we verify
that the total number of parrots, the number of isolated individuals, couples, groups of three,
four and five individuals presented a fluctuation, indicating reproductive seasonality, that
influences in the number of individuals with the reduction of its participation in the groups
that sleep in the island during its reproductive period, since the species supplies parental cares
to the offsprings. In relation to the nychtemeral cycle, we evaluate the influence of abiotic
factors in the schedules of displacements of the individuals of this population in the roosting
site. We establish a form to register the frequency of its arrival or exit from minute to minute
and relate the data gotten with the sunset and sunrise schedules. We verify that the percentage
average of individuals that arrives and leaves is significantly greater after sunset and before
sunrise, respectively, and that adverse weathers conditions influence significantly in the daily
movement of the parrots, masking the real positioning of the Sun, advancing or delaying its
arrival and exit of the roosting site. Although the Orange-winged-parrot is a diurnal avian,
they dislocate in schedules of low luminosity, being the photoperiodism a entrainment agent
of its activities. About its acoustic communication, it presents 9 vocalizations in the vocal
repertoire during the reproductive period, related to three different behavior categories.
Moreover, it exists an individual difference in its flight contact call and populational dialects
between the studied populations.
Key-words: Animal behavior, nychtemeral cycle, weather factors, acoustic communication.
1
1. INTRODUÇÃO GERAL
1.1. OS PSITACÍDEOS
Em seus primeiros mapas no século XVI o Brasil foi designado como terra dos
papagaios “Brasilia sive terra papagallorum”, o que já evidenciava sua atual posição de país
com maior diversidade de psitacídeos do mundo, abrigando 72 espécies reconhecidas (Sick,
1997). Desse total, a floresta amazônica brasileira apresenta 52 espécies, principalmente do
gênero amazona, com três espécies em extinção (Sick, 1997; Galetti e cols., 2002).
Todos os representantes da família Psittacidae (papagaios, araras, periquitos e afins)
possuem o bico forte, arredondado, e com a parte superior curvada abruptamente para baixo.
Os pés são zigodáctilos, ou seja, têm dois dedos voltados para frente e dois para trás.
Apresentam um colorido variado e brilhante, predominando o verde para os representantes
brasileiros, podendo haver partes vermelhas, amarelas ou azuis nas asas e cauda (Sick, 1997).
São aves que vivem em bandos durante pelo menos parte do ano (Juniper & Parr,
1998). Vivem em grupos pequenos, aos pares ou em bandos de até centenas de indivíduos
(Rocha e cols., 1988). O tamanho e a composição dos bandos de Amazona variam ao longo do
ano em resposta a fatores como o ciclo reprodutivo ou a disponibilidade de recursos
alimentares (Pizo, 2002).
Para dormir, os psitacídeos se reúnem em bandos e na Amazônia, preferem pernoitar
em pequenas matas de galeria separadas da mata contínua onde permanecem durante o dia.
Procuram ilhas, inundadas durante a cheia, no meio dos grandes rios, pousando nas copas das
árvores (Sick, 1997).
Indivíduos que utilizam dormitórios coletivos podem ser beneficiados pela diminuição
dos riscos de predação (Lazarus, 1972). Os indivíduos dedicam menos tempo com o
2
comportamento de vigilância conforme o tamanho do bando aumenta (Westcott & Cockhurn,
1988). Quanto mais olhos são capazes de detectar predadores, maior a probabilidade de
escapar (Pulliam & Caraco, 1984). Se a vítima é alertada precocemente durante um ataque, a
chance de sucesso do predador é pequena. Se cada ave no bando, ocasionalmente, olha para
cima à espreita de um predador, quanto maior o bando, maior é a chance de que uma ave
esteja alerta quando o predador surge do horizonte. Assim que uma ave levanta vôo, as
demais a seguem imediatamente. Além disso, vivendo em grupos, as aves diluem o impacto
de um ataque bem sucedido porque há uma boa chance de que outro indivíduo seja a vítima
(Krebs & Davies, 1996).
Segundo Ward e Zahavi (1973), os dormitórios também funcionam como “centros de
informação”, nos quais os indivíduos encontram bons lugares de alimentação seguindo outros.
A Idéia é que as aves mal-sucedidas retornam para os dormitórios e esperam por uma chance
de seguir outras que tiverem maior sucesso na última viagem de alimentação. Aves mal-
sucedidas devem reconhecer as bem sucedidas, porém, como essas aves reconhecem que
indivíduos devem seguir, ainda permanece obscuro.
A maioria das espécies desta família é monogâmica, vivendo rigorosamente aos casais
que permanecem unidos por toda a vida. Entre os papagaios do gênero Amazona, macho e
fêmea voam tão juntos um do outro que o casal parece ser uma grande e fabulosa ave de
quatro asas, o que se observa inclusive quando estão em bando (Sick, 1997; Guedes & Seixas,
2002; Juniper & Parr, 1998; Snyder e cols., 1987).
Não apresentam dimorfismo sexual, se reproduzem geralmente no segundo semestre
do ano e nidificam em cavidades, aproveitando ocos de árvores, paredões rochosos e
cupinzeiros. Podem aproveitar ocos pré-existentes, derivados da decomposição natural, ou
mesmo escavá-los (Sick, 1997; Guedes, 1993; Guedes & Seixas, 2002).
3
Os comportamentos de corte são bastante peculiares, envolvendo exibições de
plumagem, vocalizações, regurgitações de alimento e vôos sobre o território (Lanning &
Shiflett, 1983; Lanning, 1991; Sick, 1997; Koening, 2001). A reprodução de psitacídeos é
caracterizada por um longo período de incubação, a qual é feita exclusivamente pelas fêmeas,
um alto grau de assincronia na eclosão dos ovos, filhotes muito altriciais e com crescimento
lento. Essas características podem requerer cooperação entre parceiros e pode contribuir para
o alto grau de coesão do casal (Lanning & Shiflett, 1983; Gnam, 1991; Lanning, 1991;
Waltman & Beissinger, 1992; Koening, 2001). Assim, as fêmeas dependem dos machos para
alimentá-las e a seus filhotes por períodos prolongados (Lack, 1940; Gnam, 1991).
Nas regiões tropicais, a maioria das populações de psitacídeos está em grande perigo
de extinção ou diminuindo devido a uma combinação de caça, perda de habitat, coleta para o
comércio ilegal de animais silvestres em tráficos internacionais, carência de uma política
educacional voltada para a educação ambiental, fiscalização efetiva e também ausência de
recursos destinados à investigação e estudos para a conservação do ambiente como um todo
(Sick, 1997; Juniper & Parr, 1998; Wright e cols., 2001). O efeito desses fatores é agravado
pela biologia reprodutiva dos psitacídeos, que é caracterizada geralmente por um pequeno
tamanho de ninhada (com raras exceções), baixa sobrevivência de filhotes, idade tardia da
primeira reprodução e locais de ninhos restritos (Saunders, 1986; Snyder e cols., 1987; Gnam
& Rockwell, 1991; Munn, 1992; Lindsey e cols., 1994). A caça furtiva pode ter efeitos
adicionais na disponibilidade de locais de ninhos pelo fato dos caçadores cortarem os troncos
das árvores para extrair os filhotes da cavidade do ninho (Enkerlin-Hoeflich, 1995). É quase
consenso entre os biólogos e gerentes de populações silvestres que são necessárias
informações sobre a biologia reprodutiva, para fundamentar estratégias de conservação de
populações silvestres (Cooper & Afton, 1981).
4
Em geral, os psitacídeos são aves carismáticas, com plumagem colorida, de fácil
adaptação em cativeiro, boa interação com o homem e facilidade de imitar outros sons como a
voz humana ou cantos com perfeição. E, é justamente por estas características que são um dos
grupos de aves mais ameaçados do mundo (Sick, 1997).
Segundo Thomsen e Mulliken (1992) não se tem uma estatística oficial correta de
quantas aves são retiradas da natureza para o comércio, uma vez que esta prática é ilegal. Os
psitacídeos, com predominância de papagaios são os mais comercializados no país e no
exterior.
Como programas de conservação de reprodução em cativeiro são caros, dependem de
pessoas especializadas, e comumente ocorrem apenas em condições limitadas, a maioria dos
conservacionistas está lutando para uma redução do tráfico de psitacídeos e para proteger o
hábitat natural (Derrickson & Snyder, 1992), além de promoverem pesquisas para
responderem questões sobre o comportamento e ecologia desse grupo, que são pontos
fundamentais para a formulação de teorias ecológicas bem como para a conservação
(Beissinger & Snyder, 1992).
5
CAPÍTULO I – MONITORAMENTO DE PAPAGAIOS E SEU CICLO
NICTEMERAL
1.1. COMO ESTIMAR A ABUNDÂNCIA DE PSITACÍDEOS?
É muito importante que se faça uma estimativa do tamanho das populações para,
através das variações da abundância em escalas temporal e espacial, identificar processos
demográficos e interações ecológicas (Nunes & Betini, 2002).
Estimativas de abundância de psitacídeos são particularmente importantes, porque são
aves bastante sensíveis a processos de alteração ambiental (Nunes & Betini, 2002). É a
família de aves com o maior número de espécies ameaçadas de extinção (Colar & Juniper,
1992); possuem alta longevidade (Low, 1994) e apenas o registro pontual de grupos dessas
espécies em um local pode dar uma falsa impressão de estabilidade, mascarando populações
ameaçadas de extinção que não estão se reproduzindo (Sick, 1997). O monitoramento, ou
seja, contagem ao longo do tempo é a única ferramenta eficiente para distinguirmos entre
flutuações naturais e “antrópicas”, fato essencial para que medidas de conservação sejam
tomadas de maneira correta (Bibby e cols., 1992).
Existem diferentes métodos de estimativa de tamanhos populacionais de aves. No caso
de psitacídeos, a maioria dos métodos se baseia em contagens de indivíduos da espécie-alvo a
partir de contatos visuais e/ou auditivos. Outras técnicas aplicadas para outros grupos de aves,
como marcação e recaptura (Munn, 1991), são pouco utilizadas em levantamentos de
psitacídeos, por serem aves de dossel, não territorialistas e de difícil captura (Colar & Juniper,
1992).
Muitas espécies de psitacídeos têm o comportamento de pernoitar em área comum
(Juniper & Parr, 1998). Esses indivíduos costumam reunir-se nos períodos após o nascer do
sol e antes do crepúsculo, realizando vôos ao redor da área em comum, acompanhados de
6
vocalizações conspícuas (Chapman e cols., 1989). Este momento é ideal para a realização de
contagens para se obter um número mínimo absoluto de indivíduos da população. Porém,
esses bandos podem ser compostos de alguns pares ou centenas de indivíduos (Pizo e cols.,
1997) e quando estão em vôo, fazem movimentos que dificultam as contagens.
No caso de grandes grupos, o ideal é realizar contagens rápidas usando múltiplos de 2,
3, 4 ou 5, ou dividir o bando em porções do mesmo tamanho, contar o número de indivíduos
de algumas partes e estimar o restante. Repetições dessas contagens podem diminuir os erros
e fornecer uma boa média do número mínimo-absoluto de indivíduos de uma população
(Nunes & Betini, 2002).
Psitacídeos costumam ser mais registrados no começo da manhã e final da tarde em
relação aos outros horários do dia (Pizo e cols., 1997). Para métodos de amostragem, sugere-
se que as contagens durante o meio do dia (das 10h30 às 14h30) sejam evitadas, pois a
atividade dos psitacídeos diminui bruscamente (Marsden, 1999). No caso de contagens de
dormitórios, as contagens devem ser realizadas nos períodos de maior atividade das aves, um
curto estudo prévio no local pode indicar os melhores horários para a realização do trabalho.
Flutuações na abundância de psitacídeos são comuns e geralmente refletem processos de
dinâmica populacional, como períodos reprodutivos das espécies (Wiens, 1989).
1.2. A INFLUÊNCIA DO CICLO NICTEMERAL NA VIDA DOS ANIMAIS
A organização temporal de um ser vivo pode ser expressa como reação a estímulos
ambientais, que apresentam efeitos importantes sobre a expressão dos ritmos endógenos,
promovendo ajustes através de mecanismos biológicos específicos e dentro de limites bem
definidos para cada espécie (Menna-Barreto, 2003; Rotenberg e cols., 2003).
7
Ritmos, tais como ciclos de atividade e repouso, são evidentes na maioria dos seres
vivos. Assim, se o ambiente oscila uma espécie para se adaptar a ele precisa oscilar também e
a adaptação temporal consiste na harmonização entre a ritmicidade biológica e os ciclos
ambientais (Marques e cols., 2003). Tais ciclos de atividade e repouso são referidos como
ciclos nictemerais (Vieira, 2004). A periodicidade desses ritmos biológicos equivale
aproximadamente aos ciclos diários de claro/escuro (Forattini e cols., 1981).
Os ritmos biológicos estão presentes em vários níveis de organização e complexidade
de seres vivos em geral (de cianobactérias até os mamíferos), o que sugere que eles devem
fornecer vantagens adaptativas para os mesmos, além de propor uma incorporação muito
antiga dessa dimensão do ponto de vista da história de evolução da vida (Hall & Rosbash,
1993; Menaker e cols., 1997; Sheeba e cols., 1999; Menna-barreto, 2003; Paranjpe & Sharma,
2005).
Do ponto de vista físico, a alternância claro/escuro é a forma básica de marcação do
tempo. Esta alternância pode variar de acordo com as estações do ano, de tal forma que a
duração do fotoperíodo é maior no verão do que no inverno. Para que os seres vivos possam
acompanhar estas variações há necessidade de um relógio endógeno, que marque o tempo de
forma independente de qualquer variação ambiental; há necessidade de sensores que
percebam a variação temporal e de sistemas neurais que informem a todo o organismo o
estado de iluminação ambiental (Markus e cols., 2003).
Relógios endógenos aumentam a habilidade inata de organismos sobreviverem às
constantes modificações ambientais possibilitando-os antecipar eficientemente eventos
periódicos tais como disponibilidade de alimento, luz e parceiros. Um indivíduo que é
simplesmente dirigido por mudanças externas é desvantajoso em relação a um que é regulado
por um relógio endógeno flexível e antecipatório de eventos periódicos (Sheeba e cols., 1999;
8
Roenneberg & Merrow, 2002; Brandstatter, 2003; Markus e cols., 2003; Menna-Barreto,
2003; Paranjpe & Sharma, 2005).
1.2.1. Ritmicidade biológica em aves
Os ritmos nictemerais são fundamentais para a organização temporal de
comportamento e fisiologia das aves. Seus sistemas de marca-passo são complexos quando
comparados com os dos mamíferos, podendo estar relacionados com a complexidade e
diversidade dos vários estilos de vida que as aves apresentam em uma variedade de ambientes
diferentes (Gwinner & Brandstätter, 2001). As aves percebem a informação sobre o ambiente
fótico por fotorreceptores da retina, da glândula pineal e do hipotálamo (Cassone & Menaker,
1984). Todos esses três componentes podem contribuir na regulação da ritmicidade
fisiológica e comportamental. A glândula pineal, produzindo ritmicamente melatonina, dirige
a regra central no sistema circadiano de aves (Brandstätter, 2003). O oscilador hipotalâmico
possivelmente age produzindo sinais neurais, e a retina ou produz melatonina periodicamente
ou produz sinais neurais (Gwinner & Brandstätter, 2001).
A massa corpórea representa uma limitação ao vôo das aves, desta forma, durante a
estação não reprodutiva, há uma regressão de suas gônadas, sendo capazes de alocar recursos
a outras atividades sazonais como muda ou migração (Hildebrand, 1995; Dawson e cols.,
2001). Enquanto essa inativação do sistema reprodutivo durante a estação não reprodutiva
garante benefícios energéticos, também impõe uma restrição temporal porque a reativação do
sistema reprodutivo requer semanas ou, até mesmo, meses. Para neutralizar essa restrição
temporal, animais que vivem em hábitats sazonalmente previsíveis preparam-se para a
próxima estação reprodutiva usando o fotoperíodo como um sinal confiável para seguir
condições favoráveis (Dawson e cols., 2001). Apesar da mudança no fotoperiodismo nos
9
trópicos ser mais branda, as aves tropicais também são fotoperiódicas (Gwinner &
Scheuerlein, 1999).
Através das pistas fornecidas pelo fotoperíodo, as aves restringirão sua reprodução aos
momentos em que as condições ambientais estiverem favoráveis, porque elas têm altas taxas
metabólicas e necessidades de dieta especializada para a manutenção dos filhotes (Dawson e
cols., 2001). Portanto, a disponibilidade de alimento no momento em que o ninhego deve ser
alimentado constitui um fator significativo para sua reprodução (Scheuerlein & Gwinner,
2002). Nos trópicos, a maioria das espécies de aves estudadas tende a ter uma estação
reprodutiva usualmente relacionada com o padrão anual de chuva, quando há alimentos em
abundância (Hau e cols., 2004).
1.3. JUSTIFICATIVA
Observar a matéria viva em função do tempo significa um avanço na compreensão de
fenômenos biológicos e é um aspecto que deve ser levado em consideração (Moreno e cols.,
2003). Porém, a maioria de estudos em cronobiologia ocorre em laboratório, onde se pode
controlar as condições ambientais (Rotenberg e cols., 2003), poucos estudos são realizados na
natureza.
Os comportamentos de dinâmica temporal, como os deslocamentos de grupos de
psitacídeos relacionados ao ciclo claro/escuro, têm sido estudados por alguns autores (Rocha e
cols., 1988; Harms & Eberhard, 2003; Cougil & Marsden, 2004; Costa, 2006). Todavia, os
fatores que influenciam este comportamento ainda não são bem conhecidos (Sick, 1997) e
nenhum estudo nesse sentido foi realizado com a espécie Amazona amazonica.
Além da importância do estudo da dinâmica temporal na vida desses animais, como os
psitacídeos estão entre as aves mais ameaçadas do mundo, é imprescindível para o
10
conhecimento do status da espécie que se faça uma estimativa razoável do número de
indivíduos na população.
1.4. OBJETIVO GERAL
Realizar a estimativa populacional da espécie Amazona amazonica e verificar sua
flutuação anual, bem como sua dinâmica de deslocamentos em relação ao ciclo nictemeral em
um dormitório, a Ilha dos Papagaios, na orla de Belém-PA.
