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muito antes. […] Praticada pelos maracatus e pelos..., pelos povos negros que foram
escravizados na..., no..., no período..., no período da escravidão que iam lá porque...,
segundo contam, né? Naquele espaço, era um espaço de reunião de..., de escravizados
como..., assim..., um espaço permitido à manifestação dessas pessoas, né? E aí eles iam lá
se reunir e se reuniam através e..., se reunir para louvar aos seus é..., Orixás, aos seus
deuses e se reuniam através da..., do..., do maracatu, né? Do..., dos..., dos tambores do
maracatu. […] Então, porque..., como eu dizia, no Pátio do Terço era secularmente esse
espaço de encontro e de permissão, não é? Porque aquela igreja, a igreja de..., de..., do...,
do..., do Terço era a igreja onde eles se reuniam pra fazer essa..., esse encontro. E aí em
função dos que se foram, o que ficaram continuaram a fazer essa reverência naquele
espaço que é também um espaço, como você sabe, o Pátio de São de José sempre foi um
reduto negro, né? [...] nasceu no Pátio de São Pedro..., no Pátio de São Pedro, nasceu no
bairro de São José. [...] O Babalorixá Luiz de França morou no Pátio do Terço. Então, é
um espaço que tem um significado muito grande pra essa população que migrou para a
cidade. Que termina se confundindo a história da cidade com a história do povo (Depoente
4).
A Noite é pra celebrar aqueles que já foram. Pelos escravos que já morreram, aqui dentro
do Recife, né? Que vieram, alguns conseguiram né? Sobreviver e outros foram mortos.
[…] Desde pequenininha que eu escuto né? […] 100 anos atrás, na época da finada Badia,
Sinhá, Iaiá, já é da época delas e quando eu cresci, desde que eu me entendi por gente que
existia e eu queria saber o que era. Noite dos Tambores, o que é isso? Será que é um
bocado de tambores tocando? Eu, na minha concepção, e pra mim era na Igreja do Rosário
dos Pretos, […] não sei se era ali. Aí depois que eu me envolvi com o maracatu foi que eu
vim saber, mas já era no Pátio do Terço, não era na Igreja do Rosário dos Pretos como eu
idealizei ser na Igreja do Rosário dos Pretos. Já era ali (Depoente 5).
A Noite dos Tambores Silenciosos pra gente que faz maracatu nação de baque virado é o
ponto culminante do carnaval para os maracatus, ta certo? Porque o correto dela, ela foi
feita com a finalidade de…, é…, louvarmos nossos ancestrais, ta certo? Então acho que na
época que foi feita…, era feita é…, era feita só para aqueles maracatus mesmo, de nação,
de tradição fosse pra lá fazer aquilo na frente da igreja, que era pra ser feita em frente a
Igreja do Rosário dos Homens Pretos, mas acho que ali não tem espaço, então passou a ser
ali, porque ali residia Badia, que era da religião, viveu toda a vida dela ali, então a…,
era…, aquilo ali foi feito com essa finalidade e os grupos levam o principal que são as
calungas, serem levadas pra li porque elas representam nossos ancestrais, e dali era
oficializada aquela cerimônia, onde se cantava, invocavam os eguns na língua yorubá, ta
certo? E depois dali era que saia mesmo para a carnaval propriamente dito, né? Que era
na…, o carnaval forte era na terça-feira, era o último dia. A finalidade dali era totalmente
isso, um ato religioso, aonde se era feita a oficialização daquela cerimônia para os nossos
ancestrais. […] É por isso que eu digo a você, quem fez aquilo ali, naquele intuito de
louvar, depois alguém se apoderou do evento e lançou como se fosse ele que tivesse
jogado, mais eu creio que tenha partido mesmo do pessoal da religião (Depoente 7).
Pra mim é..., é uma coisa que..., é..., como é que se diz..., reafirma, né? Reafirma a nossa
religião ao sagrado, do que sentido? Dos nossos ancestrais, ali, né? Você vê que é um
momento que a gente saúda, vixe Maria, ó pra e ó! (a entrevistada aponta para seu braço,
mostrando-o arrepiado). A nossa ancestralidade, né? Através Oiá e através do maracatu,
porque por baixo daquelas saias, daqueles tambores, tem todo um sacrifício, todo um...,
um..., uma..., um culto, pra no..., tanto pros nossos ancestrais quanto pra Orixás. E ali é
um momento mágico aonde é..., a (...) do terço, né? Afirmou, pra mostrar pro mundo, né?
E pra sociedade que a religião ela é uma cultura também, ela é uma tradição, ela é um
força..., um fortalecimento, eu vejo por esse lado (Depoente 8).
De antemão, é bom deixarmos claro que a Noite dos Tambores Silenciosos não
se trata do mesmo culto aos eguns que são realizados dentro dos terreiros de candomblé, pois
tal ritual é realizado em local específico, culto que Juana Elbein (2008) apresenta
detalhadamente em sua obra intitulada “Os nàgô e a morte”. O que nos é apresentado através