Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
DE AMBIENTES AQUÁTICOS CONTINENTAIS
DORIS MARLI PETRY PAULO DA SILVA
Ambiente, saúde e qualidade de vida:
condições e perspectivas nos conjuntos
habitacionais de Porto rico, Estado do Paraná, Brasil
Maringá
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
DORIS MARLI PETRY PAULO DA SILVA
Ambiente, saúde e qualidade de vida:
condições e perspectivas nos conjuntos
habitacionais de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ecologia de Ambientes
Aquáticos Continentais do Departamento de
Biologia, Centro de Ciências Biológicas da
Universidade Estadual de Maringá, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Doutor em Ciências Ambientais.
Área de Concentração: Ciências Ambientais.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Augusto
Tomanik
Maringá
2009
ads:
"Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)"
(Biblioteca Setorial - UEM. Nupélia, Maringá, PR, Brasil)
S586a
Silva, Doris Marli Petry Paulo da, 1954-
Ambiente, saúde e qualidade de vida : condições e perspectivas nos conjuntos habitacionais de Porto
Rico, Estado do Paraná, Brasil / Doris Marli Petry Paulo da Silva. -- Maringá, 2009.
77 f. : il. (algumas color.)
Tese (doutorado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais)-- Universidade Estadual de
Maringá, Dep. de Biologia, 2009.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik.
1. Qualidade de vida - População ribeirinha - Porto Rico (Município) - Planície alagável - Alto rio
Paraná. 2. População ribeirinha - Porto Rico (Município) - Planície alagável - Alto rio Paraná - Vida e
condições sociais. I. Universidade Estadual de Maringá. Departamento de Biologia. Programa de Pós-
Graduação em "Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais".
CDD 22. ed. -306.09816
NBR/CIP - 12899 AACR/2
Maria Salete Ribelatto Arita CRB 9/858
João Fábio Hildebrandt CRB 9/1140
FOLHA DE APROVAÇÃO
DORIS MARLI PETRY PAULO DA SILVA
Ambiente, saúde e qualidade de vida:
condições e perspectivas nos conjuntos
habitacionais de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos
Continentais (PEA), Departamento de Biologia, Centro de Ciências Biológicas da
Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor
em Ciências Ambientais pela Comissão Julgadora composta pelos membros:
COMISSÃO JULGADORA
Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik
PEA, Universidade Estadual de Maringá (Presidente)
Profª. Drª. Ângela Maria Magosso Takayanagui
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo
Profª. Drª. Miako Kimura
Escola de Enfermagem de São Paulo, Universidade de São Paulo
Profª. Drª. Ana Tiyomi Obara
Departamento de Biologia, Universidade Estadual de Maringá
Prof. Dr. Eraldo Schunk Silva
Departamento de Estatística, Universidade Estadual de Maringá
Aprovada em: 13 de março de 2009
Local: Anfiteatro do NUPELIA, Bloco G90, UEM
DEDICATÓRIA
À minha família, mãe Úrsula e
filhos, Anelize, Guilherme e
Marlize, razão do meu viver, por
suas presenças, por compreender
minhas ausências, pelo estímulo,
respeito e amor.
Aos acadêmicos, razão do meu
aperfeiçoamento profissional.
Lutem para realizar seus sonhos!
AGRADECIMENTOS
Desejamos expressar aqui nossos mais profundos agradecimentos a todas as pessoas
que, de uma maneira ou outra, contribuíram para a construção desse trabalho,
especialmente:
Ao Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik, pela competência, objetividade, amizade e
paciência com que conduziu todas as etapas de elaboração desta tese;
Ao Prof. Dr. Eraldo Schunk Silva, pela dedicação na análise estatística e discussão
dos dados.
Aos docentes do PEA e dos demais Programas de Pós-Graduação, nos quais
participei como aluna especial, pelos conhecimentos compartilhados, possibilitando
uma nova compreensão da realidade: a interação do homem com seu ambiente em
busca da saúde e da qualidade de vida.
Aos membros da banca, Dra Miako Kimura, Dra. Ângela A. Takayanagui, Dra. Ana
Tiomi Obara, Dr. Eraldo Schunk Silva e às suplentes, Dra. Lucina Olga Bercini e
Wladith Organ de Carvalho, pela satisfação com que aceitaram participar deste
processo, contribuindo com meu crescimento profissional e pessoal.
À Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PPG), ao Programa de Pós-Graduação em
Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA) e ao Departamento de
Enfermagem (DEN), da Universidade Estadual de Maringá, pelo apoio e
disponibilidade de infra-estrutura recebidos para concretização deste estudo.
A todos os servidores do PEA, pelo carinho recebido. Em especial às equipes da
secretaria e da biblioteca, pelo auxílio e paciência dispensados ao longo do curso; ao
setor de áudio-visual, pela ajuda no preparo de material e apresentação dos
trabalhos; aos motoristas que nos conduziram até Porto Rico.
Aos colegas de turma, pela acolhida e atenção dedicadas durante as aulas e os
grupos de estudo.
Aos meus familiares e amigos, sempre presentes nos momentos difíceis, de alegrias
e conquistas.
À população de Porto Rico, à Equipe de Saúde e de servidores da Base Avançada
do Nupélia que sempre nos acolheram e colaboraram para o bom desenvolvimento
da pesquisa.
EPÍGRAFE
Tudo está em relação com tudo.
Nada está isolado, existindo solitário, de si para si.
Tudo co-existe e inter-existe com todos os outros seres do universo [...]
Não existe a célula sozinha.
Ela é parte de um tecido...
que é parte de um órgão...
que é parte de um organismo...
que é parte de um nicho ecológico...
que é parte de um ecossistema...
que é parte do planeta Terra...
que é parte do Sistema Solar...
que é parte de uma galáxia...
que é parte do Cosmos...
que é parte das expressões do Mistério ou de Deus.
Tudo tem a ver com tudo.
(Leonardo Boff)
Ambiente, saúde e qualidade de vida:
condições e perspectivas nos conjuntos
habitacionais de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil
RESUMO
Como parte das atividades do Curso de Doutorado em Ecologia de Ambientes
Aquáticos Continentais da Universidade Estadual de Maringá realizou-se um projeto de
pesquisa sobre a percepção da qualidade de vida de um segmento de moradores do município
de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. A pesquisa investigou como os processos ambientais
se relacionam com as condições de saúde da população de Porto Rico e com as avaliações que
a mesma faz sobre sua qualidade de vida para, com base nestes conhecimentos, elaborar
propostas que minimizem tais condições. O estudo foi realizado nos conjuntos habitacionais,
Flamingo, Por do Sol e Casa Feliz, situados no núcleo urbano do município, nos meses de
julho/2005 e janeiro/2006. A amostra foi constituída por 63 moradores dos três conjuntos. As
informações foram obtidas através de inquérito domiciliar, utilizando-se dois formulários
elaborados pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde (OMS,
1998), o Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida abreviado (WHOQOL-bref) e a
Ficha de Informações sobre o Respondente, acrescida de alguns dados sobre os familiares
daquela residência. Os dados foram processados nos programas Statistical Analysis Software
(SAS), Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) e no algoritmo CHAID.
Inicialmente foram avaliadas as condições sócio-econômicas e laborais de 63 famílias,
residentes nos respectivos conjuntos habitacionais, abrangendo 224 pessoas. Na seqüência, foi
comparada a morbidade referida entre dois grupos de entrevistados e foi aplicada a técnica de
“Regressão por Árvore” para explicar as tendências das variáveis que influenciaram a
avaliação da qualidade de vida daquela população, analisada pelo WHOQOL-bref. Os
resultados indicaram que as condições de vida dessas famílias foram influenciadas pelo baixo
nível de instrução aliado à falta de opções para o trabalho, comprometendo assim a renda
familiar. O Grupo B referiu melhores condições de saúde e renda do que o Grupo A. Os
achados da morbidade referida acompanham a tendência nacional de doenças infecciosas
agudas causadas por condições ambientais inadequadas e de doenças crônicas, em grupos de
meia-idade e terceira idade, decorrentes dos estilos de vida adotados e conseqüentes às
condições de vida dos moradores. A maioria dos entrevistados referiu satisfação em relação à
sua qualidade de vida. As variáveis que geraram maior insatisfação foram relacionadas à dor e
aos meios de transporte disponíveis. O emprego da técnica de Regressão por Árvore permitiu
o mapeamento das variáveis que interferiram nas avaliações de cada um dos domínios que
compõem o conceito de qualidade de vida, sendo recomendada sua adoção em estudos
semelhantes. Pode-se afirmar que uma boa qualidade de vida é refletida, sobretudo, pela
qualidade da saúde individual, o que vem a comprovar que a qualidade de vida depende das
condições de saúde e do seu entorno.
Palavras-chave: Condições de vida. Desigualdades sociais. Estudos ecológicos. Inquérito
domiciliar. Níveis de saúde.
Environment, health and quality of life:
conditions and perspectives in the affordable
housing complexes of Porto Rico, Paraná State, Brazil
ABSTRACT
As part of the activities of the Doctorate Program in Ecology of Continental Aquatic
Environments at the Maringá University State, a research project was conducted on the
perception of quality of life by a segment of the residents of the municipality Porto Rico,
Paraná State, Brazil. The study investigated how environmental processes are related with the
health conditions of the Porto Rico population and with their evaluations of their own quality
of life; based on that knowledge, it would be possible to devise proposals to minimize such
conditions. The study was conducted at the Flamingo, Por do Sol and Casa Feliz housing
complexes, which are located in the urban area of town, during the months of June 2005 and
January 2006. The sample consisted of 63 residents of all three complexes. Data were
obtained through home surveys, using two forms devised by the World Health Organization’s
Group for Quality of Life (OMS, 1998): the Abbreviated Instrument for Quality of Life
Assessment (WHOQOL-bref) and the Respondent Data Sheet, with additional data on the
family members of that household. The data were processed using Statistical Analysis
Software (SAS) and Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) software, and the
CHAID algorithm. Initially, the study evaluated the socioeconomic and work conditions of 63
families living in the aforementioned housing complexes, with a total of 224 people. Next,
self-reported morbidity was compared between both groups of interviewees, and the CHAID
technique was applied to explain the trends in the variables that explained the evaluation of
the quality of life of that population, as analyzed by WHOQOL-bref. The results indicated
that the social conditions of these families were influenced by their low levels of education,
allied with the lack of work options, thus compromising family income. Residents of group B
mentioned better health and income conditions. The findings of self-reported morbidity
followed the national trend of acute infectious diseases caused by inadequate environmental
conditions and of chronic illnesses, in groups of middle-aged and elderly groups, as results of
chosen lifestyles and the social conditions of the residents. Most interviewees expressed
satisfaction regarding their quality of life. The variables that generated the most
dissatisfaction were related to pain and available transportation. The use of CHAID made
possible the mapping of variables that interfered in the evaluations of each of the domains that
make up the concept of ‘quality of life’, and its use is recommended in similar studies. It can
be affirmed that a good quality of life is reflected, most of all, in individual quality of health,
which confirms that quality of life depends on conditions of health and surroundings.
Keywords: Ecological Studies. Health levels. Home survey. Social conditions. Social
Inequalities.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Pg.
Figura 1 Mapa da Planície Alagável do rio Paraná, com localização da área de
estudo, município de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil......................
22
Tabela 1 População residente no município e conjuntos habitacionais, por faixa
etária e sexo. Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2005/2006................
25
Tabela 2 Categorias e tipo de ocupações por grupo de atividades laborais
exercidas em Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006.........................
26
Tabela 3 Renda familiar segundo a ocupação dos moradores das residências
populares do município. Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006.......
27
Figura 2 Mapa da localização do município de Porto Rico, Estado do Paraná,
Brasil..........................................................................................................
43
Figura 3 Imagem via satélite do município de Porto Rico, Estado do Paraná,
Brasil, com localização da área do estudo.................................................
45
Tabela 4 Distribuição das variáveis sócio-demográficas, segundo dois grupos de
moradores. Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006............................
46
Tabela 5 Distribuição da percepção do nível de saúde, segundo dois grupos de
moradores. Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006............................
47
Tabela 6 Distribuição da morbidade referida, segundo dois grupos de moradores.
Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006.........................................
.......
47
Tabela 7 Distribuição dos problemas de saúde referidos, segundo dois grupos de
moradores. Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006..........................
48
Tabela 8. Distribuição do consumo de tabaco e álcool, segundo dois grupos de
entrevistados. Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006.......................
49
Figura 4 Regressão por árvores para a variável Domínio Social............................. 65
Figura 5 Regressão por árvores para a variável Domínio Psicológico..................... 65
Figura 6 Regressão por árvores para a variável Domínio Físico..............................
66
Figura 7 Regressão por árvores para a variável Domínio Ambiental...................... 67
Figura 8 Regressão por árvores para a variável Domínio Qualidade de Vida
Geral...........................................................................................................
69
Tese elaborada e formatada conforme as
normas da publicação científica da ABNT.
Capítulos elaborados conforme normas de
publicação dos periódicos:
1. Acta Scientiarum. Health Sciences,
disponível em: www.uem.br/acta
2. Revista Brasileira de Enfermagem,
disponível em:
http://www.scielo.br/revistas/reben/pins
truc.htm
3. Cadernos de Saúde Pública, disponível
em: www.ensp.fiocruz.br/csp/
SUMÁRIO
Pag.
RESUMO
ABSTRACT
Lista de Ilustrações
Apresentação..................................................................................................... 14
1 CAPÍTULO 1. Condições de vida de famílias ribeirinhas moradoras nas
residências populares no município de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil..
17
Resumo..............................................................................................................
18
Abstract............................................................................................................. 19
1.1 Introdução......................................................................................................... 20
1.1.1 Região do estudo, antecedentes e objetivos...................................................... 21
1.2 Material e Métodos........................................................................................... 24
1.3 Resultados......................................................................................................... 25
1.4 Discussão...........................................................................................................
27
1.5 Considerações finais..........................................................................................
34
1.5 Referências........................................................................................................ 35
2 CAPÍTULO 2. Morbidade referida por moradores ribeirinhos, município de
Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil................................................................
38
Resumo .............................................................................................................
39
Abstract............................................................................................................. 40
Resumen............................................................................................................ 41
2.1 Introdução......................................................................................................... 42
2.1.1 Objetivo e local do estudo................................................................................. 44
2.2 Metodologia...................................................................................................... 44
2.3 Resultados......................................................................................................... 46
2.4 Discussão...........................................................................................................
50
2.5 Considerações finais..........................................................................................
53
2.6 Referências........................................................................................................ 55
3 CAPITULO 3. Avaliação da qualidade de vida de um grupo de moradores
de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil, por meio da técnica de Regressão
por Árvore (CHAID).....................................................................................
57
Resumo..............................................................................................................
58
Abstract............................................................................................................. 59
3.1 Introdução......................................................................................................... 60
3.1.1 Região do estudo e objetivo.............................................................................. 61
3.2 Metodologia...................................................................................................... 52
3.2.1 Técnica CHAID (Chi-squared Automatic Interaction Detector)...................... 62
3.3 Resultados......................................................................................................... 64
3.3.1 Avaliação da qualidade de vida.........................................................................
64
3.4 Discussão...........................................................................................................
69
3.5 Considerações finais..........................................................................................
73
3.6 Referências........................................................................................................ 75
ANEXOS...........................................................................................................
77
14
Apresentação
Qualidade de vida é a percepção das condições de vida do indivíduo (família e
comunidade) e do ambiente em que vive. A qualidade de vida pode expressar as condições de
saúde, mas está, também, associada aos outros aspectos da vida das pessoas, como o bem-
estar psicológico, a satisfação com a vida, o estilo de vida, as relações pessoais, laborais e
com seu entorno. Sendo um processo perceptivo, a avaliação da qualidade de vida pode variar
de acordo com as concepções e as experiências de cada pessoa e pode ser alterada ao longo da
vida de cada um.
Fatores sócio-ambientais são determinantes na qualidade de vida da coletividade.
Dentre eles, destaca-se a educação, cultura, nutrição, trabalho (condições e renda), moradia,
transporte, segurança, opções de atividades físicas e lazer, acesso aos serviços de saúde e ao
ambiente saudável (saneamento das águas, esgoto, alimentos, dos ambientes de trabalho e
lazer assim como do controle de riscos ambientais).
A preocupação com as condições de vida existia desde os primórdios da humanidade.
relatos de que Aristóteles (384-322 a.C) abordou a noção de qualidade de vida associada
às condições de vida, ao bem-estar e à felicidade (FAYERS; MACHIN, 2000). Em meados do
século passado, o tema qualidade de vida emergiu nas diversas áreas de estudo, com vistas a
melhoria das condições de vida humana e ambientais do planeta.
Em função de leituras realizadas e da vivência profissional, considerei que, para
recuperar a saúde não bastava medicar, era preciso proporcionar conforto, atenção, orientação,
persistência e, sobretudo, proporcionar um ambiente adequado e seguro.
O estudo sobre o adoecimento dos trabalhadores de enfermagem, que desenvolvi
durante o mestrado, e o projeto de extensão de promoção da saúde em um bairro de Maringá,
do qual participei reforçaram a percepção sobre a importância das condições ambientais no
processo saúde-doença das pessoas.
Minha inquietação era transpor essa barreira e proporcionar bem-estar aos que
dependiam direta ou indiretamente de meus cuidados e orientações, fossem usuários dos
serviços de saúde e familiares, funcionários ou alunos. Mergulhei na literatura e vislumbrei a
possibilidade de estudar a temática Qualidade de Vida associada aos processos de saúde.
A oportunidade surgiu ao conhecer
o Grupo de Estudos Socioambientais (GESA),
vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais,
da Universidade Estadual de Maringá, e saber que os pesquisadores destes e de outros
segmentos da mesma Universidade, como o cleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e
15
Aqüicultura (NUPELIA), têm investigado e atuado na região da planície alagável do alto rio
Paraná, com vistas à proporcionar melhoria da qualidade de vida daquela população e da
preservação ambiental.
Meu ingresso na pós-graduação, em nível de doutorado, contribuiu para a
continuidade dos trabalhos desenvolvidos na região, por meio da realização da pesquisa
“Ambiente, Saúde e Qualidade de Vida: condições e perspectivas em Porto Rico - PR”.
O projeto de pesquisa foi norteado pelos objetivos de investigar como os processos
ambientais se relacionam com as condições de saúde da população de Porto Rico e com as
avaliações que a mesma faz sobre sua qualidade de vida para, com base nestes
conhecimentos, elaborar propostas para a superação destas condições.
A população do estudo constituiu-se de moradores dos conjuntos habitacionais no
município de Porto Rico, por considerá-los representantes da parcela menos favorecida na
região. Os resultados da pesquisa foram descritos em três capítulos.
O primeiro capítulo envolve um estudo quantitativo, com o objetivo de caracterizar as
condições demográficas e sócio-econômicas das famílias moradoras nos três conjuntos
habitacionais, Flamingo, Por do Sol e Casa Feliz, situados no núcleo urbano do município.
Essa caracterização serviu como base para a realização dos trabalhos seguintes e a
composição dos textos resultantes.
O segundo capítulo relata uma investigação sobre as condições do estado de saúde e a
morbidade referida por um representante de cada moradia dos conjuntos habitacionais. Esse
trabalho revelou que a satisfação com o estado de saúde está relacionada com o acesso aos
serviços de saúde e também sofre influencia do nível de instrução formal.
O terceiro capítulo consiste na descrição de um processo através do qual buscamos
conhecer e compreender as condições de vida e saúde desse grupo populacional. Para essa
investigação, optamos por aplicar o instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida
(WHOQOL-bref), testado e validado no Brasil (OMS, 1998). Além disso, visando determinar
as variáveis que influenciaram a percepção da qualidade de vida pelos entrevistados,
estudamos e aplicamos a Técnica de Regressão por Árvore (CHAID) nessa coleção de
informações. Na literatura não foram encontrados relatos do emprego desta técnica para
informações como as que dispúnhamos.
O estudo possibilitou conhecer algumas expectativas e necessidades dos moradores
dos conjuntos habitacionais de Porto Rico e vislumbrar algumas alternativas de atuação na
região.
16
Referências
Fayers, P.; Machin, D. Quality of life: assessment, analysis and interpretation. Chichester: J. Wiley,
2000.
OMS. Divisão de Saúde Mental. Grupo WHOQOL. Versão em português dos instrumentos de
avaliação de qualidade de vida (WHOQOL). 1998. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol84.html. Acesso em 04 set 2005.