1.5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Contabilizar e descrever os agrupamentos sociais típicos, utilizados pela
espécie durante os descolamentos do e para o dormitório;
Descrever a flutuação populacional ao longo do tempo do estudo;
Verificar se os fatores abióticos adversos não prejudicaram as contagens;
Registrar e descrever os horários de chegada e saída dos indivíduos e
correlacionar este padrão com o fotoperiodismo e fatores abióticos.
11
2. METODOLOGIA
2.1. POPULAÇÃO ESTUDADA
A população alvo foi a da espécie Amazona amazonica, popularmente conhecida como
Papagaio-do-mangue, que utiliza uma ilha nos arredores de Belém como dormitório.
Segundo o senhor Paulo Feio, dono de uma agência de turismo e que explora a região, esta
população já freqüenta a ilha, conhecida como Ilha dos Papagaios, há pelo menos 20 anos.
Assim, todos os dias os papagaios chegam a este dormitório no final da tarde, onde passam a
noite, e ao amanhecer saem em busca de locais de alimentação.
2.1.1. Classificação da espécie
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Aves
Ordem Psittaciformes
Família: Psittacidae
Gênero: Amazona (Lesson, 1830)
Espécie: Amazona amazonica (Linnaeus, 1766)
12
2.1.2. Características gerais
O Papagaio-do-mangue é uma espécie gregária que vive em grandes bandos (Sick,
1997). Sua plumagem é predominantemente verde, sendo mais pálido nas partes inferiores.
Apresenta as partes frontais das bochechas e da coroa amarelas, com a parte posterior da
bochecha verde. A região dos olhos é azul-violeta (Sick, 1997; Juniper & Parr, 1998).
Uma das características principais dessa espécie é a presença da coloração laranja em
parte da asa, ao invés de vermelha, como no caso do Papagaio verdadeiro Amazona aestiva
(Sick, 1997). Possui um comprimento de 31 a 34 cm, não apresenta dimorfismo sexual, põem
3 ovos que eclodem após 29 dias de incubação (Sick, 1997). Entretanto, em outros estudos já
observamos três ninhos em Santa Bárbara do Pará com 4 ovos. Vivem de 50 a 60 anos (Sick,
1997; Juniper & Parr, 1998).
Figura 1.1 - Papagaio-do-Mangue Amazona amazonica.
13
Prefere como habitat áreas arborizadas ao redor de rios e lagos. Durante o dia é visto
geralmente em pares que voam sobre as copas de árvores altas, onde forrageiam frutas e
sementes. Ao anoitecer voa para poleiros comunitários, com até mais de seiscentos pássaros
juntos. Sua dieta natural constitui-se de sementes, frutas, baga, flores e nozes (Sick, 1997).
2.1.3. Distribuição geográfica
Esta espécie distribui-se amplamente na América do Sul, principalmente no leste
dos Andes, da Colômbia até o sudeste do Brasil. Ocorre no Vale de Magdalena e na região
que vai do Rio Sinu até a região de Santa Marta ao norte e ao longo do leste e sul da
Colômbia, pelo leste do Equador, leste do Peru e Bolívia (Beni, Cochabamba e Santa
Cruz). É encontrado por toda a Venezuela, exceto em Zulia e Mérida, e é difundido nas
Guianas, Suriname e em Trinidad e Tobago. No Brasil a espécie é encontrada na Bacia
Amazônica, Amazonas, Mato Grosso (sendo ausente no sudoeste do pantanal), Pará,
Goiás, Maranhão, Piauí, Bahia, Espírito Santo, norte do Rio de Janeiro, noroeste de São
Paulo e norte do Paraná. (Sibley & Monroe, 1990; Sick, 1986, 1997; Juniper & Parr,
1998).
14
Figura 1.2 - Distribuição geográfica de Amazona amazonica (adaptado de Juniper & Parr, 1998; Sibley
& Monroe, 1990).
15
2.2. ÁREA DE ESTUDO
Município de Belém do Pará
Figura 1.3 - Mapa de localização da Ilha dos Papagaios, município de Belém, PA.
A Ilha dos Papagaios é conhecida por ser o dormitório de uma população significativa
de Papagaio-do-mangue Amazona amazonica, espécie comum na região. Está localizada no
Rio Guamá ao sul de Belém-PA, região norte do país, entre as coordenadas (obtidas no GPS
16
Garmin e-trex) 01º31’37’’S; 48º30’22’’W. Belém está ao norte da ilha, a leste está a Ilha do
Maracujá, a oeste a Ilha das Onças e ao sul a Ilha de Arapari (informação obtida na carta
náutica pelo marinheiro Paulo Feio).
A Ilha dos Papagaios apresenta uma área de aproximadamente 73629 m² e um
perímetro de 1777 m (áreas calculadas no programa Google Earth, versão 4.0.2722, 2007
Earth-Software.com), oito casas, sendo a população local estimada em 36 habitantes (inf.
pess. Dionísio Pimentel Neto).
Figura 1.4 - Ilha dos Papagaios.
Por estar situada no Rio Guamá e constituir nível topográfico mais baixo (várzea), a
ilha está sujeita a inundações periódicas, devido à influência das marés (Novaes & Lima,
1998).
17
O clima, conforme a classificação de Köppen, corresponde ao tipo quente-úmido
(Tropical úmido). O período chuvoso se inicia em dezembro, atingindo seu pico em março,
terminando em maio, sendo os meses mais chuvosos janeiro, fevereiro e março, onde a média
mensal ultrapassa 400 mm (SECTAM, 1994). Nesse período chega-se até a 28 dias/mês com
precipitação, contra 16 dias/mês para o período menos chuvoso. Não há, porém, estação seca,
o mês menos chuvoso, outubro, tem a média de 86 mm. A precipitação anual é da ordem de
2.800 mm (Penteado, 1968; SECTAM, 1994).
O regime térmico é expresso por valores de temperaturas elevadas em todos os meses
do ano, resultando em uma média anual em torno de 26ºC, com amplitude térmica de
aproximadamente 8ºC, mínima de 23ºC e máxima de 31ºC. A umidade relativa do ar possui
valores médios anuais de 80%, podendo chegar a 90% no período de dezembro a junho
(SECTAM, 1994).
Sua formação vegetal é constituída por floresta ombrófila densa aluvial, (mata de várzea,
manguezal e igapó), com dossel emergente e uniforme em áreas de várzea baixa e
uniforme em áreas de igapó, apresentando ainda, depósitos aluviais arenosos (praias),
recobertos por vegetação escassa, características do estuário da Baía de Guajará (Novaes &
Lima, 1998).
18
2.3. PROCEDIMENTO: OBSERVAÇÕES E CONTAGEM DE INDIVÍDUOS NO
DORMITÓRIO
Em nosso trabalho, realizamos amostragens mensais da população de Amazona
amazonica na Ilha dos Papagaios. Foram feitas 153 observações de campo (84 à tarde e 69
pela manhã) de outubro de 2003 a abril de 2004, de setembro de 2004 ao início de
setembro de 2005 e de agosto a dezembro de 2006. Os papagaios foram amostrados de um
barco a motor de médio porte (12 metros de comprimento), posicionado em um ponto de
observação estratégico (ao leste da ilha), de onde é possível a visualização de sua chegada
e saída (figura 1.5).
Figura 1.5 - Ilha dos papagaios com ponto de observação: o ponto vermelho representa o local onde o
barco permanece durante as contagens e as setas indicam as possíveis direções de chegada e saída dos
papagaios.
Quando possível, realizamos duas visitas semanais e em 2006 foram feitas duas visitas
quinzenais, uma à tarde e a outra pela manhã, em dias consecutivos, entre os horários de
05h00 e 8h00 e 17h00 e 19h00, antes da aurora e antes do ocaso. Anotamos datas, horários de
chegada e saída e a composição dos grupos – isolados, em casais, em trios, em grupos de
quatro e de cinco indivíduos ou em grupos maiores. Os grupos maiores correspondem a um
19
conjunto de indivíduos nos quais as observações não permitiram identificar agregações de
indivíduos nas outras classes.
As contagens foram realizadas de três pontos do barco por pelo menos dois
observadores em cada ponto (um anotando os dados e controlando o cronômetro digital
Mondaine, e o outro dizendo em voz alta o número e composição dos papagaios avistados
com o auxílio de binóculos Nikula 7x50), sempre se assegurando em contar todos os
indivíduos que passavam no campo visual, tomando-se o devido cuidado para não contar
indivíduos já registrados.
Para verificar a existência de uma relação entre a dinâmica de deslocamento dos
papagaios com o fotoperíodo, estabelecemos uma forma de registrar a freqüência de chegada
ou saída destes animais de minuto em minuto, marcando o momento do ocaso e da aurora.
Os dados referentes aos fatores abióticos coletados nos momentos das contagens,
como vento, nebulosidade e chuva, foram representados através de códigos, conforme a tabela
1.1. Coletamos dados metereológicos de temperatura e umidade através de um termômetro
(Thermo hygro da Oregon Scientific) em três momentos: no horário em que chegávamos à
Ilha dos Papagaios, no horário da aurora ou ocaso e no horário em que deixávamos a mesma.
Calculamos, então, o valor da média dos três valores de temperatura e umidade medidos no
momento da visita, dado que utilizamos como referência na análise dos resultados.
Tabela 1.1– Codificação dos dados referentes aos fatores abióticos.
VENTO
NEBULOSIDADE CHUVA
1 = sem 1 = sem
1 = sem
2 = fraco 2 = pouca
2 = com chuva
3 = forte 3 = muita
20
Durante as visitas realizadas de agosto a dezembro de 2006, coletamos dados
referentes à taxa de iluminação e velocidade do vento nos momentos de chegada e saída dos
papagaios com auxílio de um luxímetro LD-201 Minolsystem e de um anemômetro digital
portátil AD-250, equipamentos que não possuíamos durante as visitas anteriores. Com isso
verificamos se existe uma quantidade de luz crítica que estimule o comportamento de
deslocamentos da espécie e se a velocidade do vento teve influência no número de papagaios
que chega ou sai do dormitório. Assim como a temperatura e umidade, a velocidade do vento
também foi medida nos três momentos explicitados anteriormente, e a quantidade de luz foi
medida de minuto em minuto.
Os dados foram analisados com o uso dos programas, Statistica 7.1, Microsoft Excel e
Graphpad Instat 3.0, com os quais produzimos gráficos, verificamos a estatística descritiva,
realizamos testes de significância. Antes da realização destes testes de significância,
verificamos através do teste para normalidade Kolmogorov-Smirnov se os dados coletados
apresentavam distribuição normal. Quando os dados estavam de acordo com a curva normal,
realizamos testes paramétricos (teste t de Student para medidas repetidas, Análise de
Variância (ANOVA), teste HSD de Tukey e o de correlação de Pearson), caso contrário foi
utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney.
No caso da realização de testes relacionados a fatores climatológicos, foi necessário o
pareamento dos dados levando em consideração os que foram produzidos nos mesmos meses,
pois as variações populacionais sazonais são significativas, mascarando a verdadeira
influência de um fator abiótico. Assim, para entender qual a influência, por exemplo da chuva
no fluxo de papagaios que chegam ao dormitório, verificamos as contagens em um dia
chuvoso no mês de abril e um dia de tempo bom neste mesmo mês.
Com o intuito de verificar a existência de grupamentos coesos que explicassem as
diferenças populacionais sazonais, produzimos um dendrograma, que é a representação
21
gráfica dos dados em uma árvore hierárquica horizontal que evidenciará os grupos resultantes
da análise de conglomerados. Este dendrograma foi feito com a construção de uma matriz de
distâncias realizada através do método de distância City-block (Manhattan), pois foi este
método, após tentativas com outros disponíveis no programa, que melhor separou os grupos,
sem ocorrência de sobreposições de linhas entre os conglomerados. O cálculo da matriz de
distância através do método City-block é simplesmente a soma de diferenças entre as
amostras. Na maioria dos casos, esta distância fornece resultados similares aos da distância
Euclidiana de ligação simples, representada pela fórmula:
Distância (X,Y)=[
i
(X
i
-Y
i
)
2
]
1/2
Entretanto, nesta medida, o efeito dos outliers, ou seja, os valores discrepantes da variância, é
suavizado (já que eles não são elevados ao quadrado). O método City-block é calculado
através da seguinte fórmula:
Distância (X,Y)=
i
[X
i
-Y
i
]
Para definição dos grupos em uma determinada amostra, é necessário que sejam
definidas as regras de ligação entre esses grupos. Pode-se, por exemplo, agrupar os objetos
considerados de acordo com a menor distância possível entre eles, método denominado single
linkage, ou utilizar a maior distância entre eles, utilizando o complete linkage. (Silva, 2001).
Utilizamos neste estudo como regra de ligação o Weighted pair-group average, o qual utiliza
a média de todas as similaridades das amostras envolvidas. Nesta regra, o tamanho dos
conglomerados (isto é, o número de amostras contidas nos mesmos) é usado como um peso.
Assim, o método deve ser usado quando se suspeita que o tamanho dos conglomerados é
desigual.
22
3. RESULTADOS
3.1. CENSO E MONITORAMENTO DE PAPAGAIOS NO DORMITÓRIO
3.1.1. Validação das contagens
Considerando que o número de papagaios que chega ao dormitório é o mesmo que sai
no dia seguinte, verificamos a confiabilidade das contagens testando se o número da média de
papagaios que chega é o mesmo que sai através do teste não paramétrico de Mann-Whitney.
Com isso pudemos conferir que o método de contagem realmente foi eficiente, já que a
diferença entre as médias não foi significativa (
X
tarde
=2868 vs
X
manhã
=2964, U=1952,
p=0,876).
3.1.2. Padrões de comportamento de vôo
A partir da contabilização de papagaios pelos agrupamentos formados em vôo,
verificamos a existência de 5 formações familiares: (1) indivíduos sozinhos, ou seja, jovens
que ainda não atingiram a maturidade sexual; (2) casais; (3) trios, representados por um casal
e um filhote; (4) grupos de quatro, que é o casal com dois filhotes; (5) grupos de cinco, sendo
o casal com três filhotes.
Os indivíduos sozinhos constituem 14,5% dos agrupamentos observados, os casais
75,4%, os trios 8,7%, os grupos de quatro 1,1% e os grupos de cinco constituem 0,25%
(figura 1.6).
23
Porcentagem de indivíduos sozinhos, casais, trios, grupos de 4 e de 5
indivíduos contados nas visitas
75,4%
14,5%
0,25%
8,7%
1,1%
sozinhos
casais
trios
grupos de 4
grupos de 5
Figura 1.6 - Gráfico demonstrativo da porcentagem de indivíduos sozinhos, casais, trios, grupos de
quatro e de cinco indivíduos contados durante as visitas.
24
3.1.3. Flutuação sazonal do número de indivíduos
A figura 1.7 mostra a variação do valor da média do número de indivíduos contados
mensalmente. Verificamos um aumento gradativo no número de papagaios de outubro de
2003 a abril de 2004 (
X
out
=595,
X
nov
=767,
X
dez
=1196,
X
jan
=1628,
X
fev
=1857,
X
mar
=2999,
X
abr
=4751). Houve também uma diminuição no número de indivíduos que
em setembro de 2004 era de 2040 papagaios para 1545 papagaios em outubro de 2004, em
novembro e dezembro de 2004 a média de indivíduos ficou quase estável (
X
=1391 e
X
=1364 papagaios, respectivamente), e a partir de janeiro a julho de 2005 visualizamos
um aumento no número de indivíduos que utilizam a ilha como dormitório (
X
jan
=1896,
X
fev
=1778,
X
mar
=2361,
X
abr
=3899,
X
mai
=4484,
X
jun
=7084,
X
jul
=8539), seguido de
uma diminuição no número de indivíduos a partir de agosto de 2005 (
X
ago
=5351,
X
set
=3819). Durante a amostragem de agosto a dezembro de 2006, houve uma diminuição
gradativa de agosto a novembro (
X
ago
=4598,
X
set
=2889,
X
out
=1698,
X
nov
=1527), com
um pequeno aumento no mês de dezembro (
X
=1921).
25
Número da média de papagaios contados ao longo dos meses
out/2003
nov/2003
dez/2003
jan/2004
fev/2004
mar/2004
abr/2004
mai/2004
jun/2004
jul/2004
ago/2004
set/2004
out/2004
nov/2004
dez/2004
jan/2005
fev/2005
mar/2005
abr/2005
mai/2005
jun/2005
jul/2005
ago/2005
set/2005
out/2005
nov/2005
dez/2005
jan/2006
fev/2006
mar/2006
abr/2006
mai/2006
jun/2006
jul/2006
ago/2006
set/2006
out/2006
nov/2006
dez/2006
meses
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
número de papagaios
meses não amostrados
meses não amostrados
Figura 1.7 - Gráfico demonstrativo do valor da média do número de papagaios por mês com os números de visitas (N) inseridos em suas respectivas colunas.
2 2 2 2 6 6 6 5 5 5 8 8 8 8 9 12 12 11 11 4 4 4 4 7 3
26
3.1.4. Flutuação sazonal do número de indivíduos sozinhos, casais, grupos de três ou
mais indivíduos
Além da flutuação no número total de papagaios ao longo dos meses, percebemos uma
flutuação no número de indivíduos sozinhos, casais, trios, grupos de quatro e de cinco
indivíduos, representada graficamente nas figuras 1.8 e 1.9. A flutuação do número de
indivíduos sozinhos, de casais e trios foram semelhantes à flutuação do total de papagaios.
Quanto aos grupos de quatro e de cinco indivíduos, de outubro a dezembro de 2003 e de
outubro a dezembro de 2004, estes praticamente não foram registrados no dormitório, de
janeiro a abril de 2004 e de janeiro a julho de 2005, o número desses agrupamentos começou
a aumentar, e a partir de agosto de 2005 e de setembro de 2006, voltou a diminuir.
Número da média mensal de indivíduos sozinhos e casais contados
no dormitório
sozinhos
casais
out/2003
nov/2003
dez/2003
jan/2004
fev/2004
mar/2004
abr/2004
mai/2004
jun/2004
jul/2004
ago/2004
set/2004
out/2004
nov/2004
dez/2004
jan/2005
fev/2005
mar/2005
abr/2005
mai/2005
jun/2005
jul/2005
ago/2005
set/2005
out/2005
nov/2005
dez/2005
jan/2006
fev/2006
mar/2006
abr/2006
mai/2006
jun/2006
jul/2006
ago/2006
set/2006
out/2006
nov/2006
dez/2006
meses
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
2200
2400
2600
2800
3000
número de papagaios
m
e
s
e
s
n
ã
o
a
m
o
s
t
r
a
d
o
s
m
e
s
e
s
n
ã
o
a
m
o
s
t
r
a
d
o
s
Figura 1.8 - Gráfico demonstrativo dos valores da média do número de indivíduos sozinhos e casais
contados em todas as visitas.
