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Universidade Metodista de São Paulo
Faculdade de Humanidades e Direito
Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião
Marianita do Rocio Xavier Crenitte
A CULTURA DO SUCESSO PROFISSIONAL: impactos
sobre os ambientes religiosos e corporativos
São Bernardo do Campo
30 de outubro 2009.
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Marianita do Rocio Xavier Crenitte
A CULTURA DO SUCESSO PROFISSIONAL: impactos
sobre os ambientes religiosos e corporativos
Dissertação apresentada em cumprimento parcial
às exigências do programa de Pós-graduação em
Ciências da Religião, para obtenção do grau de
Mestre.
Orientador: Prof. Dr. James R. Farris
São Bernardo do Campo
2009.
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Ficha Catalográfica
CRENITTE, Marianita do Rocio Xavier
A CULTURA DO SUCESSO PROFISSIONAL: impactos
sobre os ambientes religiosos e corporativos/Marianita
do Rocio Xavier Crenitte/ - São Bernardo do Campo – São
Paulo. Universidade Metodista de São Paulo – UMESP,
2009.
Orientador: Prof. Dr. James Reaves Farris
Dissertação (Mestrado) – Universidade Metodista de São
Paulo. Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Religião.
1.Sucesso 2.Religião 3.Cultura 4.Persona 5.Organizações
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Prof. Dr. JAMES REAVES FARRIS
__________________________________
(Confirmar)
_________________________________
(Confirmar)
Aos meus clientes, que foram fonte de
inspiração. Aos que atuam no mundo
profissional, para que possam lembrar,
sempre, de que viver é um dom supremo!
AGRADECIMENTOS
A DEUS ... por estar sempre presente
A meu orientador que norteou e me acompanhou nesta jornada
A meu pai que me ensinou que ser é melhor que ter
A meu companheiro, que acreditou em mim
A meus filhos, que não me deixaram desistir
A meus amigos que me apoiaram quando tudo estava difícil
minhas pequenas que estiveram perto o tempo todo
Ao CNPq pelo apoio financeiro na conquista de meu sonho.
“O homem deveria ouvir um pouco de boa
música, ler uma poesia e contemplar uma
bela pintura cada dia de sua vida, a fim de
que os valores do mundo o apaguem o
sentido da beleza implantada por Deus
em nossas almas”.
GOËTHE
CRENITTE, Marianita do Rocio Xavier. A cultura do sucesso profissional impactos sobre os
ambientes religiosos e corporativos. São Bernardo do Campo 2009. Dissertação (Mestrado em
Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São Paulo.
RESUMO
A pesquisa em questão versará sobre uma abordagem dos conceitos de
sucesso, religião, cultura em ambientes corporativos e religiosos, sob as óticas de
C.G.JUNG, no que se refere aos conceitos da psicologia analítica junguiana e que
vem sendo aplicados nos ambientes profissionais, e de B.TANURE no que se refere
às relações nos ambientes corporativos, cenários e formão do conceito de cultura
do sucesso profissional.
Por se tratar de um tema complexo tamm serão inseridas na pesquisa as
perspectivas de outros autores que vem contribuindo para a constatação e
elucidão do tema, como referenciais secundários.
É entendimento da proponente da pesquisa que o ser humano, em tempos
modernos parece estar cada vez mais, se distanciando de si mesmo, de seus valores
e até da própria fé. Neste afastamento procura encontrar razões, em geral fora de si,
responsabilizando muitos e inclusive Deus, nas mais distintas religiões, por atos e
atitudes por ele realizadas, e pelas escolhas que ele mesmo fez.
Nos ambientes profissionais as escolhas feitas refletem a busca pelo sucesso,
um arquétipo que, cada vez mais pode ser entendido como a busca pelo poder.
Este aspecto, como se pretende demonstrar no presente trabalho vem
colaborando de forma acirrada para a formação de uma nova cultura: a cultura do
sucesso profissional, hoje percebida tanto em ambientes corporativos quanto
religiosos.
Pretende ainda esta pesquisa demonstrar que é possível o equilíbrio entre ser
bem sucedido profissionalmente e viver de forma harmonizada e não como vem
sendo observado em alguns contextos, principalmente do mundo corporativo, onde
nem sempre o preço que se paga pelo sucesso é justo.
Palavras-Chave: SUCESSO, RELIGIÃO, CULTURA, PERSONA, ORGANIZAÇÕES
CRENITTE, Marianita do Rocio Xavier. The culture of professional success - impact on religious
and corporate environments. São Bernardo do Campo 2009. Dissertation (Master’s Degree in
Religious Sciences) - Universidade Metodista de São Paulo.
ABSTRACT
The purpose of the present study is to address the concepts of success, religion
and culture in business and religious environments according to C. G. JUNG through
the Jungian Analytical Psychology and also B. TANURE concerning the corporate
world, scenarios and elaboration of concepts related to the culture of professional
success.
Because this is a complex topic, the present study will also include the
perspective of other authors who have contributed to the explanation and evidence of
the theme, as secondary references.
The author understands that the individuals living in modern times seem to be
getting away from themselves, their values and even their own faith. During this
process, they try to find motives, which in general are unreal, blaming a lot of people
and even God from all religious, for their acts and attitudes and for choices made by
themselves.
In the professional world, the choices made reflect the search for success, an
archetype that has been increasingly understood as the search for power.
The goal here is to show that this aspect has helped in an aggressive way the
creation of a new culture: the culture of professional success, which nowadays is
perceived in corporate organizations as well as in religious ones.
Furthermore, the aim of this research is to demonstrate that the balance
between being professionally successful and living in harmony is possible, in contrast
to what we have observed in some contexts mainly in the corporate world where
not always the price paid for being successful is a fair price.
Keywords: SUCCESS, RELIGION, CULTURE, PERSONA, ORGANIZATIONS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO:...........................................................................................................1
CAPÍTULO I – A CULTURA DO SUCESSO PROFISSIONAL – Abordagem a partir
da perspectiva de B.Tanure e outros autores............................................................16
1 CULTURA, VALORES E SUCESSO......................................................16
1.1 CULTURA:...............................................................................................16
1.2 O QUE SE ENTENDE POR VALOR .......................................................21
1.2.1 O Sucesso Como Valor da Cultura..........................................................25
1.2.2 Indicadores de Sucesso para Algumas Populações................................27
1.3 CULTURA ORGANIZACIONAL E CULTURA EM AMBIENTES
RELIGIOSOS .....................................................................................................29
1.3.1 A Cultura das Organizações:...................................................................29
1.3.2 A Formação do Sucesso no Cenário Organizacional: Quando
Representar Se Torna Maior Que Ser – O Teatro Organizacional.....................35
1.3.3 A Cultura em Ambientes Religiosos ........................................................41
1.3.4 Padrões Atuais de Sucesso nos Ambientes Religiosos: .........................44
CAPÍTULO II – VISÃO GERAL DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C.G.JUNG:
principais conceitos e o significado da religião..........................................................47
2.1 CARL GUSTAV JUNG – Alguns dados pessoais:...................................47
2.2 VISÃO GERAL DA TEORIA de C.G.JUNG.............................................50
2.2.1 Conceitos Fundamentais da Psicologia Junguiana .................................50
2.2.2 A Estrutura da Personalidade e os Principais Arquétipos do Inconsciente
Coletivo 54
2.2.2.1 Persona...................................................................................................55
2.2.2.2 Anima e Animus .....................................................................................56
2.2.2.3 Sombra...................................................................................................57
2.2.2.4 Self.........................................................................................................59
2.2.3 Em Relação à Dinâmica da Personalidade .............................................61
2.2.4 Em Relação ao Desenvolvimento da Personalidade...............................62
2.3 CONCEPÇÕES SOBRE RELIGIÃO E FÉ:..............................................64
2.3.1 Carl Gustav Jung e Sua Visão sobre a Religião:.....................................65
2.3.2 Paul Tillich e o Entendimento da Fé:.......................................................70
2.4 C.G.JUNG E A QUESTÃO SIMBÓLICA..................................................73
2.4.1 Função Substitutiva do Símbolo:.............................................................74
2.4.2 Função Formadora e Transformadora do Símbolo:.................................76
CAPÍTULO III – APROXIMAÇÕES E CORRELAÇÕES: A CULTURA DO SUCESSO
PROFISSIONAL NAS PERSPECTIVAS DE C.G.JUNG E B.TANURE.....................78
3.1 A CULTURA BRASILEIRA E O SIGNIFICADO DE SUCESSO ..............79
3.1.1 Dimensões Culturais ...............................................................................81
3.1.2 Traços da Cultura Brasileira....................................................................83
3.2 O SIMBOLISMO, AS CULTURAS E AS ORGANIZAÇÕES:...................87
3.2.1 O Simbolismo do Sucesso.......................................................................91
3.2.2 O Simbolismo em Culturas Religiosas ....................................................93
CONSIDERAÇÕES FINAIS:.....................................................................................98
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................101
1
INTRODUÇÃO:
“Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para dentro do seu
coração: quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta!”
C.G.Jung
A presente pesquisa discorre sobre a formão de um tipo de cultura que vem
se formando dentro dos ambientes de trabalho, tanto de origem religiosa quanto de
natureza corporativa: A cultura do sucesso profissional.
Em seu desenvolvimento, o presente trabalho utilizará o pensamento de
C.G.JUNG e de B.TANURE, uma vez que são encontrados em suas linhas de
raciocínio, elementos e aspectos comuns que vêm ao encontro do tema proposto.
Contemporaneamente, o tema escolhido para esta pesquisa vem sendo objeto
de curiosidade e estudo. No ambiente corporativo em sua grande maioria, o aspecto
sucesso chega a ser tão importancializado que muitos executivos são capazes de
fazer tudo para atingí-lo e assim alcançar o Olimpo dos Deuses, jargão este usado
com bastante frequência e modismo no cenário organizacional e ao qual serão feitas
referências algumas vezes neste trabalho.
Falar sobre fé, religião e cultura do sucesso profissional em um mundo
(corporativo), que sempre foi considerado o celeiro da racionalidade, é um grande
desafio. Falar sobre um tema, que parece ter entrado para o rol dos assuntos
preferidos dentro das organizações, torna o desafio maior ainda.
O mundo corporativo historicamente sempre foi o do pensar, da falta dos
sentimentos, onde havia pouco lugar para as emoções e somente os resultados
importavam. Mas parece que “de uns tempos para cá”, esse cenário mudou. A partir
da metade dos anos 1990 aproximadamente, alguns termos e expressões, antes
quase nunca utilizados, passou a fazer parte do vocabulário e cotidiano das
2
Organizações: “alma do negócio”, “o coração da empresa, “a visão ecológica dos
negócios”, “espiritualidade”, “meditação” e muitos outros, são com muita frequência,
encontrados no linguajar dos executivos, inclusive daqueles que se encontram no
topo da pirâmide da esfera organizacional.
Isso traduz uma grande mudança nesse cenário, que nos anos 1980 era
qualificado como um mundo de ambões e competições exacerbadas e onde o
aspecto econômico-financeiro estava praticamente sozinho no topo das “áreas de
importância” das grandes organizações: foram vistas nessas esferas grandes
realizações, mas tamm muitos escândalos e fracassos. E, justamente esse
movimento de mundo parece ter provocado no ambiente corporativo uma busca
maior pelas queses da ética e dos valores humanos.
Ao mesmo tempo em que não se pode afirmar que a fé, a religião e até
mesmo a própria espiritualidade tenham se tornado regra no mundo do trabalho,
pode ser afirmado que elas deixaram de ser exceção. algum tempo atrás o
portal da revista Exame, na internet, lançou uma pergunta aos internautas: “Vale a
pena misturar Deus e negócios”? O resultado foi surpreendente: foram obtidas 589
respostas, distribuídas da seguinte maneira:
48% disseram que sim, sendo que destes, 31% acham que a ajuda
nos negócios e 17% acreditam que a pode aumentar a eficiência no
trabalho;
constrange alguns colaboradores;16% acreditam que a religiosidade
pode melhorar o ambiente, mas
33% disseram que a fé só deve ser exercitada de modo privado;
3
3% acreditam que a religião tira o foco da empresa e atrapalha os
negócios
1
.
A pesquisa não deixa claro o perfil desses internautas, mas de qualquer
maneira, para um mundo em que essa questão era quase proibitiva, o resultado
favorável de quase 50% já parece uma mudança significativa.
Outro indicador do aumento da busca pelas questões de sucesso, religião,
espiritualidade e felicidade nas organizões é o cada vez mais crescente mercado
das palestras sobre o tema. E isso não acontece só no Brasil e sim indica um
fenômeno mundial.
Com esta questão, ou seja, com o crescimento das palestras sobre o tema, é
possível se começar a pensar que no mundo do trabalho, religioso ou o, uma
nova cultura começa a se expressar de forma bastante acentuada: A “cultura do
sucesso profissional”, onde para ser considerado referência, via de regra os
profissionais, ao invés de ser, têm que ter. E, ao se pensar e observar este cenário,
é possível fazer uma constatação: essa cultura desgasta muito os profissionais, que
m buscando, mesmo que como alento, apoio nas questões religiosas ou
espirituais, para entender melhor a si e ao próprio fenômeno.
A busca pelas respostas em relação às questões de fé, religião, espiritualidade
no ambiente de trabalho hoje é de tal ordem que até a mídia impressa, cujo
interesse maior é publicar artigos sobre o que interessa ao público leitor saiu entre
2007 e 2008 com diversas matérias de capa em relação ao tema. Seguem, a título
de ilustração, apenas referência a algumas delas:
Revista História Viva, edição especial nº 19 – “Um homem chamado Jesus”;
Revista IstoÉ, edição 1990 – “Misrios de Maria”;
1
Resultados publicados em um artigo da revista Exame, edição 758.
4
Revista Veja edição 2027 – “A mente e o espírito”
Revista Veja edição 2040 – “A fé no terceiro milênio”;
Revista Profissional &Negócios, edição nº. 114, novembro / dezembro de
2007-“Jesus, executivo do ano?”.
Apesar de polêmico e desafiador, o tema “cultura do sucesso profissional”, em
ambientes religiosos ou não, parece estar cada vez mais chamando a atenção das
pessoas. Ao se observar os ambientes, quer sejam eles corporativos ou religiosos,
percebe-se que a supremacia do ter sobre o ser é uma realidade nas sociedades
contemporâneas, principalmente as ocidentais. No modelo vigente nas
organizações, faz parte do círculo de expoentes, aqueles que têm poder e que se
sobressaem sobre os demais muitas vezes isto significando exigir de si mesmo e
dos outros que fazem parte do contexto, muito além dos próprios limites. E como
limite é como diz a própria palavra, um limite, quando vira regra ultrapassá-lo com
frequência, o resultado final pode ser negativo e o que se encontra muitas vezes
o profissionais desgastados, estressados, doentes, infelizes. Mas, apesar deste
ônus, ao se observar o cenário mundial, pode ser percebido que as sociedades
atuais, principalmente as ocidentais, vivem uma busca infinita pelas questões que
conduzem a um status elevado e entre estas questões pode ser identificado o apelo
quase que irracional ao aspecto consumo; esse aspecto, surgido com o
aparecimento da burguesia, toma força no início do século XX com a entrada da era
industrial e aceleração dos processos produtivos em grande escala. Forma-se então
o retrato das sociedades modernas e capitalistas, onde o consumir parece ter se
tornado o eixo da vida.
Dentro deste cenário, o surgimento das diferenças e desigualdades sociais se
faz presente: aumentam os conflitos entre aqueles que têm (denominados incluídos)
5
e os que o têm (chamados de excluídos), o que gera certamente um impacto
cruel nestas mesmas sociedades: o aumento da violência e a banalização da
própria vida. Com muita frequência têm-se notícias de jovens que matam para
roubar um par de tênis de marca”, em uma clara alusão à vontade de pertencer a
um grupo social mais privilegiado. Esta situação inclusive elucida com muita clareza
que consumir (ter) passou a ser sinônimo de status e tamm de felicidade. Deste
cenário então pode ser feita a seguinte associação, quem tem é feliz e quem é
excluído, não é; o que muitas vezes é uma visão equivocada, como será
apresentada no decorrer deste trabalho.
Para melhor compreensão do que objetiva este trabalho de pesquisa entende-
se como necessária uma breve contextualização: nos dias atuais, a espiritualidade
parece estar mais “na moda”. Antes muito ligada às questões religiosas, hoje
parece também direcionada à questão da vida no mundo corporativo. Ao se
observar este ambiente percebe-se a angústia que nele existe, no momento
presente reforçada inclusive pela globalização, que se por um lado pode ter trazido
benefícios aos trabalhadores, por outro lado os inquietou com novas exigências,
para as quais talvez não estivessem preparados, nem conceitual ou tecnicamente,
nem emocional ou espiritualmente.
Esta tensão trouxe ao mundo corporativo, religioso ou o, algumas
preocupações: diante da angústia, muitas vezes intensa, o que fazer para se manter
motivado e inteiro no ambiente profissional? Parece ser esta uma das dúvidas que
transita pelas mentes dos profissionais, que na busca pelo equilíbrio interno, cada
vez mais se voltam às questões espirituais, como ponto de apoio, conforto e
fortalecimento. Esta busca da parte das pessoas pelo ambiente religioso, para a
obtenção de serenidade faz com que igrejas e templos estejam cada vez mais com
6
um aumento de seus membros, fiéis ou não. E este aumento de população nas
instituições religiosas pode ser visto pelos demais como o sucesso ou a
competência dos padres, pastores, rabinos ou outros dirigentes religiosos; isto,
porém pode não ser em seu todo verdade.
E da parte dos empregadores, tamm preocupados com as angústias do
universo profissional? Será que as razões de busca são as mesmas? Estarão
realmente os empresários preocupados em buscar formas de convivência que não
sejam sofridas e possam minimizar as angústias e dúvidas de seus colaboradores?
Diante deste cenário, torna-se pertinente na pesquisa, uma pergunta reflexiva:
trazer o tema sucesso atrelado à questão da espiritualidade para dentro das
organizações realmente traduz uma quebra de paradigmas com a implantação de
uma práxis religiosa ou é uma forma velada de “se conseguir” uma produtividade
maior e melhor dos colaboradores, sem necessariamente ter o foco de trazer para a
empresa a qualidade de vida?
O cenário atual nas organizações vem apontando para uma questão
significativa: para minimizar ou tirar um pouco a responsabilidade de cima de si
mesmas, as organizões vem adotando algumas práticas, como por exemplo a
questão dos programas anti-stress, momentos para meditação, momentos pra
desenvolvimento da espiritualidade, que parecem inclusive mais voltados ao bem
estar do que propriamente à qualidade de vida ou a um contraponto à atual cultura
do sucesso profissional .
Espiritualidade atrelada à qualidade de vida é o que “se prega” dentro das
organizações, mas ainda não se pode afirmar que exista congruência entre a fala e
a ação ou práxis efetivas referentes ao tema no mundo do trabalho.
E por que um paralelo com a visão Junguiana?
7
Porque JUNG dentre os estudiosos dos segredos e revelações da mente foi o
que mais fez conexões com a questão religiosa (ou com a falta dela); direcionou
seu trabalho à importância do ser humano se conhecer e reconhecer como
indivíduo e individualidade, com suas perfeições e imperfeições e isso o leva a
aceitação de si mesmo e só quando ele se reconhece e se aceita é que se torna
capaz de viver e conviver, de forma saudável em uma sociedade.
E TANURE, em sua perspectiva, através de suas contribuições, estudos e
pesquisas sobre cultura organizacional, demonstra o quanto o indivíduo dentro da
comunidade organizacional, reconhece a si mesmo como individualidade e se
apropria do papel de autor, na construção de uma sociedade mais justa, ou no
mínimo mais produtiva. Ou não.
A escolha de TANURE como um dos referenciais teóricos se justifica por ser a
mesma uma referência nacional e internacional no assunto e que vem contribuindo
de forma bastante significativa para a transformação e modernização das
organizações, através de suas pesquisas e obras escritas, por ter como uma de
suas premissas de trabalho que por meio da modificação da maneira de pensar e
agir dos profissionais é possível se modificar um contexto social.
E não é por acaso o mundo do trabalho, uma espécie de sociedade, com
cultura distinta e regras próprias? E também não o são, da mesma forma, as
instituições religiosas? No desenvolvimento deste trabalho de pesquisa é o que se
buscará elucidar.
Em relação ao problema da pesquisa, demonstra o trabalho, através de dados
observados em atendimentos psicoterápicos, de carreira e de workshops realizados
pela proponente, o quanto é polêmica e atualmente muito discutida no ambiente
8
profissional e estampado com muita freqüência nos veículos de mídia, a questão do
que é o sucesso no mundo do trabalho.
Diversas alternativas e significados tem sido dados a palavra sucesso; no
dicionário (Aurélio) são encontrados muitos entendimentos sobre o que se entende
por sucesso: aquilo que sucede, popularidade, presgio e até outros menos usados
como acidente, desastre ou sinistro. Porém para a presente pesquisa os significados
que interessam são os que se referem a resultado, conclusão, bom êxito, resultado
feliz, por ser essa a linha e o objeto estabelecidos para o trabalho proposto.
A observação do ambiente corporativo por aproximadamente 30 anos, permite
à autora a seguinte observação: a palavra sucesso nesse cenário exerce um
fascínio muito grande; a maioria dos profissionais, para não afirmar categoricamente
que todos eles, correm atrás ou estão sempre em busca dele. Mas em sua grande
maioria tamm confundem seu significado com o que é poder, ou o que é ter poder
dentro do ambiente de trabalho.
A mídia em muito contribui com esse equívoco, pois quase sempre veicula seus
cases de sucesso a executivos com muito poder dentro das organizações. Na
opinião do consultor de carreira americano, Donald Asher, ter sucesso é saber
vender as próprias realizações e
“A habilidade de vender as realizações pessoais determina a
imagem que seu chefe, sua empresa e o mercado fazem de
você. Quando se é bem sucedido nessa venda pessoal o
profissional cresce
2
.
A problemática que se pretende levantar com a proposição desta pesquisa gira
em torno da seguinte questão: existe no mundo do trabalho um chamado “Teatro
Organizacional”, onde com muita freqüência o papel que será representado se torna
maior que o ator que vai representá-lo. No teatro organizacional, como na própria
2
Citação feita na editoria de carreira da revista Você/SA, edição 125, novembro de 2.008, pg.58.
