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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Distocia em Vacas e Ovelhas atendidas no Hospital
Veterinário da UnB entre os anos de 2002 e 2009.
FÁBIO HENRIQUE BEZERRA XIMENES
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM SAÚDE ANIMAL
BRASÍLIA/DF
DEZEMBRO/2009
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Distocia em Vacas e Ovelhas atendidas no Hospital
Veterinário da UnB entre os anos de 2002 e 2009.
FÁBIO HENRIQUE BEZERRA XIMENES
ORIENTADOR: PROF. DR. JOSÉ RENATO JUNQUEIRA BORGES
CO-ORIENTADORA: PROFª.DRª.ROBERTA FERRO DE GODOY
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM SAÚDE ANIMAL
BRASÍLIA/DF
DEZEMBRO/2009
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Distocia em Vacas e Ovelhas atendidas no Hospital
Veterinário da UnB entre os anos de 2002 e 2009.
FÁBIO HENRIQUE BEZERRA XIMENES
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE
ANIMAL, COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM SAÚDE ANIMAL
APROVADA POR:
_________________________________________________
JOSÉ RENATO JUNQUEIRA BORGES, PROFESSOR DOUTOR (UNB)
(ORIENTADOR)
_________________________________________________
EDUARDO MAURÍCIO MENDES DE LIMA, PROFESSOR DOUTOR(UNB)
(EXAMINADOR INTERNO)
_________________________________________________
VALENTIM ARABICANO GHELLER, PROFESSOR DOUTOR (UFMG)
(EXAMINADOR EXTERNO)
BRASÍLIA/DF, 18 DE DEZEMBRO DE 2009.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E CATALOGAÇÃO
XIMENES, F.H.B. Distocia em Vacas e Ovelhas atendidas no Hospital Veterinário
da UnB entre os anos de 2002 e 2009. Brasília: Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 2009, 71p. Dissertação de Mestrado.
Documento formal, autorizando reprodução
desta dissertação de mestrado para
empréstimo ou comercialização,
exclusivamente para fins acadêmicos, foi
passado pelo autor à Universidade de Brasília
e acha-se arquivado na Secretaria do
Programa. O autor reserva para si os outros
direitos autorais, de publicação. Nenhuma
parte desta dissertação de mestrado pode ser
reproduzida sem a autorização por escrito do
autor. Citações são estimuladas, desde que
citada a fonte.
FICHA CATALOGRÁFICA
Ximenes, Fábio Henrique Bezerra
Distocia em Vacas e Ovelhas atendidas no
Hospital Veterinário da UnB entre os anos de 2002
e 2009
/ Fábio Henrique Bezerra Ximenes.
orientação de José Renato Junqueira Borges
Brasília, 2009. 71 p. :Il.
Dissertação de Mestrado (M) Universidade de
Brasília/Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária,
2009.
1. Distocias em Grandes Animais domésticos 2.
Cesariana 3. Manobras obstétricas. I. Ximenes,
F.H.B. II. Título.
CDD ou CDU
Agris/FAO
Dedico esse trabalho aos meus pais,
Raimundo Nonato Ximenes e Francisca Bezerra Ximenes
e aos meus irmãos Felipe Bezerra Ximenes e Mariane Bezerra Ximenes
A meu tio José Carlos de Oliveira (in memoriam)
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me permitido aprender e alcançar
tantos obstáculos, me tornando uma pessoa melhor a cada dia.
Agradeço à minha família como um todo, principalmente irmãos, pais e avó, e
tios que sempre se mostraram presentes e os exemplos me fizeram o que sou hoje..
Ao meu amigo, mestre e orientador Prof. Dr. José Renato Junqueira Borges,
agradeço pelo grande apoio e dedicação e por ser o grande mestre que é.
Agradeço à Prof
a
. Dr
a
. Roberta Ferro de Godoy, pela co-orientação, imensa
paciência e apoio, e por ter sido uma grande mestra, muito obrigado.
Aos professores Antônio Raphael Teixeira Neto, Eduardo Maurício Mendes
de Lima, Ricardo Miyasaka de Almeida e Renata Maranhão, agradeço pela
amizade, por fazerem parte dessa minha caminhada e servirem como exemplo na
profissão.
Agradeço aos amigos Mestre Augusto Ricardo Coelho Moscardini, Renato
Fonseca Ferreira II, Francisco José Oliveira, Ceci Ribeiro Leite, Liana Villela de
Gouvêa, Ana Maria Guerreiro Braga da Silva, Cínthia Beatriz, Júlia Moraes, Antônio
Carlos Lopes Câmara, Luíz Fernando Varanda, Mariana Damazio Rajão, Ana
Lourdes Arrais e Ernane de Paiva pela amizade, companherismo e dedicação.
Agradeço aos meus amigos que apesar de estarem longe, sempre se
mostraram presentes, Gustavo Caram Stratievsky, Monique Yvonne Sourisseau,
Daniella Figueiredo Guerreiro, Lyvia Santos Victor e Raphael Rodrigues Zerrener.
Agradeço aos meus alunos da UNIDESC pela oportunidade de aprender com
eles durante este curto período que passamos juntos. Meu muito obrigado. Espero
ter conseguido compartilhar com vocês um pouco do que eu sei de Farmacologia e
Terapêutica Veterinária.
Por fim agradeço a todos os funcionários do HVETÃO por terem tornado este
ambiente tão agradável ao nosso convívio diário.
BIOGRAFIA
Fábio Henrique Bezerra Ximenes, nascido na cidade do Rio de Janeiro no
ano de 1983, graduou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do
Norte Fluminense no ano de 2006. Em fevereiro do mesmo ano ingressou no
programa de Residência pela Universidade de Brasília, recendo no mês de março
de 2009 o título de especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais. Durante
a graduação teve a oportunidade de atuar nas áreas de microbiologia e
parasitologia na qualidade de bolsista de iniciação científica. Desenvolvendo sua
monografia com teste de eficácia de antihelmínticos em bezerros.
Durante o ano de 2009 atuou como veterinário contratado do Hospital-Escola
de Grandes Animais da Granja do Torto UnB/SEAPA, onde durante o mesmo
período cursou o programa de mestrado em Saúde Animal da instituição.
O futuro tem muitos nomes.
Para os fracos é o inalcansável.
Para os temerosos, o desconhecido.
Para os valentes é a oportunidade”
Vitor Hugo
SUMÁRIO
Página
RESUMO
1
ABSTRACT 2
CAPÍTULO I 3
Introdução
3
Objetivo 4
Referencial teórico
4
Referências 37
CAPÍTULO II 41
Introdução 41
Material e Métodos 42
Resultados e Discussão 42
Conclusões 47
Referências 47
CAPÍTULO III 50
Introdução 50
Material e Métodos 51
Resultados e Discussão 51
Conclusões 55
Referências 55
CAPÍTULO IV 58
Considerações finais 58
ANEXO I – Figuras x
ANEXO II – Ficha de atendimento Obstétrico xii
RESUMO
Com o objetivo de realizar um estudo dos casos de Distocia em vacas e ovelhas
atendidas no Hospital Veterinário de Grandes Animais da Granja do Torto,
UnB/SEAPA, foram analisadas 119 fichas clínicas, entre o s de Janeiro de 2002
e Novembro de 2009. Os casos foram separados por espécies (Bovina e Ovina) e
os dados foram analisados segundo estatística descritiva. Dentre os parâmetros
analisados considerou-se a época do ano, tipo de distocia (Materna ou fetal), idade
da mea, sexo do feto e tipo de procedimento utilizado para correção da distocia
(tração, fetotomia, manobra obstétrica e viabilidade do feto e da parturiente). Dentre
os dados avaliados, foram utilizados 62 (52,1%) bovinos e 57 (47,9%) ovinos. Das
distocias bovinas, 48 (77,42%) eram de origem fetal, 12 (19,35%) de origem
materna e 2 (3,22%) não havia indicação da origem. Os tratamentos realizados
foram 7 (11,3%) manobras obstétricas, 13 (20,97%) fetotomias parciais e 1
fetotomia total (1,61%). Em 28 (45,16%) animais foram realizados laparotomia via
fossa para-lombar ou para-mamária para realização de cesariana. Os fetos
encontravam-se mortos em sua maioria. As ovelhas foram acometidas em sua
maior parte por distocias de origem materna (67,39%), oriundas principalmente de
toxemia da gestação (37,5%), e a maior parte foi submetida à Cirurgia de
laparotomia via fossa para-lombar esquerda para Cesariana (76,36%). A principal
causa de distocias identificada na espécie bovina foi o mal posicionamento fetal,
seguido de desproporção feto-pélvica, na espécie ovina houve um destaque para
toxemia da gestação seguido por dilatação insuficiente da via fetal mole. Em ambas
as espécies estudadas o procedimento de cesariana foi de fundamental importância
para o tratamento das distocias, seguido por fetotomia e tração na espécie bovina e
manobras obstétricas de correção de estática fetal e tração na espécie ovina.
PALAVRAS-CHAVES: cesariana, fetotomia, manobras obstétricas, parto distócico,
toxemia da gestação
ABSTRACT
In order to conduct a study of cases of dystocia in cattle and sheep at the Large
Animal Veterinary Hospital of UnB/SEAPA, we analyzed 119 medical records,
between the months January 2002 and November 2009. The cases were separated
by species (cattle and sheep) and the data analyzed using descriptive statistics.
Among the parameters analyzed we considered the time of year, type of dystocia
(maternal or fetal), age of the female, sex of the fetus, the procedure used for
correction of dystocia (traction, fetotomy, obstetrical maneuver) and the fetus and
mother’s viability. Among the evaluated data were used 62 (52.1%) cattle and 57
(47.9%) sheep. Among cattle dystocias, 48 (77.42%) were of fetal origin, 12
(19.35%) of maternal origin and in 2 (3.22%) there was no indication of origin. The
treatments performed were 7 (11.3%) obstetrical maneuvers, 13 (20.97%) partial
fetotomies and 1 complete fetotomy (1.61%). In 28 (45.16%) animals was performed
flank or paramammary laparotomy for cesarean section. The fetuses were dead in
most cases. The sheep were affected mostly by dystocias of maternal origin
(67.39%), primarily caused by pregnancy toxemia (37.5%), and most underwent
laparotomy via left flank for cesarean section (76.36%). The main cause of dystocia
identified in bovines was fetal malposition, followed by fetal-pelvic disproportion. In
sheep was a highlight for pregnancy toxemia followed by insufficient dilatation of soft
delivery route. In both species the procedure of cesarean section was of major
importance for the treatment of dystocia, followed by fetotomy and traction in cattle
and obstetric maneuvers of static correction and traction in fetal sheep.
KEYWORDS: cesarean section, dystocia, fetotomy, obstetrical maneuvers,
pregnancy toxemia
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, segundo dados do
IBGE (IBGE, 2009). Neste cenário o Centro-oeste contribui com uma parcela
significante deste total. Dados de 2005 do MAPA apresentam uma população de
71,985 mil cabeças de bovinos e uma produção de 3,778 milhões de litros de leite,
demonstrando a importância desta região no cenário mundial da pecuária bovina e
mercado de carne e leite (MAPA, 2009).
Outro dado importante refere-se ao aumento da produção de ovinos que
segundo dados do MAPA era de 393 mil cabeças em 1990 e passou para 937 mil
em 2005, no centro-oeste. Em relação ao Distrito Federal observou-se um salto de 3
mil cabeças em 1990 para 16 mil em 2005, refletindo assim a importância que a
ovinocultura tem assumido nesta região (MAPA, 2009).