27
Número da média mensal de trios, grupos de quatro e de cinco
indivíduos contados no dormitório
trios
grupos de 4
grupos de 5
out/2003
nov/2003
dez/2003
jan/2004
fev/2004
mar/2004
abr/2004
mai/2004
jun/2004
jul/2004
ago/2004
set/2004
out/2004
nov/2004
dez/2004
jan/2005
fev/2005
mar/2005
abr/2005
mai/2005
jun/2005
jul/2005
ago/2005
set/2005
out/2005
nov/2005
dez/2005
jan/2006
fev/2006
mar/2006
abr/2006
mai/2006
jun/2006
jul/2006
ago/2006
set/2006
out/2006
nov/2006
dez/2006
meses
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
280
300
número de papagaios
m
e
s
e
s
n
ã
o
a
m
o
s
t
r
a
d
o
s
m
e
s
e
s
n
ã
o
a
m
o
s
t
r
a
d
o
s
Figura 1.9 - Gráfico demonstrativo dos valores da média do número de trios, grupos de quatro e de
cinco indivíduos contados em todas as visitas.
3.1.5. Verificação da coesão dos grupos sazonais
Através de uma análise de conglomerados na qual utilizamos a distância City-block
(Manhattan) como método de construção da matriz de distâncias e como regra de ligação o
Weighted pair-group average, os meses de coleta de dados foram divididos em três
agrupamentos. O primeiro agrupamento incluiu os meses de outubro de 2003 a março de
2004, de setembro de 2004 a março de 2005 e de setembro a dezembro de 2006. O segundo
agrupamento incluiu os meses de abril de 2004 e abril, maio, agosto e setembro de 2005 e
agosto de 2006. E o terceiro agrupamento incluiu os meses de junho e julho de 2005.
28
Análise de Conglomerados
Weighted pair-group average: City-block (Manhattan) distances
jul/2005
jun/2005
ago/2005
set/2005
abr/2005
mai/2005
ago/2006
abr/2004
mar/2005
set/2006
mar/2004
set/2004
fev/2005
dez/2006
jan/2005
fev/2004
out/2006
nov/2006
out/2004
jan/2004
dez/2004
nov/2004
dez/2003
nov/2003
out/2003
meses amostrados
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
distância de ligação
Figura 1.10 - Dendrograma para o período de estudo, utilizando como parâmetros o número total de
indivíduos contados por visita e os seguintes agrupamentos: indivíduos sozinhos, casais, trios, grupos
de quatro e de cinco indivíduos.
Com base na Análise da variância, foi encontrada uma diferença significativa no total
de papagaios, número indivíduos sozinhos, casais, trios e grupos de 4 (casal e dois filhotes) e
de 5 indivíduos (casal e três filhotes) no dormitório durante os três períodos agrupados
(F
total
(2,22)=105,13, p<0,05; F
sozinhos
(2,22)=59,16, p<0,05; F
casais
(2,22)=82,83, p<0,05;
F
trios
(2,22)=42,12, p<0,05; F
grupos de 04
(2,22)=8,71, p<0,05; F
grupos de 05
(2,22)=4,55, p<0,05).
Utilizamos o Teste HSD de Tukey para identificar as diferenças encontradas entre os
agrupamentos (tabela 1.2).
29
Tabela 1.2 - Comparação do número total de papagaios, trios, grupos de quatro e de cinco indivíduos
entre os agrupamentos formados na Análise de Conglomerados. Os valores de p em vermelho
representam os resultados não significativos.
Comparação Total Sozinhos Casais Trios Grupos
de 4
Grupos
de 5
1º Grupo vs
2º Grupo
X
1
=1733
X
2
=4484
p<0,05
X
1
=114
X
2
=265
p<0,05
X
1
=624
X
2
=1476
p<0,05
X
1
=66
X
2
=196
p<0,05
X
1
=9
X
2
=27
p<0,05
X
1
=2
X
2
=5,97
p<0,05
1º Grupo
vs 3º
Grupo
X
1=1733
X
3
=7812
p<0,05
X
1=114
X
3
=552
p<0,05
X
1=624
X
3
=2450
p<0,05
X
1
=66
X
3
=260
p<0,05
X
1
=9
X
3
=43
p<0,05
X
1
=2
X
3
=5,7
p>0,05
2º Grupo
vs 3º
Grupo
X
2
=4484
X
3
=7812
p<0,05
X
2
=265
X
3
=552
p<0,05
X
2
=1476
X
3
=2450
p<0,05
X
2
=196
X
3
=260
p>0,05
X
2
=27
X
3
=43
p>0,05
X
2
=5,97
X
3
=5,7
p>0,05
Ou seja, no caso do total de papagaios, de indivíduos sozinhos e de casais, verificamos
que as três comparações foram significativas: Os valores das médias do agrupamento 1 foram
menores que os valores das médias do agrupamento 2 e dos valores das médias do
agrupamento 3, assim como os valores das médias do agrupamento 2 foram menores que os
valores das médias do agrupamento 3. Assim, os números do total papagaios, de indivíduos
sozinhos e de casais em 2004 aumentaram significativamente a partir de março e em setembro
voltaram a diminuir; em 2005 aumentaram novamente a partir de abril, havendo novo
aumento em junho e uma diminuição a partir de agosto.
No caso do número de trios e grupos de quatro, apesar da diferença global nos três
agrupamentos, apenas duas das diferenças revelaram-se significativas: as dos agrupamentos 1
vs 2 e dos agrupamentos 1 vs 3. Neste caso, em 2004 o número desses agrupamentos
aumentou a partir de abril, em setembro voltou a diminuir, e em 2005 voltou a aumentar
também a partir de abril e em junho e julho houve um novo aumento.
30
Com os grupos de cinco apenas uma diferença foi significativa: a dos agrupamentos 1
vs 2. Aqui encontramos um aumento a partir de abril de 2004, uma diminuição em setembro
do mesmo ano e um novo aumento a partir de abril de 2005.
3.1.6. Influência de fatores abióticos na eficiência das contagens
Verificamos uma possível influência de fatores abióticos – nebulosidade, vento e
chuva - anotados em sistemas de códigos no momento da observação (ver tabela 1.1, página
19) na contagem dos indivíduos que utiliza o dormitório ao longo do ano através do teste t
para medidas repetidas no caso da análise dos fatores nebulosidade e chuva e do teste de
análise de variância (ANOVA) para medidas repetidas no caso do fator vento.
Analisando os dados de nebulosidade, constatamos que quando havia poucas nuvens
(N2), a média de papagaios contados foi maior do que quando havia muitas nuvens (N3), mas
esta diferença não foi significativa (
X
N2
=2554 vs
X
N3
=2532, t(36)=0,203, p=0,42).
O número médio de papagaios contados foi maior quando não havia chuva (C1). No
entanto, não podemos afirmar que a chuva influencia significativamente o número dos
papagaios (
X
C1
=2379 vs
X
C3
=2280, t(21)=0,797, p=0,434).
A variável vento também não influenciou significativamente nas contagens dos
papagaios (
X
V1
=2478 vs
X
V2
=2373 vs
X
V3
=2191, F(2,8)=1,159, p=0,339).
Para analisar a influência da temperatura, da umidade relativa do ar e da velocidade do
vento na contagem dos papagaios, realizamos o teste de correlação de Pearson. Não houve
correlação entre os fatores temperatura, umidade e velocidade do vento e o número de
indivíduos no dormitório (r(97)=0,007, p=0,949; r(97)=-0,127, p=0,214; r(16)=0,187,
p=0,487, respectivamente).
31
3.2. CICLOS NICTEMERAIS
Segundo as figuras 1.11 e 1.12, apesar da maior parte dos papagaios ter chegado ao
dormitório antes do ocaso em 2003 nos dias 05 e 26 de fevereiro, 03, 12, 19 e 22 de março e
06 de abril, em 2004 nos dias 22 de setembro, 01 de outubro e 24 de novembro, em 2005 nas
quatro visitas do mês de fevereiro, e no dia 03 de março, nos dias 07 e 12 de abril e 18 de
maio, e em 2006 do dia 22 de dezembro (19 visitas de um total de 84), verificamos que a
porcentagem média de indivíduos que chega é significativamente maior depois do ocaso
(Teste de Mann-Whitney,
X
(depois do ocaso)
=73% vs
X
(antes do ocaso)
=25%, U=983,5, p<0.05). As
exceções podem ter sido ocasionadas por fatores climatológicos tais como nebulosidade,
vento, chuva, temperatura e umidade.
32
Distribuição temporal da chegada dos papagaios ao dormitório
74 min AO
71 min AO
68 min AO
65 min AO
62 min AO
59 min AO
56 min AO
53 min AO
50 min AO
47 min AO
44 min AO
41 min AO
38 min AO
35 min AO
32 min AO
29 min AO
26 min AO
23 min AO
20 min AO
17 min AO
14 min AO
11 min AO
08 min AO
5 min AO
2 min AO
1 min DO
4 min DO
7 min DO
10 min DO
13 min DO
16 min DO
19 min DO
22 min DO
25 min DO
28 min DO
31 min DO
minutos em relação ao ocaso
0
2
4
6
8
10
12
14
16
porcentagem de papagaios %
Distribuição temporal da chegada dos papagaios ao dormitório
55 min AO
53 min AO
51 min AO
49 min AO
47 min AO
45 min AO
43 min AO
41 min AO
39 min AO
37 min AO
35 min AO
33 min AO
31 min AO
29 min AO
27 min AO
25 min AO
23 min AO
21 min AO
19 min AO
17 min AO
15 min AO
13 min AO
11 min AO
09 min AO
7 min AO
5 min AO
3 min AO
1 min AO
1 min DO
3 min DO
5 min DO
7 min DO
9 min DO
11 min DO
13 min DO
15 min DO
17 min DO
19 min DO
21 min DO
23 min DO
25 min DO
27 min DO
29 min DO
minutos em relação ao ocaso
0
1
2
3
4
5
6
7
porcentagem de papagaios %
Distribuição temporal da chegada dos papagaios ao dormitório
41 min AO
39 min AO
37 min AO
35 min AO
33 min AO
31 min AO
29 min AO
27 min AO
25 min AO
23 min AO
21 min AO
19 min AO
17 min AO
15 min AO
13 min AO
11 min AO
09 min AO
7 min AO
5 min AO
3 min AO
1 min AO
1 min DO
3 min DO
5 min DO
7 min DO
9 min DO
11 min DO
13 min DO
15 min DO
17 min DO
19 min DO
21 min DO
23 min DO
25 min DO
minutos em relação ao ocaso
0
1
2
3
4
5
6
7
8
porcentagem de papagaios
%
Figura 1.11 - Porcentagem do valor da média de chegada dos papagaios do dormitório em intervalos de minuto em minuto antes e depois do ocaso: A - de
setembro de 2003 a abril de 2004; B - de setembro de 2004 a setembro de 2005, C - de agosto a dezembro de 2006.
Ocaso
Ocaso
Ocaso
A
B
C
33
Número de papagaios avistados em relação ao seu horário de chegada ao
dormitório
depois do ocaso
ocaso
antes do ocaso
27/10/03
11/11/03
03/12/03
17/12/03
19/01/04
05/02/04
20/02/04
05/03/04
19/03/04
31/03/04
16/04/04
08/09/04
15/09/04
24/09/04
01/10/04
08/10/04
15/10/04
22/10/04
03/11/04
10/11/04
17/11/04
24/11/04
01/12/04
08/12/04
15/12/04
20/12/04
03/02/05
17/02/05
03/03/05
12/04/05
26/04/05
11/05/03
24/05/05
08/06/05
01/07/05
29/07/05
19/08/05
02/09/05
08/09/06
23/10/06
08/11/06
06/12/06
datas das visitas
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
número de papagaios
Figura 1.12 - Número de papagaios avistados em relação ao ocaso.
34
Figura 1.13 – Papagaios chegando ao dormitório.
A tabela 1.3 mostra as médias e desvios-padrão dos horários de atividades dos papagaios
no dormitório à tarde. Registramos o número da média do horário de chegada dos primeiros
indivíduos ao dormitório, do horário em que a maioria dos papagaios chega, ou seja, o pico de
chegada, e do horário do final de sua atividade, depois que todos chegam, se acomodam, após
encontrar um poleiro adequado para passar a noite.
Tabela 1.3 - Estatística descritiva dos horários referentes às atividades da espécie Amazona amazonica no
dormitório durante a tarde
Média Desvio padrão
Horário de chegada dos
primeiros papagaios ao
dormitório
27 min antes do ocaso 18,49 min
Pico de chegada
6 min depois do ocaso 6,10 min
Final da atividade
20 min depois do ocaso 5,99 min
35
Para verificar o possível efeito dos fatores climatológicos no horário de chegada dos
papagaios ao dormitório realizamos o teste t de student para medidas repetidas. Vimos que
quando a nebulosidade é pouca (N2) o número de indivíduos que chega ao dormitório é maior
depois do ocaso (DO) do que quando a nebulosidade está alta (N3) (
X
(DON2)
=91% vs
X
(DON3)
=43%, t(30)= 9,44, p<0,05).
Quando há a ausência de chuva (C1) uma maior quantidade de papagaios chega depois do
ocaso (DO) (
X
(DOC1)
=94% vs
X
(DOC2)
=47%, t(17)= 6,4, p<0,05).
Apesar de que quando há pouco vento (V2) mais papagaios chegam depois do ocaso do
que quando não está ventando (V1) ou o vento está muito forte (V3), esta variável vento não
influenciou significativamente no horário de sua chegada (
X
(DOV1)
=60% vs
X
(DOV2)
=78% vs
X
(DOV3)
=69%, F(2,81)= 1,33, p>0,05).
Verificamos que existe uma associação positiva, moderada e significativa entre a
temperatura e horário de chegada dos papagaios. Quanto maior a temperatura, mais indivíduos
chegam depois do ocaso (r(56)=0,544, p<0,05) (figura 1.14).
36
Correlação da porcentagem de papagaios que chega depois do ocaso e
temperatura
Correlação: r = 0,54421
24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
Temperatura °C
-20
0
20
40
60
80
100
120
Porcentagem de papagaios %
Figura 1.14 - Correlação entre a porcentagem de papagaios que chega ao dormitório depois do ocaso e a
temperatura.
Quanto à umidade relativa do ar, há uma relação negativa, moderada e significativa desta
com o horário de chegada dos papagaios, indicando que quanto menor a umidade, maior o
número de indivíduos chegando depois do ocaso (r(56)=-0,519, p<0,05) (figura 1.15).
37
Correlação de porcentagem de papagaios que chega depois do ocaso e
umidade
Correlão: r = -0,5186
55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
Umidade %
-20
0
20
40
60
80
100
120
pocentagem de papagaios %
Figura 1.15 - Correlação entre a porcentagem de papagaios que chega ao dormitório depois do ocaso e a
umidade.
Levando em consideração a quantidade de luz (lux) no momento do ocaso
(
X
=280±150,75 lux), verificamos que em média 94% (±5,42) dos indivíduos chega quando a luz
está entre 300 e 02 lux, com um pico de chegada em 50 lux e a atividade se encerrando em 02
lux (figura 1.16). A tabela 1.4 mostra uma referência de luminosidade em uma tarde ensolarada,
segundo os valores em lux.
38
Tabela 1.4 – Referência de luminosidade a tarde em relação aos valores em lux.
Quantidade de lux tarde Referência de luminosidade
2000 – 400 Cerca de 25 minutos antes até um pouco antes do pôr-do-
sol , luminosidade mais atenuada.
300 Horário do pôr-do-sol.
200 - 02 Luminosidade baixa, depois do pôr-do-sol.
Porcentagem de papagaios que chega ao dormitório em relação à
quantidade de luz
2000
1800
1600
1500
1400
1300
1200
1000
900
800
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
170
150
140
130
120
100
90
80
70
50
40
30
25
20
15
10
7
6
5
4
3
2
Quantidade de luz (lux)
0
1
2
3
4
5
6
7
Porcentagem de papagaios %
Figura 1.16 - Média percentual de indivíduos que chega ao dormitório considerando-se a
luminosidade.
39
Segundo a figura 1.17, nos dias de pouca luminosidade (nublados ou com chuva), no momento do ocaso a quantidade de lux
medida é mais baixa do que em dias ensolarados e com poucas nuvens.
Quantidade de luz no momento do ocaso
conforme a nebulosidade
Média
Erro padrão
Desvio padrão
23
nebulosidade
100
200
300
400
500
600
700
quantidade de luz (lux)
Quantidade de luz no momento do ocaso em
relação à pluviosidade
dia
Erro padrão
Desvio padrão
12
chuva
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
quantidade de luz (lux)
Figura 1.17 – Quantidade média de luz durante o ocaso em relação aos fatores abióticos, nebulosidade e pluviosidade.
40
Com exceção dos dias 18 de dezembro de 2003, 23 de março, 17 de abril, 21 de dezembro de 2004, em geral observou-se
uma quantidade maior de papagaios saindo do dormitório antes da aurora (
X
(antes da aurora)
=75% vs
X
(depois da aurora)
=25% U=234,
p<0.05) (figuras 1.18 e 1.19).
