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CLARISSA SBRUZZI
SELEÇÃO CONJUGAL E AS MULHERES RE-CASADAS NO MERCADO DE
CASAMENTOS EM UMA COMUNIDADE DE BAIXA RENDA NO NORDESTE
BRASILEIRO
Dissertação apresentada à
Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, para obtenção do título de
Mestre em Psicobiologia.
Natal
2009
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CLARISSA SBRUZZI
SELEÇÃO CONJUGAL E AS MULHERES RE-CASADAS NO MERCADO DE
CASAMENTOS EM UMA COMUNIDADE DE BAIXA RENDA NO NORDESTE
BRASILEIRO
Dissertação apresentada à
Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, para obtenção do título de
Mestre em Psicobiologia.
Orientador: Maria Emília Yamamoto
Natal
2009
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Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Sbruzzi, Clarissa.
Seleção conjugal e as mulheres re-casadas no mercado de casamentos
em uma comunidade de baixa renda no nordeste brasileiro / Clarissa
Sbruzzi. Natal, RN, 2009.
96 f.
Orientadora: Maria Emília Yamamoto.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em
Psicobiologia.
1. Psicologia evolucionista Dissertação. 2. Seleção de parceiros
Dissertação. 3. Comunidade de baixa renda Dissertação. I. Yamamoto,
Maria Emília. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.
Título.
RN/UF/BCZM CDU 159.91(043.3)
Título: Seleção Conjugal e as Mulheres Re-Casadas no Mercado de Casamentos em uma
Comunidade de Baixa Renda no Nordeste Brasileiro
Autor: Clarissa Sbruzzi
Data da defesa:
Banca Examinadora:
_______________________________________
Prof. André Luiz Ribeiro Lacerda
Universidade Federal do Mato Grosso, UFMG
_______________________________________
Prof. Fívia de Araújo Lopes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN
_______________________________________
Prof. Maria Emília Yamamoto
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN
AGRADECIMENTOS
Gostaria de exprimir minha gratidão primeiramente à minha professora orientadora
por toda sua paciência e competência, ao querido André pelas argüições científicas, ao colega
Felipe pelas contribuições estatísticas, aos meus pais por acreditarem e investirem em mim e,
sobretudo a Deus, por permitir que todo esse trabalho fosse realizado.
Clarissa Sbruzzi
SUMÁRIO
CAPÍTULO PRIMEIRO
I INTRODUÇÃO
1.1 Seleção Natural..................................................................................................... 08
1.2 Seleção Sexual ..................................................................................................... 10
1.2.1 Seleção Intra-sexual ............................................................................ 13
1.2.2 Seleção Inter-sexual ............................................................................ 15
1.3 Comportamento Humano ................................................................................ 17
1.3.1 A Reprodução Humana ....................................................................... 17
1.3.2 O Sistema e a Psicologia do Acasalamento Humano .......................... 20
1.3.3 Hipogamia, Homogamia e Hipergamia............................................... 29
1.3.4 A Economia do Mercado de Casamentos ............................................ 38
CAPÍTULO SEGUNDO
II EXPECTATIVAS CONJUGAIS DAS MULHERES DE UMA COMUNIDADE DE
BAIXA RENDA NO NORDESTE BRASILEIRO
2.1 Introdução ............................................................................................................ 44
2.2 Materiais e Métodos ............................................................................................. 51
2.3 Resultados ............................................................................................................ 53
2.4 Discussão ............................................................................................................. 55
2.5 Considerações Finais ............................................................................................ 57
CAPÍTULO TERCEIRO
III RECASAMENTOS EM UMA COMUNIDADE DE BAIXA RENDA NO NORDESTE
BRASILEIRO: PERFIL E VALOR DAS MULHERES NO MERCADO DE
CASAMENTOS
3.1 Introdução ............................................................................................................ 60
3.2 Materiais e Métodos ............................................................................................. 65
3.3 Resultados ............................................................................................................ 67
3.4 Discussão ............................................................................................................. 72
2.1 Considerações Finais ............................................................................................ 76
CAPÍTULO QUARTO
IV CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 84
“Ser bípede pelada e sexualmente receptiva
(mesmo que semi-consciente),
cheia de aspirações conflitantes e
lutando por manter seu equilíbrio
num mundo em rápida transformação”.
Sarah Blaffer Hrdy
8
I - INTRODUÇÃO
1.1 SELEÇÃO NATURAL
Um economista político e demógrafo inglês no século dezenove, Thomas Malthus
(1766-1834) estava muito preocupado com o crescente declínio das condições de vida bem
como o extenso crescimento demográfico daquela época. Em 1798, este senhor escreveu um
célebre Ensaio sobre o Princípio da População, que alguns anos depois influenciou fortemente
o pensamento de vários grandes cientistas da história. A teoria de Malthus aborda o
crescimento demográfico observando o desenvolvimento de plantas e animais em ambiente
natural e conclui que estes produzem mais descendência do que realmente a natureza
“permite” sobreviver. Com o ser humano não é diferente. Então, para Malthus, nas
sociedades, ao menos que o tamanho da família seja regulado, a miséria e a fome humana
tornam-se uma epidemia global como consequência natural do crescimento demográfico,
podendo levar à extinção humana. Isso significa que num ambiente onde os recursos
disponíveis não subsidiam a sobrevivência de todos, se estabelece uma competição entre os
indivíduos inclusive entre parentes próximos em decorrência do crescimento demográfico.
Dois naturalistas, Charles Darwin (1836) e Alfred Wallace, mais ou menos no mesmo
período mas em lugares diferentes, Inglaterra e Malásia respectivamente, através do estudo de
várias espécies de plantas e animais também em ambiente natural chegaram à conclusão de
que a natureza cria modificações entre as espécies (microevolução), podendo gerar novas
espécies (macroevolução) ou até mesmo extingui-las. Estes dois biólogos não estenderam
as idéias de Malthus a todos os seres vivos, criando a Teoria da Seleção Natural das Espécies
9
(1958), como contrariaram as pessimistas predições matlhusianas de que a produção de prole
excessivamente numerosa levaria à extinção das espécies. Estes dois pesquisadores ampliaram
aqueles pressupostos teóricos propondo que a variação genética e comportamental entre
parentes gera uma reprodução diferencial na qual a impossibilidade de sustentar uma
população excessiva não levaria à extinção, mas à sobrevivência e sucesso apenas dos mais
adaptados (aptos).
“In October, 1838, that is, fifteen months after I had begun my
systematic enquiry, I happened to read for amusement „Malthus
on Population‟, and being well prepared to appreciate the
struggle for existence which everywhere goes on from long-
continued observation of the habits of animal and plants, it at
once struck me that under these circumstances favorable
variations would tend to be preserved, and unfavorable ones to
be destroyed. The result of this would be the formation of new
species. Here then I had at last got a theory by which to
work…” Charles Darwin (1993).
Segundo a teoria da evolução das espécies, três ingredientes básicos são necessários
para que a seleção natural possa operar: diferenças individuais herdáveis (uma proporção
genética), haver ou ter havido variações comportamentais na população e por último, que
algumas dessas alternativas comportamentais confiram maior sucesso reprodutivo que outras.
As pressões climáticas, ecológicas e sociais exercem pressão simultaneamente a esse processo
de seleção natural.
“A Seleção Natural pode modificar a estrutura dos filhos em
relação à dos pais, e vive-versa. Entre os animais que vivem em
grupos, adapta a estrutura de cada indivíduo em prol da
comunidade. Cada qual, conseqüentemente, se beneficia da
modificação adquirida. O que a Seleção Natural não pode fazer
é modificar a estrutura de uma espécie com o objetivo de
beneficiar uma outra, sem que o ser modificado seja beneficiado
por essa alteração”. Darwin (2005), p.149.
Contudo, parece que nas observações destes biólogos, algumas características
morfológicas em machos de várias espécies (por exemplo) não pareciam contribuir para a
sobrevivência dos indivíduos que as possuíam e, portanto, fugiam à regra da seleção natural,
10
uma vez que, muitas dessas características tornavam esses machos mais visíveis aos
predadores, menos ágeis e, conseqüentemente, mais expostos à predação (como as longas
penas coloridas dos pavões e aves-do-paraíso, os grandes chifres dos alces e carneiros, etc).
Então, para explicar os mecanismos seletivos responsáveis pela ocorrência de dimorfismo
físico e comportamental entre os sexos, Darwin propôs o conceito da Seleção Sexual (1871).
1.2 SELEÇÃO SEXUAL
Enquanto a seleção natural é resultado da evolução de traços beneficentes em termos
de sobrevivência, a seleção sexual é conseqüência da aptidão reprodutiva dos indivíduos.
Mesmo que alguns traços fenotípicos se apresentem exageradamente e sugiram dramáticas
reduções nos índices de sobrevivência destes indivíduos, este processo de exacerbação
continua à medida que lhes conferem vantagens em termos de sucesso reprodutivo. Ou seja, o
excessivo desenvolvimento de um traço determinado pela seleção sexual pode progredir ao
optimum dentro da seleção natural conferindo vantagens ao acasalamento para ambos os
sexos. Dessa forma, pode-se dizer que a seleção sexual é o resultado de uma variação não
aleatória a partir do sucesso reprodutivo dos machos em relação ao potencial reprodutivo das
fêmeas.
Sim, mas por que a seleção sexual é tão importante e difere da seleção natural? De
acordo com Møller (2005), a seleção sexual promove variações na apresentação fenotípica e
morfológica entre machos e fêmeas (e os afeta diferentemente), e estas diferenças entre os
sexos podem somente ser explicadas quando se compreende os processos de atuação da
seleção sexual. Este conceito também é fundamental quando se pretende calcular a viabilidade
da conservação biológica e/ou componentes de risco de extinção de pequenas populações,
11
pois isso só é possível a partir das diferenças entre os sexos. Ainda, a maior parte dos aspectos
da vida entre adultos humanos diferem também entre homens e mulheres. A partir disso,
conclui-se, não é possível entender a ecologia, o curso da história de vida, nem os problemas
de conservação ou da existência humana sem considerar tanto a seleção natural como a sexual
com a mesma importância.
O conjunto de comportamentos que expressam os processos de escolha e de
competição para obter um parceiro sexual configura as estratégias reprodutivas dos machos e
fêmeas de todas as espécies. Essas posturas competitivas são mais comumente evidenciadas
(porém, não exclusivas) no repertório comportamental dos machos na busca pelo acesso às
fêmeas e compõem o conjunto de mecanismos da seleção intra-sexual. Já o comportamento de
escolha por determinado conjunto de características na eleição de um parceiro é mais
freqüente nas fêmeas, configurando a seleção inter-sexual. A partir do dimorfismo sexual e
comportamental, os indivíduos de ambos os sexos oferecem e avaliam pistas sobre
características biológicas, ecológicas e sociais referentes à aptidão sexual viabilizando o
processo denominado seleção sexual.
De acordo com Ronald Fisher (1930), um dos mais importantes darwinistas do século
XX, os genes para traços masculinos e para preferências das fêmeas tendem a co-existirem
nos mesmos indivíduos, portanto tornam-se atrelados. Durante a geração subseqüente ambos,
traço masculino e preferência das fêmeas, devem co-evoluir num modelo para as mais
variadas versões, até um ou ambos os traços se fixarem ou até os benefícios dos machos, em
termos de sucesso reprodutivo, serem balanceados aos custos da redução da viabilidade para a
presença de um traço masculino exagerado. Entretanto, Fisher não conseguiu explicar a
origem evolutiva dessas preferências femininas. Para tanto, em meados dos anos 70, Zahavi
(1995) propôs uma nova idéia chamada de princípio da desvantagem. Em outras palavras, se
um indivíduo possuidor de um traço oneroso - como a cauda de um pavão, por exemplo -
12
consegue sobreviver até a idade reprodutiva, então está demonstrando sua qualidade enquanto
parceiro sexual potencial. Contudo esta não foi a única alternativa teórica. Hamilton e Zuk
(1982) sugeriram que mais do que ornamentos altamente elaborados, esses traços exagerados
indicam a condição nutricional do indivíduo uma vez que o desenvolvimento das
características sexuais secundárias alude ausência ou resistência às infestações parasitárias.
Resumindo, pode-se dizer que existem três explicações darwinianas para os critérios de
seleção sexual. A primeira seria a seleção do “bom gosto” ou do “filho sexy” a partir do processo
de seleção desenfreada de Fisher, a qual favorece exibições estéticas baseadas em escolhas a partir
da atratividade, excluindo a relação com características de sobrevivência. A segunda seria a
seleção do “bom senso” ou dos “bons genes” de Zahavi, a qual beneficia os indicadores de
qualidade genética do parceiro. E por fim, teria a seleção do “filho saudável” a qual Hamilton e
Zuk sugerem que as condições de não infestações parasitárias e infecciosas determinam o
processo de eleição de um parceiro sexualmente potencial (Sousa et al. 2009). Numa primeira
análise esses três pressupostos teóricos podem parecer divergentes, contudo não são
mutuamente excludentes uma vez que se o animal consegue arcar com o custo energético de
determinado traço dispendioso, prova estar apto a manter-se vivo e obter sucesso reprodutivo
(Ridley 2004).
Além disso, modelos teóricos propostos por Williams (1966) e Trivers (1972)
demonstram que a redução da produção ou do investimento parental nas novas proles em
detrimento do custo associado à criação de filhotes existentes - denominado investimento
parental - também exerce influência direta no processo de seleção sexual. Neste sentido a
intensidade da seleção sexual é regulada pelo esforço reprodutivo de cada espécie. Ou seja, a
combinação entre esforço de acasalamento (custo referente ao tempo, energia e recursos
associados à busca do parceiro) e esforço parental (custos associados ao cuidado da prole)
determina que o sucesso reprodutivo de um sexo seja limitado pelo sexo de maior
investimento parental, pois este assume o papel de recurso limitante para o sucesso
13
reprodutivo daquele. De acordo com Woodward e Richards (2005), quanto maior a diferença
do investimento parental entre os sexos, mais intensa sea seleção. Por exemplo, se quem
despende maior esforço parental são as fêmeas (gravidez e lactação, no caso dos mamíferos),
então elas são menos disponíveis para o acasalamento. Consequentemente, o número de
machos sofre um ligeiro aumento, motivando uma maior competição intra-sexual entre os
machos e instaurando-se condições para que as fêmeas escolham (seleção inter-sexual) o
parceiro para acasalamento (Sousa et al. 2009).
De forma resumida, pode-se afirmar que a seleção sexual é o resultante da relação
entre (a) o tempo que um indivíduo leva para gerar descendência (potencial reprodutivo); (b)
razão entre o número de machos e fêmeas sexualmente ativos num momento e população
específicos (razão sexual operacional); (c) cuidado parental; e por fim, que (d) as relações entre
estes fatores determinam os padrões de escolha e competição pelos parceiros sexuais (Sousa et al.
2009).
1.2.1 Seleção Intra-sexual
Esse tipo de seleção sexual é mais comumente encontrado no repertório
comportamental de machos porque na maior parte das vezes estes aumentam sua aptidão
reprodutiva com cópulas adicionais, enquanto que a competição entre as fêmeas é mais
intensa quando se trata de um grupo poligínico. Os machos tipicamente competem uns com os
outros para acessar o maior número ou fêmeas de maior qualidade, e os ganhos de tais
competições são decididos pelas diferenças na força bruta e/ou no armamento entre os
contestantes. Comumente, essas diferenças de tamanho corporal entre machos e fêmeas
podem gerar conseqüências tanto na seleção natural quanto na seleção sexual. Por exemplo,
fêmeas com maior tamanho podem representar maior fecundidade. Por outro lado, em outras
espécies, fêmeas pequenas podem usufruir de vantagens seletivas porque amadurecem
precocemente, produzindo mais gerações num estreito espaço de tempo.
14
Na maioria das espécies de primatas não humanos, são os machos quem monopolizam os
recursos (território, alimento e/ou parceiras) necessários à reprodução e sobrevivência da prole.
Esse fato induz uma competição intra-sexual entre eles, que por sua vez influencia e controla o
comportamento sexual dos outros machos bem como das fêmeas sexualmente aptas. A
sobreposição de um macho dominante (alfa) contra os rivais se dá a partir de várias características
como, por exemplo, traços físicos exagerados (garras afiadas de leões, dentes protuberantes de
leões marinhos, etc), pela dinâmica da hierarquia de dominância no grupo social e pelas coalizões
entre os machos - determinadas por relações de parentesco e/ou interações afiliativas de apoio
social entre indivíduos não aparentados. A partir disso, os machos escolhem parceiras
combinando suas preferências individuais somadas ao resultado da avaliação da disponibilidade,
dos sinais de fertilidade e da aptidão reprodutiva das fêmeas. Entretanto essa escolha pode ainda
envolver competição entre as fêmeas se estas se apresentam em número limitado ou se os machos
investem diferentemente nas suas parceiras e crias (Sousa et al. 2009).
Além destes acessórios físicos extravagantes e “armas” para o combate como chifres,
garras e maior porte físico os quais determinam a posição ocupada dentro das hierarquias de
dominância social ou o monopólio de recursos - os machos também demonstram padrões
comportamentais elaborados como construção de ninhos, exibição de posturas corporais e
vocalizações de corte, que por sua vez exercem efeito direto sobre seu sucesso reprodutivo, pois
influenciam fortemente a escolha das fêmeas. as características sexuais secundárias das fêmeas
servem para incentivar e reforçar o investimento parental dos machos nas crias (Sousa et al.
2009). Em humanos esse fato pode ser exemplificado pelo desenvolvimento das mamas e da
região dos quadris, o qual indica o potencial feminino de lactação e fertilidade respectivamente
(Hrdy 1999).
Dessa forma, as estratégias reprodutivas de cada espécie são determinadas a partir da
dinâmica entre as respostas comportamentais e fisiológicas de ambos os sexos juntamente com a
influência dos fatores externos (ambiente físico e social), que por sua vez caracterizam os
15
processos de seleção sexual específicos de cada uma das espécies na busca por sucesso
reprodutivo, seja pela competição ou eleição de um parceiro.
