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[...] uma política social que divide, canhestramente, os trabalhadores em
categorias do tipo: miseráveis, mais pobres, pobres, não-pobres e
privilegiados — estes últimos identificados como aqueles que têm acesso à
seguridade social incompleta e limitada, próprios dos países do capitalismo,
em particular da América Latina (DRUCK; FILGUEIRAS, 2007, p. 26).
É um modelo em que a redução do trabalho, o desemprego estrutural e
invisível, o trabalho ilegal e mal remunerado, se colocam como características
principais. No plano das relações entre o capital e o trabalho, modifica-se a “[...]
correlação de forças entre as partes, com reaparecimento de velhas formas de
consumo da força de trabalho e o surgimento de novas formas de exploração, que vêm
afetando [...] o “modo de ser” da classe trabalhadora” (FILGUEIRAS, 1997, p. 25).
Segundo Pochmann, no Brasil, essa realidade pode ser constatada, desde o
final da década de 80, quando nos damos conta de que:
Entre 1989 e 1999, a quantidade de desempregados ampliou-se de 1,8
milhões para 7,6 milhões, com aumento da taxa de desemprego aberto
passando de 3,0% da População Economicamente Ativa para 9,6%. Da
mesma forma, houve também uma redução do emprego assalariado no total
da ocupação. Em 1989, 64% do total da ocupação brasileira era de
assalariados e, em 1999, passou para 58,7%. Somente no mercado formal
de trabalho, 3,2 milhões de trabalhadores assalariados perderam o
emprego, sendo 2 milhões pertencentes ao setor industrial. Por fim, os
postos de trabalho gerados caracterizam-se por serem, em sua grande
maioria, precários. Nos anos 90, a cada 5 ocupações criadas, 4 referem-se
ao conjunto de trabalhadores autônomos, sem remuneração e assalariados
sem registro formal (POCHMANN, 2001, p.197-198).
Nessa linha de raciocínio, afirmam Lessa e Tonet:
[..] submetidos a uma vida de miséria e privação, à opressão cotidiana, à
competição desenfreada por um lugar ao sol, todos nós convivemos com a
sensação de estarmos submetidos a um destino, a uma força, que não
controlamos e sequer conhecemos. Essa vida cotidiana desumana ou seja,
não humana, faz com que os homens sequer cheguem à consciência de que
são eles que fazem a sua própria história (LESSA; TONET, 2008, p. 15).
O capital, explicam Marx e Engels: [...] não vive somente do trabalho. Senhor
distinto e bárbaro, a um só tempo, arrasta a seu túmulo os cadáveres de seus
escravos, numa verdadeira hecatombe de operários que soçobram nas crises
(MARX e ENGELS, 1978, p.82). Portanto, estamos frente a uma incoerência na
forma “de produção capitalista como um todo, que transforma até mesmo as últimas
conquistas do “desenvolvimento”, da “racionalização” e da “modernização” em
fardos paralisantes de subdesenvolvimento crônico” (MÉSZÁROS, 2007, p.143).