Distribuição temporal da saída dos papagaios do dormitório
37 min AA
34 min AA
31 min AA
28 Min AA
25 min AA
22 min AA
19 min AA
16 min AA
13 min AA
10 min AA
7 min AA
4 min AA
1 min AA
2 min DA
5 min DA
8 min DA
11 min DA
14 min DA
17 min DA
20 min DA
23 min DA
26 min DA
29 min DA
32 min DA
35 min DA
38 min DA
41 min DA
44 min DA
47 min DA
50 min DA
53 min DA
56 min DA
59 min DA
62 min DA
65 min DA
68 min DA
71 min DA
minutos em relação à aurora
0
1
2
3
4
5
porcentagem de papagaios
%
Distribuição temporal da saída dos papagaios do dormitório
41 min AA
38 min AA
35 min AA
32 min AA
29 min AA
26 min AA
23 min AA
20 min AA
17 min AA
14 min AA
11 min AA
8 min AA
5 min AA
2 min AA
1 min DA
4 min DA
7 min DA
10 min DA
13 min DA
16 min DA
19 min DA
22 min DA
25 min DA
28 min DA
31 min DA
34 min DA
37 min DA
40 min DA
43 min DA
46 min DA
49 min DA
52 min DA
55 min DA
58 min DA
61 min DA
64 min DA
67 min DA
70 min DA
73 min DA
76 min DA
79 min DA
82 min DA
85 min DA
88 min DA
minutos em relação à aurora
0
1
2
3
4
5
porcentagem de
papagaios %
Distribuição temporal da saída dos papagaios do dormitório
34 min AA
32 min AA
30 min AA
28 Min AA
26 min AA
24 min AA
22 min AA
20 min AA
18 min AA
16 min AA
14 min AA
12 min AA
10 min AA
8 min AA
6 min AA
4 min AA
2 min AA
Aurora
2 min DA
4 min DA
6 min DA
8 min DA
10 min DA
12 min DA
14 min DA
16 min DA
18 min DA
20 min DA
22 min DA
24 min DA
26 min DA
28 min DA
30 min DA
32 min DA
34 min DA
36 min DA
38 min DA
40 min DA
42 min DA
44 min DA
46 min DA
48 min DA
50 min DA
52 min DA
54 min DA
56 min DA
minutos em relação à aurora
0
1
2
3
4
5
6
7
porcentagem de
papagaios
Figura 1.18 - Porcentagem do valor da média dos papagaios que saem do dormitório em intervalos de minuto em minuto antes e depois da aurora:
A - de setembro de 2003 a abril de 2004; B - de setembro de 2004 a setembro de 2005; C - de agosto a dezembro de 2006.
Aurora Aurora
Aurora
A
B
C
41
Número de papagaios avistados em relação ao seu horário de saída do
dormitório
depois da aurora
aurora
antes da aurora
28/10/03
06/11/03
12/11/03
26/11/03
10/12/03
18/12/03
09/01/04
14/01/04
23/01/04
06/02/04
21/02/04
27/02/04
06/03/04
13/03/04
20/03/04
23/03/04
01/04/04
07/04/04
17/04/04
02/09/04
09/09/04
16/09/04
23/09/04
30/09/04
14/10/04
21/10/04
28/10/04
04/11/04
11/11/04
18/11/04
25/11/04
02/12/04
09/12/04
16/12/04
21/12/04
28/01/05
04/02/05
11/02/05
18/02/05
25/02/05
04/03/05
18/03/05
25/03/05
08/04/05
13/04/05
20/04/05
27/04/05
04/05/05
data das visitas
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1000
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3000
4000
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6000
número de papagaios
Figura 1.19 - Número de papagaios avistados em relação à aurora.
42
Figura 1.20 - Papagaios ao amanhecer no dormitório.
A tabela 1.5 mostra as médias e desvios-padrão dos horários de atividades dos
papagaios no dormitório de manhã. Registramos o número da média do horário de saída dos
primeiros papagaios do dormitório e do horário em que a maioria dos papagaios sai, ou seja, o
pico de saída.
Tabela 1.5 - Estatística descritiva dos horários referentes às atividades da espécie Amazona amazonica
no dormitório durante a manhã.
Média Desvio padrão
Horário da saída dos
primeiros papagaios
29 min antes da
aurora
4,95 min
Pico de saída
23 min antes da
aurora
5,24 min
43
Através do teste t de Student para medidas repetidas, verificamos que a saída dos
papagaios dependeu da nebulosidade. Quando há pouca nebulosidade (N2) saem mais
indivíduos do dormitório antes da aurora (AA) do que quando há muita nebulosidade (N3)
(
X
(AAN2)
=79% vs
X
(AAN3)
=60%, t(18)= 3,16, p<0,05).
A variável vento não influenciou significativamente no horário de saída dos papagaios
do dormitório (
X
(AAV1)
= 78% vs
X
(AAV2)
=73% vs
X
(AAV3)
=79%, F(2,66)= 0,777, p> 0,05).
A variável chuva não pôde ser testada pelo fato de ter chovido apenas quatro vezes
durante as contagens de papagaios pela manhã.
Não houve correlação entre os fatores temperatura e umidade e o horário de saída dos
papagaios do dormitório (r(44)=-0,235, p= 0,124; r(44)=0,0019, p= 0,99, respectivamente).
Conforme a quantidade de luz (lux) no momento de saída dos papagaios do
dormitório, verificamos que sua atividade se inicia quando a luz é de 01 lux, sendo a média da
quantidade de luz na aurora 299 lux (±87,96). Assim, em média 83% dos indivíduos sai
quando a luz está entre 01 e 300 lux , com um pico de saída em 1 lux (figura 1.21). A tabela
1.6 mostra uma referência de luminosidade em uma manhã ensolarada, segundo os valores em
lux.
Tabela 1.6 - Referência de luminosidade de manhã em relação aos valores em lux.
Quantidade de lux tarde Referência de luminosidade
1-290 Luminosidade baixa, antes do nascer do sol.
300 Horário do nascer do sol.
400 - 8000 Logo depois do nascer do sol até cerca de 1 hora após o
nascer do sol.
8000-10000 Forte luminosidade solar.
44
Porcentagem de papagaios que sai do dormitório em relação à
quantidade de luz
01
03
05
07
10
20
30
50
90
120
160
180
230
300
450
550
700
880
990
1600
2000
2400
3600
4100
4300
4500
5500
6900
8500
10000
quantidade de luz (lux)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
porcentagem de papagaios%
Figura 1.21 - Média percentual de indivíduos que sai do dormitório considerando-se a luminosidade.
Segundo a figura 1.22, nos dias de pouca luminosidade (nublados ou com chuva), no
momento da aurora a taxa de luminosidade é mais baixa do que em dias ensolarados e com
poucas nuvens.
Quantidade de luz no momento da aurora em relação à
nebulosidade
dia
Erro padrão
Desvio padrão
23
nebulosidade
50
100
150
200
250
300
350
400
quantidade de luz (luz)
Figura 1.22 – Quantidade média de luz durante a aurora em relação aos fatores abióticos, nebulosidade
e pluviosidade.
45
4. DISCUSSÃO
4.1. CENSO E MONITORAMENTO DE PAPAGAIOS NO DORMITÓRIO
4.1.1. Método de contagens
O método de contagem em dormitórios que utilizamos para realizar o censo dos
papagaios é o mesmo escolhido por muitos pesquisadores que estudam os membros da família
Psittacidae (Rocha e cols., 1988; Guedes, 1993; Olmos e cols., 1999; Martinez & Prestes,
2002; Harms & Eberthard, 2003; Cougill & Marsden, 2004; Costa, 2006). Este método é
considerado eficiente pois pelo menos um número mínimo de indivíduos que freqüenta o
dormitório pode ser registrado (Nunes & Betini, 2002). Assim como foi visto por Cougill e
Marsden, (2004), não encontramos diferença significativa entre o número de papagaios que
chega e o número que sai do dormitório, portanto podemos considerar nossas contagens
válidas.
4.1.2. Padrões de comportamento de vôo
Durante a coleta de dados para os censos dos papagaios visualizamos que 75,4% da
população encontravam-se aos pares, fato que corrobora com a descrição da literatura sobre o
sistema de acasalamento da maioria dos psitacídeos, que são monogâmicos e o casal
permanece unido por toda vida (Sick, 1997; Guedes & Seixas, 2002; Juniper & Parr, 1998;
Snyder e cols., 1987). Entre os papagaios do gênero Amazona, macho e fêmea voam tão
juntos um do outro que o casal parece ser uma grande e fabulosa ave de quatro asas, o que se
observa inclusive quando estão em bando (Sick, 1997). Nossos dados confirmam essa
46
informação, pois mesmo em grandes bandos, sobrevoando o dormitório, é possível verificar
que os casais permanecem próximos um do outro, voando lado a lado.
Os indivíduos sozinhos constituem 14,5% da população da Ilha dos Papagaios.
Provavelmente são os jovens que ainda não atingiram a maturidade sexual e se separaram dos
pais. Segundo Sick (1997), os filhotes permanecem com os pais apenas até que estes
comecem a se reproduzir novamente.
Os trios constituem 8,7% dos grupos contados, seguido dos grupos de quatro (1,1%) e
grupos de cinco indivíduos (0,25%). A maior quantidade de trios (casais com um filhote), do
que de grupos de quatro (casais com dois filhotes) e de cinco indivíduos (casais com três
filhotes), reflete a baixa sobrevivência de filhotes, característica da biologia reprodutiva dos
psitacídeos (Gnam & Rockwell, 1991; Munn, 1992; Guedes, 1993; Lindsey e cols., 1994;
Carrillo e cols., 2002; Seixas & Mourão, 2002). Em um estudo paralelo, durante a estação
reprodutiva da espécie Amazona amazonica em Santa Bárbara, Pará, em 2006, apesar da
postura de 2 a 4 ovos em 5 ninhos observados, houve a sobrevivência de apenas um filhote, os
demais ninhos tiveram seus filhotes roubados, não sendo possível a verificação da quantidade
de filhotes que iria conseguir se emancipar.
4.1.3. Flutuação sazonal do número de indivíduos, fatores climatológicos e período
reprodutivo
Bibby e cols. (1992) citam que as condições adversas do tempo como chuvas, vento
forte, temperaturas mais altas ou baixas podem interferir nos resultados dos censos dos
psitacídeos, isto porque estes fatores afetam as atividades das aves e a eficiência de coleta de
dados pelos observadores. Embora tenhamos observados que nos dias de chuva, muita
nebulosidade e vento forte a contagem ter sido afetada, pois em tais dias foram contados em
47
média menos papagaios do que teriam sido em condições normais, constatamos aqui que estas
condições climatológicas estudadas não influenciaram significativamente nos censos.
A sazonalidade reprodutiva pode ter causado a flutuação dos papagaios no dormitório
ao longo dos meses, pois influencia o número de indivíduos nos bandos através da diminuição
da participação de indivíduos durante seu período reprodutivo (Moynihan, 1962). Durante os
períodos de acasalamento, construção do ninho, postura e incubação dos ovos, é comum que o
número de papagaios que se reúne em dormitórios coletivos seja menor, porque nesta época o
casal se isola do restante do grupo, a fim de prover cuidados parentais à prole (Cannon, 1984;
Chapman e cols., 1989; Carrilo e cols., 2002). Cuidados parentais também foram descritos
por Reillo e cols. (2000) em ninhos de papagaios do gênero Amazona na área de Morne
Diablotin em Dominica, com o casal fornecendo cuidados desde a incubação até depois da
emplumação.
Segundo os dados obtidos, houve três momentos distintos na quantidade de papagaios
que utilizam a ilha como dormitório: de agosto a março foi o período reprodutivo de alguns
indivíduos da população; de abril a maio muitos papagaios já haviam retornado ao dormitório
com seus filhotes, entretanto outros indivíduos ainda estavam se reproduzindo; e de junho a
julho o número populacional já estava mais estável porque os papagaios já haviam retornado
com seus filhotes, incrementando assim o número populacional.
Na fase de reprodução encontramos no dormitório uma menor quantidade do número
total de indivíduos e de casais, coincidindo com o início da fase de postura, incubação dos
ovos e amadurecimento dos filhotes.
Na fase pós-reprodutiva encontramos um aumento significativo na quantidade total de
papagaios, de casais, de trios, de grupos de quatro e de cinco indivíduos. Esse aumento pode
ter sido ocasionado pela saída dos filhotes dos ninhos e a volta dos casais que apresentaram
sucesso reprodutivo com esses jovens para o dormitório coletivo. Foi o que observou Olmos e
48
cols. (1997) para o Papagaio-verdadeiro Amazona aestiva e o Periquito-da-caatinga Aratinga
cactorum
.
Levando em conta a inferência feita acima, de que os indivíduos sozinhos são jovens
que se emanciparam dos pais para que estes pudessem voltar a se reproduzir, então durante o
período reprodutivo da espécie o número desses jovens deveria aumentar no dormitório.
Entretanto, ao contrário do que era de se esperar verificamos uma diminuição na quantidade
de indivíduos sozinhos durante o período reprodutivo, o que acaba enfraquecendo nossa
inferência. Assim, estudos mais aprofundados sobre o real significado dos agrupamentos
vistos em bandos de papagaios devem ser realizados.
No Brasil, a maioria dos psitacídeos se reproduz em um intervalo de tempo que
geralmente se restringe aos meses de agosto a março, quando há abundância de alimentos
(Guedes, 1993; Sick, 1997; Bianchi, 1998; Martinez & Prestes, 2002; Seixas & Mourão,
2002), porque a disponibilidade de alimento no momento em que o ninhego deve ser
alimentado constitui um fator limitante para a reprodução das aves (Scheuerlein & Gwinner,
2002). Aqui, verificamos o incremento de grupos familiares ao dormitório até o mês de julho,
indicando um período reprodutivo mais extenso. Talvez isso ocorra porque na região deve
haver disponibilidade de alimentos durante o ano inteiro, mas para que possamos afirmar isso,
é preciso que se faça um estudo detalhado sobre a reprodução da espécie, sobre o tipo de
alimentação consumida neste período, bem como a fenologia dos frutos consumidos.
49
4.2. CICLOS NICTEMERAIS
A habilidade de responder a luz é um aspecto universal dos relógios em todos os
organismos, portanto o principal estímulo para ajustar ou modificar o ciclo atividade/repouso
é a luminosidade (Randall e cols., 2000). Vimos aqui que os papagaios de modo geral
utilizaram a luminosidade como agente sincronizador para sua locomoção.
Embora os Papagaios-do-mangue sejam aves diurnas, eles se deslocam em horários de
pouca luminosidade. Esses dados podem ser confirmados por Sick (1997) que afirma que os
psitacídeos costumam ser mais registrados no começo da manhã e final da tarde em relação
aos outros horários do dia.
Observações noturnas feitas para algumas espécies de psitacídeos, sugeriram que sua
atividade no dormitório se encerra no ocaso (Rocha e cols., 1988; Harms & Eberhard, 2003;
Costa, 2006), porém neste trabalho constatamos que após o ocaso 74% dos papagaios ainda
encontrava-se em atividade. Segundo Costa (2006) a maioria dos Periquitos-de-asa-branca
Brotogeris versicolurus chegava ao dormitório antes do ocaso, aproveitando os últimos raios
de sol para a busca de alimentos antes de pousarem na samaumeira que normalmente utilizam
para pernoitar. Isso não aconteceu com a espécie
Amazona amazonica, que segundo nossas
observações, chegava ao dormitório, empoleirava-se nas árvores mais altas da ilha e encerrava
sua atividade, não se alimentando no local antes do cair da noite.
Rocha e cols. (1988) afirma também que o inicio da atividade dessas aves situa-se
antes da aurora, quando os primeiros bandos começam a deixar o dormitório e tomar
diferentes direções rumo às matas de terra firme, onde irão passar o período diurno para ao
entardecer retornar a ilha. Esses dados corroboram com as informações da espécie aqui
estudada e discordam das observações feitas por Harms e Eberhard (2003), em que a maioria
dos indivíduos da espécie
Aratinga pertinax deixa o dormitório após a aurora.
50
Movimentos diários de psitacídeos foram relatados por Forshaw (1966) e a procura
por um dormitório poderia constituir um abrigo noturno mais protegido de predadores que nas
matas de terra firme (Lazarus, 1972). E no caso da migração para a mata de terra firme esta
pode estar relacionada com a falta de disponibilidade de alimentos no dormitório para o
elevado número de psitacídeos que se aloja diariamente (Rocha e cols. 1988).
A chegada e saída dos papagaios no dormitório quando ainda está escuro também
pode estar relacionada com a estratégia de evitar a predação (Snyder e cols., 1987). Porém,
como não realizamos um estudo sobre os possíveis predadores no local, não podemos fazer
inferências quanto aos fatores determinantes deste comportamento.
Os fatores climatológicos possuem efeitos importantes sobre a expressão dos ritmos
endógenos, promovendo ajustes (arrastamentos) através de mecanismos biológicos
específicos e dentro de limites bem definidos para cada espécie (Rotenberg e cols., 2003).
Nas contagens à tarde, quando há muita nebulosidade e chuva (conseqüentemente a
temperatura é mais baixa e a umidade mais alta) fica escuro mais cedo do que nos dias em que
há poucas nuvens e não chove (temperatura mais alta e umidade mais baixa). Ou seja, em dias
que escurece mais cedo, devido a esses fatores climatológicos, os papagaios acabam chegando
mais cedo, antes do ocaso.
Já nas contagens matutinas, quando havia muita nebulosidade, a luminosidade era
menor por mais tempo em comparação com os dias em que havia pouca nebulosidade, e assim
os papagaios atrasavam a saída do dormitório.
Essa tendência foi também observada na chegada da espécie Amazona brasiliensis ao
dormitório, com os indivíduos chegando mais de três horas antes de escurecer em dias
nublados, e durante as manhãs, que não foram muito afetadas por condições climatológicas
adversas, as aves deixaram o dormitório de forma mais previsível (Cougill & Marsden, 2004).
51
Nesse caso, as condições climatológicas adversas tais como alta nebulosidade e chuva
podem estar agindo como agentes mascaradores, já que modificam a expressão do ritmo
biológico da espécie, atrasando ou adiantando a chegada e saída dos indivíduos do dormitório,
respectivamente. Esta capacidade de responder instantaneamente a um agente mascarador
amplia a participação do sistema temporal no processo de adaptação, tornando-o mais plástico
(Marques e cols., 2003).
52
5. CONCLUSÕES
Embora as contagens pudessem subestimar o verdadeiro número de papagaios, nós
acreditamos que foi um método satisfatório por nos mostrar um número mínimo de indivíduos
que utiliza a ilha como dormitório.
As condições climatológicas adversas não interferiram significativamente na eficiência
das contagens no dormitório.
Através da composição dos bandos, verificamos que o Papagaio-do-mangue é uma
espécie monogâmica e apresenta baixa taxa de sobrevivência de filhotes, havendo mais
agrupamentos familiares com apenas um filhote (trios) do que com mais filhotes (grupos de
quatro ou de cinco indivíduos).
Observamos a existência de uma flutuação no número de indivíduos da Ilha dos
Papagaios que engloba um período reprodutivo e um período pós-reprodutivo e que evidencia
o assincronismo reprodutivo da espécie. No período reprodutivo os pais se ausentaram do
dormitório para cuidar da prole desde a incubação até a independência dos filhotes e no
período pós-reprodutivo houve um aumento gradativo da população geral, do número de trios
e número de grupos de quatro e de cinco indivíduos.
