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muitas vezes, sem diferenciá-los um do outro. No “Além do Princípio de
Prazer”, diz ele, Freud utiliza compulsão à repetição e Zwang quase sempre
como sinônimos de Drang e Trieb. Nota-se a idéia segundo a qual o sujeito
está condenado a realizar a pulsão para além de sua vontade, destacando-se,
assim, o caráter avassalador e irresistível: “[...] o uso de Zwang se ressalta por
ser uma imposição do Trieb ao sujeito” (Hanns, 1996, p. 109).
Em todo caso, Freud utiliza o termo compulsão (Zwang) para denominar
o estado segundo o qual “[...] o sujeito [está] sendo obrigado, contra sua
vontade, a agir de determinada forma” (Hanns, 1996, p. 100). Nesta
perspectiva, Zwang resulta de um conflito pulsional que impõe ao sujeito uma
direção, uma força que o faz sofrer, de modo que algo é imposto forçando a
pessoa a determinado ato.
Hanns considera Zwang em três aspectos: coação, alteridade e
estranhamento. A coação é no sentido de “obrigar”, “forçar”, quando só se pode
agir numa direção. Neste sentido, cabe a idéia de reprimir, fazer passar à força,
“tal qual o suco de uma fruta que, de tão espremida, é obrigado a escoar pelas
incisões feitas na casca [...], de tão comprimido, o sujeito só pode escapar da
pressão agindo na direção para a qual foi forçado” (Hanns, 1996, p. 101-102).
O Zwang interno, diz Hans, produz-se da alteridade-externalidade dentro
do sujeito. “Algo existente em mim e me força a agir em certa direção”, como
se uma parte da pessoa fosse autônoma: “Divisão da autonomia do e no
sujeito” (Hanns, 1996, p. 102), algo que, aparentemente, não faz parte da
pessoa, mas que a obriga a agir.
Segundo as considerações de Hans, há um certo estranhamento do eu
com o eu, “resultado de uma força à qual o sujeito desejaria resistir” (Hanns,
1996, p. 102). Infere-se, aqui, uma representação de conflito interno de
grandes proporções, pela qual a pessoa é levada a agir de certa forma
específica, muito embora não se sinta à vontade.
No conceito de compulsão, com o qual se norteia o presente trabalho,
destacam-se os termos ”forçado”, “vontade”, “direção”, “resistir”. Leva-se em
consideração o paradoxo do desejar o sofrimento, persistir na repetição daquilo
que o sujeito não quer, resistindo a força da sua vontade. Neste contexto,
visando melhor esclarecimento, Hans distingue a compulsão da obsessão:
nesta última o sujeito é tomado, possuído pela força (Drang), enquanto que na