conquista por ter apenas o domínio do código escrito. Por isso, aprender a ler e a
escrever implica não apenas o conhecimento de letras e da forma de decodificá-la
(ou de associá-las), porém, a possibilidade de manusear esse conhecimento em
benefício de formas de expressar-se e comunicar-se com reconhecimento e
necessária legitimidade em um determinado contexto cultural. Em função disso,
talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (...dos
professores), tanto no pré-escolar quanto no ensino médio, seja a
utilização da escrita verdadeira
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nas diversas atividades
pedagógicas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo
às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas
sociais. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de
chegada do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho
falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se
estabelece numa determinada situação discursiva (LEITE, 2001,
p.25).
No trabalho didático de sala de aula, para ser correspondente à realidade
social das constantes transformações vividas pela sociedade (alunos), é
fundamental a utilização de todos os tipos de textos para que a alfabetização tenha
uma dimensão de aprendizado da leitura, seja o ato de ler bem como o de escrever.
O desafio de ensinar a ler e a escrever torna-se claro quando existe a
possibilidade do uso da língua escrita como “sistema formal (normas de
funcionamento, regras) nas diversas e diferentes situações e com diferentes fins.
Embora, por um lado, exista um paradoxo, onde há uma estrutura
fechada que não admite transgressões, sob pena de perder a dupla condição de
inteligibilidade e comunicação-“ensino tradicional”, por outro, existe um recurso
suficientemente aberto que permite dizer tudo, isto é, um sistema permanente
disponível ao poder criativo do ser humano-“ensino construtivista” (GERALDI, 1997).
Sendo assim, como unir esses dois sistemas? Existe um conceito e uma
ideologia. Há independência e interdependência entre alfabetização e letramento
(processos paralelos
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, simultâneos
ou não
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, mas que complementam). Numa
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O autor utiliza a expressão “escrita verdadeira” em oposição à “escrita escolar”, um modelo muitas
vezes artificial, cujo reducionismo não faz justiça à multidimensionalidade da língua viva.
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Como evidência desse paralelismo, é possível, por exemplo, termos casos de pessoas letradas e
não alfabetizadas (indivíduos que, mesmo incapazes de ler e escrever, compreendem os papéis
sociais da escrita, distinguem gêneros ou reconhecem as diferencias entre a língua escrita e a
oralidade) ou de pessoas alfabetizadas e pouco letradas (aqueles que, mesmo dominando o sistema
da escrita, pouco vislumbram suas possibilidades de uso) (Cf. COLELLO, 2004, p. 111).
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Em uma sociedade como a nossa, o mais comum é que a alfabetização seja desencadeada por
eventos de letramento, tais como ouvir histórias, observar cartazes, conviver com práticas de troca de
correspondência etc. No entanto, é possível que indivíduos com baixo nível de letramento (não raro
membros de comunidades analfabetas ou provenientes de meios com reduzidas práticas de leitura e