O período reprodutivo da espécie Amazona amazonica na região de Belém deve ser
mais extenso que o de outras espécies de psitacídeos estudados, o que pode estar relacionado
com a disponibilidade de alimentos durante o ano inteiro, mas não temos dados suficientes
para realizar esta afirmação.
A maioria dos papagaios chegou e saiu da ilha quando estava escuro e nos dias em que
houve exceções, estas podem ter sido ocasionadas por fatores climatológicos tais como
nebulosidade e chuva que mascararam o real posicionamento do Sol em relação à terra.
Verificamos que estes fatores climatológicos alteraram mais os horários de chegada do que os
53
de saída dos papagaios. Isso se deve às características climatológicas locais, nas quais as
instabilidades, chuvas e ventos fortes ocorrem principalmente no período da tarde.
A partir destes dados verificamos que os papagaios utilizam o fotoperiodismo para a
orientação de deslocamento, iniciando e finalizando sua atividade com uma luminosidade
baixa (1 e 2 lux, respectivamente).
54
CAPÍTULO II. COMUNICAÇÃO VOCAL
1.1. ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO SONORA
Todos os animais precisam se comunicar, ou seja, trocar informações que permitem
aos indivíduos sua sobrevivência e atividade reprodutiva. Para isso utilizam um sinal de
comunicação, que pode ser químico, visual ou sonoro (Bradbury & Vehrencamp, 1998;
Vielliard, 2004).
O entendimento da comunicação baseada na transmissão de um sinal sonoro requer o
estudo da produção de chamados de emissores e da percepção dos chamados por receptores.
Para um receptor, o significado de uma informação codificada em um sinal não depende
apenas do que pode ser ouvido, mas também criticamente do contexto no qual a informação é
recebida (Bradbury & Vehrencamp, 1998).
O significado de um sinal, assim como a resposta do receptor é revelado por sua ação
subseqüente. O “play-back” é um método eficiente para o entendimento do significado de um
sinal acústico. As aves freqüentemente respondem a estímulos naturais com respostas
previsíveis (Cynx & Clark, 1998). Esse é o caso de defesa territorial em resposta a uma
simulação de intruso (Becker, 1982) ou no reconhecimento individual entre parceiros (Lind e
cols., 1996).
O repertório vocal consiste de muitos chamados distintos (chamados de contato,
alarme, defesa do ninho, solicitação de alimentação na corte e pedido de comida pelos
filhotes, entre outros) e um canto longo e complexo (Farabaugh & Dooling, 1996).
O canto é um sinal de comunicação sonora que contém a informação de
reconhecimento específico (Vielliard, 1987). Algumas famílias de aves carecem de um canto
funcional evidente. Nesses casos, precisamos estudar com maior atenção o repertório das
55
espécies, para procurar o sinal sonoro que cumpra a função de reconhecimento específico
(Vielliard, 1997). Anjos e Vielliard (1993) estudaram o repertório vocal da Gralha-azul
Cyanocorax caeruleus, concluindo que é o grito de contato social que carrega a informação de
reconhecimento específico. Nos papagaios do gênero Amazona esta mesma função é
cumprida por um tipo de chamado: o grito de vôo ou chamado de contato de vôo (Vielliard,
1994).
O canto pode ser estereotipado e transmitido de uma geração para outra
geneticamente, denominado inato, ou com variações e intermediado pela aprendizagem, o
canto aprendido. O canto inato é transmitido geneticamente em sua totalidade, não havendo
necessidade de aprendizagem para que cumpra sua função. Esses cantos são fixos, garantindo
a especificidade da mensagem e sua transmissão de uma geração para outra. Esta transmissão
é realizada mesmo na ausência de um modelo, como se verifica em experimentos de criação
em isolamento acústico. Em contrapartida, isto impede variações individuais e populacionais,
presumindo-se que um processo de contra-seleção aja para garantir a estabilidade, no tempo e
no espaço, deste tipo de canto (Silva, 1995; Vielliard, 1997).
O canto aprendido apresenta parte de suas características determinadas geneticamente
e parte, determinada pela aprendizagem. Ele não é funcional sem um aprendizado adequado.
Se o filhote não ouvir o canto específico correto no momento receptivo, ele nunca será capaz
de emitir um som reconhecível pelos membros de sua própria espécie. Nesse caso ele será
eliminado por ser incapaz de defender um território e atrair um parceiro sexual (Silva, 1995;
Vielliard, 1997). Em contrapartida, o canto aprendido abre espaço para variações
populacionais e até individuais. O canto aprendido pode chegar a uma extraordinária
complexidade, o qual incorpora, em certas espécies, possibilidades ilimitadas de variação pela
incorporação de sons imitativos ou pelo seqüenciamento diversificado dos elementos sonoros
– a chamada versatilidade (Vielliard, 1997; Silva 2001).
56
A versatilidade é bem documentada em algumas espécies da região paleártica e no
sabiá-laranjeira Turdus rufiventris (Silva, 1996, 2001). Nesses casos, o canto, embora
apresente uma organização variável de sons diversos com características e seqüências
determinadas, também cumpre a função de reconhecimento específico (Silva, 1995).
O mimetismo no canto ocorre principalmente em espécies tropicais (Vielliard, 1987;
Silva, 1995). Observações de aves que tem um canto com imitações naturais mostram que
normalmente tal canto não provoca nenhuma interação entre o modelo e o imitador. O
objetivo claramente não é de enganar ninguém, o que pode acontecer de maneira
circunstancial, mas nunca duradoura. O único resultado objetivo da incorporação de imitações
no canto de uma espécie é de aumentar sua carga informativa (Vielliard, 2004).
Os psitacídeos, em sua maioria, são sociais e não territorialistas (Bradbury, 2003).
Fatores sociais parecem ser críticos para a imitação da fala humana (Pepperberg &
Neapolitan, 1988). Os papagaios ditos faladores somente imitam sons estranhos quando são
mantidos em isolamento (Vielliard, 2004). Na natureza mostram evidência de dialetos
populacionais e aprendizado vocal cultural (Rowley, 1990; Wright, 1996; Baker, 2000;
Kleeman & Gilardi, 2005).
A aprendizagem vocal é descrita nos seguintes grupos de animais: primatas, cetáceos,
morcegos e aves (Pepperberg, 1993; Jarvis e cols., 2000; Esser, 2002; Janik e cols., 2006).
Os psitacídeos exibem uma plasticidade vocal considerável no aprendizado de novos
chamados de contato quando sua condição social é alterada. Isto pôde ser visto para a espécie
de periquito Melopsittacus undulatus, na qual indivíduos de localidades diferentes foram
alocados juntos, em gaiolas onde eles podiam voar e emitir os chamados de contato de vôo,
verificando-se que eles incorporaram partes dos chamados de contatos uns dos outros em até
uma semana (Farabaugh e cols., 1994).
57
Os chamados de contato agem como uma regra mantendo o contato com membros do
bando e reforçando a coesão do casal (Wyndham, 1980). Segundo Hile e colaboradores
(2000), os casais desenvolvem um chamado de contato compartilhado. Entretanto, apesar da
similaridade do chamado dentro dos grupos, o chamado de contato de cada ave permanece
distinto, levando as aves a discriminar entre os chamados de outros indivíduos dentro do
grupo (Park & Dooling, 1985, 1986; Ali e cols., 1993).
A hipótese de que os chamados de contato devam funcionar no reconhecimento
individual é sustentada também pela observação de que a espécie Melopsittacus undulatus
pode discriminar entre os chamados de contato de indivíduos diferentes com os quais eles
estão familiarizados (Park & Dooling, 1985).
1.2. JUSTIFICATIVA
Os psitacídeos se camuflam com facilidade no ambiente, assumindo movimentos
lentos ao andarem, escalarem ou comerem para se ocultarem ainda melhor (Sick, 1997), o que
torna muito difícil o estudo do comportamento desses animais. Assim sendo, a bioacústica é
uma ferramenta de muita utilidade para o estudo de seu comportamento, porque depois de
identificar em quais contextos comportamentais as vocalizações estão inseridas, ao ouvir
determinado som podemos inferir que situação o indivíduo está vivendo naquele momento,
sem mesmo o termos visto.
58
1.3. OBJETIVO GERAL
Identificar o repertório vocal da espécie Amazona amazonica durante seu período
reprodutivo, bem como identificar a existência de diferenças individuais e dialetos
populacionais nos chamados de contato de vôo da espécie.
1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Registrar as vocalizações emitidas pela espécie durante todo o período
reprodutivo;
Identificar os contextos comportamentais em que estão inseridas através de
observações;
Verificar se existe diferença individual no chamado de contato de cada ave do
município de Santa Bárbara;
Verificar se existe dialeto populacional nessa espécie, analisando o chamado
de contato de vôo da população que se reproduz no município Santa Bárbara e
da que se reproduz no manguezal do estuário do Rio Marapanim.
59
2. METODOLOGIA
2.1. POPULAÇÃO ESTUDADA
Estudamos aqui duas populações de Papagaios-do-mangue Amazona amazonica. Uma
dessas populações se reproduz no município Santa Bárbara, construindo seus ninhos em
cavidades de árvores localizadas em terra firme. Dos ninhos encontrados neste local, a
maioria (80%) se encontrava em uma espécie de palmeira morta localmente chamada de
pupunheira (Bactris gasipaes) (figura 2.1).
Figura 2.1 - Ninhos de papagaios em pupunheiras: A - Ninho 6; B - Ninho 7; C - Ninho 9.
A outra população nidifica em cavidades de árvores vivas, localizadas nos manguezais
do estuário de Marapanim (figura 2.2). Segundo os moradores do local, as espécies arbóreas
escolhidas pelos papagaios para construir seus ninhos são duas de grande porte popularmente
conhecidas como Siriúba (
Avicennia germinans) e Mangueiro (Rhyzophora mangle) (figura
2.3).
60
Figura 2.2 - Manguezal da Baía de Marapanim onde estão localizados os ninhos da espécie Amazona
amazonica.
Figura 2.3. Árvore da espécie Avicennia germinans com cavidade (ponta da seta).
Nas duas regiões a espécie é encontrada durante o ano inteiro, mas durante a estação
reprodutiva é vista em maior quantidade, principalmente aos pares.
61
2.2. ÁREAS DE ESTUDO
2.2.1. Santa Bárbara do Pará
Figura 2.4 - Imagem de satélite do Município de Santa Bárbara com a localização dos ninhos de
papagaios.
O município de Santa Bárbara do Pará (01º12’ 17’’S; 48º 18’ 05”W) possui uma área
de 278 km², e com 13.018 habitantes, no censo demográfico de 2005 (IBGE, 2006), sendo
estes distribuídos em dez povoados além da cidade–sede, dos quais se destacam os
localizados na PA – 391: Pau D’arco a 3 km da sede, Livramento a 4 km e Tauarié no limite
do município à margem dos furos das marinhas. Na PA – 408: Colônia Chicano a 13 km, São
Paulo das Pedrinhas a 15 km, e Maurícia a 17 km da sede. Na estrada a 6,5 km da PA – 391
está o povoado de São José de Aracy (SEPLAN, 1993).
62
O município apresenta clima tropical úmido, temperatura elevada durante todo o ano
com média de 26°C. O índice pluviométrico anual chega a ultrapassar 2.500 mm, e a umidade
relativa do ar oscila em torno de 85%. A paisagem apresenta níveis de baixo tabuleiro
aplainado, terraços e várzeas. Quanto ao aspecto geomorfológico, seu relevo faz parte do
planalto rebaixado da Amazônia, Baixo Amazonas (SEPLAN, 1993).
A mata de terra firme é o ambiente mais representativo, seguido de floresta secundária
(capoeira) latifoliada, igapó e várzea. O dossel da terra firme está entre 30-35 m de altura,
com as emergentes podendo alcançar 45 m. A várzea e o igapó são mais baixos e mais
abertos. A vegetação secundária apresenta manchas de diferentes idades e tamanhos. A
floresta de terra firme apresenta espécies típicas como a Maçaranduba Manilkara huberi e
M.paraensis, Acapu Vouacapou americana, Ipê roxo Tabebuia impetiginosa e o Tauari
Couratari cf. guianensis. A floresta de igapó e de várzea apresenta espécies típicas de áreas
alagadas como Anani Symphonia globulifera, Ucuúba verdadeira Virola surinamensis, Açaí
Euterpe oleracea dentre outras. A vegetação secundária apresenta também espécies
características como o Tapiririca Tapirira guianensis, Envira preta Guatteria poeppgiana e
Pará-pará Jacaranda copaia (Almeida, 2003).
63
2.2.2. Baía de Marapanim
Figura 2.5 - Imagem de Satélite da Baía de Marapanim com o ponto da Vila de Prainha, onde as
gravações das vocalizações foram realizadas.
O estuário do rio Marapanim (00°32’30’’S, 00°52’30’’S, 47°28’45’’W e
47°45’00’’W) está localizado na costa nordeste do Estado do Pará, no município de
Marapanim (Prost e cols., 2001).
Do ponto de vista ecológico, é formado por um mosaico de ecossistemas de grande
potencial paisagístico e econômico, possibilitando múltiplos usos. Os manguezais, situados
no interior do estuário, encontram-se em bom estado de conservação e constituem uma das
maiores e mais bem preservadas áreas de floresta costeira do país (Prost e cols., 2001).
64
Análises de imagens de satélite mostraram que a área de abrangência dos manguezais
no estuário do rio Marapanim é de cerca de 130 km². Os manguezais são bem desenvolvidos e
densos no funil estuarino e setor misto do estuário, estreitando-se à montante da localidade de
São Vicente, passando a manguezais senis, até serem sucedidos por vegetação de várzea. As
principais espécies arbóreas encontradas são: Rhyzophora mangle, Avicennia germinans e
Laguncularia racemosa. Em zonas de acreção podem ser observados estratos de Spartina
brasiliensis
(Prost e cols., 2001).
Como em todo estado do Pará, esta região apresenta durante o ano, dois períodos
pluviométricos distintos: um de maior e outro de menor intensidade. O primeiro período vai
de dezembro a maio, sendo o mês de março o mais chuvoso, com média de 705 mm, o
segundo estende-se de junho a novembro, sendo o mês de outubro o de menor incidência de
chuvas, em média, 1,9 mm. A temperatura média das máximas varia de 30°C a 32,1°C e a
média máxima anual de 31,7°C (Santos e cols., 1991).
65
2.3. PROCEDIMENTO
2.3.1. Gravações das vocalizações e observações de comportamento
As gravações das vocalizações tanto para análises do repertório vocal como para as de
diferenças individuais nos chamados de contato de vôo foram realizadas no município de
Santa Bárbara do Pará. Este município foi escolhido por ser local de nidificação da espécie,
pois é mais fácil identificar e observar os casais de papagaios separadamente quando eles
estão no ninho. Apesar da espécie também nidificar no estuário de Marapanim, não foi
possível localizar nenhum ninho ativo no local pela dificuldade de locomoção no interior dos
manguezais. Assim, foi possível registrar apenas vocalizações de contato em vôo dos
papagaios dessa população que eram encontrados nos arredores da Vila de Prainha, localizada
no estuário de Marapanim, entretanto, não pudemos identificar quantos indivíduos diferentes
estavam sendo gravados.
As saídas de campo foram realizadas ao longo do período reprodutivo da espécie de
2005 e de 2006, que nessas duas localidades se inicia em agosto e se estende pelo menos até
março, conforme já observamos pessoalmente.
Em Santa Bárbara as visitas foram semanais (3 vezes por semana), e na Vila de
Prainha foram mensais (5 dias por mês). De manhã foram feitas observações de 6h00 às
10h00 e à tarde de 16h00 às 18h00, horários em que verificamos que o casal estava ativo no
ninho durante o período reprodutivo de 2005.
Para as gravações utilizamos microfone ultradirecional Sennheiser ME-67 e os
Gravadores Digitais DAT Sony TCD-D7 e Tascam Professional, todas devidamente
identificadas com data, hora, localidade e observações comportamentais que conseguimos
visualizar nos momentos das vocalizações.
66
2.3.1.1. Santa Bárbara
Para localizar os primeiros ninhos percorremos o ambiente à procura de árvores com
cavidades e que contavam com a presença da espécie e/ou indícios de ocupação, além de
buscarmos informações com os moradores locais. Marcamos os pontos das árvores utilizadas
como local de ninho, para futuros monitoramentos e registros de vocalizações, com o auxílio
de um GPS (Global Position System) Garmin E-Trex.
As gravações das vocalizações e observações comportamentais dos papagaios foram
feitas de pontos de onde eles não podiam nos ver (há aproximadamente 40 metros do ninho),
mas de onde pudéssemos observar sua atividade na área do ninho com auxílio de binóculos
(Nikula 7x50). Em áreas abertas realizamos as observações dentro de uma barraca para
caminhadas verde (figura 2.6).
Figura 2.6 – Pontos de observações dos papagaios em Santa Bárbara: A – área fechada; B – área
aberta.
Realizamos 41 observações através do método de registro contínuo, com o qual todos
os comportamentos de interesse foram anotados durante as sessões. Foram estabelecidas 3
categorias comportamentais relativas à comunicação sonora dos papagaios:
67
1. Chamado de contato em vôo: esta categoria refere-se um tipo de vocalização emitida
enquanto os papagaios estão voando, que age na manutenção do contato entre os membros de
um bando e reforçando a coesão do casal (Wyndham, 1980), além de carregar a informação
de reconhecimento específico (Vielliard, 1994) e até mesmo individual (Park & Dooling,
1985, 1986; Ali e cols., 1993).
2. Chamado de contato pousado: nesta categoria estão inclusas todas as vocalizações
emitidas quando os papagaios estão pousados na área do ninho e vocalizam ou interagindo
socialmente com a fêmea ou com outros indivíduos.
3. Chamados hostis – são chamados que expressam a indisposição ou agravo em relação a
uma situação presente ou a um comportamento recentemente acontecido (Fandiño-Mariño,
1989). Esta categoria foi subdividida em: vocalizações de alarme, agonísticas e de
afugentamento e são descritas na seção de resultados deste capítulo.
2.3.1.2. Vila de Prainha
Como não encontramos ninhos nesta localidade, percorremos a área de terra firme da
região e sempre que algum casal passava voando e vocalizando, essa vocalização de contato
em vôo era gravada.