9
vida os papéis que serão representados são personas
3
(HALL & NORDBY, 1993,
pg.36) ou máscaras, desenvolvidas e assimiladas desde o início do desenvolvimento
da personalidade; cabe também ressaltar que no mundo corporativo é a persona
utilizada quem mais traduz e expressa os valores da cultura das organizações. Na
psicologia analítica junguiana o significado é basicamente o mesmo: o arquétipo da
persona tamm permite ao indivíduo desempenhar um papel ou criar um
personagem que não seja ele próprio. Porém o cuidado principal para este aspecto
não se tornar patológico, reside no fato de não permitir que a identidade profissional
se torne a pessoal, ou seja, que o status” profissional ou a expreso do sucesso
profissional, se torne o centro regulador da vida do indivíduo.
O sucesso, com muita frequência representado pela utilização de símbolos de
poder como “status social” ou dinheiro, exerce uma influência nas culturas
organizacionais, muitas vezes contribuindo positivamente, muitas vezes dificultando
a práxis das organizações e tornando o profissional algo que ele não é. Pode ser
afirmado que em muitas organizações, o sucesso chega a ser quase uma religião,
pois afeta profundamente o ser humano; tanto quanto a fé, que na perspectiva de
Tillich (1985) é:estar possuído por aquilo que nos toca incondicionalmente”.
Neste contexto, a problemática que a pesquisa levantou foi: “O que significa
sucesso na perspectiva dos referenciais teóricos escolhidos, em organizações
religiosas e em organizações seculares?”.
3
Persona significava originalmente uma máscara utilizada por um ator e que lhe permitia compor um
determinado personagem em uma peça; algumas palavras derivadas desse vocábulo são
personagem e personalidade.
10
Justificativa:
O tema foi escolhido por tratar-se de um desejo pessoal de conhecer mais o
fenômeno religioso e o que justifica a realização desta pesquisa é a atuação da
pesquisadora como psicóloga clínica e orientadora de carreira, na condução de
processos de Coaching e Aconselhamento.
Foi observado pela proponente durante sua trajetória profissional que sempre
que pacientes ou clientes seus se deparavam com dificuldades, de quaisquer
esferas fossem elas (pessoal, profissional, afetiva, financeira, emocional, sexual,
física) e os mesmos não se percebiam capazes de resolvê-las, imediatamente a
responsabilidade recaía sobre a questão religiosa, nas mais diversas religiões
(cristianismo, protestantismo, judaísmo, espiritismo, budismo, islamismo) e crenças.
Esta questão sempre lhe foi intrigante, pois em sua atuação com a linha
Junguiana, sempre esteve claro que a responsabilidade pelos atos e atitudes do Ser
Humano é dele e não de Algo ou Alguém fora dele.
Com muita freqüência, quando o modelo de sucesso estabelecido atualmente
pela maioria das Organizões e onde principalmente o poder, status e dinheiro são
fortes indicadores não é alcançado, o responsável é sempre Algo ou Alguém fora
dele chegando muitas vezes esse Algo ou Alguém a ser nomeado: Deus.
E aqui entra a importância da escolha de um dos referenciais teóricos
escolhidos ser C.G.Jung. Como mencionado anteriormente, dentro da psicologia
ninguém falou mais sobre a questão religiosa do que Jung. O conceito de religião,
para ele difere em muitos aspectos do conceito que se tem no cristianismo
tradicional; o termo religião tem o significado de religio e religare” que quer dizer
11
tornar a ligar . Assim sendo dentro da psicologia analítica Junguiana a religião tem
a função de ligar o consciente a fatores inconscientes importantes.
Quando esta conexão é feita o ser humano pode encontrar mais facilmente sua
totalidade e assumir de forma mais responsável seus papéis, nos diversos cenários
pelos quais transita.
Esta pesquisa pretende ainda demonstrar a importância e relevância do tema,
visto ter por objetivo informar, criar e fornecer subsídios para que o homem se torne
cada vez mais centrado em seu eixo, responsabilizando-se por aquilo que faz. Neste
momento ele se apropria de Si em sua totalidade, arrisca fazer escolhas e tomar
decisões, pois descobre que tem poder para isto. Pode errar sem sentir culpa, pois
estará compreendendo o significado da culpa e que suas escolhas foram as melhores
possíveis quando ele as fez, mas podem deixar de sê-las em outro momento.
Este estudo torna-se bastante significativo, pois pretende mostrar através da
fundamentação conceitual e diálogos entre os referenciais pesquisados, o poder que
cada um tem dentro de si, tornando o ser humano mais fortalecido para fazer suas
opções. Poder ser verdadeiramente o que se é, na essência, sem se confundir com
os papéis exigidos nos mais distintos cenários, isso sim é sucesso.
Outro aspecto importante da pesquisa proposta es fundamentado na
observação do quanto os profissionais cada vez mais dispendem mais tempo de
suas vidas ao mundo do trabalho e este, parece ter começado a perceber que
para que os mesmos estejam mais inteiros e plenos em seus ambientes
profissionais, algo mais, além do estritamente material deve estar presente. Neste
sentido a escolha de B.TANURE como um dos referenciais teóricos se torna
pertinente e agregador, pois sua visão é muito parecida com a de C.G.JUNG no que
diz respeito a importância do ser humano se apropriar da própria vida. TANURE
12
vem pesquisando temas relacionados ao mundo corporativo há bastante tempo,
inclusive os relacionados ao quanto existe de (in)felicidade dentro das
organizações, o quanto é o poder quem dita as regras e o que é o sucesso para
diversas culturas, como será mencionado posteriormente.
Em relação ao aspecto originalidade, o tema proposto nesta pesquisa se
coaduna com a busca de respostas e conceitos mais intuitivos do que racionais e
pelos quais a grande maioria dos profissionais está optando, por demonstrar certo
descrédito em relação aos modelos eminentemente concretos.
Procedimentos Metodológicos
Todo trabalho científico deve estar fundamentado em um método e uma
metodologia de pesquisa.
Método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior
segurança e economia, permite alcançar o objetivo conhecimentos válidos e
verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando os erros e auxiliando
as decisões do cientista” (LAKATOS,2005,PG.83).
Pelas características da pesquisa a ser realizada, entende-se que o método a
ser utilizado será Analítico-comparativo, pois tem como proposição a análise dos
conceitos fundamentais da psicologia de CARL GUSTAV JUNG comparando-os ao
pensamento de BETANIA TANURE, nas questões referentes a sucesso, religião,
valores e arquétipos principais, em especial a persona, comparando as linhas de
raciocínio de um ao do outro bem como identificando como essas questões
permeiam hoje o universo simbólico do mundo corporativo.
13
Segundo LAKATOS, método comparativo é aquele que considera semelhanças
e diferenças entre tipos de grupos, sociedades ou povos, visto os mesmos
facilitarem uma melhor compreensão do comportamento do ser humano. As
comparações o realizadas no sentido de descobrir semelhanças e explicar
diferenças. Ainda de acordo com sua perspectiva LAKATOS afirma que esse tipo de
método é usado nas comparações de grupos tanto no presente quanto no passado
bem como entre sociedades de iguais ou diferentes estágios de desenvolvimento.
Na presente pesquisa, as comparações serão realizadas a partir das
considerações de JUNG, feitas no século XIX e primórdios do século XX e as de
TANURE realizadas a partir das últimas décadas do século XX e início do século
XXI.
A escolha do todo comparativo deve-se ao fato do mesmo permitir a análise
de dados concretos, abstraindo dos mesmos os elementos constantes abstratos e
gerais.
A metodologia a ser utilizada ou a forma como a pesquisa será conduzida, será
bibliográfica, realizada através da leitura das obras e documentos já existentes sobre
o tema proposto.
Na perspectiva de LAKATOS (2005, pg.185) a pesquisa bibliográfica contempla
a bibliografia tornada pública em relação ao tema a ser pesquisado, desde
publicações avulsas até os meios de comunicação. A finalidade principal da
pesquisa bibliográfica é levar o pesquisador ao encontro do que já foi escrito, dito ou
produzido sobre a pesquisa realizada por ele.
Ainda sobre a pesquisa bibliográfica é importante mencionar que seu objetivo,
como afirma Trujillo (apud Lakatos,pg.185), é permitir ao pesquisador “o reforço
paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informões”.
14
Assim sendo, não se trata a pesquisa bibliográfica de um mero repetir daquilo
que já foi apresentado e sim de uma possibilidade de se analisar o tema sob uma
nova ótica, o que pode levar a resultados inovadores.
É ainda encontrado sobre a pesquisa bibliográfica, de acordo com Cervo e
Bervian (1983) que a mesma busca explicar um problema com base em referenciais
teóricos publicados e tem por finalidade conhecer e analisar as contribuições
culturais ou científicas do passado acerca de determinado assunto ou problema.
Esta pesquisa bibliográfica enfoca tanto a leitura e análise dos referenciais
principais quanto as obras dos referenciais secundários, ou seja, daqueles autores
que escreveram sobre os referenciais principais ou sobre suas obras, de forma
interpretativa.
O trabalho é composto por três capítulos:
O primeiro capítulo versa sobre conceitos de cultura, valores e sucesso e
tamm aborda a questão de um novo tipo de cultura que vem surgindo nos
contextos de trabalho, quer em ambientes religiosos ou do mundo corporativo: é a
chamada cultura do sucesso profissional, permeada de símbolos que remetem muito
mais à persona de cada indivíduo do que ao que de fato ele é em sua essência, que
fala muito mais do ter e do poder do que do ser e da importância das competências
de cada um.
O capítulo dois tem como foco central a apresentação, de maneira geral, da
teoria de CARL GUSTAV JUNG, seus principais conceitos, os veis da psiquê, os
conteúdos do inconsciente coletivo e seus principais arquétipos, perspectivas e
entendimentos sobre o que é religião e como estes aspectos impactam a formão
da cultura organizacional. No que se refere a perspectiva de TANURE, abordará sua
linha de raciocínio sobre as questões de indivíduos,sucesso e contextos
15
organizacionais. Tamm fará uma breve menção ao entendimento de fé, na
perspectiva de Paul Tillich e suas semelhanças com a teoria analítica de Jung.
No capítulo três é feita uma proposição de diálogo entre os referencias teóricos
principais, apontando para os pontos de semelhança e divergências no que se refere
às questões de cultura, valores e sucesso e sobre a formação deste novo modelo de
cultura que vem se delineando nas instituições, religiosas e seculares, que é a
cultura do sucesso profissional, nas quais alguns indicadores apontam, de forma
clara, que “para ser, é preciso ter”.
16
CAPÍTULO I
A CULTURA DO SUCESSO PROFISSIONAL Abordagem a partir
da perspectiva de B.Tanure e outros autores
“O homem que empenha todo o seu trabalho e imaginação em oferecer por
um dólar o mais possível, em vez de menos, está condenado ao sucesso”
Henry Ford
4
.
Nesta parte da pesquisa serão abordados os temas pertinentes à cultura,
valores e sucesso, indicadores de sucesso nos ambientes religiosos e corporativos,
a cultura nos ambientes corporativos e religiosos e o teatro corporativo.
1. CULTURA, VALORES E SUCESSO
1.1 CULTURA:
A cultura pode ser entendida como um sistema simbólico, tanto quanto o são as
artes, os mitos e os diversos tipos de linguagem usados como forma de
comunicação entre pessoas e grupos sociais. É um termo que vem sendo utilizado
com diversos significados e em situações muitas vezes distintas entre si. Muitas são
as definições encontradas para a palavra, de simples, até as mais complexas. Pires
e Macedo (2006) mencionam que, em 1962, existia o registro de 164 definições
para o conceito, algumas apresentadas a seguir:
4
Henry FORD 30/07/1863- 07/04/1947 – Inventor Americano, nascido em Greenfield Township e
falecido em Dearborn, Michigan. Criou uma moderna fábrica de automóveis simples, com preços
acessíveis e de fácil utilização. Para baratear o custo de seus produtos, inventou a linha de
montagem: as vária etapas da fabricação eram distribuídas ao longo de uma esteira rolante e cada
empregado acoplava um componente padronizado, para fossem evitadas hesitações e desperdício
de tempo no trabalho.Era um trabalho repetitivo e cansativo mas bem remunerado e atraiu muitos
trabalhadores, de todo o país.
As mudanças sociais e econômicas criadas por ele ficaram conhecidas como Fordismo, que teve seu
auge após a 2ª guerra mundial e seu declínio nos anos 1970.
17
- O conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se
preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em
sociedade;
- A parte ou o aspecto da vida coletiva, relacionados à produção e transmiso de
conhecimentos, à criação intelectual e artística
- O processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo, um povo, uma
nação, que resulta do aprimoramento de seus valores, instituições, criações,
civilização, progresso;
- Atividade e desenvolvimento intelectuais de um indivíduo; saber, ilustração,
instrução.
- Refinamento de hábitos, modos ou gostos; tamm pode ser definida como apuro,
esmero ou elegância.
Da mesma forma muitos são os autores que vêm escrevendo sobre o termo ao
longo dos anos e este é o aspecto que interessa a presente pesquisa. São
encontradas definições que vem de C.G.JUNG que se referia a ela como “sinônimo
aproximado de sociedade ou grupo algo diferenciado e mais autoconsciente,
pertencente ao coletivo” (Andrew Samuels)
5
, a GEERT HOFSTEDE( Hofstede apud
TANURE, 2007,pg.17) que afirma ser a cultura uma programação mental, coletiva e
que diferencia um grupo do outro sendo resultante de um processo de aprendizado
iniciado na infância; de B.TANURE que relaciona o conceito de cultura a valores,
sentimentos e crenças compartilhados por um grupo de pessoas de um país ou
região, a Jurandir Freire Costa, que com a expressão “cultura da razão cínica”,
mostra que cultura é a “própria condição de sobrevivência do homem no planeta e
não simplesmente um revestimento que retoca as aparências do universo humano”
5
Site RUBEDO, Dicionário crítico de análise Junguiana, sob parecer editorial da SBPA – Sociedade
Brasileira de psicologia Junguiana.
18
(Costa,1995,pg.10). Na perspectiva de Pires e Macedo (2006), cultura pode ser
entendida como algo que é aprendido e compartilhado por membros de um grupo e
pode se referir tanto á uma nação quanto à organizações ou qualquer tipo de
agrupamento de pessoas, voltadas para a realização de alguma atividade.
Neste sentido e perspectiva, o termo cultura religiosa, também é perfeitamente
pertinente.
na perspectiva de LARAIA (1996) que também confirma que cultura decorre
do processo de aprendizagem, são refutadas as teorias sobre o determinismo
genético e geográfico e é reafirmado que cultura se forma ao longo do tempo,
incorporando os conhecimentos desenvolvidos pelo grupo e outros que são
assimilados através da convivência com outros grupos, presentes no ambiente.
Assim sendo, sob sua ótica, a cultura manifestada pelo indivíduo, é decorrente do
esfoo coletivo.
Também é encontrada uma definição bastante importante em P. Tillich, que
conforme afirmão de Cruz
6
dizia que existem três conceitos de cultura, cada um
deles com uma interpretação própria:
a. “Cultivo ou pensar culto (Bildung)”, o que significa que através da
cultura, as capacidades naturais do ser humano são treinadas,
desenvolvidas e aperfeiçoadas. Assim sendo, nesta abordagem,
cultura, (colere, cuidar de) significa cuidar de algo, mantê-lo vivo e
fazê-lo crescer;
b. Geistesleben”, o espírito é a força motora da criatividade humana;
neste sentido a cultura é definida como autocriatividade da vida sob a
dimensão da espírito e a dividimos em theoria, em que a realidade é
aprendida e práxis em que a realidade é configurada;
c. “Gestalt”: a cultura é um todo complexo; desta maneira é uma espécie
de organismo, que transcende suas partes constitutivas, tais como a
6
Eduardo Rodrigues da CRUZ. Visão crítica da concepção da religião e da cultura em Paul Tillich,
conferencia apresentada no seminário Em Diálogo com o pensamento de Paul Tillich, sobre o tema
“Religião e Cultura”, São Bernardo do Campo, UMESP, 1.996.
19
ciência, a arte, a religião, a economia, a tecnologia... e poderá ter seu
entendimento e compreensão feitos a partir de seu “estilo ( estilo de
pensamento, de política, de época etc.”.
Sob a perspectiva da psicologia analítica de C.G.JUNG que ao definir alguns
componentes da cultura, em sua visão traz a questão da consciência e
autoconsciência, como já mencionado, vale ressaltar que a organização da
consciência parece ser o núcleo das culturas: os valores assimilados, visões de
mundo, decisões tomadas, por exemplo, o produtos da forma como é organizada
a consciência. Também é encontrada referência a esta questão da consciência em
E.Dürkheim, que em As formas elementares da vida religiosa (2003), afirma que a
religião está relacionada à forma como o indivíduo organiza sua compreensão da
realidade.
Na visão da antropologia, cultura pode ser tomada abstratamente como
manifestação geral de um atributo da humanidade ou de uma forma mais concreta
como um patrinio próprio e diferencial de um determinado grupo. Também pode
ser compreendida como o conjunto complexo dos digos e padrões que regulam a
ão humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou
grupo específico, e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida:
modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores
espirituais, criações materiais.
Um dos conceitos mais abrangentes e que proporciona uma idéia da imensidão
conceitual que se tem ao pensar nos significados de cultura é encontrado no Mirror
for Man, de Clyde Kluckhohn
7
. Neste estudo, o autor apresenta uma diversidade de
entendimentos sobre o tema: “O modo de vida global de um povo; o legado social
que o indivíduo adquire do seu grupo, uma forma de pensar sentir e acreditar, uma
abstração do comportamento; uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma
7
Clyde KLUCKHOHN, antropólogo, autor da obra Antropologia um espelho para o homem.
20
pela qual um grupo de pessoas se comporta realmente; um celeiro de aprendizagem
em comum, um conjunto de orientações padronizadas para os problemas
recorrentes, um comportamento aprendido; um mecanismo para a regulamentão
normativa do comportamento; um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao
ambiente externo como em relação aos outros homens; um precipitado da história”
(GEERTZ, 1989, pg. 4).
Ao se estudar ou buscar o entendimento sobre o que é o conceito de cultura,
além de serem encontrados diversos autores e definições, também se depara com
algumas colocações que remetem a um estado de incerteza em relação ao tema:
enquanto alguns se referem à cultura como uma conduta padronizada e outros a
uma situação ou estado da mente, existem aqueles que acreditam ser a cultura uma
junção destas duas perspectivas.
Na pesquisa presente a definição do conceito não se configura como aspecto
principal; o que se traduz como mais importante nesta tentativa de “definição” é que
qualquer estudo sobre cultura não deve perder de foco sobre qual é o propósito ou
significado do universo simbólico retratado por ela, para o indivíduo.
Do ponto de vista da psicologia, o conceito de cultura aparece com freqüência
relacionado a algum grupo que formou a própria identidade, desenvolvendo um
senso de continuidade, agindo e interagindo com pessoas,aspectos e queses que
para ele tenham significado. Dentro desta linha de raciocínio, a cultura pode ser
entendida como um universo de significados e propósitos pelo qual o ser humano
transita e que resulta em um cenário de muitas discrepâncias e ambigüidades, o que
exige dele algumas características específicas.
TANURE (2005, artigo Os impactos da cultura local) em uma de suas
pesquisas sobre a cultura brasileira, apresenta algumas destas características, no
21
que se refere à forma de gestão e que em seu entendimento, apesar de muitas
vezes serem contraditórias, formam seu alicerce:
a absorção de modernas técnicas de gestão, mas com certa submissão
aos processos “importados”; flexibilidade para adaptar-se a novas
situações, capacidade de lidar com a incerteza, permeada por traços fortes
de hierarquia. Os brasileiros funcionam orientados pela autoridade externa.
Apesar do discurso participativo, o estilo de gestão ainda se mostra
bastante centralizado. Esse é um comportamento presente até mesmo nas
elites, que importam modelos sem adaptá-los às nossas condições
culturais. A flexibilidade está permeada por um dos traços marcantes da
cultura brasileira: a afetividade.Os brasileiros revelam pensamentos e
sentimentos - verbalmente e não verbalmente. Eles são acalorados, não se
retraem ao toque físico, têm gestos e fortes expressões, as falas são
fluentes e dramáticas. Esse conjunto de características é refletido no
chamado “jeitinho brasileiro” reconhecido pelos estrangeiros que
trabalham no Brasil ”
1.2 O QUE SE ENTENDE POR VALOR
“Valor é uma concepção do desejável, explícita e implícita,
característica de um indivíduo ou grupo e que influencia a
seleção dos modos, meios e fins da ação”
C. KLUCKHOHN
8
.
Valor é o que o indivíduo considera importante em sua vida; são as verdades
profundas, das quais ele não está disposto a abrir mão e podem ser traduzidos
como o eixo orientativo das ações do ser humano, podendo ser (ou estar)
conscientes ouo em suas vidas.
Da mesma forma que na vida dos indivíduos, os valores também estão
presentes nas organizações, que algumas vezes de forma o verdadeiramente
explícita, o que gera nos profissionais um estado de confusão e faz com que cada
8
C. KLUCKHOHN, citação feita no artigo Valores: a base de uma liderança íntegra e que integra, de
autoria da Professora Fátima Motta da ESPM, SP.
22
um atue de forma particular, de acordo com os próprios valores ou em concordância
com os que lhe for mais conveniente.
Dentro de um contexto profissional, os valores são definidos e identificados de
forma coletiva, a partir do estabelecimento da visão e missão da organização; assim
sendo, traduzem a forma como as mesmas (visão e missão) são vivenciadas no dia
a dia das organizações.
Em uma linguagem próxima do cotidiano das pessoas, pode se afirmar que
assim como cultura pode ser considerada “aquilo que as pessoas praticam
(B.TANURE), os valores podem ser considerados o eixo central das culturas.