1.2.2 Seleção Inter-sexual
Segundo Møller (2005) a seleção inter-sexual acontece porque indivíduos dos dois
sexos diferem nas taxas e investimento reprodutivo e nas preferências das características de
eleição de um parceiro. Mesmo que ambos os sexos compartilhem um objetivo comum
(maximizar seu sucesso reprodutivo), em função do dimorfismo sexual, as estratégias
adotadas por ambos os sexos muitas vezes podem parecer antagônicas. Ao contrário do que
foi visto até agora na seleção intra-sexual, as fêmeas não se beneficiam reprodutivamente com
machos adicionais porque isso não aumenta a sua fecundidade. Por essa razão, na maior parte
dos sistemas de acasalamento, são elas quem escolhem o parceiro (pois de acordo com a
teoria da seleção sexual, a dinâmica de interação entre os sexos favorece aquele que mais
investe nas crias no caso de mamíferos, as fêmeas), enquanto que a escolha feita pelo macho
acontece mais comumente em sistemas de acasalamento monogâmicos e poliândricos.
Como explicar esse maior investimento parental das fêmeas mamíferas? O alto nível
de prolactina (hormônio de lactação) circulante no organismo durante o período de
amamentação faz com que o ciclo ovariano das fêmeas de várias espécies de primatas
incluindo as humanas - seja suspenso temporariamente, assim a participação da fêmea no
contexto reprodutivo acaba sendo reduzida. Neste sentido, o seu sucesso reprodutivo está
voltado para o grau de investimento parental já que os múltiplos parceiros influenciam
secundariamente sua aptidão reprodutiva. Contrapondo essa situação, o sucesso reprodutivo
dos machos encontra-se diretamente atrelado ao maior número de acessos às fêmeas férteis,
pois no caso dos mamíferos, seu investimento parental é menos dispendioso (Sousa et al.
2009). Ainda, a maioria dessas diferenças comportamentais e morfológicas relacionadas ao
16
cuidado parental diferenciado entre ambos os sexos podem ser medidos via índices hormonais
(Geary 1998).
Complementando o que foi dito, a seleção inter-sexual contribui com o
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários dos machos (coloração de plumagens,
tamanho de chifres, cauda, etc) a partir da preferência das fêmeas por essas características.
Portanto, as preferências por determinado tipo de parceiro podem evoluir rapidamente e
qualquer modificação nos custos e benefícios de tais preferências podem resultar em uma
mudança micro-evolutiva. Os determinantes ambientais das preferências reprodutivas são
vinculados às experiências prévias, fenótipo de quem escolhe bem como padrão estético.
Considerando um gasto de tempo considerável e um investimento de uma importante
quantia de energia na busca pelo melhor parceiro (esforço de acasalamento), pode-se admitir
que o conjunto de comportamentos que expressam os mecanismos de escolha e/ou de
competição (estratégias reprodutivas) confere às fêmeas benefícios também consideráveis,
caso contrário a seleção natural teria extinguido as mesmas da população. Assim, além das
três hipóteses sobre a eleição de um parceiro comentadas anteriormente (“bom gosto”, “bons
genes” e “filho saudável”), duas outras alternativas são levadas em consideração quando se
almeja compreender os padrões de escolha inter-sexual. A primeira refere-se aos mecanismos
relacionados às preferências por parceiros provedores de benefícios não herdáveis (recursos
materiais) como, por exemplo, qualidade/quantidade de cuidado e proteção direcionada à
prole (investimento parental). E a segunda hipótese (denominada “desvio sensorial”,
Thornhill & Grammer 1999) propõe que o processo de escolha do parceiro se dá
incidentalmente por característica(s) não relacionada(s) a priori ao acasalamento em si,
favorecendo consequentemente a manifestação desse(s) traço(s) e/ou comportamento(s) na
sua prole por hereditariedade. O exemplo dado por esses pesquisadores é a preferência das
17
fêmeas por um determinado tipo de alimento de cor vermelha (ou qualquer outra cor), que a
leva eleger parceiros dotados de ornamentos da mesma coloração.
No caso das fêmeas de primatas não humanos, como se concretiza a escolha dos
parceiros sexuais? De acordo com Smuts (1987) esse fato pode ser evidenciado de duas
maneiras: direta e indiretamente. A primeira é caracterizada pela aceitação ou pela recusa à
cópula; e a forma indireta se a partir do processo de entrada ou não do macho potencial no
grupo social. Convém salientar que as políticas sociais e sexuais dessas comunidades parecem
influenciar as escolhas das fêmeas, uma vez que um macho (ou vários) é selecionado como
parceiro potencial depois que apóia a fêmea durante algum episódio de conflito social (Sousa
et al. 2009). Ainda, além das características morfológicas, as adaptações comportamentais
como as habilidades verbais em humanos também são utilizadas como critério na seleção
intra-sexual feminina (Geary 1998).
1.3 COMPORTAMENTO HUMANO
1.3.1 A Reprodução Humana
Comparando o tempo e a energia que o Homo sapiens investe em sexo, sua eficiência
reprodutiva é bastante baixa. Os dois ou três filhos que a maioria das pessoas tem durante a
vida moderna são fruto de centenas de cópulas. Além disso, homens e mulheres apresentam
diferentes taxas reprodutivas. A fertilidade feminina é limitada pela gestação e lactação, sendo
viável parir não mais de um filho por ano. o índice reprodutivo dos homens é limitado pelo
número de fêmeas férteis que eles são capazes de acessar ao longo da vida reprodutiva. Isso
por si configura uma diferença significativa entre os sexos, que por sua vez, influencia
diferentemente todo o padrão de comportamento reprodutivo.
18
O processo que leva à maturidade sexual ou fertilidade, ou seja, que leva à capacidade
de reprodução da espécie, no caso dos humanos é a chegada da puberdade que se inicia por
volta dos 12 ou 13 anos e vai até o início dos 20 anos de idade. O principal sinal de
maturidade sexual nas meninas é a menstruação, contudo a menarca ocorre bastante tarde na
seqüencia de desenvolvimento feminino (normalmente ocorre antes do décimo terceiro
aniversário podendo variar dos 10 aos 16 anos e meio). A menarca é mais do que um
acontecimento físico, ela é um símbolo concreto da transição de uma menina para uma
mulher. Contudo, a idade reprodutiva não dura a vida toda, atingindo o seu ápice entre os 15 e
44 anos de vida. Por volta da meia-idade se inicia o processo de declínio gradativo, marcado
pela menopausa, período quando a mulher pára de ovular e menstruar e não pode mais
procriar (45-55 anos de idade) (Papalia & Olds 2000).
Outra questão importante: a fêmea humana difere das outras fêmeas de mamíferos em
vários aspectos. Parece que dentre os primatas, apenas as fêmeas humanas e as sagüis
apresentam uma contínua receptividade ao acasalamento - durante a gravidez e no período
pós-menopausa inclusive além de um período fértil “invisível”. Durante a evolução humana,
a ovulação deixou de ser visualmente sinalizada como ocorrem em outros primatas não-
humanos. Dessa forma, para gerar descendência, é necessário que o macho copule
regularmente, pois nunca sabe quando será o período fértil de fato (Fisher 1982, 1992).
Mas que vantagens as fêmeas teriam ao indicar uma fertilidade permanente? De
acordo com Smith (1984), a substituição dos curtos períodos de estro durante todo o ciclo por
sinais permanentes de receptividade fortalece o vínculo entre os parceiros, aumentando o
investimento do macho na prole. Por exemplo, o cuidado parental paterno é um padrão
comportamental comum dentre todos os primatas. Curiosamente vale sublinhar que ao
contrário do que se pode imaginar, os humanos não são os que direcionam cuidado mais
intenso à prole, cedendo o título de “melhores pais” aos calitriquídeos e Callicebus. Contudo,
19
também parecem não serem os “piores” visto que dentre os primatas não humanos esse título
vai para o sagüi.
Outra modificação se verifica no tamanho das mamas. Enquanto as fêmeas humanas
desenvolvem os seios durante a puberdade (e permanecem assim a partir dessa fase), nas
primatas não-humanas, as mamas sofrem um ligeiro aumento apenas no período da gestação,
quando estas se preparam para amamentar seus filhotes. Smith (1984) sugere que o volume
dos seios das fêmeas humanas evoluiu juntamente com as modificações decorrentes do
período estral, no contexto de retirada de informação sobre o estado reprodutivo. Contudo,
não se tem indícios de que a forma típica do seio humano tenha evoluído sob a pressão
seletiva de maior eficiência na amamentação dos bebês. Pelo contrário, parece que do ponto
de vista da amamentação, mamas discretas como as das primatas não-humanas ofereceriam
menos dificuldade para o bebê humano. Por essa razão e de acordo com o mesmo autor,
acredita-se que os seios humanos tenham evoluído seguindo a hipótese da automímica
corporal, como imitação das nádegas. Dessa forma, faz mais sentido interpretá-las como um
sinal sexual e de estro contínuo (fertilidade permanente), e ocultação de período estéril.
A partir de observações dos babuínos, Morris (1967) relata que diferentemente dos
outros macacos do Velho Mundo, os primeiros passam a maior parte do tempo sentados na
posição vertical. Quando em ciclo estral, as meas desta espécie apresentam uma mancha
avermelhada no peito, cercada por papilas brancas, muito semelhantes à região genital. Parece
então que essa coloração diferenciada durante o estro exerce a função de sinalizador frontal,
cumprindo o mesmo papel da sinalização genital que se oculta quando ela se senta. Portanto,
para este autor, o volume dos seios também é resultado do mesmo processo de automímica
corporal.
Embora a ovulação não seja claramente sinalizada na espécie humana e a
receptividade sexual da mulher possa ser contínua, há alterações do desejo sexual ao longo do
20
ciclo menstrual. Na ovulação, o desejo é maior do que em outros períodos do ciclo (Stanislaw
& Rice 1988). Mesmo que exista alguma capacidade de detecção da fertilidade por parte do
homem - embora pareça não existir estudos conclusivos sobre esse fato - a sinalização de
receptividade permanente é indiscutível e sua função vai além da fecundação, fortalecendo a
idéia de união do par em torno do investimento parental.
Conforme comentado anteriormente, dentre os mamíferos, o bebê humano nasce
bastante imaturo comparado aos outros primatas, isso justifica a necessidade de um maior
investimento paterno (Rodrigues 1998). Então, considerando esse rol de particularidades, ou
seja, a ovulação silenciosa da fêmea associada aos contínuos sinais de fertilidade, a
imaturidade do bebê humano e seu elevado parentesco biológico com os outros primatas, a
sexualidade humana e a vinculação com o parceiro evidencia-se bem mais próxima ao estilo
dos sagüis do que dos outros mamíferos em geral. Pois, a fêmea desses pequenos primatas do
Novo Mundo, além de apresentar estro pós-parto, também luz a gêmeos relativamente
grandes quando comparados ao seu tamanho. Segundo Yamamoto e Sousa (1998), essa
sobrecarga materna representada pelo cuidado de dois filhos proporcionalmente grandes,
obriga o macho compartilhar as tarefas relativas ao cuidado a fim de garantir a sobrevivência
da prole.
1.3.2 O Sistema e a Psicologia do Acasalamento Humano
Quando a Psicologia começou ganhar espaço no meio científico, por volta do final do
século dezoito e início de século dezenove, iniciou o processo de ampliação da sua
compreensão sobre os comportamentos do mundo animal. Com o objetivo de tornar seus
pressupostos mais fundamentados, estabeleceu relações com outras áreas do conhecimento.
Um bom exemplo desses casamentos “interteóricos” pode ser elucidado através dos
pressupostos utilizados na teoria etológica dos zoólogos europeus Konrad Lorenz e Niko
21
Tinbergen. Por volta da década de 50, as idéias destes pesquisadores exerceram forte
influência no pensamento do psicólogo britânico John Bowlby, que por sua vez acabou
estendendo os mesmos princípios das bases biológicas e evolutivas do comportamento das
espécies animais em seus ambientes naturais ao comportamento humano, dando forma à sua
Teoria do Apego (uma das teorias mais importantes dentro da Psicologia do Desenvolvimento
Humano).
A teoria do Gene Egoísta (uma teoria biológica a priori, proposta por Richard
Dawkins, 2001), afirma que um organismo evolui no intuito de maximizar sua aptidão
inclusiva deixando o maior número de cópias possíveis da sua representação gênica ao longo
das gerações e que estas fossem capazes de não apenas sobreviver, mas também derivar
novamente, outras gerações de descendência. Contudo, existem diferentes sistemas de
acasalamento no mundo animal.
Basicamente quatro tipos de padrões de acasalamento são encontrados no reino
animal: monogamia, poliginia, poliandria e promiscuidade. O primeiro (monogamia) é a
associação prolongada entre os pares com acasalamentos essencialmente exclusivos entre um
macho e uma fêmea por vez, exemplo: o pingüim e o flamingo - um casal se associa no início
da sua vida reprodutiva e permanece com o mesmo parceiro até a morte. A poliginia é quando
se tem a associação de um macho para duas ou mais fêmeas, exemplo clássico são os leões,
ou seja, um único leão detém domínio exclusivo sob um harém de fêmeas. A poliandria é o
contrário, ou seja, quando uma única fêmea copula com dois ou mais machos por estação
reprodutiva, exemplo, os sagüis. Por fim, tem ainda o sistema promíscuo de acasalamentos no
qual a associação entre os sexos não é prolongada, ocorrendo múltiplos acasalamentos em
pelo menos um dos sexos. Considerando esses quatro tipos de sistemas de acasalamento, em
qual os humanos se ajustam?
22
Essa não é uma questão muito simples de ser respondida e para tanto, as práticas de
casamento oferecem algumas evidências. Porém, estas práticas variam muito de uma cultura
para outra. Ou melhor, de acordo com Murdock (1867, Geary & Flinn 2001, Van den Berghe
1979, Wright 1996), 85% das sociedades humanas permitem a poliginia enquanto que a maioria
das sociedades modernas proíbe essa prática. Contudo, parece que essa proibição é um
acontecimento bastante recente dentre as sociedades humanas, datando não mais do que 500
anos de existência. Portanto, a situação humana não é nem poligâmica, menos ainda
exclusivamente monogâmica, visto que os humanos apresentam um histórico de mais de um
(a) parceiro (a) ao longo da vida reprodutiva. Ou melhor, as sociedades que proíbem a
poligamia não são totalmente monogâmicas em razão da infidelidade conjugal e a
combinação de divórcio e um novo casamento. Esse fato torna o efeito da seleção sexual na
psicologia do acasalamento humano um interessante tema de investigação. Considerando a
teoria da seleção sexual, Alcock (2002) e Cunha et al. (2003) sugerem que machos e fêmeas,
em maior ou menor grau, competem ou escolhem seus parceiros, ou apresentam ambas as
estratégias de acordo com o dimorfismo sexual de cada espécie. Ou melhor, segundo Clutton-
Brock e Vincent (1991), a aptidão reprodutiva, medida através da possível quantidade de
prole gerada nos diferentes sexos, deveria refletir seus respectivos níveis de competição
sexual. Devido à fraca tendência poligínica somada à menor taxa reprodutiva das mulheres,
espera-se que neste caso, elas sejam relativamente mais seletivas do que os homens. E estes
por sua vez, sejam o sexo mais competitivo (Trivers 1972) na maior parte dos mamíferos.
Conforme comentado na seleção sexual, as estratégias sexuais dos indivíduos são
decorrentes da história evolutiva da espécie humana e da de seus ancestrais próximos sempre
buscando obter o nível optimum de aptidão reprodutiva possível, garantido através da soma
dos benefícios diretos (recursos materiais como, por exemplo, qualidade e tamanho do
território do macho, presente nupcial, etc.) e indiretos disponíveis (atingidos por meio da
23
aptidão oferecida às gerações subseqüentes através da aptidão física do macho). No caso dos
pavões, por exemplo, o macho mais atraente é aquele que apresenta a cauda mais exagerada
em tamanho e qualidade das penas. Além de apresentarem o fenótipo mais exagerado,
apresentam também a melhor taxa de sobrevivência porque a manutenção destes caracteres
sexuais concomitantemente apresenta um custo bastante elevado. Por essa razão, a fêmea
escolhe esse padrão de macho, aumentando significativamente sua aptidão reprodutiva,
representada na sua descendência que herda os mesmos traços biológicos do pai. E as fêmeas
humanas não são diferentes. O que difere é o tipo de caractere eleito. A escolha conjugal nos
humanos é um processo multifatorial moldado durante milhares de anos de evolução, no qual
a preferência das mulheres não se por apenas um, mas por vários traços simultaneamente
(combinação entre os genes e o investimento parental do parceiro). O “por que” (causas
últimas) e “como” (causas próximas) os contextos ecológico, social e posteriormente cultural
influenciam o processo de escolha de um parceiro na espécie humana são estudados por
vários cientistas como Darwin (1871/2005), Wallace (1878), Hamilton (1967), Trivers (1972),
dentre outros.
Do ponto de vista das causas próximas e em conformidade com o padrão encontrado
em outras espécies, Geary (2006) e Price (1984) propõe que o dimorfismo sexual nos
humanos é influenciado pela exposição pré e s-natal aos hormônios sexuais. Contudo, o
desenvolvimento dessas diferenças irá necessariamente surgir, no período da adolescência
(por volta dos 14-21 anos), a partir de interações entre a organização cerebral e o sistema
sensorial (percepção e atenção) particular de cada indivíduo durante seu desenvolvimento
infantil, juntamente com a influência de características provenientes dos ambientes social e
ecológico nos quais estão inseridos. Além dos efeitos comportamentais, os hormônios sexuais
são responsáveis também pelo aparecimento das características sexuais secundárias em ambos
os sexos como, por exemplo, a deposição diferenciada dos pêlos, o desenvolvimento
24
diferencial das mamas e o depósito de gordura na região dos quadris nas fêmeas humanas
(Hrdy 1999). Tendo conhecimento desses fatores, fica mais fácil perceber que ambos os
sexos oferecem contribuições biológicas distintas à sobrevivência de seus descendentes, por
conseguinte também procuram atributos distintos num parceiro potencial. Ou seja, embora o
dimorfismo sexual na espécie humana não seja tão acentuado e os machos não possuam armas
naturais poderosas como, por exemplo, os chifres dos alces ou os dentes avantajados dos leões
marinhos e as garras afiadas dos leões, o tamanho físico é um fator importante, assim como
exibições de força. Segundo Weisfeld e Weisfeld (2002) e Geary (1998), homens procuram
uma companheira jovem, atraente e sexualmente fiel. Já as mulheres preferem parceiros mais
velhos, altos e como em tantas outras espécies - socialmente dominantes. Ambos os sexos
preferem companheiros fisicamente saudáveis, atraentes e capazes de estabelecer uma ligação
emocional.