2.3.2. Análise bioacústica
No laboratório as gravações foram digitalizadas com o auxílio do programa Adobe
Audition 1.5, e foram analisadas com o programa Avisoft SASLab Pro 4.3, com o qual
produzimos os sonogramas para a identificação de seu repertório vocal e número de notas de
cada vocalização. Definimos como nota a unidade sonora que pode ser individualizada no
68
sonograma. As notas são identificadas considerando a primeira nota da gravação como A e as
seguintes denominadas em ordem alfabética (ver exemplo na figura 2.7).
Figura 2.7 - Exemplo de sonograma com duas notas diferentes.
A frase é definida como o conjunto de notas separadas por um intervalo de tempo pelo
menos 50% maior que a média do intervalo entre as notas; as frases são enumeradas em
ordem crescente e em ordem cronológica de aparecimento na gravação (figura 2.8).
Figura 2.8 - Exemplo de sonograma com duas frases iguais, cada uma constituída de três notas.
69
No caso das vocalizações de contato em vôo, de todas as que foram registradas, apenas
aquelas que apresentavam boa qualidade nos sonogramas confeccionados, ou seja, sem muitas
sobreposições de outras vocalizações, de ruídos indesejáveis ou interferências e que estavam
com as notas bem visíveis e definidas, foram analisadas com o programa Avisoft quanto aos
seguintes parâmetros físicos: duração (ms), freqüência mínima (Hz) e freqüência máxima
(Hz) (tabela 2.1).
Tabela 2.1 – Número de vocalizações de contato de vôo gravadas e número de gravações analisadas.
Nº de vocalizações gravadas Nº de vocalizações
analisadas
Ninho 1_2005
156 32
Ninho 2_2005
14 9
Ninho 3_2005
58 19
Ninho 4_2005
40 25
Ninho 5_2005
63 26
Ninho 1_2006
51 26
Ninho 6_2006
58 49
Ninho 7_2006
122 46
Ninho 9_2006
105 70
Papagaios de Marapanim
94 25
As vocalizações de uma ave podem ser constituídas de sons puros e não puros. O
chamado som puro é definido fisicamente como aquele cuja energia está concentrada em uma
única freqüência, chamada de freqüência fundamental (Silva, 1996) (figura 2.9).
70
Figura 2.9 - Sonograma de parte do canto do Rouxinol Icterus croconotus, um exemplo de som puro.
As vocalizações dos papagaios são constituídas de sons harmônicos (tipos de sons não
puros), ou seja, de sons compostos de um modo fundamental e de mais outros, chamados de
modos harmônicos, que correspondem a múltiplos inteiros (x2, x3, x4, etc.) da freqüência do
modo fundamental (Arcela, 1994; Silva, 1996). As medidas das freqüências máximas e
mínimas foram realizadas no harmônico de maior intensidade, em todos os casos
correspondente ao primeiro harmônico após o fundamental, conforme mostrado na figura
2.10.
Com esses dados comparamos as vocalizações das duas regiões estudadas e também
em Santa Bárbara dos indivíduos de cada ninho.
71
71
Figura 2.10. Sonogramas demonstrativos de como foram feitas as medições de freqüência e duração dos chamados de contato de vôo nos indivíduos da
população de Santa Bárbara (A) e nos indivíduos da população do estuário de Marapanim (B). As siglas Fmax e F min significam freqüência máxima e
frequência mínima, respectivamente; As siglas DA e DB significam duração da nota A e duração da nota B, respectivamente; A sigla IAB significa intervalo
de tempo entre as notas A e B;
72
2.3.3. Experimento de play-back
Pode-se verificar a função do canto por observação do comportamento das aves em
ambiente natural e através de experimentação, particularmente a técnica do play-back. Essa
técnica consiste na gravação da vocalização do indivíduo a ser testado e na observação da sua
reação após a reprodução do sinal gravado. É uma ferramenta muito utilizada pelos
ornitólogos para atrair e identificar espécies florestais, buscar espécies raras na natureza
(Kroodsma e cols., 1999), além de permitir experimentos mais sofisticados, tais como a
constatação da importância do canto na manutenção do território (Kroodsma, 1986).
Tentamos testar com o uso de play-back a hipótese de que, quando a fêmea está
incubando os ovos e o macho aparece para alimentá-la, ela sai do ninho apenas quando é o
seu próprio parceiro quem emite um chamado, não deixando o ninho quando ouve chamados
de vizinhos, havendo assim um reconhecimento pelo menos da vocalização do macho pela
fêmea (Gnam & Rockwell, 1991; Lind e cols., 1996).
A idéia era a de, durante o período de incubação dos ovos, fazer com que cada fêmea
ouvisse os chamados de 2 machos diferentes: o chamado de seu parceiro e o chamado de um
estranho.
A caixa de som foi colocada cerca de 5 metros do ninho e a uma altura de 1,7 metros.
O
play-back começou quando o macho estava ausente da área do ninho.
A primeira tentativa deste teste ocorreu no dia 25 de outubro de 2006 às 14hs, horário
em que macho do ninho 1 deveria estar ausente da área e sua fêmea estava incubando os ovos.
A vocalização testada foi a mesma emitida pelo macho para que a fêmea saia do ninho para
alimentá-la. Após a sétima vez que este som foi tocado, o macho apareceu emitindo a mesma
vocalização, então o experimento foi abandonado. No dia seguinte realizamos o mesmo
procedimento, mas às 13hs e o macho apareceu outra vez. Então concluímos que o macho
73
permanece sempre próximo ao ninho, o que impossibilitou a realização desse tipo de
experimento de play-back.
2.3.4. Análises estatísticas
Os dados foram tratados com auxílio do programa Statistica (Statsoft), empregando-se
estatística descritiva para avaliação dos parâmetros medidos e o teste não paramétrico para
análises de variância Kruskal-Wallis e Dunn para verificação de diferenças individuais de
chamado de contato de vôo entre os papagaios da população de Santa Bárbara.
74
3 . RESULTADOS
3.1. REPERTÓRIO VOCAL DA POPULAÇÃO DE SANTA BÁRBARA
Em Santa Bárbara identificamos 9 vocalizações diferentes no repertório vocal do
Papagaio-do-mangue durante seu período reprodutivo e entre esse repertório encontramos 36
notas diferentes.
Para entender a inserção destas vocalizações neste contexto é necessário o
conhecimento de seu comportamento reprodutivo, que é caracterizado por um período de
incubação no qual a fêmea permanece no ninho tempo integral, saindo apenas uma vez pela
manhã e outra no final da tarde para ser alimentada pelo macho. Depois, quando os filhotes
estão com duas semanas de vida, ela passa a sair com o macho todas as manhãs após o casal
ter alimentado os filhotes, retornando no final da tarde apenas para alimentá-los e para
pernoitar na cavidade do ninho. Por todo o período reprodutivo, o macho costuma passar as
noites com os outros machos nas proximidades da área do ninho.
O casal é muito cauteloso quando está na árvore do ninho, vocalizando apenas há
alguns metros desta árvore, quando vai alimentar a fêmea e os filhotes, devido à possíveis
ações predatórias de ovos e filhotes de papagaios, além da retirada dos filhotes do ninho por
moradores da região para a venda, fato que testemunhamos, constatando o desaparecimento
de filhotes sem vestígios de predação por animais e árvores mortas que abrigavam cavidades
que foram derrubadas com o intuito de retirar os filhotes, cerca de 10 somente no ano de
2006.
75
As vocalizações registradas durante as 41 observações foram classificadas nas
seguintes categorias comportamentais:
1. Chamado de contato em vôo
Nos horários de atividade no ninho, ou seja, entre 6h00 e 8h00 da manhã e entre 16h00
e 18h00 da tarde, os papagaios chegam vocalizando um tipo de chamado que todos os
papagaios desta espécie emitem quando estão voando: o chamado de contato em vôo. Este é
o chamado utilizado para o reconhecimento específico, e assim, possivelmente para informar
sua presença até o momento do pouso. Foi emitido em 34 observações em que visualizamos o
macho chegar ao ninho para alimentar a fêmea ou quando o casal chegava para alimentar os
filhotes (figura 2.11).
Figura 2.11. Sonograma de chamado de contato em vôo
2. Chamado de contato pousado
Após a chegada na área do ninho, os machos pousam (sempre em outra árvore que não
a do ninho), permanecem em silêncio, movimentando a cabeça lentamente de um lado para o
outro, olhando para todas as direções, comportamento que categorizamos como posição de
76
vigilância ou alerta. Depois disso, aparentemente na ausência de avistagem de predadores na
área (principalmente gaviões e o homem, ameaças que presenciamos provocarem
vocalizações de alarme, ver categoria de chamados de alarme a seguir), emitem um chamado
de contato pousado do tipo I. O macho emite este chamado até que a fêmea comece a sair do
ninho, expondo sua cabeça para o exterior do mesmo. Então, o macho para de vocalizar, a
fêmea sai do ninho, e os dois voam um ao encontro do outro, emitindo um tipo de vocalização
que será descrito mais adiante, inserida na subcategoria alarme em vôo do tipo I (página 80).
O casal pousa em alguma árvore mais afastada do ninho, mas continuam na área
(aproximadamente há uns 50 metros do ninho). Esse tipo de chamado foi ouvido também em
uma ocasião em que um possível macho vocalizou e o filhote voou do ninho e foi ao seu
encontro (figura 2.12). Este comportamento exibido pelo macho ao emitir vocalizações nas
proximidades do ninho, após as quais a fêmea sai do mesmo foi descrito para a espécie de
papagaio Amazona finschi por Renton & Salinas-Melgaza (1999). Pudemos relacionar a
emissão desta vocalização com a saída da fêmea do ninho em 100% das observações (N=18)
em que foi emitida.
Figura. 2.12. Sonograma de chamado de contato pousado do tipo I.
Em 27 observações, depois que a fêmea sai do ninho e o casal pousa em suas
proximidades, ambos os indivíduos emitem o chamado de contato pousado do tipo II
(figuras de 2.13 a 2.24).
77
Figura 2.16. Frase 4.
Figura 2.13. Sonograma de chamado de contato
pousado do tipo II: Frase 1.
Figura 2.14. Frase 2. Figura 2.15. Frase 3.
78
2.17. Frase 5
Figura 2.18. Frase 6.
Figura 2.19. Frase 7.
Figura 2.20. Frase 8. Figura 2.21. Frase 9.
79
Figura 2.22. Frase 10.
Figura 2.23. Frase 11.
Figura 2.24. Frase 12.
80
Essa vocalização, composta de 12 frases, era emitida pelo casal em um momento que
precedia a alimentação por regurgitação. Apesar de não termos visualizado o momento da
alimentação, em função do horário (entre 7h00 e 8h00 da manhã e 17h00 e 18h00 da tarde) e
descrições desse mesmo comportamento obtidas na literatura para o gênero Amazona, que
informam que a fêmea sai do ninho para ser alimentada pelo macho (Enkerlin-Hoeflich, 1995;
Renton & Salinas-Melgoza, 1999; Koenig, 2001), inferimos que a alimentação tenha ocorrido
após a emissão dessas vocalizações. Esse tipo de chamado, portanto, pode estar relacionado
com a recepção de alimentos pela fêmea ou pelos filhotes, já que o casal também o emite
antes de alimentá-los. Observamos este comportamento na estação não reprodutiva quando
esses chamados foram emitidos por grupos de papagaios que estavam próximos a fontes de
alimentação. Logo após a emissão dos mesmos passavam a ingerir os alimentos. Isso é mais
um indício de que o chamado de contato pousado do tipo II está relacionado à alimentação
dos papagaios.
3. Chamados hostis
Essa categoria foi subdividida em:
Vocalizações de alarme em vôo tipo I – Esta vocalização foi emitida em duas
situações: quando o casal estava pousado próximo ao ninho e algum predador se
aproximava da área (principalmente o homem), ambos emitiam esse tipo de
vocalização logo após o início do vôo, comportamento observado em 28 observações.
Na segunda situação, alguns segundos depois que a fêmea deixava o ninho após o
macho ter emitido o chamado de contato pousado do tipo I, macho e fêmea iam ao
encontro um do outro emitindo esse chamado em vôo (N=15, figura 2.25).
81
Figura. 2.25. Sonograma de chamado de alarme em vôo do tipo I.
Vocalizações de alarme em vôo tipo II – Emitida durante 5 observações, quando o
casal estava voando e algum predador estava presente, o casal então vocalizava no
momento em que passava no través da direção do predador (que no caso sempre eram
humanos), como se estivesse utilizando a vocalização para indicar a localização da
ameaça (figura 2.26).
Figura. 2.26. Sonograma de chamado de alarme em vôo do tipo II.
Vocalizações de alarme pousado – Em 5 observações, quando o macho chegava ao
ninho para alimentar a fêmea e avistava predadores humanos no local, ele vocalizava
esse tipo de alarme e a fêmea permanecia dentro do ninho, como se através dessa
vocalização o macho estivesse sinalizando para que ela não deixasse o ninho, evitando
assim a identificação da árvore-ninho (figura 2.27).
82
Figura. 2.27. Sonograma de chamado de alarme em pousado
Vocalizações agonísticas – Em uma observação ocorrida no dia 7 de janeiro de 2007
pela manhã, havia dois casais no ninho 8 disputando a cavidade, sendo que um deles já
havia iniciado a postura de ovos nesse ninho. Durante esta disputa os dois machos
agrediram-se fisicamente no chão por duas vezes, mas não conseguimos visualizar
bem a luta e nem gravar os sons emitidos nesse momento. Essas agressões físicas
duraram menos de um minuto cada, e depois disso, os dois machos voltaram a pousar
ao lado de suas respectivas parceiras. O casal que já estava inicialmente no ninho
permaneceu pousado em um galho da árvore-ninho e o outro casal intruso em um
galho de outra árvore, localizada em frente à árvore do ninho (há uns 20 metros da
mesma). Em seguida, os casais iniciaram um ritual agonístico, mas desta vez sem
contato físico. Durante esse ritual, cada casal erguia suas asas, afastando-as do corpo e
ao mesmo tempo emitiam a vocalização representada na figura 2.28. O intervalo de
tempo entre cada ritual agonístico era em média de 1 minuto e 2 segundos, era sempre
iniciado pelo casal invasor, e antes mesmo de terminar o outro casal também iniciava
o ritual. O ritual foi observado por 3 horas e quando deixamos o local, os casais ainda
83
exibiam esse comportamento. Retornamos ao local às 16h00 da tarde, e havia apenas
um casal no local, pousado em um galho da árvore ninho, em silêncio.
Figura. 2.28. Sonograma de chamado agonístico.
Vocalizações de afugentamento do tipo I – Utilizada por filhotes com uma semana
de vida durante uma observação, no dia 1 de dezembro de 2006, quando fomos
fotografá-los. Eles ficaram vocalizando e tentando se esquivar se locomovendo para
um canto da cavidade (figuras 2.29 e 2.30).
Figura. 2.29. Sonograma de afugentamento emitida por filhotes de uma semana, frase 1.
84
Figura. 2.30. Sonograma de afugentamento emitida por filhotes de uma semana, frase 2.
Vocalizações de afugentamento do tipo II – Utilizada como sinal de ameaça por
filhotes a partir da terceira semana de vida (5 observações) e por uma fêmea (1
observação) que estava incubando os ovos e com um filhote recém-eclodido no
momento em que fomos fotografá-los. Os filhotes registrados, ao mesmo tempo em
que emitiam essa vocalização moviam suas cabeças para frente em direção à câmera,
como se fossem bicá-la, enquanto a fêmea apenas vocalizou e permaneceu pousada em
cima de seus ovos e do filhote, protegendo-os (figura 2.31).
Figura. 2.31. Sonograma de afugentamento emitida por filhotes com mais de 3 semanas e por uma
fêmea que estava chocando os ovos e com um filhote.
85
3.2. GRITOS DE CONTATO EMITIDOS EM VÔO
3.2.1. Chamados individuais
Através do teste de Kruskal-Wallis para a análise dos parâmetros físicos freqüência e
tempo (duração), constatamos diferenças significativas nos chamados de contato em vôo entre
os indivíduos da população de Santa Bárbara (H(8,291)
freqüência mínima de A
=262,49, p<0,05;
H(8,291)
freqüência máxima de A
=167,4, p<0,05; H(8,291)
freqüência mínima de B
=211,38, p<0,05;
H(8,291)
freqüência máxima de B
=148,35, p<0,05; H(8,291)
duração de A
=24,4, p<0,05; H(8,291)
duração de
B
=59,58, p<0,05; H(8,291)
intervalo AB
=54,82, p<0,05). Utilizamos o Teste Dunn para identificar
entre quais indivíduos essas diferenças existiram (tabela 2.2, anexo 2) e não encontramos
diferenças significativas entre os indivíduos dos ninhos 1 e 3 de 2005; ninhos 2 e 4 de 2005;
ninhos 1 de 2005 e 1 de 2006; e ninhos 2 de 2005 e 9 de 2006. A maioria dos indivíduos (32
de um total de 36 comparações) pode ser diferenciada com a medição desses parâmetros
físicos.
A figura 2.32 mostra os sonogramas dos chamados de contato em vôo dos indivíduos
gravados em cada ninho. Essa vocalização não pôde ser gravada no ninho 8, porque já o
encontramos com um filhote totalmente emplumado que voou dois dias depois. Apesar de
termos observado depois uma disputa entre dois casais por essa cavidade, não houve a
possibilidade de registro desse chamado no local.
86
Figura 2.32. Sonogramas dos indivíduos de cada ninho.
N05 N06 N07
N09
N01 2005 N01 2006 N02 N03 N04
87
3.2.2. Dialetos populacionais
Comparando-se os chamados de contato em vôo dos indivíduos das populações de
Santa Bárbara e da Prainha, nas proximidades do estuário de Marapanim, podemos constatar
que há diferenças significativas na estrutura das duas notas que compõem o chamado de vôo
desta espécie, como ilustra a figura 2.33, com o sonograma de um indivíduo de cada
localidade. Ambos chamados são compostos de duas notas distintas com estrutura harmônica,
distinguíveis auditivamente no campo facilmente. Uma pessoa leiga treinada previamente
consegue reconhecer a espécie, a diferença entre as populações e não confunde as emissões
com as de outras espécies sintópicas de psitacídeos, como a de Amazona farinosa, que emite
duas notas iguais de estrutura harmônica e freqüência mais grave que a de A. amazonica. A
tabela 2.3 mostra o valor das médias e desvios-padrão das freqüências máximas e mínimas e
das durações das notas A e B emitidas durante os chamados de contato em vôo pelos
indivíduos das duas populações. Segundo essa tabela, os indivíduos da população de Santa
Bárbara emitem essas duas notas com freqüências um pouco maiores que os indivíduos da
população da Prainha.