O mundo corporativo vem, de um tempo para cá, assimilando valores e normas
oriundos da religião, comunidades e famílias. Como estas instituições, atualmente,
se encontram fragilizadas, os valores também sofreram um forte impacto e foram e
eso se modificando dentro das Organizões. Apesar de cada vez mais o
ambiente profissional estar repleto de normas, políticas e diretrizes parece que ele
es menor em relação aos valores que consigam mostrar a seus colaboradores um
sentido ou uma forte razão para continuar acreditando em seu trabalho.
A turbulência pela qual o ambiente de trabalho vem passando, com
enxugamentos, fusões (e confusões) e aquisições têm gerado uma angústia e
insatisfação nos profissionais e demandado das lideranças a descoberta de novas
formas e caminhos para a reenergização de seus colaboradores; nesse sentido,
cabe a elas o cultivo e disseminação de valores que possam recuperar o
comprometimento, a auto-estima, o alto desempenho e a produtividade, levando-os
a sair do chamado “sub-desempenho satisfatório”
9
. Na perspectiva de MOTTA
9
Expressão utilizada no jargão da administração de empresas e significa o profissional realizar
apenas o suficiente para a função que exerce, não ousando avançar ou ousar em suas competências
e habilidades.
23
(2.009), “os valores são a base de uma liderança íntegra e que integra (MOTTA,
revista da ESPM, Jan/Fev, 2009)”.
Em 1893, o sociólogo Emile Durkheim, desenvolveu um termo chamado
Anomia
10
, que até hoje pode ser utilizado para explicar o que vem gerando a
insatisfação dos profissionais no contexto corporativo: Durkheim observou que no
rastro da Revolução Industrial, a exigência por uma especialização cada vez maior,
afastava cada vez mais uns indivíduos dos outros e essa falta de contato não
permitia a disseminação e prática dos valores grupais ou coletivos. Ele percebeu
tamm que trabalhadores, quando isolados, perdiam o senso de pertinência, ou
seja, o sentimento de fazer partedo todo. A anomia gera a falta de motivação;
motivação significa os motivos que as pessoas tem para suas ões e assim sendo
um colaborador que não se sente fazendo parte de um todo, que motivos tem para
se comprometer com o mesmo, praticar e disseminar os valores do contexto de
trabalho onde atua?
Na psicologia Junguiana um dos conceitos dinâmicos mais importantes é o de
valor que representa a medida da quantidade de energia designada ou atribuída a
um elemento psíquico em especial. Vocábulo oriundo dos conceitos de economia e
moral, o termo traz consigo, quando usado pela psicologia a questão de que
“qualquer coisa ou evento pode tornar-se obrigatoriamente objeto de apetência ou
intencionalidade subjetiva (PIERI, Paolo Francesco)”
11
.
Um alto valor atribuído a um fato ou a uma idéia tem a significância de que a
mesma tem uma grande influência no comportamento do indivíduo. Ainda dentro do
raciocínio da psicologia analítica junguiana é encontrado que valor sempre se refere
a um objeto da preferência ou escolha, não importando de que ordem sejam, mas
10
Anomia significa alienação e faz com que os indivíduos se sintam isolados e desiludidos e
segmenta as organizações.
11
A presente citação é encontrada no dicionário Junguiano, pg. 513.
24
que necessitam , invariavelmente, fazer parte de um processo cognitivo e afetivo do
ser humano. Outro aspecto, importante é que um valor é sempre percebido e
reconhecido em relação a outro valor, em oposição ou contradição e em graus de
importância. Daí o fato de existirem valores que são inegociáveis para o ser humano
e outros, que dependendo do contexto, ele pode repensar e até abrir mão.
No mundo corporativo, os valores são definidos, basicamente da mesma forma:
a quantidade de energia ou esforços investidos em determinadas ações dão o
indicador de que para aquela pessoa ou aquela organizão, a ação significa um
valor.
Os valores fundamentais dentro do ambiente corporativo se referem às
premissas básicas e traduzem o nível mais profundo de uma cultura organizacional.
Edgar Schein, (apud TANURE, 2007, pg.18), uma das referências nesse campo de
pesquisa, fez em 1986 uma observação interessante em relação a este aspecto:
“O nível mais profundo da cultura de uma organização inclui as premissas
básicas, inconscientes, as crenças tidas como certas, às quais define como
a essência da cultura, considerada inegociável. Uma das formas de
identificar se estamos questionando uma premissa básica é a reação de
confusão ou irritação das pessoas, porque para elas, aquilo não pode ser
diferente do que pensam ser.
TANURE por sua vez, afirma ainda, em relação a este aspecto que os valores
o o “eixo central” de uma cultura, e que, segundo Schein (1986) portanto estão
“relacionados aos desejos e aspirações de determinado grupo. Ela tamm faz
menção em sua obra Gestão a Brasileira, a uma pontuação importante em relação a
este fato, no que se refere à distinção entre valores e normas:
“valores se referem aos desejos e aspirações de determinados grupos.
Normas o um sentimento mútuo que um grupo tem sobre o que é certo e
errado.[ ]...os valores definem o que é bom e mau enquanto as normas
referem-se ao que aquele determinado grupo deve fazer ou não [ ]...quanto
mais as normas estiverem baseadas nos valores existentes, mais
25
facilmente as pessoas as cumprem (SCHEIN, apud TANURE, 2007,
pg.18).
1.2.1 O Sucesso Como Valor da Cultura
Tendo por entendimento que o termo cultura pode traduzir um universo
simlico, permeado de significados e propósitos, é proposta desta pesquisa
apresentar o quanto dentro deste mesmo universo a questão sucesso também é
simlica, carregada de significados e interpretações.
No mundo atual, o conceito de sucesso está relacionado com a capacidade de
ter, de consumir, de adquirir, de aumentar os bens, sejam eles de ordem material e
até espiritual. Nesta perspectiva pode ser afirmado que este é um modelo criado e
incentivado por pessoas e desta forma, portanto, pode ser repensado por elas.
Ainda dentro desta perspectiva relacionada ao ter pode ser feita uma correlação com
o aparecimento da inveja
12
, que é explicitada, principalmente, quando surge um
fracasso pessoal. Neste sentido, parece muito pertinente a ponderação de TOMEI,
(1994, pg. 78):
“o sucesso como bandeira para os outros catalisa a inveja nas
organizações. O sucesso como conseqüência de escolha e prazer pessoal
pode levar ao equilíbrio e à harmonia dos indivíduos e das organizações
Ainda na obra de TOMEI, é encontrado um trecho do escritor uruguaio,
Napoleón Baccino Poncé de Leon que fundamentado em exemplos históricos faz
uma analogia contundente em relação ao entendimento de sucesso:
“a doutrina do sucesso em termos de conquista individual e material é um
produto cultural que as sociedades exportam junto com seus demais
produtos para o resto do mundo. Antes, cada cultura tinha sua escala de
12
Inveja segundo o dicionário Aurélio pode ter duas conotações: desgosto ou pesar pelo bem ou
pela felicidade de outrem; Desejo violento de possuir o bem alheio.
26
valores... Agora todo mundo quer ter sucesso. Não basta ter dinheiro, ser
um grande artista, um bom pai, o melhor em seu ofício, nem sequer basta
ser feliz... nada disso vale nada se os outros não reconhecem, se não
sabem, se não tem uma resposta social imediata. A vida se parece cada
vez mais com o teatro. Acontece que a doutrina do sucesso é muito estrita.
Trata-se de uma doutrina individualista, materialista, exibicionista e
imediatista... E nesta sociedade, onde todos tem mentalidade de estrela de
cinema, não existe um estigma pior que o do fracasso”
13
.
Ao se tentar a interpretação do trecho do artigo de Poncé de Leon, constata-se
que algum tempo a formação de uma espécie de nova cultura se configurava:
a cultura do sucesso profissional que como as demais culturas traduz a forma de ser
dos indivíduos dentro das organizações.
Na abordagem da psicologia analítica junguiana pode se relacionar o conceito
de sucesso a um dos arquétipos principais descritos por Jung, que é a persona.
(HALL e NORDBY, 1993, pg. 36) e sobre a qual será feita uma explanação maior no
capítulo II, ao se apresentar na presente pesquisa os conceitos fundamentais da
psicologia de C.G.JUNG.
Voltando a pesquisa para a questão sucesso, se existe algo que o ser humano
busca em sua trajetória de vida, seja na esfera pessoal ou no ambiente profissional
é o sucesso, no sentido da realização, do alcançar seus objetivos e metas. Nas
organizações, o que existe de igual para todos os colaboradores, nos mais distintos
veis hierárquicos, é que querem ter sucesso em suas atividades. O que varia no
mundo corporativo, é o tipo de sucesso que se almeja, que se acha atrelado aos
valores que cada organização tem e que por sua vez estão relacionados à cultura
dos países ou regiões onde as organizações se acham inseridas.
13
TOMEI,P.A. Inveja nas organizações, pgs.79/80.
27
B. TANURE (2.005), em uma de suas pesquisas, afirma que este é um dado
importante porque os valores que uma organização tem direcionam as ações dos
executivos que nela trabalham, bem como norteiam sua trajetória em busca do
sucesso, que “a priori” é seu, mas certamente está interligado ao sucesso de sua
empresa. Segundo ela, “no caso do Brasil, os mais fortes indicadores de sucesso
o interesses familiares atendidos, ter competência de disputar com espírito
esportivo e a riqueza pessoal” (TANURE, sd).
1.2.2 Indicadores de Sucesso para Algumas Populações
Ao se abordar a questão de sucesso, torna-se importante mencionar a
pesquisa desenvolvida por Hofstede (2002) e aplicada no Brasil por TANURE, no
sentido de tentar esclarecer a seguinte questão: o conceito de sucesso é o mesmo
entre diferentes sociedades?” (TANURE, 2007, pg.113)
Após a análise do instrumento de pesquisa foi constatado que em todos os
países que participaram da mesma, os mais importantes e fundamentais indicadores
de sucesso (TANURE, 2007, pg.114):
Permanecer dentro da lei:
Ética;
Responsabilidade Social
Apesar de em todos os países pesquisados os indicadores acima terem sido
comuns, na realidade existem diferenças cross culturais, como aponta TANURE
(2007):
28
Fonte: TANURE, 2007
GRUPOS DE PAÍSES
PERFIL
INDICADORES DE SUCESSO
GRUPO 1
BRASIL
FRANÇA
AUSTRÁLIA
HUNGRIA
O EMPREENDEDOR
FAMILIAR
Interesses familiares satisfeitos;
competência para disputar com espírito
esportivo; Riqueza pessoal
Brasil e França por
terem origem latina
valorizam muito as relações
pessoais e a hierarquia
GRUPO 2
ALEMANHA
HOLANDA
O FUNDADOR
Valorização da responsabilidade com
os empregados e a sociedade;
Capacidade criativa e inovadora
Neste grupo de países a
responsabilidade do dirigen-
te de empresas para o
desenvolvimento do meio em
que ele está é extremamen-
te importante
GRUPO 3
ESTADOS UNIDOS
EXECUTIVO DE
RESULTADOS
Crescimento dos negócios, lucros,
riqueza pessoal, poder
GRUPO 4
CHINA
MANDARIN
Respeito, ética, responsabilidade
social,honra,patriotismo
GRUPO 5
NOVA ZELANDIA
GRÃ-BRETANHA
GERENTE
Lucros, crescimento e continuidade do
negócio, manter-se dentro da lei
GRUPO 6
INDIA
JAMAICA
BAHAMAS
GERENTE FAMILIAR
Lucros do ano, continuidade do
negócio, patriotismo, bem estar da
família
29
1.3 CULTURA ORGANIZACIONAL E CULTURA EM AMBIENTES RELIGIOSOS
Ao se pesquisar a relação ou correlação entre cultura e cultura organizacional,
pode se pensar que ambas se referem a um universo simbólico, permeado de
símbolos, ritos e mitos; neste sentido pode-se afirmar que, com muita freqüência, as
culturas organizacionais repetem os valores das culturas onde as organizações se
acham inseridas. Em uma de suas perspectivas a cultura é vista como um conjunto,
de valores, mises, premissas, propósitos etc, aprendidos, transmitidos e
partilhados independentemente da biologia ou genética e sim de uma aprendizagem
social condicionada (SROUR, 1998).
“Mantidas as especificidades e a autonomia relativa das dimensões
econômica e política, podemos entender a cultura como equivalente à
dimensão simbólica das coletividades, porque as representações
imaginárias formam seu substrato” (SROUR, 1998, pg. 174).
1.3.1 A Cultura das Organizões:
“Nem a necessidade nem o desejo, mas o amor pelo poder é o demônio da
humanidade. Dê-se aos homens todo o possível saúde, alimento, abrigo,
prazer e eles continuam infelizes e caprichosos, porque o demônio es
sempre à espreita; e ele precisa ser satisfeito. Tire-se dos homens tudo o
mais e satisfaça-se esse demônio; então eles serão quase felizes tão
felizes quanto podem ser homens e demônios”
14
.
Friedrich Nietzsche,
Aurora
As culturas das organizações, via de regra, nascem do modelo implantado por
seus dirigentes: estratégias e políticas por eles definidas ou adotadas e que tem por
objetivo principal garantir sua sobrevivência e continuidade. Da mesma forma e na
mesma direção, essas próprias culturas precisam se transformar para se ajustar e
14
Friedrich NIETZSCHE apud HILLMAN, Tipos de Poder um guia inteligente do poder nos
negócios.
30
adaptar aos contextos externos a elas e continuar garantindo, não sua
sobrevivência, mas como a própria existência.
Ao se observar as organizações e suas práticas pode se entender que em seus
cenários, a cultura do sucesso, parece ser a cultura do Poder. De todas as idéias
que permeiam o universo simbólico do mundo do trabalho, demonstra ser a
concepção de poder aquela que domina, mais motiva e impulsiona as escolhas
feitas pelos profissionais. E é tamm o retrato mais fiel do medo de perder tanto
como o desejo imenso de ter controle sobre alguém ou algo.
Porém, também são encontradas algumas questões contraditórias (felizmente)
ao se observar os ambientes corporativos: apesar de, ainda persistir em muitas
organizações que a cultura do sucesso é a cultura do poder, diversas
transformões de paradigmas que vem ocorrendo no mundo do trabalho, neste
sentido, comam a ser percebidas em muitas organizações; o Instituto Superior
de Administração e Gestão do Porto - Portugal, através de um trabalho realizado
pelo pesquisador português Paulo Vieira de Castro, demonstra ser o próximo desafio
das organizações e gestores o que ele chama de responsabilidade espiritual: “Se um
gestor quiser entender de forma completa a idéia da interdependência nos negócios,
terá de voltar à idéia primaria do ser humano: a autorealização (Revista Update, da
HSM Management), ainda em seu artigo, Castro complementa:
“Perante uma humanidade que se debate entre anseios de uma nova
consciência nos negócios e buscas individuais de um sentido mais amplo
para a existência, nos confrontamos com novos ideais de espiritualidade.
ela parece ser capaz de despertar o princípio organizador, totalizador,
integrador de todas as potencialidades humanas. Como poderia ser
diferente nas relações de consumo”
15
?
15
Paulo Vieira de CASTRO, trecho do artigo publicado na revista UPDATE, da HSM Management,
apud Época Negócios, pg.68.
31
Em uma análise rigorosa dos ambientes organizacionais e religiosos é
percebido que em seus contextos, a cultura do sucesso é a cultura do poder. Mas,
podem ser feitos aqui alguns questionamentos e observações, que certamente
contribuirão para um melhor entendimento do trabalho: uma das premissas básicas
no estudo de organizões e culturas, religiosas ou não, é que o poder é um dos
alicerces ou pilares das organizações. Pelo poder, desde os primórdios da
humanidade, o homem vem lutando e buscando cada vez mais se aproximar. Um
dos fatos históricos mais conhecidos trata da descoberta do fogo pelo homem: a
tribo ou grupo que tinha o fogo detinha o poder, inclusive o de postergar a vida de
seus membros, em relação ao frio. E essa ão, aparentemente generosa, também
vinha acompanhada de um controle sobre os elementos do próprio grupo e sobre
outras tribos. Com isso, também era alvo de desejos e de submissões por parte de
outros grupos. Dessa reflexão podem ser abstraídas percepções, de início bastante
simples: poder significa ter ganhos, controle e submissão.
Mas é importante esclarecer de que poder se está falando.
Ao se transitar pelos ambientes profissionais, facilmente se depara com
conceitos que indicam uma transformão no contexto das organizações: bens,
troca, custo, mercado, lucro (e outros mais) que antes eram freqüentes em situações
de simples acordos passaram a ser percebidos como algo mais abstrato e complexo
e atende pelo nome de Economia. “A economia, Deus da civilização mundial, fez até
mesmo uma operação de fusão, juntando nacionalismo com segurança nacional. A
empresa multinacional detém mais poder do que muitos governos e seu poder se
assenta em sua saúde economica (Hillman, 2001). Ainda em relação a força e
importância do poder, menciona Hillman que se pode tentar uma analogia entre o
mundo religioso e o mundo dos negócios: em ambos ele é uma força básica e
32
fundamental na sociedade humana, muitas vezes chegando até às raias do
fundamentalismo em relação a suas crenças.
É interessante que se observe como Hillman faz menção à Economia como
fonte intensa de poder. Na leitura de uma de suas obras, tipos de poder, ele afirma
que a economia é a teologia contemporânea (HILLMAN, 2001, pg.18) e seu poder à
semelhança ao das religiões, interiorizou-se e governa através de meios
psicológicos, definindo assim quem pertence ao sistema e quem não pertence,
premiando-os (ou castigando-os) com riqueza e pobreza, privilégios e exclusão.
Pelo caráter da pesquisa feita, a cultura do sucesso profissional e tendo como
uma das premissas do estudo que a cultura do sucesso nos ambientes profissionais
é a cultura do poder, entende-se como fundamental que se mencione, na íntegra, o
pensamento de alguns outros pesquisadores sobre o tema.
“A economia é o único culto sincrético efetivo no mundo de hoje, a única fé
ecumênica. Ela oferece o ritual diário, unindo cristão, hinduísta, mórmon,
ateu, budista, sikh, adventista, animista, evangélico, muçulmano, judeu,
fundamentalista e adepto da Nova Era no mesmo templo, que a todos
admite: o banco suíço do qual os vendilhões não foram expulsos
(HILLMAN, 2001, pg.19).
A afirmativa acima, apesar de sua conotação “ácida”, trás em si o entendimento
principal da pesquisa aqui apresentada. O que levaria pessoas dos mais distintos
grupos religiosos à procura de um local para o armazenamento de “suas riquezas”
em local seguro, senão a perspectiva de ter sucesso em suas realizões? Neste
sentido aqui é encontrada novamente, na visão de um outro autor de que, no mundo
atual, sucesso significa muito mais ter do que ser. Assim sendo, se para Ser é
preciso, fundamentalmente Ter, parece primordial que se entenda o quanto o
sucesso es ligado à queso do poder, uma vez que ele, o poder, é quem
determina o comportamento nas organizações, religiosas ou não. Cabe, portanto às
33
organizações definirem que tipo de poder querem ter ou exercer sobre seus
membros.
B. TANURE apresenta em uma de suas obras, a visão de Max Weber em
relação ao significado de poder: diz ele que
“devemos conceituar poder sob a ótica da autoridade legitima, encontrada
em todos os agregados sociais. A legitimidade vem da aceitação pelos
membros de uma sociedade das bases nas quais a autoridade se
estabelece e que podem ser: tradição, princípios racional-legais ou
carisma” (Max Weber apud TANURE, 2007, pg. 28).
Que entendimento se pode ter disto? Que a autoridade quando fundamentada
na tradição se baseia na aceitação do poder vindo pelo direito adquirido através de
costumes e normas praticadas por uma sociedade e até pelo poder divino; quando
vinda por princípios, se baseia que no sistema existe um processo legal que
direito a seus membros de exercer a autoridade dentro de um modelo domínio-
subordinação, e a autoridade legítima quando se fundamenta no carisma pessoal,
demonstra que muitos movimentos, sejam eles políticos ou religiosos se baseiam
nas qualidades pessoais sedutoras e irresistíveis de seus líderes, quer por traços de
sua personalidade ou por outros dons, aparentemente sem explicação lógica.
TANURE (2007, pg.29) em uma interpretação do pensamento de M. Weber faz
uma citação bastante importante para esta pesquisa e por esta razão, por tratar
tanto do ambiente corporativo quanto do religioso, o parágrafo será mencionado na
íntegra:
“Segundo Max Weber, os líderes mundiais no ambiente de negócios e os
detentores de capital são em sua maioria protestantes. A acumulação de
riquezas e, por conseguinte, uma posição de poder levam a questionar os
papéis da autoridade na sociedade como um todo e, desse modo, também
as tradições religiosas. O Brasil é um país notavelmente católico e,
portanto, regido pelo racionalismo católico, com alto nível de aceitação da
realidade, mesmo se a situação não é a desejável. Isto é observado no
34
nível elevado de pacifismo e na aceitação das diferenças de poder, que
são características da sociedade brasileira. Mesmo as pessoas sob
condições desfavoráveis estão de alguma forma preparadas por sua
crença religiosa a não desafiarem o status quo, em razão da fé e da
aceitação da realidade, como forma de reverenciar oque Deus nos deu
Como já foram apresentados alguns indicadores do quanto é complexo falar
sobre o sucesso nas organizações, entende-se como importante, apresentar
algumas outras definições de poder visto se ter mencionado o quanto ele está
atrelado (ou define) o status de sucesso. HILLMAN (2.001) afirma que esta tarefa
não é simples mas parece traduzir bem a complexidade do termo:
“A sica opta pelas palavras energia e força; a lógica se refere a causa e
necessidade; a psicologia fala de dinâmica; mas é na política e na religião
que as idéias de poder prevalecem [...] Outras idéias fáceis dizem que o
poder é força: “ O poder político nasce no cano de um revólver” – Mao Tse-
tung ou As armas nos farão poderosos, a manteiga apenas nos tornará
gordos” Hermann Göring [...] definições difíceis propostas por filósofos:
“Poder é a produção dos efeitos pretendidos” – B . Russel ou na percepção
de Spinoza que afirmou que “por virtude e poder quero dizer a mesma
coisa, isto é, a virtude, na medida em que se refere ao homem, é a
natureza ou essência do homem”.
