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para a garantia de uma educação pública de qualidade, como as condições efetivas
de trabalho do professor.
Julival – [...] Quando algumas pessoas dizem hoje que o professor só não tem uma prática
melhor porque não quer, porque não faz por onde, como se ele simplesmente estivesse
fazendo “corpo mole” sobre sua própria formação, o que [...] você pensa disso?
Ana Lúcia – Esse é um grande mito, né? É muito fácil falar. Mas não é isso. Você diz,
assim, em geral, né? Todo professor — eu disse todos — não tem como ele não honrar a
prática. Não tem como você não honrar que você tá no dia-a-dia com aquelas criaturinhas te
olhando como quem diz: “Eu vim pra cá porque eu confio em ti” e esse professor não estar
lá pra atender. Só que, quando o professor precisa de uma apoio de toda a sociedade, fica
difícil, porque: “Ah, ele não quer fazer isso... Ah, o professor...”. Toda hora assiste na
televisão que eles são bem pagos, que eles têm curso de extensão, de tudo, que é... a
educação continuada, e... eles têm tudo, porque passa na televisão. É o próprio prefeito, é o
próprio secretário, é a própria sociedade que diz que ele tem tudo isso aí. Então, porque
que não melhora a prática? Não é tão simples, assim. Não tem como um professor... eu
acredito, que trabalhe uma prática tradicional como era. Não tem. Todos eles estão
modificados. Não só por causa de cursos, mas é por... por si próprios. Não dá mais pra
trabalhar como se trabalhava antigamente. E... Só que a condição de você modificar sua
prática não significa dizer que ela vá chegar a todos da mesma forma. Numa sala, por
exemplo, de trinta e cinco crianças, um exemplo, você costumava, antigamente, chegar,
falar, falar, o aluno ouvia, porque ele só aprende se ele ficasse calado, ouvindo pra que ele
repetisse tudo o que o professor falasse. Antigamente, assim... no início, aliás. Só que essa
prática... não acontece mais isso. A gente chega pra conversar um conteúdo, um tema, a
gente começa o quê? Perguntando: “Vocês já ouviram falar nisso?...”. Quer dizer, quer
dizer... Tem aquela turminha que começa a falar, mas tem uma grande parte que não fala,
são incentivados a falar, mas não falam, não participam. Então, eu acredito que essa
relação, relação professor-aluno, que é praticada, por ele não melhorar a prática, eu acho
que inclui esses fatores. São crianças, sei lá... provenientes de tantas situações. Não estou
dizendo que eles não aprendam, mas eles estão bloqueados, passando por algum bloqueio,
que só o professor, sozinho, não vai resolver. E quando a gente entra em contato com o
professor, com o pai, com a família, com a equipe toda da escola, que a gente arranje... —
porque até isso o professor tem que ficar responsável — ...pra tentar chegar a essa criança
pra resolver, o que a escola faz? Manda chamar o pai, a mãe, um chega culpa a mãe... o
pai chega. A mãe chega, culpa o pai, os avós, todo mundo... e fica por isso, e a criança
continua com o mesmo problema. Então, a prática está sendo melhorada, sim, e muito. Eu
até acredito que é, assim, um aceleramento grandioso, mas o que que não tá mudando na
educação? Não é prática do professor. Existe... Existe uma outra situação que fala assim:
“Mas se o professor ensina... essa relação de ensino-aprendizagem tem que ser uma
resposta positiva.” Será? Que quem tá fora pode pensar assim, mas quem tá dentro? Quem
foi que disse que é tanto, assim? Por exemplo, eu vou dar um meu caso, eu tenho na minha
sala de aula uma criança que fica até, assim... suspeito dizer. Eu não tô quase sabendo o
que é que eu vou fazer com ele, porque eu já pedi à mãe, a mãe diz: “Eu tô amamentando,
então, eu não posso atender”. O pai separou, então, a culpa é disso, porque ele foi embora,
mas o pai é muito presente na vida da criança, só não tá dentro da mesma casa. E aí eu já
fui pra direção da escola, esse pessoal que fica pra atender, a gente leva e não atende, mas
tá aí toda hora, as crianças que têm problema a gente tem que fazer uma ficha e levar pros
psicólogo da SEMEC, da prefeitura, mas eu já... Eu insisti tanto, que não tem uma
preocupação maior do que a minha que sou a professora, mesmo, que eu já chamei a mãe,
já tentei conversar e só diz que não tem tempo. Que ele esquece até, às vezes, do nome da
irmã, também. Ele não consegue memorizar. Então, é a prática do professor que não foi
modificada? É uma pergunta que vai ficar no ar. É a prática do professor que não foi
modificada? Enquanto a maioria... fica apenas um, dois. Um outro, porque ele tem um
laudo, mas esse tá desenvolvendo melhor do que esse aqui que não apresentou laudo
nenhum. E eu, não tô sabendo o que que eu vou fazer, assim... porque eu não sei o que é
que ele tem. O que que eu poderia fazer? — Como eu tô tentando fazer — É fazer com que
ele chegue até um profissional que atenda. Quer dizer, eu vou fechar a minha sala, a minha
turma todinha, até o final do ano com a alfabetização concluída. Mas com esses dois alunos