Para ilustrar a preferência feminina por características físicas dominantes e a relação
positiva entre alguns traços biológicos e a dominância social, pesquisadores como Frieze et al.
(1990) investigaram a relação entre salários e altura dos homens. Estes cientistas constataram
que mesmo exercendo a mesma função, homens mais altos recebem melhores salários que
homens de menor estatura. De acordo com outros autores, a altura do homem também é
critério preponderante na seleção de parceiros por mulheres, inclusive dentre as características
da escolha de doadores potenciais de esperma (Lynn & Shurgot 1984; e, Scheib et al. 1997,
respectivamente). Møller e Alatalo (1999) quantificaram os benefícios dos “bons genes” em
termos do aumento da viabilidade da prole de um pai atraente em 22 espécies animais. Os
resultados encontrados sugeriram um aumento de 1,5% para essa característica nestas
espécies.
Mas o que é realmente atraente? A experiência de atração é o resultado de certos
impulsos sensoriais moldados pela ação da seleção. De acordo com Fisher et al. (2002), o
25
sistema de atração evoluiu para otimizar a relação custo-benefício da corte conjugal. Ou seja,
o sistema de atração identifica um parceiro potencial, e então, direciona suas ações para o
cortejo (namoro, corte, display) deste indivíduo, economizando tempo e energia para o
acasalamento futuro. Certos estímulos são percebidos como atraentes porque são sinais
seguros de uma aptidão elevada, por exemplo, ausência de rugas e pele saudável, saúde, vigor,
bem como simetria bilateral. Pequenas diferenças na morfologia entre os dois lados do corpo
podem revelar instabilidade do desenvolvimento. Os indivíduos que escolhem se beneficiam
com a simetria do outro parceiro porque essa característica revela qualidade genética e melhor
aptidão para o cuidado parental, uma vez que um fenótipo assimétrico interfere na locomoção
eficiente do indivíduo.
Vários estudos experimentais demonstraram que o grau de assimetria de um indivíduo
está negativamente associado ao sucesso reprodutivo ou atratividade do mesmo em ambos os
sexos (Thornhill & Møller 1998). Por exemplo, no caso de humanos, uma das características
de influência no processo de escolha inter-sexual é a simetria facial do/a parceiro/a. Este traço
especificamente é considerado um indicador de saúde e de resistência a infestações de
parasitas (Fink et al. 2006), pois este padrão parece ser determinado pelos hormônios sexuais
(estrogênios e testosterona), os quais influenciam o crescimento e as proporções facial.
Pesquisadores como Jones (1996) apóiam a hipótese do “desvio sensorial”, pois seus
trabalhos com as mulheres sugerem uma correlação entre a evolução de características faciais,
dos aspectos relacionados à fecundidade e qualidade genética, que a preferência masculina
se dá em por traços que traduzem sinais de juventude.
Complementando estes achados, pesquisadores como Thornhill e Grammer (1999)
sugerem que a atratividade física da face e do corpo feminino pode sinalizar de forma honesta
pistas sobre a saúde hormonal e imunológica, além das condições nutricionais durante o
desenvolvimento da parceira em potencial e que essas pistas seriam importantes no
26
julgamento de sua qualidade. Curiosamente uma dúvida se instala: considerando o contexto
do ser humano atual e todos os recursos tecnológicos bastante recentes em termos evolutivos
que ele dispõe, até que ponto o sinal avaliado traduz com honestidade a condição reprodutiva
ou genética do parceiro visto que atualmente estas pistas podem (até certo ponto) ser alteradas
com a ajuda de cosméticos, cirurgias plásticas, etc?
foi comentado que a aptidão genética dos parceiros configura benefícios indiretos à
aptidão reprodutiva do casal. Então, quais atributos masculinos são indicadores de benefícios
diretos? Os pesquisadores têm utilizado as teorias sócio-psicológicas sobre a atração para
explicar o desenvolvimento das relações e essas contribuições científicas são obviamente
relevantes para a escolha dos parceiros. De uma forma geral, no que se refere aos humanos, os
ganhos diretos são obtidos através dos recursos econômicos, bens materiais e recursos
culturais dos parceiros convertidos em status sócio econômico e prestígio social do mesmo.
Nesta perspectiva, a seleção conjugal (assortative mating) é encarada como um processo de
filtragem. De acordo com Kalmijn (1994), o mercado de casamentos (marriage market) é
governado pela competição por recursos escassos característicos de cada grupo, lugar, época e
circunstância. Todavia, no caso dos humanos, este ambiente é afetado muito mais pelas
preferências dos parceiros do que pelas próprias restrições mercadológicas. Pois a escolha
do(a) parceiro(a) tambem é governada pelos benefícios da divisão dos recursos econômicos e
bens materiais que cada um dos parceiros traz para o casamento (Kalmijn 1994).
Os sociólogos e também economistas (Becker et al. 1977), percebem a família como
uma unidade capaz de produzir status, bem-estar econômico e descendência. Acrescentam
ainda que a família também é a unidade capaz de gerar o que pode ser chamado de “relational
goods” (Kalmijn 1994), termo caracterizado pela consolidação de uma confirmação social e
de afeto e pode ser traduzido como bem estar conjugal. Em detrimento dos recursos
econômicos e culturais exercerem um papel central na produção do bem estar conjugal, estas
27
características assumem um papel imediatamente relevante para a escolha de um(a)
companheiro(a).
De acordo com Kalmijn (1998), os recursos socioeconômicos produzem bem estar
econômico assim como status. O bem estar econômico é dividido pelos membros da família e
o status é garantido à família como uma unidade ao invés de individualmente. Como
resultado, os ganhos e o status de cada um dos cônjuges contribuem para o status e ganho
familiar.
Abordar o status cultural na escolha de parceiro significa falar de quê exatamente?
Segundo Kalmijn (1991, 1994), os recursos culturais são compostos por uma variedade de
comportamentos e valores, normas, estilo e experiência de vida dos parceiros, religião,
atividade de lazer, bom gosto, erudição intelectual, estilos de fala, bem como concordância na
educação dos filhos, atitudes políticas, conhecimento literário, preferências musicais e estilos
de fala (dentre outros). Em função dos recursos culturais governarem o modo com que as
pessoas interagem umas com as outras, estes assumem um papel de particular importância na
produção de bem estar conjugal como por exemplo o afeto e a confirmação social por meio da
união conjugal.
Teoricamente, a diferenciação entre a compatibilidade cultural e a competição
econômica é provocativa para as esposas, pois competem pelos recursos culturais da mesma
forma como pelos recursos econômicos. DiMaggio e Mohr (1985) propõem que a competição
por ambos recursos poderia ser plausível se o capital cultural pudesse ser convertido em
capital econômico através do sistema escolar. Por exemplo, as pessoas têm um incentivo para
procurar por um parceiro com alto nível cultural, ou porque isso rende prestígio na sua
comunidade, ou porque esse fato auxiliará seus descendentes diretos aumentarem seu grau de
escolaridade, por exemplo.
28
Como saber se o parceiro potencial apresenta um status socioeconômico e cultural
elevado? Kalmijn (1994), nos seus estudos sobre a corte conjugal, sublinha a profissão como
indicador mais adequado do status por duas razões. Para ele a profissão promove mais e
variados tipos de informação para a análise dos padrões de casamento do que os indicadores
gerais de status como o fator socioeconômico de origem por exemplo (background). Contudo,
salienta que em função dos fatores psicossociais não serem correlacionados com status
socioeconômico acabam tendo menor relevância para explicar os padrões de uniões.
Compartilhando a mesma idéia, outros pesquisadores (Blau & Duncan 1967, Hauser et al.
1975) confirmam que a partir da década de 50, a profissão das pessoas começa depender mais
do nível escolar e menos das características parentais. Além disso, em função dos critérios
psicossociais (por exemplo, classe, raça e etnia) se tornarem menos importantes na
determinação do status socioeconômico que as pessoas alcançam durante a vida, a
escolaridade dos parceiros passa a exercer um efeito mais significativo na definição do status
socioeconômico do que a própria origem familiar (background) (Blau & Duncan 1967;
Duncan et al. 1972; Featherman & Hauser 1978; Hewitt et al. 2005; Jenks 1972; Kalmijn
1994; Michelutte 1972; Rockwell 1976; Treinman & Terrell 1975; Tzeng & Mare 1995;
Warren 1966).
Estes autores também argumentam que nesse contexto, mais do que assumir um papel
preponderante na corte conjugal, a escolaridade também determina a distribuição das
mudanças sociais. Por essa razão, a partir da década de 60, os arranjos matrimoniais se
concentram na corte educacional, visto que o grau de educação escolar não está vinculado
apenas aos ganhos e status, sobretudo aos gostos, valores e estilos de vida das pessoas. Ainda,
para Kalmijn (1991), a permeabilidade social se concretiza especialmente através da
escolaridade, do investimento na formação profissional, da força de trabalho, dentre outros
indicadores como a união conjugal. Blau e Duncan (1967) e Warren (1966) utilizaram uma
29
análise multivariada demonstrando correlação entre a posição socioeconômica e a
escolaridade da esposa, sendo esta última um indicativo mais fidedigno do que a sua classe
social de origem. Este fato também fica evidenciado nas pesquisas de Michelutte (1972) e
Rockwell (1976). Estes pesquisadores constataram que a partir da década de 1950, os arranjos
matrimoniais se concentram na escolaridade dos parceiros como critério preponderante. Este
argumento tem repousado no conceito da corte educacional, visto que o grau de educação
escolar não está vinculado apenas aos ganhos e status, sobretudo aos gostos, valores e estilos
de vida. Evidenciando preferências humanas também por semelhanças culturais e não apenas
pelo resultado da competição por parceiros economicamente (recursos materiais) atraentes.
1.3.3. Hipergamia, Homogamia e Hipogamia
A idéia de que o ser humano nasce como uma folha de papel em branco ou então
como uma tábula rasa está completamente ultrapassada uma vez que muitos comportamentos
humanos possuem uma base biológica. Em todos os lugares crianças nascem com as mesmas
características, capacidades e potencialidades em termos de desenvolvimento, isto é, com as
mesmas possibilidades de fazer opções dentro de uma gama herdada de comportamentos
possíveis. Este é o princípio conhecido como unidade psíquica da humanidade. Mas se é
verdade que as crianças são tão semelhantes, por que os adultos diferem tanto uns dos outros?
Os primeiros vilarejos, de aproximadamente treze mil anos atrás, evoluiram até se
tornarem as primeiras sociedades. Juntamente com essa evolução, seus indivíduos foram se
diferenciando de acordo com as semelhanças e diferenças, bem como a partir da função e
status que assumiam no próprio grupo. Dessa maneira a estratificação social é entendida por
Kalmijn (1991) como uma característica intrínseca a todas sociedades humanas, desde as
primeiras civilizações aos dias atuais, modificando suas peculiaridades no curso da história de
30
acordo com a evolução dos valores de cada época. A partir disso é possível supor, que a
cultura configura a maior pressão ambiental do homem moderno.
Para compor a compreensão mais abrangente desses processos, nasceu a Sociobiologia
como um ramo da ciência do comportamento animal que se interessa primariamente pelo
comportamento social. Sua metodologia utiliza modelos neodarwinistas aplicados aos dados
tradicionais da própria etologia e da psicologia, combinados à ecologia e à genética de
populações, buscando determinar como os grupos sociais evoluem e se adaptam aos diferentes
ambientes. A seleção natural favorece aqueles comportamentos que difundem os genes de um
indivíduo não apenas para aumentar o número de seus próprios descendentes, mas também os
de seus parentes próximos, como irmãos e irmãs, que possuem muitos dos mesmos genes
(seleção de parentesco). É isto que explica, em parte, a existência da vida social e também de
indivíduos estéreis em várias espécies como as formigas e os cupins (por exemplo), que
ajudam a reproduzir cópias de seus genes através de indivíduos aparentados férteis (como a
rainha em uma colméia) fornecendo uma base para a vida social em uma espécie cuja
principal adaptação é a produção de cultura.
Logo, a teoria da estratificação social considera que a sociedade distribui os indivíduos
e as famílias em rias camadas ou estratos sociais distintos a partir de diferenças e
semelhanças de status como, por exemplo, riqueza, poder, prestígio e é claro, cultura. Costa
Pinto (1970) define a estrutura social como sendo um conjunto de relações dos homens entre
si e com as coisas materiais que os cercam, além das relações interdependentes e também
geradas historicamente na atividade social produzindo e reproduzindo as condições essenciais
de sobrevivência grupal.
Uma das características fundamentais que distingue a sociedade contemporânea das
mais remotas é a possibilidade de mobilidade social (Silva 1981). Diferentemente da
sociedade medieval por exemplo, na qual quem nascesse servo, morreria servo, não sendo
31
possível a permeabilidade dos indivíduos entre as castas. Na nossa sociedade essa
permeabilidade social se concretiza especialmente através da escolaridade, do investimento na
formação profissional, da força de trabalho, dentre outros indicadores como a união conjugal
(Kalmijn 1991).
A posição das diferentes classes na estrutura social também pode ser determinada por
suas relações com os meios de produção e com o mercado vigente. Portanto, a posição social
determina os grupos sociais ao qual cada indivíduo pertence, como também os níveis
hierárquicos por eles ocupados sob vários pontos de vista. O prestígio não depende somente
do status, mas também do nível de propriedade e de renda, liderança, autoridade ou poder,
escolaridade, cultura, sucesso profissional e relações de parentesco. Porém, indicar o limite
exato dos diferentes status é uma tarefa um tanto quanto difícil, conseqüentemente estudar a
seleção conjugal através dos status cultural e econômico concretiza o primeiro passo nessa
direção.
Geary (2005) propõe que, mais do que os homens, as fêmeas são influenciadas pelas
competências sociais do homem e de sua família de origem (background), incluindo bens
materiais, influência social e a capacidade de adquirir e manter estes recursos, e assim, ganhar
acesso aos mesmos. Hill (1945) verificou que para mulheres o nível financeiro do parceiro
tem duas vezes mais importância do que para os homens, a despeito dos sexos diferirem
pouco na importância que colocam em outros atributos. David Buss (1989) utilizou a mesma
metodologia com mil e quinhentos norte-americanos em meados dos anos oitenta e obteve os
mesmos resultados dos estudos das décadas intermediárias (Hudson & Henze 1969). Todas
essas pesquisas demonstram um padrão de preferência hipergâmica. Ou seja, se o indivíduo
pretende aumentar sua aptidão (direta e indireta), obteria sucesso se unindo com um parceiro
dotado de melhores condições que as suas em termos de qualidade e quantidade de recursos.
No caso dos humanos, uma escolha hipergâmica se evidencia na escolha de um parceiro
32
socialmente dominante, normalmente de status superior ao seu no que se refere aos recursos
financeiros e conseqüentemente, grau de escolaridade e status socioeconômico, bem como
cultural.
As teorias microeconômicas da seleção conjugal corroboram essa idéia argumentando
que quando a diferença entre os sexos, medido pela renda é elevada, existe então uma troca
entre recursos econômicos do macho e recursos sob outros aspectos da fêmea. Portanto, pode-
se dizer que a seleção conjugal é baseada nos benefícios que a origem dessa diferenciação de
força de trabalho promove; os ganhos inferiores da mulher no mercado de trabalho dão ao
homem uma vantagem significativa no seu valor no mercado de trabalho. Como resultado,
comumente homens e mulheres concordam com a troca dos recursos socioeconômicos do
homem pelos recursos biológicos da mulher (idade, atratividade física, juventude, etc). Dessa
maneira não é de se estranhar o comportamento hipergâmico evidenciado pelas fêmeas - não
humanas, mas característicos de quase todas as espécies na qual quem faz a escolha são
elas - tenha assumido um padrão evolutivamente estável.
Portanto, estes estudos sobre a mobilidade marital das mulheres partem do pressuposto
de que quando mulheres dividem eqüidade no status familiar, elas tendem buscar homens com
profissões de prestígio social (Tyree & Treas 1974). Estes homens por sua vez, parecem não
se importarem muito com esse traço visto que o status familiar na sociedade ainda depende
primariamente do status masculino. Nesta perspectiva, o casamento é algo observado como
uma troca do prestígio da profissão do homem e a qualidade da fêmea em outros domínios,
como a sua classe de origem (Rubin 1968) e atratividade física (Stevens et al. 1990).
Neste cenário, onde as mulheres foram excluídas da arena econômica, elas apenas
obtêm acesso aos recursos por meio de seus parceiros. Em detrimento disso, Gaulin e
McBurney (2001) justificam a valorização feminina do potencial econômico masculino, e não
33
simplesmente porque os homens investiram dessa forma por vários milhões de anos. Essa
idéia é chamada de “hipótese estrutural da exclusão do poder” (Buss & Barner 1986).
Em resumo, considerando a perspectiva econômica familiar numa sociedade com
papéis sexuais tradicionais, as mulheres competem (entre elas próprias competição intra-
específica), por homens dotados de recursos econômicos superiores aos seus. Os homens por
sua vez, são competitivos no que se refere a mulheres dotadas de recursos atraentes em outros
domínios como, por exemplo, beleza física (Jacobs & Furstenberg 1986, Stevens et al. 1990).
Contudo, esta característica marcante das desigualdades de gênero na diferença de
rendimentos econômicos entre homens e mulheres vem diminuindo. Quando o papel do sexo
se torna mais liberal, estas formas de trocas começam perder o sentido. Estudos mais recentes
como o de Hoffmann e Leone (2004) argumentam que o aumento de participação feminina na
força de trabalho faz com que seus rendimentos diminuam a taxa da desigualdade de renda
familiar entre os gêneros. Estes autores demonstraram que no período de 1981 e 2002 a
proporção de domicílios com brasileiras profissionalmente ativas sofreu um aumento de 11,9
pontos percentuais, indo de 35 para 46,9%.