Na afirmação de B.Russel pode ser depreendido o significado, mesmo que de
maneira o explicitada do que é o sucesso. O que é atingir aquilo que se pretende
senão o sucesso? que em algumas situações, o sucesso parece ser atingido por
vias nem sempre éticas e onde sem dúvida se percebe a interelação com o poder: o
tráfico de influência e almos com poderosos muitas vezes indicam se tratar,
equivocadamente de algo ou alguém de sucesso.
35
1.3.2 A Formão do Sucesso no Cenário Organizacional: Quando Representar se
Torna Maior que Ser – O Teatro Organizacional
A fim de se obter uma compreensão do que é conhecido como Teatro
Organizacional nos ambientes corporativos, entende-se como importante um
aprofundamento maior do que é, para C.G.Jung, o arquétipo da persona. Mais
adiante nesta pesquisa, como mencionado anteriormente, quando da apresentação
mais profunda sobre a psicologia analítica Junguiana, será feito um detalhamento
maior sobre os conceitos de base e primordiais da teoria; contudo para que se possa
compreender melhor o conceito de teatro organizacional, a definição de máscaras -
personas – para a proposição da pesquisa, é um esclarecedor.
Originalmente, o termo persona era utilizado em referência à máscara utilizada
na dramaturgia, pelos atores, para identificar o papel de cada um deles, nas peças
teatrais. Parece fato que, nos dias atuais, o arquétipo persona continua sendo usado
com o mesmo sentido, ou seja, com a mesma referência psicológica que aponta
para a preocupação do indivíduo em ser aquilo que a sociedade, as organizações e
grupos, independentemente de qual seja sua origem, exigem ou determinam que ele
deva ser. Isso significa, via de regra, um papel a ser representado; aparentemente
parece ser uma postura de caráter individual, mas é fundamentada nas falas” da
psique coletiva.
Para JUNG, a persona é uma estrutura de personalidade responsável pelo
relacionamento do indivíduo no meio social. Nossa persona é a forma pela qual nos
apresentamos ao mundo (FADIMAN; FRAGER, 1986, pg.53). Com isso pode se ter
a compreensão de que é um conjunto formado por ações e atitudes que permitem
ao ser humano se relacionar com os outros.
36
A persona se apresenta em forma de dualidade: assim como tem aspectos
negativos, tem aspectos positivos e é fundamental para o processo de comunicação,
pois à medida que começamos a agir de determinada maneira, a desempenhar um
papel, nosso Ego se altera gradualmente nessa direção. Isso permite que o
indivíduo possa transitar em diferentes contextos, religiosos ou corporativos, em
“conformidade” com as regras vigentes.
Em seu aspecto de dualidade, é encontrado um significado de persona como
um exemplo de individualidade fingida que tem como influência controladora a
expectativa social (PALMER, 2001, pg.154). E para melhor clarificar seu
pensamento, cita o seguinte exemplo:
“um homem que é ministro protestante tem não só de realizar suas funções
de modo objetivo, como também em todos os momentos e circunstâncias,
desempenhar o papel de ministro de maneira impecável. Esses fingimentos
podem proporcionar grandes vantagens por exemplo a pessoa não é
julgada como imprevisível ou não confiável e a carreira dela floresce-, mas
também traz grandes desvantagens por ser fonte frutífera de neuroses,[.....]
personalidade artificial domina a ponto de todas as outras características,
mais típicas da pessoa, serem suprimidas
Sendo a persona um meio que permite os relacionamentos sociais como
mencionado anteriormente, também implica em um compromisso do indivíduo com a
sociedade; dessa forma os profissionais, quer seja no meio religioso ou no mundo
corporativo, se percebem com a responsabilidade de assumir condutas eficazes e
correm o risco de sucumbir ao olhar de autoridade e poder que é conferido. “Vestir”
esta persona, ou se identificar com ela, pode fazê-los assumir posturas onipotentes
bem como escravizá-los e conduzir à perda da própria identidade.
Os arquétipos (foram definidos por Jung como potencialidades inatas e se
constituem como uma matriz psíquica comum a toda humanidade; por seu
intermédio os indivíduos são impulsionados a repetir algumas situações típicas e
37
viver experiências. Assim sendo, são de certa forma guiados pelos arquétipos,
herdando não a experiência e sim o potencial para viver a experiência sob
determinada perspectiva ou repetição de papéis.
Diante do exposto e com o entendimento básico de um dos conceitos que
permeiam o ambiente profissional, tanto religioso quanto empresarial, que é a
persona, entende-se como possível adentrar no cenário que com freqüência ocorre
nos ambientes de trabalho, que é o teatro organizacional.
Durante toda a vida os indivíduos desempenham papéis; vários papéis e muitas
vezes de forma simultânea; contudo, estas situações diversas não podem, nem
devem ser caracterizadas como teatro. A questão que o trabalho visa abordar, é
quando existe a identificação entre o indivíduo e o papel que ele representa.
Quando isto ocorre existe uma situação de inadequação, que muitas vezes
conduz a pessoa a perda da própria identidade, o que pode vir a se tornar
patológico, ou no mínimo se tornar uma grande fonte de tensão, em ambientes que
são tensos, começando pelo que os profissionais chamam de carga excessiva de
trabalho e com a qual na maioria das vezes concordam, até o estágio de
aprisionamento, que surge em função dos ganhos recebidos, quer materiais, quer de
“status”, ou poder, principalmente do poder de controlar outras pessoas.
Um indivíduo ao desempenhar um papel, seja ele no âmbito profissional ou
pessoal tem a expectativa que os demais participantes de seu contexto de
observação levem a sério o papel sustentado ou representado por ele. Cabe aqui
pontuar uma questão bastante importante: o jogo da sobrecarga de trabalho que
conduz a uma espécie de aprisionamento na “Gaiola de ouro(B.TANURE, 2007)
que bem traduz a intensidade dos jogos de poder no teatro organizacional. Parece
ser necessário demonstrar que quanto mais alto o cargo exercido, maior a
38
sobrecarga de trabalho. E existe uma carga enorme de trabalho dentro das
organizações, mas este fato não pode ser usado como anteparo, reforçando a
questão do status do cargo ou função exercida. Até porque muitas vezes o exceder
do horário de trabalho, nem sempre é necessário e só justifica a fala de muitos
profissionais de que:
“Pega bem ficar até mais tarde, se dizer estressado; quem não possui esse
perfil o se encaixa nas organizações [....]. É o modelo valorizado nas
empresas e por mais que hoje o discurso oficial das organizações privilegie
a qualidade de vida, na prática exige-se que o executivo seja um
workaholic
16
. E ele representa o seu papel”(TANURE,2007,pg.83).
É interessante que se observe que a situação mencionada acima também
ocorre com freqüência nos ambientes religiosos, onde são encontrados
profissionais, sacerdotes, pastores, rabinos que afirmam com muita propriedade que
sua vida é o cuidado de seus fiéis e essa questão é atemporal. Cabe uma pergunta:
será que no lugar de vida não ficaria melhor a palavra missão e o entendimento de
que a missão profissional pressupõe uma vida, anterior a ela? É importante lembrar
esse aspecto quando se fala da cultura do sucesso profissional, pois parece que nos
ambientes profissionais sentir-se ou de fato ser solicitado pelos outros
constantemente e demonstrar isto, tanto faz bem ao próprio ego quanto sustenta as
práticas do teatro corporativo, que usa inclusive para fazer a manutenção da
solicitação constante alguns acessórios da tecnologia, como por exemplo, os
16
WORKAHOLIC: silogismo derivado as palavras work (trabalho) e alcoholic (alcoólico) e pode ser
utilizado para definir pessoas dependentes do trabalho. Por esta razão o termo pode ser traduzido co
“viciado em trabalho”. Pessoas viciadas em trabalho sempre existiram, mas nas últimas duas
décadas este termo voltou a circular, motivado pela competitividade ou necessidade de sobrevivência
nos ambientes profissionais ou mesmo uma necessidade pessoal no sentido de “provar alguma
coisa” aos outros ou a si mesmo. O risco de se tornar um workaholic, além do comprometimento da
qualidade de vida são: insônia, mau-humor atitudes agressivas, isolamento social-familiar e em um
estágio mais avançado o indivíduo pode desenvolver uma depressão.
39
aparelhos celulares de última geração. Existe um pensamento que bem traduz esta
questão tecnológica:
“Penso assim, que o telefone celular é um artifício que se usa para lidar
com a solidão. Que horror quando o telefone não toca. Ninguém está
lembrando de mim! Ninguém precisa de mim (Rubem Alves
17
)” (ALVES
apud Tanure,2007,pg.84).
No contexto mencionado anteriormente, parece que cada vez mais o ser
humano se torna prisioneiro do papel que representa; que cada vez mais se torna
envolvido e até absorvido pela chamada “gaiola dourada”. Novamente é encontrada
uma expressão simbólica: gaiola é um objeto que aprisiona, que tem grades que
o abertas quando alguém, de poder maior, permite; dourada, que remete a ouro,
es atrelada certamente a poder, pois quem tem ouro, tem riquezas e com muita
freqüência tem poder.
Mas no contexto profissional, o termo também se refere a uma fonte de
realizações, pois sem dúvida participar de decisões ou contribuir para a construção
de melhores práxis que por sua vez podem contribuir para organizações e
sociedades mais justas, geram sentimentos prazerosos e gratificantes. O que pode
ser compreendido, até então, é que no universo simbólico da esfera profissional,
tudo tem um preço.
B.TANURE, um dos referenciais desta pesquisa, faz uma afirmação em uma de
suas obras (2007,pg 115) que parece bem traduzir o exposto anteriormente:
“A liturgia do Olimpo empresarial pressupõe freqüentar a corte
dos semi-deuses para ser ator relevante, reconhecido pelos
pares. Pode significar o sonho de fazer parte da turma do golfe,
17
Rubem ALVES é psicanalista, bacharel em teologia pelo seminário presbiteranio de Campinas,
mestre em teologia pelo UnionTheological Seminary of New York, doutor em filosofia pelo Princeton
Theological Seminary, Princeton. Em sua visão autobiografia diz a respeito de si mesmo:: “estudei
música, quis ser médico e acabei entrando pela teologia que até hoje me fascina. A despeito do
nome. Ela nada sabe sobre os deuses mas muito suspeita sobre os homens, pois os deuses, como o
sugeriu Feuerbach, são as imagens do desejos” (Rubem Alves, 2.006).
40
possuir bens que espelhem o sucesso, como carros, barcos e
até mesmo (mais de um!) avião...Nesse clube, para ser, tem
que ter”.
Na análise de sua obra tamm é encontrada uma comparação interessante
nesse sentido, o Dr. Fausto, de Goethe, que “vende a alma ao diabo em troca de
poder e dinheiro e quando se queixa ao mesmo que não está feliz, tem como
resposta que ser feliz não fazia parte do acordo. Esta situação é vivenciada com
muita freqüência no mundo corporativo, principalmente pelos executivos mais
jovens, dispostos a canalizar sua energia, inclusive a vital, na alavancagem da
própria carreira, para a obtenção do sucesso. Porém essa questão tem também um
custo financeiro: quanto maior for a remuneração, mais difícil viver sem ela pois os
gastos também são maiores e com muita probabilidade o profissional terá
dificuldade em viver sem os benefícios do status e prazeres oferecidos a ele e seus
familiares, pela vida no mundo corporativo. Dessa forma a permanência no “teatro
corporativo” com a utilização da persona do executivo de sucesso se fará necesria
por mais tempo que o desejado.
E com a continuidade desta situação cada vez mais é necessário representar,
ou seja, agir de forma a convencer e influenciar um grupo de observadores e
seguidores, o que com freqüência acontece nos contextos religiosos e
organizacionais.
É possível deduzir então diante do exposto que as personas ou máscaras
utilizadas nas representações do teatro organizacional o fachadas (GOFFMAN,
1985, pg.29) utilizadas pelos indivíduos com o intuito de demonstrar seu
desempenho em direção a um objetivo específico, para um grupo específico.
41
“Fachada, portanto, é o equipamento expressivo de tipo padronizado
intencional ou inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua
representação”.
O risco desta situação é a aderência da máscara ao rosto, levando à perda da
própria identidade. Quando isso ocorre, passa a existir um conflito, que pode se
tornar patológico, entre quem é o indivíduo e o papel que ele representa, como
mencionado nesta pesquisa.
1.3.3 A Cultura em Ambientes Religiosos
Tanto quanto o termo cultura, a religião também é um termo de muitos
significados. Crohn (1995) em “Mixed Matches”, procura esclarecer a diferença entre
identidade cultural e religiosa, enfatizando que a religião é maior que a cultura;
segundo este autor a cultura é produto de um determinado grupo ao passo que a
religião é transcultural.
Também à semelhança do termo cultura, o conceito e significado de religião é
abordado por distintos autores e em decorrência disto, parece que ao se pensar na
questão da cultura em ambientes religiosos, faz-se necessário, quase que de
imediato se abordar, inicialmente, a questão da religião como um sistema cultural.
Na perspectiva de Clifford Geertz (1989)
“religião é um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas,
penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através
da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo
essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e
motivações parecem singularmente realistas”.
A respeito de sua perspectiva, Geertz apresenta como importante uma reflexão
sobre a queso do simbólico: tanto quanto cultura e religião, o termo mbolo
42
tamm é usado com muitos sentidos e significados, que vão desde algo com
caráter diferencial em relação à percepção dos demais, à sinais convencionais ou
àquilo que não pode ser demonstrado de forma direta ( por exemplo os símbolos em
poesia e ausência dos mesmos em ciências ). Mas o autor deixa claro que sua linha
de raciocínio em relação à questão do simbólico: para ele símbolo é algo que serve
de vínculo a uma concepção.
Geertz (1989), afirma ter a religião evoluído muito pouco, ou não ter feito
nenhum avanço significativo, a partir de estudos e pesquisas realizadas a partir da
IIª guerra mundial: é como se estivesse em um estado de total estagnação e com
pouca probabilidade de realizar grande movimentos, distintos dos propostos por
outros pesquisadores, como Weber e Dürkheim entre outros. Mas, apesar desse
pouco avanço, Geertz, em visão “condescendente” também afirma que para um
entendimento da questão religião e cultura, não é necessário que se deixe de lado
as pesquisas tradicionais feitas anteriormente e que uma ampliação dessa visão
tradicionalista é suficiente para que se entenda melhor a questão: é preciso
contextualizar as premissas anteriores, colocando-as em concordância com o
pensamento atual, e correndo o risco de caminhar em diversas direções, o que pode
gerar, sem dúvida confusão, inclusive intelectual.
Na tentativa de fugir dessas “armadilhas”, Geertz prefere adotar um conceito de
cultura, que evita ao máximo a questão da ambigüidade exarcebada: um conceito
que adota ou se refere a padrões de significados em uma cronologia histórica, que
traduza em símbolos as concepções herdadas e através das quais os homens se
comunicam e o continuidade a transmissão do conhecimento e de suas
43
atividades. E acrescenta, de forma complementar a seu pensamento, um
posicionamento de Langer
18
:
“O conceito de significado, em todas as suas variedades, é o conceito
filosófico dominante da nossa época [...] os animais, os símbolos, as
denotações, as significações, as comunicações...são nossos recursos de
capital (intelectual) então talvez já seja tempo de a antropologia social, em
particular a parte que se preocupa com o estudo da religião, tomar
conhecimento disso” (GEERTZ, 1989, pg.66).
Na obra Religião e luta de classes” (MADURO, pg.31) tamm é encontrada
uma citação que faz menção ao caráter simbólico da cultura:
“A cultura seria a organização simbólica do mundo, ou a dimensão
simbólica expressiva da vida social. Numa definição mais elaborada,
cultura é o conjunto de sentidos e significados, de valores e padrões,
incorporados e subjacentes aos fenômenos perceptíveis da vida de um
grupo social concreto, conjunto que, consciente ou inconscientemente, é
vivido e assumido pelo grupo como expressão própria de sua realidade
humana e passa de gerão em gerão, conservado assim como foi
recebido ou transformado efetiva ou pretensamente pelo próprio grupo”
19
Ao se tentar abordar a questão cultural em ambientes religiosos, percebe-se como a
mesma é de fato complexa, envolve e pressuem diversos elementos que vão
desde os mais presentes na perspectiva corporativa como organização, padrões,
grupos, quanto referências que passam pela esfera da psicologia e do espiritual,
como consciente e inconsciente, sentidos e significados, identidade, simbolismo e
18
Suzanne LANGER (Nova York 1895 – 1985): especialista em filosofia da arte foi considerada muito
importante e de grande influencia em meados do século XX. Sua contribuição mais importante foi o
estabelecimento de uma base sistemática para o entendimento da arte e de sua criação, de seu valor
para a consciência humana. Em seus estudos e publicações mencionou a importância das estruturas
simbólicas comparando-as com as formas discursivas da linguagem e da matemática; também
procurou examinar as formas simbólicas da arte em relação às formas naturais, inclusive aquelas que
incorporavam o processo biológico.
19
MADURO, O. Religião e luta de classes, pg.31 apud Higuet no artigo As relações entre religião e
cultura no pensamento de Paul Tillich”, publicado na revista Correlatio, do programa de Pós -
graduação em Ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo, em 26.03.2009 (última
modificação).
44
outros mais. Mas ao mesmo tempo em que é complexa, a observação dos religiosos
conduz ao entendimento e constatação da similaridade existente com as culturas
existentes nos ambientes corporativos. Ambos podem ser considerados ambientes
profissionais, que devem ter (caso o tenham), valores, objetivos e resultados a
serem alcançados. Porém nos ambientes religiosos o que acontece muitas vezes é
a não percepção de como estas questões podem e devem se interelacionar. Na obra
OS DEUSES DA ADMINISTRAÇÃO (HANDY, 1994, pg.140), o autor faz referência a
esta questão com clareza, demonstrando sua importância:
“Muitas congregações de igrejas têm, na melhor tradição cristã,
proclamado ser sua tarefa a trindade de culto, ministério e profecia. As três
coisas são necessárias para prover testemunho adequado de uma
presença cristã naquele local. O que a congregação muitas vezes não
chega a perceber é que cada tarefa implica em uma organização (Deus)
diferente. O culto é similar à fraternidade, o ministério aos serviços e a
profecia às campanhas. Na realidade, o necessárias três organizações
diferentes, todas sob uma denominação [...] Isto pode ser feito. [...] Talvez
seja lamentável que a tradição servil seja tomada tão ao da letra por
muitas igrejas, porque isto serve melhor ao modelo de fraternidade,
significando que as tarefas de ministério e profecia são inadequadamente
cumpridas. Em termos de organização, é provável que muitas
congregações terminem como pouco mais que santas multidões”.
1.3.4. Padrões Atuais de Sucesso nos Ambientes Religiosos:
Ao se fazer uma análise do que se entende por sucesso hoje nos ambientes
religiosos pode ser percebido que o mesmo está muito próximo de ser uma pia do
mundo capitalista, ou seja, quase não existem diferenças entre o que é entendido
por sucesso no mundo corporativo e o que se entende por sucesso no mundo
religioso; em ambos, existe uma identificação profunda com suas missões, da
mesma forma que para ambos o sucesso é o investimento em um centro de valor.
45
Sob a ótica das semelhanças, os dois contextos tamm refletem os valores do
mercado e da cultura, que por sua vez traduzem um universo simbólico: nas duas
culturas existem símbolos
20
que podem ser diferentes entre si, mas que são
utilizados para retratar o poder ou são associados a ele.
O entendimento do que é sucesso hoje, em ambientes religiosos desafia os
modelos de aproximadamente 50 anos atrás, onde uma instituição religiosa era
considerada “de sucesso” pelo aumento no número de seus membros, na conversão
de seus membros, em salvar as almas e inserir a igreja no contexto social. Hoje a
noção de sucesso es muito mais voltada à prestação de serviços, principalmente
ao que se refere à educação, à ajudar as pessoas, principalmente os mais pobres.
Neste sentido tamm a questão sucesso nos ambientes religiosos se acha ligada
às questões de poder: poder de cura ou de cuidar de seus membros.
Também pode ser percebido ao se observar o contexto religioso, que como dito
anteriormente as imagens de sucesso do mercado estão sendo incorporadas na
religião: por exemplo, nas igrejas católicas e protestantes um indicador de sucesso é
o “status social”. E também a questão do “status” é um marco de sucesso no mundo
corporativo.
Em relação ao aspecto mencionado acima, cabe uma pergunta, como uma
reflexão: o quanto existe de congruência entre o que se prega nas instituições
religiosas e o que se pratica realmente?
Ao se fazer uma retrospectiva histórica, chega-se a constatação de que uma
vida simples e a própria humildade eram premissas sicas para uma vida religiosa,
mas hoje se observa que não é exatamente isto que acontece, haja vista o que vem
20
Paolo Francesco PIERI. Dicionário Junguiano, pg. 458: Na perspectiva de C.G.Jung, o termo
símbolo pode ser utilizado sob duas óticas: 1- seguindo a tradição histórica, indica uma expressão
que é usada no lugar de outra (função substitutiva); 2 – nesta perspectiva indica em geral a
formatividade do signo e em particular a possibilidade transformativa que certa expressão vem a ter
atras de certo contexto (função formativa e função transformadora do símbolo).
46
sendo publicado na mídia, cada vez com freqüência maior: mansões, carros, a
divulgão da própria imagem, entre outros.
Aqui novamente é encontrado o ter em posição de destaque em relação ao ser.
Diante do que foi apresentado até então nesta pesquisa, principalmente no que
se refere a perspectiva de TANURE, sobre cultura e o simbolismo que existe nas
organizações e em suas interelações, o próximo capítulo desta pesquisa aborda
os principais conceitos da psicologia de C.G.Jung, sua visão sobre a religião e a
tamm a questão do simbolismo, visando demonstrar o quanto são
complementares ou se estão distanciados nas abordagens dos referenciais teóricos.
47
CAPÍTULO II:
VISÃO GERAL DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C.G.JUNG:
principais conceitos e o significado de religião
“Visto que a religião constitui, sem dúvida, uma das expressões mais
antigas e universais da alma humana, subentende-se que todo tipo de
psicologia que se ocupa da estrutura psicológica da personalidade humana
deve pelo menos constatar que a religião, além de ser um fenômeno
sociológico ou histórico, é também um assunto importante para um grande
número de indivíduos” (JUNG. 1983, contra capa final).