17
CAPÍTULO
1
Condições de vida de famílias ribeirinhas moradoras nas residências populares do
município de Porto Rico, Paraná, Brasil.
18
RESUMO
Como parte de um conjunto maior de estudos ecológicos, procurou-se conhecer as condições
de vida dos moradores dos três conjuntos habitacionais do município de Porto Rico, Estado
do Paraná, Brasil. A amostra constituiu-se de 63 famílias. Um adulto de cada moradia foi
entrevistado, após ciência dos objetivos da pesquisa e da confidencialidade dos dados. As
informações socioeconômicas do grupo amostral foram obtidas através de um inquérito
domiciliar, nos meses de julho/2005 e janeiro/2006. Os dados foram processados no Programa
Statistical Analysis Software (SAS). Os resultados indicaram que a maioria dos moradores era
jovem (idade média de 26 anos); do sexo masculino; solteiro ou vivendo com companheiro;
53,5% completaram o ensino fundamental. Predominaram as famílias nucleares, chefiadas por
homens e a média de ocupação era de 3,5 habitantes por moradia. A força de trabalho
concentrou-se em atividades urbanas e as rendas familiares variavam de um a sete salários
mínimos. Apesar de ser uma cidade ribeirinha, as oportunidades de trabalho ligadas ao rio e a
terra eram escassas. Políticas públicas voltadas para o ensino e trabalho são necessárias para
melhorar as condições de vida deste segmento da população.
Palavras-chave: Censos. Desigualdades em Saúde. Enquete Socioeconômica. Satisfação no
Emprego. Renda familiar.
19
ABSTRACT
Living conditions of riverine families residing in affordable housing in Porto Rico,
Paraná State, Brazil.
As part of a larger group of ecological studies, this work aimed to determine the living
conditions of people residing in the three affordable housing complexes in Porto Rico, Paraná
State, Brazil. The sample was comprised of 63 families. One adult per household was
interviewed, after informed consent and confidentiality terms were expressed. Socioeconomic
data were obtained from the sampled group by means of home surveys, during the months of
June 2005 and January 2006. Data were analyzed using the Statistical Analysis Software
(SAS) software. The results indicated that the majority of residents were young (mean age =
26 years); male; single or living with a partner; 53.5% had completed middle school. Nuclear
families prevailed, headed by men, and the occupancy average was 3.5 inhabitants /
household. The lines of work were concentrated in urban activities, and family income varied
between one and seven times the minimum wage. Despite being a riverine municipality, work
opportunities associated with the river and land were scarce. Public policies geared towards
education and labor are necessary in order to improve the living conditions of this segment of
the population.
Keywords: Censuses. Health Inequalities. Socioeconomic Survey. Job Satisfaction. Family
Income.
20
1.1 Introdução
O ser humano, normalmente, não vive só, mas em um contexto familiar, pois encontra
na família (nuclear ou não) a sua rede de apoio mais próxima. A família nuclear é composta
por um casal com seus filhos. Os pais, sogros, sobrinhos e netos são considerados parentes e
os demais membros que compartilham da moradia, conviventes (BRASIL, 2007a). Por isso,
as famílias são referidas como unidades fundamentais para análises estatísticas relativas a
diversos temas, como condições de vida, renda, comportamentos demográficos e participação
no mercado de trabalho (SOARES; SABÓIA, 2007).
Entende-se por condição de vida ou condição social, “[...] a situação, estado ou
circunstância de um indivíduo, [família,] grupo, população ou localidade, em relação à
habitação, escolaridade, infra-estrutura sanitária, emprego, pobreza e outros parâmetros
socioeconômicos” (BRASIL, 2007).
Estudos sobre condições de vida de grupos populacionais específicos tornam-se
relevantes, à medida que fornecem indicadores sobre possíveis desigualdades sociais e de
saúde de uma determinada população (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2003).
Uma das tendências dessa modalidade de estudo é o uso de indicadores sintéticos com
vistas a conhecer as condições de vida de grupos populacionais. O Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) foi criado em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e permite calcular a média dos níveis de renda, saúde e educação
de uma determinada população (BARCELLOS et al., 2002; MINAYO et al., 2000).
A renda é avaliada pelo PIB real per capita; a saúde, pela esperança de vida ao
nascer e a educação, pela taxa de alfabetização de adultos e taxa de matrículas nos
níveis primário, secundário e terciário combinados. Renda, educação e saúde
seriam atributos com igual importância como expressão das capacidades humanas
(MINAYO et al., 2000, p. 10).
O IDH é um indicador abrangente, porque possibilita conhecer tanto os aspectos
econômicos como os aspectos de natureza social e cultural da população em estudo
(MINAYO et al., 2000). Esse indicador vem sendo aplicado para verificar as iniqüidades nas
regiões e municípios (BARCELLOS et al., 2002).
O conhecimento dos dados sócio-demográficos de uma determinada população, o tipo
de atividades que exercem e as condições de vida e saúde resultantes, é fundamental para o
processo de intervenção que visa preservar elementos bióticos e abióticos do ambiente e
proporcionar qualidade de vida digna e saudável para as populações tradicionais (TOMANIK;
GODOY, 2004).
21
Diegues e Arruda (2001) consideram populações tradicionais, os agrupamentos de
pessoas com uma história sociocultural anterior de conflitos e conquistas de espaços para
sobrevivência, distribuídos em dois conjuntos distintos, os indígenas e os não-indígenas, que
incluem ribeirinhos, caiçaras, sertanejos, açoreanos, praieiros, quilombolas. Os participantes
dos referidos conjuntos compartilham características comuns, preservam modos de vida
particulares e articulam conhecimentos sobre biodiversidade, crenças e valores.
Trabalho anterior, realizado por Paiola e Tomanik (2002), mostra que boa parte dos
moradores do município de Porto Rico (PR) pode ser considerada como participante de uma
população tradicional, ainda que não plenamente. Esses moradores enfrentam um processo de
transição entre seu estilo de vida e as formas de pensamento e de ação mais picas do sistema
capitalista de produção. Seus saberes e suas práticas sobre ambiente são elementos
importantes para as tentativas de compreensão e de manutenção dos processos ecológicos
daquela região.
Como forma de continuidade dos trabalhos desenvolvidos na região, o presente estudo
visou levantar as condições de vida de moradores dos conjuntos habitacionais do município
de Porto Rico e apresentar algumas propostas de ação para minimizar os problemas vividos
pela parcela menos favorecida economicamente da população.
1.1.1 Região do estudo e antecedentes
“Deus seja louvado... este é um lugar feliz... é um porto rico” [inscrição que teria sido
feita nas pedras das margens do rio Paraná, antes da fundação da cidade] (PORTO RICO,
[s.d.])
A região do estudo insere-se na Planície Alagável do rio Paraná, entre a foz do rio
Paranapanema (na divisa dos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná) e o
reservatório de Itaipu (situado entre o Brasil e o Paraguai) e integra a bacia do Plata. Parte
dessa área compreende o Parque Nacional de Ilha Grande, a Área de Proteção Ambiental da
Ilhas e Várzeas do Rio Paraná e o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinheima (PAIOLA;
TOMANIK, 2002). É o último trecho remanescente do rio Paraná livre de barramentos em
território brasileiro. Essa área apresenta “[...] boa representatividade da fauna original e
continua tendo papel fundamental na manutenção da diversidade biótica regional
(AGOSTINHO, 1997, p.456). [Figura1]
22
Figura 1. Mapa da Planície Alagável do rio Paraná, com localização da área de estudo.
Município de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil (UEM/NUPELIA, s.d).
O município de Porto Rico foi fundado na década de 1950 e emancipado de Loanda
em 21 de abril de 1964. Situa-se na região noroeste do Estado, entre os municípios de Loanda,
Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo e Porto São José, às margens do rio
Paraná. Está distante 615 km da capital do Estado, Curitiba e 180 km do Câmpus-sede da
Universidade Estadual de Maringá (UEM), instituição mantenedora da Base Avançada de
Pesquisas, situada a dois km do núcleo urbano de Porto Rico (IBGE, 2007; IPARDES, 2008).
A Universidade Estadual de Maringá, PR, comprometida com a melhoria das
condições de vida da população e do ambiente na região, vem estudando as comunidades
biológicas e os aspectos ambientais, tanto do leito como nos entornos daquele rio
(AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1996).
Historicamente, essa região era habitada por grupos indígenas até o final do século XIX,
quando foi invadida por imigrantes. Agricultores nordestinos, paulistas, do sul do País e de
outras partes do Estado do Paraná migraram para a região na década de 50 do século passado,
na esperança de melhorar de vida. Vieram movidos por um projeto do Governo do Estado do
Paraná que visava, a partir da distribuição de terras na região, a ocupação, o desmatamento e a
implantação da cultura cafeeira (SPONCHIADO et al., 2002)
.
23
Após duas décadas, ocorreu uma crise mundial na cafeicultura, que deu origem a uma
política nacional de erradicação parcial do café. Os pequenos produtores optaram por outras
culturas (algodão, milho e mandioca) ou pela pecuária, que usava pouca mão-de-obra,
desencadeando o desemprego e o esvaziamento populacional de toda região. Grande parte da
população migrou para as ilhas ou para outros municípios em busca de novas oportunidades
(ROSA, 1997; TOMANIK et al., 1997).
A população expulsa do campo, não encontrando emprego no setor urbano, migra,
resultando municípios que diminuem sua população a cada ano que passa. A maior
parte da população que fica está sujeita à oferta de empregos sazonais e à falta de
maiores alternativas de sobrevivência na cidade (GODOY; EHLERT, 1997, p.439).
Uma grande enchente afetou a população, no final de 1982 e início de 1983. Expulsou
os ilhéus, que retornaram ao continente, principalmente aos meios urbanos, sem condições
mínimas de vida. Sem escolaridade e formação profissional, a pesca era, e ainda continua
sendo uma das poucas opções para sua subsistência (PAIOLA; TOMANIK, 2002).
A construção das hidrelétricas de Porto Primavera no estado de São Paulo e de Itaipu no
Paraná também trouxe impactos adversos para o ambiente e para os organismos que ali
habitam, inclusive para as comunidades ribeirinhas. As barragens alteraram o nível do rio,
mantendo-o abaixo do normal. Esses processos têm influenciado o ciclo de reprodução dos
peixes, comprometendo sua diversidade e, conseqüentemente, a renda dos pescadores
(TOMANIK, 1997; TOMANIK et al., 1997).
Censos demográficos e ocupacionais realizados na planície de inundação do rio Paraná
mostram que “[...] as condições de degradação ambiental local vêm sendo acompanhadas, por
processos de degradação das condições de vida, ao menos para uma parcela considerável da
população” (TOMANIK, GODOY, 2004, p.253).
Porto Rico é um município de pequeno porte e ocupa uma área de 227 km
2
. Segundo
dados do Censo de 2007, possui 2.462 habitantes, densidade demográfica de 10,84 hab/km
2
,
grau de urbanização de 64,35% e IDH Municipal de 0,748. em torno de 821 ligações na
rede de abastecimento de água e 1.056 ligações na rede energia elétrica, além da coleta
sistemática de lixo (IPARDES, 2008). A rede de esgoto e tratamento de águas pluviais está
em fase de construção.
O município pertence à 14ª Regional de Saúde e Macro-Regional de Saúde do
Noroeste do Paraná com sede em Paranavaí. Três estabelecimentos públicos de saúde,
prestadores de serviços pelo Sistema Único de Saúde (SUS), prestam atendimento básico à
população cadastrada (2.336 pessoas distribuídas em 715 famílias). Os casos de média
24
complexidade, inclusive ortopedia, são encaminhados a municípios próximos, Santa Cruz de
Monte Castelo, Loanda ou Paranavaí, e os de alta complexidade, para Curitiba (IBGE, 2007).
No núcleo urbano foram edificados três conjuntos habitacionais de alvenaria ao longo
da Rua Joaquim de Campos: à esquerda está situado o conjunto Flamingo e, à direita, os
conjuntos Por do Sol e Casa Feliz. Esses conjuntos foram construídos para abrigar famílias de
baixa renda, desprovidas de moradia própria e vítimas dos impactos socioeconômicos e
ambientais ocorridos na região. Essa parcela da população necessita de maior atenção das
esferas governamentais, com a colaboração das instituições de ensino e pesquisa na busca por
soluções para minimizar seus problemas.
1.2 Metodologia
A pesquisa é baseada em um estudo ecológico com base territorial. “As investigações de
base territorial utilizam uma referência geográfica para a definição das suas unidades de
informação, em qualquer nível de abrangência (por exemplo, bairros, distritos, municípios,
estados, nações, continentes)” (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2003, p.158).
O estudo foi realizado nos três conjuntos habitacionais de Porto Rico (PR), nos meses de
julho de 2005 e janeiro de 2006. O conjunto Casa Feliz abrigava 10 residências de alvenaria,
o Por do Sol, 35 e o Flamingo, 28. Foram excluídas 10 residências do estudo, das quais, uma
pertencia ao conjunto Casa Feliz (o morador não se encontrava no local); cinco do Flamingo
(o morador não estava na primeira residência; na segunda, morava uma adolescente sozinha e
as demais estavam desabitadas) e quatro, do Por do Sol (duas residências estavam vazias e
duas eram de turistas oriundos de outros municípios). Para este estudo foi considerado que
cada residência abrigava uma família, independente do número de moradores.
A amostra foi constituída por 63 famílias com residência fixa nos respectivos conjuntos.
Um adulto de cada família foi convidado a participar do estudo, após ser informado sobre os
objetivos do mesmo e a confidencialidade dos dados e ter assinado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Foi realizado um inquérito domiciliar com vistas a obter informações sobre as
condições sócio-demográficas (sexo, idade, estado marital, nível de escolaridade) e laborais
(atividades produtivas desempenhadas e renda) dos moradores das residências populares. Os
dados foram analisados no Programa Statistical Analysis Software (SAS) e comparados aos
dados socioeconômicos, derivados de estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística IBGE, sobre longevidade, educação e renda e de outros levantamentos realizados
25
na região. Apesar de ser um roteiro fechado, alguns comentários interessantes dos
entrevistados foram anotados e ilustrados na discussão.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual
de Maringá – COPEP, sob o Parecer n. 404/2005. [Anexo II]
1.3 Resultados
O total dos moradores dos conjuntos habitacionais incluídos neste estudo representava
10,5% da população do município de Porto Rico. As 63 famílias envolvidas no estudo
abrangiam um total de 224 pessoas, sendo 118 do sexo masculino (52,6%) e 106 do feminino
(47,4%). O conjunto de moradores era constituído principalmente por jovens, com idade
média de 26 anos, variando de 11 meses a 88 anos. O grupo infanto-juvenil representou
44,2% dos moradores dos conjuntos, seguido por adultos jovens (33,48%).
A distribuição por grupos etários diferiu nos dois extremos, em comparação com o total
dos moradores do município, conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1. População residente no município e conjuntos habitacionais, por faixa etária e sexo. Porto Rico,
Estado do Paraná, Brasil. 2005/2006.
Local
Porto
Rico
Três Conjuntos Habitacionais
Grupo etário / sexo N % N % Masculino
Feminino
Infanto-juvenil
0 a 9 anos
415 40,04
44
44,20
26 18
10 a 19 anos
442
55
32 23
Adulto jovem
20 a 29 anos
357 31,63
33
33,48
17 16
30 a 39 anos
320
42
18 24
Meia idade
40 a 49 anos
237 18,17
29
17,86
16 13
50 a 59 anos
152
11
3 8
Terceira idade
60 a 69 anos
124 10,14
8
4,46
5 3
70 ou + anos
93
2
1 1
Total geral
%
2140
100
100,00
224
10,5
100,00 118
52,6
106
47,4
Fonte:
População do município de Porto Rico, segundo dados do Censo 2000 (PARANÁ, 2005).
As famílias residentes nos conjuntos habitacionais eram compostas por chefe (28,2%),
cônjuge (19,2%), filhos (45,9%) e os demais (6,7%) ocupantes da moradia eram parentes
(pais, sogros, sobrinhos e netos). Predominavam famílias nucleares chefiadas por homens
(73%). A figura do cônjuge esteve presente em 43 famílias, assumida pela mulher na maioria
das residências (97,6%), segundo os respondentes. Em relação ao estado marital dos
integrantes das famílias, 50,4% estava solteiro, 41,9% mantinha união estável e 7,7% havia
sido casado (separado, divorciado ou viúvo). A taxa média de ocupação nos conjuntos era de
3,55 pessoas por família.
26
No que tange ao grau de instrução, excluídas as 25 crianças abaixo da idade de
escolarização, 60,3% dos moradores tiveram acesso ao ensino fundamental, 27,2% ao ensino
médio e apenas 4% aos cursos superiores. Ainda foram computados 17 adultos analfabetos
(8,5%) nas faixas etárias entre 30 a 69 anos.
As atividades ocupacionais exercidas pelos moradores foram distribuídas em três
categorias, de acordo com um critério que vinha sendo adotado em outros estudos sobre a
região (TOMANIK et al., 1997; TOMANIK; GODOY, 2004): urbana, agropecuária (ligadas
ao rio e à terra) e outras ocupações. [Tabela 2]
Tabela 2. Categorias e tipo de ocupações por grupos de atividades laborais exercidas em Porto Rico, Estado do
Paraná, Brasil. 2006.
Atividades laborais Categorias Número de trabalhadores e ocupações
Urbanas (47,77%)
Serviços domésticos
Comércio
Construção civil
Serviços de apoio
Ensino
Serviços de Saúde
18 caseiros, 9 diaristas, 1 babá e 12 “do lar” (não-remunerado);
3 cabeleleiras, 2 frentistas, 2 fiscais, 1 recepcionista de hotel, 4
cozinheiras, 1 camareira, 1 lavadeira, 1 corretor de imóvel, 1
representante comercial, 1 balconista, 1 vendedor, 1 auxiliar de
depósito, 1 soldador;
18 pedreiros, 2 eletricistas;
6 serviços gerais, 4 motoristas, 3 vigias, 1 mecânico, 1 gari, 1
lixeiro, 1 servidor público;
4 professores e 1 atendente de creche;
2 agente comunitário de saúde (ACS), 1 auxiliar de
enfermagem, 1 auxiliar odontológico e 1 auxiliar de farmácia.
Rio e terra (6,69%) Diversas 10 pescadores, 1 construtor naval e 4 bóia-frias.
Outras (45,54%) Diversas 10 aposentados ou pensionistas, 7 desempregados, 1 afastado
por doença e 86 não trabalham (crianças e adolescentes).
A maioria dos moradores exercia atividades no meio urbano, através de empregos
formais ligados ao comércio e ao serviço público ou atividades informais, que abrangiam os
serviços braçais ligados à construção civil para os homens e as atividades domésticas para as
mulheres. Poucos trabalhadores ocupavam atividades profissionais ligadas diretamente ao rio
ou à exploração da terra. Os demais moradores se enquadravam como aposentados ou
pensionistas, trabalhadores afastados por doenças ou desempregados, além de um grupo
composto por crianças e adolescentes, que não trabalhava formalmente.
Os dados sobre os rendimentos familiares foram agrupados tomando-se como base o
Salário Mínimo vigente para a região em janeiro de 2006, que era de R$ 300,00. As rendas
familiares variavam de menos de um Salário Mínimo (três famílias) até sete ou mais salários
(uma família), mas a maioria (66,68%) recebia entre um e três salários [Tabela 3].
27
Tabela 3. Renda familiar segundo a ocupação dos moradores das residências populares do município. Porto
Rico, Estado do Paraná, Brasil. 2006.
Ocupação
Renda
Urbana
N
Rio/Terra
n
Outras
n
Total
n %
Abaixo de R$300,00
2 1 1 4
6,35
R$300,00 a 599,99
17 3 4 24
38,10
R$600,00 a 899,99
13 1 4 18
28,58
R$900,00 a 1.199,99
5 1 1 7
11,11
R$1.200,00 a 1.499,99
1 - - 1
1,58
R$1.500,00 a 1.799,99
2 - 2 4
6,35
R$1.800,00 a 2.099,99
4 - - 4
6,35
Acima de R$2.100,00
1 - - 1
1,58
Total geral 45 6 12 63
100
Um terço das famílias complementava suas rendas através de programas
governamentais, como Bolsa Família e/ou Vale Gás. As ocupações ligadas ao rio e
principalmente à terra tendiam a gerar rendimentos familiares normalmente inferiores aos
proporcionados pelas atividades urbanas.