Paralelo ao rápido crescimento da participação da força de trabalho feminina nas
últimas décadas tem existido uma alteração na natureza do trabalho da mulher casada.
Enquanto que no passado as esposas normalmente trabalhavam numa base irregular,
exclusivamente para suprimento temporário de mão de obra e com ganhos inferiores aos dos
seus maridos, na sociedade contemporânea o trabalho feminino, de uma forma geral, reflete
uma independência na escolha da carreira profissional. Depois da revolução nos papéis
sexuais, esses processos competitivos também sofreram algumas modificações. Os homens
estão sendo incitados a competir por mulheres economicamente atraentes como as mulheres
faziam desde o passado. Este fato sugere uma tendência atual para uniões homogâmicas em
vários aspectos (similaridade entre as características dos cônjuges).
34
DeSouza et al. (2000), mostram que no Brasil, na década de 70, a participação
feminina na população economicamente ativa aumentou de 18,5 para 26,9%. Entre 1960 e
1980, a participação feminina desta mesma população em posições administrativas quase
dobrou, passando de 8,2% para 15,4%, bem como o número de mulheres em profissões de
alto prestígio (p. ex., engenheiras, economistas, médicas, professoras universitárias e
advogadas) cresceu quase 400% na década de 80, ou seja, de 19.000 para 95.800. Em 1980 o
número de homens e mulheres brasileiros nas universidades se equiparava, sendo
respectivamente 689.000 e 663.000 estudantes.
Hoffmann e Leone (2004) demonstraram que a taxa de atividade profissional feminina
no período de 1981 a 2002 continuou progredindo, observou-se um crescimento de 32,9 para
46,6%, ou seja, um acréscimo de 13,7 pontos percentuais em 21 anos. Em contrapartida, os
homens evidenciaram uma redução de 74,6 na participação da atividade econômica para
71,4% no mesmo período.
No caso das mulheres com profissões mais qualificadas, a elevada incidência da
homogamia sugere uma “afinidade espontânea” alimentada pela semelhança dos recursos
educacionais (diplomas escolares, qualificações profissionais, etc.). No caso das camponesas
a situação não é muito diferente. Mesmo que perante situações pouco privilegiadas de uma
agricultura de auto-subsistência, este cenário sugere a importância da posse de terra e,
conseqüentemente, dos meios de subsistência na escolha destas mulheres. Mas apesar da
acentuada homogamia das camponesas, as zonas rurais têm sido progressivamente
abandonadas, em virtude de processos migratórios em que são geralmente os homens à tomar
iniciativa (Almeida 1985), ou então pela crescente industrialização (Lourenço 1991).
Cientistas como Davis (1984), Shoen e Wooldredge (1989) e Mare (1991) acreditam
que as mudanças na natureza do trabalho feminino estão fazendo com que os recursos
econômicos das mulheres se tornem gradativamente mais atraentes para os homens. O capital
35
humano da esposa vem se configurar como um facilitador ao acesso do marido à rede de
comunicações que são beneficentes na própria carreira masculina. Dessa forma, a renda das
parceiras deve subsidiar o investimento de capital humano dele, bem como a segurança
econômica que ela oferece deve diminuir a necessidade masculina de arrumar benefícios
profissionais imediatos e de curto-prazo. Através disso, o homem pode aumentar sua
oportunidade de optar por “esperar” ocasiões profissionais mais atraentes e de longo-prazo. O
trabalho feminino fora do ambiente doméstico vem refletir os desejos individuais da mulher
de trabalhar especialmente para a satisfação das necessidades econômicas da família, da
mesma forma que o prestígio profissional da esposa incrementará o status socioeconômico
familiar.
Portanto, pode-se dizer que a mudança do papel da mulher na sociedade durante e
após a Segunda Guerra Mundial afetou significativamente os padrões da seleção conjugal. O
rápido crescimento dos índices da inserção de mulheres no mercado de trabalho (Cherlin et al.
1998), depois da metade do século passado, fez com que o sentido da educação formal das
mulheres também sofresse alterações. Consequentemente, a escolaridade começa ser utilizada
como um dos indicativos de classe social feminina. Neste sentido, escolhas homogâmicas
tendem a ganhar força no rol das características das escolhas conjugais.
As pessoas pertencentes ao ambiente de similaridade cultural são mais propensas a
confirmar os comportamentos referentes à percepção do mundo e portanto, dividem um
common universe of discurse viabilizando uma maior compreensão mútua (DiMaggio &
Mohr 1985; Kalmijn & Kraaykamp 1996). O quanto as pessoas estão aptas à efetivarem suas
preferências por similaridades culturais e socioeconômicas dependem também da estrutura do
mercado de casamentos.
Estudos realizados nos Estados Unidos demonstram que depois da metade do século
XX, a homogamia na corte educacional parece permanecer estável, fazendo com que a
36
distribuição escolar na sociedade seja levada em consideração. Alguns estudiosos como Hout
(1892), Jacobs e Furstenberg (1986), Kalmijn (1991) e Mare (1991) afirmam que se
analisarmos a classe social, o prestígio profissional e o status dos parceiros, encontraremos
uma forte semelhança entre estas características nos recém casados.
De acordo com Kalmijn (1994), a população colega é de alguma forma homogênea em
termos da origem social (background) dos estudantes. Isso sugere que pessoas jovens que se
alistam em instituições de ensino superior, por exemplo, são mais propensas a ter um
companheiro com a escolaridade igual ou parecida ao invés de buscar um/a companheiro/a de
origem social distinta da sua própria. Apesar de tudo, o nível superior de escolaridade também
pode promover uma prorrogação do casamento (Marini 1978), demonstrando que
provavelmente apenas uma pequena porção de colegas contraia matrimônio durante o período
escolar. Além disso, a exposição continuada na educação superior pode resultar na formação
de um círculo de amizades homogêneo em termos de escolaridade dos seus componentes.
Acostumar-se com esses padrões de interação social pode aumentar as chances de casar com
alguém com a mesma instrução escolar mesmo após concluir os estudos.
Como neste caso a homogamia é baseada nas preferências por paridades culturais,
podemos esperar que a escolaridade, como um fator de escolha marital, ganhe importância.
Ao mesmo tempo, atribuir maior valor ao grau de escolaridade implica uma modificação nos
custos do mercado de casamentos atual. A homogenia escolar dos parceiros é favorecida,
enquanto a origem social destes é caracterizada pela heterogeneidade, promovendo uma
queda nos índices da população disponível ao matrimônio.
A homogamia cultural também pode ser afetada pelas mudanças no processo da
determinação socioeconômica. Hauser et al. (1975) declaram que existe um declínio da
imobilidade entre a profissão do pai e a profissão do primogênito. A tendência disso é existir
um decréscimo da comparação entre a profissão de origem (paterna) e a de destino (dos
37
filhos). Todavia, os mesmos autores acrescentam que a profissão das pessoas tem se tornado
mais fortemente dependente da escolaridade e menos dependente das características parentais.
Estes achados sugerem que o nível escolar tornou-se uma característica mais importante do
que o status social parental no momento de avaliar a posição socioeconômica do parceiro
potencial. Outros autores como, por exemplo, Blau e Duncan (1967), corroboram esta idéia
quando demonstraram uma maior correlação entre o nível de escolaridade dos parceiros do
que entre as profissões de pais e filhos. Mais uma vez fica evidente a forte tendência à
homogamia cultural. Treinman e Terrell (1975) e Kalmijn (1998) concluem que o nível de
escolaridade dos parceiros tem um efeito mais significativo na definição do status
socioeconômico do que a profissão dos pais, sendo portanto, um melhor critério para
selecionar uma parceiro/a do que a sua origem social.
Como o homem moderno, de uma forma geral, passa a maior parte de seu tempo em
pequenos grupos (clube, bares, vizinhança, local de trabalho, etc), então o mercado de
casamentos acaba sendo socialmente segregado. Essa característica é fundamental quando se
objetiva estudar os padrões de união conjugal. De acordo com os sociólogos, existem três
locais mais comuns: escola, vizinhança e ambiente de trabalho. Desses três, a escola é
considerada o mercado mais eficiente em função das pessoas serem homogêneas no que se
refere à idade. os ambientes de trabalho são considerados menos eficientes, entretanto com
o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, declina a segregação
profissional entre os sexos (Davis 1984). De acordo com Bozon e Heran (1989), menos de 5%
dos casais franceses se conhecem na vizinhança, menos de 10% no ambiente escolar e mais
de 10% no local de trabalho.
Outra hipótese sobre o motivo que leva as pessoas constituírem uma união estável
homogâmica com seus parceiros pode ser por envolvimento de terceiros. Kalmijn (1998)
aponta duas formas que as terceiras partes evitam a exogamia (união extra grupo): através da
38
identificação grupal ou pela punição grupal como, por exemplo, da igreja e/ou do estado
(raça/cor, etc).
Kennedy (1944) evidencia alguns dados relevantes sobre aspectos religiosos de uma
união conjugal dentro e fora dos Estados Unidos. Nesse cenário, este autor comenta que a
igreja controla as escolhas de vida dos seus membros bem como o grau de envolvimento entre
as pessoas de um mesmo grupo. Porque, segundo ele, as uniões realizadas entre pessoas com
orientações religiosas distintas, fazem com que a igreja tenha o seu poder diminuído ao longo
do tempo.
1.3.4. A Economia do Mercado de Casamentos
Quem casa com quem e como se o processo de escolha conjugal, constituem a
pedra fundamental do estudo dos mercados de casamentos. Uma mulher pode escolher entre
permanecer solteira ou casar-se e com quem se casar, sem considerar ainda a possibilidade
futura de um re-casamento. Contudo, Siow (2008), Blau et al. (2000), dentre outros, afirmam
existir poucos estudos empíricos sobre estas questões.
O mercado conjugal se modifica de acordo com os diferentes tipos de homens e
mulheres disponíveis, bem como com os diferentes tipos de arranjos sociais e ambientes de
vida (Siow 2003) de cada época e lugar. Quando os agentes decidem com quem casar e se
casar, precisam antecipar suas alocações de recursos de acordo com cada escolha marital. Isto
porque as condições do mercado de casamentos afetam o poder de barganha do cônjuge.
Alguns pesquisadores focam suas observações na razão sexual do sexo que escolhe e no
suprimento mercadológico de maridos e esposas disponíveis. Contudo esses valores são
inconstantes pois a própria razão sexual sofre modificações ao longo do tempo.
O mesmo autor define o valor de mercado dos potenciais parceiros a partir da
combinação da raça, idade e grau de escolaridade destes pretendentes. Acrescenta ainda que
39
do ponto de vista biológico, a única razão do casamento é a procriação, portanto as condições
dessa natureza (biológicas) dos parceiros constituem uma característica estruturante do
processo de escolha visto que isso determina grande parte do valor do pretendente no mercado
de casamentos.
Mais algumas considerações à cerca das questões biológicas. As mulheres o
fecundas por um menor período durante suas vidas do que os homens. Trivers (1972) foi o
primeiro explorador dessas implicações nos papéis de ambos os gêneros. Esse período de
maturação reprodutiva, em ambos os sexos, é o período mais saudável para a maioria dos
adolescentes. De acordo com Papalia e Olds (2000), estes jovens apresentam baixas taxas de
doenças crônicas. Somente 27% das mortes de jovens de 10 a 19 anos são por causas naturais.
Para muitas sociedades, esse período reprodutivo assume proporções maiores do que
apenas biológica. Por exemplo, numa determinada época, as mulheres de uma região no
interior da Irlanda que não menstruavam mais eram excluídas do convívio social, retirando-se
para suas camas e lá ficavam, muitas vezes por anos, até que a morte chegasse. Nessa cultura,
esse costume tradicional extremo expressa que o fim da utilidade da mulher termina junto à
sua capacidade de reprodução. Comportamento este também típico nas sociedades ocidentais
até bem pouco tempo atrás. Neste sentido, quais pressões influenciaram o desenvolvimento da
menopausa? Para alguns autores, em sociedades altamente sociais como a dos humanos, a
antecipação da menopausa sofreu forte influência do cuidado parental das avós (aptidão
inclusiva), sobretudo as maternas na criação dos netos. Gibson e Mace (2005) documentaram
modelos de suporte parental numa comunidade rural da Etiópia e verificaram que a presença
das avós maternas na casa das filhas, depois do casamento, diminuiu significativamente a
mortalidade infantil produzindo um efeito positivo na sobrevivência e peso destas crianças.
Esses dados antropométricos também revelaram que a influência da apaterna foi menor do
que a materna para os mesmos indicadores.
40
Portanto, o período de melhor aptidão reprodutiva feminina, marca o melhor período
para estabelecer um vínculo dessa natureza com seu par. Dessa maneira, os homens ampliam
sua aptidão reprodutiva oferecendo seus recursos materiais em troca de mulheres jovens,
atraentes e no auge da sua capacidade reprodutiva (bem como elas aumentam sua aptidão
reprodutiva aceitando esse tipo de união). Para tanto, Siow (2008) propõe que as mulheres e
os homens com maior valor no mercado conjugal estão entre a faixa dos 25 e 29 anos e 27 e
31 anos de idade respectivamente.
Se considerarmos que a única razão para assumir laços matrimoniais com alguém é a
procriação (Siow 2008), então o mercado de casamentos seria constituído apenas por
parceiros solteiros e no auge do seu período fecundo. Mas na prática o é bem assim que
acontece. Por exemplo, quando um dos cônjuges morre, automaticamente o outro retorna ao
mercado de casamentos. Assim sendo, ao longo da vida as pessoas casam-se, separam-se e re-
constituem novas uniões conjugais e assim sucessivamente. Como analisar todos esses fatores
à luz do mercado de casamentos?
Nessa perspectiva Siow (2008) sugere quatro submercados, de acordo com o
suprimento mercadológico disponível. Vamos supor que numa união heterossexual, o número
um corresponda aos parceiros solteiros e que o número dois aos parceiros que voltaram ao
mercado de casamentos seja por viuvez ou divórcio/separação. Então, de acordo com este
autor, os arranjos matrimoniais podem ser da seguinte forma: 1,1; 1,2; 2,2; e 2,1.
O ponto de equilíbrio do mercado de casamentos é determinado pelo suprimento de
capital humano passado, presente e futuro da população. Contudo, em qualquer período, o
valor individual é definido em termos da idade do sujeito. Ou melhor, o número de
casamentos na geração passada, bem como as taxas de divórcio/separação importam porque
fornecerão o número de indivíduos com idade mais avançada (pós idade reprodutiva 45-55
anos para mulheres) no período corrente. Assim como importam os índices de população
41
jovem, pois predizem qual será o suprimento de jovens adultos (aptos à reprodução) no
próximo período e isso afetará as decisões dos adultos no período corrente. Os padrões de
escolhas conjugais vão depender dos suprimentos correntes de população adulta jovem e
adulta de idade mais avançada (final da idade reprodutiva). Curiosamente vale lembrar que
em várias sociedades, uma filha divorciada/separada é fortemente discriminada não apenas
pela própria família, como também é excluída do convívio social. Esse fato ilustra uma queda
absurda do seu valor no mercado de casamentos no que se refere ao status socioeconômico,
sem ainda considerar as condições biológicas dela neste momento como, por exemplo, sua
idade mais avançada e também a existência de filhos que pode também contribuir fortemente
para o declínio do seu valor.
Em última instância pode-se dizer que o valor do capital humano em relação às
condições de vida de cada época e lugar é determinante da economia do mercado de
casamentos, avaliado a partir do suprimento de jovens solteiros de ambos os sexos, somado ao
número de homens e mulheres viúvos e ou solteiros reinseridos às condições de disputa por
um parceiro potencial em cada contexto.
Como fruto da tentativa de compreensão dos padrões de escolhas conjugais de uma
comunidade litorânea de baixa renda da região nordeste brasileira, a atual dissertação se faz
presente. A população dessa pesquisa foi composta a partir das mil famílias que a Unidade
Básica de Saúde local assiste através do Programa Federal de Saúde da Família (Distrito
Litoral Pium / Parnamirim / Rio Grande do Norte / Brasil). Neste grupo, até o período entre o
segundo e o terceiro bimestre do ano de 2008, trinta e três mulheres (entre 25 e 67 anos de
idade, 42 anos de idade na média) tiveram pelo menos dois casamentos ou relações estáveis,
qualificando-se para o inquérito. Assim, para atender a necessidade de visualização dos
padrões conjugais dessa amostra, a análise dos dados coletados foi dividida em dois
momentos. O primeiro foca as expectativas conjugais das trinta e três mulheres dessa
42
comunidade. E o segundo momento é definido a partir do levantamento do perfil, bem como
do valor das mulheres re-casadas no mercado de casamentos no contexto da mesma
comunidade.
A escolaridade (medida em anos de estudo) combinada à idade (fator biológico) dos
parceiros constituíram os principais fatores de análise dessa pesquisa. Para indicar o padrão de
escolha e expectativas conjugais dessa amostra foi necessário definir o status socioeconômico
dos participantes, obtido a partir da escolaridade, renda mensal e background (escolaridade
dos pais, Kalmijn 1994) de ambos os parceiros. A idade e a atratividade auto declarada
(Stevens et al. 1990) dos respondentes também fizeram parte desse primeiro momento. O
cruzamento dos dados da esposa com os dos companheiros permitem inferir se suas escolhas
foram hipergâmicas ou não. Bem como verificar as diferenças entre suas próprias escolhas
comparando o primeiro casamento com o segundo. Características de um parceiro ideal
observando os mesmos critérios, buscando correspondência entre o ideal de parceiro e seus
parceiros reais também ajudaram a compor esta análise.
o segundo momento - quando o objetivo foi traçar o perfil e valor das mulheres re-
casadas no mercado de casamentos dessa comunidade de baixa renda, as características que
configuraram as análises estatísticas se deram a partir dos dados sociodemográficos e
econômicos, juntamente com alguns aspectos biológicos e relacionados à saúde, somados a
algumas características psicológicas obtidas através de uma autoanálise das entrevistadas
medidas por uma escala livre. Assim, foi possível vislumbrar quem são essas mulheres, qual a
correspondência entre suas características autodeclaradas e as atribuídas aos companheiros.