O foco central deste capítulo é apresentar, de maneira geral, a teoria de Carl
Gustav Jung, seus principais conceitos, os níveis da psiquê, os conteúdos do
inconsciente coletivo e seus principais arquétipos, perspectivas e entendimentos
sobre o que é religião e como estes aspectos impactam a formão da cultura
organizacional.
Também será feita no presente capítulo uma menção sobre o entendimento de
fé, na perspectiva de Paul Tillich uma vez que os conceitos religião e muitas
vezes se confundem ou são usados como sinônimos pelas pessoas.
2.1 CARL GUSTAV JUNG – Alguns dados pessoais:
Nasceu em Kesswill, Suíça, em 26 de Julho de 1875. Estudou medicina na
universidade da Basiléia. Sua vontade era estudar arqueologia, mas por serem seus
pais de origem humilde e não poder enviá-lo aos estudos em local mais longínquo
que a Basiléia e na universidade de não existir o ensino da arqueologia, o mesmo
decidiu-se pela medicina.
Seu pai era um pastor da Igreja Suíça Reformada e descrito pelo próprio Jung
como uma pessoa gentil, afável, tolerante e liberal, mas como muitas vezes não se
48
mostrava disposto a responder às dúvidas e questionamentos de seu filho, também
foi considerado por ele como um “fraco”; anos mais tarde, em uma de suas
declarações chegou a dizer que em sua infância associava a palavra “pai a
confiança, mas tamm a impotência.
Sua mãe era notoriamente a figura mais forte e dinâmica e isso teve
implicações no pensamento psicológico de Jung. Ele a descreveu como uma pessoa
problemática e algumas vezes incoerente visto nem sempre dizer o que pensava:
algumas vezes expressava um pensamento convencional, que um lado seu, não
convencional, rapidamente tratava de contradizer: essa situação, leva Jung ainda
jovem acreditar que sua mãe era uma personalidade dividida.
Quando ainda muito pequeno, por volta de seus três anos de idade, Jung sofre
o distanciamento de sua mãe por alguns, meses, vitimada por um problema de
saúde (que mais tarde ele definiria como um problema da relação conjugal) e à qual
ele reage com o desenvolvimento de uma doença de pele: um eczema generalizado,
que hoje pelo menos em parte é atribuído a causas emocionais. Esse fato fez com
que Jung desenvolvesse um sentimento de desconfiança em relação às mulheres
em geral e de ambivancia para com sua mãe em particular. E tamm essa
situação familiar fez com que de forma clara a psicologia analítica junguiana tenha
raízes maternais profundas e desenvolvesse um grande interesse por imagens da
mulher como devoradora e destruidora, mas também como protetora.
Criado em uma família, nessa época e com essas características parecia
inevivel que Jung comasse a se interessar pelas questões da religião ao longo
de sua vida. Foram muitas as questões contraditórias; como contraditórias tamm
se apresentaram às questões da fé. Para os mais ortodoxos parece ter sido muito
difícil admitir que tivessem sérias dúvidas em relação à própria e que talvez até
49
fosse preciso abandoná-la para viver de forma honesta consigo mesmo. Assim
sendo, é possível se afirmar que uma parte significativa da psicologia analítica
junguiana pode ser considerada uma tentativa de Jung no sentido de encontrar um
substituto para a ortodoxa em que ele próprio foi criado e contra a qual se rebelou
desde muito jovem.
Em sua casa, foi filho único até os 9 (nove) anos quando uma irmã veio juntar-
se a ele; e como acontece com muitos filhos únicos, ele se sentia diferente de seus
contemporâneos e em alguns momentos, em choque com alguns deles. Apreciava a
companhia de seus colegas de estudos, mas como estava, intelectualmente, muito à
frente deles, faltava-lhe a intimidade compartilhada, que só acontece com base na
igualdade e a julgar pelos escritos dele sobre si mesmo, não lhe era fácil entregar-se
a uma verdadeira intimidade. Mesmo em relação a sua vida conjugal, muito pouco
existe de referencias e após sua morte em 1955, optou Jung pela vida solitária, o
que pode explicar o fato da psicologia anatica junguiana não se interessar muito
pelas relações interpessoais e sim pelos processos de crescimento e
desenvolvimento da psique individual.
Em relação à preocupação com o desenvolvimento da psique individual , pode
ser traçado um paralelo entre a psicanálise freudiana e a psicologia analítica
junguiana:
“A psicanálise freudiana tem como seu ponto final de desenvolvimento,
uma relação madura com uma outra pessoa, relação essa que é
designada, breve e incompletamente como genitalidade, um conceito que
realmente, inclui muito mais do que sexo. A noção de Jung tem como seu
ponto final a integração ou equilíbrio na própria mente do indivíduo, sem
referência manifesta às relações com outras pessoas(STORR,sd,pg.12).
É interessante para o desenvolvimento desta pesquisa mencionar que
C.G.JUNG, por muitos anos esteve ligado à escola freudiana de psicanálise e após
50
seu rompimento com Sigmund Freud, desenvolveu seu próprio sistema de
psicanálise, a que chamou inicialmente de Psicologia Complexa e mais tarde de
Psicologia Analítica. Esse sistema o se valia somente de conceitos e teorias, mas
tamm incluía uma série de métodos para cuidar de pessoas com problemas
emocionais e suas idéias foram aplicadas a uma série de dificuldades encontradas
pelo ser humano, nas mais diversas esferas: social, religiosa, existencial, artística
entre outras.
2.2 VISÃO GERAL DA TEORIA de C.G.JUNG
2.2.1 Conceitos Fundamentais da Psicologia Junguiana
Apesar do foco central deste trabalho ser a relação entre fé, religião e a
formão da cultura do sucesso profissional entende-se como um facilitador do
entendimento desta interelação o conhecimento de alguns dos principais conceitos
de C.G.Jung e da psicologia analítica junguiana. No estudo da obra de Jung pode se
perceber que os conceitos fundamentais em relação à psicologia se encontram
divididos em três blocos; em relação à estrutura da personalidade, em relação à
dinâmica da personalidade e em relação ao desenvolvimento da personalidade.
Sobre estas divisões será feita nesta pesquisa um relato básico, uma vez que a
proposição do trabalho não tem como foco principal uma abordagem de psicologia e
sim a relação destes conceitos com a formação da cultura do sucesso profissional,
que é o tema da pesquisa. Como será observado os conceitos de arquétipos,
principalmente os de persona, sombra e self serão abordados mais profundamente,
51
em uma subdivisão a parte, uma vez que tem uma relação direta com a pesquisa
proposta.
Ao se abordar os conceitos de Jung no que se refere à estrutura da
personalidade, é fundamental um breve entendimento do termo psiquê:
“Só podemos constar que a divindade atua sobre nós por meio da psiquê,
porém não somos capazes de distinguir se esses efeitos provêm de Deus
ou do inconsciente, isto é se a divindade e o inconsciente seriam dois
elementos diferentes. Ambos são noções limítrofes de conteúdos
transcendentais” (JUNG apud Jaffé,1986,pg.41).
A palavra deriva de um termo grego (psychê) que indica o “sopro” que dá vida e
anima os corpos; Aristóteles se referiu a ele como bios que é o mesmo que vida.
Mais tarde, seguindo o dualismo cartesiano, o termo teve a conotação de alma e
no século XIX, com o advento da psicologia científica, a palavra alma deixa de ser
utilizada por suas conotações metafísicas e novamente a expressão para se referir
ao psiquismo passa a ser psiquê.
O termo se refere à personalidade como um todo e abrange os pensamentos,
sentimentos e comportamentos do ser humano, tanto os conscientes quanto os
inconscientes. Na psicologia analítica de C.G.Jung, no início da vida, a psiquê é
apenas o inconsciente, de onde emerge o ego, que através das experiências e
memórias forma a divisão entre o consciente e o inconsciente.
Possui veis distintos: o consciente e o inconsciente, que se subdivide em
inconsciente pessoal e inconsciente coletivo, sobre os quais, a título de clarificação
de conceitos, será feita uma breve explanão.
O consciente se refere à única parte da mente que é conhecida pelo ser
humano e que tem como seu centro o ego. É onde se desenvolvem as relações
entre conteúdos psíquicos e o ego. Qualquer conteúdo pquico, para tornar-se
52
consciente ao ser humano, tem que estabelecer uma relão com o ego; se isso não
acontece, este conteúdo permanece no inconsciente, que é a parte maior da psiquê
e pode ser comparado a um vasto oceano de onde emerge uma pequena ilha, que é
a consciência (SILVEIRA, 1997).
Tem como função a concentração seletiva em poucos conteúdos, para que os
mesmos possam ter um máximo de clareza para o indivíduo; isto tem como
consequência a exclusão de outros conteúdos, que poderiam também ter aflorado à
consciência, mas permanecem retidos no inconsciente.
Em relação ao inconsciente, Jung em uma de suas diversas falas disse que:
[...] Prefiro o termo inconsciente, sabendo que poderia igualmente falar de
Deus ou demônio se desejasse expressar-me em linguagem mítica.
Quando realmente uso esta linguagem mítica sei que Maná, demônio e
Deus o sinônimos de inconsciente, isto é, não sabemos nem mais nem
menos sobre eles do que sobre este. As pessoas apenas crêem saber
muito mais sobre eles e, para certos fins, essa crença é muito mais útil e
eficaz do que um conceito científico” (JUNG apud Jaffé,1986,pg.41)
É a parte maior da psique.
Na perspectiva freudiana, os conteúdos do inconsciente referem-se aos
materiais e tendências infantis reprimidas devido às influências do ambiente e que
podem perdurar por toda vida; nesta abordagem o inconsciente conteria apenas os
conteúdos que poderiam ter se tornado consciente se assim o tivessem permitido o
ambiente e por decorrência a educação.
a abordagem junguiana considera esta perspectiva reducionista pois
entende que além dos conteúdos reprimidos, o inconsciente inclui componentes que
ainda não chegaram ao limiar da consciência,inclusive as percepções subliminares
dos sentidos, mas constituem a semente dos conteúdos conscientes futuros.
53
“O termo, central em todas as psicologias da profundidade, é usado como
adjetivo para qualificar os conteúdos não presentes na consciência e como
substantivo para especificar um lugar da psiquê” (PIERI,2002,pg.240)
21
.
Ao se falar em inconsciente deve se entender que o mesmo compreende o
pessoal e o coletivo.
O inconsciente pessoal diz respeito às camadas mais superficiais do
inconsciente e se refere àquela parte da psiquê onde ficam armazenadas as
experiências que não se harmonizam com o processo de individuação e tamm as
experiências outrora conscientes que por algum motivo se tornaram reprimidas ou
desconsideradas (por exemplo: um pensamento que entristece o indivíduo, um
conflito pessoal ou de ordem moral, algo que não foi resolvido...). No inconsciente
pessoal se localizam as percepções e impressões com carga energética ainda
pequena para atingir o consciente, tais como acontecimentos ocorridos na vida e
perdidos pela memória consciente, recordações dolorosas, representações com
forte potencial afetivo, qualidades em si mesmo que desagradam o ser humano e
que por esta razão ele esconde de si próprio.
Esses conteúdos, quando surge a necessidade, facilmente afloram à
consciência do indivíduo e mesmo quando o afloram à consciência, podem
influenciá-la através da provocação de disrbios psicossomáticos.
O inconsciente coletivo se refere àquela parte da psiquê que se diferencia do
inconsciente pessoal por não depender da experiência individual. Corresponde às
partes mais profundas do inconsciente, comuns a todos os seres humanos,
independentemente das diferenças raciais. Isto significa afirmar que em relação aos
conteúdos do inconsciente coletivo existe a possibilidade de compreensão por parte
dos homens em geral.
21
Paolo Francesco PIERI. Dicionário junguiano, pg.240.
54
Pode ser considerado um reservatório de imagens latentes, denominadas
por Jung de “imagens primordiais” (primordial para JUNG tem o significado de
“primeiro ou original”), ou acompanham o indivíduo desde o icio do
desenvolvimento da psique.
“O homem herda tais imagens do passado ancestral, passado que
inclui todos os antecessores humanos, bem como os antecessores
pré-humanos ou animais. Essas imagens étnicas não o herdadas
no sentido de uma pessoa lembrar-se delas conscientemente, ou de
ter visões como a de seus antepassados. São antes pré-disposições
ou potencialidades no experimentar e no responder ao mundo como
os antepassados” (STORR,sd,pg
.
32).
Tem como centro ordenador o Self, uma fonte inesgotável de energia e sobre o
qual se discorrerá mais à frente.
2.2.2 A Estrutura da Personalidade e os Principais Arquétipos do Inconsciente
Coletivo
A presente pesquisa apresentará um detalhamento sobre os arquétipos
junguianos por uma razão importante, a função religiosa sob esta perspectiva se
acha intimamente ligada ao conceito de arquétipos ou elementos primordiais da
psique.
Os conteúdos do inconsciente coletivo se chamam Arquétipos (pode ser
considerado seu sinônimo a palavra protótipo, ou seja, aquele que serve como
modelo original).
Arquétipos são representações de padrões da natureza humana,ou seja, são
possibilidades herdadas para representar imagens similares, formas instintivas de
55
imaginar ou ainda matrizes arcaicas onde configurações análogas ou semelhantes
tomam forma (SILVEIRA, 1997).
Jung à semelhança do conceito de iia
22
de Platão considerava-os como uma
expressão que já existia na antiguidade, sinônimo de idéia e alguns deles são tão
importantes na formão da personalidade, que teve por sua parte uma atenção
especial: São eles: persona, anima e animus, sombra e self.
2.2.2.1 Persona
A persona é a forma através da qual o indivíduo se apresenta ao mundo e pela
qual estabelece suas relações com os demais indivíduos. Pode ser entendida como
máscara, como aquelas usadas por atores no teatro antigo e que permitiam a
crião dos personagens. Esse arquétipo, inclusive é muito usado nas organizações
no sentido de permitir aos colaboradores se adaptar às regras e valores existentes
nas mesmas. De acordo com a psicologia Junguiana, a persona é extremamente
imprescindível à sobrevivência dos seres humanos pois, como dito anteriormente, é
ela que permite a convivência com os demais, inclusive nas situações que não lhes
agrada. E no mundo corporativo não é diferente.
“A persona [...] é o sistema de adaptação ou a maneira por que se a
comunicação com o mundo. Cada estado ou cada profissão, por exemplo,
possui sua persona característica [...]. O perigo está, no entanto, na
identificação com a persona; o professor com seu manual, o tenor com sua
voz [...]. pode-se dizer, sem exagero, que a persona é aquilo que não é
verdadeiramente, mas o que nós mesmos e os outros pensam que somos
(JUNG, 1993,pg. 375).
22
No pensamento platônico, a idéia era uma espécie de modelo espiritual, pré-existente e supra-
ordenada à exteriorização ou fenômeno. In Aniela JAFFÉ. O mito do significado na obra de C.G.Jung,
pg.19.
56
Na personalidade, a persona pode ter um papel tanto benéfico, quanto
maléfico; ao mesmo tempo em que permite ao indivíduo a convivência em distintos
ambientes, quando o mesmo se preocupa demais com os papéis que es
representando a ponto de se identificar com eles (quando possui uma persona
inflada), pode acontecer de deixar outros aspectos importantes de sua
personalidade de lado, e descobrir, com o passar do tempo, uma existência vazia e
sem sentido. Pode ser considerada o lado externo da psique porque pode ser
observada pelos demais).
O conceito de persona está diretamente ligado ao tema da presente pesquisa,
uma vez que na formão da cultura do sucesso aquilo que aparece, ou seja a
imagem que é oferecida aos demais componentes do contexto profissional é o mais
importante e caracteriza a questão do ter, que é visível aos olhos dos outros.
2.2.2.2 Anima e animus
Da mesma maneira que a persona se refere ao lado externo da personalidade,
o lado interno da mesma pode ser chamado de anima (nos homens) e animus (nas
mulheres): a anima se refere ao lado feminino da mente masculina e o animus se
refere ao lado masculino da mente feminina. E toda pessoa possui em si
características do sexo oposto, não no sentido biológico (todos tem hormônios
femininos e masculinos, por exemplo), mas também em seus comportamentos (em
suas atitudes e emões). No ambiente de trabalho também existem situações que
o exigir que o indivíduo tenha um comportamento anima ou animus,
independentemente de seu sexo. E uma personalidade bem ajustada, tanto na vida
57
pessoal quanto na profissional, é encontrada quando tanto anima quanto animus
podem ser expressos nas atitudes, livremente.
Da mesma maneira que a persona, os arquétipos da anima e animus tem uma
grande importância para a sobrevivência do indivíduo, tanto em sua vida pessoal
quanto profissional, pois em ambos os contextos existem e existirão sempre, para
homens e mulheres, situações que exigem comportamentos mais ligados à esfera
masculina ou à feminina. O permitir se expressar com os lados masculino e feminino
da personalidade, sem dúvida traduzem um ser humano ajustado e em harmonia. A
importância da expressão destes arquétipos é no sentido dos mesmos não ficarem
retidos no inconsciente, onde não podem se desenvolver, continuando primitivos.
Na perspectiva de um outro autor (MONBOURQUETTE,2008),o conceito dos
arquétipos de anima e animus estão relacionados a um caráter de androgenia,
utilizado por Jung na referência que o mesmo faz da Imagem de Deus
2.2.2.3 Sombra
Outro dos arquétipos fundamentais na psicologia analítica junguiana é a
Sombra: como dizia o próprio Jung, a grande maioria dos indivíduos não é nem tão
boa nem tão virtuosa quanto acredita ser e se mostra aos demais. Existem no ser
humano muitos conteúdos que fazem dele o que existe de melhor e o que existe de
pior, principalmente em relação a pessoas do mesmo sexo. Esses conteúdos podem
ser chamados do lado “animalesco” do ser humano e para que o mesmo possa viver
em sociedade é necessário que esse lado seja domesticado. Mas essa
domesticação só é possível quando o indivíduo reconhece e assume que tem esse
lado “não tão bonito”.
58
Da mesma forma, no mundo corporativo e nos contextos religiosos, as relações
harmoniosas e agregadoras com os demais só são efetivamente estabelecidas
quando os indivíduos, de maneira pessoal conseguem olhar para dentro de si, se
reconhecer e localizar nas questões de disponibilidade, tolerância, criatividade,
empatia, generosidade, aceitação e outras tantas. E é interessante salientar, a título
de “re-memória”, que essas questões e muitas outras já tinham sido citadas há muito
tempo e fazem parte dos ensinamentos de Jesus.
A questão do reconhecimento da sombra é de fundamental relevância pois o
ser humano pode mudar ou transformar aquilo que não é adequado, se o mesmo
estiver em nível consciente, ou seja para mudar é necessário reconhecer que existe.
Na leitura do texto “religião e arquétipos” é encontrada uma citação pertinente
sobre este arquétipo:
“a sombra contém todos os potenciais do Ego com o qual o indivíduo
perdeu o contato, esqueceu ou não reconhece como próprios. Assim,
potencialmente a sombra pode conter não apenas aspectos maus,
agressivos ou perversos, mas também alguns aspectos bons, angélicos e
divinos ”
23
.
Ao se observar as culturas, religiosas ou não e principalmente as ocidentais, o
que se encontra é um equivoco em relação ao conteúdo deste arquétipo: uma
grande maioria das pessoas suprime, ou tenta suprir a sombra por considerar que a
mesma não é compatível com sua persona. Esta incompatibilidade pode ser oriunda
de algumas qualidades contrárias aos princípios morais do próprio indivíduo ou estar
relacionada às atitudes e comportamentos que a sociedade desaprova; ou por que
eso relacionadas ao lado instintivo ou animalesco dos seres humanos.
23
Anna Mathilde PACHECO e Chaves NAGELSCHMIDT. Texto Religião e arquétipos.
59
Entende-se esta negação da sombra como equívoco porque ela é um grande
manancial de energia, espontaneidade e criatividade. O que existe de fundamental
nesta questão é que ao se negar a existência da sombra está se negando um
componente importante da estrutura da personalidade e que deixará uma lacuna na
totalidade da pessoa; o que ocorre é que quanto mais forte for a persona do
individuo e ele se identificar com ela, mais partes da sua personalidade ela irá deixar
de lado.
Em uma de suas cartas, C.G.Jung deixa claro sua perspectiva e entendimento
em relação à sombra:
“É uma questão muito difícil e importante aquilo que vocês chamam de
técnica para lidar com a sombra. Na verdade, não existe técnica nenhuma
[...] esta consiste apenas numa atitude. Em primeiro lugar, é preciso aceitar
e levar seriamente em conta a existência da sombra. Segundo, é
necessário ser informado sobre suas qualidades e intenções. Terceiro,
negociações longas e difíceis serão inevitáveis. [...] O sofrimento constitui
uma parte indispensável [...] Eu admito que não é fácil encontrar a fórmula
correta; contudo, se você a encontrar, você terá feito de você mesmo uma
pessoa inteira e este, eu penso, é o significado da vida humana
(JUNG,1973 apud Fadiman ; Frager. pg.55).
2.2.2.4 Self:
“O Self... designa a personalidade total. A personalidade total do homem é
indescritível... (porque) seu inconsciente não pode ser descrito” (JUNG,
1973 apud Fadiman; Frager. pg.56).
O último dos arquétipos centrais a ser mencionado neste trabalho e de grande
importância para o desenvolvimento da personalidade é o do Eu, tamm conhecido
por Self ou Si-mesmo: esse arquétipo se refere à inteligência e ao saber e por isso
mesmo muitas vezes é chamado de o velho sábio”, com sua grande capacidade de
60
discernimento. Para o inconsciente coletivo, o Eu (Self) é o arquétipo principal, que
representa a ordem, a organização e a unificação. É quem propicia a unicidade à
personalidade e quem permite que o indivíduo chegue à auto-realização e ao
conhecimento do próprio Eu.
É considerado na psicologia analítica a autoridade psíquica máxima, a qual o
ego se acha submetido. De maneira simplista, com muita freqüência é descrito como
a “divindade emrica interna” e equivale à imago Dei, sem contudo substituí-la.