Todas as residências dos três conjuntos eram de alvenaria, diferindo no tamanho e na
planta de cada conjunto. No Por do Sol, as residências possuíam 36 m
2
de área construída
(sala/cozinha, banheiro e dois quartos), ao passo que nos conjuntos Flamingo e Casa Feliz, 32
m
2
(sala/cozinha, banheiro e um quarto).
Observou-se que havia residência em melhor condição habitacional e do seu entorno,
porque foi reformada e/ou ampliada, pintada, construído muros ou cercas nas divisas, com
calçamento externo e plantadas árvores frutíferas, hortaliças e/ou plantas ornamentais. Em
alguns lotes foram construídos cômodos em anexo ou pequenas habitações.
Em relação à infra-estrutura dos conjuntos, todas as residências tinham acesso à
energia elétrica e à água encanada, com instalações sanitárias internas e um tanque externo,
para lavagem de roupas. A coleta de lixo ocorria três dias na semana (alternados), com
encaminhamento dos resíduos sólidos para o aterro sanitário municipal. Até aquele período,
apenas as ruas dos conjuntos Por do Sol e Casa Feliz estavam pavimentadas e não havia
acesso à rede de esgoto nem para águas pluviais nos três conjuntos habitacionais.
1.4 Discussão
Problemas de infra-estrutura, observados no município de Porto Rico (PR), são
comuns nas periferias urbanas e comprometem as condições sanitárias dos bairros. Estudo
sobre qualidade de vida urbana de Palmas (TO) constatou que em determinados bairros,
ocorria intensa “[...] segregação sócio-espacial e a proliferação dos assentamentos informais”
28
(KRAN; FERREIRA, 2006, p.134), elevando a densidade habitacional (número de unidades
habitacionais por hectare), devido à construção de várias edificações nos fundos dos lotes,
constituídas por dois cômodos e banheiro ou um quarto e banheiro, sobrecarregando a infra-
estrutura urbana.
Cesar (2005) argumenta que, para uma casa ou apartamento ficar em mínimas
condições para habitação deve ter a instalação de rede interna de água e esgotamento sanitário
ligados à rede pública e de iluminação artificial elétrica. O entorno da habitação deve estar
provido de ruas pavimentadas, com guias e sarjetas, iluminação blica, rede de esgoto e
coleta de lixo regular. O autor considera a moradia inadequada, na ausência de um ou mais
desses requisitos.
Kran e Ferreira (2006) comentam que, se o bairro não dispõe da rede de esgotamento
sanitário, os moradores constroem fossas sépticas em pequenas áreas, comprometendo as
condições sanitárias no entorno das habitações. A falta de pavimentação no bairro dificulta o
serviço de coleta de lixo, principalmente nos dias chuvosos e induz maus hábitos à população,
que deposita os resíduos em terrenos baldios. A poeira interfere negativamente na manutenção
das condições higiênicas das pessoas e do domicilio e favorece o desenvolvimento de doenças
respiratórias.
A falta ou precariedade dos serviços de saneamento vem sendo apontada como fator
determinante do adoecimento da população nos países em desenvolvimento, elevando os
índices de morbidade e mortalidade, principalmente em crianças (BRASIL, 2004). Os
serviços de saneamento imprescindíveis para a prevenção de doenças e a qualidade de vida
urbana são: abastecimento de água, coleta e tratamento de águas residuais, limpeza pública,
drenagem urbana; controle de artrópodes e roedores, controle da poluição das águas, do ar e
do solo e dos alimentos; além do saneamento dos meios de transporte, de locais de reunião,
recreação e lazer, de locais de trabalho, de escolas, de hospitais, de habitações, no
planejamento territorial, em situações de emergência, entre outros (PHILIPPI JUNIOR;
MALHEIROS, 2005).
No caso das residências populares do município de Porto Rico, parte desta situação foi
superada. No ano de 2008 foi pavimentado o prolongamento da Rua Antonio Corsetti, via de
acesso ao município de Porto São José, localizada à direita dos conjuntos Por do Sol e Casa
Feliz. As ruas do conjunto Flamingo também foram pavimentadas, exceto a Rua dos
Papagaios. Foi iniciada a construção da rede de captação de esgotos e de águas pluviais em
todo o núcleo urbano. E, apesar da coleta de lixo ocorrer três dias na semana, moradores
ainda depositam lixo e entulhos nos terrenos baldios próximos.
29
De acordo com os indicadores oficiais, as condições de vida em Porto Rico vêm
melhorando. O IDH do município passou de 0,640, em 1991, para 0,748, em 2000. Houve
melhora em três dimensões: longevidade, educação e renda (PNUD, 2004).
Longevidade é a estimativa do número médio de anos que uma pessoa pode viver,
calculada a partir das taxas de mortalidade (BRASIL, 2008). Reflete indiretamente as
condições de saúde da população e indica a esperança ou expectativa de vida ao nascer
(BARCELLOS et al., 2002).
Em 2006, a expectativa de vida ao nascer foi de 72,4 anos no Brasil, 74,4 anos na
Região Sul e 73,8 anos no Paraná (70,7 para homens e 77,04 para mulheres) (BRASIL, 2007).
Em Porto Rico, essa taxa vem aumentando gradativamente: passou de 64,4, em 1991, para
70,0 anos de vida, em 2000. No outro extremo, a taxa de fecundidade decresceu de 3,1 para
2,7 filhos por mulher, assim como o coeficiente de mortalidade infantil, em menores de um
ano de vida, de 42,6 para 18,6 por mil nascidos vivos, no mesmo período (PNUD, 2004),
acompanhando a tendência nacional.
A transformação da estrutura etária do País, de uma composição jovem para
envelhecida, reflete os efeitos da redução da taxa de fecundidade, iniciada em meados
da década de 1960, e da queda da mortalidade. Ademais, as estruturas etárias
regionais retratam não os efeitos diferenciados da redução da fecundidade e da
mortalidade, como, também, de distintos fluxos migratórios (IBGE, 2004, p. 7).
Esta última afirmação provavelmente é válida para a população de Porto Rico, uma
vez que estudos como os de Tomanik et al. (1997) e Tomanik e Godoy (2004) apontam a
existência, ali de uma forte tendência de emigração. Acrescenta-se ainda o fato de que os
serviços de saúde têm investido na atenção à saúde da mulher e da criança, através dos
profissionais vinculados à Atenção Básica e ao Programa Saúde da Família, refletindo na
queda da morbidade e da mortalidade materno-infantil.
No Brasil, pessoas acima de 60 anos representam 8,6% da população total. Martin et
al. (2005, p.152) afirmam: “Vivemos em uma nação com grandes proporções de jovens, ao
lado de uma crescente população que atingiu e passa dos 60 anos de idade”. O processo de
envelhecimento em Porto Rico também se aproxima da tendência nacional, que os idosos
representam 10,14% da população do município. Nos três conjuntos estudados a proporção
foi menor, 4,46% dos moradores tinham 60 ou mais anos de vida, talvez em decorrência das
condições ocupacionais que forçam parte da população a ir à busca de novas oportunidades de
trabalho e de obtenção de renda. Por outro lado, a porcentagem de crianças, adolescentes e
adultos jovens mostrou-se superior no município investigado e principalmente nos conjuntos.
30
A distribuição por sexo dos moradores nos três conjuntos esteve próxima do
equilíbrio. A população masculina superou a feminina em 5,3%, exceto na faixa etária de 30 a
39 anos, na qual as mulheres apresentaram maior percentual. Levantamento demográfico na
região indicou que a proporção entre homens e mulheres estava equilibrada, acompanhando a
tendência nacional da época
(TOMANIK et al., 1997). No País, as taxas de mortalidade por
sexo mostram uma inversão com o avançar da idade, em torno de 5,3% a mais para mulheres
(IBGE, 2004).
O pequeno diferencial entre os nascimentos de meninos e meninas se reflete na
composição da população por gênero. Como o número de nascimentos de meninos é
um pouco maior do que de meninas, este fato se evidencia na composição da
população por gênero nos primeiros grupos etários. Como conseqüência da taxa de
mortalidade masculina ser maior do que a feminina, o diferencial decorrente do maior
número de nascimentos de meninos vai-se diluindo com o aumento das idades até que
o número de mulheres passe a ultrapassar o de homens e continue ampliando a
diferença (IBGE, 2004, p. 7).
A taxa média de ocupação nos domicílios visitados foi de 3,55 moradores, semelhante
à da composição familiar média do núcleo urbano como um todo, que era de 3,7 (TOMANIK
et al., 1997). Em 1993, o número médio de pessoas por domicílio era 4,0. Esta média foi
reduzida para 3,7 em 1999 e em 2004, para 3,5 moradores. Uma das justificativas para a
queda desse indicador foi a progressiva diminuição no número médio de filhos por mulher
(IBGE, 2004).
Em 4,8% dos domicílios dos conjuntos pesquisados, sete pessoas co-habitavam um
mesmo espaço, devido às condições financeiras insuficientes para manter duas moradias. A
composição familiar na região da planície de inundação do rio Paraná pressupõe processos de
solidariedade social, pois agrega moradores que não integram a família nuclear moderna
(TOMANIK; GODOY, 2004). Apesar de que, em 7,9% dos domicílios, havia um único
morador. Esse valor está um pouco abaixo do nível nacional, que apresentou 10,5% de
domicílios nestas condições (IBGE, 2004). Tal situação pode ser atribuída ao número de
pessoas solteiras que vivem independentes ou de uniões desfeitas.
Em relação à educação, o município de Porto Rico dispõe apenas de instituições de
ensino na rede pública, com oferta de instrução até o nível médio. No ano de 2005 ocorreram
705 matrículas, distribuídas em: 162 na pré-escola, 413 no ensino fundamental e 130 no
ensino médio (IPARDES, 2006; IBGE, 2007). Aqueles que almejavam continuar seus estudos
precisavam buscá-los em outras localidades.
Dentre os moradores dos conjuntos que apresentavam algum nível de escolarização, a
diferença por gênero foi de 6,6% maior para os homens, o que era esperado para o local, se
31
considerarmos que eles eram maioria (53,3%). Estes dados diferem dos encontrados na
realidade nacional.
Os níveis de escolarização apresentam sensível diferença por gênero. No grupo de 5
a 17 anos de idade, o percentual de pessoas que não freqüentavam escola foi de
9,5% para os homens e 8,4% para as mulheres. Nos três grupos etários (5 e 6 anos,
7 a 14 anos e 15 a 17 anos), a taxa de escolarização feminina suplantou a
masculina. Em termos regionais, somente o grupo de 7 a 14 anos de idade das
Regiões Sudeste e Sul as taxas de escolarização dos dois gêneros ficaram no
mesmo nível (IBGE, 2004, p.11).
Os analfabetos, aqueles não capacitados para a leitura e a escrita, representaram 7,6%
dos moradores dos conjuntos investigados, sendo quatro homens e 13 mulheres, com idade
acima de 30 anos. No município, a taxa de analfabetismo em pessoas com 15 ou mais anos de
idade era de 12,9%, em 2000 (IPARDES, 2006), maior do que a nacional, que registrou
11,4% para o mesmo grupo etário. “A evolução da escolarização reflete-se no nível da taxa de
analfabetismo da população” (IBGE, 2004, p.11). Em cidades do interior, é comum encontrar
entre as pessoas com idades mais elevadas, homens com nível de instrução maior do que das
mulheres “[...] refletindo ainda os efeitos de uma época em que a educação feminina era
menos valorizada” (IBGE, 2004, p.12).
Independente do sexo, 14 desses analfabetos estavam na faixa etária produtiva. O nível
de instrução e de qualificação profissional pode ser um diferencial na seleção de candidatos a
uma vaga de trabalho. Em Porto Rico, esse fator parece não influenciar tanto na relação
atividade ocupacional e renda oferecida, ou seja, as instituições empregadoras nem sempre
oferecem um plano de carreira, como incentivo para quem deseja melhorar sua escolarização.
Tanto é que nem toda pessoa, ao concluir um curso, recebe incremento no salário. Como
relatou um entrevistado, atendente da creche municipal, portador de curso de especialização e
recebia salário de R$ 385,00. Ao passo que outro entrevistado, era professor especialista e
recebia quatro Salários Mínimos (cerca de R$1.200,00), porque era servidor do Estado e,
como tal, beneficiava-se de um plano de carreira.
Na população estudada, a categoria de serviços domésticos era a que empregava maior
contingente de moradores, seguida pelas categorias do comércio, da construção civil e dos
serviços de apoio, decorrentes da expansão de condomínios habitacionais destinados a
turistas. Os órgãos públicos apareceram como a maior fonte de renda ocupacional urbana.
Diversos moradores eram servidores municipais e/ou estaduais, ligados aos serviços de saúde,
de educação e ao setor de apoio.
Diversas atividades ocupacionais, dentre as exercidas pelos envolvidos no estudo, não
dependem de escolarização como pré-requisito, mas do conhecimento do ofício que,
32
normalmente, é transmitido entre as gerações, como nos casos de pescadores, de bóias-frias
ou de trabalhadores domésticos. As oportunidades de trabalho ligadas ao rio e à terra são
escassas na região e economicamente pouco compensadoras (TOMANIK, et al, 1997). Tanto
é que apenas 6,69% do grupo estudado exercia atividades no rio ou na terra e, normalmente,
fazia parte do subgrupo que auferiu menores rendas familiares.
Em 2000, a população economicamente ativa no município era de 1.114 pessoas. A
arrecadação do PIB municipal foi constituída pelo comércio varejista, com 53,7%, a
agropecuária com 44,09% (criação de gado bovino, algodão e mandioca) e a indústria com
2,21% (extração de minerais, material de transporte e produtos não metálicos) (IPARDES,
2008). Como visto, pelo tipo de exploração agrícola da região, a diferença de apenas 9,6
pontos percentuais de participação no PIB local entre as atividades comerciais e agropecuárias
não se refletia diretamente nos índices de ocupação, que as atividades comerciais e de
prestação de serviços ocupavam cerca de 6,7 vezes mais pessoas que o trato com a terra ou as
atividades ligadas ao rio. Dentre os moradores dos conjuntos que exerciam atividades ligadas
à terra, dois (0,9%) eram funcionários da Prefeitura (viveiro e horta) e quatro (1,8%)
trabalhavam como bóias-frias.
As atividades “do lar”, na maioria das vezes, eram exercidas por mulheres, inclusive
por adolescentes ou idosas sem remuneração, enquanto os “serviços domésticos” ocorriam
nas residências, hotéis ou pousadas. Geralmente essas atividades são executadas por
trabalhadores informais com baixo nível de instrução, como caseiros, diaristas ou empregados
domésticos. “A maior ocorrência de ocupações informais de baixa remuneração gera
problemas sociais, como habitações inadequadas e alto índice de analfabetismo” (BERCINI;
TOMANIK, 2006, p. 71).
Levantamento sobre a situação de trabalho em Porto Rico mostrou que, uma em cada
três habitações, havia um trabalhador que exercia atividade ligada ao turismo, executando
tarefas simples, que requerem pouca capacitação profissional e oferecem ganhos financeiros
reduzidos (TOMANIK; FERNANDEZ, 2007).
Sendo uma cidade próxima a um grande rio e a uma região lacustre rica em
biodiversidade, seria esperado que as ocupações ligadas ao rio proporcionassem mais e
melhores oportunidades de emprego e renda. Estudo apreendeu que para os pescadores, “[...]
a pesca é um prazer e até mesmo um momento de (re)afirmação de um estilo de vida”
(TOMANIK, 1997, p. 423). No entanto, esses profissionais enfrentam obstáculos como os
baixos preços do pescado, as dificuldades de comercialização, a diminuição dos cardumes
especialmente das espécies de maior valor comercial, produzidas principalmente pelas
33
alterações introduzidas no regime de vazão do rio Paraná (AGOSTINHO, 1997) – e os
períodos de proibição da pesca que dificultam suas atividades.
A atividade pesqueira na região é vista como uma atividade de lazer pelos turistas e
pode representar benefícios para o município. No entanto, para ao menos uma parte dos
moradores locais, o crescimento do turismo voltado para a pesca esportiva ou mesmo para a
fruição da natureza da região tem trazido mais problemas que benefícios. Ainda que o
crescimento de empreendimentos voltados para a exploração do turismo na região tem gerado
poucos postos de trabalho, que boa parte da mão de obra é contratada fora da região, em
função da qualificação. Outro agravante é o afluxo de turistas que tem contribuído para a
elevação do custo de vida local, seja pela valorização imobiliária, seja pelo encarecimento de
outros produtos (TOMANIK et al., 2005).
No setor rural, o pequeno produtor assume as atividades da propriedade para garantir a
subsistência da família. Como a agricultura depende do período de safra (plantio e colheita),
as contratações são temporárias, geralmente de bóias-frias. A pecuária emprega pouca mão-
de-obra. Assim, a forma de ocupação da terra exercida na região “[...] exclui ou limita muito a
participação do elemento humano e o mercado de trabalho urbano não parece comportar um
número maior de pessoas” (TOMANIK,
et al., 1997, p.404).
A falta de qualificação frente aos avanços do agronegócio deixa uma parcela da
população às margens dos postos de trabalho, quer nas ocupações urbanas ou rurais. A
expansão do agronegócio anda mais rápida que o aperfeiçoamento da mão-de-obra no campo
(FAEP, 2008). Para superar este obstáculo, caberia ao município oferecer oportunidades de
qualificação nas diversas áreas urbanas e rurais. Em contrapartida, as pessoas deveriam estar
motivadas para melhorar seus conhecimentos, conquistar novos postos de trabalho, com
renda compatível para viver dignamente.
Em “outras” ocupações, apareciam de um lado, os aposentados ou pensionistas.
Muitos deles garantiam a subsistência da família e/ou ajudavam a cuidar dos netos. De outro,
o mesmo grupo incluía os desempregados, dentre os quais havia dois ex-ilhéus, um analfabeto
(56 anos de idade) e outro que sabia ler e escrever pouco (60 anos). Ambos estavam doentes,
com dificuldades de inserção no mercado de trabalho e, o pior, sem aposentadoria. Os demais
tinham vel de instrução variada e idade entre 18 e 40 anos. A falta de opções laborais na
região tem motivado a população, especialmente os jovens, para a procura de emprego fora do
município (GODOY; EHLERT, 1997).
Estudo sobre índice de desenvolvimento das famílias, em municípios do Rio de
Janeiro, apontou a desigualdade de oportunidade de trabalho e o acesso ao conhecimento
34
como uma das dimensões mais críticas. Os grupos mais vulneráveis são formados por famílias
com chefe acima de 65 anos de idade ou chefiadas por mulheres (NAJAR et al., 2008).
As mulheres, ao longo dos anos, têm assumido a responsabilidade formal de chefiar a
família (MARTIN et al., 2005). O aumento da participação feminina no mercado de trabalho
contribuiu para o rápido aumento de um processo social, a dupla jornada de trabalho. Muitas
mulheres precisam dividir seu tempo, conciliar trabalho e afazeres domésticos, mas elas não
podem contratar tais serviços no mercado por razões econômicas (baixo rendimento) ou falta
de aparato social público (creches) (SOARES; SABÓIA, 2007).
Entre o grupo pesquisado, o mesmo processo ocorria com grande intensidade; 27%
das mulheres assumiam a chefia da família, em decorrência da separação, da morte do
marido ou da situação de mãe-solteira. Em algumas famílias, a mulher tinha rendimento
maior, ainda assim, atribuía a chefia ao marido. Levantamento anterior mostrou que no
núcleo urbano de Porto Rico, o número de mulheres que assumem o papel de responsáveis
pela família tem aumentado, evidenciando a ausência dos maridos (TOMANIK et al., 1997).
A mulher chefe de família sente-se obrigada a contribuir financeiramente no sustento
da família, inserindo-se cada vez mais no mercado de trabalho informal. Ao acumular as
tarefas domésticas, não dispõe de tempo para cuidar de si, adoece com maior freqüência e
procura mais os serviços de saúde. Por essas e outras razões, Soares e Sabóia (2007)
recomendam: a mulher precisa distribuir melhor o seu tempo, e assim terá a terceira jornada,
que deve ser dedicada aos cuidados pessoais e ao lazer, além do mercado de trabalho e do
cuidado à família
.
Há de se considerar também que alguns maridos têm contribuído com suas esposas no
cuidado com a família, se ambos trabalham. Soares e Sabóia (2007) observaram um aumento
médio, em torno de uma hora de dedicação nos afazeres domésticos, entre os homens que
vivem em famílias formadas por casal com filhos.