Permitindo posteriormente indicar o valor dessas mulheres no mercado conjugal em que elas
estão inseridas e o tipo de parceiro que seu próprio valor permite acessar na arena de corte
conjugal.
43
Referente às hipóteses, no primeiro momento, a hipótese amplamente aceita pelos
pesquisadores desse assunto é que no primeiro casamento, as mulheres de uma maneira
geral conseguem realizar uma união conjugal hipergâmica. no segundo e posteriores
casamentos, elas concretizam uniões que variam entre os status socioeconômico homogâmico
e hipogâmico em detrimento de um menor valor mercadológico.
Considerando as condições socioeconômicas e a escolaridade dessa amostra, no
segundo momento das análises pressupomos encontrar um perfil de mulheres avaliadas como
de baixo valor no mercado conjugal e com escopo mais restrito referente ao rol de
possibilidades de escolhas de parceiro. Tendo eles, igualdade de status socioeconômico
(homogamia) ou até mesmo inferiores às das próprias mulheres (hipogamia), sobretudo
referente às segundas e subsequentes uniões. Esperamos também nos deparar com mulheres
dotadas de baixa estima.
44
II - CAPÍTULO SEGUNDO
EXPECTATIVAS CONJUGAIS DAS MULHERES DE UMA COMUNIDADE DE
BAIXA RENDA NO NORDESTE BRASILEIRO
2.1 INTRODUÇÃO
As preferências pelo parceiro mais atraente são um resultado multifatorial de certos
impulsos sensoriais moldados pela ação da seleção durante milhares de anos de evolução
sinalizando aptidão elevada do pretendente. Esse sistema evoluiu para otimizar a relação
custo-benefício da corte conjugal (Fisher et al. 2002), pois sabe-se que o comportamento de
busca pelo melhor parceiro exige a alocação de uma quantidade importante de energia e
tempo. Avaliando o investimento do Homo sapiens em sexo, verifica-se uma eficiência
reprodutiva bastante baixa (dois ou três filhos, frutos de centenas de cópulas durante a vida
moderna da maioria das pessoas). Esses fatores somados ao processo de escolha conjugal
tornam o efeito da seleção sexual na psicologia do acasalamento humano um interessante
tema de investigação. Uma mulher pode escolher entre permanecer solteira ou casar-se e com
quem casar, sem considerar ainda a possibilidade futura de um re-casamento. Contudo,
existem poucos estudos empíricos sobre estas questões (Siow 2008). Sabendo que um
casamento é o resultado da negociação entre benefícios diretos e indiretos de ambos os
parceiros, quais características constam no acordo de ambas as partes? Quando os agentes
decidem com quem casar, precisam antecipar suas alocações de recursos de acordo com cada
45
escolha marital, pois as condições do mercado de casamentos afetam o poder de barganha do
cônjuge.
Embora o dimorfismo sexual na espécie humana não seja tão acentuado como em
outras espécies, homens e mulheres diferem biológica e morfologicamente bem como nas
taxas reprodutivas. Por essa razão, a preferência por um parceiro também segue critérios
distintos (Møller 2005). A fertilidade feminina é limitada pela gestação e lactação, sendo
viável parir, em condições normais, não mais de um filho por ano. Em detrimento, machos
adicionais não aumentam a fecundidade das fêmeas. Assim, espera-se que fêmeas humanas
sejam relativamente mais seletivas do que os machos. Já o índice reprodutivo dos homens é
limitado pelo acesso às fêmeas férteis ao longo da vida reprodutiva, portanto assumem um
papel mais competitivo. Isso por si configura diferenças suficientes entre os sexos, que
por sua vez, influenciam diferentemente todo o padrão de comportamento reprodutivo em
ambos os sexos (Trivers 1972).
Além disso, as mulheres são fecundas por um menor espaço de tempo durante suas
vidas do que os homens. O declínio da capacidade reprodutiva feminina (menopausa) inicia-
se por volta dos 45 a 55 anos de idade (51 anos em média), enquanto que para os homens esse
período surge em média 10 anos mais tarde (Papalia & Olds, 2000). De acordo com as
mesmas autoras, o início do período de maturação reprodutiva (aproximadamente dos 12 ou
13 anos até os 20 anos de idade) é o momento mais saudável em que ambos os sexos
apresentam baixas taxas de doenças crônicas. Somente 27% das mortes de jovens entre 10 e
19 anos são por causas naturais. Para muitas sociedades, o fim da aptidão reprodutiva
inaugura o término da utilidade da mulher, sendo estas excluídas do convívio social até o final
de suas vidas. Considerando que o único argumento biológico para a união entre os sexos
repousa na procriação (Siow 2008), então as condições físicas dos parceiros determinam
grande parte do valor do pretendente no mercado conjugal. Nesse sentido, o auge da
46
competência reprodutiva feminina (por volta dos 21 aos 29 anos de idade) marca a melhor
estação para estabelecer um vínculo dessa natureza com seu par. Ou seja, as mulheres e os
homens nesse período representam maior valor no mercado conjugal (Siow 2008).
Homens procuram uma companheira jovem, atraente e sexualmente fiel. as
mulheres preferem parceiros mais velhos, altos e como em tantas outras espécies -
socialmente dominantes. Ambos os sexos preferem companheiros fisicamente saudáveis,
atraentes e capazes de estabelecer um vínculo emocional (Geary 1998, Weisfeld &Weisfeld
2002). Pesquisas revelam que, para mulheres, o nível financeiro do parceiro tem mais
importância do que para os homens (Buss 1989, Hill 1945). Frieze et al. (1990) demonstram a
relação positiva entre salários e altura dos homens. Estes pesquisadores constataram que
mesmo exercendo a mesma função, homens mais altos recebem melhores salários que homens
de menor estatura. Este fato sugere uma relação positiva entre uma característica física e
dominância social. De acordo com outros autores, a altura do homem também é critério
preponderante na seleção de parceiros por mulheres, inclusive dentre as características da
escolha de doadores potenciais de esperma (Lynn & Shurgot 1984, Scheib et al. 1997,
respectivamente).
Nas sociedades humanas os recursos diretos são acessados a partir das condições
socioeconômicas, produtoras de bem estar econômico e de status social (Kalmijn 1998). O
bem estar econômico é dividido pelos membros da família e o status social garantido à mesma
como uma unidade ao invés de individualmente. As teorias microeconômicas da seleção
conjugal argumentam que quando o intervalo entre os sexos, medido pela renda, é elevado
existe uma troca entre recursos econômicos do macho e recursos de outros aspectos da fêmea
como a sua classe de origem (Rubin 1968) e atratividade física (Stevens et al. 1990), por
exemplo. Dessa forma os ganhos inferiores da mulher no mercado de trabalho dão ao homem
uma vantagem significativa no seu valor no mercado de casamentos. Visto que o status
47
socioeconômico familiar na sociedade atual ainda depende primariamente do status
masculino, as mulheres são incentivadas à busca de homens com profissões de prestígio (Buss
1989, Gaulin & McBurner 2001, Hopcroft 2006, Tyree &Treas 1974, Vining 1986).
No início do século XX (primeiros e ainda poucos estudos sobre padrões conjugais
Marvin 1918) o divórcio era um acontecimento raro. Como estes fatores se apresentam na
sociedade contemporânea, quando re-casamentos são comuns e recorrentes? E ainda, como
analisar os padrões das segundas e subseqüentes escolhas conjugais visto que o divórcio e o
novo casamento também afetam o padrão reprodutivo e valor no mercado de casamentos dos
homens e mulheres?
De acordo com Kalmijn (1991), a natureza exata das preferências individuais de
mulheres revela escolhas em duas linhas de raciocínio. Primeira, pessoas preferem casar com
alguém de um status similar ao seu homogamia (DiMaggio & Mohr 1985, Kerckhoff &
Davis 1962, Marvin 1918, Weisfeld & Weisfeld 2002); e a outra hipótese baseia-se nas
preferências de mulheres por parceiros de status socioeconômico superior ao seu hipergamia
(Elder 1960, Mare 1991). Porém, indicar o limite exato dos diferentes status é uma tarefa um
tanto quanto difícil, logo estudar a seleção conjugal (assortative mating) através dos capitais
cultural e socioeconômico concretiza o primeiro passo nessa direção.
Kalmijn (1994) sublinha a profissão como indicador mais adequado para o estudo do
status socioeconômico dos parceiros do que a classe socioeconômica de origem (Duncan et al.
1972, Featherman & Hauser 1978, Hewitt et al. 2005, Jenks 1972, Kalmijn 1998, Michelutte
1972, Rockwell 1976, Treinman & Terrell 1975, Tzeng & Mare 1995, Warren 1966). Para
ele, assim como para Blau e Duncan (1967), a atividade profissional promove mais e variados
tipos de informação na análise dos padrões preferenciais dos parceiros. Os indicadores gerais
e psicossociais (como classe, raça e etnia) são menos importantes na determinação do status
socioeconômico das pessoas ao longo da vida - exercendo menor relevância na explicação dos
48
padrões conjugais. Epstein e Guttman (1984) corroboram esta idéia adicionando a
escolaridade dos parceiros como mais um fator preponderante. Blau e Duncan (1967)
acrescentam que a partir da década de 60, prioritariamente a escolaridade (critério crucial na
corte conjugal) determina a distribuição das mudanças sociais. Este fato também fica
evidenciado nas pesquisas de Michelutte (1972) e Rockwell (1976), pois constataram que
depois de 1950, a homogamia na corte conjugal se concentra em termos da escolaridade dos
parceiros.
A partir disso, assume-se que o mercado de casamentos é governado pela competição
por recursos escassos característicos de cada sociedade (força laboral; identificação ou
punição social, por exemplo, a igreja e/ou o estado, etc.), lugar, época e circunstância
(Kalmijn 1994) e é claro, demandas individuais de cada parceiro. Teoricamente, a
diferenciação entre a compatibilidade cultural e a competição econômica é provocativa para
as esposas, pois competem pelos recursos culturais da mesma forma como pelos recursos
econômicos. DiMaggio e Mohr (1985) propõem que a competição por ambos recursos poderia
ser plausível se o capital cultural pudesse ser convertido em capital econômico através do
sistema escolar. Por exemplo, as pessoas devem ter um incentivo para procurar por um
parceiro com alto nível cultural, ou porque isso rende prestígio na sua comunidade, ou porque
esse fato auxiliará seus descendentes diretos a aumentar seu grau de escolaridade, por
exemplo.
Todavia tais argumentos não são imediatamente aceitos porque ignoram o elemento
interacional da relação conjugal. Uma discrepância no nível cultural dificulta o processo de
comunicação entre as partes, bem como os valores e visão de mundo divergentes reduzem a
intensidade de confirmação mútua entre o casal. Kalmijn e Kraaykamp (1996) argumentam
que o grau de escolaridade não está vinculado apenas aos ganhos e status social, sobretudo
aos gostos, valores e estilos de vida. Neste caso, a escolha conjugal resulta das preferências
49
por semelhanças culturais e não apenas da competição por parceiros economicamente
atraentes. Neste sentido e nada incomum, terceiras partes assumem um papel coadjuvante no
processo das escolhas conjugais. Um bom exemplo dessa influência direta no processo de
eleição dos parceiros é a igreja (bem como o estado, dentre outros, Kalmijn 1991), pois esta
controla as escolhas de vida dos seus membros bem como o grau de envolvimento entre as
pessoas.
Entretanto, nas últimas décadas o cenário das desigualdades de gênero vem sofrendo
alterações significativas nos rendimentos econômicos e nos comportamentos em diversas
dimensões da vida familiar (queda acentuada da fecundidade, decréscimo da nupcialidade,
crescimento do divórcio) bem como no plano da estrutura social. No início dos anos 60,
pouco mais de um décimo da população feminina era profissionalmente ativa, detendo-se
quase que exclusivamente ao setor primário (Almeida 1985). Estudos mais recentes
(Hoffmann & Leone 2004) argumentam que no período entre 1981 e 2002 a proporção de
domicílios com brasileiras profissionalmente ativas sofreu um aumento de 11,9 pontos
percentuais, de 35 para 46,9%. Além disso, atualmente as mulheres já assumem postos
elevados e importantes em muitas sociedades (Biasoli-Alves 2000). Nesse contexto, quando o
rendimento familiar é dividido pelo casal, os homens maximizam seus rendimentos
procurando também por esposas economicamente atraentes, aumentando a homogamia na
corte conjugal. A natureza desta competição varia de acordo com o papel da mulher na
sociedade.
Portanto, o mercado de casamentos (Blau et al. 2000) pode ser definido em termos do
arranjo demográfico da população disponível ao matrimônio como um todo (Goldman et al.
1984), ou em termos da organização geográfica, como por exemplo, a vizinhança (Bozon e
Heran 1989, Morgan 1981, Peach 1974), mesmas instituições escolares (Bayer 1972, Reiss
1964, Scott 1965) e ainda a partir da orientação religiosa (Kalmijn 1991, 1998). Nesta
50
perspectiva, a seleção conjugal é encarada como um processo de filtragem. Cada qual avalia o
parceiro potencial a partir dos recursos que este tem a oferecer e os indivíduos competem
entre si por parceiros que consideram mais aptos, oferecendo seus próprios recursos em
retorno. Se a seleção conjugal vem consolidar as diferenciações sociais e de gênero, como
claramente revelam a hipogamia e a hipergamia, os contextos da interação social se
constituem em uma peça decisiva no processo de escolha. Essa característica é fundamental
quando se objetiva estudar os padrões de casamento.
De acordo com Jacobs e Furstenberg (1986) os padrões da seleção conjugal diferem de
acordo com a ordem dos casamentos. Então, para compreender os padrões de escolhas
conjugais das mulheres de uma comunidade litorânea de baixa renda da região nordeste
brasileira, o presente estudo comparou não apenas as características e status socioeconômico
da primeira e da segunda união estável que estas mulheres tiveram ao longo de suas vidas até
o atual momento, como também avaliou suas expectativas conjugais através dos critérios
considerados ideais num parceiro potencial.
Contudo, se faz necessário uma ressalva: de acordo com Kalmijn (1998) e
colaboradores, a escolaridade é amplamente utilizada como um indicador de status
socioeconômico para populações de classe média. Em função da amostra em perspectiva
apresentar baixos rendimentos, os parâmetros de análise podem sofrer alguma modificação.
Por esse motivo, outras variáveis foram adicionadas. Neste sentido, a escolaridade (medida
em anos de estudo) combinada à idade (fator biológico) dos parceiros constituíram os
principais fatores de análise; a renda mensal, background (escolaridade dos pais, Kalmijn
1994), a atratividade autodeclarada (Stevens et al. 1990) e a altura (Frieze et al. 1990, Lynn &
Shurgot 1984, Scheib et al. 1997) dos parceiros também fizeram parte do inquérito.
O cruzamento dos dados da esposa com os dos companheiros permite inferir se suas
escolhas foram hipergâmicas ou não. Essa intersecção igualmente permite verificar as
51
diferenças entre suas próprias escolhas comparando o primeiro casamento com o segundo.
Características de um parceiro ideal observando os mesmos critérios, buscando
correspondência entre o ideal de parceiro e seus parceiros reais também ajudaram a compor os
objetivos desta pesquisa.
2.2 MATERIAIS E MÉTODOS
Os sujeitos foram selecionados dentre as mil famílias assistidas pelo Programa de
Saúde da Família, numa comunidade litorânea de baixa renda, do Rio Grande do Norte,
Brasil. Neste grupo, 33 mulheres (entre 25 e 67 anos de idade, 42 anos de idade na média)
tiveram pelo menos dois casamentos ou relações estáveis até o momento da coleta de dados,
qualificando-se para a presente pesquisa.
A partir de um questionário estruturado aplicado no segundo e terceiro bimestre do
ano de 2008 na Unidade Básica de Saúde, foram coletados os dados pessoais destas mulheres
e os de seus parceiros (idade, escolaridade, renda mensal e escolaridade de ambos os pais -
para poder identificar o respectivo status socioeconômico), bem como a atratividade
autodeclarada e a altura.
Para realizar as comparações entre os participantes sob todas as condições foi
realizado um delineamento paramétrico dentre participantes (Dancey & Reidy 2006) a partir
de umTeste de Medidas Repetidas (GLM Repetead Measures, alpha = 0,05). Para a análise
post-hoc univariada das variáveis dependentes individuais foi utilizado o Bonferroni (nível=
0,05). As variáveis independentes foram formadas a partir da posição que cada um dos
companheiros assumiu na sucessão dos casamentos. Ou seja, a primeira união recebeu o
número 1, a segunda união foi representada pelo número 2 e o parceiro ideal recebeu o
52
número 3 nas análises. O status socioeconômico dos parceiros foi medido com três variáveis,
diferença entre: a escolaridade dos parceiros em anos de estudo, escolaridade dos pais dos
parceiros (background), e renda mensal em salários mínimos. A altura dos parceiros foi
fornecida verbalmente pelas esposas e o índice da atratividade foi autodeclarativo, medido
numa escala Likert de dez centímetros, podendo os valores variar continuamente de zero a
dez.
Os valores correspondentes à idade, escolaridade, background e atratividade -
utilizados nas análises multivariadas - resultaram da subtração entre as medidas obtidas a
partir dos pares em ambos os casais (1 e 2 nas análises). Por exemplo, a escolaridade (medida
em anos de estudo no momento da união) do homem foi subtraída aos anos de estudo da
mulher, obtendo-se então a diferença entre os cônjuges, utilizada posteriormente nas análises
estatísticas. A mesma subtração foi feita com a escolaridade de ambos os sogros (Kalmijn
1994), bem como a diferença de idade entre os parceiros, atratividade física (Stevens et al.
1990) e renda mensal. em relação ao parceiro ideal, os valores atribuídos às suas
características foram subtraídos aos da mulher correspondentes ao momento atual do
inquérito. Por exemplo, a idade ideal atribuída ao parceiro (3) foi subtraída à idade da mulher
na data em que ela participou da entrevista. Ainda, em todos esses casos, se os resultados da
subtração entre os dados do casal foram positivos, então o homem apresenta dados numéricos
mais elevados evidenciando uma escolha feminina hipergâmica; e se negativo, então quem
apresenta dominância é a mulher configurando uma escolha hipogâmica. Já a medida da
altura dos homens não sofreu manipulação, sendo as análises comparativas entre os três
parceiros realizadas com os valores reais coletados nos questionários.
