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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA
RESPOSTAS BIOQUÍMICAS E MOLECULARES NO PEIXE
Poecilia vivipara EXPOSTO À FRAÇÃO DE ÓLEO DIESEL
ACOMODADA EM ÁGUA
JACÓ JOAQUIM MATTOS
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Bioquímica da Universidade
Federal de Santa Catarina como
requisito parcial à obtenção do
título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Afonso Celso Dias Bainy
Florianópolis 2010
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2
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e irmã pelo apoio aos meus estudos e apoio
incondicional nas minhas decisões.
Aos integrantes do LABCAI: Karim, Marília, Ninna, Mister
Tarquin, Guilherme, Fabrício, Isabel, Ana, Juliana, Talita,
Daniela, Maya, Pedrão, Christiely (que até agora não sei como
escrevo o nome), Juliano, Mariana e aos mais novos integrantes
do laboratório, cujos nomes não decorei ainda devido a pouca
convivência. Agradeço a todos pelas batalhas que lutamos
juntos, pelo verdadeiro trabalho em equipe nos momentos de
adversidade (mudança de laboratório), pelas conversas
esclarecedoras quando a convivência estava difícil e pelas lições
de vida compartilhadas na bancada central.
M444r Mattos, Jacó Joaquim
Respostas bioquímicas e moleculares no peixe Poecilia
vivipara exposto à fração de óleo diesel acomodada
em água [dissertação] / Jacó Joaquim Mattos ; orientador,
Afonso Celso Dias Bainy. - Florianópolis, SC, 2010.
120 p.: grafs., tabs.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro de Ciências Biológicas. Programa de Pós-
Graduação em Bioquímica.
Inclui referências
1. Bioquímica. 2. Barrigudinho - Metabolismo. 3.
Combustíveis diesel. 4. Expressão gênica. I. Bainy, Afonso
Celso Dias. II. Universidade Federal de Santa Catarina.
Programa de Pós-Graduação em Bioquímica. III. Título.
CDU 577
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3
Agradeço ao Fabio Daura Jorge (Fabão) pela
disponibilidade e paciência em pescar Poecílias na Barra da
Lagoa em diversas ocasiões. Ao seu apoio com a estatística
multivariada na reta final do projeto.
Agradeço à Karim, Lila e Ninna. Sem elas não seria
possível a realização deste e outros projetos no laboratório.
Verdadeiras guerreiras que aceitavam todo tipo de trabalho
(pescaria, trabalhos hidráulicos, elétricos e mecânicos para
montar a sala de bioensaios e serviços administrativos), além
disso, trabalhavam também nas análises enzimáticas
moleculares e design de projetos. Está pouco ou quer mais?
Agradeço a todos por serem tolerantes quando eu estava
de mau humor.
Ao Prof. Dr. Afonso por ter me aceitado no laboratório e
fornecido o essencial para realização desse projeto. Pela
confiança no meu trabalho e dedicação.
Agradeço ao Instituto Oceanográfico da Universidade de
São Paulo, especialmente a Satie Taniguchi, pelas análises
químicas das amostras de peixes.
Agradeço ao Prof. Dr. Alcir, Trevisan, Flesch, Marcela pela
convivência e a possibilidade de participar de duas aventuras de
campo.
Agradeço a Prof. Dr. Maria Risoleta Marques pela
possibilidade de usar o equipamento de PCR em tempo real e
pelas boas aulas de Toxicologia Molecular.
Agradeço à Patricia Hermes Stoco e ao Prof. Dr. Edmundo
Carlos Grisard do Laboratório de Protozoologia da Universidade
Federal de Santa Catarina pelos sequenciamentos.
Agradeço à CAPES pela bolsa e ao CNPq pelo auxílio
financeiro ao projeto.
Agradeço antecipadamente à banca por ler e criticar
construtivamente esse trabalho.
4
Agradeço ao monge tântrico Dada Jinanananda pelos
sábios conselhos. Baba nam kevalam, Dada.
Agradeço a ADNI por ter me guiado silenciosamente desde
o Princípio.
5
RESUMO
O óleo diesel é um potencial contaminante de estuários e
mangues, especialmente porque ele é o principal combustível
utilizado em embarcações. Além disso, a exploração de petróleo
e transporte causam sérios riscos ao ambiente marinho. No
capítulo 1, foram estudados aspectos químicos e bioquímicos no
peixe Poecilia vivipara expostos a fração do óleo diesel
acomodada em água (FAD). Os peixes expostos à concentração
de 20% de FAD apresentaram um aumento na atividade GST,
GR e EROD no fígado. As brânquias apresentaram um aumento
na atividade GST nas concentrações de 10% e 20% da FAD,
enquanto a atividade EROD aumentou nas concentrações de
2,5%, 10% e 20%. Esse aumento indica uma adaptação do
sistema de biotransformação desses organismos para
detoxificação dos hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos
tipicamente encontrados no óleo diesel. No capítulo 2, foram
estudados os aspectos moleculares e químicos no peixe Poecilia
vivipara exposto a 10% FAD. Os resultados mostraram 27 genes
diferencialmente expressos, sendo 12 induzidos e 15 reprimidos.
Os resultados de qPCR confirmaram a indução dos genes
Citocromo P4501A (CYP1A), Citocromo P4502P2 (CYP2P2),
Metiltransferase (MET), Glutationa S-transferase (GST), Uridina
Difosfato Glicoronosil Transferase (UDPGT1B) e a repressão do
gene Vitelogenina A (VgA) em machos. A maioria dos genes
induzidos validados por qPCR está envolvida nas duas primeiras
etapas de biotransformação, enquanto o gene validado como
reprimido, VgA, está envolvido com a vitelogênese. Juntos, os
resultados mostram significativas mudanças bioquímicas e
moleculares que são potenciais biomarcadores para compostos
presentes na FAD.
Palavras-chave: biotransformação, óleo diesel, Poecilia vivipara,
expressão gênica
6
ABSTRACT
Diesel oil is a potential contaminant of estuarine and mangrove
areas, especially, because it is the main fuel used in vessels. In
addition, offshore oil exploration, production and transport pose
serious risks to the marine environment. In the chapter 1,
biochemical and chemical aspects were studied in the fish
Poecilia vivipara exposed to Diesel Oil Water Accommodated
Fraction (FAD). Fish exposed to 20% of FAD showed an increase
in the GST, GR and EROD enzymatic activity in liver. The gills
showed an increase in GST activity in the 10% and 20% FAD
concentrations, while EROD activity increased in the 2.5%, 10% e
20% FAD concentrations. These increases indicate a
biotransformation system adaptation of these organisms to
detoxify the aliphatic and aromatic hydrocarbons typically found in
the diesel oil. In the chapter 2, molecular and chemical aspects
were studied in the fish Poecilia vivipara exposed to 10% FAD.
The SSH results showed 27 differentially expressed genes, 12
upregulated and 15 downregulated. The qPCR results confirmed
the Cytochrome P4501A (CYP1A), Cytochrome P4502P2
(CYP2P2), Methyltransferase (MET), Glutathione S-transferase
(GST), Uridine Diphosphate Glucuronosil Transferase
(UDPGT1B) gene induction and Vitelogenin A (VgA) gene
repression in male fish. The majority of the upregulated genes
validated by qPCR is involved with the two biotransformation
phases, while the gene validated as downregulated, VgA, is
involved with vitellogenesis. Together, the results show significant
biochemical and molecular changes that are potential biomarkers
for FAD compounds.
Keywords: biotransformation, diesel oil, Poecilia vivipara, gene
expression
7
LISTA DE ABREVIATURAS
ABCC4 ATP Binding Cassete C4 (família de
glicoproteínas transmembranas)
ACBP Proteína ligante de AcilCoA
AChE Acetilcolinesterase
AHR Aryl Hidrocarbon Receptor (receptor de
hidrocarboneto aromático)
AMBP Precursor da Alfa microglobilina/bicunina
ANOVA Análise de variância (teste estatístico)
APOAI Precursor da Apolipoproteína AI
ARE Antioxidante response element (Elemento de
resposta antioxidante)
ARNT Translocador nuclear do receptor de
hidrocarboneto aromático
-NAC Complexo associado ao polipeptídeo nascente
alfa
ATP Trifosfato de adenosina
BLAST Basic Local Alignment Search Tool (algoritmo
para comparação de sequências biológicas
utilizando alinhamento local )
BNF Beta-naftoflavona
C1 Inibidor C1
C3 Proteína do sistema complemento
CAT Catalase
COMT Catecol-O-Metiltransferase
cDNA Sequência nucleotídica complementar de DNA
CONAMA Comissão Nacional do Meio Ambiente
8
COXI Citocromo c oxidase subunidade I
CYP450 Citocromo P450
DNA Ácido desoxirribonucléico
ER Estrogen receptor (receptor de estrógeno)
EROD Etóxi-resorufina-O-deetilase
FAD Fração do óleo diesel acomodada em água
G6PDH Glicose-6-fosfato desidrogenase
GenBank Banco de genes público que possui os dados
produzidos pelo NCBI
GPx Glutationa peroxidase
GR Glutationa redutase
GSH Glutationa reduzida
GSSG Glutationa dissulfídica
GST Glutationa S-transferase
HPA Hidrocarboneto policíclico aromático
HSP90 Proteína de choque térmico 90
ITM2B Proteína integral de membrana 2B
MET Metiltransferase
NADP+ Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato
oxidada
NADPH Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato
reduzida
NCBI National Center for Biotechnology Information
(Centro Nacional de Informação Biotecnológica
dos EUA)
NRF2 NF-E2-related factor 2
OATP2 Transportador de ânions orgânicos membro 1c1
9
PCR Reação em cadeia da polimerase
PEN2 Presenilina 2
qPCR Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo
Real
RNA Ácido ribonucléico
RNAm RNA mensageiro
RNAr RNA ribossomal
SOD Superóxido dismutase
SSH Hibridação subtrativa supressiva
TCDD Tetraclorodibenzodioxina
TF Transferrina
UDPGP Uridina difosfato glicose pirofosforilase
UDPGT Uridina difosfato glicuronosil transferase
VgA Vitelogenina A
VgB Vitelogenina B
VgC Vitelogenina C
XRE Xenobiotic response element (elemento de
resposta a xenobióticos)
10
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO GERAL ___________________________ 13
1.1
Contaminação Aquática _____________________ 13
1.2
O óleo diesel ______________________________ 15
1.3
Os biomarcadores de contaminação aquática ___ 17
1.4
Os programas de biomonitoramento __________ 20
2
OBJETIVOS GERAIS _____________________________ 22
3
CAPÍTULO 1 ____________________________________ 23
4
INTRODUÇÃO __________________________________ 27
5
OBJETIVOS ____________________________________ 31
6
MATERIAIS E MÉTODOS _________________________ 32
6.1
Coleta dos Peixes Poecilia vivipara ___________ 32
6.2
Preparação da fração do óleo diesel acomodada
em água (FAD) __________________________________ 33
6.3
Exposição dos peixes Poecilia vivipara a diversas
concentrações da FAD____________________________ 33
6.4
Análise Química ___________________________ 34
6.5
Biomarcadores bioquímicos _________________ 36
6.5.1
Preparação das amostras _________________ 36
6.5.2
Determinação da concentração de proteínas _ 37
6.5.3
Superóxido dismutase (SOD) ______________ 37
6.5.4
Catalase (CAT) __________________________ 38
6.5.5
Glutationa redutase (GR) __________________ 38
6.5.6
Glutationa peroxidase (GPx) _______________ 38
6.5.7
Glutationa S-transferase (GST) _____________ 39
6.5.8
Glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PDH) ____ 39
6.5.9
Etóxi-resorufina O-Deetilase (EROD) ________ 39
11
6.5.10
Análises estatísticas ____________________ 40
7
RESULTADOS __________________________________ 41
7.1
Análise química de hidrocarbonetos alifáticos em
P. vivipara ______________________________________ 41
7.2
Análise química de hidrocarbonetos aromáticos
em P. vivipara ___________________________________ 46
7.3
Biomarcadores bioquímicos em P. vivipara _____ 48
8
DISCUSSÃO ____________________________________ 52
8.1
Análise Química ___________________________ 52
8.2
Biomarcadores Bioquímicos em P. vivipara _____ 53
9
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS __________________ 61
10
CAPÍTULO 2 ____________________________________ 62
11
INTRODUÇÃO __________________________________ 67
12
OBJETIVOS ____________________________________ 70
13
MATERIAIS E MÉTODOS _________________________ 71
13.1
Exposição de peixes à FAD 10% para avaliação
das respostas moleculares ________________________ 71
13.2
Análise química ____________________________ 72
13.3
Extração de RNA total _______________________ 74
13.4
Extração RNA mensageiro (mRNA) ____________ 74
13.5
Hibridização Subtrativa Supressiva (SSH) ______ 75
13.6
Clonagem _________________________________ 75
13.7
PCR para seqüenciamento ___________________ 76
13.8
Comparação de seqüências __________________ 76
13.9
Padronização das reações de PCR quantitativo
(qPCR) _________________________________________ 76
13.10
Validação de potenciais biomarcadores
moleculares por PCR quantitativo (qPCR) ____________ 77
12
13.11
Quantificação Relativa por RT-PCR quantitativo
(qPCR) _______________________________________ 78
13.12
Análises estatísticas _____________________ 80
14
RESULTADOS __________________________________ 81
14.1
Análise química____________________________ 81
14.2
Biomarcadores moleculares em P. vivipara _____ 83
15
DISCUSSÃO ____________________________________ 88
15.1
Análise Química ___________________________ 88
15.2
Biomarcadores Moleculares em peixes Poecilia
vivipara ________________________________________ 89
15.2.1
Sistema de Biotransformação Fase I e
Vitelogênese __________________________________ 89
15.2.2
Sistema de Biotransformação Fase II e III __ 92
15.2.3
Genes Envolvidos no sistema Imune Inato e
Metabolismo de Carboidratos e Lipídeos ___________ 97
15.2.4
Apoptose _____________________________ 99
15.2.5
Transporte de Oxigênio ________________ 100
15.2.6
Chaperonas e Coativadores da Transcrição100
15.2.7
Proteínas ribossomais e Mitocondriais ___ 102
16
CONCLUSÕES FINAIS E PERSPECTIVAS __________ 103
17
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________ 105
13
1 INTRODUÇÃO GERAL
1.1 Contaminação Aquática
A indústria petrolífera é de fundamental importância na
economia mundial, pois esse recurso pode ser utilizado como
fonte de energia ou fonte de matéria-prima para outros tipos de
indústria. Apesar de sua importância econômica, a atividade da
indústria petrolífera pode gerar impactos ambientais seja por
derramamentos acidentais de petróleo ou por descargas crônicas
de combustíveis utilizados nas cidades (FILHO, 2006).
Acidentes ambientais, como derrames de petróleo e seus
derivados, constituem a principal fonte de contaminação aguda e
estão relacionados a danos na biota e nos ecossistemas como
um todo (KENNISH, 1992). Em escala mundial, destaca-se o
rompimento do tanque Prestige na costa da Espanha em 2002
derramando mais de 60.000 toneladas de óleo, cujos efeitos
mais dramáticos foram observados na região da Galícia,
afetando também a costa inglesa (CAJARAVILLE et al., 2006;
CARRO; COBAS; MANEIRO, 2006; SORIANO et al., 2006). No
Brasil, destacam-se: o derrame de 1,3 milhão de litros de óleo na
Baía da Guanabara, Rio de Janeiro, em janeiro de 2000; o
vazamento de 4 milhões de litros de óleo nos rios Barigüi e
Iguaçu, no estado do Paraná em julho do mesmo ano; e em
novembro de 2004, o vazamento de mais de 6 milhões de litros
de diferentes tipos de óleo em Paranaguá (PR). Em todos estes
eventos foram observados impactos em diversos ecossistemas
(MENICOM et al., 2002; FILHO, 2006).
14
Apesar dos efeitos tóxicos na biota serem aparentes nesse
tipo de derrame, alguns ecossistemas aquáticos estão
submetidos a uma contaminação crônica. Esses ecossistemas
recebem um aporte contínuo de efluentes do petróleo como
resultado do consumo de combustíveis ou por lixiviação do solo
em áreas urbanas. (KENNISH, 1992; FILHO, 2006). De acordo
com Filho (2006), a contaminação crônica provocada pelo
consumo de petróleo e seus derivados, seja por carros, barcos,
navios, lixiviação de solo em áreas urbanas, vazamentos em
postos de combustível corresponde a maior parcela de petróleo
introduzida no mar.
No Brasil, de acordo com a Resolução nº. 273 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 2000), toda instalação e
sistemas de armazenamento de derivados de petróleo e outros
combustíveis configuram-se como empreendimentos
potencialmente ou parcialmente poluidores e geradores de
acidentes ambientais.
No Estado de São Paulo, no período 1984 a 2001, os
vazamentos em postos de combustíveis foram responsáveis por
cerca de 10% de todas as emergências ambientais atendidas.
Sobre as causas desses acidentes, constatou-se que 25%
estavam relacionadas a vazamentos em tanques, 20% a
vazamentos nas tubulações e 10% devido a uma contaminação
de solo ou água subterrânea remanescente de outros eventos.
Entretanto, esses números não refletem a realidade dos
vazamentos ocorridos, pois muitos casos não são comunicados à
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB,
2005).
15
1.2 O óleo diesel
Dentre os derivados do petróleo, o óleo diesel merece
destaque em termos de risco ambiental por ser continuamente
lançado nos ambientes costeiros em função de seu uso como
combustível de embarcações, veículos rodoviários e máquinas
em geral (KENNISH, 1992; FILHO, 2006). No Brasil, o óleo diesel
é o derivado propulsor do refino e corresponde a 34% do volume
do barril de petróleo. Na maioria dos outros países do mundo,
esta demanda situa-se entre 15 e 25% do volume do barril de
petróleo (Portal BR, 2005).
De acordo com Neff (2002), o óleo diesel, também
chamado de óleo n
o
2, é considerado um óleo de densidade
média, composto basicamente por hidrocarbonetos alifáticos
(HAs), principalmente parafinas, além de apresentar uma
pequena porcentagem de hidrocarbonetos aromáticos. Dentre os
aromáticos, os monocíclicos, que apresentam apenas um anel
benzeno, são os mais abundantes, seguidos pelos policíclicos
(HPAs), principalmente os compostos por 2 a 4 anéis (WANG et
al., 2003; NEFF; STOUT; GUNSTER, 2005). Dentre os HPAs, o
naftaleno e seus derivados metilados são os mais
frequentemente encontados no óleo diesel (VANZELLA;
MARTINEZ; CÓLUS, 2007).
