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Prosseguindo na descrição do citado episódio, José Caldas registra a participação de
outro praça, este da FAB, na desarticulação da operação:
Josué Cerejo, sargento da Aeronáutica, que durante a crise de 1961 servia na Base
Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, [...] contou para Amadeu Felipe que uma das
sabotagens dos sargentos à Operação Mosquito era colocar as balas invertidas nos
pentes das metralhadoras (COSTA, 2007, p. 61).
O livro de José Caldas é uma importante referência sobre a mobilização dos sargentos.
Além dele tem – se os depoimentos pessoais dos participantes; bem como trabalhos
acadêmicos de Liseane Morosini (1998) e Paulo Parucker, autor de uma dissertação de
mestrado, ano 1992, editada como livro em 2009.
O historiador e militar, Nélson Werneck Sodré também registrou suas considerações
sobre os fatos ocorridos entre agosto e setembro de 1961:
A recusa, [...] em cumprir as ordens, evidentemente ilegais, emanadas dos três
ministros subversivos, criava um fato novo, que constituía perigosíssima ameaça ao
aparelho militar em uso, e sempre usado para golpes brancos, repousando na cega
obediência. Isto não era o mais sério, porém. Porque o mais sério, o que faria tremer a
cúpula militar, incapaz de compreender essa transformação e de sentir-lhe o profundo
conteúdo, estava na posição dos sargentos. [...], os sargentos, a que só se conferia o
direito de cega obediência, e com muito mais fortes razões que aos oficiais,
manifestaram a firme vontade de desobedecer, por terem entendido que obedecer, no
caso, era ir contra o país e contra o povo.
Penetraram, assim, no conteúdo da obediência militar e da hierarquia militar. Foram
inúmeros os episódios em que a ação concreta dos sargentos salvou a democracia
brasileira, naqueles dias tristes, amargos e duvidosos. [...] (SODRÉ, 1965. p. 382).
O mesmo autor cita ainda um depoimento do então governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola, à revista O Cruzeiro (ed. de 2 de dezembro de 1961) sobre o papel dos
sargentos durante a crise institucional provocada pela renúncia de Jânio Quadros, e que deram
início à cadeia da legalidade.
Os episódios em que os sargentos salvaram a sorte das instituições democráticas,
somando-se aos oficiais que tomaram a mesma posição, ou operando isolados, são
inúmeros. Aqui está um, simplesmente a título de exemplo: [...] Cerca das 14 horas,
os esquadrões a jato, armados com munição e bombas, decidiram decolar, quando
foram impedidos pelos sargentos, que tomaram conta do depósito de armas, muniram-
se de metralhadoras e assumiram o controle da Base. Eram mais ou menos 200
sargentos. Os oficiais ficaram retidos dentro dos prédios, também armados. Mas os
sargentos desarmaram os aviões, retirando as bombas. Esse clima de tensão
permaneceu até cerca de dez horas da noite, quando um contingente de sargentos,
armadas de metralhadoras, exaustos, usando carros de praça, chegou ao Palácio
Piratini, onde relataram os episódios ocorridos na Base. Encaminhei-os ao general
Machado Lopes que providenciou a ida de um batalhão do Exército para tomar conta
da Base (SODRÉ, 1965. p. 382-383).