O termo distocia é utilizado na linguagem obstétrica para designar as
dificuldades encontradas na evolução do parto. As distocias podem determinar
perdas econômicas consideráveis, com diminuição da produção leiteira, mortalidade
de vacas e de bezerros, e a infertilidade. De todas as espécies animais, a espécie
bovina é, sem dúvida, a que mais apresenta distocias. As causas mais freqüentes
de partos distócicos estão relacionadas com a desproporção feto-pélvica e com o
posicionamento fetal no conduto lvico materno (ROBERTS, 1971; DERIVAUX;
ECTORS, 1984; DEMATAWEWA; BERGER, 1997; JOHANSON; BERGER, 2003).
No Rio Grande do Sul e em São Paulo, as distocias foram a segunda
causa de mortalidade de cordeiros, variando entre 10 e 22%, sendo o alto peso ao
nascimento o principal fator. No Nordeste 10% dos cordeiros e 12,71% dos cabritos
nascidos, morreram por distocia. (RIET-CORREA, 2007). Outros autores afirmam
que a mortalidade de borregos constitui a maior fonte de perdas na ovinocultura
mundial, com 60% das mortes perinatais atribuídas a um nascimento muito
estressante (CLOETE, 1997; SCOTT & GESSERT, 1996).
Um exame clínico minucioso e alicerçado em sólidos conhecimentos de
anatomia, fisiologia, semiologia e patologia do parto e do puerpério são
fundamentais para que o Médico Veterinário domine alguns métodos de exploração
e, assim, possa estabelecer um diagnóstico, avaliar o prognóstico e providenciar o
auxílio obstétrico adequado (DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT; BIRGEL,
1989).
O presente estudo é dividido em 4 capítulos, sendo no primeiro apresentada
uma breve introdução, objetivos e o referencial teórico, no capítulo 2 faz-se
referência ao estudo retrospectivo das distocias na espécie bovina, o capítulo 3 nas
ovelhas, e o quarto acerca das considerações finais.
OBJETIVOS
Realizar um estudo retrospectivo dos casos de distocia atendidos na rotina do
Hospital Veterinário de Grandes Animais UnB/SEAPA durante os anos de 2002 a
2009, em bovinos e ovinos, identificando os principais procedimentos para correção
desta afecção, bem como os tipos mais comuns e suas causas, comparando os
resultados aqui obtidos com os de outros pesquisadores nacionais e de outros
países.
REFERENCIAL TEÓRICO
Anatomia das vias fetais
Via fetal óssea (pelve)
A palavra pelve é derivada do latim pelvis, que significa bacia. É um
complexo osteoligamentoso de funções múltiplas de interesse particular na
obstetrícia. O conhecimento da estrutura da pelve e de sua conformação é
indispensável ao obstetra. A pelve possibilita a função de cópula e do parto, além de
proteger as vísceras pélvicas como: reto, vagina, corpo e cornos uterinos, tubas
uterinas e ovários, bexiga, ureteres e uretra (ROBERTS, 1971; DERIVAUX;
ECTORS, 1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993).
A forma da pelve é uma característica morfológica específica, que pode,
dependendo da espécie, facilitar ou dificultar o desenvolvimento do parto. A
cavidade pélvica tem um formato de cone, com a base (maior diâmetro) localizada
cranialmente e seu ápice (menor diâmetro) voltado caudalmente. Nos bovinos
(Figura 1), a abertura pélvica é comprimida lateralmente, com forma ovalada, sendo
o assoalho da cavidade côncavo e mais elevado caudamente, o que dificulta o parto
e o torna mais demorado. a pelve das ovelhas, apesar de muito semelhantes a
das vacas na forma de entrada, apresentam as asas do íleo mais paralelas e a
tuberosidade ilíaca muito menor (Figura 2) (ROBERTS, 1971; GRUNERT; BIRGEL,
1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Classificação da pelve
A pelve dos ruminantes e suínos é classificada como dolicopélvica, por
apresentar a face cranial em forma oval, achatada lateralmente, o ísquio arqueado
ventralmente em sua extremidade caudal e o diâmetro sacro-púbico maior que o bi-
ilíaco (TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Figura 1 – Pelve da vaca
.
Figura 2 – Pelve da ovelha.
Embora a pelve seja uma estrutura rígida, próximo ao parto, sob ação
hormonal (estrógenos e relaxina), ocorre ampliação do seu diâmetro interno, devido
ao afrouxamento dos ligamentos pélvicos, deslocamento dorsal do sacro e lateral
dos ílios, além da abertura da sínfise púbica, indicando a proximidade do parto. É a
dilatação da pelve e o relaxamento dos ligamentos pélvicos que, juntamente com o
deslocamento e realinhamento do feto, torna o parto possível (ROBERTS, 1971;
TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Ossos da pelve
A pelve óssea é composta pelo sacro, primeira a terceira vértebras coccígeas
e o quadril, formados pelo ílio, ísquio e púbis. A fusão do ílio, ísquio e púbis formam
o acetábulo, que se articula à cabeça do fêmur e a união dos quadris ocorre na
sínfise pubiana. A sínfise pubiana, devido à sua pronunciada curvatura, pode
lesionar a mucosa vaginal e constituir um obstáculo no momento do parto,
principalmente em primíparas (ROBERTS, 1971; DERIVAUX; ECTORS, 1984).
Ligamentos da pelve
A relação entre a pelve e a coluna espinhal é mantida por três grupos de
ligamentos. O primeiro grupo é formado pelo ligamento sacro-isquiático, que
completa a parede lateral da cavidade pélvica, ocupando o vazio que existe entre o
sacro e a tuberosidade coxal, e fixa os músculos do glúteo e vulva. O segundo
grupo é composto pelo tendão pré-púbico que é o tendão dos músculos abdominais
retos e transversos e forma uma depressão no bordo anterior do púbis, onde se
insere. O tendão pré-púbico é importante para fixar a articulação sacro-ilíaca e
manter a pelve óssea na posição apropriada. O terceiro grupo de ligamentos é
formado pelos ligamentos sacro-ilíacos dorsal e lateral que são suportados pelos
ligamentos sacro-isquiático e tendão pré-púbico (ROBERTS, 1971; DERIVAUX;
ECTORS, 1984). Conforme Godinho et al (1985), os ruminantes domésticos têm
como articulações em sua pelve o ligamentos sacroilíaco ventral e sacrotuberal.
Articulações da pelve
As articulações da pelve são divididas em intrínsecas e extrínsecas. Dentre
as intrínsecas têm-se a sacro-ilíaca, uma articulação sinovial plana fixada pelos
ligamentos sacro-ilíacos dorsais e ventrais. É a ligação da pelve com a coluna
vertebral, sendo importante para a biomecânica do parto e locomoção. Outra
articulação intrínseca é a do acetábulo, que transmite as forças do peso corpóreo
aos membros pélvicos e absorve a tração desses membros para o corpo. a
sínfise ísquio-púbica, devido à sua posição medial, atua dissipando as forças da
pelve e dos membros lvicos. Essa articulação pode ossificar completamente ao
redor dos quatro a cinco anos de idade. As articulações sacro-coccígeas e inter-
coccígeas (as três primeiras vértebras coccígeas) também o classificadas como
articulações intrínsecas da pelve. As articulações extrínsecas da pelve são a coxo-
femural e a lombo-sacra, que resulta no arqueamento da coluna vertebral, o que
facilita a insinuação do feto, por ocasião do parto (DERIVAUX; ECTORS, 1984;
TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Pelvimetria
A pelvimetria tem como objetivo determinar as dimensões da pelve, o que
permite prever as dificuldades do parto e, assim, tomar todas as medidas para evitá-
las. No estudo da pelvimetria duas medidas são fundamentais para a avaliação e
classificação dos tipos pélvicos: o diâmetro sacro-púbico e o diâmetro bi-ilíaco, que
pode ser dividido em superior e inferior. Esses diâmetros variam conforme raça,
idade e tamanho do animal. A vaca, assim como a porca, tem a passagem da pelve
com a forma mais elíptica quando comparada com as demais espécies domésticas.
O diâmetro sacro-púbico varia de 19,0 a 24,1 centímetros e o diâmetro bi-ilíaco varia
de 14,6 a 19,0 centímetros (ROBERTS, 1971; DERIVAUX; ECTORS, 1984;
OLIVEIRA; BOMBONATO; BALIEIRO, 2003).
Na pelvimetria direta é possível, por palpação retal, avaliar o grau de abertura
da pelve utilizando a mão ou, através de alguns instrumentos introduzidos por via
retal, como o compasso de Menissier-Vissac (Figura 3) ou de Rice, avaliar de forma
exata os diâmetros sacro-púbico e bi-ilíaco. Este método permite evidenciar atresia
pélvica e lesões ósseas que possam modificar a forma ou dimensão da pelve. A
pelvimetria indireta se baseia no princípio de que uma relação entre a abertura
pélvica e outras dimensões corporais tais como: altura do animal, conformação da
garupa, distância entre os ângulos do quadril e distância coxo-femoral. Estudos
recentes vêm demonstrando uma correlação significativa entre diâmetro do casco,
peso ao nascer dos bezerros e as medidas pélvicas da vaca, para estabelecer um
escore da dificuldade de parto. (DERIVAUX; ECTORS, 1984; JOHANSON;
BERGER, 2003).
Figura 3 – Compasso de Menissier-Vissac
Fonte: Adaptado de DERIVAUX & ECTORS, 1984.
Órgãos genitais da fêmea
A via fetal mole é constituída pela cérvix, vagina, vestíbulo da vagina e vulva.
A vulva, o anel himenal e a cérvix são três pontos críticos que podem constituir
obstáculos à passagem do feto e dificultar a parição. A cérvix, um esfíncter muscular
tubular forte tem ao redor de cinco a dez centímetros de comprimento e 1,5 a sete
centímetros de diâmetro na vaca e aproximadamente 2,5 a 5,0 cm de comprimento
na ovelha. A dilatação da cérvix, difícil de ser realizada manualmente, ocorre
durante o estro. A vagina é uma estrutura muscular capaz de sofrer uma grande
dilatação. Seu tamanho varia de 25 a 30 centímetros numa vaca não prenhe e 7,5 a
10 cm na ovelha (ROBERTS, 1971; GRUNERT; BIRGEL, 1989; GRUNERT, 1993).
Além dos órgãos que constituem a via fetal mole, existem os demais órgãos
reprodutivos da fêmea tais como os ovários, as tubas uterinas e o útero. A forma e
dimensão destes órgãos variam segundo a raça, idade, momento do ciclo e se o
animal está ou não prenhe. A circulação arterial do aparato genital é proporcionada
por três artérias principais; útero-ovárica, uterina e vaginal (ROBERTS, 1971).
Estática fetal
As relações entre as várias partes do feto e da mãe são descritas através da
apresentação, posição e atitude do feto. No momento do parto, os fetos podem
apresentar inúmeras combinações destes fatores que devem ser estudadas e
classificadas antes de empreender-se em qualquer auxílio obstétrico (PRESTES,
2006a).
Apresentação
A apresentação do feto é a relação de sua coluna vertebral com a da mãe, ou
seja, é a relação entre os eixos longitudinais. Podem ocorrer a apresentação
longitudinal, transversal e vertical. Na apresentação longitudinal a coluna do feto
encontra-se paralela à coluna da mãe e pode ser anterior, quando os membros
anteriores e cabeça do feto se insinuam na via fetal mole, ou posterior, quando os
membros posteriores do feto se insinuam na via fetal mole. Na apresentação
transversal a relação dos eixos feto-maternal é transversal, podendo ocorrer a
apresentação transversal dorsal, onde as porções dorsais do feto tentam se insinuar
na via fetal mole, ou a apresentação transversal ventral, quando os quatro membros
e as porções ventrais do feto se insinuam na via fetal mole. A apresentação vertical,
que ocorre quando o eixo longitudinal é perpendicular à coluna vertebral materna,
pode variar entre dorsal e ventral (GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO;
VICENTE, 1993).