Embora pouco representativos em relação aos HAs, os
HPAs têm sido identificados como os principais componentes do
óleo que apresentam elevado risco ao ambiente, sendo
diretamente relacionados a processos carcinogênicos (AAS et
al., 2000), dentre outros efeitos em organismos marinhos
(GAGNON; HOLDWAY, 1999; AKCHA et al., 2000; MACHELLA;
REGOLI; SANTELLA, 2005; BARŠIENĖ et al., 2006;
CARAJAVILLE et al., 2006; FROUIN et al., 2007).
16
Estudos realizados em Prochilodus lineatus expostos à
fração do óleo diesel acomodada em água mostrou a ocorrência
de lesões em brânquias e fígado, redução na hemoglobina e
anormalidades nos eritrócitos como micronúcleos e quebras no
DNA (SIMONATO; GUEDES; MARTINEZ, 2008; VANZELLA;
MARTINEZ; CÓLUS, 2007). Um outro estudo, realizado com
Carassius auratus expostos à fração acomodada em água do
óleo diesel, mostrou um aumento nas defesas antioxidantes
(ZHANG et al., 2004). Essas pesquisas foram realizadas em
laboratório com espécies de peixes dulciaquícolas, contudo a
literatura carece de informações a respeito dos efeitos biológicos
da fração do óleo diesel acomodada em água em espécies
nativas que ocorrem no ambiente estuarino e marinho.
Os peixes da família Poecilidae, conhecidos popularmente
como barrigudinho, são abundantes e habitam regiões
dulciaquícolas e estuarinas desde os Estados Unidos até a
Argentina (NEVES; MONTEIRO, 2003). Além disso, muitas
espécies desta família são conhecidas por sua resistência à
contaminação orgânica, sendo comumente encontradas em
regiões limpas e em córregos contendo resíduos de esgotos
domésticos e pluviais (ARAÚJO et al., 2009). A espécie Poecilia
vivipara foi utilizada em experimentos que visavam avaliar os
efeitos do cádmio e a tolerância térmica (AMARAL; BONECKER;
ORTIZ, 2001) e efeitos da salinidade nas proteínas sódio-
potássio ATPase e magnésio ATPase (AMARAL; BONECKER;
ORTIZ, 2001).
Kraus e colaboradores (1998) sugeriram o uso da Poecilia
vivipara em testes de toxicidade após experimentos que
verificavam a sensibilidade desta espécie às substâncias
dicromato de potássio, duodecilsulfato de sódio, cobre e zinco.
Além disso, P. vivipara é uma espécie filogeneticamente próxima
ao Fundulus heteroclitus, estabelecido aproximadamente três
décadas como o primeiro peixe modelo para estudos ambientais
17
na América do Norte, o que possibilita a realização de estudos
comparativos com esta espécie (ZANETTE, 2009). Devido a
estes fatos, o peixe P. vivipara é um bom candidato a peixe
modelo para estudos ecotoxicológicos no Brasil, podendo ser
utilizado em estudos que visem a determinação dos efeitos do
óleo diesel.
Tendo em vista o potencial do óleo diesel em causar danos
ao ambiente aquático e a necessidade de estudos com
organismos nativos, é imprescindível o desenvolvimento de
metodologias que possibilitem a avaliação e previsão dos efeitos
biológicos nos organismos aquáticos expostos ao óleo diesel ou
outros derivados do petróleo.
1.3 Os biomarcadores de contaminação aquática
Técnicas bioquímicas clássicas associadas à técnicas de
biologia molecular vêm auxiliando na descoberta de ferramentas
promissoras para o biomonitoramento ambiental em
ecossistemas contaminados por efluentes da indústria de
petróleo (BOUTET; TANGUY; MORAGA, 2004; CAJARAVILLE et
al., 2006). No entanto, existe uma carência de informações sobre
os efeitos biológicos destes contaminantes na biota,
especialmente quando se trata de misturas complexas como o
óleo diesel (SINGER et al., 2000).
Uma das técnicas de biologia molecular aplicada em
organismos monitores, cujo genoma permanece desconhecido, é
a de hibridação subtrativa supressiva (SSH). Essa técnica
possibilita a construção de bibliotecas subtrativas de cDNAs que
podem ser comparadas às disponíveis em bancos de genes. Os
genes, após a identificação, podem ter sua expressão avaliada
18
quantitativamente por reação em cadeia da polimerase (PCR).
Dessa forma, a análise da expressão do RNA mensageiro de
diferentes genes em organismos expostos a um determinado
contaminante pode ser utilizada em estudos mecanísticos e
servir como um potencial marcador dos efeitos tóxicos (SEWALL
et al., 1999).
Os biomarcadores são definidos por Walker (1996) como
alterações biológicas em nível molecular, celular ou fisiológico
que expressam os efeitos tóxicos causados pelos contaminantes
nos organismos expostos. Os biomarcadores podem indicar tanto
a exposição dos organismos aos contaminantes (biomarcadores
de exposição), como a magnitude da perturbação causada em
resposta a poluentes (biomarcadores de efeito) (CAJARAVILLE
et al., 2000). Dentre os biomarcadores de exposição, estão: as
enzimas de biotransformação de xenobióticos, as
metalotioneínas e as defesas antioxidantes (enzimáticas e não
enzimáticas) entre outros; Dentre os biomarcadores de efeito
estão: os níveis de dano no DNA e de oxidação de lipídios e
proteínas (RAND et al., 1995; CAJARAVILLE et al., 2000).
As defesas antioxidantes atuam protegendo as células
contra os efeitos deletérios de espécies reativas de oxigênio
(EROs), que podem ser geradas pelos contaminantes ou no
processo de biotransformação desses contaminantes. As
defesas antioxidantes podem ser não enzimáticas como por
exemplo, o tripeptídeo glutationa reduzida (GSH), ou
enzimáticas, como as enzimas superóxido dismutase (SOD),
catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx), glutationa redutase
(GR) e glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PDH) (BRAY; LEVY,
2000).
O processo de biotransformação de fase I (reações de
oxidação) de compostos orgânicos, tais como os hidrocarbonetos
planares encontrados no petróleo, é realizado pelo sistema de
oxigenases de função mista (MFO), constituído pelo sistema
19
citocromo P450 (NIYOGI et al., 2001). Este sistema desempenha
papel central no metabolismo de muitos xenobióticos, catalisando
tanto reações de detoxificação quanto de bioativação
(TERAMITSU et al., 2000). Após as reações mediadas pelos
Citocromos P450, os produtos lipofílicos podem ser conjugados
com o tripeptídeo endógeno glutationa reduzida (GSH) através
da atividade da enzima glutationa S-transferase (GST), formando
produtos mais solúveis e, portanto, mais fáceis de serem
excretados (FITZPATRICK et al., 1997). Além da GST, outras
enzimas como as Uridina Difosfato glicoronosil Transferases
(UDPGT), Sulfotransferases (SULT) e Metiltransferases (MET)
são importantes no processo de biotransformação de fase II, que
é caracterizada por reações de conjugação (ZAMEK-
GLISZCZYNSKI et al., 2006).
A indução da síntese das proteínas de estresse ou
proteínas de choque térmico (Heat Shock Protein, HSP) também
está incluída entre os biomarcadores bioquímicos para avaliação
de contaminação. Sob condições normais na célula, as HSPs
podem atuar como chaperonas, estabilizando os intermediários
de polipeptídeos recém sintetizados. Estas proteínas atuam
contra o efeito proteotóxico causado por uma grande variedade
de contaminantes, incluindo o petróleo e seus derivados
(WERNER; KLINE; HOLLIBAUGH, 1998; WOLFE et al., 1999;
BIERKENS, 2000; SNYDER; GIRVETZ; MULDER, 2001).
20
1.4 Os programas de biomonitoramento
Os biomarcadores bioquímicos e moleculares atuam como
sinalizadores da degradação ambiental causada pelos
contaminantes, antecipando possíveis danos nas populações e
comunidades biológicas (RAND, 1995). A inclusão dos
biomarcadores nos programas de biomonitoramento ambiental
possui a vantagem de representar um menor custo, maior
facilidade e rapidez do que as análises químicas convencionais
(GALLOWAY et al., 2004). Apesar destas vantagens, na maioria
das vezes a especificidade das respostas dos biomarcadores
para as diferentes classes de contaminantes não é muito clara
(GALLOWAY et al., 2004).
Em razão da necessidade de métodos mais precisos e
sensíveis na avaliação do risco ambiental das atividades
antrópicas, o International Council for the Exploration of the Sea
(ICES, 2004) aconselha que programas de biomonitoramento
ambiental sejam realizados com o intuito de alertar e prevenir
impactos irreversíveis nos ecossistemas. Nestes programas,
recomenda-se: o uso de organismos sentinela, bioindicadores e
monitores de contaminação; a realização de análises químicas,
que determinam analiticamente a concentração dos
contaminantes; a utilização dos biomarcadores de contaminação
aquática, que refletem os impactos destes contaminantes nos
organismos (ICES, 2004). Além desses monitoramentos em
campo, pesquisas em laboratório são realizadas com o intuito de
entender a toxicidade de diferentes hidrocarbonetos presentes no
petróleo (BADO-NILLES et al., 2009).
Seguindo essa nova tendência nos programas de
biomonitoramento, o uso de biomarcadores foi incorporado em
diversos programas de monitoramento de poluição na Europa e
21
EUA, como o North Sea Task Force Monitoring Master Plan e o
NOAA’s National Status and Trends Program (CAJARAVILLE et
al., 2000). Na região costeira do Brasil, podem ser citados o
projeto MOMAM (Monitoramento do Ambiente Marinho)
estabelecido em 1997 e coordenado pelo Instituto de Estudos do
Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM Ministério da Marinha)
(VENTURA et al., 2004) e o projeto RECOS (Uso adequado dos
Recursos Costeiros Qualidade Ambiental e Biodiversidade;
Institutos do Milênio, Ministério da Ciência e Tecnologia)
(ZANETTE; MONSERRAT; BIANCHINI, 2006).
A Norwegian Oil Industry Association (OLF, 2005) sugere o
uso de biomarcadores bioquímicos na determinação dos efeitos
biológicos em organismos aquáticos expostos a derivados de
petróleo. Dentre alguns biomarcadores de uso freqüente
destacam-se: as enzimas superóxido dismutase (SOD) e
catalase (CAT), pertencentes ao sistema de defesa antioxidante;
a enzima de fase I de biotransformação Etóxi-resorufina-O-
deetilase (EROD) e de fase II de biotransformação glutationa S-
transferase (GST).
Tendo em vista o risco ambiental associado à atividade da
indústria petrolífera e a necessidade de programas de
biomonitoramento eficazes na avaliação da qualidade ambiental,
o presente estudo identificou biomarcadores bioquímicos e
moleculares sensíveis aos contaminantes provenientes da
atuação da indústria petrolífera em peixes Poecilia vivipara
expostos à fração do óleo diesel acomodada em água.
22
2 OBJETIVOS GERAIS
1. Avaliar a bioacumulação de hidrocarbonetos nos tecidos
de Poecilia vivipara expostas à fração do óleo diesel acomodada
em água (FAD);
2. Analisar a atividade de enzimas pertencentes a defesa
antioxidante e as fases I, II de biotransformação de xenobóticos
no fígado e brânquias de peixes Poecilia vivipara expostos a
FAD;
3. Construir uma biblioteca subtrativa de Poecilia vivipara
com genes diferencialmente expressos para a FAD;
4. Relacionar os resultados da bioacumulação com as
respostas bioquímicas e moleculares encontradas em Poecilia
vivipara.
23
3 CAPÍTULO 1
RESPOSTAS BIOQUÍMICAS NO PEIXE Poecilia vivipara
(BARRIGUDINHO) EXPOSTO À FRAÇÃO DE ÓLEO DIESEL
ACOMODADA EM ÁGUA
24
RESUMO
O óleo diesel é um potencial contaminante de estuários e
mangues, especialmente porque ele é o principal combustível
utilizado em embarcações. Além disso, a exploração de petróleo
e transporte causam rios riscos ao ambiente marinho. O
objetivo desse estudo foi identificar os efeitos de diferentes
concentrações da fração do óleo diesel acomodada em água
(FAD) no sistema de biotransformação e no sistema de defesa
antioxidante enzimático de peixes Poecilia vivipara. Para verificar
os efeitos nas enzimas de biotransformação e antioxidantes, os
peixes foram separados em 5 grupos; um deles foi mantido como
grupo controle e os demais expostos a 2,5%, 5%, 10%, e 20% da
FAD. Após 96 horas, todos os peixes foram dissecados e tiveram
seus fígados e brânquias removidos para análises da atividade
enzimática da CYP1A (EROD), glutationa S-transferase (GST),
glutationa redutase (GR), glutationa peroxidase (GPx), glicose 6-
fosfato desidrogenase (G6PDH), superóxido dismutase (SOD),
catalase (CAT). Os peixes expostos à concentração de 20% de
FAD apresentaram um aumento na atividade GST, GR e EROD
no fígado. As brânquias apresentaram um aumento na atividade
GST nas concentrações de 10% e 20% da FAD, enquanto a
atividade EROD aumentou nas concentrações de 2,5%, 10% e
20%. Esse aumento indica uma adaptação do sistema de
biotransformação desses organismos para detoxificação dos
hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos tipicamente encontrados
no óleo diesel. O aumento da atividade EROD concomitante com
atividade GST sugere um sinergismo entre a fase I e II de
biotransformação para detoxificar os hidrocarbonetos. O aumento
da atividade GR no fígado pode ser um mecanismo
compensatório devido a um estado pró oxidante promovido
durante fase I de biotransformação. Entretanto, as enzimas SOD
e CAT, que podem indicar um possível estresse oxidativo, não
apresentaram mudanças na atividade enzimática.
25
Palavras-chave: biotransformação, óleo diesel, Poecilia vivipara
26
ABSTRACT
Diesel oil is a potential contaminant of estuarine and mangrove
areas, especially, because it is the main fuel used in vessels. In
addition, offshore oil exploration, production and transport pose
serious risks to the marine environment. The aim of this study
was identify the effects of different concentrations of Diesel Oil
Water Accommodated Fraction (FAD) in the biotransformation
and enzymatic antioxidant defense system in the fish Poecilia
vivipara. To verify the effects in the biotransformation and
antioxidant enzymes, the fishes were separated in five groups;
one group was maintained as control e the others were exposed
to 2,5%, 5%, 10% e 20% of FAD. After 96 hours, all fishes were
dissected and livers and gills were separated for analysis of
CYP1A (EROD), Glutathione S-transferase (GST), Glutathione
Reductase (GR), Glutathione Peroxidase (GPx), Glucose 6-
phosphate dehydrogenase (G6PDH), Superoxide dismutase
(SOD), Catalase (CAT) enzymatic activity. Fish exposed to 20%
of FAD showed an increase in the GST, GR and EROD
enzymatic activity in liver. The gills showed an increase in GST
activity in the 10% and 20% FAD concentrations, while EROD
activity increased in the 2.5%, 10% e 20% FAD concentrations.
These increases indicate a biotransformation system adaptation
of these organisms to detoxify the aliphatic and aromatic
hydrocarbons typically found in the diesel oil. The concomitant
increase in EROD and GST activity suggest a synergism between
phase I and II of biotransformation to detoxify the hydrocarbons.
The GR activity in the liver can be a compensatory mechanism
against a pro-oxidant state promoted by the first step of
biotransformation. However, the enzymes SOD and CAT, that
can indicate oxidative stress, did not show any change in
enzymatic activity.
Keywords: biotransformation, diesel oil, Poecilia vivipara
27
4 INTRODUÇÃO
A poluição marinha é definida como a introdução de
substâncias tóxicas ou de energia oriundos da atividade
antrópica em um ambiente marinho, incluindo estuários,
resultando em um efeito deletério para os recursos vivos e danos
para a saúde humana (GESAMP, 1991).
As substâncias tóxicas, por não comporem a bioquímica
usual de um organismo, são também denominadas xenobióticos.
Os xenobióticos estão em constante aumento no ambiente, tanto
em sua quantidade, quanto em sua variedade (LIVINGSTONE,
1993; WALKER et al., 1996).
Dentre os diferentes tipos de xenobióticos, os derivados de
petróleo são alguns dos mais relevantes para a ecotoxicologia
aquática (PACHECO; SANTOS, 2001a) e têm causado bastante
preocupação, tanto pela freqüência dos eventos de
contaminação como pelo elevado potencial poluidor dos seus
compostos. Embora grandes vazamentos de petróleo sejam
preocupantes e ocupem grande espaço na mídia, estima-se que
a principal fonte de contaminação por petróleo e seus derivados
seja causada por pequenos e contínuos vazamentos de
combustíveis em postos de distribuição devido ao
envelhecimento dos tanques de combustíveis (TIBURTIUS et al.,
2005).
Dentre os derivados do petróleo, o óleo diesel merece
destaque em termos de risco ambiental por ser continuamente
lançado nos ambientes costeiros em função de seu uso como
combustível de embarcações, veículos rodoviários e máquinas
em geral (KENNISH, 1992; FILHO, 2006).
O óleo diesel é composto basicamente por hidrocarbonetos
alifáticos (HAs), principalmente parafinas, além de apresentar
28
uma pequena porcentagem de hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos (HPAs) (NEFF, 2002). Embora pouco representativos
em relação aos HAs, os HPAs têm sido identificados como os
componentes do óleo que apresentam elevado risco ao
ambiente, sendo diretamente relacionados a processos
carcinogênicos (AAS et al., 2000). Estudos realizados em
Prochilodus lineatus expostos à Fração do óleo diesel
acomodada em água mostraram a ocorrência de lesões em
brânquias e fígado, redução na hemoglobina e anormalidades
nos eritrócitos como micronúcleos e quebras no DNA
(SIMONATO; GUEDES; MARTINEZ, 2008; VANZELLA;
MARTINEZ; CÓLUS, 2007). Um outro estudo, realizado com
Carassius auratus expostos à fração acomodada em água do
óleo diesel, mostrou mudanças na atividade de enzimas
pertencentes às defesas antioxidantes e na enzima glutationa S-
transferase (GST) (ZHANG et al., 2004).