Muitas outras referências e imagens são feitas ao Self: a totalidade, o eixo do
universo, o ponto criativo e de intersecção onde Deus e o homem se encontram, o
ponto em que as energias transpessoais fluem para a vida pessoal. Tamm na
perspectiva de outros autores que versaram sobre a obra de Jung, existem
referências ao Self como sendo Deus ou representações de divindade.Em uma
destas perspectivas (MONBOURQUETTE,2008),o conceito de Self traduzido por
Jung como imagem de Deus faz referência ao texto do Gênesis “Deus criou o ser
humano à sua imagem[...] homem e mulher ele os criou”(Gn 1,27) o que aponta na
direção de que Deus é uma fusão harmoniosa de componentes masculinos e
femininos. Desta forma pode ser constatado que para o ser humano alcançar a
totalidade a que o Self se refere implica no desenvolvimento dos traços e
características próprias de seu sexo como também às características do sexo oposto
ao seu.
Como mencionado, o Self refere-se a um centro psíquico regulador ao qual o
ego se submete e esta relação nem sempre é muito tranqüila e pode ser comparada,
à luz da religiosidade, com a relação entre o homem e seu Criador.
O dicionário Junguiano (PIERI. 2002, pg.462) traz a seguinte definição:
61
“O termo denota o conjunto complexo dos fenômenos psíquicos de
um indivíduo. Em particular, o Si-Mesmo, de um lado reúne os
objetos da experiência e, portanto, os fenômenos da consciência e
os conteúdos e os fatores conscientes, do outro pressupõe aquilo
que ainda não se encontra no âmbito da consciência e, portanto, os
conteúdos e os fatores do inconsciente, ou seja, os fenômenos
daquela outra parte da psique que permanece ainda incognoscível e
não delimitável”.
2.2.3 Em Relação à Dinâmica da Personalidade
Em relação à dinâmica da personalidade, Jung apontou para dois conceitos de
fundamental importância para uma compreensão melhor do ser humano e de seus
comportamento ou atitudes. São eles a energia psíquica e os valores psíquicos.
A Energia Psíquica é quem garante e sustenta o trabalho da personalidade.
Para designá-la, Jung usou o termo libido, que para ele era diferente da conotação
freudiana (que a atrelou a energia sexual). Na visão da psicologia analítica
Junguiana, libido pode ser traduzida como apetite: apetite de fome, de sede, de
sexo... e manifesta-se de diversas maneiras inclusive pelos esforços, desejos e
determinação.
No mundo do trabalho, a energia psíquica se manifesta através do pensar,
raciocinar, sentir, querer, aplicar, esforçar-se, executar, que são também atividades
psicológicas e vão se originando das vivências ou experiências que o indivíduo vai
adquirindo ou vivendo ao longo de sua vida.
A energia psíquica está diretamente ligada aos esforços que o indivíduo
dispende na tentativa da se posicionar com sucesso nos contextos pelos quais
transita; o “apetite” pelo poder nos ambientes profissionais caracterizam algumas
personas que se encontram com muita freqüência nestes cenários.
62
Já os valores psíquicos na psicologia Junguiana se referem a um dos
conceitos dinâmicos mais importantes: o de Valor que representa a quantidade de
energia designada ou atribuída a um elemento psíquico em especial. Um alto valor
atribuído a um fato ou a uma idéia tem a significância de que a mesma tem uma
grande influência no comportamento do indivíduo.
No mundo corporativo, os valores são definidos, basicamente da mesma
forma: quanto mais energia ou esforço se investe em determinadas ações dão o
indicador de que para aquela pessoa ou aquela organização, isso é um valor. E
desta questão pode se entender que quanto mais os valores psíquicos estiverem
próximos dos valores do contexto profissional, maior a probabilidade de se atingir o
sucesso nos resultados. Na perspectiva de SCHEIN (1986), quanto mais
consistentes os valores de uma organização e mais fundamentada neles estiverem
as normas, mais facilmente as pessoas as cumprirão. Diz ele que: “O orgulho de
pertencer a determinada empresa, é maior quando as normas refletem os valores
próprios do grupo. Quando isso não ocorre,o resultado pode ser a desintegração”
(Schein apud TANURE, 2007, pg.19).
2.2.4 Em Relação ao Desenvolvimento da Personalidade
Ao se pesquisar os conceitos da psicologia analítica Junguiana em relação ao
desenvolvimento da personalidade, são encontrados os seguintes processos:
Individuação e integração:
Individuação significa, precisamente, a melhor a mais completa realização
das qualidades coletivas do ser humano (JUNG apud Fadiman;Frager.
1986, pg. 57).
63
Por individuação entende-se o ser humano tornar-se um ser único na medida
em que tamm se tiver por referência a singularidade mais íntima de cada um. À
diferença de individualismo que caracteriza a ênfase nas questões individuais em
detrimento das coletivas, a individuação diz respeito à realização melhor e mais
completa das qualidades do ser humano e isto não significa o abandono das
características e habilidades pessoais.
É o conceito chave de desenvolvimento na psicologia analítica junguiana. É
um processo que não necessita de estimulação externa para comar a existir, mas
necessita de experiências e educação adequadas para acontecer de uma forma
sadia. Trata-se de como este ser humano foi constituído, como é o seu mundo
(interno e externo) e como ele concebe os seus símbolos.
Ao se pensar no aspecto religioso pode se pensar que o processo de
individuação decorre da numinosidade do self, a partir de onde pode ser
compreendido como a realização do divino no homem.
Em uma linguagem mais simples pode se dizer que toda individuação
compreende aspectos e imagens internas mas é de fundamental importância em seu
desenvolvimento a realidade exterior e o desenvolvimento da individualidade.
O processo de integração por sua vez, significa a uno de todas as partes da
personalidade entre si; pode ser considerada a interconexão entre os conteúdos
conscientes e inconscientes, entre partes femininas e masculinas da personalidade,
ou seja, entre elementos opostos entre si.
O processo de integração é um elemento primordial da formação da identidade
psicológica, que ocorre quando o indivíduo coma a se diferenciar do seu
ambiente. Isto quer dizer que no processo de integração ocorre tanto a recuperação
de aspectos de conteúdos que foram deixados para trás ou removidos e o assimilar
64
de novos modelos culturais, em substituição àqueles que passam a ser
considerados insuficientes no decorrer do próprio desenvolvimento.
É atribuída à integração a tarefa do confronto, de um lado, do homem com o
mundo e de outro do Self com os conteúdos do inconsciente (PIERI, 2002, pg.271).
2.3 CONCEPÇÕES SOBRE RELIGIÃO E FÉ:
“Deus é um mistério e tudo que dizemos sobre este mistério é dito e
acreditado pelos seres humanos. Fazemos imagens e conceitos, porém
quando falo de Deus sempre quero dizer a imagem que o homem fez dele.
Mas ninguém sabe com o que se parece, pois quem o fizesse seria, ele
próprio, um deus” ( JUNG, 2001).
Tanto o conceito de religião quanto o de fé, são complexos e profundos para o
entendimento do ser humano e de suas relações com os cenários nos quais transita.
Por esta razão, na presente pesquisa os mesmos serão apresentados sob
perspectiva distintas com ênfase maior na abordagem de C.G.Jung sobre seu
entendimento de religião.
Uma definição reducionista do significado de religião diz que a mesma se refere
a atitude do homem orientado a crer em algo como garantia sobrenatural, oferecido
ao próprio homem para sua salvação (PIERI, 2002).
Já em uma perspectiva sociológica é encontrado que religião se refere ao
entendimento da projão humana, tendo como base a infra-estrutura que é
específica da história humana.
Em uma linguagem e entendimento mais comum, a religião pode ser
considerada a crença na existência de uma ou mais forças sobrenaturais,
consideradas criadoras do universo e que como tal deve ser adorada e obedecida ;
65
tamm pode ser entendida como a manifestação de tal crença por meio de doutrina
e rituais próprios, que envolvem em geral preceitos éticos (Dic. Aurélio On Line,
2009).
em relação à os significados para algumas pessoas estão relacionados à
convicção pessoal de que algo ou alguém é verdadeiro ou verdade, sem contudo
existir comprovação disto, além da confiança que é depositada neste algo ou
pessoa. Como definições simples e também reducionistas são encontradas as
seguintes afirmações: conjunto de dogmas e doutrinas que constituem um culto;
crença religiosa; asseveração de algum fato (Dic. Aurélio On Line, 2009).
Diante da complexidade e diversidade de conceitos a presente pesquisa
utilizará como referências para a definição dos mesmos, C.G.JUNG e PAUL
TILLICH.
2.3.1 Carl Gustav Jung e Sua Visão sobre a Religião:
Entende-se como importante salientar nesta pesquisa, como primeiro aspecto
que para JUNG, o conceito de religião não é dogmático ou teológico, mas sim
refere-se a uma experiência religiosa do divino ou transpessoal.
Ao se pesquisar a obra de C.G.Jung pode-se claramente perceber que o
aspecto religião sempre teve um lugar de destaque, chegando mesmo a ser um dos
eixos centrais de seus trabalhos.
À diferença de muitos autores, Jung o direcionou suas pesquisas e
entendimentos aos aspectos teológicos e filosóficos da questão. Ao contrário, ele fez
críticas aos teólogos de uma maneira geral, por estarem os mesmos distanciados
das necessidades da população, no mundo contemporâneo. Na perspectiva de Jung
66
esta era uma atitude sobremaneira racional, pois estavam os teólogos muito mais
preocupados em provar a existência de Deus do que realmente ajudar as pessoas a
descobrir a existência de Deus através da própria experiência (BRYANT, 1996). Em
relação a eles, Jung fez a seguinte afirmação:
“Em um engano realmente trágico, esses teólogos não percebem que não
é uma questão de teólogos provando a existência da luz, mas de pessoas
cegas que não sabem que seus olhos poderiam enxergar. é mais do
que tempo de tormarmos consciência de que não adianta nada louvar a luz
se ninguém conseguir vê-la. É muito mais necessário ensinar às pessoas a
arte de ver” (JUNG apud Bryant,1996,pg.13).
Seu rito foi ter trazido à luz da ciência, as representações primordiais, de
caráter coletivo e que se encontram na base mais profunda de muitas religiões; a
estas representações identificou como arquétipos da alma humana, os quais
detalharemos mais a frente.
Cabe, pom ressaltar o que JUNG tinha como conceito ou representação de
alma: a representação, de uma atitude interna e uma possibilidade de
relacionamento com o inconsciente.
Porém, alguns autores que escreveram sobre a obra de Jung acham importante
diferenciar, de forma mais precisa, os conceitos de psique e alma:
“A psique designa a totalidade das forças psíquicas, instintivas e espirituais do
ser; já a alma, para nós designa o aspecto mais particularmente espiritual da psique”
(Van de WINCKEL, 1959, pg.17)
Em referência à obra de Jung, WINCKEL afirma ser a mesma
inquestionavelmente, uma obra de psicologia e que seus estudos e descobertas em
muito contribuíram para o desenvolvimento da psicologia moderna: “Anos de
pesquisas, experiências e trabalhos deram-lhe a certeza de que a psiquê é
constituída pela totalidade do ser, consciente e inconsciente e que ela vibra e reage
67
diante de tudo o que, desde a criação do mundo, interessa ao homem” (Van de
WINCKEL, 1959, pg.17 e 18). Diante desta abordagem, segundo a autora, tudo o
que se referir a humanidade pode ser considerada como pertencente ao campo da
psicologia: Isto explica o ecletismo da obra junguiana, que trata tanto das mitologias
e da alquimia como das gnoses e da religião, mas não em função de si mesmo
como temas e sim como temas estudados em função da psicologia ( Van de
WINCKEL, 1959).
Apesar de toda sua obra ter sido realizada tendo como eixo central a
psicologia, o próprio Jung, no desenvolvimento de suas pesquisas chega a
conclusão de que um ser humanopode ser inteiro e harmonioso quando entra em
contato com seus valores espirituais e quando existe a ruptura do indivíduo com
esses valores surgem as neuroses. Porém, como entende Van de WINCKEL (1959),
a importância do reconhecimento dos valores espirituais não aconteceu por uma
questão espiritual do próprio Jung e sim porque suas pesquisas assim a
demonstraram.
Para que se possa apresentar o que para Jung é a religião, é importante que
primeiro se mostre o que ele entendeu por religião. Por se tratar de um aspecto
elucidatório, o parágrafo está mencionado em sua íntegra. Segundo ele mesmo
mencionou,
“religião é como diz o vocábulo latino religere uma acurada e
conscienciosa observação daquilo que Rudolf Otto
24
acertadamente
chamou de numinoso,, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não
causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e
domina o sujeito humano, mais sua vítima do que seu criador. Qualquer
que seja a causa, o numinoso constitui uma condição do sujeito, e é
independente de sua vontade. De qualquer modo, o consensus gentium,a
doutrina religiosa mostra-nos invariavelmente e em toda parte que esta
24
Rudolf OTTO. Das Heilige, 1917.
68
condição deve estar ligada a uma causa externa ao indivíduo. O numinoso
pode ser a propriedade de um objeto visível, ou o influxo de uma presença
invisível, que produzem uma modificação especial na consciência. Tal é,
pelo menos, a regra universal”( JUNG,1988,pg.3).
Apesar da definição acima, o próprio Jung percebeu, no desenvolver de seus
estudos, que existiam algumas exceções em relação a esta tentativa de
conceituação, pois muitos rituais em sua execução eram realizados com o único
objetivo de “liberar” o efeito do numinoso, através de alguns recursos considerados
mágicos como, por exemplo, a invocação, o sacricio, a meditação, as mortificações
voluntárias entre outras; porém segundo ele a crença religiosa em uma causa divina
externa precede as práticas rituais. Em relação a esta questão C.G.Jung faz
inclusive a seguinte colocação: nos sacramentos da religião católica a graça divina
se encontra presente, apesar de não poder ser vista ou tocada e justamente se
encontra presente por serem os sacramentos, instituições divinas, criados e
instituídos diretamente por Jesus. (JUNG, 1988)
Ao se pesquisar a questão religiosa sob a perspectiva de Jung, pode se ter
uma noção mais clara de quão grande é sua complexidade e tamm seu
entendimento; haja vista as diversas vezes em que as falas de Jung em suas
conferências procuraram elucidar o significado do termo. Em complementação a seu
entendimento de religião, acrescentou ainda:
“Encaro o termo religião como uma atitude do espírito humano, atitude que
de acordo com o emprego originário do termo: “religio” poderíamos
qualificar a modo de uma consideração e observação cuidadosas de certos
fatores dinâmicos concebidos como “potências”: espíritos, demônios,
deuses, leis, idéias, ideais, ou qualquer outra denominação dada pelo
homem a tais fatores; dentro de seu mundo próprio a experiência ter-lhe-ia
mostrado suficientemente poderosos, perigosos ou mesmo úteis, para
merecerem respeitosa consideração, ou suficientemente grandes, belos e
racionais, para serem piedosamente adorados e amados”
(JUNG, 1988, pg.4).
69
Em muitas outras conferências também procurou deixar claro para seus
ouvintes e interlocutores que quando se referia a religião, não o fazia em relação a
profissões de fé; mas também não desconsiderava ou negava que as confissões
religiosas, se fundamentavam por um lado pela experiência com o numinoso e por
outro na fidelidade, fé ou confiança no cater do numinoso e na mudança de
consciência daí resultante. Em relação a esta questão C.G.Jung afirmava que
poderia se considerar a religião como a “atitude particular de uma consciência
transformada pela experiência do numinoso” (JUNG, C.G, 1983).
Ao se pensar em Jung e a questão religiosa, sem dúvida se torna
inquestionável a importância que a mesma teve em sua vida bem como o quanto ele
considerava primordial a experiência de Deus.
Uma entrevista realizada com ele um pouco antes de sua morte, deixou
bastante caracterizado este fato quando ao lhe ser perguntado se ele acreditava em
Deus e o mesmo deu a seguinte resposta:“ Não preciso acreditar, eu sei”
(BRYANT,1996,pg.11). Nas palavras do próprio JUNG ao ser questionado: “Não
acredito pois realmente sei de um poder de natureza muito pessoal e uma influência
irresistível. Eu a chamo de ‘Deus” JUNG,2001)
Como já mencionado em seus dados pessoais, Jung apesar de oriundo de uma
família religiosa protestante, ao longo de seu desenvolvimento começou a ter uma
relação de desconfiança no que se referia às idéias e crenças religiosas dentro das
quais fora criado, por perceber que a religião praticada por seu pai e outros
membros de sua igreja era uma espécie de representação, pois os fiéis
aparentavam não ter nenhuma convicção das palavras de suas orações. Em alguns
de seus relatos Jung se refere às palavras ditas nos cultos como sem nenhuma
experiência viva por trás delas (BRYANT, 1996, pg.12).
70
2.3.2 Paul Tillich e o Entendimento da Fé:
Para Paul Tillich, em seu principal sentido é controversa e de dicil
explicação, mas é a base incondicional da coragem humana; é a coragem de ser e
implica fundamentalmente em ética, valores e significados.
Na visão do próprio Tillich, “a coragem do ser é o ato ético no qual o homem
afirma seu próprio ser a despeito daqueles elementos de sua existência que entram
em conflito com sua auto-afirmação essencial (TILLICH,1976,pg.3).
No universo religioso, a palavra é a que mais gera incompreensões e talvez
por este motivo mais desorientação do que orientação. Com muita freqüência
inclusive nos deparamos com extremos por conta desta desorientação, seja ela de
caráter aceitativo ou negação absoluta.
O que é a fé? Na visão do autor “Fé é estar possuído por aquilo que nos toca
incondicionalmente”.
O ser humano tem diversas preocupações, que vão desde as fisiológicas até as
espirituais. Como o nível de exigência destas preocupações é muito alto, o ser
humano precisa ter para com elas uma dedicação total. Cabe inclusive mencionar
que no mundo ocidental, algumas destas preocupações têm por parte de muitos
seres humanos o caráter supremo e equivocado de ser “Deus (por exemplo:
sucesso, dinheiro, status, posição social...).
A é um sentimento ambivalente, pois ao mesmo tempo em que exige
daquele que ca dedicação total, tamm promete a realizão plena.
Por ser um ato de exigência da totalidade do ser humano a se acha inserida
em todos os seus contextos, inclusive (e talvez principalmente) em sua vida pessoal.
71
Em sua dinâmica, a fé pressupõe elementos conscientes e inconscientes do ser
humano. É importante mencionar que é diferente de atos obsessivos, que muitas
vezes ocupam, de forma enviesada, seu lugar; atos obsessivos aprisionam o ser
humano e fé é liberdade. Freud deu uma contribuição ao estudo da fé com a
introdução dos conceitos de id, ego e superego, que são de fundamental importância
para a compreensão do dinamismo da fé. Se esta estrutura da personalidade o
existisse, as forças instintivas predominariam, não permitindo a vida em
sociedade.Mas encontra-se aqui uma ambigüidade:ao mesmo tempo em que o
superego “ limita” ou bloqueia as forças instintivas, tamm funciona como elemento
castrador, o que pode inclusive levar o ser humano ao desenvolvimento de
neuroses.
A pode ser entendida, por sua relação com a inteireza da pessoa, como um
ato procedente do “self” onde podem ser percebidos o infinito e o incondicional. Só o
homem possui o centro do “eu”, de maneira que podemos concluir ser a uma
possibilidade humana, que o self é quem permite a captação do sentido de
“último, infinito e absoluto”.
A perspectiva de Tillich em relação à aborda tamm a questão do sagrado.
e Sagrado se encontram no Santíssimo da vida; o que nos fala de maneira
incondicional, para nós se torna sagrado e ter contato com o sagrado é ter a
experiência do Divino. Sagrado é mistério: tanto pode ser criador quanto pode ser
destruidor: a esta ambigüidade pode ser dado o nome de divino-demoníaca. Com o
passar do tempo o santo” passou a ter, simplesmente a conotação “daquilo que é
moralmente bom e racionalmente verdadeiro”. Sua obra, a Dinâmica da (1974)”
mostra que mesmo a fé idólatra é fé e o sagrado, mesmo quando demoníaco
72
continua sagrado; isto traduz o caráter ambíguo da religião: ela faz bem ou mal
àquele que crê?
Aceitar a pressupõe conviver com a incerteza, o que por si só retrata um ato
de coragem. Aceitar e dedicar-se plenamente “àquilo que nos toca
incondicionalmente pode representar um risco para o ser humano: se a tem um
caráter ilusório, pode conduzir o crente à perda do sentido de sua vida.
Como tudo que se refere ao ser humano, também o ato de crer necessita de
linguagem própria, sem o qual não existe experiência religiosa nem fé; a esta
linguagem chamamos símbolos e mitos, nem sempre compreensíveis fora da
dinâmica da fé.
O Que a Fé não é:
Uma das distorções mais freqüentes é considerar a um conhecimento que
apresenta menos certeza que o conhecimento científico. é diferente de acreditar;
ela transcende a confiança, apesar da confiança ser um dos componentes da fé. O
conhecimento é passível de avaliação teoria; a não, pois não pertence à
dimensão da ciência.
Nem razão, nem autoridade, nem vontade conseguem criar a fé. A clama
pela totalidade da pessoa e restringi-la a um sentimento, seria um reducionismo.
O símbolo mais forte daquilo que nos toca incondicionalmente é DEUS, mesmo
quando existe a negação de Deus; Deus é o conteúdo principal da fé e reconhecê-lo
numa imagem divina é sem dúvida uma questão de fé. O cristianismo usa a
linguagem dos mitos; mitos significam a história dos deuses (onde eles adquirem a
aparência de seres humanos).Mitos são mbolos de associados às histórias de
encontros e desencontros dos deuses com eles mesmos e dos deuses com os
73
homens: Cristo, um ser transcendente, que vive, morre e ressuscita se transforma
em um mito da história.
Ao se abordar a questão do entendimento da fé, uma pergunta surge
invariavelmente: Fé e razão se excluem mutuamente?
Esta é uma questão que demanda uma reflexão uma vez que, apesar de seu
caráter diverso, as múltiplas funções do ser humano estão interligadas. A
capacidade de raciocinar diferencia o homem dos demais seres vivos e a razão
pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos que permitem o domínio da
realidade. A fé pressupõe a razão, pois só um ser dotado de razão pode “ser
possuído incondicionalmente por algo”. Razão é condição necessária para a Fé e
é o ato de transcender a razão para além de si (TILLICH,1974,pg.51).
