comunidade); o local da escola é classificado como “periferia, mais do que qualquer outra
coisa”.
Sobre o bairro, a diretora, que é nascida no local, mas não se identifica, atualmente, com ele,
constrói uma visão do passado, maculado pelo êxodo, pelo loteamento:
[...]
sei bem que isso aqui, esse canto, era tudo formado por poucas casas, com
àquela vegetação baleeira, aonde as pessoas tinham criadouros de galinholas, de
peru, e se escondiam nesse canto aqui. Na verdade, isso aqui não era bem uma rua,
era um loteamento, um cantinho; e aí veio a urbanização, que eu chamei de êxodo; o
êxodo veio acontecendo porque as pessoas vieram de outros interiores para
Travessão em busca de trabalho, não aqui, como uma forma de rendimento
financeiro para crescimento. Mas a população pra ter acesso, para ir para outros
regiões e o gasto de passagem, aqui, seria mais barato, onde teriam acesso pra outras
regiões pra trabalhar em casa de família, em corte de cana, para deixar sua família
pra ir para Búzios, Cabo Frio, e diante do distrito, aqui, na região central, os
loteamentos foram surgindo.
A relação com os professores, para a diretora é:
[...] uma relação saudável porque dentro das nossas propostas, sempre que a gente
propõe, a gente propõe e faz tudo elaborando em conjunto, coletivamente, desde o
pessoal de apoio a nossa pedagoga que se faz presente, pessoal de secretaria, todo
mundo segura junto e vamos embora, a gente que faz com objetivo tudo que faz, faz
em planejamento comum. Hoje são oito turmas, oito professores embora por
afastamento de alguns por licença médica, a gente não deixa o aluno sem aula até a
gente conseguir uma pessoa especial para colocar no lugar a gente assume a turma
para que não dê possibilidade do aluno se manter fora do sistema.
Os professores, em sua grande maioria moradores de Travessão – somente dois de um total de
oito professores moram no distrito de Campos – ressaltam o bom comportamento das
crianças, como aponta a professora moradora do primeiro distrito, que trabalha na escola
desde 2007: “são crianças quietas, às vezes entro aqui, nem parece escola! Aquela
gritaria?... não tem né?” Porém, esse bom comportamento para outra professora, que trabalha
na escola desde 2002, é visto como apatia perante as aulas, para ela, “eles não mostram
interesse, tenho que ficar perguntando toda hora, mandando fazer, porque senão, se deixar
na mão deles, fica por isso mesmo!”
Com a finalidade de conhecer as condições sociais das famílias, procedi ao exame das fichas
de matrículas dos alunos dessa escola. Quanto à profissão dos pais, nas fichas de matrícula,
não havia qualquer menção à ocupação de onze mães; outras onze mães estavam classificadas
como ”do lar”; três “agentes comunitários”; seis “domésticas”; e três “trabalhadoras rurais”.
Também não havia qualquer menção à ocupação de dez pais de alunos; cinco estavam listados
como “trabalhadores rurais”; dois “balconistas”; um “aposentado”; três “serventes”; três
“ajudante”; um “mecânico”; dois “pedreiros”; três “frentistas”; três “motoristas”; e um
“policial militar”.
Assim como no caso da escola anterior, todos os pais têm uma visão positiva da escola.
Alguns deles, inclusive, haviam estudado nessa escola, fator determinante na escolha dessa