Em peixes, a biotransformação de HPAs ocorre
principalmente no fígado e envolve enzimas do retículo
endoplasmático como as oxigenases de função mista (MFOs) e
Citocromos P450 (CYPs) associados a atividade Etoxiresorufina
O-deetilase (EROD). Os metabólitos resultantes da fase I de
biotransformação se tornam substratos mais adequados para
reações de conjugação com sulfato, ácido glicorônico, glutationa
ou aminoácidos que compõem a fase II de biotransformação
(INSAUSTI et al., 2009; ZAMEK-GLISZCZYNSKI et al., 2006).
Essas reações de conjugação aumentam a hidrosolubilidade, a
carga negativa e o peso molecular dos xenobióticos, reduzindo
sua permeabilidade a membrana plasmática. Dessa forma, é
necessário a existência de proteínas carreadoras de membrana
que transportem essas substâncias para o sangue sinosoidal,
para posterior excreção via urina, ou para os canalículos
(excreção via bile) (ZAMEK-GLISZCZYNSKI et al., 2006). O
processo de transporte de xenobióticos pelas proteínas de
29
membrana é denominado como fase III de biotransformação
(KEPPLER; RINGWOOD, 2001).
Além das fases I, II, III de biotransformação, existe um
importante conjunto de enzimas e moléculas responsáveis pelas
defesas antioxidantes celulares. As defesas antioxidantes atuam
protegendo as células contra os efeitos deletérios de espécies
reativas de oxigênio (EROs), que podem ser geradas pelos
contaminantes ou no processo de biotransformação desses
contaminantes. As defesas antioxidantes podem ser não
enzimáticas como por exemplo, o tripeptídeo glutationa reduzida
(GSH), ou enzimáticas, como as enzimas superóxido dismutase
(SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx), glutationa
redutase (GR) e glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PDH)
(BRAY; LEVY, 2000).
A atividade enzimática e expressão gênica das enzimas do
sistema de biotransformação e antioxidantes podem ser
utilizadas como biomarcadores. Os biomarcadores são definidos
por Walker et al. (1996) como alterações biológicas em nível
molecular, celular ou fisiológico que expressam os efeitos tóxicos
causados pelos contaminantes nos organismos expostos.
A inclusão dos biomarcadores nos programas de
biomonitoramento ambiental possui a vantagem de representar
um menor custo, maior facilidade e rapidez do que as análises
químicas convencionais (GALLOWAY et al., 2004). Nestes
programas, recomenda-se o uso de organismos sentinela,
bioindicadores e monitores de contaminação; a realização de
análises químicas, que determinam analiticamente a
concentração dos contaminantes; a utilização dos biomarcadores
de contaminação aquática, que refletem os impactos destes
contaminantes nos organismos (ICES, 2004).
Entre os programas de biomonitoramento realizados na
região costeira do Brasil podem ser citados: o projeto MOMAM
(Monitoramento do Ambiente Marinho) estabelecido em 1997 e
30
coordenado pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo
Moreira (IEAPM – Ministério da Marinha) (VENTURA et al., 2004)
e o projeto RECOS-QIABO (Recursos Costeiros – Qualidade
Ambiental; Institutos do Milênio, Ministério da Ciência e
Tecnologia) (ZANETTE et al., 2006).
Apesar das vantagens no uso de biomarcadores nos
programas de biomonitoramento, na maioria das vezes a
especificidade das respostas dos biomarcadores para as
diferentes classes de contaminantes não é muito clara
(GALLOWAY et al., 2004). Desta forma, são necessários mais
estudos para definir a especificidade dos biomarcadores, bem
como elucidar os mecanismos de toxicidade de diferentes
classes de contaminantes em espécies nativas para seu uso em
programas de biomonitoramento.
Tendo em vista o risco ambiental associado à atividade da
indústria petrolífera e a necessidade de programas de
monitoramento eficazes na avaliação da qualidade ambiental,
esse estudo avaliou biomarcadores bioquímicos clássicos para
verificar os efeitos biológicos no peixe Poecilia vivipara expostos
à fração do óleo diesel acomodada em água (FAD).
31
5 OBJETIVOS
1. Avaliar a bioacumulação de hidrocarbonetos no peixe
Poecilia vivipara exposto à fração do óleo diesel acomodada em
água (FAD).
2. Analisar a atividade de enzimas pertencentes a defesa
antioxidante e as fases I, II de biotransformação no fígado e
brânquias de peixes Poecilia vivipara expostos a FAD.
3. Relacionar os resultados da bioacumulação nos tecidos
com as respostas bioquímicas encontradas no peixe Poecilia
vivipara exposto a FAD.
32
6 MATERIAIS E MÉTODOS
6.1 Coleta dos Peixes Poecilia vivipara
Os exemplares de P. vivipara (Bloch; Schneider, 1801)
foram coletados nos tanques de cultivo de peixes do laboratório
de Piscicultura Marinha, Departamento de Aqüicultura, localizado
na Barra da Lagoa, Florianópolis, SC, em local onde foram
encontrados em grande abundância. Para a coleta dos animais,
foi utilizada uma armadilha (Minnowtrap) utilizando ração para
peixe como atrativo.
Os peixes foram transportados ao Laboratório de
Biomarcadores de Contaminação Aquática e Imunoquímica
(LABCAI), CCB, UFSC. Neste laboratório, os animais foram
aclimatados por 60 dias em água do mar filtrada (0,45µm), a
21°C, com salinidade 25, com aeração constante e submetidos a
um fotoperíodo de 12:12 horas. Durante este período, os peixes
receberam ração peletizada para peixes duas vezes ao dia e
50% da água dos aquários foi renovada diariamente. Os
procedimentos adotados para coleta, transporte e aclimatação
dos peixes seguiu protocolo CEUA PP00266 no qual está
anexada a autorização do IBAMA.
33
6.2 Preparação da fração do óleo diesel acomodada em
água (FAD)
Amostras de óleo diesel comercial foram obtidas junto a
postos de abastecimento de combustíveis.
A Fração do óleo diesel acomodada em água (FAD) foi
obtida conforme metodologia descrita por Singer e colaboradores
(2000). Em um frasco de vidro (mariote) com capacidade para 14
litros foi preparada uma solução óleo diesel:água do mar filtrada
na proporção de 1:9. Ao frasco foi acoplado um homogeneizador
de tecidos (Glas-Col) modificado, no qual um pistilo de aço
inoxidável de 47cm de altura atuou como uma “pá
homogeneizadora”. Para obtenção da FAD, este frasco foi
envolto com papel alumínio para evitar a penetração de luz e a
rotação do homogeneizador foi ajustada para 140rpm durante 23
horas a 21°C. Depois de cessar a agitação, o frasco foi deixado
pelo período de 1 hora para estabilização.
A solução aquosa obtida foi imediatamente utilizada nos
testes de exposição à Fração do óleo diesel acomodada em
água (FAD).
6.3 Exposição dos peixes Poecilia vivipara a diversas
concentrações da FAD
Após a obtenção da FAD, foi conduzido um teste de
toxicidade aguda por 96 horas a fim de selecionar as
concentrações da FAD que apresentassem efeitos na atividade
das enzimas analisadas neste estudo. Após selecionada essa
34
concentração, uma nova exposição foi realizada para obtenção
de tecidos visando à identificação de novos biomarcadores
moleculares de contaminação em P. vivipara (Capítulo 2).
Os testes foram realizados em aquários de vidro com
capacidade para 15 litros, em duplicata, com 10 animais em cada
aquário (um peixe por litro de água). Foram testadas quatro
concentrações de FAD: 2,5%, 5%, 10% e 20%, conforme
sugerido pelo Prof. Dr. Charrid Resgalla (Univali).
Um grupo controle também foi utilizado, no qual os animais
foram expostos somente à água do mar. Durante o teste, os
animais foram mantidos em jejum com temperatura e aeração
constantes e com um fotoperíodo de 12:12 horas.
Ao término das 96 horas de exposição, não foi observada
letalidade para os peixes em nenhuma das concentrações
utilizadas. Dessa forma, amostras de fígados e brânquias de
todos os animais foram dissecadas e armazenadas. O restante
dos tecidos foi acondicionado em papel alumínio e armazenado
em freezer -80°C para análise química.
6.4 Análise Química
O procedimento metodológico descrito a seguir foi baseado
em Macleod et al. (1986) com algumas modificações.
Aproximadamente 5 g das amostras dos peixes inteiros foram
secos e macerados com sulfato de sódio anidro (J.T. Baker), que
foi calcinado por 4 h a uma temperatura de 440
o
C. Esse
homogenato foi colocado em cartucho de vidro com placa
sinterizada e extraído em soxhlet durante 8 h com n-hexano e
diclorometano 50% (v/v). O grau de pureza dos solventes
utilizado foi “grau para análise de resíduos orgânicos”, ambos da
35
J. T. Baker (Estados Unidos). Antes da extração foram
adicionados 100 µL de uma mistura de naftaleno-d
8
, acenafteno-
d
10
, fenantreno-d
10
, criseno-d
12
e perileno-d
12
(5 ng µL
-1
) e n-
hexadeceno e n-eicoseno (50 ng µL
-1
) como padrões internos em
cada uma das amostras e no branco.
O extrato evaporado foi submetido a uma coluna
cromatográfica contendo 8 gramas de sílica gel sobre 16 g de
alumina (ambas da Merck), 5% desativadas com água pré-
extraída 5 vezes com n-hexano, e 1 g de sulfato de sódio. A
eluição foi feita com 40 mL de n-hexano para análise dos
hidrocarbonetos alifáticos e uma mistura de n-hexano e
diclorometano (50%) para análise dos hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (HPAs). Para purificação complementar, o
eluato da F2 foi concentrado a 0,5 mL e injetado no cromatógrafo
líquido de alto desempenho (HPLC) (Perkin Elmer) equipado com
duas colunas de exclusão (permeação em gel). A fase móvel
utilizada foi o diclorometano. Os padrões internos tetradeceno e
benzo(b)fluoranteno-d12 foram adicionados nos eluatos
concentrados F1 e F2 com volume de 1 mL, respectivamente.
Uma alíquota da F1 foi injetada no cromatógrafo a gás
equipado com detector de ionização de chama (GC-FID), (Agilent
Technologies) para hidrocarbonetos alifáticos. Os HPAs foram
analisados no cromatógrafo a gás equipado com espectrômetro
de massas (GC-MS), 6890/5973N (Agilent Technologies).
As temperaturas do injetor e detector do GC-FID foram de
300
o
C e 325
o
C, respectivamente. O gás de arraste foi o
hidrogênio ultrapuro e o gás auxiliar foi o nitrogênio. A coluna
cromatográfica era de 30 metros de comprimento, diâmetro
interno de 0,25 mm e espessura do filme de 5% fenilmetilsiloxana
de 0,5 µm (J&W Scientific). As temperaturas do GC-MS foram de
280, 280 e 300
o
C no injetor e na interface e na fonte de íons,
respectivamente. A coluna cromatográfica utilizada foi da J&W
Scientific com 30 metros de comprimento, 0,25 mm de diâmetro
36
interno e 0,25 µm de espessura de filme de 5%’fenilmetilsiloxana.
O modo de aquisição foi o SIM (monitoramento seletivo de íons).
A rampa de temperatura para PCBs foi: início a 75
o
C durante 3
min, aumento a uma taxa de 15
o
C até 150
o
C e a 2
o
C até 260
o
C
e a 20
o
C até 300
o
C permanecendo constante durante 1 min. A
rampa tanto para os AHs quanto para os HPAs teve início em
40
o
C com aumento a taxa de 20
o
C até 60
o
C e a 5
o
C min até
290
o
C onde permaneceu por 5 min e aumento a 10
o
C até 300
o
C
onde permaneceu constante durante 10 min.
A identificação AHs e HPAs foi feita por comparação dos
tempos de retenção com padrões de referência da Accustandard,
EUA. Os compostos analisados no GC-MS também foram
identificados através do espectro de massas. A quantificação foi
feita por razões entre os padrões internos e os compostos de
interesse, baseada nas curvas analíticas montadas com pelo
menos 05 concentrações diferentes de cada grupo de
compostos.
6.5 Biomarcadores bioquímicos
6.5.1 Preparação das amostras
As amostras de fígados e brânquias de peixes expostos às
diferentes concentrações de FAD foram descongeladas sobre
gelo, pesadas e homogeneizadas em quatro vezes o volume de
tampão de homogeneização, utilizando o homogeneizador tipo
Potter (Glas-Col), e centrifugadas a 9.000 x g a 4°C por 30 min.
O sobrenadante foi então submetido a uma nova centrifugação a
37
39.000g por 90 min. O sobrenadante (fração citosólica),
resultante dessa última centrifugação, foi separado em alíquotas
e congelado em -80°C para análise do biomarcadores
bioquimicos, enquanto o pellet contendo as microssomas (fração
microssomal) foi ressuspendido em tampão para microssoma
(citrato de sódio 0,1M pH 7,6 contendo KCl 0,1M, glicerol 30%
(v/v) e ditiotreitol 1mM), separado em alíquotas e estocado em
freezer -80°C, para a análise da atividade EROD
.
6.5.2 Determinação da concentração de proteínas
A concentração de proteínas totais presentes na fração
citosólica e microssomal foi determinada de acordo com Lowry
modificado por Peterson (1977), utilizando-se soro albumina
bovina como padrão. O ensaio foi realizado em microplaca. Os
resultados dessa análise foram utilizados para normalizar os
dados da atividade enzimática.
6.5.3 Superóxido dismutase (SOD)
A atividade da SOD foi determinada segundo a
metodologia descrita por Mccord e Fridovich (1969), que se
baseia na inibição da redução do citocromo c pelo O
2
, produzida
pelo sistema xantina/xantina oxidase. Esta inibição é medida
através do aumento de absorbância em 550nm, a 25°C.
38
6.5.4 Catalase (CAT)
A atividade da catalase foi analisada de acordo com o
método descrito por Beutler (1975). Nesta metodologia, o
decréscimo de absorbância associado à velocidade de
degradação do peróxido de hidrogênio (H
2
O
2
) em água e
oxigênio molecular foi registrado a 240 nm.
6.5.5 Glutationa redutase (GR)
A atividade da glutationa redutase baseou-se no método
descrito por Carlberg e Mannervik (1985). Ao reduzir o substrato
glutationa dissulfidica (GSSG), a GR oxida NADPH, que pode ser
monitorado pelo decréscimo de absorbância no comprimento de
onda de 340nm. Assim, a velocidade de consumo de NADPH
expressa a atividade desta enzima.
6.5.6 Glutationa peroxidase (GPx)
A atividade desta enzima foi acompanhada indiretamente
pelo desaparecimento do NADPH. A GPx utiliza glutationa
reduzida (GSH) para reduzir um peróxido orgânico, como o
peróxido de cumeno (Cu-OOH), originando glutationa
dissulfidica (GSSG) no final da reação. A GSSG é reduzida pela
enzima glutationa redutase (GR) utilizando elétrons doados pelo
39
NADPH. A taxa de oxidação de NADPH foi acompanhada
espectrofotometricamente a 340nm (WENDEL, 1981).
6.5.7 Glutationa S-transferase (GST)
A atividade de GST foi determinada de acordo com Keen,
Habig e Jakoby (1976) por um ensaio que utiliza o 1-cloro-2,4-
dinitrobenzeno (CDNB) como substrato. O CDNB, após a
glutationação, sofre uma mudança nas suas propriedades
espectrofotométricas que foi monitorado em 340nm por 2
minutos.
6.5.8 Glicose 6-fosfato desidrogenase (G6PDH)
A atividade da G6PDH foi determinada através do aumento
de absorbância em 340nm provocado pela redução de NADP
+
a
NADPH (GLOCK; MCLEAN, 1953).
6.5.9 Etóxi-resorufina O-Deetilase (EROD)
A atividade da EROD foi analisada
espectrofluorimetricamente medindo o aumento da fluorescência
da resorufina (Ex/Em 530/585). As concentrações no ensaio
foram: NADPH 1,67 mM; Etóxi-resorufina 2 uM; TRIS 50 mM,
40
pH7,8. A atividade da EROD foi analisada na fração
microssomal.
6.5.10 Análises estatísticas
Os dados obtidos foram analisados estatisticamente quanto
a normalidade dos dados e homocedacidade das variâncias. O
teste de hipótese utilizado foi o teste paramétrico One-way
ANOVA (5%), seguido do pós teste de Dunett (5%), quando
necessário. Todas as análises estatísticas foram realizadas com
os software Statistica 6.1. e para a apresentação dos gráficos foi
utilizado o software GraphPad Prism 5.0. Todos os dados estão
apresentados na forma de média e desvio padrão.
41
7 RESULTADOS
7.1 Análise química de hidrocarbonetos alifáticos em P.
vivipara
A Tabela 1 mostra as concentrações de hidrocarbonetos
alifáticos em amostras de P.vivipara submetidas a diferentes
porcentagens da FAD durante 96 horas. As concentrações de
hidrocarbonetos alifáticos variaram de 3,91 a 390 µg.g
-1
(Tabela
1). A interpretação da presença de hidrocarbonetos alifáticos
requer o auxílio de alguns parâmetros úteis para distinguir se são
provenientes de origem biogênica ou antropogênica. Os
parâmetros estão apresentados na Tabela 1; são eles: n-alcanos
totais, razão pristano/fitano e mistura complexa não resolvida
(MCNR).
As concentrações de n-alcanos totais nos peixes expostos
apresentaram um intervalo de 1,55 a 14,3 µg g
-1
e uma amostra
controle com 1,10 µg g
-1
. A amostra exposta a 5% da FAD
apresentou uma contaminação que impossibilitou a análise de
hidrocarbonetos (Tabela 1).
As Figuras 1 e 2 mostram semelhanças quando se
compara o perfil de distribuição de n-alcanos da amostra controle
e da amostra exposta 2,5% da FAD. Apesar das baixas
concentrações, é possível observar que existe uma
predominância de n-alcanos ímpares tanto leves (n-C
15
e n-C
17
)
quanto pesados (n-C
23
, n-C
25
, n-C
27
, n-C
29
, n-C
31
).
42
Tabela 1. Concentração de hidrocarbonetos alifáticos (µg.g
-1
peso
seco): n-alcanos, pristano e fitano, Alifáticos totais e resolvidos, alcanos
totais, razão pristano/fitano e MCNR em amostras de Poecilia vivipara
expostas por a fração do óleo diesel acomodada em água (FAD).
Legenda: n.d.(não detectado); n.c. (não foi possível medir devido a
contaminação).
