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5. Cléo Martins, 51 anos, advogada e escritora, ebomy de Oyá e agbeni de Xangô do Ilê Axé
Opô Afonjá:
Oyá é um vento sagrado, o fogo-ternura, sublime compaixão, mãe no sentido do
que é vivo e do que é morto, generosa, irascível; de brisa e tempestade, por
excelência ela, pra mim, é movimento, movimento nervoso; representa as
vanguardas e as transformações. O Apóstolo Paulo disse um dia: ‘Não sou quem
vivo, mas é Cristo quem vive em mim’. Eu sinto o mesmo em relação à Oyá. Ela
está em mim e eu a represento enquanto humana é a transformação do sagrado na
gente, a minha humanidade consagrada é Oyá, cada artigo, cada briga, cada barraco
que armo, como tudo que me é belo vem de Oyá. A sedução em Oyá não é
estudada, é natural, Ela é transparência. Existem pessoas que são assim, Bethânia,
por exemplo, também como eu, é assim. Aliás, nós que somos de Iansã temos um
brilho especial.
6. Ana Rita Gonçalves, 36 anos, tecelã, omorisá de Oyá do Ilê Axé Opô Afonjá (6 anos de
iniciação):
Oyá é minha vida, é o ar que eu respiro, Ela que já o vento, facilita ainda mais isso
pra mim: respirar. Sem Ela eu não vivo, Ela é movimento, como minha mãe Stella
diz, Iansã é a própria alegria. Desde criança sempre soube: eu sou de Iansã. Toda
pessoa tem em si características do seu orixá. Cada orixá traduz no corpo do seu
filho a sua característica. Sempre me vejo em Iansã e Ela em mim, sempre comigo.
Na minha profissão de tecelã, que precisa usar as mãos, também na culinária, na
minha independência diante da vida, Ela está aí. Nós as filhas de Oyá temos
personalidade forte e adoramos liberdade. Costumo dizer: não me pressione, não
me obrigue a fazer nada, tudo em mim tem que fluir livremente, assim, o que faço,
me meto a fazer, sai bem feito. Como Iansã.
7. Júlia Couto, 31 anos, professora e atriz, omorisá de Oyá (iniciada há sete anos) do Ilê Ibiri
Omin Axé Airá:
Costumo dizer que Ela é a inconstância, Ela faz de mim inconstante, me doma
dentro da inconstância dela. É uma Mãe linda, charmosa, poderosíssima. Ela é
muito presente em minha vida, vive em mim desde sempre. Sempre me soube filha
Dela: Ela se faz presente na minha certeza Dela vivendo em mim. Acho que, como
Oyá, eu sou um misto de timidez e pessoa boa, valente, desinibida, tenho a
dubiedade Dela, Mulher verdadeira, livre, falante, mas que não diz tudo, Ela gosta
de deixar mistério; sempre a sinto quando estou no palco, ali Ela me segura, toma
conta de mim, fica ali me segurando soprando seu ventinho quando necessário.
8. Arany Santana, 56 anos, professora e atriz, filha de Oyá-Iansã (Bamburucema na nação de
angola), ligada ao Terreiro “Tumbenci” em Lauro de Freitas-BA:
É o vento forte que me arrebata, que eu sei que é maior do que eu, maior que meu
corpo. Um vento que me toma e possui, e quando volto à realidade, eu me sinto
leve e plena; Ela é a sensação de alegria, de pureza, é um prazer indescritível tê-la
em mim. É uma exaustão aliviada. Mas quem é Iansã pra mim? Quem pode, com
precisão, dizer quem Ela é? Eu só posso falar de dentro para fora, nunca de fora
para dentro; nunca mobilizada para uma explicação de algo que me é melhor
definível pelo sentir, por minha experiência intransferivelmente pessoal. Pois é, eu
achava que eu era a representação Dela. Recentemente deixei de pensar assim. Ela
é uma ‘lady’ e eu sou estabanada. Ela é polida, é finíssima, e eu não sou assim. Ela
interfere na minha vida e no meu jeito, às vezes me salva, me liberta. Preciso Dela
comigo; têm vezes que Ela me toma e age em mim sendo Ela. Pois Ela é Ela e eu
sou eu. Ela é uma divindade, eu sou humana.