Posição
A posição fetal no momento do parto consiste na relação que existe entre o
dorso materno e o dorso fetal. A posição superior é aquela em que o dorso do feto
se relaciona com as porções dorsais maternas enquanto na posição inferior, o dorso
do feto se relaciona com as porções abdominais ventrais da mãe. na posição
lateral, direita ou esquerda, o dorso do feto se relaciona com a parede lateral do
abdômen materno. A posição do feto na cavidade uterina depende exclusivamente
da tonicidade da musculatura uterina. Nos bovinos, ao redor do 8° mês de gestação,
inicia-se a preparação do parto e o feto, que no início da gestação tinha
apresentação posterior e posição lateral, sofre, em 95 % dos casos, uma rotação
passando a ter uma apresentação longitudinal anterior e posição superior. Se após
este período não ocorrer a movimentação fetal, os membros anteriores do feto
poderão penetrar na extremidade do corno uterino, impossibilitando modificações de
apresentação, resultando numa distocia fetal com apresentação longitudinal
posterior (GRUNERT, 1993; TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Atitude
Atitude é o relacionamento existente entre segmentos das extremidades
fetais e pode ser classificada estendida, quando o feto insinua-se com os membros
estendidos, ou flexionada, quando o feto se insinuar com flexões de membros ou da
cabeça. A estática fetal fisiológica está representada na Figura 4 (GRUNERT;
BIRGEL, 1989).
Figura 4 – Estática fetal fisiológica: apresentação
longitudinal anterior, posição superior e atitude estendida.
Fonte: ROBERTS, 1971.
Parto fisiológico ou eutócico
A palavra parto tem origem do latim partu, que significa o ato ou efeito de
partir. É o conjunto de eventos fisiológicos que conduzem o útero a expulsar o feto a
termo e seus anexos. No desenvolvimento de um parto normal, há a interação de
inúmeros fatores, principalmente de origem neuro-endócrina, que acarretam
modificações morfológicas e funcionais da fêmea gestante e do feto. O parto, na
vaca, deve durar entre 12 a 14 horas e, no máximo, 24 horas, pois caso contrário,
poderá ocorrer a morte do feto, sua desintegração e a involução da via fetal mole
(TONIOLLO; VICENTE, 1993). No momento do parto, as ovelhas e cabras podem
demonstrar inapetência, distúrbios da ruminação, defecam e urinam com maior
freqüência, podem isolar-se do grupo e uma expulsão pode ocorrer tanto de dia
quanto à noite, durando em média 1 hora, e o intervalo de nascimento dos produtos
nas gestações duplas ou triplas varia de 15 a 30 minutos (PRESTES, 2006a)
Desencadeamento do parto
O estresse do pré-parto induz o hipotálamo fetal a liberar o fator liberador do
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH-RF), que por sua vez atua na adenohipófise,
liberando o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), responsável por estimular o
córtex da glândula adrenal a sintetizar o cortisol. A elevação do nível circulante
deste hormônio diminui o nível de progesterona e aumenta o do estrógeno,
desencadeando a maior produção de prostaglandina pelo endométrio. A
prostaglandina, além de causar luteólise, estimula a atividade contrátil do miométrio,
preparada previamente pelo estrógeno e relaxina, resultando em descarga reflexa
de ocitocina e desencadeando o Reflexo de Ferguson que, juntamente com as
contrações abdominais, é responsável pela expulsão fetal (KINDAHL;
KORNMATITSUK; GUSTAFSSON, 2004; LANDIM-ALVARENGA, 2006c).
Na ovelha a concentração de estrógenos na circulação periférica permanece
baixa durante a gestação. Alguns dias antes do parto, os níveis começam a
aumentar atingindo 400 pg/ml no momento do parto, seguido de um rápido declínio
(LANDIM-ALVARENGA, 2006c).
Fases do parto
Fase prodrômica ou de preparação do parto
Por ão da relaxina, ocorrem mudanças bioquímicas nos índices de
glicosaminoglicanas e colágeno, levando ao relaxamento da sínfise púbica e
ligamentos pélvicos à partir de duas semanas, mas mais acentuadamente 24 a 48
horas, antes do parto. O afrouxamento das articulações e ligamentos da pelve,
particularmente da articulação sacro-ilíaca e dos ligamentos sacro-isquiáticos,
devido aos níveis de relaxina e estrógenos, modifica o andar do animal. O edema da
vulva se acentua e se associa ao edema e hiperemia da mucosa vaginal e, por
palpação retal, percebe-se aumento da espessura da cérvix, cujo tampão mucoso
se liquefaz. No dia anterior ao parto, percebe-se fluxo vaginal mucoso e aumento da
vulva. Ocorre diminuição da temperatura corpórea de 0,5 a 1,0°C, 12 a 36 horas
antes do parto, provavelmente em resposta ao declíneo dos níveis de progesterona,
que é termogênica. Também ocorre modificação da secreção da glândula mamária,
de aquosa ou viscosa para abundante secreção de colostro, com preenchimento
das cisternas do teto. Os sinais comportamentais no pré-parto são diversos,
podendo ocorrer isolamento, anorexia, inquietação, ansiedade e outros (FRASER,
1968; TONIOLLO; VICENTE, 1993; AOKI; KIMURA; SUZUKI, 2005; LANDIM-
ALVARENGA, 2006b; LANDIM-ALVARENGA, 2006c; SHAH; NAKAO; KUBOTA,
2006).
Fase de dilatação da via fetal
Esta fase, também denominada fase de insinuação, tem início com as
contrações uterinas e prolonga-se até o rompimento das bolsas fetais,
desenvolvendo-se entre 6 a 16 horas. Inicia-se a dilatação da cérvix, por diminuição
do tônus das fibras musculares lisas, e o aparecimento das contrações uterinas com
conseqüente insinuação das bolsas fetais, abrindo completamente a via fetal mole.
O canal cervical tem dilatação de 5 a 7 centímetros. Após o rompimento da
membrana coriônica, que é pouco elástica, ocorre exteriorização da bolsa
alantoidiana seguida pelo saco amniótico, podendo perceber-se a insinuação dos
membros do bezerro em seu interior. As primeiras contrações uterinas são
irregulares e pouco intensas, mas depois apresentam uma coordenação de
contrações do miométrio tornando-se rítmicas e enérgicas. Para se alcançar
dilatação plena do canal cervical, são necessárias, em condições normais, cerca de
80 contrações num período de 200 minutos. A contração uterina é controlada pelo
sistema neuro-endócrino (GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993;
LANDIM-ALVARENGA, 2006c).
Fase de expulsão
Esta fase inicia-se com o rompimento das bolsas fetais e completa-se no
nascimento do feto. Na via fetal mole, o feto estimula receptores nervosos da porção
dorsal da vagina, que levam estes estímulos, através do nervo pudendo, aos
centros motores da medula espinhal, elevando o nível sanguíneo de ocitocina. A
insinuação do feto na via fetal mole desencadeia o reflexo de contração da
musculatura abdominal, denominado Reflexo de Ferguson. A associação da
contração uterina e abdominal resultam na expulsão fetal. A cada contração o feto
adianta-se um a dois centímetros na via fetal. Essa fase tem duração de uma a três
horas, podendo chegar até quatro a seis horas em primíparas (GRUNERT; BIRGEL,
1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993; LANDIM-ALVARENGA, 2006c).
Condução do parto e auxílio no parto normal
Para orientação ou auxílio em partos recomenda-se a maior higiene possível,
um exame minucioso que permita um diagnóstico obstétrico preciso e,
conseqüentemente, um tratamento bem planejado, evitando-se traumatismos.
Embora a intervenção seja feita geralmente após a ruptura das bolsas fetais, é
conveniente intervir antes disso se o atraso na ruptura exceder seis horas e se for
verificado abertura total da via fetal mole sem estreitamento pélvico, ou se
ocorreu morte fetal. Os auxílios necessários durante o desenvolvimento de um parto
normal se restringem à leve tração dos membros, realizada com auxílio das mãos,
correntes obstétricas ou cordas, proteção ao períneo, realizada com ambas as mãos
espalmadas pressionando a região entre vulva e ânus e a liberação do recém-
nascido dos envoltórios fetais, pois, freqüentemente, oclusão das vias
respiratórias com possibilidade de asfixia (GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO;
VICENTE, 1993; LANDIM-ALVARENGA, 2006c).
Indução do parto
Para a implantação de programas de indução e sincronização de partos é
primordial uma escrituração zootécnica organizada e confiável. A indução de parto
racionaliza o tempo e a mão-de-obra gastos na observação de parturientes, permite
melhor assistência obstétrica e neonatal e aumenta a eficiência de produção,
reduzindo o intervalo entre partos. As desvantagens da indução de parto são a
possível imaturidade do bezerro, a retenção de placenta e a diminuição da produção
de leite. A indução do parto antes de 270 dias de gestação resultará no nascimento
de um produto pequeno, fraco e pouco viável, devendo ser realizada, apenas a
partir de duas semanas antes da previsão do parto (GRUNERT, 1993; TONIOLLO;
VICENTE, 1993;).
No último mês de gestação, tanto a PGF2α, como os glicocorticóides podem
induzir o abortamento ou parto. No entanto, se a unidade fetoplacentária não estiver
em pleno funcionamento, como em casos de mumificação ou maceração fetal, os
glicocorticóides não funcionam e as prostaglandinas passam a ser mais eficiente
para este objetivo. Em 80% dos casos, a finalização da gestação ocorre em dois a
quatro dias. Os estrógenos também podem ser utilizados para indução do parto por
causar luteólise. Devido à sua influência sobre a contratilidade uterina, a xilazina
pode induzir o nascimento prematuro em animais em estado de gestação adiantado
a menos que seja acompanhada da administração prévia de cloridrato de
isoxsuprina, que provoca relaxamento uterino (STÖBER, 1993b; KASK et al., 2000;
KORNMATITSUK et al., 2002; LANDIM-ALVARENGA; PRESTES; FERNANDES,
2006).
A indução do parto em ovelhas aumenta a eficiência de produção, reduzindo
o intervalo entre partos, não aumentando significativamente a produção de leite e
diminuindo a necessidade de supervisão durante a gestação (LANDIM-
ALVARENGA, 2006). A indução deve ser realizada após 137 dias de gestação,
utilizando-se dexametasona na dose 15 a 20 mg/Kg, por via intramuscular, porém, a
chance de sobrevivência do cordeiro é maior quando se procede à indução uma
semana antes da data estimada do parto. Espera-se a expulsão da cria dentro de 36
a 48 horas após a injeção (PUGH, 2005). A partir de determinado período de
gestação, o progestágenos deixam de ser produzidos exclusivamente pelo corpo
lúteo e passam a ser produzidos pela placenta, portanto a administração de PGF2α
não causará a queda da P4 e indução do parto (LANDIM-ALVARENGA, 2006).
Parto patológico ou distocia
A disseminação das biotécnicas da reprodução permitiu a formação de
rebanhos de alto potencial genético e de grande produção, aumentando o valor,
econômico, genético e social desses animais. Conservar a saúde destes animais e
de seus produtos constitui responsabilidade direta do Médico Veterinário, que deve
sempre ter em mente que um dos objetivos fundamentais da profissão é a
manutenção da vida, perfeita procriação dos animais domésticos, resultando em
aproveitamento econômico adequado da pecuária (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
A palavra distocia é oriunda do grego dys, que significa difícil e tokos, que
significa nascimento. A distocia é definida como uma dificuldade de nascer ou
inabilidade materna em expelir o feto pelo canal do parto sem assistência. Em um
levantamento realizado por Johanson e Berger, em 2003, em 4528 partos em
bovinos, a incidência de distocia foi de 23,7% e em 615 atendimentos de 2001 a
2009 no HVET- UnB 57 (9,27%) foram distocias. É necessário um exame clínico
minucioso para estabelecer diagnóstico, prognóstico e providenciar auxílio
obstétrico mais adequado (TONIOLLO; VICENTE, 1993, DEMATAWEWA;
BERGER, 1997; PRESTES, 2006a).