1.5 Considerações finais
O conjunto de dados encontrados nesse estudo revela a necessidade de elaborar um
plano de ação direcionado à população residente nos conjuntos habitacionais selecionados na
presente investigação, estendendo-se também à toda população ribeirinha do município de
Porto Rico, com vistas à minimizar os problemas locais relacionados às condições ambientais
e de vida.
Nossa proposta de intervenção consiste em desenvolver um trabalho de educação em
saúde junto à população, que promova a adoção de medidas de higiene, o uso de instalações
35
sanitárias e destino de águas residuais, a limpeza e conservação do entorno e a destinação
adequada de materiais recicláveis, com vistas a propiciar um ambiente urbano saudável e
prevenir doenças como dengue, verminoses, problemas respiratórios, entre outros. “A
educação em saúde é reconhecida pelo seu potencial para a redução de custos junto a diversos
contextos da assistência, por favorecer a promoção do auto-cuidado e o desenvolvimento da
responsabilidade do paciente [indivíduo] sobre decisões relacionadas á saúde (CHAVES et al,
2006, p. 546).
Paralelamente, é preciso que as autoridades municipais criem políticas públicas
voltadas para o ensino de qualidade e a geração de trabalho e renda. Deve-se dar prioridade
aos cursos profissionalizantes voltados para as necessidades do município e região, por
exemplo, casa de cultura para os jovens sem emprego, atendimento no comércio e ao turista,
etc.
Outra possibilidade seria o estabelecimento de parceiras dos serviços municipais com
instituições de ensino, inclusive com as universidades, para a oferta de cursos de artesanatos e
comidas típicas regionais, que possam servir de complemento na renda familiar em períodos
de crise e, assim, elevar a satisfação, as condições de vida e saúde desses moradores.
Espera-se, com base nesse conjunto de informações, colaborar com os serviços
municipais de Porto Rico, com ênfase nas áreas de planejamento, educação, saúde e
saneamento ambiental, para a elaboração de planos de ação com vistas à melhoria da
qualidade de vida dos segmentos menos favorecido economicamente da população.
1.6 Referências
AGOSTINHO, A. A. Qualidade dos habitats e perspectivas para a conservação. In: VAZZOLER, A.
E. A. de M.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. (Ed.). A planície de inundações do alto do rio
Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: EDUEM: NUPELIA, 1997. p. 455-
60.
_________________; ZALEWSKI, M. A planície alagável do alto rio Paraná: importância e
preservação. Maringá: EDUEM, 1996.
ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Elementos de metodologia epidemiológica. In:
ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & saúde. 6. ed. Rio de Janeiro:
MEDSI, 2003. Cap.6, p. 149-177.
BARCELLOS, C. C.; SABROZA, P. C.; PEITER, P.; ROJAS, L. I. Organização espacial, saúde e
qualidade de vida: análise espacial e uso de indicadores na avaliação de situações de saúde. Informe
Epidemiológico do SUS, v. 11, n. 3, p.129-138, 2002.
BERCINI, L. O.; TOMANIK, E. A. Representações sociais sobre a saúde e estratégias de
enfrentamento das doenças entre mulheres de pescadores no município de Porto Rico, Paraná. Ciência
Cuidado e Saúde, v. 5, Supl., p. 71-76, 2006.
36
[BRASIL] 2008. Biblioteca Virtual em Saúde BVS. Descritores em Ciências da Saúde - DeSC.
Disponível em:
http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/
. Acesso em: 05 dez. 2008.
[BRASIL] 2007. Biblioteca Virtual em Saúde – BVS. Rede Interagencial de Informações para a Saúde
– RIPSA. Indicadores e Dados Básicos para a Saúde no Brasil – IDB 2007. Disponível em:
http://www.ripsa.org.br .
Acesso em 18 dez 2008.
[BRASIL] 2007a. Ministério da Saúde. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Contagem da população 2007. Disponível em:
www.ibge.gov.br/home/estatística/populacao/contagem2007/contagem.pdf.
Acesso em: 08 out 2008.
[BRASIL] 2004. Ministério da Saúde. OPAS. Avaliação de impacto na saúde das ações de
saneamento: marco conceitual e estratégias metodológicas. Brasília, DF. Disponível em:
http://www.opas.org.br/sistema/arquivos/Mnl_Impac.pdf
. Acesso: 05 jul. 2008.
CESAR, C. L. G. Condições de vida. In: CESAR, C. L. G. (Org.) Saúde e condição de vida em São
Paulo: inquérito multicêntrico de saúde no Estado de são Paulo. São Paulo: USP/FSP, 2005. p. 65-78.
CHAVES, E. S.; LÚCIO, I. M. L.; ARAÚJO, T. L.; DAMASCENO, M. M. C. Eficácia de programas
de educação para adultos portadores de hipertensão arterial. Rev Bras Enferm v. 59, n. 4, p. 543-7,
2006.
DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S. V. (Org). Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil.
Brasília: Ministério do Meio ambiente; São Paulo: USP, 2001. 176p. (Biodiversidade, 4).
FAEP. Federação da Agricultura do Estado do Paraná. Boletim Informativo nº. 1014. Curitiba:
FAEP/SENAR. 2008.
GODOY, A.G.; EHLERT, L.G. Porto Rico: a difícil sobrevivência do homem e do meio. In:
VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. (Ed.). A planície de inundações
do alto do rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: EDUEM:
NUPELIA, 1997. p. 435-451.
IBGE. Cidades@Porto Rico Pr. Informações Estatísticas. 2007. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 .
Acesso em: 28 nov 2008.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Síntese de Indicadores 2004.
Comentários. Disponível em:
www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2004/comentarios2004.pdf.
Acesso em:
15 mar 2007.
IPARDES. Anuário Estatístico do Estado do Paraná. 2006 Disponível em:
http://www.ipardes.gov.br/index.php.
Acesso em: 30 nov 2008.
IPARDES. Perfil dos Municípios. Município de Porto Rico. 2008. Disponível em:
http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87950&btOk=ok.
Acesso em: 30 jan
2009.
KRAN, F. FERREIRA, F. P. M. Qualidade de vida na cidade de Palmas – TO: uma análise através de
indicadores habitacionais e ambientais urbanos. Ambient. soc., v. 9, n. 2, p. 123-141, 2006.
MARTIN, G. B.; CORDONI JÚNIOR, L.; BASTOS, Y. G. L. Aspectos demográficos do processo de
envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 4, n.
3, p. 151-8, 2005.
MINAYO, M. C. de S.; HARTZ, Z. M. de A.; BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um debate
necessário. Ciência e Saúde coletiva, v.5, n.1, p. 7-18, 2000.
NAJAR, A. L.; BAPTISTA, T. W. F.; ANDRADE, C. L. T. Índice de desenvolvimento da família:
uma análise comparativa em 21 municípios do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública,
n. 24, supl., 1, p. S134-S147, 2008.
37
PAIOLA, L. M.; TOMANIK, E. A. Populações tradicionais, representações sociais e preservação
ambiental: um estudo sobre as perspectivas de continuidade da pesca artesanal em uma região
ribeirinha do rio Paraná. Acta Scientiarum. Human and Social Science, v. 24, n. 1, p. 175-80, 2002.
[PARANÁ] 2005. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Estatísticas de mortalidade (população).
População por faixa etária 2005. Geral. Ordem Alfabética de municípios. Disponível em:
http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/Estatisticas/pop/2005-FE-2000.xls .
Acesso em: 11 dez 2008.
PHILIPPI JÚNIOR, A.; MALHEIROS, T. F. Saneamento e Saúde Pública: integrando homem e
ambiente. In: PHILIPPI JÚNIOR, A. (Org.). Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um
desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005. cap. 1, p. 3-31.
[PNUD]. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Perfil Municipal. Porto Rico (PR). 2004.
Disponível em:
http://www.pnud.org.br/atlas/
. Acesso em: 07 mai 2007.
PORTO RICO. Prefeitura Municipal. Histórico do município de Porto Rico - PR. Porto Rico, [s.d.].
ROSA, M. C. O processo de ocupação e situação atual. In: VAZZOLER, A. E. A. de M.;
AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. (Ed.). A planície de inundações do alto do rio Paraná: aspectos
físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá: EDUEM: NUPELIA, 1997. p. 371-94.
SOARES, C.; SABÓIA, A. L. Tempo, trabalho e afazeres domésticos: um estudo com base nos
dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios de 2001 a 2005. Rio de Janeiro: IBGE,
Coordenação de Pesquisa e Indicadores Sociais, 2007. (textos para discussão 21) Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tempo_trabalho_afdom_pnad2001_2005.pdf
. Acesso em:
22 ago2007.
SPONCHIADO, D; EIDT, N. M.; TOMANIK, E. A. Representações sociais sobre o trabalho
elaboradas pela população economicamente ativa de uma comunidade ribeirinha do rio Paraná. Acta
Scientiarum. Human and Social Science, v. 24, n. 1, p. 181-188, 2002.
TOMANIK, E. A. Elementos sobre as representações sociais dos pescadores “profissionais” de Porto
Rico. In: VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. (Ed.). A planície de
inundações do alto do rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá:
EDUEM: NUPELIA, 1997. p. 415-34.
______________; FERNANDEZ, J. B. M. Trabalho e Qualidade de vida. In: Universidade Estadual
de Maringá/PELD. Relatório do Sítio.6: 2007 A planície alagável do rio Paraná. Disponível em:
http://www.peld.uem.br/Relat2007/pdf/capitulo_17.pdf
.
Acesso : 27 nov. 2008.
______________; _________________; SILVA, D. M. P. P.; et al. Trabalho, qualidade de vida, saúde
e representações sociais. In: Universidade Estadual de Maringá/PELD. Relatório do Sítio.6: 2005. A
Planície de Inundação do alto rio Paraná. Programa PELD/CNPq. Disponível em:
www.peld.uem.br/Relat2005/pdf/21_Trabalhoqualidadevida2005a.pdf.
Acesso em: 10 set 2005.
______________; GODOY, A. M. G. Demographic Studies in High Paraná River Floodplain. In:
AGOSTINHO, A. A.; RODRIGUES, L.; GOMES, L. C.; et al. Structure and functioning of the
Paraná river and floodplain: LTER-Site6- (PELD-Sitio06). Maringá: EDUEM, p. 253-257, 2004.
_____________;________________; EHLERT, L. G. A vida na região: dados sócio-econômicos do
núcleo urbano de Porto Rico. In: VAZZOLER, A. E. A. de M.; AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S.
(Ed.). A planície de inundações do alto do rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e
socioeconômicos. Maringá: EDUEM: NUPELIA, 1997. p. 395-413.
UEM/NUPELIA. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Núcleo de Pesquisas em
Limnologia Ictiologia e Aqüicultura. [s.d.] (Arquivo de figuras e fotos).
38
CAPÍTULO
2
Morbidade referida por moradores ribeirinhos, município de Porto Rico, Estado do
Paraná, Brasil
39
RESUMO
Morbidade referida é um indicador da percepção do indivíduo sobre suas condições de saúde,
utilizado para avaliar o acesso aos serviços de saúde e a demanda reprimida da população. O
estudo visou investigar a morbidade referida por moradores de Porto Rico. A amostra foi
constituída por um representante de cada moradia dos conjuntos habitacionais, divididos em
dois grupos, A e B. Por meio de inquérito domiciliar, as informações foram obtidas, nos
meses de julho/2005 e janeiro/2006, e analisadas no programa Statistical Analysis Software
(SAS). A maioria dos entrevistados percebeu sua saúde de forma positiva. Os principais
problemas de saúde, citados pelos grupos, foram relativos à hipertensão arterial, nervoso,
depressão, cardíaco e infecções diversas. Problemas respiratórios foram mais citados pelo
grupo A. Comorbidade foi citada por 38,1% dos entrevistados e variou de duas a sete
patologias por indivíduo. A maioria negou consumo de bebida alcoólica e/ou tabaco, mas o
grupo B referiu maior consumo da bebida e o grupo A, de tabaco. Moradores do grupo B
referiram melhores condições de saúde e de renda. A educação em saúde com ênfase na
adoção de hábitos saudáveis de vida, como alimentação e atividades físicas, medidas para
aliviar estresse e evitar hábitos nocivos de consumo de tabaco e/ou álcool, dentre outros,
auxilia no enfrentamento de situações adversas de adoecimento, na promoção da saúde e de
qualidade de vida.
Palavras-chave: Avaliação de Serviços de Saúde. Comorbidade. Estilo de Vida. Estudos
Ecológicos. Nível de Saúde.
40
ABSTRACT
Self-reported morbidity by the riverine population, municipality of Porto Rico, Paraná
State, Brazil.
Self-reported morbidity is an indicator of an individual’s perception of his/her living
conditions, applied to evaluate the access to health services and any repressed demand. This
study aimed to investigate the self-reported morbidity rate of the inhabitants of Porto Rico.
The sample was comprised of one representative from each household of the town’s
affordable housing complexes, divided into two subgroups, A and B. Information was
collected through home surveys, during the months of June 2005 and January 2006. Data
were analyzed using the Statistical Analysis Software (SAS) software. The majority of
interviewed subjects had a positive perception of their health. The main health problems
recalled were associated with arterial hypertension, nervous system conditions, depression,
heart problems and assorted infections. Respiratory problems were more common in group A.
Self-reported co-morbidity (38.1%) varied from two to seven pathologies per individual.
Although the use of alcohol/tobacco was denied by most, alcohol was mentioned more often
by group B and tobacco by group A. Residents of group B reported better health and income
conditions. Adopting healthy life habits, such as physical activity and an adequate diet, as
well as measures to relieve stress and avoid harmful habits (tobacco/alcohol), can aid in
facing adverse health situations, promoting health and quality of life.
Keywords: Health Services Evaluation. Co-morbidity. Lifestyle. Ecological Studies. Health
Status.
41
RESUMEN
Morbilidad referida por moradores ribereños, municipio de Porto Rico, Estado do
Paraná, Brasil
Morbilidad referida es un indicador de la percepción del individuo sobre sus condiciones de
salud, utilizado para evaluar el acceso a los servicios de salud y la demanda reprimida de la
población. El estudio pretendió investigar la morbilidad referida por moradores de Porto Rico.
La muestra fue constituida por un representante de cada residencia de los conjuntos
habitacionales, divididos en dos grupos, A y B. Por medio de averiguación domiciliario, las
informaciones fueron obtenidas en los meses de julio/2005 y enero/2006, y analizadas en el
programa Statistical Analysis Software (SAS). La mayoría de los entrevistados percibió su
salud de forma positiva. Los principales problemas de salud, citado por los grupos, fueron
relativos a la hipertensión arterial, nervios, depresión, cardíacos e infecciones diversas.
Problemas respiratorios fueron más citados por el grupo A. Comorbidad fue citada por 38,1%
de los entrevistados y varió de dos a siete patologías por individuo. La mayoría negó consumo
de bebida alcohólica y/o tabaco, pero el grupo B refirió mayor consumo de la bebida y el
grupo A, de tabaco. Moradores del grupo B refirieron mejores condiciones de salud y de
renta. La educación en salud con énfasis en la adopción de hábitos saludables de vida, como
alimentación y actividades físicas, medidas para aliviar estrés y evitar hábitos nocivos de
consumo de tabaco y/o alcohol, entre otros, auxilian en el enfrentamiento de situaciones
adversas de enfermar, en la promoción de la salud y de calidad de vida.
Palabras clave: Evaluación de Servicios de Salud. Comorbidad. Estilo de Vida. Estudios
Ecológicos. Nivel de Salud.
42
2.1 Introdução
Estudos ecológicos têm contribuído com as investigações das condições de saúde frente
à desigualdade social, correlacionando os indicadores epidemiológicos aos socioeconômicos,
geralmente provenientes de censos. Servem para comparar a ocorrência de doenças ou
condições relacionadas à saúde com a exposição aos fatores de risco entre os grupos de
indivíduos e verificar se existe associação entre eles
(1)
.
O estado de saúde pode ser determinado por diversos fatores, que interagem em quatro
dimensões: a biologia humana, o ambiente, o estilo de vida e o sistema de atenção à saúde
(2)
.
O estilo de vida é um elemento determinante da promoção da saúde e significante no processo
de construção de uma qualidade de vida saudável. A adoção de hábitos saudáveis de vida, tais
como atividade física regular e alimentação balanceada, é essencial para o enfrentamento de
condições ou situações adversas
(3)
.
A dimensão do estado de saúde de uma população pode ser avaliada por diversos
indicadores e métodos de mensuração da saúde-doença. A análise de indicadores de saúde,
como de mortalidade e de morbidade
em determinada população, serve para verificar as
desigualdades sociais e fornece subsídios para o planejamento em saúde
(4)
.
Apesar de serem pouco empregados e citados na literatura, os inquéritos de saúde de
base populacional possibilitam maior aproximação dos problemas reais de saúde que ocorrem
(morbi-mortalidade), independentemente de sua gravidade. Para Carandina et al.
(5)
, esse
modelo de estudo permite identificar a percepção de seu estado de saúde ou a representação
da doença feita pelos indivíduos, independente de critérios médicos de diagnóstico.
O inquérito domiciliar é um recurso utilizado na investigação de morbidade. É de fácil
aplicação nos serviços de saúde e possibilita o acesso ao conhecimento submerso, à
morbidade percebida, sentida ou ainda reprimida, sem acesso aos serviços e as práticas não
formais de restauração da saúde. Ademais, a morbidade referida complementa as informações
de morbidade geral, obtidas de fontes secundárias e possibilita obter informações sobre as
deficiências dos serviços e incapacidades no consumo de recursos pelos usuários
(6)
.
A auto-avaliação da saúde é outro indicador de avaliação da saúde pessoal, altamente
correlacionado à morbidade e mortalidade. Possibilita à pessoa referir os agravos da saúde dos
quais está acometida e o impacto que os mesmos geram no seu bem-estar global: físico,
mental e social
(2)
. As informações sobre saúde de um indivíduo, família e comunidade devem
incluir também conhecimentos integrados sobre as condições sociais, ambientais, econômicas
Mortalidade: “Todas as mortes notificadas em uma população”. Morbidade: “Qualquer alteração, subjetiva ou
objetiva, na condição de bem-estar fisiológico ou psicológico” (http://desc.bvs.br)
43
e políticas em que o indivíduo ou o grupo vivem
(7)
e servir de subsídios para a formulação de
políticas públicas.
“Monitorar o estado de saúde das populações interessa a diferentes setores de todos os
níveis de governo e à sociedade e suas organizações, no processo de construção de estratégias
para a obtenção de melhor qualidade de saúde e de vida”
(2:11)
.
O Grupo de Estudos Socioambientais da Universidade Estadual de Maringá
(GESA/UEM) participa, juntamente com o Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e
Aqüicultura (NUPELIA) e o Grupo de Estudos Multidisciplinares do Ambiente (GEMA), do
Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração, desde 1992. Seus pesquisadores vêm
investigando aspectos ligados aos processos sócio-econômicos, histórico-culturais e de saúde-
doença da população de Porto Rico e região, decorrentes das alterações ambientais ocorridas
na planície de inundação do rio Paraná
(7)
. [Figura 2].
Figura 2. Mapa da localização do município de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil
(NUPELIA/UEM, [s.d.])
O segmento de pesquisa sobre Indicadores, Hábitos e Necessidades de Saúde agrupa
estudos sobre as tendências de morbi-mortalidade do município e de busca por atendimento
junto ao sistema oficial de cuidados, como as Representações Sociais da população sobre os
processos saúde-doença. Os resultados evidenciaram alguns problemas: a presença do
44
alcoolismo, o adoecimento e os acidentes de trabalho entre a população ribeirinha, os quais
estão intimamente relacionados ao ambiente em que essa população está inserida
(7, 8)
.
2.1.1 Objetivo e local do estudo
Como forma de continuidade dessas pesquisas, o presente trabalho visou investigar a
morbidade referida por moradores de três conjuntos habitacionais do núcleo urbano, no
município de Porto Rico, PR, Brasil.
Porto Rico é uma cidade ribeirinha localizada na região noroeste do Estado do Paraná,
às margens do rio Paraná. Ocupa uma área de 227 km
2
e tem 2.462 habitantes, conforme
Censo de 2007. em torno de 821 ligações na rede de abastecimento de água e 1.056 de
energia elétrica, além de coleta sistemática de lixo
(9)
. A rede de esgoto e tratamento de águas
pluviais está em fase de construção.