Figura 2.33. Sonogramas de chamados de contato em vôo: A – indivíduo de Santa Bárbara; B
indivíduo de Marapanim.
AB
88
Tabela 2.3 – Médias e desvios-padrão das freqüências (Hz) e durações (ms) das notas A e B emitidas
pelos indivíduos das duas populações.
Santa Bárbara Prainha
Freqüência mín. de A (Hz)
X
=1794 ± 146,02
X
=1680 ± 58,63
Freqüência máx. de A (HZ)
X
=2150 ± 93,94
X
=1897 ± 71,44
Freqüência mín. de B (HZ)
X
=1661 ± 103,87
X
=1547 ± 44,23
Freqüência máx. de B (Hz)
X
=2255 ± 91,98
X
=2138 ± 46,75
Duração de A (ms)
X
=133 ± 4,34
X
=137 ± 2,86
Duração de B (ms)
X
=160 ± 5,8
X
=150 ± 3,18
Intervalo AB (ms)
X
=94 ± 4,65
X
=74 ± 4,13
89
4. DISCUSSÃO
4.1. REPERTÓRIO VOCAL
As vocalizações estudadas no presente trabalho, os gritos ou chamados, variam de
acordo com um contexto específico, cada uma representando uma mensagem diferente, como
por exemplo, um grito de alarme em situação de perigo (Hailman & Ficken, 1996; Sick,
1997). Várias espécies altamente sociais apresentam repertórios complexos, e parte deste
repertório está freqüentemente relacionado com o comportamento reprodutivo (Fandiño-
Mariño, 1989). Registramos um comportamento social sofisticado entre os representantes da
espécie Amazona amazonica, que se reúne em grandes bandos com até cerca de dez mil
indivíduos em dormitórios ao cair da noite, ou em bandos menores para forragear, com pelo
menos três indivíduos exibindo comportamento de vigilância enquanto os outros se
alimentam. Verificamos também, ao longo do estudo, que apresentam ainda comunicação
vocal quase que constante entre si, manifestações de um comportamento social complexo.
Como foi visto no presente estudo, encontramos nove vocalizações diferentes para A.
amazonica
somente no período reprodutivo, as quais estavam inseridas em três categorias
comportamentais. Nossos resultados são comparáveis com os encontrados para o Papagaio-
verdadeiro A. aestiva, no qual foram identificados também nove tipos de vocalizações que
eram emitidas em várias circunstâncias: alarme, contato, alimentação e vôo (Fernández-
Juricic e cols., 1998). Ao contrário do que verificaram estes autores com
A. aestiva, não
registramos vocalizações emitidas durante a alimentação, atividade que os papagaios
executavam em silêncio. Devemos porém, ressaltar que realizamos observações durante o
período reprodutivo, o que poderia talvez explicar as diferenças encontradas pelos autores
supracitados, que registraram vocalizações durante atividade de alimentação ao longo do ano,
90
incluindo o período inter-reprodutivo. Os autores não especificam se A. aestiva vocaliza de
forma diferenciada durante o período reprodutivo.
No caso do Anu-branco Guira guira, foram identificadas 28 tipos de vocalizações,
com 15 específicas para a reprodução (Fandiño-Mariño, 1989), representando um repertório
maior do que o encontrado para o Papagaio-do-mangue. O Anu-branco apresenta
comportamento reprodutivo cooperativo e comunitário com até 13 indivíduos (aparentados ou
não) nidificando em um mesmo lugar. Os papagaios não apresentam esse comportamento,
cada casal nidifica em uma cavidade e passa a maior parte do tempo em grupos familiares, ou
seja, o casal e os filhotes (o maior agrupamento visualizado foi o de cinco indivíduos, ver
Capítulo I). Desta forma, estratégias sociais diferentes podem determinar um repertório de
comportamentos e sons correspondentes.
4.1.1. Chamado de contato em vôo e reconhecimento individual
Estudiosos do comportamento social animal observaram que o reconhecimento
individual é um pré-requisito para relações sociais complexas, tais como o cuidado parental,
cooperação entre casal e cooperação entre indivíduos de um bando (Stoddard, 1996), sendo
importante principalmente para a coordenação de esforços reprodutivos (Falls, 1982). Um
exemplo da importância do reconhecimento específico é o do Pingüim Real da espécie
Aptenodytes patagonicus, que nidifica em colônias e os pais precisam encontrar seus filhotes
entre centenas de outros. Nesse caso, o que ficou evidenciado com auxílio de play-back, é que
os filhotes respondem apenas aos chamados de seus pais, chamados de outros adultos são
ignorados (Jouventin e cols., 1999).
Animais que discriminam conspecíficos familiares e não familiares provavelmente
evitam desperdício de tempo e energia durante as interações sociais (Lambrechts & Dhondt,
91
1995). Assim, uma forte pressão seletiva para reconhecimento individual deve ter ocorrido em
espécies com um alto grau de sociabilidade, como é o caso da espécie aqui estudada.
Farabaugh e Dooling (1996) sugeriram que o reconhecimento individual pelo chamado de
contato é um dos aspectos básicos da comunicação vocal em sociedades e bandos de
psitacídeos.
Segundo Wanker e colaboradores (1998), que realizaram testes de play-back com tuins
Forpus conspicillatus, esses indivíduos respondem significativamente com mais freqüência a
chamados de seus parceiros ou grupos familiares do que a outros membros de um bando,
indicando assim o reconhecimento dos mesmos.
Segundo nossos resultados, apesar da semelhança entre os chamados de contato em
vôo dos indivíduos da população de Santa Bárbara, algumas características acústicas,
principalmente a freqüência, podem reter variabilidade individual, o que pode permitir o
reconhecimento individual dentro de um grupo.
Não encontramos diferenças significativas quanto aos parâmetros físicos apenas entre
os indivíduos dos ninhos 1 e 3 de 2005, dos ninhos 2 e 4 de 2005; dos ninhos 1 de 2005 e 1 de
2006; e dos ninhos 2 de 2005 e 9 de 2006. Isso ocorreu porque possivelmente registramos
poucas vocalizações em boas condições para análises dos indivíduos dos ninhos 3 e 4 (ver
tabela 2.1, página 69), mas mesmo assim as médias de freqüências diferiram, além de termos
visto na figura 2.32 (página 86) que há diferença na estrutura das notas, variando ligeiramente
de indivíduo para indivíduo. No caso do ninho 1, este pode ter sido reutilizado durante as duas
estações reprodutivas pelo mesmo casal, já que os psitacídeos têm o comportamento de
reutilizar cavidades (Sick, 1997; Guedes 1993). E os ninhos 2 e 9 também podem ter sido
ocupados pelo mesmo casal, pois o ninho 9 estava localizado há poucos metros do ninho 2.
Este fato aumenta as chances de termos registrado o mesmo indivíduo como se fosse um
diferente. Como os ovos do ninho 2 foram predados na última estação reprodutiva, pode ser
92
que o casal não tenha considerado seguro investir esforços parentais nesta cavidade e utilizou
outra, nos arredores da área do ninho antigo, que possivelmente foi selecionada por conter
recursos alimentares próximos.
4.1.2. Chamado de contato pousado
Espécies monogâmicas aprendem a reconhecer seus parceiros como um indivíduo
(Bradbury & Vehrencamp, 1998). A fêmea de Parus major precisa ouvir apenas 2 ou 3 cantos
de seu parceiro antes de responder deixando a cavidade e se aproximando da fonte de som
(Lind e cols., 1996). Gnam (1991) observou que as fêmeas de Amazona leucocephala
bahamensis
somente reconhecem e respondem os chamados de seus parceiros, nunca
deixando os ninhos quando ouvem chamados de outros machos. Assim como para o
Papagaio-do-mangue, Renton e Salinas-Melgaza (1999) também visualizaram o macho da
espécie Amazona finschi vocalizando empoleirado nas proximidades do ninho até que a fêmea
saísse para ser alimentada. O chamado pode funcionar como indicador de segurança para a
fêmea deixar o ninho (Johnson & Kermott, 1991), principalmente para espécies de psitacídeos
que além de predadores naturais ainda precisam proteger seus filhotes dos traficantes de
animais silvestres. Essa deve ser a função do chamado de contato pousado do tipo 1, que por
apresentar as notas A e B emitidas durante os chamados de contato em vôo podem identificar
os indivíduos. Se a fêmea não pudesse identificar seu parceiro pelo canto ela poderia arriscar
gastar energia respondendo aos cantos de vizinhos ou machos transitantes (Lind e cols.,
1996), ou seja, na ausência de pistas visuais (como quando a fêmea está dentro do ninho
incubando os ovos), este tipo de vocalização pode fornecer uma base para que a fêmea possa
reconhecer seu parceiro.
93
O chamado de contato pousado do tipo II pode ser emitido com a função de
sincronizar as atividades alimentares entre macho e fêmea, ou entre o casal e os filhotes,
conforme pudemos supor observando os contextos comportamentais relacionados. A
sincronização de atividades é a função chave da comunicação em interações entre macho e
fêmea, pais e filhotes e entre indivíduos de um grupo (BradBury & Vehrencamp, 1998).
4.1.3. Chamados hostis
O chamado de alarme precisa fornecer rapidamente uma informação clara sem por em
perigo o seu emissor (Vielliard, 1989). Em animais que vivem em grupos, quando um
indivíduo avista um predador potencial emite um grito de alarme, que desencadeia uma ação
evasiva em todos os demais (Krebs & Davies, 1996).
A existência de diferentes tipos de chamados de alarme para diferentes tipos de
predadores foi descrita em espécies sociais como os Anus-brancos (Fandiño-Mariño, 1989) e
primatas Cercopithecus aethiops (Cheney & Seyfarth, 1990). Alarmes contra predadores
terrestres rastejantes, como as cobras, fazem com que os anus voem e os macacos fiquem nas
pontas dos pés e olhem para o chão; alarmes contra predadores aéreos, como os gaviões,
fazem com que os anus decolem imediatamente, procurando cobertura, ou se estiverem
seguros, ficam paralisados, enquanto os macacos olham para o céu; esses macacos apresentam
também o alarme contra felinos, que faz com que o grupo corra e suba em uma árvore mais
próxima (Fandiño-Mariño, 1989; Cheney & Seyfarth, 1990).
A espécie Amazona amazonica também apresenta pelo menos três tipos diferentes de
chamados de alarme. Porém, segundo as nossas observações, essas vocalizações não indicam
diferentes tipos de predadores, como foi visto para os macacos e Anus-brancos, mas sim
diferentes situações. Se o casal está junto e pousado na área do ninho e avista um predador,
94
ele voa e imediatamente emite o grito de alarme em vôo do tipo I; se o casal está voando e ao
se aproximar do ninho verifica a presença de predadores emite o grito de alarme em vôo tipo
II; e finalmente, se o macho chega na área do ninho para alimentar a fêmea e também avista
predadores, emite o grito de alarme pousado.
Este estudo mostra que, assim como os macacos e os anus, os papagaios têm um
sistema sofisticado de comunicação: gritos específicos para se referir a situações particulares
e iniciar uma resposta apropriada.
Os três tipos de chamados de alarme emitidos pelos papagaios apresentam pelo menos
a nota C em comum, e dois deles, os de alarme em vôo tipo I e de alarme pousado, possuem a
nota D. Portanto, pelo menos a nota C deve conter o código de alarme, e as outras notas
devem informar a situação momentânea.
No chamado de alarme em vôo do tipo I, as notas A e B são repetidas por mais de dez
vezes, o que pode ser vantajoso, pois a redundância do sinal pode garantir a eficiência da sua
transmissão no meio natural (Lengagne e cols., 1999).
Um segundo tipo de chamado hostil encontrado foi a vocalização agonística, emitida
por dois casais que disputavam o ninho 8. Este ninho pode ser considerado um bom local para
nidificação porque foi reutilizado pelo menos durante dois anos. A falta de ocos utilizáveis
para a construção do ninho pode ser um fator limitante para os psitacídeos, muitas cavidades
existentes são ocupadas por abelhas, marimbondos, formigas, havendo competição também
com pequenos mamíferos como gambás e sagüis e com outras aves pica-paus, araçaris,
gaviões, entre outras (Sick, 1997). Apesar dos possíveis machos terem se agredido
fisicamente duas vezes durante a disputa, essas agressões não duraram mais que um minuto.
Depois disso, emitiram vocalizações agonísticas uns para os outros por pelo menos três horas.
Isso deve ter ocorrido porque lutas físicas muitas vezes desencadeiam ferimentos ou mortes, o
95
que não é vantajoso para os oponentes, assim os animais freqüentemente definem as disputas
com exibições (Krebs & Davies, 1995).
Outra vocalização hostil identificada é a de afugentamento ou distress call. São
utilizadas quando os indivíduos são confrontados ou capturados por um predador, em
condições de extremo perigo (Högstedt, 1983). Esses chamados podem ser emitidos por
presas tanto na tentativa de escapar de predadores, quanto são capturadas por humanos
(Jurisevic & Sanderson, 1998), como foi visto para a espécie
Amazona amazonica em
momentos de manipulação de filhotes e de tentativas de fotografá-los dentro do ninho. Além
disso, verificamos que podem servir para a fêmea desta espécie ameaçar predadores na
tentativa de proteger seus filhotes. O chamado de afugentamento geralmente apresenta grande
amplitude, expressa agressão e supõe-se que assegura uma defesa mais efetiva contra um
predador em potencial, que podem se assustar com este som ameaçador (Morton, 1982). Esse
tipo de chamado é comum entre as aves (Koenig e cols., 1991; Anjos & Vielliard, 1993;
Jurisevic & Sanderson, 1998; Venuto e cols., 2001; Laiolo e cols., 2004). O chamado de
afugentamento de
Amazona amazonica pode ser mediado pela aprendizagem, pois
verificamos que filhotes de uma semana emitiam vocalizações completamente diferentes das
vocalizações emitidas por filhotes de mais de três semanas e de uma fêmea adulta, em um
mesmo contexto de perigo (ver resultados, páginas 83 e 84).
96
4.2. DIALETOS POPULACIONAIS
O canto pode variar entre populações de áreas distantes, o que é denominado de
dialeto vocal (Catchopole & Slater, 1995). Segundo Andrew (1962), os dialetos são produtos
do aprendizado vocal. Este aprendizado pode ser muito apurado, porém erros podem ocorrer
(Catchopole & Slater, 1995). A forma do som aprendido pode “se desviar” da forma original
(Lemon, 1975), ou as aves podem desenvolver novas formas por mudanças tais como
adicionando ou omitindo sessões ou juntando partes de dois tipos de vocalizações diferentes
(Marler, 1981). Em áreas distantes umas das outras, mudanças ocorridas nos cantos devido a
erros na aprendizagem serão diferentes, levando a uma variação geográfica. Aves que
apresentam aprendizado vocal baseiam-se em alguns indivíduos da mesma área (vizinhos ou
pais) que elas escutam, tornando-as capaz de interagir mais efetivamente. Isso resulta em uma
conservação da vocalização dentro da área, já que os cantos tendem a ser similares,
apresentando mudanças graduais de acréscimos de erros (Catchopole & Slater, 1995).
Não há evidências de que o dialeto vocal possa agir como uma barreira para o fluxo
genético, pelo menos para a espécie de papagaio Amazona auropalliata (Wright e cols.,
2005). Em um ambiente com hábitats distintos, sujeitos à flutuações temporais e espaciais,
deve ser vantajoso para qualquer população evitar uma separação irreversível entre indivíduos
de uma mesma espécie. Assim, diferenças nas vocalizações funcionam mais para o
reconhecimento social e coesão de um determinado grupo populacional (Nottebohm, 1970).
Dialetos vocais têm sido documentados em um gama de espécies de aves, incluindo
membros de Passeriformes (Krebs & Kroodsma, 1980; Catchpole & Slater, 1995),
Apodiformes (Gaunt e cols., 1994), and Psittaciformes (Wright, 1996; Baker, 2000; Kleeman
& Gilardi, 2005), além de terem sidos identificados também em chimpanzés (Whiten e cols.,
1999).
97
A existência de dialetos nesses animais pode indicar cultura, o que antes era
característica apenas da sociedade humana (Whiten e cols., 1999). O termo “cultura” é
definido de diferentes formas por diferentes escolas. Em um extremo, os antropólogos
insistem em mediação lingüística, assim a cultura seria um fenômeno estritamente humano
(Bloch, 1991). Em ciências Biológicas, uma definição mais inclusiva é aceita, na qual o
significado de transmissões culturais é reconhecido como a transmissão de um determinado
comportamento entre gerações por meio de aprendizagem social (Whiten e cols., 1999).
Os chamados de contato dos Papagaios-do-mangue variaram entre as duas localidades
estudadas, o que pode indicar a existência de dialetos entre essas populações. Seria necessária
uma investigação específica para verificação da magnitude das diferenças vocais
populacionais com um número suficiente de registros de diversas populações e indivíduos
para definir ao menos parte dos dialetos desta espécie. Para a ocorrência de dialetos, deve
haver algumas bases de separação de populações locais (Lemon, 1975), e os papagaios
provavelmente são sedentários, utilizando sempre os mesmos dormitórios e quando possível
os mesmos locais de ninho (Sick, 1997).
Entre as espécies de psitacídeos nas quais se verificou a existência de dialetos, duas
são do gênero
Amazona (ver Wright, 1996; Kleeman & Gilardi, 2005). Para Amazona
auropalliata,
as gravações foram feitas em dormitórios coletivos, e alguns dos indivíduos de
dormitórios situados entre duas áreas de dialetos diferentes (dormitórios-borda) eram
bilíngües, ou seja, emitiam tanto os chamados de contato em vôo de um dialeto quanto de
outro. Indivíduos bilíngües não foram comuns, de cinco a dez indivíduos por dormitório
(Wright, 1996). A existência de aves bilíngües pode indicar que utilizar o chamado local pode
ser necessário para ganhar acesso à alimentação e bandos de dormitórios (Mundinger, 1970;
Nowicki, 1983) ou para formar casais e se reproduzir (O’Loghlen & Rothstein, 1995). Tal
98
convergência vocal ocorre rapidamente em bandos de Melopsitacus undulatus cativos
(Farabaugh e cols., 1994).