Exame obstétrico do parto
Identificação
Na identificação são considerados dados particulares como espécie, raça,
peso, pelagem, marcas de identificação, sexo e idade (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Anamnese
Na anamnese devem-se buscar informações a respeito do número e
desenvolvimento dos partos anteriores, tempo de gestação, sinais de parto iminente
e contrações da musculatura abdominal. Além disso, deve-se saber se houve
rompimento das bolsas fetais, se corrimento vaginal e quais atendimentos
obstétricos já foram realizados (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Exame geral da parturiente
Deve-se a avaliar a condição, atitude, estado geral e funções vitais da
parturiente tais como: características da respiração, batimentos cardíacos,
freqüência e energia dos movimentos rumenais e temperatura (GRUNERT;
BIRGEL, 1989).
Exame externo específico
Inspeção
O abdômen deve ser inspecionado quanto a sua forma, volume, presença de
contrações abdominais e movimentos fetais. A pelve deve ter seu tamanho
(diâmetros transversais), inclinação e simetria dos ligamentos sacro-ilíacos
avaliados enquanto deve-se, na vulva, inspecionar volume, forma, posição,
coloração, cicatrizes, aspecto da superfície, particularidades da rima vulvar
(ferimentos, bolsas ou partes fetais, neoformações, prolapso vaginal ou uterino) e
corrimentos (quantidade, coloração, consistência e odor). A inspeção da glândula
mamária inclui avaliação do volume, forma, edemas, condição de preparo para a
nova lactação (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Palpação
Na palpação do abdômen deve-se avaliar a tensão e movimentos fetais. A
palpação da pelve permite averiguar o afrouxamento dos ligamentos e à palpação
da vulva se pesquisa a presença de edema, hematoma, ferimentos, enfisema e
cicatrizes. A palpação da glândula mamária permite avaliar a condição de ordenha,
edema, aumento de consistência e processos inflamatórios agudos (GRUNERT;
BIRGEL, 1989).
O obstetra deve constantemente estar ciente da fragilidade potencialmente
extrema do útero ovino. Os exames e as manipulações internas devem sempre ser
feitos com muito cuidado. O trato genital da ovelha é bem susceptível à infecção. Os
maiores padrões de higiene e limpeza devem ser praticados em todos os momentos
(JACKSON, 2006).
Exame interno específico
O exame interno específico das vias fetais inclui a avaliação de seu grau de
abertura e largura, condições de lubrificação e elasticidade da mucosa, ferimentos,
diminuição do diâmetro, anomalias da via fetal mole e exame da via fetal óssea.
Deve-se examinar as condições das bolsas fetais, se estão intactas ou rompidas, o
aspecto das membranas e dos líquido fetais (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Condições do feto
No exame das condições do feto avalia-se, de uma maneira geral, seu
tamanho, apresentação, posição, atitude, sinais de vida e malformações. Para
obter-se sucesso no auxílio obstétrico é essencial o reconhecimento das partes
fetais. Deve-se proceder a diferenciação dos membros anteriores e posteriores,
principalmente em casos de apresentação transverso-ventral com insinuação dos
quatro membros e nos partos gemelares, comuns em ovelhas, onde pode se
apresentar um membro anterior de um feto e o posterior de outro. No membro
anterior as articulações cárpica e metacarpo-falangeana (boleto) dobram-se na
mesma direção e no membro posterior as articulações similares flexionam-se em
sentidos opostos. A posição da cabeça é reconhecida pela boca, narinas, olhos e
orelhas. Caso a cabeça esteja virada, pode palpar-se os anéis traqueais. A pelve e
a região posterior são evidenciadas pela palpação da cauda, ossos da pelve,
articulação coxo-femural e bolsa escrotal. A coluna é reconhecida pelas
protuberâncias das vértebras, a parede torácica pelas costelas e pelo esterno e o
cordão umbilical é facilmente evidenciado (GRUNERT, 1993).
No exame preliminar, a presença de mais de um feto deve ser levada em
conta no auxílio obstétrico. Nas gestações gemelares, na maioria dos casos, o
primeiro feto a se insinuar é de pequeno tamanho e tem apresentação posterior. O
tamanho do feto pode ser avaliado em termos absolutos e relativos. Um feto é
grande em termos absolutos quando o seu peso e comprimento forem maiores que
a média da raça e, em termos relativos, quando seu volume e peso forem normais e
a pelve ou via fetal mole materna for estreita para um parto espontâneo. A avaliação
da vida do feto é fundamental para a escolha do auxílio obstétrico, pois a cesariana,
em geral, é indicada em distocias com feto vivo e a fetotomia em fetos mortos. A
condição das bolsas fetais também influencia nesta decisão, pois os fetos dos
ruminantes sobrevivem por quatro a 10 horas após seu rompimento. Isso se deve à
anatomia da placenta ser cotiledonária, não se destacando das carúnculas uterinas
imediatamente (PRESTES, 2006). A vida do feto, no momento do parto, é avaliada
através de movimentos espontâneos, perceptíveis à inspeção dos membros
insinuados pela abertura vulvar, e por movimentos provocados, denominados
reflexos (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Na apresentação anterior a vida do feto pode ser avaliada pelo beliscamento
do espaço interdigital e pressão ou torção dos cascos (reflexo podal), que
determinam reflexo de flexão dos membros. Além disso, a pressão do globo ocular
(reflexo ocular) faz o feto movimentar-se e a introdução de um dedo na boca do feto
resulta em reflexo de sucção. A tração da língua determina a movimentação do feto.
Na apresentação posterior realiza-se o reflexo podal, o reflexo anal, pela introdução
de um dedo no ânus, que determina contração deste esfíncter e o reflexo testicular,
que resulta em movimentação do feto. A palpação e pressão do cordão umbilical:
permite perceber pulsação e agitação do feto. A ausência desses reflexos pode
sinalizar a morte do feto. Quando a morte fetal ocorreu certo tempo nota-se
sinais de maceração e enfisema como odor desagradável, destacamento dos los
e dos apêndices córneos dos cascos e corrimento vaginal espesso (GRUNERT,
1993).
Exame semiológico de controle da parição
Após o parto, deve-se realizar exame ginecológico da paciente verificando se
existe mais um feto no útero. A seguir, procura -se ferimentos e contusões da via
fetal mole e verifica-se a eliminação das secundinas, além das condições gerais da
paciente (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Diagnóstico obstétrico
O diagnóstico obstétrico deve precisar o estado geral da paciente, a condição
das vias fetais, as condições das bolsas fetais e lubrificação da via fetal mole, as
características morfológicas e de vitalidade do feto, apresentação, posição e atitude
fetal (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Distocias
Distocias de origem materna
Distúrbios da parturiente
Devido a distúrbios da parturiente pode ocorrer a ausência ou insuficiência
das contrações uterinas. Essa afecção pode ter origem primária por distúrbio do
metabolismo do cálcio (hipocalcemia) e magnésio, por hidropsias dos anexos fetais,
retículo-pericardite traumática e por velhice. Também pode ter origem secundária,
sendo observada em partos demorados, com esgotamento físico da parturiente
devido a presença de fetos relativa ou absolutamente grandes, monstros fetais,
torção uterina e anomalias de apresentação, posição ou atitude (TONIOLLO;
VICENTE, 1993, FUBINI; DUCHARME, 2005). Roberts (1971) descreve dois tipos
de inércia uterina (primária e secundária), a primária por afecções secundárias ou
inabilidade do útero responder aos estímulos da ocitocina. Já a secundária por
exaustão da musculatura uterina. A primeira podendo acontecer ocasionalmente em
vacas e raramente em ovelhas, já a segunda sendo passível de ocorrer em todas as
espécies.
Após correção da apresentação, posição ou atitude e desde que o feto não
seja grande, realiza-se a extração forçada. Recomenda-se a aplicação intravenosa
de preparados à base de cálcio e solução de glicose. Quando for necessário o uso
de ocitocina para estimular a contratilidade uterina recomenda-se a dose de 10 a 30
UI, por via intramuscular ou 3 a 8 UI por via intravenosa. O efeito da ocitocina
ocorrerá dentro de 10 minutos com duração de 30 minutos, podendo-se repetir o
tratamento se as contrações uterinas não forem observadas em até 20 minutos. A
utilização de ocitocina na apresentação, posição ou atitude anômalas é contra-
indicada. Em alguns casos, no entanto, podem ocorrer contrações uterinas
excessivamente violentas. Esse tipo de contração é indesejável, pois pode resultar
em complicações como hipóxia do feto, ruptura do útero, da vagina, da vulva, do
períneo e do intestino. Nesses casos é recomendado proceder anestesia epidural,
tranqüilizantes e proteção manual do períneo (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Estreitamento da via fetal óssea
Esse tipo de distocia pode ser causada por pelve estreita ou juvenil, como
ocorre em novilhas cobertas ou inseminadas antes de seu completo
desenvolvimento orgânico. O estreitamento da pelve pode, ainda, ser secundário a
raquitismo, osteoporose, osteomalácia, fraturas e calos ósseos. Devem ser tomadas
medidas preventivas como cobrir ou inseminar animais com desenvolvimento
orgânico adequado e retirar da reprodução animais com pelve estreita. Dependendo
do diagnóstico obstétrico pode-se realizar tração controlada, cesariana ou fetotomia
(JAINUDDEN; HAFEZ, 2004).
Alteração da via fetal mole
Os pontos críticos de estreitamento da via fetal mole (vulva, anel himenal e
cérvix) podem, por dilatação insuficiente, separada ou conjuntamente, constituir
obstáculo à expulsão do feto. Esta distocia também pode ocorrer por oclusão e
compressão da via fetal mole devido a neoplasias, hematomas, abscessos e torções
uterinas (GRUNERT, 1993).
O estreitamento da vulva e vagina pode ser juvenil ou como conseqüência da
cicatrização do períneo, vulva ou vagina, o que resulta em perda de elasticidade.
Muitas vezes este estreitamento de por reparação tecidual por fibrose em partos
anteriores. Também podem estar envolvidas carências nutricionais
(desenvolvimento insuficiente) e edema. Dependendo do grau de estreitamento são
recomendados auxílios obstétricos como extração cuidadosa do feto sob
lubrificação e proteção do períneo, e administração de substância de ação
estrogênica associada à suplementação com cálcio. Em alguns casos pode ser
necessária a cesariana, fetotomia ou episiotomia e incisão de pregas vaginais que
impeçam a total abertura do conduto fetal (DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT;
BIRGEL, 1989).
O estreitamento do canal cervical e do corpo do útero é classificado de
acordo com o grau de estreitamento e com as características clínicas. A abertura
insuficiente do canal cervical ocorre quando ainda possibilidade de se conseguir
uma maior dilatação do canal cervical e a via fetal se apresenta flácida, úmida e
elástica. a largura insuficiente do canal cervical é encontrada quando não
possibilidade de se conseguir maior dilatação do canal cervical, pois a involução
cervical iniciou e a via fetal mole encontra-se seca e inelástica. O estreitamento
do corpo uterino, raramente observado, ocorre em conseqüência a uma cicatrização
após lesão ocorrida em parto anterior. Dependendo do caso, o tratamento pode
incluir utilização de estrógenos, associados ao gluconato de cálcio e ocitocina,
fetotomia ou cesariana (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Deslocamento do útero grávido
As alterações de deslocamento do útero ocorrem porque este órgão é fixado
apenas nas porções caudais (na rvix e na vagina), pois suas porções craniais são
sustentadas pelo ligamento largo do útero e ligamento intercornual o que permite
sua ampla movimentação. Podem ocorrer desvios transversais ou laterais ao eixo
longitudinal do útero denominados versão uterina. A flexão uterina é o agravamento
da versão. Também pode ocorrer deslocamento do útero para a esquerda e torção
do útero (DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO;
VICENTE, 1993).