53
2.3 RESULTADOS
Antes de começar a apresentação dos resultados, convém relembrar que os valores
utilizados nas análises da idade, da escolaridade, do background, renda e atratividade dos
parceiros são resultantes dos valores obtidos da subtração entre os dados do homem e os da
mulher nas uniões 1, 2 e 3.
A análise multivariada de medidas repetidas (GLM) apresentou valores estatísticos
significativos para os indicadores socioeconômicos dos parceiros (escolaridade (GLM, F
(1,32)
=
53,561; p<0,0001), background (GLM, F
(1,32)
= 143,469; p< 0,0001) e renda (GLM, F
(2,64)
=
21,902; p< 0,0001). Uma análise post-hoc a partir do teste Bonferroni (nível 0,05)
demonstrou não haver diferenças estatisticamente significantes entre o primeiro e a segundo
parceiros (escolaridade, Bonferroni = 0,714; n = 33; p = 0,350 / background, Bonferroni =
0,467; n = 33; p = 1,000 / renda, Bonferroni = 0,083; n = 33; p = 1,000). Mesmo sem grandes
diferenças, no entanto, os valores do segundo casamento sofreram um ligeiro decréscimo em
relação à união primeira (Figura 1).
1,39
0,24
8,58
9
1,091
1,073
3
-2
0
2
4
6
8
10
Condições Socioeconômicas
Diferença de Escolaridade entre o casal
Diferença de Background entre o casal
Média da Renda Mensal
Figura 1 - Diferença entre as condições socioeconômicas dos casais (1 e 2) bem como entre os dados atuais
da mulher no momento do questionário e do seu ideal de parceiro. Quando os valores se apresentam em
números negativos, significa que as esposas apresentam valores mais elevados que os homens (hipogamia).
54
O mesmo padrão de dados foi encontrado nas análises da idade. Ou seja, embora o
teste para diferença de idade entre os parceiros não tenha dado um valor estatisticamente
significativo (GLM, F
(1,32)
= 3,562; p= 0,068), foi observado que a diferença de idade entre os
parceiros no primeiro casamento foi bastante elevada quando comparada ao segundo (média
positiva aproximada de 7,5 e 2 anos respectivamente). Já a diferença de idade entre os
parceiros na união ideal (3 nas análises) foi maior (homem com uma média positiva de 3 anos
e meio a mais do que as mulheres) do que a encontrada na segunda, porém menor do que a
diferença entre os pares na união 1 (Figura 2). Em relação à atratividade, embora a análise
multivariada tenha apresentado relevância estatística (GLM, F
(1,32)
= 12,719; p= 0,001), a
análise post-hoc demonstrou resultados estatísticos expressivos apenas nas comparações das
uniões 1 e 2 com o ideal de parceiro (figura 2). As análises comparativas entre a altura dos
parceiros nas uniões 1, 2 e 3, embora sem relevância estatística (GLM, F
(1,32)
= 2,74 p= 0,108),
mostraram um aumento discretamente gradativo na sucessão dos casamentos, sendo que a
estatura desejada para o parceiro ideal é maior do que a dos parceiros de fato (Figura 2).
7,64
1,97
3,52
1,64
1,66
1,68
0,75
1,26
3,38
0
2
4
6
8
10
1.Casamento (1)
2.Casamento (2)
Ideal (3)
Condições Biológicas
Diferença de Idade entre o casal
Altura Média dos Homens
Diferença de Atratividade entre o casal
Figura 2 Diferença das condições biológicas entre os casais (1 e 2) e entre as condições atuais da
mulher em relação ao parceiro ideal. Média da altura (em metros) dos homens (1, 2 e 3).
55
2.4 DISCUSSÃO
As teorias microeconômicas da seleção conjugal argumentam sobre as relações entre o
valor do capital humano e o mercado de casamentos (Siow, 2003; 2008). Por exemplo, numa
situação inversamente proporcional, quanto mais idade o sujeito apresentar, menor será seu
valor no ambiente de seleção conjugal. Esse fato somado a um currículo recheado com um
casamento anterior ou mais, torna a situação ainda mais desvantajosa; sem levar em
consideração ainda a existência de descendência direta, fruto das uniões passadas,
restringindo ainda mais a disponibilidade dos segundos e subsequentes parceiros quando em
situação de retorno ao mercado, seja por motivo de divórcio, separação ou viuvez daquele.
Assim, este retrocesso à arena de corte conjugal diminui significativamente o poder de
barganha do sexo eleitor limitando muitas vezes suas escolhas aos pretendentes dotados de
qualidade/recursos semelhantes ou até mesmo inferiores aos próprios, instalando padrões
homogâmicos ou hipogâmicos de união matrimonial, respectivamente (Kalmijn 1991, 1998).
Contudo, numa relação diretamente proporcional (Siow 2008), quando a mulher exerce uma
atividade profissional, seu valor tende a aumentar no mercado conjugal de acordo com seus
rendimentos.
As avaliações estatísticas das diferenças entre idade e status socioeconômico dos
parceiros revelam que os resultados desta amostra corroboram o pressuposto teórico do
parágrafo acima. Mesmo sem diferença significativa entre os parceiros no primeiro e segundo
casamento, houve um decréscimo nas médias da idade (7,5 e 2 anos respectivamente) e do
status socioeconômico na segunda união. Um dos motivos para uma discrepância tão
acentuada em relação à comparação das médias das idades entre as duas uniões se deve ao
fato de que 88% dos primeiros maridos apresentam maior idade do que suas respectivas
companheiras. na segunda união, 40% dos homens foram mais jovens sendo a diferença
56
máxima observada de cerca de 20 anos de idade entre o casal. Esse dado induz um decréscimo
da média da diferença de idade entre eles, conforme encontrado no segundo casamento. Já o
parceiro ideal dessas mulheres apresenta diferença média positiva em aproximadamente 3
anos de idade. Em relação aos indicadores de status socioeconômico (escolaridade, renda
mensal e background), os resultados seguiram o mesmo padrão. Em média, as mulheres dessa
amostra gostariam de ter um parceiro com aproximadamente 8,5 anos de escolaridade a mais
do que elas mesmas, mas na realidade as uniões de número 1 demonstraram apenas um ano a
mais de estudo e a segunda união não teve nem meio ano de diferença positiva na
escolaridade entre os casais. Os dados seguiram o mesmo padrão nos outros dois indicadores
do status socioeconômico background e renda mensal. Ou seja, as diferenças de idade,
renda, escolaridade e background entre os parceiros no primeiro casamento foram maiores do
que as encontradas no segundo, porém menores do que a considerada ideal.
Os resultados das análises dos outros dois componentes das condições biológicas
(altura e atratividade) evidenciaram padrões de elevada similaridade entre os parceiros em
ambas as uniões. A diferença entre a atratividade dos parceiros na união 1 e 2 ficou em
aproximadamente um ponto numa escala com variação contínua entre os valores zero e dez.
Isso demonstra paridade entre o casal neste aspecto. Já referente à altura dos homens, a
análise multivariada não demonstrou relevância estatística, porem, a altura média dos homens
nas uniões 1 e 2 repousaram em 1,65m e 1,68m para o parceiro ideal. Embora discreto, esse
leve aumento da média de altura média do ideal de parceiro em relação aos parceiros reais,
sugere uma preferência por parceiros mais altos corroborando os achados de outros
pesquisadores como, por exemplo, Frieze et al. (1990), Lynn e Shurgot (1984) e Scheib et al.
(1997). Da mesma forma, a média do grau de atratividade atribuída aos parceiros ideais ficou
situada em 3,38 pontos na escala Likert. Estes achados vão ao encontro das idéias propostas
57
por Weisfeld e Weisfeld (2002) dentre outros pesquisadores, os quais afirmam existir uma
preferência por dominância também no aspecto físico em um parceiro potencial.
2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em qualquer realidade, grande parte do valor individual é definido sobretudo em
termos biológicos a partir da idade do sujeito (Siow 2008). Ou melhor, o ponto de equilíbrio
do mercado conjugal depende dos suprimentos correntes de população adulta jovem e adulta
de idade mais avançada (final da idade reprodutiva). Curiosamente vale lembrar que em
várias sociedades, uma filha divorciada/separada é fortemente discriminada não apenas pela
própria família, como também é excluída do convívio social. Esse fato ilustra e contribui para
o declínio do seu valor no mercado de casamentos no que se refere tanto ao status
socioeconômico, quanto às condições biológicas. Essa menos valia reduz o escopo das suas
opções matrimoniais bem como poder de barganha no mercado conjugal, limitando suas
escolhas aos parceiros de um status igual ou inferior ao seu próprio.
Um dos dados interessantes observados nessa pesquisa é que as expectativas dessas
mulheres, representadas pelas características do parceiro ideal, foram bastante acima da
realidade dos seus parceiros reais. Isso sugere que mesmo que essas mulheres não realizem
uniões hipergâmicas, suas expectativas conjugais continuam altas. Em detrimento, o
argumento segue duas linhas de raciocínio: ou o mercado que elas estão inseridas não dispõe
de parceiros em igualdade de circunstâncias com suas expectativas, ou o valor de mercado
delas não permite o acesso aos parceiros em melhores condições.
A maior parte dos resultados dessa pesquisa não apresentou relevância estatística,
porém os valores encontrados demonstram uma tendência no sentido de corroborar as
58
hipóteses teóricas comprovadas por vários outros pesquisadores. Acreditamos que isso se
deve ao fato desse trabalho não ter um N robusto o suficiente para estender os resultados à
uma população inteira. Contudo, ela é representativa porque simboliza a totalidade de uma
microrregião específica. Isso significa que embora não seja possível fazer afirmações
contundentes, é possível argumentar ao respeito de uma tendência para determinado
comportamento numa realidade socioeconômica e sociodemográfica particular. Neste caso, os
resultados estatísticos obtidos revelam uma tendência aos padrões hipo e homogâmicos
referente às segundas e subsequentes uniões conjugais das brasileiras de uma comunidade
litorânea de baixa renda do estado do Rio Grande do Norte.
Porém, essa comunidade apresenta uma característica muito peculiar. Apenas com um
levantamento superficial é possível constatar que quase a totalidade das mulheres dessa
microrregião em idade reprodutiva apresenta o histórico de convívio com mais de um
companheiro somado à existência de filhos de ambos ou mais parceiros. Contudo, a duração
dessas relações não chega ao mínimo de um ano em quase todos os casos, o que reduziu
substancialmente o tamanho da amostra.
Um importante passo nessa pesquisa seria traçar o perfil das mulheres que fizeram
parte do inquérito atual diagramando um diagnóstico mais preciso das suas características e
realidade. Tendo realizado esta análise, providenciar a ampliação da amostra, replicando a
coleta dos dados às comunidades do entorno ou ainda, em todas as comunidades litorâneas de
baixa renda do estado, esmiuçando mais detalhadamente os recursos escassos característicos
destas realidades no intuito de mapear a situação e o mercado de casamentos local. Outro
passo da mesma relevância seria cruzar os dados coletados com os últimos levantamentos do
IBGE, verificando o suprimento mercadológico de capital humano em termos de idade, renda,
estado civil, dos moradores, etc. Os resultados obtidos constituem uma análise de alto valor
não apenas para a comunidade científica/acadêmica como principalmente para a comunidade
59
e órgãos públicos das regiões apreciadas. Pois, o mercado conjugal se modifica de acordo
com os diferentes tipos de homens e mulheres disponíveis, bem como com os diferentes tipos
de arranjos sociais e ambientes de vida (Siow 2003) de cada época e lugar.
60
III - CAPÍTULO TERCEIRO
RECASAMENTOS EM UMA COMUNIDADE DE BAIXA RENDA NO NORDESTE
BRASILEIRO: PERFIL E VALOR DAS MULHERES NO MERCADO DE
CASAMENTOS
3.1 INTRODUÇÃO
O mercado de casamentos (marriage market) se modifica de acordo com os diferentes
tipos de homens e mulheres disponíveis, bem como com os diferentes tipos de arranjos sociais
e ambientes de vida de cada época e lugar, que por sua vez influenciam o poder de barganha
de cada parceiro (Siow 2003). Alguns pesquisadores focam suas observações na razão sexual
do sexo que escolhe e no suprimento mercadológico de maridos e esposas disponíveis.
Contudo esses valores são inconstantes, pois a própria razão sexual sofre modificações ao
longo do tempo.
O processo de escolha de um parceiro ocorre baseado na avaliação de um conjunto de
características, o qual foi denominado “valor de mercado” (Pawlowski & Dunbar 1999, Lucas
et al. 2004). Considerando que o maior objetivo biológico de uma união conjugal é a
procriação (Siow 2003), então a aparência física dos pretendentes também agrega valor ao
capital humano no mercado de casamentos, pois do ponto de vista biológico, ela sinaliza as
condições de saúde, resistência a doenças bem como sugere evidências de um
desenvolvimento físico normal (Grammer & Thornhill 1994, Singh 1995). Por exemplo, na
adolescência ambos os sexos apresentam as menores taxas tanto de doenças crônicas quanto
de mortes por causas naturais (Papalia & Olds 2000).
61
Contudo, em muitas culturas as condições biológicas assumem proporções também
sociais. Por exemplo, em vários grupos a mulher, quando entra na menopausa, é excluída do
convívio social até a chegada de sua morte. Esses costumes sinalizam o fim da utilidade
feminina juntamente com sua capacidade de reprodução (Papalia & Olds 2000). Portanto, o
auge da aptidão reprodutiva feminina marca o melhor momento para estabelecer um vínculo
com essa finalidade com seu par. Consequentemente, as mulheres e os homens de maior valor
no mercado conjugal estão entre a faixa dos 25 e 29 anos e 27 e 31 anos de idade
respectivamente (Siow 2008). Curiosamente vale lembrar que o declínio da aptidão
reprodutiva dos homens inicia aproximadamente dez anos mais tarde do que o das mulheres.
De acordo com Freire et al. (2006), embora a probabilidade das mulheres casarem até
os 30 anos de idade seja bem mais alta do que para os homens, o diferencial por sexo
apresenta-se levemente maior no Brasil. Além disso, estes mesmos autores afirmam que a
probabilidade do primeiro casamento e de re-casamento subsequente estaria situado entre a
faixa dos 25 e 55 anos de idade para os pretendentes de ambos os sexos. Contudo, no caso de
parceiros divorciados que pretendem reingressar num novo casamento oficial, os homens têm
mais sucesso do que as mulheres. Ou melhor, particularizando a faixa etária entre 30 e 34
anos, a probabilidade de um re-casamento de pessoas divorciadas é de 0,372 e 0,166 para os
homens e mulheres do nordeste brasileiro respectivamente. Quando a análise abrange o Brasil
como um todo, estes números sofrem um ligeiro aumento para 0,394 e 0,221 respectivamente
(Freire et al. 2006). O desequilíbrio das probabilidades de re-casamentos entre os sexos pode
ser explicado a partir dos obstáculos postos durante a busca de um novo parceiro, pois
parecem ser maiores para as mulheres do que para os homens. Segundo Medeiros e Osório
(2000), em 1998, 14% dos arranjos familiares no Brasil eram do tipo chefiado por mulher,
sem cônjuge e com filhos. Enquanto os arranjos familiares formados apenas por homens com
filho, representaram apenas 2%. Acrescentam ainda que a partir dos índices de probabilidades
62
de re-casamento entre divorciadas, pode-se presumir que essa concentração seja ainda maior
no nordeste brasileiro.
Nessa perspectiva, Siow (2008) sugere quatro sub-mercados, de acordo com o
suprimento mercadológico disponível. Vamos supor que numa união heterossexual, o número
um corresponda aos parceiros solteiros e que o número dois aos parceiros que voltaram ao
mercado de casamentos seja por viuvez ou divórcio/separação, e que o primeiro número
corresponda ao homem e o segundo a mulher. Então, de acordo com este autor, os arranjos
matrimoniais podem assumir a seguinte forma: 1,1; 1,2; 2,2; e 2,1. Em última instância pode-
se dizer que o valor do capital humano em relação às condições de vida de cada época e lugar
determina a economia do mercado de casamentos, avaliada a partir do suprimento de jovens
solteiros de ambos os sexos, somado ao número de homens e mulheres viúvos e ou solteiros
reinseridos às condições de disputa por um parceiro potencial em cada contexto.
As tensões existentes entre os impulsos masculinos relativos à quantidade e os
impulsos femininos relativos à qualidade são tão antigas quanto à humanidade. Geary (2005),
dentre outros, propõe que, mais do que os homens, as mulheres são influenciadas pelas
competências sociais do homem e de sua família de origem (background), incluindo recursos
materiais, influência social, profissão de prestígio (Tyree & Treas 1974, Weisfeld & Weisfeld
2002) bem como pela capacidade de adquirir e manter estas propriedades. Neste cenário, onde
as mulheres são excluídas da arena econômica, elas apenas obtêm acesso aos recursos por
meio de seus parceiros. Em detrimento disso, Gaulin e McBurney (2001) justificam a
valorização feminina do potencial econômico masculino não apenas porque elas foram
excluídas da arena econômica obtendo acesso aos recursos exclusivamente por meio de seus
parceiros, mas sobretudo porque os homens investiram dessa forma por vários milhões de
anos. Essa idéia é chamada de “hipótese estrutural da exclusão do poder” (Buss & Barner
1986). Dessa maneira os homens ampliam sua aptidão reprodutiva oferecendo seus recursos
63
materiais em troca de mulheres jovens, atraentes e no auge da sua capacidade reprodutiva
(Rubin 1968, Jacobs & Furstenberg 1986, Stevens et al. 1990).
Contudo, a mulher moderna sofre dilemas sem precedentes, pois as circunstâncias
contemporâneas associadas à maternidade nunca foram tão ambivalentes: controle de
natalidade, educação sexual, oportunidade e necessidade profissional, divórcio, doenças
sexualmente transmissíveis, re-casamentos, a lista é infinita. Bussab (2002) afirma que o
contexto social e econômico tem tudo a ver com a determinação do comportamento materno e
paterno. Portanto, pode-se dizer que a mudança do papel da mulher na sociedade durante e
pós Segunda Guerra Mundial afetou significativamente os padrões da seleção conjugal. O
rápido crescimento dos índices da inserção de mulheres no mercado de trabalho depois da
metade do século passado (Cherlin et al. 1998) fez com que status econômico e maternidade
estejam hoje desacoplados (Bussab 2002). Consequentemente, o sentido da educação das
mulheres também sofreu alterações.
