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situações comunicativas. O Globo, de 28/12/05, trouxe a seguinte manchete:
“Problemas na decolagem”. Tratava-se da dificuldade apontada pelo técnico da seleção
brasileira de futebol, Carlos Alberto Parreira, em conseguir uma seqüência de treinos
para o time até a Copa, em junho de 2006. Sob a manchete, o jornal publicou uma foto
do técnico entrando em um helicóptero. A dimensão semântica da análise tem
ancoragem exatamente nesse complexo enunciativo: a inferência associativa da ação de
Parreira (entrar em helicóptero) possibilita o alargamento de sentido da palavra
“decolagem”. Através de um processo metafórico, esse termo ganha um valor
polissêmico, como o início de uma viagem, aqui a viagem rumo à Copa do Mundo, com
a prévia preparação para disputar o título de campeão.
Entretanto, tal associação, fundamental para a apreensão do sentido, só se
concretiza na medida em que se entrelaçam alguns elementos envolvidos no contexto da
enunciação, como por exemplo, a natureza do personagem em questão – o técnico da
seleção brasileira – e o fato de ele estar subindo em um helicóptero, o que autoriza a
metáfora da “decolagem” e seu conseqüente valor polissêmico.
Recentes correntes lingüísticas apresentam pelo menos três formas de se pensar
a semântica: a Semântica Formal, a Semântica da Enunciação (também chamada de
Argumentativa ou Discursiva) e a Semântica Cognitiva. Segundo Koch (2003), quando
há a interação através da linguagem, dá-se, por conseqüência, uma atuação sobre o
outro, em outras palavras, existe sempre a adoção de uma carga argumentativa. Por
entender que a língua é intrinsecamente argumentativa, como afirma O. Ducrot através
de sua proposta de uma lingüística enunciativa, este trabalho focalizará, principalmente,
a semântica sob a ótica da argumentação, avaliando alguns mecanismos enunciativos e
percebendo a íntima ligação existente entre a língua e o discurso.
Dessa maneira, esta dissertação pretende analisar a Semântica da Enunciação
sob um viés discursivo, que não pode isentar a participação de fatores que interagem na
compreensão do fenômeno semântico, num movimento constante, interpretando e, ao
mesmo tempo, depositando novos elementos de sentido no discurso.
Citando um exemplo de Maingueneau, em “Os termos-chave da análise do
discurso”, quando se produz a frase “O Paulo não está lá”, podemos, além do sentido
óbvio da ausência de Paulo, explícita na superfície da frase, interpretá-la como uma
chamada de atenção, como a conclusão de uma argumentação, ou até mesmo com um
valor irônico. É aí que a produção de sentido encontra o seu lugar: não na frase em si,
mas no enunciado, que abarca o contexto em que tal frase está inserida. Assim, o