não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali
se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase
nada da terra, só até onde podiam tomar pé.
Na carta, o compromisso do escrevente é noticiar o descobrimento do Brasil e
relatar a aventura na terra virgem. No plano formal, notamos que a extensão dos
períodos se alterna na descrição do comportamento dos índios no transcorrer da missa,
permanecendo razoavelmente comprida. Essa é uma provável conseqüência da ânsia de
descrever copiosamente tudo o que foi observado.
Destacamos, outrossim, não só no trecho apresentado, mas em quase toda a
carta, o emprego do polissíndeto. O recurso deixa transparecer o excesso de detalhes no
texto tal como a busca por uma fidelidade na exposição da seqüência dos
acontecimentos, enfatizando cada movimento dos indígenas.
Já no início do século XVII, temos exemplos de frases incrivelmente extensas,
mesmo para os padrões clássicos:
E assim digo que as madeiras de que tenho notícia e me alembra a
qualidade delas, são estas: açabengitas, que é um pau amarelo, que lança
de si a mesma tinta muito rijo e de cor amarela; outro pau, que chamam
amarelo, excelente para taboado; jataúba, de cor dourada; maçaranduba
e cabaraíba, ambos de cor roxa, maravilhosos para obra-prima,
principalmente para cadeiras; jacarandá, tão estimado em nossa Espanha
para leitos e outras obras; conduru, pau de grande fortaleza, do qual se
fazem bons chaprões; sapupira, de que se faz também o mesmo, e muitos
carros e também liames para navios, camaçarim apropriado para taboado;
outro pau chamado d’arco, porque se fazem dele de muita fortaleza e
rigidão; zabucai também muito estimado para eixos de engenhos e estearia;
canafístula, de cor parda; câmara, rigidíssimo, e por esse respeito assaz
estimado; pau-ferro, que lhe deram este nome por seu igual a ele na
fortaleza; outro pau chamado santo, tão estimado e conhecido por toda a
parte; buraquií, assaz proveitoso; Angelim, de que se faz tanto cabedal nas
Índias Orientais, e o incorrupto cedro, louvado na Escritura; e assim
burapiroca, louro, dos quais se aproveitam para armações de casas;
buraém, de que se faz taboado para navios, quase incorrupto; corpaúba,
de uma cor preta excelente; orendeúba, de uma galharda cor vermelha; e
assim guanadim, que se produzem por alagadiços e mangues, que se não
dão senão pelo salgado; outro pau o chamado quiri, que corta pelo ferro
por ser mais duro que ele, cujo branco de fora pode suprir a falta do marfim
em qualquer obra, e âmago de dentro demonstra as águas e core de um
jaspe muito formoso; e da mesma maneira é outro pau que vem de
Jaguaribe.
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