Na perspectiva do autor, quem tem tem coragem para aceitar-se de forma
incondicional, mesmo em seus aspectos inaceitáveis. Coragem não é confiar em
si mesmo e sim confiar sobremaneira no Deus que lhe foi revelado.
Assim sendo, diante do exposto, pode ser entendido que para Tillich a palavra
é uma das mais difíceis de conceituar. Ela é a manifestação completa do “estar
possuído incondicionalmente” e por isso não pode ser deixada de lado nem pelas
ciências, nem pela filosofia.
2.4 C.G.JUNG E A QUESTÃO SIMBÓLICA
Ao se abordar a psicologia analítica junguiana, quer como pesquisa
científica, quer como leituras sobre o conhecimento de si, com freqüência se
chega a questão dos símbolos e do simbólico.
74
Para isto, a presente pesquisa entende como necessário uma breve
explanação do que para ele significava este universo, pelo quais transitam tanto
culturas religiosas quanto organizacionais.
Como encontrado no dicionário junguiano (PIERI, 2.002), o termo deriva do
grego symbállo, que significa “coloco junto”
25
.
O símbolo na linguagem de Jung é uma linguagem extremamente rica de
conteúdos e que expressa através de imagens muitas coisas que transcendem os
problemas específicos dos indivíduos (SILVEIRA, 1997).
Na perspectiva junguiana, o duas as funções fundamentais dos mbolos: 1)
função substitutiva; 2) função formadora e transformadora.
2.4.1 Função Substitutiva do Símbolo:
Como o próprio termo traduz, a função substitutiva do símbolo refere-se à
qualquer elemento utilizado em substituição a outro, no sentido de exprimir, indicar
ou expressar justamente este outro, ou seja, para se referir a outro elemento, de
forma direta ou não. Quando a referência não é direta, são encontradas as
alegorias
26
e as metáforas
27
.
25
Paolo Francesco PIERI. Dicionário junguiano: Na Grécia antiga era comum o uso de cortar em
duas partes uma moeda, anel ou outro objeto qualquer e dar uma metade a um amigo ou hóspede.
Conservadas por uma e outra parte por gerações, tais metades permitiam aos descendentes das
duas reconhecer-se. Nesta primitiva função prática, o termo designava, portanto, as duas metades de
um objeto partido: uma vez colocadas juntas, elas recompunham o objeto e desse modo cada uma se
tornava sinal de reconhecimento para outra.
26
Dicionário Aurélio - Alegoria: vocábulo com muitos significados: 1) exposição de um pensamento
sob forma figurada; 2) Ficção que representa uma coisa para dar idéia de outra; 3)simbolismo
concreto que abrange o conjunto de toda uma narrativa ou quadro de maneira que cada elemento do
símbolo corresponda a um elemento significado ou simbolizado.
27
Dicionário Aurélio - Metáfora: palavra ou expressão em sentido figurado; consiste na transferência
de uma palavra para um âmbito que não é o do objeto que ela designa e que se fundamenta numa
relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado.
75
Na psicologia profunda, o símbolo é o elemento superficial, que é encontrado
no lugar do elemento que ainda se encontra na profundidade do inconsciente.
Na abordagem de alguns autores que escreveram sobre os estudos de
C.G.JUNG é encontrado que para ele (Jung) símbolo é o mesmo que signo, que na
psicologia analítica junguiana se refere a objeto ou evento usado como lembrança
de outro objeto ou evento; esta noção permite toda referência possível entre dois
objetos diversos. Na verdade permite colocar um objeto qualquer em qualquer tipo
de relação com outro objeto motivo pelo qual um mesmo objeto pode ser referido a
qualquer outro, e entre o primeiro e o segundo podem vir a intercorrer referências
diversas como as que existem entre o efeito e a causa ou vice-versa, entre o
estímulo de uma lembrança e a própria lembrança, entre a palavra e seu significado,
entre o gesto que indica e a coisa indicada, entre o sintoma, o indício ou o rastro de
uma situação e a própria situação. Já o signo psíquico refere-se a alguma coisa que
permite a referência a alguma outra coisa que embora esteja fechada para a
consciência que a produziu, é possível obter por meio de um procedimento
interpretativo; em particular pode se afirmar que o signo é a manifestação de
elementos psíquicos mais ou menos profundamente escondidos no inconsciente.
(PIERI, 2.002, pgs.452 e 454).
Porém em outra perspectiva, os significados são parecidos, mas não iguais
(FADIMAN; FRAGER, 1986): segundo este autor para C.G.JUNG um signo
representa alguma outra coisa enquanto o mbolo é alguma coisa em si mesmo;
representa a situação psíquica do ser humano e ele é essa situação naquele
momento.
“Aquilo a que nós chamamos de símbolo pode ser um termo, um nome ou
até uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua
76
conotações específicas além de seu significado convencional e óbvio.
Implica algo vago, desconhecido para nós [...]. Assim, uma palavra ou
imagem é simbólica quando implica alguma coisa além de seu significado
manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto
“inconsciente” mais amplo que não é nunca precisamente definido ou
plenamente explicado(JUNG apud Fadiman;Frager,1986,pgs 51 e 52).
2.4.2 Função Formadora e Transformadora do Símbolo:
Esta função se refere á psicodinâmica do inconsciente coletivo e ao processo
de individuação, já mencionados anteriormente, nos conceitos fundamentais da
psicologia junguiana.
Está diretamente ligada ao aspecto revelador dos símbolos, que trata da
evolução do homem no plano consciencial, expressando não só suas temáticas
cotidianas, como também as temáticas relativas a diferentes organismos sócio-
culturais que estruturaram os mitos familiares, regionais ou nacionais.
Em relação ao processo de individuação, o símbolo é entendido como uma
síntese tensional de opostos: onde muitas vezes se esmaga o pensamento racional
e se vazão ao material psíquico produzido pela imaginação inconsciente. No
estudo das obras de Jung pode ser identificado que ele, muito mais do que
simplesmente definir uma estrutura da psique, se interessou por descrever a vida da
psique, a qual ele julgava desenvolver-se mediante uma grande batalha: o
inesgotável e incansável jogo dos opostos.
Nas sociedades ocidentalizadas, segundo esta abordagem, o que parece dar
sustentação ao ser humano é o pensamento racional. Ao se tentar quebrar este
modelo para que os conteúdos do inconsciente possam emergir, o indivíduo se
77
depara com um grande desafio: o de manter sob controle e equilíbrio estas duas
forças; sem eles, o homem perderia o controle de si.
O conteúdo apresentado neste capítulo é considerado importante para a
compreensão do que ocorre atualmente nos ambientes profissionais, de natureza
corporativa ou religiosa.
C.G.JUNG com suas pesquisas e estudos em muito contribuiu para o
entendimento do universo simbólico que permeiam as culturas. Da mesma maneira,
a menção á Tillich também se faz importante com seus conceitos de ética e valores,
que em sua perspectiva estão relacionados ao conceito maior que é a fé.
No capítulo 3 serão feitas as correlações destes conteúdos com as
perspectivas de outros autores que tamm contribuíram para a compreensão do
que é a cultura do sucesso profissional.
78
CAPÍTULO III
APROXIMAÇÕES E CORRELAÇÕES: A cultura do sucesso
profissional nas perspectivas de C.G.JUNG e B.TANURE.
No presente capítulo serão discutidas as implicações dos estudos de cada um
dos referenciais teóricos sobre o cenário profissional da atualidade, apontando as
semelhanças e divergências entre cada uma das perspectivas. Também serão
apresentadas neste capítulo uma síntese do entendimento de TANURE e
referenciais secundários sobre o significado de sucesso e traços da cultura brasileira
e um detalhamento do simbolismo de C.G.JUNG que permeia os ambientes
profissionais, quer de natureza religiosa quer de natureza corporativa.
Os dois recortes mencionados acima tem importância significativa para este
trabalho, pois elucidam a questão da responsabilidade de cada indivíduo sobre seus
atos e atitudes, o que certamente tem influencia sobre a formão do sucesso
profissional. Isto significa dizer que o sucesso individual e o coletivo estão
diretamente ligados às práxis ou ações escolhidas e praticadas pelo ser humano,
sozinho e na interação com demais indivíduos.
Na perspectiva de MOTTA e CALDAS (1997, pg.15) como as organizões
aprendem os valores das sociedades em que se acham inseridas é importante o
conhecimento “[...] das raízes, da formão e evolução ou dos traços atuais da
cultura brasileira”.
79
3.1 A CULTURA BRASILEIRA E O SIGNIFICADO DE SUCESSO
Na perspectiva de MOTTA e CALDAS (1997) a cultura brasileira foi moldada a
partir da influencia exercida pelos colonizadores portugueses, índios e escravos
africanos. O domínio português, cujo principal interesse era a exploração do pau-
brasil despertou o interesse pela vinda ao país, de degredados e nobres decadentes
separados de suas famílias. Ainda segundo os autores, os portugueses, além do
domínio da navegação e do comércio, tinham familiarização com a escravidão de
outros povos. Os negros africanos, chegados ao país sob a condição de escravos,
geralmente eram muçulmanos e alfabetizados. Os índios do país eram oriundos de
diversas tribos, tinham hábitos diferentes e os que habitavam o interior do país eram
considerados mais arredios e agressivos do que os que habitavam o litoral.
Na maioria das vezes, as mulheres portuguesas não acompanhavam seus
maridos ao Brasil, fato este que possibilitou e até facilitou que muitos deles ou se
casassem ou simplesmente passassem a morar com as índias brasileiras. A
chegada dos escravos africanos também oportunizou a mistura entre os negros e os
portugueses e entre os negros e os índios. A miscigenação destas raças deu origem
ao povo brasileiro, gerando em cada região do país uma sub-cultura, com traços de
cada uma destas três etnias, mais ou menos acentuada (MOTTA; CALDAS, 1997).
Um fato também importante na formão do povo brasileiro foi a abolição dos
escravos, que possibilitou à chaga ao país dos imigrantes europeus, principalmente
italianos, nas regiões sul e sudeste; as guerras por sua vez trouxeram novos
imigrantes, como por exemplo os japoneses, alemães e poloneses. A grande mistura
destas raças formou uma sociedade com traços, comportamentos e organizações
distintas (MOTTA; CALDAS, 1997).
80
Sob a ótica de Hofstede e Hofstede (2005), teorias e práticas que permeiam o
universo profissional são próprias do contexto onde são desenvolvidas. O que
significa dizer que um modelo bem sucedido em um país possa ser aplicado com a
garantia de sucesso em outro. O fator cultural tem grande influência neste sentido e
se torna importante tamm o conhecimento do local e data onde as práticas e
teorias foram estruturadas bem como o cenário onde elas serão inseridas, para a
partir de então se falar em sucesso dos resultados.
Ainda na perspectiva de Hofstede (1991) no que se refere à cultura nacional, a
cultura é um fenômeno coletivo e, portanto pode ser aprendida de forma parcial ou
na totalidade pelos indivíduos que vivem em um mesmo ambiente; não se trata de
herança genética. Ainda dentro de sua abordagem, fala de uma divisão ou níveis da
cultura, a que chamou de camadas culturais e que permitem ao indivíduo se
relacionar de forma simultânea com mais de um grupo. São elas:
Nível Nacional se refere ao nível em que a pessoa vive ou transitou em sua
vida;
Nível de Afiliação regional, ética, religiosa e/ou lingüística;
Nível de Gênero – se refere à condição de nascimento de homem ou mulher;
Nível de Gerões – se refere às diversas gerações familiares;
Nível de Classe Social – incluindo nestevel as oportunidades na esfera
educacional e profissional:
Nível Organizacional ou Corporativo - se refere ao tipo de organizações e
forma de socialização dos empregados.
A pesquisa de Hofstede, na visão da proponente deste trabalho é importante
pois a etapa de realização no Brasil foi feita por TANURE, um dos referencias
escolhidos. Tamm por apresentar características que se aplicam tanto a
81
ambientes organizacionais quanto aos religiosos será apresentada de forma mais
detalhada.
3.1.1 Dimensões Culturais
Foram identificadas na pesquisa, cinco dimensões culturais (Hofstede, 1991):
Individualismo X Coletivismo: refere-se ao grau em que os membros de uma
sociedade são responsáveis pelos demais membros desta mesma sociedade. O
individualismo se concentra em si mesmo e no grupo que estiver mais próximo; O
coletivismo se refere ao grupo no qual o indivíduo está inserido e onde deve haver
lealdade e reciprocidade entre os membros.
Masculinidade X Feminilidade: diz respeito ao quanto tarefas com
características masculinas ou femininas são compartilhadas na sociedade: valores
masculinos eso ligados à realizão e sucesso e os femininos ao cuidado com os
outros e qualidade de vida:
Distância de Poder: aborda o quanto os membros menos poderosos de uma
sociedade aceitam e esperam uma distribuição de poder desigual:
Aversão à incerteza: diz respeito ao quanto de ansiedade e inquietação os
indivíduos sente em situações inesperadas ou incertas;
Orientação para Curto Prazo X Orientação para Longo Prazo: Se refere à
expectativa em relação ao tempo para retorno ou recompensa para uma tarefa
realizada.
Tomando como base as dimensões acima, Hofstede (1991) afirma ser o Brasil
um país com a cultura marcada por grande distância de poder, coletivista, feminino,
com alta aversão à incerteza e orientação para longo prazo. E para entendimento do
82
que isto significa, será apresentado a seguir um quadro com as características de
cada uma destas dimensões.
INDIVIDUALISMO
COLETIVISMO
- Os indivíduos preocupam-se consigo mesmo
ou somente com suas famílias;
- Não são formados laços mais profundos com
outros indivíduos.
- integração do indivíduo com grupos fortes e
coesos;
- proteção mútua e lealdade entre os
membros do grupo.
MASCULINIDADE
FEMINILIDADE
_ Regras sociais para homens e mulheres o
distintas;
- Homens são assertivos, fortes e preocupados
com o sucesso material;
Mulheres são modestas, ternas e preocupadas
com a qualidade de vida
- Regras sociais para homens e mulheres são
flexíveis;
- Homens e mulheres devem ser modestos,
ternos e preocupados com a qualidade de vida.
BAIXA DISTÂNCIA DE PODER
ALTA DISTÂNCIA DE PODER
- Minimização da desigualdade entre as
pessoas;
- Descentralização é popular;
- Subordinados esperam ser ouvidos.
- Desigualdade entre as pessoas é esperada e
desejada;
- Exigência da obediência;
- Centralização é popular;
- Subordinados esperam que lhes digam o que
deve ser feito.
BAIXA AVERSÃO À INCERTEZA
ALTA AVERSÃO Á INCERTEZA
- Baixo stress: sentimento subjetivo de bem
estar;
- Devem existir somente as regras necessárias;
- Chefes/professores podem dizer “não sei”.
- Alto stress: sentimento subjetivo de ansiedade;
- Necessidade emocional de regras, ainda que
elas nunca funcionem;
- O que é diferente é perigoso;
- Chefes /professores devem ter todas as
respostas
ORIENTAÇÃO PARA CURTO PRAZO
ORIENTAÇÃO PARA LONGO PRAZO
- Respeito pelas tradições;
- Esperam-se resultados rápidos;
- Preocupações em encontrar a verdade
- Adaptação das tradições à um contexto
moderno;
- Espera-se perseverança através de resultados
demorados;
- Preocupação em respeitar as necessidades de
virtude.
Fonte: Hofstede, 1991
Mas Hofstede não foi o único a escrever sobre os traços da cultura brasileira.
83
3.1.2 Traços da Cultura Brasileira
Outra perspectiva é a de FREITAS (1997) que divide em cinco grupos os traços
culturais brasileiros:
Hierarquia diz respeito à maior ou menor centralização de poder,
correspondendo ao reconhecimento da autoridade. A hierarquia guarda traços da
escravidão e dos senhores de engenho;
Personalismo se refere à presença e utilização da aproximão de níveis
diferenciados de poder através de relacionamentos. É percebido que entre os
brasileiros, existe a busca por estar próximo ao poder com o relacionamento
intimista com seus detentores. Isto pode ser visto como resquício da relação
patriarcal colonial, pois além da relação empregador empregado é comum a criação
de vínculos de amizades entre as partes, o que aproxima , protege e propicia a
lealdade a ambas;
Malandragem este traço cultural diz respeito á usar a flexibilidade para burlar
ou se esquivar de regras. È facilmente percebida na cultura do brasileiro, que es
com freqüência disposto a encontrar em sua rede social a intimidade necesria
para a solução de situações difíceis ou de seus problemas. É o conhecido “jeitinho”
que caracteriza a habilidade de encontrar o limite tênue entre o permitido e o não
permitido, o certo e o errado, o legal e o ilegal. Tudo com muito tato e sensibilidade
para se sair bem. E como afirma FREITAS (1997) a adaptação, flexibilidade e
originalidade do povo brasileiro nas adversidades são reconhecidas externamente.
Sensualismo é o jeito sensual presente nos modos e trejeitos e não
intencional. Para o autor, este traço também chegou ao Brasil com a colonização
portuguesa, visto serem os mesmos habituados, por influência moura, à poligamia. A
84
própria igreja, na época, tolerava os relacionamentos e uniões com os índios e
negros, por entender que às mesmas contribuíam e aeram necessárias para a
procriação, importante para a povoação do país. Até hoje este traço pode ser
percebido em algumas festas religiosas e até mesmo no carnaval, onde a população
o manifesta de forma mais desprendida.
Aventureiro - o aspecto aventureiro se relaciona àquilo que não é metódico, não
convencional; pode ser considerado uma busca pelas atividades mais prazerosas.
em detrimento das consideradas mais penosas, o que tamm pode ser
considerado herança cultural do período colonial onde as tarefas pesadas eram de
obrigação dos escravos e sem prestígio social (FREITAS,1997).
O quadro a seguir (FREITAS, 1997, pg.44) apresenta os cinco grupos de traços
culturais e suas principais características.
TRAÇOS
INDICADORES
HIERARQUIA
- Tendência a centralização do poder dentro dos
grupos sociais;
- Distanciamento nas relações entre grupos
sociais;
- Passividade e aceitação dos grupos inferiores.
PERSONALISMO
- Sociedade baseada em relações pessoais;
- Busca de proximidade e afeto nas relações;
- Paternalismo: domínio moral e econômico.
MALANDRAGEM
-Flexibilidade e adaptabilidade como meio de
navegação social;
-“Jeitinho”.
SENSUALISMO
- Gosto pelo sensual e pelo exótico nas relações
sociais.
AVENTUREIRO
- Mais sonhador do que disciplinado
- Tendência à aversão ao trabalho manual ou
metódico
Fonte: FREITAS, 1997
Na perspectiva de B.TANURE, os principais traços da cultura brasileira, em
suas interelações profissionais são: o poder, as relações e a flexibilidade (TANURE,
85
EVANS e PUCIK, 2007). Ao se observar as organizações brasileiras, podem ser
constatados traços de relações de poder e personalismo.
Utilizando Hofstede (1991) como referência, afirma B.TANURE que:
“[...] Nos empreendimentos controlados pelo governo, de forma geral, são
comuns o culto ao poder e até mesmo o nepotismo. O índice encontrão foi
de 99 contra 72 nas empresas privadas nacionais e 70 nas multinacionais.
Das respostas relativas às estatais, 74% mostram que os superiores
diretos são percebidos como autoritários. O percentual cai para 52% nas
multinacionais e 48% nas nacionais (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007,
pg.9)”.
Ainda com referência a este traço cultural, explica a autora, existem aspectos
positivos aos quais chama lado sol e aspectos que podem ser considerados
negativos, aos quais chama lado sombra:
“[...] O “lado sol” deste traço cultural é a rapidez no processo decisório,
especialmente útil em situações muito voláteis. O “sombra”, mais
claramente identificado, é o não-comprometimento das pessoas, a
delegação para cima e o o aproveitamento das competências
disponíveis na organização (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007, pg.9)”.
Isto significa dizer que em situações como a mencionada acima a ou seja sob a
influência do traço mencionado acima, o líder é o responsável pelas decisões e
tamm por oferecer amparo e apoio a seus liderados. Estes por sua vez
responderão com lealdade, sem questionamentos quanto à qualidade da decisão
tomada pelo líder.
Em sua perspectiva afirma TANURE que o personalismo aparece com
intensidade no traço cultural que se refere às relações, que é uma “[...] dimensão
caracterizada por duas faces: a natureza das ligações que os indivíduos
estabelecem entre si numa sociedade e a forma de expressão de sentimentos e
emoções” (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007, pg.10)”.
86
Voltando à escala de Hofstede (1991) o Brasil é visto com tendo uma cultura
coletivista, onde prevalecem os relacionamentos pessoais para se ter acesso a
determinados cargos e onde se evita o conflito com quem detém o poder. O
confronto direto entre partes de veis diferentes não é algo desejável. “Por outro
lado, os que ocupam as posições mais altas não evitam conflitos com a mesma
intensidade (TANURE; EVANS; PUCIK, 2007, pg.11)”.
A expressão dos sentimentos e emões caracteriza a alegria, espontaneidade,
afetividade e espírito hospitaleiro dos brasileiros, reforçando a intimidade e
facilitando o evitar de conflitos. O lado sol deste traço é a mobilização das pessoas
em torno dos projetos estratégicos; o lado sombra é que pode reduzir a objetividade
e a neutralidade, estimulando assim sentimentos como protecionismo e injustiça.
O traço que parece ser hoje o que maior contribuição oferece às organizações
e seus colaboradores é a flexibilidade, que tamm se apresenta com duas faces:
adaptabilidade e criatividade. A adaptabilidade se traduz pelo rápido ajustamento às
mudanças, marca contínua no cenário brasileiro, com muitas e contínuas
turbulências nos ambientes políticos e econômicos. A criatividade é expressada na
inventividade em relação à iniciativas.
O lado sol deste traço pode ser considerado a rapidez em se inserir no contexto
atual; o lado sombra pode ser configurado através da esperteza e do oportunismo e
até mesmo da indisciplina no sentido de auferir vantagens ou postergar mudanças
necesrias á rápida estabilizão do novo ambiente.