No caso das mulheres com profissões mais qualificadas, a elevada incidência da
homogamia nas uniões conjugais, sugere uma “afinidade espontânea” alimentada pela
semelhança dos recursos educacionais (diplomas escolares, qualificações profissionais, etc.).
Cientistas como Davis (1984), Shoen e Wooldredge (1989) e Mare (1991) acreditam que as
mudanças na natureza do trabalho feminino estão fazendo com que os recursos econômicos
delas se tornem gradativamente mais atraentes para os homens. O capital humano da esposa
vem se configurar como um facilitador à carreira do marido. Dessa forma, a renda da parceira
deve subsidiar o investimento de capital humano dele, bem como a segurança econômica
oferecida por ela deve diminuir a necessidade dele de arrumar benefícios profissionais
imediatos e de curto-prazo, fomentando assim, uma tendência para escolhas homogâmicas.
Contudo, o quanto as pessoas estão aptas a efetivarem suas preferências por
similaridades culturais e socioeconômicas depende também da estrutura do mercado de
64
casamentos. Alguns estudiosos norte-americanos como Hout (1892), Jacobs e Furstenberg
(1986), Kalmijn (1991) e Mare (1991) afirmam que se analisarmos a classe social, o prestígio
profissional e o status socioeconômico dos parceiros, encontraremos uma forte semelhança
entre estas características nos recém casados a partir do século XX. Acostumar-se com esses
padrões de interação social pode aumentar as chances de casar com alguém com a mesma
instrução escolar mesmo após a conclusão dos estudos. A homogamia cultural também pode
ser afetada pelas mudanças no processo da determinação socioeconômica. Treinman e Terrell
(1975) afirmam que neste sentido, o nível de escolaridade dos parceiros tem um efeito mais
significativo na definição do status socioeconômico do que o background dos parceiros.
Além dos fatores biológicos e socioeconômicos, psicólogos sociais propõem que o
quadro da atratividade sexual humana inclui uma lista de características na qual estão
inseridas similaridade ou complementaridade de personalidade, inteligência, referencial social
e aparência física avaliados num parceiro potencial. De acordo com Weisfeld e Weisfeld
(2002), ambos os sexos buscam companheiros fisicamente saudáveis, atraentes e capazes de
estabelecer uma ligação emocional. Estes mesmos autores e colaboradores estudam os
padrões de escolhas homogâmicas dos parceiros em vários estados dos Estados Unidos. Para
tanto, estruturaram um questionário sobre casamento e relacionamentos (MARQ Marriage
and Relationship Questionnaire,2002
1
) com questões referentes aos vários aspectos da união
entre os parceiros. Dentre elas, algumas características compõem o quadro de personalidade
dos parceiros como, por exemplo, serem ciumentos, divertidos, bem-humorados,
companheiros, amigável, polidos e bem educados.
Sabe-se que as diferenças entre homens e mulheres bem como as diferentes
configurações sociais e ambientais variam de acordo com cada lugar e região. Dessa maneira,
1
A tradução do questionário foi fornecida pela Dra. Regina Brito (UFSP).
65
não é difícil presumir que cada comunidade apresenta suas próprias características e
demandas específicas.
Dentro deste contexto, para saber quem são as mulheres recasadas de uma comunidade
litorânea de baixa renda da região nordeste brasileira, o presente estudo traçou o perfil da
amostra em questão, a partir das suas próprias características socioeconômicas, biológicas,
aspectos de saúde e de personalidade (psicológicas e emocionais), juntamente com as
respectivas características dos seus parceiros (primeiro e segundo) e do seu ideal de parceiro.
O cruzamento de todos esses dados permite visualizar quem são as mulheres dessa pesquisa,
que tipo de escolha conjugal realizaram (hipo, hiper ou homogâmica), bem como verificar o
grau de correspondência entre os parceiros reais e idealizados e as características das
mulheres. Assim, se faz viável o estudo das condições e valor dessas mulheres no mercado
conjugal, que por sua vez contempla o objetivo dessa pesquisa.
3.2 MATERIAIS E MÉTODOS
Os sujeitos foram selecionados dentre as mil famílias assistidas pelo Programa de
Saúde da Família, numa comunidade litorânea de baixa renda, do Rio Grande do Norte,
Brasil. Neste grupo, 33 mulheres (entre 25 e 67 anos de idade, 42 anos de idade na média)
tiveram pelo menos dois casamentos ou relações estáveis até o momento da coleta de dados,
qualificando-se para a presente pesquisa.
A partir de entrevistas na Unidade Básica de Saúde realizadas no segundo e terceiro
bimestre de 2008, foram coletados os dados pessoais destas mulheres (idade, escolaridade,
renda mensal familiar e escolaridade dos pais - para poder identificar o respectivo status
66
socioeconômico e também o status socioeconômico de origem - background), bem como as
características de personalidade já citadas.
O status socioeconômico das mulheres foi indicado a partir de três variáveis: instrução
escolar em anos de estudo (Epstein & Guttman 1984, Michelutte 1972, Rockwell 1976),
escolaridade do pai ou provedor da família de origem (background, Hewitt et al. 2005,
Kalmijn 1994), e renda mensal familiar em salários mínimos. Os aspectos biológicos e
hábitos relacionados à saúde foram contemplados a partir da idade atual da mulher (no
momento da entrevista), bem como no primeiro e segundo casamento, número de filhos (Siow
2003, 2008), atratividade (Stevens et al. 1990), altura, peso e IMC (índice de massa corporal),
frequência de prática esportiva e atividades de lazer, uso de tabaco e álcool. As características
de personalidade levantadas foram humor, diversão, companheirismo, ciúmes (Weisfeld &
Weisfeld 2002), afeto, carinho, polidez (boa educação), cooperação, exigência em relação à
escolha de parceiro, experiência em relacionamentos e desempenho sexual. Convêm sublinhar
que todos os aspectos subjetivos (de personalidade) coletadas foram auto-declarativas,
medidas numa escala Likert de dez centímetros, podendo os valores variar continuamente
entre zero e dez, assim como o índice de atratividade.
Para identificar o número de perfis das mulheres que compunham a amostra
primeiramente realizamos uma Análise de Cluster Hierárquico com as variáveis já citadas
[idade atual da mulher (no momento da entrevista), escolaridade, escolaridade paterna,
condição financeira, mero de filhos, atratividade, altura, peso e IMC, frequência de prática
esportiva e atividades de lazer, uso de tabaco e álcool, humor, diversão, companheirismo,
ciúmes, afeto, carinho, boa educação, cooperação, exigência em relação à escolha de parceiro,
exigência no momento da escolha de um parceiro, experiência em relacionamentos e
desempenho sexual].
67
Neste procedimento a quantidade de perfis foi identificada através do agrupamento
dos sujeitos de acordo com a avaliação (casos) utilizando o método Between-groups Linkage,
tendo como medida a distância euclidiana ao quadrado. O número de agrupamentos foi obtido
através da observação da maior distância entre os coeficientes do agrupamento na
Agglomeration Schedule. Após a identificação do número de agrupamentos, os mesmos foram
obtidos através de Análises de Cluster K-Means, que classificou os participantes de
acordo com o número de agrupamentos anteriormente previstos pela Análise de Cluster
Hierárquico.
Após a identificação do número de agrupamentos (Cluster Hierárquico) e da
classificação das mulheres entre os dois grupos obtidos (Cluster K-Means), possíveis
diferenças entre ambos, a partir das características utilizadas nestas análises e citadas logo
acima, foram verificadas através do teste ANOVA Univariado, com nível de significância de
5%. Após caracterização dos agrupamentos os mesmos foram contrastados para
características pessoais relativas ao perfil do primeiro e segundo parceiro de relacionamento
estável e em relação ao parceiro ideal utilizando testes t bicaudais com índice de significância
de 5%.
3.3 RESULTADOS
A categorização geral das características analisadas das 33 mulheres entrevistadas
gerou dois agrupamentos contendo 15 e 18 mulheres em cada um deles respectivamente. As
características que os diferenciaram estatisticamente foram as quatro seguintes:
afetividade/carinho, ciúmes, atraente/interessante e desempenho sexual (Tabela I). Contudo
vale salientar que todos os traços pessoais avaliados em ambos os agrupamentos apresentaram
68
muitas semelhanças, com exceção à pergunta relacionada à frequência com que as mulheres
dedicam-se a atividades de lazer (Tabela II). Ou seja, no grupo 2 (G2 nomeado Grupo da
Alta Estima), as mulheres não apenas se auto-avaliam como sendo mais afetivas, carinhosas,
atraentes, interessantes e ciumentas, como também avaliam melhor seu desempenho sexual e
dedicam mais tempo a atividades de lazer do que as do grupo 1 (Grupo de Baixa Estima). Da
mesma forma, o cruzamento dos dados referente às três variáveis categóricas (cor ou raça;
profissão; e profissão paterna), também não evidenciou diferenças significativas (t
(2)
= 1,47 P
= 0,47; t
(4)
= 1,57, P = 0,81; e t
(4)
= 5,30, P = 0,25 respectivamente).
Gl
F
P
Afeto_Carinho
(1.31)
30,25
0,000
Comportamento_Educação
(1.31)
0,65
0,426
Amiga_Companheira
(1.31)
3,04
0,091
Cooperacao_Ajuda
(1.31)
0,16
0,690
BomHumor_Divertida
(1.31)
1,33
0,258
Ciúme
(1.31)
12,75
0,001
Atratividade_Interesse
(1.31)
8,00
0,008
DesempenhoSexual
(1.31)
16,05
0,000
Tabela I: Resultados dos testes ANOVA univariados
comparando os agrupamentos obtidos (Agrupamento 1 e
Agrupamento 2) para as características de auto-percepção.
gl
T
P
Idade
31
-0,11
0,912
Filhos
31
-0,07
0,943
Altura
31
-0,76
0,452
Peso
31
-0,54
0,592
IMC
31
-0,33
0,742
Escolaridade atual
31
-1,6
0,118
Escolaridade Pai
31
-0,45
0,657
Condição R$
31
-1,77
0,086
Esporte
31
0,09
0,932
Tabaco
31
-1,25
0,220
Álcool
31
-0,95
0,348
Lazer
31
-3,68
0,0009
Exigente
31
-1,12
0,271
Experiência
31
-1,01
0,322
Tabela II: Resultados dos Testes t Bicaudais comparando os agrupamentos
(agrupamento 1 e agrupamento 2) para as características pessoais das mulheres.
69
Em relação ao primeiro parceiro, a comparação dos dois grupos mostrou diferenças
em apenas duas variáveis métricas, ou seja, as mulheres do grupo de baixa estima (G1,
contendo 15 mulheres) relataram ter parceiros menos atraentes, interessantes, afetuosos e
carinhosos do que as do segundo agrupamento (grupo de alta estima, 18 mulheres) (Figura 1).
Todavia, embora o item “prática de esportes” não tenha apresentado significância (t
(31)
= 0,11
P = 0,056), possivelmente alcançaria relevância estatística se a amostra em questão fosse
representada por um N maior. Todas as outras variáveis, tanto métricas quanto categóricas de
ambos os agrupamentos relacionadas ao primeiro companheiro, não indicaram diferenças
estatisticamente relevantes (cor/raça do parceiro t
(2)
= 1,56, P = 0,47; profissão do parceiro t
(4)
= 8,85 P = 0,06; profissão ideal do pai do parceiro t
(4)
= 5,00, P = 0,29).
Figura 1: Médias e intervalo de confiança (IC 95%) das avaliações das características
Atratividade/Interesse e Afetividade/Carinho referentes ao primeiro parceiro para o
Agrupamentos 1 e Agrupamento 2.
70
as diferenças significativas entre os agrupamentos relacionadas às variáveis
métricas do segundo parceiro situaram-se apenas em duas características: idade dele no
momento da união e diferença de idade entre o casal (Figura 2). em relação à satisfação da
esposa com o segundo matrimônio, esta variável apresentou a mesma peculiaridade da
“prática de esportes” na primeira união. Ou seja, o resultado do teste apresentou um valor
muito próximo ao relevante (t
(31)
= -1,96, P = 0,059), contudo, se o N dessa pesquisa fosse
maior, provavelmente obteríamos um resultado significativo. Isso significa que os segundos
maridos das mulheres do grupo de baixa estima são mais velhos do que os segundos maridos
do grupo de alta estima, a diferença de idade entre o casal também foi maior para o primeiro
grupo (Figura 2) assim como essas mulheres (do G1) relataram sentir menos satisfação em
relação à união do que as do segundo grupo. Em contrapartida, as outras variáveis não
apresentaram valores significativos na comparação de ambos os grupos (Tabela III). Para os
quatro traços categóricos relacionados à segunda união, as categorias foram distribuídas de
forma similar entre os agrupamentos não demonstrando diferenças estatisticamente relevantes
entre os sujeitos (cor/raça do segundo esposo t
(3)
= 2,62, P = 0,45; profissão do companheiro
t
(4)
= 1,63 P = 0,80; profissão ideal do pai do parceiro t
(5)
= 3,85, P = 0,57).
Figura 2: dias e intervalo de confiança (95%) para a Idade do segundo, a diferença de idade
entre a mulher e o segundo parceiro e a satisfação no segundo relacionamento para G1 e G2.
71
Em relação aos atributos desejados em um ideal de parceiro, ambos os grupos de
mulheres não apresentam diferenças significativas para as variáveis analisadas, nem métricas
(tabela III), nem categóricas (cor/raça do parceiro t
(2)
= 2,10, P = 0,35; profissão do parceiro
t
(1)
= 0,018 P = 0,9; profissão ideal do pai do parceiro t
(2)
= 1,27, P = 0,53), sugerindo que a
amostra desse trabalho como um todo, demonstra seguir um mesmo padrão de interesse
quando o assunto refere-se às características aspiradas em um parceiro ideal.
Gl
t
P
Idade_ideal
31
0,97
0,340
altura_ideal
31
-0,58
0,569
Peso_ideal
31
0,15
0,885
IMC_ideal
31
0,7
0,490
Escolaridade_ideal
31
0,5
0,623
EscolPaiIdeal
31
1,13
0,268
FilhosAntIdeal
31
0,43
0,673
Esporte_ideal
31
-0,06
0,955
Tabaco_ideal
31
-0,22
0,827
alcool_ideal
31
1,72
0,096
Lazer_ideal
31
-0,29
0,772
Afeto_Carinho_ideal
31
0,22
0,827
Comportamento_educação_ideal
31
-0,15
0,880
Amiga_Companheiro_ideal
31
-1,14
0,264
Cooperacao_Ajuda_ideal
31
-1,37
0,180
BomHumor_Divertido_ideal
31
0,11
0,910
Ciume_ideal
31
-0,98
0,332
Atratividade_Interesse_ideal
31
0,95
0,347
DsmpenhoSexual_ideal
31
-1,18
0,247
Exigente_ideal
31
-0,98
0,337
Experiencia_ideal
31
0,64
0,524
R$_mês_ideal
31
-1,13
0,267
religião_ideal
31
-0,39
0,697
Cond_R$_ideal
31
1,02
0,315
Tabela III: Resultados dos Testes t Bicaudais comparando os agrupamentos (agrupamento 1
e agrupamento 2) para as características dos parceiros ideais.
72
3.4 DISCUSSÃO
A partir de todas as análises realizadas nesse trabalho, é possível dizer que as mulheres
pertencentes à nossa amostra dividem-se em dois grupos contendo 15 e 18 pessoas
respectivamente. Ambos os grupos apresentaram a mesma média de idade (aproximadamente
42 anos), 4 filhos, estatura mediana (aproximadamente 1,5m de altura); sedentarismo pois
praticam esportes e atividades físicas muito raramente; porém parecem ter outros hábitos
saudáveis relatando consumir álcool e tabaco em pouquíssima quantidade. Em ambos os
grupos, as mulheres se consideram parceiras bastante amigas, companheiras e educadas; bem
humoradas e divertidas na média assim como exigentes no momento de escolha de um
parceiro.
Embora sem significância estatística, a comparação entre os dois grupos demonstrou
que as mulheres do primeiro parecem ser mais elegantes do que as do segundo (IMC
aproximado = 27,4 e 26,7 respectivamente). Contudo em algumas outras características, o
grupo dois evidenciou dominância em relação ao grupo um: em média dois anos a mais de
estudo formal (concluíram quarta e segunda série respectivamente), escolaridade paterna meio
ano a mais (segunda série), e atribuíram dois pontos a mais na auto-avaliação da própria
condição financeira (4,5 e 2,4 respectivamente, numa escala contínua entre zero e dez).
Considerando os resultados estatisticamente relevantes, as análises demonstraram que
as mulheres do G2 avaliaram-se como companheiras mais carinhosas, afetuosas, atraentes e
interessantes; analisaram melhor seu próprio desempenho sexual, relatam sentir mais ciúmes
dos parceiros e dedicam mais tempo a atividades de lazer do que as do G1. A partir disso, é
possível afirmar que o G2 é formado por mulheres dotadas de uma auto-estima mais elevada
quando comparadas ao G1.
73
Essa maior auto-estima do segundo grupo (G2) em comparação às mulheres do G1
pode ser atribuída ao fato delas se perceberem em condições mais favoráveis do que as do
grupos de baixa estima no que se refere à escolaridade, escolaridade paterna (background ou
status socioeconômico de origem) e condição financeira. Estes dados são bastante
interessantes, pois a auto-imagem de uma pessoa interfere nas avaliações de um parceiro
potencial estando diretamente relacionada ao valor atribuído a si próprio. Ou seja, assim como
se considera em melhores condições na sua auto-avaliação, seu padrão de escolha, referente
aos parceiros potenciais, provavelmente também será mais exigente. Ou seja, buscará um
parceiro com, no mínimo, o mesmo valor (homogamia) no mercado conjugal ou ainda,
superior (hipergamia).
