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a força política detida por seu genro, Afonso, se inserisse em uma escala maior.
Possivelmente, antes de Pelágio, Afonso I já era em seu tempo um grande líder político
independente que viu na vitória de seu par uma oportunidade de firmar uma aliança
proveitosa. De um poder localista, teria surgido neste momento um poder de alcance regional
com a capacidade de expandir o seu teatro de operações. A primeira grande expansão do reino
asturiano nos é relatada pela Crônica Rotense:
13. Tendo aquele morrido, Afonso foi eleito no reino pelo imenso povo, ele com a
divina graça sucedeu no cetro. Foi aldacioso com os inimigos. Que com o irmão
Froila, pelo cerco do exército, capturou muitas cidades guerreando _, isto é, Lugo,
Tuda, Portucalis, Anegia, Braga metropolitana, Viseo, Flávias, Letesma,
Salamantica, Numância que então era chamada Zamora, Abela, Astorga, Leão,
Simancas, Saldanha, Amaya, Segovia, Oxoma, Sepúlveda, Arganza, Clunia, Mabe,
Oca, Miranda, Revendeca, Carbonarica, Abeica, Cinasaria e Alesanzo, seus castelos
com vilas e seus vicos, também aniquilando todos os Árabes pelo gládio, porém
conduziu os Cristãos consigo até a pátria.
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14. Neste tempo, povoou as Astúrias, Primorias, Liveira, Transmera, Subporta,
Carrantis, Bardulias, que então era chamada Castela e as partes marítimas [e]
Galícia, Alava, com efeito, Viscaia, Aizone e Urdunia, foram retomadas e sejam
pelos seus sempre possuídas, assim como Pamplona [Degius é] e Berroza. Ele foi
um grande homem. Destacou-se por Deus e por todos. Fez muitas basílicas. Viveu
no reino XVIII anos. Afastou-se pela própria morte
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Essas correrias não passaram despercebidas pelos historiadores muçulmanos:
Os galegos se sublevaram contra os muçulmanos, e crescendo o poder do cristão
chamado Pelágio, de quem havíamos feito menção no começo desta história, saiu da
serra e se fez dono do distrito das Astúrias. Os muçulmanos da Galícia e Astorga se
resistiram por longo tempo, até que surgiu a guerra civil de Abol-Jatar e Tsuaba. No
ano 33 foram vencidos e arrojados (os árabes) da Galícia, voltando-se a tornar
cristãos todos aqueles que estavam duvidosos em sua religião, e deixando de pagar
os tributos. Dos restantes, uns foram mortos e outros fugiram pelos montes até
Astorga. Mas quando a fome se espalhou, arrojaram também os muçulmanos de
Astorga e outras povoações, e foram-se recolhendo por detrás das gargantas da outra
cordilheira, e até Coria e Mérida, no ano 35
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Chronica Rotensis. 13. Quo mortuo ab uniuerso populo Adefonsus eligitur in regno, qui cum gratia diuina
regni suscepit sceptra. Inimicorum ab eo semper fuit audatia conprensa. Qui cum fratre Froilane sepius exercitu
mobens multas ciuitates bellando cepit, id est, Lucum, Tudem, Portugalem, Anegiam , Bracaram
metropolitanam, Uiseo, Flauias, Letesma, Salamantica, Numantia qui nunc uocitatur Zamora, Abela, Astorica,
Legionem, Septemmanca, Saldania, Amaia, Secobia, Oxoma, Septempuplica, Arganza, Clunia, Mabe, Auca,
Miranda, Reuendeca, Carbonarica, Abeica, Cinasaria et Alesanzo seu castris cum uillis et uiculis suis, omnes
quoque Arabes gladio interficiens, Xpianos autem secum ad patriam ducens. In: BONNAZ, Yves. Chroniques
asturiennes: fins IXe. siècle. Paris: CNRS, 1987, p. 45.
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Chronica Rotensis. 14. Eo tempore populatur Asturias , Primorias, Liueria, Transmera, Subporta, Carrantia,
Bardulies qui nunc uocitatur Castella et pars maritimam [et] Gallecie; Alaba namque, Bizcai, Aizone et Urdunia
a suis reperitur semper esse possessas, sicut Pampilonia [Degius est] atque Berroza. Hie uir magnus fuit. Deo et
ominibus amauilis extitit. Baselicas multas fecit. Uixit in regno a. XVIII. Morte propria discessit. In: BONNAZ,
Yves. Chroniques asturiennes: fins IXe. siècle. Paris: CNRS, 1987, p. 46.
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Ajbar Machmuâ, op. cit, p. 66-67.