HAs Controle
2,5% 5,0% 10% 20%
C12
n.d. n.d. n.c. n.d. 0,369
C13
n.d. n.d. n.c. 0,171 0,919
C14
n.d. 0,184 n.c. 0,32 1,264
C15
0,105 0,143 n.c. 0,447 1,578
C16
n.d. 0,362 n.c. 0,525 1,416
C17
0,137 0,145 n.c. 0,343 1,462
C18
n.d. n.d. n.c. 0,096 1,021
C19
n.d. n.d. n.c. 0,21 1,095
C20
n.d. 0,261 n.c. 0,355 0,855
C21
n.d. n.d. n.c. 0,145 0,888
C22
n.d. n.d. n.c. 0,121 0,702
C23
n.d. n.d. n.c. 0,093 0,507
C24
n.d. n.d. n.c. n.d. 0,417
C25
0,181 0,117 n.c. n.d. 0,306
C26
n.d. n.d. n.c. n.d. 0,288
C27
n.d. n.d. n.c. 0,109 0,29
C28
n.d. n.d. n.c. n.d. 0,214
C29
0,191 0,158 n.c. 0,274 0,378
C30
n.d. n.d. n.c. n.d. n.d.
C31
0,272 0,181 n.c. 0,249 0,244
C32
n.d. n.d. n.c. n.d. n.d.
C33
0,215 n.d. n.c. 0,161 0,131
C34
n.d. n.d. n.c. n.d. n.d.
Pristano
0,271 0,825 n.c. 1,71 4,22
Fitano
0,241 0,487 n.c. 0,972 2,42
Alifaticos Totais
3,91 9,05 n.c. 29,1 390
Alifaticos Resolvidos
3,91 9,05 n.c. 29,1 88,8
Alcanos Totais
1,1 1,55 n.c. 3,62 14,3
pristano/fitano
1,1 1,7 n.c 1,8 1,7
MCNR
n.d. n.d. n.c. n.d. 301
43
Figura 1. Perfil de distribuição dos n-alcanos em peixes
Poecilia vivipara controle. O gráfico mostra a presença de n-alcanos
ímpares de cadeia leve (n-C
15
e n-C
17
) e pesada (n-C
23
, n-C
25
, n-C
27
, n-
C
29
, n-C
31
).
Figura 2. Perfil de distribuição dos n-alcanos em amostra de
peixes Poecilia vivipara expostos durante 96 horas a 2,5% da FAD. O
gráfico mostra a presença de n-alcanos ímpares de cadeia leve (n-C
15
e
n-C
17
), pesada (n-C
23
, n-C
25
, n-C
27
, n-C
29
, n-C
31
) e alcanos pares n-C
14
,
n-C
16
e
n-C
20
.
44
Os peixes expostos a 10 e 20% da FAD mostraram
ausência de predominância de n-alcanos de cadeia par ou ímpar
(Figura 3 e 4).
Além dos n-alcanos, pode-se avaliar a presença
individual de alguns hidrocarbonetos alifáticos ramificados como
o pristano e fitano. As amostras expostas durante 96 horas
apresentaram razões pristano/fitano de 1,1 (controle), 1,7 (2,5%),
1,8 (10%) e 1,7 (20%) (Tabela 1).
Figura 3. Perfil de distribuição dos n-alcanos em amostra de peixes
Poecilia vivipara expostos durante 96 horas a 10% da FAD. O gráfico
mostra ausência de predominância de n-alcanos de cadeia par ou
impar.
45
Figura 4. Perfil de distribuição dos n-alcanos em amostra de peixes
Poecilia vivipara expostos durante 96 horas a 20% da FAD. O gráfico
mostra ausência de predominância de n-alcanos de cadeia par ou
impar.
Um indicador muito importante da presença de
hidrocarbonetos do petróleo na análise por cromatografia em fase
gasosa é a elevação na linha de base do cromatograma causada pela
Mistura Complexa Não Resolvida (MCNR) (FARRINGTON et al.,
1977). Foi detectada a presença de Mistura Complexa Não Resolvida
(MCNR) somente na amostra exposta a 20% da FAD (Figura 5), que
se apresenta diferente da amostra controle (Figura 6)
FID1 A, (AFONSO\ORGAN_P.D)
C12
C13
Tetradeceno
C14
C15
Hexadeceno
C16
C17
pristano
C18
fitano
C19
Eicoseno
C20
C21
C22
C23
C24
C25
C26
C27
C28
C29
C30
C31
C32
C33
Figura 5. Cromatograma da amostra de peixe Poecilia vivipara exposto
durante 96 horas a uma concentração contendo 20% da FAD. O gráfico
mostra uma elevação na linha base do cromatograma.
46
FID1 A, (AFONSO\ORGAN_H.D)
C12
C13
Tetradeceno
C14
C15
Hexadeceno
C16
C17
pristano
C18
fitano
C19
Eicoseno
C20
C21
C22
C23
C24
C25
C26
C27
C28
C29
C30
C31
C32
C33
Figura 6. Cromatograma da amostra de peixe Poecilia vivipara controle. O
gráfico mostra a estabilidade da linha base do cromatograma.
7.2 Análise química de hidrocarbonetos aromáticos em P.
vivipara
A Tabela 2 mostra as concentrações de hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (HPAs) nas amostras de peixes expostos
a diversas concentrações da FAD. O controle do experimento
apresentou uma concentração mais alta de HPAs totais do que
os peixes expostos a 2,5% da FAD (tabela 2). Considerando
todas as concentrações da FAD, os HPAs mais abundantes no
tecido de peixes P. vivipara continham 2 ou 3 anéis aromáticos,
sendo representados pelas formas metiladas e etiladas do
naftaleno, seguidas pelo bifenil, fluoreno e fenantreno. A análise
de correlação (tabela 3) mostrou correlações entre a FAD e as
enzimas EROD, GST no fígado e GST na brânquia. Além disso,
existe correlação entre a FAD e os HPA total.
47
Tabela 2. Concentração de hidrocarbonetos aromáticos (ng.g
-1
peso
seco) em amostras de Poecilia vivipara expostos durante 96 horas a
diferentes concentrações da fração do óleo diesel acomodada em água
(FAD). Legenda: n.d (não detectado).
HPAs Controle
2,5%
5,0%
10% 20%
Naftaleno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Σmetilnaftalenos
198,3 67 213 656 1883
Bifenil
n.d. 11,1 34,8 229 487
Σetilnaftalenos
8,49 37,9 118 404,9
924
Σdimetilnaftalenos
117 52,5 368 1631 3784
Acenaftileno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Acenafteno
n.d. n.d. 9,86 30,8 73,5
Σtrimetilnaftalenos
16,5 65,7 218 689 914
Fluoreno
9,89 n.d. 17,2 64,3 185
Σmetilfluorenos
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Dibenzotiofeno
2,67 n.d. n.d. 11,5 34,3
Fenantreno
10,8 n.d. 5,03 26,4 108
Antraceno
n.d. n.d. n.d. 7,8 n.d.
Σdimetilfluorenos
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Σmetildibenzotiofenos
n.d. n.d. 3,14 6,86 17
Σdimetilfenantrenos
n.d. n.d. n.d. 25,8 90
Σmetilfenantrenos
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Fluoranteno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Pireno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Σmetilfluorantenos
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Reteno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Σmetilpireno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(c) Fenantreno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(a)Antraceno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Criseno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Σmetilcriseno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Dimetilcriseno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(b)fluoranteno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(j)fluoranteno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(k)fluoranteno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(e)pireno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(a)pireno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Perileno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Indeno [1,2,3-c,d]pireno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Dibenzo(a,h)antraceno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(b)criseno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Benzo(g,h,i)perileno
n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Σ HPAs 364 234 986 3783 8499
48
Tabela 3. Correlação entre a FAD, HPA total e as análises bioquímicas
em peixes Poecilia vivipara expostos durante 96 horas a diferentes
concentrações da fração do óleo diesel acomodada em água (FAD). Os
valores em negrito mostram o coeficiente de Pearson com significância
de p<0,05. Os parâmetros bioquímicos ausentes não atingiram a
significância estatística de p<0,05.
FAD HPA GST fig GST bra
EROD fig
FAD
0,99
0,97
0,93
0,92
HPA
0,99
0,96
0,89
0,89
GST fig
0,97
0,96
0,89
0,98
GST bra
0,93
0,89
0,89
0,86
EROD fig
0,92
0,89
0,98
0,86
7.3 Biomarcadores bioquímicos em peixe P. vivipara
Peixes da espécie P. vivipara foram expostos a quatro
diferentes concentrações de FAD (2,5%, 5%, 10% e 20%) por 96
horas e nenhuma letalidade foi observada. Dessa forma, 10
amostras de peixes de cada concentração foram utilizadas para
avaliação dos biomarcadores bioquímicos. Nesses ensaios foram
analisadas a atividade da enzima superóxido dismutase (SOD),
catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx), glutationa redutase
(GR), glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH), glutationa S-
transferase (GST) e Etóxi-resorufina O-deetilase (EROD) na
brânquia e fígado dos peixes.
Na brânquia a atividade das enzimas GST e EROD foram
as únicas que apresentaram diferenças significativas em relação
ao grupo controle (Figura 8). A atividade da GST apresentou um
aumento nos grupos expostos a 10% e 20% da FAD (Figura 8),
enquanto a atividade EROD aumentou nas concentrações de
2,5% 10% e 20% da FAD (Figura 9).
49
Figura 7. Atividade das enzimas superóxido dismutase (SOD), catalase
(CAT), glutationa peroxidase (GPx), glutationa redutase (GR), glicose-6-
fosfato desidrogenase (G6PDH) e glutationa S-transferase (GST) em
brânquias de peixes Poecilia vivipara expostos a diferentes
concentrações da fração do óleo diesel acomodada em água (FAD) por
96 h. As barras demonstram diferenças significativas (p<0,05) em
relação ao grupo controle e os dados estão apresentados na forma de
média e desvio padrão.
50
No fígado, a atividade GR, GST e EROD apresentou um
aumento significativo na concentração de 20% da FAD em
relação ao grupo controle (Figura 8 e 10).
As demais enzimas não apresentaram alterações
significativas na atividade enzimática.
Figura 8. Atividade das enzimas superóxido dismutase (SOD), catalase
(CAT), glutationa peroxidase (GPx), glutationa redutase (GR), glicose-6-
fosfato desidrogenase (G6PDH) e glutationa S-transferase (GST) em
fígado de peixes Poecilia vivipara expostos a diferentes concentrações
da fração do óleo diesel acomodada em água (FAD) por 96 h. As barras
demonstram diferenças significativas (p<0,05) em relação ao grupo
controle e os dados estão apresentados na forma de média e desvio
padrão.
51
Figura 9. Atividade EROD na brânquia (esquerda) e fígado (direita) de
peixes Poecilia vivipara expostos a diferentes concentrações da fração
do óleo diesel acomodada em água (FAD) por 96 h. As barras
demonstram diferenças significativas (p<0,05) em relação ao grupo
controle e os dados estão apresentados na forma de média e desvio
padrão.
52
8 DISCUSSÃO
8.1 Análise Química
Os diferentes tipos de petróleo apresentam em sua
composição uma gama de n-alcanos variando de 1 a 40 átomos
de carbono, caracterizados pela ausência de uma dominância
ímpar ou par no número de carbonos nas cadeias moleculares
(SIMONEIT, 1993). Segundo Bishop (1983), os produtos
derivados do petróleo caracterizam-se pela presença de n-
alcanos dentro de uma faixa mais restrita de peso molecular, em
decorrência dos processos de refino.
A predominância de n-alcanos ímpares leves e pesados
nas amostras controle e exposta a 2,5% da FAD (Figura 2 )
sugere que P. vivipara pode ter ingerido fitoplâncton (n-C
15
e n-
C
17
), bem como de plantas superiores (n-C
23
, n-C
25
, n-C
27
, n-C
29
,
n-C
31
) do ambiente onde foram coletadas (VOLKMAN et al.,
1992).
Os peixes expostos a 10 e 20% da FAD mostraram perfis
típicos da influência do óleo diesel. A ausência de predominância
de hidrocarbonetos alifáticos de cadeia par ou impar nas
amostras de peixe mostra que houve acumulação da FAD nos
peixes expostos a 10 e 20% da FAD (Figura 3 e 4).
Quanto a Mistura Complexa Não Resolvida (MCNR), a
amostra exposta a 20% da FAD apresentou um aumento na linha
base do cromatograma em relação ao controle (Figura 5 e 6),
mostrando que os organismos expostos acumularam os
hidrocarbonetos dessa mistura. Essa elevação é caracterizada
por uma mistura de compostos ramificados e cíclicos presentes
53
no petróleo e que não podem ser separados pela técnica
utilizada nesse estudo. A MCNR está associada a compostos do
óleo que são resistentes à degradação. Enquanto os compostos
com estruturas mais simples degradam-se mais facilmente, essa
mistura tende a acumular-se principalmente nos sedimentos
(VOLKMAN et al., 1992), mas foi observado também em
alguns organismos como macrófitas e bivalves.
O pristano e o fitano são os isoprenóides mais abundantes
no óleo diesel e podem ser encontrados em sedimentos
contaminados, pois são mais resistentes a biodegradação que os
alcanos lineares correspondentes (ROSA, 2001). As
concentrações de pristano e fitano aumentaram conforme
aumentava a concentração de FAD utilizada (Tabela 1) ,
indicando que os peixes bioacumularam esses compostos. Além
disso, a amostra controle também apresentou contaminação por
esses isoprenóides, mostrando que o ambiente onde os peixes
foram coletados apresentava a presença desses compostos,
mesmo que em baixa concentração.
A correlação positiva entre a concentração de HPAs totais
no tecido dos peixes e concentração de FAD utilizada no
tratamento (Tabela 3), indica que houve acumulação de HPAs
pelos peixes. A amostra controle apresentou níveis de HPAs
similares às dos peixes do grupo exposto a 2,5%, o que sugere
que o ambiente onde os peixes foram coletados possivelmente
possuía um aporte destes compostos.
8.2 Biomarcadores Bioquímicos em P. vivipara
A natureza lipofílica dos hidrocarbonetos encontrados no
óleo diesel possibilita uma rápida absorção destes pelos
54
organismos aquáticos através das membranas lipídicas das
brânquias, pele e trato digestivo. Após a absorção, a ação destes
compostos vai depender de sua susceptibilidade à
biotransformação (ZANETTE, 2009).
Compostos dificilmente biotransformados tendem a ser
acumulados nos tecidos, em especial o tecido adiposo. Aqueles
passíveis de biotransfomação serão convertidos a um metabólito
mais hidrossolúvel que o parental, facilitando assim o processo
de excreção (NEBERT; KARP, 2008). Embora o processo de
biotransformação geralmente resulte em detoxificação do
contaminante, a ação das enzimas do complexo Citocromo P450
(CYP450) também podem gerar metabólitos tóxicos que
contribuem para o aumento do risco de câncer, deformações
embrionárias e outros efeitos tóxicos (NEBERT; KARP, 2008).
Esse é o caso de alguns HPAs como o benzo(a)pireno, que após
ser biotransformado pelo CYP450, principalmente CYP1A, gera
metabólitos reativos potencialmente mutagênicos. O HPA
Naftaleno, após o processo de biotransformação de fase I pelo
CYP1A, gera intermediários reativos (naftoquinonas), podendo
causar estresse oxidativo, danos a DNA e lipoperoxidação no
cérebro e no fígado em mamíferos (BAGCHI et al., 2002). Em
peixes, a atividade catalítica do CYP1A (EROD) tem sido
amplamente utilizada como um marcador da exposição a
contaminantes há mais de três décadas (ZANETTE, 2009).
Neste estudo, a brânquia apresentou um aumento na
atividade EROD nas concentrações de 2,5% 10% e 20% da FAD
(Figura 9), enquanto no fígado o aumento foi significativo apenas
na concentração de 20% da FAD (Figura 9). Esse resultado foi
semelhante ao aumento na atividade EROD observado no fígado
de enguias (Anguilla anguilla) expostas a FAD (PACHECO;
SANTOS, 2001a).
O aumento na atividade EROD possivelmente está
relacionado com a modulação transcricional do gene CYP1A pelo
55
Receptor de Hidrocarboneto Aromático (AHR) ativado pelos
HPAs encontrados na FAD. Resumidamente, a via de ativação
do AHR pode ser descrita assim: 1) a ativação do AHR por um
agonista (HPAs); 2) interação com o translocador nuclear do
receptor AHR (ARNT); 3) translocação do AHR para o núcleo; 4)
ligação nos elementos de resposta a xenobióticos (XRE); 5) a
iniciação da transcrição de inúmeros genes das fases de
biotransformação I (CYPs450) e II (TIMME-LARAGY et al.,
2007). Os HPAs encontrados na FAD deste estudo que podem
se ligar ao receptor AHR são derivados metilados do fenantreno
(VONDRACEK et al., 2007; BARRON; HEINTZ; RICE, 2004).
Outro resultado encontrado nesta dissertação (Capítulo 2),
que corrobora para hipótese de indução da expressão do gene
CYP1A, é a evidência direta da ativação transcricional do gene
CYP1A verificada por Reação em Cadeia da Polimerase
Quantitativa (Q-PCR). Contudo, nada impede que mecanismos
pós-traducionais também estejam envolvidos na modificação da
atividade catalítica do CYP1A (EROD). Esses resultados
reforçam a utilização da atividade EROD e expressão de CYP1A
em programas de biomonitoramento, uma vez que esses
parâmetros são amplamente utilizados como biomarcadores
da contaminação ambiental por 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-
dioxina (TCDD), bifenilas policloradas coplanares (PCBs) e HPAs
(GOKSØYR; FÖRLIN, 1992).
O receptor AHR, além de modular a expressão de diversos
genes da fase I de biotransformação, também modula genes da
fase II como a Glutationa S- transferase (GST) e Uridina difosfato
glicoronosil transferase (UDPGT) (ARUKWE; NORDBØ, 2008).
Neste estudo, a atividade GST aumentou em ambos tecidos
(Figura 7 e 8). Outros estudos em peixes dulciaqüícolas expostos
a FAD mostraram um aumento na atividade GST no fígado
(ZHANG et al., 2004; SIMONATO; GUEDES; MARTINEZ, 2008).