O município pertence à 14ª Regional de Saúde e Macro-Regional de Saúde do Noroeste
do Paraná com sede em Paranavaí. Três estabelecimentos de saúde públicos oferecem
cuidados à população, através do Sistema Único de Saúde (SUS): um hospital de pequeno
porte, com nove leitos; um Núcleo Integrado de Saúde (NIS-I) composto por uma equipe que
presta atendimento básico, uma de Saúde Bucal e uma equipe do Programa Saúde da Família,
além de um NIS-II no distrito de Relíquia, com uma equipe de PSF que atende uma área de
abrangência de 2.336 pessoas. Os casos de média complexidade, inclusive ortopedia, são
encaminhados aos municípios próximos, Santa Cruz de Monte Castelo, Loanda ou Paranavaí,
e os de alta complexidade, para Curitiba
(7)
.
No núcleo urbano foram edificados três conjuntos habitacionais. À esquerda da Rua
Joaquim de Campos, está localizado o conjunto Flamingo, que abriga 28 residências, e à
direita, os conjuntos Casa Feliz, 10, e o Por do Sol, 35.
Os três conjuntos foram construídos de forma separada, embora próximos das demais
residências e vias públicas que compunham, originalmente, o núcleo urbano da cidade de
Porto Rico, com vistas a atender a necessidade de moradia da parcela menos favorecida
economicamente da população, ou seja, das famílias de baixa renda, vítimas dos impactos
sócio-ambientais que assolaram a região.
2.2 Metodologia
Trata-se de um estudo de caso, comparando a morbidade referida pelos grupos A e B,
compreendidos por moradores dos conjuntos habitacionais de Porto Rico, PR. No presente
estudo, os moradores do conjunto Flamingo foram agrupados no Grupo A e os moradores do
45
Por do Sol e Casa Feliz, no Grupo B, devido à proximidade dos dois conjuntos e semelhança
na infra-estrutura, que contrastava com o primeiro conjunto, observadas no período da
pesquisa [Figura 3].
Figura 3. Imagem via satélite do município de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil
(extraída do Google Earth, 2006), com localização da área do estudo.
O grupo amostral constituiu-se por um representante das 63 moradias situadas nos três
conjuntos, excluídas aquelas que estavam desabitadas ou ocupadas por turistas. Um adulto,
capaz de responder coerentemente as questões formuladas, foi convidado a participar do
estudo após ser informado sobre o objetivo da pesquisa, o modo de aplicação e o destino dos
dados obtidos. Concordando em responder o instrumento, o mesmo assinou o termo de
consentimento informado. A coleta de informações ocorreu nos meses de julho de 2005 e
janeiro de 2006, através de inquérito domiciliar, aplicado pela pesquisadora. Foi utilizada a
Ficha de Informações sobre o Respondente, elaborada pelo Grupo de Qualidade de Vida da
Organização Mundial de Saúde (WHOQOL)
(10)
[Anexo I]. Foram coletadas as seguintes
variáveis: demográficas e socioeconômicas (sexo, faixa etária, constelação familiar, ocupação
profissional e renda familiar); saúde (nível de saúde e agravos à saúde no período de 12
meses) e estilo de vida (uso de tabaco e/ou álcool). Os dados foram processados no Programa
Statistical Analysis Software (SAS) para obter a estatística descritiva, seguido do teste de
correlação de Spearman (R), para verificar se existe correlação entre as variáveis.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo
Seres Humanos (COPEP/UEM), da Universidade Estadual de Maringá, sob o Parecer n.
404/2005, atendendo a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde de 10 out. 1996.
[Anexo II]
Área do estudo
A
B
46
2.3 Resultados
No período da pesquisa, as ruas do conjunto Flamingo estavam desprovidas de
pavimentação e de calçamento externo, gerando poeira em dias secos, ou barro, no período de
chuva. A maioria das moradias tinha aparência descuidada, sem pintura externa, sem cercas
nas divisas dos lotes, pouca arborização, lixo e entulhos depositados no quintal e em terrenos
baldios próximos, denotando contraste em relação aos outros conjuntos.
Nos dois conjuntos localizados à direita, as ruas estavam pavimentadas. Todas as
moradias do conjunto Casa Feliz foram edificadas em frente ao conjunto Por do Sol, como se
fossem um conjunto. A maioria das residências e seus entornos apresentavam boas
condições habitacionais; muitas delas foram reformadas e/ou ampliadas, pintadas, construídas
cercas ou muros nas divisas e calçamento externo. Foram plantadas árvores frutíferas,
hortaliças e/ou plantas ornamentais nos quintais.
A tabela abaixo apresenta as características sociodemográficas da amostra, representada
pelos dois grupos de moradores.
Tabela 4. Distribuição das variáveis sócio-demográficas, segundo dois grupos de moradores. Porto Rico, Estado
do Paraná, Brasil. 2006.
Grupo A Grupo B Total Características sócio-demográficas
n n n %
Sexo
Feminino
Masculino
19
04
27
13
46
17
73,0
27,0
Faixa
Etária
18 a 29 anos
30 a 59 anos
60 anos e +
03
18
02
13
23
04
16
41
06
25,4
65,0
09,6
Estado
Conjugal
Mora com companheiro
Viúvo/Separado/divorciado
Solteiro
14
06
03
27
08
05
41
14
08
65,0
22,2
12,8
Constelação
familiar
Chefe
Cônjuge
Filho(a)
11
11
01
21
16
03
32
27
04
50,8
42,8
06,4
Escolaridade
Analfabeto
Fundamental incompleto
Fundamental completo
Médio
Universitário
05
12
-
05
01
03
12
05
17
03
08
24
05
22
04
12,8
38,0
07,9
34,9
06,4
Ocupação
profissional
Urbana
Ligada ao rio e a terra
Outras
11
05
07
29
04
07
40
09
14
63,5
14,3
22,2
Renda
familiar
Até 2 SM* (R$599,99)
2 a 4 SM (R$ 600,00 a 1.199,99)
+ de 4 SM (R$1.200,00)
15
05
03
13
20
07
28
25
10
44,4
39,7
15,9
*Salário mínimo vigente era de R$300,00, na época da pesquisa.
47
A tabulação dos dados mostrou que a maioria pertencia ao sexo feminino (73%), a idade
média dos entrevistados variava entre 30 a 59 anos (65%); mantinha união estável (65%) e era
chefe da família (50,8%). A escolaridade era baixa, 50,8% não havia concluído o ensino
fundamental. Predominavam as atividades urbanas (63,5%) com renda familiar entre menos
de um a sete salários mínimos (SM), sendo que 44,4% dos entrevistados recebiam abaixo de
dois SM.
Em relação à percepção do nível de saúde, a maioria dos moradores atribuiu valor
positivo à sua saúde e a quarta parte afirmou considerá-la como regular. [Tabela 5]
Tabela 5. Distribuição da percepção do nível de saúde, segundo dois grupos de moradores. Porto Rico, Estado
do Paraná, Brasil. 2006.
Grupo A Grupo B Total Como está sua saúde?
n
%
n
%
n
%
Muito ruim 02 08.70 - 00.00 02 03,18
Ruim 01 04.35 02 05.00 03 04,76
Nem ruim/nem boa 06 26.09 11 27.50 17 26,98
Boa 14 60.87 19 47.50 33 52,38
Muito boa - 00.00 08 20.00 08 12,70
Total
23 100 40 100 63 100
O Grupo B avaliou sua condição de saúde com otimismo, não referiu saúde muito ruim.
No Grupo A, não houve referência de saúde muito boa. A avaliação intermediária foi
semelhante entre os grupos.
Em relação à morbidade referida, 21,7% do grupo A e 42,5% do Grupo B negaram
problemas de saúde (P0) nos últimos 12 meses. Os demais relataram ao menos um problema
de saúde. [Tabela 6]
Tabela 6. Distribuição da morbidade referida, segundo dois grupos de moradores. Porto Rico, Estado do
Paraná, Brasil. 2006.
Grupo A Grupo B
Morbidade referida
n % n %
PO. Sem problema de saúde 05 21,7 17 42,5
PS. Pelo menos um Problema de Saúde: 18 78,2 24 57,5
Total 23 100 40 100
Os agravos à saúde que geraram maior insatisfação e contribuíram para o adoecimento
nos dois grupos de moradores ribeirinhos estão distribuídos na Tabela 7.
48
Tabela 7. Distribuição dos problemas de saúde referidos, segundo dois grupos de moradores. Porto Rico,
Estado do Paraná, Brasil. 2006.
Grupo A Grupo B Problemas relacionados à saúde
n % n %
PS1. Problema do coração 03 13,0 03 07,5
PS2. Pressão alta (hipertensão arterial) 07 30,4 07 17,5
PS3. Derrame (Acidente Vascular Cerebral) 01 04,3 - -
PS4. Câncer - - - -
PS5. Enfisema ou bronquite 03 13,0 - -
PS6. Diabetes - - 03 07,5
PS7. Catarata (problema de visão) 02 08,7 01 02,5
PS8. Artrite ou reumatismo 02 08,7 04 10,0
PS9. Osso quebrado ou fraturado 02 08,7 06 15,0
PS10. Problema Crônico no pé 01 04,3 01 02,5
PS11. Problema Nervoso crônico/emocional 07 30,4 05 12,5
PS12. Hemorróida /sangramento anal 01 04,3 03 07,5
PS13. Doença de Parkinson - - - -
PS14. Problemas com Álcool ou drogas - - - -
PS15. Queimaduras - - - -
PS16. Depressão 03 13 05 12,5
PS17. Gravidez - 01 02,5
PS18. Doença de pele 02 08,7 03 07,5
PS19. Outros problemas não especificados 11 47,8 07 17,5
No Grupo B, 57,5% dos moradores referiram problemas de saúde e 32,5% indicaram
comorbidade
, a qual variou de dois a seis problemas de saúde. Os principais agravos à saúde
foram relacionados à hipertensão arterial, problemas ósseos, nervoso e depressão.
No Grupo A, 78,2% dos moradores referiram agravos à saúde e 47,8%, comorbidade de
dois e sete problemas de saúde. Destacaram-se hipertensão arterial, nervoso, depressão,
problemas cardíacos e respiratórios.
Outros problemas de saúde não especificados, mais citados pelos dois grupos, foram:
enxaqueca, dor de cabeça, gripe, sinusite, labirintite, amidalite, gastrite, hepatite, infecção
urinária, cólica renal, alergias e coluna. Muitos agravos são de origem infecciosa e/ou aguda.
Não houve relato de doenças crônicas como câncer e mal de Parkinson, de queimaduras
ou problemas com álcool e drogas pelos moradores dos dois grupos e nem de diabetes ou de
gestação no Grupo A.
Foram apreendidas algumas variáveis de morbidade correlacionadas ao nível de
significância de 95% de confiança (α=0,05), através da correlação de Spearman (R).
Coexistência de doença(s) outra(s), além de determinada doença objeto de estudo em um indivíduo
(http://desc.bvs.br).
49
As variáveis que apresentaram correlação no Grupo A foram: (1) problemas do
coração com hipertensão arterial, depressão, problema crônico no e sangramento anal; (2)
hipertensão arterial com nervoso crônico/emocional e depressão; (3) acidente vascular
cerebral com afecção pulmonar, déficit na visão e artrites; (4) afecção pulmonar com
problema crônico no pé, déficit de visão, artrites e doenças de pele e (5) depressão com
problema crônico no pé.
no Grupo B houve correlações significativas de: (1) problemas do coração com
diabetes, artrites, sangramento anal e doença de pele; (2) hipertensão arterial com déficit de
visão e problema crônico no pé; (3) nervoso crônico/emocional com diabetes e artrites; (4)
problema ósseo (fraturas) com sangramento anal e doença de pele e (5) problema crônico no
pé com depressão e com outros problemas.
Os entrevistados negaram problemas relacionados ao estilo de vida, como o uso de
tabaco, álcool e drogas. Alguns afirmaram que às vezes fazem uso apenas de tabaco ou de
álcool e, outros afirmaram que fumam e bebem. Nenhum dos entrevistados referiu o uso de
drogas “ilícitas”, até porque isto não foi questionado diretamente. [Tabela 8]
Tabela 8. Distribuição do consumo de tabaco e álcool, segundo dois grupos de entrevistados. Porto Rico, Estado
do Paraná, Brasil. 2006.
Grupo A Grupo B Total Consumo de tabaco
e/ou àlcool
N % n % n %
Nega 13 56.52
23 57.50 36 57,14
Fuma 07 30.43
06 15.00 13 20,63
Bebe 01 04.35
08 20.00 09 14,29
Fuma e bebe 02 08.70
03 07.50 05 07,74
Total
23 100
40 100 63 100
A análise por grupos indicou que, no Grupo A, a proporção dos entrevistados que
fumam é o dobro do que no Grupo B. Por outro lado, a proporção daqueles que bebem, no
Grupo B, é quase o quádruplo do Grupo A. Em relação ao duplo vício, a proporção foi
semelhante para os dois grupos.
2.4 Discussão
Os resultados desse trabalho mostram uma avaliação positiva no nível de saúde pelos
dois grupos estudados. Essa avaliação foi influenciada pela baixa ocorrência de adoecimentos
(agravos à saúde) no último ano, relatada pela população incluída nesta investigação.
50
Os achados dessa pesquisa estão em concordância com diversos estudos regionais e na
população brasileira, em relação à morbidade
(7,8,11-19)
. A avaliação da condição de saúde por
usuários de serviços de saúde em Porto Alegre indicou que a maioria estava satisfeita, quase
um quarto indiferente e uma pequena parcela insatisfeita com suas condições de saúde
(11)
.
A análise das condições de vida e do nível de saúde de uma população deve considerar a
presença e a interação de fatores como história, cultura, saúde, educação, trabalho e renda,
dentro do contexto ambiental.
Estudo sobre determinantes de desigualdades na avaliação da saúde no Brasil,
fundamentado em dados do PNAD/1998, aponta que os níveis de escolaridade e de renda
influenciam o posicionamento das pessoas. Assim, a classificação em saúde muito boa ou em
saúde ruim ou muito ruim foi maior em pessoas com menores níveis de escolaridade, seguida
pela renda. Devido a grande extensão e diversidade social no Brasil, esses valores foram mais
acentuados do que em outros países
(12)
.
Os dados refletem as desigualdades sociais (de renda e instrução) e de saúde entre os
dois grupos estudados. Estes indicadores podem ter contribuído para o maior número de
problemas de saúde referidos pelo Grupo A e estar interferindo nas condições de vida e saúde
deste grupo.
O nível de escolaridade associado ao desempenho de atividades cotidianas interfere na
percepção do estado de saúde das pessoas, que a autonomia eleva o grau de satisfação com
a saúde e com a própria vida, especialmente entre idosos
(13)
.
Em relação à morbidade referida pelos entrevistados, houve diferença na situação de
saúde entre os dois grupos. No Grupo A, um mero menor de pessoas negou adoecimento e
apresentou maior proporção de agravos à saúde nos últimos 12 meses, em relação ao Grupo
B. Estudos anteriores, desenvolvidos com outros grupos populacionais do mesmo município,
ao questionar a ocorrência de agravos relacionados à saúde em, constatou que pouco mais da
metade dos entrevistados não apresentou problemas de saúde nos doze meses anteriores
(14)
.
As principais causas de busca por serviços de saúde no município foram, problemas
respiratórios (gripe, amigdalite, infecção de vias aéreas superiores, bronquite e pneumonia),
seguidas dos sintomas mal definidos (tosse, dor abdominal, cefaléia e vômito),
osteomuscular, geniturinário, digestivo, doença infecto-parasitárias, do aparelho circulatório,
transtornos mentais/comportamentais, doenças da pele e, de forma positiva, o
acompanhamento do pré-natal ao puerpério
(8)
.
Por outro lado, mulheres de pescadores da região de Porto Rico associaram a
ocorrência de afecções respiratórias e parasitoses, principalmente, ao grupo infanto-juvenil,
51
doenças do aparelho circulatório e hipertensão em faixas etárias mais avançadas e queixas de
gripe, resfriado, dores de cabeça, nas costas e pernas em adultos, como resultante da
atividade pesqueira
(7)
.
Esses conjuntos de informações indicam elevada ocorrência de hipertensão, doenças
respiratórias, parasitárias, cardíacas e infecções diversas. Tais agravos à saúde podem estar
associados às condições ambientais inadequadas, decorrentes à falta de pavimentação no
conjunto Flamingo, à ausência da rede de esgoto no município e ao uso de agrotóxicos nas
lavouras da região.
Estudo sobre a qualidade de vida em Palmas, TO, aponta que problemas na infra-
estrutura, devido à falta de pavimentação e de acesso ao esgotamento sanitário trouxeram
prejuízos à saúde daquela população, constatada pelo aumento de infecções respiratórias e
verminoses. Kran e Ferreira
(15)
argumentam que a falta de pavimentação nos bairros prejudica
a circulação de veículos para coleta de lixo em dias chuvosos, gerando maus hábitos nos
moradores que poluem o ambiente ao lançar resíduos em terrenos baldios e vias públicas. No
período seco, a poeira causa problemas respiratórios e dificulta a higiene e conservação dos
domicílios, levando à insatisfação.
O aumento da expectativa de vida elevou a morbidade por doenças crônicas não-
transmissíveis que incapacitam pessoas de diversas faixas etárias. “O desenvolvimento de
doenças crônicas ocupa papel central na meia-idade. A morbidade e mortalidade por doenças
crônicas predominam na época tardia, coincidindo com a aposentadoria”
(16:499)
. O grupo da
terceira idade é mais vulnerável à comorbidade, especialmente daqueles agravos que
provocam incapacidades e dependências, necessitando de maior cuidado à saúde
(17)
.
Apesar da faixa etária nos dois grupos estudados englobar pessoas mais jovens, a
presença de comorbidade também foi constatada. Entre os entrevistados, um dos agravos à
saúde mais relatados foi hipertensão, muitas vezes associada às doenças circulatórias. Nos
dois grupos, a hipertensão foi significativa e acometeu pessoas na faixa etária de 40 a 49
anos. A freqüência de hipertensão referida pelo Grupo A foi quase o dobro em relação ao
Grupo B (30,4% para 17,5% respectivamente).
A maioria das pessoas de meia–idade e idosas acabam desenvolvendo pelo menos
uma doença crônica, podendo chegar a oito ou mais. Mulheres referem mais agravos dos que
homens. A prevalência de doenças como hipertensão, artrite, déficit na capacidade funcional,
doenças do coração, diabetes, bronquite, doença renal, câncer, cirrose e depressão têm sido
descritas e associadas a comorbidade em diversos estudos
(11, 14,18,19)
.
52
As queixas de depressão e problema nervoso foram mais freqüentes no Grupo A
(43,4%) que no Grupo B (25%). A depressão acometeu pessoas na faixa dos 30 anos,
enquanto o problema nervoso entre 30 e 69 anos, sobretudo em mulheres. Um dos fatores
desses agravos à saúde pode ser decorrente da insatisfação com as condições ambientais
locais, como, a falta de pavimentação do conjunto demanda maior esforço físico, a
persistência para manter o ambiente limpo, o desemprego e a falta de perspectivas. Estudo
anterior, 19% de mulheres jovens (abaixo de 39 anos) atribuiu seu estado de depressão “[...] à
falta de disposição para o desempenho de atividades diárias, [...] à falta de ocupação e às
poucas atividades de lazer existentes no município”
(14:654)
.
A literatura aponta que a depressão costuma acometer idosos, com maior freqüência em
menores de 75 anos
(18)
, por sentirem limitação no desenvolvimento de atividades diárias. A
depressão e os transtornos depressivos também merecem atenção dos serviços e da
sociedade, pela alta prevalência e impacto social. “Pacientes deprimidos são freqüentadores
assíduos de serviço de atendimento primário, porém, muitas vezes não são diagnosticados
como tais”
(11: 431)
.
O alcoolismo é considerado um problema social e de saúde em Porto Rico. No
contexto cultural dos pescadores, pode ser considerado um hábito normal, mas no domicilio,
interfere na dinâmica e na estrutura familiar. O consumo freqüente de álcool pode causar
“[...] dor de estômago e exacerba outras dores, deixa a pessoa mais fragilizada e suscetível a
doenças”
(7:54)
. A queixa de sangramento anal pode ser associada ao uso excessivo de
medicamentos, aos hábitos alimentares e ingestão de bebidas alcoólicas.