Em relação ao significado de sucesso, ao se pesquisar as obras de TANURE é
encontrado que em sua perspectiva o mesmo está diretamente ligado aos
indicadores de sucesso da cultura local, o que reforça sua visão de que globalização
de mercados não significa globalização de valores (TANURE, 2007, pg117). Em um
87
de seus livros existe uma referência a um dos conceitos de sucesso do executivo
brasileiro como sendo alcançar rapidamente altas posições na hierarquia e acúmulo
de riqueza pessoal (CABRERA apud TANURE, 2007, pg.122).
Em complementação ao conceito acima, TANURE faz uma complementação de
conceito do sucesso profissional: O equilíbrio nas diversas carreiras pelas quais se
transita ao longo da vida: a profissional, a familiar, a espiritual, a sica, a social, a
cidadã. Afirma a autora: “É a possibilidade de equilibrar essas diversas carreiras que
vai dar consistentemente condição ao executivo de ser bem sucedido
profissionalmente (TANURE, 2007 pg.122).
3.2 O SIMBOLISMO, AS CULTURAS E AS ORGANIZAÇÕES:
A questão do simbólico se coaduna com a proposição da pesquisa
apresentada, pois ao se versar sobre a cultura do sucesso profissional certamente,
o encontrados tanto nas culturas religiosas quanto nas organizacionais, símbolos
que não traduzem os hábitos presentes nestas culturas, como em muitos
momentos servem de alento para os indiduos, na busca cada vez maior para um
sentido para suas vidas. Cabe aqui uma colocação facilmente percebida nos dias de
hoje: um dos sintomas de alienação nas sociedades contemporâneas é o sentimento
da falta de sentido ou de que a vida está ficando sem significado, fato este que pode
ser oriundo de mudanças violentas provocadas por uma grande transição cultural,
pela qual as sociedades de uma maneira geral vêm passando.
Ao se observar os ambientes religiosos cristãos têm-se a impressão de que o
grande sistema de símbolos que é o cristianismo organizado já não parece ser
capaz de motivar a dedicação dos homens nem atender-lhes as necessidades
88
fundamentais [...] a necessidade de se descobrir a vida simbólica (EDINGER,
1995)”.
“O homem necessita de uma vida simbólica... mas não temos uma vida
simbólica... Acaso vos dispõem de um canto em algum lugar de suas
casas onde realizam ritos, como acontece na Índia? Mesmo as casas mais
simples daquele país têm pelo menos um canto fechado por uma cortina no
qual os membros da família podem viver a vida simbólica, podem fazer
seus novos votos ou meditar. s não temos isso...Não temos tempo nem
lugar...Só a vida simbólica pode exprimir a necessidade do espírito a
necessidade diária do espírito, o se esqueçam! E como o dispõem
disso, as pessoas jamais podem libertar-se desse moinho dessa vida
angustiante, esmagadora e banal em que as pessoas são “nada senão
(JUNG apud Edinger, 1995,pgs.157 e 158).
Em relação às culturas organizacionais, as mesmas parecem traduzir um
grande universo simbólico, onde, ao se adentrar logo se percebe uma presença
invisível”. O próprio ambiente sico, com suas cores, lay-out e o movimento das
pessoas que ali trabalham parecem falar por si. Muitos dos colaboradores, tão
diversos e diferentes entre si, se tornam muito “iguais” ou parecidos no jeito de ser.
É a cultura organizacional, formada pela expressão utilizada por TANURE, que diz:
“cultura é aquilo que as pessoas fazem”. E o que as pessoas fazem traduz seu jeito
de ser e o jeito de ser das organizões, com suas falas, ditas ou não, silêncios,
digos, posturas, anseios e receios, máscaras e ritos, padrões definidos e valores.
Apesar de invisível todo este contexto parece impregnar os colaboradores, que
nem mais prestam atenção consciente a ele, pois o mesmo “já faz parte”.
Na perspectiva de SROUR, (1998), as representações imaginárias de uma
organização identificam “quem é quem, definem e demarcam práxis nem sempre
claras ou explícitas, impõe formalidades, controlam expectativas e comportamentos
e cobram de seus membros aprendizagem e em algumas vezes, cautela. E todo
este contexto, com seus deveres e direitos não é transmitido aos colaboradores de
89
forma sistematizada, o que faz com que, com freqüência os mesmos tenham que
imaginar ou “tentar adivinhar” o que é esperado de cada um.
Através dos resultados de suas pesquisas, TANURE afirma ser a empresa um
espaço sociocultural, onde se encontra, nos níveis mais profundos as premissas que
fundamentam ou dão embasamento às atitudes dos grupos. Afirma ela que:
“A dimensão mais visível de uma organização o está nos mitos e
símbolos, mas também em seus ritos e rituais. Por exemplo, o gerente que
anda na fábrica pela manhã, diariamente, as reuniões todas as sextas-
feiras ou a forma de comemoração dos aniversários. Ou ainda, visível nos
heróis e lendas presentes no dia-a-dia da empresa, como aquele
empregado que saiu do hospital direto para o trabalho e “virou” três dias na
empresa sem ir para casa” (TANURE, 2007, pg. 19).
Em relação aos mitos diz TANURE (2007) que os mesmos não se baseiam em
fatos reais, mas deixam evidenciados quais são os valores e crenças de uma
organização, definindo assim os limites daquilo que é possível e/ou esperado dos
colaboradores.
na perspectiva de FREITAS (1991b), os mitos apresentam consistência com
os valores da organizão, sem qualquer sustentação em fatos. Ainda segundo esta
abordagem, os símbolos tanto podem ser objetos, quanto pessoas que se tornam
símbolos sociais e cujos comportamentos e condutas servem de referência e modelo
a ser repetido. Entre estes símbolos se destacam os heróis, que:
Tornam o sucesso atingível e humano;
Fornecem modelos;
Simbolizam a organizão para o mundo exterior;
Preservam o que a organização tem de especial;
Estabelecem padrões de desempenho;
Motivam empregados, fornecendo influência duradoura (FREITAS,
1991b, pg.31).
90
Ao se observar as sociedades modernas e as organizações nelas inseridas são
encontradas algumas características especificas. Na perspectiva de FREITAS (2000)
uma destas características é a ênfase na racionalidade extrema, uma vez que o pós-
moderno inaugura-se na morte de Deus, na perda dos fundamentos, da
transcendência, no esfacelamento da religião, da ética, da moral e do sagrado.
Em se tratando da questão do simbolismo dentro das organizações, religiosas
ou corporativas são encontrados outros posicionamentos. Alguns deles se referem
especificamente às lideranças, que exercem uma grande influência nos contextos
profissionais. Trata-se de observar os contextos para se perceber que líderes,
através de imagens, palavras ou simplesmente ões simbólicas, conseguem
prender ou espertar a atenção de seus liderados, o que lhes dá o controle da
situação.
Na perspectiva de WOOD Jr. (2000) a liderança pode ser vista como um
mecanismo de sedução e influência, presente nos jogos de poder das organizações.
Em sua percepção, as organizações de simbolismo intenso contam com lideranças
cujo principal papel é o exercício de controle dos significados, para os
colaboradores, por meio de uma manipulação simbólica.
“A liderança é também um processo por meio do qual os indivíduos
transferem sua possibilidade ou poder de interpretar a realidade para
terceiros. Assim líderes simbólicos definem a realidade para os liderados
(WOOD, pg.24, 2000)”.
Voltando a perspectiva de TANURE, permeiam o imaginário das organizações,
contribuindo para o componente simbólico das mesmas, a linguagem que utiliza
palavras com significado próprio e que permite aos colaboradores uma interpretação
particular, os tabus, que caracterizam áreas ou temas não bem aceitos nas
91
organizações e às condutas, que se referem à forma como as pessoas se
comportam e agem, tornando-se assim referência para determinados grupos.
Afirma a referida autora, em relação às condutas: “[...] o modo como as
pessoas agem na organização são naturalmente copiados pelos novos membros
que dificilmente agirão de modo diferente pela necessidade de serem rapidamente
aceitos pelo grupo” (TANURE, 2007, pg.103).
3.2.1 O Simbolismo do Sucesso
Nas sociedades ocidentais, dentro do modelo capitalista é percebido o domínio
do racional, dos ganhos sem relação efetiva entre o trabalho realizado e a
remuneração. Pouco ainda se refere a valores como integridade e seriedade, apesar
de existir uma busca no sentido de se reverter esta situação. Atualmente ainda não
se ganha pelo que se trabalha e o grau de importância das pessoas é medido pelo
quanto se ganha nas organizações. Em ambientes com estas diretrizes são
valorizadas a imagem, aparência, o consumo, o superficial, formando o indicador ou
indicadores de uma vida de sucesso. Porém esta mesma racionalidade é repleta de
imaginário e simbolismo.
Como observado por ENRIQUEZ (1997), [...] as organizações atuais
apresentam-se como um sistema cultural, simlico e imaginário. A organização
tende a se apresentar como uma organização-instituição divina, toda poderosa,
única referência que nega o tempo e a morte [...].
De maneira geral procuram as organizões assumir o papel de formação de
identidade para seus membros, nas esferas social, individual e profissional,
invadindo o espaço privado e passando a ser referência única. Isto ocorre através da
92
produção de um imaginário próprio, onde a organização aparece como um gigante,
potente e perfeito e com o poder de captar todos os anseios e angústias de seus
membros sendo para eles fonte de reconhecimento e amor e até com o poder de
curá-los em suas imperfeições e fragilidades, como é proposto inclusive em algumas
instituições religiosas.
Desta forma, o status profissional passa a ser o centro organizador da vida
pessoal, aquilo que sentido, auto-imagem alta, reconhecimento e o único que
pode ser refencia de sucesso. A identidade profissional torna-se a identidade
pessoal, como por exemplo, quando algumas pessoas se apresentam como “Fulano,
da empresa tal ou da Igreja tal”.
Uma abordagem interessante em relação a sucesso, religião e organizões é
a de MAX PAGÉS, por esta razão será feita uma rápida meão a ela. Diz ele que a
relação do indivíduo com o grupo onde ele está inserido é de extrema importância,
pois é através dela que o indivíduo desenvolve suas defesas psicológicas para lidar
com a angústia básica da separação. Com esta questão pode ser entendido que as
organizações, de qual natureza sejam se sedimentam sobre os sentimentos de seus
membros, em algum momento de suas vidas. Segundo PAGÉS os indivíduos se
acham ligados às organizações não pelos laços materiais ou morais, vantagens
econômicas ou ideologia, mas também por vínculos psicológicos. E o justamente
estes vínculos que permitem às organizações atuarem em nível simlico, com o
intuito de afetar a esfera emocional das pessoas que a elas pertencem.
“[... é através da manipulação do inconsciente que a organização coloca
sob seu jugo o indivíduo, reforçando suas angústias paranóides
inconscientes mais arcaicas, assim como os sistemas de defesa contra a
angústia. Ela age provocando uma fantástica regressão psicológica,
reforçando um estado de terror infantil no indivíduo e fornecendo-lhe no
momento oportuno um meio, o seu, para se defender contra os terrores e
se salvar. (PAGÉS, 1987, pg.171)”.
93
Argumenta PAGÉS que esta manipulação sofre a influência de alguns fatores:
a imagem e o culto do poder nas organizações, o isolamento do indivíduo, um
modelo de personalidade baseado no sucesso e na conquista, a angústia e o prazer.
Menciona ainda o referido autor, como hipótese, que uma nova religião vem se
formando dentro das organizações capitalistas modernas, como continuidade às
religiões tradicionais falidas: “[...] falência das religiões tradicionais que o homem fica
vagando tal como cão sem dono” (PAGÉS, 1987, pg.75).
Como que para sanar esta lacuna, as organizações proem um sistema de
crenças e valores, divulgados em cartilhas e manuais e com os quais pode ser feita
uma analogia com as escrituras sagradas.
“Estamos diante de um sistema religioso e isto não é uma simples
metáfora, visto que dispomos de todos os elementos em torno dos quais se
articula um sistema deste tipo: um conjunto de crenças que formam um
dogma; escrituras sagradas e ritos pondo em prática esse conjunto de
crenças; uma organização hierarquizada servida por seus celebrantes; uma
massa de fiéis compartilhando a mesma fé; um deus que a organização
encarna” (PAGÉS, 1987, pg. 76).
Aponta ainda o autor outras semelhanças e correlações:
“[...] a integração dos valores pode ser considerado o Credo; [...] a
confissão: as entrevistas de avaliação; a missa: os encontros; o batismo: a
admiso; o catecismo: a formação; a liturgia: as regras e o direito
canônico: os manuais (PAGÉS, 1987, pg.84)”.
3.2.2 O Simbolismo em Culturas Religiosas
Como mencionado no capítulo I, na perspectiva de CLIFFORD GEERTZ
(1989) a religião é um sistema de símbolos que atua para “estabelecer poderosas,
penetrantes e duradouras disposições e motivões nos homens ...”. Mas nunca ´só
94
metafísica nem meramente ética. Diz o referido autor que sua vitalidade reside no
fato de expressar a natureza fundamental da realidade (GEERTZ, 1989).
Sob sua perspectiva, os aspectos morais ou valorativos (ethos) refletem o tom,
o caráter de um povo enquanto que sua disposição é sua atitude em relação a seu
mundo. Já os aspectos cognitivos e existenciais de um povo foram designados pelo
autor como sua visão de mundo. A visão de mundo de um povo é sua forma de
elaboração da realidade, da natureza, de si mesmo e da sociedade (GEERTZ,1989).
E parece existir uma correlação próxima entre este dois aspectos: o ethos torna-se
aceitável para um povo porque representa um tipo de vida como a descrita na visão
de mundo e a visão de mundo torna-se emocionalmente aceitável porque se
apresenta como uma imagem autêntica da realidade que expressa.
Pode se pensar que a correlação acima demonstra o quão significativa é a
relação que se estabelece entre os valores de um povo e mundo ao qual ele
pertence. Porém, este significado só pode ser traduzido, ao longo do tempo, pelos
símbolos que fazem parte da cultura destes povos e que resumem tudo sobre este
povo. Podem ser mencionados como símbolos de culturas religiosas, por exemplo, a
cruz, o crescente, o candelabro e muitos outros que são utilizados em diversos
rituais. Como afirma GEERTZ (1989) o poder dos símbolos vem de sua capacidade
de correlacionar o fato com um valor, de dar sentido a algo, que de outra forma seria
somente um fato.
É importante que se mencione que cada cultura religiosa tem os seus símbolos
e que na maioria das vezes os mesmos só são compreendidos dentro daquela
cultura, pois existe a questão do estilo de vida e da realidade fundamental. Como
afirma GEERTZ “o que todos os mbolos sagrados afirmam é que o melhor para o
95
homem é viver de modo realista onde eles diferem é na visão da realidade que
constroem” (1989, pg.96).
Em sua perspectiva GEERTZ afirma que uma religião ou um sistema religioso é
formado por um conjunto de símbolos, considerados sagrados para uma
determinada cultura (1989). E uma observação interessante feita por ele é que na
maioria das culturas do mundo os indivíduos que não reconhecem e validam os
atributos de seus símbolos, não o considerados de todo maus, e sim, de uma
forma mais generalizada, como ignorantes, estúpidos ou até em situações mais
graves, como loucos.
Como acontece em todos os fatos e situações, os símbolos não significam ou
traduzem somente aspectos ou coisas boas de uma religião; ao contrário apontam
tamm para a existência do mal e falam sobre o conflito existente entre os dois.
Neste sentido, como observado por GEERTZ;
“[...] tanto o que um povo preza como o que ele teme ou odeia são
retratados em sua visão de mundo, simbolizados em sua religião e
expressos, por sua vez, na qualidade de sua vida. Seu ethos é distinto não
apenas em termos da espécie da nobreza que ele celebra, mas também
em termos da espécie da baixeza que ele condena; seus vícios o tão
estilizados como suas virtudes” (1989, pg.96).
Sob esta perspectiva, pode ser compreendido que o poder e força de uma
religião reside em sua capacidade de, através de seus símbolos, mostrar o sentido
de seus valores e o quanto eles são importantes naquele contexto.
Os símbolos de uma cultura, religiosa ou organizacional são primordiais, pois
quer de forma explicita ou sub-liminar representam a construção da realidade, onde
como diz WEBER os acontecimentos não eso apenas e acontecem, mas têm
um significado e acontecem por causa deste significado” ( WEBER apud GEERTZ,
1989,pg.96).E como o homem é um ser que está constantemente em busca de
96
significados, principalmente para a própria existência e para os valores que fazem
parte dos contextos pelos quais transita, parece ser a religião, que é um vasto
sistema simlico, um caminho a mais para esta compreensão.
Em relação às correlações entre as perspectivas de B.TANURE e C.G.JUNG
percebe-se na leitura de suas obras uma estreita relação no que se refere a questão
do simbolismo e da importância do indivíduo em assumir a responsabilidade pelos
próprios atos. O universo simbólico, ao qual os referenciais desta pesquisa fazem
menção constante, são percebidos de forma clara quer em organizações religiosas
quanto corporativas. Para JUNG os símbolos são a fala da psique e TANURE
aponta também a linguagem como uma forma particular de se interpretar os fatos.
Em JUNG é encontrado que os símbolos, como um femeno psíquico afeta e
demonstra nossa forma de pensar e nossos sentimentos. TANURE aponta para a
mesma questão, dentro das organizações: os símbolos nelas utilizados deixam claro
as regras do jogo”, principalmente do jogo do poder. E ainda, tamm nas culturas
religiosas, os símbolos mostram o que está invisível através de algo visível, que lhe
dá significado.
Na leitura das obras de JUNG pode se compreender que os símbolos apontam
para os arquétipos. TANURE realizou em diversas organizações pesquisas sobre o
sucesso que é um forte arquétipo, cada vez mais presente no mundo profissional,
quer de natureza organizacional ou religiosa e que as pessoas em maior ou menor
escala quere alcançar.
O decifrar das mensagens simlicas da psique permite ao indivíduo se
conectar com suas fortalezas e destampar” a própria criatividade, que é um dos
fatores apontados por TANURE como indicador de sucesso.
97
A leitura das obras de JUNG mostram a importância do ser humano se tornar
um indivíduo único e TANURE aponta para a importância do auto-conhecimento
neste processo, pois quando a pessoa se reconhece como é, ela se aceita e
pode fazer as transformações necessárias em sua vida, inclusive nos ambientes
profissionais.Mas não a eles e sim as demais esferas de sua vida, das quais
tamm fazem parte a religiosa e a espiritual
E a esta inteireza do ser humano, C.G.JUNG chamou Individuação, que é um
caminho ao encontro de quem se é na essência.
98
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Na pesquisa realizada emergiu uma pergunta, considerada pela autora do
trabalho como pertinente: O que o organizações de sucesso, uma vez que
diversas vezes, em diferentes textos foi mencionado que a cultura de uma
organização está ligada à cultura onde esta organização se encontra.
Independentemente à que ambiente se refiram, religioso ou corporativo,
sucesso voltado à organizações necessitam estar ligados à inovação. E a inovão
por sua vez é facilitada em contextos onde exista simplicidade, no sentido de ter
regras simples e valores, definidos e praticados, por todos, e que permitam a todas
as pessoas trabalhar ou agir de forma criativa.
A questão do permitir o trabalho de forma criativa por parte das pessoas é
importante, uma vez que são elas que fazem acontecer e, portanto pode também se
ter a compreensão de que são elas que fazem a diferença em um contexto
profissional, religioso ou corporativo.
O trabalho realizado, através da leitura das obras dos referenciais principais e
secundários, mostrou ser pouco eficaz se pensar em atualização de sistemas ou
processos; os mesmos por si não são inovadores ou criativos, mas as pessoas o
o.
As obras analisadas conduzem ao entendimento de que toda pessoa tem em si
um potencial criativo visto ser o mesmo uma parte ou função do psiquismo. Porém
para que este potencial aflore, é necessário existir um ambiente permissivo, em
oposição a um cenário de medo ou de dominação.
Neste sentido, parece pertinente afirmar que, em resposta à pergunta inicial,
organizações de sucesso, religiosas ou corporativas são aquelas que têm entre seus
99
membros ou colaboradores, pessoas com capacidade de descobrir ou revelar aquilo
que ainda está oculto para a maioria.
Também é fundamental que estas pessoas ajam de forma espontânea em
situações novas e saibam ou tenham a coragem de enfrentar os riscos; que tenham
acuidade perceptiva aguçada e, portanto estejam atentos às oportunidades.
Mas, sobretudo, que sejam capazes de delinear perspectivas, descobrir novos
caminhos e práxis junto aos demais, não hesitando em ser ousado o suficiente para
propor as mudanças que se façam necessárias para garantir uma trajetória de
crescimento, ética e continuidade. Primeiro para si mesmo e por decorrência para o
ambiente no qual ele estiver inserido.
Como conclusão desta pesquisa pode ser afirmado que a cultura orienta a
religião, que está reagindo a seus valores. A cultura do sucesso profissional es
presente, hoje, de forma acentuada, tanto em ambientes profissionais religiosos
quanto corporativos. Mas, no mundo contemporâneo, no que se refere aos
ambientes religiosos, isto está mais evidenciado, o que inclusive prejudica a religião
em sua essência.
Em relação ao mundo corporativo pode ser feita uma relação com a psicologia
analítica de C.G.JUNG; a mesma valoriza a inteireza da pessoa, mas o cenário atual
aponta outros valores, que hoje permeiam as organizações como o poder, o ter, o
necessitar do sucesso. Ao se observar as organizações se percebe que em sua
maioria a figura do CEO é simbolicamente a figura de DEUS. E tem maior sucesso
profissional quem tem o poder de se aproximar deste DEUS.
Para finalizar a presente pesquisa fica uma constatação, ácida na visão da
proponente: a individuação de C.G.JUNG hoje não ocupa mais o lugar na
escala do sucesso. Ser ou estar com toda a plenitude e inteireza já não é o mais
100
importante. É percebida na leitura das obras de TANURE, mesmo que de forma
velada e ainda que indigesta a afirmação, de que “sucesso é poder”; o fundamental
é que se saiba lidar com o poder.
E como sucesso é poder, já não importa se todas as partes do indivíduo estão
integradas e sim o quanto ele consegue se aproximar do topo das organizações,
religiosas ou não.
101
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