Além disso, a GST foi considerada um bom biomarcador para os
56
compostos presentes no óleo diesel (SIMONATO, GUEDES,
MARTINEZ, 2008). A hipótese de modulação de genes de
biotransformação de fase II pelo receptor AHR pode ser utilizada
para explicar o aumento da atividade GST. Isso porque no
presente estudo também foi encontrado um aumento na
expressão gênica de uma isoforma de GST e de UDPGT após 24
h de exposição a uma concentração de 10% da FAD (Capítulo
2). Apesar da expressão gênica nem sempre significar um
aumento na expressão e atividade de proteínas, os resultados
obtidos sugerem fortemente a modulação da expressão gênica
pelo receptor AHR. O aumento na atividade das enzimas EROD
e GST, inclusive mostrando uma correlação entre essas enzimas
e a concentração de HPA total (Tabela 3), indica uma maior
capacidade de biotransformação das células contra os HPAs
presentes no tecido dos peixes expostos a FAD, uma vez que
estes compostos são potenciais substratos dessas enzimas
(PACHECO; SANTOS, 2001b; ZHANG et al., 2004; SIMONATO;
GUEDES; MARTINEZ, 2008; ARUKWE; NORDBØ, 2008;
NAHRGANG et al., 2009).
O CYP1A durante o processo de biotransformação de
xenobióticos pode produzir espécies reativas de oxigênio e,
dependendo da situação, pode gerar uma situação de estresse
oxidativo (VAN DER OOST; BEYER; VERMEULEN, 2003).
Alguns HPAs encontrados neste estudo, como o naftaleno, após
ser biotransformado pelo CYP1A forma naftoquinonas. As
quinonas são uma classe de moléculas capazes de doar ou
receber elétrons facilmente. Dessa forma, as quinonas podem
participar de reações de oxidoredução, ou seja, são capazes de
se modificar entre uma forma oxidada e outra reduzida em um
ciclo redox. Durante o ciclo redox as quinonas podem receber
elétrons do NADPH e doar esses elétrons para o oxigênio,
formando ânion superóxido. Assim, as quinonas são capazes de
estabelecer um estado pró- oxidativo (FORMAN; ZHANG;
57
RINNA, 2009). A avaliação de enzimas do sistema de defesa
antioxidante como a Catalase (CAT), Glutationa Peroxidase
(GPx) e Superóxido Dismutase (SOD) é comum em programas
de monitoramento (NAHRGANG et al., 2009).
Neste estudo as atividades das enzimas antioxidantes
SOD, CAT e GPx não foram alteradas pela exposição a FAD
(Figura 7 e 8). Os estudos com peixes expostos a FAD durante
96 horas encontrados na literatura são contraditórios quanto as
alterações na atividade das enzimas antioxidantes. Um estudo
realizado com peixes Carassius auratus expostos a FAD mostrou
um aumento na atividade SOD e diminuição na atividade CAT no
fígado (ZHANG et al., 2004), enquanto outro trabalho realizado
com o peixe Prochilodus lineatus mostrou ausência de alteração
na atividade CAT (SIMONATO; GUEDES; MARTINEZ, 2008). A
discrepância entre esses estudos pode ser atribuída às
diferenças nas concentrações de FAD utilizadas, ou ao uso de
espécies diferentes, sendo P. vivipara uma espécie estuarina e
os demais peixes (Carassius auratus e Prochilodus lineatus)
espécies dulciaquicolas.
Apesar da ausência de alteração na atividade da enzima
SOD, CAT e GPx, a atividade de outra enzima antioxidante, a
Glutationa Redutase (GR), aumentou no fígado na concentração
de 20% da FAD (Figura 9). Embora a GR não esteja diretamente
envolvida na defesa antioxidante, como as enzimas previamente
descritas (CAT, GPx e SOD), essa enzima é responsável pela
manutenção da homeostase do balanço entre glutationa reduzida
e dissulfídica (GSH/GSSG) em situações normais e de estresse
oxidativo. A GR catalisa a transformação da glutationa
dissulfídica (GSSG) para sua forma reduzida (GSH) com a
concomitante oxidação do NADPH para NADP (VAN DER
OOST; BEYER; VERMEULEN, 2003). Quando deficiência no
suprimento de NADPH, a função antioxidante da glutationa
também é comprometida, pois a GSSG não pode ser
58
regenerada, causando sérios danos ao metabolismo celular.
Neste sentido, a G6PDH também pode ser considerada uma
enzima antioxidante co-adjuvante, pois produz NADPH na via
das pentose fosfato (SLEKAR; KOSMAN; CULOTTA, 1996).
Entretanto, neste experimento a atividade G6PDH o foi
alterada com o tratamento em ambos tecidos (Figura 7 e 8).
O aumento na atividade GR é um potencial biomarcador
para estresse oxidativo (STEPHENSEN; STURVE; FÖRLIN,
2002). Contudo, a hipótese de estresse oxidativo o pôde ser
confirmada nem refutada, pois nenhum método foi utilizado para
medir a produção de espécies reativas de oxigênio, níveis de
glutationa total, reduzida e dissulfídica, que poderiam indicar um
possível estado pró-oxidante. Além disso, as atividades das
enzimas antioxidantes CAT e SOD não foram alteradas em
relação ao grupo controle como poderia ocorrer em um estado de
estresse oxidativo.
Por outro lado, as atividades EROD e GST, neste estudo,
foram de 3 a 10 vezes maiores no fígado do que na brânquia.
Dessa forma, o fígado se torna um orgão mais suscetível do que
a brânquia ao estresse oxidativo, tanto pela maior produção de
espécies reativas de oxigênio devido à atividade EROD, quanto
pela depleção de glutationa promovida pela atividade GST.
Sendo assim, o aumento da atividade GR no fígado poderia ser
um mecanismo compensatório para restabelecer a razão
GSH/GSSG alterada por um potencial estresse oxidativo
hepático.
O mecanismo pelo qual a atividade GR aumentou pode
envolver modulação gênica. Em mamíferos, a modulação do
gene da Glutationa redutase envolve a interação do fator de
transcrição NRF2 com o elemento de resposta antioxidante
(ARE) localizado na região promotora deste gene. O fator de
transcrição NRF2, ao contrário do AHR, não é ativado por
ligantes. Sob condições normais o NRF2 está associado a uma
59
proteína inibitória KEAP1. Na presença de endo ou xenobióticos
que reagem com tióis ou aumentam a formação espécies
reativas de oxigênio (por exemplo, quinonas) a KEAP1 é
inativada. Uma vez livre de KEAP1, o NRF2 é translocado para o
núcleo onde pode ativar a transcrição de vários genes que
possuem ARE em suas regiões promotoras como: Glutamato-
cisteína ligase, glutationa redutase, glutationa peroxidase,
tioredoxina redutase (HAYES; DINKOVA-KOSTOVA;
McMAHON, 2009).
Um trabalho realizado com Carassius auratus expostos a
fenantreno mostrou um aumento na produção de radicais hidroxil
e uma redução nos níveis de glutationa reduzida (YIN et al.,
2007). Um estudo em células epiteliais e macrófagos humanos
expostos a partículas de óleo diesel após a combustão mostrou
que o NRF2 foi ativado (principalmente devido às quinonas),
conduzindo a expressão de seus genes alvo (LI et al., 2004).
Juntos, esses estudos sugerem que os HPAs e quinonas são
capazes de gerar estresse oxidativo e promover a ativação de
NRF2, culminando no aumento da expressão de seus genes
alvo, entre eles a GR.
Em resumo, este estudo mostra uma modificação na fase I
e II do sistema de biotransformação e, em menor grau, no
sistema de defesa antioxidante. Essas modificações podem ser
atribuídas, em parte, aos efeitos dos hidrocarbonetos aromáticos
da FAD. O mecanismo proposto para o aumento da atividade
EROD e GST envolve a modulação gênica do CYP1A e GST
pelo AHR. O aumento na atividade GR pode estar associado à
modulação gênica exercida pelo NRF2 na região promotora
deste gene. Contudo, mais estudos são necessários para
confirmar a hipótese de estresse oxidativo e modulação do gene
GR pelo NRF2 em peixes Poecilia vivipara.
Baseado nos resultados encontrados nesse estudo, pode-
se sugerir o uso de uma metodologia abrangente que envolva a
60
análise da atividade de enzimas pertencentes ao sistema de
defesa antioxidante e das fases I e II de biotransformação no
planejamento de programas de monitoramento ambiental.
Sugere-se ainda a utilização de mais de um tecido nas análises,
pois nesse estudo a brânquia foi mais sensível que o fígado para
detectar alterações na atividade GST e EROD. Os resultados dos
biomarcadores bioquímicos e o comportamento dos peixes nos
aquários durante a exposição permitiram a escolha da
concentração de 10% da FAD para os próximos experimentos.
Nessa concentração os peixes no aquário estavam
comportamentalmente saudáveis, enquanto na concentração de
20% os peixes estavam letárgicos e com dificuldades de
natação, além disso os resultados da atividade enzimática na
brânquia e no fígado mostram que a concentração mais baixa
que mostra efeitos na atividade enzimática é 10% da FAD.
61
9 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
Este estudo mostrou que peixes expostos a FAD
apresentaram um aumento na atividade das enzimas envolvidas
nas fase I e II de biotransformação. No entanto, somente
algumas alterações foram observadas nas enzimas envolvidas
no sistema de defesa antioxidante.
Os HPAs mais abundantes nos tecidos de peixes P.
vivipara continham 2 ou 3 anéis aromáticos, sendo
representados pelas formas metiladas e etiladas do naftaleno,
seguidas pelo bifenil, fluoreno e fenantreno. As formas metiladas
do fenantreno são ligantes do AHR e possivelmente estão
relacionadas ao aumento na atividade das enzimas EROD e GST
observado na brânquia e fígado desses peixes. Estas enzimas se
mostraram bons biomarcadores de exposição a FAD, assim
como observado em outros estudos.
Nesse estudo a brânquia foi mais sensível que o
fígado para detectar alterações na atividade GST e EROD.
Estudos avaliando parâmetros que permitem
evidenciar o estresse oxidativo (GSH total, reduzida, dissulfídica,
tióis proteicos, tióis não proteicos, Caspase 3, Carbonilação de
proteínas, Ensaio do cometa) deverão ser conduzidos para
confirmar ou rejeitar a hipótese de um estado pró oxidante em
peixes expostos a FAD.
62
10 CAPÍTULO 2
RESPOSTAS MOLECULARES NO PEIXE Poecilia vivipara
(BARRIGUDINHO) EXPOSTO À FRAÇÃO DE ÓLEO DIESEL
ACOMODADA EM ÁGUA
63
RESUMO
O óleo disel é um potencial contaminante de estuários e
mangues, especialmente, porque ele é o principal combustível
utilizado em embarcações. Além disso, a exploração de petróleo
e transpote causam sérios riscos ao ambiente marinho.O objetivo
desse estudo foi identificar as mudanças na expressão gênica
hepática de peixes Poecilia vivipara expostos a 10% da Fração
do óleo diesel acomodada em água (FAD) através da técnica de
hidridização subtrativa supressiva (SSH) e PCR quantitativo
(qPCR). Os resultados da SSH mostraram 27 genes
diferencialmente expressos, sendo 12 induzidos e 15 reprimidos.
Os resultados de qPCR confirmaram a indução dos genes
Citocromo P4501A (CYP1A), Citocromo P4502P2 (CYP2P2),
Metiltransferase (MET), Glutationa S-transferase (GST), Uridina
Difosfato Glicoronosil Transferase (UDPGT1B) e a repressão do
gene Vitelogenina A (VgA) em machos. A maioria dos genes
induzidos validados por qPCR está envolvida nas duas primeiras
etapas de biotransformação, enquanto o gene validado como
reprimido, VgA, está envolvido com a vitelogênese. Os demais
genes não foram validados e desempenham múltiplas funções
biológicas como: sistema imune, apoptose, metabolismo de
lípídeos e carboidratos, transporte de oxigênio, Vitelogênese e
fase III de biotransformação. A maioria dos genes induzidos pode
ter sido modulada através da ativação do Receptor Aril
Hidrocarboneto (AHR) pelos hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos (HPAs) identificados nos tecidos dos peixes. A
repressão do gene VgA pode estar relacionada a um mecanismo
de sinalização cruzada entre AHR e Receptor de Estrógeno (ER).
Uma análise integrada destes resultados mostra uma resposta
molecular no sentido de detoxificar os hidrocarbonetos presentes
no óleo diesel, por outro lado, algumas respostas moleculares a
longo prazo podem aumentar suscetibilidade dos organismos a
patógenos ou mesmo afetar a reprodução. Além disso, os genes
64
diferencialmente expressos apresentados nesse estudo são
candidatos a biomarcadores de ativadores do receptor AHR.
Palavras-chave: biotransformação, expressão gênica, óleo
diesel, Poecilia vivipara
65
ABSTRACT
Diesel fuel is a potential contaminant of estuarine and mangrove
areas, specially, because it is the main fuel used in vessels. In
addition, offshore oil exploration, production and transport pose
serious risks to the marine environment. The aim of this work was
identify changes in hepatic gene expression of Poecilia vivipara
fishes exposed to 10% of diesel fuel water accommodated
fraction (FAD), employing the subtractive suppressive
hybridization (SSH) and quantitative PCR (qPCR) method. The
SSH results showed 27 differentially expressed genes, 12
upregulated and 15 downregulated. The qPCR results confirmed
the Cytochrome P4501A (CYP1A), Cytochrome P4502P2
(CYP2P2), Methyltransferase (MET), Glutathione S-transferase
(GST), Uridine Diphosphate Glucuronosil Transferase
(UDPGT1B) gene induction and Vitelogenin A (VgA) gene
repression in male fish. The majority of the upregulated genes
validated by qPCR is involved with the two biotransformation
phases, while the gene validated as downregulated, VgA, is
involved with vitellogenesis. The remaining genes were not
validated and play several functions like: immune system,
apoptosis, carbohydrate and lipid metabolism, oxygen transport,
vitellogenesis and biotransformation phase III. The modulation
mechanism proposed for the upregulated genes can involve the
activation of aryl hydrocarbon receptor (AHR) by the polycyclic
aromatic hydrocarbons (HPAs) identified in fish tissue. The VgA
downregulation can be associated to a cross-talk mechanism
between AHR and the Estogen Receptor (ER). An integrated
analysis of these results show a molecular response to detoxify
the hydrocarbons found in diesel oil, in the other hand, some long
term molecular responses can increase the pathogen
susceptibility or affect the reproduction. In addition, the
differentially expressed genes found in this study are candidates
to biomarkers of AHR activators.
66
Keywords: biotransformation, diesel oil, gene expression,
Poecilia vivipara
67
11 INTRODUÇÃO
A poluição marinha é definida como a introdução de
substâncias tóxicas ou de energia oriundos da atividade
antrópica em um ambiente marinho, incluindo estuários,
resultando em um efeito deletério para os organismos e danos
para a saúde humana (GESAMP, 1991). As substâncias tóxicas,
também denominadas xenobióticos, estão em constante
aumento no ambiente, tanto em sua quantidade, quanto em sua
variedade (WALKER et al., 1996; LIVINGSTONE, 1993).
Dentre os diferentes tipos de xenobióticos, os derivados de
petróleo são um dos mais relevantes para a ecotoxicologia
aquática e têm causado bastante preocupação, tanto pela
freqüência dos eventos de contaminação como pelo elevado
potencial poluidor dos seus compostos (PACHECO; SANTOS,
2001a). Embora grandes vazamentos de petróleo sejam
preocupantes e ocupem grande espaço na mídia, estima-se que
a principal fonte de contaminação por petróleo e seus derivados
é resultado de contínuos vazamentos em postos de distribuição
de combustíveis, causados pelo envelhecimento dos tanques de
combustíveis (TIBURTIUS et al., 2005).
Nesse contexto de crescente preocupação com os efeitos
de xenobióticos no ambiente surgiu a ecotoxicologia, uma ciência
multidisciplinar que lida com as interações entre contaminantes
lançados no ambiente e a biota, analisando os efeitos adversos
causados nos diferentes níveis de organização biológica (FENT,
2004). Entre os efeitos adversos no nível bioquímico estão
alterações na atividade de enzimas pertencentes ao sistema de
biotransformação e ao sistema de defesas antioxidante (RAND
1995).
68
Essas alterações bioquímicas têm sido muito utilizadas
como biomarcadores para indicar a exposição e os efeitos de
poluentes ambientais (BURGEOT et al., 1996). Dessa forma, os
biomarcadores moleculares e bioquímicos servem como sinais
precoces da degradação ambiental causadas pelos
contaminantes (RAND, 1995).
A principal vantagem do uso de biomarcadores na
avaliação ambiental sobre as análises químicas se deve ao fato
de serem obtidas informações a respeito dos efeitos biológicos
causados pelas substâncias tóxicas. Na maioria dos casos a
análise destes biomarcadores apresenta menor custo, maior
facilidade e rapidez do que as análises químicas convencionais
(GALLOWAY et al., 2004).
Apesar das vantagens no uso de biomarcadores nos
programas de biomonitoramento, na maioria das vezes a
especificidade das respostas dos biomarcadores para as
diferentes classes de contaminantes não é muito clara
(GALLOWAY et al., 2004). Desta forma, são necessários mais
estudos na tentativa de descobrir novos biomarcadores, bem
como elucidar os mecanismos de toxicidade de diferentes
classes de contaminantes.
O uso de técnicas de biologia molecular na ecotoxicologia
permitiu ampliar o conhecimento dos mecanismos de ação dos
contaminantes nos organismos, pois os padrões de expressão
gênica podem fornecer informações sobre a interação entre os
estressores ambientais e o genoma (BRULLE et al., 2008).
A pesquisa contemporânea no campo da ecotoxicologia
tenta elucidar de que maneira a regulação gênica é modulada
pelos estímulos ambientais e estabelecer as diferenças nos
níveis de expressão gênica nos diferentes tipos celulares e
estágios de desenvolvimento. Considerando que a transcrição é
um dos passos iniciais na regulação gênica, a determinação dos
níveis de abundância dos transcritos em resposta aos
69
contaminantes representa uma informação necessária para
responder tais questões. As tecnologias que permitem estudar a
expressão gênica diferencial são relativamente recentes na
genômica funcional e visam a compreensão das mudanças
globais no padrão de expressão dos organismos expostos a
variados estressores e poluentes ambientais. Assim, no esforço
de interpretar tais resultados, foi desenvolvido um novo campo
da ciência denominado toxicogenômica (KOSKINEN et al., 2004).
Os estudos de expressão gênica diferencial podem ser
divididos basicamente em duas tecnologias: sistemas abertos e
fechados. Para a utilização de sistemas fechados é necessário
que seja conhecido o genoma ou os genes de estudo da espécie
em questão; como exemplo de sistema fechado temos os
microarranjos. Por outro lado, as técnicas de sistema aberto,
como por exemplo as técnicas differential display e hibridização
subtrativa supressiva (SSH), apresentam a vantagem de
dispensarem a necessidade de conhecimento prévio do genoma
da espécie (BULTELLE et al., 2002). A SSH é um dos mais
poderosos métodos para isolar transcritos diferencialmente
expressos (HE; LI; XU, 2004) e vem sendo utilizada nos mais
variados campos da ciência moderna (WINSTANLEY, 2008).