Fatores de risco relacionados ao estilo de vida como sedentarismo, tabagismo e
alimentação inadequada são “[...] responsáveis por mais de 50% do risco total de desenvolver
algum tipo de doença crônica, mostrando-se, nessa relação causal, mais decisivos que a
combinação de fatores genéticos e ambientais”
(20:254)
.
Em sendo assim, a adoção de medidas preventivas deve ser iniciada nos primeiros
anos de vida, como forma de prevenir doenças crônicas ao longo da vida, que comprometem
a autonomia e o envelhecer saudável. Nesse sentido, é fundamental que os profissionais da
saúde, inclusive “[...] a Enfermagem não esteja focada somente na assistência ao idoso
portador de doenças, mas que atue também na promoção, manutenção e recuperação da
saúde”
(21:443)
do ser humano nas diversas etapas da vida.
53
2.5 Considerações Finais
O conhecimento sobre o nível de saúde e doença da população de Porto Rico é
fundamental para a elaboração de políticas públicas locais e de promoção da saúde. O
controle das doenças agudas ou crônicas, transmissíveis ou não, requer maior divulgação de
informações sobre os fatores de risco de adoecimento e morte e dos cuidados para evitá-los.
Os resultados indicam a necessidade de rever programas voltados para a prevenção de
doenças e minimização dos fatores de risco, assim como a adoção de hábitos saudáveis de
vida para os moradores de Porto Rico e região.
A educação é um recurso fundamental para a melhoria das condições de vida e saúde.
Cabe aos profissionais da saúde e da educação disseminarem informações sobre a
importância da alimentação saudável, da prática de atividades físicas e lazer, dos cuidados
higiênicos pessoais e ambientais nos diversos cenários, através de diversas atividades, tais
como:
a. Utilizar as estruturas existentes no município, como a Casa da Família
(CRAS/PAIF) e a academia de Terceira Idade (ATI), inaugurada recentemente, para
incentivar e orientar os diversos grupos etários na adoção de hábitos de vida saudável através
da prática de exercícios físicos, lazer e alimentação
b. Orientar os professores de todos os níveis de escolarização a direcionar seus
conteúdos para a criação de hábitos saudáveis de vida. Debater as conseqüências do uso de
bebidas alcoólicas e outras drogas, da violência, das doenças sexualmente transmissíveis e da
gravidez precoce na adolescência. E, sobretudo, proporcionar às crianças e jovens, práticas
desportivas e de recreação no período do contra-turno escolar.
c. Inserir acadêmicos em atividades de orientação aos grupos de hipertensos, diabéticos,
gestação segura, de alcoolistas e usuários de drogas, desenvolvidas nas escolas e na Unidade
Básica de Saúde. A participação de acadêmicos, em projetos de pesquisa e extensão
multidisciplinares vinculados aos setores de saúde e educação, é necessária, pois enriquece
sua vivência em comunidade e auxilia no processo de transformação da realidade.
Somente num esforço conjunto entre governantes, profissionais de saúde e educação e
a comunidade, é possível minimizar os efeitos das condições ambientais adversas à saúde
humana e melhorar o nível de saúde e a qualidade de vida em Porto Rico.
Espera-se que a realização deste trabalho sirva como elemento direcionador e de
avaliação dos projetos de intervenção que deverão ser elaborados e implementados como os
próximos passos de atuação do GESA naquela região.
54
2.6 Referências
1. Lima-Costa MF, Barreto SM, Giatti L. Condições de saúde, capacidade funcional, uso de serviços
de saúde e gastos com medicamentos da população idosa brasileira: um estudo descritivo baseado
na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Cad. Saúde Pública 2003; 19(3):735-43.
2. Barros MBA. Os inquéritos domiciliares e o estado de saúde da população. In: César CLG,
Carandina L, Alves MCGP, et al. Saúde e condição de vida em São Paulo: inquérito multicêntrico
de saúde no Estado de São Paulo. São Paulo: USP/FSP, 2005. p. 11-34.
3. Monteiro AI, Medeiros JD, Oliveira JR. Estilo de vida e vulnerabilidade social dos adolescentes
no Bairro de Felipe Camarão, Natal/RN, 2005. Rev. Eletr. Enf. 2007. [citado em: 03fev 2009].
Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n1/v9/n1a14.htm.
4. Gomes KRO, Tanaka AC. Morbidade referida e uso dos serviços de saúde por mulheres
trabalhadoras, Município de São Paulo. Rev Saúde Públ 2003; 37(1):75-82.
5. Carandina L, César CLG, Castro SS. Morbidade Referida. In: César CLG, Carandina L, Alves
MCGP, et al. Saúde e condição de vida em São Paulo: inquérito multicêntrico de saúde no Estado
de São Paulo. São Paulo:USP/FSP, 2005. p. 131-50.
6. Lebrão ML, Carandina L, Magaldi C. Análise das condições de saúde e de vida da população
urbana de Botucatu, São Paulo (Brasil): morbidade referida em entrevistas domiciliárias, 1983-
1984. Rev Saúde Públ 1991; 25(6):452-60.
7. Bercini LO. Sem saúde a gente não é nada: estudo das representações sociais sobre saúde e
ambiente em uma comunidade ribeirinha [tese]. Maringá (PR): Departamento de Biologia,
Universidade Estadual de Maringá; 2003.
8. Felipes L. Concepções sobre a saúde e doença: um estudo envolvendo usuárias de uma unidade
do programa Saúde da Família [dissertação]. Maringá (PR): Departamento de Enfermagem,
Universidade Estadual de Maringá; 2006.
9. IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Social e Econômico. Perfil dos Municípios.
Município de Porto Rico. 2009. [citado em 30 jan 2009]. Disponível em:
http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87950&btOk=ok.
10. OMS. Divisão de Saúde Mental. Grupo WHOQOL. Versão em português dos instrumentos de
avaliação de qualidade de Vida (WHOQOL) 1998. Ficha de Informações sobre o Respondente.
1998. [citado em: 04 set 2005]. Disponível em: www.ufrgs.br/psiq/whoqol82.html.
11. Fleck MPA, Lima AFBS, Louzada S, et al. Associação entre sintomas depressivos e
funcionamento social em cuidados primários à saúde. Rev Saúde Públ 2002; 36(4):431-8.
12. Dachs JNW. Determinantes das desigualdades na auto-avaliação do estado de saúde no Brasil:
análise dos dados da PNAD/1998. Ciênc saúde coletiva 2002. [citado 04 fev 2009]. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v7n4/14596.pdf.
13. Jóia LC, Ruiz T; Donalísio. MR. Grau de satisfação com a saúde entre idosos do município de
Botucatu, Estado de São Paulo, Brasil. Epidemiol Serv Saúde 2008; 17(3):187-194.
14. Merino MFGL, Marcon, SS. Concepções de saúde e intinerário terapêutico adotado por adultos
de um município de pequeno porte. Rev Bras Enferm 2007. [citado em: 06 jul 2009]. Disponível
em: http://scielo.br/pdf/reben/v60n6/06.pdf
15. Kran F, Ferreira FPM. Qualidade de vida na cidade de Palmas–TO: uma análise através de
indicadores habitacionais e ambientais urbanos. Ambient soc 2006. [citado em: 25 nov 2008].
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/asoc/v9n2/v9n2a07.pdf
16. Lima-Costa MF. Epidemiologia do envelhecimento no Brasil. In: Rouquayrol MZ, Almeida Filho
N. Epidemiologia e Saúde. 6a. ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003. p. 499-513.
17. Tavares, D. M. S.; Guidetti, G. E. C. B.; Saúde, M. I. B. M. Características sócio-demográficas,
condições de saúde e utilização de serviços de saúde por idosos. Rev Eletr Enf 2008. [citado em
04 fev 2009]. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n2/pdf/v10n2a02.pdf
18. Duarte MB, Rego MAV. Comorbidade entre depressão e doenças clínicas em um ambulatório de
geriatria. Cad Saúde Públ 2007; 23(3):691-700.
19. Lima-Costa MF, Barreto SM, Giatti L. Condições de saúde, capacidade funcional, uso de serviços
de saúde e gastos com medicamentos da população idosa brasileira: um estudo descritivo baseado
na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Cad Saúde Pública 2003. [citado em: 19 jan
2008]. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n3/15877.pdf.
55
20. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas Públicas. Informes Técnicos Institucionais. Programa
Nacional de Promoção da Atividade Física “Agita Brasil”: atividade física e sua contribuição para
a qualidade de vida. Rev Saúde Públ 2002; 36(2):254-6.
21. Martins JJ, Barra DCC, Santos TM, et al. Educação em saúde como suporte para a qualidade de
vida de grupos da terceira idade. Rev Eletr Enf 2007. [citado em: 04 fev 2009]. Disponível em:
www.fen.ufg.br/revista/v9/n2/v9n2a12.htm.
56
CAPÍTULO
3
Avaliação da qualidade de vida de um grupo de moradores de Porto Rico, Estado do
Paraná, Brasil, por meio da técnica de Regressão por Árvore (CHAID)
57
RESUMO
A avaliação da qualidade de vida é um processo perceptivo que varia conforme a concepção
de cada pessoa e pode alterar ao longo do tempo. O estudo visou mensurar as percepções dos
moradores dos conjuntos habitacionais da cidade de Porto Rico, Estado do Paraná, Brasil,
sobre sua qualidade de vida e, determinar as variáveis que mais influenciaram os
direcionamentos daquelas avaliações. A amostra constituiu-se de 63 indivíduos. Aplicou-se o
Instrumento Abreviado de Avaliação da Qualidade de Vida, WHOQOL-bref, adotado pela
OMS. Os dados foram analisados no programa Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS) e o algoritmo CHAID (1984). A introdução desta última forma de tratamento permitiu
o mapeamento de variáveis que interferiram nas avaliações de cada um dos domínios que
compõem o conceito de qualidade de vida. Assim, a satisfação com os meios de transporte foi
relacionada à segurança, ao ambiente físico, às condições de moradia, ao acesso às
informações e ao desempenho das atividades diárias e laborais, mas mostrou-se desfavorável
à espiritualidade. O nível de escolaridade influenciou negativamente as relações pessoais, a
auto-estima e os problemas de saúde. Os dados comprovam que a qualidade de vida depende
das condições de vida e saúde. A possibilidade de refinamento das análises propiciada por
esta forma de tratamento recomenda a adoção do mesmo em estudos semelhantes.
Palavras-chave: Ambiente. Condições de vida. Ecologia humana. Impacto Psicossocial.
Nível de Saúde.
58
ABSTRACT
Evaluating the Quality of Life of residents of Porto Rico, Paraná State, Brazil, by the
Chi-square Automatic Interaction Detector (CHAID) Technique, 2006.
Evaluating quality of life is a perceptive process that varies according to each person’s
perspective, and can vary over time. The study aimed to measure the perceptions of
inhabitants of affordable housing complexes in the town of Porto Rico, Paraná State, Brazil,
regarding their quality of life, and determine the variables that most influenced the trends of
those evaluations. The sample was comprised of 63 individuals. The Abbreviated Instrument
for Quality of Life Assessment (WHOQOL-bref) was applied, as adopted by WHO. The data
were analyzed using the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) software and the
CHAID (1984) algorithm. The introduction of the latter made possible the mapping of
variables that interfered in the evaluations of each of the domains that make up the concept of
‘quality of life’. Thus, satisfaction with means of transportation was related with safety, the
physical environment, living conditions, access to information and development of daily/work
activities, but proved unfavorable to spirituality. The level of education had a negative impact
on interpersonal relationships, self-esteem and health problems. The data reinforce the idea
that quality of life depends on life and health conditions. The possibility of refining the
analyses provided by this form of treatment advocates its use in similar studies.
Keywords: Environment. Life Conditions. Human Ecology. Psychosocial Impact. Health
Status.
59
3.1 Introdução
Estudos ecológicos sobre as condições de saúde-doença de grupos específicos
fornecem indicadores sobre possíveis desigualdades sociais e de saúde de uma determinada
população, correlacionando os indicadores epidemiológicos aos socioeconômicos
1
.
O conhecimento sobre dados demográficos de uma população, o tipo de atividades que
exercem e as condições de vida e saúde resultantes, são essenciais na elaboração de planos de
gestão ecológica que visam a preservação de elementos bióticos e abióticos do ambiente e a
promoção de condições de vida digna e saudável para as populações humanas
2
.
Qualidade de vida é o modo como “[...] as pessoas vivem, sentem e compreendem seu
cotidiano”
3:3
. Para Fayers et al.
4
, qualidade de vida quer dizer coisas diferentes para pessoas
diferentes; seu significado varia de acordo com a área de aplicação e com os objetivos que se
pretenda atingir. Assim, os instrumentos de avaliação da qualidade de vida devem apreender a
percepção do indivíduo no seu contexto físico, psicológico e ambiental
5
.
Minayo et al.
6
argumentam que qualidade de vida pode ser vista sob diversos ângulos:
por um lado, relaciona-se ao modo, às condições e ao estilo de vida do indivíduo e da
coletividade; por outro, inclui idéias de desenvolvimento sustentável e ecologia humana e,
por fim, relaciona-se com o desenvolvimento e com os direitos humanos e sociais. No âmbito
da saúde, inter-relaciona as necessidades humanas básicas, materiais e espirituais e está
fundada no conceito de promoção da saúde.
O grupo de estudos da Organização Mundial de Saúde definiu Qualidade de vida
como “[...] a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas
de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações”
7:179
.
Fundamentado nesse conceito, foi estruturado um instrumento de avaliação pessoal da
qualidade de vida com enfoque transcultural, denominado World Health Organization Quality
of Life (WHOQOL-100), composto por 100 questões objetivas, cujas respostas são dadas em
uma escala do tipo Likert, de cinco pontos. O instrumento foi sintetizado em uma versão
abreviada (WHOQOL-bref) com 26 questões, sendo duas sobre qualidade de vida geral e as
demais distribuídas em quatro domínios: físico, social, psicológico e ambiental. Os dois
instrumentos foram traduzidos e testados em vários idiomas, inclusive em português
7
.
Ruffino Netto recomenda que, ao analisar os resultados, deve-se levar em conta que
“[...] a qualidade de vida excelente, boa, regular ou deve ser adjetivada não pelos que
observam os viventes, mas também pelos atores, autores dessas vidas [...]”
8:64
. Essa
afirmação justifica-se pelo fato de que as expectativas de saúde, o suporte social, a auto-
60
estima e a habilidade em lidar com limitações e incapacidades podem afetar a avaliação da
qualidade de vida.
3.1.1 Região do estudo e objetivo
Preocupados com a melhora da qualidade de vida da população e das condições
ambientais no entorno do rio Paraná, pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá
vêm investigando, além dos aspectos bióticos e abióticos daquela região, elementos ligados
aos processos sócio-econômicos, histórico-culturais e de saúde-doença dos moradores do
município de Porto Rico e região
2,
9-12
.
A partir desses estudos foram detectados alguns problemas sociais e de saúde, tais como
ocupações informais com baixa renda, índices elevados de analfabetismo, presença de
alcoolismo, adoecimento e acidentes de trabalho entre a população ribeirinha, os quais estão
intimamente relacionados ao ambiente em que essa população está inserida
11,12
.
Como forma de continuidade dos estudos, foi realizada uma pesquisa sobre a percepção
da qualidade de suas vidas por moradores do município de Porto Rico, Estado do Paraná,
Brasil.
Porto Rico é um município localizado às margens do rio Paraná. Ocupa uma área de
227 km
2
com uma população estimada de 2.462, em 2007 e IDH Municipal de 0,748. A rede
de ensino local oferece instrução até o ensino médio completo. em torno de 821 ligações
na rede de abastecimento de água e 1.056, de energia elétrica, dispondo de coleta sistemática
de lixo
13,14
. A rede de esgoto e tratamento de águas pluviais encontra-se em fase de
construção.
Três estabelecimentos de saúde públicos oferecem cuidados primários à saúde da
população nas áreas de pediatria, gineco-obstetrícia, clínica médica, pequenas cirurgias e
emergências, através de um hospital de pequeno porte, com nove leitos; um Núcleo Integrado
de Saúde e uma equipe de Saúde da Família, que atende 2.336 pessoas inscritas no programa.
Os casos de média complexidade, inclusive ortopedia, são encaminhados aos municípios
próximos: Santa Cruz de Monte Castelo, Loanda ou Paranavaí, e os de alta complexidade,
para Curitiba.
No núcleo urbano foram edificados três conjuntos habitacionais de alvenaria, ao longo
da Rua Joaquim de Campos: Flamingo (28 residências), Por do Sol (33) e Casa Feliz (10),
para atender a parcela menos favorecida economicamente da população.
O presente trabalho objetivou mensurar as avaliações dos moradores destes conjuntos
sobre sua qualidade de vida e determinar as variáveis sócio-demográficas e de morbidade
61
referida
1
que mais influenciaram os direcionamentos daquelas avaliações, de forma geral e em
cada um dos domínios (físico, social, psicológico, ambiental) analisados pelo WHOQOL-
bref.
(15)
3.2 Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório, ecológico, com base territorial. “As investigações
de base territorial utilizam uma referência geográfica para a definição das suas unidades de
informação, em qualquer nível de abrangência (por exemplo, bairros, distritos, municípios,
estados, nações, continentes)”
1:158
.
A pesquisa foi realizada nos conjuntos habitacionais do município de Porto Rico,
Estado do Paraná, Brasil. A amostra foi constituída por um adulto de cada residência, o qual
foi informado sobre os objetivos do estudo, a confidencialidade dos dados e concordou em
participar do estudo voluntariamente. Foram excluídas as residências vazias ou ocupadas por
turistas oriundos de outros municípios. A partir desses critérios foram entrevistados 63
moradores dos três conjuntos.
A coleta de informações ocorreu em julho/2005 e janeiro/2006, através da aplicação
de dois formulários [Anexo I]. O primeiro, denominado Ficha de Informações do
Respondente visava obter dados sobre as condições socioeconômicas, de morbidade referida e
o uso de tabaco e álcool pelo entrevistado. O segundo foi o Instrumento de Avaliação de
Qualidade de Vida abreviado (WHOQOL-bref) da Organização Mundial de Saúde
15
. As
análises foram realizadas no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS); para a classificação por árvore foi usado o algoritmo Chi-squared Automatic
Interaction Detector (CHAID)
16
, implementado no módulo Answer Tree desse software.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética (COPEP/UEM), sob o Parecer n.
404/2005, atendendo a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. [Anexo II]
3.2.1 Técnica CHAID (Chi-squared Automatic Interaction Detector)
Essa técnica, conhecida como Regressão por Árvore, foi proposta por Kass. É uma
técnica exploratória, na qual os indivíduos são classificados hierarquicamente, com base em
testes Qui-quadrados ou da Razão de Verossimilhança. Os testes são realizados
seqüencialmente para criar partições no conjunto de dados utilizados para estudar as relações
1
Morbidade: “Qualquer alteração, subjetiva ou objetiva, na condição de bem-estar fisiológico ou psicológico”
(http://desc.bvs.br). Morbidade referida é um indicador da percepção do indivíduo sobre suas condições de
saúde, utilizado para avaliar o acesso aos serviços de saúde e a demanda reprimida da população.
62
entre uma variável dependente (qualitativa ou quantitativa) e uma série de variáveis
preditoras, as quais interagem entre si. Os dados obtidos a partir dessa técnica tornam-se mais
informativos e fáceis de serem interpretados
16
, facilitando a identificação de grupos e da
previsão dos resultados.
Após subdividir a população (amostra) em dois ou mais grupos distintos, com base nas
categorias da melhor variável preditora (variável independente), em relação à variável
dependente, cada um dos grupos formados é subdividido novamente em subgrupos menores,
baseado nas categorias de outras variáveis preditoras. Esse processo continua até que não se
possa mais encontrar variáveis preditoras estatisticamente significativas.
Os resultados são apresentados e avaliados na forma de
Diagrama de Árvore
, onde são
visualizados os segmentos em que a amostra se subdivide. Esses segmentos são definidos pela
combinação das categorias das variáveis preditoras. Cada um dos quadrículos (subgrupos) é
chamado de
. O primeiro nó é chamado de
raiz
. O conjunto de todos os nós dispostos lado a
lado é chamado de
nível
. Os níveis são numerados de zero (corresponde ao nó raiz) em diante.
Chama-se
parente
todo o
filho
,
neto
, etc. de um determinado nó. Todo que não
tem filhos é denominado de
segmento.