Vários autores argumentam que de uma forma geral, as mulheres preferem parceiros
mais velhos (Weisfeld & Weisfeld 2002), de um status socioeconômico superior ao próprio
(Elder 1960, Mare 1991), mais altos (Frieze et al. 1990, Lynn & Shurgot 1984, Scheib et al.
1997), fisicamente atraentes, saudáveis e interessantes (Geary 1998, Stevens et al. 1990,
Weisfeld & Weisfeld 2002). A amostra desse trabalho revelou concordância com essas
afirmações, pois no primeiro casamento, os parceiros são mais velhos que as esposas, mais
altos e possuem mais escolaridade em ambos os grupos (G1 e G2).
De uma forma geral, o primeiro casamento do grupo de baixa estima durou em média
9 anos, os parceiros consumiam mais tabaco do que os do G2 e possuíam pelo menos um (a)
filho (a) de relacionamentos anteriores. A mesma união no grupo de alta estima durou em
média 10 anos, embora os parceiros também fossem mais velhos que as mulheres, neste grupo
eles foram bem mais jovens do que os parceiros do G1, poucos tinham filhos de
relacionamentos anteriores, têm mais escolaridade, parecem ser mais elegantes (menor peso e
IMC mais baixo), investem mais tempo na prática de esportes assim como em lazer,
consomem menos tabaco, porém mais álcool quando comparados aos maridos do G1. As
74
mulheres com alta estima também avaliam melhor seu primeiro companheiro o atribuindo
melhor condição financeira e desempenho sexual. Consideram-no mais atraente, interessante,
carinhoso, companheiro e exigente do que as mulheres com baixa estima. Ambos os grupos
(G1 e G2) tiveram em média 2 filhos nessa união e lembram estarem pouco satisfeitas em
relação à união matrimonial (atribuíram menos de cinco pontos em uma escala livre que
variava entre os valores e zero e 10).
Contudo, os padrões da seleção conjugal diferem de acordo com a ordem dos
casamentos (Jacobs & Furstenberg 1986). A partir do final do auge do período reprodutivo
feminino (aproximadamente aos 28 anos de idade, Papalia & Olds 2000), quando em situação
de retorno ao mercado conjugal, seja por separação ou viuvez e ainda com filhos, estas
mulheres não encontram mais a mesma amplitude nas opções de escolha de um parceiro como
as quais experienciaram no passado (quando mais jovens e/ou antes da primeira união). Não
apenas porque seu valor sofreu uma redução significativa, mas também porque retornam
disputando o mesmo mercado com mulheres mais jovens, solteiras e sem filhos (Siow 2003 &
2008). Isso significa que nessa situação, estão mais distantes de realizar um segundo
casamento com parceiros mais próximo do seu ideal.
Na amostra em questão a segunda união no G1 gerou em média um (a) filho (a) e estes
parceiros tinham em média dois filhos (as) oriundos de outras uniões. o segundo
matrimônio no G2 gerou em média um (a) filho (a), seu companheiro tinha (em média)
apenas um (a) filho (a) de uniões passadas, além de mais escolaridade do que os
companheiros do G1. Suas esposas o avaliaram como sendo mais magros, atraentes e
interessantes; esportivamente mais ativos e com hábitos mais saudáveis, pois consomem
menos álcool e tabaco. Também apresentam melhor desempenho sexual, assim como são
mais carinhosos e afetivos. As mulheres do G2 também relataram estarem mais satisfeitas
com a segunda união do que as do G1. Embora, até o momento da entrevista, o tempo de
75
duração desta união seja de 7,5 e 8,5 anos respectivamente (G1 e G2), infelizmente não
sabemos indicar quantas dessas mulheres ainda permanecem ou não casadas com o segundo
companheiro, pois a tendência gica é sempre buscar parceiros melhores do que os
anteriores, todavia nem sempre isso seja possível.
Convém ainda chamar atenção para alguns fatores não menos importantes. Assim
como as mulheres do grupo de alta estima construíram uma melhor auto-imagem ao longo da
vida, também avaliaram melhor seus dois parceiros. De fato, tanto estas mulheres (G2) quanto
seus respectivos companheiros (primeiro e segundo), tiveram escolaridade e background mais
elevado do que as mulheres e homens do grupo de baixa estima. Um melhor status
socioeconômico pode assegurar mais auto-confianca e segurança do seu próprio valor no
mercado conjugal, favorecendo uniões no mínimo homogâmicas (DiMaggio & Mohr 1985,
Kalmijn 1991, Kalmijn 1998; Kalmijn & Kraaykamp 1996, Kerckhoff & Davis 1962, Marvin
1918, Weisfeld & Weisfeld 2002) para as mesmas características avaliadas no momento de
escolha do parceiro. Esse fato ilustra a relação diretamente proporcional entre a auto-imagem
e o tipo de parceiro que o mercado conjugal permite acessar. Em contrapartida, podemos
acrescentar que as mulheres com baixa estima não apenas se avaliam inferiores, como
também avaliam seus parceiros da mesma forma, inferindo uma auto-estima enfraquecida.
Contudo, parece que embora os dois grupos avaliem a si próprias e aos seus
companheiros diferentemente, os atributos almejados em um ideal de parceiro em ambos os
grupos de mulheres (G1 e G2) não apresentam diferenças significativas para as características
avaliadas sugerindo uma preferência geral por parceiros dotados dos mesmos padrões de
características. Isto é, a maioria delas relatou buscar parceiros mais velhos numa situação de
excelente condição financeira (Buss1989, Elder 1960, Geary 2005, Hill 1945, Mare 1991,
Weisfeld & Weisfeld 2002); que tenham ao menos concluído o ensino médio (Blau & Duncan
1967, Duncan et al. 1972, Epstein & Guttman 1984, Featherman & Hauser 1978, Hewitt et al.
76
2005, Jenks 1972, Kalmijn 1994, Michelutte 1972, Rockwell 1976, Treinman & Terrell 1975,
Tzeng & Mare 1995, Warren 1966). Estes autores também afirmam que a escolaridade dos
parceiros é um fator preponderante na escolha de parceiros, corroborando as idéias de
Kalmijn e Kraaykamp (1996), os quais argumentam que o grau de escolaridade não está
vinculado apenas aos ganhos e status social, sobretudo aos gostos, valores e estilos de vida.
3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos dizer que muitas das características que não apresentaram resultados
estatisticamente relevantes em todas as comparações entre os dois grupos de mulheres,
provavelmente deve-se ao fato da amostra em questão ter um N muito reduzido (apenas 33
participantes), não sendo possível estender os resultados a toda a população. Contudo, ela é
representativa porque simboliza a totalidade de uma microrregião específica no que se refere
às condições relativas à escolha de primeiro, segundo e subsequentes parceiros conjugais das
brasileiras de uma comunidade litorânea de baixa renda do estado do Rio Grande do Norte.
As mulheres desta comunidade, embora numa situação extrema de baixa renda, baixa
escolaridade, poucas oportunidades de trabalho remunerado e elevado número de filhos
continuam apresentando o mesmo ideal de parceiro das mulheres de classe média. Contudo,
seus parceiros reais estão muito abaixo do que elas consideram um padrão ideal. Esse fato
pode ser atribuído ou ao mercado que elas estão inseridas não dispor de parceiros em
igualdade de correspondência com suas expectativas, ou ao seu próprio valor de mercado não
permitir o acesso aos parceiros em condições mais elevadas.
A idéia de que a única razão biológica para o casamento seria a procriação (Siow
2003, 2008), pode ser ilustrada pelo maior número de filhos gerado no primeiro matrimônio
77
em ambos os grupos (G1 e G2). Parece que de fato, nos casamentos subseqüentes, as
mulheres estão mais interessadas em compartilhar de uma companhia agradável para diversos
assuntos e atividades do que propriamente para gerar descendência direta, embora essa
possibilidade não seja excluída, confirmando a afirmação de que os padrões de escolha
marital diferem de acordo com a ordem dos casamentos (Jacobs & Furstenberg 1986).
78
IV - CAPÍTULO QUARTO
4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se dizer que existem duas explicações darwinianas para os critérios de seleção
sexual nos humanos, seleção do “bom gosto” ou do “filho sexy” e do “bom senso” ou dos “bons
genes”. Esses pressupostos teóricos o são mutuamente excludentes uma vez que se o animal
consegue arcar com o custo energético de determinado traço dispendioso, prova estar apto a
manter-se vivo e obter sucesso reprodutivo (Ridley 2004). Além disso, outros modelos
teóricos propostos por Williams (1966) e Trivers (1972) demonstram que o investimento
parental também exerce influência direta sob o processo de seleção sexual. Neste sentido a
combinação entre esforço de acasalamento e esforço parental determina que o sucesso
reprodutivo de um sexo seja limitado pelo sexo de maior investimento parental, pois este
assume o papel de recurso limitante para o sucesso reprodutivo daquele. Por exemplo, se
quem despende maior esforço parental são as fêmeas (gravidez e lactação, no caso dos
mamíferos), então elas são menos disponíveis para o acasalamento. Consequentemente, o
número de machos disponíveis para o acasalamento sofre um ligeiro aumento, motivando uma
maior competição intra-sexual entre os machos e instaurando-se condições para que as fêmeas
escolham o parceiro para acasalamento (Sousa et al. 2009).
Assim, pode-se afirmar que a seleção sexual é o resultado da relação entre (a) o tempo
que um indivíduo leva para gerar descendência (potencial reprodutivo); (b) razão entre o número
de machos e fêmeas sexualmente ativos num momento e população específicos (razão sexual
operacional); (c) cuidado parental; e por fim, que (d) as relações entre estes fatores determinam os
padrões de escolha e de competição pelos parceiros sexuais (Sousa et al. 2009).
79
Indicar qual sistema de acasalamento se ajusta melhor aos humanos não é uma questão
muito simples de ser respondida e para tanto, as práticas de casamento oferecem algumas
evidências. Todavia, variam muito de uma cultura para outra. Ao longo da vida reprodutiva a
situação humana não é nem poligâmica, menos ainda exclusivamente monogâmica. A
combinação de todos esses fatores torna o efeito da seleção sexual na psicologia do
acasalamento humano um interessante e complexo tema de investigação.
A exposição pré e pós-natal aos hormônios sexuais determinam o dimorfismo sexual
nos humanos (Geary 2006). Contudo, o desenvolvimento dessas diferenças aparece no
período da adolescência (por volta dos 14 - 21 anos), a partir de interações entre a organização
cerebral e o sistema sensorial (percepção e atenção) particular de cada indivíduo durante seu
desenvolvimento infantil, juntamente com a influência de características provenientes dos
ambientes social e ecológico nos quais estão inseridos. Além dos efeitos comportamentais, os
hormônios sexuais são responsáveis também pelo aparecimento das características sexuais
secundárias em ambos os sexos como, por exemplo, a deposição diferenciada dos pêlos, o
desenvolvimento diferencial das mamas e o depósito de gordura na região dos quadris nas
fêmeas humanas (Hrdy 1999). Tendo conhecimento desses fatores, fica mais fácil perceber
que ambos os sexos oferecem contribuições biológicas distintas à sobrevivência de seus
descendentes, por conseguinte também procuram atributos distintos num parceiro potencial.
Embora vários cientistas renomados (Darwin 1871/2005; Wallace 1878; Hamilton 1967; Trivers
1972, entre outros) demonstrassem interesse no “por que” (causas últimas) e “como” (causas
próximas) os contextos ecológico, social e posteriormente cultural influenciam o processo de
escolha de um parceiro na espécie humana, ainda hoje este é um tema em aberto e carente de
estudo, pois cada realidade específica vislumbra apenas um resultado das vastas possibilidades de
combinação entre estes diversos fatores.
80
A escolha conjugal nos humanos, assim como as estratégias sexuais dos indivíduos
são processos multifatoriais decorrentes da história evolutiva da sua própria espécie e da de
seus ancestrais próximos na busca do nível optimum de aptidão reprodutiva possível. Em
relação às mulheres, suas preferências não se dão por apenas um, mas por vários traços
concomitantemente (biológicos, psicológicos e sociais).
Este estudo apresenta dados de uma população que difere substancialmente das
comumente estudadas à luz das teorias evolucionistas. A maioria das populações examinadas
até o presente momento faz parte do ambiente universitário e escolar (crianças, adolescentes e
jovens adultos). Ou seja, mulheres na faixa dos 42 anos de idade, residentes de uma
comunidade de baixa renda e recasadas configuram um “novo” grupo contemplado na
perspectiva teórica em questão.
Além disso, características bastante peculiares foram observadas não apenas na
amostra, mas na maior parte da população feminina desta comunidade litorânea. Por exemplo,
quase a totalidade dessas mulheres evidencia uma estratégia de adiantamento da reprodução
bem como um número elevado de parceiros sexuais, além de relacionamentos extremamente
breves em termos de tempo de duração.
É sabido que quanto mais jovem a mulher destina-se à procriação, melhores são suas
condições biológicas para tal. A maturação dos órgãos reprodutivos nos humanos se dá
aproximadamente entre os 12 e 20 anos de idade, atingindo seu ápice por volta dos 19 aos 32
anos de idade (Papalia & Olds 2000). Até o final do primeiro ano de casamento, a maioria dos
casais do presente estudo já havia gerado ao menos um/a filho/a. Porém, a idade média dessas
mulheres no momento da sua primeira união estável foi de 17 anos e meio de idade,
evidenciando uma situação de maternidade bastante precoce. Em outras palavras, nem bem
haviam completado o desenvolvimento fisiológico do seu aparelho reprodutivo e estas jovens
já estavam dando luz a novos descendentes.
81
Outra particularidade estendida não apenas à amostra, mas à população do local de
pesquisa quase como um todo, é o extenso mero de parceiros sexuais das residentes da
comunidade em questão, somado à breve duração de cada relacionamento. Ou seja,
inicialmente quase todas as mulheres da comunidade seriam contempladas neste aporte
científico uma vez que apresentam um histórico de mais de uma união conjugal ao longo de
sua vida sexual. Porém, quando questionadas sobre o tempo de duração das uniões, raras
respostas continham mais de um ano. Inicialmente esse dado se configurou num problema
metodológico, reduzindo bruscamente o N; pois embora quase a totalidade da população
feminina evidenciasse mais de uma união conjugal - inclusive com descendência direta em
cada uma delas, não chegava ao mínimo do tempo legalmente exigido para ser considerada
estável (mínimo de três anos com descendência direta ou cinco anos sem existência de filhos).
Não configurando o perfil de união estável idealizado para pesquisa, precisaram ser excluídas
do inquérito reduzindo nossa amostra para 33 mulheres dentre as mil famílias às quais a
Unidade Básica de Saúde presta serviços através do programa federal de apoio à Saúde da
Família.
Outra questão relevante: na maioria das sociedades humanas atuais, o status
socioeconômico familiar ainda depende primariamente da posição masculina. Além disso,
sabe-se que o mercado de casamentos, assim como a corte conjugal nas outras espécies de
animais, é governado pela competição por recursos escassos característicos de cada lugar,
época e circunstância; em relação aos humanos, pela sociedade e cultura (Kalmijn 1994) e, é
claro, pelas demandas individuais de cada parceiro. Teoricamente, a diferenciação entre a
compatibilidade cultural e a competição econômica é provocativa para as esposas, pois
competem pelos recursos culturais da mesma forma como pelos recursos econômicos.
DiMaggio e Mohr (1985) propõem que a competição por ambos recursos poderia ser plausível
se o capital cultural pudesse ser convertido em capital econômico através do sistema escolar.
82
Por exemplo, as pessoas devem ter um incentivo para procurar por um parceiro com alto nível
cultural, ou porque isso rende prestígio na sua comunidade, ou porque esse fato auxiliará seus
descendentes diretos a aumentar seu grau de escolaridade, por exemplo.
Dessa maneira pode-se esperar então, que de uma maneira geral, a maioria das
preferências femininas repouse em parceiros conjugais oriundos de status socioeconômico
superior ao seu próprio (Kalmijn 1991, Elder 1960, Mare 1991). Por essa razão, assume-se
que as mulheres são incentivadas à busca de homens com profissões de prestígio (Tyree &
Treas 1974) ou socialmente dominantes (Geary 1998, Weisfeld & Weisfeld 2002).
Contudo, essa amostra revela um padrão um tanto quanto diferente do teoricamente
esperado nas primeiras uniões matrimoniais. Por exemplo, quando avaliada a escolaridade dos
parceiros, a diferença (anos de estudo do marido subtraídos aos da esposa) entre o casal
situou-se em aproximadamente um ano de estudo; no segundo casamento essa diferença não
chegou nem à metade de um ano de estudo ao passo que o ideal de parceiro apresentou uma
média de 8 anos e meio mais do que elas próprias. Outro fato interessante foi quando
analisado o background (status socioeconômico de origem/familiar) dos parceiros.
Surpreendentemente a diferença entre o casal foi menor do que um ano negativo de estudo
dos pais no primeiro casamento, na segunda união este valor ficou em aproximadamente um
ano negativo e com o parceiro ideal, a diferença apresentou-se em nove anos positivos de
estudo. Ou seja, quando o número obtido foi representado por um valor negativo, significa
que a esposa apresenta valores mais elevados que o parceiro, evidenciando uma situação na
qual ela é dotada de recursos mais elevados que o próprio companheiro (hipogamia).
Contudo, o ideal de parceiro tanto na escolaridade quanto no background foi delineado com
valores muito acima dos parceiros reais destas mulheres (hipergamia).
A partir desses dados referentes à comunidade em questão, não é difícil perceber que
trata-se de uma situação na qual as mulheres, mesmo sob circunstâncias entendidas como
83
extremas, continuam demonstrando um padrão de ideal de parceiro oriundo de um status
socioeconômico significativamente aquém do seu próprio; exatamente da mesma forma que a
maioria das mulheres de classe média com elevado grau escolar.
Portanto, por todas essas razões enumeradas nos parágrafos anteriores, o presente
trabalho resultante do estudo da população em questão, inaugura uma nova forma de
compreensão dos padrões de seleção conjugal feminina apontando para um aprofundamento
do estudo de populações semelhantes à estudada, de forma a ampliar o entendimento das
variáveis evolutivas que controlam o comportamento reprodutivo em situações pouco
conhecidas.
84
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