Tendo em vista o risco ambiental associado à atividade da
indústria petrolífera e a necessidade de programas de
monitoramento ambiental eficazes na avaliação da qualidade dos
ecossistemas, esse estudo avaliou a expressão diferencial de
genes através da técnica da SSH, a fim de descobrir novos
biomarcadores sensíveis aos contaminantes provenientes da
atuação da indústria petrolífera em peixes P. vivipara expostos à
fração do óleo diesel acomodada em água (FAD).
70
12 OBJETIVOS
1.
Clonar e seqüenciar fragmentos de cDNA expressos
diferencialmente no fígado de peixes P. vivipara expostos à
fração do óleo diesel acomodada em água (FAD);
2. A partir das seqüências de cDNA identificadas, desenhar
e validar o uso de pares de iniciadores, através da técnica de
PCR quantitativo, para avaliar alterações na expressão gênica no
fígado de peixes P. vivipara expostas FAD;
3. Identificar, através de análises químicas, os
componentes da FAD mais abundantes nos tecidos dos peixes
após exposição a FAD;
4. Relacionar as mudanças na expressão gênica com os
hidrocarbonetos bioacumulados nos tecidos de peixes P. vivipara
expostos a 10% da FAD;
5. Construir uma biblioteca subtrativa de P. vivipara com
genes diferencialmente expressos após exposição a FAD;
71
13 MATERIAIS E MÉTODOS
13.1 Exposição de peixes à FAD 10% para avaliação das
respostas moleculares
A exposição foi realizada em duplicata, em aquários com
capacidade para 40 litros, com 40 peixes em cada aquário,
durante 24 horas sob as mesmas condições de temperatura,
salinidade e fotoperíodo apresentadas anteriormente (Capitulo
1). Um grupo controle também foi utilizado, no qual os animais
foram expostos somente à água do mar (salinidade 25ppm). A
concentração escolhida para esse experimento já foi
devidamente justificada no capítulo 1 dessa dissertação.
Após o período de exposição, os fígados de 30 peixes de
cada réplica foram coletados e agrupados por sexo em pools de
2 fígados por microtubo (n=15 por réplica) e imediatamente
congelados em nitrogênio líquido, para posterior análise de
biomarcadores moleculares. Outro grupo de 10 peixes foi
imediatamente congelado em nitrogênio líquido e armazenado
em freezer -80°C até a sua utilização nas análises químicas.
Estes procedimentos foram aplicados para o grupo controle e
exposto.
72
13.2 Análise química
O procedimento metodológico descrito a seguir foi baseado
em Macleod et al. (1986) com algumas modificações.
Aproximadamente 5 g das amostras dos peixes inteiros foram
secos e macerados com sulfato de sódio anidro (J.T. Baker), que
foi calcinado por 4 h a uma temperatura de 440
o
C. Esse
homogenato foi colocado em cartucho de vidro com placa
sinterizada e extraído em soxhlet durante 8 h com n-hexano e
diclorometano 50% (v/v). O grau de pureza dos solventes
utilizado foi “grau para análise de resíduos orgânicos”, ambos da
J. T. Baker (Estados Unidos). Antes da extração foram
adicionados 100 µL de uma mistura de naftaleno-d
8
, acenafteno-
d
10
, fenantreno-d
10
, criseno-d
12
e perileno-d
12
(5 ng µL
-1
) e n-
hexadeceno e n-eicoseno (50 ng µL
-1
) como padrões internos em
cada uma das amostras e no branco.
O extrato evaporado foi submetido a uma coluna
cromatográfica contendo 8 gramas de sílica gel sobre 16 g de
alumina (ambas da Merck), 5% desativadas com água pré-
extraída 5 vezes com n-hexano, e 1 g de sulfato de sódio. A
eluição foi feita com 40 mL de n-hexano para análise dos
hidrocarbonetos alifáticos e uma mistura de n-hexano e
diclorometano (50%) para análise dos hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (HPAs). Para purificação complementar, o
eluato da F2 foi concentrado a 0,5 mL e injetado no cromatógrafo
líquido de alto desempenho (HPLC) (Perkin Elmer) equipado com
duas colunas de exclusão (permeação em gel). A fase móvel
utilizada foi o diclorometano. Os padrões internos tetradeceno e
benzo(b)fluoranteno-d12 foram adicionados nos eluatos
concentrados F1 e F2 com volume de 1 mL, respectivamente.
73
Uma alíquota da F1 foi injetada no cromatógrafo a gás
equipado com detector de ionização de chama (GC-FID), (Agilent
Technologies) para hidrocarbonetos alifáticos. Os HPAs foram
analisados no cromatógrafo a gás equipado com espectrômetro
de massas (GC-MS), 6890/5973N (Agilent Technologies).
As temperaturas do injetor e detector do GC-FID foram de
300
o
C e 325
o
C, respectivamente. O gás de arraste foi o
hidrogênio ultrapuro e o gás auxiliar foi o nitrogênio. A coluna
cromatográfica era de 30 metros de comprimento, diâmetro
interno de 0,25 mm e espessura do filme de 5% fenilmetilsiloxana
de 0,5 µm (J&W Scientific). As temperaturas do GC-MS foram de
280, 280 e 300
o
C no injetor e na interface e na fonte de íons,
respectivamente. A coluna cromatográfica utilizada foi da J&W
Scientific com 30 metros de comprimento, 0,25 mm de diâmetro
interno e 0,25 µm de espessura de filme de 5%’fenilmetilsiloxana.
O modo de aquisição foi o SIM (monitoramento seletivo de íons).
A rampa de temperatura para PCBs foi: início a 75
o
C durante 3
min, aumento a uma taxa de 15
o
C até 150
o
C e a 2
o
C até 260
o
C
e a 20
o
C até 300
o
C permanecendo constante durante 1 min. A
rampa tanto para os AHs quanto para os HPAs teve início em
40
o
C com aumento a taxa de 20
o
C até 60
o
C e a 5
o
C min até
290
o
C onde permaneceu por 5 min e aumento a 10
o
C até 300
o
C
onde permaneceu constante durante 10 min.
A identificação AHs e HPAs foi feita por comparação dos
tempos de retenção com padrões de referência da Accustandard,
EUA. Os compostos analisados no GC-MS também foram
identificados através do espectro de massas. A quantificação foi
feita por razões entre os padrões internos e os compostos de
interesse, baseada nas curvas analíticas montadas com pelo
menos 05 concentrações diferentes de cada grupo de
compostos.
74
13.3 Extração de RNA total
O RNA total foi extraído de 6 pools de fêmeas controle e 6
pools de fêmeas expostas a 10% da FAD para realizar o
experimento de SSH. Para a validação dos genes encontrados
como potencialmente diferencialmente expressos pela técnica de
SSH, o RNA total foi extraído de 8 pools controle (4 pools de
machos e 4 pools de fêmeas) e 8 pools expostos a 10% da FAD
(4 pools de machos e 4 pools de fêmeas).
A extração de RNA total foi realizada de acordo com o
protocolo para o reagente TRIzol (Invitrogen).
13.4 Extração RNA mensageiro (mRNA)
O RNA mensageiro foi extraido apenas para os pools de
fêmeas selecionados para a técnica de SSH, usando o
MicropoliA mRNA kit (Ambion), de acordo com instruções do
fabricante. A concentração e pureza do RNA total e mRNA foram
verificadas em espectrofotômetro Nanodrop, a 260, 280 e 320
nm e através do perfil eletroforético das amostras de peixes
extraídas e separadas em gel de agarose 2%. O mRNA foi
utilizado para técnica de SSH
.
75
13.5 Hibridização Subtrativa Supressiva (SSH)
A partir do mRNA foi realizada a síntese do DNA
complementar (cDNA) para posterior realização da hibridização
subtrativa supressiva utilizando-se o kit PCR Select cDNA
Subtraction Kit (Clontech). Este kit permite a hibridização dos
fragmentos de cDNA comuns a dois grupos (controle X exposto à
10 % da FAD), enquanto os fragmentos diferencialmente
expressos são amplificados por reações de PCR ao final do
procedimento. Dessa forma, obtêm-se os genes diferencialmente
expressos no grupo exposto. O procedimento foi realizado de
acordo com as instruções do fabricante.
13.6 Clonagem
Após a hibridização subtrativa, os fragmentos
diferencialmente expressos foram ligados em vetores pGEM-T
Easy (Promega), que possuem no sítio de clonagem uma
seqüência para clivagem com a enzima de restrição EcoRI.
Células competentes JM109 foram transformadas com a
reação de ligação e, posteriormente, plaqueadas em LB agar
contendo ampicilina. As células, contendo o vetor e o inserto,
foram transferidas para um meio líquido e cultivadas em agitador
a 240 rpm a 37ºC por 18 h. Após este período, o DNA foi
purificado utilizando o kit Qiagen Miniprep (Qiagen).
76
13.7 PCR para seqüenciamento
A incorporação do corante fluorescente BigDye Terminator
para o seqüenciamento dos fragmentos foi realizada através de
uma reação de PCR utilizando os iniciadores M13F ou M13R que
se alinham a uma região localizada próxima ao inserto no vetor
pGEM-T
Easy (Promega). A reação de PCR foi então aplicada
no seqüenciador ABI PRISM DNA Sequencer (Applied
Biosystems) para determinação das seqüências nicas
expressas durante o experimento.
13.8 Comparação de seqüências
As seqüências obtidas dos fragmentos clonados foram
comparadas com o banco de dado disponível (GeneBank),
através do software BLAST (www.ncbi.nih.gov/blast), para
identificação dos genes.
13.9 Padronização das reações de PCR quantitativo (qPCR)
A validação dos genes diferencialmente expressos no
fígado de P. vivipara foi feita através da técnica de PCR em
tempo-real ou RT-PCR quantitativo. Para esse método é
necessário o desenho de iniciadores específicos para cada um
dos genes que se pretende estudar. O desenho dos iniciadores
77
específicos foi realizado no programa PrimerQuest (Integrated
DNA Technology). Esse programa possibilita o desenho de
iniciadores adequados para o uso em reações de PCR em tempo
real.
Os ensaios foram realizados no aparelho Rotor Gene 6000
(Corbett Lifesciences) com o rotor de 36 poços. Os programas de
ciclagem de cada gene incluiam ativação da enzima a 95°C por
15 min, em seguida 40 ciclos de 10 s de desnaturação a 95°C,
15 s de anelamento com a temperatura conforme Tabela 4, e 20
s de extensão a 72°C, fase onde ocorreu a aquisição de
fluorescência. Posteriormente a curva de dissociação foi
realizada através do aumento de 1°C a cada 5 s, partindo de
50°C e terminando a 99°C, para analisar o perfil dos produtos
formados (especificidade dos iniciadores).
Uma curva contendo 10 ng, 100 ng, 200 ng, 400ng 1000 ng
de cDNA por reação de RT-PCR quantitativo foi realizada para
calcular a eficiência da reação, onde uma curva padrão ótima
apresenta valor de eficiência de 100% (duplica a quantidade de
cDNA a cada ciclo). O programa disponível no aparelho Rotor
Gene 6000 transformou os valores brutos de fluorescência em
uma escala logarítmica, e assim o ciclo limiar (Ct) foi delimitado
baseando-se no coeficiente de correlação (R
2
) e na eficiência da
curva, calculada pelo próprio aparelho.
13.10 Validação de potenciais biomarcadores moleculares
por PCR quantitativo (qPCR)
A extração do RNA total foi realizada nos peixes do grupo
controle (n=8 pools, sendo 4 pools de fêmeas e 4 pools de
machos) e do grupo exposto a FAD (n=8 pools, sendo 4 pools de
78
fêmeas e 4 pools de machos), utilizando o método do Trizol. A
partir de 2 µg de RNA total foi realizado o tratamento com DNAse
(SIGMA) e a síntese de cDNA utilizando o kit Omniscrit RT kit
(Qiagen) de acordo com as instruções do fabricante. A pureza e
a concentração do RNA e cDNA obtidos foram determinadas
utilizando-se o Nanodrop a 260, 280 e 320 nm. Com base na
padronização foi realizado o qPCR para cada um dos genes
sempre com uma curva padrão em paralelo.
Os programas de ciclagem de cada gene incluiam ativação
da enzima a 95°C por 15 min, em seguida 40 ciclos de 10 s de
desnaturação a 95°C, 15 s de anelamento com a temperatura
conforme Tabela 4, e 20 s de extensão a 72°C, fase onde
ocorreu a aquisição de fluorescência. Posteriormente a curva de
dissociação foi realizada através do aumento de 1°C a cada 5 s,
partindo de 50°C e terminando a 99°C, para analisar o perfil dos
produtos formados.
O programa disponível no aparelho Rotor Gene 6000
transformou os valores brutos de fluorescência em uma escala
logarítmica, e assim o Ct foi delimitado baseando-se no
coeficiente de correlação (R
2
) e na eficiência da curva, calculada
pelo próprio aparelho.
13.11 Quantificação Relativa por RT-PCR quantitativo (qPCR)
Para a quantificação relativa da expressão de cada gene
estudado foi utilizado o método de comparação de Ct ou Delta
Delta Ct (∆∆CT). O Ct (cycle threshold - ciclo limiar) é definido
como o número de ciclos requerido para a fluorescência da
reação atingir níveis superiores aos da fluorescência basal da
reação (background) e apresentar uma amplificação exponencial.
79
Esse método tem como premissa a semelhança entre a
eficiência de amplificação do gene de interesse e do gene
normalizador, ambos devem ficar entre 80% e 120%
(SCHMITTGEN; LIVAK, 2008). Para utilizar o método, os valores
de expressão para cada gene de interesse são normalizados por
um gene normalizador (β-Actina). Após esse processo é feita a
relativização do grupo exposto em relação ao grupo controle.
Tabela 4. Sequência dos iniciadores senso (F) e anti-senso (R) dos
genes de Poecilia vivipara selecionados pela hibridação subtrativa
supressiva (SSH): Citocromo P450 1A (CYP1A), Uridina difosfato
glicoronosil transferase 1B (UDPGT), Citocromo P450 2P2 (CYP2P2),
Glutationa S-transferase (GST), Metiltransferase (MET), proteína do
sistema complemento C3 (C3), Transferrina (TF),Vitelogenina A (VGA)
e β-Actina e suas respectivas temperaturas de anelamento utilizadas
nos experimentos de PCR quantitativo (qPCR).
Gene Iniciador
Seqüência Ta (oC)
CYP1A
F acacaaacgctgctacctgggagt
58
R cacagtcaacacaggccaccttcaga
UDPGT1B
F tcaacaggctgctttcaggcacca
58
R aaggtgctggttatgcccgtggatg
CYP2P2
F agtcccaaaccttaccgcctctgtg
58
R tgtcttgattgtgcatctgctctaccagc
GST
F aacatcaccctgaacgagtcctacggc
58
R ggtgtcagcttgtttccttggccct
MET
F atccacatcgcctgcaacaacgct
58
R ccagccacctgacagcacatgaaca
C3
F ccaatcagtgggaggctgttggtttgaaca
58
R aggtgctacttccatgactagcccacaca
VGA
F caatggaagctgttgggtggcggtaa
58
R ccgcacaggactgcactgatgaactg
TF
F tctggtagagggtgctggtgacgtt
58
R gcagaattcacaccacgagcccagt
β-Actina
F aaagccaacagggagaagatgaccca
55
R tgacaccgtctccagagtccatcacaat
80
13.12 Análises estatísticas
Os dados obtidos foram analisados estatisticamente por
meio do teste t de student (5%). Todas as análises estatísticas
foram realizadas com os software Statistica 6.1. e para a
apresentação dos gráficos foi utilizado o software GraphPad
Prism 5.0. Todos os dados estão apresentados na forma de
média e desvio padrão.
81
14 RESULTADOS
14.1 Análise química
A concentração de hidrocarbonetos alifáticos (HAs) totais
nas amostras de P. vivipara após exposição a 10% da FAD
durante 24 h foi de 19,2 µg.g
-1
para o grupo controle e 34,0 µg.g
-1
para o grupo exposto (Tabela 5 ). As concentrações totais de n-
alcanos em tecido de peixe que foram expostos durante 24 horas
a 10% da FAD foram de 3,04 µg g
-1
e nos controles foram de
3,11 µg g
-1
(Tabela 5). As Figuras 3 e 4 mostram que os perfis da
distribuição de n-alcanos são similares para amostra controle e
exposta ao óleo durante 24 horas. Não houve a presença de
MCNR e a concentrações de pristano diminuiu, enquanto a
concentração de fitano aumentou (Tabela 5).
A concentração de hidrocarbonetos aromáticos totais nas
amostras de P. vivipara após exposição a 10% FAD durante 24
horas foi de 12.467 ng.g
-1
para o grupo controle e 42.658 ng.g
-1
para o grupo exposto (Tabela 5). Todos os HPAs, exceto o bifenil
e trimetilnaftalenos, apresentaram uma maior concentração no
grupo exposto a 10% da FAD (Tabela 5). Os hidrocarbonetos de
2 e 3 anéis aromáticos (naftaleno, fenantreno, antraceno,
fluoreno) e seus derivados metilados foram mais abundantes no
grupo exposto. Entre os HPAs mais representativos nesse
estudo estão: o naftaleno, o fenantreno e os derivados metilados
desses HPAs. Esses HPAs juntos perfazem cerca de 94% de
todos os hidrocarbonetos aromáticos acumulados no tecido dos
peixes expostos a 10% da FAD (Tabela 5).
82
Tabela 5. Hidrocarbonetos alifáticos (HAs) e hidrocarbonetos
policiclicos aromáticos (HPAs) em amostras de peixe Poecilia vivipara
controle e exposta a 10% da fração do óleo diesel acomodada em água.
Os valores estão apresentados em µg.g
-1
de peso seco para HAs e em
ng.g
-1
de peso seco para os HPAs. Apenas estão apresentados os
hidrocarbonetos detectados pela metodologia. Legenda: C (controle), E
(Exposto).
HAs C E HPAs C E
C15
0,653 0,459
Naftaleno
1396 6920
C16
0,239 0,23
Σ
metil
naftalenos
4537 21858
C17
0,594 0,49
Bifenil
587 303
C18
0,127 0,174
Σ
etil
naftalenos
585 775
C19
0,128 0,152
Σ
dimetil
naftalenos
3339 9953
C20
0,178 0,181
Acenafteno
89,4 209,6
C21
0,093 0,084
Σ
trimetil
naftalenos
1517 573
C25
0,088 0,075
Fluoreno
145 588
C27
0,244 0,256
Dibenzotiofeno
21,5 131
C29
0,434 0,4
Fenantreno
154 895
C31
0,214 0,374
Antraceno
12 40,6
C33
0,113 0,163
Σmetildibenzo
tiofenos
10,4 50,1
pristano
1,114 0,812
Σdimetil
fenantrenos
73,2 351
fitano
0,169 0,201
Σmetil
fenantrenos
n.d. n.d.
Alifaticos
Totais
19,2 34
Fluoranteno
n.d. 2,7
Alifaticos
Resolvidos
19,2 34
Pireno
n.d. 6,8
Alcanos Totais
3,11 3,04
Σ HPAs 12467 42658
pristano/fitano
6,6 4
83
14.2 Biomarcadores moleculares em P. vivipara
A eficiência da reação no ciclo limiar (Ct) foi de 100%
para o Citocromo P450 1A (CYP1A), Uridina difosfato glicoronosil
transferase 1B (UDPGT1B), Glutationa S-transferase (GST),
Vitelogenina A VGA, Transferrina (TF), β-Actina. A eficiência foi
de 99% para Metiltransferase (MET) e 98% para a proteína do
sistema complemento C3 (C3) e Citocromo P450 2P2 (CYP2P2)
(Tabela 7). A eficiência das reações ficou entre 80 e 120%,
permitindo o uso do método de comparação de Ct ou Delta Delta
Ct (∆∆CT) (SCHMITTGEN; LIVAK, 2008).
Tabela 6. Sequência dos iniciadores senso (F) e anti-senso (R) dos
genes de Poecilia vivipara selecionados para validação da técnica de
hibridização subtrativa supressiva e a eficiencia do par de iniciadores no
ciclo limiar (Ct).
Gene
Iniciador
Sequencia
Eficiência
CYP1A
F acacaaacgctgctacctgggagt
100%
R cacagtcaacacaggccaccttcaga
UDPGT1B
F tcaacaggctgctttcaggcacca
100%
R aaggtgctggttatgcccgtggatg
CYP2P2
F agtcccaaaccttaccgcctctgtg
98%
R tgtcttgattgtgcatctgctctaccagc
GST
F aacatcaccctgaacgagtcctacggc
100%
R ggtgtcagcttgtttccttggccct
MET
F atccacatcgcctgcaacaacgct
99%
R ccagccacctgacagcacatgaaca
C3
F ccaatcagtgggaggctgttggtttgaaca
98%
R aggtgctacttccatgactagcccacaca
VGA
F caatggaagctgttgggtggcggtaa
100%
R ccgcacaggactgcactgatgaactg
TF
F tctggtagagggtgctggtgacgtt
100%
R gcagaattcacaccacgagcccagt
β-Actina
F aaagccaacagggagaagatgaccca
100%
R tgacaccgtctccagagtccatcacaat
84
Foram isolados e seqüenciados 106 fragmentos de cDNA.
Dentre essas sequências, 90 foram identificadas, resultando em
27 genes diferencialmente expressos (Tabelas 7 e 8). Os 12
genes induzidos em fígado de peixes expostos a 10% de FAD de
óleo diesel foram identificados como genes envolvidos em
diferentes funções metabólicas como: Fase I de
biotransformação (Citocromo P4501A, Citocromo P4502P2);
Fase II (Glutationa-S-transferase, Uridina Difosfato Ácido
Glicurônico Transferase 1B, O-Metiltransferase); transportadores
de membrana de Fase III (Proteína ligadora de ATP C4), sistema
imune (Apoliproteína A1 e α-microglobulina/bicunina) e genes
envolvidos em funções diversas (Tabela 7).
Os 15 genes identificados por terem a sua expressão
reduzida nesse experimento estão associados com o sistema
imune (Componente do complemento C3 e inibidor C1),
reprodução (Vitelogenina A, B e C) e outras funções metabólicas
(Tabela 8).
Não houve diferença na expressão do gene β-Actina após
a exposição a FAD, por isso todos os genes induzidos e
reprimidos foram normalizados por β-Actina (Figura 10). A
expressão dos genes induzidos CYP1A; CYP2P2; GST; UDPGT;
MET aumentou, respectivamente 72,1; 2,1; 17,0; 40,8; 1,8 vezes
em relação ao grupo controle (Figura 10). A expressão do gene
reprimido VgA em machos diminuiu 7,14 vezes em relação ao
grupo controle. Os demais genes não apresentaram diferenças
na expressão gênica, sendo falsos positivos da técnica da SSH
(Figura 10).
85
Tabela 7. Lista gerada pela SSH de genes induzidos pela exposição à 10% da fração do óleo diesel acomodada em
agua durante 24 h, em fígado do peixe P. vivipara.Na tabela estão dispostas informações sobre a função biológica do
gene e probabilidade de identificação imprecisa do gene (e-value).
Função biológica Homólogo (proteína ou DNA) Espécie comparada e-value
Fase I de Biotransformação Citocromo P450 1A (CYP1A) Fundulus heteroclitus 1,00E-76
Citocromo P450 2P2 (CYP2P2) Fundulus heteroclitus 3,00E-04
Fase II de Biotransformação Glutationa S-transferase R1 (GST) Pagrus major 1,00E-47
UDP glicoronosil transferase 1 familia B (UDPGT1B) Platichthys flesus 8,00E-45
O-methyltransferase (MET) Danio rerio 6,00E-118
Fase III de biotransformação Proteína ligadora de ATP CC4 (ABCC4) Danio rerio 5,00E-39
Cadeia transportadora de elétrons Citocromo c oxidase subunidade I (COXI) Cubiceps paradoxus 9,00E-154
Sinalização celular Presenilina – enhancer 2 (PEN2) Oreochromis mossambicus 9,00E-36
Apoptose Proteína integral de membrana 2B (ITM2B) Epinephelus coioides 1,00E-17
Chaperona Complexo associado ao polipeptídeo nascente alfa (a-NAC) Oreochromis mossambicus 3,00E-20
Efluxo de Colesterol e sistema imune Precursor da Alfa microglobilina/bicunina (AMBP) Danio rerio 7,00E-29
Precursor da Apolipoproteína AI (APOAI) Platichthys flesus 4,00E-32
86
Tabela 8. Lista gerada pela SSH de genes reprimidos pela exposição à 10% da fração do óleo diesel acomodada em
agua durante 24 h, em fígado do peixe P. vivipara.Na tabela estão dispostas informações sobre a função biológica do
gene e probabilidade de identificação imprecisa do gene (e-value).
Função biológica Homólogo (proteína ou DNA) Espécie comparada e-value
Vitelogênese Vitelogenina A (VgA) Poecilia reticulata 9,00E-115
Vitelogenina B (VgB) Poecilia reticulata 7,00E-25
Vitelogenina C (VgC) Gambusia affinis 4,00E-43
Sistema imune Proteína do sistema complemento C3 (C3) Paralichthys olivaceus 4,00E-65
Inibidor C1 (C1) Oncorhynchus mykiss 1,00E-59
Chaperona Proteina de choque térmico 90 (HSP90) Solea senegalensis 4,00E-61
Transporte transmembrana Transportador de ânions orgânicos membro 1c1 (OATP2) Mus musculus 5,00E-23
Metabolismo do ferro e sistema imune Transferrina (TF)
Acanthopagrus
schlegelii 4,00E-32
Metabolismo do Glicogênio UDP glicose pirofosforilase(UDPGP) Salmo salar 2,00E-27
Transporte de Oxigênio Hemoglobina Salmo salar 8,00E-48
Alfa hemoglobina A Seriola quinqueradiata 5,00E-48
Metabolismo de ácidos graxos Proteína ligante de AcilCoA (ACBP) Oryzias latipes 1,00E-39
Sinalização celular Integrina beta 1 Danio rerio 7,00E-34
87
Figura 10. Expressão do gene normalizador β-Actina e validação, por
RT-PCR quantitativo, dos genes identificados pela SSH como induzidos
e reprimidos no grupo de peixes P. vivipara expostos a 10% da fração
do óleo diesel acomodada em água após 24 h. O asterisco (*)
representa diferença significativa (p < 0,05) em relação ao grupo
controle. O eixo Y representa quantas vezes a expressão
do gene
aumentou ou diminuiu em relação ao seu respectivo grupo controle. Os
dados estão representados na forma de média e desvio padrão.
88
15 DISCUSSÃO
15.1 Análise Química
Os peixes P. vivipara expostos a 10% da FAD
apresentaram maiores concentrações de hidrocarbonetos
alifáticos e aromáticos que o grupo controle, mostrando uma
bioacumulação desses compostos nos organismos expostos. O
parâmetro MCNR que corresponde aos hidrocarbonetos
ramificados e cíclicos não apresentou variação expressiva. A
concentração de pristano diminuiu e a de fitano aumentou no
grupo exposto, esse resultado pode estar relacionado, em parte,
pela maior suscetibilidade de biodegradação do pristano em
relação ao fitano (ROSA, 2001). Outra hipótese para esse
resultado é que o tempo de exposição não foi suficiente para a
bioacumulação desses isoprenóides (pristano e fitano) e a
variação na concentração dessas substâncias corresponde a
uma variação natural proveniente de uma contaminação no local
de coleta.
Dentre os HPAs mais representativos nesse estudo estão:
o naftaleno, o fenantreno e os derivados metilados desses
HPAs. Esses HPAs juntos perfazem cerca de 94 % de todos os
hidrocarbonetos aromáticos acumulados no tecido dos peixes e,
provavelmente, são os responsáveis pelas mudanças na
expressão gênica observadas neste estudo (BAGCHI et al.,
2002; BARRON; HEINTZ; RICE, 2004; VONDRACEK et al.,
2007; TINTOS et al., 2007; MONTEIRO; REIS-HENRIQUES;
COIMBRA, 2000; FORMAN; ZHANG; RINNA, 2009; YIN et al.,
2007).
89
15.2 Biomarcadores Moleculares em peixes Poecilia
vivipara
15.2.1 Sistema de Biotransformação Fase I e
Vitelogênese
Nesse trabalho foi observada uma ativação da expressão
de genes correspondentes as 3 fases do processo de
biotransformação (CYP1A, CYP2P2, GST, UDPGT1B, MET e
ABCC4) (Tabela 7). A ativação da transcrição desse conjunto de
genes envolvidos no processo de biotransformação sugere um
sinergismo entre as diferentes etapas da biotransformação para
a detoxificação dos hidrocarbonetos.
Embora o processo de biotransformação geralmente
resulte na detoxificação do contaminante, a ação das enzimas do
complexo CYP450 também pode gerar metabólitos tóxicos que
contribuem para o aumento do risco de câncer, deformações
embrionárias e outros efeitos deletérios (NEBERT; KARP, 2008).
O HPA Naftaleno, após o processo de biotransformação de fase I
pelo CYP1A, gera intermediários reativos (naftoquinonas),
podendo causar estresse oxidativo, danos a DNA e
lipoperoxidação no cérebro e no fígado de mamíferos (BAGCHI
et al., 2002).
A expressão de CYP1A em mamíferos e peixes é bastante
induzida por HPAs, via ativação do receptor AHR (HAHN, 2002).
Esta característica permitiu o amplo uso da expressão de genes
CYP1A como marcadores de exposição ambiental aos agonistas
do receptor AHR em humanos e em outras espécies animais
(FUJITA et al., 2001; LAMBERT et al. 2006).
90
Em camundongos, além de modular o CYP1A e o CYP1A2,
o receptor AHR também modula os genes CYP1B1, GST alfa 1
(GSTA1), UDP-glicoronosil transferase1A6 (UDPGT1A6)
(HAYES; DINKOVA-KOSTOVA; MCMAHON, 2009). Algumas
evidências mostram que o conjunto de genes modulados por
AHR em peixes é semelhante àquele documentado para
camundongos (ARUKWE; NORDBO, 2008). Dessa forma, pode-
se sugerir que o AHR está sendo ativado pelos HPAs
encontrados na FAD, conduzindo a expressão de seus genes
alvo. Os possíveis ativadores do receptor AHR neste estudo são:
os derivados metilados do fenantreno, fluoranteno e pireno
(VONDRACEK et al., 2007; BARRON; HEINTZ; RICE, 2004)
(Tabela 5).
Nesse estudo, um outro gene pertencente aos CYP450 foi
identificado como CYP2P2 (Tabela 7). A família CYP2 inclui
cerca de 25 subfamílias que metabolizam uma ampla gama de
subtratos endógenos e exógenos, contudo as funções
fisiológicas dessa família de CYPs ainda é obscura para a
maioria das espécies de mamíferos. O gene identificado nesse
estudo como CYP2P2 é muito similar ao CYP2P3, que mostrou
capacidade de catalisar a oxidação do ácido araquidônico
(OLEKSIAK et al., 2003).
Um resultado interessante da SSH foi a indução na
expressão do gene CYP1A com a concomitante inibição de
diferentes genes de Vitelogeninas (VgA, VgB, VgC). Muitos
estudos realizados em animais coletados no campo e expostos
em laboratório revelam que contaminantes orgânicos são
capazes de reduzir a concentração plasmática de estradiol e
assim reduzir a expressão do gene vitelogenina via receptor de
estrógeno (ER) (NICOLAS, 1999). Entre os HPAs encontrados
nesse estudo que podem causar essa redução nos níveis de
estradiol estão o naftaleno e o fenantreno (TINTOS et al., 2007;
MONTEIRO; REIS-HENRIQUES; COIMBRA, 2000).
91
O mecanismo pelo qual os HPAs promovem a redução de
estradiol no plasma pode envolver um aumento no catabolismo
do estradiol devido a um aumento na atividade de enzimas de
fase I (CYP1A2) e II de biotransformação em organismos
expostos a HPAs (NICOLAS, 1999). Por outro lado, Kawahara e
colaboradores (2009) mostraram que a inibição da vitelogenina
não depende do aumento da fase I de biotransformação
(atividade EROD), mas depende da ligação de agonistas no
receptor AHR.
A participação do receptor AHR na inibição do gene da
Vitelogenina foi confirmada em estudos in vitro usando cultura
primária de hepatócitos de Truta arco-íris (Oncorhynchus
mykiss). Esse estudo revelou uma proporcionalidade entre a
inibição da síntese de vitelogenina e a ativação do gene CYP1A,
dependendo da potência dos agonistas do AHR utilizados
(NAVAS; SEGNER, 2000). Apesar disso, o mecanismo de
inibição da vitelogenina por AHR permanece desconhecido em
peixes.
Em mamíferos, os mecanismos propostos para
antiestrogeniciade dos HPAs envolvem: 1) a ligação do
heterodímero (AHR/ARNT) em elementos de resposta a
xenobióticos inibitórios (XREi) presentes nos genes regulados
pelo receptor de estrógeno (ER); 2) aumento da degradação
proteossomal do receptor ER mediada pelo AHR; 3) alteração no
catabolismo do estrógeno pelos CYPs450 (MATTHEWS;
GUSTAFSSON, 2006).
É importante ressaltar que os resultados do PCR
quantitativo (Figura 10) mostram uma inibição da vitelogenina A
(VgA) apenas para os machos. O motivo para essa diferença
pode envolver os baixos níveis plasmáticos de estradiol em
machos e fêmeas em estágio inicial da vitelogênese. Anderson e
colaboradores (1996) mostraram que a administração de β-
Naftoflavona (BNF), um agonista do AHR, em peixes com baixa
92
concentração de estradiol causava a inibição da síntese de
vitelogenina, enquanto altas concentrações de estradiol e BNF
causavam um aumento na síntese de vitelogenina. Esses
resultados sugerem que os níveis de estradiol determinam o
quanto agonistas de AHR podem suprimir, não ter efeito ou
potenciar a síntese de vitelogenina no fígado. Ou seja, os
estágios mais precoces da vitelogênese (baixos níveis de
estradiol) são mais sensíveis a inibição da síntese de
vitelogenina por HPAs.
Dessa forma, o motivo para diferença na expressão da
vitelogenina entre machos e fêmeas neste experimento pode
envolver dois fatores: 1) o pequeno “n” amostral e 2) os
diferentes estádios da vitelogênese (níveis de estradiol variáveis)
das fêmeas utilizadas no experimento. Esses fatores associados
podem ter contribuído para o alto desvio padrão e ausência de
significância estatística em fêmeas. Por outro lado, a ausência de
estádios de vitelogênese e baixos níveis de estradiol em machos
contribuiram para uma maior homogeneidade da amostra,
permitindo uma maior nível de significância estatística.
15.2.2 Sistema de Biotransformação Fase II e III
Após a fase I de biotransformação, os xenobióticos se
tornam substratos mais adequados para reações de conjugação
que compõem a fase II de biotransformação (INSAUSTI et al.,
2009; ZAMEK-GLISZCZYNSKI et al., 2006). O aumento na
expressão gênica da GST e UDPGT1B neste estudo pode indicar
uma maior capacidade de biotransformação por conjugação com
glutationa e ácido glicurônico, respectivamente. Um resultado
que corrobora essa hipótese foi o aumento na atividade GST em
93
fígado e brânquia de peixes expostos a 20% da FAD (Capítulo
1).
A formação de glicuronídeos é a principal via de
biotransformação de compostos endógenos e xenobióticos
orgânicos potencialmente tóxicos em mamíferos. Entre os
substratos das UDPGTs estão: esteróides, sais biliares,
bilirubina, fenóis e uma ampla gama de contaminantes
ambientais. Estudos em linguado (Platichthys flesus) mostraram
uma indução do gene UDPGT1B e CYP1A após tratamento com
os agonistas do AHR, Aroclor e benzo(a)pireno, sugerindo que
ambos genes são regulados por AHR nessa espécie (LEAVER et
al., 2007). Nesse mesmo estudo foi demonstrado que os
subtratos da UDPGT1B são o 1-naftol, estradiol e testosterona
(LEAVER et al., 2007). Dessa forma, um aumento na atividade
UDPGT1B, devido a uma indução do gene UDPGT1B (Figura
10), poderia potencialmente aumentar a biotransformação de
metabólitos do naftaleno (1-naftol) e promover um aumento na
excreção de hormônios esteróides.
As glutationa S-transferases (GSTs) são uma família de
enzimas envolvidas na detoxificação de uma grande variedade
de substratos xenobióticos. Essas enzimas catalisam a adição do
tripeptídeo Glutationa (GSH) em substratos que possuem centros
eletrofílicos, aumentando a hidrosolubilidade e facilitando a
excreção (KONISHI et al., 2005). Os genes de GSTs possuem
tanto elementos de resposta antioxidante (ARE) quanto
elementos de resposta a xenobióticos (XRE) e, sendo assim,
esses genes podem ser modulados pelo receptor AHR e/ou o
fator de transcrição NRF2 (KONISHI et al., 2005). O aumento na
expressão dos genes GST e UDPGT1B encontrados nesse
estudo (Figura 10), assim como para o CYP1A, pode estar
associado aos HPAs detectados nos tecidos dos animais
expostos, uma vez que são agonistas do AHR.
94
O gene que codifica para enzima Metiltransferase (MET),
outra enzima de fase II, foi identificado como gene induzido neste
estudo (Tabela 7). Estudos por similaridade com a sequência de
Danio rerio sugerem que o gene MET codifica para uma proteína
com atividade Catecol-O-Metiltransferase (COMT). A COMT
catalisa a transferência de um grupo metil da S-Adensil-
metionina para uma grupo hidroxil catecólico presente no
composto aceptor (YASUDA et al., 2009). A COMT inativa
hormônios, neurotransmissores e xenobióticos que possuem um
grupo catecol (TENHUNEN, 1994). Estudos em humanos
mostram que o gene COMT é reprimido por β-estradiol via
receptor de estrógeno (ER) (JIANG et al., 2003). Nos peixes
expostos a FAD, pode-se sugerir que o aumento na
biotransformação de fase I e II (Capitulo I) acelerou a
biotransformação de β-estradiol, permitindo a supressão da
repressão do gene COMT e, consequentemente, o aumento da
expressão deste gene. A redução nos níveis de β-estradiol
também pode ser provocada pelo naftaleno através de uma
desregulação em múltiplos locais no eixo hipotalâmico-
hipofisário-gonadal ou pelo fenantreno através da inibição de
enzimas esteroidogênicas (THOMAS; BUDIANTARA, 1995;
TINTOS et al., 2007; MONTEIRO; REIS-HENRIQUES;
COIMBRA, 2000).
As reações de conjugação aumentam a hidrosolubilidade, a
carga negativa da molécula e seu peso molecular. Essas
mudanças nas propriedades fisico-químicas dos xenobióticos
reduzem sua permeabilidade à membrana plasmática. Dessa
forma, é necessária a existência de proteínas carreadoras de
membrana que transportem essas substâncias para o sangue
sinusoidal, para eventual excreção via urina, ou para os
canalículos (excreção via bile) (ZAMEK-GLISZCZYNSKI et al.,
2006). O processo de transporte de xenobióticos pelas proteínas
95
de membrana foi caracterizado como fase III de
biotransformação (KEPPLER; RINGWOOD, 2001).
A proteína de resistência a multidrogas ABCC4 medeia o
efluxo de ânions orgânicos para fora dos hepatócitos. Estudos
em humanos mostraram que essa proteína está localizada na
membrana sinusoidal dos hepatócitos e medeia o co-transporte
de glutationa (GSH) com ácidos biliares ou outros substratos.
Entre os substratos estão: Monofosfato de Adenosina e
Monofosfato de Guanosina cíclicos (AMPc e GMPc), ácidos
biliares, eicosanoides, urato, Dehidroepiandrosterona-sulfato,
Estradiol-17-D-glicuronídeo, α-naftil-β-D-glicuronídeo, Glutationa-
S-conjugados (AUBEL et al., 2002; BAI et al., 2004; CHEN;
KLAASSEN, 2004; RUSSEL; KOENDERINK; MASEREEUW,
2008). Tendo em vista os substratos da ABCC4, sugere-se que a
possível indução desse gene nesse estudo (Tabela 7) pode
aumentar o efluxo de metabólitos sulfatados, glicuronídeos e
glutationa-S-conjugados de hormônios e do naftaleno (α-naftil-β-
D-glicuronídeo), garantindo a manutenção da homeostase
celular. Outra possível conseqüência é a depleção de glutationa
(GSH) hepática devido ao seu co-transporte com ânions
orgânicos. Contudo, deve-se ressaltar o fato que o conhecimento
sobre os substratos e a modulação gênica dessa proteína é
recente e somente estabelecida em mamíferos.
Em mamíferos, a modulação do gene ABCC4 envolve a
ativação e ligação do NRF2 no elemento de resposta
antioxidante (ARE) localizado na região promotora do gene
ABCC4 (CHEN; KLAASSEN, 2004; RUSSEL; KOENDERINK;
MASEREEUW, 2008). O fator de transcrição NRF2, ao contrário
do AHR, não é ativado por ligantes. Sob condições normais, o
NRF2 está associado a uma proteína inibitória chamada KEAP1.
Na presença de endo ou xenobióticos que reagem com tióis ou
aumentam a formação espécies reativas de oxigênio (por
exemplo, quinonas) a KEAP1 é inativada. Uma vez livre de
96
KEAP1, o NRF2 é translocado para o núcleo onde pode ativar a
transcrição de vários genes que possuem ARE em suas regiões
promotoras.
A biotransformação do naftaleno e fenantreno gera
espécies reativas de oxigênio (FORMAN; ZHANG; RINNA, 2009;
YIN et al., 2007). Dessa forma, sugere-se que a indução do
gene ABCC4 seja resultado de um estresse oxidativo hepático
que ativou a via do NRF2. Outro resultado que corrobora com
essa hipótese é o aumento da atividade Glutationa redutase
(gene regulado por NRF2) em peixes expostos durante 96H a
FAD (Capitulo 1). No entanto, vale ressaltar que: 1) Exceto as
enzimas antioxidantes, nenhum parâmetro indicador de estresse
oxidativo foi medido nesse estudo; 2) o aumento da atividade GR
pode ter explicações alternativas que envolvem modificações
pós-traducionais na proteína; 3) A expressão gênica da ABCC4
não foi validada por PCR quantitativo, podendo ser um falso
positivo da técnica de SSH.
Uma outra proteína transportadora de membrana
encontrada nesse estudo como gene inibido pela técnica de SSH
foi a OATP2 (Tabela 8). Estudos em ratos mostraram que os
níveis da proteína e da expressão gênica da OATP2 diminuiram
após o tratamento com agonistas do receptor AHR (GUO;
CHOUDHURI; KLAASSEN, 2002). Mais uma vez, pode-se
atribuir a mudança na expressão gênica aos HPAs agonistas do
AHR contidos na FAD. No entanto, vale ressaltar que a
expressão gênica da OATP2 não foi validada por PCR
quantitativo, podendo também ser um falso positivo da técnica de
SSH.
97
15.2.3 Genes Envolvidos no sistema Imune Inato e
Metabolismo de Carboidratos e Lipídeos
Os resultados da SSH (Tabela 7 e 8) apresentaram
diversos genes envolvidos no sistema imune inato tais como:
Componente C3 e o Inibidor C1, pertencentes ao sistema
complemento, e os genes Transferrina, α-microglobulina/bicunina
(AMBP), Apolipoproteína AI (ApoAI), que além de participarem
na regulação do sistema imune inato, também possuem outras
funções no metabolismo de carboidratos e lipídeos.
Os resultados do PCR quantitativo mostram que o
Componente C3 e a Transferina são falsos positivos da técnica
de SSH. Os demais genes não foram validados por PCR
quantitativo e serão discutidos apenas em função de sua
possível alteração pela técnica de SSH.
O Inibidor C1 é um inibidor de serina proteases que regula
a ativação do sistema complemento. A regulação do sistema
complemento ocorre através da inativação da via clássica das
proteases (C1r e C1s) e inibição da via alternativa através da
interação reversível com a proteína C3b (DAVIS, 2004). A
inibição do gene Inibidor C1 neste estudo poderia permitir a
autoativação do sistema complemento com possíveis efeitos
negativos no sistema imune inato.
Outros genes envolvidos no sistema imune e metabolismo
de carboidratos e lipídeos que aumentaram a expressão no
grupo exposto a FAD foram a Apolipoproteína AI (ApoAI) e a
alfa-1-Microglobulina/bicunina (AMBP). A Apolipoproteína AI
(ApoAI) promove o efluxo de colesterol, associa-se a lipídeos,
ativa a lecitina/colesterol aciltransferase e forma o HDL (FRANK;
MARCEL, 2000). A ApoAI também pode agir como um inibidor do
complexo de ataque a membrana C5b-9 ao interagir com o
98
componente C3 do sistema complemento (MAGNADÓTTIR;
LANGE, 2004). O gene AMBP é responsável por codificar duas
glicoproteínas do plasma: a alfa-1-Microglobulina (A1M) e
bicunina. A A1M funciona como um carreador de pequenas
moléculas hidrofóbicas e pode ter um papel chave na regulação
da resposta imune. A bicunina é uma serina protease que parece
participar do controle de células endoteliais e estabilização da
matrix extracelular (TYAGI, 2002). Estudos in vitro mostram que
bicunina previne invasão de células tumorais e metástase
(KOBAYASHI et al., 1994).
Outros genes reprimidos envolvidos no metabolismo de
carboidratos e lipídeos neste estudo foram: a UDP-glicose
pirofosforilase (UDPGP) e a Proteína ligante de Acil-CoA
(ACBP). A UDP-glicose pirofosforilase é uma das enzimas
envolvidas na glicogênese e síntese de uridina difosfato ácido
glicurônico (UDPGA) (VANHULLE et al., 2001). A possível queda
na expressão desse gene pode comprometer a produção do
substrato UDPGA e, consequentemente, no processo de
glicuronidação por UDPGT. A proteína ligante de acil-CoA
(ACBP) liga-se seletivamente a ésteres de Acil-CoA de cadeia
média e longa (C14-C22). Entretanto, o exato papel da ACBP no
metabolismo de lipídeos é ainda desconhecido (SANDBERG et
al., 2005). Estudos em leveduras mostram que ACBP é
importante no correto endereçamento de proteínas e no tráfego
vesicular (BURTON et al., 2005). Estudos sugerem que a
expressão de ACBP de mamíferos é regulada pela dieta. O jejum
reduz a expressão, enquanto uma dieta rica em lipídeos aumenta
a expressão de ACBP (BHUIYAN et al., 1995). A explicação para
redução na expressão de ACBP poderia envolver um aumento
na demanda energética durante o processo de biotransformação
no grupo exposto. A maior demanda energética acentuaria os
efeitos do jejum, promovendo uma redução nos estoques de
glicogênio e na expressão de ACBP.
99
15.2.4 Apoptose
A presenilina 2 (PEN-2), cujo gene foi encontrado como
induzido pela SSH (Tabela 7), é um membro do complexo da γ-
secretase que possui uma função essencial na proteção contra a
apoptose dependente de caspases em Danio rerio.
(ZETTEMBERG et al., 2006). Estudos com embriões de Danio
rerio mostram que o “knockdown” do gene PEN-2 nos tecidos
dos peixes causava apoptose em todo o embrião (CAMPBELL et
al., 2006). O complexo da γ-secretase também é responsável
pela clivagem da proteína integral de membrana tipo I (APP),
gerando os peptídeos β-amilóides. A agregação desses
peptídeos em humanos tem sido relacionada a doença
neurodegenerativa de Alzheimer e azoospermia (RENGARAJ et
al., 2008).
A proteína integral de membrana 2B (ITM2B), também
encontrada como induzida pela SSH (Tabela 7), possui diversas
funções. Uma dessas funções é reduzir os níveis de peptideos β-
amilóides tóxicos formados pela atividade do complexo da γ-
secretase (RENGARAJ et al., 2008). Outra função atribuída a
essa proteína é a indução de apoptose pela ativação da via
mitocondrial dependente de caspases (FLEISCHER; AYLLON;
REBOLLO, 2002).
É importante ressaltar que as funções dessas duas
proteínas (PEN2 e ITM2B) na apoptose são antagônicos. A
PEN2 promove a sobrevivência celular enquanto a ITM2B é pró-
apoptótica. Por outro lado, essas duas proteínas também podem
interagir, reduzindo os níveis dos peptideos β-amilóides formados
pela atividade do complexo γ-secretase.
100
15.2.5 Transporte de Oxigênio
Duas sequências neste estudo foram identificadas como
Hemoglobina e Alfa Hemoglobina A (Tabela 8). Estudos em
peixes (Paralichthys olivaceus) expostos a fração solúvel em
água do petróleo mostraram uma redução na expressão do gene
Alfa Hemoglobina nos rins e redução na contagem de células
vermelhas (NAKAYAMA et al., 2008). Além disso, um declínio na
concentração de hemoglobina foi observado em peixes
(Paralichthys olivaceus) expostos a fenantreno (JEE; KIM;
KANG, 2004), em peixes (Prochilodus lineatus) expostos a FAD
(SIMONATO; GUEDES; MARTINEZ, 2008) e em peixes
(Pleuronectes americanus) coletados em locais contaminados
por HPAs e bifenilas policloradas. Dessa forma, a diminuição na
expressão dos genes da hemoglobina neste estudo pode estar
relacionada com os HPAs presentes na FAD.
15.2.6 Chaperonas e Coativadores da Transcrição
O Complexo associado a polipetídeos nascentes alfa ( -
NAC) possui função de coativador transcricional. O -NAC
também pode interagir com polipetídeos recém sintetizados nos
ribossomos, evitando interações inadequadas entre os
polipeptídeos nascentes e as proteínas citosólicas. Além disso,
essa proteína ajuda no correto endereçamento das proteínas
recém sintetizadas. (WIEDMANN et al. 1994). Neste estudo o
gene
-NAC foi identificado como um dos genes induzidos nos
animais expostos a FAD (Tabela 7). Pode-se sugerir que este
101
aumento esteja relacionado à alteração no padrão de expressão
gênica celular e a necessidade de -NAC no processo de
tradução subsequente.
A proteína de choque térmico 90 (HSP90) têm sido
utilizada como marcador em diversos tipo de estresse celular
(VAN DER OOST; BEYER; VERMEULEN, 2003). A HSP90
parece estar envolvida no enovelamento dos receptores AHR
recém sintetizados, estabilização da conformação ativa do AHR e
inibição da dimerização constitutiva com ARNT (PETRULIS;
PERDEW, 2002). A associação do receptor AHR e HSP90 é
crucial para sinalização mediada pelo AHR, enquanto a
desestabilização dessa interação conduz a degradação
proteossomal do receptor (WISEMAN; VIJAYAM, 2007). A
HSP90 também interage com outros receptores nucleares como
o receptor de estrógeno (ER) e o receptor de glicocorticóide,
sendo importante para a ativação do ER por estrógenos em
peixes (OSBORNE et al., 2007).
Em mamíferos, a HSP90 é um componente do complexo
molecular de chaperonas citosólico. A desestabilização desse
complexo libera o fator de choque térmico 1 (HSF1), que após
um processo de trimerização, translocação nuclear e interação
com a região promotora do gene HSP90, promove a transcrição
da HSP90 (OSBORNE et al., 2007). Esse mecanismo de
modulação da transcrição do gene HSP90 foi descrito em
mamíferos; não há, até o momento, informações para peixes.
No presente estudo a SSH mostrou uma redução na
expressão da HSP90 nos peixes expostos a FAD durante 24H
(Tabela 8); a diminuição na expressão da HSP90 também foi
descrita em um trabalho realizado com peixes Danio rerio
expostos a água produzida. As consequências fisiológicas de
uma redução na expressão proteica da HSP90 pode envolver
desregulação endócrina, devido a sua interação com os
receptores nucleares, e até mesmo apoptose, uma vez que essa
102
proteína interfere no processo de apoptose inibindo a formação
do apoptossomo (CHIOSIS et al., 2004).
15.2.7 Proteínas ribossomais e Mitocondriais
Nesse estudo houve um aumento na expressão do gene
citocromo c oxidase (COXI). A enzima citocromo C oxidase, ou
complexo IV, é um grande complexo protéico transmembrana
encontrado em bactérias e nas mitocôndrias. É a última enzima
da cadeia transportadora de elétrons. Contribui na formação da
diferença de potencial transmembrana utilizado pela ATP sintase
para sintetizar o ATP (VOET; VOET, 2004).
Alguns genes que codificam proteínas ribossomais foram
identificados como possivelmente reprimidos neste estudo
(Tabela 8). Estas proteínas são componentes integrais da
maquinaria celular basal envolvida na síntese de proteínas.
Contudo, existem evidências mostrando a participação dessas
proteínas nas vias de sinalização de crescimento.
103
16 CONCLUSÕES FINAIS E PERSPECTIVAS
Os genes envolvidos no processo de
biotransformação de fase I e II validados por qPCR como CYP1A
e GST foram induzidos no grupo exposto, mostrando que, de
forma semelhante ao Capitulo 1, esses genes e as proteínas
codificadas por eles podem ser bons biomarcadores de
exposição a FAD;
Outros genes de fase I e II de biotransformação
(CYP2P2, UDPGT1B, MET) foram identificados e validados por
qPCR. Esses genes são candidatos a biomarcadores de
exposição aos componentes da FAD;
A fase III de biotransformação também apresentou
genes identificados como induzidos e reprimidos pela SSH
(ABCC4 e OATP2) que não foram validados por qPCR. Os
substratos das proteínas codificadas por esses genes ainda não
foram investigados em peixes. Entre os possíveis substratos
estão glicuronídeos e Glutationa S-conjugados;
A VgA foi identificada como gene reprimido na SSH,
mas a validação por qPCR mostrou repressão gênica apenas em
machos;
Outros genes foram identificados por SSH e
potencialmente codificam produtos envolvidos em diversas
funções biológicas como: sistema imune, metabolismo de
carboidratos e lipídeos, apoptose, transporte de oxigênio,
enovelamento de proteínas, regulação da transcrição entre
outras;
O processo de ativação na expressão dos genes
CYP1A, GST, UDPGT1B possivelmente está associado a uma
ativação do AHR pelos seus agonistas encontrados na FAD;
104
Estudos posteriores envolvendo a clonagem
completa dos genes validados por qPCR são necessários para a
identificação final dos genes;
Estudos focados na identificação dos receptores
nucleares que modulam os genes validados por qPCR são
necessários. Essa informação permitirá identificar as classes de
xenobióticos capazes de desencadear a ativação transcricional
desses genes, ajudando a delimitar a especificidade de um gene
e seu produto como biomarcador.
105
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