Para o processamento computacional devem-se indicar quais são as variáveis
dependentes. No presente trabalho foram os domínios físico, psicológico, social, ambiental e a
qualidade de vida geral. Para o cálculo dos escores individuais e médios por classe de
domínio, inicialmente reduziu-se a dimensão do espaço do questionário através do cálculo dos
escores médios de cada domínio. Assim, os escores médios dos cinco domínios a serem
explicados (variáveis dependentes) foram calculados a partir da composição de variáveis
(questões), escolhidas entre as 56 questões mensuradas, conforme formulários propostos por
The World Heath Organization Quality of Life (OMS, 1998)
15
.
Pode-se estabelecer um nível de significância merge level (α
1
) que será aplicado a
todas as variáveis preditoras, no controle do grau de dificuldade de união das categorias
dessas variáveis. Quanto maior o valor especificado, entre 0 e 1, maior sea dificuldade de
união das categorias. Pode-se estabelecer um nível α
2
de significância, para que cada variável
preditora seja considerada determinante na formação de subgrupos. Através dos testes de
associação Qui-quadrado, com nível de significância menor ou igual a α
2
é verificada a
associação entre variável dependente e a cada uma das variáveis preditoras indicadas. São
calculadas as estatísticas X
2
e determinados os p
i
-valores correspondentes. Então a variável
preditora que apresentar a maior associação (<p
i
-valor, dentro do nível de significância α
2
)
será considerada a melhor variável preditora para dividir o nó corrente.
63
Cada domínio foi dividido em cinco categorias a fim de realizar a Regressão por
Árvore: 1. Muito insatisfeito; 2. Insatisfeito; 3. Nem insatisfeito, nem satisfeito; 4. Satisfeito;
5. Muito satisfeito. Para as variáveis preditoras, especificou-se a maneira como as categorias
deveriam ser combinadas durante a análise. Assumiu-se que α
1
=0,30 e α
2
=0,15, impondo-se
respectivamente, um razoável grau de dificuldade na combinação das categorias das variáveis
preditoras e um nível de significância máximo para a escolha da variável preditora, conforme
tem sido utilizada na literatura.
Optou-se por aplicar a técnica de Regressão por Árvore para explicar as tendências das
variáveis que mais influenciam sobre a percepção da qualidade de vida da população em
estudo. Trata-se de um estudo inédito, uma vez que não relato na literatura científica sobre
o emprego dessa técnica para coleção de informações como se pretende nesta pesquisa.
3.3 Resultados
Entre os 63 entrevistados, moradores dos conjuntos habitacionais, a maioria pertencia
ao sexo feminino (73%); idade média de 40 anos (entre 18 e 88 anos); 65% mantinham união
estável;
50,8% eram chefes das famílias; 58,8% não haviam completado o ensino
fundamental; 44,4% usufruíam de uma renda familiar inferior a dois salários mínimos
regionais e, outros 39,7%, entre dois e quatro salários mínimos. A média de moradores por
residência era 3,5 pessoas.
Em relação à morbidade, 22 (34,9%) entrevistados negaram problemas de saúde (P0)
e 41 referiram pelo menos um problema de saúde no último ano: cardiovascular (21
referências), psicoemocional (20), osteomuscular (16), cutâneo (5), sangramento anal (4),
bronquite (3), diabetes (3), catarata ou problema ocular (3), gestação (1) e 18 entrevistados
referiram outros agravos à saúde não listados no instrumento.
3.3.1 Avaliação da Qualidade de vida
O escore médio para o Domínio Social (DS) foi 58,33. Para iniciar a Regressão por
árvores, o critério de seleção foi considerar a primeira variável preditora em cada domínio. A
variável mais significativa para o DS foi a satisfação com as relações pessoais (Q20), cujo
grau de associação com o DS foi dado por X
2
3gl
=48,88 (p=0,0000). Foram associadas mais
três variáveis relacionadas ao DS com um nível de confiança de até 95%. [Figura 4]
64
Figura 4. Regressão por árvores para a variável Domínio Social
No ramo direito da árvore, o grupo 5 foi formado pelos que estavam muito satisfeitos
com suas relações pessoais (53,97%). A próxima variável mais explicativa foi o apoio que
recebe dos amigos (Q22), (X
2
1gl
=14,82; p=0,0004), seguida pela vida sexual (Q21),
manifestada por 30 pessoas (X
2
2gl
=14,53; p=0,0021). Nesse grupo, 66,6% dos entrevistados
estavam satisfeitos, 26,6% indiferentes ou conformados e apenas 6,6%, insatisfeitos com a
sua sexualidade.
O grupo 4 (22,22%) estava satisfeito com suas relações pessoais e favorável com a
vida sexual (X
2
1gl
= 16,13; p=0,0001).
No ramo esquerdo, o grupo 3 (17,46%) mostrou-se indiferente com suas relações
pessoais. A segunda variável mais significativa foi nível de escolaridade (ne) (X
2
1gl
= 5,29;
p=0,0214). Essa variável distribuiu os entrevistados em dois subgrupos: com menos ou com
mais de oito anos de instrução.
As respostas dadas às questões sobre o Domínio Psicológico (DP) apresentaram o
maior escore médio (64,12). Foram associadas quatro variáveis ao nível de confiança de 95%
com o DP. [Figura 5]
Figura 5. Regressão por árvores para a variável Domínio Psicológico
65
No ramo esquerdo, 33,33% dos entrevistados referiram média ou baixa auto-estima e
esta avaliação foi influenciada pelo sono (Q16, p=0,0030). A qualidade do sono foi referida
como regular ou ruim por 10 pessoas [segmento A].
No ramo direito, o “nó” que representa 50,79% dos entrevistados muito satisfeitos
consigo mesmo (Q19) deu origem aos segmentos B, C e D. Destes, 93,75% (n=30)
evidenciaram um DP positivo (escore médio acima de 60).
No segmento B, dos 32 entrevistados muito satisfeitos consigo mesmo, mais de um
terço (12) referiu nunca ter sentimentos negativos (Q26). Porém, 20 pessoas referiram algum
tipo de sentimento negativo com freqüência variada, das quais, apenas duas sempre
explicitaram tal sentimento e apresentaram um DP médio. Dentre aqueles que manifestaram
sentimento negativo, a metade tinha menos de oito anos de estudo. Nos dois segmentos (C e
D), a avaliação do DP foi muito boa (escore médio > de 80).
O Domínio Físico (DF) obteve escore médio de 63,6. Para explicar esse domínio
foram retidas seis variáveis preditoras obtidas em graus decrescentes de significância, ao nível
de confiança de 95%. Vale destacar que esse foi o único domínio que apresentou no conjunto
de variáveis preditoras, as variáveis usadas para avaliar a morbidade referida (P0 e P1).
A variável mais significativa para explicar o DF (X
2
1gl
= 41,43; p=0,0000) foi a
interferência da dor (Q3). A maioria dos entrevistados (60,32%) foi otimista em responder
nada ou muito pouco à questão. Para 26 pessoas, o DF foi muito bom. Nesse grupo, 32
entrevistados sentiram-se capazes para desempenhar as atividades do dia-a-dia (Q17;
p=0,0001). Desses últimos, 81,25% apresentaram um DF muito bom (escore médio acima de
80). Somente seis pessoas sentiam-se mais ou menos satisfeitas com o desempenho nas
atividades cotidianas [segmento A] e cinco tiveram o DF bom (escore médio entre 60 e 80).
[Figura 6]
Figura 6. Regressão por árvores para a variável Domínio Físico
66
Neste mesmo grupo, 16 entrevistados não referiram problema de saúde (P0;
p=0,0018) no último ano, dentre os quais, 62,50% apresentaram um DF muito bom. Esse
resultado esteve diretamente associado à variável nível de escolaridade (ne; p=0,0149).
Aqueles com mais de oito anos de estudo tiveram um DF muito bom [segmento F] e com
menos de oito anos de estudo, um DF muito bom ou bom. [segmento E]
No ramo à esquerda, 39,68% dos entrevistados disseram que a dor, de média a muita
intensidade, limitava-os de fazer o quê necessitavam. A maioria (60%) apresentou um DF
nem ruim/nem bom (escore médio abaixo de 60).
Os segmentos B, C e D tiveram origem na variável acesso aos serviços de saúde (Q24,
p=0,0028), que foi influenciado pela dor. Nesse grupo, 15 entrevistados avaliaram
positivamente seu acesso e apresentaram um DF no mínimo bom. A presença de problemas
cardíacos (P1, p=0,0109) pode ter influenciado tais resultados; três relataram problemas do
coração e apresentaram um DF nem ruim/nem bom (escore baixo). [segmento B]
Em compensação, dentre as 12 pessoas que negaram problemas cardíacos, a grande
maioria desse grupo (75%) apresentou um DF no mínimo bom. Apesar da interferência da
dor, 10 entrevistados sentiam-se otimistas com seu desempenho nas atividades diárias.
Pode-se afirmar que, o nível de escolaridade exerce influência na presença ou não de
problemas de saúde, e o acesso ao serviço de saúde aumenta o nível de avaliação do DF.
O escore médio para o Domínio Ambiental (DA) foi 60,78. Esse foi o domínio com
maior número de variáveis associadas ao nível de até 5% de significância (=0,05). O ajuste
do modelo de Regressão por Árvores reteve oito variáveis para explicar esse domínio (DA).
[Figura 7]
Figura 7. Regressão por árvores para a variável Domínio Ambiental
67
A variável preditora mais significativa para explicar o DA nesse grupo foi a satisfação
com os meios de transporte (Q25) (X
2
1gl
= 46,44; p =0,0000). Um terço dos entrevistados teve
opinião negativa; 91% desse grupo refletiram um DA desfavorável ou neutro. Apesar desse
pessimismo, o grupo valorizou muito o sentido da vida (espiritualidade) (Q6; p=0,0047). Essa
variável esteve associada à segurança (Q8). Apenas duas pessoas referiram de média a pouca
segurança; 11 referiram sentimento de segurança em sua vida diária, com freqüência média a
bastante [segmento A] e sete manifestaram-se extremamente seguras, duas das quais
apontaram o ambiente físico como extremamente saudável e (Q9; p=0,0169). [segmento B]
No ramo direito da árvore, situa-se o grupo (n=41) dos otimistas com seus meios de
transporte, dos quais 90,2% refletiram um DA favorável. Para este grupo a segunda variável
preditora mais importante foi segurança (X
2
1gl
= 13,14; p=0,0012); 37
(58,7%)
entrevistados
sentiram-se seguros na vida diária, com freqüência média a extrema.
A terceira variável preditora (X
2
2gl
= 13,30; p=0,0039) foi o acesso e a disponibilidade
de informações (Q13). Quase dois terços dos entrevistados deste grupo (n=23) referiram que
as informações que eles precisavam no cotidiano estavam entre média e completamente
disponíveis e refletiram um DA favorável ou muito favorável. Esse mesmo grupo mostrou-se
satisfeito com as condições do local onde moram (Q23, p=0,0257) e a maioria (n=13) também
estava satisfeita com sua capacidade para o trabalho (Q18, p=0,0359). Os itens apontados
pelos entrevistados refletem a infra-estrutura local.
Chama a atenção o “nó pai”, que dá origem aos segmentos C, D e E. Este nó
representa sete entrevistados que consideraram as informações completamente disponíveis
para o que eles precisavam, dentre os quais, cinco estavam no mínimo satisfeitos para
desempenhar suas atividades diárias (Q17; p=0,0169).
O Domínio Qualidade de Vida Geral (QVG) avalia a satisfação com a qualidade de
vida e a saúde. O domínio foi explicado por quatro variáveis preditoras. A variável preditora
mais significativa foi a satisfação com a própria vida (Q2B; p=0,0000). [Figura 8]
No ramo esquerdo, 11,11% dos entrevistados manifestaram uma QVG ruim e 28,57%
mostraram-se indiferentes. A segunda variável preditora mais significativa nesse grupo foi a
percepção da saúde (
Q2A)
(X
2
2gl
= 24,44; p = 0,0000)
.
O “nó pai” que deu origem ao
segmento 2 aponta que 16 entrevistados perceberam seu estado de saúde como regular,
variando entre ruim e bom. Apenas duas pessoas consideraram sua saúde muito boa
[segmento A]. Nota-se certo grau de conformismo desse grupo.
68
Figura 8. Regressão por árvores para a variável Qualidade de Vida Geral
No ramo à direita, a maioria (60,32%) dos entrevistados revelou-se otimista com a
vida (Q2B), dentre os quais, 33 refletiram uma QVG boa ou muito boa, sendo que 21 pessoas
(33,33%) consideram-se com boa saúde [segmento B]. O “nó pai” que origem aos
segmentos E e F, indica que seis entrevistados perceberam sua saúde muito boa e
apresentaram um domínio QVG no mínimo bom.
No lado esquerdo, o “nó pai” aponta 11 pessoas satisfeitas com a vida e insatisfeitas
com a saúde, em função da dor que as impedia de fazer o que precisavam (Q3). [segmentos C
e D]
3.4 Discussão
Acompanhando uma tendência da região onde se localiza o município de Porto Rico, o
desemprego é um problema que atinge proporções preocupantes. Como conseqüência das
formas de ocupação da região, ocorreu uma diminuição intensa dos postos de trabalho
disponíveis. Este fator, associado às limitadas qualificações profissionais de boa parte da
população local, faz com que moradores tenham que submeter-se a ocupações temporárias e
mal remuneradas para garantir a subsistência da família. “[...] a Prefeitura contrata
varredores de rua em revezamento, para poder atender mais pessoas”
17:361
. Essa fala foi
também manifestada por um dos entrevistados no presente estudo. A perspectiva de melhorar
a remuneração é baixa, independente do nível de escolaridade.
Estudos sobre as condições ambientais nessa região evidenciaram que os moradores de
Porto Rico estavam insatisfeitos com as condições de vida e trabalho, alegando que tais
condições já foram melhores e avaliaram como pouco satisfatória sua qualidade de vida
9,10
.
69
Por outro lado, esses mesmos trabalhos sugerem a existência de um grau elevado de
conformismo entre os participantes dos grupos sociais estudados. Esse grau de conformismo
pode fazer com que as pessoas, mesmo vivendo em condições não tão satisfatórias, avaliem
tais condições como razoáveis e mostrem-se satisfeitas com elas, diante da perspectiva de que
poderiam ser piores, ou por desconhecer condições melhores.
Os moradores perceberam modificações radicais nas paisagens naturais com
interferência negativa no seu modo de vida e subsistência
18
.
É o caso de uma idosa, ex-ilhéu, que manifestou sentimento negativo, pois foi
desapropriada da ilha e obrigada a deixar sua morada: “Na ilha nunca sentia dor nas costa...
Aqui falta dinheiro pra comprá remédio [...] preciso de casa pra morá [...]. Na ilha plantava
mandioca, criava galinha, porco e não pagava aluguel”. Essa fala reflete experiências
pessoais e até um saudosismo. Representa a topofilia, “o elo afetivo entre a pessoa e o lugar
ou ambiente físico”
19:5
. A entrevistada mostrou foto da tapera “onde vivia... e era feliz!” A
mudança de local, de estilo de vida e o comprometimento da idade, despertam outros valores
e necessidades na vida das pessoas. Diante dessas situações a pessoa entristece e adoece.
Em compensação, um grupo de entrevistados mostrou-se satisfeito com sua
capacidade para o trabalho. Silva
20
argumenta que a (in)satisfação com o trabalho tem a ver
com o gostar do que faz e onde faz e com as recompensas que a pessoa supõe que merece, em
termos financeiros, prestígio e/ou poder. Esses pontos acrescidos da produtividade, do bem-
estar e da auto-realização, atuam como fatores essenciais para a qualidade de vida
21
. A
condição de ter emprego é determinante da qualidade de vida e significa, para muitos, “[...]
continuar ativo, ter um papel importante na sociedade e na família, ter rendimentos maiores,
ter uma vida mais folgada financeiramente”
22:161
.
Assim, é possível que para muitos entrevistados, mesmo que seus empregos não sejam
exatamente aquilo que desejariam e que seus rendimentos não sejam plenamente satisfatórios,
os fatos de estarem empregados ou de usufruírem de uma aposentadoria configura uma
condição ao menos aceitável, ou muito melhor que a que viveriam, na ausência destas fontes
de ganhos.
Além disso, uma série de outros fatores contribui para que, de uma forma geral, os
entrevistados mostrem-se satisfeitos com suas condições de vida. Como por exemplo, eles
recebem apoio dos amigos Essa percepção sugere que as relações sociais apresentam-se
estáveis. Os laços afetivos e as relações sociais em pequenas comunidades, normalmente, são
mais próximos do que em grandes centros. No caso de Porto Rico não é diferente; a
proximidade de morar em conjunto habitacional, quase sem divisas entre as casas e vindo de
70
um passado em que as relações familiares, de amizade e compadrio eram valorizadas,
provavelmente faz com que a solidariedade aproxime as pessoas. A composição familiar na
região pressupõe processos de solidariedade social, pois agrega moradores que não fazem
parte da família nuclear moderna
2
.
Inversamente, relações familiares deterioradas, decorrentes do abandono e/ou
desentendimentos, levam a uma qualidade de vida ruim. As relações pessoais ficam
desgastadas por falta de tempo disponível ou por problemas familiares ou laborais, como
complementaram no inquérito: “trabalho de segunda a segunda”; “minha família mora
longe... no nordeste”. Além do mais, as crises ou intercorrências que ocorrem ao longo da
vida (acidentes, doenças, mortes) interferem na qualidade de vida individual e familiar. Nestes
casos, são os amigos ou a rede social quem presta esta assistência
22
. O envolvimento
comunitário atua como fator psicossocial à medida que eleva a auto-estima e recupera a
satisfação com a vida
23
O conjunto das condições de trabalho e de relações sociais provavelmente associa-se
ao fato de que praticamente dois em cada três entrevistados mostrou-se satisfeito consigo
mesmo.
Por outro lado, alguns fatores contribuíram para a diminuição do grau de satisfação
dos entrevistados. Assim, por exemplo, a variável sono gerou maior insatisfação consigo
mesmo (auto-estima). O sono e o repouso são necessários para estabilizar o organismo. São
processos fisiológicos e comportamentais complexos, fortemente influenciados pelo ritmo
circadiano. Fatores ambientais também interferem nos ritmos individuais (fisiológicos,
psicológicos e sociais)
24
. A qualidade do sono pode ser influenciada também pela dor e
algumas doenças crônicas e tem reflexos na auto-estima através de sentimentos negativos
(tristeza, desânimo, falta de motivação, nervosismo), perda do prazer, insegurança, sensação
de inutilidade e insatisfação com a auto-imagem. A conseqüência desses fatores pode levar à
depressão, isolamento social, abandono das atividades de recreação e lazer
25
.
A dor física foi a variável que mais influenciou o Domínio Físico. A dor é um sintoma
subjetivo e sua intensidade varia conforme a sensibilidade, sexo, idade, cultura. Expressa
sofrimento, pedido de ajuda. A dor e o desconforto interferem nas atividades diárias
(alimentação, higiene e sono), na sexualidade e nas relações sociais e laborais, enfim na
qualidade de vida. É um dos motivos mais comuns de absenteísmo no trabalho e na escola e,
de busca por serviços de saúde
24
.
O grupo portador de problemas cardíacos mostrou-se satisfeito com seu acesso aos
serviços de saúde de Porto Rico. Provavelmente por que o conhecimento sobre a gravidade
71
das complicações cardíacas e a precariedade da infra-estrutura do setor saúde para socorrer
tais situações, tem motivado os usuários a usufruir de tratamentos preventivos. Os
profissionais de saúde, por sua vez, acolhem melhor essa clientela, elevando assim o grau de
satisfação de todos.
No entanto, uma parcela pequena mostrou-se indiferente ou insatisfeita com o
atendimento de saúde. As desigualdades no uso de serviços de saúde refletem as
desigualdades individuais de adoecer e morrer, assim como indicam diferenças no
comportamento das pessoas diante da doença e nas características da oferta de serviços que
cada sociedade disponibiliza para seus membros. “O simples fato de ser atendido pode
produzir satisfação, pois as pessoas não esperam muito das instituições públicas”
26:606
.
Estudo sobre a resolutividade dos serviços de saúde em Porto Rico, evidenciou que a
população local aceita com naturalidade, mesmo se os profissionais de saúde não atendem a
demanda ou atendem de forma pouco eficiente aos problemas de saúde
12
.
A falta de recursos
e a baixa escolaridade dificultam as relações interpessoais entre usuários e profissionais de
saúde, diante de uma relação de desigualdade econômica, social e cultural, evidenciando a
dificuldade que os primeiros têm para reconhecer que aquele serviço é um direito e não um
favor
23
.