99
5. CONCLUSÕES
Por apresentar um período reprodutivo marcado por grandes esforços parentais, no
qual os filhotes demoram a se emancipar (pelo menos 3 meses segundo nossas observações),
além do perigo de predação animal e humana, a espécie Amazona amazonica necessita de um
sistema de comunicação sofisticado. Neste estudo, verificamos que este papagaio realmente
apresenta um repertório vocal complexo em seu período reprodutivo, constituído de 36 notas
inseridas em 9 tipos de vocalizações , das quais 5 foram emitidas em situações de perigo (3
chamados de alarme e 2 de afugentamento). Essas vocalizações foram inseridas em três
categorias comportamentais: chamados de contato em vôo, chamado de contato pousado e
chamados hostis.
O chamado de contato em vôo é muito importante para a espécie, por seu caráter de
reconhecimento individual, que é essencial no período reprodutivo para reconhecimento entre
casais e pais e filhotes, evitando-se esforços de respostas a indivíduos estranhos.
Por conter as notas A e B, notas emitidas durante o chamado de contato em vôo, o
chamado de contato pousado do tipo I também apresenta caráter individual. Com isso, a
fêmea consegue reconhecer seu parceiro e essa vocalização é o sinal de que ela pode sair do
ninho, já que o macho só a emite após um tempo de vigilância, depois que verifica que não há
nenhum predador em potencial na área. Como a fêmea não pode ser vista saindo do ninho
para que a localização do mesmo não seja descoberta, principalmente pelo homem, esse tipo
de vocalização também é importante para a espécie.
O significado do chamado de contato pousado do tipo II não ficou muito evidenciado,
mas aparentemente pode estar relacionado o momento de alimentação dos papagaios, pois era
emitido sempre antes da regurgitação do macho para a fêmea, do casal para os filhotes ou
antes de grupos de papagaios iniciarem sua alimentação.
100
Foram identificados três chamados de alarme, o que revela a importância deste sinal
para a sobrevivência da espécie, que sofreu pressões evolutivas em função da sua estrutura
social no sentido de aumentar a exatidão da informação. Além de informar a presença do
perigo, uma modalidade de grito de alarme pode incorporar a indicação da localização exata
do perigo iminente, incitar a fuga ou avisar o cônjuge para que mantenha sua posição no
abrigo e desta forma aumentar a chance de proteção de seu grupo familiar.
A vocalização agonística foi emitida em disputa por um ninho, que como já foi dito é
um fator limitante para a reprodução dos psitacídeos.
E finalmente, a vocalização de afugentamento representa mais uma forma de proteção
para os papagaios contra os predadores naturais e seres humanos e pode ser considerada
aprendida ao longo do desenvolvimento da espécie.
Além de apresentar um repertório vocal complexo, verificamos também a existência
de dialetos vocais entre as populações de Santa Bárbara e da vila de Prainha. Porém são
necessárias gravações de um grande número de indivíduos de populações diversas para
confirmar a assertiva, além de estabelecer a magnitude das diferenças, delimitando os
parâmetros fixos, responsáveis pelo reconhecimento específico e os variáveis inter-
populacionais.
Assim como essa espécie de papagaio, algumas outras aves e primatas também exibem
tanto um repertório amplo, reconhecimento individual vocal como dialetos populacionais.
Aves e mamíferos, porém, não apresentam um ancestral comum próximo, o que deve ter
ocorrido foi um processo de evolução convergente, no qual, devido à pressão da convivência
social, acabaram desenvolvendo comportamentos similares para suprir necessidades também
similares.
101
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ANEXOS
Anexo1. Planilha utilizada para o monitoramento dos papagaios no dormitório
Data: 23/12/2006 Visita: 157
Componentes: Leiliany e Paulo
Local de saída: Hotel Beira Rio
Hora de saída de Belém: 04h34
Hora de chegada na ilha: 05h05
Hora de saída da ilha: 07h00
Hora de chegada em Belém: 07h36
Duração da viagem: 3h02
Condições Climáticas: vento 2, Nuvens 2, Chuva 1
Temperatura: Chegada na ilha:
24,7°C
Ocaso/aurora:
24,9°C
Saída da ilha:
25,1°C
Umidade: Chegada na ilha:
93%
Ocaso/aurora:
91%
Saída da Ilha:
90%
Horário do ocaso/aurora: 06h06
Observações:
Direção: Sudeste
Total: 2052
Lux Hora
Nº de
Sozinhos
Nº de
Casais
Nº de
trios
Grupos
de 4
Grupos
de 5
Grupos >
1 05h37 2 2,3,1 50,10
1 05h38 3,2 5,7,4 2
1 05h39 1 2 1 1
2 05h40 2 1,1 1 15,100
2 05h41 1,2 20, 10 11
Anexo 2. Tabela 2.2 – Comparação entre os chamados de contato em vôo dos indivíduos da
população de Santa Bárbara, levando em consideração os parâmetros freqüência e tempo. Os valores
de p em vermelho representam os resultados não significativos.
Freq. min
de A
Freq. max
de A
Freq. min
de B
Freq. max
de B
Duração
de A
Duração
de B
Intervalo
AB
N1_05
vs
N2_05
X
1
=1960
X
2
=1666
P<0,05
X
1
=2213
X
2
=2000
p<0,05
X
1
=1769
X
2
=1672
p<0,05
X
1
=2247
X
2
=2203
p>0,05
X
1
=133
X
2
=133
p>0,05
X
1
=157
X
2
=164
p>0,05
X
1
=93
X
2
=97
p>0,05
N1_05
vs
N3_05
X
1
=1960
X
3
=1911
p>0,05
X
1
=2213
X
3
=2166
p>0,05
X
1
=1769
X
3
=1730
p>0,05
X
1
=2247
X
3
=2286
p>0,05
X
1
=133
X
3
=134
p>0,05
X
1
=157
X
3
=161
p>0,05
X
1
=93
X
3
=94
p>0,05
N1_05
vs
N4_05
X
1
=1960
X
4
=1611
p<0,05
X
1
=2213
X
4
=2079
p<0,05
X
1
=1769
X
4
=1528
p<0,05
X
1
=2247
X
4
=2248
p>0,05
X
1
=133
X
4
=132
p>0,05
X
1
=157
X
4
=161
p>0,05
X
1
=93
X
4
=94
p>0,05
N1_05
vs
N5_05
X
1
=1960
X
5
=1732
p<0,05
X
1
=2213
X
5
=2154
p<0,05
X
1
=1769
X
5
=1605
p<0,05
X
1
=2247
X
5
=2265
p>0,05
X
1
=133
X
5
=132
p>0,05
X
1
=157
X
5
=160
p>0,05
X
1
=93
X
5
=92
p>0,05
N1_05
vs
N1_06
X
1
=1960
X
1
=1939
p>0,05
X
1
=2213
X
1
=2188
p>0,05
X
1
=1769
X
1
=1746
p>0,05
X
1
=2247
X
1
=2242
p>0,05
X
1
=133
X
1
=134
p>0,05
X
1
=157
X
1
=160
p>0,05
X
1
=93
X
1
=94
p>0,05
N1_05
vs
N6_06
X
1
=1960
X
6
=1862
p<0,05
X
1
=2213
X
6
=2136
p<0,05
X
1
=1769
X
6
=1780
p>0,05
X
1
=2247
X
6
=2214
p>0,05
X
1
=133
X
6
=131
p>0,05
X
1
=157
X
6
=158
p>0,05
X
1
=93
X
6
=93
p>0,05
N1_05
vs
N7_06
X
1
=1960
X
7
=1888
p<0,05
X
1
=2213
X
7
=2116
p<0,05
X
1
=1769
X
7
=1783
p>0,05
X
1
=2247
X
7
=2298
p<0,05
X
1
=133
X
7
=130
p>0,05
X
1
=157
X
7
=153
p>0,05
X
1
=93
X
7
=89
P<0,05
N1_05
vs
N9_06
X
1
=1960
X
9
=1750
p<0,05
X
1
=2213
X
9
=2053
p<0,05
X
1
=1769
X
9
=1687
p<0,05
X
1
=2247
X
9
=2173
p<0,05
X
1
=133
X
9
=131
p>0,05
X
1
=157
X
9
=160
p>0,05
X
1
=93
X
9
=95
p>0,05
N2_05
vs
N3_05
X
2
=1666
X
3
=1911
p<0,05
X
2
=2000
X
3
=2166
p<0,05
X
2
=1672
X
3
=1730
p>0,05
X
2
=2203
X
3
=2286
p<0,05
X
2
=133
X
3
=134
p>0,05
X
2
=164
X
3
=161
p>0,05
X
2
=97
X
3
=94
p>0,05
Freq. min
de A
Freq. max
de A
Freq. min
de B
Freq. max
de B
Duração
de A
Duração
de B
Intervalo
AB
N2_05
vs
N4_05
X
2
=1666
X
4
=1611
p>0,05
X
2
=2000
X
4
=2079
p>0,05
X
2
=1672
X
4
=1528
p>0,05
X
2
=2203
X
4
=2248
p>0,05
X
2
=133
X
4
=132
p>0,05
X
2
=164
X
4
=161
p>0,05
X
2
=97
X
4
=94
p>0,05
N2_05
vs
N5_05
X
2
=1666
X
5
=1732
p>0,05
X
2
=2000
X
5
=2154
p<0,05
X
2
=1672
X
5
=1605
p>0,05
X
2
=2203
X
5
=2265
p>0,05
X
2
=133
X
5
=132
p>0,05
X
2
=164
X
5
=160
p>0,05
X
2
=97
X
5
=92
p>0,05
N2_05
vs
N1_06
X
2
=1666
X
1
=1939
p<0,05
X
2
=2000
X
1
=2188
p<0,05
X
2
=1672
X
1
=1746
p>0,05
X
2
=2203
X
1
=2242
p>0,05
X
2
=133
X
1
=134
p>0,05
X
2
=164
X
1
=160
p>0,05
X
2
=97
X
1
=94
p>0,05
N2_05
vs
N6_06
X
2
=1666
X
6
=1862
p<0,05
X
2
=2000
X
6
=2136
p<0,05
X
2
=1672
X
6
=1780
p<0,05
X
2
=2203
X
6
=2214
p>0,05
X
2
=133
X
6
=131
p>0,05
X
2
=164
X
6
=158
p>0,05
X
2
=97
X
6
=93
p>0,05
N2_05
vs
N7_06
X
2
=1666
X
7
=1888
p<0,05
X
2
=2000
X
7
=2116
p<0,05
X
2
=1672
X
7
=1783
p<0,05
X
2
=2203
X
7
=2298
p<0,05
X
2
=133
X
7
=130
p>0,05
X
2
=164
X
7
=153
p<0,05
X
2
=97
X
7
=89
p<0,05
N2_05
vs
N9_06
X
2
=1666
X
9
=1750
p>0,05
X
2
=2000
X
9
=2053
p>0,05
X
2
=1672
X
9
=1687
p>0,05
X
2
=2203
X
9
=2173
p>0,05
X
2
=133
X
9
=131
p>0,05
X
2
=164
X
9
=160
p>0,05
X
2
=97
X
9
=95
p>0,05
N3_05
vs
N4_05
X
3
=1911
X
4
=1611
p<0,05
X
3
=2166
X
4
=2079
p<0,05
X
3
=1730
X
4
=1528
p<0,05
X
3
=2286
X
4
=2248
p>0,05
X
3
=134
X
4
=132
p>0,05
X
3
=161
X
4
=161
p>0,05
X
3
=94
X
4
=94
p>0,05
N3_05
vs
N5_05
X
3
=1911
X
5
=1732
p<0,05
X
3
=2166
X
5
=2154
p>0,05
X
3
=1730
X
5
=1605
p<0,05
X
3
=2286
X
5
=2265
p>0,05
X
3
=134
X
5
=132
p>0,05
X
3
=161
X
5
=160
p>0,05
X
3
=94
X
5
=92
p>0,05
N3_05
vs
N1_06
X
3
=1911
X
1
=1939
p>0,05
X
3
=2166
X
1
=2188
p>0,05
X
3
=1730
X
1
=1746
p>0,05
X
3
=2286
X
1
=2242
p<0,05
X
3
=134
X
1
=134
p>0,05
X
3
=161
X
1
=160
p>0,05
X
3
=94
X
1
=94
p>0,05
N3_05
vs
N6_06
X
3
=1911
X
6
=1862
p>0,05
X
3
=2166
X
6
=2136
p>0,05
X
3
=1730
X
6
=1780
p>0,05
X
3
=2286
X
6
=2214
p<0,05
X
3
=134
X
6
=131
p>0,05
X
3
=161
X
6
=158
p>0,05
X
3
=94
X
6
=93
p>0,05
Freq. min
de A
Freq. max
de A
Freq. min
de B
Freq. max
de B
Duração
de A
Duração
de B
Intervalo
AB
N3_05
vs
N7_06
X
3
=1911
X
7
=1888
p>0,05
X
3
=2166
X
7
=2116
p>0,05
X
3
=1730
X
7
=1783
p<0,05
X
3
=2286
X
7
=2298
p>0,05
X
3
=134
X
7
=130
p>0,05
X
3
=161
X
7
=153
p<0,05
X
3
=94
X
7
=89
p<0,05
N3_05
vs
N9_06
X
3
=1911
X
9
=1750
p<0,05
X
3
=2166
X
9
=2053
p<0,05
X
3
=1730
X
9
=1687
p>0,05
X
3
=2286
X
9
=2173
p<0,05
X
3
=134
X
9
=131
p>0,05
X
3
=161
X
9
=160
p>0,05
X
3
=94
X
9
=95
p>0,05
N4_05
vs
N5_05
X
4
=1611
X
5
=1732
p>0,05
X
4
=2079
X
5
=2154
p<0,05
X
4
=1528
X
5
=1605
p>0,05
X
4
=2248
X
5
=2265
p>0,05
X
4
=132
X
5
=132
p>0,05
X
4
=161
X
5
=160
p>0,05
X
4
=94
X
5
=92
p>0,05
N4_05
vs
N1_06
X
4
=1611
X
1
=1939
p<0,05
X
4
=2079
X
1
=2188
p<0,05
X
4
=1528
X
1
=1746
p<0,05
X
4
=2248
X
1
=2242
p>0,05
X
4
=132
X
1
=134
p>0,05
X
4
=161
X
1
=160
p>0,05
X
4
=94
X
1
=94
p>0,05
N4_05
vs
N6_06
X
4
=1611
X
6
=1862
p<0,05
X
4
=2079
X
6
=2136
p<0,05
X
4
=1528
X
6
=1780
p<0,05
X
4
=2248
X
6
=2214
p>0,05
X
4
=132
X
6
=131
p>0,05
X
4
=161
X
6
=158
p>0,05
X
4
=94
X
6
=93
p>0,05
N4_05
vs
N7_26
X
4
=1611
X
7
=1888
p<0,05
X
4
=2079
X
7
=2116
p>0,05
X
4
=1528
X
7
=1783
p<0,05
X
4
=2248
X
7
=2298
p<0,05
X
4
=132
X
7
=130
p>0,05
X
4
=161
X
7
=153
p<0,05
X
4
=94
X
7
=89
p<0,05
N4_05
vs
N9_06
X
4
=1611
X
9
=1750
p<0,05
X
4
=2079
X
9
=2053
p>0,05
X
4
=1528
X
9
=1687
p<0,05
X
4
=2248
X
9
=2173
p<0,05
X
4
=132
X
9
=131
p>0,05
X
4
=161
X
9
=160
p>0,05
X
4
=94
X
9
=95
p>0,05
N5_05
vs
N1_06
X
5
=1732
X
1
=1939
p<0,05
X
5
=2154
X
1
=2188
p>0,05
X
5
=1605
X
1
=1746
p<0,05
X
5
=2265
X
1
=2242
p>0,05
X
5
=132
X
1
=134
p>0,05
X
5
=160
X
1
=160
p>0,05
X
5
=92
X
1
=94
p>0,05
N5_05
vs
N6_06
X
5
=1732
X
6
=1862
p<0,05
X
5
=2154
X
6
=2136
p>0,05
X
5
=1605
X
6
=1780
p<0,05
X
5
=2265
X
6
=2214
p<0,05
X
5
=132
X
6
=131
p>0,05
X
5
=160
X
6
=158
p>0,05
X
5
=92
X
6
=93
p>0,05
N5_05
vs
N7_06
X
5
=1732
X
7
=1888
p<0,05
X
5
=2154
X
7
=2116
p>0,05
X
5
=1605
X
7
=1783
p<0,05
X
5
=2265
X
7
=2298
p>0,05
X
5
=132
X
7
=130
p>0,05
X
5
=160
X
7
=153
p<0,05
X
5
=92
X
7
=89
p>0,05
Freq. min
de A
Freq. max
de A
Freq. min
de B
Freq. max
de B
Duração
de A
Duração
de B
Intervalo
AB
N5_05
vs
N9_06
X
5
=1732
X
9
=1750
p>0,05
X
5
=2154
X
9
=2053
p<0,05
X
5
=1605
X
9
=1687
p>0,05
X
5
=2265
X
9
=2173
p<0,05
X
5
=132
X
9
=131
p>0,05
X
5
=160
X
9
=160
p>0,05
X
5
=92
X
9
=95
p>0,05
N1_06
vs
N6_06
X
1
=1939
X
6
=1862
p<0,05
X
1
=2188
X
6
=2136
p>0,05
X
1
=1746
X
6
=1780
p>0,05
X
1
=2242
X
6
=2214
p>0,05
X
1
=134
X
6
=131
p>0,05
X
1
=160
X
6
=158
p>0,05
X
1
=94
X
6
=93
p>0,05
N1_06
vs
N7_06
X
1
=1939
X
7
=1888
p>0,05
X
1
=2188
X
7
=2116
p<0,05
X
1
=1746
X
7
=1783
p>0,05
X
1
=2242
X
7
=2298
p<0,05
X
1
=134
X
7
=130
p>0,05
X
1
=160
X
7
=153
p<0,05
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1
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7
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N1_06
vs
N9_06
X
1
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X
9
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p<0,05
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1
=2188
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9
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p<0,05
X
1
=1746
X
9
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p<0,05
X
1
=2242
X
9
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p<0,05
X
1
=134
X
9
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X
1
=160
X
9
=160
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1
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N6_06
vs
N7_06
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6
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X
7
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6
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X
7
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X
6
=131
X
7
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X
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N6_06
vs
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=2136
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X
6
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X
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vs
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