Torção do útero
O termo tortione é originado do latim significando torcedura. A torção do útero
consiste numa rotação do órgão sobre seu eixo longitudinal, sendo freqüente na
fase prodrômica do parto. As torções podem atingir 90°, 180°, 360° e até 540°. O
animal apresenta sintomas variáveis como lica, taquicardia, dispnéia, dificuldade
de locomoção e distúrbio da ruminação, podendo apresentar timpanismo. Pode
ocorrer reversão espontânea, ruptura da parede uterina ou morte e retenção do feto
(GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993).
A torção uterina é rara em ovelhas e resulta em obstrução parcial ou
completa da parte caudal do corpo uterino, evitando a passagem do cordeiro. Essa
torção geralmente ocorre (como em bovinos) no começo do primeiro estágio do
trabalho de parto. Se a mão do obstetra conseguir alcançar o cordeiro, a correção
da torção pode ser obtida rotacionando o cordeiro e o útero adjacente de volta a sua
posição correta (JACKSON, 2006).
Muitos fatores predispõem os bovinos a uma maior freqüência de torções
uterinas. Dentre estes fatores destacam-se a sustentação e posição do útero na
cavidade abdominal, pois os ligamentos largos do útero são curtos e se inserem na
face inferior, de modo que a face dorsal do útero está livre. Também contribuem
para a torção uterina fatores como a assimetria dos cornos uterinos, que o corno
uterino grávido é mais pesado e pode torcer facilmente, e a maneira de se levantar
dos bovinos que, por se erguerem inicialmente com os membros posteriores,
ficando algum tempo ajoelhado sobre os anteriores, faz com que o útero siga o
movimento das vísceras abdominais escorregando sobre o plano inclinado
(TONIOLLO, 1996; NASCIMENTO; SANTOS, 2003).
O reposicionamento uterino pode ser realizado por extração do feto, em
torções de grau leve ou médio até 180° ou por via v aginal, com a fêmea em estação
e sem ação extra-abdominal sobre o feto. Com esta cnica, após segurar o feto
pela cabeça ou pela pelve, realizam-se movimentos pendulares, fazendo com que o
útero retorne à sua posição natural. Ainda por via vaginal, com a fêmea em estação,
pode-se utilizar a ação extra-abdominal sobre o feto quando, depois do operador ter
fixado o feto com a o, o auxiliar do lado esquerdo vai erguendo uma tábua ao
mesmo tempo em que o do lado direito vai baixando e fazendo assim forte pressão
em sentido contrário à torção. Esta manobra é realizada repetidamente até que se
consiga a distorção. A distorção uterina ainda pode ser realizada por laparotomia,
seguida ou o de cesariana. Após a distorção, ocorrem os perigos relacionados à
lesão de reperfusão e o prognóstico é reservado (GRUNERT; BIRGEL, 1989;
TONIOLLO; VICENTE, 1993; NASCIMENTO; SANTOS, 2003).
Distocias de origem fetal
Alteração de atitude
A atitude fisiológica é a estendida. Como a apresentação fetal predominante
é a longitudinal anterior, a maioria das distocias fetais por alteração de atitude
refere-se à cabeça e aos membros anteriores, para, a seguir, aparecerem as
modificações de atitude dos membros posteriores. A correção (ou retificação),
realizada com a parturiente em estação e sob anestesia epidural baixa, deve ser
considerada quando houver condições favoráveis tais como apresentação
longitudinal do feto e abertura suficiente da via fetal mole. Nos casos em que não
seja possível a correção da atitude recomenda-se a fetotomia parcial (ROBERTS,
1971; DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO;
VICENTE, 1993).
Atitudes anômalas de cabeça
As atitudes anômalas de cabeça podem ocorrer por desvio lateral (para a
esquerda ou direita), por desvio ventral (ou esternal) ou por desvio dorsal. Para
correção do desvio lateral da cabeça, segura-se a cabeça por meio dos dedos
polegar e indicador introduzidos nas cavidades orbitárias, levantando e girando a
cabeça aa linha mediana do útero e dirigindo a cabeça para a vagina. Em casos
desfavoráveis, após fixar com corrente o membro anterior oposto ao lado do desvio,
reposiciona-se o feto na cavidade uterina e distende-se a cabeça depois de fixar a
mandíbula do feto com a mão ou com a corrente obstétrica. A retificação do desvio
esternal é realizada de maneira semelhante, tendo cuidado com os dentes incisivos
do feto, para se evitar ferimentos da porção uterina junto à borda anterior do púbis.
Nos casos de desvio dorsal tenta-se deslocar-se a cabeça lateralmente, tendo
cuidado para não perfurar o útero (GRUNERT; BIRGEL, 1989, PRESTES, 2006a).
Atitudes anômalas dos membros anteriores
Um ou os dois membros podem estar flexionados. Na flexão da articulação
cárpica, esta pode encontrar-se cranialmente ao bordo cranioventral da pelve ou
insinuado na via fetal. A correção, realizada na cavidade uterina para aproveitar o
maior espaço, consiste em fixar o casco na mão, envolvendo-o, e estendê-lo,
trazendo-o para sua própria linha mediana, evitando a abdução para impedir
rupturas uterinas. Nos casos de flexão das articulações úmero-radial e escápulo-
umeral a correção é considerada fácil, bastando fazer tração dos membro associada
à retropulsão do feto. Quando ocorre somente flexão da articulação escápulo-
umeral observa-se a insinuação da cabeça do feto, sem poder-se palpar as
extremidades dos membros. A primeira manobra de correção é a flexão da
articulação cárpica seguida da retificação definitiva para a atitude estendida.
Embora raro em bovinos, o cruzamento dos membros anteriores sobre a nuca pode
resultar em perfurações de vagina, períneo e reto. Para corrigir esta atitude anômala
faz-se a retropulsão do feto, empurrando os cascos em direção lateral e para baixo.
Se o feto for pequeno e a via fetal mole tiver ampla dilatação, pode-se tentar a
extração sem a retificação dos membros (ROBERTS, 1971; DERIVAUX; ECTORS,
1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Atitudes anômalas dos membros posteriores
Para correção da flexão da articulação társica toma-se o casco na mão e
retifica-se a flexão, realizando movimento de adução no membro. Na
impossibilidade de alcançar os cascos, flexiona-se ainda mais o membro
segurando-se a região metatarsiana, procedendo retropulsão do feto
simultaneamente à tração do metatarso para alcançar a articulação
metatarsofalangeana ou o casco. Em seguida, flexiona-se a articulação
metatarsofalangeana e se conduz o casco em direção à vagina. Em condições
favoráveis (feto pequeno e via fetal mole larga), a retificação da flexão da
articulação coxo-femoral pode ser conseguida com sucesso pela tração forçada. Em
casos de estreitamento deve-se empurrar o feto para a cavidade uterina e proceder
a flexão da articulação do tarso, seguida de sua correção (ROBERTS, 1971;
DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO; VICENTE,
1993).
Alteração de posição
A posição fisiológica durante o parto é a superior. As duas posições
anômalas possíveis são a posição lateral (esquerda ou direita) e a posição inferior e
são causadas por deficiência do tônus uterino que, através da rotação do feto, é
responsável por colocá-lo em posição adequada antes do parto. A posição inferior
pode se associar à apresentação anterior ou posterior. As manobras de correção de
posições anômalas são denominadas rotações e é facilitada quando o feto estiver
vivo. Quando houver, simultaneamente, posição e atitude anômalas, deve-se corrigir
inicialmente a atitude. Entre as técnicas indicadas para a rotação fetal têm-se
pressão demorada, com os dedos, sobre os olhos do feto, que pode fazer com que
o feto gire após 5 a 10 minutos como reflexo à pressão. A correção por extração do
feto é realizada com o feto na posição lateral, ou após colocá-lo nessa posição.
Cruza-se os membros do feto fixados pela corrente obstétricas e prende-se a
cabeça pelas cavidades orbitárias. Um auxiliar puxa o membro de cima para baixo
enquanto o outro traciona para cima o membro que estava embaixo, resultando na
rotação do feto (GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Alteração de apresentação
A apresentação fisiológica é a longitudinal anterior (em 95% dos partos) ou
posterior. Dentre as alterações de posição têm-se a apresentação transverso-dorsal,
a transverso-ventral, que pode ser complicada pela torção de cabeça, e a
apresentação vertical (ventral e dorsal). As manobras para correção de
apresentações anômalas são denominadas versões e devem ser executadas sob
anestesia epidural baixa e com uso abundante de carboximetilcelulose (mucilagem).
Deve-se realizar retropulsão, com muleta obstétrica, em uma das partes do corpo do
feto (membro anterior ou tórax) e, ao mesmo tempo, se realizar tração da outra
parte do corpo (membros posteriores), com auxílio de correntes obstétricas. Nos
fetos grandes ou mortos indica-se cesariana ou fetotomia (DERIVAUX; ECTORS,
1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989; TONIOLLO; VICENTE, 1993).
Malformações
As malformações podem resultar em monstros simples ou complexos. Os
monstros simples são aqueles que apresentam alterações de órgão isolados
caracterizados por desenvolvimento exagerado de determinadas partes do
organismo ou por modificações evidentes da coluna ou dos membros (contraturas).
Alguns exemplos são: polimelia (aumento do número de membros), hidrocefalia,
anasarca, ou edema generalizado do feto, ascite fetal, contraturas e torções
articulares, esquizossoma reflexo, caracterizado pela abertura ampla das cavidades
torácica e abdominal na linha média com evisceração fetal e o perosomus elumbis
(síndrome caudo-reto-urogenital), no qual nota-se ausência das vértebras
coccígeas, sacras e lombares, que são substituídas por tecido conjuntivo. O
embrião pode dividir-se em duas partes iguais e constituir gêmeos do mesmo sexo.
No entanto, a não separação das duas partes pode resultar em monstros
complexos, de desenvolvimento simétrico ou assimétrico. Dentre esses monstros
complexos destacam-se: diprosopus (apresentam duas faces), dicephalus
(apresentam duas cabeças), thoracopagus (dois fetos unidos pela região torácica),
thoracogastropagus (dois fetos unidos pelas regiões torácicas, umbilical e
abdominal), ischiogastropagus (fetos unidos pela pelve e abdômen, colados
lateralmente) e o duplicitas posterior, quando os fetos apresentam formação anterior
única e subdivisão posterior a partir do abdômen. O tratamento recomendado para
as malformações é a fetotomia (GRUNERT; BIRGEL, 1989).
Material obstétrico
Para uma boa condução de partos é necessário o seguinte instrumental.
Correntes obstétricas grossas (para extração) e delgadas (para fetotomia),
esterilizadas e com cerca de dois metros de comprimento. Podem-se utilizar
cordas, porém, não são muito indicadas devido a inconvenientes na
esterilização.
Puxadores metálicos de correntes: grandes (para extração) e pequenos (para
fetotomia);
Fetótomo;
Fio-serra obstétrico, com quatro vezes o comprimento do fetótomo;
Guia de fio-serra;
Ganchos: articulado, com ponta e com ponta romba;
Instrumentos para cesariana;
Carboximetilcelulose e anti-séptico (DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT;
BIRGEL, 1989). Anexo A.
Anestesia no parto distócico
A anestesia deve objetivar proteger o animal, facilitar as manobras
obstétricas e aumentar a segurança e higiene (interrompe a defecação e micção)
dos partos difíceis. O uso da anestesia epidural é suficiente, pois embora não
exerça influência sobre as contrações cíclicas do útero, elimina os estímulos da
vagina e inibe a contração da musculatura abdominal. Em alguns casos, também se
utiliza a anestesia paravertebral e a local por infiltração do campo operatório, como
na cesariana. Deve-se ressaltar que qualquer droga anestésica, independente da
forma de administração, atravessa rapidamente a barreira placentária atingindo o
feto, que possui atividade hepática e função renal deficiente e, portanto, a
metabolização de tais drogas também é deficiente. Por isso, deve-se utilizar drogas
que possibilitem rápido retorno anestésico, o que facilita a amamentação
(MASSONE, 2003).
Intervenção nos partos
Durante o auxílio a um parto devem ser tomadas as providências para que o
atendimento obstétrico se desenvolva em ótimas condições de higiene. A
intervenção nos partos não deve ser imediata porque uma porcentagem elevada
dos partos transcorre naturalmente de forma lenta. O auxílio precoce, através de
tração, pode lesionar a via fetal mole, ao passo que o auxílio tardio tem sua
condução mais difícil por perda da lubrificação natural desta via devido à eliminação
dos líquidos fetais. Deve-se proceder a intervenção nos casos de corrimento vaginal
fétido, quando a mãe apresentar comprometimento do estado geral (sinais de
toxemia ou distúrbios metabólicos) ou após seis horas do início do parto, quando se
deve suspeitar de anomalia de apresentação, posição ou atitude do feto, bem como
de torção do útero. O auxílio obstétrico é realizado através de manobras
(retropulsão, extensão, tração, rotação e versão), estímulo às contrações, tração
forçada, dilatação da via fetal mole (uso de estrógenos, ducha e compressa quente),
episiotomia, cesariana e fetotomia. Em alguns casos é indicada a eutanásia da
paturiente (GRUNERT; BIRGEL, 1989; PRESTES, 2006b).
Tração do feto
A tração forçada do feto é indicada quando ele não é relativa ou
absolutamente grande e as vias fetais dura e mole são favoráveis à tração. Também
se pode proceder a tração quando houver diminuição de intensidade ou ausência de
contrações e em algumas anomalias de atitude ou de posição, ou em casos
teratológicos. As correntes de tração não devem ser finas demais e devem ser
colocadas sempre acima da articulação metacarpo/metatarsofalangeana, fixando os
membros separadamente, tendo o cuidado de não fixá-los juntamente com as
membranas fetais para evitar o rompimento do útero durante a tração. As correntes
e puxadores devem estar esterilizados e, por isso, deve-se evitar o uso de cordas.
Deve-se conduzir para a via fetal, em apresentação anterior, primeiro os membros
e, em seguida, a cabeça e, se estiver por muito tempo na vagina, o feto deve ser
introduzido na cavidade uterina antes da extração para diminuir a congestão da via
fetal mole e as contusões na vagina. É importante utilizar carboximetilcelulose para
lubrificação da via fetal mole (GRUNERT; BIRGEL, 1989; PRESTES, 2006b).
Para extração do feto deve-se empregar somente a força humana, de no
máximo três pessoas, acompanhando as contrações abdominais da vaca. Nas
trações em ovelhas deve-se aplicar somente força do obstetra, sem ajuda de
assistentes.A distribuição da força de tração deve ser alternada entre os membros
para obter-se redução nos diâmetros torácicos e pélvicos, por inclinação dos
diâmetros máximos. É importante proteger o períneo comprimindo os bordos
vulvares superiores com as mãos abertas sobre o feto evitando-se dilatar a vulva
durante a expulsão do feto devido ao risco de ruptura perineal. Por causa da
constituição morfológica da pelve, da posição da via fetal mole e do
desenvolvimento do feto, a tração deste, no momento do parto, deve seguir uma
direção adequada que facilite sua extração. Nos bovinos, a linha de extração segue,
inicialmente, direção superior, tornando-se horizontal e, finalmente, com ligeira
inclinação em sentido ventral (PRESTES, 2006b; JACKSON, 2006).
Episiotomia
A estenose ou dilatação insuficiente da vulva e vestíbulo acontece por
distúrbio no crescimento corporal, doença crônica, nutrição deficiente ou retração
cicatricial A episiotomia consiste na abertura cirúrgica dos lábios vulvares para
permitir a passagem do feto. Após antissepsia e anestesia local, realiza-se incisão
profunda da região dorso lateral nos dois lados da vulva, permitindo seu
alargamento e evitando a ruptura indesejável do períneo. Após a realização do
parto, as incisões são suturadas (PRESTES, 2006b).
Cesariana
O termo cesareana se origina da expressão latina caesa matris utero, que
significa corte do útero materno. Por cesariana entende-se a retirada de um feto
através de uma abertura transabdominal do útero (laparohisterotomia) (TONIOLLO;
VICENTE, 1993). Este procedimento é indicado quando o feto é muito desenvolvido
e de tamanho exagerado e em casos de monstros fetais, torções uterinas
irreversíveis, estreitamento das vias fetais (óssea e mole) além de patologias como
hidropsias, histerocele gravídica e inércia uterina irreversível. A cesariana também é
indicada quando as manobras obstétricas ou fetotomias não puderem ser
executadas, em gestações prolongadas, nos casos de ruptura de tendão púbico e
por conveniência, para transferência de embriões. Esta cirurgia é contra-indicada
quando feto enfisematoso ou quando o estado geral da parturiente é grave. A
cesariana pode ser realizada por celiotomia pela fossa paralombar (flanco), direita
ou esquerda (mais utilizada), celiotomia pela linha média ventral, celiotomia
ventrolateral (paramamária), celiotomia oblíqua esquerda. A incisão pelo flanco é a
única que pode ser conduzida com o animal em estação (TURNER; MCILWRAITH,
1985; TONIOLLO; VICENTE, 1993; FUBINI; DUCHARME, 2005; GARNERO;
PERUSIA, 2006; PRESTES, 2006b).
Fetotomia
A fetotomia (dissectio fetus) consiste na secção do feto no útero, ou
insinuado na via fetal mole, e na retirada de seus retalhos pela via natural, podendo
ser subcutânea, quando o feto tem seu esqueleto adequadamente destruído sob a
pele e retirado por tração, ou percutânea, que é rotineiramente utilizada. A fetotomia
percutânea tem duas modalidades: a fetotomia total, que consiste no completo
retalhamento do feto, e a fetotomia parcial, na qual são seccionadas as partes
que dificultam o parto, sendo o restante retirado por tração adequada. O
aperfeiçoamento da técnica e do material utilizado nas manobras obstétricas e o
aperfeiçoamento da cesariana resultaram em diminuição do número de fetotomias
(DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989).
A fetotomia é indicada para retirada de fetos, preferencialmente, mortos,
absoluta ou relativamente grandes, que não permitam sua retirada por tração
forçada sem perigo para a parturiente. Também se indica a fetotomia quando
fetos enfisematosos, estreitamento das via fetais, em partos demorados com
lubrificação insuficiente, para prevenir lesões da via fetal e em distocias por
apresentação, posição, atitude ou malformações fetais impossíveis de serem
corrigidas ou resolvidas por tração forçada. A fetotomia é contra-indicada nos casos
de abertura e largura insuficientes do canal cervical por impossibilitar a introdução
do braço do operador e quando ocorrer ruptura extensa da via fetal mole ou do
útero. Essa técnica também é contra-indicada em casos de hemorragias vaginais
intensas ou quando houver grave comprometimento do estado geral da parturiente
com sintomas de toxemia ou septicemia. Quando o feto estiver vivo, deve-se dar
preferência à cesariana (DERIVAUX; ECTORS, 1984; GRUNERT; BIRGEL, 1989).
A fetotomia pode ser realizada com o animal em estação ou em decúbito,
após anestesia epidural, baixa ou alta dependendo do caso. Após conveniente
contenção e anestesia, a vulva e região perineal devem ser lavadas e
desinfectadas. O uso de relaxantes uterinos pode facilitar as manobras, porém
deve-se considerar a possibilidade de retenção placentária. Um exemplo de
relaxante uterino é o clembuterol, um agonista β2 adrenérgico, com efeito
broncodilatador e que exerce ação anticonstrictiva sobre a musculatura do útero por
até oito horas (TONIOLLO; VICENTE, 1993; OLIVEIRA, 2002).
Quando necessário o sacrifício do feto, este deve preceder a fetotomia. Nas
apresentações anteriores realiza-se a decapitação, com cortes rápidos no pescoço
do feto e nas apresentações posteriores recomenda-se o rompimento do cordão
umbilical. Durante a retirada de cada parte seccionada do feto deve-se proteger as
pontas ósseas com a mão para evitar ferimento na via fetal mole e melhorar a
lubrificação da via fetal mole com carboximetilcelulose. Erros no manuseamento do
fetótomo podem resultar em algumas complicações. A remoção descuidada das
porções fetais seccionadas ou a mudança de posição do fetótomo de maneira
errada pode perfurar o útero e a introdução e adaptação do fetótomo no corno
contralateral secciona a bifurcação uterina. Para evitar essa complicação, deve-se
verificar se a cabeça do fetótomo e o fio-serra estão apenas no corno uterino
grávido. Além disso, a direção ou posição inadequada do fetótomo pode resultar em
escoriações, hematomas ou ferimentos incisos mais graves na via fetal mole
(GRUNERT; BIRGEL, 1989, PRESTES, 2006b).
Em ovelhas e cabras, raramente se realiza a fetotomia completa como a
praticada em vacas. Este procedimento pode ser indicado em alguns casos: na
resolução de distocia causada pela disposição fetal que não pode ser corrigida
pela manipulação; resolução de distocia causada pela desproporção feto-pélvica, na
qual o feto está morto e não pode ser removido por tração; resolução de distocia
causada pelo feto que ficou preso durante a remoção; durante a operação
cesariana, quando o feto morto é muito grande para ser removido do útero de forma
normal, está deformado ou está numa disposição que o pode ser corrigida. A
fetotomia deve ser considerada somente quando se sabe que o feto está morto
(JACKSON, 2006).
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CAPÍTULO II
ESTUDO RETROSPECTIVO DOS CASOS DE DISTOCIA EM BOVINOS
ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE GRANDES ANIMAIS DA UNB DE
2002 A 2009.
INTRODUÇÃO
Distocia é definida como um nascimento difícil (ARTHUR,1979;
NOAKES,1991). Pode variar de ligeiro atraso no processo à completa inabilidade da
vaca parir. Hafez & Hafez (2004), refere-se a distocia como sendo trabalho de parto
atípico ou patológico. Para Toniollo & Vicente (1995), caracteriza-se pela dificuldade
ou impedimento que os fetos encontram para serem expulsos do útero, em
decorrência de problemas de origem fetal, materna ou de ambas.
As distocias podem determinar perdas econômicas consideráveis, com
mortalidade de vacas, de bezerros e a infertilidade. As causas mais freqüentes de
partos distócicos estão relacionadas com a desproporção feto-pélvica e distocias
dependentes do posicionamento fetal no conduto pélvico materno (GHELLER et al.,
2000). Ocorrerão dificuldades ao nascimento, quando as forças expulsivas forem
insuficientes, quando houver estreitamento do canal pélvico, ou quando o diâmetro
do feto for extraordinariamente grande. Estas causas levam a um trabalho de parto
prolongado ou a impedimento do trabalho de parto.
Qualquer ajuda ao parto pode ser associado com subseqüente redução da
fertilidade e produtividade (BOCKLEY et al., 2003). Em uma pesquisa realizada
através de questionários no Reino Unido, o parto distócico foi classificado como
uma das condições mais dolorosas em bovinos (HUXLEY & WHAY, 2006).
Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo dos casos de distocia
atendidos no Hospital Veterinário de Grandes Animais da UnB/SEAPA (HVET/UnB)
no período de 2002 a 2009.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados dados contidos em 62 fichas clínicas dos bovinos meas
atendidos no HVET/UnB, no período de 2002 a 2009, apresentando parto distócico.
Analisou-se os parâmetros tipo de distocia, a causa, manobra obstétrica executada,
local de atendimento, mês do ano, sexo do feto, idade e raça da vaca, viabilidade
dos fetos e desfecho. Quando era necessário os animais eram submetidos a
protocolo terapêutico com uso de antibióticos e antiinflamatórios (Oxitetraciclina LA
na dose de 20mg/kg por via intra-muscular em intervalos de 48/48h, em três
aplicações; Flunixin meglumine na dose de 2,2mg/kg, SID, por três dias). Para a
análise dos dados, foram calculadas as freqüências absolutas e relativas, das
variáveis qualitativas e quantitativas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As distocias fetais contribuíram com 77,42%(48) dos casos, enquanto as
maternas 19,35%(12), o que coincide parcialmente com os achados de Costa et al
(2003), em trabalho realizado em Pernambuco, em que relataram 31,67% de
distocias maternas e 60,22% de fetais.
Dentre as distocias de origem fetal as causas foram inúmeras, variando de
malformações fetais com 3,22%(2/62) dos casos a mal posicionamento com
46,77%(29/62), sendo que em 17,24%(5/29) destes identificou-se apresentação
posterior. Segundo Meijering (1984) o mal posicionamento fetal é a causa mais
comum de distocias. Outros autores ainda afirmam que bezerros mal apresentados
tem 2 vezes maior risco de distocias e 5 vezes maior risco de natimortos (Mee,
1991). Outra causa foi a desproporção feto-pélvica (DFP) (29,03%;18/62). Estes
dados estão de acordo com os apresentados por Meijering (1984) que afirma que a
desproporção feto-pélvica é um tipo comum de distocia em vacas leiteiras. Outras
causas observadas neste estudo foram aquelas de origem materna, sendo dilatação
insuficiente das vias fetais moles (DIVFM) (12,9%; 8/62) e Hidropisia, hérnia de
parede abdominal, torção uterina (4,8%; 3/62). Segundo Frazer et al (1996) a torção
uterina é uma condição relativamente rara em bovinos. As causas não informadas
somaram 3,21%(2/62) dos casos. (Figura 1).
Figura 1: Causas de distocia bovina evidenciadas em estudo de 62 casos atendidos
no Hospital Veterinário de Grandes Animais UnB/SEAPA de 2002 a 2009.
Dentre as técnicas utilizadas para realização do parto a mais empregada foi a
cirurgia de cesariana via fossa para-lombar esquerda com 25,8%(16) dos casos,
seguida de fetotomia parcial com 20,97%(13) cada uma. Na grande maioria das
vezes o auxílio do veterinário é solicitado quando se esgotam as possibilidades de
retirada do feto pelo próprio tratador, justificando assim a grande utilização do
procedimento de cesariana. Em estudo realizado na Bahia, Borges et al (2006)
relataram a utilização da cesariana e fetotomia em 39,78% dos casos atendidos. A
tração foi utilizada em 20,97%(13) dos casos, o que difere dos achados de Nix et al
(1998) que relataram a tração como sendo utilizada em 69% dos casos
acompanhados, o que pode ser justificado pelo presente estudo ter sido realizado
em um centro veterinário e o do autor supra citado em uma fazenda de criação.
Utilizou-se também manobra obstétrica seguida de tração (11,29%/7), cesariana via
fossa para-lombar direita (1,6%/1), cesariana via região para-mamária esquerda
(17,74%/11) e fetotomia total (1,6%/1). Apenas uma das fichas não apresentou o
tipo de manobra (1,6%). Esses dados podem ser evidenciados na figura 2.
Figura 2: Procedimentos obstétricos utilizados para correção das distocias bovinas evidenciadas em
estudo de 62 casos atendidos no Hospital Veterinário de Grandes Animais UnB/SEAPA de 2002 a
2009.
Quanto ao local de realização dos procedimentos 75,8%(47) foram realizados
a campo, enquanto que em 24,2%(15) casos foram trazidos até o HVET-UnB para
realização dos procedimentos. Este fato pode ser atribuído as dificuldades
encontradas pelos proprietários em deslocar os animais da fazenda até um centro
veterinário, isso devido ao tamanho dos animais e custos com transporte.
Em relação aos meses do ano, fevereiro contou com o maior mero de
casos (19,35%/12) e janeiro com o menor (1,6%/1). Considerando que a estação
seca no centro-oeste compreende aos meses de maio a outubro e a chuvosa
novembro a abril, houve maior dispersão dos casos na estação chuvosa
(54,84%/34), porém não se distanciando do número de casos ocorridos na estação
seca (45,16%/28). Estes dados diferem dos encontrados por Silva et al (2000) que
realizaram um levantamento de casos de cesariana em bovinos no estado de Goiás,
e realizaram um maior número de atendimentos entre os meses de abril a setembro
(Figura 3).
Figura 3: Variação dos partos distócicos de Bovinos em relação aos meses do ano
evidenciadas em estudo de casos atendidos no Hospital Veterinário de Grandes
Animais UnB/SEAPA de 2002 a 2009.
Estavam especificados nas fichas o sexo de 33 fetos dos 62 partos
estudados. Destes 66,66% (22/33) eram machos e 33,33% (11/33) eram fêmeas.
Esses resultados vão ao encontro dos achados por Johanson e Berger, 2003, que
afirmam que o aumento da taxa de distocias em bezerros machos está associado
ao maior peso (1-3 kg). Figura 4.
Figura 4: Variação entre o sexo dos bezerros evidenciadas em estudo de casos atendidos no
Hospital Veterinário de Grandes Animais UnB/SEAPA de 2002 a 2009.
Em 34 das 62 fichas constava-se a idade dos animais. Esta variou de 2 a 18
anos, sendo que a maior parcela (76,47%;26/34) encontravam-se na faixa etária de
2 a 5 anos de idade, enquanto que 23,53% (8/34) estavam entre 6 e 18 anos. Meyer
et al (2001) afirma que a taxa de distocia pode ser até três vezes maior em fêmeas
primíparas em comparação com as multíparas.
A grande maioria dos animais avaliados recebeu alta clínica após a
realização dos procedimentos (74,19%/46), porém 7(11,29%) foram a óbito sem um
diagnóstico definitivo, 4(6,45%) por peritonite, 1(1,6%) por ruptura uterina e
3(4,83%) não se identificou o desfecho dos casos.
As vacas com padrão racial mestiço foram as que mais vezes foram
atendidas (30,64%/19), seguidas das Girolandas (27,42%/17), Holandesas
(12,9%/8), Nelore (8,06%/5), Mini-vacas (6,45%/4), Jersey (4,8%/3), Pardo Suíça
(4,8%/3), Simental (3,22%/2) e Guzerá e Caracú com apenas um caso cada (3,2%).
Esses achados corroboram com as afirmações de Borges et al (2006) e evidenciam
as características raciais predominantes do rebanho da região estudada. Além disso
demonstra um alta taxa de assistência ao parto naquela raças de aptidão leiteira,
quando comparada às demais (Figura 5).
Figura 5: Variação entre a raça das vacas evidenciadas em estudo de casos de distocia atendidos no
Hospital Veterinário de Grandes Animais UnB/SEAPA de 2002 a 2009.
Com relação a viabilidade dos fetos, 68,33%(41) nasceram mortos e 31,66%
nasceram vivos. Esses dados estão de acordo com os achados de Borges et al
(2006) que encontraram 67,66% dos fetos mortos e 32,34% de fetos vivos
CONCLUSÃO
Neste estudo as distocias de origem fetal apresentaram grande importância,
com ênfase aquelas causadas por mal posicionamento fetal. Das técnicas
empregadas para resolução a cesariana foi amplamente utilizada, naqueles casos
em que outras técnicas como tração e fetotomia não foram eficazes. O mês de
fevereiro concentrou o maior número de casos, se tornando um mês crítico para a
ocorrência de distocias em vacas na região estudada.
REFERÊNCIAS
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Guanabara Koogan, 1979. 573p.
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CAPÍTULO III
ESTUDO RETROSPECTIVO DOS CASOS DE DISTOCIA EM OVINOS
ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE GRANDES ANIMAIS DA UNB DE
2002 A 2009.
INTRODUÇÃO
O Brasil apresenta grande potencial para tornar-se um importante produtor
mundial de ovinos, pois devido a sua extensão territorial e clima favorável à espécie
permite a implantação de sistemas de produção diversificados. A ovinocultura é uma
atividade que se mostra em estruturação em algumas regiões brasileiras como o
Centro Oeste e o Sudeste (QUIRINO et al., 2004).
O estudo da distocia é fundamental, uma vez que a mortalidade de
borregos constitui a maior fonte de perdas na ovinocultura mundial, com 60% das
mortes perinatais atribuídas a um nascimento muito estressante (CLOETEA
et al
.,
1998).
Distocia é uma das condições obstétricas mais importantes de
competência do médico veterinário (ROBERTS, 1971). Do grego "dys", que significa
difícil, e 'tokos', significando nascer, pode ser definida como dificuldade de realizar o
parto, resultante de parto espontâneo prolongado ou de severa extração assistida
(MEE, 2007).
De acordo com Noakes (2001), distocia ocorre quando uma falha em
um ou mais dos três principais componentes do parto: forças expulsivas, adequação
do canal do parto e tamanho e posição fetais.
Ovinos são normalmente, e de forma recomendada, supervisionados
intensamente no momento do parto para que qualquer desvio do normal possa ser
observado e investigado precocemente. Vários estudos sugeriram que a incidência
de distocia em ovelhas é de aproximadamente 3%, apresar do nível de assistência
ao parto em rebanhos ser muito maior (JACKSON, 2006).
Este trabalho teve como objetivo relatar os casos de distocia em ovinos
atendidos no Hospital Veterinário de Grandes Animais da UnB/SEAPA (HVET-UnB)
entre os anos de 2002 e 2009.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados dados contidos em 57 fichas clínicas de ovinos, atendidos
no HVET-UnB, no período de 2002 a 2009, apresentando parto distócico. Analisou-
se os parâmetros tipo de distocia, a causa, manobra obstétrica executada, local de
atendimento, mês do ano, sexo do feto, idade e raça, viabilidade dos fetos e
desfecho. Para a análise dos dados, foram calculadas as freqüências absolutas e
relativas, das variáveis qualitativas e quantitativas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre os anos de 2002 e 2009 o HVET-UnB prestou atendimento a 615
ovinos, destes 9,27%(57) foram diagnosticados casos de distocia. Esses achados
corroboram com os de Câmara et al (2009) que em 607 animais atendidos
atribuíram 9,88% (60) dos atendimentos à distocia. Porém não está de acordo as
afirmações de Jackson (2006) que em seus estudos sugere uma incidência de
distocias de 3%.
Das 57 fichas analisadas de ovinos, 11(19,3%) não continham o tipo de
distocia. As freqüências encontradas foram de 32,6%(15/46) do tipo fetal e
67,39%(31/46) maternas. Esses dados diferem dos encontrados por Majeed & Taha
(1995) que atribuíram um percentual de 54% às distocias de origem fetal, porém vão
de encontro aos achados de Câmara et al (2009) que de 60 casos analisados
correlacionaram 43(71,67%) à distocias do tipo materna.
As causas foram inúmeras não sendo apresentadas porém em 9(15,8%) das
57 fichas. Dentre estas destacam-se as causadas como conseqüência à toxemia da
gestação com 37,5%(18/48) dos casos. A toxemia acomete ovelhas e cabras em
terço final de gestação, devido a grande demanda energética necessária para a
manutenção da gestação neste período. Os animais acometidos apresentam quadro
de desnutrição e muitas vezes obesidade, mobilizando gorduras corporais para a
produção de glicose, entrando em quadros de cetonemia, toxemia, apatia e
inapetência, tendo como resultado a morte fetal (Pereira et al, 2007). As matrizes
magras ou gordas apresentam maior risco de distocias; suas crias tem menos vigor
e taxas de morte mais elevadas (KINNE, 2004). A dilatação insuficiente das vias
fetais moles com 27,08%(13/48), mal posicionamento com 25%(12/48), sendo que
25%(3/12) destes identificou-se ainda apresentação posterior. Jackson (2006) a
partir da análise de vários trabalhos, sugere a disposição fetal como sendo a
principal causa de distocias em ovelhas, estando presente em 50% dos casos, o
que não ai de encontro aos achados do presente trabalho. Outras causas foram
desproporção feto-pélvica com 6,25%(3/48), o que não corrobora com os achados
de Scott (1989), que atribuiu este fato a principal causa de distocias fetais.
Desnutrição contribuiu com apenas 4,17%(2/48). Esses dados podem ser
evidenciados na figura 1.
Figura 1: Causas de distocia ovina evidenciadas em estudo de 57 casos atendidos no
Hospital Veterinário de Grandes Animais UnB/SEAPA de 2002 a 2009.
Dentre os métodos utilizados para correção das distocias foi utilizado
cesariana via fossa para-lombar esquerda em 76,36%(42/55) dos casos. Scott
(1989) relata uma taxa de sobrevivência após procedimentos de cesariana de 97%.
No presente estudo 40,48%(17/42) foram a óbito durante ou logo após a cirurgia,
refletindo o estado geral ruim em que os animais se encontravam no pré-operatório,
muitos destes portadores de toxemia da gestação. Optou-se por manobra obstétrica
em 20%(11/55), cesariana via para-mamária esquerda e fetotomia parcial em
1,8%(1/55) cada, e 2 fichas não constavam esta informação (Figura 2).
Figura 2: Procedimentos obstétricos utilizados para correção das distocias ovinas
evidenciadas em estudo de 57 casos atendidos no Hospital Veterinário de Grandes
Animais UnB/SEAPA de 2002 a 2009.
Todos os atendimentos foram realizados nas dependências do Hospital
Veterinário de Grandes Animais. Isso se deve provavelmente, a facilidade de
transporte dos animais, devido ao pequeno tamanho.
Em relação à incidência dos casos entre os meses do ano, julho foi o mês
com maior número de casos (11/57; 19,3%) enquanto janeiro e maio apresentaram
2 casos em cada um (2/57; 3,5%). Considerando que a estação seca no centro-
oeste compreende aos meses de maio a outubro e a chuvosa de novembro a abril,
houve maior dispersão dos casos na estação seca (33/57; 57,89%). Figura 3.
Figura 3: Variação dos parto distócicos em ovinos em relação aos meses do ano
evidenciadas em estudo de 57 casos atendidos no Hospital Veterinário de Grandes
Animais UnB/SEAPA de 2002 a 2009.
Quanto ao sexo e quantidade de animais nascidos, em 43(75,44%) partos a
informação foi omitida. Nos demais houveram 6(33,33%;6/18) partos únicos,
6(33,33%;6/18) gemelares e 2(11,11%;2/18) trigemelares. Identificou-se
48%(12/25) de machos e 52%(13/25) de fêmeas. Se fizermos uma análise paralela
de apenas os partos únicos, 83,3%(5/6) dos nascimentos foram machos e apenas
16,7%(1/6) fêmea.
Poucos foram os animais que apresentavam a idade identificada, e estas
variaram de menos de 1 até 10 anos. Identificou-se 20%(4/20) das ovelhas com
idade até 1 ano, 30%(6/20) com idade variando de 1 a 2 anos, 35%(7/20) de 2 a 4
anos e 15%(3/20) acima de 4. Smith (1977) o encontrou correlação significativa
entre a idade das ovelhas e aumento na incidência de distocias.
O desfecho dos casos foi de 54,39%(31/57) de altas e 45,61%(26/57) de
óbitos, sendo que destes 11,53%(3/26) foram por peritonite e 7,7%(2/26) por ruptura
uterina. Scott (2005) afirma que a demora dos proprietários solicitarem a assistência
veterinária ou a não solicitação foram responsáveis por muitas perdas de ovelhas,
muitas vezes por toxemia devido ao borrego morto dentro do útero.
As freqüências das raças atendidas foram 78,95%(45/57) Santa Inês,
10,53%(6/57) mestiças, 5,26%(3/57) Bergamácia, 3,51(2/57) Dorper e 1,75%(1/57)
Texel, demonstrando haver uma superioridade no rebanho da raça Santa Inês. Esse
crescimento da raça também foi descrito por Souza (1998), demonstrando que a
raça encontra-se em ascendência em todo o território nacional, especialmente no
Centro-Oeste.
Em relação a viabilidade dos fetos 16 fichas o constavam esta informação.
Das informações obtidas constatou-se a presença de 21 fetos vivos e o óbito de 42.
Vale ressaltar que estes dados não refletem a viabilidade de fetos por parto que
muitos partos foram gemelares e alguns até mesmo trigemelar. Câmara (2009)
relata em relação a viabilidade fetal de 94 cordeiros, 42 vivos e 52 óbitos. Esses
dados demonstram a fragilidade desses animais e a necessidade de intervenções
clínico-cirúrgicas precoces.
CONCLUSÃO
As distocias de origem materna apresentam uma incidência elevada em
ovelhas. A toxemia da gestação merece importante destaque neste estudo
principalmente pela quantidade de casos presentes, potencialmente causadores de
distocia materna. O procedimento de cesariana via fossa para-lombar esquerda se
mostrou eficiente no tratamento de distocias.O mês de julho foi aquele que
concentrou um maior número de casos. A raça Santa Inês, devido a sua
superioridade na região foi a que apresentou um maior número de casos atendidos.
REFERÊNCIAS
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N.A., SOUZA, M.I., MENDONÇA, C.L. Análise dos fatores relacionados a 60 casos
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A.C.C.; GOUVÊA, L.V.; BORGES, J.R.J.; GODOY, R.F. Ingestão forçada de
carboidratos: uma nova perspectiva para o tratamento da toxemia da prenhêz em
ovelhas relato de caso. In: Anais do V Congresso Latinoamericano de
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QUIRINO, C. R; SILVA, R. M. C; AFONSO, V. A. C; COSTA, R. L. D; ARVALHO, P.
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Edward Brothers Inc., 776p, 1971.
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Veterinary Journal, v.145, n.6, p.558-564,1989.
SMITH, G.M., Factors affecting birth weight, dystocia and preweaning survival in
sheep. Journal of animal science. V.44, n.5, 1977.
SOUSA, W.H. Ovinos Santa Inês: potencialidades e limitações. In: Simpósio
Nacional de Melhoramento Animal, , Uberaba. Anais... Viçosa: Sociedade
Brasileira de Melhoramento Animal, p.233-237, 1998.
www.pr5.ufrj.br/cd_ibero/biblioteca_pdf/tecnologia_trabalho/7_resumo_quirino_uenf.
pdf , acesso em 15/11/2009.;
CAPÍTULO IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por se tratar de um estudo retrospectivo de casos atendidos no HVET-UnB,
uma grande dificuldade encontrada no levantamento dos dados foi o preenchimento
inadequado das fichas clínicas, muitas vezes omitindo dados de importância clínico-
epidemiológica. A partir da confecção de uma ficha específica para atendimento
obstétrico (2008) observou-se um grande avanço neste sentido.
As distocias devem ser encaradas como procedimentos emergenciais na
clínica-cirúrgica de bovinos. Quanto mais rápido o atendimento for realizado e
dependendo da habilidade do veterinário em escolher o procedimento correto para o
tratamento, melhor o prognóstico tanto para a parturiente quanto para o feto. Cabe
ao dico Veterinario atentar os proprietários para que cuidados especiais sejam
tomados, principalmente se tratando de novilhas, para que seja respeitado um peso
e idade mínimos para o primeiro serviço e se faça a escolha de touros de raças que
produzam bezerros de baixo peso ao nascimento.
O período pré-parto é crítico para a criação de ovinos, principalmente em se
tratando de animais com um manejo alimentar deficiente (tanto excesso de
alimentos quanto a falta). As distocias devem ser tratadas como emergências, e o
quanto antes forem tomadas as medidas cabíveis de correção melhor o prognóstico
para a sobrevivência do feto e da parturiente. A cesariana via fossa para-lombar
esquerda é eficaz para tratamento de distocias em que outras possibilidades não
são possíveis, porém cabe ao médico veterinário deter de uma boa técnica
operatória e tomar medidas cabíveis de anti-sepsia.
Por se tratar de um trabalho pioneiro na região estuda, espera-se que estes
dados sirvam aos técnicos e Médicos Veterinários como formas de prevenção e
melhoria no prognóstico dos atendimentos realizados.
Anexo I - Figuras
Figura 1: Ovelha da raça Santa Inês demonstrando
edema de vulva e secreção sanguinolenta
Figura 2: Feto macerado retirado por procedimento de
cesariana em ovelha
Figura 3: Realização de procedimento de cesariana em
vaca via fossa para-lombar, em esação.
Figura 4: Material Obstétrico
Figura 5: Evidencia a dificuldade de retirar um bezerro
absolutamente grande.
Figura 6: Cuidados iniciais com o neonato.
Anexo II – Ficha de atendimento Obstétrico
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
HOSPITAL VETERINÁRIO
FICHA DE ATENDIMENTO OBSTÉTRICO
Nome:__________________ Nº__________ Espécie: bov ovi cap equi
Raça:_______________ Sexo:_____Idade:_______Pelagem:_____________Peso:__________
Proprietário: __________________________________________________________________
Endereço da propriedade:________________________________________________________
Telefone:___________________ Celular:______________________
ANAMNESE:
Nº de animais na propriedade:_____________ Tipo de alimentação:______________________
Tipo de criação:________________________________________________________________
Manejo reprodutivo: IA TE FIV Monta natural
Reprodutor utilizado:____________________________________________________________
Vacinas: Raiva Aftosa Brucelose Clostridioses (Tétano, botulismo, “manqueira”)
Vermifugação: data da última e base utilizada _______________________________________
Há relato de problemas reprodutivos (aborto, distocia, prolapso vaginal ou uterino) na propriedade?
Sim Não.
Em caso positivo: Qual (is) problema (s)_____________________________________________
_____________________________________________________________________________
Há quanto tempo (qual a freqüência )?_____________________________________________
Que tipo de tratamento foi utilizado?______________________________________________
Quem indicou? proprietário tratador veterinário __________________
HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL:
Início do parto; ocorrência de manipulação ou tração;
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
RG HV nº:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
EXAME FÍSICO
Em caso de distocia:
Local do atendimento: campo hospital
Tipo: materna fetal Peso do(s) feto(s):
Estática fetal:
Apresentação: Longitudinal anterior / posterior
Transversal dorsal / ventral
Vertical dorsal / ventral
Posição: superior inferior lateral
Atitude: estendida flexionada:__________________________________________
Tipo de procedimento utilizado para correção: tração fetotomia
Em caso de cesariana: Qual acesso realizado?________________________________________
Procedimento anestésico:_____________________________________
Nº de fetos:______ Sexo:__ M __F Situação dos fetos (mortos; vivos; enfisematosos):
_____________________________________________________________________________
Situação da parturiente:_________________________________________________________
Descrição detalhada do procedimento:_____________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Exames solicitados:_____________________________________________________________
Tratamento medicamentoso:_____________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Outras informações relevantes:___________________________________________________
____________________________________________________________________________
Equipe veterinária:____________________________________________
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