O grupo de pessoas saudáveis, que não referiu problemas de saúde (P0), apresentou
como diferencial o nível de escolaridade. Pode-se inferir que quanto maior o nível de
escolaridade, maior o nível dos domínios psicológico e físico, ou seja, pessoas mais
esclarecidas têm maior discernimento e encontram melhores condições para resolução dos
seus problemas. “Pessoas mais escolarizadas tendem a adotar hábitos de vida mais saudáveis
e a procurar mais os serviços médicos (de saúde), especialmente os cuidados
preventivos”
27:412
. A disponibilidade de recursos para investir na saúde tende a ser fruto de
maior nível de escolaridade e de renda.
O baixo nível de escolaridade dos entrevistados implicou em dificuldades nas relações
sociais e sentimentos negativos.
A satisfação dos entrevistados em relação ao domínio ambiental indicou boas
condições de vida, apesar de um grupo manifestar insatisfação ou indiferença com o acesso
aos meios de transporte.
Porto Rico é uma cidade pequena que dispõe de ônibus escolar e embarcação para o
transporte de estudantes e da comunidade. Alguns moradores dos conjuntos possuem carros,
motos ou bicicletas. Entretanto, a população carente enfrenta dificuldades com o transporte
72
intermunicipal do qual dependem para prover suas necessidades de saúde, de alimentação,
vestuário e instrução.
A atua como suporte para o enfrentamento dos problemas. Estudo mostra que as
mulheres de pescadores da região associam a com a saúde e concebem a saúde como um
dom de Deus
11
. As pessoas agradecem a Deus porque tem saúde, família, moradia, se a
doença não for grave, não levar a morte e não impedir de fazer as atividades cotidianas, como
caminhar
21
.
Tal atitude de resignação pode estar associada tanto à fé como à expectativa de
melhoras nas condições de vida, provavelmente, por que a maioria das pessoas passou por
situações muito piores do que as que vivenciam hoje
28
ou por desconhecer realidades
melhores.
O domínio Qualidade de Vida Geral apresentou maior associação com as condições de
saúde e a satisfação com a saúde esteve na dependência da dor.
Em síntese, pode-se afirmar que uma boa qualidade de vida é refletida, sobretudo, pela
qualidade da saúde individual, o que vem a comprovar que a qualidade de vida depende das
condições de saúde.
Nas palavras de Ruffino Netto:
[...] qualidade de vida boa ou excelente é aquela que ofereça um mínimo de
condições para que os indivíduos nela inseridos possam desenvolver o máximo de
suas potencialidades, sejam estas: viver, sentir e amar; trabalhar produzindo bens e
serviços; fazendo ciências e artes; vivendo para ser meios utilitários ou utilitários
fins (apenas enfeitando), ou simplesmente existindo. Todos são seres vivos que
procuram se realizar
8:64
.
3.5 Considerações finais
A análise da coleção de dados obtidos por meio do instrumento WHOQOL-bref no
programa SPSS não foi suficiente para verificar as necessidades e expectativas da população
em relação às condições ambientais de vida e saúde. Como forma de refinamento das análises,
aplicou-se a cnica de Regressão por Árvore (CHAID) para o tratamento dos dados. Essa
técnica mostrou-se uma ferramenta valiosa para a seleção dos pontos críticos que interferem
na satisfação dos moradores das residências populares em relação à qualidade de vida em
Porto Rico. Diante dos resultados obtidos, pode-se afirmar que essa metodologia mostrou-se
pertinente de análise dessa coleção de dados, sendo recomendada sua adoção em estudos
semelhantes.
73
A avaliação da qualidade de vida é um processo perceptivo que varia conforme a
concepção de cada pessoa e pode alterar ao longo do tempo. Sendo este um estudo ecológico
com base territorial determinada, foi apresentado um recorte da realidade, por isso as
informações obtidas não devem ser generalizadas, mas servir de subsídios para a elaboração
de políticas públicas. Para o sucesso de determinadas políticas públicas de saúde, Bercini
recomenda “[...] levar em conta os valores, as atitudes e as crenças dos grupos a quem se
destina a ação”
11:75
.
Espera-se que esse conjunto de informações, somado aos resultados das investigações
realizadas na região e aos indicadores oficiais (IDH, PNAD, de morbi-mortalidade, entre
outros), possa contribuir com os serviços no planejamento de programas voltados para a
Promoção da Saúde, a fim de buscar soluções que resolvam ou, ao menos, minimizem os
problemas de saúde da população local e regional.
Para promover a saúde, conforme descrito na Carta de Otawa, “[...] os indivíduos e
grupos sociais devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar
favoravelmente o meio ambiente”
29:19
. O referido documento recomenda atuar em cinco
campos de ação da estratégia Promoção da Saúde, com vistas a proteger o ser humano e
preservar os ecossistemas, através da construção de políticas públicas saudáveis, da criação de
ambientes favoráveis à saúde, do desenvolvimento de habilidades e a participação da
comunidade e de reorientação dos serviços de saúde.
Na busca de caminhos para resolução dos problemas de saúde e ambientais, Trevizan
30
sugere apoiar-se na educação, que o conhecimento, produto da ciência, é um elemento
fundamental para mudanças. Ademais, a autora argumenta que a educação e a saúde
constituem dois pilares de sustentação na construção da qualidade de vida.
Para atender as necessidades de atenção à saúde e de melhoria das condições
ambientais de Porto Rico, torna-se imprescindível a construção de um plano de manejo, o
qual deve incluir fatores que determinam positiva ou negativamente a qualidade de vida das
pessoas e das comunidades, apontados no presente estudo, como as condições sanitárias,
sócio-econômicas, educacionais, culturais e ambientais. Ao longo desse processo, torna-se
fundamental agregar o conhecimento sobre saúde-doença e a concepção de mundo elaborada
por aqueles que ali vivem, no caso, os ribeirinhos.
Para o sucesso desse empreendimento, pode-se viabilizar a prática das ações já
contempladas na Estratégia de Promoção da Saúde, dos programas Saúde da Família e de
Saúde Mental em andamento no município, em cooperação entre as esferas governamentais,
os serviços de saúde, a universidade e a sociedade civil.
74
A educação em saúde e a educação ambiental devem unir suas forças a fim de
contribuir para a transformação do cidadão no tocante a percepção dos problemas ambientais,
em nível local e mundial, para assim ele melhorar sua qualidade de vida.
Vale lembrar que os trabalhos do GESA não se encerram ao término desta pesquisa,
muito pelo contrário, terão subsídios para novas investigações e, sobretudo, para o início de
atividades junto à população, com alunos de gradação e pós-graduação, com vistas a
proporcionar melhores condições de vida, saúde e conseqüentemente, qualidade de vida na
região.
3.6 Referências
1. Almeida Filho N, Rouquayrol MZ. Elementos de Metodologia Epidemiológica. In:
Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Epidemiologia & saúde. Rio de Janeiro: MEDSI,
2003. p. 149-177.
2. Tomanik EA, Godoy AMG. Demographic Studies in High Paraná River Floodplain. In:
Agostinho AA, Rodrigues L, Gomes LC, Thomaz SM, Miranda LE. Structure and
functioning of the Paraná river and floodplain: LTER-Site6. Maringá (PR): EDUEM.
2004. p. 253-257.
3. Gonçalves A, Vilarta R. Qualidade de vida e atividade física: explorando teorias e práticas
(org). Barueri, (SP): Manole, 2004.
4. Fayers P, Machin D. Quality of life: assessment, analysis and interpretation. Chichester: J.
Wiley, 2000.
5. Velarde-Jurado E, Avila-Figueroa C. Evaluación de la calidad de vida. Salud Pública de
México 2002; 44: 349-361.
6. Minayo MCS, Hartz ZMA, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário.
Ciênc saúde coletiva 2000; 5:7-18.
7. Fleck MPA, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G, Santos L, Pinzon V.
Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de
vida “WHOQOL-bref”. Rev. Saúde Pública 2000; 34(2):178-83.
8. Ruffino Netto A. Qualidade de vida: compromisso histórico da epidemiologia. Saúde em
debate 1992; 35: 63-7.
9. Paiola LM, Tomanik EA. Populações tradicionais, representações sociais e preservação
ambiental: um estudo sobre as perspectivas de continuidade da pesca artesanal em uma
região ribeirinha do rio Paraná. Acta Scientiarum. Human and Social Science 2002;
24:175-180.
10. Sponchiado D, Eidt NM, Tomanik EA. Representações sociais sobre o trabalho
elaboradas pela população economicamente ativa de uma comunidade ribeirinha do rio
Paraná. Acta Scientiarum. Human and Social Science 2002; 24:181-8.
11. Bercini LO, Tomanik EA. Representações sociais sobre a saúde e estratégias de
enfrentamento das doenças entre mulheres de pescadores no município de Porto Rico,
Paraná. Ciência Cuidado e Saúde 2006; 5:71-76.
75
12. Felipes L. Concepções sobre a saúde e a doença: um estudo envolvendo usuárias de uma
unidade do Programa Saúde da Família. [Dissertação de Mestrado]. Maringá: Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem. Universidade Estadual de Maringá; 2006.
13. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2006. Cidades@Porto Rico, PR.
Informações Estatísticas. http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm? (acessado
em 09/jul/2007).
14. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Social e Econômico 2009. Perfil dos
Municípios. Porto Rico.
http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87950&btOk=o
k. (acessado em 30/jan/2009).
15. OMS. Divisão de Saúde Mental. Grupo WHOQOL. 1998. Versão em português dos
instrumentos de avaliação de qualidade de vida (WHOQOL).
http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol84.html (acessado em 04/set/2005).
16. Dunbar GE. CHAID, Chi-Square Automatic Interaction Detector, 1984.
17. Tomanik EA, Fernadez JBM. Trabalho e Qualidade de vida. In: UNIVERSIDADE
ESTADUAL DE MARINGÁ/PELD. Relatório do Sítio 6, 2007. A planície alagável do
rio Paraná. http://www.peld.uem.br/Relat2007/pdf/capitulo_17.pdf (acessado em
27/nov/2008).
18. Violante AC. Moradores e turistas no município de Porto Rico, PR: percepção ambiental
no contexto de mudanças ecológicas. (Tese de Doutorado) Maringá: Programa de Pós-
Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais. Universidade Estadual de
Maringá. 2006.
19. Tuan Y. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São
Paulo: DIFEL. 1980.
20. Silva MAD. Quem ama não adoece. Rio de Janeiro: BestSeller, 2006.
21. Silva Lucas L, Martins JT, Robazzi MLCC. Qualidade de vida dos portadores de ferida
em membros inferiores - úlcera de perna. Ciencia y enfermeria 2008, 14(1):43-52.
http://www.scielo.cl/pdf/cienf/v14n1/art06.pdf. (acessado em 28/jan/2009).
22. Paschoal SM. Qualidade de vida do idoso: construção de um instrumento de avaliação
através do método do impacto clínico. (Tese de Doutorado). São Paulo: Faculdade de
Medicina. USP. 2005.
23. Andrade GRB, Vaitsman J. Apoio social e redes: conectando solidariedade e saúde.
Ciênc. saúde coletiva 2002; 7:925-934.
24. Smeltzer SC, Bare BG. Brunner/Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan. 1994. v. 1.
25. Martins LM, França APD, Kimura M. Qualidade de vida de pessoas com doença crônica.
Rev Latino-am. enfermagem (Ribeirão Preto) 1996; 4(3): 5-18.
26. Travassos C, Viacava F, Pinheiro R, Brito A. Utilização dos serviços de saúde no Brasil:
gênero, características familiares e condição social. Rev. Panam Salud Publica 2002;
11:365-73.
27. Noronha KVMS, Andrade MV. Desigualdades sociais em saúde e na utilização dos
serviços de saúde entre idosos na América Latina. Rev. Panam Salud Publica 2005; 17:
410-18.
76
28. Souza RC. Qualidade de vida de pessoas egressas de instituições psiquiátricas: o caso de
Ilhéus – BA. (Dissertação de Mestrado) Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto. USP. 2000.
29. BRASIL. Ministério da Saúde. Promoção da Saúde: Declaração de Alma-Ata, Carta de
Otawa, Declaração de Adelaide, Declaração de Sundswall, Declaração de Santafe´ de
Bogotá, Declaração de Jacarta, Rede de Megapaíses e Declaração do México. Brasília,
DF, 2001.
30. Trevizan SDP. Ciência, meio ambiente e qualidade de vida: uma proposta de pesquisa
para uma universidade comprometida com sua comunidade. Ciênc.saúde coletiva 2000;
5(1),:179-86.
77
ANEXOS
ANEXO I
Formulários utilizados na pesquisa
CONVITE À PARTICIPAÇÃO DE UM ESTUDO SOBRE QUALIDADE DE VIDA
Estamos realizando um trabalho de pesquisa sobre como é que as pessoas acham que está a sua vida
nas últimas duas semanas. Para isto, gostaríamos de contar com a sua colaboração durante alguns
minutos para responder a um questionário. Serão feitas várias perguntas sobre diferentes aspectos de
sua vida: sua saúde física, sua vida emocional, sua relação com amigos e familiares, seu meio-
ambiente.
Gostaríamos de deixar claro que esta pesquisa é independente de seu estado de saúde, em nada
influenciará caso o(a) senhor(a) não estiver de acordo em participar. Asseguramos que todas as
informações prestadas pelo senhor(a) são sigilosas e serão utilizadas somente para esta pesquisa. A
divulgação das informações ser anônima e em conjunto com as respostas de um grupo de pessoas.
Caso o senhor(a) concorde, podemos passar as informações obtidas a partir desta pesquisa para o seu
médico e isto poderá auxiliá-lo na compreensão de seu caso.
Se você tiver alguma pergunta a fazer antes de decidir, sinta-se a vontade para fazê-la.
Data: ____/____/2005
Nome do entrevistado: _____________________________________
Assinatura: ______________________________
Nome do entrevistador: Doris Marli Petry Paulo da Silva
(
Telefones de contato 0(44) 32614509 ou 3261-4652)
Assinatura: _______________________________
-------------------------------------------------------------------------------------------------------
Instruções:
Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde e
outras áreas de sua vida. Por favor, responda todas as questões. Se você não tem certeza
sobre que resposta dar e uma questão, por favor, escolha entre as alternativas a que lhe parece
mais apropriada. Esta, muitas vezes, poderá ser a sua primeira escolha.
Por favor, tenha em mente seus valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós estamos
perguntando o que você acha de sua vida, tomando como referência as duas últimas
semanas. Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser:
nada muito pouco médio muito completamente
Você recebe dos outros o apoio de que necessita? 1 2 3 4 5
Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o
apoio de que necessita nestas últimas semanas. Por exemplo:
você deve circular o número 4 se você recebeu “muito” apoio;
você deve circular o número 1 se você não recebeu “nada” de apoio.
FICHA DE INFORMAÇÕES SOBRE O RESPONDENTE (adaptado de OMS, 1998) Questionário nº...............
SEXO: Masc(1) Fem(2) ESTADO CIVIL: Solteiro (1) Casado (2) Vive como casado (3) Separado (4) Divorciado (5) Viúvo (6)
ESCOLARIDADE: Analfabeto(1) 1º G. incompl.(2) 1ºGrau (3) 2º G. incompl.(4) 2º Grau (5) 3ºG. incompl (6) 3º Grau (7) PG incompl(8) PG (9)
COMO ESTÁ SUA SAÚDE? Muito ruim (1) Fraca (2) Nem ruim nem boa (3) boa (4) Muito boa (5)
PROBLEMAS DE SAÚDE ATUAL/ CONDIÇÃO PRESENTE (
marcar a alternativa mais relevante para a busca de um serviço de saúde nos últimos doze meses)
Nenhum problema...........00 Câncer............................04 Artrite ou reumatismo..............................08 Hemorróida ou sangramento ânus.12 Depressão..........................16
Problema do coração.......01 Enfisema ou bronquite...05 Osso quebrado ou fraturado.....................09 Doença de Parkinson.....................13 Gravidez............................17
Pressão alta.......................02 Diabetes.........................06 Probl. Cron. Pé
(joante, unha encravada
)....10 Probl. Álcool/drogas......................14 Doença de pele..................18
Derrame............................03 Catarata..........................07 Probl. nervoso crônico/emocional...........11 Queimaduras..................................15 Outros (especificar)..........19
INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A FAMÍLIA
Nome Vínculo
Familiar
Se
xo
Est
civil
Ida
de
Escola-
ridade
Ocupação
Principal
Renda
Familia
(Sm)
Medicamentos
Uso Contínuo
Problemas
de Saúde
Etilismo/
Tabagismo/
Outros
Internações
Recentes
Observações
CONDIÇÕES DE MORADIA: Tipo de habitação, saneamento (água encanada, fossa, esgoto), higiene, riscos ambientais, animais no domicílio.
________________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________
PLANILHA DE RESPOSTA WHOQUOL-BREF Questionário nº.....................
Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número que lhe parece a melhor resposta.
Muito
ruim
ruim Nem ruim
nem boa
boa Muito boa
01
Como você avaliaria sua qualidade de vida? 1 2 3 4 5
02
A. Como está sua saúde? (na ficha do informante)
Muito
insatisfeito
Insatisfeito Nem insatisfeito
Nem satisfeito
Satisfeito
Muito
satisfeito
02
B.O quanto você está satisfeito com sua vida? 1 2 3 4 5
As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas
nas últimas duas semanas
nada Muito pouco
Mais ou menos bastante extremamente
03
Em que medida você acha que sua dor (física) impede de fazer o que
você precisa?
1 2 3 4 5
04
O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua
vida diária?
1 2 3 4 5
05
O quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5
06
Em que medida você acha que sua vida tem sentido?(espiritualidade)
1 2 3 4 5
07
O quanto você consegue se concentrar? 1 2 3 4 5
08
Quão seguro você se sente em sua vida diária? (proteção) 1 2 3 4 5
09
Quão saudável é o seu ambiente físico (clima, barulho, poluição,
atrativos)?
1 2 3 4 5
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem
sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas duas últimas semanas
nada Muito pouco
Médio muito completamente
10
Você tem energia suficiente para o seu dia-a-dia? 1 2 3 4 5
11
Você é capaz de aceitar sua aparência física? 1 2 3 4 5
12
Você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades? 1 2 3 4 5
13
Quão disponíveis para você estão as informações que precisa no seu
dia-a-dia?
1 2 3 4 5
14
Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer? 1 2 3 4 5
A questão seguinte pergunta sobre quão bem você se sentiu a respeito de
vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas
Muito ruim
Ruim Nem ruim
nem bom
bom Muito bom
15
Quão bem você é capaz de se locomover? 1 2 3 4 5
As questões seguintes perguntam sobre quão satisfeito você se sentiu a
respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas
Muito
insatisfeito
Insatisfeito Nem insatisfeito
nem satisfeito
satisfeito
Muito
satisfeito
16
Quão satisfeito você está com seu sono? 1 2 3 4 5
17
Quão satisfeito você está com sua capacidade de desempenhar as
atividades do seu dia-a-dia?
1 2 3 4 5
18
Quão satisfeito você está com sua capacidade para o trabalho? 1 2 3 4 5
19
Quão satisfeito você está consigo mesmo? (auto-estima) 1 2 3 4 5
20
Quão satisfeito você está com suas relações pessoais (amigos,
parentes, conhecidos, colegas)?
1 2 3 4 5
21
Quão satisfeito você está com sua vida sexual? 1 2 3 4 5
22
Quão satisfeito você está com o apoio que você recebe de seus
amigos?
1 2 3 4 5
23
Quão satisfeito você está com as condições do local onde mora? 1 2 3 4 5
24
Quão satisfeito você está com o seu acesso ao serviço de saúde? 1 2 3 4 5
25
Quão satisfeito você está com o seu meio de transporte? 1 2 3 4 5
A questão seguinte refere-se com que freqüência você sentiu ou
experimentou certas coisas nas duas últimas semanas:
Nunca Algumas
vezes
Freqüentemente Muito
freqüente
Sempre
26
Com que freqüência você tem sentimentos negativos tais como mau
humor, desespero, ansiedade, depressão?
1 2 3 4 5
Alguém lhe ajudou a preencher este questionário?___________________________________________________________________________
Quanto tempo você levou para preencher este questionário?___________________________________________________________________
Você tem algum comentário sobre o questionário?___________________________________________________________________________
OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO
ANEXO
II
Parecer do Comitê de Ética
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo