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janela e, para isso, arrastava as mesinhas até a janela. Durante uma hora e meia,
essa foi a cena na sala de aula da professora F.X.
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Após esse tempo, a professora conseguiu acalmá-lo no colo, em posição
de segurar bebê, com as pernas presas à sua cintura, mas logo Rubi recomeçou
a chorar e a pular nas mesas, totalmente descontrolado. A professora, então,
chamou a pedagoga S.X. para assumir a turma enquanto ela tentava acalmar o
menino na parte externa da escola, um espaço bem arborizado. Mas Rubi, ao
enxergar as árvores, começou a correr, tentava subir nas árvores e no muro para
sair da escola. Como a tentativa de acalmá-lo fugiu do controle da professora, ela
o levou novamente para a sala de aula.
Muito arredio, Rubi não falava nada, somente emitia sons como os que
ouvia no mato, o latido da cadela (ele latia, uivava e andava como a cadela) toda
vez que a professora se aproximava dele ou entravam pessoas na sala ele
gritava e se colocava de quatro (AU,AU,
AU,U,U,U,U,U,U,IE,IE,IE,IE,EI,IE,IE,I,I,I,I,I,I,I,I,I, e sons dos pássaros).
(Depoimento da professora F.X., em junho de 2007).
Caso fosse tocado, Rubi se encolhia no chão e começava a rodar em
atitude defensiva. Puxava os cabelos das outras crianças, empurrava, mordia e
levava tudo à boca: massa de modelar, papel, lápis, giz de cera, tudo era levado à
boca e mastigado:
[...] eu percebia o desespero estampado nos gritos, na fisionomia
dele, nos gestos. O primeiro dia, a primeira semana
especificamente foram assim: gritos. Aí, eu com toda a minha
inexperiência, todo o meu despreparo para a situação, levei ele pro
banheiro, no momento do lanche, vamos lavar a mãozinha. Aí, ele
parou, fez xixi na porta do banheiro e quando viu a água ele
começou a gritar, ele queria bater na torneira, chutava a porta
(Professora C.O.S)
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A professora tentou explicar-lhe que o banheiro era lugar para lavar as
mãos e urinar. Rubi parecia entender e gostava de ver a água saindo da torneira
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Professora do Jardim I – Escola P.V.
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Conversa gravada e transcrita na integra.